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Carta do Editor

C
aro leitor, gosto sempre de do PIB dos países industrializados é nosso planeta, mas o que adianta sa-
lembrar, quando possível, da perdido pela falta de uma melhor ber que estamos nele se não sabemos
famosa palestra do físico e compreensão do fenômeno “atrito”. exatamente aonde? Este problema
escritor C.P. Snow intitulado As Duas Saindo agora dos problemas que acompanha o homem desde há
Culturas. Uma, a cultura huma- econômicos que o atrito possa cau- muito, parece ter sido resolvido nes-
nística; a outra, a científica. C.P. sar, apresentamos na sequência um tes nossos tempos de GPS (Global Po-
Snow argumenta: “espera-se de toda artigo de Fabiana Cristina Nascimen- sitioning System) e da conectividade
pessoa dita ‘culta’, que ela saiba dizer to e Carla Emília Nascimento sobre via rede mundial de computadores.
quem escreveu Romeu e Julieta ou um tema recorrente, muito explo- Mas se novamente eu lhe perguntas-
quem compôs esta ou aquela famosa rado nas artes mas ainda pouco dis- se como determinar os pontos car-
sinfonia”. Porém, se perguntássemos cutido nos livros de física: as ilusões deais com todo este aparato e a
a estas mesmas pessoas o que diz a de óptica. Essa ausência de maiores observação dos astros, o que você
Segunda Lei da Termodinâmica, elas discussões se deve ao fato que toda responderia? Pois o artigo de Marcos
não se sentiriam nem um pouco a estória se passa no nosso cérebro, Daniel Longhini, Roberto Ferreira
constrangidas em demonstrar total no sentido que uma ilusão de óptica Silvestre e Flávio César Freitas Vieira
desconhecimento. Há uma separação não existe “per se” mas depende da se ocupa justamente desta questão.
entre estes dois mundos. Mas seria maneira como nosso cérebro pro- Física não se aprende apenas nos
isso natural? Devemos aceitar esta cessa as informações que a ele che- livros. Podemos aprender brincando
dicotomia? Eu particularmente acre- gam pela nossa visão, essa que sem – e o homem nunca deixa de brincar
dito que não, e por isso começamos dúvida é, entre nossos sentidos, a que ao longo de sua vida. Por que não
mais uma edição da Física na Escola mais exige do nosso cérebro. Fica utilizar então jogos simples para
com o artigo de Alexandre Medeiros, aqui uma pergunta, sem dúvida já ensinar, digamos, cinemática? É
Rosiane Valério de Moura e João Ter- feita há muito tempo: qual o papel justamente sobre isso que nos fala o
tuliano Nepomuceno Agra sobre a de nossos sentidos na elaboração de artigo de Magali Fonseca de Castro
literatura de cordel e a astronomia. um modelo mental que fazemos do Lima e Vitorvani Soares. Quando
Em seguida apresentamos um artigo mundo? Um bom jogos de tabuleiro
de Maristela do Nascimento Rocha, exemplo disto é o Para C.P. Snow, “espera-se de já não mais nos sa-
Aline Ribeiro Sabino e Mikiya Mura- artigo de Pedro Do- toda pessoa dita ‘culta’, que ela tisfazem (embora é
matsu acerca de um tema comum nizete Colombo Ju- saiba dizer quem escreveu fato que nunca
Romeu e Julieta ou quem
mas ainda muito pouco compreen- nior e Cibelle Celes- perdemos nosso
compôs esta ou aquela famosa
dido: o atrito! Quando digo “incom- tino Silva a respeito sinfonia”. Porém, se interesse por eles),
preendido” não me refiro à famosa da Casa Maluca em perguntássemos a estas o uso de recursos
lei de Coulomb-Amontons (aquela São Carlos. Neste mesmas pessoas o que diz a digitais – os cha-
que diz que o atrito é proporcional à experimento, de Segunda Lei da Termodinâmica, mados Objetos de
força normal) que descreve muito uma casa toda in- elas não se sentiriam nem um Aprendizagem –
bem, do ponto de vista macros- clinada, nossas pouco constrangidas em podem suprir a la-
cópico, o atrito entre corpos. Refiro- sensações visuais demonstrar total cuna. Mas seriam
me sim à verdadeira “causa” do atri- (responsáveis tam- desconhecimento eles eficientes e
to em escalas de nanômetros (um bém pelo nosso equilíbrio) são “en- acessíveis mesmo? Sobre esta ques-
bilionésimo de metro): há pelo me- ganadas” e nossa percepção da gra- tão, com particular ênfase no projeto
nos quatro diferentes explicações vidade muda. Aliás, se lhe pergun- PhET (Physics Educational Technology)
para o fenômeno e ao que tudo in- tassem qual das quatro interações da Universidade do Colorado, nos
dica todas as quatro são relevantes. fundamentais da natureza você acre- EUA, debruçaram-se Alessandra Ri-
O atrito ainda é um tema de pesquisa dita ser a mais importante, qual seria posati Arantes, Márcio Santos
em grandes centros espalhados pelo sua resposta? A gravidade? Sem ela Miranda e Nelson Studart. Para to-
mundo, pois a estimativa é que 1,6% obviamente não ficaríamos presos ao dos nós que usamos ou nos

