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Biomecânica da Articulação
temporomandibular (ATM)
Biomechanic of Temporomandibular Joint (TMJ)
Cristiane Andrade Gomes*
José Geraldo Trani Brandão**
Os tecidos cartilaginosos que recobrem as laterais, feixe inferior, iniciando o deslocamento dos
superfícies articulares funcionais e o disco articular, côndilos para frente, seguida de uma ação forte dos
bem como os tecidos retrodiscais estão em condi- músculos supra-hioideos, principalmente do ventre
ções biofuncionais íntimas, protegidas de pressões anterior do digástrico, para completar a abertura
físicas verticais inadequadas. Além disso, nessa con- (Figura 4). O movimento inicia-se com rotação
dição de equilíbrio muscular e articular, a mandíbula pura do côndilo até aproximadamente vinte milí-
esta posicionada em um perfeito eixo vertical em metros de abertura. Depois disto, para continuar
relação a coluna cervical e ao crânio. A partir desta a abertura, a rotação ocorre concomitante com a
posição estática de repouso ideal da ATM iniciam-se translação. Tal como a roda de um automóvel que
todos os movimentos funcionais articulares (Atwood, roda em torno de um eixo látero-lateral e se move
1966; Beyron,1964; Jankelson, Adib,1987). para adiante ao mesmo tempo. Para se perceber
A ATM se movimenta em três direções; mo- melhor a movimentação da mandíbula durante a
vimento para cima e para baixo, resultando na abertura, deve-se colocar um dedo em contato com
abertura e fechamento da boca; realiza movimento côndilo, realizar o movimento e notar o desloca-
de protrusão e retrusão e de lateralidade; durante mento condilar. Este procedimento clínico é útil no
estes movimentos ocorre a rotação e translação diagnóstico de fraturas subcondilares e para veri-
mandibular. ficar a presença de ruídos articulares. Nessa fase,
De acordo com Cate (2000), os movimentos a de abertura, o osso hióide está estabilizado pela
mandibulares raramente ocorrem isoladamente, a ação dos músculos infra-hioideos.
maioria destes envolvem combinações complexas Madeira (2001); explica que o movimento
de atividades musculares. O papel dos músculos inverso é o de elevação da mandíbula. Os mús-
em propiciar a estabilidade não pode ser despreza- culos que agora se contraem, são o masseter, o
do, pois durante a mastigação as forças aplicadas pterigoideo medial e o temporal. Cada um tem seu
sobre a articulação não são apenas intensas, mas momento representativo de força que compõe o
também mutáveis, e quando isto é considerado vetor resultante. E a resultante final do somatório
em conjunção com os efeitos desestabilizadores dos três músculos é direcionada para cima e ligei-
do movimento de translação, este papel funcional ramente para frente. Isto faz com que o côndilo se
do músculo torna-se ainda mais importante. Um encontre com a vertente posterior da eminência ar-
exemplo é a situação encontrada na mordida, que ticular na fase final do fechamento. O eixo dos mo-
demanda que o disco articular seja estabilizado em lares inferiores também alinha-se com a resultante
uma posição ligeiramente para frente. Acredita-se final. Admite-se que a mandíbula trabalha como
que esta estabilização seja obtida pelas fibras su- uma alavanca de terceiro gênero,(interpotente,
periores do músculo pterigoideo lateral. como uma pinça pôr exemplo). O fulcro é a pró-
Com base na configuração anatômica dos mús- pria ATM, que juntamente com os dentes recebe
culos, e lembrando que a maioria dos movimentos uma carga de força durante a mastigação. A força
da articulação envolve rotação e translação, é pos- desenvolvida pode ser mais ou menos absorvida
sível agrupar a função dos músculos de acordo com pelo fulcro de acordo não apenas com a quantidade
os movimentos realizados pela mandíbula. gerada, mas também com o tamanho da distância
entre a resistência (dentes) e o fulcro (ATM). Neste
ABAIXAMENTO E ELEVAÇÃO caso a mastigação com os incisivos faz aumentar o
DA MANDÍBULA braço de resistência e a carga no fulcro aumentada
Gibbs (1986); concluiu que o movimento de (Figura 5).
