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HISTÓRIA colonial DOS portuouesl

ANGOLA
APO N TA M EN TO S SÔ BR E A OCU PAÇÃO
E IN ÍCIO DO ESTABELECIM ENTO DOS PORTUGUESES
N O C O N G O , AN GO LA E BENGUELA

E X T R A Í D O S DE D O C U M E N T O S H IS T Ó R IC O S

COLIGIDOSDOR
ALFREDO DE ALBUQUERQUE FELNER

COIMBRA
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE
Iq33
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L>estiodiçSo
^ tiraranj-se
umerados c rubricados
i

HISTÓRIA COLONIAL DOS PORTUGUESES ]

ANGOLA.
APONTAMENTOS SÔBRE A OCUPAÇÃO
E INÍCIO DO ESTABELECIMENTO DOS PORTUGUESES
NO CONGO, ANGOLA E BENGUELA

E X T R A Í D O S DE D O C U M E N T O S H I S f f Ó R I C O S

COLIGIDOS POR

ALFREDO DE ALBUQUERQUE FELNER

Ç k - A-Of BlBLlOTECft JOSE CftPELft W E f»

FUVJP-BIBLtOTeC«o
140
* 950140»
COIMBRA
IM P R E N S A D A U N IV E R S ID A D E

l 933
AOS EXCELENTÍSSIMOS SENHORES

GENERAL JOSÉ MENDES NORTON DE MATOS

COMANDANTE ERNESTO DE VILHENA

O Snr. General Norton de Matos, organizando com superior inteh~


gêncta e previsão a Administração de Angola , criando o seu Estatuto
nas bases as mais próprias e adequadas, depois de ter, com pulso firme,
implantado o regime de mão de obra livre e remunerada, que tornou
possível todo o desenvolvimento que hoje admiramos; o Snr. Comandante
Ernesto de Vilhena actuando, fora de todos os meios oficiais, com o seu
brilhante talento e extraordinárias qualidades de organizador, no alto e
patriótico fim do estudo e financiamento dos mais interessantes e impor­
tantes problemas do fomento de Angola, carreando para a Colónia, através
de tôdas as dificuldades, os capitais que valorizaram as riquezas de que
há séculos nos limitávamos a apregoar a existência, sem nunca as efecti-
varmos, — conseguiram o objectivo máximo de tôda a nossa obra em
Angola.
Tendo estudado, desde o seu início, o nosso trabalho como colonizadores
em Angola, sinto a necessidade de manifestar a minha grande admiração
pelo realizado por Vossas Excelências e permitam-me que, juntando aos
seus nomes o do Grande Marquês de Sá da Bandeira, lhes dedique êstes
modestos Apontamentos.

Maio de iq33.

ALFREDO DE ALBUQUERQUE FELN ER.


EXPLICAÇÃO PRÉVIA

Com as viagem de D iogo Cão e Bartolom eu D ia s encerrámos o


período preparatório para os Grandes Descobrim entos. Os nossos cosmó­
g ra fos e matemáticos tinham adquirido todos os conhecimentos necessários
p ara poderem , aproveitando as excepcionais qualidades dos nossos capitães
e pilotos, encaminhar os seus esforços e actividade no sentido das Desco­
bertas. 9
O que se seguiu depois, a índia, o Brasil, e todo êsse M undo que trou­
xem os para a Civilização, f o i o resultado dos estudos e trabalhos até então
executados e conservados durante muitos anos debaixo do maior sigilo.
Como era natural, o que serviu de base a êsses trabalhos, os alicerces
dessa obra grandiosa, a Alta e B a ixa Etiópia, que , quer pelo litoral, quer
pelo interior, f o i tão trabalhada pelos nossos homens do mar e capitães,
fica ram quási esquecidos e ignorados perante o deslumbramento causado
pelas novas riquezas do Oriente e do Ocidente. A s grandes ambições
eram, a ín d ia para o negócio; o Brasil para as culturas que enriqueciam.
P a ra o Congo e A n gola, raros pediam licença para fa \er uma armação,
obra modesta. Assim , se criaram como que duas civilizações diferentes e
distintas. Uma, a das grandes aventuras e heroísmos; a das grandes
riquezas; grandes ambições e grandes sonhos, cheia de lutas sangrentas e
trabalhos sobrehumanos; e outra, comezinha, espécie de charneca de con­
celho, onde os pobres, mas não menos ousados, fora m fa z e r pequenas
arroteias.
A tè ao Zaire ainda se conhecem as datas dos descobrimentos e os
descobridores. Depois, daí para o sul, tirando os padrões de D iogo Cão,
tudo é obra da grande massa anónima, da qual os nossos cronistas se tião
ocuparam, e aos historiadores não mereceu a investigação cuidada e estudo
criterioso a que tinha direito.
Angola

Passaram-se sé c u lo s . O M u n d o que nós tínham os descoberto fo i- s e


d iv id in d o e n t r e a s velha s nações e as novas qu e se fo r m a r a m . C om difi­
culdades se ten ta v a m exp lo ra çõ es, e essas, j á sem a q u ele estím ulo de
a v e n t u r a , se m o in cita m en to d o D escon h ecid o.
F ic a r a a Á f r ic a , im ensa, cu jos seg red o s , ta lvez p e lo p receito imposto e
tr a n s m itid o d e g er a çã o em g era çã o , tínham os conservado na m aior reserva,
a p o n to d e tu d o s e ig n o r a r , até m esm o o p o u co qu e fic a r a escrito.
Q u á s i q u e só n ó s p o r lá andávam os, £ m as seria tudo nosso ? ic o m que
d ir e ito ?
A p a r e c e r a m ,mentão, os p rim eiros intrépidos exploradores estranjeiros,
e n ó s, p a r e c e q u e esquecidos d o q u e já tínham os fe ito , em vez d e nos o fe ­
r e c e r m o s p a r a lhes ensinar os cam inhos, m andám os repetir a lg u m a s das
v ia g e n s há centenas d e anos efectu a d a s, d a n d o a im pressão de qu e f ô r a
co m o estím u lo dos estranhos q u e nos resolvem os a estudar o qu e era nosso
e co n trib u irm o s tam bém com q u a lq u er p a rcela p a ra o conhecim ento cien­
tífico d a s r eg iõ es.
C o m o m aior cinism o acusaram -nos, não só de nada term os f e i t o em
b en efício d a colonização, com o ainda d e perm itirm os q u e os corsários e os
s e u s n e g reiro s, arm ando navios nos seus p ortos, viessem aos das nossas
co ló n ia s c a r r e g a r escra vos, p a ra os levarem p a ra as su a s. E nós, p a ra
n os d efen d erm o s e ju stifica r m o s, p a ssám os a consentir q u e dentro da nossa
ca sa fi\ e s s e m a espionagem d e todos os nossos actos e da nossa vida,
q u a n d o , a final, os escla va g ista s eram ê les, os próprios g overn os, qu e
a lg u m a s v ezes resolvia m cobrir com a sua fo r ç a os actos m ais revoltantes
d e escra v a tu ra s qu e denunciá va m os e queríam os im pedir.
E n tr e ta n to , enqua nto nos deixávam os em bair p o r este f a ls o hum a-
n ita rism o , c a d a um d ê le s e stu d o u a B a ix a E tió p ia e a G u in é In ferio r, e
p ô s so b a v ista o q u e m ais lh e convinha. C om eçaram discutindo a liber­
d a d e d e co m é rcio nos rio s n a veg áveis e su a s bacias, e descobriram qu e
p e la n o ssa le g is la ç ã o a d u a n eira levantávam os d ificu ld a d es a essa liber­
dade.
Explicação Prévia xm
D e repente, um dèles, mais esperto e mais inteligente, deixou-os j
discutir e enfiou pelo Zaire, dizendo que tudo aquilo era dele. Logo a
seguir , mal refeitos do susto, outros flibusteiros completaram a partilha
tirando-nos tudo do Cunene para o sul, e investindo pelo interior da Átrica,
entre as nossas colónias de Angola e Moçambique, ap>Msando-se de cada
uma delas, do que mais lhes convinha.
Vieram os modas vivendi e por fim os tratados. Terminada a discus­
são, demos balanço ao que nos deixaram ficar e, conformando-nos com as
extorsões, encontrámo-nos com o resto daquele nosso dote, que séculos
tínhamos levado a constituir com as migalhas daquelas pequenas arroteias,
que do Zaire para o sul, tínhamos feito.
Deixaram-nos o que não podia deixar de ser nosso, e estava fortemente
vincado pela nossa ocupação e acção civiliçadora.
IM a s como se produçira êsse assombroso trabalho? j Quem o fiçera
e como se fiçera ?
*

Quis conhecê-lo e encontrei elementos do maior valor, quási todos


dispersos e sem a necessária coordenação, de forma a facilitarem qualquer
estudo.
D e alguns, j á publicados, e outros, que encontrei nas buscas que fi\ aos
arquivos nacionais, tentei organizar uns apontamentos sóbre os nossos
primeiros reconhecimentos e ocupação em Angola, ligando factos, procu­
rando-lhes a sequência e façendo a sua crítica baseada nesses doeu-
mentos.
Facilitou muito a minha tarefa a colecção de documentos do Congo,
do fa lecido Visconde de Paiva Manso, manancial do tnais alto valor. N o
Arquivo •Nacional da Torre do Tombo encontrei mais alguns documentos
respeitantes ao Congo, que não foram publicados naquela colecção, pelo
que me pareceu conveniente reüni-los. Também, de obras antigas e hoje
muito raras, extraí a parte que poderia interessar ao Congo e a An­
gola.
Com respeito a Angola e Benguela, reüni tudo o que de mais interes­
sante encontrei na Biblioteca Nacional, na Biblioteca da Ajuda, no Arquivo
XIV Angola
da T ôrre d o Tom bo e ainda na Biblioteca d e É vora e} em bora alguns
d o cu m en to s tenham sido j á publicados, ju lg u e i conveniente reeditá-los, com
e x ce p ç ã o d os q u e fo r a m coligidos, nas M em órias d o U ltram ar, p e lo infa­
tig á v e l tra b a lh a d or que f o i L ucian o Cordeiro.
E n tr e os docum entos respeitantes a A n g o la en co n tra -se na Biblioteca
N a c io n a l o « Sumário e descripção do reino de A n gola, e tc .» m anuscrito
d e D o m in g o s d e A b reu d e B rito, que embora tenha uma p a rte qu e se
r e fe r e à história das Capitanias do B ra sil e, da qu e respeita a A n g ola
tenham sid o p ublicados fra g m en tos, j u l g u e i útil p u b licá -lo integralm ente,
constituindo um trabalho à parte dêste.
R e ü n i ainda muitos docum entos respeitantes ao litora l e p la n a lto do
s u l d e A n g o la . S ão muitos e precisam d e ser cuidadosam ente analisados.
C onstituirão umg>utro trabalho, a p u b lica r, se m e f ô r p ossível concluí-lo.

E n co n tre i nas minhas buscas, na Biblioteca N a cion a l, p o r p a rte dos


E x . m0* S rs. Visconde d e S . Bartolom eu de M essines, E rn esto E n n es e
D r . A ta id e e, na B iblioteca da A ju d a , p o r pa rte do E x .m0 S r . D r . Jordão
de F reita s, bem como do pessoal a êstes senhores subordinado, o mais leal
e fra n co a u x ílio , sem o qual me não teria sido possível levar ao fim os
m eus trabalhos. A todos d eixo consignado o meu reconhecim ento. M as,
tendo iniciado as m inhas pesquisas na Secção U ltram arina da Biblioteca
N a cio n a l, d e q u e era Conservador o E x . m0 S r. E rn esto E n n es, não
p osso d e ix a r de ag ra decer em especial a êste senhor todas as suas fin eza s,
g u ia n d o -m e nos p rim eiros p assos p a ra a busca d e docum entos, indican-
do^me aqueles qu e j á conhecia, ou os códices onde a lgum a cousa de inte­
ressante p o d eria encontrar, e fa c ilita n d o assim a minha tarefa.
C onclu íd a esta, teria todo o m eu esforço resultado inútil se não encon-
trasse no E x . m0 S r . D r . Joa quim de Carvalho, a quem está confiada a
.. direcção da Im prensa da U niversidade d e Coim bra, tôdas as fa cilid a d e s
p a ra a im pressão dêste m eu trabalho e a m aior dedicação e carinho, da
sua p a rte é da do E x . m0 S r. C ândido N a za reth , D ig .mo C h efe das Oficinas
d e Com posição.
A o s dois o m eu g ra n d e reconhecim ento.
Explicação Prévia xv

Hesitei muito, antes de me resolver a publicar èstes «aponíamenlos,


principalmente porque sinto não ter competência para o trabalho a que
me abalancei.
Êste motivo seria mais que bastante para pôr de parte a ideia da
publicação, se não tivesse conseguido reünir documentos que formam uma
colecção interessante, para aqueles poucos que se possam ainda dar a
êstes estéreis estudos.
Num país com a mais vasta e gloriosa história colonial, que é verda­
deiramente a sua própria história, em que se não fa\ a publicação oficial
de obras que a ela interessam e, onde, nem ao menos os aiversos arquivos
possuem um índice actualiçado, manuscrito que fôsse, dos documentos
existentes tias diversas secções, de modo a facilitar qualquer consulta, — a
publicação dos documentos que coligi, embora sirva para Raros apenas,
deve oferecer vantagens para êstes, poupando-lhes tempo e trabalho.

Maio de tg33.
ALFREDO DE ALBU Q U E R Q U E FELNER.
PARTE I

ZAIRE E C O N G O

1 — Os nossos descobrimentos
U — O reconhecimento do Zaire
III — A ocupação do Congo
V. •...... - ■

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As vitórias de Aljubarrota e Valverde tinham abalado profundamente
o prestígio de Castela e engrandecido o nosso. Os castelhanos, ora
pedindo tréguas, ora quebrando-as para recomeçarem as hostilidades,
se não sofriam derrotas como as que lhe foram infligidas naquelas me­
moráveis batalhas, também não alcançavam vitórias que ihes dessem o
direito de imporem as condições da paz, que nós também não adqui­
ríamos, embora cada vez mais se consolidasse o nosso poder, pelo
número de fidalgos que, com as suas terras, reconheciam a autoridade
de D. João I.
Lutava-se, mas sentia-se, de parte a parte, a necessidade de terminar
a luta. Se, mais que o espírito da época, a bravura do Condestável e a
emulação entre os fidalgos, criando uma permanente excitação, torna­
vam improfícuas as mútuas. transigências para a paz, esta, contudo,
impunha-se, e João das Regras, contrariando todos os ardores belicosos
da nobreza, empenhava-se pára a conseguir com todo o seu espírito de
político inteligente e de legista, demonstrando a D. João I a sua ne­
cessidade, não só para a consolidação da independência do reino, mas
para a sua reconstituição, dentro dos princípios do moderno direito de
então, condição essencial para aqueles poderem subsistir.
Estabelecida emfim, a paz, tão sinceramente D. João I a desejava,
que pensava, se ela perdurasse, « ordenar hnüas festas rreaaes que durem
t todo hum anuo, pera as quaaes mandarey comtidar todollos fidalgos e
« gentijs homeés que teuerem jdade e desposiçam pera tal fe ito que ouuer
« em todollos rregnos da christandade e ordenarey que nas ditas festas
« aja notauees justas e grandes torneos e muy abastosos conuites seruidos
«de todallas viandas que se per todo meu rregno e fora delle possam auer.
« E desy danças e outros jogos seram tantos e taaes que assi delles como
« de todallas outras cousas as gentes que o virem tenham que sobre a f
*
4 Angola
« g r a n e^a e as nom se possam fa \ e r outras mayores. E com esto darey
« ta n ta s e ia m g ra n d es da d iu a s prinçipalm ente aaquelles estrangeiros que
« a g r a n d e z a e d o çu ra d o s benefícios que lhes eu assi fe \ e r lhes ponha
« n e ce ssid a d e d e os apregoarem grandem ente antre todollos seus am igos e
° em f i tn d e s ta s cousas f a r e y m eus filh o s caualeiros » (i).
O s três Infantes, D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique com o irmão
m ais velho, C onde de Barcelos, discutiam esta intenção do pai, não se
co n fo rm a n d o com o serem assim armados cavaleiros. Preferiam, antes,
erem o c a siã o de praticar qualquer feito de armas pelo que o merecessem
d o q u e, contudo, não viam probabilidades, visto estar firmada a paz
co m C astela. João Afonso da Azambuja, vèdor da fazenda e homem
re sp e ita d o pelo seu conselho, surpreendeu-os nesta conversa, sugerindo
q ue fôssem lem brar a D. João I, irem antes tom ar Seuta, cidade do
n o rte da Á frica, que êle sabia ser muito importante pelas informações
q u e recebera, tendo lá mandado tratar do resgate de uns cativos.
D a sugestão 8o Mestre João Afonso; do apoio dado pelo Condes-
tá vel à idea, qu e mais parecia revelação d e D e u s ; e pelo entusiasmo
com que, no conselho reünido em Sintra, formado pelos antigos valentes
de A ljubarrota, João Gomes a aprovou, gritando: russos, a lé m ! exor­
ta n d o assim os velhos que ali estavam reünidos e incitando-os à con­
quista, esta realizou-se e, nela, o Infante D. Henrique foi armado
cavaleiro .
Se as nossas anteriores viagens às Canárias, pelo menos as do
tem po de D. Afonso IV, não bastassem para que existisse no espírito
de D. Henrique a idea das navegações, a conquista de Seuta, então a
fornecedora à Europa de mercadorias vindas de regiões desconhecidas,
incitou-lhe êsse desejo. As informações que colheu em Seuta, diziam -lhe
que ca ravan as vindas de longe, da África oriental e central, conduziam
p a ra ali aquelas m ercadorias, que os navegadores e negociantes de
V en eza iam negociar e, o Infante, regressando a Portugal, foi eetabele-
cer-se em S. V icente, com o fim, diz-nos A zurara, de « a lly f a ç e r hüa
« v illa esp ecy a l p e r a trato de m ercadores , e p o r q u e todollos navyos q u e
« a tra v essa ssem d o leva nte p era o poente, p odessem a lly f a \ e r d evisa, e
« a ch a r m an tim en to e p illo t o s . . . ».
O s gen oveses, que desde essa época não deixaram de recear a nossa
co n co rrê n cia , ofereceram -lhe g ra n d e p r eço p e la V illa do Iffa n te, que êle

J f} Crónica da tomada da cidade de Seuta por El-Rey Dom Joham o Primeiro, composta
por omes Eannes de Azurara. Ed. da Acad. das Sciências de Lisboa, cap. viu.
Parte I — Zaire e Congo 5
rejeitou, para se dedicar com os seus escudeiros, o pessoal de que se
cercou e as suas embarcações, ao estudo dos problemas geográficos,
que, depois das noticias que o irmão, o Infante D. Pedro, lhe trouxera
da sua viagem pela Europa, o absorviam por completo, como bem nos
deixou descrito o seu cronista: «Oo quantas ve^es o achou o sol asseentado
« naquelle lugar onde o leixara o dya dante, vellando todo o arco da
« noite sem receber nhuú descanso, cercado de gentes de diversas naçooés,
t nom sem proveylo de cada huú daquelles, ca nom era a elle pequena
« folgança achar com que aproveitasse a todos ,
« Consiiro como recebyas a todos, como os escudavas, como passavas a
a mayor parte dos dyas e noites antre tantos cuydados, por dares proveito
a a muytos, pollo qual conheço que as terras e os mares som cheos de teus
« louvores, ca tu per continuadas passageés fizeste ajuntar o levante com o
« poente, por que as gentes aprendessem a comudar as riquezas » (i).

# #

Nas repetidas viagens que ordenava, os seus navegadores nao se


atreviam a dobrar o cabo Bojador. Doze anos levou nesta insistência,
sem nunca o conseguir, porque «... este cabo do Bojador he muito
«perigoso, por causa de hüa muito grande restingua de pedra que d ’elle
« saee ao mar mais de quatro ou sinco leguoas... e asy os mareantes que
« com elles hiam , tiam ousaram passar aleem. , . e como eram acerca do
« Bojador e hachauam o fundo baixo, que em très braças dauguoa estauam
• hüa leguoa de terra, e espantando-se das grandes correntes nenhum
« ousaua de se alarguar ao mar e passar alem deste parçel, e entam se
« tornauam á costa de Barberia e de Graada, honde andauam d’ armada
«pera tomarem alguüas presas com que forrassem a despesa d’armaçam;
a e por nam passarem o dito cabo o Infante recebia d’ isto grande des-
pra\er...y> (2).
Um dia, Gil Eanes, tendo partido para^uma dessas viagens, chega
às Canárias e traz, como prova, alguns cativos. O Infante anima-o,
incita-o a ir mais longe e, teimando sempre, fá-lo sair para nova viagem,
em 1434» em que Gil Eanes dobra 0 cabo Bojador, chega à Angra dos1

(1) Crónica da Guiné — Azurara. Visconde de Saniarem, cap. vi.


(a) Esmeraldo de Situ Orbis de Duarte Pacheco Pereira. Anotado por Epiíânio Dias,
■ publicado pela S. G. L.
ó Angola
R u ivos, desem barca e, regressando, veio contar ao Infante ff como saira
em a Lerra sem achar g e n te , ou pouoaçõo a lg ü a , & que lhe parecera m u i
<ifr e s c a & g r a c io s a : & q u e em sinal d e não ser tam esterele como as g en tes
« diyião, lra\ia a li a su a m erce em um barril cheo d e terra , hüas heruas q
« se p a r e d ã o com outras qu e cá no R cyn o tem flo r e s a qu e chamão rosas
d e sancta M a r ia » (i).
O Infante reccbeu-o com imensa alegria, e as m odestas ervas, se não
foram postas no altar onde fazia as suas orações de cristão, foram -no,
com certeza, no que erigira á sua obsidiante idea, que o novo moto que
p en sava em adoptar para a sua vida — IDA — melhor definia, e que
êle servia com a sua fé de iluminado, e onde, pela sua vontade inque­
brantável, as pobres ervas rejuvenesciam e, da mesma forma que as da
R ainha Santa Isabel eram a transformação do óbulo que levava no seu
regaço, estas, na sua simplicidade e pobreza, representavam o imenso
va lo r que as terpis de África guardavam .
El-R ei D. Duarte também não escondia a sua satisfação e o Infante
aproveita a oportunidade e, incita agora Afonso Baldaia, que fôra com
Gil Eanes. a voltar, dizendo-lhe, para o co n v en cer: «se vos achastes
« rasto d ’ h om en s-e d e cam elos, parece qne a povoação não é d 1a h minto
<x afastada, ou por ventura será gen te que atravessa com su a s m ercadorias
«p a ra a lg u m p orto d e mar, onde haja a lgum ancoradouro se g u ro p a ra os
« navios receberem c a r g a . . . » Baldaia hesita, mas o Infante insiste e com
novas razões, o convence, pelo que êle parte para a descoberta, levando
dois cavalos que o Infante lhe dera, para que ao desem barcar, m andasse
alguém nêles pela terra dentro, quanto pudessem, ■ esg u a rd a n d o bem a
« to d a lla s p a rtes se vcryam algüa povoraçom , ou g en te q u e fizesse vy a g em
«p e r a lg u ü cam inho. ..» (Azurara), mas que não levassem arm as de defesa
e apena-s suas lanças e espadas.
N a veg aram mais para o sul que na viagem anterior e, desem bar­
can d o, m andou Baldaia dois dos seus montar nos cavalos, e que fôssem
p rocu rar a p ovoação ff Conshro a q u y du a s cousas, d i\ a q u elle que
« screv eo esta e s to r y a : a prim eira qual m aginaçom sery a no pensam ento
« d a q u e lle s horneés, veendo ta l novidade, scilicet, dons m oços a ssy atrevidos
« d e co o r e feiço o és tam stranhas a e lle s ; ou que cousa p o d y a m cu id a r qu e
« os a lly tr o u x e r a , e a ind a em cima d e cavai los, com lanças e spadas, qu e
« som a rm a s q u e a lg u ü d e lle s nunca v ir a ! P o r certo eu m a g in o qu e a

(f) João de Barros — Dec. i * da Ásia, liv. i, cap. m.


Parle I — Zaire e Congo i

«fr a q u e ja d e seus coraçooes nom fo r a tamanha, que se nom teverom com


v eües com m ayor ardide\a se o spanto da novidade nom fo r a . A segunda
« cousa he o atrevimento daquelles dons moços, seendo assy em terra
« stranha , tam allongados de socorro de seus parceiros, e filharem ousyo
« de cometer tamanho numero, cujas condiçoÔes em arte de pellejar, eram
« a elles tam duvydosas » (i).
Foram duas crianças de i 5 e 17 anos, Heitor Homem e Diogo
Lopes de Almeida, os heróis deste valoroso feito. Se a Azurara,
conhecedor dos actos de heroísmo, então tão freqüentemente praticados
pelos nossos cavaleiros, mereceu referência especial o destas crianças,
para nós, cinco séculos passados, apesar dessa África ter sido trabalhada
com a vida de milhares dos nossos que lá têm ficado com tanta glória,
atinge proporções extraordinárias.
tíQue poder imenso de persuasão, que esmagador domínio era o do
Infante, para fazer arrostar com todos os preconceitos*sôbre os perigos
da África, que a tradição incutira nos nossos? Já não são os homens,
que êle poderia seduzir, mais ou menos, com promessas, excitando-lhe
assim o interesse. Eram duas crianças, i 5 e 17 anos! criadas e edu­
cadas na lenda do sobrenatural, que, magnetizadas e sugestionadas,
desembarcam na costa da África de então, que não podemos com­
preender o que representaria no seu espírito, quando ainda hoje para
parte das nossas populações do interior é qualquer cousa de horrível, e,
montando a cavalo, um sorriso nos lábios, a lança no arção da sela,
êles aí vão, trotando sete léguas pelo Desconhecido, avançando para o
fim do Mundo, que lhes tinham ensinado que acabava ali adiante, onde
as nuvens do Céu tocavam a terra que pisavam. Encontram dezanove
negros, armados com zagaias, que ao vê-los se juntam em magote e
fogem para uns penedos; mas êles avançam, procuram-n’os e os negros
atacam-n’os com as zagaias, indo ferir um dêles num pé. Estão sózinhos
num mundo novo para êles, mas não se «medrontam e avançam até
tirarem vingança, e só então, já de noite, regressam ao seu navio, sem
dúvida guiados e accionados pelo espírito do Infante, que os alumiou
na escuridão do seu caminho, pois só de madrugada chegaram à praia
donde tinham partido 1

/1

(1) Azurara — Crónica da Guiné, cit. cap. x, pág. 62 fim.


Angola

*
* *

S e p e la s n a v e g a ç õ e s os planos do Infante se iam realizando com o


o s id e a r a , em b o ra com dificuldades que rem ovia, pelo lado político da
c o n q u is ta d o norte da Á frica, tinham falhado com o desastre de T ân ger,
q u e la n ç a r a o rein o no m aior desalento.
D . D u arte, com o espírito com pletam ente abatid o perante a enor­
m id a d e da catástrofe e, espicaçado de rem orsos p or ter cedid o às
su g e stõ e s do Infante D. H enrique, cham a-o a É v o ra para o ouvir sôbre
a s p rop ostas d o M ouro, para a entrega de Seuta em troca do irmão
p risio n eiro , e, quando esperava a desistência dos seus planos, que tôda
a n a çã o rep u d iava, êle responde-lhe, adm irado da sua hesitação, que
se d everia orgatfizar outra expedição para vin g a r o desastre daquela.
N ã o podendo com preender o assom bro que a sua resposta cau sava,
p ro cu ra justificá-la, insta para que a adoptem , explica com o poderia
ser le v a d a a efeito, — eram só m ais vinte e qu a tro m il hom ens , — m as de
’ P o rtu g a l só doze mil, e, vendo que o não atendem , recolhe-se à sua
T ê r ç a N a b a l-
A í, longe do m eio lutuoso da côrte, em lágrim as pelas notícias dos
sofrim entos do pobre Infante S anto, deita balan ço à sua obra, concentra
as suas id eas e, lá ao longe, êle vê o princípio da grandeza de Portugal
m arítim o e colonial, a . existência de pretos, que fatalm ente deviam
n ego ciar, terem produtos para vender e trocar. S abia já que para além
do B o ja d o r co n tin u ava a Á frica da mesma forma que era até ali, e que
era h a b ita d a Q u an d o ch egava o m om ento de poder assim p rovar a
tô d a a gen te que se não enganára nos seus planos, organizados com os
co n h ecim en to s que ad q u irira; quando, se continuasse para diante, pela
co sta fora, h a v ia de chegar à ligação com o N ilo e com a índia,
tra ze n d o p a ra P ortu gal tôdas as riquezas do O riente, a nação inteira
re p e lia -o , em ve z de secundar a sua idea, e até a gente de L a g o s o
e s c a r n e c ia !
M a s não d esan im a, nem desiste.
V a i fa la r co m os p escad ores e, ao passo que colhia notícias,
in sin u a v a -lh e s v ia g en s, e que fôssem à ca ça dos lobos m arinhos, que
d a v a m , além da pele, m uito bom azeite.
E m 1438 m orreu o irm ão D. D uarte e é feito regente o irm ão
D . P e d ro , de quem êle sa b ia que não teria o m enor auxílio para os seus
Parle 1 — Zaire e Congo 9
planos. Conhecedor da intriga que os fidalgos fomentavam entre a
Rainha viúva e o Regente, não procura desfazê-la, antes a incita. Na
primeira aberta de sossêgo, em 41, faz sair de Lagos ura navio, que
entregou a Antão Gonçalves, seu guarda roupa a homem assa{ de nova
«idade». Ia só para carregar coirama e azeite dos lôbos marinhos, mas
Antão Gonçalves era criado e educado desde criança por êle, era um
discípulo da sua escola e, carregado o navio, propôs á companha para
fazerem mais alguma cousa que lhe pudesse agradar, ao que êles anuiram,
respondendo-lhe «que aqueües que aquy somos, da criacom do lffanle
« nosso senhor, teemos desejo e voontade de o seruyr, ataa poer uosssas
«vidas na sorte do derradeiro perigoo » (\) e, assim resolveram ir caçar
cativos, o que conseguiram, trazendo ao Infante e para mostrarem
a todos os incrédulos, os primeiros pretos da tal África Tormentosa.
Os cativos que Antão Gonçalves trouxe, depois de estarem era
Lagos, propuseram-lhe que os tornasse a pôr na su« terra, que em
troca lhes dariam outros e em maior número. Antão Gonçalves levou
a proposta aoTnfante e, aceite por êste, partiu, trazendo em troca dos
dois gentios, dez outros e algum ouro em pó (2).
Estava estabelecido o resgate! Depois, Lançarote, « almoxarife de
« Lagos, juntamente com os juizes, e alcaide, e officiaaes da vereaçom
« daquella vüla », propõem ao Infante armarem as suas caravelas para
irem à caça do cativo e ao resgate «E se Deos trouxer o fe ito a fim de
« vitorya, poderemos fa^er, sobre a deslroyçom de nossos contrairos, presas
« de grande vallor, pellas quaaes de vosso quinto poderees receber grande
« proveito, doqual nós nom ficaremos sem parte »(3) com o que o Infante
concorda e, a 10 de Agosto de 1447, sai de Lagos a primeira grande
armada de 14 navios, que, com 12 de Lisboa, Porto e Madeira se des­
tinam ao comércio marítimo nas costas da África.
Ainda no mesmo ano, outros moradores de Lagos, habituados ao
resgate em terra de mouros, lembram-se de também explorar a pesca
nos mares que percorriam e que viam povoados de muito peixe e
propõem o «trauto » de pesca, concertados porém com o « Iffante em
« certa cantidade de dinheiro que lhe avyam de dar pollo direito que lhe hi
« sobreviesse », indo estabelecer as suas secas na Angra dos Ruivos (4).

(1) Crônica da Guiné, cit., cap. xii.


(ï ) Idem, cap. xvi.
3
( ) Idem, cit., cap. rix .
(4) Idem, cap. l r v .
a
D e p o is de 47, d iz-n os A zu ra ra , que os n egócios da G uiné se
« t r a u t a r o m m a is p o r tr a u to s e a v e en ça s d e m e rca d o ria s , q u e p e r fo r te lle \ a
« n e m t r a b a lh o d a s a r m a s » (1). C o n tu d o , A rguim , era o pon to da costa
p o r o n d e o b tín h a m o s n otícias do interior e por onde com eçám os o
e s ta b e le c im e n to d e re laçõ e s com os p o v o s d o S en egal e da G am bia,
E r a p r e c is o a sse g u ra r-n o s da sua p osse e, em 48, o Infante leva o
s o b r in h o D . A fo n so V a dar com êço à co n stru ção dum forte, que foi
a s sim a p rim e ira feitoria.
J á , e n tre ta n to , a M ad eira tinha sido dada a G o n ça lves Z a rc o e
T r is t a o V a z , co m o en cargo de a p ovo arem .

#
* *

D e sd e o « C e u ta » segred ad o aos o u vid o s do Infante D. H enrique,


p e lo M estre João A fon so, que se co n cebeu no seu cérebro, ta lv e z por
fô r ç a d a « in d in a ç o m d a s ro d a s c e lle stria ã e s » não só o p lan o de transferir
d e S e u ta para L isb o a o co m ércio da Á frica e da Á sia , m as algum a
c o u s a m ais sublim e, rev ela çã o d e D e u s , com o disse o C on d estável, que
n o s d a v a um a m issão, que n ão pod en d o ser cu m p rida dentro da pou ca
te rra d a pen ínsula, que tín ham os co n q u istad o palm o a palm o, e A lju-
b a r r o ta e V a lv e rd e nos co n so lid a ra, nos condu zia à descob erta dos
s e g re d o s d os m ares e à co n q u ista de terras, p ara a legitim a expan são
d a n o ssa n acion alid ad e.
D a su g e stã o d e S eu ta à feitoria de A rguim , vão cêrca de 3 5 anos,
e, d u ra n te esse cu rto períod o, o Infante D. H enrique criou novas bases
â c o s m o g r a fia ; in iciou os p rin cíp ios em que d everia ser estab elecid a a
a rte d e n a v e g a r ; revelo u ao m undo terras desconhecidas, alterando por
co m p le to a g e o g r a fia ; creou a sciên cia da co lon ização, baseando-a no
re sg a te , n os tra to s, nas a ven ça s, nas feito rias e nas d oações, que foram
a o rig e m de tô d a s as n o v as n ações que se form aram .
jjQ u e m ais p o d eria ter feito ?
« T a n ta e ra a co n tin u a ço m d e seu tr a b a lh o , e p e r ta m a sp era m a n eira ,
o q u e a s s y co m o o s p u e ta s fin g e r o m q u e A ta lla s , o g ig a n te , so stiin h a os
* c e e o s c o m o s o m b r o s , p e lla g r a n d e s a b e d o r y a q u e em e lle a v y a a cerca
• d o s m o v y m e n to s d o s co rp o s ce lle stria a e s, a s s y a s g e n te s d o nosso r e g n o

(1) Crónica da Guiné, cap. lrvi.


Parte 1— Zaire e Congo 11
« tra^yam em vocabullo , que os grandes trabalhos dvste príncipe , quebran-
« lavam as alteras dos montes » (i).

• •

O resto seguiu-se. Eram factos certos, ligados e inevitáveis.


Depois do falecimento do Infante D. Henrique, embora não houvesse
quem, com o êle, se dedicasse exclusivamente aos descobrimentos e à
colonização, o destino da nossa nacionalidade tinha ficado por tal
forma definido e assente, que a sua falta pessoal se não fez sentir. O
Infante desaparecera, mas não morrera; o proseguimento da sua obra,
era a nossa própria vida, era a vida duma nação.
A política de ambições das casas reinantes da Europa, em que
cada uma procurava ter o maior engrandecimento e predomínio, cha­
mava a atenção dos nossos monarcas, sem que contudo êles pudessem
pôr de parte, ou deixar de viver inteiramente integrados na adminis­
tração e prosseguimento das descobertas e conquistas.
Dentro dos princípios estabelecidos pelo Infante, D. Afonso V dá,
em 1464, a Soeiro Mendes, a Alcaidaria Mór do Castelo de Arguim
« casas e vil!as da dita ylha e resgate » (2) e em 57 concede a Fernão
Gomes para daí a um ano, poder enviar uma caravela de trinta toneladas
à « cidade D a Çafi E as villas e lugares daquella comarqua e costa » (3 )
com quantas e quaisquer mercadorias lhe aprouver. Esta licença foi
depois transformada em contrato de arrendamento de tôda a terra da
Guiné e seu resgate, de que se não conhecem os termos, mas que pelas
referências de outro posterior, 1473, de prorogação daquele por mais
um an o(4), se vê que estabelecia a condição de Fernão Gomes pagar
duzentos mil reaes brancos, que pelo contrato de prorrogação eram
elevados a trezentos mil (5 ), sendo obrigado a descobrir quinhentas
léguas da costa para o sul da serra Leoa.

(1) Crónica da Guiné, cap. rv.


(2) Arq. Nac. da Tôrre do Tombo. Livro 8." da Chancelaria de D. Afonso, fls. 88. Está
5
publicado por Albano da Silveira nos Anais Marítimos e Coloniais, ." série, 1845, n.“ 2, parte
5
não oficial pág. 41, nota ( ).
3 3
( ) Idem., liv. i fl. llv. Publicado no mesmo número dos Anais a pág. 45 nota (7).
(4) Arq. Nac. da Tôrre do Tombo. Liv. 33 da Chancelaria de D Afonso S.°, fl. 147 v. Está
5
publicado por Albano da Silveira nos Anais Marítimos e Coloniais, .* série, 1843, n° 2, parte
não oficial pág. 46 nota (8)..
5
( ) Oliveira Martins avaliava em 1891 esta renda em duzentos contos de então. Os filhos
de D. João I, nota ( t ) a pág. 257.
12 Angola
Em «4 7 *i quando o filho, o príncipe D. João, mais tarde rei, tinha
16 anos, fêz-lhe doação dos tratos da Guiné e pescarias dos seus mares
assim como da Mina e Arguim, doação só confirmada por carta de 4
de Mato de 1481 (t). Desde aquela data, portanto, que os assuntos dos
descobrim entos e conquistas passaram a ser tratados pelo princípe
D. João e D. Afonso V, que, com a tomada de Arzila, fechará 0 ciclo da
sua glória, completando o plano empreendido pelo Infante D. Henrique,
d a conquista das praças fortes do norte da África, passou 0 resto da
sua vida enrodilhado pela política de Castela e da França.
Q uando subiu ao poder, D. João II já de há muito era o rei, e, assim,
a parte das conquistas continuou como vinha sendo dirigida.
Fernão Gomes, o contratador da Guiné, enriquecera por tal forma,
a-pesar-da importante renda que pagava, que D. João II lhe não renovou
o contrato, que deveria ter terminado em 75, quando muito em 76, e,
aproveitando as*conquistas e descobertas executadas pelos capitães e
pilotos ao seu serviço, estabeleceu com dados seguros, o seu plano, que,
então, já não era o indeciso e incerto da Guiné, mas outro mais vasto
e com um fim determinado, a índia, que se sabia como se havia de
atingir.
A exploração da Guiné tratou de a assegurar, mandando, logo que
subiu ao poder, Diogo da Azambuja acabar o castelo de Arguim e
fundar o de S. Jorge da Mina, « le u a n d o em s u a com panhia n o v e c a r a -
« v e lla s co m o u tr o s ta n to s ca p ita eés , h o m ês m u y h o n r ra d o s , d e q u e 0 d ito
<« D i e g u o d ? A \ a m b u jd e ra ca p ita m m ò r, e a s s y le u o u d u a s h u rca s, naos
« d e q u a tr o c e n to s to n e e s ca d a hüa, com m u u a c a l e p e d r a r ia la u r a d a e
« a s a i o u tr a a r tilh a r ia p e r a se esta o b r a f a \ e r . . . e tem o s sa b id o q u e em
« to d a h a E th io p ia d a G u in e e , d e p o is d e se r d a d a cr tacam a o m u n d o , este
«f o i o p r im e ir o e d e jiç io q u e se n a q u e lla r e g ia m fe% » (2).
Com o complemento, deu comêço á colonização da ilha de S. To­
mé (3), já então descoberta, bem como o Princípe, Ano Bom e Equador,
parece que desde 1471-72, doando-a sucessivamente a João de Paiva,
Manuel Pereira e, por fim, a Álvaro Caminha, que foi quem lhe deu

(1) T ô rre do Tombo. Chancelaria de D. Afonso V. Liv. 26 fl. 102 v. Liv. 2.® dos Místicos
3
fl. i i e i , e liv. 1 dos Reis fl. 61 v. Está publicado por Albano da Silveira nos Anais Marítimos
e Coloniais no número já referido.
(2) Esmeraldo de Situ Orbis de Duarte Pacheco Pereira. Ed. da S. G. L., anotada por
Epifânio Dias.
3
( ) Duarte Pacheco Pereira no Esmeraldo diz que «pouorou com fundamento da nauegaçam
da Índia», pág. i . 5
Parte / — Zaire e Congo i3
maior desenvolvimento, e, organizada assim esta forte base, que ia dos
Açores à Madeira e Arguim, até á Mina e S. Tomé, com reconheci­
mentos até ao rio de Santa Catarina, resolveu continuur estes, prolon­
gando-os pela costa até encontrar a ponta sul do continente Africano
que, sabia bem pelas informações que já tinha da Etiópia Oriental,
havia de encontrar.
Nessa época, o que o Mundo era, já nós sabíamos, senão com
precisão, com suposições que muito pouco se afastaram da verdade.
Em 72-74 João Vaz Côrte Real e Álvaro Homem, tinham descoberto a
Terra Nova dos Bacalhaus, e a existência de terra — ilha ou ilhas, ou
continente, ao Ocidente, era para os nossos cosmógrafos uma probabi­
lidade que êles tinham quási como certeza.
Em 1482 (1) manda sair Diogo Cão para percorrer a costa da
África para o sul, dando-lhe padrões, para que deixasse assinalada a sua
passagem. »
Nesta sua primeira viagem, descobriu Diogo Cão o Rio Zaire, onde
colocou o primeiro dos padróes que D. João II lhe dera, e continuando
para o sul, foi colocar o segundo padrão no cabo a que chamou de
S. Agostinho, na Baía de Santa Maria.
Voltando numa segunda viagem, em princípios de 1485, foi até ao
Cabo Negro onde colocou o terceiro padrão e, depois de seguir ainda
um pouco mais para o sul, regressou a Portugal.
No ano imediato partia Bartolomeu Dias para descobrir o Cabo da
Boa Esperança, ao mesmo tempo que Pero da Covilhã e Afonso de
Paiva eram mandados por terra à índia.

*
• *

Cristóvão Colombo, um tecelão genovês que viera para Lisboa (2),


convivia muito com os nossos marinheiros e, pelas relações adquiridas,
foi para a Madeira. É provável que tivesse aí tido notícias, embora
pouco concretas, de terras que procurávamos ao ocidente, e, julgando-se
na posse do segredo de uma descoberta, com mais algumas informações

(1) Luciano Cordeiro — Descobertas e descobridores. — Diogo Cão. Lisboa, 189a.


(2) Recentemente publicou o Snr. Dr. Pestana Júnior um interessante trabalho sôbre
Cristóvão Colombo.
M
1
J itg p lã

que poude colher, foi-se oferecer a D. João H para descobrir o sonhado


Cypango.
A sua proposta, submetida a o s matemáticos e cosmógrafos, foi
regeitada, e então, despeitado, mas cheio de uma fé inquebrantável,
foi expôr as suas pretendidas descobertas e oferecer os seus serviços
aos reis de Castela, que os aceitaram alguns anos mais tarde, depois de
obtida a conquista do Reino de Granada.
Iniciada a viagem, chegou às Antilhas e ao regressar com a feliz
nova aos Reis de Espanha, estes logo se apressaram a obter do Pápa
Alexandre VI a bulia de 4 de Maio de 493, estabelecendo que para
cem léguas para oeste de um meridiano passado nos Açores, tôdas as
descobertas pertenceriam a Castela (1),
Supunham os reis de Castela que, dado o limite das cem léguas
para oeste dos Açores, nos ficava assegurada a navegação e descoberta
da índia, mas lè. João If, que tinha outros planos, e outros conheci­
mentos, sem os denunciar, não se conformou com essa divisão do
mundo e apresentou os seus protestos, pelo que foi negociado o tratado
de Tordesilhas, em 7 de Junho de 1494(2), pelos nossos embaixadores
Rui de Sousa e João de Sousa, sendo uma das nossas testemunhas
Duarte Pacheco Pereira, e pelo qual o limite das cem léguas foi elevado
a trezentas e setenta, garantindo-se assim D. João II, da posse dos
terras do ocidente.
O tratado de Tordesilhas consignava que uma missão, portuguêsa
e espanhola, de astrónomos e pilotos, iria estabelecer o limite das 3jo
léguas, mas, aproveitando a morte de D. João II, D. Manuel adiou a
sua execução, e tendo feito sair Vasco da Gama com as três naus para
a descoberta do caminho marítimo pela África para a índia, logo a
seguir manda Duarte Pacheco, em segredo, descobrir o ocidente, e êste
volta dizendo-lhe «he achada e navegada hua tão grande terra firme,
«com muitas e grandes ilhas adjacentes a ella» (3).
Assombrados com as opulências e riquezas que no seu regresso, os
marinheiros de Vasco da Gama nos contaram ter visto na índia e não
menos assombrados com a confirmação do que supúnhamos sôbre as
terras do ocidente, D. Manuel manda sair uma segunda esquadra cujo
comando confia a Pedro Alvares Cabral e, na qual vão como pilotos o

(1) 'Alguns documentos do Arquivo Nacional da Tórre do Tombo, pág. 67.


(2) Idem, pág. 69 a 80.
3
( ) Esmeraldo de Situ Orbis.
Parte I — Zaire e Congo 15

escol dos nossos navegadores. Dá-lhes como missão, que torna pú­
blica, o irem firmar as relações comerciais e políticas com os reis da
índia, mas ocultamente, hoje não o podemos duvidar(j), recomenda-lhes
que sigam pelo mar de longo, o que êles fazem e, sem terem feito agoada
em Cabo Verde, e sem que houvesse tempestades que os obrigasse a
desviarem-se da derrota que Vasco da Gama indicara, metem as prôas
a oeste e vão descobrir o Brasil, de que mandam a notícia para Lisboa
ao mesmo tempo que continuam a sua derrota para a Índia.
Nos anos seguintes continuamos os reconhecimentos da quarta parte
da terra e, duma dessas expedições, faz parte, num cargo subalterno,
Américo Vespucio. As nossas navegações para o Brasil, por ordem de
D. Manuel, constituíam segredo, com que Américo Vespucio se não
conformou e mandou contar para a Europa as descobertas, que, cheio
de vaidade, a si próprio atribuía. Resultou dêste facto não só o ter-se
mais tarde dado o seu nome às terras descobertas, como tornar-se
desde logo conhecida a navegação, o que a pirataria aproveitou, indo
para o Atlântico ocidental esperar as nossas naus que vinham da índia
carregadas das mais ricas mercadorias.
Com o fim de as defendermos, organizamos esquadras que faziam
cruzeiro nas costas do Brasil, ocasionando uma considerável despêsa.
Não era o bastante e era necessário evitar que os piratas ocupassem
qualquer porto da costa para base das suas operações, e, D. João III,
tratou então, de promover o povoamento do litoral, doando porções
do território que constituiu em capitanias, com o direito de os donatários
as explorarem e a obrigação de as povoarem, para o que publicou
disposições facilitando êsse povoamento.
As riquezas da índia eram arrancadas à custa de guerras e cada
nau que regressava, representava muito sangue derramado e muita
vida perdida. Nem todos se afoitavam a essa aventura. Moçambique
e Angola, além de ficarem longe, o seu clima mortífero, como o da
Guiné, nãõ convidava à fixação do colono, e, assim, auxiliada pelas
medidas de D. João III, fàcilmente se encaminhou a emigração portu­
guesa para o Brasil.
Essa colonização, desde o seu início, nunca teve por fim a pilhágem
\
e o roubo, como nunca tiveram essas características, as colonizações
que fizemos, da Madeira, Açores, Cabo Verde e S. Tomé. Era a natural

(i) Memórias da Comissão Portuguêsa da Exposição Colombina — Memória de Baldaque


da Silva sôbre o descobrimento do Brasil por Pedro Alvares Cabral. — Acad. das Sciências, 1892.
í6 Angola
•expansão de urna raça que se sentia apertada na estreita faxa do
ocidente da peníasula e que, saindo do reino e lixando-se em qualquer
ponto, m antinha a continuidade da nacionalidade, com os mesmos
defeitos e as mesmas virtudes.
O s índios não nos recebiam bem. Nada nos parece mais ocioso do
que discutir o processo estructural dessa colonização que assumia o aspecto
de uma invasão à mão armada, porquanto na história do mundo o homem
t nunca poude aplicar à sua evolução outro processo, que não o da lei
! biológica da selecção pela luta, prolongado até aos nossos tempos... (i).
t A ssim nos lançám os na luta para obter a colaboração do seu trabalho
na exploração da terra e só pela escravidão o conseguíam os. A sua
constituição física não era de molde a dar-nos todo o esfôrço que
precisavam os. Melhores eram os indígenas da Guiné e do C ongo que
? os nossos feitores estabelecidos nas Antilhas im portavam , exportados
i de S . Tom é, levando comtudo a marca da origem G, e, Duarte C oelho,
| um dos donatários, tratou de arranjar quem lhos fornecesse (2).
j O extraordinário desenvolvimento que o Brasil tomou logo no seu
1 início, obrigou os outros donatários a seguirem o mesmo processo de
lan gariam en to de mão de obra e, o Congo, e, sucessivam ente, o resto
|de Angola, passaram a ter como principal utilidade e rendim ento, a
ven d a de escravos, não só para a florescente colonia que tínhamos em
tão pouco tempo criado na Am érica do Sul, com o para tôdas as outras
que as outras naçóes criaram .

(1) Introdução à História da Colonisação Portuguesa do Brasil, pelo Dr. António Baião

4
(2) História da Colonisação Portuguesa do Brasil — Os primeiros donatários, pelo Dr Pe-
ro Azevedo, vol, m, fase. vm, pág. 193.
II
O R E C O N H E C IM E N T O D O ZAIRE

D iogo C ão, na sua primeira viagem em 1482, depois de ter colocado


n a ponta da margem esquerda do Zaire um dos padrões que recebeu
de D. João II, entrou pelo rio acima um pequeno espaço e, m uito em bora
com dificuldade entendesse a linguagem que o gentio falava e m ais
por acenos que por a com preender, concluiu que tinham para o interior
um rei ou chefe e vendo o modo da gente e segurança com que o espera­
vam, ordenou de enviar com alguns dêles certos dos nossos, com um
presente ao rei da terra e bem assim aos indígenas que os acom panha­
v a m , com promessas que dai a tantos dias seria sua tornada (1).
E m q u a n to esp erava o regresso dos em issários, resolveu D io go C ã o
fazer o reconhecim ento do rio, p ara o que não d eixaria de le v a r re c o ­
m en d a çõ e s de D . João11 (2), que, não conhecendo ainda a lig a çã o com
o O rie n te pelo c a b o da B o a E sp era n ça, procu rava qualquer rio n a v e ­
g á v e l p o r on d e pu d esse ter com u n icação com o P re s te João, com o
an te s o tin h a te n ta d o p elos rios d a Guiné.
Diogo Cão era navegador experimentado e conhecia como nenhum
os segredos da navegação, mas o enorme estuário do Zaire e a impe­
tuosidade da sua corrente, que se fazia sentir mais de vinte léguas
pelo mar fora, como êle nunca tinha visto em rio algum, deveria
causar-lhe o maior assombro. Para onde iam? A navegação tinha
dificuldades, não só pela fôrça da corrente, mas ainda pelas calm arias,
e podem os bem calculá-las, desde que os nossos hábeis mestres dos

3 3
(1) Da Asia de João de Barros, Dec. 1.*, liv, .°, cap. .°. È paia notai que os cronistas
modernos dizem que Diogo Cão mandou ao rei do Congo quatio dos seus homens, mas nem
Barros, nem Garcia de Resende: «por certos christãos*, nem Rui de Pina: apor mensageiros
christãos» fixam tal número.
(2) Rui de Pina: «O qual Capitam de indústria, e ordenação d'El-Rei».
3
Io Angola
caíques de hoje, raros sc a tre v e m a ir a té Boma e nenhum v v
Noqui at

Mas seguiram rio acima o. à medula que avan çavam por entre ^
num erosas ilhas, que a curiosidade os levaria a reconhecer, devem
ler
com eçado a sentir algumas milhas antes de V ivi um su ssu ro(i) de
n ão poderiam supor a causa c qnc lhes deixaria uma profunda
im­
pressão. Mas foram sempre avançando com a mats extraordingrjg
e assombrosa coragem, com aquele desprendim ento da vida q^
só os nossos possuíam e, então, perante o enorme turbilhão de ág^g
que corre apertada entre os rochedos e se despenha em sucessiVas’
quedas, tiveram de reconhecer a im possibilidade de continuarem
navegar.
Impotentes, a sua sciência e êles, e sem recursos perante a fôrÇg
indomável da natureza, quiseram deixar m arcada aquela terra para 0
seu rei e, não Tevando padrões, foram ao alto de uns rochedos qlle
surgiam entre os cachões e nêles gravaram para lodo o sempre, por
amor do seu rei, que consubstanciava a idea da sua Pátria, a cruz qUe
os guiava, tendo à direita o escudo das quinas, sem os castelos e, a
esquerda, a inscrição:'

A Q U I CH EG A RA M OS NA
V IO S DO E SC LA R E C ID O

REI DOM JO Ã O O SE
G .° DE P O R T U G A L . D .° C A A O ( 2 )
P .° A N N E S . P .° D A C O S T A

Fora dês te grupo, encontram-se gravados os nomes de: Alvaro


Peres e Pedro Escobar e, mais adiante, os de João Santiago; -{- (morto)
da doença; Gonçalo (ou João) Alvares;- ) - (mortos) Diogo Ribeiro(?);

(1) «It is a series of vehement, rushing, tumultuous, and vexed waters precipitated with
remarkable force and energy, and seemingly eager to escape out of their constricted and deep
mountain prison. While working, even eight miles away, a whiff of wind from .he southward
would bring the sound of Yelala Falls startlingly clear. The Congo and the founding of its
free state by H . Stanley . — London, 1885 , vol. i, pág. 2o3.
(2) aDiogo Cão, e não Diogo Cam, é que ele próprio íiz inscrever nos padrões e é como
dizem os documentos». .
«Cam é uma variante tôla de preconceito genealógico».
Luciano Cordeiro. Descobertas e descobridore$9 Diogo Cão . *BoI. da S. G. L.», 11.* série,
n.° 2, pág. 155 .
./

P jr te / — Zaire e Congo *9

Gonçalo (?) A lvares , A n tão, parecendo lerem $ido feilos por pessoa >
*
diferentes (i).
E, durante quatro séculos, parece que, respeitando a polmca de
segredo e a vontade dominadora do homem que foi o Homem da sua
época e o maior da nossa história, ninguém viu ou smibe ler a fhfcrtçfo
dos rochedos de Yelala!

Os emissários que Diogo Cão mandou foram muito bem recebidos


e o rei demorou-os com festas, mais que o tempo que Diogo Cão
previra, pelo que êste, receando que tivessem ficados prisioneiros e
aproveitando a confiança com que os indígenas vinham a bordo do
seu navio, resolveu apanhar quatro dêles e partir para Lisboa, prome­
tendo-lhes que dentro de quinze luas estaria de volta. •
O rei do Congo, quando o soube, mostrou aos portugueses que Diogo
Cão lá deixou o seu descontentamento, e, muito embora os cronistas
da época não lhes tivessem feito a mais leve referência, nem ao menos
registando os seus nomes, parece certo que não exerceu sôbre êles
quaisquer represálias.
Chegados os indígenas a Lisboa, D. João li tratou de mandar
colher dêles tôdas as informações, e devia ter visto confirmadas as

(i) Portugal. Dicionário histórico, bibliográfico, etc., por Esteves Pereira e Guilherme
Rodrigues. — Lisboa, 1906, vol. ir, B C., pãg. 720. Cao (Diogo). .i i
Revista O Occidente, 28.0 ano, n * 944, de 20 de Março de 1905, pág. 62,2.* col., com quatro
gravuras.
Atendendo a que são hoje raros muitos dos números da revista O Occiãcnte, e à conve­
niência de se retinirem, tanto quanto possível, os elementos de estudo que se encontram
dispersos, reproduzem-se as gravuras de O Occidente.
Como delas se vê, no corpo principal da inscrição, estio, além do nome de Diogo C ão.
apenas cs de Pedro Anes e Pedro da Costa, devendo concluir-se que os restantes não foram
gravados na mesma ocasião, porquanto um piloto da categoria de Pedro de Escobar tinha
direito a que o seu nome ficasse junto do Mestre e éle não deixaria de ocupar um dos princi­
pais cargos na expedição.
Parece, assim, que, nesta viagem, Diogo Cão foi acompanhado por Pedro Anes e Pedro da
Costa e que, em outras viagens, Álvaro Peres, Pedro de Escobar e os outros teriam ali man­
dado gravar os seus nomes.
O autor do artigo da revista O Occidente diz que esta inscrição data da segunda viagem de
1 ^
Diogo Cão, em 1484. Sendo assim, é de estranhar que Martim de Boémia, que o acompanhou
nessa segunda viagem, não tivesse também mandado gravar o seu nome e, no seu Globo, não
fizesse referência às quedas do Yelala, nem ao facto de ter chegado até àquele ponto, aventura
que não seria tao corrente que não merecesse ser citada.
Também o autor do artigo de O Ocidente, diz que a inscrição foi destruída. É falso, existe,
e o Govêrno do Congo Belga dispensa os possíveis cuidados para a sua conservação.

t y
20 Angola
suposições da cp oca, do grande lago do interior da Á frica , de onde
nasciam o N ilo e outro rio grande, que sou be en tão ser o Z a ire , bem
com » veiu ao conhecim ento da marcha m igratória dos co n g u eses, do
interior sobre a costa. Mais uma \cz o Preste J o ã o se ihe d eve ler
apresentado como uma realidade e, o Z a ire, co m o um n o v o cam inho
para se conseguir a ligação com os estados d aq u ele p rín cip e .
A os pretos, a par de lhes proporcion ar tô d as as d iv e rsõ e s e bem
estar, procurou fázer-ihes sentir o valor da nossa c iv iliz a ç ã o , das nossas
riquezas e o poder de que dispúnhamos, de form a, n ã o só a deslum ­
brá-los, como a criar néles a necessidade d as nossas re la ç õ e s. E , assim ,
com preendendo bem o efeito futuro do cum prim ento da p ro m essa do
regresso, dentro do prazo m arcado por D io g o C ã o , trato u de a p re s s a r
a segunda viagem deste nosso ousado n aveg ad o r.
A repatriação e o tratam ento dispensado aos in d ígen as p rod u ziram
o efeito previsto*por D. João II. D iogo C ã o «fo i festejado mais como
conhecido e amigo que como estranho» e, por tal form a o rei do C o n g o
ficou reconhecido á maneira com o procedem os p a ra co m os seu s, e
deslumbrado com o que êstes lhe co n taram , que p ed iu a D io g o C ão
para trazer a Portugal os seus em baixadores e, com eles, a lgu n s outros
indígenas para serem educados.
Foram êstes confiados aos padres dos Loios, em cu jo con ven to
estiveram mais de dois anos, até que «já desmentido a opinião de brutos
e se encontrando capaçes do Bautismo», e então se p ro c e d e u a essa
cerimónia sendo, D. João II e a Rainha D. Leonor o s p a d rin h o s do
mais importante deles, o « Caçuta» (Nsaku), que p assou a ch am ar-se
D. João(i), e dos outros, os m ais ilustres fidalgos d a c o rte , de quem
tom aram os nomes.
R ealizado o baptism o, tratou D. João II de reen viar os p re to s para o
C o n g o ,'p a ra o que mandou preparar uma arm ada de três n a v io s , cuja
capitania-m or confiou a G onçalo de Sousa, fid a lg o da su a c a s a e o
com ando dos outros navios a Fernão de A v e la r e A fo n so de M ou ra,
levando com o pilotos Pero de Alem quer e P ero E s c o b a r (2).

1
(1) João de Barros, Dec. i.*, . ni, cap. m, diz que se ficou chamando D. João da Silva, e
no cap. ix chama-lhe D, João de Sousa. Rui de Pina e Garcia de Resende chamam-lhe D. Joáo
da Silva.
(2) Barros, Dec. cit. No recente trabalho do sr. Quirino da Fonseca Os Portugueses no
mar vem mencionada a pág. 187 uma relação das embarcações saídas de Portugal nos anos de
1498 e 1489, da qual consta que as caravelas capitaneadas por Afonso de Moura e Fernão de
Avelar levavam cada uma 64 pessoas.
Parie 1— Zaire e Congo 2 1
Para a evangelização do gentio do Congo foram pedidos padres
a uma das três ordens: S. Francisco (i), S. Domingos ou S. João
Evangelista (Loios), afirmando o cronista de S. Domingos (2) que
«foi por Prelado, e primeiro Vigairo da Cristandade de Congo, o
«Padre Fr. João de Sancta Maria», o que é confirmado por João de
Barros (3), e afirmando igualmente o cronista dos Loios que a sua ordem
forneceu cinco dos seus padres, tendo por superior Fr. João de
Santa Maria, «religioso de grandes letras, e virtudes, e calificado talento »,
sendo os restantes: Fr. João de Portalegre, Fr. António de Lisboa,
Fr. Rodrigo de Deus, e Fr. Vicente dos Anjos, a quem chamavam
« Manicongo », pelo fervor com que empreendeu a jornada e se houve
nela (4).
Saiu a armada de Lisboa, a 17 de Dezembro de 1490, levando, com
os frades, operários de diversos ofícios, agricultores e os pretos e, além
de vários presentes para 0 rei e rainha do Congo, todcfc os paramentos,
imagens, etc., necessários para 0 serviço religioso. Na ocasião da saída
havia peste em Lisboa e, durante a viagem, alguns casos se manifesta­
ram, falecendo, quando chegavam a Cabo Verde, Gonçalo de Sousa e
o preto D. João de Sousa, além de outros.
O falecimento de Gonçalo de Sousa deu lugar a questões sôbre a
sucessão, questões que foram resolvidas por Fernão de Góis, capitão
da ilha de S. Tiago, sendo eleito capitão-mor Rui de Sousa, sobrinho
de Gonçalo de Sousa e que o acompanhava como simples particular (5 ),
depois do que seguiram viagem para 0 Zaire, onde fundearam a 29 de
Março de 1491.
Desembarcaram nas terras do soba Manisonho, tio do rei do
Congo, que os recebeu com as maiores demonstrações de alegria,
pedindo logo para ser baptisado. A 3 de Abril, dia de Páscoa, cele­
brou-se nas terras de Manisonho a primeira missa e cerimónia de
baptismo, recebendo o soba o nome de Manuel e seu filho mais novo
o de António.
Poucos dias depois, os nossos iniciaram a marcha para a Embala1

(1) Rui de Pioa e Garcia de Resende, nas crónicas que escreveram de D. João II.
3
(2) História de S. Domingos de Fr. Luís Cacegas, reformada por Fr. Luís de Sousa, ." ed.,
a.* parte, vol. ui, pág. 454.
3
( ) Barros, na Dec. citada, chama-lhe apenas Fr. João.
(4) O céu aberto na terra, pelo padre Francisco de Santa Maria, Liv. t.°, cap. svni.
5
( ) Barros, Dec. cit.
Angola
Uo r u ( i) , em A i B an ou Mbâji{2), que, por corrupção, diziam Embasse
e a que mais tarde chamámos S. Salvador.
« f a n t o que el-Rei foi avizado que o Embaixador, e Vigário cami-
« nhavão, despachou dous capitães, que os fossem receber, hum traz
« o u tr o , a meio caminho, e quando chegarão à Cidade de Ambasse, em
«que tem sua Corte, e residência, foi cousa de ver o numero infinito de
« povo, que se juntou a recebcl-os: parecia estar todo o Reino junto, e
« afíirma-sé que erão mais de cem mil homens. Sahirão postos em
«arm as a seu modo, partidos em três bandos, ou esquadrões: tocando
«infinitos instrumentos, que a não serem barbaramente dezentoados,
« arremedavão na ordem que irazião très procissões de muito concerto:
«porque marchavão a dous por fileira: e ao estrondo confuso dos ins­
tru m en to s, ajuntavão vozes em louvor do Reino, e gente de Portugal,
«começando huns, e seguindo outros: e despois respondendo todos em
«alarida, que ferfci no Ceo; Como chegarão aos nossos, tomarão-nos em
« meio, e fizeraÕ volta pera casa d’el-Rei; continuando as mesmas
« vozes e festas. Eistava el-Rei em hum estrado alto, em cadeira de
«marfim, a cabeça cuberta com hum modo de Mitra feita de folha de
«palma de obra meuda, e não desengraçada; nú da cinta pera cima,
«da cinta até aos pés cuberto com hum pano de algodão no braço
«esquerdo atochada huma manilha de latão; do hombro pendurado
«hum cabo de cavalo branco: e de muita seda, peça, e louçainha, que
« naquellas partes só aos Reis pertence; como em Europa coroa de ouro.
« N’esta postura esperou o Embaixador, e Vigairo, e recebendo-os com
«honras, e gasalhados desacostumados, ouviu alegremente a proposta,
«e recados gerais da embaixada: e logo apoz elles quiz, que à vista, e(i)

(i) Barras depois de descrever o desembarque no pôrto do Sonho, no Pinda ou em S.t0 An-
tonio, e a scena do baptismo do Manisonho, diz que Rui de Sousa tinha mandado aviso ao rei
dp .Congo, da sua chegada, e escreve: Vindo o recado delRey pera irem a elle,leixou Rui de
Sousa a gente necessária pera guarda dos nauios & cõ a outra se parlio pera a cidade onde
eVe estaua: indo em sua companhia hum capitão do príncipe D. Manuel (refere-se ao Manisonho,
que assim se ficou chamando depois do baptismo) com dujentos homems de sua guarda & outros
queseruiam de leuar à cabeça toda a fardagem, etc.
f 2) M Bari-á-ucanu, em Iingua do Congo, cfr. Luciano Cordeiro e Capelo e Ivens. Mbaji a
ekongo, Ravenstein, The slrange advenlures o f Andrew Batlell, London mdcccci, The Hakluy1
Society.
Existe na Biblioteca Nacional, Reservados, Mss. 8080, uma cópia, talvez do século xvm>
das primeiras 43 fls. de uma História do Reino do Congo, que deve ter sido escrita em fins do
século xvi, princípios do xvu (depois do governo de João Furtado de Mendonça), por um padre
que foi cura no Sundi, no Congo, e esteve também em Angola. No capítulo 19 «Em que se
conta a entrada que fè ç o capitão Rui de Sousa, na cidade de Congo«, escreveu o autor: »Che­
gados Rui de Sousa e os mais chrislãos a Pangala, que he como arrabalde da cidade«, etc.
-» -í,-...

P arle 1— Z aire e Congo 23


«olhos de toda aquella multidão lhe fosse mostrado o prezente, que
«el-Rei Dom João lhe mandava. Vinha o prezente ã conta dos Frades;
«forão elles por suas mãos dezencaixando, mostrando e entregando
« tudo. Erão muitos vestidos de sedas, e panos ricos, vários de cores
«e feitios: painéis de boa pintura: baixela de ouro, è prata, c todo o
« apparato necessário pera ornamento da Igreja e Altares, e oflicio Divino.
«Hia el-Rei notando cada peça per si; e tocando com as mãos as de
« que se agradava e perguntava meudamente de que serviço erão. Foi
«ultima cousa huma Cruz de prata fermosíssima por grandeza, e por
« feitio, lavrada em Roma, e benta solemnemente pelo Papa Innocencio
« Oitavo, e mandada de prezente a el-Rei Dom João. Chegou-se o
« Vigairo à caixa, tirou-a por sua mão, e levantando-a direita, prostra-
« rão-se por terra os Religiosos, e todos os Portuguezes, venerando com
« reverencia o sinal de nossa salvação. Inclinou-se el-Rei juntamente, e
« o mesmo se vio em todo aquelle povo sem numero, com tanta humii-
« dade e respeito, que o adoravão com as mãos levantadas, e não sem
«lagrimas dos Portuguezes, que as derramavão de alegria por verem tal
«effeito n’aquella gentilidade(i).
*
* *

Duravam ainda as festas da recepção e da entrega dos presentes,


quando o rei do Congo teve a notícia de « que os povos M undequetes,
q u e habilão certas ilhas que estão em hum grande lago donde sae o rio
Z a ir e , que corre p or este reyno de Congo , erão rebellados, & fa \iã o muito
dam no em as terras a elles comarcãas, a q compria acodir elR ey em
p>essoa»(2). Não desejava seguir sem ser baptisado, mas não havia
i§rejaj Pel° que pediu aos padres para efectuarem a cerimónia na sua12

(1) História de S . Domingos, cit.


(2) Barros, Dec. /.* da Ásia, liv. ui, cap. ix. Mundequetes é corrupção de Anziqueti, como
se verifica em Duarte Lopes na descrição do Congo, que Pigafetia publicou, e em Duarte Pa­
checo Pereira, no Esmeraldo de Situ Orbis, ed. cit., pág. 134: « item. Adiante d’esta terra de
Conguo á parte do nordeste he sabida outra prouinçia, a que chamam Anjica e ko senhor há
nome aguora em nossos dias Emcuquaan^ico. Estes sam negros como os de Conguo e sam fe r ­
rados na testa ou fronte em rroda, maneira de caracol; e as mais das vejes teem guerra com
Manicongo, .. etc.».— Garcia de Resende, Cr. de D. João II, cit. escreveu: . . .seus vassalos que
lhe desobedeciam em umas ilhas situadas no rio do Padrão». — O autor da História do Reino do
Congo, referida, no capítulo 22, escreveu: «acabado isto se partio el-Rey para a guerra, a qual
posto que Garcia de Resende, e Pedro de Marij digão nos seus Diálogos, que fo i fa^er a algu­
mas Ilhas do Zaire, cujos estavão rebellados, não foi se não contra Zemga e Mafmga, como eu o
ouvi difer a Moxicongos velhos, que o ouvirão a seus Pais, e estes aos seus, porque posto que não

.s ' .
24 Angola
habitação, ao que êles anuiram, aproveitando a ocasião para iniciarem
a construção da primeira igreja(i), o que tudo teve lugar no dia 3 de
Vtaio de 1491, recebendo o rei o nome de D. João e baptisando-se com
éle outros sobas importantes que o acompanhariam na guerra.
Na embala faltavam alguns materiais para a construção da igreja,
mas o rei do Congo, tão empenhado estava nela, que pôs milhares de
carregadores a transportarem pedra e madeira e, por tal forma corre­
ram os trabalhos, que os nossos operários a 1 de Julho de 1491 a tinham
concluída.
O clima do Congo começou a fazer-se sentir nos nossos. Padre
João faleceu, e os outros padres estavam também doentes. O baptismo
da rainha tinha ficado combinado para o regresso do rei, mas era tal
o seu fervor, que com receio de que durante esse tempo os padres
podessem falecer, pediu para ser baptisada antes da partida dq rei, ao
que todos anuíram, realizando-se a cerimónia e recebendo o nome de
Leonor.
Seguiu, então, o rei para a guerra, sendo acompanhado por alguns
dos nossos e, como êle e parte dos seus já eram cristãos, Rui de Sousa
confiou-lhe um estandarté com uma cruz que D. João II lhe mandara
e que tinha sido oferecido pelo Papa Inocêncio VIII para a Santa
Cruzada.
O rei subjugou os rebeldes, que, dizem os cronistas, exagerando,
eram mais de oitocentos mil e regressou satisfeito, atribuindo a v i t ó r i a
ao auxílio de Deus, depois do que «tornando à cidade espedio-se R u i
de Sousa pera este reyno, leixandolhe pera a conuersão dos pouos f r e y
«Antonio, que era a segunda pessoa depois de fr e y João , e outros quatro
«fr a d e s : & assi algüs homerns leigos p era os acompanharem, & outros pera
«entrarem o sertão da terra com algüs naturaes, como e lR e y dom João
ffmandaua p era descobrir 0 interior d ’aquelle grão reyno, & passarem
ff alem do grão lago que dissemos » (2).

tem Historia por escripto sabem as que bastão de todos os reis passados, porque ainda que no
Zaire estejão duas Ilhas povoadas chamadas Ango-biba de cima, e Ango-biba de baixo, nunca os
senhores delias forão sujeitos, nem aos reis do Congo, nem aos reis Ansiecos. ..
(1) Hence this, the oldest church o f S . Salvador, became known as E g reja da Vera C n i-
e tc ... Ravenstein, cit. nota (4) a pig. tog. Também o autor anónimo da História do Reino do
Congo, referida, dedica um capítulo a este assunto. Anexos doc. n.° I.
(2) Barros. Dec. cit., e Garcia de Resende. Crônica de D . João II, cap. clxi .
Parte I — Zaire e Congo z5

A coragem e o valor mostrados pelos nossos nesta missão ao Congo,


não mereceram referências Iaudatórias dos cronistas.
A recepção feita era Lisboa ao Caçuta, não teve comparação com a
dispensada, poucos anos antes, a Bemohim, rei dos Jalofos, e, coratudo,
não pode restar dúvida de que D. João II, ao tomar conhecimento por
Diogo Cão e pelos negros que este trouxe, da origem dos congueses e do
que êles relatavam do interior da África, mediu bem o valor das novas
relações que adquiria. Ou porque, na realidade, pensasse na penetração,
da África, subindo o Zaire, ou porque quizesse fingir que o pensava,
para assim mostrar que de nenhum resultado prálicg tinham sido as
viagens dos seus colaboradores Diogo Cão e Bartolomeu Dias, que lhe
deram a chave da índia, o certo é que a justificação de tantos anos
de demora no Zaire, a guardou êle para si.
Para os cronistas que mais tarde relataram os nossos feitos mas
não estudaram a história dos Descobrimentos, a Guiné inferior, em que
incluíram o Congo, não foi para êles senão uma ètape do descobrimento
do caminho marítimo para a índia e, atingido êste fim, tão grandioso
êle foi, por tal forma os deslumbrou, que a nossa vida de três quartos
de século, gasta com uma persistência e um valor nunca igualados, ao
serviço duma idea e na execução dum plano, foi por êles esquecida,
para só se desvanecerem perante as riquezas que pela barra do Tejo
entravam em Lisboa, conquistadas ainda pelo valor da nossa raça,
mas agora excitado pela avidez da fortuna.
Para Seuta, para Tânger, para Alcácer, para Arzila e para a índia,
iam as naus e as caravelas artilhadas, transportando aguerridas tropas
de desembarque, que os nossos fidalgos comandavam, procurando dis­
tinguirem-se pelos seus feitos, a fim-de merecerem ser armados cava­
leiros ou obterem maior participação nas presas. Para a Guiné, que
nos deu o ouro com que mandámos fazer e artilhámos as naus da índia;
que nos deu o resgate, pelo qual nos foi possível mandar para o Brasil
os pretos com que trabalhámos as suas minas e as suas terras; para
essa e para os feitos heróicos que lá praticámos, o silêncio, só quebrado
por Azurara na parte que êle ainda conheceu.
A armada de Rui de Sousa era de três navios, mas não transpor­
tavam soldados para conquistas, e êle, ao partir, já sabia que os não
4
20 Angola

ia encher de ouro, sedas e especiarias. Levava os obreiros, padres


operários, duma civilização que fomos implantar, e cujo fruto se n“ C
colheria logo. a°
Os pretos que tinham sido educados nos Loios já nos tinham de§
crilo a pobreza da terra e os seus usos e costumes, (i) pelo que já <je
ante~mão se sabia que o rei não receberia os nossos de cabaia de
demasco, turbante guarnecido de ouro e pedrarias e recostado em
camilha
<t ...............................que se não iguala
De outra alguma no preço e no lavor».

Em vez de coroa real ou turbante de panos de ouro, o rei do Congo


tinha a cabeça coberta com hum m odo d e m itra feita de fôlha de pal­
meira, que não podendo ser rica, era apenas engraçada; em vez de
cabaia de sêda «fulgurante, «os vestidos da cinta p a ra cim a, erão os
« couros da sua carne m ui pretos & luzidos, & per b a ix o se cobria com um
de ostentação de luxo,
«pano de dam asco que lhe dera D io g o Cão-»; e,
apenas a cadeira de dentes de marfim com pés de madeira lavrada,
obra tôsca, talvez de algum daqueles dos nossos que por lá tinha ficado,
ignorado merceneiro e, nas horas vagas, mestre de cerimónias, que
não pequeno trabalho deve ter tido em o convencer ao uso da cadeira,
em vez de nos receber de cócoras.
■ Se a parte da sua missão que poderia ter sido espetaculosa, foi
assim revestida da maior modéstia, se não mesmo pob reza; se os seus
navios não nos trouxeram logo ouro; se não tiveram para serem
recebidos, de pelejar com os negros, nem por isso deixaram de m ostrar
aquele valor tantas vezes provado.
A recepção por mais de cem mil pretos, no seu batuque de guerra,
deve ter causado no espírito dos nossos, uma destas sensações que não
__ i---- --------
(i) Garcia de Resende na Miscelânea descrevia-os assim:

E começo em Guiné Tem elefantes pasmosos


e Manicongo, por ter cobras de grande grandura,
costume de se comer lagartos mui espantosos,
uns a outros, como é gatos d'Algalia cheirosos,
mui notório se fazer; arvores de grande altura,
compram homens como gados, arroz, inhames, palmeiras,
escolhidos, bem creados, gatos de muitas maneiras
e matam-os regateiras, e papagaios de sortes,
e cozidos em caldeiras cavallos marinhos fortes,
os comem, também assados. que andam fora das ribeiras
mais se apagam e, c necessário que fôsse muito grande o valor e pres­
tígio da nossa raça; que cada um daqueles dos nossos que lá estavam
o sentisse por st próprio, como fôrça nascida de si, para que, perante
uma multidão de negros, ágeis e possantes, armados, aos saltos, com
esgares de símios, dando grilos selvagens «que feria o Ceo», não
passasse pelo seu espírito a mais leve sombra de fraqueza e, nem a
suspeita de que aquele bom acolhimento poderia encobrir uma cilada
dos negros, que fàcilmente teriam abafado o punhada dos nossos,
cansados duma marcha a pé, do Pinda a S. Salvador, debaixo do
ardente sol de Abril do Congo e na maioria, já apalpados pelo clima.
Na scena da entrega do presente de D. João If, com explicações
demoradas sôbre o uso dc cada peça, quando por fim Fr. João, o
vigário, doente, em vesperas dc falecer (i), com o corpo escaldando
em febre e que estava ali, porque a alma o mantinha, toma nas suas
mãos aquela cruz de prata lavrada e, místico e sublim#, cheio de unção,
a levanta vagarosa e solene acima dos milhares de cabeças, os nossos
ajoelharam, recordando numa lágrima de terna saudade a pátria tão
distante, e o rei preto e a multidão dos seus, instintivamente ajoelham
também, dominados e subjugados por uma fôrça sobrenatural que dos
nossos vinha, sem que êlcs vissem ou percebessem como, porque era a
íntima ligação do prestígio e valor da nossa raça com a cruz, que nos
guiou por essas conquistas e descobrimentos, desde o Bojador ao Zaire.

*
* *

Não se conhece o regimento que D. João II deve ter dado a Gonçalo


de Sousa, nem o que os frades também devem ter levado, como Garcia
de Rezende nos diz: « E da maneira que se havia de ter com fazerem o
«rei christão, e os do seu reino, teve sobre isso conselho, e do que se deter-
«minou com theologos levaram os frades mui clara instrucção » (2).
D. João II não os foi buscar aos conventos, só com o fim da pre­
gação do Evangelho: «as memórias da nossa Ordem , di{em, que el-R ei
« escolheo n’ella sujeitos, que alem das sagradas letras, erão entendidos
« nas Mathematicas, pera que nas horas, que lhes vagassem da prégação,

(1) Fr. João faleceu dois dias depois.


(a) Garcia de Resende, Crónica de D. João 11, Rui de Pina, Crónica de D. João II, Inéditos
5
da História Portuguesa, n vol., pág. 1 1, que acrescenta «que foi aos ditos Frades entregue».
28 A n gola

*fossem inquirindo alguma noticia da índia polo sertão d’aquella,s


« vindas, e do grande rei do Abexim, que o vulgo chamava
« João » . . . ( i) . reste
A confirmar esta informação, também Barros nos diz (2) que .
Sousa, além dos frades e leigos, deixou outros, para que procurasse *
internar-se pelo sertão com alguns naturais, como D. João II determi
nara, para descobrirem 0 interior e passarem além do grande Lag0 y
assim se justifica que tendo em vista, não só estes descobrimentos, mas
ainda outros e, princtpalmente o estudo da navegabilidade do Zaire,
mandasse como pilotos, nos navios da armada de Rui de Sousa, os
dois grandes navegadores portugueses, glória da nossa marinha, Pedro
de Alenquer e Pedro de Escobar, o que não faria se a armada se
destinasse apenas a cumprimentar o rei do Congo e conduzir gente
nossa para ali residir e negociar, facto corrente e que não demandava
a pericia daquela dois mestres.
T ão claramente era este um dos objectivos de Rui de Sousa, que
vemo-lo, ao saber da revolta dos An\icos, informar-se da situação destes,
em relação a Embasse, onde estava, e ao porto em que desembarcara,
e, diligentemente oferecer, ao rei do Congo os seus serviços e os da sua
gente, combinando um ataque do rei do Congo, com os seus indígenas
e alguns portugueses, aos Angicos, por terra, ao passo que êle os iria
atacar, com o resto dos nossos, nos seus navios, pelo Zaire, que subiria.
A idea seduziu o preto, que a aceitou, e Rui de Sousa «se despediu d'elle
« e fo i dar ordem ao porto com os navios e gentes d'elles o v i e s s e m sei vir
« como vieram » (3).

(1) História de S. Domingos, cit., vol. ui, 2.J parte, livro vi, cap. vi.
(2) Barros, referência anterior.
3( ) Garcia de Resende, Crónica de D. João II, cit.
O sr. Quirino da Fonseca, no seu recente trabalho Os Portugueses no mar, escreve a
3
pág. i i : Entrando no Rio Zaire, foram os nossos amigavelmente recebidos pelo negro potentado
dessas regiões do litoral, mas pretendiam êles, sobretudo, avistar-se com o poderoso soberano
indígena do vasto Reino do Congo, e que residia no sertão. Eis pois, os navios de Rui de Sousa,
subindo todo o curso navegavel mas dificultoso do Rio, até junto das cataratas de Yelala,
distando bem go milhas da fo\ e ali fundeiam para estacionar; depois, os marinheiros portugue­
ses, tornados exploradores sertanejos, marcham durante 23 dias, por terra virgem de caminhantes
5
europeus, internando-se cerca de o léguas, até alcançarem o local onde habitava o magnifico
Rei do Congo.
Como se vê das transcrições feitas de Barros e Resende, esta versão não tem fundamento
Rui de Sousa fundeou os seus navios no Pinda e, deixando apenas a gente necessária para a
sua guarda, foi com a restante e acompanhado de Manisonho e da gente deste, até Embasse
donde, depois de combinar o ataque aos Anpcos, voltou ao porto para dar ordem aos navios é
gente deles, para irem servir o rei do Congo. Esta ordem aos navios c gente dèles não podia
Parte I — Zaire e Congo *9

Dizem os cronistas que os Angicos habitavam umas ilhas do Zaire,


não as mencionando. Pelo grande número dêles que tomaram parte
na rebelião, vê-se que não podiam habitar só as ilhas e deveríam
também estender-se pela margem direita do Zaire para o interior (t) e,
assim, Rui de Sousa, a pretexto de os castigar, foi subindo o rio e
batendo tôda a margem por éles ocupada, procurando talvez um outro
braço do Zaire sem o obstáculo do Yelala, obstáculo invencível e que,
ainda assim mais tarde, depois de um reconhecimento do rio, procurá­
mos remover, como veremos, pela única maneira que é possível ainda
hoje, pondo um outro barco além das cataratas, para continuar a
viagem.
Se a viagem dos navios de Diogo Cão em 1482 subindo o Zaire, a
par de nos patentear 0 profundo conhecimento que os nossos pilotos
tinham da sciência da navegação, nos causa a maior das admirações,
não menos nos assombra a intrepidez e 0 valor de Ruí*de Sousa e dos
seus companheiros, na continuação do mesmo reconhecimento no meio 4
,

de gentio rebelde que nos atacava.


Rui de Sousa colheu dos Anzicos informações detlhadas sôbre o i _■
que era o rio para além das cataratas, a sua extensão e origem no ]t /
9
Grande Lago, os habitantes dêste e os seus costumes, depois do que, ..-j
desembarcando e mandando as caravelas regressarem ao pôrto, acom­
panhou por terra o rei do Congo, com os seus guerreiros vitoriosos, até
Ambasse, onde, combinando com Fr. António e Fr. Rodrigo o plano a *
seguir, para o completo reconhecimento do interior, se despediu do rei, f ' / ’■ ■
regressando a Portugal em 1492.

■*
# *
is
1

Na ocasião em que foram baptisados 0 rei e outros fidalgos do


Congo, foi também baptisado Mbemba a N{inga, o filho mais velho do
rei, herdeiro do trono e donatário do Sundi, a província mais oriental
do reino, tomando 0 nome de Afonso. Um outro irmão, o imediato,

ser senão para subirem o rio, como devem ter subido, batendo os Anjicos, mas não se conclui
daqui que chegassem ao Yelala e ali estacionassem. O facto de entre os nomes gravados se i
encontrar o de Pedro Escobar, piloto de Rui de Sousa, também nos não obriga a concluir que
K- os navios dêste lá estivessem, porque teria também mandado gravar o seu nome, o dos capitães
%
S-- •dos navios e o do outro piloto, Pedro de Alenquer.
(1) Pigafeta.
,)0 Angola

Pattsa Aquitino(i)j não quis ser cristão, como também não quiser
ser baptisados alguns outros pretos importantes, muito embora ^
pequeno número, mas o suficiente para, chefiados por êle, constituirá
o núdeo de resistência e, no futuro, de revolta, contra a acção eva!^
gelizadora dos frades.
Além deste esbôço de resistência, um outro, e bem mais importante
se apresentava. O rei preto tinha, conforme o costume, várias mulheres
e só uma foi baptisada e reconhecida como rainha, o que provocou
o natural ciúme e inveja de parte das outras, que, passadas as festas e
recolhido o rei da guerra a que tinha ido, começaram intrigando e
excitando a resistência dos não-cristãos à supremacia que iam tomando
a rainha Leonor e o filho Afonso.
Por outro lado o rei, a-pesar-das exortações dos frades, não se
conformava com o ter de viver só com uma preta. Tantas vezes caiu
em pecado e, tantas os frades o obrigaram a penitências para o
absolverem, que êle, velho relapso e sem emenda, se começou a afastar
do convívio dos padres e a implicar com o filho Afonso.
Ou porque o gentio da província do Sundi, se revoltasse, ou
porque o pai o expulsasse, D. Afonso foi para lá viver, sendo acompa­
nhado por dois frades, Fr. António e Fr. Rodrigo, que assim conseguiam
dois dos fins da sua missão: não deixarem ò herdeiro do reino fora da
sua constante acção e reconhecerem o interior, como lhe fôra determi­
nado por D. João II.
Com a ausência do herdeiro D. Afonso redobraram as intrigas, a
ponto de convencerem o pai que êle, apesar-de distante, voava de noite
e vinha dormir com uma das suas pretas. O velho rei, furioso com a
ofensa do filho, resolveu usar dum feitiço para descobrir a verdade e,
tendo-se convencido de que a acusação era falsa, mandou-o vir a
Ambasse e reconciliou-se com êle.
Regressou D. Afonso ao Sundi e, animado pelas boas relações em
que ficara com o pai, começou a perseguir os seus súbditos que tivessem
ídolos em casa e não acatassem a religião cristã. Novas queixas e
intrigas contra êle, mas desta vez o pai resolveu matá-lo, bem como a
outro preto D. Gonçalo, seu adepto, e mandou-os vir à sua presença
ao que êles não obedeceram, passando a viverem a monte.
Entretanto o pai adoece, fazendo prever que breve faleceria e a
preta rainha I). Leonor, que sempre se manteve boa cristã e ajudando

(i) Mpanzu a kxtima.


Parte I— Zaire e Congo 3t
o filho, a visav a-o para que estivesse preparado p ara, dum momento
p a ra o outro, aparecer em Am basse e tom ar conta do reino, pelo que
êle se aproxim ou um pouco mais, e recebida a noticia do falecim ento do
p a i, introduziu-se de noite na embala, com alguns dos seus hom ens
d isfarçad os em carregadores, conduzindo quindas à cab eça dizendo
serem m antim entos para a rainha. E n con traram to do s indispostos
co n tra êles «e nos nam tynhamos outra ajuda senam noso senhor e o
« Rodrygue anues e amtonio ffernamdes » (t).
O irm ão P a n sa A qu itin o estav a fora d a e m b a la , e ao receber de
m a n h ã a n otícia , resolveu atacá-lo com a p o u c a gente qu e tinha
c o n s ig o ; m as os de D . Afonso «alli bradámos por nosso Senhor Jesu
« Christo e começamos a pelejar com os nossos contrários, e dizendo os
« nossos X X X V I homens, inspirados da graça e ajuda de Deos, já fogem,
« ja fogem, os nossos contrários se poçeram em desbarato, e fo i por elles
« testemunhado que viram no ar huma Critç branca e 8 bemavenlurado
« Apostolo Sant’ lago com muitos de cavallo armados e vestidos de vestiduras
« brancas pellejar, a matar nelles e foi tam grande o desbarato, e mortan-
« dade, que foi cousa de grande maravilha » (2).
Assim conseguiu D. Afonso do Congo apoderar-se do seu trono
e, como se vê, se tinha bem arreigada a fé cristã, os frades não se
lim itaram a ensinar-lhe o catecismo e deram-lhe também as primeiras
luzes duma educação, que, para a época e para preto, era alguma
cousa de valor, ensinando-lhe história de Portugal, cujos conhecimentos
êle aproveitou, fazendo reeditar alguns factos na do seu reinado.

(t) História do Congo, do V isconde de Paiva Manso. C a n a de D. Afonso rei do Congo a


e l-re i D. Manuel, 5 de O utubro, i 5 14, p ig . >3 , doc. xu.
(2) História do Congo, cit., pàg. 6. D oc. ix.
A OCUPAÇÃO DO CONGO

Desde o regresso a Porlugal da armada de Rui de Sousa, ate o


preto D. Afonso tomar conta do reino, devem ter decorrido cerca de
quinze anos(i) e nada nos ficou escrito sôbre o que fizeram os nossos
no Congo durante êsse espaço de tempo.
Dos poucos documentos que se encontram e das referências dalguns
dos cronistas, conclui-se que com Rui de Sousa devem ter vindo
em 1491 mais pretos do Congo para serem educados em Portugal e,
nessa ocasião, ou pouco depois, o preto D. Pedro, que mais tarde
desempenhou um papel de destaque nas nossas relações com aquele
reino.
Depois de Dezembro de 1493, êste D. Pedro deve ter voltado ao
Congo, com outros pretos, em companhia de João Soares, levando de
presente ao rei, pelo menos roupa para vestir (2) e para êle D. Pedro e
para a mulher, que, pelo que parece, o acompanhou, mandou D. João II
dar-lhes: para êle capa, pelote e calças de « londres R oxo ou pano da
sua valia » e, para ela, « huum sainho faldritha e mantilha do dito pano »
vestimenta que não destribuiu a mais nenhum dos outros, o que nos
mostra que tinha 0 D. Pedro em consideração especial.
Não deveria ter sido só esta viagem de João Soares a que fizemos

(1) Nenhum cronista da época nos indica a data certa, mas pela carta que D. Afonso es­
creveu a D. Manuel descrevendo vários sucessos do seu reinado, pode deduzir-se que foi em fins
55 56
de i o , princípios de i o . Lopes de Lima numa memória sôbre o Gongo, que publicou nos
5
Anais Marítimos e Coloniais, diz que o velho Manicongo faleceu em 1 og e o filho D. Afonso
58
lhe sucedeu nessa data. Esta informação é errada, porque em i o , quando foram para o Congo
os frades dos Lóios, já 0 D. Afonso era rei, pelo menos havia dois anos. Capelo e Ivens
D e Angola à Contra Costa e outros escritores que do Congo se têm ocupado, cometeram o
mesmo êrro.
(2) História do Congo de Paiva Manso, cit. a pág. 2 8 4 . Doc. números m-rv-v e vi.
34 A n g o la

ao Congo, d e p o is de 1490 ; o u tr a s se devem te r s e g u id o


D . J o ã o II n ã o d e ix a r ia d e m a n te r c o m ê le s c o n s ta n t e co n ta cto * , f 0lS
te r a s in fo r m a ç õ e s q u e d e s e ja v a e q u e g u a r d o u s o b o m a io r se g re d o *
r e s e r v a , a p o n to de n em um d o c u m m e n to te r fic a d o q u e n o s d ê a m enor
in d ic a ç ã o s ô b r e 0 q u e d e v e ter sid o de lu ta s , d e h e r o ís m o s e d e d e d i.
c a ç õ e s , a v i d a d o s n o sso s q u e p a r a o C o n g o fo r a m .
A lé m d a n a v e g a ç ã o d o Z a ir e , as s u a s m a r g e n s e to d o 0 in te rio r do
C o n g o , (1) fo ra m c o n h e c id o s e e x p lo r a d o s p e lo s n o s s o s . C o n h e c ía m o s
a s s u a s d iv is õ e s a d m in is tra tiv a s e os p o v o s q u e o h a b it a v a m , e fai
a in d a c o m a a ju d a d o s n o sso s, q u e o rei d o C o n g o in c lu iu n o seu
r e in o o s pan\elungos e o s angicos.

S e do C o n g o n ão nos fica ra m n o tíc ia s , ta m b é m a s q u e te m o s de


S . T o m é , cuja v id a e s ta v a in tim am en te lig a d a à d o C o n g o , se lim itam
a o re g isto d as re g a lia s aos seu s p o v o a d o r e s , p r e v ilé g io s p a r a o r e s g a te e
d o a ç õ e s , q u e, p elo p o u c o tem p o qn e os d o n a tá r io s as u su fru ía m , se
c o n c lu i n ã o terem tir a d o n ela s g ra n d e p r o v e ito (2).
Só com Álvaro Caminha, tendo já estabelecido relações com 0
Congo e depois de se terem aproveitado os filhos, rapazes e r a p a r i g a s ,
de alguns judeus expulsos de Castela, é que S. Tom é entra em desen­
volvimento, mas ainda, para isso, se concederam novas regalias aos
colonos, a par de mais largas prorogativas de jurisdicção a Álvaro
Caminha (3).
Uma dessas regalias, a dos moradores poderem ir com navios seus
ao resgate, deu lugar, certamente, a que fossem mais freqüentemente
ao Zaire, donde trouxeram escravos, já cristãos e, onde os carrega-

(x) Os vestígios da nossa estada no Sunde estão constatados no relatório da viagem ao


Zombo pelo saudoso padre António Barroso, publicado no Boi. da S . G . L 6." série, n.® 8.
(2) Arquivo Nacional da T ô rre do Tom bo. L ivro das Ilhas: regalias, 24 set.® 1485, fl. ICK}t
previlegios, 16 dez.® 1485, fl. 109 v , ; doação a João de Paiva, 11 jan.® 1486, fl. u g v . ; a Mecia
de Paiva, 14 Março *486, fl. u i v . ; a João Pereira, 4 fev.® 1490, fl. toi ; a Á lvaro Caminha, 29
julho 1493, fl. 104.
3( ) Idem, idem. Seguro aos degredados, 2 nov. 493, fl. 20 v . ; doação da alcaidaria mór
a Aivaro Caminha, 20 nov. 493, fl. «07 v.; mais prorogativas de jurisdição cível e crime, e liber­
dade aos moradores para poderem ir com navios resgatar, 21 nov. 493, fl. 106; mais proroga­
tivas de jurisdição, 8 dez. 493, fl. 106; licença para os moradores resgatarem pimenta e o preço
5
p o r que lhes seria dada, ti dez. 493, fl. jo v.
Parte I — Zaire e Congo 35
mentos eram mais fáceis e a mercadoria mais barata, tanto mais que
não havia feitor que vigiasse o negócio (i).
Os capitães dos navios que faziam o negócio da Mina e de S. Tome,
passaram a ir negociar, por conta própria ou fretados pelos moradores
desta ilha e da de S. Tiago de Cabo Verde, ao Pinda, não princi-
palmentc em escravos, porque poucos, de começo, se obtinham, mas em
marfim, algum cobre c panos de palma (2), em troca de generos para
alimentação dos poucos europeus, então ali estabelecidos, e bebidas
alcoólicas, tapeçarias, contaria de vidro, vidraria, louça de barro preto
azulado, bacias de cobre, cutelaria, panos de fustão e linho e conchas
pequenas, brancas, que corriam como dinheiro e eram apanhadas em
Cabo Verde e na Guiné, muito embora pela lei dc 24 de Julho de
1480(3) constituísse o seu negócio previlégio de D. João II.
Quando D. João 11 faleceu, em 1495, era êsle o estado de relações
entre o Congo e S. Tomé e, por sua morte, tendei D. Manuel logo
começado a executar o plano que encontrou estudado, do descobrimento
do caminho marítimo para a índia, não poude dedicar a sua atenção
aos negócios da África, mas as duas colónias intensificaram, mais ainda,
as suas relações.
Em 1499 faleceu Álvaro Caminha e em 1 5oo S. Tomé foi doada a
Fernão de Melo. O seu desenvolvimento, à custa do Congo, foi tal
e tão rápido, que em 1504 eram arrematados por João da Fonseca
e António Carneiro (4) as rendas dos seus quartos e vintenas e di{imos
da terra pela importância anual de trezentos mil reaes (5) com a obri­
gação para os arrematantes, de darem mais catorze mil reaes para o
bispo (6).

$3
(1) Lopes de Lima, numa notícia sobre o Descobrimento eposse do Reino do Congo, etc.,
5 3
que publicou nos Anais Marítimos ô Coloniais, .®série, iSqi, n.° . Parte não oficial pág. diz
que em seguida à missão de 1490, D. João II mandou estabelecer uma fortaleza, com seu feitor
e alcaide e gente de ordenança na foz do Zaire (pág. 96). Não se encontra documento algum
que confirme esta informação.
(2) Esmeraldo de Siíu Orbis « ... de pello como veludo, e ddles com lauores como çatim
velutado. . . ; e em toda ha outra Guinee nam ha terra em que saybam fa%er estes panos senan
neste Reyno de C on g tto ..» Estes panos correram, mais tarde, como moeda de Angola,
3
( ) Arquivo Nacional da T orre do Tombo. Livro n dos Reis, fl. 18S v.
(4) António Carneiro era secretário de Estado e obteve a doação da Ilha do Príncipe.
João da Fonseca seria, possivelmente, seu sócio e administrador em África; Arquivo Nacional
5 5 3
da Torre do Tombo, gav. i , maço i , doc. i e maço 14, doc. 43. Vide Anexos doc. n.°“_2 e . 3
5
( ) Atribuindo ao rea! branco o valor actual de esc. #72 (6). Lúcio de Azevedo, Épocas
de Portugal Econômicoy Apêndice, nota E, pág. 483, aquela renda corresponde a esc. 2v?.$oo%>oo.
(6) Muito embora ainda não houvesse bispo em S, Tom é, o auto de arrematação consigna
a obrigação do pagamento daquela importância para êsse fim. Cunha Matos na Geografia
.36 Angola
Esta intensificação de vida comercial não resultava sòmentc
acção dos capitães dos navios e em proveito dêstes e dos moradores
S. Tomé. Alguns mercadores nossos estariam estabelecidos no Zair^
com relações no interior, de forma a poderem arranjar o carregamentQ
dos navios e, embora não haja documentos que se refiram a êste facto
podemos, com segurança, deduzi-lo do desenvolvimento que tomou
sucessivamente, a evangelização dos indígenas (i), pois a ocupaç§0
religiosa não se faria sem a ocupação comercial, além de que comer­
ciantes eram, na sua quási totalidade, os próprios frades e padres.

*
• *

O cronista da ordem de S. João Evangelista (S. Eíoi) conta-nos


que em 15o8 foPmandada para Manicongo uma grande missão de treze
clérigos: fr. João de Santa Maria, fr. Rodrigo de Deus e fr. Vicente
de Manicongo q u e j á lá tinham estado e mais, fr. Aleixo de Vizeu;
fr. Luís de S. Miguel; fr. João de S. Estevão; fr. Simão de Montemór;
fr. João de S. Vicente o Moço; fr. António de Cristo; fr. Pedro dos
Santos; fr. Fernando de S. João; fr. Sebastião do Salvador e fr. An­
tónio de S. Jerónimo, etc. (2) o que, em parte, é confirmado por Damiao
de Góis, quando nos diz que D. Manuel, em i 5o8, no fim do ano>
« m andou João de Santa M a ria , da ordem do A postolo e E v o n g ^ ls^a
S . João, que se chamam dos a\ues, com do{e padres da m esm a ordem ao
reino do M anicongo » ( 3 ).
Cada um dos cronistas das três ordens religiosas procura revindicar
para a sua ordem, a glória de ter fornecido os primeiros missionários
para o Congo e, também, cada um deles afirma, ter ido por vigário
Fr. João, que assim ficou pertencendo às três ordens.
Embora o Padre Francisco de Santa Maria (4) fundando-se no facto
de terem estado a educar no seu convento (Lóios) os pretos vindos do
Congo com Diogo Cão, queira concluir que deveriam ser da sua ordem

54
Histórica das ilhas de S. Tomé, etc. diz: «Em / o já se achava erigida uma freguesia nesta
ilha com o titulo de Nossa Senhora da Graça, a que também chamavam de Ave-Maria e tinha
um vigário pago pela fazenda real».
(1) Damião de Góis, Crónica de D. Manuel p.» i.» cap. 76, diz que em 1504 D. Manuel man­
dou para o Congo homens letrados na Sacra Teologia e com eles mestres de lêr e escrever etc
(2) O Céu aberto na terra, já citado. ’
3
( ) Damião de Góis, Crónica de D. Manuel, 2.* parte, cap. xxx,
(4) O Céu aberto na terra, já referido.
Parte I — Zaire e Congo ò7
os padres que depois acompanharam êsses pretos em 1490, 0 certo é
que tudo nos Índica não ter sido a ordem dos Lóios quem forneceu os
padres dessa primeira missão, mas ames, talvez, a de S. Domingos,
conforme Barros e o cronista da ordem, Fr. Luís de Sousa, nos deixaram
indicado (1).
A segunda missão de i 5 o 8 , só o cronista dos Lóios a revindica
para os seus, mas como já tinha dado por vigário da primeira o fr. João,
comum das três, viu-se na necessidade de declarar que era a segunda
vê2 que êle ia ao Congo, quando o que parece certo, é que o fr. João
da primeira missão faleceu pouco depois de lá chegar, segundo nos
deixou escrito João de Barros, o mais autorisado dos nossos cronistas,
não podendo, portanto, ter feito parte da segunda.
O preto D. Afonso que mais tarde foi rei do Congo, recebeu
dos frades da missão de 1490 uma educação regular, tendo, pelo
menos por dois, Rodrigues Annes e António Fernaitdes, grande es­
tima e veneração, e não se pode admitir que na carta narrando a
D. Manuel vários sucessos do seu reinado(2), ao referir-se a fr. João
de Santa Maria, se este fôsse 0 mesmo da primeira missão, não mos­
trasse conhece-lo já de tempos anteriores, tanto mais que o procedimento
dêste clérigo, em i 5 o 8 , em comparação com o que se lhe atribui em
1491, deixa muito a desejar.
Nessa mesma carta, ao referir-se à chegada da missão de i 5 o8 ,
escreve: « e em tam dãly a pouco tempo chegaram os padres de Santa
« loya, que nos sua Allte\a mandam •>. Se tivesse sido educado pelos
frades de S. Elói, não é crível, dada a educação recebida, que
ignorasse o nome e o sexo do santo da invocação do convento dos
seus mestres. Assentemos, pois, como o mais verosímil, que os padres
da primeira missão deviam ser da ordem de S. Domingos e os da segunda
da ordem de S. João Evangelista (Lóios).
Um outro ponto em que os cronistas não concordam, é no destino
que tiveram os frades das diversas missões, inclinando-se a que deram
a vida em sacrifício da propagação da Fé.
Garcia de Resende e fr. Luís de Sousa, dizem-nos que os da missão
de 1490 faleceram todos no Congo. Fr. Francisco de Santa Maria
diz-nos que faleceram fr. João de Portalegre e fr. António de Lisboa,

3
(1) Ravenstein, ob. cit., pág. 108 nota ( ) inclina-se para a informação de Garcia de Resende
de que eram da ordem de S. Francisco.
(2) História do Congo, cit. doc. xn, já referido.
40 Angola
vantagens que para Portugal adviriam duma política de atrac -
resolveu enviar para o Congo, em 15 3
1 , Simão da Silveira, dand^0*
um regim ento (i) onde o seu plano está claramente exposto/ ° ^
Depois das instruções comuns a todos os regim entos sôbre as ree
que deveriam ser observadas pelos diversos navios da armada, quan^
a navegação, mantimentos, etc., entra em detalhes sôbre o desembarq^
e a marcha para o local onde o rei estiver, recomendando se faça
melhor ordem, não consentindo aos nossos tratarem mal a gente ^
terra, para nos receberem com prazer.
Em seguida, passa às audiências, estabelecendo a sua ordem e 0s
assuntos a tratar: a entrega de cartas(2) e as encomendas e saudaçõeSi
explicando ao rei do Congo que só assim costuma proceder par^
com príncipes cristãos, pois a infiéis não manda saudar. Depoi^
no dia seguinte, faria a entrega dos presentes, dizendo-lhe que os
enviava de mufco bom grado, por êle D. Afonso 0 merecer, corno
rei dum país onde se deu início à evangelização, para a qual êle
D. Manuel, trabalhava, principalmente, com navegações pelo mar, não
só até ao Congo, mas muito mais longe, e, que, a propósito, lhe falasse
nas cousas da índia, e das gemtes e armadas que nella trafeemos, e de
todo o que se la f a \ .
Manifestasse a satisfação que teve com a vinda a Portugal do primo
D. Pedro e em receber as suas cartas, descrevendo a vitória alcançada
sôbre os seus inimigos e o milagre que Deus lhe fêz na batalha que
com êles travou, esperando que em reconhecimento dos favores divinos,
continui trabalhando pelo desenvolvimento da fé cristã. Querendo
comemorar êsse facto, lhe enviava a carta de armas, e lhe explicasse
a sua significação e uso.
Lhe dissesse, que tendo o primo D. Pedro manifestado quanto êle
D. Afonso desejava lhe enviasse alguém para organizar os serviços
de justiça e cousas de guerra, como estavam estabelecidos em Por­
tugal, o enviava a êle Simão da Silveira para êsse fim, com um
letrado para o ajudar, levando o livro das ordenações, com tôdas as
indicações sôbre o modo de julgar e apreciar as causas, tanto crimes,

(1) Arquivo Nacional da T ôrre do Tombo. — Leis. Maço 2, n.° 25. Apesar-de publicado
em «Alguns documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo acerca das navegações e
conquistas dos portugueses, pág. 279 a 289. Entendemos conveniente repetir a sua publicação,
5
por ser já hoje rara aquela obra. Anexos doc. .
(2) N ão-se encontra na T ôrre do Tom bo. Damião de Góis publicou-a na Crónica de
5
D . Manuel, e o Visconde de Paiva Manso transcreveu-a na História do Congo, pág. , doc. vnt.
■J

Parte 1 — Zaire t Congo 4*

com o eiveis, e se o rei D. Afonso quiser estar presente no julgamento


dos feitos da sua gente, êle Sitnão da Silveira que o acompanhe e guie,
m as que « quando a nota geente, o que a ella tocâr, ficara a nos jn
* soljdo; e o que direito vos parecer, darês a eixecuçam, segundo forma
« do poder e alçada nosa que levaaes ».
S e a gente da terra tiver como rigorosas as nossas leis e penas,
com bine com o rei as modificações a fazer, de forma que «jsto se deve •j
« agora neste começo fa\er, de maneira que nem recebam escandollo, e se
« meta em uso o mais docemente que se poder fa\er ».
Indica-lhe, seguidamente, que lhe explique o uso do sinete e selo
de arm as nas cartas de previlégios e sentenças; que lhe dê conta dos
oficiais m ecânicos que leva para ensinarem os diversos ofícios*, que lhe
mostre um caderno com os diversos cargos do reino, para, se o rei
quiser, os estabelecer no Gongo e bem assim o serviço de mesa, para
êle se acostum ar; que lhe apresente as bandeiras que $nvia, indicando
quem as conduz e a sua ordem e procedência; e, finaimente, «depois de
estardes aseemtado », que comece a construção de uma igreja ou mos­
teiro de pedra e cal e de uma casa assobradada para residência do
rei.
D á-lhe, depois, instruções quanto ao pessoal que leva, recomen­
dando-lhes que vivam em paz e use para com êles de todo o rigor da
lei, castigando-os, para não haver razão de queixa da gente da terra.
Q uanto aos clérigos, devem viver recolhidos juntamente e, confia
que êles se portarão bem, devendo comtudo visitá-los amiudadas vezes,
e se algum der maus exemplos, organize o respectivo auto de culpas e
o m ande para o reino.
« Vos mandamos que todos os frades e clérigos que a vosa chegada la
« estiverem, e asy todas outras pesoas, os mandês yijr nestes navios que
« levaes, e notn fiquem, soomente os que agora vaão comvosquo__re-
« salvando, porem, aqueles que achardes que bem vivem...» não consen­
tindo àqueies que vierem, tragam escravos nos navios que manda,
podendo-os trazer noutros que lá estejam, pagando os respectivos
direitos.
Recom endando-lhe, ainda, com respeito à gente que fica, não lhes
consinta explorarem o rei com pedidos de dinheiro, etc., e, não
deixe o rei dar-lhes mais que os seus ordenados, entra depois em
m atéria respeitante a êle próprio, D. Manuel, a carga, que o rei lhe
hà-de dar, para o regresso dos navios.
D iz-lhe para mostrar ao rei as despesas que fêz afim-de mandar ao
6
42 Angola
Congo os navios, e com o presente, clérigos e mais centP *
está fazendo com a manutenção e ensino do filho e assim - e
justo regressem os navios vazios. Posto que o seu principal fi^ 0 >é
servir Deus, ele, Simão da Silveira, lembre ao rei o que nisto de^
fazer, dando-lhe escravos, marfim e cobre, mas que o faça como c o ^
sua, « como d e voso , ssem lhe dizerdes cousa a lguha de nosa part^
trabalhando, « o mais onestamente que vos p o d e r d e s » e de forma qy
daqueles 'artigos os navios venham carregados «o mais abastadamente
que ele poder ».
Depois seguem-se as informações a colher com respeito à terra, ng0
só na parte comercial, como na parte geográfica, reinos visinhos 6
reconhecimento do Zaire, sendo possível, e até ao « laguo que dv{
« estaa comarquão com o reyno de M anicongo, s a b e r : quamanho he, e
« he povoado , e de que gentes , e se ha nelle navyos, e quamto he da terra
« d e M a n icon g cf e comtra que parte, etc.», determinação que não deve
passar sem reparo, pois mostra que, na época em que o regimento foj
dado, já nós tínhamos notícias do interior da África, e outras não
podiam ser senão as primitivamente colhidas por Rui de Sousa, quando
auxiliou o rei do Congo D. João na guerra contra os Angicos confirmadas
pelas viagens daqueles humildes e ignorados pioneiros, que D. ij
com o fim de que se internassem pelo sertão com alguns naturais, lg
mandou ficar, encarregando os clérigos, que além das sagradas letras,
eram entendidos nas matemáticas, de nas horas vagas da pregação o$
dirigirem para se terem notícias do interior.
Recom endando-lhe ainda com .respeito a política, que nas cousas
de p az e de guerra encaminhe o rei, de forma a estabelecer uma orga­
nização idêntica á de Portugal, « e no que tocar a g u erra , nos meterês
« com a g e n te nosa , q u e levaes, na qu elles feitos d e que vos parecer que
« seg u ra m en te p o d ê s sa y r, e sem risquo da g em te », termina por tratar
da em baixada a m andar pelo rei D. Afonso ao Papa, com a sua obe­
diência e profissão de fé católica, para o que indica o próprio D. Pedro,
(que m andara com o Sim ão da Silveira) acom panhado de doze fidalgos,
correndo as despesas por conta dele, D. M anuel; que com a embaixada
irá o filho D, H enrique, que está muito bem ensinado, e sabe latim
para fazer a oração de obediênciu ao Papa, esperando obter nessa
ocasião a sua nom eação para bispo do Congo.
N ão se esquece D. M anuel de se referir à viagem de Gonçalo
Rodrigues, pedindo para o rei do C ongo contar tudo quanto se passou,
e finalisa juntando a nota de todos os cargos do reino.
!<*
t

Parte I — Zaire e Congo +?

* •

Este documento, sob qualquer aspecto que se encare, é extraor­


dináriamente interessante.
Não se trata de uma ocupação ou conquista. Simão da Silveira
não era capitão mór, nem feitor; era apenas um assistente ou residente,
na côrte do Congo. Em todo o regimento, não há a menor referência a
um castelo, a uma fortaleza. Manda-se construir a igreja e a casa para
o rei, mas não se fala em casa para Simão da Silveira ou para os
funcionários que o acompanhavam. Recomenda-se a Simão da Silveira,
que lhe assista constantemente, que o guie, e que o dirija; que lhe
organise a côrte como a da Europa, criando os fidalgos e os grandes
dignatários; que lhe administre o reino, conforme as Ordenações; inclu­
sivamente, que lhe ensine a comer e a estar à mesa, mas que tudo se
faça sem escandalo e se meta em uso o mais docemente que se poder
fazer. Que lhe ensine a arte da guerra e lhe organize as campanhas, mas
que só se meta naquelas em que veja que não há o menor riscopara os
nossos.
Esta orientação tem tanto mais valor, porque sai fóra dos moldes
da época.
Em S. Tomé, onde não havia indígenas naturais a combater e
dominar, tinha D. Manuel criado em 1499, para Fernão de Melo, uma
alcaidaria mór(i).
No Congo, com um território vasto e uma população indígena
numerosa e aguerrida, 0 pequeno grupo de portugueses que la tínhamos,
percorria-o todo e por todos os lados, sem pensarem na necessidade de
um castelo onde se concentrassem para a sua defesa e defendendo-se
cada um, conforme podia e sabia, nas diversas escaramuças que
tinham pelo interior.
Esta confiança no gentio do Congo, vinha desde que Diogo Cão lá
deixara aqueles quatro portugueses, que fleumáticamente esperaram
quinze luas pelo seu regresso e as crónicas deixaram esquecer. A
política do Congo foi sempre uma política de paz e D. Manuel viu bem

(1) Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo. Livro das Ilhas, fl. 6o v. Fernão de Melo. Carta
da alcaidaria mór do Castelo que em a dita Ilha se fizer para êle e para quem for capitão dela.
5
i de Dezembro 1499.
44 Angola
a desnecessidade de despesas duma ocupação militar e, previu melho
que a suserania que estabeleceu perduraria para sempre. ° r’
Se pelo lado político o regimento nos leva a estas considerações
pelo lado comercial, não deixa de bem nos revelar o carácter do
monarca. Em cada linha resalta a avidez do lucro e a esperteza
t velhaca. Aquele prólogo de instruções a Simão da Silveira sóbre o que
tem~a~fazer e dizer desde o desembarque, marcando-lhe a sequência
das conversas, graduando-as pela importância dos assuntos, e por dias,
para terminar no que mais o interessava, a retribuição, que parecendo
ser a última cousa a tratar, passa a ser a p rim eira: « Logno dês que
«chegardes, começarês, a negociar com el rey, o mais onestamente que
apoderdes, o aviamento da tornada dos navios», vale por tudo quanto
os historiadores possam ter escrito apreciando o seu carácter. Depois,
entrando então, abertam ente, na parte do negócio, ensina a Sim ão da
Silveira o que deve dizer «como de voso » e «ssem lhe dizerdes cousa
« alguma de nossa p a r te » e conclui m agistralm ente, afirm ando que
depois do que disse, o preto deve m andar carregar os n avios o mais
abastadamente que poder e de m aneira que êle, D. M anuel ain da tenha
mais m otivos para se interessar pelas suas cousas, posto que a sua
in ten çã o non he d aver proveito de fazenda, sooniente do acrecentaniento
daJee.
N ão p ôd e fugir D. M anuel a dar, ainda, neste documento, a nota
das ostentações; por um lado, recomendando a Simão da Silveira que
lh e fale tias cousas da Jndia e das gemtes e armadas que nela tracemos,
e d e todo o que s e la fa ^ para que o preto veja bem qual o seu poder e
valor; p o r outro, esquecendo já os lucros e a ganância, com a preocu­
pação das grandezas, é êle próprio que manda oferecer ao preto, pagar
as despesas com a em baixada que diz para mandar ao Papa, tendo,
talvez, já delineada na m en te, a que anos depois mandou com Tristão
da Cunha e, p o ssiv elm en te, não co n h e ce n d o ainda o rinoceronte com
que nessa em ba ixa d a qu is representar a Á frica , pensou que um preto
educado para b isp o , deveria produzir o mesmo efeito e causar igual
adm iração.
•*
* *

Não foi o rei do Congo mais feliz com a expedição de Simão da


Silveira, de que com as remessas de joios, espinhos e ferrugem que
o Fernão de Melo lhe mandava de S. Tomé, e, também D. Manuel não
Parte I — Zaire e Congo 45
viu executado como idcára, o piano de ternas mãos de uma autoridade
nossa todo o domínio e acção sôbre os negócios do Congo, deixando
para entretimento do preto uma côrte real, nos moldes da nossa, cosi
a indumentária da época e com serviço de mesa e de cópa (i).
Antes de partir a embaixada de Simão da Silveira, D. Manuehinha
mandado para o .Congo afirn-de ensinar os indígenas, Rui do Rego, *
que, em vez de se dedicar ao ensino, tratou de negqcmr^ligajndq-se com
os comerciantes de S. Tomé e em especial com o feitor, que então
já devia ser Jõãõ délvíeío, filho de Fernão de Melo, e cujas proezas o
levaram, mais tarde, ao degredo e á perda de doação da ilha de
S. Tom é, que estava na sua família (2).
Uma autoridade no Zaire, para governar os portugueses, como
a pedira o rei do Congo não convinha aos de S. Tomé e muito menos
com os poderes de jurisdição crime e cível que legava Simão da
Silveira.
Era a morte de todo o negócio e, Rui do Rego tratou de intrigar o
preto rei do Congo com 0 Simão da Silveira, tais cousas dizendo, que
êste resolveu não desembarcar e mandou 0físico para se entender com
0 re i; mas as intrigas redobraram e Simão da Silveira viu-se obrigado
a ir êle próprio, falecendo quando se dispunha a partir.
Começam então as lutas para a sucessão, até chegar Álvaro
Lopes, com o D. Pedro, primo do rei do Congo, vindos no navio
« Gaio * que fazia parte da armada e se atrazara na viagem, parece que
por ter ido a S. Tomé. ’
Álvaro Lopes trazia a carta de sucessão e foi investido no lugar, não
propriamente no que D. Manuel queria que Simão da Silveira desem­
penhasse, conforme indicára no regimento, mas no de feitor, muito12

(1) O preto D. Afonso parece que vestia à europeia. Na carta documento xu da Historia
do Congo, êle queixa-se do sapateiro português que lá tinha e que lhe dera cabo de uma porçSo
de peles, sem ter feito calçado capaz, e do alfaiate que apenas lhe arranjara uma loba e umas
mangas de veludo, de má vontade. Na carta documento xxv acusa ao feitor de S. Tomé, ter
recebido uma porção de vestimenta que lhe mandou D. João III. O filho, tendo sido educado
em Lisboa, é provável que também vestisse á europeia. Outros reis que se seguiram parece que
reservavam os trajes europeus para as cerimónias oficiais e fora delas trajavam á indígena.
Nem toda a corte os acompanhava no vestuário. Dapper dá interessantes informações sôbre
trajes e costumes, sobretudo dos militares, que usavam bonés ornamentados com grandes e
vistosas plumas e, sôbre o tronco nu, cruzando-se do hombro para a axila, correntes de ferro­
em aneis delgados da grossura de um dedo pequeno. Nas marchas usavam tambor e cometa.
(2) Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo, Carta de sentença da confiscação dos bens de
522 3
João de Melo, feitor de S. Tomé, 19 de Dezembro de t . Livro 2.0 dos Reis fl. to a 106 e
3 3
Gaveta 1 , maço , doc. 17.
46 A ngola
embora não se podesse considerar o Congo como uma f * •
tínhamos estabelecido na Guiné e na Mina. ieU° na Co*o
Se a parte política do regimento que Simão da Silveira levo
estava assim prejudicada, D. Manuel, sempre venturoso, não perdi1’
a parte comercial, pois o preto D. Afonso carregava os navios da
armada: os que tinham chegado primeiro, com quinhentos escravos
e ainda um refôrço de trinta para as falhas e, já ficava pronto 0
carregamento que devia seguir no « Gaio».
Não fizeram falta as sugestões de Simão da Silveira, nem f0j
necessário que outro, como cousa sua, lhe insinuasse o que tinha a
fazer. O preto, por motuo próprio e, apesar-de tôdas as desintelj.
gências dos nossos, carregou o mais abastadamente quepoude os navi0s
e, no seu procedimento é que francamente se pode afirmar, não
havia intenção ge aver proveito de fazenda, soomente do acrecentamentQ
da fe e , pois fôra com essa intenção, pela educação recebida do$
dois frades, António Fernandes e Rodrigues Annes, que mandava os
escravos.
D. Manuel devia ter ficado satisfeito com a boa compreensão que o
preto D. Afonso manifestava dos seus deveres de retribuição dos
serviços que lhe eram prestados e, logo que chegaram os primeiros
navios com o carregamento, tratou de mandar outro, dando ordem
ao seu tesoureiro para «fa\er promptas certas fazendas » (i) afim-de as
enviar como presente, certamente na mira de que o navio voltaria
carregado, também o mais abastadamente que fôsse possível.
Nêsse navio ia Manuel Vaz, que quando chegou ao Congo, foi
informado das scenas desgraçadas passadas entre os nossos. Fôra
o caso que Diogo Fernandes, o letrado que fôra na armada de Simão
da Silveira, ao vêr Álvaro Lopes nomeado feitor, quis ser corregedor,
cargo que então reünia os serviços de administração de fazenda com os
de justiça, e, tais intrigas moveu, que auxiliado pelos padres, obteve
que o preto D. Afonso o nomeasse para esse cargo e lhe desse um
escrivão.
A nomeação do corregedor era conseqüência fatal da nomeação do
feitor. Feita a primeira deturpação do regimento de D. Manuel a Simão
da Silveira, as outras eram inevitáveis e a orientação que D. Manuel(i)

(i) Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Corpo Cronológico, p. i.% maço 16. Doc. iô
de i 5 de Setembro de i5i4. Não foi publicado pelo Visconde de Paiva Manso na Historiado
Congo. Anexos. Doc. 6.
Parie I — Zaire e Congo 47
esboçava na exploração das nossas conquistas da Guiné inferior, tinha
de ser completamente posta de parte. No regimento de Símão da
Silveira não havia corregedor, mas sim um letrado *pera niso vos
« ajudar . . . e em todos os jui\os, asy de feitos crimes, como cyvees, ora
«seja d amtrc a geente nosa que levaaes, como da geente de la da terra ,
« ser a comvosquo o letrado que levaaes: e, quando ambos nam fordes
« acordados, se eixecutara aquello em que vos asentardes. . .
Não sabemos se Álvaro Lopes explorava o D. Afonso; se o fazia,
era por forma que êste ainda ficava satisfeito e o defendia e elogiava.
Desses favores ou expoliações, nasceram os ciúmes do Diogo Fernandes,
que, de uma vêz, na presença do rei D. Afonso, espancou o Álvaro
Lopes. Jurou êste vingar-se, ameaçando-o de morte, o que cumpriu
pouco tempo depois (i) assassinando-o e indo em seguida refugiar-se
na igreja de S. Salvador, onde foi entregue a Manuel Vaz que o levou
para S. Tomé, não se sabendo quem o substituiu, nvn ao Diogo Fer­
nandes, nos lugares de feitor e corregedor.
Estes e outros exemplos levaram o preto D. Afonso às suas costu­
madas reclamações, e autorisaram-no a escrever «este rreyno a nossa
«fee ainda sam como vidro por máos emxempros que os homens que cá veo
« ensynar dar »(2) numa carta para D. Manuel, que resolveu por isso
encarregar Rui de Aguiar, vigário em S. Tomé, de ir ao Congo e
providenciar sôbre cousas de relegião, parece que sem outro resultado,
além de um novo pedido de paramentos e mais artigos do culto (3 ).

*
* #

Já de há muito que se espalhara pela Europa a fama das riquezas


que trazíamos da Mina e depois da índia.12
3

(1) Carta de 4 de Março de 1S14 do rei do Congo para D. Manuel. História do Congo de
Paiva Manso. Doc. xv, pág. 34 a .36
(2) História do Congo de Paiva Manso. Doc. xin.
3
( ) O Ms. História do Congo, parte transcrita no documento I dos Anexos, termina com o
capítulo 29: Como el-rei Dom Manuel mandou a Congo por vigário ao padre Ruy de Aguiar, e
Antonio Vieira e Baltasar de Castro, seus creados». O copista interrompeu a copia deste capi­
tulo quando começava a transcrever a carta que 0 padre Ruy de Aguiar escreveu a D. Manuel
relatando o que se passara no Congo: Saberá V. A. em como este Rey D. Afonso não tra\ o
sentido senão em Nosso Senhor e em suas pégadas: ordenou agora que todo o homem pagasse
dijimo. É possível que ainda se encontre outra cópia completa ou talvez 0 exemplar autentico
da História do Congo acima referida. Se assim suceder será tratado em nota êste assunto.
48 Angola
Quando Portugal e Castela regularam por meio de tratados e
si celebrados os descobrimentos feitos, as outras nações da E u r ^
por incompetência e inaptidão, desinteressaram-se do caso. u * *
a pouco e pouco, genoveses e flamengos, e depois holandeses, fr^5’
ceses e os outros, foram aprendendo a navegar até à Guiné
iam lá com os seus navios para o resgate. Já não era exequivel *
ordem de D. Afonso V aos capitães dos navios que iam à Guiné, para
tom arem os navios estrangeiros e deitarem as tripulações ao mar(i)
D . M anuel contentava-se em conservar como D. João II, no maior
segredo, tôdas as descobertas e informações da Africa, e em proibir
fazerem-se cartas de marear além do rio M anicongo (2), medida
platónica e que só teve como conseqüência erros para a geografia e
para a história.
A cobiça dos estrangeiros era agora excitada com as notícias que
por todo o muçdo se espalharam, das riquezas que tomáramos em
M alaca e das que nos advinham da sua p osse: o cravo das Molucas , a
n o i de B a n d a , o sandalo de Timor , a canfora de B orn eo , 0 ouro d e fy *
matra e do L eq u io , e as gommas, aromas , e mais mercadorias p eaosas
da China , do Japão , de Sião , de P e g ii , etc. além do que já tínhamos com
a posse de Gôa e de Ormuz.
A embaixada de Tristão da Cunha ao Pápa em 5 145 se mostrava a
nossa opulência, não deixava de mostrar também a todos os que assis­
tiram a esse deslumbrante espetáculo, o desvario da nossa administra­
ção, de que Afonso de Albuquerque já dera a primeira prova, quando,
embriagado pelos fu m o s da tomada de M aláca, mandara sair um bando
em elefantes ricamente ajaezados, espalhando às mãos cheias pelos
habitantes índios, nos intervalos em que se calavam as trombetas, as
novas moedas de ouro, prata e estanho, que estabelecia para os ne­
gócios.
A tom ada de M aláca, enchendo de glória e riquezas os seus assal­
tantes, provocou a inveja e, como conseqüência, a intriga dos que lá
não tinham podido estar. Por um lado, os inimigos de Afonso de Albu­
querque, não podendo suportar a justa glória que o seu nome adquirira,
intrigavam-no com D. Manuel, levando o monarca a demiti-lo e subs­
titui-lo pelos que êle expulsara da índia pelos seus crimes. Por outro

(1) Arquivo Nacional da Tôrre do Tom bo. Chancelaria de D. Afonso V liv 32fl 63 6 de
Abril de 14S0. ’ ' * ' ’
3
{2) Idem, Leis, maço 2, doc. n.° 12. i de Novembro de 1504.
■... <•

Parte /— Zaire e Congo 49


os estrangeiros, ao passo que uns, mais ousados, se preparavam para
se nos oporem na índia, outros, menos poderosos, contentavam-se em
nos assaltarem as conquistas da África Ocidental, pelas quais, era
tempo, não tinham mostrado maior interêsse. E os nossos, os de Cabo
Verde, à falta de Malacas para saquearem, aproveitando a desmora­
lização da nossa vida administrativa, tão desabridamente desrespeitavam
leis, previlégios e doações, que D. Manuel se viu na necessidade de,
positivamente, os bloquear, estabelecendo disposições restritivas á
importação e exportação de mercadorias para o resgate de escravos
na Mina, cujo mínimo limitou às necessidades de cada colono (t). E os
de S. Tomé, que ali se tinham estabelecido no engodo de liberdade e
previlégios especiais, por tal modo consideravam o Congo como cousa
sua, que D. Manuel, para evitar lutas e conseguir a regularização do
comércio, resolveu proibir carregassem fazendas no Congo, a não ser
nos seus navios (2). 0
A-pesar-de tudo, a-pesar destas claras manifestações da desgraça
que se aproximava, D. Manuel não queria morrer sem colher o último
fruto da obra preparada pelos seus antepassados, — o estabelecimento
de relações com 0 fabuloso Preste João, rei da Abissínia. Pero da
Covilhã não dava notícias e D. Manuel sentia insatisfeita a sua vaidade,
se não pudesse entregar ao Papa mais um grande rei cristão, por êle
descoberto em terra de infiéis.
Gregório da Quadra, tendo sido prisioneiro do rei do Adem, conse­
guira fazer-se passar por convertido ao islamismo e chegar assim a
Ormuz, donde os nossos lhe deram passagem para a índia. Apareceu
em Lisboa, contando a D. Manuel as suas aventuras e as informações
que colhera durante o seu cativeiro. Com os conhecimentos que tinha
da Etiópia Oriental, era 0 homem que D. Manuel precisava para tentar
0 estabelecimento de relações com 0 Preste João pelo Zaire, visto supor
terem falhado tôdas as tentativas para o conseguir pelo Oriente.
Demais, as notícias que os nossos lhe mandavam do Congo confirma­
vam a existência do grande lago onde nascia 0 Zaire e não podia
deixar de ser o mesmo onde também nascia 0 Nilo.
Em 15 19 ou 15 20, Gregório da Quadra seguiu num seu navio para
0 Zaire, com cartas para 0 rei do Congo D. Afonso que, recebendo-as,12

(1) Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Leis e Regimentos de D. Manuel. Liv. 16 A.


35
Fl. 34 v. a v. De 16 de Dezembro de *5i7-
5
(2) Idem, idem, fl. 118 v. 18 de Novembro de 1 ig. Anexos. Doc. n.®7.
5o Angola
reüniu conselho com os portugueses que lá residiam e d'
nistas, o induziram a contrariar os desejos de D. M anuel2 "” 1 ° S Cr°s
e «
« nenhum modo deixasse fa { e r aquelle caminho a G regorio da O *
«porque se o descobrisse , soubesse decerto que desejava E l R e i* * ^ '
« E m a n u el tanto a amizade daquelle R e i do A b e x i, que p or ter\
« worfo de o communicar lhe avia de ir tomando seu regno pouco , ^
« e d e todolos que habitavam entrelles ambos, ate chegar ahos limites °'
« ou/ro, e/c.» (i).
Gregório da Quadra, regressou a Lisboa, com as cartas etJl
que o rei do Gongo se justificava para com D. Manuel, que
então tinha falecido, e enfadado ja dos trabalhos do m undo , professo^
na ordem de S. Francisco dos Capuchos Descalços, onde veio ^
morrer.
Esta oposição dos portugueses residentes no Congo deve ter sido a
razão exposta jror Gregório da Quadra ao seu amigo Damião de Gójs
e deduzida de conversas com alguns dos nossos, que, receosos de q^
as medidas, que D. Manuel estava tomando, pudessem vir a ser niajs
rigorosas e prejudicassem o seu negócio se o Congo passasse a ser q
pôrto da Abissínia, procuraram desviar Gregório da Quadra do seu
propósito.
Não foi êsse, com certeza, o motivo que o preto D. Afonso apresen­
tou a D. Manuel para justificar a não realização da viagem e nem
mesmo parece que o conselho dos portugueses, se na verdade eles o
deram, lhe caísse muito no seu espírito. Para com eles fingiu que
acreditava nos perigos que lhe expunham e, para com D. Manuel, deve
ter mostrado as dificuldades que realmente havia para a execução,
mas a idea sorria-lhe e calcularia, que assim como se intitulava senhor
das A n g o la s , que os nossos ocupavam , passariam a ficar sob a sua
suserania os povos que avassalássemos, situados para além do Congo
até ao Lago, e o seu reino se engrandeceria.
O receio do perigo de ser absorvido, se o teve, desvaneceu-se por
completo e, poucos anos depois, em i 526, diz-nos Baltazar de Castro:
« e lR e y d e conguo m e p a rece quer p o r em hobra descobrir oho que a por
« este seu R y o acym a e tem m uy ta certeia d e se p od er naveguar e o all
« que e lR e y m ays certo tem sabydo e creo o escreve a vossa altera pelo

(•) Damião de Góis. C rônica de D . Atanuel, 4.* parte, cap. uv, A esta viagem de Gregório
de Quadra se refere também Cadornega na »D escripçam do reino do C o n g o e t c transcrita
por Paiva Manso na H istória do C o n g o , pág. 265.
Parte I— Zaire e Congo 31
a quall peço a vossa alteia escreva a elRey de comguo que carregue este W
descobrymenlo. . . (i).
Alguns obstáculos se devem ter levantado, pois que o projectado
descobrimento não se efectuou, pelo menos pelo rio acima, mas não foi t
pôsto completamente de parte e, em i 536 , Manuel Pacheco, tendo
passado pelo Congo, o rei D. Afonso o deteve por «que query mandar
fa\er dom braguantis acyma daquella quebrada que o Rio tem pera Eu
dar aviamento a se daly Ir descobrir o llaguo » c, como demorasse a
remessa de Portugal «de certos aparelhos e cousas para elo necesarias
que lia tinha mandado pedir a Vossa Alte\a » ocupou-o no cargo de seu
ouvidor, mas «tem elRey de comguo aguora Ja madeira llavrada pera
dous braguantis e dame muita esperança que este anno se ade fa\er ho
descobrimento do llaguo (2).
Nesta carta, Manuel Pacheco refere-se áquella quebrada que 0 rio
tem, o que prova que se sabia da existência das catawtas, onde anos
antes Diogo Cão tinha chegado, e refere-se ainda a serem os bergantins
feitos acyma da quebrada para que ele desse aviamento a se dally Ir
descobri) 0 llaguo, o que mostra o conhecimento que se linha da nave­
gabilidade do rio Zaire além das cataratas e da impossibilidade de
transpor estas com embarcações, para o que a construção dos bergantins
se efectuava num ponto além delas e daí se iniciava a viagem, para a
descoberta do lago.
Para assim se poder organizar a viagem pelo Zaire, sem dúvida
alguma que devem ter sido feitos reconhecimentos por todo o interior.
Não sabemos onde chegaram êsses reconhecimentos, nem sabemos se
realizámos a viagem nos bergantins, mas o pouco que sabemos, é mais
que suficiente para mostrarmos ao mundo que não valia a pena
glorificar Stanley por ter feito, com os elementos que a civilização do
século xix lhe proporcionava, um pouco mais, senão o mesmo, que nós
fizemos quatro séculos antes (3).
Se Stanley passou no Yelala sem notar 0 imorredouro padrão que1

55
(1) Paiva Manso, História do Congo, doc. xxvni, pág. .
(2) Idem, Idem, doc. xxxvui, pág. 66.
3
( ) Em Le Congo, edição belga da narrativa de Duarte Lopes, publicada por Pigafeta, M.
Lepn Cahnn, no prólogo, escreve:
«Si Stanley, avant son départ, avait lu la même description de l Afrique imprimée en i 5ÿ8,
il eut été droit au Congo sans discutir et sans tâtonner, et eut suivi, en toute connaissance de
cause, ta route que le Portugais Edouard Lopes n'était pas le seul a pratiquer, bien longtemps :
avant lu i...
S i M. M. Serval et Griffon du Bellay, et après eux M. de Bra^a, lorsqu ils ont explore
52 Angola
Id deixámos, (jcomo poderia ele, ao lançar as primeiras fundações d
cais de Leopoldville, reconhecer que tinha sido ali a carreira
fizemos os dois bergantins? de
Que se chamem cataratas de Stanley em vez de «Diogo Cão», qUe
se chame Leopoldville em vez de «carreira de M anuel Pacheco », ^qUe
nos im porta, se não há povo algum no mundo, que, ao escrever, a
sua história, possa sentir, mais do que nós, o maior orgulho e o maior
desvanecimento pela nossa grande raça ? E é com a fôrça que nos dá o
valor dos nossos antepassados, que nós estamos fazendo hoje êste Por­
tugal Enorme. É com esta fôrça que nós temos caminhado sempre para
a frente, apesar-de tôdas as contrariedades, apesar-de nos amesqui-
nharm os a nós próprios. É esta enorme fôrça que faz de nós, pequenos
em número e pobres em dinheiro, grandes e ricos em trabalho e perse­
verança e nos permite manter por direito conquistado por essas duas
qualidades, o eiforme império colonial que temos, a-pesar-de tôdas as
intrigas e com binações para nos espoliarem, que se desfazem, não
porque seja impossível encontrar uma solução que satisfizesse a todos
as ambições, mas porque acima de todos êsses interêsses e tôdas essas
m aquinações, há um obstáculo invensível: — o que fizemos e o que
estamos fazendo.
Leopoldville! Stanley-pool! d-Que nos importa se hão-de lá estar
ainda, forçosamente, os vestígios do plano onde se assentaram as quilhas
dos dois bergantins e isso tem mais valor que os nomes geográficos?!

#
* #

D e p o is d o fa le cim en to de D. Manuel, os negócios do Congo, sem


deixarem de despertar interesse, entram contudo numa outra orien­
tação.
D. Manuel procurou desempenhar no Congo, sobretudo, um papel
p o lítico , q u e mantinha com o seu trato directo com o rei do Congo,
que elevara á categoria de seu igual, criando-lhe um a côrte e princípios

58
l ’estuaire de l ’O g o -Q u é et l e Gabon, avaient étudié le v ieu x livre de i g . . . ils auraient connu
l ’emplacem ent des cataractes du C o n g o , que M . S ta n le y a signalés d e u x cent quatre vingt douje
ans après E d o u ard L o p e f, et en amont desquelles il fau t rep rend re la navigation interrompue
du fle u v e qui conduit d e l ’A tlantique au bassin du N il et à l ’ O céan Jndian. Malheureusement,
le s érudites que lisent le s v ie u x livres ne voyag en t g u è r e , et les voyageurs qui vont étudier di­
rectem ent l e terrain ne lisent p as.
Parte I — Zaire e Congo 5ò

de administração e justiça, baseados nas nossas ordenações, e procu­


rando satisfazer-lhe e cultivar-lhe os seus desejos de conversão de
todos os seus súbditos ao cristianismo. Um dos seus últimos actos
com respeito ao Congo foi obter do Papa a bula de dispensa de idade
para o Bispo de Utica, D. Henrique, filho do rei D. Afonso, a fim de êle
poder seguir para o Congo (i).
Para D. Manuel, cuja política em matéria de descobrimento e con­
quistas se apoiava em Roma, o Congo cristão servia-lhe de reclame
ao seu zêlo pela propagação da fé e, ainda dentro dêsse aspecto,
servia-lhe para exemplo a outros povos, que, pelo que se passava no
Congo, poderiam deduzir as vantagens que lhe adviriam na conversão.
Desta acção política resultava a exploração comercial, que lhe dava os
rendimentos para o erário, e isso lhe bastava. A colonização, no
sentido de povoamento, não o interessava nem se conhecia, então.
Mas as condições políticas da Europa foram-se*modificando de
forma a obrigarem a dar outra orientação aos negócios das con­
quistas.
As nações da Europa, se não tinham tido o valor de Portugal e de
Castela, para se lançarem nas descobertas, tinham-no de sobejo para o
roubo. Os seus piratas eram ousados e destemidos e, já se não conten­
tavam em esperar as nossas naus nos pontos já conhecidos das suas
derrotas para as roubarem; atacavam também as feitorias, não só da
Guiné e da Mina, mas de S. Tomé e até o Congo.
Como defesa contra o roubo veio a necessidade de garantir a posse
e, daí, as primeiras medidas de organização colonial, que iniciámos
verdadeiramente com D. João III começando na parte respeitante à
Etiópia, por elevar e engrandecer S. Tomé, que não só se mostrava de
relativa importância agrícola, mas era um dos portos de escala das
naus da índia. Assim, além de se ampliarem as medidas anteriormente
tomadas por D. Manuel sôbre os direitos e liberdades dos escravos e

(i) O Padre Francisco de Santa Maria no Céu aberto na terra escreve: «Tres anos depois
58 5
(refere-se a t o e portanto i u) houve terceira missão, em que forão acompanhando ao prin­
cipe D. Henrique, quatro conegos nossos, Fernando de S. João, Bartolomeu de S. João, António
de S. João, e por prelado Sebastião de Santa Maria, dos quaes só este ultimo voltou, etc.». Há
manifesto engano na data, pois que não só em lõii o filho D. Henrique não era ainda Bispo,
52
como em i de Fevereiro de i o, ainda não tinha partido para o Congo, como se vê da carta
de D. Manuel, para D. Miguel da Silva, seu enviado a Roma, obter a bula da dispensa de idade
em que diz ae queryamos que fosse faqer fruyio aos Reynos de seu pay, o qual com muyia
yustancia nolo tem enviado pedir por ser já velho e desejar de ho ver frutificar em seus dias na
christandade». História do Congo, Paiva Manso, doc. xxm pág. 47.
54 A n gola
dos mulatos (i 5 1 5 e 1 5 17), outras se tomaram com respeito ao resgate;
à melhoria de administração fiscal; à ampliação do foral da povoação,
que foi elevada a cidade, c ao desenvolvimento da acção religiosa,
criando novas dignidades e assegurando-lhes melhores ordenados e
prebendas.
Para o Congo não havia modificações porque não podia ser outra
cousa além do depósito de negros para as necessidades da mão de
obra, que os colonos de S. Tomé tinham organizado e que assim con­
tinuaria na sua exclusiva dependência.
O s p ortu gu eses residentes no C ongo não se conform avam com essa
s itu a ç ã o de d ependência e levaram o D. A fonso a protestar, sugerin­
d o -lh e a idea do engrandecim ento do seu reino. Assim o vemos,
à m ed id a que as relaçães com P ortu gal se tornaram m ais íntimas,
p ro p o r a D . M anuel «m andenos d a r a ilha p o is he su a , maneira que
com e lla terem os^ m u ito descanso e nam cu id e sualte^a qu e lha pedimos
p o r n en h u m resp eito , se nam p o r com e lla a crecenta rem os a crystandade ,
p o r q u e sua lte^ a sabra q u e hos m oços nam p o d em aprem der também onde
tem s u a s tnays e p a y s, como apartados d e lle s e, p or este respeito , manda­
rem o s h u m hom em d e 1toso sa n g u e e sualtcça m anda hum p a d te bom e
v e r tu o so , p era q u e am bos regam a dita ilha , p rin cy p a lm ente no espintoal e
d esp ois no tem p ora ll etc.» (i), ao que D. M anuel nunca lhe deu resposta,
e êle passou tôda a vid a a protestar contra os males que fazia a gente
da ilha.
D epois do falecim ento de Sim ão da Silveira, vem os o preto D. Afonso
nom ear os feitores e os corregedores, e parece que D. Manuel, porque
nunca considerou o Congo senão como um estado suserano e para não
com p licar a situação com S, T om é, lhe confirm ou a faculdade de poder
escolher, entre os portugueses lá residentes, aqueles que deveriam
exercer os diversos cargos. Mas essa organização administrativa era
tô d a dêle, rei do C ongo. G uiado pelos portugueses, o preto foi tomando
um a relativa independência de S. T om é e, depois da sentença contra
João de M elo e reversão de S. T om é p ara a C oroa, essa independência
m ais se salienta, sem contudo poder ser tom ada com o rebeldia,
p assan d o a corresponder-se oficialm eníe com autoridades administra­
tiva s e judiciais, em vez de lhes dirigir as cartas humildes dos primeiros
tem pos, acom panhadas de presentes de p eç a s e manilhas, para que o
atendessem .

(i) Carta de D. Afonso Rei do Congo a D. Manuel, de 5 de Outubro de i5i4, já cit.


Parte / — Zaire e Congo 55
A comprovar esta atitude, temos o facto passado com um navio
francês, que apareceu no Zaire, por r524, c sôbre 0 qual êle tomou
logo providências, ou aceitoú as que lhe sugeriu 0 seu feitor de entáo,
Manuel Pacheco, que deveria ter aparecido no Congo, de regresso
duma viagem a Angola, talvez em 1522 ou 1523 , e ali ficara ao seu
serviço.
Manuel Pacheco, que estava na capital, em Ambasse, mal teve
notícia da chegada dos franceses, veio logo ao Sonho e procurou tomar
a nau, 0 que não conseguiu por ser bem armada e artilhada. Resolveu
então usar outro expediente, mostrando-lhes muito marfim, manilhas e
pau vermelho, ao que uma parte dos tripulantes, na mira da pilhá-
gem, se aproximaram da terra, sendo então apanhados pelos pretos
e pelos nossos, que dirigiram a operação. Puseram-se os da nau em
fuga, levando uma almadia com pretos que os vigiavam, e sem terem
procurado tirar 0 menor desfôrço para rc-haverem osaseus, a-pesar-de
armados e artilhados.
O rei do Congo deve ter comunicado 0 facto para Lisboa e esteve
muito tempo sem resposta, até que lha enviaram dizendo que man­
dasse os franceses por intermédio das autoridades de S. Tomé, o que
êle fez mas não em carta solicitando-o como mercê, mas em alvará,
como acto de serviço do Rey noso Irmaão e noso, que tanto estranheza
causou ao corregedor de S. Tomé, que, ao apresentarem-lho disse lho
amostrassem de vagar ( i).
Esta prisão dos franceses deu lugar a uma interessante manifestação
do Rei do Congo sôbre 0 aprêço das nossas relações. Muitos dêles
morreram no Zaire, e, quando chegou a ordem, já só existiam doze, dos 1

quais o rei do Congo resolveu ficar com dois: um pedreiro, porque


não tinha nenhum e precisava reparar e cobrir a igreja, e um piloto,
porque sabia latim e gramática e lhe servia para mestre da escola, que
também não tinha, Mandou os dez restantes e, entre êles, um padre,
com quem não quis ficar, a-pesar-de ter falta dêles no seu reino,
a necessidade de a evangelização dos seus ser feita por portugueses,
porque só nós tínhamos, não só 0 direito, mas 0 dever, de o fazer no
seu reino, como o escreveu: nE 0 que a nos cabe e rremediar podemos
«sem outro ajutoryo, nos ho temos feyto e comprydo, mas aquyllo que
«sem ajuda e de direyto pertence, 0 quall a ell Rey de Castella, nem de
i
«França, nem a outro nenhüu Rey Christão, amnos de rrequerer nem

(1) H istória do C o n g o , Paiva Manso, doc. xxiv, pág. 48. *

,jr ,jr
56 Angola
« obrygar, por muytos rrespeytos de que nos m uy certificado somos,
« prinçipallm ente por que a elles tiam pertemçe o tal! cuydado, polia pouco
«parte que ueste Reino tem. O quall he tam por tu gês e tam leal a
« nosso serviço , como esse proprio que V. A . de direito sobre deo e se
« g u a r d a , porque em nos nam ha lugar a jm gratidam e ssomos em perfeito
« conhecym ento dos muytos benefiçios espirituaes e corporaes por nos
« rrecebidos, e nam he em nos tamto esqueçimento que nam estimemos mais
« os agrauos da nossa própria e verdadeyra m ãy , que os comtrafeytos e
«jm fig idos mytnos da fa llssa madrasta , ajüda que todos em huma fe e e ley
« conform es sejamos, etc.» (i).
Faltava-lhe o poder fazer padres e se os tivesse podido fazer, como
fazia feitores e corregedores, outra teria sido, talvez, a história do
Congo.
Não era por o esquecermos, que lhe não mandávamos os padres.
As relações conj o Congo iniciaram-se e mantiveram-se, emquanto
pensámos que pelo Zaire se poderia chegar ao Preste João. Mas êsse
problema resolvera-se pela Etiópia Oriental, depois duma luta de anos,
duma tenacidade assombrosa, de sacrifícios e heroísmos inconcebíveis,
conseguindo D. Rodrigo de Lima avistar-se com o rei da Abissínia e
trazer Zagazabo como seu embaixador. O Congo perdera assim o
interesse maior, o que não significava que fôsse desprezado ou aban­
donado, como não podería ser o filho que confessava, entre lamenta­
ções, que, a-pesar-de tudo, preferia os agravos da própria e verdadeira
mãe, aos fin g id o s mimos duma madrasta.
É que tínhamos ido muito longe nas descobertas e conquistas,
e lutavamos como nunca nenhum povo foi capaz de lutar para as man­
termos. Lutavamos em toda a terra então conhecida.
Já não era só a Mina. Era tudo, desde Sagres ao Cabo e do Cabo
ao Suez, a Arábia, a Pérsia, a índia, a China, o Japão e a Oceania, e(i)

(i) Arquivo Nacional da Torre do Tom bo. Corpo Cronológico, parte i.*, maço 34. Doc.
n.° 127. De 25 de Agosto de i 526. Está no índice com a referência: <Manicongo (Rei de).
D. Afonso. C arla dando parte a E l R e y enviar nove fra n ceses de do^e que aprisionara, ficando
os tres p elas partes de que eram dotados». Passou despercebido ao Visconde de Paiva Manso e
desconhecido até ao presente, tendo um alto valor pela declaração do primeiro rei do Congo,
de que o seu reino era tão português como o próprio Portugal. Vide Anexos doc. n.° 8.
32
Em outro documento da mesma data (Corpo Cronológico, parte 1.*, maço , doc. 99) e a
cujo assunto, talvez êste, com as suas doces palavras, servisse de preâmbulo, o Rei do Congo,
tendo-se esquecido , entre tamto servyço de D eus , pede a D. João III para prover o filho ao bis­
pado do Congo, e mandar-lhe o sobrinho D. Afonso, que havia muitos anos estava em Portugal
a estudar e lhe constava ter-se ordenado, para seu coadjutor. Anexos, doc. n.° 9. Não foi men­
cionado pelo Visconde de Paiva Manso.
vxßT--'1~

Parte I —Zaire e Congo


■ inpregávamos ainda todo o valor da nossa raça, no sonho quiraé-
nós e
de conservarmos nas nossas mãos todo o comércio, tôdâs âs
ric°
•^uezas» que êsse Oriente ainda tinha. Por todos os lados nos ataca-
rl<5, e nós, vencendo nalguns pontos com assombrosa e inaudita
vam»
oragem, íamos perdendo noutros.
0 flstavamos sós. Dum lado a aspiração de D. João II á hegemonia
península, de outro a política de absoluto scgrêdo sôbre as des­
cobertas, conduziram-nos ao isolamento do resto das nações da Europa
cujo convívio nos escusámos, limitando-nos apenas a alianças com
Castela» para nos vender noivos para as nossas princesas.
Bem fomos emquanto a luta se circunscreveu a defendermos da
pirataria europeia e turca, as riquezas da Mina e do Oriente. Chegámos
para êles todos! Mas havia um ponto fraco, — o Brasil. Á costa da
África poderiam lá ir os piratas roubar-nos as cargas, que nós, com esta
persistência assombrosa, de que demos tantas provas, ^substituiríamos
por outras e os venceriamos a êles. Na terra não se fixavam, porque o
clima os não deixava e a facilidade de adaptação a todos os climas só
nós a tínhamos. Não se dava o mesmo com o Brasil; além de fazerem
as derrotas perto das suas costas, o clima não era tão inóspito. Os
corsários atacavam-nos, e D. João III, com inteligente previsão, mandou
em 15 3 o Martim Afonso de Sousa, percorrer a costa e dividi-la em
capitanias de cinqüenta léguas, doando-as com a obrigação de as
povoarem.
A execução dêste nosso grande plano de colonização impunha-se.
Ninguém pensou se para tão grande emprêsa chegaria a nossa pequena
população de um milhão de almas, porque, outro milhão nos tinham
levado as conquistas; confiávamos no nosso valor, que maiores prodí­ i
gios já tinha obrado. Eram necessários braços que auxiliassem os
povoadores nos trabalhos mais árduos, mas êsses fornecê-los-ia tôda a »
i
costa da África Ocidental e, daí, o desenvolvimento de S. Tomé e o
aparente esquecimento do Congo como unidade política, de que o
preto D. Afonso tão sentidamente se queixava, mas a que era impossí­
vel atender, porque não nos chegava para fornecer indígenas para a
América. r""
#
* *
t

D. João III, em reconhecimento à dedicação manifestada pelo


D. Afonso, manda-lhe um bonito presente de capuz, capa, pelote e
8

I
58 Angola
jubão de « conlray fr y s a d o », debruado de veludo e pespontado a seda,
com bandas de tafetá e barras de veludo, e calças de pano Royxl
davam pe, e outras darmentym pretas davampe , tudo numa arca, mas já
ia longe o tempo em que se contentava com presentes de fato e garrafas
de vidro, como lhe mandava o Fernão de M elo; não era isso o que êle
agora queria, mas sim padres, pelo menos cinqüenta, para distribuir
pelas diversas províncias do seu reino, e poder assim o filho D. Henri­
que, Bispo de Utica, que então já lá estava, percorrê-las devidamente
acompanhado, sem os receios que m anifestava, com o bom pai «nos
« tememos de nollo matarem com peçonha o qu e seria p a ra nos grande
«■ door e sentymento e nam vyviryamos apos elle m uito, etc.» (i).
Pensava o rei do Congo com a acção religiosa conter os desregra­
mentos provocados na sua gente pela nossa ocupação comercial, que,
tendo-se espalhado por todo o interior, com lojas fornecidas dos
principais artigcfc ao gosto do gentio, dava lugar a este fugir da cidade
para os locais onde essas lojas estavam, para mais fàcilmente adquirir
êsses artigos com a moeda de que podia dispor, — outros negros que
faziam cativos, deitando a mão aos que encontravam , sem quererem
saber se eram ou não livres, e chegando por vezes a agarrarem os
filhos dos fidalgos e os próprios parentes do rei.
Queixava-se êle de que os comerciantes, aceitando como escravos
todos os negros que os outros lhes levavam para a permuta, não
só lhe despovoavam o reino, mas davam lugar, perante as reclamações
que dos seus recebia, a não tomar o devido procedimento, mandando
soltar os negros livres, porque não queria molestar os brancos, e
assim, para obviar a estes inconvenientes apossem os p o r ley que todo
« homem bramco que Em nossos rreynos E ste u e r e conprara peças por
« qualquer tnaneyra que seja, que primeiro ho fa ça ssaber a tres fidallgos
« e oficiaes de nossa corte em quem Este casso com fyam os, a saber a
« dom pedro manipawça E a dom manoell manissaba nosso merinho mor
« E gonçalo pires nosso armador mor pera verem as ditas peças se
«ssam catiuos se forras e ssemdo p er elles despachados ao diante
«nam teram nenhuuma duvyda nem E m bargo e as poderam leuar e
« Em barquar »(2).
Pedia, então, o preto D. Afonso, a D. João III, « d o qu e deste casso
« lhe parece recebermos muyta merce nollo emviar di\er p e r sua carta , etc,*
2

(0 5
História do Congo, Paiva Manso, doc. xxvi, pág. o a 52.
56 58
(2) Idem, idem, doc. xxrx pág. a .
Parle I— Zaire e Coup 5p
e não consta de documento algum que D, João III lhe manifestasse 0
seU desagrado ou determinasse aos feitores a revogação da ordem.
A condição de escravo era um estado social da época e não o
Revemos ver com o espírito de quatro séculos depois. O que temos
que apreciar é o facto do respeito que nos merecia então a liberdade
individual e que tão injustamente temos sido acusados de oprimir (i).
Não esqueçamos que o rei do Congo, embora inteligente, e com uma
base de educação, era guiado e assistido por portugueses, que cie
escolhia para os principais cargos do seu reino, e que a medida por
êle tomada, lhe foi sugerida e indicada por algum dos nossos que
ocupava um dêsses cargos, talvez o Gonçalo Pires, a quem êle se
refere como sendo o seu armador-mor, cargo que devia corresponder
ao de chefe de serviços de marinha de hoje.
Nem só a falta de padres preocupava o rei do Congo. Ele queria
educar e civilizar a sua gente e estava convencido d# valor da nossa
civilização e, das vantagens que dos nossos usos poderia usufruir,
e por isso pedia também físicos, boticários e cirurgiões, porque,
com a falta dêsse amparo morriam muitos dos já cristãos, mas
«a outra gemte pella mayor parle se curram com emas e paõos e outras
«maneiras de sua antiguidade, os quaees se uiuem nas ditas entas e
«cirymonias poem toda sua cremça e sse morem creem que vâao ssalluos
«e que he pouco serviço de deus», e ainda insistia para que lhe man­
dassem pedreiros e carpinteiros, para poder acabar os edifícios que
tinha começado, e entre outros a igreja de Nossa Senhora da Vitória (2),
0 que D. João III lhe satisfez (3), talvez devido aos bons ofícios de
Jerónimo Leão, criado da Rãínha D. Leonor, outro português que
residia alguns anos no Congo, dos quais sete ao serviço de D. Afonso,
e a quem êste fazia as melhores referências, pedindo a D. João III que
o tornasse a mandar e lhe desse todo o crédito e aceitação nas cousas
que lhe contasse, « deste Reyno e partes da tiopia, porque delle melhor
«que doutra pessoa que a ellas veesse pode com verdade seem informado
«asy polia antyga experiencia que da terra tem, como por seu saber e
«despriçam seer pera yso ssoficiente».

(1) V ide referên cia a n terio r a medidas de liberdade de escravos e escravas determinadas
por D. M anuel para S. T o m é .
(2) V ide A n exos, d o c cit. Ravenstein na nota a pág. 109 do seu livro já citado, relaciona
várias igrejas co n stru íd as depois da de Vera Cruz, mas nenhuma sob a invocação de Nossa
Senhora da V itó ria
3
( ) Arquivo Nacional. Corpo Cronológico. Parte i.*, maço 38. Doc. m, de 26 de Janeiro
de 1528.
Angola
Náo conseguindo ter padres em número suficiente para educarem
os seus parentes e se espalharem pelo seu reino, resolve mandar um
grupo dos seus para Portugal, uns para aprenderem a ler e escrever,
outros para receberem ordens menores e ainda outros para irem a
Roma « e darem f f é das cousas ssamtas e boas que llá virem c as aprem -
« derem e deserem aos que as vystas nam tem ; » aproveitando a ocasião
para repisar queixas antigas contra um António Vieira, a quem, ainda
no tempo de D. Manuel, confiara vinte moleques para serem educados
em Portugal e de que êle se foi desfazendo na viagem, deixando uns
nos Pangelungos, outros em S. Tomé, chegando a Lisboa só com dez,
dos quais não tornou a ter notícias (i).
Aqueles parentes que êle indicava para irem a Roma, deviam acom­
panhar a embaixada que resolvera mandar ao Papa Paulo III, prestan­
do-lhe a sua obediência.
A civilizaçã# trouxera-lhe modos de ver e de se conduzir, bem
diferentes dos doutras épocas. Quando foi da sua subida ao trono,
D. Manuel, porque tinha um fim político a atingir, convenceu-o a
mandar uma embaixada ao Papa, oferecendo-se para pagar as despesas,
e, agora, depois de passarmos dezenas de anos a ensinar-lhe cerimónias
da côrte, a incutir-lhe que êle era um principe cristão como os outros,
que por ser rei, era parente com tratamento de irmão do nosso rei;
que, como êle, tinha o direito de usar títulos: p er gi~aça de deos R ey do
« Comguo e Ibumgu Cacomgo e Agoyo daquem e dalem a^ary Senhor
« dos ambundos damgolla daquisyma e musuaiiru e de matamba e muyllu
« e dos angicos e da comquista dopau\o alaumbu, etc. não o convidámos,
nem nos oferecíamos para as despesas.
Noutro tempo, êle mandara os seus principais e D. Manuel se
encarregara de os vestir e educar para irem a Roma, sem que lhe
passasse, então, pela mente a despesa a fazer e sem mesmo saber o que
significava a despesa. Agora, a civilização, ao par que lhe criara
a necessidade de, por vaidade e por interêsses políticos, se ostentar
como pessoa importante, ensinara-lhe o valor do dinheiro, que êle
não tinha, mas apenas os búzios da ilha de Luanda, que não corriam
na Europa e que de nada serviam aos seus embaixadores, a quem já
não classificava de principais da sua terra, mas de fidalgos, e a quem
tratava por duques e condes.

,
( i) História do Congo Paiva Manso, doc. xl , pág. 70.
Parte I— Zaire e Congo 61

R esolveu, então, escrever a D. João III, pedindo-lhe por empréstimo

citfO° mil cruzados.


O permanente contacto com os nossos, que, se uns, raros, o de-
pimiam, outros o engrandeciam, convenceu-o de que era grande o
;eU valor e o Congo um factor importante para a nossa política na
£uropa> Com êste fundamento, começa uma carta(i) por lembrar a
p, João III que um dos seus títulos era o de Senhor da Guiné, de que *
q Congo era a parte maior e que fôra a conversão do seu reino ao
crjstianismo que dera a Portugal uma das maiores glórias, mas que
gqueremdosse preferir, como no tempo dagora se costuma; otransytorio
((pello que permanece», se pusesse dum lado íôda a Guiné e doutro
só o Congo, e se veria que êste, só por si, rendia muito mais. Assim,
gle era, de entre os reis de que D. João III era senhor, aqueie que as
suas cousas mais estimava, melhor tratava, e mais auxiliava o seu
comércio, abrindo feiras, almadias, caminhos, e pumbos, onde se
resgatavam peças, e também aquele a quem D. João III menos galar­
doava, quando, pelos seus merecimentos em comparação com os dos
outros, não seria extraordinário que se lhe atribuísse uma renda para
certas despesas, como as que na ocasião tinha que fazer com a embai­
xada ao Papa.
Não há dúvida que é hábil esta justificação dos seus direitos,
que no tempo de D. Manuel seriam logo atendidos, sem mesmo ter
sido necessário invocá-los. Mas a época era, então, outra; as prodiga­
lidades de D. Manuel e dos seus antecessores, desde D. João I, tinham
criado ao país uma situação financeira difícil, e D. João III não podia
manter as ostentações de seu pai. Assim, o preto D. Afonso, sentindo
a diferença de tratamento, que tanto o amargurava, termina por
apelar para um empréstimo de cinco mil cruzados, dando em troca
cento e cinqüenta cofos (2) de dinheiro do seu reino, com 0 que se
poderia resgatar o número de peças equivalentes ao valor que pedia em
moeda de Portugal.
Deste despeito pela pouca consideração que lhe dávamos, facil­
mente passou o preto D. Afonso para a mania da perseguição. Ora
eram os pilotos dos navios que antes iam receber as suas ordens e, *-
agora, lhe não davam satisfações quando chegavam ou partiam; ora
eram os de S. Tomé que lhe violavam e roubavam a correspondência ï
----------- -1
( t) H istó r ia d o C o n g o , P a iva M anso, doc. xun, pag. 74.
\\
(2) C o fo , talvez co rru p ç ã o de iu ju co , que em língua do Congo significa dez mil. . •>

4 i
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ma «
Ó2 Angola
que enviava para Portugal, até que, nos últimos dias do seu reinado,
termina pela acusação a Fr. Álvaro, o nvertuoso padre frey Álvaro»,
corno êle ironicamente lhe chama, que ordenara num dia de Páscoa, a
sete ou oito homens brancos com espingardas, que na ocasião em que
êle estivesse na missa fizessem fogo para o matarem, no que era coni­
vente um outro português, Álvaro Pessanha, que se vira obrigado a
expulsar do Gongo (i).
*
* *

Os confessores e mentores do rei D. Afonso não limitaram a sua


acção à educação religiosa do seu povo e às relações com Portugal e
Roma.
A importância, a consideração que D. João II tinha dispensado aos
pretos que Dio£b Cão lhe trouxera como embaixadores do Congo e
que depois seguiram com Rui de Sousa, foi indicação bastante para a
norma das relações dos nossos com o preto do Congo, que, pela neces­
sidade do engrandecimento da nossa obra, fizemos rei e cercámos de
todo o respeito e considerações, que D. Manuel mais avolumou com a
criação da côrte e dos cargos administrativos e das regras de pragmá­
tica. Tendo-lhe estimulado a vaidade, o rei do Congo passou a ser
para nós aquilo que os nossos olhos queriam ver, — um potentado, e,
pela necessidade instintiva de ligar e coordenar as aventuras a que nos
conduzia o nosso irreprimível sentimento das descobertas, passou a ser
o rei de tôda a terra. Não só lhe prestámos todo o auxílio para
subjugar os que se rebelavam, como no conselho e informações que os
nossos, pediam sôbre a possibilidade de relações, com os povos
vizinhos, faziam tacitamente incluir uma autorização ou licença para
essas relações. Tornámos, assim, dependentes dêle todas as nossas
relações e, sós e isolados por todo o interior, sem armas para uma luta,
invocavam os nossos a sua autoridade, que sempre elevavam e engran­
deciam, com o fim de obterem bom acolhimento e um melhor e mais
rendoso resgate.
Intitulava-se o preto D. Afonso «Senhor de Angola », bem como da
Matamba, donde lhe vieram duas manilhas de prata que mandou de
presente a D. João III, escrevendo: hum fydalgo da minha terra que sse

( i) Paiva M anso, H istó ria do C o n g o , doc. x u v , pág. 76.


*

P a r te I — Z a ire Congo
63

matamba me m andou. . . » (i) quando, na verdade, se n ã o


“ atava de nenhum fidalgo da sua terra, que era só o C ongo, m as dum
irifio vizinho do C o n g o e de A ngola, até onde os portugueses tinha
rí egad° e que relacion aram com o do Congo, pelo que êle o passou a
^ c í i r nos seus dom ínios.
1(1 C om A n go la sugeriram -lhe um procedim ento igual ao que Unhamos
triiido para com êle, procu ran do o seu senhorio pela conversão do seu
&C\aO cristianism o, à cu sta dos nossos padres e dos nossos comerciart-
reS Mão só no tem po de D. M anuel, o rei de Angola m andou pedir ao
j o C o n g o que lhe m an dasse padres, o que indica a dependência em
ue aquele se ju lg a v a p a ra co m êste, com o tendo em 521
o português
galtazai* de C a stro fica d o prisioneiro do rei de A n gola, foi o do Congo
«que me tyrou do catyvo do poder dam guolan, com o, o próprio B altazar
escreveu a co n ta r a D. João III (2), a cre sce n ta n d o : « a mynha detença \
&e,n conguo he porque elR ey de conguo mandou hnm omem anguola
„para que me tyrase e hum creleguo pera o fa \ c r crystão fo y o, e depoys
«socederão cousas que d ey xo u de ho ser as quaes vossa alteia saber a
„pelo tempo porque este homem que elR ey de Conguo lá mandou f e \
acousas por onde tudo se tornou a perder como dyguo e asy se tornou e
«me fe\ fycar a m ym e eu esprevy ho que pasava a elR ey de Conguo
„ e que tevese este homem até que eu vyese e elRey feio asy eu tyve ma- !
, neyrr pera sair e chegam do a esta cydade tynha este homem dada fa m a
i de mym que heu era m ouro e outras cousas e achey fama que ele dy\ya
aque vyra serras d e prata na terra damguola e pedras e outras cousas», * \
o que prova a c o rd e a lid a d e de relações entre os dois reinos e até a
autoridade do do C o n g o sô b re A ngola, que, não provinha senão de
nós, pois, a -p esar-d e b ra n co s , n ão nos apresentávam ás declaradam ente
como conquistadores, m as fa ze n d o depender essas conquistas do rei do
Congo. E ste facto fa c ilito u a su a acção e estendeu o seu poder sôb re
outros p ovos, q ue o c o n sid e ra v a m tão poderoso que até tinha b ran co s
ao seu serviço, co m p a d re s que tinha idolos mais poderosos q u e os
deles, e co m ercian tes q u e le v a v a m m ercadorias que nunca tinham v is to
e muito a p re cia v a m , em e sp e cia l a aguardente e o vinho.
Em troca d a s m e rc a d o ria s que levavam , traziam os nossos, além
de escravos, as m an ilh a s d e c o b re , as esteiras, o marfim e a m ad eira ,
mas eram o co b re e o s m e ta is preciosos, as m ercadorias q u e, d ep o is %

( 1 ) H istória do G o n g o , P a iv a M anso, doc. xxx, pág. 58.


(2 ) ldem, idem, d o c. x x ix , pág. 56 e L u cian o Cordeiro, M em órias do U ltram a r.
!
\
\

; \
64 Angola
do escravo, mais nos seduziam, dando lugar a que loucamente nos
lançássemos na sua pesquisa.
Baltazar de Castro, que, quando foi para Angola, ouvira falar
na viagem de Gregório de Quadra pelo Zaire, ainda se refere a essa
exploração, na carta que do Congo escreveu a D. João III, mas já não
era o Zaire o que mais nos interessava. O que queríamos eram as
ricas e fabulosas minas de prata, chumbo e cobre, a que alguns se
referiam em segrêdo contado a muitos, e espalhado até chegar a Lisboa,
o que levou D. João III a mandar Rui Mendes, indivíduo entendido em
minério e que nisso negociava em Portugal, na Fiandres e na Alemanha,
para o Congo, como feitor das .minas, levando consigo, além de fundi­
dores, ferramentas e mais material necessário.
Escandalizou-se o rei D. Afonso com a chegada de Ruy Mendes
para tratar das minas, e logo «em sua corte demtro em seus paços man-
« dou fa\er fornalhas e asemlar temdas, homde se fundio a vea ssobre
«que lia escreveo a Vossa Altera e lhe tem lia mandado amostra asy
«do que se fundio como da vea » e resolveu mandar os fundidores às
minas de cobre e chumbo e «seu desejo he folguar ter com que syrva
« Vossa Altera e porem esta tam medroso de ouvyr dt\er que Vossa Al-
« te\a senhorea a Imdea e que hotnde ha ouro ou prata ally manda lloguo
«fa\er for/elejas que algüas ve^es mo tem dado em Reposta ao que lhe
« Requeiro » (1).
Parece que Rui Mendes não achou as riquezas que se apregoavam
e retirou para Lisboa sem que as minas entrassem em exploração, como
ainda não entraram até hoje, o que prova que era entendido no assunto,
mas não pensavam do mesmo modo os seus fundidores e, entre êles,
um alemão, Gimdarlache, que se deixou ficar no Congo, depois do seu
regresso e que, depois de várias viagens, taes cousas contou a Gonçalo
Nunes Coelho, que no Congo residia de há muitos anos, e desempe-
nhára os cargos de ouvidor, provedor e escrivão do rei do Congo, que
êste «por me parecer cousa Imposiuell lhe dei Juramento se 0 que de{ia
« 0fa ria cen o. . . o qual me certificou que era moor 0 proveito de cobre
«chumbo e prata que a Remda de toda espanha » (2).
Foi esta opinião do alemão Gimdarlache, que ficou prevalecendo e,
com o andar dos tempos, avolumou-se o valor das minas e estas12

(1) História do Congo, Paiva Manso doc. xxxvn pág. 66, e Luciano Cordeiro, Memórias do
Ultramar.
(2) Idem, idem, doc. xu, pág. 72.
Parte 1— Zaire e Congo 65
deram-se por todo o Congo e Angola, passando, a-pesar-de tantas
eStelR]sóes sofridas pelo que se julgaram ricos com as suas descobertas,
^sèr a constante preocupação de novos sertanejos que foram vindo e
até de muitas das nossas autoridades.

*
* *

Deve ter falecido em *540-41 0 rei do Congo D. Afonso, tendo


aovernado, não mais de cinqüenta anos, como nos deixou escrito João
de Barros, mas cêrca de trinta e cinco, sucedendo-lhe um filho D. Pedro
e, parece que depois de algumas lutas, um primo D. Francisco, e,
depois de dois ou três anos, um filho dêste (1) a quem nós, pelo
respeito às pragmáticas e à orientação estabelecida, passámos a chamar
rei D. Diogo 1, e que começou 0 seu governo em fins 5 e 544, princípios
de 545, depois de ter prendido 0 tio e os seus partidários (2).
Antes de continuarmos em detalhes sôbre a seguinte história do
Congo, analisemos, ràpidamente, a situação.
D. Manuel faleceu, tendo conseguido a dispensa de idade para
0 Bispo de Utica, D. Henrique, poder ir para 0 Congo, sem que o
Congo constituísse, contudo, um bispado e nem ainda S. Tomé, e sem
! lhe dar atribuições especiais, nem ao menos 0 nomear vigário. Era
um bispo in partibus e, pessoalmente, subordinado ao bispado da
Madeira, que lhe dava ordens por intermédio do vigário que tinha em
S. Tomé e a que 0 Congo estava subordinado.
Foi feito bispo e mandado para a sua terra natal e para a com­
panhia do pai, porque assim convinha à política de então e não podia
ir para outro ponto, porque a raça lhe não dava as qualidades neces­
sárias para pastor de brancos, tanto mais que nesse tempo, dada
a interferência das ordens religiosas na vida dos povos, os bispos
representavam um papel de alta importância e destaque. Era um bispo
para 0 Congo, um bispo para reclame da nossa acção colonial, como
0 pai era rei, com a diferença de que êste, consultando a relação dos
diversos cargos do reino, que D. Manuel lhe mandou por Simão da
Silveira, ia fazendo a seu belo prazer, os duques, condes, mordomos,12

(1) Carta de D. Diogo, rei do Congo a D. João III *despoes da morte delRey meu ssnhor e
am. Paiva Manso, doc. xlvui, pág. 83 .
(2) Vide Anexos doc. n.° 10. Lista dos Reis do Congo segundo Ravenstein.
9
66 Angola
trinchante e resposteiros, etc., ao passo que êle apenas levara uns
coadjutores e talvez uns fâmulos, que em pouco tempo desaparecera^
e não pôde renovar.
A certa altura scntiu-se deprimido. Não exercia sôbre os da sua
côr, o domínio c persuasão que exerciam os padres brancos; não tinha
dos padres brancos o respeito devido à sua dignidade e hierarquia(i).
Por outro lado, o pai, como D. João III lhe não enchia o Congo
de padres, — cinqüenta lhe pediu duma só vez, começou a amuar-se,
a queixar-se de que o abandonavam, que já não tinham consideração
para com êle, mas orgulhoso do engrandecimento que nós tínhamos
dado ao seu reino, aceitando que era tudo por êle e para êle; conhe­
cendo pelas histórias cheias de fantasia que os nossos, aos serões, lhe
deviam ter contado, o que era a vida da Europa e na índia; conven­
ceu-se de que, na verdade, era um rei e que o filho, sendo um bispo,
tendo estado em*Roma, conhecendo cardiais e outros altos dignatários,
era uma pessoa de alta importância e vítima, também, da pouca
consideração que êle julgava que a D. João III mereciam os assuntos
da África.
Soube que falecera um Papa e fôra eleito outro e disseram-lhe,
talvez o filho, que os reis católicos tinham por costume prestar
obediência aos novos pontífices. Recordava-se que D. Manuel, quando
o fêz rei, lhe mandara um papel para assinar, que era uma dessas
cartas de obediência e via que D. João IÍI nada lhe dizia sôbre o
assunto. O despeito atormentava-o, feria-lhe a sua vaidade. Era»
sinceramente, um crente, um cristão católico, apostólico, romano, rei
dum grande e rico país, ,1porque motivo não cumpria os seus deveres
para com o Sumo Pontífice?
E resolveu, então, mandar uma embaixada a Paulo III, com uma
carta, que, se atentamente a apreciarmos, é um documento da sua re­
beldia, porque, propositadamente, êle não quis copiar a anterior, que
mandara no tempo de D. Manuel e em que confessava que sendo enga­
nado p elo demónio, adorando ídolos, D. João 11 e depois dele D. Manuel,
o apontavam divinalmente de tamanho erro , e deu-lhe uma redacção
diferente, em que não há a menor referência a Portugal, quando natural

(1) Ravenstein, obra citada, diz que o Bispo de S. Tomé, D. Diogo Vilhegas, que o tinha
ordenado quando esteve em Roma, nos seus últimos momentos, manifestara o desejo de que
lhe sucedesse na cadeira episcopal e que o Papa, antes de lhe satisfazer o desejo e porque se
tratava de um nativo, quis vê-lo e ouvi-lo, pelo que D. Henrique seguiu para Roma, falecendo
na viagem em i 53$ ou antes.
Parte I— Zaire e Congo ó7
seria, querendo mosirar os progressos da fc católica no seu reino, que
se referisse à acção dos padres portugueses e dos reis D. Manuel e
D. João III.
ãSoube D, João III dêste facto e não lhe ligou importância? Talvez
não soubesse, porque anos depois, em 553, também não soube que o
rei D. Diogo I, que então governava o Congo, queria prestar obediência
ao Papa, e foi por uma carta do comendador-mor D. Afonso, de Roma,
que teve disso conhecimento.
Como se poderiam conseguir as relações entre o Congo e Roma sem
o intermédio de Portugal, são mistérios da política da época, mas o
facto de se ter realizado uma vez com sucesso, leva-nos a poder
admitir que já anteriormente se procedera da mesma forma, porque, no
que se não pode acreditar, é que a corte de Lisboa sancionasse tão
manifesto desrespeito, e o encarasse como simples manifestação de os­
tentação e vaidade, não lhe ligando maior importância^ quando, pouco
antes, era por intermédio de um seu embaixador especial, que fazia
chegar até junto de Clemente Vil, o padre Francisco Álvares com as
notícias do suposto Preste João.
Durante trinta e cinco anos do seu govêrno, o preto D. Afonso
enviou para Lisboa, quási todos os anos, pretos para serem educados e
além dêstes, outros vinham e voltavam com portugueses, constituindo
todos uma camada de civilizados, onde entravam muitos letrados e
outros com parte dos conhecimentos então exigidos para padres e que
não tinham chegado a receber ordens, que não viam de bom grado,
não a subordinação do Congo a Portugal, porque, realmente, não se
podia dizer que existisse, mas o facto dos portugueses disporem do seu
reino como dêies próprios, negociarem e percorrerem todo o país e os
vizinhos, onde tinham verdadeiro domínio.
Por outro lado sabia-se no Congo o que se passava em S. Tomé.
A pequena povoação que os portugueses tinham estabelecido, já fôra
elevada a cidade; tinha uma Sé Catedral, um bispo, cabido, etc., e uma
agricultura desenvolvida, que fazia a riqueza dos proprietários.
Transformara-se num importante centro de comércio e navegação,
suplantando a Mina e tôda a Guiné, e do seu porto irradiavam pára o
sul os navios, não se contentando já em irem negociar e resgatar
escravos ao Congo, mas até Luanda e para além Quanza, o que preju­
dicava o negócio do Zaire.
Se pelo lado do rei do Congo a situação era esta, pelo lado dos
portugueses também não era melhor.
68
Angola
Desde que em lugar do delegado do rei de Portugal, assistindo ao
rei do Congo, e dirigindo os portugueses que lá residissem sem a menor
intervenção daquele, se criou o de feitor, e depois se deixou que 0
preto os escolhesse e nomeasse, como seus empregados, a quem
pagava para dirigir os portugueses, os factos deviam tomar, fatalmente
a feição que tomaram.
Se a grande maioria dos feitores, por educação e patriotismo, se
soube conduzir no seu lugar, alguns houve que o não souberam e, no
desejo de benesses e proventos, procuravam agradar ao preto, com
prejuízo dos seus compatriotas.
Quando de Portugal não atendiam a pedidos do rei do Congo,
incutiam-lhe que era em S. Tomé que interceptavam a correspondência,
facto que, na verdade, por vezes se deu. Depois atribuíram a intrigas
dos que estavam no Congo, em cartas que escreviam para o rei,
costume muito «osso desde o princípio das conquistas e que os reis
consagraram, respondendo por vezes aos mais humildes e sem categoria
para prestarem informações, o que os colocava na dúvida sôbre a
verdade dos factos, decidindo-se na maioria dos casos, por acreditarem
que todos tinham razão, sem que contudo os punissem.
Os feitores, para se defenderem, aconselhavam o rei a que estabe­
lecesse a censura na correspondência que os moradores mandavam
para Portugal e, como não havia correio organizado, mandavam espias
a sítios certos, por onde deviam passar os portadores das cartas, para
lhas apreenderem «por que nesta terra ham p o r moor erro espreuer a
«vossa altera que fa \ e r huum gram de crime e Aesta caussa tem guardas
anos portos e pasageens da qui ate sonho que sam quaremta legoas, e
«todallas cartas que vaão pera o Reino e Ilha e dela vem see tomam
a e tracem a Sua R ea l Senhoria (era o preto rei) eperdoe deus A quem em
atam errado auiso o meteo. . .» (i).
Se o conteúdo das cartas desagradava, seguiam-se as vinganças
com inquirições e castigos, que iam até à confiscação de bens.
Deram-se êstes casos precisamente com o último feitor que serviu
com o preto D. Afonso, Fernão Rodrigues Bulhão, o que motivou o
protesto dos negociantes portugueses que residiam na capital, em
número de sessenta ou setenta, que ameaçavam retirarem-se se não
fôssem tomadas providências.

(0 Carta de Gonçalo Nunes Coelho, já referida.


Parte 1— Zaire e Congo Ó9
Essas providências devem ter demorado e, se os negociantes se não
retiraram para Portugal, como ameaçavam, internaram-se e foram
para Angola, fomentando daí 0 comércio com S. Tomé, por onde
podiam escrever cartas sem receio da censura e onde viviam longe da
acção de qualquer autoridade.
Era esta a situação, de parte a parte, quando faleceu o preto
D. Afonso, o que justifica as lutas havidas entre as duas correntes que, ^
possivelmente, se deveriam ter estabelecido entre os seus súbditos,
vencendo a que tinha por chefe 0 neto D. Diogo, ajudada pelos
portugueses descontentes do tempo do avô, pois vemos António
Caiado, um dos protestantes de então, desempenhar agora o cargo de
escrivão e tabelião, e já quando D. Diogo era rei, D. João III atender
as reclamações dos portugueses e nomear um tesoureiro para a arreca­
dação das fazendas dos defuntos, deixando êsse cargo de ser exercido
cumulativamente pelo feitor e provedor, embora cogtinuasse depen­
dente do tesoureiro de S. Tomé.

#
# #

Em 1545 quando 0 preto D. Diogo começou 0 seu govêrno a


situação podia assim resumir-se: um grupo de portugueses espalhados
pelo litoral e pelo interior, desde 0 CacongQ, ao norte de Molembo, até
pelo menos ao rio da Longa, para 0 sul do Quanza, negociando e
desviando o comércio para os portos que ocupavam, com prejuízo dos
que estavam estabelecidos no Pinda e, especialmente, no Congo; 0 rei
do Congo, não representando já para Portugal 0 papel político do
tempo de D. Manuel e, na vida interior, 0 seu poder minado pelas
pretenções da côrte que criara; a ocupação religiosa deficiente e essa
mesma exercida com pouco fervor; S. Tomé engrandecido, em plena
prosperidade agrícola e comercial e centralizando nas suas autori­
dades administrativas, fiscais, e religiosas, tôda a acção sôbre a
imensa região ocupada pelos portugueses no continente africano.
D. Diogo, usurpado o trono a seu tio D. Pedro, escreveu a D. João III
narrando-lhe o que se tinha passado, enviando a carta pelo seu capelão
e confessor, 0 padre Diogo Gomes, a quem deu poderes de seu embai­
xador, a-fim de tratar de outros assuntos que lhe interessavam e que
dependiam de resolução de D. João III.
Da conversa com o padre Diogo Gomes ficou no espírito de
7° Angola
D. João III a impressão de que o remédio para os males do Congo era
a evangelização, e, como a Companhia de Jesus se estabelecera havia
pouco, pediu ao seu superior, o padre Luís Gonçalves, lhe arranjasse
missionários para o Congo, se não foram antes estes a insinuaram, dadas
as más condições em que o ensino religioso tinha sido estabele­
cido no Congo, ser necessário que lhes fôsse confiado para o refor­
marem.
Para a missão ao Congo foram escolhidos os padres: Jorge Vaz
como superior, Cristóvão Ribeiro, Tiago Dias e o irmão auxiliar Diogo
Soveral; mas tiveram demora para a partida, entre outros motivos,
porque o padre Diogo Gomes quis ingressar na Campanhia de Jesus,
o que, depois de várias consultas, se reconheceu não ser conveniente à
política do Congo, para que não se dissesse que o confessor do rei
também era jesuíta e tudo ficava nas mãos da Companhia (i).
Entretanto, «p preto D. Diogo escrevia de novo a D. João III
pedindo para não demorar o padre Diogo Gomes e dar solução aos
i assuntos que lhe apresentara e, atendendo à urgência, D. João III
manda com aquele os padres da Companhia, que chegaram ao Pinda
; em Setembro de 1 5 ^7 , levando uma carta sua recomendando-os ao
preto D. Diogo, que os recebeu muito bem e tudo correndo, de princípio,
de forma a dar as melhores esperanças de bom êxito da missão.
Mas o problema é que não admitia delongas nem que se esperasse
pelo êxito da missão. O desvio de navegação para os portos do sul,
prejudicava fortemente os comerciantes do Congo, que, por falta
de navios, não podiam carregar todos os escravos que tinham para
exportar, tendo de os deixar meses e meses no Pinda à espera de
navio, com o que perdiam bastante, não só pelas despesas para o seu
sustento e pelos que faleciam, como, ainda, porque os poucos navios
que apareciam, tinham de embarcar mais peças do que o regimento
que traziam lhes autorizava, dando lugar à morte dos escravos pela má
f acomodação. *

No início da colonização, os colonos de S. Tomé tinham obtido


■ o privilégio do resgate no rio do Manicongo, aonde mandavam os
■ seus navios e onde tinham os seus feitores. A pouco e pouco, estes
foram sendo substituídos por colonos que ali se estabeleceram, alar-
t _________

(i) Synopsis Annalium Socielatis Jesu in Lusitania ab anno 1540 usque ad annum
Authore R. P. António Franco Societatis ejusdem sacerdote. Ano m dccxxvi — In Lusitania
Ano 1547 Nostri in Congo praedicant pág. 22.
Parte 1— Zaire e Congo 7l
«ando as suas relações pelo interior, trazendo desde Angola até ao
2aire, para embarcarem no Pinda, os seus escravos e mercadorias,
sobrecarregados para a venda, com as despesas duma tão longa
viagem.
Naturalmcnte, surgiu aos de S. Tomé a idea de evitarem êsse
encargo, procurando um pôrto da costa, mais próximo do local do
resgate, e, primeiro no Ambris, depois no Dande, chegaram ao Quanza
c ainda mais para o sul, pondo lá feitores seus ou aproveitando os que
tinham no interior do Gongo, prejudicando assim os comerciantes esta­
belecidos no Pinda.
A princípio, a cobrança dos impostos correspondentes a todo o
movimento comercial da Mina e Congo centralizava-se em S. Tomé;
mas, desenvolvendo-se o Congo, reconheceu-se, a necessidade de
arrematar em separado os seus impostos e, embora não se encontre
nos arquivos qualquer auto dessas arrematações, (i)* não nos deve
restar dúvida de que, de certa época em diante, elas se fizeram,
porque o rei preto D. Afonso, numa carta que escreveu a D. João III
em 1540, a propósito dos pilotos dos navios já não 0 procurarem,
nem quando chegavam, nem quando partiam, diz «nom sey se 0 causa
«ter vosa altera 0 trato arrendado» (2), mostrando bem que até ali o
não estava.
Devia haver, pois, dois arrematantes, um em S. Tomé, outro no
Congo, mas este cerceado nos rendimentos que lhe deviam dar os es­
cravos e mercadorias exportados pelos portos que os navios de S. Tomé,
exploravam, estabelecidos em mais de trezentas milhas da costa.
Avalia-se bem o prejuízo que daqui advinha para êle e para os portu­
gueses estabelecidos no Congo, o que os levou ao protesto.
Os negociantes queixaram-se e 0 feitor eo corregedor encaminharam
a solução para que o preto D. Dtogo mandasse proceder a uma inqui­
rição, da qual se averiguam os prejuízos sofridos pelos diversos expor­
tadores e, entre êles, Jorge Vaz, padre da Companhia de Jesus, que
pouco antes tinha chegado e já ficara com sessenta ou setenta peças
por embarcarem (3).

(1) O primeiro auto de arrematação, respeitante a Angola e Congo, que se encontra


publicado, é de 1607, Falcão, Livro de tóJa a fazenda, etc., e contudo além dêste a que nos
referimos, deve ter havido outro em 1580-87 para Angola.
(2) Doc. já cit. Paiva Manso, pág. 76.
( 3 ) História do Congo, Paiva Manso, doc. L pág. 84. É para notar que esta inquirição
é 0 traslado de outra a que 0 D. Diogo mandou proceder e que fòra interceptada em S. Tomé.
72 Angola
Se pelo lado do negócio era esta a situação, pelo que respeitava
às relações entre os portugueses, apresentava-se ainda mais agr*
vada.
Sucedeu o que era fatal que viesse a suceder, dada a situação <j0
Congo nos últimos tempos do preto D. Afonso. Este queixava-se de
que lhe tínhamos enchido o reino de «guromentes, mulatos ebenyms
«se nenhuü fru y to nem seruiço de Deos faceram sse nam ymsynar
«aqujlo de que husam que ssam mujtas torpezas e maa vida... ([) e
talvez tivesse razão. Os pretos da Guiné que para lá leváramos e 0$
mulatos que durante cinqüeuta anos por lá andámos fazendo, juntamente
com os civilizados, a que já atrás se fêz referência, (semente de qUe
vieram os calcinhas, os ambaquistas e os meninos das missões) e os
portugueses pais desses mulatos e patrões dos guinés, constituíam um
dos partidos em que se tinham dividido os portugueses e que, na
ocasião, apoiava o preto D. Diogo, ou antes, se servia da autoridade
dêle para perseguir os seus contrários.

*
* *

A acção do clero, pela supremacia que os padres da Companhia de


Jesus procuraram adquirir, veio agravar esta situação.
Os rigores de preceitos religiosos como a Companhia os queria
impor, não eram admissíveis no Congo e provocaram a mais enérgica
reacção, tanto mais que os padres da missão eram pecadores como os
outros e não resistiam à tentação do negócio, faltando-lhes assim a
autoridade para se fazerem respeitar, principalmente entre os cole­
gas, que os não consideravam mais virtuosos e se lançaram na luta
ajudando os negociantes que apoiavam, ou antes dirigiam, o preto
D. Diogo.
O irmão Diogo do Soveral veio a Lisboa contar a D. João III
o que se passava e o padre Diogo Gomes abandonou o Congo e
foi para S. Tomé, onde expôs detalhadamente o que era a vida no
Congo.
O capitão-mor e governador de S. Tomé, Francisco de Barros de
Paiva, em vista das queixas que recebera dos portugueses, procedeu às

(i ) Anexos, doc. n.° 8 já cit.


Parte l — Zaire e Congo 7$
peccssárias averiguações, tendo apurado(i) que o preto D. Diogo não
^ os mandava espancar e roubar, mas chegara ao atrevimento de
mandar cortar as orelhas a um Gaspar Ferreira; que tomava ou com­
prava as mercadorias e só as pagava quando as tinha consumido; que
estabelecia varas e côvados da grandeza que entendia; que tabelava
oS géneros e mercadorias; que fechava aos portugueses os pumbos
0nde era fácil resgatar, e os abria aos pretos da terra que negociavam,
deixando para os portugueses aqueles onde havia dificuldade e perigo,
acrescentava o capitão-mór que isto eram os agravos feitos a omens
leygos e agora tocamdo no eclesyastico. . . o bispo semdo emviado por
posa alteia aquele Reyno e hum perlado tão vertuoso terlhe tão pouquo
acatamento que veyo da maneira que vosa alte\a sera enformado e agora
os padres da companhia de Jeshum que nem omras ne Imterese buscão,
por Repremderem cousas pruvicas dopouo mandalos decer dos pulpetos e
deytar fora da ygreja, etc., pelo que tinha reünido 9 ouvidor, juízes
vereadores, feitores e oito ou dez homens principais de S. Tomé e,
expondo-lhes o caso, resolveu escrever uma carta ao D. Diogo fa­
zendo-lhe ver a incorrecção do seu procedimento, esperando que êle se
corrigisse. Se assim não sucedesse, estava em mão e vontade de
D. João III resolver o assunto, determinando que não fôssem navios ao
Congo, no que não havia perigo das conseqüências, porque quando o
D. Diogo não fose o que deue, senhores ha no Reyno tão {eloso da fee e
omra de deos que o mo consemtirão e asy elRey dom pedro que
esta na Igreja e dom Rodrigo que estaa nesta Ilha mormente vemdo que
não temfauor de vosa alte{a que o ele sostemta, etc.
Em qualquer parte onde conviesse, se faria um Congo, como por
exemplo em Changala (ilha de Luanda) onde, apesar-do D. Diogo estar
ensoberbecido com a vitória alcançada, o delegado que lá deixou se
tinha revoltado, dizendo-se, entre êles, que quem tem a posse daquela
terra é que era, verdadeiramente, o rei do Congo, por estarem lá as
minas do dinheiro e fazer-se melhor resgate que no Congo. Asy
também polo Rio de Comgo arriba, da outra bamda, está a terra dos
am{iguos e outros Resgates descrauos, que são os que vão a congo e tudo
fora dos lemytes desse Reyno e, asy, estão as minas do cobre mais arriba
ao lomgo do Rio, e o senhor da terra omde elas estão, Jaa se pode ver o
proueito que lhe vira ter comonicação com purtugueses e mais semdo per
mandado de vossa alteia. Enviava tôdas estas indicações, para que

(i) Paiva Manso, História do Congo , doc. u h , pág. 93.


10
74 Angola
se visse que, se o D. Díogo se não emendasse, fàcilmente podería ser
obrigado a proceder como devia, e só pelo temor e interesse se conseguia
alguma cousa daquela gente, pois de comprimentos e boas maneiras são
eles m uylo esquecydos.
Não se esqueceu Barros de Paiva de indicar a D. João III nesta
carta, referindo-se à parte do clero, o que êle julgava ser a verdadeira
origem da desordem do C on go: porque crea vosa altera que dos que laa
estão vem huma boa parte do dano porque asoluem de quantos casos
querem , como se fosem papas e di\em a e lR e y m il cousas com que o
fa \em muyto mais soberbo e desobediente.
Esta informação, manifestamente insinuada pelos jesuítas para
servir aos seus fins, traduz contudo a verdade, muito principalmente
na última parte e, para o confirmar, basta a carta dirigida a D. João III
escrita por António Calado, português, escrivão do preto D. Diogo
e que êste assfnou(i), na qual, insolentemente, começa por dizer:
t Os padres e leygos vasalos de vosa A ltera que de seo Reyno vem a este
« noso, pera em ele ganharem suas vydas p er suas ordes e mercadorias
« que tracem são tão desausalutos... q u e ... nos fa\em com y so muyto
« desprazer e desservyço , p olo desgosto que diso Reçebemos. E por serem
« vasalos de vosa A ltera com quem sempre queremos communycar nosa
« amligua amizade e Irm ãodade . . . pasamos por y s o e não mãodamos
ndar ho castygo que cada hum merecya, etc.», o que, fatalmente,
levaria o preto a convencer-se que era pessoa de importância e, dados
os maus instintos da sua raça, a aproveitar-se do apoio que lhe davam,
para exercer as crueldades, prepotência e faltas de respeito a que faz
referência Barros de Paiva.
Mais tarde, o preto D. Diogo assina outra carta, (2) dirigida a
D. João III a contar o que se passara com os padres, originando as
questões uma scena entre a filha e o escravo dum branco que lhe
faltou ao respeito, pelo que ela o castigou, intervindo os padres, que
depois se lhe queixaram pedindo o castigo da filha e, como êle os não
atendesse, porque também não castigara os portugueses quando foi da
guerra de Changala e que tinham escondido muito dinheiro, um dos
padres, estando no púlpito, na igreja, a fazer uma prédica ao povo,
insultou-o de perro , de parvo e de pouco seber. Constando-lhe que 0
padre Jorge Vaz escrevia a D. João III sôbre o caso e contando-o a seu12

(1) História do Congo, Paira Manso, doc. lii, pág. 91, 28 de Janeiro de 1549.
55
(2) Idem idem, doc. l v i , pág. 99, março 1 o.
i
<
Parte 1 —Zaire e Congo
f
0 âo, lhe Pe^‘a ^ue mandas$e fazer uma devassa para se averiguar
das cousas de que o acusavam (1).

* •

ari"
*
As queixas enviadas para Lisboa, quer pelo capitãoraor de S. Tomé,
Barros de Paiva, quer pelo preto D. Diogo, não tiveram a solução que
deveriam ter (2).
Era fácil concluir-se delas que a pretendida rebeldia do preto rei do
Congo era apenas a luta entre os nossos. O rei do Congo não era
mais do que uma das muitas ficções, de que sempre usámos e ainda
usamos, com que encobrimos as nossas lutas pessoais e de interêsses.
Preferíamos, em vez de denunciá-las claramente, convencermo-nos de
que, na verdade, existia um preto que se permitia ter ê atrevimento de
se dirigir em termos desrespeitosos ao nosso rei e que mandava cortar
as orelhas, mãos, etc., aos nossos, quando afinal 0 preto apenas servia
para, em nome dêle, um grupo governar e perseguir outro (3).
Em Lisboa preferiam dar ao caso foros de acontecimento para ser
tratado entre monarcas, 0 de Portugal e 0 do Congo, e êste, seguindo
nesta orientação, procurou habilitar-se com os documentos legais para
í
as suas reclamações e mandou proceder a uma devassa (4) sôbre o
crime de traição praticado pelo seu tio D. Pedro, por êle destronado,
documento que é interessante, porque revela da parte de quem o
sugeriu e de quem 0 organizou, 0 tal respeito pelas ficções, pois que
nêle não há a menor referência aos verdadeiros instigadores do preten­
dido crime de traição, e tudo se passa entre pretos, como se fossem só
êles a manobrar todo aquele trama. Fecha a devassa com a junção
de uma carta apreendida ao preto D. Afonso e por êle dirigida a um
parente D. Rodrigo, homisiado em S. Tomé.
Da leitura da devassa e da carta do capitão mór de S. Tomé,

(1) Arquivo Nacional da Tône do Tombo. Corpo Cronológico, parte i.*, maço 82.
doe. 48: Não publicado por Paiva Manso. Anexos, doc. n." ii.
{2) Mais tarde, em 1610, deram-se casos idênticos no Congo a propósito do estabelecimento *
de uma fortaleza no Pinda, e os governadores do Reino, então, resolveram-no mandando
chamar a Luanda todo 0 clero que estava no Congo, sem fazerem constar os fins, e prendendo
e mandando para 0 Reino 0 confessor do rei do Congo, um padre mulato, Diogo Rodrigues
Pestana, deão da Sé do Congo.
( 3 ) «Nil novi sube sole».
(4) História do Congo, Paiva Manso, doc. lvu, de 10 da Abril de i 55 o, pág. tot.
76 Angola
B arro s de P a iv a co n clu i-se que o preto D. P edro procurava re-haver 0
trono que lhe fôra tira d o pelo D. D iogo e p ara isso tinha reüniões
se rea iza va m na igreja. Um dos padres desconfiou das conversas
co n fesso u um dos im plicad os e in du ziu-o a «que descobrise tudo a suà
« Real Senhoria, porquanto erra caso de traiçam e toquava e Sua Reai
«pesoa » (t).
P re sa a m aio r parte dos conspiradores que estavam no Congo, 0
D . P e d ro refugiou-se na igreja, a p roveitan d o o p rivilégio do coito, que
tínham os transferido para as con qu istas e, o outro, D. Rodrigo, fugiu do
C o n g o e veio a L isboa, donde D. João III o m andou para S. Tom é (2),
e aí, subsidiado pelos seus, bem tratad o e em liberdade, tratava dos
negócios do D. Pedro, que lhe recom en dava procurasse obter uma bula
do P ap a reconduzindo-o no trono: « Irmam, eu vos emcomendo não vos
« esqeçaees de nos, vos a muito tempo que estaees lia e em vos esta toda
« ajuda pera nosfipera vos serdes hum tam mao homem. Ja não atentemos
« a perda de nosa geração, pois Inda vos estaees asim e não temos oulra
« esperança se não em vos, por que vos estaees na parte da verdade, nos
« cuidamos que vos mãodaseis ya a ellRe de portugall que mãodase a
« Roma pera nos soquorrer com huma santa bulia pera tirar aquelle tredor
«porque este tredor não tem outro medo se nam da bulia... Jamais agora
« elle tem mãodado a Roma hum homem branquo a buscar huma bulia
«pera quando vier a bulia matamos a todos gerallmente » (3 ), e êle, se
não conseguiu a bula, conseguiu que Barros de P a iv a escrevesse a
D. João III, aconselhando-lhe a não m andar os navios ao rei do Congo
m as àqueles, sempre mais ou menos rebeldes, que êle contava entre os
seus vassalos e que, com o auxílio das relações directas connosco,
tom ariam im portância e prestígio em detrimento do D. Diogo, que
veria o seu reino perder em unidade e engrandecim ento.
Confirm a-se por esta carta o que já por factos anteriores se sabia

55
(1) História do Congo, P aiva Manso, doc. l v u , de 10 de A bril de i o, pág. 101.
(2) Na Bibl. Nac. Reservados. C olecção Pom balina, n.° 647, sob o n.° 6. Papel avulso de
noticias, etc., lê-se a fl. 16 v. á m argem : Alvaras — Dom Rodrigo parente dei R ey do Congo
« fq y mandado p or el R e y Dom João a ilha de São Thome até se ordenar delle outra cousa, da
a qual ilha 0 dito Dom Rodrigo quis fu g ir para Congo, e f o i tomado no caminho, por outro
« navio que o capitão da ilha mandou, e porque desta fugida se segurarão inquietações no Reyno
do C ongo, o dito R e y mandou pedir ao de P ortugal que castigasse Dom Rodrigo, mandael
« R e y se tire devassa da dita fu g id a e do que nella passou, e se lhe mande serrada, e sellada
«para faqer o que lhe parecer ju stiça por alvará dei R e y feito em Lisboa a outo de março
«de i 56o.
55
Deve ter havido engano na referência à data dêste A lvará, que deve ser i o.
3( ) C arta apensa à devassa, e apreendida ao D. Pedro, já referida.
Parte / — Zaire e Congo 11
com respeito à facilidade de relações dos pretos reis do Congo com a
Santa Sé, e à convicção em que estavam de que o Papa tinha no seu
reino mais poder que o rei de Portugal e que, por uma simples
bula, podia depor o seu rei e nomear outro, ao passo que as cartas
e exortações do rei de Portugal e dos seus delegados, não tinham
diais que o valor de um conselho, sem obrigação de ser acatado e
seguido. *
A denúncia de que o D. Diogo mandara a Roma um homem branco
para obter uma bula em determinadas condições, tem algum funda­
mento.
O comendador-mor D. Afonso, em uma carta que de Roma enviou
a D. João III, dizia: e depois me veo dar conta Jacome da fonseca que
«hum que nesa corte de Vossa Alte\a fa\ as cousas delRey de Congo
«lhe mandaua procuração para dar obedientia em seu nome ao papa
«eu lhe dise que não fizese nada até Vossa Alteia otaber e ordenar o
« que for seu serviço, etc.» (i).
Entre os poucos documentos que ficaram nos arquivos nacionais,
apareceu uma minuta de uma carta de obediência de D. Diogo ao Papa
Paulo III, minuta que servira para outra carta do preto D. Afonso com
o mesmo fim e que tem as duas datas — 1533 e 1547— . Não se pode
afirmar se o preito de obediência foi prestado nessa ocasião, como
também se não sabe qual a resposta de D. João III ao seu mordomo-
-mor em Roma, sôbre 0 assunto, mas 0 que se vê é que havia hum que
nesa corte de Vossa Alte\a fa\ as cousas delRey do Congo, que mandava
dizer a Jácome da Fonseca para prestar obediência e que o facto não
passou a êste por muito natural e corrente, e foi pedir instruções ao
comendador-mor sôbre a sua execução.
O procurador do rei do Congo devia talvez ser Ambrósio de Azevedo
e, se não conseguiu as bulas que 0 D. Pedro dizia que êle vinha obter,
conseguiu alguma cousa mais importante, que foi a não aprovação de
D. João III à política de represálias contra 0 preto D. Diogo, que os de
S. Tomé e os padres da Companhia de Jesus preconizavam e, assim,
evitar o esfacelamento do reino do Congo, que fatalmente se teria dado
pela perda da sua unidade, se favorecêssemos a rebeldia dos Anzicos e
de fidalgos que se julgavam com direito ao trono.
D. João III, pelo contrário, procurou ainda mais uma vez, trazer o
preto D. Diogo ao bom caminho pela religião.1

(1) História do Congo, Paiva Manso, doc. lviii, pág. no.


Angola
O padre jesuíta Jorge V az tinha falecido, e os outros dois, Crista -
H ibeiro e T ia g o Dias, levavam uma vida escandalosa, lendo enriqaeJ j °
com o negócio, mas não era isso m otivo p ara que, substituídos estes
confiasse ainda outra vez aos padres da C om panhia a missão de
larizar a situação do Congo. R esolveu o Provincial da ordem mancj1*
inquerir dos actos daqueles, para lhes dar o devido castigo (i) e eQ
carregar d a n ova missão o padre Cornélio Góm ez, que « tinha nascid0
«em C o n g o , d e p a y e m ay p o r t u g u e s e s . alem destas conveniênciastinha
« sid o este P a d re m u y aceyto ao R e y do C o n g o e tinha vindo por Seu
« em b a ixa d or a P o r tu g a l e sabia m u y to bem a lin g oa da terra »(2).
Levou o padre Cornélio por com panheiro o padre Frutuoso fto.
gueira, que também já tinha estado no C ongo e ainda « tres menino^
* orfaos q. lhe deo d e sua casa o A b b a d e P ed ro D o m en ec , para lá Ca,
« thequivarem a filh o s d e naturaes d e C o n g o e fa ie r e m também casas de
«or/ãos sem elhantes á q. o dito A b b a d e D o m en ec tinha fundado em
« L isb o a » .
Acom panhava ainda a missão um em baixador do rei do Congo,
cujo nome as crónicas não registaram.-
Não foi feliz o padre Cornélio e, ainda êíe não tinha chegado e já
um « legado » ou correspondente, que o rei do Congo tinha em Lisboa,
escrevera a êste, intrigando-o, pelo que, logo que se avistou com 0
preto, teve de se justificar, parecendo que a intriga fôra desfeita e 0
preto ficara na melhor das disposições. Poucos dias depois tinha
mudado. Estas scenas repetiam-se continuadamente. Em conversa
com o padre Cornélio, o preto estava sempre de acôrdo e muito
respeitador, mas, logo que êle se retirava, vinham as ordens e os actos
em contrário, o que o padre atribuía a inconstância, mas que não era
senão o resultado da pressão exercida pelos seus conselheiros, inimigos
da Com panhia.
Convencendo-se que era infrutífera a sua estada no Congo, o padre
Cornélio retirou para S. T om é e depois para Portugal.
Ainda depois, se procurou pela acção do padre Diogo Rodrigues,

. ( j) Synopsis Annalium Soe. Jesu, já cit., pág. 38


. Profecti ad Congum & supplicium P.
Christophore Ribeiri.
(2) Na obra acima faz-se referência à ida do padre Cornélio, mas encontra-se mais de-
senvolvidamente descrita a sua estada no Congo na Crónica da Companhia de Jesus na
província de Portugal, etc., composta pelo P. M. Balthazar Teiles. Em Lisboa. Por Paulo
5
Craesbuck anno do Senhor M D C X X X X V, parte 2.", livro .°, Capítulo v, pág. 272. Bíbl. Nac.
Reservados.
Parle / — Zaire e Congo 79
seu antigo embaixador, regularizar a situação no Congo, mas também
iste nada conseguiu(i). A gente de S. Tomé tinha iniciado as relações
oficiais com Angola, e os nossos do Congo, irreductíveis na sua
orientação de conservarem Angola dependente do Congo, empregavam
os últimos cartuchos
Entretanto falecera D. João III e a educação de D. Sebastião fôra
confiada ao jesuíta Luís da Camâra.

*
* *

A Companhia de Jesus, tendo sido organizada para desempenhar


no Novo Mundo descoberto, na África, na América e no Oriente, pre­
cisamente o mesmo papel político que o clero católico desempenhara
na Península Ibérica, primeiro na luta contra os visigtjdos, e depois da
conversão destes, contra os sarracenos, exigia, para o desempenho da
sua missão, condições idênticas. Precisava da luta entre cristãos e
infiéis para excitar e exaltar o fanatismo e com êle fortalecer a sua
influência política.
No Congo não havia luta religiosa no sentido de combate de
doutrinas. A catequização, bem ou mal, estava feita. O que havia
era a luta entre religiosos, entre os clérigos das diversas ordens e os
padres da Companhia de Jesus.
Estes, intransigentes em matéria religiosa, não admitiam a acção
do frade passa-culpas, que se contentava em receber o pê de altar em
escravos e que absolviam de quantos casos queriam, como se fossem
papas. Não eram, como dizia Barros de Paiva, dos «que nem omras
nem Interese buscão», antes pelo contrário, o padre Jorge Vaz, um dos
prejudicados por não poder embarcar aqueles sessenta ou setenta
pretos e os outros dois que enriqueceram escandalosamente, bem
mostravam que se não tinham esquecido, no pouco tempo de estada
no Congo, de buscar o interesse; queriam o interêsse e queriam o
domínio absoluto, pela intransigência em princípios religiosos, amea­
çando com as penas do inferno os que os não cumprissem rigorosamente
e, quando estas não chegassem, com as penitências, com as excomu­
nhões e com a morte na fogueira.

(0 558
Carta do Padre Diogo Rodrigues para a Rainha D. Leonor, de 16 de Outubro de i .
3
Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo. Corpo Cronológico, parte t.*, maço to . Doc. 11, não
publicado por Paiva Manso. Anexos, doc. n.# 12.
8o Angola
As prédicas do púlpito para a evangelização dos gentios, não lhes
bastavam , queriam que êles se convertessem cumprindo com fervor
todos os preceitos e deveres e, em especial o da confissão, com que os
seus contrários tinham conseguido armar tôda a intriga da cons­
piração.
O preto D. Diogo não se conformava, nem aceitava esta nova
maneira de ser religioso. Daí a luta para o deporem, o que não con­
seguiram, e, antes se viram forçados a abandonar o Congo e esperarem
ocasião e meio mais oportunos para a execução do seu plano colonial,
de que não desistiram.
Nem a realeza como nós a tínhamos criado, deixando ao rei todos
os direitos sôbre os seus e reservando para os nossos todo o comércio
e exploração do país; nem a religião como os frades a tinham ensinado,
baptisando indígenas sem se certificarem da sincera contrição do êrro
em que viviam<ce contentando-se com a substituição dos ídolos e
crenças nas adivinhas dos feiticeiros, pelas imagens dos santos e rezas
implorando os milagres, lhes convinham. Queriam mais. A religião
não se oferecia, impunha-se, e os que a não aceitassem, eram inimigos
do Rei e de Deus, por graça de quem aquele governava, tendo o dever
de lutar pelo extermínio desses inimigos. O comércio era uma mani­
festação da vida dos povos que viviam dentro da lei do Estado, que
era a lei de Deus, e não podia ser nunca o engôdo para as conversões.
A escravatura não era um comércio; era o direito dos que viviam
na lei de Deus, sôbre os seus inimigos, para os forçarem à conversão.
Os reis na impossibilidade de só pelas suas fôrças assegurarem as
suas descobertas e conquistas, tinham implorado o auxílio divino por
intermédio da Santa Sé, a quem confiaram a regularização dos seus
direitos. Acima deles, ficou havendo o Papa, a quem todos os povos
conquistados tinham de manifestar a sua obediência e acatamento e,
a religião era o primeiro dever dos povos. A Companhia de Jesus,
formada por homens de tôdas as nacionalidades, não pertencia a
nenhuma, para só servir exclusivamente a Deus. Era o seu exército,
inteligente e ousado, que vinha tomar conta do Mundo Novo, para dar
unidade à civilização Era dentro destas normas que seria orientada
a política colonial das nações que tinham feito os descobrimentos e,
para garantia da sua execução, tinham-se assenhoreado da direcção de
todos os negócios do Estado de Portugal e Castela.
O Congo, como os nossos mercadores e os frades o tinham feito
era um pecado vivo, bradava aos Ceus, estava cheio de mulatos, na
'■ Ç -

Parte I— Zaire e Congo 8r A

aioria filhos dos frades, que no aqueryyr e castidade não tinham


lXlji-egimetiio, como Manuel Pacheco, quando feitor, se queixava a
p João III. O esfôrço por êles empregado para a redempção, fôra im-
roficuo e ia resultando numa revolta, em que o rei preto D. Diogo
era instigado pelos portugueses lá residentes e, sobretudo, pelos padres
jnjinigos da Companhia, e entre êles, o seu confessor, Padre António
^uís de Sá, huseyro he vyseyro a fa\er a taes cousas como a dom
João Bautysta, bispo de S. Tomé, que tinha ido ao Congo para apazi­
guar as questões.
A luta no Congo, nas circunstâncias em que o país estava, não lhes
convinha. Os nossos, como desforço contra o procedimento de S. Tomé
pelo desvio do negócio e da navegação para Angola, que êles queriam
fechar e conservar em seu poder, animavam a insubordinação do preto
i
p. Diogo contra as autoridades da ilha e, aconselhavam-no a mandar
embaixadores ao rei de Portugal, com bons presentes, Çue, diziam-lhe,
era o suficiente para conseguir tudo o que quisesse, e êles bera sabiam
que o processo era de resultados seguros, se não pelo rei, pelos seus
conselheiros. A desorganização do Congo era um pálido reflexo do que
se passava na Metrópole.
Seguindo a boa táctica era necessário ocultar as intenções, para
se ter certa a vitória. O Congo tinha que lhes vir às mãos, mas
por outra forma, tirando-lhe Angola, a que êles, depois de a evange­
lizarem a seu modo, subordinariam o Congo. f

*
# «

A colonização, encarando-a sob o aspecto que tinha na época,


(colonizar era evangelizar, baptizar), estava feita no Congo e, desde o
início do nosso estabelecimento, sem o carácter de conquista e levada
a efeito pelas relações comerciais e pela acção religiosa, sem exageros
e sem fanatismos. Setenta anos passados, perdurava ainda o efeito do
cumprimento da promessa de Diogo Cão de regressar dentro de quinze
luas e da acção política de Rui de Sousa, que com tanta inteligência
soube deixar bem gravados nos negros, o cavalheirismo, o desinteresse,
m
a ousadia e o valor dos nossos, e da acção religiosa de Fr. António da
ordem de S. Domingos, que com tanta virtude, dedicação e sacrifício,
deixou espalhada a bondade da religião de Cristo, que outros, por êsse
mundo fóra, nessa época, impunham pela tirania.
U
i

%
82 Angola
Do conjunto de tôdas estas qualidades creou-se no espírito do
negro, um tipo de português, que se tornou necessário à sua vida,
porque, embora em seu proveito próprio, lhe aumentou a importância
e o prestigio entre os povos vizinhos com que estabelecia relações, e
o dominava, sem lhe fazer sentir o domínio.
Entrámos no Zaire com o fim do Preste João para por êle chegar­
mos à índia, mas, entretanto, dava-se o contrário, atingíamos a índia
e de lá fomos ao preste João. Desde então, o Congo perdeu para
Portugal todo o interesse político, mas manteve-se pela unidade e en­
grandecimento que lhe deram os nossos que lá andavam e que,
alheados desse interesse político, e como resultante do seu próprio,
tinham formado o esqueleto duma nação, que se estendia desde a foz
do Zaire, pelo seu curso, muito para além de Brazaville; pela costa
para o norte até ao Cacongo e para o sul, até Benguela Velha senão
mais além; pa& leste, pelo menos até aos limites do Sundi nas mon­
tanhas de Cristal, dos Panzelungos nas montanhas do Sol e da Batta
nas montanhas do Salitre; e ainda mais para o sul e para leste, até aos
reinos de Angola e de Matamba, onde tinham deixado, como marca
que os séculos não conseguiram apagar, o trilho bem nítido dos seus
passos, em duas linhas de penetração ainda hoje as mesmas, partindo
de S. Salvador: uma, pelo Ambriz aos Libongos e a Luanda, outra,
monumento do nosso valor e da nossa audácia, pelo Dembe ao Encoge
e a Duque de Bragança e a Ambaca. Tudo os nossos tinham per­
corrido e, em tôda a parte onde havia núcleo importante de indígenas,
tinham levado mercadorias para o comércio, tinha negociado e tinham
ido padres, que cravando no solo uma tosca cruz de troncos, aí
levantavam um altar, diziam missa, baptisavam e prègavam a doutrina
cristã, recolhendo os proventos que lhe davam.
Assombra como tudo isto se fêz. Os documentos que se encontram
lêem-se e relêem-se para bem se interpretar o que neles está escrito;
comparam-se com outros e as referências são certas, não podendo
duvidar-se da evidência. Começamos então a fazer passar pela nossa
imaginação as diversas scenas da vida dos nossos, sentimos o sol que
os queima e o clima que os debilita, e vemo-los nas lutas contra os
naturais, sem outra ajuda e outro recurso que os de si próprio podiam
vir. Sem querer, transportamo-nos ao presente e aos recursos que
a civilização nos trouxe e, então, a dúvida renasce e julgamos impos­
sível tôda essa obra. Enganámo-nos, certamente, tornamos a lêr e a
conferir, mas a verdade impõe-se.
«r

í í
i'

Parfó / — Za/rí e Congo

Chegámos ao Zaire e encontrámos os Congueses estabelecidos na


0jargem esquerda e para o sul. Era um povo migratório. Tinham
vindo do interior, depois de desavenças de família, ou pela necessidade
j e expansão (i). Encontraram, talvez, algumas famílias de ambuttdos
que, após pequena resistência, fugiram dos invasores, indo para o sul
e interior, juntarem-se aos seus, ao passo que aqueles se estenderam
pelo litoral até ao Cuanza, ocupando a ilha de Luanda, e constituindo
0s pequenos sobados do Sonho, Sundi, Pangala, Pemba, Bata, Bamba,
etc., todos tributários do chefe que residia em S. Salvador. Ao mesmo
tempo outros seus parentes se estabeleceram no Goio e Luango, para o
norte.
Quando chegámos, o seu domínio não estava absolutamente conso­
lidado e, o seu reino, não tinha verdadeira unidade. De princípio,
ajudamo-lo nas guerras contra Zemga e Mafinga, ou contra os An-
ficos (2), depois contra os Panzelungos (3) e ainda coriíra Mun\a hum
fidalgo dos ambulos que tynha guera com hum noso filho que comarcava
com elle e que 0 querya matar e em tam tiosfo y necessário ir a guerra...
e salvante dos que ca estavamforam com nosco, etc... (4).
D. Manuel enviou-lhe as Ordenações e 0 rei do Congo, escolhendo
entre os nossos os seus assistentes e conselheiros, feitores, estabeleceu
as bases da organização política e administrativa do seu reino. Já,
então, era rei, não só do Congo, mas de Cacongo e Azoyo, como

(1) É difícil estabelecer a origem dos congueses, Ravenstein, resumiu as opiniões de


Cavazzi, que, de uma maneira geral, concordam com as do anónimo cura do Sundi.
(2) Vide nota (2) a pág .23
3
( ) Duarte Lopes (Pigafetta) diz que a província de Pango era limitada ao norte pela de
Sundi, ao sul pela Bata, ao ocidente a provinda real de Bamba, e ao oriente pelas montanhas
do Sol. A capital era na margem esquerda do rio Barbela, que antigamente se chamava Pan-
guelunho. Era dividida em duas pelo rio Barbela, que nasce do mesmo lago que o Nilo, atra- \
vessando um lago mais pequeno chamado Aquilunda e desaguando no Zaire. Ravenstein, no
seu mapa, coloca a província de Bamba, no sul e leste, até à ilha de Luanda, e S. Salvador na
província de Mpemba, entre o Sonho e Bata. Nas suas informações, Apdx II, diz que os invaso­
res Having de/eated Mbwnbulu mwana Mpangala of Mpemba-kasi, he founded his capital etc.
Por outro lado, o nosso Cura do Sundi, como já vimos, diz-nos que Rui de Sousa e os seus
companheiros, chegaram a Pangala, que era um arrabalde, etc. 0 que mais 011 menos, concorda
com Ravenstein. O preto, rei D. Afonso, porém, na carta que em i5i2 escreveu a D. Manuel, a
propósito da conquista dos Panzelungos diz, quando conta os insultos que Fernão de Melo, de
S. Tomé, dirigiu ao seu embaixador D: Pedro «que hera um câce queJora enganar suallteja e
que nos que non lynhamos guerra com ospamfelungos e que nom merçyamos», não sendo pro­
vável que estes panzelungos fôssem os próprios habitantes da sua cidade capital. '
(4) Carta do Rei do Congo, atrás referida. Este munffl não será o Majinga do nosso
Cura do Sundi e 0 seu Zemga não será a rainha N{enda, filha do fundador do remo de
Angola 7
8-4 A n g o la

a n tjg a m c n te ch a m a v a m a C ab in d â. D epois, á m edida que os nossos se


fo ra m in te r n a n d o e e s ta b e le c e n d o n e g ó c io com os am bundos, pela
n e c e s s id a d e q u e tinham de e n ca b e ça r em alguém o princípio da auto­
rid ad e, in s in u a r a m -lh e q u e p a s s a s s e tam bém a intitular-se senhor de
A n g o la , d a Q u issam a e da M a ta m b a e de to d o s o s p on tos até onde
r le v a r a m a n o s s a p e n e tr a ç ã o c o m e r c ia l.
Q u a l ser ia em n ú m e r o s o v a lo r d o c o m é rcio q u e se fa zia no C on go,
n ã o é p o s s í v e l s a b e r -s e . S a b e - s e a p e n a s , q u e no tem p o em que os
im p o s t o s era m a r r e m a ta d o s ju n ta m e n te e m S . T o m é , a im portân cia
q u e o a r r e m a ta n te e n tr e g a v a a o E s t a d o , c o m o re n d im e n to líquido,
c o m p a r a d o c o m o d é fic it d o s o r ç a m e n t o s d e h o j e c a u s a vertigen s, e
q u e u m a g r a n d e p a r t e d ê s s e r e n d im e n t o p r o v in h a d o C o n g o , que na
é p o c a d a s u a g r a n d e c r is e , e x p o r t a v a c ê r e a d e seis m il p re to s p o r ano,
fó r a o m a r ü m , o c o b r e e a s m a d e ir a s . O q u e im p o r ta v a o C o n g o p ara
d a r e m tr o c a d é s s e s e s c r a v o s e m e r c a d o r ia s q u e e x p o r t a v a ?
O plano dos nossos do Congo, querendo conservar Angola e todo o
sul na dependência do rei preto, engrandecendo-lhe assim a autoridade,
se tivermos em consideração o conhecim ento, então, do valor da
^ Á frica, era um plano inteligente, em bora para o seu delineamento não
colaborasse nenhum estadista e apenas o interêsse dos mercadores.
M as, nós tínham os iniciado a colonização do Brasil e, o C on go, não só
n o s não era necessário com o o tínham os feito, com o até nos prejudicava,
pela centralização da navegação no P in d a, q uan do necessitavam os da
am pla liberdade do resgate por tod os os p o rto s d a co sta para o sul,
o n d e h o u v esse p retos para levarm os aos fazen d eiros d o B ra sil, que não
teríam os feito sem êsse essencial e p o d e ro so a u xílio , sem essa sangria
m o n stra q u e durou séculos.-
O C o n g o tev e p o is d e d esa p arecer p or fô rça d a s circu nstân cias,
p a r a fa ze rm o s um a o u tra obra ainda m u ito m a is g r a n d io s a , m as nem
p o r is s o o n o s s o trabalho d e cin qü enta a n o s, d e ix a d e n os orgu lh ar e
e n v a id e c e r .
Com um esfôrço e uma tenacidade de que nação alguma deu
m aiores provas; com um tacto político que não copiám os de ninguém
e com um valor e coragem que ainda ninguém igualou, civilizám os e
educám os, sem uma violência, sem nunca Já m andarm os tropas, os
indígenas do C on g o e parte dos de A ngola, aproveitan do p ara nós os
recu rsos que a região nos oferecia. Se não fizem os um a rica colónia
agrícola , co m o em S. T o m é, foi p orque a agricultura e a industria,
e n tã o , ainda n ã o con heciam a utilidade das enorm es riq u ezas do seu
Par te I — Z a ir e e C o n g o fc5
o s, qtte aqu eies que depois nos substituíram no Congo,
c tr'7-e fizera m , nem \á deixaram vestígios de quaiquer cousa
° ^ a s u a p a s sa g e m , a não ser vandaiism os, ao passo que de
ta1*' f ec ° f '^e <jo ° sem p re ficou , o reconhecimento do Z aire até muito
4V'S pai® l q a s c a ta r a ta s , e a penetração peio interior,
pó” aiént Q f^ ria a o s nosso s que em terras do C on g o baquearam ',
f^ o o ra e
R ^R T E U
argola

*5
1 —•Os Ambundos, Reconhecimentos e resgates. Peneirarão.
O sobado do Dongo
\\ — A donataria de Angóia.
^ ._O Governo Gera\.
\ \ j _Actividade económica e situação iinanceira.
ï
I

OS «AMBUNDOS». RECONHECIMENTOS E RESGATES.


