You are on page 1of 77

ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Instituto Superior Mutassa


Província de Manica
Cidade de Chimoio

Cadeira de Biologia
do Comportamento Animal

4º Ano
Curso de Licenciatura em Ensino de Biologia

stenioevaldet@gmail.com

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 1


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 2


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Octávio Renato Rosério


 Natural de quelimane, Província da Zambézia;
 Licenciado em Ensino de Biologia e Mestrado em GAE, pela UCM;
 Trabalhou nas Escolas Salvatoriana Mwana Unerufaro, ECP da
Fepom, Secundarias da Soalpo e 7 de Abril na cidade de Chimoio;
 Docente desde 2000.
Contactos: 82 23 74 45 0
84 69 14 90 7
Email: stenioevaldet@gmail.com

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 1


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Prefácio

Caro Estudante;
Presado Leitor!...

Foi por pensar em ti, amante, estudante de Biologia de um modo geral, e do Instituto
Superior Mutassa em particular, que de forma simples e criteriosa se elaborou o presente
Brochura, o qual, pela honra de o dignifica-lo, o mesmo recai em suas belas mãos. Trate-o e
manuseie-o bem, fazendo o total proveito do mesmo. Ele não constitui o único material de
consulta para o estudo desta Cadeira. Poderá de forma livre e abrangente contactar os
diferentes recursos disponíveis ao seu redor para melhor se interagir sobre a BCA. Como
Estudante do 4º ano, com uma larga experiência e maturidade de fazer as tais consultas
de forma científica, pois em “Ciência não existe o impossível, mas sim o difícil”. Desta forma,
não torne esta Cadeira como a mais difícil para o seu curso, pois, ela trata de um modo
científico o seu ser do dia-a-dia, a natureza de relacionamento que enfrentas no
ambiente. Nesta vertente, a Biologia de Comportamento Animal facilitar-lhe-á na
perceção das regras de interação sobre Si mesmo, com seus parceiros e com o ambiente.

De salientar que o trabalho em seu poder, não constitui uma obra totalmente acabada. Para
tal, de acordo com as suas análises como leitor poderá, criticá-lo e até mesmo melhorá-lo de
modo a permitir uma diversidade e abrangência científica. Para o efeito, serviram como para
sua elaboração dependeu os manuais da UCM, UP, entre outros.

A presente Brochura, comporta de forma resumida 8 unidades, nomeadamente Introdução a


Biologia de Comportamento, Bases Fisiológicas do Comportamento, Bases
Genéticas e hereditariedade mendeliana do Comportamento; Comportamento
animal e Evolução dos animais; Orientação animal no espaço; Comportamento e
Ecologia; Introdução a Sociobiologia; Cronobiologia, acompanhadas com os
respectivos capítulos. No final de cada unidade, estão apresentadas algumas questões de
reflexão, de modo a facultar o seu profundo estudo e perceção.

Aquele abraço!...
Msc. Octávio R. Rosério
2018

Índice

Unidade I ........................................................................................................................................ 4
1. Introdução a Biologia de Comportamento .................................................................................... 4
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 2
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

1.1. História de Biologia do Comportamento ................................................................................ 5


1.2. Evolução Paradigmática das Ciências do Comportamento e Escola Inglesa de etologia de
Biologia do Comportamento e Escola Alemã de etologia de Biologia do Comportamento ......... 6
1.2.3. Questões para reflexão ...................................................................................................... 8

Unidade II ....................................................................................................................................... 8
2. Bases Fisiológicas do Comportamento ......................................................................................... 8
2.1. Descrição anatómica do Sistema Nervoso (SNC) ................................................................. 15
2.2. Fisiologia dos órgãos Sensoriais ........................................................................................... 16
2.2.1. Classificação Anatômica Baseada nos giros e sulcos...................................................... 18
2.3. Comportamento Motivado ................................................................................................... 21
2.4. Questões para reflexão .......................................................................................................... 22

Unidade III ................................................................................................................................... 22


3. Bases Genéticas e hereditariedade não mendeliana do Comportamento .................................. 22
3.1. Hereditariedade Mendeliana ................................................................................................ 23
3.2. Importância dos estudos de Mendel .................................................................................... 25
3.3.Herança Poligénica do Comportamento ............................................................................... 26
3.4.Comportamento e ambiente .................................................................................................. 27
3.5. Hibridismo e estudos comparados de comportamentos para aferir a sua filogénese ......... 28
3.6. Questões para reflexão .......................................................................................................... 28

Unidade IV .................................................................................................................................... 29
4. Comportamento animal e Evolução dos animais ....................................................................... 29
4.1. Evolução e Adaptação do Comportamento animal .............................................................. 29
4.1.1. Mecanismos de Isolamento............................................................................................. 30
4.2. Desenvolvimento Ontogénico do Comportamento .............................................................. 31
4.3. Questões para reflexão .......................................................................................................... 32

Unidade V ..................................................................................................................................... 32
5. Orientação animal no espaço ...................................................................................................... 32
5.1. Classificação, formas e mecanismos de orientação no espaço ............................................. 33
5.2. Questões para reflexão .......................................................................................................... 35

Unidade VI .................................................................................................................................... 36
6. Comportamento e Ecologia ......................................................................................................... 36
6.1. Etoecologia ............................................................................................................................ 36
6.2. Novo Paradigma epistemológico e Metodológico ................................................................ 37
6.3. Evolução Natural dos Comportamentos .............................................................................. 38
6.4. Comportamentos e Domesticação ........................................................................................ 39
6.5. Questões para reflexão .......................................................................................................... 39

Unidade VII ..................................................................................................................................40


7. Sociobiologia................................................................................................................................40
7.1. Introdução a Sociobiologia ....................................................................................................40
7.1.1. História da Sociobiologia ................................................................................................ 41
7.1.2. Principais aspectos de estudos sociológicos ................................................................... 42
7.1.3. Contorvésias nos principais paradigmas da Sociologia ................................................. 43
7.1.4. Moral, Ética e Regilão ..................................................................................................... 45
7.1.5. Religião ............................................................................................................................ 46
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 3
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

7.2. Evolução dos Grupos Sociais ................................................................................................ 48


7.3. Meio ambiente e Comportamentos Sociais .......................................................................... 49
7.4. Bases biológicas e Formas de Evolução de comportamentos sociais, Vida em grupos sociais
...................................................................................................................................................... 50
7.5. Conflitos sexuais e Selecção natural ..................................................................................... 52
7.6. Cuidados com a prole e sistemas de acasalamento .............................................................. 53
7.7. Biocomunicação no Reino animal ........................................................................................ 54
7.7.1. Funções de comunicação…………………..………………………………………………………………...60
7.8. Competição, Conflitos e Cooperação .................................................................................... 57
7.8.1. Competição ..................................................................................................................... 57
7.8.2. Conflitos.......................................................................................................................... 58
7.8.3. Cooperação ..................................................................................................................... 58
7.9. Evolução do comportamento social no Homem .................................................................. 59
7.9.1 Comportamentos humanos e genes................................................................................. 59
7.9.2 Comportamentos humanos e Sexo ..................................................................................60
7.9.3. Evolução da cultura humana .......................................................................................... 61
7.9.4. Função biológica de alguns elementos da evolução cultural e o fitness ........................ 64
7.10. Comportamentos humanos e moral ................................................................................... 64
7.10.1. Biologia do Moral e do Amoral ..................................................................................... 64
7.11. Questões para reflexão ......................................................................................................... 65

Unidade VIII ................................................................................................................................ 66


8. Cronobiologia .............................................................................................................................. 66
8.1. Natureza e evolução de relógios biológicos .......................................................................... 66
8.2. Biometria .............................................................................................................................. 66
8.2.1. Funcionamento da biometria ......................................................................................... 67
8.2.2. Os tipos de biometria ..................................................................................................... 67
8.2.3. Utilização da biometria .................................................................................................. 68
8.2.4. Uso dos relógios biológicos ............................................................................................ 68
8.2.4.1. Uso dos relógios biológicos na medicina, agricultura, na produção animal entre
outros aspectos………………………………………….…………………………………………………..70
8.3. Questões para reflexão ......................................................................................................... 73

Bibliografia................................................................................................................................... 74

Unidade I

1. Introdução a Biologia de Comportamento

Biologia é a ciência que estuda a vida e os organismos vivos. A biologia está dividida em vários
campos especializados que abrangem a morfologia, fisiologia, anatomia, comportamento,
evolução e distribuição da matéria viva, além dos processos vitais e das relações
entre os seres vivos, (PIRES, 1998).

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 4


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Para o autor acima, o estudo do Comportamento Animal é uma ponte entre os aspectos
moleculares e fisiológicos da biologia e da ecologia. O comportamento é a ligação entre
organismos e o ambiente, e entre o sistema nervoso e o ecossistema. O comportamento é uma
das propriedades mais importantes da vida animal. O comportamento tem um papel
fundamental nas adaptações das funções biológicas. O comportamento é como nós definimos
nossas próprias vidas. O comportamento representa a parte de um organismo através da qual ele
interage com o ambiente. O comportamento é parte de um organismo tanto quanto sua pele,
suas asas etc. A beleza de um animal inclui seus atributos comportamentais.

O Comportamento é a forma como os animais se comportam na sua vida e nas suas acções.
Portanto, a palavra pode ser usada como sinónimo de conduta ou postura. Neste sentido, a
comportamento refere-se às acções das pessoas em relação ao seu meio envolvente ou ao seu
mundo de estímulos (GATTERMANN et al. 1993)..

O comportamento das espécies é estudado pela etologia, que pertence tanto à biologia como à
psicologia experimental. Para a psicologia, o conceito só se aplica relativamente a animais com
sistema cognitivo suficientemente complexo. Nas ciências sociais, por outro lado, a
comportamento inclui aspectos genéticos, culturais, sociológicos e económicos, para além dos
aspectos psicológicos (GATTERMANN et al. 1993).
Pode-se dizer que o comportamento é o conjunto de comportamentos observáveis numa pessoa.
Divide-se em três áreas: a mente (que inclui actividades como pensar, sonhar, etc.), o corpo
(comer, falar) e o mundo externo (apresentar-se a uma reunião/consulta, conversar com
amigos).

1.1. História de Biologia do Comportamento

Os estudos, analises e desenvolvimento sobre a biologia de comportamento tiveram sua enfase


primordial na Inglaterra e Alemanha, onde se destaca o senhor HEINROTH. Na Escola Inglesa
a Biologia do Comportamento é denominada Etologia (do Grego: ethos comportamento, hábito,
costume). No sec. XIX, a Etologia constituíu-se como uma ciência biológica independente que, de
modo geral, procurava estudar hábitos e biologia de espécies animais isoladas. Por volta de 1911,
O. HEINROTH utilizou, pela primeira vez, o conceito Etologia para designar a cadeira biológica
de estudo comparado do comportamento. Os estudos de HEINROTH baseavam-se na descrição
dos diferentes comportamentos de patos. Hoje, o conceito Etologia da literatura Inglesa está para
Biologia do Comportamento da escola Alemã (GATTERMANN et al. 1993).

Na evolução histórica ocorreram mudanças tanto no questionamento científico, quanto nos


métodos de trabalho da Etologia, que justificam, hoje, o uso do termo Biologia do
Comportamento. Conforme TEMBROCK, 1996 faz notar, a Etologia preocupou-se mais com a
descrição fenomenológica dos comportamentos, partindo nas três questões abaixo:
1) O que é que o animal faz?
2) Quando é que o faz?
3) Como é que o faz? Estas eram, de modo resumido, as questões que preocuparam os
etólogos daquele tempo.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 5


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

1.2. Evolução Paradigmática das Ciências do Comportamento e Escola Inglesa de


etologia de Biologia do Comportamento e Escola Alemã de etologia de Biologia do
Comportamento

A Biologia do Comportamento estuda o comportamento animal e humano, bem como as suas


bases biológicas. Portanto, o objecto de estudo da Biologia do Comportamento pode ser:
 Indivíduos naturais intactos, i.e. não influenciados de alguma forma pelo Homem (o leão
na selva);
 Indivíduos naturais sob influência antropogénica (animais capturados na natureza e
colocados sob custódia do Homem);
 Indivíduos naturais laboratoriais, aqueles que são criados pelo Homem em meio
laboratorial (as cávias cobaias e o macaco-Rhesus, por exemplo);
 Homem;
 Grupos sociais (nas suas variadas formas de manifestação);
 Indivíduos isolados.

Hoje, os aspectos relevantes de investigação da biologia do comportamental são:


 As estruturas do comportamento (morfologia comportamental);
 As bases do comportamento (Etometria, Fisiologia comportamental, genética
comportamental);
 O desenvolvimento individual e específico (ontogénese e filogénese comportamentais,
tradições) e;
 A adaptação ao ambiente, adquirida ao longo do processo filogenético (Etoecologia). A
individualidade e a especificidade (relativo à espécie) do comportamento constituem
igualmente objectos de investigação da Biologia do Comportamento.

A Biologia do Comportamento constitui, hoje, uma nova disciplina, cujas tarefas situam-se entre
a Fisiologia animal e a Ecologia. Enquanto que a Fisiologia animal, como ramo da Fisiologia,
investiga processos fisiológicos complexos que regulam as funções vitais do organismo como um
todo, a Ecologia abarca as interacções entre o organismo e o ambiente, com base nas quais
os próprios processos fisiológicos evoluiram, num processo de selecção natural. A maior
pressão da selecção natural no contexto de evolução adaptativa dos principais processos
fisiológicos, recaiu, sem dúvida, sobre (1) a troca de substâncias, (2) a troca de energia, (3)
a troca de informações e (4) a mudança de forma (Fisiologia do desenvolvimento) , e, todas
estruturas e sistemas do organismo evoluiram no sentido de consubstanciarem a evolução
destes fenómenos fisiológicos. A Ecologia pode ser definida como ciência que estuda as
interacções e inter -relações dos organismos entre si e destes com o ambiente inanimado que
os rodeia. Assim nota-se o sentido do posicionamento da Biologia do Comportamento entre a
Fisioloa animal e a Ecologia, uma vez que ela procura analisar e compreender os mecanismos
que regulam e determinam as relações recíprocas entre o fisiológico e o ambiente com base na
troca de informações. Na sua evolução histórica a Biologia do Comportamento passou pela
Psicologia animal do sec. XIX. A partir de WUNDT no sec. XIX, completa desenvolveu-se a
Psicologia comparada. Princípios da Psicologia foram usados para a percepção do
comportamento animal. WUNDT postulava, mais ou menos, que “(...) a perceção da alma do
animal só pode partir da percepção da alma do Homem e não o contrário”.

DARWIN (1859) desenvolveu três princípios que vieram a determinar sobremaneira a


evolução da Etologia (e da Biologia do Comportamento). São eles:
1. Princípio de hábitos objectivamente associados;

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 6


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

2. Princípio de antítese: estados espirituais (emocionais) contraditórios conduzem à,


igualmente, estados motores (movimentos) contraditórios;
3. Princípio de liberação de acções pelo estado do sistema nervoso central,
independentemente da vontade e dos hábitos.

SPALDING (1873) com os resultados dos seus trabalhos sobre aprendizagem baseada na
estampagem de pintos também influenciou a evolução da etologia. Por seu turno, MORGAN
(1896) trouxe, pela primeira vez, uma clara distinção entre características herdadas e
características adquiridas do comportamento, que ele chamou de modos comportamentais
inatos e aprendizados. Os aprendizados, segundo ele, servem para o melhoramento do
inato. Foi também nesta altura que investigadores de campo, tais como os PECKHAM,
FABRE e WASMANN deram o seu grande contributo a caminho da definição clara da nova
disciplina biológica, a Etologia.

Para todos eles estava claro que tudo o que o animal faz deve chamar-se hábitos. Um hábito
pode ser definido, hoje, como conjunto de modos de comportamento. A disciplina que se
ocupa do estudo destes modos de comportamento chama-se Etologia SCHAXEL (1924) dizia:
“O conjunto de todas acções específicas que ocorrem na vida de cada indivíduo são
resumidos num sistema típico de acções”.

Ele postulava, assim, a existência de um repertório específico e individual de acções. Hoje,


designamos de etograma a tal sistema. KONRAD LORENZ e E RICH von HOLST
dsenvolveram ainda mais o conceito de Etologia, conferindo-lhe novas características da
Biologia evolutiva e descendo na sua definição ao nível do observável, incluindo toda a
diversidade de padrões motores que recaiem sobre o ambiente.

O conceito de Biologia de Comportamento é, muitas vezes, usado de modo mais abrangente,


compreendendo exactamente todos processos que já SCHAXEL lhe impunha, mas também
todo o conjunto de processos de aprendizagem e de evolução filogenética do
comportamento. Este facto leva a que, hoje, haja ainda a diferenciação entre a Etologia da
escola Inglesa e a Biologia do Comportamento da escola Alemã. GUNTER TEMBROCK (sec.
XX) pode foi considerado como o pai da nova escola Alemã.

A complexidade do comportamento quanto a sua motivação, sua execussão, sua evolução,


sua adaptação e adabtabilidade, sua relação com o ambiente, assim como quanto ao seu
significado para o organismo e ambiente, leva a uma complexidade metodológica tal que
envolve o trabalho conjunto de várias disciplinas provenientes dos mais variados ramos das
ciências naturais. Por outro lado, o rápido desenvolvimento da Biologia do Comportamento
conduziu, sem dúvida, a uma especialização cada vez maior e ao estabelecimento de um vasto
leque de disciplinas a ela subordinadas.

A Biologia de comportamento é uma ciência que procura explicar as bases


biológicas do comportamento animal.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 7


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

GUNTERTEMBROCK, 1992

1.2.3. Questões para reflexão

1. Relacione a evolução paradigmática da Etologia da Escola Inglesa para a Biologia do


Comportamento da Escola Alemã.
2. Como estudante de Curso de licenciatura em ensino de Biologia, que utilidade tem o
denserolar da historia sobre surgimento de uma Ciencia em geral e da Biologia de
comportamento em particular, na optica de um investigador?
3. Desenvolva
Os principais marcos históricos que determinaram a viragem de uma para a outra disciplina
(Etologia – Biologia do Comportamento).

Unidade II

2. Bases Fisiológicas do Comportamento

Os sistemas nervoso e hormonal constituem elementos fundamentais para a regulação do


funcionamento do organismo animal. Nesta vertente, eles têm como parte fundamental o
Cérebro (elemento chave do SNC), que por sua vez encontra-se subdivido em várias partes.

Em muitas ocasiões foi dito que o comportamento animal demonstra uma organização no tempo
e no espaço. De resto, trata-se de um aspecto de organização hierárquica complexa que implica o
funcionamento coordenado dos três vectores descritos acima. Isto pressupõe que algures no
organismo, existam mecanismos de integração que ordenam e coordenam os diferentes
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 8
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

elementos comportamentais de modo a dar-lhes sentido. Simplificadamente, nós podemos


questionar sobre o funcionamento dos órgãos dos sentidos, do sistema nervoso central, do
sistema nervoso vegetativo, do sistema motor e do sistema hormonal, etc.

Basicamente existem dois mecanismos de direcção e regulação de processos no organismo


animal nomeadamente, o sistema nervoso e o sistema hormonal, colocando o organismo
numa situação funcional e optimal no meio que o rodeia. Estas duas instâncias demonstram
muitas semelhanças na sua acção coordenadora entre o organismo e o ambiente; porém, elas
demonstram também muitas diferenças quanto às suas propriedades particulares. Assim,
hormonas actuam de modo relativamente muito lento, domonstram, contudo, um efeito
duradoiro comparativamente aos nervos. O sistema nervoso, devido as suas propriedades, está
mais para processos reguladores de curta duração, não querendo negar todas outras
propriedades do SNC. A disciplina biológica Etofisiologia, tal como foi dito na introdução e na
descrição metodológica da Biologia do Comportamento.

Em suma, a Etofisiologia questiona sobre mecanismos de regulação e direcção sobre os quais


assenta o comportamento animal. Neste questionamento, o etólogo procede no sentido de
análise-entrada-saída, tomando o organismo como um “black box” e analisa as relações entre os
estímulos ambientais que actuam sobre o animal e o próprio comportamento. Com este
procedimento torna-se possível descrever as capacidades do aparelho fisiológico e, assim,
desenvolver novas questões ao nível do fisiológico. Deve-se fazer lembrar que apesar do
etofisiólogo servir-se dos métodos experimentais da Fisiologia, ele não coloca as questões ao
nível meramente fisiológico: ele ultrapassa este nível e coloca o comportamento entre a
Fisiologia e a Ecologia.

O comportamento de construção de armadilhas pela formiga-leão (Euroleon nostras) depende


muito do sucesso anterior na captura de presa (PIRES, 1998). A construção subordina-se às
instâncias neuromotoras, mas depende do meio em que o animal encontra-se. Assim, também o
sucesso na captura de presa é algo que se relaciona com o ambiente. Exposta a questão desta
maneira, vê-se claramente que posição ocupa a Etofiologia no contexto da Biologia do
Comportamento. A formiga-leão constrói armadilhas menores, quanto maior tiver sido o puder
da predação.

A capacidade dos órgãos sensoriais em animais e no Homem são, de um lado, observados e


analisados com uso dos mesmos métodos usados no estudo de outros sistemas, por exemplo, o
circulatório. Neste tipo de estudos procura-se saber qual das multifacetadas influências
ambientais como estímulos podem influenciar um órgão sensorial, que modificações um
estímulo pode liberar numa célula receptora especial do órgão sensorial, como é que tais
modificações são transformadas num padrão de impulsos neuronais e como é que, finalmente,
estes padrões de impulsos se modificam para padrões sensoriais de determinadas regiões do
cérebro. Todas estas capacidades e estruturas a elas subordinadas pertencem à chamada
Fisiologia sensorial objectiva (BIRBAUMER and SCHMIDT (1990).

Os conceitos básicos de ambas as formas de estudos psico-fisiológicos são (1) a impressão, (2)
a sensação e (3) a percepção. A impressão define-se como sendo a unidade básica, a forma
mais simples da Fisiologia sensorial subjectiva, elemento da experiência sensorial. Uma
dessas impressões seria, por exemplo, o gosto doce. O organismo animal nunca recebe essas
impressões isoladamente, mas sim como somatório de muitas e variadas impressões que
chamamos de sensação sensorial : “sinto gosto de maçã azeda”, é uma expressão que traduz

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 9


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

melhor o sentido desta explicação. Acima de uma sensação forma-se um significado, uma relação
com o passado ou com a experiência e aprendizagem, do que resulta a percepção.

Cada sensação e as reacções do sistema nervoso a ela subordinadas têm quatro dimensões
básicas, a saber a dimensão de espaço, dimensão de tempo, a dimensão de qualidade e a
dimensão de intensidade. As duas primeiras dimensões ordenam as sensações nas estruturas
de tempo e espaço do nosso corpo e do ambiente. É deste modo que alguém pode localizar com
certa exactidão o local da dor e, igualmente, ser capaz de dizer quando é que ele sente a dor.

Relativamente ao tempo, a pessoa pode ainda dizer a duração da sensação, bem como a
periodicidade com que ele sente a dor. A periodicidade, por sua vez, subentende os
intervalos entre a dor. Falamos neste sentido de outras qualidades da dimensão tempo dos
organismos. As duas dimensões ocorrem em toda matéria, sendo assim, podem ser encontradas
na Fisiologia sensorial “objectiva”, onde o objectivo traduz o sentido de que elas ocorrem
independentemente da nossa existência e vontade, i.e., do sujeito. Mais em diante fala-se da
modalidade dos estímulos e sua forma de acção.

De acordo com as considerações metodológicas, colocam-se agora a questão “como” ocorre um


comportamento e com esta questão movemo-nos para o nível de causalidade (causas para que o
comportamento ocorra). o comportamento divide-se em três vectores, importa aqui também dar
a resposta de acordo com a mesma classificação, nomeadamente:
 Como ocorre o comportamento ao nível do vector de entrada,
 Como ocorre o comportamento ao nível do vector de estado interno e
 Como ocorre o comportamento ao nível do vector de saída.

a) Como funciona o vector de entrada?


Do ponto de vista de Física, animais constituem sistemas abertos. Sistemas abertos são
caracterizados pela contínua e ininterrupta troca de substâncias e de energia com o ambiente.
Através dos processos de troca, todos os seres vivos ligam-se ao seu meio e são dependentes dele.
Como consequência disso, cada animal (sobretudo animais livres) devem receber informações
sobre o meio que os rodeia para obter o alimento, encontrar um parceiro sexual, defender-se de
perigos. A obtenção de informações sobre todo um conjunto de factores físico-químicos externos
(temperatura, luz, humidade, etc.) deve ocorre em tempo útil. Ela pressupõe existência de
receptores, estruturas especializadas do sistema nervoso, que se espalham por todo o corpo do
indivíduo externa e internamente. Sobre a sua fisiologia falou-se muito em capítulos anteriores.

Dependendo da sua guarnição sensorial, os animais recebem informações diferentes sobre o seu
meio. Isto quer dizer que no mesmo meio animais podem receber informações diferentes e,
consequentemente, demonstrarem reacções e comportamentos também diferentes. Isto significa
que existem estímulos adequados e receptores adequados. Nós os humanos não conseguimos
perceber a luz ultravioleta e não recebemos os sons ultra-sonoros do morcego, de igual modo que
não sentimos campos eléctricos e magnéticos.

o vector de entrada é responsável pela recepção e pré-processamento de informações. O pré-


processamento pode ser também entendido como sendo pré-filtração, já que é aqui onde ocorre
a primeira decisão sobre o que deve continuar para o SNC. Do ponto de vista de Fisiologia dos
órgãos sensoriais, existem dois níveis de filtração de estímulos. O primeiro resulta da própria
capacidade dos receptores. Assim, um receptor pode não perceber o estímulo devido às suas
propriedades de funcionamento. Morcegos e determinadas espécies de borboletas conseguem

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 10


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

detectar sons no campo ultra-sonoro, abelhas vêm luz ultravioleta, determinadas serpentes
reagem à gradiente de temperatura de aprox. 0,05ºC. A maior parte de mamíferos trabalha
muito bem com os seus órgãos olfatórios do que o Homem. A capacidade dos órgãos dos
sentidos de um animal está adaptada às exigências do meio em que vive. Nesta adaptação a
pressão exercida pelas relações predador-presa jogou um papel evolutivo importante.

