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Instituto de Artes -Departamento de Artes Visuais

Disciplina: Arte e Antropologia


Período: 2018/2 - Profa: Cristina Danàeva
Acadêmico: Ritichely de Jesus
Matrícula: 180054864.

Resenha crítica do Cap. III (Liminaridade e Communita) do Livro: O Processo


Ritual Estrutura e Antiestrutura,
de Victor W. Turner

Victor W. Turner se baseia nos estudos realizados por Arnold Van Gennep
(1960) que destacam a fase limiar dos ritos de passagem, sendo esses por sua vez,
ritos que acompanham toda mudança de lugar, estado, posição social, de idade dentro
da tribo do povo ​Ndembo​, do Noroeste da África Central, localizada ao noroeste da
Zâmbia, cujo trabalho de campo realizado de dois anos e meio onde pôde observar sua
cultura, o conceito de estado dentro da tribo, que vai muito mais além de possuir um
status ou função.
Nesse período que passou com os Ndembos, observou muitos ritos complexos
que faziam parte de sua estrutura sócio-política, como ritos de iniciação, de caça, de
procriação, ritos de passagem, sempre todos eles marcados por longos períodos de
reclusão, normalmente na floresta.
Os estudos de Gennep ao qual Turner se inspirou, mostram que todo rito de
passagem ou de transição se caracteriza por três fases: a primeira, que é a de
s​eparação​, que significa o comportamento simbólico do afastamento do indivíduo ou
de um grupo por um longo período, onde se afasta ou de um ponto fixo na estrutura
social, ou de um conjunto de condições culturais, ou seja,é um estado, uma condição; a
segunda fase que ele chama de ​margem (ou "​Limen​", significado ​limiar em latim) que é
​ u incorporação
um período de transição; e a terceira fase que é a de ​reagregação o
onde se consuma a passagem.
As entidades em posição de margem ou liminaridade estão no meio entre as
posições atribuídas pelas leis da tribo, pelos costumes, sendo essa, uma posição
ambígua, que o autor coloca como de “nem lá nem cá”, sendo por muitas vezes
comparada com a morte, ao está no útero, à escuridão, ao eclipse do Sol e da Lua, a
bissexualidade
Os ​Ndembo também se utilizam de inúmeros simbolismos para diferenciar as
entidades nessa liminaridade, como usar uma faixa de pano como vestimenta ou até
mesmo a própria nudez, para demonstrar que, como seres limiares não possuem
status, propriedades, posição em um sistema de parentesco, roupa indicativa de classe
ou papel social.
A organização da sociedade Ndembo é entendida não como laços estruturais
em termos de castas classes ou ordens hierárquicas, mas como uma comunidade
(​Communita​) não estruturada, onde há uma comum unidade de indivíduos iguais, que
se submetem em conjunto à autoridade geral dos anciãos rituais.
Certas posições sociais ou cargos fixos dentro da sociedade Ndembo tem
bastantes atributos sagrado, com profunda relação entre política e religião. Esse
caráter sagrado é adquirido através dos ritos de passagem, em que a legitimidade
desses cargas ou funções vai muito além de dar uma simples legitimidade simbólica às
posições dentro da sociedade indígena, pois uma vez que reconhecem os laços
humanos como essenciais, sem o qual não pode haver sociedade.
A fase de liminaridade implica também nesse reconhecimento de que o alto, a
altas só existe porque existe um baixo e quem está no alto deve experimentar o que é
está no baixo.
Assim concluo que, a vida social Ndembo é uma dialética muito mais
"desenvolvida" do que consideramos erroneamente como "primitiva", de modo que as
experiências da posição social e o local do indivíduo dentro da sociedade, que se dá
por meio dessa passagem de status, que é feita através de um limbo, dessa ausência
total de status, faz com que cada indivíduo tenha uma experiência de ​communita,​
nesse estado de transições, que colocam esse indivíduo numa posição de perceber e
dar valor à sua origem, para onde ele vai depois do rito de passagem, e o que isso
implica na sua vida, postura esta, que me faz indagar se em nossa sociedade
ocidental, brasileira, quais efeitos que um rito de passagem desse teria, sobretudo para
aqueles que assumem cargos públicos políticos e que se esquecem a quem servem,
de onde vêm, porque estão ali, e talvez o pior de todos , a quem eles representam.

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