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em Imunologia 1
Imunologia é o estudo das defesas do organismo contra infecção. Os seres huma-
nos vivem cercados de microrganismos e muitos deles causam doenças. No entan-
to, apesar dessa exposição contínua, apenas em raras ocasiões os humanos ficam
doentes. Como o corpo se defende? Quando a infecção ocorre, como o corpo eli-
mina o invasor e se recupera? E por que os humanos desenvolvem imunidade du-
radoura a muitas doenças infecciosas encontradas uma vez e a superam? Essas são
questões direcionadas à imunologia, a qual é estudada para que seja possível enten-
der as defesas corporais contra infecções em níveis celular e molecular.
A imunologia é uma ciência relativamente nova. Sua origem costuma ser atri-
buída a Edward Jenner (Fig. 1.1), que observou, no fim do século XVIII, que a
doença da varíola bovina, ou vaccínia, relativamente branda, parecia conferir
proteção contra a doença da varíola humana, em geral fatal. Em 1796, ele de-
monstrou que a inoculação com varíola bovina poderia proteger contra a va-
ríola humana. Jenner deu a esse procedimento o nome de vacinação, termo que
ainda hoje é usado para descrever a inoculação de amostras enfraquecidas ou
atenuadas de agentes patológicos em indivíduos sadios, a fim de obter proteção
contra doenças. Embora o audacioso experimento de Jenner tenha tido sucesso,
passaram-se quase dois séculos até que a vacinação contra a varíola se tornasse
universal. Esse progresso permitiu que a Organização Mundial da Saúde (OMS)
anunciasse a erradicação da varíola em 1979 (Fig. 1.2), possivelmente o maior
triunfo da medicina moderna.
Quando introduziu a vacinação, Jenner nada sabia a respeito dos agentes infec-
ciosos que causam doenças. Foi apenas no final do século XIX que Robert Koch
provou que as doenças infecciosas eram causadas por microrganismos patogêni-
cos, cada um responsável por uma determinada enfermidade ou patologia. Atual-
mente, são reconhecidas quatro grandes categorias de microrganismos causadores
de doença, ou patógenos: vírus, bactérias, fungos patogênicos e outros organismos
eucarióticos unicelulares e multicelulares, relativamente grandes e complexos, co-
letivamente chamados de parasitos.
As descobertas de Koch e de outros grandes microbiologistas do século XIX esti-
mularam a expansão da estratégia de vacinação de Jenner para outras doenças. Nos
anos 1880, Louis Pasteur projetou uma vacina contra o cólera aviário, e desenvol-
veu uma vacina antirrábica que obteve sucesso espetacular em sua primeira apli-
cação em um rapaz mordido por um cão raivoso. Tantos triunfos práticos levaram à
busca dos mecanismos de proteção imunológica e ao desenvolvimento da ciência
da imunologia. No início da década de 1890, Emil von Behring e Shibasaburo Ki-
tasato descobriram que o soro de animais imunes à difteria ou ao tétano continha
uma “atividade antitóxica” específica que poderia conferir proteção em curto prazo
Figura 1.1 Edward Jenner. Retrato por John
contra os efeitos das toxinas de difteria ou tétano em pessoas. Essa atividade era de- Raphael Smith. Reprodução cortesia da Yale Uni-
vida ao que agora se chama de anticorpos, que se ligam especificamente a toxinas e versity, Harvey Cushing/John Hay Whitney Medical
neutralizam suas atividades. Library.
Medula óssea
HSC pluripotente
Medula óssea
Sangue
Granulócitos
(ou leucócitos polimorfonucleados)
Linfonodos Tecidos
Células efetoras
Figura 1.3 Todos os elementos celulares do sangue, incluindo as células do leucócitos remanescentes são monócitos, células dendríticas, neutrófilos, eosinófi-
sistema imune, derivam das células-tronco hematopoiéticas (HSCs) pluripo- los e basófilos. Os três últimos circulam no sangue e são chamados de granulóci-
tentes da medula óssea. Estas HSCs pluripotentes dividem-se para produzir dois tos, devido aos grânulos citoplasmáticos cuja coloração característica confere uma
tipos de células-tronco. Um progenitor linfoide comum dá origem à linhagem linfoide aparência distinta em esfregaços sanguíneos, ou de leucócitos polimorfonucleados,
(fundo azul) de células sanguíneas brancas ou leucócitos – as células natural killer devido à forma irregular de seus núcleos. As células dendríticas imaturas (fundo
(NK) e os linfócitos B e T. Um progenitor mieloide comum dá origem à linhagem amarelo) são células fagocíticas que entram nos tecidos; elas maturam após encon-
mieloide (fundos vermelho e amarelo), que compreende o restante dos leucócitos, trar um patógeno potencial. O progenitor linfoide comum também dá origem a uma
os eritrócitos (hemácias) e os megacariócitos que produzem as plaquetas, as quais subpopulação menor de células dendríticas, mas para manter a clareza, essa via de
são importantes para a coagulação sanguínea. Os linfócitos T e B distinguem-se dos desenvolvimento não será ilustrada. Contudo, como existem mais células mieloides
outros leucócitos pela presença de receptores antigênicos, além do local no qual se progenitoras comuns do que progenitores linfoides comuns, a maioria das células
diferenciam – timo e medula óssea, respectivamente. Após encontrar o antígeno, dendríticas do organismo se desenvolve a partir de progenitores mieloides comuns.
as células B diferenciam-se em células plasmáticas secretoras de anticorpos, en- Os monócitos entram nos tecidos, onde se diferenciam em macrófagos fagocíticos.
quanto as células T se diferenciam em células T efetoras com funções variadas. Ao A célula precursora que dá origem aos mastócitos ainda é desconhecida. Os mastó-
contrário das células T e B, as células NK não têm especificidade de antígenos. Os citos também entram nos tecidos, onde completam sua maturação.
