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Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região TRT-19 - DISSÍDIO

COLETIVO : DC 110200900019004 AL 00110.2009.000.19.00-4

Processo : - DISSÍDIO COLETIVO


Procedência: TRT 19ª REGIÃO - MACEIÓ/ALDESEMBARGADOR RELATOR: JOÃO LEITESUSCITANTE (s):
Sind. dos Vigilantes e Empregados em Empresas de Segurança, Vigilância, Transporte de Val.

Ementa
DISSÍDIO COLETIVO. SALÁRIO-BASE INFERIOR AO MÍNIMO. INCABIMENTO. Se à época em que
ajustada a Convenção Coletiva de Trabalho o piso salarial do Vigilante de Posto era superior ao salário
mínimo nacional, compreende-se que os sindicatos suscitantes, principalmente o dos profissionais, não
pretendiam que posteriormente o salário-base desses trabalhadores fosse inferior ao salário mínimo
nacional e, com isso, os adicionais de periculosidade e de produtividade fossem a eles vinculados, em
prejuízo próprio.

Relatório
Trata-se de Dissídio Coletivo suscitado pelo Sindicato dos Vigilantes e Empregados em Empresas de
Segurança, Vigilância, Transporte de Valores e pelo Sindicato das Empresas de Segurança do Estado
de Alagoas - SINDESP, de comum acordo, requerendo que a Justiça do Trabalho, através de Sentença
Normativa, estabeleça o piso da categoria profissional e defina o percentual de reajuste do ticket
alimentação. As partes não chegaram a um acordo sobre os termos do dissídio, conforme ata de f.
126. Os autos foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho, que emitiu o parecer de f. 128,
lavrado pelo ilustre Procurador, Dr. Rafael Gazzanéo Júnior, no qual se manifesta no sentido favorável
à proposta do Sindicado Profissional, qual seja, que o chamado salário-base, correspondente ao piso
da categoria, não poderá ser pago em valor inferior ao salário mínimo nacionalmente unificado. Em
relação ao ticket-alimentação, opina o parquet para manter a mesma redação adotada na convenção
coletiva que se expirou em 28/02/2009, com fundamento no art. 114, § 2º, da CF/88. É, em suma, o
relatório.

