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O português tem um substrato céltico/lusitano,[2] originado nas línguas faladas pelos povos
pré-romanos que habitavam a parte ocidental da Península. Várias escritas testemunham
a existência de línguas paleo-hispânicas. Em Portugal destaca-se a escrita do
sudoeste dos séculos VII e V a.C. no Baixo Alentejo e Algarve. Não há acordo entre os
especialistas sobre a origem destes sistemas de escrita, que poderá estar no alfabeto
fenício ou no alfabeto grego, provavelmente relacionados com os contactos comerciais
destes povos.
Da língua lusitana, uma língua indo-europeia céltica[3][4] ou relacionada falada entre o
Douro e o Tejo, apenas se conhecem cinco inscrições tardias em alfabeto latino, incluindo
as de Cabeço das Fráguas,[5] a inscrição do Penedo de Lamas[6] e
de Arronches.[7] Da língua galaica,[8] também uma língua céltica[9][10] ou um grupo de
línguas e dialetos aparentados com o celtibero, conhecem-se numerosas palavras e frases
curtas registadas em inscrições latinas de Oviedo e Mérida, ou glosadas por autores
clássicos, que permanecem até hoje para nomear locais, rios ou montanhas. Após séculos
de contacto com o latim estas línguas foram absorvidas,[11] mas deixaram a sua marca
num dialecto determinante na evolução das línguas portuguesa e galega.
A influência celta na língua portuguesa[12] pode ser detectada em várias centenas de
palavras como abrunho, barra, bico, vidoeiro, bilha, borba, braga, brio, cais, caminho,
camisa, canga, canto, carro, cerveja, choco, colmeia, crica, curro, embaixada, gorar, légua,
lousa, menino, minhoca, peça, rego, tojo, tranca, vassalo,[13] manteiga e tona (galaico-
português: pele, odre);[14] os topónimos de origem céltica em Portugal destacam-se pelo
elemento "briga", que significa “fortaleza”, com em Conímbriga, Arcóbriga (antigo nome de
Arcos de Valdevez), Lacóbriga (antigo nome da cidade algarvia de Lagos)
e Brigantia(Bragança); o elemento "dunum", que significa “cidade” e surge no
topónimo Caladunum (cidade antiga em Trás-os-Montes); frequentemente é também
considerada de origem celta a etimologia do nome Portugal, de Portus Cale, sendo Cale
um desenvolvimento de "Gall-", com a qual os Celtas se referiam a si próprios (como em
"Galiza", "Gália", "Galway") e o do rio Douro (Durus em latim), do celta "dwr", que significa
água.[15]
O latim: base linguística (III a.C - V d.C)[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Latim e Latim vulgar
Inscrição em latim num marco miliário da Via Nova, que ligava Braga a Astorga, Terras de Bouro,
Portugal
Em 218 a.C, os romanos iniciaram a invasão da Península Ibérica, onde viriam a fundar
a província romana da Lusitânia, atual centro e sul de Portugal. Quase 200 anos depois,
terminadas as guerras Cantábricas, foi constituída a Galécia, atual norte de Portugal e
Galiza.
A romanização afetou muitas áreas da vida, incluindo a língua. O latim, língua
oficial do Império Romano, passou a ser usado na administração. A sua versão coloquial,
o latim vulgar falado em todo o império,[16] foi difundido por soldados, colonos e
mercadores vindos de várias províncias e colónias romanas. Estes estabeleceram-se em
cidades perto de povoações nativas, mantendo frequentemente os mesmos nomes.
Falar latim era mais um privilégio do que um dever, e começou pelas camadas mais altas
da sociedade, que tinham de lidar com a administração romana.[17] A evolução do latim no
território correspondente a Portugal ocorreu a dois ritmos:[18] no centro e sul, na Lusitânia,
foi adaptado cedo, acompanhando a rápida romanização e maior cosmopolitismo. A norte,
na região da Galécia, a tardia romanização, o carácter rural e o isolamento resultaram
numa menor assimilação cultural e linguística, que levou ao desenvolvimento de uma
variedade de latim com influências da língua galaica.[19][20] A adesão ao cristianismo,
introduzido nas cidades da Hispânia a partir do século I e tornado religião oficial do império
em 380 pelo imperador hispano Teodósio I, contribuiu para popularizar o latim.