Mecanismos de filtração de estímulos desempenham diferentes funções. Só através deles é que


determinados comportamentos específicos são possiveis: atracção do parceiro sexual, o
reconhecimento mútuo de indivíduos biossociais (perceiro sexual, filhotes, etc.). A função deste
mecanismo de filtração é limitada à organismos e círculos funcionais, cuja necessidade de
informação é unilateral e muito especializada. Machos de borboletas com curto tempo de vida,
por exemplo, necessitam de um estímulo proveniente da fêmea muito exacto para poderem
copular. Para eles existe apenas um único estímulo ambiental importante: substâncias sexuais
químicas da fêmea.

Para as capacidades do vector de entrada funcionam os exteroceptores, que se dividem


basicamente em dois grandes grupos, nomeadamente:
1. Receptores de contacto:
 Receptores do gosto;
 Receptores térmicos;
 Receptores de tacto ou tango-receptores18, que respondem ao tacto;

2. Tele-receptores:
 Receptores do infra-vermelho;
 Mecano-receptores;
 Cromo-receptores;
 Electro-receptores;
 Foto-receptores

O sentido vibratório é uma forma especial do sentido de tacto. O seu estímulo adequado é a
energia mecânica oscilatória que é transmitida ao rececptor no toque directo com um objecto
com oscilação rítmica, ou através de um meio oscilatório, no campo proximal. Nos vertebrados
os receptores vibráteis são idênticos aos mecanoreceptores.

A recepção de informações está relacionada com as modalidades dos estímulos, cada uma
delas com receptores específicos:
1. Modalidade gustativa;
2. Modalidade olfatória (acção telequímica);
3. Modalidade de tacto;
4. Modalidade de dor;
5. Modalidade de temperatura;
6. Modalidade auditiva;
7. Modalidade óptica;
8. Também pode incluir-se nesa classificação a modalidade para campos electro-
magnéticos, dos quais as aves se servem durante as migrações e muitos peixes usam na
sua orientação no meio.

Dentro de uma modalidade distinguem-se qualidades diferentes, como por exemplo, as


diferentes cores na modalidade visual, as frequências na modalidade acústica, etc. Várias

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 11


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

modalidades podem actuar em simultâneo, de tal modo que o resultado disso seja, por exemplo,
a sensação de objecto amarelo, frio e áspero. Nisto tudo, o tempo actua como uma dimensão
intermodal. Do ponto de vista da Física, o tempo constitui um continuum infinito. Nos seres
vivos, porém, ele é quantificado e o resultado é a duração de um evento, a sua repetição, sua
ritmicidade e frequência.

Zonas primárias sensoriais e motoras (escuro) do Neocortex

b) Como funciona o vector do estado interno?


As bases fisiológicas para o funcionamento do vector do estado interno são determinadas, por
um lado, pelas trocas energéticas e materiais e, por outro lado, pela constituição corpórea (massa
e dimensões) que, por sua vez, deduz-se destas trocas energéticas e materiais.

A determinação do vector do estado interno pelas dimensões do corpo, por exemplo, pode ser
entendida se observarmos a relação que existe entre a dimensão do corpo e a frequência
cardíaca, frequência respiratória ou ainda a emissão de sons.

Paralelamente a sua determinação por estes factores constitucionais, o vector do estado interno
pode ainda ser determinado por outros diferentes factores, a saber:
 As funções das células nervosas (neurónios) e a condução de impulsos;
 O Sistema Nervoso Vegetativo (autónomo);
 O Sistema Nervoso Central;
 Os mecanismos de regulação endócrina.

Praticamente, os principais aspectos fisiológicos deste vector foram mencionados atrás. Sob o
ponto de vista funcional o aspecto fulcral do vector do estado interno situa-se nos eventos
fisiológicos que tocam processos vegetativos e que possuem um alto grau de autonomia.
Exemplos para isso são a micção e a defecação, os chamados reflexos genitais, assim como
mecanismos de comando de comportamentos que, no caso dos vertebrados, provêm do tronco
encefálico (Truncus encephali (Fig. 67), cujas funções, entre outras, são:
 Coordenação de movimentos;
 Registo de vivências corpóreas importantes (exemplo, dor);
 Comando de processos vegetativos;
 Homeostase;
 etc.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 12


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

De forma simplificada e resumida, pode-se dizer que o vector do estado interno


constitui a ligação entre o vector de entrada e o de saída.

Na evolução histórica dos animais, o pressuposto básico para o controlo do vector de entrada
pelo vector do estado interno foi a formação cerebral. TEMBROCK (1992), citando COOLS
(1984), diz que os comportamentos, assim como a instância cerebral a eles supra ordenada,
demonstram uma organização hierárquica. Para COOLS existem três propriedades
características da organização cerebral que são:
1. O extremo grau de liberdade na programação de cada estado comportamental baseado
em substratos neuronais totalmente diferentes;
2. A falta, em princípio, de uma representação cerebral do comportamento no nível acima
do inferior na organização hierárquica;
3. A capacidade para uma activação gradual de níveis de alta ordem durante a
ontogénese, a maturação e em situações, nas quais ocorre uma perturbação de um
determinado nível não pode ser compensada por sinais de entrada.

Às funções do tronco cerebral juntam-se as das substâncias neuronais específicas, tais como a
Noradrenalia, uma substância que serve de transmiter (transmissor) em todas terminações pós
ganglionares na região do Sistema Nervoso Simpático (Sympaticus, Sistema Nervoso
Vegetativo).

O Hipotálamo dos vertebrados tem um valor central uma vez que ele é responsável pela
regulação do meio interno, a homeostase, a qual deve estar adaptada (no sentido de sintonizar)
ao ambiente através do comportamento. Estimulações do Hipotálamo podem liberar no
animal determinados comportamentos, o que nos leva a subordiná-los ou a relacioná-los a ele.
Exemplos:
1. Reacção de defesa;
2. Reacção de fuga;
3. Reacção de ataque;
4. Reacção de ingestão de alimentos e água;
5. Reacções sexuais;
6. Comportamentos termoreguladores.

Do ponto de vista funcional o significado do hipotálamo pode ser resumido no seguinte:


1. Órgão regulador e controlador na actividade da Adenohipófise através de releasing e
release inhibiting factors [hormones];
2. Neuro- secreção de vasopressina e oxitocina;
3. Controle de processos motores vegetativos (autónomos): por exemplo, respiração,
circulação, actividade intestinal;
4. Termorregulação;
5. Regulação de ingestão de alimentos e água;
6. Controle de comportamentos sexuais;
7. Controle de comportamentos reprodutivos através de releasing factors para as
hormonas gonadotrópicas da hipófise;
8. Relacionado com o aspecto anterior está também o controle da produção de
características sexuais secundárias e da maturidade sexual;
9. Regulação biorítmica (por exemplo, acordar e dormir);
10. No seu relacionamento com o córtex límbico resultam outras funções, como por
exemplo, o controle de impulsos de
1. sentimentos, emoções.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 13


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Nos mamíferos o córtex do telencéfalo desenvolveu-se para Neocortex. O Sistema límbico,


parte do Telencéfalo, está ligado de modo especial ao Hipotálamo. No Homem as motivações
ganharam neste contexto novo ímpeto ao tornarem-se, digamos, independentes e ligados a
padrões motores aprendizados. O mesmo processo evolutivo levou ao surgimentos de processos
comportamentais meramente baseados no pensamento.

Para o funcionamento do vector do estado interno jogam também um papel importante


substâncias formadas e transportadas de outras formas no organismo. Não se trata aqui dos
nurotransmissores, mas sim de neurossecreções e hormonas. São substâncias que
provocam efeitos específicos em determinados órgãos. Existem hormonas de tecidos e neuro-
hormonas que são transportadas a relativamente curtas distâncias. Delas fazem parte certas
Aminas, Plasmaquininas e Prostaglandinas. No cérebo existem vários Oligopéptidos
que influenciam a função do sistema nervoso e (consequentemente) do comportamento. Um dos
efeitos de determinas substâncias é a mudança de cor da pele, o que pode representar um certo
status do organismo, por conseguinte, com função biocomunicativa.

Em todo o reino animal existem substâncias liberadas pelas células nervosas. Em invertebrados,
praticamente todos os processos fisiológicos são influenciados por tais substâncias, enquanto
que nos vertebrados elas funcionam mais na regulação da homeostase. No cérebro dos insectos
as neurossecreções localizam-se mais na região anterior, por exemplo, no Pars intercerebralis,
parte do cérebro ligada à inervação dos ocelos.

A Neurohipófise dos vertebrados produz também muitas hormonas, cuja secrecção é regulada
pelo Hipotálamo. Podemos alistar neste grupo a Oxitocina, cuja secrecção durante o parto
libera o comportamento de ligação mãe-filho dos mamíferos e actua na actividade de secrecção
da glândula mamária. As glândula endócrinas funcionam pelo princípio de feedback.

Da Adenohipófise conhece-se ainda a hormona MSH (hormona estimulante dos


melanonóforos), que estimula a mudança de côr nos anfíbios e répteis (camaleão). Um
significado especial têm as hormonas sexuais. Estas estimulam mudanças orgânicas relacionadas
com o sexo durante a ontogénese. Da sua acção conjugada com fenómenos temporais ambientais
resultam também comportamentos específicos. Em fêmeas de aves canárias (Serinus sp.), por
exemplo, é suficiente o canto do macho para estimular mudanças ao nível hormonal e liberar o
comportamento de construção do ninho, um efeito primário ou motivador típico. Nos machos
existe uma correlação positiva entre a prontidão para o canto e o tamanho dos testículos ao
longo do ano.

c) Como funciona o vector de saída?


O vector de saída (output) não deve ser reduzido ao observável, ao mensurável, muito embora,
do ponto de vista da Etologia clássica, ele se situa no centro das atenções dos investigadores. O
seu nível mais elementar é, por conseguinte, o motor. Na introdução aos comportamentos
ritualizados focalizaram-se dois conceitos importantes: comportamento-sinal e
comportamento consumatório. Em ambos os casos trata-se de comportamentos que
assentam sobre uma base fisiológica, mas que actuam sobre um ambiente concreto.
Da Fisiologia Animal sabemos que o motor está relacionado com o funcionamento de proteínas
contrácteis, as quais, com excepção de algumas particularidades dos protozoários, são
encontradas em todos os animais: é a actina e a miosina

As funções motoras diferenciam-se entre a função motora de postura e função motora de


movimento. Enquanto isto, existem para o movimento as seguintes bases:
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 14
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

1. Movimento originado pela função de organelos de forma constante, como o que


encontramos nos flagelados e ciliados: ondulópodes;
2. Movimento causado por organelos de forma variável: pseudópodes;
3. Movimento através de organelos celulares contrácteis: mionématos:
4. Movimento causado por células musculares dos metazoários. Animais com estas células
desenvolveram um esqueleto que pode ser diferente dentro dos metazoários, esqueleto
osseo-muscular.

Os processos fisiológicos relativos/responsáveis ao funcionamento do motor e, com este, do


vector de saída referem-se aos seguintes níveis:
1. Processos biológicos celulares de produção cíclica de energia, maioritariamente sob
forma de Adenosina trifosfato (ATP);
2. Processos neurais ligados à oscilações espontâneas que se deixam medir sob forma
de pontenciais eléctricos das membranas;
3. Processos de transmissão aos motoneuróneos, os quais através de sinapses
provocam contracções musculares;
4. Processos neuronais (o.m.q. neurais) complexos, que colocam programas motores
(inatos e adquiridos) à disposição de todo um conjunto de actividades comportamentais
do organismo.

São estes processos que, no seu conjunto, tornam, de um lado, os movimentos possíveis, e, do
outro lado, possibilitam uma coordenação motora, conforme constata VON HOST (1960). As
diferentes formas de coordenação motora, por sua vez, tornam possível, por exemplo, a marcha, o
voo, a natação, e outras formas de locomoção de animais que exigem certa coordenação do
motor nos diferentes níveis e graus de liberdade no espaço. Padrões motores como resultado de
uma coordenação da actividade muscular no tempo e no espaço são possíveis, nos mamíferos, ao
nível do sistema extrapiramidal, enquanto nos vertebrados inferiores o controlo reside ao
nível do tronco encefálico, sobretudo da medula espinal que coordena o motor da cabeça e do
tronco. Com base nisto tornam-se possíveis movimentos elementares. Resultam também destes
sistemas os mecanismos basais de domínio do corpo e de orientação primária.

Os mamíferos possuem, além do que foi dito, outros dois mecanismos motores, nomeadamente
1) os chamados Movimentos de correção, como ajuste às forças perturbadoras do ambiente e do
próprio corpo do indivíduo e 2) os movimentos de coordenação (coordenação com processos de
excitação no sistema nervoso vegetativo, execução de movimentos voluntários, cujos impulsos
provêm de regiões motores do córtex cerebral). No Homem estes sistemas ganharam nova
qualidade com o desenvolvimento da consciência.

2.1. Descrição anatómica e funcional do Sistema Nervoso (SN)

O hipotálamo apresenta importante papel na regulação de hormona, temperatura corporal,


glândulas adrenais e muitas outras atividades vitais. É o intermediário do cérebro em traduzir as
emoções em resposta física. Sinais físicos de medo ou excitação como aumento de batimentos
cardíacos e respiração ofegante são gerados no hipotálamo. O hipotálamo também é o centro de
controlo da fome e da sede.

O tálamo contém células nervosas que levam a informação de quatro sentidos (visão, audição,
paladar e tato) para o córtex cerebral. Sensações de dor, temperatura e pressão também são

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 15


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

enviadas através do tálamo. Glândula pituitária A glândula pituitária responde a sinais do


hipotálamo na produção de hormônios como o hormônio tireóide-estimulante, o hormônio
adrenocorticotrófico, prolactina, hormônios sexuais folículo-estimulante (FSH) e luteinizante
(LH), hormona de crescimento (GH), hormona melanócito-estimulante e o neurotransmissor
dopamina.

O córtex é a parte mais desenvolvida do cérebro humano é responsável pelo pensamento,


raciocínio, funções cognitivas, processos de percepção sensorial (visão, audição, tato e olfato) e a
capacidade de produzir e entender a linguagem.

O córtex é dividido em dois hemisférios (esquerdo e direito) e subdividido em lobos (frontal,


parietal, temporal e occipital) Hipocampo O hipocampo é uma estrutura pertencente ao sistema
límbico, importante para a consolidação da memória recente. O armazenamento da memória de
longo prazo está relacionado ao córtex cerebral.

Tronco encefálico
O tronco encefálico é a região responsável por muitas funções básicas como o controle da
respiração, batimentos cardíacos e o diâmetro de vasos sanguíneos.

Medula espinhal
A medula espinhal está relacionada a aferência sensorial, a organização dos reflexos e a
referência motora somática e autonômica. Cerebelo O cerebelo coordena as instruções para o
controle motor e para manter o equilíbrio e a postura corporal. Há evidências também de que o
cerebelo possa armazenar uma sequência de instruções para movimentos realizados com
frequência e movimentos repetitivos.

Lobo frontal
O lobo frontal abriga a área motora responsável pelo planeamento e execução dos atos
motores voluntários. A faculdade de planeamento, representação mental do mundo externo,
produção da fala, comportamento emocional e personalidade também são atribuídos aos lobos
frontais Lobo parietal O lobo parietal está envolvido na recepção e processamento das
informações sensoriais do corpo.

Lobo temporal
Os lobos temporais estão relacionados à memória, à audição, ao processamento e percepção
de informações sonoras, capacidade de entender a linguagem e ao processamento visual de
ordem superior. Lobo occipital Os lobos occipitais são especializados no processamento e na
percepção visual.

2.2. Fisiologia dos órgãos Sensoriais

O cérebro consiste de grandes regiões, cada uma responsável por algumas das atividades vitais.
Estas incluem o tronco encefálico, o sistema límbico, o cerebelo, o diencéfalo e o córtex cerebral.

O tronco encefálico, situado acima da medula espinhal é a região responsável por muitas
funções básicas como o controle da respiração, batimentos cardíacos e o diâmetro dos vasos
sanguíneos. Esta região é também importante para o controle dos movimentos. Muitos nervos
da face e da cabeça tem sua origem na ponte e estes nervos regulam alguns movimentos dos

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 16


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

olhos, expressão facial, salivação e paladar. Juntos com os nervos da medula espinhal, os nervos
da ponte também controlam a respiração e o senso de equilíbrio do corpo.

A medula espinhal está relacionada à aferência sensorial, à organização dos reflexos e à


referência motora somática e autonômica. Acima do tronco encefálico e escondido sob o córtex
cerebral, há um conjunto das mais primitivas estruturas do cérebro denominado sistema
límbico. As estruturas do sistema límbico (amídala, hipocampo e núcleos accumbens) estão
envolvidas em muitos dos processos emocionais, particularmente aqueles relacionados à
sobrevivência como medo, raiva, dor, prazer, docilidade, afeição e emoções relacionadas ao
comportamento sexual.

O sistema límbico também está envolvido em sentimentos de prazer, como aqueles


experimentados durante o ato de comer e no ato sexual. Duas estruturas do sistema límbico
denominadas amídala e hipocampo também estão envolvidos nos processos de memória.

O hipocampo está localizado na base do lobo temporal do córtex cerebral, perto de muitas
associações nervosas. Seu nome se deve à sua semelhança ao formato de um cavalo-marinho
(“hipo” = cavalo). O hipocampo, assim como outras partes do sistema límbico, trocam sinais
constantemente com todo córtex cerebral. Tem sido demonstrado que o hipocampo é uma
estrutura importante para a consolidação da memória recente.

O armazenamento da memória de longo prazo está relacionado ao córtex cerebral. O cerebelo,


que representa somente um oitavo do peso total do cérebro, coordena as instruções para o
controle motor e para manter o equilíbrio e a postura corporal. Também desempenha
importante papel em algumas formas de aprendizado motor. Desta forma, uma lesão no cerebelo
resulta na falta de coordenação dos movimentos. O cerebelo exerce seu controle motor de
momento a momento. Ele utiliza a informação de várias origens e processa os dados sobre a
posição do corpo, comprimento do músculo e tensão muscular.

O cerebelo não é, portanto, somente o iniciador dos movimentos, mas um local para a
reorganização e refinamento das instruções para os movimentos. Existem evidências também, de
que o cerebelo armazena uma sequência de instruções para movimentos realizados
frequentemente e movimentos repetitivos.

O diencéfalo que está localizado em posição inferior aos hemisférios cerebrais, contém o
tálamo e o hipotálamo. O tálamo consiste de duas massas ovais, cada uma encaixada em um
hemisfério cerebral, ligados por uma ponte. Ele contém células nervosas que levam a informação
de quatro sentidos (visão, audição, paladar e tato) para o córtex cerebral. Somente o sentido de
olfato envia sinais diretamente para o córtex, sem passar pelo tálamo. Sensações de dor,
temperatura e pressão também são enviadas através do tálamo.

O hipotálamo, apesar de seu tamanho relativamente pequeno (do tamanho da unha do polegar)
controla uma série de funções vitais. No sistema autônomo, o hipotálamo estimula os músculos
lisos (vasos sanguíneos, estômago, intestino) e recebe impulsos sensoriais dessas áreas. Também
apresenta importante papel na regulação de hormônios, temperatura corporal, glândulas
adrenais e muitas outras atividades vitais.

Córtex Cerebral
Córtex Cerebral Significa casca. É uma camada de substância cinzenta que cobre todo o
telencéfalo Composto por substância cinzenta (2 a 4mm) e substância branca adjacente (que une

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 17


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

diferentes áreas). É uma das mais importantes áreas do SN. É a mais recente estrutura na
história da evolução do cérebro (neocortex) Funções Responsável pelo pensamento, funções
cognitivas, processos de percepção e a capacidade de produzir e entender a linguagem Local de
chegada de todas as vias da sensibilidade que aí se tornam conscientes e são interpretadas Emite
impulsos que comandam os movimentos voluntários.

O córtex fica interligado pela substância branca subjacente: É constituída de mielina e podem ser
classificadas em 2 grupos:
a) Fibras de projeção que Ligam o córtex às estruturas subcorticais;
b) Fibras de associação que Ligam áreas corticais situadas em diferentes áreas do cérebro
e podem ser:
b.1) Fibras de associação inter-hemisféricas: ligam áreas dentro do mesmo hemisfério e
formam fascículos;
b.2) Fibras de associação inter-hemisférica: ligam áreas simétricas dos dois hemisférios
unem-se para formar 3 comissuras:
 Fórnix: conexão entre os 2 hipocampos;
 Comissura anterior: liga os lobos temporais e bolbos e tratos olfatórios.
 Corpo Caloso: permite a transferência de conhecimentos e informações de
um hemisfério para o outro Grande parte das fibras que se dirigem ao córtex
ou que dele saem passa pela cápsula interna, onde estão agrupadas as fibras
relacionadas com a sensibilidade e a motricidade do todo o corpo.

Uma lesão nessa região pode provocar sintomas extensos, com prejuízos sensoriais e motores na
metade contra lateral do corpo, comumente vistos nos acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
Classificação das áreas corticais como o córtex não é homogêneo em sua extensão,
permite a visualização de várias áreas.

2.2.1. Classificação Anatômica Baseada nos giros e sulcos

a) Lobo Frontal porção anterior de cada hemisfério cerebral abriga a área motora (responsável
pelas instruções nos movimentos), responsável pelo planeamento e execução dos atos motores
voluntários. Possui a área responsável pela produção da fala, localizada no giro frontal inferior,
no hemisfério que é dominante para a linguagem (quase sempre o hemisfério esquerdo). A
capacidade de planeamento, representação mental do mundo externo, comportamento
emocional e personalidade também são atribuídos aos lobos frontais

b) Lobo Parietal Abriga a área somestésica, envolvida no processamento dos sinais que vêm das
sensações;
c) Lobo Temporal contém centos auditivos, responsável pela interpretação e associação de
informações auditivas (compreensão da linguagem) e visuais (reconhecimento de faces);

d) Lobo Occipital Principal área responsável pela visão e coordenação dos movimentos oculares;

e) Lobo Insular Envolvido na codificação da memória e na integração de informações sensitivas


(principalmente dor) em particular está envolvido na coordenação de respostas cardiovasculares
ao estresse classificação filogenética. De acordo com a sequência de formação, classificação
estrutural de acordo com a composição e características das diversas camadas, disposição e
espessura.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 18


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Divisão mais aceita é a de Brodmann classificação funcional 1861: Broca: relação de lesões em
áreas restritas do lobo frontal com a linguagem falada Fritsh e Hitzig: estimulação eléctrica em
áreas do córtex de cão movimento de certas partes do corpo áreas funcionais devem ser
consideradas como especializações funcionais e não como compartimentos isolados e estanques
de acordo com a função geral, pode-se distinguir 2 áreas no córtex:

a) Áreas de projeção: são as que recebem ou dão origem a fibras relacionadas diretamente
com a sensibilidade e com a motricidade lesões nessas áreas podem causar paralisia podem ser
divididas em: áreas sensitivas primárias, ligadas diretamente à sensibilidade e motricidade;

b) Áreas de associação: relacionadas com funções psíquicas complexas. As lesões nessas


áreas não causam paralisia podem ser divididas em:
b.1) Áreas de associação secundárias (unimodais): união predominantemente com a
área primária de mesma função;

b.2) Áreas de associação terciárias (supramodais): envolvidas com a atividade psíquica


superior, como memória, pensamento abstrato, mantém conexões com as áreas unimodais e
com outras áreas supramodais, lesões não causam nenhum prejuízo motor ou sensitivo Essa
classificação foi feita por Alexandre Luria.

A classificação de Brodmann: divide o córtex em 52 regiões diferentes, cada uma designada por
um número. Áreas Sensitivas primárias Área somestésica (áreas 3, 2,1) de Brodmann, giro pós-
central Chegam impulsos nervosos relacionados à temperatura, pressão, do e propriocepção
lesões nessa área podem causar:
 Incapacidade de discriminar 2 pontos, perceber movimentos de partes do corpo,
reconhecer diferentes intensidades de estímulos, perda da esterognosia (capacidade de
reconhecer objetos colocados na mão);
 Estimulações nessa área causa sensação de formigamento Área Visual (área 17) de
Brodmann processamento da visão Lesão causa cegueira e estimulação causa
alucinações visuais area auditiva (área 17) de Brodmann lesão causa surdez e
estimulação causa alucinações auditivas area vestibular localizada no lobo parietal,
região próxima ao território da área somestésica correspondente à face. Responsável
pela informação da posição e movimento da cabeça Área Olfatória Ocupa pequena área
no ónus e giro-parahipocampal- área 34 Pequena em humanos Estimulação pode
causar alucinações olfatórias Área Gustativa Àrea 43 de Brodmann Área motora
primária Área 4 de Brodmann, na região do giro pré-central. Estímulos elétricos
aplicados nessa região provocam o aparecimento de movimentos em partes específicas
da metade oposta do corpo Somatotopia.

O hipotálamo é o intermediário do cérebro em traduzir as emoções em respostas físicas.


Quando sentimentos intensos como raiva, medo, prazer e excitação são gerados na mente, o
hipotálamo envia sinais para as mudanças fisiológicas através do sistema nervoso autônomo e
através da liberação de hormônios da glândula pituitária. Sinais físicos de medo ou excitação
como aumento dos batimentos cardíacos e respiração ofegantes são gerados no hipotálamo. A
parte frontal do hipotálamo contém neurônios que abaixam a temperatura corpórea por
relaxamento da musculatura lisa dos vasos sanguíneos, que causam dilatação e aumentam a
perda de calor pela pele.