Macrófago Eosinófilo
Fagocitose e
ativação de
mecanismos Matar parasitos
bactericidas revestidos
com anticorpos
Apresentação
de antígeno
Captura do Promoção da
antígeno na resposta
periferia alérgica e
aumento da
Apresentação defesa
de antígeno antiparasitos
Neutrófilo Mastócito
Liberação de
Fagocitose e grânulos
ativação de contendo
mecanismos histamina e
bactericidas agentes ativos
Figura 1.4 Células mieloides das imunidades inata e adaptativa. As T, ativando-as. As outras células mieloides são principalmente células secreto-
células da linhagem mieloide desempenham diversas funções importantes na ras, que liberam o conteúdo dos grânulos citoplasmáticos quando ativadas por
resposta imune. Essas células estarão representadas de forma esquemática à anticorpos durante a resposta imune adaptativa. Acredita-se que os eosinófilos
esquerda ao longo deste livro. Nas figuras centrais, estão as fotomicrografias estejam envolvidos no ataque a grandes parasitos recobertos por anticorpos,
de cada tipo celular. Macrófagos e neutrófilos são primariamente células fago- como os vermes, e que os basófilos estejam envolvidos na imunidade anti-
cíticas que engolfam patógenos e os destroem dentro das vesículas intracelu- parasitos. Os mastócitos são células dos tecidos que desencadeiam resposta
lares, função que essas células desempenham tanto na resposta imune inata inflamatória local contra antígeno pela liberação de substâncias que atuam
quanto na adaptativa. As células dendríticas são fagocíticas quando imaturas nos vasos sanguíneos locais. Mastócitos, eosinófilos e basófilos também são
e podem aprisionar patógenos; após a maturação, elas atuam como células importantes nas respostas alérgicas. (Fotografias cortesias de N. Rooney, R.
apresentadoras de antígenos para as células T, iniciando a resposta imune Steinman e D. Friend.)
adaptativa. Os macrófagos também podem apresentar antígenos às células
1.6 A maioria dos agentes infecciosos ativa o sistema imune inato e induz
uma resposta inflamatória
A pele e a mucosa epitelial que revestem as vias aéreas e o intestino são as primei-
ras defesas contra os patógenos invasores, formando uma barreira química e física
contra a infecção. Os microrganismos que rompem essas defesas encontram células
e moléculas que imediatamente desenvolvem uma resposta imune inata. Os ma-
crófagos que residem nos tecidos, por exemplo, podem reconhecer as bactérias por
meio de receptores que se ligam aos constituintes comuns de muitas superfícies
bacterianas. O comprometimento desses receptores ativa o macrófago a engolfar a
bactéria e degradá-la internamente, e a secretar proteínas chamadas de citocinas e
quimiocinas, que transmitem importantes sinais para outras células imunes. Res-
postas similares ocorrem contra vírus, fungos e parasitos. Citocina é o nome geral
dado a qualquer proteína que é secretada por células e que afeta o comportamen-
to das células vizinhas portadoras de receptores adequados. As quimiocinas são
proteínas secretadas que atuam como quimioatraentes (daí o nome “quimiocina”),
atraindo as células portadoras de receptores de quimiocinas, como neutrófilos e
monócitos, da corrente sanguínea para o tecido infectado (Fig. 1.9). As citocinas e
as quimiocinas liberadas pelos macrófagos ativados iniciam o processo conhecido
como inflamação. A inflamação é benéfica para combater a infecção, recrutando
células e proteínas do sangue para os tecidos infectados que auxiliam diretamen-
te na destruição dos patógenos. Além disso, a inflamação aumenta o fluxo de linfa
carregando microrganismos e APCs dos tecidos infectados aos tecidos linfoides vizi-
nhos, onde ativam os linfócitos e iniciam a resposta imune adaptativa. Uma vez que
a imunidade adaptativa foi ativada, a inflamação também recruta os componentes
efetores do sistema imune adaptativo – as moléculas de anticorpo e as células T efe-
toras – para o local de infecção.
que estão presente em muitos microrganismos, mas não nos receptores das células
Os macrófagos expressam receptores para
muitos constituintes microbianos do próprio organismo. Os receptores que reconhecem os PAMPs são em geral co-
nhecidos como receptores de reconhecimento de padrões (PRRs, do inglês pat-
Receptor de LPS tern recognition receptors), e reconhecem estruturas como oligossacarídeos ricos em
Receptor de (CD14)
manose manose, peptideoglicanos e lipopolissacarídeos da parede celular bacteriana, e DNA
CpG não metilado, que são comuns a muitos patógenos e têm sido conservados du-
rante a evolução, tornando-os excelentes alvos para o reconhecimento porque não
mudam (Fig. 1.10). Esse sistema de reconhecimento inato será visto em detalhes no
TLR-4 Capítulo 3. Muito do que sabe a respeito do reconhecimento inato surgiu nos últimos
TLR-2
10 anos, e essa é uma das áreas mais interessantes da imunologia moderna.
