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Relato de Caso Clínico Caderno Científico

Tratamento simplificado de lesão periapical de implantes


A simplified treatment for periapical lesion on implants

Weider Silva* RESUMO


Larissa Ribeiro de Almeida** Atualmente, os implantes bucais são parte importante na reabilitação oral, sendo que cada
Rafael Neves Tomio*** vez mais pacientes e profissionais optam por essa modalidade de tratamento. Algumas
complicações vêm sendo observadas por alguns profissionais, sendo a lesão periapical
de implante uma delas. O presente trabalho relata um caso clínico no qual foi realizada
curetagem da lesão, desinfecção química da área e colocação de membrana reabsorvível
bovina sobre o coágulo sanguíneo formado ao redor dos implantes. Após seis meses da
intervenção cirúrgica, foi perfeitamente possível reabilitar proteticamente os implantes.
Unitermos - Peri-implantite; Implantes orais; Regeneração óssea; Desinfecção.

ABSTRACT
Nowadays, dental implants are an important component on oral rehabilitation treatment.
The number of patients and professionals choosing this kind of treatment has considerably
increased. However, some complications have been observed being periapical lesion one of
them. This work describes a clinical case on which curettage, chemical disinfection, and the
placement of a bovine membrane over the blood clot was performed around the implants.
6 months after surgery. Thus, it was totally possible to make the prosthetic rehabilitation
onto the implants.
Key Words - Peri-implantitis; Oral implants; Bone regeneration; Disinfection.

*Especialista em Dentística – Faculdade de Odontologia do Planalto Central, Brasília/DF; Especialista em Implantodontia – Associação Brasileira de
Odontologia, Brasília/DF.
**Especialista em Implantodontia – Associação Brasileira de Odontologia, Brasília/DF.
***Especialista em Periodontia e Implantodontia – Associação Brasileira de Odontologia, Brasília/DF.

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Silva W • de Almeida LR • Tomio RN

Introdução a presença de supuração e bolsas ao redor do implante,


observar desconforto do paciente na região operada e, ainda,
De acordo com o primeiro Workshop Europeu de Perio- complementar essas informações com exames radiológicos, a
dontia – realizado em Ittingen, Suíça –, a peri-implantite foi fim de detectar áreas de perda óssea margeando o implante1.
definida como um processo inflamatório que afeta os tecidos Assim, como no tratamento das doenças periodontais, a
ao redor de um implante osseointegrado, resultando em fase inicial da terapia peri-implantar começa pela remoção
perda de osso suporte1. de cálculo e placa bacteriana com escovas convencionais e
A lesão periapical de implante é caracterizada pela curetas não metálicas, como as de teflon, a fim de não arra-
infecção e, consequentemente, perda óssea, no ápice do nhar a superfície do implante. Bochechos com antissépticos
implante. Sua etiologia é multifatorial, sendo que dentre os orais também são recomendados4.
principais fatores causadores, pode-se destacar a microflora Nos casos de perda óssea maior que 2 mm, além da
patogênica específica do hospedeiro, sobrecarga oclusal, terapia inicial, é necessário antibioticoterapia e terapia
traumas cirúrgicos, e limitações de quantidade e/ou quali- cirúrgica regenerativa. Utilizar membranas reabsorvíveis
dade óssea da área operada2-3. associadas apenas ao coágulo sanguíneo, e sem a utiliza-
Durante a fase de diagnóstico da lesão, deve-se avaliar ção de enxertos ósseos, é valido para solucionar pequenos
defeitos ósseos5-6.
Em alguns casos, a lesão periapical pode recidivar,
sendo necessária a remoção parcial ou total do implante7.
O objetivo deste trabalho foi demonstrar um protocolo
simplificado de desinfecção e regeneração óssea em implan-
tes com lesões periapicais, viabilizando a sua manutenção
em função.

Relato de Caso Clínico


Paciente do sexo feminino, 50 anos, leucoderma, Asa I,
apresentou-se desejando extrair os elementos dentários
superiores anteriores e realizar implantes dentários. Ao
exame clínico, os elementos 13, 12, 11 e 21 apresentaram
mobilidade, além de não possuírem uma proporção estética
Figura 1
Foto inicial. satisfatória (Figuras 1 e 2).

Figura 2
Radiografias
periapicais iniciais.