O hipotálamo, através de seus neurônios associados com as glândulas sudoríparas da pele, pode
promover a perda de calor aumentando a intensidade de perspiração. Por outro lado, o
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 19
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

hipotálamo, quando a temperatura corpórea abaixa da faixa ideal, contrai os vasos sanguíneos,
diminui a velocidade de perda de calor e causa um início de calafrios (que produz uma pequena
quantidade de calor). O hipotálamo também é o centro de controle da fome e da sede. Em
animais de experimentação, danos nessa porção do cérebro são associados com excessiva
ingestão de alimentos e obesidade. A glândula pituitária responde a sinais do hipotálamo na
produção de hormônios, muitos dos quais regulam a atividade de outras glândulas: o hormônio
tireóide-estimulante, o hormônio adrenocorticotrófico, prolactina e hormônios sexuais folículo-
estimulante (FSH) e luteinizante (LH).

A glândula pituitária também produz muitos hormônios com efeitos gerais: hormônio de
crescimento (GH), hormônio melanócito-estimulante e o neurotransmissor dopamina. Nos
humanos, o córtex cerebral ocupa volume de aproximadamente 600 cm3 e área superficial de
2500 cm2, correspondendo por cerca de dois terços da massa encefálica e é dividido em dois
hemisférios (esquerdo e direito).

A superfície do córtex é altamente convoluta e está dobrada em cristas conhecidas como giros.
Os giros estão separados por ranhuras, chamadas de sulcos (se forem rasas) ou fissuras (se
profundas). O córtex é a parte mais desenvolvida do cérebro humano e é responsável pelos
pensamentos, funções cognitivas, processos de percepção e a capacidade de produzir e entender
a linguagem. É também a mais recente estrutura na história da evolução do cérebro.

O córtex cerebral pode ser dividido em áreas que têm função específica. Por exemplo: existem
áreas envolvidas nos processos de visão, audição, tato, movimentos e olfato. Outras áreas são
responsáveis pelo pensamento e raciocínio. Muitas funções como o tato são encontradas em
ambos os hemisférios do cérebro. Algumas funções são encontradas somente em um dos
hemisférios do cérebro. Por exemplo, na maioria das pessoas, a habilidade da linguagem
somente é encontrada no hemisfério esquerdo. O córtex cerebral também pode ser subdividido
em quatro principais setores ou lobos, incluindo os lobos frontal, parietal, temporal e occipital.

Apesar de haver alguma sobreposição de tarefas (funções) entre os lobos, cada um é conhecido
por uma ou duas funções específicas. Lobo frontal: o lobo frontal abriga a área motora
(responsável pelas instruções nos movimentos), responsável pelo planeamento e execução dos
actos motores voluntários. Ademais, a área responsável pela produção da fala está localizada no
sulco frontal inferior, no hemisfério que é dominante para a linguagem (quase sempre o
hemisfério esquerdo). A faculdade de planeamento, representação mental do mundo externo,
comportamento emocional e personalidade também são atribuídos aos lobos frontais.

Lesões bilaterais nessa parte do cérebro podem ser produzidos por doença ou por lobotomia
frontal. Essas lesões produzem deficiência da atenção, dificuldade para solucionar problemas e
comportamento social inadequado. O comportamento agressivo também fica reduzido e perde-
se o componente motivacional-afetivo da dor, embora a sensação de dor permaneça. Lobo
parietal: Esse lobo está envolvido no processamento dos sinais que vêm das sensações. A
informação visual oriunda do lobo occipital atinge o córtex parietal de associação e também o
lobo frontal e ela auxilia na orientação visual dos movimentos voluntários. Lobo occipital:
 Os lobos occipitais são especializados nos processos intrincados da visão. Os campos
oculares occipitais afetam os movimentos dos olhos, controlando os movimentos
convergentes, constrição e acomodação pupilares;
 Lobo temporal: Os lobos temporais estão relacionados à memória, à audição, ao
processamento e percepção de informações sonoras e à capacidade de entender a

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 20


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

linguagem. Esse lobo também está relacionado ao processamento visual de ordem


superior. Por exemplo, o sulco temporal inferior está relacionado ao reconhecimento de
faces.

2.3. Comportamento Motivado

Motivação é um termo amplo para todos processos que podem iniciar, dirigir e sustentar um
comportamento. Forças que agem sobre o organismo iniciando e dirigindo um comportamento.
Dinâmicas de comportamento que podem iniciar, dirigir e sustentar um comportamento. Por
que iniciamos, persistimos, focamos e paramos nosso comportamento?

Por outras palavras, podemos dizer que motivo é algo psicológico que induz ao animal para
exercer uma actividade, ou aderir uma atitude. Pode-se Concluir que Motivo é uma
necessidade ou desejo que provoca o início e dá direção a um comportamento
visando um objectivo.

Incentivo
Incentivo é um estímulo, objecto, condição ou significação externa que atrai a direção do
comportamento. O incentivo pode-se classificar em:
 Incentivo positivo: Atrai o indivíduo e o estimula na busca (alimento, dinheiro,
sucesso);
 Incentivo negativo: Repele o indivíduo e provoca nele afastamento e/ou
evitamento (dor, sofrimento, isolamento social). A motivação diz respeito à todo o
processo.

Fases da motivação
 Activação (início)
 Persistência (direção de esforço)
 Intensidade (foco de sustentação)

A motivação é uma variável interveniente inferida no comportamento que apresenta


características como ligação à um estímulo e à resposta, sujeita à vários valores e à influência de
uma infinidade de diferentes manipulações. Um comportamento motivado tem como
característica o emprego de energia considerável na direção de um objetivo/meta.

Perspectivas para o conceito de motivação


 Perspectiva Cognitiva
 Perspectiva Humanista
 Perspectiva Evolucionista
 Perspectiva Behaviorista

Desta forma, pode-se definir o comportamento motivado como uma forma que
um animal reage e interage no seu meio para alcançar de seu interesse ou
defender-se de algum obstáculo.

O mecanismo chave neuronal para a manutenção do comportamento motivado está no


hipotálamo. Podemos ainda dividir o hipotálamo em 3 diferentes sistemas efectores para o
comportamento motivado:

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 21


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

 Motor somático - Modulando tensão muscular, postura, mastigação, corrida, etc


 Autonômico - Regulando temperatura, função visceral, sede, fome, cópula, etc.
 Endócrino - Regulando a função da hipófise, tireóide, crescimento, estresse, etc.

O hipotálamo está envolvido então na coordenação de ajustes endócrinos, autônomicos e


comportamentais relacionados com respostas vitais para a manutenção do indivíduo e da
espécie. O sistema límbico entra em ação atuando nessa relação emoções/comportamentos , e o
resultado seria a homeostase comportamental - individual e coletiva.

O hipotálamo pode ainda ser dividido em áreas, que seriam estas o hipotálamo anterior, o
hipotálamo medial e o hipotálamo lateral. O anterior está ligado ao sistema endócrino na
produção de hormônios, também agindo no controle de neurônios pré ganglionares simpáticos e
parasimpáticos, e como um centro termoregulador. O hipotálamo medial está ligado com as
respostas comportamentais críticas para a homeostasia comportamental.

O hipotálamo tem conexão com todos os sistemas efetores de comportamento motivado. É


importante também falarmos em sistema límbico, o sistema das emoções, ele possui intima
conexão com o hipotálamo, e participa da integração das respostas somáticas, endócrinas e
viscerais inerentes ao comportamento motivado/ou emocional.

2.4. Questões para reflexão

1. Explique a afirmação seguinte: A Etofisiologia questiona sobre mecanismos de regulação e


direcção sobre os quais assenta o comportamento animal.
2. O que é afinal a Fisiologia sensorial objectiva e em que difere da Fisiologia sensorial
subjectiva?
3. Busque exemplos concretos para cada um dos níveis da fisiologia neural: impressão,
sensação e percepção.
4. Do ponto de vista de Fisiologia dos órgãos sensoriais, existem dois níveis de filtração de
estímulos. O primeiro resulta da própria capacidade dos receptores. Exemplifique!
5. Que problemas terá, um individuo que tiver lesão na medula espinal?
6. Qual é o alcance filosófico da afirmação: “...do ponto de vista de Física, animais constituem
sistemas abertos.

Unidade III

3. Bases Genéticas e hereditariedade não mendeliana do Comportamento


Desde a existência do homem, os cientistas sempre se preocuparam de varias formas estudar,
entender e explicar os e as regras de transmissão de características entre os seres vivos na
natureza. Para o efeito, existiram tantos investigadores que tentam estudar as tais regras, mas as
que sobressaíram com muita evidência foram os estudos de Gregor Mendel.

A genética mendeliana, herança mendeliana ou mendelismo é um conjunto de


princípios relacionados à transmissão hereditária das características de um organismo a seus
filhos. Forma a base principal da genética clássica. Originou-se dos trabalhos de Gregor

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 22


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Mendel publicados em 1865 e 1866, os quais foram considerados controversos inicialmente, e


redescobertos em 1900. Somente quando incorporada à teoria cromossómica de Thomas
Hunt Morgan em 1915, a genética mendeliana se tornou a essência da genética clássica.

3.1. Hereditariedade Mendeliana

Mendel decidiu estudar o mesmo problema. O primeiro cuidado que teve foi selecionar
devidamente o material de estudo; para isso, estabeleceu alguns critérios e procurou materiais
que se lhes adequassem. Tais critérios consistiam principalmente em encontrar plantas de
caracteres nitidamente distintos e facilmente diferenciáveis; que essas plantas cruzassem bem
entre si, e que os híbridos delas resultantes fossem igualmente férteis e se reproduzissem bem; e,
por fim, que fosse fácil protegê-las contra polinização estranha. Baseado nesses critérios, depois
de várias análises, Mendel escolheu algumas variedades e espécies de ervilhas (Pisum
sativum), conseguindo um total de sete pares de caracteres distintos.
Chama-se de linhagem os descendentes de um ancestral comum. Mendel observou que as
diferentes linhagens, para os diferentes caracteres escolhidos, eram sempre puras, isto é, não
apresentavam variações ao longo das gerações. Por exemplo, a linhagem que apresentava
sementes da cor amarela produziam descendentes que apresentavam exclusivamente a semente
amarela. O mesmo caso ocorre com as ervilhas com sementes verdes. Essas duas linhagens
eram, assim, linhagens puras. Mendel resolveu então estudar esse caso em específico.
A flor de ervilha é uma flor típica da família das Leguminosae. Apresenta cinco pétalas, duas
das quais estão opostas formando a carena, em cujo interior ficam os órgãos reprodutores
masculinos e femininos. Por isso, nessa família, a norma é haver autofecundação; ou seja, o grão
de pólen da antera de uma flor cair no pistilo da própria flor, não ocorrendo fecundação
cruzada. Logo para cruzar uma linhagem com outra era necessário evitar a autofecundação.
Mendel escolheu alguns pés de ervilha de semente amarela e outros de semente
verde, emasculou as flores ainda jovens, ainda não-maduras. Para isso, retirou das flores
as anteras imaturas, tornando-as, desse modo, completamente femininas. Depois de algum
tempo, quando as flores amadureceram, polinizou as flores de ervilha amarela com o pólen das
flores de ervilha verde, e vice-versa. Essas plantas constituem portanto as linhagens parentais.
Os descendentes desses cruzamentos constituem a primeira geração em estudo designada por
geração F1, assim como as seguintes são designadas por F1, F2, F3, etc..
Lei da dominância
A lei da dominância afirma que todos os descendentes de progenitores que diferem em
apenas uma característica terão o fenótipo de apenas um deles, o dominante. A outra
característica é chamada recessiva, e só se manifesta caso ambos os factores sejam recessivos.
Lei da segregação
A lei da segregação afirma que fatores determinam uma característica e que quando da
formação dos gâmetas, os progenitores segregam os factores aleatoriamente de modo que cada
gâmeta possui apenas um deles. Ou seja, cada descendente possui um factor vindo de um
progenitor, e um segundo vindo do outro progenitor.
Todas as sementes obtidas em F1, foram amarelas (por serem dominantes e as verdes
recessivas), portanto iguais a um dos pares. Uma vez que todas as sementes eram iguais, Mendel
plantou-as e deixou que as plantas quando florescessem, se autofecundassem, produzindo assim
a geração F2. As sementes obtidas na geração F2 foram verdes e amarelas, na proporção de 3

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 23


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

para 1, sempre 3 amarelas para 1 verde. Inclusive na análise de dois caracteres simultaneamente,
Mendel sempre caía na proporção final de 3:1. Para explicar a ocorrência de somente sementes
amarelas em F1 os dois tipos em F2, Mendel começou admitindo a existência de fatores que
passassem dos pais para os filhos por meio dos gâmetas. Cada fator seria responsável pelo
aparecimento de um caráter.
Assim, existiria um fator que condiciona o caráter amarelo e que podemos representar por A
(maiúsculo), e um fator que condiciona o caráter verde e que podemos representar por a
(minúsculo). Quando a ervilha amarela pura é cruzada com uma ervilha verde pura, o híbrido F1
recebe o factor A e o factor a, sendo portanto, portador de ambos os fatores. As ervilhas obtidas
em F1 eram todas amarelas, isso quer dizer que, por ter o factor A (maiúsculo), esse se
manifestou, sendo assim chamado de "dominante". Mendel chamou de "recessivo" (a)
(minúsculo) o fator que não se manifesta em F1. Utiliza-se sempre a letra do carácter recessivo
para representar ambos os caracteres, sendo maiúscula a letra do dominante e minúscula a do
recessivo.
Continuando a análise, Mendel contou em F2, o número de indivíduos com caráter recessivo, e
verificou que eles ocorrem sempre na proporção de 3 dominantes para 1 recessivo. Mendel
chegou a conclusão que o fator para verde só se manifesta em indivíduos puros, ou seja com
ambos os fatores iguais à a (minúsculo). Em F1 as plantas possuíam tanto os fatores A quanto o
fator a sendo, assim, necessariamente amarelas. Podemos representar os indivíduos da geração
F1 como Aa (heterozigoto e, naturalmente, dominante). Logo para poder formar
indivíduos aa (homozigotos recessivos) na geração F2 os gametas formados na fecundação só
poderiam ser aa. Esse fato não seria possível se a geração desse origem a gâmetas com fatores
iguais aos deles (Aa). Isso só seria possível se ao ocorrer a fecundação houvesse uma segregação
dos factores A e a presentes na geração F1, esses fatores seriam misturados entre os
factores A e a provenientes do pai e os fatores A e a provenientes da mãe. Os possíveis
resultados sendo: AA, Aa e aa.
Esse fato foi posteriormente explicado pela meiose, que ocorre durante a formação dos
gâmetas. Mendel havia criado então sua teoria sobre a hereditariedade e da segregação dos
factores.
Lei da segregação independente
A lei da segregação independente afirma que uma característica é herdada
independentemente de outra característica. Ou seja, durante a formação
dos gâmetas, os factores que determinam cada uma das características são
segregados independentemente.
Mendel em seus experimentos também cruzou plantas que diferiam em relação a dois pares de
alelos. Neste cruzamento, que objetivava esclarecer a relação de diferentes pares de alelos, ele
cruzou plantas que possuíam sementes amarelas e lisas com plantas que possuíam sementes
verdes e rugosas. A progênie F1 resultante entre o cruzamento dos progenitores homozigotos é
formada por híbridos (heterozigotos) para dois pares de genes. A progênie F1 (GgWw) é formada
por diíbridos e, por extensão, o cruzamento GGWW x ggww é um cruzamento diíbrido. Sabia-se,
graças à experiências anteriores, que os alelos que determinavam sementes amarelas e lisas eram
dominantes e sobre seus respectivos alelos, que produziam sementes verdes e rugosas. Assim,
considerando que dois deles tinham as seguintes informações:
 Carácter cor dos cotilédones já tinha sido observado que o padrão amarelo (V)
apresentava dominância sobre o padrão verde (vv);

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 24


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

 Carácter aspecto da casca da semente neste caso, já se observa que o padrão de casca
lisa (R) era dominante sobre o tipo casca rugosa (rr).
Os cruzamentos foram realizados no mesmo esquema da elaboração da primeira lei. A geração
parental (P) utilizava duas plantas homozigóticas para as características estudadas, assim uma
duplo-dominante (AA) era cruzada com um duplo-recessiva (aa). Desse cruzamento surgiu um
híbrido heterozigótico (Aa). Mendel selecionou dois caracteres das sete estudadas na primeira lei
para comparação, ervilhas amarelas (AA) e lisas (BB) (duplo-dominante) e ervilhas verdes (aa) e
rugosas (bb) (duplo-recessiva). No primeiro cruzamento (F1) todas as ervilhas obtidas eram
amarelas (Aa) e lisas (Bb). Na segunda geração (F2) foram obtidas ervilhas amarelas (A) e
lisas(B), amarelas (A) e rugosas (bb), verdes(aa) e lisas(B) e verdes (aa) e rugosas (bb), na
proporção, respectivamente, 9:3:3:1 (P)AA/aa + BB/bb (F1) AAxaa=Aa BBxbb=Bb (F2) Aa x Aa
= AA/Aa/Aa/aa Bb x Bb = BB/Bb/Bb/bb
Cruzamentos possíveis de todos os gâmetas obtidos
AaBb X AaBb
Gâmetas AB Ab aB ab
AB AABB AABb AaBB AaBb
Ab AABb AAbb AaBb Aabb
aB AaBB AaBb aaBB aaBb
ab AaBb Aabb aaBb aabb
Proporção 9/16 AB 3/16 Ab 3/16 aB 1/16 ab

Desta modo, na geração F2 constata-se a existência de quatro fenótipos distintos, sendo dois
idênticos da geração parental e dois novos (Abb e aaB). Todos os resultados confirmaram que
os genes de cada caracter passavam de forma independente do demais, ou seja, o fenótipo
dominante - amarelo - não era transmitido obrigatoriamente com o fenótipo dominante - liso, o
mesmo ocorreu com a transmissão dos fenótipos recessivos - verde e rugoso - para os
descendentes.
Mecanismos hereditários não previstos por Mendel
 Co-dominância
 Alelos múltiplos
 Genes Letais

3.2. Importância dos estudos de Mendel

Embora as conclusões de Mendel tenham se baseado em trabalhos com uma única espécie de
planta, os princípios enunciados nas duas leis aplicam-se a todos os organismos de reprodução
sexuada. Pode-se tomar como exemplo um caso de herança animal.

Cobaias pretas homozigotas cruzadas com cobaias brancas homozigóticas originarão


descendentes pretos heterozigotos, que cruzados entre si, originarão cobaias pretas e brancas
na proporção 3:1.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 25


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Mendel criou a base da genética moderna. Embora seus estudos tenham permanecidos
obscuros até o século XX eles influenciaram a biologia como um todo dando origem a todos os
estudos posteriores sobre hereditariedade e genética.

3.3.Herança Poligénica do Comportamento

Herança Poligénica ocorre quando vários pares de genes interagem para determinar uma
característica, cada um com efeito aditivo sobre o outro. Graças a esse tipo de interação existe
uma variedade muito grandes de fenótipos e genotipos para algumas características. A interação
desses fenótipos com o meio ambiente aumenta ainda mais essa variação, como é o caso da cor
da pele e altura das pessoas, etc.

O número de genes dominantes contribui para a determinação da pigmentação da pele.


Acredita-se que 5 pares de alelos interagem para determinar a cor da pele em seres humanos,
que são agrupados em várias classes fenotípicas.

Quando falamos de herança quantitativa ou poligênica, o número de fenótipos será sempre o


número de alelos + 1, por exemplo: Se uma característica é determinada pelos alelos A/a, B/b,
que possuem efeitos aditivos sobre os outros, teremos 5 fenótipos.

As variedades da cor vermelha da semente do trigo é um exemplo de herança poligênica.


Genótipo Quantidade de alelos dominantes Fenótipo
AABB 4 Vermelho-escuro
AABb ou AaBB 3 Vermelho-médio
AaBb, AAbb, aaBB 2 Vermelho
Aabb, aaBb 1 Vermelho-claro
Aabb 0 Branco

Em humanos podemos exemplificar a classificação da cor da pele da seguinte forma:


Genótipo Quantidade de alelos dominantes Fenótipo
AABBCC 6 Negro
↓ 5 ↓
↓ 4 ↓
↓ 3 Intermediário
↓ 2 ↓
↓ 1 ↓
aabbcc 0 Branco

Quanto mais genes interagindo, maior a quantidade de combinações.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 26


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

3.4.Comportamento e ambiente

O comportamento dos animais frequentemente fornece os primeiros indícios de degradação


ambiental. Mudanças em comportamentos sexuais e em outros comportamentos ocorrem muito
mais cedo e em níveis mais baixos de distúrbio ambiental do que alterações no padrão
reprodutivo e no tamanho de populações. Se esperarmos até que o número de animais numa
população diminua, poderá ser muito tarde para tomar medidas que salvem o ambiente. Estudos
de comportamento no ambiente natural são vitais para proporcionar as bases para futuros
monitoramentos ambientais. Por exemplo, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos
usa alterações comportamentais no deslocamento de pequenos peixes de água doce como um
indicador de possível poluição por pesticida.

Pesquisas básicas, realizadas por Arthur Hasler, sobre a migração de salmões à nascente onde
eclodiram, iniciaram-se há 40 anos, e têm nos ensinado muito sobre os mecanismos da
migração. Essas informações também têm sido importantes na preservação da indústria do
salmão no noroeste do Pacífico e as aplicações dos resultados de Hasler levaram ao
desenvolvimento de indústria de pesca do salmão nos Grandes Lagos. A pesquisa básica sobre o
Comportamento Animal pode ter importantes implicações econômicas.

Estudiosos do Comportamento Animal têm descrito variáveis envolvidas na reprodução de


insetos e localização de plantas hospedeiras, levando ao desenvolvimento de feromônios não-
tóxicos para o controle de pestes, evitando dessa forma o uso de pesticidas tóxicos. A
compreensão da relação presa-predador pode levar à introdução de predadores naturais de
determinadas espécies de presas.

O conhecimento do comportamento de procura de alimento (forrageio) em abelhas, pode ser


aplicado a mecanismos de polinização que, por sua vez, são importantes na reprodução e
propagação de plantas.

O conhecimento do comportamento de forrageio dos animais pode levar à compreensão da


regeneração florestal. Muitos animais atuam como dispersores de sementes sendo, portanto,
essenciais para a propagação de espécies de árvores e para a preservação do hábitat.

A conservação de espécies ameaçadas de extinção requer que nós saibamos bastante sobre o
comportamento natural dessas espécies (padrões migratórios, tamanho de território, interações
com outros grupos, demandas de forrageio, comportamento reprodutivo, comunicação etc.) para
criar reservas e medidas efetivas de proteção. A relocação ou reintrodução de animais (tal como
no caso do mico-leão dourado) não é possível sem um conhecimento detalhado da história
natural da espécie. Com a crescente importância dos programas ambientais e manejo pelo
homem de populações de espécies raras, tanto no cativeiro quanto no ambiente natural, a
pesquisa do comportamento aumenta em sua relevância. Muitos conservacionistas de renome
têm um conhecimento considerável sobre o Comportamento Animal ou Ecologia
Comportamental.

Estudos básicos sobre o comportamento reprodutivo levaram ao aperfeiçoamento de técnicas de


criação e reprodução em cativeiro de micos-leões dourados, Saguinus oedipus3, e muitas outras
espécies ameaçadas de extinção. Criadouros que ignoram o comportamento reprodutivo natural
da espécie são geralmente mal sucedidos.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 27


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Nossa sociedade tem aumentado a atenção em relação ao bem-estar de animais de pesquisa e de


exposições. Nos Estados Unidos, a lei requer, por parte dos criadouros, a realização de exercícios
para cães e o bem-estar psicológico de primatas não-humanos. Bem-estar animal sem
conhecimento prévio é impossível. Estudiosos do Comportamento Animal observam o
comportamento e o bem-estar animal, tanto em laboratório quanto no campo. Nós temos dado
pareceres técnicos sobre normas razoáveis e efetivas para o cuidado e o bem-estar de animais
mantidos em cativeiro para fins de pesquisa.

O desenvolvimento adicional do bem-estar animal requer produção de conhecimento por parte


de especialistas em Comportamento Animal. Para prover boas condições para animais de
fazendas, reprodução de espécies ameaçadas de extinção, cuidado apropriado para animais de
companhia, é necessária uma forte base de estudo do comportamento.

3.5. Hibridismo e estudos comparados de comportamentos para aferir a sua


filogénese

Em ciência biológica, a palavra “Hibrido” significa diferenca. Nesta optica, em qualquer área do
conhecimento para se descobrir uma diferenca énecessario que se aplique alguns métodos, de
modo a aferir a veracidade de um facto ou mesmo objecto.

Os grandes investigadores na área biológica, como o Darwin, por exemplo usaram muitos
métodos nas seus trabalhos sobre hereditariedade, de modo descobrir e analisar os resultados
que ele obtinha nas suas investigações. Desta, feita para afererir a filogénese de um determinado
objecto, ser vivo ou fenómeno usa-se o método “comparativo”, para:
 conhecer e conhecer-se: comparar ajuda a conhecer o outro na medida em que se
deixam de lado estereótipos do senso comum e ajuda a conhecer-se pois a análise dos
demais permite precisar aquilo que constitui nossa própria identidade.
 compreender: comparar permite compreender/interpretar, ou seja, interpretar o que
quer dizer política neste ou naquele lugar sem se limitar à concepção universalista ou
etnocêntrica.
 relativizar: comparar nos leva a abandonar nosso léxico político, nossas teorias, nossos
determinismos e preconceitos.
 liberar: liberar do etnocentrismo e do peso do universal e do uniforme. Ao demonstrar a
pluralidade, o método comparativo destaca a importância do acontecimento, da
invenção, da ruptura, da mobilização e da ação, revelando que, se as trajetórias de
desenvolvimento político são diferentes.