O uso das línguas paleo-ibéricas foi decrescendo, primeiro através do bilinguismo nos
centros de ocupação romana, depois limitando-se às regiões isoladas. As línguas pré-
romanas nativas acabaram por desaparecer,[21] mas supõe-se que o seu contacto com o
latim contribuiu para o desenvolvimento de diversos dialetos nas diferentes regiões
da Hispânia. Mesmo a elite educada de hispano-romanos parece ter tido um sotaque
peculiar: entre outros, o imperador Adriano, de origem bética, foi alvo de riso ao discursar
no senado romano pelo "pronuntians agrestius", um sotaque rústico que o levou a
aperfeiçoar o latim.[22][23]
Para alguns autores o fato de a Lusitânia e Galécia estarem incluídas na Hispânia
Ulterior (a "Hispânia afastada" na primeira divisão da Península), sob influência da Bética,
uma província antiga colonizada pela aristocracia senatorial, explica o latim conservador,
que preservou formas arcaicas (como "pássaro"/"pájaro" (passer) e "comer" (comedere)
em vez de formas latinas mais recentes ave (avicellus) manger/mangiare (manducare), e
que pode explicar parte das diferenças entre o castelhano e o português.[24] Um dos
fenómenos mais antigos nesta diferenciação é a "troca dos b pelos v", ou
betacismo,[25] provavelmente sob a influência das línguas pré-romanas, com o /v/ muito
mais usado no português. No latim clássico não existia o actual som [v]: "via" pronunciava-
se "uia" (semelhante ao W inglês). A partir do século I o latim vulgar transformou o /w/ em
/β/, que se manteve no espanhol, e que evoluiu para /v/ no português. Exemplos antigos
de betacismo incluem a grafia de Nabia/Navia, deusa da mitologia galaica e lusitana.[26]
O processo de diferenciação dos dialetos que levou ao desenvolvimento de diversos
traços individuais das línguas ibero-românicas terá ocorrido ainda no período
romano.[27][28][29] Origem de todas as línguas românicas, o latim terá contribuido para quase
90% do léxico do português.
O românico de influência germânica sueva e visigótica[editar | editar
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Ver artigo principal: Línguas ibero-românicas, Línguas galaico-portuguesas, Língua
gótica, Latim medieval
A partir de 409,[30] com o Império Romano em colapso, a Península Ibérica foi ocupada por
povos de origem germânica, a que os romanos chamavam bárbaros. O território foi então
cedido a alguns destes povos como federados: em 410 os suevos estabeleceram na
Galécia o reino Suevo, primeiro reino cristão, (410-589). Na Lusitânia seriam
os visigodos a dominar (411-711).
Estes povos adoptaram em grande parte a cultura romana, incluindo as leis,
o cristianismo e a língua latina. Com as invasões desapareceram todos os quadros do
estado, mas manteve-se de pé a organização eclesiástica, que os suevos adoptaram
ainda no século V, seguidos pelos visigodos, e que foi um importante instrumento de
estabilidade. Como a maioria da população hispano-romana era cristã, a governação
sueva – que se estendeu até Emínio (Coimbra) – baseou-se nas paróquias, descritas
no Parochiale suevorum de c. 569.
O latim escrito, com influências germânicas e românicas, manteve-se na Europa
como língua franca, litúrgica e jurídica: o latim medieval. No reino Suevo da Galécia, região
correspondente ao norte de Portugal e Galiza, destaca-se na liturgia a partir
da arquidiocese de Braga, e no direito visigótico. Foi dessa liturgia, por iniciativa
de Martinho de Dume – para reforçar a ortodoxia face a tendências pagãs e heréticas
do priscilianismo e arianismo – a origem do português ser a única língua românica que usa
a terminologia eclesiástica de numeração ordinal para os dias da semana, de segunda-
feira a sexta-feira, com registos desde 618.[31]
No entanto, uma vez que as escolas e administração romanas acabaram, o latim vulgar
falado perdeu uniformidade, evoluindo de forma diferenciada nas comunidades isoladas.
Acredita-se que por volta do ano 600 já não era falado na Península Ibérica,[32] substituído
pela evolução das línguas românicas. Na Galécia, ganhou características locais levando à
evolução de uma forma primitiva de galaico-português.