Voto
1 - JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE - PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS Atendidos, devendo ser
observado que ambos os sindicatos (profissional e patronal) envolvidos são co-autores e suscitados, o
que demonstra o cumprimento da exigência do comum acordo previsto no § 2º do
art. 114 da Constituição Federal. 2 - JUÍZO DE MÉRITO 2.1 - DO SALÁRIO MÍNIMO - SALÁRIO-
BASE O Sindicato Profissional defende que o salário-base que deve compor o piso salarial da categoria
de vigilante de posto não pode ser inferior ao salário mínimo vigente (R$ 465,00), enquanto o Sindicato
da Categoria Econômica entende que a inferioridade em relação ao salário mínimo é o total da
remuneração paga ao trabalhador, que corresponde, no Estado de Alagoas, conforme Convenção
Coletiva em anexo, ao piso salarial composto pelo salário-base e os adicionais de risco profissional e
de produtividade. De logo, deve se observar que a discussão neste tópico gira em torno da possibilidade
jurídica, ou não, do salário-base dos trabalhadores da categoria profissional em questão ser inferior
ao salário mínimo legal, para fins de cálculos dos adicionais de Risco Profissional (30%) e Produtividade
(06%) que incidem sobre essa parcela salarial. É importante este destaque para que não se pense que
o objeto ora em análise exigiria desta Corte um exame sobre a vinculação do salário-mínimo ao piso
salarial da categoria, uma vez que esta matéria está superada pela Súmula Vinculante n. 4 do Supremo
Tribunal Federal. Aliás, em nenhum escrito da petição inicial é feita qualquer alusão pelos suscitantes,
principalmente pelo Sindicato da categoria econômica, como fundamento de suas razões, a observância
estrita ao comando estabelecido na referida decisão sumular. Na verdade, se vinculação ao salário-
mínimo existe, é fruto da negociação entre os sindicatos suscitantes em razão de normas coletivas
anteriores, a exemplo da Convenção Coletiva 2008/2009, juntada à f. 16/33, que vincula as demais
parcelas que compõem o piso salarial profissional ao salário-base, como se vê na tabela constante da
cláusula quarta do referido instrumento coletivo (f.17). Ali, ainda se vê que o salário-base serve
também de parâmetro para a fixação de outros salários-base das demais faixas profissionais, sendo o
salário-base menor aquele estabelecido para os profissionais que exercem a função de Vigilante de
Posto, cujo valor contido na aludida tabela foi de R$ 416,02 quase idêntico ao salário-mínimo de R$
415,00 vigente à época da negociação coletiva que culminou com a celebração da Convenção Coletiva
acima citada. Assim, destaco mais uma vez que o exame acerca da possibilidade jurídica do salário-
base ser inferior ao salário-mínimo nacional em nada afronta o disposto na Súmula Vinculante n. 4 do
STF, porquanto já existe entre os sindicatos suscitantes, conforme se depreende da inicial, o consenso
de que, seja qual for o salário-base a ser definido neste dissídio, o mesmo terá efeito vinculante em
relação aos valores dos adicionais e faixas salariais constantes da tabela contida na Convenção Coletiva
2008/2009, de forma que o índice de reajuste salarial a ser aplicado será aquele resultante da diferença
entre o salário-base fixado na citada Convenção Coletiva anterior e aquele que for definido no presente
dissídio, tudo consoante o pleito formulado pelos litigantes na peça inicial comum. Adentrando no
mérito do tópico em questão, entendo que razão assiste ao sindicato obreiro suscitante. Com efeito, a
idéia de que somente a remuneração, como somatório de todas as parcelas salariais, é que estaria
atrelada à obrigatoriedade do pagamento igual ao salário-mínimo gera descompasso com a própria
finalidade deste direito cujas destinações estão previstas expressamente no inciso IV do
art. 7º da Constituição Federal. Assim, incluir no cômputo do valor do salário-mínimo outras parcelas
salariais que tem destinação e finalidade legais distintas tornaria inócuas as próprias regras
instituidoras destas parcelas, causando efetiva precarização e redução de direitos de índole
constitucional e infraconsticional. Registre-se, à guisa de exemplo, que os adicionais consistem em
parcelas contraprestativas suplementares devidas ao trabalhador em razão do labor em circunstâncias
mais gravosas, como é o caso dos vigilantes. Daí a necessidade de se pagar mais a quem está
submetido a tais condições de trabalho, propósito este que seria brutalmente afetado se tais adicionais
apenas compusessem o valor do salário-mínimo. Ademais, como bem ressalta o Ministério Público do
Trabalho à f. 130, "importante relembrar que os adicionais em questão encerram conquistas históricas
dos vigilantes e que vêm sendo previstos em convenções e acordos coletivos ao longo dos anos e
