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PROPRIEDADES MECÂNICAS DO TECIDO ÓSSEO E RISCO DE FRATURAS

Renato Aparecido de Souza1,2, Alexandre Greca Diamantino2, Arthur Nascimento


Arrieiro1, Murilo Xavier1,2
1
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri/ Departamento de Fisioterapia,
CEP: 39100-000Fone/Fax: +55 38 3531 1200 email: xaviermurilo@hotmail.com
2
Universidade do Vale do Paraíba/ Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, São José dos
Campos,SP,Brasil, CEP 12.244.000. Fone: +55 12 3947 1168
tatosouza2004@yahoo.com.br

Resumo- O tecido ósseo promove sustentação e estrutura ao corpo, e tem uma estrutura composta de um
tecido organizado. Sua fragilidade pode ser definida de modo geral como susceptibilidade a fraturas. O
conhecimento das propriedades mecânicas do osso é importante em diversos meios científicos, entretanto
os conceitos e princípios que determinam o melhor entendimento de todo esse processo de estímulo
mecânico nem sempre são muito claros para os profissionais da área da saúde. O objetivo do presente
trabalho é investigar, através de uma revisão bibliográfica, as propriedades biomecânicas do tecido ósseo,
bem como sua influência no risco de fraturas. O tecido ósseo é um tecido sólido, porém não é
completamente rígido, que constantemente é submetido a estresse. Ele se adapta aos estímulos mecânicos
por atrofia e hipertrofia, determinando assim a arquitetura do esqueleto através de leis mecânicas. Conclui-
se que os estímulos devem ser dados de forma adequada para que sejam benéficos, e não prejudiciais, e
ainda que a ausência de estímulos também pode ser prejudicial, trazendo más conseqüências no processo
de reparação e remodelação das fraturas.

Palavras-chave: Biomecânica, tecido ósseo, fraturas.


Área do Conhecimento: Engenharia Biomédica

Introdução estruturais do osso, que também influenciam a


consolidação das fraturas (EINHORN, 1993).
O tecido ósseo promove sustentação e Atualmente é comum o atendimento de
estrutura ao corpo, sendo considerado uma pessoas ainda portadoras de fraturas em
estrutura anatômica e um órgão fisiológico. Ele é consolidação. Além das fraturas traumáticas, em
rígido e proporciona à região em que está situado: que a carga imposta ao osso é acima do tolerável,
sustentação para o tórax e extremidades; os ossos estão freqüentemente sujeitos à fadiga,
alavanca para a função locomotora dos músculos que se manifesta na forma de microtrincas, as
esqueléticos, proteção para vísceras e como quais podem evoluir para uma fratura, chamada
reservatório de cálcio e fósforo (SALTER, 1985). de “fratura de stress”, definidas como sendo uma
Devido à função que os ossos desempenham, fratura parcial ou total do osso normal e intacto,
eles são constantemente submetidos a diversos sem história de trauma (REEDER et al., 1996).
tipos de esforços, semelhante à de uma estrutura O conhecimento das propriedades mecânicas
utilizada na engenharia. O osso pode ser visto do osso é importante em diversos meios
como um material com propriedades mecânicas científicos, na área dos biomateriais, por exemplo,
que podem ser medidas, estas propriedades o conhecimento das propriedades mecânicas do
incluem a quantidade de deformação que ocorre osso auxilia o desenvolvimento de osteossínteses
sob carga, o mecanismo e velocidade com que o e próteses mais ajustáveis às condições humanas,
dano acumula-se no osso e as cargas máximas ou seja, uma boa interação entre os dois tipos de
que o material é capaz de tolerar. Estas materiais garante o sucesso de seu uso
propriedades são determinadas através da (HASTINGS & DUCHEYNE, 2000).
medição da deformação durante aplicação de Todavia os conceitos e princípios que
cargas bem definidas (BROWNER, 2000). determinam o melhor entendimento de todo esse
O osso é uma estrutura composta de um tecido processo de estímulo mecânico nem sempre são
organizado, sua fragilidade pode ser definida de muito claros para os profissionais da área da
modo geral como susceptibilidade a fraturas, e a saúde. Justificando-se assim a necessidade de um
resistência a fratura é determinada tanto pelas estudo que investigue a influência das
propriedades materiais como pelas propriedades propriedades biomecânicas nas fratutas ósseas.

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O objetivo do presente trabalho é investigar as
propriedades biomecânicas do tecido ósseo, bem
como sua influência no risco de fraturas.