PENETRAÇÃO. — O SOBADO DO DONGO.

Já vimos que os portugueses que foram para o Congo em 1490 e


os outros que se lhe seguiram, não só em cumprimento das instruções
dadas por D. João II a Rui de Sousa, para se interifcrem e colherem
tôdas as notícias do interior, mas ainda com a mira no negócio,
passaram para além do limite leste do Congo e chegaram pelo sul até
à terra dos ambundos, relacionando-se com os chefes das diversas
morindas.
Se com respeito aos congueses se não pode passar de hipóteses
sôbre a sua origem e a ocupação do território em que os encontrámos,
com respeito aos ambundos as dificuldades são as mesmas, ou talvez
maiores, agravadas pela significação que os etimologistas atribuem aos
termos: mbundo batedor ou vencedor e muchicongo devedor, e à relação
e ligação que entre estes dois termos estabelecem, querendo mostrar
que os ambundos eram o povo vencedor e os congo, vencidos, pois que
0 rei do Congo, Ngána Muchino rià Congo, não era senão: senhor rei
da regra ou da divida, senhor rei devedor (1). E, contudo, os factos
ocorridos depois da nossa chegada à Baixa Etiópia mostram-nos o
contrário, pois sempre existiu uma relativa dependência, embora não
fôsse verdadeiramsnte uma subordinação, da parte dos mbundos para
com os congo.
A-pesar-da significação dada pelos etimologistas, outros autores
que se têm ocupado do assunto, dizem-nos, uns, que ao tempo da
nossa chegada ao Zaire, a terra dos ambundos já constituída em reino

(1) Fr. Bernardo Maria Connecatim, missionário capuchinho italiano, que foi Prefeito das
Missões de Angola e Congo, no prólogo da sua « Collecçâo de observações grammaiicaes sobre
a língua Bunda ou Angolense, etc.
9o Angola
cra a província meridional do Congo, e ouiros, que um fidalgo
(»ongo sc foi oli estabelecer e, instigado pelos portugueses, se revoho°
contra o seu rei, o do Congo, formando um reino áparte. ^
A verdade, baseada nos documentos que nos ficaram, é que o rej
do Congo D. Afonso nunca conheceu o reino de Angola e, apenas c
sempre, os am bundos, entre os quais houve um fidalgo de nome Mun^a
que comarcava com um seu filho e o queria matar, pelo que êle lhe
foi fazer guerra, tendo para esse fim convidado alguns portugueses (9
Talvez já então existisse a família N g o la , mas o rei do Congo D. Afonso
nunca lhe deu relevo especial e incluia-a entre os ambundos.
Até 18 de Janeiro de í 526 (2), nas cartas e outros documentos
intitulava-se apenas R e y do com go e Senhor dos Am bungos. Em 18
de Março dêsse mesmo ano (3) acrescentou ao título «e da conquista
d e p a çoallum bo» talvez por ter só então efectuado, definitivamente
a anexação ao íeu reino dêsses povos, com quem, como sabemos, êle
esteve em guerra logo no início do seu reinado (4). Na carta que então
escreveu, pede cinqüenta padres para espalhar pelo seu reino e se­
nhorios e, ao indicar por onde os vae espalhar, cita apenas as suas
províncias: su n d y , bam ba} banta, huernbo e g a n g a e não se refere a
m bundos, n d on g os , ou n g o lo s ; notando-se contudo, como adiante
veremos, que alguns anos antes tinha mandado dizer a D. Manuel que
o Ngola lhe mandara pedir padres para se fazer cristão, e depois disso
se deram os factos narrados por Baltazar de Castro (5).
Em 28 de Janeiro de i 53o ( 6), ao mandar as manilhas de prata é
que refere terem-lhe sido enviadas por um fid a lg o da minha terra que
s e cham a m atam ba e de presumir é, sendo a prata de Cambambe,
que êle já então estendesse até lá a sua terra d e M atam ba , incluindo
nela o N g o la .
Só na carta de 1 5 de Fevereiro de 1 53 2 (7) é que, pela primeira
vez, se apresenta com todos os títulos : R e y d e Com guo Ibungu e
ca com g o e m g o y o (ou agoyo) da q uem e datem a\ary Senhor dos am­
bu n d os e d a m g o lla d a q u isy m a m u su a ru e d e matamba e mulylu (ou

(1) Paiva Manso. Doc. xn.


(2) Idem, idem, doc. xxv.
3
( ) Idem, idem, doc. xxvi.
(4) Idem, idem, doc. xn — quando se queixa do que Fernão de Melo dissera ao preto
D. Pedro (pág. 24).
5
( ) Idem, idem, doc. xxvm.
(6) Idem, idem, doc. xxx.
(7) Idem, idem, doc. xxx».
Parte I I —Angola 91
muyllu) e de musucu e dos ampcos e da comquista depam\u aiutnbu (ou
alambu).
É este o primeiro documento em que o rei do Congo, ou melhor,
os portugueses que o dirigiam, se referem ao Ngola, separadamente da
Matamba e da Quisama. Devemos, portanto, considerar destituída de
fundamento a afirmação de que o reino de Angola fôsse cm algum
tempo província do Congo, pois não passou de um platónico ou hono­
rífico senhorio.
Alguns autores, sobretudo os modernos, fazem distinção entre os
reinos de Angola e da Matamba, o que também nenhum facto justifica
porquanto tudo indica tivessem sido os nossos, por terem encontrado o
Ngola na região do Dongo que primeiro conheceram lhe chamaram,
uns, rei do Dongo e outros, rei de Angola, quando êle era oriundo da
Matamba.
Do que se tem escrito pode talvez concluir-se, seftão como certo
como o mais verosímil, que se deram várias invasÓes ou immigra-
ções na parte da África, entre o Zaire e o Cuanza. A primeira
immigração, seguindo pelo vale do Rio Cambo, deve ter-se concentrado
no planalto da Matamba, espalhando-se um ou outro para oeste, mas
não chegando ao litoral. Estes povos batendo os que encontraram,
tomaram o nome de ambundos, — vencedores. A segunda deve ter sido
a dos congueses, que seguindo o Zaire, ocuparam tôda a região para o
sul e parte do norte batendo os Anzicos(i) e formando o Congo.
A terceira deve ter sido a dos Jagas, concentrando-se parte em Cas-
sange e outros invadindo o Congo e caminhando ainda para norte do
Zaire. Poderemos ainda considerar como uma quarta immigração o
deslocamento de um grupo dos jagas, o do Gonga, para o Libolo e
Quissama, onde ficou o Cafuche e, ainda para o sul, para o rio
Cuvo (2), Bié e pelo Cunene ao Humbe, grupo que mais tarde regressou
a Cassange e se confundiu com 0 de Calaxingo, depois de ter sido um
poderoso auxiliar da nossa ocupação do Dongo.12

(1) É difícil localizar com precisão a região ocupada pelos Anzicos. Pelas informações do
nosso Duarte Lopes e de outras coligidas por Dapper, teria por limite ao norte os desertos da
Núbia e ao sul a província do Dongo e do Sunde do Congo. Eram um agrupamento de t3
reinos, sendo o seu chefe o mais poderoso dos da África e conhecido pelo grande Macoco. Os
jagas eram uma das suas tribus.
(2) Andrew Batell em 1601 encontrou um acampamento de jagas nas margens do Cuvo e
viveu com éles durante vinte e um meses. Adventures, pág. 19.
02 A n gola

C o m o n ã o en trám o s no C o n g o co m in tu ito s g u erre iro s e apenas


tro c a v a m o s a m erca d o ria q u e le v a v a m o s , p ela q u e os in d ígen as nos
p od iam d ar — e sc ra v o s, m arfim e a lg u m m in ério — os ambundos rece­
b e ra m -n o s sem o p o siçã o , e as n o ssas re la ç õ e s fàcilm en te se estenderam
pelos diversos pequenos so b a d o s, que fom os tr a z e n d o à a u to rid ad e, ou
m elh or, â d irecçã o p olítica do p reto rei d o C o n g o , d e quem os nossos
se ju lg a va m , sen ã o com o sú b d ito s, n u m a su b o rd in a ç ã o e dependência,
que fazia a vo lu m ar o seu p od er no esp írito d o s ambundos.
O rei do C o n g o p assou a ser p a ra o s so b e ta s ambundos, não
um inim igo, com o em geral os in d íg e n a s sem p re ju lg a m o s vizinhos
mais poderosos, *mas um p o ten tad o que êles n ão te n ta v a m alu ir antes
pelo c o n trá rio , pois por su a in flu ê n cia , n ão só as su as morindas eram
visita das pelos m erca d o res p o rtu g u e ses, com o p e la a c ç ã o d os m esm os
eram r e s o lv id a s m uitas das su as co n te n d a s.
D e entre os d iversos chefes ambundos a so rte fa v o re c e u N*gola (i),
que se to rn a va cad a dia m ais p o d ero so , a b so rv e n d o os pequenos
so b eta s, adqu irindo-lhes os bens e to rn a n d o -se, p o r fim , pela sua im­
p ortân cia, o m aior dos so b as, cujo territó rio se e n g ra n d e ce ra com a
an exação dos outros m ais pequ en os, e a quem nós p elo h á b ito adquirido,
p a ssá m o s a ch am ar rei, corrom p en do-lh e o nom e p a r a Angola , consi­
d eran d o -o sem pre dependente do rei do C o n g o , o qu e, p a ra êle, não
p a ssa v a d esp erceb id o , m as não o in q u ie ta v a , p o r lhe não a d vir daí
senão benefícios.
C om os m erca d o res p ortu gueses foram os fra d es e p ad res das

(i) Ravenstein, ob. cit., pág. 142 nota (1) diz que as terras do Dongo, que vieram a cons­
tituir o reino de Angola, foram conquistadas por um jaga da Matamba, Ngola a nzinga, que as
doou a um filho, Ngola mbandi e fundando-se em Cavazzi dá a seguinte relação dos reis de
3
Angola: t.° Ngola, o ferreiro, musuri, 2.0 Nzunda ria ngola, sua filh a; .° Tumba ria ngola,
outra filha que casou com Ngola kiluanji kia Samba e foi um grande guerreiro ; 4.0 Ngola ki­
5
luanji; .° Ndambi ngola; 6.° Ngola kiluanji kia ndambi, outro grande guerreiro; 7.0 Nzinga
ngola kilombo kia kasende ; 8.° Mbandi ngola kiluanji; 9.° Ngola m bandi; 10 0 Nzinga mbandi
ngola (rainha Ginga, D. Ana de Sou sa); 1 1 D. Barbara da Silva que casou com D. António
3
Carrasco nzinga a m ina; 12.0 D. João Guterres Ngola kanini,* i .° D. Francisco Guterres
Ngola kanini; 14.0 D. Victoria, a que Gadornega chama D. Verónica.
O Visconde de Paiva Manso, História do Congo, dá uma outra relação extraída de Cador-
nega, que difere um pouco desta.
Parte I I — Angola 9*
ordens, procurando ganhar a vida pela catequização dos
sendo> etn» Seral>bem ace‘tes Pe*a sua tolerância, naturaf-
gra<j uada conforme as dificuldades do negócio. O rei do Congo,
^Afons©» tendo recebido uma severa educação religiosa e sendo
P- e-5ivamente fanático, não devia ver com bons olhos esta difusão do
C*Cóc«° Por tod ° 0 interior, feito com povos que não eram verdadeira-
nC^ote cristãos. Pelo que se passara corasigo, calculava ser pela acção
^reiosa* de preferência às guerras, que conseguiria manter entre os
fC inhos o prestígio da sua autoridade. Se não proibiu, deve ter
^ cUltado essa difusão, como claramente se vê do seguinte período
sua c a rta : « Como nosso Reyno se vay a perder em tamia maneira...
&0 que causa a muita solltura que vossos feytores e oficyaes dam aos
„ homens e m ercadores sse vyrem a este Reynos assentar com llogeas
„ mercadorias... as quaes se espalham por nossos Reynos e Senhorios em
„ tamta avomdança que muitos vassallos que tynhamos htfnosa obediencya
gse aleuantam delia , etc., (i) terminando por pedir, como remédio, que
mandem padres.
Os padres e frades das diversas ordens, que se internavam até
Angola, não tratavam de impor, violentamente, um credo religioso, mas
apenas fazerem compreender, aos que aceitassem a conversão à fé cristã,
as vantagens que daí lhes advinham, sendo a principal a facilidade de
negócio com os brancos e, assim, o sóba grande de Angola— (N'goía
Inéne)— , embora sem convicção e sem fé, incitado pelos mercadores
que no interesse do desenvolvimento das suas transações a isso o
induziam, resolveu mandar dizer ao preto D. Afonso rei do Congo,
que queria ser cristão e, para êsse fim, lhe mandasse padres, pois que
era êle que os tinha no seu reino.
Avalia-se bem o que, para o papel político que o preto D. Afonso
tinha a ambição de desempenhar, representava êste pedido do mais
importante dos sobas ambundos e, com que vaidade êle o transmitira a
D. Manuel, provando-lhe, assim, a sua importância e fazendo jus às
considerações especiais que queria lhe dispensassem,para ser de entre
os reis de que o rei de Portugal era senhor, aquele que as suas coisas mais
estimava, melhor tratava, etc.
Passavam-se estes factos em 15 19 e D. Manuel, tendo já percorrido
tôda a gama das vaidades e das glórias, pouco interesse lhe despertaria
a conversão à religião cristã de mais um preto, embora fôsse o soba-

(1) Paiva Manso. História do Congo, doc. xivu, pág. 54.


94 Angola
grande de Angola, se o rei do Congo não tivesse feito acompanhar
a notícia de umas manilhas de prata (i) informando serem daquele
sobado, sem contudo precisar o local. Por este motivo resolveu
D. Manuel em i 52o , ordenar o descobrim ento d o reg no de A n g ola que
ampliou te e o ca bo d e B ô a E sp e ra n ça , porquanto eram muitos incom­
pletas as informações que tinha sôbre os potentados indígenas existentes
c possibilidades do resgate dos metaes preciosos, e se limitavam aos
conhecimentos obtidos das viagens de Diogo Cão e Bartolomeu Dias,
completados por Duarte Pacheco Pereira.
Dêsse cometimento encarregou a Manuel Pacheco como capitão do
navio e Baltasar de Castro como escrivão, dando-lhes, em 1 5 de Feve­
reiro de 1 5 20, um reg im en to (2), donde consta : « Item noso primçipall
a fu n d a m e n to h e m am darm os u os nesta viajem p era verdes se podês
« ffa ç e r com e l r e y d A m g o la q u e se f f aça christão , e asy a je m te de sua
a te r r a , com o hS e l r e y d e C o m g u o , p orqu e som os em fonnado que ho
a d e s e ja e q u e viera m j á seu s em b a ixa d o res a C o m g u o decraram do que ho
a d e seja v a s e r » . Como já sabemos, D. Manuel ocultava sempre as suas
verdadeiras intenções, e estas, só adiante as esclarece com outro
a Ite m O u tr o s y som os en form a d o qu e no dito reg n o d A m g o la a prata,
«p o r q u e se v y o p e r huüas m a n y lh a s que vyeram a nos dei r e y de Com go;
« tr a b a lh a rê s p o r sa b er p a rte dornde h e a dita p ra ta , e asy de quaeesquer
a o u tro s m eta a es ».
Para êste efeito mandou carregar um navio com fazendas para
negócio, determinando a Manuel Pacheco que fôsse por S. Tomé, não
só para o feitor lhe dar um padre e, se lá estivesse o padre Ruy de
Aguiar o convidasse a ir, porque era conhecedor das coisas de Angola,
mas ainda para mandar fazer uma embarcação própria para a entrada
dos rios.
Quando estivesse despachado, se fizesse com rumo ao rio de
S a m b a r ia s, que deve ser o S. Mexias, ao sul do Cabo Lopo Gonçalves,
para o descobrir e, se lá achasse carga, a não tomasse, trazendo
apenas amostras. Dali, seguisse para o rio de Angola e quando che-12

(1) Esta oferta de manilhas de prata não é a que consta no doc. xxx da H istória do Congo
de Paiva Manso, mas ve-se no R e g im e n to dado por D. Manuel a Manuel Pacheco.
(2) Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo. Livro de Leis e Regimentos de D. Manuel
fl. 144 v. No índice: « R e g im e n to p a r a M a n u el P a ch eco capitam do navio enviado ao descobri­
m en to do re in o d e A n g o la , sobre o que p ra tica ria e do m esm o modo o seu escrivão na viagem no
d ito reinoa. Publicado em « A lg u n s docum entos no A rquivo N acion al da T ôrre do Tombo acerca
d a s n a v e g a çõ e s e conquistas dos p o rtu g u e se s », pág. 436-441 mas porque essa obra é já pouco
vulgar e convem coordernar os documentos mais importantes, se publica de novo. Anexos doc. i . 3
Parte U — Angola 9$

.se; procedesse com tôdas as cautelas, tomando refens de entre os


*fliurais, para se garantir da ida de Baltasar de Castro a terra a avisar
1 rCi da sua chegada, e, emquanto o Baltasar de Castro não regressasse,
g0 fôsse nem deixasse a tripulação ir a terra, mas recebesse a bordo
pretos que o quisessem visitar e os tratasse bem.
Logo que o Baltasar de Castro regressasse, ou mandasse recado,
p0r escrito, para ir, que fôsse, levando o padre e mais algumas pessoas
e ufna amostra do presente que tinha para dar ao rei. Falando com
gste, lhe exposesse que o fim da visita era a sua conversão ao cristia-
Ojsmo e, se o visse a isso disposto, mandasse ao navio buscar o resto
do presente; caso contrário, manifestasse o seu pezar e retirasse
«vemdo e pergumtamdo pelas cousas que ha na terra de vieiros e metaees,
« e quallquer resgate », e proporcionando-se ocasião de fazer qualquer
negócio pelo caminho, combinasse que lho fôssem levar a bordo e aí o
liquidasse. 9
«E pero nam se queremdo o dito rey fa\er christão, ou nam achamdo
« hy prata ou outro metall, ou cousas de que se possa receber proveyto •
o que lhe equivaleria, parece, se fizesse de viagem até ao Cabo da Boa
Esperança, pela costa do Comguo, descobrindo e vendo o que por
essas terras havia, viagem que, ainda no caso de o rei se fazer
cristão, deveria efectuar, pois havia vantagem em conhecer tôda a
costa.
Onde quer que achasse ouro, prata, ou outros metais, procurasse
conhecer a sua proveniência, o valor, e as mercadorias por que se
trocavam e tudo pusesse em memorial«e quamto a cousa valler mays
« e caa fo r mays estymada, tamlo menos lhe darês a emtemder que ha
« estymaees pela nam emcareçerem.
Se carregasse o navio em Angola, não fôsse então ao Cabo, mas
, regressasse a S. Tomé para proceder às reparações de que carecesse
e seguisse para Lisboa.
Se o rei de Angola se convertesse e quisesse ficar com o padre
e os paramentos da igreja, que os deixasse ficar, mas mandasse o
Baltasar de Castro tomar de tudo a devida nota.
Se, indo a caminho do Cabo da Boa Esperança, achasse algum rei
que quisesse ser cristão e «e vos parecer que he servyço de Deus e
noso comverter >se a fee, e que se seguira d hy fniyto », trabalhasse
para êsse fim, lhe desse os ornamentos da igreja e deixasse lá o
padre, carregando o navio de escravos, marfim e metais, «is ao rey
«que tall cargua vos der, e virdes que he noso serviço asemtardes com ele
96 Angola
■ «nosa amyçade, dar lhe ês o presem le e enderemçarês a ele a mesajem
« que levaees pera o rey d A tngola mendamdoa naquela parte que fo r ne-
« çesaria ».
Se não descobrisse pela costa até ao Cabo com quem fazer negócio,
viesse com o navio ao rei do Congo, a quem diria o que entendesse,
dando-lhe o presente e fazendo por trazer a melhor carga que pudesse
e, finalmente, se lhe parecesse conveniente alterar qualquer disposição
do regimento, reünisse para êsse fim a companha do navio e lhe
expusesse o assunto, fazendo escrever pelo escrivão as suas respostas,
resolvendo por maioria e, se houvesse empate, pela opinião dele, Manuel
Pacheco.
Depois de datado e assinado êste regim ento, D. Manuel alterou-o,
mandando que a viagem se fizesse directamente ao Cabo e «delo pela
tosta em diamte tee A m gola » vir fazendo o descobrimento como deter­
minava. *
Não se encontrou, ainda, nos nossos arquivos, documento algum
que se refira a esta interessante viagem e, apenas se sabe que efectiva-
mente se realizou, porque Baltasar de Castro, em i 52õ, escreveu do
Congo uma carta a D. João III (i) tratando da sua estada em Angola
e, pelo que escreve, se pode, talvez, deduzir, que Manuel Pacheco não
levou o padre Rui de Aguiar, nem outro, a bordo do seu navio e, fun­
deando no Cuanza, mandou o Baltasar de Castro dar parte da sua
chegada ao rei, que, por ter já mudado de opinião, resolveu faze-lo
cativo e mandar matar «ho em bayxador que l a f o y a posa A ltera».
É um novo personagem que aparece. Claramente se vê não se
tratar do embaixador ou embaixadores que o rei de Angola mandou
ao do Congo pedindo padres, porque dêstes, lá o diz D. Manuel, «que
vieram jd uns em baixadores a C om guo decrarando que ho desejava ser »,
o que não mandaria escrever se tivessem vindo a Lisboa; tratava-se
dum outro, « que la f o y a vossa A ltera ». Se êste embaixador estivesse
em Lisbea quando saiu o navio de Manuel Pacheco, teria ido nêle e
D. Manuel lhe faria referência no regim ento como a faz, no que deu
em 15 12 a Manuel da Silveira, ao preto D. Pedro que o rei do Congo
mandou. É um embaixador que chegou depois de Manuel Pacheco ter
iniciado a viagem, e regressou a Angola emquanto o navio foi ao Cabo
da Boa Esperança, como tinha ordem de ir, primeiro que fôsse a
Angola. Estava na E m ba la do rei quando lá chegou Baltasar de Castro

(i) Documento já referido na parte do Congo.


Parte / / —•Angola 97
h
e embora não haja documentos que nos elucidem sôbre os motivos
p’0r que o rei o mandou matar e prendeu o Baltasar de Castro, náo
andaremos muito longe da verdade filiando-os nos ciúmes dos portu­
gueses que lá residiam, e que tendo abandonado o Congo para fugirem
4 acção do rei e dos portugueses que junto dêle desempenhavam
diversos cargos, por todos os meios se opunham às relações directas
da Metrópole com Angola.
O facto era grave e o rei do Congo interveio, mandando um padre
para a conversão do rei de Angola e um homem para interceder afim-de
Baltasar de Castro ser sólto. O rei de Angola fez-se cristão — foy-o —
escreveu Baltasar de Castro, «e depois sucederão cousas que deyxon de
ho ser » e, entretanto, o homem que o rei do Congo mandára,/<?{ cousas
por onde tudo se tornou a perder... e asy se tornou e me fe\fycar a mym,
depois do que Baltasar escreveu ao rei do Congo, e só no fim de seis
anos viu terminado o seu cativeiro, chegando ao Cctigo nu, como o
mais pobre dos indígenas, tendo passado tôda a sorte de inclemências
e privações.
E interessante que Baltasar de Castro protesta nesta carta contra a
informação, dada pelo tal homem que o rei do Congo mandou a Angola,
de que «vyra serras de prata e pedras e outras cousas as quaes eu em
«seys anos que na dyta terra estive nunca vy por que ho que eu da terra
«soube e o que nela ha yso escrevy por manoell pacheco quando me nela
adeyxou ». Apesar-de tão perentoriamente Baltasar desmentir a exis­
tência de serras de prata, a lenda continuou por mais de um século e
foi na esperança do seu descobrimento e da sua posse, que a conquista
de Angola foi levada a efeito.
*
* *

Data, pois, de t 520 a primeira tentativa do estabelecimento de


relações oficiais directas com Angola.
-2
D. Manuel faleceu sem ter tido conhecimento dos resultados da
viagem de Manuel Pacheco, que deveria ter organizado o seu memorial
e juntado a carta de Baltazar de Castro sôbre os acontecimentos na
côrte do rei de Angola, documentos preciosíssimos, não só pela parte
da descrição da costa desde o Cabo da Boa Esperança ao Cuanza, mas
ainda para nos esclarecerem sôbre a política nessa época, entre Angola
e Congo.
No reinado de D. João III sofreu uma profunda mudança a nossa
i3
9$ Angola
política das conquistas e descobrimentos, para entrarmos verdadeira-
mente na política colonial.
Com o reconhecimento desde o Cabo ao Cuanza, D. Manuel tinha
por fim acrescentar o número de estados indígenas vassalos de Portugal,
estabelecendo ao longo da costa ocidental da África a continuidade da
nossa acção comercial como a tínhamos na costa oriental.
O seu plano não teve seguimento por parte de D. João III, porque
não se tratava já de descobrimentos e conquistas, mas da colonização
e o Brasil absorvia todas as nossas atenções. Assim, dos reconheci­
mentos de Manuel Pacheco, pelas notícias que deu sôbre a possibilidade
de resgates em pontos da costa para o sul do Zaire, só os agricultores
de S. Tomé e mercadores de Portugal aproveitaram, mandando navios
percorrerem a costa a fa zerem armações em Angola.
Diversos resgates se foram assim estabelecendo e, enquanto não
foram dados enx arrematações, eram concedidos como prémio de re­
compensa de serviços a várias pessoas que os solicitavam, como Jácome
Leitão, feitor em S. Tomé, que, em compensação das despesas extraor­
dinárias a que fôra obrigado, pedia a D. João III lhe fizesse «merce de
«de hüa llycença para fa \ e r hüa armação ê A m golla e se para parecer q
«nisto llevara ell R ey do Com gno desprazer seja cõ comdisão q eu aja e
«o prayne seu e que desta armação pago somête qnarti e vintena aos
« ojkiaes de V. A . e ysto posto q o trato se harrende ou cor (r) a de
« maneyra q hagora esta e tc . » (i).
O negocio parece que era rendoso e não só dado como recompensa
de serviços, mas explorado pelo próprio D. João III e pelas pessoas da
família real.
Em i 5 ^ 6 Diogo do Soveral, moço da real câmara, foi nomeado
pelo Infante (2) escrivão da «viagem e armaçam que ora novamente mando
«fa^er ao ao meu R y o d’ Alonga, que está 110 R ey no de B em guella, por­
quanto «tenho comcertado com Am rique P a e% e lhe dou licemça que posa
* hir ao dyto R y o he tratar nelle com hos negros e moradores da terra
« com aqelas mercadoryas com que tratam os armadores que tem arrem -
« dado a el R e y meu Senhor ho seu trato da Giné e que nam trate com
«fe r r o s do R eyn o nem com outras cousas defesas e que nam fa ç a aos
« ditos moradores nenhüa força nem cousa de que com rre-çam posam *2

(t) Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo. Corpo Cronológico, parte 1,* maço 90
Doc. 126.
(2) Parece que o D. Henrique, mais tarde cardeal-rei, pois Diogo de Soveral era seu moço
de câmara.
Parle 11— Angola 99
rreceber escamdallo somente com muyla pa\e amiçade Irate com elles o
„ quall trato lhe tenho dado per hum ano que hade começar do dya que
fl0 rresgate for asemtado em diamle e na armaçam que hora pera ho dito
i( nyo ele dyto Amrique Pae\ vay fa\er pelo contrato que amtrc nos he
efeito eu sam obrigado a por as duas partes de todo ho gasto que se nela
«flíer e elle dyto Amrique Pae\ a hüa e pela dita maneyra avemos de
«fiqar no proveyto e rresgate delia per a que ele saya com hum terço e eu
„ com os dous (i).
Vê-se não ser a primeira vez que mandava ao rio da Longa
porquanto diz: ora novamente mando, e que tinha principalmente era
mira o resgate de ouro e prata, tendo sido informado da sua abundân­
cia. Esta informação não a pode ter obtido senão das viagens dos
nossos pelo interior, e, assim, vemos que, já nessa época, deveriam ter
ido a Cambambe e ao Lombige, supostas minas daqueles dois metais,
ou então, mais para o sul até ao Gunza dos Ambuillts, também tido
durante muito tempo como região rica em cobre, e que, possivelmente,
confundiam com o ouro.
Devemos, ainda, concluir, que se a exploração da costa chegava ao
Longa e mais para o sul, os portos intermédios e principalmente a ilha
de Luanda e o Quanza, eram também explorados e freqüentados pelos
navios, o que deu lugar ao protesto dos negociantes do Congo em 1548,
e á inquirição mandada efectuar pelo preto rei D. Diogo.
O protesto dos do Congo parece não ter sido ouvido e, dificilmente
0 governo em Lisboa 0 poderia atender. O Congo, era vasto, sem
dúvida; pelo menos o rei fazia estender a sua acção por muitas léguas
para 0 sul, mas a centralização do movimento marítimo no Pinda, tor­
nava-o acanhado para 0 desenvolvimento que estava adquirindo o
negócio do escravo, em vista das necessidades do Brasil e índias de
Castela. S. Tomé, que tinha centralizado os fornecimentos, perante a
procura do artigo, não se conformava com a limitação do negócio ao
porto do Pinda e, por outro lado, os portugueses do Congo, que pelo
seu audaz esforço iam levar mercadorias e trazer escravos dos Àtnbiin-
dos, e do Ocango e Pamba, a centenas de léguas no interior, não queriam
perder êsse monopólio.
Esta luta de interesses transformara-se facilmente em luta política,
pela entrada dos jesuítas em acção. O Congo e tôda a Baixa Etiópia

(1) Arquivo Nacional da T ôrre do Tombo. Corpo Cronológico, parte i.* maço 78. D oc.21.
Traslado do Regimento que E l Rey deu ao escrivão da viagem e armação que manda façer no
Reyno de Bemguella a 7 de Junho de 1546. Anexos, Doc. n.e 14.
IOO Angola
pertencia-lhes, mas só o conheciam peias informações colhidas dos que
por id tinham andado, insuficientes para detalharem o plano da sua
acção. Queriam tomar posse e foram encontrar uma colonização
defeituosa e os indígenas educados pelos clérigos das diversas ordens,
que, transigentes e pouco zelozos, sacrificavam a inviolabilidade dos
preceitos e regras, aos vícios inatos nos convertidos, verdadeiros pe­
cados que êsles não ocultavam e, alguns, até patenteavam com gala.
Mantinha-se essa colonização, principalmente à custa do negócio do
escravo, que os seus primeiros missionários verificaram donde vinham
e aprenderam, com larga prática e não menos proveito, a maneira de
os adquirir. Com um negócio assim, ao alcance de tôda a gente,
disperso por todo o interior onde ia quem queria, não era fácil adqui­
rirem o domínio que desejavam. Só a religião, exercida e acatada com
todo o respeito e disciplina, para poderem ter efeito as interdições e
excomunhões, <çue eram a sua arma, poderia dar-lhes êsse domínio,
mas reconheciam ser tarde para o poderem impor. A corrupção
lavrava muito fundo e até mesmo os que os ouviam, nem tomavam a
sério as suas intenções. Em Portugal com a sua primitiva atitude de
humildade e desinteresse, explorando a boa fé e crenças das populações
cançadas de sofrerem todas as prepotências dos frades e das ordens
religiosas, fácil lhes foi ganharem terreno, a confiança e mesmo a estima
geral, e, com tôda a ousadia, imporem a sua autoridade.
Mas, no Congo, o meio era diferente, e tinham sido forçados a re­
tirar perante a resistência oposta às suas tentativas da escalada dos
cargos políticos junto do rei. De nada lhes serviu o rigor com que
puniram os seus por terem prevaricado, antes pelo contrário, êsse
rigor acarretou-lhes mais ódios, pois veio mostrar que acima das leis
e usos e costumes da Nação, havia os preceitos da sua Ordem que o
Rei acatava, deixando estabelecerem-se sanções para factos que cons­
tituíam a vida de todos os dias dos seus súbditos em África e até aí
eram impunes.
Ante os dois partidos ou grupos que se guerreavam, os do Congo
e os de S. Tomé, inclinaram-se a favor dêstes, o que era lógico, não
por simpatia com a sua causa e concordância com as suas intenções e
planos, mas apenas porque, auxiliando-os, provocavam a derrocada dos
outros, única solução a adoptar para poderem tomar posse da Baixa
Etiópia. Com o Congo como estava, com o Rei sem os ter por con­
fessores, de forma a exercerem uma acção forte na política do reino, é
que eles nada podiam, e, assim, não só lhes foi fácil provocarem os
Parle 11— Angola /o r

-iúmes e dissenções entre vários fidalgos, insinuando-lhes direitos ao


trono, e quebrando a unidade do reino mantida durante a vida do rei
p. Afonso, mas levaram mais longe a sua vingança, e insinuaram a
garros de Paiva, em S.Tomé, a política que lhes convinha, levando-o a
escrever para Lisboa aconselhando cortarem-se relações com o rei
p. Diogo, pois não seria por isso que correria perigo a cristandade,
visto outros fidalgos como ele havia, tão zelosos da fé cristã e bastava •
que se ajudassem esses para o trato desta Ilha não demenuyr mas antes
açrecemtarse.
Sente-se, neste alvitre de Barros de Paiva, o plano do político
inteligente e hábil que lho inspirou, sem ele lhe poder adivinhar a
intenção. Tudo se fazia para que o negócio da ilha, que estava amea­
çado, não diminuísse, antes se desenvolvesse. Era o isco para os de
S. Tomé continuarem fazendo o seu jôgo.
Para provarem a sua afirmação de que outros fidalgos havia tão
zelozos da fé cristã como o Rei D. Diogo do Congo, convenceram o
Bispo de S.Tomé a mandar padres para converterem o Ngola. Por duas
vezes lá foram e, de uma delas «.hum religioso da muy esclarecida
«ordem do glorioso Padre Sam Bernardo, porem (como o tempo depois
«mostrou) mais pertendia o Angola o comercio de Portugal q. o bautismo
«crisiam até que finalmente estes sacerdotes, sem effeyto algum, o»
amorreram ou se tornaram a Portugal»(1).
No tempo do rei do Congo, D. Afonso, as autoridades de S. Tomé
não intervinham nas relações dos portugueses com o soba ou rei de
Angola. Tudo se passava por intermédio ao rei do Congo, e foi
procurando o seu valimento, que o Ngola em i 5 19, mandou pedir
padres, dando lugar à missão que D. Manuel enrarregou a Manuel
Pacheco e Baltasar de Castro, missão que, corno já vimos, não deu o
resultado desejado; mas, contudo, foi ainda devido somente à acção do
rei do Congo, que o Ngola se resolveu a dar liberdade a Baltasar de
Castro.
Nesse tempo só se dava valor às relações indígenas estabelecidas
em resultado da catequização efectuada pelos missionários. Nada se
tendo conseguido do Ngola nesse sentido, convinha à nossa política
continuar a considerá-lo como súbdito do rei do Congo e encabeçar
neste todo o poder no território até além do Cuanza, como alguns
cronistas o apresentam.

(1) Chron. da Companhia de Jesus na Prov. de Portugal, cit., cap. xxvn,p. 2* 1.6.°
102 Angola
O engrandecimento político do rei do Congo, que se confessava
■ sob a nossa suserânia, elevando-o, avolumando a sua importância, para
que tôda a Europa e Roma em especial o vissem e sentissem bem,
tinha sido a nossa política de mais de meio século. De repente tudo
mudava. Desfazíamos êsse potentado e procuravamos crear, vizinho
dêle, um outro, apresentando-o com muito mais valor, e a que só
faltava, para o ter realmente, fazer-se cristão. Tentá-lo por intermédio
do rei do Congo era impossível, porque os jesuítas tendo reservado
para si o papel de evangelizadores de todo o mundo que descobríramos,
se tinham incompatibilizado com o rei do Congo. Era necessário pro­
vo car a quebra das boas relações existentes entre o rei do Congo e o
N g o la , insinuando a êste não ser necessária a intervenção daquele
para manter relações comerciais com os portugueses e, bastaria diri­
gir-se ao rei de Portugal, enviando os seus embaixadores, como aquele
fazia. r
A atitude sugestionada ao N g o la e por êle adoptada, além do
prejuízo que causava ao negócio dos portugueses, feria o rei do Congo
na sua vaidade, e, os nossos que lá residiam, aproveitaram êste facto,
incitando-o a romper a guerra contra o N gola , oferecendo-se eles
próprios para o auxiliarem, dirigindo e combatendo com a sua gente,
possivelmente contra os outros portugueses que estavam no Dongo, tal
era o estado de desespero.
Em 1 5 5 6 , as tropas do Congo avançaram até ao rio Dande, onde
as do N g o la as esperavam, ferindo-se a batalha com prejuízos para
aquelas, que tiveram de retirar (i), e então, o Ngola, hesitante, sem
compreender a cena que se estava desenrolando, « Porem vendo o Rey,
« q. lhe fa lta v a o comercio com os Portugueses (porque o interesse era o
« D e o s qu e governava a este R ey, e ainda agora por nossos peccados pre-
« dom ina em a lg un s Príncipes christãos) cuydando que cessava por nam
« ter em suas terras sacerdotes , como dãtes, os mandou pedir, etc »(2), ao
que os de S. Tomé, esperando já êste desfecho, por estarem no segredo
do trama urdido, acudiram pressurosos a enviarem a notícia para a12

(1) R a v e n s te in , o b . c it. a p á g . 1 1 7 . D e v e regista r-se 0 fa cto d ê ste c o m b a te ser travado nas


m argen s do D aode. E m b o r a o s c r o n is ta s e sta b e le ce sse m os lim ites d o C o n g o a té ao C u a n za e,
a lg u n s , a in d a p a r a a lé m , v ê -s e q u e já n e s ta é p o c a o Ngola tinh a m a r c a d o 0 D a n d e co m o fron­
te ir a n o r t e d o seu t e r r itó r io . R a v e in s te in a p ág. i 43 d iz -n o s que a fo r m a ç ã o d o reino de A n g o la
c o m o D a n d e p o r lim ite n o r te , s e fê z n o in te r v a lo d a s d u a s e s ta d a s d e P a u lo D ia s em A n g o la .
Tudo n o s le v a a c r ê r q u e fo i a n te s .
(2) Chron. da Companhia de Jesus na Prov. de Portugal, cit.
:/*3 ' '*

Parte I I — Angola io 3

ôrtc em Lisboa, resolvendo D. João III receber os embaixadores do


^íaola e manda-los vir a Portugal.
Entretanto, as notícias dos acontecimentos do Congo chegaram a
1/isboa e os secretários de D. João III aconselharam-no a mandar uma
enlbaixada ao rei do Congo, tendo para isso sido escolhido Manuel
pacheco, que chegou a S. Tomé em princípios de 1557 , acompanhado
clérigos e frades, talvez de S. Francisco, e de Diogo Rodrigues.
Manuel Pacheco não devia ter deixado bôa fama de si no Congo, por
se ter envolvido na luta a favor do preto D. Rodrigo e, depois de chegar
& S. Tomé, já, por lá ter cousas de seu gosto e passatempo, já porque lhe
sorria mais ir para Angola como comissário, foi adiando a partida para
o Congo, até que faleceu (t). Em seu lugar parece que foi Diogo
Rodrigues, mas pouco feliz na sua missão, como se vê da carta que
escreveu à Rainha(2).
Depois de chegarem a Lisboa os embaixadores souWe-se ter morrido
0 Nglola que os mandára e outro era agora 0 soba do Dongo.
D. João III, cheio de escrúpulos, mandou dizer para S. Tomé que se
informasse se êle estaria nas mesmas disposições do seu antecessor(3),
mas entretanto falecia D. João III e passou a governar, durante a
menoridade de D. Sebastião, a avó D. Catarina como regente.
Emquanto se pediam e recebiam notícias de S. Tomé, os jesuítas
em Lisboa aproveitaram 0 compasso de espera, tomando conta dos
embaixadores, para colherem deles tôdas as informações, de forma a
melhor delinearem 0 seu programa e insinuar-lhes, no caso de ser afirma­
tiva a resposta, que pedissem para Angola os padres da Companhia.
Os jesuítas, aceitando esta demora das consultas para Angola,
queriam mostrar que, no seu plano de ocupação colocavam, acima de
tudo, a acção religiosa e não tinham aquela ância, desinteressavam-se
mesmo da luta, com 0 fim-de se alargar 0 comércio para os portos do
sul, para que os de S. Tomé tanto batalhavam. Quando estes su­
punham, que de tôdas as suas manobras sairia a liberdade do comércio,
encontraram o travão dos jesuítas, e ficaram sem compreender a nova
orientação dada à nossa política colonial na Baixa Etiópia, pois o que

(1) Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo. Corpo Cronológico, parte i.* maço toi.
Doc. 65 , (Não publicado por Paiva Manso) Anexos documento o.° i 5.
(2) Idem. Parte r.*, maço io3, Doc. n . Anexos, Doc. n* 12 já referido.
(3 ) Bibl. Nacional, Reservados. Colecção Pombalina, ms. 6-çj, Papel avulço de noticias ms.
artigos de resoluções q. tomarão os Snrs. Reys de Portugal, fi. 20 á margem: Angola. Vide
Anexos, Doc. n.° 16.
104 Angola
se estava fazendo, diminuía e não acrescentava o tráfico da Ilha e não
era isso o que lhes tinham prometido.
Viam que se não tratava de obter uma maior expansão comercial,
mas uma conquista de almas para a Igreja, conquista que se queria
fazer dentro de preceitos até então não usados com pretos. Para que
era a consulta sôbre se o novo soba estaria disposto a converter-se?
O que era preciso era mandar-lhe os padres, e emquanto estes tratavam
da catequese, o comércio trataria das suas transacções; cada um faria
o seu negócio, pensavam os de S. Tom é.
A resposta do novo soba de Angola não se fez esperar, Que sim,
que queria ser cristão e estava mesmo ancioso para receber o Santo
baptismo, mandaram dizer os de S. Tom é, que serviam de interme­
diários e, a Rainha D. Catarina, ao tratar do assunto com os embaixa­
dores, recebeu deles o pedido para os padres da Companhia irem para
Angola.
D. Catarina estranhou, certamente, a indicação dos pretos, mas
já conhecia os processos dos jesuítas e conhecia também, desde o
tempo do marido, a acção que eles se propunham a desempenhar na
vida colonial. Tinham ido para o Brasil com Tom é de Sousa e era
natural que também fôssem para Angola. Sem maior esfôrço, os jesuítas
viram coroados do melhor exito os seus planos. Angola ia ser sua
pois que a evangelização do gentio lhe fôra confiada Não eram
precisas tropas, nem guerras, visto o soba declarar que se queria
converter, e todo o território ser de há muito conhecido dos nossos
sertanejos, que por lá residiam e tinham estendido a sua acção comer­
cial desde o Luango ao Cuanza e desde a costa ao Pumbo. Mas essa
acção comercial, pela forma como tinha sido estabelecida, acompanhada
da acção religiosa em que os frades também vendiam os sacramentos e
prometiam, como bonus, as bem-aventuranças do Ceo, negociando para
si, é que não convinha. Pela religião, queriam exercer o domínio
político efectivo e, a acção comercial seria encaminhada e dirigida por
eles ad majorem D e i gloriam.
A Companhia de Jesus solicitada para êste fim, indicou de entre os
seus, os padres Agostinho de Lacerda, castelhano e Francisco de Gouvea,
português, para juntamente com os irmãos Manuel Pinto e António
Mendes, constituírem a missão a Angola. Por outro lado a Regência
em Lisboa confiou o encargo de os ecompanhar a Paulo Dias de
Novaes, nomeando-o somente capitão da caravela que os conduzia e
levando também um caravelão da Companhia.
Parte U—Angola io5
instruções dadas a Paulo Dias (i), se as compararmos com as
conhecemos do tempo de D. Manuel, mostram bem quanto diferente
gj-a a mentalidade da época. Paulo Dias não se pode dizer que fôsse
um embaixador; ia apenas acompanhar os padres e dizer ao rei de
^ngola o fim a que êles iam. De resto, dirigia a navegação, e se o rei
de Angola se não quizesse fazer cristão *os ditos Padres da Companhia
, farão nisto o que levão determinado pelos deputados da mesa da coits-
«ciência e o que os Doutores e o decreto dispõem». Eram só eles a
mandar e dirigir tudo e até asendo caso que no navio em quehis, e outro
acaravelão da nossa Companhia, vá algnma pessoa ou pessoas que os
«padres da Companhia de Jesus que comvosco vão, souberetn ifelles e de
«suas vidas, lhes pareça que para o efeito a que vão não convem irem as
i(taes pessoas em sua companhia, hei por hem que deixeis ficar as ditas
apessoas em São Tomé».
Nunca nenhum dos embaixadores de D. Manuel f#i assim subordi­
nado ao clero que conduzia nos seus navios. Pelo contrário; Manuel
da Silveira tinha instruções para dirigir e vigiar a conduta do clero
que levava e do que estava no Congo e Manuel Pacheco, se levou
algum padre, ia quási como móvel ou utensílio e recomendava-se que
no caso de o desembarcar em qualquer terra, Baltasar de Castro o
tomasse a rol juntamente com os paramentos.

* *

Quando os embaixadores do rei de Angola chegaram a S. Tomé


para darem a notícia de que êle se queria baptizar e pedia padres, como
dizem os cronistas, mas, possivelmente, também para relatarem o
ataque que tinham sofrido dos do Congo, alguém, talvez o bispo, pensou
nas conseqüências que traria o deferimento do seu pedido e deve ter
exposto para Lisboa as suas apreensões. Qualquer entendimento deve
ter havido com o Congo sôbre êsse assunto, porque também veio a
Lisboa o embaixador do preto rei D. Diogo, Ambrósio de Azevedo,
português.
Nenhum documento ficou, para nos esclarecer sôbre os fins da

(i) Relações de Angola tiradas do Cartorio do Collegio dos Padres da Companhia de


Jesus, documentos mandados copiar na Biblioteca Nacional de Paris pela Sociedade de Geo­
grafia de Lisboa e publicados nos Boletins, n.0' 6 e 7 da 4.* série, i883 .
io6 Angola
missão de Am brósio de A zevedo, mas fàciímenle se depreende viria
acom panhar o assunto que se ia ventilar, justificando a atitude do rei
do Congo e dos portugueses contra o Angola e contra os padres jesuítas,
e mostrando os inconvenientes de se afastar o soba de Angola da de­
pendência directa do Congo. Sem desistirem do seu intento, os jesuítas
devem ter proposto e Am brósio aceitado, uma qualquer plataforma de
conciliação, resolvendo-se que a missão fôsse ao Congo acompanhada
por ele, para explicar ao rei os seus fins, de forma a deixa-lo na
presuasão de que o não queriam desprestigiar. Nesse sentido se es­
creveu ao capitão mór de S. Tom é, naturalmente em resposta ás suas
considerações anteriores, assentando-se em que Paulo Dias e os padres
esperariam em S. Tom é pelo Am brósio de Azevedo, que ainda ficava
em Lisboa ultimando quaesquer negócios, cuja solução talvez fôsse
propositadamente demorada para o reter.
Paulo Dias o os padres partiram, pois, mas já na intenção de
faltarem à combinação ajustada, porquanto, nas instruções se diz: «Eu
« escrevo por hua carta que os p a d res levão ao capitão da ilha de S. Tomé,
« como haveis de ir ter á dita ilha com os Padres da Companhia e n’ella
« haveis de esperar até de cá hir o em baixador de E l R e y do Congo que
« ora está neste R e y n o : e porque pode ser que o dito E m baixador por
« causa do tempo ou p o r outro alg um respeito fa ç a mais detenção do que
« convem e ser a grande inconveniente de terdes vós com os ditos Padres
«na dita Ilha: hei p o r bem que sem embargo do que acerca disto tenho
« escripto ao dito capitão vós e os ditos P a dres vos possais partir e parteis
«p a ra o R eyno de A n g o la com o caravelão e caravela de que his por
« capitão » ( i ).
Vê-se, do que fida transcrito, que no mesmo navio, ao passo que
por mão dos padres jesuítas se mandavam instruções nos termos da
combinação ajustada com Ambrósio de Azevedo e que a êste, certa­
mente, foram mostradas, para se certificar de que se cumpriria o acôrdo,
determinava-se a Paulo Dias — e note-se, sem se dar a contra-ordem
ao capitão mór de S. Tom é, — que partisse para Angola logo que
chegasse á ilha, sem em bargo do que acerca disto tenho escripto ao dito
capitão. O s padres jesuítas salvaram assim a sua responsabilidade.
Entregavam a carta com instruções para esperarem pelo Ambrósio de
Azevedo e Paulo Dias é que as assumia, dizendo ter instruções em
contrário. Pobre Paulo Dias que com eçava a sua vida em Angola no

( : ) V id e a n o t a an terio r.
Parte II— Angola 107

desempenho de um papel tão indecoroso! iMas, a-pesar-das declarações


paulo Dias, o Bispo é que se não conformou, e obrigou-os a
eSperarem pelo Ambrósio de Azevedo, como lhe determinavam nas
instruções enviadas por mão dos padres, escrevendo a esse respeito:
((et( lhe disse que vosa alte\a mandava que esperacem nesta Ilha até a
t vinda de Ambro\io de A{evedo, ambaxador dei Rey do Comguo, hebem
«acertado terse comprimento com elRey do Comguo por que se não deve
«avemturar ho serto pelo duvidoso 0(1).
Chegado Ambrósio de Azevedo partiram, então, todos na caravela,
para Angola sim, mas com escala pelo Pinda(2), onde Paulo Dias (os
padres jesuítas, na forma do costume, ocultarem-se) foi conferenciar
COm o rei do Congo, D. Diogo, mas fê-lo tão desastradamente, que 0
D. Diogo se queixou para Lisboa «do modo que teve em se partir dele
«para 0 Reyno de Angola », ao que D. Catarina, em nome de D, Sebas­
tião, por carta de 23 de Agosto de 156o, respondeu qie se informaria
e faria o que fôsse de justiça(3).
Ir-se-ia efectivamente aventurar 0 certo pelo duvidoso? Talvez que
ao espírito dos que nada viam para além do campo restrito dos seus
interesses imediatos, assim parecesse; mas, quem estudasse a solução
do problema da civilização, que se nos impunha, dos imensos territórios
que descobríramos; quem sentisse já então, 0 pulsar, embora ainda
fraco e por vezes intermitente, da grande nação que começavamos a
fazer do outro lado do Atlântico, não poderia indicar outra.
Foram os jesuítas, pela sua ambição, que a forçaram? Foram os
ministros de D. João III, que tendo iniciado a colonização do Brasil,
sem se preocuparem com a da Baixa Etiópia, marcaram a esta o
concurso a prestar aquela?
Deve ter sido o conjunto destas duas circunstâncias. Mas fôsse
como fôsse; 0 facto de termos compreendido, ou por instinto ou por
sugestão, as vantagens de abandonarmos a política platónica das
suserânias, para nos lançarmos, abertamente, na das subjugações, na
dos domínios efectivos dos territórios e das gentes, cora o fim de os

(1) Paiva Manso. História do Congo, Doc. ux, pág. 112, í o de Fevereiro de i 56o.
(2) Synopsis Amalium Societatis Jesu in Lusitania, etc. R. P. António Franco, cit, pág. 63 .
24. Navis posl appulsum ad insulas Hesperidumdivi Thomae, ac Pindam in ostio Zairefluminis,
ubi liqualum & aquatum descendêre, etc. Apesar desta referência, como vemos pela carta,
acima, não foi só para fazerem aguada que foram ao Pinda, mas terem comprimento com el rei
do Congo.
(3) Anexos, Doc. n.° 16 cit., fl. 17.
lo B Angola
utilizarmos onde nos conviesse, honra-nos sobremaneira e, sem isso,
não teríamos sido o que somos hoje.
Emfim, a missão que Paulo Dias ia levar a Angola, tendo saído do
Tejo a 22 de Dezembro de 15 5 9 , chegou à barra do Cuanza em 3 de
Maio de i 5 6 o.
*
* *

H avia 22 meses que partira a missão e não se conhecendo em


Lisboa quaesquer notícias do que se passára, mandaram-nas pedir ao
capitão mór de S. Tomé.
Soube-se então (i) que tendo fundeado no Cuanza em 3 de Maio de
i 5 6 o, poucos dias depois, em 12, Paulo Dias resolvera mandar seu
sobrinho Luís Dias, um marinheiro mulato da caravela e, como guia, 0
preto D. Antónlí) que fizera parte da embaixada enviada a Lisboa,
participarem ao rei de Angola, Ngola Kiluangi, a chegada. Seguiram
pelo Cuanza em um batel até onde o puderam navegar, e desembar­
cando em um porto, que deveria ser aquele onde mais tarde fundámos
Massangano, foram depois por terra até á embala.
Só a 24 de Junho, depois de quarenta e dois dias de demora, re­
gressaram, primeiro Luís Dias, acompanhado por vários pretos e,
pouco depois o emissário D. António, acompanhado por um preto co­
nhecido por Gougessis ou Gougocinga, fidalgo importante e por muitos
outros, afim-de acompanharem Paulo Dias e os padres.
O rei de Angola respondera à participação da chegada de Paulo
Dias e dos padres, sem mostrar os desejos de conversão ao cristianismo
que eles esperavam, e dizendo-lhes, apenas, para irem até á embala e
levarem os presentes, o que não era de molde a deixar grandes espe­
ranças no bom resultado da missão, tanto mais que Luís Dias trouxe
para Paulo Dias uma carta de um português, natural do Barreiro,
residente na embala do rei, avisando-o de que não fizesse a viagem pois
lhe preparavam uma cilada. Aceitaram o conselho resolvendo esperar
outras informações e tornando-se incómoda a vida a bordo, desem­
barcaram nas margens do Cuanza e ai fizeram uma ramada onde se
alojaram.
Resolveram enviar-lhe novamente o emissário preto D. António,

(1) D o c . 16 c ita d o e c a rta do irm ão A n tó n io M en d es p a ra o padre da C o m p a n h ia, Leão


H enriques, p u b lica d a no Boi. da S. G. L., n.° 6, 4.« série, p á g. 3oa.
Parte II—Angola 109

cort)panhado do mestre da caravela, com 0 fim de lhe exporem mais


vez o seu objectivo de tratarem da sua conversão e da sua gente.
Entretanto 0 acampamento nas margens do Cuanza foi aumentando
ela necessidade de melhorar 0 estado sanitário dos portugueses, a
quem não só o clima estava dizimando, tendo já falecido 0 padre
Agostinho de Lacerda e oito marinheiros, mas também a falta de vi­
veres, valendo-lhes 0 socorro prestado por um sobeta vizinho, que lhes
forneceu os alimentos de que dispunha, mostrando-se sempre muito
caritativo para com os nossos.
Cêrca de quatro mêses demorou 0 regresso dos emissários enviados,
tendo-se, contudo, trocado recados entre Paulo Dias e 0 rei de Angola
num tom que denotava certa irritação de parte a parte.
O Ngola Kiluangi, insistia pela ida dos padres, mas sem modificar
a sua reserva a respeito de declarar que abraçaria a religião cristã e,
paulo Dias suspeitando que talvez dos portugueses, fjue residiam na
embala, proviesse essa resistência, respondia-lhe insistindo também pela
sua parte para lhe mandar os portugueses que lá estavam. Não se
tomava, assim, qualquer decisão, mas tendo um criado feito saber a
Paulo Dias que se dizia que ele não ia por ter medo, êste, desesperado,
resolveu meter-se em um batel com sete pessoas e algumas das cousas
que levava de presente e seguir pelo Cuanza até Massangano, fazendo
depois a viagem a pé até á embala, por jornadas, a primeira de duas
léguas até ao fidalgo chamado Angora Carengala, onde esteve um dia e
uma noite; a segunda do mesmo percurso, até ao fidalgo Babatem e
daí a três jornadas (seriam seis léguas?) a outro fidalgo chamado
Cabaço (Cabasse) que o teve quatro dias comsigo(i).
O padre Gouveia não acompanhou Paulo Dias, por não poder
abandonar uns doentes em estado grave, e só seguiu pouco depois com
um grupo grande de portugueses, mas entretanto, tendo chegado á
embala a notícia de que ele ficára, vieram os pretos D. António e 0
Goucocinza (2) com muitos outros indígenas, para 0 levarem, encon-
trando-o no caminho e manifestando a sua satisfação por êsse facto,
conduziram-no á povoação onde 0 Ngola Kiluangi residia e que, dizem
os cronistas, ficava a sessenta léguas do acampamento do Cuanza (3).

(t) O documento donde extraímos esta indicação, tem a seguir a quatro dias comsigo: «e
depois meses, etc.», sem dizer que Paulo Dias saísse dali para outro ponto onde fosse a embala
ou a côrte do rei.
(a) Era o preto fidalgo que ficava encarregado de tratar com os portugueses.
(3) Os jesuítas, Synopsis Annalium, dizem-nos que Cabassa distava6o léguas da praia onde
I IO Angola

A s etnbalas dos sobas em Angola eram então, como são ainda hoje
u m a série de cercados de troncos de árvores entrelaçados, com uma
ú n ica passagem de com unicação, no meio dos quais se encontra um
recin to m ais ou menos vasto, a instalação do soba. Decorridos os
dias que a etiqueta impunha de espera aos visitantes, para poderem
ser recebidos pelo soba, foram os nossos apresentados ao A n g o la
K il u a n g i , que os recebeu assentado numa cadeira quadrada, tecida de
p alm a e revestida de tabuas, « estando cingido com uma f a i x a d e pano
a^ ul, e várias outras de diferentes cores que o circundavam p o r d eb a ix o
d o s b r a ç o s » e tinha um corno de vinho na mão e hua cabaça g ra n d e ju n to
d e s i e sem pre bebia p o rq u e esta he toda a fid a lg u ia entre elles ter que
b e b e r ». Os dignatários que o cercavam entregavam-se ás mesmas
libações, que o cronista da Com panhia de Jesus, encobrindo preposita-
dam ente o verdadeiro sentido, aprecia escrevendo que entre aqueles
b a rba ros era estti a m elhor maneira de significar a s u a profunda d e fe -
ren cia p a r a com hospedes tão ilustres , como eles consideravam os nossos.
A recepção não desanimou os nossos. O rei de Angola, em vista
dos presentes que lhe levám os, entre outros, uma mula bem arreiada,
um a vestim enta de seda vermelha e um barrete, mostrou-se satisfeito
e, em bora, quanto à sua pessoa, se limitasse a prometer que se faria
cristão, foi contudo ordenando que vinte pequenos fossem entregues ao
P ad re Gouveia para os educar e, tão bem impressionado ficou Paulo
D ias com o que se passou, que resolveu mandar pedir ao sobrinho
Luís D ias, que tinha ficado no acampamento no C uanza, lhe mandasse
os vestidos , e a bacia e os f o lie s de fe r r e ir o , que tinha trazido para a
fundição.
M as, a-pesar-disto, passaram -se cinco ou seis mêses, sem o preto
rei de A ngola consentir na retirada dos nossos que compunham a
co m itiva de Paulo Dias. A os que tinham ficado no acam pam ento
constára terem sido feitos prisioneiros e lhes fôra tom ada tôda a fazenda
que levavam , e, sendo escassos os mantimentos, receando serem
atacad os e sofrerem a mesma sorte dos outros, resolveram levantar
ferro e retirarem com a caravela para S . Tom é.
T in h a algum fundamento as suas suspeitas e receios. Satisfeita a
curiosidade do preto com respeito ao presente que Paulo Dias lhe

e s t a v a o a c a m p a m e n t o , n a s m a r g e n s d o C u a n z a e q u e d e s te p o n t o a M a s a n g a n o , e r a m 39 légu as.
D e v e , p o r ta n to P a u lo D ia s t e r p e r c o r r id o 21 lé g u a s d e M a s a n g a n o á e m b a la e e s t a ser o n d e
h o je é A m baca. P e la d is tâ n c ia do d o cu m e n to , to lé g u a s , a e m b a la s e r ia e m M b a k a , n as
m a r g e n s d o L u c a l a , o n d e e m 1 6 1 4 , c o n s tr u im o s u m fo r te .
» *■ »,

Parte I I — Angola III


I
a in d iferen ça logo de início esboçada pela vinda da m issão, era
lid a r a .
tô°0 cro n ista d a C o m p a n h ia de Jesus classifica a atitude do N gola d e
ti)idade e a trib u i-a a intrigas do rei do Congo, quando mais certo
b°s. atribui-la ás intrigas dos portugueses residentes na embala, e de
*
$efl* paulo Dias suspeitava, pois pouco depois de chegar ao C uan za,
4a mamado dizer ao re‘ de Angola para os autorizar a virem ao
il acam p a m en to no C uan za, o que eles não fizeram e antes, em
selí«nsta, o acusavam de ter medo de ir até á embala onde eles
respu 7
tavam.
pôsse como fôsse, incitado por eles ou pelo rei do Congo, que, como
. - ficou referido, era também dirigido por outro grupo de portugueses,
q certo é que o rei de Angola, por maldade própria, ou por se convencer
^ que o fim da missão dos portugueses era introduzirem-se no seu
reino para se assenhorearem das suas riquezas, resolvei reter os trinta
e oito portugueses que tinham acompanhado Paulo Dias e, dizem os
i
i f
padres, tomar-lhes tôda a fazenda. «Roubou-nos tudo quanto leva- i t
<(vamos, até o sino , e assife\ a todos os que hião conosco e reteve toda a u
n
«gente na terra té que os navios sevierãopor não poderem esperar ia com
t .
«fome no mar » escreve um dos irmãos da Companhia e, só depois de
ter notícia de caravela ter levantado ferro soltou os portugueses, que,
dirigidos pelo irmão Manuel Pinto, se encaminharam para a barra do
Cuanza, na esperança de ainda lá encontrarem os companheiros.
Ao chegarem, vendo-se sós e absolutamente desamparados, recebe­
ram daquele soba amigo a quem já nos referimos, os alimentos que êle
lhes poude dispensar e, metendo-se em almadias (i), foram navegando
ao longo da costa, para o norte, até chegarem ao Pinda. Aí encontraram
\
então, uma nau que os conduziu a S. Tomé, onde faleceu o irmão ■3
Manuel Pinto (2).

(1) «E construindo ali, em Bambolungo, um batel». Carta do padre Francisco Gouveia.


883
Boi. da S. G. L., 4,* série, n.° 6 (i 33
) pág. o .
(2) Cadornega Guerras Angolanas, i.° tomo (cópia existente na Biblioteca da Academia
das Sciências de Lisboa) dá uma outra versão sôbre 0 que se passou com esta primeira missão
I
ao Ngola. Conta que tendo êste visto a acção desenvolvida pelos portugueses na defesa do
Congo contra os jagas, mandou pedir ao rei do Congo que lhos mandasse (os mundelis
brancos) para 0 defenderem e, assim para lá foi Paulo Dias com muitos portugueses, que pres­
taram optimo serviço e tio bom, que 0 Ngola, receando do seu valor, resolveu dividi-los por
diversos sobas para os matarem. «A piedade ou a afeição de huma Infante filha deste Rei
> I
«livrou a cinco Portugueses de tamanha lirannia, mandandoos esconder de suafiereja em terras
! jS
«de umfidalgo sova vassalo de seu Pay que tinha suas terras e senhorio no rio Mocos q. desagoa
<1suas agoas em 0 famoso e caudaloso Rio Coan^a, 0 sova era 0 seu apelido quilomga quiabumgo J I
\

,1

!
I 12 Angola

* #

Foram estas as noticias que os documentos que se podem consultar


nos dizem terem sido recebidas em Lisboa. Não causou maior es­
panto o que se estava passando em Angola, nem provocou qualquer
reacção, aliás justificada em vista do espírito guerreiro, avigorado
pela leitura dos mistícos e dos livros de cavalaria, e do fervor pela
conversão dos infiéis, que dominavam o rei D. Sebastião e os seus
cortesãos.
É que, de todos estes factos, não se pode deduzir uma manifesta
hostilidade para com mercadores e padres. Se ela existisse, o preto de
Angola tinha mandado cortar a cabeça a todos os nossos. O padre
Gouveia exagendva. Não propositadamente para alardear serviços,
porque sendo um crente sincero e um apóstolo devotado à sua fé, não
procederia com essa intenção; mas talvez por isso mesmo, talvez pela
pureza das suas convicções e pela nobreza dos seus sentimentos, se
sentisse maguado com o que via e, faltando-lhe a energia e os meios
de acção, para se impôr e opôr aos desregramentos a que assistia, não
só do preto, mas dos nossos, traduzisse em lamentações a sua revolta
contra o que era um fruto da época e do meio.
Por tôda a parte queríamos ver reis, príncipes e fidalgos e ostenta­
ções de riquezas. Dos sultões e califas do norte da África passámos
para os rajás da índia e a eles nivelám os todos os pretalhóes que
fomos encontrando pela Baixa Etiópia, desde o M u en e C on g o ao M néne
fifigola. Êste, duma raça manifestamente inferior, que não era fidalgo
nem rei e apenas um chefe de bando, um quadrilheiro audacioso,
roubando aos outros pretos os mantimentos, os gados e as mulheres
fazendo-as suas escravas, via sem as compreender, mas sentindo-as, as*•

« que hoje conserva o mesmo nome e terras em o mesmo sitio, dando a obediência como Vassallo
<r que he do Príncipe nosso senhor, a fortaleza de Cambambe que fic a perto das terras de qui-
«longa e Rio Mocos como sova daquella lotação. A quem ordenou aquella piedosa e affeiçoada
a Infanta com lodo o segredo mandasse faqer uma canoa que se faq de hum pao chamado mufuma
« Carcanada. . ■ com ordem da dita Infanta que feita que fosse a dita embarcação a levasse pelo
« Rio Mocos ao do Coamqa e mettesse nella aquelles Portugueses e sustento necessário para a
o viagem, e lhes dessem fu g a p or aquelle espaço\o Rio Coamqa abaixo, entre estes Portugueses
• entrava Paulo Dias de Novaes, por cuja cauja faqia a filh a daquelle R ei estes estremos, que
« são os poderes do amor l que até huma Gentia os conhece, muito pode uma afeição ».
Como se vê esta versão em nada corresponde á verdade que se conhece dos documentos
. jeferidos. Registamo-la apenas por ser curiosa.
Parte II— Angola II.?

-{estações de respeito que os colonos de que dispúnhamos então,


a1 uireiros, na maioria homiziados, lhe rendiam em busca de interesses,
üVÊÍl n(j 0 a escravos e marfim, juntamenle com as fazendas, uns restos
e caracter. E o preto, maravilhado das contumélias da
dc pragmática, que transportámos para a sua embala, chamando-lhe
nC>lácio; sem o mais leve traço de civilização ou princípios religiosos,
Pa os mais rudimentares; tendo também só em mira o interêsse e o
alo!srn0’ desconfiava dos nossos intuitos. Aceitáva-nos até à altura
e°0 que via nisso vantagem imediata, nunca sacrificando as suas con-
^pjências, e sem se nos mostrar hostil por qualquer forma, muito
erllbora as suas faltas de respeito e consideração pudessem, como tal,
ser apreciadas, por quem ainda tinha dignidade e a presava.
«Na christandade não se fa\ nada, escrevia o padre Gouveia (i).
( Os fidalgos e pessoas nobres com que falíamos não dão pellas cousas de
„ J)eus e o Rey vemos mui poucas ve{es e quando lhe fadamos nas cousas
«da fee, fa { que não entende e depois dHmportunado di\ que elle virá a
«aprender e isto cheio de riso e {ombando de nós«, e referindo-se ao tra­
tamento : «passamos muytos trabalhos porque alem de nos não darem
«muytas ve\es nada nos espancão muytas ve{es pello que a gente nos foge
«e deixa soos, e di\er isto a E l Rey não punde nada pello que nos sofre­
amos acundando-nos com vender secretamente esta pobresa que temos far-
«rapos cousas velhas a fidalgos da terra a troco de mantimentos. . . Outro
adia di{ (refere-se ao Gongocinga a quem chamava seu amo) que somos
«escravos de E l Rey e que vamos fa\er seu serviço como algumas ve\es
afilemos como de coser lhe capas e outros vestidos de Portugal e brear
«almadias em que E l Rey se lava e outras cousas semelhantes e nisto pas-
asamos a vida».
Se era assim na parte referente às considerações devidas a pessoas
da categoria do Padre Gouveia e de Paulo Dias, com respeito ao co­
mércio, parece que se ia fazendo sem estorvo de maior, porque o Pa­
dre Gouveia o escreve: «Isto fa\ pera ms deter parecendo-lhe que
aem quanto alli estivermos virão navios de Portugue\es aos portos com
«fazenda de que tirará proveito», o que mostra que a intenção de
lhe obter a conversão pela proibição das relações comerciais fôra
posta de parte, ou antes, teve de o ser perante o interêsse da maioria,

(i) Carta do Padre Francisco de Gouveia para o Padre Do. Mirão. Das Relações de An­
gola, tiradas do Cartono do Collegia dos Padres da Companhia em Paris. Boi. da S. G. L.,
IT 4 Angola
naiuralmentc a gente de S. Tom é e os comerciantes de Lisboa, arma­
dores, etc.
Não se tendo conseguido a conversão ao cristianismo do preto rei
de Angola, nem por isso a propaganda religiosa deixava de se fazer
entre os indígenas, senão com alguns bons resultados, pelo menos com
simpatia e, a propósito de um violento incêndio que destruiu tôda a
povoação do soba, escreve ainda o Padre Gouveia : « o que mais espanto
«f e \ f o y estarem as nossas casas pegadas com os muros de E l R ey, não
« lhe fa zen d o nenhuma das ve\es o fo g o nada, antes vinha sempre morrer
« na nossa testada como milagrosa, e que ninguém o vira que o não atri-
« buisse a grande m ila g r e ... Todos nos difião que a Ig reja e as cousas
« que de D eu s n’ ella tínhamos nos guardavão e por isso foig a vã o muytos
« de nos ter por visinhos por se verem livres do fo g o e crer que por isso
«fo r ã o livres como elles também creem por estarem a p a r da Igreja, prin-
« cipalmente hur% gentio fid a lg o parente de E l R e y bem valoroso capitão
« mór deste R e y ».
Esta aceitação e reconhecimento do milagre pelos indígenas, não
representava por forma alguma a sua crença ou a sua fé. Para eles,
dentro do seu espírito, ficou existindo um feitiço com mais valor do
que os que usavam, o que, à primeira vista, parecendo uma boa indi­
cação a explorar, tinha os seus inconvenientes... porque também por
vezes sacrificavam os feiticeiros.
Do que depois se passou com Paulo Dias é que não há notícias e,
a-pesar-de o Padre Gouveia o incluir quando conta que os espancavam,
que não lhes davam de comer, que os obrigavam a coser as capas e
outros vestidos de Portugal e a brear as almadias em que o preto se
lavava, o que deve ser pôsto em dúvida, Paulo Dias nas horas vagas
foi-se entretendo com a bacia e foles de ferreiro, e outro papel mais
importante passa a desempenhar, porque em 1 5 6 5 , nos diz ainda o
Padre Gouveia, o preto de Angola o mandava a Lisboa com um seu
escravo (já lhe não chamava fidalgo) «a visitar Sua A lte ia mandando-lhe
« de presente quarenta argolas de cobre e trinta e cinco dentes de Alifante
« c quarenta paos que cá lhe chamão Quicongo que é muito estimado n’estas
« terras e assi manda mais certos escravos mãdando pedir p or isso milhares
de cousas » (i).
No Gongo tinha, entretanto, morrido o preto D. Diogo, sucedendo-

(t) Carta do Padre Francisco de Gouveia ao Colégio. Boi. da S. G. L., n.° 7, 4.* série,
pág. 338 .
Parte 11— Angola I iS
\he um filho que foi assassinado pelos portugueses, e a este, seu irmão
p. Bernardo, muito afeiçoado aos nossos, de quem escrevia António
Vieira numa carta para a Rainha D. Catarina: neste Rei Dom Barnardo
«que agora reina em Comgo e he mansebo muy llargo e mm he syo\o
e como os seus antepassados que erão syo\os do Reino damgolla que mm
gquerião com Reys de portugall descobríse o Reino damgolla e nem que-
grião que soubese o que havia nelle, etc__(i). Esta mudança de Rei
fio Congo e de política deve ter tido repercussão importante no Dongo,
e a ela devemos ligar a viagem de Paulo Dias a Lisboa.
A confirmar esta suposição, vemos ainda António Vieira, na carta
referida, escrever: «também este paullo dias que veo por embayxador
«damgolla tall como estes deve sua Altera demandar qua por que sabe o
(tfeyto da terra asym damgolla como de Comgo, etc.» o que nos mostra
a preponderante acção que Paulo Dias desempenhava junto do preto
de Angola, sendo escolhido para seu embaixador junto^io rei do Congo,
e que, a sua vinda a Lisboa não foi para urgentemente buscar socorros
a-fim-de sufocar qualquer revolta, como algures se tem escrito e repro­
duzido, mas tratar de outros assuntos, talvez expor a oportunidade de
se tomar uma solução definitiva sôbre Angola, cujas dificuldades êle
teria aplanado, indo ao Congo, devendo lá ter estado em fins de 65 ou
princípios de 66.
Foram, pois, os acontecimentos do Congo, que desde há muitos
anos se vinham agravando e que tiveram a sua eclosão com as mortes
violentas do rei D. Diogo e do primeiro filho que lhe sucedeu, que mo­
tivaram a vinda de Paulo Dias a Portugal, passando primeiro pelo
Congo, para, como embaixador do preto de Angola, tratar com o novo
rei D. Bernardo de assuntos que interessavam àquele.
Diz-nos António Vieira que o preto D. Bernardo não era cioso do
reino de Angola, como os seus antepassados, que não queriam que os
reis de Portugal descobrissem o reino de Angola. Nesta referência,
está talvez a chave do mistério da viagem de Paulo Dias. Os reis do
Congo deixavam de se importar com o facto do Rei de Portugal esta­
belecer directamente a sua acção em Angola, deixavam de ser ciosos,
isto é, acabava a lenda e reduzia-se às devidas proporções a grandeza
do Congo.

(i) Paiva Manso. História do Congo, Doc. uni, pág. 116.


I ï6
Angola

*
* •

Durante a sua permanência no Congo, Paulo Dias adquiriu perfeito


conhecimento, não só da situação política, mas principalmente da terra
e dos recursos que oferecia.
O esfacelamento daquele Congo que os nossos primeiros colonos
tinham feito, vasto e dominando todos os povos vizinhos, tornara-se
inevitável. As lutas contra o rei D. Diogo, a morte dêste e do filho
que primeiro lhe sucedeu, colocaram o outro filho, D. Bernardo, na
necessidade de contemporizar com os revoltados para poder ser reco­
nhecido como rei, o que era manifesta prova da sua fraqueza. Esta
contemporização obrigava-o a ter, antes de mais, de tratar de arrumar
a casa própria, s#ssegar a família e deixar-se de veleidades de domínios,
que nunca teve realmente, mas que lhe diziam que tinha,
O soba do Dongo, o Ngola, foi o primeiro dos seus pretensos súbditos
a pensar em engrandecer-se, senão pròpriamenle à sua custa, pelo menos
de forma a tomar para si a parte que o rei do Congo, ouvidos os por­
tugueses, dizia, vaidoso, que era sua. Dado o decrescimento do negócio
dos portugueses no Pinda, pela transferência de muitos para o Loango
e de outros para Luanda e portos para o sul, fácil lhe foi tomar, com
um apoio seguro, uma atitude, de quem queria ser alguém, atitude que
Paulo Dias deve ler coadjuvado e auxiliado, pois que a sua missão de
5g não obedecia a outros fins.
<jO que foi êle fazer ao Congo como embaixador e o que veio fazer a
Lisboa com o tal escravo, como lhe chamava o Padre Gouveia, e que
era um embaixador ao rei de Portugal e com o presente das manilhas
de cobre, marfim, pao de Quicongo e escravos? Nenhum documento
nos ficou que esclareça estes pontos, mas os factos subseqüentes talvez
nos possam dar qualquer indicação.
A acção do rei do Congo estendia-se por todo o território entre
o Zaire e o Cuanza e ainda para o norte daquele rio e sul dêste.
Mas, a-pesar-disso, a Angola, a Matamba, a Quiçama, a que o velho
D. Afonso I do Congo chamava os seus reinos e senhorios, eram e foram
sempre sobados de ambundos, que talvez mal conhecessem os congue­
ses, e muito menos os considerassem como conquistadores, e com quem.
pelas relações que tinham com os portugueses que viviam no Congo, se
foram também relacionando e integrando na sua influência política»
Parle I I — Angola 117
mais nominal que real. O reino do Congo, pròpriamente o território
ocupado pelos muxicongos, nem era verdadeiramente constituido peias
províncias que já referimos, pois algumas delas foram conquistadas (i).
A dispersão do negócio exercido pelos portugueses, se por um lado in­
teressava o rei do Congo pela importância política que lhe trazia, por
outro contrariava-o, pois «com llogeas mercadorias e cousas muitas
« por nos deffessas, as quaes se espalham por nossos Reinos e Senho-
« rios em tamta avomdança que muitos vassallos que tynhamos ha nosa
« obeiiencya se aleuantam delia por terem as cousas em mais abastança
« que nos, com as quaees hos antes tynhamos contentes e sogeitos e so nosa
« vassallagem e Jurdiçam, etc.»
Os protestos do velho D. Afonso não foram ouvidos e os portugue­
ses, entretanto, tinham-lhe ligado S. Salvador com Luanda e com o
Dongo, e estes dois pontos pela via marítima, navegando pelo Cuanza.
Emquanto D. Afonso foi vivo, a unidade do Congo ruanteve-se, mas,
depois da sua morte, vieram as lutas entre os diversos duques e mar­
queses, vieram as revoltas destes contra o rei e, perdida assim a uni­
dade, veio o enfraquecimento, tornando mais tarde fácil aos jagas a
invasão, em que levaram na sua frente, fugindo quási sem resistência,
as populações das diversas províncias do Congo e até o próprio rei,
então D. Álvaro II, que teve de se refugiar, com alguns portugueses que
o acompanharam, numa das ilhas do Zaire, emquanto de Portugal che­
gavam os socorros que mandara pedir e com que recuperou o seu reino,
mais porque os jagas se não detiveram na invasão e escolheram outros
locais para se fixarem, do que pela derrota que sofressem.
Paulo Dias percorrera os sobados do interior e colhera informações
detalhadas do seu valor. Convenceu-se, pelo que viu e pelo que lhe
disseram, que a verdadeira riqueza estava ali. Eram os escravos em
abundância; eram as minas, em que havia serras de prata e rios de
ouro, além do cobre por todos os lados, eram os mantimentos mos-

(i) O facto de incluir a ilha de Luanda nos seus domínios é ainda um ponto a esclarecer.
Não pode haver dúvida alguma de que, nem a ilha, nem a parte do continente fronteiro, perten­
ciam ao soba do Dongo. Possivelmente os nossos, quando chegaram ao Zaire e ao mesmo
tempo que estabeleciam relações com o Manicongo, foram percorrendo a costa para o sul, che­
gando à ilha das Cabras de Duarte Pacheco, onde encontraram os zimbos. Tinham das conchas
e dos búzios uma noção de valor como moeda, pois que o seu negócio na Alta Etiópia fôra re­
servado para a coroa. No Congo não havia moeda e era necessário criá-la para as transacções.
Foram talvez os nossos que lembraram ao Manicongo o estabelecimento da sua casa da moeda
na ilha das Cabras, a que depois chamámos de Luanda e que não era habitada por gentio algum,
de importância.
1 18 Angola
trando a fertilidade do solo e era, ainda mais, um clima superior ao do
Congo e permitindo uma mais longa permanência do europeu.
Ainda a situação política lhe facilitava a realização do grande sonho
que em segredo acalentava, da posse, para si e para os seus, de tôda
aquela riqueza.
Forçado o rei do Congo a aceitar o Dande como limite sul do seu
reino, ficava todo o vasto território para o sul, até além do Cuanza,
ocupado por diversas tribus, os dembos, os ngolas, os gingas, os quis-
samas e os libolos, além de alguns jagas independentes espalhados, que
não constituíam uma unidade política e dos quais um ou outro, se tinha
tornado mais notável, pela importância e prestígio de que se souberam
cercar, aproveitando as relações com os portugueses.
Com o Ngola, soba do Dongo, adquirira Paulo Dias as melhores
relações. Fomentara a sua independência do rei do Congo e era êle
que vinha agoi% acompanhar o seu embaixador ao rei de Portugal.
Esta circunstância facilitava-lhe a realização dos seus desejos. As difi­
culdades dos primeiros donatários do Brasil não era provável que se
repetissem ali. Além de uma população indígena já habituada à con­
vivência com o português, era o tráfego da escravatura, corrente entre
os indígenas, sem ser necessária a luta para os agarrar, antes pelo con­
trário, eram os diversos chefes de tribus que vinham propor a troca,
por mercadorias, dos seus prisioneiros e condenados à morte.
A terra estava também povoada de brancos. Além dos que viviam
junto da embala do soba, já na ilha de Luanda, cujo pôrto passara a
ser freqüentado pelos nossos navios, havia portugueses estabelecidos,
que se encarregavam da recepção das mercadorias que os navios des­
carregavam e dos pretos para serem exportados. Alguns operários
nossos, carpinteiros e calafates, se tinham ali fixado e, parece que devia
também haver clérigos, pois que existia uma ermida ou pequena igreja,
certamente mandada erigir de ordem do rei do Congo ou do duque Ma-
nibamba, que governava na ilha. As caravanas seguiam de Luanda
para o Dongo e para o Ambriz, pelas carreteiras abertas pelos nossos
comerciantes, através de regiões em que eram muito raras as lutas com
os seus habitantes.
Ao seguir viagem para Lisboa, Paulo Dias deveria ter ponderado
tôdas estas circunstâncias e formado o seu plano, cuja boa execução,
tanto a respeito de pretos como de brancos, julgava garantida, muito
embora pudesse dizer dêstes, pela experiência do que com êle se tinha
passado, o que Duarte Coelho dizia a respeito dos condenados que po-
Parte II — Angola 119
voavam a sua donatária no Brasil: « s ã o p io r e s cá n a te r r a q u e p e s t e »
ou o que, um pouco mais tarde Domingos de Abreu de Brito dizia a
respeito dos que povoavam Angola e Congo: « h a ta n ta s to r p e z a s q u e
p o r v e r g o n h a d a p a t r ia n ã o a p o n to » ( i ) .
M as havia uma dificuldade. Èle linha ido a Angola acompanhando
os padres da Com panhia de Jesus. Destes, um falecera, outro ficara lá,
e regressava êle que tinha de relatar a missão dos outros e a sua. ^Sôbre *
os resultados obtidos, era justo e licito pedir um a recom pensa para si?
í E a Com panhia de Jesus?

(t) Mss. de Domingos de Abreu de Brito na Bib.Nac. Edição da Imprensa da Universidade


de Coim bra.
t
I

II

A D O N A T A R IA de angola

Jfc
p ia s d e ^ o v a *s ^eve íer chegado a L isboa em fins de 1 566
ios d e l ^ ' ^ overnava o reino, com o regente, o Cardial
e 0 esP^r^ ° ^os ^dgentes estava ocupado nas lutas poli-
J e í i í i as fa c ç ô es de M artim Gonçalves e da R a fth a D. Catarina.
iícâS ^cios u^.ramar eram Um*Pesa(kl°
---- ^ Fm a us
para os governantes. Fouco
Pouco
09sS^í,e^áqC1<ter seguido para Angola em 1559 a3 missão da Companhia de
^epa‘s r0Apanhada
áepois por Paulo
ínpan^a^a ,^°r ^au^° Dias, tinha chegado
^ as>dnha chegado aa Lisboa
Lisboa 0
0 padre
padre
ms aC An Silveira, e exnnc*»r« ^ •
jgSus 8^ nçalo da Silveira, e expusera 0 plano de converter ao cristia- i,
;esaíta
.*<5uRa °x^ de Monomotapa, na África Oriental, no que tinha a maior
nis*50 0 pizia-se que havia ali as mais afamadas minas de ouro, e
eSperaíl£ ue na «serra de Fura se desfe\ de umapedreira, misturada
C0 Í l t n etn pouco tempo, mais de quatrocentos mil cru\ados; e alguns
«& oUf"0> es piram pelo amago do tronco de arvores achar-se veia de
«pofWê’ rj crescendo por dentro d}elle; e cavando no logar onde a ar-
«ouf° ^tepe em breve tiraram de\ ou do{e mil cruzados, etc. (1). O plano
<íJ/°re a Gonçalo fôra aceite e êle partira com recursos para a sua
do *a mas fôra infeliz, pois 0 rei do Monomotapa mandara-o
eXpea'v g sse desastre conhecera-se em Lisboa emquanto andava em
íriat3la a outra missão da Companhia, cujas noticias recebidas também
A”Seram animadoras, como já ficou referido.
{ *
na°Com 0 regresso de Paulo Dias a situação a respeito de Angola mo- ; ?
rtiíicava-se. Não wera tão má como se supunha, e tanto que êlejapre-
va um embaixador do rei pedindo muitas cousas e trazendo um
^esente de cobre, marfim e escravos e paus de quicongo, emquanto o
Padre Gouveia lá ficava a tratar da evangelização.
Francisco Barreto, que viera de Moçambique, também estava em

(1) D écada i 3 de A m ó n io Bocarro, parte H, capítulo a x u .

16
122 Angola
Lisboa, e queria organizar uma grande expedição militar para ir vingar
a morte do Padre Silveira e apossar-se daquelas imensas riquezas.
Para Angola nada disso era preciso. Bastava a organização duma
capitania e que Paulo Dias fôsse o novo donatário.
Por entre o fervilhar da mais nefasta intriga política e desorganiza­
ção que nos levou à perda da nacionalidade, um e outro, Barreto e
Paulo Dias, por conta da mesma entidade, a Companhia de Jesus, pro­
curavam fazer vingar os seus pontos de vista acerca dos territórios que
cubiçavam. Pouco depois de D. Sebastião assumir o governo, Barreto
conseguiu em 1569 sair com a sua expedição para a conquista do Mo-
nomotapa e, se algum auxílio para isso recebeu da fazenda real, pouco
foi, porque a maior parte do dinheiro levantou-o por empréstimos em
Portugal, como se sabe pelas dívidas que deixou. Paulo Dias ficava,
entretanto, esperando que a Companhia de Jesus convencesse o escrivão
da puridade e verdadeiro rei ainda nessa época, Martim Gonçalves da
Câmara, a dar-lhe a donataria de Angola.
Só 0 conseguiu em 1571 (1), certamente depois de muita luta, por­
que contra a corrente das aventuras de além-mar, e ainda mesmo sem
encargos para o erário, e, como que prevendo a catástrofe que se apro­
ximava, se opunham os partidários da Rainha D. Catarina, levando
esta a queixar-se ao Cardial Alexandrino da acção desgraçada que os
áulicos exerciam sôbre o neto, conduzindo-o à loucura das conquistas,
sendo necessário afastar dêle Martim Gonçalves.
Obtida a doação, Paulo Dias não seguiu logo para Angola. Uma
das cláusulas estabelecia: «partirá deste Reynno para efeituar este ne-
«gocio antes de se acabar 0 contracto da ilha de S. Tomé que ora corre
« de maneira que quando lá chegar seja 0 dito contracto acabado », e,
talvez por isso mesmo êle tivesse de esperar a proximidade do termo
do contrato ou, e essa será a razão mais provável da demora da sua
partida, pela necessidade de arranjar dinheiro para a sua emprêsa, visto
a doação ter-lhe sido feita com a cláusula expressa de: «sem de mynha
«fazenda lhe aver de ser dado ajuda alguma de dinheiro nem doutras
« cousas » e ainda de se lhe não fazer empréstimo algum de armas, na­
vios, munições, nem mantimentos.
O financiamento deve ter-lhe sido difícil. Emquanto êle procurava1

(1) Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo. Chancelaria de D . Sebastião, 1. 26, fls a q 5 a


299, documento já publicado e ainda recentemente no n.-> 2.» da revista Portugal emAngola e
pelo rev. Pombo no seu opúsculo sôbre Paulo Dias de Novais. Anexos, Doc. n.° 17 °
parte I I —Angola n3
uir os fundos necessários, devera ter chegado a Lisboa, talvez
c0ílSfins de i 572, as notícias da expedição de Francisco Barreto, que
P°f 0;s de ver a sua gente dizimada pelo clima e, na impossibilidade de
dePj uer desfôrço contra o Monomotapa, resolvera antes presenteá-lo e
Sentar-se em saquear as libatas dos supostos assassinos do Padre Sii-
c°n apoderando-se do ouro que encontrou, — quinze mil miticais—
vC. r insignificante, não só em comparação com as despesas feitas com
Vexpediçã°, como até com o custo do presente para o Monomotapa (i).
& pesfazia-se assim aquele sonho dos veios de ouro que cresciam
jentro das árvores, e os capitalistas que tinham financiado a emprêsa
<je Franc‘sco Barreto, contentavam-se em encontrar no espólio dêste a
pota dos seus créditos, que somavam a 120.000 cruzados, qualquer
c0usa parecida com 11.776 contos de hoje (2).
Verdade seja que a fértil imaginação dos nossos pioneiros da África
Oriental não se desconcertara com 0 desaparecimento 3 as árvores com
veios de ouro e, para 0 substituir, apresentavam valor idêntico ou muito
maior, pois agora era, nada mais, nada menos, que uma serra tôda de
prata, na Chicova. Paulo Dias deve ter aproveitado a idea e por seu
lado passou a enaltecer, também, 0 valor da sua serra, embora mais
reduzida, mas igualmente de prata, em Cambambe, procurando assim,
devemos crer que com a maior sinceridade, seduzir os financeiros e ca­
pitalistas, aos ouvidos dos quais não podiam já chegar os protestos de
cinqüenta anos atrás, de Baltazar de Castro, quando escrevia: «Eachei
«fama que elle di\ia que vira serras de praia na terra de Angola... as
«quaes eu em seis amos que na dita terra estive, não vi>.
Os donatários eram, em geral, fidalgos pobres que procuravam
tentar fortuna. Com a influência do seu nome obtinham a doação,
que depois financiavam, procurando os burgueses ricos, aqueles que
tinham conseguido aferrolhar algum dinheiro no meio do descalabro
dos negócios das especiarias, e preferiam empregá-lo nestas arriscadas
emprêsas, a dá-lo a juro ao rei, de quem já tinham a certeza de não
verem nem capital nem juro. Financiando as donatarias e as sesma­
rias, ainda recebiam alguns escravos, pelo menos no inicio das ex­
plorações, emquanto a ambição desordenada dos donatários, ou dos1

(1) Épocas de Portugal Económico, Lúcio de Azevedo, pág. 199. O mitical correspondia a
46^,41346. Lima Felner: Tabela ia correspondência dos pesos da índia aos antigos pesos portu­
gueses, etc.
• (2) Épocas de Portugal Económico, Lúcio de Azevedo, Apêndice, pág. 199. 1
124 Angola
colonos, não fazia derivar todo o esfôrço para as guerras contra os na­
turais.
Parece que não foi por este meio que Paulo Dias conseguiu o ca­
pital que precisava, mas pelo pai e amigos da família, entre estes Jorge
Silva (i), e, segundo dizem alguns cronistas, ainda pelo Cardial D. Hen­
rique.
A sua doação impunha-lhe, entre outras, a obrigação de levar para
Angola 400 homens que possam p elejar com suas arm as , nos quaes entra­
rão oito pedreiros, quatro cabouqueiros, sèis taipeiros, um fis ic o , um bar­
beiro e levará mantimentos para um ano para toda a dita g ente e só para
isso era importante a despesa a fazer, que, por um orçamento apresen­
tado alguns anos depois por Domingos de Abreu de Brito pode ser
assim calculada:

Vestimenta
400 corpos de algodão com gualteíros e rebuços, a 6 cruzados cada 2.40o
800 pares de alpergatas e 400 borrachas de 2 canadas, a 200 reis cada 200

Arm am ento:
400 espingardas de 5palmos com bolços, cargas, formas e munições,
a [$400 réis cada............................................................................. 1-400
400 espadas com tira-colos, a 2 cruzados cada u m a ........................... 800

Munições:
70 quintais de pólvora para espingardas e 40 quintais para bombardas 1.5oo
100 quintais de chumbo ............................. ......................................... 5oo

Diversas:
400 passagens de Lisboa a Angola, a 3#000 réis cada uma. . . . . . 3.ooo
400 pipas de aguada, a 960 réis c a d a .................................................... 9^°
Soldo de 400 homens, a 6^400 réis por a n o ........................................ 6.400
Mantimentos — 20 cruzados por homem e por a n o ........................... 8.000
6 cavalos, calculando:
Custo.......................................... 40 cruzados
S e l a ................... 10 »
Arma.......................................... 5 »
F rete.......................................... 3o »
Alimentação.......................... . i5 »
100 » . ................. 600
Soma — cruzados . . . 25.760

que representam i o .3 o 4 » o o o réis da época, e a que corresponde o valor


actual de Esc. 3.09 i .2ooük>o.1

(1) Como consta de um dos capítulos dos regimentos dados aos governadores de Angola.
Parie 11— Angola u5

Mas não era só esta a despesa a efectuar.


Paulo Dias era ainda obrigado a levar: i galeão, 2 caravelas, 5 ber­
gantins e 3 muletas, para descobrir os rios e portos pela costa até ao
Qabo da Boa Esperança. Parece que não cumpriu em absoluto esta
obrigação, pois os navios que conduziram a sua expedição regressaram
a Portugal logo que descarregaram, trazendo até, segundo alguns cro­
nistas, parte dos homens que tinham levado e, certamente, como lastro,
algum carregamento de escravos, senão já dêle Paulo Dias, dos colonos
que já lá estavam. Contudo, deve-a ter cumprido em parte, por lhe
ser necessária, pelo que dizia respeito aos bergantins, que não seriam
cinco, mas três ou dois, 0 indispensável para as viagens pela costa para
0 sul, pelo menos até Benguela Velha, que ficava dentro das trinta e
cinco léguas de terra na costa, que constituíam a base da sua doação,
e que se sabe ter mandado explorar (1).
Além desta despesa, tinha ainda Paulo Dias a da aquisição de mer­
cadorias para negócio com os indígenas e com os próprios portugueses
que lá estavam, e ainda a dos contratos com os seus auxiliares, que se
não contentavam com a soldada de 6^400 réis anuais. Assim, não
estará muito longe da verdade 0 cálculo de 4.000 contos actuais que
Paulo Dias teve de arranjar para pôr cm Luanda a sua expedição e
para montar a exploração da sua donataria, que, com todo o seu opti-
mismo, pensava começaria a ter rendimentos imediatos, dispensando
qualquer reserva de capital.
*
* *

Avaliados os encargos da donataria de Angola, apreciemos agora o


que ela representava, quer pelo seu aspecto político e económico, quer
pelas vantagens para Paulo Dias.
A organização medieval dos feudos ou doações, que na Península
Ibérica deu lugar à formação de diversos condados, foi adoptada, com
restrições quanto aos poderes e direitos dos donatários ou senhores no
povoamento dos reinos, e entre êles, Portugal, em que êsses condados
se transformaram pela conquista de territórios. Mais tarde, e com o
mesmo fim, o Infante D. Henrique aplicou 0 mesmo processo às terras

(1) Paulo Dias não precisava de navios para as comunicações com o Brasil e o reino,por­
que essas eram asseguradas pelos que possuía a Companhia de Jesus, que, certamente, consentiu
em que se incluísse essa cláusula na carta de doação, porque contava com a sua frota.
I 26 Angola
que íamos descobrindo, tendo com eçado pela M adeira, qUC constituiu
a nossa primeira donataria, seguindo-se depois as das ouiras ilhas do
A tlântico até S. T om é.
A o m esm o tempo que se faziam doações, criavam -se noutros pontos
feitorias, m ostrando assim saberm os dar a cada colónia a organização
apropriada ao seu desenvolvimento. Dentro destes princípios, modifi­
cad os e adaptados às circunstâncias, fomos constituindo as bases da
ciência da colonização.
N o reinado de D. João II, caracterizado pelo engrandecimento das
prerogativas reais, vemos, quanto às conquistas, manterem-se algumas
das doações e reverterem outras à posse da coroa, quando as condições
políticas o indicavam. No de D. Manuel, em plena*febre da índia, só
o comércio do oriente nos preocupa, mas aí, nunca pensámos em fazer
colónias de povoamento e somente feitorias. N o reinado de D. João III,
a necessidade cft nos defendermos dos piratas franceses, levou-nos a
cuidar do Brasil, que, apresentando-se em condições absolutamente
diferentes do oriente, não tendo aquelas características especiais para
o desenvolvimento do comércio e estabelecimento de feitorias, foi por
nós aproveitado para o povoamento, pelo processo de donatarias, base
da nossa grande obra de colonização.
Não foi a penúria dos cofres do Estado que nos levou à aplicação
do sistema das donatarias ao Brasil, como erradamente se tem escrito.
É certo que se dá a coincidência das doações com êsse estado de pe­
núria, mas desfalcada e empenhada sempre esteve a fazenda real desde
D. João I, e as dívidas sucediam-se e acumulavam-se de reinado para
reinado, sem que tal facto tivesse alguma vez tido qualquer influência
na nossa obra de colonizadores.
As donatarias constituíam, pois, um sistema colonial que, a seguir
a nós, as outras nações copiaram e que se conservou até hoje, embora
modificado, sob a forma de companhias magestáticas. Nas cartas de
doação estabeleciam-se os direitos e deveres dos donatários e em docu­
mento separado, no foral, fixavam-se os foros e outros tributos que os
brancos e indígenas tinham de pagar ao rei, à ordem de Cristo e ao
donatário.
As cartas de doação, quer para a África quer para o Brasil, eram
tôdas iguais, quanto aos poderes administrativos e judiciais que o rei
transferia para o donatário, e só diferiam na extensão doada. O rei
reservava para a coroa determinados negócios, como o do pau Brasil
no Brasil e o dos negros em África. De resto, todo o outro comércio
Parle I I — Angola 1 27

era livre e, sôbre os impostos e direitos fixados no foral, é que o dona­


tário ia buscar a sua parte.
A doação de Paulo Dias compreendia duas partes distintas: uma
era a sua capitania, espécie de patrimônio ou honra, de trinta e cinco
léguas da costa de Angola, começando no Cuanza e águas a êle ver­ *
tentes para 0 sul, e entrando pela terra dentro quanto pudesse entrar,
e na qual tinha, durante vinte anos, 0 direito de escolher vinte léguas *
de terra em quatro ou cinco talhões, de forma que entre cada um ficas­
sem pelo menos duas léguas e devendo, nos quinze anos seguintes a )
tê-los escolhido e demarcado, mostrar que cultivara as terras, sem o
que elas passariam para a coroa; e outra (terra que êle governava como
dux) era a região entre o Dande e 0 Cuanza, doação somente em sua
vida e com um têrço das rendas, na qual se obrigara a construir em
dez anos três castelos de pedra e cal, sendo um dêles no porto onde
julgasse que deveriam ir os navios, e os outros dois, £elos rios acima,
onde lhe parecesse mais conveniente.
Como se vê, a parte que constituía a sua capitania ou património
abrangia a Quissama, o Amboim e parte do Seles. Não sendo admis­
sível que Paulo Dias pedisse à tôa êste lote, somos obrigados a concluir
que percorreu a região e conheceu o seu valor, 0 que mais vem confir­
mar que os quatro anos passados em Angola não foram como cativo
na embala do soba. E hoje, que se conhece a província de Angola, é M
muito interessante a escolha de Paulo Dias, porque recaiu exactamente
na região, sem dúvida a mais rica pelo seu solo e pelo valor dos seus
produtos, mas que na época dêle não deveria ser por tal assim conside­
rada, mas sim pela densidade da população e o número de escravos
que poderia fornecer e por muitos anos forneceu, o que a Paulo Dias,
como se vê, não passou despercebido.
Sôbre o resgate de escravos a sua carta de doação estabelece que
poderia mandar para o reino quarenta e cinco peças por ano com a
condição de virem ao pôrto de Lisboa, com certidão dos oficiais da ca­
pitania, e com essa certidão seriam despachados como forros e sem
t
pagarem direitos alguns, nem os 5 #/0- Além dêstes escravos podia
ainda trazer como marinheiros e grumetes nos navios, os que quisesse.
Todos os mais escravos que mandasse, pagariam de direitos quatro
cruzados por peça (1).
k

(1) Lúcio de Azevedo, Épocas de Portugal Económico, pág. 77. «A unidade era a peça da
« índia, de 7 quartos (de vara), i,j 5 metros estatura regular do negro adulto. Tre\ peças façiam
128 A n g o la

O negócio da exportação de escravos estava previsto numa das


cláusulas da carta de doação, sem que se falasse em escravos, mas sò-
mente em resgate e tratos, e de forma que representava, pela maneira
hábil com o está redigida, um dos mais importantes rendimentos de
Paulo Dias. Assim, duma maneira geral, êle tinha o terço das rendas
e direitos que ao rei e à Ordem de Cristo pertencessem. M as, se na
capitania se abrisse e achasse algum resgate ou trato que o rei, por si
ou pelos seus oficiais, quisesse tratar e negociar, ou desse licença a
quajquer pessoa para êsse fim, ainda Paulo Dias tinha o terço dos lu­
cros. E, quando os resgates ou tratos fôssem de qualidade que tôdas
as pessoas da capitania os hajam e possam tratar, e estava nesse caso o
negócio do escravo, que tôda a gente poderia ter e tratar, então, o rei
não daria o terço do rendim ento, m as somente o direito ao que os ou­
tros houvessem de dar e pagar, o que corresponde ao rendim ento total,
não deixando d ê ser interessante o em prego da restritiva somente p a ra
en co b rir um a vastíssim a am pliação (i).
R esu m in d o, a doação a P au lo D ias com preendia, além da jurisd ição
cív el e crim e, nom eação de ouvidor, juízes, tabeliães, e t c . :
a) T rinta e cinco léguas do C u a n za p a ra o sul, p a ra si e p ara os
seus herdeiros, que constituíam verd ad eiram en te a sua cap ita n ia , e na
q u a l tinha o direito de d em a rca ção e escolh a, d u ran te vin te an os, de
v in te léguas, em quatro ou cin co lotes, com o b rig a çã o de os ter a p ro ­
v e ita d o s dentro de quinze anos da d e m a rc a ç ã o ;
h) A s terras entre o D a n d e e o C u a n za , sòm en te d u ran te a sua
vid a, e q u e reverteriam p a r a a coroa p elo seu fa lecim en to ;
cj O te rço d e to d o s o s d ireito s, trib u to s e ren d a s n essa s t e r r a s ;
d) O e x c lu s iv o d o p e sca d o na c o s ta d a c a p ita n ia e m eia d ízim a
s ô b r e o p e s c a d o fora d ela ;

« uma tonelada supondo-se ocuparem a bordo outro tanto espaço de carga ordinaria. P ara a
« conta, mediam-se os negros, somando as alturas, e dividindo o total pela craveira, 5,25 metros,
« tinham-se as toneladas. D este modo todas as idades entravam na avaliação da partida, sem
«p r e ju ijo do comprador nem do vendedor. N a pratica recorria-se ás médias. D uas creanças
8
n de 4 a anos contavam-se p o r uma p e ç a ; três pretinhos de 8 5
a i só p o r dois. D ava-se tam-
« bem desconto á idade. D o s 35 aos 40 anos dois negros valiam uma p eça . Com os de idade su-
«p e r io r deviam se r as transacções escassas ».
(1) Com o se vê da carta de doação não há uma palavra a respeito de descobertas de minas
e sua exploração, quando sabemos que da parte de Paulo Dias e dos jesuítas que o mandavam,
havia esperança, senão a certeza, de as ir encontrar. Foram eles que propositadam ente as en­
cobriram ou o secretário das mercês que não quis incluí-las na doação ? É mais provável a
primeira hipótese, porque as minas, sem referência especial, podem-se considerar incluídas nos
resgates e tratos.
Parte I I — Angola I2 Ç

e ) O exclusivo da pesca do búzio do Dande para o sul;


/ ) O exclusivo de tôdas as moendas de água, marinhas de sai e
quaisquer outros engenhos;
g) O direito de exportar 48 peças de escravos por ano, sem paga­
mento de quaisquer impostos;
h) O direito de arrendar c aforar a quaisquer pessoas parte das
terras que lhe foram doadas.
E tinha como principais encargos:
a) Levar 1 galeão, 2 caravelas, 5 bergantins e 3 muletas, para des­
cobrir os rios e portos até ao Cabo da Boa Esperança;
b) Pôr na capitania 400 homens válidos e entre êles 8 pedreiros,
4 cabouqueiros, 6 taipeiros, 1 físico, 1 barbeiro e os mantimentos para
todos estes;
c) Levar 6 cavalos e dentro de três anos ter Já vinte;
d) Dentro de seis anos ter 100 famílias estabelevdas (moradores
com mulheres e filhos), entrando nestas alguns lavradores com sementes
e plantas do reino e S. Tomé;
e) Construir, na região entre o Dande e Cuanza, três castelos de
pedra e cal em determinadas grandezas e devendo um dêles ser no
pôrto onde lhe parecesse que pudessem ir navios estrangeiros;
f ) Construir uma igreja sob a invocação de S. Sebastião e levar
três clérigos.
Como se vê, não se tratava duma expedição militar para a conquista
de Angola, mas sim duma expedição colonizadora, como tinham.sido
as do Brasil. Queríamos fazer em Angola o mesmo que estávamos fa­
zendo na América e Paulo Dias propunha-se fundar o reino de Sebaste
na conquista da Etiópia.
São pelo menos estas as intenções que claramente ressaltam da carta
de doação. Seriam, efectivamente, estas, também, as de Paulo Dias e
da Companhia de Jesus, ou todo o seu plano tinha por fim mascarar o
exclusivo que queriam obter do fornecimento de escravos de Angola
para o Brasil?
Estávamos, então, na época do desenvolvimento das plantações de
cana no Brasil e da construção dos engenhos para o fabrico de açúcar.
Em 1570 o número de engenhos era de 101, dos quais os da Capitania
de S. Vicente produziam 180.000 arrobas. Dez anos depois essa pro­
dução elevava-se ao dôbro (1).

(1) Épocas de Portugal Econômico, pág. i 53.


i.3o A n gola
o Brasil precisava de escravos e, de cada ver., mais, e não s6 o
Brasil mas tôda a America, para onde os navios dos corsários carrega
vam negros, que vinham comprar à costa da Mina e S. Tomé vendr
assim quanto deveria ser rendoso o negócio em Angola.

*
* #

Paulo Dias saiu do Tejo em 23 de Outubro de 1574 e chegou à


baía de Luanda em 20 de Fevereiro de 1575. Acompanhavam-no,
pelo menos, um padre da Companhia: 0 Padre Garcia Simões, mas
mais alguns foram, e talvez um dos padres Baltazar, 0 Afonso (i)-
Divergem os cronistas sôbre o número de navios e o número de
homens que compunham a expedição. O autor do Catalogo dos Go­
vernadores de Angola (2) diz que eram sete embarcações e nelas setecentos
homens de guerra levando por principaes cabos, Pedro da Fonseca (Pa­
rente delle Governador) Luis Serrão, André Ferreira Pereira, Garcta
Mendes Castellobranco, Manuel João e outros mais, todos gente luzida e
bem armada; Domingos de Abreu e Brito (3) diz trezentos e emeoenta1*3

(1) Ravenstein, ob. eit., pég. 144, diz que os jesuítas que acompanharam a expedição eram
dirigidos pelo Padre Baltazar e que foram também tres dominicanos,
{2) Academia Reai das Ciências de Lisboa, Collecção de Noticias para a Historia e Geo-
graphia das Nações Ultramarinas, Tomo I L1
O Catalogo está publicado sem indicação do autor. D. Miguel António de Melo, sendo Go­
vernador de Angola, em 1799, em o oficio n.° 107 de 19 de Setembro desse ano para o Ministé­
rio, oficio que está ou esteve na Secção Ultramarina da Biblioteca Nacional, Angola, Caixa 159,
índica que o Catalogo foi feito pelo Coronel do Regimento de Luanda, João Monteiro de Mo­
rais, e que dele viu uma cópia, que, além dos erros do copista, tinha outros do autor. £ Será o
Catalogo publicado pela Academia uma dessas cópias, ou o original?
Existe na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa um ms: Historia de Angola de­
dicada a S. Altera Sereni$sima) o Princepe Regente Nosso Senhor por Elias Alexandre da Silva
Corrêa, cavalleiro professo na Ordem de Christo & sargento môr d'Infantaria de Milícias na
Capital do Rio de Janeiro. 1782. In-S.® pequeno, em belo cursivo e óptimo papel, muito bem
encadernado e conservado, de onde, à primeira vista, parece que o Catalogo foi copiado com
alterações de redacção e de alguns períodos, eliminação de outros e mesmo de alguns capítulos
inteiros, pois que a Historia de Angola está feita com maior desenvolvimento e com informa­
ções muito interessantes.
Sucede, porém, que a Historia abrange até ao ano de 1782, ao passo que o Catalogo não
ultrapassa o ano de 1764. Inocêncio, quando trata da Collecção de Noticias, não indica o autor,
nem menciona João Monteiro de Morais como autor de qualquer obra. Sôbre Elias Correia,
que conhece apenas por Elias Alexandre e Silva, indica-o como sendo militar na Ilha de Santa
Catarina no Brasil, e natural, segundo diziam, do Rio de Janeiro, e como autor de uma obra
que não tem relação alguma com Angola, impressa em Lisboa em 1778.
3( ) Sumario e descripção do Reino de Angola e do descobrimento da ilha de Loanda, etc,
Anno de M D LX X K II, Biblioteca Nacional, Reservados, Mss. 294.
P arle I I — Angola i3 i

homens, pouco mais ou menos, dos quaes eram a maior parte delles cha-
tins, çapateiros e alfayates, uns delles apegaram em seus ojicios, outros
por suas industrias se tornaram nas mesmas embarcações, etc.; e o padre
jesuíta Garcia Simões, que melhor podia esclarecer o assunto, numa
carta para o Provincial (i), escreve: aos vinte do dito mês (Fevereiro)
tivemos vista da ponta desta Ilha de Loanda e de alguns navios que esta­
vam ancorados no Porto em chegando, as nossas cinco vellas ao Porto
foram as tres que comnosco vieram que tomaram São Thomé, redacção
muito pouco clara e que deixando em dúvida o número de embarcações
e não se refere ao de homens.
Garcia Mendes Castelo Branco, um dos primeiros conquistadores de
Angola, e companheiro de Paulo Dias (2), diz-nos que foram 700 ho­
mens, ficando-se na ignorância dos motivos que induziríam Paulo Dias
a levar tal número de homens, quando não era obrigado a mais de
quatrocentos, que deveríam chegar para a execução dos seus planos,
ainda mesmo que no número destes entrasse a prestação de auxílio ao
Ngola contra o tal seu vassalo poderoso Quiloange Qucacoango, que lhe
prometera, muitos anos antes, quando regressou a Lisboa da sua pri­
meira estada em Angola.
A viagem deve ter corrido sem incidentes e logo que fundearam os
navios, os portugueses residentes na ilha, cheios de justificada curiosi­
dade, foram a bordo cumprimentar os que vinham, saber notícias, e,
certamente, certificarem-se das intenções de Paulo Dias.
Como atrás ficou dito, a ilha de Luanda tinha já então alguns ha­
bitantes brancos, em número tal, que justificava a existência duma
igreja com o seu cura (3 ), e deveria ter um número regular de indíge­
nas, parte do Congo, que ali se empregavam na apanha do búzio, e
parte de Angola, atraídos pelo negócio com os portugueses.
Paulo Dias tinha o maior interêsse em expor, não só aos portugueses
que residiam em Luanda, mas a todos os que estavam em Angola, e em
especial aos que viviam junto da embala do soba, as condições em que
vinha, o que representava a sua doação, os seus direitos, autoridade e

(1) Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa, 4 / série, n.®7, pág. 340. Continuação
dos documentos copiados em Paris e que difem respeito ao cartorio dos Padres da Companhia de
Jesus .
(2) Biblioteca da Ajuda, God, 5i-vw-a5, fl. 79. Publicado por Luciano Cordeiro. Memória
do Ultram ar . D a Mina ao Cabo N eg ro . III.
3
( ) Carta do Padre Garcia Simões para 0 Provincial, de 20 de Outubro de 1575. B o i , da S ^
G .L ., 4,1 série, n.° 7, pág. 344, eL u d an o Cordeiro, Memórias, Relação da Costa da Guiné. Esta
igreja era mantida pelo rei do Congo.
i 32 Angola
poderes de que vinha investido. Procurou logo reüni-los e mandou
para êsse fim chamá-los, mas tal era ainda, entre os nossos, a autori­
dade do rei do Congo, e por tal forma se compreendia a vinda de Paulo
Dias como um ataque a essa autoridade, que tendo os do interior ma­
nifestado receio de repre2álias por parte do rei do Congo, Paulo Dias
lhes enviou carta d e seg u ro e assi os a ju n tou p a ra se in form ar da terra e
d a disposição em qu e estava (i).
Apresentaram -se com tôda a ostentação, com os seus escravos, com
suas arm as, arcos e frechas, espadas e adargas, acom panhados por al­
guns pretos fidalgos. Interessante deveria ser o espectáculo oferecido
por esta reünião de sertanejos, na m aioria hom isiados, procurando no
negócio em Angola os meios de fortuna que dessem o esquecim ento
dos seus crimes e, mais interessante a sua atitude perante Paulo D ias
que lhes vinha impor a lei e a autoridade, quando êles viviam fora de
uma e de outra,«sem lhe sentirem a falta. Iam pagar determinados im ­
postos, iam ter juízes para o cível e para o crime, com alçada d e m orte
natural em escravos e gentios e a si mesmo em piã is cristãos hom es livres e
nas pessoas d e m or collidade d e de\ anos de d eg red o ate cem cruzados d e
m ulta, e êles, que tinham saído de Portugal para fugirem à alçada da
justiça, encontravam-se agora debaixo da sua acção, pelo facto da terra
em que viviam ter passado a constituir doação a Paulo D ias quando,
muito antes dêle estavam lá, e nenhuma lei, nenhuma autoridade lhes
reconhecia os seus serviços.
Muitos já tinham esquecido a vida de brancos e adoptado a dos
negros. Poucos vestiriam como os pretos fidalgos do Congo, cap a, pe­
lote, gibão de chamalote, calças de bristol (2) e borzeguins de côres
berrantes. Alimentavam-se de feijão, pirão, cola e azeite de palm a e
bebiam vinho de palmeira e berlunga de milho. Os do interior tinham
por vezes galinhas do mato, capados e algumas lebres e caça grossa,
que abatiam. Para os da ilha de Luanda êsse alim ento era m ais raro,
mas em com pensação tinham peixe e, entre estes, o o n g u lo ( 3 ), cuja
carne, posta de vinha de alhos, nenhuma diferença fazia do porco e
tinha toucinho grosso como um porco bem cevado.
tíQue lhes vinha trazer Paulo Dias de benefício? N ada, era apenas
uma sujeição, de que já se tinha dasacostum ado e daí, um natural e 1

(1) Carta citada.


(2) Cham alote, seda tecida em ondulações. Bristol, pano de lã grosso.
3
( ) Em língua bunda N’gulo *= porco.
Parte I I — Angola 133
justificado fundo de revolta, que talvez não tivessem exteriorizado, mas
que nem por isso deixava de existir.
Entretanto recebia o soba de Angola a notícia da chegada de Pau lo
Dias e logo mandou um embaixador para o cumprimentar, e que se
demorou pelo caminho, chegando á ilha no dia 29 de Junho, com uma
enorme comitiva, tendo mais de cem escravos e muito gado que arranjou
durante a viagem.
Os nossos preparavam a recepção para tão importante personagem.
Na choupana dos padres, junto à igreja, fêz-se uma ramada. No chão,
juncado de mangericões bravos, foi posta uma grande alcatifa e armado
um guadamedm (1), tendo por baixo uma cadeira de estado, forrada
de veludo carmezim.
Paulo Dias com uma grande comitiva, todos bem vestidos, desem­
barcou dos navios em seis embarcações e dirigiu-se para a ilha, indo
fazer oração à igreja, depois do que se encaminhou ^>ara a ramada,
tomando assento na cadeira, ladeado por dois padres, um 0 cura que lá
estava e outro, um dos que o acompanhavam, naturalmente o Padre
Baltazar Afonso, e mandou alguns dos principais da sua comitiva que
fôsseni buscar o embaixador.
Com enorme tropel e barulho infernal, iniciou o avanço a comitiva
do embaixador. Êste era muyto reverendo e apessoado. Trazia posto
um barretinho de palha que mal lhe cobria um têrço da cabeça; vestia
uma capa de palmilha verde e da cinta para baixo uma emponda (2)
com seu pano de ruão (3); na mão, a insígnia de autoridade, o rabo de
búfalo ou de elefante. A grande maioria dos da comitiva tocavam ins­
trumentos gentílicos, buzinas, chocalhos, espécies de violas e campainhas
grandes, e os que não tocavam qualquer instrumento, gritavam e gesti­
culavam. Logo que o embaixador avistou Paulo Dias, começou pulando
e batendo as palmas e, ao aproximar-se, os seus estenderam no chão
um pano do Congo que servia de alcatifa, onde se assentou,, atirando
fora dos ombros a capa de palmilha verde, que o incomodava. Entre­
gou, então, a carta que o rei de Angola enviava a Paulo Dias, espécie
de credencial, e Paulo Dias, mostrando a sua satisfação, expôs-lhe que

(1) Sorte de tapeçaria de coiros pintados. Dic. D. José de Lacerda.


(2) Emponda == M’ponda, bandeau, ceinture, ruban = L e plus ancien dictionnaire bantu —
Vocabularium P. Georgii Gelensis — Bibliothèque Congo — Louvain iq 28.
R egras do idioma do Congo por F r. Vetralla, traduzidas do latim pelo Bispo D . Antonio
Leitão e Castro — Vocabulário N ’Bunda, pág. 102 — Cinto = N’Ponda.
3
( ) Pano de linho tosado, às vezes tinto, para forros. Dic. D. José de Lacerda.
T34 Angola
o rei de Portugal o mandava a Angola para prestar ao soba o auxílio
que precisasse e para defender os portugueses dos ataques de quaisquer
tríbus selvagens (os soasos) e resolver as questões entre êles.
As declarações de Paulo Dias foram recebidas com largos aplausos,
manifestados por gritaria, bater palmas e buzinar nos instrumentos,
depois do que, tendo Paulo Dias mandado distribuir por êles um prato
de cola (i), se encaminhou com o enabaixador para a casa onde habi­
tavam os padres, a-fim-de aí conferenciarem mais em particular, sendo
acom panhado pelos Padres Baltazar Afonso e Garcia Simões e por um
português que falava e compreendia a língua como qualquer preto, e
fazendo-lhe várias perguntas a que elle respondia em fo r m a mas o que
não queria ou lhe não parecia bem passava como que o não entendesse (2).
Term inada a conferência, ainda a embaixada se conservou três dias
na ilha, depois do que se despediram, dando Paulo Dias ao embaixador
um presente. •
*
* #

Regularizada a situação com brancos e pretos, deve entretanto


Paulo Dias ter tratado da sua instalação e da gente que o acompa­
nhava, que, parece, se deve ter pensado fazer logo no môrro fronteiro
á ilha, onde hoje é a cidade, pois que o Padre Garcia Simões, quando
nos narra a chegada da em baixada do rei de Angola, escreveu « sa­
bendo o G overnador, q u e estava ainda na ilha» , o que quer dizer que já
pensava em estabeleber a sua residência no môrro fronteiro.
A terra não era do soba de A ngola, diz-nos o Padre Gouveia (3 ),
mas de um outro pequeno soba, o M anicabunga, a quem de direito p er­
tencem todas estas terras qu e confinão cõ A n g o la , que habitava numa
libata próximo, cêrca de seis léguas, e que foi o primeiro a mandar a
sua gente cum prim entar Paulo Dias. Era gentio valente e temido e,
tendo pouco antes da chegada de Paulo Dias morto e comido quatro
brancos, numa questão que tiveram , receavam que Paulo Dias os man­
dasse castigar (4).

(1) Diz o Padre Garcia Simões na carta citada que a cola era o alimento predilecto, não
só dos indígenas, mas também dos brancos.
(a) Padre Garcia Simões, carta citada.
3
( ) Carta citada.
(4) Esta informação do Padre Gouveia vem confirm ar o que já atrás^ficou exposto, que os
ambundos e depois os Ngolas, não ocupavam o território até ào mar. Este Manicabunga de-
Parte I I — Angola i35
Dizem os cronistas que o rei do Congo, quando soube da chegada
de Paulo Dias, mandou gente sua avisar o rei de Angola: que olhasse e
soubesse que a vinda do Governador e mais portugueses a esta terra era
para lhe fa çer guerra e flnalmente para lhe tomarem seu Reyno, tendo o
soba de Angola resolvido mandar cortar a cabeça a todos os portugueses
e ao Padre Gouveia, que ainda lá residia, mas por fim convenceu-se de
que essa informação não podia ser verdadeira, nada fazendo contra os
nossos, antes pelo contrário, até, tendo adoecido o Padre Gouveia, en­
carregou os seus curandeiros e feiticeiros de o curarem, o que não con­
seguiram, falecendo o Padre, e, tão grande foi o seu desgosto, tão sin­
cero seria o seu arrependimento pelo que pensara fazer, que o manifes­
tou, distribuindo, conforme o costume de ainda hoje, bois e mantimentos
pelos seus vassalos para chorarem o Padre, e prendeu os embaixadores
do rei do Congo, enviando-os presos a Paulo Dias, que os mandou
para S. Tomé. *
No Congo estava ainda Francisco Gouveia, que tinha lá ido com
tropas de Portugal para defender o rei do Congo da invasão dos Jagas
e reeonquistar-lhe o seu território, tarefa que estava terminada. Assim,
e pouco verosímil que a intriga partisse do rei do Congo, mas antes,
talvez, de algum dos seus duques, o que governava a província de
Bamba, muito habitada por mulatos e padres negros, e que viviam em
questão permanente com o rei de Angola por causa das fronteiras, se
não partiu dos próprios portugueses a quem não podia agradar a
doação feita a Paulo Dias e, como já ficou referido, de há muitos anos
se vinha opondo à acção dos que procuravam tirar a Angola tôda a
interferência do Congo.
O certo é que a intriga não surtiu o efeito desejado e Paulo Dias e
os portugueses continuaram va viver na melhor harmonia com o rei de
Angola, ocupando-se nos seus negócios e, em especial os padres, tra­
tando da evangelização, muito embora fôsse opinião geral que a con­
versão destes barbar os não se alcançará por amor senão depois que por
armas forem sogeitos e vassalos d’el-Rey nosso senhor (i) o que bem

veria ser umja g a , talvez o Calunga e não Cabunga, que mais tarde regressou a Cassange, onde
passou a fazer parte das famílias reinantes, Culaxingo e Gonga.
Abreu de Brito diz-nos que a uma jornada de Luanda habitava o fidalgo Cassange e, anos
mais tarde, no governo de JoSo Correia de Sousa, ainda um Cassange vivia nas proximidades
de Luanda, e foi atacado por êsie governador, travando-se a célebre guerra da Ensaca de Cas­
sange. Ainda a confirmar a suposição de que fôsse jaga, está o facto de ter comido os brancos,
que não era costume entre indígenas do Congo.
(i) Carta do Padre Garcia Simões, citada.
Parte I I — Angola í 37
i36 Angola
todos os lados, pelos colonos e pelos padres, para entrar no caminho
mostra a disposição dos espíritos e a orientação que viriam a imprimir da conquista pela fôrça, para o que êle, como se calcula, não estava cm
à acção de Paulo Dias, aqueles que com êle mais privavam. condições, necessitando de algum refôrço do reino.
Esta opinião não era seguida por Paulo Dias, que não via motivo Entretanto, e devido à persistente campanha da necessidade da
para iniciar as guerras. O seu plano era assegurar-se das boas relações guerra, estas boas relações alteravam-se, e pela Páscoa de 577, em uma
com o Congo e com o Angola, a cujo rei parece que prestou auxílio povoação para 0 interior, onde residiam cêrca de cem portugueses com
contra um seu vassalo rebelde, o soba de Quiioango (i) pelo que nada pretos cristãos do Congo, os indígenas, em grande número, cercaram-
fazia prever um rompimento de hostilidades, nem se tendo, para tal, -nos, o que deu lugar a que os nossos tivessem de se defender, vencendo
preparado, pois que parte dos portugueses que trouxera andavam ne­ os sitiantes, que, sofridas algumas mortes, levantaram o cêrco, pedindo
gociando peto interior. pazes. As caravanas dos portugueses eram assaltadas pelos caminhos,
O negócio continuou por espaço de alguns anos, com pa{ e amizade, roubando-se-lhes as fazendas, e o rei do Congo, querendo mostrar a
em que iamos com grande prosperidade, e o gentio estava muito contente sua dedicação e instigado pelo seu secretário que era português, Garcia
do bom trato e correspondência que com eles tínhamos, e das mercadorias de Gusmão, manda 0 seu sobrinho Manibamba, com muita gente de
que lhes levavamos para o resgate das peças, marfim e fru to s da terra, e, guerra, atacar a libata dos assaltantes. Paulo Dias ao sabê-lo, receando
assim, com muita confiança ia nossa gente pela terra dentro a fa \er res­ represálias e atendendo a que muitos portugueses esta?am pelo interior
gates efeiras (2)1.
com fazendas e escravos e não tinham tempo para se recolherem a
Eram constantes as chegadas a Luanda de caravanas com escravos
Luanda, manda pedir ao rei do Congo que faça retroceder o M ani­
para embarcarem, calculando-se que por ano saíam cerca de 12.000 (3 ),
bamba, o que assim sucedeu e atem-se que se 0 não impedisse, estivera
muito embora êste número pareça exagerado e não condiga com o apu­
°Je de posse de quasi toda A ngola e suas minas » (1).
ramento que fêz Domingos de Abreu e Brito (4).
Estava lançado fogo ao rastilho. Paulo Dias tinha de ceder, e, pe- j
Por vezes o negócio do escravo, pelo interior, se dificultava, e os rante a insistência dos pedidos de mais escravos para a América e, pe- í
portugueses insurgiam-se e pediam a Paulo Dias para matarem os ale- rante a dificuldade que se fazia sentir para os obter, não pôde deixar
vantados, o que muitos faziam, mesmo sem licença, e os padres eram
de concordar que a conversão daqueles barbaros não se alcançaria p o r
os primeiros a acompanharem êste protesto contra a orientação de Paulo
amor e sô sujeitos pelas armas, como dizia 0 padre jesuíta Garcia Si­
Dias, apreciando-o: « Verdade he se 0 nosso governador tendo já possibi-
mões. Nesta ordem de ideas e em nome dos mais humanitários prin­
<s.lidade, vendo como estas terras lhe cabem por sua doação, elle poderá
cípios e fins, o caminho era só um — a guerra. \ Como êle se veria longe
«fa\er 0 que difiamos; mas elle está ainda muyto tenro e muy devagar,
e com saüdade do tempo em que julgava que obteria a sonhada riqueza;
«esperando que Sua Altera 0 bafeje e favoreça ... (5).
das minas com a bacia e os foles de ferreiro! *
Uns anos antes, um dos seus colegas e 0 mais fervoroso apóstolo do
cristianismo na América, preconizava, para catequizar o gentio « espada Mas não podia ser uma guerra geral de conquista pela fôrça, como
e vara de ferro, que é a melhor prégação » (6) e outros receitavam « tres os seus instigadores queriam, pois não tinha os homens necessários
P P : pau, pão e pano » (7) e, assim, Paulo Dias se via assediado por para êsse fim e, se os tivesse, se só essa conquista satisfazia a ambição
dos que o acompanhavam, não a julgava êle necessária para a realiza­
ção do seu sonho da posse das minas. Necessitava dar execução ao
(1) Catalogo dos Governadores de Angola. Esta informação foi colhida pelo autor do Ca­
talogo numa carta de Garcia Mendes Castelo Branco, a que já se fêz referência. plano, que de há muito tinha concertado para a construção dos castelos,
(2) Garcia Mendes Castelo Branco, cit.
que serviriam de apoio à sua penetração. Iria por partes. Manter-se-ia
3( ) Carta do Padre Garcia Simões de 7 de Novembro de 576. Boi. da S. G. L., n.° 7,4.*
rie, pág. 347. nas melhores relações com o rei de Angola e, entretanto, fora do reino
(4) Mss, cit.
ou sob ado propriamente dêste, no território que constituía a p rovin d a
5( ) Padre Garcia Simões, carta cit.
6( ) Lúcio de Azevedo, ob. cit., pág. 254.
{7) Idem, pág. 267.
(i) Nota à carta referida do Padre Simões, pág. 348.
18
1 38 Angola
da lia m b a , êle iria dar com eço à construção dos fortes, procedendo
co m tô d a a diplom acia.
E ra-lhe determ inado que um dos castelos seria no pôrto onde lhe
p a recesse que pudessem ir navios estrangeiros e, com o êsse pôrto não
p od ia d eixar de ser Luanda, onde tinha o seu arraial ou fundamentos
de futura cidad e, ali mandou construir hum fo r t e d e taipa e assestada
s u a a rtilh e ria e he hum m onte qu e entra com húa g ra n d e p e llo m ar na
q u a l p o n ta estam os situados p or ser bom sitio (i), obra muito passageira
e de nulo va lo r m ilitar, mas que servia para poder dizer que tinha cum­
p rid o a cláusula da sua doação.
Seguidam ente, como o gentio dos arredores nos incom odava, m an­
d o u d a r o g u o v ern a d o r uma g u erra a qua$an$e hüa jo r n a d a da villa de
1 M a n d a . . . e ch eg a n d o a g u erra que o guovernador m andara a Quasan^e
v en cerã o aos in im ig o s tom ando os g nardos (gados) mantimentos, e p o r
q u e não leva vã o % rdem d e se g u ir a victoria se retirarão p arecendo-lhe q.
tin hã o g a n h a d o a terra & na prim eira noite derão os inim igos com socorros
so b r e e lle s os m a ta rã o & a m enor p a rte delles cativarão & etc. (2).
D e ve ter sido por êste m otivo e para se não sujeitar a outro desas­
tre, que P a u lo D ias não aceitou o oferecimento do rei do Congo a que
atrás se faz m enção e assim se explica a referência que se encontra em
um a nota, extraída duma carta do Padre Baltazar do ano de 577, onde
se diz que o m otivo foi « ou p o r não confiar delles ou p o r esperar de co­
b r a r a lg u m p ed a ço d e credito p erdido na g u erra passada com estes M u ci-
canga-çes, etc.» ( 3 ).
E sta g u e r r a p a ssa d a , não deve ser outra senão a sortida que mandou
fa ze r a Q ua sa n \e (4), a um dia de viagem de Luanda, e deve ter tido
lu gar em 576. Depois disso, reconhecendo Paulo Dias a insuficiência
dos m eios de que dispunha, vendo o gentio dia a dia a revoltar-se e a
d ificultar a vida dos portugueses pelo interior, terá exposto a situação
a seu P a i, pedindo-lhe para arranjar um novo e importante reforço.
D esta v e z parece que foi o Cardial D. Henrique o financiador, tendo
em prestado vinte mil cruzados para o recrutamento dos soldados e
com pra de m unições e fazendas (5 ), importância que corresponde entre
2 .0 0 0 e 2.400 contos de hoje, que se não obteriam muito fàcilmente

(1) C arta do P ad re G arcia Simões, já cit.


(a) Mss. de Domingos de Abreu de Brito, já cit.
( 3) B o i. d a S . G . L ., n.° 7, 4.* série, pág. 348.
(4) O jaga Cassange, já referido.
( 5) C a ta lo g o dos G overnadores d e A n gola , cit.
Parte I I —Angola i,3<>
para uma empresa falida e que não tivesse tôdas as probabilidades de
garantir o capital que nela se empregasse.
Estava a emprêsa de Paulo Dias em Angola nessas circunstâncias?
É interessante fazer-se o cálculo. Diz-nos Abreu de Brito (i) que constava
do livro da feitoria de Angola, que lhe foi entregue e donde tirou tras­
lado, que desde a chegada de Paulo Dias em 1575 a 4 de Março de
1591, portanto 16 anos, se despacharam de Angola 5 2 .o 53 peças, mas
destas, 20. i 3 i tinham sido despachadas nos últimos 4 anos, 1587 a
i 5 q 1, pelos contratadores. Ficam, portanto, para os 12 anos, 1375 a
1 .5 8 6 , 31.922 peças, ou uma média de 2.660 por ano (2), que dá até
1578, 4 anos, 10.640 peças manifestadas por despacho, devendo ter
pago de direitos 3 <s>ooo réis cada uma, ou tôdas 3 1.920^000 réis da
época. Dando ao real dêsse tempo um valor médio entre o que tinha
em i 5 6 o e i 58 o, $26,8 de hoje (3), teremos que só de direitos, os ex­
portadores pagaram em moeda de hoje Esc. 8.554.5|o$ e admitindo
que a Paulo Dias só cabia 0 têrço dêsses direitos e não o todo, como
se pode deduzir da sua carta de doação, vê-se que êle arrecadou o
melhor de Esc. 2 .8 5 1.5203600 , fora o valor dos escravos, que de sua
conta tivesse exportado (4). Tendo dispendido cerca de 4.000 contos,
ve-se que a em prêsa não era muito má e dava uma regular compensação
ao capital que nela se empregasse.
O refôrço de tropas arranjou-se, e em 1579, ou talvez mais certo,
em 1 5 8 o, chegando a Luanda às ordens de António Lopes Peixoto,
sobrinho de Paulo Dias, com munições e fazendas, tendo ficado em
Lisboa a aprontar mais gente (5). Com êste refôrço foram também mais
padres da Companhia: Frutuoso Ribeiro e o outro dos Baltazares.

(1) Mss. cit.


(2) O Padre Garcia Simões diz, na carta de 7 de Novembro de 1576, que saia uma média
anual de 12.000 peças, mas vê-se haver exagêro. Não devemos esquecer que cada peça regulava
por dois negros.
3
( ) Lúcio de Azevedo, ob. cit., pág. 488.
(4) O rendimento deve ter sido muito maior, porque, segundo nos diz Abreu de Brito e
confirmam muitos outros cronistas, os navios carregavam mais um têrço das peças que mani­
festavam e a quási totalidade dessas iam para as Índias de Castella pagando o dôbro de di­
reitos.
5
( ) Divergem os cronistas sôbreêste ponto. O Catalogo dos Governadores diz-nos que em
579 foram de Portugal 200 homens, com as despesas feitas à custa do pai de Paulo Dias, e pela
mesma maneira tinha êle mandado no antecedente 400 soldados. Abreu de Brito só nos fala
5
de um refôrço de i o homens mandados pelo Senhor Rey D. Anrique e que chegou em i o. 58
Aquele primeiro refôrço de 400 soldados é muito duvidoso que tivesse ido, porque quando
58
chegou o de o, estava Paulo Dias no interior apenas com 60 portugueses e o resto gentio.
140 A ngola

• *

Mas Paulo Dias é que não podia já parar no caminho que encetara
e, emquanto não chegava o refôrço pedido, foi tratando da fundação
« dos tais castelos que êle pensou em aproveitar, não para em redor se
construírem povoações, mas como postos de étape para a marcha sôbre
Cambambe — as minas de prata, que nunca tinham deixado de ser o
seu principal objectivo. Queria, como ficou dito, fazer tudo na melhor
paz e harmonia com o rei de Angola, com quem até aí não tinha tido,
parece, a menor desavença.
« Aos ires annos da estada do Guovernador na villa de Loanda, cor-
« rendo todo este tpõ com o Rey Danguolla como levava por seu Regi-
« mento; determinou de entrar pella terra dentro com este titulo de ami-
«\ade, etc.» (i) e assim, saindo de Luanda, dirigiu-se às margens do
Cuanza a um sítio a que chamavam Tombo, e depois para Calumbo (2).
Mas o rei de Angola é que não compreendeu as suas pacíficas intenções
e quando Paulo Dias estava em Calumbo, avizou-o de que não tomava
estas suas entradas pela terra dentro à conta de amizade e que o ia
atacar, pelo que Paulo Dias se internou, indo construir um forte em
Anzelle ( 3) para melhor poder resistir.

(1) A b reu de B rito , Mss. referido.


(2) A b reu de B rito , dizendo que P au lo Dias estava na vila de L u an da, indica a m archa «en-
irando pella Barra obra de doje leguoas fe% hüa povoação a que chamam são P° <& depois de
estar nella pasou adiante dej leguoas & fe f outra a qmchamam saneia Cru$t e/c.«. Ravestein>
no Map o f Ndongo que publica com a sua obra, não indica a po voação de S. P ed ro (Pedro ou
P a u lo ? ) m as a de T om b o (S. C ruz) e a de Kalum be. Èste sítio do T o m b o é m uito antigo, po r­
35
quan to na T ô r r e do T o m b o , L iv. de Filipe II, fl. 179, encontra-se urrça P rovisão, de 3 de
A b ril de 1617, que diz respeito de João de VHoria, em que se faz referencia a ter-lhe sido c o n ­
ced id o em 1597: «hum assento de terra fora da villa de S, Paulo que começa do p é da lagoa dos
elefantes da borda do caminho que vae para o lombo e por elle adeante para a mao direita de
todo aquele morro e aguas vertentes para a banda da praia por ella adeante até ao Cabo de um
esteiro que vae por entre as margens, ficando por testada o dito caminho e delle para o mar fica
o dito assento, etc.»
G arcia C astelo B ranco não narra assim os factos e d iz n o s que em vista da paz em que v i­
víam os com o Ngola, P aulo Dias m andou à em bala, para negociarem , vinte portugueses a co m ­
panhados pelo seu parente Pedro da Fonseca, tendo 0 N gola mandado m atar a tod o s e roubado
a fazenda que levavam , e a seguir avisar P au lo D ias que nao avançasse de onde estivesse, que
era no penedo que agora se chama de S. Pedro, junto ao Cuança.
3
( ) S egu nd o os cronistas, Anzele ficava a igual distância entre o B engo e o C u an za. P elo
docum ento de G arcia C astelo B ranco, vê-se que ficava a dez ou doze léguas de L uan da e a três
ou quatro do B engo e outras tantas do Cuanza, no sobado do G acu lo Q u eh acan go, o que é
confirm ado pelo Rev. Ravenstein, K akulu kia Nkangu.
Parte I I — Angola r4 r
Soube então que o rei de Angola matara à traição todos os portu­
gueses que estavam ou tinham ido ao Dongo, apoderando-se de tôda a
fazenda que possuíam, ou tinham levado, a carga de dez navios que
estavam no pôrto, o que prova o importante movimento comercial que
em tão pouco tempo tinha adquirido Angola.
Diz um dos cronistas (i) que o acto do rei de Angola fôra provo­
cado pela denúncia, que tivera de um dos portugueses, de que o intento
de Paulo Dias era tomar-lhe as minas e assenhorear-se do reino. Não
seria necessária a denúncia do português para que o rei de Angola
compreendesse muito bem qual era o intento de Paulo Dias naquela
marcha que claramente denotava o objectivo de Cambambe, e, apre­
ciados todos os antecedentes desta ocupação de Angola, também não
repugna aceitar que algum português, já suficientemente cafrealizado,
vendo os prejuízos que ao seu negócio trazia a atitude de Paulo Dias,
assim procedesse. Nas suas cartas, um dos padres jesuítas, sempre cir­
cunspecto, cauteloso e enigmático, não esconde que «o principio disto
naceo da cobiça may de todos os males » (2) e, assim, e possível que fôsse
um dos portugueses, que, por despeito, incitasse 0 preto de Angola a
tomar aquele desforço. De admirar é que Paulo Dias não contasse com
esse procedimento por parte do preto, quando já anteriormente tinha
evitado a intervenção do rei do Congo a nosso favor, exactamente com
receio do que pudesse suceder aos portugueses, que com as suas fazen­
das estavam pelo mato.
Dirigindo-se para Anzelle, Paulo Dias ali se fortificou com sessenta
portugueses e duzentos pretos cristãos e resistiu ao ataque de doze mil
indígenas, até que lhe chegaram os reforços vindos em Fevereiro de
5 8 o, ficando então com trezentos portugueses.
Em Setembro de 5 8 o, completamente cercado de indígenas revol­
tados, resolveu iniciar a sua marcha, mas primeiro aprovisionando de
mantimentos a sua tropa, para 0 que mandou efectuar pelo sargento-
-mor Manuel João quatro ou cinco assaltos, queimando e assolando
tôda a terra da llama, onde estava « trazendo infinidade de mantimentos
que a todos fartou ». Nesses assaltos as atrocidades cometidas pelos
nossos assombraram e intimidaram o gentio e, para as avaliar, basta
referir o que narra um dos padres jesuítas: «Aqui aconteceu que hindo
« um P a e com hum filho fu g indo dos nossos, vendo que não podia salvar

(1) Catalogo dos Governadores de Angola.


(a) Carta do Radre Frutuoso Ribeiro, BoL da S . G. L., n.° 7,4,* série, pág. 35o.
142 Angola
« seu filh o se tirou para os nossos e despedio quantas fr e c h a s tinha té que
« o matarão sem se querer bulir de hum logar para o filh o se esconder e o
« P a y acabou e s e f o y ao inferno . Outro estava dentro em hua casa com
« d u a s m olheres e se defendeo de dentro tão fo rtem en te sem se qu erer dar
« até lhe porem 0 f o g o a casa e alU arderam todos Ires » (1) não nos elu­
cidando o bom Padre sôbre se êste também teria ido para o inferno,
* com o o outro que com o seu corpo cobria o do filho.
Se eram assim os padres, os pregadores do Evangelho, <;o que po­
deriam ser os homiziados que constituíam a maioria da população, os
soldados que se iam buscar às cadeias, escolhendo-os entre os fací­
noras?
Nos últimos dias de Setembro de 5 8 o pôs Paulo Dias a sua coluna,
— como hoje se diria, em marcha, posta a g en te toda em ordem com 0
f a t t o todo no meo e gente meuda, que p or todos serião 1&200 almas », se­
guindo na direcção do Cuanza, atravessando por entre o gentio revol­
tado, que não nos atacou e se limitou a tapar com estrepes e espinhos
um desfiladeiro, por onde os nossos deveriam passar.
Chegados ao Cuanza, embarcada tôda a carga, mantimentos e mu­
nições em duas galeotas e um caravellão e dous bateis e aceite a apre­
sentação e compromisso de fidelidade dum soba que trouxe muito
mantimento, capados e bois, seguia Paulo Dias pela margem do Cuanza,
quando foi avisado de que ia ser atacado por um soba importante, pelo
que acampou. O gentio estava emboscado perto, e vendo alguns dos
nossos que tinham saído fora do acampamento, atacou-os, matando
dois, pelo que logo Paulo Dias mandou sair a sua tropa, pondo-os em
debandada.
Continuada a marcha no dia seguinte, atravessou a coluna as libatas
deste mesmo soba, que as tinha deixado cheias de mantimentos, gali­
nhas, capados, carneiros e ovelhas, esperando que os nossos se des­
mantelassem e perdessem a formação de marcha, para saquearem a
povoação, mas Paulo Dias percebeu-lhes o intento e deu ordens termi­
nantes para se manter a formatura.
Acamparam então fora das libatas, e durante a noite o gentio apu­
pou constantemente os nossos. Logo ao amanhecer, em 1 de N ovem ­
bro de i 5 8 o, Paulo Dias mandou dividir a sua tropa em capitanias de
1 5 o soldados, cujo comando superior confiou ao sargento-mor M anuel

(0 Carta do Padre Baltazar Afonso, de 4 de Julho de 58i. Boi. da S . G . L ., n.® 7, 4.® série,
Parte I I — Angola 143

João, e atacarem o gentio, que sofreu a m ayor destruição qu e nunca


portugueses fi\erão, morrendo muitos, perdendo grande número de es­
cravos e escravas e tanto mantimento e gados e outros artigos, que
enchiam duas naus da índia (1) além de muito mantimento que foi des­
truído peJo fogo.
Nesse mesmo dia continuaram a marcha e foram acampar a M o-
cumba, nas margens do Cuanza (2), a três dias das minas de prata de
Cambambe, onde nos preparámos para reduzir á obediência todos os
sobas que estavam peio rei de Angola, emquanto êste nos não vinha
atacar com uma nova guerra. Luís Serrão e Manuel João, dois dos
mais destemidos e valentes companheiros de Paulo Dias, se encarrega­
ram de bater com inexcedível bravura e não menor crueldade, tôda a
província da liamba e da Quissama, saindo sempre vitoriosos.
Contudo o clima não nos poupava e, dos nossos, os que escapavam
dos combates, iam morrendo de febres, sendo necessfrio que o Padre
Baltasar Afonso se encarregasse da construção e direcção de um hos­
pital para tratamento dos doentes.
Não se podia ir mais longe, porque a gente era já pouca em estado
de combater, estan do a maior parte anemiada e estropiada. H avia
quási um ano que estavam'acampados em Mocumba e, a-pesar-das
vitórias obtidas, não se conseguia a almejada conquista das minas de
Cambambe, cujas montanhas, que os nossos supunham cheias de veios
da mais bela prata, todos os dias viam de longe, sonhando com a sua
posse.
Paulo Dias tenta, então, um último e grande esfôrço e, mandando
pedir ao rei do Congo o auxílio de tôda a tropa, portugueses e indíge­
nas, que pudesse mandar, resolve-se a enviar Manuel João à conquista
de Cambambe, com a maior parte da gente de que podia dispor, ficando
êle com Luís Serrão no acampamento.
Manuel João partiu e, como de costume, desbaratou o inimigo que
fugiu, lançando-se êle na sua perseguição com quatro brancos e alguns
pretos, emquanto deixava acampada a restante sua gente.
A ousadia e temeridade de Manuel João não conheciam limites. O s
indígenas fugiam na sua frente e êle, com os quatro valentes com pa- 12

(1) Carta do Padre Baltazar Afonso, citada. É muito possível que êste combate fôsse com
o soba da Quiçam a— Mochima Quitangombe, a que se refere Garcia Castelo Branco.
(2) Abreu de Brito e Ravenstein chamam-lhe Macunde. Os jesuítas chamaram-lhe Mo­
cumba
144 Angola
nheiros, animando os pretos que os acompanhavam, seguia-os, indo
-dar a umas furnas, onde estava o grosso das fôrças inimigas.
Estavam perdidos; mas Manuel João não se atemoriza. Os inimigos
-eram tantos e já tão próximo apertando-os no cêrco, que os nossos nem
já podiam utilizar as espingardas. Manuel João iança-se na luta corpo
a corpo, entre a massa dos indígenas, que caíam aos golpes da sua va­
lente espada. Uma azagaia atravessa-lhe um pê. Manuel João cai e
está impossibilitado de se levantar. O gentio vem então sôbre êle e,
ali o decepa e esquarteja. Os outros quatro valentes e os pretos que
os acompanhavam tiveram igual sorte, e o inimigo entoa os seus cân­
ticos de vitória.
No acampamento adivinha-se o que se está passando e, concen­
trando-se para a defesa dum provável ataque, passam assim a noite, e
pela madrugada recolhem ao arraial da Mucumba a dar a Paulo Dias
a infausta novaf
Ao mesmo tempo o socorro do Congo, de 5 o portugueses e alguns
milhares de indígenas, é desbaratado ao chegar à fronteira de Angola
e, ao passo que os negros, animados com as vitórias, se tornam ousados
e atrevidos, os nossos desanimam, e cançados duma luta que durava
mais dum ano, procuram por todos os meios alcançarem embarcações
que os levem Cuanza abaixo até Luanda.
A situação de Paulo Dias era desesperada. Não só a gente lhe fal­
tava, mas já não tinha munições. Numa das travessias do rio, volta­
ra-se uma embarcação com duas peças de artilharia e alguns quintais
de pólvora. Estávamos em Junho de 5 8 1 e da metrópole não se espe­
rava socorro rápido, a-pesar-de já pedido.

*
# *

Estava em Luanda o padre jesuíta Baltasar Barreira, que já tinha


regressado do Congo, onde talvez tivesse ido pedir o socorro que os
Angolas desbarataram na fronteira. Assistia dia a dia às cenas da che­
gada dos soldados de Paulo Dias, ouvia-lhes os comentários, sentia-lhes
o desânimo que os invadira e que atacava os que estavam longe do
teatro de tanta luta. Principal interessado nos bons resultados da cam­
panha que se encetara, homem activo e inérgico e duma vontade forte,
não podia assistir impassível à derrocada duma obra que tantas vidas
já tinha custado, e insurgiu-se contra o derrotismo que a todos inva-
t

Parte 11 — Angola 145

dira, até talvez ao próprio Paulo Dias e a Luís Serrão, que, sem reagi-
g ire m , deixavam desertar quantos queriam.
Censurando os que apareciam em Luanda vindos de Mocumba, ex-
probando-lhes a falta de patriotismo, declarou-lhes que visto que todos
fugiam iria para lá êle que não era soldado, e conseguiu que desses
corações insensíveis para tôda a dedicação que não representasse um
lucro, nascesse a revolta contra os seus próprios actos. Exortando-os,
aproveitando hàbilmente êsse despertar dum resto de sentimentos no­ »1 ^
bres, arvorou-se em chefe militar, reüniu homens, mantimentos, armas,
I ^
munições e pólvora, tudo quanto havia que pudesse servir para uma
resistência, pequena ou grande que fôsse, e partiu numa embarcação,
Cuanza acima, a levar a Paulo Dias não só o refôrço material máximo
que se poderia obter, mas o revigoramento da sua energia e dos seus
bravos companheiros. • í
Quando no acampamento souberam da sua vinda^êles que mal po­
diam sair para assaltarem alguns indígenas onde arranjassem com que
: i
entreter a fome, vieram esperá-lo ao caminho, desembarcaram-no num
ponto por onde se atalhava para chegar ao acampamento e, distribuindo
por todos as cousas que levavam, conduziram-nos a Mocumba no meio
da maior alegria, onde chegaram no dia de S. João de i 5 8 i .
Ainda duravam as manifestações de regozijo, quando se sentiu o
grito de alarme, «arma, arma». Todos se armaram e sairam ao en­
contro do gentio, que não esperando ser atacado, acostumado a atacar l
os nossos que se limitavam à defesa, fugiu sofrendo algumas perdas,
pelo que daí para o futuro nunca mais nos atacaram, antes foram os
nossos que tomaram êsse papel, e, com tão bons resultados, que muitos
fidalgos indígenas se apresentaram, prestando obediência a Paulo Dias.
Entre êles, veio o soba da Songa (1), que se fêz cristão e passou a cha-
mar-se D. Paulo, e que Paulo Dias nomeou capitão mor da gente da
terra, com o direito a se poder assentar em alcatifa, diante dêle e de
todos os Governadores que lhe sucedessem. A apresentação deste
fidalgo era importante, pois que além duma das suas filhas ser mulher
t
do rei de Angola, tinha na côrte grande conceito, sendo um dos macotas
mais considerados e que o rei mais atendia.
Readquirido o antigo prestígio, Paulo Dias a-pesar-de só poder
contar com pouco mais de um cento de portugueses, pois que os res­
tantes tinham sido mortos ou inutilizados em combates ou pelo clima,

(1) Perto da Muchima.


14Ó Angola
c, sobretudo, a-pesar-da falta de m unições, resolveu iniciar 0 seu avanço
sôbrc C am bam b e, abandonando 0 acam pam ento da M ocum ba. Acom ­
p anhava-o o P ad re B arreira e m uitos auxiliares indígenas dos sobas
que se nos tinham apresentado, e chegando à confluência do Lucala e
do C u a n za , atravesso u aquele rio na intenção de seguir sôbre C am ­
bam be. O rei de A ngola, sabendo da chegada dos nossos e do grande
núm ero de indígenas que os acom panhavam , tratou de organizar um
num eroso exército, um m ilhão e duzentos e cincoenta mil negros, dizem
o s cronistas.
A o constar a notícia entre os nossos, parte dos pretos que nos acom ­
p a n h a va m , cheios de m êdo, convencidos que era im possível com o pe­
queno núm ero dos nossos, resistir a tão form idável exército, escapa­
vam -se com o podiam , indo engrossar 0 partido do rei de Angola. Só
o preto D. Paulo se m anteve fiel, com tôda a sua gente.
Em 2 de F ^ e r e ir o de 5 8 3 estava P aulo Dias e a sua aguerrida
gente preparando-se para continuarem a m archa, quando se viram
cerca d o s em T eca-N d u n go, ao norte de Cam bam be, pelo numeroso
exército do rei de Angola, que tom ara posições sem contudo nos ata­
car, esp erando, certam ente, a noite, para nos envolver, e no dia seguinte
nos desbaratar. E ra já pela tarde, cêrca de três horas, e a batalha não
se in icia va . O preto D. Paulo, conhecedor dos planos estratégicos do
rei de A ngola, pediu a Paulo D ias que rompesse o ataque, autorizando
que êle, à frente dos auxiliares, que segundo alguns cronistas seriam
cêrca de trinta mil, se lançassem sôbre o inimigo. Aceite o alvitre, ata­
ca ra m os nossos a gente do rei de Angola e, com tal ímpeto e valor 0
fizeram , que em duas horas os tinham derrotado por completo, matando
m ilhares deles e pondo-se os restantes em fuga e por forma tão precipi­
tad a que in d o os fu g itiv o s d a r d e noite com hüa barroca m u y p ro fu n d a
c a r r e g a r ã o tanto huns sobre os outros qu e só dos qu e cayrão dentro se
en ch eo e e g u a lo u e fic o u servindo d e estrada p a ra os q u e vinhão atra\ (1).
E , era tão extraordinária a vitória alcançada, que o próprio Paulo Dias,
adm itindo que a pusessem em dúvida, enviou no dia seguinte para

(1) Carta do Padre Baltazar Barreira para o Provincial, de 20 de Novembro de i 583. Boi.
da S. G . L ,, n.° 8, 4.* série, pág. 371. Vê-se da leitura desta carta que Paulo Dias saiu da Mo­
cumba dois anos depois de lá chegar, e portanto em Novembro de i 582, e que 0 combate em
que o Angola foi derrotado, teve lugar, depois disso, em dia de Nossa Senhora, — por isso no­
meiam esse dia Nossa Senhora da Vitória, o qual outro nao pode ser senão o de 2 de Fevereiro
583
de 1 , visto a carta ser datada de Novembro desse ano. A-pesar-dísso Ravenstein indica o
ano de 1584.
\

Parte II — Angola 147

Luanda trinta carregadores conduzindo narizes, que mandou cortar aos


mortos, para que assim todos se certificassem da verdade.
Depois desta importante vitória resolveu Paulo Dias estabelecer-se
com a sua gente em acampamento permanente e, retirando-se um pouco,
foi fazê-lo em Massangano, ponto fàcilmente defensável, entre o Lucala
e o Cuanza, a que, em comemoração da vitória obtida, passou a chamar
Nossa Senhora da Vitória, para 0 que logo se começou a ordenar húa Z
confraria.
Cambambe estava perto. Viam todos os dias as serras de prata, 1
onde os raios do sol, reflectindo, davam um aspecto deslumbrante.
Era uma fogueira imensa que os estonteava e êles sentiam a necessi­
dade de se lançarem sôbre ela, de se deixarem queimar e arder, con-
tanto-que agarrassem aquela prata às mãos cheias, O Padre Baltazar
Afonso, estando em Luanda, recebeu as primeiras amostras e comen-
j0 - tava: «H e e para dar graças a Deus ver como vem d*prata nacida nas
veas das penedias com suas rai\es » e 0 Padre Barreira, com todo o seu
temperamento de guerreiro, não esconde os encantos que encontrou na
região e escreve ao Padre Afonso: «Fqy 0 senhor servido deixar nos vir t
a estes novos Reynos, novas terras, nova região Bongi, tão diferente de
tudo 0 que V. R. té agora terá visto, como são os frescos e amenos jardins,
dos matos secos e sem fruta. Pinte V. R. tudo 0 que os olhos podiam de­
sejar de vêr, todas as frescuras, toda a variedade de altos e baixos e toda
a abundancia de mantimentos e entenda que tudo ha por ca». 1
Da prata foram amostras para Portugal e ao mesmo tempo o plano
para a sua ocupação definitiva e exploração, com o pedido de gente e *
pólvora para se continuar a guerra.
Já não era o Cardial D. Henrique, 0 financiador da empresa de An­
gola, que governava o reino, mas Filipe II de Espanha e, as alterações
i
havidas e as lutas com 0 Prior do Crato, impediam uma resposta rá­ J í
i
pida, bem como a satisfação dos pedidos, aos quais, com o reconheci­
mento do novo rei, Paulo Dias juntava 0 da confirmação da sua doação,
que, parece, lhe não foi satisfeito. :*

*
* %

1
Havia dois anos que Paulo Dias estava em Massangano sem socorro
algum de Lisboa, nem soldados, nem pólvora. Mas era desta, sobre-
148 A ngo la

tudo, que mais carecia, pois havia tão pouca, que já lhe sobravam sol­
dados.
O Padre Barreira, que acom panhava as guerras, e que, indepen­
dente da direcção dos negócios religiosos tinha parte activa nos assuntos
guerreiros, Já providenciara para que se fôsse a S. T o m é b u sca r a lg u m
r e m e d io d e p o lv o r a p a r a lh e a cu d irem , com etendo êsse encargo ao Padre
B a lta za r A fo n so . É que a situação não perm itia delongas e, com a d e­
m ora h avid a, gran d e número dos sobas que tinham prestado v a ssa la ­
gem , esperan do que o rei de A ngoía fôsse vencid o, p assaram -se n o v a ­
m ente p a ra êle, ou m antinham -se indecisos, o que b a sta va p a ra o rei
d e A n g o la se en cher de ânim o e esperanças de v ir a d erro tar os nossos
em algum co m b ate. A p o sição ocu p ad a em M assa n g a n o era explên-
d id a : « e stã o e n tr e d o n s R io s m u jrto f o r t e s q u e so o p o r h u a p o n ta lh e
p o d e m e n tr a r p o r terra , q u e d o u s tiro s d e fe n d e r ã o a e n tr a d a , m a s to -
m a l- o s - h ã o á fon/% , e a s m ã o s a ca b a n d o d e s e g a s t a r e ssa p o u c a p o lv o r a
q u e te m (r).
B a lta za r Afonso, em vista dos apuros em que os nossos se encon­
travam , pôs-se em viagem para S. Tom é e a cinqüenta léguas de Luanda,
encontrou um n avio da arm ada que Felipe I m andara em socorro de
A n g o la e, p o u co s dias depois, a nau capitaria, e expondo-lhes a situação
em que se e stava, pediu-lhes fôssem com a m aior b revidade, seguindo
êle, entretanto, p a ra S. T om é, onde poucos dias depois a rrib av a a nau,
que v en to s e correntes contrárias p a ra ali levaram n ovam ente. D eses­
p e ra d o s com m ais este contratem po e atendendo â urgência dos socor­
ros, m eteram num navio setenta a oitenta sold ad os, algum m an tim ento,
d ez q uin tais d e pólvora e arcab u zes, fazen d o segu ir p a ra L u an d a, em -
q u a n to a nau co n tin u a va a sua viagem ch eia de con tratem p os, ten d o
g a sto d e S. Tom e' a L uan d a, cêrca de três m eses, de m an eira que ch e­
g a ra m a L u a n d a em Setem bro, q u an d o tinham c o m e ç a d o as p rim eira s
c h u v a s e o esta d o sa n itá rio era péssim o, tendo a d o e c id o p a rte da g e n te
q u e vin ha.
Ê ste socorro era comandado por João Castanho Vellez. Compu­
nha-se de p o u co mais de 200 soldados, mantimento, pólvora, munições
e arm am ento, sendo êste muito ordinário. Vinha com êles o Padre
D io g o da C osta , tam bém da Companhia de Jesus e, certamente, mais
algum p esso a l da Com panhia.

(1) Boi. da S. G. L., n.° 8, 4.* série, pág. 3/ 3. Carta do Padre Baltazar Afonso de t6 de Abril
de 1584.
• 'X
U Sf

Parte I I — Angola 149

Acompanhava também a expedição João Rezende Morgado, como


provedor da Fazenda e das Minas (1), levando operários, instrumentos
e ferramentas para as trabalharem, tal era a convicção em que se estava
da riqueza de Cambambe em prata c, de outros pontos, em cobre, de
que pouco antes tinha sido enviado um bordão de cobre puro lavrado
para ver q 0 governador manda a E l Rey (2).
Desembarcada a expedição, são ainda os dois padres jesuítas, Bar­
reira e Afonso, os dirigentes de todo o serviço de alojamento e depois
da organização da marcha para Massangano. São êles que tudo pre­
veem e, para mais depressa acudirem a Paulo Dias, resolveram que no
1.° de Outubro de 1584 o Padre Afonso partisse com 0 Capitão João
Castanho Vellez, oitenta soldados e as munições e armamento que pu­
dessem transportar e, depois em Novembro, o resto, com 0 Padre Bar­
reira, levando também 0 Provedor João Morgado e os seus operários e
instrumentos, e 0 Padre Diogo da Costa. *
A primeira parte desta expedição partiu na época pior. Levaram
vinte dias na viagem pelo Cuanza e logo que chegaram, tendo chovido,
começaram a adoecer os soldados por tal forma que havia setenta doen­
tes, e tinham-se esquecido dos medicamentos em Luanda. A-pesar-
-disso, foi tamanha a alegria dos desgraçados que havia três anos esta­
vam sitiados em Massangano, passando tôdas as inclemências, que mal
êles chegaram, resolveram os antigos ajustar umas contas que tinham
com um fidalgo preto vizinho e deram-lhe uma sortida, queimando-lhe
a terra, cortando-lhe os palmares e roubando-lhe 0 que puderam acar­
retar.
O resto da expedição só chegou nos primeiros dias de Dezembro e
estando todos reünidos, concertou Paulo Dias com êles o plano da
ocupação das minas, resolvendo começar por ir sujeitando todos os
sobas que se pudessem opôr.
Era necessário proceder assim, porque com a demora havida na
chegada dos socorros pedidos para Lisboa, os diversos sobas que de­
pois da vitória que alcançámos em Massangano, estavam comnosco,
tinham-se passado para o rei de Angola, visto não só sentirem fraco o
apoio que poderiam ter dos nossos, como mesmo se convencerem que
não podíamos resistir a qualquer ataque que 0 rei de Angola nos desse.12

(1) Assim o dizem os vários cronistas que se referem à sua ida a Angola, mas a verdade é
que nenhum dos regimentos ou instruções que lhe foram dados trata de assuntos de fazenda.
(2) Boi. cit., pág. 374, fim da carta.
i5 o Angola

Que de prodígios, que de temeridade e ousadia, teria sido necessário


dispender, para nos agüentarmos aqueles três anos?
Não só em Massangano a situação era difícil. Já depois da chegada
deste reforço de João Castanho, os que estavam em Luanda tinham difi­
culdades em obter a alimentação necessária, porque os indígenas aban­
donaram as suas culturas com receio das devastações dos nossos. Dizia
o Padre Diogo da Costa: «A terra em si he mayto fértil posto que as
guerras a tem desbaratado mayto e essa he a causa porque os mantimentos
custão agora muyto e não se podem achar senão com mayto trabalho (i).
Devia ser assim e, não só com muito trabalho mas com muito risco,
podiam arranjar aquilo de que careciam. A não ser algum mantimento
obtido dos resgates feitos pela costa, do Cuanza para o sul, que pouco
seria, só de Massangano lhes poderia vir e, esse, mal chegava para os
que lá estavam, que só lutando com o gentio o conseguiam.
Era necessáfio manter permanenlemente, com esforços sobrehuma­
nos, o estado de guerra; assolar constantemente os indígenas; ao menor
desacato à nossa autoridade, saqueá-los; queimar-lhes tudo e, só assim,
a ferro e fogo, seria possível que os poucos centos de portugueses con­
AM .

seguissem dominar milhões de indígenas.


3 Nesta preparação para a conquista das minas se passou o resto do
ano de 584 e parte do de 585 e, por Julho, teve Paulo Dias a notícia
de o rei de Angola ter saído da embala em Cabasse e dirigir-se contra
êle com uma poderosa guerra.
A luta já não era então só com a gente do rei de Angola. Tendo
iniciado as nossas guerras contra o gentio do Icolo e da liamba, na
maioria, independentes do rei de Angola, à medida que as nossas vi­
tórias e devastações se sucediam, os que escapavam acolhiam-se ao
Dongo, engrossando assim o exército do Angola. Passámos depois
para as margens do Cuanza e assolámos os jagas da Quissama, cujo
soba, até aí inimigo do do Dongo, se ligou com êle contra nós. Por
seu turno, o soba do Dongo ou rei de Angola entendeu-se com os seus.
parentes da Matamba e Ginga, para nos atacarem.
Quis reünir Paulo Dias a sua gente, que andava parte em assaltoa
dirigidos por diversos capitães, e alguns estavam em Luanda, mas a
aproximação da guerra não lhe deu tempo, resolvendo em 24 de Agôsto
de i 584 (2) marchar sôbre eles. Os inimigos tinham adoptado nova.12

(1) Boi. cit. Carta de 20 de Julho 585, pág. 377.


(2) A s cartas dos padres jesuítas estabelecem confusão sôbre esta data.
Parte I I — Angola 15 r
disposição tática, dividindo-se em três escalões e eram « quasi conto»
ao passo que os nossos poucos mais seriam de um cento, sendo acom ­
panhados de cêrca de dez mil indígenas.
Iniciado o combate e derrotado o primeiro escalão inimigo, apa­
receu o segundo, com o que os nossos não contavam, mas que foi aco­
metido com tal ímpeto, que em pouco tempo fugia e, quando se supunha
ganha a vitória, apareceu ainda o terceiro escalão, que teve igual sorte
dos anteriores, deixando muitos mortos e prisioneiros os principais
chefes, a quem foram cortadas as cabeças para serem reconhecidos
pelos indígenas seus partidários (i).
Esta vitória dos nossos teve um grande efeito moral sôbre os chefes
indígenas inimigos, porque o rei de Angola tinha reünido o melhor da
sua gente e dos seus aliados e em grande número, tendo anunciado a
vitória, tão certo estava de a obter. A-pesar-da derrota não se consi­
derou vencido e, embora lhe morressem os seus melhorgs capitães, con­
tinuou na luta preparando-se para novos ataques.
Por seu lado Paulo Dias reconhecia que era muito reduzido o nú­
mero de portugueses para poder levar a campanha por diante. Para
conseguir o seu objectivo de Cambambe, tinha de atacar a embala do
Angola e desbaratá-lo completamente, o que não podia efectuar sem
novos socorros de Lisboa, que pediu, continuando a sua tropa sem
afrouxar a actividade, atacando ora um, ora outro sobeta, de forma a
impedir a sua concentração.
A proximidade em que estavam de Cambambe, incitava a uma sor­
tida, que poderia ter êxito feliz e, Paulo Dias, sem poder dominar a
ansiedade em que todos estavam de se apossarem das minas, autorizou
o ataque, confiando-o a João Castanho Vellez, que para êsse fim foi
estabelecer um acampamento fortificado a uma légua das minas, par­
tindo na ante-véspera do N atal de 5 8 5 com setenta e cinco soldados
brancos e cêrca de oitocentos frecheiros pretos.
Durante a marcha os soldados queixaram-se de que tinham falta
de alim ento e pediram para irem assaltar um soba soassa ou jaga, que
h avia perto, Angola-Calunga, ao que João Castanho anuiu, tendo os
nossos cativado m uita escravaria e tomados muitos bois, capados, etc., e
desbaratado o inimigo, que se pôs em fuga.
V oltavam os nossos para o acampamento, vindo à frente metade
dos soldados com a gente preta e atrás Castanho Vellez com o resto e

(i) B oi. cií. C arta do Padre Barreira de 27 de Agosto de i 585, pág. 379-
i 52 Angola
os presos da guerra, quando apareceu um grupo dos jagas batendo as
palmas em sinal de quem pede para ser perdoado e quer prestar vas­
salagem. João Castanho parou para os receber, sem tomar a menor
atitude de defesa. Estavam sossegadamenie tratando as condições da
paz, quando, repentinamente, lhes aparece um numeroso grupo de jagas
e em tal quantidade e com tal rapidez, que nem tempo tiveram os
nossos para pegarem nas espingardas e tomarem qualquer defesa,
sendo agarrados por êles que logo ali os mataram, decepando-os.
Alguns negros que escaparam vieram dar a triste notícia ao forte,
onde apenas tinham ficado oito ou nove homens em condições de com­
bater, pois que o resto estava doente. Sabendo que os jagas vinham
atacá-los, resolveram enterrar a artilharia e queimar o fa to que não
podiam transportar e retirar para o acampamento onde estava Paulo
D ias, que, em vez da notícia da posse das desejadas minas de Cam-
bam be, recebei# o de mais êste desastre. -
Mas não desanimou e nem o podia fazer, porque naquelas circuns­
tâncias seria a liqüidação desastrosa de todo o seu esfôrço e dos que o
acompanhavam. A notícia do desastre sofrido, produzira logo os seus
efeitos entre muitos fidalgos indígenas que, se não estavam por nós,
pelo menos, com o mêdo, nos não hostilizavam. O rei de Angola apro­
veitou o momento e combinou novo e decidido combate. Paulo Dias,
sabendo-o, reüniu o resto dos seus valentes companheiros, fazendo in­
cluir nêles os velhos soldados conhecidos entre os indígenas por sambos,
elefantes (i) tal era a devastação que operavam quando apareciam.
Eram os nossos cerca de 140, acompanhados por grande número de
auxiliares negros, cêrca de de\ mil frecheiros que chamamos chorymbaris
q u e se deitarão com os nossos e muytos delles christãos homem valentes e
d e m uytos ardis , a seu modo e a gente de quarenta sobas que estavam
por nós.
Em Setembro de 5 8 6 , o rei de Angola, com os sobas que lhe eram
fiéis e os seus aliados iniciou, no maior segredo, a marcha para nos
atacar, e por tal forma, que quando os nossos se dispunham a passar
para o Lucala, souberam que a gente do Angola já o tinha passado
com três poderosas colunas, uma delas comandada pelo Angola-Ca-

(i) A carta publicada no Boi. da S. G. traz esta grafia, mas é de presumir que houvesse
êrto na transcrição, porque o termo empregado deveria ser nzambos» de N’zamba — elefante.
R egra s de F r. Vetralla, já cit., pág. 106. Abreu de Brito chama-lhe gutijos, talvez de N ’gnjo
Parie 11— Angola i53
lunga, o jaga que tão traiçoeiramente tinha morto João Castanho e
aqueles que o acompanhavam, c outra pelo soba da Matamba.
Luís Serrão comandava os nossos e, conhecendo já a táctica dos ne­
gros, receando os contra-ataques de que tinham usado na guerra ante­
rior, mandou Francisco de Sequeira com uma parte da tropa atacar os
primeiros escalões de indígenas que apareceram e que eram os do rei
de Angola, e por tal forma êsse ataque se efectuou, que o inimigo ficou
dividido, uma parte completamente desbaratada e outra com grossas
perdas, mas pôde fugir. No dia seguinte os nossos passaram o Lucala
e foram então encontrar o outro escalão, que era a gente da Matamba,
e os atacou como Luís Serrão calculava. Êste, batendo-os, obrigou-os
à retirada, e, perseguindo-os, matou-lhes o chefe, um dos sobas mais
poderosos, que se fazia acompanhar, diz a fantasia do cronista, de qui­
nhentas guerreiras, molkeres todas vestidas com seus ferragoulos ricos de
Portugal, cousa que elles tem por grande estado (i). •
O momento era azado para prosseguir na conquista, d Mas como,
se não tínhamos gente P De Lisboa não vinham os socorros pedidos e
os portugueses que se empregavam na guerra eram poucos para manter
aquela avançada de Massangano, que cobria os que estavam em Luanda,
permitindo-lhes o seu negócio, mas reduzido por tal forma, na parte que
dizia respeito à província da liamba, que foram forçados a explorar os
resgates pela costa para o sul do Cuanza, dando-lhes bastante desen­
volvimento.
Constituía todo êsse território a doação ou capitania de Paulo Dias,
que, por falta de meios, a não podia explorar como pensara, vendo-se
na necessidade de recorrer ao concurso dos portugueses estabelecidos
em Luanda, que, animados pelos bons negócios efectuados, se oferece­
ram para irem fundar um presídio em Benguela Velha. Paulo Dias
aceitou a oferta e encarregou o seu parente Lopes Peixoto de os dirigir,
tendo as melhores esperanças no bom resultado desta expedição, por­
que, segundo um dos cronistas (2): El-Rey de Benguella já mandou os
dias passados pedir sua amisade ao Governador e quer ser sogeito a E l Rey
de Portugal.
Seguiu Peixoto com os cinqüenta moradores (3 ) para Benguela,
onde chegaram e desembarcaram sem oposição, escolhendo o local para(i)*3

(i) Boi. da S . G. L,, cit. Carta do Padre Diogo ao Provincial de Portugal de 3i de Maio
de i 586, pág. 382.
(a) Idem, pág. 383.
3
( ) Abreu de Brito, Mss. cit.
20
i 54 A n g o la
uma fortaleza, cuja construção, de pau a pique, logo iniciaram e leva­
ram a efeito.
A atitude dos indígenas de nada fazia suspeitar, mas um dia, estando
quási todos os portugueses despreocupadamente na praia, apareceram-
-lhe de súbito os gentios em atitude ofensiva, atacando-os e sem lhes
darem tempo a recolherem-se ao pequeno forte e armarem-se para se
defenderem, sendo todos assassinados e a fortaleza saqueada, roubando
tôda a fazenda que tinham para o seu negócio. Apenas escaparam
dois, que numa pequena embarcação vieram a Luanda dar a notícia.
Pouco depois de sofrer mais êste desastre, sucumbia Paulo Dias de
Novais (t), em Massangano, aos efeitos de dezoito anos de Angola,
cheios de lutas e trabalhos, e sem ter conseguido atacar na sua embala
o soba do Dongo, rei de Angola, que tão tenazmente se opunha ao seu
sonho da posse das serras de Cambambe, luzentes de prata, cuja exis­
tência lhe foi confirmada, quando êle, alquimista, nos seus tempos de
cativo, na sua cubata, disfarçadamente, não fôsse o soba perceber-lhe
as intenções, experimentava na bacia, com os foles de ferreiro, as pedras
que apanhava durante o dia!
*
* *

Façamos um balanço à donataria de Angola e vejamos os resultados


obtidos, quer para a Coroa, quer para Paulo Dias.
A donataria era, como vimos, o processo de colonização que em­
pregávamos na exploração dos territórios descobertos ou conquistados.
Os donatários, na maioria das vezes por vagas informações obtidas ou
pela boa impressão colhida em qualquer desembarque, pediam a doação,
e, obtida esta, arranjavam o dinheiro, fazendo à sua custa tôdas as
despesas da instalação e exploração dos terrenos concedidos, tirando
dêles a compensação que podiam em rendas, impostos e produtos, sem
nos determos a apreciar os meios por êles empregados, que, aliás, eram
os próprios da época. Daí resultava, anos volvidos, pela acção dos
donatários e dos colonos que êles levavam, o início de uma coloniza­
ção, defeituosa, sem dúvida, mas que nenhuma outra nação fêz melhor.
Quando o julgava oportuno e sob qualquer pretexto, a Coroa ia cer­
ceando os direitos e as prerrogativas dos donatários, até que integrava
definitivamente a donataria na vida do Estado.

(i) Faleceu em 1589, contra o que diz o autor do Catalogo dos Governadores.
Parte I I — Angola l55

Estava Angola nestas condições quando foi doada? Já vimos que


não.
A região estava suficientemente reconhecida e desbravada, como o
Brasil o não estava então. Nenhum dos donatários do Brasil iniciou a
sua exploração em melhores condições ou sequer idênticas. Basta cn-
cará-las sob um só aspecto, o do rendimento. Os donatários do Brasil
precisavam cultivar a terra para terem rendimento que compensasse os
seus esforços e despesas. Em Angola não era necessário explorar a
terra, bastava a exploração comercial e o resgate dos escravos, que se
obtinham sem lutas, quási sem mesmo os ir procurar ao interior, por­
que os sobas impunham essa condição social aos seus prisioneiros e aos
seus súbditos como condenação e se encarregavam de os trazer aonde
estivessem portugueses, para os trocarem por mercadorias. Quando
isto não bastasse, havia o conhecimento perfeito da vida do indígena,
dos seus usos e costumes, e havia o negócio da permute já estabelecido,
desde quási um século, pelos portugueses que tinham ido para o Congo
e depois se espalharam por todo o interior.
Assim, a Coroa não tinha despesas a fazer e bastava ter estabele­
cido a feitoria de Luanda, arrendando a qualquer contratador a co­
brança dos impostos e direitos, para ter um rendimento certo.
Nestas condições, a donataria de Angola não obedeceu aos mesmos
fins das outras donatarias. Não era necessário que Paulo Dias, ou
qualquer outro, tomasse sóbre si o encargo de a povoar e fazer vilas e
castelos. Com mais uns anos, tudo se teria feito apenas com um feitor,
e, só mais tarde, quando o desenvolvimento o exigisse, um capitão-mor
e o respectivo pessoal administrativo. A Companhia de Jesus, porém,
precisava, para o papel que se propunha desempenhar, para garantia
de todo o seu poder e influência no Novo Mundo, que Angola fôsse
submetida ao mesmo regime das donatarias que tínhamos empregado
no Brasil, o que se justificava, porquanto, embora não houvesse resis­
tência activa dos naturais contra o cristianismo, havia indígenas sem
religião, havia infiéis, que era necessário trazer ao grémio da igreja ca­
tólica.
Precisavam ainda de um rótulo, um nome de alguém que, pelos
serviços dos seus antepassados ou pelos seus e pelo conhecimento que
tivesse de Angola, justificasse o direito de pedir a donataria, e ninguém
melhor que Paulo Dias de Novais. Discretamente, usando da sua in­
fluência, apresentaram o seu nome e obtiveram para êle a doação,
e, assim, tendo-o na sua dependência, melhor podiam orientar o
i 56 Angola

papel que a Angola tinham distribuído na civilização de todo o Novo


Mundo.
De principio deram-lhe como mentor o Padre Garcia Simões. À
falta de melhor, experimentou êste a intriga com o rei do Congo, mas
sem resultado, como se viu (t). Logo a seguir busca o pretexto da
conversão dos indígenas e é êle que, a propósito das felicitações pela
vinda da Companhia para Angola, que diz ter recebido do Governador
do Congo, Francisco Gouveia, e de outros, escreve: « M a s qu a si todos
« tem p o r a verig u a d o que a conversão destes barbaros não se alcançará
« p o r am or senão depois que p o r armas fo r e m sogeitos e vassallos d ’ el-rey
« nosso s e n h o r . . rematando com a censura ao que Paulo Dias estava
fazendo: « E m uy to menos deste m odo que agora vay que não ha quem
«p o r a m or com elle tr a te ,p o r q u e este negro tud o é in teresse ... », e com
a falsa insinuação com que queria mostrar a rebeldia do rei de Angola
e a necessidade cie o castigar: «. . . e não quer mais que ver se colherá
« outro G a n g a [padre] ás mãos p ara lá m orrer como o P a d re Francisco
« G o u v ea a q u em tinham com o negaça de mercadorias e trato de P o rtu -
« g u e t e s . . . », (2) quando o certo é que o Padre Gouveia não esteve vinte
anos na embala do soba ou rei de Angola, por negaça dêste, mas por
obediência à sua ordem; que não era por lá estar, que os portugueses
lá iam levar as suas mercadorias para o negócio, e, finalmente, que o
rei de Angola tinha tanta estima e veneração pelo Padre Gouveia, que,
durante a sua doença, recorreu a todos os feitiços para o salvar, e, pelo
seu falecimento, exteriorizou o seu desgôsto com as mais solenes mani­
festações que era costume empregar.
Durante três anos resistiu Paulo Dias a tôdas as insinuações e ten­
tativas para que iniciasse o período guerreiro, até que cedeu a autorizar
a primeira guerra nos arredores de Luanda.

(t) Não deve passar sem reparo a insistência dos cronistas da Companhia em atribuírem
sempre à acção do rei do Congo, junto do Ngola, as cenas de carnificina e roubo, de que eram
ameaçados ou foram vítimas os portugueses. A primeira vez que Paulo Dias foi a Angola, vemos
um dos irm ãos a dizer-nos que os portugueses foram todos presos e roubados. Anos depois,
volta Paulo Dias a Angola e logo de entrada vêm as queixas contra o rei do Congo, que se jus­
tificou como pôde. Passados três anos, durante os quais alguns favores confessam que nos
prestou o rei do Congo, em mais de uma carta se encontram referências a atitudes dúbias e
prejudiciais aos nossos interêsses por parte do rei do Congo. Ódio velho...
la) B o i. da S . G . L ., cit.
y;

' !i 'li- '

Parte I I — Angola i5/

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Iniciada a luta, sotrido o primeiro desastre, Angola deixava de ser


livre para nós, deixava de ser o campo vasto e sempre aberto, durante
um século, á nossa acção comercial, para ter de ser conquistada palmo
a palmo.
Vimos que, com o refôrço de soldados e munições que levou António
Peixoto, foram mais três padres jesuítas, dois dos quais passaram a ter
um papel preponderante na luta que se seguiu. Pelas suas cartas, pre­
ciosos documentos que nos deixaram, a acção de Paulo Dias quási
desaparece, para ficar a dêlés, organizando, acompanhando os solda- .
dos, excitando-os e animando-os, aparecendo em todos os combates,
ora com as suas orações pedindo a Deus a vitória par» os nossos, ora,
talvez, pelejando como os capitães-mores. Um, está com as tropas;
outro, está em Luanda; revezam-se; um vai ao Congo arranjar auxi­
liares e manda recado ao outro para vir para junto de Paulo Dias, pa­
recendo que nunca o querem deixar só. São os seus mentores P Tem-se
antes a impressão de que êle é apenas um seu delegado.
O clima e alguns desastres nas guerras com os diversos sobas, quási
que liquidaram o contingente de Peixoto, e, em pouco tempo,’a situação
apresentava-se mais agravada, porquanto na altura da luta a que se
tinha chegado é que não era possível retroceder, nem mesmo parar, e,
fôsse porque meio fôsse, as guerras tinham de continuar.
Não havia dinheiro nem fazendas e não havia soldados, mas tudo
se remediou contratando os serviços dos velhos colonos, os «{ambos»,
que dificilmente podiam exercer a sua vida como comerciantes pelo
interior, dado o estado de rebelião do gentio. Alimentar-se-iam do que
apanhassem nas razias, e o salário, na falta de mercadorias com que
pudesse ser pago a êles e aos capitães, passou a ser dado na moeda
corrente, o negro, — prisioneiro ou escravo, pouco importava. A uns,
pagava-se em peças; a outros, aos capitães e aos padres, cujos serviços
eram de outra categoria, pagava-se-lhes com sobados inteiros, mas sob
uma forma que, por ser rudimentar na organização dos povos, estava
em harmonia com os usos indígenas. Nomeavam-se protectores e re­
presentantes dos sobas conquistados junto do governador, o que cor­
respondia ao patrocínio e recomendação dos sistemas primitivos, em que
se entregava a defesa dos fracos à protecção dos mais fortes, e, desta
•rtF- .

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V I;
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158 /In^o/a

forma, não havia sujeições, não havia cativos nem escravos, mas so­
mente a retribuição a dar pelo soba ao procurador ou amo, pela pro­
tecção eficaz junto das autoridades, pela defesa constante dos seus in­
teresses e dos seus direitos.
O sistema era tão bem aceite entre os indígenas, que estes, quando
iam para as guerras, já pensavam, no caso de serem derrotados, em
quem haviam de pedir para am o, e, em geral, pediam os padres, por­
que: « tin ha m e n tre os n eg ro s g ra n d e fa m a d e sere bôs hom es, & am paro
« & p r o te y ç a m d e brancos e p r e to s », « . . . os quaes nam aceytauam isto
« m a is, q u e p a r a os cõsolarem , & a q u ie ta r e m . . . A n tes os p a d res m uytas
« ve%es r ep u g n a r ã o aos te r: m as o G ouvernador os obrigaua a isso, nem
rí «p o r resp ey to d os p a d r es, n ê do p ro u ey to qu e disso tiuessem , que era assa{
«p o u c o , nem p o r lh e f a \ e r nisso f a u o r & honra, senão p o r respeyto do bem
« d a co n q u ista & do serviço p r o p n o d e sua M a g esta d e, p ois com isso tinham
« o s S o b a s s o g e j ^ s & quietos » (i).
Não há dúvida que aos indígenas não podia repugnar o processo,
porque êles próprios o empregavam. Já em i 56o, quando a primeira
missão dos jesuítas chegou a Angola, o soba deu os nossos ao G o n g o -
cin \a , que ficou sendo nosso amo, como lhe chamava o Padre Garcia,
quando a ê!e se referia. O sistema era, pois, corrente, e os indígenas,
tendo de pagar um tributo, tanto se lhes dava que fôsse ao soba como
ao governador, desde o momento que um dêstes os garantisse das pre­
potências e ataques do outro.
Poderia Paulo Dias, à falta de fazendas e de dinheiro, ter pago os
serviços que capitães e padres lhe prestavam, dando terras em sesma­
ria, como o autorizava a sua carta de doação, mas não havia em An­
gola possibilidade de o fazer, porque ninguém queria, então, terras, mas
sim pretos que nela habitassem, como frutos que as mesmas dessem, e
êsses é que passaram a ser sesm ados, dados de juro e herdade, como
no Brasil tinham sido a ldea dos. O processo foi precisamente o mesmo
e conduzido ao mesmo fim, e Paulo Dias por tal forma foi convencido
de que era assim que deveria proceder, que em pouco tempo tinha dis­
tribuído todos os sobetas que avassalara, dizendo àqueles a quem por

(i) R e la ç a m annual das covsas que fed era m os p a d res da Com panhia de Jesus nas p artes
d a Ín d ia O rie n ta l <£ no B ra sil, A n g o la , C abo Verde, & e tc .. . . nos annos de seiscentos <Si dons &
seiscen to s & ire s & etc — p e lo p a d re F ern am G u erreiro. L x . Anno M D C V. C a p . V II. D a s
125
cp usas d o R e in o d e A n g o la , fl. e segs. Biblioteca Nacional, Res. 445 P. e edição da Imprensa­
d a U niversidade de Coim bra.
P arte I I — Angola i 5ç

esta forma remunerava os serviços prestados, que tal doação era válida,
porque era conforme ao regimento da Mesa da Consciência.

*
ft *

Contudo, a rebelião indígena aumentava, talvez por reconhecerem


que, amo por amo, antes o preto da sua côr e com quem melhor se po­
diam entender. Para a dominar pediram-se mais socorros para Lisboa,
onde então já governava Felipe II de Espanha.
Não se conhecem documentos que nos possam elucidar sôbre o que
se passou em Angola quando da anexação de Portugal à Coroa de Cas­
tela. É verossímil admitir que Paulo Dias tenha confirmado o reconhe­
cimento que o capitão de S. Tomé «con allçada nesta dita Ilha do cabo
«das palmas the o de boa esperança » fizera de Felipe I^como verdadeiro
herdeiro e legitimo sucessor de seu tio D. Henrique, e que do mesmo
capitão tivesse recebido as cartas, que êle zelosamente diz ter mandado,
pera que se fizesse o mesmo na Ilha do princepe e Reino de Congo e An -
gola (i). -
A carta com o convite, ou a ordem, para o reconhecimento de Fe­
lipe II como rei de Portugal, deve ter chegado às mãos de Paulo Dias
quando êle acabava de obter a sua grande vitória que deu lugar à fun­
dação de Massangano. A poucas léguas estava Cambambe com todo
aquele enorme e rico tesouro da prata, mas onde êle não podia chegar,
a-pesar-da vitória obtida sôbre os indígenas, porque não tinha brancos
em número suficiente.
Os de S. Tomé diziam no auto de obediência «que esperauão que o
dito senhor conforme a sua custumada grande\a teria lembransa, desta
dita Ilha e de lhe fa\er mercês e de lhe conseruar seus preuilegios efaçer
mercês de outros necessários a esta Ilha e ao bem e prol comum delia (2)
^e porque não aproveitaria êle o momento para, com 0 reconhecimento
do novo rei, pedir a confirmação da sua doação e os reforços de gente
e munições de que carecia para obter a riqueza que estava ali tão pró­
xima? 12

(1) História do Congo, Paiva Manso, cit., Doc. lxiv, pág. 120. Esta missão foi incumbida a
Sebastião da Costa, que foi portador de uma carta para 0 rei D. Álvaro, mas que não pôde
entregar por ter falecido na viagem. Duarte Lopes refere-se a esta embaixada.
(2) História do Congo, citada.
160 Angola
O pedido estava dentro da orientação dos princípios decretados
p elo rei nas C ôrtes de Tom ar.
É certo que o terceiro estado, — o povo, — tinha instado pela suspen­
são dos m onopólios e contratos sôbre o comércio das conquistas, lem­
brando que ficassem livres e pagos à fazenda os direitos que a lei es­
tabelecesse. M as, pelo seu lado, a nobreza pedia que os bens da Coroa
que vagassem fôssem providos em pessoa do mesmo sangue e, sendo
possível, do mesmo apelido, para honra e acrescentamento da fidalguia
portuguesa e conservação das famílias ilustres, e que só se provesse as
capitanias das conquistas em fidalgos e não em letrados (1).
O pedido do povo implicava uma alteração no sistema de cobrança
de receitas, que se não coadunava com a pobreza dos cofres da Real
F azenda e, assim, os partidários de Felipe II, que tão desveladamente
tinham preparado a aceitação, por tôda a nação, do seu novo rei, não
quiseram entrarrem reformas que poderiam trazer complicações e apre­
sentaram-lhe com o fórmula que evitava atritos, tudo conciliava e êle
aceitou: que continuariam para todos os ofícios, tanto da Casa Real
com o do governo, a serem nomeados só os portugueses; se não faria
m udança alguma no que até ali se praticava, e não seriam dadas cida­
des, vilas, lugares, jurisdições ou direitos reais, senão a portugueses, e
os que vagassem , não seriam tomados para a Coroa, mas providos nos p a ­
rentes d os qu e os ocupavam (2), capítulos estes que eram os de maior
im portância, por dizerem respeito aos interêsses individuais, que, assim
respeitados, constituíam a condição necessária para a boa paz e melhor
concórdia.
E ra difícil satisfazer a renovação integral da doação, — património
e terras, como lhe fôra feita, dada a falta de meios de Paulo Dias para
a m anter, para o que pedia o refôrço de gente por conta da Fazenda
Real.
Pelas suas instâncias para o refôrço, expondo o perigo em que es­
tava de tudo se perder e das enormes riquezas que se adquiririam com
a conquista, adoptou-se uma solução intermédia, deixando-lhe ficar o
■ patrimônio, — a capitania das 35 léguas da costa, do Cuanza para o sul,
e passando o restante território à acção directa do Estado, com os seus
funcionários, de que êle continuaria a ser o primeiro.12

( 1 ) R e b e lo d a S ilv a , Historia de Portugal nos séculos XVII e XVIII, tô m o II.


(2) R e b e lo d a S i l v a , Historia de Portugal, citad a .
Parte I I — Angola i6 i

*
* *

Com o reforço de homens, armamento e munições, comandado por


João Castanho Velez, mandaram também os Governadores do Reino o
Licenciado João Resende Morgado, cóm poderes especiais sòbre^a ex­
ploração de minas, administração de justiça e inquirições aos ouvido­
res « do g .dor do dilo R .n0 dangola », ao mesmo tempo que em Lisboa se
punha em arrematação os direitos dos escravos (i).
Apreciemos esta resolução, em face da carta de doação de Angola
a Paulo Dias.
De minas não trata a carta de doação, mas estabelece : e sendo
« caso que na dita terra se abrão e achem allgüs resgates e tratos tais que
« eu por m y somente ou por meus oficiais os queira tratth- e negociar em
« tal caso eu mandarei pagar e dar ao dito Paullo Dias em sua vida como
« dito he a terça parte de tudo aquillo que nos ditos tratos e resgates se
« ouver de ganho, etc__ ». Ficava assim regulado o resgate de metais,
quando estes fossem achados, podendo o Rei, por si ou pelos seus ofi­
ciais, proceder à sua exploração, dando a Paulo Dias o têrço dos lucros
que nela tivesse. Por esta disposição, o regimento que se deveria obser­
var « no descobrim!° das minas que ora se fa \ no dito R .n0», em nada
afectava os direitos de Paulo Dias, tanto mais que nêle se determinava
que em tudo João Resende consultasse e procedesse de acôrdo com
Paulo Dias,
Com respeito ao serviço de justiça, ficara estabelecido na carta de
doação: que nas trinta e cinco léguas do Cuanza para o sul, fazia mercê
a Paulo Dias e seus descendentes e sucessores, da jurisdição cível e
crime na dita terra (que era a. que se designava por capitania) podendo
Paulo Dias nomear ouvidores, juízes, tabeliães de público e judicial,

( t ) T ô r r e do T o m b o , t. i.« de L eis, fls. 91 v . ' e 1. 9.” dos Felipes, fls. 348 e seguintes. A n e ­
xos, doc. n.» 1 8 -1 9 ,e 2 0 : «P o d e r e a lç a d a q u e le v a o l.o j o ã o m o r g u a d o q u e v a y to m a r R c s i d é ç i a
a o s o u v y d o r e s q u e e s tã o n o R . no d a n g o lla , a que se seguem instruções sobre serviço de ju s tiç a
e descobrim ento de minas». C o m o se vê, nenhum dêstes docum entos d iz respeito a serviço s
de fazenda, m as contudo havia em A n go la um Proved or de F a zen d a co m um E sc r iv ã o , que era
G asp ar Ferreira, que estando ausente, foi nom eado para interinam ente exercer o seu c a rg o ,
L o p o D elgado, m oço da câm ara de E l-R ei, em 1 583. B iblioteca N acion al, S e c ç ã o U ltram arin a ■
de A n g o la , c/145, Anexos, doc. n.° 1 1. Q u an to a contrato sôbre os direitos de escravos, con sta
do mss. da B ib lio teca Nacional, de Dom ingos de A breu de B rito, já referido, qu an d o tra ta d o
rendimento dos escravos, que nos últim os quatro anos ( 1 g» m enos 4== 1 5 588 ) o s direitos esta­
vam arrem atados.
21
TÓ2 Angola
meirinhos, escrivães e mais oficiais necessários para administrarem jus­
tiça, conhecendo o ouvidor das causas em apelação e aplicando os
juízes penas e tomando resoluções até aos limites que se fixavam, e
ainda que Paulo Dias e seus sucessores a qu e (quem) esla capitania e
governança (refere-se à parte não incluída nas 35 léguas) vier (a per­
tencer) usem inteiram ente de toda a ju r d iç ã o p od er allçada nesta doação
continda a si e da maneira que nella he declarado, e t c . . . . e « que nas
terras da dita capitania (Cuanza para o sul) não entre nem possa entrar
em tempo a llg u m corregedor pera nellas usar d e ju rd içã o allgum a per
nenhum a via nem modo que seja e porem eu p oderei quando me bem p a ­
recer m andar allçada e prover em tudo o m ais que m e pareçer que cum pre
a meu serviço e bem da ju stiça e bom governo da terra, etc. . . . ».
Nas instruções dadas a João Resende, determ inava-se-lhe: « P ri-
« m ram ente tanto q. chegardes ao dito R .no dangola dareis ao g .i0T a minha
« carta q. p era e l& le u a is . . . E não entendereis na p .a do dito g .dor no q.
« tocar á m ateria da ju s t .a ne nas cousas p o r elle fe ita s e ordenadas p or-
« quanto p o r a lg ü s ju s to s resp.tot q. m e a isso m ouê o ey asy p .° b ê . . . . E y
«por bê q. tom eis c.i0 p er apellação ou agrauo de todos os casos que não
« couberê na alçada do dito g .ior conforme a sua doação E não auocarets
« os fe ito s . . . D a reis ordé praticando pr.° cõ o dito g .d0T q. nas matérias de
' « ju st.a se g u a rd e daquy en diante as ordenações do R .n0 e t c .. . . E p°uereis
« q. d a q u y en diante se ponhão em arecadação a s fa \ .das dos defuntos dando
« nisso a ord é q. vos parecei- . . . e sendo algüas f a { .das dos ditos defuntos
« gastadas p or or d ê do g .dor não entendereis na arrecadação delias ./. sp­
it m ente fa r e is p o r os autos em guarda em poder dos offi.es A q. pertence,
« etc__ E inform am os éys se no dito R .”° dangola andão a lg ü s homes
« casados q. fo s s e destes reynos e quanto tpõ ha e q. não queré vir fa \ e r
« vida com suas molkeres nê p°veremnas do necessário ./. vivendo m al e
« desoluta m en te. . . e parecendovos q. algüs dos ditos homões viuê tão de-
« solutam ente q. conué ao serviço d e noso sõr e nem ao bom exem plo f a ­
it lerd elo s em barcar o podereis fa \ e r comonicando p rim .ro com o g .d0T sê
« m o fa z e r d e s sabr et c. . . . ».
Sê é certo que em'tâdas estas intenções sobressai o desejo de não
melindrar Paulo Dias por algüs ju sto s respeitos que me a isso movem, não
é menos certo que, sôbre matéria de justiça e arrecadação de rendi­
mentos, — o exercício do poder público, — êste foi-lhe completamente
anulado, porquanto passou a haver uma entidade, corregedor, provedor
ou ouvidor, que não era nomeada por Paulo Dias mas pelo rei, e que,
levando ordens para nada averiguar do passado, nem ao menos do des-
P arteil— Angola i63
tino dos bens dos defuntos, tinha o encargo de estabelecer os serviços
conforme as leis e regimentos do reino, donde se deduz que náo deviam
estar nessa conformidade.
Era uma esponja sôbre o passado e vida nova para o futuro, com a
expulsão dos portugueses cafrealizados que por lá se encontrassem e
ordem na administração da justiça. Era emfim um processo de liquidar
a última donataria que existia e de a fazer reverter para a Coroa Real,
sem fazer alardes, e deixando ainda o donatário indeciso sôbre o papel
que ficava representando.
Estas resoluções tomadas pelos governadores em Lisboa, são da­
tadas de Outubro de 1583 , e João (Morgado, que levava consigo os
alvarás, bem como a carta para Paulo Dias, a que em um deles se faz
referência, só chegou a Angola em Setembro de 1584. É muito provável
que, entretanto, Paulo Dias tivesse tido quem o avisasse do que se pas­
sava, e êle, deitando contas à sua vida de dez anos, 1 econhecesse que
nada tinha feito, e, nem ao menos garantido aos seus o direito de lhe
poderem suceder na parte que constituía o patrimônio. <jOnde estavam
os castelos, as igrejas, os cem moradores com suas mulheres e filhos,
sendo alguns lavradores, que se obrigara a fazer estabelecer entre o
Dande e o Cuanza? Nada tinha feito nesse sentido, e só guerras, em
que sacrificou a vida de mais de seiscentos portugueses (até 1584) e
desbaratara talvez não menos de cem mil cruzados. ^Quais eram os
quatro ou cinco lotes de terreno que demarcara na área das trinta e
cinco léguas da sua capitania? Nem pensara nisso, nem sabia mesmo
por onde havia de começar, porquanto, à data, apenas conhecia a Qui-
çama que assolara por várias vezes.
Mas era necessário fazer qualquer cousa nesse sentido antes de re­
ceber a carta que sabia João Morgado trazia. Assim, em 1 5 de Agôsto
de 1584, para remediar a situação, publicou um edital «a q. chama de­
claração e nomeação dos reguengos do seu morgado » (1), no qual vem
declarar que os locais que escolhia para os três castelos a construir
entre o Dande e o Cuanza, eram: para o «primeiro, e mayor Castello

(1) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Livro de Consultas e Partes do Conselho Ul­
53
tramarino, n.° 21, 1753-1754, fls. 1 v.° e seguintes (Arquivo da Marinha e Ultramar, n.® 24). É a
consulta do Conselho Ultramarino sôbre um processo de habilitação à capitania de Angola, de
um sucessor de Paulo Dias. Do Parecer do Conselheiro Rafael Pires Pardinho, se vê que o
edital de Paulo Dias abrange de fls. 48 a 54 v.° do Processo de Habilitação. Deve ser um docu­
mento precioso, mas não foi possível encontrá-lo em nenhum dos nossos Arquivos públicos.
Extrai-se da consulta o Parecer do Conselheiro Pardinho, que é interessante. Anexos, doc. n.®aa.
; 1Ó4 Angola
• na Costa do M ar para o porto de Loanda, em q. estava a villa de
• S. P a u lo, por ser acomodado a estancia, e defenção dos navios q. a elle
«fossem , e p .a o segundo Castello por lhe parecer mais convenf o citio nas
•terras de Cambambe p .a mayor segurança das minas de prata q. aly
• havia, e p .a o terceiro a Banca e citio de Moagaloambe p.a segurança e
• defenção das terras do rn.° de Angola q. se havião conquistado »; « . . .
«querendo escolher e segurar as vinte legoas de Costa q. se lhe concederão
•p.a elle e seus sucessores poderem cultivar, beneficiar, aforar, e tc ., nas
«35 da Capp.nia as nomea e separa em quatro partes, pellos sinaes da
«costa do mar, e Rios que nelle desaguão, e por onde elles corressem, e
«dahy p .a sima, e certão linha direita até o mar de Mossambique sem no-
«mear, expressar, ou declarar povoação, villa, ou Ig r.a que tivesse feito,
«ou fu n d a d o .em qualquer dos taes Rios, ou na distançia de toda a Capp”ia.
N ã o h á d ú v i d a q u e P a u l o D ia s e s t a v a a in d a d e n tr o d o s p r a z o s es­
t a b e l e c i d o s n a A i a d o a ç ã o , p o is q u e te n d o d e z a n o s p a r a fa z e r o s c a s ­
te lo s , o p r a z o só fin d a v a e m 20 d e F e v e r e ir o de i 585; e te n d o v in te
a n o s p a r a e s c o l h e r e d e m a r c a r o s lo te s n a á r e a d a s u a c a p ita n ia , e ra m
a p e n a s d e c o r r id o s d e z. M a s o q u e ê le n ã o tin h a e r a te m p o p a r a , d e
S e t e m b r o a F e v e r e i r o , c o n s t r u ir o s c a s te lo s q u e d e v ia m ser d e p e d ra e
c a l, q u a n d o d e m a is a m a is , d o is , o d e C a m b a m b e e o d a Ban\a, n ã o
e s t a v a m o c u p a d o s , e ta m b é m n ã o e r a d e m a r c a ç ã o o q u e fiz e r a co m
r e s p e i t o a ô s lo t e s n a c a p it a n ia , q u e ia m d e A n g o la a M o ç a m b iq u e . O
s e u e d i t a i e r a a p e n a s o p r o t e s t o p la t ó n ic o d e q u e m s e v i a lu d ib r ia d o
p e lo s G o vern ad o res do R e in o , q u e sem lh e a n u la r e m c la r a m e n te a
d o a ç ã o , p r o c e d ia m c o m o s e t iv e s s e r e v e r t id o p a r a a C o r o a , e p elo s
conselheiros e m A n g o l a , q u e o e n r o d ilh a r a m em g u e r r a s , q u a n d o o
c e r t o e r a q u e e le «ainda muyto tenro e muy d e v a g a r » n ã o q u e r ia fa z e r
o q u e lh e d i z i a m , e a is s o r e s is t iu d u r a n t e tr ê s a n o s .
C o n t u d o P a u l o D i a s c o n t i n u a v a a s e r a in d a o C a p it ã o - M o r e G o ­
v e r n a d o r d e A n g o l a , m u it o e m b o r a d e si p a r a si r e c o n h e c e s s e q u e já
n a d a e r a e s ó t i v e s s e a a c o m p a n h á - l o o d e s g o s to q u e o fo i m in a n d o e
q u e , e m m a is q u a t r o a n o s , lh e t r o u x e o s o s s e g o d a m o r te . F o r a m q u a tr o
a n o s d e u m a l u t a q u e a s s o m b r a p e lo v a l o r e p e la t e n a c id a d e e p e r s is ­
tê n c ia . À c o n q u i s t a d e C a m b a m b e e d a e m b a la d o D o n g o tu d o s a c r i­
fic o u , o s s e u s e a si p r ó p r io , e, c o m t a n t a m a io r v ir t u d e , q u e é c e r to
n ã o p o d e r j á e s p e r a r p a r a s i c o u s a a lg u m a e s ó t r a b a lh a v a p a r a s a lv a r
a q u e le s q u e tin h a a r r a s t a d o n a su a a v e n tu r a .
S e d u a s b a t a lh a s , g l o r io s a s , a d e M a s s a n g a n o e m 85 e a d o L u c a la
e m 8 6 , lh e p õ d e m t e r d a d o a lg u n s m o m e n to s d e e s p e r a n ç a s , d o is fo r-
Parte I I — Angola ÍÓ5

m idáveis desastres — o de João C astanho no ataque a C a m b a m b e e o


de Peixoto em Benguela, devem ter tornado bem am argos os últim os
dias do incansável lutador.
A o falecer, em 589, é ainda agarrado à idea de fazer p revalecer a
sua doação, que nomeia seu sucessor ( i) 0 seu dedicado com panheiro
Luís Serrão, mas, embora 0 não especificasse, sòm ente na parte qu e
dizia respeito ao território entre o Dande e o C u a n za , sôbre o qual na
carta da donataria se determ inava « . . . e sendo caso que 0 dito Paullo
« Dias falleça antes de vinte annos a pessoa que elle deixa nomeada para
«prosegair na povoação desta terra e capitania não poderá ser de menos
« callidade que elle terá e averá a dita terça parte das rendas e direitos
« até os ditos vinte annos serem acabados». P ara o resto lá tinha os seus
herdeiros (2).*2

(0 Domingos de Abreu de Brito no mss. cít. escreveu: <*Pela qual re$ão lhesoçedeo em seu
lugar & guoverno Luís Serrão, capitão môr que hem então do campo petlo deixar assi o Guo-
vernador passado em seu testamento com a qual eleição o Reino & conquistadores forão todos
muito satisfeitos
O autor do Catálogo dos Governadores diz que Luís Serrão foi eleito pelos capitães e mais
pessoas principais.
É certo que Paulo Dias, pela carta de doação, podia deixar pessoa que não fosse de tttenos
qualidade que ele para proseguir na povoação desta terra a capitania e nao tinha consigo pa­
rente em condições de poder ser encarregado desse trabalho e que pudesse ser aceite pelos ou­
tros capitães.
(2) Por informações que obsequiosamente prestou o Ex.w®Sr. D. António Xavier da Gama
Pereira Cominho, d ig C o n se rv a d o r do Registo Comercial no Porto, Paulo Dias de Novais
faleceu sem filhos e sem que tivesse sucessores pela linha paterna, pelo que passou a Casa, por
sentença do Juízo das Justificações, para seu primo direito, Jorge Nogueira de Novais, filho de
Fernao Pires, irmão de sua mae e de D. Jnês Nogueira, da família dos Nogueiras de Santarém,
Principais do Reino. Jorge Nogueira de Novais era bastante idoso e pouco sobreviveu a Paulo
Dias. Sucedeu-lhe seu filho Rodrigo de Resende Nogueira de Novais, um dos revolucionários
de 1640, a quem D. Afonso VI confirmou a Capitania de Angola em 19 de Outubro de i 656
13
(Tõrre do Tombo, . .° das Portarias, fl, 279; Annaes Marítimos e Coloniaes, 4.* série, 1S44,
36
n.° 1, parte não oficial, pág. ), sem que contudo tomasse posse. Sucedeu-lhe o Capitão Gaspar
de Carvalho Resende de Nogueira de Novais, de quem nada consta sôbre a Casa de Paulo Dias,
e, depois, um filho, também Rodrigo de Resende Nogueira de Novais, que reclamou a capitania,
obtendo como recompensa o hábito de Cristo com 12# de tença, acrescentada mais tarde para
1
86# (Tôrre do Tombo, Chancelaria da Ordem de Cristo, . 73.°, fl. 256 e Chancelaria de
1
D. Afonso VI, . 48.®, fl. 45). A este sucedeu Gaspar de Carvalho de Resende Nogueira de No­
vais, que teve um filho, Rodrigo Nogueira de Perdigão de Resende e Novais, que de novo pediu
1
a capitania de Angola, não chegando a obtê-la (Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, . 21.°
dos Portes do Conselho Ultramarino, fl. i 53 v.°). Faleceu sem filhos, e a Casa de Paulo Dias
passou para sua sobrinha, a 2.* Marquesa de Soydos, casada com o Marquês de Soydos, em
cuja família se conserva.
v\>

* *

Sendo forçados, pelo exposto, a concluirmos que da donatária de


Angola não resultou vantagem alguma para a colonização, e, nem ao
menos, o interesse material do donatário, não podemos contudo afirmar
que não satisfizesse ao fim para que foi criada, de fornecer trabalhado­
res para o Brasil.
Dadas as circunstâncias em que estava sendo feita a colonização
da América, o papel de Angola não poderia ser outro diferente do do
Congo, — fornecer escravos; e, a nossa fixação como colonos, só se
conseguiria à medida que o desenvolvimento do próprio negócio do
escravo o pedisse, muito embora Angola, sob o ponto de vista, agrícola,
se apresentasse diferente do Congo e em condições climatéricas que
auxiliassem essa fixação. Êsse facto sabiam-no bem os que trabalha­
vam na nossa obra de colonização, e, porque o sabiam, trataram de
acenar com os lucros certos e mais fáceis, mais dentro do nosso feitio
guerreiro e de aventura, do negócio do escravo, provocando a guerra
e convencendo da impossibilidade do estabelecimento de relaçõesr pací­
ficas com o Ngola, como tínhamos estabelecido com os do Congo, para
forçarem ao único papel que no momento convinha que Angola re­
presentasse, o fornecimento de negros para trabalharem a terra da
América.
Muito embora Paulo Dias se tivesse obrigado a, no fim de seis
anos, ter estabelecidos em Angola, cem moradores com suas^mulheres
e filhos, que se dedicassem à agricultura com plantas e sementes de
S. Tomé e do reino, não o cumpriu e nem mesrfio, talvez, tivesse opor­
tunidade para o cumprir; mas o que êle fêz, porque isso lhe era neces­
sário para arranjar escravos, foi levar os quatro centos homens que
podessem pelejar para entrarem pela terra dentro, quando tôda essa terra
lhe estava aberta e franca havia quási um século; o que êle fêz, foi le­
var, com exclusão de quaisquer outros, os padres da Companhia de
Jesus (se não foram os jesuítas que o levaram a êle) que já dominavam
no Brasil e que precisavam, para ali firmarem o seu poder político e
económico, possuírem a fonte de sangue negro que deveria fertilizar a
terra, que era mesmo necessário que a fertilizasse, para se poder fazer
o que se fêz.
Não se tratou, pois, de fazer de Angola uma colónia como estáva-
Parte I I — Angola 167

mos fazendo no Brasil, ou como já tínhamos feito em S. Tomé, em quer


acima de tudo, prevalecia o poder real; tratou-se apenas de uma ocu­
pação militar, de que não havia necessidade, nem mesmo oportunidade-
de a impor, quando Paulo Dias chegou a Angola.
Os jesuítas, ao tomarem sôbre si o papel de prepararem todo o'
Mundo Novo para a civilização, inteligentes e cultos como eram, co­
nheciam tôda a história da organização social e administrativa dos
povos primitivos, em todos os detalhes da sua evolução, e, contrària-
mente ao nosso processo de impormos as nossas ordenações e a nossa
civilização, preferiram, porque isso melhor servia os seus fins, integra­
rem-se na vida indígena, começando por obterem a recomendação, ar­
mando-se, assim, em protectores ou amos, como lhes chamavam. Esta­
belecido êsse princípio rudimentar da autoridade, a simples título de
defesa dos fracos, a pouco e pouco iriam adquirindo o direito de só
êles dirigirem os indígenas nas diversas manifestações da vida, quer
políticas, quer económicas, e, conseqüentemente, o dever de estes se
lhes subordinarem, afastando-os ou fazendo-os esquecer os deveres de
súbditos de uma autoridade suprema, o Rei, para o caso representado
pelo Capitão-Mor ou Governador Geral, para a substituírem pela sua,
por êles, que tinham «grande fama de sere bós homés & amparo & pro-
« teyçam de brancos e pretos ...» (i).
Procederam assim no Brasil, exigindo, como complemento, as mais
severas leis de repressão da escravatura, para só êles, verdadeiramente,
a exercerem, com o pretexto de educarem os índios e trazê-los à civi­
lização; queriam dominar em Angola, mas aí, porque havia as melhores
relações entre os nossos e os indígenas, impedindo o seu domínio abso­
luto, ao contrário do que fizeram no Brasil, provocavam e incitavam à
guerra e à luta, para, conquistados, os indígenas lhes serem dados em
pagamento dos seus serviços e poderem depois dispor dêles em bene­
fício da sua obra no Brasil. Processos na aparência opostos conduzindo
aos mesmos resultados.
O desejo, a ânsia insofrida da conquista, na gente que acompanhava
Paulo Dias, o que, aliás, era da época, levavam a provocar os indígenas
à rebelião, com o fim de fazerem presas de guerra, que de contrário só
poderiam obter pelos processos normais da permuta. Incitados pelos
próprios jesuítas, e com êsse intuito, se lançaram numa louca penetra-:
cão por todo o interior, sem a organização de apoios, «por que em céto

(i) Relaçam annual... do P* Fernara Guerreiro.


168 Angola
« e setenta leguoas que os guovemadores tinhão ganhado, antre as quães
« não avia mais que hum só forte que he o de Masangano» (i) e contando
apenas com a ousadia e bravura dos \ambos, cuja d evastação os negros
com paravam à de uma manada de elefantes em correria desordenada
pela terra dentro.
A falta de apoios militares, de fortalezas, que permitissem e garan­
tissem esta temerária avançada pelo interior, só poderia ser suprida
entregando Paulo Dias à acção dos jesuítas os sobetas conquistados,
a cç ã o que, para ser eficaz, precisava de ser revestida dos mais largos
poderes de autoridade, que lhes desse um domínio absoluto. E, etn-
quanto na primeira linha de fogo, os Padres Baltazar Barreira e B al­
ta zar Afonso, ora um, ora outro, sob a invocação e poder da cruz que
alçavam , arrastavam capitães e tropas ao com bate dos infiéis, os outros
recebiam o papel de pacificadores, de amos dos vencidos e subjugados,
que, assim , encontravam na sua protecção a garantia de sossêgo, a cer­
teza de não serem mais atacados. Os sobas que se conform avam iam
viven d o em relativa paz, que, desaparecida a m aioria da sua gente, por
terem sido m andados para a América, os que ficaram, perdido o res­
peito p or verem enfraquecida a sua autoridade, se revoltavam , m atan­
do-os, ou fugindo, e os que não se conformavam, rebelavam -se, deser­
ta v am em massa e iam aumentar as tropas inimigas, continuando assim
as guerras que davam motivo a mais presos.
Com preende-se, por esta forma, o fim com que tinham auxiliado a
d o a çã o a Paulo Dias da donataria de Angola, e, agora, patenteadas
aos capitães e moradores as vantagens da conquista sobre a permuta,
continuasse a sucessão nos herdeiros de Paulo Dias, ou passasse A ngola
p a ra o regim e de govêrno geral, não podia, emquanto a Am érica pre­
cisasse de m ão-de-obra, deixar de ser aquilo a que era obrigada pela
sua situ ação geográfica e a sua densidade de população. Dado o con­
curso de circunstâncias económicas e políticas em que se estava fazendo
a colon ização da Am érica, a Com panhia tinha garantida a execução
dos seus planos de predomínio nessa colonização.
A ssim , a donataria de Angola, se não satisfez ao papel que D. Se­
b astião julgou ter-lhe destinado, satisfez àquele para que, realmente,
foi criada, e, foi devido a êsse facto, foi devido a nunca, então, se ter
pensado em fazer de Angola uma colónia de povoam ento, que não só
conseguim os fazer o Brasil, como os espanhóis, e todos os outros que

( i) Mss. de Abreu de Brito, cit.