que..., não podem se confundir com o piso da categoria que deverá corresponder necessariamente,
pelo menos, ao valor estipulado para o salário mínimo nacionalmente unificado, devendo, ademais,
servir de base para o cálculo das demais vantagens." Para afastar de vez a tese do Sindicato da
Categoria Econômica, basta citar um exemplo bem simples: suponhamos que o salário-base da
categoria profissional fosse um valor X (inferior ao salário mínimo) que, somado aos adicionais em
questão, fosse exatamente igual ao salário mínimo (R$ 465,00). Pergunta-se: qual a importância ou
vantagem para o trabalhador se, mesmo com os adicionais de periculosidade e de produtividade, seu
salário mensal não ultrapassava sequer o salário-mínimo nacional? Ora, tal situação levaria a total
inocuidade da regra garantidora dessas parcelas. Frise-se que aqui não se está afrontando a OJ nº 272
da SDBI-1 do TST, pois a mesma, como destaca o parquet (f. 130), "faz expressa referência aos
servidores públicos, não se aplicando, por óbvio, a hipótese do presente dissídio." Observa o ilustre
representante do Ministério Público do Trabalho "que os servidores públicos não estão autorizados,
através de seus sindicatos, a firmarem acordos e convenções coletivas de trabalho e nem tampouco
ajuizarem dissídio coletivo, ao contrário da categoria profissional em causa (vigilantes) que, conforme
já anotado, através de acordos e convenções coletivas de trabalho, conseguiram incorporar os
adicionais em questão ao patrimônio remuneratório dos empregados (adicionais de periculosidade e
produtividade), não podendo ser alcançados, ainda que por analogia, por uma jurisprudência que se
destinou a regular uma realidade complementamente distinta daquela experimentada pelos
empregados que integram o sindicato profissional suscitante" (f. 130). Na verdade, entendo que a
referida Orientação Jurisprudencial apenas faz referência a parcelas salariais ajustadas
contratualmente, não se aplicando à parcelas salariais previstas em normas estatais ou em normas
coletivas, cuja destinação e finalidade seria totalmente desvirtuada caso adotada, em relação a estas,
o entendimento contido na referida Orientação Jurisprudencial. Aliás, é interessante observar que o
aresto parcialmente transcrito na petição inicial como parte das razões do Sindicato patronal, ao
defender a aplicação da citada jurisprudência, aponta parcelas previstas em norma autônoma e
específica ao órgão empregador que não se identifica com as regras de feição legal estatal ou coletiva,
o que se coaduna com o entendimento acima exposto. Por fim, vale lembrar que § 2º ao
art. 114 da Constituição Federal detemina que a Justiça do Trabalho, ao decidir um conflito (dissídio),
deve respeitar "as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas
anteriormente". É o caso dos autos. Com efeito, à época em que ajustada a Convenção Coletiva de
Trabalho 2008/2009 o salário-base do piso salarial do Vigilante de Posto (R$ 416,02) era superior ao
salário mínimo nacional à época (R$ 415,00 a partir de março/08), conforme se observa à f. 17.
Compreende-se, pois, que os sindicatos, principalmente o dos profissionais, não pretendiam que os
trabalhadores tivessem os adicionais vinculados a um salário-base inferior ao salário mínimo nacional.
Ora, se o salário mínimo foi reajustado em fevereiro de 2009 para R$ 465,00 (quatrocentos e sessenta
e cinco reais), os adicionais percebidos pelos vigilantes não podem ter base de cálculo inferior a esse
limite, sob pena de afronta à Constituição Federal, em especial, a norma supra citada que determina
o respeito às normas convencionais anteriores. Portanto, estabelece este Tribunal que o salário-base
do piso salarial da categoria profissional, em relação à faixa profissional dos Vigilantes de Posto, não
pode ser inferior ao salário-mínimo nacional, em observância ao comando constitucional de se
preservar as disposições mínimas "convencionadas anteriormente". Como há o consenso entre os
litigantes de que o salário-base aqui fixado seja observado como parâmetro para a fixação dos
adicionais e demais faixas salariais estabelecidas na tabela da Convenção Coletiva 2008/2009, decorre
deste ajuste a necessária incidência do percentual de 11,78%(variação do salário-mínimo de março
de 2008 a março de 2009) sobre os valores estabelecidos naquela tabela. 2.2 - DO "TICKET
ALIMENTAÇÃO" Pede o Sindicato Profissional que a Justiça do Trabalho defina o percentual de
reajuste do ticket alimentação, que hoje é de R$ 45,00 reais e está congelado há dois anos. Ressalta
que o Sindicato da Categoria Econômica rejeita tal hipótese, porque na última reunião na PRT/19 este
pleito sequer consta na ata e, por isso, entendendo que houve a aceitação na manutenção do atual
valor. Em que pese o Sindicato Patronal entender que somente há discussão efetiva no dissídio acerca