Metodologia

Utilizando os bancos de dados MEDLINE e


LILACS-BIREME, foram selecionados artigos
publicados recentes e relevantes, abordando as
propriedades biomecânicas do tecido ósseo e sua
influência no risco de fraturas. Os seguintes
termos de pesquisa (palavras-chaves e Figura 1- Deformação elástica e plástica do tecido
delimitadores) foram utilizados em várias ósseo, observada na curva tensão x deformação.
combinações: 1) biomechanics; 2) bone; 3)
fracture. O tecido ósseo é um tecido sólido,
Foram consultados livros que abordam o tema constantemente submetido a estresse que
“propriedades mecânica dos tecidos biológicos” e condicionam seu desenvolvimento e arquitetura
“biomecânica do tecido ósseo”, para que os estrutural. Se adapta aos estímulos mecânicos por
conceitos básicos sejam bem entendidos. atrofia e hipertrofia, determinando assim a
arquitetura do esqueleto por atrofia e hipertrofia
Resultados e Discussão através de leis mecânicas (KISNER, 1998).
No entanto o osso não é um material
Forças externas, quando agem nos tecidos completamente rígido; não é flexível nem
biológicos, podem ser definidas em termos quebradiço, mas sim uma combinação de ambos.
mecânicos. Essas forças, que causam A parte mineral é mais instável e a parte orgânica
deformações internas entre as estruturas, podem (colágeno) é mais flexível (GOULD, 1993). O osso
ser expressas como: carga, deformação, estresse é considerado um material viscoelástico, pois
ou a percentagem de deformação que ocorre demonstra características subordinadas ao tempo
dentro da estrutura (GOULD, 1993). (mudanças nas propriedades mecânicas com
A força do material de cada tecido está índices alterados e duração das aplicações da
relacionada à sua capacidade de resistir à carga carga)(CARTER, 1981).
ou sobrecarga e sobrecarga é a força por unidade O grau de fragilidade óssea pode ser acessado
de área (KISNER, 1998). Do ponto de vista conhecendo-se as propriedades estruturais e
mecânico, a resistência do osso pode variar de materiais dos ossos. Os índices biomecânicos
acordo com as microestruturas presentes, as revelam muito das propriedades materiais dos
quais absorvem ou distribuem tensões. ossos e que são primariamente dependentes da
Um osso falhará quando a carga aplicada natureza dos seus macro-componentes
exceder a capacidade de sustentação de carga, e estruturais, colágeno e minerais.
assim tanto as cargas aplicadas quanto a Considerando que os ossos fazem parte de um
capacidade de sustentar carga devem ser arranjo que suporta uma estrutura, estes possuem
conhecidas para calcular o risco de fraturas. A propriedades mecânicas próprias para cada tipo
maioria das estruturas, como uma ponte ou de solicitação exigida pelo corpo humano
edifício, são projetadas para suportar cargas (LOFFREDO, 2007).
várias vezes maiores do que as esperadas. Gould 1993, constatou que quando fibroblastos
Similarmente, o esqueleto humano normal é capaz são posicionados em tensão e alongados como
de suportar cargas muito mais altas do que resultante das forças de tração muscular ou em
esperadas durante as atividades de vida diária virtude da curvatura causada pela tensão de um
(BROWNER, 2000). Considerando que os ossos lado do osso, eles se alongam e emparelham em
fazem parte de um arranjo que suporta uma linhas de força de tensão. Então aparecem fibrilas
estrutura, estes possuem propriedades mecânicas colagenosas ao longo destas linhas para reagirem
próprias para cada tipo de solicitação exigida pelo a esse estresse (PARFIT, 1994).
corpo humano (LOFFREDO, 2007). O colágeno é o elemento estrutural que
A deformação depende da quantidade de força absorve a maior parte da sobrecarga de tensão.
e freqüência na qual a força é aplicada. O tecido Não obstante, o colágeno não apresenta
ósseo apresenta um limite de deformação elástica propriedades mecânicas equivalentes quando
e um ponto crítico, que delimita o alcance de tencionado em diferentes direções, sendo
deformação de uma variação não-elástica ou denominado de “anisotrópico”. Anisotropia
elástica (Figura 1)(FRANKEL, 1980). significa que as propriedades mecânicas não são