V
Parte 11— Angola i69
atrás de nós e déles vieram, conseguiram fazer 0 resto da América que
lhes coube, ou de que se apossaram.
Angola, a Mãi preta!
*
* *

O falecimento de Paulo Dias deixou os Governadores do Reino, em


_ Lisboa, indecisos sôbre a sucessão, porquanto, dispondo mais ou menos
das cousas de Angola como se a donataria tivesse revertido para a
Coroa, o certo é que não havia sentença de qualquer tribunal compe­
tente que desse lugar a essa reversão, antes pelo contrário, o Juízo das
Justificações encabeçara a sucessão em Jorge Nogueira de Novais, que
só por ser já idoso e falecer pouco depois de Paulo Dias, não tomou
posse da capitania.
Emquanto no reino se assentava na resolução a totr»ar, Luís Serrão,
em Angola, preparava-se para executar o plano da conquista delineado
ainda por Paulo Dias durante o tempo em que viveu, depois da vitória
que alcançou em Setembro de 1 586 , no Lucala, contra os sobas coli­
gados. Mandou a Luanda Luís Mendes Raposo, um dos conquistadores
que tinha ido com Paulo Dias, com o fim de trazer tôda a gente que
pudesse servir como soldados, e conseguindo este 78 homens, pôs-se
em marcha para se juntar a Luís Serrão, que ficara no seu acampa­
mento (1), perto do Lucala e para além da actual Ambaca, com o Ca­
pitão-Mor André Ferreira e o Sargento-Mor Francisco de Sequeira,
com o seu exército preparado para a ofensiva, para 0 qual efeito tirou
de muitas fraquejas forças.
O ataque era agora dirigido contra 0 Matamba, o qual, avisado ou
percebendo os desígnios de Luís Serrão, resolveu tomar êle a ofensiva
antes que Luís Raposo chegasse com 0 reforço que fôra buscar a Luanda,
ligando-se para êsse efeito com gentio do Congo, da Ginga e com os Ja-
gas, e organizando um exército de cêrca de um milhão de negros.
Luís Serrão, entretanto, como Luís Raposo demorava, reüniu o
conselho dos seus e resolveu mandar marchar quinze mil frecheiros
pretos e cento e vinte oito homens brancos arcabuzeiros, entre os quais

(1) Luís Serrão deveria ter o seu acampamento muito perto da fronteira da Matamba,
senSo mesmo além e para admirar é a sua ousadia. Abreu de Brito diz-nos que ficava a 70 lé­
guas de Massangano. Ravenstein, num dos mapas que publicou, raarca-o como devendo ser
pròximamente no ponto que as nossas cartas actuais designam por Cango. Em qualquer dos
casos era uma louca temeridade um tal avanço entre gentio rebelde.
22

y y *'
yar -r

f t
170 Angola
iam três de cavalo, levando por seu capitão a Francisco de Sequeira,
pessoa que por seu esforço merecia. Iniciada a marcha desta fôrça,
teve Luís Serrão notícia da concentração do gentio, e tendo mandado
contra-ordem a Francisco de Sequeira, preparou-se para o combate,
que teve lugar a 28 de Dezembro de i 5go,— dia dos Inocentes, como
recorda Abreu de Brito, sofrendo grossas perdas que 0 obrigaram a
retirar.
Dizem os cronistas (1) que propositadamente e com o fim de evitar
a perseguição imediata do inimigo, Luís Serrão abandonou o arraial de
Angoleme-Aquitambo, deixando lá a fazenda trazida por vinte e quatro
naus que estavam no pôrto de Luanda, fazenda que acompanhava as
guerras, confiada pelos negociantes de Luanda aos conquistadores, a
maioria dêles seus empregados, ou como tais indo nas guerras, com o
fim de, quando se venciam as batalhas ou se tratava das pazes com o
inimigo, a trocSrem por escravos.
A pilhagem do arraial demorou três dias, dando assim tempo a que
Luís Serrão pudesse efectuar a retirada em ordem, embora em marchas
mais que forçadas, vindo na vanguarda João da Viloria com quarenta
arcabuzeiros, depois a guerra preta, e por fim a retaguarda, sob o co­
mando de Luís Serrão. Chegados a Aquimbolo, aí encontraram Luís
Raposo apenas com 12 dos 78 soldados que trazia de refôrço, parece
que por ter tido luta pelo caminho. Continuando a retirada, chegaram
a Mbamba Tungo, onde j á tínhamos tido um presídio e estava a duas
léguas de Massangano, sendo ponto de fácil abastecimento; porém,
como o poder dos inimigos fosse tamanho não deixava de haver perigo de
serem no tal forte cometidos, pelo que retiraram aipda para Massangano,
onde um mês depois faleceu Luís Serrão.
Foi bem desastrosa esta campanha de Luís Serrão, e os poucos dos
nossos que escaparam da morte, ficaram cativos (2). André Ferreira
Pereira, que por eleição lhe sucedeu, recebeu o pesado encargo de se
defender dos ataques de todo o gentio das cercanias e da liamba e
Ngulungo, chefiados por Muzi Zemba (Muge Asemba) (3), contra nós
revoltados. Ora acolhendo-se aos muros de Massangano, ora perse­
guindo-os até às suas libatas e raziando-os, André Ferreira soube

(1) Abreu de B rito e Catálogo.


5 25,
(2) Biblioteca da A juda, Cód. i -viu- fl. 79 e Luciano Cordeiro, Memórias. Da Mina ao
Cabo N eg ro.
3
( ) Ravenstein, op. cit.
Parte I I Angola

171

m a n te r, n o m e io d êste d e s c a la b ro , o p r e s tig io do nosso nome g-_


u m d e s a s tre m aioT , a té que o s G o v e r n a d o re s do Reino, e stu a ® ^
tu a ç ã o p e lo in q u é rito a q u e m a n d a ra m p r o c e d e r , enviaram p a r a ng
u m G o v e r n a d o r G e r a l , c u j a a c ç ã o d e v e r i a s e r o r ie n ta d a d e n tro e a se
diferen tes.

y^~.' ■ "*.....
O GOVÊRNO GERAL DE ANGOLA

Como já ficou referido, os Governadores em Lisboa ou em Madrid,


tendo satisfeito o pedido de Paulo Dias do refôrço de gente para a
guerra, que êie, naturalmente, justificou com a riqueza das minas que
ia conquistar, aproveitaram a oportunidade e mand^am para Angola
um provedor para as mesmas minas, cujas funções se estendiam a ou­
tros ramos da administração; mantendo, contudo, Paulo Dias como
donatário. Ao mesmo tempo arrendaram, por meio de contrato, os
direitos dos escravos exportados, direitos que passaram, assim, a serem
arrecadados para a Fazenda Real, o que não sucedia até então, porque,
como atrás se frisou, as disposições da carta de doação permitiam uma
interpretação de forma a Paulo Dias os poder arrecadar para si ou
para a Companhia de Jesus, que com êle, ou por intermédio dêle, ex­
plorava a donataria.
De posse do que se supunha serem as principais fontes de receita
de Angola, faltava contudo á Coroa Real ainda uma outra que não era
menos importante,— os impostos pagos pelos_s_obasjavassalados, com
o que os Governadores, certamente, não quiseram investir, por preve­
rem a oposição que se levantaria a qualquer medida nesse sentido.
Não era, talvez, só pela parte material ou monetária que a Coroa
desejaria liquidar êste assunto. O facto de não ter vassalos em Angola,
c os diversos sobas pertencerem a particulares, ou antes, na sua quási
totalidade, aos padres da Companhia de Jesus, que, na sua qualidade
dc am os ou protectores se substituíam à autoridade real, tinha um as­
pecto moral grave.
Os conquistadores que não estavam nas boas graças da Companhia
de Jesus, e, por isso, não tinham sido contemplados cora essas doações
de indígenas e o seu trabalho ou concurso nas guerras fôra retribuído
com os panos do Congo ou com os búzios, que não podiam fàciimente
174 Angola
converter em moeda, devem ter feito queixas, ferindo a tecla das usur­
pações à Coroa Real dos seus direitos sôbre todos os indígenas con­
quistados, que deveriam ser seus vassalos e não o eram. Devem ter
demonstrado que nada havia em Angola como domínio efectivo e real
da Coroa; que os indígenas, ou eram pertença da Companhia de Jesus
e dos seus amigos, ou estavam em completa rebelião; e que no fim de
tanta luta, nem o território estava conquistado, pois não-se podia
chamar conquista à avançada de Massangano, que só se mantinha pela
sua posição na confluência dos dois rios, — o Lucala e o Cuanza, e a
ligação pela via fluvial com Luanda.
Tendo, entretanto, falecido Paulo Dias, e terminado com êle a do-
nataria de Angola, seria oportuno o momento para uma intervenção
imediata e rápida, no sentido de firmar o prestígio da Coroa Real, se
os Governadore^do Reino estivessem seguros do valor das informações
colhidas nas diversas queixas que até êles subiram, queixas movidas
por interêsses feridos, mascarados com o amor da justiça e da ordem
na administração. Era preciso proceder com circunspecção, com muito
critério, porque a luta iria ser forte. <:Valeria Angola o que se dizia?
Tornava-se necessária a inspecção ou visita a Angola, feita por -J
pessoas estranhas à contenda, e os Governadores cometeram essa missão
ao Licenceado Domingos de Abreu e Brito, que para lá partiu em 1590, <
estando no Brasil, e retirando em i 5g i, entregou o seu relatório (1),
que é um dos mais interessantes documentos sôbre a história da nossa
administração colonial.
Começando por afirmar que o reino d e A n g o la é m uito g ra n d e e rico
e s ã o e a b a sta d o d e todo o m odo d e m antim entos, caça, p e ix e s e aves, em
g r a n d e q u a n tid a d e , p o r a terra ser fertilíssim a em g ra n d e abundancia e
m u ito p o v o a d a e ta n to q u e se afirm a ser a mais povoada do m undo. Que
tem m u ita s m in a s de p r a ta em quantidade e d e todos os m ais m e ta e s . . .
etc. (2), entra logo a expor a necessidade de se fazer a ocupação regular
e metódica, com bastante gente, mil homens e sessenta cavalos, cons­
truindo-se doze fortalezas: a de Luanda, que não estava ainda feita,;
outra nó Calumbo, nas margens do Cuanza, para o desembarque da
prata que viesse de Cambambe; outra em um pôr to no Cuanza para
garantia da navegação do rio; outra nas minas de sal, que era riqueza

( i) B ib lio te ca N acion al, Reservados, mss. 334, já cit. Sumário e descrição, etc., recente­
m en te ed itad o p e la Im prensa da Universidade de Coimbra.
(a) M ss. cit.
Parte I I — Angola tj5

de tanto valor como a prata; outra na Quiçama; em Cambambe; na


embala do soba de Angola; na liamba, e as restantes em pontos cuja
identificação se torna hoje difícil. O recrutamento da gente necessária
para a campanha, far-se-ia oferecendo aos portugueses que estavam
no Congo, que eram mais de cem, e aos de S. Tomé, e que viessem
com os seus escravos, algumas mercês e honras, como: hábitos, foros e
moradias, e, o resto, ir-se-ia buscar ao Brasil «quinhentos N a m alucos(i)
« culpados & om ifiados , por culpas graves, & livres , e outros de muito máo
« viver que as ju stiça s por seus R ois apontarão & não deixara de ser
« grande serviço de D s, desaprcsarem estas terras de tantos malfeitores, os
« quaes sofrerão bem os trabalhos da guerra, p o r serem curçados nella» e
não chegando, completar-se-ia o contingente indo buscá-los « a Lisboa
« ou entre douro e minho, ou pellas cadeas do Reino, & entre estes ha algüs
«soldados espanhóis., por quanto pella experiencia que tem da milicia,
«pella qual re\ão são m ui bem R .d0‘ em o Reino, & v*m a ser capitães
«como he hum João de Villoria (2) que tem fe ito muitos serviços».
Calculava a despesa, incluindo presentes para sobas, em cerca de
75.000 cruzados, despesa compensada com os escravos que se fariam
na guerra, além de outros rendimentos que depois da ocupação viriam,
como: os da prata das minas de Cambambe, « que em vantagem são
« mais que as do P eru . . . que V. M s.ie deve ter sabido pelas larguas amos-
atras que delia lhe trouxerão »; de outros metais de fundição *por quanto
«vi em santo Antomo que esta na villa de Loanda meo sino pequeno que
« 0 som e tenido delle se ju lg a ser mais de ouro e prata que m etal »; os do
sal que «as serras são grandes em cantidade a onde se corta & cava o
« sa l; 0 qual he em tanta cantidade que toda a thiopia & parte da Pérsia
« se sustenta & com e lle fa \ seus resgates necessários a sua sustentação . .. »; '
« as alagoas & serras de Breu que estão entre Conguo sogeitos ao Reyno
« D anguolla 0 qual se afirma ser de mais proveito que 0 que vem de partes
« estrangeiras, & deste Alvitre resultão dous effeitos acreçentar em os betis
« da coroa & evitar os tratos que os Reinos estrangeiros tem que só vedando-se
« este B reu que não vá ao Reino danguolla nem a nenhúa parte das capi-
« tanias do estado do Brasil mais que este Breu quesahir destas A la g u o a s ...»
e a vantagem de se facilitarem as ligações com o Monomotapa, onde

(1) Filhos de europeu e mulher indígena.


(a) João da Vilória, diz-nos Ravenstein, que foi o comandante da vanguarda na retirada de
Luís Serrao, de Anguoleme Aquitambo sôbre Massangano. Como se ve era espanhol e tinha
vindo das cadeias do reino para Angola, onde não só foi utn dos valentes capitães, mas mais
tarde um dos moradores mais importantes de Luanda.
%

17 Ó Angola
h a v ia as serras de ouro, e com Moçambique, de forma a «por esta via &
■ahordem poder V. M s dt ter todos os avisos da ín d ia que neçessario f o r }
«pera o que f a le y & tratey com as mais antiguas pessoas do Reino, & assi
««com algQs escravos soasos que são como salteadores de Portugal & pella
« cota de suas jorn a d a s di{em como se sabe çerto que da villa de Loanda,
« ao R io lucala que he aonde se perdeo esta derradeira batalha serem cento
« & çinco leg uoa s , & dahi as serras de ouro de manopota são somente cem
« leguoas, & de Manopota a Mosambique são du\entas que vem a ser tre-
« sentas as quães ha negros soasos que vivem de caminhar que sem carga
« andão a vinte leguoas cada dia que fica sendo na jornada quinze d i a s . ..
« & por esta via em todos os tres meses de cada hum anno com tão pouco
« custo poderá V. M s.de saber e pussuir 0 de q. trato que não parece ser tam
«p ouco proveitoso ». Não esquecendo de referir que « São as terras destes
« R eynos tão fo rtife ra s em cantidade que produ\em de si mesmo canas da-
« çucar que dão Aperanças que as darão com menos trabalho sendo culti-
« vadas & desta maneira poderá aver esperanças que seja outro segundo
« B ra sil porque na terra a aguaas e lenha em abastança, & quanto aos
« escravos sobejão pera as minas & pera os engenhos, & pera as fundições
& pera a g u e r r a . . . » conjunto de indicações que constituíam,um vasto
plano de colonização.
Term ina Abreu de Brito por lembrar que « devia de aver por bem
v que todos os serviços que neste Reino D anguolla fossem feito s gratifi-
« callos como se fossem feito s em Á frica (refere-se ao norte da África) per
« quanto os homês não andão menos arriscados por os que captivão em
« Á frica tem esperanças de em algum tempo serem resgatados com fa \ .da
« de V. M s.de ou com bens que os cavaleiros posuem, e çerto que com R e-
« \ão são estes conquistadores (os que batalhavam em Angola) nas guerras
v dignos de mais louvor que os mesmos malteses por que nelles ha espe-
« rança de resgates, e os tães conquistadores sabem çerto que quando lhes
« as victorias não ventão conforme a seus esforços pretendem acabar as
« vidas vendendoas cada hum per si como verdadeiros portugueses por que
« se os inim igos os captivão vivos não tem esperanças de Resguates & os
« com é comidos em panellas as quães tra\em a guerra e lhas amostrão di-
« fedo estas são as panellas em que vos avemos de comer co fid o s . . . » pelo
que eram dignos de toda a atenção e cuidado, visto em defesa dos
bens da Coroa, passarem fomes e misérias, por não lhes pagarem os
seus soldos, classificando-os de verdadeiros Romanos; e, comparando
a vida dos moradores de Luanda, que tratavam do negócio, com a dos
conquistadores, que andavam na guerra, lembra que, ao passo que
Parte I I — Angola l 77
aqueles enriqueciam, os conquistadores empobreciam, e ainda por cima
os moradores « como poderosos & moradores no porto & escalla de todas
« as naos e navios onde se desembarca os mantimentos & f a {.*“ da qual
« escolhem e tomão o melhor pera si, e do somenos e podre & mal tratado
a envião arriba a conquista e dobrão duas veies o dinheiro . . . » verdades
estas que parecem escritas para época que não vai muito longe.

«
• #

Mas nem só a ocupação do território mereceu o estudo do inqui­


ridor, e outras medidas sôbre a arrecadação dos rendimentos e sua
maior valia, foram por êle propostas.
Assim, lembrava o monopólio do zimbo, que o Rei do Congo pes­
cava na ilha de Luanda, e lhe rendia 6o contos, podendo passar a
render 400.000 cruzados para a Coroa.
Era talvez uma sugestão do velho ódio dos jesuítas ao Congo, mas
não deixava de ser para ponderar a proposta, porque, dizia, estando a
ilha de Luanda no reino de Angola e tendo nós tomado posse deste,
nada justificava que a consentíssemos na posse do Rei do Congo, fora
dos limites do seu reino, e, quando êle não só tinha faltado a todos os
tratados estabelecidos com os nossos, como auxiliava os nossos inimigos
nas guerras em que nos víamos envolvidos.
O Rei do Congo tinha na ilha de Luanda para a exploração do
zimbo, uma espécie de conselho administrativo composto por três dos
seus fidalgos, tendo por escrivão um preto, Fernão Duarte, homem de
entendimento e que fugira do Pôrto para o Congo, talvez tendo vindo
para Portugal como escravo e cá sido educado. A pesca do zimbo
fazia-se apenas em quatro léguas do norte da ilha em seis ou sete braças
de fundo, mas podería fazer-se em muito maior escala, constituindo um
monopólio da Coroa, como eram as drogas da índia, com o que não
só se obteria rendimento importante, mas ainda se conseguiria acabar
com a situação privilegiada adquirida por alguns moradores de Luanda,
que à custa de peitas e dádivas, e, por intermédio das escravas da ilha»
com quem sê amancebavam, tinham enriquecido, estabelecendo o ne­
gócio de venda de mantimentos e fazendas em troca de zimbos (1) e

(1) O sr. Forjaz de Serpa Pimentel, em um artigo Um anno no Congo, publicado no n.°6a
de Fevereiro de 1899 da revista Portugal em África, transcreve do tnss. existente na Biblioteca
178 A n gola

acabar, também, com a situação no Congo de uma centena de portu­


gueses que, desde que o Rei do Congo não tivesse mais zimbo, tinham
de procurar outro modo de vida, vindo para Angola. Uns e outros,
acudiriam às guerras «que he 0 pera que deste Reyno (Portugal) forão e
«tornarão a husar dos resgates dos escravos, por que ainda que seja com
« mais trabalho comerão 0 seu pão com suor do seu rosto ».
Sôbre a escravatura diz que é um dos maiores negócios «0 qual não
« cançaria até fim do mundo pella terra ser muito povoada. . . e como este
« reino de Anguolla fosse tão grande cousa, pertendeose de se não mostrar
« a vossa fa \ ? a a grandeza de seus rendimentos ».
Havia quatro anos que os direitos dos escravos estavam arrenda­
dos, e, durante êles, tinham sido registados nos livros os despachos de
20.1 3 1 peças, consideradas como tendo ido tôdas para o Brasil, pelo
que figuraram como pagando 3 #ooo réis cada uma, o que dava o ren­
dimento de 6 o.$g3 v>ooo réis durante os quatro anos. Descontando a
renda, que era de 11 contos por ano, ficavam para os contratadores de
lucros nos quatro anos i 6 . 3 g 3 $ooo (1).
Os contratadores não queriam que se conhecesse a verdade sôbre o
valor dos direitos dos escravos, para os poderem arrematar pelo menor
preço, e, assim, combinando-se com os oficiais de fazenda, com quem
mantinham as melhores relações, a ponto de estes lhes confiarem o ferro
de marcação dos escravos, marcavam quantos queriam e em cada navio
se escondia um têrço dos que iam.
Além disto, não iam todos para o Brasil, para onde pagavam 3 $ooo
réis, mas muitos para as índias de Castela-Antilhas, para onde deviam
pagar 6$ooo réis, o que nunca se declarava. Os contratos não se fa­

da Sociedade de Geografia de Lisboa — Historia de Angola por Elias Alexandre da Silva C or­
5 3
rêa— 1872 — N.o iç — Res. Prai.° A. N.o z — a informação de que: i bondo valia io lifucos,
5 5
100 fundas, 100.000 zimbos, #>ooo réis; i lifuco, 10 fundas, 10.000 zimbos, oo réis; i funda,
5 25 20 5
1.000 zimbos, o réis A funda subdividia-se ainda em equivalente a , , 12 e réis. Abreu
3
de Brito no mss. a que nos estamos referindo diz que dois lifucos valiam oo réis e que um
covo «he cantidade como quando se d ij 10.000 crujados». Pelo auxílio prestado pela expedição
de Francisco Gouveia ao Rei do Congo, obrigou-se êste a dar ao Rei de Portugal o quinto do
zimbo pescado na ilha de Luanda. Não consta que qualquer governador tivesse procedido à
arrecadação deste rendimento, quando se sabe que todos se queixavam das hostilidades do Rei
5
do Congo. Diz António Diniz numa memória coligida no cód. t-viit-aS da Biblioteca da Ajuda
e publicada por L. Cord. nas Memórias do Ultramar; «e se se começou a cobrar não achei re-
«ceita que se fizesse de tal recebimento». Talvez fôsse assim; o que sucedeu f o i . . . perder-se a
receita do recebimento. Era dos tempos.
(1) João Lúcio de Azevedo, ob. cit.} pág. 487. Valor aproximado da moeda de diferentes
épocas em escudos de 1928. Por essa tabela aquele lucro corresponde a esc. 3.885.141^00 de
hoje.
Parte I I — Angola 179
ziam na Casa dos Contos em Lisboa, mas no Brasil, onde o contratador
tinha os seus procuradores e onde havia alfândega, que Luanda ainda
não tinha. O procurador, ou feitor do contratador no Brasil, avença­
va-se para o pagamento dos direitos, de forma que quando o navio,
vindo de Angola, chegava ao Recife, como já o carregamento não rendia
mais dinheiro por direitos, visto a avença, não o vistoriavam, e o feitor
em Luanda, tendo carregado quanto podia, cobrando dos carregadores
os direitos devidos, só manifestava o que queria, não dando a conhecer
o valor do seu negócio. Assim, pode-se calcular o lucro dos contrata­
dores em mais 5 o %■
Era preciso remediar estes inconvenientes com uma fiscalização
mais eficaz, propondo nomear-se um procurador para fiscalizar os em­
barques na ilha, e outro para andar nas guerras e arrecadar o quinto
das presas, de que ninguém dava contas.
Lembrava Abreu de Brito arrendar-se em separado o trato dos es­
cravos de Angola, do de Benguela, bem como o do marfim, que era em
muita quantidade, e terminava aconselhando, quanto ao reino de Ben­
guela cujo resgate « era tão grandioso e havia dêle tão grandes esperanças,
« que se di{ia seria igual ao de Angola » conviria que se feitorizasse por
dois ou três anos, para se calcular por quanto se devia arrendar, e ainda
q u e: « vossa magestade pode mandar hum dos Eluslres de P ortug al por
« viso R ey, por que desta maneira provendo V. Ms.de outro sr. guovernador
«para o Reyno de Conguo & outro visorrey pera os Reynos D anguolla,
« com esta fa çellida de se posuira Conguo, Anguola , Bengella , as minas
«d e Manapota, abrir sse o caminho de Mosambique . .. ».

*
* *

Concretizando, as propostas de Abreu de Brito respeitantes a An­


gola, consistiam:
a) Na proibição do avanço das conquistas, sem os elementos ne­
cessários para manter as anteriores e assegurar as novas;
b) Na conquista do reino de Angola com um bem organizado con­
tingente de tropas, de mil soldados de infantaria e sessenta de cavalaria,
devidamente municiados e armados, e de forma a poder-se terminar a
guerra em três ou quatro meses;
c) Na construção de doze fortalezas, devidamente artilhadas e guar-
18 o Angola
necidas, para assegurarem a posse do território conquistado e a submis­
são dos indígenas;
d) Na determinação de se considerarem como prestados em África (i)
e como tais gratificados, os serviços prestados em Angola;
e) Na abertura de um crédito de 70:000 cruzados para as despesas
resultantes desta ocupação, o que correspondia a cêrca de 6 :6 3 6 .ooo$oo
escudos (2);
f ) No monopólio do breu de Angola, proibindo a entrada no Brasil
de outro de qualquer procedência, e no monopólio do sal da Adenda,
por ser a moeda preferida para os resgates;
g) Na remodelação do serviço de fiscalização e cobrança dos di­
reitos sôbre os escravos exportados e de arrecadação do quinto das
presas de guerra;
h) Na liberdade de exploração de minas, obrigando-se os explora­
dores ao pagamento do quinto para a Coroa;
0 Na expulsão da gente do Congo da ilha de Luanda e exploração
do negócio do zimbo por conta da Coroa;
j ) Na nomeação de um Governador para o Congo e no estabeleci­
mento da Inquisição, por haver nestas terras casos mui enormes de
desserviços de D eus;
k) No envio de padres da Companhia de Jesus às províncias do
Congo, para que nela façam 0 fru to que tem feito no reino de Angola,
pois que se afirma sei' devido a êles sustentar-se 0 dito reino nos dezassete
anos que esteve sem ser socorrido com o socorro que convinha e fora m os
ditos padres parte de se conquistarem com a doutrina o que faltava nas
armas, por onde fa rã o muitos fru to s por o gentio ter muita f é em suas vir­
tudes e doutrinas;
f) Na feitorização, durante dois ou três anos, dos impostos e rend
mentos de Benguela, em separado dos de Luanda, para se poder cal­
cular o justo valor por que deveriam ser postos em arrematação;
m) No envio de Portugal de três bergantins, a modo de galeotas,
acertados no reino para se armarem em Angola, destinados ao resgate
em Benguela;
n) Na nomeação de um Governador para Benguela;
o) No povoamento dos portos do Jalofo até ao Pinda, para evitar
o estabelecimento de corsários;

(1) Considerava-se como África apenas a região de Marrocos,


(a) Valor em 1928. J. Lúcio de Azevedo, ob. cit.
P a rte 11— Angola 18 1

p) No estabelecimento da ligação de Angola com Moçambique,


pelas minas de Monomotapa, com o que se facilitariam as comunica­
ções com a índia, e finalmente
q) Na nomeação de um Vice-Rei ou Governador para Angola, no~
meação que deveria recair em algum dos ilustres de Portugal.
O conjunto destas propostas constituía um plano completo de go­
verno, que até então se pode dizer não tinha havido em Angola, e era
necessário estabelecer.
A sua execução pedia uma despesa considerável a efectuar pela
Coroa, despesa que Abreu de Brito afirmava seria largamente coberta
com os rendimentos que deixara indicados.
Como se pode ver dos capítulos dos regimentos posteriormente
dados aos Governadores Gerais de Angola, não passou desapercebido
aos Governadores do Reino, que, de entre êsses rendimentos, esquecera
a Abreu de Brito mencionar o imposto a cobrar dos sqfcas avassalados.
Compreende-se que o não fizesse. Não quereria, talvez, referir-se ao
passado e muito menos atacar os jesuítas cuja acção claramente louva,
mas ainda assim, incontestàvelmente probo no desempenho da missão
que lhe confiaram, lembrou a necessidade da fiscalização no apuro dos
quintos dos presos de guerra e outras medidas respeitantes ao embarque
de negros, que, sem dúvida alguma, iam afectar os interesses da Com­
panhia de Jesus, a quem competia a parte na distribuição das presas e
exportava o maior número de negros, e que também não deixaria de
estar entendida com os arrematantes do contrato, que, com certeza,
não arrecadavam só para si a parte em que desfalcavam os rendimentos
da Coroa.
Ponderadas e estudadas as propostas de Abreu de Brito e comple­
tadas com as informações colhidas de diversos, a Côrte devia ter assen­
tado em um plano de exploração de Angola, estabelecendo, talvez, como
que uma sociedade com o Governador a nomear, com o fim de travar
a acção absorvente da Companhia de Jesus, principalmente na parte
dos seus direitos sôbre os povos avassalados.
Escolheu-se para Governador um dos mais ricos fidalgos de Portu­
gal, D. Francisco de Almeida (i), que, bem se compreende, não poderia
ir para Angola pela necessidade de ganhar os oitocentos mil réis do

(i) D. Francisco de Almeida foi nomeado por carta régia de 9 de Janeiro de 1392. Tôrre
do T om bo, Chancelaria dos Felipes, 1. 23.°, fis. i 38 v.°. Chegou a Luanda a 24 de Junho de
,592. ^Ravenstein).
1 82 Angola
ordenado de Governador e, outro m otivo o levaria a aceitar, e talvez
pedir, ésse cargo. Náo se conhecem as instruções que lhe deram. Ape­
nas se sabe, por referências dos cronistas, que Felipe II, de acôrdo com
as indicações de Domingos de Abreu de Brito, mandou equiparar os
serviços de Angola com os da África e índia (1) e «p reg oa r em i 5 q 3
um a provisão que a toda a pessoa que 0 fo s s e servir em A n g o la lhe fa r ia
honra e m e r c ê s », e que D. Francisco de Almeida, além de 400 infantes
e 5 o cavaleiros (2), levou um mineiro, um fundidor, um serralheiro, um
ferreiro e ura mestre de fazer carros e reparos de artilharia (3 ), o que
não deixa dúvidas sôbre a ordem que deve ter recebido, ou o contrato
que deve ter feito, para a conquista das minas.
ri Seria a despesa de sua conta ou de conta da Coroa ? O facto de
a nom eação recair em pessoa que dispunha de avultada fortuna e a
m aneira com o mais tarde se procedeu com a nomeação de outra para
idêntico cargo, autorizam a deduzir que a despesa seria de conta de
D. Francisco de Alm eida, muito embora Felipe II o auxiliasse no anga-
riamento da gente necessária para a conquista e lhe concedesse uma
parte, talvez a maior, para o compensar dos riscos da empresa.
A execução de um plano de administração, embora sob a forma de
sociedade para a exploração de Angola, entre o Governador e a Coroa,
com exclusão dos que lá estavam, depois da política de Paulo Dias e
dos interesses criados à sua sombra, que os cinco anos que se seguiram,
sem governo e sem lei, transformaram em direitos, não podia ser bem
recebida, e, forçosamente, encontraria a maior resistência da parte da­
queles que consideravam e de facto tinham Angola como sua fazenda.
P ara se chegar a Cambambe era necessário bater os indígenas, e
êsses, tinham donos ou amos, tinham sido sesm ados, com o vimos, e cons­
tituíam uma exploração rendosa. Os principais amos eram os jesuítas (4),

(1) E sta referência encontra-se no Catálogo dos Governadores e em uma carta de Baltazar
Rebelo de A ragão, de i 63i , publicada por Luciano Cordeiro, Terras e Minas Africanas, pelo
que parece ser verdadeira, mas só em 20 de Agôsto de 1600 é que aparece um alvará dando a
equiparação dos serviços. Possivelmente este alvará serviu para o Governador João Rodrigues
Coutinho arranjar gente para Angola. A equiparação dos serviços prestados não era uma dis­
posição permanente da lei, mas um favor que o Rei concedia em determinados casos.
(2) Catálogo dos Governadores de Angola.
3 5 25
( ) Biblioteca da A juda, Cód. i-vin- , fl. t i ; Luciano Cordeiro, Escravos e Minas de
Á frica, VII, 1619.
(4) O s padres da Com panhia de Jesus que estavam em Angola, não querendo receber re­
m uneração pelos seus serviços, tinham, por provisões de 1 583 e 1387, direito ao seu sustento,
mas pago em S. Tom é, por não haver em Angola rendimentos da Fazenda Real. P o r um alvará
de 1592, visto então já haver em A ngola rendimento do contrato, passaram os dezasseis padres
que lá estavam a receberem pela fôlha do contratador. Anexos, doc. n.° 23 .
P a rle I I — Angola 1 83
a quem D. Francisco de Almeida, pelas instruções recebidas, não podia
reconhecer êsse título, ou antes, posse, pelo que êles, vendo-se prejudi­
cados nos seus interesses e supostos direitos, que â primeira vista não
deixavam de parecer legítimos, por representarem a recompensa obtida
por serviços prestados, embora escondendo os manejos para a organi­
zação de uma teocracia em que se substituíam ao poder real, insurgi­
ram-se e iniciaram a luta contra D. Francisco de Almeida, que, dizem,
teve de ceder ou contemporizar, para poder dar comêço de execução
ao seu plano de conquista.
Só assim, depois de graves e irritantes contendas, conseguiu marchar
para o interior com o seu exército, cujo efectivo, como vimos, era menos
de metade do que Abreu de Brito julgava como indispensável para se
efectuar ràpidamente, mas com ordem, a conquista de Angola, base de
qualquer plano de administração que se quisesse executar.
A marcha iniciou-se estando já adiantada a estaçáo própria, e os
soldados, após as primeiras chuvas, começaram a ser dizimados pelas
febres e por tal forma, que obrigaram D. Francisco de Almeida a retirar
com urgência para Luanda, onde de novo se desencadearam, e com
mais violência, as questões com os jesuítas, vendo-se D. Francisco de
Almeida forçado a fugir para o Brasil, abandonando o govêrno.
Já vimos que D. Francisco de Almeida se tinha feito acompanhar
de mineiros, fundidores, etc., e êste facto, ligado ao de trazer um con­
tingente de tropas inferior ao necessário para uma ocupação regular,
claramente denuncia, à falta de documentos que o esclareçam, que o
plano concertado pelos Governadores em Madrid e em Lisboa, tinha
principalmente em vista arrancar de Angola o máximo de receitas e
proventos, relegando para segundo plano os problemas de administração
da colónia.
O contingente levado por D. Francisco, se tivesse iniciado a marcha
para o interior em Julho, poucos dias depois de ter desembarcado, po­
deria, começando por bater a Quissama, ocupar as minas de sal de
Adenda, e, reforçando-se com a guarnição de Massangano, atacar Cam-
bambe e apossar-se das supostas minas de prata.
Era isso o que interessava e para o que chegavam as tropas vindas.
Que mais havia em Angola? O rei de Angola? Estava lá muito para
o interior e as riquezas que possuía eram os escravos, que os nossos
pombeiros lá iam resgatar sem maiores dificuldades. Não interes­
sava sob qualquer outro aspecto que se encarasse. Visto que Abreu
de Brito tinha escrito que as minas de prata em vantagem são mais
184 Angola
qu e as do Peru, êsse é que era 0 ponto principal da exploração em An­
gola.
N ão se tratava de montar uma administração mas uma pilhagem,
em que Felipe II de Espanha admitia sócios, com a condição de acei­
tarem a distribuição feita por êle ou seus delegados, e não como a
Com panhia de Jesus estava fazendo, não só arrecadando para si tôdas
as receitas, mas ainda substituindo-se ao poder real e negando a êste
o direito de intervenção em Angola.

*
* *

D. Jerónimo de Almeida, sucedendo ao irmão no governo de An­


gola, compondo-se e condescendendo com os jesuítas, prossegue na con­
quista, e chamaffdo a conselho os capitães e conquistadores velhos, ex­
pôs-lhes a situação pedindo o seu parecer,-no que êles concordaram
visto E l- R e i desejar tanto a conquista das minas de prata de Cambambe,
essa fo s s e a empresa.
Obtido o acordo, seguiu para o Cuanza para castigar primeiro al­
guns sobas rebeldes e apoderar-se das minas de sal, onde construiu
uma fortaleza. Dispunha-se ainda, antes de ir sôbre Cambambe, a
atacar o Cafuxe Cambáre, célebre jaga que tanto trabalho nos deu,
quando adoeceu gravemente, sendo obrigado a retirar para Luanda,
deixando instruções para o prosseguimento da conquista, que Baltazar
de Almeida, assumindo o comando das tropas, conduziu de forma a
cair num ardil que lhe armou o soba Cafuxe, resultando a perda do seu
exército, deixando mortos 206 brancos, além de muitos indígenas.
Não nos indicam os cronistas as intenções de Furtado de Mendonça,
que se lhe seguiu no govêrno, mas vemos que, abandonando a Quissama
e Cafuxe, se dirige com as suas tropas para Icolo e Bengo, talvez na in­
tenção de ir atacar os fidalgos fronteiros do Congo, que também jagas
seriam. Acam pando na época das chuvas, uma epidemia levou-lhe
mais de duzentos dos seus soldados, e êle próprio, bastante doente,
teve de retirar para Luanda. Restabelecido, marchou de novo pelo
Bengo para o interior, cujos sobas castigou com severidade (1), mas

(1) Pela narração feita por Battell (Ravenstein, op. cii.), parece que esta segunda marc
sôbre o Bengo se deve ter realizado em 1597, sendo comandada por João da Vilória, que com­
bateu mais de dois anos na região de Engazi, actualmente Dembos.
Parte I I — Angola 1 85
entretanto os do sul atacaram Massangano, que, sempre heróica, soube
resistir, até que o valente Baltazar Rebêlo de Aragão, o Bangalambata,
como lhe chamava o gentio, foi mandado em seu auxílio e derrotou os
atacantes, perseguindo-os até à Quissama, onde foi fundar à sua custa
um outro presídio, em lugar do que D. Jerónimo de Almeida deixara na
Adenda, que melhor garantisse a posse das minas de sal.
Mais nos não dizem os cronistas da época sôbre a acção de João
Furtado de Mendonça, e, contudo, parece fora de dúvida que por i6oi
ou 1602, êle foi em viagem de negócio pela costa para o sul, chegando
a Benguela, onde fundeou as suas embarcações, e, desembarcando, fêz
construir um fortim de madeira para se defender, com cinqüenta homens
que levava, de qualquer possível ataque dos naturais. Entrando em
negociações com êles, ràpidamente adquiriu grande quantidade de vacas
e esplêndidos carneiros, milho e madeira de Cacongo, com que fêz car­
regar uma embarcação, e em poucos dias mais tinha qi#inhentas cabeças
de gado, muito cobre e marfim, com que carregou mais três embarca­
ções que levava, e regressou então a Luanda (1).

*
* *

Da política de suborno empregada para tornar possível o domínio


da Espanha, chegára-se à corrupção e desmoralização de todos e de
tudo, e os negócios do Estado, pelo que diziam respeito às nossas con­
quistas e à política externa, eram dirigidos conforme as necessidades e
conveniências de Espanha, sacrificando-se os interesses de Portugal.
Felipe II deixara o reino empenhado e o Duque de Lerma, primeiro
ministro de Felipe III, tentou melhorar as arruinadas finanças espanho­
las. Um dos rendimentos a explorar eram os assentos e as licenças para
o fornecimento de escravos, que a Espanha, sem colónia alguma a não
ser no norte da África, não tinha aonde os ir buscar na quantidade que
precisava e se via na necessidade de contratar, concedendo determina­
das vantagens a trôco de uma renda certa ou cobrando uma licença.
Por muitos anos e por motivos de diversa ordem andaram os as­
sentos e licenças nas mãos de alemães, flamengos e genoveses, fazen­
do-se o angariamento de escravos, brancos, mouros, judeus e sobretudo

(1) Ravenstein, op. cit. Por ser interessante, sobretudo sôbre alguns costumes do gentio
de Benguela, transcreve-se êste capítulo de Ravenstein. Anexos, doc. n.° 24.
*4

■ 4^.
t
1 86 Angola
negros, de princípio, nas ilhas do Mediterrâneo, principalmente na Sar­
denha e ao sul de Espanha, na Andalusia, onde eram numerosos. De­
pois, á medida que as colónias espanholas se desenvolveram, passaram
os possuidores de licenças a irem adquiri-los a Cabo Verde e por fim o
Duque de Lerma pensou e bem, que melhor seria fazer o contrato com
um português, visto as nossas conquistas da Baixa Etiópia serem ma­
nancial inexgotável.
João Rodrigues Coutinho, fidalgo português da melhor linhagem (i),
obteve em 1600 que o contrato dos assentos passasse para êle, obri­
gando-se a fornecer anualmente às colónias espanholas 4.250 escravos
e dando à Coroa de Espanha 162.000 ducados (2).
Das conquistas portuguesas, a que melhor podia satisfazer este im­
portante fornecimento era a de Angola, e, para essa, mandavam-se go­
vernadores e capitães aquele reino com intento de conquistar as minas de
prata de Cambajtibe — dando juntamente os resgates dos escravos muito
fructo, com o que aquelle governo fo i tido em mais estimação (3), e, assim ,
João Coutinho deve ter calculado, que tendo colocação garantida para
os escravos que comprasse, maiores lucros obteria se os pudesse res­
gatar directamente, dirigindo êle as guerras. De dedução em dedução,
deve ter terminado por concluir, que tendo de andar pelo interior em
guerras para fazer escravos, também podia chegar às minas de Cam-
bambe, e, terminando por propor o contrato da conquista das minas de
prata, regularizando ou encobrindo tudo com o cargo de Governador,
proposta que foi aceite, por parecer que a dita conquista das minas se
poderia fa\er com menos despesa por via de contrato (4).

(1) João Rodrigues Coutinho,,irmão de Frei Luís de Sousa (D. Manuel de Sousa Coutinho),
era filho de Lopo de Sousa Coutinho, fidalgo cultor das letras e das ciências físicas e matemá­
ticas e de tanta consideração que nA presença e gravidade da pessoa era talt que o rei se com-
punha quando falava com êle». Lopo Coutinho era bisneto do 2.0 Conde de Marialva, e, como
58
se sabe, em i r, entre os fidalgos que Felipe II mandou perseguir e prender por desafectos à
usurpação espanhola, figuram os filhos do Conde de Marialva. A concessão de mercês por Fe­
lipe 11 a João Coutinho, quando o seu ódio pelos inimigos foi a ponto de enclausurar senhoras
fidalgas da família Vimíoso, Meneses, Marialva, etc., dá lugar a poder admitir-se, dada a cor­
rupção de costumes da época, que a concessão do contrato tivesse em vista a paga ou compra
da sua adesão.
856
(2) C o le c ç ã o d e tratados de B o r g e s d e C astro , i , tômo II, págs. 44/45 e G. Scelle, L a
63
tr a iie n é g r iè r e a u x In d es d e C a s tille . Por morte de João Coutinho passou o contrato, em i o ,
para o irmão Gonçalo Vaz Coutinho, que em i 6 i 3 também chegou a ser nomeado Governador
de Angola, sendo ainda assentista, mas não tomou posse.
3
( ) Biblioteca da Ajuda, Cód. 5 i -vui- 25, fls. 119. Luciano Cordeiro, Memórias. Relação da
Costa da Guiné. Luciano Cordeiro indica para esta Relação a data de 1607, mas deve ser entre
1604-1606.
{4) A carta régia que nomeia Coutinho é igual à de todos os outros, sem menção de po-
Parie U — Angola 18 7

Mas não se contentou com isto e mais pediu, dando-lhe Felipe 111
de Espanha maiores prorogativas que nenhum dos seus antecessores teve,
pois levou a faculdade de distribuir mercês de hábitos de Cristo e no­
mear moços da Real Câmara, além de se ter renovado a provisão equi­
parando os serviços de Angola aos do norte da África e da índia tudo
para promover a conquista das minas de prata de Cambambe, para cujo
efeito levou um grande socorro de munições e de gente (1).
Para completa elucidação dêste negócio convém frisar que um dos
mais importantes lucros dos assentos e com que se fazia face à renda a
pagar à Coroa de Espanha, era o proveniente do contrabando feito
pelos navios do assentista, contrabando não só realizado nas Antilhas,
mas desde Espanha até lá, com escala pela Mina, Angola e Brasil e
ainda com ligações com as naus da índia arribadas a Luanda para su­
postas reparações, pagas, à falta de dinheiro moeda, vendendo a fazenda
que transportavam. Pode-se, assim, fazer uma idea n^is perfeita desta
complicada engrenagem administrativa comercial; do pessoal que metia;
dos creados que o Governador teria de levar; dos lugares que tinha de
arranjar para os empregar... e da moralidade da época.
Era um Governador nestas condições, tendo por assim dizer o mo­
nopólio de todos os negócios, e, por isso mesmo, dependendo de tôda
a gente, que convinha aos que exploravam Angola, e, de entre todos,
aos jesuítas, que o apreciavam, dizendo que era fidalgo tão bem acondi­
cionado & magnifico & de tanta prudência em saber levar aquela gente,
porque nao se podia opor à sua acçao sôbre os indígenas e desmedida
ambição do mando, antes pelo contrário as aproveitava porque lhe fa­
cilitavam o cumprimento do seu contrato. E hoje, que se conhecem
claramente as intenções de João Coutinho ao ir como Governador para
Angola, melhor se pode avaliar o fundamento das lamentações dos je­
suítas nas suas crónicas, sôbre as medidas tendentes a estorvar ou im­
pedir a sua acção sôbre os indígenas e o fim por que as contrariavam,
ao passo que louvavam João Coutinho, que sem ter feito mais do que
desembarcar e pôr-se em marcha para 0 interior, como todos os outros*1

deres extraordinários, nem referências ao contrato, que nSo foi possível encontrar mas que,
sem dúvida* existiu, porque G. Scelle o indica. André Battel, quando descreve as suas aventuras
no tempo do Governador João Coutinho (Ravenstein, op. c*/.), conta que êste se obrigara a cons­
truir três castelos, um em Demba, nas minas de sal; outro em Cambambe, e outro na Baía das
Vacas (Benguela).
(1) Fêo Cardoso, Memórias, De um requerimento de Luís Mendes de Vasconcelos sôbre o
socorro que precisava levar para Angola e a que adiante se fará referência, consta que JoSo
Rodrigues Coutinho levou mil homens, muitos cavalos, armas e munições.
iB 8 Angola

fa z ia m , e com o o fez D , F ra n cisco de A lm eida, eles afirm avam que


tô d a a situ a ç ã o m u d ava e os sobas fugidos passaram a apresentar-se e
a p re sta r o b ed iên cia (i).
À e v id ê n cia se conclu i que eram êles, os jesuítas, feitos no negócio,
e ten d o re a l e efectivam en te to d o o poder sôbre os indígenas, de quem
e ra m amos e protectores, que m anobravam agora de form a a facilitarem
a J o ã o C o u tin h o o poder dar cum prim ento aos seus contratos, como
a n o s a n tes tinham m anobrad o contra D . F rancisco de Alm eida, e talvez
p re p a ra d o a m onum ental derrota que o C afuxe infligiu às nossas tropas
c o m a n d a d a s p or B altazar de A lm eida.
Com João Rodrigues Coutinho, porém, as cousas passaram-se de
outro modo, e, depois de desembarcar o importante socorro que levou
e de tomar as medidas para a marcha, iniciou esta em direcção ao
Tom bo, onde embarcou as suas tropas em pequenas embarcações que
subiram o Cuanea até Songa, próximo da Muxima, onde residia aquele
soba amigo que Paulo Dias nomeou capitão mor da gente de guerra
da terra e fôra baptizado com o nome de D. Paulo. Demorou-se no
Songo alguns dias, emquanto esperava um refôrço que mandou buscar
a Massangano e seguiu depois para a Muxima e Malombe, onde parece
que se foram apresentar, prestando obediência, os tais numerosos sobas
que os jesuítas referem. Dali foi dar batida ao soba Agoacaiongo, que
venceu, aprisionando-lhe grande número de mulheres e crianças (2).
João Rodrigues Coutinho, que se tinha assenhoreado de todos os
monopólios e de tôdas as condições necessárias para o bom êxito dos
seus negócios, esqueceu-se contudo de uma, — a sua saúde, e uma febre
adquirida nesta ocasião por tal forma o atacou, que em seis dias fale­
ceu, morrendo tão grande christão como elle sempre foy !12

(1) Relação do Padre Guerreiro, cit.


(2) Esta narração é baseada em André Battell (Adventures, pág. 37). Na mesma obra, Ra-
56
venstein, a pág. 1 , apêndice IV, diz-nos que João Coutinho faleceu no Songo, emquanto es­
perava o refôrço que mandara vir de Massangano,.e portanto antes de entrar em contacto com
o inimigo, tendo sido Manuel Cerveira Pereira quem derrotou o Cafuxe em Agoacaiongo. O
Catálogo dos Governadores de Angola diz o mesmo, mudando apenas o local do falecimento
para Caculo Quiaquimone. Não sabemos qual o fundamento destas duas versões, e por isso
nos cingimos à de André Battell, que se não refere ao soba Cafuxe, mas ao Agoacaiongo. Pa­
rece que havia idea de atacar o Cafuxe, mas êsse ataque não se efectuou, como se depreende
da leitura de uma Snçã de livraml° de wie/ serva pa a fls. 294 do mss. 526 da Colecção Pomba­
25
lina da Biblioteca Nacional. Anexos, documento n.° , sentença baseada no processo de devasa
e residência a que se mandou proceder pelo Bacharel Manuel Nogueira, em vista de várias acu­
sações contra Manuel Cerveira, sendo uma delas exactamente a desistência de fazer guerra ao
Cafuxe, para o que estava combinado com o soba Langere, por aquele lhe ter dado 40 peças,
com o que o dito Langere se anojou dêste procedimento.
Parte I I — Angola 189

A sua morte deu lugar a que os seus capitães começassem em de­


savenças sôbre a sucessão, mas tinha ido com êle para o auxiliar na­
quela evangélica missão, 0padre Jorge Pereyra da nossa companhia que
com elle estava e êssc, com muyta prudência & autoridade se ouve de ma-
neyra, que nomeandolhe 0 sucessor, q u e fo y M anoel Serveyra Pereyra, os
aquietou, & pacificou a todos . . . (1).

• #

Depois do ataque ao soba Agoacaiongo, as nossas tropas permane-


ram ainda ali cêrca de dois meses, e talvez durante êsse tempo Manuel
Cerveira Pereira se preparasse para atacar o soba Cafuxe, combinan­
do-se para êsse efeito com 0 soba Langere, mas êsse ataque parece não
se ter realizado, por o Cafuxe ter preferido pagar det^minado número
de peças a arriscar-se à sorte da guerra.
Tendo deixado em Agoacaiongo um capitão-mor de gente de ca­
valo, para ter a província da Quissama debaixo da nossa obediência (2),
Manuel Cerveira dirigiu-se sôbre Cambambe, onde chegou com três
dias de marcha.
Manuel Cerveira Pereira era um soldado muito valente, mas não
menos ambicioso e desiquilibrado, pelo que se pode calcular a que
cenas de loucura se entregaria quando se encontrou pisando a cubiçada
serra de Cambambe, aquela serra que desde o tempo de Paulo Dias os
nossos namoravam de Massangano e viam tôda em fogo, pelos reflexos
do sol na prata reluzente amontoada nas suas encostas. Assolou-se a
região, e ao mesmo tempo que se construía a fortaleza que ficou guar­
necida com 25o homens, sob o comando de João de Araújo (3), por tôda
a parte se faziam cavas em busca da prata, mas a que aparecia, se
alguma apareceu, não era em quantidade que despertasse interêsse,
não obstante os padres jesuítas que tinham acompanhado a expedição
informarem de que se tiraram varias amostras de prata que nella ha que
diçem os mineiros ser muita e haver também muitos outros metaes (4),1

(1) Relação do Padre Guerreiro, cit.


5 25
(a) Biblioteca da Ajuda, Cód. i-vm- , cit., fl. 119. Luciano Cordeiro, Memórias. Relação
da Costa da Guiné. O autor desta Relação diz que Agoacaiongo era terra de um soba cristão,
por nome D. Francisco.
3
( ) Paio de Araújo de Azevedo.
(4) Relação do P.e Guerreiro, cit.
iç o Angola
mentira a que, surpresos da realidade, se queriam ainda agarrar para
a desilusão não ser tão brusca ao despertar de um sonho de quási um
século!
Estávamos em 1604 e desde i 520 buscávamos aquela riqueza, que,
emfim, tínhamos ali à nossa disposição, para nela saciarmos tôda a
ambição de fortunas e de repente tudo se evolava! Fôra primeiro
D. Manuel; depois Paulo Dias. Durante os anos de i 56o a 1 5 6 5 , em
que êste acompanhou a primeira missão dos padres da Companhia de
Jesus a Angola, não residiu sempre na embala do soba, e percorreu
grande parte do interior em serviços diversos, fazendo a política do
soba, e ao mesmo tempo por sua conta, pesquizando metais preciosos.
Quantas noites passaria na sua cubata, às escondidas, com a bacia de
arame e o fole de ferreiro, levando ao rubro as pedras com incrustações
de minério, que pelos caminhos encontrara, à espera de ver sair dos
interstícios a ambicionada prata, e quantas vezes se debruçaria sôbre o
brasido, esgravatando sôbre os carvões à busca de qualquer pedaço de
metal derretido!
Se nada encontrou, não se lhe desvaneceu, contudo, a convicção em
que estava e todos os nossos que por lá andavam, de que a prata existia
e era questão de a procurarem melhor num dia de mais sorte, e, assim,,
voltando a Angola como donatário, à busca daquela riqueza sacrificou
as vidas de centenas de portugueses e por fim a sua, morrendo a dois
passos das serras de Cambambe, talvez alumiado pelos seus reflexos,
quando a luz dos seus olhos se extinguia! Pobre visionário!
Mas, atrás da sua visão, outros foram, sacrificando mais vidas, mais
dinheiro e a saúde, numa luta tenaz e persistente, até que viam agora
desmoronar-se todo o castelo de ilusões e sonhos!
Manuel Cerveira, ambicioso e com tôdas as taras dos nossos, ao
dar as últimas enxadadas nas serras de Cambambe, e com elas ver des­
fazerem-se tôdas as esperanças, mordido pelo desapontamento, mas
sentindo, como bom português da época, a necessidade de um excitante
que lhe mantivesse a irrequietaçao, fazia agora realçar outras riquezas,
apregoando-as com mais exaltação do que a da prata tinha sido apre­
goada.
Talvez que durante a demora em Agoacaiongo, ou, já em Cam­
bambe, por qualquer investida que fizesse mais para o sul, tivesse co­
nhecimento da existência de riquíssimas minas de cobre para além do
rio da Longa, onde os nossos de há muitos anos iam ao resgate, como
atrás ficou referido, e essa notícia, vaga como seria, transformou-se
P arte I I — Angola í9r

para êle em certeza absoluta, passando a 'constituir uma obsecação,


emquanto a não visse realizada, fôsse como fôsse.
Cambambe já não o interessava e abandonou a guarnição que lá
deixara, parte dela de voluntários, sem lhe mandar alimentos, que não
tinham possibilidade de obter na região, por tudo ter sido saqueado,
fugindo os indígenas, pelo que êles também fugiram, internando-se no
Congo.
De Angola o que precisava era escravos e dinheiro, para poder
montar a sua nova empresa mineira. Podendo, em seguida ã ocupação
de Cambambe, ter marchado sóbre a embala do Ngola com probabili­
dades de êxito e de vez acabar com o seu poderio, preferiu compor-se
com êle a trôco de qualquer indemnização, e, para se justificar de o não
atacar, arranjou declarações dos comandantes dos presídios, obtidas à
fôrça e sob ameaças, manifestando-se contra o ataque. Com o seu
exército organizado e constituindo uma permanente atriêaça, fêz constar
que ia atacar um outro soba, o Angola Cabanga, que acudiu logo pres­
suroso a enviar-lhe cem peças, com o que o deixou em paz. Conti­
nuando na loucura, procede da mesma forma com o Axila Mbanga,
sogro do rei de Angola e seu sobeta, que por se julgar abrangido na
composição do genro, nada ofereceu para garantir o seu sossego, pelo
que foi atacado, resolvendo o Rei de Angola, por represália, atacar
também os sobas vassalos de Portugal.
Com os moradores e comerciantes procedia da mesma forma. Se
não lhe entregavam voluntàriamente o que queria, mandava-os prender,
e um seu apaniguado, Francisco Rocha, que nomeara Escrivão, enten-
dia-se com êles, forçando-os ao pagamento do que entendia podiam
pagar. A-par-disto roubava-lhes as mulheres, gabando-se de metade
das casadas serem suas amantes, o que conseguia com feiticeiras e al-
coviteiras, e às que não podia alcançar por estes meios, fazia-lhes sere­
natas, em companhia de malfeitores e facínoras, de noite, à porta das
habitações, para as infamar.
Sendo já então proibido o negócio com o Rio da Prata, mandou
para lá seis navios com mercadorias e escravos, tudo despachado como
se fôsse para o Brasil, para terem redução nos direitos.
Emfim, por loucura e por maldade, a vida e os haveres dos portu­
gueses e indígenas, estava nas suas mãos, que de tudo dispunha como
entendia. A Madrid chegaram queixas sôbre esta situação e foi man­
dado a Angola o Bacharel Manuel Nogueira para inquirir dêstes e de
muitos outros factos. Ao iniciar as suas averiguações, o sindicante
192 Angola

pediu-lhe a captu ra de um M anuel C oelho, ao que M anuel Cerveira


se negou. C o m o o sindicante insistisse, M anuel C erveira mandou-o
prender e en ca rcerar em M assangano, recom endando ao m estre da
em b arcação que fazia a navegação pelo C u an za, que 0 deitasse ao rio,
p ara os jacarés o com erem (1).
E n tretan to, chegou a Luanda D . M anuel Pereira F o rja z (2), cujo
p rim eiro acto de govêrno foi prender M anuel C erveira P ereira e man­
dá-lo p ara o reino, acusando-o, diz-se, de vários crimes.

*
* *

A s notícias de A ngola, recebidas em Lisboa e na côrte de M adrid,


devem ter dado lugar a um a m udança de processos de adm inistração
n aqu ela nossa ©onquista.
Desfeito o sonho da prata de Cam bam be só ficava para sujeitar ao
regim e dos contratos o resgate dos escravos, e êsse deveria estar en­
tregu e a qualquer pessoa que trabalhava por conta de D. G onçalo Cou-
tinho, com o herdeiro do irmão, João Rodrigues Coutinho, no negócio
3
dos assentos com E spanha ( ), negócio que só findava em 1 6 1 (4). 3
Não havia, pois, em Angola, outros contratos a estabelecer, e o
Governador a nomear deveria ser, verdadeiramente, a primeira autori­
dade delegada do Govêrno, se a imoralidade de costumes da época
permitisse que tal cargo se pudesse manter só com êsse fim.
Não se conhece o Regimento que levou D. Manuel Pereira Forjaz,
mas, por outros posteriores, verifica-se que ainda antes de êle ser no­
meado Governador, se expedira uma provisão, mandando revogar as
doações de sobas, feitas por Paulo Dias, Luís Serrão e outros, a portu­
gueses que com êles andaram nas guerras, para dos sobas cobrarem qs
tributos que os mesmos pagavam ao Rei de Angola, visto não terem
Òütrõ meio de lhes retribuírem os serviços prestados. Essa provisão,

(1} Sentença atrás referida.


(2) Carta de 2 de Agosto de 1606. Anexos, Doc. n.° 26. É o traslado da carta original e
encontra-se na Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola, Caixa 145, com a rúbrica de
André Velho da Fonseca.
3
( ) Por morte de João Coutinho, o irmão Gonçalo tomou os assentos com uma redução
de 22.000 ducados na quota anual a pagar.
63 5
(4) O contrato deveria acabar] em i t , mas só em Setembro de 161 é que se fêz outro
assento com António Fernandes de Eivas, que também foi contratador de Angola, e se obrigava
5
a dar a Espanha n .ooo ducados.
P a rte I I — A n go la 19 3

pela oposição dos padres da Companhia de Jesus, a quem principal-


mente feria c por conveniência e interesse dos governadores, não tinha
sido publicada em Luanda, pelo que no Regimento se recomendava a
D. Manuel Pereira que a fizesse publicar e cumprir, passando os sobas
a ficar sòmente sujeitos à Coroa, arrecadando-se para esta os tribu­
tos que pagavam, a fim de com êsse rendimento se fazer face à despesa
com os soldados. Ao mesmo tempo davam-se instruções sôbre a
forma de se escriturar essa receita.
Também se tinha mandado cessar com o descobrimento e con­
quista das minas de prata de Cambane e quaisquer outras, devendo a
êsse respeito proceder-se de forma a não se fazerem guerras (1),
obtendo-se a exploração de acôrdo com os sobas da terra. Como
início da moralisação e boa ordem na administração, determinava-se-
-lhe no Regimento que começasse, no melhor ponto da praia, ou na
ilha de Luanda, uma casa de feitoria para se recolher g Real Fazenda,
que, naturalmente, até então, se confundia com a dos governadores, o
que era necessário evitar.
Não era isto o que interessava a D. Manuel Pereira Forjaz, que
não tendo coisa alguma a arrematar, nem contrato a propor ao go-
vêrno, se contratou a si próprio, fazendo com João de Argomedo,
comerciante, uma escritura de sociedade (2) para negócio em Angola,
que é uma edificante prova da corrupção e baixeza de sentimentos
dos homens daquela época. Por ela e por uma carta que se encon­
trou (3 ) se vê que o negócio çonstava_da trocarem Angola, por escra­
vos e marfim, dos vinhos das Canárias e fazendas dè~outros pontos,
que o João de Argomedo mandasse, e que a sociedade tinha agentes e
correspondentes ern Cartagena, Nova Espanha, Baía e Pernambuco.
D. Manuel Forjaz não entrava com dinheiro para a sociedade, mas
parece que lhe foi necessário arranjá-lo e lançou mão dos fundos em
poder do contratador de Angola, Duarte Dias Henriques, pois na pres­
tação de contas deste contratador, por alvará de 2 de Agôsto de 1612,
foi determinado ao Tesoureiro da Casa da índia, lhe levasse em conta
77 contos, 423» i 52 réis, que o Governador D. Manuel Pereira lhe
tomou em Angola (4).

(1) B ib lio teca da A ju da. C ap . 5 i-viu -a 5, fls. 119. — R e la ç ã o d a C o s ta d a G u in é , etc. A n ­


g o l a . L u c ia n o C o rd e iro , M e m ó r ia s . Ê ste docum ento deve ser de 1604 a 1606 e o seu autor
d iz que tod os os ofícios militares foram m andados extinguir, p o r n ã o h a v e r co n q u ista .
(2) B ib lio te c a N acion al. S e cção Ultram arina. A ngola. C aixa 145. V ide anexos. D oc. n.° 27.
3
( ) Idem , idem . A n e xo s. D o c. n.° 28.
(4) « É is to s e m e m b a r g o d o s r e q u e r im e n to s & p r o te sto s , q u e 0 f e i t o r d o d ito co n tr a ta d o r
194 Angola

E n tre tid o co m a d irecçã o dos seus n eg ó cio s, nunca D . M anuel For-


ja z p ôd e sa ir d e L u a n d a e ir a o sertã o , m as nem p or isso deixou de
c o n c o rre r p a ra se fom en tar um ou tro dos grandes sonhos, que deu
in ce n tivo às n o ssa s o cu p a çõ es com erciais e a cçã o p olítica, — 0 esta­
b e le c im e n to de rela çõ es com o M on om otap a, p ara trazer de lá para
A n g o la a p ra ta e o ouro. D essa aven tu ra en carregou o valen te Bal-
f t a z a r R e b e lo de A ra g ã o , que seguiu pelo C u a n za em direcção à Chi-
c o v a , m a s retroced eu , estando 80 léguas pela terra dentro e 140 do mar
por se levantar el-rei de Angola contra a fortaleza de Cambambe (1).
A o m esm o tem po que B altazar de A ra g ã o se dirigia p ara o O riente
em b u sc a das riquezas do M on om otap a, os em pregados (criados) de
D . M an uel P ereira percorriam o interior e a costa em d iversas direc­
ções, no intuito de desenvolverem os negócios da sociedade e, em Lis­
b o a e M ad rid , o govêrno, ignorando o que se p assava e julgando que
co m tal govern ad or poderiam rem ediar as faltas provenientes do aban­
d on o em que tinha estado a conquista, determ inava-lhe, em carta de
20 de M arço de 1609 (2), que fizesse na povoação de S. Paulo ( ): casa 3
da C â m a ra , cadeia e açougue, fintando-se para êsse fim os habitantes,
ou lan çan do um im posto de dois tostões em cad a peça que se em bar­
casse, fazendo-se hu tesoureiro, e escrivão para a carga e descarga do
tal dinheiro.
Em M adrid e em Lisboa, M anuel C erveira Pereira, justificando-se
d as acusações que lhe fizeram , deveria ter pôsto em relevo o valor das
suas m inas de cobre, ao mesmo tempo que se recebiam notícias de
D . M anuel F orjaz, confirm ando essas riquezas e referindo outras, como
os escravos em m aior quantidade do que em Luanda, o marfim, etc., e
in d ican d o que o reino de Benguela ficava a oitenta ou noventa léguas

f e .f a o d i t o D . M a n u e l P e r e i r a p a r a n ã o t o m a r o d i t o d i n h e i r o q u e o m a n d o u d i s p e n d e r d i z e n d o
que e r a p a r a p a g a m e n to de seu s ord en a d os, e tc .. . - com o n o s tr e s la d o s d o s d it o s m a n d a d o s
& c o n h e c im e n to s e m f o r m a s e d e c la r a ; e tc .» . B ib l. N a c i o n a l . Secção U lt r a m a r in a . A n g o la .
C a i x a 14 5 .
(1) B ib lio te c a d a A ju d a , C ó d . 5 i - v m - 2 5, fl . 4 2 ; L u c ia n o C o r d e ir o , M e m ó r i a s do U lt r a ­
m ar. T erras e M in a s a fr ic a n a s . « A s p r o v ín c ia s q u e e u e n tr e i n o d e s c o b r im e n t o q u e fa z ia
p a r a M a n o p o t t a , p o r m a n d a d o d e D . M a n u e l P e r e ir a , s ã o g r a n d e s e m u i r ic a s d e m a n tim e n to s ,
e m u ito s r io s ; t e r r a m u it o fr ia e s a d i a ; h a m u ita s a r v o r e s d e H e s p a n h a , c o m o : o l i v e i r a s , p a r ­
r a s , f i g o s , a l e c r i m e o u tr a s h e r v a s ; e g e n te p o u c o g u e r r e i r a ; s ã o g r a n d e s c r e a d o r e s e la v r a d o ­
r e s ; h a m u i t o c o b r e e fe r r o e d iz e m h a v e r m u ita p r a t a ; t e e m u m rei q u e c h a m a m c h i c o v a , e tc .» ,
(2 ) A r e fe r ê n c ia a e s t a c a r t a e n c o n t r a -s e e m r e g i m e n t o s d a d o s p o s te r io r m e n te .
3
( ) Com o s e v ê , a in d a n e s ta d a t a , 1 6 1 1 , se c h a m a v a a L u a n d a p o v o a ç ã o e n ã o c id a d e .
L o p e s d e L i m a d iz , c o n t u d o , q u e n o g o v ê r n o d e M a n u e l C e r v e ir a L u a n d a fo i fe ita c id a d e , o
q u e s e n ã o c o n h e c e p o r d o c u m e n t o a lg u m .
Parle I I — Angola rçS
a barlavento de Luanda, e tinha um ponto roais sadio que todos os outros
da costa, com muitas águas e boa baía, o que já de há muito se sabia.
Êste conjunto de informações, sendo muito interessante, não dava
com precisão o local das tais ricas minas de cobre. Manuel Cerveira,
em Madrid, segurava-se, não divulgando o seu segrêdo, com o que
esperava negociar a sua liberdade e algumas mercês; os ministros, por
seu lado, não estando ainda dispostos a esquecer, embora tivessem
perdoado os crimes de que era acusado, arrancavam-lhe o que podiam,
que transmitiam a D. Manuel Forjaz, recomendando-lhe que activasse
a descoberta, para o que êste fez sair duas embarcações a percorrerem
a costa.
Deve ter sido sua a informação de que o cobre se não achava num
ponto certo e determinado, mas começava a seis ou sete léguas da
costa e, por tôda ela para o sul, era tanto, que « os mesmos negros sem
terem aparelho o fundem em covas que faiem na terra fafbndo campainhas,
e argolas que resgatão para outras Provindas». Esta informação, em
que avolumava, propositadamente, a riqueza do cobre para desfazer
nos serviços de Manuel Cerveira e, ao mesmo tempo, referia outras
riquezas, dos escravos e do marfim, que o interessavam e bem sabia,
pelas notícias dos seus empregados, que eram certas e positivas, deu
lugar a que Madrid lhe determinasse «por carta de sete de março dous
de outubro de seiscentos e de\ enviasse ao dito Reino de Benguella hüa
pessoa de m.ta confiança, e pratica das cousas daquellas partes q. se infor­
masse muy ao certo destas cousas; e q. em particular levasse a carguo
fa \er resgate de todo o cobre que achasse... E por ter entendido que
seria de importância para êste negocio enviarense de qua alguas roupas
das com que se resgatão naquellas partes avendo comodidade para jsto se
lhe enviarião as que parecessem necessárias, etc...».
Esta determinação vinha mesmo a propósito para o desenvolvi­
mento dos seus negócios e, agora, já não precisava das fazendas do
sócio Argomedo, pois era o govêrno que lhas fornecia. As contas êle
as faria...
Pouco tempo se poderia ter gozado deste rico negócio, pois que
faleceu em 12 de Abril de 1611, mas foi, sem dúvida, êle quem talvez,
se não em mais larga escala, com mais regularidade, iniciou o negócio
pelo Bié, Bailundo e Benguela, trazendo de lá, além de escravos e mar­
fim, grande quantidade de gado, porquanto quando faleceu, constavam
do seu espólio, entre outros bens: « 180 vacas afóra 3 o que mais vieram
de Benguela e grande copia de carneiros e ovelhas, 600 negros escravos
196 Angola
marcados com a marca do governador , negros pombeiros d e muito preço
e outros soltos casados, i 3 o pipas de vinho das Canarias, fa rin h a s de
P o rtu g a l e do B ra sil, marfim, massa, aceite, tapessarias, fe r ro , estanho,
panno d e linho , tacula, espingardas, um colar d e ouro e prata, etc.», o
que tudo lhe foi roubado pelo capitão Manuel da Costa, que sua viúva
indicava com o seu empregado (1).
Se a sua acção como negociante, como vemos, foi na realidade be­
néfica pelo desenvolvimento que deu ao comércio com o interior, a sua
acção como governador não podia deixar de ser apreciada como a mais
imoral e, por tal forma, que estando ainda em Luanda, foi lá mandado
André Velho da Fonseca para proceder a averiguações, não só sôbre
os seus actos, mas também sôbre os dos seus antecessores.
Depois de João Rodrigues Coutinho e emquanto se não fazia novo
contrato, esteve encarregado da arrecadação das receitas um feitor,
Duarte Dias Lôlfo, que faleceu, dando a sua morte lugar a graves de­
sordens, por todos se quererem apoderar dos bens que encontravam.
Os padres da Companhia de Jesus, como sócios de João Rodrigues
Coutinho, tinham no seu colégio os livros das contas do seu con­
trato (2), só os entregando por intimação do sindicante André Velho,
que, por êles e por outras inquirições a que procedeu, foi apurando os
devedores aos cofres do Estado e obrigando-os a entrarem com os dé­
bitos. O Governador D. Manuel Pereira teve de entrar com 2 . 5 oo cruza­
dos, mas havia mais e maiores irregularidades por êle cometidas (3 ),
pelo que, supunha André Velho, teria de o prender e m andar preso
para o reino, e pedia para lhe confiscarem e arrestarem todos os seus

(1) B ib lio te c a N a c io n a l, S e c ç ã o U ltr a m a r in a . A n g o la . R e g im e n to s . M a ç o d e 1598 a 16 17,


n.o 9 1 -8 1 6 1 2 . M a r ia T a v o r a (D.), v iú v a de D . M a n u e l P e r e ir a ( L u a n d a ) . P e d in d o a c a p tu r a de
u m c r ia d o q u e a c o m p a n h a r a a A n g o la seu m a r id o e q u e d e p o is d a m o r te d e s te se a p o d e r o u
d e tu d o q u e p o s su ía , c h a m a n d o -lh e seu.
S ô b r e o n e g ó c io d e g a d o , v e r a n o tíc ia a re sp e ito d o g o v e r n o d e J o ã o F u r t a d o d e M en ­
don ça.
(2) H o u v e o c u id a d o d e fa zer d e sa p a re c e r g r a n d e p a r te d o s liv r o s o n d e s e e s c r itu r a v a a
r e c e ita e d e sp e s a d ê ste c o n tr a to . A n o s depois, em 16 25 , 0 C o n t a d o r - m o r f a z ia e x p e d ir u m a
p r e v is ã o p a r a F e r n ã o d e S o u s a m a n d a r p r o c u r a r e re m e te r p a r a a C a s a d o s C o n t o s to d o s os
p a p é is , c a d e r n o s , liv r o s q u e d isse ssem resp eito a o s c o n t r a t o s de J o ã o C o u t in h o e do irm ão
G o n ç a l o , a fim d e se a v e r ig u a r se e ra m d e v e d o r e s o u c r è d o r e s à F a z e n d a R e a l. B ib l. d a A ju d a ,
cód. 5 i - v m - 3 o, fl. 44/5. E s t e s d o c u m e n to s d e v e m ter id o p a r a a Junta ou p a r a a Contratacion
em S e v ilh a , p e lo q u e fic a r a m em E sp a n h a .
3
( ) Num a lembrança d e 29 d e F e v e r e ir o de 629 d e A n t ó n io B e z e r r a F a ja r d o , q u e tin h a ido
a A n g o l a fa z e r q u a lq u e r in q u é r ito , d iz -se q u e o s trib u to s p a g o s p e lo s s o b a s , n a im p o r tâ n c ia de
i 3 000 c r u z a d o s p o r a n o , tin h a m c o m e ç a d o p o r s e r a r r e c a d a d o s p a r a si p r ó p r io p e lo G o v e r n a ­
d o r D . M a n u e l P e r e ir a . ( L u c ia n o C o r d e ir o , Memórias do Ultramar. C ó d . d a B ib l. d a A ju d a
r e fe r id o ).
Parie I I — Angola 197
bens, o que se deve ter feito, pois que se chegou a executar um exame
à escrita do sócio João de Argomedo, a fim de se verificarem os crédi­
tos que lá tinha D. Manuel Pereira (i), intimando-lhe o juiz que de
futuro «as fa\endas dinheiro ou letras que tivesse tocantes ao dito dom
manuell pr.a não despusesse nem fisesse delias cousa allguma sem ordem
delle juis ou do conselho da fasenda por cujo mandado fasia esta adeli-
g en sia .,
*
• *

Falecendo D. Manuel Pereira Forjaz, repentinamente, em 1611,


nomearam as autoridades de Angola a Bento Banha Cardoso seu
sucessor (2), emquanto no reino se não resolvia sôbre a nomeação do
novo Governador.
Os angolas de há muito que vinham tomando uma atitude de per­
manente rebeldia. As suas constantes incursões e ataque aos nossos
presídios, cercando-os juntamente com outros indígenas seus aliados,
com o fim de obrigarem as guarnições a renderem-se, revelavam uma
ousadia que era necessário reprimir energicamente.
Ao avanço da nossa ocupação pelas sucessivas derrotas infligidas
aos indígenas da Quiçama e estabelecimento de fortaleza de Cam-
bambe, correspondeu a concentração do gentio do Dongo, e da Ma-
tamba, agora governados por N’gola Quiluangi ( 3), um dos mais valen­
tes guerreiros com que nos defrontámos e que tinha a pretenção de
nos expulsar dos seus territórios, estendendo-os até ao mar. Numa
das suas incursões, descendo o Quanza, chegara a pequena distância
da povoação que designámos por Tombo (4) e deixara assinalado o
seu avanço com a plantação de uma Insandeira (5).
Bento Banha Cardoso, logo que assumiu o governo, resolveu ir
atacá-lo, e, não obstante a resistência oposta pelo Quiluangi e seus
aliados e tôda a sua extraordinária bravura, os nossos excederam-no e
venceram-no, aprisionando alguns dos seus principais, os sobas Qui-
longa e Mbamba Tunge, que Bento Cardoso mandou degolar.

(1) B ib lio teca Nacional. Secção Ultramarina. Angola. C aixa 145. C artas de A n dré V e ­
lh o da Fonseca, que foi a deligencia do serviço de S. Mag." e A uto de perguntas feitas a João
de A rgo m ed o . V id e Anexos. Doc.°* n.0* * ^ 3o, 3 t.
(2) A n exos. D o c. n.° 3 s.
3
( ) N ’ go la Kiluangi K ia Ndambi. Ravenstein. Op. cit.
(4) V id e referência a pág. 140 sôbre esta povoação.
5
( ) Ravenstein, pág. 142, nota 1.
K4*K .,^

198 Angola
A-pesar-do castigo infligido, a rebelião continuava e agora lança­
vam -se em massa sôbre Cambambe, investindo-a de surpresa por
diversos pontos ao mesmo tempo, obrigando a sua reduzida guarnição
a actos do mais extraordinário heroísmo e bravura, até chegarem tro­
pas em seu socorro, que obrigaram os indígenas a levantar o cerco e
# retirarem.
Bento Cardoso foi em sua perseguição e fundou em 1614, junto ao
Lucala e nas terras de Ambaca, 0 primeiro presídio que tivemos com
êsse nome e mais tarde foi mudado para onde hoje ainda está.
Nestes combates Bento Banha Cardoso recebeu vários e graves
ferimentos, ficando cego de um ôlho e perdendo três dedos da mão, o
que não o impediu de continuar as campanhas, procurando manter os
indígenas em obediência. Assim, além dêstes combates com o N’gola
Quiloangi, teve de defender um soba nosso vassalo dos ataques de um
outro do Congo que com consentimento do Rei o foi atacar; bateu o
soba Nambu-a-ugongo, que, passando o Dande e o Bengo, vinha assal­
tar os nossos territórios e o gentio da Tunda pelos constantes roubos
que cometiam, além de ter tido de atacar um navio holandês, que se
colocara em determinado ponto à entrada da barra de Luanda, de
forma que, sem poder ser molestado pelos tiros de defesa de terra,
impedia tôda a comunicação com o pôrto. Da sua acção resultou o
avassalamento de oitenta sobas (1).
Entretanto voltou a Angola Manuel Cerveira Pereira, agora já
desafrontado das acusações que lhe moveram e contando com todo o
apoio de Filipe III (2). Não era, verdadeiramente, o govêrno de An­
gola que o fazia voltar, mas sim preparar-se «.etn Angola das cousas
necessários para melhor e mais facilm ente se poder commeter este negocio ,
(a conquista de Benguela), para o que « no ynterim q se detiver em
L oanda apercebendosse para a dita conquista tinha os poderes de gover­
nador (3 ).
Nesta ordem de ideias encarregou da quietação do Dongo a Paio
de Araújo de Azevedo, emquanto êle em Luanda tratava do que lhe
era preciso para os seus fins; mas, porque encontrou dificuldades em

( 1 ) B ib lio te c a N a c io n a l. S e c ç ã o U ltram arin a. D o c u m e n to s de A n g o la . Processo de justi­


ficação dos actos de Bento Banha Cardoso, por virtude do sequestro de todos os seus bens, por
ter feito despesas sem as justificar. A n e x o s. D o c .° n.° 33 .
(2) Sentença de livramento já referida.
( 3 ) A r q u iv o N a c io n a l da T ô r r e do T o m b o , Chancelaria de Felipe 11. L iv . 32 v . A lv a r á d e
5
14 d e F e v e r e ir o de 16 1 . A n e x o s. D o c .° n.° 34.
Parte U — Angola *99
arranjar escravos para levar para Benguela, por fugirem e se irem aco­
lher ao soba Caculo-Cahunde, contra o qual tinha recebido queixas,
no mesmo sentido, de muitos dos negociantes, resolveu ír atacá-lo, o
que fêz com a sua costumada energia, obrigando-o à restituição de
todos os escravos que tinha em seu poder, depois do que retirou para
a sua conquista de Benguela, deixando o governo a António Gonçalves
Pita.

* #

Vejamos o que se pensava no reino a respeito das conquistas da


África Ocidental.
Já atrás vimos que a desilusão de Cambambe conduzira a uma
orientação diferente da até então seguida. Nada havendo em Angola
que justificasse o conluio do Rei de Castela com os particulares para a
pilhagem, podia impor-se a moralidade na administração.
Confiada essa nova orientação a D. Manuel Pereira Forjaz, fomos
infelizes na escolha do executante, mas vimos que se procedeu com
energia e sem hesitações contra êle pelos seus actos, procedimento que,
no dizer dos historiadores, parece se não adoptava para a repressão
de faltas graves cometidas na administração do reino, mas vemos, em
face dos documentos que nos ficaram, ter sido empregado no ultramar
contra êste e outros governadores. Havia o propósito de se entrar
em uma vida nova, subordinando-a a princípios, que, se não eram os
de uma colonização como a que estávamos fazendo no Brasil, marca­
vam a firme intenção de se exigir uma administração honesta.
A situação no Brasil era diferente. O sonho do grande rei Preste
João e de todos os pequenos reis que a nossa imaginação inventou a
cercá-lo, e a êle mais ou menos subordinados, todos cheios de gran­
dezas e dominando territórios que êles próprios desconheciam, desfez-se
com a bruma do Atlântico e não chegou ao Brasil, onde só encontrá­
mos o que realmente existia, tríbus de índios. Assim, não podendo
criar feudatários, como os da Guiné, do Congo, de Angola e da índia,
que nos garantissem por títulos, cartas, tratados e tributos, contra as
outras nações, o exclusivo do comércio, tivemos de fazer uma extensa
ocupação, para defendermos a posse territorial. Não nos preocupava
verdadeiramente a conquista do território aos índios, porque, essa,
ir-se-ia fazendo á medida que a colonização avançasse pelo interior;
mas queríamos impedir pela nossa presença as nações estrangeiras de
200 Angola

se estabelecerem na parte para nós talhada da descoberta do Mundo.


Havia, assim, um sentido nacional diferente para o Brasil do que
houve para tôda a outra terra descoberta e conquistada, sentido criado
talvez pela extraordinária visão de D. João II, quando das discussões
e lutas para se chegar ao tratado de Tordesilhas e que, através dos
anos, se nos impôs como uma necessidade pela qual passámos a lutar,
e Tendo dividido o Brasil em donatarias, tôdas confinantes, reüni-
mo-las sob a acção de um governo geral e estabelecemos os fundamen­
tos da grande Nação de hoje. Em África, ao contrário, depois do
fracasso da donataria de Paulo Dias e da desilusão da prata de Cam-
bambe, fomos levados a criar, dentro dos antigos moldes das feitorias,
e para opor aos erros a que conduzira a administração de Paulo Dias,
um sistema de transição, consistindo em uma série de núcleos de cons­
tituição heterogénea.
Assim, o Co^go, que devia ser um reino feudatário, era, verdadeira­
mente, independente, embora lá mantivéssemos uma autoridade com
q título de capitão-mor, que o não era dá terra, porque não existia a
capitania, mas de «todos os portugueses e vassallos meus de qualquer
qualidade e condição que sejão que ao presente Residão e ao diante resi­
direm e estiuerem por qualquer via no Reyno e senhorios do Congo pera
que os governe em todas as cousas de pa\ e guerra (i).
Ignorava-se em Lisboa a situação a respeito do Congo e, não só
havia dúvidas quanto aos limites com Angola, que queríamos fôsse
pello rio de Adé (Dande), com o que se não conformava o rei do Congo
e dava m otivo a queixas e questões, 'como só se sabia por ouvir dizer,
que, no tempo de Paulo Dias, o preto rei D. Álvaro tinha feito deter­
minadas doações e, entre elas, a da ilha de Luanda com a sua pesca­
ria do zimbo, ou parte dela, para pagamento das despesas efectuadas
com a expulção dos jagas, e se recomendava ao Governador para pro­
curar, na feitoria ou na Câmara, os documentos a êsse respeito.
O Capitão-mor da gente portuguesa no Congo, que ao tempo era
António Gonçalves Pita, fidalgo da Casa Real, estava subordinado ao
Governador de Angola, mas êste « não o podia mandar chamar pessoal­
mente nem tirar-lhe a capitania, nem officio de guerra ou justiça que ele
provesse e não os podia prover. Acumulava o cargo de Capitão-mor
com o de Provedor de Defuntos e Ausentes e tinha o ordenado anual de
trezentos mil réis e o direito a uma guarda de seis homens, ao passo

(i) Paiva Manso, História do Congo, pág. 148, doc. u n .


Parte I I — A n g o la 201
que o governador de Angola tinha de vinte, sendo estas despesas satis­
feitas pelo feitor das rendas de Angola (1).
Tinham-se estabelecido os holandeses no Pinda, onde fizeram uma
feitoria para a exportação de escravos e não fomos lá expulsá-los,
como expulsámos franceses e ingleses de outros pontos que tentaram
ocupar, limitando-nos a procurar, por intermédio do nosso Bispo e do
vigário residente no Congo, que o rei do Congo os expulsasse, o que
êste também não fêz, embora o prometsese. Também levámos anos a
pedir-lhe e não a impor-lhe, que nos deixasse estabelecer uma forta­
leza no Pinda ou no Ilheu dos Cavalos, o que nunca nos consentiu e,
tudo isto prova que o reconhecíamos como estado independente,
quando tínhamos tido no Congo o máximo de acção e tudo abando­
námos.
Com o reino de Angola, também em Lisboa não havia a intenção
da conquista do território, e pensava-se seguir uma política de amizade
e atracção, procurando, primeiro que tudo, «q. conçeda pregar se nossa
santa fe e em seu Reyno, tanto êle como os outros sobas, «e dando elles
licença á pregação os não obrigareis a me serê tributários senão quando
elles per sy se offereçerem a o ser, por eu os mandar defender e amparar.
E ainda, para corroborar esta intenção e impedir que a sofismassem,
determinava-se que, no caso de haver necessidade urgente de defender
qualquer presídio atacado pelos indígenas, se deveria reünir um conse­
lho, formado pelo Governador, o Bispo, o Ouvidor Geral, o Provedor
da Fazenda e mais ministros que ouver delia, para apreciarem os moti­
vos e autorizar a despesa, «e nas prim.™ embarcações que depois disso
vierem para este Reyno me enviareis assy a Rellação das despesas pello
meudo, com a copia do assento que se tomar o qual será assinado por
todos e se declararão nelle as razoes em que se fundarão, advertindo-se
que esta autorização era somente para o caso de se ter de defender
qualquer presídio atacado «e não para se fa\er guerra pello certão».
A par deste regimen de vassalagem que se procurava estabelecer
por tôda a terra de Angola, mantendo as autoridades indígenas na
posse de todos os seus direitos e fazendo-as apenas contribuir com um
tributo para que as defendessemõs quando fôssem atacadas pelos ini- l
migos, tefitãvã-sé ã ocupação e colonização,' há parte entre o Dande ej
Quanza que então constituía a terra de ninguém, onde verdadeira-

5 53
(i) Paiva Manso, História do Congo, págs. 1 1—1 . Doe." ixixni, ixsxiv, uxsxv.
26
202 Angola
mente não governava nem o Congo nem o Ngola, fazendo-se conces­
sões de terrenos, regulando-as conforme as posses dos colonos e pre-
conisava-se o desenvolvimento das culturas de algodão e cana de
açúcar, concedendo-se aos agricultores maiores privilégios e favores dos
que se dão aos do BrasiL
Na intenção de acabar com todos os abusos de outros tempos, não
só se assentava em manter era absoluto a proibição de se darem soba-
dos em pagamento de serviços ou sob qualquer pretexto, para os indí­
genas não veremse cativos de taes pessoas contra justiça e Direito, mas
resolvia-se proibir também que o negócio da compra dos escravos se
fizesse fora das feiras e que aja nas ditas feiras homens trancos aynda
que seja com pretexto de guardar justiça e meter em ordem.
E, por fim, com respeito a Benguela, na intenção de nos certe-
ficarmos do seu valor, sobretudo em minério, consentia-se que Manuel
Cerveira se encarregasse da sua descoberta e exploração, mais como
mercê pessoal e particular do que encargo administrativo, muito em­
bora a Coroa o auxiliasse com material de guerra e disposições for­
çando os brancos condenados por determinados crimes e os pretos a
irem servir sob as suas ordens.
Vê-se, assim, que as directrizes estabelecidas para as Conquistas
da África Ocidental, tanto na parte respeitante às relações com os
povos indígenas, quer os submetidos, quer os inimigos ou independen­
tes, como na que dizia respeito à colonização, aproveitamento e explo­
ração do solo pelos europeus, indicavam existir um plano de adminis­
tração colonial, não discutimos se aquele que mais nos convinha, se
bom, se mau, mas que assentava em princípios diferentes do que
tínhamos adoptado para o Brasil.
Com o sempre, a dificuldade estava na escolha do homem ou ho­
mens a quem confiar a execução, para a qual não bastava energia e
rispidez, mas era necessário bom senso e, sobretudo, um carácter não
contaminado pela podridão da sociedade em que se vivia.
O governador escolhido para substituir D. Manuel Pereira Forjaz,
foi Francisco Correia da Silva, para quem se fêz um regimento com
data de 26 de Setembro de 1611 (1), mas não chegou a ser nomeado

(1) Êste regimento é o mais antigo que se encontra, Está na Biblioteca da Ajuda, Cod,
63
5i-vm-2t, fl. 186 a 195. Sofreu umas pequenas emendas, em 26 de Abril de i t , para servir a
D. G onçalo V az Com inho, que não obstante não ter chegado a ir a Angola, não deixou de
receber um adiantamento de mil cruzados e uma ajuda de custo de 6oo#ooo réis, que tudo lhe
foi perdoado em atenção aos seus serviços. (Bibl. Nacional. Secção Ultramarina. Papéis de
Parte I I — Angola 203
e, em seu lugar, por portaria de Abril de 1612, foi D. Gonçalo Couíi-
nho e que estava na posse do negócio dos asientos com a côrte de
Madrid, mas essa nomeação ficou também sem efeito. O m esmo
regimento com pequenes alterações foi dado em 3 de Setembro de
1616 a Luís Mendes de Vasconcelos, que efectivamente seguiu para
Angola como capitão e governador daquele reino.

#
• *

Luís Mendes de Vasconcelos tendo obtido ser nomeado Governa­


dor de Angola, tratou de pedir os meios necessários para o bom de­
sempenho da sua missão, dentro das directivas que lhe marcavam.
Além do regimento dos governadores de Angola, que de há muitos
anos vinha sendo 0 mesmo, com insignificantes alterações, dava-se a
cada governador uma instrução secreta com indicações adequadas ao
momento político e embora se não conheçam, por documento que nos
ficasse, as que se deram a Luís Mendes, vê-se por uma exposição que
êle fêz sôbre os meios necessários para as poder cumprir (1), que, entre
outras recomendações, havia a de deitar fóra os holandeses do pôrto
do Pinda e estabelecer alí uma fortaleza. Outras haveria com respeito
à organização da defesa dos portos e do território submetido e, sobre­
tudo, para a manutenção do respeito e bôa paz com os sobas vassalos
da Coroa, o que o obrigava a prevenir-se com um forte núcleo de tro­
pas. Para tudo isto mandava-se dar-lhe o mesmo socorro, como então
se dizia, anos antes levado por Manuel Cerveira Pereira para Benguela,
o que era manifestamente insuficiente, não chegando mesmo para a
defesa de Luanda, a organizar por completo, e mais difícil que a de
Benguela, quanto mais ainda para guarnecer os presídios do interior e
deitar fóra os holandeses do Pinda, ali estabelecidos com casas em terra
e fazer uma fortaleza.
Alegava Luís Mendes e com justo critério e razão, que se não devia

35
Angola. Anexos. Doc. n.° ). Na Biblioteca Nacional, Res. F. G., n.° 7627, está uma minuta
do regimento que serviu a Luís Mendes de Vasconcelos e foi emendada para depois servir a
5 3
João Correia de Sousa. Ainda na Biblioteca da Ajuda, Cod. i-vm- o se encontra o original
do regimento dado a Fernão de Sousa. Publica-se o primeiro, com a indicação das alterações
36
mais importantes que lhe foram feitas para os outros governadores. Anexos. Doc. n.“ .
(1) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina. Caixas de Angola. «Sabre a falia de gente,
armas e munições q. ha no Reyno de Angola e pouca quantidade q. destas cousas se lhe dá p.*
levar. Anexos. Doc. n.° 37.
204 Angola

fazer prova pelos exemplos passados, mas pelas necessidades presen­


tes, e estas eram de ordem a «estar com grande vigilância sobre todas
as conquistas e terras dos estados de V Mg.de e em Angola muito mais
por ser praça donde depende lodo o meneo do Brasil, e de índias (refe­
ria-se às de Castela), e ser terra muy rica; e pollo mesmo respeito mais
arriscada a ser acometida, pelo que pedia, além de artilharia, polvora,
murrão e peloeiros, parece que setecentos homens de infanteria devida­
mente armados e cem de cavalaria com as respectivas montadas, para
os quais «não será necess.0 que V. Mg.de faça aqui despessa de conside­
ração e he necess.0 que a milicia deste Reino se ordene e governe como a
que reside nos mais de V. Mg.de e deste modo os soldados, que o ouverem
de servir a cavallo ham de ter o cavallo e armas, com que mereçam a
paga que se lhes dá, como também os infantes as armas, com que servi­
rem, as quaes se costumão descontar nos seus soldos, etc. não esquecendo
lembrar no apofitamento das suas necessidades mais instantes «as ca-
deas para as peças q. se mandarem com todo o aparelho para ellas neces­
sário » material que receava, como se vê, pudesse haver falta em An­
gola, mas não certamente para o empregar nos holandeses que em
combates fizesse prisioneiros.
Seria com o fim da defesa e segurança da colónia, ou com o de se
preparar para as guerras pelo sertão à custa da Fazenda Real, a-pesar-
-das expressas proibições do regimento, que êle pedia o socorro tão
completo e tão detalhado ?
T a lv e z fôssem as melhores as suas intenções, mas o certo é que,
chegando a Angola « com os p és de lãa, santificandosse , assy fa la v a e
f a l a em todos os passados mal, e em poucos dias fa zen d o volta se pos em
todo o genero de desordês, etc. (i) como a respeito dêle escrevia o
Bispo Fr. Manuel Baptista, a propósito das guerras com o Rei de An­
gola com que iniciou o seu governo.

(i) Idem, idem. Carta do Bispo D. Manuel Baptista, de 7 de Setembro de 1619, informando
sôbre coisas de Angola. Anexos. Doc. n.° 38 e carta de Luís Mendes de Vasconcelos, de 28
Agosto de 1617, Anexos. Doc. n.® 39. Nesta carta, a primeira, talvez, que Luís Mendes escre­
veu de Angola para o Rei, e de que apenas existe uma cópia feita por Cristovam Soares, Luís
Mendes censura asperamente os seus antecessores, contra quem diz que vai proceder judicial­
mente pelos roubos que praticaram. A respeito dos jagas diz que é muito contra o serviço de
Deus e de S. Mag.i<1 terem-se inirodupdo em Angola, e que governadores e moradores se têm
servido deles como de cães de caça, que lhes tracem escravos e, talvez sangrando-se, diz que o
querem persuadir de que Angola, se não pode sustentar sem o concurso dos ja g a s, mas que isso
só dá lugar a não prosperar o reino.
Parte U — Angola 205

ft
ft *

Muito embora os governos de Madrid e de Lisboa, em mais de um


capítulo das instruções dadas aos governadores de Angola, se não can­
sassem de marcar bem claramente a política de paz e atracção que
queriam ver seguida com os sobados indígenas e em especial com o
Ngola, o certo é que dessa própria política nascia a necessidade de
bater os sobas para os avassalar. .j
Veiu primeiro a provisão proibindo as doações dos sobados, com
ordem terminante para ser publicada e executada em tôda a Con- I]
quista, a-fim-de acabarem taU extorsões e moléstias\ O governador' n
D. Manuel Pereira, que a recebeu e deveria pô-la em execução, arre­
cadou para si o imposto ou tributo que os jesuítas aíe aí guardavam,
ou dividiu-o com eles, o que será mais certo, sem o que eles não
deixariam de protestar, mas, em qualquer dos casos, não o manifestou
aos feitores da Real Fazenda (i). Os que se lhe seguiram, proibida
também, como estava, a conquista das minas de Cambambe, que a
tantas devastações dera lugar, lançaram-se na política dos avassala-
mentos, procurando convencer todos os sobas, por bem ou por mal, a
avassalarem-se a Sua Magestade, para que os defendessemos das guer­
ras que o Ngola e outros lhe moviam, por entendido que por este cami­
nho não ficará nenhum que o não venha a ser, e que negando-se-lhe este
favor e ajuda, com ra\ão de não se lhe poder dar por não serem vassalos,
só por isso o serão ... e este ha de ser o pretnio por que se lhes ha de dar
0favor e não o interesse que eles por isso oferecem... (2).
Esta poliítica ia, fatalmente, cercear os rendimentos e direitos do
Ngola, que a não podia ver indiferentemente. E, porque êle se opu­
nha e protestava, insurgindo-se e atacando os nossos novos vassalos,
passou a ser o obstáculo único à realização dêste plano de paz, acal-
mação e concórdia, muito embora se continuasse em todos os regi­
mentos a ser-lhe dedicado um capítulo, recomendando-se: com El Rey
de Angola trabalhareis todo 0 possível por ter pas e amisade e ver se 0
podeis trazer a minha obediência tratando em primeiro lugar que conceda12

(1) Luciano Cordeiro, Memória do Ultramar, 1620-16297. Impostos, abusos dos governa­
dores, etc. Relatório de António Bezerra Fajardo.
(2) Capítulo do Regimento.
I

206 Angola
pregar-se nossa santa fee etn seu Reyno... ao mesmo tempo que em
* outro, e a propósito dos sobas doados aos jesuítas e dos que se avas
salassem, se determinava ficassem somente sogeitos a minha fazenda ar­
recadando se para ella os tributos q. costumavâo pagar para do precedido
delles se fa\er pagamento aos soldados ordenando como 0 meu feitor os
recolhesse para ella e se carregasse sobre elle em receita, etc.
* 1 Criar uma receita para a Real Fazenda à custa dos rendimentos do
Ngola, poís que todos aqueles sobas lhe eram tributários, e viver com
êle em paz e amizade, tratando em primeiro lugar, ainda por cima, de
'i f o convencer a deixar prègar, entre os seus, a nossa Santa Fé, seria 0
* cúmulo de patetice do Ngola. É claro que passou a ser 0 mais terrí­
vel anti-clerical da sua época e nós, porque: e para conclusão e remate
deste Regimento não tendo mais que vos di{er senão lembrar vos que 0
primeiro lugar naquele Reino tenha a conversão que sempre deve proceder
I e antepor se a t&las as mais cousas, passámos a ter de 0 converter por
■i todos os meios, encobrindo com mais esta ficção e por defeito de uma
educação fradesca, a solução hábil e inteligente que dêmos ao pro­
blema da nossa ocupação em Angola, e que consistiu em, a pouco e
pouco, trazermos à nossa obediência os sobas tributários do Ngola,
isolando êste, quebrando-lhe o prestigio entre os seus, para por fim só
a êle termos de combater, mas então em condições muito mais favo­
ráveis para nós.
*
* »
rf.
Luís Mendes, com p és de lã, santificando-se e dizendo m al dos ante­
cessores, fe ^ -se na volta e lançou-s em toda a desordem, diz-nos indignado
o Bispo Fr. Manuel Baptista. Foi o caso que, chegando a Luanda e
orientando-se sôbre a marcha dos diversos assuntos do govêrno,
soube, quanto à conquista, ter-se revoltado o soba Caíta Callabalanga,
devido a sem ra\oens que lhe fêz Francisco Antunes da Silva, que, por
influência de sua prima casada com o célebre capitão mór Paio de
A raújo e pela deste, junto de Manuel Cerveira Pereira, fôra feito capi­
tão mór da fortaleza do Ango (1). Êste facto de mero vasculho de
senhoras vizinhas, tom ava, então, no govêrno de Angola, foros de

5 3 3
(1) Biblioteca da Ajuda, Cód. i-vm- o- i. Govêrno de Angola de Fernão de Sousa,
tom o i, fl. 414- Lembrança do estado em q. achy a E l R ey de Angolla e do principio de guerra
que lhe deo o g .®r luis m ej.
P a rie I I — Angola 207

coisa grave, por nêle aparecer envolvido o nome de Manuel Cerveira


Pereira, que pela protecção dispensada por Filipe 111 e pelo seu feitio
turbulento, grangeára os ciúmes e ódios de muitos, se não de todos, os
que estavam em Angola.
Luís Mendes julgou necessária a sua presença no sertão para me­
lhor resolver o assunto, e saboreando já o prazer de atirar mais algu­
mas achas para a fogueira em que todos pensavam arderia Manuel
Cerveira, quando a côrte de Madrid soubesse de mais êste escândalo,
para lá partiu acompanhado de tropas, que reforçou com o concurso
dos moradores de Luanda transformados em soldados, e depois com o
dos jagas.
Esta ligação com os jagas tinha-se iniciado alguns anos antes e
teve uma importância considerável no problema da conquista (i).
Os jagas não constituíam verdadeiramente uma família distinta,
pois não eram mais que o conjunto de indivíduos dt diversas tribus,
educados desde pequenos para a guerra e só para êsse fim. Não
obstante a fecundidade das suas mulheres, os jagas não criavam os
seus filhos e enterravam-nos logo que nasciam, quando não os comiam.
Em compensação, de entre os prisioneiros que efectuavam nos seus
assaltos e combates, adoptavam como filhos os rapazes e raparigas
dos i 3 e 14 anos, matando, comendo ou vendendo os restantes. Estes
rapazes eram educados na guerra, usando uma golilha, que não podiam
tirar sem que para isso fôssem autorizados, o que só tinha lugar quando
provassem ser guerreiros valentes, trazendo ao chefe a cabeça de um
inimigo. Aquele que praticasse defronte do inimigo, ou em ocasião
de guerra, qualquer acto que pudesse ser tomado como indicação de
pouca valentia, era imediatamente morto. Por esta forma, para se
verem livres de golilha e para não serem mortos pelos seus, afronta­
vam todos os perigos, tornando-se de desmedida valentia e feroci­
dade (2).
No tempo de Paulo Dias e,de Luís Serrão os jagas auxiliaram os
ngolas contra aqueles governadores, e se em alguns combates, pelo
diminuto efectivo dos nossos, conseguiram algumas vantagens, noutros
sentiram bem a dureza dos seus ataques e a valentia com que se con­
duziam, pelo que deveriam ter pensado que mais lhes valia terem-nos
por amigos.

(1) Vidé, pág. 91. — Sôbre origem dos jagas, Ravenstein (Adventures, pág. 149-153) tendo
estudado tôdas as opiniões emitidas, não conseguiu tirar uma conclusão segura.
(a) Ravenstein, A d ven tu res, pág. 28-35.
2o 8 Angola

Passaram-se alguns anos sem darem maior sinal de si, até que çj0
grupo com que Kinguri seguiu da Lunda para o sul, apareceram
alguns no Libolo, e vemos que se relacionaram com um governador
que conheciam por D. Manuel (i), que deve talvez ser D. Manuel Pe­
reira Forjaz, que comQ comerciante hábil os tivesse aproveitado para
encaminhar os seus negócios para o Bié, se não foi antes Manuel Cer-
veira Pereira que estabeleceu essas relações mais íntimas, pois o vemos
com entendimentos com o Cafuxe, que jaga era, entendimentos que,
possivelmente, se não limitaram à suspensão de hostilidades a troco de
algumas peças, mas iriam até ao auxílio de gente para atacar os ngolas
e os Ambuilas.
Fôsse como fôsse, os jagas passaram a ser dessa época em diante,
os auxiliares das guerras contra os outros indígenas e, por assim dizer,
uma espécie de matilha que se lhes assolava e de efeitos tais, que o
Bispo, D. Fr. í$anuel Baptista a propósito das campanhas de Luís
Mendes escrevia: «havendo jagas as guerras são sem nenhum perigo e
com descrédito dos portugueses, todos são de parecer que os haja, dando
por causa bastante qualquer mentira, pela muita gente que cativam, man­
timentos e gados que tomam, que é o que os lá leva, primeiro que o ser­
viço de V. M.de» (2).
*
* *

Como vimos, Luís Mendes de Vasconcelos, ao ter notícia da revolta


do Caita Callabalange partiu logo para o interior a-fim-de o atacar,
mas por parecer e conselho de todos não o fêz, e é então que fazen­
do-se na volta, como escrevia o Bispo, fe-ç pregações em seu louvor, afir­
mando que fora tiranisado de maneira que justamente se apartara de nós
e que por estar disso mui inteirado nunca sua tenção fôra dar-lhe guerra,
senão ir dar em Cabaça e Dongo e sujeitar E l Rei de Angola para assi
de uma vez acabar tudo (3).
E assim, efectivamente, foi atacar o Ngola Ndambi, que segundo
acrescenta o Bispo estava quieto em suas terras e retirando-se mais
adentro as deixou com muita gente lavradora e sem nenhuma resistência,
informação manifestamente parcial, porque quem conhece os costumes
indígenas, sabe que não deixariam de se preparar para o ataque e

( 1) Ravenstein, Advenures.
(2) Anexos. D oc. 38 cit.
3
( ) Idem, idem.
Parle II — Angola 209

que se retiraram para o interior, não teria sido com outro o


de concentrar fôrças pela junção de quaisquer reforços que esperavam.
O certo é que o Ngola Mbandi foi derrotado, fugindo para o mato
e abandonando a embala, que Luís Mendes mandou saquear e des­
truir, ordenando a transferência da fortaleza ou presídio estabelecido
por Bento Banha Cardoso no Ango, para perto de onde estava a em­
bala, a um dia de marcha (i), garantindo assim, no futuro, a segurança
da terra.
Como o Ngola Mbandi tivesse fugido, Luís Mendes de Vasconcelos
resolveu considerá-lo deposto, fazendo eleger em seu lugar um Samba
Antumba, que parece se tinha feito cristão com o nome de António Cor­
reia (2) e a quem impôs o tributo de cem escravos, ao mesmo tempo
que lhe reduzia' ó numero de súbditos ou vassalos, sujeitando directa-
mente à Coroa os quísicos, de maneira que a bem pouco se estendia a
autoridade do novo rei (3 ). •
0 Ngola Ndambi, refeito do susto, voltou a aparecer, assentando
arraiais numa das ilhas do Cuanza, sem se apresentar como rei, mas
continuando como tal a ser considerado pelos seus, que não podiam
reconhecer o Samba Antumba ou António Correia, por não ser filho
legítimo de reis e a sua eleição não poder ter lugar emquanto o Ndambi
fôsse vivo.
Luís Mendes de Vasconcelos adoeceu e foi obrigado a retirar para
Luanda, deixando em seu lugar seu filho João Mendes, de dezanove
anos de idade e havido por mal inclinado, e por seu aio, como escreve o
Bispo para realçar a menoridade daquele, a Luís Gomes Machado,
aborrecido de todos pela sua má vida, os quais foram continuando as

63
(1) Ravenstein, nota (4) a pág. i diz que 0 sítio escolhido foi o da Praça Velha, dos
mapas modernos, ao sul da actual Ambaca.
5
(2) Biblioteca da Ajuda. Cod. i-vm- o. 3
3 0
( ) Catálogo refere que nesta guerra com o Ngola, Luis Mendes, ao entrar em batalha,
formou a sua tropa ao uso da Europa e, advertido pelo seu capitão-mor Pedro de Sousa Coelho
dos inconvenientes que tal formação tinha em face do modo de pelejar dos indígenas, Luis Men­
des insistiu, mas reconhecendo em breve o erro, determinou ao capitão-mor que adoptasse a
disposição tactica que entendesse.
Se este facto fosse verdadeiro, o Bispo Fr. Manuel Baptista, que em tudo e por tudo cen­
sura Luís Mendes, não deixaria de 0 aproveitar. Deve talvez haver um fundamento para esta
versão no facto de Luis Mendes se opor a aceitar o concurso dos jagas nos combates e, possivel­
mente, correndo mal para as nossas tropas qualquer ataque efectuado, atribuíram o insucesso
à falta dos jagas e Luís Mendes deixou-se persuadir de que êles eram indispensáveis. Como foi
autor da Arte Militar, os cronistas julgaram mais verosímil que êle quisesse aplicar às guer­
ras da África os preceitos que desenvolvera na sua obra para as guerras na Europa, e dai a ver­
são que todos reproduziram.
27
210 Angola

guerras, assaltando e prendendo os indígenas, não escapando o pró­


prio Caita Calabalanga, e chegando ao Ambuíla Cabonda e a outros
estabelecidos entre o Bengo e o Dande, com mais ou menos justifica­
dos protestos do Rei do Gongo, que via assim invadida a sua fronteira
e prejuízo certo dos portugueses que ali viviam e por lá se achavam a
fazer negócio, e que perderam as suas fazendas, além de muitos terem
sido mortos.
*
* #

De tôda a acção desenvolvida por Luís Mendes de Vasconcelos,


resultou, para a Coroa Real, a vassalagem de 109 sobas, devendo,
uns por outros, pagar quatro peças , ou um total de 436, que vendidas
a 22»ooo réis, dariam 25.000 cruzados (1), e para êle, propriamente,
uma quantidadÇ tal de escravos, que teve de mandar fazer na liamba
um acampamento próprio, a fim de ali os concentrar, vigiados por pes­
soal seu, e que mais tarde se transformou em um cóio de salteadores,
com que os seus sucessores tiveram de acabar.
Para a economia da colónia resultou, diz-nos o Bispo D. Fr. João
Baptista, que «com estas extorções todas as fe ir a s cessaram, pararãm os
com ércios e resgates, até em muitas partes do reino do C on g o aonde tam­
bém chegaram as g u erra s e cerraram -se os caminhos, d e maneira que p o r
n ã o haver resgates perece a gente â fo m e , perdem-se os arm adores e
va e-se acabando tudo d e rem ate », o que em parte era verdade, porque
o facto de o N g o la M b a n d i não se querer considerar rei, dava lugar a
que não houvesse feiras, porque, sem êle as mandar abrir, os indígenas
não as freqüentavam (2).
A acção de Luís Mendes de Vasconcelos provocou reparos na côrte
em Madrid e em Lisboa, onde foram recebidas queixas contra o seu12

5 3 3
(1) Biblioteca da Ajuda, Cód. i-vm- o, ref.°, fl. i . Instrução secreta dada a Fernão
de Sousa. 2g-Março-624.
(2) O autor do Catálogo, Lopes de Lima nos Ensaios e Ravenstein, para só citar os mo­
dernos, copiaram de algures a informação de que Luís Mendes de Vasconcelos, com o medida
de m oralidade, proibira que os moradores brancos, mulatos e negros calçados fossem às feiras
no interior, e Ravenstein, em nota, indica que Livingstone, no Missionary Traveis 1857, pág. 371,
lhe chama lei ditada por motivos humanitários. Esta medida estava tomada pelo governo de
Portugal ou de Madrid, em regimento anterior ao de Luís Mendes, pelo menos no de 1611 para
Francisco C orrêa da Silva, e constituía o capítulo 21.°, sendo portanto absolutamente falsa a
inform ação. P o r acaso deu certo, pois no tempo dêle, estando fechadas as feiras, não iam lá
brancos, nem outros quaisquer, mas não seria Luís Mendes, depois dos escravos que arranjou
que proporia essa medida moralizadora.
Parte 11 — Angola 211

procedim ento, sendo mandado sindicar por Luís Bezerra e, depois de


preso com os filhos em Massangano (t), remetido para Lisboa, sem que
haja noticia de qualquer outra sanção.
Contudo, por muitas faltas e mesmo crimes que tivesse cometido
em m atéria de administração, a obra política de Luís Mendes impõe-se,
porque êle foi o primeiro Governador que teve a verdadeira intuição da
situação do reino ou sobado de Angola, orientando a sua solução no *
sentido do interesse do Estado, muito embora tirasse para si o possível
proveito. O facto de ter destruído a embala do Rei de Angola, e de
lhe ter imposto jim tributo anual, iniciou o declínio dêste potentado, e
as lutas que se seguiram e 'duraram ainda por largos anos, não foram
mais que o estrebuchar da agonia. Tinha de se fazer o que êle fêz,
para não nos vir a suceder em Angola o triste espetáculo do Congo.
A orientação dada pela Metrópole nos regimentos, da boa paz e harmo­
nia com o Ngola, era errada, e, se as circunstâncias flvessem encami­
nhado a sua realização, a nossa fronteira talvez não tivesse chegado
ao Cuando (2).

* * ^

Depois de Luís Mendes as relações com o Ngola entram numa fase


diferente.
Com o já ficou dito, as guerras tinham afastado os portugueses do
interior. Os indígenas não vinham atacar os nossos presídios, mas
não consentiam que os nossos se internassem isolados para fazerem o
seu negócio. As feiras fecharam; os caminhos, quer para o Congo,
quer para a Matamba e Cassange, estavam-nos vedados. Não havia12

(1) E sta informação consta do único documento que se encontra do governo de João
Correia de Sousa. Biblioteca Nacional. Secção Ultramarina. Angola. Caisa 145,— documento
que está bastante danificado e com dificuldade se pode ler. Vide Anexos. Doc. n.° 40.
(2) L uís Mendes de Vasconcelos escreveu uma obra muito interessante: Do Sitio de Lis­
boa, sua grandeza, Povoação e Commercio, Diálogos de Luís Mendes de Vasconcelos, em que
são tratados assuntos económicos coloniais. Oliveira Marreca, apreciando-a no Panorama,
1842, pág. 379, i.° vol., escreveu: O discernimento com que discursou em assumpto como era o
das colonias, é para notar, se rejlectirmos que, ao tempo em que se publicava a sua obra (1608),
não tinha ainda aparecido o primeiro escripto economico que viu a luj na Europa— 0 tratado
do italiano Antonio Serra, impresso em iõ i 3 . Mas sem este auxilio, o bom siso do escriptor
portugueq, e alguns capítulos da Política de Aristóteles, que cila, revelaram-lhe verdades que só
muitos anos depois foram apregoadas e desenvolvidas pela escola italiana, e pelos economis­
tas in g lejes e franceqes .. Contrahida a questão a estes termos, pode asseverar-se que Vascon­
celos a tinha olhado, como passados mais de dois séculos,*a olharam Ricardo e outros economistas.
212 Angola
comércio com o interior e a situação tornava-se grave, não só para
comerciante de Luanda, como para o próprio Estado, pela falta do
rendimento proveniente da exportação dos escravos e marfim.
João Correia de Sousa, que sucedeu a Luís Mendes, assumia o g0_
vêrno em circunstâncias difíceis e, não podendo tratar com o Samba
Antumba ou António Correia, que nenhum indígena reconhecia como
rei de Angola, teve de mandar o Padre Dionísio de Faria Barreto e um
Manuel Dias, intérprete, para convencerem o Ngola Mbandi a fazer-se
cristão e a sair das ilhas do Cuanza e vir íungarse à terra firme.
As negociações foram bem sucedidas e emquanto o padre Dionísio
ficava junto do Ngola, Manuel Dias veiu com as três irmãs dêste, a
Ginga Ambonde, a Cambo e a Quifunge , a Luanda para confirmar ao
governador as condições de paz, garantidas pela conversão ao cristia­
nismo das três pretas. Lê-se nas crónicas que foi revestida do maior
aparato a recepfão que João Correia de Sousa preparou à embaixada
do N gola Mbandi e conta-se que, tendo-se esquecido de mandar pôr
um tamborete ou alcatifa para se assentar a embaixadora Ginga Am ­
bonde,, esta chamou uma das escravas que a acompanhava e mandan­
do-a ajoelhar, se assentou no dorso emquanto durou a recepção e, ter­
minada esta, como a escrava se não movesse da posição em que estava,
chamaram-lhe a atenção para que a levasse, ao que respondeu que a
deixava por lhe não ser permitido tornar a usar de tal assento.
Estabelecidas e assentes as condições da paz, tratou-se seguida­
mente da conversão ao cristianismo da embaixadora Ginga e suas
irmãs, o que se realizou com grandes festas e pompa, recebendo a
Ginga o nome de D. Ana de Sousa, depois do que regressou aos seus
domínios, acompanhada então por Bento Rebêlo em vez de Manuel
Dias, a dar conta ao irmão do que se passara, levando para êle valio­
sos presentes e um auto que se elaborou com as condições tratadas,
auto de que se remeteu outro exemplar para a Côrte em Madrid, pe­
dindo a aprovação real.
Emquanto esperava a resposta de Lisboa ou de Madrid, João Cor­
reia de Sousa teve de liquidar a situação criada pelos atrevimentos de
um soba Cassange que vivia em uns matos próximos de Luanda, a que
chamavam a Ensaca do Cassangi, e que mandava a sua gente não só
assaltar as comitivas que saíam de Luanda, mas até as próprias casas
dos habitantes, roubando-lhes os escravos quando estes iam à agua na
lagoa dos Elefantes, de que os habitantes se abasteciam.
Êste gentio da Ensaca do Casangi devia ser jaga, pois tinha as mais
Parte II— Angola 2 l3

íntimas relações com a Quiçama, e tendo João Correia de Sousa en­


carregado a Pedro de Sousa, seu capitão-mor da gente de guerra, do
ataque à Ensaca, mal êste se iniciou, Pedro de Sousa, receando que o
gentio lhe fugisse para a Quiçama, mandou pedir que lhe fôsse impe­
dida a passagem do Quanza, o que João Correia de Sousa confiou a
João da Vilória, castelhano que por muitos anos viveu em Angola
e ali casou e enriqueceu, e a seu genro António Bruto, que legou o seu
nome à passagem do Cuanza que foi encarregado de defender, como
Roque de S. Miguel, também castelhano, o legou igualmente a uma
outra passagem que havia no local chamado Sambulo e que passou a
ser conhecido por Penedo do Roque, como o outro era o Penedo do Bruto.
Cortadas as comunicações do Casange com o sul pelo Cuanza, não
teve êle outro recurso senão fugir para o norte, internando-se no Congo,
com cuja gente, dizem os nossos cronistas, tinha entendimento, o que
e muito para pôr em dúvida. Continuando os nosso^na perseguição,
foram atacar o Nombo Angongo no Congo, que reüniu a sua gente
Para se defender, obrigando os portugueses que residiam nas suas
terras a fazer parte das tropas que mobilizara contra nós. De pouco
lhe valeu porque a certa altura os portugueses fugiram, com o arma­
mento que tinham, para o nosso acampamento e, assim reforçada a
nossa gente, foram os de Nambu-á-Ngongo e Mbumbi, que se lhe
tinham juntado, completamente derrotados nas margens do rio Loge,
em 1622, onde morreram grande número de fidalgos do Congo. Não
obstante, os portugueses eram apenas cento e trinta e a maioria ra-
pa\es com pouca barba, facto que 0 chefe conguês, que comandava a
tropa, não pôde deixar de exteriorizar com espanto perante o nosso
capitão-mor Pedro de Sousa, que lhe respondeu: 0 que vês è 0 que fize­
ram os filhos, porque se eu trouxesse os pais que deixei no arraial, não
ficava na corte do teu rei fidalgo com vida (1).
Desta espanholada se vingaram os do Congo, matando a seguir
quási todos os portugueses que residiam no Bembe.
Desta guerra da Ensaca do Cassangi, ou de outra que os cronistas
não mencionam (2), obteve João Correia de Sousa grande número de12

(1) Historia das Guerras Angolanas de Oliveira Cadornega. Capitulo i.° da 1.* pane do
i.° tômo, pág. 62. Exemplar da Academia das Sciências de Lisboa. Anexos. Doc.0 n.° 41.
5 3
No cód. i-viu- o da Biblioteca da Ajuda, a fl. 2, está um mapa do sítio da Ensaca onde
se deu esta guerra, que é interessante. Paiva Manso, Historia do Congo, publica a pág. 174 o
doc. ora que se refere a esta guerra.
(2) Paiva Manso, História do Congo, doc. c-m, refere uma guerra dada pelo capitão Sil-
214 Angola

escravos que mandou para o Brasil. Acusações graves lhe devem


sido feitas por esse motivo, pois que do Reino foi enviada ordem ^
Governador do Brasil para tornarem os escravos para Angola e man°
dou-se proceder a averiguações sôbre a legalidade do cativeiro (i).

« *
* *

Nem em Madrid nem em Lisboa tinham ainda resolvido a consulta


feita por João Correia de Sousa sôbre o caso do rei de Angola, de que
fôra mandado o auto e, entretanto, João Correia de Sousa, por qual­
quer motivo, indisposera-se com Gaspar Alvares, o mais importante e
o mais rico dos negociantes portugueses que viviam em Angola. A
questão agravoif-se a ponto de João Correia a querer resolver violenta­
mente, mandando prender Gaspar Álvares, que, segundo dizem, para
evitar a prisão, se refugiou no Colégio da Companhia de Jesus. Esta
resolução mais veio irritar João Correia, que, não podendo suportar o
desacato à sua autoridade de Governador, perante o previlégio da
igreja a respeito de supostos criminosos, pediu aos jesuítas lhe resti­
tuíssem Gaspar Álvares, e, como êles não anuíssem ao seu pedido, re­
solveu prendê-los, bem como ao Ouvidor, o que realmente fêz, embar­
cando-os em um navio que seguia para Cartagena, não conseguindo
contudo prender o Gaspar Álvares, que com outros jesuítas fugira para
o Congo.
Consum ada a violência veiu a reflexão, e João Correia de Sousa,
julgando conveniente vir também ao reino para se justificar, embarcou
em um outro navio que também se destinava a Cartagena, onde foi
visto pelo ouvidor, que começou em altos berros a perseguir João
Correia de Sousa e pedindo para que os prendessem a ambos, o que
lhe foi satisfeito. João Correia veiu depois para Portugal e terminou
os seus dias no Limoeiro, em Lisboa, depois de lhe terem sido confis-

vestre Soares, com auxílio dos jagas, a Engombè e Cabanda, e ainda a destruição do Bango com
consentimento do rei do Coango. Este rei do Coango é aquele de quem se conta que prendera
cinco mercadores portugueses que apareceram no seu reino e ficaram escravos dos makokos
m as tais calamidades sucederam no reino depois disso, que êle resolveu libertá-los e mandá-los
«o rei do Congo, compensando-os com presentes dos prejuízos que sofreram.
(i) Biblioteca da Ajuda. Cod. 5 i - yjji - 3 o , ref.°. Instrução secreta.
Parie I I — Angola 2r5
ca dos os bens (i), prisão e confiscação que os cronistas da época (2)
ligam e atribuem à questão com os jesuítas, mas que talvez antes tives­
sem como causa principal a remessa de escravos para o Brasil e a
guerra com o rei do Congo, de que êsfe se queixara (3) e que, como
represália, muito possivelmente induzido pelos Jesuítas que com Gas­
par Álvares se refugiaram no Congo, resolveu pedir aos holandeses,
por intermédio de algum dos capitães dos navios que freqíientavam o
Pinda, para efectuarem um ataque a Luanda, prometendo auxiliá-los
no desembarque com sua gente que tinha na ilha.
Serenada a agitação em Luanda, os jesuítas não perderam a opor­
tunidade de tratarem dos seus interêsses, e Gaspar Álvares foi fazendo
o seu testamento, com data de 23 de Fevereiro de 1623, declarando
que estou metido de dés dias nesta Companhia de Jesus donde sou noviço
e que não posso fa\er este testamento em publica forma, nem o posso
aprovar por embarasar me escondido por hum aleive f d ç o e fa lço teste­
munho que 0 Governador João Correia de Sousa me levantou, não
obstante o que 0 tabelião o aprovou em 27 de Outubro de 1623 e, no
dia imediato, o Bispo D. Fr. Simão Mascarenhas, sendo Governador
Geral, lhe lançava 0 Cumpra-se 0 que toca ao pio.
Era precisamente o que tocava ao pio que interessava à Compa­
nhia de Jesus, pois Gaspar Álvares, àparte uns pequenos legados a
pessoas de família, à Misericórdia de Lisboa e a um amigo ou empre­
gado, legava a sua fortuna, avaliada em 400.000 crusados, à Compa­
nhia, parte em legados com fins determinados, como para estabelecer
um seminário no Congo; outro em Luanda, onde tivessem ensino,
sustento e vestir, pelo menos 12 rapazes filhos de homens pobres, e
um hospital, e outra parte em escravos, terras, dinheiro, etc., proce­
dendo assim, segundo escrevia o Governador Fernão de Sousa (4),
porque sendo o maior mercador que ouve e avera nesta Ethiopia e não
podia por melhor meyo pagar ao gentio 0 que lhe devia que com aplicar
sua fazenda a obras pias e seminários, em que os filhos e descendentes
do gentio aprendão e alcancem verdadeira noticia da nossa santa fé .

(1) Figanière a pág. 247 do seu Catálogo dos Manuscritos Portugueses existentes no Mu­
seu Britânico, cita um documento que diz respeito à confiscação dos bens de João Correia de
Sousa, Governador de Angola.
(2) Cadornega. Na parte do cap cit.
3
( ) Paiva Manso, História do Congo. Doc. cu e cm.
(4) Carta do Governador Fernão de Sousa, de 25 5 36
de Dezembro de 162 , a fi. ç do-
5 3
Cod. i-vm- o da Biblioteca da Ajuda.
t
1

2 l6 Angola
A -p esa r-d o cumpra-se d o G o v e rn a d o r G e ra l, F e lip e 111, p eias recla
•mações rece b id a s, m an d o u qu e o s jesu ítas restituíssem to d o s os be '
I de que se tinham a p o d e ra d o , com o fu n d am en to de que o testament
não fôra feito em p ú b lica -fo rm a e servira m de testem unhas o Reitor €
o u tro s re lig io so s da C o m p a n h ia , além de que p a r a entrarem na posse
d o s b e n s tin h a m co rro m p id o os o ficiais de defu ntos, d an d o a ca d a um
» m il c ru s a d o s ( i).
* A o s o ficia is de defuntos e ausentes qu e in tervieram no caso foi
d a d a o rd em de p risão, m as a-p esar-d e to d o o segred o tiveram quem
o s a v isa sse e fugiram . D o seu la d o , o G o vern a d o r G eral F ern ão de
S o u s a p rom etia que o in ven tário da fazend a de G asp ar A lvares se
fa r ia e in form ava, não se tem perdido em estar esta fazenda em mãos
dos Padres da Companhia porque nelles está mais segura que em The-
'I
\oureiros e se o testamento se anullar, acha-la-hão os herdeiros sem que­
bra, nem demeiiSiyção, porque a arrecadão e beneficiaô como sua, e não
a despendem como fa\em os Thesoureiros, em que V. Mag.de manda se
tenha grande consideração porque os nomeiaõ os Bispos, seus provisores,
em homens pobres que a recebem para não dar conta dela (2).
O inventário foi tendo demoras até que esqueceu, e a Companhia
de Jesus ficou de posse da herança, não tendo nunca cumprido as dis­
posições de Gaspar Álvares quanto aos seminários e hospital.

(1) C on ta-se que tôda esta questão de G aspar A lvares foi originada na intervenção dos ,
jesuitas para o livrarem de um a situação ridícula após uma cena de amores, mas fôsse qual •]
fosse a origem , o certo é que já anteriorm ente G aspar Á lvares era um bemfeitor da Com panhia ;
de Jesus e tinha direito a ser considerado fundador, por ter fundado, ou à sua custa estabele­
cid o , em L u an d a, uma escola de português e latim dirigida pelos padres da Com panhia, ao que
êle se refere no seu testam ento.
, * U m a có p ia deste testam ento deveria encontrar-se, pelas indicações deixadas pelo V isconde
de P aiva M anso, no A rquivo do Ministério da Marinha e Ultram ar, provisòriam ente incorpo­
rad o na B iblioteca N acional, S ecçã o U ltram arina, no processo Ofícios dos Bispos de Angola,
i j 5 3 - i 8 2 5 , Março de 1773. P o r qualquer m otivo êsse processo foi organizado por m aços com
•* ! o u tro s títulos, e, isolado entre êles, encontrou-se uma relação dos bens apreendidos aos jesuí­
tas em A n g o la , quando se deu execução ao decreto pom balino que os expulsou de P ortugal e
seus dom ínios.
Nessa R elação dos rendimentos, certos, etc., datada de 27 de Julho de 1760 e assinada pelo
escrivã o da fa2enda A n tón io Ferreira C ard oso, Anexos. D oc. n.° 42 se transcreve o testamento
d e G asp ar Á lv ares, com tôdas as aprovações e cumpra-se e também se trancreve a provisão da
Mesa da C on sciência e Ordem de O utubro de 1624, em que se m andava que a Com panhia de -
Jesus restituísse os bens de que se apossou e se procedesse ao seu inventário o que nunca se 1
cum priu, a-pesar-das ordens dadas.
5
O origin al dêste últim o docum ento encontra-se a fls. 19 do C ód. t-v m - o da Biblio­3
I teca da A ju d a , já referido, e no mesm o cód ice se encontram ainda outros docum entos refe­
ren tes ao assunto.
(2) B ib lio te ca da A juda. C ód . 5t-vm -3o, cit., fl. 320. C arta para a Mesa da Consciência
I.
[ P a rle 11— A n g ola 2 l7

*
* #

João Correia de Sousa deixou no seu lugar o seu capitão-mor Pedro


de Sousa, a quem logo o rei de Angola mandou macun^es pedindo-lhe
desse cumprimento ao capitulado, de que se fizerão autos em aprova­ • / '
ção e também se remeteram para o Governo, sem nenhum resultado.
Chegou então o Bispo D. Fr. Simão Mascarenhas, a quem foi en­
tregue o govêrno, ficando Pedro de Sousa no seu antigo cargo de capi­
tão-mor. Novamente o Angola Kiluangi manda cumprimentar o novo
Governador, pedir a resolução do assunto pendente, e ao mesmo tempo
que lhe desoprimissem o reino do jaga Caçange, de quem Luís Mendes
se tinha socorrido para o atacar.
Atendeu o Bispo êste último ponto e mandou Ped» de Sousa cas­
tigar o jaga, mas por questões havidas na eleição do Bispo e ciúmes
de Pedro de Sousa, que se vira assim desalojado do cargo de Governa­
dor, as cousas continuaram na mesma, pelo que o Angola se conven­
ceu de que o estavam enganando, e, vendo-se desprestigiado perante os
seus, de paixão morreo e di\em q. de peçonha q. ele mesmo de desesperado
tomou (i), ao passo que outros afirmam que foi a Ginga que o mandou
envenenar.
Pertencia agora o reino à Ginga, D. Ana de Sousa, que se apres­
sou a comunicar ao Governador D. Fr. Simão Mascarenhas o faleci­
mento do irmão e a sua eleição, pedindo o cumprimento do tratado i i
de que ela tinha sido a negociadora, pedido que, da mesma forma que
os anteriores, ficou sem solução, por de Lisboa não vir resposta alguma. 1 r ,
<jMas, o que pedira o Rei de Angola e quais eram as condições de
paz estipuladas, que tanto tempo precisavam para serem apreciadas e
resolvidas ?
r

í r
Bem pouco, a final, e bem possível de resolver dentro das atribuições f -
e poderes do Governador Geral, se o assunto se não ligasse com os

J
cativos feitos por Luís Mendes de Vasconcelos, a que já se fêz refe­
i
rência, e eram em tal número que ocupavam, com o seu acampamento
uma parte importante da província da liamba.
As condições de paz estipuladas com a Ginga em nome do irmão,
consistiam: em lançarmos fora das suas terras o jaga Caçange que o
f-
5 3
(t) Biblioteca da Ajuda. Cód. i-vm- o, já citado fl. 414.
28
t-
r
A n g o la
2 r8
guerreava; em lhe restituirmos os sobas e os quisicos de sua obediência,
que Luís Mendes lhe tinha tomado, porque não podia ser rei sem vas­
salos e sem cativos que o servissem e, íinalmente, que retirássemos o
presídio de Ambaca para qualquer outro ponto, porque estando dentro
das suas terras e a um dia da sua povoação e côrte, se não podia con­
servar, porque para êle era um desprestígio e um impedimento para o
comércio, peia cubiça dos brancos, que assim devassavam as suas
terras.
Estas condições foram aceites em conselho da Câmara e ouvido o
Bispo e Padres, concordando todos com elas e também com o se re­
tirar o presídio de Ambaca para a Luínha, o que tudo poderia ser de­
terminado pelo Governador, se não houvesse, como já ficou dito, o
obstáculo da restituição de alguns sobas e dos quesicos, avassalados por
Luís Mendes, que representavam uma importante fonte de receita para
a Fazenda R eaf
*
# *

Estavam neste pé as relações com o Reino de Angola, quando Fer-


não de Sousa chegou a Luanda, em Junho de 1625, nomeado Governa­
dor Geral.
A Rainha Ginga, D. Ana de Sousa, preta inteligente e altiva, verda­
deiramente educada para dominar o seu povo, que a respeitava e temia
pelas suas crueldades, estava irrequieta, não podendo compreender as
demoras burocráticas na confirmação pela Metrópole das condições de
paz que ela negociara. Dizia-se que fôra ela que, descontente com a
passividade do irmão, não só o mandara envenenar, mas para lhe
suceder no reino, houvera âs mãos um filho único do irmão, que devia
ser o seu herdeiro e estava em poder do ;aga Caza Cangola, e o ma­
tara, arrancando-lhe o coração e arremeçando o corpo do rio Cuanza,
apregoando e fazendo constar aos indígenas êste requinte de crueldade
e maldade, para mais se fazer temer entre êles.
Pela nossa parte assistia junto dela apenas Bento Rebelo, pois que
o Padre Dionísio de Faria, quando se deu a morte do Ngola Nbandi,
com receio do que lhe pudesse suceder, pretestou ter de ir a Ambaca
para se confessar e não mais voltara à côrte do Ngola. A situação
era insustentável, tanto mais que a Ginga, não obstante aparentar o
desejo de manter as melhores relações com o Governador Fernão de
Sousa, que a presenteava e lhe prometia uma rápida solução ao assunto,
Parte 11— Angola 2I9
procurava por outro lado chamar a si os nossos escravos e quimbares
(gente de guerra preta) que passavam pelos seus domínios, oferecen­
do-lhes terras para se estabelecerem e fazerem os seus arimos, o que
muitos aceitavam, chegando a fugir para ela senzalas inteiras.
Afluíam as queixas ao Governador, não só pela perda que sofriam
com a fuga dos pretos, mas pelo perigo que representava o aumento
de poder da Ginga com a nossa gente de guerra. Fernão de Sousa
pôs o assunto em Conselho, assentando-se que se devia mandar pedir
à Ginga que restituísse os quimbares e, não o fazendo se rompesse com
ela, não lhe admitjndo mais recados.
Em cumprimento da resolução tomada, Fernão de Sousa mandou
Domingos Vaz ao Dongo, com recado à Ginga para a convencer a
mudar de procedimento, ao que ela respondeu com nova evasiva, pe­
dindo que em troca lhe mandasse padres da Companhia de Jesus, o
que Fernão de Sousa satisfez mandando os padres Jeaónimo Vogado e
Francisco Pacónio, mas com ordem de esperarem em Ambaca a notí­
cia da entrega dos quimbares e, só então, seguirem para o Dongo.
Forçada por esta forma a defenir a sua atitude, a Ginga recusou-se à
entrega dos quimbares e escravos e Bento Rebelo e Domingos Vaz reti­
raram do Dongo.
Tentou ainda Fernão de Sousa por meios brandos evitar o recurso
à guerra, mas tendo o sobeta Airequiloange, que pertencia ao reino do
Dongo e estava estabelecido nas Pedras de Mao Pimgo, mandado
comunicar que se queria avassalar e não reconhecer a Ginga como
rainha, esta, despeitada e pouco tempo depois, quando se fazia a aber­
tura de uma nova feira nas terras do Airequiloange, fingindo que man­
dava escravos a essa feira, preparou uma guerra para o atacar.
Prevenido o Aire veiu pedir socorro à fortaleza de Ambaca e foi
em seu auxílio o capitão Estevam de Seixas Tigre, que destroçou a
gente da Ginga que se opunha ao seu avanço para a embala do Aire.
Como a Ginga fizesse novo ataque, mandou o Tigre sair uma pequena
parte da sua força sob o comando de Pedro Leitão, e a Ginga, já conhe­
cedora dos nossos hábitos de guerra, fingindo que retirava e abando­
nando as bagagens, para se sevaré nella, caiu sôbre os nossos, matando
o Pedro Leitão e dois soldados, e levando prisioneiros os seis restantes,
retirando então para as ilhas do Cuanza, onde tinha feito a sua côrte.
Com êste sucesso a Ginga cobrou alento e forças, e iludindo sem­
pre, disfarçando habilmente os seus intentos, ao passo que mandava
embaixadores a Fernão de Sousa para justificar o seu procedimento,
A n g o la
220

fomentava a rebelião dos sobas que se nos tinham avassalado, e a ponto


tal que um soldado, Manuel Foz Landroal que se refugiara nas suas
terras e durante quatro anos vivera com a sua gente, auxiliando-os
contra os nossos, estando doente e sentindo a morte, quis arrepen­
der-se e confessou o trama urdido da revolta de todo o gentio do
Museque.
A situação era gravíssima. Consultas para o reino, já se sabia que
não tinham solução, pois que pela demora havida para resolver o que
propuzera João Correia de Sousa, é que se tinha chegado ao estado a
que se chegara.
Fernão de Sousa conhecendo o meio, manobrou com hábil política
e, partindo do princípio de que sendo o Aire Quiloange um soba vas­
salo da Coroa e não o sendo a Ginga, mandando o regimento que lhe
deram, no seu capítulo 8.°, que prestasse socorro aos sobas vassalos
quando atacadc^ pelos que o não fôssem, submeteu o assunto em con­
selho de Capitães, Câmara, Ouvidor e Provedor e todos foram de pare­
cer que se defendesse o Aire e, atendendo a que estava ameaçada a
segurança dos presídios e se preparava um levantamento geral, resol­
veram que . se fizesse a guerra à Ginga, a qual era não somente justa,
mas necessária pelos motivos e razões expostos. Não contente com
esta consulta favorável aos seus planos, quis mais, ou quis antes garan­
tir-se com a autorização de quem tudo mandava, e foi ao Colégio da
Companhia de Jesus expor o que se passava e aí, por todos os padres
da Companhia, letrados e religiosos, clérigos e vigário geral, retinidos
em Conselho, lhe foi confirmado, por auto assinado por todos, que a
guerra era justa e necessária e com tal convicção, que o padre reitor
Duarte Vaz, tendo de-certo sempre em mira a obra da evangelização,
autorizou que os padres António Machado e Francisco Pacónio, ambos
sacerdotes e prègadores, acompanhassem a guerra à custa do Colégio.
Foi dada ordem de mobilização. Mandou-se tocar as caixas lan­
çando os bandos para tal fim, intimando os moradores válidos a acom­
panhar a guerra; organizando uma companhia de infanteria e outras
de guerra preta; avisando todos os que estavam pelo interior para
recolher a Luanda; mandando reünir na ilha todos os mantimentos,
munições, armas e cavalos e apetrechando as embarcações para o
transporte da carga pelo Cuanza até Massangano, etc.
Bento Banha Cardoso, há pouco regressado do reino, era o capitão
mór da gente de guerra; António Bruto, o sargento mór e nomeara-se
também um Auditor de Campo, Bento Rebelo Vilas Boas e um escri-

mâ:
Parte II— Angola Hl
vão, para )u*gar das causas, e tudo organizado e a postos para a par-
tida, em um sábado, sete de Fevereiro de 1626, iniciou 0 quilombo a
fliarcha, ao som de guerra, com toque de caixas, trombetas e pífanos,
seguidos de infanteria, e da gente de cavalo, e à frente, a cavalo, o
capitão mór Bento Banha Cardoso, que 0 governador Fernão de Sousa
acompanhava, até à Lagoa dos Elefantes, precedendo o guião com a
sua escolta.
Não se esqueceu Fernão de Sousa de dar um regimento ao capitão
indr, e por êle vemos que um dos fins que se tinha em vista com a
guerra, era a investidura do Airequíioange, como rei do Dongo, cujo
trono se acharia vago, depois do ataque que se ia dar à Ginga, pela
prisão desta ou pela sua fuga (1).
Do auto de vassalagem a que deveria proceder, constaria que Aire-
quüoange, Rei do Dongo, por si e por todos os seus sucessores, se obri­
gava a pagar de feudo e baculamento cem peças da Ilidia; a abrir fei­
ras e tê-las sempre correntes nos locais que fôssem indicados; a dar
ajuda de guerra para castigo dos sobas rebelados, sempre que lhe fôsse
pedida, obrigando-os a pagar os baculamentos que devessem, e respon­
sabilizando-se pelos dos sobas em sua obediência. Pela nossa parte
tomavamos o compromisso de 0 defender dos seus inimigos e dos jagas
quando lhe infestassem 0 reino; de lhe largarmos os quiqicos e os sobas
que estavam na obediência do reino quando Luís Mendes lhe fêz a
guerra, e a mandarmos retirar 0 presídio de Ambaca para 0 local onde
anteriormente estava.
Assim resolvia Fernão de Sousa, com habilidade e inteligência, as
dificuldades que adivinhava pela demora da Metrópole na resolução de
um assunto de tal gravidade, se tivesse tido a infeliz ideia de fazer a
consulta.
Os restantes capitulos do regimento provam 0 conhecimento que
tinha do meio em que vivia e as atenções que lhe merecia a política
indígena, pois não só proibia que se fizessem exigências de qualquer
ordem aos sobas amigos, como levava 0 seu cuidado até a recomendar
que as marchas do quilombo se não fizessem, a não ser em casos espe­
ciais, pelo território ocupado por êsses sobas.

33v.
(1) Biblioteca da Ajuda. Cod. cit., 2.* vol., fl. t
222
A n g o la

• *

Bento Banha Cardoso seguiu para Massangano e dali na direcção


de Ambaca, para onde já antes tinha ido Sebastião Dias Tição, com
ordem para proceder às reparações de que necessitasse a fortaleza e
de fazer recolher o capitão Tigre, que ainda se achava na embala do
Aire, por ser insuficiente a gente de que dispunha para poder fazer,
sem receio de qualquer mau sucesso quando atacado por gente da
Ginga, a marcha para Ambaca.
Cumprida a missão de que fôra incumbido, saiu o capitão Tição de
Ambaca ao encontro de Bento Banha, e emquanto os padres da Com­
panhia de Jesus tomavam conta do Airequiloange, levando-o para a sua
embala nas Peé-as do Mau Pungo, onde o fizeram cristão, bem como
à mulher, filhos, uma irmã e muitos sobas, Bento Banha, feitos os ne­
cessários preparativos e lançados todos os bandos mandando recolher
os pretos forros e apresentarem-se para se avassalarem, os sobas que
não reconhecessem a Ginga, deu início à marcha do seu quilombo para
o ataque.
A Ginga estava tão confiada do seu poder, que sabendo os prepa­
rativos ordenados para a atacarem, os encarava sem receio e permi­
tia-se troçar e provocar o capitão Bento Banha, cuja bravura e mesmo
crueldade, ela devia conhecer por tradição. Assim, enviou-lhe uma
carta dizendo que não percebia a vantagem em a irem atacar por ter
lá os seis portugueses prisioneiros, pois só a êstes faziam mal e con­
vencia-se que a guerra era com o fim de alguns moradores de Luanda,
que estavam endividados, se desendividarem. E em post-scriptum, pe­
dia para lhe mandar diversas e variadas coisas, como uma rede, vinho
bom, cera, toalhas de mesa com rendas, um chapéu de sol grande de
veludo azul, etc., ao que Bento Banha respondeu, que o levava lá o re­
ceber os quimbares que para ela tinham fugido, não o preocupando os
portugueses, por não os querer tirar de bom agasalho em que ela os
tinha e, quanto às coisas que pedia, como os portadores as não podiam
levar, êle calculava que por pouco estaria junto dela e lhas entrega­
ria (i).

(i) Biblioteca da Ajuda, Cod. cit., t.° vol., fls. aio a 274. A meu filho Gonçalo de Sousa
e a seus irmãos.
Parte I I — Angola 2
Só a 7 de Junho chegou Bento Banha em frente das ilhas do Cuanza
ocUpadas pela Ginga e sua gente, procurando reconhecer o ponto por
0ndc devia fazer a entrada. Contra as ordens de Fernáo de Sousa,
j etflorara-se na marcha, justificando-se com a necessidade de arranjar
mantimentos e castigar uns sobetas que se não tinham avassalado,
eit)bora não fôssem rebeldes declarados. Fernão de Sousa compreen­
dido a verdadeira causa da demora, foi dando ordem ao juiz de
Ruanda para verificar se deveriam ser considerados boa presa os cati­
vos, que determinara lhe fôssem todos presentes e ao capitão de
jvlassangano que procedesse da mesma forma a respeito dos que ah
pâssâsscm»
Preparadas as lanchas para o ataque, iniciou-o Bento Banha pela
ilha do Mopoio, onde não estava a Ginga, o que sabia pelos avisos
que tivera dos seus capitães, especialmente Lopo Soares, que lhe fize­
ram ver os inconvenientes da demora de oito dias gdfctos em recados
com a Ginga. Não os atendeu e, atacada a ilha de Mopoio e desbara­
tados e aprisionados os que nela estavam, foi Bento Banha atacar por
último a da Ginga, que-já, entretanto, tinha fugido com tôda sua fazenda
e grande parte da gente, tendo queimado os mantimentos para que os
nossos os não aproveitassem. Contra todos os preceitos Bento Banha
não iniciou logo a perseguição, talvez, por ter que manter a ordem na
apanha dos cativos, e dêsse facto resultou não a aprisionar, o que
deveria ter sido fácil, pois tinha pouca gente a acompanhá-la e essa
mesmo tão desmoralizada, que ela própria, com receio, ou para ganhar
tempo, mandou ao capitão mór um Macm\e para prestar obediência,
o que não foi aceite. Depois de novas conversas, Bento Banha inti­
mou-lhe a entrega dos brancos, o que ela cumpriu, e a seguir a dos
quimbares a que se negou, e então, já refeita do susto e vendo a
indecisão dos nossos, fugiu, ficando Bento Banha Cardoso a colher
informações sôbre o ponto onde se poderia ter refugiado, tendo pedido
ao Aire e ao comandante de Ambaca lhe mandassem gente para poder
efectuar a perseguição.
Fernão de Sousa, informado do que se passava, reüniu o Conselho
e expondo-lhe a sua opinião, resolveu-se dizer a Bento Banha, que se
sabia onde a Ginga estava e via possibilidade de à ligeira a assaltar e
fazer prisioneira, o fizesse, mas de contrário, que tratasse de compor o
reino e proceder à eleição do novo rei.
Tentou ainda Bento Banha a perseguição e, assim que obteve tro­
pas frescas, partiu com oitenta soldados e os cavalos de que dispunha,
A n g o la
224
c em quatro dias, a bom andar, devia ter chegado muito próximo das
margens do Cuango, em Samboquizenzele (t), onde colheu informações
sôbre o destino da Ginga, averiguando que depois de expulsa de vários
sobados e severamente batida pelos Malembas, que lhe mataram muita
gente, se refugiara no Jaga Casa, seu antigo inimigo agora reconciliado.
Na impossibilidade de a aprisionar, retirou Bento Banha para Ambaca
a tratar da regularização do reino do Dongo.
Durante a guerra tinha falecido o soba Aire Quiloange, e Bento Ba­
nha Cardoso que precisava arranjar um rei, aproveitou o Soba Angola
Aire, um dos muitos descontentes da Ginga e, sem consultar o governo
geral, mas com o voto dos padres jesuítas e dos seus capitães, proce­
deu à sua eleição como Rei debaixo das condições estabelecidas e com
as formalidades que lhe tinham sido recomendadas para o outro, o que
tudo se realizou a 12 de Outubro de 1626, mas não desfazendo logo o
quilombo para r*elhor poder garantir a consolidação do novo rei.
Entretanto Sebastião Dias, um dos seus mais valentes capitães,
tinha partido em perseguição da Ginga, com um pequeno núcleo de
tropa, e chegando á Quina pequena, suspendeu a marcha pelo receio
de ser atacado pelo Angola Quizua, soba muito poderoso, retirando
para Ambaca a reünir-se ao quilombo de Bento Banha Cardoso.

*
* #

Angola Aire não provinha de família nobre, pois sua mãe era es­
crava da Quifungi, uma das irmãs da Ginga, e os indígenas não se con­
formavam com a sua eleição para rei. Grande parte deles tinha aban­
donado o Dongo, refugiando-se nas Malembas e Matambas, e outros
ficaram, mas não lhe prestavam obediência, antes, como o Ambuíla,
fomentavam a revolta, dando guarida a rebeldes.
Bento Banha com a preocupação de lhe reconstituir o reino, arran­
jando-lhe vassalos e cativos, mandara recado a Massangano para
recolherem ao Dongo todos os escravos, qui\icos e forros que tinham
fugido no tempo da guerra ao Quiloange e pedido a nossa protecção,
mas Fernão de Sousa avisado, não consentiu, e ordenou a Bento Banha
que se preparasse para obrigar o Ambuíla a entregar os rebeldes que
tinha recolhido, contentando-se com essa entrega se êle a fizesse, e

(1) Talvez Quízunguela na confluência do Cacique com o Luando, afluente do Cuanza.


Parte II— Angola 225

esquecendo outros agravos que tínhamos dele, porque qualquer ques­


tão poderia trazer complicações com o rei do Congo, e o momento não
era oportuno para nos aventurarmos em guerras pelo interior, sendo
necessário ter gente para acudir aos portos, por se recear um ataque
de surpresa dos navios holandeses. í
Chegou Bento Banha a reorganizar o quilombo e passar o Lucala
para ir dar guerra ao Ambuíla, mas entretanto recebeu Fernão de
Sousa notícias do Brasil, de uma esquadra holandesa de doze naus que
estava na Baía preparando-se para vir atacar Luanda, pelo que or­
denou a Bento Banha recolhesse á capital, ficando assim sem efeito a
guerra preparada.
Regressadas as tropas, tendo depois vindo notícias do Brasil mais >\
tranqüilizadoras, dispunha-se Fernão de Sousa a licencea-las, quando
teve aviso de novas maquinações da Ginga, que mandara emissários
a Ambaca, a título de pedir pazes, mas outro fim náb tinham senão
colher informações e fomentar revoltas.
Em resposta determinou Fernão de Sousa ao capitão-mór, que pren­
desse o embaixador e comitiva, e apregoasse contra a Ginga guerra a
fogo e sangue, ameaçando todos os sobas que a reconhessem como rainha,
de lhes mandar cortar a cabeça e, ao mesmo tempo, escreveu ao rei
de Angola, animando-o e exortando-o a que apertasse o arco e nada
receasse, porque o capitão-mór se ficava aprestando para ir em seu
socorro. Efectivamente Bento Banha Cardoso, depois de tomadas as
medidas indispensáveis para a reorganização do quilombo, seguiu para
Massangano e dali para Ambaca, afim de retinir as suas tropas, mas
sentindo-se doente, teve de retirar para se tratar em Luanda, sendo a
seu estado por tal forma grave, que faleceu pelo caminho, no dia 8 de
Agôsto de 1628, no Lembo, onde tinha um aritno 0 português Pedro
de Carvalhaes Dantas, sendo 0 seu cadaver transportado para Massan­
gano, procedendo-se ao enterramento com tôdas as honras que eram
devidas ao valente e bravo lutador de tantos anos em Angola.
Em sua substituição foi nomeado Payo de Araújo de Azevedo, que
se dirigiu a Massangano pelo Guanza, com parte da sua gente em duas
lanchas, construídas por forma a poderem ser divididas em quartéis,
transportados por pretos do rei do Dongo por terra até ao local do
Cuanza que mais conviesse para atacar a Ginga na ilha em que de
novo se tinha refugiado. De Massangano seguiu Payo de Araújo ao
encontro do quilombo que Bento Banha tinha deixado em cotnêço de
organização, e aí esperou que se lhe reünissem os brancos e auxiliares
a9
2 2 6
A n g o la

indispensáveis para iniciar a guerra, levando recomendações de Fer-


náo de Sousa para se não deter em pequenas escaramuças com quais­
quer sobas rebeldes, e seguir directamente a atacar as ilhas onde estava
a Ginga com a sua gente.
Não entendeu assim Payo de Araújo, e porque no quilombo havia
falta de mantimentos e precisava aprovisionar as suas tropas, com
êsse fim iniciou a marcha em Fevereiro de 1629 dirigindo-se aos soba-
dos que estavam revoltados, antes de ir à Ginga. Em dois dias chegou
às margens do rio Loando afluente do Lucola e, dada a impossibilidade de
o passar a vau, por levar muita água, fêz construir uma ponte de ma­
deira, por onde passou com cerca de metade da sua tropa, arcabuzei-
ros e gente de cavalo, para a outra margem, deixando a restante de
prevenção para qualquer ataque. Na vanguarda iam a companhia de
infantaria sob o comando de Paulo Couraça, a cavalaria comandada
por Gaspar Bof^es e a guerra preta dirigida pelo tendala António Dias
Mossungo, que se encaminharam para um alto onde viram umas libatas,
emquanto Payo de Araújo ficava ainda a acompanhar o desembarque
dos restantes, que se tornava difícil por a margem do rio estar alagada.
O soba Golagumba Quiambolo capitão-mór do Sonde (Songo ?), o mais
poderoso chefe da Matamba, e o soba Cassandre, atacaram a nossa van­
guarda, que socorrida por Payo de Araújo os obrigou a fugir, ficando
prisioneiros aqueles sobas, mas o Sonde, sabendo do desastre, veio com
tôda a sua gente atacar a nossa retaguarda, sendo já quási noite e
quando ainda não tinham acabado de passar o rio, o que tornava a
situação extremamente crítica. Tal foi, contudo, o valor e a coragem
dos nossos, que a-pezar-de cercados por milhares de indígenas, conse­
guiram destroçá-los.
Acampando com tôdas as precauções, dispunham-se na manhã
seguinte a ir à busca de mantimentos, quando se viram de novo
cercados pela gente do Sonde, que nos atacava com denodo, mas
perante a resistência que lhe opozemos foram obrigados a fugir, ficando
prisioneiro o próprio soba Sonde e sofrendo muitas baixas.
A vitoria alcançada por Payo de Araújo produziu a maior admira­
ção nos indígenas, pois que o soba Golagumba era tido por um valente
guerreiro, não só pelas lutas entre os seus, mas ainda e muito prin­
cipalmente, porque tempo antes destroçara uma nossa guerra preta
que o atacara, matando-nos cerca de oitocentos quimbares. Não
obstante, o Sonde foi o primeiro a mandar dizer aos seus macotas que
o viessem libertar, tornando-se nosso vassalo, o que era da maior
P a r te 11— Angola 227
importância politica por êle ser a chave do remo da Mataraba, que
assim nos ficava aberto à nossa penetração comercial. A seguir, o
jaga Cassange, receando um ataque dos nossos, que se encaminhavam
para o seu sobado, abandonou-o com oitenta mil arcos e seguiu em
direcção ao Congo.
«
# *

Obtidos os mantimentos para a sua tropa, voltou Payo de Araújo


para as terras do Dongo e, mandando chamar o Angola Aire, pergun­
tou-lhe se os sobetas que estavam nos Bondos lhe obedeciam. Como
as suas respostas fôssem dúbias e mostrando receio de tudo, a ponto
de nem lhe poder fornecer, não só gente de guerra preta, como nem ao
menos carregadores, para transportarem a bagagem do nosso quilombo,
Paio de Araújo reüniu Conselho de capitães, assistindo^o Rei do Dongo
com os seus macotas, que terminou por se declarar destituído do reino
e querer ir para a sua terra.
Expôs, Paio de Araújo a situação para Luanda, comunicando ao
mesmo tempo que fôra informado de que a Ginga, tendo pedido a vários
jagas que a protegessem, todos lhe negaram auxílio, pelo que se puzera
em fuga. Fernão de Sousa ouvido o Conselho da Câmara e mais
autoridades, resolveu determinar a perseguição da Ginga, pelas terras
do Quisuba ou por onde se soubesse que ela estava, mas recomen­
dando que se evitasse causar qualquer dano por onde passassem.
Em cumprimento das ordens recebidas, Payo de Araújo mandou
emissários ao Ndala Quissuba para lhe entregar a Ginga ou dizer onde
ela estava, e tendo êste respondido que a não tinha nem a consentia nas
suas terras, por querer viver na melhor paz e harmonia connosco,
pôs-se a caminho com cem arcabuzeiros e gente de cavalo, passando
pela raia do Quissuba, atravesssando os Malembas e tôda a Ngangela
sem resistência, porque também os nossos lhes não fizeram o menor
dano, até que encontrou 0 quilombo da Ginga, que acampára em uns
rochedos, acessíveis apenas por um ponto que só permitia a passagem
a uma pessoa, o que lhes deu tempo para se pôrem em fuga. Tendo
encarregado da perseguição o capitão da companhia de infanteria
Diogo Carvalho e 0 tendala da nossa guerra preta António Dias Mus-
sungo, conseguiram estes apanhar-lhes as duas irmas, Cambo e Qui-
funge, e todos os sobas e macotas que a acompanhavam, não podendo
continuar a perseguição por ser já noite.
228 Angola
No dia seguinte foi o capitão-mór Payo de Araújo só cora sessenta
nrcabuzeiros, e depois de ter atravessado uma região muito acidentada,
acampou, e no dia imediato, tendo avistado a gente da Ginga, largou-lhe
a nossa gente de guerra preta, que investiu impetuosamente, e a ponto
de não repararem em um precipício por onde alguns dos nossos se
despenharam. Estavam na Quina Grande dos Ganguelas(i) de onde
a Ginga para se livrar, teve dc fugir descendo por cordas e paus e de
uma tão grande altura, que debaixo ao cume dela se não ouvefalar nin~
gue se não he de noite estando calada.
Pelos mesmos caminhos os nossos se lançaram em perseguição,
vendo a Ginga com a sua gente a pequena distância, sem a puderem
alcançar mas ameaçando-a constantemente, e com tal destresa os
nossos pretos se portaram, que a Ginga resolveu entregar-se, o que
lhe não foi permitido pelos nossos quimbares fugidos que a acompa­
nhavam e que, ^um último esfôrço, com ela seguiram, deixando con­
tudo cerca de trezentos dos seus.
Durou ainda a perseguição dois dias, chegando a nossa gente às
terras dos Songos, onde a Ginga se internou, sem que pudéssemos con­
tinuar a marcha, pelo receio de sermos atacados por aquele gentio que
tinha fama de ser feroz, e sermos poucos e sem condições de maior re­
sistência.
Retirando com os prisioneiros, tomaram ainda tôda a bagagem da
Ginga, e o capitao-mór Paio de Araújo comunicou que pelas informa­
ções colhidas, a Ginga e os poucos que a acompanharam, seriam feitos
prisioneiros, se não fossem mortos e comidos pela gente do Songo,
podendo por isso considerar-se o assunto liquidado. Entendia o capi­
tão-mór que era oportuno o momento para o Angola Aire consolidar
o seu reino, pois com o castigo sofrido, os sobas fugidos se deveriam
apresentar, convindo desfazer o quilombo para que tudo socegasse.
Efectivamente Angola Aire agora mais animado, tratou de se fazer
reconhecer como Rei pelos diversos sobas e, tendo-o conseguido, deu-se
por satisfeito, pelo que Fernão de Sousa mandou passar o quilombo
para Tango Angonga (Tala Mungongo?) para se provêr de mantimen­
tos nos Bondos da Matamba, emquanto decorria o serviço de cobrança
dos baculamentos.
Entretanto chegavam a Luanda as irmãs da Ginga, D. Maria Cambo
e D. Gracia Quifunge, que tinham sido feitas prisioneiras, acompanha-

(i) P arte leste da serra do M u gon go.


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Par/e / / — Angola
das de uma tia e onze pessoas importantes da terra, a quern o Gover­
nador Fernão de Sousa recebeu com honras especiais, fazendo-as
acompanhar, desde a Lagôa onde tinham acampado, pela sua guarda
comandada por um capitão, c recebendo-as no palácio com cerimonial y .
próprio, que não deixa de ser interessante relatar, não só como estudo
da pragmática da época, mas para melhor apreciarmos a que ponto
levavamos o culto das ficções, pois que outra cousa não eram estas
Vf ' f r Æ
considerações e contumélias com os pretos do Dongo transformados
em Família Real.
Fernão de Sousa mandou preparar para a recepção no seu palácio
a sala do trono. Na sua antecâmara lançou-se uma grande alcatifa,
peça indispensável nestas cerimónias, e a que nem todos tinham direito.
Junto à parede, uma cadeira de espaldar forrada de veludo carmezim,
onde se assentou, vestido de pardo, com sintilho, bastão cadea de ouro e
espada dourada. Encostados à parede e ladeando-o? as pessoas da
sua côrte, os- capitães e principais da terra. Entraram as irmãs da
Ginga, acompanhadas da velha tia, que devia ser interessante, e das
pessoas do seu séquito, naturalménte vestidas apenas com o páku, a
cabeça ornamentada com o jinguindu, enfiadas de missangas ao pes­
coço, e manilhas de cobre nas pernas (t). Então, como hoje, não se
lavariam e contentavam-se em untar o corpo com óleo de palma e pó
de tacula, ou antes talvez com pó de carvão, como costumam fazer nas
ocasiões de luto e esta deveria ser uma delas. Estavamos a 20 de

\\ \
Junho de 1629, no comêço do cacimbo, em que o calor ainda se faz
sentir e pode calcular-se o arôma espalhado na ante-câmara, depois de
uma marcha a pé desde a Lagôa ao Palácio. Mas era tudo família
real !
As irmãs da Ginga avançaram até onde estava Fernão de Sousa e
«chegandosse a mj me levante] hü pouco da Cad.ra, e as recebi cô os bra­
ços abertos em sinal de amor e Cortesia» e mandando-as sentar na alca­
tifa, honra especial, pela lingoa que estava de joelhos, lhes disse que as
recebia com muito gôsto, e com mais se, elas e a irmã, tivessem vindo
quando lhes pediu que o fizessem, mas que se não desconsolassem,
porque eram casos da fortuna e prometia tratá-las bem. Em seguida, y
/ r
levantando-se, e estando todos de pé e descobertos, as despediu. .f „
Terminada a cerimónia retirou-se a Familia Real do Dongo, a quem
Fernão de Sousa mandou vestir, confiando as irmãs da Ginga aos
"v / r
(0 Populações indígenas de Angola, pelo dr. Ferreira Diniz.
23o A ”g ° la
cuidados de D. Ana da Silva, esposa do capitão-mór Paio de Araújo
de Azevedo.

* #

Não terminaram com esta cena apoteótica as lutas com a Ginga,


f Pouco depois, ainda no tempo de Fernão de Sousa voltou ela a inco­
modar com as suas pretensões ao sobado que repetiu no govêrno
de D. Manuel Pereira Coutinho, alcançando pases com Francisco de
Vasconcellos da Cunha, para, logo que os holandeses ocuparam Luanda,
aliada com eles, se revoltar e nos atacar em Massangano, reduto he­
róico, de paredes amassadas de dedicações e sacrifícios, que constitui a
nossa maior glória e devia merecer veneração especial daqueles que
hoje passam indiferentes pelas suas ruínas.
Reocupada 4 nS°la» com °s governadores que se seguiram, a Ginga
entra na fase da humildade, depois de convertida pelos capuchinhos
italianos, fixando-se, de comum acordo, os limites do seu reino, que
depois da sua morte, com a rainha Vitória, perdeu a feição guerreira e
quási se extingue. O sobado ou reino do Dongo é também definitiva­
mente liquidado com D. João Moquila ou Hari, terminando um filho,
príncipe do Dongo, por ser entregue aos cuidados dos frades de Alco-
baça (t).
De todas estas lutas de um período de mais de quarenta anos,
vemos que, devido ao acto de Luís Mendes de Vasconcelos, nunca mais
o Dongo foi um sobado independente como era até ali, e nós passámos
a exercer uma acção contínua na sua administração, e da mesma forma
na dos outros, dêle independentes, mas com íntimas relações, influindo
até nas eleições dos sobas e regulando estas conforme as conveniências
políticas da época (2). Outro não podia ser o resultado depois de Luís
Mendes de Vasconcelos ter imposto o primeiro tributo ao rei do Dongo,
e nunca outra deveria ter sido a nossa política inicial em Angola, pois
assim teríamos evitado um século de lutas, desde Paulo Dias a Fran­
cisco de Távora. Foi a inflüência da política das vassalagens de
D. João II e D. Manuel, foi a transição da exploração pelas feitorias
para a colonização, que nos levou, ao entrarmos em Angola, a esta12

(1) Biblioteca Nacional. Reservados. Pergaminho solto com a cota X 3/,. Anexos. Doc.
n.° 43. ^Reprodução).
(2) Idem, idem. Reservados. F. G. Mas. 254. Anexos. Doc. n.®44.
P a rte I I — Angola 2ÒX
acção hesitante para com o soba do Dongo, o da Matamba e outros
que foram aparecendo, acção que os Ministros, nos regimentos dados
aos governadores, deixavam sempre indefinida, e que perduraria, se
Luis Mendes, por ambição ou com o verdadeiro sentido político, não
discutimos porque a época tudo permetia, não tivesse compreendido
que era necessário conquistar e incluir no território de Portugal todos
êsses sobados, para não suceder o mesmo que estava sucedendo com
o Congo, e levou séculos a liquidar.
Ao golpe audacioso de Luís Mendes de Vasconcelos, que lhe acar­
retou as inimizades do clero e uma sindicância que durou anos, se­
guiu-se uma política de espectativa para com o Dongo e com a Ginga,
pelo receio das acusações dos partidários da bôa paz. Fernão de
Sousa encontrou, dependente da resolução real, um longo processo de
consultas. Lisboa ou Madrid nada decediam e foi com inteligência
que êle, conjugando e ligando os diversos capítulos tio seu regimento,
arranjou pretexto e bem justificado, para impôr um rei ao Dongo, e
fazer a guerra à Ginga, com tôdas as formalidades legais de consultas
à câmara e aos padres, e recebendo os agradecimentos e louvores de
Filipe III e seus ministros pela forma como procedera, louvores que se
estenderam ao capitão-mór Bento Banha Cardoso e se referiram prin­
cipalmente à acção militar, que teve na verdade, episódios interessan­
tes pelo valor e admirável esfôrço dos nossos, sobretudo na persegui­
ção da Ginga, deixando no esquecimento, senão mesmo absolutamente
incompreendida, a parte política da eleição do novo rei, e a criação
no reino de um lugar de Meirinho da côrte e campo, com o fim de pren­
der os demandados, tomar as fazendas desencaminhadas, e a pólvora,
armas e vinho, cujo negócio tinha sido proibido por instruções de Fer­
não de Sousa, e de resolver os mocanos com os quimbares e pombeiros,
ocasionados das transacções nas feiras.

#
* #

O problema político indígena de Angola não abrangia só as reso­


luções com o rei do Dongo e a sua rival Ginga. Existiam, quer na
Quiçama, ao sul, quer ao norte, entre o Bengo e o Dande, e ainda
sobretudo para leste, na Matamba, Cassange e Malembas, sobados
independentes que se tinham avassalado à Coroa e outros que, sem se
2.32 Angola
terem a v a s sa la d o se tinham connosco relacionado, exigindo uma polí­
tica hábil de contemporizações, que conduziriam à ocupação.
Na Quiçama, quási que exdusivamente ocupada por ja g a s , conti­
nuava a predominar o célebre Cafuxe, com quem Fernão de Sousa quis
evitar os transtornos e inconvenientes de uma guerra, para o que tinha
fundadas razões, pelos escravos, fugidos de Cambambe, que êle acolhia
negando-os aos reclamantes. Preferiu entender-se com os jagas Zenga
e Quinda e autorizá-los a fazerem guerra ao Cafuxe, com a condição
de restituirem os escravos dos portugueses que aprisionassem e de não
molestarem os sobas nossos vassalos que continuassem fieis, como o
antigo Songa, próximo da Muxima.
As minas de Sal da Ndem ba pertenciam ao soba C a cu lo -K ia -K i-
motie e havia tôda a vantagem em as ocupar com um presídio, o que
lhe era recomendado pelos ministros, mas Fernão de Sousa preferiu
encarregar o ca^itão-mór do presídio da Muxima de, por intermédio
dos sobas do Songe e da Muxima, chamar o Caculo às nossas boas
relações, o que se conseguiu, não deixando êsse facto de provocar
ciúmes e a inimizade de outros sobas que se socorriam dos ja g a s , e em
especial do C a fu xe, para fazerem as guerras aos que eram nossos ami­
gos ou se mostravam inclinados à política de paz.
Por esse motivo o C a culo-K ia -K im on e foi atacado, tendo sido mor-
.tos alguns dos seus principais, e foi então que resolveu vir entregar-se
completamente à nossa protecção, pedindo para se vir undar ( i) a
Luanda, e tomando nós conta da exploração da mina de sal.
Ainda no sul, mas para além do Ltbolo, no Haco, nós mantínhamos
as melhores relações com o soba Ngunza-à-Nbemba (Quizambembe?)
onde em 1627 Fernão de Sousa depois de mandar ao capitão-mór de
Massangano que o avassalasse e undasse, abriu uma feira da maior im­
portância, porque ali aflui a não só o negócio do Dongo, interdito pelas
questões da Ginga, mas ainda o do sul, da região do Bié, que já então
era conhecida dos nossos comerciantes.
Ao norte, não falando no Gongo, na região entre o Bengo e o Dande
e ainda ultrapassando êste rio, o que dava lugar a reclamações do rei
do Congo, tínhamos estabelecido a feira de Sambanzombe, que depois
mudámos para o Bango, e mantínhamos as melhores relações com os

(1) Undar era a confirmação ou reconhecimento do soba pelo governador geral, e era
feita com determinado cerimonial em Luanda. Biblioteca da Ajuda. Cód. 5 i - y iu -3 o referido.
Anexos. Doc. n.° 45.
I Parle I I — Angola 233

sobas Quiluange, Cancango, Campangola, Quitexe, Cauanga, etc., e


ainda com o Ambuila, todos Dembos, estando ocupadas por portu­
gueses e exploradas pela agricultura as margens dos dois rios, havendo
uma povoação com duas igrejas, e um capitão-mór em Motemo.
Para leste, não obstante todo o prestígio da Ginga Ambande
(Nzinga Nbande) e o auxílio que os jagas lhe prestavam, já vimos que
no ataque e perseguição que as nossas tropas efectuaram através de
regiões nunca percorridas em tom de guerra, passámos para além da
Quina grande, sem que fôssemos atacados pelos poderosos e temidos
sobas da região, como os Songos, Malembas, Minungos, e conseguimos
até que o Andala Quisuba, sentinela avançada da Matemba e do Cas-
sange, entrasse em negociações para se avassalar.
O primeiro Governador Geral, D. Francisco de Almeida, recebera o
governo depois da formidável derrota que os nossos sofreram em Ngo-
leme Aquitambo, no tempo de Luís Serrão em i 5go,«e com a nossa
penetração reduzida a Massangano, mantida através da navegação do
Cuanza. Para parte alguma se marchava sem guerra. Todos os
sobas estavam coligados contra nós e os que não entravam na coliga­
ção, não obedeciam à autoridade representativa da Coroa, mas, quando
muito à de particulares, jesuítas ou capitães. J

Pouco mais de trinta anos decorridos, em que os governadores


tiveram de lutar contra os próprios portugueses, moradores, clérigos e
jesuítas, para fazer prevalecer o princípio da autoridade Real, estavam y;
ocupados cêrca de 180.000 quilómetros quadrados, não incluindo a
região para o sul da Quiçama e Libolo, nem 0 Congo para 0 norte, /
tendo-se recenseado e avassalado 204 sobados, que pagavam à Fa- y
zenda Real, em cada ano, 698 peças de escravos; 277 capados; 1144
enseques (sacos) de milho de dois alqueires cada um; 33 de encaça
(feijão meúdo) da mesma medida; 58 o galinhas; 273 cabaças de azeite
de palma; 12 vacas; 2 almadias; 3 180 panos endebos; 3 panelas de
mel e duas pontas de marfim! (1).

*
* *
E o Congo ?
Era o contraste das duas políticas, a dos Descobrimentos e a da Co­
lonização. Ficaram ali agarradas uma à outra, paredes meias; de um*3

3
(1) Biblioteca da Ajuda. Cod. 5i-vm-3o, fl. aov.
3o

i
lerem as Ordenações ao rei do Gongo e ensinarem-lhe a comer à mesa e
a vestir-se à europeia, para lhe criarem uma côrte como a sua, etn-
quanto êle, pela sua parte, o apresentava na Santa Sé como autêntico
Princepe m eu muito amado irmão , mas dizendo-lhe para em paga carre­
gar de escravos, o mais avantajadamente que pudesse os navios que
para esse fim m andava; do outro D. João III e os seus ministros, ini­
ciando a colonização do Brasil, abandonando as conquistas da África
e não definindo orientações sôbre a administração dos territórios da
M ina e da Baixa-Etiópia, que deixaram à exploração dos negociantes
de escravos para as índias de Castela. De um lado D. Sebastião, sin­
ceridade e pureza, trabalhando para glória de Deus, não aceitando ao
rei do Congo as ofertas de território e de tributos, em paga de lhe ter­
mos expulsado Os ja g a s , porque o seu intento não era a conquista do
Congo, mas aumentar a cristandade, e como recompensa só aceitaria
e lhe pedia que mantivesse os caminhos sempre abertos para os padres
portugueses poderem percorrê-los, prègando a fé, convertendo e bapti-
zando indígenas, edificando igrejas (j); de outro Paulo Dias, auxiliado
pelos seus inteligentes capitães, os padres jesuítas, avançando pelo in­
terior de Angola com as suas aguerridas tropas, asssolando e devas­
tando tudo, matando tantos indígenas, que para o acreditarem, man­
dou cortar-lhes os narizes e enviou-os para Luanda para que os con­
tassem, fazendo milhares de presas e comprando milhares de escravos,
a troco de fazendas que as suas próprias tropas transportavam já com
êsse fim, como transportavam pelouros e zagalotes.
De um lado ficou a ideia velha — o reino do Congo, como nós o
tínhamos formado; como o nosso, cristão e catequizado por um clero
ignorante; administrando-se por algumas das nossas leis, velhas de um
século e à fôrça adaptadas ao m eio; com uma côrte em que à pragmá­
tica da Europa acrescentara a gentílica, com ostentações de luxo, com
intrigas e lutas políticas como as nossas, emfim, um reino independente
e livre, mas mulato, esforço da nossa raça em terra preta, odiando-nos
a nós e à terra. Do outro lado, ficou a ideia nova, uma Angola que
os jesuítas fizeram dependência do Brasil para fornecer escravos para

(i) O cónego Braz Correia, que exerceu uma grande acção política junto dos reis do
Congo, afirmava ter visto e lido uma carta de D. Sebastião para o rei do Congo D. Álvaro, no
5 3 3
sentido indicado. Biblioteca da Ajuda, Cód. t-vm- o- i. — Relatório de Fernão de Sousa
de fi. 18 v. a a8 do 2.0 vol.
P a r te I I — Angola 235

o trabalho da terra, emquanto lá, com os índios convertidos, acalenta­


vam a realização de uma teocracia, ao passo que os nossos fazendeiros,
lançavam os alicerces da grande nação de hoje.

*
« *

Pela organização administrativa estabelecida, o Govêrno geral de


Angola nada tinha com o Congo, que era um reino independente e
onde, só por assim ser uso desde a nossa chegada, mantínhamos um
pessoal privativo da vida dos portugueses entre si, e especialmente
para a arrecadação dos bens dos falecidos e dos ausentes (t). Quis-se,
assim, desde o início da nossa ocupação, evitar aos portugueses que
residiam ou viessem residir no Congo, a sujeição às leis e costumes
dos indígenas e criava-se como que um consulado d? Portugal, onde
se tratavam todos os assuntos que interessavam aos portugueses. Para
que os serviços a prestar pelo Consulado pudessem ser eficientes, era
necessário que todos estivessem de acôrdo em se sugeitarem à sua
acção, o que era difícil conseguir, pois que muitos dos portugueses
viviam ao Congo homisiados e nada queriam com as autoridades.
Por vezes, de Luanda, por queixa do comerciante reclamando o
crédito concedido a devedor que desaparecera fugindo para o CoDgo,
ou pela acusação de qualquer crime que exigia prisão imediata, as auto­
ridades pediam às nossas do Congo para fazerem penhoras ou prende­
rem indivíduos. Se estes conseguiam acolher-se à protecção do rei do
Congo, por intermédio dos padres seus confessores e conselheiros, o
que era freqüente, logo se levantavam conflitos, dando lugar a recla­
mações do govêrno geral contra a intervenção do rei do Congo em
assuntos que diziam exclusivamente respeito ávida dos portugueses.
O govêrno geral não intervinha na vida própria do Congo, isto é,.
nas relações entre o rei e os seus súbditos, mas quando eles se envol­
viam em revoluções e guerras, tinha, como é natural, todo o interesse
em encaminhar a solução do conflito a favor daquele preto que nos
fôsse mais afeiçoado, o que os levava a procurarem obter essa defe­
rência, ou, quando vencedores, a procurarem ser reconhecidos pelo
govêrno geral, sem o que se não sentiam bem confirmados. Mas, a
par destas relações de estados vizinhos, havia uma ligação íntima, a

(i) Paiva Manso, História do Congo. Doc.°* i.xxn e Lxxm.


2.36 Angola
religiosa, que obrigava â intervenção das autoridades, não só eclesiás­
ticas mas também administrativas de Angola na vida do Congo,
criando relaçóes por tal foram intensas e de tal importância, que o
Papa Clemente VIU, por bula de 20 de Maio de 1597 (1), julgou ne­
cessário erigir o Bispado do Congo e Angola, in tolo vastíssimo regno
Congo et Angolae in Ethiopia, separando-o de S. Tomé e sendo o seu
primeiro bispo D. Fr. António de Santo Estevam.
A assistência aos portugueses residentes no Congo, foi mais tarde,
em 1609 (123 )> e Por motivos especiais, entregue a um capitão-mór, que
acumulava com o cargo de provedor de defuntos e ausentes, sendo a
despesa paga por Angola, como igualmente era a dos cargos eclesiás­
ticos, parecendo ter havido, depois da criação do bispado, qualquer
entendimento para que o rei do Congo, a trôco de poder fazer as apre­
sentações para os diversos cargos, com excepção do Bispo, Deão e
Mestre Escola, <fue por deverem ser providos em pessoas de mais suficiên­
cia e letras, ficavam reservados para a Coroa de Portugal, pagasse os
seus ordenados á conta dos difinos, que pertencendo á Ordem de Cristo,
êle arrecadava para si (3).
Em tôda a vida do Congo predominava a acção do clero, mas não
por que influísse para desenvolvimento da educação cristã. Pelo
lado dos padres, preocupava-os acima de tudo, e somente, o papel polí—
tico, procurando obter um cargo junto do rei ou de qualquer dos fidal­
gos mais categorizados, para serem pessoas importantes; pelo lado da
população indígena, aceitavam da religião a parte que os deslumbrava,
tôda a liturgia romana, que no seu espírito deixava a mais funda im­
pressão, e que os padres faziam valer e render.
O rei e os fidalgos do Congo mantinham a poligamia, mas era cor­
rente realizarem na igreja a cerimónia do casamento com qualquer das
suas mulheres, estando vivas outras com quem tivessem casado, como
era corrente a repetição, duas e três vezes, dos baptismos dos filhos,
pois tudo para êies era pretexto para uma festa familiar, que o clero
aceitava, fingindo ignorar, em face da falta de registos regulares, se
tais sacramentos já teriam sido ministrados. Sucedia mesmo que à
falta de outros rendimentos, os curas corriam todos os anos os seus

(1) Paiva Manso, História do Congo. D oc. tsxvn.


{z) Idem, idem. Doc.°» lxxx e uocxra.
3
( ) Luciano Cordeiro, Memórias. Relação da Costa da Guiné e PaivaManso, Historia do
C ongo. D oc. xciv.
P a rte I I — Angola 2ÒJ

distritos, doutrinando e sacramentando, mas era mais para receber as


colheitas que para ensinar (i).
Nas cerimónias da igreja, os reis estabeleciam protocolo, determi­
nando lugares para êles e para a côrte. Em determinadas festas
tinham resolvido ir para a igreja levando na cabeça um carapuço a
que chamavam empua3 e que por forma alguma tiravam, nem ao San­
tíssimo. Em procissões, como na de Endoenças, o rei acompanhava
a procissão descalço e descarapuçado, obrigando os da côrte a proce­
derem da mesma forma, e distribuíam grandes quantidades de \imbo
em esmolas, não por sentimento nem tão pouco pela necessidade da
população, mas por espírito de imitação. Impunham a si próprios o
hábito de Cristo, procurando que a cerimónia se realizasse com o maior
espavento, e se havia algum padre que se não prestasse à mascarada,
outros aceitavam para se tornarem seus válidos. E até, não conten­
tes com os poderes descricionários que exerciam sôbrf pessoas e bens,
como o clero usava das excomunhões como castigo, e a que chamavam
do Céu ou de Deus, inventaram as excomunhões da terra, que era nem
mais nem menos do que privarem qualquer pessoa das coisas essen­
ciais à vida, como por exemplo, ninguém lhe poder dar água para be­
ber não a deixando utilizar-se da que era pública (2).
Emfim, decorrido um século, a religião no Congo era uma arma
política e não tendo sido assimilada, em nada concorria para melhorar
as condições sociais da população. Praticavam-se os mesmos barba­
rismos, as mesmas selvagerias, seguiam-se os usos e costumes gentíli­
cos, acrescentando-lhes, ou antes, revestindo-os de cerimónial religioso,
chegando mesmo o rei a vestir-se para determinados actos públicos da
vida civil, de capa de asperges e na cabeça uma espécie de mitra ou
barrete, bem guarnecido e enfeitado.
D. Manuel servira-se do preto D. Afonso como instrumento para a
sua política. Se êle fôsse branco, talvez lhe não servisse da mesma
forma. Um dia querendo mostrar tôda a sua importância e a extensão
do seu poderio, lembrou-se de fazer a scena do preto, armado em rei
vassalo do de Portugal, cristão convicto, a mandar prestar obediência
ao Papa. Mandou que escrevesse a carta e para não lhe faltar o tique
regional, enviou-a para o Congo para o preto a assinar com brasão de

(1) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina. Documentos de Angola. Relatório do Bispo


D. F. Fr. Manuel Baptista de 7 de Setembro de 1619, para Felipe II, sôbre costumes e Yida do
Congo. Anexos. Doc. n.° 46.
(a) Informações do Bispo D. Fr. Manuel Baptista. Referida.
238 A n g o la

armas e sinete, c depois de lá a remetessem com tôda a solenidade por


um em baixador a Roma. O preto fazia o que lhe mandavam e sem
poder perceber o alcance, mas os nossos que com êle viviam, que eram
os seus confessores, conselheiros e provedores, por terem necessidade
de também se engrandecerem, iam-lhe fazendo vêr que êle prestava um
grande serviço a D. Manuel, e que as suas relações tinham grande im­
portância para o papel político que estavamos desempenhando perante
a Europa.
D. Manuel pagava as despesas das embaixadas a Roma e as pas­
seatas seguiram-se e passaram a ser matéria corrente, ao mesmo tempo
que no espírito do preto se ia avolumando o poder de uma outra enti­
dade, maior que o rei de Portugal, que pelos seus embaixadores êle
sabia que tinha terras por todo o mundo, que tinha muitos navios,
muito dinheiro e muitos reis que lhe obedeciam e que, a-pesar-de tudo
isso, se considerêva filho do Papa e lhe mandava presentes, para o ca­
tivar, certamente, pensaria o preto, para obter coisas que êle, com
todo o seu poder, não podia conseguir.
Com D. João III parou-se um pouco no envio, por nossa conta, a
Roma, de embaixadas dò rei do Congo, mas mandava-as êste, para
tratarem de assuntos políticos que interessavam ao Congo e havia
activa .correspondência entre Roma e S. Salvador, sem ser por inter­
médio de Portugal (i), a-pesar-de por nossa indicação haver em Roma
um agente do rei do Congo.
Clemente VIII criou o Bispado do Congo por obediência aos fins
da Congregação da Propaganda Fide, que pouco antes tinha fundado,
para mandar para as terras de infiéis missionários educados no seu
colégio, e criar os cargos eclesiásticos necessários. Roma tinha levado
quási um século a assentar no partido que podia tirar das ostentações
de D. Manuel e agora, esvasiada a cornucópia dos presentes da Etió­
pia, era asado o momento, em vista dos pedidos do rei do Congo, de
se ver o que aquilo ainda poderia render, entregue à exploração da
Propaganda Fide. Embora esboçando o plano geral, sem entrar em
detalhes de organização, que só mais tarde Gregório VI completou,
não deixou a Propaganda de estabelecer os seus agentes entre o clero
do Congo, que se encarregaram de, a pouco e pouco, renovarem no
espírito dos reis do Congo a necessidade das boas relações com Roma,
mas agora manifestamente em detrimento da Coroa portuguesa, por-(i)

(i) Paiva Manso, História do Congo. Doc. LVni ja referido.


Parle U — Angola 2Ò9

que o ret do Congo já não era o vassalo humilde dos outros tempos e,
assim, se conseguiu que o preto D. Álvaro II resolvesse mandar a Roma
o seu embaixador D. António de Nigrita, Marquês de Funesta, para
prestar obediência ao Papa Paulo V, e êste facto, de tão repetido, já
corriqueiro e banal, merecia ao Papa tal relevo, que mandava cunhar
uma medalha para o comemorar (1).

*
* *

A política do encerramento dos portos das nossas colónias à nave­


gação estrangeira (2), de nada nos tinha servido, e com o declínio do
nosso poder marítimo não a pudemos impor. Com a ocupação caste­
lhana, se algumas naus nos ficaram depois do desastre da Invencível
Armada, faltava-íhes artilharia, e, assim, tudo abandonado, fortifica­
ções desmanteladas e desguarnecidas, navios velhos e desarmados, as
feitorias irregularmente abastecidas e com fazendas de custo excessivo,
o resgate da costa da Guiné e da Mina foi passando para os estrangei­
ros colonizadores da América, especialmente para os holandeses, não só
pela riqueza que representava pela abundância de mão de obra, mas
também pelas pedras preciosas e ouro que compravam a trôco de fa­
zendas que aos indígenas mais agradavam, ao passo que nós faziamos
consistir nos nossos linhos e lãs e no vinho e na água ardente, o forte
do nosso artigo de permuta.
O Congo, no fim de tantos anos de labuta e de sacrifícios, depois
de positivamente inventado e manipulado por nós em reino africano
para nosso uso, fêz-se na realidade um reino, um estado independente,
onde o nosso poder e acção terminaram por serem fictícios e limitados
a, em matéria religiosa, darmos o nosso acôrdo à nomeação dos curas,
e nomearmos nós próprios o Bispo, Deão e Mestre Escola, subordinando
êste direito, como não podia deixar de ser, às indicações da Santa Sé.
Os holandeses que vinham, desde a Guiné para o sul, percorrendo
a costa e estabelecendo. o.resgate nos diversos portos, sendo em tôda12

(1) Medalhário do Vaticano. Reprodução da medalha. Anexos. Doc. n.« 47. O Marquês
de Funesta faleceu em Roma e Paulo V mandou-o sepultar na igreja de Santa Maria Maior,
com um. epitáfio louvando-o, tal o apreço em que o tinha. Paiva Mansp, História do Congo.
DOC. L.XXIX. /
65
(2) Lei de 18 de Março de t o . Por alvará de 16 de Junho de 1606, foi esclarecido que a«1
proibição se não estendia aos naiuraes do reino de Castela e dos mais de Espanha.
vA
240 AnS0la
a parte bem recebidos (j), chegaram também ao Pinda onde não en­
contraram obstáculo ao seu negócio, sendo bem acolhidos e festejados
pelo Manisonho, o Duque do Sonho, com o se intitulava o preto que
governava a região e, possivelmente, pelos portugueses que lá esta­
vam.
O governador de Angola, então D. Manuel Pereira F o rja z, preve­
nira para Lisboa da freqüéncia dos navios holandeses na costa e esta­
dia nos portos do Congo e outros para o Norte, pelo que o Conselho
da índia resolveu impor a ocupação militar do Ilheu dos C a va lo s, em
frente do Pinda, construindo-se ali uma fortaleza. F ilip e II, recebida e
estudada a proposta, aprovou-a, e indicou com o entendia se devia pro­
ceder, não só na ocupação do Ilheu, mas tam bém p a ra os la n ça r d a lly e
reduzir aquelle comercio ao estado a n tig o (2).
Não se sabe se foram seguidas as indicações de Filipe II ou outras,
mas o certo é q»e mais de uma tentativa se fêz nesse sentido, pois que
além da nomeação de António G onçalves Pita para capitão-m ór do
Congo, e instruções especiais para se entender com o rei do Congo,
ainda o D. Á lvaro, sôbre a construção da fortaleza, se encontram refe­
rencias â ida de d u as caravelas com ca l e aviam entos , m as que com a tor­
menta de S . L u c a s deram â costa (3 ).

*
* *

Muitos anos se levou a planear e tratar esta questão da fortaleza


do Pinda e expulsão dos holandeses. O rei do C ongo prom etia auto­
rizar a construção e logo se m andava gente encarregada de tratar do
caso, m as quando lá chegavam já o rei do C ongo tinha m udado de re­
solução e negava a licença. Apelavam para os seus sentimentos reli­
giosos, faziam -lhe ver que estava favorecendo inim igos da religião
cristã que êle e os seus súbditos abraçaram , pediam -lhe para não con­
sentir no negócio aos holandeses, e a tudo êle dizia que sim, tudo pro­
metia, mas quando instado, a tudo se negava.
Pela nossa parte eram muitos e vários os planos e não menos os 12 3

(1) Luciano Cordeiro, Memórias do Ultramar. Escravos e Minas de Africa. VIU. Gaspar
da Rosa.
(2) Paiva Manso, História do Congo. D oc. u a x u
3
( ) Luciano Cordeiro, Memórias do Ultramar. Escravos e Minas de Africa. V IU . Cit.
Farte 11— Angola 241
conselhos, parecendo que não só ao Governador Geral de Angola, mas
a tôda a gente que de lá vinha, a côrte os pedia, no desejo de encontrar
uma solução.
A ida de António Gonçalves Pita em 1610 falhara por completo.
Parece que êle levara pedreiros e material para a construção da for­
taleza, mas teve a feliz ideia de deixar tudo em Luanda e ir só,
para tratar do caso com o rei do Congo que, depois de o ouvir, não só
negou a autorização, como o mandou pôr fora do reino, atribuindo-se
o facto a sugestões do seu confessor, o padre Diogo Rodrigues Pestana,
Deão da Sé.
Já de há muito que havia queixas contra êste padre (1) e parece que
antes de se darem estes factos com António Gonçalves Pita, quando
também em 1610 chegou ao Congo uma missão de quatro padres de
S. Domingos, o Deão Pestana os intrigou por tal forma com 0 Rei do
Congo, que êste, a-pesar-de os ter mandado pedir e*de os festejar à
chegada, por tal forma os tratou depois, que os padres tiveram de
retirar para não morrerem de forne, pois lhes negava os alimentos (2),
e assim, para arranjarem dinheiro para a viagem, tiveram de vender
uns livros religiosos que tinham levado para a catequização, tendo
sido o Deão Rodrigues Pestana quem carinhosamente lhos comprou.
Quando depois se deram factos semelhantes com António Gonçalves
Pita, foi necessário tomar uma resolução enérgica, e como o Deão
Pestana não viria a Luanda se o chamassem isoladamente, resolveu o
Bispo chamar todo o clero que estava no Congo, só assim conseguindo
prendê-lo e mandá-lo para Lisboa.
Tinha entretanto, António Gonçalves Pita, vindo para Luanda, de
onde escrevera para Lisboa a contar o que se passára, pedindo lhe
indicassem o que tinha a fazer, mas tendo acabado 0 Conselho da índia,
e distribuídos os seus trabalhos pela Mesa da Consciência, a do Desem­
bargo, e a da Fazenda, etc., nunca ninguém mais pensou no pobre
capilão-mór, nem no Congo. E é engraçado que a própria Mesa da

(1) Filipe II refere-se ao seu procedimento na carta já citada, Paiva Manso, História do
Congo, doc. Lxxxi e igualmente o Bispo Fr. Manuel Baptista no doc. xci.
(2) História de S , Domingos por Fr. Luís de Sousa, segunda parte, livro iv, caps, xu e xm.
Garcia Mendes Castelo Branco, um dos capitães de Angola do tempo de Paulo Dias e muito
afeiçoado aos Jesuítas, pelo menos na política dos aforamentos dos sábados, numa Relaçao da
3
Costa da África (Luciano Cordeiro, Memórias damina ao Cabo Negro, iv-pág. o), referindo-se
à saída do Congo dos Padres de S. Domingos, escreveu; nãopoderam lá caber, nem o rei fafia
caso deli es que deveram fa^er cousas>pelas quaes o rei não gostou d’ elles e aconselhava a que
se mandassem para o Congo treze padres jesuítas, sendo um deles o Bispo.
2 42 Angola
Consciência dirigia cartas ao Bispo, em Luanda, preguntando com que
autorização retirara o clero do Congo, e o Conselho da Fazenda pre-
guntava ao Governador Geral por que m otivo fechara o com ércio com
o Congo (t).
Era pois necessário apresentar de novo o problem a da expulsão dos
holandeses do Pinda e da vigilância a exercer na costa de Angola,
aparecendo então os variados projectos, não só p ara o Pinda, mas
também para as minas do Bembe, aconselhando-se o ataque simultâneo
por terra e por mar. Por terra, seguiria o exército form ado por todos
os portugueses e auxiliares indígenas, pelo Bengo em direcção a
Cabonda, e daí ao Bembe, onde se fortificaria ao mesmo tempo que
tratava da extracção do cobre; e pelo m ar seguiriam , além dos navios
com pelo menos duzentos hom ens p ara a guarnição da fortaleza,
dois outros com a alim entação indispensável para êsses homens durante
algum tempo, p^is seria m ais que certo os indígenas do Sonho não
virem fazer feira ao Pinda, por a isso se opôr o Rei, que recom endava
ao Manisonho que im pedisse a en trad a dos portugueses no Zaire (a).

#
# *

Pelas viagens que os seus navios faziam e dada a melhor qualidade


e a variedade de artigos que enviavam para o resgate, os holandeses
estavam senhores do negócio no Pinda e no Luango, mas isso não lhes
bastava, e precisavam assenhorear-se desses portos, como já o tinham
feito de outros para o norte. D o Luango não o conseguiram, mas não
pela resistência que nós opuséssem os e em que os vencêssemos, mas
porque o preto, S ob a ou Rei do Luango, sendo am igo do feitor portu­
guês, interveiu a seu favo r e só lhes concedeu licença para montarem a
feitoria, com a condição da nossa continuar da mesma forma. Mas no
Pinda não sucedera o mesmo e o Duque do Sonho e o Rei do Congo,
ao passo que tratavam m al os portugueses lá estabelecidos, tinham
acolhido por tai form a os holandeses, que em 16 18 tinham quatro
feitorias p u blica s, e m uitas fa zen d a s nellas, sem eando oras de nossa $/*
falcejicadas, biblias em lin g u a g em , e livros articulados fo rm a lm en te contra

(1) Luciano Cordeiro, Memórias, Produções, Comércio e Governo do Congo, etc. segundo
Manuel V ogado Sotom aior.
(2) Luciano Cordeiro. Idem, idem.
Parte I I — Angola 243

a IfP'el a Romana e doutrina evangélica, e recebendo negros e negras em


penhor das mercadorias que davão fiadas aos naturais e aos portugueses...
e tratavaô com grande familiaridade os vassalos de V . M. comendo e
bebendo có elles . . . (1), conforme escreveu o Bispo D, Fr. Manuel
Baptista, que nesta questão teve, como não podia deixar de ter, um
papel de preponderância, pois só pela acção religiosa se conseguiria a
expulsão dos holandeses.
Os projetos apresentados eram todos inexequíveis, além de que
tínhamos deixado que os Reis do Congo se compenetrassem, durante
mais de um século, da sua importância, de forma a poderem com­
preender o que representava a construção de uma fortaleza no seu
território, sendo agora impossível obtermos deles, a bem, que deixassem
edificar uma fortaleza no Pinda ou no Ilhéu dos Cavalos, pedido a
que o preto rei D. Álvaro III, respondia com habilidade, que depois de
ter ordenado a expulsão dos holandeses, entendia tqj cessado tôda a
razão para se fazer a fortaleza, além de que, para 0 muito que desejava
çompraser com Vossa Magestade fa\ia pouco em lhe oferecer lodos
os meus reinos, mas, sendo rei havia pouco mais de dois meses e
estando o reino em luta com inimigos seus, iria dar motivos para se
levantarem contra êle, se em tal consentisse (2).
Conseguiu o Bispo, como vemos, que o rei do Congo determinasse
a expulsão dos holandeses, e foi pessoalmente entender-se com o
Manisonho sôbre a execução da ordem, mas não havia maneira de a
conseguir, muito embora 0 Manisonho se não recusasse a cumpri-la,
arranjando sempre uma desculpa para a adiar. Já cansado, resolveu
lançar mão dos meios extremos, — as excomunhões e as interdições,
contra o Manisonho, e, retirando para Luanda e depois para Portugal,
recebeu a notícia de que os holandeses tinham, emfim, sido expulsos,
pelo que lembrava que se deveria escrever ao rei do Congo a agrade­
cer-lhe (3 ).

(1) Bibt. Nac., Secção UH., Papéis de Angola, 1619. Relatório datado de 7 de Setembrç
de 1619 do Bispo D. Manuel Baptista sobre os holandeses. Anexos doc. n.° 48.
(2) Paiva Manso, História do Congo. Doc. xcv.
3
( ) Rei. cit. Anexos. Doc. n.° 48. È este 0 único documento em que se encontra a notícia
da expulsão dos holandeses, porquanto o rei do Congo D. Álvaro III, em carta de 24 de Outu­
5
bro de 161 para Filipe II, História do Congo, doc. xcv, atrás citado, apenas diz que mandou
despedir e botar fora de suas terras e estados os holandeses esperando que o Conde do Sonho o
cumpra e quando ele asi o não faça, eu o castigarei como a desleal em meu serviço. Pouco
tempo deve ter durado esta expulsão dos holandeses, e devem ter regressado, porque no governo
de Fernão de Sousa foram novamente expulsos.
2 44 Angola

#
# *

A acção desenvolvida pelo B ispo p ara con segu ir a expulsão dos


holandeses, não só encontrava resistência da p a rte dos fidalgos pretos
do Congo, com o não -tinha o apoio franco e decidido dos funcionários e
dos m oradores de Angola.
Já vim os o Bispo a queixar-se de que os holandeses tratavam com
g ra n d e fa m ilia ried a d e os vasalos d e V. M . com en d o e beben d o com eles ,
quando narrava a situação no Pinda. M as não era só no C ongo que
assim sucedia, e em Benguela, e até em Luanda, davam -se factos
idênticos.
C’E porque se não dariam ? É ra m o s nós os inimigos dos ho­
landeses, ou e ra p os espanhóis, nossos inim igos tam bém , e a quem
estávamos sujeitos? <1Q ue im portava que fidalgos e alto funciona­
lismo, pagos e sustentados pelos Filipes, à custa de quem viviam ,
procurando obter melhores e m aiores m ercês, defendessem os inte­
resses de Castela, com batendo os holandeses, se a grande maioria
da população, quer no reino, quer nas colónias, não tinha essas
aspirações e se contentava com o que podia angariar no meio em que
vivia ?
Os Países Baixos, e nêles incluída a Flandres, faziam guerra à
Espanha, o que não era m otivo, só por êsse facto, para deverem ser
por nós considerados nossos inim igos. O s flamengos, na época das
Descobertas, assoldadavam -se para tripulantes das nossas caravelas,
onde aprenderam a arte de navegar e a resgatar e, dêsse convívio não
ficara no nosso povo um a recordação odiosa.
Para a H olanda tinha ido a quási totalidade dos judeus que expul­
sámos de Portugal, e era dêles o dinheiro que anim ava o comércio e a
indústria da nova nação que se form ava.
é H aviam de ser nossos inimigos porque guerreando Castela, que
nos dom inava, atacavam os portos das nossas colónias? 4 Se nós tínha­
mos perdido as colónias para a Espanha, que nos importava que os
Flamengos as disfrutassem?
Não. O Bispo não podia encontrar, nem na população portuguesa
do Congo e Angola, nem sequer no seu clero, quem sentisse como êle a
necessidade de se opor à acção dos holandeses, para poder escrever
a Felipe II que: ter V. M . satisfaçaõ do que eu na sua eleição por
J

*&**'-■ & '--'i

P a rle I I

serviço de Deus e de V. Magestade me alegra tanto que disso tirarei


animo para viver, etc.(i).
Não. O qvie sabiam os negociantes de Angola e os armadores por­
tugueses, era que, ao passo que aos navios castelhanos eram fran­
queados os portos das colónias portuguesas, sem restrição de espécie
alguma, aos portugueses se impedia a navegação para as índias de
Castela, e que pudessem tratar e contratar nas ditas partes, nem passar
a elas, sem que para isso tivessem a particular e expressa licença!
O que sabiam, era que nenhum natural da Coroa de Castela podia ne­
gociar em sua cabeça fazenda de estrangeiro, e como tal eram conside­
rados os portugueses, que, para se poderem naturalizar, precisavam ter
permanecido vinte anos contínuos nas colónias espanholas, ter lá bens
de raiz e ter casado com mulher ali nascida! E sabiam ainda que lhes
era proibido navegarem escravos directamente para as índias de Castela,
sendo obrigados a conduzi-los a Sevilha e aí os vendassem aos caste­
lhanos para que estes os navegassem na sua frota, sorteados como as mais
mercadorias !
c E depois disto que nos importava que os holandeses concorressem
connosco no resgate nos nossos portos?

ff
* ff

Quando Fernão de Sousa foi governar Angola, em 1624, já os


holandeses estavam de novo estabelecidos com feitoria no Pinda.
Havia ordens terminantes para os vigiar, evitando que atacassem os
navios que faziam viagens para Angola, e mais rigorosas ainda proibin­
do-lhes a entrada em qualquer dos portos.
Como já então as viagens se faziam indo as naus procurar a altura . ■ ir
de Benguela, ou mais para o sul, para depois se fazerem de rumo a
Luanda, foi dada ordem a Fernão de Sousa para ir primeiro a Benguela 1 '%

verificar o estado da conquista. Soube que ali tinham estado uma nau í«
a .í -
e dois patachos de guerra holandeses, que andavam às presas, tendo
resgatado com os do presídio, fazendo aguada e recebendo refrescos,
sem que nenhuma das autoridades tivesse esboçado a menor oposição,
t
antes pelo contrário, parece que com o seu consentimento, pelo que
*P
Fernão de Sousa, mandando levantar auto da ocorrência, trouxe presos

(1) P a iv a M an so, H is t ó r ia d o C o n g o . Doc. x c i cit.


\ *

:i
X'
246 Angola
para Luanda o capitão-mór, um capitão de infantaria e uni sargento,
principais responsáveis, ficando presos outros em Benguela.
Em viagem para Luanda, chegando à Ponta Mofina já um pouco
pela tarde, o piloto receando dobrar a ponta por causa de um baixo
que existia, fundeou o patacho.
Na manha seguinte navegavam para Luanda, quando se aproximou
um barco que o Bispo D. Fr. Simão M ascarenhas, que governava a
colónia, mandou ao encontro de Fernão de Sousa, com o aviso para
demandar a barra da Corimba, por na baía de Luanda se encontrar
uma esquadra holandesa, composta de uma nau de trezentas toneladas
com 22 peças de artilharia, dois patachos com 12 peças cada um, um
navio e uma lancha com roqueiros (1), que esperavam o patacho em
que êle ia.
Poucos dias antes, o Bispo, surpreendido pelo aparecimento dos
navios holandesas, organizara a defesa de Luanda com seis navios,
determinando fôssem atacar os holandeses, mas tão mal apetrechados
foram e em tão grande desordem, que, sem pelejarem, deram à costa
dentro da baía, fugindo as tripulações, queimando os holandeses três
deles que tinham aprisionado, e mandando o Bispo queimar os outros
para lhes não caírem nas mãos, perdendo-se tôda a carga que tinham a
bordo.
Conforme a indicação enviada a Fernão de Sousa, o patacho em
que viajava entrou pela barra de Corim ba, e, fundeando, foram os
padres da Com panhia de Jesus buscar o governador e conduziram-no
a Luanda, onde o Bispo lhe fêz entrega do govêrno. Tom adas as
medidas de defesa necessárias, souberam os holandeses por um flamengo
Trombeta (2), que viera da Baía degredado para Luanda e que fugira
para eles, da entrada de Fernão de Sousa pela Corimba e que se
preparava para lançar fogo à nau holandesa. Levantando ferro diri­
giram-se para a Corim ba, mas Fernão de Sousa prevendo o ata­
que, mandou com rapidez fazer duas fortificações e, quando os ho­
landeses, mandaram uma lancha sondar a barra, foram recebidos a
tiro, não tentando a entrada, e seguindo para o sul das Palmeirinhas
e depois para a barra do Cuanza, terminando por retirarem de
todo.

(1) Canhão de ferro em que os projécteis eram pedras. (C. de Figueiredo).


(4) Na região do Golungo há uma povoação Trombeta, sendo muito possível que tenha
tido a sua origem no arimo ou fazenda que um flamengo Trompette ali estabelecesse, como já
vimos que era costume fazerem os brancos que andavam pelo interior.
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1:

Parte 11 — Angola *47


E n tre ta n to tinha chegado ao P in d a uma nau holandesa, sendo por
to d o s m u ito festejad a, m as quando os portugueses com eçaram a ver
qu e a c a r g a d e sem b a rca d a eram b o tija s de azeite, canastras encouradas
e p e ro leira s d e v in h o , m an ifestam en te de Portugai, e portanto que a
n au tin h a sid o a p re sa d a a portu gu eses, cessou essa b o a harm onia e
festa n ça e , sem se sa b e r c o m o , a n a u desapareceu do P in d a, tendo a
b o rd o a p e n a s o ito h o la n d e se s e qu atro negros, ficand o em terra o ca - %
p itS o , m estre e p ilo to .
Se não fôsse o facto de se tratar de uma nau apresada a portu­
gueses, a festa teria continuado entre portugueses e holandeses no
Pinda, emquanto em Luanda Fernão de Sousa, como representante do
governo e usando de medidas enérgicas, opunha uma barreira à indi­
ferença da população, que dias antes tinha preferido retirar pacata­
mente para o interior com os seus haveres, a envolver-se em lutas que
a não interessavam, abandonando o pobre do BispS que, montado
numa mula, percorria a linha de defesa que queria organizar, sem o ter
conseguido, até que retirou também, quando um projéctil de artilharia
dos holandeses passou entre as mãos da sua montada, sem causar mais
dano.
M an dou F ern ão de Sousa ao Ouvidor Geral que devassasse de
todos estes factos, m as não ouve pessoa q. jurasse cousa q. merecesse cas­
tigo sendo o successo publico o que he muy hu\ado nesta terra e pela sua
parte tom ou outras providências porque estando os olande\es no porto
não convinha p u xa r pela matéria por seré os principaes da terra, e poder
acontecer outro herro mayor ( i).

*
* *

Pouco tempo decorrido, os holandeses tinham tomado a Baia, no


Brasil, do que o governador Martim de Sá avisara Femão de Sousa,
e êste prevendo o ataque a Angola, resolveu tomar as possíveis provi­
dências para a defesa da colónia, fortificando diversos pontos na praia
e na cidade, e mandando proceder à reparação do armamento e fazer
balas, de q. avia tanta falta que me aproveytey dos sellos dasfa\.at e das
chumbadas dos pescadores por não aver chumbo na terra e por Consícm-

(t) Bibl. da Ajuda. God, 5t-vm-3o. Carta de Fernão de Sousa para o Governo de aS de
Setembro de 1624, fl. o v. 33

t
248 A n g o la

tino Cadena ( i) mandcy façer diligencia na M ina de Cambambe que


fo i de grande cffeito porq. me mandou mais de tres quintaes de chumbo
que fundio, e huã pedra que envio a V. M ag. pera amostra, e estas
são as minas que antiguamente d e fã o q. herão de pratta, além de que
Hordeney mantimentos; listei as companhias ; mandey descer da Conquista
huã delias c todos os estravagantes, ficando providos os Presídios; mandey
aprestar embarcações de remo e retirar todos os da Ilha pera evitar comu­
nicação cõ os oiandeçes, q. f o i de grande dano 11a primeira A rm ada:
lancey bandos que nenhfta pessoa tirasse fa ^ .a da Cidade sob pena de
a perder, pelos obrigar a defende-la; ao fo r te de S . Fernando que em
barra de Corimba em q. estão quatro peças de artilharia, provy de armas,
moniçÕes e soldados; cõ estas prevenções e cõ outras p ed i a todos que es­
tivesse de bom animo porq. os avia de acompanhar ate m orrer . .. (2).
A 3 o de Outubro de 1624 apareceram defronte da barra da Co­
rimba oito embCrcações de guerra, holandesas, sendo a nau capitânea
de 35 o toneladas, com 26 peças de artilharia; a sota almirante de 5 oo
toneladas com 28 peças; uma urca flamenga de 160 toneladas e 14
peças; um patacho que tinha sido apresado na Baía, pertencente a
Miguel Luís e vinha armado com 12 peças; um navio que apresaram a
Manuel Neto e dois patachos pequenos com quatro falcões e quatro
roqueiros cada um. Cosido o mais possível com a terra e fugindo à
esquadra holandesa, vinha um navio de Sevilha, que, dobrada a ponta
da ilha e querendo entrar no porto, foi dar em um baixo. A esquadra
com a nau capitânea à frente, que o perseguia, entrou também o porto,
e como acompanhava os movimentos do navio de Sevilha, a capitânea
deu também em seco, mas fóra do alcance da nossa artilharia, pelo que
lhes foi possível tomarem o navio de Sevilha e mais três que estavam
do outro lado da ilha, e tudo por culpa dos seus donos, que não quize-
ram seguir as indicações que lhes foram dadas, talvez por não lhes de­
sagradar o papel de prisioneiros dos holandeses.
Até à noite se levou na troca de tiros de artilharia entre os fortes e
os navios, sem dano de parte a parte. Durante a noite Fernão de
Sousa mudou um pouco a posição das nossas defesas, calculando que

(1) Constantino Cadena veio para Angola com Fernão de Sousa, que o nomeou capitão-
-mór de Cambambe. A exploração da mina de chumbo em Cambambe durou ainda por muito
tempo e da situação da mina se fez um auto ou certidão, que Cadena mandou para Fernão de
5
Sousa. Anexos. Doe.« n.oi249 e o, e ainda sôbre o assunto há uma carta de Fernão de Sousa
5
de a de Dezembro de 1626 a fl.335 5 3
do cód. t-viu- o da Bibl. da Ajuda.
5 3 36
(2) Bibl. da Ajuda. Cód. t-vm- o, fl. o . Carta de to de Dezembro de 1624.
I

Parte II— Angola 249 r


f

'S.
y
os holandeses forçariam a entrada do canal, e completou a organização
da cidade, não esquecendo guardar a saída para o interior com receio
dos que fugissem. *. ■ i

O tiroteio continuou no dia seguinte sem dano para nós, a-pesar-de


que tendo rebentado uma peça no forte de Santa Cruz, uma cunha foi * *'

atingir, matando, o valente Baltasar Rebelo de Aragão, que então era pro­
vedor de fazenda e não obstante a sua idade, estava ali prestando serviço.
Ao outro dia, i de Novembro, os holandeses iniciaram uma tenta­
y.
tiva de desembarque, vindo grande número de lanchas em direcção
à terra, mas sem definirem bem o ponto onde o queriam fazer, na
â
esperança de que acudindo os nossos a determinado local, eles o
pudessem efectuar noutro. Fernão de Sousa deu, porém, ordens ter­
minantes para nada se alterar, e esperassem que os holandeses defe­
nissem os seus planos, ao mesmo tempo que recomendava rompessem
o fogo os fortes que estivessem mais perto das lanckas, pelo que os
holandeses, tendo sofrido algum dano nas embarcações em que se
transportavam, recolheram a bordo das naus.
Durante a tarde dêsse dia e ainda no seguinte continuou o tiroteio
de parte a parte, sem que da nossa houvesse qualquer ferido e havendo
da dos holandeses a morte de um português, Diogo Rodrigues Teixeira,
que aprisionaram quando ia em um batelão acudir à Sua armação, e
ferimentos graves em dois dos seus, além de alguns navios bastante
danificados.
Vendo que nada conseguiam, os holandeses retiraram com os seus
navios para a ilha, fora do alcance da artilharia dos fortes, onde pro­
cederam à reparação e limpeza dos mais necessitados e, logo que
efectuaram a do patacho e a da urca, mandaram-nos sair para irem ao
sul resgatar refrescos, e pouco depois saiu o patacho pequeno carregado .\ j

de zimbo para o Pinda, também para resgatar mantimentos e refrescos.


Emquanto estiveram na ilha mandava quási diàriamente Fernão de
Sousa dar-lhes repetidos assaltos, que os obrigavam a estarem continua-
damente de vigia e a consumirem munições, mas sem qualquer outro re­
sultado prático, pois que os holandeses só abandonaram o pôrto depois
de todo o seu serviço terminado.

*
« •

O patacho mais pequeno levou para o Pinda recado do almirante


holandês para o rei do Congo, dizendo-lhe que tinha vindo atacar
3a

í: {
Jk

» I
i5 o A n g o la

Luanda no cumprimento de ordens qne para isso recebera, contando


que êle cumpriria aquiJo a que se oferecera, que erà dar guerra por
terra, quando afinal nem ao menos lhe dera bom acolhimento e refrescos
na ilha de Luanda (i).
t É muito possível que os holandeses contassem com o auxílio do xei
do Congo, atacando-nos pelo interior, e com outros auxílios dos mora­
dores de Luanda, porquanto, referiam os portugueses que tinham
estado prisioneiros, que o almirante holandês contara -que um judeu
$
que vivia na Flandres e era sanchristão d e sua sinagoga o enganara e ao
i ; Conde Maurício , afirmando que tomaria esta terra sem nenhum custo
e, esclarecia Femão de Sousa « P o llo s sinaes q. d elle deu e do tempo em
que aquj esteve se entende q. he hü Sebastiaõ R ibeiro natural da Hhà dá
Madeira, irmaõ de Custodio L o b o que reside nessa cidade e d ly se
4I
avia partido pera Sevilha antes da minha vinda, p ollo que se p ode crer
\
i q. todas as arm&das que sa hé desse porto pera as conquistas, sahê malsi­
nadas.
Não parece que o Sebastião Ribeiro enganasse o almirante holandês,
o geral, como os nossos lhe cham avam , com as promessas feitas, pois
devia ter fortes motivos para as fazer, e a confirmá-lo está a necessidade
que Fernão de Sousa teve de tomar medidas especiais, como fazer
recolher todos os indígenas da ilha a Corimba, com o fim-de evitar a
comunicação com os holandeses, sem contudo o conseguir, pois o geral
com tôda a semcerimónia m andava recados aos jesuítas, preguntan-
do-lhes se seriam deles uns negros que aprisionara, e servia-se até
dos mestres dos navios portugueses para obter as informações que
desejava, chegando a mandar recado a Fernão de Sousa dizendo-lhe
que não levasse à conta de cobardia o não desembarcar, mas não
o podia fazer por falta de gente, e manifestando o seu pesar por sèr
outro compatriota e não êle, que tivesse a honra de o levar para a
Holanda.
Abandonado o pôrto de Luanda pelos navios holandeses, conti­
nuaram contudo com a sua feitoria no Luango, onde ainda mantínha­
mos a nossa, agora proibida pelo rei de resgatar cobre e marfim com
os indígenas, e apenas rabos de elefantes, penas de papagaios e panos

(i) O pedido para os holandeses nos virem atacar com a promessa de os auxiliarem, foi
feito pelo rei D. Álvaro II, como represália pela guerra cjue lhe deu o governador João Correia
de Sousa e foi também, quando governava o preto D. Álvaro II, que os jesuítas e Gaspar A l­
vares se relugiaram no Congo, fugidos de Luanda pelas questSes com Correia de Sousa.
Entretanto falecera D. Álvaro sucedendo D. Garcia, que não estava no segrêdo da combinação.
-4 \

•ï-

Parte 11— Angola i5t

lavrados que corriam como moeda, o que não impedia de resgatarmos


com os holandeses, fornecendo-lhes refrescos, saladas e ovos e de lá
irem os navios do contratador, com, fazendas, talvez de Cádix ou
Sevilha, vinho das Canárias e mantimentos do Brasil para o mesmo
fim. Da mesma, forma mantinham a feitoria no Pinda, onde êlcs e os
nossos continuavam vivendo na melhor harmonia, a ponto do ouvidor %
que lá tínhamos,. Baltasar de Carvalho, ir resgatar às naus e comer com
êles. Fernão de Sousa, empenhado em impedir o comércio aos holan­
deses, precisava opôr-se a estes e outros sintomas da mais completa
indiferença pela defesa da colónia, mas precisava faze-lo,sem violências
pessoais, porque êle já sabia não convinha puxar pela matéria por seré os
principaes da terra e. poder acontecer outro herro tnayor.
Com mira, sobretudo, no resgate do cobre, que era o que os holan­
deses mais levavam daLuango e do Pinda e nos fazia, falta, mandou
abrir o resgate com o Caeongo, prejudicando-o negócio com o Luango,
e ao mesmo tempo proibiu em, absoluto os navios portugueses de irem
ao Pinda, não podendo fazer o mesmo com respeito ao Luango, poir
estar o resgate contratado.
Estabelecidas estas medidas, começou instando com o rei do Congo
para que expulsasse os holandeses do Pinda. As suas instâncias,,
juntamente com a ausência já prolongada dos navios portugueses no
Pinda, que trazia descontentes os portugueses e os fidalgos pretos do
Congo, já envolvidos no negócio, obrigaram.o rei do Congo a dar
ordem ao Conde do Sonho, D. Paulo, que governava no Pinda, para
expulsar o holandês lá estabelecido. A expulsão efectuou-se na presença
de todos os portugueses, e o holandês seguiu com as suas fazendas
para o Ngoio (Cabinda), mas sabendo que nós já estávamos estabe­
lecidos em Caeongo, seguiu para o Luango, onde tendo adoecido,
foi expulso pelo soba, ou rei, como lhe chamavam, que tinha o precon­
ceito de que se lá morresse algum branco, morreriam todos da terra,
vindo por isso novamente parar ao Pinda.
O Conde do-Sonho apressou-se a comunicar a Fernão de Sousa o
que se passava, pedindo-lhe que desculpasse o procedimento do irmão
admitindo lá os holandeses, visto já ter falecido, e consentisse que os
navios de Luanda lá fôssem, mas Fernão de Sousa exigiu que lhe en­
tregasse o holandês. Ao. mesmo tempo o rei do Luango, tendo de lá
saído um navio de Castela carregado, e receando que os holandeses,
a-pesar-dài ordem dele.para lhe não fazerem mal, ,o tivessem atacado na
viagem, mandava^ um próprio com uma carta.a Fernão de Sousa, pe-

r ta-

t!
252 A n g o la
dindo-Jhc para informar se o navio lá tinha chegado, a-fim*de proceder
no caso contrário.
Como se vê, tudo corria o melhor possível para a realização do
plano de Fernão de Sousa de impedir aos holandeses o comércio com
o Congo e Luango, se entretanto, no Pinda, não se tivesse amontoado
6 marfim, por os portugueses o pagarem mal, em relação aos holan­
deses, visto ser artigo de negócio exclusivo da Coroa, com preço deter­
minado e sem margem para lucros !
Pretos e brancos, interessados no negócio, protestavam, e o Conde
do Sonho resolveu o caso mandando ao Luango pedir aos holandeses
que enviassem lá um navio. Fernão de Sousa soube-o e lá volta com
cartas de ameaças, para o Sonho e para o rei, pedindo ao Bispo para
o auxiliar com as excomunhões e censuras. A correspondência era
dirigida ao Ouvidor do Congo, para a fazer seguir ao seu destino e
com instruções sôbre a forma como deveria proceder, mas foi interce­
tada a meio caminho, no Ambris, e levada ao Chantre Vicente Dias
Milheiro, confessor do rei do Congo, que, com a cumplicidade de
Baltasar Lopes de Andrade, que na ausência do ouvidor, desempenhava
êsse cargo, dirigiam a manobra para o regresso dos holandeses ao
Pinda.
Nesta preocupação constante se passava a maior parte do tempo.
Ora eram os avisos do Brasil da saída para Angola das naus holan­
desas, ora eram estas percorrendo a costa à caça de presas, e, se por um
lado, no mar, com a fraca defesa de que dispúnhamos, se conseguia
impedir muitos dos ataques, em terra, como se vê, havia uma grande
corrente a favor dos holandeses, porque o caso era diferente pois não
iam aos portos do Luango e Pinda para roubarem e saquearem nem
fazerem presas, pois os próprios pretos o não consentiriam, mas levavam
mercadorias diferentes das nossas, animando o negócio, pagando
melhor que os mestres dos navios do contratador.
Mais tarde, enfraquecida um pouco a preocupação de lhes evitar o
negócio, foi possível, aos holandeses, dispondo de uma regular esquadra
e de bastante gente, desembarcarem em Luanda e apossarem-se da ci­
dade. Depois disso, consumado êsse facto, perdidos para a Coroa de
Castela o rendimento da exportação de escravos de Luanda, levou anos
para que a Restauração se decidisse a rehaver Angola, visto que nunca
tinha conhecido os rendimentos que dali lhe poderiam vir.
Organizada a esquadra, distribuídos os lugares de comando, não se
fêz mais nada, e o Conselho Ultramarino então creado, muito clara-
P a r te I I — A n g o la *53

sacode de si a responsabilidade, alegando que o assunto tinha


pre tratado directamente pelo rei T>. João IV. l i foi preciso
s'do jjia os portugueses fazendeiros do B rasil, perante a im inência
que utn de abandonar as suas plantações por falta de escravos, se
de ote
' lvrem
e sse,nl
m a entre si se cotizarem p ara a despesa da expedição, para
res' iv ad o r C o rre ia pudesse sair com a esquadra a retom ar os portos
qUe S a ^ ^ue es,tavam em poder dos holand eses, pois que o interior
de A‘ng° ,,„ «
tin u ara m opre
sem r e a ser nosso,
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IV

A C T IV ID A D E ECO N Ó M ICA E SITUAÇÃO FINANCEIRA

TÒda a vida económica Je financeira das nossas colónias da África


Ocidental, foi, de início, baseada, qúáisi que exclusivaínente, na escra­
vatura. E ra o negócio do escravo o principal coçiércio, eram os
direitos, licenças e mais impostos quê essa exploração produzia, o prin­
cipal rendimento da Coroa.
N ão se pensava, então, em classificar de crime a escravatura, que
era um acto corrente da vida social. Todo o sul da Europa e todas as
ilhas do Mediterrâneo, estavam cheias de escravos, brancos, mouros
judeus e negros. H avia de tudo e de ambos os sexos, prestando-se a
todos os negócios que hoje repugnam ao nosso modo de ser moral.
N ão foi preciso a conquista de Seuta e os descobrimentos que se
seguiram, para em Portugal e em todos os países do Mediterrâneo,
haver escravos e se saber o que era o resgate. João Afonso, o vèdor
de fazenda de D. João I, sugeriu a conquista de Seuta, porque já lá
tinha mandado resgatar e, naturalmente, como homem de finanças,
sabia bem avaliar os lucros e o interesse material que o negócio traria
ao país, ao passo que os filhos de D. João I, aceitando a sugestão,
como cavaleiros e homens de guerra, só os preocupava a propagação
da fé entre os infiéis do norte da África.
Com os descobrimentos veiu o desenvolvimento do resgate, e Por­
tugal foi-se enchendo de escravos, primeiro os mouros, depois os
negros, mais tarde os judeus. Com êles fizemos a colonização das
ilhas do Atlântico e dêles se utilizavam os fidalgos e proprietários, em­
pregando-os quer no serviço doméstico, e como carregadores, quer em
outros trabalhos mais árduos no campo.
Tínham os reservado pára nós o resgate na Guiné, sem que nenhuma
oposição activa tivesse sido feita por parte de Castela, ou de qualquer
outra nação da Europa, a esta reserva. Os nossos marinheiros tinham
256 A ngola
ordem de atacar os navios estrangeiros que encontrassem por aquelas
paragens sem licença, e lançar ao m ar as tripulações. A energia
com que procedemos na defesa do direito de reservarm os, exdusivam ente
para nós, as nossas descobertas, produziu o resultado que desejávam os,
pois Castela, o único concorrente de quem poderíam os recear algum a
resistência, aceitou os factos como D. João II os apresentava, talvez
porque escravos esperava ter em m aior núm ero e m aior valor, com a
liquidação do reino de Granada (i)-
Dos escravos que havia, uns, os m ouros, destinavam -se ao negócio,
eram presas que se esperava a fam ília viesse resgatar por bom
dinheiro, como êles faziam em M arrocos quando agarravam algum
branco. Os outros, os negros, eram em pregados, na Europa, ao serviço
dos ricos, em uma vida mais de ostentação que de necessidade, e nas
ilhas que estávamos colonizando e povoando, no trabalho violento da
cultura da cana e fabricação do açúcar. Em qualquer dos casos a
oferta e a procura do a rtig o , equilibravam -se, e as necessidades cres­
centes dos colonos agricultores eram fàcilm ente satisfeitas.