A presença germânica, sobretudo os três séculos de domínio visigótico, deixou numerosas
palavras na língua portuguesa, sobretudo na onomástica: nomes
como Rodrigo, Afonso, Álvaro, Fernando, Gonçalo, Henrique;
toponímia Adães, Baltar, Gondomar, Ermesinde, Esposende, Tagilde, Guimarães,
Tresmonde, Trasmil; o sufixo -engo (em solarengo, mostrengo) e palavras em regra
poéticas ou guerreiras: guerra, elmo, bando, guardar, agasalhar entre outras.[33] Também a
letra ç (cê cedilhado) no português moderno teve origem na escrita visigótica, resultando
da evolução do Z (ʒ) visigótico.[34][35]
Influência árabe em Portugal[editar | editar código-fonte]
Mapa cronológico mostrando o desenvolvimento das línguas do sudoeste da Europa desde o ano
1000 até à actualidade, entre as quais o português.
Entre 740 e 868 a região a norte do Douro foi reconquistada pelos cristãos hispano-
góticos, que aí estabeleceram os seus reinos. O documento medieval com traços
românicos mais antigo da Península Ibérica data de 775, o Diploma do rei Silo das
Astúrias,[37]encontrado na Galiza e preservado no arquivo da catedral de Leão.[38][39] Como
este, muitos documentos escritos em latim medievalcontêm palavras românicas.[40]
Em Portugal, os mais antigos textos com traços de galego-português são a Doação à
Igreja de Sozello, de 870,[41] e a Carta de Fundação e Dotação da Igreja de S. Miguel de
Lardosa, de 882.[42] Entre os séculos XII e XIV o galego-português teve um papel especial
nos reinos cristãos medievais da Península Ibérica como língua literária, semelhante ao
contemporâneo occitano. Foi, quase sem exceção, a única língua usada na composição
da poesia lírica trovadoresca dos reinos de Leão, Castela, Galiza, e Portugal. A sua
importância foi tal que o chamado trovadorismo é considerado a segunda mais
importante literatura medieval europeia. O rei de Leão e Castela Afonso X, o Sábio (1221-
1284), mecenas do movimento trovadoresco e ele próprio trovador e poeta da língua
galego-portuguesa, escreveu ou mandou escrever o cancioneiro sacro Cantigas de Santa
Maria em galego-português, que reúne 430 composições musicadas para monofonia.
Ladinho ou linguagem ladinha era o nome que se dava ao puro romance português
derivado do Latim, sem mescla de Aravia ou da Gerigonça judenga.[43]
A poesia heroica tinha duas vertentes, a Aravia, usada pelo povo, e o Romance
empregada pelos eruditos. São numerosos os documentos em que a palavra Aravia
significou a linguagem plebéia, a gíria e o canto do povo. Para os eruditos o Romance
significava a linguagem vulgar.[44] "Para os eruditos do século XV e XVI, a Aravia é a
linguagem corrupta com que cristãos e árabes se entendiam, é uma especie de gíria não
escrita, e a própria designação de um canto do povo." [...]a Aravia que os Mosarabes
falavam eram os dialetos vulgares ou Ladinha cristenga que em breve se iam desenvolver
como línguas nacionais. A designação de Aravia passava a significar o cantar-romance,
que veio a servir de primeiro elemento tradicional da história." Na comédia Eufrósina,
Jorge Ferreira de Vasconcelos refere-se ao termo "germania" como sendo uma forma de
aravia, quando escreve : "quando eles querem falam germania[...] senhora que viva
convosco pera que me ensineis essa aravia." [45]
Divergência do português e do galego[editar | editar código-fonte]
Ver artigos principais: Diferenças entre o galego e o português e Documentos mais
antigos em galego-português
Testamento de Afonso II de Portugal, de 1214
Em 1143, o reino de Portugal foi formalmente reconhecido pelo Reino de Leão e Castela,
no qual o Reino da Galiza estava então incorporado. Como resultado da divisão política, o
Galego-Português perdeu a unidade como língua nativa secular do noroeste peninsular.