do reajuste salarial da categoria, e não do ticket alimentação, as atas de reunião na PRT/19 juntadas
às f. 53/63 mostram o contrário, ou seja, de que houve nestas reuniões discussões acerca do tema
que não levaram a qualquer consenso, o que demonstra a viabilidade de seu exame nesta Corte, até
porque no item E dos requerimentos finais da petição inicial é postulada, expressamente, a fixação de
um reajuste para a parcela ora em comento. Saliente-se que ticket alimentação, como espécie de
utilidade com destino específico, deve ter o seu reajuste vinculado não ao salário, mas às condições
econômicas que viabilizam a sua finalidade específica. Tampouco deve ter a sua variação vinculada ao
percentual de reajuste do salário-mínimo até por conta da proibida vinculação prevista na Súmula 04
do Supremo Tribunal Federal. Não obstante o parecer ministerial no sentido de se manter o valor que
já vinha sendo pago por força da Convenção Coletiva, sem qualquer elevação, entendo que razão
assiste, em parte, ao sindicato obreiro suscitante quanto ao pleito de reajuste do Ticket Alimentação.
Com efeito, o valor atualmente pago à categoria profissional - R$ 45,00 mensais - mostra-se
extremamente insuficiente para dar conta da sua finalidade que é a alimentação do trabalhador durante
o expediente laboral. Ora, considerando-se que a jornada de trabalho, em média, dessa categoria seja
de 12 por 36, o que perfaz uma média de 20 dias de trabalho por mês, divindindo-se esta média pelo
valor mensal percebido, chega-se a uma valor diário de R$ 2,25 (dois reais e vinte cinco centavos)
para o gasto com alimentação. Desnecessário, ao meu ver, tecer maiores explicações acerca da
concreta insuficência deste valor para que o trabalhador possa ter a necessária recuperação de suas
energias com alimentação durante o seu labor diário. Sem olvidar, ainda, de que as condições de
trabalho dessa categoria, o que também é de conhecimento comum, diferem das condições inerentes
à maioria dos trabalhadores. Além dessa constatação a respeito da insuficiência atual do valor
percebido a título de ticket alimentação desde março de 2007 (já que em 2008 não houve qualquer
reajuste na Convenção Coletiva correspondente - cláusula 11a.), observa-se no site do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - DIEESE
(http://turandot.dieese.org.br/icv/icvExecuta) que o custo com alimentação fora do domicílio teve uma
variação, para maior, de março de 2008 a março de 2009, no percentual de 12,6558%, o que reforça
também a necessidade de reajuste da parcela em questão. Considerando que no tópico anterior foi
reconhecido o direito à manutenção do salário-base como sendo o salário-mínimo cujo percentual de
reajuste (11,78%) será aplicado nas demais parcelas e faixas salariais estabelecidas na tabela da
Convenção Coletiva de 2008/2009, consoante entendimento nesse sentido manifestado pelas
entidades suscitantes, e que este percentual está acima do índice de custo de vida geral divulgado no
site acima mencionado que ficou no patamar de 6,3791% e, considerando, ainda, o princípio de
conglobamento que rege as relações e negociações coletivas de trabalho, fixa esta Corte o valor do
tiquet alimentação em R$ 49,00 (quarenta e nove reais). Determina-se, ainda, que os efeitos dessa
decisão devem retroagir à data-base da categoria - março de 2009, devendo ser implantado o reajuste
aqui definido a partir do mês de setembro/2009 e que o saldo devedor seja pago em três parcelas
mensais nos meses de outubro, novembro e dezembro. ANTE O EXPOSTO, julgo PROCEDENTES, EM
PARTE, os pedidos para: a) conceder o reajuste de 11,78% para toda a categoria; b) estabelecer que
o salário-base do Vigilante de Posto será de R$ 465,00 (quatrocentos e sessenta e cinco reais); c) fixar
o valor do ticket alimentação em R$49,00 (quarenta e nove reais). Os efeitos dessa decisão devem
reatroagir à data-base da categoria (março de 2009). Determina-se, ainda, a implantação do reajuste
a partir do mês de setembro e que o saldo devedor seja pago em três parcelas nos meses de outubro,
novembro e dezembro.

Conclusão
ACORDAM os Desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho da Décima Nona Região, por
unanimidade, julgar procedente em parte o dissídio coletivo para: a) conceder o reajuste de 11,78%
para toda a categoria; b) estabelecer que o salário-base do Vigilante de Posto será de R$465,00
(quatrocentos e sessenta e cinco reais); e c) fixar o valor do ticket alimentação em R$ 49,00 (quarenta
e nove reais). Os efeitos dessa decisão devem retroagir à data-base da categoria (março de 2009).
Determina-se, ainda, a implantação do reajuste a partir do mês de setembro e que o saldo devedor
seja pago em três parcelas nos meses de outubro, novembro e dezembro.

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