■*
# #

Cristóvam Colom bo regressava, entretanto, da sua viagem ao


Ocidente, anunciando ter encontrado as índias que Castela sabia
D. João II procurava pelo O riente, e cuja posse traria as mais fabulosas
riquezas à nação que a efectuasse.
A fortuna, julgavam êles, aparecia-lhes assim, inesperadamente, mas
era preciso lá ir e explorá-la, e, na verdade, nem a sua marinha, nem
a sua gente, estavam preparados para o trabalho que a descoberta
exigia. P ara lá partiram os mais aventureiros e, numa ansiedade
louca, procuram, ora aqui, ora além, o ouro, as pedras preciosas,
tôdas essas riquezas que a sua im aginação acastelara.
Passada a primeira fase da surpresa, entram na da organização, e
o território até então descoberto, é dividido em repartimentos. O solo
rico promete compensar a despesa e trabalho com a sua exploração,

(i) Tendo D. João II, em 1494, reclamado contra o facto de negociantes espanhóis terem
ido resgatar à Guiné, os reis de Espanha atenderam prontamente a reclamação e determinaram
por cédula de 4 de Fevereiro de 1496 a prisão de Alonso de Macedo negociante de Cádiz, que
maior responsabilidade tinha no caso. (Navarrete, Col. dipl. Supl. I, n.° 3o).
Parte I I — Angola ^7
mas era preferível encontrar o ouro e a prata, que os tornaria ricos
mais depressa. Em qualquer caso era preciso o trabalho, que por si
não podiam dar, e procuraram levar o índio a prestá-lo. Nas minas o
trabalho era em extremo violento e os índios desacostumados a exe­
cutá-lo, fugiam, internavam-se, evitavam o contacto e relações com os
ocupadores. Estes, perseguiam-nos e forçavam-nos, empregando os
meios violentos. As suas dificuldades constaram entre os outros ocu­
padores de regiões onde pela ausência de minas, e por a exploração
agrícola estar longe de atingir a intensidade que mais tarde teve,
os índios se conservavam em boas relações, que êles aproveitaram
para os conduzir e venderem como escravos àqueles que deles necessi­
tavam, e, assim, afinal, todos tinham encontrado minas para explo­
rarem.
Pouco tempo durou êste negócio de escravatura dos'índios. Era
breve êles lhes faltaram e, por extrema necessidade, ?ubstituiram-nos
por brancos, que não puderam suportar o trabalho. Lançaram depois
mão dos escravos que tinham na Andalusia (1). Eram, na maioria,
mouros, também não convinham, pois dificilmente se convertiam ao
cristianismo, e pensavam, poderia constituir um perigo a propagação
do seu credo religioso entre os índios.
Os reis de Castela chamaram o negócio a si e êles próprios man­
daram comprar a Lisboa 100 negros, que de sua conta fizeram trans­
portar à America para serem vendidos (2). Os resultados foram
esplêndidos tanto para os colonos que os compraram, como para os
reis que os venderam, tornando-se necessária a continuação de re­
messas.
Não convinha, contudo, aos reis terem êsse negócio sob a sua acção
directa e, feitos os cálculos aos lucros, resolveram vender licenças para a
importação de escravos negros na América, ficando assim a Coroa com
um rendimento certo e sem mais trabalho que arrecadá-lo.
Regulamentada a concessão de licenças, a população de Sevilha
passou a dedicar-se, em grande maioria, ao negócio de escravos, que
tomou um enorme desenvolvimento, mais pelo contrabando que se
passou a fazer, sobretudo com as colónias portuguesas de Cabo Verde,*3

(1) Ortiz de Zuniga nos Anais de Sevilha refere que o Arcebispado de Andalusia rinha
grande número de escravos e em Sevilha se tinha estabelecido um mercado importante, além
de que também havia negros livres, a quem era permitida uma organização especial, com um
maioral, capelas e confrarias.
(a) George Scelle, La traite négrière aux Indes de Castille. Paris 1906, t.* vol., pág. ta6.
33
i5 8 Angola
Guiné e Mina, do que pelo fornecimento dos existentes em Espanha,
em condições de serem utilizados na América, que em pouco tempo se
esgotaram.
Era já impossível deixar de atender às necessidades dos colonos da
América, tanto mais que se iniciava a campanha contra os maus
tratos infligidos aos índios, e a favor da sua libertação, de que
Fr. Bartolomeu de Las Casas foi o precursor, fortemente secundado
pelos frades dominicanos, a cuja ordem pertenceu.

*
* *

Em dois princípios assentou a política colonial da Espanha. O


exclusivo para a Metrópole e para os seus habitantes, de todo o
comércio com as colónias, que seriam abastecidas do que precisassem
pela marinha metropolitana, recebendo em pagamento os produtos da
terra; e a reserva para o Estado, ou para a Coroa, de tôda a produção
mineira, ouro, prata ou cobre.
Assim como nós procedêramos para a Guiné e Mina, procedeu
também a Espanha para a América, levando um pouco mais longe as
suas restrições, pois que de início só os castelhanos podiam freqüentar
as colónias, estendendo-se depois a concessão à Andalusia e posterior-
mente a Aragão e Navarra. Aos estrangeiros não só era proibido
irem ou residirem nas índias sem uma licença especial, como sem essa
condição, lhes não era permitido negociarem em Espanha, nem asso­
ciarem-se, ou fazerem-se representar em qualquer negócio por um es­
panhol.
Tão ríspidas eram estas determinações e tão difíceis de fazer exe­
cutar, que deram lugar a tôdas as fraudes, ora pelo contrabando,
ora com sofismas da lei, em ambos os casos com a cumplicidade das
autoridades.
Os portugueses eram especialmente visados nestas determinações,
mas não era por isso que eles deixavam de por sua conta fazerem o
possível contrabando nas colónias espanholas da América, ou de se
concertarem com os espanhóis, quer para êsse fim, quer para se esta­
belecerem em Sevilha.
A medida de fiscalização do comércio colonial que tinha sido posta
em execução e de que se esperavam os melhores resultados, era o re­
gisto das embarcações feito na casa da Contrataciont em Sevilha,
P arte I I — Angola 25ç
e sem o qual o capitão do navio não podia sair de Sevílha, e muito
menos entrar em qualquer pôrto das colónias da América.
O registo era, pouco mais ou menos, o que hoje são os diversos pa­ *t
péis de bordo, com a diferença de que naquele tempo, a parte que dizia
respeito à Alfandega e Capitania constava tôda de um só documento.
Para se obter o registo os capitães e carregadores entregavam i1
na Contratacion uma relação jurada da carga, dos passageiros, da *
equipagem e dos escravos, se os levavam. Nessa relação eram lançados
os necessários termos que provassem o conhecimento que a Contrata­
cion tomava do caso, e com ela o capitão se apresentava aos oficiais
no pôrto da colónia para onde se dirigia, os quais, por seu turno,
exaravam as declarações sôbre o desembarque da carga, passageiros e
pretos, e mais ainda as que diziam respeito à carga e passageiros de
retôrno, devendo estes manifestar o ouro e prata que traziam.
Regressando a Cádiz o capitão fazia a participação da chegada e
entregava o registo. Durante quatro ou cinco dias o presidente da
Contratacion procedia à conferência da carga e dos passageiros e tri­
pulação. Esse espaço de tempo era mais que o suficiente para os
oficiais de bordo se desobrigarem do encargo que tomavam nas coló­
nias com os passageiros que regressavam ou com os colonos que lá a
tinham ficado, de entregarem a bôrdo dos navios estrangeiros que I
estivessem no pôrto, ou em locais e a pessoas que lhes indicavam, me­
diante a pequena comissão de i % e 2 °/o> 0 ouro Prata que traziam
escondido. Fàcilmente se conclue que nada disto seria possível sem a
conivência do governador, do alcaide e dos guardas, pois todos eram
gratificados.
A-pesar-de tôdas as proibições, os comerciantes estrangeiros tinham
as suas casas de negócio em Sevilha e exploravam o negócio colonial,
quási tendo-o absorvido, para o que escolhiam um espanhol de probi­
dade reconhecida e alguns bens de fortuna, que emprestava o seu
nome para assinar todos os pedidos de licenças, os conhecimentos,
facturas e as declarações a entregar nas estações oficiais, mediante uma
comissão, não havendo exemplos, seja dito em abono da verdade, de
qualquer fraude ou patifaria praticada por estes testas-de-ferro (i).
O rigor da lei levava à brandura na execução e provocava a comi­
seração dos executantes para com os transgressores. A mais pequena
falta implicava a confiscação e, tratando-se de ouro ou prata, tinha *>
}

(i) George Scelle, op. cit. í


■*
*t

! i
t

)
26o Angola

ainda a muita que se elevava ao quádruplo dos valores descaminhados.


Era tfio rigorosa e por tal forma violenta a lei, que o próprio rei
era obrigado, por circunstâncias diversas, a conceder perdões ou
indultos e, para não perder tudo, passaram estes a ser também
negociados, transformando-se em um imposto regular e certo, entre
to a i2°/0, mas arbitrário, contra o que reclamavam aqueles que não
tinham prevaricado.
*
* •

Da simples venda de licenças para navegar escravos, feita pela


Coroa a particulares que precisavam adquiri-los para as explorações
que tinham nas colónias, passou-se ao negócio das licenças, e indiví­
duos havia que as obtinham e se encarregavam de fornecer os escravos,
ao passo que o$ reis por vezes as cediam aos seus afeiçoados, como
mercê ou galardão, e que estes aproveitavam para as vender aos que
tinham êsse negócio.
Carlos V, herdando a coroa de Espanha não esqueceu os seus
amigos e compatriotas, e informado do valor que tinham as licenças,
presenteou, em 1 5 18, o seu favorito Laurent de Montinay, a quem os
espanhóis chamavam Garrevod, com uma cédula para poder levar
4000 escravos às colónias espanholas. Neste documento autorizava-se
Garrevod a ir angariar negros às ilhas da Guiné ou a qualquer outro
ponto onde fôsse costume encontrá-los, trazendo-os a Espanha ou a
Portugal, não deixando de ser interessante esta autorização, desneces­
sária quanto à indicação do local, pois não havia outro ponto onde ir
resgatar negros.
Em 1466 tinha sido concedido aos habitantes de S. Tiago de Cabo
Verde o previlégio de poderem resgatar directamente na costa da Guiné,
sem necessidade de virem ou mandarem a Lisboa tirar a respectiva
licença, para o que se estabeleciam os almoxarifes nos diversos locais
do resgate, que cobrariam em género o quarto de tôdas as carregações
incluindo as de negros.
Os estrangeiros não podiam ir à Guiné, mas podiam residir em
S. Tiago, o que genoveses, flamengos e espanhóis aproveitaram para
fazerem ali entreposto para o seu comércio, e como então a Espanha é
que precisava de escravos, enviaram no período de i 5 i 4 i 5 i 6, de
2970 escravos da Guiné recebidos em Cabo Verde, 370 directamente
para Cádiz e Sevilha.
P a rte I I — Angola 261
Como de costume vieram os abusos e em 15 17, D. Manuel (1)
proibiu os habitantes de Cabo Verde irem resgatar à Guiné, levando
outros produtos que não fôssem os das próprias ilhas, e trazerem
escravos a mais das suas necessidades próprias, sob pena de perderem
o previlégio concedido. Em 15 18, como os abusos continuassem,
determinou D. Manuel punir os transgressores com a confiscação dos
bens e com a morte.
É nesta altura de repressão enérgica do resgate na Guiné, que
Carlos V outorga ao seu amigo Garrevod a licença para lá ir resgatar,
licença que êle vendeu a João Lopes de Ricalde, genovês e a Alonso
Gutierrez, castelhano, naturalmente estabelecidos com negócio em
Cabo Verde, e que contavam com as suas habilidades de contraban­
distas e um pouco com a conivência dos almoxarifes, para levarem a
efeito o negócio.
* O
• *

Para bem se compreender todo êste movimento do resgate, vejamos


como corria a concessão e exploração das licenças.
Havia diversos processos de obter licença para navegar escravos
para as colónias da América. Em geral, requeriam-se em Madrid,
pagando no Tesouro ou na Contratacion em Sevilha, a respectiva im­
portância. Podia, contudo, pedir-se a licença a prazo, oferecendo para
isso uma caução, ou, o que era também muito corrente, obter-se de
um dos numerosos proprietários de licenças, que as tinham precisamente
para êsse negócio, que cedessem uma parte para determinado número
de escravos, o que eles faziam passando um novo pertence para a
quantidade negociada.
Com êsse pertence, ou título, 0 negociante apresentava-se em Sevilha
aos oficiais da Contratacion e declarava se utilizava tôda ou parte da
sua licença, pedindo registo para 0 número de escravos que queria
mandar, indicando 0 navio e 0 destino. Se carregava em Sevilha,
as formalidades eram simples e, pagos os direitos ao Almoxarifado,
recebia um certificado em troca da cédula original, para mostrar aos
oficiais do pôrto nas colónias e podia seguir viagem.
Se ia carregar a um pôrto da África, 0 navio saía com o registo e o
capitão, encontrada ou contratada a carga, mostrava-o ao feitor por-

(0 Referência a pág. 49.


2Ó2 Angola
tuguês, que nêle lançava o número de escravos, e seguia depois viagem.
Chegando ao seu destino os oficiais faziam a visita, conferiam a
carga com o registo, e procedia-se então ao desembarque e venda
dos negros. Carregado novamente o navio, regressava a Cádíz com
as mesmas formalidades da ida.
Não havia pois negócio mais simples, mas para tudo correr com
esta simplicidade era apenas necessário que o navio e tripulação fôssem
espanhóis, o que era raro, porque não tinham navios próprios, nem
tinham marinheiros habilitados.
Havia relativamente poucos anos que tinham começado a navegar
para a América, ao passo que nós, ou mesmo os genoveses e os
flamengos, que connosco tinham andado e aprendido, tínhamos já mais
de um século de mar largo, que era diferente daquelas viagens costeiras
a Marrocos a piratear os mouros.
As tripulações deviam ser exclusivamente espanholas, mas como
raras vezes o conseguiam, eram levados a autorizar que fôssem con­
tratados como marinheiros e moços, portugueses ou genoveses, que
saído o pôrto, passavam a desempenhar os seus verdadeiros cargos de
capitães e pilotos. Por fim, não tendo outra solução, consentiam que
a viagem dos escravos se fizesse em navios portugueses, ou espanhóis,
com parte da tripulação portuguesa, mas sujeitando-os a fiscalizações
especiais para não desembarcarem senão três ou quatro portugueses e,
sobretudo, fazê-los regressar ao pôrto de Cádiz, para de modo algum
ficarem residindo nas colónias espanholas.
Era ridícula esta preocupação e de efémeros efeitos as restrições
adoptadas. Os escravos estavam nas nossas colónias, donde não
podiam ser resgatados sem uma licença; tínhamos navios e tripulações
adestradas para viagens com estes carregamentos; conhecíamos como
ninguém, como êles próprios não conheciam, as costas das suas colónias,
as suas ilhas, e sabíamos todos os portos e abras onde se podiam
fazer desembarques clandestinos de negros.
As suas preocupações, em matéria de administração colonial, de
evitarem o desvio dos rendimentos da Coroa, pela introdução de
escravos a mais do número das licenças, ou de mercadorias que não
viessem de Espanha, nunca cessavam, porque tôda a sua vida colonial
dependia de nós. Tinham o receio de que lhe cubiçassem as colónias,
queriam esconder de nós tôdas as riquezas que nelas encontravam,
mas, afinal, era de nós que tinham de se socorrer para as poderem
valorizar.
P arte I I — Angola 263
A proibição do desembarque do pessoal português que ia nos
navios, ou da demora era terra de qualquer português, era, além de ri­
dícula, inexequível, porquanto as vendas de negros não se podiam
cfectuar imediatamente à chegada do navio, nem mesmo emquanto se
procedia à descarga, e as licenças continham a cláusula permitindo que
um ou dois feitores se demorassem até à liquidação do carregamento,
concessão que não podia deixar de ser feita, por ser por todos os mo­
tivos necessária e justa. Sucedia porém que os portugueses, demorando
propositadamente a venda dos escravos, iam ficando nas colónias es­
panholas com o seu negócio estabelecido e contrariando assim um dos
princípios fundamentais da sua colonização, o do exclusivo do comércio
para os nacionais.
Se não podiam evitar que os portugueses se estabelecessem nego­
ciando nas suas colónias, menos o podiam com respeito à exportação
do ouro e da prata para Portugal, pois ficando os Açofes no caminho,
era fácil justificar a necessidade de uma arribada, e fazer-se o desem­
barque daquilo que poderia ser apreendido em Sevilha.


# *

Esta animadversão para com os portugueses tinha de ser disfarçada


por fôrça das circunstâncias, e por vezes se encontram autorizações
permitindo as navegações em navios e com tripulações portuguesas,
como em i 525
, na licença concedida ao licenciado Álvaro de Castro,
castelhano, que se tinha associado a um genovês, e expunha ao rei que
se fôsse obrigado a comprar os negros em Espanha, só o conseguiria
com dificuldade e despesa, e se fôsse obrigado a carregá-los em navio
espanhol, lhe saía muito mais caro, pois os barcos portugueses se fre­
tavam por menos preço. O rei achando justas as razões apresentadas,
concedeu-lhe a autorização para fretar um navio português e resgatar
os negros em África, mas com a condição de só quatro tripulantes
serem portugueses e os restantes castelhanos (i).
53
Pouco depois em i i , em uma licença para Diogo Martinez
arranjar mil escravos, já se muda de orientação e se impõe «y que los
navios en que los pasaredes e las personas que losfueren a contratar sean
castellanos y que los escravos que de otra manera se pesaren sean per-

(i) George Scelle, op. cit. Doc. n.° 5 a pág. 758 do 1.“ vol.
26 4 Angola
didos, etc. pois tudo dependia dos negociantes espanhóis residentes em
Sevilha, fazerem ou não algum negócio.
A seguir, em 1 5 3 8 , faz-se em Espanha um largo contrato para
fornecimentos de escravos com dois alemães conhecedores do negócio,
os quais por sua vez o transferiram para o português André Ferreira
que se estabeleceu como feitor em Nova Espanha. Por qualquer mo­
tivo zangaram-se, mas o Ferreira estava de posse da licença e continuou
negociando por sua conta. O contrato transformara-se assim, em um
negócio directo de Lisboa ou das possessões portuguesas, com as ilhas
espanholas, sem intervenção da Espanha, e 0 govêrno espanhol infor­
mado do facto, ordenou a expulsão do André Ferreira e de todos os
portugueses que residiam nas índias de Castela. A população protesta,
as autoridades, integradas no espírito da população, cumprem a ordem
só depois de ter exposto a injustiça da expulsão de um indivíduo útil,
que prestava refèvantes serviços aos colonos; e o município de S. Do­
mingos, dirigindo-se ao Rei, diz-lhe que viu com desgôsto a medida
tomada da expulsão do português que era tão util ao país, esperando
que fôsse permitido êle voltar, e que se não desse crédito a pessoas que
falavam com paixão (1), querendo referir-se ao comércio de Sevilha e
marcando bem claramente a animosidade que sempre existiu entre os
colónos ciosos da sua liberdade, e o comércio pugnando pelos seus
previlégios.
Os portugueses entretanto, conhecedores das boas disposições da
população das colónias espanholas, aproveitaram a ocasião para, por
meio do contrabando, se compensarem dos prejuízos sofridos pela
expulsão, e as próprias autoridades espanholas eram as primeiras a
fechar os olhos a êsse contrabando, como em 1541, em Porto Rico
perante dois navios portugueses carregados de escravos, que lá apare­
ceram.
Segue-se um longo período, até i 5 8 o, em que a Espanha está envol­
vida em guerras na Europa e não tem ocasião de fazer contratos para
o fornecimento de escravos, mas em compensação vende lotes formidá­
veis de licenças, que passaram a constituir uma forma de empréstimos
ao govêrno.
Os portugueses continuam como sempre, a desempenhar o principal
papel no fornecimento de mão de obra para as colónias espanholas. Não
só é a Lisboa que os compradores de licenças se dirigem para assegu-

(t) George Scelte, op. cit.


Parte I I — Angola 265
rarem os seus fornecimentos, mas quando a Contratacion, assustada
perante a avalanche de genoveses, flamengos e portugueses, que se
queriam matricular como tripulantes das embarcações, representava a
Felipe II para que o proibisse, êste, longe de concordar com o alvitre,
mandava que os admitissem todos, com a condição dos mestres pres­
tarem fiança, obrigando-se a fazer regressar a Espanha os tripulantes,
porque assim evitava que êles fôssem prestar os seus serviços e comu­
nicar os conhecimentos adquiridos em outras viagens, aos estrangeiros
inimigos da Espanha.
Aos próprios portugueses foi permitido adquirirem para si as licenças
para fornecerem escravos, e assim encontram-se os registos de Lourenço
Alvares, para ioo negros; Bento Vás, para 600 em i 563 e mais 65 o em
1565 e sobretudo Manuel Caldeira, contratador das rendas de S. Tomé
e da Mina, que em 1 568 se encarrega do fornecimento de 2000 negros,
além dos que se encarregava de resgatar e expedir pír conta de outros
portadores de licenças(i).
Felipe II convencido como estava então, de nada poder fazer contra
a acção desenvolvida pelos portugueses neste negócio do resgate, resolve
em 1566 , pouco mais ou menos, entender-se com 0 Rei de Portugal e
conseguir que as autoridades portuguesas fizessem a fiscalização nos
carregamentos de negros e, assim, nas licenças a partir de 1567 se
encontra escrito: con fe ascripta en las espaldas de los administradores
que el Sereníssimo Rey de Portugal tiene en los Puertos donde hoviere
rescatado y contratado los dichos esclavos; que no recibistes ni rescatastes
en los dichos puertos todos los esclavos en el tal registro contenidos y asi
salistes de los dichos puertos con tal numero de esclavos y no ntas... (2).
E interessante que em todo êste período até i 58o, é que aparece
maior número de espanhóis a pedir licenças, e, dadas as circuns­
tâncias expostas, tudo leva a crer que, se não 0 faziam por conta de
portugueses, eram pela certa associados com êles.
O que não pode passar desapercebido e convém fixar, é que o
princípio estabelecido pela Espanha, da reserva absoluta do comércio
das suas índias para os seus naturais, tinha sofrido fortes restrições,
não só no que dizia respeito à navegação e tráfico dos negros, mas
também à exploração das colónias. A Espanha envolvida em guerras
na Europa depressa entrou no período de depressão da sua actividade*3 4

(1) George Scelle, op. cit.


(2) Idem, Ibid., doc. 19, pág. 783 do i.* vol.

34

--- ’"""vH- " '


y
206 A ngola

colonial c não obstante, ao passo que com estrangeiros, especiaimente


portugueses e genoveses, se via obrigada a transigir, mantinha severa
para os seus colónos, a proibição de negociarem directamente com
o estrangeiro, centralizando no comércio de Sevilha todo o movimento
de exportação e importação das colónias.

#
* •

Quando em 1 58 o Felipe II de Espanha se apoderou da coroa de


Portugal, Angola constituía uma donataria de que era donatário Paulo
Dias de Novais.
Parece, pelo que escreveu o licenciado Domingos de Abreu de
Brito (i), que desde i 5 7 5 , data em que Paulo Dias chegou a Angola,
se fêz logo registo, em livros próprios, do movimento de escravos
despachados pelos oficiais de V. M g .d% mas que só nos últimos quatro
anos, em referência àquele em que escreve ( i 5 ç)i), estavam arrendados
os direitos sôbre esses escravos (2); e efectivamente, em 1587 fêz-se
um contrato com Pedro de Sevilha e António Mendes Lamego (3 ) sôbre
el asiento é comben\as dei rreino de A n gola, por seis anos a começar no
S. João dêsse ano, e pela renda anual de onze contos, exactamente
a mesma importância a que se refere Abreu de Brito.
A administração espanhola chamava asientos ao contrato ou con­
junto de contratos, pelos quais um particular se substituía ao Estado
para desempenhar em seu lugar um serviço' público, cobrando as re­
ceitas e efectuando as despesas, mediante determinada renda e condi­
ções. Os asientos revestiam diversas formas, umas vezes tratando
apenas da cobrança de impostos ou licenças, sem tolher a liberdade
dos particulares as usarem ou não, e eram os casos mais raros, outras,
e eram os mais correntes, transformando-se em verdadeiros monopólios

(1) Um inquérito à vida administrativa e económica de Angola e do Brasil, etc. Edição da


3
Imprensa da Universidade. Coimbra, 1931, pág. o e i. 3
(2) Há uma grande falta de documentos referentes a êste período de forma a se poder
produzir, com segurança, qualquer afirmação sôbre a administração de Angola. George Scelle
que pôde consultar os documentos existentes em Espanha, escreve que ao tempo dos Felipes
tomarem a coroa de Portugal, existia em Angola um contratador dos direitos e impostos, e que
esse contrato foi mantido e renovado por Felipe II. A*pesar disto pomos dúvida que antes de
1587 existisse qualquer contrato, porquanto no que se fez então, há referencia ao que se pagava
anteriormente pelas licenças, mas, por hordem de la ha^ienda de su Magestad e não ao contra­
tador.
3 3
( ) George Scelle, op. cit. doc. z a pág. 790 do vol. que se reproduz. Anexos
ir

Parte Il-~ Angola 267

em que o Estado recebia antecipadamente, de uma vez ou por anos,


determinada renda, de que lançava mão para acudir aos apuros do
tesouro. Na maioria dos casos eram como que a venda de títulos de
comércio que pela utilização ou revenda, poderiam dar qualquer rendi­
mento.
O contrato ou asiento cora Pedro de Sevilha e António Mendes
Lamego, não lhes dava o monopólio do comércio em Angola e em­
bora 0 denominassem asiento, não revestiu o carácter particular que
tinha esta espécie de contratos. O tráfico dos negros era livre para
todos, desde que pagassem aos asientistas ou contratadores, em vez de
pagarem aos funcionários do Estado, determinada licença, pois se lhes
estabelecia: «haran convenertcias con todas laspersonas que las quisieren
ha{er para traer esclavos dei rreino de Angola, las quales se haran por
los precios è condiciones, tiempos è modos con que haste aora se hifieron
por hordem de la hafienda de su magestad», importância ou precio êste
que o contratador arrecadava. O comércio de mercadorias, especial-
mente vinhos e aguardentes, também não constituía monopólio e qual­
quer o podia exercer, contanto-que pagasse ao contratador as respecti­
vas licenças, e, assim, os asientistas não eram mais que arrendatários
de impostos, de cuja cobrança se encarregavam com pessoal seu, obri­
gando-se o Rei a não dar licenças algumas para negócio nas costas de
Angola, e a recomendar às autoridades que lhes prestassem todo o au­
xílio è siendo caso que pablo dia% de nabais que esta por gobernador dei
dicho rreino de angola, pretenda tener algun derecko en los rrescates que
los dichos contratadores hicieren, no seran obligados a le pagar por ello
cosa alguna, porque solamentepagaran en cada un ano deste asiento, los di­
chos on\e quentos de rreis à la hafienda de su magestad, la qual quedara
obligada al derecho que el dicho pablo die\ tubiere en los dichos rrescates (1).
Não eram objecto do contrato os metais preciosos. O marfim tinha
uma cláusula especial è antes que se enbarque el dicho marfil lo llevaran
à la casa de la fatoria dei dicho rreino de angola, para lo alli ver y pesar.
E seran los dichos contratadores obligados à mandar traher con el certifica-
cion dei fator è officiales de la dicha fatoria, en que declaren la canlidad y
peso dei dicho marfil pera por ella ser obligados de los derechos dei. Es­
tabelecia ainda 0 contrato que se algum navio fôsse a Angola para

(ij Como se vê liquidaram-se com extrema simplicidade os direitos do donatário, assu­


mindo a Coroa a responsabilidade da liquidação. Se foi feita e como, è que se não sabe, fal­
tando-nos documentos que esclareçam êste ponto, sendo de presumir que se encontrarão em
Espanha.
268 Angola
negociar, sem licença dos contratadores, seria im ediatam ente aprisio­
nado, ficando navio, artelharia, armas, pólvora e m unições para a C oroa,
c da carga, dois terços para a C oroa e um terço para os contratadores.
Uma das cláusulas do contrato au torizava os contratadores a po­
derem exportar três mil negros por ano, sendo um têrço para Castela,
conformando-se com as condições correntes para êste negócio, referência
ç que certamente dizia respeito ao pagam ento de direitos.
Abreu de Brito, pelo exame que fêz aos livros de registo dos escra­
vos, verificou que nos quatro anos do contrato tinham sido exportadas
2o . i 3 i peças, o que é diferente de negros, pois que uma peça era em
regra dois negros. Querendo porém adm itir apenas m ais 5 o °/0, temos
que nos quatro anos exportaram 3 o.ooo negros, ou sejam 7.500 por ano,
mais do dôbro do que se lhes concedia, a não ser que se interprete a
licença para aquele número de negros com o respeitando exclusivamente
aos contratadorop. Sendo assim, os seus lucros que como já ficou refe­
rido eram importantes, passam a ser m uito m aiores e não se entra em
conta com os que obteriam do contrabando, que por todos os meios
continuava a ser feito.

Como bem se compreende, as necessidades das colónias espanholas


não se satisfaziam com aqueles mil pretos do contratador de Angola, e
todos os arrematantes das rendas das nossas colónias tinham obtido
nos seus contratos uma cláusula para fornecerem negros às índias de
Castela.
Assim, em i 5 8 3 , Á lvaro Mendes de Castro, que tinha tomado as
rendas de C abo Verde e rios da Guiné, obteve uma licença para 3 .ooo
escravos. N o mesmo ano, João Baptista Revalesca, contratador de
S. Tom é, obteve-a para 1.800 negros em seis anos, e o negócio desen­
volveu-se por tal forma que em 1 5 go, tendo finalizado o contrato de
Mendes de Castro para Cabo Verde, apareceu a tomá-lo um grupo de
contratadores, Vicente Pereira, Ambrósio de Ataide, Pedro Ferreira e
Diogo Henriques (1), que certamente não tinham em vista somente os
lucros do fornecimento lícito dos negros das licenças que comprassem,
mas principalmente os do comércio de contrabando que exerciam por
intermédio do Brasil, para onde eram despachados quási todos os na-

(1) George Scelle, op. cit.


P arte 11 Angola 269

vios negreiros, e donde depois saíam para os diversos portos das coló­
nias espanholas.
O negócio deveria ser por tal forma rendoso e estava tanto na am­
bição de todos, que o nosso Duarte Lopes, regressando do Congo e dc
Angola em 1589, procurar Felipe II para lhe apresentar um projecto
de fornecimento geral de mão-de-obra para tôda a América, portuguesa
e espanhola, consistindo na organização de um monopólio de que, na­
turalmente, êle seria o administrador geral. Havia dois contratadores,
um em Sevilha, outro em Lisboa, o primeiro para Cabo Verde e rios
da Guiné, o segundo para S. Tomé, Congo e Angola. As licenças no
primeiro grupo custavam a 20 ducados cada, porque os pretos eram de
melhor qualidade, as do segundo custariam só 15 ducados.
Felipe II, mostrando 0 maior interesse pelo projecto, mandou-o apre­
ciar pelos do seu Conselho, que estudando-o atentamente, parece terem
chegado à conclusão, aliás fácil, de que só favorecia dfc portugueses, a
quem entregava 0 monopólio de todo 0 comércio com as colónias espa­
nholas, pelo que foi pôsto de parte (1), não obstante Duarte Lopes se
esforçar por mostrar a vantagem que teriam os negreiros de Sevilha
com a reserva de Cabo Verde para os seus negócios, com 0 que não os
seduziu, pois 0 instinto, mais que a basófia, lhes fêz ver que êles não
eram marinheiros para estas viagens, e tudo redundaria em beneficio
dos portugueses.
Em oposição ao projecto de Duarte Lopes, apareceu o do Consulado
de Sevilha e o asiento com Reinai, 0 primeiro a que verdadeiramente
se pode dar êste nome, feito depois da usurpação, e que se tornava exe­
quível, porque os reis de Espanha tinham agora, não só a fiscalização,
mas tôda a acção sôbre 0 procedimento das autoridades portuguesas.
O asiento com Reinai obrigava-o a levar anualmente às colónias es­
panholas 4 .25 o escravos, dos quais devia desembarcar vivos pelo menos
3 .5oo, sob pena de uma grave multa, e obrigava-se ao pagamento de
100.000 ducados por ano. Os escravos, vindos dos locais onde era cos­
tume buscá-los, podiam ser embarcados em Sevilha, Cádis, Lisboa, ou
Canárias, em navios com tripulações portuguesas ou castelhanas, com
a condição de terem um piloto diplomado, e seriam visitados nos portos
espanhóis pelos juízes ordinários que então se criaram, e em Lisboa
pela entidade que 0 Rei designasse.

(1) Talvez depois disto Duarte Lopes se retirasse desiludido para Génova, onde, ao passo
que expunha aos negreiros genoveses os seus planos, contou a Pigafeta as suas aventuras e a
história do Congo, que êste publicou.
2 7o Angola
Aos holandeses, já então revoltados contra a Espanha, era proibida
qualquer participação neste negócio.
Era esta a situação do negócio dos negros para as colónias espa­
nholas no fim do século xvi e vemos que desde o início da sua ocupação
na América, se tiveram de servir dos navios e marinheiros portugueses
e dos negros das colónias portuguesas, muito embora debaixo do cons­
tante mêdo de que lhes cubiçássemos as suas riquezas, adoptando, para
o evitar, medidas de excepção que de nada lhes serviram.

#
* #

Estudada a situação com respeito à Espanha e á sua parte da Amé­


rica, e em que, como fica demonstrado, nós tivemos sempre tôda a acção,
vejamos agora o que se passava entre nós com referência ao Brasil.
Ao contrário do que sucedia em Angola, o índio do Brasil não co­
nhecia a escravatura. Os prisioneiros que faziam nas diversas lutas
que entre si tinham, ou eram comidos ou mortos, e não vendidos, por­
que não tinham quem lhos comprasse, e não os obrigavam a trabalhar,
porque também não tinham em que os ocupar.
Os nossos primeiros ocupadores, vendo que a terra poderia servir
para mais alguma cousa que dar o pau brasil e os papagaios, vendo a
sua fertilidade e não a podendo cultivar apenas pelos seus braços, pro­
curaram trazer os índios ao trabalho. Não o conseguindo, lançaram-se
na luta para os apanhar, sujeitando-os como escravos. Eram presos de
guerra, que em vez de serem comidos ou mortos, ficavam condenados
a trabalhar, e assim iniciámos as primeiras plantações.
Os espanhóis, passando pelas mesmas dificuldades, tinham resolvido
o problema da mão-de-obra pela importação do negro de África, e os
nossos donatários pediram também que lhes permitissem mandá-los
buscar, não deixando de insistir pelas vantagens da utilização da mão-
-de-obra do índio.
Os jesuítas, quando foram para o Brasil em 1549 e, portanto, depois
de irem ao Congo, encontraram estabelecida a luta com os naturais, e
verificaram as dificuldades que havia para os obrigar a trabalhar. Tra­
taram, dentro do seu papel de evangelizadores, de converter os índios,
procurando ter sôbre êles o necessário ascendente, para os trazer a
uma civilização nova, para os chamar a si, e, pelo seguro fazendo-os
seus escravos, como os colonos faziam. Tendo feito marcar alguns da
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Parte I I — Angola 27 1

terra, como entre êles havia fêmeas, juntaram-nas com machos, pondo-os
em roças apartados, todos em suas casas, formando, assim, os primeiros
casais das povoações e, com pequenos auxílios que o Governador lhe
dava, do\e vaquinhas para criação e para os meninos lerem leite, com o
serviço dos poucos escravos que tinham, os seus rendimentos e o valor
do seu trabalho, criaram o primeiro núcleo de crianças e foram cha­
mando ao seu convívio outros índios. Dos escravos que se importavam •»
da Mina e S. Tomé, também alguns lhes foram dados, e se lhes dessem
mais três ou quatro. . . antes de um ano se sustentariam cem meninos e
mais (i).
Quando em 1547 0 Provincial em Lisboa conseguiu que fôsse para
0 Congo a primeira missão, composta dos Padres Cristóvão Ribeiro,
Jácome Dias e Jorge Vaz, soube que este último, pouco depois, logo em
Maio de 548, na inquirição a que o Rei do Congo mandou proceder
por os de S. Tomé desviarem 0 negócio do Congo p£*a Angola, apa­
receu como uma das vítimas dêsse desvio do negócio, porque tinha
sessenta ou setenta peças para embarcar e ficaram deteudas por falta de
embarcação de que hos donos delas tem recebido muyta perda. E, ao
passo que a Companhia procedeu com todo 0 rigor, castigando seve­
ramente o Padre Cristóvão Ribeiro por umas negociatas que fizera, não
lhe aceitando a justificação de que precisava ganhar alguma cousa para
a família que tinha em Portugal, não houve igual procedimento contra
0 Padre Jorge Vaz, que continuou gozando 0 melhor conceito, donde
talvez se possa concluir que 0 embarque dos sessenta escravos, se não
a ida da missão, foi uma pequena experiência que a Companhia de
Jesus mandou fazer no Congo, para saber como 0 negócio corria, e com
o que podia contar para a colonização do Brasil.
A-par-das dificuldades que encontraram para o embarque de pretos,
não foram menores as que se lhes depararam para a catequização, a
ponto de os obrigarem a abandonar 0 Congo. No cumprimento da sua
missão evangelizadora lançaram os olhos para Angola, para onde os de
S. Tom é tinham desviado a corrente do tráfico dos negros.
No Brasil, pela sua acção nas povoações que formavam com os ín­
dios catequizados, opunham-se a que os colonos os utilizassem no seu
trabalho, e criando, assim, para êles, um ambiente de simpatia entre os
índios, dificultavam a obtenção da mão-de-obra, aumentando a neces­
sidade do resgate do negro da África. Ao contrário de Fr. Bartolomeu

3
(1) História da Colonização Portuguesa do Brasil, .“ vol., Introdução, pág. xx.
-o

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27 2 A n g o la

de Las Casas, em Espanha, pedindo a im portação dos negros para


salvar os índios dos rigores dos colonos seus patrões, êles apenas se
limitavam a lançar o catequista ao índio para o cham ar à fé de Deus e
a importação do negro viria como conseqüência natural. «í
Por outro lado os governos em Portugal, sem se pronunciarem sôbre
os protestos do Congo, foram facilitando as licenças para as armações
em diversos pontos da costa de Angola, pois previam poder ser uma
importante fonte de receita pelos direitos que estavam cobrando. Uns
anos por administração directa, outros entregando a cobrança aos con­
<
\
tratadores, a receita ia aumentando e a C oroa não podia já prescindi-la.
E
Além de se reconhecer e ter assentado que a mão-de-obra, não só para
o Brasil mas para tôda a Am érica, não podia ser dada pelo índio, mas
sim pelo negro da costa da África, desde C abo Verde a Benguela, eram
já tantos e tao complexos os interesses em jôgo, não só os dos particu­
lares, mas mai^principalmente os da Fazenda Real, que era impossível
sustar a corrente da exportação do negro para a América.
O soba de Angola é que ignorava a conjugação destes interesses, e
ao ter notícia das queixas do rei do Congo contra os de S. Tom é, re­
ceando que por motivos de se não ter feito ainda cristão, fôsse proibido
0 resgate nas suas terras, e ficasse privado de se vestir com trajes gar­
ridos e de se embriagar, mandou embaixadores a Lisboa pedindo para
enviarem padres, pois queria ser baptizado.
Obtiveram os jesuítas que lhes fôsse confiado êsse encargo, e em
1 5 5 g vai Paulo Dias acompanhar a Angola a sua primeira missão. Se
não conseguiram a conversão do soba ao cristianismo, prepararam in-
directamente, pelas relações que se estabeleceram entre os portugueses
e o soba grande e outros pequenos, que o resgate começasse a efec-
tuar-se por uma forma mais regular e certa, de maneira a garantir uma
exportação suficiente para as colónias portuguesas e espanholas na
América.
Mas o negro chegava ao Brasil mais caro do que o índio lá se po­
deria obter e muitos dos colonos teimavam em fazer dos índios cativos,
ao que os padres da Companhia se opunham, travando-se questões que
assumiram certa gravidade, a ponto de os colonos denunciarem os je- .
suítas à Inquisição, pelas doutrinas que pregavam entre os índios.
Vencendo tôdas as resistências, os jesuítas assinalam a sua primeira
vitória com a lei de 20 de Março de 1570 (1), pela qual D. Sebastião,1
(1) Está publicada no Boletim do Conselho Ultramarino, Legislação antiga, 1446-1754,
pág. 127.
Parte 11 — Angola 27Ò

para obstar aos inconvenientes que resultavam do modo coroo se faziam


cativos os gentios do Brasil, estabeleceu que só o poderiam ser os que
fôssem tomados em guerras justas, feitas com licença dêle Rei, ou dos
Governadores, ou os que assaltassem portugueses ou comessem gente,
devendo, em qualquer caso, aqueles que os cativassem, declararem no
prazo de dois meses nas Provedorias, as circunstâncias em que os
tinham feito, a-fim-de serem apreciadas, e, quando confirmada a ca- *
ptura, inscritos os cativos nos respectivos livros.
Entretanto, estava tratando, em Lisboa, Paulo Dias de Novais, de
obter a donataria de Angola. A carta de doação é de 1573, posterior
à lei acima referida, e nela não se faz qualquer referência a proibir-se
ou regular-se a forma de se fazerem cativos, como se regulara para o
Brasil e, contudo, sabia-se que o resgate do escravo estava já estabele­
cido em Luanda.
Pelo lado do Governo, justifica-se a omissão, entr<? outros motivos,
pela necessidade que tinha do rendimento, mas não se justifica que,
pelo da Companhia de Jesus, interessada certamente em que a sua *
obra de evangelização em tôda a parte fôsse coroada de êxito, se não
insistisse por uma medida, que a experiência e os trabalhos de mais de
vinte anos, lhe tinham indicado como necessária no Brasil.
Compreende-se que 0 Rei, que pelas cartas de doação transferia
todos os seus direitos e rendimentos ao donatário com 0 fim de o au­
xiliar, não proibisse um dos tráficos mais rendosos, mas não se com­
preende que a Companhia de Jesus, que ia evangelizar Angola, com
exclusão da interferência dos clérigos de qualquer outra ordem, não
procurasse regular por uma lei a acção contrária aos seus fins, que
fatalmente ia ser exercida pelos colonos que habitavam Angola. E,
tanto mais, que êsses colonos não eram, então, dos que mais garantias
davam das suas boas qualidades e virtudes, para auxiliarem a evange­
lização, antes pelo contrário, seriam daqueles a quem anos antes D. Se­
bastião se referia nas instruções que deu a Paulo Dias para a primeira
viagem «ws encommendo que tenhais grande cuidado de todos os que vaô
em vossa companhia terem as cousas da Igreja e cerimonias d’ella aquelle
respeito e veneraçaõ que se deve porque segundo 0 que sou informado isto
he 0 que ha de aproveitar muyto para 0 dito Rey e os seus fazerem outro
tanto e também danará muyto sendo pello contrario.
O relato feito do que se passou em Angola durante o período da
donataria, elucida-nos sôbre estas dúvidas e mostra-nos que a Compa­
nhia de Jesus tinha obtido não só todo 0 predomínio na administração,
35

t . *

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i

274 Angola

mas ficara para si, em paga dos serviços que prestara, com todos os
sobas, isto é, estava na posse da população indigena, de que podia pôr
e dispor. E, ligando agora a história de Angola com a do Brasil, e
com a das índias de Castela, vê-se que, dificultados na América os ca­
tiveiros e encaminhados os colonos no sentido de suprirem a falta de
mão-de-obra com a compra do escravo africano, só os padres da Com-
* panhia, que eram os amos dos sobas em Angola, os poderiam vender,
tendo nessa venda incalculáveis lucros.

#
* *

A lei de 1570 de D. Sebastião não satisfazia a Companhia de Jesus.


Precisavam arrancar à dominaçao espanhola alguma cousa mais clara,
mais terminam^ e que lhes entregasse os índios do Brasil.
Fêz-se então a lei de 9 de Dezembro de 1 5 9 5 (t), que seria a lei mais
, liberal de tôdas as que até hoje têm regulado a vida dos indígenas, se a
acção que nela se dá à Companhia de Jesus fôsse apenas a que deveria
ser, a acção religiosa, exclusivamente moral, e não a política e de do­
mínio real e material que exerciam. Estabelecia a lei a liberdade de
todo o índio do Brasil, só podendo ser cativos os que o fôssem feitos em
guerras autorizadas por Provisão assinada pelo Rei, e que os mora­
dores que precisassem de índios para o trabalho lhes deviam pagar sa­
lário. Logo a seguir, como regulamento a essa lei, vem a de 26 de
Julho de 1596(2), em que Felipe I encarrega os jesuítas de domesti­
carem, ensinarem e encaminharem no que convém ao gentio do B rasil
nas cousas da sua salvação e nas da vida comum e tratamento com os
povoadores e moradores, determinando que só êles jesuítas pudessem
ir ao sertão convencer os gentios a virem fazer povoações para o litoral,
em pontos que os Governadores estabelecessem, dando-lhes terrenos a
que os donatários tivessem perdido o direito por não os terem aprovei­
tado em devido tempo. Estas povoações seriam encarregadas a um
Procurador, de nomeação do Governador de acôrdo com os jesuítas, o
qual tinha atribuições para resolver as questões entre os índios, dentro
de determinada alçada, e ninguém poderia ir a essas povoações sem

(1) Arquivo da Tôrre do Tombo, livro 2.“ de Leis, fls. 26 v.» e 27, que nlo está publicada.
Anexos, doc. n.* S2.
3 3
(2) Idem, idem, fls. o a i. Anexos, doc. o.* . 53
Parte I I — Angola 2j5
licença do Governador e consentimento dos jesuítas. Os fornecimentos
de mão-de-obra seriam satisfeitos pelos padres, não podendo o gentio
trabalhar por mais de dois meses, findos os quais se lhes faria o paga­
mento pela própria autoridade, não se permitindo quaisquer deduções
nos salários, pelo dinheiro ou fazendas que os patrões dissessem ter-lhes
abonado, nem ainda mesmo que o provassem. O Ouvidor Geral, uma
vez por ano, faria devassa sôbre aqueles que cativassem gentios con-
tràriamente ao que ficava estabelecido.

*
* *

Compreende-se melhor o alcance económico e político destas leis,


se as ligarmos com o que se passava em Angola. Em 1592, D. Fran­
cisco de Almeida, tenta acabar com as doações de socados indígenas,
com que a Companhia de Jesus tinha sido favorecida. Nada consegue,
e foge para não ser excomungado. O irmão, D. Jerónimo, compõe-se
com os jesuítas para poder governar, e essa composição perdura com
João Furtado de Mendonça em todo 0 seu govêrno. O contrato para
o fornecimento de escravos para as índias de Castela, efectuado com
Pedro de Sevilha e António Mendes Lamego, que vigorara entretanto,
terminara em 593 e começara o do Reinei, em que tinha sido elevado
para 4 .25 o 0 número de escravos a entregar em cada ano.
A questão dos sobados doados desvanecera-se e só no regimento dos
governadores é que continuava a dedicar-se um capítulo especial ao
assunto. Talvez mesmo se chegasse à conclusão de não ter valor a
doação dos sobados, desde que 0 Govêrno não podia garantir as doa­
ções que fazia, e cada um podia, a seu belo prazer, relacionar-se com
qualquer soba, passando a exercer sôbre êle acção e influência. É
assim que, dentro desta harmonia de interêsses que se conseguira es­
tabelecer em Angola, aparecem para ter execução no Brasil as leis de
595 e 596, que tornam proibitivo o cativeiro dos índios, agora somente
dirigidos pela Companhia de Jesus, restando aos colonos para as suas
necessidades de trabalho a importação da mão-de-obra da África.
O asiento com o Reinei acaba entretanto, e a experiência leva o Rei
de Espanha e as autoridades espanholas a concluirem que a solução
radical do assunto da mão-de-obra para as índias de Castela, seria
fazerem o asiento com um português. Contra tôdas as suas prevenções,
reconheciam a necessidade dessa solução. Era escusado tentarem viver
276 Angola
sem o auxílio dos portugueses; tinham de se lhes entregar para evitar
a continuação de prejuízos nos rendimentos da Coroa. Dentro desta
ordem de ideias, assente que deveria ser um português o asientista, não
seria forçar muito a lógica, aceitar que quaisquer dificuldades que
ainda pudesse haver, desapareceriam se êsse asientista fôsse o Gover­
nador Geral de A n gola!
Assim se fêz em 1600 o asiento com João Rodrigues Coutinho (1).

*
• *

João Rodrigues Coutinho obrigava-se também a fornecer anual­


mente 4.25o escravos para as colónias espanholas da Am érica, aonde
deveriam chegar vivos 3 . 2 5 o, sob pena do pagam ento de uma muita de
dez ducados poí cada um que faltasse. Podia levá-los de qualquer
ponto e navegá-los para tôdas as colónias espanholas, incluindo o Rio
da Prata, mas excluindo a T erra Firme. Obrigava-se a vender licenças
em Lisboa e Sevilha a quarenta ducados cada uma e a conceder o prazo
de um ano para o pagamento, quando o comprador desse caução. Não
podia associar estrangeiros ao seu negócio e tinha seis meses para in­
dicar quem eram os seus associados. As tripulações dos seus navios
podiam ser portuguesas, bem como os seus agentes nos diversos portos,
onde não lhes era permitido demorarem-se mais de três anos. Não
tinha o monopólio do com ércio e obrigava-se ao pagamento anual de
170.000 ducados (2).
O contrato vigorava desde M aio de 1600, mas em Agôsto de 1601
ainda Coutinho não tinha pago nem a caução nem a renda do ano,
mas já tinha vendido por 16.000 ducados a Jorge Rodrigues Solis (3 )
400 licenças, utilizando assim a sua dupla qualidade de asientista e
Governador de Angola, e obtivera por uma cédula, chamada de «F ie l-
d a d », poder começar os seus negócios; em Julho de 1602, como ainda
nada tivesse liquidado, alcançou uma prorrogação de ano e meio. As
suas dificuldades eram principalmente provenientes das questões que
lhe levantaram os portadores de licenças anteriormente vendidas pelo
Reinei e êste próprio, e que êle não queria considerar como subsistentes

(\) Vidè referência a pág. t86 e seguintes.


(a) Borges de Castro na Colecção dos TraSãdos diz serem 162.000 ducados.
3
( ) George Scelle, op. cil., doc. n* 27 a pág. 811 do tomo I. Anexos, doc. n* 54.
1

Parte II— Angola 277 :(


depois do seu contrato. Contudo, e cora fins que fàcilraente se adivi­
nham, com alguns transigia, comprando-lhes o direito, como com a viúva
t;
do conselheiro da Hacienda, Hernandez de Espinoza, que se tinha en­
chido por tal forma de licenças, que não havia maneira de as utilizar;
mas com o Reinei não o podia fazer de forma alguma, tendo apresen­
tado queixa ao Conselho das índias, que o atendeu mandando seques­
trar todos os fundos vindos das índias para o Reinei ou para o seu
feitor em Cartagena, não porque reconhecesse a caducidade das licen­
ças vendidas anteriormente ao contrato de Coutinho, pois que com isso
só iria causar o descrédito das licenças, que convinha manter como
título de valor firme e negociável, mas porque verificou que o Reinei
usara de fraudes na sua exploração, pois só nos primeiros cinco anos
do seu asiento tinha passado de 21.200 o número de negros enviados
para as colónias, não podendo portanto aceitar-se como justificação do
facto de exceder no sexto ano o número de negros qifè devia fornecer,
com as quebras que dizia ter tido com os mortos nas viagens.
Em Julho de i 6 o3 , Gonçalo Vaz Coutinho, irmão de João Coutinho,
passou a dirigir o asiento, emquanto 0 irmão ia assumir o govêrno de
Angola, onde foi bem recebido e sem provocar questões irritantes, por­
que era um fidalgo bem acondicionado e magnifico, com muita prudência
i
para saber levar aquella gente e que ia com tanto poder qual nunca se
juntou em Angola, como referiram os jesuítas, a êle e à sua acção por
tal forma ligados, que, parece, era no Colégio da Companhia que o
João Coutinho asientista tinha a secretaria ou escritório dos seus negó­
cios com a Coroa de Espanha e onde estavam os seus empregados,
pois anos mais tarde era aos jesuítas que se preguntava pelos livros
respectivos, a-fim-de se acabar com a liquidação de contas com a Fa­
zenda Real. n
De todo 0 exposto, não se encontrando neste período, nem em qual­
quer outro, da. parte dos jesuítas em Angola, qualquer medida de defesa
do negro, como as que conseguiram para o índio do Brasil, com as leis
já referidas, somos forçados a aceitar que eles tinham encarado a es­
cravatura do negro, como única solução possível para facilitar a sua
acção sôbre 0 índio, perante 0 problema da colonização da América.
jru.

&Teriam então a noção exacta do valor económico que viria a ter a


escravatura na vida das diversas nações que a exploraram? Tiveram,
pelo menos, a intuição. Sem dúvida foram os dominicanos espanhóis
f
nas Antilhas e os jesuítas no Brasil, — aqueles, incontestàvelmente,
pela piedade e pelo desejo de protegerem 0 índio, estes porque quando
i
278
A ngola
sc organizaram cm sociedade já conheciam os efeitos económ icos do
tráfico do negro a que conduziram as lam en tações de F r. Bartolom eu
de las C a za s,— que deram lugar a que, — durante pelo m enos três sé­
culos e meio, primeiro nós e depois a E u rop a inteira, que em adm i­
nistração e exploração colonial nunca fêz m ais que im itar, embora
aperfeiçoando-os no sentido do m aior rendim ento, os nossos processos,
vivêssemos da escravatura do negro da Á frica O cid en tal, desde o C abo
Branco até ao C abo Negro.
*
* •

João Rodrigues Coutinho, faleceu, como já vimos, pouco depois de


chegar a Angola, e o irmão, procedendo ao inventário, explorou ainda
algum tempo em nome dos herdeiros, o asiento, mas talvez por quais­
quer divergência^ que se levantassem, as autoridades espanholas não
consentiram na continuação e o asiento passou, em 1 de Maio de 1604,
para o seu nome, em condições um pouco diferentes, pois a Coroa de
Espanha, farta de ser ludibriada no valor das cauções prestadas ou
prometidas pelos asientistas, passou a exigi-las com mais segurança,
fazendo depositar os rendimentos do asiento até à importância devida
e utilizando-se deles mediante um juro.
O contrato com Gonçalo Coutinho tinha poucas condições de se
poder manter dentro dos recursos do asientista, que estabeleceu com a
Coroa uma espécie de regie, passando êle quási a empregado, embora
por vezes fazendo manter os seus direitos e actuando como contrata­
dor, o que tudo provocava uma irritação geral contra a forma como
êste negócio corria.
Nem a situação do Brasil tinha melhorado com as leis de i 5 g 5 e
1 5 g 6 a favor dos índios, nem a das colónias espanholas com a explo­
ração do negócio de licenças para navegar escravos, como estava sendo-
feita.
Os colonos de um lado e de outro protestavam. Os do Brasil, por
não se poderem conformar com a proibição de escravizarem o índio
dentro das normas em que a escravatura se exercia por tôda a parte, e
os obrigarem a comprar o negro da África. Os das índias de Castela
contra a sujeição a que os obrigavam ao comércio de Sevilha, que
centralizava em si tôda a vida económica das colónias, fazendo dêles
verdadeiros escravos, e ainda contra as regras de administração colo­
nial da Coroa, que como se batesse moeda, para fazer dinheiro, vendia
Parte II— Angola 2/9
quantas licenças para navegar escravos lhe pediam, causando a maior
desorganização em todos os serviços, e, como conseqüência, nos negó­
cios dos colonos.
Por tôda a parte eram gerais os clamores contra a intervenção dos
portugueses na vida colonial espanhola. Rebentavam revoltas dos
negros em diversos pontos, devido aos maus tratos que êles lhes davam,
e logo se dizia que a culpa era dos portugueses, porque forneciam ne­
gros com aquele espírito de rebelião, pretos ladinos, que se não con­
formavam com a sujeição a que os obrigavam. Não aparecia nos
cofres da Coroa o ouro e a prata que se dizia tinha sido extraído das
minas em determinado prazo, e logo se gritava que eram os portugueses
que o tinham recebido em pagamento do que vendiam e desviado nos
seus navios para Portugal.
Dentro do princípio basilar da colonização, que nós como primeiros
colonizadores estabelecemos e que a Espanha e as outras nações segui­
ram, de que as descobertas e conquistas, como então se lhe chamava,
se faziam exclusivamente para utilização da metrópole, princípio que
ainda hoje é o mesmo, embora a ideia que o sintetiza tenha sido des­
dobrada sob os diversos aspectos da vida dos povos e acompanhando
as fases da civilização, dentro dêsse princípio, dizíamos, a Espanha
querendo segui-lo, lutava contra tôdas as dificuldades, sendo a principal
a falta de preparação para poder tomar sôbre si o papel de nação co-
lonizadora.
Queriam navios e não os tinham apropriados para as viagens; que­
riam marinheiros, pilotos e mestres, e não os tinham educados para as
navegações do mar do Ocidente; queriam negros e achavam-se sem
êles, sem terem, nem até então, nem em tempo algum, compreendido
que as resoluções dos Papas e por fim o Tratado de Tordesilhas, lhes
tinham tirado a possibilidade de alguma vez serem uma nação colonial;
queriam monopolizar o comércio das suas colónias, comércio que não
podia ser senão o da troca e faltava-lhe o principal elemento dessa
troca, — o negro, sem o qual nunca a terra lhes poderia dar produção.
O comércio de Sevilha barafustava, desesperava-se e pedia leis de
excepção contra os portugueses. O Rei, sentindo o desfalque nos seus
cofres, também entendia necessárias essas leis, mas encontrava hesita­
ções da parte dos seus Conselhos, da índia e da Fazenda.
f
í ■ t

i .u , s

280
Angola

Sucedera entretanto ter-se novacnente pôsto em arrematação o con­


trato dos escravos (1), sendo preferido António Fernandes Delvas, que
não só oferecia uma renda inferior à que outros ofereciam, como decla­
rava não se sujeitar a determinadas condiçoes. Era, contudo, casado
com uma senhora irmã de D. Hernandes Solis, homem de influência na
Contratacion.
O Conselho das índias estava pouco resolvido a confirmar a arre­
matação, quando Melchior Tôrres, que fazia parte do Conselho de Fa­
zenda de Portugal, apresentou em M adrid um protesto em nome de um
português concorrente, Nuno Dias Coelho, o que serviu de pretexto
para a suspensão do contrato (2).
A Universidade dos comerciantes da Andaluzia, que não cessava de
agir para modificar a situação, resolveu pedir ao Conselho das índias
que mostrasse ao Rei os prejuízos que sofria pela forma como corria o
tráfico dos negros, alegando que os navios livres dos portugueses, ser­
vindo-se da autorização que lhes tinha sido dada, carregavam-se de
mercadorias dizendo-as destinadas à compra dos negros e, chegados às
feitorias, metiam apenas um número insignificante de escravos, seguindo
para os portos das colónias espanholas, principalmente para venderem
as mercadorias que tinham carregado sem pagamento de direitos e com
o que auferiam lucros que êles não podiam ter.
Acrescentavam ainda os de Sevilha que os portugueses, a maior
parte das vezes, nem mesmo se davam ao incómodo de ir a Cabo Verde
ou à Guiné, e feito em Lisboa o carregamento de mercadorias, compra­
vam também alguns negros, por qualquer preço, e faziam a viagem di­
recta para os portos das colónias espanholas.
Outras vezes, o contrabando em vez de ser feito com mercadorias,

(1) George Scelle,op. eit., dá esta arrematação realizada em 1610, tendo sido concorrentes
Nuno Dias Coelho, Gaspar da Rosa, Duarte Pinto Delvas, Henrique Gomes da Costa e António
Fernandes Delvas, Borges de Castro, na Colecção de Tratados, tomo II, págs. 44-45, indica para
0 contrato com António Fernandes Delvas o ano de i 6i 5.
(a) Esta informação, que é igualmente colhida em George Scelle, nao parece certa, por­
quanto encontra-se na Biblioteca Nacional, Reservados, Pombalina, mss. 249 a fl. a3, um docu­
mento RelaçaS dos arrendam <«* que se aS feito na renda das «Licenças» e que se publica, Ane­
xos, doc. n.° 55, no qual o seu autor, o quinto contratador das licenças escreve que havia três
anos <jue o arrendamento estava em execução.
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jT'

% Parte 11 — Angola

era com negros, e chegando às feitorias onde os iam resgatar, carrega-


1 vam o dôbro de que tinham licença, a título de se garantirem para as
• possíveis faltas dos que morreriam na viagem. Chegados ao pôrlo de
p destino, desembarcavam o número que a licença permitia, e os res­
tantes, como os funcionários espanhóis, se cumprissem a lei negando-lhes
o desembarque, forçariam o capitão a ir metê-los por contrabando em
I qualquer pôrto, se não naquele mesmo, resolviam o caso recebendo-os
e cobrando-lhes os direitos.
Os portugueses defendiam-se dizendo que não precisavam do ne­
gócio com as colónias espanholas, onde apenas tinham lucros de 40 °/0,
f; ao passo que em Angola atingiam ioo°/„, e que a culpa era do comércio 1

I de Sevilha que não sabia negociar, mas 0 certo é que, não só os de


ip Sevilha se queixavam do contrabando de mercadorias de Portugal nas
colónias espanholas, como os próprios portugueses faziam igual queixa
contra os homem de negócio, cujos navios saindo dos ptfftos de Portugal
despachados para Angola e Brasil, faziam escala por Sevilha, onde car­
regavam sedas, meas, mantas m!os panos Raxatos e baetas. . . e 0 pior de
tudo he que destes portos, e prinçipalmte dos das Canarias tirão todos os
annos mais de vinte mil pipas de vinho que levaô ao estado do Brasil e
reinno de Amgola e a outros governos. . . e estaó os povos perdidos pelo
sobredito retirar a va\aò que seus vinhos custumavaó ter para as ditas
partes e a esta re\ao estarem taô abatidos que está valendo na comarqua
de Lamego a menos de quatro mil reis ... (1).
Mas não eram só os portugueses que pela sua actividade e valor
3 «
como marinheiros e como comerciantes, prejudicavam os espanhóis. A
í
Espanha, envolvida em guerras na Europa, tinha de sofrer nas suas
colónias sem defesa, as conseqüências dessas guerras. Flamengos e
ingleses continuamente forçavam os seus portos, não para os atacarem,
nem para dêles se apossarem, mas para lhes fazer guerra comercial,
carregando produtos necessários à Espanha e de que os privavam.
Nessa altura os portugueses, que também se sentiam prejudicados, 1
juntavam os seus clamores aos dos sevilhanos e diziam-lhes que não
era dêles que lhes vinha o mal, e olhassem antes para os estrangeiros,
I
mas era difícil desfazer aquela crença que tinham ganho contra nós e
que vinha de há muitos anos.
E ainda por cima, não bastando contra nós êste aleive de contra­
bandistas, com receio de que não produzisse por si só o efeito desejado,

(1) Biblioteca da Ajuda, Cod. 5 i-VIII-a5 , fl. 25 . Anexos, Doc. n.” 56 .


36

t.
282
Angola
atacavam o R ei pelo seu lado fraco e atormentavam-lhe a consciência,
fazendo-lhe ver que a maioria do comércio português era de cristãos
convertidos, cristãos novos, quando não judeus confessos, sendo de
recear as conseqüências desgraçadas que podia trazer para a propa­
gação das doutrinas cristãs, a presença dêstes ímpios nas colónias es­
panholas.
A fôrça do ataque, e as armas de que se serviam, não fazem mais
que provar o enorme ascendente que tínhamos tomado em matéria de
colonização e que fomos nós não só os mestres e os inspiradores, mas
os próprios obreiros de tôda a colonização da América espanhola e
portuguesa, porque nem isso os espanhóis sabiam ser.

O Brasil era, ao que parece, o grande centro de contrabando para


as colónias espanholas, não só fornecido de Angola, mas de tôdas as
outras nossas colónias da África Ocidental. Assim, o problema tor-
nava-se muito complexo, e o Rei de Espanha e os homens dos seus
Conselhos dificilmente lhe encontravam solução.
Havia que atender, sobretudo, a Buenos Aires, e se tôdas as coló­
nias espanholas eram ciosamente guardadas das vistas de estrangeiros,
esta era mais que nenhuma e mereceu sempre cuidados especiais por
causa das minas.
Por uma cédula de 26 de Agosto de 1602, o Rei fêz mercê à çiudad
de la Trinidad dei puerto de Buenos A y res de las P rovindas dei Ryo de
la Plata, da licença para os seus habitantes durante seis anos, e em cada
um dêles, poderem exportar determinada quantidade de produtos das
suas colheitas e levá-los al B ra sil y guineya y olras js la s circunveçnas
de vasallos mjos, podendo de retôrno trazer cousas de que tivessem ne­
cessidade para sus caças como es ropa lienço calçado y otras cosas setne-
jantes y fie r r o y asero e para lavrar as terras e trabalhar as minas, por­
que a segurança daquela costa estava em ser bastante povoada, e para
isso era necessário não os privar de poderem ter algumas comodidades.
Recomendada às autoridades a mais rigorosa fiscalização, tinham
decorrido seis anos e os habitantes pedido a prorrogação da licença , o
que lhe foi concedido por cédula de 19 de Outubro de 1608, também
debaixo das mais insistentes recomendações sôbre a fiscalização.
Quando em Espanha se pensava que tudo corria em Buenos Aires
P a rie I I — Angola 283
como se recomendara, aparecem as mais terríveis informações e ve­
rifica-se que, abusando daquela licença de importarem algumas cousas %
)
necessárias, se meten por aquel puerto gran cantidad de mcrcadurias y í
i
negros cada anoy se sube a Potosiy toda esa provinçia de los charcas y aun
se baja hasta lima... y en los dichos navios en que se navega la permision
y en oiros entram y salen muchas personas sin Uçen\ia y esto se vee clara­
mente por los muchos pasajeros y navios que cada dia llegan a los puertos
de Portugal cargados de oro y plata que la mayor parte ba a parar a
Reynos estranos, convertiendose este trato em venefiçio y utilidad de los
portugueses... (i).
O mal não estava só no branqueamento dos portos ao contrabando, t

i ■ '*?'**■ *•
mas sim na penetração feita pelo destemido pioneiro português, que se
não limitava a subir o Rio da Prata, mas da terra do Brasil, que lhes
ficara ao norte, se internara até Potosi, levando escravos para se poder
trabalhar com actividade indispensável as minas, e carregando a prata
e o ouro, sem o quintar, descia então o rio da Prata e embarcava nos
navios em Buenos Aires.

w
Era um escândalo o que se passava. Em 612 saíra de Luanda João
do Campo, natural de Vila do Conde, com um navio carregado de
peças de escravos e fingiu-se arribado a Buenos Aires, aonde com todo

*«líãiHpniai a.rrtoM«'"*' i,--f c aeêm*w


o rigor da lei se procedeu logo contra êle e se condenaron por perdidos
los negros y se vendieron en almueda, pero ... a el y por poco mas de lo
que ymportavan los derechos y se los bolvieron para que los vendiese como
lo hi{0.
João do Campo voltou para Luanda e como fôra bem sucedido,
carregou novamente outro navio com trezentas peças de escravos, agora
de sociedade com um patrício e companero suyo Paulo Martel e fizeram
a mesma cena da arribada E como estes muitos outros, pelo menos
mais três, introduzindo ao todo mil e duzentas peças de negros e sa­
cando quinientos mil ducados e ainda 0 próprio contratador de Angola
Duarte Dias Enriques omê de nasaô e ardiloso (2), combinado com os
oficiais da fazenda em Luanda, fazia a declaração de que os negros
iam para 0 Brasil pagando três mil reis, em vez de sete, que deveria
pagar por os destinar a Buenos Aires, de numera que de todo esto are-
nl r-^bMWHti rffP—

(1) Biblioteca Nacional, Mss. cit., fl. 11. Anexos, Doc. n.° 5 y.
(2) Na Biblioteca da Ajuda, cód. 5 i-VIII-a5, fl. 20, está um documento que deve ser cópia
de uma informação prestada sôbre o contrabando que se fazia. NSo tem data nem assinatura,
mas os factos apontados coincidem com os da cédula de Setembro de i 6 t3 . Anexos, Doc.
n.° 5 8 .
fc „

*
284 Angola
sulta entender-se la buem acojida que hallan en el rio de la plata estes
navios.
Tinham de proceder com tôda a energia, porque não podia haver
dúvida alguma de que nada disto se passaria, se as autoridades espa­
nholas nSo fôssem coniventes na fraude. Era preciso averiguar tudo
como se passara, mas sobretudo saber-se como desaparecera o ouro e
a prata, quem os levara, em que navio, para onde e com que licenças.
Queria-se tudo bem averiguado, os infractores presos e processos ins­
taurados para serem julgados.

*
# #

A descoberta do grande contrabando do rio da Prata fôra o fecho


de uma série de questões que há muito se vinham ventilando, a propó­
sito da intervenção dos portugueses na colonização espanhola.
Em 1609, os homens de negócio portugueses moradores em Lisboa,
em seu nome e dos mais habitantes do reino de Portugal, protestaram
contra uma cédula de 2 de Outubro de 1608 (1), em que o Rei de Es­
panha determinava que nenhum estrangeiro dos reinos de Castela, no­
meadamente os portugueses, ainda que habitantes sejão nas indias ilhas e
terra firme do mar oceano, possa tratar nem contratar nas ditas partes,
nem passar a elas, se não com licença especial, e que nenhum natural
da Coroa de Castela possa negociar em sua cabeçafazenda de estrangei­
ros, devendo um estrangeiro para se poder naturalizar, aver vivido nos
ditos Reinos ou índias vinte anos contínuos os des delles com casa e bens
de rais e casado com natural.
Com estas medidas procuravam, o Rei de Espanha e seus ministros,
impedir o facto, já conhecido e inevitável, do comércio colonial ser ex­
plorado por estrangeiros, diziam eles, de uma maneira geral, mas não
resistiam a assinalar bem a sua intenção, escrevendo a seguir, nomeada­
mente os portugueses, que, para fugirem às leis de excepção contra êles
publicadas, e pela necessidade de defenderem os seus capitais, encarre­
gavam dos seus negócios, um espanhol, quer como feitor, quer como
testa de ferro, papel que, como temos visto, à falta de melhor vocação,

(1) George Scelle dá a data de a de Novembro, mas nSo publica esta cédula, nem indica
onde a viu. No protesto a que se aludia, que se encontra na Biblioteca Nacional, mss. cit.,
5
fl. i ia, Anexos, Doc. n.» g, a referência a esta cédula tem a data que indicamos.
P a rte 11— Angola 2^5

se prestavam a desempenhar, merecendo as melhores referências pela


sua honestidade (i).
E ra injusta a proibição. Quando tomaram conta da Coroa de Por­
tugal, fizeram a lei proibindo aos estrangeiros irem resgatar às con­
quistas portuguesas. Pouco tempo depois vieram com a declaração de
que a proibição se não entendia com castelhanos, e passaram estes a
freqüentar as colónias portuguesas, ou melhor, os resgates, obtendo
colocações, por conta do Estado ou de particulares, ou o que era mais
raro, dedicando-se ao negócio de sua conta. ^Com que direito se proibia
agora aos portugueses, não só o resgate nas colónias espanholas, mas a
residência, sem se naturalizarem?
E ra ainda impolítica e inábil. Os comerciantes portugueses no seu
protesto, não se esquecendo de frizar a nota da desigualdade de trata­
mento, fazem-no de uma forma interessante, e a propósito de continuar
a ser perm itido aos espanhóis ir às colónias portuguesas, dão a entender
que o facto em si não tem maior importância, porque nunca tirarão a
terça p a r te d a s p eça s que se navegam , mas não podem deixar de chamar
a atenção para que se a lg u n s navios lá vaõ, d e Sevilha e mais portos de
A n d a lu z ia , ainda q u e poucos, saõ p o r homens de negocio portugueses ,
m ostrando ainda que a cédula, como proibe a êles, homens de negócio
portugueses estabelecidos na Andaluzia e em Sevilha, de negociarem
nas colónias espanholas, vai ferir afinal os próprios interesses de Cas­
tela, que consistiam nas receitas auferidas pelo seu trabalho e pela sua
activid ad e, pois que eram êles os detentores do comércio colonial.
Mas sôbre êste ponto dos rendimentos, o erro assumia proporções
de gravidade, e os portugueses lembravam-lhe que havia três contratos
nas colónias portuguesas, Cabo Verde, S. Tomé e Angola, que rendiam
mais de 120.000 cruzados, além de perto de 100.000 cruzados de direitos
de saída dos escravos, e em Castela havia o estanco das licenças de
escravos, que rendia iSo.ooo cruzados de direitos de entradas nas ín­
dias e outros 1 5o.000 de renda. Estes 520.000 cruzados iam sofrer uma
diminuição importante, porque não só os contratadores estavam re­
solvidos a emeampar os contratos, visto dar-se uma alteração das
condições que tinham sido estabelecidas, como, se era proibido aos
portugueses irem negociar às índias espanholas, jem que navios se
transportavam escravos, sabido que só os portugueses os navegavam ?
Havia ainda a considerar o prejuízo que sofreria a colonização es-

(1) G e o rg e S c e lle , op. cit.


Angola
286

panhola das Índias com a falta de escravos que trabalhassem as terras,


e cspecialmente as minas de ouro, prata e esmeraldas, e a pescaria de
pérolas, que de tudo a Coroa recebia o quinto.
De nada valiam estas considerações desde que o ciúme e o despeito
sc apossaram da população e das autoridades de Sevilha, que termina­
ram por exigir a expulsão dos portugueses que não satisfizessem às con-
r dições de naturalização que tinham sido decretadas, ao que o Rei
acedeu (1).
*
# *

É interessante estudarmos a mecânica das transacções comerciais


entre a Espanha e as suas índias, para melhor avaliarmos as razões que
os espanhóis tinham para adoptar medidas de defesa contra a invasão
portuguesa. r
O negócio consistia quási exclusivamente na permuta. A colónia
recebia os artigos necessários à sua alimentação e à dos negros, e às
outras necessidades da vida; recebia os negros para empregar nas suas
explorações, e tinha de pagar tudo com os produtos dessas explorações.
Os portugueses eram os detentores dos negros; os donos dos navios;
os homens próprios para navegarem êsses navios e para tratarem com
os negros; e ainda tinham, de indústria própria, quási tôdas as fazendas
empregadas para o resgate dos negros e parte das que se consumiam
nas colónias.
Os capitalistas portugueses, residentes em Portugal, tinham em
Sevilha os seus agentes ou correspondentes, portugueses ou castelhanos.
Nos locais dos resgates, ou êsses próprios capitalistas tinham também
os seus empregados, ou havia indivíduos estabelecidos de sua conta
própria para o negócio, a quem encomendavam os fornecimentos para
determinadas épocas. Nas colónias espanholas, estes e os capitalistas
de Lisboa, tinham os seus feitores. Por que o negócio demandava bas­
tante capital, os capitalistas, em geral, associavam-se para cada viagem.
O navio fazia o seu registo na casa da Contratacion em Sevilha,
apresentando a sua licença para poder navegar escravos, carregava
algumas fazendas de que necessitava e vinha para Lisboa, onde, carre­
gando as restantes fazendas, e deixando ainda um espaço para as pipas
de vinho que ia meter nas Canárias, seguia viagem para estas ilhas.

(I) B ib lio te ca N acion al, mss. cit., fl. 16. A n exo s, D o c . n.° 6o.
fS .

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Parte l i — Angola 287

Daí partia a abastecer-se de negros a um dos três resgates: rios da


Guiné, com sede em Gabo Verde; Mina; centralizado em S. Tomé, e An­
gola, em Luanda.
Ajustados e embarcados os negros, o representante dos capitalistas
que ia a bordo, e quási sempre era o capitão, pagava ao vendedor
uma parte em fazendas e a outra, a que excedia as necessidades dêste
e eram, por assim dizer, os seus lucros, êle exigia-lhe que os fôsse pagar
no pôrto de destino ao seu representante, efectuando-se assim a primeira
transferência do dinheiro.
No pôrto da América espanhola aonde os negros se destinavam,
apresentados os registos e mais documentos do navio e os respeitantes
à licença de navegar escravos, o capitão entendia-se coro os feitores dos
capitalistas e do vendedor de negros, que tratavam do despacho, pa­
gando à alfândega os respectivos direitos dos negros e das mercadorias,
e lhe entregavam em ouro, prata, mercadorias e letrasç o que tinham a
enviar para os capitalistas ou para outras pessoas, em Portugal ou em
Espanha, valores estes que vinham dirigidos aos seus agentes em Sevi-
lha, quer fôssem portugueses, quer testas de ferro espanhóis.
No regresso, o navio, se 0 contrabando que trazia era importante e
não via possibilidade de arribar a Lisboa, arribava antes nos Açores,
onde também havia os correspondentes dos negociantes que intervinham
nestas transacções.
Por esta f o r m a , q u a l era o lucro da Espanha com as suas colonias?
O resultante da venda de algumas mercadorias que embarcavam em
Sevilha, de algumas pipas de vinho nas Canárias, e os das licenças e
direitos de saída e entrada dos escravos e mercadorias. O resto, e êsse
resto era a parte maior, era todo para Portugal, que transformava o
valor do frete do navio, das mercadorias que vendia, e 0 dos negros
que embarcava, em ouro e prata, esmeraldas e pérolas.
Não há dúvida que como nação colonial que queria reservar exclu­
sivamente para si e para os seus a exploração das suas colónias, a Es­
panha estava longe de o conseguir. 1 Mas como deveria proceder, se
não tinha navios, não tinha colónias com negros e não tinha comer­
ciantes que se aventurassem ao negócio ?
E que não bastava, para ser uma nação colonial, ir ali defronte, às
costas de M arrocos, e assaltar alguns mouros, o que, quando muito,
poderia criar 0 espírito da rapinagem e não 0 da descoberta e conquista,
necessário para se fazer uma colonização.
A insistência do Infante D. Henrique para que os seus homens de
288 Angola
Sagres dobrassem ou passassem alem do Cabo Náo, sem os incitar com
tesouros que iam descobrir, sem lhes falar mesmo em lucros ou recom­
pensas, mas mandando-os sem violência seguir, e eles indo porque eram
os seus criados; essas viagens, executadas sem o espírito de aventura,
sem o desejo da glória, mas simplesmente para fazer o que o Infante
dizia que se fizesse; essa fôrça enorme de um Génio que venceu tôda a
r resistência das superstições da época, e atirou com homens e barcos
para além do limite onde êles estavam certos de que o mundo acabava
e iam despenhar-se no Inferno; esse esfôrço incompreensível que marcou,
através de séculos de vida, a orientação de uma raça, isso tudo, que se
fêz antes da feira de Lagos em que se dividiram os primeiros cativos,
foi o que nos fêz Portugal Colonial, e marcou a distinção eterna entre
portugueses e castelhanos.
O ludibrio de Colombo vindo dizer aos Reis Católicos por si ou
mandado de oirtro, que chegara às índias pelo ocidente, quando de
mais sabia êle aonde chegara, não conseguiu modificar o sentido na­
cional do povo espanhol quanto a descobertas e conquistas, e apenas
transferiu para mais longe as incursões que até ali se limitavam a Mar­
rocos, com a agravante de serem mais difíceis de realizar pela falta de
uma base que lhes desse a estabilidade e segurança indispensáveis, como
a que tinham nas próprias costas do seu país.
Para a obra que se propunham levar a efeito na América, a base
tinha de ser os nossos navios; o meio, os nossos pretos, e como uns e
outros não podiam ser postos a accionar sem portugueses, nós passámos
a ser, e fomos, os verdadeiros colonizadores de tôda a América, a nossa
e a dêles. E, assim, passámos também a ter a parte correspondente nos
lucros, o que justificava os ciúmes da Espanha, que se sentia ridiculari­
zada e ludibriada no papel de nação colonial, que supôs passaria a
desempenhar, à parte de nós, pelos efeitos das descobertas de Colombo,
e justificava ainda a necessidade de tomar medidas que evitassem e
modificassem êste estado de cousas.
*
* #

Gomo vimos, o asiento tinha sido feito com o António Fernandes de


Eivas e o Rei confirmara-o, a-pesar-das dúvidas do Conselho das índias
e das reclamações apresentadas por Melchior Tôrres, em nome dos
outros concorrentes, o que não impedia que no meio desta desorgani­
zação, o nosso Gonçalo Vaz Coutinho continuasse a vender licenças
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Parte I I — Angola

para se navegarem escravos, tendo de lhe ser notificado, bem como aos
oficiais da Real Fazenda nas Colónias, para cessar imediatamente com
essas vendas e vir prestar contas (t).
Se o Rei confirmara o arrendamento com o António de Eivas, a
Junta dos Escravos é que se não conformava com essa resolução e,
aproveitando o facto de não ter ainda sido publicada a cédula ou pro­
visão, propôs, em i6t i, ao Rei, a sua anulação, y que quando lo estu-
biera venceria la utilidá y neçeçidá publiqua dei bveno governo y estado
de las jndias, tão graves eram os motivos que encontrava, a-pesar-de
que se limitava a classificá-los de danos que an resultado y pueden re­
sultar a la conservacion y estado de las yndias y comercio, de algunas
condiciones cõ que asta aora ha andado esta renta ... y de dar se a por­
tugueses, sem outra indicação.
Propunha a Junta que se alterassem determinadas condições do
contrato e que se arrendasse de novo a persona que ncfsea português ny
estrangero si no natural desta corona e que entretanto se nomeasse per­
sona castellana que o administrasse. O Rei, porém, conhecendo já no
que dava a administração dos seus bens entregues aos funcionários da
Coroa, não se conformava com a proposta.
A Junta reforçou as suas objecções e agora, precisando a causa dos
danos, chama a atenção do Rei para a cláusula que permitia ao contra­
tador jmeda despachar y enbiar a las jndias quantos mbios qui{iere si
limitació•, en flotas e fuera delias, contra lo dispuesto por las ordenanças
de la casa de la contratacion y ansi mismo puede satír de Lisboa donde no
ay ministros ante quie se hajan los registros y tienga la ynteligencia que
se requiere ny que ajan de dar cuenta de los ciçesos que permitierê, pelo
que saíam navios sobre navios carregados de mercadorias que iam
vender aos portos da América, / siege el dafio grande de la gran cãtidá
de plata y oro que se saca y lleva a reinos estranhos y la perdido de los
mas caudalosos mercadores y tratantes deste comercio cõ que los de mas
estan tan desjlaqueçidos y desanimados que todos se van retirando. . . ao
que o Rei terminou por concordar, mas com a condição expressa de
que se não largasse de mão o assunto e se fizesse depressa o arrenda­
mento (2).

(1) Biblioteca Nacional, Reservados, Pombalina, mss. cit., fls. 21 e 22. Em 1625, gover­
nando em Angola Fernão de Sousa, ainda a Côrte em Madrid lhe mandava ordem para reünir
os papéis que houvesse sôbre os negócios de Gonçalo Coutinho e do irmão, pata se poderem
encerrar as contas e verificar-se se a Coroa ainda devia dinheiro ou tinha a receber.
(2) Biblioteca Nacional, Reservados, Pombalina, mss. cit., fls. 42.
37

s
290 Angola
Parece que o caso não era, conludo, tão fácil de resolver como a
Junta dizia, c a-pesar-dc se poder invocar a utilidade e necessidade p ú ­
blica do bom gouêrno, devem ter perdido muito tempo em combinações,
pois só no fim de três anos é que o mandaram suspender (1), e ainda
assim, procederam primeiro com tôdas as cautelas, sendo mandado a
Lisboa para tratar do assunto com as autoridades e os interessados,
Afonso de Molina (2).
■*
♦ *

A questão em Portugal tomou um aspecto grave pelos interêsses que


vinha prejudicar. Não só António Delvas, mas todos os outros con­
tratadores e todos os que viviam do negócio, ou do resgate das coló­
nias, que, directa ou indirectamente, quási todo o país seria, protesta­
ram, apresentando as suas razões (3 ).
O que os espanhóis queriam era centralizar em Sevilha todo o mo­
vimento de exportação e im portação para as suas colónias, e para isso
obrigar todos os navios que navegavam escravos a virem trazê-los a
Sevilha, para dali seguirem divididos pelas duas frotas de navios que
todos os anos saíam para a Am érica, uma em Fevereiro, com destino a
Terra Firme, outra em Junho para N ova Espanha.
Por esta forma aos portugueses ficava apenas reservado o poderem
navegar escravos das suas colónias para Sevilha, ainda assim em com­
petência com os espanhóis, o que pouca ou nenhuma importância teria
pela concorrência que pudessem fazer, mas que representava uma in­
justiça e uma prepotência, e sempre causava alguns prejuízos materiais,
pois que tôda a organização do negócio era portuguesa, dirigida por
portugueses e com capital, que embora ganho a êles espanhóis, era
português.
O principal argumento em que os espanhóis se baseavam para pe­
direm estas medidas de centralização do comércio e navegação em
Sevilha, era de que antigamente se procedia assim, o que era falso,
como já atrás ficou referido, pois a não ser para um ou outro embarque12 3

(1) Vidé Anexos, Doc. 55 , já citado, e nota (2) a pág. 280.


(2) Biblioteca Nacional, Reservados, mss. cit., fl. 14. Anexos, Doc. n.4 61.
3
( ) Na Biblioteca Nacional, Reservados, mss. cit., estão retinidas cópias e apontamentos
de diversos protestos e indicações, sem se mencionar o autor, mas que devem ser do António
Delvas, que se entregaram aos membros do Conselho de Portugal para apresentarem a recla­
mação na Corte em Madrid. De entre essas indicações se escolheu uma pela forma clara como
está redigida. Anexos, Doc. n.° 62.
Parte I / ~ Angola 291

de pequeno número de escravos, que se dividiam pela frota, os embar­


ques de maior importância, como os que Carlos V negociou e outros
que se seguiram, admitiam sempre a cláusula dos negros poderem ser
resgatados nos portos das colónias portuguesas e seguirem dali dirccta-
mente para o pôrto ou portos de destino.
Tudo isto estava causando os maiores prejuízos à Coroa de Portugal
e à de Castela, pela diminuição, senão quási desaparecimento, das suas
receitas, sendo interessante registar como eram calculadas nessa época.
O contrato de Angola rendia anualmentc 60.000 ducados; o de
Cabo Verde 54.000; o de S. Tomé 20.000, e calculava-se em 100.000
ducados o rendimento dos direitos pelas fazendas com que se iam res­
gatar os negros, pagos na Alfândega, Casa da índia, Portos Secos, etc.,
o que tudo perfazia para a Coroa de Portugal 234.000 ducados, ou,
segundo o câmbio de então, 257.400 cruzados.
Pela parte da Coroa de Espanha, a renda das lícenças produzia
120.000 ducados e calculava-se em 60.000 ducados, o que se cobrava
em Sevilha de averia, ou transferência em cada ano, do valor dos
4.25o escravos que se tinham vendido nas colónias espanholas, somando
tudo 180.000 ducados ou ig8.ooo cruzados. As duas verbas juntas re­
presentavam 455.400 cruzados, que pelas tabelas de valores da moeda
de então (1), em comparação com a actual, são Esc. 4 3 .i 4 i: 520 »oo,
dos quais pertenciam a Portugal Esc. 24.401:52o»>oo. Havia três anos
que pelas indecisões sôbre a resolução a tomar no asiento com o António
Delvas, pouco ou nada se recebia dêste rendimento e a ponto de, o que
se cobrava, não chegar para a despesa ordinária do Congo, Angola,
Cabo Verde e S. Tomé, que era a dos Governadores, Ministros e pre­
sídios, nem para a dos Bispos e cleresia, pelo que se lançara mão do
sempre inesgotável Cofre dos Defuntos e Ausentes, con 0 que no puede
dexar de estar cargada la Real conçiençia de V. Mg*, como lhe diziam
os seus conselheiros, Mendo da Mota e Conde de Vila Nova, chamados
a fazer parte de uma Junta que o Rei reüniu em Madrid para se escla­
recer sôbre assunto tão melindroso e de tal importância.
Apreciando a medida que se queria adoptar da centralização da na­
vegação em Sevilha, diziam-lhe êles (2) que não tinha outro efeito senão
desenvolver o contrabando, e os navios em vez de sairem com registo,

(1) Lúcio de Azevedo, op. cit. As indicações para estes rendimentos constam do docu­
mento a fl. 34 do mss. da Biblioteca Nacional a que se tem feito referência. Anexos, Doc.
63
n.° .
(2) Biblioteca Nacional, ms. cit., fls. 45. Anexos, Doc. n.° 64.
2Ç2 Angola
sflíam sem êle, c por mais rigorosas que fôssem as disposições tomadas
pura o evitar, lo cicrto es que los mercadores portugeses por sus ganancias
los an de llevar aventurandosse a todo rriesgo: y los castellanos p o r sus
ncçessidades los an de recoger: y los ministros infriores p o r sus provechos
lo an de desemular: y solo la Haçienda de V. M g * y su real servid o son
los que pierden y an de perder en quanto durar esta nueva ordem.
r Entrando em detalhes sôbre a execução da medida, faziam ver que
era impraticável, porquanto a viagem de 200 a 3 oo negros, que era o
número que constituía uma armação, desnudos en cueros, presos, y e n c a -
denados, con la comida y bebida por tanta tassa, causava a morte da
maior parte dêles pelas doenças que se desenvolviam. E se êsse facto
se dava, navegando os negros em temperaturas que um pouco se asse­
melhavam às das suas terras, muito maior mortandade seria de esperar
quando começassem sentindo as temperaturas da Europa e quando
desembarcassetrf em Sevilha no inverno, onde não poderia haver para
com êles os cuidados que se tinha a bordo.
Mas, ainda outros maiores inconvenientes havia e consistiam na
impossibilidade de regular a saída das armações dos portos da África,
de forma a chegarem a Sevilha a tempo de poderem partir com as
frotas, a de Fevereiro e a de Junho, pois além das incertezas das nave­
gações, havia a contar com as demoras inevitáveis nos despachos e
arranjos dos negros para a continuação da viagem, sendo impossível
haver tempo de restabelecer os doentes para se não perder no valor da
armação, pois que os que ficassem a ser tratados, quando curados,
transformavam-se em ladinos pelo convívio com os europeus e já os
espanhóis os não queriam nas colónias, nem as autoridades consentiam
que fôssem, com mêdo de que incitassem os outros escravos à revolta,
sendo portanto valores perdidos, causando o encarecimento dos outros,
crescendo el preçio en cantidad excesiva y intolerable para los moradores
. de las jn d ia s , con que vendrian a buscar antes los que les llevasen sin rre-
gistro, e era êsse, afinal, o resultado certo que se tirava de tôdas estas
medidas de repressão.
O encarecimento do escravo era inevitável e daí um prejuízo com­
pleto para tôda a economia das colónias espanholas, mas que à Uni­
versidade dos Comerciantes da Andaluzia era indiferente, porque lhe
parecia poder arranjar colocação para as mercadorias que depois da
paz afluíram a Sevilha, afora as receitas extraordinárias do tráfego.
Cada negro tinha cêrca de 35 #ooo réis de despesa de entrada em Se­
vilha e 6036000 réis de saída, fora o mantimento e roupa que muitas
Parte I I — Angola 29 ^
vezes h avia necessidade de com prar, o que, adicionado ao custo, cêrca
de 6oa>ooo réis postos a bordo no local do resgate, e aos prejuízos re­
sultantes das mortes, que calculavam em m ais de 5 o #/#, davam ao
negro, entregue na colónia espanhola, um valor não inleriOT a so o s o o o
réis, quando idos directam ente dos portos do resgate, se vendiam a lHo
e 200 pe^os de prata ensayada, que eram , quando m uito, to o s o o o réis,
que das ín d ia s p a ra E sp an h a tinham 20 °/0 de quebra.
E e ra prin cipalm en te o encarecim ento resultante das m ortes em
viagem , que m ais p re o c u p a v a o n egreiro, que, n o seu interèsse, tinha
p a ra com o n eg ro cu id ad o s esp ecia is p a ra que chegasse com v id a.

Os maus tratos aos negros eram mais dos fazendeíTos a quem eram
vendidos, e a quem tinham de prestar serviço, que dos negreiros que
os levavam , pois que estes tinham todo o empenho em que chegassem
ao seu destino, gordos, anafados e bem dispostos, e lhe morressem o
menos possível.
O negócio tinha as suas contrariedades e exigia muito cuidado e
mesmo uma certa arte, para ser bem sucedido.
O primeiro momento difícil, talvez mesmo dos mais difíceis, era a
saída do pôrto donde os escravos eram naturais. Vinham para bordo
algemados, desnudos en cuero, presos, y encadenados, e em geral eram
logo recolhidos em um dos porões. Mas, por vezes, não tinha havido
tempo de arrumar a outra carga, parte do porão estava ainda ocupada
e alguns dos negros ficavam na coberta, distinguindo-se da carga pelos
gritos de revolta que soltavam. Era preciso vigiá-los com bastante
cuidado, pois que recolhida a âncora e quando a brisa começava a en­
funar as velas, e o navio se movia lentamente para largar do pôrto,
um grupo de encadenados da mesma corrente, sem darem qualquer in­
dicio de combinação que os vigias pudessem perceber, à medida que o
navio se afastava e viam sumir-se as últimas árvores, como que atraídos,
puxados, levantavam-se num esfôrço arrastando a corrente, aproxima-
vam-se da amurada e, com a presteza e uniformidade de quem obedece
a uma voz que manda, debruçavam-se lançando-se em massa no mar,
sem um esbracejamento de salvação, antes resolvidos a chegarem com
o pêso das cadeias mais depressa ao fundo, para mais depressa acaba­
rem, por não poderem suportar a dor da saudade da sua terra.
294 Angola
A bordo eram recolhidos nos porões. Os navios negreiros tinham
para êsse fim duas cobertas de pequena altura e quási sem ventilação,
onde os negros eram arrumados, contando-se um negro por tonelada
de arqueação, mas chegando a levar-se mais, tudo dependendo da
afluência de carga. Aí comiam, dormiam e satisfaziam as suas neces­
sidades, sendo necessário conduzi-los ao convés para se proceder à
baldeação e limpeza das cobertas. Tinham que vir por turnos e mesmo
assim vigiados, para evitar os suicídios em massa, muito vulgares.
Procurava-se distraí-los e fazer-lhes esquecer a vida de cativeiro a ,
que estavam destinados, e em geral a tripulação tocava e cantava, para f
os dispor melhor e perderem aquela profunda tristeza. Alguns cobra- -
vam ânimo para afrontar as agruras da vida, mas outros, e eram tantos,
quando recolhidos na coberta, os que dormiam próximo do costado do
navio, combinavam-se para com as unhas escavarem na madeira, e, a
pouco e pouco, éhibora com os dedos já a sangrarem, iam ainda esca- ;
vando mais, até que um primeiro buraco aparecesse, e então, retinidos i
num ou em dois dêles as fôrças já exaustas dêles todos, mas naquele
momento revigoradas, a tábua era arrancada, o navio tinha um rombo,
o mar inundava tudo e êles morriam com a tripulação, seus algozes...
Outras vezes era a revolta, outras a greve da fome, e como evitar
tudo isto, indo os negros divididos pelos diversos navios da frota, a
cujas tripulações era indiferente que chegassem vivos aos portos de
destino ? <:Quem havia de prodigalizar à mercadoria aqueles cuidados
que ela requeria, quem havia de curar o doente, quem cuidaria da sua
alimentação, que chegava a ser apropriada para a engorda, uma tem­
porada antes da chegada aos portos onde deveriam ser vendidos?
A nueva orden era inexeqüível, mas não era fácil revogá-la.

*
* *

O Rei de Espanha, como vimos, tinha anuído à violência da anu­


lação do contrato com o António de Eivas, a-pesar-de por êle já apro­
vado, com a condição de se não abandonar o assunto dos arrendamentos
e de se lhe dar uma solução rápida. A Junta dos Escravos tinha, entre­
tanto, conseguido parte do que desejava, pois arrancara o arrendamento
das mãos de um português, nomeara persona castelana para gerir o
negócio. Faltava-lhe o resto e era o principal, visto que os tais na­
vios com escravos não vinham a Sevilha e o fornecimento de mão de
Parte I I — Angola 295

obra continuava a fazcr-se com a mesma intensidade, mas por contra­


bando.
Mendo da Mota e o Conde de Vilanova tinham-lhe dito a verdade,
quando escreveram que solo la haçienda de V. M g* y su real serviçio
son los que pierden , porque êle estava vendo, não só os rendimentos da
Coroa de Espanha sofrerem uma diminuição grande, como também os
das colónias portuguesas, montando tudo a cerca de 700.000 cruzados.
Era necessário mudar de orientação. O concurso dos portugueses era
indispensável, e a Espanha tinha de o obter por um contrato legal,
procurando dêsse contrato tirar o possível rendimento, para não perder
tudo.
Felipe III, cedendo à pressão exercida pelo Vice-Rei e pelo Conselho
de Fazenda de Portugal e ainda pelo seu confessor (1), deve ter orien­
tado as condições para um novo contrato da renda dos escravos, con­
dições em que se deveria atender, no que fôsse possível, as recla­
mações da Junta, e procurar a colaboração dos homens de negócio
portugueses.
Madrid e Sevilha reconheciam que tinham de ceder, mas não que­
bravam fàcilmente a sua resistência.
Felipe III foi, êle próprio, presidir a uma Junta extraordinária que
reüniu para apreciar o assunto e transigindo, consentiu ainda que se
consultassem os funcionários de mais categoria, enviando-se-lhes um
questionário sôbre as condições do contrato, e, por fim, recolhidas as
suas opiniões, e discutido o assunto, resolveu-se: dar 0 arrendamento a
um português; fazer o contrato por oito anos; permitir que os carrega­
mentos de Angola e S. Tomé pudessem seguir directamente para deter­
minados portos, únicos que ficavam abertos, obrigando-se os de Cabo
Verde a vir a Sevilha, do que depois se desistiu em vista da oposição
levantada; permitir que os navios portugueses se empregassem no trá­
fego para os portos das colónias espanholas, mas com a condição dos
pilotos e marinheiros serem cristãos velhos e só muito excepcionalmente
de raça hebraica, e finalmente, que todo o comércio se centralizaria em
Cartagena e Nova Vera Cruz, únicos portos das colónias que ficavam

63 65
(i) Biblioteca Nacional, Reservados, Pombalina, mss. cit, fl. . Anexos, Doc. n.0 . Este
documento, datado de 2t de Agosto de 1614, tem à margem umas anotações que parecem es­
critas ou inspiradas pelo António de plvas. Uma fôlha que lhe serve de capa tem a indicação
nJunta. 21 de Agosto de 1614, dei pM de hay-Âa y p d e confesssor de V. MgA sobre lo tocante a
la renta de esclavos negros».
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2 ÇÓ Angola
abertos, c nos quais se faria a repartição dos escravos, conforme as
ordens do Conselho das /ndias.
Com referôncia à navegação por Buenos Aires e Rio da Prata, man­
tinham-se as mesmas restrições, para lá só poder ir navio com carga
S ? * que tivesse tido despacho e registo na Casa da Contratacion em Sevilha
ou Cádis, e no de otra parte, dando las Jiansas nesesarias para el retorno.
O número de escravos a importar também era reduzido de 4250 a
3 ooo, pois tinham a preocupação de que havia negros em demasia e
que era necessário diminuir o seu número para evitar as revoltas. O
Conselho de Portugal objectou que não havia negros a mais, nem o seu
número influía para as revoluções, que tinham outra causa, e dava
como exemplo o que fazíamos no Brasil, cuja prosperidade tão cobiçada
pelos espanhóis, era devida à abundância de mão de obra, inteligente-
mente mantida pela liberdade de comércio (1), mas só conseguiu que
mudassem o limite para 3 5 oo.
O novo contrato foi finalmente apregoado em 1614, em Madrid (2),
tendo, além das condições atrás indicadas, sanções severas para os der-
rotariamentos e arribadas. Apresentaram-se muitos concorrentes portu­
gueses, mas António de Eivas fêz os seus protestos, conseguindo obter
.1 qne lhe reconhecessem o direito de preferência, pelo que em 27 de Se­
tembro de 16 1 5 assinou o novo asiento, em que a renda era de u 5.ooo
ducados, mas exigiu e conseguiu que se consignasse no seu contrato a
cláusula de que era definitivo , firm e e irrevogável, e o Govêrno se obri­
gava a não aceitar qualquer outra proposta, ainda mesmo mais vanta­
josa que a sua.
Para melhor fiscalização do contrabando, o Govêrno espanhol tinha
estabelecido um conjunto de medidas com o fim de o evitar, fixando o
número de licenças que o contratador poderia vender para se compensar
dos negros que falecessem, e obrigando-o a dar à Contratacion uma nota
das que utilizava para seu negócio pessoal e das que vendia, o que tudo
não podia exceder 5 ooo. Os adquirentes destas apresentavam-nas nos
locais onde carregavam os negros, e pediam um certificado do número
dêles que embarcavam, para o entregarem aos funcionários dos portos
das colónias espanholas. Estes, por seu turno, passavam, em duplicado,
uma declaração dos que tinham desembarcado, declaração que entre­
gavam ao feitor do asientista, que era obrigado a apresentá-la ao Con-12

(1) George Scelle, op. cit.


3
(2) Idem, Doc. i a pág. 828.

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P a rte I I — Angola 19 7

selho das Índias e à Contadoria da Fazenda. Sabia-se, assim, quantas


licenças tinham sido utilizadas, quantas restavam, e os direitos devidos
pelo asientista.
Estas medidas, juntamente com a da concentração nos dois portos,
Cartagena e Vera Cruz, de tôda a carga, negros e mercadorias, que
ali era depois despachada para os outros ou seguia para o interior,
mediante uma licença que passou a denominar-se de internacion, con­
tinuaram a provocar o mais desenfreado contrabando, e não evitaram,
antes apressaram, a ruína completa do comércio marítimo da Espanha,
na ocasião em benefício dos portugueses, mas mais tarde das outras
nações, que se apresentaram com uma organização industrial e econó­
mica mais poderosa e assente em bases modernas.
Os navios chegavam aos portos referidos, desembarcavam a carga
e pagavam os direitos, tudo dentro da máxima legalidade, e obtida a
licença de internacion para a carga que se destinava Co interior, orga­
nizavam-se as caravanas que a devia conduzir. Diversos seriam os
trilhos seguidos, mas, de-certo, próximos das costas, onde havia muitos
pontos de fácil desembarque, e era então, no momento da caravana
passar em um deles, que se avistava ao longe um navio fundeado. A
caravana acampava, o navio descarregava a carga de negros e merca­
dorias para as embarcações de bordo, que se dirigiam à praia, e tudo
se incorporava na caravana, seguindo o seu destino.
Conhecidas as vantagens desta nova modalidade do negócio, pas­
saram os negociantes a dificultar, quanto possível, aos fazendeiros que
do interior vinham para se abastecerem do que necessitavam, as tran-
sacções naqueles dois portos. A pouco e pouco o movimento nêles foi
diminuindo, e a Espanha, quando percebeu que estava sendo desfal­
cada nas suas receitas, teve, como sempre, um primeiro arranco contra
os portugueses, pelo que Felipe IV, numa cédula de 8 de Agôsto de
IÓ2I (i), determina ao Governador de Cartagena proíba terminante­
mente aos portugueses internarem-se no país.
Mas, pobre Espanha 1 Como os touros parados pelos diestros, não
via senão o trapo encarnado, que éramos nós, e contra quem marrava
inutilmente! Os asientistas futuros, recusaram-se a fazer contratos sem
a faculdade da internacion, e a Espanha teve de lha conceder, julgando
que conseguia, a-pesar-de tudo, manter fechado o comércio daqueles

(i) George Scelle, op. eit.


38
298 Angola
dois portos, quando era inevitável o contrabando, a ruína da sua in­
dústria, a paraiização da sua navegação, e mais do que isso, pelas me­
didas tomadas para a repressão do contrabando, medidas ineficazes
perante a extensão do território e a carência de meios de acção, a cor­
rupção do funcionalismo, e, como conseqüência, a desorganização de
todos os serviços.
*
* *

O asientista era um dos mais sacrificados. As licenças não se ven­


diam, pois que os escravos se podiam introduzir clandestinamente, e
êle próprio teve de tomar também medidas para defesa dos seus inte-
rêsses.
Por tôda a parte espalhou os seus feitores, que faziam, de sua conta,
a polícia dos désembarques clandestinos e dos consentidos pelas auto­
ridades (i). Eram constantes as denúncias que apresentavam e inú­
meros os processos que o asientista se via obrigado a intentar. As
apreensões e multas eram por tal forma e em tal quantidade, que foi
necessário um indulto geral, permitindo-se por cédula, que os donos
dos escravos adquiridos sem registo, regularizassem a sua situação pa­
gando os respectivos direitos; e o asientista, como bom português e mais
prático nos negócios, perante êste escândalo, passou a negociar, êle
próprio, licenças para o contrabando, mandando polícia sua para bordo
de determinados navios negreiros.
As disposições com respeito à repatriação de marinheiros e empre­
gados dos negociantes, não se cumpriam, e as autoridades espanholas
deixavam ficar nas colónias os portugueses que para lá tinham ido sob
aquele pretexto e eram já em número de certa importância, dedican­
do-se ao negócio, quer da escravatura, quèr da exploração da terra,
ou mesmo o de mercadorias, fazendo convergir para as colónias portu­
guesas, ou para Portugal, os lucros obtidos nas suas transacções.
Por outro lado, o próprio Rei em Espanha entrava também no re­
gímen da fraude com prejuízo do asientista, pois, para pagar os serviços
dos ministros que formavam a Junta, vendia por 25 .ooo ducados a um
Diogo Pereira, português, mil licenças para navegar escravos, o que(i)

(i) Para Cartagena mandou como feitor Jerónimo Requeixo com dois guardas, e como
guarda-mor um G. Pinto e mais tarde tomou conta da feitoria seu filho José Fernandes de
Eivas. Para Vera-Cruz mandou Vaz de Gusmão e tinha agentes até no México. George Scelle,
op. c i f .
I

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.( , ,
*

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)
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*

Parte I I — A n g ola 299


obrigou o Eivas a intentar mais um processo. Seguindo o exemplo do
í
Rei, as restantes autoridades faziam exigências, e era o Conselho de
Fazenda a apoderar-se do dinheiro que lhe pagavam dos processos que
1
vencia; era o Almirante das frotas a exigir dinheiro para despesas; era
o desfalque do cofre dos escravos, era emfim uma vida de imoralidade
tal, que para calarem o asientista, chegaram a entregar-lhe o que tinham
de mais reservado, a abertura a estrangeiros do comércio do pôrto de
Buenos Aires e das províncias de la Plala, onde não queriam pensar
que pudesse aparecer sombra ou mesmo cheiro de português.
t
Os prejuízos que lhe causaram foram contudo tantos e tão impor­
tantes, que não obstante êste enorme benefício do Rio da Prata, Eivas
não pôde agüentar-se, sendo-lhe aberta falência, ao que pouco tempo
sobreviveu, pois faleceu meses depois.
Tenta-se, então, voltar à administração de Estado, agora impossível
de manter, por haver necessidade de existir alguém ff quem o próprio
Estado pudesse roubar. As rendas das licenças foram novamente postas
em arrematação e adjudicadas em 1623 a Manuel Rodrigues Lamego,
português, tendo como competidores a viúva do Eivas, Helena Rodri­
gues Solis (1); Duarte Dias Henriques, contratador em Angola; Luís da
Fonseca, contratador de Cabo Verde, e Rodrigues Dias Angel.
As condições do arrendamento não diferiam muito das anteriores. ?
A renda passara para 120.000 ducados. Rio da Prata, Buenos Aires,
Paraguai e Perú, voltaram a estar, como antigamente, absolutamente i
fechados a qualquer introdução de escravos, nem mesmo para serviços
domésticos, e criava-se um tribunal especial para resolver as questões
provenientes da execução do contrato.
As fraudes continuaram, e com a mesma imoralidade e falta de
pudor, quer da parte de quem as cometia, quer de quem as devia re­ 4 t
i
primir, a ponto do Governador de Cartagena ser simplesmente avisado ■»
para enviar o valor de mais de trezentos negros que tinha deixado I
entrar sem registo, mandados pelo Governador de Angola, João Correia
de Sousa (2), sem que outro procedimento se tomasse contra êle.

(1) Esta D. Helena Solis era uma importante negociante, exportando para Angola parece
que de sociedade com o Argomedo, como adiante se verá, o que indica que foi também sócia
do D. Manuel Pereira. Um dos seus navios estava no pôrto de Luanda quando os holandeses
nos atacaram, e ela perdeu tôda a carga.
(a) Foi talvez por esta e outras do mesmo género, que João Correia de Sousa foi metido
no Limoeiro, onde faleceu, sendo-lhe confiscados todos os bens, o que contudo não impediu
que se filiasse a causa da sua prisão na questão que teve com os jesuítas por motivo do testa­
mento de Gaspar Álvares*

I
r | % 'V
3 oo A n gola
Em 1624, com os sucessos dos holandeses no Brasil, 0 asientista
Lamego pediu a prorrogação do contrato para se compensar dos pre­
juízos sofridos (1), o que lhe foi concedido até i 63 i , ano em que, pôsto
de novo em arrematação, foi adjudicado ainda a dois portugueses, mas
daí em diante, a orientação, já por vezes esboçada e levada a efeito, de
0 próprio Rei de Espanha defraudar o asientista, assume proporções
escandalosas e sem respeito por contratos, nem por leis, fêz-se doação
a D. Fernando, irmão do Rei e Arcebispo de Toledo, de i. 5oo licenças
de escravos para Buenos Aires, dando lugar à anulação do asiento por
parte dos portugueses.
Deu-se depois a Restauração, e termina assim, para nós, a parte
que nos interessava, das medidas tomadas pela Espanha para a regu­
lamentação do mais importante dos negócios que absorveram grande
parte das actividades, não só dos homens de comércio, mas dos pró­
prios governos <fas nações da Europa, até princípios do século xix.

» -

# #

Era, pois, em redor do negócio da escravatura, que se fazia tõda a


vida do Congo e de Angola. Primeiramente, quando Tomé de Sousa
soube que os castelhanos mandavam vir os escravos da Guiné, pediu-os
também para o Brasil e enviaram-lhos da Mina, por intermédio de
S. Tomé. Depois, à medida que o negócio da Mina passou a ter con­
correntes estrangeiros, S. Tomé foi alargando os resgates para o sul do
Zaire, e Angola passou a ser a grande fornecedora, não só para o Brasil,
mas para tôda a América Espanhola.
Eram constantes os navios a entrarem e saírem do pôrto de Luanda,
trazendo mercadorias para o resgate, o fato, como lhe chamavam, e
outras para a vida dos europeus, que se não dispensavam de fazer des­
pesas.
O principal negociante era o Governador, raramente pelo capital
próprio que empregava nos negócios, e mais pelas facilidades que, pela
sua acção como primeiro funcionário, poderia dispensar em determina-

(i) Em carta de ao de Setembro de i6a6, cód. Si-vm*3o da Biblioteca da Ajuda, cit., infor­
mava Femão de Sousa que o contratador n5o tinha rido prejufzo algum com a ocupação dos
holandeses no Brasil, pois que em vez de mandar os navios para lá e arriscar-se a perdê-los
com as fazendas que levassem, os mandou todos para as índias de Castela, com maiores lucros.
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imnnttnc n Governador seguia-se o asienlista ou contratador dos
p , que em geral era o representante de um grupo de capitalistas. ' f
Havia ainda os concorrentes ao asiento ou à arrematação dos impostos
que nao tinha obtido a adjudicação, e se estabeleciam com negócio de "//■
sua conta, para prejudicarem o arrematante, e os particulares, pequenos y -■
negociantes, uns com armazéns para a venda dos produtos e que tinham '/ / '
os seus pumbos que mandavam às feiras no interior, e outros que faziam f .s
0 negócio volante, mais ou menos clandestino e sempre sujeito a grandes ;
riscos, que se contratavam como soldados para as guerras, tendo para s .:/ * y ■
êsse efeito os seus serviços devidamente montados. / ' ' . ..
Os primeiros a que nos referimos, os grandes negociantes, incluindo />■
f s*
o Governador, eram representados pelos seus feitores, a quem vinham - Y s
consignados os navios com as mercadorias para o negócio e, descarre­
gadas as que eram para Angola, recebiam escravos para o Brasil, ou
para as colónias espanholas.
A maior parte do fato, fazendas de vara e côvado como diziam,
embora vindo de Portugal, não era de indústria nacional, que se limi­
tava aos buréis, baetas, belartes e algumas saragoças da Covilhã e
Portalegre, ou aos setins, tafetás e veludos de Lamego, além dos linhos
de Guimarães, tudo fazendas de pouco consumo para indígenas, que
preferiam os panos vistosos que recebíamos de Anvers (i), ou os algo­
dões da índia, como os beirames que eram extraordinàriamente apre­
ciados.
Além do fato para os resgates, importava-se também fazendas para
presentes aos reis e sobas indígenas, e para vestimenta dos europeus,
sendo também a maior parte estrangeira e já importada em Portugal (2),
e os géneros alimentícios, farinhas, conserva de carnes, queijos, vi­
nhos, azeites, etc.
As mercadorias eram despachadas em Lisboa e recebidas a bordo
dos navios por meio de conhecimentos, nos quais, já então, se mencio­
navam as irregularidades que se encontrassem na embalagem, não

(1) Anvers tinha-se tomado o mais importante pôrto comercial da Europa e com que
mantínhamos as mais estreitas relações desde D. João I. Diz Rebflo da Silva que exportávamos
5
anualmente i. ao.ooo ducados ou 608.000^000 réis e importávamos, incluindo o que depois se­
guia para a índia e Brasil, t,800.000 ducados ou 740.000^000 réis, constituídos principalmente
por estofos de lá e seda, flanelas, tapetes e alcatifas.
3
(a) Scherrer, Histoire du Commerce, t II, Les Espagnols, pág. ao , diz que em Portugal
os direitos de importação eram menores do que em Espanha, de maneira que os portugueses,
além do fornecimento para as suas colónias, faziam a maior parte do das espanholas, por po­
derem vender mais barato que os negociantes de Sevilha.
3 o2 Angola
tomando o capitão a responsabilidade pela deterioração que sofressem
com os acidentes de viagem. Para o fa t o , e, em geral, para as fazendas
melhores, usava-se a embalagem em pipas iguais às do vinho, em vez
dos caixotes que hoje se empregam. Encom endavam -se as pipas, sem
se dizer ao tanoeiro que eram destinadas a transportar fa t o , para que
êle se esmerasse no calafetamento como se fôssem para conduzirem lí­
quido, e assim se conseguia que, embora os porões metessem água, esta
não danificasse as fazendas que vinham dentro das pipas.
O negócio era bastante rendoso. Ruim seria a transacção que, a
pronto, desse menos de ioo% > e a prazo de um ano, menos de 3 oo% »
com a faculdade de dobrar, se o pagam ento não fôsse efectuado no dia
marcado.
Havia larga facilidade de crédito e era corrente, os negociantes de
Luanda, entregarem milhares de cruzados de fazendas, a indivíduos
que, quer em guerras, quer em viagem de negócio, iam para o interior
colocar a mercadoria, sem outra garantia além de um assinado, ou a
simples promessa de liquidação a pra/.o certo, avalizada pela sua maior
ou menor habilidade para tratarem com os indígenas e poderem levar
a cabo uma transacção rendosa.
Mas marchas para as guerras, a condução do f a t o requeria cuidados
especiais, como os requeria nos acantonamentos, por ser o ponto de pre­
ferência visado pelos indígenas nos seus ataques de surpreza. Deci­
dido o combate e efectuados os prisioneiros, logo ali se negociavam,
com aqueles a quem, tinham sido distribuídos, a trôco do fa to , e eram
mandados com a devida segurança para Luanda.
O comerciante, se não era exportador, vendia-os a quem o fôsse,
em geral aos feitores dos grandes negociantes, depois do que passavam
à ilha de Luanda, para quintais ou acampamentos, sendo marcados e
devidamente tratados, ou, por melhor dizer, beneficiados , para bem
parecerem e irem gordos e com resistência para bordò dos navios,
onde com as demoras das viagens e as faltas dos mais elementares
preceitos higiénicos, muitos sucumbiam. Em geral, um escravo bom,
era pôsto a bordo entre 25 a 3 o mil réis, deixando um lucro de mais
de too °/0.
Além dêste negócio do escravo em larga escala, havia as pequenas
encomendas de Lisboa, e era corrente as casas fidalgas e os comerciantes
abastados, escreverem para Luanda, ao Governador, se era das suas
relações, ou a qualquer comerciante que conhecessem, para lhes man­
darem alguns negros, em geral para o serviço das cadeirinhas e dos
Parte I I — Angola 3o 3
coches, enviando antecipadamente para o pagamento, vinho, farinha*
azeite, ou carnes ensacadas (i).
O despacho dos escravos era objecto de favores especiais do Go­
vernador, pois muito embora os direitos estivessem arrematados e de­
vessem ser recebidos pelo arrematante, que se obrigara a pagar o valor
da renda na metrópole, na moeda corrente no reino, o Governador
exigia, por vezes, ao arrematante, que lhe entregasse determinada im- •
portância em letra sôbre o Brasil, que se não precisava utilizá-la para
si próprio, negociava entre os da sua feição.
O frete era, em geral, pago ao armador no pôrto do destino, e pelo
número de peças embarcadas e não pelas que chegavam vivas (2).

*
* *


As necessidades de mão-de-obra para o Brasil e colónias espanholas,
pelo desenvolvimento dado à exploração agrícola, aumentavam de ano
para ano. Muito embora o govêrno de Madrid, com receio das suble­
vações, procurasse restringir a importação de escravos nas suas coló­
nias, o certo é que além do número que fixava aos asientistas, entravam
muitos mais clandestinamente.
Em Angola, no tempo de Paulo Dias e ainda, em parte, no de
D. Francisco de Almeida, para satisfazer os pedidos de escravos, era
com sério risco de vidas que se faziam as guerras, porque os nossos
eram poucos, os auxiliares indígenas ou a guerra preta eram diminutos,
e muitas vezes sucedeu aos nossos, a-pesar-de todo 0 seu valor, não
poderem desembaraçar-se do cêrco feito por muitos milhares de indí­
genas, que, por assim dizer, os atabafavam e os venciam.
Começamos, depois, a ter como auxiliares os jagas, que, como já
vimos, podiam ser comparados a uma matilha de cães de caça, que não
só descobriam onde estavam os indígenas, mas ainda os vinham trazer
aos nossos acampamentos. Do serviço por êles prestado, resultou ver­
dadeiramente a ocupação da Conquista, pela submissão do Rei de An-

5 3 3
(1) Biblioteca da Ajuda, cod. i-VIII- o/ i cit. Lembranças do q. se me encarregou no
reino q. hei de dar reqSo nelle. Fls. 394/401 do tômo I.
(2) Poucos documentos existem que nos possam dar utn idea das transacções comerciais
da época. Nos papéis de Angola, maço de 1609, da antiga Secção Ultramarina da Biblioteca
Nacional, hoje Arquivo Colonial da Junqueira, está uma carta de Francisco Demax, feitor de
João de Argotnedo, sócio do Governador D. Manuel Pereira, que é interessante e se publica.
Anexos, doc. n.° 66.
Angola
gola e dos outros sobados importantes, mais ou menos independentes,
pois todos receavam, dada a extraordinária mobilidade d os ja g a s , que
de um momento para outro, ao nosso mandado, êies aparecessem, ar-
razando plantações, queimando palhotas e prendendo os moradores.
A situação criada ao Rei de Angola e à Ginga foi lição proveitosa
para todos os outros, e, muito embora ainda no futuro se continuasse
r a registar manifestações de rebeldia, o certo é que eram pontos isolados
e nunca gerais, como nos primeiros tempos da ocupação.
Foi assim que, a pouco e pouco, se foram abrindo as feiras aonde
os chefes indígenas mandavam vender os seus escravos e mantimentos,
a trôco das mercadorias que os pum beiros lhes levavam, e, tomadas as
medidas de repressão dos abusos dos brancos (i), o negócio desenvol­
veu-se, informando o Governador Fernão de Sousa resgatarem-se nas
feiras, em cada semana, duzentas a trezentas peças, o que dava cêrca
de doze mil porr ano, considerando de tais vantagens as feiras, que en­
tendia dever-se perdoar, quando houvesse algum motivo que o justifi­
casse, o pagamento de imposto — baculam ento, ao chefe indígena, e não
se lhe fazer guerra, desde que se comprometesse a manter aberta a
feira, pois que o seu rendim ento montava mais para a Fazenda R e a l . . .
porque se fa lta s s e a escravaria deste R ein o , acabava-se o comércio de que
V. M agestade é senhor (2). F oi nesta orientação que êle criou o cargo
de mamquitanda das feiras, dando-lhes regimento e mandando fixar os
preços conforme os costumes da terra (3).
Como conseqüência do estabelecimento das feiras, veiu a facilidade
da vida comercial pelo interior, espalhando-se os aviados pelos pontos
que julgavam melhores e mais próprios para o comércio, montando
pequenas casas, a princípio simples palhotas, depois à medida que os
negócios o permitiam, modificando-as de forma a terem um melhor
conforto e, por fim, desviando, por meio de levadas, a água do rio pró-
ximo e fazendo o arimo.
Chegaram a ser muitos os brancos espalhados pelo interior, o que,
se por um lado representava o desenvolvimento da colonização, por
outro trazia inconvenientes, e graves, à boa ordem que era necessário
manter, sobretudo na defesa dos indígenas, o que levou Fernão de
Sousa a tomar medidas extraordinárias, mandando recolher os brancos 1*3

(1) Capítulo ai do Regimento dos Governadores.


65 36
(a) Biblioteca da Ajuda, cód. cit., carta de 6 de Setembro de i a , a fl. a do tômo I.
3
( ) Idem, idem, cód. cit., fls. 143 v., 145 e 145 v. do tômo II. Anexos, does. n.« 67, 68 e 69.
P a r le I I — A n g o la ->o5

a Luanda ou aos presídios de Ambaca, Massangano, Cambarnbe e Mu-


xima; a nomear um auditor general para devassar sôbre o inteiro cum­
primento da ordem que dera; e a mandar aos capitães dos presídios
não entendão em mais q. na guarda e na vigia dcllcs e no governo dos
soldados e q. não entendão com os sovas, nem os vexem pedindo lhe pessas
em ocasião de mocanos nem por outras vias nem pessão Loandas nem in~
fu ta s nem p a sy nem p° os Grn ainda que elles lhe pessão e mandem. . . (1).
Só depois disso executado e verificada a vida que levavam os colonos,
é que, em virtude das queixas que tinha recebido de muitos moradores,
da falta de chão para as edificações ou de terreno para culturas, mandou
fazer a revisão das concessões, especialmente pelas margens do Quanza
e do Bengo, e em especial no Saqueie, sítio muito fértil, tirando-as
àqueles que as não tinham aproveitado nos prazos marcados pelo
regimento, e distribuindo-as por novos e por aqueles que o mereces­
sem, com o que se escusavão farinhas do Bra{il e os %{imos renderião
muito à Real Fazenda (2).
Alguns moradores de Luanda e dos arredores dedicavam-se também
ao fornecimento de mantimentos e frescos para a restante população e
para bordo, e outros à construção de edificações que alugavam para
habitações, no que se tornavam mais notáveis os padres da Companhia
de Jesus, não só pelo número de casas que possuíam, como também
por fazerem quintas de recreação e de rendição, tendo comsigo quatro
donatos que não servem de mais que de plantar árvores, façendo hortas e
casas (3 ), de tudo auferindo um bom rendimento.

*
# *

Já então existia em Angola o problema das transferências, com uma


feição diferente do actual, mas com a mesma gravidade. A Real Fa­
zenda era, sôbre todos, a mais prejudicada, pois cada um tratava pri­
meiro de si e poucos se lembravam dos interêsses do Estado.

(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit., Bandos a fis. 120 a 129 do tômo II. Anexos, does. n.°* 70,
71, 72, 73 e 74.
(2) Extraído do tômo II do cód. da Biblioteca da Ajuda, cit., damos a nota de tôdas as
concessões de que se encontra a minuta do título. Anexos, doc. n." 75.
3
( ) Luciano Cordeiro, Memórias do Ultramar. Produções, comércio e govêmo do Congo e
de Angola, segundo António Diniz, II, 1622.
39
3o6 A ngola
A origem do mal estava, principalmente, no valor arbitrado ao que
se convencionou chamar moeda, o \imbo e os panos (i). O \imbo no
decorrer dos tempos e sobretudo em Luanda, pela descoberta de outras
minas além da existente na Ilha, caiu em desuso e em descrédito, ficando
como moeda corrente os panos, que se obtinham no Luango e no Congo,
aonde se ia exclusivamente para o resgate do que se chamava a panaria,
pois tendo-se de há muito desviado para Luanda e para as feiras esta­
belecidas em diversos pontos pelo interior, a corrente de escravos que
noutros tempos ia ao Pinda, não valia a pena resgatar os que ficavam,
os Angicos, que pela sua negação para o trabalho e difícil adaptação a
meios diferentes, pouco ou nenhum valor tinham.
Ficou, pois, o pano como moeda, estabelecendo-se-lhe, em relação
ao real, dois valores, um, o corrente, outro o do bom dinheiro ou peças
da índia. Assim, um pano valia duzentos réis em moeda corrente, ou
apenas cem em Som dinheiro e, por esta forma, a um operário, que além
da alimentação, recebia uma jorna de dois mil réis, pagava-se-lhe com
dez panos, mas, querendo comprar um escravo, que valia 12$ooo réis,
de bom dinheiro, tinha de se entregar 120 panos. Esta mesma relação
existia também para a pataca espanhola, que passou a ser moeda cir­
culante em vista das relações de Angola com as índias de Castela, e
uma pataca valia mil e quatro centos réis, ou sete panos em moeda cor­
rente, ou três panos e meio, ou sete tostões, em bom dinheiro ou peças
da índia (2).
Este câmbio, que não estava oficialmente reconhecido e confirmado,
acarretava prejuízos importantes, em especial para a Fazenda Real,
pelos diferentes valores que podiam ser dados à moeda, quando se tra­
tava de recebimentos, ou de pagamentos.
Os impostos que não estavam arrematados, originados na vida
própria da terra, como os baculamentos, os dízimos, as multas por
transgressões e condenações, eram cobrados directamente pelo Estado,
por intermédio do seu feitor, e pagos em panos, em escravos, ou ainda
em mantimentos e fazendas, tudo correspondendo a réis. Nestes últi­
mos casos, como o feitor não tinha verbas para dispender na alimen­
tação e tratamento dos escravos, nem na guarda e beneficiação dos
mantimentos e fazendas, reduzia por sua conta tudo a panos, para 0

(1) História do Reino do Congo, cap. IV, cit. Anexos, doc. n.° i.
5 3 3
(a) Biblioteca da Ajuda, cód. i-VHt- o/ i dt. Carta de Femão de Sousa para a Mesa de
5 3 1
Desembargo do Paço, de t de Agôsto de 1624, a fls. oo, tômo .
’.’ l - h
f ? ■
ff'

Parte I I — Angola

que negociava os escravos e fazendas, ficando para si com a diferença


entre o valor das vendas e o corrente em panos (i). .
Lom respeito aos ordenados (2) passava-se o mesmo, e como havia
alguns que deviam ser pagos com letra sôbre o Brasil, fazia-sc propo­
sitadamente a confusão, e para as contas do Estado a moeda era a
mais cara.
Alas não era só o feitor a proceder por esta forma e parece que *
havia peor.
Os órfãos, defuntos e ausentes, sempre constituíram matéria vasta
para exploração, e naquela época, em que os protestos e reclamações
eram um pouco mais difíceis de apresentar, os lugares de provedor e
tesoureiros de defuntos e ausentes eram cubiçados, pelos rendimentos
que produziam.
Como se calcula, era vulgar em Angola o falecimento dos comer­
ciantes, ou dos moradores residentes, abintestados. Â s leis, de então,
permitiam que, em tais casos, aos credores com documentos justifica­
tivos e em forma legal, os provedores lhes pudessem pagar até á quantia
de dez mil réis, o que era, manifestamente, uma ridicularia (3 ), para
dívidas que, na maioria dos casos, eram de alguns milhares de cruza­
dos, mas compreende-se bem que uma disposição autorizando maiores
importâncias poderia acarretar prejuízos para terceiros.
A êsse propósito escrevia 0 Governador Fernão de Sousa: «B e
matéria de grande consideração , porque a tenção de V. Magestade he que
a fa zen d a dos defuntos abintestados e aumentes se não perca, e que os her­
deiros a ajão p or este modo, sem perda nem dano, e para esse effeito hor-
dena V. M agestade hum Provedor dos defuntos e hum The\oureiro que
administrem como sua, 0 que elles assim 0 fa\em , porque a fa\em toda
sua, 0 que não he d e espantar , porque quem se contenta de vir a estas j

(1) Luciano Cordeiro, Memórias, op. cit.


(2) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Anexos, doc. n.* 76.
É interessante comparar estes ordenados com os do documento publicado por Luciano
Cordeiro nas Memórias — Estabelecimentos e resgates, etc., na parte respeitante a Angola.
3
j( ) Luís Mendes de Vasconcelos, sendo Governador e tendo-lhe sido presente uma expo­
sição por um credor, com todos os documentos legais, pedindo para receber a importância do
seu crédito, resolveu considerar o caso de/ôrça maior e mandou que se lhe pagasse dos bens
deixados. Fernão de Sousa, mais escrupuloso, teve dúvidas perante um caso semelhante e, em-
quanto o expunha à resolução da Mesa da Consciência, autorizou que o credor fôsse embol­
sado, desde que apresentasse fiança a contento do Provedor e do Tesoureiro *para se tornar a
contia em caso q. da Mesa da Conscf* se mandasse o contrario, 0 q. não teve effeito, porq. até
agora não houve fiança que se contentasse 0 Provedor, porq. lhe contenta mais a fazenda, como
33
êle próprio comentava na carta que escreveu para a Mesa da Consciência, a fls. o do cód. cit.

V
3o8 Angola
partes, comummente he p obre, ou cubiçoso, e quando o não f ô r , o clim a he
tal que os destem pera . . . » (i), com entário cheio de verdade.
Nos termos da lei, o Provedor e o Tesoureiro procediam ao inven­
tário c arrolamento dos bens dos falecidos, empregando nisso tôda a
diligência, embora com a mais reservada das intenções. Tinham de
se pagar dos seus ordenados e dos p roes e p reca lços, em ouro e prata e do
melhor que ha. D o que fic a fa ç e m leilão, e havendo cousa d e proveito tem
de tras de si quem lança por eles e s e lh e arrem ata. O qu e não serve , que
são ruins moveis, caças, maus escravos e velhos, se arrem atam em gen te
perdida, que os tomam para trapaças e fic a em credito e débitos. Q uando
os Theçoureiros dão contas, fa ç e m entrega com os débitos e créditos, e de
Theç° em The f vão passando de uns a outros, e ao tempo d a arrecadação,
como agora acontece, não se p o d e cobrar dos devedores, p o rq u e uns são
mortos e outros caem em pobresa, e os qficiaes ficam p a g o s, desculpando-se
que não podem ter em ser escravos, p o rq u e m orrem e fo g e m , nem remetem
ao reino o valor delles por não aver a q u i dinheiro, nem ordem p a ra pas­
sarem letras (2).
Assim, de tudo isto, resultava que estavam atulhadas de panaria as
casas que o feitor da Real Fazenda tinha para êsse fim, como igual­
mente estavam as que o Provedor e o Tesoureiro de defuntos e ausentes
tinham para 0 mesmo efeito, sem que contudo houvesse maneira de ou
o Estado ou os herdeiros e os credores dos defuntos, verem o seu di­
nheiro, porque eram panos e só tinham valor na terra.
Fernão de Sousa, pouco depois de assumir o governo, colhendo
informações sôbre os fundos da Real Fazenda, encontrou que passavam
de 200.000 cruzados ( 3 ) em poder do feitor e propôs que se não con­
vertessem mais direitos em panos, antes se transferissem para o Brasil
todos os que o feitor tivesse a receber.
Era uma forma interessante de arranjar cam biais para o Estado.
Os direitos eram uma receita própria da colónia e como tal deveriam
ser satisfeitos na moeda que corria, o pano, com o valor de réis que lhe
tivesse sido atribuído. Havendo panos em demasia, e que o Estado
talvez não podia consumir nos quatro anos próximos, resolvia-se cobrar
essa receita em ordens do mesmo valor, réis, sôbre o Brasil, e transfe­
ri-la assim para uma outra colónia, onde corria a moeda metropolitana,(i)*3

(i) Carta de Femão de Sousa, cit. na nota anterior.


3
(a) Idem, carta de i de Agosto de 1625, a fl. 324, tômo I.
3 5
( ) Idem, idem, carta de i de Agosto de 1624 a fl. 302v.» e lembrança a fl. 275.
Parte I I — Angola $°9
de forma que, ou aplicada nas despesas do Estado ou enviada para
Lisboa ou Madrid, era um rendimento que se valorizava.
Tão longe quis levar Femão de Sousa o seu zâlo pelos interesses do
Estado, que propôs também que se obrigasse o contratador ou asienlista
a entregar, em letras sôbre o Brasil, ou sôbre as colónias espanholas, a
importância dos direitos que recebia, e que êle lhe pagaria com os
muitos milhares de cruzados em panos , que tinha nos armazéns.
Estas propostas não tiveram resolução. A primeira, porque se
Fernão de Sousa estava resolvido a não chamar seus os lucros do jôgo
de transferências, outros não eram da mesma opinião, e a segunda, por
ser injusta, visto que o contratador já pagava a renda em moeda do
reino, e ainda impolitica, porque afastava o negócio de Angola desde
que só o Estado tivesse possibilidade de transferir dinheiro.

*
* *

Para os particulares, o problema das transferências não se apresen­


tava com tanta gravidade. Os feitores, representantes do Governador,
do arrematante e dos grandes comerciantes, pagavam, com larga mar­
gem, as fazendas que recebiam com os escravos que mandavam, o que
não impedia que todos desejassem obter muitas cambiais, para as ne­
gociarem com os pequenos comerciantes, os aviados, os soldados e os
moradores, que eram muitos e sendo intermediários no negócio, não
tinham de pagar contas no exterior, mas ambicionavam realizar em
moeda forte os seus lucros e o seu trabalho.
Se as letras sôbre o Brasil, Cartagena ou Nova Espanha, consti­
tuíam um processo de transferência bastante procurado, havia outras
formas de realização de valores, que talvez fôssem mais estimadas e até
preferidas, por não serem tão fáceis de conseguir.
Por duas formas se obtinham êsses valores; ou pelos mestres dos
navios que faziam o negócio clandestino para Buenos Aires e Rio da
Prata, vendendo os escravos a trôco de ouro em pó e em obra, e de
pedras preciosas, o que depois servia de moeda para tornarem a nego­
ciar em Luanda, ou pelos mestres das naus da índia, que fazendo-se
arribados a Luanda, necessitavam, para poderem pagar os concertos
da avaria, de se utilizarem de parte da carga que traziam, as especia­
rias, que constituíam o monopólio do Estado, ou pedras preciosas, e
objectos de ouro e prata, com incrustações riquíssimas que na índia e
3 io A n gola
no Oriente já então sc fab ricavam e eram a lta m e n te ap recia d o s, e êles
tinham obtido nos seus negócios p articu lares.
No Regimento dos Governadores (i) era muito terminantemente re­
comendado o maior cuidado com as arribadas das naus da índia, man­
dando que o feitor em Luanda fizesse a despesa tôda, mas que delas se
não tire fazenda, nem se faça cousa alguma contra meu serviço. . . e nem
se lhe meta tanta escravaria, que seja ocasiaó de lhe faltar a agoa e man­
timentos e causar enfermidades.
Ora a escravaria é que era o grande negócio, e porque o era, tinha
fatalmente de suceder em Luanda não haver maneira de se fazerem as
reparações nas naus, sem se dispender da carga que as mesmas traziam.
E era tão conhecida já a negociata, que Fernão de Sousa, não querendo
enxovalhar o seu nome, c para que a todo o tempo pudesse provar e
justificar os seutè actos, quando da arribada da nau Nossa Senhora do
'Bom Despacho, que vinha da índia com água aberta, necessitando des­
carregar e dar pendor, deixou uma detalhada descrição de tudo quanto
fêz e determinou, com indicações de tôda a carga, seu pêso e estado (2).
Com respeito ao negócio no Rio da Prata, como já vimos, torna­
ram-se célebres deixando fama, as viagens de João do Campo e de
Paulo Martel, ambos naturais de Vila do Conde, e que por duas vezes
saíram de Luanda com os seus navios despachados para o Brasil, e
foram arribar a Buenos Aires, vendendo os escravos que levavam e
enchendo-se de ouro e prata.
Mas como estes havia muitos. Como já ficou referido, êste negócio
do Rio da Prata era corrente e os navios portugueses subiam-no até
onde lhes era possível, largando as suas cargas em local seguro, donde
eram transportados por terra, através do Paraguai, até Lima, com a
intervenção dos jesuítas, que conseguiram assim realizar grandes lu­
cros (3) e talvez por êste motivo tanto se dedicaram a fazer o Paraguai.

#
* *

Vem a propósito, não só para estudo da época, mas muito princi­


palmente porque nos permite avaliar da situação financeira de Luanda,

(1) Regimento, capitulo 27.


(2) Biblioteca da Ajuda, cód. cit., carta a meu filho Gonçalo de Sousa e seus irmãos.
3
( ) Histoire du Commerce, Scherrer, tômo II, Les Espagnols, pág. ao .3
P a rte I I — A ngola 3 lí

descrever os festejos que ali se realizaram quando houve noticia da


beatificação de S. Francisco Xavier, o grande apóstolo da índia (i).
Quando receberam a nova, em Julho de 1620, o superior dos je­
suítas comunicou-a logo ao Governador, então Luís Mendes de Vas­
concelos, que imediatamente determinou que as fortalezas e os navios
salvassem, as casas embandeirassem e logo que no Colégio dos Jesuítas
tocassem as Ave-Marias se pusessem luminárias nos edifícios públicos
e nas ruas se queimassem barricas de alcatrão. Os estudantes que fre-
qüentavam as duas escolas, a dos Jesuítas e a do Convento de S. Fran­
cisco, associaram-se às manifestações, e empregaram nessa noite o fogo
de artifício, foguetes e buscapés que tinham reservado para a festa de
S. Inácio de Loiola.
Entretanto, e emquanto outras festas mais grandiosas se planeavam
e concertavam para o dia de S. Francisco Xavier, quis Luís Mendes de
Vasconcelos deixar bem patenteada a sua devoção pelo Santo, e mandou
bordar, para oferecer ao Colégio dos Jesuítas, uma bandeira com as
armas da nossa companhia e o santíssimo nome de Jesus cercado por todas
as quatro partes de vários romanos, e inaugurou-a solenemente em 27 de
Setembro, fazendo reünir na praça que havia entre 0 palacio e 0 colégio
dos jesuítas tôda a fôrça armada, disparando em descargas os mosque­
tes, ao mesmo tempo que sinquo ternos de charamelas em diversas partes
competiaõ e se sucediaõ huãs as outras,
Por essa ocasião mandou Luís Mendes afixar no mastro em que foi
colocada a bandeira, hum quartel em louvor do santo, muito bem com­
posto com grande eloquência de palavras, e anunciando 0 programa das
festas que se seguiríam, onde havia um concurso poético, com um pri­
meiro prémio de hüa pessa dindias (que na terra são 22 mil rs), a quem
fizesse a melhor canção em língua portuguesa sôbre a morte do S. Fran­
cisco Xavier, e outro prémio de hüas meas de seda com ligas, a quem
globar milhor 0 mote:

El sol que resplandeciente


vos dá luz Francisco, a vos,
nos iguala quela de dios
llevaste al mismo oriente

e ainda mais dois prémios, o primeiro de um moleque (que na terra he

(1) Biblioteca Nacional, Reservados, Fundo geral, mss. caixa 29, n.* 35. Relação das festas
ÿue a Residência de Angola fe f na beatificação do beato padre Francisco Xavier da Companhia
de Jesus. Anexos, doc. n.» 77.
3 12 Angola
moeda de 18 mil rs), e o segundo de outro par de meias de sêda, a quem
fizesse o melhor soneto sftbre qualquer milagre do santo ou alguma
das suas virtudes.
Além disto haveria ainda uma grande procissão ou talvez melhor,
um vistoso cortejo alegórico, festas na igreja, e à noite queima de um
deslumbrante fogo de artificio, marcando-se a realização para a oitava
do santo.
*
• *

Resolveu-se fazer o cortejo de manhã, por de tarde não ser possível


por ra\ão das ordinartas virações que nesta terra costumaó correr depois
do mejo dia e com tal vehemencta que não poderiam as figuras andar,
nem faliar, alem do muito pó que alevantaõ, tanto que as veqes he nese-
çario hir andanSo com os olhos fech a d o s .
O percurso do cortejo era da igreja matriz ao Colégio dos Jesuítas,
e a Câmara, tendo concedido um prémio de vinte cruzados a quem
melhor ornamentasse a sua casa, mandou endireitar o piso, espalhar
mateba, que corresponde à espadana de Portugal e transportar do inte­
rior, árvores de grandes copas, que colocou no caminho, de espaço a
espaço, ornamentando-as com flores artificiais, feitas em Luanda, e que
pudiaó competir com as da natureza.
Rompiam o cortejo três gigantes com seu pae, como se costumava
fa { e r em Lisboa.Os gigantes tinham vinte cinco palmos de altura,
vinham bem vestidos, e causavam o espanto dos indígenas que diziam
não podia a casta daqueles vir a Angola, por não caberem dentro das
naus. O pai, em contraste, era anão, um negro com três palmos que
fôrra agarrado nas guerras do Dongo. Vestiam de veludo de seda
vermelho, tendo na cabeça gorros também de seda, em côres variadas,
tudo muito pera ver e muito mais quando ralhava com seus filhos e /a l­
iando com elles lhes difia mil donaires.
Atrás ia uma dança de creoulos de S. Tomé, que na ligeireza de
dansar vençiaô os mais, levando o seu rei, com quem arengavam, e se­
guiam-se as nove confrarias que então havia em Luanda: Santa Luzia;
Santa Maria Madalena; Corpo Santo; S. José; Almas; S. António;
Nossa Senhora do Rosário; Nossa Senhora da Conceição e Santíssimo
Sacramento, cada uma levando as respectivas insígnias e pendões.
Entramos agora na parte verdadeiramente alegórica do cortejo, que
começava pela apresentação da nau em que S. Francisco Xavier fôra
Parte I I — Angola 3i3
para a índia e que, pelos seus milagres, salvara de vários naufrágios,
A nau ia bem aparelhada, coberta de bandeiras e galhardetes, e levava
artilharia, que um preto escondido fazia disparar de forma que o não
vissem. Atrás da nau caminhavam duas danças: uma de espadas, tão
boa como as melhores da Europa, organizada pela Câmara, e outra de
pastores, constituída pelos filhos dos principais da terra, muito bem
vestidos e executando com os cajados uma dansa interessante.
Seguiam-se os carros triunfantes, sendo o primeiro o do Santo, que
não só pelo carro propriamente, em si, mas pelas figuras que o acom­
panhavam, o conjunto representava qualquer cousa de surpreendente.
Tinha de comprimento vinte palmos, não falando nos quartos, que
com elles passavaô de trinta palmos, e ao meio do leito levantava-se ura
degrau largo, e em cima deste outro, onde ia a imagem do Santo, obra
de bela talha e melhor pintura, tendo oito palmos de altura, e na pos­
tura ordinaria como se costuma pintar o B.franco de xc&ier com os olhos
pregados no Ceo a as maõs nos peitos levantando a loba. N a cabeça um
resplendor de prata dourada; a loba de gorgoraõ, toda coberta de lavores
de cadeas da ouro, diamantes, rubis, esmeraldas, pérolas finas , brinquos
de ouro, que se ouvese tudo de avaliar naó tivera presso.
O degrau ou socalco onde ia o Santo, era cercado por um varan-
dim, pintado de tintas finas e as grades ornadas de tela verde. Arre­
matava aos cantos com carrancas de vulto, das quais se erguiam colu­
nas, fechando em três arcos pela parte superior e ligados a outros da
dianteira e trazeira do carro. Sôbre estes arcos dois anjos de vulto,
sustentando um triângulo, tendo ao meio o santíssimo nome de Jesus, de
modo que se via dambas as partes; por cima do triângulo, um globo re­
presentando o mundo, com a letra que Juvenal deu a Alexandre acomo­
dada ao saneio: « Xaverius non sufiicit unus» e ainda por cima o sol,
com outra letra que di\ia: Alter orientes Xaverius. Todo o carro era
forrado de borcatel vermelho e amarelo, damasco e setim de várias
côres, tudo entrelaçado com volantes encrespados.
No degrau abaixo iam bons músicos e tangedores, ricamente ves­
tidos, tocando violão e rabequinha e cantando triunfos ao Santo, e os
quatro anjos custódios, Europa, índia, Japão e China, levando a Europa
na cabeça uma capela de flores de seda e ouro, tecida sôbre uma cabe­
leira entrançada em fios de finas pérolas, engastadas em ouro, que
caíam sôbre os hombros e as costas. Vestia uma vasquinha de setim
carmesim, bordada a ouro, golpeada sôbre tela branca, os golpes to­
mados com canotilhos de ouro da grossura de um dedo; por cima, um

»•
rv;"\.v •
3 i4 Angola
roupão dc veludo verde e amarelo, coberto de rendas de ouro, apanhado
com um cendal de tafetá carmesim, enrolado com um rico colar de
ouro, e um gibão de tabé com volta e punhos de fio de ouro. Os outros
anjos vestiam com o mesmo luxo e riqueza, diferindo apenas nas côres.
No pavimento do carro iam ainda as quatro virtudes, Fé, Esperança,
Caridade e Culto Divino, em que o santo se esmerou, cada uma delas
tão ricamente vestidas como os anjos e também cantando lôas ao santo.
O carro era puchado, em primeiro lugar, pela Europa, índia, Japão
e China, que nem por desempenharem o papel de animais de tracção,
deixavam de ir vestidos com o mesmo luxo e desmedida riqueza. Assim,
a Europa levava um turbante de rosas e boninas, tecidas em fios de
prata e ouro entressachadas de pérolas, cercado com uma banda de
tafetá amarelo, com pontas de prata que caíam sôbre as costas, e na
parte que correspondia à cabeça coberta de peças de ouro com rubis e
esmeraldas, e nó meio um diamante de muito preço. A parte que cor­
respondia às costas era coberta com vinte cadeias de ouro, e a parte
da testa, com duas ordens de peças de ouro e finas pérolas, assentes
sôbre fitas de diversas côres. Sôbre estas duas ordens, tinha mais oi­
tenta peças de ouro, à maneira de corações, com remates de pérolas.
No remate do turbante uma safira muito grande, engastada em ouro,
e que servia de calvário a uma cruz de ouro coberta de pérolas finas.
Vestia vasquinha de damasco carmesim, coberta de passamanes de
ouro, e que lhe dava p o lia canella do p e e ; por cima uma opa de veludo
verde, bordada a ouro. O gibão de tela de ouro, cingido com um colar
de ouro. Ao pescoço uma cadeia de ouro de quinze voltas, com um
relicário; atravessava-lhe o peito um colar de ouro, do q u a l levava de­
p en dura do um tresado dourado. As meias de seda vermelha; os sapatos
brancos, brincados com fios de ouro e prata e grãos de aljôfar.
A índia vestia no mesmo género, mas em vez do turbante, levava
uma trunfa, amarelo, branco e vermelho, tecida de grãos de aljôfar e
granadas finas, engastadas em ouro. Tinha uma joia com dez dia­
mantes finos, e mais acima um pelicano de ouro, lendo no peito um
rubi. Sôbre o pelicano uma baleia de ouro, e sentado nesta um Neptuno
com o seu tridente na mão direita, e na esquerda, em vez do borquel,
uma esmeralda fina. O mar que cercava a baleia era feito de esme­
raldas finas. Neptuno levava a baleia enfreada com cadeias de ouro,
entressachadas de finas esmeraldas. Rematava a trunfa um relicário
de ouro e uma pera de âmbar coberta de ouro lavrado; no m ais corpo
da trum fa estavaó quatro relicários d e ouro , em propoçaõ sercados com
-
-*j!(f? 'j> I-',- V

Parte 11 — A n g o la

cento e des corações de ouro, todos esmaltados, e honiãdos com varias p e ­


dras presio^as com muitas pérolas , e grãos finos de aljôfar .
O vestido era hü vaqueiro de tela , roxo, todo bordado a ouro, e por
cima uma opa de setim encarnado, também tôda bordada a ouro. Um
gibão de tela branca com uma espada de prata dourada; ao pescoço
um colar de atochar, recheiado de âmbar cercado de finas esmeraldas.
O Japão também de trunfa, mas de campo azul com rosas, cobertas
de pontos de ouro. A joia principal era um crucifixo de ouro esmaltado,
de meio palmo, tendo por calvário dezoito diamantes finos e por rótulo
um diamante, tudo dentro de um círculo de anéis, vendo-se ainda pelo
corpo da trunfa vários lavores de pérolas entressachadas com sete es­
meraldas e sete diamantes. Levava uma marlota de setim azul, bordada
a ouro; os calções de borcatel amarelo, com lavores brancos e roxos; a
opa de tela fina com passamanes de ouro; o gibão de tela de ouro; as
meias de seda amarela e os sapatos de veludo verde cosn dourados* Na
ilharga um treçado de prata com bainha de veludo verde, coberto de
lavores de prata.
Finalmente a China levava também trunfa, de campo azul celeste e
verde mar, tomada com um volante branco com lavores. Na frente um •V
r f* **•
. ’
crucifixo de ouro, de meio palmo^ e em lugar de calvário uma peça de
ouro com a figura de um triângulo, cheia de âmbar. O resto do corpo O .
V .
da trunfa coberto de lavores de finas pérolas, com trinta rubis, três V.
relicários, seis peras de âmbar cobertas de ouro, cinqüenta esferas de
ouro, seis anéis com esmeraldas, dezanove pares de brincos, etc., tudo
com muita horáem e comserto. Vestia vasquinha de selim amarelo la­
vrado e bordada a ouro, uma opa de passarinhos e lavores chinas, um
gibão de tela verde mar, e espada prateada e o peito coberto de vários
lavores feitos em cadeias de ouro.
A cada uma destasfiguras correspondia dansa apropriada. A da
Europa era constituída por meninos de cinco e sete anos, vestidos à
europeia. À da índia por bafios muito ao natural que ao som e pancada
da viola fa fia ô todos os meneos e esgares que costumaô; a do Japão me­
ninos japões em sinal de agradecimento ao ensino que do santo tinham
recebido e finalmente a da China tinha muito que ver , porque era de
monstros silvestres vestidos de peles de varias cores e com borgulis (?) e
massos esgremiaô entre si â pancada da viola.
Puxava ainda ao carro Neptuno, mas êsse montado em uma baleia,
feita ao natural e com grande artefisio; da cabessa ao rabo tinha mais de
sento, e des palmos; sobre as costas sostentava hu tabernáculo de dezoito
3 16 A n g o la

palmos de comprido e nove de larguo; o rrabo voltava pollo ar, e vinha


dar com hüa espadana sobre a cadeira de Neptuno. Estava forrada de
sedas de côres condizendo com a do mar, cobertas com passamanes e
pontas de ouro e conchas. Pelo dorso da baleia, arcos triunfais cobertos
de volantes de ouro e prata encrespados, apanhados com fitas de côres,
abrangendo ramalhetes de flores. Na frente ia Neptuno com o tridente,
vestido de tela verde e um roupão de felpa verde, branca e vermelha,
que podia servir de o emparar das fr ia s agoas do m ar . Acompanha­
vam-no quatro sereias tocando instrumentos músicos ao mandado de
Neptuno, o qual sahia a campo dançando extremadamente quanto se podia
desejar de hã mestre desta faculdade. Dentro da baleia ia escondida uma
dansa de dez figuras, que às ordens de Neptuno, saiam pela boca da
baleia como se fôssera peixes, e dansavam ao descante das sereias, nos
intervalos em que Neptuno descansava das loas que cantava.
Atrás do carfo do santo e como querendo indicar a vitória que êle
tinha alcançado, seguia-se o que conduzia a Idolatria, Mundo, Diabo e
Carne. A Idolatria assentava-se sôbre uma bicha de sete cabeças, cujo
tronco era riquíssimo, feito de ouro e pedras preciosas, o bastante para
fa^er idolatrar aos cobiçosos. Cada cabeça da bicha representava deter­
minado animal com a sua significação própria; assim, uma era a do
leão, que representava a soberba; outra a do jumento, a avareza; a do
cão a inveja; a do porco a luxúria; a do tigre, a ira; a do lôbo, a gula,
e, finalmente, a do animal preguiça do Brasil, a preguiça.
Junto à Idolatria ia Belzebu, acompanhado dos quatro diabos, da
Europa, índia, Japão e China, que se queixavam de terem sido dester­
rados por causa de S. Francisco Xavier, a quem reconheciam tal poder
e virtudes que êles próprios o queriam também festejar.
Tôda a clerezia e religiosos que havia na terra acompanhavam êste
carro, e seguia-se no couce os principais da terra e gente do povo, que
era tanta que não cabia na rua.

#
# *

Pôsto o cortejo em marcha, havia pelo caminho diversos theatros ou


encontros com personagens importantes. O primeiro era com o Reino
de Angola, que vestia de veludo verde riquissimamente bordado, tendo
na cabeça uma trunfa azul, dividida em quartos, arrematados com um
volante que lhe caía pelas costas. Tôda a trunfa era tecida de lavores
Parte / / — Angola 317
de cadeias de ouro, pérolas finas c pedras preciosas de muito preço.
Calçava botas brancas cobertas de botóes e cadeias de ouro, e, quando
avistava o carro do Santo fazia-lhe o seu discurso em verso.
Mais adiante era o Santo esperado pelo Reino do Congo, vestido
como o de Angola e que, como êste, também recitava versos. Junto à
cadeia, nas escadas da Câmara, estava o Império da Etiópia, trajando
ao costume da terra, apenas com um pano à cintura e o mais como a
natureza criou, com a diferença de que o pano era riquíssimo. Recitou
também os seus versos e, como na ultima oitava expressava o desejo
de ter a chave de tôdas as grandes cidades para as entregar ao Santo,
desprezando tôdas as riquezas, completava o pensamento desfazendo-se
do dinheiro que tinha, e arremessava mãos cheias de patacas, o que fo i
causa de gosto e alegria polia contenda q. ouve sobre quem as avia de
apanhar e recolher.
Finalmente, à porta da igreja, estava uma grande*figura represen­
tando a Glória e de dentro dela saiu o Beatíssimo Patriarca Santo Inácio,
com os vestidos cobertos de ouro, pérolas, pedras preciosas, em tanto
numero que não hera possível contalas, que também se dirigia em verso
ao Santo, convidando-o a descansar na igreja. Quando acabou, os
anjos do carro de S. Francisco Xavier tocaram música e ao terminarem
a Glória fechou-se, desaparecendo S. Inácio. Então os anjos tiram
S. Francisco Xavier do carro, poem-no em um andor em que pegam os
vereadores da Câmara e cantando louvores, conduzem-no ao altar-mór.
Luís Mendes de Vasconcelos, que à sua vasta cultura reünia um
profundo gôsto artístico, transformou a igreja, que era de um corpo
unico, separando-lhe a capela-mor, para o que mandou fazer quatro co­
lunas ligadas por três arcos, correspondendo um dêles ao altar-mór e
dirigiu a ornamentação que era riquíssima. Como nota interessante
sôbre os costumes da época vemos que os arcos estavam cobertos de
frutas de cera, todo o genero de uvas com suas parras, laranjas, limões,
sidras, peras, masans, figos e outra m'afruta e varias flores tudo tanto ao
natural que se pudião emganar não so as aves do Ceo como com as uvas
de Zeuxis, mas também homss como Zeuxis com a toalha de parrafio
(Parrhasios).
Como complemento de sua direcção artística na festa, encarregou
um pintor que trouxe tia sua companhia quando veyo do Reino e sempre
o teve em sua casa, de pintar um quadro com a imagem de S. Francisco
Xavier, obra tão perfeita quanto se pode desejar, nem creio que em nenhuã
parte se faria melhor. O quadro tinha oito palmos e meio de altura e
3i8 Angola
seis de largura, representava o Santo em corpo inteiro, com os olhos
no céu e um crucifixo na mão esquerda. Em baixo, a um dos lados,
estava o mar pintado e nele húa nao com batida e quasi sovertida dos
ventos, e do outro a gloria , gostos , conçolações com que D s . lhe emchia a
alma e coração. A mão direita levantava a lôba do peito, saindo-lhe da
boca e em letras de ouro aquelas palavras: Sat est domine, sat est.Aos
t pés dois anjos sustentando um letreiro, tendo pintado a letras de ouro
«B. Francisco de Xavier n.
Chegado o cortejo ao Colégio dos Jesuítas seguiram-se as festas
na igreja, e à noite queimou-se um esplêndido fogo de artifício, que
não só faria inveja aos nossos pirotécnicos de hoje, como não era pos­
sível repeti-lo presentemente em Luanda, com os recursos locais. Do
palácio do Governador ao Colégio dos Jesuítas lançou-se hú cordel e
por êle se lançaram foguetes, com tal f u r ia que sahindo de casa do g o­
vernador e dandt na parede do nosso colejo que he boa distancia hiaô aca­
bar a onde1sahiaõ. Na praça estava montada a árvore e o castelo de
fogo. A árvore tinha sete dúzias de bombas de quatro palmos, dez
dúzias de foguetes, seis dúzias de buscapés e cinco rodas de fogo. O
castelo, ao meio da praça tinha trinta palmos de altura e vinte de largo,
assente em quatro esferas grandes, cada uma com doze dúzias de tri-
quetraques e quatro dúzias de buscapés, e estava espalhado pelo corpo
do castelo: cinqüenta bombas de oito palmos, seis dúzias de foguetes,
trinta dúzias de buscapés, vinte e quatro dúzias de triquetraques, p en ­
durados a modo de cachos de uvas, e dezaseis rodas de fogo, as quais
tinham de\ fu g u e te s p olia borda e cada fo g u e te deitava de si tres bus­
capés.
Além disto, os estudantes queimaram também muito fogo, e ainda
ficou guardado fogo para a festa da oitava do Santo, em que houve
um número que metia quarenta dúzias de foguetes lançados ao mesmo
tempo.
Para remate das festas realizou-se ainda o anunciado concurso
poético ■— sonetos, canções e glosas, a que presidiu um júri formado
pelo Governador Luís Mendes, um letrado secular, e um padre da Com­
panhia de Jesus, concedendo-se os prometidos prémios aos melhor clas­
sificados dos concorrentes, tendo-se colocado fora do concurso o Go­
vernador Luís Mendes, que, além das canções e glosas, apresentou uma
colecção de cinco sonetos, três em castelhano e dois em português.
Não satisfeito, Luis Mendes de Vasconcelos escreveu e fêz represen­
tar na praça pública uma comédia pastoril, de boa e sentencio\a poesia,
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Parte / / — ^n^o/a J19

em que os artistas e a música foram ensaiados e vestidos por ele, como


foi à sua custa 0 fogo, calculando-se que do seu bôlso gastou mais de
três mil cruzados.
A Câmara promoveu uma tourada, dando o curro, divertimento que
agradou imenso, não tendo havido desastres e, por fim, o filho do Go­
vernador, o capitão-mór Francisco Luiz de Vasconcelos, escreveu e fêz
representar na igreja, aquele passo da vida do B. P* fratuf* de xavier,
quando estando pregando em Malaca, prqpheti{OU a vitoria que os portu­
gueses alcançarão dos Achem. Foi obra de grande aparato de guerra,
bem composta e de bom verso e representou-se na igreja, por ser da vida
do sancto e a terra estar neste estillo.

*
* *

Assim terminaram as festas da comemoração da beatificação de


S. Francisco Xavier, festas revestidas não só de esplendor, mas de bom
gôsto e arte, e cuja veracidade, se não fôsse garantida por um docu­
mento emanado dos próprios padres jesuítas, poderia ficar em dúvida,
tal é o luxo e a riqueza, não só do cortejo, mas da ornamentação da
igreja, e tal é o aspecto absolutamente ignorado da vida de Luanda em
princípios do século xvii, que os cronistas nos têm apresentado absor­
vida nas preocupações do negócio, na ganância, nas extorsões à mão
armada, pilhagem, roubo, etc., de uma sociedade que diziam quási ex­
clusivamente formada por gente sem instrução e sem moral, mas que,
se assim fôsse, não podia participar, nem compreender, uma festa que
teve requintes de arte e sentimento.
Possivelmente, em outros pontos das nossas conquistas, a vida seria
superior à de Luanda. E muito provável que assim sucedesse na índia.
Mas, do que não pode restar dúvidas, é que a realização em Luanda,
de uma festa como a que ficou descrita, pressupõe a existência de um
meio social de certa cultura e, portanto, educação, vivendo com bem
estar, mesmo com luxo e riqueza, e, conseqüentemente, como origem
de tudo isto, uma actividade comercial fora do vulgar.
Se a representação da comédia pastoril e o fogo, custaram ao Go­
vernador Luís Mendes, talvez para cima de 3 .000 cruzados, quanto não
custaria o cortejo, não só na parte ornamental, mas na da indumentária
dos figurantes?
Não é crível que a despesa fôsse tôda feita pelo Colégio dos Jesuítas.

... Yi • I íítfjir J
320 Angola
Sabemos bem, que embora ricos, os jesuítas fugiam sempre de ostenta­
ções, e apregoavam a maior pobreza. 0 que foi deles, foi o trabalho
e a direcção, no que deveriam ser orientados por Luís Mendes de Vas­
concelos.
Sem dúvida que de entre todo aquele ouro, tôdas as riquíssimas
jóias, os diamantes, as esmeraldas, os rubis, as pérolas, o âmbar, o
aljôfar, os treçados de prata, os crucifixos de meio palmo em ouro, etc.,
uma parte seria dos jesuítas e adquirida nos seus negócios de escrava­
tura e de contrabando para o Rio da Prata, mas a restante e de-certo
a m aior, era a dos moradores de Luanda, e representava o resultado
das suas transaeções com as naus que vinham da índia carregadas de
especiarias e jóias, com os navios que arribavam a Buenos Aires e re­
gressavam com ouro e prata.
Mal se pode conceber o que seria necessário de movimento comer­
cial, para promover tôda esta riqueza e um bem estar, que se pode
dizer geral, dos moradores de Luanda. 0 que é certo é que êsse mo­
vimento comercial existiu e somente devido ao nosso trabalho e à nossa
actividade.
No meio da nossa derrocada, depois de termos perdido a indepen­
dência, de deixarmos de ser um povo livre, de nos terem feito perder a
frota de guerra que creáramos para as nossas necessidades e para nos
deféndermos dos corsários que atacavam as nossas naus, com o resto
que nos ficou, que nada era para os outros, nós soubemo-nos manter,
e quando todo o mundo nos supunha mortos, e caíam como corvos na
índia, que tivemos de lhes abandonar, nós fomos, com os recursos de
Angola, fazendo o Brasil, depois de termos, pelo menos até à Restaura­
ção, feito também a colonização das Conquistas de Castela.
Ninguém nos igualou em trabalho e em actividade. Nenhum povo
da Europa fêz mais nem melhor do que nós, embora dispondo de re­
cursos superiores.
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BENGUELA

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I — Primeiros reconhecimentos. \
U — -O Governo Geral do reino de Benguela.
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PRIMEIROS RECONHECIMENTOS

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Os antigos diziam que o reino de Angola confinava pelo sul com o i
I
País dos Cafres, e consideravam a região para o sul do Cuanza, até ao
Golfo das Vacas, como pertencendo ainda a Angola, havendo alguns,
como o nosso Duarte Lopes, que estendiam os seus lifinites ainda mais
além, até ao Cabo Negro (i).
Não se compreende muito bem em que se baseavam para esta as­
serção, mas deviam talvez fundamentá-la, não no papel político do
Ngola, querendo dizer que a sua autoridade de Rei se estendia por todo
êsse vasto território, mas porque da mesma família da Ginga, e dos
outros ja g a s que viviam na região a que chamávamos Angola e consi­
derávamos um reino, eram aqueles que se tinham estabelecido além
Cuanza, como os Quembo, Songo, Holo, Quioco, Biênos e ainda os do
Humbe (2), a-fora várias pequenas guerrilhas que se não tinham gru­
pado e viviam independentes, pela costa na foz dos rios, e pelo interior,
formando, no conjunto, o país de Benguela, que uns queriam que
tivesse o seu limite norte no rio Cuanza, outros no da Longa e o sul no
Cabo Negro (3 ).
Pela tradição entre os indígenas, parece ponto assente que um ja g a
Quinguri, desavindo-se com a família na Lunda, abalou com os seus
partidários na direcção de Quimbundo, passando as nascentes do
Cuanza e seguindo para o norte pela sua margem esquerda, foi acam­
par no Libolo, onde depois de algum tempo de permanência, resolveu
passar o Cuanza e procurar o Governador Geral a quem se apresentou

36
(1) Dapper, Description de i’Afrique, pág. i.
4
(2) Henrique de Carvalho, O jagado de Cassange e Expedição portuguesa ao Muattanvua,
Capelo e Ivens, De Angola á contra-costa e De Benguela ás terras de lacca.
3
( ) É muito possível que pelo facto da donataria de Paulo Dias se estender além Cuanza
t
até Benguela Velha, se acostumassem a incluir tôda a região no reino de Angola.

tf
3i4 Angola
c ofereceu os seus serviços- Estes foram aceites, fixando-se-lhe a resi-
dencia na Lucam ba, sítio que ficou assim ch am ad o por as sem entes que
deram ao Quinguri, e êle lançou á terra, n ad a terem p rod u zid o, por
não prestarem.
Governava então A ngola D. M anuel P ereira F o rja z e d evia ser êle
o g overnad or D . M a n u e l que a trad ição indígena d iz que recebeu o
Quinguri, não só porque foi a partir de então, que os ja g a s , antigos
inimigos nas guerras de Paulo D ias, p assaram a ser os nossos auxi­
liares, com o foi durante o seu govern o, que o valente B altasar R ebêlo
de A ragão se propôs fa zer a viagem ao M onom otap a, ou ta lvez a
travessia da África, para o que, certam ente, m uito d everia ter concor­
rido as informações do Q uinguri, junto a outras que já então se tinha
do interior, por muitos dos nossos o terem percorrido, quer seguindo o
curso do Cuanza, quer desem barcando em algum p on to da costa e
internando-se para negociarem .

*
* *

Como já ficou referido, a co sta de A n gola p a ra o sul do C u an za, já


antes da ocupação de L u and a era exp lorada pelos portugueses, pois,
em 1546 já iam ao rio da L on ga, no rein o d e B e n g u e la , resgatar cobre,
e Paulo Dias de N ovais, em 1586-87, m andou Lopes P eixoto ocupar
Benguela a V elha, certam ente com o fim de aí desenvolver o resgate
com os indígenas, tendo sido infeliz, com o sabem os. D epois desta data
e durante alguns anos, nos docum entos que se tem encontrado, em
nenhum há referências às relações que se deveriam ter estabelecido por
todo o litoral p ara o sul, com os indígenas, e, contudo, não resta dúvida
que existiam , porque, em 1600 ou 1601, o G overnador João Furtado
de M endonça foi ao sul, à B aía das V acas ou B aía da T ôrre, com ses­
senta hom ens, para negociar com os indígenas, o que não teria feito, se
não tivesse inform ações do resultado de expedições anteriores, que o
anim aram a tentar um resgate em m aior escala (1).

(1) T em -se feito muita confusão com a Baía da T ô rre e a Baía das Vacas. Lopes de Lima
(Ensaios,livro 3 parte a.a, nota ( i) a pág. 29), criticando a Relação da Conquista de Benguela,
diz que a Baía da T ô rre está a treze léguas ao sul daquela onde foi fundada a cidade de Ben­
guela e que o autor da Relação, sendo mais guerreiro que geógrafo, errou neste pom o. Assim,
para Lopes de Lim a, a Baía da T ôrre seria a de S. Francisco. Luciano Cordeiro (Benguela e
o seu sertão, nota a págs. 8 e 9) não vendo m otivos para se pôr em dúvida a ciência do autor
Parte I I — Angola ,315
Da tripulação, como já se disse, fêz parte um inglês Andrew Batteil
e por êle sabemos que foi de bom rendimento essa viagem, trocando-se
contas de vidro por vacas e carneiros (t), bigger than our English sheep
e por madeira chamada Cacongo que se assemelhava ao pau Brasil. A
quantidade de gado era tal, que em dezassete dias tinham adquirido
quinhentas cabeças e o Governador, em mais de dez dias, carregou três
navios. As contas de vidro com que se fazia o negócio eram azues e de
uma polegada de comprimento, e o gentio dava uma vaca por quinze
contas.
Citando, apenas por curiosidade, a informação de Andrew Batell de
que os indígenas « they are beastly in their living, f o r they have nten in
2Pomen*$ apparel, whom they keep among their mves », registamos a sua
observação de que as serras que encontrou no seu percurso, constituíam
uma cordilheira que vinha desde as montanhas de Cambambe, que
tinham minério de cobre em grande quantidade, que^)s indígenas não
trabalhavam senão na parte que precisavam para obter os seus adornos,
que para as mulheres consistiam em colares no pescoço e pulseiras nos
braços e pernas.
Batteil tornou a participar de outras viagens de negócio pela costa
e, de uma delas, o mestre da embarcação vendo um grande arraial in­
dígena nas margens do rio Cuvo, desejoso de averiguar o que era,
aproximou-se e soube que se tratava de um acampamento de ja g a s .
Entrando em relações, desembarcou com o Batteil e os portugueses
que levava, fazendo largo negócio, enchendo o navio de escravos, que

da Relação, cita a opinião de Pimentel, que arruma a Baía da Tôrre na mesma latitude, com
pequena diferença de minutos, em que está Benguela e a da Castilho, que encontrando ura erro
de 22' para menos, nas latitudes observadas por Pimentel, supõe que a Baía da Tôrre é a actual
dos Elefantes. Andrew Batteil, cujas aventuras foram pela primeira vez publicadas por Samuel
63
Purchas em i i , e portanto antes de escrita a Relação, diz-nos que depois de terem estado
numa baía que estava a 12°, foram para a Baia das Vacas, que é a que os portugueses chamara
Baia da Tôrre, «because it tkat a rock like a tower» e aí, owe rode on the north side o f thé rock,
in a sandy bay» que deve ser a actual de Benguela, parecendo assim que a das Vacas ou da
Tôrre era a do sul da «rock like a tower*, talvez a de S. Francisco. Anexos, doc. n.° 24, refe­
rido.
(1) É bom frizar que a primeira referência que se encontra a vacas e carneiros é nesta
viagem a Benguela. Batteil que percorreu o Congo e tôda a Angola, só em Benguela refere a
existência de carneiros, que achou melhores ou pelo menos tão bons como osinglêses. Dapper
quando descreve o reino de Benguela regista a informação de que as vacas eram também tão
boas ou melhores que as francesas. Não se conhecendo comparação alguma feita por português
dos carneiros e das vacas de Benguela com as do seu país, talvez se possa concluir que o mo­
tivo era por nSo os poderem comparar, visto serem oriundos de Portugal, possivelmente^levados
ainda antes de Paulo Dias, quando os colonos de S. Tomé iniciaram as suas explorações pela
costa para o sul do Zaire.
320 Angola
compraram a real, quando em Luanda se não obtinham por menos de
doze mil réis (i).
Batteli como se vê, não ia só, nem teve outros ingleses a acompa­
nhá-lo, pois que os não cita, mas sim portugueses, alguns mulatos, se­
gundo diz, e de concluir será também que não sendo negociante e ape­
nas um degredado e estrangeiro, não teria o capital necessário para
manter à sua custa uma armação, e trabalhava por conta de qualquer
português. A viagem não era, pois, de sua iniciativa, mas um facto
corrente, de há muitos anos já entre portugueses.
Da descrição que faz, averigua-se que estiveram, êle e os portugue­
ses, durante cinco meses com o jaga, auxiliando-o nas suas guerras e
fazendo negócio, e tendo o navio fundeado em Benguela Velha, fizeram
três viagens a Luanda para levar a carga que tinham resgatado. Quando
regressaram pela quarta vez, não encontraram o acampamento do jaga,
mas foram ter, êle sempre com os portugueses e nunca só, com o soba
Mofarigosat, nome bastante estropiado e de impossível identificação,
que os não quis deixar sair, mas os portugueses conseguiram demovê-lo
deixando-o a êle, Batteli, por ser inglês, como refém.
Fugindo da embala deste soba, foi para Dala Cachibo, onde encon­
trou de novo o jaga da viagem anterior, com quem andou bastantes
meses, até que, depois de muitas marchas, foi parar ao nosso conhecido
soba Langere, próximo de Cambambe.
Verifica-se de tudo o que fica referido que a costa pelo menos até
Benguela, e o interior, quando mais não fôsse, na parte do Amboim,
Seles e o curso do rio Cuvo, eram percorridos pelos nossos comerciantes
para o seu negócio, não sendo de admirar que chegassem ao Bailundo
e Bié.
Como se sabe, também por tradição indígena, o território desde o
Bié até além do Humbe, talvez ao Cuanhama, constituiu o importante
sobado do Humbi-inéné (2), que aliado dos Ngolas, tinha decidido
prestar a estes auxílio contra nós (3), o que não conseguiu levar a
efeito, por a isso se opôr o seu vassalo, soba do Bié. ^O que levaria
êste a tomar essa atitude? ,;Não seriam as relações que mantinha com
os portugueses que freqüentavam a sua embala, fazendo negócio, que

(1) Ravenstein, Adventures cit., § III.


(2) Capelo e Ivens, D e Angola à contra-costa, tômo I, pág. 214.
3( ) Seria talvez no tempo do Ngola Kiluanji K ia Ndambi, que Ravenstein nos diz que foi
um grande guerreiro e levou as suas incursões pelo Cuanza muito próximo do mar, deixando
assinalado com uma insandeira o ponto aonde chegou.
Parte I I — Angola Ò2J
o impediram de auxiliar o Ngola? «Que outro motivo poderia haver a
não ser êste?
Nenhum. Foram, sem contestação possível, as relações com os por­
tugueses que impediram não só o auxilio a prestar ao Ngola, como
determinaram a rebelião do soba do Bié e a sua independência do
Humbi-Inêné. E, possivelmente, foram êles que mais tarde encaminha­
ram o Quinguri, na sua passagem pelo Bié, a apresentar-se em Cam-
bambe, pedindo para ser recebido pelo Governador Geral a-fim-de lhe
fixar local para residir.
Muito embora não tenhamos notícia de qualquer outro pôrto para
o sul de Benguela, íreqüentado pelos nossos comerciantes, é contudo
certo que o Cabo Negro nos aparece em mais de um documento, como
um ponto conhecido, tudo indicando que as nossas tentativas ou buscas
de novos resgates ou explorações, teriam talvez atingido as suas proxi­
midades. •
Havia então necessidade de conhecer muito detalhadamente tôda a
costa da África, quer ocidental, quer oriental, pelo que foi mandado
executar um reconhecimento geral, encarregando o da costa ocidental a
Belchior Rodrigues, pelo regimento de 4 de Janeiro de 161 3 , que para
êsse fim se lhe deu (1), e do qual se verifica que, embora se mandasse
efectuar do Cabo de Boa Esperança, ou do mais perto dêle que pudesse
ser, para Angola, navegando de dia e surgindo de noite, a parte que
verdadeiramente interessava era a da Cafraria, até o Cabo Negro. Reco­
mendava-se que se examinasse com 0 maior cuidado todos os surgidoros,
as braças dos seus fundos, a qualidade dêles, as fontes e ribeiros em
que se podia fazer aguada, desenhando as com diligencia, e fazendo os
cálculos das suas situações, para o que se mandava empregar as novas
agulhas de Luís da Fonseca Coutinho e as tábuas de João Baptista La-
vanha, que também foi na expedição (2), donde podemos concluir que
do Cabo Negro para o norte já havia notícias mais detalhadas da costa,
e, possivelmente, os seus portos tivessem sido desenhados, como se
pedia para os do Cabo de Boa Esperança até ao Cabo Negro.

5 55 (58
(1) Biblioteca da Ajuda, cod. i-VIH-at, fi. i a e 160/1— «Regimento de q. ha de
usar Belchior Roif que V. M agf hora manda ao descobrimento da terra da Cafraria• e «Regi­
mento q. parece se deve guardar no descobrim10 e descripção da costa, do cabo Negro té o de
boa esperança».
(2) No cód. acima referido, a fls. 63
e 64 e 78 a 89, eacontra-se o regimento e instruções
para o uso das agulhas, que mostravam o verdadro merediano em qualquer paragem sem ne­
nhuma diferença de noriestear e norestear como te agorafiçerâo todas as outras...
328 Angola

*
» *

Vê-se do exposto que, quer a costa desde o sul da foz do Cuanza


ao Cabo Negro, quer o interior, principalm ente na parte da bacia do
mesmo rio, eram já bastante percorridos pelos nossos comerciantes em
fins do século xvi e coraêço do século x v i i .
Os jo g a s que se espalharam pelo interior e com quem os nossos se
relacionaram, arranjavam nas suas incursões escravos e gado que lhes
vendiam. Estas boas relações nem sempre garantiam um bom e leal
acolhimento, e podem os calcular as dificuldades que seria necessário
remover para realizar naquela época uma viagem pelo interior e, mais
do que as dificujdades removidas à fôrça de tenacidade, o que essas
viagens representavam de energia, de audácia, de confiança em si pró­
prios, da parte dos que a elas se afoitavam.
E tudo isto era o sonho de uma riqueza! Iam para o cobre e para
o gado de Benguela, mas todos eles tinham o sentido fixo na prata de
Cambambe, naquela serra enorme tôda de prata a reluzir, de que o
Cafuxe e o Ngola não deixavam que nos aproximássemos!
O cobre de Benguela era um desvio, era para entreter. Não po­
dendo ir a Cambambe, andávamos à roda, sempre atentos à espera de
uma aberta.
Mas tínhamos que lá ir, e agora era já a Côrte de Madrid interes­
sada no negócio, pois fôra governar Angola João Rodrigues Coutinho,
levando os mais extraordinários poderes e recursos de tropas para efec-
tuar a conquista de Cambambe.
Desta vez seria certo. Os padres jesuítas também iam, pois gosta­
vam muito do Governador João Coutinho que era muito bom e cujas
virtudes e artes nós já conhecemos. A sua fama espalhara-se por tôda
a parte e quando até do Congo vinha gente para se alistar nas tropas,
fiada nos benefícios que lhes prometiam, o Governador Coutinho mor­
reu, estando tudo preparado para a guerra. Os jesuítas que tinham
tomado um interêsse especial no assunto, fizeram recair a escolha do
substituto em Manuel Cerveira Pereira, seu afeiçoado.
Fêz-se a guerra e Cambambe conquistou-se, mas a prata, como já
vimos, por mais escavações que se fizessem na serra, não apareceu.
Manuel Cerveira Pereira, o realizador da proeza parecia sucumbido,
mas não era para o seu espirito deixar-se possuir do desânimo j nao
Parte III — Benguela Ò t)
2

havia prata, era certo, mas a culpa não era dêle, pois nunca o afirmara.
E, entretanto, tendo ouvido a um ou outro sertanejo, referirem-se à
quantidade de manilhas de cobre que usavam as pretas de Benguela
nos braços e nas pernas, passou a garantir, como se êlc próprio lá
tivesse ido ver e já o tivesse explorado, que havia muito cobre em um
ponto determinado e que só êle conhecia.
Ao mesmo tempo, chegou a Luanda o Governador efectivo D. Ma­
nuel Pereira Forjaz, e um dos seus primeiros actos foi mandar Manuel
Cerveira Pereira preso para Lisboa e a CÒrte que resolvesse sóbre as
acusações que lhe eram feitas (t).

(i) Vidé pág. 191 e Anexos. Documento s5, cit.


4*
II

O GOVÊRNO GERAL DO REINO DE BENGUELA

Concluído era Angola o processo da sindicância aos actos de Manuel


Cerveira Pereira, entregou-o o sindicante aos Ministros em Madrid para
o apreciarem, e entretanto Manuel Pereira, ao mesmo tempo que se
justificava das acusações, foi ouvido por Felipe III e, fom aquela fé in­
quebrantável de aventureiro, ou com a ousadia própria do mais refi­
nado pantomineiro, como o julgavam alguns dos Ministros, convenceu
o rei da existência das minas de cobre, e do seu valor extraordinário,
muito superior ao da prata de Cambambe, promessa com que lhe
tinham estado a acalentar ilusões, diria êle, ao passo que o seu cobre
era facto averiguado. E, em confidência sugeriria, dados os apuros da
Real Fazenda, seria de mais valor que a prata, porque servia para
fundição das peças de artilharia, de que a Espanha tanto carecia para
se defender dos seus muitos inimigos.
Premida a corda sensível das necessidades, naquele momento muito
graves, deixando antever, quási como cousa certa, uma solução que,
pelo menos, as diminuiria, Felipe III começou a interessar-se pelo caso,
mandando antes de mais, se lavrasse a sentença ilibando Manuel Cer­
veira, que, assim, foi solto. Do resto encarregou-se êle, e bem seguro
do efeito produzido pelas suas descrições, e talvez justificando-as com
o testemunho insuspeito de Domingos de Abreu de Brito, que mais de
uma dezena de anos antes, já enaltecia as riquezas de Benguela, como
sendo tantas, que «vossa magestade podia mandar hum dos iilustres de
Portugal por viso Rey, por que desta maneira provendo V. M e, e outro
sr. governador pera o Reyno de Conguo, e outro Visorrey pera os Reynos
Danguolla, com estafacellidade se posuira, Conguo, Anguolla, Benguella,
as minas de Manapota e abrirse o caminho de Mosambique...» conseguiu
que Felipe III, tendo em atenção a salvação das almas dos idólatràs que
o habitavam, os proventos que dos frutos daquella terra poderiam resultar
332 Angola
à sua fa\enda e à dos seus vassalos; à necessidade de evitar que os re­
beldes e piratas herejes a li se estabelecessem e introduzissem em gente
sem lu\ a perversidade da sua seita, e à dificuldade com que os Governa­
dores em Luanda poderiam dirigir esta Conquista , resolvesse separar, a
Capitania, Conquista e Govêrno das Provindas do R ein o d e B e n g u e la e
de tôdas as mais terras que jaçem até ao Cabo da B o a Esperança, do
Govêrno de Angola, erigindo-as em novo govêrno (i) e, cometer a sua
conquista a Manuel Cerveira Pereira, a quem, enquanto estivesse em
Angola, onde teria de ir para preparar as cousas necessárias para
melhor e mais fàcilmente se poder conseguir a conquista, conferia tam­
bém os poderes de Governador daquele Reino (2).
Partiu Manuel Cerveira para Angola em 1 6 1 5 e, apenas chegou a
Luanda, tratou de organizar a sua expedição ao sul. Com o a sua pri­
meira e principal necessidade era de escravos, aproveitou, com o já vi­
mos, as queixas Lprescntadas por alguns moradores contra o soba Ca-
culo Cahanga, que dava guarida nas suas terras aos escravos fugidos,
e resolveu assaltá-lo, obrigando-o à restituição.
Enquanto resolvia estes assuntos e punha outros seus em ordem,
esperava receber do reino várias cousas que pedira e Felipe III lhe pro­
metera, e entre elas, alguns cavalos, mas tudo esqueceu após a sua par­
tida. Deve ter-se queixado em carta a Felipe III, e em tal empenho êste
linha o negócio de Benguela, que mandou significar ao Conselho de
Fazenda o desprazer recebido pelo descuido havido, determinando se
comprasse tudo quanto tinha prometido e se escrevesse a Manuel Cer­
veira comunicando as ordens que dera (3).
Com a demora havida na partida da expedição para o sul, parte
dos homens que a compunham e Manuel Cerveira trouxera do reino,
já estavam arrependidos, sobretudo por terem de servir debaixo das
ordens dêle, e fugiram, preferindo esconderem-se no mato, passando uma
vida de perigos e incómodos. Conforme lhe foi possível, completou as
faltas nos seus efectivos com alguns brancos degredados em Luanda, e

3
(1) T ô rre do T om bo, livro .“ de Leis, fls. 16. Anexos, doc. n.® 78.
(2) Idem, livro35 32
.® de Felipe II, fls. v.°. Idem, n.® 79. O autor do Catálogo dos Go­
vernadores de Angola e Lopes de Lim a dizem que foi nomeado conquistador e povoador do
Reino de Benguela além de Governador, transferindo assim para Manuel Cerveira o mesmo
titulo que tinham arranjado para Paulo Dias. Com o se vê dos documentos referidos êsse título
nunca existiu.
3
( ) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Papéis de Angola, caixa 145. «De S. M. a
D. Luis da Silva sobre se enviaré os cavallos a M.‘ i Cerveira Pereira». Anexos, doc. n.” 80.
Parle III— Benguela 333
assim, com o resto da gente que lhe ficara da que trouxera de Portugal,
arranjou 2 5 o homens, saindo de Luanda em 2 de Abril de 1617, com
destino ao sul, com quatro navios e um pataxo, tendo deixado muito
recomendado ao Governador interino e ao Ouvidor, mandassem prender
e lhe restituíssem os fugitivos.
*
# *

Manuel Cerveira dirigiu-se a um pôrto que conhecia e diz ficava a


sete léguas das minas, mas encontrou-o fechado com o movimento das
areias. Resolveu continuar a viagem até quinze graus e meio de lati­
tude sul, e regressando novamente para o norte fundeou, a 17 de Maio,
depois de quarenta e seis dias de viagem, na baía aã que chamavam
da Torre e no roteiro velho Baía de Satito Antom o » (1) onde desem­
barcou, dando comêço ao estabelecimento da povoaçãS, a que chamou
Cidade de S. Felipe de Benguela, tomando por padroeiro a S. Lou-
renço.
O soba da terra, que se chamava Peringue, quis impedir-lhe o de­
sembarque, mas Manuel Cerveira cativando-o com presentes, conse­
guiu modificar-lhe a disposição e viver com ele na melhor paz os oito
primeiros dias, o tempo necessário para o alojamento da gente e guarda
das mercadorias e armamento e pólvora, no fim dos quais, diz Manuel
Cerveira, a gente do Peringue matou dois pretos nossos que tinham ido
cortar lenha e aprisionou mais seis, pelo que começaram as guerras
contra êle, que foi o primeiro a sofrer o castigo, sendo assaltada e in­
cendiada a sua libata, apreendendo-lhe Manuel Cerveira, gentio, bois
e vacas, e fugindo o Peringue com a sua gente para as terras de outro
indígena na Baía de S. Francisco. Aproveitaram, então, os nossos a
ocasião para acabarem a povoação e construírem um entrincheira-
mento que os pusesse ao abrigo de qualquer ataque de surpresa, por
parte do gentio.

(1) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola, 1619, caixa 145. Carta de Manuel
Cerveira, de 6 de Março de 1618, a Felipe II, com um apêndice de 1 de Junho do mesmo ano.
Anexos, Doc. n,° 81. Ver também Luciano Cordeiro, Memórias, onde vera copiado o documento
de fls. 53 do cód. 5 i - v iu -2 5 da Biblioteca da Ajuda, Relação da Conquista de Benguela. Na carta
acima, Manuel Cerveira di2 a Felipe III, depois de lhe descrever a viagem que f %z pela costa,
5
para que veja melhor a disposição dela e do que viu até à altura de i ° e meio, lhe manda o
roteiro. Este documento muito interessante e a que Luciano Cordeiro se refere,^dizendo
existir num dos arquivos nacionais, sem o indicar, está na Biblioteca de Évora, cód. n.# t
onde foi copiado. Anexos, Doc. n.* 82.
334 Angola
Manuel Cerveira juntava à sua provada energia e coragem um génio
arrebatado. Os que com êle serviam tinham de pautar o seu procedi­
mento de forma a evitar-lhe as iras, porque não olhava aos meios de
repressão de quaisquer actos que o contrariassem, para o que tinha
os poderes necessários até à morte natural. Para a expedição a Ben­
guela, dificilmente arranjara brancos que o acompanhassem, e, os que
levou de Lisboa, ao conhecerem-lhe o carácter e a crueldade com que
punia quaisquer faltas, trataram de fugir em Luanda, escondendo-se
enquanto a expedição não partiu. Poucos ficaram dos que trouxera de
Portugal e teve de completar o mínimo dos que necessitava, com con­
denados que arranjou em Luanda, levando, ainda assim, cêrca de 2 5 o
homens brancos e mulatos.
A chegada a Benguela realizou-se no começo do cacimbo e pode-se
calcular quais seriam os seus efeitos em gente acostumada ao clima de
Luanda, de temperaturas mais elevadas. Adoeciam com freqüência e
morreram cêrca de 3 8 , a maior parte dos velhos de Angola, e um
irmão, um cunhado e um sobrinho de Manuel Cerveira. O receio do
clima, o rigor da disciplina a que eram obrigados, os maus tratos que
recebiam, levaram, os que ficaram, a combinarem fugir, para o que
obtiveram a cumplicidade do piloto de um pataxo que Manuel Cerveira
tinha em Benguela. Uma noite o clérigo, o cirurgião e outros, em­
barcaram no pataxo, fazendo-se o piloto à vela, mas o vento falhou-
-lhes. Manuel Cerveira tendo mandado um batel em sua perseguição,
que os aprisionou e trouxe a Benguela, deu morte natural ao cirurgião
e ao piloto, e tendo entregado o clérigo ao vigário, que era um frade
de S. Francisco, ficou aquele preso e foram-lhe confiscados os bens,
mas poucos dias depois estava solto e he o maior amotinado que aqui
temos.
A energia na repressão da tentativa de fuga, deu para dois meses
de respeito, no fim dos quais, um alferes e o piloto de um outro pataxo,
que Cerveira mandara próximo de Benguela carregar mantimentos, ao
saberem do malogro de uma revolução em que estavam comprome­
tidos, em vez de regressarem, seguiram para Luanda, onde contavam
com a protecção de todos, pela má vontade e talvez ciúme, que havia
contra Manuel Cerveira. Os que ficaram, prepararam nova rebelião,
mas dessa teve Manuel Cerveira denúncia a tempo, e, embora um
dos cabeças de motim fugisse para o mato aonde desapareceu, o outro
foi agarrado e sofreu morte natural, perdoando aos restantes, como
mais tarde teve de perdoar quando os seus subordinados de novo se
Parte I I I — Benguela 355

combinaram para o matar com veneno ou a tiro, * porque se ouvera


de castigar todos os culpados ficava sò».
Por todos estes motivos a sua tropa diminuía em número e por
forma que êle, atrevido e valente, se não julgava com a fôrça necessária
para se lançar na conquista das minas. Entretanto, ia colhendo tôdas
as informações, que lhe confirmavam as anteriores, por forma a não
lhe deixarem dúvida alguma sôbre a riqueza do minério, de que o •
próprio gentio extraía o cobre. Nalguns assaltos ordenados a diversas
libatas, apreendera muitas argolas de cobre, de grossura diversa, con­
forme a aplicação, e que por duas vezes, mandou algumas a Felipe III,
pedindo-lhe para enviar um socorro de 15o homens, sendo alguns mi­
neiros, assim como pólvora, chumbo e arcabuzes e vinte cavalos há
muito prometidos (i). Receando que a falta de dinheiro na Côrte fôsse
estorvo à satisfação dos seus pedidos, comunicava ter dado ordem ao
seu correspondente em Madrid, para entregar ao Rei dtfls mil cruzados,
que êle emprestava para as despesas a fazer. Ao mesmo tempo par­
ticipava-lhe estar sem recursos para sustentar a sua gente, e tendo
mandado a Luanda buscar mantimentos pedira ao Governador para
da sua fazenda, fretar um barco a-fim-de lhe trazer o provimento que
pedia, mas calculava nada viesse, pois quando passara por Benguela o
navio em que vinha o Governador Luiz Mendes de Vasconcelos, e em
que êle esperava viesse o refôrço pedido e, como já vimos, Felipe III
tinha ordenado se enviasse quando fôsse aquele Governador, Luiz
Mendes nem fundeou o navio, mostrando-lhe a pouca ou nenhuma
importância que lhe ligava e que, naturalmente, se reflectiria no aco­
lhimento ao seu pedido.
Na verdade, assim sucedeu. Lourenço Dias Ferreira, capitão de in-
fanteria servindo em Benguela, foi a Luanda de mandado de Manuel
Cerveira, com peças para comprar as cousas necessárias, e precatórios
para o Governador, Ouvidor ou Provedor, a-fim-de lhe fretarem um
navio para trazer as mercadorias que se comprassem, lembrando ao
mesmo tempo que prendessem os obrigados à conquista de Benguela
que estavam em Luanda. Só no fim de muita instância conseguiu que
o Governador Luiz Mendes falasse a um armador se queria ir a Ben­
guela, sem contudo dar ordem ou fazer a menor pressão para a viagem
se efectuar, dando ensejo ao armador fazer exigências desmedidas, que

( i) Era contrário do que diz o autor do Catálogo, Manuel Cerveira nesta carta refere-se a
seis cavalos que trouxe à sua custa, e não a um qualquer dado de presente por Felipe IIL
336 Angola
Dias Ferreira foi forçado a aceitar perante as necessidades que sabia
haver cm Benguela.
As autoridades de Luanda não contentes em manifestarem o seu
desinterêsse pelo socorro pedido para Benguela, ainda falavam em
fo rm a que dava ocasião a que todos odiassem as cousas da Conquista,
arranjando pretextos com que mais tarde pudessem justificar não
terem efectuado as prisões requeridas, e afirmando que o cobre en­
viado por Cerveira a Felipe III, tinha êle levado de Luanda e fingia
que o tinha apreendido em Benguela.
Quando Lourenço Dias Ferreira regressou a Benguela, deu parte a
Manuel Cerveira do ocorrido em Luanda, entregando-lhe uma decla­
ração escrita, sôbre a qual Cerveira mandou proceder a auto, ou­
vindo todo o povo de Benguela (i), enviando mais tarde para Felipe III
a declaração e o auto, para que pudesse bem avaliar do procedimento
de Luiz M endeí de Vasconcelos.
Entretanto Manuel Cerveira, que não podia estar inactivo, tendo
sabido que se fixara perto de Benguela um chefe ja g a , procurou rela­
cionar-se com êle, o que lhe foi fácil pelos conhecimentos já anterior-
mente estabelecidos nas guerras do interior de Luanda.
Não tendo em vista uma ocupação regular, mas apenas tornar-se
temido e respeitado para que não lhe estorvassem a posse das minas
de cuja existência estava convencido, era com os assaltos que trazia à
obediência os diversos chefes indígenas, e nenhum melhor auxiliar po­
deria ter que o ja g a que se fixara perto de Benguela. Em pouco tempo
êle era o seu capitão mor de guerra preta, e por tal forma lhe dispen­
sava a sua confiança, e o encheu de autoridade e prestígio, perante os
outros indígenas, que o ja g a se convenceu da importância do seu papel,
exigindo que o gentio só a êle obedecesse. Quis Manuel Cerveira levá-lo
por bons termos a convencer-se da sua situação de simples auxiliar,
mas o ja g a já se julgava com a fôrça necessária para lhe resistir e, rou­
bando-lhe os escravos que tinham feito, revoltou-se, obrigando Manuel
Cerveira a ir atacá-lo, destruindo-lhe a povoação, apoderando-se dos
seus haveres e capturando-lhe grande número de indígenas e os escra­
vos que já tinha roubado.
Esta vitória, desfazendo o poderio do ja g a , que todos os indígenas
temiam, levaram o Peringue e o Catumbela a pedirem o nosso auxílio

(i) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Papéis de Angola, caixa 145. Anexos, Does.
n ." 83 e 84.
Parie 111— Benguela .337
para se desembaraçarem dos muximbas (maquimbes) que os atacavam
e estavam estabelecidos a três dias de Benguela. For com éles Ma­
nuel Cerveira e assaltando as libatas dos muximbas, não pôde prender
mais que uma velha, porque a gente tôda teve tempo de fugir, mas
apanhou-lhes mil cabeças de gado vacum e outras tantas ovelhas e car­
neiros, além de muito mantimento.
A situação em Benguela, a-pesar-da pouca gente branca de que dis­
punha, estava garantida quanto às relações com os indígenas vizinhos,
de quem nada havia a temer, mas não era êsse o seu fim, e muito em­
bora fôsse enriquecendo com gado, mantimentos e escravos que sempre
ia arranjando, a sua ambição era apoderar-se das minas de cobre, pre­
cisando para isso muito mais gente, e sobretudo brancos mineiros, pois
tinha a intenção de fazer lavra e fundição nas minas.
Se as relações com os indígenas se achavam assim asseguradas, as
com os brancos não se tinham modificado, e era permanente a ameaça
da revolta contra Manuel Cerveira. Cinco dos seus, entre êles um padre
da ordem de S. Francisco e um clérigo preto da terra, aproveitando-sc
do facto de estar convalescente de uma doença grave, e em que, mesmo
assim, determinara para certo dia a morte de um branco que fôra sen­
tenciado, foram procurá-lo e pedir-lhe que perdoasse a execução, ao
que êle não acedeu. Alquebrado pela doença, cansado da luta que
sustentava havia quási três anos, foi fácil aos cinco, atacarem-no, ferí—
rem-no, amarrarem-no e, depois de lhe roubarem tudo, meterem-no a
bordo de um batel desmantelado, com um mastro e uma vela velha e
rôta, e apenas com uma vasilha com água e sem mantimento algum,
deixarem-no ir aonde o mar o quisesse levar.
A energia indomável do valente lutador, que o era e dos maiores,
fôssem quais fôssem os seus defeitos, só poderia ser subjugada pela
mais repugnante das infâmias, a que o mar se não quis associar, pois
a corrente levou o batel até Luanda, donde tiraram, no fim de cinco
dias, o corpo quási inanimado de Manuel Cerveira, de que os Padres
da Companhia de Jesus tomaram conta e, com os seus cuidados reani­
maram. Então, e já na posse de tôda a sua energia, de tôda a sua
vontade tenaz e dominadora, êle, sempre com o mesmo pensamento,
sempre com a ambição da conquista das minas, escrevia a Felipe III (t)

(1) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola, 1619. Manuel Cerveira Pereira. Carta
85
de 24 de Janeiro de 1619. Anexos, Doc. n.° .
43
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338 A n g o la

contando o que sofrera, e renovando-lhe o pedido dos reforços de gente


e tudo mais de que precisava.
A carta de Manuel Cerveira teve bom acolhimento por parte de Fe­
lipe III, como se vê do despacho que lhe foi dado, e igual acolhimento
tinham tido outras anteriores, embora se vislumbre um receio de vio­
lências, por parte de Manuel Cerveira, para com os indígenas naturais
da terra, pois no despacho se lhe manda recomendar trate muito de
os domesticar com boas obras e correspondência e principalmente attenda
a conversão das almas favorecendo os ministros da Ig reja , e procurando
que elles cumprão com suas obrigações e anunçiem aquellas gentes d
Sancto Evangelho com o cuidado e pontualidade que devem, e se lembra
aos seus ministros escreverem ao Bispo de Angola e Congo para mandar
para Benguela sacerdotes a preposito para a cura das almas dos portu­
gueses e conversão do gentio (i).
O refôrço pedido por Manuel Cerveira foi enviado, mas não por
completo, e apenas 70 homens dos 1 5 o que pedia, e êle, em Luanda,
agora hóspede dos jesuítas, lutando contra uma declarada hostilidade
á sua empresa, resolveu por fim sair com a sua expedição, organizada
com os poucos recursos de que dispunha, consistindo apenas nos 70 sol­
dados, quási todos rapares, e sem ter arranjado guerra preta (2), che­
gando a Benguela a i 5 de Agosto de 1620 (3).
Esta partida para Benguela parece que se não fêz sem incidente de
gravidade, devido talvez a Manuel Cerveira não querer sair sem os re­
cursos que julgava indispensáveis, pelo que o governador 0 prendeo e
embarcou e chegou a B en g u ela em hü meç, se os padres não fo r ã o cõ elle,
nã entrara no governo s ê g uerra , mas os padres apa\iguaraÕ tudo (4).
Vê-se, assim, que Manuel Cerveira durante a sua estada em Luanda
no Colégio dos jesuítas, tratou também de seduzir estes com as pro­
messas das riquezas que tinha em Benguela, e obteve lhe dessem padres
para o acompanharem e, possivelmente, foram êles que removeram as
dificuldades ocasionadas pelas questões com o Governador em Luanda,
como removeram as que se apresentaram para o desembarque de Ma­
nuel Cerveira em Benguela, donde não esqueçamos que tinha sido ex­
pulso depois de uma revolta dos brancos, que o meteram ejn um pe-

(1 ) B ib lio te c a N a c io n a l, S e c ç ã o U ltra m a rin a , A n g o la , i 6 i g , D e sp a c h o s de 2 1 -1 2 -1 6 1 8 e n -


-1 -1 6 1 9 . A n e x o s , d o es. n .°’ 86 e 87.
(2) B ib lio te c a N a c io n a l, S e c ç ã o U ltra m a rin a , A n g o la , n * 29, n.® 26, C a r t a d o P a d re Jesuíta
M ateu s C a r d o s o p ara M a n u e l S e v e rim d e F a ria . A n e x o s , d o c . n.fl 88.
3
( ) L u c ia n o C o rd e iro , Memórias do Ultramar. Relação de Benguela, referida.
(4) C a r ta d o P a d re M a te u s C a r d o s o , referida.
Parte 111— Benguela 33ç
queno bote e o deixaram seguir ao sabor da corrente marítima, vindo
parar a Luanda.
Conseguiram, pois, os padres jesuítas não se exercerem vinganças
de parte a parte, e Manuel Cerveira resolveu partir em descobrimento
das minas, levando apenas os 70 rapazes que lhe mandaram, os quais
começaram logo a adoecer, não havendo escravos para carregadores
da bagagem dos brancos, nem para os serviços do mato.
A 12 de Setembro, já só com sessenta homens, partiu por mar para
0 pôrto de Sumbe Ambala, onde desembarcou, pondo-se logo em marcha,
e sem atender avisos que o gentio lhe enviava para não avançar em
dia e meio de marchas forçadas, com a fôrça assombrosa da sua von­
tade, arrastou a sua gente, doente, e mal preparada para a vida em
África, até ao sítio das tão desejadas minas. Aí chegados, mandou
cavar até tirar tres quintais de pedra que sôfregamente guardou para
mandar a Felipe III, levantando uma cruz no mesmoalocal, onde deu
graças a Deus por lhe ter satisfeito o seu ambicionado desejo. Retirou
então, com as necessárias cautelas, embarcando de novo de regresso a
Benguela, onde a sua tropa adoeceu, quási todos gravemente, tendo
falecido cerca de dezassete, e êle próprio também esteve bastante doente,
não obstante a sua resistência.
Melhorando, o seu primeiro cuidado foi regressar a Luanda com as
pedras que mandara apanhar, e recolhendo-se ao Colégio dos jesuítas,
com êles verificou que entre as pedras havia algumas pequenas com fios
de cobre que a cercavaõ, e feita uma fundição concluíram que 0 cobre he
finíssimo e sê duvida tem ouro e note V. M q. se no cume do monte á flor
da terra as pedras te cobre} q. fiara entrando por ella e dandosse na vea e
beta delle, como escrevia 0 Padre Mateus Cardoso.

*
# *

Não se sabe se em Lisboa ou Madrid foram tão felizes com as


amostras enviadas, e se encontraram cobre que valesse a exploração.
Parece que todos negavam a sua existência e só Manuel Cerveira e al­
guns dos ministros seus amigos na Côrte o afirmavam: «esoube 0 corar
de man.ra cô arteficio e valias q. tem que assy 0 persuadio e algüs ministros
de V. M .de (posto que outros tiveraó tudo por fantástico como 0 he)» (1).

(1) Informação prestada em Lisboa a 7 de Setembro de 1619 pelo Bispo D. João Baptista
a Felipe II, sobre assuntos de Angoia e Congo. Anexos, doc. n.° 4 9 > c^*
340 Angola
A gente que acompanhou os que foram na primeira expedição,
negava a existência do minério, e o próprio M anuel Cerveira, di­
zia-se, o afirmava porque « d e ouvido sabia avelloti e porque, pedindo
aos indígenas para lhe trazerem algum as pedras do terreno onde iam
buscar o cobre, êles lhe levaram « dous cestos d e terra « q. tinha mis-
torado a ^inhaure que era sinal d e co b r e . . . » (i). É certo que apare­
ciam os indígenas usando manilhas de cobre e estimando-as bastante,
mas «o fu n da m en to que tomaram p a ra d iferem qu e o havia, p elo os na-
«turaes tra\erem, é esse mesmo tomo eu p a ra diçer qu e o não ha, ou
«muito pouco, porque onde se estim am as cousas m uito, como fa \ e m ao
«cobre os naluraes de Benguella, é s ig n a l qu e há m uito pouca s ou nenhu-
« m a s ... e, como os naturaes o tiram sem m eter cabedal nenhum e com
«muita fleim a , e se contentam fa ^ e r um a m anilha em um m e{ e leva-la ao
«seu rei, e são muitos , vem elle a ju n t a r essa quantidade com as mais que
«por decurso d ot tempo tinham vindo a seu s a n tecessores. . . e a mim m e
«parece que m andar M a n u el d a S ilveira o m etal apurado f o i p o r achar
«mina de pouco rendim ento e não qui\ m andar mostras, que isto fa ^ quem
iSÔ quer contemporisar com S u a M a g e s ta d e », com o judiciosamente ex­
punha Bento Banha Cardoso (2).
Fôsse como fôsse, demorou-se M anuel Cerveira, algum tempo, ainda
que pouco, em Luanda, esperando as ajudas prometidas e nada conse­
guindo, nem vindo resposta do reino, regressou a Benguela em Março
de 621 e, comentava o Padre M ateus Cardoso, « D eus 0 a jud e q. assas
patientia tem mostrado, e lle he p o r natureza capitão e soldado e em tudo
venturoso e se se dera a ju d a a esta Conquista d e B en g u ella estivera oje
muito prospera, m as a té g o r a f o j de^em parada ».
A resposta por fim chegou. A-pesar-de tôda a intriga movida à
roda deste negócio, ainda mais uma vez a Côrte ordenava que se pres­
tasse o auxílio pedido por M anuel Cerveira e lhe fôsse enviado pelo
Governador João Correia de Sousa, que seguia para Angola, mas, pa­
rece, não se conhecia ainda o resultado da fundição das pedras.
Manuel Cerveira, em vista do pequeno efectivo que tinha em Ben­
guela, receava a coligação do gentio para um ataque, e, ao mesmo
tempo, convencido de que se viesse o reforço de gente que pedira, nunca
seria por tal forma grande que desse para manter uma guarnição sufi-

(1) Doc. 49, cit.


(2 ) 5
Biblioteca da Ajuda, cód. 5 i - v i h - 2 5 , fl. io . Luciano Cordeiro, Memórias do Ultramar.
Informação de Bento Banha Cardoso.
Parte III— Benguela 34 r
ciente na fortaleza que fizera, e ter soldados para poder ir tomar os
terras do Samba Ambuiia onde existiam as minas de cobre, projectava
mudar a cidade de Benguela, com todos os haveres, seus e dos brancos
que por lá estavam, para o pôrto que servia as minas, pois Felipe IV,
agora Rei, determinava-lhe que as pusesse em laboração.
Pedia, para êsse efeito, que lhe mandassem cem homens, um barbeiro
para sangrar os doentes, um serralheiro para concertar o armamento,
e de Luanda um capitão mor e o tandala António Dias, também co­
nhecido por António Mussungo, com tôda a sua gente preta, e os três
cavalos enviados do reino e de que o Governador Luiz Mendes se tinha
apossado.
O Governador João Correia de Sousa trazia ordem para satisfazer
a requisição de Manuel Cerveira. O seu navio fêz a viagem Com rumo
a Benguela, como tinha sido estabelecido, para depois seguir com o
vento de feição para Luanda. Manuel Cerveira aproveitou a ocasião
para, muito atenciosamente, mandar apresentar os seus cumprimentos
e expor a situação em que se achava, ao que João Correia respondeu,
desculpando-se de nada poder decidir sôbre os recursos pedidos, por
lhe constar estar em Luanda tudo revoltado e não saber do que preci­
saria (i).
Ao mesmo tempo que em carta dava esta resposta, em conversa
com os emissários de Manuel Cerveira, fazia-lhes ver as vantagens que
teriam em o abandonarem, pois lhes daria em Luanda os mesmos cargos
que ali tinham, e da mesma forma procedia para com outros moradores
de Benguela que tinham ido a bordo. Manuel Cerveira prevenido, fêz
reduzir a escrito a participação que lhe davam e para nada ficar sem
ser devidamente documentado, enviou a João Correia de Sousa um
precatório para lhe fornecer quanto precisava, muito embora soubesse
não seria atendido, e ao mesmo tempo comunicava em carta a Fe­
lipe IV o que se passava (2).
Nessa carta Manuel Cerveira expõe, com muita verdade, a Felipe IV,
qual a causa das dificuldades para a exploração do cobre de Ben­
guela, e renova o pedido anteriormente feito, q. he mandar V. Mag.de q.
0 G.or de Angola o seja tão bem deste novo R.no pera q. assi possa tirar de
Angola sem contradição algúa tudo 0 q. fo r necessário pera esta Con­
quista.

(0 Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola, Anexos. Does. n.“* 89 e 90.


(2) Idem, idem. Anexos. Does. n." 91,9* e ^*9
342 Angola
Sem dúvida alguma era êsse o verdad eiro m otivo das dificulda­
des, c êrro foi ter Manuel Cerveira querido separar os dois governos,
c não ter antes pedido a nom eação de G overnador e C ap itão M or de
Angola, com o encargo especial de fazer o descobrim ento das minas de
cobre de Benguela, o que, naturalm ente, tinha obtido.
A carta de Manuel Cerveira foi m andada consultar ao Conselho da
Fazenda, que não lhe foi favorável, em vista do resultado da fundição
das pedras enviadas, e em cuja riqueza em m inério M auuel C erveira
punha tôdas as suas esperanças. O R ei resolveu em 2 5 de M aio de 1622
que « na terceira parte em q. trata das m ostras qu e m andou d a p e d r a de
cobre se a de diçer qu e se m andou f u n d i r e d ecla ra r se o q. resu lto u desta
fu n d iç ã o e que soposto q. nã s a i d e lia s cobre, q. se d eve escusa r a s despe­
sas q. sefa \em naquella conquista p o is sô se fa fie p a ra o dito efeito (1).
E foi este o triste desfecho de dezasseis anos de lutas, em que M a­
nuel Cerveira tid o sofreu, desde a clausura ao dispêndio de grande
parte dos seus bens, que em pregou na em presa na esperança de os
rehaver. Por tudo passou o pobre visionário; revoltavam -se contra êle;
doente, amarraram-no, insultaram -no, bateram -lhe e para o matarem
com a maior crueldade, m eteram -no em um bote para que o mar o le­
vasse; resistiu e voltou, e com o boneco de sabugo, sempre em pé, êle
continua a teimar no cobre, quando tinha a mina do gado, a mina das
peças de pretos e a mina do sal, que lhe davam quanto dinheiro qui­
sesse. Vai, enfim, ao cobre; parece que não havia lá nenhum, mas o
seu poder de persuasão era tal, que os padres da Com panhia de Jesus
que foram com êle, afirm am ter as pedras cobre, e os outros em
Luanda, o superior e os graduados, fundindo-as, vêem correr o cobre
que he fin íssim o e s ê du vida té ouro ! Chegam as pedras a Lisboa, e
visto qu e delas não sa i cobre, escusam -se as despesas que se fa fia m , pois
só se fa fia m p a ra esse efeito.
*
* *

Perdidas as esperanças do cobre de Benguela, não julgou a Côrte


necessário desfazer o governo independente que criara para Manuel
Cerveira, que continuou a dirigir os negócios daquele reino, mas não
verdadeiramente como Governador, e antes administrando de sua conta
aquela propriedade, em que o Rei entrava como sócio.

(1) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola. Anexos. Doc. n.° 94.
Parle III—Benguela 343
Os anos foram passando, parece que sem acontecimento de reíávo.
Os Governadores de Angola abandonavam o colega de Benguela aos
seus recursos próprios, e êle entretinha a sua actividade nos negócios
que arranjava, sem deixar de insistir para a Côrte na exploração das
minas.
Fernão de Sousa, nomeado Governador de Angola, levava na Ins­
trução Secreta (1) que lhe deram, a indicação para averiguar das van­
tagens das minas, devendo para ésse efeito fazer a viagem por Benguela
e no caso de convir explorá-las, fornecer de Angola a gente necessária.
Cumprida a ordem expôs a sua opinião (2), começando por não
concordar com a escolha do local para a povoação, pois se a in­
tenção era explorar as minas, a cidade deveria ser no pôrto de Sum-
beambuila, que ficava mais perto das supostas minas, além de que o
clima era melhor, e havia sobas e negros com quem negociar e os sol­
dados folgare de estar nelle, e podiaõfa\er a guerra pewi tirar algü pro­
veito que não ha em Benguella.
Repetia a conhecida versão da ignorância de Manuel Cerveira a
respeito do local das minas, porque não sabia nuiis que di^er q. as avia
em Benguella, e de que as pedras enviadas foram escolhidas uma a
uma, das que trouxe da única cova que abriu no monte onde dizia
haver minério de cobre. Fazia-se eco da insinuação, que a própria
Côrte devia saber ser falsa, de que Manuel Cerveira tratou som.te de
seus particulares resp.iot movido do Rendimento da mina do sal, e da pes­
caria do fimbo, e do Quicongo, que he madr.a q. vai nesta cidade a tres
mil rs. 0 quintal que lhe ficava aly mais a maó pera o esfruetar, como
largamente se vê dos ditos das testemunhas, a que não dey juramento
porque temy que jurasse falço pela paixão com que estavaõ contra M .el
Serveyra, mas esta bastantem.u averiguada a verdade. Esta insinuação
deveria ter ferido fundo 0 velho combatente, que pôs à disposição do
Rei o dinheiro para lhe mandarem 0 socorro que pedia, e de que os
Governadores de Angola se utilizaram, sem terem para com êle a menor
consideração!
Lembrava Fernão de Sousa no caso do Rei resolver que Manuel
Cerveira continuasse na descoberta das minas, deveria mandar se mu­
dasse para Sumbeamballa e que da feitoria de Luanda o provejão os go-

5 3 3
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. i-vm- o. Doc. a fls. i já referido.
5
(2) Hem, idem. Carta de i de Agõsto de 1624 a fls. 295. Além desta carta e tratando do
3
mesmo assunto, escreveu Fernão de Sousa duas outras, uma a i de Julho, outra a 29 de Se­
tembro de 1624.
344 Angola
fcrnadores do nesses ° como sefa ç aos presídios, por ser grande a despesa
com a duplicação de pessoal, armazéns. etc., e lambem he pera concide-
rar se deve F. Aígd' prover o lugar porq. está mt.° velho e cego, e não
trata de mais q. de conservar o titulo de conquistador e governador, sé
pagar aos saldados mais q. hO alqueire e meyo de farinha do Brasil cada
t mes.