O objectivo de comparar é apresentar primeiro aquilo que é em determinado lugar e momento


como a expressão do que não poderia ser e que, em todo caso, não existe em nenhum outro lado
e em nenhum outro momento.

3.6. Questões para reflexão

1. Tendo em conta a filogénese do comportamento. O que tem a dizer sobre o desenvolvimento


dos seres vivos?
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 28
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

2. Do ponto de vista científico. Por que se faz a comparação em doentes?

Unidade IV

4. Comportamento animal e Evolução dos animais

4.1. Evolução e Adaptação do Comportamento animal

Segundo o evolucionista Charles Darwin, no decurso da evolução de uma espécie existe uma
interação especial entre as modificações de natureza causal e processos de selecção. O
organismo está submetido a dois ambientes: biogeocenose (habitat com toda cadeia de factores
bióticos e abióticos) e população. O genótipo faz parte de gen pool de uma unidade reprodutiva
(população), na qual só diferentes genes se manifestam de forma diferenciada. O genótipo
confronta-se com o ambiente onde ele que assegura a satisfação das exigências individuais
ecológicas e populacionais. As modificações genéticas são caracterizadas por mutações e
recombinações onde os mecanismos de selecção actuam sobre o fenótipo.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 29


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Podemos concluir que evolução significa modificaçõees morfológicas e funcionais (troca de


materiais energéticos e materiais ao longo do desenvolvimento individual do organismo. A
evolução é o resultado da interação entre o organismo e o meio ambiente.

4.1.1. Mecanismos de Isolamento

Os mecanismos de isolamento, resultam das modificacoes determinadas pelas barreiras


reprodutivas, e estes podem ser:
1. Mecanismo Geográfico e Ecológico de Isolamento: estes mecanismos são
formados por:
a) Conjunto de factores do biotopo.
b) Barreiras geográficas (rios, mares...).

2. Mecanismo Fisiológico de Isolamento: estes são desenvolvidos ou resultam a


partir de:
a) Diferença no funcionamento dos órgãos de sentido.
b) Diferença quanto ao limiar de excitação perante sinais sexuais (biocomunicativos).
c) Diferença do status hormonal que por sua vez, condicionam o status sexual.
d) Diferença quanto a podridão da resposta (responsividade)aos estímulos
ambientais.

3. Mecanismo Etológico de isolamento: estes mecanismos são originados apartir de:


a) Comportamento incompativel entre os parceiros sexuais;
b) Diferenças relativas ao comportamento e exigências territoriais;
c) Diferenças originadas da incompatibilidade dos parceiros sexuais quanto ao factor
tempo (duração dos períodos, fases e ciclos);
d) Diferenças quanto as exigências em parceiro sexual;
e) Diferenças ocasionadas condicionados por regiolectos, dialectos biocomunicativos,
nos animais;
a) Diferença de natureza metabólica;
b) Diferença quanto aos padrões de defesa individuais.

4. Mecanismo Morfológico de Isolamento: diferença na constituição dos órgãos


copulatórios e das propriedades constitucionais que participam na transmissão gamética.
5. Mecanismo Genético de Isolamento: incompatibilidade genética dos parceiros
sexuais.
6. Mecanismo Pós-zigótico de Isolamento:
a) Devido a morbilidade ou mortabilidade dos híbridos;
b) Devido ao desenvolvimento de híbridos estéreis;
c) Devidos a extinção de geração F2.
No caso em que estas modificações assentam sobre uma base genética (mutações e
recombinações) a velocidade do processo será determinado pelo número de indíviduos e pela
separação das gerações no tempo. Maior será a velocidade das modificações quanto mais elas se
baseiam em experiências adquiridas individualmente por meio de processos de aprendizagem.

Na evolução e adaptação do comportamento animal é importante destacar a ritualização


(Hulxley), onde através dela foi possível transformar certos comportamentos consumatórios em
comportamentossinais ao serviço da biocomunicação. Exemplo o comportamento de muitas

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 30


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Aves de construção de ninhos durante o período de corte, uma das finalidades dos
comportamentos de construção de ninhos é acelerar a sincronização do status de pré-disposição
para toda a cadeia de comportamentos reprodutivos dos quais a construçãode nihos faz parte. Os
elementos da ritualização são:
a) Substrato morfológico.
b) Motivação.
c) Tempo e espaço
A ritualização começa ao nível do comportamento de entrada, onde ela modifica os mecanismos
de filtração dos órgãos de sentido e atinge o nível efector (comportamento de saída) onde
igualmente modifica os padrões de motor. As modificações devem se adaptar aos receptores e
estes aos sinais.

4.2. Desenvolvimento Ontogénico do Comportamento

A palavra ontogênese, significa desenvolvimento individual. O sentido da palavra inclui todas as


modificações, que ocorrem no decurso da existência do indivíduo que para os organismos
pluricelulares começa com o zigoto (óvulo-fecundado) e termina com a morte, uma posição
difícil de assumir no concernente aos protozoários: “podem morrer mas não devem
necessariamente morrer “ (H. Brehmer, 1983), citado por Pires (2009).

Para decurso da ontogênese, existe uma cadeia de factores ou questões importantes que
merecem atenção, porque determinam o início e decurso da ontogênese, podemos destacar:
1. Desenvolvimento do próprio indivíduo: estrutura e função, troca de informações e de
substâncias;
2. Relações com organismo-mãe: relacionamento fisiológico e interação comportamental
intensiva que vai até aos cuidados com a prole.
3. Relacionamento com a biogeocenose através de troca de substâncias e informações;
4. Interacções com individuos da população que podem atingir níveis complexos como é o
caso de interacções eubissociais. Dentro desta análise, existem aspectos importantes para
compreender a ontogênese do comportamento:
 Desenvolvimento do comportamento durante o tempo de existência do indivíduo,
mais ou menos no sentido de processos de maturação e formação de vários tipos de
comportamento.
 A influência que o próprio comportamento exerce sobre o desenvolvimento,
considerando que entende-se por desenvolvimento uma modificação no tempo
decorrente de processos combinados de crescimento e diferenciação.

Tembrock, sugre um sistema em maturação a seguinte caracterizada por:


a) Labilidade (maior capacidade de adaptação as mudanças ambientais).
b) Poucos parâmetros estruturais;
c) Maior produtividade (no geral quantitativa);
d) Pouca complexibilidade e diversidade;
e) Maior número de processos lineares;
f) Pouca especialização dos seus componentes;
g) Muitas flutuações, etc.
Portanto, num sistema maduro contem as seguintes características:
 Estabilidade e adaptação as invariáveis do ambiente;
 Maior número de parâmetros estruturais;
 Maior equilíbrio entre a entrada e saída de energia;
 Maior complexibilidade e diversidade;
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 31
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

 Maior especialização dos elementos que compõem as várias;


 estruturas demonstrando uma organização hierárquica;
 Poucas flutuações;
 Mais mecanismos reguladores e antagonistas, etc.
Uma das grandes particularidades no desenvolvimento ontogenético dos organismos são as
estratégias que levam a sobrevivência dos descendentes:
 Selecção-K: ligada a prática de cuidados para com a prole assegurando a probabilidade
de sobrevivência até que estes se tornem capazes de enfrentar o ambiente de forma
independente Selecção-r: produção de maior número de descendentes como a única
garantia de probabilidade de sobrevivência, exemplo o tipo de reprodução de formigas.

4.3. Questões para reflexão

1. Defina o conceito de evolução


2. Como é que são caracterizadas as modificações genéticas?
3. Mencione os mecanismos de isolamento. Diferencie dois deles á sua escolha.

Unidade V

5. Orientação animal no espaço

Orientar-se faz parte das características elementares de todos seres vivos. A orientação compõe-
se de duas formas básicas: orientação no espaço e orientação no tempo. Ambas as formas
de orientação constituem condição fundamental para a existência dos seres vivos.

Saber orientar-se é uma condição para assegurar o habitat, os alimentos, a reprodução, etc. Isto
explica também a razão da magnitude dos órgãos e sistemas de orientação desenvolvidos pelos
animais a diferentes níveis de organização e que, logicamente, resultaram de um longo processo
evolutivo. Também a orientação de insectos tem estado no centro das atenções dos cientistas.

Questões relativas à orientação de animais interessaram sempre ao Homem, desde os simples


naturalistas até os investigadores mais metódicos. Também a orientação de insectos tem estado
no centro das atenções dos cientistas.

Numa linguagem da Fisiologia, dir-se-ia que os receptores respondem apenas aos estímulos
adequados, i.e., estímulos com a forma energética adequada ao limiar de excitação. Só em casos
muito raros é que estímulos liberam respostas que têm um carácter reflexivo, exactamente
quando existem relações anatómicas entre o receptor e o órgão efector. Muito mais frequentes

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 32


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

são os chamados estímulos-sinais, aos quais mecanismos liberadores inatos localizados no SNC
respondem, liberando determinados movimentos instintivos de orientação.

Uma vez que cada organismo está adaptado ao seu habitat, o valor da orientação torna-se mais
claro. Ela possibilita que o organismo tome sob controlo individual o seu habitat adequado, ou
pelo menos ele poderá ser capaz de procurar um outro idêntico àquele, quando ele, por um
motivo qualquer, é obrigado a deixar o habitat inicial. Neste habitat o animal encontra alimento,
parceiro sexual, condições climáticas adequadas não só para ele como também para as suas
crias. Ele consegue muito mais. Consegue avaliar e determinar o tempo local, por forma a saber
quando procurar o parceiro. A este conjunto de capacidades, sejam elas inatas ou produto de
experiência individual, chamamos orientação. Esta, pode ser orientação no espaço ou
orientação no tempo. A orientação no espaço subdivide-se em uma orientação relativa ao
corpo e relativa ao espaço externo ao corpo.

Uma orientação relativa ao corpo, i.e., destinada a manter equilíbrio do corpo no espaço chama-
se orientação primária, É, pois, esta orientação que nos faz saber que o peixe que flutua
passivamente à superfície da água com o corpo orientado lateralmente está morto. Pois, o peixe
vivo sabe fazer uso de estímulos do próprio corpo através dos próprios receptores (receptores de
forças magnéticas e de pressão), o que coloca o seu corpo na posição de natação activa.

Também o labirinto auditivo dos vertebrados pode ser contado na mesma classe de receptores.
Trata-se, por assim dizer, de uma orientação que garante o domínio do próprio corpo do
indivíduo.

Na orientação primária actua como grandeza básica de referência a força de gravidade. Na


ligação com forças cinéticas derivadas de processos de movimentos, resulta para os organismos a
capacidade de medição de campos de forças e, daí, a possibilidade de determinação de relações
topográficas ou espaciais a que chamamos de orientação primária.

Reflexos estáticos e estatocinéticos – tal como nós os conhecemos do gato e do gafanhoto –


garantem postura e outro tipo de reflexos que ajudam no posicionamento do corpo em caso de
queda. Esta orientação primária forma assim condição básica para todos outros movimentos e
formas de orientação no espação.

Reflexos estáticos e estatocinéticos – tal como nós os conhecemos do gato e do gafanhoto –


garantem postura e outro tipo de reflexos que ajudam no posicionamento do corpo em caso de
queda. Esta orientação primária forma assim condição básica para todos outros movimentos e
formas de orientação no espação.

A orientação baseada em informações provenientes do corpo do indivíduo designa-se também de


orientação endocinética, ou ainda orientação cinestética.

5.1. Classificação, formas e mecanismos de orientação no espaço

O que se disse antes pode ser resumido no seguinte: orientação é o posicionamento espacial
direccionado de um organismo ou de partes deste no campo dos estímulos ambientais. Nas
plantas os processos de crescimento estão orientados para uma determinada direcção espacial
segundo a estimulação. Os movimentos das plantas (sem deslocamento) estão direccionados à
uma fonte de estímulos, são os chamados de tropismos (do Grego: he tropós, direcção, lugar).

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 33


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Tal como nas plantas, encontramos tropismos em animais de vida séssil. Tropismos parecem
ter sido desenvolvidos devido a pressão da selecção natural sobre o uso efectivo do factor luz e
isto deve ter-se dado primariamente com plantas inferiores providas de receptores sensíveis à
luz. Plantas superiores direccionam também o seu crescimento à luz. LOEB publicou em 1890 o
seu livro intitulado “Der Heliotropismus der Tiere und seine Übereinstimmung mit dem
Heliotropismus der Planzen1” que teve continuidade numa série de publicações sobre tropismos
e outras formas de orientação. Ela ocupou-se muito com os mecanismos de orientação em
plantas, mas sobretudo em animais, com acentuada crença de que “todos os movimentos de
animais são determinados por forças internas e externas”.

O conceito de tropismo foi tomado e conservado pelos botânicos para sua aplicação concernente
aos movimentos de crescimento orientados à fonte de estímulo. Para esporos, algas e flagelados
móveis intruduziu-se o conceito de taxia(s), que, mais tarde, foi reivindicado pelos zoólogos para
sua aplicação limitada em animais. De facto, hoje, em organismos de vida livre, os movimentos
no espaço direccionados à uma fonte de estímulos chamam-se no seu todo táxias (do Grego: he
táxis, o posicionamento), por exemplo, o movimento de um insecto em direcção à fonte de luz.
FRANCK (1985) prefere diferenciar entre a parte dos movimentos direccionados e não
direccionados à fonte de luz e, só os primeiros designá-los de táxias. São exemplos dos últimos
movimentos simples do corpo ou de partes que não têm em vista a orientação do organismo à
fonte de estímulos, levantar o braço, por exemplo.

As táxias são também chamadas de tactismos na língua Portuguesa e acha-se melhor adoptar
esta terminologia daquí em diante. Na sua orientação os animais podem direccionar-se e mover-
se para a fonte do estímulo, ou ainda afastar-se desta. No primeiro caso falamos de reacção
positiva, ou tactismo positivo.

Segundo a diversidade de formas de movimentos que podemos observar nos animais, sua
motivação e liberação, encontramos o termo tactismo (taxia) a ser usado em cada vez mais novas
ligações, definições e contextos. Assim, distinguem-se as seguintes formas de tactismos:
 Fototactismo: a fonte de estímulo é a luz. Tratando-se de luz polarizada falamos de
polarotactismo. Se o estímulo consiste em astros, então falamos de astrotactismo;
 Quimiotactismo: a fonte de estímulo é química, trata-se de um gradiente químico;
 Hidrotactismo: a fonte de estímulo é a humidade;
 Fonotactismo: a fonte de estímulo é o som, sinais sonoros; orientação pelo êco e por
sinais vibratórios;
 Geotropismo: a fonte de estímulo é a força de gravidade;
 Magnetotropismo: a fonte de estímulo são campos magnéticos;
 Galvanotropismo ou electrotropismo: a fonte de estímulo são campos eléctricos;
 Reotropismo: a fonte de estímulo são correntes de água;
 Anemotropismo: a fonte de estímulo são correntes de ar;
 Termotropismo: a fonte de estímulo é o gradiente;
 Tigmotropismo: a fonte de estímulo é o tacto.
Por vezes, os animais tendem a estabelecer um determinado ângulo entre a fonte do estímulo, o
ponto de partida para a orientação e a meta. Eles, muitas vezes, também servem-se de marcos do
ambiente, os chamados marcos de orientação, ou então são outros corpos do universo que
servem de marcos de orientação, os astros, por exemplo. É sobejamente sabido que os animais
utilizam o compasso solar para sua orientação. Este tipo de mecanismos de orientação é
designado por menotáxias ou menotactismos. Aves costeiras que vivem em grandes
colónias, por exemplo, usam marcos ambientais de orientação para encontrarem os seus ninhos.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 34


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Se afastarmos os objectos mais notórios do ambiente (pedras, troncos, arbustos, etc) induzimos
ao êrro a ave que retorna ao seu ninho.

Quando a orientação por marcos ambientais está estritamente relacionada com a capacidade de
aprendizagem do animal falamos de mnemotáxias ou mnemotactismo (do Grego: he
mnéme, a recordação, a memória). Tais marcos ou sinais memorizados podem ser cheiros do
próprio indivíduo, como acontece nas formigas. A formiga deixa sinais ao longo da sua
deslocação que lhe servirão de marco de orientação ao retornar à toca.

A orientação mais complexa é a chamada orientação idiotética vectorial. A sua


complexidade resulta da incorporação do curso e da distância na orientação. Bem analisada a
questão, pode-se depreender que ela, também, resulta de incremento de complexidade da
orientação secundária: aonde vou e a que distância encontra-se a meta? Eis as quetões a ela
relativas. É assim que certos animais (Uca, aranha, aves, etc.) podem abandonar seus ninhos e
retornar a eles sem refracção.

forma especial e também a mais complexa dos mecanismos de orientação no reino animal
encontramos nos organismos migratórios, a chamada orientação migratória. É uma orientação
ao serviço da migração para destinos por vezes desconhecidos. Trate-se ou não de um destino
(des)conhecido, do organismo exige-se:
 Descoberta de direcção, determinar o curso da orientação;
 Determinar a distância a ser percorrida;
 Encontrar o local objectivado ou chegar ao destino.

5.2. Questões para reflexão

1. Porquê obrigatoriamnte associamos o espaço com o tempo numa orientação? Aplique estes
conhecimentos para analisar as relações predador-presa, no contexto de dinâmica
populacional?
2. Descreva as componentes de uma orientação primária,
3. Pesquise os mecanismos de orientação por eco em diferentes grupos de organismos.
4. Encontre exemplos e explique a forma de funcionamento de:
 Fototactismo;
 Quimiotactismo;
 Hidrotactismo.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 35


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Unidade VI

6. Comportamento e Ecologia

Esta unidade tenta descrever as relações entre o comportamento, a ecologia e a evolução de


animais. Explica, como é que um animal comporta-se numa dada situação ecológica.
TINBERGEN e DARWIN, independentemente um do outro e em épocas da história biológica
bem diferentes, levantaram esta questão de que como os animais se como comportam numa
dada região do ambiente, naturalmente, nunca obtiveram resposta porque cada comportamento
tem a sua razão de ser. Trata-se de uma razão biológica ou evolucionária.

Segundo os autores acima, a Física, a Química e Matemática podem também colocar a mesma
questão. O que acontece é que elas, como ciências naturais, vão responder sem o conteúdo
evolucionário. A área de pesquisa parece estar clara: como e para quê o comportamento evoluiu
num determinado contexto ecológico. Quem nunca questionou-se, porquê o camaleão locomove-
se lentamente, sabendo-se que seus predadores não são lentos; ou, porquê o camaleão muda de
cor e toma a cor do substrato. Estas questões perseguem-nos sempre que analisamos
comportamentos de animais. Estas e outras questões consubstanciam a cadeira biológica
chamada Etoecologia, que do ponto de vista de paradigma e de metodologia está estritamente
ligada à Sociobiologia e Etologia.

6.1. Etoecologia

A palavra Etoecologia provem do Inglês, Behavioural Ecology, Ecoethology). hoje, é umaarea


de investigação cientifica biocomportamental importante, que se ocupa sobretudo com a função
do comportamento na adaptação ao ambiente actual. Não se referem aqui ao ambiente actual no
sentido de status quo alcançado pelo meio ambiente na sua evolução ecológica (climax), mas sim

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 36


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

ao ambiente com que um determinado organismo interage num determinado momento da sua
ontogénese, na actualgénese. Lembremo-nos que o organismo, assim como o ambiente que o
rodeia são produtos de uma evolução e ambos expressam em Ecologia uma coevolução. A
Etoecologia estabeleceu-se na década 70 como disciplina científica da Biologia do
Comportamento, com origem na Sociobiologia. Como é que a pressão exercida pela selecção
natural beneficiou um determinado comportamento relativamente à outros, eis a questão
central da Etoecologia.

Na sua evolução paradigmática, a Etoecologia assumiu, como é óbvio, a questão central da


Sociobiologia, nomeadamente a de procurar saber a razão de ser de determinados
comportamentos que a priori contrariam o pensamento basal de beneficiação das espécies a
favor dos indivíduos que os praticam.

6.2. Novo Paradigma epistemológico e Metodológico

O grande mérito da Etoecologia consiste no realce das bases ecológicas do comportamento,


assim como na consideração da sua evolução filogenética sob determinadas condições
ecológicas. Daí que ela se define como ciência experimental e usa métodos de outras
subdisciplinas biológicas e mesmo humanas e sociais. a Etoecologia investiga a variabilidade do
comportamento ao nível do indivíduo, no contexto de estudos de optimalidade, i.e., no balanço
entre ganhos e perdas. Do conhecimento sobre a decisão que o animal toma na escolha entre
dois ou mais tipos de comportamentos, é possível formular hipóteses que, depois, podem ser
testadas em experiências e observações realizadas na natureza livre.

O princípio de optimalidade diz o seguinte: características subordinadas à selecção natural


expressam-se de tal modo, que gastos (custos) e ganhos (proveitos) estejam numa óptima
relação, sendo o ganho líquido maximal e mensurável, quer de forma directa, quer de forma
indirecta.

A partir da frase da Teoria de Darwin sobre a selecção natural – “na natureza prefere-se
sobrevivência dos que mais podem” - poderia esperar-se que estruturas e funções estivessem
adaptadas às condições de selecção natural, de tal modo que correspondem uma vantagem
individual de seus portadores. Mas o que acontece é que cada capacidade adaptativa não só traz
ganhos (vantagens), como também causa-lhe prejuízos (custos). As vantagens de uma
característica adaptada devem sobrepor-se aos seus custos.

Na Etoecologia, a análise da optimalidade do comportamento através do chamado balanço de


ganhos-e-perdas trouxe novos conhecimentos. A Sociobiologia utilizou estes conhecimentos para
a explicação de determinados comportamentos, tais como altruísmo, conflitos entre sexos
(ocorre entre irmãos não gémeos resultantes de uma reprodução sexual), conflitos entre pais e
filhos (conflito de gerações) e outros comportamentos semelhantes.

Métodos informáticos actuais permitem o estudo dos padrões de tempo no comportamento de


construção da formiga-leão, por exemplo, onde regista-se em simultâneo o tempo de construção,
os intervalos de transporte da areia, a periodicidade de alargamento da armadilha, o volume
total de massa transportada em cada lançamento e na construção. a larva constrói uma vez de
novo e faz uso efectivo da armadilha por algum tempo limitado. O registo máximo do tempo de
uso foi de 11 dias, depois do que o predador abandona e constrói nova armadilha. Durante o

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 37


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

tempo de uso da armadilha, a larva aumenta periodicamente o diâmetro em intervalos de cerca


de 24 horas, o que faz supor a existência de um relógio biológico do tipo circadiano. Não se sabe
ainda qual é a instância neural responsável pelo ritmo.

6.3. Evolução Natural dos Comportamentos

Do ponto de vista funcional e ecológica, o comportamento das espécies evoluiu no sentido de (1)
elevar a probabilidade de encontro com a presa através de aumento da superfície de contacto e
(2) poupar no máximo a energia gasta na construção através do aumento periódico do mesmo
funil, (3) a prática de egoísmo alfruitismo, entre outras atitudes comportamentais, de modo a
lhes facilitar a sua sobrevivência o ambiente em que vivem.

A Etoecologia firmou-se como disciplina fundamental no estudo da evolução dos


comportamentos, assim como do seu valor adaptativo. Uma forma de o fazer, tratando-se de
estudos causais, é a comparação de comportamentos de espécies filogeneticamente próximas. No
caso da formiga-leão, são interessantes três níveis de análise evolutiva.

Existem três tipos de estratégias que, certamente poderão ter evoluído como autapomorfias de
modo independe umas das outras, ou poderão ter-se desviado de formas ancestrais próximas
(apomorfias), ou ainda poderão ter-se originado de modificações de comportamentos existentes
(simplesiomorfias). De facto, como realça PIRES (2000), existem espécies de construção
obrigatória, que nunca são epiterrestres e ficam ancoradas no funil. Existem outras que nunca
constroem e capturam sua presa de modo activo, procurando a presa (Inglês, prey searching).
Por último, estão os que tanto constroem para capturar a presa, como ainda podem procurar e
capturar a presa activamente, fora da armadilha que, no dizer do autor, são os de estratégia mista
ou de construção facultativa.

Em consequencia destas estratégias ou em relação à sua evolução, existem adaptações anátomo-


morfológicas e comportamentais específicas. Por exemplo, as larvas de construção obrigatória só
podem locomover-se para trás (Inglês, reward locommotion). Contrariamente, nas outras duas
estratégias, os indivíduos gozam da liberdade de orientação espacial total, podendo locomover-se
para frente e para trás (Inglês, forward and reward locommotion), o que, aliás, lhes possibilita a
procura e captura activas de presa.

Este nível de análise podem-se juntar-se reflexões concernentes ao metabolismo e outros


parâmetros biológicos dos indivíduos, incluindo o genético. Ao nível sensorial, por exemplo,
observou-se para indivíduos de construção obrigatória estruturas sensoriais especiais que
hipoteticamente podem ter ifluência na detecção de vibrações da dos movimentos da presa em
volta da armadilha, dispertando o indivíduo para iniciar o “bombardeamento” da presa com area
(PIRES, 2000; DEVETAK, 1985; DEVETAK, 1998; DEVETAK e MENCINGER, 1994). a evolução
destas três estratégias (incluindo suas propriedades específicas) permitem-nos a criação de
diferentes hipóteses de relacionamento filogenético

PIRES (2006) assume que a estratégia de construção de armadilha seja uma novidade evolutiva
desenvolvida a partir de indivíduos predadores activos, uma característica que se manteve na
espécie de estratégia mista. Sendo assim, as espécies de construção obrigatória forma com as de
construção facultativa um monofilo e a concordância evolutiva é do tipo sinapomórfico.
Descarta-se assim a possibilidade de tratar-se de simplesiomorfia ou convergência.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 38


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Na comparação dos dois comportamentos conclui-se tratar-se de comportamentos homólogos.