Física na Escola, v. 11, n. 1, 2010 Carta do editor 3


interessamos por este assunto, esta ciência. Finalmente, dois artigos que, uma pessoa que não enxerga? Sua
é uma leitura obrigatória. Nesta embora usando diferentes abor- ideia simples, fácil de ser colocada em
mesma linha de pensamento a dagens, têm um objetivo comum: o prática mas muito eficiente é apre-
presente edição traz um trabalho de ensino de ciência, que passa pela sentada junto com algumas fotos
Jader da Silva Neto, Fer nanda instigação da curiosidade seja ela na feitas pelo autor.
Ostermann e Sandra Denise Prado forma de um jogo – uma viagem A todos os autores meu agradeci-
sobre o desenvolvimento de uma pelo sistema solar – que é o que nos mento por prestigiarem nossa
página na Internet para a formação apresenta o artigo de Adriana revista!
de técnicos em radiologia. O uso de Oliveira Bernardes e Rosana Giaco- A todos uma boa leitura!
radiodiagnóstico é hoje uma rea- mini – ou o trabalho de Mauro Costa Sílvio R. Dahmen
lidade por todo nosso país e formar da Silva, que apresenta aos alunos a
técnicos capacitados uma preocu- física do pêndulo de Newton de
pação constante de nossas auto- forma desafiadora. E, falando em
ridades. desafios, não poderíamos deixar de
E nesta nossa edição não poderia falar sobre nossos problemas
faltar um pouco de história, se bem olímpicos. Aqui fica nosso agrade-
que contada de uma forma diferente: cimento ao Prof. José Pedro Rino,
através de uma máquina de viagem sem o qual esta seção não seria pos-
no tempo - uma ideia fascinante sível.
mas, desculpe-me o leitor, uma Não poderia faltar a seção “Faça
ficção – mas uma ficção da autoria Você Mesmo”, com a qual con-
de Luiz Henrique Martins Arthury, cluímos a revista: quando se viu
que viaja por diversas épocas e nos diante de um estudante cego,
explica a importância de sistemas, Alexandre César Azevedo se pergun-
modelos e ideias na construção da tou: - Como ensinar gráficos para

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Novos problemas
(Selecionados da revista The Physics Teacher na seção Physics Challenges for Teachers and Students)

1
Duas partículas carregadas, uma de ao fundo do recipiente se o gás for aque- este fenômeno é mais fácil utilizar: a) o
massa M e carga +Q e uma de cido até 2T? Suponha que a mola obedeça princípio de Bernoulli, b) as leis de New-
massa m e carga -q são colocadas a lei de Hooke e que não haja atrito no ton, c) ambos. Explique.
em um campo elétrico e uniforme E. Após movimento do pistão.

4
as partículas terem sido soltas, elas Água com bolhas de ar flui através
permanecem a uma distância d constante de um cano que fica mais estreito.
uma da outra. Qual é essa distância? Na região estreita a água ganha
velocidade e as bolhas de ar são:

2
Um pistão é pendurado por uma
mola dentro de um cilindro verti-
cal como mostra a figura. Quando
todo ar é retirado do recipiente, o pistão a) Maiores?
fica em equilíbrio como mostra o Diagra- b) Menores?
ma 1, mas com uma pequena fresta en- c) Do mesmo tamanho?
tre o pistão e o fundo do recipiente. Quan-

3
do uma porção de gás, a uma temperatura Você está dirigindo um carro
T, é introduzida sob o pistão, este sobe até conversível com a capota e os vi-
a altura h, como mostra o Diagrama 2. dros fechados. Você nota que o teto
Qual será a altura do pistão em relação de lona do carro fica inflado. Para explicar

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