Manuel Cerveira não estava em Benguela quando Fernão de Sousa


Já chegou, pois costumava passar grande parte do tempo em Luanda,
deixando a conquista entregue a um capitão mor, Heitor Henriques da
Gama. Fernão de Sousa soube que tinham lá estado uma nau e dois
pataxos de gueçra holandeses, que vinham às presas e lá armaram uma
lancha que traziam em quartéis, e resgataram com a gente do presídio,
fazendo aguada e recebendo refrescos. Tendo apurado a responsabili­
dade, no caso, do capitão m or Heitor da G am a e de um outro capitão
André Lôbo, a ambos trouxe presos para Luanda, e em carta para o
Governo, participando a ocorrência, preguntava o que lhes deveria
fazer, que p er ser de tanta consideração não hey de proceder até saber
o q. V. M ag.ie me ordena, porque f e \ muita cousa pera os Inimigos se
deteré nesta costa e fa ^ erê nella e neste porto os danos que fiperão per q.
chegarão a ly fa lto s d*agoa, d e mantimentos e d e saude, e cô os refrescos
q. lhe derão se detiverão, o q. p o r ventura não flperão.
Quando chegou a Luanda mandou chamar Manuel Cerveira e dis-
se-lhe para regressar ao seu presídio, de que tinha feito preito e ho­
menagem, para não suceder outro caso semelhante com os holan­
deses, mas Manuel Cerveira apontando a tudo ynconvenientes pedindo
gente de q. não té necessidade porq. pera se mudar não lhe he necess“ . . .
não qui\ hir nê o fa rá , e como he costumado a fa \er autos, e papeladas, e
mandalas ao Reyno pareceulhe que lhe daria eu occa-fão pera isso. Man-
deylhe notificar pelo ouvidor geral que se fosse, e q. o aviaria do necessá­
rio, e não o fazendo daria conta a V. M g.ie porq. Benguella estava a sua
conta e não á minha. . . Não trata disso, e parece q. esta emfeitiçado porq.
me pedio o capitão mor H ector Henriques da Gama afim do levare na sua
companhia as duas sobrinhas de sua molher, e como lhe não deffery não
tratou mais da hida.
Term inava Fernão de Sousa a sua exposição sôbre Benguela por
incitar o Rei a mandar cô grande resolução a M .el Serveyra q. acabe de

i
yp. *. ,*

P arte I I I — Benguela
se desenganar có as minas e de enganar a V. Mg.de, ou proveja V. M g.
o lugar, porq. applkando V. Mg.dt o Rendimento da mina de sal, có elle
se fará a despeça da Conquista, mandando q. se faça estanque c que não
venha desse R.m, por q. té grande saca e vai nesta cidade cada alqueire
mil rs. porq. he tão Rica a mina q. se afirma que se não pode esgotar porq.
arrebenta o mar naquelia Bahia por baixo e não se pode tirar tanto que
mais se não congelle logo . . . E para marcar bem a nota da demência e
incapacidade do pobre xManuei Cerveira, informava: em companhia de
Hector Henriques e de sua mulher trouxe as duas sobrinhas da mulher
de Manoel Serv.a có que cohabitava das portas a dentro, e pera có essa
occasião tirar o q. avia do Escandalo q. davão, polo que não conve que
Hector Henriques torne a Benguela nê suas cunhadas.
Depois desta informação compreende-se melhor o que detinha Ma­
nuel Cerveira em Luanda, e o levava a pedir a Fernão de Sousa que
deixasse voltar para Benguela o seu capitão-mor pftitor Henriques,
contando, que êle levaria consigo as duas sobrinhas da mulher. Em fins
de Setembro ainda Fernão de Sousa tornava a informar (i) que Mauuel
Cerveira se ficava aviando, tendo-lhe, para o efeito, mandado aprontar
um navio, e pedia a resolução do que se devia fazer com respeito a
Benguela, pois, no estado em que estava, corria grande perigo se os
holandeses lá voltassem, porque não he sitio defensável nã te quê o de­
fenda, antes se pode m.‘° recear que se entregue aos inimigos polo grande
odio q. todos té a M.el Serv.“, justificação que Fernão de Sousa, infe­
lizmente, não pôde aplicar às tristes ocorrências de Luanda, com o
ataque dos holandeses no Governo do Bispo, dias antes de chegar, nem
às que se deram consigo, e que tiveram uma causa bem diferente.
Por motivo da separação do Governo de Benguela do de Luanda,
cultivou-se muito em Angola o ódio a Manuel Cerveira, e, certamente,
não deixava de haver da parte dos seus subordinados, alguns motivos
para se revoltarem, mas havia-os também para com todos os chefes de
então, que antepunham os seus interesses aos da população que gover­
navam, para o que bastava que, a-pesar-das disposições em contrário,
provessem os seus empregados e apaniguados nas vagas que se davam
nos cargos administrativos.
Dizia Fernão de Sousa não ser possível socorrer Manuel Cerveira
de Luanda, porque, querendo mandar-lhe os degredados vindos do
Reino, êles fugiram todos e mandando-os prender, internaram-se no

(i) Biblioteca da Ajuda, cód. 5 i-vm-3o. Carta de 28 de Setembro a fls. 3 o3 v.° do tômo I.
44
3 46 Angola

C.iíífi0 f nfirmavam que iriam para o Pinda c se passariam para os


holandeses, pois antes queriam estar com estes que com Manuel Cer-
vcíra, c os da Conquista que andão pola terra dentro obrigandoos a que
se penhão a esta cidade e aos Presídios, prometendo-lhes perdão desta
culpa, o não fa\é, dizendo que o fa rã o tanto q. M anoel da Sirveyra da
quy se fo r , e q. quere antes estar cõ os xa g a s (jagas) que cõ elle, afirma­
ções estas que, dada a acção coerciva dos Governadores e os poderes
extraordinários de que dispunham, não podemos tomar senão no pro­
pósito de levantar dificuldades e atribuí-las ao ciúme das considerações
que a Côrte dispensava a Manuel Cerveira, não esquecendo que os
Governadores de Angola, antes de Fernão de Sousa, precisavam de
quanta gente branca houvesse, para como soldados fazerem as guerras
em que, na mira dos seus negócios, andavam empenhados.
Depois de rguilo instado e de muita exigência da sua parte, Ma­
nuel Cerveira foi para Benguela, demorando-se pouco tempo e re­
gressando em um navio com 22 soldados que, dizia êle, se tinham
revoltado, bem como o piloto, mas mandando Fernão de Sousa prender
os amotinados, começou Manuel Cerveira a fa \ e r declarações ju ra da s e
por escrito de que a alguns devia a vida, prova manifesta da fraqueza
do seu espírito.
*
* *

{ Manuel Cerveira trouxe todo o seu fa to e escravos. Em Benguela


ficaram trinta e três praças, um capitão e um capelão. A guarnição era
insuficiente e Fernão de Sousa já pedira e instara para que lhe dessem re­
solução ao assunto, até que Felipe IV, inteirado da situação, resolveu (1)
mandar conceder licença a Manuel Cerveira para poder regressar a
Portugal, e determinar a Fernão de Sousa que encarregasse a pessoa
que lhe parecesse do descobrimento e lavor das minas, lembrando-lhe
para êsse fim Bento Banha Cardoso, se pudesse dispensar os seus ser­
viços em Angola.
Quando esta ordem chegou já a 9 de Abril de 1626 tinha falecido o
valente Manuel Cerveira, o que Fernão de Sousa comunicava (2) para
o Rei, acrescentando que êle em vida tinha nomeado por capitão-mor e12

65
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit., carta de Felipe IV de 22 de Agosto de t a , a fl. 40 do
tomo I.
33
(2) Idem, idem, carta de 26 de Abril de 1626, fl. o v,0, tomo I.

Parte I I I — Benguela ^47

seu Tenente a hú Antonio Pinto que desse Reymo veyo comigo degredado
pera este pollos patacos que se deraô aos Ingleses da Nao da Índia no
cabo de boa esperança. Efectivamente, pouco antes de falecer, mandou
Manuel Cerveira para Benguela, como seu substituto, a Aotónio Pinto,
levando os soldados da revolta e que estavam presos em Luanda, com
ordem para enforcar dois quando chegasse por alturas da Corimba e
de perdoar aos outros, o que António Pinto não cumpriu na parte do *
enforcamento, levando todos para Benguela.
Fernão de Sousa tinha mandado pedir a Manuel Cerveira, quando o
soube gravemente doente, que fizesse lembrança de tudo o que tocava
âquella conquista e ao servi“ de Vossa Mgdt e de sua real fazenda, a
que não diffirio, pelo que êle Fernão de Sousa se não quis intrometer,
aproveitando contudo a ocasião para dar o remoque fina!, uporq.
V. M ag.de defumo a Conquista e governo de Benguella até o cabo de
boa esperança deste governo por Imã provirão feita Bn X I de fe -1 11
vreyro de M D C X V polas ra\oês nela declaradas, e a Manoel serveyra
mandou V. M ag.‘ dar Regimento de goverQr cõ hordé que falecendo na
jornada, e estando já cõ effeito na conquista podesse nomear pessoa pera o
proseguir, e no tal caso a dita pessoa exercitaria seu cargo e daria conta
a V. M ag.de de sua elleição e do estado em que ficava a conquista, polo
que somente trattarey do pagamento dos soldados dorrendimento da mina
de Sal, até Vossa Mag.ie, mandar ordem, por não aver em Benguella
official da façenda que o faça, né de justiça que a admenislre, de que tenho
por vias aviçado largemente».
Nem mais era preciso fazer ou dizer, e assim se liquidou a tenta­
tiva de independência de Benguela, da acção de Luanda.

No mesmo dia em que falecia em Luanda Manuel Cerveira, escre-


via-lhe António Pinto, de Benguela, a carta mais desoladora e triste que
se poderia escrever e em que ficava bem patenteada a miséria daquela
ocupação (i). Queixava-se António Pinto de que tinha sido sangrado
por quatro vezes e estava cheio de febres, devido a ver a miséria e de-(i)

(i) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Documentos de Angola. Cópia da carta de


Antonio Pinto capitão mor e Tenente de M.*1 Serv.* Pereyra que está no Prezidio de Benguella.
Anexos, doc. n.° 95.
348 Angola
snmparo da gente que o cercava. O s dezasseis soldados da guarnição,
todos estavam doentes; quatro andavam nus e despidos; morrera o
Padre Cambaquirio (?) e o Padre Lourenço Dias estava bastante mal,
e isto desbaratado, de m odo q. servimos a q u y d e g oa rd a r a sua g en te ao
Conquistador, e o seu sal, e o seu \imbo, d e nenhü effeito isto he, m eus p e­
cados me trouxeram q u â ........carta a que Fernão de Sousa juntou uma
relação do mesmo António Pinto sôbre o estado do presídio (i), feita
mais tarde, já depois de ter a notícia do falecimento de M anuel Cer-
veira, e que tudo mandou para o reino, a-fim-de melhor apreciarem a
situação, instando por que a resolvessem, e lembrando, no caso de
aceitarem a sua proposta de incorporação da mina de sal nos bens da
Real Fazenda, fôsse determinado que não viesse sal do reino, nem para
Angola, nem para S. Tom é, nem tão pouco para o Rio de Janeiro (2).
Às comunicações recebidas, visto que já tinha mandado comunicar
a Manuel Cerveira a licença para retirar para Portugal e determinado
a Fernão de Sousa que o substituísse no govêrno de Benguela por
pessoa que escolhesse (3 ), mandou o Rei responder que desse ordem
para que do espólio de Manuel Cerveira se cobrasse o que se apurasse
que tinha ficado devendo à R eal Fazenda (4).
Entretanto Fernão de Sousa tratava da nomeação do novo conquis­
tador para Benguela. Conforme lhe era sugerido, convidou Bento Banha
Cardoso, que respondeu: (5 ) estimava a m erce que se lhe fa \ ia mas q.
naÔ se atrevia y r a ben g uela p o r entender em sua consciência que aquela
conquista nâo he de ym portancia ao serviço d e V. M a g .e n ê p o r minas, nê
por resgate, e que estava arriscado aquele presidio a qualquer olande\ que
a ly viesse o tomar, e que se diria no R ”° que perdera Bento banha a f o r ­
taleza de V. M a g e, e que não tinha ordenado e fica va obrigado a sustentar
os soldados e que não tinha cabedal p era y sso , pelo que resolveu-con­
vidar Lopo Soares Lasso, dizendo-lhe que convinha ao serviço que
fôsse para Benguela, o que êle aceitou e fica se aviando, parece que sera
V. M ag ' bem servido porq. he soldado, cavaleiro e de\obrigado . . . e
mande V. M a g .e que se degrade daquy p o r diante pera B enguela, e que 1*3
5
4

(1) Biblioteca Nacional, S ecçlo Ultramarina, Documentos de Angola. «Rellação da Conq.“


e Prezidio de Benguella». Anexos, doc. n.” 96.
33
(z) Biblioteca da Ajuda, cod. cit. Carta de Fernão de Sousa de 9 de Julho de 1626 a fls. 1
do tômo I.
3
() Idem, idem. Carta de Felipe IV a fl. 40 do tômo I.
(4) 3
Idem, idem. Carta de Felipe IV a fls. to do tômo I.
5
( ) Idem, idem. Carta de Fernão de Sousa, sem data, a fls. 334 do tômo I-
P a rte H l — Benguela 349
os Mestres dos Navios tomê aquele Porto, e que entregue ao capitão mor
os degredados pera se escusar a despega de os mandar daquy, e por não
f u gire como fa ifi em desembarcando, e saberão se está a costa limpa.
Lopo Soares, cumprida a cerimónia do juramento, pleito e omenagê,
de guardar o regimento que fôra dado a Manuei Cerveira em Lisboa,
em i 6 i 5, como nâo fôra derrogada a provisão da mesma data que se­
parava o govêrno de Benguela do de Angola, competia-lhe escolher êle
próprio os capitães, oficiais de milícia, de fazenda e de justiça, que o
deveriam acompanhar, ao que Fernão de Sousa não levantou qualquer
obstáculo, antes o auxiliou no que lhe era possível e lhe forneceu ainda
72 soldados, dos mais velhos da conquista, sendo alguns casados para
povoar, negros, armas, pólvora e munições, embarcações, etc., saindo
a nova expedição de Luanda a 24 de Abril de 1627.
Para fazer face às despesas, entregou-lhe Fernão de Sousa o sal que
estava depositado e Manuel Cerveira tinha mandado, ?arregando 0 seu
valor ao tesoureiro de Benguela. Deu-lhe instruções para a viagem, de­
terminando-lhe que desembarcasse em Sumbeambala, e ver se he sitio
mais defençavel aos rebeldes que donde agora está 0 presidio pera 0 mudar
porque estão as minas de cobre cinco legoas pela terra dentro do porto de
Sumbeambala e fica mais perto do socorro, e que logo avisepera V. Mag.'
mandar 0 que for servido (1).
Especialmente, com respeito a Benguela, como a todo o momento
se receava algum ataque dos holandeses que navegavam pela costa em
busca de presas, ordenou-lhe que mandasse huã embarcação que descubra
as Bayas de balravento e avise os navios amigos do estado em que está a
costa. Nos tres chapeos porá V. M.e vegia emquanto durar a monção dos
navios do R”°, que vegie 0 mar dos navios Inimigos pera não tomarê 0
presidio desapercebido. Vindo à Bahia de Benguela não os provocará
V. M.* cô artelharia pera não saberé de quão pouca força he e som.u
hu\ara dela yndo lanchas a terra e sobre a bala mandará metei- cartuxos
cõ balas de mosquete ou dados de feiro q. mandara fa\er do q. ha no Al-
masem (2).
Fernão de Sousa, ao contrário da atitude que êle e os seus anteces­
sores no govêrno de Angola mantiveram com o Governador de Ben­
guela Manuel Cerveira, procurou sempre facilitar a missão confiada a
Lopo Soares Lasso, talvez por ser um Governador escolhido por êle e

(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de 1de Junho de 1627 a fls. 337, tômo I.
(2) Instruções anexas à carta anterior. Anexos, doc. n.° 97.
35o A n g o la
não nomeado pela Côrte, com as prorrogativas especiais, e a arrogância
inerente á pretendida confiança que Manuel Cerveira apregoava o Rei
lhe testemunhara. E assim, ao mesmo tempo que dá conta do que fêz
c dos auxílios prestados, não deixa de pôr cm relevo os sacrifícios do seu
pupilo e informa: nesta ocasião gastou lopo soares muito de sua fazenda em
seis pagas que fe \ adiantadas aos soldados, em socorros e ajudas que lhes
deu e a dividas a que se obrigou polo acompanharé, e affirmase que vaj em­
penhado em mais de z5o~ cruzados, merece que V. M a g .e lhe agradeça
porq. da de V. M a g * se não despendeo mais que as armas, e monições,
que se não poderão escu\ar. E no intento claramente manifestado de
estabelecer a ordern na administração da Conquista, dizia: Pareceme
que tera a Conquista bom successo có o fa v o r de D s e de V. M a g e, se os
Governadores deste R .m lhe assistiré deixando y r a ella embarcações, f a ­
zendas de resgate, e soldados que não estiveré obrigados a esta, e quiseré
y r povoar, ou mftitar nella , provendoa de Armas, e monições quando lhe
faltaré. Mande V. M a g * declarar se ha de fica r separada deste governo
ecomo ha de correr o Governador cõ o Capitão mor de Benguela, porq. a
til0 de cada hü defender sua jurisdição poderão suceder desordens em
grande desserviço de V. M a g * eperda de Real Fazenda e evitar se hão
cÓ V. M ag .* o mandar Resolver. Aos Capitães, Mestres, e s.ri0S dos navios
q. vieré do R.no pera este, mande V. M ag.e se notefique tome Benguela, e
ahy saberão se está a costa limpa, e este porto de ynim igos, e virão cô
mais recato, e segurança , e os degradados que trouxerê entregue ao capitão
mor porq. são de mais serviço naquela Conquista que nesta, e trazendo
soldados de paga virão pera os fortes desta cidade a onde são necess0* pera
sua deffensão, e que não tragão sal por ter o de Benguela inayor rendi­
mento, e despesa (i).
Era esta, sem dúvida alguma, a boa orientação que desde o prin­
cípio se deveria ter seguido na colonização de Benguela, mas, como se
viu, foi posta de parte, dando lugar a ficarem completamente improdu­
tivos os esforços e despesas de tantos anos. Muito concorreu para isso
o génio irrascível e conflituoso de Manuel Cerveira, e a falta de con­
fiança, e até mesmo justificado receio de violências, que os seus actos
inspiravam, não permitindo a ninguém aventurar-se a resgates em Ben­
guela, pois tôda a exploração constituía monopólio seu. Mas alguma
cousa se poderia ter conseguido se Luiz Mendes de Vasconcelos e João
Correia de Sousa, pelos seus actos como Governadores, tivessem gran-

(i) Caria referida de i de Junho de 1627.


P arte I I I — Benguela 35 r

geado a autoridade indispensável para se imporem a Manuel Cerveira


e inspirarem confiança aos comerciantes de que as suas reclamações
contra quaisquer violências seriam atendidas.
Nada disto se deu, e quando Fernão de Sousa tomou o govêmo de
Angola, já Manuel Cerveira estava por tal forma desmoralizado, que
nada era possível tentar.
Uma das dúvidas que sempre subsistiu foi sôbre a vantagem que
teria havido na ocupação de Benguela, cêrca de trinta léguas para o
sul do pôrto que dava acesso á região propriamente mineira. Todos
afirmavam e entendiam que nas margens do Cuvo, talvez em Benguela
Velha, se poderia ter estabelecido o presídio, de preferência a S. Felipe
de Benguela.
Fernão de Sousa apresentou também essa dúvida e propôs a mu­
dança do presídio, facilitando, segundo informou, tudo quanto de si
dependia para que se realizasse, mas Manuel Cerveira já não a pôde
fazer.
Com Lopo Soares insistiu-se novamente nessa solução e o novo ca-
pitao-mor saiu de Luanda com instruções claras nesse sentido, mas su­
cedeu-lhe talvez o mesmo que sucedeu a Manuel Cerveira quando fêz
a primeira viagem, encontrou o pôrto fechado e o mar por tal forma
batido, que não lhe foi possível o desembarque.
Insistindo e reconhecendo a costa mais para o sul, foi encontrar a
barlavento nove legoas em Quicombo, em 7 de Maio de 1627, um outro
pôrto, onde Manuel Cerveira também já tinha desembarcado quando
foi às minas. Verificou que havia um rio de muito boa água, que dava
acesso a batéis, que a terra era bem assombrada e tinha uma várzea
muito grande, ao longo do rio, com muitas palmeiras, e vindo à fala
com os indígenas, estes informarem que as minas de cobre ficavam a
cinco léguas e eram em muita abundância.
A-pesar-disso e no cumprimento das ordens recebidas, foi seguindo
viagem para Benguela, onde chegou a 10 de Maio de 1627 e mal teve
tempo de se alojar e tomar as primeiras disposições de administração
do seu governo, pois a vinte e cinco partio para 0 certão a dar guerra a
hú Jaga Inimigo nosso, que tinha sercado, e esperava aver ás mãos, e se
entregaria cÔ boa pre\a (1).

(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de i de Junho referida. Em um outro documento
a que se fará referência, indica-se a data de 27 de Maio.
J?

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352
Angola

Já se viu pela relação que Fernão de Sousa mandou para o governo


sôbre o estado do presídio quando faleceu Manuel Cerveira Pereira,
que a situação em Benguela não era das mais animadoras.
Lopo Soares Lasso, receando que os seus actos de governo pudes­
sem ficar ignorados, fêz reduzir a auto, em 1629, pelo Ouvidor Geral e
K Provedor da Fazenda no reino de Benguela, Luiz Leitão, as declarações
das pessoas mais categorizadas, que teve o cuidado de indicar, sôbre o
estado em que estava a Conquista quando tomou posse, e o que fizera
durante dois anos(i). Por elas vemos, logo à sua chegada, 0 gentio
apresentar queixa contra o ja g a Anguri que atacara os sobas vizinhos
do presídio, Penngue e M aniberro (?), roubando-lhes gado, mulheres e
crianças. Assim, Lopo Soares viu-se forçado, poucos dias depois de
chegar, em 27 de Maio, a reünir a tropa que trouxera de Luanda e
marchar a atacar o Anguri, que habitava em uma serra muito aspera e
com grandes covas, onde lhe deu combate, matando-lhe muita gente e
obrigando-o a avassalar-se. A o mesmo tempo aproveitou a oportuni­
dade para castigar os sobas Quissangue e Bisansongo (?) cercando-os e
batendo-os, sendo morto o segundo e avassalando-se o primeiro e fêz
restituir as terras ao soba Bam be, que veio prestar obediência e tinha
sido desalojado do seu sobado por um inimigo.
Estas guerras obrigaram -no a internar-se quarenta léguas na di­
recção de leste em combates sucessivos, havendo da nossa parte, além
de escravos mortos e feridos, o falecimento do tendala de guerra preta
Francisco Dias Quilão, mais de quarenta portugueses feridos e um
morto, mas de doença natural, e êle próprio Governador e Conquis­
tador ferido de duas frechadas, perdendo a vista do ôlho esquerdo.
Regressou a Benguela em 1 de Setembro, deixando fe ito s grandes
estragos em todas as terras dos inimigos p o r onde passou e logo em 2 1
de Fevereiro de 1628 se pôs novamente em marcha para ir atacar o
soba Culimata, a vinte léguas de Benguela, com quem não pelejou por
os negros fugirem, mas tomou-lhes duas m il vaccas pouco mais ou
menos e algum as peças, regressando ao presídio em 22 de Março.
A-pesar-de relativamente feliz nos ataques que realizara, a sua tropa

(1) Biblioteca da Ajuda. Fl. 429 do tômo I. Anexos, doc. n.° 98.
Parte I U — B enguela 353
estava cansada e doente, pelo que insistiu para Luanda Jbe mandar
gente, o que Fernáo de Sousa não pôde satisfazer, e se limitou a infor­
mar para o Govêrno: porque estou falto delia, mande V. M a g * que os
degredados que vieré pera esta conquista venhão pera a de Benguella, e
que os navios em que vieré a tomé e os deixe entregues ao conquistador,
porque serve nella e nesta não,por seus vidos e depravados costumes. . . e
dos recolhimentos se mandem molheres dirigidas a Benguela pera casare “*
com soldados e povoaré, por aver nesta ddade muitos filhos de moradores
cõ dotes e convir mais alimpala de gente setnelhante que acrecetüala cô
ella (i).
Como Lopo Soares não obtivesse os reforços pedidos e a situação,
uma vez iniciado o sistema de guerras, exigisse uma pressão constante
sôbre os indígenas não avassalados, resolveu em 3 de Setembro partir
com 75 portugueses e cêrca de 15oo negros ambundos e jagas, a dar
guerra a Cabamba, senhor das terras do Luqueco, qifk hera 0 mais po­
deroso e temido negro que té gora se sabe em todas estas partes, cujo
exército, concentrado para nos receber, foi desbaratado, tendo consigo a
mor quantid' de g.“ de guerra q. nüca se vio neste R"a e lhe matarão grã
quantd' e captivarão muitas peças e tomarão quatro ou sinco mil cabeças
de gado pouco mais ou menos, depois do que regressou a Benguela, tendo
dos nossos sido feridos dois portugueses, e dos negros, além de muitos
feridos apenas um morto.
Entretanto já havia um outro soba em cujas terras, dizia-se, exis­
tiam as verdadeiras minas de cobre, muito mais ricas do que as desco­
bertas por Manuel Cerveira, e êsse, tendo sido desalojado do seu so-
bado, viera pedir a Lopo Soares Lasso que o ajudasse a expulsar o
usurpador, prometendo-lhe entregar as minas e quinze sobas que ainda
tinha seus partidários. Lopo Soares nada podia fazer, visto estarem as
minas a oito jornadas de Benguela e não ter gente para ir atacar o
gentio, de quem esperava forte resistência, e ainda deixar guarnecido o
presídio, de forma a poder opor-se a qualquer ataque, que de um mo­
mento para o outro poderia ter lugar, dos navios holandeses que anda­
vam pela costa.
Recorreu a Fernão de Sousa expondo-lhe 0 que se passava, mas
êste também nenhum socorro lhe podia dispensar e limitou-se a renovar
para o Govêrno a satisfação do pedido que há tanto tempo vinha fa­
zendo, para que ordenassem aos mestres dos navios que saíssem do

(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de 10 de Julho de i6»8, a fls. 3 + 3 de tômo 1 .
45
354 Angola
reino, o desembarque cm Benguela dos degredados que trouxessem,pera
o Conquistador se desenganar se a cobre, e avendo se m udar para Qui-
combo, onde desembarcou y n d o desta cidade, q. he sitio m elhor e mais
sadio cõ rio em que entrão embarcações e está das minas húa jornada.
Mande V. M .ag tomar resolução nisso, e não sendo as minas de proveito
se fa ç a despeda quanto baste pera se conservar a povoação, e resgate, porq.
as guerras o não são por aquella parte ( i).
Perdidas as esperanças de poder receber qualquer auxílio de Luanda
e não podendo resistir à natural tentação e legítimo orgulho de vir a
ser êle, no fim de tantos anos, a obter para a Coroa Real as ambicio­
nadas minas, resolveu acomodar-se com a gente que tinha e a 25 de
Novembro partiu para Sumbes, onde chegou a io de Dezembro e deu
no quilombo (q. he arrayal) dos inim igos q. se puserão em fu g id a , os quais
seguio quatro dias sem os alcançar, e se tomarão nessa guerra m il p .as ca~
ptivas pouco mais ou menos, e se reduzirão a obediência de S . M a g .e e se
fi\ e r ã o f.0> desta forta leza tre\e sovas algüs dos quaes são m ui poderosos e
té m.t0‘ outros seus vassallos e cõ isto f o i o dito s.or ás minas de cobre, de
que tomou posse por S . M a g ", mansa e pacificam J* e tirou delias amostras
do metal q. mandou a S . M a g * cõ os autos q. disso f e \ , e cÕ isto tornou a
este prefidio o derrad.ro de M arço d e Õ2g, s é perda n é morte de nenhü
português, posto q. dous fo r ã o fe r id o s na guerra q. deu a Cahuri.
Fernão de Sousa, referindo o caso para o Governo, dizia que pelas
informações que lhe deram, eram estas as minas verdadeiras de Ben­
guela, e estavam junto ao rio Cuvo, sendo outras as de Manuel Cer-
■»
veira. Achou-se presente hü hom ê ve\inho da cidade d e Toro de jn d ia s de
Castella que fo r a goarda da mina e fu n d id o r e rrefinador de prata: D isse
me que p ella experiencia qu e tinha d e metaes (posto que não fu n d ira nunca
cobre) lhe parecerão estas minas as mais ricas que avia visto, pollo que de-
monstravão na bocca, e entrada, p orque hera hü serro muito poderoso, e
que as betas corriaõ todas a leste, a lesnordeste, e a nornordeste, e ao norte,
e demonstravão sere fu n d a s, e a que corria a leste que he a que os negros
vão seguindo hera a principal e corria a beta para baixo, e que o menos
grossor delia seria de hü palm o em duro, e que avia muitas outras que os
negros difião hera tudo metal. E querendo precisar melhor o valor das
minas, acrescentava: o capitão A n dré A n tuneç di% que o sitio das minas
he hüa serra cousa grande que corre a leste, e que a entrada por onde os

(i) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de u de Setembro de 1628, a fls. 343 v. do
tômo 1.
P a rte I J J „
'Benguela
«rvr
355
egro$ cntrão a fa z e r cobre demora a ponente e q u e a entrara d en tro e vira
11uiia s betas differentes, e que a m ayor delia s terá d e g ro sso m ais d e h fi
*alrrt° e ° lltra a mey ° palm o, e a tres dedos e q u e hüas são d e cor verd e e
oUtras avaliadas, e q u e os negros diqião que toda a terra hera cobre, estão
frfta leê ° a CU^° e attco do mar, mas não soube di\er se hera nave -
rapei- $ d ° b °as terra$ pera povoar, sem ear e fa b rica r , mas t ê p o uca lenha,
«tribos concordarão qu e o serro he m uito duro e q. se não p oderá rom per
sé fiiá tey ro s e in stru m ei,tos.

Fernão de Sousa, cuja imparcialidade e rectidão, tão pouco fre­


quent^ nos funcionários da época, mesmo nos da sua categoria, não
podemos deixar de reconhecer e admirar, remata a sua informação:
Isto desserão p o llo modo referido, que Lopo Soares não m e com unicou
cousa a lg á a das minas, e somente me mandou tres o u quatro pedras em
m ie s e f i\ emay°> e Que sayo húa barretinha d e cobre d e p o uca conside-
ração e escreveom e qu e mandava a V. M a g ’ hü João fope\ m ascarro cõ

e am os*} a s P Qr nambuco; Devia recear que lh e desviasse este


m erecim ento, e eu p eço a V. M a g ’ me fa ç a merce d e lh e m andar diffira
eile, e M f r lhe^ m erce V ie m erece porque a my, bastam e sêr V. M a g .’
bem set vido. com a mesma descrença, ou antes, lucidês, com que
,
sempre v’u 0 Pro ema as r’duezas mineiras de Angola, e em especial
de Benguela, não pôde deixar de opôr um barranco ao prosseguimento
desta loucura, que durava mais de um quarto de século, terminando por
escrever: lem bro com tudo que se as amostras não fo rêd erren d im en to
considerável, m ande V. M a g ,’ parar có a Conquista, porque g u erra p o r
aq u ela s p a rtes t é m ayor perigo e despesa que proveito (i).

Não escapou Lopo Soares Lasso a sofrer, como Manuel Cerveira


Pereira, o desgosto de uma revolta da sua tropa contra a sua autori­
dade. Fernão de Sousa, sem entrar em pormenores e sem sequer in­
dicar a data, apenas nos refere que Lopo Soares Lasso, para reprimir
uma revolta (2) pren deu os cabeças e cumplices mandando executa r p en a
capital em nove deles.

O s soldados e moradores de Benguela, recrutados entre 0 que na


época havia de peior, só à fôrça se sujeitavam a ali estar, e procuravam
todos os meios de se libertar, náo só pelos maus tratos que sofriam,
como pelas necessidades que passavam, que não eram compensadas

35
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de 29 de Março de 1629, a fi. o do tomo I.
(2)de Idem.
quista Resposta
Benguetía, etc., àa consulta 3 de tômo
fls. 34-5 do de Junho
II. 633
de sôbre 0 que poderá vir a ser a con­
356 Angola
com a liberdade de agir em matéria de negócio, visto este, além de ser
regulado pelas conveniências do Governador e Conquistador, não ofe­
recer 89 vantagens que tinham os do norte, cm Luanda ou no Congo,
por o gentio do sul não conhecer o resgate das peças. Assim, eram for­
çados a empregar a sua actividade na exploração da terra, nos aritnos
que faziam, e que pouco rendimento, relativamente, lhes davam. Quando
iam às guerras, era raro fazerem escravos, e só tinham como compen­
sação algum gado que lhes coubesse na divisão das presas efectuadas,
o que na época ainda não constituía lucro que satisfizesse, sobretudo
comparando-o com o dos moradores de Luanda, obtido com as peças.

*
• »

Talvez com o intuito de conhecer os recursos de que dispunha An­


gola para resistir aos ataques dos holandeses, determinou a Côrte ao
Governador (i) que informasse sôbre o estado em que se achava a for­
tificação e defensão das capitanias de Angola, incluindo a conquista de
Benguelia, que gente lhes he ordenada, artelharia, armas e munições de
que dispunham, surgidouros e navios que se podem recolher em cada um
delles. etc., missão de que Fernão de Sousa se desempenhou, na parte
respeitante a Benguela, pedindo informações a Lopo Soares (2), e por
elas elaborou o seu relatório (3).
Fernão de Sousa, como temos visto, não era de opinião que se
mantivesse a conquista de Benguela e só a admitia na esperança de se
encontrar cobre; desde, porém, que se verificava não existir em quan­
tidade que remunerasse a exploração, propôs e insistiu para se acabar
com a conquista, desmantelando a fortaleza, recolhendo a Luanda os
soldados, armas, peças, pólvora e munições, e deixando lá ficar os mo­
radores que quisessem, entretidos com o resgate de mantimento, ma­
deira, gado e sal com o gentio, porque o das peças não havia quem o
fizesse. Desta forma, se os holandeses, que já conheciam a fraqueza
de Benguela, quisessem desembarcar e ficar na povoação com os por-

3 5
(1) Biblioteca da Ajuda, cód. cit. Carta de t de Dezembro de 1628, a fls. io do tômo I.
(2) Idem. Carta de 10 de Dezembro de 1629, a fl. 386
do tômo I.
(3) Nio se conhece o relatório que deve ter sido enviado em resposta à carta de 1628,
mas conhecem-se dois outros, organizados sôbre as informações daquele. Còd. referido a
fls. 10-8 e 43-5 do tômo II, de que se transcreve a parte respeitante a Benguela. Anexos^
Parte III— Benguela ^7
tugueses lá residentes, não poderiam apregoar ter tomado pelas armas
uma fortaleza, nem feito uma conquista.
Na verdade era difícil manter a conquista de Benguela, dada não
só a falta de gente para se defender eficazmente a povoação de qual­
quer ataque dos inimigos de Espanha, mas ainda a impossibilidade de
a socorrer, ràpidamente,, de Luanda, a setenta léguas de distância,
admitindo que de Luanda, sempre à espera de um ataque das esqua­
dras holandesas, pudessem dispensar quaisquer tropas, munições e ar­
tilharia para êsse efeito.
Tirando a Benguela a categoria de presídio e desmantelando a for­
taleza, ficava uma povoação de pescadores, como dizia Fernão de Sousa,
inferior em condições de pôrto, salubridade e negócio a qualquer outra
mais para o sul ou para o norte, ou mesmo próxima, como a baía de
Catumbela, designação que então abrangia o pôrto do Lobito, cujas
esplêndidas condições já conhecíamos, pois FernSo d#Sousa dizia nelle
podê estar trinta naos com as proas em terra, entre mangaes, emfundo de
dezoito braças, sem as poderem ver os navios que vãofacendo viagempara
o porto de Loanda, e ainda por cima com um rio de bela água, muito
superior à de Benguela. E é de notar que a-pesar-de tôdas estas con­
dições de superioridade, o facto de Manuel Cerveira Pereira ter sido
forçado ao desembarque em Benguela, obrigou também, por uma série
de circunstâncias, todos os outros que se lhe seguiram, a não abando­
narem a povoação formada, sobretudo por ser dali mais fácil o acesso
para o interior, e não para as minas.
Em Benguela, como em tôda a parte onde desembarcámos, não nos
limitámos ao simples estabelecimento de relações comerciais com o
gentio da terra, fôssem quais fôssem as intenções com que efectuássemos
êsses desembarques. Assim, vemos Manuel Cerveira Pereira desem­
barcar, ocupar e fundar Benguela, para lhe servir de base, embora dis­
tante, para a conquista das minas de cobre, e lançar-se, entretanto, nas
guerras, não só contra o jaga que fizera seu tandala, e se estabelecera
a leste de Benguela, mas ainda com os sobas do sul que governavam
os muximbas. Depois de Manuel Cerveira veio Lopo Soares Lasso, e
muito mais longe levou a nossa penetração, estabelecendo as mais
pacíficas relações com o soba da Aí la, cuja gente vem onde estão as
salinas poucas legoas de Benguela, onde está hum Sova Senhor da-
quella administração do sal, que chamão a seus vassallos os Mondom-
bes, que hé o gentio mais fie l aos vassallos portugueses que há em todas
aquellas Provindas Confinantes, ali vem, como diremos resgatar, o de
358 Àngola
que necessitâo, trazendo em desconto seu marfim , e outras coutas da sua
terra. ■ (»)-
Sem esfôrço se aceita a acção do português nestas relações pacífi­
cas, e estamos a vê-lo sustentando longa conversa, em língua em que
mal se exprimia, com o gentio da caravana, derretendo-se com alguma
das pretas, mimoseando-a com o presente de quaisquer bugigangas,
e ao prepararem-se para o regresso, abalar em sua companhia com
aquela confiança extraordinária que tudo e todos lhe inspiram, con­
fiança que, a-final, parte de si próprio, é a manifestação da nobreza
e lealdade do seu carácter e se transmite e impõe aos que o vêem e es­
cutam. E êle aí vai, no meio da caravana, margens do Caporolo fora
até à serra da Numpaca, que trepa pelos trilhos do gentio, e ei-lo no
planalto, alegre, satisfeito e muito admirado do clima e do panorama
extraordinário que se lhe apresente diante dos seus olhos, das cousas
novas que está fendo e no completo alheamento das conseqüências
que o seu acto possa trazer, e do seu valor. A-par-destas relações,
assim tão cordeais, também outras estabeleceu Lopo Soares, em que
teve de impôr a nossa autoridade pela fôrça das suas tropas, a sobas
estabelecidos a quarenta léguas para o interior, chegando assim a Ca-
conda, e deixando marcado o trilho, a que pouco mais tarde chamá­
vamos o caminho de Jkfenongue, cujos treques (2) são páginas escritas
com o suor do nosso trabalho e a audácia do nosso temperamento, que
hão-de ficar para todo o sempre a documentar o valor de uma grande
Raça.
Mas não parou em Caconda o trabalho desenvolvido, no sentido de
penetração por Lopo Soares Lasso, e indo fazendo aquella Conquista do
Reino de Benguela , muitas jornadas pello sertão dentro, chegára a este
caudaloso rio Cunene, e que da outra banda delle tinha suas terras e Se­
nhorio hum R ei ou potentado por nome Mu^umbo a Calunga , que quer
di{er no seu idioma a boca ou beiços do mar; e este appellido era em re\ão
de ter seu dilatado Senhorio, em aquelle tão espaçoso rio, que tem aquelle
gentio para si e a boca do mar pela grandeza que tem; deste R ey ou sova
teve fa lia por seus inviados, o dito Capitão mor Conquistador, e elle dese­
java muito de ter communicação com a nossa gente Portuguesa; e man-

(1) A n tó n io d e O liv e ir a C a d o r n e g a , H is t o r ia G e r a l d a s G u e r r a s A n g o la n a s , 3 .» v o l. E x ­
tra to d o e x e m p la r e x is te n te n a B ib lio te c a d e P a ris . A n e x o s , d o c . n.° 100.
( i ) N o su l d e A n g o la ch a m a -se t r e q u e a o p e rc u rs o d o ca m in h o fe ito se g u id a m e n te , se n d o
a e xte n sã o e d u ra ç ã o su b o rd in a d a à s c o n d iç ó e s q u e o te rre n o o fe re ç a p a ra um acam pam en to-
c o m o á gu a, p a sto s, l^nha, p r o x im id a d e d e g e n tio , e tc.
»Vsr*"''

Parte III— Benguela


dando lá o Capitão mor a hum homem filho do Brasil, para tomar mtelli*
gencia da terra e demonstrar áquelle Rey o queríamos por amigo, se di­
vertia, e esqueçeo o dito inviado daquella banda, de calidade que não
tornou, affeiçoada daquellas damas negras, ou negras damas, com quem
se teve noticia se abarregou (i).
Infelizmente foi nas proximidades de Caconda que Lopo Soares
Lasso foi encontrar a morte para si e para todos os seus soldados, por­
quanto havia hido com toda a possibilidade daquelle Reino, a dar guerra
a hum sova poderoso que se tem por Rei daquella gentilidade, por nome
Gota Amgimbo (2), 0 qual tendo chegado a suas terras pello sertão dentro,
mandara di{er este poderoso ao Capitão mor e aos Moradores daquelle
Reino que acompanhavão, que rasão havia para lhe faserem guerra, que
se 0 fasião por alguns escravos fugidos que la tinha, lhos mandaria en­
tregar , e se por ambição de peças que elle lhes daria Jpntos, com que a
sua cobiça se satisfisesse; que não era bem 0fossem buscar a suas terras
e senhorio onde estava vivendo quieto e pacifico (i).
De nada serviram as alegações do Ngola Njimbu, e os nossos com
aquelle orgulho Portugue{, foram fazendo lhe guerra, entrando em suas
terras e suas povoaçoens, 0 que elle fo i resistindo e defendendo 0 seu par­
tido com muito valor ate não poderem mais, que lhe entrerão os nossos
Portugueses com seu esforçado Capitão mor a Povoação principal e Bam{a
de sua morada, prendendo cambando e abrasando tudo 0 que nella havia,
em que todos andavão engolfados e divididos; 0 que vendo aquelle Pode­
roso, tendo se refeito de novo de mayor poder, que lhe havia accudido de
suas dilatadas terras, e dos sovas circumvisinhos, andando a nossa gente
Portuguesa occupados em quem havia de apanhar mais, sem lhe parecer
que poderia haver cousa que os podesse offender, dera de improviso sobre
os nossos, e como andavão divididos osforão matando, e que destes disba-
rato e roto escapara só hum homem que trouxe a nova desta perdição (4).
O Governador Geral Pedro César de Meneses, vindo para Angola
por Benguela, ali fundeou e recebeu a triste nova, comunicada por Ni-
colau de Lemos Landim, então Governador de Benguela, e que expondo
a miséria a que estava reduzido, lhe pediu o possível socorro, que

(1) C a d o m e g a , op. cit.


(2) R a ve n ste in , op . d l . , no I n d e x and G lo ssa ry, indica que N g o la n,,mbu (Golda Gunbo)
i preto d e C a c o n d a , e m Benguela, págs. 182.
(3 ) C a rd o n e g a, o p . r ít., cap. IV da 2.' parte do i.»tôm o, pág. t 3 3 . Exemplar da Academ ia
d as C iê n c ia s de L isb o a . A n ex os, doe. n.* tot.
(4) Cadomega, Doc. ant. cit.
36o Angola
Pedro César deu do que trazia para Luanda, e hindo o governador
(Lemos Landim) para terra m andou hum grandioso premente d e refrescos
de novilhos, sevados , e carneiros que são os m elhores que p ode haver, p or­
que nas outras partes tem quatro quartos ordinariam ente , e estes qu e vierão
daquelle R eino tem cinco, porque tem a cola tão g ro ssa d e tanta grossura
e gordura que com e lla fa \ os cinco. Vierão tam bém m uitas uvas, m elan­
cias ricas e boas, Romãs Goyavas e outros fr u to s da terra como bananas,
e m eçefai tudo com abundancia, que o nosso G era l m andou repartir pellas
mais N aos, e Infantaria. . . (i).
*
* *

Os holandeses continuavam a m andar os seus navios às presas em


Angola e um dq? pontos escolhidos para o ataque aos navios portu­
gueses, era Benguela, onde esperavam os que vinham para Luanda e
para o norte.
Ainda sendo Governador Lopo Soares Lasso, em 1 6 3 3 , uma nau
holandesa, apossando-se de duas em barcações portuguesas, um a das
quais armou em guerra, fez de Benguela base das suas operações, com
manifesto desrespeito e desprezo da nossa autoridade e sobretudo da
eficácia dos tiros da artilharia do presídio que ali mantínhamos. E,
tão longe levou a sua audácia, que exercia a m aior vigilância sôbre as
pequenas embarcações de pesca que os moradores possuíam, não as
deixando sair do pôrto. L opo Soares teve contudo arte de os iludir, e
conseguiu que em três noites sucessivas, três canoas saíssem, muito
cautelosamente, com rumo a Luanda, a levarem ao Governador Geral,
então D. Manuel Pereira Coutinho, notícia do que se passava.
A-pesar-da falta de recursos que havia em Luanda, D. Manuel Pe­
reira Coutinho conseguiu aprontar cinco navios armados em guerra
que saíram para Benguela, onde ainda encontraram os holandeses e, ao
fim de duas horas de combate os renderam, apreendendo as embarca­
ções, cargas, armamento, munições e gente, que conduziram a Luanda,
havendo dos nossos três mortos e alguns feridos (2). M as, dado o es­
tado de desmantelamento a que tinha chegado o presídio de Benguela*
onde tudo faltava, era fatal em qualquer outra ocasião cair em poder
dos holandeses, e logo que a estes conviesse ter ali um pôrto de abas-

(1) C a d o m e g a , D o c . a n t. c it .
(2) Catálogo dos Governadores do Reino de Angola.
---« t — T '

Parte U l— Benguela 361

tecimento de refrescos para os seus navios ou uma base para a fiscaii


zação da costa.
Efectuado o ataque a Luanda, e de mais a mais quási que sem lhe
opormos resistência, Benguela teve de se entregar, mas ainda assim,
a-pesar-da sua irrisória defesa, não o fêz sem vender cara a sua posse,
porquanto os holandeses encontraram naquele punhado de miseráveis, # r
rotos, doentes e esfomeados, naqueles revoltados permanentes contra
as prepotências das autoridades, escória dos degredados que Luanda
se julgava com o direito de afastar do seu convívio, uma resistência que
não esperavam, organizada pelo denodado Nicolau de Lemos Landim,
com os fracos recursos que possuía.
Aquele baluarte onde se fazia corpo de guarda, situado ao sul da
1
baía, constituído de taipa de pilão de pouca concideração, com ires peças
de ferro de quatro livras de bala sem serviço e sem Arfilheiro que possa
acudir a huã necessidade (i) foi onde Nicolau Landim conseguiu reünir
os miseráveis que o acompanhavam; esse baluarte, para os holandeses
o tomarem, foi necessário que o batessem com a artilharia das suas
Naos e por terra com gente que nella botou, e lhe forão dando rijos com­
bates, em que de parte a parte tinha havido mortos e feridos, mas com o
muito poder, depois de grande resistência, se havia rendido, mas ainda Y:

assim a partido por não serem entrados aforça de Armas e . . . que havião S
feito capitulação e pacto em seu rendimento, . . . e m que estarião os Mora­
dores e Soldados na Cidade e Povoação de boa pa\ com o seu Governa­ V.
dor (2), situação que os de Luanda, tendo outros recursos, não soube­
ram, nem procuraram obter.
Os holandeses parece terem cumprido as condições da capitulação
e, entre êles e portugueses, vivia-se em relativa harmonia e paz, e até
um Commissario da bolsa catholico havia casado na dita cidade (Benguela) »
com htima nossa Portuguesa, pessoa honrada assistente naquelle Reino (3).
Os portugueses cultivavam os seus arimos, faziam 0 seu negócio no in­
terior, tudo levando a crer que sem os holandeses se intrometerem, e
limitando a sua acção, como ocupadores, a afastarem os navios portu­
gueses do negócio com a terra. Os moradores portugueses desloca­
vam-se conforme as necessidades das suas ocupações, e mantinham
relações com Luanda e com o Brasil por intermédio dos navios ho-
m
* >*i
( t) Fernão de Sousa, Relatórios atrás referidos,
(2) Cadornega, op. cit., tômo I, parte III, cap. IV, págs. 238. Exemplar da Academia das
Ciências. Anexos, doc. n.° 102.
3
( ) Cadornega, ibidem.
46

ir?
1
302 Angola
J a r j J - « r s e das suas embarcações, conseguindo alguns com os seus né­

s c io s adquirir fortuna, e pelos recursos de que dispunham tornarem-se


pessoas importantes na colónia, o que não obstava a que em todos
existisse o desejo de se libertarem da presença dos holandeses.

• *

Pouco se sabia em Benguela do que se passava em Massangano e


no interior de Luanda, e essas poucas notícias chegavam sempre detur­
padas. As autoridades portuguesas da colónia não se preocupavam
com Benguela, nem julgavam necessário um entendimento com os seus
moradores portugueses. Estes é que procuravam tôdas as ocasiões de
prestar a sua cqgdjuvação a qualquer tentativa para expulsar os ho­
landeses, naturalmente, porque dedicando-se ao comércio, mais ou
menos dependente do Brasil, sentiam o prejuízo que estava causando
as dificuldades opostas á navegação dos escravos.
Por essa ocasião a Metrópole tinha acolhido favoravelmente as pro­
postas de António Teixeira de Mendonça e Domingos Lopes de Se­
queira, para levarem a Angola um socorro de gente que permitisse a
expulsão dos holandeses.
Não obstante os jesuítas, consultados sôbre a exeqüibilidade do
plano, se terem pronunciado contra (i), foram-lhes confiadas duas naus,
um navio e 260 infantes e oficiais de guerra, que chegaram a 4 de
Abril de 1645 à costa sul de Angola, sendo vistos dos holandeses de
Benguela, e também da gente portuguesa que lá estava. Era, então,
capitão-mor dos portugueses, Manuel Pereira (2) que tendo pera si

(t) Revista de Historia, n.° 45 de 1913. Duas tentativas da reconquista de Angola em 164S,
por Artur Viegas.
(a) Cadornega dá Nicolau de Lemos Landim como sendo o Governador dos portugueses
em Benguela quando lá passou o Governador Geral Pedro César de Meneses, informando-nos,
quando conta a retirada para Caconda, que Manuel Pereira era Capitão-mor e Governador por
morte do Landim.
Os documentos publicados na Revista de História indicam Manuel Pereira como Capitão-
mor em Benguela e nenhum se refere a Nicolau de Lemos Landim. É certo que o cargo de
Capitão-mor em um govêrno independente, como era o de Benguela, não correspondia ao de
Capitão-mor de presídio, e poderia haver os dois funcionários, o Governador e o Capitão-mor,
aquele como chefe superior e êste como comandante directo das tropas. Mas como o maior
número não considerava Benguela como um Govêrno e apenas um presídio, fica-se na dúvida
sôbre a verdadeira significação do Capitão-mor de Benguela no caso presente, e sôbre se Lemos
Landim ainda existia quando se deram os factos narrados.
Parte III — Benguela

seria gente nossa pelo barco latino, despedio logo hum soldado filho da
terra a saber onde desembarcando: o qual os alcançou mais de 3 o leguãS
j e Benguela, indo elles já marchando por terra: q. ouvindo recado e
oferecimento dos nossos não fiçerão nenhum caso, mas tomarão o soldado
e o levaram consigo...
Desembarcadas em Quicombo as fôrças que as naus conduziam, 4
“T
internaram se para chegarem a Massangano, mas em breve se envoíve-
ram em lutas com 'ansjagas, que, reünindo-se em grande número, des­
barataram os nossos, matando com requintes da maior maldade cérca
3
de io portugueses, e foi o tal soldado filho da terra que casualmente
escapou e vem a Benguela dar a triste nova.
i
Pouco epois era nomeado Francisco de Souto Maior, Governador
de Angola, para on e partiu com um socorro de tropas em quatro naus
e um arco, e ten o chegado a alturas do Cabo Negro e tomado o
rumo para o norte, ao fundearem nas Salinas, em ?3 graus, á noite,
viram fogos na praia e mandando gente em batéis reconhecer o que
seria, touxeram dois soldados, portugueses, de Benguela, que a li anda-
dava,n p escan do, ausentes do presidio holandês, cuja sujeição os m oles­
tava (!/■
Os soldados voltaram para terra e um dêles foi a Benguela dar a
noticia, aos nossos do que se passara. O capitão-mor Manuel Pereira
dirigiu se ogo a aia arta, onde era esperado, e tendo conversado
com o Governador Souto Maior, retirou para Benguela, mandando ao
Governador um prát.co da costa e um oficial de guerra preto, para
língua.
A esquadra do Governador Souto Maior, passando de noite ao largo
de Benguela, para não ser notada dos holandeses, dirigiu-se a Catum-
bela, onde o capitão-mor Manuel Pereira tornou a ver-se com o gover­
nador: o q u a l d eixo u ao mesmo capitão mor cartas para o P .° C esar pera
lhas encam inhar p e r terra a M assangano ou per mar por via dos olande{es
com o recato necessário q. elles o não soubessem ; como se fe \ .
Seguiu viagem o Governador Souto Maior com os seus navios para
o Quicombo, onde encontrou António Gomes de Gouveia, importante
negociante de Benguela, que o esperava com Matias Teles Barreto, um
dos salvos da carnificina do-sja g a s, sendo por êles informado estarem os
restantes portugueses da expedição salvos e socorridos em mantimentos
e fazendas pelo Gouveia e também pelo capitão-mor Manuel Pereira.

(i) Duas tentativas da reconquista de Angola em 1645, in Revista de História.


7a

ó
3 4 /4^o/a
Preparadas as instalações para a tropa, guarda de mantimentos,
munições e mais artigos da expedição, desembarcou Souto Maior a sua
gente c dispôs-se a assentar arraiais em Quicombo. Tratou-se com os
sovas q. fizessem as casas: ■ fizeram-nas e um grande armarem, hua boa
casa pera hospital, casas para o g o v F e pera outras muitas pessoas. Os
indtos do Brasil Jiseram casas pera cavallos, ajudaram em tudo muito bem
os soldados, jiseram a força d efa xa ria e terra e ficou perfeita: ajudou a
gente do mar: os carpinteiros fizeram hua barcaça pera trazer a artilheria
e pelejar se fo r necessário: os pedreiros fizeram hua casa de pedra e barro
pera a polvora . .. Fez 0 governador um reduclo na praia pera guarda
delia e traçou outro na boca do rio: só restava acodir S. M . con o socorro
necessário de gente e munições bastantes, porq. está isto disposto a ser hum
império muito maior e melhor q. o de A n g o la . . .
Preparava-se, como se vê, o Governador Souto Maior, para primeiro
ir vingar a horrífei morte dada pelos ja g a s aos portugueses do socorro
de Teixeira de Mendonça e Lopes de Sequeira, e depois ir ligar com
os nossos que estavam em Massangano e pelo interior, fazendo base
marítima, e talvez futura capital do reino, em Quicombo. Entretanto
chegaram duas lanchas vindas de Massangano com cartas do Gover­
nador Pedro César e um assento da Câmara, requerendo que Souto
Maior seguisse para o Cuanza, se fortificasse no morro dos Nambios onde
acharia guerra branca e preta pera sua guarda , porq . assi convinha ao
serviço del-Rey e conservação de toda aquella conquista e em vista do que
com lastima de deixar o porto, a povoação e a fortaleza também principiados
ou acabados; e as boas comodidades q. a lli havia pera grandes intentos o
Governador Souto Maior resolveu partir para o Cuanza.
E interessante notar-se que as cartas de Pedro César e da Câmara
de Massangano, eram já em resposta às enviadas por Souto Maior, por
intermédio do capitão-mor de Benguela, Manuel Pereira, que confiara
uma delas a um soldado nosso, que em Benguela embarcou para êsse
fim em um navio holandês, sem que ninguém suspeitasse do fim da sua
viagem, e nem sequer de que Francisco Souto Maior estava navegando
com os seus navios para o Quicombo.
Entretanto, o capitão-mor de Benguela, desconhecendo o que tinha
sido resolvido em Massangano e contando com o estabelecimento dos
nossos no Quicombo, preparava-se para abandonar Benguela com os
portugueses que lá estavam, conforme tinha combinado com o Gover­
nador Souto Maior, que, na intenção de se estabelecer no Quicombo,
pensara e bem, que melhor seria reünir ali todos os portugueses. Para
P arte 1H — Benguela 365
o fim de os auxiliar mandou-lhes o Governador Souto Maior o navio
Santa Caterina para Catumbela e pouco depois teve notícia de que os
nossos já vinham a caminho, dispostos à marcha de trinta léguas de
Benguela ao Quicombo.
Com a resolução de abandonarmos Quicombo, a gente de Benguela
ficava colocada numa triste situação, pois tinha deixado as suas casas,
os seus arimos, na idea de se juntarem aos portugueses, e, de repente,
viam-se isolados, não podendo voltar para os holandeses e sem o
menor socorro no caso de serem atacados, sem o menor auxilio para
dominarem a natural revolta dos seus escravos, no momento em que
estes notassem a sua fraqueza e os vissem em uma situação tão crí­
tica.
Na maior parte degredados por crimes cometidos na Metrópole,
viam-se banidos da sociedade de Luanda, que já então os não queria
admitir no seu convívio. Revoltados permanentes contn a acção e poder
dos chefes a quem ameaçavam de morte, em poucos anos tinham cons­
tituído uma vida àparte da de Angola, regendo-se, por assim dizer,
por leis próprias. Pelo seu trabalho, pela orientação dada aos negó­
cios, todos tinham um relativo bem estar e muitos alguns bens de for­
tuna, um pouco fora do vulgar. Gente nestas circunstâncias, à voz de
um chefe que apela para os seus sentimentos patrióticos, fazendo-lhes
ver a necessidade de reünião dos esforços e da acção de todos os
portugueses para se conseguir a expulsão dos holandeses, não hesita, e
reünidos os seus bens, os seus gados e os seus escravos, colhido um
ou outro produto da terra, uma noite, no meio do maior silêncio e
sem que os seus preparativos tivessem causado a menor suspeita, todos,
incluindo o comissário holandês que casara com a portuguesa, aban­
donam as suas casas de Benguela e póem-se em marcha para o Qui­
combo por Catumbela.
Ao fim de alguns dias de marcha e quando esperavam o sossêgo e
a paz entre os compatriotas que constituíam o refôrço trazido por Souto
Maior, receberam a notícia de que estes abandonavam o Quicombo.
Desalentados, sós e isolados no meio do mato, vendo inutilizado todo
o seu sacrifício no abandono do que tinham, e representava anos de
trabalho, procuram num derradeiro arranco de provada energia, reagir
para não morrerem ali com as suas mulheres e os seus filhos, e valen­
do-se do seu prestígio próprio, adquirido entre o gentio na luta pela
vida, resolvem seguir para Caconda. Depois de cinco dias através de
uma região talvez ainda não percorrida, pois que o trilho que seguiam
366 Angola
pnra leste cra mais ao sul, e em que bem se avaliam os sofrimentos su,
portados nas circunstâncias em que a marcha era efectuada, chegam
ao Quilombo do jaga Caconda.
O cansaço da viagem, as doenças já adquiridas em alguns anos de
vida naquelas paragens, agora agravadas com a mudança para um
clima absolutamente diferente, acabou-lhes com a pequena resistência
que podiam oferecer, e a chegada a Caconda em que todos estavam
padecendo muitas misérias, faltas do necessário, com mortes de seus com­
panheiros, cangados da aspereza do sertão , poderia ter sido um completo
desastre, se o soba o tivesse querido. Ao contrário, o soba acolheu-os
sem hostilidade e êles ali ficaram estabelecidos, começando uma nova
vida e não desistindo da ligação com os portugueses de Massangano,
mandaram hum negro por terra do Reino de B enguella, atravessando
aquellas províncias dos Sumbis e Libollo, e fo i o primeiro que semelhante
caminho fe\, era*Negro inteligente, de hum Morador daquelle Reino, au­
torizado, que havia occupado postos mayores, por nome Antonio Gomes de
Govea, o qual vinha por poder aturar tão dilatado caminho com alparcas
de couro crú nos pés.
O negro, que outro não era senão aquele já nosso conhecido, que
escapara do ataque aos portugueses do socorro de Teixeira de Men­
donça e Lopes de Sequeira, cujo nome não valeu a pena registar, bas­
tando que se soubesse quem era o dono, veyo a sahir a nossa fortaleza
de Cambambe, onde entregou uma carta do Governador Manuel Pereira
para o Governador Pedro César de Meneses, com o relatório do que
ocorrera. Assim, aquele veio a tomar conhecimento dos factos pas­
sados no sul e verificado que a profecia de Fernão de Sousa (i) de que
indo o inimigo aquelle porto (Benguela) com pouco poder se fa r a Sôr da
povoação e estando provida de tam Roim gente a entregarão logo, e a que
se Retirar polia terra dentro a degolará o gentio, não se realizara, antes
falhara por completo, porquanto a tomada de Benguela se não fêz com
tão pouco poder como êle pensava, e a roim gente que a provia,.soube
vender cara a sua posse aos holandeses, e ainda, resolvendo abandonar
a terra com sacrifício dos seus interesses e para prestar a sua coope­
ração sem que lha solicitassem, ao retirarem pelo interior o gentio os
não degolou, antes os recebeu sem hostilidades.

(i) Fernão de Sousa, Relatório de 14 de Junho de i 633 , já referido.


367
Parte U I — Bengucia

Deixemos os holandeses estabelecidos em Benguela e estudemos


qual foi a nossa acção no sul e as causas que a determinaram.
O facto da donataria de Paulo Dias se estender pela costa mais de
trinta léguas para 0 sul do rio Cuanza, e pelo interior até ao limite das
águas vertentes, como êle a marcou, deu lugar a que os resgates, que
durante a sua vida, êle e os seus companheiros iniciaram nos diversos
pontos da costa, e a provável penetração que por algum desses pontos
tivessem efectuado até junto de algum soba, fôssem continuados nos
governos que se seguiram, mas então sem as restrições com que até ali
se faziam, visto o carácter privado da donataria, mas com a liberdade
das explorações da época, sujeitas, é certo, ao arbítrio das autorida­
des, mas fácil de se interessarem nos negócios.
Foi o negócio do escravo que de princípio nos conduziu à explora­
ção da costa. Aquela Quissama, tão densamente povoada e em que o
mais importante dos seus sobas, — o Cafuche, pela sua riqueza, pela
sua gente, e pelo seu poderio, era tão procurado dos nossos para o
resgate, quer à boa paz, quer à fôrça, e que de tantas vezes derrotado,
sempre ressurgia a tolher os passos dos nossos sertanejos, aquela Quis­
sama, dizíamos, perante a dificuldade de ser abordada pela Muxitna,
procuraram os nossos penetrá-la pelo litoral, chamando ao negócio em
alguns dos seus portos formados na foz de um ou outro rio, os indígenas
que conseguiam induzir para êsse fim.
De um lado, devido às alterações políticas provocadas pelas deslo­
cações de grandes sobados indígenas, de outro, às relações que em
Luanda e no seu interior os nossos iam adquirindo, por si pessoalmente
e sem precisarem da autoridade dos Governadores, com os diversos
pequenos sobas independentes e principalmente com os jagas, a pouco
e pouco a exploração para o sul, não só pelo litoral se estendeu muito
além do limite da donataria de Paulo Dias, como pelo interior passou
além da simples visita aos sobados estabelecidos próximo da foz dos
rios, e se alargou a outros sobetas vizinhos, provàvelmente seguindo
sempre o curso dos rios e aumentando, dia a dia, a nossa penetração.
Conhecemos, assim, além de várias zonas do interior, com mais de­
talhe o litoral, percorrido assiduamente pelas embarcações que de
Luanda se dirigiam para 0 sul, à busca de resgates, que não seria fácil
368 Angola
encontrar para alem da baía de S. Francisco, pois como sabemos ra­
reava bastante dai para o sul a população indígena.
O negócio no pôrto de Benguela, onde de princípio talvez não hou­
vesse ainda nenhum ja g a estabelecido, límitava-se, como vimos pela
narrativa de André Baltell quando da viagem do Governador Furtado
de Mendonça, às transacçóes sôbre gado, e deu-nos o conhecimento da
existência das minas de cobre, por vermos, especialmentc as mulheres
indígenas, cobertas nos braços e nas pernas, com argolas daquele
metal.
Os nossos, que tinham percorrido um ou outro rio do interior, mas
principalmente o Cuvo, atingindo a cordilheira que já André Battell nos
descrevia que vinha de Cambambe e seguia para o sul, encontraram
afloramentos cupríferos, cuja riqueza avolumaram, espalhando-se a sua
fama, o que Manuel Cerveira Pereira, depois da desilusão da prata de
Cambambe, aproveitou, talvez sinceramente e convencido de que havia,
na verdade, a riqueza que apregoava, para se fazer valer perante a
côrte de Madrid.
Fundou-se, assim, a povoação ou cidade de S. Felipe de Benguela,
não porque as possibilidades do resgate ali chamassem Manuel Cer­
veira, mas porque, como já vimos, êle não pôde desembarcar em Novo
Redondo e o único pôrto que achou em condições e mais perto do
local onde situava as minas, foi aquele.
Enquanto esperava que lhe mandassem os mineiros, fundidores e
soldados, que tanto lhe prometeram, e enquanto o clima não começava
a ceifar naqueles duzentos e cinqüenta indesejáveis que primeiramente
o acompanharam, foi com êles assaltando e batendo os sobas vizinhos,
internando-se um pouco, e conhecendo, além da vida e costumes indí­
genas, as possibilidades de negócio que lhe ofereciam, e se limitavam
às transacçóes sôbre mantimentos e gado.
Pouco nos interessava, então, êsse aspecto da exploração colonial.
O gado, que, como vemos, já era a grande fortuna do indígena do sul,
não seduzia os nossos, por não haver maiores necessidades para o
consumo. Assim, não dando lugar a lucros importantes, ou pelo menos
regularmente sensíveis, como dava em Luanda e para o norte, o res­
gate das peças , a ocupação de Benguela mantinha-se únicamente pelo
motivo já exposto, de ser o pôrto que se conhecia de mais fácil acesso,
perto do local das minas.
De princípio, e enquanto durou aquela excitação provocada pela
idea das minas de cobre, em cuja riqueza os subordinados de Manuel
Parte I I I — Benguela 369

Cerveira não acreditavam, mais se fêz sentir nêles a violência com <jue
os forçaram a ir para ali, e, como era natural, veio a repulsão por
qualquer tentativa de ocuparem a sua actividade na exploração da
terra. Mas, a pouco e pouco, as circunstâncias modificaram -se. Ma­
nuel Cerveira, enquanto esperava os auxílios pedidos, foi levando para
lá a cunhada e a sobrinha, suavtsando um pouco as agruras da vida.
Os Governadores foram mandando algumas das degredadas que vinham
do Brasil ou de Portugal, e os colonos, uns foram casando, outros
amancebando-se com as pretas, aparecendo em pouco os mulatos e
estabelecendo-se assim um prelúdio de família; veio a acomodação ao
meio pela exploração do arimo, sem que contudo a parte política da ocu­
pação se desenhasse por um outro maior interêsse, em que o Estado
pudesse ter participação, como seria, segundo os princípios da época,
o resgate das peças.
O estabelecimento de uma povoação de portugufees em qualquer
ponto da costa, não interessava ao Estado pelo facto simples da ocu­
pação. Se não havia um interêsse imediato e de vulto, para o Estado,
na cobrança de quaisquer impostos ou direitos de exportação, a ocu­
pação do território em si era um facto sem importância.
Era o que se estava dando com Benguela. A ocupação ou o esta­
belecimento dos portugueses tendia a desenvolver-se. A aversão que
de princípio manifestavam por os tirarem daquele meio de Luanda, ou
do mato, a pouco e pouco foi acalmando. O morador passou a sen­
tir-se, através de tôdas as misérias e privações, senão bem, numa vida
diferente, uma vida pelo menos de sossego, que lhe dava o abandono
em que a povoação vivia da acção do Estado, desamparada, entregue
aos próprios habitantes, e sem que a sua posse e a defesa da cubica es­
trangeira trouxessem a mais leve preocupação às autoridades, que
faziam convergir tôda a sua acção em Luanda, aos grandes problemas
das lutas com os indígenas e depois aos do Congo.
Fôra o ciúme dos Governadores de Angola pelas considerações que
a Côrte dispensava a Manuel Cerveira, que provocaram este abandono,
que a separação dos governos mais veio vincar, e Fernáo de Sousa, que
conheceu a Benguela de Manuel Cerveira, do convívio íntimo com as
naus holandesas que atacavam Luanda, que conheceu as imoralidades
da vida particular de Manuel Cerveira, e as misérias, fisicas e morais,
dos moradores, sem que visse as tais prometidas riquezas, nem vanta­
gens em rendimentos para o Estado, foi o primeiro a expor a situação
para a Côrte a-fim-de se acabar com aquele espectáculo degradante.
47
òyo Angola
fifc bem sentia que, a-pesar-dc tôdas as dificuldades, alguns mora­
dores pareciam ter vencido, e a sua vida organizara-se dentro de umas
bases que êle próprio Fernão de Sousa não saberia bem definir se eram
de felicidade, se de miséria, mas que eram uma cousa assente, em que
êles estavam conformados.
Não os queria contrariar. Que ficasse lá quem quisesse, dizia êle,
mas que se desmantelasse a fortaleza, para não ficar ao Estado a obri­
gação de manter e defender mais aquele presídio, de que não precisava
para cousa alguma, e quando o pudesse socorrer, não seria de utilidade ,
porq a guerra que se da p ello sertão de B e n g u e lla , não fte neçessaria , nem
delia resulta a fo r tu n a de V. M a g .e além de que os sobas som ente tratão
das suas sementeiras , e de criaçoens de g a d o em qu e a fa z e n d a d e V . M a g .e
não intereça cousa algum a p orq . as pregas se repartem p o llo s soldados
officiaés e capitão mor e V. M a g d e s p e n d e a polvora e m uniçoens.
A-pesar-de t$da esta insistência e do fundamento das suas razões,
pois que, incontestavelmente, uma povoação no C u vo, ou no Quicom bo,
muito melhor serviria ao fim de ocupação e exploração das minas de
cobre do que Benguela, nunca houve maneira de se conseguir o aban­
dono desta. Os colonos ou m oradores revoltavam -se e queriam assas­
sinar o capitão-mor; êste enforcava os cabeças, enquanto outros, com­
prometidos, fugiam, se não pelo mar, o que nem sempre lhes era possível,
internando-se e indo procurar asilo entre o gentio, que terminava por
os matar; pois, a-pesar-de tudo isto e a-pesar-da insistência e dos es­
forços de Luanda, das invejas e dos ódios para se escangalhar Benguela,
não só nunca o conseguiram, com o no momento crítico, no momento
preciso e exacto, em que esse abandono, como o previra Fernão de
Sousa, se deveria dar e justificava, pelo aparecimento dos holandeses,
não para o negócio que estavam acostumados a fazer, mas para ocu­
parem a povoação, aquele punhado de famintos que a doença mal dei­
xava ter em pé, rotos, sem valor moral, nem físico, reünem-se em tôrno
de um chefe que os chama, quando contra todos se revoltavam, e, todos
juntos, oferecem a mais heroica, a mais nobre, a . . . única das resistên­
cias de Angola à ocupação holandesa, e que estes reconheceram e pre­
miaram, concedendo honras especiais!
O que operou o milagre ? <:O mêdo do interior, para onde Fernão de
Sousa previa que fugiriam e seriam assassinados pelos indígenas? Bem
sabemos que não, porque fartos de o percorrer, sós e sem ares de guerra,
estavam êles.
A acção enérgica do Chefe? Estavam acostumados ás revoltas.
P an e I i f — Benguela 371
O m ilagre fê-lo a terra cultivaa
m ente la n ç a d a por êle, germ- ,aaa Pe*° b raço do b ra n c o ; fê-lo a se-
pela su a m ulher, fôsse das ç ” 8 a 305 seus olh o s; as h e rva s sa c h a d a s
com q ue se arnanceb a sse ; o ° ^ ''ert' <^as dos recolhim entos, fôsse p reta
p a ra o seu filho, bran co ou mn. ^ "1° a v a c a , que lhe d a va o leite
c b o rreg o , tu d o ig u a l ao da nossa** fô ss e > nema,
a o ca rn e iro ,
chana
c a s a l, a em v á r z e a . 0 arimo
f q«e transform ara o em
sustenta necessário para a vida h u n f ^ í e ’ ° a T e r r a desde que lhe deu o
r o m ã s,metoans melancias,fi„os T “’ *™*0
e refresco das uvas,
0
- E foi a ssim , qu e, a-p eSar- de V 0 ™lla gre fê-lo a C o lo n iz a ç ã o !
fo m o s p a r a le ste além d o C unene ond PeSas Para resgatar, nós
r a d o d a d a m a n e g ra , e p ossivelra’e nt ,Um dos n ossos ^ fico u enam o-
sul, fi H u i l a . , a m esm a fo rm a, fo m o s p a ra o
Q u e g r a n d e p o v o ! i O r gulhe
p 0 r q u e n in g u é m a fe z m e lh o r! a nos&a ° b r a e con tin u em o -la ,

FIM

(1) Cadornega, op. cit.


^ ‘ ¥ • - 4

j1


DOCUMENTO N-* 1 #

HISTÓRIA DO REINO DO CONGO


Gap, i — jDo sitio, comprimento largura e confins do Reino do Congo

Congo he um Reino Christão situado na Ethiopia Occidental da banda do sul: sua Costa
se estende da boca do Rio espantozo Zayre até alem do Rio Coania por espaço de cinco
gráos: terá de comprimento conforme a opinião dos Portuguezes a quem naquelle Reyno
chamão Mundellas, que quer dízer homens brancos, duzentas legoas, que se estende da Costa
do mar athe os últimos fins de Ocanga, que he a Província mais Oriental sujeita aos Reis deste
Reino, e aonde ha Rey por st, e de largura terá oitenta legoas, que he do Rio Zayre (ao longo
do qual corre o comprimento do Reino para o Leste) athe ao Reino de Angola; confina pela
parte do Oriente com os Carolos que confmSo com gemes sujeitas ao Pftste JoSo das índias,
Rey dos Abíssinos, e com os Mosongos, que conforme elles dizem, tem trato com os Mos-
sambiques, ou Midindanos, porque em Ocanga trazem a vender uns pannos chamados songos,
que por moeda correm em São Paulo de Loanda, nos dizem tem conununtcação com humas
gentes que babem (sic| o Muu, que he o mar grande: os quaesvem vir huns Lungos, que são em­
barcações muito grandes, para onde nasce o Sol, e tomarem para onde elle se poem (sic), que
devem ser sem falta as nossas naos da índia; da parte do Ponente confina com o mar Oceano,
aonde esta a nobre (posto que moderna) povoação ou cidade de são Paulo de Loanda, a qual
impropria-mente chamamos Angola, por que esta na Costa do Reino do Congo, e nao na de
Angola, está fundada como se verá com o favor Divino. Da parte do Norte confina com o Rio
Zaire, posto que da outra banda delle tem os Reis do Congo algSas terras, que lhe pagão tri­
buto, como s5o Songo, e Macinga, e outras; e da parte do Sul com o Reino de Angola; be o
Reino do Congo em si fértil e abundante de todas as coisas daquellas partes necessárias para
a sustentação da vida humana, posto que os moradores delle se contemão com pouco vivendo
conforme a Ley natural de suas sementeiras e creaçoes: do mar athé á Província da Bata he
algum tanto áspero, e tem algumas serras, posto que não trabalhozas, nem asperas demasiada­
mente, nem de modo que impidão o caminhar da Bata athe Ocanga (onde residem ordinaria­
mente muitos portuguezes, e tem seu sacerdote) tudo sáo campinas. He regado de rios caude-
losissimos, abundantes, e algüs que se pode navegar por muitas legoas: tem grandes Matas a
que chamão infindas, as quaes os antigos deixarão de industria para lhe servirem de fortalezas,
nas quaes ha boa copia de povoaçoís no intimo delias, as principaes são as do Sonho, Bamba
e a de Ibar. He bastante-mente povoado, mas já o foi muito mais, porem com a entrada dos
jagas, que o destruirão, e com as guerras civis que teve El Rey Dom Álvaro 2.* com seus Thtos
ficou menos cabado (sic) de gente, como succederá em os Reinos onde semelhaates desaven-
turas succederem.

G a p . 2 — Em que se trata do estado deste Reino


antes que Jielle houvessem Reis

Antiga-mente não havia Rey no que se chama hoje Reino de Congo, mas estava repartido
entre muitos Senhores, ou Régulos, que a dita Província tinhão entre si repartida como ainda
hoje ha na Província Ambundana, e cada Senhor o era da sua terra absoluto com misto e
mero Império em cada huma das Províncias em que está hoje repartido o dito Reino: havia
hum que chamavão Mani, que vai tanto como Senhor, na Cidade de Congo, onde no tempo
presente está EIRey, e assim he de quem todo o Reino tomou o nome: Residia o Summo Pon*
376 Angola
titice (faltando ao nosso modo) daquella Gemilidade cham ado Mani-Cabunga, cujos successores
ha^ e durfio ainda em Congo com o mesmo m ulo de Cabunga, c he huma famitía e geração
entre os Moxicongos muito honrada, a este Mani-Cabunga acudião a pedir remcdio em suas
necessidades, e agoa para suas sementeiras, e com sua licença semeavao e recolhíão quando
era tempo, ainda que conforme tenho para mim quando tinhão necessidade de agoa pedião ao
Cabunga a pedisse a Deos, porque ídolos nunca os houve entre esta geme, nem outros costu­
mes bárbaros, como se verá no capitulo seguinte.

Cap. 3— Em como 0$ M oxicongos nunca tiveram íd o lo s ,


e do bom natural desta Gente
Entre toda a Nação de Gente que habita a Ethiopía Occidental, e por ventura a Oriental,
os Moxicongos fo rlo de seu principio mais polidos nos costumes, e menos barbaros, e muito
sujeitos á rasão, porque primeira-mente nunca entre elles houve ídolos, nem Templos aonde os
adorassem, ou venerassem, so-mente conhecião a Deos, e o adoravao como A u tor de todos os
bens, a quem chamao Zambiapungo, que quer dizer Senhor Supremo do C eo ; junta-meme
tinhão conhecimento do Diabo, mas não o adoravao, com tudo reverenciavão-no como autor
de todo o mal, para que lho não fizesse, a quem chamavão Cariampemba; nunca entre elles
se comeo cam c humana, nem ainda dos que na guerra m atavlo, costume geral entre toda a
Gemilidade daquelfe^grandes Reinos, com o são A ngola, Matamba, Sonho, Loango Antícana e
outros muitos; o seu vestir foi sempre mui honesto em com paração do dos outros barbaros; a
linguagem mais copiosa e facil de aprender, e que bem se pode escrever como elles hoje uzão
entre si; de muy vivo e delicado engenho, e que a nenhuma coisa se oppoem, que não saião com
ella, e tem tanta presumpção de si mesmos nestas partes, que quando vem algum branco, que
lhes parece discreto, diz logo o Moxicongo este he com o nós: final-mente dizem que Deos os
tinha predestinados por estas boas partes e virtudes moraes, que lhesdeo, para serem christaõs,
e receberem aSanctissim a L ey de Christo, na qual vivem mui constantes, posto que nas partes
muy longiquas da Costa e de donde residem Sacerdotes nao deixar de haver alguns costumes
gentílicos circuncidando-se, com o fa zilo antes de serem christaõs, ceremonia uzada em toda a
Ethíopia Oriental generalissima-mente com o se pode ver em todos os escravos, que do Porto
de Angola sabem, e tractando eu sobre isto com hum Francisco de Louro, Mestre Escola em
São Thomé, natural de C elorico da Beira, que em Congo foi provisor e nelle esteve muitos
annos, e morreo, Sacerdote de muy bom entendimento, alem das Letras Sagradas que tinha, e
com hum Padre Pregador Castelhano por nome Rafael de Castro, dotado de muita curiosi­
dade, e que tinha visto muitas partes do mundo, botando ambos vários juízos de donde poderia
haver vindo ao Reino de Angola Congo antigamente Anticana, e aos mais Reinos daquellas
partes esta ceremonia Judaica e mahometana, tinhão para si os ditos Padres que dos Reinos
do Preste Joio, cujos habitadores uzavão de circumcisão, ou dos Mouros que occupaváo toda
a parte septemtrional da África, e que hindo-se estendendo esta ceremonia de gente em gente,
e de Reino em Reino chegaria aquellas partes, mas como a mim conjecturas semelhantes me
não satisfizessem persuadindo-me que se de alguma destas partes viera esta reprovada ceremo­
nia também viria acompanhada de quaesquer outras ceremonias ou ritos uzados dos Abissinos
ou Mahometanos, os quaes se nao achão em nenhum destes Reinos, determinei movido de
minha própria curiosidade ver se dos proprios naturaes podia saber a origem deste negocio,
porem como nao tiveram Letras, nem Historia, e das coisas dos seus antepassados não saibão
mais que o que conta o Pay ao filho de tras do lar, nunca pude descobrir coisa que me satisfi­
zesse, athe que tractando sobre esta matéria com hum Dom Felix do Espirito Sancto, que de
mestre e interprete servia em minha companhia, sendo eu cura na Província de Sundi, homem
de muito bom entendimento, e curioso, me veio a dizer que aquelle costume de se circumcida-
rem em toda a Ethiopia Occidental devia ser introduzido por invenção do demonio, porque a
razão de uzarem delia era ad maiorem libidinem p ro p ter moram effusionis sem inis in actu vene-
reo; porem como digo só uzaõ delle nas partes mais remotas da costa e aonde não chegão
sacerdotes, pois no comrnum Reino se tem (alem de afronta) por peccado enormíssimo contra
a pureza da nossa Sancta Fé Catholica. Procurei saber a etimologia deste nome Cariampemba^
e não alcancei mais que querer dizer homem morto da Província de Pemba, que a meu parecer
Apêndice J77
devi. ser algum homem «So affeiço.do . fuer mal, que derío ao demooio sca oome depois
delJe morto.
Cap. 4 — Das Provindas que ha no Reino de Congo
e da Moeda que nelle corre
A o longo do mar estão a Ilha de Loanda, em seu terrítoric Sonho, M oçato, B am ba; no
mediterrâneo Peroba, Oerobo, e Ando, e a Província dos Arabundos repartida em muito» so-
»hores; Congo, onde El Rey reside, seu districto; em iodas estas Províncias a Moeda, que
oellas corre sâo huns caramujos de feição e modo de trigo la nosso, e de seu laroacho, que •
chaxoSo Zimbo quítombe; tem mais a província de Bata, Pango, Sundí Banza, e o Reino de
Ocango, Songa, Massinga, e outros de menos qualidade, que estão sujeitas e se comprehendera
com o nome das nomeadas, em todas estas correm por moeda hüs panuos chamados Sangas,
que se fazem de fios de folhas de Palmeira, são do tamanho dc hum guardanapo, mas dobra­
dos, e nestes pagão os moradores seus tributos, coroo os das outras em Zimbo, posto que se
tecem outras muitas e diversas maneiras de pannos, a saber pintado, mus, ovilas, tetas, bem-
gos, songos, cundís e meios cundis, enfallos e quíntallas, dalguns destes fazem vesnmentos
com que se diz missa, cobertores forrados de damasco, e as matronas de Loanda muito bons
coxins, em que se assentão em seus estrados.

............................................................................. è ’ ...............................
Cap. i 3 Como se conquistou Cmgo por Motino-Bene
filho de El Rey de Bungo
Depois de termos uactado do sitio, Rios, Animaes e mais coisas particulares do grande
Reino do Congo será rasão escrever coroo foi conquistado, e o que estava repartido em muitos
Régulos, ou Senhores veio a ficar debaixo de hum domínio de hum só Rey e Senhor: tomara
ter muita faculdade para contar esta historia, que emprehendi, mas acceitará de mim o leitor
a boa vontade, e a verdade ainda que nua, e sem ornato de palavras. Ha ao longo do Zaire
da banda do Norte hum pequeno Rio chamado Bungo, no qual haverá trezentos e cincoenta
annos reinou hum Rey, que teve muitos filhos, e vendo o mais mosso delles por nome Motino-
bene que para tantos irmãos era pouco o que seu Pay tinha, e que eile não podia vir a reinar
senão por morte de todos elles, levado de hum desejo de mandar (vicio communx entre todo
o genero de gentes por mais barbaras que sejão) determinou como valerozo que devia ser
ajuntar a gente que podesse, e com ella passar o Zaire da outra banda e conquistar a grande
Província de Congo, que repartida estava em differentes Senhores, ou Manis: não o enganou
o pensamento, nem lhe sahirão em vão seus altos pensamentos e valerozos conceitos; porque
ajuntando huma grande multidão de mancebos muito maior do que eile imaginava em breves
tempos passou da outra banda do caudalozo Rio em Canoas, ou Almadias, e em poucos annos
sujeitou e meteo debaixo de seu senhorio tudo o que hoje he o Reino de Congo, ou a maior
parte delle, o que não devia de ser sem succederem muitas batalhas e recontros com mortes,
e destruição de muitas gentes assim dos naiuraes, como dos Conquistadores, das quaes coisas
não ha nenhuma noticia.

Cap. 14— Como Motino-bene misturou por via de casamento 0$ seus com os
naturaes da terra> e repartio 0 Reino por seus capitais
Depois que o valerozo Motino-bene teve conquistado todo, ou a maior parte do Remo se
foi aposentar em hum outeiro quatro legoas da Cidade de Congo e nelle iez repartição do
que tinha ganhado entre os seus capitaês dando a cada hum huma Província ficando-lhe os
senhores proprietários tributários, isto nao por vida, mas emquanto fosse sua vontade do dito
Motino-bene, o qual costume ainda hoje se uza entre os Reys daquelle Reino, dando ordem
que todos os seus se cazassem com os naturaes da terra, os nobres com os nobres, e os plebeos
com as plebeas, chamando-se todos pelo nome antigo de Moxicongos. Elle com o resto a
gente que lhe ficou se foi para a Cidade de Congo, da qual o Rey toma o nome, onde residia
378
Angola
0 Ponu/ue ilaquello Gentilidade cham ado M aoi-Cabunga, e se cazou com uma filha sua, e
ficua por nbsolujo Rey e Senhor de todo aquelle grande Reino. C om este m odo segurou 0
Rcin« Motino-bene, e o deixou a seus descendentes, que são os que hoje reinao quinze (afora
clle) «eis gentios e nove christaÕs, tom ando todos os R eis por titulo honrozo e de excellencia
0 nome de Motíno prim eiro fundador daquelle Senhorio, assim com o os Im peradores se chamão
Cegares de C c z a r e os Reis T u rco s Othom anos de Orhemano fundador prim eiro daquella Caza,
e assim se chacnão os Reis do Congo M ani-Congo M oiino, Senhor do C on go e M otino pela
cauza que se disse, o outeiro onde se fez a repartição do Reino por M otino-bene se chama
ainda hoje M ongo-Caila, o Outeiro da Repartição. Ha ainda no Bungo Reis os quaes se com -
municâo com os do Congo mandando-se presentes huns aos outros, reconhecendo-se por esta
via por parentes procedidos todos de hum mesmo e proprio tronco.

G ap . iS — Em que summaria-mente se conta dos successos dos Reys Gentios


De Motino-bene athe Mocingacua, que foi o prim eiro R ey Christão, houve entre hum e
outro seis Princepes, dos quaes se não tem muita noticia, porque com o entre estas gentes não
havia letras, antes que nós a ellas passássemos, com o não ha entre todos os m ais barbaros
daque/Ja Ethíopia, não sabiao nada m ais que doutrina, e o que contava o P a y ao filho, como
tudo he tradição, que sempre o Reino foi em augm ento, e que conquistarão a Província dos
Ambundos, que ainda^ ije por nosso descuido vive nas trevas da gentilidade, e serve de marco
entre o Reino de Congo e o de A ngola pagando tributo a hum e outro Rey.
Conquistarão mais Sanga e Masinga postas de huma parte e da outra do Rio Zaire, e
assim mais o Reino de Oando, que he muito grande, cujos Senhores são tributários aos Reis
de Congo: a Província de B ata onde ha Senhores proprietários, não foi conquistada por Mo­
tino-bene, antes fazendo am bos os Reis entre si am isade se concertarão que todos os filhos
herdeiros do Reino do Congo cazassem na C a za de Bata, o que ainda hoje se guarda inviola-
vel-menre, e os mais de Bata serião obrigados a sustentar suas filhas Rainhas, ou Princezas
dando-lhes para isso rendas na dita sua Província ou Reino, e assim o que se dava por con­
certo veio pelo tempo em diante ficar em tributo do que hoje são os Senhores de Bata sujeitos
áquelle Reino chamando-se por titulo honrozo Encacande Am anicango, que quer dizer a Voz
d’ElRey, e os Reis quando querem honrar aos Mani-Batas dizem, que são seus Cotecolos, que
quer dizer, que são seus netos, e destes Reis gentios e dos ChristaÕs procede hoje toda a Fi«
dalguia e Nobreza de todo aquelle Reino, sendo só os descendentes que são d’E!Rey D. Af-
fonso 3.0 Rey Christao tidos e havidos por de Sangue Real, e por sobrenome se chamão Affon-
sos, como dizer Dom Miguel Affonso, Dom Á lvaro Affbnso, e assim os mais.

C a p . 20 — Em como se fe \ a p rim eira Igreja

Passadas todas estas coisas deo E l R ey cargo a certos Fidalgos, que mandassem ajuntar
pedra para se fazer huma Igreja, os quaes as quaes ajuntarão perto de mil homes para a tra­
zerem ao lugar onde se havia de fazer, e assim se começou a dita Igreja a edificar aos seis dias
de Maio da era de 1491 e se acabou no prim eiro dia de Julho logo seguinte, a qual se fez no
terreiro em que hoje está a Sé, com o titulo de Sao Salvador, he muito formoza e grande com
sua Capella-mor com dois altares no frontespício delia, tem mais outra Capella no corpo da
Igreja da parte do Evangelho da invocação do Santíssimo Nome de Jesus, na qual de presente
está huma Imagem de Nosso Senhor Crucificado, de boa grandeza e mui devota, a Igreja he
de tres naves, os esteios de formozissimos mastros e o tecto forrado de madeira coberto de
feno, que posto que se achou pedra de que se fazer cal, n lo se achou barro suficiente a se
fazer telha. Em quanto a Igreja se fazia praticavão os padres com El Rey em as coisas da
nossa Sancta Fé, ensinando-lhe o que havia e devia de crer, e o mais necessário para receber
o Sancto Baptismo, o que elle ouvio com grandíssimo contenta-mento esperando que a Igreja
se acabasse para se Baptizar; porem parecendo-lhe que era muito esperar para os desejos que
tinha de se fazer christão mandou chamar os Frades e lhes perguntou se podia receber o Sa­
grado Baptismo em outra parte fora da Igreja, e sendolhe dito que sim respondeo, pois isso
«4r $ - %. -

Apêndice

assim he, amanhã sem falta o hei de receber, o que athc agora nao fiz cut *
mente havia de ser no Templo, e minha mulher e filhos emats vassailos meus depois >
e os Religiosos vendo que pedía de coração o Saxicto Baptismo lhe dísserão, que ttído pro­
cedia da mfio do Senhor, que lhe desse pelos desejos que lhe influía muiias graças e louvores.

(Copiado do ms*, a.- Soft>do F. G. da Biblioteca Nactaeai de Lisboa».

DOCUMENTO N.# a

Ao primeiro dia de Julho de myll b*üij na cidade de Lixboa na praça da tonoarja diante
das cassas do trauto das Ilhas que tem Ruy Penteado (Feitor das Ilhas e escrauos de Gujnee
pressente mym Aluare Anes scripuam por parte de Joham da Fonsseca e Antonio Carneiro
foy rrequerido ao díeto feitor que lhe auuessc por arrematada a rrenda dos quartos e vyn-
tenas e dízimos das Ilhas de Satn Tome e Ilha do Princepe e esto per virtude de huü aluara
dei rrey nosso Senhor que elies tinham ffecto lanço e lhe era rrecebido cõ certas comdtçooes
antre as quaaes eram que andasse o dicto lanço oyto dias em pregam. /E porquanto o tempo
era fora e mais segundo ele feitor podya veer pela apressentaçam do dicto lanço lhe man­
dasse arrematar as dietas Ilhas ssegundo sse no dicto lanço e arrendaj^emto conthynha E o
dicto fíeitor vyo a dieta apressentaçam e deas que o dicto lamço andara em pregam per Joham
Aluarez porteiro do concelho da dieta cidade e condiçam do dicto arremdamemto e o tempo
seer fora e sse fazer delegemcia no apregoar da dieta rrenda E o rrequerimemto que lhe ora
faziam por parte do dicto Joham da Fonsseca e Antonjo Carneiro fez vyr pressente ssy An-
tam Lopez porteiro do comcelho por quanto o dicto Joham Aluarez que ja trouuera esia
rrenda em pregam era fora da cidade e lhe mandou apregoar as dietas Ilhas nos trezentos
mill reaes pelas condiçoes do arremdamemto e andou em pregam pressente mym escripuam
assy e pela guisa que a damtes os outros dias o outro porteiro trouue dizendo quem quiser
lançar nos quartos e vyntenas e dizimos da terra das Ilhas de Sam Tome e do Princepe dam
por ellas em cada huü anõ trezentos myll reaes em saluo pera elrrej nosso Senhor e esto
por dous anos que sam seiscentos mjll reaes segundo as condiçoões do lanço venhassem ao
dicto Ruy Penteado e rreceberlhea o lanço e visto per o dicto fíeitor nom achar quem mais
lançar que o dicto Joham da Fonsseca e Antonjo Carneiro primeiros lançadores e a ffee do
porteiro e assy de mym escripuam ouue por arrematadas as dietas Ilhas aos dictos Joham da
Fonsseca e Antonjo Carneiro assy e pella guisa que sse coimem em o dicto sseu arrendamento
e lanço e mandou ao dicto porteiro que apregoasse as dietas Ilhas dandolhe huã vez e duas e
duas e mea e mais huã pequenjna e nom achou quem mais lançasse E mandou que lhe desse
tres e assy lhe ouue as dietas Ilhas por arrematadas por os dictos dous anos como dicto he e
assynaram aqui e ouueram em ssy por rrecebidas a dieta arremataçam per as condiçoes de
sseu arremdamemto testemunhas que pressentes foram Francisco Coruynell Frolentim e Joham
Gomez criado do Senhor Iffanue morador nesta cidade a Sam Njcolaao e Gonçalo Vaaz cu-
tileiro morador na cotelarja E outros E eu Aluare Anes scripuam da dieta feitorja que esto
escrepuy. //. Antonio Carneiro — Johão da Fonseca — Aniam Lopef — Ruy Penteado./.
(Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo, Gaveta i>, Maço M, o ®43).

DOCUMENTO N.° 3

Nos el Rey ffazemos saber a quamíos este nosso aluara virem que per Joham da fomseca
e Amtonio Carneiro nos ffoy ora ííeito lamço em as nossas remdas e direitos das nossas Ilhas
de Samtomee e do Primcepe — a saber—quartos e vimtenas e dizimos da terra asy como a
nos pertençem por dous annos que sse começaram de Sam Joham que ora vem desta era pre
semte de b°üij em diamte por preço e comthia de trezentos mill reaes coca estas condiçooes
adiamte decraradas — a saber — primeiramente com comdiçam que o vigário da Ilha de am
38o Angola
TU^msc .i;a pellos dízimos da dita Ilha os quatorze mill rcacs que lhe hy temos dados sem sse
JííJcs tla/cr descomto t com comdiçam que elles ssejam obrigados a pagar os mantimemtos
hordenodos na dita Ilha como pagaram estes dous annos passados e com a comdiçam que elles
ffoçam o pagamemto da dita remda em duas pagas de cada anno — a saber — huGa per pascoa
e outra per ssom Joham ao nosso almoxarife dos scrapvos ou a quem nos mamdarmos e com
comdiv&rh que esta remda amde em pregam nesta cidade oyio dias que se começaram do dia
que dor apresetmado este lamço ao nosso ffeítor em diamte e lamçamdo outrem sobrelles
nveram suas alças hordenadas aa custa de quem ssobrelles mais lamçar posto que nam tenham
dado ftiamça aa decima parte e nom lamçamdo outrem sobrelles que emtam lhe ffiamça dita
remda rrematada pello dito preço o qual lamço visto per nos o avemos por boo e lho rrecebe-
mos coro as comdiçooes ssobredicas e elles o rreceberão asy e sse obrigarom per sy e per
sseus beis de o assy comprirem e maroterem e por seguramça dello asinarom no livro dos
iamços homde este fica treladado e porem mamdamos aos vedores de nosa fazenda e ao dito
almoxarife e feitor das ditas Ilhas que em todo o ffaçam jmteiramente comprir e guardar sem
duujda que nelo pomham flecto em Lixboa a bij dias de Julho Gaspar Roíz o ffez de briiíj / os
ditos trezemros mill reaes nos ham de dar em cada huu anno / E estes xiiij reaes sera aquelo
que per nosa carta lhe ja teemos dado ora seja mais ora menos .//■
Hey. — o baram.

Arrendamemto quartos da Ilha de Sam Tome e do Princepe a Joham da fomseca e a


Arotonto Carneiro por dous annos por uj* (síc) com as comdiçoSs acima dacraradas e amdara
em pregam biij dias.

ffoy apressentado este lanço oje que he quimta feira vynte dias de Junho de briiij per o
quall lanço logo dicto dia Ruy Penteado mandou meterem pregam per Joham Alurez porteiro
do concelho o quall o apregoou perante mim Aluare Anes scripuam da feitorja das ilhas ./*
(Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo, Gaveta x5, Maço i3, n.w3 i).

DOCUMENTO N.° 4
treUado do auto e enqujrjçam sobre as cousas que Gonçalo Royz fez nestas partes de
Gujne //

Anno do nacymemto de nosso Senhor Jesus Christo de mjll e qujnhentos e honze anos
aos xj dias do mes de Dezembro / em a jlha de Sam Thome / narmada do Senhor Fernam de
Mello do conselho dei Rey nosso Senhor e capjtam e governador desta sua jlha de Sam Thome /
Estando hj ho dito Senhor logo per elle foy dito que ora a elle era certificado per muitas pes­
soas que avera ora cinquo aüos pouco mais ou menos ou ho tempo e dias e mes era que se
achar em boa verdade / vymdo Gonçalo Royz em hü navyo per nome chamado feco de quera
pylioto Jeronimo Fernandez Ganchyno pera ho Rjo Reail e doutra vez vyera no navyo galocha
de quera pylioto Martím Vicente / Estes dous navyos botara a ho mar as crjamças de mama
vyuas por as maes nom morerem / e agora avera dous aüos pouco majs ou menos ou ho tempo
e dias e mes e era que se achar em boa verdade / quando foy a maníquogo lejxara aquj a
gemte dos seus navyos doentes e lbe leuou suas fazendas e os botou por estas praias como ja
tem de custume como fez espycyallmemte a hü homem per nome Coelho e assy ho dito Gom-
çaío Roíz lhe leuar a fazemda e ho lejxar esbulhado de todo ho sseu / em tall maneira que
emsurdeceo e amdou asy estes dias ate que faieceo e assy outros muitos e por assy ser emfor-
mado ho dito Senhor capjtam das ditas pesoas e vemdo como ja ho dito Gonçalo Roíz ho
tynha por custume / a fazer assemelhamtes cousas assy como fez Antonio Fernandez e Apariço
Anes e a Gonçalo Vazquez creiygos de mjssa e Diogo Lopez e assy outros muitos e mandou
a mim espriuam que assy ho espreuesse eu Jorjaffonso esto trelladey //

Em que se aho diante se sege ho trellado //


c
»
s iy e n a i c e /«
Jeronimo Fernandez n
inngdbos que lhe fora® Pylloto de GouentU r> ■
lhe todo foy lydo e decraradn perJot,am R0,->h, S , . Row lea«tamnha jurado aos sari
testemunha que era verdac!e / np0,l° modo e teia n„,„ S'C) 0uuidor «perguntado pello auto i
Wera a estes portos de a,g3 !empo L L l l J * ^ ^ ho quc *» 0 «Tya disse e.
« do nav* ° 8 « io c h a ^ eC^ d o u s n a y y L ^ S , ° » * *<° auto ho dito Goncah Rot
n0r nom matarem asm a ?t w Gonçai« &n; C ^ ue e^ e l« te m u n h a o iW; « a - ^
fq u e eelle
' <jue r « ,e®uah^ w« Z e queM
lh testemunha 4«e j so st ao h l^ ^ 3mdâf*
r n ç a r ccertas e n l s ZZ ZZ a ®a'/nhe™
am3f/ni5e
mesma
Diesma vagem
v/agem aos aos j/lheofda°
l h e ™ ° ü°.«o «3Vyo / J ^ 80
flav^ qGaiaT*“ 0^ n jelt 9“« era
eü que sprivam* Z Z ** *h°° “
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n e g r o vyuo e q „77da ',ba
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d o P rin cep/r,eL r d° djt0
d l t o aaavr °</
? An rw « iaJ~ qUtf *abc *1U . ^cepe k0 H ltn ~___ n n c e p e pera e s t a íifea
do RfO do Ouro bS CoelhoSabe e!Je tes^" ^ ho ã t o Gonçalo R o h ®and W* >>ba aqUeU
“ J l e y x o u hu Pero ^ h° d"° < Ü 2 S f S 8*
e « u tto «pravo forro que ®*W h* * J h"°V° e 9« ensurdyÇeo aqu- na P««
que Jeuou hua peça e a p e cflamaUít hu «prauo de Ruy Fernamdí a „ ,,ha e morr<»
» » «" r « « f « p « í F Z T * « . « £ “ *"“ '* « • » » » ' m S S :í '“ " « “ » « o

tendo na sua nao eaquj (f0 m° FarnaftdL * tes[emunha que sabe T ,%ho
fjomde se comeenou co® ei,°m ieyxa r . }’8a)'ro que esIeue r. q G°ttÇaUo Roía
por ser pyUotodo dno Z ^ ^ ^ e J ^ t a j l e T Z l o m T Z ° ,rou« -
Comgoo a Gonçalo Va2 CraiyB eile Cni!ini]a e que L o S3he Z 3 3 C°«uo
5
do diro auto all nom iisse * £ * ®jsa e s b u j ^ * “ ^ q u e onça/o r L Í ' ? ^ ^ 8 (sÍ^
eu ; 0r;e -------
Afonso esto sprevy
sprevv // UstUme Per n âdo toda sua ^ jxoü em terra de
£
E depoys
dW , disto
d,-,,, a
, ^ df [ f" 'a * ' »» “ * « - • » . . . .
de Sam T o m e /. Joha® R0iz b do
í o L h ^ ^ i ade e l r o ddP ' ■ „ ‘ ^
n Poeiro ^ « ,esremufljla
. S ní« i a
ntos sam as segu/mte
- 5seus ditos sesní^^ ^ *^Slc) Oüüi,írt 0 ®iíl e ojtínk
Irem GoflCúfo
Item Gonçalo MendeJ Z o l Z ^ Z sT j S° tabaiiam P ^ u m a m 0* m a >lba
,he íoram dados p o lb di,0 0UuZ " â ' ííla de Sam Tu ^ / eS' as ^ m u n h a s
rado pollo modo e feta pereUmr, ° r e Pergünt, , Til°me /Uracjo
auto ourra cousa sabe so®eat. \ 9Ue era o que rf u P°!fo au‘ ° que lh SaJ” ° s avangelhos que
Ouro este Coelho qUe em Z Z “ »» C o t ^ C "í ° ^
dito Coelho E que amdou asy n Z Íe hS Z o 1 ° ^ ° R< * * qUe do d» °
por -
por esta pouoafam E® taJ, / 0 rry ° do OuroLo’ “2 Se P^dc-o En bem 7
Praa do " ° do
ai fazemda
fazemda do Coelho ou nam fa qtie ewsurdv/ f CSÍa praa hü dia ^omUa vomtade do
que leyxara b ^ ag og r ^
m ^ e t eZ Z *^ ?Z * * -™
soldo lo} o quall gromette d h te (eJ * ym m «ho botarL n°m saba e mais f f n ° R°yz huo“
R°f z !íU0ü
Deus rrecramando
rrecramando ho ho dito
dito lgrom eStenunba
Unha hoho ‘iuera
tiu ° ‘ a/ na P«a
Pfaa e -lhe nom
mâJSc d,sse
^ ^ 6 8 restemunha - ! f
tros e■ que «“ lhe
" * nom
■ »» pagara
? , £ : hr o Ts e t ^ j- * • C £ si or »R “^» *6 "** C i ? S í ^ ^ SS£U i
Conçalo do Ro,z
Roiz esbulhara e tomara
tornara t/e mais disn disse elh
elk ft 8
6 ass^
âi ° “ vyo dJ P° r amor de 1
eyxara em
e ho leyxara em terra
terra ee lheTe»3
lh* i 333 fazen<ía nUe9 r
ue Gonr 9
testesSionI
T ^ mnha ua o u v L qU£ hy*ara ou' i *
disse e do cusiume per que foy peças a r n a n y ih Z V*Z metera no sseu n ^ C° m° ° díto
esprevy
- / .//.■ //■ ^ r Pergu®tâdo
P^um tado d /Jba J e i e outras
°Uíras cousas e 1 ^ 1 <7° ^ ^
íiem Anton/o Nunex
item An tonlo Nunez moradf, j restemur
rest«munha niii 6u t0r- a!i nom
foram m dados per Joham doba® Roiz ba b °LL jj dni
Íh i ^iÜla testemunh . >& Afonso es«>
*
Tarado pollo modo
e decrarado modn e» h r..„
t .. <S,C> °uuidor ea0er
S!C* OUuÍdor n ha ba)Urado
)Urado a°s samtos > ,
9
ira verdade / que ouvira dizer PergUmta “ « era ho o83” ^ 0 P0ll° aut» q u e T ”®8^ 05 qUe ihe
ras ao mar por lhe nom Z P° reSía vii!a g e ^ w ,Ue dêiío sabya d L Z n t0Í° !oy
eiie vyra nesta jlha h s ma f<? reín as ntaes e mais Z * qUe ^onÇaHo Rob i 6 Iestwnunba que
Gon/alo Roiz q le for T ^ ^ C c f t ^ ^ 35 C

7 “ * e 6o . o , , , / “ " n o « r p o * J J V > » OíKsudo „ „ M 7 S, j *

U Roiz o Z a m Í a d a ^ t í i do 3^ C f a d f J j ° dC o ed C 6m

r 'd
»
382 Angola
colo Mendez e do dito cas0 nom disse e do costume per que foy perguntado disse elle tes­
nill E eu Jorjafonso este esprevy .//.
te m u n h a

íiem Luís Esteuez çapaiero testemunha jurado aos samtos avamgelhos que lhe foram
dados pollo dito ouujdor e perguntado poUo auto que lhe todo foj lydo e decrarado que era ho
que deflo sabya disse elle testemunha que era verdade que do dito casso all nom sabe somente
que vyo aquj andar hü mamcebo que se chamaua Diogo Coelho doemte e fazendo cousas por
esta vylla como homem surdo e que ouvyra dizer que emsurdecera por ho lejxar aquj Gonçalo
Roiz e que sabe elle testemunha como ho dito Coelho morera da dita doudtce e doença e
por aquj lejxar ho dito Gonçalo Roiz lejxara aquj hO Christouam Aluarez marinheiro e outro
sseu preto os quaes sse perderam no navyo em Benjm e do dito casso all nom disse e do cus-
tume per que foj perguntado disse elle testemunha nill eu Jorje Afonso esto esprevy ,//.
Item Amdre Conçalluez morador na dita jlha testemunha jurado aos samtos avamgelhos
que lhe foram dados pollo dito ouujdor e pergumtado pollo auto que lhe todo foj lydo e de­
crarado pello meudo e feta pergumta que era ho que dello sabya disse elle testemunha que
era verdade que elle testemunha vyra aquy quamdo hjam pera os rrios ho dito Diogo Coelho
mujto satn e sessudo e que depois que viera dos rrjos Gomçalo Roiz ho rrecolhera na sua
nao e ho lançara da praa do rrjo do Ouro mujto doente pera a morte e esteuera na dita
praa hü dia e hüa noute aos tanoes ate que ho trouxeram a esta pouoaçam ssem ter nada e
pollo aquj ieyxar ho dito Cançalo Roiz sem nada e doemte ho dito Diogo Coelho ensurdycera
amdamdo por esta psçioaçam doudo e quamdo quer que ho alargaua a dyta doudyçe e a con-
tynoa dizia como Gonçalo Roiz ho matara e ho lejxara aquj pollo quall por esta doudiçe e
doemça morera no spital e asy sabe como o dito Gonçalo Roiz lejxara a hü joane o quall elle
testemunha vira com hü frade as costas choramdo e dizemdo que Gonçalo Roiz ho botara
fora e lhe leuara ho sseu camjnho de portugall e do dito casso all nom disse e do custume
per que foy pergumtado disse elle testemunha nill eu Jorje Afonso esto esprevy ,//.
Item Ruy Lopez cassero do Ryo do Ouro do Senhor capytam testemunha jurado aos samtos
avamgelhos que lhe foram dados por ho dito ouujdor e pergumtado pollo auto que lhe foy
lydo e decrarado pollo meudo e feta pergunta que era ho que dello sabya disse elle testemunha
que era verdade que ouvjra dizer por esta vylla gerallmemte como Gonçalo Roiz botara de
dous navyos as cryanças vyuas a bo mar por nom morerem as maes / e majs disse elle teste­
munha avera obra de dous annos pouco majs ou menos elle testemunha era cassero no Ryo
do Ouro do Senhor capitam e que vyra elle testemunha como Gonçalo Roiz botara na praa
do Ryo do Ouro este Diogo Coelho esprivam de hü navyo que sse perdera em Benjm e ho
dito Gonçalo Roiz ho mamdara botar fora estamdo mujto doemte pera m ore r esteuera na dita
praa huü dia e hüa noute e que elle testemunha fora dizeilo a João de Mello e emtam marn-
daram por elle e que depois ho vjra elle testemunha doudo e que da doemça e surdyçe morera
e mais disse elle testemunha que hesse dia que Gonçalo Roiz botou ho dito Diogo Coelho
botara outros fora da dita nao aqujxandosse os ditos homês do dito Gonçalo Roiz que os
rroubaua e do dito casso all nom disse / e do custume per que foy perguntado disse elle tes­
temunha nill eu Jorje Afonso esto esprevy .//.
E depois desto aos xb dias do mes de Janeiro de mjll e quinhentos e doze annos foram
tiradas estas testemunhas per Johão R oiz..........e sseus ditos e testemunhos sam cssseguimtes
eu Jorje Afonso esto esprevy .//.
Item Artur Aluarez morador na dita jlha testemunha jurado aos samtos avamgelhos que
lhe foram dados pollo dito ouujdor e pergumtado pollo auto que lhe todo foy lydo e decra­
rado pollo meudo e feta pergumta que era ho que dello sabya disse elle testemunha que ouvjra
dizer pubricamemte por esta jlha como Gonçalo Roiz botaua as crjanças vjuas a ho mar por
nom morerem as maes destes dous navyos . . . ho ferro e a galocha e majs disse elle testemu­
nha que quamdo vjra Gonçalo Roiz de Namquogo no tempo comtheudo no dito auto elle dito
Gonçalo Roiz rrecolhera a gemte do navyo que se perderam em Benjm a sua nao a quall
gemte tomou a botar fora na praa do Ryo do Ouro que he desta pouoaçam duas legoas certas
pesoas_a saber__hü Díoguo Coelho espriuam de hü navyo sseu que se perdera em Benim e
outros a que elle testemunha nom sabe ho nome ./. o quall ho dito Diogo Coelho ho mamdara
lamçar na dita praa e ho trouxeram a esta pouoaçam e que elle testemunha sabe que ho dito
Diogo Coelho de nojoo pollo asy lejxar na dita praa emsurdecera em tall manera que da dita
.S '
y

Apêndice
383
nada 6
mça niorera nesta
hcm* jlha
pua por
pur ho
no asy Jejxar ho ono
jqxar no dito vuuyaiv
Gooçalo »w.-
Roiz $em
- Coelho
dlçe e ° ° e ta jlha e que sabe elle testemunha que quamdo aquj veo ho díto DiOgO
°o de Gonçalo Roiz era sessudo e cm todo seu cmtemdimemto como outro q
d>t0 naV^°sesudo / o majs disse elle testemunha que ouvyra dizer por esta vjlla cosno o
^uer hornen^oeiho cramaua do dito Gonçalo Roiz dtzcmdo que lhe leuaua ho sseu e ho lei"
% íO s£a jlha perdido / e majs disse elle testemunha que sabe como ho dito Gonçalo
dit°
1 aquj ne cUStume a gemte que traz nos seus navyos tomalhe suas fazendas e lejxallos em
*aua tem P° ^ Gonçaïlo Vaz e a Gonçalo Anes e Antonio Fernandez crelygos c outros e do
com°° ] f n0m disse c do custume per que foy pergumtado disse elle testemunha níll eu
rra c°0

d>‘° ^' A fonso esto e sp re v y (Arqoívo Nacional da Tòrre do Tombo, Corpo Cronológico,
jofj ' PartcS.4, M a ç o n s Documento o.’ 98).
* y.

DOCUM ENTO N.® 5

, M E N T O q u e E L - R E I D . M A N U E L D E U A S I M A O D A SIL-
V E I R A Q U A N D O O M A N D O U A M A N II C O N G O
g l R ey, fazem os saber a vos Symão da Silva, fidallguo de nosa casa, que este be 0
que vos m andam os que gardês, em vosa yda e estada em Manycongo, omde ora vos
regltíieli s e asy lenbrancas d allgunas cousas, que, por serviço de Deus e noso, farees, em-
estiverdes
qii anto primeirarnenteí despois que sayrdes desta cidade em booa ora, farês voso caminho I 1
Item-
jpenie a Manycongo, por homde, com conselho dos piliotos que levaaes, vos parecer
dereytdés diais ganhar, pera mais prestes ía serdes, fazeemdo muygramde provisam nos man­
que pam7 vinho e agoa que levaaes, pera que vos posam abastar, e se nam faca nyso
timent°cado,
s asy p o r respeito dos cavallos e as outras bestas que levaaes, com o pera segurança
re1
ma° vjagemj e mUy p r*m cipalmente da gente, porque, de asy 0 fazerdes, se vos sygira escu-
de v° sa^e fa^er dem oras, asy nas jlhas, como em quaesquer outras partes, pera tom ardes agoa
sardes I í
se vos fallecesem , que Noso Senhor nam mande; e asy encomemdamos que
e lTianUgSj quanto posyvel vos for, porque de asy 0 fazerdes, se sygira serdes mais cedo nave-
h° ^aca n^s m uito servido; e tomay d iso 0 cuidado, que de vos confiamos. Pero, failecemdo
rindo, ^ (xiantimentos, os tomares homde com mais noso serviço, e sseguranca da viajem,
vos
osaes fazer*
o p em A o s capitães, e pesoas que levarem carego primcipall dos navyos que levaaes, avisay
^ h am gram de recado e provisam nos mantimentos e agoa, asy como a vos 0 encomen-
Que te . e quam do poderdes ver os payoes e despensas dos ditos navyos, fazey o, pera dardes
darriojM r reg|niento e regra, que vos bem pareçer, avemdo d iso necesidade, que Deus nam
^Ua a E loguo em partijm do, ordenares a regra da augoa e vinho e pam que se der, que sera
se costum a em semelhante viagem, e emendando a quamdo vos bem parecer e vlyrdes

Que Item A visarees os ditos capitaes e piliotos, que levarem 0 careguo primcipall dos navios
conserva, que senpre sigam 0 voso foroll, e nunca de vos se apartem, neem vos per-
da vosa ^ uecencj0 lhe allguua necesidade, vos facam synall, pera lhe acodirdes e os reme-
quam; Gt a<
Urdes e dardes
d; recado do que ajam de fazer; e perdemdo vos qualquer d elíes por sua ne-
diaf C ‘ ou açtnte, que nom esperamos, aveemos por bem que perca todo seu soldo e ordenado
í f ^iaeem e mais avera qualquer outra pena que for nosa mercee.
u Item 0 . ■ dares
Lhe 1 _a _ _regimento
„ ' nr-\rn ae mandado
marvíoiin rma o/ino/'úm/ln 1
que, aquecemdo V»q r%
lhe a/>c
necesydade tall, porque de vos
rtasem, que nam deve ser outra senom temporal!, tall e tam forte, que de necesidade os
forcase ha nam poderem ter comvosquo, sem al poderem fazer, que, em tall caso, se vaao di­
reitamente via de Manicongo, porque vos nam avees de tocar em outra parte, salvo teemdo
necesidade tall de mantimento, ou d agoa, ou d outra semelhante, per que 0 nom podeseijs
escusar, que Deus defenda; e asy vos mandamos que ho facaes; e, chegando primeiro que vos. "■

X*
S" - ♦
.. V •*- «V-.

384
Angola I

<?m ta II caso, see amarrem e ponham em todo boom recado c segurança, nom íazemdo cousa
allgOa de sy, ate vos nam chegardes.
Item- Tam to que em booa ora fordes no rio de M anicom guo, tirares fora a geemte, ca-
« xalfos e todas as cousas que levaaes, pera com vosquo averem de ficar, e asy tudo o que Levaes
que mamdomos a elrey de Mantcongo; e leixamdo os navyos na m ilhor am eoracam do rio e a
iodo boom recado, entregues aos pillotos que nelles ficaram com os roarijnheiros que cada
huum levar, e, feito assy, farês voso caminho pera homde el rey estever, ym do pello caminho
que fezerdes, na milhor ordem e com certo que vos for posyvell, e asy bem, com o de vos con­
fiamos, nom consentymdo a geente que levardes, fazer nenhuum danno nem semrezam a gente

da terra, nem a cousas suas; acntes, vos trabalhay que pera tudo vaa bem ensynada e casti­
gada, e em tail maneira, que ha gente da terra receba com ella m uito prazer, e nom se lhe
posa segujr escam dallo alguum; e d isto temde tall cuidado, com o de vos confiam os.
E pera a geente da terra vos ajuda (sic) a llevar as caregas ate chegardes a el rey, e asy
vos ajudar a toda outra cousa que vos com priyr, creem os que Dom Pedro vos dara todo avia­
m ento; e, segundo a enformaçam que teemos, a g en te esta asy bem emsynada e mamdada pera
yso, que terês niso pouco trabalho.
Item. Tam to que em booa ora chegardes onde el rey de M anicongo estever, lhe darees
nosas cartas que pera elie levaaes, e nosas encomendas e saudações, as quaes lhe direes que
Jhe emviamos por vos, asy como as costum am os dar e emviar aos reis e primeipes christãos,
com o, muytos louvores sejam dados a Noso Senhor, elle he; porque a reis e primeipes jmfyes,
e que nam sara ch risfiãos, nam emviamos encomendas nem saudações, segundo que d iso hys
emformado, pera lh o mais largamente fallardes.
Item. Depois de lhe terdes dadas nosas cartas, logo emtam, se o tempo deer lugar pera
yso, e, se ham, logo ao outro dia segimte, lhe apressenuarês e dares todas as cousas que lhe
emviamos, que leva Á lvaro Lopez, o qual com vosquo juntamente, e asy ho seu sprivam, seram
ao dar d ellas, pera abrirem as arcas em que vaao; e vos lhe dirês com o tudo lhe emviamos
com muyto am or e booa vontade, com a qual senpre com todo o que ouver em nosos reynos,
folgarem os lhe prestar, com o a rey a que temos m uyto gram de am or e que ystim am os por sua
vertude, como elle ho m erece e he rezam ; pois do com eço de sua cristym dade esperam os que
naquelas partes se syga m uyto serviço de Noso Senhor, e acrecentam ento de sua santa fee ca-
tholica, por que primcipalmente neste mudo trabalham os, e etn navegações de m ar tam Iomge
e de tanto trabalho nos poemos, nam soom ente ate seus reynos, mas m uy mais alongado, como
lhe darês d iso rezam, fallam do lhe nas cousas da Jndia, e das gemtes e arm adas que nella
trazeemos, e de todo o que se la faz, de que largam ente lhe darees conta.
Item. Lhe direes com o ouvem os m uito prazer com a vijnda de Dom Manuel, seu irmão, e
de Dom Pedro, seu primo, que a nos etnviou, e m uyto m ais, com suas cartas, que por elles
nos spreveo, pellas quaaes, alem do que ja dantes tynhamos sabydo, fom os muy mais compri­
damente certificado de sua com versam , e de com o estava fijrme em nosa sam ta fee, e do ven­
cimento que Noso Senhor lhe deu contra sseus jm iguos, no tempo em que el rey seu padre
falleceo, e o millagre que Noso Senhor, p o r sua m isericórdia, fez na batalha que ou ve; e que,
por ser cousa de que muy grande prazer recebemos, deem os p o r yso m uytas graças e louvores
a Noso Senhor, no qual esperamos que sempre lhe dara m uytas vitorias e o conservara no co­
nhecimento de sua sam ta fee, porque nunca, por sua piedade, se esquece d aqueles que fao
chamam e o servem, com o elle fez e faz; e que lhe rogam os que se esforce no que tem come­
çado, porque, em todas as cousas, no fim d ellas estaa a perfeicam ; e que, pera o que lhe com-
prijr pera maior acrecentam ento da fee, sempre em nos achara ajuda e favor, com m uy booa
vomtade.
Item. Lhe direes que nos consyram os que, pera perpetua m em ória de seus feitos, e do co-
meco que teve sua conversam, e o conhecim ento de nosa sam ta fee em seus reynos, e asy do
milagre que Noso Senhor por elle fez, na batalha que ouve, quam do seu pay falleceo, sserya
muy bem emviarmos a carta das armas, que lhe levaaes pera elle asyn ar; e por ella, em todos
tempos, see saber la naquellas partes, e aym da ca, sseus feitos, que sam dynos de grande
homrra e louvor amtre los homeens; e que as armas que lhe asy emviamos, todos os príncipes
christaãos as costumamos trazer, segundo a sygnificacam que cada huum toma, pera por ellas
serem conhecidos, e se saber d omde procedem ; e que elle as tome com aquela booa vontade
385
Apêndice

com que lh as emviamos; as quaees esperamos em Noso Senhor que elie logre muyfo *
fiquem pera seus sobcesorcs, e nunca de sua sobcesam se aparteem; as quaes armas j
costumam tomar pera sy, como dito be; e as que trazem seus vassallos, ibe sam dadas por
eles, por suas cartas asynadas, pera pera (sic) sempre ficarem a suas Imhages por lembrança
dos merecimentos e serviços da pesoa a que foram dadas, per cuja causa aquela homrra fica
a todos seus sobcesores, e pera senpre usam d ela.
Item. Lhe dírees como o dito Dom Pedro, seeu primo, nos Uise de ssua parte, que elle fol­
garia muyto de nos lhe emviarmos huüa pesoa nosa, que menesime as cousas da justiça em
seus reynos ao noso costume; e asy também ememdese nas cousas da gueerra, e a metese em *
uso ao modo de ca; e que, por confyarmos de vos muyto, e esperarmos que ho saberSs muy
bem fazer, vos escolheemos pera yso, e vos emviamos la pera nas ditas cousas o servijrdes; e,
quamto aas cousas da justiça, emviamos tanbem comvosquo huum letrado, pera niso vos aju­
dar, damdo lhe conta dos livros das Hordenacões, que levaes, e, em groso, o modo da justiça,
e a ordem em que se faz, e os casos por que se mata por justiça, e asy as outras comdepna-
coes de casos crymes, e particullarmente tanbem dos feitos cyves, e o modo que se teem no
ouvyr das partes, tudo asy em groso, pera elleser enformado da hordem que em tudo se tem;
e queremdo que niso entemdaaes, fazey o asy beem, como de vos confiamos; e em todos os
juízos, asy dos feitos crimes, como dos cyvees, ora seja d amtre a geeme nosa que Íevaaes,
como da geente de la da terra, vera comvosquo o leterado que Íevaaes; e quamdo ambos nam
fordes acordados, se eixeemara aquello em que vos vos asentardes, poi^ue confiamos de vos
que ho farees beem, e de maneira que seja ynteyramente gardada justiça.
E, queremdo el rey de Manycomguo ser presente no julgar dos feitos da sua geente, esta-
rees com elle em todos os feitos que ha sua geeme tocar, e aquello que elle quizer que se faca?
de agravar mais a pena ou alyvar, se fara, porque asy queremos que ho facaes no que tocar
a sua geemte, damdo lhe, porem voso parecer do modo em que vos parece que deve pasar. E,
quamto a nosa geente, o que a ella tocar, ficara a vos in soljdo; e o que direito vos parecer,
darês a eixecucam, segundo forma do poder e alçada nosa que Íevaaes; e posto que sejaaes
cavalleiro da ordem, nam tenhaes pejo em usar da purdicam cryminall, porque teemos achado
por direito que podees menestrar justiça, e asy os outros cavalleiros da ordem; porem, se vos
parecese que ha geente da terra recebe por rigorosas, as penas denosas hordenacoes, praticalo y
ês com el rey; e na maneira que elle ouver por bem, ho farês, tomando vos por fumdamemo
que ysto se deve agora neste começo fazer, de maneira que nam recebam escandollo, e se meta
em uso o mais docemente que se poder fazer.
i í
Item. O seello das armas que lhe emviamos, e asy o synete, lhe dírees como o costuma­
mos, e como com yso sam aselladas as nosas cartas que asynamos das merces e privylegios
que damos aos fidalgos e pesoas que nos bem servem, e asy as outras cartas que pasam por
nosas justiças, e as outras mandadeiras, que mandamos pello reyno; e dar lhe ês de tudo yn-
teira enformaçam.
Item. Lhe darês comta dos oficiaes mecânicos que comvosco íevaaes, pera emsinarem em t
sua terra em sua terra os oficios, os quaes lhe emvyamos por nos parece que averia com yso
prazer.
Item. Levaaes huum caderno de todos os oficiaes que temos em nosa casa, e asy em nosos
reynos; e o que cada huum faz por bem de seu oficio; asy em groso dar lhe ês de tudo coma, s

pera, se elle o quiser asy meter em uso em seus reynos; e queremdo fazer, metê lh o em ordem, r
porque averemos prazer de asy se fazer. E assy mesmo lhe darees comta do modo do serviço
da nosa mesa, pera elle o poder acostumar, se d isso lhe prouver.
Item. Lhe dírees, quamdo lhe apresentardes as bamdeiras que lhe emviamos, como servem i
no tempo das gerras, e quem as traz; e como quem ha traz, ha nome alferez; e como he alferez
moor pesoa primcipall; e este tem outro alferez pequeno, que por elle traz a bandeira; e como
a bámdeira de Christos amda diante, e a bamdeira das armas estaa senpre homde estaa a pesoa
do rey, e asy o giam; e d ysto das bamdeiras, lhe day ynteira enformaçam, pera d iso ser bem
enformado.
E esta mesma maneira teres, em lhe dar comta de cada huüa das outras cousas que lhe
emviamos, pera elle saber aquyllo em que cada huüa serve. I
Item. Loguo como em booa ora chegardes, depois de estardes aseemtado, folgaremos que
49

>
.386 Angola
vo» fmbolb£$ de fazer huQft booa ygreja ou moesieiro de pedra e call, d aquela gramdura que
vo *, becm parecer, na qual poerês synos c ret&vollos e ornamentos, dos que Icvaaese la estam;
c, porque levaacs grsumentos pera b (5 ) altarees, sse vos parecer bem se alevantarem todos
b ( 5) na ygreja que asy fezerdes, asy o íarês, ajmda que nos folgaryamos que fezeseijs mais
casas em ourras partes e nellas alevamtaseijs os altares da emvocacam dos rctavolos que le­
vaes; pero ysto leixamos a vos que ho facaes, asy como milhor poderdes e o tempo vos servjr»
e vijrdes que fara maus fruyto no acrecentamento da fee; e tanbem temde respeito ao que
víjrdes com que nysto mais folgara el rey.
Item. Depois de feita esta igreja ou moesteiro, folgaremos que facaes huüa booa casa so­
bradada pera el rey, pera elle nella se recolher, dizemdo como nos volla mamdamos fazer pera
elle, asy por ser milhor pera sua saude, como pera mais sua segurança; dizemdo lhe o modo
das casas de ca, e como nos folgaryamos que em tudo vivese como fyel christaão, que he, e a
modo dos christãaos. Ysto porem, do fazimento da casa, sera achando vos na terra boom avia­
mento pera yso.
item. A el rey nas cousas da justiça, e asy nas da gueerra, como nas da paz e governo de
seus reynos e senhorios, darees comselho, e lhe lembrares o que vos parece que nellas deve
fazer, dizemdo lhe como nos vos mamdamos que asy o fazesseijs, pello amor e booa vontade que
lhe teemos, e pera tudo se fazer a serviço de Deus, e em iodas elle lhe dar de sy booa conta;
porque, em tudo, o primcipali fundamento ha de ser Noso Senhor servydo, porque, com ysto,
nam se pode errar cfcusa alguüa.
Item. O cmsyno e castiguo da nosa gente, que comvosquo vay hordenada de íicar vos en­
comendamos muito, pera que vyva em toda rezam e justiça, e seja asy castigada, que nam aja
rezam de nenhuúa pesoa das da terra se agravar; e, fazemdo allguum o que nam deve, seja
castygado com todo rigor, porque, de asy o fazerdes, seremos muito servido, pera tudo o que
la avês de fazer, asy nas cousas do acrecentamento da fee, como em todas as outras; e tomay
d iso taU cuidado, como de vos confiamos.
Item. Vos mamdamos que, se allguum frade ou clérigo fezer cousa que nam deva, e for
de maao enxenpro, ho nam consemtaaes la mais, e na primeira pasagem, o emviay para estes
reynos, emviamdo nos com elle os autos de suas culpas, e sprevemdo nos por vosa carta a
causa ou causas que tevestes pera o emviar, pera ca ser castigado como for direito; e ysto
compry asy porque o avemos por muyto serviço de Deus e noso.
Item. Os frades que agora vaao comvosquo vyvyram e esraram recolhidos juntamente,
ssobre sy; e darês hordem como tenham seu oratoryo, e terês cuidado que sejam providos de
seu mantimento e do necesario, e de o requerer pera eles a el rey, se elles vollo requererem;
ajmda que nos esperamos que elles vyvam asy beem, e em tall enxempro, que tenhaes com
elies pouco trabalho, e que, por sua booa vida, el rey os proveja de modo, que ssenpre sejam
abastados do necesario; porem, senpre de vos sejam vesytados e requeridos, porque asy ave-
remos muyto prazer que ho facaes; e em sua yda e viagem, vos encomendamos que tenhaes
d elles muito cuidado, pera serem bem agasalhados e tratados. Quamto aos clérigos, estaram
a hordenamça d el rey, e no modo em que elle ordenar que estem, e asy estaram, amoestand os
vos porem amyude que vyvam bem, e onestamente; e aquele que asy nam vyver, premdelo ês,
por vertude do poder que levaes pera yso do vigairo, e o emviarês pera estes reynos na pri­
meira pasagem, como atras vollo mandamos.
Item. Vos mamdamos que todos os frades e cleriguos que a vosa chegada la esteverem, e asy
todas outras pesoas, os mandes vtjr nestes navios que levaes, e nom fiquem, soomente os que
agora vaao comvosquo, porque o asy o aveemos por bem, resalvamdo, porem, aqueles que
achardes que bem vivem e que podem aproveitar no ensyno da fee e aqueles com que el rey
folgar, nam semdo, porem, viciosos e de maao enxempro; e estes que asy emviardes, nam ham
de trazer nenhuns escravos nos nosos navjos, posto que os tenham pera os poder trazer; e
aveemdo, porem, outros navios la, podelos ham trazer, e asy quaesquer outras fazemdas suas,
que teverem, de que se recadaram nosos direitos; pero, nom consintyrês que ymportunem a
el rey com lhe pedirem, nem consentires que nisto lhe deem fadiga; e a el rey dizee que nam
receba nojo em se escusar de seus requerimentos, porque huua das principaes cousas por que
la vos emviamos, he esta: pera lhe escusardes o trabalho que somos certeficado que lhe dam
os que de ca vao, com petitorios.
Apêndice
Ite ra . V o s m a m d a m o s q u e, a o s q u e e cm ro ico h a m $U fic a r,n a « eor.»enuAM íxxer aeflím w
r e q u e r im e n t o s a e l r e y , n em lhe d a r jmpornmacara com elle»; porque temo* cvrttficâd& qtíe
m u y s o lt a m e n t e lh e p e d e m o s que de c a v a io , e eile recebe túso c -m rcUt* fsdUg», *
d a a d o s e u m a is d o q u e d e v e nem he rezam* com « u» ymportuoacoes; e, qttertoda el tcy
d ar a tg G a co u sa« n a m co n s e n ta a e s que m ais recebam d «Us, que ate i^ e iia s por qaa Uní <v **
o r d e n a m o s a c a d a h u u m p o r a n n o ; e, a)mda que mais lhe el rey queyr» dar. Sfe* qy* cam
a v e e s d e c o n s e n t y r q u e d iso usem , porque nos asy voilo naacndamov e p&íj The qtteelle o aja
a sy p o r b e e m , p o r q u e n o s o a re m o s a sy por seu descamso, e tna* noso *emç/\
Ite m . A ç e r q u a d o s m an tym en to s para vos, e os qoe comvoaquo h«m àc ficar, <
o s c a v a llo s , r e q u e r e r e s a el re y a ordenan ça d isso ; e poerâs ysio etn t*U comcer'a, qye seoyre
o m a n tim e n to n e c e s a r io ten h aaes c e rto ; e em tall maneira ho concerray coa» «Ue, neste o.
m e c o , q u e p e r a o d ia n te lhe d ees p o u ca ym portunaçam , nem vos receoaea niv5 tr*b*',he; «
d is to te m d e g r a n d e c u y d a d o , aym da que creemos que elle o fa r a ta m bem, que nam e a o rn e *
em n e n h u ü a n e c e s td a d e .
Ite m . L o g u o d ê s q u e ch egard es, com eçares a negociar com e! rey, o mais o&estamente
que v o s p o d e r d e s , o a v ia m e n to da tom ada dos navios qoe levaes e carega que pera elle* ves
ha d e d a r , d iz e m d o lh e c o m o n o s vo s em viam oscom os dúos navios, o sq u zes se osm poderam
e sc u sa r p e ra g a s a lb a d o d a g e e n te e de todas as cousas que levastes, nos quaes, e a sy oos fretes
e m a n tim e n to s e s o ld o s , n o s g asta m o s muito; e que, por yso, oam serya rezam os aavyos se
to rn a re m d e v a z i o ; e q u e, p o sto que noso principal! fundamento seja servir a Noso Senhor* e
a elle f a z e r p r a z e r , c o m o a r e y ch risião a que teemos muyto amor, vo% com o de roso, lhe
le m b r a a e s o q u e e lle n y s to d eve fazer, com o lhe aves senpre de lenbrar o que fer de sua homrra
e de se u s e r v i ç o ; e tra b a lh a re s co m o loguo se comece a eoieroder oa carega dos navyos e <Íq
que e lle p e r a y s o o u v e r de d a r, asy d escravos, como de cobre e marfim; e tudo ysto IbedírtJ
co m o d e v o s o , s s e m lh e d izerd es cousa alguGa denosa parte, trabaihamdo, o maisooestamtnte
que v o s p o d e r d e s , c o m o d e sta s cousas venham o mílhor c a r ia d o s que seja posyvel; e fazê o
asy b em , c o m o de v o s co n fia m o s. E , caregados os navyos, day aviamento a sua partida hasnt-
cem d o s d e m a n tim e n to d a teerra, alem do bizeoito que pera a tom a via ge m levaaes, e asy
d a g o a p e r a o s e s c r a v o s , ecn ta ll m aneira que nam posam os escravos corer rysquo ha mymgoa
d isso , d e s p a c h a n d o d e la o s d ito s navios o mais breve que vos poderdes, e era tail maneira,
que p o s a m v im jr em b o o m tenpo a estes reyoos em booa ora; e principalmente venham bem
c a r e g a d o s d e s c r a v o s e d a s ou tras cousas o que bem se poder fazer, nom se detemdo os na­
vio s p o r e lla s , e d iz e m d o lh e que, se em sua terra se resgataram escravos, levareijs mercadoria
pera se r e s g a t a r e m ; m a s p o r saberdes que elle o nom coosemte, a nam levastes; e lembramdo
lhe a g r a m d e d e s p e s a q u e fazem o s com a emviada d estes navios, frades e clérigos, e cousas
que lhe e m v ia m o s ; e q u e j a a n u es de vos foram, e assy a despesa que se ca faz oa maotenca e
ensyno d e s s e u s f ilh o s ; p o r h om d e, elle deve de caregar os ditos navios o mais abascadamente
que ele p o d e r , e d e m a n e ira que nos tenhamos ajnda mais rezam de fazer bem a suas cousas,
co m o fa z e m o s , p o s to q u e v o s saibais çerto que noso jtmento e lembrança nora he d aver pro­
veito d e fa z e n d a , s o o m e n te d o acrecentam ento da fee.
Icem. V o s tr a b a lh a r ê s de saber do trauio que ta pode aver, e de que cousas, e de cuja maao
se p ode ra m a v e r ; e s e o s escra vo s e cobre e marfim e as outras mercadorias que na terra ou­
ver, se h a m to d a s d a m ã o d el rey, ou se ha hy mercadores; e atee que soma das ditas cousas
se p o d e r á a v e r e tir a r c a d anno, e por que mercadorias; e, se da mão d el rey as ditas merca­
dorias se h a m , o q u e d e lla s nos p oderá d a r; e atentar se elle se ofereçe a nos dar cad anno
alguua s o m a , e q u a n ta . Y s t o c o m o de voso; e de todo nos avisay compridamente por vosa
carta , p a r a s a b e r m o s o p r o v e ito que de la se pode tirar.
Item . V o s tr a b a lh a y de saber do laguo que diz que estaa comarquão cwn o reyuo de Ma-
n y c o m g o , s a b e r : q u a m a n h o he, e se he povorado, e de que geotes, e se ha aelle navyos, e
quam to h e d a te r r a d e M a n ico m g o , e com tra que parte; e podemdo a elle eraviar algus homes
dos n o sso s, fa z ê o , e sp reve nos o que niso aebaes.
Item . V o s e m fo r m a y d a g ra m d e z a da terra d ei rey de Maaicomguo, asy de comprijdo
com o de la r g u o , e d o s sen h ores que nelle ha, e do poder de geente que el rey teera, e a maneira
de q ue h e a rm a d a .
Item . Q u e r e is e se n h o re s sam seus comarqaos, e o poder de que saro, e o modo de que
i n.

388 Angola
vivem, e que cremca tem, e os que tem gueerra com el rey de Manycomguo; e asy se tem
guerra huuns com os outros, e o poder de cada huum, e a gramdeza de sua terra, e pera que
partes se escemdem seus senhorios; e de todo que souberdes, nos avisarSs.
Item. Açerqua do acrecentatnento da nosa santa fee catholica, asy em terra d el rey de
Manicomguo, como em toda outra parte, vos trabalhay como se faca fruyto, porque ysto he
o principal fundamento com que Ia vos etnviamos; e do que achaes em e! rey de Manycomgo,
e em sua terra, acerqua da fee, nos avisay muyto no certo, e da esperança que teetndes em se
fazer fruyto*
Item. Como antes vos dizecmos, a el rey de Manicomguo servy nas cousas da paz e da
gueerra, e da governança da teerra, asy como elle vollo ordenar e mandar, poemdo as no cos­
tume de ca, lenbrando lhe e acomseíhamdo o que em todas deve fazer; e, no que tocar a
guerra, vos meteres com a gente nosa, que levaes, naqueles feitos de que vos parecer que se­
guramente pode sayr, e sem risquo da geente; e em tall maneira o fazee, que se nam posa
segyr jncomveniente alguum a noso serviço; o fazê o com tall recado, como de vos con­
fiamos.
Item. Nos sprevê da maneira em que fostes recebido por el rey e pella geente da terra, e
como d elle fostes agasalhado e ficaes tramado, e d abastança dos mantimentos da terra.
Item. Vos trabalharês de mandar pelo rio de Manicomgo açima pesoa ou pesoas que ho
bem vejam, e saibam dar rrecado da grandeza d elle, e se posivel for, chegarem ate o lugar
omde naçe, e veer a g^nte que abita ao lomguo delle, pera de tudo nos emviardes recado.
Item. A el rey direes como nos falíamos ca com Dom Pedro, seu primo; a notificacam
que de sua comversam e cristyndade temos dada ao Satnto Padre e como he rey de grande
poder, e que, por guardar o que os reis e príncipes chrístaaos gardamos, elle deve mandar sua
obidiemcia a Sua Samtídade, como todos os príncipes catholícos o fazemos, como a vigairo de
Jesuu Christo, na suaygreja de Sam Pedro, de Roma, quehecabeca de toda a religiam christaã;
e que lhe rogamos, pois Noso Senhor o alumyou da sua graca, e o trouxe ao comto dos seus
escolheitos, que elle queyra nisto comprijr com o que deve fazer, e emviar com sua obidiencia
ao dito Dom Pedro, seu primo, por estar mais avisado das cousas de ca, e com elle etnvíar
doze pesoas, homeens fidallguos e avisados e de boom recado, e com elles seis servidores, por­
que esta companha abastara; e nos os mandaremos d aquy a Roma, com sua obidiencia ao
Santo Padre, e lhe mandaremos dar todo ho necesario pera sua despesa do caminho, que de
nosos reynos ate Roma sam b* (5oo) legoas; os quaaes emviaremos por mar ou por terra,
como milhor e mais a seu prazer posam himjr; e yram asy homrrados, como comvem a em­
baixada de tal rey como elle he, a que também muyto ajudara a booa vontade que lhe temos;
e emviaremos com elle Dom Amrrique, seu filho, que, louvores a Noso Senhor, estaa bem en-
synado e doctrynado nas cousas da fee, de quem lhe dares conta, e que sabe ja latim; e que a
oracam da embaixada da dita obidiencia fara em latim ao Santo Padre; e que ambos faram
por elle as estacões de Roma, em que se ganham grandes perdoes; e que d este caminho, com
ajuda de Noso Senhor, esperamos que venha o dito Dom Amrrique, sseu filho, provydo do
Ssanto Padre de perllado principall de seus reynos, porque nos o ssoprycaremos e mandaremos
assy pedir ha Sua Samtidade; por tall que no spritoall seja elle, por ser seu filho, o premetro
e mais principal, e comeco de todos os outros arcebispos e bispos, que nelle ouver; e que es­
peramos em Deus que elle o ajude a mayor fruyto do eixalcamento de nosa santa fee; e que
averemos muyto prazer de o dito Dom Pedro tornar neses navios com a dita embaixada, e no
modo que dito he, pera logo se poer em efeyto- E vos trabalhay como asy se faca; e soo-
mente, pera ysto, ha mester asynar elle a carta de cremça pera o Santo Padre, que vos le­
vaes, pera a trazer o dito Dom Pedro por elle asynada; porque ha oracam ca a fara Dom Amr­
rique, seu filho, como dizemos, conforme ao que nisto costumam fazer os príncipes chrístaaos,
com ho mais que vijrmos que comvem por sua homrra e louvor.
Item. Direes a el rey que nos vos mandamos que soubesseijs d elle se da gente que agora
derradeiramente foy com Gonçalo Rodriguez, recebeo alguum desserviço, e asy d alguuns ou­
tros que, d amtes ou depois, La fosem; ou se em sua terra fezeram alguum mal ou dano; e
que lhe rogamos muyto que elle vos queyra dizer todo o que niso pasou, pera aos que ca fo­
rem mamdarmos castigar como suas culpas ho merecerem, e lhe mamdarmos satisfazer qual­
quer dano ou mal que fezesem; e, se la esteverem alguuns que sejam culpados, procede cottra
P ^ n Jicc
c 0 0i 0 v o s p a r e c e r j u s t i c e asy

íc,,a em ma! e daD» cO0U)

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te < er*do, f i c a n d o a eU e a d * t r i m i„ Z * * } * » , T Z ‘1 ^ jt
> '° J Z ‘" ° que d'Z i U£ nam faCa n ad /l ” * °a * * ^ edle e *wr
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(■A éste p a r á g r a fo segUe.se


Jtem A çerq u a d a s U a e s ía d a 0 u - *
rr ,. . f Í3 * da E ádeP»it)-
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depois umaa ppá&ir*~
á g i na _ *«*.
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fica
,, m o r d o m o m o o r * r^ c o . p p<Sf«a d 0 reca .
v e i a d o t d a casa r ***0üír,a a° <* el rey
jtem, rrinjuiíttiíic
I t e m , c o p e ir o m o o r
it e m , c o p e ir o pequ en o
Ire m , ucharn > : c o ° S : r - - ara
ite re , m s n t ie ir o
it e m , s e r v i d o r d e toalh a Ite^ Sprív:itn Z PC’<?Uen°s
/tem , c o m p r a d o r
l i e m , s p r ív a m d a s c o m p u s O *a,?‘tan>
r, mtos, Sy^ete«
Z CaS!l
Ite m , g a r d a r e p o s ta ; tem, es.Hk m°0*- •
Ite m , r e q u e x e ir o

l< C Z hr^« c 113Sof


Ite m , h o m e s d o fíc io s Item r? ed° r rdaPc qUeQ0
ite m , c a m a r e ir o m o o r ***•«*
Ite m , g a r d a m o o r
Ire m , g a r d a r o u p a W ’ *iSei»Cgad0res do Paço
i t e m , a lm o ta .e e m o o r
W w ,* e * . . a_ . re^ saber.-«..
Item , veead ores
Ite m , s p r ív a m d a p o n d a d e
It e m , s e c r e t a r i o
Ite m , s p r iv a e s d a fa z e n d a ,Cadeadac0r, e aCaai
It e m , s p r iv a e s d a ca m a ra
Ite m , m e ir in h o d a c o r t e
It e m , m e ir in h o d a s ca d ea s
Ite m , g o v e r n a d o r d a C a sa d o Ç íVe!
Casa. ° V*
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Item, ju ize s h ordenairos das , a* e a °rdeo*nca
ces, ec o m odoo a o d o governo
g o v e rn o das rv t‘»ii 4adesJ viilas e i
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ftem , em qu ered o res e h * * íudlcia|, rôs> e precuraHr,
item , a lm o x arife s dos a! S tebL|M>res. r' e a*mota-
Item, o m o d o do arem ^ m oxarifados e nfi„-
irem , co n ta d o re s das com aro rendas d «I r e T d ôies
ftem , co n ta d o re s d** m arQUas das rem^t y
;» m , o o „ , . ío° ; " ; : s r . d 11 ^
ítem , th e so u re iro da r- * ' * res^d° s ...
ítazn, ( E m b ran co) Casa d ® Rey ' ° U Sas d «te, ofici0s
Item, p ríncip es ..............
ítem > *fa-mt&s r
ítem > buq u es rremí s amto Padr?
íce^ cardeaes
3ço Angola
Item, marqueses
Item, comdes
Item, bizcomde
Item, barões
Item, arcebispos
Item, bispos
Item, abades bentos. Item, a casa da moeda do Rey, e as leis d
Item, homes do conseelho d El Rey ela.
Item, nas sees, dayaes, chamtres, e as outras
dynedades asy.........
Itera, os dizimos que se pagam a Deus, que
ha a clerezia.
Item, meestrados.
..............................d El Rey.
(Cópia de Algum Documentos do Archivo Nacional da Torre do Tombo
àcerca das Navegares e Conquistas Portugueses^ Lisboa, Imprensa
Nacional, m d c c c x c u , pàgs. 279 a 289).


DOCUMENTO N-° 6
Nos ei Rei mandamos a vos Ruy Leite que ora tendes cargo de tessoureiro de nosa casa
que facaes prestes as coussas seguimtes e as emtregay a Manuel Vaz que emviamos a Mancongo
pera as emtregar a Aluoro Lopez que la esta por nosso feitor e ele as dar ao Rey do dito Mam-
comgo a que as emviamos ./.
Item dez peças de (de) panos — a saber — nove peças de bizcomteses das melhores cores
que ouverdes daver e hGa de Ruam de selo ./.
Item duas peças de seda de cores — a saber — çetym ou damasco ou tefeta ./.
Item dous pares de borzeguis e chapyns e corvilhaas ./.
Item dous pares de camysàs pera sua pesoa dolamda grosa ./.
Item duas dúzias de maiegas com caras / e per este com conheçimemto do dito feitor
feito pelo scpriuao de seu cargo e asynado per ambos em que decrare como as dius coussas
lhe ficam carregadas em rreçepta vos seram levadas em conta e emtamto pera vosa guarda
cobrares conhecimemto do dito Manuel Vaz ./. ate vos ele trazer ho do djto feitor em forma
feito em lixboa a xb dias de setembro Jorge Femamdez o fez de mil e bcxiiij .//. Rey — O ba~
ram .//.
dinheiro
Pera Ruy Leite fazer estas coussas prestes que vosa A, emvia a el Rey de Manicomgo e
as emtregar a Manuel Vaz / pera as ele emtregar a Aluoro Lopez feytor ./.

Recebido João da fonseca Jj.

Ruy Leite se por vemtura nom teuerdes os panos contheudos neste aluara el Rey noso
Senhor a por bem que lhe deis o valor deles em outros panos assy de Ruans lond... de cores
e alguas rrochellas de cores scprito em Lixboa a x dias doutubro de i 5 14 ./.
O Conde de Villa cova ./♦
Recebido Jorge Fernamdef.

Recebeo o dito Manuel Vaz de Ruy Leite os panos e cousas comteudas neste mamdado
dei Rey nosso Senhor — a saber — hua peça de çatym em que ouue sesemta sete couodos
çimquo sesmas davemça de quatrocentos e oytemta reaes couodo / E outra peça de damasco
em que ouue çimquoemta dous couodos terços de quinhentos trinta reaes couodo / E os outros
panos decrarados no dito mamdado pelos nam auer neste terreiro (?) lhe foram avaliados jum-
tamemte em çimquoemta dous mjll oytocemtos sesemte tres reaes z/3 os quaes recebeo o dito
J*'
r
í : r

h ^ -40

Apéndtce 39 í
Manuel V o z nestas mercadorias segujmte* -/. — a saber quorem u fauG c o o o d o s 4/ia co so d e
Ruam do selo davç* de quatrocemtos qtioremta reaes couodo / E dezesete couodc^ 7/S doutro
Ruam davça de trezem tos reaes couodo e mais vynte couodo* %/& de Roam de selo / <f*T«ny*
de trezem tos oytem ia reaes couodo e cimquemia noue couodo» sestna de londres d e rc z n ç a de
duzem tos trimta reaes couodo B cymquoemta noue couodo» t/ia darrocbeela daveroça de
cem to cim quo reaes couodo e dezanoue couodos terça doutra arrochela de oouesaca cimquo
reaes co u od o E asy dous pares de borzegujs e chapins e cerujlhas e quatro camisas dolam d*/
e duas dúzias de malegas as quaes mercadorias e cousas o dito Maooei Vaz Recebeo asy do
dito R uy L e ite pera lhe de todas mamdar conhecimento feyto em forma pelo escriuSo da £ey~ 0
torja de M anjcom go na maneira comteuda neste mandado dei Rey noso Senhor e por oerdade
asynou aqui feito em Hxboa a scii| dias de Oytubró de mi! b*xiuj ./. J o r g e C orrêa — M x n u ei
V a ? . ___ __
Valem os panos que estam com avemça atras — 6xííj C L x reaes i/3 (síc>
(Arquivo N ic io a d da Tdrre do T o o b o , Corpo C f e t o b z c o ,
Parte i.% Maço 16, Documento i6}-

DOCÜMENTO N.® 7
A l u a r a d e d e f e s a q u e e l R e y p a so u p era nam p od e re m c a r r e g u a r n e m tra ze r d e C o m g u o
c o u s a a l g u ü a s e n a m n o s n a v y o s d e i R ey /.

N o s e l R e y f f a z e m o s s s a b e r a v o s ffe ito r e oficiaees da n o ssa c a s s a d a m y n a e a o s d a n ossa,


f e y t o r i a d a I l h a d e S s t n T h o m e e a o u tras quaesquer p esso as e o ffic la e e s a q u e e s t e n o s s o a l ­
u a r a f o r m o s t r a d o e o c o n h e c im e m to d e lle p ertem cer q u e n o s a v e m o s p o r b e m q u e n e o h u u a
p esso a qu e d a q u y em d ia tn t e f f o f a o R e g u o de C o m g u o o u o r a ja la a e s te u e r c a m d o q u e r q u e
s e v i e r s e j a o u s s a d o d e s e m b a r q u a r n em tra z e r esprauos nem c o u ss a a lg u u a n em n e n h u u s o u t r o s
n a v y o s s e n a m n o s n o s s o s s s o b p e n n a de perder tod a su a fa zem d a e s e r d e g r e d a d o p e r a a Ü h a
d e S a m T h o m e p e r a s e m p r e e a le m d iso se perder o n a v y o e m q u e a s d it a s c o u s s a s t r o u x e r e m
p e ra n o s p o lo q u a ll v o s m a m d a m o s q u e lo g u o o fa çaes a s y n o te fíc a r e p o o r n a s c o s t a s d e s te
a d ita n o te fy c a ç a m e t r e la d a r e s t e n e s a c a s a d a m y o a e m am d ar o p r o p io a d i t a Y l h a d e S a m
T h o m e p e r a o l a a n o te fic a r e m e apreguarem e a sy em C o m g u o e om de p arecer n ecessaryo
p e r a a s p a r te s n a m a lle g u a r e m y o o r a m ç y a fe y to em E v o r a a x b ü j d ia s d e N o u e m b r o A lu a r o
N e t o o f e z d e m i l b « x ix .
(Arquivo Nacional daTôrre do Tombo, Leis e Regime-elos
de D. híantul, Liato 16 A , fl, iiS ▼ ->.

DOCUMENTO N.* 8
Sanõr
D u a s c a r t a s d e V . A . n o s fo r a m d a d a s qu e em d o u s n a v io s de v o s s o tr a to v e e r a m / a m b a s
d e h u t e o r e s u s t a n ç i a / e s o b r e o s fr a n c e s e s qu e a e s te n o sso R ein o e p o r to d e s s o n h o a r r y b a -
r a m / d e q u e a V . A . p e r o u t r a s q u e lh e e s p r ita s te m o s d e m o s la r g a jn fo r m a ç a m / c o m o por
e s ta o u t r a v e 2 f a z e m o s // O s q u a e s t a m t o que a o d ito p o r to c h e g a r a m e d is s o fo m o s c e r t i f y -
ca d o lo g o c o m m u y t a d ilig e n c ia m am d am o s a b a yxo M a n o e ll P a c h e q u o c r y a d o d e V . A . q u e
d e c o r r e g e d o r n o s s e r u j a / q u e c o m a n a a o d e A fo n s o de T o r r e s e h ü c a r a v e ia ã o d e v o s s o t r a t o
c o m t o d o s v o s s o s n a t u r a e e s e n o s s a g e r a te / se tra b a lh a sem to m a r a d it a n a a o e c o m o quer
q u e t u d o c o m e t e r a m / e l l a e s t a u a t a m fo r te d e arm a s e a r te lh a r y a e ty n h a t a n tto a v y s s o s o b r e
s y p o l i a g e m t e s u a q u e e m t e r r a e s t a u a / q u e se n ã o p o d e to m a r a q u a ll v e n d o o s la ç o s que
lh e c a d a d i a a r m a u a m p e r a s e u d a n o / sse fez h a v e lla e sse f o y Leuam do h u u a a l m a d i a c o m
c e r t a g e m t e n o s s a / q u e a n d a u a p o r e s p ia c o m t r a e lle s / e os q u e em te r r a f i c a r a m f o r a m t o ­
m ados co m a b a r q u a m a n h o s a m e n t e / p o r m u ito m arfim e m a n ilh a s e p a a o o v e r m e lh o q u e lh e
m am dam os m o stra r d iz e m d o q u e tu d o e r a p e ra e lle s / estas c o u s a s s a m t a m n o t o r e a s e p u -
3 ç2 Angola

brycas aos vossos naturaaes que se pressente acharam / que elles diram que pasou asy se a
verdade em cobrir nam queserem /
A sy Snnõr que desta gem te sam m ortos m uitos dos que em terra ficaram e som em te doze
sam uyuos / os quaes muitas vezes m am dam os a b a yxo pera averem de ser entregues aos pil~
lotos dos navios e trato de V . A . / os quaes allguGs leyxaram de leynar p o r leuarem peças di­
zendo que tynham catar peças e nam fram cesses / ou tro s nam quyseram esperar p or elles nem
p or nosso rrecado / e sse foram sem hfia cousa nem ou tra / e a esta causa estam te ora neste
R e in o / rrecebem do aquellas merçes e gassalhado que os m all feytores e que V , A- deseruem de
C nos mereçem e vossos naturaes com sseus olhos visto tem //
E tam to que vim os as cartas e o desejo de V . A . os m andam os m eter em prissam e presos
foram leuados abaixo pera serem emtregues ao pilloto que os leue e vam aderem çados a huG
nosso criado que na Ilha de contyneo temos para os ir apressentar a V , A . com o per outros
m uytos dias ha que hordenado tínhamos / se os ditos pillotos os leuar quyseram / os quaes
peT todos ssam dez pessoas com hü que diz que he padre de m yssa / E ficam dous em nosso
Reino — a saber — hu carpim teiro que escussar nam podem os por nam aver outro neste Reino
e pera rrepayrar e cobrjr as Igrejas / ho outro a que dizem seer pilloto / por ser bom gram á­
tico pera assentar escolla e etnsynar nossos parentes que do latim tem pryncipio / por nam
perderem o que tem aprendido / e estes dous se V. A . ouuer p o r mais serujço que vaão / que
fazer aquelle fruyto pera que os leyxam os / logo jram //
E sse leyxamos nq^ytas vezes deserem a V , A. e lhe dar conta e rrezam das coussas o
serujço de Deus e do que temos necesydade pera ssua santa fee soustem tar a caussa dysso
Snnõr he o pouco acatam ento que os ditos pillotos a nos e a nossos m andados tem por que
em casso que m uyto lhe mamdamos emcomendar sse nam partam sem nosso rrecado e despa­
cho / nam leixam de partir tam to que tem as peças que querer nam esperamdo polias nossas
que muytas vezes ficam em terra //
E muytas vezes se acom tece estarm os b(5 ) bj(6) meses ssem m yssa ne nem sacram ento
porque os oficiaes de V. A . o querem assy / o que pouco servjço de Deus / e grande tornaçam
pera nossas gemtes e dizem e murmuram que V . A. se nam lembra ja de nos / nem da cristan­
dade que E li Rey vosso pay que santa gloria aja de tantos anos a esta parte tem conseruada
com ssuas muytas vysytaços provissoes e emparo o que era a todos grande esforço e cons­
tância / e a nos grande conssollaçam e ora esta posto nesta balam ça pollo esquecimento que
V . À. mostra que de nos tem / o que os ditos pillotos fazem pareçer j pollo desacatam ento
que em suas partidas e sem nosso rrecado custumam fazer / dizendo que asy lhe he mandado
pollos oficiaes de V. A. / E quando abaixo vaaõ nossas cartas achamos ja partydos / E vaão
dizendo que nollo fezeram saber / e lhe nam quysemos dar despacho / tudo affim de encobrir
suas cullpas / e de nos meterem em odio com V . A, pera que de todo se esqueça de nos / A a
quall pedimos mujto por merçe nam crea mall dizentes nem pesoas que nam tem o cuydado
senam em m ercadejar e vender ssuas cousas m all avidas e danar e corrom per com seu desor­
denado trato nosso Reino e Christim dade que nelle he e a de tamtos anos a esta parte / e tam to
tem custado aos nossos anteçessores / tesouro tam precioso e que os rreix e príncipes tam
cristianissimos e catolicos com o V . A. he / se trabalham porem novas gemtees o principiar a
conservar por seruiço de D eu s/e acreçentam ento de ssua santa fee católica a que todos teudos
e obrygados somos o que se mall pode fazer com tamtas m ercadoryas e de tam desvayradas
maneiras / as quaes tem tamto poder nos cim pres e jnoram tes que leyxam de creer em Deus
por crerem nellas o que senam farya quytada a causa / o que he laço do diabo pera comdena-
çam de hüa parte e outra / e daquy Senhor se ajunta huu cobiçosso com hu gollosso / per
honde nossos naturaes vem a furtar os seus e nossos parentes e cristaãos e os mercam e ven­
dem por catiuos em tamta maneira Sor he esta corruçam que nossas forças nam podem abastar
ao rremedear sem em nossas gemtes leyxarm os de fazer m uyta e muy gramde execuçam E
assy lazera (sic) o justo pollo pecador //.
E que Snnõr se nam farya se V. A. nos qujsese ajudar e ffauorecer da m aneyra que o E li
Rey vosso pay fazia / com os rremedios espirimaes — a saber — m uytos padres que escussar
nam podemos pera os sacryfiçíos pregaçoeês doutrynas e comfissoes / pera que por todallas
partes de nosso Reino / que he muyto gramde e de muytas gemtes / se espalhassem de dous
em dous per hordenaçam que lhe daríamos com o bispo nosso filho pera que em tall maneira
■**r
r

Apêndice 3 ç 3

s e m e a s s e m a p a lla u r a de D e u s nos co ra ço es das gem tcs qu e n elles fica ssem p n p n m i t o s ' q a c


a jn d a q u e q u y s e s s e m c r ia r aUguGa d iabólica pesonha pera ssu a co a d e o a ç a m / * w ir ta d e d a
t a ll t r i a g a o s a m e z y n h a s s e //, m
E b e m a s y S n n õ r e v y ta r o s m ercadores d os ooaaos tra to s e fall&sas m ercad o ria s / q u e jfl>-
d e m a s s a U u a ç a m d a lm a c daram ho fru yto bom que he fey to / e a s y g u r o n e a te s m u la to s e
b e n y m s d e q u e h o n o s so R eino he cheo / se nenhuQ fru yto nem seru iço de D eus fa zera m sseoaxx»
jm s y n a r a q u jilo d e q u e husam / que ssam roujtas torp ezas c m aa vid a o s qu aes d e n o s so s
R e i n o s l a m ç a r n a m p o d e m o s //.
O u i r o s y S n n õ r tem o s m u)ta necesydade de tres ou q u a tro b o 5s m estres de g ra m a tica s p era
a c a b a r e m d e c o m fir m a r nossa gem te aquellas que ja n y sso sam p rm cip yad as / p o r qu e p era *
jm s y n a r a ie e r e a e s c re u e r mu)tos temos qua vo sso s n a tu ra e s e n ossos que o ssabeco e fazem
/ m a s p e r a lh a s m o s tr a r e d ecrara r as cousas desta fee e ç e r u y r o s ca sso s d o ry d o iso s / que o s
o u t r o s h o m e S s g e ra llm e n te nam ssabem / o que he m u jto n ecesa rto //.
O u t r o s y S n n õ r b ( 5) ou bj / (6) pedrejros e dez c a rp e te y ro s (?) p e ra a ca b a r allgo&s o b ra s
d e I g r e j a s q u e c o m e ç a d a s tem os em serujço e lo u u o r de n o s so S n n õ r D eus / priacip alroen te
h u a d e n o s s a S n r ã d e v ito ria / que com eçam os em h uã m u y fo rte m a ta h o n d e anttgam ente se
o s r r e x e m t e r r a v a m segu n d o sua antiga id o la tria / a qual! to d a rro m p em os e c o rta m o s que era
c o u s s a m u y d if y ç e ll d e fa z e r / a sy polia aspereza do lu gar co m o p o tlo s grand es de nosso R eino
em q u e ty n h a n o s d u u jd a o quererem com sem tir / os quaes foracn a js o tam co n fo rm es e de li*
g e n te s q u e p o r s u a s p ro p ia s m aõs cortauam as grandes e grossas a m o re s e íeuauam a p edra
p e r a a o b r a a a s c o s ta s / o que pareçeo ser por graça devino (?) / E a sy d am os rau ytas lo u u o res
a o S n n õ r d e u s p o r ta ll m ylla g re e comseotimezuo da vontade em seus c o ra ç o e s / p o r qu e de
c a e y r o s e h o m e s p e ra fazerem ca ll nam temos necesydade por que em n ossos R einos tem o s
m u y t o s n o s s o s n a tu ra e s que a bem sabem fazer //.
F o r q u e p e d im o s a V . A . p o r am or de Jesus Christo nos queira aju d ar e fa v o reçer em to d o
o q u e d it o e p o r m u y ta s vezes pedido temos p ojs he tam to o seru jço de D eus e seu e to d o
c a r r e g o s o b r e s u a c o m c je m c ia / porque em nos nam he mais poder que o d e c o o u in o fa ze m o s
e o b r a m o s / E o q u a a n o s cabe e rrem ediar podem os sem outro a ju to ry o n os h o tem os fe y to
e c o m p r y d o / m a s a q u y llo que sem ajuda e de direyto pertençe / o quall a ell R e y de C a ste lla
n em d e F r a n ç a n e m a o u tro nenhüu R ey cbristaão avem os de rrequerer nem o b ry g a r / p o r
m u jt o s r r e s p e y t o s de que nos muj certeficado somos prinçipallm ente p o r q u e a elles n a m per-
te m ç e o t a l l c u y d a d o p o lia p o u ca p arte que neste Reiuo tem / O qu all he tam p o rtu g e s e tam
le a l a v o s s o s e r u iç o / c o m o esse p rop io que V . A . de direito so b red eo / e se g u a r d a p o r que
em n o s n a m h a lu g a r a jm g ra tid a m e ssom os em perfeito conhecym ento d o s m u yto s beoefi-
ç io s e s p ir itu a e s e c o r p o r a e s p o r nos rrecebidos / e nam he em nos tam to e s q u e çim e a to que
n a m e s tim e m o s m a is o s a g ra u o s d a nossa propia e verdadeyra m ãy / que o s co m tra fe y to s e
jm fig id o s m y m o s d a fa llssa m ad rasta / ajtnda que todos em huua fee e le y co m fo rm es s e ja ­
m o s / e d is t o n a m d y r e y m ais p o r que V . A. he muy certificado d o que em nos tem / E q u am
ç e r t o n o s s o e s ta d o R e in o e sn o riõ s he sempre pera seu seruiço / pedycnos p o r m erçe a V . A .
a e s ta n o s r r e s p o n d a c o m e fe y to / co m o esperam os / e asy a outras que M anoell V a r e lla le u a
qu e n e s te c a s s o to q u a m e e m o u tro s de m ujto seruyço de Deus e d esca rgo de nossa co m c ie n -
ç ia / n o s s o S o r p o r s u a sa m ta m ysericord ia e piedade queira sempre ter V . A . em sua g u a r d a
c o m m u ito s d ia s d e v y d a e a creçem tam em to de seu rreall estado a seu sam to se ru y ço / d e s ta
n o s s a c y d a d e d o C o m g o e s p rita aos xxb dias de agosto dom Joham T e y x e ra a fez de m il b*
xxbi annos / „ „ _
E l Rey Dom Afonso.

N o verso. A o m u y t o e x ce le m te e m u yto poderosso R ey e Snõr EU R e y de p o r tu g a ll //.


(Arqtm o da Tôrre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte i.* ,
M a ç o 3 4 , D o c. 12 7 ). 5

5o
3ç4 Angola
DOCUMENTO N.« 9
Senhor

Porque nos ficou por esquecimento nas muytas q Iheespritas temos semdo um to seruyço
de Deus tornamos per esta a esprever //.
Saberá V, A. como o bispo nosso filho he neste Reyno de comtyno muito doemte e mail
desposto/e porque nos nam temos qua outro tam primcipall esteo que nos ajude a soustemtar
esta samta cristymdade que nos Deus por sua mysericordia emuyou/he hua soo camdea amte
nossos olhos / A quall sse se apagasse ficaryamos em trevas / o que Deus em nossos dias nam
mamde / pedymos por mercee A V. A. o queira prouer do bispado deste Reino pois ho tam­
bém mereçe / e asy por seer nosso fylho / como por Manuell Varella lhe esprito maes largo
temos / .
E assy lhe pedimos muyto por merçee que aja por bem e seu seruiço pera que tenhamos
quem nos ajudem com o dicto bispo ao seruyço de Deus como terceeiro / ssobrinho e samgue
nosso que he / mamdado a Dom Afomso q ha um tos annos que lia esta ha premder / queira
tomar hordes de clerygo / pera com ellas vyr seruyr a Deus nestes Reinos e fazer aquelle
fruyto pera que apremdeo / o que ssabe / E despois de vymdo nos lhe daremos tamto do
nosso que possa torns^a bispar se o asy V. A. ouuer por seruyço de Deus e sseu / o quall
nam pode maior seer que este que lhe desejamos / asy pera ha homrra como pera a sallua-
çam /E mamdamdolho V. A. nos cremos delle que ho fara segumdo nos dizem que tem aprem-
dydo o bom ymsyno e coussas que ao bom periemçe / com o que damos muy graças e louvores
ao Senhor Deus por asy seer / pois de quamtos nossos sobrynhos e paretmes Amtonio Vieyra
por mamdado dei Rey vosso pay me deu (sic) pera apremderem o que este ssabe / de todos
nom ouuemos outro gosto senam tristeza e nojo com suas mortees e este soo ficou pera nossa
comssolaçam que he gramde com suas novas.
Item Senhor nos temos muyto marfym e cada dia nos vem o quall desejamos mamdar em
vossos navyoos a esses rreynos / pera com elle escusarmos as despesas que V. A. com nossas
coussas faz j e os vossos pillotos nollo nam querem levar ajmda que ho abaixo mamdemos e
assy fica como perdydo / pedymos por merçee A V. A. nos emuye provisam pera que nos rre-
colham nossa fazemda em seus navyos e nolla levem / pois tudo he pera serviço de Deus e de
V. A. aa quall o Senhor Deus dee lomgos dias de vida a seu samto seruyço escprita desta ci­
dade de Comgo a xxb dias de agosto / Gonçalo Anes a fez de i 5*i6 /
E l R ey Dom Afonso .

No verso . Ao muyto excellente e muyto poderoso Rey e Senhor Eli Rey dePortugall etc.
(Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo, Corpo Cronológico»
3
Parte i.*, Maço », Documento 99).

DOCUMENTO N.° 10

L I S T A D O S R E I S D O C O N G O

1. Ntinu mini a lukeni.


2. Nanga kia ntinu, seu sobrinho ou primo.
3.
4. Nkuwu a ntinu, filho do n.° 1.
5. João I, Nzinga a nkuwu, filho do n.®4, baptízado em 3 de Maio de 1491, falecido em

6. Mpanzu a nzinga (Mpanzu a kitima?), segundo filho do n.° 5 , i 5 og.


7. Afonso I, Mbemba a nzinga (Mbemba nelumbu), o filho mais velho do n.° 5, 1509-40,
f

3ç5
Apêndice

8. Pedro I, Nkanga a mbemba, filho do o.» 7, 1540*44. í


9. Francisco Mpudt a nzinga, 1544*46.
10. D iogo Nkutnbí a mpudi, filho do n* 9, 1546-61.
1 1. Afonso U Mpemba a nzinga, filho ilegítimo do n.® 10? i t. 56
1
12. Bernardo »(bastardo), filho do n.® to» 1561-67.
3
1 . Henrique (Nerikaj a mpudi» filho do tu* 9, «567-68.
14. Á lvaro I, o Mpan-zu, Míui a lukeoi lua mbatnba, enteado do o.* 1%, «568-74.
5
1 . A lvaro II, Nempanzu a Mini, filho do n.* 14, 1574-1614.
16. Bernardo II, Nenimi a mpanzu, filho do n.® i , t « . 5 65
17. Á lvaro III, Mbiki a mpanzu, duque de Mbamba. filho do n.® i , 16*5 a 26 de Maio de 3 *
1622.
(8. Pedro II Afonso Nkanga a mbiki, filho de Mbiki an tumbo, duque de Nstmd«, neto de
3
uma filha do n.° 7. «622 a i de Abril de 1624.
«9. G arcia I, Mbemba a nkanga, duque da Mbamba, filho do n.* 18, Abril de 1624 a 26 de
Junho de »626. *
20. A m brósio I, 10 de Outubro de 1626 a Março de í i . 63
21. Á lvaro IV, filho do n.® 17, 25
de Fevereiro de tó i a i . 3 636
22. Á lvaro V , filho do n.° 21, « - . 636 38
23 . Á lv aro V I, duque de Mbamba, Agosto de «638
a 22 de Fevereiro de 1641.
24. G arcia II, o kimbaku (Nkanga a lukeni), marquês de Kiwa, i64|g63.
25 . A ntón io I Nevita a nkanga, mwana mulaza, filho do n.®24, i66?66.
26. Á lv a ro VII Nepanzu a masundu, 1666-67.
27. P edro III Nsukia ntamba de Mbula, 1667-79.
28. Á lv a ro VIII, 1667-78.
29. A fo n so III Afonso, 1667-69.
3 0. G a rcia III Nenganga mbemba, 1669-78.
3 1. R afael I, marquês de Mpemba, 1669-75.
32 . D aniel de Gusmão Nemiala nia gimbiiUa (?), descendente do n.® 14,1678-80.
33 . João de Mbula, irmão do n.®27, 1679. (Estava vivo em 1710).
34. A ndré m ulaza, descendente do n.° , 1679. 25
35. M a n u e l N z i n g a e l e n g e , d e s c e n d e n t e d o n .° 14, t 6 8 o - i 6 . .
36. Á lv a roIX Nenimi a mbemba, descendente dos n.®B 14 e 2$.
37. P edro IV, Nsanu a mbemba (Agua Rosada), irmão do n.® , subiu ao trono em 1694 e 36 ' *. 4
estava v iv o em 1710.
38 . P ed ro Constantino Kibangu. Foi executado em 1709.
3
A s datas indicadas para os n.®» 26 a $, são na maioria incertas. Os n,®' 26, 28, « e a 3 3
creio terem residido em S. Salvador; os n.*» 29, o, 34, , 3
e 37 em Kibangu e os n.M 27 e35 36
33 em Mbula.
(The Strange Adventures q f Andrem Battell o f Leigk, in Angola
and the adjoining region*, £ . G. Raieasteio, Londoa, Haktest
Society, u ,dcccci, Appendix UI, pig. i36).

DOCUMENTO N.° t i
Snõr.

A g r a ç a p a z e a m o r de chrÕ f s ic j nosso redemptor more sempre em sua alma am ê: p o r o


p a d re d io g u o g u o m e z la a ser com o cofio em ho snõr q seraa / no curarei nesta ser muy*°
la rg u o , s o o m 1« b reu em éte darei cota a v. ra. do ^ despois de sua fttda succedeo. os Jrmãos m e
escre u e rã o p o u c o s d ias h a q E IR ey totalm ête nõ queria ouuir pregação, e ^ defendeo q se não
en sinasse a d o c tr in a no am b iro a qual hü dos padres laa hia ensinar as molheres porq nuca
p o d e m o s a c a b a r c õ e lla s q quisesse vir aygreja e assy mádou que bua missa q se cad a dia \aa
hia d iz e r p o lia a lm a d e lR e y d õ a® seu avoo q se nÕ disesse: e assy fez out0* grandes su em os
c 3 h u a c a r t a q u e lh e e u d a quy escreuy o treslado da qual prazeraa a nosso snõr q m uy cedo
Angola
ho mostraremos a v. m. de man* 3 jaa pareçe por estas obras <| se vay este homS fazendo
faraó / tambS me cscreuerão eysto afirmíídosse ser assy q muytas noites vay a cassa do mu­
lato luís pií <j aguora he sua alma / e ahy come marmeladas e folgua e nestas couzas e outras
semelhfites se exercita agrauidade de hü Rey q se preza muy'0 do nome de críanissimo / muy
neçessario pareçe ser q elRey nosso snõr acuda co rigor a estas cousas pois otratalos sua a.
atee guora cõ tãtos mimos eregalos, os tem postos no cume da soberba por q crea v. m. que
não tomão as cousas de s. a. como de pay e snõr q os estaa criando co tãtos regalos, mas to-
manas como de p* Jnferior e da quy lhes ve porõ os pees por cima de tudo: / dou esta breue
cota a v, m. deixando tudo ho mais pa quãdo nosso snõr for seruido q vamos a essa ylha q
praíeraa a sua diuina magestade q seraa muy cedo; ho ptador desta he Manoel de viana cõ ho
qual elRey tem bem cÕmuntcado suas cousas e elle as sabe muy bem. deuia v. m. jnformarse
meGdam1* por elle das cousas de qua pã q as escreuesse a s. a. por q os q de qua vão pa. ptu-
galj poucas vezes se lembraÕ de desenganar a s. a. como he rezao q. seya / peço a v. m. por
amor de nosso sõr q. ao pe di° guomez e ao JrmSo q. CÕ elle vay faça çedo embarcar pa. ptugal
pois seraa grade sí<> de nósso sõr elle por sua infinita à ía vissite sempre v. m. cõ sua graça
p í q. em tudo o sirua pfeitam1* deste pinda a it de feuer0 de 1549.
seruo Jnutil ao snõr e seu orador
Jorge vãf

No verso :
Jhfis
Ao snor capitão daylha de S. thomé.

Cota:
Carta de Jorge Vaz p* o cap“ da Ilha de S. Thomé em q lhe deo conta, q depoisjla par-
tida do Padre Diogo Gomes lhe vierão noticias q ElRey não queria ouvir pregação, e q e en-
dera se não insinasse doutrina no Ambiro, aqual hía insinar hum Padre ás mulheres por nao
quererem vir á Igr*, e q se não dissesse huã missa q cada dia se costumava rezar e outras
cousas a este resp10, a q o nosso Rey devia acudir com todo o rigor. 11 de Fev° de 1549.
(Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo, Corpo Cronológico,
Parte x.", Maço 82, Documento 48).

DOCUMENTO N,° 12
Snnora.

... Eell Rej que samta gllorja ajaa com ho gello que sempre teue haumemiar nosa samta ffee
me mamdou a ell Rey de Comgo como V. A. sabee pera ser proujsor he lhe lembrar allgüas
cousas de que elle estaua he estaa bem esquecydo per nosos pecados he damdolhe eu as cartas
dei Rej / he de V. A. mostrou com elias mujto conuêtamemto he tamto que eu qujs emtemder
he fazer 0 que comujnha ha meu offiçyo he descarrego de mjnha comciemçya he saliuação de
sua allmahe dos deseuReyno que foy emtemder e mamdar homes casados de mujto tempo nesta
terra fora de suas molheres he ffazellos yr ffazer vida cõ elias he outros homSs solteiros de muito
mas costumes he exempros/preyudíciaes em esta terra he lembralhe outras cousas de mujtoser-
ujsode Deushe a crjstamdade damgolla pomdolhe muitas coussas diamte quamto serujso de Deus
hera he 0 que ganhaua com Deus he cõ o mumdo he premdy allgus escrauos catyuos que destes
Rejnnos la amdauão fogidos pera hos mamdar a seus senhores tamto que elle veyo que eu
querja leuar este camynho he nao o que elle ate quy tynha leuado com os outros proujsores
que elle qua tynha que fazião o que elle querya he elle hera prellado he majs que prellado co-
mesou llogo comjgo husar do que husou com os outros que ell Rej que ha jaa gllorja tynha
mandados como ffez ao bispo dom Joao Bautista he aos padres da cotnpanhya por que não
pode sofrer quem lhe falle verdade he comesou comjgo ieuamtarme todollos padres que me
não hobedesesem meteu njso hu seu comfesor que ja hera husejro he vyseyro a fazer a taes
: 0 r
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Apêndice 397
cousas co m o fez a dom João Bautysta / he Amtonio Lujs de Saa / be «sj doas padres
bispo la tem ha tynha por proujsor quamdo eu laa hacheguej que se chama Francisco Barbado
que tynha ffeyto m uitos desscrujços de Deus oaqueile Rejno bê nesta jlha lhe ffoy muito estra*
nhado m am dallo elle laa por proujsor semdo noiorjo ha todos o que elle laa tynha íejto be
estes padres com outros do seu comsriho asemtarão de mandar pedyr ao bispo qoe me tyrtse
de p rou jso r dizcm do que eu dezta que hera proujsor por elt Rej noso SÕr be que el Rey não
poclya por prou jso r he que ho bispo o avia de por he que elle lhe avia de mãdar os crelyguos
he ell R e y não ne a sua meza da comsyemçya he que elle nSo tynha necesjdade de aeahSa
cousa de portugall senão de crelygos he que tyuese ao bispo he não avia mester a ri Rej noso- 9
So r nem a V. A . / nem ao cardiall como lhe eu tynha dito he ordenarão de cnamdar ao bispo
dizemdo m ujtos aleiues he fallsos testemunhos asyell Rej como hos padres do bispo / he por
que eu tyn ha m am dado allgus cullpados de cullpas mujto ffeas basy crelygos como leygos lhos
m am dou el Rej pedjr he elles lhos mamdou he lhe mamdou que me premde&c xquj pot qJq í
hyr estrouar o seu embaixador que la macnda / he me premdeo aquj sem causa he cullpas oe-
nhuas he m e m eteo em batxo atntre escrauos mallffeitores avetndo casa em syma hotnde estão
homes de bem não olham do que hera capellão dei Rej noso sor he mamdado por elle / he não
me quis d ay tyra r sem lhe dar ffiamsa de qujnhemtos cruzados ja roe não hjr desta ylha he
jmdome delia os perqua pera ella / he a sjmcoemta dias que me solitou sem me querer flallar
a fejto nem d ar cullpas por que me premdeo / he serio que bem mostra elle o que diz el Rej
de G om go pubrjquam em te que ho seu dinheiro lhe hade acabar quamt^eile quer bem Ibe jret
m ostrado o bispo he asy mamdou ltcemça a dous homes casados pera estarem Ha majs tempo
com tra vom tade de suas molheres he prejudicjaes em aquelle Rejno / que be ba Fero Feraan-
dez / he A m b ro sjo d’Azauedo que vay por embaixador lhe dezião pubricamemte que mamdase
dadíuas a p o rtu gall que tudo teryão la vaj com elfas eu disse a el Rej que suas obras podião
laa h ap ro u ejtar m as dadyuas não com V. A. nem com os da meza de comsjemçta pera quem
as elle m am da que com suas obras he cousas que lhe e! Rej mamd&ua lembrar seya sua em­
baixada tnuj bem rrecebida he não com dadyuas euescreua aocardeall mais largamemte/peso
a V . A . pelas chagas de cristo noso rremdemtor que mamde hyr roynhas cullpas diaime V . A .
ou de quem for seu serujso he mamde ao capitão desta Jlha que se emfforme das cousas do
bispo que nelta faz he em Com go he asy de mjm he dos seus proujsores he mamde que todol-
los autos que eu nom ear que me elle tomou lhe mamdey he sabera se as cousas que eu fiz em
\
Com go são m eresedores de merçes se de emjurias e justiças / noso Sor acrecemte os dias e
estado de V . A . p era com seruação he paz de seus Rejnos escrita em São Tom e a xbj de outu­
bro de 558 annos .//• \
i
N o s o b r e s c r ito : P e ra ha Raynha nosa Snnõra .//. i «
i
(Â rq o iro Naciooal da T òrra do T om bo, C orpo C ron ológico #
Farte i . a, Maço io3, Docamento 1 1 ).
\
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DOCUMENTO N.° v 3
R E G IM E N T O DADO POR E1REI D. MANUEL
A M AN U EL PACH ECO E A BALTHASAR DE CASTRO
Q U E F O R A M DESCOBRIR O REINO DE ANGOLA
N os E l R ey fazem o s saber a vos Manuell Pachequo, escudeiro ffidalguo de nosa casa, e a
vos B eltesa r de C r a s to noso criad o , que hora emviamos por capitam e scripvam do navjo do
descobrim ento do regn o d A m g o la tee o Cabo de Boa Esperamça, que esta he a m aneyra em
que avem o s p o r bem que n o s syrvaees na dita vjajem.
Item . T a m to que h o ra fo rd es ter a Lixboa, requereres o feitor e oficiaees que v o s dem as
cousas n e cesa ria s p era leva rd es, saber: os pertences e mercadarias e ornamemtos\pera çelcbrar
m isa, segu nd o he co n th eu d o no alvara que vos mamdamos das ditas cousas dar, e asy quaees-

i
3ç8 Angola
q u e r o u t r a s m a ,s q u e a o f e i t o r e o f i ç i a e s c o m p a r e ç e r d A f f o n s o d e T o r r e s n e ç e s a r ia s p a r e c e -
r e m p e r a o d it o d e s c o b r y m e t m o , as q u a e e s v o s d it o M a n u e l P a c h e q u o le v a r e s s o b r e v o s , e c a r-
r e g u a r v o l as h a e m r e c e y t a B e lt e s a r d e C r a s t o e m h u u m l i v r o q u e p e r a js o ffa r a , e a s y m e s m o
e m d esp esa c a m d o a s d e rd e s o u d e s p e m d c rd e s s e g u m d o o d e v e s fa z e r .
Item. Noso primçipall fumdamento he mamdarmos vos nesta viajem pera verdes se podes
ffazer com el rey d Acngola que se ffaça christão, e asy a jemte de sua terra, como he el rey
de Comguo, porque somos emformado que ho deseja, e que vieram ja seus embaixadores a
Comguo decraramdo que ho desejava ser; pelo quall requereres, pela provisam nosa que le-
C vaees, o feitor e ofiçiaes nosos da jlha de Sam Thome, que vos ordenem e dem huum creriguo
dos que la ouver, que pera jso pertemçemte seja, que vaa comvosco pera fazer christão o dito
rey e os majs que poder, os quaes nosos ofiçiaees se comçertaram com ele o milhor que po­
derem, e segumdo rezam ffor, açerqua do partido que lhe daremos pela viajem ou pelo tempo
que la estever; e aquelo que por eles for asemtado lhe mamdaremos paguar e sera com voso
pareçer; e se hy estever Ruy d Aguiar que esteve ja por viguayro em Comguo, e estever em
desposyçam pera hyr na dita jda, e pera ele pertemcymte o achardes, folguariamos que com
ele vos comçertases, porque somos enformados que servyra no dito carguo bem por ter pra­
tica ne^as partes. E asy mesmo requereres o feitor e offiçíaees da Casa da Mina, que se com*-
certem com dous homens que saiban bem ler e screpver pera levardes e averem d ajudar ao
dito creriguo nas cousas que forem necysarias a conversam do dito rey e dos seus, e ajudarem
as misas e a emsynar^a ller e screpver, $e for necesaryo; e faram avemça com eles do que
averam pelo tempo que laa esteverem servimdo na sobredita maneira.
Item. Outrosy somos enformado que no dito regno d Amgola á prata, porque se vyo per
huuas manylhas que vyeratn a nos d el rey de Com go: irabalharês por saber parte d omde he
a dita prata, e asy de quaeesquer outros metaaes, e se hos ha e acham em sua terra ou nou­
tras, e quam lotnge sam, e se sam estimados, e se levam trabalho em os tirar, ffazemdo por nos
trazer amostra de todos, e quallquer outro avjso que comprir, asy das cousas e mercadaryas
que la haa, que caa sam estimadas, e cam defeculltosas sam d aver, e asy mesmo quaes das
nosas sam la prezadas e em que comtya e preço as tem; e esto saberes asy no dito regno d
Amguola como em todolos portos e terras por omde fordes, asemtamdo os em seprito por vos
nam esqueçerem.
Item. Tamto que em boa ora partyrdes de Lixboa, farês vosa djreita vya caminho da jlha
de Sam Tome. E, portados laa, requereres ao noso feitor e ofyçiaes que loguo com rnujta dili-
gemçya vos dee huum barquo, ou o matnde ffazer da maneira que a eles e a vos bem pareçer
e for neçesaryo pera levardes pera emtrada dos ryos e esteiros omde o navyo nam poder em-
trar, ho quall vos aparelharam a custa dotrato do que for neçesaryo pera a vjajem. E queremos
que, emquamto hy esteverdes, o dito noso feitor e ofiçiaes vos ordenem e dem de comer a jemte
do navyo dos mamtymemtos da terra, por que se nam guastem os que levardes pera a vyajem
asy d ida como de vymda.
Item. Tamto que da dita jlha de Sam Tome fordes despachados, farês vosa via ao ryo de
Sambaçias que esta em caminho, e farês pelo descobrir porque tee aguora nam he descuberto;
e, jmda que hy achees cargua, nam tomarês majs que has amostras e enformaçam de todo por
nam perderdes viajem; e, se poderdes tomar huua lyngoa pera trazerdes comvosco, ysto soo
abastara, trabalhamdo por nom (fazerdes escamdalo e ficarem domésticos e comtemtes pera o
diamte, trazemdo de todo o que poderdes e vos necesaryo pareçer amostras.
Item. D hy yrês demamdar o ryo d Amguola. E, como nele fiordes e ameorardes, traba­
lhares por averdes alguuas arrafens: e, camdo nam, a milhor seguramça que poderdes per aver
d hyr Beltesar de Crasto a terra com a limguoa, ou como vos milhor pareçer, a ffazer saber
ao dito rey de vosa cheguada e yda a ele com noso recado.
Item. Depoys que ho dito recado mamdardes, nam sairês majs em terra, nem leixarês sajr
jemte nenhuüa, atee o dito Beltesar de Crasto e os que la fforem tornarem e vos darem recado
e avyso do que la pasarem: e, em todo este tempo que pelo dito recado esperardes, toda a
jemte da terra que a bordo do dito navyo vier farês boa companhya, e nam comsymtirês que
lhe façam nenhuum agravo, nem menos resguatarês cousa alguüa, nem comsymtirês resguatar a
nenhuüa pesoa tee sua vjmda.
Item. Tamto que o dito Beltesar de Crasto tornar, ou vos emviar recado do dito rey que
Apêndice 399

«* »
f o lg u a c o m v o s a y d a , se p o r lo m g e cam inho lhe fo r tra ba lho so to m a r o m d e e s tú * c r d e s 0 i
a fir m a r p e r s u a c a r t a e p e lo s que tom arem com ela qoe ha p o r bem que v o s r a d t t r e r c o m
e le d it o r e y v o s ffa r ê s p restes, e levarês com vosco o çaserdote que levarces, e a sy o d ito B e i» *
t e s a r d e C r a s t o , se a v o s to rn a r, e asy outras pescas que vo s bem p a r e ç e r com a/gu 0a couam
d o p r e s e m t e q u e le v a r e e s pera am ostra, deyxando no dito n avyo o piloro ou quem vo* p a r e ç e r
q u e s e ja p e s o a p e r a d a r d ele co m ia com m uyto recado : e fEcam do todo d essa m ancyra, v o s
y r ê s a o d it o re y .
Ite m . T a m t o q u e ch eg a rd es ao luguar omde o dito rey es tever, lhe dirês de nos» p arte que
n o s ffo m o s e n fo r m a d o p er m u ytas vezes que ele mandou seus em baixadores a d rey de C o ra -
g u a , d iz e m d o q u e lh e m an dase laa omens bramquos e sa cerd o tes porque se qoena tornar
c h r i s t a o ; e q u e , s a b jd o p o r n o s seu bom desejo por acreçem tam em to de oosa saxnta fee, vo s
e m v ia m o s a e le d a r lh e n o sa am jzade, poys ffoy tara bem acom selhado que qujs vy r em coohe-
çio n em to d a v e r d a d e , p e lo qual! atem de receber salvaçana nalim a ele e todos os que ch m ta ã s
se ffe z e r e m , q u e h e a prim cipaU cousa por que neste m urado o s homeens devem trabalhar
se m p re , e le e o s se u s reçeb e ra tn de nos merces e ocnrras, c o m o rezam seja, e asy mesmo bom i
t r a to e a m iz a d e d o s n o so s.
Ite m . D e p o y s q u e corn ele a sy ffallardes e virdes que esta desposto pera reçeber aguoa de
b a u ty s m o , m a m d a r ê s a o n a v y o pelas cousas que lhe emviamos, as quaes lh e a p r e s e m ta r ê s c o m
a s m ü h o r e s p a la v r a s d a m o r e am izade que poderdes, e lh ed a rês com ta d as m erces que sempre
fe z e m o s a e l r e y d e C o m g u o p o r ser bom christão, e cam om rrado e a v y t a j a á o he eratre os
o u tr o s p o r y s o , e a s y p o r ser grannde noso servjdor e por dar todo avy^ n em to a nosos res-
g u a t e s ; e q u e , fa z e m d ò o ele asy sempre, seremos lembrado d ele pera Ibe fazer bem e m erçe
c o m o a c u s t u m a m o s ffa2er aqueles que se cheguam e dsra a nosa amizade.
Item . S e c a s o fo r que se narn queira tornar christao, lhe dirês que nos nam vos em viam os
la a p o r o t r o re sp e ito , e que vo s dee Hcenca pera vos tornardes, dizemdo lhe com o he m al!
a c o m s e lh a d o , e q u e n a m fa z bem em nam querer comprir o que por sua embaixada a el rey de
C o m g u o m a m d o u n o te fic a r que tam to desejava, vemdo se por estas ou outras pallavras o podes
m o v e r a se ffa z e r c h r is t a o : e o creriguo que levaes asy vol ajudaraa ffazer e dizer per sua
p arte- E c a m d o d e to d o v y rd e s que esta pera nam ser christSo, vos espidirês o m ilhor que
p o d e rd e s, v e m d o e p e rg u m ta m d o pelas cousas que ha na terra de rieíros e m etaees,e quallquer
r e s g u a te ; e, se h y o u v e r d e s d a çerta r allguum resguate, seera bom com çertardes vo s de vol o le­
va rem a b o r d a d o n a v y o . E pero nam se queremdo o dito rey fazer christSo, ou nam acbam do

«t
h y p r a ta o u o u t r o m e ta ll, o u cou sa de que se posa receber proveyto, farês v o sa vy a caminho
d o c a b o d e B o a K s p e r a m ç a p ela co sta ao lomguo, descobrim lo e sabemdo o que nas ditas
terras h a : e a s y m e sm o o ffarês, posto que se o dito rey faça cbrisião, parecem do vos que he
bem e n o s o s e r v jç o , p o rq u e de feyto o he saber se o que ha em toda a dita costa.

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Item . O m d e q u e r que achard es que ha ouro, prata, ou quoeesquer outros metaees, farês
p o r s a b e r o n a ç y m e m to d eles e a vallya que tem, e as mercadaryas por que hos dara; e asy
d o m a r fy m q u e s o m a se p o d e rá tirar de cada hutía d essas partes, e se ho ha na mesma terra
o u o m d e , e p o r q u e h o dam . E todo porês em memoryall: e, quamto a cousa valler m ajs e
c a a fo r m a js e s ty rn a d a , ta m to m enos lhe dares a emtemder que ha estymaees pela nam em ca-
reçerem .
Item . C a r r e g u a m d o v o s o d ito rey d Arnguola o navyo d escravos e marfym ou raeiaees,

'W
p a re çe n o s q u e n a m d e v e e s p a sa r p o r diamte, e que deveys de vos tom ar com a dita cargua
d a r n o s c o m ta d o q u e a c h a e s. E se o d ito navyo poder trazer majs scpravos daquelles que ho
d ito r e y n o s e m v ia r, a te e a jlh a trarês aqueles que majs couberem no navyo: e esto sera cam do
nam o u v e r m e r c a d a r y a n o s a pera resguatar por eles, e d eles nos paguaram o m eyo o s que
h os tro u x e re m , o q u a ll se p a g u a ra atee a jlha.
Item . S e , d e p o y s q u e se o r e y tornar christão, folguar que la fique o creriguo pera dizer
m isa e a s y o s d o u s o m e e n s b ra m q u o s que vam pera emsynar a ler, leixal os eys la e m ajs
â lg u ü a o u tr a p e s o a o u c o u s a qu e vo s requeira que posais boamemte escusar: e hy leixarês
c o m ele to d a lia s c o u s a s d ig r e ja : e de todo ffarês fazer asemto pelo dito Beltezar de C ra sto .
E se o d ito r e y q u e s e r m a m d a r c a a huum filho ou sobrinho, d ydade pera caa poder apremder
e to m a r o s c u s tu m e s t r a i o ees, e a sy ou tros dous ou tres filhos d eses omens prím cipaees que
na terra o u v e r . E , y s t o fe c to , v o s vires com vosa armacam a dita jlha de Sam T o m e e , om de
4oo Angola
cm treguarSs ioda arm açam ao noso ffeitor « peram d o os ofRçyaees no navyo sem sairdes
nem outrem d elle tee os oficyaes serem presemtes: e asy lhe emtreguarês per comto e peso
os m e u e s e m arfym que trouxerdes. E tam to que reverdes posto o navyo a momte, se lhe
fo r neçesaryo, e repairado do que lhe cum prir pera nele virdes ao regno, tomares o recolher
os ditos metaes e m arfym e m ajs a cargua dos scpravos que vos o feitor e ofiçiaes derem, posto
que nam sejam os propios que resguatastes. E vos virês vya do regno entreguar a dita arma-
çam toda per jm teiro com os ditos metaees e marfym a nossa Casa da Myna: e d hy vos vires
a nos dar nos com ta do que fezestes.
liem . Se em jm do caminho do cabo de Boa Esperamça, desafyuzados do dito rey d Am*
guola se Ía2er chrístão, achardes outro que ho queira ser, e vos pareçer que he servjço de Deus
e n oso co m ven er se a fee, e que se seguira d hy fruyto, trabalhares pelo fazer christão, e lhe
dardes os om atnem tos que levaees d igreja, e leixarês hy o creriguo; c carreguarês o navyo
d espravos e m arfym, e metaees, se os ouver, pella sobredita maneira": e esto depoys que te-
verdes corrido o cabo de Boa Esperamça. E ao rey que tall cargua vos der, e virdes que he
noso serviço asemtardes com ele nosa amjzade, dar lh es o presemte, e emderemçarês a ele a
mesajem que levaees pera o rey d Am gola mendamdo a naquela parte que for neçesaria.
Item. Acomtecemdo se que nam posaees descobrir nemhuum resguate de que posamos
aver proveito, e temdo corrida toda a costa tee o cabo de Boa Esperamça por nam jrdes e
virdes de vazyo, vos tornarês ao regno de Com guo, e hy lhe dirês o que vos bem parcçer, e
lhe dares o presemte^ue levaees, e farês por u azer a milhor cargua que poderdes: e vos virês
com ela a dita jlha de Sam Tom e, e d hy ao regno na meneira que dito he; e, nam vos damdo
cargua em abastamca, tomares peças (?) de partes ao meio, segumdo custume, e vos vires a
dita jlha resguatamdo por peças (?» e marfym as mercadarias que vos sobejarem.
liam . Se na dita viajem soçeder cousa per que vos pareça bem e noso servjço nam cum­
prirdes este regymento nalguua parte, chamares toda a companha do navyo, presemte voso
scprivam, e por lh ês em pratyqua o caso que vos move a determinardes e fazerdes a tall cousa,
de que dares com ta e juramemto que cada huum digua seu pareçer, E o dito Beltesar de Crasto
scprevera o que cada huum diser e lhe pareçer majs noso servjço: e, o que asy amtre todos
pelos majs ffor acordado que se faca, yso farês, fazemdo se de todo asemto. E, acpmteçemdo
de serdes em dous pareçeres tamtos a huüa bamda como a outra, em tall caso far se ha aquele
em que vos dito capitam ffordes: e, se nele for Beltesar de Crasto, pareçe nos que emtam sera
ese o que for majs noso servjço, por serdes ambos nele e serdes nosos criados e pesoas que de
rezam deves d olhar pelo que cumpre a noso servjço; e, semdo o dito ecprivam da outra parte,
todavya se tomara pareçer e asemto otnde vos dito capitam ffordes, como dito he.
Item. Avemos por bem que ho ffeitor e ofiçiaees da Casa da Mina, com pareçer d Afonso
de T o rre s, vos ordenem o que aveys d aver de vosos ordenados, fazemdo comta que has peças
que vos ordenarem aveys de trazer no dito navyo ao regno; e que, se caso ffor que ho navjo,
em que asy vierdes da jlha pera caa, aja de trazer pera ffrete, que vos tragua asy mesmo al-
guüas vosas se as teverdes avydas de bom tytolo asy de frete, as quaees peças vosas, asy boa-
memte avidas como dito he, vos traram no dito navjo a frete, posto que outras nemhuüas nam
aja de trazer.
Fecto em Evora a xbj(i6)dias de Fevereiro. Amtonio Afonso o fez, anno de jb°xx ( i 520 ).
E eu Afonso Mexia o fyz scprever.
P osto que vos aquy díguamos que comeces de ffazer o dito descobrimemto d Amguola
pera o cabo, jrês loguo direito ao cabo da Boa Esperamça, e d elo pela costa em diamte tee
A m gola virês ffazemdo o dito descobrimemto na sobredita maneira.
E se caso ffor que Noso Senhor vos dê alguüa boa vemtura de achardes alguuas boas mer-
cad aryas ou metaees, desacustumad os do que de Ia se tee ora trazem, vos trares tee tres caixas
cheas, e o scprivam e piloto e mestre duas cada huum, e os marinheiros cada huum sua e
amtre dous grom etes huüa sem d elas paguardes huuns nem outros nemhuum djreito.
E acham do ouro ou prata vos dito capitam poderes trazer tamto d ele que valha trezemtos
cruzados, e o scprivam , piloto e mestre, tee cemto e çimquoemta cada huum, sem d eles pa­
guardes cousa alguüa.
Item. Nos avemos por bem que pasêes ho cabo de Boa Esperamça, e emtrês em hüa amgra
que se chama de Sam Bras, e ffaçaees todo ho posyvell pela descobrir, e saber e emquerir
Apêndice 401
neUa o q ue h avees de fFazcr nestas outras partes. E, y « o sabydo, vo * to m e r & s pela CQSfa
a tr a s ffa z e r v o s o d e sco b ritnemto na maneira qoe hatra* be comteudo. E te nesta atsgrs» o »
n o u tr a s q u o a e e sq u e r partes, que pareçer bem a vos dito ca pi t io e ic p r itim e eom p««íia S9JT
n a te r r a , e íTicar nella, vos dito Balltesar de Casto estrevemdo vos nyso, praz oos de fficard es
h y se c o m p r ir e p a reçer nos o serviço pera descobrirdes; e o tempo que mso amdardes nos
p r a z de v o s m an d a r p agu ar a rezam do que levaees de voso ordenado por armo, e alem d iso
v o s Afazerm os aq u ella m erçe que rezam seja. E esta amgra nam he ba de Sam Br as* s e n lo he
hOa p r im e ira q ue e sta aquém d aguoada de SaJMaaha com tra ha Jmdia.
Item . S e p a re çe r bem a o ffeitor e officiaes de nosa Casa d s Mina e Afom so de T o res ird es
lo g u o de E ix b o a dem andar o cabo de Boa Esperamça sem ;r a jlha de Sam Tom e, a*y se ffaça
p o rq u e o le y x a m o s a elies que tomem emformaçam d iso e vejam ho que sera m jihor e maia
n o so s e r v iç o : e, ach am d o que sera asy bem que nom vades a jlha, hy vos provejam de todo
h o q u e v o s n c ç e s a rio ffor, e asy de alguüa artelharía e dos m antim entos neçesaríos ba viagem.
E este re g im e n to e s ia r a em poder de vos, dito capitão: e darêes o trelado ao scprivam.
{Arquivo N id o o t) da Tôrre do Tombo, U r r o de L r t» r /trgim rm oa
de IX Manuel. 9. 1(4 ▼. Transcrito etn AJgiots D oeu m m lot do
Archivo Nacional da T o rre d o Tom bo d erreo doa •oregoeáex
< conqniiUt*portuguesa», foL«36 a i i i ) .

»
DOCUMENTO N.° 14

E u o Ifam te etc. faço saber a vos Dioguo do SoueraU meu moço de cam ara que por com -
jfiar d e v o s que em to d as as cousas em que vos emearregar me auejs de serujr bem e fyeli-
raem te c o m o a m eu seru jço com prir hey por bem de vos emearegar do ofícyo descrioam desta
v ia g e m e a rm a ç a m que ora nouamemte mamdo fazer ao meu Ryo d e lo n g a que está no R eyno
de B e m g e lla so b re o quall quero que uzeís deste rregimento como se abaixo contem /.

Item eu m e tenh o com certado com Ararique Paez e lhe dou licemça que posa h y r a o dy to
R y o he t r a ta r n e lle co m hos negros e moradores da terra com aqelas m ercadaryas (siej com
que tr a ta m os a rm a d o re s que tem arremdado a el Rey meu Senhor ho seu trato de Gtne e que
nam tr a te C o m fe rro s do R eyno nem com outras cousas defesas e que nam faça aos ditos mo­
rad o re s nen hü a fo r ç a nem cousa de que com rrezam posam rreceber escam dallo som em ie com
m u y ta p a z e a m iz a d e trate com elies o quall trato lhe tenho dado per hum ano que bade co­
m e ç a r d o d y a que h o rresgate for asemtado em dtamte e na armaçam que h o ra pera ho dito
R y o ele d y ro A n riq u e P a e z v a y fazer pelo contrato que amtre nos he feito eu sam obrigado a
p o r as d u a s p a rte s de to d o ho gasto que se nela fizer e el!e dyto Amrique Paez a huS e p ela
d ita m a n e y r a a v e m o s de fiq ar no proueyto e rresgate delia per a que ele saya com hum terço
e eu co ra o s d o u s ./.

Item eu ten h o m an d a d o a Rui Çalem a que em Lixboa com ele dyto Anrique Paez m an-
dase c o n p r a r h u u n a u y o aparelhado e huu bergantym he as mercadoryas neçeçaryas pera a
dita v y a g e m e q u e d o que as ditas cousas custasem ele pagase por mym as duas partes e ele
d ito A n riq u e P a e z h o te r ç o e que de todas as ditas compras se fizese hum lyuro em que se
d e cra ra se h o p r e ç o d e lia s e fazerem por mym as ditas duas partes e por ele a huã e p or que
ho dito n a u y o e c o u s a s sam com pradas fareys logo hum liuro pera nele asentardes todas as
cousas da d ita v y a g e m no co m e ç o do qual asemtareys todas as ditas compras que sam feytas
que ty ra re is d o d ito ly u r o p era se saber o que já he despeso e nele também asentareys todas
as e n x a rc y a s e a p a r e lh o s d o dito nauyo com todas as decraraçofs neçeçaryas./.

Ite m eu ten h o o rd e n a d o que Fernam Daruelos por ser homem cryado em G yne e saber
bem a te r r a h e tra to d e lia fè y to rize todos os rresgates que se no dito rryo fizerem e no dito
an o s e ja d e lle s fe y to r e ca p ita m da vyagem e por qamto hade fazer ho dito trato e rresgate
co m as d ita s m e r c a d o r y a s em tregarlh eys todas as que (que) forem compradas e ao diam te fos
5i
•A

4O2 Angola
neçeçaryo compraremse pera o dito rresgate e lhes caregay no dyio
voso lyuro em rreceta no
ascmio das quaes ele dyto Fernatn Darvelos asynara ./, 3

item pera vos e pera a germe do dito nauyo eu e ele dito Amrique Paez avemos de mamdar
dar ho raantymemto neçeçaryo ate a jlha de Sam Tome ho quall mandarey a Ruy Çalema
que mamde comprar comforme a mynha obngaçam na compra do quall vos sereys presemte
e o caregareys em rreceyta a ele dito Fernam Daruellos ou ha pesoa que ho dyto mantymento
ouver de r receber ./.

Item na jlha de Sam Tome homde aveis destar algüs dias emqamto se comçenar o bar-
gamtym que aveis de leuar asemtareys no dito voso lyuro ho piloto e mestre e germe do nauyo
que na dita viagem ouverem dyr com decraraçam dos solldos e partydos per que forem por
qamto dahy hos ham de começar de vemçer os quaes se lhe daram pello esiyllo da terra e
comformes aos que dam hos armadores do trato e rryos de Giné e as ditas pesoas hiram no
dtcto lyuro entitulladas per synos asemtos dos quaes fiqara lugar pera se asemtar os paga­
mentos que ouuerem e nelies poreys decraraçam do dya em que ham de começar de vemçer
os ditos solldos e ysso mesmo asemtareys no dyto lyuro ho vosso hordenado que aveis de
leuar que ha de ser quatro peças por ano e hua de licemça pera vosso mantymento e que po-
saes rresgatar de vosas mercadoryas seys peças pagamdo a todo ho momte da dyta armaçatn
0$ direitos acustuma^ps delias ./.

Item tamto que ho dyto bargamtym for feito e a dyta geme do nauyo asemtada partyreys
logo rrota abatyda pero ho dyto rryo Dalonga homde como chegardes mamdareys ao Rey da
terra a dadyua que lhe tnamdo e se virdes ser neçeçareo darse algua cousa ha algus negros
primcypaes da terra pera os induzirdes a quererem os rresgates que hys fazer darselha o que
vos bem parecer e asy aos ditos Amrtque Paez e Fernam d’Aruelos he trabalhareys quamto
posyuel for pelo mylhor modo e maneyra que puder ser de asemtar ho dyto rresgate a b5 os
preços dizemdo ao Rey e Senhores da terra de mynha parte as palauras que comprirem com
esperamças de lhe fazer sempre muytas merces

Item tamto que ho dyto rresgate asy for asemtado trabalhareys de fazerdes logo vosa ar-
maçam pera a quall leuareys de qua hum liuro que somente seruyra a ella e as mays que se
ham de fazer no dyto ano no qual asemtareys em tytollo pera sy todas as peças que se rresga-
tarem decraramdo em seus asemtos as mercadoryas que se per ellas deram pera serem leuadas
em comta ao dyto feitor sobre quem caregam e nos asemtos das dytas peças se fara decra-
ração de suas herdades e desposyçoes e porque segumdo tenho emformaçao na dyta terra ha
houro e prata se ho ouver e do comto e medyda dos majs metaes que se rresgatarem e pera
os dytos metaes de pezo leuareys a balamça e pezos neçeçaryos he as ditas peças que se asy
rresgatarem seram logo marqadas de huã marqa que pera ello vos mamdarey dar e das que
morerem despojs de asemtadas no dyto lyuro fareys decraraçaõ nelle per verbas que poreys
em seus asemtos de como asy moreram pera se saber e estarem a boa rrecadaçam as que fi-
qarem ./.

Item tanto que a dita armaçao for feyta e vyrdes que abasta pera se caregar ho dito navyo
hordenareis como se lloguo venha com ella ha jlha de Sam Tome homde se ham de íazer has
partilhas seguymtes segumdo esta asemtado per noso contrato — a saber — que ho dito FeraaÔ
Daruellos por feytorizar o dito rresgate aja de todo ho monte das peças que viuas forem ha
dita ilha de Sam Tome de dez hüa segundo custume e do ouro e prata de vinte, hüa e dos
outros metaes de dez hua e depois de asy ser paguo se pagaraõ de todo o monte o voso hor­
denado e o do pylioto e mestre e gemte do dito nauyo do que aueis dauver por anno solido
llyure segumdo o que duerdes vemcido e tyradas asy as ditas despesas todas has mais peças
que fyquarem se hamde vemder na dita jlha mystyguamemte (i) e do dinheiro que se delias

(1) C. de Figueiredo no Novo Dicionário dx Lingua Portuguesa, 4.* ed., regista: Mistiguidade, f. T. da índia Port.
Comraonhão; promiscuidade. (De misto = misto).
. .- r /

Apêndice 4 o3

fizer h a d e leuar elle Jito Amrique Paez huG terço e c o o * doo* do quall diro « u terço me bm
d ep o is de p agar o quim io c vymtena que nelle rnoour e dos diios metaes ba também de U « » r
— a sab er — douro e prata de cinco bua e dos may* metaes de quatro hão sem dei?tf ser obry~
guado a p agar m ais direito alguu e jsio se fará ero todas as Tysgcr.s que ho dito nauyo âaer
que se rão as que comprarem pera se venderem as peças e metaes que se asym rresgatarem

Icem heu hey p er meu seruyço e compre a este negocio posto que honauyo renha ha d»ta
jlh a de S am T o m e com as caregacoes que se fizerem que fiqueis sempre no dito rryo com b ò
d ito fe y to r que h a dc fiquar negoceamdo bos ditos rresgates pera os asemtardes no roso lyuro
' d elles co m o d ito he e por que he neçeçaryo na dita jlha de Sam Tom e ter huü feitor que por
m inha p a rte seja preserate has ditas partilhas e feytorizy esie negocia ea ordeno per agora
em quam to h o dito rresgate naõ esta aserntado que Ballta&ar d*Almeyda que foy feytor dos
tra tad o re s o faça que na dita jlha esta por ser pesoa de que confyo que ho fera como a meu
se ru y ço co m p re e que em sua maõ se deposyte todo o dinheiro e noetaes que me couber «ver
das ditas p artylh as ao quall sobre iso escreuo e quamdo ryutr empedymemto pera me nyso í
n aõ p oder seru yr entaõ ho fara ho capttaõ ou ouuydor da dita jlha a que também ho dito ne~ i
g o cto p er m inhas cartas emcomeraJo /
I

Item p era que ho dito Balltazar d’AUmeyda posa saber as peças e metaes que lhe vao nas
vyagen s do dito nauyo em cada hüa que fyzer lhe mandareis per vosa certidão cerada e asei-
lacla h o num ero das dítas peças que vaõ e da marqua que vaõ demarqt^das e asy cs pesos do
o u ro e p rata se se rresgatar e a comta e medyda dos mais metaes se hos ouuer com todailas
m ais d e cra ra ço e s necesaryas e os pagamemtos dos ditos homens do mar e do dito roso borde-
nado e das partylhas que amtre mym e os ditos Amrique Paez e Feraaõ DarueHos hadaver asy
do dinheiro das ditas peças como dos metaes como dito he e do preço per que se vemderem
h as taes peças e de com o a dita roynhaa parte fiqua ecnlregue a elle dito Balltasar d’AIlmeyda
h o u a pesoa que ha rreceber se fara tudo peramte huu tabaliam pubryco que sera esprívaô
deste n eg o cio e o asemtara em seu lHuro com todalas decraracões necesaryas e de tudo pasara
sua ce rtid ã o pubryqua pera vos ser leuada e dada pera saberdes como se vemdeo a dita ar-
m a ça o e se p a g a ra ó os ditos hordenados e pordes verbas nos asemtos das peso as que hos avyaÕ
daver d o s pagam entos que ouueraõ e também pera saberdes per ella eu ser paguo do que me
co u b er a ver e ser tudo emtregue a elle dito Balltasar d*AUmeyda a quall certidão vos bem i
gu ard areis e cosereis no liuro dos ditos rresgates pera em todo tempo per ella se poder saber
o que com prir e for necesaryo e esto se fará em cada viajem que ho dito nauyo fizer e como
ch egardes na dita jlha de Sam Tome emquamto nelia esiraerdes pratyquarets este negocio
f J-

com elle d ito B alltasar d’AHmeyda e lhe mostrareis este meu rregimento do quall lhe fiqoara
o trela d o p era p o r elle saber como se hamde fazer has ditas partilhas ./*

Item tam to que chegardes ao dito rryo e vyrdes ho rresgate delie assemtado logo com
m u yta b revydade mo escreue e o estado da terra e que cousas ha nelia aliem de ser a uos
pera se rresgatarem pera loguo mandar prouer o que me parecer que se deue fazer sobre bo
trato e rresgate delie pera quamdo se acabar o anoo do dito rresgate que hys fazer estar lia
p ro v y d o a o que a o dyam te ouuer de ser e se for caso que se acabe o anno do dito rresgate
p rym eiro que de qua mande rrecado hey por bem que emquamto de qua naõ prouer que elle
dito A n riqu e P aez posa tratar no dito rryo pelas comdiçoês do comtrato que amtre nos he
feyto e se vse delie posto que ho dito anno seja acabado ./•

E semeio caso que no tempo que durar ho dito comtrato as peças que se rresgatarem por
fali ta de nauyos senaõ posao tyrar do dito rryo e trazer a jlha de Sam Tome ele dito Amrique
P aez h os poderá depois ty ra r em quallquer tempo em que se aebarem pera jso nauyos que
seraõ as p rym eyras que se nelias tyraraõ ./,

Item sem do caso que Deus naõ mande que ho dito rresgate se nao abra emtao vos vyreis
e em quallquer rryo desa costa de Guyne que puderdes tomar fareis rresgate das mercadaryas
fs ic j que leuaes no m yhor modo e maneyra que se posa fazer pagamdo na jlha de Sam Tom e
404 Angola
ha Aíomso de Tores ou a seus feytores os direitos que lhe do tall resgate forem deuydos por
quamto pera elle avets de Heuar sua licemça e dos dinheiros que asy se fizerem cobrareis os
dous terços que me penemçem e elle dito Amrique Paez lleuara ho outro sem dello me ser
obriguado a pagar mais coussa allgua dos quaes dous terços que me asy couberem pasareis
per hGa lletra pera pesoa deste Reyno que mais credito diso tyuer pera me qua ser emtregue
o dinheiro delles e quamto ao nauyo farseha ho que vay decrarado no dito comtrato o quall
vos treslladareis de verbo a verbo no começo de voso llyuro pera saberdes as mais comdições
delle /, que neste rregimento naõ vaÕ decraradas pera por ellas estardes e se compryr da ma-
« neyra que se no dito comtrato contem ./.

Item no dito comtrato que asy he feyto amtre nos esta per comdição que elle dito Amri­
que Paez e asy Fernaõ Daruellos estera pelo rregimemto que eu neste negocio mandar dar naõ
semdo fora das comdiçoes do dicto comtrato e por quamto todas as cousas comteudas neste
meu rregimemto naõ saem fora delle lheemcomemdo e mando que estem per elle e o cumpraõ
e guardem asy e da maneyra que se nelle comtem o que a vos íso mesmo emcomemdo e
mando ./.

Item nenhGa pesoa naõ poderá lleuar mercadarya pera rresgatar coussa allguã no dito
rryo nem rresgatara nelle somemte vos ditos espvaÕ e gemte do mar rresgatareis as peças
que vos forem ordenadas sopena de perdymento da tall fazemda e de emcorrerem nas penas
em que encorem os qáe vaõ tratar sem llycemça aos rryos de Guyne

Item eu espreuy a Fernaõ Dalurez que do allmazem me mandase emprestar as peças se-*
guymtes — a saber — dous fallcoSs e dous berços e quatro meos berços e tres duzyas de pa-
uezes e ires de pyques e mea duzya de bamdeyras pera seruyrem nesta vyagem e porquamto
ha dita artelharya e cousas caregam sobre mym e saÕ obriguado a mandallas emtregar no dito
almazem no dito voso llyuro fareis asemto da hartelharya e mais cousas sobre ditas que no
dito allmazem me forem emprestadas e tereis muyto bom cuidado delias pera que asemtamdose
ho dito rresgate posto que ho anno se acabe syruaõ lia e quamdo senão asemtar trazerdes
tudo comvosquo quamdo vyerdes pera se tornar ao dito allmazem em Allmeirym a bij (7) dias
de junho de 1546 ./. ^ ,, .
(Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Corpo Cronologico,
Parte ! . * , M a ç o 7 8 , D o c u m e n t o 2 1 ) .

DOCUMENTO N.® 15
Snõr

Manuel pachequo embaxador de.u.A. foi noso snõr seruido de o leuar pera si elle sabe o
porq e não me peza somêre por q não moreo com o nome com q morreo melchior de souza
porq crea se.u.A. q des q pardo dessa cidade não fez cousa q fose de seruiço de ds. nê de uosa
A. como u.A. pode ser emformado de pesoas q o bem saberam e em esta ilha as pesoas de q
o eu auizaua q não comuniquase com ellas o fazia mais ate me dizer q não dejejaua mais se
não q elrei de congo o nao quizese receber pera se tornar 0 feitor nos auiou muito bem como
eu escreui ia a.uA. pera partirmos daqui ate quinze uinte de maio e elle com cousas de seu
gosto e pasatepo q em esta terra tinha nüqua se quiz delia aramcar ate q adoeseram os padres
todos e eu cÕ elles e faleceriam da naao em q uiemos alguas uinte pesoas em q ds seia lou-
uado não faleceo mais q hü clérigo e hú frade francisquo os outros tres conpanheiros e frei
gaspar q he o maior delles me dixeram oie dia da sanctissima trindade q estauao de bordo
pera não irem a congo e q lhe dese os mãtimetos pera se tornará pera portugal eu lhe dixe q
uosa alteza sua temcam era darlhe mantimeto pera irem seruir.u.A, em o reino de congo ou
omde fose mais seruiço de ds e de.u.A. aqui nesta cidade dizem q elle não ade ir a comgo por
cousas q la deixou feitas e cartas q elle xnãdou e dizem cj ellrei de congo e simão da mota as
tem guardadas pera as mãdarem a.u.A. e isto dize aqui homês que uierão de congo e no q elle
Apêndice 4 o **
m ostrou a m im e ao embaxador e ao» padre* todo* 3 el!e hía por comissário de magpüã t Ç
daqui se auia d ir logo per mar caminho de amgoU sem ir a congo o 4 Jh* pedimo» m uno o
em baxador e eu q não falase niso por não *c escamdílízar elreí de coogo / qoamdo ho « o b a -
x a d o r fez seu testam eto não ho quis fazer com frade nem clérigo somêie com bum tDtoaào
fPz p e r r ij (?) q he muito grande inimigo delreí de congo e diz ma! deUe em todas as parres
om de $e topa por ser da criaçaam de dom rodrigo c quado o capitam cnãdou o seu oiruidor
p o r co b ro sobre os papSs de.u.A. foi achado o cofre na mão do dícto amorno frã do todos 4
os desta terra ficarão muito espantados ao menos os q sabem q cousa he cõgo e <} conhecem
a elrei de congo e o embaxador mãdou em seu testamfto q o dicto antooio fernádet per seu
falecim êto os em treguase ao bpo pera os mandar ha.u.A e melhor fora mádalos emtregar ao
bpo ou a o capitam q ha amt® fri. porq logo haí erafiriram e de st aleuãtaram $ uosa A mS-
daua q tod os o s apontametos fizese o embaxador fizesse com dom rodrigo o Q serto ha elrei
de con go n ã o fa ra multo boa uontade saber q dom rodrigo e anc* fr£. erao niso metidos e
quam do o ouuidor abrio o cofre forá achadas muitas cartas serradasde-u.A. e hü papel aberto
q dizia na co ta de fora apontacoetos de dom rodrigo e así pubrico leram peramte muitos
hai estavão pera testemunhas do abricneto do cofre e dizia apontametos de dom rodrigo de <|
m uito falarão por esta terra deitando iuizos d e q poderíam ser aqueiles apcntam etos e por ito
creo 3 noso snõr sabe tudo e faz tudo pera mais seu sancto seruiço peso a u.A. por ra. q em
quãto estiuer neste reino q de tudo o q cooprir a seruiço de ds e d e u A . me auize q eu espero
em noso sõ r ihu xpõ. q elle me aiude com q faça seruiço a dS. e a u A ^ có seu fauor porÇ eu
me atreuo p o r a m o r trazelo a estado de sua saJuaçam e a muitos do seu reino e não mãde
u.A. o u tro atee eu lhe nao dar auizo de tudo o q pasar pera u.A. em tudo prover como sela
seruiço de noso snõr e de.u.A. noso snõr acrecente dias e estado de. u A pera seu sancto ser-
uiço am en escrita em sancthotne oíe trese de iuoho de 1557.
Diogo Roif.
Cota.
3
elR ey D. João o. C arta de D® Roiz em q. diz a EIRey ser morto Me* Pacheco e depois q*
V. A. o m andou não fez cousa q. fosse do serviço de Deos nem do de V .A . Com q. elRey de
C o n g o o não quis receber pelas m*« instancias q. tinha feito e can as q. fisera as quaes
tinha guardado p ara as mandar a este Rno e mt°» dos companheiros morrerão na tal terra por
3
elle se não querer afastar delia Escrita em S. Thorne a t de junho de 1557.
A ell rei noso snõr. de S. Thome.
(A rqu ivo da T ô r r * do T o m b o , C o r p o C r o n o ló g ic o , P<<rte
M aço 1 0 1 , Oocomento o5).