Da mesma forma que E. nostras e M. immaculatus incrementam o diâmetro das armadilhas em
função do período de privação alimentar, C. manselli eleva o número de sulcos quanto mais dias
passa sem capturar presa. Os dois comportamentos desempenham, assim, a mesma função, mas,
certamente, assentam sobre bases genéticas diferentes.

6.4. Comportamentos e Domesticação

Tal como acontece com processos filogenéticos de indução natural, a domesticação, quer de
plantas, quer de animais, levou à evolução de muitas espécies. Através da análise de
modificações ocorridas em indivíduos domesticados é possível o aprofundamento da nossa
compreensão sobre os processos de evolução das espécies. Animais resultantes da domesticação
diferem bastante das suas formas selvagens em uma série de propriedades e características
morfológicas, anatómicas, fisiológicas e comportamentais. As características dos indivíduos
domesticados podem ser chamadas de características ou propriedadas da domesticação.

De acordo com a definição, considera-se que uma característica é verdadeiramente resultado da


domesticação quando a diferença em causa relativamente à sua forma selvagem encontra-se
memorizada no genoma e é transmitida de geração em geração. Na prática, a distinção ou
descoberta de tais características torna-se difícil, uma vez que as modificações podem ser
condicionadas pela interacção com o meio ambiente e passam a parecer ser produtos da
domesticação. As modificações assim originadas podem sobrepor-se às da domesticação, ou
ainda encobri-las.

Muitos elementos comportamentais (por exemplo, em comportamentos ritualizados) ocorrem


com menor (reduzem-se) ou maior (aumentam) frequência em animais domésticos
comparativamente às suas formas selvagens. No caso de redução, falamos de hipotrofia e, ao
contrário, de hipertrofia, ou ainda de atrofia caso essas componentes comportamentais
desapareçam por completo. Hipotrofias são frequentes no comportamento agressivo, acções de
aviso, fuga e defesa, modos de comportamento de cuidados-com-a-prole e mesmo a espontânea
actividade locomotora. A atrofia pode ocorrer no comportamento de canto das aves. Aqui, alguns
elementos de estrofes ou estrofes completas desaparecem do repertório do indivíduo. É preciso
entender que tanto a atrofia, como a hipo- e hipertrofia não ocorrem apenas no sentido do
selvagem para o domesticado, ambos os sentidos são possíveis, afinal trata-se de processos
evolucionários adaptativos.

6.5. Questões para reflexão

1. O surgimento da Etoecologia está estritamente relacionada com uma evolução


paradigmática a partir da Sociobiologia. Argumente e exemplifique em matéria e em
metodologia.
2. Como é que a pressão exercida pela selecção natural beneficiou um determinado
comportamento relativamente à outros, eis a questão central da Etoecologia”. A partir de
um exemplo, argumente a favor desta tese.
1. Interprete o seguinte texto:
“Do ponto de vista de paradigma a Etoecologia procura saber a razão (o porquê) de ser
das diferenças comportamentais em função do meio ecológico dos indivíduos investigados.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 39


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Ela abarca, por conseguinte, não só aspectos fenomenológicos, como também as bases
biológicas (morfo-anatómicas e genéticas) e ambientais sobre as quais o comportamento
assenta”.
1. Escolhe um dos seguintes problemas comportamentais e discuta com base em argumentos
etoecológicos e de Sociobiologia:
 Porquê morrer pelo outro, i.e. porquê praticar o altruísmo?
 Porquê matar um irmão, i.e. porquê praticar o fratricídio?
 Porquê copular com parente próximo, i.e. porquê praticar o incesto?

Unidade VII

7. Sociobiologia

Esta unidade trata assuntos sobre algumas teses centrais da Sociobiologia, algumas das quais
foram, num passado muito recente, pontos de debate e de incompreensões entre diferentes
disciplinas das ciências filosóficas, humanas e sociais e mesmo em relação à Etologia clássica,
sua disciplina-mãe.

A compreensão do comportamento animal e da sua natureza ajuda-nos a compreender o nosso


próprio comportamento, assim como a nossa própria natureza. Talvez seja esta a razão para a
nossa fascinação ao observarmos e ao estudarmos os animais. Uma vez que o Homem em si é um
ser social, investigações sobre a natureza social de animais esteve sempre no centro das atenções
da Sociobiologia.

7.1. Introdução a Sociobiologia

A Sociobiologia procura esclarecer o comportamento social de animais com base na Teoria


Evolucionária de Darwin, partindo da premissa de que nada na Biologia faz sentido sem ser no
contexto de uma evolução. Evolução é um processo natural, uma transformação de organismos
na forma e nos modos de vida, com base na qual surgem descendentes portadores de bases
hereditárias dos seus ascendentes, mas que eles mesmos comportam-se biologicamente como
novas formações. Organismos existentes hoje resultaram de processos longos de transformações
de várias gerações que se seguiram na sua história filogenética.

A força motriz para este processo evolutivo é a “luta pela existência”. Cada ser vivo luta pela sua
própria conservação, numa luta em que os “fracos ficam pelo caminho” e apenas os capazes
sobrevivem. Deste modo funciona a selecção natural que, segundo SPENCER pode ser descrita
como “survival of the fitness”, que foi tomando, mais tarde, por DARWIN. Estas teorias não
podiam estar completas se não tivesse havido uma conjugação com as teorias da Genética das
Populações, no que ficou conhecido como Neodarwinismo, nos meados do sec. XX. Esta teoria
também pode ser chamada de Teoria Evolucionária de Weizman. Ela também deve ser

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 40


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

diferenciada da Teoria Sintéctica da Evolução, que une as ideias de Darwin com as principais
teses da Genética e da Biologia das Populações.

Um dos principais representantes contemporâneos desta nova teoria é E. MAYR Outros cientistas
directa ou indirectamente relacionados com ela são: B. RENSCH, R. R IEDLE F. M. W UKETITS
que lançaram a teoria dos sistemas e veêm na evolução um fenómeno complexo de “feed back” e
interações. Partindo na definicao da evolução mais simplifica, pode-se dizer: “Todos indivíduos
variam nas suas características, cuja formação é influenciada por factores hereditários (genes).
De acordo com as condições ambientais eles reproduzem-se com sucesso diferenciado, aliás cada
gene tem uma adaptção ambiental diferente”.

A grandeza que é primariamente modificada pela selecção não é mais o indivíduo, como
postulava DARWIN, mas todo o conjunto do “genpool” da espécie, se definirmos a espécie como
todos os seres vivos que pertencem ao mesmo “genpool” e no acto da reprodução são capazes de
trocarem seus genes.

7.1.1. História da Sociobiologia

O termo Sociobiologia foi empregue, em 1946, por JOHN P. SCOTT e, independentemente


deste, por C. F. HOCKET, em 1948. Em 1950, SCOTT propôs que a Sociobliogia devia ser
encarada como uma disciplina de carácter interdisciplinar que se situa entre Biologia (sobretudo
Ecologia e Fisiologia), Psicologia e Sociologia. Este conceito foi tomado por E. O. WILSON,
Professor de Entomologia no “Harvard Museum of Comparative Zoologie”, um dos maiores
dirigentes do mundo em Entomologia. Foi WILSON que, em 1971, anuncia uma nova disciplina
no seu livro “The Insect Societies” que chamou “The Prospect of a unified Sociolobiology”, numa
tentativa de extrapolar os seus conhecimento profundo que possuia sobre a vida social dos
insectos para o biograma dos vertebrados. Este passo ficou mais completo com a publicação de
“Sociobiology. The New Syntesis” (1975). O surgimento desta obra levantou discussões acesas
com as ciências sociais e culturais e, de algum modo, mesmo no seio dos biólogos criou um certo
desconforto.

A novidade básica da Sociobiologia de WILSON consistiu em trazer os principais factos da


organização social dos animais da Etologia clássica e fundamentá-los com base na Ecologia das
Populações e Genética de modo a demonstrar a sua evolução adaptativa. Daí resulta que
WILSON tenha definido a Sociobiologia como a “investigação sistemática das bases biológicas
do comportamento social nas suas diferentes expressões, onde todas as espécies animais são
abarcadas”30. Assim sendo, a Sociobiologia é, em primeiro lugar, uma disciplina comparativa.
Para a Sociobiologia são relevantes dois modelos e suas respectivas teorias:
1. O modelo modificado de DARWIN da selecção natural;
2. o modelo que advoga que todos os fenótipos surgem da interacção entre o genótipo de
um organismo e o seu meio. Isto é igualmente válido para o comportamento.

A Nova Síntese de WILSON liga os dois modelos e aceita que também o comportamento
subordina-se ao processo de evolução natural. A consequência desta posição será a assunção de
que o comportamento representa pelo menos uma componente do genótipo de um indivíduo que
procura maximizar o seu fitness (do indivíduo em causa). Assim, a Sociobiologia aplica estrita e
consequentemente a teoria neodarwiana na análise dos comportamentos sociais.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 41


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Ela não é, por conseguinte, uma nova teoria, mas sim uma nova disciplina mista, também
chamada Disciplina de Wilson, que sintentiza resultados e princípios da Teoria evolutiva,
Biologia das populações, Etologia, Biometria, Etnologia e Antropologia com o objectivo de
esclarecer comportamentos sociais. Os sociobiolólogos procuram esclarecer o desenvolvimento
do comportamento animal na evolução através da selecção natural. Eles questionam:
 Como é que, sob determinadas condições de evolução, surgiu o comportamento social?
 Porque é que, sob determinadas condições, um comportamento pode sobrepor-se aos
outros e evoluir?

Isto mostra claramente que o seu interesse não se situa mais ao nível funcional, mas
sim ao nível causal. O seu tema não é a agressão como tal, mas sim o altruísmo
aparentemente sem benefício para o seu praticante. As seguintes questões consubstanciam a
principal tese da Sociobiologia:
 Porquê certas aves alertam o grupo e colocam-se eles mesmos na situação de perigo?
 Porquê animais praticam o investimento parental, minimizando a sua própria
vantagem?

Porquê é que surgiram inesctos trabalhadores estéreis em benefício de uma única rainha
“poedeira”? Todos outros dispensaram a sua própria reprodução.
 Porquê parasitam certas aves ninhos de outras e obrigam-nas a inibirem sua
reprodução e a alimentarem o parasita? Um comportamento que se estende aos filhotes
recém eclodidos, osquais impiedosamente tratam de afastar os ovos restantes e os
respectivos filhotes eclodidos tardiamente em relação à ocupação do ninho. Este aspecto
foi reportado na Etoecologia.

Desta alistagem de pontos fulcrais de análise da Sociobiologia pode parecer um desinteresse pelo
conjunto dos fenómenos comportamentais que consubstanciam a vida social dos organismos. O
que pretendeu-se fazer, aqui, foi apenas salientar o lugar central que a Sociobiologia como nova
disciplina assume no conjunto das ciências naturais e sócio-culturais, para possibilitar ao leitor
um melhor direccionamento da discussão. Em seguida trata-se o comportamento social de forma
mais ampla.

O conceito de organização social é utilizado na Biologia do Comportamento no seu sentido


mais lato, uma vez que com ele abarcamos todas interacções entre indivíduos da mesma espécie
e de espécies diferentes.

Como se disse, foi NICO TINBERGEN que se ocupou com esta questão, quer em laboratórios,
quer em trabalhos de campo. Esta questão tinha sido posta de lado por não se considerar
científica. Por outro lado, a questão acerca do como é que um determinado comportamento
surge, passou a merecer interesse científico desde o desenvolvimento da Etofisiologia. Como
pode-se depreender, em ambos os casos, mas com ângulos de visão diferentes, trata-se de
questionar a causa dos comportamentos, é o nível causal.

7.1.2. Principais aspectos de estudos sociológicos

A Sociobiologia procura compreender o efeito de comportamentos sociais alternativos, também


chamadas de estratégias, sobre a sobrevivência de indivíduos ou de seus genes. O preço (valor)
da sobrevivência mede-se no fitness genético. Um indivíduo que não se reproduz com
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 42
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

sucesso e com isso não transmite seus genes às gerações futuras, o seu fitness genético é nulo.
Assim, a Sociobiologia procura demonstrar que estratégias comportamentais compensam-se
pelos ganhos no fitness do indivíduo. As estratégias comportamentais capazes podem também
ser chamadas de estratégias evolucionárias estáveis.

Mas todo o comportamento útil para a sobrevivência do indivíduo traz consigo também
desvantagens, por exemplo, por ele ser dispendioso tanto em termos de tempo, como do ponto
de vista energético, ou ainda porque a realização do comportamento pode representar perigo
para o indivíduo. Mais em diante dão-se alguns exemplo daquilo que a Etoecologia designa por
balanço-de-ganhos-e-perdas.

Desta forma, a tese sociobiológica em volta da selecção parêntesca se resume da seguinte forma:
“genes para comportamento altruísta só podem ser beneficiados pela selecção natural se k >
1/r, onde k é a relação entre o benefício dos beneficiários e perdas para o que despende o
benefício (altruísta) e r é o grau de parentesco entre os beneficiários e o altruísta, somado entre
os indivíduos que beneficiam do comportamento do altruísta.

7.1.3. Contorvésias nos principais paradigmas da Sociologia

De maneira mais pratica, “contorvesia” quer dizer crise. A crise da sociologia pode ser real ou
imaginária, mas não há dúvida de que tem sido proclamada por muitos. Em diversas escolas de
pensamento, em diferentes países, uns e outros colocam-se o problema da crise de teorias,
modelos ou paradigmas. Desde o término da Segunda Guerra Mundial, e em escala crescente nas
décadas posteriores, esse é um problema cada vez mais central nos debates. Além dos êxitos
reais ou aparentes, das modas que se sucedem, dos desenvolvimentos efetivos do ensino e
pesquisa, da produção de ensaios e monografias, manuais e tratados, subsiste a controvérsia
sobre a crise da explicação na sociologia.

Para Marshall, citado por PIRES (2009)“Os sociólogos não deviam despender todas as suas
energias na procura de generalizações amplas, leis universais e uma compreensão total da
sociedade humana como tal. Talvez cheguem lá mais tarde se souberem esperar. Nem re
comendo o caminho arenoso das profundezas do turbilhão dos fatos que enchem os olhos e
ouvidos até que nada possa ser visto ou ouvido claramente. Mas, acredito que haja um meio-
termo que se localiza em chão firme. Conduz a uma região cujas características não são nem
gargantuanas nem liliputianas, onde a sociologia pode escolher unidades de estudo de um
escopo manejável, não a sociedade, progresso, moral e civilização, mas estruturas sociais
específicas nas quais as funções e processos básicos têm significados determinados.

Seja em termos de “pontos de apoio intermediário” conforme Marshall, de “principia media”,


segundo Mannheim (1949), ou “teorias.de alcance médio”, na versão de Merton (1951, 1967), o
que está em curso é o debate sobre a insuficiência ou obsolescência das teorias clássicas. Debate
no qual, aos poucos, se propõem outros temas e metodologias. A problemática sociológica é
posta em causa por representantes de diferentes escolas de pensamento, em diversos países. .

Essa controvérsia prossegue e generalizase. Torna-se uma onda. Bourricaud (1975, p. 584) critica
o “sociologismo”, o “hiperfuncionalismo” e o “realismo totalitário”. Afirma, entre outras
observações semelhantes, que “o realismo totalitário continua a constituir o modo de
interpretação ao qual, espontânea e implicitamente, recorre a maioria dos sociólogos radicais”.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 43


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Para superar essas limitações, preconiza a recriação do “individualismo atomístico” herdado do


liberalismo e do marginalismo, conforme as contribuições de Mancur Olson, Albert Hirschman e
outros. Propõe o conceito de “neo-individualismo”, no qual se admite a existência de “grupos”,
“classes” e “sociedades”, entre aspas. Está a caminho das teorias do “individualismo
metodológico” e “escolha racional”, vistas como aspectos básicos de um novo paradigma
sociológico posto sobre os escombros dos clássicos.

TOURAINE (1984) dá continuidade à crítica dos “modelos clássicos”. Alega que se acham em
“decomposição”, já que se baseiam em conceitos insatisfatórios, tais como “funcionalismo”,
“modernização”, “sociedade” e outros. “Na realidade, o que esta sociologia denomina sociedade
não é senão a confusão de uma atividade social, definível em termos gerais - como a produção
indus trial ou o mercado -, e de um Estado nacional.

Cada geração de sociólogos tende “a identificar a sua época como um momento decisivo no
desenvolvimento da disciplina, para melhor ou para pior”. Em certos casos, no entanto, a crise
pode ser real, relativa a problemas de explicação, impasses teóricos. Inspirado nas reflexões de
Kuhn, sobre “ciência normal” e “revoluções científicas”, Merton chama a atenção dos
sociólogos para problemas de cunho epistemológico. “Os aspectos da sociologia que
supostamente fornecem os sinais e sintomas da crise são de natureza familiar - uma mudança
e choque da doutrina acompanhadas de uma tensão aprofundada, é algumas vezes conflito
exaltado, entre os praticantes do ofício. O choque implica a forte reivindicação de que os
paradigmas existentes são incapazes de resolver os problemas que deveriam, em princípio, ser
capazes de resolver” PIRES, (2009).

O objecto da sociologia, bem como das outras ciências sociais, envolve o indivíduo e a
coletividade, as relações de coexistência e seqüência, diversidades e antagonismos. Diz respeito a
seres dotados de vontade, querer, devir, ideais, ilusões, consciência, inconsciente, racionalidade,
irracionalidade. Os fatos e acontecimentos sociais são sempre materiais e espirituais, envolvendo
relações, processos e estruturas de dominação ou poder, e apropriação ou distribuição. Implicam
indivíduos, famílias, grupos, classes, movimentos, instituições, padrões de comportamento,
valores, fantasias. Esse é o mundo da liberdade e igualdade, trabalho e alienação, sofrimento e
resignação, ideologia e utopia.

Há momentos lógicos da reflexão sociológica sem os quais o ensino e a pesquisa contemporâneos


dificilmente poderiam se desenvolver. Estes são alguns desses momentos: aparência e essência,
parte e todo, singular e universal, sincrônico e diacrônico, histórico e lógico, passado e presente,
sujeito e objeto, teoria e prática. É claro que a reflexão científica pode basear-se maiormente em
alguns, deixando outros em segundo plano: Nem sempre a monografia e o ensaio mobilizam
todos. Entretanto, necessariamente mobilizam alguns. Dizem respeito à razão científica. Caso
contrário, o produto da atividade intelectual corre o risco de ficar no meio do caminho, realizar-
se apenas como descrição, folclorização, ideologização. Ou apresentar-se como sucedâneo da
ficção, nem sempre com. talento artístico.

Um dos requisitos lógicos fundamentais da interpretação na sociologia diz respeito à


historicidade do social. O contraponto passado e presente é essencial, se se trata de explicar ou
compreender a realidade social. Toda interpretação que perde, minimiza ou empobrece o
momento do real, sacrifica uma dimensão básica desse mesmo real. Esta é uma conquista
importante do pensamento sociológico e das outras ciências sociais. A realidade social é um
objeto em movimento. As suas configurações estáveis, normais, estáticas, sincrônicas
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 44
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

representam momentos, sistemas, estruturas da mudança, dinâmica, modificação,


transformação, historicidade, devir.

Precisamente aí está uma das limitações de algumas teorias sociológicas contemporâneas. Não
levam em conta essa conquista do pensamento sociológico. Em busca de novas linguagens e da
redefinição do objeto da sociologia, sacrificam as tensões diacrônicas do real. Imaginam que as
configurações sincrônicas resolvem a diacronia, captando o momento do real, perdendo o
movimento do real.

Uma parte da controvérsia sobre paradigmas clássicos e contemporâneos passa pelo problema
da historicidade da realidade social. Entre os contemporâneos, são freqüentes as propostas
teóricas que simplesmente abandonam ou empobrecem a perspectiva histórica. Como se fosse
possível eliminar das relações, processos e estruturas de dominação e apropriação os seus
movimentos e as suas tensões. Como se a realidade social pudesse sempre resolver as- suas
diversidades, desigualdades e antagonismos no âmbito das configurações sincrônicas. Como se o
real não estivesse essencialmente atravessado pela relação de negatividade. Daí a imagem
abstrata, rarefeita, cerebrina que transparece em estudos como os do estrutural-funcionalismo
de Parsons.

A idéia-chave dessa teoria, como o leitor deve estar lembrado, é o ponto de vista de que para toda
sociedade existe certo número limitado de atividades necessárias, ou ‘funções’, tais como a
obtenção de alimento, o adestramento da próxima geração etc. e um número igualmente
limitado de ‘estruturas’, ou maneiras pelas quais a sociedade pode ser organizada para realizar
essas funções. Em essência, a teoria estrutural-funcionalista busca os elementos básicos da
sociedade humana, abstraída de tempo e lugar, junto com as regras de combinação desses
elementos. Dá a impressão de procurar algo na sociedade humana correspondente à tábua
periódica dos elementos na química.

7.1.4. Moral, Ética e Regilão

7.1.4.1. Moral

Moral é o conjunto de regras adquiridas através da cultura, da educação, da tradição e do


quootidiano, e que orientam o comportamento humano dentro de uma sociedade. O termo tem
origem no Latim “morales” cujo significado é “relativo aos costumes”.

As regras definidas pela moral regulam o modo de agir das pessoas, sendo uma palavra
relacionada com a moralidade e com os bons costumes. Está associada aos valores e convenções
estabelecidos coletivamente por cada cultura ou por cada sociedade a partir da consciência
individual, que distingue o bem do mal, ou a violência dos atos de paz e harmonia.

Os princípios morais como a honestidade, a bondade, o respeito, a virtude, etc., determinam o


sentido moral de cada indivíduo. São valores universais que regem a conduta humana e as
relações saudáveis e harmoniosas.

A moral orienta o comportamento do homem diante das normas instituídas pela sociedade ou
por determinado grupo social. Diferencia-se da ética no sentido de que esta tende a julgar o
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 45
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

comportamento moral de cada indivíduo no seu meio. No entanto, ambas buscam o bem-estar
social.

7.1.4.2. Ética

Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A palavra ética é
derivada do grego, e significa aquilo que pertence ao caráter.

Num sentido menos filosófico e mais prático podemos compreender um pouco melhor esse
conceito examinando certas condutas do nosso dia a dia, quando nos referimos por exemplo, ao
comportamento de alguns profissionais tais como um médico, jornalista, advogado, empresário,
um político e até mesmo um professor. Para estes casos, é bastante comum ouvir expressões
como: ética médica, ética jornalística, ética empresarial e ética pública.

A ética pode ser confundida com lei, embora que, com certa frequência a lei tenha como base
princípios éticos. Porém, diferente da lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou
por outros indivíduos a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela
desobediência a estas; mas a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas pela ética.

A ética abrange uma vasta área, podendo ser aplicada à vertentente profissional. Existem códigos
de ética profissional, que indicam como um indivíduo deve se comportar no âmbito da sua
profissão. A ética e a cidadania são dois dos conceitos que constituem a base de uma
sociedade próspera.

7.1.4.3. Ética e Moral

Ética e moral são temas relacionados, mas são diferentes, porque moral se fundamenta na
obediência a normas, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos e a ética,
busca fundamentar o modo de viver pelo pensamento humano.

Na filosofia, a ética não se resume à moral, que geralmente é entendida como costume, ou
hábito, mas busca a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver; a busca do
melhor estilo de vida. A ética abrange diversos campos, como antropologia, psicologia,
sociologia, economia, pedagogia, política, e até mesmo educação física e dietética.

7.1.5. Religião

Religião é uma fé, uma devoção a tudo que é considerado sagrado. É um culto que aproxima o
homem das entidades a quem são atribuídas poderes sobrenaturais. É uma crença em que as
pessoas buscam a satisfação nas práticas religiosas ou na fé, para superar o sofrimento e alcançar
a felicidade.

Religião é também um conjunto de princípios, crenças e práticas de doutrinas religiosas,


baseadas em livros sagrados, que unem seus seguidores numa mesma comunidade moral,
chamada Igreja.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 46


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Todos os tipos de religião têm seus fundamentos, algumas se baseiam em diversas análises
filosóficas, que explicam o que somos e porque viemos ao mundo. Outras se sobressaem pela fé e
outras em extensos ensinamentos éticos.

Religião, no sentido figurado, significa qualquer atividade realizada com rígida frequência. Ex: Ir
para a academia todos os dia, para ele é uma religião.

7.1.5.1. Tipos de Religião

a) Cristianismo
Cristianismo vem da palavra Cristo, que significa Messias, pessoa esperada, o redentor. É uma
doutrina que acredita que Deus é o criador do universo e de toda a vida do planeta. O
Cristianismo é um desdobramento do Judaísmo. Todas as formas de cristianismo obedecem às
mesmas escrituras, veneram o Deus de Israel e consideram Jesus como o Cristo, Filho de Deus e
Salvador da humanidade.

O cristianismo tem na Bíblia o livro sagrado dos cristãos e na Igreja o local da pregação dos
ensinamentos de Cristo, através de seus Sacerdotes. As principais religiões ligadas ao
Cristianismo são o Catolicismo, a Ortodoxa e o Protestantismo.

b) Catolicismo
Catolicismo é a religião dos cristãos, uma vertente do cristianismo, formado pela Igreja Católica
Apostólica Romana, que tem seu centro no Vaticano e reconhece a autoridade suprema do Papa.
O catolicismo é uma doutrina que além do culto a Jesus, enfatiza o culto a Virgem Maria e a
diversos Santos.

A religião católica ou catolicismo tem a Bíblia como seu Livro Sagrado, e através dele transmite
os ensinamentos do Evangelho de Cristo. O crucifixo é o símbolo maior da catolicismo, pois
simboliza a cruz na qual Jesus Cristo morreu.

O catolicismo é uma doutrina que acredita na preparação dos fieis para a salvação de sua alma,
que após a morte subirá ao paraíso, onde gozará o descanso eterno.

c) Religião Ortodoxa
Religião ortodoxa é uma doutrina que teve sua origem no cristianismo, com a divisão da Igreja
Católica em Católica do Ocidente e Ortodoxa do Oriente. A Igreja Ortodoxa é portanto um ramo
da Igreja Católica, com pequenas diferenças em seus dogmas.