abertura se inicia com o relaxamento da maioria das Os ossos maxilares e a ATM são adaptados
fibras dos músculos elevadores: masseteres, pteri- para a mastigação na região dos molares. Forças
goideos mediais e temporais (Figura 3). Ao mesmo mecânicas desenvolvidas nessa região são mais
tempo ocorre contração dos músculos pterigoideos bem absorvidas e escoadas. Na mastigação incisi-
va, a carga transmitida para a ATM é quase duas movimento de lateralidade pura; dessa forma, esta
vezes maior. ação é desenvolvida com os côndilos deslizando
Quando existe contato prematuro na região para frente e para o lado, o que caracteriza na
dos molares, a oclusão pode transferir a carga de verdade uma lateroprotrusão.
força para os próprios dentes contactantes e aliviar Uma lateroprotrusão esquerda é iniciada com
a ATM. Dessa maneira, a alavanca interpotente o relaxamento das fibras posteriores do músculo
se transforma numa alavanca interfixa (como na temporal direito, permitindo que o côndilo direito
tesoura, pôr exemplo). O côndilo então trabalha fi que livre para ser tracionado pelos músculos
numa nova posição, desviada da relação cêntrica pterigoideos laterais (feixe inferior), predominan-
(RC), os músculos (potência) se sobrecarregam e temente o direito. Em outras palavras, se o mento
logo se instalam sintomas da disfunção temporo- translada para a esquerda é o músculo pterigoideo
mandibular (DTM), como a dor de cabeça, ouvido lateral do lado direito que traciona o côndilo direito
e na própria articulação. Portanto, para se ter uma para diante. O movimento do côndilo direito ocorre
ATM saudável é condição primordial ter uma boa para baixo, para frente e para medial. No lado que
oclusão. a mandíbula está sendo movimentada, o côndilo
esquerdo sofre tração através das fibras posterio-
PROTRUSÃO E RETRUSÃO res do temporal esquerdo e contração moderada
DA MANDÍBULA do pterigoideo lateral (feixe superior), também
Segundo Madeira (2001); para que ocorra o esquerdo.
movimento de protrusão, a mandíbula se abaixa Na execução deste movimento, cuja base
ligeiramente tirando os dentes de oclusão e então funcional é o ciclo mastigatório, os músculos eleva-
projeta-se para frente com o côndilo e disco sain- dores mantêm uma leve contração com o objetivo
do da fossa mandibular e deslizando na vertente de estabilizar a mandíbula no plano transversal.
posterior do tubérculo articular. A protrusão si-
métrica da mandíbula é garantida pela contração CONSIDERAÇÕES FINAIS
dos músculos petrigoideos laterais (Figura 6). Os Com base na literatura consultada, podemos
músculos elevadores, principalmente o temporal, concluir que a discussão em torno dos sinais e sin-
são coadjuvantes deste movimento, no sentido tomas das Disfunções temporomandibulares (DTM)
de manter a mandíbula elevada enquanto ela se e da movimentação mandibular ainda é assunto de
desloca para frente. muita polêmica. Torna-se necessário um estudo
No movimento inverso, o de retrusão, tra- aprofundado da biomecânica da ATM, para que cada
balham os músculos digástrico e porção posterior grupo de estudo desenvolva seus próprios parâme-
do temporal, ambos retrusores da mandíbula. Os tros para o diagnóstico e tratamento dos problemas
músculos geni-hioideo e milo-hioideo participam oriundos dessa articulação tão complexa.
deste movimento com menos força. O movimento mandibular, a contração mus-
cular e a força dos dentes sobre a ATM são parte
LATERALIDADE DA MANDÍBULA do arcabouço teórico usado para diagnosticar e
Gibbs (1986); afirma que devido a forma tratar as DTMs.
anatômica da ATM, a mandíbula não apresenta
Several research has contributed to further knowlegde about functional relations of TMJ and has
enriched the classically established conceps and procedures. The studies of TMJ concludes that the
anatomic, histological and functional knolwegde of this system forms the principal basis on reaching
these relations.
The aim of this present study was to reexamine the literature on biomechanic and functional aspects of TMJ.
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