DOCUMENTO N.° t6

F o i. 16 v.®— À m a r g e m : Alvarás. — Dom Rodrigo parente dei Rey do Congo, foy mandado
por E l R ey D om João a ilha de São Tomé até se ordenar deUe outra cousa da qual ilha o dito
Dom R o d rig o quis fugir para Congo, e foi tomado no camiQho, por outro navio que o capitão
da ilha m andou, e porque desta fugida se segurarão inquietações no Reyno do Congo, o dito
Rey m andou pedir a o de P ortugal que castigasse Dom Rodrigo, manda elRey se tire devassa
da dita fu gid a e d o que nella passou, e se lhe mande serrada, e setiada para fazer o que lhe
pareçer ju s tiç a p o r alvará dei Rey feito em Lisboa a outo de março de t o. 56
Foi. 17. — À m a rg e m : A ngola. — El Rey de Congo se queixou a el Rey do modo que Paulo
D ias teve em se p artir delle para o Reyno de Angola, diz el Rey q. se informará e fará o que
for ju stiça p o r c a rta sua feita em L isboa23 de Agosto de i o. 56
F o i. 17. — A m argem : A ngola. — Mandou elR ey a Paulo Dias com quatro Padres d a C om ­
panhia ao R e y n o de A n g o la , e porq. nao tinha novas deUe escreveu ao Capitão da ilha de
S ã o T h o ra é que o avise se tem algüas novas delles, e seado algüa necessidade os socorra, por
p ortaria de L u ís G o n salves, feita em Lisboa 22 de Agosto de i i . 56
F o i. iS. — À m a r g e m : A n gola. — Soube elRey como era chegado a A ngola P au lo D ias es­
cudeiro fid algo de sua c a sa que m andava por embaixador aquelle Rey, e assi quatro Padres d a
4 o6 Angola
Companhia encomendar-lhe os favoreça muito, e trate na matéria da sua salvação, e de seus
vassallos por curta sua a elRey de Angola.
. Foi. ao — À margem: Angola. — Escreveo elRey ao capitão de São Thomé, que antes de
responder aos embaixadores dclRey de Angola, soubera de sua morte; manda-lhe q. se informe,
se está o Rey que lhe suçedeo no preposiio de ser christüo, e açeitar Religiosos q. lhe preguem
a fee para com o que achar despedir os Embaixadores e mandar com elles os Padres, e, em-
baxador particular por portaria feita em Lisboa a aa de Novembro de 1557, Sobre a mesma
matéria escreve elRey ao Bispo de Sáo Thomé em 20 de Novembro do mesmo anno.
— Chegou Paulo Dias a Angola a 3 de Mayo dia da Santa Cruz do anno de i 56o e no
Domingo seguinte mandou hü batel pelo Rio asima em q. foy Luis Dias e Dom Antonio que
vierao a Portugal hum mrrinheiro mulato, e dia de SSo João, tomou Luis Dias algús negros
que lhe o Rey deu, e huã carta de hum Portuguez natural do Barreiro que lá andava, em que
avizava a Paulo Dias que não fosse pello Rio assima apos este recado tornou Dom Antonio
com outro fidalgo negro chamado Gongessis com muita gente para levarem o fato a Paulo
Dias, e aos Padres, e por Paulo Dias reçear o aviso da Corte, e não querer yr fizerao hua ra­
mada na ribeira, em que se recolherão depois foi 0 mestre da caravela, e Dom Antonio, a el­
Rey, e elle lhe mostrou hü Retabolo livros e vestimenta, e pedra de Ara e se tornou com o
mesmo Dom Antonio traz isto mandou Paulo Dias e os Padres dizer a elRey se queria chris-
tandade a que elle respondeu que pois seu irmão lhe mandava que elle queria ser christão e
que se Paulo Dias nãj^ queria dezembarcar que lhe levasse os Padres, Paulo Dias mandou por
Dom An*onio dizer a elRey que lhe mandasse os Portugueses q. lá andavao para fallar com
elles, e porque não vieram 0 outro fidalgo esteve esperando dous meses, e mais sem Paulo
Dias querer dezembarcar se tornarão e levarão a mulla a el Rey, e neste tempo davão cada
semana aos da caravela tres vacas capadas, e carneiros, e outros mantimentos da terra, e por
que hum criado de Paulo Dias despos de ido Dom Antonio, e o fidalgo lhe disera que se dezia
que por medo deixava de desembarcar, o fez logo, e se foi a Ramada onde os padres estavão,
e dezião missa, e logo ao outro dia se embarcou no batel com sete pessoas somente, e com as
couzas que levava para el Rey e chegou a Mancangano onde o batel podia chegar e dali se
foi ter com o fidalgo chamado Angora Corengala Duas legoas de Maçangano, onde esteve hü
dia e hua noite ao outro dia pela menhã se partio para outro fidalgo que chamavão Babatem
duas legoas do primeiro dahi a tres jornadas fou ter com outro fidalgo que chamavão Cabaço
que o teve quatro dias consigo, e despoes mezes, e depois de Paulo Dias ser partido, partio 0
Padre Gouvea com hum seu companheiro por ser morto o Padre Castelhano, e outro compa­
nheiro estar mal desposto, e duas jornadas de Mansangano na terra de hÜ fidalgo chamado
Baba tango, chegou a elle Dom Antonio e Longassis capitão dei Rey que vinha pellos Padres,
e pelo seu fato o qual tomarão do batel em Mãsangano, e se partirão com elle alegres depois
disto chegou hum homé de Paulo Dias pera Luis Dias em que lhe dizia que ficava contente da
terra e com saude que lhe mandasse os vestidos, e a baçia e os folies de ferreiro e se lhe man­
darão, e porque Paulo Dias esteve com elRey sinco, ou seis meses, e a caravela, e caravelão
tinha falta de agoa se forão a São Thome conforme tinhão asentado diz a relação que folgou
elRey com os fatos e vestidos que lhe derao.
Foi. 21. — Por carta de hü Antonio Capão marinheiro, escripta de São Thome em sinco
de julho de i 5 6 i se soube como Paulo Dias e trinta e outo pessoas que estavão com elRey de
Angola não mandarão recado em mais de sete mezes, e havendo treze que estiverão na Barra
por lhe faltar agoa, e a caravela e caravelão se tratarem mal se forão a São Thome conforme
lhe ordenara Paulo Dias soube-se que elRey de Angola tomara a metade da fazenda que levavao
com petreato de a pagar, e que avia lá falta de mantomentos porque fóra de algum feijão não
avia outra cousa e inda desse lhe davão os negros mais por cantidade.
Foi. 24. — Pedio elRey de Angola pregadores para se fazer christandade em seu Reyno
para o qual lhe mandava elRey por embaxador a Ambrozio de Azevedo, com alguns Padres
da Companhia pareçe que não ouve efeito a ida deste embaxador porque os Padres forão com
Paulo Dias por portaria feita em Lisboa 17 de julho de i 56o.
(Biblioteca Nacional. CoiecçSo Pombalina. N.° 647. Manuscritos.
N * 6 — Papel avulso de notícias, manuscritos, artigos de re­
soluções, que tomarão os Senhores Reis de Portugal),
Apêndice 407

DOCUMENTO N * 17

CARTA DE DOAÇÃO A PAULO DIAS DE N O V A IS


D. S e b a stiã o e tc . A o s que esta minha carta virem faço saber que vendo c cons-.^í
eu o q u an to co n co rreu a serviço de nosso Senfior e tSobem ao meu mandar sogeiiar e con­
q u istar o R eynn o dA n go la assy para se nelle aver de çetebrar o culto e cfficios divinos c a cre-
cen ta r a n o ssa S a n ta fe catoHyca e pomoUgar o Santo Evangelho como pello muito proveyto
que se seguirá a m eus Reynnos e Snnoryos e aos naturais delles de se o dito Reynno dAngola
so ge ita r c co n q u istar ouve na por bem com pareçer e delyberação dos do mea cosetho e dos
d ep u tados da m esa da conçiençia e dous letrados theologos e camaristas de mandar entender
na co n q u ista d o dito Reynno por seasentar e detreminar que peilas causas acima duas cõform e
as b u lias apostolU cas concedidas sos Reys destes Reynnos meus anteçessores tinha, obryg&ção
de o fazer a sy e encarreguey disso a Paullo Diaz de Novais peita m uyta confiança que deUe
tenho e p e llo conhecim ento e experiencia que tem das cousas do dito Reynno do tempo que
nelle esteve p or m eu embaixador pello qual avendo respeito aos serviços que o dito Paullo
D iaz m e tem feyto asy no dito Reynno dAngola como con outras partes onde me servío e a
que sem pre deu de si toda boa conta e aos que espero que me faça oa conquista do d ito Reynno
e as grandes despesas que nisso á de fazer sem de mynha fazenda Ibe P rer de ser dado a/uda
algum a de dinh eiro nem doutras cousas e avemdo omrosi respeito aos serviços que BertoUaoieu
D ias de N o va is seu avoo fez á coroa destes Reynnos no descobrimento da costa do Cabo de
R oa E sp e ra n ça por todos estes respeitos e por outros mui justos que me a ysto movem de
meu p ro p io m o to çerta scíencia poder Real e absoltuto ey por bem e me praz de lhe fazer
co m o de feyto p or esta presente carta faço merçee irrevogável Doação antre vivos valledoura
deste d ia pera todo sempre de juro e derdade para elle e todollos seus filhos net05 e erdeíros
e sub çessores que apos elle vierem asi desçendeotes como transverssais e colaterais segundo
adiante irá d eclarad o de trinta e cinquo léguas de terra na cesta do dito Reynno dA ngola que
co m eçará no rio Q u an za e agoas vertentes a elle pera o sul e entrará pella terra dentro tanto
quanto poderem entrar e for de minha conquista da qual terra pella dita dem arcação lhe asi
faço d o ação e rnerce de juro e derdade para todo sempre como dito he e quero e me praz que
o d ito P au llo Dias e todos seus erdeíros e subçessores que a dita terra erdarem e sub cederem
se p ossao ch am ar e chamem capitais e governadores delia, & omrosi lhe faço doação e raerce
de ju ro e derdade pera todo sempre pera elle e todos seus descendentes e subçessores no modo
sobred ito d a jurisd ição eivei e crime da dita terra da qual elle dito Paullo Dias e seus erdeiros
e subçessores u sarão na forma e maneira seguinte a saber, poderá per si e per seu ouvidor
citar á elieíção dos juizes e offtciais das villas e povoaçõis que se fizerem oa dita terra e a
lim p ar e a p assar pautas e passar cartas de confirmação aos ditos juizes e oficiais, os quais se
cham arão pello dito capitão e governador e elle poerá ouvidor que poderá cooheçer de auçõis
novas a dez legoas donde estiver edappellaçois e agravos e conhecerá em toda a dita capitania
e go vern an ça e os ditos juizes darão appellação pera o dito ouvidor nas contias que m andão
minhas ordenaçôis e do que o dito seu ouvidor julgar asy per aução nova nunca per appellação
e agravo sendo em causas eiveis não averá appellação nem agravo até contia de çem m il rs. e
da h y pera cim a dará appellação a parte que quiser appellar e aos casos crimes ey por bem
que o dito cap itão e governador e seu ouvidor leahão jurisdição e allç&da de morte natural
yn cllu sive em e scra vo s e gentios e asi mesmo em priãis cristãos bomes livres em todos os
caso s asy pera aso llo ver com o para condennar sem aver apsllação nem agravo e porem nos
quatro caso s seguintes a saber eresia quando o ereiico for entregue pello eccllesíastico e traição
e so d om ia m oeda fallssa terão allçada em toda pessoa de qual quer callydade que seja pera
codenar os cu llp ad o s á m orte e dar suas tenças a execução sem appellação nem agravo e nos
ditos q uatro ca so s pera aso llver de morte posto que outra pena lhe queirão dar m enos de
m orte darão ap ellação e agravo eapellarão por parte da justiça e nas pessoas de mor caUidade
terão a llça d a de dez annos de degredo até çem cruzados de pena sem appellação nem agravo
& o u tro sy m e p raz que o dito seu ouvidor possa conheçer dapellaçois e agravos que a elle
4 o8 Angola
ouverem dir em qualquer vílla ou lugar da dita capitania em que estiver perto que seja muit
afastado do lugar onde asi estiver contanto que seja na propia capitania e o dito capitão e
Governador poderá poer meirynho diante o dito seu ouvidor e escriviis e outros quaisquer
officiais necessaryos e acustumados nestes Reynnos asy na comição da ouvidoria como em
todas as vilas e lugares da dita capitania e governança e será o dito capitão e Governador e
seus subcessores obrigados quando a dita terra for povoada em tanto crecimento que seja ne­
cessário outro ouvidor de o por onde por mim ou por meus subçessores for ordenado E ou-
trosi me praz que o dito capitão e governador e todos os seus subcessores possão por sy fazer
villas todas quais quer povoações que se na dita terra fizerem elhe a elles parecer que o devem
^ de ser as quais se chamarão villas e terão termo e jurdição lyberdades e ínsinias de villas se*
gundo o foro e custume de meus Reynnos e isto porem se entenderá que poderão fazer todas
as villas que quiserem das povoaçois que estiverem ao longo da Costa da dita terra e dos rios
que se navegarem por que por dentro da terra firme pello sertão se não poderão fazer menos
espaço de seis legoas de huma a outra para que possão ficar ao menos tres legoas de terra de
termo a cada huma das ditas villas e ao tempo que asy fizerem as ditas villas ou cada huma
delias lhe iymitarão e asinarão logo termo pera ellas e depois não poderão da terra que asy
tiverem dado por termo fazer mais outra villa sem minha licença E outrosi me praz o que o
dito capitão e governador e todos seus subçessores a que esta capitania vier possão novamente
criar e prover que suas cartas os taballilis do publico e judicial que lhes parecerem neçessanos
nas villas e povoações da dita terra asi agora como tempo em diante e lhes darão suas cartas
asinadas per elles e aClladas com seu selo e lhes tomarão juramento que stnarão seus officios
bem e verdadeiramente e os ditos taballiais servirão por as ditas cartas sem mais tirarem ou­
tras de minha chancellaría e quando os ditos offiçios vagarem por morte ou per renunciação
ou por erros de se asi he os poderão iso mesmo dar e lhes darão os Regimentos por onde am
de servir conforme aos de minha chançellaria e ey por bem que os ditos taballiais se possam
chamar e chamem por o dito capitão e governador e lhe pagarão suas pensois segundo forma
do foral que ora pera a dita terra mandei fazer das quais penssÕis lhe asi mesmo faço doação
e merce de juro e derdade para sempre. & outrosi lhe faço doação e merce de juro e derdade
para sempre das allcaidarias mores de todas as ditas villas e povoaçois da dita terra com todas
as rendas direitos foros e trebuto que a ellas pertencerem segundo he declarado no foral as
quais o dito capitão e governador e seus subcessores averão e arecadarão pera sy no modo e
maneira que no dito foral se contem e segundo forma delle e as pessoas a que as ditas allcai-
darias mores forem entregues da mão do dito capitão e Governador elle lhes tomara a menage
delias segundo formas de minhas ordenaçois, & outrosi me praz por fazer merce ao dito Paullo
Dias e a todos seus subçessores a que esta capitania e governança vier que elles tenhão eajão
de juro e derdade pera sempre todas as moendas dagoas marinhas de sal do mar e da terra e
quaisquer outros engenhos de qualquer callidade que sejão que na dita capitania e governança
se poderem fazer ey por bem que pessoa alguma não possa fazer as ditas moendas marinhas
nem engenhos senão o dito capitão e governador ou aquelles a que elle pera iso der licença de
que lhe pagarão aquelle foro ou trebuto em que se com elles concertar que será o que for
rezão. E outrosi lhe faço doação e merce de juro derdade para sempre de vinte legoas de terra
ao longo da costa da dita capitania e governança e entrara pelo sertão tanto quanto poderem
entrar efor.d e minha conquista a qual terra será sua livre e isenta sem dela pagar foro nem
direito nem trebuto allgum somente o dizimo á ordem de Nosso Senhor jhesuu christo e dentro
de vinte annos do dia que o dito capitão entrar no dito Reynno dAngola poderá escolher e
tomar as ditas vinte legoas de terra em qualquer parte que mais quiser não as tomando porem
juntas senão repartidas em quatro ou cinquo partes e não sendo de huma a outra menos de
duas legoas as quais terras o dito capitão e governador e seus subçessores poderão aRendar e
aforar em fatiota ou em penssois ou como quiserem e lhes bem vier e pellos foros e penssois
em que se concertarem e forem justas e as ditas terras não sendo aforadas ou as rendas delias
quando o forem virão sempre a quem soçeder a dita capitania e governança pello modo nesta
doação contiudo e das novidades que Deus nas ditas terras der não será o dito capitão e go­
vernador nem as pessoas que de sua mão as tiverem ou trouxerem obrigadas a me pagarem
foro nem direito ailgun somente o dizimo de Deus a dita ordem de Xpo que geralmente se a
de pagar em todas as outras terras da dita capitania como abaixo irá declarado e será obri-
Apêndice 409

g a d o a c u ltiv a r e aproveitar as ditas terras do dia que as tomar a qumre a n o a s p rim eiro s se ­
g u in te s e n ã o o co m p n n d o así ficarão as ditas terras livremente a mim pera p o d er deltas f a z e r
o q u e fo r m eu se rv iço . £ o dito capitão e governador nem os que apos elle vierem c í o p o d e r i o
to m a r te rra a lg u m a de sesm aria na dita capitania para si nem pera sua m c th e r nem pera o
filh o e r d e ir o d e lia antes darão e poderão dar e repartir todas as ditas terras de sesm aria »
q u a isq u e r p e sso a s do qualquer callydade e condição que sejam e lhes bem parecer livrem ente
sem fo r o nem d ire ito allgun somente o dízimo a Deus o que serão obrigados a pagar a d st*
o rd e m d e to d o o que n as ditas terras ouverem segando será declarado no foral e p orila merma
m a n e ira as p o d e rã o dar e repartir per seus filhos fora do m orgado e así p or sem parentes e
p o re m o s d ito s seus filhos e parentes não poderão dar m ais terra d a que derem ou tiverem
d a d o a q u a lq u e r o u tra pessoa estranha e todas as ditas terras que así der de sesmaria a huns
e o u tr o s se rá co n fo rm e a ordenação das sesmarias e com a o brigação deU&s as quais terras o
d ito c a p itã o e g o v ern a d o r nem seus subçessores não poderão em tempo allgufi tomar pera si
nem p era su a m o lh er nem filho erdeiro como dito he nem p o lias em outrem pera depois virem
a e lle s p o r m o d o allgufi que seja somente as p&derSo aver per titolo de com pra verdadeiro
d as p e s so a s qu e lhes quiserem vender passados oito a anos depois das tais terras serem apro­
v e ita d a s e em o u tra m aneira não. & Item. outrosi lhe faço doação e roerce de ja ro e derdade
p e ra sem p re d a m ea dizim a do pescado da dita capitania que be de vinte peixes hufi que tenho
o rd e n a d o que se pagu e alem da dizima inteira que pertence á ordem segundo no fo r a l será
d e c lla ra d o a q u a ll mea dizima se entenderá do pescado que se tom ar eqgtoda a dita cap itan ia
fo ra d a s vin te leg o a s do dito capitão e governador porquanto as vinte legoas be terra sua
liv re e isen ta segu nd o atras he declarado. & Outrosi ey por bem e me praz de fazer doação e
m erce a o d ito P au llo Dias que de todallas rendas e direitos que a m y e a ordem de Nosso
S e n h o r jh esu n ch risto e por qualquer via pertencerem na dita capitania e governança e aos
R eis m eus su b çessores asi pelo foral que se ha de fazer pera ella como per qualquer outro
m o d o e m a n eira que seja elle a ja em dias de sua vida a terça parte das ditas reodas e direitos
e seus e r d e ir o s e subçessores que a dita capitania e Governança depois de sua coorte cr darem
e su b çed e rem a v era n pera sempre de juro e derdade a quarta parte das ditas rendas e direitos
so m en te e sen d o ca so que na dita terra se abrão e achem allguns resgates e tratos tais que eu
p o r m y so m en te o u p o r meus officiais os queira tratar e negociar em tal caso eu mandarei
p a g a r e d a r a o d ito P au llo Dias em sua vida como dito he a terça parte de tudo aquQlo que
nos d ito s tra to s e resgates se ouver de ganho tirados os cabedais e todos os custos que nos
tais tra to s e resgates se fizerem e a seus sucessores a quarta parte do dito ganho polia maneira
acim a d ita e isto se entenderá e comprirà asi quando aconteçer que os ditos tratos e resgates
se aR en dem ou se jã o tratados e negociados por allgumas pessoas a que eu pera iso der lugar
e liç e n ç a e sen d o ca so que os ditos tratos e resgates sejão da callidade que todas as pessoas
asi d a d ita ca p ita n ia e governança como destes Reynnos ede quaisquer outros meus Senhorios
os a jã o e p o ssã o tra ta r e negociar asi como meus officiais em tal caso eu não ficarei obrigado
a p a g a r ao d ito ca p itã o e a seus subçessores o dito terço ou quarto somente lhe darei aquelle
d ireito que as o u tra s pessoas ouverem de dar e pagar e nos ditos tratos e resgates lhe for posto
e o rd en ad o. & o u tro si fa ço doação e merce ao dito capitão e governador e a seus erdeiros e
su b çesso res a que a dita capitania e governança ouver de vir que do Rio dange (1) pera o sul
não p o ssa p esso a algum a tirar búzios debaixo do mar senão aquellas a que elles pera iso derem
licen ça & Item . O u tro si me praz fazer merce ao dito capitão e governador e a seus subces-
sores de ju ro e derdade pera sempre que dos escravos que elles resgatarem e ouverem na dita
terra p o ssã o m an dar a estes Reynnos quarenta e oito peças cada anno pera fazerem delias o
que lhes bem vier os quais escravos virão ao porto da cidade de Lisboa e não a outro allgufi
p o rto e m an d a rão com elles certidão dos officiais da dita terra como são seus pella qual cer­
tidão lh e serã o qua despachados os ditos escravos forros sem delies pagar direitos allgufís nem
cinquo p o r cen to e alem destas corenta e oyto peças que asi cadanno poderá mandar forras
ey p o r bem que possa trazer por marinheiros e grumetes em seus navios todos os escravos que
I quiserem e lhes fo rem necessários e dos mais escravos que trouxer pagará de direitos m il e
i
(1 ) D a o g e , m e lh o r N d a n jc j é o v e r d a d e ir o n o m e d o r io q o e n ó s cham am os l>ande.
5a
■■•irrß ' r

410 Angola
seis centos rs. por cada peça. & outrosi me praz por fazer merce ao dito capitão e governador
e a seus subçessores e asi aos vizinhos e moradores da dita capitania que nella não possa em
tempo allgun aver direito de sisas nem empossições saboarias trebuto de sal nem outros allguns
direitos nem trebutos de qualquer callidade que sejao salivo aquellesque por bem desta doação
c do foral forem ordenados que aja. Sc Item esta capitania e governança e rendas e bens delia
ey por bem e me praz que se erde e subçeda de juro e derdade pera todo sempre pello dito
capitão e governador e seus desçendentes filhos e filhas legítimos com tal dedlaração que en­
quanto ouver filho legitimo barão no mesmo gráo não subçeda filha posto que seja de maior
idade que 0 filho e não avendo macho ou avendo e não sendo em tão propinquo gráo ao ulltimo
possuidor com o a femea que então subçeda a femea e enquanto ouver descendentes legítimos
machos ou femeas que não subçeda na dita capitania bastardo allgun e não a vendo descendentes
machos nem femeas legitimas anião soçederão os bastardos machos e femeas não sendo porem
de danado coito e subcederão pella mesma ordem dos legítimos prymeiro os m achos e depois
as femeas em igual gráo com tal condição que se o possuidor da dita capitania a quiser ames
deixar a hun seu parente transversal que aos desçendentes bastardos quando não tiver legíti­
mos 0 possa fazer e não avendo descendentes machos nem femeas legitimas nem bastardos da
maneira que dito he em tal caso subçederam os desçendentes machos e femeas primeiro os
machos e em defeyto delles as femeas e não avendo desçendentes nem asçendentes subçederão
os transversais pello modo sobredito sempre primeiro os machos que forem em igual gráo e
depois as femeas e noxaso dos bastardos o possuidor poderá se quiser deixar a dita capitania
a hun transversal leguimo e tiralla aos bastardos posto que sejão descendentes e muito mais
propinco gráo e isto ey asi por bem sem embargo da lei mental que diz que nao subçedão fe­
meas nem bastardos nem transversais nem ascendentes por que sem embargo de todo me praz
que nesta capitania subçedão femeas e bastardos nao sendo de coito danado e transversais e
ascendentes do modo que ja he decllarado. & Outrosi quero e me praz que em tempo allgum
se não possa a dita capitania e governança e todas as cousas que por esta doação dou ao dito
Paullo Dias partir nem escarolar espedaçar nem em outro modo alienar nem em casamento a
filho ou filha ou a outra pessoa dar nem pera tirar pai ou filho ou allguma pessoa de ( ininte -
lig ív el) nem pera outra cousa ainda que seja mais piadosa por que minha tenção e vontade he
que a dita capitania e governança e cousas ao dito capitão e governador nesta doação dadas
andem sempe juntas e se não partão nem alienem em tempo allgun e aquelle que a partir ou
alienar ou espedaçar ou der em casamento ou pera outra cousa somente aja de ser partida
ainda que seja mais piadosa per esse mesmo feyto pera a dita capitania e governança e passe
direkaraente aaquelle a que ouvera de ir pella ordem de soçeder sobre dita se o tal que isto asi
não comprio fosse morto. & Outrosi me praz que por caso allgun de quallquer callidade que
seja que o dito capitão e governador cometa per que segundo direito e leis destes Reynnos
mereça perder a dita capitania e governança jurdição e rendas e bens delia a não perca seu
subcessor salivo se foi tredor à coroa destes Reynnos e de todollos outros casos que cometer
será punido quanto o crime obrigar e porem os seus subçessores não perderão por isso a dita
capitania e governança jurdição rendas e bens delia como dito he. St asi me praz e ei por bem
que o dito Paullo Dias e seus subçessores a que esta capitania e governança vier usem inteira­
mente de toda a jurdição poder allçada nesta doação contiuda asi e da maneira que nella he
declarado polia confiança que delles tenho que guardarão nisso tudo o que cumpre a serviço
de Deus e meu e bem do povo e direito das partes. & outrosi ey por bem que nas terras da
dita capitania nao entre nem possa entrar em tempo allgun corregedor pera nellas usar de
jurdição allguma per nehuma via nem modo que seja e porem eu poderei quando me bem pa­
recer mandar allçada e prover em tudo o mais que me pareçer que cumpre a meu serviço e
bem da justiça e bom governo da terra nem menos será o dito capitão suspensso da dita ca­
pitania e governança e jurdição delia porem quando o dito capitão cair em allgun erro ou
fizer cousas per que mereça e deva ser castigado Eu ou meus subçessores o mandaremos vir a
nós pera ser ouvido com sua justiça e lhe ser dada aquella penna e castigo que de direito por
tal caso merecer. E asi quero e mando que todos os erdeiros e subçessores do dito Paullo Dias
de Novais que esta capitania erdarem e subcederem per qualquer via que seja se chamem de
Novais e tragão as armas da dita geração e se allguns delles isto asi não comprirem ey por
bem que por esse mesmo feito pereão a dita capitania e subçeda nella e passe logo direita-
Apêndice 4 íi
menie aquelie que de direito avia de vir se o ul que asi o aio comprn) fosse 80w e pcS*
mesma maneira faço doação e merce ao dito Paulio Diai ero dias de soa rida Mssfôfe Jas
m
terras que estão do rio Dange pera o sul até os limitei do rio Qaoann o qaw Otmge pcílo
sertSo dentro vai deridmdo o Reynno Coago do Reynno dAngoUa e terá u* ir»s terra» em
sua vida como diio he a terça parte de todas as reodas e direitos que a mime a ordem de
pjosso Senhor jhesuu chrísto per qualquer via pertençeremper virtude do foral que é s s o man­
darei fazer c por falleciraemo do dito Paulio Dias ficarão as ditas terras do rio Dange até
limites do rio Quoanza livres a míme á coroa de meus Reynno» pera fazer delia» o que ouver
por meu serviço sem ficarem oeilas aos erdeiros do dito Pacilo Diaz jurdiçáo allçada nem #
renda allguma somente ficarão aos ditos seus erdeiros de juro e derdade peílo modo de íibçe-
der acima dcdlarado as allcaydarías mores dos ires castellos que ha de fazer oa diu ter»
pella maneira adiante decllarada e apresentação dos officios dos ditos tres castellos e povoa*
çois deites e sete legoas de terra de cada hundos ditos castellos pera fora e as agoai que em
ellas ouver as quais sete legoas da terra cada hun dos ditos castellos terá de tenao e íend#
caso que o dito Paulio Dias falleça ames de víore annos a pessoa que elle deixa nomeada pera
proseguir na povoação desta terra e capitania não poderá ser de menos cailidade que elle ttri
ê averá a dita terça parte das reodas e direitos até os ditos vtute annos serem acabados £ po­
rem tanto que o dito Paulio Dias for fallecido eu mandarey governador e as mais justiças que
me bem parecerem as ditas terras que esião antre os ditos rios Dange e o Quoanza da qual!
capitania e governança e terras açima dedlaradas lhe asi façodoação Anerce na maneira que
se nesta carta contem cora tal condição e decllaraçlo que elle Paulio Dias levará pera a con­
quista da dita terra a sua própria custa e despesa hun gallião e duas caravellas e çinquo bar-
gantins de deferente grandura e feição e ires muletas pera descobrirem os rios e portos que
ouver pella costa te o cabo de Boa Esperança asquaisembarcaçõis levará maiio bemprovidas
denexarceas veilas tolldas e de todo o mais que for necessário a dita riage e empresa. E com
condição que dentro em vime meses que começarão do dia que deste Reynno partir pcerá na
terra quatrocentos homens que posão pellejar com suas armas conformes a guera daqueUas
partes nos quais quatrocentos homensentrarãooytopidreiros quatrocavouqueiros seis tatpeiros
e hun físico e hun barbeiro e levará mantimentos pera hun anno pera toda a dita geme na qual
não irá cristão novo allgun e trabalhará por levar a mais gente e officiais que poder ser &
Com condição que levará seis cavallos pera iremdiante descobrindo a terra e que dentro de
tres annos terá lá de vinte cavallos eegoas peracima & Comcondição quedentro dedez annos
fará tres castellos de pedra e cal antre os rios de Zeoza e Cuoanza e hun deíles que se fará no
porto onde pareçer que podem ir armadas destraageiros não será de menos que de coxenta
braças de quadra e doze pallmos de grosura e quarenta datliura comdous balluartes em dous
cantos que fiquem em travezes singellos de todo o muro e pello tempo emdiante se irão aca­
bando da maneira que pareçer mais neçessarto e os outros dous castellos se farão peites rios
açima nos lugares em que pareçerem mais neçessarios e será cada hum de rime braças de
quadra e da mesma grosura e alltura do outro grande com dous balluartes exdiairetro pella
mesma maneira e sendo caso que o dito Paulo Dias não possa acabar os ditos tres castellos
dentro nos ditos dez annos fazendo elle nisso toda a delligencia que puder ser eu lhe irei re­
formando o mais tempo que me bempareçer e por entretanto logo emdesembarcaado fará na
dita terra as forcas que lhe foremnecessárias de taipa e madeira pera se segurar dos negros e
co ellas írá domando a terra enquanto não fizer os ditos castellos & Com a condição que
dentro em seis annos que começarão do día que deste Reynno partir ponha na dita terra e
capitania cem moradores com suas molheres e filhos em que entrem allguns lavradores com
todas as sementes e plantas que deste Reynno e da ilha de San Tomé se poderemlevar o que
tudo fará á sua própria custa e despesa semeu mandar meter nisso nenhim cabedale nem lhe
fazer empréstimo allgun darmas navios moniçois nemmitimentos como custumo fazer pera
as viagens e empresas desta cailidade. & Com condição que partirá deste Reynno pera efeituar
este negocio antes de se acabar o contrato da ilha de S. Tome que ora corre de maneira que
quando lá chegar seja o dito contrato acabado E esta merce lhefaço comoRey esenhor destes
Reynnos e asi como governador e perpetuo administrador que são da ordem e Cavallaria do
mestrado de Nosso Senhor jesuu chrísto e por esta presente carta dou poder e autoridade ao
dito Paulio Dias de Novais que elle por si e per quemlhe aprouver possa tomar e tome posse
412 Angola
real autuai das terra» da dua capitania e governança e das rendas e bens delia e de todalla*
mais cousas contiudas nesta doação e esse de todo inteiramente como se nella contem a qual
doação ey por bem quero e mando que se cumpra e guarde em todo e per iodo com todallas
cllausuilas condiçois e decllaraçois nella conteuda6 e decllaradas sem mingoa nem desfalleci-
cnento allguã e pera todo o que dito he derogo a lei mentale e quaisquer outras leis ordenaçois
direitos grasas e custumes que em contrairo disto aja ou posa aver per qualquer via e modo
que seja posto que sejao tais que fosse necessário serem aqui expressas e decllaradas de verbo
a verbum sem embargo da ordenação do a.° Livro tictulo 49 em que diz que quando as tais
leis e direitos derogarem se faça expressa menção delias e da sustancia delias e por esta por-
meto ao dito Paullo Dias e aos seus subçessores que nunca em tempo allgufí vá nem consinta
ir contra esta minha doação em parte nem em todo e rogo e encomendo a todos meus subçes­
sores que lha cumprão e mandem comprir e guardar satisfazendo e comprindo o dito Paullo
D ias inteiramente com as condiçois acima decllaradas aos tempos e da maneira que dito he
E mando a todos meus desembargadores corregedores ouvidores juizes justiças e officiais de
minha fazenda e a quaisquer outros a que ò conhecimento disto pertençer que lha cumprão
guardem e fação em todo comprir e guardar esta carta de doação como nella se contem e
deixem a elle e a seus erdeiros e subçessores usar de todas as cousas nella decllaradas sem
nisso porem duvida embargo nem impedimento altgun porque asi he minha merce e não com-
prindo elle nem satisfazendo com as ditas condiçois e cousas nos tempos e maneira que acima
se contem esta d o a ç ir n to averá efeito allgum e eu farei merce da dita capitania e governança
e terras a quem ouver por meu serviço e por firmeza de todo lhe mandei dar esta carta de
doação per mim asinada e aseilada com o meu sello de chumbo pendente a qual vai escrita
em seis meas folhas de purgaminho e com a outra em que asinei e no fim de cada lauda vai
asinada per Martim Gonçalves da Camara de meu conselho e meu escrivão da puridade dada
na cidade de Lisboa a seix dias do mes de setembro Antonio de Aguiar a fez ano do nacimento
de Nosso Senhor jhesuu christo de MDLXXI Jorge da Costa a fez escrever. E o dito Paullo
Dias sera outrosi obrigado a levar tres cllerigos pera confessarem e sacramentarem a gente da
armada e asi todo o necessário de vestimentas e ornamentos do alltar e a primeira igreja fará
toda á sua custa e será da invocação do bem aventurado martire São Sebastião e as outras
igrejas fará taobem a sua custa ou os corpos delias somente como será decllarado no foral e
os escravos que por virtude desta doação pode resgatar e enviar a este Reynno antes de serem
ávidos por bem cativos e de se embarcarem pera o Reynno se façam as justificações necessá­
rias conforme ao regimento e ordem da mesa da conciencia que se enviou a San Tome,
( A r q u iv o N a cion al da T ô r r e do T o m b o , Chancelaria de
D. Sebastião (Doações), L iv r o 26, foi. 2<,5 a 299).

DOCUMENTOS N.°’ 18-19-30


N * 18.

Poder e alçada que leua o ido joão morguado que vay tomar Rediçençia aos ouujdores que
estão no R"° dangolla.

Dom Philipe per graça de dã Rey de portugal e dos Algarues da Quem e dalem Mar em
A frica sõr de guine e da conquista nauegação e comerçio de Ethyopia Arabia pérsia e da
jndia Ets. faço sabf a uos ldo joão morguado do meu desembargo e desembargor da rrellação
da casa do porto q ora mando ao RB° dangolla A cousas q cumpre a meu seruiço q ey por
bem q acerca das resideçias q aueis de tomar aos ouuidores do g« do dito Rno dangola tenhais
a manr* seguinte a a lf do q se contS na ordenação tit° das residençias dos Cres das comarcas q
intramente comprireis.

T a n to q os ditos ouuidores fore fora do lugar dondelhe ouuerdes de tomar as ditas resi­
dençias e os pregois lançados conforme A ordenação começareis logo a entender nellas e sa­
bereis se te os ditos ouuidores comprido o que pella ordenação lhes he mandado, no tit° dos
C rt* das com arcuas e uereis pB isso o caderno que 0 escriuao da ouuidoria era obrigado a fazer
Apêndice 4 í3

de tudo o § os ditos ouuídores fizerio cm cada hff dos lugares detU e peCo áiw cãdtm e
pello escriuâo da ouuidoría uos informareis se proveráo os ditos oauidora sobre os ofr* d*
just1 dos lugares da dita ouuidoria e se virão as canas e rregimentos de scos oi?* e os lwdaí
notas e das querellas e se prouerão as deaams e se compririo acerca díso i» rregím*

E se uirSo os forais de cada lugar e trabalharão por wbf se algüa p4foy contra eliw ar­
recadando mais dr104dos conteúdos nos ditos forais e o q açerca disso fixerío

E sabereis se usarão os ditos ouuídores de mais jurdíçáo da que lhes desmente pertencia
e em q cesos e em q man'* vsarão delia.

Mandareis ao escriuâo da ouuidoria quos mostre todos os feitoscrimes despachados peüos


ditos ouuídores, emq elles não apelarão por pane da jusr* e uereis se deixarão dapeUai em
algGs em q o deuerão de fazer por não cabere em sua alçada e de tudo o q achardes farás
fazer declaração nos autos da rresideoçia cada cousa emcapit* apartado por sy.

E achando q os ditos ouuídores farão negligentes emalgua das ditas cousas oa em outra
de seu off* ou q tiuerão culpa emleuar o q náo podiio, os preguntareis por isso p4<$logo ue-
jais a rrezão q pBisso tiuerão. e se for tal q se ajã de uer per liuros e papeis os uereis logo e
fareis fazer declaração nos autos do q achardes p* íj se possa escusar d)mandar depots pellos
ditos liuros ou papeis p1 seu despacho.

Tirareis inquirição sobre os ditos ouuídores pellos capit4*que maoda a ordenação assy
como por ella são obrigados fazer os ouuidores q fore prouidos apos os aq tomardes resi­
dençia, os quais não terão a tal obrigação e pella mesma man™sabereis como o mw escriuâo
e off41 da dita ouuidoria te seruido seus off41 e tirareis sobre dies inquirição e se alguás partes
os quísere demandar As ouuireis comelles e fareisníso o íj for just1Eirrey noso sór o mandou
pellos doutores jeronimo pr1 de sá e Melchior damarat ambos do seu coos* e seus desembar­
ga* do paço. p° de seixas o fez emlíx4a xiiíj de Jan° de j b'lxniiij. {*584)

N.°1
9.
0 mesmo Ld0joaõ morguado

Eu ei Rey faço sab? a uos Ia“ joao morgado derecende do meu desembargo e desembarg*
da rellaçao da casa do Porto que ora mando ao R“4dangola a cousas q cumpre a meu serviço
e pella confiança q de uos tenho q nisto me seruireis Bem e fareis tudo 0 q per esie regim.*4
vos mando com A fidelidade e intereza q a calidade dos casos requere./. e de mao/* q eu me
aja de uos p bem seruido ./. ey p.* bó que tenhais niso a orde e raan.rt seg.u ./.

Prim."mente tanto q chegardes ao dito R.*4dangola dareis ao a minha carta q pera


elle leuais./.
£ naõ entendereis na p.ado dito g.** no q tocar á materia da just.4ne nas cousas por elle
feitas e ordenadas porquanto por algas justos resp.tM$ me a isso mouê 0 ey asy p b?./.

£ tanto q lhe assy derdes a dita carta sabereis se 0 dito gouemador teue ou te ouuidores
e tendoos lhes tomareis a cada hu residençia conforme a ordenaçaõ e na forma q as ditas re-
sidençias se tomao aos ouuidores das iras dos senhores p* 0 q leuareis 0 regim.14 e isto sendo
0 tpõ dos tres annos p.d®e pella mesma man/4 tomareis residençia aos off.Mdante os ditos
ouuidores e aos mais ministros da justiça./. e achando q seruiraó mais de tres annos lho naÕ
dareis em culpa ./. e tendo seruido bemlhes tornareis As uaras e admetereis os off.4*e menis-
tros a seus off.4* constandonos q seruiraó bem, e achando q seruiraó mal procedereis contra
elles na forma do poder e alçada q leuais./.
Ey por be 5 tomeis c.t0 per apelíaçaÕ ou agrauo de todos os casos que naõ couber2 na
alçada do dito g.dor conforme a sua doaçaÕ E nao auocareis os feitos./.
414 Angola
E os feitos § ouucrdes de despachar por naõ caberc na alçada do g.*" sendo de causas
ciueis despachareis finalmente em toda a contia no caso dapellaçaõ se apellaçaõ nê agrauo e
5
isto com o dito g.00' e c o vreador mais uelho do lugar em q estiuerdes ./, no caso em çj elle
g .^ nSo tiuer dado sentença e sendo algum delles ausente ou impedido tomareis em seu lugar
o das p.M q na terra ouuer as q uos pareçer que saõ sem sospeita e de boas consciençias ./.

E nos casos crimes q naõ couberê na alçada do g,dor despachareis os feitos pella mesma
man.rt q o aueis nas cauzas ciueis e dareis nossas sentenças a execuçaõ até morte natural in-
clusiué sem embargo da extravagante q diz £j nos casos de morte sejaÕ seis juizes — porq ey
por be q naõ sejaõ mais que tres assy e da man.M q o am de ser nas cauzas ciueis e como fica
dito no cap.° proxim o ./.

Dareis orde praticando pr* cõ o dito g dor q nas matérias da just.- se guarde daquy en
diante as ordenações do R,“° e os off." siuaõ seus off.M e tenhaõ seus liuros conforme A ellas
e a seus regim.10* ./.

E prouereis q daquy en diante se ponhaõ em arecadaçaõ as faz.d" dos defuntos dando nisso
a ordê q uos pareçer e guardando Açerca diso o rregím10q uos será dado na mesa da conçiençia
onde o pedireis, e sendo alguas faz.dM dos ditos defuntos gastadas per ordê do g.dor naõ enten­
dereis na arrecadaçaõíiellas ./. somente fareis por os autos em guarda em poder dos off « A
q pertence p* q em todo tpõ saybaõ os erdr.0# dos ditos defuntos onde estaõ as ditas faz.d» ./.

Tratareis com o mesmo goueraador e cõ as mais p « que nos pareçer sobre o bom go-
uerno da terra de vereadores e almotaçes e dos mais off.e" e escreuereis no q vos pareçer q
conue a meu seruiço e á paz e quietaçaõ da te rra ./.

E uindouos com sospeiçaõ a jnuiareis a este R.™ á mesa do despacho dos meus desembar­
ga*» do paço pera nella se detriminar e entretanto proçedereis nas causas tomando hu adjunto
se sosptH./. e uindolhe cõ sospeiçaõ tomareis outro Ao qual senaõ poderá por sospeiçaõ ./. e
conhecereis das sospeiçois q se poserê a cada hü dos adjuntos q cõvosco haÕ de despachar e
asy das q posere ao escriuaÕ danteuos e uindo com sospeiçaõ aalgü dos adjuntos cõ que des­
pachardes assy os feitos crimes como os ciueis tomareis outro o mais se sospeita 3 poder ser
e uindosselhe co sospeiçaõ tomareis outro pella mesma man.ra ,/. ao ql senaõ poderá por sos­
peiçaõ ./. E os recusantes depositaraÕ dez cruzados os quais perderaÕ pa os presos e pobres naõ
sendo nos julgado pr sosp.*° e enq.t0 durar o p°cesso da sospeiçaõ posta ao escriuaõ tomareis
outro escriuaõ p adjunto ao qual senaõ poderá por sospeiçaõ e sendo elle julgado por sospeito
escreuera cõ o dito adjunto naqueles casos em q for ,/.

E informarnoseys se no dito R.n0 dangola andaõ algüs homes casados q fossê destes reynos
e quanto tpõ ha e q nao quere uir fazer uida com suas molheres ne proueremnas do necessário ./-
uiuendo mal e desolutamente e achando q ha lá algüs dos ditos homes mo escreuereis decla­
rando as faz.d«s q tem e os nomes delles pera nisso prouer como ouuer p° meu ceruiço e as causas
q tem p* naõ uirê e parecendouos q algüs dos ditos homSs uiuê taÕ desolutamente 5 conue ao
seruiço de noso sor e meu e ao bom exemplo fazerdelos embarcar o podereis fazer comoni-
cando prim.,° com o g dor sê mo fazerdes sabr porq confio de uos e delle 5 o nao fareis senaõ
em caso q be o mereçaõ eseraõ escriuaõ e m/° dante uos as p.a* q p.6 isso uos mostrarê minhas
p rouisoês— p° de seixas o fez em lx.a a xix dout° de j bMxxxiij ( i 583 )

N.° 20.

O mesmo Joaõ morguado

Eu el Rey faço sab? a vos l.do joaÕ morgado desembarg.3or da casa do Porto q ora enuio
ao R.BO dangola a cousas de meu seruiço e p.0f prouedor de minha faz.dt q ey por bem e me
praz q no descubrim.10 das minas q se ora faz no dito R.ao e assy na fundição do ouro ou prata
cj se nellas descobrir q se haõ de benefiçiar p.or ordem de minha faz.da se tenha a ordê seguinte ./*
A

Apêndice 4 *^
T a n t o q ch eg a rd es n o dito R.** dangola vos oereís com paios dias d e n a b a ís c a p á * 6 e
g.4«’ n a s d ita s p a rtes e depois q lhe derdes a minha c a n a 3 p* elle leuaís lhe t o o s m e n s este
regim .*° e p ra tica re is com elle o negoçio das ditas minas e sabereis o estad o em 3 *
A m b o s ire is a o s lugares delias e tanto <j nelle fordes fareis ahy vir os m ineiros 3 p e r » b e a e â à o
d a s d ita s m in as m ando as ditas partes e lhes mandareis q u ejaõ o s itio e lugares em 3 e lla s
e s tiu e re m e ta n to q fore descobrindo as ditas minas as fareis por am e vos dem arcar « se Cara
a s e n to em liu ro 3 P* isso fareis fazer asinado e numerado p .m uos pelkr cscn u a ô da feitoria
em q se d e cla re o lugar e confrontaçois de cada huã delias e nom e 3 com pareçer do* min.***
o d ito g.dof e u o s lhe poserdes declarandolhe a distançia 3 ba de hSa a outra

£ fe ita a d ita dem arcaçao e assento os ditos m in/2* em sayaraõ perante vos as 3 pareçer
p* se sa b ? c o m o responde cada huã delias e seg.** a enform açaõ 3 ttnerdes o dito g.4«* e uos
fa re is b en efiçía r as 3 pareçerê mühores e de mais reodxm.i# «/.

E y p o r bem e m ando q pera se beneficiar? as ditas M inas e p* fu n d iç s Ô delias co parecer


d o d ito g .dor façaes fazer as casas e engenhos Neçessarios nos lugares 3 o s d ito s min.*** disser?
3 sa o m ais conuententes e onde tenhaÕ agoa e lenha o m ais q p o d er ser p o r ser? as coosas
m a is n e cessá ria s p* a dita fundição e asy tereis cujdado de prouer o s ditos engenhos de ca l e
d o s m a is m ateriaes necessários ao benefiçio das ditas Minas ./.

E sen d o ca so 3 as minas q assy se descobrirc estem em partes a ja falta de lenha cÕ


p a r e ç e r d o d ito g.dot dareis ordS cõ que se traga aos ditos engenhos toda a lenha aecessaria
d o s lu g a re s m ais chegados 3 poder ser S man.1* q por falta da dita lenha Naõ deixe de lau rar
o s d ito s engenhos ./.

E c o m p a reçer do dito g.do* ordenareis hü home de confiança que em cada hüa d itas
M in as siru a de guarda delia e que tenha cargo de fazer trabalhar os struidores q nellas anda*
rem e 3 u ig ie em man.fl q o metal q das ditas minas sair uenha a boa rrecadaçaõ e 3 tod o o q
se tira r se en tregu e p or peso e medida as p.** q o leuare aos ditos engenhos onde se hade fazer
a fu n d iç ã o p ella ord e 3 os min.™ haõ de dar ./.

E se n d o ca so 3 alguãs destas minas estem duas ou tres juntas q se p o sa õ be guardar por


h u ã so p* e y p o r bem que senafi façaõ mais q hG só guarda p* as ditas m inas 3 assy estiuerc
ju n ta s qu e se ra p* desconfiança que os vigie assy juntas pella man-r* q atras fica d ito e isto
p r a tic a r e is c o m o dito g.á°r e o acentareis com seu pareçer.

E p a re çen d o que p* as ditas minas 3 assy estiuerê juntas bastará huã só p* 3 as guarde e
o rd en an d o sse A s sy entendendo o dito g.d*r e nos q conue a meu seruiço e Bem de minha faz.**
sa b e rse o 3 ca d a hua das ditas minas rende e q p * isso conu€ naõ se juntar o m etal de huã
c o m o de o u tra s dareis orde com 3 senaõ se se sab? como cada hüa responde -/.

E y p o r bem q pera se guardare os metais 3 se fore tirando e a ferramenta com q se ha de


tra b a lh a r n o ben eficio das ditas minas ordeneis com pareçer do dito g.**'huã casa conueniente
em q se a s d itas cousas guarde e este A bom recado da qual casa tera a chaue o dito h o m e
qu e h a d e se r g u a rd a da d ita mina de q hade sair o metal ./.

T e r e is cu id ad o de dar aos ditos min.*** toda a gente q lhe for necessária p* o la u o r das
d ita s m in as e dos engenhos onde se haô de fundir os metais p* o 3 sendo necessário p ed ireis
a o dito g.dor tod o o fau or q ouuerdes mister ao 3I emcomendo q em todos estes n e go çio s u o s
a ju d e c o m o d elle con fio ./,

E sen as p o u o a ço ê s do R .“° dangola naõ ouuer ferreiros q possaÕ lau rar e c a lc a r a s fer­
ram en tas 3 sa o n ecessárias pera beneficio das ditas minas e pera laurarê os d ito s engenhos
o fareis sab r ao dito g.àor e com seu pareçer mandareis buscar os ditos of£.** a y lh a de s&m
th om e don de u iraõ com suas tendas e apreçeuidos do necessário de seus officios p era o dito
4 16 Angola
efeito e lhe dareis por isso o salario que o dito gouernador e a uos pareçer á custa de minha
faz.4* ./-

Ordenareis com pareçer do dito g ** em cada hü dos ditos engenhos huã p.- de confiança
q reçeba todo o metal q a elle uier pera se fundir das ditas minas por pezo ou medida e o
rrecolha em hCa casa q nelle auera separado pera se guardar de que tera a chaue; o qual metal
mandaraõ os guardas das ditas minas aos ditos engenhos com escritos seus em q declare a
contia q mandaÕ p* por elles fazere entrega do dito metal as p ." q o leuaré e no q tocar a
dita fundiçaÕ fará A tal p.- q assy tiuer o cargo a guarda do dito metal o q pellos ditos min.TOê
for OTdenado e terá cuidado de uigiar q os seruidores e p “ q trabalhar? nos ditos engenhos
Na6 leu? metal algü quando saire pB fora ou fore p* suas casas pera o q os buscara ./.

E porq he neçessario ter? os ditos mín,MB casas em q recolhaô os materiaes com q haõ de
fazer a fundiçaÕ e a prata q delia recolher? enquanto a naõ entregaõ com pareçer do dito g.dor
lhe fareis d arh u ã casa dentro nos ditos engenhos onde bem possaõ recolher a dita prata e
materiais ./*

E os ditos min."’ cada oyto dias faraõ entrega ao feitor da feitoria de toda a prata que
no dito tpo se tirar dos ditos engenhos apurada a qual uos fareis entregar por ante uos por
pezo ao dito feitor e lha fareis carregar em R.t# pio escriuaõ de seu cargo em hü liuro que p*
jsso fareis fazer q ser#*asinado e numerado por uos na forma da ordenaçaõ e antes de se en-
tregoar T od a a dita prata se fará em paes os quaes seraõ numerados e marcados cõ as minhas
armas reaes destes R d e portugal e feita nesta man." com declaraçaõ dos ditos paes num.0
e marca e pezo q pezare se fara A dita entrega e se carregara no liuro ao dito feitor «/.

E pareçendo ao dito g.dor e a uos q he mais meu seruiço e milhor arrecadaçaõ de minha
faz.4- fazerse a entrega da dita prata ao feitor em mais breue tpõ q dos ditos oyto dias a fareis
fazer pella man.r* sobredita ./.

E tanto q o dito feitor receber a dita prata fareis q se recolha toda em hüa casa q p" isso
ordenareis com pareçer do dito g.dor q será forte e segura a ql casa se fechará com tres chaues
de diferentes guardas das quais uos tereis huã e o dito feitor outra e a outra chaue terá o es­
criuaõ q escreuer a dita R.la pera q se nao possa tirar prata alguã da dita casa sé uos e se os
ditos off.« sere presentes ./■

Vizitareis as mais uezes q puderdes per uos as ditas minas e engenhos e sabereis se as p.M
que estiuerem postas por guardas uegiaÕ e recolhem os metaes q se delias tiraÕ com cuidado
e em man.ra q por sua culpa ou descuido naÕ aja falta, e bem assy sabereis se Apontaõ a gente
do dito seruiço com o deué pa q as pagas dos q seruê se façao aos q se deuer e como conuf ./.

E assy sabereis cõ m.u diligencia a cantidade do metal q se tira em cada huã das ditas
minas em cada hü dia uendo por esta maneira o q u e a montar cada somana pouco mais ou
menos e esta mesma diligencia fareis na prata q se for fundindo pera q na milhor man.ra q po-
derdes entenderdes se na entrega deste metal e prata ha algü engano e o q achardes comoni-
careis com o dito g.dor pera cõ seu pareçer prouerdes como conue a meu seruiço ./.

E sendo caso q se descubraõ alguãs minas de outros metais uos uos juntareis com o dito
g.dop e lhe fareis sabf das mtnas q se assy achare e com seu pareçer fareis diligençia pera q se
saiba o q cada huã das ditas minas responde. E pareçendo ao dito g.dor e a uos q he meu ser­
uiço beneficiarensse por conta de minha faz.4- o fareis fazer pella orde q neste Regim.*0 esta
dada no beneficio dos outròs metais ./.

Mandouos q tudo o q no negocio das ditas minas ordenardes o comuniqueis sempre com
o dito g.dOT porq pella confiança q delle tenho nas cousas de meu seruiço o ey assy por bem ./.
Apêndice 417
E aos seruidorcs t p” q trabalhar« ia s dita mina 1« fará p ig rn * é t scufjdnoais a
custa de minha faz.* na mercadorias que otwer pelU ordc íj c6 pareçet ao dito ooi pa-
reçer mais seruiço e em man/1 íj p." a $ se deuer sejeo pagas t o tpo ordenado de seos
jornais ./■

Os quais pagamentos se farafi per Roíz (?) asinados por tzos Ç o «crfcuS da dftft fn toría
fará q ficaraõ pera desp.1 do dito feitor e os guardas das minas wraõ cargo de apontar? os
ditos seruidores e uos emtregarao o dito ponto no fim de cada somana pera por eÜe se fazer?
os Rois por q hão dauer os ditos pagamentos e auendo no dito R** de angola estrtno* meus
catiuos que sejaõ pera sentir nas ditas minas e benefício delias os metereis no dito seruiço
aos quais se dará somente o mamim.u Necessário J.

E porq ey por meu seruiço q todas as minas q sad descaberias ou $e descobrir« co dito
Rejno damgola se beneficie por conta de minha faz.* e por orde de meus ofi> uos mando que
na5 consimaes que pera algua de qualq? calidade e condição que seja abra ne benefiçte itutw
algua no dito R.t0 sem minha espicial licença e fazendo algü o contr.* procedereis contr» elie
segundo forma de minhas ordenaçoSs./.

Tereis lembrança de me auisar por cartas uossas todas As uezes q o tpo uos der lugar do
estado em q este negoçío das minas estíuer e sobre uíndo alguã cousa a q pera bem do dito
negoçio seja necessário prouer mo fareis sabf e sendo o negocio tal § cJnuenha a meu seruiço
naS auer dilaçaõ praticareis nelle c5 o dito gooernador paios Diaz e o q eüe e uos asentarde*
q conuc dareis a execussaÕ e mo dareis sab? pera eu mandar o q for meu seruiço./.
Emcomendouos e mandouos q este regim.1* cumprais e guardeis jnteiramente como se
nelle conte e eu de uos confio íj o fareis nas cousas de meu seruiço q nelle uosmandey apontar
e em quaisq? outros íj sucederá cÕ aquelle cuidado düigençia e fedelidade que requere este
cargo em q tne de uos quis seruir./»Joaõ de torres o fez emlix.1 a xxbij do outr.®de j b* liixiij
(i 583) E eu di.° uelho o fiz escreuer./.
4
(T ò rrt o Tom bo, 5)»
U m / de Leis, fo te. 91 a $

DOCUMENTO N.#21

TRASLADO DA PROVIZÃO DE LOPO DELGADO,


ESCRIVÃO DA FAZENDA

Eu el Rei faso saber aos q este alvara virá q eu ey por be e me praz íj Lopo delgado meu
moço da camara a que por outra minha provizão fiz hora merçe da serventia do offiçio de
escrivão dante 0 provedor da fazenda das capitanias do estado do Reino de angola assy 0
cabo de boa esperança por tempo de tres anos se tanto durar a auzençta de gaspar ferreira
cujo 0 dito officio he e 0 não for servir per si tenha e aja de mantimento ordenado co elle
sesenta mil rs cada hü dos ditos tres anos pagos no feitor da feitoria de Angola e duas pesas
forras Resgatadas cõ sua Roupa que he tudo outro tanto como ter 0 dito gaspar ferreira per
sua carta pelo q mando ao feitor da dita feitoria quelhe de epague cada ano os sesenta mil rs*
do dito ordenado por este so alvara semmais outra provizão e pelo treslado dele que sera
Registado no livro de sua despeza pelo escrivão da feitoria 5 seu conhecimento e seriidão do
provedor de como serve 0 dito officio mando que lhe sejão levados en conta o que pela dita
maneira pagar e ao capitão da dita capitania provedor e offiçíaes da feitoria dela que lhe
deixem em cada hü dos ditos tres anos mandar Resgatar as duas pesas forras de sua Roupa
como dito he e cumprão e goardem este alvara como se nelle conte 0 qual ay por ben que
valha e tenha vigor posto q 0 efeito dele aja de durar mais hü ano sem embargo da ordenação
do segundo livro t®vinte em contrairo gonçalo Ribr® 0 fez em Lisboa a quatro de maio de
mil e quinhentos oitenta e tres, e euRui diaz de menezes 0 fiz escrever Rey João gomez, alvara
de sesenta mil rs. que lopo delgado moço da camara de vosa magestade a daver cada ano de
4 1B Angola

mantimento ordenado co o officio de escrivão dante o provedor da fazenda das capitanias e


costa do Reino de angola digo cabo de boa esperança que per outra provizao q ade servir por
tempo de tres anos se tanto durar a auzençia de gaspar ferreira cujo o dito officio he e o não
for servir per si e que lhe sejao pagos na feitoria dangola e ali posa Resgatar cada ano duas
pesas forras da sua Roupa q he tudo outro tanto como se o dito gaspar fr* per sua carta e
este valha posto q o efeito dele aja de durar mais de hü ano por despacho da fazenda pagou
çetn rs. siraão giz. preto, pagou coreta rs. ea iisboa a vinte e tres de junho dejmil e quinhentos
oitenta e tres e ao Registo çem rs. gaspar maldonado Registado na chançelaria no livro xpo
na castanho fs. i66 Belchior monteiro.
(Biblioteca Nacional. SecçSo Ultramarina. Documento«
de Angola, Caixa 14S).

DOCUMENTO N.° 22

S U C E S S Ã O D E P A U L O D IA S D E N O V A IS
NA DOAÇÃO DE ANGOLA
Ao Cons° Rafael^pires Pardinho pareçe 0 mesmo q. ao Cons° e acrescenta.......................

Estas são as mel q. na d# carta de Doação se fizerão ao d° Paulo Dias de Novaes, e tão bem as
obrigaçoãns q. se devião satisfazer pBterem effeito, e se continuarem em seus herd0* e succes-
sores. Não consta dos docum01 q. o supp* ajunta em que tempo morreo o d° Paulo Dias, nem
a pessoa q. deixou nomeada p#continuar, e proceguir na povoação, e augm0 das taes terras e
CappQtes até findarem os vinte annos. O de fl. 48 té fl. 54 he hfi edital, ou bando feito em quinze
de Agosto de 1584 em nome do mesmo Paulo Dias, e asignado por elle a q. chama declaração
e nomeação dos reguengos do seu morgado, nas vinte legoas da costa, q. havia de escolher nas
trinta e sinco da dBCappnia e das paragens e sitios em q, se havião de levantar e fazer os tres
castellos q. El Rey lhe mandou fabricar nas terras q. lhe tinha conçedido em dias de sua vida.
Delle se infere bem q. o d° Paulo Dias nem povoou a Capp.nia nem edeficou os tres castellos
como era obrigado. Quanto á Cappni* herão já passados quasi treze annos no de 1584, qd° 0
d° Paulo Dias querendo escolher e segurar as vinte legoas da costa q. se lhe concederão p* elle
e seus successores poderem cultivar, beneficiar, aforar, etc, nas 35 da Cappni» as nomea e se­
para em quatro partes, pellos sinaes da costa do mar, e Rios que nelle desaguão, e por onde
elles corressem, e dahy pa sima, e certão linha direita até o mar de Mossambique sem nomear,
expressar, ou declarar povoações, villa, ou Igr* q. tivesse feito, ou fundado em qualquer dos
taes Rios, ou na distançia de toda aCapp^asendo obrigd0 afazer logo na principal va amayor
Igra ao Glorioso mártir Sao Sebastião, a qual fosse cabeça e desse nome a mesma Cappnia
como se observou em todas as q. se doarão e estabelecerão em toda a costa do Est° do Brasil
assistindo neila os juizes e vereadores; officiaes de justiça, e ouvidor pa usarem da jurisdição
q. se lhes concedeo. Mas por isso as Cappni»* do Brazil se conservarão sempre, e esta no Est®
de Angolla nunca teve nome, nem existência.
E quanto aos tres castellos: Erão já passados mais dos primr0* dez annos da Doação qdo
o d° Paulo Dias nomeou, e declarou pa fazer o primeiro, e mayor Castello na costa do mar 0
porto de Loanda, em q. estava a villa de S. Paulo, por ser acomodado a estancia, e defenção
dos navios q. elle fossem, ep*o segundo Castello por lhe parecer mais conven0 o citio nas
terras de Cambambe pa mayor segurança das minas de prata q. aly havia: e pa o terceiro a
Bança e citio de Moagaloambe pa segurança e defensão das terras do Rn° de Angolla q. se ha­
vião conquistado. Esta foy a nomeação q. o d° Paulo Dias fez dos citios em q. havia edeficar
a forma os tres castellos nas terras q. possuhya em dias de sua vida; e como não consta q.
com effeito os levantasse, e aprefeissoasse á sua custa, não houve, nem ha Alcaydarias mores,
q. passassem aos seus herd0* e successores. O porto de Villa de S. Paulo de Loanda nomeado
pa o primeiro, e mayor Castello, he hoje a Cide de S. Paulo de Assumpsão de Loanda q. por
morte do d° Paulo Dias de Novaes ficou livre á Coroa, e paella foram mandados Gov.Me Cappe#
4*9
Generacs, q. no decurso de mais de î6o anaoi i costa da Faz» R1 a icm fortificado, etc— - - '
O mesmo supp* die e confessa q. ceohü dos berd“ q. podifio succéder ao d* Piaifl D i« &
Novaes se encartou nas m" daquella Doação, nem assistia, ou frequentou aquaïa conquista, e
CappoJa p* ajudar, e fomentar a sua povoação e cultura daqneiUs terras da Costa Aastnf do
Reino de Angolla, as quaes boje ou esurfo desertas ou povoadas (como as mats io cefffo)
pelos Negros naturaes delias, e sugeitos aos seus Reys e Sovas vassailos des» Corca, ou abso­
lutos senhores como são os q, ficão na contra cosia p." o mar de Moss* athe onde dizia o d*
Paulo Dias chegava a sua Capp.
Peilo q. tudo e o roais q. aponta o Proc* da Faz* se conforma este Cons* cota d seu pe­
recer, de q. deve o supp* ordinariamente mostrar o dir* q tem ás m” prometidas ao d* Paulo
«5
Dias de Novaes, e q. este cumprio, e satisfez as referidas coodiçoens, e as mais q. for expres­
sadas na carta de Doação, na qual expressam1* se lhe cominou, não tertio effimo, no caso de
as não satisfazer, e cumprir nos tempos limitados. E aroy especificam** deve o ropp* nomear,
e provar as villas e freguesias que etc.

Lx* i 3 de Agosto de 1754. Pardínbo. //Corte Real. //Bacalhao, // Costa. //.


Biblioteca National, Secçfo Ultraroarina, Urro i i CoenJJXt fiann
^3
do Comlho CUrajurinút 0.* 21, t a M fíJ f *.

t
DOCUMENTO N.* ú

T R E S L A D O D E H U M A L U A R A Q U E S U A M A G .° P A S S O U A O S
P .ES D A C O M P A N H IA D E JE SU D O O R D E N A D O Q U E T E M
P E R A SE U M A N T IM E N T O
Eu el Rey fasso saber aos que este aluara uirem que auendo ResPeito a ter mandado Por
hõa minha ProutssaÕ feita em outo de feuereiro do ano de outenta e seis que o Cap.** da ylha
de santome fissese dar em Cada hü anno de Rendim.** da dita ylha aos Religiossos da ConPa-
nhia de Jessu seis que Residiaõ. no Reino de angola e os dous que emtao yaõ Pera la 0 Prouí-
m.*° necessário Pera sua sustentação asim e da man.” que se Continha em outra minha Pro-
uissao feita em sete de outubro de outenta e tres Porque ouue por bem que fosse dado tal
Prouim.10 a quatro Religiossos da dita Comp.* que ao tal tenpo foraô Pera o dito Reino de
5
angola Com declaraça que lhe seria Pago na dita ylha de saotome em quanto eles Residissem
no dito Reino e nele naò ouuesem Rendim.*01 algüs Pera minha fassenda e auendo eu ora ou-
trossi ResPeito a auer ja no dito Reino 0 tal Rendim.** Pelo Contrato que he feito dos direitos
dos escrauos dele e ser justo e Conueniente que ajao nele os ditos Religiossos 0 Pagara.1* do
dito seu Prouim.*0Pelo trabalho e oPressaS que tinhao todos os annos em 0 mandarem aRe*
cadar a dita ylha de santome ei Por bem e me Pras Por todos os ditos ResPeitos que 0 tal
5
Prouim.*0 lhe seja Pago nos Contratadores dos ditos direitos que ora ssa e ao diante forem
do Prim.r0 dia de jann.re do anno que vem de nouenta e tres em diante Com sertidaõ do Ca-
5
PitaÕ mor e g." da Conquista do dito Reino de Como os ditos Religiossos sa viuos 0 Residem
nele e do Contiudo neste aluara se Poraó verbas nas Prouissois nelas Refehdas e asim nos
Registros delas que esta nos liuros de minha fassenda en os que delas estiuerem nos liuros da
feitoria da ylha de santome de que os oficiais a quem Pertensser PasaraÕ suas sertidois e assim
ei Por bem que os seus Religiossos da dita CooPanhia que mais estão nas ditas Partes de an­
gola e os seis que ora vao digo dous que ora vaô Pera elas Pera ao todo serem desaseis tenha
e aja Cada hum deles outro tanto Prouim.10Como a Cada hum dos ditos outros Religiossos e
lhe seja Pago também nos ditos Contratadores do dia que Constar que ChegaraÕ aquelas Partes
em diante Com outra tal sertidaõ do dito CaPitao mor e g.or Pelo que mando aos ditos Con­
tratadores que ora ssao e ao diante forem de me Paguem em Cada hum anno aos ditos Reli-
giossos digo aos ditos desaseis Religiossos 0 dito Prouim.10asim e da man.'* que se neste Con­
tem e Conforme a Prouisao Por onde se lhe daua e Pagaua na feitoria de santome que se
Presentara Com este a qual ProuissaÕ e esta se Registaraõ nos liuros da feitoria do dito Reyno
de angola Pelo esCriuao dela e Pelos treslados dos ditos Registos com coohecim.10* do Procu-
420 Angola
rador geral dos ditos Religiossos feito Pelo dito esCrioaS que seraõ Conssertados e asinados
Pelos oficiais da dita feitoria e sua sertidaõ de Como nos ditos Registos se fisserafi verbas do
Pagam.*0 que em Cada hum anno se lhe fisser na dita man.” mando ao üssoureiro da Cassa da
mina que ora he^ e ao diante for lhes tome aos ditos Contratadores em Pagam.10deuerem de
seu Contrato a minha fassenda o que no tal Pagam.10montar na man.” que dito he e aos Con­
tratadores lho leuem a ele em Conta sem enbargo do Regimento arca de dr.° de meus asenta-
mentos e de que quaisquer outros ou Prouisoes em Contrario e este quero que valha Como
Carta e que nao Pase Pela Chanselaria outrosi sem enbargo da ordenacaõ do quinto liuro
folhas vinte em Contrario o qual se lhe Passou Por tres uias de que esta he a Pritn.” CunPrida
fica as outras na6 valhaõ efeito = Luis fig.” a fez em lx.* a uinte e dous de nou.” de nouenta
e dous. Pero de Paiua a fez esCreuer o Cardial — A vossa mag.12 *0 Por bem que aos desaseis
3
Religiossos da ComPanhia de Jesu que Residem no Reino de angola ihe seja Pago nos Contra­
tadores deles o Prouim.10 que antes se lhe Pagaua na ylha de santome Pella man.” asima de-
Clarada e que valha Com a Carta e que não Passe Pela chansselaria = Registo — CunPrasse
esta ProuissaÕ dei Rey meu s.w asim e da man.” que nela se Contem em são Paulo uinte e
sinco de abril de nouenta e seis joaó furtado de mendoça « Registo esta Registada Esta Pro-
uissao Pelo esCriuao ant.° machado a f « Catorsse e çento e quarenta e sete qua Rublica que
deClara o sinal do dito ant ° machado = o Conde «= Registo « Registado em os liuros da fas­
senda delRey nosso s.or nos Registos das Prouissois que o aluara esCrito na outra mea folha
deste fas mençaô fica^Postas verbas que ele Requere a quatro de desenbro de nouenta e dous.
\ Pero de Paiua = Registo = fica Registado este aluara no liuro dos Registos do almoxarife que
serue ao almoxarife CristouaS gomes, as folhas quínsse volta Por mi esCriuao oje desouto de
março e fiquafi Postas as verbas que ele Requere de santome de mil e seis centos, digo mil e
quinhentos, e outenta e quatro annos. anrrique doliu.” borges. o qual treslado de aluara e Re­
gistos eu ant.° teixeira Coelho esCriuao da feitoria de sua mag.d neste Reino de angola tresladey
bem e fielm.” da Propia a que me RePorto na loanda a desasete de mayo de seis centos e outo
annos. Antonio teixeira Coelho = s
(Biblioteca Nacional, Secçfio Ultramarina) Papéis de Angola).

DOCUMENTO N 0 24
A VOYAGE T O BENGUELLA
Then the governor sent a fregatte to the southward, with sixty soldiers, myself being one
of the company, and all kinds of commodities. We turned up to the southward until came into
twelve degrees. Here we found a fair sandy bay. The people of this place brought us cows and
sheep, wheat (1) and beans; but we staid not there, but came to Bahia das Vaccas: that is, the
Bay of Cows, which the Portugals call Bahia de Torre (2), because it hath a rock like a tower.
Here we rode on the north side of the rock, in a sandy bay, and bought great store of cows,
and sheep -bigger than our English sheep -and very fine copper. Also, we bought a kind of
sweet wood, called Cacongo (3), which the Portugals esteem much, and great store of wheat
and beans. And having laded our bark we sent her home; but fifty of us staid on shore, and
made a little fort with rafters of wood, because the people of this place are treacherous, and
not to be trusted. So, in seventeen days we had five hundred head of cattle; and within ten days
the governor sent three ships, and so we departed to the city.
In this bay may any ship ride without danger, for it is a smooth coast. Here may any ship

(1) The autor's «wheat» is maize.


(2) This is undoubtedly the bay upon which Manuel Cerveira Pereira, in 1617, founded the city of S. Filippe de Ben-
guella. The bay at that time was known as Bahia da Torre, or de S. Antonio. By its discoverers it seems to have been na­
med Golfo de S- Maria. The «torre» is, o f course, the Ponta do Sombreiro or S. Philip's bonnet. Pimentel (A rte d e Nave-
g a r , 1763, p. 276) locates a Bahia da Torre fifty miles to the south of Beoguella Bay, which therefore corresponds to the
Elepbaot Bay of modern maps, with its «mesa», or table.mountain rising to a height o f a thousand feet.
(3) Cacongo {recte Kicongo) according to Welwitsch, is ihe wood of Tarchonanthes camphoratus. It is hard, of a
greyisch olive colour, and has the perfume o f camphor. Its powder is esteemed as a tonic (Ficalbo, Piantas uteist p. 206)-
Apêndice 4 21

ihat comeih out of the East Indies refresh themselves. For the Portugil* camels {i) m w of
late come along the coast, to the city, to water and refresh themselves, These people are cal­
led Endalanbondos (2), and have no government among themselves, and therefore they are my
treacherous, and those that trade with these people most stand upon their own gatrd. They
are very simple, and of no courage, for thirty or forty men may go boldly into the country
and fetch down whole herds of cattle. We bought the cattle for bloe glass beads of an web
long, which are called Mopindes (3), and paid fifteen beads for one cow,
This province is called Dorabe (4), and it hath a ridge of high serras, or aouautoi, that
stretch from the serras or mountains of Cambambe, wherein are mines, and he abng the coast
south and by west. Here is great store of fine copper, if they would work m their mices^ bet
they take no more than they wear for a bravery. The men of this place wear skins about th»r
middles and beads about their necks. They carry darts of iron, and bow and arrows in their
hands. They are beastly in their living, for they have men in women's apparel, whomthey keep
among their wives.
Their women weer a ring of copper about their necks, which weigheth fifteen pound at
the least; about their arms little rings of copper, that reach to their elbows; about their middle
a cloth of the Insandie tree, which is neither spun nor woven (5); on their legs rings of copper
that reach to the calves of their legs.
(The Strode Adventures o f Andrew Baikli o f Leigh, it Angcd#
and the adjoining regions, Eirte^
etc, by JL G. fcreatfca,
Ufldoc, Hakluyt Society, npcoca, pig, 1$.

DOCUMENTO N* s5

Don Felipe por graça de Deus, Rey de Portugal, e dos aígarues da quem, è daJem mar è
Á frica, senor de Guine, e da conquista, navegação comercio de Tioparabía perda, da índia,
&c. A todos os Corregedores, Ouuidores, juizes e justiças, oficiaes è pesoas de meus Reinos è
sinhorios, a que e a os quais esta minha carta de semtença em segunda tia for apresentada, è
0 conhecimento dela com direito pertemeer faz 0 vos saber, que en esta minha corte e casa
de supHcaçaom per ante mim, e os Corregedores de os feitos e causas crimes de la se tratou,
e finalmSte setencíou huu feito crime da minha justiça autor a falecimento de partes que acu*
zarem demandar quizerem contra Manoel Serueyra Pireyra, Gooemador que foi Dangola, reo
da outra, isto sobre, e por rezaom de se dizer ser culpado de recidemcia qae lhe foi tomada
pelo Bacharel Manoel Nogueira no Reyno do dito Angola, como ao diante se fara mas clara
è espressa menção: Por lo qual feito è termos se mostraua, antre as mais cousas nele cSteudas
d declaradas se passar da mesa do meu comceího da índia, huã minha prouição, cujo teor se
segue. Eu è Rei. Fazo saber a vos Bacharel Manoel Nogueyra, que pe la comfiança que de vos
tenho, que nas cousas de que vos emearreguar sentireis a minha satisfação, como ate gora o
tendes feito, ei por bem, que vales a 0 Reino de Angola, è tireis nele devasa do procedimêto
que Manoel Serueira Pereira teue em meu ceruiço no carguo que seruio de Gouemador 0 Ca­
pitão do dito Reino, depois do falecimento do Gouernador Ioão Roiz Cominho, è fazais a$
mais diligencias cõteudas neste regimento e instrução que en tudo cúprereis inteiramente, è
assim as mais prouiçois que uos forem passadas, como se nelas contem, tanto, que cbeguardes
a vila de Loanda, mandareis nela apregoar en os lugares que vos parecer necessário, de como
ydes de vasar do procedímeto do dito Manoel Serueyra, pera que auendo alguas pesoas que12 4
3

(1) Carraca, a vessel, generally of considerable burthen, and each as could be profitably employed is tbs Brazilian
and Indian trade.
(2) Ndalabondo seems to be the oame of person. The people in the interior of Benguella are known as Bi’Qlnmdo.
(3 ) Neither Mr. Dennett nor Mr. Phillips knows a bead of that name. Mpm/a (plor. Zmpinda) means groond not.
(4) F o r an account of Dornbe, which lies to the south of St. Filip de Benguella, see Capello and Irens, From Ben-
guetla to the Territory o f Kicca, London, 1883, voi. i, p. 3 o8 ; and Seipa Pinto, How l Crossed Africa, London, i88t,
vol. i, p. 46. Copper ore abounds in the district, and a mine, four miles inland, was recently worked by the Portuguese
{Monteiro, Angola, London, 1873, vol. ii, p. 198).
( 3 ) That is, bark-cloth made of the inner bark of the tuasda, Banyan or wild fig-tree, or Fines Lvtaia (see Pedrael
Loeache, Loango Exped., voi. iii, p. 172).
422 Angola

dele se sentirem agrauadas, ou o queirão demSdar por coalquer caso que seja o posão fazer
em termon de trinta dias, è loguo pedireis a o dito Manoel Sem eira o trelado de seu regimeto
que perante vos se cÔ certara, com ho propio, è assi das mais prouizois minhas que tiuer, en
caso que não estèião registadas no liuro da Gamara, pera por eles perguütardes testemunhas
se o cumpreu, è não tem do ele regimento lhe pedireis o § se passou a o dito loão Roiz Cou­
tinho, de que huzou, è tereis alçada pera julgar ate dezaseis mil Rs. nos bns de rais, è uinte
nos moueis sin apelação ne agrauo, os feitos que forem de mòr contia, è assi os crimes pro­
cessareis ate os fazer com cluso, è os trareis ao meu Cõcelho da índia, pera dele hos mãdar
despachar por quem me parecer. E primeramente pergütacris per juramento a os oficiaes de
justiça, è de minha fazenda, è aos da Gamara da dita vila, è algus homens mais principais de
boavida, è costum es, è que tenhão rezão de saber de como o dito Manoel Serueira procedeu
em meu ceruiço no tempo que serueu os ditos cargos, è o que disserem, assi o bem como o
m al, mandareis escreuer pelo voso escriuão, è pergumtareis ao menos trinta testemunhas, è
perguütareis se o dito Capitão è Gouernador guardou a forma de seu regimento que mandei
passar a o dito loão Roiz Coutinho, a que sucedeo por nomeação qu en ele fiz, è assim as
mais prouiçois q ele tinha, è lhe mandei passar, è assi as mais que a ele Manoel Serueira foráo
passadas, è se guardou justiza as partes no que toca a seu oficio è cargo, ou se por peita, odio, ou
afeição torceu a justiça, ou a dilatou, tirando a a huu pera a dar a outro, è se con justas causas, è
verdadeira emformação passaua os aluaras de fiança, è se dormio com alguas molheres que com
el tiuessen negocio, oi&equeresem alguü despacho se impedio a os oficiaes, assi da justiza, como
da minha fazenda fazerem sus ofícios, è se ele se intrometeo a fazer o que a eles pertemcia, è se
julgou en cousa sua propia, ou nas em qu era suspeito, è seindole intentada suspeição não quis
deferir a ela, se fez guardar è conseruar minha jurdiçSo, ou se a deixou tomar a os Eclesiasticosí
ou a os donatários mais do q tem por suas doaçois, se tomou a os Eclesiásticos, ou a os Conce­
lhos ou donatários sua jurdição, se ouue empréstimos ou fez compras, ou trocas, ou outros con­
tratos com alguas pesoas que tiuessem requerimento diante dele, ou por força è com poder de seu
cargo obrigò alguas que lhe emprestasse ou vendesse, ou trocassem alguas fazendas cotra suas
vontades, se tomou mantimentos, ou otras cousas, sin as paguar, ou fiadas, contra votade de seus
donos, ou por menos preço do que valião, pera si, ou pera outre ou pera minha fazenda, sem
ordem dos menistros dela, se mandou ouprohibiu que ninguém vs de suas mercaderias, ate sele
vender as suas, ou obrigou alguns que las comprasse, se fiz alguns tratos ou contratos proibidos
pelas leis, digo por minhas leis, ordenaçois e prouiçois, se teue comercio con os rebeldes, cosa-
rios, e les cóprou fazendas pera resguates, ou os proueo de mantimêtos, ou lhe deu fauor ou
ajuda pera entrarem os portos daquele Reino, ou não empedio entrar neles, e se guardou è fez
guardar as prouiçois è leis que sobre os rebeldes estrangeiros mãdei passar, è como se ouue com
a nao de Amburgo que daquele porto foi en tempo do dito Ioan Roiz Coutinho, por cotrato de
tornar a ele, è se oue efeito o cõtrato, que com ele fiz, è se a deixou entrar naquele porto, è às
cousas que nela vinhão se se descarregarão, è em que poder estão, è quãta era a fazenda que trazia,
è o que poderia montar, ou se não deixou entrar, è deu á execução a dita prouiçao passada
sobre o com ercio dos estrangeiros, se fiz algua guerra injusta, contra os naturais da terra, è
diso se seguitão alguns perjuysos è emcombeniêtes em meu ceruiço, se fez algums vexaçois aos
souas e deles recebeo alguns donatiuos, eporalguuns respeitos e intereces fez repartiçaon deles
contra minhas prouÍ2ois, se por si, ou por terceira persoa mandou fazendas a os luguares deíezos
por minhas leis e prouizois, se oue a seu poder algun dereito de minha fazenda, e tratou e ne-
goceu con ele se fez seruir alguns homens ou escrauos alheos em seu proueito sei lhes paguar
o que direitamente merecião por seu ceruiçio, se disimulou com algüs mal leitores, e podendo
os mandar prender ou castigar, o deixou de fazer, perguntareis em q tempo chegou a nao
palma ao porto da quele Reino e coatos dias esteue enele, e se as guardas que o dito Manoel
Serueira ne la posherão pesoas de confiança, e que fazenda se tirou dela, e de que calidade he se
tirou algua pedreria sou pasau caures (sic) e quanta podería ser, fazendo sobre iso todas as mais
deligencias nesesarias, e o modo, e procedimento q nela teue em lhe acodir com o necesario, e se
por sua parte podeiravir algün prejuízo a minha fazenda se quãdo vinhão rebeldes ou enemigos
a os portos daquele Reyno, acoudia com breuidade e daua todo o remedio necesario pera os
ofenderem, e não-cheguarem a eles se proueo cruencias de ofícios da justiza ou fazenda ou da
m ilícia em pesoas benemeritas, e serão meus criados, ou não, e se for por respeito de alguas
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Apêndice
dadiuas ou afeizSo se paguaua c fazia paguar a os capita« e alferes e geme de ifaflUsr% oo»
tempos ordenados en as ditas paguas auía alguu cocloío, se vízitm os ferres de suâ obrigo»-*
ção, e lhes acodia cora as cousas nesesarias a seu tempo: e ae por causa se fiws nío ícadtr
auia queixas dele se tendo obriguação de fazer acudir as pesoas ed eu a a tk a s com seos pagua-
mentos se lhes dilaiaua por alguü respeito, e así de como procede nos minas de prata dcCam-
banbe, e as diligencias que fez na verificação delas, e as teitimunhâs que perguntardes, inquiri­
reis se sabem alguas cousas, mais das cõieudas nestes capíiolos, em ^ o dito Manoel Seruer^
de t pase (deixasse) coraprir comsua obrígoaçao, e os autos desta deuasa, e residência, txnro
que foir acabada de tirar ma emúareis por duas vias ficado tos as propias na ralo pera as
trazerdes quando vierdes pera este Reyno huua das quaes vias vira em companhia do dito Go-
uernador se for acabada como por outra prouíçao vos mando que era entregueno meu CScelbo
da indía, escrito emLisboa 3 tres de Abril demil seiscientos e sete, o Secretario PedroDicosta
o feze escreuer». Obispo dõ Pedro. Instruçfio e Regimento que Vosa Magemde manda dar a o
Bacharel Manoel Nugueira, § ora vai ao Reino de Angola, a deligencias de sea ceruiço e as
fazer na manera íj nele vai declarado pera vosa Magestade, ver Pero de Mendoça Fanado,
Sebastião Barboza, &c a qual minha prouiçío semdo asi dada ao dito Bacharel se rnostraqae
a os dezaseis dias do mes de outubro do anno de mil e seiscentos e sete na villa de Loanda do
dito Leccmceado Manoel Nugueira meu sindicante mandou ao escriuao de suas rezidencia
Diogo Lobato Pinto fazer auto e jumiar a ele a dita minha prouizão, instrução e regimento
por onde eu lhe mandei tirar a dita deuasa de procedimento do dito Reo Manoel Serueira Pe­
reira teua em seruírme no dito cargo de Goueroador daquele Reino Degola, e em efeito de
lhe tomar residência na forma q por mimlhe era mandado, e de feito autuou o dito escriuio a
dita prouizão juntando o treslado no que tocaua a o dito Reo Gouemadot do dito Reino, e
loguo mandou lançar pregois por aquelas partes a seu poder os aluaras, prouízois, regimentos
na dita forma que pela prouizão lhe fui mandadocobrar, e cobrados, e lançados os ditos pre­
gois em lugares pubricos, que toda a pesoa que se sentise agrauada do dito Gouemador, ou lhe
deuese, ou lhe pedese, ou lomase alguá cousa, se fose a ele sindicante lhe faria justiça, o semdo
devulguada a dita residência, o de como sehia deuasar do dito Reo, se a prezeaiarã a o dito
sindicante algus capitolos a modo de lembranças de cousas tocantes ao procedimento do dito
Manoel Serueira, que seruia de Guouernador no dito Reino, qdepois de aprezet&das no cocelbo
forao tornadas a embiar a o ditoReiooDaogolaperaseperguntar por eles e de feiio pefguumou
o dito sindicante teste aranhas pe los meus apontamentos, e pelos ditos capitolos em que se
reíataua, e dezia por escrito, que comesando o sindicante Filipe Butaca admenisirar justiza no
Reino Dangola contra os muitos culpados, que nele auia, se foi por seu mandado a preder huG
custodio coelho omera perjudicial, e mui culpado pera efeito de lhe tomar menagem, he o
mandar prezo a este Reino, a o qual não quizera obedecer, tratando mal de palauras e o ou*
uera por entregue a loão de Araújo, q ao tal tempo era Luguanenente do Gouemador, e deste
caso se lhe deu conta, e nlo deíirio nemrespeitou a o meu ceruiço, que ui esto se fazia, o que
mandando o dito sindicante huú precatório ao dito Gouemador sobre a recadação da fazenda
dos defuntos, respondeo, a ele que a reis se não roaadauáo precatórios por coanto ele o era, e
por tal se iatitulaua, o que per autos que vierão aocomcelbo daÍndia, e a mesa da comsiencia
eu teria visto, e semdo lhe pedido o culpado a elle Gouemador, o não quizera entreguar, mas
antes o fauoreceira, e fizera capitão mor da guerra emCambambe, e despois disto foi achado V
este custodio Coelho emcasa de hu capitão comsua molher que matou, e ele culpado lhe fu­ z s .
gira, o não o poderá prender por ser fauorecido das justizas, e do dito Gouemador, o qual
neste meo tempo mandara que dentro em trinta dias o dito sindicante se embarcase pera o V
Reino, por coanto leuara prouízois falças, e comtudo isto foi mandado prender pelo dito Go­
uemador, maltratado, e avexado, e desta maneira o fez embarcar, e pera q o seu escriulo nao
dese fe disto e o mãdou preder afira de depoisdosindicanteembarcado, alcamçar dele as culpas
q erao feitas contra ele Gouemador, e semdolhe pedidas por ameago e peitas, e não querendo
obedecer*ànenhua destas cousas, o mando degradarpera a ilha deMasangaoo, e disera o Mestre .i **■-
q o leuaua, o distasse a os laguartos do Coãça, o qual auia catorze mezes que andaua nos
matos, e falecendo loão Roiz Couunho, e posto por nomeação a Manoel Serueira Pereira no
dito Rejno de Angola, se achou nele com ciucuenta homSs de espmguardas, e trinta e cinco
caualos, e com eles foi dar guerra a Cafuche, e foi emsua ajuda Lãgere Soua poderoso vas-
424 Angola

saio meu, por dizerse, o dito Cafuche ter comido e mortos passãtc de duzentos Portugueses, e
indo dfido guerra à o dito Cafuche, leuãtou mão dela o dito Gouernador por quarSta peças
que le mâdou de presente, e o dito Langere se anojou deste procedimento contra o dito Ma­
noel Serueira por ser t5 to cõtra o meu ceruiço, è por esta misma causa, raadou, digo deixou
de acodir a os q andauão nas minas, com mantimento, nc assimismo quizera descobrir outras
q sabia, è estando o Gouernador em Cãbãbe, e feito o forte <5 nele esta a de taipa, pelos mora­
dores cõ agente, è caualos cj comsigo tinha facilmente pudera chegar a cidade de Cabaça Banza
dei Rei de Angola, o que não fe2, mas antes mandou a o seu capitão mor por caza dos mais
capitains, è sobomando os pera que dessem seus votos em larguar a pretenção da guerra, que
se lhe podia dar a o dito Rei, è 3 si assi não fizessem ficarião no forte padecendo muitos tra­
balhos è fomes e os que fecerão o que ele mandou, lhe passou certidois feitas por sua letra
que depois se tresladauão sendo falsas, è q fora por outra ves dar guerra a hG Soua lhamado
Angola CabSga è ames que lha desse fora dele peitado com cem peças para que desse guerra a
Axila Ambãça, inimigo seu, peruertSdo a boa ordê?j deuia ter no meu ceruiço com estas cousas
è assi estornou a conuerção è amizade delRey de Angola, que le tinha mandado Embaxadores
pera dela tratar, è de paz que queria ter comigo, ò que o dito Rey deixou de fazer poro dito
Gouernador lhe dar guerra a hG amigo seu, è retem en seu Reino tee hoje huu Embaxador
como catiuo, que se le mãdou, è apregoa guerra contra os meus vassalos naquelas partes, so
por respeito deste agrauo se lhe fez, è que era grande perda pera minha fazenda, o não se
ter amizade cõ este Rei, assi pera a Christiandade, como pera o proueito q se tira das minas
de Monopotappa, poi^se perdeo camino pera elas, por ser por suas teras, e assi deu guerra a
hu Soua, chamado Langere, andugu injustamête matando è catiuando filhos e molheres que
podia acolher não bastando ser 0 dito Soua vassalo meu, è o queria fazer da misma maneira
à outro por respeito de huas palauras q comtra ele disera de fazer guerras por peitas se lhe não
estoruara o capitão mor com lhe dilatar seu mãdado, q táben foi depois maltratado pelo Go­
uernador, por lhe não obedeçer. E que tomaua todas as fazendas q hião boas, como prata,
ouro, è mais cousas, è tudo pagua mal, è por menos do que valião, è as boas embarcaua e
mandaua por sua conta, tomando as prassas delas à os homens q as leuauao do Reyno, è as
fazia em aquele Reyno ficar perdidas, è mãdaua prender à muitos armadores, è senhorios de
nauios sem culpa algua, è os tinha prezos atee que por ordem de huü Francisquo da Rocha
escriuão dos defuntos (que para este efeito tinha) lhe dauão cãtidade de dinero pera os sol­
tarem, e o mesmo vzaua cõ coalquer outro home que estiuese prezo por alguü crime, e assi
nas demãdas que auia fazendo dar sentença pe la parte, e mais daua de peita a su arrecadador.
E que como lhe faltaua o necessário pera sua casa, mandou tocar caixa, e notificaua a todos
pera a conquista, os quais vedo isto pelo que receão desta jornada lhe acudião con muitas
peças de ouro e prata, e assi de mantimentos que guastaua em festas e loguo em estãdo satis­
feito desiste da impresa, sendo assimque as mais das vezes que isto fazia, estaua a dita cõquista
de paz, e disto tinha por quatro vezes vzado no ano passado de 6o6 com que aquele pouo es­
taua perdido, e dezia, que o dinhero vencia o meu CÕcelho, e por esta causa os capitais e
soldados se ttnhão feito marcadores, e os mais deles passados ao Reyno de Congo. E q se tra-
taua mais de como era muito disoluto e malquisto de todos, por procurar e adquirir molheres
casadas, e de cinquenta q podia auer na quele Reino dis ter alcançado vinte e cinquo, e que
pera yso vzaua de arteficios diabólicos, tratando com feiticeiras, e alcouiteiras, pela qual oca-
zião se salem da terra donde esta muitos homens casados com suas molheres, pera os matos,
porque as que não podia alcançar, lhe daua musicas de noute, so àfin de as infamar, o que
facia em companhia de hom€$ malfeitores e facinerosos, e indo orde minha, sobre à fazenda
de Gonzalo Vaez Coutinho mandara o Gouernador corese o contrato por minha ordem, e
fizera proueedor dela ha hG primo seu, por nome João de Araújo, da qual muitos homens
tinhl dado suas fazendas à os feitores do dito Gonzalo Vaez pera sustentação da cõquista pera
le pagar? os direitos das peças q do porto saisem, e fazãdo eles petição a o dito prouedor
pera se dar snça lhe não quisera diferir se não por dinheiro que pera iso lhe derão, en que dezia
por todos lhe darião mas de quatromil cruzados de que o rol dos que assi derao o dito
dinheiro e que r€dose isto justificar se podia fazer neste Reyno, e q o dito Gouernador comia
dous mil cruzados de minha fazenda sen ter pera yso ordem ni prouiçãon algua. E que tinha
cobrado en si todos os quintos das gueras, e os assaltos que importauao grande cantidade de
Apêndice 425

oli* jT iir« a en n^ ‘uro delí* <?ue P«r* « w «aà ni feitor*. E que ?? h/í-n h
hlisp«rteoce'n<Jo ludo àPmiràt°círoU 7
a,:rMdor r5o<:',a(roc<:nliu ' ciaíy{raa F'*'4‘ c ír S
5 L quais pezas fizera logo contraJ ’ T *! dcaa. ,n,por,lr “ “ Pr« a « * * * 113
d* 1 seis mil patacas, e qu£ 9
mdcs MU,0S « ^ *«*<> d# ™»t<* f**«* * *
JJe tomassem as fazendas p r p e rd iL ^ T ?5° T * * * RC7n0' ^ • S * w * ' ?í
m aue tinha dado de perda à mínK^r , p í° Con,r*iro contrawndise com os
S e » ter mandado algus sei, na,* * d'/ em “ “ CrWad°!’ ' Jc sty p* íff
dmbiaua à 0 Brazil, sendo pelo ,nn, dl prata d,wodo B0S desFícb°5 1« le djSÍ- 5 ?*
S cruzados, por quáto os que S5 *? daua de P4“1* à “ «*» ^ * * d de,
Lauáo por cada peza tres mil J / S ® ““ f qUe1' ^ f ** ' •*” ° BriZ,! * * '
f or este comluio que tinha ordenado f i - * ” dire,,Uf4 * ° f'° d®pra‘5 p,!aM 4mdob,°* * t
Lrão. £ q se trataua mais da nao Pnl fica’Jf° Pa8oâdo 0 5 sc Pa»aua no Brart- “ •»- * * & l
por guarda a seu primo los/J"? (deq era Capil50 V'C£nte de Bnl°*'e dt
i » .. -r ” ío f™“1”' *» ^ >“j “ — •
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ia
mercadorias de la tee à cidade seníln a qUe °UUera grandf dcu3S,daon fâ2ea4ii;! J-
!" eas publicas de todas as fazendas m,! m4S de h“ 5 lêg° a< 6 âuend° mercadores «®
1 \ meus direitos mais de quarenta m í c r l f VÍDhl0 *“ q d“ ^ ‘ ^
L fazendas mais de doze mil cruzados F 'a ‘ °UUera mCrCad° r q° S * * ' * ^ im?r:P n
■I
fflandar trinta legoas donde estaua vn e n 'r ? “ h‘a Goueraadof deste Reino 0rdeB0a
nao, a 0 qual chamauão Luis Franco que « ^ 0 T ^ d* f° pai q **” " ^
milhor efetuar seu intento, lhe dera J L de '° panh,aS’ 540(10 mulat0 caouo e Pí t ‘
companhia cem soldados e . . . 6 T “ * T V * ’ de ordenado Praçanoua, e pera sua
jjiilhor comtem nos ditos capitolos pelos ‘"í* ^ * CUStS de minha íalmàt’ como íe
L a prouiçaon com ela, e com todos os m^ do Perg“«ntadas testemunhas na forma da
a « te Reino, onde 0 reo foi « í í l ‘ ” ' f ' 05 6 SeCrKWs COffl 0 dit0 rí0 Pr“ ° foi « i d .
d
omde se deu no fin dos ditos a u J o desoachoV °$ T “ meza do ConcêIbo da “ dia>
ao o » , d. c . „ , o L . S ^ s . E, ;*‘ or ’ " ^
a 0 Bacharel Manuel Nugueira tirou por seu mãHst '* “ ? 5^ edm saJ’
Serueira de q náql Reino seruio de oLrnadoTpor L r te L - '^ r
nador dele có os adjuntos q 0 Corregedor da casa d ” ™ \
1 tac o n fnpur a c.,o ^ 8 OT üs casa Qasup]icaçao lhe nomear, ouuindo pera yso
aS^ ar è os libelos è atnn' -Za^ ° p6rf 0 ? se le entregarão as deuasas è papeis (odres a suas
^ • PTh He d i ‘ q T L e'e no i" “ ^ d|w sindfcãte e q estaa neste
Cccelho de d o e v ntecres de Agosto de seiscétos e oito, por b? do qoal despacho os ditos
autos f0ra° t a d ° 2 dlIamf ' d*S° M íi» Corregedor, è depo.s de lhe Z é dados foto
dlt0 reo por outro despacho da mesma meza do concelho da ioda mãdado soltar dapnçáo en
£j estaua nesta ctdade per rezao das ditas culpas, e isto sobre fieis carcereiros, em omenagÊ
em sua casa, co fiança de contia de tres mil cruzados, e pera se liurar delas detro de oito
mezes v.sta a tnformaçao q ouuera do dito Corregedor, è por vermde do dito despacho, o dito
reo deu a dita fiaça, e dada co os fieis carcereiros q lhe forão mádados dar na forma do dito
despacho do Cocelho da tndia, e sendo como dito he dada foi o dito reo leuado a sua casa,
onde se le tomou a dita omenagê, e depois lhe foi leuãtada, e logo o dito reo Manoel Serueira
Pireira dese q era comete de estar pe los autos e os fazer judiciaes per hú seu asinado. E !oSo
outrosi se fez diso termo q dis ser feito a os vinte hu dias do mes de Fiuireiro de mil e seis­
centos e noue nas posadas do escriuão q esta sobrescreueo, onde o dito reo pareceo, e disera
q cotra ele auia, e as fazia judiciaes sem a iso ter nenhüs embargos né côtraditas, em o qoal
termo pedio se lhe dese uista para a rezoar, e de feito se lhe deu, e tato por sua parte foi dito
a rezoado, e alegado de seu derito e justiza, q con tudo mandei q o dito feito me fose leuado
concluso a o q foi satisfeito, e sendome leuado e uisto por mim em relação cõ os do meu de­
sembargo nomeados pelo Regedor de minha justiza, naforma do dito despacho. )
Acordei, &c, vistos estes autos devasa da residêcia q se tirou por priuição do dito senor
do Gouernador q foi de Angola, o reo Manoel Serueira Pireira, capitolos, regimento jüto, e
certidois ofrecidas dadas em proua, pe los quais autos o reo estar, não se mostra tãto
contra o reo perq pena mereza, antes se mostra ser muito obediéie a os mádados dito snor,
como uerdadeiro vassalo, e festejar todos os seus bons sucessos, e se mostra no auiamêto das
54
42Ó Angola

ires naos da índia e na earauela de Malaca q a o dito porto vierão, ele asistir cõ muita indus-
tria de sua pesoa, e cuidado atee as auiar de leme a huã delas, e de todo o necesano, e as por
em estado de as laçar do dito porto a veia, e mandar pera este reino: mostrase o reo fazer
muitas gerras a seus im igos e auer cõtra eles muitas vitorias sendo nelas muito bS afortunado,
e não ficar devedo nada a os oficiaes da justiça e fazeda, e proceder en tudo cõ concelho das
pesoas de experiScia e respeito, q cõ o reo asistiSo: è se mostra no somête le sere impostos
injustamõte alguüs cousas» mas ter bê ceruido cõ zelo e deligícia a o dito senor, e ser mere­
cedor d lhe fazer hõras e merces o q todo visto con o mais dos autos, absoluo o reo das ditas
culpas q lhe Corão im postas, è page o reo as custas do seu liuramemo. Lixboa trinta de Março
seiscetos e noue, & c. E por tãto uos mando q asim o cüprais e guardeis, e fazais muito intei-
ram ête cõprir e guardar, assi com o por mim he acordado julgado detremioado è mãdado, e
com o se nesta minha carta de senteça se conte a qual tãto § vos for aprezentada, sendo pri-
m ero pasada pe la minha chacelaria não procedereis cõtra o dito reo Manoel Serueira Pireira,
p ela culpa ou culpas da dita residScia do têpo ^ seruio de Gouernador Dgola, por coãto o
absoluo delas por lhe sere impostas injustamete, e ser merecedor de eu lhefazer hõras e merces
tudo conform e a esta minha carta de senteça q hus e outros assi cõpri, e por coãto ja foi pa­
sada otra senteça a o dito reo do teor desta q pcdio en primera via pera o dito Reino Dãgola,
ora se lhe deu esta em següda via, em forma q auedo huã e feito a outra não a auera dada
nesta C orte e cidade de Lixboa a os trinta de Março de mil y seiscentos e noue 1f. Del Rei
noso senor o mãdou £elo Doutor Bertolameu Roiz Lucas Fidalgo de sua casa e do seu desõ-
bargo Corregedor con alçadas dos feitos e causas crimes em esta sua Corte ecasa da suplica­
ção, Frãcisco Pinto Carneiro a fez. Por Simaon Dalmeida escriuaon da dita correiçaon do
crim e da corte e casa da suplicação, pagou desta seiscõtos reis, e dasinar coreta reis. E eu
Stmão Dalmeida a fiz cscreuer,
Bertolam eu R oi\ Lucas,
(Biblioteca Nacional. Reservados. Secção Pombalina, Mss, 526,
Fols. 294. Impresso).

DOCUMENTO N.® 26

T R E S L A D O D A P A T E N T E D O G .°R D E S T E S R E Y N O S
D O S .° R D O M M .EL P E R E IR A
Dora felippe P or graça de deus Rey de Portugal e dos algarues daquem e dalem mar em
afríca s.or de guine e da conquista nauegação comercio detiopia arabia Percia da yndia &j,*
fasso saber aos que esta minha Carta uirem que Pela m.u Confiança que tenho de dom m.°l
Pereira fidalgo da minha Cassa do meu Conselho que nas Coussas de meu seruiço de que 0
enCarregar Proçedera que digo com a satisfaçaõ que a ele Conuem e Por lhe fasser merce ey
P o r bem e me Pras de o enCarregar de Capp.“” mor e g.0T da Conquista do Reino de angola e
das mais Prouíncias dela em que esPero me sirua como a ynPortançia da dita Conquista o
Requer Pelo que mando a todos meus Capitais dele e oficiais asi de justiça como de minha
fassenda fidalgos Criados meus homês de armas e a todas as mais Pessoas de qualquer Cali-
dade que sejão que no dito Reino Residirem e ao diante nele estiuerem e aos Capitais esCri-
uais mestres P ilotos e gente das naos e nauios da armada em que ele vai e ao diante forem ao
dito R eyno emquanto o dito dom m.®1 Pereira me seruir no dito cargo o ajam Por seu Capp.a“
m or e g.or da dita Conquista e Como tal lhe obedeçaõ ynteiram.1®e CunPraõ e façaõ o que ele
de minha P arte lhes mandar segundo forma da ynstruçao e Regim.1®' Poderes e alçada que de
mi leua. e ao diante lhe der P or minhas Prouissois como saõ obrigados e Por esta Carta Co-
m essara a seruir a dita Capitania mor e gouernança e dela ussar tanto que chegar a angola
emquanto o Eu ouuer P o r bem e naÕ mandar o Contrario com o qual auera em Cada hum
anno emquanto assi siruir outo çentos mil Reis de ordenado que Comessara a uençer do dia
que P artir desta çidade Pera o dito Reino e lhe seraÕ Pagos no feitor dele aos quartéis do
anno P o r esta so C arta g.ral sem outra minha Prouissaõ que sera Registada no Iiuro de sua
1

4 a;

desPessa Pelo esCriuao de seu Cargo e Pelo dito Regíoo t Conhccíffl*^ do d ito dom m«NPW
reira. lhe seraõ os ditos outo çentos mi! Reis de ordenado leuado* em Coou em q a xa to as*
seruir Como dito he e ames que ele Parta deste Reino me fara Pleito e menagem 4a_<itU Ca­
pitania mor e goueraança segundo usso e Custumc destes Reynos de que aPreacntar» serôisd
de XpouaS Soares meu seCretario nas Costas deita Carta e jurar* em raraiu-dM&çelaria to $
santos euangelhos que bem e uerdareiram.u a sírua guardando em todo meu s<r»«p*ç'a*p*ftei
seu direito e Por firmessa do que nesta Carta se Contem ihi nuedey dar Por aà armada e
çelada Com o meu çelo Pendente dada na çidade de Lx* a dous de agoito frtan.w ferreira a
fe$ anno do nacim,10de nosso s." jesu xpo de mil e seis çentos c seis e eu o seCret&rò Pero
da Costa o fis esCreuer *»elRey o qual treslado de Carta eu esCríuaS aqui tresiadey da ProPia
que torney do dito s*wgouernador dom m.*1 Pereira sero coussa que dauída fassa a que me
RePorto oje des de setenbro mHe seis çentos e sete aonos = m.*1 Cardosso damaral a qL pro-
uizaô eu duarte Roí£ esCriuao do desembargador Andre velho da fouçequa fu tresUdar de hu
Uuro da feitoria onde se Registã as prouizoes de sua magestade e âelmente se ccusa q, duuida
fasa e a c6sertei cõ o díto desembargador íj, comigo aqui asincu em saõ pauIo da lotada a
uinte e tres de feuereiro de mil e seis centos e ouze anos.
D uarte R m f.
Concertado comigo.
[Tem a rubrica de Andre Velho da Fonseca],
Consertada p. mí escriuao.
D uarte R o if.
(Bibliowca NtrioaaL Secçáo Ultraasnoa. PspéU àc Angolt).

DOCUMENTO N * 27

Dizemos nos dom manoel pereira do coas® dei Rey nosso s0f que ora vou por governador
E capitão geral do Reino de Angola E João de argomedo veztt desta cidade de Lisboa que nos
estamos consertados por companhia na maneira seguinte E com as condiçoés abaixo decla­
radas.
que eu João de argomedo me obrigo a servir ao dito $w governador E correr co suas
couzas neste Reino en virtude da procuração q me ade ficar sua Recebendo qualquer dr« ou
mercadorias que seu vier a este Reino ou a seus É despendelo por sua ordena E lembranças
£ assy me obrigo mais eu díto João de argomedo que tendo em meu poder dr* do dito
sor governador que aja de ampregar em fazendas para Angola empregarey mais de meu cabedal
outro tanto quando Importar a parte do dito s* gw
assy me obrigo mais por servir ao dito sw g°' mandar daqui na monção de setr® proxímo
q embora vera deste anno prezente hü navio ou caravela fretada pBAngola para canaria car­
regar de vinhos dos quaes farão a metade por conta do dito senor governador E a outra me­
tade por minha conta E parecendome fazer algum seguro nelles o farei lambera pella conta
desta companhia E porque neste dito tempo não ey de ter dt* do dito senõr governador para
0 que se montar na sua meta(de) do custo dos taes vinhos e seguro sou comSte de lho em­
prestar E suprir por elle os primeiros seis mezes depois de dezembolssado E se ainda antão
não tiver dr* seu de que me fazer pago 0 tomarey por sua conta a cambio para as feiras ou a
Rezão de juro como 0 achar enquanto vem dr° seu E eu dom M*1 Pereira aseito este servy*
com a dita condição e sou contente correr 0 Risco do que me couber na carga do navio ou
caravela que 0 dito João de argomedo fretar pia maneira sobredita E ambos nos conformamos
en que os ditos v°* e fazendas q deste Reiao forem por conta desta comp* va tudo constnado
en Angola para as aver de Reçeber en dom Mtl pn ou a pessoa que eu ordenar
E assy declaramos que somos contentes que tanto quelle João dargomedo for Reçebendo
dr° delle senor g" hira carregando por conta desta corap* igoalmu as fazendas que lhe pareçer
e na canaria pia mesma maneira os v.0>quelle pareçer
E eu dom m*1 pra me obrigo Reçeber ou mandar Reçeber en Angola as taes fazendas e
428 Angola

vinhos E fazer bom en hGa conta que mandarey ter ar(u)mada desta comp* os Rendimentos
de todos os vinhos E fazendas que chegarem en Angola pertençentes a elia E no debito da
mesma conta mandarey E farei lançar o custo das peças E d o dr° e marfim ou letras q mandar
assy mais me obrigo Eu dom M*1 pereira a mandar o proçedido en Angola dos ditos v*f E
fazendas por esta maneira, en dr° de contado por via do Braztl ou vendidas en Angola peças a
pagar no brazü ou a pagar nas índias ou empregado em marfim, ou carregar peças para índias
en todos os navios que forem para cartagena ou nova esp1 poucas ou muitas aquelas q mais
acom odadam 1* puder mandar o que hira consinado a saber p* cartagena ao capitão Jorge fer-
nandez gram axo auzente a duane de Leão marquez e na de ambos a Luis alvarez caldeira
para nova Espanha a Á lvaro Roiz dazevedo auzente a garcia de coadros na de ambos a An­
drés da costa
para a bahia a Julio de moura auzente a Luis vaz de paiva na de ambos a di° de campos
E para pernambuco a m*1 Lopez correa auzente franfo de villas boas na de ambos a maooel de
chaves villapouca advirtindo não carregar peças com armador nem mestre de Sevilha
nem fazer con nenhfi delles venda nem outro neg* por conta desta campanhia
E eu Joa5 dargomedo me obrigo ter hQa conta de debito e credito na qual lançarey Em
debito os custos dos vinhos E das fazendas que por conta desta companhia caregar e assy os
seguros e mais despezas: e Em crediio delia farey bom todo o dr° que Reçeber E Rendimento
de marfim ou assucares ou outra qualquer mercadoria que a meu poder vier E assy as par­
tidas desta minha con$a como as da conta qúe mandar ter o dito sor governador se dara cre­
dito de parte a parte sem nenhum de nos grosar nem por duvida a nenhuã delias
E declaro eu dom mòí pereira que sendo caso que mande carregar alguãs peças por minha
conta a parte, que não levarão outra marca qua aquella com q forem marcadas as peças da
companhia antes as mandarey marcar todas juntas en hG lugar de brasso ou peito para birem
misticas E somente avízarey a pâ ou pessoas a qué forem consinadas q do proçedido que ficar
liquido daquellas peças que ficarem vivas me cabe o que eu avizar e que Rato por cantidade
me faca bom o que me couber
assy mais me obrigo eu dom mel pM ordenar as pessoas a que Remeter peças, dr°, marfim,
letras, ou escreturas ou outro qualquer genero de fazenda que o proçedido de tudo mandem
dirigido ao dito João dargomedo ou a quem seu poder tiver E por sua auza en sevy* a fr®° pinto
da fonseca auzente a pedro de jaem ou gaspar lopez de Setuval e para 0 porto de portugal a
joão de paz e para viana a Andre dazevedo para que qualquer delles siga do que Reçeber a
ordem do dito João dargomedo
E assy declaramos que esta companhia durara por tempo de tres annos que comessarâo a
correr do dia en que eu dom mel pereira chegar a angola en diante E pareçendome que aja de
durar mais tempo avizarey a elle dito joão dargomedo seis mezes antes de se acabar E vindo
elte nisso durara aquelle tpo em ?j nos conformarmos E nos obrigaIBO,l cada hü de nos per sua
parte a cumprir este asento E companhia con toda a pontualidade divida como de mercador a
mercador.
dommei pra
Joan de argom edo.
(Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina. Angola. Caixa n.° 145).

DOCUMENTO N.° 2S

E sta não serve de maes que de dizer a V.M. que tudo o q. bartolomeo jorge levou que foy
800 p or minha conta e risco mandara V.M, entregar a Dofía Maria porque assy o ey por bem,
ás jndias escrevy a Andre da costa que tudo o que tenho remetesse a V. M. jaa por duas ou­
tras vezes o tenho feito, deve elle de o ter remetido, e assy lho tornarey agora a escrever, e a
jo rge fernandez, gram axo, e também mando a V.M. os dereitos de trinta Pessas que fico de
m aar em barcafsícj em hum navio, elle avisara e dara razão disso, como partir o registo que
me ficou fretey hüa naao pera nova espnha a sete mil rs. pareçeonos assy milhor que mandar
vs

i hCa que eu tenho, que he nora e moiio fennow, « u «****? * W rr» ttato com o P* m io
que fiz pera me jr nelle e outra pera pernambuco que leva q u m ctsitts peswu, e é t h
de peroambuco m andar que vaa carregada a essa cidade alem de,nos parecer que era ysr.j
proveito fica sempre a naao para se poder vender, porq. be boa e nova, nío íe*fe>per<m
maes de que avisar a V.M. se não pedirlhe que queira logo mandar js& a D^na M jnj p>ra
3
suas necessidades. Nosso s" g a V.M. sam paulo de Loanda i de março ti

dommtí pr*
Na capa: A João dargomedo
que Deos guarde,
a.» via.

»
DOCUMENTO N.° 39

SenSr
í 3
Cheguei a este porto de loanda Reino de Angola em i de nou.** e fui correndo com as
execucoins q. V. raag.* me manda faser Em os deuedores de sua faseada aquoaí segando vou
achando se gasta com pouca consiencia E m,* fora do seruico de V. mag.* tendo mandado
despender cora titulo de gastos de conquista alem doque se sonegou a fasenda de joao ftoíf
coutínho e de nouo ao que ficou por morte de Duarte Dias lobo feitor que foi neste Reino E
com a morte deste feitor perdera a fasenda de Vtn. porq. gastou m * e tira som,* ate uinre
mil crusados em escravos E fasendas da terra q. nao be rais E podercea achar dificuhosam.“
a iarguesa con Éj. algüs gouernadores raandaraõ gastar contos contos sendo som.* necessários
P-* a conquista Em cada hu anno ate catorse como mais largam** informarei a V. mg.* com
senidoins nos pr.°* oauios.
Tenho executado ao gouemador Em dous mil E quinhentos crusados que dcuia a fasenda
5
de joaÕ Roiz coutínho E na fes duvida a pagar como também Espero a caÕ fsra E se a fiser
usarei dos poderes E comissão p.* Este caso tenho de Vmg.* te q. com Efeito pague E asi
todos os mais que deuerem q. sao m.tf>
Ao CapiiaS tnanoel da Costa tomei cento e tres mií rs, em prata lavrada q. tinha de joaô
Roiz coutínho E ao capit&õ julio macote Em trinta marcos de prata laurada bü Escritório de
alemaQha q. vai mais de corenta mil rs dous tranciíins de ouro. creo q. se irao descubriodo
alguãs cousas segundo tenho per informacaÕ porem p.a V mag.* poder auer bom pagam.* do
que se achar sera defecultoso porq. neste porto nao corre nenbu dr.* de prata nem ouro por
5
ona aver e som.* ha Escrauos e panos E nos Escrauos ha grandes perdas asi por morrerem
m.** como por ualerem embarcados E pagos fretes e manttm.u* per perto de trinta mfl rs. E
no brasil as ueses nao ualem tanto alem do risco do mar pello q. a falta de dr.* E de letras
q. naÔha nenhuã neste Reino fica defecultoso mandar a esse Reino o procedido dasexecucoins
e fica mui dilatada minha Estada neste Reino e 0 fim das execucoins pode facilm.* remedearce
este inconuenience mandando V mag.* a Duarte Dias Enriques qs. aceite neste Reino as fa­
sendas que lhe eu der e 0 preco delias de Em dr.te’ Em 0 brasil ou Índias ou qs. pague nesse
Reino E Eu pagarei p.' a conquista Em fazendas q. ca correm E a isto 0 pode V. meg.* obri­
gar conforme a obrigaçao de seu contrato q. dis q. pagará nesse Reino saluo gastando ca fa­
sendas na conquista. deve V. mag«* com breuidade mandar responder ao que nesta
carta digo E entretanto fico correndo com as execucoins E mandarei 0 procedido delias ao
Brasil na forma custumada.
Por morte de Duarte Dias lobo ficaraÕ m.Ul diuidas e créditos seus q. importaô mais de
sinco mil cruzados auera mister dilatar por serem m.tM E de deferentes Reinos deve V* mag.*
1 Escreuer ao Rei de Congo mande Era hü Reino executar os devedores q. la. Estão esaõ m.to*
E asi lho tenho ja pedido E cometi a Ant.0 Giz. Pita a cobranca E que faça a custa dos deue­
dores uír a paga a Este Reino mas temo q. se cobre mal por uiuerem alem de Congo alguns
delles e outros no certao.
■i
v£ Das grandes desordens q. se fiseraÕ por morte de Duarte Dias lobo fico tirando deuassa
43o Angola
na quoal tenho comprendido alguãs pessoas e oficiais de justiça q. se antremeteraõ na cobranca
de sua fasenda por pertencer ao de V . mag.dt E asi uou compreEndendo alguás pessas no fisco
dos dereitos E sonegacao da fasenda de joaõ Roiz coutinho E para que aia exemplar castigo
deve V. m a g * mandar q. Em alçada os semencee Eu ajunto o ouuidor ou outras pessoas q. a
V. m ag.* perecer E no que toca a pessoa do gouernador E officiais de justiça que se remetaõ
a V. m agd®as culpas p.* contra Elles mandar proceder como ouuer por bem. E o mesmo goarde
com as culpas do ouuidor seficarê comprendidas p orq u esera defecultoso Enviar a Esse Reino
tantos culpados.
No colleio da companhia desta cidade tiue per informacaõ que estaõ la liuros do contrato
de joaõ R o if coutinho E os pedi ao Reitor que fes entrega delles E achei huã grande copia
delles e de papeis de importância nos coais se contem grande copia de créditos E Espero q.
montem grande contidade de dr.° suposto q. sera defecuhosa ao menos mui delatada a paga
por serem os deuedores de devercos p."*, Espero que neste particular se faraõ cabaes deligen-
cias íj. se ata V mag.d®por bem seruido E naõ fique nada per por Em ordena corrente. E como
for descubrindo os deuedores passarei certidoins En forma p.ã nesse Reino se faser execucao
nos deuedores nelle moradores E p.* o Brasil E outros p.®* passarei precatórias e deue Vmag.da
mandar aos gouernadores do Estado do brasil os facaõ goardar E com mais pontualidade do q-
por Estes p.*a se custuma.
E sendo Vmag.d®seruido que o procedido das execucoins va Em Escravos p / Esse Reino
ou Estado do Brasil çleue aver por bem que mande Eu En cada nauio mais pessas q. nas q.
cabe a valia de duzentos mil rs que he a contia q. Vmag.d# ha por bem q. corra por risco de
sua fasenda En cada nauio porq. nem sempre ha nauios p.* o Brasil E farcea m.10 gasto com
os Escravos Em tnaÕ dos depositários Esperando embarcacaõ porico q. deue Vm. mandar q.
En cada nauio que partir deste porto p.* o Brasil vao as pessas En q. Estiuer feita execucao
E que mande Vmag.dft dar ordem conq. logo no brasil se vendaÕ a pessoas que passem letras
p. a Esse Reino.
E porque naÔ poderia nunca constar ao certo de tudo o que se gastou da fasenda de
Vmag.d® e do que ficou por morte de joaõ Roiz coutinho senão com vir huã pessoa a tomar
Estas contas como vim per mandado de Vmag.de E pode depois auer duuidas com Goncalo
vas coutinho E os herdeiros de Duarte Dias lobo porico q. deue Vmag.d0 mandar que se tres-
ladem todos os liuros q. ficaraõ por morte de joaõ Roiz coutinho E os da feitoria do armo de
seiscentos E tres té seiscentos E oito E irem os tresiados authenticos ou ficando ficando (sic)
E indo os proprios q. também seraÕ necessários p.a se acabarem de cobrar as diuidas q. nesse
Reino E brasil E outros p.at se devem E com Esta deligencia poder ter fim a machina de du-
diuos (sic) q. se tem feito com as execucoins gastos da conquista arrecadacaõ das diuidas E
mais deligencías q. Vmag.de manda faser V. mag.do ordene o que ouuer por bem E seu seruico.
G.da nosso s o f a mui catholica pessoa de Vmag.de Em sao Paulo de loanda a 20 de Nouembro
de 610.

De nouo achey que alguns feitores antes do contrato de joaõ Roiz coutinho naõ tem dado
conta E ouue grandes desordens na leitoria porq. se sonegaõ alguns liuros delia E somente
achei des o anno de seis centos E dous Em deante correntes aindaq. faltos. E nalguãs p,e* de
folhas E rotos E todos os mais atrazados huns saõ perdidos E outros rotos E podres de modo
q. mal se pode por Elles faser deligencia Eu 0 fico fasendo exacta tirando inquiracaõ de notta
sobre os liuros q. faltaõ E os feitores que digo podem dar conta pellos liuros de suas despesas
q. algunf tem Em poder E melhor he q. dem alguas contas q. nenhuãs E aproceda con tanta
solucaõ na fasenda de Vmag.d0
V mag.d®ordene o q. ouuer por bem.
A n d re V elho da fo n seca
(Biblioteca Nacional. SecçSo Ultramarina. Papéis de Angola).
V f

1
Apêndice 43i

DOCUMENTO N.* 3o
T R E S L A D O D E H U Á C A R T A D E A N D R E V E L H O D A F O N C E Q .*
Q - F O I A O R .w D E A N G O L A A D E L I G E N Ç I A S D O S E R Ü ÍÇ O
D E SUA M GD.
No fira do roes de
cipío as dcliaenci n0U\ pro**mo Passat*o «scrcuí a VrogcL avisando como tinha dado pnn-
•ï
mando tj. he princ' * ^ 5
^ e ^ - de oouo tenho feito constará a Vmgd. peita A í $-
Duarte Dias lobo au fi ° ^jV°U draildo das grandes desordens q- ouue por morte do feitor
f presente Se naõ sab^deT' a de Vragd; mais de duzentos míl d<- que té o
conta da fza, de * CSle feíIor foí * com o cô' 0 contfano eml u cor7t' P*r
sonega a fza. de P°UC° S testemunbos ajhará VcnS ^ 05 mcoiwinienies do q *
do g." me consta d a r e ^ r * C° QtaS ^ Sca em roeu poder * k z AfeQS0 dt <te**aía contaáoT
conquista sendo famasúca #r C°ni0S e oil° Çe°íos e tantos roíl rs. em gastos e diuidAS da
diaz Anrríquiz, assij mais po^d * Cjm° SCVerà pÊÍÍ0 íesíe£QUa^° de AL,! drago feitor de Duarte
9
versseá como asenço de Pil^J UaS t C^araçoes * ®ais na devassa como por cila se verá;
, *
5
inuentario . Ie fez n0r mnr»A “r° j. 0 na mesma devassa: e o 6, fez V.» mexia escriuaS do
rwi ***orie do dito hri» a‘ ~ , ..
verdade vou desemuiando té se a b diazí 6 ponj' I0inar ($s testeratmhos 3
cousas de q. ja tenho notícia e \\ a d®ya5sa e c5 o segredo delia espero de achar Alguís
cote, abonador e feitor dr» Di ° \ k ^ ma®d° hum credííI0 deuedor Julio ma-
coenta mil rs, fiz vir per ante rti j V Gredor m*' draS° a he dfi contia de hu conto e cin-
5 . a entregue porq o r *m ° , 0 macote; e cofessou a draida e esta per min maodado
duarte diaz lobo e fesse n e l L ! ! ? ^ 0' 6 * diuida « 3 «■ * mas era acredor

r Duarte diaz lobo; Alem deste Ale” * por, ses°ne?ar a_fa2-4 de v ®gd, a quem bedeuedor o dito
de quatro Capitais de deCaualln ?’ naÕ hey ds ieuar eDcoma como sa5 praças
quísta mais que sete cavalíos F L u 7apitS mor de Cavaiío> nã haveDdo eo toda a con-
o d,,. K w , « « pi 8“ ■“ ” ^
assy q. deuera prim.** ser paga
se gasta cada mês quando ba guerras Sete centos e tantos mil rs; e sem eilas mil fiz.*« som.»
se lança en conta mil gz> como tudo Ja oje me consta por autos e t •• e çertidoes que
tenho era raeu poder; E porque Reçeo que nS tenha neste Reino o g.w bens bastantes pera
pagar o Aícançe q. se espera, pareçe que pelo que dessa devassa consta. E pio que nesta digo
deue Vmgd9, mandar secrestar todos os bens q. o g.wDom. M.*1 p.rt tem nesse Reino pera o
qual só em dr,í9f temmandado mais de sesenta mil• tfz.d« ^por via \de
1V radias e Brasil; e feitas
contas no q. deuer lhe farey execução nos bens q.—qua V« VMt
tiuer e inuíarey todos os papeis tocantes
a eilas; E porque a pessoa do dito g,ot me nã deu Vmgd, poderes pera o inuiar oü preso ou
emprosado o q. farey tendo os era Resposta desta, né ter ordem de Vmgd; pera encomendai
o gouerno ou seruiiio té vir nouo g.ot Sobre estou té Vmgd. oídenar o q. ouuer por bem q-
cumprirei sem falecia; e deue Vmgd. mandar logo prouer pio conselho de jndias deg.09 tal
pessoa q. iiura co temor e mederaçao nos gastos da conquista; e pera o adiante se prouer e
atalhar os gastos e desordens levarey ds querendo Reçençeado tudo o q. se gasta bem e se
deue gastar e ficarsse acresentando a faz.* de Vmgd. cada hü anno en quantidade notável que
estes annos se gastou mal como açima digo.
tenho dado principio a execução da h * de Joa6 Roiz Coutinho e vou cobrando as diuidas
era escravos q. he o Dr.° da terra; porem os de mayor contia vou deixando pera cobrar tendo
outra ordé de Vmgd. differente da que trouxe; porq. nesta terra [nã ha Dr.®nenhum, E som.1*
ha escrauos e panos Songos de palha e os escrauos indo daquy pera o Brasil perdesse m.»
nelles e pagos os fretes e dr.ÍMvalendo aquy na prim.* compra vinte e hü mil rs. fazendo de
Custos até o Brasil o dr.° pagos ou em letras os vinte mil rs. E assy naõ se poderá fazer pa-
gam.i9a Vmgd. sem grande perda por ser a quantidade grande; Deue Vmgd. Hauer por bem
que Duarte diaz Anrriquez contrattador seja constrangido a darem Dr.te‘ pera esse Reino e
pera o Brasil todas as contias q. eu entregar neste Reino a seu feitor; ou q. dando eu pia co-

■ try Ar
Angola

quista f a z " cm q. fa ço cxecuça p agu e elle nesse R .*• cõ fo rm e a cla u su lla de seu contratto 3
diz fjue pagara nessa C id a d e; saluo pagando qua na co n q u ista; também deue Vm gd. mandar
que yndo escrau os ao B rasil se venda fiados p or algum tp. e cõ ysso se nã perdera nelles, e na
ha outro rem édio p era vm gd. poder ser pago cõ façellidade e sem perda; e de outro m odo será
dcficultossa a cob ran ça p orsse nesse R « inteiram .1* ne cõ m.u perda menos.
E poríj. o que nesta digo he de tanta im p ortançia deue V m gd. m andar q. lo g o se me Res­
5
ponda p or se n dilatar a RezuluçaÕ do q. p eço nc minha estada neste R.*ft cõtan to R isco de
minha vida e perda da fza. de V m gd., q. hauera sem falta se se nã p ro u erco m brevidade com o
digo E porq. nas com pras Ej, se fizera nos leíloens da fza. de Joaõ Roiz C outinho; E vitimam.**
na de D uarte d iaz lobo, E assy em se sonegar a faz.* de Vm gd. deuS hauer m.t#* culpados com o
já vou achando, p areçe q. deve V m gd. hauer por bem q. os sentençee eu em quanto quã estiuer
pio ficar o C a stig o m ais exem plar no lugar do d e litto ; e que as Culpas tocantes ao g .or e offi-
çtaes de justiça os Rem etta a esse trebunal com os C ulpados presos ou em prasados cõform e
a qualidade de suas pessoas e C u lp as; Vm gd. ordene o que ouuer por bem e seu seruiço;
N o sso s." guarde a tnuy C ató lica pessoa de V m g d ; de sam P au llo de lo a n d a ; em 9 de dez.*0 de
610.
Andre Velho da fonçeqA

E o dito treslado se tirou da propia C arta bem e fielm.u na Verdade, em Lx.* a 1 1 . de


Maio de 6 1 1 (1). #
(Biblioteca Nacional. Secção Ultramarina. Papéis às Angola).

DOCUMENTO N.° 3i
A U T O D A S P E R G U N T A S F E IT A S A JO A Õ D E A R G O M E D O
Q U E M Ã D O U F A Z E R O D .T0R F R .C0 C A R D O S O D A M A R A L L J U I S
D A I N D I A E M IN A
A os vinte e noue dias do mes de Julho de mill e seis cem tos e om ze annos nesta cidade
de lisboa o doutor fram cisco cardoso dam arall do desembargo delirei nosso senhor e juis da
india e mina com igo escriuao e miguell jorge e seu meirinho antonio correa da costa meirinho
deste juiso com seus homes foy a casa de joaõ de argomedo as oras de m eijo día e amtramdo
lhe pedio lhe desse todos os liuros asij da resan como da respomdemssia e os mais papeis que
tocauaõ ao contrato que amtre elle joaõ de argomedo e dom manoell avia pera o qual elle
deu juram ento nos samtos avamgelhos em que per sua maõ e per cargo delle prometeo disser
verdade e perguntado pelio dito juis se tinha mais liuros que os que elle juis lhe tom ou e por
elle foram apresentados respondeo que naõ tinha mais que os ditos liuros que eram noue digo
que eraõ doze e hum caderno e que nelle emtraua os liuros de resaõ caixa e respomdemssia
e assy quis asemto em que a folha de papell que era o asemto e contrato feito amtre elle e o
dito dom manoell pereira / e assy declarasse que cantias de dinheiro ou que letras vieram de-
regidas a elle Joaõ de argomedo do brasill ou de amgolla ou de indias tocamtes ou pertem-
cemtes em todo ou em parte ao dito dom manoell pereira, ou venham pessas em cabeca do
dito dom manoell ou em cabessa delle dito joaõ de argomedo ou contra quallquer pessoa ou
os prazos delias sejam conpridas ou por conprir e que tinha feito do dito dinheiro, e por elle
fo y dito que a conta que avia tido com o dito dom manoell p.ra desde o premeipio athe agora
hera a co m a que ora de oouo lhe veyo em os mesmos navios de pernambuco a qual! lhe madou
de am golla fran.co demaar seu respomdemte de quimse de abrill deste pressemte anno com sua
carta do dito dia, e a própria carta do dito framcisco do mar da a claresa das partidas que o
dito g.°r tinha mãdado por indias de sua com ta partícullar fora da dita com ta de que elle naõ
tem mais claresa outra que a da dita carta, e declara que estas heram todas as letras e pecas que

(1) Em virtude do origina) se encontrar rasgado, torna-se incompreensível uma nota à margem que nêle existe.
Apêndice 43)
tinha mãdado q. o dito dom maooell p/è a elle joa5 de argomedo p.api&umeato t tortím crf
de
das carreguacaes que deste reino e das ilhas casaria lhe tinha mldado o dinheiro que per
sua ordem e pera quantos de sua casa tinha dado aihc ojee, declaraua que cm ditt comia estatro
por se lhe fasser bom a clle joaõ de argomedo todo o dr* que temdado de smal de fetssemtos
e noue athe ojee; e assy declaraua que as letras que o ditto g» mádoo witotfí ta Jira comia
e mais nas que hiam amor pane delias por cobrar, e outras que se perderad/nam ífce fei m»ts
perguntas pelo dito juramento declarasse quefaz^esperaua do dito dom m * pereira e donde
as espera se de índia se de amgolla ou brasill oo de que parte as espera e que amos tem sobre
isso, e por elle dito joa5 de argomedo foy dito e declara que do conteúdo na di» consta so­
mente estaua por vir a seu poder ao redor de tres cnill cruzados que esperas* na frotca de /
indias e isto por comta delle dito joaÔ de argomedo procedido de suas carreguacaes / e no
mais se reporta a carta do dito framcisco do mar de quimie de abriil em que se declarsõ as
partidas fora das da dita comta domde se esperam, e tten lhe mandou declarasse que eschtos
escrituras sam feitas de companhia ou respomdemssia oo agencia oa de outro qualiqaer con­
trato ou convemcao de quallquer corte e condicao que seija amre o dito dom m.** p.*» elie
dito joao de argomedo ou outras pessoas e onde estam os ditos escritos ou escrituras e em
que liuros públicos ou particullares ou em que maõ de pessoas as tem ou mãdou guardar, e
per elle foi dito que dantre elle e o dito gouernador nao ouve nunqua roais escrituras que na
procuracaõ que lhe fes o dito gouernador nas noitas de miguell ribeiro este aseroto que apres­
senta asinado por elle e o dito gouernador, e assy mãdou declarasse pello mesmo juramento
se em outra allgua parte fora de seu poder estaua allgum dr,* ou fazeutla ou letras compridas
ou por comprir tocantes e pertemcemtes em tudo ou em parte ao dito dom manoell pereira,
disse que naõ sabia roais neohua cousa que a carta e comta que lhe mãdara o seu respom-
derate como tinha dito as quaes cousas lhe mãdou elle juis declarar debaixo de jurameoto dos
satntos avamgelhos por assy comprir ao seruíco de sua magestade e bem arrecadacao de sua
íasemda & quem o dito dom manoell pr.a ficou devemdo muito dinheiro e que todo cuidou elle
juis fasser este auto em que asina com o dito joaõ de argomedo e tudo isto em pressemsa de
miguell jorge escriuaÔ da vara do meirinho deste auto antonto correa da costa que outrossy
pressemte estaua que todos assinaraõ / e peramte elles lhe fes mais perguntas e queria estar
pressemte ao reuer os dttos papeis e liuros ou tinha nelle juis allgum peijo disse elle dito joao
de argomedo que elle naõ tinha nam peijo nelle juis e que eria a sua casa todas as veses que
lhe elle mádasse e logo o dito juis lhe midou que as fasemdas dinheiro ou letras que thiesse
locamtes ao dito dom manoell pr.* naõ despusesse nem físscse delias cousa allguma sem ordem
delle juis ou do comselho da íasemda per cuijo mãdado fassia esta adeligenssia e asinaraõ
todos e eu Mellchior douliur.* de fr.* o espreui.

Fr.co Cardoso damaral Joan deargomedo


Antonio Correa MigU. jorge
(Biblioteca Nacional. SecçSo Ultramarina- Papéis de Angola).

DOCUMENTO N.° a 3
TRESLADO DOS AUTOS QUE SE PROÇEÇARAÔ POR M ORTE
DO GOUERNADOR QUE FOY DESTE REINO DOM MANOELL
PEREIRA QUE DEOS TENHA E CAPITAÕ MOR QUE LHE SO-
SED EO .//.
Anno do Naçytneato de Nosso Senhor Jezus Christo de mUl e seis semtos e omze anos
baos quimze dias do mes de Abriil do dito aSo nesta cydade de Saõ Paulo / Porto da Loamda
Reyno damgoHa oje neste dia has oras das des da noite pouqo mais ou menos nas pouzadas
do gouernador que foy deste Reino Dom Manoell Pereira haomde estaua prezemte ha camara
como gouerno de sua magestade emqoamto vago e bem asy ho jlustriçimo senhor bispo Dom
434 Angola

frey Manoell Bautista e bem hasy ho dezembargador Andre Velho da Fonsequa c ho Ouujdor
gerall Manoell Ferras Barreto e bem hasy ho capitaõ mor da gerra Bemto Banha Cardozo e
outros Capitains habaixo nomeados hay pelos ditos hofisiaes da Gamara foy mandado ha mym
escriuao fazer este auto dizemdo como ha dita ora hasima dita foraõ chamados pelo dito se­
nhor Bispo e mais ministros de jusiissa hasyma nomeados vjesem ha casa dele dito gouernador
que estaua m ono de hü hasidemte em sua caza e cama por qoamto morrera sem falia e senaõ
sabia se linha ordem de sua magestade pera nomear no gouerno e se ho tinha nomeado amtes
do djto hasidemte por qoamto comvinha hao seruiso do dito senhor hauer pesoa que nomease
hathe sua magestade ordenar ho que ouuer por bem epera ho sobredito mandaraõ vjr peramte
sy hao capitaõ Amtonio Teyxejra Coelho camareiro do dito Gouernador e lhe mamdase em
trepase has chaues ha elles vreadores e mostrase hos escritórios homde estauaÕ hos papeis to-
camtes ao gouerno e loguo hay pelo dito capitaõ Antonio Teyxeira Coelho, forao emtreges
duas chaues pequenas de prata dum escritório da jmdia marchetado e em prezemssa dos djtos
e dos mais habaixo hasynados se habrio ho djto escritório he nelle se achou nenhG papeli
majs que ho rrigimemto de seu cargo he logo veo outro escritcrio he se habrio no qoall se
achou a carta porque sua magestade lhe fes mersse do cargo do gouerno deste Reyno e ho
rrigimemto de sua magestade e huã prouizaÕ pera poder nomear susesor na qoall naõ tem no-
measaõ e pela naõ ter nem se achar nos ditos escritórios hathe gora fazemdose deligensia ne-
sesaria e por ser noyte allta e naõ estarem prezentes todas as peçoas que haÕ de botar hasem-
taraõ que pela manham sedo se dese rrequado e se hajumtasem em camara he a ella mamda-
sem e chamar haos da^overnamsa e quapitains que de prezemte se achasem nesta sydade pera
compareser de todos se ordenar ho que for seruiso de sua magestade de que mamdaraÕ fazer
este auto que hasynaraÕ Francisquo de Seixas escriuao da Camara ho escreuy. O bispo de
Comguo Jeronymo Corrêa: Gaspar Alures: Pero de Souza: AU varo Saramenho: Domingos
Furtado: Amdre Velho: Manoell Ferraz Barreto: Bento Banha Cardozo: JoaÕ de Viloria: Bal-
tezar Rabelo de Aragaõ: Luis Guomez Machado: Manoelle de Vascom sellos: Framsisquo Roíz
de Azeuedo: Allvaro Roíz de Sousa: Manoell Dias: Julio M açoty: Framsisqo de Lem os: Ma­
noell da Costa Borges: Amtonio Teixeira Coelho .//.
E logo no djto dia e nojte ho sacretario do djto gouernador Manoell Coelho haprezemtou
hum copeador de cartas que tem fechadura e sua chaue e esta ha maior parte delle em bramqo
e por serem cousas de segredo e particulares dele gouernador se emtregou ao jlustriçimo Se­
nhor bispo fechado por ele hasym ho pidir e a chaue dele se emtregou ha Gaspar Alvres vreador
mais velho e hasym lhe emtregaraõ hao djto vreador ha patemte do cargo do dito gouernador
e seu rrigimemto e prouizaõ pera nomear suseçor e huã prouizaõ em que falia nos hoficiaes
dos defuimos e haquy ho jlustriçimo Senhor bispo e vreador majs velho hasynaraÕ de como
qada hum como dito he rreseberao dito liuro e papeis Francisco de Seixas escryvaõ da Camara
ho escrevy: rresebeo ho liuro ho bispo de Comguo: Gaspar Alures .//«

T R E S L A D O D O A U T O D A E M L E ÍÇ A Õ Q U E S E F E S D E C A P I-
T A Õ M O R P E R A H O G O U E R N O D E S T E R E IN O P O R M O R T E
D O G O U E R N A D O R Q U E F O Y D O M M A N O E L P E R E IR A C O M -
F O R M E H A H U Ã P R O U IZ A Õ Q U E S E A C H O U D E S U A M A ­
G E S T A D E N U M D O S E S C R IT Ó R IO S D O D J T O G O U E R N A ­
D O R .//.
Anno do Nasymemto de Nosso Senhor Jezus Christo de mil e seis cemtos e omze anos
haos dezaseis dias do mes dabrill do djto afío na igreja matriz desta sjdade de Saõ Paulo porto
da Loam da Reino de Amgola haomde estamdo ho juiz e ureadores e mais hofisyais da camara
desta sydade e ho jiustriçymo Senhor bispo Dom frey Manoel Bautista que ha pidjmemto do
djto jutz e ureadores he mais hoüsiaís desta Camara hasiste nesta emleiçao que ora se quer
fazer he ho capitaõ mor que foy desta sydade Costodjo Amtunes da Cunha e ho capitaõ Ber-
+

Apêndice 435 i
\n

nardioo Garçia ambos procuradores deste pouo e bo sargemto mor deste Remo Vicente R*- *
; beiro em nome e por par» da comquísta haomde estaxado prezemtes jumtos com hos mister«
desta sydade Gaspar de Frias e Luis Dias fizertõ emleiçaõ pera se (úer cotn bo fauor dwjoo
ha capitaõ mor pera gouernar este Reino comforme ba buS prouizaõ de sua magestade que se
achou num dos escrítorios do Gouernador que foy Dom Manoel! Pereira feita na sídUc de
Lisboa ha treze de Agosto dt tnill e seis seratos e ojto sobrescrita pelo ucreuho Amionio
Velles de Sytnas he basynada pelo Senhor Marquez vizo Rey e ccrovisu do Comde a^miramte
prezidemte do comselho da jmdia como delia se vera ha qoall se tirou do eicritono homde
estaua por ser falesydo de hum hasydemte bo sobredito gouernador omtetn quimze deste djto
mes dabrill has des oras da noite pouquo mais ou menos e porque fazemdosse ha deUgemcia
que pareceo nesesaria que constara do auto que diso se fes naõ se achou que por vertude da
dyta prouizaõ nomease susesor como sua magestade por ella lho consedia e em taU caio fiqara
ha emleiçaõ de susesor segumdo custume ha camara pesoas do gouerno he capítiins da con­
; quista que fosem prezemtes todos jurotos de comum comsemtimemto estamdo mayta pane do
pouo prezemte na dita igreja emtraraõ ha emleiçaõ ordenamdo que pera maior quietasaÕ rre-
f sebesern todos juramemto dos samtos hauamgelhos de votar como emtemdesem que mais com-
vjnha hao sjruiso de Deus e de sua magestade e ben\ desta comquista e de terem segredo em
;!t seus votos hathe estar de posse pasifiqua ha pesoas pela emleiçaõ for nomeada he chamamdose
bo Ouuidor gerall Manoel Ferras Barreto rrespondeo nao tjnha voto e por lhe ser tjdo rres-
pejto ho naÕ quyseraõ constranger por justissa e prosedemdo ha eml^çaõ botaraÕ setemta e
sete pesoas leuou hum voto ho ouujdor gerall MaQoell Ferras Barreto e leuou outro voto ho
capitao mor Bailtezar Rabelo de AragaÕ e leuou tres votos ho cepitaõ mor Costodjo Amornes
e leuou treze votos ho capitao mor Joaõ de Viloria e ha forssa leuou ho Senhor bispo quatorze
votos he hasy todos hos nomeados neste auto que nelle hasynaraõ de seus nomes e hoficios
:i ouuemos per emleito ha Bento Baoha Cardozo Capitao mor da gerra Ç autoallmemte serue e

f damos por boa ha emleisaõ com coremta e symqo votos que leuou com que fas tamto eyseso
haos mais ha que botaraõ que hajmda que viera alguã mais gemte se fiqou e botaraõ em outra
parte naõ fiquara ha outra ygoall e hasym pela autoridade que temos de sua magestade con­
forme as hordenaçõU e rregimemtos e custume gerallmerate vzado mádarnos ha todas as peçoas
hasym moradores estamtes e habitamtes e has que de novo vjerem de qoallquer calidade e
comdisaõ que forem que ho rrecebaÕ e ajao por verdadeyro susesor comforme ha prouizaÕ de
sua magestade que haquy sera lida em pubriqo e hao diãte tresladada sob pena de ser havydo
por tredo e desleall ha sua magestade de todo haquell que por qoallquer via comtradiser esta
emleiçaõ e per vertude do que foy chamado ho djto capitaõ mor emlejto Bemto Banha Car­
dozo he se lhe deu juramemto no lhiro misall haos samtos hauamgelhos que bem e uerdadej-
ramemte sjruiria ho dito carguo fazemdo prejto e menagem dele ha sua magestade na$ maõs
do juiz he vreadores comforme ha prouizaõ he custume delia e ho djto capitaõ mor todo
prometeo cumprir e nao hexersitar nenhü auto de jurdisaõ hathe naõ ter fejto prejto e mena­
gem como sua magestade em sua prouisaõ mamda em vertude de todo hasynamos Framcisquo

l
de Seixas escriuaõ da camara ho escreuy frey Manoel Bautista bispo de Comgo; ho juiz Ge-
ronimo Corrêa: Gaspar Alures: Pero de Souza: ho vreador mais moso: Aluaro Saramenho:
Francisco de Seixas: Domingos Furtado: Gaspar de Frias: Luis Dias: Costodio Amtunes da
Cunha: Bernardjno Garçia: O sargemto mor: Visemte Ribeyro: Bento Banha Cardozo .//*
E loguo no dito dia mes e ano e ora hatras declarado em vertude do auto feito da em­
leiçaõ e juramemto que Bemto Banha Cardozo caualleiro fydalgo da casa de sua magestade
capitaõ mor emleito rresebeo e prometimemto que debayxo dele fes ho ouuemos pormetydo de
posse com todas as liberdades e priuilegios que has prouizões de sua magestade lhe consedeu
he seus rrígimemtos e pera sempre constar se üs este termo em que todos hasynamos Fram­
I
\
cisquo de Seixas escriuaõ da Camara ho escreuy: O bispo de Comgo: o juizGeronimo Corrêa:
f' Gaspar Alures: Pero de Sousa: Aluaro Saramenho: Framcisqo de Seixas: Domimgos Furtado:
Gaspar de Frias: Luis Dias: Costodio Amtunes da Cunha: Bernardjno Garssia ,//.
(
\

_ii
436 Angola

P R E JT O E M EN A G EM Q U E F E S H A SU A M AG ESTAD E N A S
M A Õ S D O J L U S T R I Ç 1M O S E N H O R B IS P O E M A IS H O F IS IA IS
D A C A M A R A D E S T A S Y D A D E R E JN O D E AM G O LA E SU A
C O M Q U I S T A H O D I T O C A P IT A Õ M O R .//.
Eu Bemto Banha Cardozo caualleiro fidallguo da casa de sua magestade Capitão mor que
ora fuy emleito deste Reino de Amgola e sua comquista por falesjmemto do gouemador Dom
Manoell Pereira que Deus tem que em venude de huã prouizaõ de sua magestade que hatras
vay nomeada ffaso preito e menagem ha sua magestade em maõs do jlustriçimo Senhor bispo
e do juiz e ureadores e mais hofisiaes da Gamara que estão em seu nome do gouerno deste
Reino omde ora sou emleito por capitaõ mor pera nelle fazer este hoficio e ho gouemar e que
rrecolherey ha sua magestade e ho rreseberey no alto e no baixo delle comforme ha mjnha
hobrigasaÕ ou ha pesoa que por seu mamdado ha ele vjer de dia he de noite e ha quaisquer
oras e tempos que seyaõ jrado e pagado com muj tos he com pouqos e que farey gerra mam-
terey treuoas e pas segumdo por sua magestade me for mamdado e que naÕ emtregarey este
djto Reino de que ora tome pose ha pesoa aigua de qoallquer calidade preminensia estado e
comdisaÕ que seya senaÕ ha ele djto senhor ou ha seu serto rrequado logo sem delomga arte
nem cautella ha todo &> tempo que qoallquer pesoa me der sua proujzaõ por que me quite
este prejto e menagem e eu ho djto Capitaõ mor Bemto Banha Cardozo faso este djto preito e
menagem nas maõs do jlustriçimo senhor bispo e da camara que esta em nome de sua mages­
tade hüa duas e tres vezes e me hobriguo e prometo de cumprir e goardar e de djto preito e
menagem e todas has comdisõis e hobrigaçõis e todas has couzas he quada hua delias em ele
comteudas sem arte cautella emgano ne mjmgoamemto algü e juro haos samtos hauamgelhos
em que ponho minhas maõs que qoamto em mym for terey sempre ho djto Reino e gemte de
gerra delia prestes pera ho seruiso de sua magestade e defemsaÕ dele e com ha djta gemte em
defemsaÕ do dito Reino farey gerra na manejra que pello dito senhor me for mamdado e ha
mesma homenagem faso por todas e qoaisquer fortallezas deste Reino e por verdade eu Fram-
cisco de Seixas escriuaõ da Camara desta sydade fis este hasemto e auto de homenagem em
que hasynou ho djto capitaõ mor com ho dito jlustriçimo Senhor bispo e camara oje dezaseis
dias do mes dabrill de mil e seis sermos e omze anos ho capitaõ mor Bemto Banha Cardozo :
O bispo de Gomgo: ho juiz Jeronimo Corrêa: vreador mais velho: Gaspar AIvres: O vreador
Pero de Sousa: vreador: Aluaro Saramenho: Franciso de Seixas: procurador Domingos Fur­
tad o: ho mester Luis Dias: ho mister Gaspar de Frias .//.

T R E S L A D O D A P R O U IZ A O D E S U A M A G E S T A D E D E Q U E N O
A U T O H A T R A S S E F A S M E M S A Õ .//.
Eu el Rey ffaço saber haos que este aluará vjrem que semdo cazo que Dom Manoell Pe-
rejra gouernador do Reino de Amgolla fallsa estamdo sjruimdo ho dito carguo arates de jr ha
e la pesoa nomeada por mym ey por bem e meu siruiso que lhe suseda e emtre logo ha siruir
ho djto carguo e gouernamsa com titolo de capitaõ mor ha peçoa q ho dito Dom Manoell
Pereyra nomear armes de seu falesymemto comtamto que naõ seja nem aja sjdo seu criado
porque comfio delle que nesta emleiçao de tamta jmportamsia terá somemte ho rrespeito de
meu siruiso com has comdisõis ha elle díuidas e que colhemdo das pesoas que emtam se acha­
rem no djto distrito de seu gouerno ha que emtemder que he mais apta e tem as partes que
comvem he mamdo hao dito Dom Manoell Perejra que pera cazos hasydemtais que posaõ su-
seder tenha ha dita nomeasaÕ feita e asynada per ele sarrada e jumta ha esta prouizaõ e ha
djta pesoa hasy nomeada por ele seruira ho dito cargo emqoamto hao dito Reino de Amgola
naõ for pesoa nomeada por mym pera ele ou eu nam mandar ho contrairo e ho seruirá com
ho mesmo poder e jurisdisaõ que tenho comsidido ha ho dito Dom Manoell Pereira por minhas
ÀpénJice $1
prouisocs t rrigimeratos que era todo cumprira e primeiro que «mete # fi-v?***
dita gouernamsa preito e menagem na camara do dttfi Remo i* que
sc fará asemta ao liuro delas por ele hasynado de qortWSae_-j®aabrâ fariBOOpà
todos os capitain* do djto Reino e boíyrieàs de juat— i íW^jjpha faflEofc hejllbo* da Jjf*
Camara e ha rodos hos raajs hofisiaes e peço» de qatãqoer ctlidm f l t Mbd.jS qur $?Jpfi
tenhaõ c ajaõ ha djra pesoa que bo djto Dom Manoel! Pereira ba»y /pelfjífc» maflir ÍM r< a n r
/5
por goucraador do djto Reino com ho djto ticoío e lhe ho M cu S m ha jt: h jn Ê é a-
qoamio eu nao prouer ou mamdar ho comtrairo pela maneje* qoa fique dSto * tv-r ijjbn.-
prjra jmteiramemte como nelle se comtem sem embargo de qoaisquer curra* pA^í-Sn j rte-
gimemros por que se de outra forma hos dha djta susesaõ porque por flti Jb hat -y por
derrogadas e ha djta pesoa quebasym nomear se chamara como djtfffie etpítjfmcr do Remo
de Amgola e tera de ordenado qaada ano de minha fazemda qoatrocermos m rea«* que lho
serão pagos na forma que se faria bao dito Dom Manoel! Pereira e ie compara outrtwy
sem embargo de qoaesquer ordenaçoís em comtrairo e da ordenasao db ieg#r.d'»liuro ntolo
coaremta e qoatro e valera como carta c oao pasara pela chancelaria sem embarga das orde­
nações do dito segundo liuro titolos trimta e noue e qoremta Sima6 Luis ho fia «fcáàfioi ha
treze dagosto de mil e seis semtos e ojto e este se pasou per duas vias comprido bõ h» om e
nao havera ifejto eu ho sacretario Amronio Villes deSytnas bo fis escreoerr ho marques de
Castelio Rodrigo: O Comde almjramte: AHuara pera Dom Manoel! Pereira gouernador do
Reyno de Amgolla nomear ha gouernamsa delle em caso que falesa estamdo syniimdo pera
vosa magestade ver.//.
O que todo eu Francisco de Seixas escriuao da Camara tresladey bem e fiellmente sem
•cousa que diuida fasa do liuro grande da Camara haomde todo por mym esta lamsxdo salhro
ho primeyro auto e termo que se não lamsou em liuro e esta de fora e todo fiqua em meu
poder ha que me rreporto em todo e por todo e este vay por vias e ho comsertey com ho ju ís
e ureadores e procurador do Comselho e todos vaÔ haquj hasjnados em Saõ Paulo a viata
tres dabril de mil e seis semtos e omze anos // Francisco de Seixas — Pero de Sousa — Jero*
nimo Corrêa — Álvaro Seremenho — Gaspar Alvres — Domingos Furtado— Luts Dias— Gaspar
de Firas. //,

(No sobrescripto). Auto da Eleição que se tez por morte do Governador Dom Manoel
Pereira e sosesaõ do Capitaô mor Bento Banha Cardoso.
(Arquivo d t T6rrt do Tom bo, Corpo Cronológico, Pm e s.%
M *ço3i9, Oocaneoto 144).

DOCUMENTO N.* 33
PROCESSO DE JUSTIFICAÇÃO DOS ACTOS DE BENTO BANHA
CARDOSO POR VIRTUDE DO SEQUESTRO DE TODOS OS
SEUS BENS, POR TER FEITO DESPESAS SEM AS JUSTIFICAR
E q carta de S. Mag*8 de 2a de Dezembro de 1618.

Vy a consulta do Cons° de minha faz* sobre Bento Banha Cardoso que me inviastes com
Vossa carta de 4 do passado e torna a hir neste desp° e para que eu tome na matéria a Resu-
lução que mais convenha, ordenareis aos provedores Miguel god° e Paulo Aot* de Mattos, que
fação hua Relação com seu pareçer do que montão as despezas ordinárias, e extraordinárias,
que se fizerão no tempo que Bento Banha governou o RM de Angola com distinção de cada
.genero de despeza de por sy, e hü Relatorio assinado por elles dos papeis por onde se manda-
Tão fazer as extraordinárias, e das provisoes perque as tenho prohebido, e tudo có a dita con­
sulta fareis remeter ao Cons° de minha faz1 ordenandolhe que de Vista do Neg* ao meu pá#r
438 Angola
delia, e que com sua R eposta tom e a fazer nova consulta que m e inviareis com V osso pare
cer /. y
Rui dias.

Snnõr.

P er c a rta de 14 de A g o s to passado em R eposta a hfla co n su lta que do desem bargo d o


P a ço se fez sobre a residência que se tom ou a B ento B anha ca rd o so do tem po que servio de*
Capp** d o R eyn o de A n goila m anda V . M a g * (para R esp o n d er a dita C o n s 1*) que p o r este
C on selh o se con su lte a sa tisfa çã o que o d ito B ento banha tem dad o ao d in h " que c o n tra Re­
gim ento se disse q, to m a ra em A n g o ila fa faz* R eal.
E porque o dito Bento banha cardoso tinha feito petição a este Conselho em que alegou
haver vinte e quatro annos q. serve a V. Magd* na Conq1* do R00 de Angola aonde fez muitos
serviços servindo de alferes, Capitão de infantaria, Capp*m mor de guerra, lugar tenente do
Govern0', Capp*® da fortaz* de Cambambe, e Ultimam10 de Govern0' do dito Rn0 que servio
quatro annos e meio com muita satisfação, como convinha ao serviço de V- Mag.d0 não per­
dendo nunca occasioens de guerra nas quaes recebeo muitas feridas e perdeo hum olho e trez
dedos em hua mão, e fez vir a obediência de V. Mag*® em tempo de seu governo mais de oi­
tenta swl sovas muy poderosos e fez de novo hua fortz* em Ango q. he de muita importância
e fez outros muitos serviços na paz e guerra como he notorio sem te o presente ter satisfação
algCa Esperandoa de V. Magd®lhe veio a noticia que por ordem deste Conselho se mandava
carregar em Recepta per lembrç* para se haverem de cobrar deile quarenta e tantos contos de-
rs. q. se diz mandara despender em tres annos de seu governo dos quaes vierão conhecim*®* em
forma ao dito conselho dos feitores de V. Mag41* a quem foy entregue o dito dinh° pellos fei­
tores do Contracto pera despesa da gente de guerra compra de polvora, e moniçoens pera
provim0 da conquista e pagamento de ordenados e ordinárias do Bispo, e clero, Capp,m mor
ouvOTe outros officiaes da faz* e milícia, e outras cousas precisas por não haver outro Rendi-
mt0 nem fa2* no dito R*° pera se poderem fazer as ditas desp-* os quais gastos ordinários e
extraordinários vem a montar hum anno por outro quinze contos de rs. cada anno o que não
deve parecer excesso pois V. Magdo tem provido pella folha que mandou fazer mais de desasete
contos de despesa ordinária cada anno, q. se possa gastar mais no que de novo se offerecer q»
sempre sera muito, E que os gastos que se diz que elle supp16 fez fora dos ordinários forão
muy precisos e necessri°s como forão indo aquelle R n0 a nao Capiana em que vinha da índia
por Capplm mor Luis mendez de Vasconcelos que foy ali aviada e aprestada de todo o necesrio
de que vinha falta em q. ouve muito gasto como se vio pela lista das cousas q. se lhe derão q.
se enviou a este Rno.
E indo mais aly a nao nossa sr* do cabo em que yinha o V iso R ey R u y lourenço de tavora
muy desbaratada por haver pelijado, a aviou do necesrio em q. se gastou hum conto duz1*» e
vinte mil du2l0i vinte e cinco rs. e assy mais lhe deu e na C aravela q. lhe pedio Requereo e
protestou lhe desse pera vir em sua Comp* que se fretou por seiscentos e vinte mil rs. com o
se vio pela lista q. de tudo inviou.
E que indo o anno de i 6 i 3 aquelle Rft0 fernao de munhos Aram bula A lm ir10 da arm ada q.
V . Magde mandou as felipinas arribado em hua C aravella muy m al tratada que não hia pera
fazer viagem a Requerimto do dito A lm ir10 lhe deo hum navio que foy avaliado em quatro mil
e quinhentos cdo* e lhe deu o necesrio em que se gastarão mais oitenta mil rs. fazendo prim"*
p a isso o dito A lm irt0 mt0* protestos e Requerimentos e elle supplicante as deligencias necesria*
com o se ve de pai» autênticos q. presentou.
E por ter cartas e avisos dos Capitaens dos presidios e de outros cap08 e pessoas de expe-
riencia de com o E l R ey de A ngola e outros V assalos seus muy poderosos venhão dar sobre
as feiras pr* as Roubarem , m atarem e captivarem a gente dos portugueses que neílas assistia
que im portava m uitos m il crusados de principal e dru* e por outros m uitos inconvenientes e
R isco q. co rrião os presídios pos o negoceo em parecer do Bp° e mais p** conform e a ordem
de V . Mag*® se assentou q. elle pessoalmente fosse a dita guerra o q. fez e nella foy muy ferida
e aquietou e segurou a terra e feiras e foy orçado o gasto q. na dita jornada fez em dous contos
de rs. com o tudo se vio de hü treslado autentico do auto que sobre a matt* se fez.
E p o r hum V a s s a lo d e E IR e y de C o n g o a n d ar em g u e rra (c o m c o n s e n iifn 1* d o d i t z R t y )
c o m t r a o u tr o V a s s a lo d e V . M a g 4* c o m o s m esm o s p a r e c e r e s se a s s e n to u q u e d e r i .2 fa c e r a
d ita g u e r r a e d cfen d e llo p er a v e r m u ita s co n v en iên cia s d o se n ríço d e V , A fa g * p e r a u w c o m o
se v io p e ilo tre sla d o d o a u to q. d isso se fez e o u v e m u ito g a s to .
E p o r o S o v a N a m b a rg e a g o n o sso im ig o a n d a r c o m g ra n d e p o d e r fo r a d e seu s lim ite * «
te r p assad o o R io D an d e e ben go e e n tra d o p 1** terras d e V . Mag*% c c m o s m e s m o s p a r e c e r e s
se a sse n to u q. c o m m u ita b revid ad e d evia a cu d ir c o o g u e rra ( c o m o fe s) c o m o se r io d u t r is *
la d o d o a u to q. presentou e lista d o g a s to q. n isso o u v e E p e r o G e o tio o a p r o v ín c ia Oacuada
fa ze r m u ito g ra n d es R o u b o s p e r se terem R ebelado» e c a p ti v a r ã o m u ito s escra v o » , se a sse n to u
q . co m o m a io r p o d e r q. p o d esse a cu d isse a rem ed ia r o s d a n o s q. Cazíão e ver se p o d ia R e c u ­
p e ra r o q. se tinha p erd id o p er ser o g en tio de n a tu re z a q . se lh e d issim u lfio h u a ee d esm a ad ffo
de raanr* que d espois se n áo p o d e R em ed iar facilm*® c o m o se v io p e ilo tre sla d o d o a u to q . d is s o
se fez e ja o u v e hum eleva n ta m en to g eral n aq u elle e s ta d o c a u s a d o p e ilo m esm o g e n tio qu e o
p o s em m u ito R is c o . E estan d o pel Ia terra d entro p ro p o s se se R e c o lh e r ía a lo a o d a e se a s ­
se n to u q. co n v in h a ao se rv iço d e V . Mag** e bem daqueU e E s ta d o fa z e r g u e r r a a o s im ígo» co m o
tam bém se vio p eilo tre slad o d o a u to q. d isso se fez.
E indo bum L a d r ã o olandes porse e m p o sto on d e n ã o p o d íS o e n tr a r n a v io s p e r a o p o r to
d e L o a n d a nem sair arm ou rres navios em q. se e m b a rc o u p c s so a lm e n te e o fe z fu g ir sem
to rn a r a ly m a is co m o a v iso u a V . M ag4*. E q. fez a forta* de A o g o c o m o se r e fe re em q . tam ­
bém se fez g a sto e em q. V . M ag4" despacha p** ben em erítas p o r Capp**^eIJa E h e d e im p o r­
tâ n c ia , E que fe z o u tras m u itas cou sas d o se rv iço de V . M ag4* d e qu e aq u i n áo R e la ta q. tu d o
R esu lto u em aum en to daquelle RB* e q u ietação delie p o r fa ze r v ir D e n o vo a o b ed iê n cia e v a s ­
sa la g em de V . M ag4®m ais de oiten ta so vas E te r as feira s quietas e segu ras co m o se v io d e
h u m estrm 1® q. preseutou.
C h e g o u m a is em seu te m p o a q u e lle R*® a n a o C a p i t a em q . v in h a d a Ín d ia D o m M a n o e l
c o m in h o o a n n o d e 6 t$ q. a v io u d o neces^o a se u R e q u e rim 1* e ih e d e u h u a C a ra v e U a p e r a v ir
e m s u a c o m p * , E a s s y a n a o s ã o P h e lip p e d a s u a com p * q . v in h a fa lta e d e sb a ra ta d a , E a ssy
p r o v e o a g e n te p e rd id a n a o S . B o a v e n tu r a em q . se g a s ta r ã o tres c o n t o s se te ce n to s tr in ta e
) d o u s m il q u in h e n to s e tr in ta rs. c o m o se v io p e lla s lista s q . E m v ío u .
E q u e n ão se d e v e p re su m ir d e ile q u e fa r ia g a s t a r m d evtd am '* a fa z* d e V . M a g 4* p o is f o y
n is so tã o lim it a d o q u e p e lla p o u p a r ta n to q u e en tro u n o g o v e r n o d a q u e lle R** e x t in g u io , e
t ir o u m u ita s p r a ç a s q. e m p o r ta v ã o c a d a a n n o o ito c e n to s m il rs. e d e ix o u d e f a z e r m u ito s
g a s t o s te n d o m u y fo r m o s a s o c c a s io e n s p® isso c o m o se v io p e r e s ir o m 1“ ' q- p r e s e n t o u .
E p o rq . d a s d ilig e n c ia s q u e c o m e lle se m a n d a va fa z e r p o d ia r e s u lr a r s o m e n t e f i c a r e ile
supp*® m o le s ta d o e d e s a c re d ita d o te n d o b em servid o , e p e rd e n d o o n o m e q u e g a n h o u n o s e r ­
v iç o d e V . M a g * a c u s ta d e seu sa n g u e, e p e rd e rse sua faz* q. p e r R e z S s e r e s to q . lh e e s t a v a
f e it o se h a v ia d em e n u ir e p e rd e r p o r serem n egro s q. m o rre m e fo g e m , E a s d i t a s q u a n tia s se
d e sp e n d e rã o em s e r v iç o d e V . M a g4®p e r m ã o d e seu s fe ito re s e p a g a d o r e s to m a d a s p e r a is s o
d a m ã o d o s fe ito re s d o C o n tr a ta d o r D u a rte d ias h en riq u ez c o m h e e s tilo e s u p o s to q u e p* d a ­
re m as d ita s faz** sã o p re to s e c o n s tra n g id o s o s feito re s d o c o n t r a c to h e p o r a s n ã o q u e r e r e m
X d a r d e o u tr a m an* a R e sp 1» d e m o srra rem q . a s n ão d ã o e lh a s to m a o p» c o m is s o s e lh e l e v a ­
rem em c o n ta c o m m a is fa c e lid a d e e isto fa z e m q u er s e ja p* c o u s a s o r d in 5** q u e r e x tr a o r d in ” **
sem que se n ã o p o d em a q u e la s p w* su ste n ta r n em d efen d er d o s im ig o s em q u e d e o r d in á r io h a
a le v a n ta m e n to s a q u e he fo r ç a d o a c u d ir c o m b re v id a d e e a ta lh a d o s p o r q u e se n ã o a t r e v ã o a
m a y o r e s cornetim*®*. P e d in d o a V . M ag4® que h a v e n d o Resp** a o A le g a d o e a d ita faz* e d in h ”
s e r bem d esp en d id o e em seu s e r v iç o e p o r m ã o d e seu s fe ito r e s e e líe su p p 1* sa ir d o s e r v iç o
a le ija d o e c e g o , E c o m m u ita s In ferm id a d es e m u ito p o b r e p o r n e lie g a s ta r su a fa z* e s a u d e
lh e m a n d o u le v a n ta r o d ito s e c r e s to e q. se lh e n ão fa ç a m o lé s tia a lg u ã p o r q . s e r a t o t a l p e r d a
e d e stru iç ã o d a d ita su a faz* se c re sta d a e se ir a d em en u in d o p o r s e r e m e s c r a v o s e a s p** e m
c u jo p o d e r estã o n ã o p o ssu írem b en s d e R a iz p o r o s n ã o h a v e re m em A n g o la e c a m b e m p o d e ­
r ã o m o r r e r a s d ita s p** p o r a te rra se r d o e n tia e a c a b a r s e tu d o facilm ** c o m o se te m v is t o em
o u t r o s sem elh an tes.
E d a n d o se v is ta d a p e tiç ã o R e la ta d a e p a p e is q. a c u s a a o p r o c u r a d o r d a faz» d e V . M a g 4*
a seu R e q u e rim 1» se m a n d o u a o T h ro d a c a s a d a ín d ia em c u jo p o d e r e s ta a p r o v is ã o e p a p e is
p o r o n d e se fez o d ito se c re sto p a ssa sse C e rtid ã o d o q u e em su sta n c ia d e lle s c o n s ta s s e a o q .

É
440 Angola
satisfez dizendo que vira os Conhecimentos em forma que a provisão q. se passou a Dr1* dias
ncusa c que consta déliés e dos papeis que per mandado do dito Bento banha se tomarão ao
feitor do C ontrat8' Dr18 dias henriquez quarenta e cinco contos oitocentos trinta e quatro mil
cento sessenta e très rs. q. se carregarão em Receita sobre o feitor de V.M ag*8 fran88de lemos
pr1 desp* das contas conteudas na dita provisão.
E tornando ao dito procurador da faz1 per ultim a Reposta disse q. fazendose orçamento
dos gastos ordinários da conq11 daquelle R80 e tirados a parte o que provavelmente mais se
podia gastar dando o supp1®a fiança que parecer se lhe levante o secresto de seus bens atento
^ que a dita faz1 de A ngola a principal consiste em negros que fogem e morrera e fazem gastos
E assy com o secresto estar feito não recebe proveito a faz1 de V . Mag1*1 Pelio que
Se deu despacho neste Conselho que vista a petição do suppte e Repostas do procurador
da fazft de V . Mag*1 E os papeis q. presentou per q. consta como ao T h ro da casa da índia es*
tavão carregados em Recapta por lembrança quarenta e cinco contos oitocentos trinta e quatro
m il cento e sessenta e cinco rs. pr1 os haver de cobrar do suppw por se entender q. fizera
m uitas despesas contra forma do Regimento e alem da despesa ordinaria do RB® de Angola;
E lle gastou menos da despesa da folha que importa de dezasseis contos sessenta e sete mil seis
centos sessenta e cinco rs. E os ditos quarenta e cinco contos oitocentos e trinta e quatro mil
e tantos estarem carregados em Recepta ao feitor de V . Magál daquelle RB0 pera haver de dar
delles conta se faça provisão pera se levantar ao Thf0 da casa da India a dita Recepta per
lembrança e q. se levante o secresto que per esse Resp1®se mandou fazer na faz* do dito Bento
banha Cardoso dando elle fiança de quantia de dous mil crusados pera por elles se pagarem
alguas despesas se na conta do feitor em que esta carregada a dita quantia constar que forão
feitas per seus mandados contra forma do Regimento e sua obrigação p* com isso ficar a faz1
real mais segura.
E assy Pareceo ao Conselho que a despesa do dito R"* de que na carta Relatada de V. Mag*8
se faz m enção se fez em cousas precisas e Urgentes do serviço de V. Magdl de q. se lhe da
co n ta pr1 m andar o q. for servido em l1 a 3 i de Outubro de 1616.

A L u is da L u is M l Calda de
S ilv a P ra B rito
(Biblioteca Nacional. SecçSo Ultramarina. Papéis ds Angola).

DOCUMENTO N.° 34

P R O V I S Ã O D A D A P O R D . F E L I P E II, D A T A D A D E 1 4 D E F E ­
V E R E I R O D E i 6 i 5 , M A N D A N D O S E P A R A R O R E IN O D E B E N ­
G U E L A D O G O V E R N O D E A N G O L A , F O R M A N D O A S S IM U M
NOVO GOVERNO
E u ÉI-Rei faço saber aos que esta Provisão virem, que sendo eu informado quanto convem
ao serviço de Deus e meu, pôr-se em ordem a conquista das Províncias do Reino, que chamam
de Benguela, que corre com a costa de Angola, assim pela salvação das almas dos idolatras,
que as habirão, entre os quaes eu desejo muito que se prante a Fé Catholica, conforme a minha
p articu la r obrigação, com o por os proveitos que dos fructos d’aque!las terras podem resultar
á minha Fazenda, e ás dos meus Vassalos desta Coroa, que tanto tem trabalhado no desco­
brim ento delias.
E vendo com o seria mui difiicultoso effeítuar-se e sustentar-se esta conquista, não estando
separada do Governo de Angola, por o que a experiencía tem mostrado do pouco que poderão
o b ra r nella os que o tiverão a seu cargo, a respeito do muito que sempre tiverão que fazer no
co m ercio e quietação dos Sovas mais visinhos a Loanda.
E considerando, por todos estes respeitos, e outros muitos, de muita importância, que me
i
t

■: f 'í ! t

fm*

Apêndice 441

são presentes, em que também o i dever de prevenir aotwrebeMes e piratas herei«, yiept-âcr»0
introduzir na gente sem luz das ditas Províncias « perversidade da soa « «*, d v - f f l * eíh
quem lhe ensine a verdade da Religião Christl, quanto irnporu que, sem nenhjma dtlayão, e
com todo o calor, se assista a negocio de tanta qualidade, e tio digno da j-yrd & i da nwsht
4
Corôa, e do animo com que eu quereria que sempre e acudisse a semelhante» empresa».'
Dc meu poder Real e absoluto, me praz, e hei por bem, de separar, oooo de /cito stparv.
por esta presente Provisão, a Capitania, Conquista e Governo das Proviocias Jv Jitu #€=?,-,d ;
Benguella, e de todas as mais terras que jazem até o Cabo da Bòa Esperança, do Av
de cujo dbuicio até agora eram, oa forma em que o Senhor Rei Dom Henrique, mc, I ..
que haja Gloria, separou do Governo de S. Thoraé o dito Reino dr Ang-ix,— e pur .. f
erijo e ao doto Reino, em novo Governo, para que de hoje em diante teshim separada
dição e Governador, que conquiste, e sustente em paz, quietação e justiça, ao» pon.sd ,-c*
assim destas panes, que áquellas forem viver, como aos naturaes delias,— a qual, e « u m j •,
mais ministros necessários, para viverem em forma, política e ordenadamente, conforme as
minhas leis, lhes mandei nomear, por minhas Patentes, das qualidades que convem, para se
poder delias bar a erecção e conservação do dito Governo.
E mando ao Governador de Aogoia, que ora ê, e ao depois fór, que em oenhnnss ès 4
cousas tocantes á jurisdição do dito Governo do Reino de Bengudla, e mais terras aesu de*
claradas, não vão, nem usem da que até agora tiverlo nelle, desde o dia que o traslado desta
minha Provisão auihentica se lhe presentar diante: porque assim é minha merce.
A qual se registará nos Livros da Contadoria e Camara de Loan*t, e nas mais daquella
Conquista, onde pertencer, e neste Reino nos de minha Fazenda e Chancellarta e nos demais
meus Tribunaes, par? que venha á noticia de todos a erecção deste Governo — e orígtnalme&te
se entregará na Torre do Tombo, para nelle sc conservar, e saber a todo o tempo os funda­
mentos que tive na dita erecçao— para o que tudo valerá como Carta começada em meu
nome, e por mim assign&da e passada por minha Chanceilaría, posto que seu effeito haja de
durar mais de um anno, sem embargo das Ordenações que o contrario dispõem.
Pedro Varelta a fez, em Lisboa, a 14 de Fevereiro de i t . 65
Chrisiovão Soares a fez escrever. R ei.
(Arquivo Nacioati da Tdrte do Tombo, Choscelorsa J t F dipt II,
Uvro Ui de Leis, foi tã. EaU também publicada oa CoUeccâo
Chronologíca 4a Legislação Portuguesa, por José fatiou de
Andrade e Sitva, no a.* tòmo, anoa de t6i$*l6i9> a ptgv u * 5

DOCUMENTO N.° 35
Terlado de sertos asentos q. estamnos livros de Registo das mercês q. fez EIRey dom
feiipe 0 segundo que Ds. tem no titulo Dom Gonçalo Couünbo do Cooçelho de S. Mag.4*
Alvara nomeando D. Gonçalo Couttnho do seu Conçelho governador de Angola, com oi­
63
tocentos mil reis de ordenado. iS de abril de i i . Neste assento esta uma verba que diz que
63
houve provisão de 29 ab. i i p* na casa da Índia lhe pagarem mil cruzados adiantados á
conta do ord, apesar da ordem que havia p* não se darem adiantamentos.
Mandou-lhe abonar 6oo$ooo reis de ajuda de custo por uma vez, pagos em Angola pelo
63
feitor. 24 ab. i i . Atendendo aos serviços do D. Gonçalo Cominho fez-lhe merçè de se não
cobrar o conto de rs. que recebeu da faz», qi# estava nomeado gov. de Angola, cujo cargo
não foi servir. E que os 6oo$ooo que á conta do dito como de rs. lhe pagou 0 contratador
sejão levados na despesa do m° contratador. 24 de julho 1623.
(Biblioteca Nacional. Secçlo Ultramarina. Documentos d e o gcia . lõ n ) .

56
442 Angola
DOCUMENTO N.° 36
REGIMENTO DOS GOVERNADORES DE ANGOLA
i* Eu El Rey faço saber a vos Francisco Corrêa da Silva (riscado e por cima «Dom G.o
Couto do meu Cons**) q hora tenho encarregado do carguo de meu capitão e governador do
Reyno de Angola q. eu ey por bem que guardeis o Regimento seguinte:
2. Tanto que embora chegardes ao porto dc Sam Paulo de Loanda presentareis a pattente
que vos mandei passar da dita governança, e provisão, e carta para vos entregue a Bento
banha Cardoso que nella foi elleito por falecim10 do Governador Dom Manoel Pereira, ou a
pessoa q. nella estiver e lhe requerereis vola entregue loguo como fará, da qual entregua se
farão autos na forma da mesma provisão.
3. Tanto que vos for entregue a dita governança vos informareis pessoalmente da pessoa
que a servia e de capitães e mais pessoas que o bem entenderem da gente q. anda naquelie
Reyno e Conquista, declarando os que recebem soldo e os q. o não recebem, e em q. lugares
está alojada e o estado em q. estão todas as cousas, que Armas, Artelharia, polvora, e moni-
ções ha em todo elle, os Sovas q. estão a minha obediência e de paz, e os q. o náo estão e
estão de guerra, o procedim*0 delles e de El Rey de Angola e mais Reys daquellas partes, e
com quf se tem guerra e o estado delia e da terra de q. fareis hua Rellação autentica cõ todas
as declarações necessárias em q. assinareis com a tal pessoa que estiver na governança e mais
capitaSs e pessoas q. vos parecer e nella declarareis também por declaração particular agente,
polvora, Armas e mais cousas que com vosco levasses e me enviareis por vias o treslado da
dita Rellação derigida ao Cons0 da índia ficando em vosso poder a própria a bom recado para
quando embora vierdes a trazerdes com outra Rellação do estado em que entregardes aquelle
Reino a quem vos sucçeder e espero de vos q. seja tão aventejada como vos obriga a m.1*
confiança com q. a ella vos envio e a artelharia e monições que faltarem e a q. se não der bom
descargo na conta que de tudo mandareis tomar fareis vir a boa arrecadação com effeito e
ordenareis ao feitor ou Almox0 sobre quem carregar a receita e despesa da polvora e moni-
çoes q. em hum anno envie ao meu Cons,0 da índia e terras ultramarinas certidão autenticado
q. recebeo e despendeo das ditas cousas.
4 . E porque o meu principal intento e dos snors Reys meus predeçessores he e foi sempre

nas conquistas que mandamos fazer plantar e augmentar a fee de nosso snõr Ihü christo e q.
as gentes delias venhão em conhecimto de seu santo nome q. tanto q. chegardes ao dito Reyno
de Angola vos informareis muy particularmente de tudo o q. nesta matéria se tem feito, que
Sovas forao baptisados, q, egreijas se fizerão e estão feitas em suas terras, q. ordem se teve e
tem cÕ elles para serõ instruídos na doutrina christan e preçeitos de nossa santa fee e se con­
servarem e irem em augmento nella e se permanecem nella.
E procurareis tudo o que vos fôr possível q. em todas as prouvincias do dito Reyno se
dilate e promulgue o sagrado evangelho e me avisareis do estado em q. tudo isto esta do q.
vos pareçer necess® para se conseguir o fim deste intento E assy me avisareis se a egreija
matris está repairada e provida das cousas necessárias p* se administrar o culto divino com a
desçencia q. convem, e os de q. te necessidade, e donde se devem prover, a renda que p* isso
tem e vos ey muy partícularm16 per encomendado q. cõ o Bispo, Relligiosos e pessoas, eccle-
siasticas tenhaes toda a boa, e devida correspondençia e os ajudeis e favoreçaes no q. necess0
para milhor poderem cumprir cõ suas obrigações.
5 . Sou informado q. muitos gentios daquellas partes sem tere em suas terras saçerdotes
nem que os persuada movidos de sua bõa naturesa ou tocados do spirito Santo vão onde sa­
bem q. ha saçerdotes pedir lhe o baptismo tão desejosos de o receberem q. levão dadivas e
presentes aos saçerdotes, os quaes os baptisão sem antes nem despois os cathechizarem ne
doutrinare, e baptisados se tornão p.* suas terras sem saberem mais delles nê elles procurarem
mais o que lhes he necess0 para sua salvação, e he de crer q. o m.t0 descuido q. nisto ouve foi
a causa do pouco effeito q. se conseguio do m*° gasto e cabedal q. nesta empreza de tanto ser­
viço de Deos e meu se té metido, pelio que me informareis particuUarm.** do q. em todas estas
cousas passa sem ter resp® a nenhfias pessoas q. nisto tenhão culpa e do remedio com q. a
Apêndice 443

isto sc poderá tcodir e emquanto vos nío for ordem imsrf» do q c w > . jv cr por ív; res
procurareis quanto vos for possível q. as díu * cousas « c se í*çi nc.íâs o 4.«
convc ao serviço de Deos e mea.
6 . E porque por jusias considerações <le asm iw fíço tenho ttundxi >cessar a cr-~ r; s u , e
descobrim.** das minas de Prana q, se desí* haver naqttríic^si», «j q. se &3o sr«*.- dJU« ta
forma q. sc faria Vos mando 0 cumpraes assy, e trateis de o fg o v e rw , ee> p.«, e í í «»s** d.--
fendeudoo dos lmigos assy natoraes como de for# q iatentvrf tnfestalo conserven.*;» o ÇU>:^cr-
çío, e Resgate amigo da terra, e em bem e augmc&io dc mwrfw Ux* e prove:tr> i rsris vsj*
salJos c sobre as minas procedereis como adiante se declara.
7. Toda a gente que na terra ouver q nâo receber lofifõ de rainha Ux** h r ia a fctjr, e
que daotre elles se elejaõ capitais e officiaes de companhias q> fareis c'ir;f »rrr.e *
delia, e os obrigareis a ter sua Armas e a saircra as companhias em ofíenança ac* tv.;r %
e dias santos e íazerS exercício militar como se costuma a farer nesta çiJzie de Lix* **73 o s

q. não recebem soído, e estarem prestes p.ira defender a terra, cm fj vivem sem pc.:íç-<;~. *t r
obrigados a ir as guerras quepelía terra dentro se fizerem, porque o Ey 357-r por me&
por ter entendido q. alguns Goucm*’1comra justiça e rezâo por seus panicuforea obri^Oo
aos mercadores, moradores, e offiçiaes mecânicos da terra a yr a dia*-**»;«odj a í*<o "br/*
gação por não ser gente de pagua, e soldo, de modo q sò os q. o reçeberí poderão 3 Uso s*r
obrigados, e havendo na terra alguns homens nobres e honrados q. sirráo nas guerf^sj-e aroaw
panhe os Governadores á sua ppria custa (como entendo que ha m***) arisa»** dcí-q «ssy
0 fizerS, e me alembrareis seus serviços para lhe mandar fazer a» merçes e henrras qa>nere-
cerem.
8. Sendo eu informado que Paulos Dies de novaes despots da morre de jorge da silva &
com quem estava conçeriado para lhe dar 0 cabedal e cousas neçessarias para a conquista
dava os Sovas aos portugueses q. com die andavao p* defies cobrar« como cohrjtxãd p,* sy oa
tributos que pagaváo a El Rey de Angola por naõ ter outro remedio de lhe pagar seus soldos
e mantim10* de q. resultava receberem os ditos Sovas muitas extroções e moléstias e veremse
cativos das taes pessoas contra justiça e Direito e contra 0 que convinha ao serviço de D.* e
meu, e ao bem e quietação da terra merecendo ser tratados com 0 favor e liberdade como
pessoas a que se devia virem se fazer meus vassallos de sua livre vontade, mandey passar pro­
visão per q. mandey q. não podessem ser dados pelos capitaes e Governadores nem entregues
por vassallos criados, ou tributários a nenhüa pessoa e q. se revogassem semelhantes Doaçocs
q estiverê feitas por Pauilo dias, Luís serrão e quaesquer outros Governadores, e ao O." Dom
Manuel pereira mandey dar por Regim1* fisesse publicar e cumprir a dita provisão e qae os
Sovas ficassem somente sogeitos a mioha faz* arrecadando se para ella os tributos q. costuma-
vaõ pagar, para do procedido delles se fazer pagamto aos soldados ordenando como 0 meu
feitor os recolhesse para ella e se carregasse sobre elle em reçeita pelo escrivão do seu cargo
que seria obrigado a assentar no livro da mesma reçeita em titulo apartado (que serviria como
de reçeita per lembrança) todos os Sovas que estivesse a minha obediência, e ao deaote a ella
viessem posto q estívess? dados a pessoas particulares por qualquer via q fosse por as haver i
por revogadas; O q. vos mando saibaeso q nisto se fez e não sendo publicada a dita provisaÕ -1
referida a façaes publicar e cumprir inteiram1* com 0 q. assy pela dita raanr#mandey ao dito
govern0' dom Manuel pereira, e que por nenhü caso deis nem repartaes os taes tributos nem
cousa alguma outra semelhante, e quem contra isto pretender algum direito o poderá requerer
no tribunal da Índia e terras ultramarinas, porque naõ ha sova q de presente esteia sogeito
nem pague tributo algGa my nem a outra pessoa a que fossemdados, e emlhe ser hora por my
criada a aução q nelles possão ter nenhü aggravo ne injustiça receberem.
9. Com El Rey de Angola trabalhareis todo 0 possível por ter pas e amisade e ver se o
podeis trazer a minha obedtençia tratando em prim.*0lugar q. conçeda pregar se nossa santa
fee em seu Reyno, e 0 mesmo fareis por trazer a minha obedtençia todos os Sovas por mejos !
brandos suaves, e sem rigor, e dando elles licença á pregação os não obrigareis a me sere tri»
butarios senão quando elles per sy se offereçerera a 0 ser, por eu os mandar defender e ampa­ j
rar (como vassallos a q. a isso sou obrigado) por ter entendido que por este caminho não
ficará nenhum que 0 não venha a ser, e q negando se lhe este favor, e ajuda com a razão de
se lhe não poder dar por não serem vassallos só por isso 0 serão, e aos que 0 forem se lhe

w :|fr s
444 Angola
p o d e r á d a r s e m e s c r u p o l o , c a c o n t e ç e n d o p e d i r e m a ju d a o s d e h u S , e o u t r a p a r t e o f f e r e ç e n d o
s e p o r is s o a s e r e m m e u s v a s s a l l o s o s r e c e b e r e is a h u n s e o u t r o s c v o s m e t e r e i s d e p o r m e y o
a c o n c e r t a ilo s p o n d o d a v o s s a p a r t e tu d o o q u e f ô r p o s s ív e l c n e ç e s s a r io p* q u e fiq u e m em
p a z a m i g o s e v a s s a l l o s m e u s , e e s t e h a d e s e r o p r e ç o p o r q u e s e lh e s h a d e d a r o f a v o r e n ã o
o in t e r e s s e q . e l l e s p o r is s o o f f e r e ç e m e s e lh e a ç e i t a a ju d a n d o o s s e m f i c a r e m v a s s a llo s ,
io . E s t a n d o M a n u e l s e r v « p e r e ir a n a g o v e r n a n ç a do d it o R eyno m e a v is o u q u e n a e x p e -
r ie n ç ia q . f e z e m C a m b a m b e p a r a s e s a b e r s e a v ia a l y P r a t a ach a ra não a h aver P o rem q as
p a r t e s e m q s e m p r e s e e n t e n d e o q a a v ia s a õ C a b a ç a q . h e a Ç i d a d e d e o n d e E l R e y d e A n g o l a
r e s id e , C a m b i l l o , A m g o l a , C a b a n g a e A n d a d a m o q u i l l a q u e s ã o p a r t e s q n ã o f o r ã o t r a t a d a s d e
m eu s v a s s a llo s o n d e se n ã o p o d e r á yr p o r h ora fa z e r e x p e r ie n ç ia c o m g e n te d e g u e rra , V o s
e n c o m e n d o q p o r to d o s o s o u tr o s m e y o s que v o s fo r e m p o s s ív e is t r a b a lh e is p o r a lc a n ç a r a
v e r d a d e d is to , e d o q. c o m m a is c e r t e s a m e a v is a r e is .
u . E p o r q u e ta m b é m s o u in fo r m a d o q no R eyn o d e A n g o la h a m in a s d e m u it a c o u s a
a s s a b e r c o b r e , f e r r o , A ç o , c h u m b o , B r e u e o u t r o s m a t e r ia e s i n f o r m a r e i s d a v e r d a d e d is s o m u y
p a r ú c u l a r m 1* e o s l u g a r e s e m q e s ta Õ e a c o m m o d i d a d e q u e p o d e r h a v e r p " s e p o d e r a p r o v e i t a r
d e l i a s e s e s e r ã o d e p r o v e i t o t r a t a r e s e d e a s b e n e f ic ia r o u a lg u ã s d e lia s e a v is a r e is d o q. ach a r­
q e n te n d e rd e s o p o d e m d a r.
d es c o m v o s s o p a rec er e das pessoas
12. As minas do sal que ha naquelle Reyno de Angola se tem entendido serem de muita
importançia para o ter sogeito, e ainda q, hoje não havera a quantidade de gente de guerra
que será neçesssaria pO hir a ellas, e p." lhe poder deixar de Presidio a q. conve todavia vos
encarreguo q offereçendo vos o tempo ocasíaõ para as pordes debaixo de minha obediençia a
não percaes.
13. Sabereis de todas as terras que são dadas e quem as deu e que poder tinha para isso
e quem as possue, porque sou informado que forão dadas alguas a pessoas para edificarem, e
o não tem feito, sendo passado o tpo em q o haviaõ de lazer, e estão devolutos, o q he causa
de a povoaçao se nao ampliar, e em nobrecer, e achando alguas terras desta qualidade prove­
reis nisto como vos pareçer, e as q. não tiverem dono repartereis pellas pessoas benemeritas
com obrigação de as cultivare e aproveitarem dentro em sinco annos e averem confirmação
minha, e não as aproveitando dentro do dito tempo, ou não avendo minha confirmação as
avereis por vagas, e as podereis dar a outras p0i com as mesmas condições e delias pagarão
somente o Dizimo a Deus.
14. Por ter informação que não avia naquelle Reyno casa de feitoria em que se podesse
recolher minha faz* mandey ao Governador Dom Manuel pereira em seu Regimento q tanto q
a elle chegasse posesse por obra fazerse na melhor parte da praya que para isso ouvesse in­
formando se se siria melhor fazer se na Ilha da luanda e avendo para isso inconvenientes mo
avisasse Pello q sabereis o q. nisto ha e não estando feita a dita casa a fareis da mesma tnanr*
q. tinha encarregado ao dito govern." Dom Manuel pr.a
15. Por não haver na povoação de sam Paulo casas de Camara, cadea e asougue e serem
estas obras tão neçessarias como se deixa entender mandey por minha carta de vinte de março
de seiscentos e nove ao governador Don Manuel pereira q. com o ouvidor tratasse com a
Camr* e alguãs pessoas do povo q viessem em se fintarem p* se averem de fazer ou em se por
em cada peça mais dous tostoís por saca fazendo se hu tesoureiro, e escrivão para a carga, e
descarga do tal dinheiro, e çessar acabada a obra, com a qual despois de arrematada ficaria
correndo o Ouvidor e com os pagamentos q. se ouvesse de fazer levando se em conta por
seus mandados a despesa q se fizer, e por que para este effeito se assentou 0 direito de dous
tostõis por peça que como sou informado he de muito rendimto, sabereis o q nisto esta feito e
tomareis conta da receita e despesa de todo o dito rendim10. Estando estas obras acabadas fa­
reis q cesse para ellas conforme a minha carta e avisarmeeis de tudo.
16. E porque convem muito a meu serviço para forteficação daquella povoação e Reyno
por a não ter acabar se o iorte que no porto de sam Paulo começou a fazer Joto furtado de
mendonça do meu cons.0 sendo aly governador, Vos mando ordeneis que o dito forte se acabe
com toda a brevidade possível, e q dentro delle se fação casas para vivenda dos governadores
e para a despesa das obras poreis de dr°J en cada peça de escravo dos q daquelle porto se tirão
os mesmos dous tostoís que o dito governador Joaõ furtado pos e q se pagavão para as obras
das casas da Catnr* cadea, e asougue para que já se deve ter tirado quantidade bastante, e ces-
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sado em se tirarem como o mande? pella carta referida m capitoio i t m á e a t i P q i k m


dos direitos ordinários soomeme se bío de pagar mai» dou* tostoií, e para e reçeíu e deapeu
delles havera tesoureiro e escrivlo particular na forma q ordenei os oure*K p* as o b r a da
Camara, cadea e asougue, e as despesas delle se levarão em coou pormttdadoí assmaicw
por vds, c se não meterá nunqua cm minha faz* o Rendimento do dito direito, o qo*l çemrá
tamo que estiver tirado quantidade bastante para as obras do dito forte, e casas que nelle se
hlo de fazer para vivenda dos governadores se acabarem em sua perfeição para ai quais os
moradores ajudarão ao serviço por dias com seus escravos* e espero q assy para as duas obras
se acabarc cora brevidade como em tudo o mais procedereis conforme a confiança q de vós
tenho e emquaoto no dito forte não ouver casas p* vossa vivenda se vos pagarão de mjohx
faz" en cada hu anno quarenta mil rs para aluguer das em que viverdes conforme a pror»s»6 q.
disso vos mandey passar.
(7. Sou informado que a lagoa dos Alifames he de muita írnportaoçia para o povo, Pello
q ordenareis que emseu conserto e repairo se tenha muito cuidado para q. esteia estanque e
se possão aproveitar delia.
18. Sabereis se tem 0 Cons* as serventias e logradouros neçess** e capazes ou se estão to­
mados, ou occupados emp1* ou em todo por algSs particulares, o q. sendo assy fareis logo
largar e restituir não respeitando sd ao q. boie he neçess* senão ao q. ao deante poderá ser.
19. E por que na repartição dos Chãos q. se fez no destrito da Loanda p.* os moradores
se agasalharem* se derão em tanta quantidade a alguãs pessoas q. não ^ofiquaráo bemagasa­
lhados mas fizeraõ casas que alugao a pessoas que despots foraõ povoar, e ser moradores sem
ter respeito a deixarem que dar aos q. de novo foraõ e ao deante iram, vos encomeado que
nos sítios que não estiverem edefficados em forma de se poderem habitar proveiaes de man*
que aos q. as tivere fique a parte que lhes fôr neçessaria para sua habitação, pondo lhe termo
de tres annos p1 edefficaremnelies, e 0 mais repartais peilos moradores que na terra forem
mais antigos* com obrigação de o fazeremno dito termo de tres annos, alias os perderem, e
no q. ao deante repartirdes tereis 0 mesmo resp(0e consideraçam e nas povoações q. sc fize­
rem de novo guardareis na repartição dos sitios paracasas, e terras para se cultivarem a ordem
sobre dita, deixando sempre espaços logradouros, e serventias do conselho e enuy acomodados
sitios para as obras publicas delles.
20. Também sou informado da pouca coriosidade q. os moradores tê de se aproveitarem
do que a terra dá e poderá dar sendo cultivada pois deixao perder o muito Algodão q. aella
ha e o muito q. haveria sendo sameado, e fazendose lhe o beneficio neçess* como se faz no
Brasil, e outras partes, e sendo assy q. ao longo do Rio Bengo e da Coansa e outros lugares ha
muitas Canas de Àçuqar q. a naturesa cria semse platarê por onde claramente se entende o
que seria plantandosse e fazendo lhe os adubios neçess** Pello que trabalhareis por os prejuadir
a que venhão nisto prometendo lhe de minha parte mayores privilégios e favores dos que se
dão aos do Brasil que novam18fazemengenhos, e alemdos q. se a todos geralmente conçede-
rem ao prim° que nesse Reyno 0 ordenar se lhe farão, e darão com muito mayor vantagem
assy ao segundo e terçeiro.
21. E por que tambémsou informado que ha naquelle Reyno muitas desordens nos Res­
gates das peças, e que he a principal ocasiaõ irem homens brancos ás feiras resgatar, e man­
darem os seus negros aos caminhos atravesar as peças que vempara elles de que redunda
grande prejuízo ao bem commü, e ao serviço de Ds e meu, e he muita causa de se levantarem
as feiras, e as não haver e cresçer 0 preço das peças, e mingoar a quantidade das q. se costu­
mava embarcar, Pello que vos encomendo que pois os mercadores negros q. trazem as peças a
render ás feiras com facilidade e pouco interesse se mudão de hüns lugares a outros q. nisso
mandeis ter a advertência neçessaria assy a se fazerem nas partes mais acomodadas para se
poder prover nas extroçois e mais offiçios que se nellas fizerem como para os escravos e fazM
estarem com mais segurança, e de todo defendereis que não vão brancos ás feiras, e se façao
os Resgates nellas, e não emoutras nenhüas partes nê aja nas ditas feiras homens brancos
ajnda que seja com proiexto de guardar justiça-e meter em ordem.
aa. E por que tenho entendido que se apartando 0 Reyno do Congo do de Angola pello
rio de Adê e q. do dito Reyno para a parte de Angola se faz snõr El Rey de Congo e de todos
os Sovas que aly vivem semlhe pertençer de que nasce as queixas q. dos governadores injus-
446 Angola
t e m e n t e fo r m a d c r e p a r t ir e m a s t e r r a s p e l l o s m o r a d o r e s d e A n g o l a V o s e n c o m e n d o q u e s a ib a e s
d a s p r o v is o e s q u e E l R e y D o m Á lv a r o seu p a y p a ss o u em te m p o de P a u lo s d ia s d e n o v a e s , e

D o a ç ã o a o s R e y s m eu s a n te ç e s s o re s p a ra por e lla s se e n te n d e r a ju r is d iç ã o de cada R eyno


q u e m e d is S que na fe ito r ia s e a c h a r ã o a lg u ã s p r o v is o e s d o d ito R e y D o m Á lv a r o q u e tra ta õ

e s ta m a t é r ia , e a d e c la r ã o , e a s s y t a m b é m q u e n a G a m a r a d e s s a ç id a d e se a c h a 5 p r o v is õ e s , o u

p r o v is ã o e m q u e e s tá d o t a d a a ilh a de Loanda e a p e s c a r ia d e lia , o u p a r t e d is s o p a ra paga­

m e n to dos m eu s s o ld a d o s , d iz e n d o n e lla o d ito R ey q u e lh e fa z ia a t a l D o a ç ã o p e lio m u it o

g a s to q u e E l R e y m eu Irm a õ fe z q u a n d o m a n d o u la n ç a r os ja g a s d e m eu R e in o , e m e m e te o

d e p o s s e d e lle , e d o q u e n is to o u v e r to m a r e is m u y c e r t a in fo r m a ç ã o , e d a s p r o v is o e s q u e a c h a r­

d e s m e m a n d a r e is o t r e s l a d o a u t e n t ic o , e a s s in a d o p o r v ó s , e a s te rra s e m a is cousas em que

a s d ita s p r o v is o e s m e d e r e m a u ç a m , e p o r e l l a s , e p e l l o m a is q u e a c h a r d e s n e l l a s m e p e r t e n ç e r

cõ to d a a b r a n d u r a e te m p e r a n ç a q u e p o d e r s e r s e m v ir a r o m p im e n to a té m e a v is a r d e s tra -

b a lh a e s p e lla s c o n s e r v a r .

tô. fui informado que o Reyno de Benguella que esta oitenta ou noventa legoas a balra-
vento do porto de loanda he cheo de abundantes minas de cobre finíssimo as quaes começao
ao longo do mar seis sete legoas pella terra dentro, e que he tanto o Cobre q. os mesmos ne­
gros sem terem aparelho o fundem em covas que fazem na terra fazendo campainhas, e Argolas
que resgatao para outras Provinçias, e que conquistando se poderão vir delle cada anno a este
Reyno por minhas Alfândegas de tresentos para tresentos cinquoenta míl cruzados assy para
Artelharia como p.° tffeus serviço do Reyno e estado do Brasil ficando todos os retornos desta
entrada em meus vassallos, e naturaes, e que como metal de tanta importançia sendo Eu snõr
das minas o poderey reservar em mandar vir só por conta da minha faza que ficará ganhando
o muito que se compra por conta delia pondo lhe o preço q. pareçer conveniente, e que de
Benguella se poderá levar ao Brasil por lastro dos navios de escravos sem custar de frete
cousa alguá, e que no porto do mesmo Reyno se poderá abrir resgate de escravos de mór
Rendimento que o de Angola por ser terra muy povoada pello çertao, e de Marfim será outro
resgate de muita consideração em rendimento de muitos contos pella grande quantidade q. tem
cõ muito mais que vira em se resgatando posto q. he gente muy guerreira traidora, e de roitn
naturesa, E que o dito porto he mais sadio que todos os outros da costa que sao descubertos
atee aly e tem muitas agoas, e boa Baya e fiqua quarenta legoas o cabo negro avante para o
da boa esperança o qual fiqua leste oeste da Ilha de santa Ilena, e as naos que da índia vierem
tomar Angola ficarão descaindo menos tomando Benguella, ou o Cabo Negro que facilissima-
mente ficará ganhando com o de Benguella e assy o Rio que se diz do Ouro vinte legoas
adiante onde ha informação que ja forao olandeses e resgatarão muito ouro, e q . o Rio tem
boa Baya, E posto que não ouve por bem que por hora se tretasse da dita conquista mandey
ao Governador Dom Manoel pereira per minha carta de sete de março dous de outubro de
seiscentos e des enviasse ao dito Reino de Benguella hüa pessoa de m.la confiança, e pratica
das cousas daquellas partes q. se informasse muy ao certo destas cousas, e q. em particular
levasse a carguo fazer resgate de todo o cobre que achasse, e assentar o trato com o Rey de
Benguella de maneira que ficasse aberto e corrente, e procurasse fazer o mesmo no Reyno de
Angola com o sova languere Ambumda onde também fui informado que avia abundancia de
cobre, E por ter entendido que seria de importançia para estenegoçio enviarense de qua alguas
roupas das com que se resgatao naquellas partes avendo comodidade para jsto se lheenviariao
as que pareçessem neçessarias Porem em quanto não fossem nao deixare de por tudo isto em
execução na milhor forma que podesse ser E por que atee hora não tive aviso do que se fez
nesta matéria, Vos ey por muy encarregado que tanto que embora chegardes aquelle Reyno de
Angola vos informareis disto, e não se tendo feito o que ordeney o deis loguo a execução e
me aviseis de tudo o q. se achar e fizer com visto pareçer.
24. Eu ouve por bem de encarregar a Antonio gonçalves pitta fidalgo de minha casa do
cargo de capitão mór da gente portuguesa que reside no Reyno de Congo, para o servir con­
forme ao Regimento que lhe mandey dar e que se registasse na camara e feitoria da loanda, e
conforme a eíle vos está subordinado no dito carguo, e sucçedendo Vagar a dita capitania pro­
vereis a vagante delia, cora tal declaração Porem que o não podereis mandar chamar pessoal­
mente nem tirar lhe a capitania nem offiçio de guerra, ou justiça que elle prover, nem Vos os
podereis prover como he declarado no dito Regimento, de que me pareçeo avisarvos neste
y
»

Apêndice 447
particular para assy o tardes entendido e o cumprirdes, e vos encomendo qoft com o drte Â*>*
tonio glf piua tenha« toda a boa correspondeaçw pare elle railhor cumprir cm t i»
nas cousas de que o encarreguei, e que para e!ía o farcreçaes f ajudei* ju* meo
serviço.
25. Tereis muito particular cuidado dc guardar e fazer q. se goardem minbas p to n só c s e
defesas sobre o comercio dos estrangeiros, e da mesma maneira Urd» guardar MU p
passada pela mesa da coasciençía, e ordens sobre se não tomar dinheiro do* defuntos» au­
sentes, e cativos, a qual lenho mandado registar na Cam." do dito Repito de AngoU, e a que
he passada sobre os tesoureiros delles não entenderem com as fazendas dos dt£jft»s que dei­
xarem quem lhe cobre e administre suas fazendas, e não guardareis as q. a elle forem euvízdas
não sendo passadas pello meu Conselho da Imdia e terras ultramarinas, salvo m que fores»
passadas pello Conselho de minha fazenda nas matérias delle, e as da mesa da consciência aos
dos defuntos, ausentes, e cativos por estas matérias pertençerem aos ditos tribuna«*
26. Da mesma maneira tereis pamcalar cuydado de saber de todos os navio* qve forem
deste Reyno se levao despachos algCs meus e se vos emregaem os que levarem para vos t em
todos os que vierem me avisareis das cousas daquelle Reyno ainda que se náooffereça de aovo
mais que repetirdes 0 que tiverdes escrito porque palia íncerresa da viagem tudo be ncçessario
e não impidtreis escreverem a Camara ou outras pessoas o que lhes cumprir aynda q. seíjio
queixas por que a meu serviço cumpre haver nisso a liberdade fteçessaria, e também me escre^
vereis tudo 0 que a experiençia vos mostrar que se deve prover que 1^0 for declarado oeste
Regimento para nisso mandar 0 que ouver por meu serviço.
(Á margem e nas entrelinhas dêsle capítulo e com letra diferente^ está minutada 0 se­
guinte; cap9 e porq posto q. eu tenha dado ordem para os mestres dos navios q. desta cidade
q.
forem para as p.BI ultramarinas ire ao meu cons® da india buscar os desp" para ell&s se hão
de enviar acontece muitas vezes partirem se fazer esta deleg* retardandosse c ô Jsso envia-
o
rense em dano de meu sço vos encomendo tenhaes particular cuidado de saber de todos os
navios q. desta cidade forê se levão despachos meus para vos a q. vo los entregue creçentados
do ? das matrias de estado do ditto cons* de como os pedirão e se lhe não derão e não vos en­
tregando hua cousa ou outra façaes cô os mestres dos dittos navios algua demonstração q. vos
parecer para exemplo e se não descuidará ê matéria de lama importância e ê q. elies nlo re­
cebem dano na dilação).
27. Sucçedendo que ao Porto de Loanda vaa ter algúa nao, ou naos q. vão para a índia, ou
venhão delia, ou navios meus desbaratados ou faltas de cousas para seguirem sua viagem os
fareis conçertar e que se lhe compre e dee de minha fazenda o de que tiverem neçessidade, e a
despesa correra pello meu feitor que a fará por vossos mandados pellos quaes com 0 ireslado
deste capitulo que se tresladará no livro de sua despesa lhe será levada en conta o q. despender
e tereis muito particular cuidado de fazer acodir ao conçerto das ditas naos e navios com toda
a deligençia neçessaria p1 0 proseguimento de suas viagens, e que delias se não tire fazenda
nem se faça cousa algua contra meu serviço e fa24* e nem se lhe metia tantas escravarias que
seja ocasião de lhe faltar a agoa e mantimentos e causar infermidades.
28. E sendo caso que sucçeda neçessidade urgente e preçisa de se fazer guerra para defec­
ção dos Presídios e da povoação de sam Paulo côsuUareis com 0 Bispo estando aly t com o
ouvidor gera), Provedor da fazeoda e ministros que ouver delia a despesa que para isso será
necessário fazerse de miQha faz.4* e 0 que se assentar podereis despender delia e se levará em
coma ao feitor para o q. se registará no livro de sua despesa este capitulo e o assento q. se
tomar e nas primrMembarquaçoes que despois disso vierem para este Reyno me enviareis assy
a Rellação das despesas pello meudo, com a copia do assento que se tomar 0 qual será assi­
nado por todos, c se declararão nelle as razoes em que se fundarão, e tereis advertençia que
esta liçença he somente para 0 dito effeito da defenção dos Presídios e villa de sam Paulo e
não para se fazer guerra pello certão.
29. Posto que tenha concedido para o Hospital de Loanda duzentos mil rs. em cada hu
anno para a cura dos soldados e doentes que nelle ouver ey por bem que emquanto os ditos
soldados estivere doentes se lhe corre com seu soldo para effeito de sua cura, e vos mando
que assy 0 façaes executar e cumprir por virtude deste.
3 0. Ey por bem que emquanto servirdes a dita conquista possaes mandar ás conquistas da
448 Angola
Coroa deste meu Reyno <ic Portugal, e levar ao de A ngola os C avalos que forem neçess" cõ
declaração que se não poderão levar egoas alguas e que os homens q. ouver de cavalo ser&o
arcobuseiros e não de lança.
3 i- E pella muita confiança que de vós tenho e evitar algüs inconvenientes ey outro sy por
bem de vos conçeder que para o cargo de ouvidor do dito Reyno de A ngola me nomeeis letrado
que tenha lido no meu desembargo do paço e esteia approvado para meu serviço conforme ao
que se tem conçedido aos capitaês de Á frica para eu lhe mandar passar carta em forma do
dito cargo, e Regimento de q ha de usar, o qual ouvidor despachará com vosco todas as ma­
térias de justiça e fazái q. forem de consideração, e não poderá emprasar pessoa algüa senão
com vosso pareçer e o seu com as razoes em q se fundarem para eu visto mandar o que ouver
por meu serviço, contorme ao que tenho mandado por minha provisão de seis de mayo de seis
centos e dez.
32. E y por bem que emquanto servirdes naquella governança tenhaes jurisdição civel e
crime em toda a gente m oradora e estante no dito Reyno de Angola, e em toda a mais que a
elle fôr, e o dito ouvidor conhecerá de todas as auçoes novas q. se processarem entre as pes­
soas q estiverem debaxo de vosso governo, e os casos que julgar assy por aução nova como
por aggravo sendo em cousas eiveis não averá delle appellação ne aggravo atee contia de cem
mil rs. assy nos bens moveis como nos de raiz, e dahy p.* cima dará appellação ha parte que
quiser appellar Forem sucçedendb algü caso crime estando actualm1* na guerra fora da po-
Yoação de são Paulo de Loanda, e millitando nella os culpados, sendo os taes culpados capi­
tães ou offiçiaes dasQompanhias neste caso e destas pessoas conhecereis vós somente e em
final serão as causas sentençiadas por vós e em vossa casa juntam1* com o dito ouvidor na
forma declarada na dita provisão de seis de mayo de seiscentos e des, e nos casos crimes vós
e o dito ouvor tereis jurisdição atee morte natural inclusive assy nos Portugueses peaes como
christaós da terra, escravos, e gentios em todos os casos assy para absolver como para conde­
nar sem appellação nem aggravo Porem nos q. fore criados meus no foro de moços de Cam rt
e dahi para sima ou pessoas nobres desta ou de mayor qualidade tereis alçada ate des annos
de degredo e cem crusados de penna e no caso de heresia, quando o herege for entregue pello
eclesiástico ao braço secular, e nos de traição, sodomia e moeda falça, tereis alçada em toda a
pessoa de qualquer qualidade q seia para condenar os culpados atee morte natural inclusive e
dar ás sentenças a execução Porem aconteçendo que nos ditos quatro casos absolvaes os cul­
pados ou os condeneis em menos pennas q de morte dareis appellação e aggravo para a casa
da supplicação,
3 3 . E assy ei por bem q emquanto servirdes a dita capnia e governança tenhaes para vossa
guarda dos soldados q naquelle Reyno servem, quer aja guerra levantada quer nao vinte sol­
dados com hu cabo de escuadra q. vos fação a guarda.
34. E outro sy ey por b^m que emquanto servirdes a dita governança possaes prover todas
as serventias de todos os offiçios que vaguarem assy, e de man" que os costumavão prover os
mais governadores que atee ora forão avisandome 11a primra occasião que despois disso se
offerecer de embarquação dos provimentos que fizerdes.
3 5 . Sabereis particularmente como procedem todos os offiçiaes de justiça e minha fazenda
que ha naquelle Reyno, e se ha nelle algus homens revoltozos e prejudicaes, e que mereção ser
mandados vir para este Reyno e me avisareis de tudo 0 q. achardes para m andarnisso prover
com o ouver por meu serviço.
3 6 . E para conclusão e rematte deste Regim13 não tendo mais que vos diser senão lem-
brarvos que o primeiro lugar naquelle Reyno tenha a conversão que sempre deve proçeder e
anteporse a todas as mais cousas, e que com as considerações, e advertências a que vos obriga
a confiança que de vos faço proçedaes no Governo delle como por meu serviço vos bem pa­
reçer e me avisareis particularmente do q. vos encarrego por este Regimento o qual vos mando,
e a todas minhas justiças, offiçiaes, e pessoas a que pertençer cumpraes em todo como nelle
se contem sem duvida nem embargo algum: e sem embargo de quaesquer outros Regimentos,
e provisões em contr.° João Tavares (por cim a, em entrelinha « D o m in g o s L o p es» ) o fez em
L isb oa a vinte e dous (por cim a , entrelinha «seis de a bril» ) de setembro de mil seis centos e
onze (p or cim a , entrelinha , <klre\e») (Dizem os conçertados d tres e as entrelinhas) ordeneys
q u e: eu o secretario Ant° viies de çimas o fiz escrever, R ey.
Apêndice 449
Regimento de que ha de usar franjisco Corrêa da silra que V. Mg.‘ enria por capitío
geral, e Governador do Reyno de Angola, p.' V. Mg* ver.
iBibGoue» Ai AM*, «W» Do Caoerm d* /Vflya*.
Do /fripe D, Pejre te fjutUie. Ptftmeat» f minvp&a
pertaKetíes a ledit tmtit eooqotUãg, Mc iii « r^
4
to n»«Dn 1 mbrici •CM* AJumtc.

Na Biblioteca Nacional, Reservados, F. G. 7 617, fols. 11, está 0 seguinte documento:


O procurador da Coroa de V, Mg* qae per ordem do Governo e despacho da mesa do
Paço se lhe mandou dar vista sobre o modo q se ha de proceder nos agranosqoe se tirlo des
jutses eclesiásticos do Reyno de Angola E pera resolução importa constar se 0 Governador
que foi ao d Reyno e seu anteçessor em seu regimento e prouisáo Jevão clausula e capitulo na
forma que leva 0 Gof do Brasü <=»pera que no d Reyno o ouo.*' gerai ou pessoa q nomear
conheça como juis dos feitos da Coroa, porquanto em hum agrauo que veo remetido de An»
gola se relata q vence de juiz dos feitos da Coroa Martin Corrêa com seu escríulo.
Pede a V. Mg* mande se passe certidão e razão do que se contem no d regtm* e provisão
sobre a dita comissão e controvérsias da jurisdição c recurso das for^s. e R**
(a) Thome Pinheiro da Veiga.

Tem ao alto 0 despacho seguinte :

•Fasasse deliga nas Secretarias para se ver este regimento e se ha nele 0 q pede 0 procu­
rador da Coroa. Lx. 3 de Abril de 1618».

Segue-se, de fols. 12 a 2\ a minuta do Regimento que serviu a Luiz Mendes de Vasconcelos


e com algumas alterações de redacção, a João Correia de Sousa e ainda, com a introdução de
outro capitulo, a Fernão de Sousa.
Em relação ao Regimento de Francisco Correia da Silva, esta minuta apresenta as alte­
rações seguintes:
O capítulo 22, correspondendo ao 23 Correia da Silva, não faz referência ao cobre de
Benguela, mas só ao existente no território do soba «längere Ambumba», sendo assim redi-

3
q . E u ordeney a Dom Manuel Pereira que procurasse abrir o trato do cobre com o Sova
Langere Ambumba do Reyno de Angola pela informação que tive de que havia muita quanti­
dade deste metal nas suas terras cometendo-lhe que enviasse a isso pessoa que procurasse ave­
riguar isto, e saber se importaria para assentar este negocio achando ser de consideração ea-
viarense daqui algumas roupas das com que se fazem os resgates n&queU&s partes, e por que
até gora não tenho sabido 0 que se fez nesta matéria, vos hei por muy encarregado que tanto
que embora chegardes aquelle Reyno vos informeis disso, e não se tendo feito o que ordeneys
o dareis logo a execução, e me avisareis do que resultar desta deligencía e nella se fizer com o
que se vos offerecer sobre a matéria.

Não tem 0 capítulo 24 do regimento de Correia da Silva e que se refere a Antonio Gon­
çalves Pita, como capitão mór da gente portuguesa do Congo.
Não tem 0 capítulo que no repmeitfo de Correia da SÜYa está minutado nas entrelinhas e
à margem do capítulo 26.
Entre a folha em que termina 0 capítulo 33
e aquela em que começa 0 34 (remate), parece
57
Angola
que foi introduzida uma outra fôlha, onde apenas está escrito um capítulo com o n." tt, como
segue;

ii* Tenho entendido que Garcia Mendes de Castel-branco oferece descobrir algumas minas
em terras de E\ Rey de Congo e que nelias e em Bemba ha sete léguas de que se tira cobre
fioo, que foi visto por pessoas de credito e as minas delle forão já contratadas por El Rey de
Congo com o capitão Serpa, que no anno passado faleceu, o qual tinha abertas catorze bocas e
tirava cobre de todas em tanta quantidade que hum quintal de terra lhe respondia com cincoenta
e oito arrateis de cobre. E porque seria de grande importância haver estas minas e beneficialas
vos hei por muy encarregado que procureis certeficarvos do logar e verdade delias e vendo o
m odo que se poderá ter para as haver de E l Rey de Congo me avisareis do que achardes e se
vos oferecer.

E ste capítulo talvez fosse só incluído no R egim ento de Fernão de Sousa, ou, quando muito
no de João Correia de Sousa. No de Luiz Mendes de Vasconcelos não devia existir.
A minuta do regim ento para L u iz Mendes de Vasconcelos é encerrada com: C rus Falcao
o f e \ em 3 de Setem bro de i ô j 6 .
Na fôlha da capa está escrito:
vN esta conform idade se passou o regim ento a João C orrêa de Sousa em i 5 de Jano de 1620**
nM andenos V M r ^ titu ir estes papeis como Ia não fo rem necessários ».
a P o r este s e f e \ outro a F ern ã o de Sousa ».

Na B iblioteca da Ajuda existe 0 cód. 5 i-vm-3 o, que logo nas primeiras fôlhas tem o R e g i­
m ento dado a Fernão de Sousa, o qual em comparação com o de Francisco Correia da Silva
tem a mais dois capítulos com os n.01 11 e 23 , que são os mesmos a que foi Feita referencia no
R e g im e n to de Luiz Mendes de Vasconcelos e a menos os que naquele Regim ento tem os nu­
m eros e 24 (Cobre de Benguela e Capitania mór do Congo) e 0 capítulo minutado nas en­
trelinhas do n.* 26.
O rem a te segue ao capítulo 34, sem espaço e sem número, como tem no Regim ento de
L u iz Mendes.
A data dêste R egim ento a Fernão de Sousa é de 20 de Março de 1624 e tem a indicação:
A ntonio C o r rê a o fe% em Lisboa, Christovão Soares 0 fe% escrever. Dom D io g o da Silva, Dom
D io g o d a C o sia .

DOCUMENTO N.° 37
A S M g*
L u is Mez de Vasconçellos a 9 de Julho.
Sobre a falta de gente, armas e muniçoSs q ha no Reyno de Angola e pouca quantidade q
destas cousas se lhe da p3 Levar.