A religião ortodoxa ou Igreja Católica Ortodoxa, se define como a correta e verdadeira Igreja
criada por Jesus Cristo, e que se manteve fiel a verdade, transmitida desde os Apóstolos até os
dias de hoje.

A Igreja Ortodoxa é formada por várias igrejas autônomas e Patriarcados autocéfalos, onde a
autoridade suprema é uma junta governante, o Santo Sínodo Ecumênico, onde a unidade tem
origem na doutrina, na fé, nos cultos e sacramentos.

d) Protestantismo

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 47


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Protestantismo é uma religião que adotou as doutrinas desenvolvidas na Europa, no século XVI,
como resultado dos movimentos para reformar a Igreja Católica. O protestantismo é um dos
ramos do cristianismo, que surgiu do movimento que rejeitou a autoridade romana e estabeleceu
reformas nacionais em vários países do norte da Europa, como o Luteranismo na Suécia e parte
da Alemanha, o Calvinismo na Escócia e em Genebra e o Anglicanismo na Inglaterra.

Protestantes seriam então, aquelas igrejas oriundas da Reforma, que apesar de surgirem
posteriormente, obedecem aos princípios gerais do movimento reformista.

e) Judaísmo
O judaísmo é a religião dos judeus. É a mais antiga das religiões monoteístas do mundo. O
judaísmo acredita na existência de um único Deus, que criou o universo. De acordo com algumas
correntes do Judaísmo, Jesus Cristo foi um bom professor e para outros, foi um falso profeta.

Ao contrário do Cristianismo, o Judaísmo não vê Jesus como Filho de Deus, enviado para salvar
o ser humano. Por esse motivo, os crentes no Judaísmo esperam até hoje pelo enviado de Deus
para salvação do povo.

O judaísmo é um modo de vida, associado a uma combinação de fé e convicções religiosas. O


judaísmo é uma religião da família, e grande parte da fé judaica é baseada nos ensinamentos
recebidos no lar. O Torá ou Pentateuco é considerado o livro sagrado dos judeus. Os cultos
judaicos são realizados nas sinagogas e são comandados por um rabino. O símbolo sagrado é o
Menorá, um candelabro com sete braços, que representa a luz e inspiração divina que se
propagam no mundo.

f) Islamismo
Islã é uma palavra árabe que significa submissão, aqueles que obedecem Alá. O islamismo foi
fundado pelo profeta Maomé, nascido em Meca, por volta de 570, na Arábia Ocidental. O que
aceita a fé do islamismo é chamado de muçulmano. O livro sagrado é o Corão, onde a palavra de
Deus foi revelada ao profeta Maomé. O templo é a mesquita.

7.2. Evolução dos Grupos Sociais

Comportamento sociais evoluíram a partir de uma selecção natural. Tiveram que ser
seleccionados comportamentos que melhor adaptabilidade teriam para arealização dos seguintes
comportamentos:
 Evitação de predadores (optimização da defesa);
 Exploração de recursos alimentares (maximização dos ganhos);
 Aprendizagem social
 Regulação da temperatura;
 Competição reprodutiva.
Existe um comportamento cooperativo e de interajuda na vida em grupos. Muitos animais estão
mais protegidos dentro de grupos sociais, por exemplo, porque o perigo (predador) é econhecido
mais depressa, ou por que este pode ser atacado mais facilmente em grupo, ou ainda porque a
fuga despolarizada do grupo (no sentido de orientação espacial multidirecçional) dificulta a
perseguição.
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 48
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Em alguns animais, sobretudo nos mamíferos, existem inclusivamente autênticos guardas ou


sentinelas que alertam o grupo sobre perigos. No caso específico de primatas, esta função pode
ser desempenhada pelo macho de elevada posição social. Gatos selvagens que caçam em grupos
têm maior probabilidade de capturar a presa do que indivíduos isolados. Uma vantagem
particular da formação de grupos sociais consiste na aprendizagem. Indivíduos juvenis
aprendem dos adultos Dentro dos conteúdos de aprendizagem nos grupos sociais maior
destaque vai para:
 Formas e estratégias eficazes de caça. Um leão aprende a saber como morder a presa
para que esta não escape (mordedura na região do pescoço);
 Formas de evitação de perigo;
 Períodos do dia apropriados para a caça (pode ocorrer através de sincronização de
fases dos períodos de comportamentos com um “Zeitgeber” e, não necessariamente com
as fazes do objecto funcional);
 Produção e uso de instrumentos (primatas superiores);
 Comportamentos sexuais (mesmo que trate-se de estampagem);

Na Biologia do Comportamento emprega-se muito o termo tradição, para designar tudo o que
se aprende de geração para geração, no contexto dos comportamentos sociais Uma outra função
biológica da vida social é certamente a de regulação da temperatura. As abelhas conseguem
regular a temperatura na colmeia pelo batimento rápido de asas.

A aprendizagem de comportamentos sexuais (escolher e atrair a fêmea, copular, etc.) e a


aprendizagem de algumas estrofes do canto da ave ocorre por meio daquilo que se designa por
estampagem. O mesmo sucede com a aprendizagem ou fixação da imagem de mãe .Existem
fases ontogenéticas específicas para cada tipo de estampagem, dentro das quais cada
comportamento deve ser estampado, são as chamadas fases sensíveis ou críticas de
aprendizagem por estampagem.

7.3. Meio ambiente e Comportamentos Sociais

O hospitalismo, como também é chamada esta síndrome, é um fenómeno mais observado no


Homem. Segundo SPITZ (1995), citado por PIRES , crianças que crescem em orfanatos sem
pessoa de referência (não se confundir com parentes), sofrem com frequência de danos físicos e
psíquicos: retardamento do desenvolvimento corpóreo, motor, psíquico e emocional.
Não só, elas são igualmente mais vulneráveis à doenças infecciosas.

As anomalias comportamentais mais visíveis nesses tipos de individuos são: o abanar da


cabeça ao falar, o mordiscar as unhas e o chupar o dedo polegar, a falta excessiva de
expressão facial na convivência social (olhar sem expressão), a debilidade psíquica,
um coeficiente de inteligência não apropriado à idade, a língua parece prender na
fala e incha, o que torna as palavras pouco perceptíveis. O contacto que mantêm com pessoas
do seu meio é sempre extremo: ou são excessivamente extrovertidos ou introvertidos, o que lhes
dificulta manter relações sociais duradouras.

Danos por deprivação surgem num período mais ou menos bem limitado, que vai do nascimento
até 5 anos. A pessoa de referência mencionada antes pode ser o dirigente do orfanato, pais
substitutos, outros membros da família, etc. É preciso notar que mesmo numa família normal, a
disputa de direitos de contacto com a criança acabam retirando-lhe a pessoa de referência.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 49


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

7.4. Bases biológicas e Formas de Evolução de comportamentos sociais, Vida em


grupos sociais

A vida em grupos sociais pode ser definida por uma grande complexidade de interacções sociais
de um grupo de indivíduos da mesma espécie, determinado, de um lado, pelas potências
comportamentais e reprodutivas específicas e, por outro lado, condicionada pela distribuição e
abundância dos alimentos no tempo e espaço. A estrutura de um grupo social revela-nos o
conjunto de todas relações de coordenação e funcionamento de um grupo.

O comportamento social conduz indivíduos da mesma espécie a viverem em grupos (atracção


social) e regula a vida colectiva (coordenação social).

Comportamentos sociais transcendem os limites de espécie e vão até estruturas sociais inter-
específicas, como por exemplo, as hordas formadas por diferentes espécies de ungulados
(diferentes tipos de antílopes, zebras, etc.), incluindo a avifauna acompanhante, nas savanas
Africanas. Também as colónias de reprodução de áves aquáticas. Numa classificação simples,
grupos sociais de animais podem ser:
1. Agregações ou conglobações;
2. Grupos anónimos;
3. Grupos individualizados; e
4. Sociedades animais ou sociedades verdadeiras (eussociedades).

Na classificação acima, incluem-se as chamadas agregações, as quais não se baseam em


atracções sociais, mas sim em factores ambientais (exemplo, alimento, humidade, luz,
temperatura, etc.). GATTERMANN et al. (1993) usa também o termo agregações no lugar de
conglobações. Os autores que se referem às agregações como grupos diferentes das conglobações
não se referem à factores específicos que as fazem diferir. TEMBROCK (1986) procura elucidar a
diferença associando às características das agregações outros elementos, tais como a
biocomunicação através de feromónios e outros mecanismos. De facto, numa simples
conglobação não ocorre a biocomunicação.

Porém, fica sem sentido biológico imaginar que os indivíduos que integram este tipo de grupos
sociais estejam totalmente isentos de interacções comportamentais. Gafanhotos predadores que
chegam a formar autênticas nuvens no céu não se reconhecem individualmente, mas interagem
de alguma forma. Hienas agregam-se para devorarem um cadáver e, assim que este acaba,
separam-se.

A agregação de serpentes em cavernas é mais um exemplo deste tipo de formação de grupos não
sociais. Elas agregam-se mais para a termoregulação, mais ou menos no sentido sinergético.
Outro exemplo é a agregação de Pinguíns ou abelhas. Também muitos peixes que formam
cardumes não se reconhecem mutuamente, embora formem grupos, cuja estrutura difere de
espécie para espécie, ou de acordo com a circunstância comportamental.

A complexidade dos comportamentos entre os indivíduos de um grupo social é determinada


basicamente em função do grau da estruturação interna do grupo. TEMBROCK (1986)
reconhece as seguintes formas de estruturação:
 Agrupamentos não coordenados que surgem apenas com base na percepção de
suas necessidades ambientais: são as chamadas conglobações. Exemplo de mariposas
que são atraídas pela luz ultravioleta.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 50


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

 Agrupamentos de cooordenação elementar (agregações), nos quais adicionalmente


actua um factor de atracção social, por exemplo, os feromónios;
 Unidades (bio) sociais abertas anónimas que demonstram certos mecanismos de
interacção. Nestes, membros de unidades diferentes comutam de grupo; hordas,
cardumes, etc.;
 Unidades (bio)sociais abertas não anónimas, ligadas a um determinado lugar,
sociótopo. Também aqui a troca de membros entre diferentes grupos é possível.
Contudo, indivíduos vizinhos reconhecem-se: colónias de reprodução;
 Unidades (bio) sociais fechadas anónimas, em que os membros se reconhecem
através de sinais (maioritariamente cheiros). Na abelha de mel o cheiro da colméia.
Estes grupos repelem agressivamente indivíduos da espécie que não possua estes sinais
de reconheciemento: insectos eu(bio)sociais e também aranhas;
 Unidades (bio)sociais fechadas não anónimas. Os membros do grupo
reconhecem-se individualmente e, raticamente, uma permuta entre sí é excepcional. A
forma de manter os grupos sociais basease nas relações de dominância-
subdominância e outras formas de “jogar papéis sociais”: vertebrados eu (bio)
sociais; típico para primatas, daí que este tipo de formações sociais se constitua como
ponto de partida para o comportamento da vida social do Homem;
 Grupos não anónimos fechados, conhecidos também por grupos
individualizados Neste tipo, os membros do grupo reconhecem-se mutuamente
através de sinais específicos (cheiros, padrões de cores, emissão de sons, etc.) e não
admitem membros provenientes de outros grupos. Este tipo de formação social é
conhecido também por tropa ou bando e encontra-se muito propagado em primatas.
Um bando de macacos pode conter várias e diferentes hordas;
 A agressividade interindividual é maioritariamente impedida pela organização
hierárquica dos seus membros ou pela territorialidade destes / comportamento
territorial. Enquanto isto, a agressividade além-fronteiras é bastante acentuada, de tal
modo que indivíduos estranhos ao grupo só são aceites como membros depois de uma
interacção agressiva prolongada. Deste facto resulta que alguns autores prefiram
chamar de grupos sociais semi-abertos. Hordas de chimpanzés coligadas em
bandos chegam a desencadear verdadeiras guerras que chegam a culminar em
autênticos genocídios;
 A outra forma de organização social de invertebrados mais interessante é a dos insectos
(formigas, vespas, abelhas e térmitas). Contrariamente aos vertebrados, os insectos
formam grupos sociais fechados que chegam a conter milhares e milhares de
membros, todos eles nascidos nessa mesma sociedade. As abelhas recusam novos
membros da mesma espécie com recurso à agressividade. A vida da sociedade decorre
(quase) sempre sem conflitos mercê da falta de liberdade dos seus membros perante a
raínha.

Na sociedade de insectos cada membro tem funções específicas e possui adaptações morfológicas
e fisiológicas que lhe permitem exercer tais funções. Os indivíduos de um estado de insectos
encontram-se divididos em castas: (1) casta de indivíduos estéreis (obreiras) e (2) casta de
indivíduos reprodutivos (fêmea que é apenas a rainha e vários machos).

A tarefa dos machos reprodutivos consiste apenas na fertilização da rainha. Depois do “voo de
núpcias”, os machos são expulsos do grupo, ou ainda mortos. A casta estéril tem as funções de

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 51


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

cuidar da prole, fazer limpeza, construir o ninho, etc. Em térmitas e outros insectos existem
ainda os soldados, aos quais cabe a tarefa de defender a sociedade ou escravizar outras espécies.

As formas básicas de comportamentos sociais são a cooperação e a competição. De modo


detalhado, fazem parte de comportamentos sociais os seguintes:
 Comportamento agonístico (imponência, agressão, briga, defesa, dominância e
subordinação, fuga, etc.);
 Comportamento alomimético ou de contágio;
 Limpeza individual (comportamento epimelético);
 Limpeza ao parceiro social;
 Comportamento sexual ou epigámico (atracção, corte,
 acasalamento, cópula, etc.);
 Jogo, brincar

Os papéis de jogar e brincar nos animais tanto podem provir dos adultos para com os filhotes,
assim como podem reveler-se ao nível das crias. Tratando-se do adulto que insta os filhotes a
brincar, o comportamento chama-se matacomunicação.

O comportamento social leva, muitas vezes, indivíduos da mesma espécie a constituírem


sociedades verdadeiras na base de uma coordenação social. Todos animais (incluindo os
chamados solitários) chegam a viver em sociedades. Porém, uma sociedade verdadeira e
duradoira é de formigas (exemplo, térmitas), vespas, peixes (não todas espécies), Abelhas;
diferentes espécies de primatas (macaco-cão, gorila, Homem).

7.5. Conflitos sexuais e Selecção natural

É sabido que machos e fêmeas entram em conflito por várias razões. No entanto, uma das
possíveis fontes de conflito tinha sido, até hoje, ignorada: o sexo da descendência.

Para entendermos o conflito, temos de recuar a um artigo clássico da Biologia Evolutiva,


publicado pelo grande Hamilton, onde ele prevê, através dum modelo matemático, que o rácio
sexual óptimo para a descendência dum organismo depende da vizinhança: se uma fêmea puser
ovos perto de outras, convém-lhe produzir bastantes filhos, para que estes possam fecundar as
filhas dos outros, ganhando a competição com filhos de outras mães.

Para Darwin, citado por PIRES (2009), na natureza ocorrem conflitos sexuais que proporcioam
uma evolucao de especies e extincao das desfavorecidas. Este aspecto surge devido a idade, a
beleza do animal parceiro (a), a facicilidade manter a copula, limpesa, entre outros qualidades.

Conflito entre os sexos para que a reprodução sexual ocorre, precisa de existir 2 sexos Em muitas
espécies machos e fêmeas entramem conflito respeito ao seu investimento deesforço reprodutivo
- machos investem em oportunidades de copular - fêmeas investem diretamente nas proles esse
conflito se manifesta de várias forma em atributos associados ao sexo.

A vantagem que certos indivíduos possuem sobre outros do mesmo sexo e espécie somente com
respeito à reprodução. E para que ocorra o sucesso da reprodução esse tipo de comportamento
envolve desde procurar um lugar para aninhar, encontrar um companheiro até mesmo o
processo de criação da prole. E que muitas vezes envolvem a busca e a defesa de um determinado

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 52


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

território, fazendo escolhas sobre os companheiros e sobre a quantidade de energia a dedicar à


criação dos filhotes. A seleção do companheiro, em particular, envolve frequentemente a seleção
natural intensa.

Embora um trabalho em conjunto seja o esperado em espécies com reprodução sexuada o


conflito sexual é algo bastante comum. Sabe-se que fêmeas recusam vários machos que tem
intenção de reproduzir com elas. Porém é observado também machos que recusam parceiras
sexuais, como é visto em Damajiscus korrigum, um Antílope africano. Para evitar de ficar sem
espermatozoides, devido copular com várias fêmeas receptivas, eles costumam recusar cruzar
com fêmeas que já foram inseminadas. Porem uma fêmea que foi recusada por algumas vezes
responde atacando-o e evitando que ele consiga se reproduzir com uma outra.

Em algumas espécies é muito comum ter um(a) Alfa e somente este poderá reproduzir na sua
alcateia, no caso dos lobos. Em decorrência disso pode ocorrer muitos conflitos para assumir
este posto. Estes são muito violentos podendo ser até a morte Em leões quando outro macho
assume o colocação de líder ele mata os filhotes presentes neste bando, isto estimula as fêmeas
entrarem no cio e por sua vez produzir seus descendentes

Em outros casos, as femeas que atraem com muita facilidade os machos, recusam de manterem a
copula apos a sua fecundacao, ou mesmo durante o processo de cuidado dos seus filhotes. Elas
ficam mais atentos e preucupados com os seus descendentes, do que com os parceiros, criando
deste modo conflitos, que as vezes os machos agridem os filhotes como forma de descarga da
culpabilidade.

Contudo, os aspecto ora descritos acima contribuem para a seleccao natural. Visto que, os
machos com muita capacidade de manter a copula em situacoes em que as parceiras se recusam
conseguem manter a sua descendencia e os que não as têm, perdem a sua imagem nos processos
ligados a hereditariedade.

7.6. Cuidados com a prole e sistemas de acasalamento

Os cuidados com a prole começam com o investimento parental, isso é, tudo o que os pais fazem
a favor da prole (filhotes, ninhada, filhos, etc.) e compreende uma espectro variado de
comportamentos que vão desde a produção de óvulos até à alimentação e socialização dos
filhotes.

No caso dos mamíferos, o investimento prossegue por longos anos. No Homem, por exemplo,
inclui-se a educação e a profissionalização dos jovens. Para todos os animais o investimento
consiste no tempo e energia gastos nos cuidados com a prole. Em muitos animais e em muitas
culturas humanas integram-se outros membros da família nos cuidados com a prole.

Na evolução filogenética dos organismos foi determinante que se tenham desenvolvido duas
estratégias básicas de investimento parental, que normalmente estão numa proporção
populacional de 1:1.
1. Enorme investimento parental em gâmetas, normalmente, poucos: o núcleo
celular está rodeado de muito plasma e de substâncias nutritivas nele contidas. Os
indivíduos que demonstram esta estratégia são designados de fêmeas;

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 53


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

2. Um investimento, extremamente, baixo em células que, normalmente, são


produzidas em enormes quantidades. Os indivíduos que demonstram esta estratégia
chamam-se machos. A fêmea colocou-se na evolução o seguinte problema: muito
investimento com o risco de num ápice perdé-lo no seu todo. Dai tornouse necessária a
evolução de estratégias que protegessem este investimento que, em última instância, é
representado pelos filhotes / crias. São exemplos dessas estratégias ou mecanismos os
seguintes:
 Carregar os filhotes dentro do seu próprio corpo; deixá-los desenvolverem-se
dentro do seu corpo. A tudo isto chamamos de gestação;
 Construir o ninho. Dependendo do tipo de acasalamento, a construção do
ninho pode ser de responsabilidade da fêmea ou do macho;
 Alimentar os filhotes. Igualmente, dependendo do tipo de acasalamento, a
alimentação dos filhotes (e da fêmea) pode ser de responsabilidade da própria
fêmea ou do macho;
 Defender os filhotes contra inimigos, também uma tarefa que dependerá do
sistema de acasalamento e de organização ou estrutura social da espécie; etc.

Este aspecto teve como consequência que as fêmeas tivessem que gastar mais tempo e energia.
Enquanto isto, o número de filhotes gerados diminuia consideravelmente. À medida que os
organismos evoluíam e, em jeito de compensação da energia gasta no investimento parental, o
tempo que decorre de um investimento ao outro tornou-se mais espaçado, ou seja os
nascimentos tornaram-se mais espaçados. Contrariamente, a estratégia do macho consistiu em
utilizar toda a oportunidade que se lhe oferece para copular com o maior número.

A seleção sexual em geral ocorre em paralelo à seleção natural. Praticamente todas as espécies
animais possuem estratégias reprodutivas de competição. Essas estratégias de reprodução não
diferem muito das estratégias de sobrevivência e luta por recursos naturais. Agem de forma
similar, garantindo ao indivíduo maior ou menor sucesso competitivo na dinâmica de sua
população.

Vale observar que, INDEPENDENTE do método de selecção, as características surgem de


maneira mais ou menos aleatórias. A seleção atua no sentido de beneficiar determinadas
características que foram desenvolvidas, ainda assim,excetuando-se talvez a seleção artificial, as
características são selecionadas sem um propósito ou fim. DE MANEIRA ALGUMA qualquer
característica adquirida pelo indivíduo surge em resposta ao meio ambiente, nem mesmo na
seleção artificial.

7.7. Biocomunicação no Reino animal

A comunicação animal é a transferência de informação de um ou de um grupo de animais


(remetentes) para um ou mais animais (receptores) que afetam o comportamento atual ou futuro
dos receptores. As informações podem ser enviadas intencionalmente, como em uma exibição
de corte, ou involuntariamente, como na transferência de perfume de predador para presa. As
informações podem ser transferidas para uma "audiência" de vários receptores.

TEMBROCK (1986), afirma que a biocomunicação consiste em sistemas de sinais, que


constituem propriedades dos animais, a biocomunicação compõe-se de estruturas-sinais e
comportamentos-sinais.
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 54
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

O termo estrutura refere-se à propriedades baseadas na construção do corpo que evoluiram de


estruturas-consumatórias ao serviço da transmissão de informações biocomunicativas.
Comportamento-sinal, por seu turno, é um comportamento que evoluiu do comportamento
consumatótio ou de movimentos intencionais ao serviço da interacção biocomunicativa. Disto
resultam os seguintes níveis funcionais da análise de tais comportamentos:
 Sinais constitucionais que mesmo na ausência de um comportamento específico são
eficientes na biocomunicação. Padrões de cores de uma zebra, por exemplo, não
necessitam de ser acompanhadas por um comportamento para serem comunicatvos.
 Sinais constitucionais que apenas são eficientes quando acompanhados por processos
fisiológicos induzidos pelo vector do estado interno. A mudança de cores em peixes em
dependência do estado biossocial e motivacional. O mesmo diz-se da mudança de cor e
do inchamento da carúncula do perú, alargamento de partes da cabeça de muitos
répteis e Anfíbios;
 Sinais constitucionais que apenas são eficientes quando acompanhados de certos
movimentos. No comportamento agonístico (ameaça, briga, subordinação), os cães
movimentam as orelhas de acordo com o seu status de momento;
 Sinais constitucionais que devem ser acompanhados por determinados comportamentos
extereotipados, comportamentos-sinais verdadeiros, por ex, o abrir as asas e exibir de
cores num sinal demonstrativo de cortejamento do parceiro;
 Estruturas modificadas usadas num determinado comportamento-sinal, órgãos
fonadores, glândulas de odores, etc.

Sinais biocomunicativos são caracterizados pelo facto de poderem provocar modificações ao


nível do receptor. Segundo TEMBROCK (1986), as formas mais básicas de modificações do
comportamento do receptor são:
1. No espaço: modificações respeitantes à distância (elásias) e à direcção (táxias);
2. No tempo: modificações na duração de um estado ou de um comportamento e da fase
correspondente, como o momento de ocorrência de um estado ou de um determinado
comportamento;
3. Modificações no vector do estado interno: os estados motivacional, emocional, o
nível de activação (limiar de excitação), padrões do motor, etc.;
4. Modificações no vector de saida, como pr exemplo, a forma de execução de um
determinado comportamento;

De acordo com cada tipo de canal de transmissão de informações biocomunicativas,


classificamos as formas de sinais comunicativos como:
1. Canal químico: sinais olfatórios
a) Canal químico de contacto: uso de receptores de contacto (lamber, por exemplo);
b) Canal telequímico:
 sinais olfatórios dinâmicos, os sinais são liberados para um meio (água, ar)
que os transmite ao receptor;
 sinais olfatórios estáticos, que são depositados pelo emissor num substrato
fixo no espaço (fezes, urina, secrecções glandulares, etc.).

2. Canal mecânico:
a) Sinais tacto-mecânicos: os estímulos tácteis que actuam sobre o receptor, é o tacto,
no verdadeiro sentido da palavra;
b) Sinais vibratórios, transmitidos ao receptor através de um substrato com capacidade
de vibrar (comunicação entre diferentes tipos de insectos e aves);
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 55
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

c) Sinais acústicos, transmitidos por intermédio de um meio condutor de sons (a


rópria água e o ar).

3. Canal eléctrico
a) Através de campos eléctricos proximais ou mesmo de contacto;
b) Através de campos eléctricos fracos que se propagam no meio.

4. Canal óptico
a) Sinais constitucionais do corpo (cores, padrões, formas);
b) Emissões constitucionais de luz através de órgãos luminosos:
c) Via simbiose;
d) Via metabolismo (Sistema-Luceferina-Luciferase)
e) Modificações constitucionais de natureza vegetativa (modificações no fluxo
sanguíneo, mudança de cores, etc.);
f) Padrões motores de indução do sistema nervoso central que têm sua origem na
ritualização (posições, movimentos, mímica, etc.