O galego e o português seguiram então caminhos evolutivos independentes, divergindo. O
português incorporou elementos árabes durante a reconquista e, no período que se
seguiu, dá-se a uniformização em -ão das terminações nasais. O galego foi influenciado
pelas línguas leonesa e castelhana.[46]
Os textos escritos em português mais antigos conhecidos são a A Notícia de
fiadores (1175),[47] uma pequena lista de nomes que termina com uma única frase, "O
Pacto dos irmãos Pais" de ca. 1175. Mas o documento que atesta o nascimento oficial da
língua portuguesa data de 27 de Junho de 1214, Testamento de D. Afonso II,[47] terceiro
Rei de Portugal, consensualmente considerado o texto em escrita portuguesa mais antigo
conhecido. Em 1290, concluída a reconquista portuguesa, o rei Dinis I de
Portugal decretou que a "língua vulgar" (o galego-português falado) fosse usada em vez
do latim na corte, e nomeada "português". O rei trovador, neto e tradutor de Afonso X O
Sábio, adoptara uma língua própria para o reino, tal como o seu avô fizera com
o castelhano. Em 1296 o português foi adaptado pela chancelaria régia e passou a ser
usado não só na poesia, mas também na redação das leis e pelos notários.
Na Galiza, a documentação legal em galego-português remonta a 1231, data de um
diploma de venda procedente do mosteiro de Melón, no Minho.[48] No entanto, o
documento chamado Carta Foral do Boo Burgo é provavelmente mais antigo (c.
1228).[49] Os primeiros textos poéticos datam de c. 1195 a c. 1225. O galegomanteve-se a
língua escrita mais empregada no Reino de Galiza, tanto no uso legal como na criação
literária, para o que contribuíram grandemente as scriptoria da nobreza e da igreja local,
na ausência de uma corte real na Galiza. Mas as derrotas dos nobres galegos nas
guerras irmandinhas provocaram o fim da autarquia do reino da Galiza, que passa a ser
governada por uma delegação real castelhana, que impõe o castelhano como língua
oficial. A partir de 1530 dá-se o desaparecimento oficial do galego como língua de cultura,
que durou até finais do século XIX, nos chamados "Séculos Escuros", ficando relegado a
língua regional, oral, com pouco emprego escrito.[50] O português, por seu lado,
desenvolveu-se no único território peninsular independente do domínio linguístico do
castelhano.
O quadro seguinte mostra dois trechos em galego-português, um primeiro da cantiga de
amor Pois ante vós estou aqui, escrita pelo rei D. Dinis (1261-1325) (tal como foi
compilada no Cancioneiro da Biblioteca Nacional e numa versão com a grafia normalizada)
e, um segundo, a oração ave-maria adaptada da Cantiga de Santa Maria n.º 415. À direita,
de modo comparativo, uma tradução correlativa em português e galego (baixo ortografia
oficial), respectivamente:
Galego-
Galego-português
português Português Galego
(grafia normalizada)
(grafia original)
Poys ante uos Pois ante vós estou
Pois ante vós estou aquí,
eſtou aqui aqui,
Pois ante vos estou aqui,
señora deste meu
senhora deste meu
Senhor deſte meu corazón
coração,
coraçõ sennor deste meu coraçon, por Deus, tede por
por Deus, tende por
Por de9 teede por por Deus, tẽede por razon, razón,
razão,
razon por quanto mal por vos por canto mal por vós
por quanto mal por vós
Por quanto mal sofri, sufrín,
sofri,
por uos ſofri de vos querer de min doer de vos querer de min
de vos querer de
De u9 q̃rer de mĩ ou de me leixardes morrer. doer
mim doer
doer ou de me deixardes
ou de me deixardes
Ou de me morrer.
morrer.
leixardes morrer
A língua portuguesa é derivada do Latim, o idioma falado por um povo rustico que vivia
no Lácio, região central da Península Itálica. O que fez a língua latina se desenvolver
foram às necessidades dos romanos, que habitavam a Península Itálica, de expandir
seu domínio. Até meados do século IV a.C, eles não haviam ampliado muito as
fronteiras do antigo lácio, permanecendo o latim quase que restrito a essa região, até
que, em 326 a.C., começou então um longo período de conquistas com o qual o
Império romano veio a atingir o máximo de sua expansão geográfica, levando também
a sua língua, seus hábitos de vida e instituições às, mais diversas regiões da Europa,
África e Ásia.