Senhor.
Representei a V. Mg46 a necessidade q’ avia em Angolla de hum grande provim*0 de gente,
armas e muniçes; e V. M g* mandou ao Cons® da fazenda me provesse destas cousas; ô qual
me respondeo agora mandando â ô provedor dos almazes me desse ô que se deu a Dom Ma­
noel Pereyra, que forão cem arcabuzes e cinqu mosquetes, hum quintal de murão, cinquo
quintaes de pilouros, e embarcação ê mantimentos para cinquenta homes da obrigação de
Dom Manoel, a quem se não deu soldo. E quando para aquelle tempo este fosse bastante pro­
vim ento, por soceder Dom Manoel a João Rodriguez Coutinho que levou mil homes muitos
cavallo s arm as e muniçoSs e por não aver os inimigos que agora frequentão aquelles mares
Neste tempo em que tudo he muy deferente assi pola falta

m unições 9 e os inimigos de Holianda continuam1* andam por aquella costa fazendo


e scala em m uitas partes delia; deve de ser o provimento muito diferente do que levou Dom Ma-
Apêndice 4 5 i

noel; por que as cousas desta qualidade não se hão de prover poB oí« *® p i« p a t u á s , s t aà*
polia necessidade presente. E ossi ainda que eu estou disposto com a prosiíáSo qoc devo 4
servir a V. Mg*” do modo $ ordenar, compríndo inteiramente com mmha obrigação* parecem*
devia apresentar a moita necessidade que naquelle Remo ha de geme, armas t mostçocv em
quantidade, que a falta destas cousas não seja causa de algum coou* sucesso xqueílá Reitt*t
como por falta delias socedeo agora na tlha de Su Maria cujo exemplo obriga muao a estar
com grande vigilância sobre todas as conquistas c terras dos estados de V. Mg** e em Aognte
muito mais, por ser praça donde depende todo o meneo do Brasil, e de índias, e set terrí trmy
rica; e pollo mesmo respeito mais arriscada a ser acometida. E asai por descargo de mmha
obrigação, pollo zello que tenho no serviço de V Mg* peço se sirva de mandar se rac. de gente,
armas e munições conteudas no memorial que da ao Cons* da fazenda, cuja copia v»í c6 cata.
Porque de outro modo não deixara de estar rauy arriscado aquelle Reyno, pois S. Paulo de
loanda, q’ he toda a defensa delle não tem cousa que o assegure, por estar aberta sem fortaleza
nem fortificação alguã, sem a9 praças ordinários dô soldados, que sempre teve, 6 sem armas e
muniçoSs. Nosso Senhor goarde â Católica pessoa de V Mg*. Em Lix* 9 de Julho, 1616.

Luis mef de Vate**


(DíbÜotecR Nftcráiul. Secçfo Ifltrtflttnf*. P*r«* de A B gdi j»

(Memorial a que acima s e fa { referência)

Senhor.

Diz Luís Mendes de Vasconcelos Guvernador e Capitão General do Reyno de Angola, que
elle pedio a V, Mg** 0 mandasse prover de geme, armas e muniçoHs necessárias para a con­
servação daquellc Reino, e V Mg* mandou que o provedor dos almazfs informasse do que
levou Manoel de Serveira destas cousas, a que se satisfez com o rol, e certidão juntas. Mas
porque as obrígaçoês do Reyno de Angoila so muy grandes, pellas muitas praças que cem
prover de presídios, e depender delle a conservação de todas aquelias partes, e Manoel da Ser­
veira não levar ordem mais q para prover Benguela, devese dar a elle supp*® muita mais gente,
armas e rouniçoSs, do que levou Manoel da Serveira, pois alem das ordinárias obrígaçoes do
Reino, e de ser necess® acreçentar á goarnição de San Paulo de Loanda, como diz nos aponta­
mentos que fez sobre a folha nova se lhe acrecenta mais a fortaleza de Pinda, que V. Mg**
quer se faça,e deitar os Hollandeses daquelle porto donde estam com casas em terra, o que
se não poderá fazer sem força de gente bem armada e não só se ha de prevenir para este effeito,
mas para assegurar a mesma fortaleza de Pinda, q se fizer, e S. Paulo de Loanda da volta que
os Hollandeses fizerem para se quererem satisfazer de os deitarem do porto e commercio que
tantos annos ha que possuem E asst para tudo isto deve V Mg* mandar se lhe de 0 que aponta
nas addiçoes.
Setecentos soldados infantes nos quaes avera duzentos e trinta mos­
quetes ; e trezentos

Armas para a este respeito mais do que estavão 00 al-


mazem de loanda, para quando forem necessárias, porque neste porto residem
de ordinário muitos que acudirão a defensa delle) avendo armas com que o
poder fazer, e fazendo as nossas conquistas andam infestadas dos Hollandeses he razão que
nenhua parte delias deixe de estar apercebida pera tudo 0 que pode suceder mormente quando
porrazão de Pinda nos avemos de resolver có elles.
Cem cavallos, para os quaes^ não será necess0 que V Mg* faça aqui despessa de conside­
ração e he necess® que a milicia deste Reino se ordene e Governe, como a que reside nos mais
de V Mg* e deste modo os soldados que ô ouverem de servir a cavallo ham de ter o cavallo
e armas com que mereçam a paga que se lhes da, como também os infantes as armas com
que servirem, as quaes se costumão descontar dos seus soldos, e carregarse 0 preço delias
sobre os ministros que os pagão, e em Angola he mais fácil ter â cavalleria necess* nesta
forma, porque todos os naturaes de S. Paulo de Loaada folgaram muito de comprarem os
452 Angola
cavallos a sua custa, porque todos tem possibilidades para isso, e helhes de maior commodi-
dade Servirem ã cavalio que a pe. Para se averem os cavallos sem custo da fazenda de V Mg4»
se passara huã provis5o para que os navios que levarem cavallos, do Brasil, ou de Espanha
carreguem primeiro, procedendo os que levarem mais cavallos, os quaes ette Governador re­
partira polos naturaes da terra, como lhe parecer que convem, pagando os os mesmos natu-
raes pollo preço que já tem V Mg4« ordenado, So fara a fazenda de V Mg4» o gasto de mandar
c sustentar com 6 soldo que parecer hum selleiro, e hum fusteiro, e hum corrieiro, para que
façam as se\\a$ e goarniçoes necessárias, e as vendam aos naturaes para servir cõ ellas.
Doze peças de artelharia grossa, com que se possa defender o porto de San Paulo de
Loanda, que he o mais importante daquellas partes, e cabeça daquelle Reino, no qual nao ha
mais que algüs falcões, e camelletes, que nao passam de quatro livras de vala, e assi esta
aqueUe porto desamparado sem aver nelle defensa algüa*
Cem quintaes de polvora de bombarda, e cento de arcabuzes, a qual estara sempre viva
de sobreseWente no almazem de Angolla, e ô que se ouver de prover para os presídios con­
forme a folha que se tem feito se ira metendo no dito almazem, e delle tirando a mais antiga
em lugar delia, e assi estarão sempre vivos e sem humidade os díttos duzentos quintaes, darseha
mais a polvora necess» para a viagem,
Pilouros, e cadeas para as peças q’ se mandarem com todo 0 aparelho para ellas neces­
sário.
Cem quintaes de ^mmbo para pilouros, que também ficarão de sobreselente no almazem
pollo modo que esta ditto na polvora, e se daram mais os necessários para a viagem.
Vinte quintaes de Murrâo, que também ficaram de sobresellentes no almazem pollo modo
referido.
San Paulo de Loanda não tem fortaleza, nem fortificação algüa, e he necess0 forteficalla
p* a assigurar dos inimigos da terra, e dos que de fora podem vir, como ja representei a V Mg4*
para o que he necess0 levar de ca muita quantidade de ferramenta de cabouqueiro, e pedreiro
a qual ainda que agora va á custa de V Mag4e se poderá tirar o dinheiro delia do mesmo q se
ouver de fazer a forteficação, que sera do direito que se pos para as obras da camara e cadea
com o em outro memorial mais largamente representei a V Mg4*

para a conquista de Benguelta pollo que que souber que esta pro­
vido o Governo de Angoha se ira ao seu districto levando toda a gente, armas e munições
que ouver no ditto lugar, â cujo respeito se não deve deminuir nada do que aqui se aponta.

ERM.
(Biblioteca Nacional. Secção Ultramarina. Papéis de Angola).

DOCUMENTO N° 38

Snor.

O Governo de Angola esta muy apartado de V. Mdo, e de seus tribunaes e por esse res­
peito se alcança lá recursso muy tarde nas cousas, por demayor importância, serviço de D.* e
de V . M.4e que sejão, e pela larga experiencia q tenho do que aly alcancey em tempo de cinquo
governadores, se me reprezenta que os pode, e deve V. M.d* lá mandar muy caleficados de
com petente idade, e de muita comfiança, e consçiençia porq sendo estes farão proveito muy
bastante nas cousas do senhor e ordinarías, sem extorçoes. E sendo ao contrario (com tem
sido e he) deitão tudo a perder, e arriscão todos, molestado, e roubando os naturaes, e mora­
dores, dando de ordimio guerras ijustas, cativando, matando, e opremindo inocentes, e fazendo
vexações q se não podem declarar, atravessando tudo, errevendendoo, e por fim opremindo a
todos, demanr* que ate aos Prelados, pregadores, e Religiosos, tratão mal quando em compri­
mento de seus officios nos púlpitos, ou em qualquer outra parte estranhão vicios, e nisto se
estrem ou Manoel Cerv,r# P.“ / .
Socedeulhe luis mendes de Vasconcelos que entrando a pés de lãa santeficandosse assy falava
■/

Apêndice 453

e falia, em todos os passados mal, e em poucos d iu fazendo toIu se pos em rodo o genens
de desordens diante de todos de man** que o que de mal tim ão seus antecessores a «rí« res­
peito fica sendo vertude e santidade entrando também Manoel çerv* (como V. M.* o fera sa­
bido da diferença, e multidão de queixas que justamente delle ha, e arería em-quaow ovtr
lugar publico) porque nem a ley de de' se guarda, nem regimentos de vm.4*, antes se quebrSo
todos quantos capítolos nelles ha, e quantas provisões se passõar/como se vera dísimumeme
cotejandosse tudo cõ o que se fas) a justiça não tem lugar, nem mais rasão que a própria
vontade, e para o governador só por cila se emeaminhar, e não ter qoem em nada lhe taxe a
mão huã das primeiras cousas <J iâ fes foi embarcar ao ouvidor geral que V. M.* U mandou
chamado Diogo de são miguei garçes, sem haver causas bastantes para isso, e damfolhe na
fazenda grande perda, e na onra grande quebra, e fazer ouvidor em seu lugar hum franetjco
Roiz de Azevedo idiota, pobre e de larga consciência, e que noutro tempo foi contra o serviço
de V. M.4\ por que fas só o que elle quer peressendo em tudo a justiça das partes./-
Achou que algus de seus anteçessores se servirão de jagas geme cruel, porem animosa e por
isso muy temida dos naturaes, e assi insolente na vida e cusmmes que pode ser, porque $ó de
roubar e comer gente humana vivem, sem criar filhos, porque os matao cm naceodo, e se vâo
conservando cõ fazerem jagas os que de pouca idade tomão nas guerras em que sempre andfo,
sem cultivar, nem ter parte de abitação çena uzando de feitissos públicos, e invocações do
demonio a vista dos nossos que cõ elles andão, e tendo por mantimento carne humana fresca
e chacinada, sacreficando ao demonio, gente e aoimaes quando quere^ fazer algum cometi­
mento, e cÕ muitos outros costumes muy perverssos fes o governador exclamações sobre mal
tamanho dízendo que os avia logo de despedir, e dando por injusto quanto por seu favor se
fizera, afirmando íj temia grandes castigos de D*, pelos grandes pecados que cõ sua conver-
çassão se tinhão cometido, fes logo a guerra cõ risquo e perda de gente por ser fora de tempo
que não quis perder em se aproveitar, e em lugar de deitar os jagas se abrassou cõ elles, e os
tras na guerra em q anda a mais de dous annos, matando cõ elles, e cativando inaumeraveis
inocentes, não só contra a ley de D*, e natural mas ainda contra os regimentos expressos de
V. Md*. /.
Levou consiguo enganosamente moradores, soldados, jagas, sovas da obedtençia de V. M.4*,
escravos de portugueses, e quibares forros, q he tudo o que lâ ha, fingindo q hia dar guerra
Acaytacalabalanga sova poderoso que dizia estar levantado, e despois lâ fes pregações em seu
louvor afirmando que fora úranisado de man” que justamente se apartara de nos, e que por
estar disso muy inteirado nunqua sua tenção fora darlhe guerra, senão hir dar em cabaça, e
dongo, e sogeitar EIRey de Angola para assy de huá ves acabar tudo, publicando esta empresa
porpalavra e por escrito, pela mayor, e mais importante que nunqua naquelas partes onvera,
nem havia de haver, sem intervir nisso mais que sua vontade, porque EIRey de Angola estava
quieto em suas terras, e retirandosse mais adentro as deixou cõ muita gente lavradora, e sem
nenhuá resistência, e lhe mandou pedir pazes, oferecendolhe feiras e comercio livre, destruio
o que quis e adoeçeo e veosse, deixando em seu lugar seu filho Joane mendes de desanove
annos de idade e havido por mal inclinado, e por seu Ayo luis gomes machado aborreçido de
todos por sua má vida,e pelo mesmo (deve ser) mimoso do governador, e de seus filhos, forão
continuando em distruir cõ os jagas, amigos, e imigos, e ate algus sovas de EIRey de Congo
(como forão Amboila, cabonda, e outros) estando em suas terras portugueses, cõ muitos es­
cravos de carga, e outros resgatadores cõ muito fatto, onde ouve muita perda delle e morte e
cativeiro de muita gente cõ grande perturbação, e escandallo dei Rey de Congo, que de ordinn®
afrontão, cõ obras, palavras, e cartas, mandando vro.4* sempre q se tenha, cõ elle aboa corres­
pondência possível, e que cõ o de Angola se procure amisade, e não aja cõ elles rompimento,
ainda que aja causa sem que primeiro se comunique a V. M.4*, e tenhao resposta sua, tomão a
EIRey de Congo as terras de que D* o fes senhor natural, e repartennas co quem querem, e as
paçagefís das agoas do bengo, e dande, dizeodo por falças informações que por elle parte o
Rm de Congo, cõ o de Angola, sendo tanto o contrario que ainda mais de tres annos despois
de Eu la estar era EIRey de Congo senhor de tudo aquilo, e V, M * naquela parte não tinha
mais que o porto de loanda cõ hum breve território que EIRey de Congo deu a V. M.4* pu-
suindo elle pacificamente tudo o q agora se lhe vay tirando e de que elle se quexa notavelm.*i
7
avendo que nisso se lhe fas grandes emjustica *
454 Angola

Deu ordem para se fazer o presidio novo da A suA çSo muito pela terra dentro e que por
esse respeito foi ja çercado de imigos, e estara emperigo emquanto aly estiver, foi dclle capitão
• ^ #
hum manoel castanho christão novo e sem expericncia, desfes o presidio de Ango contra o
paresser de todos, tendo 6 V. M * aprovado por suas cartas ao capitão mor Bento banha que
o fes por estar junto da lucalla Rio caudaloso, por onde em qualquer ocasião podia ser breve-
mente socorrido, e ao novo se não pode dar socorro, senão cõ exercito formado, e cõ muito
gasto e perigo; por não haver Rio, antes estar entre imigos e muito pela terra dentro, despois
de o ter mandado faser mandou destruir Caitacalabalanga, tendo dito quando foi, que nem
clle nem seus vizinhos mereçiâo castigo algum, e assy ha mais de dous annos q se anda em
hua tão grande carneçaria que os muitos mortos infecionarão as agoas dos Rios caudalosos e
sem causa se cativou grande multidão de gente inoçente ./.
Parecelhe q sabe tudo e por isso não toma paresser de ninguém e erra de ordin.río, aos papeis
q la se fazem de abonações, e de acordos se nao deve dar credito porque se não dis nelles,
nem de bem, nem de mal, se não o que querem os governadores e como avendo jagas as
guerras sao em nenhum perigo e cõ descrédito dos portugueses, todos são Je paresser que as
! aja, dando por causa bastante qualquer mentira pela muita gente q cativão, mantimentos e
gados que tomão que hé o que os la leva, primeiro que o serviço de V. M.de, avendo que nenhuá
disculpa fica aos sovas em qualquer sombra de desobediencia q cometão nas tiranias que con-
tino lhe fazem, chatnao nos os governadores a sua presença, e pedenlhe muitas peças escolhidas
parassy, e para os seife, e engeitãolhe qualquer q entre ellas não seja boa, e porque os sovas
não podem suprir tanto, mandam dar obediência alguás vezes por seus parentes, e Vassaílos, e
por não hirem pessoaimente dão essa causa por bastante para os dar por levantados, e os des­
truir como a esses, e ainda por outras cousas menores ./.
Com estas extorções todas as feiras çessarão, pararao os comerçios e resgates ate em muitas
partes do R“° do Congo, aonde também chegarão as guerras e çerráraosse os caminhos de
manf* que por não haver resgates pereçe a gente a fome, perdensse os armadores, e vaysse
acabando tudo de remate, os jogas que forao mimosos vierão a enfadarsse de lhes tomarem o
que tomão e de outros máos tratamentos, e lavantousse e foisse delles o capitão mais valeroso,
e poderoso, levando consiguo quantos negros de carga, resgatadores e fato la tinhão os portu­
gueses, e recebeusse nisso am or perda temporal que numqua naquelas partes ouve, e espiritual
muy grande, porque vão feitos jagas mais de quatro mil christaos bautisados ficando total­
mente perdidos seus senhores, e ainda sera a perda de mor conçideração se se forem lançar cõ
EIRey de Angola como se pode temer, e o mesmo se teme dos que ficão por andarem já ar­
ruinados e senão terem por seguros em poder de joane mendes que de huá ves descabessou
despois de Eu ser vindo vinte e oito sovas, que sao regullos, dos da obediência de V. M.1*0 q
trasia em sua companhia que pareçe cousa inaudita e disto q se fes co perda e descrédito de
quem vm.de mandara considerar, fica sendo o proveito só dos que fazem as guerras e andão
neilas ./.
lazem entrar nas companhias todos os moradores ainda que sejao previlegiados, e aos que
faltão que são muitos, por os capitaes serem indessentes levao penas consideráveis, e assy se
vive em huá perçeguição continua, porque hús são condenados, e outros se escusão por peitas
quanto vay de fora de comer, beber, vestir, e resgate, se atraveça e revende por preços ex-
çecivos. os navios dos defuntos se comprão de graça, nos leilões, se toma tudo o bom, pelo
mesmo modo, e as fazendas dos defuntos se perdem e furtão de man” que numqua seuserdeiros
alcanção nada do que delles fica, ç poderia darsse remedio a este mal co se proverem os offi­
cios de defuntos e auzentes emgente mais caleficada, abonada e cõ fianças mayores e mais se­
guras, porque as que dão (sendo piquenas) e sendo muito grande cantidade das fazendas q lhes
vay a mão, e porque algús andão fugidos ha muitos annos; aos soldados se vendem as licenças
para vir a loanda proversse do n e çe ss^ e aos moradores, e resgótadores as co que vão assima
a comquista, e aos resgates; tem por seus regatões ladroes públicos, e onzaneiros a quem se
acharão pesos e medidas faiças, tomão os direitos dos contratadores, e dão empagamento
panos de palha e peças velhas, e mantimentos revendidos, fazem e desfazem como querem as
eleições da C am " e da misericórdia, dão os officios vendidos a gente sem mereçimento, e sem
causas suspendem e privão os que nelles vão providos por V. M.de, mandão fazer camisas, sa­
patos e vestidos em socata, e mandãonos dar em pagamento aos soldados por tão grandes
Apêndice 453
p r e ç o s q u e o s q u a t r o c r u s a d o s <$ tetn d e p a g a lh a s o l o 6 q u * s e n i o h u n o , t a tla s p jg ã o í a

d i r e it o s c o m o b e d i t o , t o m l o m o ita s p e ita s , d e s ^ o m p o e to m o lh a r e s c a s a d a s « d o n s « : ! » * *p -.'*co


q u e e s te v i ç t o em q u e s ã o m u y d e s c o m p o s to s o s f ilh o s dc lu is n e o d e t o i o » o a ly ;, rro »j*uvy
n u a q u a q a e ix a d o p a y e a s s y n á o c o n v ir á nuaqua qoe go vern ad ores le v e m fiíh o * cõ * ;g a o »
p o r q u e t a n t o s g o v e r n a d o r e s h a , q u a n t o s e lle s s ã o , e a g o r a s c v é is t o U r g a r a c c t * r. r. s > v * m o d a
A n g o l a , ) o s a r m a d o r e s q u e a l y v ã o , s e n d o b o x o s , e o u t r o s d a n a ç ã o c o m p r S o pr j v í v ^c í -ic c * -
p tc a e s , e q u a s y c a d a s e m a n a s a ê h u m d e n o v o e s e o d o t o d o s q u a x y c a p u a £ s , p o r szj. d in h e ir o »
n á o h a m a is s o ld a d o s q u e o s q u e o n ã o te m . n a C a m a r a h a s e m p r e hum cscrrvSo c n a .j ; da
g o v e r n a d o r p a r a c| lh e Aè c o n t a d e t u d o , n ã o s e r e g is t a o n e lla p r o v is õ r s , n e m r e g u n e u tc i, e
são tã o c a t i v o s o s v r e a d o r e s q u e n ã o o u s â o d e le m b r a r o s e r v i ç o d e V . M .** c fcurtn d o p o v o ,
p o r q u e p o r is s o o s p re n d e m , o fro n t& o , e d e g m d á o , e h e t ã o c n a o o t r a t a m e n t o Ç s e d á a t o d o s
o s q u e s ó o u p o r m u y h e is , o u p o r m u y a c a n h a d o s s e n fto le v a o t & o , e co tu d o Lhos c h a m ã o
p o r m o m e n t o s t r e d o r e s , le v a n t a d o s , in fa m e s , d e g r a d a d o s , o ir n g e a s (sty, e o u t r o s aocztes a fr o n ­
t o s o s ./-
P o r c a u s a s le v e s p r e n d e m m u ito s m oradores, e lh e s p o e m s o l d a d o s d e g u a r d a m u i t o s d ia s
c õ g r a n d e s e s t ip ê n d io s , s e a lg u m s e d e s c u id a e m o o s a c a m p a n h a r h s p o r i s s o m u y m o le s t a d o ,
a t r a v e s s a c õ n o t á v e l c u id a d o q u a n t o m a o h m s e a c h a , p e d e o v e o d i d o , e t o m a o d a d o c o g r a n d e
e s c a n d a lo e p e rd a d o co n tr a ta d o r , a c o m q u tsta n á o v a y v in h o a vender sen ão o uu, e assy
com prão lá o s s o ld a d o s p o r c in q u o , e s e is m il r* a p e r o le ir a q em lo a a J a pud erdo co m p rar
p o r m il, e q u in h e n t o s , e o m e s m o a c o n t e ç e n a s m a is c o u s a s , d ã c a d e i a s , r a s a s a o s p r e l a d o s
d a s R e li g i õ e s , e a a lg ú s c a p it ã e s m o r e s , e a o s m a is fa lia p o r v o s rcm d o o s e m p é e d e a e a r a p u -
c a d o s , in d o fo r a a c a v a ll o o u e m c a d e ir a q u e r q u e o s m o r a d o r e s v ã o c õ e l l e a pc e a in d a o
o u v i d o r , d e t o d o s fa lia m a), e a s s y tr a ta m a l o s c lé r ig o s , e R e lig io s o s , e a x n ? m e (cs in d o ò r e -
s ít a r a d e s c o r t e s ia d e <| d e y c o n t a a V . M.*® p o r o n d e e p o r q u a n t o h a n e lle n ã o e s t a m o s c o r ­
r e n te s, e p o r is s o d ig o tS o p o u c o s o b r e te r d it o t a n to , e d ir ã o m u it o m a is t o d o s o s q u e l i f o r ã o
d e q u e a q u i a n d a o m u it o s , e o s íj lâ e s t ã o s e fo r e m p e r g u n t a d o s p o r p e s s o a s s e m r e s p e it o s , e
e m t e m p o q u e e lle n ã o g o v e r n e , e E u te n h c hua c a rta sua e m q s e g a b a q u e lh e s d a v ã o p o r
h u m c a r g o e p o r o u t r a s c o u s a s p e rc o d e tr in ta m il c r u s a d o s , e q u e o s n ã o q u is t o m a r , m a s o S o
d is n e lla q u a n t o t o m o u a o s p o r tu g u e z e s e a o s n a t u r ã e s , p a r e ç e u x n e s e n e f ic a r i s t o a V . M .** p a r a
íj V . M .J# s e s ir v a d e m a n d a r c o n s id e r a r a it n p o r t a n ç ia d o c a r g o e q s e j a p r o v i d o e m q u e m b e m
o m e r e ç a , e s t a s c o u s a s r e m e d ío p e d e m , e V . M .1* s a b e m u it o d e lia s , s u a g r a n d e c h r i s i a o d a d e e
s a n t o z e llo e m t u d o o p r o m e t e m , e D* p e r m itir a q u e n ã o a ja c a m in h o s p o r o n d e s e im p i d a e
E u m e a f ir m o s e g u n d o e lle q s ô is s o p r e t e n d o s e m s e r a c u s a d o r d e n in g u é m J.
n e m d o p a d r e J o ã o s a l g a d o d e a r a u jo q u e fo i A r c e d i a g o d e C o n g o e q u e e s t a n d o m u i t o p o u c o
t e m p o e m l o a n d a d a p r im e ir a v e s q la fo i sem s a h ir, n e m a o R i o b e n g o n e m a o u t r a a l g ú a p a r l e ,
s e v e o d e ix a n d e r a e m u y d e s c o n te n t e dc s e o m a o p r o c e d im e n t o no o f B ç io q fa z ia de V ig a ir o
g e r a l , e p o r m e la s t im a r d e s u a p o b r e s a q u e e r a g r a n d e s e n d o m eu p a r e n te , o a d m e iy q u a n d o
t o r n o u , m a s n ã o a o o fB c to p o r n ã o s e r p a r a e lle . fe s l o g o t a n t o e m c h e g a n d o c o n t r a o s e r v i ç o
d e D * e d e V . M .de e p a s c o m u m q u e a r e q u e r im e n to d a C l e r e s i a e c a b i d o o m a n d e y p r e s o cÕ
p a p e i s q u e n ã o p a r e ç e r ã o e d e q u e E u te n h o o s p r o p r t o s o r i g i n a S s ; n u n q u a s a h io de lo a n d a ,
n e m fo i a C o n g o , n e m c o m p r io c o o b r i g a ç ã o d e s u a d ig n id a d e , n e m q u a n d o v e o e s t u d o u a g r a -
d u a n d o s s e a s f u r t a d a s , e s e n d o a s s y d e u a lv it r e s , s e m s e r , e s e m v e r d a d e , e c o n t r a t o d a e lt a m e
a c u s o u d e c o u s a s q u e q u a n d o E u f o r a p io r d o q e lle q u is . n c a id a d e , n e m a s f o r ç a s , e f a l t a d e
s a u d e a s p e r m e tia . o C o n ç i l i o t r id e n t in o d i s que o s C lé r ig o s c a s tig a d o s d e seu s p e c a d o s n ã o
s e jã o d e n h u á m a n " c o o t r a e l l e s o u v i d o s , e e m s a tis fa ç ã o d e ste s s e r v iç o s (d e v ia ser p orque
e l l e n ã o t e m o u t r o s ,) t e n d o m u it a s c u l p a s , e Ir m ã o s, e lr m a ã s s e c u la r e s a q u e p e r ie n c iã o o s
q u e s e u p a y te v e , e t o d a v i a s e lh e d e u h u a a b a d i a r e n d o s a do padroado de V . M >* e por ven ­
t u r a q s e m e n a o d e u a m y b o m t r a t a m e n t o , e q u e f o s s e m a is m o t i v o d a l i c e n ç a q V . M .4* m e
m a n d o u d a r p a r a m e v i r a s u a q u e i x a , p o s t o q u e E u a p e d ia h a v i a m u ito te m p o que a com ­
p a i x ã o q u e s e d e v e r a t e r d o s m u it o s t r a b a l h o s q t a n t o t e m p o t iv e , s e r v i n d o a D * e a V . M .* * c o
t o d a a lim p e s a f id ilid a d e , e c u i d a d o c o q u e h u m b o m p r e l a d o s e d e v i a o c u p a r e m su a o b r ig a ­
ç ã o . E p o r q u e i s t o a n o t a r a l a r g u i s s i m a m e n t e c õ t o d a a i n f a l i b i l id a d e d o m u n d o e p a p e i s c a l e -
fic a d o s . e E u e s tim o m u ito a o n r a q u e e ste s a ç e r d o te tem m a lt r a t a d o , p o r m u ita s v e z e s e e tn
m u i t a s p a r t e s , e a t e c õ V . M .1*® s e n o a c u s a r p o s t o q u e q u a n d o e r a m u y s ú b d i t o o e n tn e n d e y e
a g o r a o p u d e r a f a z e r p o r h a v e r tnu d e q u e e m s a t i s f a ç ã o d e q u a n t o t e n h o t r a b a l h a d o c õ to d o
456 Angola
o cmcarecimento possível, e devida umildade postrado aos Rcaes pés de V, M d® peço a
V . M 4* mande q cõ iodo rigor se examinem suas quexas e tudo o que de my dis e disse por
pessoa de sam consciência e de tal calidadc que possa e saiba bem fazer e que achando ser
verdade o menor defeito que de my aponta fique Eu avido por falço diante de V. M d* e do
mundo todo que he om or mal delle, e elie por merecedor, ainda de mores onras e merçes das
q lhe são feitas, ou ao contrario ./»
D* guarde a catholíca pessoa de V. de Lx a 7 de Setembro de 1619.
(Bibiioieca Nacional, Secção Ultramarina. Angola).

DOCUM ENTO N • 3 9

Copia. — He m1®contra o serç* de Ds. e de V . Md®teren se introdusido neste Reino jagas,


negros que se sustentão de carne humana e inimigos de toda a cousa vivente e os ladroes da
terra adonde entrão. delles se valerão algüs dos que ate gora governarão e se valem algüs m*'
da terra servindo se hüs e outros de eles como caes de caça para inusta mente lhe trazerem
escravos e devem ser mais os que come que os que entregão vivos por ser esta a sua mais or­
dinária comida, levacjgs os homens de seu intereçe me começão ja a querer persuadir q» não
se pode sustentar este Reino sem a companhia dos jagas, mas segundo o que tenho dito delles
não deixara de conhecer o catolíco zelo de V. Md* que este sera o caminho para Ds. não pros-
perar este Reino, que por razão da fe devemos crer entregou a v. ma®e quando isto nao for,
em breve tempo consumirão elles os naturaes deste Reino, de modo que venha a despovoar se,
com o fizerão alguas provindas adomde entrarão pollo que me parece que v. mde deve aver por
bem de permitir remedio que lhe parecer que mais conve ao serviço de ds. e de v. m.dfl.
Manuel cerveira hera partido para a sua comquista a domde esta avera tres meses, pouco
mais o menos, e assi não ouve lugar de o aperçeber como v. md* me manda na instrução que
se me deu a parte; não foi a bengueia que hera o intento de sua jornada, mas foi apovoar na
bahia da torre ou de s10 ant® (e que por estes dois nomes se conhece) vindo eu correndo a costa
m e sajo desta bahia hum bateleu e dose homens que vinhão nelle soube isto e que não quisera
ficar em bengueia, que esta mais adeante vinte legoas, por lhe pareçer a terra seca, e o que eu
entendo he não entrar nella por não aver lugar em bengueia para se poder fazer peças, por
terem destruída aquela província os jagas que nella estão, e informei me dos homens do batel
que tinha a terra e que comprava manuel çerveira e me disserão que em cativar os negros ve-
sinhos, e que tinha feito companhia com hum Columbo de jagas para lhe servir do mesmo que
servem os que se meterão neste Reino; antre que da qui se fosse forão taes os seus proçedi-
mentos, que ainda q v. mòe me mande lhe envie delle informação extra judiçial a farei judiçial'
mente, porque são dignos de senão crerem doutro modo; e também entendo que nas matérias
desta sorte ficava v. md* melhor servido nesta forma ./. vindo me acompanhando joão de a
velorta quando aqui entrei, me disse que tinha levado da fazenda de v. mde cincoenta mil cru-
sados e que me daria papeis por omde constasse isto. Antes que da qui se fosse, deixou a terra
no petor estado que podia ser; eu a achei sem nenhum soldado, sem polvora nem monição
algüa. o com ercio estraguido, a feira mudada de lugar domde se fazia, e quasi acabada, por não
aver peças a respeito de as terem comido os jagas, e ter destruído manuel cervf* os sovas que
as mandavão.
Sucedeo a manoel cerveira Ant° giz pita eleito pio povo, em ellegendo se foi logo para a
com quista levado por soldados algüs mercadores da terra; dizem que foi com a mesma tenção
que manuel cerveira, o q ate gora sej dos seus procedimentos he que dise a algüs sovas que
nao podião ser dos homens a que estavlo dados porque erao vassalos de s. mde mas que adju­
d icava para si as peças que elles costuma vao tributar aos homefís a quem estavão dados; semdo
assi lhos confiscarei para a fazenda de v. md®ou o proçedido delias, porque os vassallos de
v. md* a nenhüa outra p* devem tributo se não a v. mde q he seu Rej e senôr. Eu lhe tenho es­
crito que venha logo e que torne aos presídios os soldados que delles ouver tirado, e que traga
c o n sig o a gente ./.
Apêndice 457

Eu fico entendendo em pacificar a terra e tratar de por corrente o (o m etçio <hs te ir u , e


recolher os homes q andão pola terra dentro a roubar peças, e determinando aggfer soltar i
peças que injusiamente se ouvessem cativado e segundo o q agora acabo de oimr ao vigário
geral desta terra, ha m1** homens aqui nos presídios e justamente com elles Am* gl* pita, e
manuel cerveira, que mereçem condenados chamar se e a faz«* confiscada por traidores da
Coroa de v m* roubando matando e cativando e dando a comer aos jagts os vassalos de v m**
que pacificamente o servem e obedecem dos quaes tirarei devassa e procederei pelli forma do
meo Regimeto pois alem do que tenho dito os que deste modo fazem guerra aos vassalos dc
y. m* se goveroão nella pela Reposta que o diabo da aos jagas ./. ^
*■
Cota. Angola. t5 de set. de 1617.
Copia de hua carta de Luis mez de vasconçdos g*f de Angola de aS de Agosto.
Sobre deferentes mat** daq1* Reino.
Ao Comde dom Estevão de faro.
(BibliotecaNacional, S«çl© intramariaa. Aagoía).

DOCUMENTO N* 40

Sem embargo, dequam mal aviado parti de lxa em 19 de junho cheguey aeste governo de
Angola em ires mezes e meio, a gente com saude e sem amainar as velas scia Deos louvado,
polas ocazions que se oferecerão escrevy a Vmg>.
Com oito naos entrey nesta baia que me pareceo a milhor do mundo achey a luis mendes
devasconselos e seus f" nesta Cidade de loanda e porq as couzas tocantes, a elles estão a
cargo do sendicante ant#bezerra que deve escrever a V. Mg* do que tiver feito, ao toqaante
ao que veio que am(i) so toqua darlhe toda a vida e favor p* se darem a execusâo as cousas
que ordenar, e fazer por em boa recadacão a faz* de Vmg* como vou fazendo ao seodicarue,
que nesta sua comissam mostra telo (zelo) e verdade pareçeo conforme a seus Regim*** prender
a luis mendes e seus f°* cô mandar p* a fortaleza de mosangano entregues ao sargento mor
deste Reino, partirão domingo 24 deste, e como se lhe nam achou faz* em caza nem mais di­
nheiro, que sento e smquoenta patacaas dizendo este povo tinha muitas mil e mu quantidade
descravos, he necessário hirem se fazendo diligencias p" que apareção que o mtó que tem man­
dado índias de direitos e naos de peças sabersea.......... ilha a que foram a entregar e este dira
............................................................................................................ duarte feitor, escreverão
...................................................................................................................... os
que a isto.......................................................................................................... ..........................
.......... cantidade de gente de toda a sorte e sexo que necessariamente seria morto e cativo
premi tio deos que V.Mag* ordenase ire luis mendes e seus f0> a mansangano donde pareçe que
se dis la elRey de Congo, e angola e mais cousas que V.Mag* os manda aly p1 que cada hum
deles diga as queixas e agravos que deles tem pa serem castigados ainda que nlo seia mal pe­
cado porq com esta aparente satisfação fiquo eu consertas esperanças, de com 0 favor de Deos
a quietar tudo como mais convem ao serviço de V.M.ag** nestes prim*' dous aonos em que
trabalharej por deixar tudo em estado de mereser a Vmg* mandar a este governo homem de
grande satisfação porq o ha mister e eu da minha idade ir me a minha caza p* que neste der­
radeiro quartel me sahia. Onze dias ha que entrey nesta Cidade e hu homem que acazo veio
de Congo me deu esas pedras das minas de cobre que no caminho estão bem sabidas dele, e eu
com esperanças de las alcançar do Rey pola necessidade em que hum irmão seu o tem posto
por se lhe alevantar no Reino, e me aver mister, mandarem dous homens que saibão bem be-
nefiçiar cobre que espero em Deos nam seia este como 0 de bemgela por onde passej pegado
com terra e de hum clérigo, e dous soldados que vierão a nao soube 0 que também de todos
os desta Cidade e em todos tenho achado ser tudo aquilo fantastiquo, que so pretende tnl ser-
veira estarse naquella comisam com 40 soldados rotos e com pouca saude negoseaado com
hum pataxio que tem que manda a esta Cidade, e ao brasil tendo em cativeiro aqueles pobres
58
458 Angola
homens e o mais mc num toqua escrever faioão os que mais sabem de bengueia so que nam
lenha nem agoa ha ondé achou aquela mandou damostra, andando quada soldado alguüs dias
escolhendo o que nam he desusiancia e quatro jornadas donde esta duas por mar e duas por
terra e Vm g* mandara o de que mais servido for, Achej os ofiçios quasi todos desta Cidade, e
as capitanias e bandeiras da gente da guerra do campo e prezidios em cristãos novos nam
como se nam sardos da inquisisâo e peneteaciados, ate hum surgião capitão de infantaria causa
vergonha aos cristãos velhos no estado cm que estão os de Angola terra que quando nam he
no espiritual heo no temporal, o que vou remediando de maneira que todos os que me fazem
petição dizem que $5 o cristão velho. farej o que entender aVizarej com verdade
esperarej ordem p* Vmgáe me mandar ir p* minha caza deixando isto no estado que espero . . .

.............. continuando em seu real serviço me darej por satisfeito do que espero mereser neste
governo, noso snõr Guarde a catolicua e Real pessoa de V,Mg*® por largos annos augmento
da christandade desta Cidade de loanda em 24 de outubro de 621.

João C orrêa de souja.


(Biblioteca Nacional. Secção Ultramarina. Angola. Caixa 14^)*

DOCUMENTO N.• 41

Capitulo Decimo da primeira parte do prim eiro tomo da historia general


das guerras Angolanas e principio do Governo de João Correjra de Sou\a.
Pags. 62.

Succedeo em 0 Governo destes Reinos de Angola João Correya de Sousa, vindo despa­
chado do Reino de Portugal pelia Catholica Magestade por^ Governador e Capitão General
des(tes) Reinos e suas Conquistas na Era de mil seiscentos vime e tres, 0 qual havendo tomado
posse do Governo tratou de prover alguns postos e officios que estavao vagos como também
as fortalesas assim da Cidade como da Conquista deixando de- caminho quando passou pelia
costa do mar soccorrido o Reino de Bengala aonde havia tomado o primeiro porto desta
Ethiopia Occidental de gente e Muniçoens, foi dando ordem ao Governo político administrando
justicia fasendo seu Lugar tenente e Capitão môr da gente de guerra a Pedro de Sousa Con­
quistador antigo soldado de muito valor e expenencia que havia occupado postos tnayores na
guerra deste senão, cavaleiro fidalgo da Casa de Sua Magestade, e como pessoa tão noticiosa
das cousas da guerra, e Conquista destes Reinos lhe encomendou a Guerra e Conquista da
Emsaca, chamada de Casangi mui próxima a Cidade onde tinha as suas terras, e povoaçoens
hum Sova poderoso do mesmo appellido com outros seus adjuntos mettidos em matos espesos
e boracos, o que occupava muitas legoas de terra e o nome de Emsaca se derivava a mesma
espesura donde sahião aquelles gentios a assaltar e roubar aos caminhos por onde vinha o
sustento para a Cidade, assim aos que vinhão dos arimos e fazendas de Bengo, como aos das
outras partes mais distantes que tudo lhe vinha a cahir nas maõs destes Ladroens de estrada
|oubando cautivando, e matando a tudo 0 que olhavão, tendo seu valhacouto na espesura e
fortalesa da sua Ensaca q por isso appellidava a Ensaca de Casangi como atè o dia de hoje
tem esse nome, e se tinhão tanto desaforado que atè a Lagoa dos Elefantes chamada assim
peilo antigo e agora as Quisamas da Maianga onde hião da cidade buscar agora (agua), vinhão
estes Ladroens tomar a gente preta escravos dos Moradores da cidade.
Encommendou o Governador esta guerra de tanta consideração ao valeroso Pedro de
Sousa Capitão m ord a gente de guerra, e Lugar Tenente do Governador sahindo da cidade
com todo o apresto de soldados conquistadores, cabos e capitaens de experiencia, com peças
de Artilharia de Campanha muitas muniçoens e todo o mais aparelho necessário, para aquella
empresa pou(co) mais de duas legoas andadas, começou 0 nosso Capitão com seu exercito a
Batalhar com aquelle numeroso, e esforçado gentio defendendo elles o seu partido e matos
Apêndice 459
com muito valor, e como pelejavão quasi cubeno» deli«, noa ferifo moita gente com tuas
agudas frechas e zagajas que dravao a nossa gente Portuguesa a mio tente, m u com is nossas
armas de fogo e mu* balas delias despedidas, e da anelharia de cirnpanhi Uvoravío «quelle*
matos, em que se fasia grande rastolhada daquell« Inimigos.
Prevenío 0 Governador por assim lho mandar advertir 0 Capitão môr da guerra mandasse
pessoas de porte com gente tomar 0$ passos do Rio Coam» onde bifio ademaod&r as (erras
destes Inimigos, assim por não terem Soccorros da Província da Quisama seus amigos e Afia­
dos, como também por não terem por ali escapula, para 0 que mandou ao Capitão m&r Joio
da Veloria, com seu genro Anionio Bruto que ambos havifo occupado postos mayores tu
guerra do sertão, como se tem dito em esta historia, fossem tomar um sitio eminente sobre o
Rio Coamzã fretueiro a Quisama senhoriando dali aquella passagem com alguas soldados
para seniinellas e guarda daquelíe passo, e 0 mesmo maodou ao Capitão mor Roque de SSo
Miguel que 0 havia sido da fortalesa de Ango, fosse para outro sitio sobre o mesmo Rio Cotmza
também eminente a que chamão 0 Sambelo que dali fisesse opposição com alguma Infamaria
a gente daquella Província, não passasem em favor dos sovas da Ensaca, nem tão pouco dei­
xasse passar os da Ensaca para a banda da Quisama, de então para cá ficarão estes dous sítios
no Rio Coamza com os nomes destes Cabos, hum de penedo do Bruto, e outro de Roque dos
quaes em outra parte se farà mais larga menção quando se falle em este caudaloso Rio Coamza
e suas monstrosidades que agora estamos com esta guerra da Easaca entre maos.
Havendose feita esta prevenção em as passagens do Rio Coamza, ^ foi conünurndo com
esta intrincada guerra havendo todos os dias batalhas e refregas com aquelles geados, que
com valor defendião suas terras e moradas e chegavão muitas veses a mamter se a offeoder a
nossa gente com suas armas, e a serem offendidos das nossas, cada palmo que biamos ganhando
custava aos Portugueses muito sangue, 0 Governador se oão descuidava como estava a Cidade
tão perto, com mandar contínuos soccorros assim de gente como de sustento porque naquelles
matos e barrocas não havia em que por olhos e sem embargo que lhe chegava a nossa gente
a algumas povoaçoens não se achava mais que 0 de que erão as suas casas compostas, que o
que era sustento, e alguma cousa que possuhiáo, 0 tinhão mettido no intimo dos seus matos e
funderoens com (?) que se não forão tão soccorridos a miudo da cidade pello Governador mal
se poderá ir com aquella tão dtfficultosa empresa por diante.
Em esta porfiada conquista obrarão os valerosos Portugueses muitas façoens de guerra
assinalando se em 0 discurso de alguns Meses que assistirão a Conquista deste espeso pais com
grandíssimo esforço, tendo muitas batalhas e rencontros com aquelles obstinados gentios ma­
tando lhe e aprisionando a muitos pondo a fogo suas Libatas, Baasas, e mais povoaçoens até
que nao podendo mais suportar 0 rigor de nossas armas tratarão de largar 0 Campo pondo
se em fugida para a parte do Reino do Congo onde tinhão suas intelligencias, e reconheciSo
aquelle Reino como vassallos, o q visto pello nosso valeroso Capitão mor puchando por alguns
cento e trinta homens do seu arayal, toda moça e de bom pé com 0 Capitão mor de Cavallos
Luis Gomes Machado, com guerra preta escravos dos Portugueses, e alguma de Quiiambas, e
sovas vassallos partio em seu seguimento, matando e aprisionando muita gente dos fugidos
passando atraz delles os Rios Zemza-Dande e 0 hiena (?) até as terras do Marquês de Bumbt
Vassallo dei Rei de Congo do partido do Duque de Bamba, Capitão Geral do Reino de Congo:
Para este dito senhorio levava aquelle numeroso gentio a sua retirada, porque sabia havia
poder formado de muita fidalguia do Reino de Congo em seu amparo e favor, os quaes vierão
a Campo raso formar sua Batalha, e a ter 0 encontro aos Portugueses vindo a sua vangãrda
guarnecida com gente de adargas com Espadas e traçados nas maõs intricados das Armas de
fogo em que entravão alguns Portugueses que trasião em sua ajuda forcados.
O nosso Capitão môr e mais Cabos de Guerra com seu valor conhecido formou em esqua­
drão a sua limitada gente pello terreno dar lugar e ser huma espaçosa Campina e vindo 0 ini­
migo investindo com a sua costumada arrogancia muxi conga, cuberto tudo de suas adargas
hindo entraodo a nossa gente que como costuma aquella Nação virem curcuvados com as adargas
nas maõs, todas as cargas que a gente portuguesa tinhão dado, haviao passado as balas por
alto e havia sido 0 inimigo pouco offendido, 0 que vendo o experto Capitão môr passou palavra
a sua gente desparasse por baixo com 0 joelho no chão: Feito assim foi cahindo muitos dos
das adargas por terra, com que se lhe quebrou parte da furia cotn que vinhlo, os nossos Por-
460 Angola
tugueses que vinhão em seu favor tanto que chegarão perto se passarão para a nossa banda
virando as armas contra elles, e ajudando aos de sua Nação, pois vinham esforçados em com­
panhia dos Mixicongos contra elles, como ainda o Autor desta historia olcancou alguns em
que entrava hum homem nobre por nome leronimo do Soveral que contava esta batalha com
particularidade muito por extenso, no principio da batalha foi ferido 0 mesmo Capitão mor 0
qual derramando sangue animava com valor e bisaria aos seus soldados deseodo lhe que pele­
jassem que tinhão a Victoria certa, que em nenhuma occasiao o ferirão que não ficasse ven­
cedor; os nossos Portugueses no mayor conflito da batalha appellidavão são tiago, e os Musi-
congos também 0 que vendo aquelles inimigos disserão se 0 vosso he branco o nosso e preto,
mas o nosso branco pode mais que depois de se gastarem horas na porfia da batallha sobre
quem havia de ser o vencedor, despois de haverem os Muxicongos e gentio fugitivo, terem
perdido muita gente em tão apertado conflicto, pode mais santiago branco, do que o preto
que aquelles inimigos tppelüdavão, declarando se a Victoria pella Nação Portuguesa; posto 0
inimigo em fugida hindo se fasendo nelles muita matança e aprisionando outros, ate o cauda­
loso Rio Loge, passando os que escaparão de presos ou mortos da outra parte em que se afo­
garão com a pressa da passagem muitos inimigos não se dando por seguros desta outra banda
assolando e abrazando os nossos Portugueses vencedores todas as Povoaçoens Batnzas e Lt-
batas daquelle Marques chamado Manibumbe, ficando esta batalha memorável para os vin­
douros, por ser tão renhida com gente tão arrogante e feroz em que entrou muita fidalguia
daquelle Reino de Coçqo mandada por seu Rei a nossa opposição, e o que lhe deu mais lustre
ser apresentada pello nosso famoso e bem afortunado Capitão mor em Campanha rasa contra
tamanho poder sendo o nosso tão limitado que não chegava mais sua possibilidade como dito he
que a cento e trinta Portugueses, com mais dez que se metterão com os nossos vindo obrigados
do poder inimigo, por se acharem naquelle tempo em suas terras; a Deos se derão as dividas
graças como senhor dos Exércitos e das Batalhas estando propicio a favor dos Lusitanos que
trabalhavão por exaltar seu santo nome em tão remota parte desta andusta Ethiopia Occidental,
Foi cousa para notar que tomandose nesta occasiao alguns fidalgos Muxicongos, hum
delles que era mais presumido, pedio ao Capitão mor mandasse dar sepultura a tanta gente
fidalga que estava naquelle campo morta deu lhe permissão para que os buscasse pois os co­
nhecia para os sepultarem hindo discorrendo em sua busca topava e dtsia mui lastimado, a
qui esta Dom João Andurinha pasmo da morte; a qui Dom Pedro Ponce de Leon? aqui Dom
Calisto Andurinha zelotes dos Reis Magos; e assim foi nomeando outros muitos com nomes e
sobrenomes campeiros a seu modo, que nestes apellidos são mui vaõs e vendo este fidalgo
Muxicongo todos os seus companheiros e conhecidos, disse com arrogancia Muxiconga q seja
possível que quatro rapases matassem aqui a melhor fidalguia de Congo? que parece que a
nossa gente tinhão pouca barba; ao que lhe respondeo o Capitão mor, ahi veras 0 que fiserao
os filhos, que se eu ca trouxera seus Pays que la deixei no meu Arrayal, não ficava em a corte
de teu Rei fidalgo com vida.
Havendo o Governador sahido com esta conquista da Ensaca, empresa ião gloriosa pello
valor e boa fortuna daquelle Capitão, mor, fasendo os mais cabos que estavão em guarda das
passagens do Rio Coamza sua obrigação matando e aprisionando muito daquelle gentio da
Ensaca que quebrou para aquella parte com intento de se passarem da outra banda da Pro­
víncia da Quisama em que entrou hum Sova dos da Liga que chamavão Quitamba, conforme
a lembrança do Autor o qual pagou com a sua cabeça as ladroices que havia ajudado a faser,
sahindo com os mais daquella matesas da Ensaca, a dar em os caminhos como salteadores
e Ladroens de Estradas, cousa que hia pondo a cidade da Loanda em muito aperto, havendo
obrado tão bem em seu governo, se malquistou tanto com a gente principal da terra, tendo
com o Senado da Gamara da Cidade de Loanda onde o dito Governador assistia muitas des-
composiçoens, chegando a prender alguns q escaparão de suas maõs por ventura, sahindo se
todos fora da cidade por não chegar com elles a algum estremo, como chegou com o Ouvidor
Geral que então era Andre de Moraes Sarmento, tendo o preso, e chegado com elle a pô lo ao
pé da força com alva vestida, e por lhe acudir o Prelado Dom Frei Simão Mascarenhas que lhe
foi a mão, não teve efteito o que pretendia que livrando desta occasiao e potência tão apertada
experimentou em Portugal outro semelhante sucesso, sendo corregedor, quando foi a Evora
Cidade com comissão das fintas, mandado pella Coroa de Castella q se alterou aquella Cidade
Apêndice 461
contra elle, e sahido delia com vida com barba rapada «n trajos de Frade por Ibe njkrtm 0$
Excellentissimos Senhores Marquês de Ferreira e Conde do Vimioso, qae repararão cm parte
aquelle accidente, quando foi do Manoelinho não podendo faser mais e a vos de Evon regtrio
0 mais de Alentejo e atè a Corte de Villa viciosa (sic) chegou a roa de Manoelinho e noave
hum successo funesto na casa de hum Letrado que tinha os Papeis das ânus, em bom abrir e
fechar de mão 0 povo atumultuado, achando se nesta occasíáo doente de cama 0 sereníssimo
Senhor Duque de Bragança nosso Rei que santa gloria haja, a que acudio ao soergo daqoelU
populosa Villa 0 senhor Dom Theodosio Duque de Barceílos nosso Prmcepe de aaudoza me
moria, sendo de pouca idade se por a cavallo com muitos fidalgos e criados daquella Rea|
Casa, dando assim mostra a Villa onde era tão amado, com que tudo socegou, e com &s muitas
varas de Justiça q mandou alevantar, para prenderem e castigarem os que andassem com de-
5
sasocego, e não foi esta prevenção com tanta presteza que mais n o tivesse 0 povo anwtraado
queimando a casa do Letrado etoda a sua Livraria, de Bartolos e BaJdos, com fogeira publica
no meyo da rua, e elle fugido com Molher e filhos pellos telhados com outras particularidade»
que não relata 0 Autor desta historia como testemonha de vista, e 0 haver já relatado Dom
Francisco Manoel sogeito digno de luvor com toda a verdade em 0 Livro da sua Epartha {1)
traze por se não divertir tanto do assunto de sua historia so 0 que direi, que esumdo conTale*
cente 0 sereníssimo senhor, se fez prestes e foi em pessoa a Evora a aplacar aquel/a sedição,
0 que fez como Condestavel do Reino, e pello respeito que todo Portugal lhe tinha, e devia,
não dando ouvidos as boas vontades que lhe mostravão, que não era #ida 0 tempo chegado*
Chegou 0 Governador a grande extremo com os Padres da Companhia de Jesus chegando
lhe a sua Portaria perdendo lhe 0 respeito devido, com modo de os querer preoder ou preodeo,
fasemdo Jbe abrir a dita Portaria por força, tendo chegado a este extremo com estes servos de
Deos de exemplar vida e doutrina offendído 0 Ouvidor geral justiça major destes Reinos como
dito he, chegando com elle a tão ásperos e descompostos termos molestado o Senado da Ca­
mará, sendo todas pessoas de authoridade e serviços, fasendo os despejar a Cidade, e temendo
se de alguma resolução, largou 0 Governo, e se embarcou em huma Nao por via de índias de
Castella, 0 que também tinha já hido pella mesma via o Ouvidor Geral o qual achando o la
diante portando 0 Governador em 0 porto da Cidade de Cartagena, onde o Ouvidor estava,
conhecendo 0 apellidou prendao me com este homem, que largou o Governo de Angola o que
logo foi feito a ambos, como assim contarão armadores de Índias que vierao a este Reino de
Angola ao resgate das peças.
Contão os vaticínios impressos despois da feliz acclamação do invicto Rey de Portugal 0
sereníssimo senhor Dom João 0 Quarto, que aclamando se em Espanha el Rey Dom Felippe 0
Prudente por Rey de Portugal, buscarão a hum fidalgo Português que levasse o Guião, para ser
mais honorifica acclamando 0 por pessoa Portuguesa, e dis a mesma impressão que pode o Cu­
rioso ver, que chamavão aquelle Cavalleiro Português João Corrêa de Sousa, e 0 fasem ser 0
Governador de que falíamos, 0 qual hindo a cavallo com 0 Guião Real das Armas de Castella
e no meyo 0 Escudo das Portuguesas, e hindo com esta função e aclamação dera hum pé de
vento ou redemoioho e sacudira 0 Escudo das Portuguesas, dividindo as das Castelhanas e que
fora tanta a confusão, que 0 mesmo acclamador alvorotado 0 cavallo em que hia montado
cahira delle abaixo, vindo com 0 Estandarte e mais Armas que ficarão ao Chio, mostrando
Nosso Senhor com este prodígio que havia de ser separado 0 Reino de Portugal da Monarquia
de Castella, e se havia de cumprir 0 promettido por Deos em o Campo de Ourique ao nosso
primeiro Rey Dom Affbnço Henriques como 0 relatão tantos Escritores que 6obre os princípios
do Reino de Portugal tem escrito, e outros agora mais abreviado 0 eQsigne autor Manoel de
Faria e Sousa em 0 seu Epitome que escreveo estando em a Corte de Madrid, sendo ainda as
Coroas unidas; desculpe me 0 Leitor em faser esta reflecçao fora do assumto da minha historia
Angolana, que não he de ser tudo Eallar em Negros Idolatras também havemos de metter hum
pouco de branco que diz bem misturado com 0 preto, e este foi 0 fim do Governo de João
Correia de Sousa que principiando 0 tao bem 0 acabou tão mal.
(O liteira Cadornega, HisJorta das Guerras Angolana». Extraído áo
Ms. existente na Biblioteca da Academia das Cièocia* de Lisboa).

(1 ) Era outro exemplar tnaouacnto, existente na Biblioteca da Academia e que tem o n.* 77, esti «epaaba fora*.
462 Angola

DOCUMENTO N.® 41

R E L A Ç A Ô D O S R E N D IM E N T O S C E R T O S E IN C E R T O S
Q U E N O C O L L E G IO D E S T A C ID A D E D E L O A N D A
D O R EY N O D E ANGOLLA
T 1 N H A Õ O S P A D R E S D A C O M P A N H IA D E IE Z U S
COM DISTINSAO DOS BENS DE SUA. DOTASAÒ E FUNDAÇAÓ, E DOS QUE AO DEPOIS SE LHE
FORAÔ AGREGANDO ^ E FINAL MENTE DOS BENS QUE SAO PENCIONADOS, NUMERO DE ES­
CRAVOS QUE PESUHIAÓ, E QUANTIDADE DA PRATA DA IGREJA, O QUE TUDO SE DEDUZ NA
FORMA SEGUINTE

R E N D IM E N T O S CERTOS

P o r 8oo#ooo rs de rendimentos certos que tinhao os ditos Padres


que estes saõ dous mil cruzados da ordinária que recebiaõ por
ordem de Sua M a^pxade Fidellissima da sua Real Fazenda neste
R eyno os quaes se lhe concignarao por Alvará de 14 de laneyro
de 161 5 , e confirm açaô de 19 de laneyro de 1617, com declaraçaõ
que hera a 80^000 rs a cada hum Padre, e sendo estes menos se
lhe pagaria a este respeito............ ....................... ................................ 8oo$ooo

R E N D IM E N T O S I N C E R T O S

P o r 10:894^400 rs quetanto importao os rendimentos incertos que


únhao os ditos Padres no mesmo Collegio, a saber 6:ooo#>ooo rs
do valor dos mantimentos das terras que possuhiao; i :856$400 rs
dos jornaes dos escravos officiaes de vários officios; 8oo$ooo rs
de aluguer das propiedades de cazas; 600^000 rs de rendim.10 de
telha; 3 oo#>ooo rs de rendimento de tijollo; 5oo$ooo rs de ren­
dimentos de cal; 5 oo#ooo rs de lucros dos remedios da Botica, e
338 #ooo rs da renda das galinhas; que tudo miuda mente se de-
duzio na relaçaÕ que foi junta ao proprio Inventario e todos estes
' rendimentos de hum anno saõ incertos, segundo suas expecias e
qualidades, respeitando a diferença do tempo, e de ambas estas
quantias abatidos 5:294^4.00 rs que em cada anno se lhe regula­
rão faziaÕ de gasto lhe ficavaõ líquidos 6:400^000 rs que saõ de-
zaseis mil cruzados....................................................................... ...... i°:8Q4f400 u;694â)40O

Consta de alguns papeis antigos que se acharaõ no Collegio dos mesmos Padres haver
Collegio no Reyno do Congo, antes que o ouvece neste de Angolla em tempo que nelle naõ
havia inda Povoaçaõ de Portuguezes; sim havia do Rey Angolla Inene, e seu Povo, e naquelle
do Congo heraõ pesuidores os ditos Padres de bens cuja quantidade e tempo se naõ acha me­
mória, porem consta que depois de fundado o Collegio nesta Cidade de Loanda, viera do
mesmo Congo prata com que se fizeraõ alampedas, mas naõ consta do pezo oü quantidade, e
naõ se acha memória de que viecem mais bens, daquele Collegio para este.
Nesta Loanda sendo ainda villa consta havia caza, oü colégio de Padres da Companhia
edificada no Morro de Saõ Paulo que se asentou naõ hera conveniente por varias razoens, e
porisso com cordaraõ em i 5 de lunho de i 5g 3 , que se fundace este collegio que agora existe,
cu*)a comcordata foi rezolvida pellos Padres Iozé Pereira, Diogo da Costa, Antonio Paes, Hje-
ronimo Lopes, Pedro Barreira, e Pedro Roiz, que com effeito se effectuou a dita fundaçaõ,
Naõ consta que o dito Collegio tivece bens memoráveis de sua dotaçaõ e fundaçaõ, e som/*
Apêndice 4«
0$ chttom em que se fabricou que lhe foraÕ dadot pello Govenudor que f ;í deatz Ríyao o
primeiro que a elle veyo com este posto Paulo Dias <fe Nanei; com outi*. s rr.*.-i chaen« par«
poderem fabricar, de que tomaraõ poce cm 1% de Abril de 1J93, por manda i, d.» G w rn *j<?r
Dom Hjerooimo de Almeyda, perante 0 Ouvidor loaõ de Vctorio, e para ío* Re-
ligiozos naqueles principio* se lhe dava da Fazenda Real ordinarii que naó r «m »>cerro,
porem hera mais diminuta do que esta que finalm.** tiohaõ, como tamb-,-m íhe lirw *cr ciJ *t
3
para sua sustentação alguns sovas que heraõ Pretos apotenudo», e estes Í .e contribubud c
mantimentos para sustento dos escravos que já pesuhiaõ:
E sendo 0 dito Collegio já fundado na forma que expresado fica por reroluuõ tomada
a
no aono de 1593, e final mente afectuada, e acabada obra do dito collegio que consta ser
no anno de 1639, em dia de Saõ Francisco Xavier sem constar de ben$ alguns de sua dousaS
como dito fica, consta que no aono de 1621, por hum documento muito iaprecctiveJ Qk fes
Gaspar AU morador que hera deste Reyno em d de lunho do dito anno doaçaõ de catone mo­
radas de emas, declarando ao dito documento que 0 rendimento hera para susienusaõ dos
Padres, e do dito documento se naõ percebe que lhe fizece esta data compensaõ oü obngaçaõ
algua, nem também consta quaes no prezeote tempo sejaõ as ditas catone moradas de ca/aa,
porem he certo serem das qne exzistem de prezente,
Recolhendoceno mesmo, Collegio 0 dito Gaspar AU por IrmaÕ leygo,e sendo nelle aceyto
3
em t , de Fevereiro do anno de 162?, fez seu Testamento em a3 do dito mez, e anno, que tem
5
as aprovaçoens oQ cumpraces nelle postos de a », 27*, c 28 de Outubro do dito anno, cuja
copia e theor de verbo ad verbum he a seguinte. *

Testamento de Gaspar Al{

Em nome de Deos amen, Saybaõ quantos esta minha carta de Testamento, e ultima von­
63
tade virem, que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Iezus Christo de i a „ annos aos
3
a de Fevereiro deste prezente anno, estando eu muito bem disposto, e em meu verdadeiro
Iuizo, e entendimento, de caminho para fora deste Reyno por descargo de mu* conciencta fiz
este em que declaro que sou Filho de Gaspar Alz e de Izabel Fri de Jegitimo matrimonio, mo­
radores que foraõ na cidade de Lix.* na Freguezia de Saõ lozé = Declaro que como eú naõ
tenho nenhum erdeiro forsado, que estou metido de dés dias nesta Companhia de Iezus donde
sou Noviço, e aos Reverendos Padres pertence o enterrarem meu corpo e emeomendanne
minha Alma como estaõ obrigados por eu ser tres vezes fundador, a primeifa dos estudos desu
cidade de Loanda, para a qual fundaçaõ lhe tenho mandado dar em Portugal dés mil cru7ados,
e aqui lhe dey dous corraez hum de ovelhas, outro de vacas, e para fundaçaõ de hum collegio
do Congo lhe tenho prometido vinte mil cruzados de pessas de índias, e asim mais outra fua-
dasaõ que se ha de fa2er nesta Loanda de hum seminário, que se fará defrome da Mizericordia
na cerca dos Padres, onde teraõ por obrigaçaõ sempre doze Mossos para sima, e os ditos Pa­
dres seraõ obrigados a lhe fazer 0 seminário de pedra e cal, e os teraõ a sua conta dando lbe$
0 necessário para vestir, e Comer, e todo 0 mais sustento, e ensino; Estes seraõ filhos de ho­
mens pobres destes Reyoos, e isto será para sempre, e para isto ter effeito lhe dou mais vinte
mil cruzados, a saber dez em panaria do Congo, e outros dez em pessas de Índias.» Eü tenho
escripto a Sua Magestade sobre 0 seminário, e lhe pedy me vendece quinhentos cruzados de
juro no contrato e sahida dos escravos que vaõ deste Reyno para a Bahia e Pernn.eo para o
provimento deste seminário em direitos, se 0 dito senhor fizer esta esmolla pagarcehaõ com
os dés mil cruzados empanaria, e quando naõ tenha effeito, comprarcehaõ algumas cazas para
renderem. = Os chaons que tenho ao longo da Mizericordia peço ao R.*®P.#Reytor, e aos
mais Padres por amor de Deos que façaõ duas moradas de cazas para renderem para 0 Hos­
pital desta Loanda. = A Paschoal Antunes dará vme#logo por minha conta sesenta ovelhas, e
fazendo Deos de mim alguma couza lhe deixo dous mil cruzados de minha fazenda, e hum es­
cravo maco lunto por nome Antonio, e Lucrecia com outo pessoas mais dos que tem comsigo.
« Deixo mais aos filhos de IoaÕ Ali, e filhos, que é vezinho em Abraotes õooípooo rs = Deixo
mais a Mizericordia de Lix.9600^000 rs que aqui se lhe darao em créditos = Item declaro que
eu sou Procurador da Santa Casa da Mizericordia de Lix.‘, e que de tudo o que lhe deviaõ
464
Angola
nesta Loanda, e cm Congo naÕ cobrey mais que de Custodio Antun.* 36 o#ooo rs de pessas, oú
o que no seu livro se achar, e hunS panos dos da Praça, a demazia dcvea o dito ou seus her­
deiros, ç lhe mondey tudo com íoao de Miranda cm companhia de Francisco da Costa o bor-
quciro, «= Declaro que cobrei mais aooitooo rs que me mandou o Capp.#®Henrique Dias da
Estrada, os quaes mandei a Santa Caza por Duarte Lopes Lix.* por via de Cartagena, 0 que
tudo constará pelias escripturas que estaõ nas notas, ao tempo que foraõ feitas se verá do
livro que está em hua gaveta do escriptorio grande que hé de huma maõ de papel 5 também se
verá deste livro o muito dinheiro que tenho mandado por via do Brasil Ryo da prata para se
cobrar, e mandar cobrar, e muitos asignados, contratos, contas de livro por donde se me
deve muita fazenda,» D eclaro que Francisco Charamela 0 emprestey ao Governador, que o
cobrem delle que vai mil cruzados, e 0 cobrem como cousa própria que he para pagar aos
Padres do que lhe eü devo = Declaro mais que se qualquer das fazendas que eu deixo nomeadas
por algum respeito naõ tenhaõ effeito o Padre Reytor deste Collegio com os mais Padres po­
derão mudar a fundaçaõ do collegio do Congo para outro Reyno, ou o seminário, e em cazo
que nem huma couza nem outra tenha effeito os quarenta mil cruzados se gastaraÕ todos em
cazar orfans por maons dos Padres da Companhia deste Reyno. = Deixo a Confraria de Nossa
Senhora da Conceyçaõ ioo$ooo rs para hum retabolo dourado, estes se darao em L is b o a »
Deixo a Santo Antonio coatro pessas de índias para que os Mordomos mandem vir de Lix.a
hum retabolo m.to fermozo dourado, Declaro que eü mandei dar a Manoel da Sylva 8o#ooo rs
em Lixboa para hum^ptabolo das Almas, sethelá naõ derem 0 dinheiro por algum respeito se
dem coatro pessas de Índias a Luís Giz Bravo, que elle como devoto o mandará fazer. = De­
claro que eu tenho feito huma capella e posto nella as tres moradas de cazas, a saber as do
Feytor de sobrado, e as duas terreiras que se seguem dç huma Missa cotodianna que os Padres
de SaÕ José estaõ obrigados a me dizer por i 3 o#ooo rs Paschoal Antunes por administrador
delia e seus filhos; as cazas rendem mais de 200&000 rs, sem embargo dessa escriptura que
fizemos dizer cento e trinta, eü lhe dou cento e sincoenta e asim quero que lhe dém a cento e
sincoenta mil reiz, emq.*° os alugueres derem para isso, e quando vaõ afraiando os alugueis
entaõ lhe darao os cento e trinta mil reiz, e a demazia será para 0 administrador as hir repa­
rando, e 0 que restar será para elte, e naõ querendo Paschoal Antunes aceytar. Peço ao Reve­
rendo Padre Reytor e mais Padres tomem a administraçaõ desta capela a sua conta pelio amor
de Deos. = Declaro que eü promety aos Padres de Saõ Jozé coatro mil cruzados de panos da
Praça para fazerem a sua Igreja que eü lhe tenho dados segundo minha lembrança trezentos,
ou coatro centos mil reiz, peço ao Reverendo Padre Reytor, e a Paschoal Antun.*’ logo lhe
paguem dos alugueis das cazas que por minha conta haõ de correr athé Julho de 624» annos
» D e cla ro que levandome Deos para s^ se darao a mulheres pobres e alguns homens dous mil
cruzados.»D eclaro que huma Mossa Irmã de Joaõ Bauptista que aqui faleceo a qual conhece
Paschoal Antunes, cunhada de Antonio de Barros, diz que se quer recolher em hum Mosteiro
lhe darao mil cruzados para se recolher, os quaes se naõ darao, senaÕ depois de recolhida, e
isto dara Francisco de Payva ao Padre Procurador de Santo Antaõ para que elle da sua maõ
os de depois delia recolhida a Abadeça, e este dinheiro se dará por ordem e carta do Reve­
rendo Padre Reytor, *= Declaro mais que toda a fazenda que se achar depois de se cumprir
este Testamento se cazarão orfans, e se dará a pobres, as coatro partes do que remanescer
quero que se cazem orfans = Declaro mais que hum Frade capucho por nome Fr. Antonio de
Santo Estevão me veyo pedir huma esmolia para fundar hum Hospital, se vier com Provizaõ
de EI Rey ou Letra de sua santidade para com censuras se cobrar que lhe darao escriptos que
cobre dos herdeiros de Barros, e de outras Peçoas de congo, e de Sylvestre Soares, sem fazer
nem huma quebra, mas este dinheiro he de hir todo por ordem do Padre Reytor, a entregar
ao Padre Procurador de Santo Antaõ para que de sua maõ se gaste em hum Hospital que os
capuchos querem fazer em Alcantara, e para este effeito lhe darao vinte mil cruzados, com
condísaõ que eu hei de ser o fundador por amor dos sufrágios, e nao tendo isto effeito como
digo os Padres dispenderaõ este dinheiro com cãzarem orfans, e com pobres, saberaÕ se há
alguns Parentes meus em Portugal a quem acudiraõ com cem mil reis cada hum. Das orfans
que mando que se cazem de minha fazenda entraraõ as filhas de Gaspar Garneyro a duzentos
m il reiz de panos cada huma, por que em meus tratos e pagamentos que nesta vida hey feito
m e sinto pejado; Peço aos Padres da companhia a quem deixo por meus herdeiros, e Testa-
Apêndice 405
menteiros a portes fechadas, os quaes bey por apossados, t metidos de poce àt fcoje ptrâ
sempre me descarreguem a conciencía, tomando as bulas de compcmstò que Ibe parecer, 1
mandando dizer em Portugal duas mi! Missas peita Almas daqoeüs Peçoas a quem «G «atoo
em algua restewísaõ do dia que compecey a ter negocio atbé boje, porque saÕ moitas, t eff
naõ sey se saõ vivas ofl mortas, isto no melhor modo que poder ser; £ porque efl naõ posso
fazer este Testamento em publica forma oera o posso aprovar por embarasarme escondido,
por hum aleive falço, e falço testemunho que 0 Governador Joaõ Corrêa me alevaotou peço
£1
as fustiças de Rey Nosso Senhor asim seculares como Ecleziastfcos 0 mandem cumprir e
goardar, asim como nelle se comem, por quanto esta hé a minha vitima vontade, e asim quero
que valha alguma declaraçaõ que abaixo mais fizer.« Declaro que do dinheiro qae vier do Ryo
da prata deixo ao Padre Duarte Vax duzentas patacas para suas Irmans que o Padre Reytor
lhe mandará, e em caso que na6 venha dinheiro de qualquer outro se lhe mandará*» A huma
Mossa Catherína mulata que está em caza de Paschoal Antunes deixo forra que a cazem, â
qual deixo huma raoleca que com ella está, e asim mais humas cazas de pedra que fiz na nossa
senzala, e asím lhe daraõ duzentos mil reiz de panos e huma escrava que a criou por noÔe
Maria Ambuela com seus Filhos; Com isto hey este Testamento por aprovado, e de toda q u
fazenda tenho, hey logo por apossados os Padres da Companhia de Jezus desta cidade de
Loanda, asim do que neste Reyno tenho, como do que tenho em Portugal, índias, fírazil; e
por asim passar na verdade asigney com os Padres que aceitaraõ, e como taes asígnaraõ, como
testemunhas» Gaspar A!z = Geronímo vogado* Manoel Bemardes ^ Matheus Cardozo*
Antonío do Amaral »Simao de Aguiar «Duarte Vaz«Cumprace este Testamento como
nelle se contem Loanda 27 de outubro de 623« Manoel D ias* Joaõ Luís Ramos Tabaliao do
publico Judicial e notas escrivão dos oríaons nesta cidade de saõ Paulo de Loanda Reyno de
Angolla e &.* certefico que a letra e signa] do testamento atraz há de Gaspar Alf morador
que foi desta cidade nelle contheudo, e por verdade passey esta em Loanda 27 de outubro de
623« annos, em publico e razo » Pagou desta 0 contheudo =* Joaõ Luis Ramos ** Cumprace 0
63
que toca ao pio. Loanda 28 de outubro de a »= D. Fr: S. Bispo Governador —

Desta Testamentaria herança aceyta pellos ditos Padres se reconhece as concideraveis


quantias de dinheiro de bens de raiz, e escravatura com que fiçaraõ do dito Gaspar Ali, os
quaes há noticia valerem perto de coatro mil cruzados segundo se menciona em bua Provizao
Regia expedida pello Tribunal da Meza da conciencia reprovando o mesmo Testamento, em
que a respeito delle diz 0 que abaixo se segue.

Propi\QÔ que contem partos p a rticu la res


que a respeito do Testamento de Gaspar A l\ d eclara 0 seg u in te

E porque também sou informado que por falecimento de Gaspar Alz que morreo nesse
Reyno recolhido na Companhia de Jezus Noviço ficaraõ perto de coatro centos mil cruzados
de que aqueles Religiosos se apoderarao, e que 0 Testamento que fez naõ foi aprovado, nem
feito em publica forma por serem Testemunhas nelle os mesmos Religiozos da companhia, e o
Reytor do collegio,e que tendo os oíficiaes dos defuntos em seu poder gram copia de fazendas
do dito Gaspar Alz por (1) falta de palavras por estar ruido e naõ ser 0 Testamento valioso os
ditos Religiozos os compor por esta falta dando lhe tres mil cruzados a cada huma Peçoa que
requeria pellos auzentes, esquecendoce os ditos affé (2) do que deviaÕ a meu servisso, e a obrigação
de seus officios lhes largarao toda a fazenda, pello dito interece, e querendo eü acudir a$ queixas
de meus vassalos com intento de que a todos se faça Justiça como tenho deobrigaçaõ, e evitar
3
clamores dos herdeiros ( ) vos mando que logo que recebereis (4) esta ordeneis ao dito Lecenciado*2 4
3

(r) Na provisão original, cnja 1 .• via se encontra no cód, 5i -vid*3o da Biblioteca da Afoda, foi*. íi/S, en» vez do qoe
se vai ler até Péfca, está: »haverem que morrera abintestado, e nao ser 0 testam.1»valioso, os dilot Religiosos eorrooi-
pendo os ditos ojiciâes, cõ peitas, e dandolke ires mil cruzados, mil cru{A* a cada Ftssoa, e outros mil a pessoas.
(2) off.«*
(3) do dito deffucto.
(4) receberdes.
59
406 Angola
Diogo Nabo Pessanha que na forma da Provizaõ que se lhe remete que em tudo hey por bem
que se cumpra e goardc obrigue aos ditos ReUgiozos que façaõ Inventario de toda a fazenda
que ficou por falecimento do dito defunto, para se depozitar em maõ de Peçoa segura e abo­
nada, e se dar a quem dtreitam,1* pertencer, e sendo cazo que os ditos Roltgiozos perturbem o
fazer Justiça com algumas sensuras,a tal Pessoa, oG Peçoas, posto que E deziasttcas sejao que
o intentarem e naÕ obedecerem a meus mandados, os embarcareis logo para este Reyno, e
mandareis hir por diante com as ditas deligencias na forma da dita Provizaõ, e também pro­
curareis ínteirarvos dos respeitos que moverão ao Juiz ordinário, e ouvidor geral dessa cidade a
porem o cumprace no Testam ento de Gaspar Alz sem ser aprovado na forma de minhas Leys,
e do que achareis (i) me avizareis clara e partícularm.18 para mandar proceder (2) como mais
necessário (3 ) for, e espero procedais em todo o referido de maneira que tenha efi muito que vos
agradecer. E l Rey Nosso Senhor o mandou pelioç DD. Francisco Pereira Pinto, e Sebastião de
Carvalho deputados do Despacho da Meza da conciencia e ordens, Antonio de Aguiar a fez em
Lix.* (4) de outubro de 16 24 = Manoel ( 5) Roiz Tinoco a fez escrever = Francisco Pereira
Pinto = Sebastiaõ de Carvalho » E naõ continha mais a dita Provizaõ = Com o hera falecido
D iogo Nabo Passanha, nomeou o Governador para executor desta Provizaõ na forma que ella
diz a Martinho Corrêa que servia de Juiz ordinário.

NaÕ consta que a esta Provizaõ se déce cumprimento e execução, cujos motivos se nao
alcançaÕ, nem delles bf memórias, porem os ditos Padres da Companhia exzístiraõ na poce de
todos os bens que hé a mayor parte dos que de prezente pesuhia o dito collegio, e asim de
Arimos com o de escravatura, cazas e mais benS, sendo os Arimos dos principaes como hé o
grande do Bengo, e fazenda do D ande.

Do referido Testamento e benf que pesuhia o testador naõ consta se fizece Inventario,
nem também se se cumprio o que nelle se contem, e sómente o que de prezente se certifica hé
o naõ estar cumprido o legado das duas moradas de cazas que mandava fazer para renderem
para o Hospital desta Loanda, que para 0 seu cumprimento corre letigio a dilatados annos, 0
Prov,0r e mais Irmaons da Meza da Santa Caza da Mizericordia aonde se acha 0 mesmo Hos­
pital contra os d.0' Padres em que tem havido tres sentenças conformes, nesta cidade, e na
corte de Lix.1 no Juizo das appelaçoens e aggravos da corte e caza da suplicasaõ; e finalmente
nesta cidade de Loanda estaõ os Autos para se julgarem afinai mandandoce por todas as ditas
sentenças cumprir o dito legado, em que os Padres na sua ultima reposta tinhaõ convindo
sem mais duvida em satisfazer em dinheiro o valor das ditas duas moradas de cazas: Também
athé o prezente naõ está cumprido o que o testador detremina na fatura do seminário para
Éstudantes, porque o naõ há nesta cidade, pello que a respeito do mais naõ consta de couza
, algua a que se dése cumprimento.

Alem desta Testamentaria tem os ditos Padres tido outras, porem naõ de taõ gr.de quantia
com o a de Gaspar A iz, e menos em que os deixacem por herdeiro, porem dos bens de raiz que
ouvecem hé verosimel e inferência que pella sua administraçaõ ficarao com alguns dos que
pessuhiao, de que também nao há memória ou Lemrança algua.

Naõ consta que os ditos Padres compracem bens alguns de raiz, nem escravos, e somente
a poucos annos compraraÕ humas Terras citas na parage que tem o titulo de samba suburbios
desta cidade por preço de sesenta mil reiz ao capitao Francisco de Lemos Simiao que se
achaõ Lansadas no Auto de discripçaõ dos bens Inventariados f. 35 , e consta também por Pe­
çoas exzistintes que compravaõ por varias vezes gado vacum, pello que os bens que pesuhiaõ
saõ por datas de Peçoas particulares, dos Governadores deste Reyno, e por heranças.12
5
4
3

(1) achardes,
(2) prover.
3
( ) meu serviço.
(4) a X V í.
5
( ) Marcos.
Apêndice 467

De todos o s benS que petuhiaS os dito* Padres sdm.* s%5 Eifnrinw dM dna* jMopiedsdes
de cazas, a saber k u s que se acba lansada u d t ta ifU Ü dos beaS C 33 m V u d â em j c o ^ m f*
que tem a pensaõde ) 3$ooo rs por b ab o para a capella de N osM t ^ t a n ^ d o so co rro e m e^i \
dito collegio, e esta propiedade a cooiprara6 os Padres a tu in td a e a reedificarm& pata
porem a dita pensaõ, a qual procede de Juros a tres por cento da quam ia de bo m con to e
cem mil reÍ2 que o Padre Reytor que foi do dito collegio Dkrgo M estra por seu Ulccio&er.io
deixou para render para a dita capella, para cujo fim o s P adres tam arafi o dito dintaiim a
Juros na forma dita estabalecendo a dita capella n a d ita propiedade, a qaaLdn m u práteipso ca
entende foi comprada com os reditos dos ditos Juros, e destes eonsta e stu e m devendo a m esm a
capella duzentos mil reiz que o s na3 tem satisfeito t
TJliimamente também bé pencionada a propiedade de c a ta s de sobrado lansad&a n a dis-
crtpsaÕ f. 34 citas defronte da sé desta cidade, avaliadas em 4^o5>ooo rs que a. pca cio u o u seu
propto pesuidor o restaurador deste Reyno S alvad or C o rrê a de sá e BeoavldespKSya* tessdt-
mentos se dividem em tres partes, hua para azeite da alam pada d o can cú sú m o saciam .1* do
mesmo collegio, outra para pobres, e a terceira para c o o ce rto s das m esm as coxas que estas te
achao com m uita dam oificaçaó e aramadas, e por este respeito b i ann os o a ó tem b a tid o a
e llas alugador por nececitarem de grande co m certo i T o d o s o s m u s bens b é con stan te serem
livres e sem pensaõ algum a, com declaraçaõ que a p ra ta , orn am en tos, e m a is exp ectas que n a
d iscríp çao dos bens v aõ declarados debaixo de titulo de cap ellas, esses perten cem a s su as Ir­
m andades e con frarias seculares. +

Memoria da qttaitlid.* dos escravos


de que heraõ pesuiáores os Padres desíe collegio

33o E s c r a v o s exzisten tes n as senzalas d e sta cidade.


294 N a F a z e n d a e A rim o d o B e n go .
3o N o A xim o d a Q u ilu n d a .
27 N o A rim o d e M ucari,
4 N o A r im o d o Z e n g o .
i 3 N o A rim o d o q u in ju n go,
t N o A r im o de c& tum ba.
22 N o A r im o P ir y .
7 No Arimo de cambondo.
i5 No Arimo de qutnbondo.
2 No Arimo de sala Anga.
52 No Arimo do Dande.
2 No Arimo de Icaõ.
3 No Armazém da Barra do Dande.
55 No Arimo do caly.
26 No Arimo da zambela.
11 No Arimo de cafucala.
i 33No Arimo da Quiagonga.
21 No Arimo do Quixoto no Lembo de Masangano*
20 No Arimo de Muongo.
12 No Arimo do Quisequeie.
1080 Escravos ao lodo que se aebao Lansadas na discripçaÕ com seus Lugars compettntes. 4F
Prata pertencente ao colégio e mais capellas
que dentro da sua Igreja tem
M arcos onças ontavas

549 1 3 De prata e sinco ouiavas vinte e coatro giaons de ouro em vaúas pessas
que constao da disctipsao i. * e v.®pertencentes a dita \gte\a do co\-
tegio.................................................................................................
*
I 468 ■ A n g o la
/
Mmreo* euur«i
íOt S i D e prata p erten cen te a capella de Nossa senhora da Asumpçaô que admi­
nistra o cap.“ A ntonio JoaÕ de Menezes, e consta da discrípáeõ f. 5 ..

3 * D e prata pertence a Capella de saõ Francisco x .te e sua Irmandade e consta


da discripsaõ f. 5 e v.°........................................................ ....................

*8 3 6 D e prata constaô a f. d.»• pertencentes a dita Irm andade de saõ Francisco



x.*r consta teremce mandado para o R io de Janr° para se fazer huma
c r u z .................................................................................................................

4a — — D e p r a ta p e r te n c e a c a p e la e Ir m a n d a d e d e N o s s a s e n h o r a d o S o c o r r o e
c o n s t a Ô d a d i s c r i p s a õ f. 6 e v .# ...................................... .............................................

l°6 3 - D e p r a ta p e r te n c e m a c a p e lla e Ir m a n d a d e d a s s a n ta s o n z e m il v ir g e n s e
c o n s t a ô d a d i s c r i p s a õ f. 6 e v , ° .......... ......................................................................

65 6 2 D e p ra ta pertencem a cap ella da Irm andade de N ossa sen h ora d o R o sário


e c o n s t a ô d a d i s c r i p s a õ f. j .. . ................... ........................................ .....................

3í ~ 2 D e p r a ta c o n s ta ô d a d is c r ip s a õ í. 7 v .° e s t a r e m e n tre g u e s a o o u r iv e s M a ­
n o e l R o i z d o V a l e p a r a f a z e r h u m a c r u z p a r a a d i t a I r m a n d a d e ..........

4 - 7 D e p r a ta em h u a barra co n sta ô da d is c r ip s a õ f. 7 v . ° e s t a r em ser p er­


t e n c e n t e a d i t a I r m a n d a d e ............... ♦ ♦ * ................... .. ...................................................

______ 7 6 A lií e d e zo u to m a rcos, sete onças, e seis o u ta va s d e p ra ta s o m a a o to d o


em varias pessas com p eten tes a o o rn a to da Ig r e ja a m a y o r p a rte de
o b ra m odern a, a que se n a õ deu v a lo r , e se n e c e s s á rio fo r o tem p e lla
m esm a L e y ou e stim a ç a õ das m esm as ob ra s, qu e to d a s se achaÕ d is ­
tintas na d is c rip s a õ c o m a d eclara ça Õ d a que p erten c e a I g r e ja e ás
capellas, e suas Irm a n d a d es, e ta m b ém se naÕ deu v a lo r á m u ita q u an ­
tid a d e d e ric o s e cu sto sos o rn a m e n to s que c o n s ta o d a m e s m a d is c rip s a õ
p o r serem de o rn a to d o T e m p lo , e a d m in is tra ç a õ d o s s a c r ifíc io s qu e
tudo i s t o im p o r ta em m u ito c o n c id e r a v e l qu an tia.

M e m ó r ia d o que con têm a a v a lia ç a Õ d e to d o s os bens


q u e na d is c r ip s a õ qu e se rem eteo a su a M a g e s ta d e F td e lis s tm a
que D eo s g o a rd e

7 2:7 2-9 xt>6 i i rs Importaõ todos os bens lansados na dita discripsaõ, como no fim e fecho delia
consta.

Re{umemce todas as avaliaçoens dos bens


com a separasaõ de ires qualidades na forma seguinte

3 5 :ç 3 q$>8 oo rs ImportaraÕ as avaliaçoens dos bens de raiz, de cazas, e A rím o s .........................


26:2?g$>q.oo rs Importa o valor e avaliaçaÕ de loSo escravos..........................................................
10:5 12 $ 4 i i rs Im porta o valor e avaliaçaÕ dos bens moveis, dividas, e dinheiro.......................
72:729^611 .

A c h a õ c e os A rim o s e fazendas administrados porPeçoas de inteireza e verdade por tempo


d e hum armo dandoselhe p ello seu trabalho hua terça parte dos frutos que renderem com obri-
t. s -s - <>
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Apêndice

gaçao de os cultivarem com cuidado c zello; c as propíedades^e CâzaStambcm se acha a


mayor pane delias arcndadas. - ■

Declaracc -qtie hé constante que este colégio hé devedor de algumas quantias de dinheiro
que cobrou o seu Padre Procurador pertencente a pcçoas do Brazíl e Portugal que ainda nao
cstaÕ satisfeitas menos athé o prezcnte se tem pedido, e por isso nao estão averiguadas.

£ pella referida forma foi principiada, fundada, regida e administrada a dita caxa Reli-
*
gioza dos Padres da companhia de Jezus desta cidade com todos os bens que pessuhia que
pella forma deduzida foraõ adequiridos, e esta prezente Relaçao foi por detreminaçao e man­
dato do III."® e Ex.®° Governador e capiiao general deste Reyno Antonio de Vaxonceüos
mandada a mim escrivaõ da Real Fazenda a fizece: Saô Paulo da Asampçaõ Reyno de An*
golla 2p de Julho de r?6ot
O EscrivaS da Real Fazenda

AnJ° Ferrfi Cardoso


(Biblioteca Nacional de Lfeboâ. Secçfo Ufnwurm).

t
DOCUMENTO R® 44

INFORMAÇÃO
Souas he entre os negros, como entre nos sn” de terras // Moríndas uai 0 mesmo q Mor­
gados // Macottas samos grandes a q* compete as elleiçoes dos senhorios, e sem cujo pareçer
e cons° nlo podem dfll senhorios e souas obrar cousa alguã. Isto posto Hera snnw da Morinda
<le Gonza moyza, antes q 0 olandes tomase este Rn® Quiluange de Quisouhca (tie) q de sua
principal molher houue dous filhos; a saber D. Sebastiam Gonzamoyza 0 mais uelho,e D. Ioão
Moquilla 0 mais nouo.
Por morte do d®Quiluangi de Quissuca, ellegeram os Macottas por sr da d* Moriada ao
filho mais uelho D. Sebastiam Gongamoyza, q a gouemou largos annos: socedeo ocupar o
olandes este Rn® e denunciar do d®D. Sebastiam, seu jrmão D. Ioam Moquilla q com dez®* de
ser sr da terra, lhe imputou q era treidor a nossas armas, e q de secreto se comunicaua com 0
olandes, ou com a Raynha Ginga, q em odio qosso estaua aliada com 0 d®olandes.
Gouernando antam este Rn®, e nossas armas, q estauao recolhidas em Maçaog“ tres dos
principais moradores, dos quais hum patrociaaua 0 denunciante, por cuja causa sem mais pro*
cesso, nem acto algu jurídico mandarão degolar a D. Sebastião, e deram de poder absolnto o
senhorio, e Morinda ao denunciante seu Irmão D. Ioane Moquilla.
Leuaram mal os Macottas a morte de hum, e intrancia no gouerno do outro, assi p. q. p*
■ esta lhe tirauão a elíes a liberd® de nomearem sor q. sempre neste Rn° acompanhou a seus
cargos: como p. q. sabiam q. a outra fora injusta, e arguida somente a culpa, p!* malignid*
de D. Ioane fundada na ambissam de gouernar.
Tres mezes, nam mais gouernou D. Ioane Moquilla esta Morinda; e como nelies não coa-
tríbuise com as ofertas q. fizera a seus Patronos, q. 0 intruduziram no gouerno, deram traças,
com q. o obrigassem a ir a guerra, q. antam fizeram nossas armas contra a Ginga, na qual foi
«He aprizionado.
Sabido p,0‘ Macottas q. neila ficaram, seu catiueíro quizeram a seu uzo eleger s*: impidira
lho os mesmos fautores de D. Ioane Moquilla, prezumindo q. metendo a hum sf seu por nome
quitari no gouerno lhes contribuiria com a promessa do pay.
Leuaram mal sua intrução no gouerno os Macottas, por uer se lhes tiraua seu preuilegio,
em" peorq. elles 0 leuaram tres tios seus bastardos, meyos innaos de seu pay Moquilla, cha­
mados Canhongom Cabanga saquiluangi, e vungi, e de tal modo alteraram a terra, q. foram
.mandados uir todos a esta cid* p10 g1 Saluador Corrêa, que ja fieste tempo gouemaua o Rn®.
Vindo m ataram no cam inho a Q uiiari, c receosos do castigo uoltaram p° a Morinda, da
qual se apossou forsosam ente V u n g i: sabido o caso foram p, ordem do d« gn» presos, e dego­
lados antes de cu ja execução descubrinun de publico, o testemunho q. com elles leuantara
D, Ioane M oquilia, a D, Sebastiam seu jrmSo, com o sua m orte fora innocente. e como el*e
nunca fora traydor.
T en d o certeza desta confissam o d* gnl cumdo estaua a Morinda sem sr por que D. Ioane
M oquilia podendose uir da Ginga q. lhe deu liberd* o nam quis fazer, conhecendo ser descu-
b e n a sua aleiuozia, (pu qual se receou uer castigado) mandou aos Macottas, elegessem senhor
a seu u zo, e ellegeram a D. Sebastiam Quiluangi, filho do degolado D. Sebastiam, e foi confir­
mado no gouerno pl° mesmo Gnal, e gouernou pacificamente atee o fim do gouerno do Gou0'
Ioam F r 1 V ieira.
Soube D. Ioam M oquilia, a elleição do sobr0, e com fauor da Ginga mandou por uarias
uezes darlhe assalto na terra com damno considerauel nosso, deu parte D. Sebastiam ao d* Gnl
t capitains do Prezdo de Am baca, os quais tiuerâo intigencia p# hauer as maõs os cabeças de
tres asaltos, e foram degolados.
Depois de largos annos, ueyo este D. Ioane da Ginga, publicando uir fugido; mas sabendo
se tinham alcançado suas treiçoSs, esteue occulto outros poucos, ate q. morreo D. Sebastiam,
p. morte do qual quis entrar no gouerno; repugnara os Macottas, sua nomeação, e elleição, e
foram mandados uir todos abaixo p* serem ouuidos, e de facto o foram do collegio desta cidade
inierpetres o P° Seba^iam Pimenta Raposo, e o cap. Mor Cosmo Caru0; e alegaram de tal
modo os M acottas contra d° Moquilia, q em tudo o conuencerão, e o d° Gou° lhes mandou
passar Prouizão p.q. a seu uzo elegessem.
Em uertude delia ellegeram a D- Fran°® Gongam oyza primeiro filho, e de sua prim* e prín-
sipal molher, do deffunto D. Sebastiam Quiluangi, neto do degolado D. Sebastião, e Bisneto de
Quiluangi de quissuca, o qual foi undado, confirmado, e apossado, da d# Morinda, e senhorio
p. Prouizão do d° sr GouOT, e gouernou cinco annos com asseitação, e aplauso de seus macottas
e vassallos-
No fim delles chegou o gouernador Tristam da Cunha a q“ Moquilia fez hüa petição afim
de o mandar meter de posse da da Morinda, e excluir delia a D. Fran00: acompanhavamna
alguãs informações de particulares, obrigados do d° D. Ioam, pellas quais sem mais outro co­
nhecimento nem acto jurídico, e sem d° D. Fran*0 serouuido mandou d° Gouor metello de posse
p. hüa ordem sua.
T eu e delia noticia D. Fran00, mandou representar ao d° Gouor suas rezoins; o qual se mos­
trou sentido do mal q. o hauiam informado, e por hüa carta sua os mandou uir abaixo p. os
ouuir a ambos.
Leuaram esta carta dous Macottas de D. Fran00, os quais foram asalteados no cam° p. or­
dem de M oquilia, e foram prezos, e a carta tomada, e de hum delles fez prezente aos P. P. da
Comp®, prinsipais seus fautores, q. com ser forro ficou cattiuo.
A charam fora do Gouerno ao Gouernador Tristam da Cunha, e nelle ao senado da Cm*
ante q” foram ouuidos em juizo contenciozo, e deram a sentença a fauor de D. Fran00 Gonga­
m o y za ; da qual nam appelou d° D. Ioam Moquilia.
Passados dous annos chegou o Gou°f Fran00 de Tauora, e Bautista Cambambe filho adultro
de D. Ioam q. ja era falecido se lhe queixou da sentí® dada contra seu pay, alegando perten-
cerlhe a Morinda, pl° dr° post diminio, e a elle, p. ser filho do d° deffunto.
Ouuidos sumariamente foi reuogada a sní® dada p*° senado, e mettido, ou restetuhido na
M orinda Bapta Cambambe.
V ey o com embg°* D. Fran00, nam lhe foram recebidos; agrauou, ou appellou foi lhe rece­
bida a appellàçao no effeito deuuhiuo som®, e ainda antes de se fallar aos effeitos se mandou
m eter de posse Bap" Cambambe. E stehe o facto, no qual teue tudo a seu fauor Baptista Camb*
p. resp° dos P. P. da Comp® q. o fauorecíão, com não pouco scandalo era rezão das cauzas e
intereces q. os ob rigarão: occultouse a uerd®; fugiao de a aclarar os q. mais delia tinhão co-
nhecimto e todas as patarattas e supoziçoes de Moquilia, e seu filho Cambambe, abonauão p*
uerdadeiras, e tão sega procedeo nisto a paixam, q. ate os nomes lhes trocarão, p* melhor con­
fundirem a seu intento a uerd0, p. q. a D. Ioam Moquilia (q. sempre foi este o seu nome) cha­
m arão neste processo a D. Ioao Gongam oyza, dando este sobre nome de Gongamoyza também
/ í
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*
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a seu filho, nam se apelidando nunca por «lie E i D . Fran" GongamoyM chamarão D Fnn»
Moqmlla, nam tendo nunca tal sobre nomei de sorte q, p1 confundirem o df* de kgtltiao r , e
o apropriarem asi, tomarão o seu sobre nome p. ser este entre os negros, o p. q melhor se co­
nhecem e o sobre oome q. hera seu atribuirão ao pobre D- Fran“ .
Das rezoíns q. por si apresentou D. Fran“ , e de seus Embg*% e
sosteottças deites. q tudo
uai induzo nos autos consta melhor, e com mais exrençáo, soa uerd*, e o dr* que tem a Mo-
rinda, de q. esta fora passando mil misérias: e jaseus comn* est&m preueoídoi, e tem seneado
o modo, com q. o ham de excluir, cazo q. uenha prouido em sua appdfaçáo.
(Biblioteca N*doa*l- Rescrvcio». F. G. Uw. 4S4. H «na SM* 4«
papel, com o tirol© tybnufdb, aea data < «ca ndmtra, tpem»
* com 0 o.* 58ao Mu. «Dcteripffto da catu d* Gcoe c litMffa da
iodos os portos, e rioa dota; e roteyro p* u podaras
todos seu rio». K r iti peito c i p " F r a c í s m Se Uaot, « b
Thiago de Cabo Verde no tnao de i&nl-

D O C U M E N T O N . a 45

DECLARAÇÃO
D O S T R IB U T O S Q U E SE P E D E M A O S € O U A S

Futa

i°. Futa responde em Portuguez, a prezeme que o ynferior dá a seu superior em demos-
tração que 0 reconhece por superior a modo de bü cazeyro ao senhorio. A este respeito nSo se
atreue soua nenhu yr a prezença de cappitlo de prezidio se lhe leuar futa, e 0$ cappitaís a te
ja tanto por sua que se 0 soua a não leua, ou se descuyda pede lhe a sua ynfuta, e pera este
effeito sS cauza os chamão muytas vezes aos prezidios, e os dete neles buzando de modos in»
justos, e parece já tributo pondolhe nome de proes, e precalços. O mesmo huzão quando vão
fazer algua deligencia por mandado dos Gouernadores pola terra dentro, e a todo o soua pede
infuta obrígandoos a dala por força e violência; 0 mesmo fazS os brancos quando os mandão -y 1
seus cappitaes a deligencias, ou vão a negocio de que os souas recebem grande opressão. y

Loanda
1
2°. Loanda he tributo em reconhecim'* de vassalag?, de vassalo pera sõr,que os Souas pa-
gauão a EIRey de Angola. Os Gouernadores, e cappitaes mores, e cappitaes dos prezidios o
forão yntroduzindo em sy a exemplo dTEÍ Rey de Angola, e a este tributo respondí os bacula-
meotos que pagão a El Rey nosso sor peio que se não pode pedir Loanda aos Souas porque
pagão bacuiamento, e sómente a S. Mag’ pertence este tributo.

Vestir
3
o. Vestir he hü modo que se introduzio pera pedir peças aos Souas pela maneira seguinte,
mandauão os Gouernadores hü Macunze que responde a Embaixador cõ castidade de panos de
seda co suas empondas, e cõ feregoulos que he 0 vestido dos negros, e a cada Soua dezia que
hera Macunze do Gouernador, e q hia buscar a Loanda, e como herao sempre pessoas doutas
nesta negoceaçao despiáo 0 melhor que podião a cada Soua obrígandoos com praticas e que
chamão milongos a daré pera 0 Gouernador, e 0 Macunze, lingoa, e companheiros as peças
que não podião dar. Outras vezes se oflferecião pessoas aos gouernadores a fazer estas missões
por certa cantidade de peças per contracto, e algüs herao tão deuotos que se offerecião fazelo
á sua custa, 0 que fazia a viage por qualquer destes modos se apercebia de cedas, e doutras
cousas, hia polas Prouincias, e em cada soua a q chegaua se asseniaua em hua cadeira d*es-
paldas e se reprezentaua Gouernador, e yntimidando 0 soua 0 obrigaua se hera poderoso a lhe
dar polo menos dez peças, e sendo menor a cinco, a fora as que daua pera a companhia e
47 2 Angola
mantimentos, c agasalhado necess* em que ás vezes entraua molheres, e filhos dos Souas, c5
grande desacato seu, que clles muito sentião, isto mesmo fazião, e faze os cappitães dos pre­
sidio* mandando Macunzes polos Souas á ym itaçSo dos Gouernadores.

Ocambas
4°. Ocam ba he mandar o capitão do Prezidio aos Souas do seu destricto ou qualquer
outro br*° ao soua com q corre büa peruleira de vinho, ou pano, ou outra fazenda cõ tenção
de lha pagar o soua cõ fingimento de amizade, e boa correspondência, e não querendo alguãs
vezes aceitala o soua o obrigão a tomala por boas palauras, e lha deixão em caza, e se o soua
se descuyda em a pagar a mandão arrecadar dele em peças de yndias por tres, ou quatro
preços mais do valia o q lhe mandarão. Conuê que os capitães dos prezidios, e Portuguezes
n lo huzc de ocam bas que compre, e vendão a preço certo, e que os souas não sejão obrigados
a pagalas.
Imfuca
5® Infuca he vender aos souas de fiado per modos, e palauras q lhes parece que ou não
pagarão, ou o farão tarde dandolhes as fazendas per rogos, ou por força, e passado certo
tempo mandão os capitães, e Portuguezes pedir aos souas que lhe pague o que derão a infuca,
e nao pagando prende lhe molheres, e filhos, e vassalos a que chamão filhos de Morinda q são
forros, e amarardos se orde de justiça os mandão a esta Cidade a vender por peças, e embarcar
de mar em fora, polo que se deue euitar este m odo de venda, e que som1* se faça nas feiras, e
pumbos, por Pom beiros.
Outros modos
6®. Costum ao os capitaes dos Prezidios pôr Tendalas, e manilumbos, escrauos forros, e
catiuos pelos quaes exercitão todos os modos de tirar peças chamando os Souas aos Prezidios,
ou seja pera guerra, ou pera fazer baluartes, e obras nos Prezidios em tpo de suas sementey-
ras, ou de nojos, ou de outras necessidades em que não podê yr, e não yndo os meação por
leuãtados, e por remire sua vexação se concertão por tantas peças, e aos que vão ao Presidio
não lhe dão audiência tenos ao sol no terreyro descontentãose das obras que fizerão, e por
peças libertão suas pessoas, e se liurão destas vexações, e a tudo isto chamão proes, e precal-
ços de seus cargos.
Vndar
7°. Vndar he ceremonia de q huzão os Souas quando succede nas T erras por morte do
vitim o sõr da terra, ou quando por cauzas justas conforme a suas leis, e costumes lanção o
s°f fora da terra, e ellege os macotas que são os do Cons° outro sõr, o qual costuma ser o so­
brinho do morto, filho de sua Jrmã porq este te por legitimo sor, e não o f* que dize pode ser
adulterino, este tanto que he electo, e antes de o ellegerem o fazê saber ao Gouernador pedin-
dolhe que o aja por bem, e que o queira vndar, q he o mesmo que confirmalo na terra, e vndar
he estando o soua diante do Gor peito por terra em sinal de Vassalam*® a sua Magde se lhe
lança hua pouca de farinha por cima dele, e elle a toma cÕ suas maÕs, e se enfarinha polos
p eitos, e braços, e antão se te por senhor da terra, o Gouernador o manda vestir em acabando
de se vndar conforme a calidade, e poder do soua, e o soua lhe prezenta o que quer, e dá a
que lhe lança a farinha, e a quê o veste, capitão da gdjl, secretario, e Tendala, o que lhe parece,
isto se pode leuar se o soua Yolütariam10 o dá, e se lhe não faz força porq responde ao dereito
da confirm ação, chancellaria, emai s dereitos que o Donatario paga pola confirmação, e tambê
se poderá tom ar o que o soua de sua propia vontade dá porq tê por grande desprezo não lhe
tom ar o que por este modo dá por£j cujdão que o tê por jnimigo leuantado, e porque quando-
lh o aceita o Gouernador por outro modo lho satisfaz.
5 3 3
{Biblioteca da Ajuda, cód. t-vui- o e i. Governo de Fernão de Sousa).
/

/ .
' /
J • êX
f
/

Apêndice 4/3

DOCUMENTO N* 46
#
Snor.

Continuando na informação q V, M.44me manda dar por escrito acerca d-Mcostume* do#
moiicongos e naturaes do RM dc Angola, digo qoe segundo o que atcaaccy cm perto de í u
annos q tratei cò elles, não um vertude, vergonha, verdade, nem constância, seoíu, cm o mt,
por <}. $3o de ordio1™çençuaes, sem perdoar a parentesco muy chegada t»ty de coaxargwr,.-
dade, como de afBnidade e per tradição antiga erríto gentílico toroio per gpacebav v <Ut a# 9
q. os paes e pessoas a que suçedem tinhãopor esses, e as netas e tendo uito Jhçito cõ j frmaá
t
mais velha, o tem co todas as mais. os Reys se não tirão destes abusos e pecadov^nsMeA
4
mor liberdade, e descompocissão caem nefles; e o que agora Reyna chamado :lom ÀWttíH^T' í
ceiro, tem por mancebas muitas que o íorao de teu pay dom Álvaro seguodo,.c-fau Cu^bada %
sua Irmá de sua molher, ambas filhas de maoíbanda se chama grão duque, e nesmoes»
tado; nem reprehendido a dexa, nem se envergonha de lho dizerem, Esw foi casada; e tem
filhos do Duque de Sundy dom Álvaro seu tio, e 5- elle matou em guerra por Jevamado. E
quando vay fora a Igreja, ou a escaramussar vão muitas delias cõ elle, e chamidbe damas.
Quanto mores senhores são, mor numero delias tem, como fazem os slo geudos, q* por
terem muitas, se dão por poderosos, riquos, honrados, e aparentados, e assy he, porqoa tem
ma$ dSo
por essas as filhas dos senhores, e fidalgos principais, para cujo effeíto teot paé#, e o
duque de Bana que por lítolo se chama Aio dei Rey de Congo, e he muito seu parente, sendo
casado cõ hua tia deltRey Irma de seu pay, efia se foi amançebar co hum sova gentio das
partes de dande Vassallo do mesmo Rey, ficando elle, e o Duque co isso muy quietos, e por­ '•'i
*
que o duque tomou por manceba principal hua filha de hum fidalgo seu vassallo, e a trauva
em publico e na Igreja como duquesa, e como a essa a fazia venerar, indolbe £u a mão e pe*
dindo a elRey que lho prohibtsse, El Rey e o duque me pedirão por vezes que deixasse estar a
molher do duque tia delRey cõ o gentio co que estava por manceba principal, e desse liçença
ao duque para se casar em vida da molher cõ a mançeha q. tinha, cuidando que podia ser, e
n&o crendo dizerlhe Eu o contrario, antes escandalisandosse de lhe Eu não dar a liçença que
pedilo de que se deixa ver o como estão na fé, e como a entendem, e guardSo, pois destas
cousas ha muitas no Rey, e nos mores senhores, que delle tem mais noticia que a outra gente,
e neste viçio vevem todos de ordinfio, não o tendo por afronta, nem pecado ./.
São tão dados ao vioho que de nenhuá mann custumão íaUar despois de jantar, nem El­
Rey, nem os grandes senhores, por que não ficão para isso nem se correm de assy ser, antes o
tem por grandesa, mas sendo elle as vezes de ma calidade lhes fas cometer pecados e alguas
vezes, chegou ElRey a escaramussar de guerra contra my, Clérigos e vassalíos de V. M.4*, di­
zendo em publico, e em vozes cõ os seus que nos avião de matar a todos, e que ja não querião
bautismo, Igreja, nem Clérigos, senão viver em sua Uberdade e assy se está lá arisquo de o
Vinho hua ves acabar co tudo. fazem cõ elie, arremedando as escomunhões da Igreja, probibi-
ções de fogo, agoa, lenha, feira, e mais mercados a que chamão escomunhões da terra, e perse-
verao nellas algus dias com gritos, alaridos, e pregões, de dia e de noite, q atemorislo, e re-
presentao acabarsse tudo, padeçendo nisso os vassalíos de V. M> nestas vilíssimas neçessidades,
e vexações, e quando lhos passa como se não ouvera nada, se dão per amigos, pedindo vioho
e outras cousas, e q lhes perdoem, e também elles alguas vezes, perdoão co facilidade os agravos
q recebem, e mostrao temer as escomunhões da Igreja, e em quais quer trabalhos pedem absol­
vições geraes, não dando numqua satisfação das culpas./.
%
Dão por vaidade, porq tem muita, e por ella não ha cousa que diga grandesa, magest&de,
Estado, que não procurem remedar, tendosse por valentes, não o sendo, por muy nobres e an­
tigos (como são) por gentis homes e avisados, por mais poderosos q todos os monarcas do
mundo, motejando de seus poderes, acompanhansse co muita gente sem ordem, tem muitos
estromentos de musica, e de guerra ao seu modo, e cõ todos juntos saem fora, ainda q seja i
a Igreja, representando cõ isso e cõ as muitas çerimonias q se lhe fa2em húa confusão gran­
diosa, trasem panos, custosos, e riquos, da sinta ate os pés, em lugar de sintas huás ataduras
muy grossas a q chamão empondas, cabayas sobre a carne nua, e os braços de fora, chapeos t •
474 Angola
de Clérigo bem guarnecidos, sapatõens, e as vezes botas, m uitos Qbanos de rabos de cavalos,
muitas insígnias de suas dignidades, e os seus m inistros mais graves e vallidos lhes vao mos-
ra n d o o cam inho, e alim pando e tirando delles qualquer tropeço, e cou sa sem lim pesa ./.
Muita da gente m ilhor criad a, sabe ler, quando E lR ey v a y a Igreja v a y m uy acom panhado,
e quando^falra^não vay lá gen te; os dom ingos guardão m al, e os santos peor, se não SSo Sao-
tiago e sao Joao bautista, E lR ey e os titulos trasem huás carapusinhas a que cham ao empua
que não tirão, nem ao santíssim o sacram ento, (posto q Eu m elhorey este abuso) mas não cõ
E lR ey, na proçissSo das endoenças V a y E lR ey descalço, e descoberto, e todos os seus, e assy
0- andão a sesta feira, da E lR ey alguás esm olas e faz merces a m uitos e aos Bispos mais q a
todos« oor que tam bém lhos pede a meudo o que ha m ister ./.
A s suas arm as são, arcos, e frechas, espadas largas, e adargas, e adagas, podões, macha*
dinhas, azagaias, e hús ferros ao m odo das nossas lanças, E lR ey e todos andão apee, e assy
váo a guerra, e de hum dia para o outro se junta grande cantidade de gente, sem ordem e sem
m antim entos, e se não levao consigo algüs portuguezes, fazem pouco m ais de nada, temem os
jagas de manr*, que de ouvir íallar nelles se desordenão, e fogem
S ão folgasóes, e preguicoosos, e por isso tendo terras larguíssimas, e excellem es, por não
sam earem , senão m uy poucos mantimentos peressem a fome, os mantimentos de que uzão sao
groçeiros, com vem saber: m aça meuda, m aça grossa, luco q he com o painsso, feigoes, orta*
lissa, ervas, aboboras, canas de açúcar, m içefos e bananas, e alguas frutas do m ato, tem alguas
parreiras, rom eiras, figueiras, çidreiras, larangeiras, lim oeiros, e limeiras, e dando isto tudo ao
menos duas novidades no anno, todavia he pouco, porque não cuhivão.
E o mesmo he em galinhas, porcos, ovelhas, cabras, e vaquas em todo o R no de C on go, e
no de A ngola, e nos Ambundas tudo sobeja porque são m ais trabalhadores e criadores, ha
poucas fontes, e m uitos R ios de que algüs são caudalosos, muita caça, da de qua e outra dife­
rente, e m uitos generos de animais em que entrão, em pacaças, e em palancas, § são como
vacas, porcos monteses, e engallas q são ao seu m odo; Zevras, Elefantes, tigres, onças, leões,
gatos de A lgalea, cobras grandíssimas, e lagartos q fazem muito dano, cavallos marinhos,
Ãgeas reaés, e bastardas, e da mesma m atf1 Pilicanos, e muitos outros generos de Aves q es-
perão muito porq não andão acoçados
E lR ey he hum despençeiro ordinário de todos os seus, e se assy não for dandolhes de
jantar todos os dias, levantarssehao contra elle, e andando sempre em festas, o dia ^ lhe falta
que dar aos fidalgos, escondesse e tudo he malencoria ./■
Morrendo ElRey dom Álvaro segundo, o duque de Bamba q he muy poderoso, governou
tres dias, pondo e dispondo quanto quis, ao cabo delles levantou por Rey dom Bernardo
Irmão do Rey morto, e por este despois de jurado o querer ser, se levantou contra elle
mesmo manibamba que o tinha leito, e lhe deu guerra, e o constrangeo a que ferido se saisse
do seu aposento, e se fosse a hum em que vivia antes de ser Rey, dando lhe palavra que o não
matarião, e elle para se sigurar mais, se recolheo na Igreja de santo Antonio co seis ou
sete dos mais seus validos, levantou então manibamba por Rey dom Álvaro terceiro, que agora
reina, filho de dom Álvaro segundo, Este despois de jurado por não ter companheiro no setro,
e Croa, entrou de noite na Igreja cõ mão armada, e matou ao tio que estava deposto de Rey,
e aos q achou cõ elle, e os descabeçou, e descabeçados os fes levar arastar ate o lugar publico
do pelourinho, a onde estiverao quasy tres dias, despois dos quaes por obra de piedade os en-
terarão algüs clérigos as escondidas, E ElRey Emanibamba tomarão tão mai este acto de
misericórdia, que declarão aos Clérigos por imigos seus, e nesta alteração tão violenta, matarão
muitos senhores, e outra gente, em diversas partes a que tinhão oferecido, seguro e perdão ,/.
Avera como anno e meo que por presunções mal fundadas, ElRey dom Álvaro terceiro,
tem publicado guerra contra manibamba seu sogro e reconciliandosse alguas vezes por terçeiras
pessoas, e por my, e por meu Vigairo geral, todavia, se não virão numqua, e agora tem apre­
goado guerra de parte a parte, a fogo e sangue, de q se entende q Manibamba levara o milhor,
porque he velho, sagas e poderoso, e por todas as vias a junta assy os portuguezes que pode,
queixandosse que ElRey o quer matar sem causa, e porque lhe pede que não esteja amançebado
co sua filha, pois he casado cõ outra, e he artificio muy ordinrio nelles, quando querem derrubar
alguém, publicar que he mao christão ainda que assy não seja, e para este effeito, tem mani-
bamba cosiguo todos os que por qualquer via tem pretençao ao Rnft ./•
Apêndice 4?5
ElRey dom A varo segundo, foi bem quisto, e muy melhor obedecido que o* que Itic suçe-
deráo* ainda que a mesma vida, chamousse magesiadepor ttsy lho meterem em ctbcça aígds
Religiosos, e outras pessoas, tomando para isso motivo de entenderem mal boa csru ij o sm o
pontifiçe lhe csCTeveo, e por Eu lhe estranhar a magestade, e lha impedir por rertade de boi
carU Ê f-^afa Ks®l,Te»e P®r ptwder e embarcar o padredefto alío^o Aoir pexnüu^
que era f 111)' *** f P*?f * a$sy mo ordenar por outra, rceebeo contra my graade
odeo, e **Pe i eito esta prizão muitas vezes, de mar/* que para a poder fazer, urei de
escomunhoes, e mterdictos, como V. M* me mandoQ quc 0 ^ E estas çetmurss, se iev«t-
tavao u s v z: s, e sc wroavao a por outras, porque por multas, mostrou elRey qoe obtdeçi*
a dias? orn o ogo a esobedesser, e co esta sua preçeguissao, e odeo que dorou em qoaaio
elle viv*°#_r U n0Iave Pert*a>na quietação, Jurisdição, e fazenda, sem me apartar hum
^0I1 r-in° ^a ' d me como constara de muitos papeis q tenho em meu poder
ey ora eraar o quelhe sucedeo, e qae durou pouco por ser morto por EíRey dom
Álvaro terceiro seu sobrinho como hedito, e que Eu não vy por no seu tempo estar embanda,
no principio, correo bemcomigo emcartas, e eu co elle, quis tambémchamarsse magestade, t
pediome que osse a Congo para lhe lançar o habito de Cbrísto, ou lhe mandasse licença para
\i o receber, respondendo JheEu, segundo o q V, M* me tinha mandado, que nenhuá daqJ"
cousas, po ia, nem evia azer, representandoselhe, que Eu lhas negava p1*molestar, e não por
nao er>tam emSjVQ mou rau“° corura my, e durou nisso emquanto viveo, que foi pouco,
6 nUTem ° m0U ° / !^° ô ^ r'sl0>nem também apertou muito sobre oftitulo de raagwtade /■
- a gente o Congo, e de Angola muitos ritos gentílicos de que assy uzlo, os que o
sao, como os autisados, e a Christandade pl* raayor parte he só de nome, porque quando os
cu as vao correr os districtos de suas capellas, he mais para receber as colheitas, que para ea-
smar, e assy bautisao a todos os q se lhe ofFerecem, sem diferença de pessoa, e sem os cate-
quisar, e posto que por este modo ficão bautisados, he o bautismo informe, e tantos sacrilé­
gios cometem, quantos bautismos fazem, e dando Eu dísrintamente a ordem que isto se devia
ter, nem isso foi bastante para tirar este abuso (posto que em parte se melhorou) e para
56 e C ^ chnstandade daquellas panes, e como eíias se administra bautismo, digo o 4
m a n eçeo, in o visitar os presídios, a onde numqua foi outro prelado; e he que achando
Ml? ,?S S°Vf p a ° et^'e^c*a V. M> no presidio de Carabambe, sete bautisados, e pergun-
tan o es pu ícamente p * doutrina, nem essa, nem o sinal da Cruz sabião, nem se línhão
con essa o numqua, nem entrado em Igreja, afirmando que nenhuá destas cousas se lhediçera,
quan ° orao autisa os, e perguntandolhes, se deixarão as mancebas, ou quantas tinhao, o
pnncipa respon eo que çento e vinte, outro que çento, outro q sessenta, outro que çincoenu,
outro q trinta, outro que vinte, e outro que quinze, e sendo esta a christandade assy querem
os governa ores que os padres bautisem; entendendo que nisso acertão e poderão alegar que
converterão munas almas, e também se não Us este officio có a perfeição devida, quando em
loanda se bauusao os escravos q se embareão para fora, porque ha aly, só hum Vigário a
que pertence, e que alem de nao saber a língua, trata mais de receber o prêmio, que de açertar
em seu omcio ./• *
Naquelíe Bispado não achey constituições, nem cousa por onde me ouvesse de governar, e
por isso as fis com muito trabalho, e he magoa grande que sendo a gente tanta, as terras tão
fertis, e tão largas, se perca tudo, por falta de ministros Eclesiásticos, o Porto de loanda he
excelente, mas o termono cõ seus arredores, sequo, e infrutuoso, e passão dous, tres e mais
annos que nao chove, sendo muito ao contrario p1* terra dentro, os Reys do Congo trasem
todos o habito de Christo cÕ bua seta de sao Sebastião, e o mesmo os duques, de batta, e
bamba, e os manilouros, tendolhes V. M * por veses mandado declarar, q não pode ser, por
ser cousa Eclesiástica e de grande escrupuio e só concedida a V. AL* como mestre da ordem,
e não ha podelos tirar deste abuso, por q crem firmemente que o q huá ves se lhe deu, he para
todos os q lhe suçederem, sendo assy, que o que elles dão, tirão cada ves que querem, e trasem
ao pescoso muitas cadeas de ouro, aíquime, e aço, cõ muitos hábitos, tendo o por grandesa, e
loucainha* São os Rey do Congo, univerçaes erdeiros de todos seus vassallos, e tomando para
ssy, o que querem do q lhes fiqua, o mais dão livremente a quem querem, e os que oje são
duques amenhi os tirão, e ficão servindo a fidalgos ordinários./.
Esteve o R * do Congo despois de sair delle o capitão mor An®Giz pita, sem capitão, nem
476 Angola
ouvidor de V. M.4* algus annos, c despois fis Eu cõ muito trabalho rcçeber hum que mandou 0
governador luis mcndes de Vasconcelos, a q se tem muy pouco respeito, porque EIRey se mete
em tudo, e trata muy mal os vassallos <ie V. M* levando os consigo a força descarapusados,
e o mesmo fazia aos saçerdotes, e ainda os obrigua a que o acompanhe as guerras e a outros
caminhos que fas, sem lhes dar o neçessrio para isso, aos paçageiros desbalijão, e empendenlhe
os caminhos, levanlhe extraordinários tributos, e peitas, q acressentão, cada dia, e postas e
outras, txtorçÕes, ha grandes desgostos, queixas, e perdas, pedem Sol, e chuva aos prelados, e
aos sacerdotes, como a pedem aos seus feitiçeiros, e queixãosse de lha não darem, como se
isso fora cm sua mão ./.
V. M.4* manda que nenhuSs fazendas prohibidas p10* Reys de Congo, levem os portugueses,
a seus R“0*, e ^ se lhos tomem por perdidas, todas as que não registarem, e porque isto se não
guarda ha cttda dia, grandes inquietações, tem EIRey de Congo prohibído cõ grandes penas,
que não levem os Vassalos de V. M.d®a seus Reo’, Zimbo do brazil, e de outras partes, porque
como essa he moeda que nelles corre, esta c5 a grande cantidade q vay de fora; tão abatido
o seu, que perde nelle as duas partes de suas rendas, e o mesmo aconteçe aos Eclesiásticos
porque nelle lhe fazem 0 pagam10 de algús disimos q lâ ha, e por este respeito a petição do
mesmo Rey, o prohiby Eu por escomunhão, E nem cõ ella, nem cÕ as penas q EIRey tem
posto, deixa de entrar, em tanta quantidade, que vay deitando aquele Rn0 a perder, e se EIRey
para o atalhar dá algum castiguo alevantãolhe que presegue os vassalos de V. Mda. E não res*
peltão que elles sao que o perçeguem a elle, levando lâ muitas mercadorias falças, e ven-
dendoas por finas, em muy grande perjuiso de suas consçiençias e desacato de hum Rey christâo,
que V. M.d0 ampara, e manda amparar sempre ./.
Todas as matérias de Justiça, se Julgão por audiências verbaes, e co muy pouca prova con-
fiscão as fazendas, degredão, matão, empenao, e apedrejão, e se logo se não executão suas re­
soluções verbaes, por qualquer roguo e peita se perdoão dtlictos gravíssimos, e pl0i Uviçemos
e mal provados, morrem e padeçem os dos favorecidos, e estão tão entregues a este modo de
proceder gentílico que não avera força umana que CÕ elles introdusa outro christão, deixüosse
entrar de qualquer sospeita, e são façelissimos em levantar testemunhos falços, e em se desdiser
delles, e sendo arguidos dos vicios em que caem de maravilha os negao, os principais tenho
aprontado, e para os q ficão serião neçesríos livros inteiros Ds. guarde a Catholíca pessoa de
V. Mda ./. De lisboa a 7 de setembro de i6ig.

Cota: Copia da relação dos costumes, Ritos e usos do R.n0 do Congo que o Bpo deu a
e peccados que nelle se cometem.
v m g da, . ,
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção Ultramarina Caixa 14-1
de Angola).

DOCUMENTO N.° 47

( Vidé gravura junta).

DOCUMENTO N.° 48

SNOR
V. M.de co paresser de seus ministros por informações de gente intereçada, ou sem expe-
riencia, se moveo cõ muy considerável gasto de sua fazenda, e perda de gente a mandar q se
fizesse, no padrão de pinda hua fortalesa, ou no Ilheo dos cavallos que esta entre o dito pa­
drão, e Pi nda, entendendosse que avendoa em algúa destas partes seria impossível entrarem
olandeses, ou outros imigos em aquelas, e que cõ isso se ivitaria totalmente o comerçio que
aly tinhão, cõ os negros, e o damno que elles cõ sua çeita e erros introduzem converçando e
tratando aq.1“ gente barbara, e avendo em sy, não só todo o marfim que por aq.lMpartes se
D O C U M E N T O N.° 47
Apêndice 477
acha, senão ainda os mantimentos ordinários, e mandou V. M > que para isto poder ser saavc-
mente, que se pedisse licença a EIRcy de Congo, julgando que elle a daria facflm.1*, tratouss*
disso muito, e elle nunqua a deferio apreposito, furtando sempre o corpo, e procedendo cõ p a ­
lavras emganosas, elle, e mamibaraba, ate que Eu me vim a dezemganar e entender que nao
darião o tal consentimento, ainda que por isso se ariscassem muito, persuadíndosse barbara­
mente que aquilo era quererem aly ter pé para lhes tomar o R ” e dizendo q se tal consentis­
sem, se lhe levantaríáo, todos seus vassallos, e q se a fom lesa se pretendia só para efteito de
náo haver em suas terras olandeses, e outros imigos, q elles os lançarilo logo delias, pois em
nenhüa podião nellas estar contra sua vontade, como he ./.
Não se desestindo cõ tudo da pretenção da fortalesa e sabendo Eu dos danos íj a nossa
santa feé recebia cõ aconverçassao daqueles ereges, querendo palpalos, e remediallos fuy ao
porto de Pinda, e acheyos lâ cõ quatro feitorias publicas, e muitas fazendas nellas, semeando
oras de nossa sr* falceficadas, bíblias em lingoagem, e livros articulados formalmente contra a
igreja Romana e doutrina evangélica, e recebendo negros e negras em penhor das mercadorias
que davão fiadas aos naturaes, e aos portugueses, e q logo emsinavão em suas eresias e tra-
tavão cõ grande familiaridade os vassallos de V. M.*, comendo e bebendo cõ elles, e sendo
mais estimados do Conde e dos seus, que os portugueses, fis todas as diligencias que pude para
emendar estes danos, e evitey algua parte da converçassão que entre elles havia, pedy, requeri,
e mandey ao Conde manisonho da parte de D.* da minha e da de EIRej de Congo que os des­
pedisse, e prometendome elle muitas vezes, o não fes, e assy andavãc#3s vassalos de V. M.4*
opremidos, e os ereges mimosos, e em braços cõ todos, desacreditando em obras e palavras
muy publicamente a Igreja e amy. Vy e considerei o lugar do padrão, o Ilheo dos Cavallos, e
o citio da terra e entendy q a fortaleza em nenhuá daquelas partes, nem em outra de toda a
Emballa seria de consideração, porque posto q se no padrao a ouvera pudera cõ façilidade
prohibir a entrada aos navios que só por hua ponta naq.!l parte podem entrar aonde a cor­
rente he muy furiosa, todavia passada ella entra o Rio Zaire em o mar a tres legoas de boca,
e fica fazendo huá emçeada muy grande, tanto por çiraa do padrão q será impossível haver
artelharia que alcance os navios que aly se encostarem como o vy fazer aos dos mesmos olan-
deses, e aos que vem de loango que deixandosse estar aly algus dias esperando mare de alguá
bonança, deitão a gente nos bateis em terra, sem algum perigo e $e tomão a recolher quando
querem, sem demandar padrão, nem Ilheo, e assy entendy que quem dera aqJ* parecer, náo
considerara bem o mar, n£ a terra e que o gasto todo fora e seria baldado J.
Quanto mais EIRey do Congo não dará numqua licença pura e sem, ella, e cõ ella pa-
leada sera o gasto immenço, faltarão os mantimentos em as feiras, não acudirão a trabalhar
os negros da terra, e os cativos que para isso levarem os portugueses figirão para o bungo cõ
façilidade (como fogem) epara outras partes, e numqua nada havera effeito, e os do contrario
pareser segundo o que entendo, nem devtão de hir a pinda nem de tratar tanto o serviço de
V. M.4*, como do proprio intereçe, q ainda para elles sera bem pouco, a respeito das muitas
repugnâncias q ha e do muito q custara levarensse aly materiais de fora (que na terra não ha>
e fazersse a força ./.
Vendo meudamente e considerando o que esta dito me fuy para Congo cõ muito trabalho,
e entendendo q EIRey não havia de dar licença para a fortaleza, e que aiada que a desse e se
fizesse não seria de effeito, e representandosseme que o único, e total remedio para aq.lt gente
aly não entrar; nem ter comercio era deitalla EIRey de Congo porq ainda que contra sua von­
tade pudessem aly aportar era cousa impossível perçeveral, sem trato, sem feitorias e manti­
mentos que não podem em nenhum modo ter se não por sua vontade, e do Conde manisonho,
fuy continuando co elles cÕ rogos e cõ todo o artefiçio de persuações de que me pude apro­
veitar, persuadindoos a que os despedisse totalmente, e elles mo prometerão sempre, e em es­
paço de nove meses alcanssey para isso alguas cartas e provisões de EIRey em que assy o
mandava expressamente a manisonho, e por que paleadamente o dilatavão (como o tinhão ,
feito o Conde manisonho, e EIRey velho) vim a mandar ao Conde com çençuras que aggravei
que os despedisse, e elle mostrando em palavras que obedecia não obedeçeo por obra numqua,
rogoum e por elle EIRey; pedindome que levantasse as çençuras, mosirelhe nas repostas que
era contra sua onra e palavra falarme mais nisso, pois em se não cumprir se tinha ido muitas
vezes contra sua obediência, e mandado. Vimme para loanda dondeme embarquey para este
478 Angola
R - deixondo o Conde escomungado e cnierdito, e ordem paro que obedecendo de todo se lhe
levantassem de todo as censsuras ./.
Depois de ter chegado a este R." soube per cartas dosmeus officials, que os olandeses, erao
dc todo despedidos, sem ficar nenhum, nem cousa sua e como cmtendo que 0 q comvem he
náo tomarem a!y, e que isso se pode miihor acabar por via de EIRey de Congo, que co forta­
leza para que ellc nao hade dar liçença numqua, e q sem ella sc não fara se não co muito tra­
balho e gasto, sou de parecer q V. M.*•, lhe deve mandar agradesser per carta sua, ter despedido
de todo os olandeses, dandolhe a entender q 0 fes só por serviço de D.* e por compraser de
V, M.*®, sem que nisso tivessem lugar as minhas sençuras, senão seu zello e Christandade e en-
comendandolhe cõ rasoes muy eheases que numqua lhes torne a dar entrada a elles, nem a
outros semelhantes p> grande dano q tem feito, e poderão fazer, levando ô por vangloria que
Co elle tem muito lugar, e o q V. M.dõ mandar resolver sera o que mais cotnvenha ./.
Antes que Eu daqui partisse andava solecitando Manoel cerv.ra p,“ emcomendarselhe acom-
quista de Benguela a onde numqua tinha ido, posto que esteve por governador de Angola, teve
traças co que sayo cõ sua empresa, emeomendandoselhe a dita comquista, e mandando ô a
Angola para de lã cõ poderes de governador, se aviar, e hir e como tudo tinha debaixo de sua
mão aviousse para hir comessar huá comquista nova destruindo e asolando a que estava feita,
e pareçedendo em tudo co a violência de q V. M.de esta informado ./■
Prometeo em Benguela emnumeravel cantidade de cobre e outras cousas em que mostrava
que aq.I# seria a m aí importante comquista q V. M.ío tivesse nestes R.“0’ e soubeo corar de
manr#cõ arteficio e valias q tem que assy o persuadio a algus ministros de V. M.do (posto que
outros tiverao tudo por fantástico como 0 he) deixando a comquista de Angola toda descom­
posta se foi para a de Benguella, cuja provinçia he muy esteril, e estava quasy despovoada, e
asolada dos Jagas que aly tinhão andado, e andão, levou consiguo gente perdida, e essa favo­
receu sempre, e a miihor injuria por momentos, e por isso, e por matar todos a fome, ao cabo
de dous annos se levantarão contra elle os seus, e o prenderão, espancarão, e ferirão, e preso
o embarcarão para loanda dirigido ao governador luis mendes e onde Eu o deixey bem mal
tratado. Em Benguela não ha cobre, e fazendo Eu sobre isso para o saber muita diligencia,
achey em todos os capitães mores, menores, e soldados que lâ forao, e de hum frade e de hum
Clérigo ^ la tenho, que de nenhuá manra ouvirão numqua, nem sabem delle, e perguntando a
tnanoel cervrt tres dias antes de me embarcar, q sertesa tinha de haver, o mayor sinal q disso
me deu foi dizer que o não vira elle, nem nenhuá dos da sua companhia, mas que de ouvida
sabiao avello. E que pedindo aos naturaes das partes adonde diz que o ha alguás pedras para
amostra e mandando dous negros para lhas trazerem elles lhas não quiserão dar, e lhe derao
em lugar delias dois sestos de terra q tinha mistorado azinhaure que era sinal de cobre, isto
he o que como tenho dito tinha alcançado Manoel cervta ate tres dias antes q Eu me embar­
casse ./.
Todos os desentereçados que vierão, e andarão, em Benguella dizem cõ determinda resolu­
ção q lá não ha cobre, nem outra alguá cousa de importância, e que assy se hade ver despois
de se fazer na materia mor empreguo, e gasto, e por çima de tudo e do estado em que manoel
cerv» ficava cõ suas inteligências e valedores q qua tem lhes vay de novo gente que o tornem
a meter de posse, e se isso he miihor para o serviço de V. M.de, que Eu tomara em pessoa de
miihor conçiençia, D* o encaminhe a bem, e eu segundo D8entendo que maos sucessos ande
vir a mostrar a verdade dos muytos q semtem comigo; E que se venha a descobrir em tempo
que o remedio seja ainda mais dificultoso q agora ./.
Ha muito cobre que Eu vy em o Rno de Congo entre Pemba e Vembo (1), e o devem saber
bem os capitaes mores Bento banha Cardoso, e Antonio gonsalves pita, E todos os que forao
aquelas partes, porque ha cousa muy notoria, e EIRey de Congo o offereçeo a V. M.de pl0* em­
baixadores que qua mandou, E V. M.de o não açetou por querer q se soubesse prim.10 do q se
dizia haver em Benguella, e tendo isto passado ha onze annos, e não havendo ategora mais
certesa do cobre de Benguella q a ^ tenho dito, bem se deixa entender que deve nisto de haver
emgano» E ainda que pode acontesser segundo a inconstância e desconfiança dos moxicongos
q mandando V. M.d®agora tratar do muito cobre <5 ha em Congo, e EIRey senão resolva bem,1

(1) V a m b o ?
Apêndice
47?
4 vi& de q ^ u tf ma0" 46 P 0díra f í ™ áúT> m aá d * » * e c&
« * i t c M <p*
t0 d C s par.es p o rq « « u m u y p m o doR to A a b rJ» , p o r « * ^ W l w b m * ír/„ p ^ * - t
f í r «o ■ »«^ « * ^ lZ SV 3^ - qM? W ** * * P e i t o s »
de. a5 embarcações, ao g í « aSo pom ventseí efi alguã itjdastri* f gaito,

1
pffm q»e 56 P°d, r , s
« C L e f t r C l 5’ - fitW * n W * * í l0 < *« *» 5 ^ « * F 6 » d* Co«**n
«o® de V. M-4*!he resP°oder * m rtsoluf*° « tDcootniH cótaT aooe! 8tu SerpTJ*
de5p ver, « forer «per.enaa, e sabemosJ achou n,«i{0 mar, do
0 L (P05t0 í cst* contrat0 nao lesdo effeuo, porque 0bom? podia pwltm, e BRw
Í 5 u !to pouf favor que por tsso desesúo da empresa e se £ . ' , « £ ElF^d, í S *
lh<1 ô oferecido tornasse atras, nao sena grande cous, bavello atada <p «De reL gr^ T *
r \Isciençia 0 permmsse, como pareçe que p en ai«./. 1 ^
l r
a °v >Lá#0 mamara ver e resolver como oaver por serviço de D.4e seu, ette g*»Cwkaíw*
d e V . M .a# -/•
peSSpe Lt * a 7 de Setembro de 1619.

Ê porq só por zell° Mo nestas cousas, E Me recolho em alguas quanto 0 pedí a mmfc*
csSáo, se por ^enrura 05 “e outra díserem q aver fortaleza no Padrão de Piftd*; ou Cfcea
jlc Cavalas, servira pera enfrear EíRey de Congo, pera q elle proiba (oi4Ímu Q tntfo dos
ntaoíiezes, e hereges e se açe ttar a dar 0 cobre q tememPemba e nflutras partes; c p e n
° iras cousas desta cahdade, lambem eu sou do mesmo parecer; m l EIRey de Congo b t
r fa is iâ o , e os seus estados tem 0 mesmo Nome, e 0 q me emsma nelles a experíeacis, fae,
fortaleza nemj:obre hao dedar, senáo a forsa, mas se......
esta ^
se ^viiunc,
permite, icnoo
tenho por
por rampôcca
tampouc*
° sua
a ctia com
contra nos, q
« «»*
â 0. >ntent0‘ E tomo
i com
— quaW quer concideraveí com
er eonciderave! etida a pessoas de concideraçSo
cometida conçideraçáo se sahifasihin
com ,°rU a\
Hwr :-----a'ara0
' ^em* com mon exprimentados
... . os capítaes Mores
Bento Banha Cardoso e Anf G!a Plta guarde D* a Catoüca pessoa de V. MA

Cota: Copia das lembranças que fes, edeu a vmg^ o bispo do Congo sobre a fortaleza
quee se pretende fazer no padrao de Pmda, olandescs que alj residem, cobre que ba «m Pemba,
O
sobre a conquista de benguella.
(BiHioieca Nicloul de Ufboj. Sícçío I3tr«aurâ». C úa t,5. Anjolip

CÓPIA DA CARTA DO CAPITÃO DE CAMBAMBE


CONSTANTINO CADENA
PARA O GOVERNADOR FERNÃO DE SOUSA
Com esta vaj a certidão que V. S. me pede pera mandar a <s Mao» r
a certidão vay sô do que vimos no estado pres» eu tenho ãu ^ V fra*4ta>e P0SI° 9
em q aquilo he hua varzea ou camptna entre os ouu- que na certidão tratta ^ 5 ^ 0 o \
en toda a parte ao longo donde esta aberta hão de achar o mesmo metal e a raz“ he oue a
terra tem mmtas betas de terra e hmdo traz delias em muitas partes delas se acha a mesma
ti *
pedra q se pretende, e me certefico em q me vieráo delia muito grandes pedras, e q daváo ?
muno rend.m'» de q V. S. fot provtdo na occastão dos olandezes húa por my, e depol ourra
por meu filho Pedro Cadena, e provy este presidio que estava muito necessitado, à Embacca
mandey doze barretas, e aquy tenho alguãs pera o que se oSereçer, evão continuando có tiraré
pedra, e de novo tenho mandado abrirem outra parte pouco afastado, de que ouver avisarey a
V. S. pera V. S. o fazer a Sua Mag». O que convé nestas Minas he q S. Mag» ha de ter junto a
estas Minas vinte negros atê trinta cõ suas molheres có a marca de S. Mag» e fazerc aly seus
Anmos e lavoura suas molheres em terras que estão junto â mesma Mina pera cÕ o que se-
mearó se sustentar?, e hão de estar có hü maculunto, e hu homê de confiança pera os fazer

"'VS''
480 Angola
trabalhar, e a sombra destes que sejao contínuos dar? os sovas sercunvezinhos hü$ tantos
cada semana conforme sua possibilidade pera o que terão cada Morinda huãs cazas em q se
recolhSo quando vierS ao serviço de S. Mag«. Também hay nestes presidios muitos forros que
por querS emcobrir suas bargantarias se acostao a homés brancos pera assy estare mais â
larga, hay outros^q por não sere avexados tomão a mesma colheyta, hay outros que chamáo
quilambas que cõ as guerras estão tão ricos de peças q seguram* botão duzentos arcos, fora
outros de serviço, e carga, e molheres destes, estes tais dar lhe obrigação de cada tanto tempo
mandar? certa contia d’escravGs a trabalhar, e isto por estribuyção a cada qual conforme suas
forças, de modo que possão cS gosto comprir cõ a obrigação que lhe dere a cada hü, e pera
as cumprirê apenalos cõ pena que sintão, e executada a primeira todos acudirão, e toda esta
gente fica fazendo este serviço sã ser necessário q S. Mag° a sustente por q cada qual de suas
granjas o faz e assy que ymaginar V. S. que do modo que vay se pode achar cousa q seja de
grande consideração não pode ser cõ estes negros de Cambambe q ve ao meo dia e se os
apertão foge da morinda para outras partes o q nao faraó do modo acima tendo por emprei­
tada tantos dias, e torno arreuficar me q* aquella terra hetoda mineral por baixo porq ha
muitos tempos q se delia huza mas não CÕ cuydado que eu nisto püz, como os negros confes-
são, e assy conve fazer se porq em Ds. e minha cons* enlédo que te parte de melhor especie
que chumbo conforme muitas obras de facas, Arcos q os negros co elle goarnecc que ao pa­
recer dá mais mostryp que de chumbo, V. S. conforme a isto avize aS.Mag" que me segurarey
que nesta não perca 1 S. o feitio da deligencia porq eu mando fazer^novacova como digo que
do que sayr avizarey a V. S. a que Ds. augmente a saude e estado co o animo que té de servir
a S. Mag* para que elle vendo a satisfação como costuma a V. S. em remuneração os traba­
lhos, a traz elles o prêmio que V. S, merece, oje aos dezaseis de septembro de mi seiscentos
e vinte e seis Annos.
O criado de V, S. Constantino Cadena.
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secçáo Ultramarina. Documentos
de Angola« 1626).

DOCUMENTO N.° 5o

Certefico eu Affonço Dias jaoome escrivão desta fortalesa de Cambambe que ora sirvo
ante o cappitão mor delia Constantino Cadena que eu fuy aos catorze dias do mes de septembro
de mil seis centos e vinte seis em companhia do dito cappitão mor e do Alferes Andre de Be-
navides, e de mais seis soldados âs minas de chumbo que estão huã legoa desta fortalesa pouco
mais, ou menos fazer certa deligencia na dita mina por cumprir assy ao serviço de S. Mages-
tade conforme hüa ordem que o dito cappitão mor tem de fernão de sousa Governador destes
Reynos de Angolla e hindo o dito cappitão mor comigo, e mais pessoas nomeadas a ver a ca­
pacidade da mina, e sitio delia, achamos hüa beta em altura de mais de quatro braças de
chumbo conforme â pedra que delle se té tirado, e se medio a face da beta que se mostrava de
cima, e se achou ser de seis polegadas de largo, e demarcando o capp“mmor cõ hü Agulhão
que levava pera ysso se achou que a beta do chumbo nos corre a nôrnordeste da qual saé duas
betas de barro jaspeado de branco, e vermelho a modo de ramos que saé da q se tira a pedra
de chumbo, as quaes corre hüa pera o norte quarta de nordeste, e outra ao nordeste quarta de
norte que ambas mostrão sayré da principal de que se tira o chumbo, mas estas duas não
mostrão nada do tronco principal, a qual mostra profundar naquela parte muito. Estâ esta
mina em terra raza sé rochedo, ne mato em hüa campina grande entre quatro outeiros que
estando na dita mina pera qualquer delles serâ distancia de hü tiro de hüa espera. Declaro
que na dita campina ha algüs alicondes, e algü mato de pouca consideração afastado delia, e
por assy passar na verdade, e me mandar o dito cappitão mor fosse em sua companhia, e do
dito alferes e mais pessoas a passey na verdade, e o juro assy pelo que de meu cargo tenho, e
me assiney cõ o dito cappitão mor, e Alferes, e eu Affonço Dias Jacome escrivão que o fiz es­
crever, e sobescrevy em Cambambe oje catorse de septembro de mil seiscentos e vlte seis
A p ên d ice
48)
ate assiney d» meu sinal raro .AíTonçr, Wtt jM#n^
Cüaí,«'®o < W i .Aodn &

■ ri '■ »PiT^'.4' U W Sus‘ “ &í>

DOCUMENTO N.« $t

* áel nacimieato de nuestro seõor lesucrâto de m\\\ é


• " ajas dei mes de Jultio dei Uicho afio En h c-,udaá de u lo a « u * **«. * 1
105 oli ouewro senor de la rreparticion de Índia, por amei seõor )aan *í
deí ,n de estado presidente delia, s.eodo presentes los officiales dela d i c W a , * U w
eoíi^)0 . „„rescieron:
c° ° afirmados,parescieron: “ cn*'*1»ítl*v^wii
íd>a íp_ciro de seviiÍJ t António Aíendep de Lamelo moradores en esta cindad i A,
T çervir b su igestad, heran
------ 7contentos
........ 7 de —
contratar, como de
arar, como dehecho contrauton, ti
hecho contratar», t i ,?^* *a
Ps°,V®bon*M dei Remo de angola por la manera qoe !o mando apartar el Rei don U ^ Z
\ ue dios aya) de Vastento de la ysla de SamoTome, è conforme al modo í hordeo que ateT»
(q rre por Cuenta de .* haZ’enda de SUmagestad' é c o t t condicionesi precios en L coo«-
C°nc.as ci'je haSla aqU1 Sv h,c,' ron p“r el Contódut mayor de la contafiri» dei Reino e cata;
? s cttaUs conbenengas harart los dtchos contratadores con las personasV las ^rrnhaaer,
S entfaodo en eStC T iem0 mnT ° S especenas descubycrtss ni por descobrir fa el
r eho reino de angola, porque descubrtendose e cogiendose ias dichas especerias 0 metal«,
ilC n „ara la bezienda de su magestad por el liempofj) con las condiciones abao declaradas.
5 Con condicion que los contratadores toman el dicbo asiento è conbenengas por tiempo
*- a6os,
, «eis anos, que
que commençaron
-----r.por el^dia^de San ^
Juaa Bamisia que aora
oautista que aora pasò
pasò deste
deste ano
m pre*
dC de quinientos é ochema y siete, y se acavaran por oiro ul dia dei a5o de quinjenu*
sem6 v tres, por
o0venta y ?_
precí0* «y* quantia
a^nt*
a
de onzequemos
__ ^
de rresen dinero
,
de cornado
a
ea c&dauno
. . .
s díchos seis anos deste asiento, que pagaran à la bazienda de su roagestad, è asi tnas uno
0 --4n[0 dei
_*Q Q U l precio
p r destô
------ asiento
■ que
i ■ es —
aplicado
r> « — **«# fpara
u i u uobras
u i o i ^pias.
tu a . E\ qual ^pagamento
x^i v^uai a g a i u s u t w S cT a fl

P ° T ^ . QS c o n u atad o res AWÍí>flíÍfi<i íià h


obVigados aTPTal
hazer at thesorero J /vrt._l.
de Ja casa dev_
la_t__
mina, o a U persosa
* °S 1C m agesta^ ^0^^enafe, en ^os ^a®as a los tiempos e de la manera ab u o decla-
que sU conVjene à saver haran ia prímera paga que soa cinco quentes é qmmemos mül rre$,
ratiâ " d e diziem bre dei ano que biene de quiaientos è ochema y ocho, è la secunda paga que
e° tan ta quantia, por San Juaa dei ano de quinientos ochenta y nueve, y de alty aieíame
eS o tra m eses seran obligados à dar è pagar los diebos cinco queatos é quinientos mil
cada seis
en cada seis t»*® ea cai}a ütl a{ío
.............. - Juan
los dichos onze quentos de res, de manera que por San
res,que vienc. ientQS e noventa y quatro, acavaran de pagar los postreros cinco quentos è
dei ano e q ^ t0(i0 e\ precio deste asiento, uo anbargame que se acsve por San Juan
qunu6nt°® ^ . ieotos è n0venta y tres.
dei ano Q H jQS ^ic^05 contratadores podran mandar lletar a los dichos partes,
Con con ubieren de hazer, todos los vinos è margandeta que para eilosle fueren
para los jesca ^ Uevai las personas que con los dichos contratadores se cower*
nescesanos,7 q , ias p0I ia manera atras declarada, è sienáo císo qae pablo dtaz
taren è htzierea c" eina| oI drf dicho rrêino dt attgola, pretenda teaer alptn dereebo en
denabats, que esta P g contratadores hicieren, no swan obligados a lepagai porelloicosa
los rrescatts que os en cada M ^ deste ^ los diebos « * : quentos de

■ le” " u f b ' S n t ” “ . . '* S » 1 '>” 1 “ « * > * • “ ^ “


J k z lübiete en los dichos c[estales. , í i c t e cowtaisdoies fteseaiiteo eo el dicho
C . condicion 7 “ “ f ™ ,Z £ ,í t » I» *' “
o. nnCfola. DOdcâtl O § _ i„ rrtrnna del SôdlCre«

diebos contratadores rrescataren en todo el


aeS'c « ° t d.dicio»,«..ndo elm..fiMnci«
61
4Ô2 Angola

fiem po que durare c ite asiento en el dicho Reino de angola, podran sacar è navegar para esta
ciudad por si é p or sus fatores, sin por ello ser obiigados a pagar derechos algunos à ia ha
zienda de su m agestad, ansi cn Ias dichas partes com o en estos rreinos, è antes que se enbarquê
el dicho m arfil lo Uevaran à la casa de la fatoria dei dicho rreino de angola para lo alli ver y
pesar. E seran los dichos contratadores obiigados & mandar traher con el cenifícacion dei fator
è oíficiales de la dicha fatoria, en que daclaren la cantidad j peso dei dicho marfil, para por
ella ser obiigados de lo s dereches dei. *
C o n con d icion que su m agestad m andara dar a los dichos contratadores todas las cédulas
que fueren nescesarias para beneficio deste asiento.
Con condicion que los dichos contratadores puedan tener en angola los fatores que les
fueren nescesarios para beneficio dei dicho asiento e cobrar los rendimientos dei, con los es-
crlvanos de la fatoria que su magestad en ella tiene proveidos, los quales escrivanos servi ran
con las dichas fatores, y ternan cuidado de visitar e mirar por los rescates, y ber que los rre-
glmientos que sobre ello se dieren sean conformes a los de su magestad; y queriendo los dichos
contratadores tener en la dicha fatoria mas algunos escrivanos, los podran tener para esermr
en oiros Ubros la rrazon è gastos dei dicho asiento, e lo de mas que cumpliere, juntamente con
los escrivanos de la fatoria que por su magestad son proveidos, a los quales se tomara jura­
mento por los samos evangelios por el proveedor de la hazienda dei dicho rreino de angola,
para que vien y verdateramente sirvan, guardando en todo el servicio de su magestad e juzticia
a lo expuesto. 1
C o n c o n d ic io n q u e fa lle sc ie n d o lo s e scriv a n o s è dem as o íficiales de la fa to ria o de lo s n a­
v io s , q u e p o r e ste a sie n to lo s d ich o s co n tra ta d o re s pueden p o n er, o algu n o s d ellos, pue a su
f a t o r p o n e r o t r o s e s c r iv a n o s y dem as o ficia le s, to d a s Ias vezes que fa lle d e r e n , sin en e o en-
tro m e te rse el p ro v e e d o r o el c o rre g id o r dei d ich o rreino de a n g o la, avien d oseles prim ero to*
m a d o ju r a m e n to e n la m an era a tr a s d e cla ra d a .
C o n c o n d ic io n que lo s d ich o s co n tra ta d o re s h ara n co n ven en cias c o n to d a s la s p ersonas
q u e la s q u isie re n h a z e r, p a r a traer e s c la v o s del rrein o de a n g o la, las qu ales se h aran p o r lo s
p r e c io s è c o n d ic io n e s , tiem pos è m o d o s c o n que h a sta a o r a se h iziero n p or horden de la h a­
z ie n d a d e su m a g e sta d .
C o n c o n d ic io n q u e su m a g e sta d n o m a n d a ra d a r lice n c ia s a nin gun a p erso n a de qualquier
c a lid a d é c o n d ic io n que sea, desde la fech a deste a sien to en ad elante, p a ra p o d e r h ir rre sca ta r
n in g u n o s e s c la v o s ni lo s m erca d u ria s qu e lo s d ich o s co n tra ta d o re s, p o r virtu d dei, pueden rre s­
c a t a r e n e l d ic h o r r e in o d e a n g o la ni en sus lim ite s ; n i m an d ara y n o b a r co s a algu n a que sea
e n p e r ju ic io d este a sie n to , è so la m e n te lo s d ich o s co n tra ta d o re s p od ran dar las tales licen cias
a la s p e r s o n a s c o n q u ie n c o n tra ta r e n p o r e l m o d o en el d e c la ra d o , è lo s d ich os co n tra tad o re s
n o p o d r a n h a z e r m as co n v e n e n cia s en el p o stre ro a n o deste asien to en ca n tid a d , que aqu ellas
q u e tu b ie ren h e c h a s en c a d a u n o de lo s cin co afíos p rím e ro s p ro rra ta , de m anera que sean
y g u a le s en c a n tid a d y c a lid a d de la s co n ven iên cia s que h izieren , é h azien d o e llo s m as convô-
n e n g a s s e r a n p o r c u e n ta d e Ia h a zie n d a de su m a g e sta d ; è p a ra se en to d o tiem po saver las
q u e e sta n h e c h a s é h iz ie r o n en el tiem p o d este a sie n to , se reg ista ra n en lo s libros que estan
e n p o d e r d e fr a n c is c o c a m e r o q u e h asta a o r a fue el e scriv a n o de las dich as conbenengas.
C o n c o n d ic io n q u e lo s d ic h o s c o n tra ta d o r e s p o d ra n p o n er en el d ich o rreino de an g o la
p a r a b u e n a c o b r a n ç a d e lo s d e re c h o s d e ste a sien to , lo s fa to re s y escriva n o s e g u a rd as que le
fu e re n n e s c e s a r io s , q u e p re s e n ta r a n e n e sta c a sa y m esa de la h azien d a, p ara en e lla ser visto s
è a p ro vad o s.
C o n c o n d ic io n q u e y e n d o a l d ic h o R e in o de a n g o la alg u n o s n a vio s à rr e s c a ta r sin licen cia
è h o rd e n d e lo s d ic h o s c o n tr a ta d o r e s , en q u an to d u ra re el tiem p o deste asien to, se perderan
lo s ta le s n a v io s è m e r c a d o r ia s qu e en e lia s fu eren b a ila d o s , lo s d o s te r c io s p a r a la hazien d a de
s u m a g e s ta d y e l o t r o te r c io p a r a lo s d ich o s c o n tra ta d o r e s , è s a lv o lo s n a vio s é a rtille ria e
a r c a b u z e s , p ic a s , la n ç a s é d e m a s a r m a s , p o lv o r a é m u n icion es que le s fueren h alla d a s, porque
to d o e sto s e c o b r a r a p a r a Ia h a zie n d a d e su m a g e sta d , é an si p o r lo s officiates dese rreino
a q u ie n p e r te r n e s c ie r e , co m o p o r lo s d e la fa to r ia d ei d ic h o rre in o de a n g o la , sin lo s d ich os
c o n tr a ta d o r e s ten er d e llo c o s a a lg u n a , é an tes de se rr e c o g e r lo s tales n a v io s é h azien d as, se
se n te n c ia ra n p ritn e ro p o r ei p r o v e e d o r d e la h a z ie n d a de la s d ich a s p arte s, ó p o r el fa to r e
o ffic ia le s d e la d ic h a fa to r ia , y d esp u es d e s e r se n te n cia d o s la s ta le s h azien d as, se ca rg ara n las
*Tr , *

Apêndice 45
k aDsi lo* o*1" 0* eo.°, ®d°’ T, m > «a»» t «aiíosoe» a »
oafies df® „ pondran i cargo dei d.cho fator, e la ttrc p»m d»
d°5 P ha'lad° J U o s contratadores, por «s«e capitulo im ma, «,» « * ;,
í« < e g * 'a jjrion que los diehos contratador« daran para la m
5e «°co0 d«»tt
GO11 condi««
- JeSCCV»^--»seguras
n - ■ è abon das,•de que d a~~
*-va*.»
» *,,y ^
QÇ,ls Jca cau ^(i? U® 3Sits»
^ . _ fíaflZas w
Oto Ia5 ftf n* L perteneciereula /»rsKrflnzfl
cobraota deste a m to , sei toam », « * tc
asíe<iw 0n& ^ U,CU4 ' WIe w UT'
ó 19 P,C
a dicba cobran“ e daran los diehos contratador« soltmenu por
ara
ê3faCon e o n â ^ docientos
e0ndl'nto ^ ^ ; ' f e* vieme adll
null rres eo dineto
dinero de contado,.
couud" k m aWltB 'L t S “
euA
r alles de santo dommgo
io deste * frades dommgp desta cmdad de Usboa, i quiw » - -haoH*
pre‘
< , ’“, prior étJ £ ero asie[U0
1 pf'“or, asiento por
por su
su cedola,
ceduia, é
é los «ente
vieme m tll rm
rnill rres tUla úa» ig
^ n tt ^
r os«3 en 6 de nuestra Seíora de la esperanra de la dtcha cmdad, para lo cpü * 4„ , r

1 ° ° . ' nesc3sar' an5 que daran las diehos contratadores en cada un trio de los y » ^ i41_ .,,
ced Con condlC' de ellos su magesiad hazet metetd à la persona que tueiere por bita
aue los navios de k s combeneagas que los diehos co&tuudcm tez&ta t
d° 5 Con condlCl°rt,a en virtud deste asiento è conforme à las condiciones de!, eniratoo deatro
reo Por s*.* CÜenfíola hasta el dia
L hasta dia de
de San
San Juan, den
den cuenia antes
antes çd que
çd q se acaba—este tú*a m ,
r-------L
fUfiel rfeíno oes a
feíno à an&& wss dei
<jei dicho rreino, hasta en
en fin
fin dei dícho
dícho aão
aão Je oovema y ua que
fsaldtao de enirando ni saUenào los dichas navios en los üífpos amba declarados,
è o seis cuenia de la hazienda de su magestad los derechos que dellos sekvierea de
S° e P°r
rohraf* j> j0n que ^os ^ c^os conwala^ores vornan en si ta cobranza de todas Us conve-
Con c ° nm esian hechas por el contador mayor, desde el dia de San Jüan deste a o 5
e0ga5 de angO c^mknza à correr el tiempo deste asiento, é daran i pagaran à h haaitada de
prfiset'16 en ^ c^0 quentos de rreis por las dichas convenengas dei dicho ano,qaier remcnqaKr
maSesia ° t0 de las mesmas conbenencias, los quales diehos ocho quentos de rres los di-
(lO, ^ l° s rre^e{i0ves pagaran à la hazienda de su magestad, dentro en el tiempo de los seis aõos
chos c ° ntraia tanto en un ano como en oiro. — El qual asieato visto por el sefior presidente
(jesie asteu10» ^ jjuen0 é se ohligo en nombre de su magesiad à lo hazer cumplir, con
iia^lead^í 0 condiciones é obligaciones eo el nombradas, è los diehos antoino mendez
todas k s c au eíj r0 sevilla azetaron de lo cutnplir h mantener, so pena que no lõ bazieodo
lameS0 ^ sU ^azienda todas las perdidas é dados que la hazienda de su magestad por
ansi, pagara« P firmeza de todo, el dicho sefior presidente de !a hazienda rnandò haier
ello resciviere, ios asientos, à donde fitmaion con los ofkiales de la dicha ha-
eSte asiento en presentes, blas de acosta, portero deste essi de la hazienda, é juaa de
zienda, Por ^ . n e^a . è puesto queste asiento se continuare à los seis deste mes de julho,
4
olivenzaj ue SirJ oie ^ oCho det dicho mes. luan de Tones lo fizo en Usboa, en el dicho dia
.g firmo à l ° s v . ju t0 ^ze escrivir. Jüan Gomez de Silva. Yo el Rei.
mes à «So. yo.diego

Alvara de confimation
, los queste albaran vieren, que yo bi el asiento atras escrito que amorno
Hago saver H ^ moradofes en esta ciudad, htzieron en mi hazienda, po,-
mendez de lamego p ^ é conbenencia dei rreino de angola por üempo de seis anos,
que se obligaton o ^ ;uan bautista deste ano presente de quinientos eochenta y stete
que començaron p à ^ apamr el senor Rey don Enrique mi uo (que dios aya) dei
anos y de la q g t0 Tomé, é conforme al modo è horden que hasta aota andubo por
asiento de la ysla ^ S“ ‘ ° J dla en cada uno de los diehos seis anos honze quentos de
cuenta de m. haziend , p g rQ dfi ]a casa de ja m'ma, é ansi ocho quentos de rres ma

' ias convenencias que lueren ^ ^ aaos>t3Bt0 enuno como1enotto,


rres en dinero ^ = ^ 0fueren hechas de san juan dei ano pasado de W
por
-san S - c o ^ e n e l^ a s ie m o .,,^
484 Angola
ansi lo hc por mi ecrvicio; é otrosi se cumplira esie albaran puesto que no pase por la chan-
cilleria. Juan de Torres Io hizo en iisboa, àveime y ocho de jullio de mill é quinientos ochentã
ò siete. E yo diego bello lo fize escrivir. - Rey - Juan Gomez. (Esto viene fielmeme traducido
de lcngua portuguesa en castellana por mi marcos de sandoval ministro dei Rei nuestro sefior
— sm anadir m quttar sustancia de su original y lo firme - marcos de sandoval.
(Transcrito de La Trade NdgrUre aux indes de Cattille, de Genre«
Scelle, tòmo I, pig, 790).

4**

DOCUMENTO N.° 5a

LEIS SOBRE SE NÃO PODERÉ CAPTIUAR OS GEMTIOS '


DAS PARTES DO BRAZIL, E VIUEREM EM SUA LIBERDADE,
SALUO NO CASO DECLARADO NA DITA LEI

Dom PhilHppe et<^ faço saber aos q esta lei vire que o snõr Rej dom sebastião meu sobri­
nho que deos tem fez hua lei na çidade devora a xv de março do ano de mil e bc Lxxj na ql
defifendeo que se não podessem captiuar os gentios das partes do brasil senão nos casos e pelo
modo nella declarados, e os que de outra maneira fosse captiuos declarou por liures como
mais largamente na dita lei se contem, e porq sou informado que os moradores do estado do
brasil vsam de modos jliçttos palleando causas para dizere que comforme a dita lei os captiuão
etn justa guerra, e procedem em tudo contra as pallauras e tenção da mesma lei captiuando os
injustamente a hüs por engano, a outros por força do que se segue grande jnconvenientes assj
para as conciençias das pessoas que pela dita maneira os captiuão, como pelo que toca a meu
serulço, e a bem da conseruação daquele estado, e querendo eu ora nisso prouer com o pareçer
dos do meu conselho, como conuem aseruiço de deos e meu, pelas ditas causas, e outros justos
Respeitos que me a isso mouem, e por atalhar ás cautellas com que os moradores das ditas
panes procurão fraudar a dita ley ey por bem de a reuogar como por esta reuogo, e mando
que daqui em diante senão vse mais delia, e que por nenhüu caso, nem modo algüu os gentios
das partes do brazil se possão captiuar saluo aquelles que se captiuatem na guerra que contra
elles eu ouuer por bem que se faça, a qual se fará somente per prouisão minha pera isso paru-
cullar por mim asinada, e aos que de outra maneira forem captiuos ey por liures, e ey por
bem, e quero que aquelles contra quem eu não mandar fazer guerra viuão em qualquer das
ditas partes em que estiuerem em sua liberdade natural, como homãs liures que são sem pode­
rem ser como captiuos constrangidos a cousa algüa, e querendo os moradores das ditas partes
do brazil seruirse delles, lhes pagarão seu seruiço, e trabalho como a homes liures, e contra
os que da poblicação desta ley em diante per algúa outra maneira os captiuarem mandarei
proceder como ouuer por bem, e for meu seruiço, e mando ao gouernador das ditas partes do
brazil; e ao ouuidor geral delias, e aos capítaés das capitanias, e aos seus ouuidores, e a todas .
as justiças, officiaes e pessoas das ditas partes que cumprão, e fação muy inteiramente comprir
e guardar esta lei como nella se contem, e ao doutor simao gonçaluez preto do meu conselho,
chanceller mor de meus Reynos e senhorios que a publique na chancellaria e emvie o traslado
delia sob meu sello e seu sinal por tres ou quatro vias ao gouernador das ditas partes do brasil
ao qual mando que a faça poblicar en todas as capitanias, e pouoaçoes delias, e registar no
liuro da chancellaria da ouuidoria geral, e nos iiuros das camaras dos lugares das ditas capi­
tanias pera que a todos seia nororio e se compra inteiramente, e assy se registará no liuro da
mesa do despacho dos meus desembargadores do paço e nos Iiuros das Rellaçoes das casas da
supplicaçam e do porto em que as semelhantes leis se registão, dada em lixboa a onze de No"
vetnbro diogo debarros, a fez ano do naçimento de nosso senhor Jesus Christo de mil e b°Lxxxxb
pero de Seixas o fez escreuer ./.
Foi poblicada na chancellaria a lei dei Rei nosso senhor atras escrita por mym Gaspar
Apêndice 485
„ j-nj perante 0* officiât* <1* <üu chaneatlifM, t otitnt stati gfflfí qt*
8do «^"“JdSacho, cm^ bo1 * noV{ diu <**toa*« de ,>9) «fc I

M»1‘,°rtq'>erer Stli f*««« fc T»m *. T«H U tnttttLtn,

DOCUMENTO N.* 53
# m
, tr REGIMENTO SOBRE A ORDEM QUE OS PADRES
/jT ^ ífp A N H iA HAN de t e r com 0 a a m o das p a r t e s
A a COMF DO BRASIL
■ faço saber aos que aluará e Regimento vir? que comsíderamdo eo o tsxm q»
gu ^ ^et . comufirÇâo ® enl*° *iras^ a nossa saDía k* católica, e pera cottscnttçio
o0rta Pafa, dar ordem comque o gentio dessa do cenSo pera as panes »«iaíiKajpo.
*1 oufi*le e5lânaturae$ deste Regno e se comomquemcomeiies, e aja «ire bus e outros a feòt
nlç°^s á°Lncia <íue conuS pera VÍuerera en^ * ° econformidadefte pareçeoeDcarraar
S * esp°laua»w cu não ordenar outra cousa Aos Rdlegiosos da colp4 ú dejcsuocut-
n 0 tot3’ r J deçer este gentio do çertao, e 0instruir ms cousas da Relegilo Cristamé do-
L do àe .“ inar e emcammhar no queconue ao mesmogentio assj oascousas desuasaiaaçío
-piíti«*f’ 1. enda comfl, e tratamento com os pouoadores, e moradores daquell« pana, 00
°a - pela maneira seguinte./. 1 K ^
CO
proc
edera
que
■ „ratnente os Rellegiosos procurarão por todos os boõs meos encaminhar 0gentio
Pfl venha morar, e conuersar comosmoradores noslugares que ogouentador lheasiniri
para <iue r j 0s Rellegiosos perateremsuas pouoaçoés, eos Rellegiosos declararamao gentio
com PyJ e que en sua Itbertade viueráo nas ditas pouoaçoés, e será soõr de sua fazenda
que he na serra por quanto eu 0tenhodeclarado por liure, emandoque seíacomscroado
assj c°! bertade, e vsarão os ditos Rellegiosos de tal modo qnampossa o gentio dizer que o
en $ua. * er da serra per engano ne contrasuavontade, e nenhua outra pessoa poderáentender
fazeítl zer 0 gentio serra a0S ^ ares fiuese &e handeordenar per suas pouoaçoés./.

0a$ pessoas jrão as ditas pouoaçoés semlicença do gouernador e consentimento dos


Nenhuas
que laa estiuere, ne terão gentios por não se enganaremparecendo lhes que ser-
iradores podem ficar captiuos, nemse poderão seruir deiles
Re'iegosmora(lores deíles por mais tempo que
u dous m_ses,
eses, nem
nemlhe
lhepagarão
pagarão dante
dante m
mão
io sob
sob ppen a ddeeo0 pperd
eita erdere,
ere, som
somente
ente as
as justiças
justiças da
da
farão com effeito pagar acabados os dous meses o que mereçere, ou o en que esthie-
^^concertados com elles por seu seruiço, e os deixarão Huremeate jr a suas pouoaçoés, e os
porfo em sua libertade ./.

£ os Rellegiosos não darão de sua mão gentios aaiguáspessoas deiles emsuas casas senão
lo tempo declarado neste Regimento e paguando lhes seus salarios para que entudo se ajao
por homês liures e seiao como tais tratados./.

0 gouernador elegerá com pareçer dos Rellegiosos o procurador do gentio de cada po-
uoação que serutrá tee tres anos, e tendo dado satisfação de seu semiço o poderá prouer por
outro tanto tempo, e auerá por seu trabalho o ordenado costumado, e o gouernador, e mais
justiça fauorecerao as cousas que o procurador do gentio requerer, no que comrezão justiça
poder ser./.

Averá humjuiz particullar que será português, o qual conhecerá das causas que o gentio
tíuer com os moradores, ou os moradores comelle e terá de alçada no çiuel tee dez cruzados,
« no crime açoutes, e tee trinta dias de prisão,/.
486 Angola
E o gouernador lhe asinallará os lugares onde hande laurar, e cultiuar, e scr&o os que o
capitSes nfio tiuer? aproueitado e cuhiuado dentro no tempo que são obriguados conforme a
suas doaçoes e o mesmo gouernador lhos demarcará, e confrontará mandando fazer disso
autos ./.

E este Regimento se entenderá nas pouoaçoHs dos gentios que de nouo desser? do çertão
per ordem dos Reliegíosos da companhia e nas mais que per sua ordem sam feitos, mas avendo
outras que estem ordenadas per outros Rellegiosos, e a seu cargo se guardará a forma que tn
tee gora as gouernarão ./.

E o ouuidor gerai devassará hüa ves no ano daqueiles q catiuare os gentios contra forma
da lei que mandei passar nesta cidade de lixboa para se não poderem captiuar a onze de no-
uembro do ano passado de mil e b* Lxxxx e cinco, e procederá contra elles como lhe pareçer
justiça ./■

E mando ao gouernador das ditas partes do brasil, e ao ouuidor geral delias, e aos capi-
taSs dos capitanias, e aos seus ouuidores, e a todas as justiças, offiçiaes e pessoas das ditas
partes que cumpram e fação muy inteiramente comprir e guardar este meu aluará e Regimento
como neile se conter# o qual se registará no liuro da chancellaria da ouuidoria geraí, e nos
liuros das camaras dl s lugares das capitanias das ditas partes pera que a todos seia notono, e
saibam a forma em que os ditos Rellegiosos hande proçeder nos casos deste Regimento, e se
cumpra inteiramente e assj se registará no Huro da mexa do despacho dos meus desembarga*
dores do paço, e nos liuros das Rellaçoes das casas da supplícaçam e do porto en que os se­
melhantes aluarás e Regimentos se Registão, Pero de seixas o fez en lixboa a xxbj de julho de
mil e beLxxxxbj e do teor deste que hee a primeira viu mandei passar mais dous pera jr por
tres vias, comprirsehaa hú somente ./■ <Arquivo NicionaI daTôrr* do Tombo, Um, lide Leis
foi. 3 o a 3 i).

DOCUMENTO N.° 54

En la villa de Madrid / a dos dias del mes de mayo de mil y sseis cientos y un anos / an-
temy el escribano e ts. / parecio presente el senor Joan rrodrigues Cautino / governador y ca-
pitan general del reyno de angola / estante en esta / villa y digo quel esta combenido/ concer­
tado / y por la presente se conviene y concierta con el senor Jorge rrodrigues ssolis / de le
vender quatro cientas licencias de pieças desclavos / para las traer del reyno de Angola a las
Indias de Castilla / y por cada una pieça le a de dar el dho Sr Jorge rrodrigues quarenta du­
cados en esta manera / los trese dellos por Ias lizençias de la saca de las dhas pieças del dho
rreyno de Angola à Yndias de Castilla / y los veynte y ssiete rrestantes a cumplimento a los
dhos quarenta / por las lizencias de los que se niederen dentro de las mismas Indias / que se
ha de entender saco de Angola y entrada de las dhas Indias / que las dhas quatrocientas pieças
desclavos montan dies y sseis mH ducados/que es a dar y pagar luego de contado / por tanto
digo y ortogo / que vendia y vendio al dho Sr Jorge rrodrigues ssolis las dhas quatrocientas
lizencias pieças desclavos / a precio de los dhos quarenta ducados por licencia / para que las
ssaque y haga sacar dei dho reyno de Angola / y meter en las dhas índias de Castilla / de las
quales Io rengo de dar y entregar los rregistos y licencias delias/para deste primero de agosto
deste presente ano de sseis cientos y uno en un ano siguiente / y de los otras ducientas para
desde agosto de sseis cientos y dos / hasta sseis cientos y tres / parraque en esta tiempo o en
el que dei rreste / pueda navegar e traer dei dho rreyno a los índias de Castilla / las dhas
quatro cientas licencias desclavos / las quales a rraçon de los dhos quarenta ducados / suman
y montan dies y sseis mill ducados /los quales el dho senor Jorge rrodrigues solis le da y paga
al dho joan rrodrigues Cantino / luego de contado / en dineros de plata Castellanos / de que le
pido al pressente escrivano de fe / e yo el dho escrivano doy fe / que el dho Sr Joan rrodrigues
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Apêndice 487
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inego qu e d e lo suso dho c0nZ qae^ r Z é l * t r J ? g ,t/ * e i / ’ *
10 >vav — ------ -- çscmara / a to q&síi tt» m «! p.^T
co^ /e& o 4U? . u c h o y ortogado con lasfuerçasnecesanas/ypar» qrnbre*****p * Círoeaa
?fcr
155 fí}^ > > 8* eS j obliga su persona y bieaes / muebies y r/tyc« / ando* y por
/jS > ° 7 0 10 todo su poder cumplido a iodas y quales qoici jortid» yjueçes dei rry
Hioy oi°rS°er partes que sean / para que m \ t t io agan iener / guardar / j caspkr
f /1 d'e quaí£S^üíoraria dentro de su distrito y jurisdícion/ y rremmeío él soyo pfoprio
sí 0 5* I . vjviefô ? f 0 / y & ley std conbeneríd áe jorisdicíoneo m im judiomi / como ri « tt
* ,0 0 * *v/ n ootw,luv 0
M fuerasententíadefiaidbadejues cmmtntdpor
......... T “vwuluüaQeju« comperecty eípedidafa»-
por ri pedida J ctti*
C? </z«da ® sutoridad d, « » . - - • ’ '
iüri5°'wí0 eíi ^ C{\&} y Pasâda eíl auror*dad ^ C0Sa jusgada/ sobre A rrenacrío toda* y
c&v ■ - .paou -i jg sU labor ,/ J, te ley
sU__ - e rregía
-o- dei utl'
der*que dije
Hueo1 !«quegeiferal
gewraErremmcw cíadoo
cíoo de
eff1 *uief ^c^fS -(»declara ouel dho Sf Jn»h
ia /y; se ^
Oilüf — declara quel dho Sf Joan rrodrigues Cautmo/para queptteda pa»r
4u í!íffieha \ íinrt
■ ° r4c/rrodrigues
m f ‘%aes!« las fdhas
» quatrocientaslicencias Ha / p« ^ ^ ^ *-
, gduanmf/as e de todos ]0s de«,« ' dsM* roj/s4;S| díra ^
je rivn , Íí? quaí dara dentro deí termino que se a jr . ^aç ^ devíereg «oj- ,_n ..

r ( 0 A>, reyno de An®o!â !C m ° del pas* e s ^dhas v l / T b° C0B*«**/tm iL u

den rocie««5 lí«flCías / 0 ^ aI 9Ul« a J»ne delias/ )as “J /eÍ3ÍÍ« « * navegas , J dhis
^ te / c o o o mas a su voluntad S i M/ j k & > \ w egsI enlof ^
' í S f '« // » / f e»>pir Í S e— P*r ? 4 7 ,
!£ , ».«*»'■ 1«“ * * ’’ ~ t '• f~ ví »* i x * - « / , d to
A'9My Joan i&Cauíinho.
Juãn de Çamorjj.
r • - J<m

(TX t . t f l , S n f Jl Ca,l0e’ d' ^

DOCUMENTO N.° 54

de aver asento na renda dos negros e andando enadministração rendia tão pouquo
Â/ ieS 0 de reditos rendia cousa de consideração, peio quesuamg*queesta
qUe ne a ^ que ea iodo 0 casso searendaseese fez 0primeiroasento so anode 9Scõ p.
en glí>r,a j ^reçõ ^ çemfnií du01cadaano e se íhe derãomil ducados derenda de juro
Gomes « ant«nünez caid1 ao qual se avia aceitado lanço nestarenda cõ dous mil
P°ú»deTenda de juro de prometido que , se lhe derão todas as licecsas
^UÚ' administrador que então era tivese vendido des de fio de novembrodaqueleano eos que
^mesmo vendeçe ate fin dabril seis mezes e tudo isto se cedeupor dar os ditos
ete peja rencja corao se pode ver pelo seu contrato na seista condição deíe por onde
IbTfiwu custando esta renda menos de cenq" mil du- cada aano.
O seg^ arendam19foy a hü Roiz coutt0en cento e setenta mil duMcada aao 0 qual se aão
conprio ne ahançou antes se veo dizendo que fora íezão çengaao por aver dado pete renda
tanto mais do que valia ne podia dar de sí.
488 Angola
O te r« arem dam 1“ foy a g«> v a z c o m i ' que se fez lo go seguido ao de seu irm ão e fov ^
c e n to e c o r e n ia mil d u - c a d a ano c o lhe d arg todas as líçenças que p. G om ez Reine! tinha n
vcg o d o de m ais d as que lhe perten ciaõ p elo seu co n trato que erão m ais de dez mil licenças**
que os p a g a çc á ra z ã o de vinte e ires du°* p o r ca d a um a e que todo o mais lhe fiquace
a ele c ô que fiquou o c o n tr a io p o r menos de cen m il ducados cada ano com o consta da con
d iç ã o d o m esm o c o n tr a to 44 e da c o m a das licen ças de Reinei isto A sua pagar coai
to rze núl du°» de p rom etid o ao dito Reinei p or lanço que tinha feito nesta renda de cento ê
v l# m il du°* ca d a an o, cõ con d ição que sua mg* dezestiçe de tod as as pertençois que contra
ele tinha do prim ° c o n tr a to que teve que p o r se lhe aver aseitado a esta condição ganhou o
d ito p ro m e tid o .
O q u a rto arendam 10 fo y agostin coelh o castelhano que o tomou en sua cabeça param anoel
de b rito p ortu guez en cento e setenta m il ducados cada ano, de que se lhe mandou
ab ater tres m il du°' c a d a ano de p rom etid o e fiquoulhe en çento cinqu e sete mil o qual logo
f& ito u e d ezap areseo,
O qu into arendam 10 se fez co m ig o en cento e vinte m il du°* cada ano e cõ aver tres anos
que esta feito que se cum pre en prencipio do mes de m arço que ora ben se me a suspendido o
com p rim to dele p or se dizer que conbinha que os negros fosen por sevilha nas frotas sorteados
c o m o as m ais m ercadorias.
349
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados. F . G. Mas. n.0 « 2 *
^■ Relação dos arrendamentos que se aÓfeito na renda das Licenças.

DOCUiMENTO N.° 56
En Portugal tem emtruduzido couza os ornes de negocio de pouquo tempo a esta parta,
que he de notável dano a Real fazenda, e não menos p- os povos do dito Reynno e suas con­
quistas: Gomo he sairem os navios dos Portos delle pera ho estado do Brasil, E reynno de
Amgola, e outros ple* he jrem fazer pmr° escalas a portos deReynnos estrangeiros, E venderem
e comprarem sem paguar direitos á Rial fazenda carregando seus navios de sedas meas mantas
mto* panos Raxatas, e baetas, fazendo estas carguas, em sevilha, e em outros portos decastella,
e com registos fengidos que tirão pa meterem pesas em nova espanha se vão ao Reynno de an­
gola, que he porto liberto, tomando os mais delles pmro os portos do estado do Brasil com
achaque de arribados, e como são de registo, não se lhe mete guardas, e asim os mercadores
p* quem vão as dittas fazendas tem modos de as poderem tirar, sem tocar em alfandega, ne
paguarem os direitos q. nella estão devendo. E mla plc dos mko* que pela sobredita forma vão
a emgola torna ao estado do Brasil e mu a bonos aires, no que recebe grande perda a fazenda
de V, Magáe e o pior de tudo he que destes portos, e principalm16 dos das Canarias tirão todos
os annos mais de vinte mil pipas de vinho que levão ao estado do brasil e reinno de amgola e
a outros governos, e todos comprão a dr° de comtado, com que tirão do Reinno grande can-
tidade delle todos os annos, e estão os povos perdidos pelo sobredito retirar a vazão que seus
vinhos custurnavão ter pa as ditas plei e a esta rezão estarem tao abatidos que esta valendo na
comarqua de lamego, a menos de coatro mii res com o que não podendo os omês
comsertar suas vinhas, as deixão a monte, no que recebem grande perda, e descolasão os va-
salos de Vmagdee tu d o---- zado com a emdustría e mau arimo dos mercadores omês denasão,
os quoais não cudão em outra cousa senão como ão dever acabado de todo aquelle Reinno,
e tão bem neste particular tem feito a dilisia grande danno aos moradores do estado do brasil
e reinno de angola, que custumando comprar os vinhos de portugal a outo e des mil rés a
pipa, agastam aguora dos sobreditos quando he mí0 barato, a vinte, e dous mil ré s,.......... e
sinquo a trinta mil rés, e nas capitanias de baixo a corenta e a sinquenta e a sesenta mil rés, E
no Reynno de angola mu# vezes sem mil rés com que estão empobrecidos a todos estes dannos,
sendo V. Mga®servido se pode acodir ordenãdo V. Magde q. o navio q. for pa aquelas plea não
tome porto de Reynnos estrangeiros né compre nê venda nelles, e so levem despachos dos
portos de portugal cada hu donde sairem e quem o contrario fizer e levar mercadorias de ou-
95
í^f$B fr

Apéndtce
489
409

p e * 00* SdÕ /e« os


^.'Tcussdof Í m ,w -* ^«.ígado*.
o, C........ **" * * * * » ç, , Rfe, r ^ #
fn’ í>cu58
data nem assinatura).
assinatura).
(be
, , „ * * * • ' Que 005 navios de presidio *«a *11. fl
A' Ang°*a e nâo ,evarern cerritião do R • *r&*r aojrww
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DOCUMENTO N.‘ 5y

. Cédula que se Passou agora en setenbro de i6i3, para as ptov.t;,« ;


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0 Poctugaí mi P«sWe0,e de mi R1 aud«°»* & ia Ciu'l


pon^ni0fí°de*
^ 0sgchadrecasO,p^ j:«afcíic Relaçiones
diuerW fii»lftpÍAiMw■»
y (UH»n>—- * !l P ?
de la 2 7 pueno de
h a entendido y t.ene por cosa muy çima qae dc ordinário
de ias loo'“-'
buenos ayres -as. de los de portuga, por BIa oe
hierro de las terçeras y otras partes muchos n,„ COffl° * n j» . r,
fias de diferentes generos y que en estos aauioj 7 ? 0nBegrof ri * de ’ *» dor*"* d
m.síon que tienyl frio de ia Piara para sacarc,/ n ^ * m &^ y mtfc/ !
on SU rectorno aígunas cosas de fterro y he„„a ^atidadde ''«os de J j
gran canndad de mercadorias y negros cada a / f? ^ !°s “ finos **bf«» J f a £
L barcas j - n se baja hasta lima y « * * ’ J * « * a P o J ^ «* 1 *
proçede destos empieos que son muy grueMs * el Peru y *» P««»* de
nauios en que se nauega la pertnision y en Olros* * * * el dho Rio de “ f 81* 7«» ^
esw se uee claramente por ias muchos PasaierT r saien ®Uchas „ ? a‘â Wios &<*
de portuga! catados de oro y Plata que !a mavnr7 aauios que cada diaL».°aa\Sln**«»»
tiendose este trato en venefiçio y U!í|idad de / b* a parar a RtyJ * i°SPuert°s
con tan gran daíío de mis basallos y derechos 222* r *B0u* Mçi0lI^ * £0!,* L I
que por aiii entra y safe si no que se diçe oue la P 00»lam entem .! °|íras \
1
particuiarmente se a entendido agora que el ano 7 P3ne de !a Pi«a ^ lre„C°brao* J»
juan de Campo natural de vila de conde con muchac D ° * Seisíient0s ioce 1
de buenos ayres y allt se dieron por uieo arriba P Wís de «clauos y f,w' „
<
perdidos los negros se uendieron en m * “ P - «r ^
y se Ios boluieron para que los uendiese comí ,0," ^ « ^ í / T OBpor
r
armo otro nauio en que fce vn compafferoTu 0 p , T j ^
conde con tresçtemas pieças de negros v n*rJ 1 *>*0
* ° ^ rí€ namraí <iel dho / ^ S° * i
biaje ai dho puerto de buenos ayres y que dei^ ^ ^ J
de Angola a enplear en negros que e! vno cr» ‘ blmerM «I anop3s„ rfn .
de Neyra y que ambos Partieron deAngoh c a r g Z T d e Í ^ t l W° *
se d.çe por cossa muy cerra que saieron el ano passadí par d h 7 ° de)âp!sta * « fai
dus» y ios cinco namos que panieron de angolaL a 2
mas d T Y* * * 2
gros y que a vn que a duarte dias enniqjcomutado 17 d'° -
de su con,raio se le prohiue que no despache nauios l 1 T ' P°r VOa COad'fioa «presa
! i*
t
ayres sua ,eme que tiene en Angoh ay„ que los eickm a ei Pfcno de b L ,
sane que ban ai dho rio de ia Piara cobra Ios d e r e Z d e Z " / ^ ' ^ **» *« » o

* V
49° Angola
puesio en Ia execuçion de las prohiuiçiones que esran echas y su cumplimiento tan encargado
Por diuersas çedulas y ordenes mias de q. el es puede dejar de poner gran culpa con exemplar
castigo mayormente hauiendo tantas Raçones de sospecharse que an dissimulado y consentido
en ello por sus utilidades y aprouechamienios y que los danos que de estar aquel puerto auierio
y permíterse la entrada de negros y mercadurias por cl se siguen son muy grandes y notorias
pues de proueerse por aquella uia esas prouinzias de Ias dhas mercadurias y demas cosas ne-
çesarias a precios baratos y con comodidades como las pueden hacer los que las lleuan sin
pagar derechos Resulta yrse como se ba acabando el comerçio y trato de Ias índias y los car-
gadores de seuilla estan yendose y rretirandose con los caudales que les quedan sin atreuerse
a cargar en las flotas biendo la mala salida que tiene lo que ba en ellas y que avn no sacan ei
gasto prinçipal y que sulten (?) perder dei con que se desauia y emposibilira el despacho de las
Rotas de tierra firme que todo obliga a poner breue y eficaz rremedio y como quier a quell
estado de las cosas de los dhos puertos dei rio de la Plata no pedian menos que vra Persona
deçeiyo çe do intereça y inteligência tengo tanta confiança considerando tambien la falta que
ariades (?) en la audiençia habiendo des (?) em persona como se a deseado estaua
determinado y rresulto y pareciendome que vrã Prudençia y buena allaran
que tanto conbiene me a parecido encargaros y mandaros como asetuosamente
luego (?) la cometais y encargueis esta diligençia a vno delos oydores o fiscal de esa avdiençia
o otra persona la qu/ vos pareciere-tam aproposito quanto la gran ymportançta dell casso
rrequiere a Ia qual d|>ees instruçion de lo que a de haçer con orden de que por el camino y
llegado alia se ymforme averigue y sepa por iodos los médios y bias que bieredes que se puede
entender todo lo que en los sussodho a pasado y passa y que nauios an entrado en el dho
puerto de buenos ayres de donde y de que personas y con que mercadurias y negros y quien
los acoje y dissimula y da yuda para que descarguen Ia que lleuan y que denunçia-
cçones y proçesos se an echo sobrello y que nauios an salido y con que Plata y rrejisio y para
donde y con que licençia v si en los nauios en que se a nauegado Ia permission que tiene
aquella probincia si an metido abueltas algunas mercadurias pasajeros y sacado oro y
Plata y por que personas haciendo sobre todo ello las aueriguaçiones y dilijencias necesarias
no solo para el castigo si no para el rremedio que piden tan grandes excegos (?) y deshordens
y quebrantamientos de las que tengo dadas y que proçeda contra todas las personas que allare
culpadas castigando las conforme de derecho Hebando sus sentençias apura y deuida execucion
otorgando las apelaciones que delias se interpusieren en quanto biere (?) lugar de derecho
para mi R1 consejo de las yndias y no para otro tribunal alguno y a la persona que para ello
embiardes doy tan bastante poder y comision como en tal casso se rrequiere anssi para todo
Io sussodho como para cada cossa y parte dello y mando a qualesqr personas de qualqr calidad
que sean de quien para la aueriguacion de lo sussodho se pretendiere baler que acudan a sus
llamamxentos y dígan susdhos y dispusiciones segun y a los tiempos y plaços que los ordenare
so las penas que les pusíere las quales execute ya executar y a los qui rremisos y eno-
bidientes fueren y embie al dho mi cons0 de las índias los proçesos orijinales y los que allare
y pudiere auer de todas las causas pasadas y denundaciones que se obieren echo quedando vn
tresldo eon rrelacion particular de todo Io que obiere echo y el rremedio que obiere puesto
para lo de adelante y tambien me enbia Rm particular de lo que destas diíisençias Resultare
contra portugueses castellanos de los que estan a ca auisando me de todo muy parti-
cuiarmente y dei castigo que subiere echo en los culpados es qual sirua de exemplo para loue-
nidero y sesalga de cuidado que se tiene y que otra tal relacion para que habiendo la bisto me
entieri sobre ella Parecer como os do encargo que en ello me hareis muy Particular
seruiçio fha en de de mill seiscientos y treceanos.
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados. F. G- Mas- 2^9, fl. n).
Apàdice
491

documento n.* jg

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<0idif* r de Guine e Reinno de Angola como oaé deuasío ,


.. em favor do ditto contrato dizendo em<ua Bet’ - oso «Ptrou ha
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de Angola * nova
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q. so se em em deria nos n»avi
K -d°r fla ichos híão
despachos híão aa nova
nova espanha.
espanha.
Pastos q. con t
de reg‘ ^BibliotecadaAjaja. Cól5i-Tin-i3i fob, k \

DOCUMENTO N.° 5p

Diseni os ç e o p0rtugueses moradores na çidade de Lisboa tm seu nome e


Qjnens ^ portugal que Vossa Mag* mandou orapassarpeüacoroa de
^'ais al>iiaoteS n0 doüS ouwbro do aono passado de 6oSpor que mandaquenenhum
d°Stella huã Çe:iuIa emrfe ^asteUa, nomeando os portugueses, ynda que abitantes sejáo nas
Cstrattg«*r0 dos RemfiSrme do mar ocçeano, possa «atar nemcomlratar nas diias partes, nem
vadiai yiha e wrj0 os que pera isso tiveremparticuiar e espressa iíçença devossa Mtg**
L ç a r a ella5>f e na_ ....« íi ^ ■al,n - ...........
e que nenhum natural da coroa de casteüa possa negoçear em sua cabessa fazenda de es-

irangeiros, estrangeiro ser tido por natural pera o dito efeito seja neçeçsrio aver ri*
6 ^ d ito s Reinos ou yndias vinte annos contínuos os des delíes com cassa e bens de Rais
VÍd° n°a com natural e com primeiro fazer no conçelho de yndias as deligeoçias coateudas
6 Cdita
na jSSaproví
rnvisão que
h são muitas Revogando as leis que concediao a dita naturesapor meaos
tempo e sem as ditas condiçoes; .
e qne não possa nenhum estrangeiro vender fazendas a pagar em yndias
e que não pudesse vir de yndias nenhum ouro, prata, peroías, e pedras, e outras mercado*
rias Registado em cabessa de nenhum estrangeiro e ysto com penlimemo das ditas mercadorias
e de todos os mais bens das diias peçoas;
492 Angola
No que sc faz a dies supp'*' notário e manifesto agravo, e a fazenda de Vossa Mag* Re­
cebe grandisimo prejuiso e dano pellas razoís seguintes que se devem comçiderar pera vossa
Mag* mondar aquillo que vir mais comvem a serviço seu, utilidade de suas rendas, e bem co-
mum de seus vasalos, para o que sc deve comçiderar:
que Vossa Mag4* tem nestes Reinos dc portugal ires contratos que são o de são thome,
cabo verde e amgola, que andão arendados em mais de cento e vinte mil cruzados, e em castella
o do estanq" das licenças de escravos que emtrao em yndias, que anda contratado em mais de
çento e sincoenta mil cruzados, e todos estes contratos de portugal tem a mor parte do Ren­
dimento nos escravos que dos ditos Resgates se tirão pera yndias, que lhe rendem cada anno
muy peno de cem mil cruzados de direitos, alem de cento e sincoenta mil cruzados que Rende
á coroa de castella o estanque das ditas licenças.
O proveito que fazem em indias estes escravos he tão notorio q. he desneçesario apomtalo
a V. Mag41 mormente oje q. por mandado de V. Mag* se tirou aos moradores daquellas Partes
o serviço de yndios naturais delias, pella grande deminuyção em que hião, por cuja falta se
metem oje no benefiçio das minas escravos de g(u)ine, por cujo Respeito vossa mag* mandou
emeomendar ao Marquês de Castel Rodrigo viso Rey destes Reinos de portugal que fizesse yn$-
tançia a que ás ditas partes de yndias fosem dos ditos Resgates muitos escravos, os quaes dei*
xando de hir por Respeito desta nova çedula que vossa mag* mandou pasar, Resebera a fa-
senda de vossa mag** danno grandíssimo asy no Rendimento dos contratos, como no das minas
de ouro Prata e esmeíddas e na pescaria das pérolas, de que a Rfeal fasenda de vossa Mag*
Reçebe seus quintos.

Sendo ysto asy he de conçiderar que todos estes escravos os navegão portugueses omens
de negoçeo destes Reinos que armão outros que mandão a todos os ditos Resgates em navios
com liçença de vossa mag* e Registos que se lhe conçede na Cassa de Contratação de sevílha,
sem o qual nenhua pessoa vay as ditas partes.

Porem devese comçiderar que aynda que vossa mag* conçeda a tal liçença aos armadores
e a pessoas que elles nomeão pera averem de navegar as ditas armações e Registos, nunq a
fazenda que levão he so do homem nomeado no Registo, antes he de diversos que pera o tal
hefeito fazem companhia e quando querem partir dos ditos Resgates muitas vezes por subçeços
que aconteçem, lhe faltão escravos com que emcher o dito Registo, os quais comprão de omens
asistentes nas dítas partes de gine, a pagar em yndias, com cujo mejo se façelita a navegaçao
e apresto dos ditos navios, pello que se ouver de aver efeito o ponto porque Vossa Mag 6 de­
fende que se não venda nenhuã f. zenda a pagar em yndias, nem os que tiverem liçença pera
poderem negoçear em yndias o farão com fazenda de outrem, não avera nimguem que negoçee
e totalmente secara o comerçeo das duas partes, mormente que aynda que çeçem estes ym-
comvinientes, o fica sendo mui grande defender vossa mag* que não possa vir o dinheiro, ouro,
prata, e outras mercadorias do Rendimento dos duos escravos, Registado em cabessa dos
omens que os navegão e das peçcas a quem pertencer nem dos omens portugueses estantes em
sevílha conheçidos e Respondentes dos deste Reino e que fiados em que o dinheiro que de
yndias vem do Rendimento dos escravos que mandão navegar os omens de negoçeo deste Reino
ha de vir conçínado a elles, os acreditao aseitando lhe suas letras e emtretendo lhe o dinheiro
a cambio ate vinda das frotas, o que não quererão fazer quando não estejão ynteirados que o
dito dinheiro a de vir a entregar a elles pello q. quando em todo não çese o comerçio çesara
a mayor parte.

Demais que vossa Mag* mandou por çedula sua que os Resgates deste Reino de portugal e
comquistas delle fosem nenhus estrangeiros, E por outra nova çedula mandou que se não en-
tendese em castelhanos e biscaynhos porque erão naturaes, e da mesma man* deve vossa mag*
mandar que se não entenda a çedula que ora se pasou pello conçelho de yndias com os portu-
jpiezes, visto serem vasalos e naturais de vossa mag.*

E quando portuguezes não vão ou mandem Resgatar e navegar estes escravos he Visto o
damno que a falta de se navegarem cauzara a fazenda de vossa Mag* porque a experiençia
Apêndice 4f;3
CaswItiM« na«gío
_ muy . . «. n«h<h, Z.{Wi&l
. pouq“ p ^ fí»M
xtüào ff)dl 3 ( por
na^eg3ÇÍo de pdtas ftftf tttcs
Mfita meov, ao* p^rtu#**** ha '
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fl3 C°oi Pelta C°e se lhfiS conçC(*9 nüm<íua Ilía^° 4 lerça Paru dii pç«$ 9* tt n t ^ k h
'\0 b* a l« d* t navio* tio de seviíha e mais portos
. de
— iftjtHmt *»1
** CAto«
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ate* ç alítun5 1 ., *m*ns de neeoceo norm s»*?** •*— -
*—
atc' c slS^ ^ Ior oiTíen* de negoçeo portuguews, moradores nas ditai pirtes i***4
^0\Qpl #p0* T 590 gj05 e lhe* e dvfeto por eui çedüU át tosu mig* 0pofcrtr- ~% V * 1
5^° ficã° câC.lWe antios de Residência continuo*, nos ditos Reuat ot tmt&&i »e «v®**
^ ^jjas,s€í0 VII||aí declaradas Pello que hos contriudortc de angola e um
c(ti yn^fldÍÇ0® $°[oS no coaçelho da Fazenda deste Reinot pretendemec&anptt w div* «m*
d'»'5. 5eiJ! Pr°
f4U°s
tfat°s‘ Ma&esia<*e 5e s*m mfim*ar qao
_ 1 a dita çeduU se nioenttada oâ w4o
. . . f -

p e d e ^ a ^0
v^,S" 5üiarm ente nos
^„,m*nte nos omens
omm que por sy ou
tmení» por outrem
............ nitegl©
— ---- ««»’e »os para »
lEm eza ^aten'0
oftUjr
W ..*c ateotü
af serem sc os portuguezes
a *.. ........
w .,---« t espanhóisvasallos de cossa Mag* ecque
r^aiiui»*sa#iiuí wiww que wno *
a«C3rr/,ij
cosssto
j*tas ParteS*s pendas em tamanha caatídade se avamijão de todos os mais vanHot de rossa
-L

Ac 5üaS he notorío e que não he justo sejâo tratados como alcmaw yuÜlftQs ffiaçtirse
Ma?de C0Íge>r0S 3 ^US V°SSa ma^* ^ ^USI° ma^ ^ en^er comercio,
«»ais estf (Biblioteca Nutonal daLiiboa. R*«ndoi.Co3«çU PoaíJ.sa. ?i«. tá , fafr
t

DOCUMENTO N,” 6o

elrey
Licená° Antonio àe Ohaado mj oídor de mi sud, m ,, .
de tier« *«« Por J mfa de que con * paeama * (a -
tíemp0 que ande aver b,b,do j rresididoen esfos 'f* ' «t* mande dec)«,“ “
esiranxeros qne pretenàeren namrafezas y HCénrí„ I Sy íos «quisito» a « snJ; J ” ,

sêío de las índias no lo pueden h«er y «si m is m o T 0Í > ^ P« * Ü


Rey mpeoor y mus esta provydo y ordenado queÍ0L Í fedulaS ? P«"*»» dei
estranxeros destes m» Re,nos sin iiçwcia fflía , "°cf edí» P«*« a !asdhós jndlas !0S*&
passado sin ia dhã iiZ* y he sido ynformado / J *“ aa ^hedo (?) delias4 ^ íhjJ j
a) presente ateonos^rnigeses y outros eStran«ros 1 * Car!aSeaa fcw ií» sstsren
naturaiezas y hçencus mus firmadas de mj mana J ? «ntratao sin leEírjas dfcis
nientes y dano en que conbmaa ponerRemedjo y porl I d7 * Reíuilaa S^des ynconbe-
„an d o gue pue* avets aver dejr a aquella çiudad aotm cn« ^ * qM'5,f * P« » os
de camtno !os Portugeses y ios estrangeros que aj enla/h- °Sk comfüJ<>»«ngoeis
contratan y se ttenen naiuraieea y iiçencía J j , Srml d ^ * carla««« tr a t^ y
passaron a aqueiias partes y D0 Ie!)iê„do J, dhJ * * fflaaa P^ra eiio y J, con que
forma con firma m,a y libradas por mj conssjo de ]. L - feBC'a desPachada « I* <M
dbas mts jndias proçedereis contra ellos y SUs bíeoes S P'í* ^ ? C0Wa‘a' « h s
que sobre e lo por m, esta provjdo y hechas y sentenç a d a ? ^ ^ S° dí)l0SCoofonn' a I»
b,are,s al dho m, conse,o de ias jndias para L ea i í f S8S Sln s« « "fw !a s ias en-
íhã en Aihanda a catorie de agosto de mííí y 5eis cientoí ^ áeíerfflífi^ c°n^rme a jtmiçi*
dei Rey nrosw de iesma. senaiada deiu : r ieatosedes^ E iR ^ - s s

A margem: Cédula que se pasou


i.di» »«is „ , no «anno de 5“I' "*)” *f as c « U m m n
494 Angola

D O C U M E N T O N.» Gi

E IR ey.

Jn. A lfo n s o de raolina c a n o m i c o n ta d o r de R e zu lia s que p o r m i m andado asíscis en la ciudad


de sevilla en ten d ien d o en ia a d m in istra çio n de Ia R enta d a las líçen cia s d e scla v o s negros para
la s jnd ias avien do en ten did o p o r vrã s c a rta s los p o c o s e scla vo s que a v e is despachado y la
m u ch a perdida que a y e n e s ta R e m a en dano de mi hazienda y de lo s que tienen situ ados juros
en eila y co n sid e ra n d o que antes que se diese esta R enta p o r asien to to d os los negros que pa~
sa v a n a la s jn d ias se trayãn a essa ciudad y delia se ca rg a v a n y enbiavan surtidos con las de
m as m ercad u rias p areçien d o que lo m ism o se p od eria hazer a g o ra y que para este efecto seria
bien que fuesedes a lisb oa vos m ando que assy lo azais y lleg a d o a la dha ciudad trateis con
lo s m in istros castelh an o s y portugezes que tengo en aquel R ejn o el orden que se podria dar
c o n lo s assentistas dei tra to de los negros de C a v o berde guinea an gola y de m as R jos partes
y p rovín cias de donde se sacan y trahen los dhõs negros que hiçiesen benir a sevilla la ca n tid a d
d e llo s que íuese posible para que bendiendolos a casteü an os pudiesen y r en las flotas en la
form a susodhã de y r en ellas surtidos con las de m as m erca d o rias dei trato y entendida y apu­
rad a muj bien esta m eteria y haciendo h ech o sobre eila todas las diligençias neçesarias con la
buena tra ça y m e d io ^ iu e fio de vrã persona me avizareis de todo lo que delia Resultare yendo
desde lo g o m irando sy se poderia h allar castellan o que con las condissíones R eferidas de na­
vegar los desde sevilla se quísiese en cargar deste asien to fh ã en aR anjues a veinte de abril de
m ill y seis çientos e treze anos. — E IR ey — P o r m andado dei R ey nrostf P* de sedesm a, senã-
lada dei C o n sejo . , w t .
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados. Colecçáo Pombalina. Mss. 349, íois. 14J.

D O C U M E N T O N.® 62

1.— Não se levao mercadorias as jndias en 1.— o que se disse no Conselho sao as pros-
navios de negros nen se pode dizer que se supostas que aquj se appntão que nos navios
levao senão presupondo que os offiçiaes de sua de negros que hiao das conquistas de portugal
mg* que la stão as encobren porque en che­ as jndias os levavão carregados de mercado­
gando os navios logo os vezitão e se asy o rias de muito valor pelo Rjo da Prata e porto
fazen como os não castigarão nunqa, e se cas­ de Buenos ayres furtando os direitos do al*
tigou tanto a Real fazenda e o ben comun, e moxarifado e que por este caminho enchiao
se as encobrião de que se lhes podia segír tão todas as jndias e o píru delías>e que por não
pouco fruto que duvida ha que as encubrão pagaren direitos as davão por baixos preços
oye e yunuamente negros sen pagar direitos de que Resultava grande dano a Contratação
de que se lhes poderá segir grandes proveitos e carregadores de sev* que por essa cauza
por onde não so se atalhão enconvenientes não tinhao valor nen. despediente as que hiáo
mas antes se apresentão com grande ejeeso de sevilha nas frotas.
nen pelo Rjo da prata foy nunqa navio de
Registo de negros depois que sua mgía prohi-
bio e os ejsesos que por este caminho ha avido
forão cauzados das premisoins que sua mg*
deu aos naturais daquelas provinçias e quando
por aly se ouverão levado e trazido prata que
ten que fazer ysto con a Renda dos negros.

3. — Todos os navios que vão com negros 2. Que estes navios en que levavão os ne­
ficâo nas jndias por que se ouverão de tornar gros os trazião carregados de moeda de ouro
fizerão mto mais gasto do que elles valen e e prata e que por este caminho sahtão grandes
para ysso os busqão velhos e como se pode quantidades de prata a Rejnos stranhos fur-
->»*■ ** v j
Apêndice

deíxírôo àe vir na frota onde ven


, uiJ8t 4o* n3o pagar síi» por cento áe tn rit
tobSo o%
***ri*. ** i*gh m nr ;:i Je
fi?ur° í P hSo w n3VÍ0S manqos o a it ^
l qüe ^seguro mais de vime por «mo.
C
catoiicos e nio ereg« e oj
Bem se ve aquí 3 p a iíio P0^ 4 0í
l ‘ " ses $30
PortUf 6Sievar negros não ficam nas jnji3!
qu® de navegação que anda naq ,e»a rííO ÈÔt irxÀi 5 * Cn® n ,yí ^ l í l Ç

que be ? g tornáo logo nas frotas para deso. fesen C6a° 80991 * *

c a fíe ir 5fiança* fiüe deixão c tem ar e


b fig a r Die que te ven m ais seguros ij W s3 o
c°n f 3 Se sua m g * e grandes soldados e qUe
vasa!° aIy Suas faz*" e na' ° ^ neohff g3st0
irf l \ ía2J’ e 05 Por,u^ eses <!ue andáo nas
a ten outros caminhos para yrtn ia ffiais f

ífldias £ so )hes basta o do Rj0 da pr3Iâ


ft eòde vão en outo dias do braaíl, e os qUe
s, .rege» ynquisição tem sua mg» nas jndias
raos castigar como nos mais seus Re;nos. \'Â
p3* * I
__Por evitar estas fraudes mandou sua
a que se dese esta Renda a pessoa de sa-
*! façã0 aynda que avia majores iansos.

4 *

5. _ Que ten ysto que fazer qUando a


Renda sta dada a quen fes outros asemos con B .nfa'J*” ? Z1™ * » » « * hm
*i

a faa* de sua mg* e os conprio muj pontual-


mente sen ficar devendo hu so maravedi. S ? .“
que não at - ^ l0mado con a Reâi
aviao coDpriíJo cea pago.
6. - He muito sabido o grande dano qUe
as jndias e o bem pubrico delias Reseben con ás inH~qUe M’° Conviaha 9«r fosem negr<
falta de negros e por ysso sua mg*costumava
a emprestar dinheiro aos naturais delias por
* 35P®f seremper/udisiaes oeilu.
4
largos prazos para os comprarem e lhes fazia
rnerce dos direitos das licenças pelio benefiçio
que disso se lhes seguia, e a Real fazJ«de mais
que se elfes preiudicavão para que se encar­
rega ranro que vão por sevilha nas froias a
mesma cantidade do asento mandarase que se
não levasse nenhü

j.-io ú o o fin deste negoçio ven a parar


en arangar sta contraração dos negros de Por-
Mohü navio dV™ 0S enC0DV“ ' í f
Wgal e dos portugueses cuja he e meieli en i
castela quebrando as eoncordias e previiegios
daquele Rejno que se não poden quebrar e
sua mg* manda que se cunprão ynteiram1»
como dos mesmos asentos consta ne a sua
mg* lhe he de nenhü benefiçio tira la a hus va- « s r ' ” '" “ “ - ' “ »«” » !
salos e dala a outros que não poden yr farer
os Resgates as partes donde se fazen e de força
vira jsto a dar a que ou os portugueses os

*S <
I r v
Angola
Seven fufiando todos os direito9 assy de Por­
tugal como de Castelo, e este sera o menor
ma) por que sc faltase o comercio dos portu­
gueses nestas conquistas seperderião e hirião
a dias os inimigos como vao a mina e co-
mesüo a y r a ginc e estes resgatarão os negros
e os levarão as jndias.

8. — Este foi o intento con que se íulmi* , 8. E que com a condisão asima de que
nou toda esta quimera pretendendo tirar o vao os negros por sevilha se fizese o asento
contrato a quen o ten pera o dar a castelhano com castelhano.
posto por portuges como fes nesta mesma
Renda Manoel de seja de brito portuges que a
tomou en cabesa de agostin coelho castelhano
que logo faltou con tanto dano da Real fazdi
como a junta tem esperimentado.

9. — O que perde cada anno a Real fa2dâ 9. — Que aynda que se perdesen sínqoenta
são quatro çentos e^incoenta mil cruzados mil ducados cada anno nesta Renda de se
alen do que se perde#las yndias que he muito mudar 0 asento do caminho que tinha ao que
mais cantidade e se nao mostrara via nenhüa de novo se lhe dava de q. fosen os negros
por onde ganhe hu maravedi. por sevilha se ganharia ml° mais por outras
vias.

10. — Debaixo desta presuposta se fes a 10. — Que antes de haver asento nesta
ynovaçao que táo grandes danos ha cauzado Renda todos os negros que se navegavão para
porque se não achara que depois que se levão a$ jndias hião por sevilha nas frotas e que 0
os negros as jndias dehtasen de jr das con­ mesmo seria agora e que a sin averia caste­
quistas donde se Resgatão en direitura e asy lhano que por este caminho se encarregase
consta por muitas sedulas de sua mgd e pelas desta Renda por contrato.
concórdias e previlegios de portuga! e con­
tratos feitos ml0% tempos antes que ouvese
asento nesta Renda e pelo prim0 asento de
lisensas de negros que se fes en castela se po­
derá ver e se pode ver en dous annos e mejo
que ha que se ten feito esta ynovaçao ouve
castelhano que trata se de arendar esta renda
nen pode aver nunqa ja mais.

E he muito de notar que se faíase para esta Renda en Castelhano sendo toda sua depen­
dência de portugal e que depois de suspendida se ayão arendado todas as rendas de consideração
de castela a portugueses.
E fa se advertência que as condiso/s con que esta arendada esta Renda sen lhe faltar Re-
qezíto e esta asínado o contrato de sua mgd e aprovado por sua Real cédula são as mesmas
que a junta fes e que mandou apregoar nesta Corte, e en seva e que mandou a Vossa Ex*a a lx*
para com ellas se aver de fazer o asento como se fes.
Mais se advirte que pedindose da junta ao prezidente da Casa da Contratação de sevílha
que ynformase sobre portuges ou castelhano, Respondeo que o negoçeo não convinha a caste­
lhano, nen averia nenhü que o tomase senão fose para portuges e que para fazer fraudes mais
ocazionados erão os casrelhanos que Portugeses — e por que o entenderão assy sua mgd e
seus ministros que tratarão desta Renda dos negros se mandou en todos os asentos que se ão
feito de negros que se fizese con portuges como delles se poderá ver.
(Biblioteca NadonaJ de Lisboa. Reservados. Coiecçáo Pombalina. Mss. 249, foi
A
4
*1 '’

Apêndice 497
DOCUMENTO N.‘ 63

,,„da ^ liceDÇM ^ Wgr°‘ Pari i8dilS **“ K a i t i * ea «**» * ati


tarada .................................................................... ............. m
dÜ een5c«lU d ..« n .d o d m ^ ÇK<ldll#aeTOpnç(did6fc|
Paß3 * e sinqueota negro* V* !*>* a»®'° « permit, lew ctd* «mo u p * «
11 d ^ etl l i s p ot cento q. he o q. se paga eteesu mi! doc.dot................... *

8 ao Con<rato de anßola 0S dlreit05 do! Mgroj que te kvl si jndj*i « 4*


/ sÍe°nta mil ducados........................................................................