Os PRRs permitem que o sistema imune distinga o próprio (corpo) do não próprio
(patógeno). A detecção do não próprio ativa as células inatas e inicia a imunidade
Receptor Receptor de adaptativa. Os macrófagos são ativados para capturar os microrganismos, as células
de glicano varredura
dendríticas imaturas são provocadas para ativar os linfócitos T virgens. As molécu-
las reconhecidas pelos PRRs são muito distintas dos antígenos específicos de pa-
Figura 1.10 Os macrófagos expressam vários tógenos individuais que são reconhecidos por linfócitos. O fato de os constituintes
receptores que os permitem reconhecer dife- microbianos serem necessários para estimular respostas imunes contra proteínas
rentes patógenos. Os macrófagos expressam purificadas destaca a exigência de uma resposta inata preceder uma resposta imune
uma variedade de receptores, e cada um deles é adaptativa (ver Apêndice I, Seções A.1 a A.4). Esse requerimento foi reconhecido
capaz de reconhecer componentes específicos muito antes da descoberta das células dendríticas e seu modo de ativação. Sabe-se
dos microrganismos. Alguns, como os receptores
que antígenos purificados, como proteínas, em geral não evocavam uma resposta
de manose e de glicano e os receptores de var-
redura, ligam-se a carboidratos da parede celular
imune em imunização experimental – isto é, eles não eram imunogênicos. Para
das bactérias, das leveduras e dos fungos. Os re- obter uma resposta imune adaptativa contra antígenos purificados, bactérias mor-
ceptores semelhantes ao Toll (TLRs) são uma im- tas ou extratos bacterianos deviam ser misturados com o antígeno. Esse material
portante família de receptores de reconhecimento adicional foi denominado como adjuvante, porque auxilia na resposta ao antígeno
de padrões presentes nos macrófagos e em outras imunizante (adjuvare é o equivalente em latim para “ajudar”). Hoje se sabe que os
células imunes, e são capazes de ligar diferentes adjuvantes são necessários, pelo menos em parte, para ativar as células dendríti-
tipos de microrganismo; por exemplo, TLR-2 liga-se cas para preencher os requisitos do status de APC na ausência de infecção. Encon-
aos componentes da parede celular das bactérias
trar adjuvantes adequados ainda é uma área importante na preparação de vacinas,
gram-negativas, enquanto TLR-4 se liga aos com-
ponentes da parede celular das bactérias gram-
como será discutido no Capítulo 16.
-positivas. LPS, lipopolissacarídeo.
1.8 As respostas imunes adaptativas são iniciadas pelos antígenos e
pelas APCs nos tecidos linfoides secundários
As respostas imunes adaptativas são iniciadas quando os antígenos ou as APCs, prin-
cipalmente as células dendríticas portadoras de antígenos capturados nos locais de
infecção, atingem os órgãos linfoides secundários. Como os neutrófilos e os macró-
fagos descritos anteriormente, as células dendríticas têm PRRs que reconhecem os
padrões moleculares comuns aos microrganismos, como lipopolissacarídeos bacte-
rianos. Os componentes microbianos ligam-se a esses receptores e estimulam as cé-
lulas dendríticas imaturas a capturar os patógenos e degradá-los intracelularmente.
As células dendríticas imaturas também capturam material extracelular, incluindo
partículas virais e bactérias, por meio de macropinocitose independente de receptor,
e assim internalizam e degradam os patógenos que seus receptores de superfície ce-
Filme 1.1 lular não detectaram. Além de apresentar os antígenos que ativam os receptores de
antígenos dos linfócitos, as células dendríticas maduras também expressam proteí-
nas de superfície celular denominadas moléculas coestimuladoras, as quais forne-
cem os sinais que atuam juntamente com o antígeno para estimular a proliferação e
a diferenciação dos linfócitos T em sua forma final plenamente funcional (Fig. 1.11).
Os antígenos livres também podem estimular os receptores de antígenos das células
B, mas a maioria das células B necessita do “auxílio” das células T auxiliares para uma
resposta de anticorpos ideal. Portanto, a ativação dos linfócitos T virgens é o primeiro
estágio essencial de quase todas as respostas imunes adaptativas.
Cada linfócito tem um único tipo de receptor com uma única especificidade
A interação entre uma molécula estranha e um receptor de linfócito capaz de se ligar a essa
molécula com grande afinidade leva à ativação do linfócito
Figura 1.14 Estrutura esquemática dos receptores de antígeno. Figura superior: molécula de anticorpo,
que é secretada por células B ativadas como molécula efetora ligadora de antígeno. A versão dessa molécula Estrutura esquemática do TCR
ligada à membrana atua como receptor de antígeno de célula B (não mostrado). Um anticorpo é composto de
duas cadeias pesadas idênticas (verde) e duas cadeias leves idênticas (amarelo). Cada cadeia tem uma região
␣ 
constante (sombreado azul) e uma região variável (sombreado vermelho). Cada braço da molécula de anticorpo
é formado por uma cadeia leve e uma cadeia pesada, de modo que as regiões variáveis das duas cadeias se Região variável (sítio de
aproximam, criando uma região variável que contém o sítio de ligação ao antígeno. A haste é formada de regiões ligação ao antígeno)
constantes das cadeias pesadas e tem um número limitado de formas. Essa região constante está envolvida
na eliminação do antígeno ligado. Figura inferior: receptor de antígeno de célula T. Ele também é composto por Região constante
duas cadeias, uma cadeia ␣ (amarela) e uma cadeia  (verde), e cada uma delas tem uma porção variável e
uma porção constante. Assim como a molécula de anticorpo, as porções variáveis das duas cadeias criam uma
região variável, a qual forma o sítio de ligação ao antígeno. O receptor de célula T (TCR) não é produzido na
forma secretada.