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Relato de Caso Clínico Caderno Científico

Após análise criteriosa e planejamento multidisci- Após seis meses da cirurgia, na região apical entre os
plinar, o caso foi iniciado cirurgicamente com a extração implantes 12 e 11, radiograficamente foi observada imagem
conservadora dos elementos 13, 12, 11 e 21 (Figuras 3 e 4), radiolúcida e tomograficamente perda parcial da parede óssea
sendo realizada imediatamente a instalação de implantes vestibular. Clinicamente, foi verificada fístula no ápice do im-
(4 x 15 mm – Nobel MK III Tiunite) nos alvéolos dos ele- plante da região 12 (Figura 7). O plano de tratamento realizado
mentos 13, 12 e 11. Todos os implantes tiveram travamento foi: antibioticoterapia via oral (uma cápsula de amoxicilina
superior a 45 N. Imediatamente à instalação dos implantes, 500 mg, de oito em oito horas, por sete dias, iniciada uma
foi feita a colocação de minipilares cônicos (1 mm – Neodent) hora antes do procedimento cirúrgico); bochecho com Perio-
com torque de 20 N e moldagem para confecção de carga gard três vezes ao dia, por 30 dias (iniciado no ato cirúrgico),
imediata provisória, com elementos resinosos unidos entre e intervenção cirúrgica para remoção de tecido mole ao redor
si (Figuras 5 e 6). dos ápices e terço médio vestibular dos implantes 12 e 11.

Figura 4
Elementos 13, 12, 11 e 21.

Figura 3
Exodontia do 13, 12, 11 e 21.

Figura 5 Figura 6
Implantes e transfer de moldagem. Carga imediata provisória instalada.

Figura 7
Presença de fístula
no implante 12.

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Silva W • de Almeida LR • Tomio RN

Figura 8 Figura 9
Remoção dos provisórios com placa bacteriana. Incisão conservadora.

Figura 10 Figura 11
Descolamento do retalho. Remoção de tecido mole invaginado.

Figura 12 Figura 13
Curetagem de tecido mole ao redor dos implantes. Desinfecção com ácido fosfórico 37%.

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Figura 14 Figura 15
Tetraciclina, rifocina e soro fisiológico. Solução de tetraciclina, rifocina e soro fisiológico.

Figura 16 Figura 17
Desinfecção com a solução. Lavagem com soro.

Figura 18 Figura 19
Membrana reabsorvível. Estabilização da membrana sobre o coágulo.

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Silva W • de Almeida LR • Tomio RN

Figura 20 Figura 21
Sutura. Tecido gengival sadio.

Figura 22 Figura 23
Coroas metalocerâmicas. Sorriso final.

Foram realizadas incisões


intrassulculares nos
implantes 13, 12 e 11, duas
relaxantes na mesial do
elemento dental 14 e na
Figura 24 mesial do implante 22.
Radiografia panorâmica final imediata.
Uma minuciosa curetagem
nos implantes 12 e 11 com
Foram realizadas incisões intrassulculares nos implantes cureta de teflon permitiu a
13, 12 e 11, duas relaxantes na mesial do elemento dental 14
e na mesial do implante 22. Uma minuciosa curetagem nos eliminação de toda lesão da
implantes 12 e 11 com cureta de teflon permitiu a eliminação área. A desinfecção química
de toda lesão da área. A desinfecção química foi feita com
ácido fosfórico 37%, por 30 segundos, sendo removido com
foi feita com ácido fosfórico
lavagem de soro fisiológico. Em seguida, procedeu-se à uma 37%, por 30 segundos, sendo
nova desinfecção com solução de 10 ml de soro fisiológico,
removido com lavagem de
mais um comprimido de tetraciclina 500 mg, mais uma am-
pola de rifocina 250 mg/3 ml, por cinco minutos. Novamen- soro fisiológico.
te, foi necessária lavagem abundante com soro fisiológico.

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A estimulação de sangramento da região para formação de Conclusão


coágulo foi realizada delicadamente com a cureta de teflon.
Sobre o coágulo sanguíneo formado na área da intervenção A situação relatada evidencia a possibilidade de trata-
foi colocada uma membrana reabsorvível (Genderm – Bau- mento de implantes com perda óssea localizada no seu ápice.
mer). A região foi suturada com fio Vicryl 4.0 (Figuras 8 a 20). A utilização de substâncias de desinfecção, aliada à
Após seis meses da intervenção cirúrgica regenerativa, colocação de membranas reabsorvíveis juntamente com o
observou-se completa cicatrização gengival (Figura 21). coágulo da região, mostrou-se eficaz para a eliminação da
Foi realizada a moldagem para confecção de coroas meta- infecção e manutenção do implante em função.
locerâmicas unidas entre si e com pôntico no elemento 21.
Ao final do tratamento verificou-se uma harmonia e Recebido em: abr/2010
equilíbrio no sorriso final da paciente (Figuras 22 e 23). Aprovado em: jun/2010
Radiograficamente observa-se o tecido ósseo neoformado Endereço para correspondência:
e o assentamento da prótese sobre os implantes (Figura 24). Weider Silva
weidersilva@hotmail.com

Referências bibliográficas
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