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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS

ALUNA: MARIA NILZA DE SOUSA RAMOS


ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª ROSMERI PORFIRIO DA ROCHA

ANÁLISE DE LINHAS DE INSTABILIDADE NA AMAZÔNIA ATRAVÉS DOS


BALANÇOS DE CALOR E VORTICIDADE

SÃO PAULO
2018
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Introdução

A linhas de instabilidade (LI) podem ser pensadas como aglomerado de células


convectivas de curta duração, fazendo parte assim na literatura das tempestades
multicelulares. Sendo formada basicamente por Cbs (nuvens do gênero Cumulonimbus) e
com o comprimento significativamente maior que a largura, englobando assim grandes
extensões (Silva Dias, 1987).
As LIs possuem um peso importante na produção de chuva em áreas amazônicas, e
como conclusão de Houze (1977) foi visto que enquanto os elementos de fase madura
fundem-se na retaguarda do sistema, estes passam a formar a região de bigorna da nuvem,
enquanto novos elementos passam a se formar a frente do sistema. Frisando portanto a
importância da investigação dos processos termodinâmicos que favorecem os
desenvolvimentos e propagação das LIs.

Objetivos

Este trabalho teve como objetivo analisar uma Linha de Instabilidade, situada na
Amazônia, ocorrida entre o dia 28 e 29 de junho de 2015 com base nas equações da
termodinâmica. Sendo assim, auxiliando no entendimento sinótico de um evento diretamente
ligado a ocorrência de chuvas na região.

Métodos

Para esse trabalho foi necessário e utilizado o software GrADS para manipulação e
visualização de dados de ciências da Terra, sendo este adquirido gratuitamente através do site
do centro de pesquisa COLA da George Mason University. Assim como também o g2ctl,
script esse necessário para gerar um arquivo interpretado pelo GrADS com extensão ctl
através de dados de análise GRIB2.
As análises do do modelo global GFS (Global Forecast System) de 6 em 6 horas
referentes entre os dias 28 e 29 de junho de 2014, com extensão GRIB2 e resolução de 0.5°,
foram utilizadas para o cálculo dos termos da equação da termodinâmica. Estas análises são
fornecidas pelo NCDC (National Climatic Data Center), um dos centros de dados da NOAA
(National Oceanic and Atmospheric Administration).
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Sendo a equação do balanço de calor utilizada, em coordenadas esféricas:


(1)

Onde T é temperatura, t representa tempo, u e v são a componente zonal e meridional


da velocidade horizontal respectivamente, Φ e λ respectivamente latitude e longitude em
radianos, P a pressão em Pascal, a sendo o raio da terra ≃ 6.38 km, cp o calor específico a
pressão constante = 1004 J · kg −1 · K −1 , α o volume específico, ω a pseudo velocidade
vertical em Pa · s−1 e R a constante universal dos gases para o ar = 287 J · kg −1 · K −1 .

Fisicamente os termos da equação (1) representam:


∂T
● : Variação local da temperatura
∂t
u ∂T v ∂T
● ( acosϕ ∂λ
+ a ∂ϕ
) : Advecção horizontal de temperatura
∂T α
● ω ( ∂P − cp
) : Advecção vertical da temperatura

● Ft : Resíduo adiabático, o qual pode ser calculado trocando-o de lugar com a

variação local da temperatura na equação.

Para análise usou-se um só arquivo, englobando as análises convertidas de GRIB2


para a extensão ctl. Este arquivo foi lido em um script com extensão gs criado para calcular
cada termo da equação (1) que depois foram gravados em um novo arquivo, para o qual
criou-se um novo ctl, e então um novo script para calcular a média dos termos da equação (1).
As regiões utilizadas para obtenção dos valores médios na área dos termos da
equação foram obtidos de Nestares (2017), disponibilizados na tabela 1. Esta tabela apresenta
as áreas nos respectivos horários UTC.
Tabela 1 - Intervalos de Latitude e Longitude em graus utilizados no cálculo de perfis médios na área.

Dia UTC Longitude Latitude


28 18 49.5 W 50.5 W 0.0 1.0 N
00 53.5 W 54.5 W 0.5 S 1.5 N

29 06 57 W 58 W 1.5 N 2.5 N
12 58.5 W 59.5 W 2.0 N 3.0 N
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Resultados

A LI escolhida para análise foi classificada por Nestares (2017) como um evento que
se propagou por grande extensão na região amazônica. Esta LI adentrou 1535 km sobre o
continente, e atingiu comprimento de 2288 km e 157 km, propagando-se com velocidade
média de 24 m/s (Nestares, 2017).
Neste trabalho, foram calculados os perfis verticais para a média dos termos da
equação (1) entre 18 UTC do dia 28 e 12 UTC do dia 29 de junho de 2014 de acordo com as
regiões anteriormente apontadas na tabela 1.
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Figura 1 - Evolução temporal dos perfis verticais médios dos termos da equação da
termodinâmica, sendo o preto a tendência ( ∂T
∂t ), verde a advecção horizontal, amarelo a advecção vertical,

rosa o termo de resíduo (aquecimento - esfriamento diabático da atmosfera) e em vermelho o


aquecimento adiabático.