mentos gênicos que torna possível o amplo repertório de receptores de antígeno. Isso
significa que um número finito de segmentos gênicos pode gerar um grande número
de proteínas diferentes. Segundo, o processo de reunião é regulado de modo a asse-
gurar que cada linfócito expresse somente uma especificidade no receptor. Terceiro,
devido ao fato de o rearranjo dos segmentos gênicos envolver uma mudança irre-
versível no DNA celular, toda a progênie dessa célula herdará genes que codificam
a mesma especificidade do receptor. Esse esquema geral foi confirmado mais tarde
para os genes que codificam os receptores antigênicos das células T.
A diversidade potencial dos receptores de linfócitos gerados dessa maneira é enor-
me. Apenas poucas centenas de segmentos gênicos diferentes podem combinar-se
de diferentes maneiras para gerar milhares de cadeias receptoras diferentes. A diver-
sidade dos receptores de linfócitos é posteriormente ampliada por uma diversidade
juncional, criada por adição ou subtração de nucleotídeos no processo de união de
segmentos gênicos, e pelo fato de cada receptor ser produzido pelo pareamento de
duas cadeias variáveis diferentes, cada uma codificada por grupos distintos de seg-
mentos gênicos. Milhares de cadeias diferentes de cada tipo podem produzir 106
receptores antigênicos distintos por meio dessa diversidade de combinações. Dessa
maneira, uma pequena quantidade de material genético pode codificar uma diver-
sidade verdadeiramente surpreendente de receptores. Apenas uma parte dessas
especificidades de receptores, produzida de forma aleatória, sobrevive ao processo
seletivo que forma o repertório de linfócitos periféricos. No entanto, existem linfó-
citos de pelo menos 108 especificidades diferentes em um indivíduo em um dado
momento. Isso fornece o material básico no qual a seleção clonal atuará.
Os epítopos O antígeno deve O epítopo do peptídeo O TCR liga-se a um Figura 1.16 Os receptores de células T (TCRs)
reconhecidos pelos primeiramente ser liga-se a uma molécula complexo de molécula ligam-se ao complexo de um fragmento antigê-
TCRs em geral estão quebrado em própria, uma molécula do MHC e epítopo do nico e a uma molécula própria. Diferentemente
escondidos fragmentos peptídicos do MHC peptídeo da maioria dos anticorpos, os TCRs podem reco-
nhecer epítopos que estão escondidos no antígeno
(primeira figura). Esses antígenos devem primeiro
TCR ser degradados por proteinases (segunda figura),
Epítopo do e os epítopos do peptídeo devem ser entregues a
peptídeo
uma molécula própria, chamada de molécula do
Molécula complexo principal de histocompatibilidade (MHC)
do MHC
Molécula (terceira figura). É nessa forma, como complexo de
do MHC peptídeo e molécula do MHC, que os antígenos
são reconhecidos pelos TCRs (quarta figura).
mento das células dendríticas portadoras de antígenos e facilitam o início das res-
postas imunes adaptativas.
Os tecidos linfoides periféricos são compostos por agregados de linfócitos em uma
rede de células estromais não leucocitárias, as quais fornecem a organização estru-
tural básica do tecido e os sinais de sobrevivência para auxiliar a manutenção da
vida dos linfócitos. Além dos linfócitos, órgãos linfoides periféricos também contêm
macrófagos e células dendríticas residentes.
Quando uma infecção ocorre em um tecido como a pele, antígenos livres e células
dendríticas portadoras de antígenos migram do local de infecção pelos vasos linfá-
ticos aferentes para os linfonodos de drenagem (Fig. 1.17), tecidos linfoides perifé-
ricos onde eles ativam linfócitos antígeno-específicos. Então, os linfócitos ativados
passam por um período de proliferação e diferenciação, após o qual a maioria dei-
xa os linfonodos como células efetoras via vasos linfáticos eferentes. Isso, por fim,
retorna-os à corrente sanguínea (ver Fig. 1.8), a qual os leva até os tecidos nos quais
atuarão. Todo esse processo leva em torno de quatro a seis dias do momento em que
o antígeno é reconhecido, o que significa que uma resposta imune adaptativa contra
um antígeno que não tenha sido encontrado anteriormente não se torna efetiva até
cerca de uma semana após a infecção (ver Fig. 1.34). Os linfócitos virgens que não
reconhecem seu antígeno também saem pelos vasos linfáticos eferentes e retornam
ao sangue, onde continuam a recircular pelos tecidos linfoides até que reconheçam
seu antígeno ou morram.
Os linfonodos são órgãos linfoides altamente organizados, localizados nos pontos
de convergência de vasos do sistema linfático, o sistema mais extenso que coleta
Os linfócitos e a linfa Os linfócitos virgens líquido extracelular dos tecidos e retorna-o ao sangue (ver Fig. 1.8). Esse líquido ex-
retornam para o sangue entram nos tracelular é produzido continuamente pela filtração do sangue e é chamado de linfa.
via ducto torácico linfonodos pelo sangue
A linfa sai dos tecidos periféricos devido à pressão exercida pela sua produção contí-
nua, e é conduzida por vasos linfáticos, ou linfáticos. As válvulas unidirecionais dos
vasos linfáticos impedem um fluxo reverso, e os movimentos de uma parte do corpo
em relação à outra são importantes no direcionamento da linfa.