Romanização da Península Ibérica se deu a partir do século II a.C, quando o Império
Romano por influência comercial, política, e militar busca conquistar toda região. A
guerra púnica foi o fator inicial para a conquista e expansão românica. Assim durante
longos anos de batalhas com os Cartagineses, Roma finalmente consegue vencê-los,
e passam a dominar toda a província, estabelecendo ali sua civilização, impondo seus
costumes e, sobretudo seu idioma. De fato as influências Romanas se fez sentir na
religião, artes, cultura e principalmente na língua do povo conquistado. Conforme o
exercito Romano avançava em larga região da Europa, o latim cada vez mais se
expandia. Fazendo com que as línguas nativas dos territórios conquistados ficassem
cada vez mais extintas.
A formação das línguas românicas, de fato tem como base o latim vulgar, linguagem
popular, falado pelos povos romanos de classes mais baixa, ou seja, pelos indivíduos
de poucas instruções menos favorecido pelo ensino escolar. Segundo Coutinho, as
primeiras terras romanizadas receberam uma linguagem mais popular, baseada no
latim vulgar, enquanto que as últimas conheceram um latim mais culto, e isto se deu
pelo fato da língua literária ser mais recente, e também pelo surgimento da escrita.
Para que possamos entender as mudanças que ocorreram na língua latina,
observamos três fatores: o histórico, o etnológico e o político.
Como agente histórico, entendemos que, as conquistas romanas aconteceram em
diferentes épocas; um exemplo disso é a distância temporal entre a conquista da
Sardenha e da Dácia, que teve aproximadamente quatro séculos. A causa etnológica
pode ser observada, através dos diversos povos que foram dominados pelo Império
Romano; um exemplo disto foi a Península Itálica, onde eram falados diversos
idiomas, como por exemplo: O céltico , ligúrio , e Etrusco . A razão política é justificada
pelas invasões e conquistas militares e imposição cultural e linguística que pode
originar dialetos mistos, e isto foi o que aconteceu com a língua latina.
A implantação do latim na Península Ibérica foi um fator crucial para a formação da
língua portuguesa, exceto os bascos, todos os povos da Península Ibérica passaram a
adotar o latim como língua. Essa região foi separada em duas grandes províncias,
sendo elas: a Hispânia Citerior e a Hispânia Ulterior. Esta última sofreu nova divisão
em duas outras províncias, a Bética e a Lusitânia, onde se estendia uma antiga
província romana, chamada Gallaecia.
Segundo Teyssier, o reino livre de Portugal já existia, e a parte meridional do seu
território estava quase que inteiramente reconquistada. Portugal estabeleceu-se no
século XII, quando Afonso I (Afonso Henriques), o filho do conde Henrique de
Borgonha, passou a independência do seu primo Afonso VII, rei de Castela e de
Leão.
É o combate de São Mamede (1128) que, tradicionalmente, se faz remontar esta
independência, ainda que Afonso Henriques tenha feito ser reconhecido como rei nos
anos seguintes. Apartar-se de Leão para se tornar um reino independente, Portugal
então se separava também da Galícia, que não mais deixaria de ficar vinculado ao
país vizinho de reino de Leão, reino de Castela e, finalmente, reino de Espanha. A
demarcação, que no século
XII isolou a Galícia de Portugal, estava destinada a ser definitiva.
Ainda que no mesmo tempo em que se separava o norte da Galícia, o moderno rei no
agora autônomo Portugal estendia-se para o sul, anexando às regiões reconquistadas
aos "mouros".
Teyssier afirma ainda que em 1249 com a tomada de Faro, a região nacional atingiu
os limites com algumas pequenas modificações, que correspondem às fronteiras nos
dias de hoje. Em meio a todas as nações europeias, Portugal é uma cujas fronteiras
variaram menos, isolado da Galícia, mas acrescido das terras meridionais
reconquistadas, Portugal vê o seu centro de gravidade transferir-se do Norte para o
Sul. A residência principal do primeiro rei era Guimarães, no extremo norte. Os seus
herdeiros começaram a frequentar de preferência Coimbra libertada desde 1064
Afonso III, enfim em 1255, instala-se em Lisboa, que não mais deixaria de ser a capital
do país. Por todo esse tempo, a língua galego-portuguesa, nascida no Norte, vai-se
espalhar pelas regiões meridionais, que até então se comunicavam por dialetos
moçárabes. Lisboa, a capital definitiva situava-se em plena zona moçárabe.