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iguais em todas as direções, sendo essa uma
característica do osso cortical (EINHORN, 1993). - CARTER, D. R., et al: The Mechanical and
Isso porque estima-se que a contração muscular e biological response of cortical bone to in vivo
a descarga de peso facilitam o processo de strail histories. In Cowin SC, editor: Mechanical
reparação. proprietes of bone, Joint ASME-ASCE Aplies
A remodelação óssea pode ser estimulada por Mechanics, June 1981.
forças mecânicas presentes nas atividades físicas
normais. Mas, a diminuição dos estímulos - CHAMAY A; TSCHANTZ P., Mechanical
mecânicos, observada em vôos espaciais influences in bone remodeling. Experimental
(exposição dos astronautas ao ambiente de research on Wolff's law. Journal of
microgravidade), nas imobilizações ortopédicas e Biomechanics. v.5, n.2, p.173-80, 1972.
na permanência prolongada de pacientes no leito,
pode causar danos significativos na estrutura - EINHORN, T. Remodelacion óssea durante la
óssea. reparacion de las fracturas. Sandorama especial
Durante os vôos espaciais que duram mais de Sandoz Pharma S. A., 1993.
um mês, os astronautas sofrem perdas
significativas da massa óssea e da densidade - FRANKEL, V.; NORDIN, M. Basic
mineral óssea nas principais partes do esqueleto Biomechanics of the skeletal system,
que suportam o peso corporal, principalmente na Philadelphia, 1980.
coluna vertebral e nos membros inferiores
(TURNER, 2000). - GOULD, J.A., Fisioterapia em Ortopedia e
O decréscimo da massa óssea pode provocar Medicina do Esporte, 2 ed., São Paulo: Ed.
aumento no risco de fraturas, não durante o Manole, 1993.
período de sub-carregamento, mas no retorno às
atividades físicas normais. Portanto, é - HASTINGS, G.W.; DUCHEYNE, P. Natural and
fundamental conhecer o comportamento mecânico Living Biomaterials, Florida: CRC Press. 2000.
das principais estruturas esqueléticas,
responsáveis pela sustentação do peso corporal, - HOLICK, M.F. Perspective on the impact of
após o período de hipocinesia (HOLICK, 1998). weightlessness on calcium and bone metabolism.
O osso reage às cargas por remodelação que Bone, New York. v.22, n.5, p.105-111, 1998.
consiste em reabsorção e conseqüente aposição
óssea lamelar. Isso toma lugar no periósteo, no - KISNER, C. Exercícios Terapêuticos,
endósteo e nas lacunas intracorticais. A Fundamentos e Técnicas, 3. ed. São Paulo: Ed.
remodelação é modificada construtiva ou Manole, São Paulo, 1998.
destrutivamente de acordo com o estresse
mecânico. Se o osso for sobrecarregado, ou seja, - LOFFREDO, M.C. M.; FERREIRA, I. Resistência
submetido a forças que causam deformações mecânica e tenacidade à fratura do osso cortical
plásticas, as quais produzem lesões internas sem bovino. Revista Brasileira de Engenharia
que ocorra fratura, ele reage a essa sobrecarga Biomédica, v.23, n.2, p.159-168, 2007.
com uma rápida e massiva hipertrofia (CHAMAY &
TSCHANTZ, 1972). - PARFIT, A.M. The two faces of grows: benefits
and risks to bone integrity. Osteoporosis
Conclusão International. v.4, n.6, p.382-98, 1994.

Os conceitos que foram colocados nesse - REEDER, M.T.; DICK, B.H.; ATKINS, J.K.;
trabalho são de especial importância para o PRIBIS, A.B. Stress fractures – current concepts of
entendimento da lesão óssea e sua melhor forma diagnosis and treatment. Sports Medicine, v.22,
de tratamento. Os estímulos devem ser dados de n.3, p.198-212, 1996.
forma adequada para que sejam benéficos, e não
prejudiciais. A ausência de estímulos também - SALTER, R.R.B., Distúrbios e lesões do
pode ser prejudicial, trazendo más conseqüências sistema músculo esquelético, 2. ed. Rio de
no processo de reparação e remodelação das Janeiro: Ed. Médica e Científica, 1985.
fraturas.
- TURNER, R.T. Physiology of a microgravity
Referências environment. Invited Review: What do we know
about the effects of spaceflight on bone? Journal
- BROWNER, B.D. Traumatismos do Sistema of Applied Physiology. v.89, p.840-847, 2000.
Musculoesquelético. Volume I, 2. ed. São Paulo:
Ed. Manole, 2000.

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