Os vasos linfáticos aferentes drenam os líquidos dos tecidos e levam os patóge-
Coração
nos e células portadoras de antígenos dos tecidos infectados para os linfonodos
(Fig. 1.18). Os antígenos livres simplesmente se difundem pelo líquido extracelular
para o linfonodo, enquanto as células dendríticas migram ativamente para os linfo-
nodos, atraídas por quimiocinas. As mesmas quimiocinas também atraem os linfó-
citos do sangue, os quais entram nos linfonodos passando pelas paredes de vasos
sanguíneos especializados chamados vênulas endoteliais altas (HEVs, do inglês
high endothelial venules). Nos linfonodos, os linfócitos B são localizados nos folí-
Linfonodo
culos, os quais formam o córtex externo do linfonodo, com células T distribuídas
de maneira mais difusa nas áreas paracorticais circundantes, também chamadas
de córtex medular ou zonas de células T (ver Fig. 1.18). Os linfócitos que migram
do sangue para os linfonodos entram inicialmente nas áreas paracorticais, e as célu-
Tecido
periférico las dendríticas apresentadoras de antígeno e os macrófagos, como são atraídos pela
infectado mesma quimiocina, também migram para esse local. Os antígenos livres difusos nos
Os antígenos dos locais de linfonodo podem ser aprisionados nessas células dendríticas e nesses macrófagos.
infecção alcançam os linfonodos Essa justaposição de antígeno, APCs e células T virgens na zona de células T cria um
via linfáticos ambiente ideal no qual as células T virgens podem ligar seu antígeno específico e,
dessa maneira, tornar-se ativadas.
Figura 1.17 Os linfócitos circulantes encon-
tram o antígeno nos órgãos linfoides perifé- Como dito anteriormente, a ativação de células B em geral requer não apenas um
ricos. Os linfócitos virgens recirculam constan- antígeno, que se liga ao BCR, mas também a cooperação de células T auxiliares ati-
temente pelos tecidos linfoides periféricos, aqui vadas, um tipo de célula T efetora (ver Seção 1.4). A localização das células B e T
ilustrados como um linfonodo poplíteo – linfonodo nos linfonodos é regulada de forma dinâmica pelo seu estado de ativação. Quando
localizado atrás do joelho. No caso de uma infec-
elas tornam-se ativadas, as células B e T movem-se para a borda do folículo e para
ção no pé, esse será o linfonodo que fará a dre-
a zona de células T, onde as células T podem fornecer sua função auxiliar às células
nagem, onde os linfócitos poderão encontrar seus
antígenos específicos e tornar-se ativados. Os lin- B. Alguns folículos de células B incluem os centros germinativos, onde as células B
fócitos ativados e não ativados retornam à corrente são submetidas a uma intensa proliferação e diferenciação em células plasmáticas.
sanguínea via sistema linfático. Esses mecanismos serão descritos detalhadamente no Capítulo 10.
Linfonodo
Seio cortical
Folículo linfoide
Folículo linfoide primário (maioria de
secundário (com células B)
centro germinal) Cordões medulares
(macrófagos e
Vaso linfático células plasmáticas)
aferente
Seio medular
Artéria
Área paracortical Veia
(maioria de células T)
Vaso linfático
eferente
Centro germinal
senescente
Centro germinal
Seio marginal
Veia Seio
trabecular venoso
Artéria
Secção transversal da polpa branca trabecular Secção longitudinal da polpa branca
RP
PFZ
MZ
Co
Coroa de células B
GC GC
MZ
PFZ
PALS PALS
Arteríola central
PFZ
RP
Figura 1.19 Organização dos tecidos linfoides do baço. O esquema no de células B. Os folículos são circundados pela chamada zona marginal de
topo à esquerda mostra que o baço consiste em uma polpa vermelha (áreas linfócitos. Em cada área de polpa branca, o sangue, carregando linfócitos e an-
cor-de-rosa), que é o local de destruição das hemácias, entremeada com a tígenos, flui de uma artéria trabecular para uma arteríola central. A partir dessa
polpa branca linfoide. A figura superior à direita exibe uma ampliação de uma arteríola, vasos sanguíneos menores se espalham, para terminar em uma zona
pequena secção do baço humano, mostrando o arranjo de discretas zonas de especializada do baço humano, chamada de zona perifolicular (PFZ), que cir-
polpa branca (amarelo e azul) ao redor de arteríolas centrais. A maior par- cunda cada zona marginal. As células e os antígenos passam então pela polpa
te da polpa branca pode ser vista na secção transversal, com duas porções branca pelos espaços cheios de sangue na PFZ. A fotomicrografia óptica de
ilustradas em secção longitudinal. Os dois diagramas esquemáticos inferiores uma imuno-histoquímica (figura inferior, à esquerda) mostra uma secção trans-
mostram uma ampliação de um corte transversal (figura inferior, no centro) e de versal da polpa branca de um baço humano corado para células B maduras.
um corte longitudinal (figura inferior, à direita) da polpa branca. Circundando a Os folículos e as PALS são circundados pela PFZ. A arteríola folicular emerge
arteríola central, encontra-se a bainha linfoide periarteriolar (PALS), composta nas PALS (ponta de seta na parte inferior), cruza os folículos e passa pela zona
por células T. Nesse local, os linfócitos e as células dendríticas carregadas de marginal, caindo na PFZ (pontas de seta na parte superior). Co, coroa de célu-
antígenos se encontram. Os folículos consistem principalmente de células B; las B foliculares; GC, centro germinal; MZ, zona marginal; RP, polpa vermelha;
em um folículo secundário, um centro germinal é circundado por uma coroa pontas de seta, arteríola central. (Fotografia cortesia de N.M. Milicevic.)