Silvana (2007) apresenta as formas comunicação de forma directa e reusimida:

 Gestos: A forma mais conhecida de comunicação envolve a exibição de partes do corpo


distintivas ou movimentos corporais distintos;
 Expressão Facial: Os gestos faciais desempenham um papel importante na
comunicação animal;
 Contacto Visual: Os animais sociais coordenam sua comunicação monitorando a
orientação de cabeça e olho uns dos outros;
 Mudança de cor : A mudança de cor pode ser separada em mudanças que ocorrem
durante o crescimento, o desenvolvimento, aqueles desencadeados pelo humor, contexto
social ou fatores abióticos, como a temperatura. Estes são vistos em muitas taxas;
 Comunicação Bioluminescente: A comunicação pela produção de luz ocorre
comumente em vertebrados e invertebrados nos oceanos, particularmente nas
profundezas (por exemplo, peixe pescador).

7.7.1. Funções de comunicação

Para SILVANA (2007) existem muitas funções de comunicação animal. No entanto, apresenta
algumas que nos interessam:

 Comunicação durante as disputas: A comunicação animal desempenha um papel


vital na determinação do vencedor da disputa sobre um recurso. Muitas espécies têm
sinais distintos que indicam agressão, vontade de atacar ou sinais para transmitir o recuo
durante competições sobre alimentos, territórios ou companheiros;
 Rituais de acasalamento: Os animais produzem sinais para atrair a atenção de um
possível parceiro ou para solidificar par de ligações. Estes sinais envolvem
frequentemente a exibição de partes ou posturas do corpo. Por exemplo,
uma gazela assumirá posses características para iniciar o acasalamento. Os sinais de

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 56


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

acasalamento também podem incluir o uso de sinais olfativos ou chamadas únicas para
uma espécie;
 Propriedade / território: Sinais utilizados para reivindicar ou defender um território,
comida ou um companheiro;
 Sinais relacionados com alimentos: Muitos animais fazem "chamados de comida"
para atrair um companheiro, prole ou outros membros de um grupo social para uma fonte
de alimento. Talvez o sinal mais elaborado relacionado à alimentação seja a dança das
abelhas estudadas por Karl von Frisch. Os macacos Rhesus enviam chamadas de comida
para informar outros macacos de uma fonte de alimento para evitar a punição;
 Chamadas de alarme: As chamadas de alarme comunicam a ameaça de um predador.
Isso permite que todos os membros de um grupo social (e às vezes outras espécies)
respondam em conformidade;
 Meta-comunicação: Sinais que modificam o significado de sinais subseqüentes. Um
exemplo é o 'play face' em cães que sinalizam que um sinal agressivo subsequente é parte
de uma brincadeira em vez de um episódio agressivo e sério.

7.8. Competição, Conflitos e Cooperação

7.8.1. Competição

Em biologia, competição é a interação de indivíduos da mesma espécie ou espécies diferentes


(humana, animal ou vegetal) que disputam algo. Esta disputa pode ser pelo alimento, pelo
território, pela luminosidade, pelo emprego, pela fêmea, pelo macho, etc. Logo, a competição
pode ser entre a mesma espécie (intraespecífica) ou de espécie diferente (interespecífica). Em
ambos os casos, esse tipo de interação favorece um processo seletivo que culmina, geralmente,
com a preservação das formas de vida mais bem adaptadas ao meio ambiente, e com a extinção
de indivíduos com baixo poder adaptativo. Assim, na ecologia, a competição constitui um fator
regulador da densidade populacional, contribuindo para evitar a superpopulação das espécies.

Os comportamentos da agressão têm como objectivo não só a sobrevivência de cada indivíduo


mas também a dos seus descendentes, isto é, o futuro da espécie.

A teoria de Charles Darwin sobre a especiação, prega a seleção natural, mecanismo pelo qual a
natureza seleciona organismos mais capacitados a sobreviver em determinado ambiente.

Para que ocorra diferença entre um organismo e outro, deve haver a reprodução sexuada. Na
reprodução assexuada não existe intercâmbio genético. Assim, os organismos gerados serão
idênticos. Havendo reprodução sexuada, ocorreria a chamada variabilidade genética, e a seleção
natural atuaria eliminando os organismos menos aptos a sobrevivência em um ambiente. Mas, e
se a reprodução de um determinado grupo de organismo for assexuada, como poderia ocorrer
seleção natural? A resposta é simples, mutações, erros na transcrição ou na tradução do código
genético, o que ocasionaria organismos com diferentes códigos genéticos, e consequentemente, a
seleção natural poderia agir eliminando os organismos menos aptos a sobrevivência.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 57


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

7.8.2. Conflitos

A Origem das Espécies (em inglês: On the Origin of Species), do naturalista britânico
Charles Darwin, apresenta a Teoria da Evolução. O nome completo da primeira edição (1859) é
On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races
in the Struggle for Life ("Da Origem das Espécies por Meio da Selecção Natural ou a Preservação
de Raças Favorecidas na Luta pela Vida"). Somente na sexta edição (1872), o título foi abreviado
para The Origin of Species (A Origem das Espécies), como é popularmente conhecido.

Nesse livro, Darwin apresenta evidências abundantes da evolução das espécies, mostrando que a
diversidade biológica é o resultado de um processo de descendência com modificação e
conflito entre espécies, onde vivos se adaptam gradualmente através da selecção natural e as
espécies se ramificam sucessivamente a partir de formas ancestrais, como os galhos de uma
grande árvore: a árvore da vida.

A primeira edição, publicada pela editora de John Murray em Londres no dia 24 de Novembro
de 1859 com tiragem de 1250 exemplares, esgotou-se no mesmo dia, criando uma controvérsia
que ultrapassou o âmbito académico. Um exemplar da primeira edição atinge hoje mais de 50
mil dólares em leilão.

A proposta de Darwin que as espécies se originam por processos inteiramente naturais contradiz
a crença religiosa na criação divina tal como é apresentada na Bíblia, no livro de Génesis. As
discussões que o livro desencadeou se disseminaram rapidamente entre o público, criando o
primeiro debate científico internacional da história.

Para Darwin, o conflito significa desentendimento baseando-se na partilha de um certo bem


ecologico (alimento, lugar de descancar, parceiro sexual, etc.). ele suporta a sua ideia dizendo
que o conflito na natureza entre os seres vivos é importante, pois permite o desenvolvimento dos
mais aptos e exticao dos desfavorecidos.

O conflito é atenuado quando existe a pretensão por uma parte e a resistência por outra, onde é
evidenciado desafio relativamente complexo, O conflito é desarmônico, decorrente de
expectativas valores e interesses contrariados. Embora seja natural da condição humana, o
tratamento conflituoso com outro é mediante a satisfação frustrada, o que configura a outra
parte com sendo um ser infiel, adversário e inimigo. O que faz nos perceber a necessidade do
indivíduo em comprovar através de concentrar raciocínio e elementos de prova fundamentais
para reforçar sua posição unilateral na tentativa de demostrar sua real disputa.

7.8.3. Cooperação

Cooperação é uma ação conjunta para uma finalidade, objetivo em comum. Cooperação é uma
relação baseada entre indivíduos ou organizações, utilizando métodos mais ou menos
consensuais. A cooperação opõe-se, de certa forma, à colaboração e mesmo a competição.
Indivíduos podem organizar-se em grupos que cooperam internamente e, ao mesmo tempo,
competem com outros grupos. A mesma é ainda vista por muitos como a forma ideal de gestão
das interações humanas, pondo a tônica na obtenção e distribuição de bens e serviços em

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 58


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

detrimento da sua confiscação ou usurpação. Operar juntamente com alguém; colaborar: todos
cooperam para o desenvolvimento intelectual Certas formas de cooperação são ilegais em
algumas jurisdições porque prejudicam o acesso das populações a alguns recursos, como
acontece com a fixação de preços por cartéis.

7.9. Evolução do comportamento social no Homem

A Etologia, segundo Carvalho (1989), tem contribuído para a recuperação da noção de homem
como um ser bio -psico-social. A concepção etológica do ser humano é a de um ser
biologicamente cultural e social, cuja psicologia se volta para a vida sociocultural, para qual a
evolução criou preparações bio-psicológicas específicas.

Conforme defendido pela a psicologia evolutiva, o cérebro dos humanos também sofreu pressões
selectivas específicas, que o adaptaram a determinadas circunstâncias. Antes mesmo da vida em
grandes sociedades, o homem precisava interagir e se comunicar. Um organismo geneticamente
propenso ao altruísmo, por exemplo, poderia ter ganhos maiores se o ambiente fosse propício a
isso. A Sociobiologia se apoia em alguns conceitos que formam a base dessa ciência. Em primeiro
lugar a evolução centrada no gene é importante para se identificar as vantagens e desvantagens
evolutivas de um determinado comportamento social.

A Sociobiologia trata do entendimento do comportamento social dos animais. Como são animais
sociais, ou seja, apresentam vida organizada em sociedades, os seres humanos são objecto da
Sociobiologia.

Entretanto os seres humanos apresentam um factor que os torna diferentes da maioria dos
animais sociais: a cultura. A cultura é capaz de promover transformações na forma como os
humanos interagem com seu ambiente abiótico e biótico, independente de sua herança genética.
Assim, é importante lembrar que para os sociobiólogos, o comportamento é fenótipo, isto é, um
produto dos genes com o ambiente. Sociobiólogos não têm um consenso sobre o papel da
Sociobiologia Humana. Robert Trivers defende a pertinência da analogia do comportamento dos
chimpanzés com seres humanos, uma vez que 99,5% da história evolutiva dos seres humanos
foram compartilhados com os chimpanzés.

Alguns estudiosos, também abordam a questão demográfica na origem do comportamento social


humano moderno. A origem do comportamento humano complexo, registado nos mais diversos
Países foi marcado por um salto cultural e tecnológico, lembram . Inclusive surge um
comportamento simbólico que se manifesta na arte abstracta e realista, assim como na
decoração dos próprios corpos. Ferramentas de pedra, tecnologias avançadas de caçadores
(lanças, redes), artefactos rituais de osso e marfim e musicais (flautas de osso) são restos
arqueológicos que o confirmam.

7.9.1 Comportamentos humanos e genes

O nosso DNA possibilita e favorece determinados tipos de comportamento, mas não determina
nada. Os genes não restringem a liberdade humana eles a possibilitam. É evidente que o próprio
comportamento não é herdado, o que é herdado é o DNA. Os genes codificam as proteínas que
são importantes para o desenvolvimento, manutenção e a regulação dos circuitos neurais
subjacentes ao comportamento.
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 59
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

O comportamento emerge como resultado do impacto dos factores ambientais sobre esses
circuitos neurais em desenvolvimento. O ambiente começa a exercer sua influência in utero, e
assume importância primordial após o nascimento. A genética não é um destino, não determina
o que você vai ser. Ela oferece predisposições. Todos estão sujeitos a influências ambientais que
podem, sim, mudar a expressão dos genes e fazer com que eles simplesmente não se manifestem
Traços de personalidade são idéias, conceitos culturais: dependem dos olhos de outros e da
cultura de um lugar e de uma época para aparecerem e ganharem um nome. O que é inteligência,
pedofilia, má educação ou timidez em Moçambique pode ganhar nomes bem diferentes no
Japão, por exemplo.

Por isso, não dá para encontrar a personalidade pura no DNA. Mas a nossa herança genética
pode, sim, influenciar o funcionamento do corpo, que, numa cultura ou em outra, resulta em
comportamentos diferentes. Ao nascer, cada ser humano carrega uma composição de 30 mil a 35
mil genes, formações de DNA que ficam ali dentro dos nossos 23 pares de cromossomos. As
principais descobertas dos geneticistas do comportamento relacionam os genes à regulação de
mecanismos fisiológicos que mudam o comportamento, como impulsividade, vício de
determinadas substâncias e memorização.

Há indicações, por exemplo, de diferenças genéticas na regulação da dopamina,


eurotransmissor relacionado à sensação de prazer. Em algumas pessoas, a cocaína provocaria
uma descarga anormal de dopamina, causando vício. É provável que esse medidor químico sofra
uma deficiência natural e, portanto, alguns indivíduos sejam mais suscetíveis a se viciar em
cocaína, dizem os pesquisadores Howard S. Friedman e Miriam W. Schustack, autores de
Teorias da Personalidade.

7.9.2 Comportamentos humanos e Sexo

O comportamento reprodutivo, como todas as formas de comportamento, é uma consequência


da plasticidade do desenvolvimento do cérebro. A faixa de comportamentos potenciais é
geneticamente determinada, mas os comportamentos particulares expressados são formados por
interacções entre as células em desenvolvimento e o ambiente. Essas interacções ocorrem em
períodos críticos específicos.

Apesar de machos e fêmeas diferirem em muitos aspectos, o programa para o desenvolvimento


subjacente a todos os aspectos da determinação sexual é o mesmo em ambos os sexos. Um só
gene determina o tipo da gônada (célula que produz gameta). A gônada, por sua vez, influencia o
ambiente hormonal do feto em desenvolvimento ou da criança.

Em ambos os sexos, as mesmas populações de neurônios contêm receptores para androgênios,


estrogênios e progesterona. Células que expressam receptores esteróides são encontradas na
área pré-óptica, no hipotálamo, na amígdala, no mesencéfalo e na medula espinhal.

Também são encontradas nas áreas corticais: nas áreas frontal, préfrontal, e nas áreas do córtex
cerebral dos primatas. Evidentemente, esses receptores corticais podem ser importantes para a
diferenciação das capacidades comportamentais sexualmente dimórficas não ligadas à
reprodução.

Os eventos durante o período crítico resultam em fortes diferenças sexuais nos repertórios
comportamentais não ligados à reprodução dos jovens pré-puberais. Pelo facto de a pré-

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 60


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

puberdade ser relativamente independente dos hormônios, esses padrões comportamentais


sexoespecíficos não dependem da presença contemporânea dos hormônios esteróides.

Todavia, os eventos durante o período crítico perinatal para diferenciação sexual do sistema
nervoso não resultam na masculinização ou feminilização completas, pois graus intermediários
são normais. Na espécie humana, há considerável variabilidade nas quantidades de testosterona
e estrogênio às quais um feto normal em desenvolvimento é exposto. Será que essas variações
perinatais afectam o grau em que os comportamentos ligados ao sexo são expressados mais tarde
na vida adulta? As evidências para esta possibilidade vêm primariamente dos estudos em
roedores, que produzem grandes ninhadas.

A diferenciação sexual também é reflectida na estrutura de certos neurônios. O tamanho do


núcleo celular das células da área pré-óptica e do hipotálamo ventromedial difere nos machos e
fêmeas, tal como o tamanho dos prolongamentos neuronais e das terminações sinápticas de
células no núcleo arqueado e a densidade dos campos dendríticos na área pré-óptica. Deste
modo, a exposição perinatal ao androgênio pode alterar o padrão das conexões no cérebro, bem
como a capacidade de resposta deste.

As diferentes organizações neuronais impostas sobre os cérebros dos machos e fêmeas pelos
esteróides sexuais podem resultar de alterações da taxa de crescimento dos axônios e dendritos
de células selecionadas sensíveis aos esteróides. Durante o período crítico, os hormônios sexuais
esteróides poderiam influenciar o grau de diferenciação axônico em diferentes populações
regionais e, desta maneira, afectar os circuitos neurais. Como o espaço pós-sináptico é limitado,
a competição resultante por sítios pós-sinápticos entre populações de axônios de diferentes
origens poderia produzir diferenças sexuais nos circuitos neurais.

O grau de assimetria cerebral cognitiva difere também em homens e mulheres adultos. Nos
pacientes neurológicos masculinos há uma forte associação entre o lado do cérebro que foi
lesado e o tipo de déficits
cognitivos observados, ao passo que nos pacientes neurológicos femininos essa associação é
muito mais fraca, sugerindo que o cérebro adulto feminino seja funcionalmente menos
assimétrico que o cérebro masculino.

Para o efeito, em média, as mulheres têm melhor desempenho nos testes de fluência verbal, de
velocidade perceptual (como o tempo necessário para reconhecer uma face), nos cálculos
aritméticos e na precisão do desempenho de tarefas manuais. Em contraste, os homens se saem
melhor nos testes que exploram as relações espaciais, o raciocínio matemático e as habilidades
motoras dirigidas para alvos.

7.9.3. Evolução da cultura humana

Para PIRES, citado por Naftal (2008) O Homem parece ter sido desviado da sua evolução
natural através da sua cultura, a qual o tornou numa segunda natureza. De facto o fenómeno
cultura tem sido encarado como um aspecto evolucionário novo que apenas começou e terminou
com a espécie humana, uma posição que parece carecer de muito debate multidisciplinar.

a. Na cultura do Homem... sobrepõe-se à evolução biológica lenta uma Metaevolução,


exactamente a cultural. Isto traz aos seus portadores originalmente biogenéticos uma
vantagem imensa para o seu fitness. Eles podem adaptar-se rapidamente às condições

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 61


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

ambientais em constantes mudanças, mais do que seria possível no âmbito de uma


evolução (bio)genética] (VERBEEK, 1994, p. 140);
b. A cadeia aprendizada de ideias sobre crenças e modos de comportamento comum à um
povo, que no seu conjunto formam o estilo da sua vida; o conjunto de instrumentos e
utensílios, acções,
conteúdos do pensamento e instituições de cada população humana (VIVELO, 1988, p. 329).

Seja qual for a definição que pegarmos, elas ressaltam a relação entre o Homem e a cultura,
assim como entre a cultura e valores tipicamente humanos. A evolução de instrumentos de
trabalho, ferramentas, é também referenciada apenas em conexão com a evolução da cultura.
Deste ponto de vista a Sociobiologia desenvolveu um novo paradigma, que se basea exactamente
na negação da limitação da cultura à espécie humana.

PIRES (2009) cita GEHLEN (1971), questionando : Pode o Homem actual prescindir do fogo,
tecto, das armas, da limentação artificial e das formas de cooperação? Certamente, o
Australopithecus não conheceu fogo. Do ponto de vista de construção de ferramentas, muitos
autores admitem – aliás assim rezam diversos achados fósseis – que ele fabricava armas e
instrumentos cortantes a partir de pedras para diversos fins. Tais instrumentos, porém, eram de
simples construção. Deste ponto de vista ele não diferia culturalmente de outros vertebrados
superiores. Até que ponto representantes do género Australopithecus eram culturalmente
capazes, esta pergunta permanece uma questão acerca
da qual pode-se discutir bastante, mas cuja resposta não depende da forma como nós definimos
cultura (vide definições acima).

Uma base importante que une a Natureza e a Cultura entre si, do mesmo modo que une o
Homem com a natureza, i.e. devolve o Homem à sua natureza biológica, e torna compreensível a
definição da cultura como forma de vida do Homem evoluída no contexto dos vertebrados foi
dada por Earl W. COUNT (1958) com o conceito Biograma. Um Biograma de uma espécie
(classe, ou filo) é, no dizer de COUNT, igual ao “estilo de vida” da espécie (classe ou filo), i.e., o
conjunto de mecanismos fisiológicos e possibilidades de reacções que une determinados
indivíduos entre si, ou simplesmente o drama fisiológico dos organismos. podemos definir a
cultura humana como sendo uma forma específica de vida na base do Biograma dos vertebrados.
Com isto, o abismo que se cria entre natureza e cultura estaria removido.
Segundo estes autores, a maioria dos animais demonstram uma organização não cultural, são
aculturais. A este nível de organização os animais não demonstram nenhuma capacidade (ou
ela é mínima), de aprendizagem e são incapazes de desenvolver certos comportamentos através
de imitação (poucos invertebrados, muitos vertebrados).

Como protocultural os mesmos autores referem-se ao nível de organização de organismos que


podem aprender a partir de imitação (aves, mamíferos) e, em parte, são capazes de transmitir
suas capacidades através de “ensinar” (lobos, leões, primatas). As figuras anteriores referem-se a
estes comportamentos.

Tal como no nível anterior, nós podemos subclassificá-los em outros níveis inferiores, em
subníveis. O nível seguinte comporta animais euculturais, que são exclusivamente constituídos
pelo Homem actual e, talvez, pelo seu antecessor mais próximo, o Homo erectus.

O critério mais particular deste nível é o Simbolismo, i.e., a capacidade que o Homem possui
de representar conteúdos de aprendizagem e de ensino através de estruturas extra corporais
(quadros, papel, etc.), e sobretudo a capacidade representação sob forma de gráfica, escrever.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 62


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

A diferenciação conceptual de CHRISTIAN VOGEL (1986) parece ser a mais acertada. Ele
diferencia entre Evolução biogenética e evolução tradigenética, para pôr clara a diferença
entre a evolução orgânica e a cultural. O que sucede, de facto, é o seguinte: se de um lado ambas
baseam-se no armazenamento e transmissão de informações, a evolução biogenética demonstra
a particularidade de estar baseada apenas nos genes, ela é uma informação genética sob forma
de DNA (codificação e transmissão de geração para geração). Enquanto isto, na evolução
tradigenética informação significa ideias, conhecimentos.

E é individualmente fixada no cérebro e representada em portadores materiais extra corporais e,


também desta forma, transmitida a outros indivíduos. O Homem possui, por conseguinte, certas
concepções ou ideias sobre leis do movimento do planeta, evolução de organismos, construção
de aparelhos, mas ele não precisa necessariamente de se reproduzir para poder transmitir estas
ideias. Ele precisa, isso sim, de transformar estas ideias em sinais comunicativos especiais, os
quais foram ainda mais beneficiados com o desenvolvimento da linguagem escrita e verbal, em
primeiro lugar, sob forma de língua materna. Este é um ponto no qual todos sociobiólogos
concordam entre si, nomeadamente o de que por esta via a evolução natural do Homem foi
desviada do caminho evolutivo dos animais Um outro aspecto considerado importante pelos
sociobiólogos toca o que se designou por Regra epigenética. Os principais defensores desta
regra são LUMSDEN, MARKL, RUSE e WILSON.

Para os autores acima, trata-se de uma regra que influencia o desenvolvimento de uma
estrutura anatómica, um determinado modo de comportamento numa determinada direcção;
regras genéticas que são assumidas em todos estágios de desenvolvimento individual de um
organismo e que influenciam o desenvolvimento de estruturas culturais. Uma vez que o
Homem há cerca de 40.000 anos não mais se modificou significativamente do ponto de vista
biológico, tais regras incluem no mesmo saco tanto “o homem das cavernas, como o físico
astronauta”. Ambos possuem a mesma capacidade para cultura. As diferenças ocorrem devido às
interacções entre os genes e condições ambientais específicas. Mas, os processos genéticos que
causam a capacidade cultural são, por sua vez, influenciados por forças evolutivas no contexto de
determinadas culturas (LUMSDEN E GUSHURST, 1985). Por outras palavras: O Homem foi
feito biológica e geneticamente de modo a ser capaz de produzir cultura; para o efeito, ele foi
bastante auxiliado pelo seu cérebro, cujo desenvolvimento, por sua vez, foi influênciado pela
produção de sistemas culturais. Graças à sua enorme capacidade cerebral, o Homem criou suas
regras culturais; mesmo assim, ele não é apenas produtor de tais instituições (culturais) como
língua, ciência, condução de guerras ou regras de matrimónio, como também (no contexto de
condições biossociais) o seu produto.

A enorme velocidade da evolução tradigenética demonstra-se sobretudo hoje a diferentes níveis,


muito em especial ao nível tecnológico. No Paleolítico – idade da pedra lascada - existiram
durante milhões de anos apenas poucas inovações; fez parte dessas inovações a produção assim
como o uso do fogo. Nos últimos 10 000 anos, o número de inovações como aquela aumentou
dramaticamente. E, quanto mais nós nos aproximamos da era recente, verificamos com espanto
qual é a velocidade que a evolução cultural tomou. São passados apenas 2 000, desde que o
homem pretendeu oncretizar o seu sonho de voar; mas, apenas 1 000 para a construção do
Boeing (e até de mísseis). O mesmo pode ser referido em relação aos Caminhos de Ferro,
Automóveis, sistemas modernos de armas, de comunicação, etc. Isto justifica porque é que surge
a impressão de que a evolução cultural (tradigenética) representa uma grande rotura da evolução
orgânica (biogenética). Mas, como faz notar WUKETITS (1997), esta rotura deve ser considerada

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 63


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

aparente. Tudo o que a evolução cultural produziu é, em última instância, produto de um


cérebro, um sistema orgânico.

O biograma dos vertebrados fornece, como já foi dito, a base para o desenvolvimento da
capacidade do desempenho fisiológico. Daí, o Homem nada mais é do que um vertebrado
produtor de cultura. De todas maneiras, esta mesma cultura influenciou a sua vida de modo
determinante. O Homem “civilizado” é totalmente dependente da cultura, sobretudo da “cultura
técnica” (WUKETITS, 1997). Como muito bem faz notar o mesmo autor, o Homem jamais seria
capaz de conseguir colectar alimentos suficientes para sua sobrevivência a não ser através de
meios da sua cultura. Ela (a cultura) tornou-se de facto forma de vida do Homem, sem, contudo,
terem se modificado os seus impulsos biológicos elementares.

Uma das grandes características do Homem como ser social, que já não encontramos nos
animais, é a capacidade de ele pertencer à diferentes grupos sociais ao mesmo tempo: pode ser
membro de um grupo cultural Maconde, mas ao mesmo tempo pertencer a um círculo de
interesse de Vietnamitas e a um outro círculo da sua própria tribo Peruana

Todas culturas são caracterizadas por componentes universais. Toda cultura possui língua,
música, dança, valores, normas, formas de divisão de trabalho, construção de instrumentos,
tradições, etc. Estes elementos formam uma unidade estrutural e funcional, cujo grau de
manifestação varia entre as diferentes culturas. A sua interacção num sistema cultural varia
igualmente. A interacção entre a dança e a morte e/ou nascimento, por exemplo, constitui uma
das maiores fascinações científicas de sempre: uns cantam e dançam quando o indivíduo nasce e
fazem o contrário quando ele morre, outros procedem exactamente de forma oposta.