Segundo Teyssier, assim como o castelhano, o português também se originou de uma
língua nascida no norte, o galego-português medieval que foi levado ao Sul pela
reconquista.
Quanto à norma, contudo, o português moderno diverge do castelhano, pois vai
buscá-la não no Norte, mas sim na região centro-sul, onde esta localizada Lisboa.
Segundo Coutinho, (1976, p. 56), a evolução da língua portuguesa pode ser explicada
em três fases: pré-histórica, proto-histórica e histórica a que compreende o período do
Português arcaico e moderno.
A pré-histórica inicia-se com as origens da língua, ampliando-se até o século IX. A
língua que era falada na região era o romance lusitânico, diferente do latim que
constitui um estágio intermediário entre o latim vulgar e as línguas latinas modernas
(português castelhano, francês, entre outros). A proto-histórica vai do século IX ao XII.
Os textos eram escritos em latim bárbaro que era a modalidade do latim usado apenas
em documentos e por isso também chamado de latim tabaliônico ou usado por
tabeliões; as palavras portuguesas eram faladas, mas não era escrito, o que confirma
a existência do dialeto galaico-português. Dessa fase, os documentos mais antigos
são um título de doação, datado de 874, e um título de venda de 883.
A fase histórica tem início no século XII, época em que os textos começam ser escritos
em português. Este período está dividido entre o arcaico, séculos. XII-XVI, e o
moderno no século XVI. Já o período arcaico entre os séculos XII e XVI, compreende
dois períodos distintos: Entre o século XII ao XIV, com os textos em galego-português;
e do século XIV ao XVI, com o isolamento entre o galego e o português.
Este é o primeiro texto literário na língua Galaico portuguesa de que se tem registro. O
primeiro texto que foi escrito em português foi à poesia "Cantiga da Ribeirinha"
Que vos enton non vi fea! E, mia senhor, desaqueldi', ai! Me foi a mi muin mal, e vós,
filha de don Paai Moniz, e ben vos semelhad'haver eu por vós guarvaia, pois eu, mia
senhor, d'alfaia Nunca de vós ouve nem eivalía d'ũacorrea.
Esta cantiga foi escrita provavelmente em 1198 séculos XII por Paio Soares de
Taveirós, foram dados esse nome em homenagem a Dona Maria Paes Ribeiro, que
amante de Sancho de I de Portugal que tinha o apelido de Ribeirinha.
Já a partir do século XVI, período moderno, a língua portuguesa se padroniza e
começa a adquirir propriedades do português atual. No ano de 1572, a obra de Luís de
Camões, os Lusíadas, se torna um marco histórico do nosso idioma e também um
monumento literário e linguístico. Coutinho afirma que a publicação de Os Lusíadas no
ano de 1572,
Essas mudanças ocorrem porque com o passar do tempo, cada geração de falantes
de uma mesma língua decompõe inconscientemente a pronúncia das palavras, dando
origem a outras modificações na estrutura, fonética , semântica , morfológica e
sintática .
Fonema é a menor unidade sonora que entra na constituição de uma palavra. O
fonema tem como característica o fato de ter valor opositivo, isto é, ele pode explicitar
a diferença entre uma palavra e outra. (Amaral, Antônio e Patrocínio, 1994, p. 98).
Parte da linguística que se ocupa dos sons da língua, ou seja , levanta, classifica e
estabelece as distinções básicas entre os fonemas de uma língua, visando à distinção
de uma estrutura fônica, o que possibilita distingui-la de outras línguas de definir seu
padrão combinatório no nível da silaba. Um distinto exemplo dessa modificação é o
pronome de tratamento (você): inicialmente, (vossa mercê); depois, (vossemecê);
posteriormente, (vosmecê) e, nos dias atuais, dicionarizado, você; no entanto, na
oralidade, ouvimos (cê). E agora com o avanço tecnológico nas comunicações o (vc)
passou a ser usado também, mas na forma escrita.
