Notas Auxiliares

As Notas Auxiliares, que nos tratados de Harmonia1 são chamados também de “Notas
Estranhas ao Acorde” “Notas de Orientação”; “Notas Acidentais”; “Notas de Jogo Melódico”;
“Notas Estranhas a Harmonia” e de “Notas de Figuração Melódica” são algumas das mais
importantes trucagens técnicas que possibilitam o desdobramento das tríades em número ilimitado
de ocorrências musicais.
De grande importância melódica, esse conjunto de Notas Auxiliares (Nota de Passagem;
Bordadura; Apojatura; Antecipação; Retardo; Escapada; e suas muitas espécies de variações e
combinações) atua tanto na construção da melodia principal quanto na condução das vozes internas
da Harmonia e também na elaboração da linha de baixo.
São notas interlocutoras e coadjuvantes ás notas reais (=fundamental+terça+ quinta), seu uso é
um procedimento de escrita que suaviza a rigidez que o emprego exclusivo dos acordes, em sua
forma mais simples e primária, confere á obra musical. A princípio, o risco de equívocos entre as
notas do acorde e as Notas Auxiliares é bem pequeno. Tanto a teoria da Harmonia quanto a prática
musical administram com bastante clareza essas categorias, só nos casos muito complexos é que
essas duas classes de notas chegam a se confundir e a deixar dúvidas de interpretação sobre quem é
quem.
A importância destas Notas Auxiliares é indiscutível. São elas as responsáveis diretas pelo
desenvolvimento da produção musical naquilo que diz respeito ao estabelecimento dos maneirismos
e dos traços estilísticos. Por um lado, se o uso de um determinado estoque de acordes faz parte de
um conjunto de características que unem a produção musical de um período e é um dos responsáveis
pela fixação do convencionalismo que, por ser de uso comum entre os músicos de uma época,
extrapola o pessoal. Por outro, é o uso de recursos mutáveis, factuais, opcionais, imponderáveis e
abertos como as Notas Auxiliares, que conferem ao dado musical aquelas características estéticas
mais individualizadas e específicas. É a prática de trucagens assim que atribuem sotaque pessoal à

1
Textos:
“Notas Estranhas ao Acorde” em HINDEMITH, P. Harmonia Tradicional, SP: Vitale,
1949. pág. 40.
“Retardo, Doble Retardo, etc...” em SCHOENBERG, A. Tratado de armonia. Madrid: Real
Musical, 1920. pág.396.
“Antecipação; Apojectura; Passagem (notas de) e Retardos” verbetes em CANDÉ, R. A música:
linguagem e estrutura. Lisboa, Edições 70. Note que todos os verbetes apresentam listagens
com exemplos do repertório.
“Notas Melódicas Estranhas a Harmonia” em OCTAVIANO, J. Curso de análise harmônica.
Rio de Janeiro: Ed. Arthur Napoleão, 1960. pág. 53
“Figuração Melódica” em RIMSKY-KORSAKOV, N. Tratado prático de armonia. B. Aires:
Ricord, 1946. pág. 94.
“Notas Extranas a los Acordes” em ZAMACOIS, J. Tratado de armonia. Iii VOLUME.
Barcelona: Labor, 1945. pág 110.
“Notas Extranas a la armonia” em PISTON, W. Armonia. Barcelona: Ed. Labor, 1993, p. 110.
obra e que, ao incomodar constantemente os limites da convenção, acabam por contribuir para o
desenvolvimento do sistema.
No entanto, apesar desta fundamental importância, existe um consenso geral de que as Notas
Auxiliares não tem valor algum na lógica da concatenação das funções harmônicas. Todos
concordam que uma seqüência de I – IV – V – I graus, por exemplo, apresentará o mesmo
significado funcional, contando ou não com a participação dessas notas. O desempenho e atribuição
musical das Notas Auxiliares são da ordem do ornamental e não do estrutural; do auxiliar e não do
principal e do embelezamento e não do estabelecimento.

1. Nota de Passagem (Np)

A “nota de passagem” liga duas notas diferentes de um mesmo acorde (ou de dois acordes
diferentes), através de um (ou mais) intervalo de segunda (maior ou menor; diatônica ou cromática)
entre essas notas (= sempre por grau conjunto). A “nota de passagem” quase sempre se apresenta em
posição métrica mais fraca que a(s) nota(s) do(s) acorde(s). Nunca se salta de uma “nota de
passagem”, nem para uma “nota de passagem”.

2. Bordadura (B)

A “bordadura” aparece entre uma nota do acorde (um ou dois acordes no caso da nota ser
comum aos dois) e sua repetição imediata. Encontra-se sempre a distância de uma segunda (maior
ou menor; diatônica ou cromática) inferior ou superior (= sempre por grau conjunto) da nota real. A
“bordadura” se apresenta sempre em posição métrica mais fraca que a(s) nota(s) do(s) acorde(s).
Nunca se salta de uma “bordadura”, nem para uma “bordadura”.
3. Apojatura (Ap)
É uma dissonância atacada em tempo forte ou parte forte do tempo que resolve por grau
conjunto em uma consonância.
A “apojatura” é uma nota estranha que precede a nota de acorde por uma distancia de segunda
(maior ou menor; diatônica ou cromática) superior ou inferior (= sempre por grau conjunto). A
“apojatura” se apresenta sempre em posição métrica mais forte que a nota do acorde.

4. Retardo (R) – Suspensão (Sus)

O “retardo” é uma “apojatura” preparada, ou seja, é uma nota estranha que precede a notas de
um acorde por uma distância de segunda (maior ou menor; diatônica ou cromática) superior ou
inferior (= sempre por grau conjunto) que deve ser preparada no acorde imediatamente anterior,
como uma consonância (= nota de acorde) por meio de uma ligadura de extensão. O “retardo” é
resolvido levando-o por grau conjunto descendente à nota real. O “retardo” se apresenta sempre em
posição métrica mais forte que a nota do acorde. Nunca se salta de um “retardo”, nem para um
“retardo”. Entre o retardo e sua resolução podem aparecer outras notas intercaladas.
5. Antecipação

A “antecipação” é uma nota que será real no acorde seguinte, que é antecipada, como nota
estranha, em posição métrica mais fraca. Então a “antecipação” é um “retardo” ao contrário. A
“antecipação” pode ser alcançada por um salto.

6. Escapada
 Sai da nota real de um acorde por grau conjunto e se dirige, saltando a uma nota própria do
acorde seguinte. Aparece em posição métrica mais fraca que a sua resolução.

7. Escapada alcançada por salto

Sai da nota real de um acorde por salto e se dirige a uma nota própria do acorde seguinte por
grau conjunto. Aparece em posição métrica mais fraca que a sua resolução.

8. Notas livres

Todas as notas que não se enquadram em nenhuma das categorias anteriores.