As placas de Peyer são cobertas por uma camada epitelial que contém células especializadas chamadas células M,
as quais apresentam características de pregas na membrana
Cúpula subepitelial
Célula
Epitélio associado M
ao folículo
Centro germinal b
Células T
Folículo
Linfáticos TDA GC
eferentes
a c
piratório. Assim como as placas de Peyer, esses tecidos linfoides de mucosa também Figura 1.20 Organização da placa de Peyer
são revestidos por células M, por onde podem passar os microrganismos inalados e na mucosa intestinal. Como mostra a figura à
os antígenos que são aprisionados no muco que reveste o trato respiratório. O siste- esquerda, a placa de Peyer contém numerosos
folículos de células B com centros germinais. As
ma imune de mucosa será discutido no Capítulo 12.
células T ocupam as áreas entre os folículos e as
Embora sejam muito diferentes quanto à aparência, os linfonodos, o baço e os áreas dependentes de células T. A camada entre a
MALTs compartilham a mesma arquitetura básica. Todos operam sob o mesmo superfície epitelial e os folículos é conhecida como
princípio, aprisionando antígenos e APCs dos locais de infecções e capacitando-os cúpula subepitelial, e é rica em células dendríticas,
células T e células B. As placas de Peyer não têm
a apresentar antígenos para os pequenos linfócitos migratórios, induzindo, dessa
linfáticos aferentes e os antígenos entram direta-
forma, as respostas imunes adaptativas. Os tecidos linfoides periféricos também mente do intestino através de um epitélio especia-
fornecem sinais de sustentação para os linfócitos que não encontram seu antígeno lizado constituído nas chamadas células microfe-
específico imediatamente, de modo que sobrevivam e continuem a recircular. nestradas (células M). Embora esse tecido pareça
bastante diferente dos outros órgãos linfoides, as
Por estarem envolvidos na resposta imune adaptativa inicial, os tecidos linfoides divisões básicas estão mantidas. Como nos linfo-
periféricos não são estruturas estáticas, mas variam de maneira bastante acentu- nodos, os linfócitos vindos do sangue entram nas
ada, dependendo da existência ou não de infecção. Um tecido linfoide de mucosa placas de Peyer através das paredes das vênulas
difuso pode aparecer em resposta a uma infecção e então desaparecer, enquanto endoteliais altas (não mostrado), e saem via vasos
a arquitetura dos tecidos organizados muda de modo mais definido durante uma linfáticos eferentes. Na Figura a, a fotomicrogra-
infecção. Por exemplo, os folículos de células B dos linfonodos se expandem com a fia óptica mostra um corte da placa de Peyer na
proliferação dos linfócitos B para formar os centros germinais (ver Fig. 1.18), e todo parede intestinal de um camundongo. A placa de
Peyer pode ser vista abaixo dos tecidos epiteliais.
o linfonodo aumenta, um fenômeno comumente conhecido como glândulas incha-
GC, centro germinal; TDA, área dependente de cé-
das, ou íngua. lula T. A Figura b é uma fotomicrografia eletrônica
Finalmente, populações especializadas de linfócitos podem ser encontradas distri- de varredura de um epitélio associado ao folículo
buídas ao longo de todos os locais específicos do corpo em vez de serem encontra- mostrado na Figura a, mostrando as células M com
ausência de microvilosidades e camada de muco
das em tecidos linfoides organizados. Tais locais incluem o fígado e a lâmina própria
presente nas células epiteliais normais. Cada cé-
do intestino, bem como a base do epitélio que reveste o intestino, o epitélio repro- lula M aparece como uma depressão na superfície
dutivo e, em camundongos, mas não no homem, a epiderme. Essas populações epitelial. A Figura c é uma vista de maior magnitu-
linfocitárias parecem ter um papel importante na proteção desses tecidos contra de da área da Figura b, mostrando a superfície pre-
infecções, e serão descritas mais adiante nos Capítulos 8 e 12. gueada, característica de uma célula M. As células
M são a porta de entrada para muitos patógenos e
outras partículas. (a) Corante de hematoxilina e eo-
1.16 A ativação dos linfócitos requer sinais adicionais além dos sinais sina, aumento de 100 ⫻; (b) Aumento de 5.000 ⫻;
baseados na ligação do antígeno ao receptor de antígeno (c) Aumento de 23.000 ⫻. (Fonte: Mowat, A., Viney,
J.: Immunol. Rev. 1997, 156: 145–166.)
Os tecidos linfoides periféricos promovem a interação entre as APCs portadoras de
antígeno e os linfócitos, mas somente o antígeno não é suficiente para iniciar uma
resposta imune adaptativa.