Coutinho as define como metaplasmos, as alterações que as palavras sofreram
durante a sua evolução do Latim para o Português e que ainda estão acontecendo.
Essas alterações são apenas fonéticas, conservando, as palavras, a mesma
significação. Os metaplasmos se dão em cinco classes, a saber:
Por permuta: São os consistem na substituição ou troca de um fonema pelo outro. São
eles: Sonorização, Vocalização, Consonantização, Assimilação, Dissimilação,
Nasalização, Desnasalação, apofonia e Metafonia.
Por aumento: São os que adicionam fonemas à palavra, Pertencem a essa classe:
Prótese, ou Próstese, Epêntese, Paragoge ou Epítese.
Por subtração: São os que tiram ou diminuem fonemas à palavra. São eles: aférese,
Síncope, Apócope, Crase, Sinalefa ou Elisão.
Por transposição: São os que consistem na deslocação de fonema ou de acento tônico
da palavra. Transposição de um fonema toma o nome de Metátese. Dessa forma a
Metátese pode ocorrer na mesma sílaba ou entre sílabas. A transposição de um
acento tônico toma o nome de Hiperbibasmo, que compreende a Sístole, e Diástole.
Por transformação: eles ocorrem quando um fonema de um vocábulo se transforma,
passando a ser outro fonema distinto em lugar do primeiro. Pertencem a essa classe
a, Degeneração, Rotacismo, Lambdacismo, Ditongação, Monotongação, Palatização e
Despalatização.
Nos exemplos a seguir podemos ver que ouve a manifestação de classes variadas de
metaplasmos nas palavras: Alface > arface, a modificação ocorrida nessa palavra foi
uma transformação, considerado Rotacismo, ou seja, é um metaplasmo de
transformação do fonema (l) em (r).
Doutor > dotô, Houve um metaplasmo por transformação de fonema. Ou seja, uma
monotongação que consiste na transformação de um ditongo (io), em vogal (o). E
também ocorreu uma apócope, que é a queda do fonema no final do vocábulo, (r),
aconteceu também uma diástole que é a transposição do acento tônico para silaba
posterior, (Dou > tô).
Valor > valô, houve um metaplasmo por subtração. Ou seja, uma apócope, que é a
queda do fonema (r) no final do vocábulo, também ocorreu uma diástole que é a
transposição do acento tônico para silaba posterior (ô).
Olhar > Oiá, aqui aconteceu uma transformação no interior do fonema palatal, (lh), em
uma nasal (ia), ou seja, ocorreu uma despalatização que é a transformação de fonema
palatal em um nasal ou oral. Verifica-se a ocorrência de uma diástole que é a
transposição do acento tônico para silaba posterior. E também uma apócope, que é a
queda do fonema (r) no final do vocábulo.
Muito > Muinto, aqui observamos a ocorrência do metaplasmo por aumento, uma
epêntese, que é o acréscimo do fonema (n) no meio do vocábulo.Vemos também que
ouve uma assimilação do fonema (i) com o (n) que é a aproximação ou perfeita
identidade de dois fonemas, por força de influência que um exerce sobre o outro.
Portanto, podemos ver que os metaplasmos, são alterações fonéticas verificadas nas
próprias palavras da língua, chegam e saem através do tempo, e assim permanecem
essas alterações estáticas por algum período, e novamente se modificam conforme o
uso dos falantes, dentro de uma sequência diacrônica e sincrônica.
Diante de tudo o que foi exposto é importante então que continuemos a buscar cada
vez mais valorizar e defender a nossa língua materna. Pois preservá-la, significa muito
mais do que somente zelar pelo falar de um povo, significa defender o que há de mais
precioso em nossa nação, nossa identidade, nossos costumes, nossa história e até
mesmo nosso futuro. Ao refletirmos sobre as origens da língua é de extrema
importância, haja visto que nosso idioma é a linha principal da união entre o Brasil e
Portugal, e também entre outros países falantes da Língua Portuguesa. É com o
resultado deste trabalho que concluímos que a língua necessita dessas
transformações, para se desenvolver e adaptar juntos com os seus falantes. E o
quanto estas modificações é importante para garantir a sobrevivência e continuidades
dela mesma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Referências
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