7.9.4. Função biológica de alguns elementos da evolução cultural e o fitness

As funções que a cultura desempenha através dos seus elementos são várias. Uma delas é, de
novo, a função biológica. A cultura serve, neste sentido, o fitness reprodutivo, ou ainda o fitness
global (Inglês, “inclusive fitness”). Porém, é reciso tomar em consideração que nem tudo o que o
Homem faz do ponto de vista cultural serve o fitness reprodutivo. Um

grande artista, digamos, que pinta uma grande obra, fá-lo sem pensar no fitness reprodutivo.
Consideremos que ele não consegue deixar descendentes, então, qual seria o benefício para o seu
fitness reprodutivo. O problema é que o educionismo, mesmo o essencialíssimo, em que se
baseam determinadas teorias científicas, fazem emergir hipóteses por vezes ridículas.

No caso do pintor sem descendentes directos, a grandeza das suas obras fá-lo-ão famoso. Da
fama adquirida proveitarão também seus parentes com os quais partilha seus genes, digamos
irmãos, primos e por aí fora. Um artista plástico homossexual que ajuda financeiramente seus
irmãos e filhos destes, actua no sentido do fitness global.

7.10. Comportamentos humanos e moral

7.10.1. Biologia do Moral e do Amoral

Segundo Naftal (2008) Moral é um conjunto de regras no convívio A moral é:


 autônoma pois é imposta pela consciência ao homem.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 64


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

 unilateral: por dizer respeito apenas ao indivíduo.


 incoercível: o dever moral não é exigível por ninguém, reduzindo-se a dever de
consciência.

A moral humana sempre foi alvo de curiosidade e investigação. Foram vários, os filósofos que
propuseram origens e desdobramentos dela. Há quem acredite que a moral do homem tem
origens biológicas, empíricas ou é inserida no momento do nascimento. Dentre tais divergências,
Contardo Calligaris em seu texto "A Marcha dos Pinguins' e a origem da moral" diz que a moral
não surge de forma natural, como na benevolência dos animais sugerida por muitos pensadores,
mas da capacidade do ser humano de se colocar no lugar do semelhante, e fazer com que as
experiências do outro enriqueça a sua.

Pires, cita alguns autores que definem a moral de varias formas:


Para Adam Smith, os princípios morais derivam das experiências históricas. Segundo ele, os
sentimentos que determinaram Revolução Industrial e seus processos produtivos foram:
paixões sensíveis particulares (apetite sexual, raiva, inveja, simpatia), amor próprio ou
egoísmo, benevolência, que se relaciona à inclinação direcionada para o social e a consciência,
ou razão, que orienta o cálculo racional. As regras estabelecidas pela sociedade foram
aplicadas à medida que se tornaram eficientes e úteis.

David Hume
David Hume observou a moral de forma empírica. Demonstrou que a moral está intimamente
ligada à paixão e não à razão. Diferentemente do que supunham seus precedentes, não haveria
um bem superior pelo qual a humanidade se pautasse. Para Hume, o impulso básico para as
ações humanas consiste em obter prazer e impedir a dor. No que consiste a moral, o filósofo
defende que a experiência (empírica) promove o entendimento humano. O desejo sugere
impressão, ideia e, portanto, é provocada pela necessidade induzindo à liberdade.

Immanuel Kant
Diferentemente do que afirmava Hume, Kant defendia a razão como base da moral. Partindo
do princípio de identidade, o comportamento humano está relacionado com a identificação no
outro, ou seja, a ação das pessoas influencia no comportamento do indivíduo, tornando-se
dessa forma o comportamento uma lei universal.

A moral no Reino Animal


O primatologista holandês Frans de Waal defende em seu livro “Eu, Primata” que a conduta
política e o altruísmo são constatados nos primatas e têm, portanto, uma raiz biológica
comum. Em outro livro seu, "Primates and Philosophers", Waal defende que a propriedade da
moral, que antes acreditava-se exclusiva do ser humano, também se apresenta
em outros primatas. Ele acredita que a moral do homem não surgiu do nada ou que seja
produto de religião ou cultura. Ela tem origem semelhante às dos primatas,pois são
encontrados neles a capacidade de empatia, a reciprocidade e o senso de justiça.

7.11. Questões para reflexão

1. Quais são os graus ou níveis de desenvolvimento cultural?


2. Diferencie a evolução biogénetica da evolução tradigenética.
3. As funções que a cultura desempenha através dos seus elementos são várias. Fale
de uma delas a sua escolha.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 65


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

4. Defina a moral, segundo Adam Smith.

Unidade VIII

8. Cronobiologia

8.1. Natureza e evolução de relógios biológicos

Relógio é, pela definição linguística, qualquer instrumento destinado a medir intervalos de


tempo, tendo sido, antes, um instrumento solar, depois, mecânico e, hoje, um instrumento
electrónico. Vários outros sistemas e mecanismos de medição do tempo foram desenvolvidos
pelas diferentes civilizações humanas.

Em Física, relógio designa o resultado da actividade de um pêndulo, o qual, rítmicamente,


demonsta fases que se repetem em iguais intervalos de tempo, sendo o espaço de tempo que vai
da fase à sua repetição o periodo (Т).

8.2. Biometria

Biometria [bio (vida) + metria (medida)] é o estudo estatístico das características físicas ou
comportamentais dos seres vivos. Recentemente este termo também foi associado à medida de
características físicas ou comportamentais das pessoas como forma de identificá-las unicamente.
Hoje a biometria é usada na identificação criminal, controle de acesso, etc.

Os sistemas biométricos podem basear o seu funcionamento em características de diversas


partes do corpo humano, por exemplo: os olhos, a palma da mão, as digitais do dedo, a retina ou
íris dos olhos. A premissa em que se fundamentam é a de que cada indivíduo é único e possuí
características físicas e de comportamento (a voz, a maneira de andar, etc.) distintas, traços aos
quais são característicos de cada ser humano.

Em geral, a identificação por DNA não é considerada, ainda, uma tecnologia biométrica de
reconhecimento, principalmente por não ser ainda um processo automatizado (demora algumas
horas para se criar uma identificação por DNA). Exigem diversos procedimentos referentes a
coleta, identificação entre outros. O que torna o DNA um paradigma de perda de tempo.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 66


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

O termo biometria significa medição biológica, ou seja, é o estudo das características físicas e
comportamentais de cada pessoa. O princípio básico desta técnica para identificação é: seu
corpo, sua senha.

Embora tenham se tornado famosas há pouco tempo, as técnicas de reconhecimento por meio
das características das pessoas já eram utilizadas na China no ano 800 d.C, quando comerciantes
confirmavam a identidade de seus clientes por meio da impressão de suas digitais em tábuas de
barro.

Já deu pra notar que, mesmo a ideia já sendo usada há muito tempo, até recentemente os
scanners biométricos eram apenas coisa de televisão. A maior limitação para o avanço na área se
deve aos aparelhos utilizados, afinal não é assim tão simples criar um scanner de retina ou
palmar que extraia apenas as informações necessárias.

8.2.1. Funcionamento da biometria

Para que um sistema biométrico funcione sem problemas alguns equipamentos são necessários:
scanner ou sensor, um computador relativamente potente e um software para a análise das
imagens captadas.

Em teoria, o processo de análise biométrica é bem simples. Quando o scanner é acionado, a


principal função dele é obter uma imagem nítida e de alta resolução do objeto em estudo: digitais
e geometria da mão, íris, retina, expressões faciais.

O passo seguinte é colocar a imagem captada à disposição do software biométrico, o qual analisa
e extrai as características mais relevantes da figura. Em uma foto da mão, por exemplo, o que
interessa são as linhas que dão forma às digitais.

8.2.2. Os tipos de biometria

O ser humano possui muitas características únicas que podem ser utilizadas para sua
identificação. Os tipos biométricos são normalmente classificados em duas categorias: físicos e
comportamentais.

a) Biometria física
 Veia das mãos – foi descoberta recentemente, mas esta característica é muito confiável
para o reconhecimento de pessoas, pois além de ser imutável a falsificação deste tipo de
informação é quase impossível. Além disso, o custo para obtenção de imagens para
identificação é relativamente baixo;
 Impressão digital - é a forma mais comum de identificação. Além de ser o método mais
rápido é também o que exige recursos de mais baixo custo. Infelizmente a confiabilidade
neste método é bem baixa;
 Reconhecimento facial – um dos métodos de identificação menos vantajosos. A baixa
confiabilidade em união com o alto custo computacional para leitura, reconhecimento e
pesquisa faz deste recurso um dos menos utilizados para sistemas em tempo real;

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 67


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

 Íris – embora exija equipamentos de alto custo para análise, a íris é uma característica
muito confiável para identificar as pessoas. É imutável com o passar dos anos e quase
impossível de ser clonada;
 Cada pessoa reage de uma maneira diferente em determinadas situações. Alguns choram,
outros ficam agressivos, tudo depende das características comportamentais de cada um.
Existem estudos complexos sobre as atitudes tomadas pelas pessoas.
 Os cientistas acreditam que, em um futuro muito próximo, seja possível destacar um
indivíduo no meio de uma multidão apenas pelo seu jeito de andar, mexer as mãos ou
identificando alguma mania dele. Este tipo de análise recebe o nome de biometria
comportamental e, mesmo que ainda não haja sistemas profissionais em operação para
este tipo de reconhecimento, as pesquisas não param.

8.2.3. Utilização da biometria

A biometria é usada na area criminal para a identificação de suspeitos em cenas de crimes,


aeroportos e muitos outros lugares. A biometria também é muito utilizada na área de segurança,
exigindo a confirmação física de que a pessoa realmente é quem diz.

Existem diversos aplicativos que trazem até o usuário um pouco de toda esta tecnologia. No
portal Baixaki é possível encontrar alguns programas para reconhecimento facial, como o FACE.
Além disso, muitos aparelhos já contam com leitores biométricos para garantir a segurança no
acesso aos dados.

8.2.4. Uso dos relógios biológicos

Os relógios biologios possuem muita utilidade na sociedade. Estes direccioam o ser humano de
forma biológica, técnica e ate mesmo cientifica. Eles, segundo a natureza das realidades são
usados em vários momementos da esfera humana.

8.2.4.1. Uso dos relógios biológicos na medicina, agricultura, na produção animal


entre outros aspectos

Relógios biológicos ou relógios internos (Inglês, biological clocks, internal clocks)


enquandram-se no círculo roblemático de orientação do organismo no tempo, assim designado
por analogia à orientação no espaço. As duas capacidades de orientação (no espaço e no tempo)
relacionam-se entre si de modo complementar e criam bases para a

existência do organismo. Por outras palavras e a título exemplificativo, o animal deve saber
quando e onde estar se ele quer encontrar uma presa, ou, o contrário, sendo ele mesmo uma
presa, se ele pretende escapar-e de um predador. A mesma questão coloca-se quando ele procura
um parceiro para acasalar-se ou para a cópula.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 68


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Os processos básicos no organismo, assim como os comportamentos típicos de um animal


demonstram um decurso cíclico, de tal modo que a mesma fase do evento comportamental
repete-se em mais ou menos intervalos de tempo iguais. Os sistemas que produzem tais padrões
de tempo (oscilações) estão organizados hierarquicamente, o que cria no
organismo uma complexa cadeia de oscilações. Isto é sobretudo válido para organismos
pluricelulares. Por essa razão, o organismo pluricelular (incl. plantas) é considerado um sistema
multi-oscilatório.

As bases para a sua ocorrência provêm tanto de ciclos fisiológicos celulares, como de processos
bioquímicos igualmente cíclicos. Em baixo seguem-se alguns exemplos de padrões de oscilações.
O valor adaptativo, ou seja a função biológica, dos padrões de tempo de processos biológicos e de
comportamentos, situa-se a três níveis, nomeadamente:
1. Na capacidade de determinação de tempo, como forma de estabelecer uma relação de
fases com o tempo exterior, o qual manifesta-se em processos periódicos de parâmetros
ambientais;
2. Na capacidade de medição de tempo, no sentido de determinar a duração de um
processo, de um acontecimento ou de um fenómeno. Quando a base de sincronização é a
luz, esta forma de medição de tempo chama-se fotoperiodismo (fotoperiodicidade);
3. Na avaliação de tempo local como um caso exceptional, tal como se exige de animais
com a capacidade de avegação com o uso de orientação astronómica e de marcos
ambientais sazonais.

Vários rítmos são também encontrados nos organismos e isto não é nada de especial; pois, os
organismos como sistemas complexos tendem a oscilar. Nós encontramos oscilações no
metabolismo, em processos fisiológicos e bioquímicos, na reprodução e no comportamento.
Algumas destas oscilações são adversas e o organismo tende a ignorá-las. Contudo, em muitos
casos o organismos faz uso delas. Reacções químicas ou processos fisiológicos são mais
favoráveis para o organismo quando ocorrem de forma rítmica. Isto é mais verdade
especialmente para fenómenos que dependem de condições ambientais rítmicas: fotossintese
(como fixação da luz) apenas pode ocorrer durante o dia. A fixação do nitrogênio de algumas
Cyanobacteria, por outro lado, ocorre à noite, porque uma das enzimas dessa reacção é inibida
pelo oxigênio. Durante a fotossintese produz-se oxigênio. Por isso, o rítmo diário cuida para que
os dois processos incompatíveis de fotossintese e de fixação do nitrogênio estejam separados no
tempo.

Nos seres vivos classificam-se cinco formas básicas de processos organizados no tempo:
1. Rítmos ultradianos independentes do ambiente, cujo periodo ( tau) tem uma duração
inferior a 24 horas (de segundos a poucas horas, p.e., biopotênciais, taxa de batimento
cardíaco, movimentos peristálticos, estágios do sono, etc.);
2. Rítmos infradianos que são os que se relacionam com o ambiente, i.e., seguem ciclos
ambientais, ou são sincronizados por estes. As oscilações ambientais sincronizadas pelo
relógio biológico chamam-se sincronizadores, outro termo para o conceito alemão de
“Zeitgeber” Nesta classe incluem-se os seguintes rítmos:
a) Rítmo circatidal: relaciona-se com as marés (2,4 h);
b) Rítmo circa-hemidiano: relaciona-se com o sol (12 h);
c) Rítmo circadiano: relaciona-se com o sol (24 h);
d) Rítmo circa-septano: segue oscilações ambientais com duração aproximada de
sete dias (7 d);
e) Rítmo semilunar: relaciona-se com ritmos lunares (meialua,14,8 d);

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 69


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

f) Rítmo lunar-mensal: (29,5 d);


g) Rítmo anual: (365 d).
3. A terceira categoria de processos organizados no tempo refere-se à capacidade que os
organismos têm para uma avaliação contínua do tempo por forma a poderem
assegurar interacções ambientais específicas. Trata-se, neste caso, de interacções que
ocorrem de acordo com as estações do ano;
4. A outra forma toca a avaliação do tempo sob forma de resposta às mudanças sazonais
da duração da fase de luz num dia de 24 horas;
5. A última forma de processos organizados no tempo é a determinação do tempo de
duração de uma dormência, para que o indivíduo à determinada altura do ano
possa entrar e sair da dormência (torpor, hibernação, estivação, etc.).

Um relógio biológico - como sistema de medição de tempo – deve demonstrar as seguintes


propriedades:
 Ser um processo mensurável e regulável;
 Possuir uma fonte energética que induz o sistema a funcionar;
 Ser um oscilador ou marca-passo;
 Estar dotado de mecanismos de acoplamento que lhe permitem uma
sincronização com o tempo astronómico.

Distinguem-se três formas básicas de interacção organismo-ambiente que levaram à evolução de


processos rítmicos:
1. Interacção baseada nas funções fisiológicas do corpo, incluindo processos de
crescimento e de maturação; o ciclo de menstruação é o exemplo clássico. O ciclo
menstrual compreende um periodo de 28±3 dias. Ele encontra-se relacionado com uma
maturação periódica de folículos no ovário e modificações periódicas do endométrio
(Fig.....). o ciclo menstrual é dirigido por parâmetros de tempo endógenos e induzido
pelo hipotálamo através da hormona liberadora de gonadotropina (GRH, do Inglês,
Gonadotropin-releasing hormon). A adenohipófise libera a hormona estimuladora da
maturação do folículo primário no ovário (FSH, do Inglês, folicle stimmulating
hormon). A meio do ciclo desencadeia-se a produção da hormona luteína (LH, do Inglês,
lutein hormon) pela adenohipófise. Sob acção conjunta das duas hormonas (FSH e LH)
os folículos que, consequentemente, entram em maturação e desencadeiam a produção e
secracção de estrogénio. Sob condições de uma determinada relação optimal de
concentração das duas hormonas, mais ou menos ao 14º. dia do ciclo, ocorre a ovulação
(expulsão do folículo), que corresponde à menstruação propriamente dita. O folículo
pode transforma-se em corpo lúteo. Os estrogénios estimulam, por um lado, a
proliferação do endométrio, mas, do outro lado, eles inibem a continuação de produção
da hormona estimuladora dos folículos (FSH), o que impede a maturação de mais
folículos, enquanto que a produção de LH e LTH é simultaneamente estimulada por eles.
2. Interacção baseada nas funções ecológicas, por exemplo, animais visitam flores com
nectar a determinadas alturas do dia e do ano); um leão caça com sucesso a
eterminadas horas do dia.

Interacção baseada nas especificidades da população que, quando dirigidas a parceiros da


mesma espécie, são reguladas e induzidas por sinais biocomunicativos. Ao nível social os
organismos desenvolveram sinais e outros comportamentos sociais que já sincronizam processos
ao nível do estado fisiológico, p.e., no ciclo menstrual as fêmeas podem influênciarse
mutuamente através de feromônios específicos que libertam, ou o macho-alfa de certos animais

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 70


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

influência a ocorrência sincrónica do cio das fêmeas sob seu controlo). Mas também sinais
biocomunicativos sociais interferem na regulação de fenómenos rítmicos do organismo. Existem
também a organização do tempo laboral, dos metros e aviões, etc. que, hoje, praticamente
funcionam como autênticos Zeitgeber.

O processo de evolução antropogenénica, por seu turno, resultou na evolução de outros dois
níveis adaptativos para a organização temporal do comportamento especial do Homem,
nomeadamente:
1. O nível cultural ou tradicional: o Homem já usa calendários para realizar
determinadas actividades ou orienta-se pelos feriados para impor ao organismo um
repouso;
2. O nível sócio-económico: as horas de trabalho estão fixadas e podem prolongar-se até
ao turno nocturno, mpondo, assim ao Homem, uma actividade psicomotora nocturna.
A correlação positiva que se observa entre diferentes parâmetros fisiológicos e a
capacidade psíquica e física, leva acrer que existe uma certa incompatibilidade entre o
trabalho nocturno e os ritmos biológicos.

Dos ritmos endógenos fazem parte os microritmos electrofisiológicos de duração de periodo


variado e o ciclo ovarial dos primatas (incl. Homem);

Várias são as oscilações periódicas circadianas de sistemas fisiológicos elementares que foram já
investigadas, as quais, “ao fim e ao cabo”, codeterminam o comportamento. São exemplos as
secreções hormonais.

Fazem parte também as variações circadianas dos volumina nucleares que possivelmente
estejam relacionadas com a produção Ácidos Ribonucléicos (ARN) e com processos
biossintéticos rítmicos (síntese de nucleótidos:
 Base azotada---Pentose---Fosfato;
 Também o citoplasma de certas células subordina-se à oscilações diárias dos seus
volumina.
Isto é principalmente importante para o comportamento sobretudo em células com actividade
neurossecretora, como foi reportado por KLUG (in:TEMBROCK, 1973) para a periodicidade do
ritmo de actividade em Carabus nemoralis e mais tarde também comprovada em muito
insectos.

Oscilações periódicas na produção de neurossecreções e hormonas dentro deste grupo de


animais são induzidas pela luz, que actua directamente sobre o cérebro (protocerebro,
Protocerebrum), onde localizam-se células nerossecretoras. Experiências em Fisiologia celular
de EHRET e TRUCCO (1967), dentro da chamada “Chronon-Hypothesis”, demonstraram a
existência de unidades de ADN, cuja transcrição sequencial dura mais ou menos 24 horas. Sendo
assim, é de supor uma entrada rítmica de ARN-mensangeiros em determinados momentos
(tempos) do dia, do que resulta uma síntese protéica ligada obrigatoriamente a fases. As
hormonas dos pluricelulares podem assumir uma função sincronizadora. Elas transmitem
impressões de luz à determinadas unidades orgânicas (células) não directamente exposta à luz.
Neste sentido, as hormonas esteróides têm um significado peculiar, elas podem, por um lado,
actuar em determinados passos da síntese de proteínas, por outro lado, elas actual sobre
mecanismos das membranas e de transporte. No fígado de ratos, determinadas actividades
enzimáticas têm um decurso peródico circadiano, por exemplo no metabolismo do Triptofano.
Assume-se, igualmente, que a concentração, a inteligência e a atenção do Homem no processo de
aprendizagem também devem subordinar-se a tais ritmicidades circadianas.
Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 71
ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

O valor adaptativo destes rítmos circadianos pode ser visto a três níveis:
1. Adaptação do organismo às mudanças ambientais constantes (exemplo, luz e
escuridão);
2. Criação de uma estrutura interna de tempo optimal ao funcionamento do
organismo;
3. Regulação do meio interno e incremento do grau de resistência à factores
perturbadores externos (mesmo o funcionamento do sistema imunológico ou a
acção bioquímica de medicamentos);
4. A dor: muito bem investigada é a ritmicidade da sensibilidade de dor na palma
da mão através de medições de níveis do limiar de excitação e dos dentes pela
técnica de choque de temperatura ao longo do dia. O máximo de insensibilidade
de dor situa-se entre 12 e 18 , o mínimo, entre 0 e 3 h. em indivíduos nocturnos, a
sensação de dor eleva-se mais tarde (ca. 1-2 h). Excitação vegetativa não
específicas (stress) deslocam o máximo e o mínimo para frente. Analgésicos
actuam menos a noite (i.e., no momento de elevada sensibilidade de dor) do que
de dia. Também placebos (factores sugestivos não específicos inibidores de dor)
actuam mais entre 12 e 20 h do que entre 0 e 4 h;
5. Tempo de reacção e vigilância: a capacidade (rendimento) em tarefas de
reacção acústica em função do tempo, puderam demonstrar em indivíduos
saudáveis e indivíduos não perturbados no seu sono é máxima aprox. as 3 h
emínima ca de 15 h. o padrão de seu decurso é sinusoidal;
6. Vigilância: contrariamente, ela decorre exactamente de modo inverso ao
parâmetro anterior. Correspondentemente, a probabilidade de erros em
trabalhadores de turnos (sonecar ao volante, travagrns bruscas e forçadas em
condutores de locomotivas) situa-se as 3 h de manhã. Girassol e outras tantas
plantas exiben um movimento chamado pêndulo gravitrópico depois de
estimulação pela gravidade (força gravitacional como estímulo). Transpiração
de grama (erva) via estómatas pode também ocorrer rítmicamente;
7. A perda de água de folhas, assim como a entrada de água pelas raízes são
igualmente fenómenos rítmicos no campo ultradiano. As folhas da chamada
planta telegráfica Desmodium gyrans demonstram movimentos rítmicos típicos
causados pelas alterações da turgescência em determinadas junções. o Sono-REM
de mamíferos será apresentado como um dos exemplos mais clássicos de ritmos
ultradianos;
8. Se dominarmos melhor fenómenos rítmicos anuais relativos ao comportamento
humano e à sua fisiologia, talvés abrisse-se uma luz para o combate eficaz aos
males sociais e disfunções orgânicas que enfermam o Homem. Haverá
ensividade diferenciada na predisposião à determinadas doenças? Eis uma
questão de grande interesse científico biomédico e da Psicologia social;

Abaixo, esta uma alistagem geral de fenómenos comportamentais relativos ao ritmo anual estão:
 Germinação e todo o ciclo vital de uma planta angiospérmica;
 Rítmo anual de crescimento de quistos em algas;
 Diapausa;
 Formação de pupa em insectos;
 Alteração de peso do corpo e das gônadas em aves;
 Mudas de insectos;
 Migrações de aves;

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 72


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

 Hibernação em mamíferos;
 Etc.

Para sintonizar o desenvolvimento e o comportamento com as estações do ano o organismo pode


também usar um relógio interno. Em plantas, por exemplo, deve haver um relógio anual que
controla a germinação de sementes logo após o tempo de dormência. É por isso que elas são
armazenadas sob condições de temperatura constante. Mesmo assim, elas germinam num rítmo
anual.

8.3. Questões para reflexão


1. Define biometria.
2. Relacione os tipos de biometria em poder de conhecimento.
3. O que entendes por um relógio biologico?
4. Quais são as propriedades de um relógio biológico
5. Nos seres vivos classificam-se cinco formas básicas de processos organizados no
tempo Quais são?
6. Fale do uso do relógio biológico na medicina com base em dois exemplos.

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 73


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

Bibliografia
 BERNE, R.M., LEVY, M.N., KOEPPEN, B.M., STANTON, B.A. Fisiologia., 4.ed.
Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2000;
 NAFTAL, Naftal Manual de Biologia comportamental, UCM, Beira, 20008;
 ACKERMAN , S. Discovering the brain. National Academy Press: Washington, 1992;
 PIRES, C. L. V. (2009): Biologia do Comportamento. (n.p.)
 PIRES, C. L. V. (2009): Antropogénese. (n.p.)
 SACARÃO, G. d. (1991). Ecologia e Biologia do ambiente. Portugal.
 Silvana C. Gomes (2009), A Natureza das espécies e sua comunicação, porto editora,
Lisboa (Portugal)

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 74


ISM-Chimoio Biologia do Comportamento -4º Ano-1º Semestre – 2018 Introdução ao estudo de Biologia do Comportamento

“Biólogo Alemão ainda em vida (travei conhecimento com ele entre 1886 e 1999)”. GUNTER TEMBROCK, 1992

Elaborado por Msc. Octávio Renato Rosério 75

You might also like