Os linfócitos requerem outros sinais para tornar-se ativados e adquirir funções
efetoras. Esses sinais são emitidos para os linfócitos por outra célula por meio de
suas moléculas de superfície celular, conhecidas em geral como moléculas coesti-
muladoras (ver Seção 1.8). Para as células T virgens, uma célula dendrítica ativada
normalmente emite esses sinais, mas para as células B virgens o segundo sinal é
emitido por uma célula T auxiliar ativada (Fig. 1.21). A natureza desses sinais será
discutida detalhadamente no Capítulo 7.
a b c
d e f
g h i
Figura 1.22 Células apresentadoras de antígenos (APCs). Os três tipos gem com muitos tipos distintos de patógenos. Os macrófagos são especializados
de APCs são mostrados da maneira que são apresentados ao longo deste livro na internalização dos patógenos extracelulares, especialmente após eles serem
(primeira linha), como aparecem na micrografia óptica (segunda linha; as células recobertos por anticorpos e terem apresentado seus antígenos. As células B têm
relevantes estão indicadas por uma seta), por sua visualização na microscopia receptores antígeno-específicos que permitem que elas internalizem, processem
eletrônica de transmissão (terceira linha) e por microscopia eletrônica de varre- e apresentem grandes quantidades de antígeno específicos. (Fotografias cortesias
dura (linha inferior). As células dendríticas maduras são encontradas nos tecidos de R.M. Steinman [a], N. Rooney [b, c, e, f], S. Knight [d, g] e P.F. Heap [h, i].)
linfoides e são derivadas das células dendríticas imaturas dos tecidos que intera-
permanecem nos tecidos linfoides para ativar células B. Algumas células plasmá-
ticas secretoras de anticorpos permanecem nos órgãos linfoides periféricos, mas a
maioria das células plasmáticas produzidas nos linfonodos e no baço migra para a
medula óssea, fixando residência e liberando anticorpos no sistema sanguíneo. As
células efetoras geradas no sistema imune de mucosa em geral permanecem nos
tecidos de mucosa.
Como mencionado anteriormente, após um linfócito virgem ser ativado, leva
de quatro a cinco dias para que ele complete a sua expansão clonal e para que os
linfócitos tenham se diferenciado em células efetoras. Assim, a primeira resposta
imune adaptativa contra um patógeno ocorre somente vários dias após a infecção
ter iniciado e ter sido detectada pelo sistema imune inato. A maioria dos linfócitos
produzidos pela expansão clonal em determinada resposta imune morre ao final.
Contudo, um número significativo de células B antígeno-específicas ativadas e célu-
las T persistem após a eliminação do antígeno. Essas células são conhecidas como
células de memória e formam a base da memória imune. Elas podem ser reativadas
muito mais rapidamente do que os linfócitos virgens, o que assegura uma resposta
mais rápida e eficaz em um segundo encontro com um patógeno e, por meio disso,
proporciona imunidade protetora permanente.
As características da memória imune são facilmente observadas pela comparação
da resposta de anticorpos de um indivíduo a uma primeira imunização com a mes-
ma resposta produzida no mesmo indivíduo por uma segunda imunização ou re-
forço com o mesmo antígeno. Como mostra a Figura 1.23, a resposta secundária de
anticorpo ocorre após uma pequena fase lag (refratária), alcançando um nível supe-
rior acentuado, e produz anticorpos de altíssima afinidade, ou força de ligação, para
o antígeno. A afinidade aumentada para o antígeno é chamada maturação da afi-
nidade e é o resultado de eventos que selecionam BCRs e, portanto, os anticorpos,
para afinidade progressivamente mais acentuada para o antígeno durante a respos-
ta imune. É importante notar que os TCRs não passam pela maturação da afinidade,
e o menor limiar para ativação de células T de memória comparado às células T
virgens resulta de uma mudança na resposta das células, e não de uma mudança no
receptor. Os mecanismos dessa importante mudança serão descritos nos Capítulos
5 e 10. A base celular da memória imune é a expansão clonal e a diferenciação clo-
nal das células específicas para o antígeno que as induziu, e é, portanto, totalmente
antígeno-específica.
Figura 1.23 O curso de uma resposta de an-
ticorpo característica. O primeiro encontro com
o antígeno produz uma resposta primária. O antí-
geno A introduzido no tempo zero encontra pouco
anticorpo específico no soro. Depois da fase lag Resposta primária Resposta secundária
(refratária) (azul-claro), aparece o anticorpo contra Anticorpo
o antígeno A (azul-escuro), e sua concentração (mg ml–1 de soro) 104
sobe até um patamar, quando, então, diminui gra- Fase
dualmente. Essa é uma resposta primária caracte- 103 lag
Resumo
Os sistemas inatos iniciais de defesa dependem de PRRs invariáveis que detectam
características comuns dos patógenos. As defesas inatas são crucialmente impor-
tantes, mas podem ser superadas por muitos patógenos e não produzem memó-
ria imune. O reconhecimento de um determinado patógeno e a produção de uma
proteção aumentada contra reinfecção são únicos da imunidade adaptativa. Uma
resposta imune adaptativa envolve a seleção e a amplificação de clones de linfócitos
portadores de receptores que reconhecem antígenos estranhos. Essa seleção clonal
fornece teoricamente a base para que seja possível entender todas as característi-
cas fundamentais da resposta imune adaptativa. Existem dois tipos principais de
linfócitos: linfócitos B, que maturam na medula óssea e são a fonte de anticorpos
circulantes, e linfócitos T, que maturam no timo e reconhecem os peptídeos dos pa-
tógenos apresentados pelas moléculas do MHC nas células infectadas ou nas APCs.