A Figura 1 mostra que ao longo de todo tempo de vida da LI os termos de advecção


horizontal e de tendência de temperatura foram pequenos. Inicialmente, às 18:00 UTC do dia
28, os termos adiabático e de advecção vertical atuaram em sentidos opostos, ou seja,
enquanto o termos adiabático aquecia a alta troposfera a advecção vertical resfriava. Nos
níveis inferiores à 500 hPa nota-se um comportamento oposto deste. Ao mesmo tempo o
termo de resíduo atuou aquecendo a baixa troposfera e resfriando os níveis acima de 500 hPa.
À medida que a LI de instabilidade evolui no tempo, às 00:00 UTC de 29 de junho,
nota-se uma mudança nesta estrutura. Neste horário, a advecção vertical atua aquecendo toda
a atmosfera, enquanto a atuação do termo adiabático resulta em resfriamento da atmosfera. O
máximo destes dois termos ocorre nos altos níveis (entre 300-400 hPa). Assim como estes
dois termos, o termo diabático também mudou, comparado com 6 horas, e contribui para
aquecer a coluna atmosférica. Esta estrutura vertical permanece nas próximas seis horas,
06:00 UTC do dia 29, só que ocorre uma intensificação tanto do termo adiabático como da
advecção vertical. É também neste horário que o resíduo, associado à liberação de calor
latente devido à convecção, que o termo diabático atinge maior intensidade caracterizando a
fase madura da LI.
No dia 29 às 12 UTC o perfil vertical dos termos caracteriza a fase de dissipação da
LI. Nesta fase, o termo adiabático atua resfriando os baixos níveis e a advecção vertical
aquecendo. O oposto ocorre acima de 500 hPa. O resíduo ainda é relativamente grande
abaixo de 500 hPa e contribui para aquecer esta camada, enquanto impõe pequeno
resfriamento acima.
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Conclusão
Neste estudo, como podemos ver a partir das imagens para os 4 horários estudados
neste caso representados pela figura 1, ressalta-se visualmente o termo de aquecimento
diabático e a advecção vertical da equação (1).
A linha de instabilidade estudada tem início às 18 UTC do dia 28, horário quente e se
desenvolve até um pouco mais das 12 UTC do dia 29, período da manhã na região. Não
chegando esta há 24 horas de existência.
Através da análise da evolução temporal dos termos do balanço de calor foi possível
identificar diferentes fases de desenvolvimento da LI: inicial, intensificação, madura e
decaimento. Durante as fases inicial (18:00 UTC do dia 28) e final (12:00 Z do dia 29) os
perfis verticais da advecção vertical, termo do movimento vertical e resíduo mostraram
estrutura vertical diferente das fases de intensificação (00:00 do dia 29) e madura (06:00Z do
dia 29). Nas fases madura/intensificação o resíduo, associado à liberação de calor latente,
atuou aquecendo toda a coluna vertical da atmosfera, enquanto nas fases inicial/decaimento
ele atuou para aquecer os baixos níveis e resfriar os altos níveis.
Com este trabalho coloquei em prática a lógica da programação compreendida na
matéria de Introdução a Ciência da Computação fornecida para a minha graduação, só que de
uma forma prática ao meu curso, onde fui capaz de compreender o funcionamento e a
linguagem necessária para utilização do GrADS como ferramenta para cálculos e geração de
imagens para análise de dados e estudos meteorológicos, além de acessar arquivos, fazer
downloads e implementar outros softwares e extensões pelo terminal.
Para conseguir chegar ao resultado principal do meu estudo, busquei e fui capaz de
reproduzir os resultados esperados de acordo com Flores (2017) e englobar novos conceitos
sinóticos meteorológicos, assim como compreender a termodinâmica das próprias LIs.
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Referências
SILVA DIAS, M. A. F.; 1987. Sistemas de mesoescala e previsão de tempo a curto
prazo. Revista Brasileira de Meteorologia, 2, 133-150.

HOUZE, Jr.; P. V. HOBBS; K. R. BISVIAR and W. M. DAVIS, 1976a: Mesoscale


rainbands in extratropical Cyclones. Mon. Wea. Rev., 104, 868-878.

Weisman, M. L., and J. B. Klemp, 1986: Caracteristics of isolated convective storms.


Mesoscale Meteorology and Forecasting. P. Ray, Ed., Amer. Meteor. Soc., 331-358.

Nestares, V. J. (2017). ​Energética de Lorenz aplicada ao entendimento da


propagação de linhas de instabilidade na Amazônia. ​São Paulo: Dissertaçao de
Mestrado - IAG/USP.

Flores, J. P. (2017). ​Estudo do balanço de calor de evento de uma Linha de


Instabilidade sobre a Amazônia. São Paulo: Iniciação Científica - IAG/USP

Site para obtenção do GrADS: ​http://cola.gmu.edu/grads/

Como instalar/Usar o g2ctl.pl e o wgrib2 no linux ​- acesso em abril de 2018


http://prestrelocristiano.blogspot.com/2012/09/como-instalarusar-o-g2ctlpl-e-o-
wgrib2_10.html

Global Forecast System (GFS):


https://www.ncdc.noaa.gov/data-access/model-data/model-datasets/global-forca
st-system-gfs

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