Cada linfócito tem receptores de superfície celular específicos para um único antí-
geno. Esses receptores são produzidos pela recombinação aleatória de segmentos
gênicos de receptores variáveis e pelo pareamento de distintas cadeias variáveis de
proteínas: as cadeias leves e as cadeias pesadas de Igs, ou as duas cadeias de TCRs.
O grande repertório de receptores de antígenos dos linfócitos pode reconhecer pra-
ticamente qualquer antígeno.
A imunidade adaptativa é iniciada quando uma resposta imune inata falha ao eli-
minar uma nova infecção, e as APCs ativadas portadoras de antígenos patogênicos
são levadas aos tecidos linfoides de drenagem. Quando um linfócito recirculante
encontra seu antígeno correspondente nos tecidos linfoides periféricos, ele é indu-
zido a proliferar e sua progênie se diferencia em linfócitos efetores B e T que podem
eliminar o agente infeccioso. Uma subpopulação desses linfócitos em proliferação
diferencia-se em células de memória, prontas para responder rapidamente ao mes-
mo patógeno em um novo encontro. Os detalhes desses processos de reconheci-
mento, desenvolvimento e diferenciação constituem o assunto principal das três
partes centrais deste livro.
A maioria dos outros mecanismos efetores empregados pela resposta imune adap-
tativa para eliminar os patógenos é essencialmente idêntica aos mecanismos da
imunidade inata e envolve células como macrófagos e neutrófilos, e proteínas como
as do complemento. De fato, parece que a resposta imune adaptativa dos vertebra-
dos evoluiu por meio da adição tardia do reconhecimento específico pelos recep-
tores distribuídos clonalmente nos mecanismos de defesa inata já existentes nos
invertebrados. Primeiramente, serão salientadas as ações efetoras dos anticorpos,
que dependem quase totalmente do recrutamento de células e moléculas do siste-
ma imune inato.
hastes dos anticorpos que recobrem a bactéria, levando à fagocitose (ver Fig. 1.25,
figuras centrais). O revestimento dos patógenos e de partículas estranhas, dessa ma-
neira, é conhecido como opsonização.
A terceira função dos anticorpos é a ativação do complemento. O complemento,
que será discutido em detalhes no Capítulo 2, é inicialmente ativado na imunidade
inata por superfícies microbianas, sem o auxílio de anticorpos. Contudo, quando
um anticorpo se liga à superfície bacteriana, suas regiões constantes fornecem a pla-
taforma para ativar a primeira proteína do sistema do complemento. Assim, quando
os anticorpos são produzidos, a ativação complementar contra um patógeno pode
ser substancialmente aumentada. Os componentes do complemento que são de-
positados na superfície bacteriana podem destruir diretamente certas bactérias, e
isso é importante em algumas infecções bacterianas (ver Fig. 1.25, figuras à direita).
A principal função do complemento, como a dos anticorpos, é revestir a superfície
do patógeno e permitir que os fagócitos engolfem e destruam a bactéria que, de ou-
tra maneira, eles não reconheceriam. O complemento também intensifica as ações
bactericidas dos fagócitos e, na verdade, é assim denominado pois “complementa”
as atividades dos anticorpos.
tado na superfície celular (ver Fig. 1.16). Existem dois tipos principais de moléculas
do MHC, chamadas MHC de classe I e MHC de classe II. Eles têm poucas diferenças
estruturais, mas ambas têm sulcos na superfície extracelular da molécula, em que um
único peptídeo é aprisionado durante a síntese e a montagem da molécula do MHC
no interior da célula. A molécula do MHC que tem essa carga peptídica é transportada
para a superfície celular, onde apresenta seu peptídeo para as células T (Fig. 1.28).
Há algumas importantes diferenças funcionais entre as duas classes de moléculas
do MHC. Primeiro, como mencionado anteriormente, as moléculas CD8 e CD4 que
distinguem as diferentes subpopulações de células T não são apenas marcadores
casuais. Essas duas proteínas têm a capacidade de reconhecer partes das moléculas
do MHC de classe I e de classe II, respectivamente. Portanto, as células T CD8 reco-
nhecem seletivamente peptídeos que são ligados às moléculas do MHC de classe
I, e as células T CD4 reconhecem os peptídeos ligados às moléculas do MHC de
classe II. CD4 e CD8 são conhecidas como correceptores, porque estão envolvidas
na sinalização das células T quando o receptor ligou o antígeno correto. Há também
diferenças na fonte dos peptídeos que são processados e eventualmente ligados aos
dois tipos de proteínas do MHC. Na maioria das células, as moléculas do MHC de
classe I coletam os peptídeos derivados das proteínas sintetizadas no citosol e são
então capazes de apresentar os fragmentos de proteínas virais na superfície celular
(Fig. 1.29). Como as moléculas do MHC de classe I são expressas na maioria das
células do organismo, elas atuam como um importante mecanismo de defesa con-
tra infecções virais. As moléculas do MHC de classe I que contêm peptídeos virais
são reconhecidas pelas células T citotóxicas portadoras do receptor CD8, que então
MHC de classe I MHC de classe II matam as células infectadas (Fig. 30). Em contrapartida, as moléculas do MHC de
classe II são expressas predominantemente por APCs (células dendríticas, macró-
Peptídeo