8 ao Contrato do Cabo Verde e Rios de Guine cada anno oi d“* áw nearos


Vâl 4o as )ndias sinC0CBta * qUatr° mit duc,l<los...................................
i£ 5^^
5+
q , a0 Contrato de santome Arda eCalabar e mais Resgates cada anno os d*“
Va 6 nue se leva0 as lndlas v®« nil ducados............ ............................ x
dos negr°S »
„ .go de direitos a levar de Portugal as faz<» con qae«, v5o ragX os Bfgros
P g andeg3s casa de jndta e nas sete casas do, « * Reais p o n o a ü poruge e
asi naS ! ap entrada e sa)da mais de cen mil ducados.....
cons^o 0 ............................. J S ?
Monta cada anno o^que a Real fu* perde nestas partidas quatro çento, e qu* 4'4
ducados que vê a ser qu_atro çemos e m f e sinco mil e quatro cento,L
l0t; \ i e mais de outros que se nao apomao asin de alcavalas das vendas dos negros
sad° se pagão nas )ndiaS; e )S,° alen de mu|ta perda qua a far* de sua Mg'
e 0U‘fnas jndias na falta dos qumtos do ouro e prata e mais frutos da terra que sâo
reC^ eor joportancia que as paradas asrnia......................................... ’ ....... ^
de (BibliotecaNiciomtit Liiboa.Revmòo«. SecçioPombiUsi. Un. i«* foU.3«y

DOCUMENTO N* 64

IVlendo de Motta y el Conde de Villanova dizen q. conforme a las ordenes de V. Mg* y


os papeies y platicas que se an leydo y movido en la junta y las consultas q, sobre esta
° teria se an echo a V. Mg* pias juntas passadas, el prim“ y principal punto que se offreçe es
^eriguar si convien passar adelante la nueva orden que se ten ia dado sobre el modo de na-
a r los esclavos negros per sevilla, o, si es mas conveniente usarse de la orden antigua que
V g uedan navegar en derechura como se haçia ames desta nueva orden.
Y quanto a este punto les pareçe q aun que fue bueno y justo el intento con que de prin­
cipio se consulto a V,M gá la dicha nueva orden, el tiempo y Ia experiençia tienen mostrado en
el descurço de tres anos q. son passados despues dello, q. no salío conforme al buen intento q.
se ha tenidoj antes ha Resultado en grande dano dei serv8de V. Mg* y muy grave prejuiçio de
su Real haçienda tanto pia corona de Castilla, como pia de portugal, y seran los danos mayores
el prejuiçio mas grave qt0 mas se dilatare el remedio.
Y para q. esto se entenda con evidençia presuponen q. V Mg* como Rey y sor que es de
la corona de Portugal, es tanbien senõr de los áerechos que en portugal se pagan p las licen*
çias q. V. Mg* conçede para se poderen sacar esclavos de los Reynos de Congo, y Angola, y
de los Rios de Guinea, y isla de Cabo verde, y otras partes de aquelias conquistas, y como Rey
y sor que es de la corona da castilla lo es tambien de los derechos que en casülla se pagar
pias licençias de meter los dichos esclavos en las jndias.
Los contratos de Angola y Caboverde y san Thome, de la corona de Portugal que princt-
63
498 Angola
consisten de las dichas hcençias, esiavan arrendadas antes de la nueva orden en mas de
tjoarenw quintos q. son mas de cien mil crusados cada afio, y las liçençias de la corona de
Castília, esiavan contratadas cn ciem o y veinte mil ducados, cada aíío; todo estos se ha per-
dido en estos tres anos, q. vienen a ser p* la corona de castilla 36
o (mil) D“' v pia de portugal
3
mas de oo (mil), que per todos haccn 696 (mil). ' 0
Siendo tan grande la perdida de la Hacienda no ha çido el mayor dano respeto de otros
y se han segtdo: Por q. viendo los mercadores q. se le negavan Ias liçençias de Castilla para
navegaren los esclavos en derechura a las jndias como salian de antes, y sabiendo que era im-
posible en rraçon de mercançia navegados por sevilla, sin q. ellos se perdiesen, dieron enhaçer
los rresgates escondidos y sin resgistro deportugal, y llevarlos sin nigun registro a las jndias;
y assy en estos ires anos ha entrado en ellas gran cantidad de esclavos sin registro principal­
mente por el Rio de la plata y buenos ayres, como es notorio al mis° cons0 de las jndias de
quten V. Mg4 siendo servido puede mandar informarse de los havisos quedello ha tenído da las
jndias, porq. ministros de aquei cons0 lo han rreferido en las juntas, y se avisa de Portugal
por muchas mas.
. La misma raçon lo muestra: porq. siendo neçessarios los dichos esclavos en las jndias los
misruos moradores delias an de dar siempre todo saber y ayuda a quten fuere con ellos; ybien
sc acha de ver q. no sera posible atajarlo p. mas rrigurosas y apertada q. sean Ias prohibiçiones
siendo como san tan fichas aquellas provinçias y tantos los puertos delias; lo cierto es, q. los
mercadores portugue#te p. sus ganançtas los an de llevar aventurandosse a todo rriesgo; y los
castellanos por sus neçessidades los an de recoger: y los ministros ínfriores por susprovechos
lo an de desemular: y solo la Haçienda de V. Mgd y su Real serviçío son los que pierden y an
de perder en qt0 durare esta nueva orden, tan imposible de guardarse, y niguna Rason permite
que se tenga por menos incombeniente tolerarse una orden con cuya ocasion se llevan las jn­
dias de esclavos q. se llevan hurtados y sin pagar los derechos devidos a V. Mgd, que usarse
de la antigua conq. y van rregistrados y pagavan los derechos devidos a la hacienda Real de
Castilla yportugal. y queen estos anos se an llevado muchos esclavos a las jndias, es cosa tan
notoria, q. ay quien se offreçe a dar mas de çien mil ducados por los derechos de los esclavos
que han entrado en las jndias estes anos sin lo que a entrado en las arcas,
Y demas deste dano que no admite otra consideraçion, se ha segido otro no menos preju-
dtçial: que como falto la rrenta de las liçençias en Congo, y Angola, y en Caboverde y san
Thome, no se pueden paguar las ordinárias de los governadores, Ministros, y preçidios, q* V. Mg4
allt tiene para defensa de aquellas conquistas, ni los mantinimientos de los oBispos y cleresia.
y st en estos tres anos se an sostenido ha eido con los llantos y clamores que por diversas
consultas de los viReys y tribunales de portugal se han Representado a V. Mgd y con la espe­
rança de V. Mg* mandar dar rremedio en tan grande dano para se poder pagar Io que se esta
deviendo, de sus ordinárias y tanbien quedo imposibilitada la conçinaçion q. V. Mgd alli tenia
para se pagar alguna parte dei mucho dinero que V. Mgdesta deviendo a los cativos y defuntos,
y ausentes, con q. no puede dexar de estar cargada la Real conçiençia de V. Mg.d
Y en sevilla no se han pagado a las partes estos tres anos los juros q. tienen sitiados en
esta rrenta, de los quales son muchos de gran cargo de conçiençia: porq. no ha rrendido ni
aun para se pagar el salario dei administrador, para el qual se ha dado dinero de
otra parte.
Y bien se acha de ver aqui en notiçia de la traginaçion de los esclavos q, es imposible
en rraçon de comerçio navegarense por sevilla en Ia forma que se hace el rresgate dellos: porq.
se gasta ano y medio y dos anos en hacer una armaçion de esclavos, y se traen duçientos y
tresientos en un navio desnudos en cueros, presos, y encadenados, con la comida y bevida por
tanta tassa q, se muere gran parte dellos, y los mas llegan flacos, debelitados, y enfermos, de
suerte que si Ilegada deste modo a sevilla despues de una larga navegaçion vine sendo entrar en
otra de nuevo se muererian todos, o, la mayor parte dellos: y no se puede ajustar tanto el
justo la navegaçion por seren los casos de mar inçiertos y dudosos, que llegen dos navios a
tienpo de poderen partir con Ia flota: y quando llegen tendran neçecidad de seren concertados
y adreçados de nuevo, y con otra nueva provision para los esclavos, todo lo qual haria tan
caro y exçeçido el custo de los que llegassem bivos, que se perderian los armadores (como en
effeto se perdieron dos o tres q en estos tres anos lo intentaron segun lo escriye francisco duarte
t

f
/tjjenaicc

caría suya, q » ha icydo e» í#^ ç


,I(fl pofufl Kló n3ra los morador« da fu jtiâíH ^ ’ ** **í«$» a t
„< ; i" f5 « - j " »“ t ’' " r * ! ■ » - » i
V a Je* *,0.5%uri»de sacflr !os £Wiaros w s- * «!*'» ?*
ies ],eáe < * * $ d«mora « hâri* «ror el custo, , ello, ^ 4t
e* ,a •f dinos a las jndtas, cosa mas pnbbitf, por Io, Jfr * . * u
j | ^ “i l que * puede considerar enlos «clavo, ^ ? «*«, k V
^ > Prúí p 0r cíeria la íofonnac.on que * dío en ^
y a<Jv „o i>íp£ L r seviila antes de los mentos, por CS!0
^ f „ cLvan a las jndias: pero las armaçion« de cotufe’^ 1 « S W;,
;íC " f ilhrechura
u r a de
de w
las conqutstas ^de pormgal: 7
v “«*>«
nunca to?©
huvo ppro r oy ^b S / fff! ** ****•
,
4 **,' eo dl7
A co nor I*
L por Ia dicha
dicha nueva
nueva ordeo, como
comoconstara de1«
constara de 1« l1íiL4 ,«TT “ " h' x*<*.•«
s * ,^
t f * ,uese
.. # Z si en tiempo del emperador como de S, Mg< qtte « IacneI ^ bo
de castilla, con to* reys de Portugal de I05 dicbos
P°f P! L r o el commerfto dellos para las jadtas; entendiendo |os
vese5P jnas car0
'H46
^ seria cosa mui danhosa para'
para e.el benefficio dell« *. . £1. ».T *7* *4* <c «t,
£
»(If*?,«.
Iptis*' ^m
»•icM
.o<iuee r ít o : 7 « g o r o i oihosa
m e y .i a g r e s f a ^ ^ ^
iru''deP.„ aque!
Prtr«fase L e d e ordenar como se coasiga Jo mas utii a utrimlwc / * t
jí * tolerarse mas tiempo una novedad q, «o « ^
de ‘adaf Castílla q. « de portuga!. J p n ^ a ,.

c u ^ f m o t i ^05 sê ha" t0mad° Parâ eS,a n0Vedad seS™ « co te de £ , ,


T/ £Sv% e n la junta. * * ^ consultas y ^
a. «e ha" ” r.’ que difir los
.v , navios
. . . ™ en
" queen cuque
........................ ^ seseiíevan escíarr.«v r «
llevan esdavos
El f Se dexan quedar en Ias jnd.as con Riesgo Riesgo dede ia
ia Ríi;,
Rtly J) ^ ^. ^ ' «J «míi:ns^
c r i u i » ,t,
los Jndios geme simple y barbara; pero « ,e 7 de P«de«n
« < S í rsuadÍr 2 V- %JCOm ° tMCSt0lÍC0 r «los I Z S » ^ ^ « s p J
•c««00., ! ' fundamento alguno t A,tento que aun J. íflJ / * “ fttflg'»8 - — ^

Sitei
P ia neo s víéjos, rodos
todos dan
dan fiança
fiança a!
al tpõ
tpõ o.
q.«se JI»edaa
a . . h...s l ’ ^l ®ana«ros
° r q.* í,je‘ oídiaanosoa
0 tik > m ™
^' índias, y de se apresentaren en espana dentro de « * ? * da Cutí!1* de 00 quedar
en s de los assientos, yse algunos se quedaa alfa sJ pa; 7 “ ,a« «"» de las coo*.
PT a ct o a r S o esta executar las fianças y hacer, S j " * ^ 0 * * * de los J l
tratar de sus ganançias temporales y D0 de «gente,
Iradas y a los Reys padres y agudos de V. MS\ B0 ptiede « ,a K a ftes
í /u inquísission, q. no pertnme poder aver una minima nnvlt a ‘nedÍMIe el
I t e l la Reiigion ■ y se!os ministrosso" f3odescuidado, ^ 1 n' atre” m1' • & * » lo w-
L m a de las fianças q. quedan dadas, como se los Podra g ^ eaasmla<fKdutB*tgan
por otras vias a provmçias tan anchas y abknas por todas u. „ “° Ta-™ ^ q^ieren
bíbir Ja entrada en las jndtas a 1 personas
-- rw particulares
‘UL“*arss Q degnQMt
ija! ■ U w d a ii« que pro-
on es mui íaçil, aviendo la divida fedílidad en los mini,
ex(pulçion mioista^1*™ >~ ™ v -1«
“ iof,asíw^
n avios de
uw )los
- esclavos
----------- en derechura,, w ,w*,6*u yiri
0 vengan para SeV)j|3
seviHa ÍOS
1„! mícm/Sí.
• qMn'° msi. iT " 0 «7*«a los
“ iy
_.™ parte an
por una jy otra ..... y n0 ay 01ra > tnismos
=n de tratar en eitos, Smos mercador«
“ «cador« son
soo los
|os <j»e
qa
* , 'v / “w«; ui.
1
fl» An aMta . 1U
nârio en este trato y assí asst por niguna
mguna via puede ser de contia
cooside«,-« ^ gaite, ^ Se “'"P*
’ ’ de ordi■
El segundo motivo que dícír q.-ay gran cantidad de esclavos , • d dicho malivo.
fflodararlos para que no vayan tantos. Pero este motivo !oCa T “ i°diaS’ 7 *>“ fonr!ía
esclavos negros en aquellas provinçias, la qual es tan precisa ” , £çeç,dad 4Be a7 de los
grandss» parte y quasi a! todo el beneffiçjoygraDgerfa d e to tiT « " , , ^ fs!lírií 58
otros servtçios y provechos: por que como fueron faltando los ’ 78(:los8aB»dos,ymachos
panõles no se ocupan en los dichos servtçios no se puderan b-naffi ■ “ * la ,iWrâ’7 loJ K'
negros q. son de grandiss« utilidad para la m sem cíon v «L j S‘ a°fuHín íos«f1««
los que peor sientem de los esclavos de las jndfas le Ifaman mal ne * 8^“ !lei eSladoS, 7 íua

de las jndias se comensso e! uso d e fe . ^ g e " m í &T ^ **Pri°fÍpio de la con<)“is'a


vetsidad de las naciones, que no se ha visto en ella vam» ° Ma P°f SUnanímiesa»« pela di-

>
5oo Angola
seaôrcs y en el Brasil adonde ha muchissimos yamas huvo la menor alteraçion o, inquíetacion,
quanti mas que en Ia nucva orden de yren por sevilla se permirtio que fuesen los raismos 4200
que por los assientos passados se permeaía.
Y assi 00 podia tomarse por fundam*« para haçer la nueva orden detninuír el numero de
los esclavos, pues ella mis- no so lo no se deminue mas ames obligava a Ilevar iodo el numero
de 4-i5o ó pagar como se los iievaran, que es una de las condiciones cun que se prego no ha
rrenta y con q. se contrato siempre por lan jnportante y nesess* se tuvo en todo tp6 üevarense
los esclavos a las jndias, y no ser en menor numero y si esto se entendo siempre assy, quando
en la$ jndias no avia tanta falta de los naturales, agora q. Ia falta delios es tan notoria, como
se puede jusgar q. no sam neses**.
Lo cierto es q. los esclavos mueren muchos con el trabajo y nunca avra tantos q. no quie-
ran en las jndias mas: y si con todo conbiene limitar el numero delios, esso se podra mirar
bien en el consejo Real de Ias jndias, sin impossibilitar el comersio con tantos danos dei ser-
viçio V Mg*.
El terçero motivo y en q. mas carregavon la mano los offiçiales de la casa de la contrata-
çion de sevilla, fue dizir que en los navios de los esclavos se llevan mercadorias a Ias jndias,
con q. se abate ei precio de Ias q. van de sevilla, y no se puede dar despacho conbeniente a la
Dota. Pero este motivo es de menos consideracion de todos, p. q» es cosa çierta que en las
mercadorias q. se llefin a Angola para el resgate de los esclavos, se gana el doble çiento por
çiento, y a un mas n^se podiendo ganaren jndias a mas de treinta y coarenta por çiento, q.
mercador avra tan ygnorante que dexa de ganar çiento por çiento para ganar treinta por çiento,
dexando a parte q. se gasta anno y medio y dos annos en los resgates navegando por climas
tan calientes y vários, q. no fuera posible dexar de llegaren coruptas y podridas las mercado­
rias a las jndias: de mas de no seren capases delias los navios en q. apenas se pueden rrecoger
doçientas y trecientas pieças de esclavos, q. suelen yr en cada uno delios; y dado caso vayan
algunas mercadorias, esso sera por culpa de los ministros a cuyo cargo esta la guarda d^llo,
y si ellos son tan negligentes ó tan maios q. lo desemulan con la misma negligencia y dissi-
mulaçion dexaran entrar los esclavos sin rregistro y abueltas delios todas las mercadorias
como hasen agora.
La verdad es q. los q. tienen hecho dano en las jndias son los q. van en los navios de las
Canarias, y en los mismos galeones de sevilla, y los q. llevan los naturales de buenos ayres con
la permiçion q. se les dio. como V. Mgd lo tiene declarado en sus Reales çedulas, y el tnismo
françísco Duarte en la ultima carta q, ha escrito sobre esta matéria y se vto en la junta dize q.
el habito de las jndias proçede de Ias muchas mercadorias que con la paz universal acudierem
a sevilla. Y bien se puede dar lugar a Ia presunpsion q. ay de q. algunas personas poderosas
de aquella ciudad q. acostumbravan a embiarlos escondidas en los galeones, procuraran dar a
entender por médios suppuestos q. naçia el danõde las muchas mercadorias q. ay en las jndias
de los navios en q. van los esclavos, para q. no se dever quel naçion de los galeones q.
yran cargados delios.
Y como ello fuesse pues el tiempo já mostrado q, se siguio el effeto contrario
a lo q. se pretendia p. la dícha orden, y q. yendo los navios sin rregistro se sigen los mismos
danos y otros mayores; y si en vejesiendo el abuso de llevarlos sin pagar, se yran acos-
tumbrando y façilitando a ello los hombres de modo q. venga a ser despues mas dificultoso el f f
rremedio: conbiene acudir con brevedad ordenando V. Mgrf q. se emeden los registros en la
forma q. se davan antes de la dicha nueva orden, y que se guarde lo q. siempre se ha usado em
tpo delRey que esta en el çieio, y en el de v. Mgdcon parecer y aprobaçion de tantos ministros
y consegeros passados y presentes; y esto es lo que pareçe a los dichos Mendo de Motta y
Conde de Viila Nova, e neste primer punto que es el fundamento y basis desta matéria.

Segundo punto.
El segundo punto q. disen se trato en Ia junta fue si combiene correr esta renta de los es­
clavos negros por adminístraçion, o, por assiento.
Y quanto a este punto q. no toca a Ia Corona de portugal, si no solo a la de Castilla son
de pareçer q. en neguna forma conbiene que corra por administraçion, si no por assiento, y
r" * - .'V
*

Apêndice
v }/íé determ inado, y rrespondido en tr« 0
5o
*,< 1° ju o « <Jue * * * * L qUÍ ,Bd° * <8* £ * ? * * * m H km, f a *
< p n ** Laos papel« «I- <1* o«™ * »«eron « * *

ia sIiceOÍ u hermano gonçalo « f cominho, j q o u i ( *********

I f j Z «« ' “ t d ií ” p' ' ” ' « ■*t a " w . * 5 i t * 4 5 K "


‘“"‘‘“Hraçioti
Pírpíro punto.
tarçero puo'0 * d'“ “ se tral° en ia i™a>fue sobre aigur .
l o n l 1 sê yn0Y3n, de 105 aS5,e0t05 passadosi «««« lo» S T T * **«■ «
se C d navegar los esclavos, y son tan prejudicial« y danosas Z J ^ * < * Z
V°a\ : d0 ena« cld pnm
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Pumo> «> pueae
P««i* tener otro effet0
effeto . ^ °®
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c r ie *d»,
«ononuando los danós y Zm tlLT ! Zj V d* e "“ *« *o « *e it í
,fa' Ct n ec r nunca fin, y se yren continuando
ba [íC
pare 00 aiís * * .h primera fie*,
suU v óara p m evâ dest0 cons,deran ,os dich« Mendo d e J W
Jd ià o n de
„ c0ndicíon de sese traeren los negros
rraeren ios negros de Cabo Verde,
de Cabo Verde, yy Rios
R iJ d/ V ^ . ■ é" Wa
^ nora
nora ^qau
** ',a : de alli en
^ alii las floras
cn las floras surt.dos
surtidos como
como las dem « L L , “* Gmê• a1 sevijfa p«rt * n.
las demasmercl
yf l y Rios de Guf a, f nos í“ 08 de «P®* de lo que Z l “ » aua - por « t3í e! ^ 9
VC , I navegation de allr a sevtlla, no dexa por esso de av í 8,? ‘ 7 S' m s e ,t
f f * han rreferido en el prtmer punto q. obiigaron a mudar J * eüa ^ <»ismas di&uid^
* s . Thonie, °P íob en iosae^oj
y por que de mas de ser bastante ia n a v eg a i de cjU V(í .
â los esclavos Hegaren flacos debeíirados r muchos 7 ** *' Guíb« a
l e i a en los pocos q. v.eran a Ltsboa, se iuego en,raren ^ como se ae por « 7
gran parle de!Ios' ,y Sehr' a e^cessiv<J «1 preçio con lo qUa! se 1 T - “T * Q4Tegírio° « ® X
u„ gravamen yn.olerable a los moradores de las íad?a, . ,os “ «adore, y
. esto q.ansicompraranmenosesclavo,Porq.el * “<>“«,o lo q. se wspoají
tuvieren dellos, y se fuere xçecivo el preçio delos n ° meflosco^ « « h naçe^Z
l a buscaren Remed.o por otras vias rrecogieado 480 5010« ' S Í
sideracion q. se ttene s.empre para no haçer mas caroZ l , í ^ s“ con-
„o dar ocaaon a los hombres de transgredir fc* m l l T , ^ Wí“«° )' Reson,
para sus neçess.dades y provechos: Priadpaltnente enT 7 bDSC3ro‘«s remedit^
pide que se baxe el qumto que se paga de la p)aIa 1 p^P° * no fa![a representa v
pudan los hombres continuar con el custo de las minas- „7 ’ 7 Redwa â k pm q
coa que se les eacaressea mas e! preçio de !os esclavm^qMa0 combíí®^fernondidc
custos, ynpossibihtarlos mas paraa law fabrica
ldunca dedg las P°T ° Seria
ías mi J ’ ........... .w«*«rtoi a mayort
u xrn s ã mayor«
Y esi cosa
cosa implaticable
mphmcable dicirse
dietrse a.
q. vau*
vayao ]0s esciav
se puede vereficar con algunos esclavos sueltos de M h fiota' Par<iBe « » sob
y mulatos, y per esso como queda dicho los mordanósos v l!, ’ * dí °rdia4ri° son ^dino
q. se ay a echo en las jndias por esclavos n!! * * * deí4 atribuir 9uai9^
q. suchen traer los navios de cabo verde y Rios de Guinea „ “ °° ® lís a™aÇÍ0D«
navio ducientos esclavos y perdiendo el beneffiçío dellos J i q' Ua7eBd° um merCíd°t en un
os posibie surtilos p. la flora sin q. fa|te e! Remedio y soco™ T “ "5* dâ *“ ÍKrs°M «®o
anssy q. si les falta la asistençia de! dueno les falta lueso el 8 m‘ 7° r pMK dellas- sendo
q. no tienen mas bida que enquanto los ve y asiste el s» 5°C°rro C0m0unos canl« s
Y es mucho de notar q. dísiendosse que son los esc!«« a v
todos no sirva esta condídon de mas q. dificultar v c e m , T . VWde los míÍores *
se an mas caros es fuerça q. los dexen y traten de llevar J „ Çl° a los 9- como

v , » » . 1, o , „ « « d i * . 4 m m ht f ct a a (m
5 o2 Angola

d'angofa y otras panes distantes salgan con visita y registro de la casa de Ia contratacion de
scvilla y de Cadiz y no de no sirve de mas que de embaraçar y dificultar este nego
y sin uiilidad alguna: Por q, ei obligar los navios q. vengan de Lisboa a Sevilla para seren alli
visitados, de mas q. es cosa que haran mui pocos o negunos, p. no correr ei riesco de los cor­
sários q. de ordinário andan cn el cabo de San Viçenie y por toda la costa dei algarve en
qual quiera de las dichas panes le an de querer Ilevar derechos de entrada y salida, y contos
que pagan en Lisboa es haçer custosisimo ei comerçio y por cunsig* intolerable a los unos y
a los oiros como que ha dicho.
Y si parecio raçon no obligar los navios de Ias canarias a que viessen a sevilla, como po-
derian ser obligados los navios de portugal que vengan a sevilla o a Cadis solo para seren ally
visitados? siendo assi q. despues de aquella visita pueden tocar las canarias y la ísla ,de la
Madeira y, lo q. mas es, los mismos puertos del Regno del algarve y tomar en ellos quantas
mercadorias quisíeren? son novedades estas q. no tienen en si utilídad alguna y traen infinitos
danos.
Quanto a la otra condiçion: q. la gente de mar q. fuere en los dichos navios en q. se na-
vegaren los esclavos, sea castellana, excepto tres o quatro portugueses que se permite que vayan
en cada navio, es aun mas impraticable q. todos los otros y de menos uiilidad y mas dificultoso
de cumprir. Por q. dexando otras consideraciones q, se dexan bien entender, de ordinário
faltar en las ^raiadas maríneros Castellanos, y se valen los navios de Castilla de ma-
rineros Portugueses: #Jtlos del Reyno dei Algarve se ocupan quasi todos en las fiotas, pues
como es posible obligar los navios portugueses a q. navegen con marineros castellanos, ni q.
los vengan a buscar de Lisboa a sevilla, qui conosim10de como se evan
los negros y se ordenan y conçiertan los q. an de yr en los navios echara de ver c aramente
que iodo esto no sirve de mas que de embaraçar y confundir este neg° para q. no *Çnga una
salida: y es de notar q. asi como los mercadores portugueses tratan estos resgates de los es­
clavos negros q. Hevan de Ias conquistas de portugal a las yndias, van tambien navios de mer­
cadores castillanos, de sevilla, de cadis, de las canarias, y de las otras partes de Ia Corona de
Castilla a las conquistas de portugal, p. el m° effeto sin q. de portugal se les hiçiesse nunca se-
mejantes alteracíones y novedades q. tanto dano hace á la Real haçienda de la Corona de
portugal y aun se pudiere passar p. los danõs que reçibe con ellos la corona de portugal se
reçibíera algü provecho Ia Corona de Castilla, mas no recibiendo ella provecho ueguno antes
tan grandes ymayores dafíos como la de portugal pareçe q„ en neguna raçon se puede permitir
las dichas condiciones y q. no deve aver novedad.
El quarto punto.que dizem se trato en la junta fue sobre el assiento que con orden y
aprobacion de V. Mgd estava echo con Antonio fernandes delvas. y quanto a este no se offerece
q. dizer mas de que V. Mg* por lo que toca a su Real conciencia podra mandar ver se se puede
distratar faltando (como en la verdad falta) la razon de uiilidad publica (a un que el intento
fuese de acudir a eila) mas antes ay danos públicos en se alterar la forma de los registros,,
como por lo que queda dho se puede ver.
Y solo representada a V. Mg* que quanto mas se fuere dilatando la resolucion del Reme-
dio, se yran hazendo mayores y mas incurables danos y quando no hubiera otra razon mas
que de evitar la entrada que se haze de esclavos negros por el rio"de la Plata y Buenos ayres,
esto so bastava para se primitir el Registro, porq. pudiendo navegados p. otros portos no se
arreveran a meterlos p. aquella parte q. es de tan grande prejuízo, y p. esto no so se deve
prohibir con condiciones como se hace mas remediado com prover de tal ministro que no de
lugar a que por alli entren esclavos ni hazenda ni mercadorias. Y que deve V. Mgd de mirar
con su gran prudência no sean estas novedades occasion de abrir camino a los rebeldes, y
otras naciones para se introduciren en este comercio, p. que otras cosas maiores an intentado
por menores ocasiones, y an salido con ellas.
Y en suma son de parecer que V. Mg* no deve permitir novedad en lo que el Emperador
y el Rey que estan en gloria siempre guardaron. Y en lo que V. Mg* siempre husou con parecer
y aprovacion de tantos ministros platicos y experimentados, y con Ia comum opinion de todos
los passados y presentes que an echo los assientos q. asta agora se hizieron y tienen verdadera
noticia de la matteria, Y que los registros se deven conceder como se hacia denantes por las
Razones que quedan haces en el primero y tercero punto, pues lo mismo que se quiese reme-
Apêndice 5 o3
lo* na^io* cri SavíHa « cott*eg&ff * ò t&ccmrcra*ca?o*
ta v í ®»*8 ^c. ^otvde to* navio* *alenf por «! ooamo «ïwrmro caateí^
nd»r naCCl l visit3/ " l' ,S^ r olfo de ygu^ confia«?* pw» de mer* •le k'i r?.i3í*(sc-f
t » * % ha*a en S«v‘ tla> ° ’ Portugal puede V. Mg* m*K|*r CÇ.3S V*Í* «Kíi 9JT * tSM
^ !íd ^ t.a S
c ° 3 * , . h *cf r*# -4 se sierve satíste^*00* T c0° 6,10 •* dar* b*st*ntí**c?m> a í/í-do*
ue V d e% ' semovido.
« viefe
se a»
; t í r „ M e o , negros q. se navegão a yndia*. /acho
t i acionai da U * b a a . E « rrr*io*. f. **■ *• *© • fci*. «.*%
\o$ P (Bíbíioteca
pfa c c

o o c u m E (V T O n . 65

Cxxm pü^ào lo q u e V . Mg* manda p o r ia o rd e a y n ^


, r e n e s ta y u n ta e s ta m atena c o n ta n p a r tic u la r 3 Coa^ rido y trtraA
ta .tfere y P o r ser d ‘f“ sa y de. P u s e r e s encontrados L r f
- rese conben‘r ai servysio de <**» y de vP7L T e se C°® ° su Sraycd,d °
red4 ?^
^ 3 Paresis# l^ if T 0***** ****-

que
es c o s a t r a ta b le a lla r s e forma psra
Isfecto n a lo s yuros y p a rte s y n te re -
t esta r e n ts e notros y q u e q u a n d o la
30 conbiene q u e sese sy no que se b e­
en e s ta fo r m a —
to m e a s ie n to c o n Portuguese y sese la «w* português esta tomado
jtr a c io n
Jnporta % seja p o r 8 o p o r to que esta echo
e a s ie n to s e y a p o r o c h o anos
s n eg ro s q u e se a n d e n a v e g a r seyam p a r e s e f p o r c a n t y d a á to s n e g r o s q . s e q u ita r e n
ety v o s d a n d o se v e y n te p o r cíen to para a / e iy v o s n o p u e d e s e r n i c o n l o s q . s e d a m p *
m ortos.
ro u ríe re n
> p ilo to s y m a rin e ro s de los vaxeles en no c o n c lu y ê en n a d a y s e s e a n d a a s e r prrovan
n a v e g a n lo s negros seyan Portugeses ca s p a U ev ar n e g r o s c o m o p a to m a r e t a b iío d e
inos viejos y lo s menos que fuere po, 1
la s r e s o rd en es
2 n a c io n e b re y a ^
■ -v, rl«w h»rA q u e y n p õ r t a q u e lle v e n m a s d e c a b o v e r d e , —
Y s e no s e y m b i a r ê e l o rd en p a d e c d ly s e r-e~
b e n ir * =’~ ' *' vercj e y se d e se n b a rq u e n en los p a r t y r q u e los bulvan a tra er.
d ie re de c a t e n a y n u e v a v e r a - f - y d e h a ííy e s tan escu sa d os con g r a v e s p e n a s n e l q . e s ta
p u e r to s d e c a r~rm e a la s o rd e n e s dei con- e c h o d e r o ta m ie n to s y aribadas.
S e r € d e fy n d i a s V e s c u s a n ci o s e co tn g ra v e s penas
d e r o t a m ie n t o s y an badas

en tren p o r buenos ayres y rio d e la ta n bien estã vedado buenos q y r e s y r io d e l a


«U ta ^ u e lo s v a s e llo s en que se u b iere n de p la ta .
E c esta s n a v e g a c io n e s s a íg a n co n despacho esta condicion es m ucho m a s p r e y u d t c i a l y y n -
e ^ e g is tro de la c a z a d e la c o n tr a ta c io n d e se- posibte que to ? aquy.
v y lla o de c a d iz y no otra p a r t e d a n d o la s
ü a n sa s n e s e s a ria s para el rerorno
5o4 Angola
que para cyxccucion desto por los conse)os que se p reg o n e y de artende y despues /
de yndias y dc portuga! se dcn los despachos misma y u n ta f antes lo ? e aora to arienda
oesesarios y por la yunta de yndias y de veya m i y u s ty s ia y qu€ no se eyseda desta
azicnda que de esto trata, se pregone el asiento orden ,
y antes dc efeiu&rse se consulte a V. Mag4
para que mande lo que mas combenga y que
no se eyseda desta orden y para este efeto
siendo V . Mag4 servydo se traga el asiento a
la yunta de donde emano la consulta ynclusa

que en la yunta ordinaria de índias y azienda despues de arendar lo q . es lo que se a dever


se veya la pertencion de Ant° fez. delvas y se
le guarde su yustycia en lo que la tubiere.

con la qual quedara compuesta esta matéria dyscon p uesta y destroy do el g ovyerno y utili-
y el buen govyerno y utilidad de las coronas d a i de las coronas y navegacion de n e g r o s y
de castella y portugal yndias ocydentales y quebrados tos p rev y leg io s con condi f de la co­
navegacion de negros de la oriental en todos rona de portugal q . su m agà se no ynove n y
mandava V. Mag4 Io que fuere servydo Ma­ vaya contra ellos p o r ninguna via
drid 2t de agosto t6£j;.

N a capa:
JUNTA de agosto 1614.
dei pte de hayd* y p4®confesor de V. Magd
sobre lo tocante a la renta de esclavos
negros
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Reservados. Secção Pombalina. Mss. 249, fol. 63).

DOCUMENTO N.* 66

S ." Joan de Argomedo —- Loanda a 3 de Junio de 1609.


Por Pernambuco y la Bayya
tengo escrito a Vm. largam.1* lo que se ofresçia por dos cartas cada una delia duplicada tres
veçez —
Pasaríno partio de aqui a los 23 dei pasado — en el envia su s.* 35 ps.* las 17 por su q.u y
de Vm. i 3 por la de Jusepe de Llerrena 5 por la dei s.or Francisco Gomez de Alcovaza con que
le pagan sus to pipas de vino y todo va consifiado a Andre da Costa, ausente a Alvaro Rrodri-
guez de Azevedo, y en Cartagena a gramaxo, como Vm. lo manda por su ultima— su s.a me avia
dicho que a demas avia de embiar una p.d* en drechos en este navio ja un por este respeto pusa
en duda aver lugar de dar-me en ele tooU rs que le pedi — Benido el dia dei despacho y teniendo
hechas las Lb««s (licençias?) com pila dejandola cantidad embc.c0dixo-me que no queria emviar
niugs.0 dr.°» y quejando-me le dieso y de que los hubiese repartido a otros dejando-me fuera p.*
los 100 U rs dijo que no se avia acordado y que en otra ocasiom lo acordase esto fue por la
manana y por Ia noche fue a estar con ei y dije-le que no devia a dar lugar a que Vm. andase
alia tomando a cambio toda la vida pues el estava aca tan largo — Respondio-me que avia
emviado mucho din.f° yo que en Freire emviaria um. q.*° y 2 U (1) en Ju.° Vicente Carnero com
que leparecio que me consolava dixe-le que no lo estava porque lo que Vm. le a enviado y
dado a mi s.f dona Maria eram it qs.° largos y los enviados son 6 qs.° conforme al quanta
acordada com pila spantose mucho enfim serior yo boy aliando por speriençia y por senates
que me an enganado quando me deçíam que aviam de itnbiar este afio a Vm. 20 U — y que
es todo una viva cautela como si Vm. la tuviera a un que tratara com moros basta que hasta

(1) Abreviatura incompreensível mas que deve ser de cruzados.


Apêndice
5o5

y si no V«— 7 ‘ Y 1““ “ 18 »•“ de )os Wnas ®V<»


í/ s * esia may rriCÍ> deve' !e e! fei!°f «rnpre i 3 y a 7
f * „ c a pia« labrada y cadenas y JOyas de v « «aor de ;0sdr„
mTe es su 3Io 1
5uaI Sê an' adebueMs «ta» coa í V *“ “*> *
10 q L ie que «7 esperar y port!Ue t3n,fe « de Z J acad48!f» * at
06 fan venído se hubieran perdido se perdiam por Q„ d™,derS! <P* si estes h
3<3U‘ • me dieers que em virtud dei asíento h « f o i f T>aB™ cobrar, i
s:° i _ v quando lo vamos como se negoçia em p ~ B « w si todos avemi
rl" aiegar en esta matéria que las escuso porque-y gCom Valgos ~ muchaj
tcríto antes de aora y desto y ansi aviendo
avíendo y,V lo J as
yjs.00 |0'7 SS a,cajiÇa«
ikínS™ m ejoryde!
mejorj
, -----
L e r es que Vm. no-~bíe
imbieumumquarto
quanoddeefato
fatomasmienL/f
masmienL/f8 8 >7' ««"»fala*
b ra n d e
sAP en ntianfrt w .... ***$fi| S.®flnir*.»-*. j
de sobra para emplear por su quanta y p m no j s ely Goyemador nc
_____ . ^ ^ C5aoioenviannr í • auuffl
aedo
RSdo lo 10 que comvíene es que Vm. no diga nad,
nada a naàf/ , !mo
, nad,,’ *®«to «t
° tóeoto
L embiar
jin pmbiar nada ai socarron
socarron y en ios na vios o»*
navios que vjnie erata«termíoaçfo
áete^mçioa s
p0r que se alia sin dineros y que bien pudiera su s* coa - f " '” !í VnL «mo
podia suplir tantos y ansi medio quejando-se supue s l 0 ^Uí V*« ao ta
romara Vm. en todo caso porque a um que nos deye n Z ' u iarg° 7« »
de imbiar de alia mientras el be que Vm. se eatria le Jp ^ VWa ^ ,8 $•
eso se pondra la quenta em mejor estadoy qaando P lcars 7° 1 q« vaya ft
que a rriesga ms» - Vm. quien lo considerara meior eso” P° ? P°r 4 5 14 ca®c
trato que aviendo Vm. pedido de nid, que yo tubiese la T el,Sira'-^ e yo n0
se baga ni emviar lo que viene bolando aviendo tmi \ J pítl^ l as ha
sedor servido que pudiese ajustar la quentai Uk,UId el
çj no
flo le
j®dadat/j, j 7 manoPel!<>c<®f
cierto y no qmse
" Mm v nn mús&Poner poner en el credito las to
credito las t0 ns * onp « ** Cami&
„„„ Cammo 1“« ^uí &va
!Ie que
que D.» de Valle fue obligado
se obligado a pagar alia a mi J h í® 8 Caf!aS“ Pascoaí C
P-8“ fan‘asIiS3 3 ~ me quieran embalumar k „ » v „ ® por^ue 0 0 PW
çierto a Pernambuco y Bayya aviso las partidas ieL * T 8 Cios <! U4
avtsen y avtsen a Vm. si las han rescevido todas v ! ** a!ia “
dr.- a nadie porque se obligue a pagar los í JD r *'1 6 dlího io ffla! <1
rir-se antes de llegar a índias y deíifs ae „ *1 f ^ **' eS‘{ “° se 8 )2 6 8
6* ^ aeSp‘ y,!mfitadoeldiSetoea
5o6 Angola
c o m o s c cobrora su s.4 govíem ase por o iro norte dei que es R azoa para estos negocios y
s o b r a d o de m uy am igo de hazer ei suyo r r tr ic n dafíe aquien dafíare y ansí salve-se quicm d *
diere la q.*4 de la prcgadura y breo es la m ejor que nunca bi cosa em que siempre se gan "
3 oo por c.u — perdio Vm . dei empleo bale Díos que todas las otras mercadurias que aca ha”
benido tenian precio savido i fízo que sino Manuel da C osta Io pusiera muy de lo do corno
hijo los vinos que tal m aldad no Ia intentar cristianos — tom ar en si ei Vino por vajo precio v
guardar-lo p.4 ganar 200 y 3 oo por c.lfl que ninguna pipa se vendio por menos de 60 U rs y es­
tar-se aca con uno y otro. —
A un que digo que V m . sobre este la cotnp.* y sin que me mueva a el pensar que de mi Se
ytnaxinara que Io ago por rrecivir Io que Vm . em viar — digo senor que esta tierra es muy cara
m as que M adrid 6 veçez deara de comida y de todo quanto ay com o lo sabra Vm. de Pedro
S o a rez y de todos quantos alia fueren y es travajosissim a vida la que aqui se pasa y muy ia-
fame — De man.4 que por lo ms • yo he-de gastar mill dr.°* cada un ano y las comisiones ayudan
p oco y a un que p ? esto es temprano considero las de manera que no me podran llevantar y
dnsi q.l° a mi no es este el camino por donde yo he de tener ni jamas me bere en eso que yo
con osco biem mi estrella — y sigo aqui podia a avia de grangear algo avia de ser por el pumbo
y esse Vm . no quiere que le tenga con que yo estoi muy comforme quando Vm. este mas de-
sempenado de aca fuere servido y le pareçiere me podra mandar yr que yo no n a d para ser
rrico y porque no abre cum plido com procurar-lo y desear-lo con las personas aqui en quiero
bién no mandando V í ? otra cosa me quedare en las yndias a acabar esta enojosa y penada
vida a un que tan estimada y deseada y de alli embiare a Vm. la q.14 de Ia cargaçon o registro
que me mandare navegar y de aqui emviare la de lo que aca estubiere con la mayor puntua-
lidad que pudiere salvo si a Vm . le pareze que yo aqui le puedo ser bueno que en tal caso es-
tare y m uy consolado porque yo no pretendo ni puedo pretender otra cosa y se ale aviso a
Vm que salído yo de aqui no emvie a esta rierra un solo maravedi a un que le aborresca
menos que etnviando persona cón ello y a un de esa man.r4 tiene arto sobre hueso esta es
tierra ynfame y de tal gente y solo p.a los tales es yesos vivem-las e paso el tiempo en que
Vm . la dejo ay quatro letrados y muchas rampas no se abla jamas verdad ni la profesan todo
es mentira y embelecomala y tardia. Paga y por no dejar lo importante doi aqui punto pero
antes que me muera sino es muy presto yo hase hun tradado de la vida y milagros y costum-
bres destos bellacos — p.4 que alia conoscon la virtud desta g.le.
Aqui he savido que ai tres o quatro mill patacas y aseguran-me que me las daran todas
p or beirames y aviendo los ymaxino que las desenterraran porque este gen.® es en quien adoran
y com o no les puedo vender a mas de la tosa soy de parezer que benga con ellos cayamen
mui menudo en estremo y fino que siendo Io uno con lo otro se lo are tomar y e cosa liana
que me ande dar la plata labrada que ay mucha y quando no sirva para este efeto servira para
el otro de los armadores — Vm. me emvie 800 veirames 1 U c.°* de palmilla 400 libras de cayamen
a un que para este efeto tome 400 U rs en Ia plaza que yo me prometo de imviar-le en rreales
y plata por el Brasil los 2080 U — que se morna y esto me pareze que es lo m ejor y lo que
Vm . quiere y si lo enviare sea callando y diga que es cachera y venga en nombre de un amigo
— noven ga en el de Vm. nada por amor deste cavallero que entonses me m atara y dira lo que
se le antojare — Pero Io peor sera que antes de bender los beirames se pague los tengo porque
en tal caso abrep etitorios insasiable por eso bengan condissim ulaçiom y como digo en nombre
de un am igo el qual me escrivira una carta en que diga como me manda aquella cargazom
que no me desaga delia sino por patacas porque en quatquiera acontecim iento ensenare yo
esta a su s.* que servira de dos efetos m ostrar la orden que tengo de no vender sino a patacas
y que no es por q.u de Vm . que en caso que me lo emvie me avisara si quiere que abise al
Brasil que embiem em espeçíe las patacas o que las empleem. —
L a quenta que Vm. me embio de Io dado a mi s.4 dona Maria al sefior governador y em-
pleos por el m onta asta 10 Dex.w dei ano pasado 4.506 U 687==dellos 1614 U 190 — dado por
menudo a estos senores se da devito en la quenta qorriente com o Vm . vera por ella en una
p.*4 y en otra delas 293 U 8 5 6 — dei dano padecido asta fin dex.'* y de los 2598 U 641 — restantes
entran en los rrestos de las cargazones de donde resulta ms.° los 49 U 600 — deçilieça 1 15 U 56 o
de seguro de pintado 184 U 967 — P or la cargazon m ística em Bastiam frz — 396 U 842 por
cargazon m ística en l.eD— Rrodriguez que destas 4 qad" no se aze cargo a su s.a enq.10 a
Apêndice 30J

eso* çKrf q* í* u cwt- ^ í m m


•ttiaà& ?üT<pf melieajào «ft $» ^ yt&aiwi » U - cmtwk* &
^ de pi Ia ^ se peiÓíü Y l*4 ^*4 V^íüím mnt*a$U V» V#c
c V) ^ P°fl^ &fftU>à ie ^tîtespoMio» cpe writt« - 7 V* dripjs&fe»
<rt5 * ntttloi^ a hera Mt qjttfttt&l* «ttÇW<Ufti^ t»OWPr^ai»tïâi

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fS aoe Nc&,e ^oäOd a . e jt,a a poaer b quenta etv U oiano ai scoot Gowtaiot fcz*
e$ V i0L d o yu ï 0 -a S, j a\ mi Sefiota dona Maria porque ao se ie buim poco | tafe» co
l& u* car lo rremïîido a mi benot* íu,,[r mu(iw
,0^ d.!Í COofc»-- !° rrem; lid° efa “ 3S i « ^ V í V l r T —
-,„er V enrender noso.ros que ao se fe que faire
POCO 7 ^
dc 0n^e$al eftíeQ^er n0S0lTU* ^ uw” w“ 6wu Ttt1, v«“« t* tiMoo-ta ei
tvl$ .u*5° ° o&ra &aVef ^.0 qUe partira de aqui "* q.4***N
e$u sem*-------
ana poco7 .7 m7ais° ."o“ mr;iJÛ® ba--t:s
enos *- io.*JdI.e
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d1 £,sl° iian Cafva afttidad i f t u a a o de
uv. piegas
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Í^O ft - t. \T~* *t tAíín«. c nilA Htrt
• amigo de Vm. y de todos y que datael pVitgo antcandodcndî a\ 1. . 1 . sa
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na *Retido ia escritura es de 2$ i] en\o$quai« ba Va Ittedando
H °r.« d»* ueC!av"'
- n o a '5*de que queda deudor y ia s.1Yaes dePeredayes« baabertdaodo
fiȇ que
.ura ^ y \19U y?5 g ^ de que quedan deudarascoalos qual«quedacwrada suq.*
ticí\^ib Poí
Ü 77 k ü ^ 5p0r
88 u;».<-acbOraH
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ue suyas vinieromemPedro Fern
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ps* dei arraazon de Freire que soa 1 7 0 di^rne que ay enu«

?,0Í ^°° T eo CU^Uße ?\ *K.• yj W oua de M.*F,


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d®1 esta eS^a 014-^tauou
’ .............._ ■ >y■*que
” *w las desta soa r*» por tstítmo
w«v.hv \fm v«ws& — y7
..a Íai< _ -- - i —-- - -- - -- —- “ *
5 ü^rej s í^aTcaS tras de que a un los marmeros tienem vien que derir a mi no me queda
..«c do las ° ^ a hurtado el cuerpo qnantoha podido y porque Vm.no lo o ii no
ett°s^adas
abe11 este^0® süy0 con lo dei atroazon como bizo a mi como ri copiera t a mi la
aO *P°^ :$û c o Ia ^ sUya em m\ nazen con esirella estos y quando algura protecbo *yi
IleVàSS «ni*«60
^ m Freire a y0 mite la escnt* de dede corn que Kuo y no se «ata en ella cou
coud'lÇl rpaZom suy°
ia . _ avisa3y .ansj |e dejare corner de todos indecn le aada y aqui entra ken la
.......... *------- -------- ---------- , .
'rt carô rt; Vnt*
6 1 7 fliis«ca oi yX
aV & J
il' ^ Afomzo para encargalle ” cargazom 'importante ni‘ a ninguc
__ hombre dem«
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^ tc 3 pa2^ a^' de la que sele encargo— y íalieado de la mas y botviendo a ia tiera todoíoaco
y *0^ rali qq.u ^ ' l 0 __ y üan de Víloria vino triumíante desas vitorias a me hecho mucho regalos
nüe taly4p °r rr° ^ as quisiera que los huvíera que hecho a las so ps.* que embarco en el navio
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QüC dijeron que eram malas ya tal me persuado poTque no me ias enzesaron
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demaS , “ ijgndio de contado muchas y bs.* ps.‘ y ansi de hm ca avían de ser malas %
ja sem dí ôaV se lo dize a Juan de Vitoria y ao dize ei siso que som muy bs.* e que
t0dOS eSt°Sj11* m— Yt> se ÜlZe 3 JUUUUC >UU“tt 1 ----------- 1” -•*» « tf ÄÄ

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U 5 que ^uedasej cncata porque le deven lo que nesta de lo que ha necevido de V a - estas
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iCUCVF.mniaue
fcIt ,u V- d’Ona
*—~ y_Fulano dePaiba he le pedido que por í
;0su ps.« di« que ban P°r ^ d’0»» y Maiba b í !e ^ que
q.» de Vm, no embarque nada y que me Ia de p.emviaMa a Vm, y ei rrea.o por !a meVo
ordem que pueda d.ae que ans. lo hua y que por Ias muchas visitas y ocupaúoo« no to ha
becho apiicare-le y hare io que pud.ere q*•a suq> delo queVffl. [oma» cafflbioiitt m
ár.« embio ( U y otras cosas con que le pareae queVm, tieoealla desobrapara satisfasio»
• - Vm. avise s. lo ha rrecev.do e envi la queata caso qaiera que hable en esto. -
La cachera que Luis Vaz emvia no es sioo
d esa d eu d a -vm . a*»......... . demoayo basta queûolaqiàsemevir. sio
j»m«OTn(,as[a aue no la quise mevir
y poneide en Just.apidïendo el dano porqueno soloeî iroiogrande e3 ps.*que
sis. ckw
.' V:
y
r . a "Vm.- a* ■puma
su carta quej emvt
alia*w '•'"»ovieaen
vieaen danados
uauauUJperopodridos
pounuwasin
s»uque se^pueda
v *~r_ aprovechar
î*>^findenaronloi
en
barasuy—m.* y mas vienen aasnmcauu«__
vienen dasniScadas otras quatro ps en las quai« solam.“ le coodenar&n los
' -~ u w> nmmjflp
,1

naraue el COtlOCimt* di-


lovados ea 25 varas y en las otras y el rroío en níaguna cosa porque „ I
ziendo que vienen danados em partes y asi como estos eiejesqoelo rrecivieron afirmasy I-
5o8 Angola
jurao y ofrecíen provar que lo rrecivíeron assi — Por vida de mi padre que mereçia Luís V a i
una gran pena porque es Dios verdad que si adrede lo quisieron asi poner no podia ser peor
basu que ni una baxa sc aprovechara y dudo que dei codo se aproveche el tercio y a un que
d cooocim iento dize que bienen tantas v ." com o pareze por los numaros esos se an caydocon
los pedaços podres y son tantos que no se puede medir 5 o baras mas o ms.* por aqui lo fusge
Vm» — quten no tiene razon de emviar esta h a t,* ni otra ning.- a granel pues cuestaOo mismo
de fiete que si viniesem em pipas Ia quales cuestan alia i U — rs y aqui dos y tres y quatro no
lo haga Vm. en su vida mas antes se quede em casa con ella que a un teniendo muchisino cui­
dado con ella se pudre quanto y mas veníendo em poder de quien no le dude especial estos
luteranos hombres de mas y no me contento que venga em pipas sino que esas seiam mas es­
tanques que si se hubiese de hechar vino en ellas que ias que an venido de ese pecador de
Adan an rrezcvtdo agoa y los quartos de farinha tambien mande buscar ofiçial bueno que ese
no lo es sino rremeodon. —
Pila me quiso apuntar el otro dia que su S.* ca si estava en ordenara Vm. que no emvíase
mas fato por su q.li porque el toma aca el que quiere y el que a menester de Ias armazones
que bienen a que yo le respondi que todo estava en mano de su s * querer que la compania
pase adelante ono porque Vm. en esto no tiene voluntad sino esta rreduzido a la suya y esto
mismo y por este estilo me dize Freire que le dijo el ereje de Manuel da C osta de mm* que
estos dos consejeros comforman com o personas de estado y yo quedo
louco por la frieza y ^pco calor y mal animo con que su S.# acude a este negocio y asi Vm.
este desenganado y se aparte de emviar le huna arbeja y a un que tal trato es maio de sufrir
y pasa en silencio no puede el hombre dezir nada de lo que siente tanta es la soberanidad y
bajeza con que se trata a los hombres de mas de n0 comviene de que
me de por aliado de esto mas que para avisar-lo a Vm. porque mientras las guerras no se pu~
blican digo yo que con la solicitude con que hago y ahare yra emviando para que el rresto sea
menos en fin de mi parte yo no perdere punto como es sin duda Io que pierden estos male-
velos que enganan a este cavallero y le quitam mucho provecho porque tenga^ com Vm. mal
trato y mal les aga Dios por tan mala yntencion que Vm. no se Io ha merecido va en quier
ellos som y save Nosso sefíor lo mejor para V m .—
Comforme a todo esto por sin duda tengo que Vm. me mandara hordem p.B que me vaya
y siendo ansi le suplico sea con dos registros y la mayor cargazon que pudíere suya y de
amigos y de alia no venga fletado mas de un navio el otro rregistro venga libre para yo hazer
dello que me pareciere mejor y por mi quenta Ia - o lo que Vm. fuere servido y sean de man/*
anbos que con ellos se pueda yr a Cartag.” o a n.a Espanha sin que en ning.1 parte delias tenga
Ocasion de molestar-nos como diz que an hecho a otros sobre si el rregistro hera p.1 Cartag,"*
y fue a nueba Spana y si Vm. quisiere fietar dos navios o ninguno a no emviar rregistros como
fuere su gusto que ese quiero yo y si tambien lo fuere de que quede aqui por algun tiempo y a
que estoi aca todo a su vol.da que esa es la mia pero mandando me y r o no emviando me re­
gistros y cargazones a no Vm. no dexe de emviar los beirames cayamen y palmilla que dicho
para emviar-Ie por el Brasil estas enterradas patacas y otras que andam em manos de algunos
tahules que las unas y las otras las daram de buena gana por estos generos y desolam.*0 esos
y muy buena cachera en es taquíssimas pipas algun 24.**° ningun amarello algunas rraxetas
cayamen fino palm illa emvie Vm. Ia cargazon o cargazones que emviare porque es fato con
que se compra de contado aviendo p sJ en Ia tierra y sino las hubiere se haran luego y buenas
con el y ana dir otros gen/°* no lo tengo por azertado porque ningunos ay mas requestados
gen.ro# que beirames y palmilla ní de mayor ganancia que cayamen fino delgadíssimo y cachera
buena y zergillas en estos cinco generos se entregue Vm. Aora y siempre y dezese de los demas
algun mesimas combo si allare Vm embiare que a pataca esta bendído y sea gruezo dei neg.°
de arda me dizem mill vienes y que con 46 rs de emplec de ay se haze una p.1 sino me enganan
es gran viaje y por Ia rrelacíon que me han hecho arme la q.1« que sera con esta Vm. Ia vera
y se imformara si con los 46 deem pleo se haze lapieza y hallando Io cierto soy deparezerque
Vm. arme a Fram.eo que ya le abra D io s lievado em paz el metera Io que tubiere y Vm.
el rresto no de parte a otro ninguno por vida de Vm. que el muchacho axa bien eso y
va inclinado ha hazer ese viaje y es mui sano y de buena condiçion a un que baya asiete ardos
y santomes y en haziendo ese viaje si Dios le ilevare a salvam.1* podra dejar
Apêndice
%
. Vm no kpareciere o tn cosa j ír u p ,n m

„ * < £ > » * • ' ■‘ ",o ^ " - ■ *«


JC1 f a0e trahe k s v> pipis de sino a * . **
coS>tc ie f d '? 0*: 0T Fuiano deulloa— el m.<* & > »»
% °e dio X 9ue wmbien Iomo ra el 10 deplí^* f * u é * » * * a »
4Ü% qüí Vf is0 niconozimiento oi Va me k di0fli *
J com !a rrelacion de Vm. rnbiera /« p j f * * » «*s * f a T f '
< j> c * p,aMs y a ^ por * * « » * * . « S r r j p " í r j
er*nn rrecevido por los preeios de Ia tíerra yno ^ J *1
f 1« como hou«f se podran berrar be dado pe^o„ * *br‘ * <*»», fe J ,*
> í 5 Vm. la Pia« * « * « y que me Ia defl y ^ ^
7

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ma luuiwj u<jt yffl,
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ci* « ^ d o l e que q ." derechos mandava emvTaê Z * i j f * 9 $ f «**> dê 3
d°n >’ v « . oi a nadie con esta sequedad y rrasoíucioo me „ T f « * » « f c - ^ ,
viar 3 , í d 0 que es que me de,asse pagar Ias deudas de| “àú * ° » f c # l0^ ro
Pa ManueI Drago fator de Duarte Diaz y ca si « 0 l * ’ ? ^ & * a mí 1« ^ lc
dado a si iubíêra ai bala de correr dos erçez le P 0 0 (0 0 5
" " " £fi -escusado-

buelvo
ansi

yV ~
anres que
|e viere fuí
uy efi este
y ansi
para P--- -• ■ — eBj* juan Vícenfi» c ’ ”
bueno estas tengo y so muy buenas y }m Vícem{ .f f 1* » fe travado J0 « *
asta fin deste Fretre pretende lo mismo y tiece ja ^ 3 * ““ » * * dias y A w o J o L
estos dias y a un que no esta dei todo bueno dize L J t S* Í“ 8 ft,ado «ai
avia-me dado un escrito de ,56 ü rs sobre un Amnab a. a • as,a & destemes-
el qual andube al moyno ante Ia just.. y ante e!!a f f ®*l a bestia y perdida coe
íometiera yo delao en tomar ias debalde nombramos lovsrf!f T Pf cu ‘ “ Nebuladas « e
,ando en este estado di-Ie quema dello al senor sardina conlt ^ S‘ WíD de « « * » 7 es-
Ia deuda de Vm. los iovados dieron su parezer y el dei J r COa <JU( ie P«»« por ser
mose a este el juez y con eso saque sentençia y em v i r J i ? T “f ' 3 0 d( n(í««rarri.
sobre los quaies corrian pregones de nove dias ames oue esto f, “ los ae?ros ^itos
senore Pedro Sardina en que dize que para ei nav,o de Fr 1 sol'° 0 0 «cri» ei
le quise azetar a miíl gentes que me ío vinieron a pedir v 1 'T ™ ^ deuda 7 ° °o
g.” que me io mandase el lo hizo ansi y escusando me d i l ? °° ™ui Pidi(f0° d
su Armazon y aora estando Freire tau adelante ento dÍ * "* P3g3f d< lo N 0 5 *
diese-las ps.« Respondto que me avia de deiar escritos de dn m3nde'le dMir 9 “ ®*
«■ “ feí *"* - - *' - — ru r ; t i : ; r
5 ro Angola
cosa muy santa y justa y diçiendo le que no me estava bien ni el tenia rrazon dize que avia de
aver rrespeios y que cl tenia en poder de V m . mill dr/ enfin a me de pagar por qualquier ca-
mino que sea cl ma ma! com igo que se me da poco por ser suya Ia culpa — Pero sirva-le a
Vm. de aviso que si alia fuere tenga con el ning.É cuenta por quien no a querido dar-me
Vtn. en tanto tiempo yo no se que Haneza tiene aora me dize que la tiene en una papel suelto
que esta cm brullado con otros muchos y que es menester estar bueno para buscallo y por este
crco que obremos de venir tambien a m alas o por lo menos lear el rrequerimento que Vm. me
aviso y preguntar-Ie a Vm. alia que ya que tantos serviçios alega que porque no me dio en
4 meses despues de venido aqui este escrito de A raújo y otro que me dio de un criado de Bento
bana de38 U siendo hombre que va y biene alia arriba no quiso que pidiese estando como es-
tubo aqui dos vecez yo no quedo poco escandalizado de este trato porque no me parecio que
cavia «n aquel sujeto Vm. escarmien.1* yara adeiante. —
B uzio ni con seria yago as marinhas duermen no ay que tratar de 11o ni por el coste la
farinha no he podido hechar de mi que me pesa mas que si la tubiera u cuestas tres
quartos he dado estos dias de 9 que estavan en casa y estas perras ponaderas me piden mill
descuentos porque la allan algo mojada y otra verde que ya no se puede tener mas no me envie
ni nadie esta mercaduria ni dozes porque no lo rreçivire. —
Los vinos estan o y por 48750 U rs y los de Vm. me Jjzen que se estan vendiendo ataver-
nados a 16 que vendran arrendir a 46 U que son mejor que no fiar-los por Io de arriva Pedro
Sardina me dio la pi^jka que tefíia de Vm. que sera com 2 a j a tres no tale cosa ninguna m
lo baldra porque ya los negros no son tan nesçios como solian y porque me dizen que la que
tiene pila es de esta no me a dado gana de rrezevir la pero areio — Pero fernandez me dio la
q.u de los fieis y eleos que hizo el aderezo dei navio aqui que am vas emvio a Vm . y el resto
que son 23 o 5o quedam echos buenos en la corriente Ias tablas que binieron em Pero Fernandz
com o Vm. no me aviso entonzes qúe eran por quenta de la compania administre-la como de
Vm. y ansí no ban en la q.u de su s.® yo la dare 7 dozenas bendia 8 U rs y 3 a y U que no he
cobrado los demas estan en casa que no ias quise fiar.—
Aqui me an querido dezir que Luis Vaz de Paiba no esta nada sobrado por aver-se metido
en hun hinjeno^y a un que esto no sera p.1* para que el aga lo que no deve no queria que lo
fuese para rretener alli el dín/° mas de lo necessário yo nodoi credito a esta nueva imforme-se
Vm . bien y comforme a eso haga. — .
L o sal no se a vendido a um ba andando poco a poco deve de estar gastado la mitad asta
haora vendi a pataca el alquer y a!g.°* a cruzado y devi mas no la ade llevar nadie menos.
Teniendo esta neste estado fue Dios servido de que amaneciese surto Ia manana de San Juan
Bertolame Jorge con cuya venida olgue infinito porque demas de que me tenia con cuydado fue
mucho en tal conjunçion salir aca por la costa dio me lade Vm. de 24 de Febrero con que
ansi mismo olgue por Ias buenas nuevas que me da de su salud y de la senora Ines de Pereda^
y esas s .Tt* desela Nosso Sefíor com o yo deseo a cuyo serviçio estoi, yo con ello, y visto la
cargazon que trahe la qual es buena y tal que si hubiera a ps.a en Ja tierra comprara de con­
ta d o .— EI senor Governador muestra mucho contento con estas cuytilidas y de achar-se en
ellas pero com o quiera que todos se valen dei para que les m.'ie dar fato el senor Bartolome
Jorge y yo lo prevenimos que no lo mandase sino que lo que el fuese servido para si Io tomase
y Io demas nos lo dejase dar a quatro ditas buenas que es tan elijidas y rrespondio que asl
seria y teniendo Io prendado en esto le propuse que el rregistro que trahe el sefíor Bartolome
Jorge le navegasemos por quenta de Ia compania para cuyo efeto fletasemos navio y que todo
fuese a cargo deí senor Bartolom e Jorge parecio le consejo santo y en cazos el y ansi nos
com form am os en que el dara-las ps.a para este registro que puede hazer-lo muy bien yo a un
que con el favor de Dios sera proveichoso navegar este rregistro mas lo endereçe assi por rres-
peto de cobrar que no por otra cosa enfin estamos de acuerdo — y dio comission ai s.or Barto­
lom e Jorge que fíetase navio a su gusto y com o quiera que para sacar provecho es mejor viaje
el de nueva Spana assento-se que alia avia de ser y que se partiria de aqui a los prim.0J de
A b ril que es fuera de los nortes asento-se mas que porquanto esto se dilatava para entonzes no
com venia dar el fato desta cargazon porque estos vellacos no comviertam en sangre lahazienda
com o hazem a otras sino que se emçierre y guarde para comprar o dar-lo q.do o como nos pa-
reciere m ejor es el m ejor acuerdo que en tal caso se.pudo tomar porque con esto pierden los
Apêndice 5u
veçinos Vas esperanças deste fato y quando no se cm« ya «w» oiro. ao, tas**™**
de cornado que sera al liempo adeUme y soií fio en Nono «for ^ arfUífa
trahe el seftor Bartolome Yorge como la otra y el panscoiu de V a « fc» &fc*mbí**
cora la mana con que se corre la qual encamma Dioi ya el de VaU* ancua—
V ino el contrato y Vm. 00 me lo dize ní h sustwçit y cwdií ^ m e~mr
mete mi pariente Duarte Diaz Aca lo pmramos raejor *'«> d#
Vm. que siendo el que tan abantajadam.u se arroja al trtto dt«e lugar hm
por c.l° siendo aso si que su mismo feitor nos titm aqui i 5 y qpaadô t» rU\& cs w
alia en que mejor a ese Crisliano.—
Su s * como vio venir el contrato feneçio q.u con el leitor dd Rer t í* qual k ^ ee
SBoo U. — de que le paso escrito el qual le yr andaodo etv loi navio* qoe el q$a«rv 1g*e eu»
vien como esto se comvierta en nos otros y su s.* me dize qoe ikne traudo coa el
contrato que le dara los d.” que de su hazienda hubíere meaester j «ftiUdta.“ òm
de acuerdo que le dara la^ de los derechos que fueren p.* el Brasilbteodolopoatr
creere porque muy al reves me lo tiene dyo Goncalo da Rrivera y es que si despoe* i*
su s.* de lo que se le deve qutsiere 0 hiziere fuerza por dr,*’ le encamparao la rrenu«Bino-
lome Jorge no hera menester encargar-me-Ie Vm, que eocargado esta lo que a mí me cassa
que es dei gusto de Vm- — el desea azercar y a un que lo eadende bieo todo j « biejo«a esu
tierra ase puesto en mismo para no hazer nada sem comunicar-me-lo y si to profiguícff como
yo no dudo porque conese mi voluntad no le pesara salvo si Dios guíarefu cotai por ctmmos
no alcanzados que quanto al conocimiento de la tierrezíta y trato delia yo le sei «a porque
no tiene muchas tretas. —
Las 53 o v «• de cachera que bíenen para mi por q.1* de partes veoeSciarcy por la que bieoe
por quenta de mi amiga Marocas beso a Vm. las manos—Si el reg* noleocuparemos síetnpre
aliaremos por el 5 oo U rs y puede ser que de ay para rriva si yo he de estar aqmao doe de
emviar-me Uno o dos cada ano y sin que lo sepa nadie no lo escrivã a oadie que fio combienc
la cargazon que viene por q.u dei s.r g.w y de Vm. rrecevira el como ha hscbo tas dera« ea-
biar-le Vm. heredero en lo místico ni el lo agradeze ni se le da nada porque su principal ja­
te n to es lo que le entra en la mano para su puabo escuse Vm. de dar-le tal p* eolo m m
caso que la compania vaya adeiante sino emviara la cargazon de la compania separada y lo
demas es echar-Io en la rrua,—
E l Buçio fuera mejor hechar-lo ay en lamar porque ai dos mrs bale los negros y anole
quieren y ansi Vm. y el senor Fhelipe Denis parece que a rreveldia an querido que las calfes
de este lugar se empiedren com buçio que no pareze cribie que alia do se supíesse en de
Feb.° que no balia nada y por no valer lo se vendieron las pJazas que Woreron tômadaspor
Antonio Fernandez d’Elvas = diga Vm. esto a! senor Felipe Deniz y dele mis vesa jjmms por­
que no piense que me olvido en servir de que no le escrivo por no dupiícaresto que es la ver-
dad. —
L os quartos de farina beneficiare pero elia vale oy por r8 y 19 Urs no se queganancía
sienten en esto esos seriores y s.r*‘ ni Vm. para cargar de harinas qo me benga arina que no la
tengo de reclvir Bastava»me el fadario que tengo con la que aca esta que no me puedo ver
libre delia y con todo eso si el fato de Jorge se diera meúera*mos en Ias p.*" estos quartos
por m ayor precio pero como no se da no podremosgozar desta comodidadyaestoi advertido
de no cargar a índias mala pieza y crea que estos neg,Mson tan faciies que los teogo muybien
entendidos permita Dios ayudar-me y encamiaar-los que eso es lo que ymporta.—
L a quenta de Vitoria ajustaremos un dia destos que el dize que lo desea y por lo ms.*em
Bertolame Yorge y antes si antes yo pudiereyra todo—y si yo no tuviere para dar A Ewr
Mendez. las ps.“ que Vm. me avisa le beodio porque es muy posible supuestoque yo no tengo
aca fato de consideraciom daren-se sino las tuviere yo de qualquier a q.ü a p.u dondelas aya
y sí Manoel pidiere algunas tambíen procurare acomodar*Ie uelía apagar eo Mas.—Bestidos
ni cosa de comer farinas ni conservas de todo Io que fuere fuera de vara y covado beirames y
cayamen no sirve aqui ni ay quien !o pague ni Vm. me lo emvie ai lo coasienta etnvtar y ya
que esta aca dei s.ot Enrrique Dorta procurare la mejor salida que pueda que no podia ser
buena que no ay aqui lo que solia esta Ia tierra apretada y no tiene pieza para dar por cosa
níng.* sino Ia sacan dei mismo fato y dei de bestír para ellos no se ade sacar y por matéria de
5 i2 Angola
mercançia avian de asentar los que para aqui la erovian de no emviar a esta tierra farina azeite
quesos presuntos vin on i otras cosas porque el grande gasto que en esto y en otras cosas haze
cada afio esta g.u esta necesitadissima porque com o lo hecham por la bucólica y de esa no
salcm piezos p.* pagar despues al pagar forcozam .1* ande pem carque es causa de queagam mill
trapazos y que sean lagos en las pagas dei fato que se les da — Por donde deven di asentar
todos de no em viar aqui sino fato y m as fato así com o el de la cargazon de Bertolame Jorge
que es m uy bueno. —
Bien sera que ese ydalgo de Duarte Dias de a Vm. carta p.* su feitor em que le ordene nos
aga mas favor que aios otros y mas am ístade que bier lo m ereze el buen parroquiano que tiene
en Vm . y que senaladam.*8 le avise que q.áo embarcare diez ps.* una bez entre otras consíenta
que pague aqui los dr.81 y que de quando en quando me de algunos esto porque — biendo el
judivelo de A ra Bano con este neg.° aun que el lo era sin eso le dije que me avia de hazer
m uchos mimos y todos lo que digo arriba porque ydo yo desta tierra Vm. no avia de emviar
un solo maravedi de fato y ansi lo aga. Respondio-me que yo pedia just.* — pero que el tenía
orden contra la qual no podia yr que le viniese carta en que me hizia se poco favor que el me
aria mucho sia Vm . le pareciere pedir-lo aga pero que le cueste nada y corra-se
V m . por avençar con ese xptiano por to por c.to —
Bastian C arvallo partio de aqui ayer com buena viraçon vaya con la paz de Dios que le
buen viaje el me dijo que Ilevava de V m . 9 ps.* di-Ie mis cartas con la obligacion de 248
contra Joan de Nogajpy con una via de las Braz que Pedro Sardina me paso para que esten
adelante ba encargado delias y de que se pague la obligaçiom y el deudor tam mí amigo que
yo me prefiero que sin rrecaudos a de rrogar con ía paga — su s.* mando en el tambien 600
— en L.*" — dei feitor dei senor Duarte Diaz sin riesgo ning.° por quenia de la compania —
ban-se rompiendo lanzas yo fio en Dios que con todas las deficultades avemos de salir bien e
todo encamine-lo Nosso Senor com o puede y yo dessio. —
V isto ha ora com o quedan estas cosas bueívo a dezir a Vm. por ultima resolucion que
Vm . no aga queja ni se muestre sentido dei trato que asta aqui ha avido porque ansi comviene
y que Vm . asta que este algo mas enterado dei rresto que aca esta no emvie fato por quenta
desta comp.* y si emviare sea muy poco asta mejor avisso que como el avie el rreg° que trae
Jorge se pone m uy bien el negocio salvo que en los navios desta monzon yra Vm. emviando
mas fato pero p.* ese ira el emviando aora aun que no esta de parezer de emviar mas que en
Freire un q.*° con 3 o por c.*° y 800 en Joan Vicente que partira dentro de 4 dias fermosas ps.a
tengo p.* em barcar en el y no hago asta el dia de la p.d* Dios ias encamine seran por q.u de la
cachera que vino en Ju.° Blandon y de Vm. com o Io avisare despues. — Quien le mete a Vm.
con rruan y mas tanta cantídad no le a contes ca Vm. enbiar tal haz.da ni otra ning/ como
atraz digo com o no sea para punbo mayorm.te que dezeo saver la ganancia sintio Vm. para
meter-se en ello pues quando mucho se vendera a cruzado — Dize-me Freire que me a dejar
escritos de los que le deven para que yo los cobre diziendo que no lo puede llevar preguntado
porque d iz e que no cave en el rregistro tanto y esto causa de las ps.1 dei piloto yo dezia que
la arm azon se avia de amparar primero el dize que no puede ser menos y que Io azen mediante
al capirulo de Ia carta que Vm. me escrivio con el en que dize que cargara-lo que tubiere y yo
no soy de parezer que esto se entiende em perjuizio de Ia cargazon Vm. peca de bueno como
los otros pecan de m aios para un sa fio piloto escusado era dalle tal mano — o cargara el todo
el navio — Vm. lo quiere su haz.d* le co sta ra — pero guelgo-me que tras desto dize el villano
que esta perdido P o r am or de Vm. — y que le yzo de tener em f.° esperando a An*
tonio Mendez y llevar menos carga por acom odar-le que todo se Io ade pedir a Vm. en virtud
de Ias cartas que le escrivio a f.p en que se 2o ordeno ansi — Freire me dizo esto que a
mi no me vienen con estas rrazones ni otras porque Iuego los escaldo sirva de aviso para que
man$am.te aga Vm . sus q.ta* con el y tome un fin y quito y despues haya-me indemisnisar-se
con esta escoria dei m undo.—
Antes de zerrar esta fui a estar con el senor g.or y me dizo que las 20 pipas de vino se rre-
solvierom en 14 Ias 6 hubo de mesma este navio trazo notables ya todos e visto quejar desto
especial a Di.° T ex e ra que no a querido rrecivir Ias suyas o Ia m ayor parte delias porque le
falta mucho m as que a este rrespeto — vea su s.* que administra estas cosas si es razon que el
m .l# pague esta demasiada mesma las 14 dize que rrendieron a 46 U 200 pedir la quenta para
/•Tf.
'-4é
f

Apéndict 5 r3 J
ne.úcioo hech» en q aep íd o t *wdtS» <,<* cooeotrwt» y t o t f í « í / * * >
aocdo c£>ÍOp« tenníno* ***** ** ***»***'£«****» deite te&or 7 tüne çs? coa
" ^ ^ r a « í° 3 tfS,«no que esto * <*e í* r P,r t e P *n ®° h«*«r 13 t - sj# b i i u q»« ar t í
^ Z i o * ' % q u e y ^ À ra u jo m e qoiere pagar « n * doe , « * w * 7 to d « « , t , ecten de
* A ^ J í » tDCJ^e P 3SO P°nCia que tien e contra MenoeS de U * o y va « c n to «fej ^ „
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X-a e a r,V a aesp cde
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Ía d e Ja BvnoUtr*
ca d * para que p or dos v/as ia en ®*c«W a VJa ,* r* ' W , !ô* eober*
Jorge d esca rg a su fero y entrego a ^ '" e'na V * ^ « * d'a n £ °
es y a u n q u e dem ro n o s e * a i * -* g .» ^ /o q Ue *» '* * C 1; « » . y

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c ° n u°®rtn de paêar todo eí dan° ^ colia“ *‘ - ...
0 *M *C£ r e dentro qua esto por Jo ms.« servira p.. e p^ or^"nform>
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que viZ3,<fíastian Fernandez por Ia mayor p * se a»am ^ ^ ^^ /« fc*. drf00e.
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d ,2 se agíio tã o d ificu lto sas n o m as farina no m **/^ **1*** yo *> « *fo y d t ^ * * 4<*
faCÍleíde/aêni lo u n o n i to o tro . - ^ Ad* ° Por ,3 p a iio o % d* V * ^ t * .,
n,erp3rtîo Freire a 4 deste con 35 o ps.* suyas m ÎW ao ej
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*a casa dos “*»«, el un“ >n 'mpalala
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- ” « « tambten lo estoy y ansi p0r rreI3c/onP 8$* s 7 piioio &
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rfiie ^ *« o S 10
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m e en ca.Sa dos negros ei uno con em paiau yr ei n o7*«« « ,.*cl o iro —
otro ~ oarvado
berviJo coo
e\ .. de CUro-los com o ospítalero que soy si Díos les d irr saJud em viar-Io»
aqu!.tiíz° in n tIas
ír fíl i t t —rf.
espai caPazes. _ J . m « e ♦ <i m k l o n m a A a í n .
de mas tambien me dejo escritos Jde 114 fU1 480 qoe l i qoe-
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h e P „" d e v ie n d o p ro c u ra re la cobran2a y aviamento deiío, n, •
rrezevir obbgue-le a que los llevase flaco p e n s Z ™ de*ar « * V
- ............. ■ ■ ^ . ^ [ o í u e t r ^ r s j e^ a erca-
m
da«-°n uise •azevu v “ - 0 fâçho que vara y covado sirve y 00 otra cosa a rope htziera se
no los - rra de Pe r r ° [ en ^ o yn ven to u a e r hueÍgo-me que por U mas 3o ade aveT m e oester p.*
der‘a 44 lí 'ftter t° todo do 4 a1 H
qu,e
“"
lleva para este efeto Dios les de buem viaje que yo quedo b a n o deílos

^ p aíti* n ^ z j g V m . es como lo dos los demas de su ofiçio m al diga D ios el m ejor


c0fnF l sU p e r ° ? ern alanto5as sobre si V m . ie dio orden no le dio p.* bender el navio y que le
• ine h iz ° m d ^ a ta g ”* bellaco va con yntemo de encaiar en el a su sobrino aquel loco
aq^* vender en a . r* lra la r COm hombres blancos como yo para papa m ovido
^ • “ 7 ^ X 0 avia el navio con aviso o para tanto Domingo si es que alia le podre
escrevi A g rarn ^ a j a; la de lo uno y lo oiro aviendo-se de vender Io húiese el y biem
hazer c a r^a f ÍUG^ a bon d ad d ei navio y que lo de los dos tetçíos perteneçiente a V m . k» reei-
vendido supueSt° jia z e r-le rrazo n y adverti-Ie de la preiençion dei piloto para que este sobre
viese em si ^ a^ üen cox ito que rra lo vender a su sobrino barato como quiea dize dei pan de
lo do p orque e maS navio no que no son estos hombres sino demônios si alia foere ei navio
com pad fe ?^eg0 que asi conviene Agramaxo avise que cobrase los dos terctos de los fletes y
venda-le V m - u g espero lo haran. — Em Freire emvie doze ps.* por q.u dei senor V i-
\o e tn v ja s e a ♦ ^ i . j - t— * • '*
que iü ^ ” pe'lo de la s » Ines de Pereda de Ju.<* Mendez y de Vm . conforme á la q > que sera
1
CeíUesta n o eran ta m buenas com o yo quisiera porque no las ay mas era gente moça.
con ueS lr0 n a v io em vio el senor governador un q.tft dezo sin rriesgo suyo en le u a de M a -
nUQ y sin y n te re de los 3 o p or c.to porque esta avençado dízerom*me que el D rago no
nuel p 0 r lo conçertado y pues el senor g.M disimulo con esto el y ellos savem porque
qUlStodo es negocio yo m e quíse quejar de eso al g.OT y Díos y por contento de las Lb**? eu
fo rm a que digo. — E l d ia antes de Freire partio 3uan Vicente Carnero en que mando las
10 ps * p Gr quenta de Simon, de Azevedo Enrrique D o n a y de Vm . que sera con esta en eso
em vio el s.or g.or o tro s 4 0 0 U . rs en L .lr* dei Dg.® Drago y con esto quiere estancar e\ senor go­
vern ad o r de em víar m as d r p o r aora por vía de yndtas que yria emviando en los dei B rasil
R eplique-le que no ten ia rra zo n de escusar-se ni dilatar la rremesa por todas vias asta a ju sta r
65

-*■

%
5 14 Angola
In q.14 p orque no d evia d a r lugar a que V m . nndubiese a lia sicm pre tom ando a can vio m ayor
m * que l o i n a vio s dei B ra sil son rra ro s y de p oca su stan cia dem as de que no deve dudar de
cm v ia r en to d os lo s n avios su pu esto que el D ra g o le da las L .‘r« sin ningun riesgo nuestro con
e s to y areze que !e a lia ne a lg o y m e respon dio que d ezia bien y que ansi no d ejaria de enviar
a lg o cn S a rd ifía q u e puede se r qu e p a rta ante? dei c e rra r desta y o h ago lo que puedo y no lo
que quisiera vestib to a este c a v a lle ro en el cu m p lir con estas ob ltgaçio n es de V m . quando a y y
s e pueden p o n e r en ex e cu zio n y fuera desto sie m p re m e h aze la b o c a d o ze y en sus particu lares
n o estiv io sino m u y ca lie n te persu ado-m e a que aquel ere je de a v a jo Je a m etido ajguna cautela
en el p ech o co n la q u a l sin duda ning.4 se g o viern a en este n egocio y y o ansi lo creo y bien
fácil es de entendere p o r la esp erien cia y que no qu iera h azer em V m . su tesoro ni dar-le mas
de lo que es su yo antes m enos = sirva de aviso esto para ir-se V m . p o co a p oco y aun no emvíe
n ad a p o r q.u de la com p .4 a sta m ejo r a viso y el m ejo r aviso ade ser p roveer su d evito y mas
y sino n o se puede su frir esto p ero a lia V m . no d iga nada a nadie no haga queja dei y si par-
tie rç n a vio p.4 aqu i en el p od ra decir-le que se a lio sin din.0# y que p o r eso no em via y com o
q u e queda sen tid o de eso dando le rra zo n es y la p oca que ha avido en em viar a Vm* a priesa
lo su yo y esto su ave m.*° no diga o tra bez que le escrive m uy libre y sob re todo ad vierto a
V m . que con sidere que esto y aqui y o y que estim an poco hazer aqui a hum hombre un agravio
y co n esta letu ra b a y a P e ro S ard in a andubo rrem iso en dar mi sa lisfa zio n y al caso queria
m e la d a r en d itas perbersas obrigo-m e a citalle p or el escrito de i 56 U 200 ya que me diese Ia
quenta rrespondio a If^ citaçiom que bendria a casa dei o y d o r a d ar la q.ta y a yu rar cerca deí
escrito com o se le m andava estube-le esperando y q.do hubiera de venir vino en su nom bre el
vicário a p edir al o y d o r que !o dilatase asta p o r la mafíana que le avia venido una calentura
p o r la m afíana m ando a ca sa o tra vez con una sentençia de M anoel de L eon y otro escrito
p ara que m e con ten ta-se con el no quise y asi me dio L .Ira de los i 56 U 200 a p agar en Índias
a ra zo n de 29 13 5
p o r p.a y a si la L .,ra — es de 206 U los i o U restantes cum plim iento a los
36 o U que V m . a viso que le devia me dio enpanos songos y estos dieron tan en droga despues
que valen a dos toston es que no quieren dar ps.* por ellos mas enfim el ansi que tarde ya su
p esar p a g o bien q.u el no la tíene ni y o se Ia he podido sacar Vm. se Ia pedira alia pero mire
senor que se lib re com o dei diablo de no tener q.lal con este hom bre ni entrada ni salida alg.»
que no com viene. —
D izen-m e aqui que el tiem po dei con trato de Yu.° Nunes solam .14 se cobro 6 U rs por p.a
3
ín d ias y p ara el B rasil ü y despues el con trato que el R ey hizo con Joan R rodrigues C otino
fue con las m ism as condiciones y precios de Yu.° Nunes y que sim em bargo desto com o era
aqui g.or de poder absoluto y nuento mill rs mas sobre las ps.fl de ín d ias y o iro s m il sobre las
dei B rasil y los cob ro y todos callavan estos yndtos que ag o ra arrendaron diz que fue con Ias
m ism as con d içíon es y precios que lo tubieron Yu.° Nunez y Joan R rodrigues y vam cobrando
sus 7 U y 4 U rs y o he hecho aqui todas mis diligencias por aver a las m anos todos estos con­
tra to s para saver co n zerteza la verdad y rreclam ar dei engafío no los he aliado y asi com o no
tengo p apeies no puede ju stificar la causa que de buena gana gastara y o aqui 200 U rs en ella
p orque esto s co n trato s son perdíçion nr.a (nuestra) y de todo e! pueblo m ayor m .14 estando dis-
puesto el ju d io de a ca a no h azer am istad ning.” com o en efeto no la quiere hazer Vm . com o
m as interesado o ra in vocan d o tod os los demas cargadores ora por si solo saque Juego todos
esto s tres co n tra to s de lo s líb ros donde estan rregistrados aun que sea sin au toricar y panga
los en m anos de hum buen letrad o que desengane y vea si el R ey con cede-los 1 U rs mas y si
se deven y diziendo que no luego ala ora presente petiçiom Vm . en la haz,da om ésa de conçiencia
pediendo d esagravio y que m anden que no se cobrem mas de los 6 U rs y m ientras se sentençia
pida p roviçiom en que m ande que cum pla con depositar aqui los r U rs de cada pieza este es
el cam ifío suave y bueno para que esto s dejen en con trato y que no le aya que con el R ey son
entenderem os m uy bien dem as de que estos judios no se conezem quando tienen semejame
m ano en m i tierra d elito crim inal era a crese m a r este dr.° y pena m uy rrigorosa de muerte
ad vierta-lo V m . a l letra d o para que se le p a reçie re q u erellar se desta jente lo aga tambien si ya
p o r ser m uerto el inventador y ellos los que lo tom an en el estad o que lo aliam estan libres deí
delito aun que no para con D io s porque si en esto a y engano no le ynoran p o r vida de Vm . que
dem as de lo que le im p orta ponga en esto gran ca lo r y diligencia p or hazer-m e ind. ( = ? = ) y si
y o alio p o r a capa p elo cam ino liç ito para com en zar la contienda de Ia Vm. por com enzada.—
■ yr •

Apêndice 5 15

avtU a de Canaría* que alo qws esiút^Aa e* p^r m de


onâ1 c a f jo n d e coVijo que «via dado orieo Juw*>* de L.eree-i f
a <=*"■ ínOs dc«Jg V C r t ' O C
Vlkt»r^ue dc . _
aca foe de 1lo*
t ..~ A /-.- « 4 - . — -------- *
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***» eivcfeo e* - - ^lae «**o
0 *0 ^ tra**e V vísta ^ Vfn- esa ro<fC*doria ac* y qc* eí eme 4c Manuel da
de“" 0 1«6 e? ,1,3inejer
rt«ie m eíer deo e 1»*
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V f f í. n o
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r>ga "«z® de de teneI las 53o v.** de cachera qucVm »e cctuicapor a> & r - L
í** ia de * v ífe/asô u»- -
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^ g- ^ Bariolome
o r a y s-'"Jorge ia*Pereda
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Jnes de y desaa
—-8 ' . Cr^ ; «<,.
# v »'» w v m *r * ^»1
^ i'Tfe.
^ J

pV 0, . \ r e S o 7 ’ ' ' í ' aVOr,ap bien Parf


■ " "’ *1 J !lmo a ra lo adelante que cachtta i q á c© ta rteqpnt& i -
ía ^ . „ r í ® d ,/*n^.«n a que „ « ro ad vierto p a ia -----------w„ _ , „ , « . . „ . t ------ ------------

ff c* -
ye Ul>a*e aun q“ ede
orobra se aIgunos
-1» Por5 ° ae mercaduria hu!w*'' -.'
que aqu. se fra,gayycayamen
be.rames n/ con „ fiJ
Q “* »«> *ort* * <* ,
Jo* que quisieren breves y buenas ps.. Ped “* *, i fc u #«
l!l q0'6
5°j 9 l1 <
qJ. ;irr a - ,.na ora no lo —
creo bay, con « ta ia ' I * ^ «*>* « el ’Z k * * * »
Dios qut t ? T P*rtio * a a cfl
d« ^ o d o 5 ^ *--e
V i o - y fa
pr**el“ ^ .o o ds ea q u a 3 “ 0.o3p0s“.-1 buenas
V itoria " ------- que la ,/erra es,a m
coP’ * totnaàa p i « * * T a)a berdad n o !1<e P « a porque abemUlf * P0dl't°n m n r _ ,
,*««va ‘ . a 5oo de abenas y gastos e restvos de rL is to nl 6 * P « * r v I Z * * ^

c .-
cargra
esaaria
j0 se meuo
.
y mi no <?ue y va U(0(
Çue Por
■ n rtu ’° - " ^ Z * £ i:
AU« ««5 0 razom yusgue-ío Vm. de ínc“ *' 1
ps.* ba« encargadas a otros am;„0 Jfn^es „Ue -
o«eenfaere
nadaviva aun
que marinero
dúre a B a nvJ 6
ie doy credito bãn a«ae d
^ rg d« *P°otO
as de w,y» *,/ *“ ® odo^"---
- ..
"^rito es ia mas iíncfa c;ue . ai/a pf r Bo escr/,^'0 * *0 Í Pr^ r ^

I dei * ‘ rllWü efl ^ 1 * UCeo y la f *° y..........^os ^emas iríamos


.......... mandando - £Dios
" J - sea ^ loado
* * fepV L f,s
o r ia —J
md
r ° e d íl " q"ee a esto ya lo que le tengo dicho a Vm. dei modo como se a procedido
graCl^ i, z e c ° n ^°r í^ evea si se atreve a imbiar fato por q * de la compania pero yo no say de
que n j^ cio n e *a gn t3 estar mas adelante y nos oiros en cima y para los dr.** de! Brasil
y c° ° z íe r a fita *a ^ anD beam os com o lo haze y entonçes mudare yo de parerer. —
i a í f a u e c a r* a r : Lue"\* e n e n aca tom adas a los maestres de los navios y pagado ei empresunao
d 'Z6gstaS P>a f t , q » n o quíeren pasar por eso y proponen aqui mill cosas fuera de razc-a como
dueííoS ^ e l.r f® *a b echo nada p ara escusar esto comvíene que alia los maestres de los re-
losAe a « a n ° v ín íe ra neu u~ -------- --
SI
f^ plag^s nasem s c rito de que a respeto dei emprestamo
dei eemprestamo. ^ Se "avegaran
„ * devaj0 ddd;dlo rreg- ^
M ba dando su fato vien fuera de lo que estaV3
R a r t o lo m e Y o r g e
salto dei ono yo no lo se pero alcanzo bien 1« 0 í*1®,fuera
çenado coa
mejor el ei seãor
escrivira o
governador se sanu
dara rreíazion de Io que se nrovio a dar ei fat0 • •
quisiera dezir supuesto que no me toca pites vien« X “ ** l° maodo el s.-
tado y es berdad porque yo lo vi Vra. abra el 3 S° CSre° dí«-me que f. f ~ 73 W KM “ o

manera...................
que sea -----
" ” ho “ "**■ *
Freire o oiro B arioiam e Yorge haga que no estoy aqui p . emnn
v erd a d y clareza pues los unos y los otros execman su volumad ° 8 f ° S y *St° 65 ia Pura
en ten d id o y yo ies digo a mis manos viene tatu poca haziend» C°mra ° ^ de mi lieaea
pero la que bimere ser administrada qual lo fuera si su dn»nn q“f 653 íomara í « no viniera
gracias me denay de por ello pues Dios me doto d « « * M ” " *«»»*8»««
- - — - — ,
p o r no m e p ag a re n tos vecm u * ^ o . -
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‘w* " Y " r 7 t z ; r . s s \“^ T "
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5 s * que m e fa lta v a n p a ra las diez que ande yr em ylano lo qual con estar la tierra tam m i­
I serable que n í p o r u n o jo se a lia una p.* embarquare io por quanta de los rrestos de m i Ubro
que p o r ser de c a c h e ra n o tengo rrazo n ni obügacion de estremar-me tanto.—

í ! *
i 1
5i6 Angola
Teniendo esta en este estado llego a este puerto em i 5 dei presente Bastian Rrodrútuez
do Rrego a salvam ento y el mismo dia llego el batel dei mal afortunado Estevam <ie Amores
con toda su gente salvo el st es que era el piloto el qual se aogo el navio dio a la costa en
18 grãos de la banda dei sur deste puerto de noche que pareje que no se hazian con tierra toda
la demas jente se salvo el buen piloto que com o si no lo fuera dormia Dios le perdone las
pipas salierom a la oriHa y la pobre gente com o tenia pequena embarcaçion so lo trato de sal­
var-se y izo biem si Vm . sea seguro tratara de cobrar de los aseguradores que yo procurare
em biar rrecaudos com esta- — Com o rrego rrezevi la de Vm, de z 3 de M arço com que olgue
lo que es rrazon por ver tiene salud con todos esos pero no tube poca pena de que no hu-
biese Vm . rrecevido mi carta que escrevi de mi llegada que para muchas cosas fuera byeno que
Vm- la hubiera rreçevido despues lo abra hecho y visto que esta tierra rrequiere mas de lo que
yo tengo p.* sustentar-me en ella y esto es biem que signifique a Vm. antes que otra cosa para
que tenga bien entendido porque quier se descuida tanto comigo y me haze tanta md (m ercê)
no tiene presente la demasiada caristia desta tierra que si yo hede comprar por los precios
delia el bestido la media la camisa y el çapato las especies el azeite y otras muchas cosas que
de fuersa son menester con buena parte de los créditos de mi libro no puedo llevar esta carga
sin muy gran dafío miyo y peligro de rreputaçion — vien veo yo que Vm. no es mi padre nt me
lo deve pero es quien siempre me amparo y quien me embio aqui y deve tener memoria Para
mandar que un criado tenga cuydado de prover destas ninerias que para alia lo som y Para
mi el m ayor eznpleo que puede venir que yo prometo a Vm. quem (cres co) oy mas en su ser-
viçio que mas que ningun tumto demas de que esto no lo pido gratis sino por mi quenca que
procurare dar en todo satisfatória — y si Vm. me dijere que esperava aviso mio tiene rrazon
que ay es enterrueza media Iegua de no tener fato ni rregalos no tengo ninguna pena porque
se lo que es ser pobre y pasar-me con pamsiento lo porque estes piquaros dizen que vine aca
para m adrazo en vista de la que tengo escrito a Vm. abra visto como aca corren Ias cosas y
dispuesto de mi com o m ejor le este que si a Vm. le pareze que yo tengo en que entender con
el fato que emvia por su q.u y dei seííor governador esta enganado ya un para alcançar Ia
quenta save Dios lo que me costo y lo que despues sera haziendo y remetiendo-lo se devo ca
de pila que es quien haze-Ias L .,r« y de alli tomo yo rrazom para mi libro y aqui emvio a Vm.
el estado de la q.u hasta oy. — Espantado estoy de Vm. que se ponga a escrevir p." una yornada
tan larga y que no diga si tubo aviso de alguno arremesa a cargazon o si rrezevio algo que no
dudo que de otra manera fuera locura embiar Vm. tanta haz.*1 tan a ciegas a este ymbo >de
Vm . de avisar siempre de lo que le avise o le avisan que esta en el camino. —
C om o si Vm. tubiera aviso que aca avian sido sus cosas tan amparados como es rrazon
yntercede por Ias agenas escuse-se Vm. de eso y trato de asegurar sus negocios que es lo que
íe importa — Ias plazas que vienen en o rrego y en los demas dire su S.* que las c a r g e = e l
dolor que tengo es que no me pasaram por Ia mano. —
Farinas nunca Dios a qualas traxera por vida suya que no consienta que nadie me las imvie
que son peste p.* mi y no son de provecho para su dueno porque si aqui con las costas cuesta
diez mill rs el quarto y se vende por 20 U quando mas no se que aventajada ganançia sientem
para hazer se y hazer me molinero — pues vinagre otro que tal si me niederem mas en estas
im penínençias enrregar-las he a difuntos no lo ago tanto por punto como porque no tengo
condiçion p.“ que cosa que venga a mi mano tenga mai suçeso pues no se vende el deza come
cam elo y lo tengo a cuestos y cada cosa destas me haze una matadura — aqui fato y mas fato
de ley con que se agan negros y descuydar de lo demas. —
En la q.u corriente tengo hechos a Vm. buenos 5o U. rs por los 20 U — que dio de empres-
tam o a A ntonio L u iz y Carnero. Pareçio-m e asi rrazon pues Vm. corrio el rriesgo de los em­
prestam os y yo cargo Ias ps.a por quenta de otros y p or hazer esta negoçiazion comigo mismo
y que no paresca que me alarge mucho en contar a i 5o por c.to perjudique a Vm. porque las
i 5 plaças que en el mismo A ntonio L uiz vinieron tomadas por el senor Antonio Fernandez
d’Eivas me com etio la v.á* delias, el s.or Governador — y las vendi a Ariespinel a 200 por c.t0 a
pagar en índias de que paso letra. E sto porque el bucio es una jentil mercaduria haga Vm.
quenta que lo hecho todo en Ia calle y no me da a mi poca gana de rreir quando considero y
veo la consideraçion que Vm. y el s*w Filipe Denis denen echa deste gen.w y las muchas dili*
genzias que alia deven de hazer por el y los grandes avançoz que esperam lo lindo es que el
s '

Apénitce Sî 7

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# #008 hv aj que comer ~ pu» que Vtn. AchitdtmidohiK* ^
*. í k«1».$ne»0 f- otorrtüe n ° l3S ay^enta de■ los vinos p a r e n t qoe &o uiw àclio poqae u
C5 pios
tf ,?e»e .\tod«,a l rtrt es no embiar-ios ni aun cw* en q « «yt & w d íe r
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„jV^S 14» u JS Francisco Leitão « cada mu d, )„
}o^‘ c*om° Luiz Jorge y Esteva» Janes que yom poedo s e m r ic a j»
nanda que m arge lasps.> lo bare; seoalare premia jw J

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Hraní^e yDSol^aíe - todo loio que yo acabi
aca be rreçeTido de terçeros
u«e l: , a y i us' 1?ai ,n
nues*° :^n las die* P - 4 s .'q u « « ar8° en Antonio
....... - , — n dan aca los restos de ias
Luiz y solam.11 que
padu « 0 en mi navio que en acavando coa elías que sera presto lo procunre em-
■. a,; que
nu^ vimeí°n , acavado con la sal y tablas yemviare os, 1 /'nuei/raj q.u wrn<Qtt
{afi^
;lu . dep Wtot»
y entm
ara m 0 »ze « - /a qmta de
ba«*becbo (te ks
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qUe le emría = e s ofuscada ; de<ka h l e m d n orj 3 “ T 9 * '« ® « #
Ju-r; „ s a mi me /a puso eu ks m m J ® » rr«pe i 0 4 order, ^ fr{„
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que naac vcmi a - «w„*,y ís®Oft*coatodo lajflwn ^rM .
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emviar-la a Vm. cor, e) pr.° lo lindo es qae sieojpre me aíÍ!11 lW P0t

nuehera- y como yo fuy a quererbaaerem qseata a„ Casw ..1 qoeVf-ia».jasse 1


Ícones y conoçimiencos de los quales consta clarolo qoe a v P2Í8bj2ír‘!l >«««
quacon m estava des hecha la duday liquidadoio quepertenec;. / 8Cada®»- DnM
encomienda y como esto ao tema respuestadesíízoje-meporun^ ^ PWirrííerTar-!oi
aun perverso- Dize que en confision medemque el tomo de Caa”M PW1 “ BKV»
de fato con oòligaçion de pagar-lo a Vm. dentro de um ^ 'Wldi(Í0r0diab!o^ Ut
tiempo fuese oblig,* a dar por elio &o ürs deseosaver f° H m en
ü rs por emtero por no aver pagada dentro dei anoponme 1 , * ^ car«° &
y sino no Vm. embíe la quenta deste hombreaiustada^el n ^ d°’Sí-los «tnissit
bolsado y danos o de la otra manara si ie parej ' T * : * * * *> * *
y como yo no se mas de lo que este me ha dicho dest a í “° ^ C°Si qaí D0 *
casoestoysuspensoemfinva 10d
5 18 Angola
ponga a su voluntad sin deçir-le nada deste punto que el mede claro — sino so lo sirva de
advcnençifl paro dos cosas con ozer esta gentezilla y la m ucha façilidad de Vm. que no quiere
dejar deser m aio p ara si y la o tra para hechar dever si la com ission prefiere a los 3oo U rs v
a mi pareze-m e que si y m ucho mas y p ara esta quenta dize que em vio i U en d r / ‘ y otras
cosas. M uy aprieza escrive V m . y despacha las cosas p ara jornada tán larga porque no viene
de alia ca rgazo n çíerta com o lo diria Freire y B ariolam e Jorge ni Ias cartas traen con pon-
tualidad los avisos o advirtenzias que deven traer porque por no me avisar Vm. en Freire que
venta sal en aquel n avio p or su q.u hizieron los m arineros delia lo que quisieron y por no me
avisar que la tabla venia p o r q.u de la com p.1 lato-m e por la p articu lar de Vm. = y deviendo
f •
escrevir-m e con e] m ism o F reire la obligaçion que le quedava de embjar imformazion dentro
de un A no de com o se vendieron aqui los vinos y fue lo procedido dello sal Brasil no lo hijo
sino ao ra seis m eses despues y ni agora ni en ton zeses bien dificultoso sacar semejante testim /
yn ten tare-le con deseo de que tenga e fe to .—
5
L as oo y tantas baras de cachera que binuron en Bartolam e Jorge por quenta de mi se-
nora dona Maria de T a v o ra y de esas senoras dize el senor G overnador que las combierta yo
en ps.1 y que entonzes me las hara dar en d r/*— R esta haora que aya diia de satisfazion que
la quiera porque com o ay tanto de ley no quieren este genero. Con el tiempo lo querran y Y°
m e aprovechare de la acasiom . Antes de ayer llego aqui el navio de Estevam Janes en que
biene Ei tor Mendez de cuya mano rezevi las de Vm. anadidas en huna en i5 de Abril en que
dize avia nuevas de rr^ilegada y o huelgo por el contento de Vm. pero estoy muy pena o e
que no riziviese mis cartas porque yo en el mismo navio en que escrívieron los demas escrevi
y tengo aviso de Luis V az de P ayva de aver-las ym biado luego alia hora por donde es sin u a
fuerora en ese mismo navio que aporto a Setúbal pesaría-me que se hubiesem per ^ o .
D iz e - n c s a q u i q u e G a s p a r de S oza quedava o p u e s to a o c u p a r e l lu g a r d e g. con osco e
d e M a d r id y s ie m p r e v i d e z ir d e i m u c h o s b íe n e s s e fu e r e c ie r t o y y o h u b íe r e e e s ta r aqu i pa-
r e c i e n d o - l e a V m . n o s e r i a m a i o h a z e r c o n e l a s i e n t o en la f o r m a d e i s / p d o m anoe aun qu e

ma^° Y
com m e j o r e s c o n d i c i o n e s d e m a s d e q u e e l n o es p o b r e y c o m p o c o rn e s g o se p o ra a z e r n e­
g o c io e n su c o m p / c o n ta l c o n d iç io n q u e e s p r e s a m . 15 a y a d e c o r r e r to 0 P^r m i que
c a s o q u e a y a d e a v e r p u m b o q u e b ie n e s q u e l e a y a s e a t a m b i e m p o r q . - d e l a c o m p / p e r d i d a
y g a n a n c i a e s t o p o r q u e l a g a n a n c i a a s t a a q u i y I a d e i p u m b o t o d o s e p u e d e c o m b e r t i r e m d r .55
con Ia m a n o d e i g «■ s im p e r j u i z i o d e n a d i e y c o r r i e n d o p o r Ia m i a s e r a n e g o c i o d e g r a n d i s i m o
a c r e s e m a m ie n t o s u p u e s to q u e n o se d e ja r a lle v a r d e lo s m a io s y p e r v e r s o s a d v it r io s d e M a n u e l

22
d e a C o s ta n i d e o t r o c o m o el V m . s a v e b ie n l o q u e le c o m v ie n e y e s o q u ie r o y o . —
E n A n t o n io L u is q u e p a r tio d e a q u i a d e s t e c a r g e o n z e p s / p o r q . ,a d e J u s a r t e N u n e z y
d e lo s dem as c o n te n id o s en la c a rg a z o n qu e sera c o n e s t a c u y a s q u e n t a s t a m b i e n e n v i o bam **
b o rra s d e d r .°8 y p a g a d o s 35 U r s a q u e n ta d e i fle te .
L a s ps/ som m u y b s / f i o e n D i o s q u e b a n v je n a v ia d a s y e l bu en A n to n io L u i s Ia s l l e v a
b ie n a s u c a r g o c o n d i e z ( ? ) d e p r ê m i o p o r c a d a u n a q u e f u e r e v i v a V m , v a h e r e d a n d o e n e lia s
s o l a m . 15 3ç U 14 0 ( ? ) q u e p o r c e r r a r e s o t r a s q u e n t e ç i l l a s no m e a la r g e m a s t e n g a - lo V m . p o r
b ie n p u e s g u s t a t a n t o q u e a c o m o d e a su s a m ig o s . —
A e s t o s m a n c e b o s d e la s p s / h e o f r e ç i d o c u m p l i r l o q u e V m . a s e n t o c o n e l l o s s i m e m b a r g o
d e q u e n o te n g o h a z ie n d a p ero m etere to d a la q u e h u b ie r e d e q u e n ta d e V i t o r i a y I o d e m a s
d a ra el se n o r G o v e r n a d o r .—
A c a n o te n e m o s ta m b s / n u e b a s d e i B r a s il c o m o a V m . le p a reze s in o m a la s y a n s i a s ta
m e jo r a v is o d e a lia n o t e m g o p o r a z e r t a d o e m b ia r n a d a t e n g a - l o V m . p o r b ie n . —
L o q u e y o q u is ie r a es q u e n o se le p a s a r a a V m . p o r a lt o a v is a r lo s p r e ç io s de la J n d ia s
p a r a q u e c o n fo r m e a e llo s s u p ie r a m o s e le g ír d e s d e a q u i p a r a d o n d e e r a m e jo r e m b a rq u a r p s /
n o se c o m o V m . p a s o p o r a lt o e s ta s c o s a s q u e im p o r t a m .—
A s t a o y n o s o n Ilc g a d o s m a s q u e 3 n a v io s d e lo s 6 que de ay p a r tie r o n a s a v e r J u .° d e
O liv e r a F r a n c is c o M a te u s y E s te v a m Jan es n o h e p a s a d o a l a q u e n ta c o r r ie n t e Io r r e s t o s d e s ta s
c a r g / 8 n i Ia q u e t r a j o B a r t o l a m e J o r g e p o r q u e n o e s t a n l i q u i d a d o s lo s fle te s n i e l p r e c io o q u e
he d e c a r g a r la g a r ç ia q u e b in o en J o r g e q u e la t o m a su s / p / su s e m b a r c a z io n e s escu sada
c o s a es e m b ia r V m . e s to s g e n e r o s . —
P a s c o a l C a r a v a l l o y A n t o n i o L u i s p a r t i e r o n a y e r y s o l a m . 15 f u e r o n e n e l l o s 4 0 0 U r s e n L . tf5
— d e D r a g o y su s / m e a v i a d i c h o y a p i l a o r d e n a d o q u e f u e s s e u n q . 10— e l D r a g o . S i g n i f i c a n o
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Apêndice S19

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( B ib llo « “ de U U x a . S e t f o f t m t t n U c e a e » » v * y ,

DOCUMENTO N.‘ 67

MANIQEÍTANDA
faço saber q. eu nomejo por caaoiquiundAditórs q. k íu m ío
de $°usa’ etCQUâ\ba de asisiir e lhe dou poder peranomear os aujrkto t p v t u
f v o g a^° °S /.ac pera empedrem q. pase feto pera siroa daftári, e« Venda ‘
cg. » ?er^erero _n nfiC OSSa
ÊfeSSanvâo . seaao
a etta „< a n AfnH
pom &trftv *e oiuikm
bekos guenses « a».. f«_.
com o f<rysempre. cuwüae
__ e
\be ^arA coosen^ra,!L polas pesas m ais q.1 os. presos; custum ados, n«n quepoiam m pcli
7 -----------
• A n 3ô .
u«;tnS
^eir°s
d e m p o « 1* r *
«em . — «ftm
^r .q ._ seiao i»iíAc n»
pombeiros, ne tão pouco q st *«*da viaho na f e
0sp es0a algu c andando pola leira comfazendas desemcamiohadas as igsmtU
7
3rapc°s a ^ ^era quem as tomar, e as duas pera a defesa <k-3 Cones date
jpe a tersa pa ^ coííi as fazendas de qualquer caVidadt e cosdisslo q, seta, se
je ;oa quô 5e j . atnbaca, pa proceder cornra éla como meparecer, e maio q o^s í t
■ p_eío°í ao Pr< de manibumbo o dito p,5vogado e ao capitão do pmi&o qxe
lev ata Pr€^lie se &2erem S!_-ftr necesatio. em sSo paulo de Loaoda 3 de Outubro
<0<>*a110do
tu
5 L a etoào° -■ íBibíiítt«SiJkjada,c6i.Si-*o3itf&. 3t.*V
- ..................... m

5
DOCUMENTO X? G8

faço saber q. eu tenho mandado abrir duas feiras húa na embaça


asa’ eíC*
n§o do S °üSa’ f^C* _e„ pS
nt que
nu** sejão
seiao correuies
correuies ee vao
vão aa e\U
e\Utodas
todas asas fazendas,
fazendas, mando
mando q.
câcüUo caca ass ^ {OTendas dezencaminhadas e q não forememdereíwn
oüt'a 6hra»c° e negr° q’ nor perdidas e q. a tersa parte delias seja p> quem as totaar e as
In
;0Í° °iitas feiraS Se T i s o» as obras dos fortes desteReyuo, e a pessoa q. tomar as dtm
t1 0 Ji.as felta!> • Aos o> as obras dos torres oeste ttejuo, e . ve»«* \
aS dl -,e}So aPUcada Mm« dia como meparecer. Loaoda o primeiro de Ga-
P1 aS d f l ê 5 seiâo aPUCad! nL e d e r contra ella como me parecer. Loaoda o primeiro de Ga-
duas PaC 7 a p r« a ^ p °
fazendas \^>
(0 <A de Sousa Gflt tBibVioleadaAjadi,cõiòUáa»tet».i^V
t fetnao u
tubro

DOCUMENTO N.° 6 9

n o v iç o s P* A FEIRA DE AMBU1LÍA
MA& A BELCH.OR UKS EM 3o DE »U L
Q. SE

“ -r ie S E s r * ’
De londres da terr
50!55BCtiwmiIstm.ap«m»'«KteíOTOta!ÍÍ“
cópia, poniamtoo< s

■7 ^ ^ !doí081Mna
520 Angola
De qufitreoo des covados
Seis toalhas de alemanha
Dose farragoulos de raxeie
Sets covados de Cochonilha
Seis covados de veludo
Oito covados de damasco tudo com seus malafos.
(Biblioteca da Ajnda, cód. citado, ibi». i A$ v,c).

DOCUMENTO N.» 70

BANDO
Manda o sor G*r fernão de souza q. toda a pessoa de qualquer calidade e condissão q. seja
q. andar na lllamba baixa e alta, ou em qualquer outro sova ou seu distrito, se recolha do dia
da publicassão deste bando a hum mez incluzivel a esta cidade de Loanda, ou aos tres prezi-
dios somu de Cambambe masangano, e Muxima, donde serão obrigados mandarme sertidão
dos capitaes em como estão nos ditos prezidios, e recolhendose neste mez incluzivel, lhes perdoS
a culpa em q. tem encorrido ate este dia prezente pollos bandos q. sobre isso se lansarlo, e fa­
zendo o contrario mandarey proceder contra elles como rebeldes e alevantados contra o ser­
viço de EIRey nosso s0f, e confiscar seus bens com todas as mais pennas em q. encorrem 05
rebeldes e desobedientes a seus mandados e mando q. este bando se lanse com caixas tocadas
e se fixe nos lugares públicos desta cidade p* que venha a noticia de todos e se publicara em
todos os prezidios e se fixara no corpo da guarda de cada hum delles e outro sy mando sob
as mesmas pennas a toda a pessoa de qualquer calidade e condissão q. seja q. tiver arimos ou
escravos entre os sovas me fassa saber o destríto ou parte em q. estão p1 se recolherem ao
lugar mais conveniente e q. menos dano faça aos sovas e se escuzarem as queixas q. de comino
dão e este bando se resistira no lr° da catnara desta cidade e no da ouvidoria p1 q. em todo o
tempo conste dos que encorrerão nesta culpa e não guardarão o dito bando, em Loanda 12
de Julho 1624.— fern ã o de sousa,

(À margem : Foi este bando p* Embaça a 12. — P* Masangano a 14. — P* Muxima a 14.—
P» Canbambe a 14. Todos em cartas p* os capitaes dos prezidios).
(Biblioteca da A ju d a , c ó d . 5iomi-3o-3 i , f0|, 149)

DOCUMENTO N.° 71

C A R T A P A O C A P I T Ã O D A E M B A Ç A

Por ser esta a primeira queixa passo por ella sem proceder como EIRey nosso sõr me
manda e porq. creio q. não tera índa recebido as minhas cartas pore esta seja a primeira e a
derradeira queixa que se me fassa sua porq. na segunda hej de proceder como EIRey me manda
e como entender q. convem a seu serviço e ao nosso s.of fernão de scusa, gov." Luis CoRea
Coelho.
E porq. se entenda isto melhor, e não alege ignorância dizendo q. não recebeo as primeiras
cartas, digo e declaro q. EIRey nosso sór he servido e manda q. os capitaes dos prezidios não
entendao em mais q. na guarda e na vigia delles e no governo dos soldados e q. não entendao
com os sovas, nem os vexem pedindo lhes pessas em ocasião de mocanos, nem por outras
vias, nem pessam Loandas, nem infustas, nem p* sy nem p* os gp” ainda que elles lhe pessão e
mandem, nem inviem soldados, nem officiaes do prezidio ameassar os sovas, nem sofrão brancos
entre elles como ate agora se fez e quando ouver culpados sovas, ou macotas, o fação saber
Apêndiic t
„ p. se im p o r e castigar com o \ht pa
“ iro*“ 0 SÚSÍ seoulí s' f se ^Sanm,t
*** n c pa« que possao h ,r aos pre«d/o» “**««
P’
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* * a g o c lP ° " > - ^ U m c n t o hé v a s s a l a ^ * m ° ' dt „ g » ' . f * ?<* U ^
» 1 r«t J‘ o s so va s a sm a declarados se ah, d rt *0r#<,, ' -*t , W ***** •
, >“J ‘, * » « * - . . » « « . . . « » t i * « ,• —
et* P m „em fwessem forsa e q. Qs <je w'* ao J "* * <*>c l / ' ! * •'«
acenem d o s so va s se lhe to m a s* a l g ^ ^ ^

s w — so' r e eu w s c ° rrea coeíh° a i o; : ^ « « . ,s

— -— . ™ "*k ~ '•“ «•
, s U S T A N C U D O U T R A C A R T A R- n
E N O M ^ 0 Dl^ 0 ^ n o A s s,
£ p o rq . ten h o escrito largam'« sobre a Vei= M

fe n m ««to o rigor, pennas, degredo, d o b £ % f « * á o £ ? * 4 « * *» ^


d eso b ed ien tes, e q. m o cum prirem o baodo f / ^ d a t J?’ *ai £oaí* J *** * Çte®.
d nf0 qUe fte for ^ a eom caixa toqada e f bre '«o vai, . 5iCaí-'e?i, ». * ^ oaaá»
p> qUe seja n o to rio a to d o s e náo g u d r a V dep m «m , o «,
f reg istara o d ito b aodo no P dos esseatos / rssePor ig ° J e ^ a ^ Co^ T lts » r
c o m o se fe z esta deligencia em m odo * * * P fo i0 / ° 9 9 P4diais « £ * *a»«^
itfandara recolher iodos os brancos ^ ^ 5e
c o n se n tira q. ía ssá o resgates, nem passem J * P W dio » J * tl!*- ^ «a
comessem a ordenar foras em que se f3siín Pf««Üo p. H i , „ m P ° h ten , ^

s «■ • — de
10 ^ comum ie

Ml ÍJf• *

Doc UMEüto r , ?2

bando

----
Fernão de Sousa, etc, faço saber aos q
,, de Julho proximo passado pollo qua, m l d ^ « * 9- eu ffl3od
dissSo g. fosse g. andasse na lllamba a/ta e j j « * a p«SOa hUmbindo
recolhesse do d,a da publicassão deste bando , T * ím o jl ^ ettu* * e co í
d/os de Cambambe, masangano, e
d ito s ca p ita e s c o m o estavão nelles e q, ^n ã o obrigsios { C,dide ««aos
„ C .r .a o s « . « „ ,i e ^ « * . „ L i“ ,« « « « d ;
bandos q. so b re isso se aviháo lansado e o e J 9“e tiabSo nconuU !res Pr«tòos *
nos lu g a res p ú b lic o s desta cidade com o se fo n? ,p n s tu * «® eaà3s' ** ? ,a! * peíios
maneira se pubbcasse nos preaídios sobredítos A f * ^ 9 «atida 3 tol ! M £se «é
deiies como se tem feito e o q . náo cunrnrí, . &íasse n» corpo a, „ ^ s $ dt mesma
co n tra o se rviço de E IR e y nosso snõr e L J ° d>t° bmdo seti* M o p o r f h t * a da bttm
em q. e n c o rre m os rebeldes e desobedientes C00fisearsíüsfeaícom Ja! * ' 8Íeraa'5* á íi
fo rm a s q u e to d a a p esso a d e qualquer ca lid L ^ ^ 05’ «««« spmw ^^Pen/iaj *'■
-I í
cravos entre os sovas m efttesse slber í * ' e m d is *M q. fQssíI - d)’soi)ís®esaiw f;* í
fogar ma/s conveniente e o m e l , °BdWffí0 P9™ e i « t ! » ' ^ Sn’m°S °U «*
65 9> menos dano Szesse aos ditos sovas 1 7 P' Se rfcoli>^m a
P q-secm™*<nasquíím

é--
522 Angola
q. de confino davão e porq. he passado o dito tempo de htim mez íncluzive p* que se nio es­
cusem de culpa E y por bem de dar mais ate o derradeyro dia deste mea de Agosto p» neile se
recolherem todos os que andáo entre os sovas e nao o fazendo encorrerâo em todas as penas
do dito bando e este se publicara com caixa e se fixara nos lugares públicos e costumados e
se registara no \9 dos registos da camara etc, dado nesta cidade de São paulo de loanda sob
meu sinal e sello luis Corea Coelho secr* destes Reinos e do Sor G#r o fes e escrevy em 14 de
Agosto 624 fernSo de Sousa g4r luis Corea Coelho.
(Biblioteca da Ajuda, cód. $i-vm-3o*3r, tômo !f, foi. ião).

DOCUMENTO N* 7 3

Fernao de Sousa snõr da villa de gouvea do Conselho de Sua Magd* Governador e cappà®
geral dos R*** de Congo e Angolla, e suas conquistas, etc, faço saber q. considerando os danos
q. fazião as pessoas que andavão pella jllamba alta, e bajxa, assi brancos como escravos, e
quimbares, mandey lançar hum bando nesta cidade aos dose do mes de julho que todos se re­
colhessem a ella ou a hum dos prezidios declarados dentro de hum mez incluzive, com as
pennas neile contheudas, e p* q. ninguém podesse por duvidas mandey lançar outro ban 0
pollo qual proroguey ajais tempo athe o derradeiro de Agosto que hora passou, e porq. ne
acabado o dito tempo, desejando Eu q. se consiga o fim p* q. mandey lavrar os dítos bandos
q. he Recolheremsse os branqos aos prezidios, e a esta loanda, e se tirarem de tam Roim vída>
e p* q. os negros e quimbares fação o mesmo e ficando os sovas livres e desopremidos p ossso
viver em suas terras, e mandar vender os mantimentos, e as pessas as fejras publicas, o que
tudo he em benefficío deste Rejno e do serviço de de* e delRej nosso sõr, sem embargo de
poder proceder contra os culpados por terem ja emcorrído na penna dos bandos p* mais jus­
tificação, mando hora ao Cappw® M6t Dias por auditor general a devassar, e a dar intejro
comprimento a tudo na forma de seu Regimento, e p* que os culpados não possão ter descarga
nem desculpa, e seja notorio a todos q. vay o dito capp*® Manoel Dias mando q. toda a pessoa
das q. andarem ajnda na jllamba alta e baxa, e nas de mais províncias se Recolhão aos prezi­
dios, e q. nelles se aprezentem aos capitaãs, e se asentarem nelles, ou em qualquer das duas
Companhias de sobresellente p* neilas servirem a sua Magd9 por suas pagoas, e fazendo antes
de chegar aos prezidios o dito cappu“ e auditor jeneral, os averey por aprezentados como se
o fizerão dentro no tempo, e lhes perdoarey a culpa e a penna dos bandos, porem fazendo o
contrario, ou Rezistindo ao dito cappam e auditor jeneral os hey por convençidos e declarados
por Rebeldes e desobidientes e por levantados contra EiRey nosso sõr, e por emcorrído nas
pennas destes delitos, e em penna de vida Remessivel. dada nesta cidade de são paulo da Loanda
sob meu sinal e sello. — dado nesta cidade de são paulio de Loanda sob meu sinal e sello e
Luis CoRea CoeJho Secr° destes Reynos o fes digo e do sorGor o fes em 2 de set° 624. — fernao
de sousa G or Lu is CoRea Coelho.

P Esta bando encorreu Manoel fz. landroal e se executou neile no prezidio de Masangano
e por sahir do prezidio sendo praça de soldado de pagua e se hir p* os inimigos e por outra
muitas rezoés era 3 de Marso 626.
(Biblioteca da Ajuda, cód. 5i-vni-3o-3i , foi. i?o v/).

DOCUM ENTO N.* 74

REGIMENTO
Fernao de Sousa snor da Villa de govea, do conselho de sua magd* e capptm general dos
Reynos de Congo e Angola e suas Conquistas, etc. Faço saber a vos capp91i Mel dias que polia
grande confiança que de vos tenho e que fareis o serviço de ds e de elRey nosso sor. como se
de vos espera em matéria de tanta jmportancia p9 seu Real serviço, e bem comum deste Reyno,
/ ,

W '

Apàdice 523

he to p « ,«>*«.« b » dl JUmb» •»“ «ta«, t a», ^ bnsu &


C2 > ao<U, e o* eaeravo. e qu.nAr.u, e dmpmnu « K n , ^
0 mandado tansaf nesu craaoe ae wmFauBo da toud, «a
“5 vo.- nomeo por auditorC,dade
0C!1 4\ T . ! ^ Í1 totód* * «»p «,**. w « a * ru*
general p* fucder Esu „ ,„ M!
■ SrvMuob dot dííáupww.
10 Lodo auto. delta, p.«d«vdo o. e « n p * o, rw#t o * * * . , T,
e fa* -fleito os prenderdes na forma detLoResim-mn A^ *£ri*ro i'
a to « £ . nweri; o pede. ^ °’ ° ^ t a * v*m « n u »»■
re?aE porque tenho nomeado o capp- An? Gome, de Com por ««tae & 1
• . eonio eonTCme p‘ 1550Rectbw íuramento farei, , iqoen ‘ 1
seríl !v de justiça como de baeulamemo, o « L ? , le “ dt,,**ana
íSr‘apmCarrego a ambos p* que ,e fSf3 c o L w ? T , ? • * * * • * * '• ■ **
0 q; e no caderno que p> isso lhe entegwv “ ^ 6 “ ** * * ^ H * *-
collar, c n . c ■ W « nomeara o sota por teu nome e ■ p r o c *
donde íor’ e d j a hnmlnn ^ testcroUiliws« «us roacotw, declarando «spesw ^
So de A* em cada h 7 T qr " * * * * * « t e t e o mantanemo q * J S L
5 , 4f “' Z l t “ “ * r * “ i f U i™ p'« . • * ü «. “ Ü
Go«,>e pe 0 r? 4 . J 4 ttttws0>d« som que«tio fcjcubdei ii h i i t iReceUer,
0 qüea^uyPor . i L 3«tregar aos officials da fuenda de tua tóag*
E porq. ma" «senrar ncM^*°SbraQCOS* não «stircrem recolhidoi se podehlo apre-
seniai* nosprezi » , es»ou em^ das companhias de sohrewienws, suposTo q

p0lS mente se entendera nos brancos q. esti«! 1 7 aprKen,a7 " " « V * * * *


q; Evitem EIRey nosso s" por suas pagas. n0Spríad’01 °° "*
P Porem se vos rezistirem e se não Renderem, prendereis todos os q. o fceretn de qualquer
calidade e condtssao j se, o •^os maodarebpr«os ,o presidio mais veeinho, e se en^arlo
ao capp'“ delle,e me a? arcis das cuiPas» achardes delles de q. fareis autos p* 0s cantar na
forma dosbandos q- ^ * pegando, osprendereis jnda que seja com su, »one, coa o.
negros cativos ou forros procedereis athe os prender e meter Em übambos, edcUes f^ is auto,

t a2 s : z p : x z o> maodweisp‘ os cp* ^ “ ^


píos arimos q. nao estiverem mudados vos conformareis cõ o atenho mandado nos bandos
de q* levais a copia e aven o a gum q, não esteja mudadoj o fareis mudar p.1 pane das q. estio
apontadas, afastados os sovas, como he p* o bengo, coanza, quilunda, e junto dos prezidios,
e não se mudando ou Resistindo, os queimareis sem respeito a pessoa alguã, porq. tenho dado
tempo bastante, e cora as pessoas de Resp* se temComp «
O arimo de Iuis mendes de Vasconcelíos fareis mudar p‘ Guinbe e p> Manoel seu teodaüa
ira Carta dos provedores jm que lho mandã,
Com o dito tendalla fareis mocano sobre dou$ filhos q. tomou ao sova Bamba, dos quais
se chama hü Cassoba, e o outro he seu jrmão, por lhe faltar hum pouco de vinbo de hüa pe-
rolejra q- deixou nas terras do dito sova Bamba, q. lhe bebeo hum f* do sova Cacullo Cadoj, o
qual lhe entregou prezo de q. não lansou mSo por lhe parecer que estava nade Bamba mais
bem parado achando q. he assy lhefaieis restetuir os ditos seus dous filhos.
Aos sovas tendo alguâs queixas ouvireis nellas, E lhes fareis mocano e os conservarei* era
paz e justiça, sem por isso lhes levardes couza alguã, serdficandoos q. mando fazer todas esta*
delegencias pBque fiquem livres e desopremidos, sameando suas terras, e q. serão obrigados
a nao sofrer mais nellas, nem em suas banzas Brancos, escravos, nem quimbares, e q. jndo a
ellas me fação logo a saber por hum dos seus macotas.
Da mesma maneira jnteirareis os sovas da minha parte q. EIRey nosso s* é servido q.
elíes não pague mais direjto algum q. o seu baculamemo jnda que lhe seja pedido pelo g * oa
capitão de prezidio, como he futa, Loanda ou qualquer outra couza.
De cada hum delles sabereis o que lhe pedío o tendalla que foi a prender Irm* p* Catende,
e portodas as demais queixas q. tem delle q, constara por autos.
Feita a deltgencia vos recolhereis pollos prezidios, e vizitareis a cada hü delles em meu
nome, e cõ os seus capitaes comonicareis o de q. tiverem mais falta assy de armas e moniçoés,
como de soldados, e tudo o mais, fazendo de cada cousa particular lembrança p* prover nellas,
524 Angola
c avizar a sua M ag* como me manda cm meu Regimento c a mesma vezita fareis em cada
hua das Com p" de sobresellentcs, e q. praças estáo vagas nellas, e se ha pessoas Revoltozas
ou nos prezidios, q. se ajáo de mudar de hüs pa outros.
Tomareis particular jmformação se ha nos preziJtos pecados escandalosos q. se dcvâo Re­
mediar c sendo de moradores Cazados ou pessoas de Resp. me aVizareis em segredo, ese forem
de extravagantes os despidireis loguo em meu nome do prezidio, e cumprindo fazeremsse autos
disso, os fareis, e os prendereis e mandareis a esta Loanda a bom recado com soldados de
guarda á sua custa, pondo em segurança sua fazenda, tomando delta o que for necessário p* a
despeza, e isto mesmo de fara nos que prenderdes na jlamba, e entre os sovas, o q. tudo confio
q. fareis como se espera de voso bom procedim1* e da Comfiança q. em nome de sua Mag**
faço de Vos. Loanda 6 de Set9 624. fernao de souza Gor. Luis CoRea Coelho.
5
(Biblioteca da Ajuda, cód. i*vm* o- i , lômo JI, foi. 129 v.°J 3 3

DOCUMENTO N • 7S

R E G I S T O D E A L G U M A S C O N C E S S Õ E S D E T E R R E N O S E M

A N G O L A N O G O V Ê R N O D E F E R N Ã O D E S O U S A

f
(Publica-se na integra o diploma da prim eira concessão que se encontra registada. Os outros
são idênticos, tendo a mais as confrontações e variando na data).

Registo de Ant° de siqr* de quinhentas braças de terra craveira de sesmaria na paragem


ao longo de bengo.

FernSo de sousa sor da villa de govea do Cons° de sua Maga* gdoT e capitão geral dos Rejnos
de Congo e Angolla e suas conquistas, etc, faço saber aos q. esta minha provisão e carta ^ e
doassaõ de terras de sesmaria virem que tendo Resp0 ao que Ant° de siqa alega em sua petição
atras escrita, e conformandome com o capp0 i 3 de meu Regimt0 cuio theor de verbo ad ver-
bum he o seguinte: <[ Sabereis de todas as terras q. são dadas, e que ordem e q. poder unha
p* isso, e quê as pessuhe, e porq. sou informado q. forao dadas alguãs a pessoas pa edificarem
e o não tem feito, sendo passado o tpÕ em que o avião de fazer, e que estão devolutas o q. he
cauza de a povoação se não amplear e emnobresser, e achando alguãs terras desta calidade
provereis sobre eilas como vos paresser e as q. não tiverem donos repartireis peilas pessoas
benemeritas, com obrigação de as custivarê, e aproveitare dentro em sinco annos, e averem
confirmação minha, e não as aproveitando, ou não avendo minha confirmação as avereis por
vagas, e as podereis dar a outras pessoas com as mesmas condiçoens, e delias somente pagarão
dizimo a deos; Hey por bem de fazer merce ao dito Antonio de Sequeira em nome de sua
magífl de quinhentas braças de terra cravejras de sesmaria na paragem em q. declara, não es­
tando dadas por outra datta mais Antiga pa elle e seus descendentes q. apos elle vierem deste
dia pera sempre, p# as poder vender, trocar, alhear, e escambar, aforar, repartir, e fazer delias
com de cou2a sua propia que he com obrigação de as cultivar, e aproveitar, e aver confirmação
dei Rey nosso sor dentro em sinquo annos, sob penna de ficarem devolutas, as quais quinhentas
braças de terra de que lhe faço merçe em nome do ditto sor se medirão ao longo do Bengo,
por suas voltas athe se prefazerem, e hua legoa pera o certão. Com declaração que as serven­
tias, pastos, lenhas, e agoas ficarão livres, pello q. mando as justiças de sua Magde que hora
são e ao diante forem que lhas deixem ter e pessuhir, sem a isso se lhe por duvida, nem em­
bargo algum, e ao provedor da fazenda que com o escrivão do seu cargo lhe dee a posse delias,
e lhas mande medir, comfrontar, e demarcar, pello medidor da cidade, e que da ditta posse,
medissao, e comfrontaçoês lhe mande passar seu estromento nas costas desta asinado por elle,
e pellos offea e testemunhas q. se acharem presentes, que lhe ficara pa goarda e comservação de
seu direjto, e esta se registara no Io das doaçoêns, e no da Camara desta Cidade pa a todo o
tempo constar que lhe fiz merce das quinhentas braças de terra asima declaradas, dada em
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JO d o m a rc o de Agostinho tej** p« siai* miI
— »«rra eravfjria lonap> *3

Hetw d
d os »dres
e s oPaCS
m . de
a r ia 0»súo
p Joseph
0 ditto de sem deste
convento* braçasdia
depera
terratodo
no Rir, Bett^a, * m u
«ewpre. « , ltr;

cr&',eíf&*
net«deAnl°a pegovea de raaçedo de dureutas braças dc u rra tw> Rio

1 rnesm o —»si e Quinhentas brassas de terra no d ande.


.„ de te,
item do capitao diogo tejz^ da fODCetfâ .
Bengo, e -
?o, e hí3a legoa p* o certão.
' ^ .
v
.
úc Sl’ncoenta bra
, — wm» braças de t^ra ao longo do
■ tão Rero <*e S °vea *-e*líí duz4* braças de u rra ao longo do Rvo Bssgn.
tego aitem ACC
ô m ariajunto
P* 0a^ertão Camao
õescapttao
de semJoao do de
braças terra de sesmaria ao ,«
Couto. * . a*
longo
l£elíl
^
do Rio Bengo e b&
("«trado de m il e quinhentas braças de terra no Río D ande.

í
j h»fernão
rn de — »
da—m ota ..........
de sem braças de terra craveiras de sesmaria ao longo do bengo.

, B ento 0docom
Item n* quinta*
Jo3o de
do sento
Coutosmcoenta braças de terra cravejras de sesmaria «o
e Maria Camões.
Joog° áo y0

desta banda.
de dom ingos t-eal de quinhentas braças de terra craveiras de sesmaria no Rjo dande
de
P* súaa

terra craveira
Caterína Coelha dona viuva de graviel Roíz de Crasto de quinhentas braças
Item de sesmaria a longo do Rio dande, do ultimo marco de domiogos leal p*

Item de m og^ j
0 teixra da fonçeca de duzentas braças de terra na quílunda i~ -*=

t"

r
do padre cura domingos nunes paçanha d& seisçeatas braças de terra ca quüonda,

j de Antonío V az da Costa de noveçentas braças de terra de sesmaria na quiiucda-


I de H eitor HenrriquSz da gama de mil brassa de terra no dande.

j de D iogo tejxf‘ da fonçeca de mil e quíahentas brassas de terra no dande. ií


It m de L-ourenço tig00 de duzentas braças de terra ao longo do Rio bengo. i
Item de M anoel de mendonça de duzentas braças de terra no Bengo.
í
R io bengo.
Item de Joana mendes dona veuva de duzentas braças de terra de sesmaria ao longo do
:■ :\

t
Item de stmão fez de sem braças de terra pellas bejras do Rio bengo asima.

R io Item
bengo.
de diogo scrrão de duzentas braças de terra cravejras de sesmaria peilas Bejras do
'

_^y
5 i6 Angola
ítem de d u a rte mendef d o lívr* d e d u ze n ta s b r a ç a s de terra p e lla s b e jr a s d o R io B en go .

Item de domingos d e p a iv a d e tre zen tas b r a ç a s d e terra a o lo n g o d o R j o ben go,

lie m de M a n o e l d e m a d u re jra d e c o a tr o ç e n ta s b ra ç a s de terra n o B e n g o .

Jtem d e J060 d e t o v a r de m il b r a ç a s d e terra ao lo n g o d o R io dand e.

* ítem de M#> de souza tezido de mil e oitosentas braças de terra ao longo do Rio Bengo.

Jtem de P® Carrilho do avellar de seteçentas braças de terra ao longo do Rio Bengo.

Item de domingos suejro cardozo de quinhentas braças de terra ao longo do Rio Bengo.

Item do capitão A lvoro R o ii de souza de quatroçentas braças de terra no sede.

Item de L ç° de figueredo de trezentas braças de terra de sesmaria no secle.

Irem de M®1 barboza C ardozo de coatroçentas braças de terra ao longo do Ryo Bengo.

Item de M adanellt C ard oza de trezentas braças de terra ao longo do Rio bengo.

Item de L u ís su ejro de duzentas braças de terra em quadra.

Item de A n to a io dias pinhr® de duzentas e sessenta braças de terra no secle.

Item a o m esm o d e m il braças de terra ao longo do R io bengo.

Item d e A n d re C am ello e m arcos V ra de m il e quinhentas braças de terra ao lon go do


R io B engo.

Item d e M an oel daibernas de trezentas brassas de terra a o lon go do R io Bengo.

Item d e Joana m en d ez de q uatrosentas brassas de terra no secle.

Ite m d e d io g o tejxr* da fo n ç e c a d e d uzen tas b rassas de terra de sesm aria n o secle.

Ite m d e D u a rte m e n d e l dolivr* d e trezen ta s b rassas de terra de sesm aria n o secle.

Item d e C a terín a m en d ez de seresentas e vinte e sinco brassas de terra de sesmaria no


secle*

Item de femSo Roiz Lobo de duzentas brassas de terra no sequelle.

Item de Roque de são Miguel de sento sincoenta braças de terra de sesmaria no sequelle.

Item de joão Baptista Espínola de duzentas brassas de terra no sequelle.

Item de jzabek de fontes de trezentas e trinta e hGa brassas de terra no sequelle.

irem degregorio dalmeida de sem braças de terra pellas bejras do Rio Bengo asima.

Jtem de domingos de Carvalho e seu /rmão de mil braças de terra no bengo.

Jtem de hranA0de siuza de Carvalho de trezentas brassas de terra de sesmaria no Bengo.


Apêndice
dg*' dias ptnKejto d« quintwwua* btim»
5j 7
item
grt*
°e°- " cr*’ *s'“ 4»>Mw».
— *—a» mtr,
Wi k ■
P d e d o m in g o * ( t f * d e quinhstua* b ra ça » d * teTT,
V oten go da outra banda defronte da quiluod*. * * * * * * de ««a»**
do ,
_ de A-fooço mendcs de trezentas braça* <j* letT,
a<> ^ e u g o asima « P ~ suas voltas, *» » **„

de JoSo Camello, Roque Caraello,« ÀfQní.„ ~ ,


dí da ou,ra baada d° Rio beoK°- de •» b'M» te «m emtítw
dí S ltem de Barbo» da siWa d. — ,a5b ,^ * ^ ^ ^

' IM® de Paio darauio <Uz» de *U cWUs braças de ^ ^

I,em de Izabel dpl" ''* <*"****■ *<=«luuxhea,« SÍECOenw br4çu ^ ^ ^ ^

llem de * « * * de V ít o r » puito 4e t« KWU , ^ ^ ^ ^ dt ^ M


qu
Item de A n f Visente de Cento sincoenta bradas de tm a ie *

Item de ft“ R ° ‘>* dazavedo, e P» de so o « sowo **™*n*. 00 X tp^ Uí


terra no sequelle e r a v r - de sesmaria. * * T " <U« « « m m e ttncoenta brawas
d*
Item de P ero frz barboza de trezentas braeas d» . %
Y ÜÇ CT%«e)tas de &**
Item de Duarte R o ü dalmeida de çent0 cj. *“ *” * Q0 « ^ U e .
utcoenij brsça^ ^
Item de M anoel dias de duzentas braeas de 8 6 sestaaïia
. ** CTwejr*s de sestaatia no «*c\e.
Item de m an a A fo n ço da terra que tem « ; m
H em^manoseHU6ne>
Item de JoUo de tovar de duzentas braças de letta

Item de mel guoméz de seiscentas brassas de ses® « ia rvo sequeUe. %


. , r " a aaVe’ ra's 4e A m a ria no Bengo
Ite m de sim ao frz cruz de duzentas e corem, u 8
ê « t e n t a brassas de tetra crav™ de sesffi6-
Item de João fr z de sem brassas de terra r-r - ° Q w rt* ‘
erta «avenas de sesmatu.
Item de guaspar borges de madureira de mii , . ■ u i
maria no seqle. ®Ü6 * “ *««« brasas de ter,a crav~ de ses.

Item de bertolameu frz e alvaro João Rabelo de daí» * ■ Î


n° Sede- UI eS' ^ ~ W sas de tetra « a r »
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O:

V'
528 Angola
Ite m d e m-* datroza de sem brassas de terra no esteiro da quilunda.

item de A n « de rovar de duz*« Brasas de terra de sesmaria no esteiro da quilunda.

Item de pedro g ig o n de duzentas e sinquoenta brasas de terra no bemguo.

Item de a n « de gouvea de masedo de coatrosemtas e sasemta brasas de terra no secle.

^ ■*“ Jtem d o mesmo de duz1"* e sinquoenta brasas de terra no bemguo.

Item de an*® belo e m*1belo de míl brassas de terra no dande.

Item de P® Ir£ mocambo e Gaspar nunez de 3 zo brasas de terra no secie.

Item de baltezar cavalo da cunha de MU e setesemtas Brasas no dande.

Item do C ap p « Manoel castanho de duz*« brasas de terra crav»" no damde.

Irem de /oáo Vieira de hua leguoa de terra no damde.

Irem de am*° dias pinheiro de miJ e quinhentas brasas de terra.

Irem de Roque de são miguei de mil brasas de terra e mais hu pedaso.

Item de domiaguos dias Pinheiro de quinhentas brasas de terra.

Item de an*® Ribeiro Pim to de mil e qutnentas brasas de terra na coam za.

Irem de guaspar Borges de madure/ra de mil Brasas de terra na coam za.

Icem de yoan a mendes de Carvalho de mil brasas de terra ao longo da Coanza.

Item de d io g u o diaz m en d ez de hff pedaso de terra no benguo.

Ite m d o C a m p tío M artim Corrêa.

Irem d e M a rtim C o r rê a d e quinhemas brassas de terra ao longo da Coanza e duzentas


pouco m a is o u m e n o s n o s e d e .

I te m d e h u ã d o a s s ã o d e J o ã o d e Sarsuelía de mil brassas de terra ao longo do dande.

I te m d e h u ã d o a s s ã o d e fr eo m t} de 200 brasas de terra no Dande.

Irem d e m il braças de te rra íj se derao a Pero dolivejra morador em massangano no Rio


C o a n z a , e m te r r a s que partem peíla banda de sima com pero de carvalhas e pella de baixo são
despovoadas, e a g r e s te s d a banda da liamba, e pera o certao o que a medissao der lugar, a
qual se /ara d o n d e acaba a data do dito Pero de Carvalhais.

Item de duzentas braças de terra de comprido e de largo oitenta de sesmaria que se derão
a diogo R o i z soldado no prezidio de massangano, que se medirão emtre franco dolivr* e Ber-
tolameu Luís no mejo delles, e pelia terra dentro o que a medissao der lugar não peryudicando
a rresseíro, nem estando dadas por data mais antigua.

Item de me/a legoa de terra no Rio Coanza a françisco Lopez morador em Cacova, ao
longo da Coanza da ponta do enzelle pa sima em terras de Cacullo Cahango,- e pera 0 Certão-
Apêndice
dissáo der !og*f nío P ^ T ^ n d o * lerçdro um nusdo diii por dau a»« «*
»
o íue
lií*
p 0víz3° Para m#1^®ern^!^ detem to lötpß CmâZ*i* baai*
itctn dfi * começandodottde acabar t medíçiodefnacaco Upet par» w», * P*f*
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iplantando tniratira1 * ao Rio Oaaxa, t pero
d®(f0títe °ü Tmédisão
^ o qoe der lugarnío perjadkaado a traseiro,
Oseria
° s6f Pero sanches mow<lot tm ®ochm» de mil Brassas de t«r* iMl040* * Cwa* \
liero 4e j pWte pola banda desitnacomdomingos petú, * P°li* áti*iWtvf-
„arts'0“e Cer,So o que a mtdissão derlugar.
TU
dms>e Pêfa
Item de jviei* bonine de míl e qurahtmas brasas de terra de sesmaria em cwd« (iäcö ao
■ rI de masanBa n 0 3 0 ^oanza P* batio de fronte de qaíipopa $ se medirS^ ídse
Pfe f zem**1»e Pera 0 ^en*° ° ^ 2 mfiáiC4Sft ^ 1.... n'ão peryadíctndo
•' 1 a----
rerse/ra
se P
íje coaif0 5 ent^s braças de terra de sesmaria em coadra no RÄHiqui, 4 te medífio
^✓ ^jLrida donde acaba frati” de ratlto, e da outra gasptr da silva, athe se prefazefsm t
d ehüâ
pera o ^r n áo o quea medissão der lugar estando devolutas e não perjudkando a tmseifo.
Item de mil Braças de terra a Am* Vaz da Cc*osta na easaqaa, em quadra de sesmaria.
:Êm de
de mil itas braças
mil ee quinhentas
quinnemas Draças de de terra
terra c;
craveiras
craveiras de
de sesmaria ao I> f* m{p)on, na
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{BíbljoíecadaAjoáajCôd. 5j.rra.3o/i. Gorfreo tkFínáo 4*Scu*V

DOCUMENTON.»?6

M EM O R IA D O S MINISTROS ORDIN,IM E EXTRA ORDINÁRIOS


E M AIS OFFIÇIAIS Q. Ha NESTE REINO DE ANGOLA Q. SE
p R O V É PO R SUA MAGESTADE OU PELLOS GOUVERNADORES
D E S T E S R E YN O S DE SERVENTIA, EM DEFFEITO DOS PROVI­
DOS POR SUA MAG.“
Gouernador. e capitão geral, tem de ordeaado, dous mil cruzados pela (olha deste Revno,
pagos nos direitos dos escravos; tem mais de aposentadoria, quarenta mil rs pella folha, e
çemo e dez mil rs de aposentadoria, per provisão particular de sua Mag* pagos nos mesmos
direitos. Tem mais quatroçentos mil rs pella folha, para fazer merçes a veuvas de soldados
pobres, e a prezos e passoas que residem ua conquista, e a outros que lhe parecerem, pagos
nos mesmos direitos. r ’rD
O ouvidor g>i desre Reyno, tem de ordenado em cada hú Auao, duzentos mi! r? peüa
folha, pagos nos direitos dos escravos. Rendem as assinaturas da ouvidoria b5 Amo por ou­
tro, çem mil rs de panos, q. he o dinheyro da terra, que reduzidos a dinheiro de pma, valem
vinte míl rs.
Provedor da faz* de sua Mag* náo rem ordenado algum, e este cargo serve juntam1' o
ouvidor geral, em virtude de Ima Provisão de Sua Mag* passada pello conselho da faz* em
quinze março do anno de seisçentos e quinze, os próis e precalsos valerão em cada hS

à»
i■ \-
53o Angola
anno, sessenta mil rs d e p a n n o s , q u e h e o d in h e ir o d a terra, q u e red u z id o s a d in h e iro de p rata
r valerão doze mil rs.
Provedor d a s fa z e n d a s d o s d e fu n c r o s e a b s e n te s , n 5 o te m o r d e n a d o ç e r to d a f a r 1* d e S u a
M a g * e s o m e n t e te m a doas p o r ç e n t o d a s fa z e n d a s q u e se c o b r ã o , e c a r r e g S o so b re o th e so u -
retro> pertencentes a o s h e r d e ir o s a b s ,#» d a s p e s s o a s q u e m o r r e m s e m d e ix a r t e s ia m e n t e y r o s , o u
p r o c u r a d o r e s , c o n f o r m e a o R e g i m ‘" d e S u a M a g 4", q u e h u n s A n n o s p o r o u tr o s im p o r ta r a s in -
q u o e n ta mil reis de peças d ín d ia , q u e h e o u t r o d in h e ir o d a te r r a , e ç e m m il rs d e p a n o s q. re-
r d u z id o s a p r a t a 5S 0 s in q u o e n t a e d o u s m il r e is d e p r a ta . E sta o f fiç io s e r v e ta m b é m o o u v id o r
^ ■■■ v g e r a l p o r P r o v i z ã o d e S u a M a g 4" p a s s a d a peJJa mêza d a c o n s ç ie n ç ia , e m u it a s v e z e s a n d a p r o -
u t d o e m o u tr a s p e s s o a s .
Provedor das causas do már, o qual cargo servS os ouvidores, por virtude de seu Regi­
mento, não tem ordenado algum, e as assinaturas Renderão, huns Annos por outros, çem mil
rs. de panos, que he o dinheiro da terra, que Reduzidos a pratta valem vinte mil reis.
Juiz dos orfaôs, não tem ordenado algü, e hoje o serve o Ouvidor por bem de seu Regimto,
y m p o r ta o o s p ro s e precalsos e assinaturas, sessenta e seis mil rs. de peças dindia, que redu­
zidos a dinheiro de prata valem sinquoenta mil reis.
Sargento mdr deste Reyno, tem ordenado, em cada hü anno, oitenta mil rs. pagos em di-
r e ito s d e e s c r a v o s na feitoria, e não tem emolumentos.
Feitor da fazenda de sua Magda tem de ordenado, çento e vinte mil rs, pela folha pagos
em si mesmo nos d ir e to s dos escravos.
Im p ortã o o s despachos dos navios, q. vay dar a ilha, çento e oitenta mil rs. de panos
huns annos p o r outros, que reduzidos a dinheyro de prata valem trinta e seis mil rs.
Tem m ais tres peças de escravos, fo r r o s de direitos Resgatados com sua fazenda, da li­
berdade que sua M agd" ihe da em cada hum anno, que valem dezoito mil e seisçentos rs. de di­
reitos.
E scriv ão da feitoria, tem sessenta mil rs, de ordenado, pagos no rendtm1®dos direitos dos
escravos.
Tem m ais duas peças forras de direitos Resgatados com sua fazd* que valem os ditos di­
reitos, d oze m il e quatroçentos rs.
I m p o r ta r á o que leva das avenças dos navios que entrão neste porto, e despachos dos
que saem , trezentos e sessenta mil reis de panos, que reduzidos a p rata, conform e ao valor da
terra , v a le m s e t e n ta m il e quatro çentos reis.
T e m m a is d o a s e n ta m e n to d o l i v r o , a d e z reis de panos p o r cada peça, que hü anno por
o u tro im p o r ta r ã o ç e m m i l rS. d e p a n o s , que valem de p rata vinte mil reis.
I m p o r t a r ã o o s p r ó i s e p r e c a ls o s e e m o lu m e n t o s , trezentos m il rs. que reduzidos a dinheiro
p e l o v a lo r d a te r r a v a le m s e s e n ta m il rs. de p rata .
E s c r iv ã o d a fa z e n d a d e s u a M a g ** te m d e ord en ad o sesenta m il rs. pella folh a, pagos em
d ir e ito s n a fe ito r ia .
T e m m a is d u a s p e ç a s fo r r a s d e d i r e i t o s r e s g a ta d o s por sua fazenda, que sua Mag4®lhe
da d e liberdade, e quatrocentos reis de direitos.
q u e v a le m d o z e m il
duzentos mil rs. hum anno por outro, de panno que Redu­
Im p o r ta rã o o s e m u lu m e n to s ,
zidos a d i n h e i r o d e p r a t a , v a le m quarenta mil reis.
Dous guardas da feitoria tem cada hü de ordenado dezanove mil e duzentos rs. por Anno,
pagos na feitoria em direitos.
Importarão os emulumentos çem mil rs. de pannos a cada hü, que reduzidos a dinheyro
vaiem vinte m il rs. a cada hü.
Meirinho do mar não tem ordenado aigü.

Esta reíaçam e mem ória m e deu o Licenciado Dionisio Soares de Alvergaria ouvidor
gerai deste Reino jurada aos santos evangelhos a de como ma deu e eu approvei pera a mandar
a sua Magd0 na form a da instruçam do dito snõr assiney aquy com o dito ouvidor geral.
Loanda e A g o sto ( ilegível) . . .

N a capa: A vaíiaçam os officios do Reino de AngoIIa.


(Biblioteca da Ajuda, côd. 5i-vm*3o, íbis. 42a).
Apêndice 53í

DOCUMENTON.* 77
P F 7 N?A BFATlSr i r ESTAS QÜE A RESIDEN’ÇlA *>E ANGOLIA
jC A Ç A 0 D O B E A T O P A D R E F R A N » D E X A V IE R
D A C O M P A N H IA de jezu s

Aos n de julho de mil e seis


beaio padre fran» de Xavier a aua! CCW°S * T*nte l'vtmoJ nol'c>* d* t*a«fic*{íí da sos»-
de fora, asi relegiosos, e edeeiastíc 60 BÍ° !Ó***nom comP!mh“ ’ VM '«a**21 *=» °*
e conhecido fez Deus este saneio em’ C O m o cansou notável alegria: tw boa
festejado como podia ser emqual” ” ° mMdo’ íue a,e oesw *,ioP'* occ,’ifllU, h ‘ 11=1
exemplos de vertudes, milagres ^ qae eUe hflorrout 4 sint,fi:ou ccm lt,J1 r*rr”
razão de se alegrarem’comesta be -r0 -^ 6 aindâ que lodoa os d* com?*ohi* ,w> Kuu
com manifestos perigos de vida f3°’ conuudo os mesionarios que atrwttão o» naze*
com seus olhos acreditadas suas mas mL!!?
ml T * salvaç5°
5al?aç5° das alffls!>
atea!’ a4 len
ICT p*ni«u]*r,
Parücuíar>pois
P°* rea
Tea
do nosso ..... v
do nosso B. patriarcha sancto « J b T ahaU,ído Mnct0’ *#,do 0 ? " !u*,f <**»“
,O®naf
S a
l0tI«no:.-hvro e. lista dos saoctos de nossa compaahi*
*
de
jezus, ficando comisto obrigados a o imitar, e estimar tamgloriozas unprezas.
a

Tamo que soubemos a nova da beatificaçãopareseu ao padre soperior e mais padres que
no mesmo dia se festejasemtamalegres novas conforme a possibilidade da terra guardando o
mais do resto para o seu día. Ordenou o padre superior que fossemdons padres a pedir ao*
senhores dos navios que mandassemdisparar a artelharia, e avttar aos prinçipais da cidide da
nova da beatificação do B. P. fran»de Xavier pera que eiles nos ajudasem a ÍMicjar, c dar
mostras de alegria. O mais que se aventajou nesta matéria foi o governador Lnis Mendes de í |
■ ■ !*'
Vasconselos, porque tanto q, soube da novamaadouahudosmoradores que sedisparas« toda 1
a artelharia das fortalezas, e navios, e se arvorassemrodas as bandeiras, mandando avizar
nossos que da sua parte estava prestes pera festajar o sancto, e logo depois das ave marias
dado o repique de sinos no nosso colégio, e seguindosse a dasoutras igreías mandou q de­
pendurar das janellas de sua caza e varanda mnitas luminárias aparesendo no meimo tempo
toda a cidade e navios ardendo em fogos de varias laminarias, o que cauzava bua aprazivel
vista particular mente o mosteiro dos religiozcs de S. Fran» e o nosso coíegio, que aí«® de
lumináriasdeque estava sercado, ardia emfogos, de alcatrão quedurougrandeparte danoyte:
Em todo este tempo soava a artelharia das fortalezas, e navios e camaras, que em diversas
partes da cidade estavão postas. Os estudantes tambê se derao por obrigados a festajar o
santo, deitandomt<JÍfoguetes, ebuscapésque tinhaoguardadopera abesporadesancto igaaiÇio,
achando que o sancto como pai os daria por bemempregados na festa do filho, a quem em
vida tivera particular afeíçao, e amor por suas eiojcas vertudes. Esta íoi 0 demonstração que
vemos no mesmo dia que chegou a nova, e logo tomado 0salio delonge coraessou a preparar
0 necessário pera a festa do dia, visto a terra ser falta do necessário pera semelhantes festas;
e no primeiro lugar se tratou de fazer huã bandeira e retrato do sancto, e outras pinturas pera
0q. ajudou mt0aver na terra umemsignepintor, que 0gífl(Luts Mendes de vas conselos trouxe
emsua companhia quandovejo do Reinoe sempre 0 teve emsua sasa; e porque primeiro avia
de sirvir a bandeira que 0retrato mandou 0 tf* que logo se foese a bandeira com as armas
da nossa companhia e sanctissimo nome de Jezus, sercado por todas as quatro partes de vanos
romanos, a qual bandeira se arvorou com toda a solennidade aos vinte sete -de setembro,
mandando 0tf* que se ajumasemtodas as companhias da terra em huã grande prassa que
esta entre as suas cazas, e 0nosso colégio, dando cada huã mostras de seubrio, esforso, gas­ ?-
tando esta tarde emalegria, revezandosse 0disparar dos arcabuzes, e mosquetes^com 0 som
de sinquo ternos de charamellas, que emdiversas panes competião, e susedião buas as outras.
Arvorada a bandeira comtoda esta solenidade mandou 0g** com a mesma pregar ao pe do
mastro hú quartel emlouvor do sancto, muito bemcomposto comgrande eloquençia de paia-

i
532 Angola
inn*, ^nimamdo e com vidando aos p oetas com vários prêm ios aos lou vores dos and* e em
suma com tinha o segu in te:

A quem fizer m ilhor ca n çã o na lingua portugueza sobre a m orte d o B* fran** de xavier


tera por prim eiro prem io hua pessa dindias (que na terra s i o aa mil rs.) O segundo premio
huãs m eas de seda com ligas,
A quem g lo za r m ilhor o m ote segu in te:

El sol qae r^iplandecienía


vos dá luz fran« t ves
no iguala, qnela de dios
Devastes al mismo oriente

P o r p rim eiro prem io hu m oleque (que na terra he m oeda de 18 mil rs.) O segundo premio
huãs m eas de seda.
A o que m ilhor fizer hu soneto sobre qual quer m ilagre do sanei0, ou sobre alguã das suas
vertudes tera p or prim '0 prem io hfi moleque, o segundo huãs meas de seda, com a poblicaçSo
do quartel.

C resceu o anim o e espirito p oético aos poetas que não erão poucos, e todos com esperansas
de alcansar os premiq^; antes de chegar o dia do sancto se tratou da ordem que era bem ou-
vesse na divtzão, e destribuíção do que estava aparelhado, de m odo que durasem as festas por
todo o oitavario (com o duraram ) e asím irei dizendo por ordem o que se fez em cada hu dos
dias.
A in d a que o estilo desta cidade he fazeremse as procissões no proprio dia do sancto polia
m anhãa com tudo p areceo m ilhor e mais acom odado, que a procissão se fizesse na vespera polia
m anhãa (na tarde não é posivel por rezão das ordinárias virações que nesta terra fc o stu n ta o f)
a correr depois do m ejo d ia e com tanta vehemencía que não poderíam as figuras andar, nem
fallar, alem de m uito pô que alevantão, tanto que as vezes he neseçario hir andando com os
olhos fechados; e asim bastante cauza havia pera se não fazer na vespera do sancto a tarde)
nem tam bém cotnvinha fazerse o dia do sancto polia manhãa porque a jenie principal queria
ver a procissão e vendoa não podia hir tom ar lugar pera a pregação, e a ísto se acresenta que
co m o a procissão avia de gastar muito tempo, não ficava bastante pera a missa cantada c
p regação, e fa z e a d o s e na manhãa da vespora do sancto seevitavâo todos estes inconvenientes;
e asim a vespora do sancto polia m anhãa se gastou com a procissão (que foi a milhor que ate
agora se fez nesta cidade da loanda) asim polia muita variedade de danças com o pellos carros
treum phantes numqua vistos nestas partes.
S ah io a p rocissão da Egreia m atriz desta cidade ate ao nosso colégio mandando a camara
arm ar, e com sertar as ruas, e cam inhos prom etendo por premio a quem m ilhor arm ar; vinte
cruzados, estavão as ruas de huã e outra parte ainda na parajem em que não avia cazas muito
bem arm adas e o chão cuberto de m ateba que responde a espadana de portugal e com o esta
cidade careser de fresqura de arvores neste dia não faltou polias ruas, estando em alguãs pa-
rajes arvores cubertas de flores da arte q. pudíão com petir com as da natureza, davão prencipio
a proçissão tres gigantes com seu paj c o m o se costum a fazer em Lisboa, e derão muita matéria
de alegria a todos e espanto aos negros, os quaes dizião que a casta daquelles, não vinha a
A n golia porque não cabião nas naos. A altura de corpo destes gigantes passava de vinta sínquo
palm os, bem vestidos, e trajados, e c o m serem b r a n c o s o paj hera negro anão de tres palmos
que se apanhou na guerra de Dongo, levava hus empreias fs ic j e roupeta de veludo vermelho,
m as de ceda, e sapatos branquos, e hua gorra na cabessa de veludo de varias cores, tudo muito
pera ver e m uito m ais quando ralhava com seus filhos e falando com eües lhes dezia mil do­
naires; apos os gigantes se seguia huã dansa dos crioulos de samtome que na ligeireza de
dansar vensião as m ais e com elles hia o seu rej diante do qual dezião suas arengas conforme
seu costum e, seguiasse logo as confrarias desta cidade que são as seguintes: A confraria de
sancta luzia, a d e sa n cta m aria m adanella, o corpo sancto, a de sao joseph, a das almas, sameto
antonio, nossa senhora do rozario, nossa senhora da conceição, a do sanctissimo sacramento,
todas com suas insignias; logo se seguia huã nao que reprezentava a em q. o sancto se em-
a p ê n d ice

cífados na arte de < W , e depoU ■ do, prÍ!Ki a h _ -•> h-» *** t -,


As demais dansas que w _ ' v»«s owdft,,, L |o, n< «■ »*,
proçissão, e para mdo se ent«2r ^ nta3<®«i a t m tr„ T ’ u i> ^ .
l ú carro treumphante, treump}í3 . nuf or »»emas proWoo,W5^ “ 'íi T* ^ c, • ,
laváo Europa, índia, íapão e í h i n í í mundo, diab^Tc,^ S írw" A *»"-*'A
obrar grandes maravilhas. ;J(0 p ‘ neptt«>° rej do, * * * fw eire fír:,
hia o sancro, e depois d.-screveS/f]0pint,tre'w r i w T T ° ™ ' tx *
P . fra n ‘" de MV,ef d« « o muitos h l * nfptUaa>ó^ J r l\ Z ~ 2 * * "# » * • **
nunca virão míihor, nem tamb oi i'?* ,Uí *"*«* corrido « » h o bn:»
que com elles passavão de rri„l^ l *h d=«>«#£,21 ? "*» *- ,
-trt: 1
do sancto; este segundo Sobrado *°*»*<> degrao» , B outfo 1 ? í f*ic° t â
finas untas hornadas ao redor de tela .ffado P°r ambas as nart« 2 r C<
varandas seguiáo se de cada parte t ^ co®Uvofs de nrata rf* p3ííJls *
.'„„dos com filas fia «fi, “ “ « « P ta ^ !“ fe *
carro fira outro arquo ireumohal !res CD&«!u K. fi» , JtóWl t X T n p t d n . i
dependurados m1” cadeas de ouro 0, “ as do owwao /cííía a * C* i *:aííír*
i u " '- ™ * • » ., » ï r r “°• s s r r *
i
ouro, os lados do carro estavão armados 1 1 “ e »re cubertas de
catei hera vermelho, e amarelo de graem,1 ? ítei e cort« fioos deteilt >. *
pesa de borcate! socedia hu corte, ficando x Z 7 n °s cor!es ««». de u l no do ^ t c a z ü
parte destes lados m o lua resido comvarioTo” « " W . 4» * * * ! * « £
durados, en me,o dei es comproporção duas « r l l '“ “ cres?4dos ' outros depta-
la0res tinhao particular graça, e magestade o l * ^ de iadi Pvle * comc T l
que também lhe sahiao polias bocas, dos pes de5. f COmfolantó de varias cores, e ojtr«
de damasquos azul, sahia o quartáo da proa o v tV'ã" * esIn'bav5° ea>h5 m cubeno
brado do carro, em fegura de meyo S poüa 1, aado?°iio & nnfa» ficar ca aífura do jo-
vermelhos, e pelia parte exterior de tella verde* o e.emíefí0r 051374 de c o m âcíciU
m asqno azul guarnecido polias bordas com vo!an d°5 qU2fí°S de hiïa e 0ütra P*04 de d i'
matavão em forma de meyos esesTao alr0 « ffle(*0 j * emcresP^os q- no arco do quartáo arre*
quartáo da popa bera a maneira de hff perfeito S T qUarl2° esiava hõ âní° * o v
melho de apreztVeis lavores, poüa parte de dent â parte de fora ouberto de boreateí ver-
passamanes mui largos de ourosobre aztii. nh« ü ..:J® “ *® amarello, todo quarteadci de
deste quartão heráo de sitim azul guarnecido * 'T l ^ fiCar deifaS d° saocra 7303
que o quartão de proa. detras e s u S ^ t í ^ i r T ’ *^* d° fó,i° 4 °b«
lançavão volantes verdes dos quais hSs ficavão deoenrt ' a * W ^ Srasdts' ^ue pollêS b o c u
tresechados com os brancos do sobrado e Z e Z õ í ’ ^ CT’
cada hui por seu canto; as quais s o s m a v h hff ínaoguüo do e^hra
arcos: no meyo deste tnamgullo estava o saacnssúno nome de Jesus, * modo que se v!a
dambas as partes atravessado com hâ rotollo quedesia .Vas electioms est miri is.e ut porter
nomen meum coram gennbus, et regibus. Ait q a n «5.. sahia este rotolo das maos de dois
anjos de vulto que estaváo sobre duas colunas; sobre o triangulio estava hff globo que repre­
sentava o mundo com a letra que Juvenal deu a alexander acomodada ao sancto-«Xaverio
non sufficit unus» dava a emtender que rodo o mundo era piqueno pera os espíritos do B-
franeo de Xavier como se cenra emsua vida, t m grande era o zêfo que ünha de doutrinar e
cultivar. Sobre este globo estava o soí com outra íetra que diria: «Alter oriemis Xaverius*—
mostrava q. o beato fran” de xavier era outro soí do oriente..... ainda q. roda a obra deste
carro treumphante tinha m10que ver não menos tinhão os olhos em que se ocupar na imagem
•do sancto de vulto, obra mui perfeita e acabada, asímna escultura como na pintura, teria de

«2
534 Angola
altar* ooto palmos, a postura era a ordinária como se costuma pintar o B fran°* de xavier
com os olhos pregados no çeo, e as maÕs nos peitos alevantando a loba sinal das abrazadas
emchemes dos gostos do ceo de q, gozava a alma e coração; na cabessa levava hü resplendor
de prata dourada, a loba de gorgorão toda cuberta de lavores de cadeas de ouro, diamantes,
rubis, esmeraldas, pérolas finas, brinquos de ouro, que sc ouvese tudo de avaliar não tivera
presso; e sobre tudo hera pera ver a ordem, e trasa com q. tudo estava traçado e comsertado;
o trono do saneio hia cuberto de tella verde; aos pés hfi seraphimdc vulto; dentro deste carro
bião os quatro anjos custodios de europa, india, japâo e china, mui bons muzicos e tangedo-
res; os quais todos hiâo descantando com violão e rabequínha, e cantando os tríumphos do B.
íran*9 de xavier, e mtfl que fizera nestas partes; todos riquamente vestidos; o anjo da Europa
levava na cabessa hua capetla de flores de seda, e ouro tesida sobre huã cabeleira emtransada
toda em fios de finas pérolas, emgastadas em ouro, sercandolhe todo o peito, e costas, vestia
huã vasquinha de sitim carmezim, golpeado sobre tella branqua, tomados os golpes com cano-
liíhos de ouro, de groçura de hü dedo, toda bordade de ou ro; em síma hü roupão de veludo
verde, e amarello cuberto de rrendas de ouro tomado com hü sendal de tafeta carmezim em-
rolado com hü riquo colar de ouro; hü gibão de tabe, com volta, e punhos de fio dourado.
Semelhante hera o trajo dos mais anjos, ainda que diferentes no ornato, e variedade de pessas
de ouro, de pedras Preciozas, grãos de aljôfar, e cor de vestidos; abaixo destes anjos estavao
quatro vertudes fee, sperança, caridade, culto divino, em que o sancro se esmerou: a feelevava
na cabessa huã grinalda de pérolas, no mejo huã cruz de ouro cuberta de diamantes, hü vestido
de tella branca e azul; ao pescosso hü colar de ouro no qual esta dependurada huã serca e
ouro, hornada com vários brincos de ouro, e muitas esmeraldas, na mão hfí christo muito de­
voto, e fallando com o sancto dizia.

Com iasto contentamento Justa mente deria


tos selebra a terra étanto conhesendo o bem q. medra
que novo tendes por sancto que de cor&çons de pedra
prémio de merecimento fazeis terra lavradia

farei conta q. vos dá Nao só o vosso lavor


as premíssias de maneira deu colheita tSo devioa
que agradesse a simenteria mas inda a vossa doutrina
que nella fizeste já em maos dc outro lavrador

pois na mais coita parte Desorte que dizer posso


por vos fran«® se ve que em voz me redefiquei
o)e a sementz da fee por que nova pedra achej
e a abundancia q. reparte o grande spirlto vosso.

A esperança levava grinalda douro, e prata, vestida de velludo verde lavrado, cuberto de
passamanes de ouro, hornado de mI0B brincos de ouro, e finas perollas, louvando ao sanctn
com os versos seguintes

Se da fee fostes coluna Tomando por exemplar


não menos em vos se alcança o fruito que em vos tem visto
ser simbollo da esperança que de vosso mestre christo
na pena mais importuna aprendeste a emsinar

pois polia q em dês tivestes A s que o profeta dezeja


animando o sofrimeuto compridas pidia
fazer em vos fundamento alem nelle
soa fgrecía meresestes e em vos m«> sua igreja

e como as vertudes gérem Naçendo d o s q. a seu grémio


sempre semelhante effeito se quizerao recolher
Vossa esperauça tem ffeíto foe pera sabellas crer
que muitos em dês esperem e esperança pera o prémio

A caridade levava na cabessa hü toucado de ouro, do qual estavao dependurados muitos


brinquos de ouro, e de finas pérolas, o vestido de sitim verm elho guarnecido com passamanes-
y

Apêndice 535
hüPbSo* t<Ui;.h ?í0!ír * ^ 80P««uo, e0 1 tap» .‘os cr .*.
dcjJv0
'ríSquí aoíancíodem«o os«gnini* *

Quanto Ineitlourí! kjt


da cturiiaic o n b r azamaáirtet
«* ?«i U** vm * txit
ocyxáiHottSenpio?
aos d«lpttÍo»n»dj» k fart*qw«str»
ferpftpri* afete*
3
Poi* peta « flapregaieo
An«n^ ten io**;<*
oaiexcelenjfuqtem
com o» ítiíai^oi (irnboB k j*i pftiM$e dtjtfíiâe
lb« roiodoo que deita otuieo} qwsíoBtter ia «Air i5U»
<áesutmer o«sw
At jeraaUrcftudeíuç
de amor píedozo* efeitos PeníOtftíortaí "-:íí
q emelina os amantes peitos Urfsf&mcmtoi*: batniiM
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ro, vestido desitia verde,t idik?a
cUbert° ^e/a f.af m n2 n J°’ .l0PfS C0
B®'w*yahu ãgrandea d a de oa/o, ta $;*’ há
dependura a u ^ q no, a emd eseten
tapessas deou ro< j tn
£orepirtid» *í * í
vestido- 0 8 * » era desetIm« o todoborl.dodeouro, ,o meto* * . poáá*
gUÍPte Ko defino zeUonosso
com q a Déaatou buscastes Dnossou lb u e o d #
que bd de Eitos iguaJast« nasalmasfogo ie «oof
justa mentedizer posso dequefostes zetíiAw
qnebe Umbeofogoio^
que seentre ambos os sogelüs
são àc exceieosiuiguais Seda eitertbdade der*
não t&enosvos igualais Urrou a tocrt&li i«u
nos milagrozosefeitos xwlevaste to oriente
av«dadeir*fxmiri
Se por seu zeiio alcançou
trazer a seu sscraficio Asaiquepoiso dizer
o fogodo çeo propisio qoenasnosiu alegras
comqut o poro alumiou briv&o ootíMdota«fita
emtipüstâtiSTifT.

Estas são as figuras que hião dentro do carro A« « „ * ,


„ T i.pío, * , Eurapi I™ , * „ Z S T J S Í
*•> " , 'f ™ í T “ “ “ “ «*■ c » K »«.d, e , . m t * . d.
ta T ,° T r - q Cahi5° sobre 85« * i >oda«ta banda polia parte
5 respondia á cabessahia cuberta de vanas pessas de ouro entreseebadas com fbTrubis, e
esmeraldas, e no me,o hu diamante de m* preço polia parte q. cabia sobre as costas, cuberros
com vinte cadeas de ouro mandas; por sima das pessas de ouro, e pedras preciom q. levar*
na testa h.ao mais duas ordesde pessas de ouro, efinaspérolasasentadas sobrefitas dediversas
cores, sobre estas duas hordes estavao mais outenta pessas de ouro, a maneira de concoft
com seus remates de pérolas no mmate do turbante levava huã safira muito grande, emgas-
tada em ouro q servia de calvano de hui eme de ouro, toda cuberta de pérolas finas, lema
hua vasquinha de damasco carmeeim toda cuberta de passamanes de ouro a. lhe dava polia
canella do_pee; por sima hua opa de veludo verde toda bordada de ouro-
0 gibao de relia de ouro, sinjido comhu colar de ouro; ao pescosso levava huâ cadea de
quinze voltas, com hu reliquano; atravessavalhe o peito hú colar de ouro, do qual levava de­
pendurado hu tresado dourado, as meas heráo de seda vermalha, sapatos branqiios, brincados
com fio de ouro, e prata e graos de aljôfar, e tanto que as vertudes acabavão de fatiar com o
sancto comessava europa a dizer:

Seearopaterepornome Quemmiísq. ogrãoXivier


Maydospeitos veesedores Bezistiaadonguerra
ojetítulos majores quelhefizeráooatem
bemaisiisitoq. tome poistambémsoubevenser
536 Angola
Porque %t dtmoi a ptlraa Vendose emgrandesida
a qui vence o enlmlgo enropa com louvor unro
quai he de mr)or prrlgo pera festejar o sancto
q, o da» proplas ptxoli daims a todo o m undo convida
F se o grande venscdor Oferece Ado o tczooro
desta curopa cmjendroo de Vosso vclor devlno
quanto mais dcnlficoo decde o grão lo c o r b m tin o (?)
deste nome o mor louvor ao hercullo calpe mouro.
E pera m a is festeja r o sa n cto m andou sahir huã d an ça vestid a de tra jo de europa, que
p o r ser de m ininos de sete, e sin co annos tinha p a rticu la r g ra ça . A india levava na cabessa
hua trurnfa de ta fe ta a m a rello , b ra n co , e verm elho, ce rca d o pello pee co m huã banda de tafeta
a m a rello , co m p on tas de o u ro , o pe da trurnfa hia todo tesido co m graõs de a ljô fa r, e granadas
finas, em g a sta d a s em o u ro ; huã jo y a com des diam antes finos, e m ais asim a hü p elican o d ou ro,
n o p e ito hfi fino ro b i; sob re o pelicano ficava huã ballea de ouro, e sobre ella neptuno com
seu tridente na m ão direita, e na esquerda em lu g ar de borqu el huã esm eralda fina; toda esta
b a lle a h ia serca d a de finas esm eraldas que serviam em lu g ar de m a r; levava neptuno a b allea
em freada com cad eas d e ouro entresechadas em finas esm eraldas, e polia parte em q. neptuno
levava a cad ea estava em castada huã fina pérola, rem atavasse a trurnfa com hü relicário de
o u ro , e huã p era de am bar cu b en a de ouro la v ra d o ; no m ais corp o da trurnfa estavão quatro
relicá rio s de o u ro , em ^propoçao sercados com cento, e d e s co raço ã s de ou ro todos esm altados
e hornados com varias pedras presiozas com m uitas pérolas, e g r a o s finos de aljôfar. O m otivo
era hü vaqu eiro de tella roxo todo borlado de ouro, e por sima hua opa de setim emcarnado*
toda b orlad a de o u r o ; hü jib ão de tella branca fixa hua espada de prata sobre dourada; no
p esco ço levava hü c o la r de a toch ar, rechiado de am bar sercado to d o a o redor de finas esm e­
rald as, ab aixo estavão tres co la res de ouro repartidos em vários lavores, e falando com o sancto
d iz ia :
Inda q. o sol no oriente Quando do rej juzitano
dava a costumada luz com o q. dês lhe espirava
faltando a do q. na cruz dcscubrir detriminava
a deu a mais çega gente o novo mundo indiano
En treva escara vivia Nao sem divino mistério
ate q. o grão xavier de em navarra luminaria
fez nelle resplandeser que da luz mais necessária
a que de dês recebia adorne seu emispherio
Quando do chaus dês tiroa Esta sois v a r io d evin o
a form a do mundo varia a Cujo serviço entrega
huã, e outra luminaria tudo quanto o indo rega
pera darJhes luz criou se de s e r v ir v o s he d ign o .

E á im ita çã o de eu ropa apresentou ao sancto huã dansa de bugios m10 ao natural que ao
som e pancada da v io la fazião todos os meneos e esgares que custum ão. Seguiasse logo o
japan, o qual tinha na cabessa huã trurnfa de cam po azu l, com alguas rozas cubertas de pontas
de ouro, e outras de volan tes brancos de vários lavo res, a que davão g ra ça suas fitas em ear-
nadas q. p o r dentro d o vo lan te p a re c iã o ; na diam teira levava hü cru cifixo de ouro, de mejo
palm o todo esm altad o, e p or ca lva rio d ezo ito díam am tes finos, e p o r ro to lo da cruz hü dia­
m ante fino, ficava o cru cifixo dentro de hu circu lo de aneis; seguião se logo p ollo mais corpo
da trurnfa v á rio s la v o re s de p érolas en tresechadas com sete esm araldas, e sete diam antes, le­
va v a huã m a rlo ta de setim azul, to d a b orlad a de o u ro , as ca lça s de borcatel am arelo, com
lavores b ran cos, e ro x o s ; S u a oppa de tella fina, com m u itos passam anes de ouro e gibão de
tela de o u ro , m eas de seda am arellas, os sap atos de veludo verde, todos cu b ertos de ouro, o
p eito levava tecid o com m uitas cad eas e c o la re s de o u ro , na ilharga hü treçad o de p rata com
bainha de veludo verde cu b erto de lavores de prata, de pendurado de huã banda de prata, e
d izia os versos seguintes :

Gozar de barbaro império Em barbara monarchia


como pompa tranzltoria gozava o japao remoto
inda q. naterra he gloria emquanto o poder ignoto
para o c è o he vitoperio de christo não conhesia
p i

Apêndice

5 j '7
«o oroorul
<íoeo corpode&ktfe
OMpiriloJCKúWttí iïtt <3***. fíw*

^ * ^ ' 84'‘f’vsí*
^*HoAf
*M<*« itrot de ®**4í**u **

** ****« (*,
.a r * - *
■ " - S i* ,
OfFerecia por remate huã dansa ^ •
sancto padre fran" de «vier receberão®““ 05 b < * em aa,,á. ■
verde m : tomada com hú volafl!e !em , •* « w *
de ouro de me,o palmo, em lugar* ,° íy a ^ lavo«, M * , * “ CUt< ' «•! «'-are {
cheia de ambar; seguiáo se logo !res ^ huí ^ JJJJJ «<*•!* o * * »
todo ma.5 corpo da trumfa eslava ^ t °Wo P«'« OT
com trmiarubis, 1res rel.canos deouro Se" B ,an°! hw « * i
de ouro a modo de esferas; seis aneis C0“ P" 8Sd^n,bar Orb-rL * J T ’ tn'?tMíbí^
our0, tudo com muna hordeme comser.o f * 5“ “ »‘ Was; á ^ T ' ‘T * 6“ * ’“ *
Iodo borlado de ouro, e huã opa depaJ ’J m n ^ ^ m h i T ' 2 * * * * * *
verde mar, a espada pratiada, o pei,0 Cühf ° s c ,avor« íhioa “ Mft«ol«rKo.
oferecendo ao sancto o império da china comÍ yIrf S ^ ta / Í I d ^ J f
c , crsos Mguintei
Se o soí noespelhoferiadae
tátoretorot
comqDCBeocomomo^
dobradaluz repartindo
f ' nan*'hm inmmi<,
Como aÍndia ventmia
de fran»espelhohatido í
qaeqaalsoldedêsaacldo wdeosliuôtçf^
ihe deuJu2raíraculoia A d e q u e recebi*
“ ^woidkq.iei,
Eajos tamresplandeífutes
desteespelhorezalurão f .*TOi tol rio cwii^iSc
que os chinas alumiarão
jnda qoe do sol auzentes a<J0eifetoujiJtjtei beiu
«qnttmprtrsuj,,^
tàaairaiifflsintoí,*
avoss° coitooftnao,
quantosrejnnjih5obdestm
4Tl0T«w resplendor

A dança da china tinha muito que ver, porque d


de varias cores, comborqueis, e masas esgremiáoen 7;t m0nBtIJos Sllveslfts vestida de peiles
p ,d„ f , ..- d. ..,i.r <ta» „ J Z T m S F * “ * * EW ~ »
(„d o . loti. doo .««.o,, . , , . pol,Je,
destas quatro figuras puxando tambémpello carro em sima deT" k *gr‘ d',1<io 108 4,11116
com grande artefisio; da cabessa ao rabo tinba 1 Z Z 0\ Z , ' T e
sostentava hú tabernáculo de dezoito palmos de compridoen’ove delgao; / r ^ / X a
pello ar, e v.nha dar com hua espadana sobre a cadeira de neptuno, m l
ttda com suas coarta«, cuberta de vanas sedas que dezião com a cor do mar c S de
passamanes, e pontas de ouro entresechadas alguãs comconchas, todo este .reato hia c/cado
ao redor, epor sima de arcos triumfais, cubertos de volantes de ouro, e prata emerespados, e
tomados com fitas de diversas cores; dos quaeshião dependuradosmuitos ramalhetes defiores*
no principio deste teatro estava neptuno comseutridentevestido de ieltaverde comhu roupSo
de felça, verde, branca e vermelha, que podia sirvir de o emparar das frias agoas do mar; a

v
538 Angola
neptuno ^companhavao quatro sereas com seus estromentos músicos descante o qual acabado
davlo suave nuzzica ao sancto ao mandado de nepiuno, o qual sahia a campo dançando estre-
madamcnte quanto se podia dezcjar de hG mestre desta faculdade, e ás vezes dançava com as
sereas, acabada esta dança mandava neptuno aos pexes que sahisem ao campo pera também
festejarem o sancto, e obedecendo os pexes deitava oballea polia boca huã dança de des pexes
que ao descante de sereas dançava muito bem; acabada a dança se tornavão a recolher pella
boca da baüea; finalmente oferesiase neptuno ao serviço do sancto com os versos seguintes:

F.u que do mar insolente em minha morada fria


me coube o Império absoluto porque vendose armonU
q. fax a guerra ao reino euzuio os sentidos mcrcgalem
combatendo ciemaroentc c o mar prozeloso calem
venho abater meu tridente quando com ventos prefia
Lauros, glaucos
A vos fran*0 sagrado
por que meu reino sagrado e com azuladas toucas
vossa luz comunicastes dentre cristalinas rocas
quanto mais dose o tomastes a festejar vos virão
que fonte em verdoso prado e o trombeteiro tritão
fara som tão estupendo
q. trema o inferno horrendo
Ouro, prata, e pedras finas na prezente ocazláo.
q. pera ornar minhas urnas
teoho em secretas fumas As balças desumanas,
mais que arabla em suas minas e espadartes violentos
a vossas plantas divinas rasgando mares e ventos
offereço Inda que ellas com rompentes barbatanas
sobre pérolas mais bellas nestas festas soberanas
gozfio de maior tezouro também vos oferecera*
pois q. em vez de pizar ouro
estão pisando cstellas.
Porque em minha moradia
não vejo couza desetne
Se alcançado não tivera que na ocazião prezente
que tudo quanto offereço festejar possa este dia
não iguala o menor preço com mostras de alegria
da luz que cm voz recebera
Vossas grandesas festejo
Offerecer tarabem venho porque a muita que em mi vejo
a vossa festa gloriosa me faz do sentro sahir
de quantos subeditos tenho e a estas partes surgir
as sereias que detenho a publicar meu desejo»

Detrás do Carro treumfante erão levados em triunfo, a idolatria, mundo, diabo e carne; a
idolatria hia asentada sobre huã bicha de sete cabessas cousa prodigiosa, o trono da idolatria
era riquíssimo de ouro pedras preciosas bastante pera fazer idolatrar aos cobiçosos; as ca­
bessas da bicha erao todas coroadas, e cada huã tinha particular mistério e significação; no
mais alto estava a cabessa de hü leão que representava a soberba, abaixo o de hü jumento,
que nas letras umanas he símbolo da avareza, como a do cão a da inveja, a quarta a de hü
porquo a lexuria, a quinta a do tigre a ira, a seisra a do lobo a gula, a sétima a do animai pre-
guisa do brazil; dentro desta bicha hião dous homes que a fazião mover sem serem vistos, hü
nos pes, outro nas maõs, com o rrabo dava tres voltas mui grandes e sobre a terceira o levan­
tava pollo ar mais de tres covados.
Junto a edulatria hia belzebu acompanhado dos quatro diabos de europa, índia, japão e
china, queixandosse todos serem desterrados de suas províncias: e depois de vários queixumes
confessavão que o beato franco de xavier era tão grande santo que ate elles o querião festejar,
e pondose em hordem nove diabos dançavão com os tridentes. Ao carro treumfante acompa­
nhava toda a clerezia, e relegiozos q. avia na terra, aos quaes seguião os principais da terra, e
mais jente do povo, que alem da que hia no couse da procisão era tanta que n lo cabia pelas
'-« S sa*— — ^

Apénáice
55o
. «m an go W t ? © « * «a o r d « * * p to c e ^ fe d * re-tae«?* v *
n u * o ü tf<
í 'ía * * çttfan w <a abadou w bitu a o « « :o « « r * te o ib e i t» utr.*^ o ^ 3'"
v « rd e to d o b e i ad o re qtui^iavJirttçstti t o o fc&* i r .í s .'i à * '
dÊÍ> u a v e s r id o á e ^ - a n e i t a d e c o r o a , to m a d o * p o t G en tio e©-.- b ft to U t i * q *e Vht « A
g»°l qoart°s a iyvmtaVvia tciida dt vau^siusore* decadcat de oaro, ç-tv-lu* ív&**^y«~'
a

c0l° staSr loí^a e^l° pteço- oo* pesVtrta^a Waibnmcai wd*s cOwiws 4* V*’;-'Áx *
^ V o u í o - T « 5“ "° W a -
<JeaS OevinQ %*xht » m o rtçwnoM
Ktpeíbo afiirccut <S* w«Uâ* t 4
único f<r,lx »6 c » nul» iix o w
retrato puro m vito 4a ew&AtM
n»v mvrvõlh*» ztro « onU^tov»
obra da «tio àe t>» dt «aeaatáade
c EoaJracote tio divino, e aaafto
que oVhanàD pera «ot tudo Vxc eapaato.

H c tio whUmt t tal tainha alegria,


c pera tadot tio a^MúaAa
coto a ntarse q . ojç rm evit 4i*
tofcu SU'mo rtce V a coto totaa entrada,
qüc tenda o üoxo y j\ q i» tbe kltm U
3
wtfla lente toà* «Ivu r^ ait
tnm iogas e àanç&a, L c u t * prim om w
qo« tm meu reino não «a v ti£a o u tm taa\«ta*

deçotí que «&se dVrino faoiador


âc vossa aancu, t c%v.i coTDçaah»*
em meu reino entrou, deu m piettdcr
tão grande que a do %ot própria etce& a
b eta aentntio o* meu» sen rir o ardor,
p ar seus ftttiu*, e o * \a\s regenerado«;

Forem agora ta&cto ctciartctdo


com vo «&4 vinda )& t*o d t«\ad *
esperamos, par \t%ter »m etido
a obediência da ruais saneia e sagrada
delia na tttdis sois lio conhecido
porque em meo reino cão, t patiia
e tó o sereis? p ois sois ncevw lpoim plno
bua asnienabelia, e tró bettu brio*,

S e ia sois conhecido e venerado


p o lia gente e virei* d e » oriente?
poiio nosso aqui so\s bontrado,
se bom tarse ça d eh & sst t io tace\tn\e\
fidalgos m eus sem conto b a sogriu& o
a \ürdiçâ© do rei aito, t potente
agora falta so que alumiados
p or v o s m eus filh o* aeiao dom rinados.

Ponde o s oibos benignos e am oroios


n este m ea reico grande xa vier,
o s m ilagres fa ie i çord iglo«»*
que costum ais com ta l gloria a l u t r
p era que a * s i o s reis m ris poderosos
v o s s o s filh os, e irm ãos ç c w á o te a c e t
fican d o o nom e v o sso prom ulgado
n este m eu rein o , e m ais am plificado

TAais adiante estava outto üreatro, no qua\ tambetn se tna teceSet


Congo, ignalmente vestido com o mesmo trajo, e riqueza do angoiia, m ex o O «Kto tio
suas riquezas. a.o saneio oSerectíi
0 ] e q u e d esde o olim p o cb risialm o

to m a is a d a t a o m undo o n o v o lu m e
q u e r e ce b e ste \ a d o s o l d ivin o

q u e d a r p e r p e tu a lu z te ta p o t co stu m e",
540 Angola
A g o r s que go zai» d e t c ono, e trin o
a rfs fa e m c o m p rc h c n slre l no a lio come
com m ala a m o rq o e de p a la v ra s c o p la
vo a s a c rific o p a rte da e tio p ia .

D e C o n jto o o re in o sou qo e aegnam enfe


m eo* filh o s g o r e m ir á o o re jn o qu and o
v o s d iv in o fra n “ d o o rie n te
o s reflejros da lu z m c foste d an d o ,
Se vosso corpo gozei prezente
o/e por vos a d£s estou gozando
que as minhas trevas vossos filhos derfio
loz que em vossa doutrina receberão.

Pobre satisfação vos ofifercço


ao qoe meu sctro impera, e se he verdade
que tanto beneficio não tem preço
e de algum sojeitar minha vontade
c que Inda que louvores não mereso
corroborando em vos minha omüdade
♦................................com qne a mloha..
pera ser vossa fama forsas cobre.

a Não de aromas e ouro puro


aprezentarvos sacreficlo venho
almas seguros
de que as estima o ds q. por ros tenho
Olba; saneio e nesse etereo muro
despois de vosso alto
aprezentailhas pois q. vos lhas destes
pera que se nlo perqua o qne fizestes.

Junco á C a d ea, sobre as escadas da G am ara, p o r ordem"e traça da mesma G am ara, sahiu
h u a fig u ra q. reprezentava todo este im p ério da etio p ia, tra jad a com form e ao costum e d aterra,
que he hCT p an o na sin tu ra pera ba xo, e o m ais como a natureza criou. O pano da etio p ia era
r/q u is s/m o tom ado peiía sentura em hua em ponda de seda, e depois de dizer ao sancto os
versos seguintes espalhou com grand e aR ogancia m ,M pataquas, o que foi causa de gosto, e
alegria peiía contenda q. ouve sobre quem as a v ia de apanhar e recolher.

Eu qus cabessa sou da e tio p ia ard en te


ca to J ica e fo rte
d iv in o x a v ie r q u e la n o o rie n te
foste das almas sol, das vidas norte,
Pois que na festa vossa estou p re z e n te
feíise ocazião, ditoza sorte
dos moradores m eu s v o s o fe r e ç o
o p r e ç o d a v o n ta d e q u e h e sem p r e s s o .

A prata deixo
, e ouro q. se encerra
no sentro destes rejnos, e os aromas
que vão peta as entranhas desta terra
etn vaso de chrlsta! soberanas pomas
porque a fragancia vossa q. desterra
os prestosj os Bálsamos e gomas
tudo vense; e a luz que em ver se esmalta
oasendrado ouro poem em falta.

Nasse das alisas os afectos puros


nasidos de amor vos satisfazem
milbrandos coraçoés, de peitos duros
vos aprezento, pois em si vos trazem
hü fesix (?)deste tempo e dos futuros
que ainda y vos
as festas q. o/e em m fazem
vos offereço por que suas pemias
e vossa vida slo dores serenas.
4
— ! P r s r — -* '•'**► .. . I»»» ■ »

^ A iá ía

Q o lltrt MT qtlS l« M podfTON,


qo*J p*ri* M r a m rle» » m n
MOÍÍOWÇ* * »»poW»feftftM,
co ao Utbos w lrttt í U n i
eco o »iriOui p ltti í feleilM *
cm fim qolzeft iít 4 o otunào cKrrt
ptr» v o» « tr tfir i 4m an » m rt»
io por ficsr bocmdi e cSet t*pn%.

, rta da nossa egreja «lava a gloria a delia i* » onos*


Á P°r! “estido estava cuberio de amuas cadeai de Touro,» ^wroúi pedn» p««*,,«tíUíO J O .Z T
jgn,eí° 2 ü V não era possível contalu e falando comi Ao Ka.1.
beato K.p* fo**
» ' eo

.«HiA At AMtemn+at hm hiaI ><»,'. J.. *•


io(í i«a^ « í * wra£>" « » » « « . JW mflí «*M *, tío a p « » * , „ ^

<s v -
0 santo inacio acabou de falar os anjos do carro ireumfime lhe dtrk as*. há
ta « 10 ?' cabada, serrouse a vgloria; c os quairo anjos
}(iu#| “*'• * tirarão o saneio -V
do carro IIV
tresadaiKe,
UUI
® Tü3"o em hfi andor
*x -«dAp mu*t0
muito ^em
bem ^0rna^0’
hornado. nono oual P^gwSo os vereador» íensfe *?;;_„í
r>po*rZn n*

e o PiU2era
1 honrando louvores ao sancto ateooorem
U3 *“___ • nn a!t#r...mnr
----__ mm. wllur i«,.
» *v—
,a&s»e
fli**- ° Sr^nonias
s,' e 05 rI{T1g
8 in ^ ---acostumadas,
. E ja que • estamos dentro, da igreja sera »V"*
bom *•'
dar «wu«*u*de
tmtn*
dató e. S8 hornada, e armada estava, e por pareser de moradores melbof fafttfiaQ
B"m
im
ídk
qua^ °c ‘ taS partes, asim na traça, como na riqueza das sedas, e arqaoi desera qsentaadoa
qUe vlf Luis Mendes de Vasconselos de que logo farej menção,
faze A ° ito da igreja estava armado de tafetás novos de varias cor», 35 pared» de boi e
narte, por baí*° com dfi daaiasqu0 de variss cor«>«por sima cobertor» riqitt-
oUtra P os mais deles borlados de ouro; todos ao redor estaváo quarteados de m w de «.
sim°SCÊ damasquos de varias cores que duião com as dos cobertores, tudo com propoçia, e
lud°5í oondensia de ambas as partes. Toda esta armação estava dividida c quarteada com
C0^ de algodão lavrados com fitas vermelhas compassamanes deprata que Ihedftvíomti
C°r elSalem de muitos volantes que por todas as partes da igreja estavio dependurados, mas
8 ra^a' do realsava a obra do Gor luis raeodes de vasconselos, que emventou e traçou para
s?k.rf ^ corp0 da igreja da capela mor, por ser nossa igreja de hu so corpo, mandou feer
d‘vl 1 c0)unas e t^es afC0S com'5üa c°faija; tudo de obra toscana feria pellas rtgras t me-
< O da arc^etectura, na qual como em as mais artes he emsigne 0 g.*, 0 arco do meio res-
dS'a ao altar mor, os outros dois aos das ilhargas; toda esta maquina be de madeira, cu-
P°n 1 rU5 o pintado; os pedestais das colunas de jaspes, 0 corpo da coluna e vio entre os
^efía e cornija, de cor vermelha, os arcos, base e chapiteí das colunas, toda a mais cornija de
arC°\lo f°^oS os camP0S verme^os»esíayão cubertos de varias frutas de sera, todo 0 jecero
anluvas com suas parras, laranjas, limões, sidras, peras, inasans, figos, e outra mu fmta, e va-
dfi Uflores, tudo tanto ao natural, que se pudião emgaoar nao 50 as aves do ceo, como comas
naS de zeuxis, mas também homês como zeuxís com a toalha de parrazio. Sobre a cornija se
UV3S ravão quatro pirâmides, de cor amarella, e aos ties vaôs, que ficaváo enue elías, estavão
eV ‘ rras tres em cada vão, as duas estremas cheas de asusenas, nas do raejo ramos dema*
n°V€ limões e laranjas, cada buá comsua fruta; e não deixarei de advertir, que ainda q. estas
SaijS; e arcos se posão fazer facilmente emlisboa e outras panes, coa tudo em angola hc
C° U(iíficultozo por que nem oficiais nem madeira acomodada pera se fazer, e se nSo fora a
mUl • nela do 2or. aue por espaço de dous mezes desde pela maahá athe oouie estava
ioando, e encaminhando os ofictaes, nao se poderá levar a obra a cabo.
recendia a igreja, mas tudo deixo, e so quero fazer meosáo dodosretrato
€nS1Muito, podera dizer do ornat0 conseno e riqueza áos
que de novo se fez
chcifOS e Perfuínes cotn

dUÔ osso B. P. de xavier, 0 qual estava no altar da ilharga, queficaaparte do evangelho; obra
? 'perfeita quanto se pode dezejar, nem creio que emnenhua pane se faria milhor. 0 quadro
em outo palmo e meio de alto, e seis de largo, nelle esta todo 0 corpo do saucto, com os
nlhos no ceo, como se costuma pintar; e com tal arte que iuntameme estão pregados emhu
crusifixo que tem na mão esquerda suando sangue como 0 do castelo de xavter que 0 suava
quando 0 sancto se via em algus trabalhos ou perigos, e nas sestas feitas do *nno em q.
542 Angola
aaneto morreo, de que faz meosâo o nosso P, H oraiio tursclino no livro seis capitulo 1 da &ua
vida. Junto ao crusifixo ficavam vario» generos de tormentos e martírios que Ds representava
ao soneto, e a vista deles d izia: non satest domine, noa sat esc, as quaes palavras estavão es­
critas com letras de ouro. Mais abaixo estava o mar pintado, e nele hÒa nao combatida, e
quosi sovertida dos ventos, com o batel que o sancto m ilagrosam ente fez parecer, da outra
porte estava pintado agloria, gostos, co n çolaço ís com que Ds lhe enchia a alma, c coração, e
com a mão direita olevantando a loba do oito, saindo lhe da boca e em letras de ouro aquelas
palavras: satest domine, sat est. A o pé do sancto estavão dous anjos cada hG sustenta na ca­
beça hu rotolo de letras de ouro lançando com muito arteficío, no primeiro plano estas pala­
vras: B. fran*®, no outro, de xavier.
Isto quanto á procissão em que se gastou a vespora polia manhã naqual ouve também
alguns pasos, e representações de devotos particulares, que deixo por brevidade. Natardeouve
vesporas solenes, e á noute o fogo seguinte.
Ouve primeiramente hu castelo de fogo, m ontantes, rodas, arvore e outras invenções. Da
ca za do governador se lançou hu cordel ao nosso coleio e por elle se lançarão hua duzía de
fuguetes, com tal furia que sahindo de caza do governador e dando na parede do nosso co­
leio, que he boa distancia, hião acabar aonde sahião. A arvore de fogo tinha sete dúzias de
bom bas, cada hua de quatro palmos dez dúzias de fuguetes, seis dúzias de buscapes e sínco
rodas de fogo. Os montantes forão dous cada hu linha sete fuguetes amarrados ao pau cada
fuguete destes d esp iâ a seis buscapes com suas repostas; a estes dous montantes respondião
duas rodelas de fogo cada rodela tinha dez fuguetes polia borda e cada fuguete deitava de si
tres buscapes. O C astello de fogo estava situado no meio da praça tinha de altura trinta
palm os e de largura vinte repartido em tres quadros, todo muito bem pintado de modo que
$o a vista atrahia os olhos, na quadra de baxo estavão quatro esferas grandes tão be pinta­
das cada huã em seu canto, cada esfera tinha doze dúzias de traques e quatro dúzias de busca*
pes, e o mais fogo do castelo he o seguinte: sincoenta bombas cada huã de outo palmos, seis
dúzias de fuguetes trinta dúzias de buscapes vinte quatro dúzias de traques dependurados a
m odo de cachos de uvas dezaseis rodas de fogo e hüa bomba que foi dar fogo ao castelo.
Alem de tudo isto se lançarão mais de vinte dúzias de fuguetes e doze dúzias de buscapes. Os
estudantes lançarão também grande copia de fuguetes e buscapes. 0 mais fogo se guardou p*
a outava do sancto de que adiante faremos menção.
No dia do Sancto pola manhã, ouve missa solene cantada a tres choros, com todo o genero
de instroraentos e pregação. A tarde deste dia se gastou na destribuição dos prêmios das poe­
sias que se derão com toda a solenidade sendo juis delias o governador, hü letrado secular, e
hü padre nosso, e antes que relate as poesias dos prêmios, quero no primeiro lugar escrever as
que c o m p o s o governador, q. se ouvessem de entrar em competências a ellas se darião os
prêmios.

(S e g u e - s e a colecçã o d e p o esia s que com pôs o G overnador L u i j M endes de Vasconcelos, uma


canção , diversa s g lo s a s ao m ote que deu p a r a o concurso e cinco inspirados sonetos, e depois
as p o esia s p r em ia d a s com o p rim eiro e seg u n d o p rêm ios, que se não transcrevem p e la sua
exten sã o )*
(N ã o resistim os contu do a tra n screver o soneto de um m ercador , p o rq u e è , na verdade
bastante interessante).

Soneto
Aquelle mercador que com sua vida
a redempçáo comprou ao mundo ingrato,
vendo na índia em droga estar o trato
da fee quanto a maldade encarecida;

Com fazenda de ley de graça e vida


(divino Xavier) a este contrato
vos manda, e aviza que vendaes barato
a responder no Ceo qualquer partida;
Apêndice 5 4 3
D « vo* 4 * *•* *aa*7 in x » regm »
pc*4 ato *o* pttc*Ux* MhMpeet*
diH* mtoa-t va» ím a a m ffn éd l»

Cbeg*U, í « u U ae$oci» ao arttau


do qa*l *«» (mm coau 4*H
« C M i» ,
qae eco Xtm *Coo ficae« »m&tado.

documento)
N a m an h á a d o segundo d ia , e 0as .
p reg a d o res a le m dos nossos fo/So * * fo<k o 0yvaw, .
,P/ranw
n« a
®o011,1
a tr o. _
d o carm o. T.o das w0 *^crao
T * " 0’mui
rfot>*
h_»c c j « ° * * cm « ,, itso4ot. >-
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adas, cornao
c o rr .a o vartos m
var‘os - w ç o . a cidade C0” UJ¥* * ro' ,e « »
« . i u ç *â*o« do
-a c -Z 70e
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i a 'i>varí/>* «to /- •
co m suaves musicas davao alvorada*. an “ *rnuaeotos a «s p e rte rf* *
" “ião,
“ V od as estas manhaüs sablrão algUas dan^J <Undo a to à o t • »<Wv.r * £>?* 2 '
E t” „ n se representou huâ comedia pastoril - t * * ’ * mveo$°és dalegria. Na tarx . a .'
<,yI3e sen ten cioza poesia, na língoa portuaw , , Prafa P * * 1“ » . co m p oít* peBo s o n r - J ? 3***
“ ?v^ « t « — j = " ” br
« io ves tio de verm elho; e tamfe? fi “ -i r ,c°
, s>
" “e «os
• bb"charamelfos,
««” - s 5 * -! • * ~ . J v * *
°o va s toadas acom m odadas ao q’ se repr?2ea0ta^ h^ araf 0* na * » « * * * í*r< jf
£ a c a tn ara deu, pondo de prem ejo a tres ^ m e n l r fBrceir** e < ^ r u o y t.v * ouv*
£ m elhores sortes fizessem. Ouve varias SQrCes J ^ ® . * * * * « « c ru z a d o s * oatros
^ rtties os a n ím avão a continuar cõ m*«< n a,.,, ^ penS°* « com apj*uz£> /U . 4 p r®a* ° * ****
- S sah irem os touros sahio ao £ £ * ? *? * *hes 305 * * -
C r l e e c o m p e tir cô as melhores de portuga* n ^ » Í0Í,a tam perfeita o’ oorf' t9Táes* ãnles*
j ° todos os instru m ento s, e exercitados na^ar . Por<,’ aiemde serm £ & * * £ * * “
algas cõ m 1«* colares, e cadeas de ouro; e ainda 0 ' . i f f8 r hiâo ricam“ v e s tid ^ fe *
^ a v e n t e jo u a todos na arte e destreza’ em * L V * ? ° ^
aous ch o ro s toadas do Sancto. A quinta. s « ta a r ,c d l0 ía r ; eram por todos t r . , , “
g o vor ordenou, p ara as quaes se aiuntarão seis m i,Sc? ma,tarde se gastou cõ as s o n « * ^ *
fa rd e da o y ta v a do Sancto tomou * sua c o u t “ ^ e — P— « ^ f
sen tar aquele passo de vrda do B. p. fran> de e M lU L r Z r Z
p ro p h etizo u a vitorm que os portuguezes alcançari a 9 ° do « ta n d o pregando em j
àc g u e rra, bem com posta, e de bom verso, "* £ £
c a rm m u ode Fon„ 9 P ^ r conforme o de H o ra tio fib. 4
est «nvercís est}« « . ' el bt>Tí*
Vir*»,,, ' ^ Í0Ç90UDâfrfi
Virtns, nec irobeijem f„oCes
progenerano (?>atjoUae coíumbam

T e v e a obra m to bom sucesso, como 0 da


íevar gosto o G ~ , com o também por ser da vida * fePr« W o u s e na igreja assi nor
tum e. a razão destas obras, e poezias serem em p o r t u ^ u V & ^ oes« • cus-
a í,0 Sü a latin a^ e na Por wgueZa tudo o q’ se d i L n r h! P ^r ^ na tem eoteade m n o u ^
vo re que tinh a sete dúzias de bombas, dez duzias'<£ f°S° Q° yte fo? * seguinte- ^ «r
rodas de fogo, huã duzia de foguetes de cari* dl»foguetes, seis dúzias de b u s -im / * * r”
bom bas de q u a tro dúzias de repostas de p ^ ’, 9’
capes; dous montantes, e cada hu delles tinha outo l “ ' ! ' <JUa,r° <lc bus-
desped.a se.s buscapes co suas repostas; duas rodelas 2 T 30 Pa°> e foguete
tmha des foguetes, e cada foguete deitava de sy tres bt c a L T °k mootan' ^ « cada rodella
Sjrandula, que botou no mesmo tempo quarenta duzUs de " * 3 f° " a,6Ia esla« hua
alem disto se de.tarao vinte dúzias de foguetes d o z e T , ? g“ !e*» « P « » ™ > o » « para ve r -
da vespora d o Sancto mandou fazer o a r comH d de byscaPes- T odo este foeo ^ «
Có as colunas, e arcos de sera, v e s t í ^ d . faKndaí « » » « S 'e ^
sua con ta passarão de tres mil cruzados, que ó Sanem T ’ * OUUaS “ «rdezas q- tomnu “
mats despendera se fora nessessario; e dandolhe o P» auperim « P ^ a r , e m-
supenor, acabadas as festas> os devidos
Angola
544
'.amâeúmcnios do m" q' ncll«i fizera, respondeo que estimara elle succcdcr a canonização de
^o „ 0 pntriarcha sancto ignacio no tempo do seu governo p* mostrar a vontade q’ tinha de o
te r v ir e aos q' milítão debaixo de sua bandeira, estas forão em summa as demonstrações q‘
demos no Beatificação, e festas do nosso B. P* francisco de xavier, q’ para Angola se pode
chamar grandes, pollo menos na vontade que todos ainda os de fora linhão de o servir; polias
que se fizcrão neste reyno esperamos p* que á vista delias tenhamos mayores motivos de o
louvar, e imitar como pede nossa profiçâo.

Cota. Ao snr xantre de Evora Manoel severí de faria.


(Biblioteca Nacional deJJsboa. Reservado«. F. G. Caixa 29, n.° 35).

DOCUMENTO N.° 78

P R O V I S Ã O D A D A P O R D . F E L I P E II, D A T A D A D E 14 D E F E ­
V E R E I R O D E 1 6 1 5, M A N D A N D O S E P A R A R O R E I N O D E B E N ­
G U E L A D O G O V E R N O D E A N G O L A , F O R M A N D O A S S IM U M
* NOVO GOVERNO
E u El-Rei faço saber aos que esta Provisão virem, que semdo eu informado quanto convem
ao serviço de Deus e meu, pôr-se em ordem a conquista das Províncias do Reino, que chamam
de Benguella, que corre com a costa do de Angola, assim pela salvação das almas dos idola­
tras, que as habitão, entre os quaes eu desejo muito que se prante a Fé Catholica, conforme a
minha particular obrigação, como por os proveitos que dos fruetos d*aquellas terras podem
resultar á minha Fazenda, e ás de meus vassalos desta Coroa, que tanto tem trabalhado no
descobrim ento delias:
E vendo como seria mui difficultoso effeituar-se e sustentar-se a esta conquista, não es­
tando separado do Governo de Angola, por o que a experiencia tem mostrado do pouco que
poderão obrar nella os que o tiverão a seu cargo, a respeito do muito que sempre tiverão que
fazer no com ercio e quietação dos sovas mais visinhos a Loanda;
E considerando, por todos estes respeitos, e outros muitos, de muita importância, que me
são mui presentes, em que também o é dever de prevenir aos rebeldes e piratas herejes, que
poderão introduzir na gente sem luz das ditas Províncias a perversidade da sua seita, não tendo
ella quem lhe ensine averdade da Relegião Christaa, quanto importa que, sem nenhuma dilação,
e com todo o calor, se assísta a negocio de tanta qualidade, e tão digno da grandeza da minha
C orôa, e do animo com que eu queria que sempre se acudisse a semelhantes empresas:
De meu poder Real e absoluto, me praz, e hei por bem, de separar, como de feito separo,
por esta presente Provisão, a Capitania, Conquista e Governo das Províncias do dito Reino
de Benguella, e de todas as mais terras que jazem até o Cabo da Boa Esperança, do de An­
gola, de cujo districto até agora eram, na forma em que o Senhcr Rei Dom Henrique, meu
T h io, que haja Gloria, separou do Governo de S. Thomé o dito Reino de Angola — e por ella
as erijo e ao dito Reino, em novo Governo, para que de hoje em diante tenham separada juris­
dição e Governador, que conquiste, e sustente em paz, quietação e justiça, aos povoadores,
asim destas partes, que áquellas forem viver, como aos naturaes delias — a qual, e assim aos
m ais Ministros necessários, para viverem em forma, política e ordenadamente, conforme a
Mínhas JLeis, lhes mandei nomear, por minhas Patentes, das qualidades que convem, para se
poder delias fiar a erecção e conservação do dito Governo.
E mando ao Governador de Angola, que ora é, e ao depois fôr, que em nenhumas das
cousas tocantes á jurisdição do dito Governo do Reino de Benguella, e mais terras nesta decla­
radas, não vão, nem usem da que até agora tiverão nelle, desde o dia que o traslado desta
minha P rovisão authentica se lhe presenrar diante: porque assim é minha mercê.
A qual se registará nos Livros da Contadoria e Gamara de Loanda, e nas mais daquella
’•A

Apàdice 5 *5

ConauiíW» onit pertencer, t n«te Rtrao m & míftht F jíf0ll, t Q * u f W íí» í » <
L » Tribuna«, P»« q « « n t o j ooncU d* t«te, * trstçj, * * O o « r ,, - e « w - w » fC
fe entragará no Torra do Tombo, p.r. «ÍU « eoaiWw> f J?;,5f 4 ^ * h t& .

Alento* que [‘ Te °a '** *r^ ,0~^*r* 0qa<,a<íowlrtíeti?oarutt>mí{i4a rí rj«s


0r n»ma551*”®*’ *. . ?' itMcelUrfe, pcjto «o cinto b m i t Jar«r »««
Se ufl» a»"“; se* cm ar8° d 1 í * o contrario J L ®
Pedro Varella a fe:, «n üsboa,, ,4deFcereimd* lW < W f c S « :« . t o «crr-
íer. — Rel*
^ «tfA*4*ifaç Tàrrt daToml»fac%.!t%, %í»U**
dnuUi, qt comdct*i t í Unt * t»Lm,*M *
Totem trtap*Mtc&ia m C*iktt4 o CtoamKtgkâ 4 » Í^ i*íaj *
**0rtH*X&i4x S&ébúH&i* JOUroitihk*, ** i
*íí/J•rtiytspàt,j/5}.

DOCUMENTO N.* 79

, r *™*,M d *
5
Eu El Rey faço saber aos este alvflrí vir* « .
8 varà v,fí 3 « teoho comtudo a cooduttu de B » -
. n
trai a a Manuel tenreira Pereira por confiar H-tu a •. .. . .. ., ,
fn o rd para o bom effeiio desta e m o r l l 9 M,1‘ * * *“ * -'* ’
c p° “ F fliprew conuî a roeu semco Q elle se préparé eaj Anz^îz
íjas cousas necessarias para melhor e mais j ”
»Kfloiinqse nara a AU*n f ®ememePraz HBOynterimij St è&ÙHT W> ÎOîndi
L u ir s e o que nelîe se pretende ey o o ^ b l ? * ^ COmmcfcr * “ * <w-
aPerC ando
a todos meus ?n<ï.uista tenîia os poderes de Governador dequeile Reino. Peîo
que mando a todos meus capuaes e a todos os officia« assy da justiça como de minfa. lu **U
W £ ? q S 5 " ârmaS* * « - ^ Pascal deVal^r c Ü e cm,
pm nue elle Kadp ' ca^}a?s»escri’oaes, mestres pilotos e geme dw tutos, e
*4*°*
PaVI" Sj nr men i'an'rà ^ 6 &n ^ian*e 30 à“ ° ^ e*Q0 em <îuani0 fl0 d«0 gouefï»
° ®|a0-P „ n
T nn?M rrr-euGû"emad0r deiI^ e ï c»®° ^ Jbe obedeçSo mteirameme e
cumprao q p e e mmha parte lhes for madado e Requerido, assy e tto imcir&tneme
como sao riga os, e os q a$sy 0 fixeré me aueres por bem seruido e aos q üuere contrario
procedimento (q nao espero) mandares dar os castigos que pelle tal caso mereceré e por est*
0 * y P ro®?ü 0 e P05®® ^Iia C3P*Iai’îa mor e gouernança para délia rsar tanto q chegar
ao ito emo e ngo a na forma que dito he / e pello tempo que se deuuer no drto gouerao
averá a razao de oito centos mil reis de ordenado cada ano q começará a vencer do dia «n 5
chegar ao duo Reino em diante de que se lhe fará pagamento no feitor delle por este aluará
q sera Registado no Livro de sua despeza peilo escrivão de seu cargo, e peito treslado deite e
conhecimento^do dito Manuel Cerveíra lhe será ieuada em conta a quantia que otraer vencido,
conforme ao q nelle se come. E antes q deste Reino parta me fará preito e ménage pelo dito
gouerno na forma costumada de q presentará nas costas desta certidão do meu secretario a íj
tocar 0 qual por firmeza de todo lhe mandey passar e para efeito disso valerá como carta co*
meçada em meu nome por mym asinada passada por minha chacelaria posto q seu efeito aja
de durar mais de hú anno sem embargo das ordenações que 0 contrario dtspoem. Pedro Va­
rella 0 fez em Lisboa a catorze de feuereiro de mil bj* e quinze — Christouam Soarez 0 fez es-
creuer //.
{Arqoivo Nacional da Tôrr? do Tombo, CJuncelárij Je D. Felipe //,
lirro 35, foi. 3a ?.*).

DOCUMENTO N.° 80

Em carta de SAI6 de 20 de fev6 616.


Porquanto Manuel Cerveira não pode passar a Benguella sem cavallos e tenho entendido
que ategora se lhe não enviarão, nem as mais cousas que tantas vezes tem pedido, e que ha
69
546 Angola
ia m o tempo que cu m andei se lhe rem etessem sig n ifica reis ao C o n s da fa z* de minha p1» quç
recebi desprazer p elo descuido que n isto ouve, c fareis que effectivam ente se cum pram as o r­
dens dadas com p ran d osse em com p an hia de L u is Mendes e juntam'* com elles a provisão que
m andei se peissur p* M anoel C e rv e ira p o d er tom ar em A n g o la pelos preços da feira as que fa l­
tassem ! e tod as as m ais orde e p ro v iso es de que ira tã o as minhas ca rta s que sobresta mat* se
lhe tem escrito» e escreven d osse tam bém a M anoel C e rveira o que se ordena, e lem brando se
lhe a im p ortân cia de q he (?) adiante p* q em effeito o ponha e me escreva sem esperar outras
ordens» nem p rovim en to s,
assinatura (?).
No ve rso ;
De S. M,
a D. L u is da S ilv a
sobre se enviartE os ca v a llo s a
Mri C e rveira P ereira.
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secçfio Ultramarina. Caixa 145. Angola).

C D O C U M E N T O N.° 81

Snor.

D aloan d a escrevi a V . Mg * por m uitas vias com o me Partia pera este R.D0 com o mais
la r g a m .la V . M g .* o lera visto dando conta de tudo o que convinha na viagem, pus corenta
eseis d ias p er ch egar até. altura de quinze graos, e meo sempre correndo acosta e botando
ferro nas partes de mais conçideração e não achei outro porto mais conviniente pera as minas
d o co b re, q este. porq1 hú porto, que eu sabia que estava delias, sete legoas o achei tapado, de
m anr,* que não pode ali entrar navio nem estar fora na costa brava e neste em que fiquo de-
senbarquei a dezasete de maio, do anno passado a que chamao bahia da torre, vulgar m.1* eno
ro teiro velho a de santo A ntonio aque não terei o nome. e pera q’ V . M a g > veja m ilhor a dis-
p o ssiça o delia e do que vi até altura de quinze graos e meo mando aqui o roteiro e a costa, e
asim vai tam bém , om odello da povoassão, que tenho feita a que Pus o nome a cidade, de sam
felippe padroeiro Sam Iourenço
A qu i chegei com sento e trinta homens algüs dos que troquei em angolla. e os. demais dos
que trouxe desse R .fi0 e vim con ram pouqua gente por me fugirem algüs. como ia tenho man­
dado a lista delles a V . Mg.dc cuja copia vai con esta, e o ouvidor geral Manoel Vogado Souto
m a io r deixei a m esm a na loanda en hua deligencia fez porq. tanto que me virão absente. se
to rn a rão , pera aquela sidade. e andavaõ diante do Ouvidor e do Capp.1#m Mor Ant° g.lz pita
que a lli ficou governando sem os prenderem, nen fazerem, nhua deligencia V. M g .* mandara
nisto e no m ais o que fo r servido, aqui me m orrerão trinta e oito homens os mais delles dos
velh os de A n g o lla , por serem custum ados aquele clim a que hem ui cálido e esta terra aqui fica
c o m o portugal. em seu tempo e asim forão definhando de rnanr,“ que morreraÕ. em q’ entrou
hú irm ão m eu e hú cunhado e hú sobrinho fiquei com noventa e dous homens em q* entrão
seis casad o s com m olheres e filhos e oitenta negros de guerra, em q* entrão sesema meüs ca­
tiv o s : ao desenbarquar acodio ogentio com tenção de nos estrovar mas não lhe valeo seu mao
in ten to, dep ois de dezem barquado com m im os e a dous fis vir perante mi* os.0f da terra e correo
co n n o sco o ito a des dias e com o nestes não ha fee. nen asento em nada e tudo são treiçoens,
e m ald ad es, in do algus negros nossos cortar lenha cortarao elles as cabessas a dous. e nos
c a tív a r a õ s e is e vendo E u o mal que tanto podia segfr me deliberei con sincoenta conpanheiros
elhe d em os na p o vo assã o principal e lhe tiramos trinta e húa cabeça e cativam os corenta con
setenta bois e vaquas e lhe puzem os fogo a povoassaõ recolhendonos sen nos fazerem mais
d an o que darem huã frechada en hü negro mui grande homen de gerra de que durou dous dias
n esta cidad e, d ali a quinze dias lhe tornei a dar outro asalto indo tan be en pessoa, e como
tin h a õ vigias p ello s ou teiros acham os a terra despovoada, da quela ora. cativam os hua negra
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vtra. * ton>«« esta povouuò, e í fonífe*r*ctx>» M®**' * fP v- *»

como ^?procur««1°p0!‘ l‘*mt,h*l',í’ <*'«»»8 *>!>«<* *° â" « P*" í*“ * ****?; * '
etoda via hú derigo p j *m00M* u* « %*«<* * ^ 10 ta‘ **n f " *“ M,’
comigo «o quario d ^ T - '! “ “ *0 «P*« M * ,'* * " •
mui grande falu h«S P m C0BW«™*> coo búPiloto t hb «urgi»« <fc<jbc *<pa « * *
E s ã * » 7 - « p‘i«° • « * * * * a‘r í r
fiança de minha obtígaçaó ° ’ Mt0< do“‘ *“ * “ * * - T ,,
r s
m."" arcabuzadas míLa • ? m I>í01 afununado que trou uttô o pqm > mglBtéo (.) p
Clérigo o vigário'auc h^k/**?* 'u*1'p* do P’lo«) * 8o surgíaS e »eaii n*o na poder £»*«
e fes paneis de wdo mas I * f'idí d* Sím fr,ncitt0 «*«•« « Pffná<0 * cooâKO° ^
í “ • " • — « * — •j" t - t 3

^ a l c ^ T i r « d ia f ^ Í « l * lf» « •*« W

f i  f -  a r ^ ;
I t l m l m u PT ° qUe “ “ deslc m « > legoas per* a pane daíosnd« «rreguif íwm-
dade de m « q u e U tinha mandado comprar peraT ^ enio á o t * o lM o > * * * * * *
desta cjdade que mportava mais quinhentos mHre£ tivtraõ recado o* q« hi»« 00
tr 3 [eSna.tura essa cidade por nomesimao antunes moço da cam»f* de V. Mg.* c 0
diw Manoel anrnques emcomoera morto o Alferes cabessa do motim, e aum fiem desaMfl-
chado tudo tendo carregado o pataio se forao e segundo entendo pera aloanJ* e fiqoamos eo
grande aperto que se eu naõ tivera outra camidade de maotim'* meu que fi* p»g« * lG&a e
vou fazendo perecerão todos mas nen isto basta pera ânimos danados que mieowrró ouir»
motim e fugida e por cabeçadelíehú homeoda naçaõ que en minha conpwhía trouxe degra*
dado por nome gaspar frei Penso e sendobua noite sabedor por hu saserdote oiodei tocar
arma como que erao vindos algus enemigos, desarmei a todos ficando «tgus criados meus e
cappitaos e logo aquela noite fogio o dito gaspar frei penso e hô Alferes per nome francisco
de fontoura moço da camara de V. Mg> semarmas mais q os frascos na sinta e suai espadas
por muita deligencia que fis q na6 sou nada pregizoso dali a sinco dias ouve a ma& «>
do alferes nunca pude achar noticia emendemos que aigua moça o comeo. do penso mandei
fazer iustiça morrendo morte natural; aos de mais perdoei queeraõcorenta e sete beninsun^*
per nao ficar de todo soo e isto desenparado e perder o ganhado o fis. e juntam1* se descobio
que hú Capp,tírapor nome Andres coronado espanhol, que servia amualmenie. tinha deterim-
nado e buscado meos pera me matar con pessonha. ou as punhaladas, ou com bú pistolete e
algibeira que lhe foi achado carregado comdous piUouros, este confesou sua culpa pabíícamu
que o fazia porq sendo eu morto se poderia sair desta cidade mais fácil mente, também
perdoei porq se ouvera de castigar todos os culpados ficara soo, üreilhe a conpanhia e tratoo
como suas obras merecem, nao fogem, a falta de pagas porq lhas faço t vou faxen 0
hu mes adiantado como constara a V. Mag.** da sertidaó q. com esta vaj o eitor e, *
e do escrivão tudo de minha fazenda que parece q premitio ds ficasse cila eo ango
ves pera agora servir a V. Mgâ*. . , fBiug
Pello que seja servido mandar seme mande aqm os seoto e s.ncoenia bomeós que faU
pera a ôpe, e ós vinte cavalos dous fundidores dous mineiros com a ^
5 possa ganhar as minas do cobre q. semgente nao posso «
cidade, que levando a gente fiqua isjo despovoa o epo e o ene g ^ „quissimo e muito e
ao que os negros dizem, na monção set" a meio e camm ^ ufi senio t

quinze arateis estas tomaraS hús negros meus no p • quando. os negros úra6 isto
cousa de conciderassaÓ me disseraó que nao trouxerao mui», e qt.ando i
concidere V. Mag.4' o que sera por fundidores, e mineiros q o ^ ^ Angolla. e ouvidor
lhes passo prendendo osfugidos a sim

tt
548 Angola
soldados como gente do mar e mandarmos porcj doutra mam\* naõ poderei ir com isto avante,
e ficara- V. Mg.** muito mal servido porq sera cauza de eu acabar a vida; A terra he mui fértil
de iode? os nrnnum,tM c gado, escravos e marfim mas he ness.0 gente como digo pera a alha-
nar> A geme deste fidalgo aqui se vai a iuntando outra ves nas suas povoassoe n s 9 e me vierao
aqui pedir 1.0a pera o fazerem, de que fiquei muito contente, dando novas que o fidalgo veria
m.u cedo que com tnedo naõ vinha que queria ver como Eu tratava os outros então ve­
ria.
A este Porto chegou luis mendes de vasconcellos e em outro navio o ouvidor geral, de
Angolla. a vinte de agosto passado e mandando saber que navios eraõ achei seren elles e que­
rendo ir en pessoa a seu bordo pera saber se me trazia algu recado de V. Mg.d* se tomou a
fazer na volta do mar e se foi pera aloanda. considera V. Mg.do se tenho rezaõ de o sentir per
me ver enpatado, sem gente, sem cavalos, e sem mineiros nen fundidores tendo avizo que em
sua companhia seria provido, e foi ness.0 mandar Eu hú Navio aloanda. com escravos meus
a mandar buscar provim.10 e o ness.0 a minha custa, pera nao faltar nada a estes soldados per­
mita deús que. o g.dor de ordem a que se me frete hú navio a conta de minha fazenda, pera que
me traga o provim.10 que mando buscar porq nhua’s esperanças tenho deq1 o faça pois estando
metido neste porto naõ quis botar ferro por quatro oras nen poder cobrar cartas de minha
casa. escrevendome hú escrito que por vir cansado e enfadado do mar não deitava ferro*
T o r n o alen b rar a V . Mg.d* estas minas de cobre q* ia V . Mgd* fora scr delias se tivera gente,
e antes to m arei o s serro e sincoenta hom ens, por agora. qT os cavalos ha para q V. Mgd0 veja
o s d esejo s que tenho de d ar bom fim visto E u em presto pera estes sento e sincoenta homens
m e virem co m m ais brevidade dous mil cruzados a V. Mgdô pera este efeito os quais escrevo a
. jo a õ m oren o nessa C id ade pera que os de logo que naõ avera duvida eos navios que se freta
rem p era os trazer eu me obrigo a lhes paguar quaquílo que Ia com elles se asentar.
E he ness.® m andar V , Mg.do seja Provido com algua polvora boa pori? a trouxe era
m istu rad a co n ca rva õ que so vinte quintais saÕ de prestar e a outra he tudo carvao e juntam^
chum bo e o s soldados que venhaõ providos, de arcabuzas que os m osquetes que trouxe, nao
servem , pera andar no canpo mais que pera a defensão da cidade e m andar V. Mg. que os
que degradarem , sendo gente que possa tomar armas seja pera este R.u que todo o navio que
vem p era estas partes pera vír bem navegado a de tomar por forsa vista desta terra; O mar
aqui tem m .t0 peixe e todo bom. a terra m uita lenha; disposta a tudo o que quiserem plantar
nella com o he canaveais de asuquar, tem algodão vou fazendo prantar outro e asim canas de
asu q u ar que na terra ha; ten dous R ios hu da banda do norie. que quando ha invernada corre
mui furiozo e sai aqui ao mar. sento e sincoenta passos desta cidade; no veraÕ he areal, mas
en qualquer, parte, que hú cavalo ou boi poem o Pe. arebenta agoa delia bebemos que he re-
quissim a; dabanda dosul. sento e se senta passos esta outro Rio que nace desviado desta cidade
quinhentos e trinta Passos antes que chegue ao m ar se vai sumindo por baixo darea; boa agoa.
pera nelle navios fazerem aguada, nelle muito Peixe asim tainhas grandes, com o muges e ou­
tros de outra casta e hús do tamanho de savel e da mesma feiçaõ mas muito m ilhor no comer,
dentro na cidade, temos ia muitos possos de hú estado, e meo estado emenos temos ortas que
nos saÕ depassatenpo e de que nos logram os alguás figueiras de que trouxe a casta daloanda e
o u tra s plantas que trazia que por a viagen daloanda aqui ser conprida seperderaõ agora me
m an do Ia prover de outras; no tenpo de calmas, ha viraçaõ do mar desde as sete oras dame-
nhaã a tê oq u arto de madorra rendido; o ten ple da terra sadio e bom. quem senaõ desmanda
n a õ m o rre ; E u ate oprezente. com entrar, duas vezes a terra dentro em angolla; e aqui naÕ
tive nhú achaque seja deus louvado, eile premita que tenha eu vida e saude ate V Mg.d®Ser sor
d estas m inas e eu ir botarm e a seus Reais Pes de V. Mg.de pera mui em breve tanto que V Mg.*0
m a n d a r se me acuda na form a que aponto A Polvora e chumbo torno a lem brar porq he cousa
q u e de d ia e de noite a gastam os mais pera espantar ao enemigo que pera lhe fazer m al porq
ta o g ra n d e m edo da artelharia e o mesmo temem a hú Cavallo com o se fora outra couza; eu
trou xe seis m eos com o ia tenho avízado a V . Mg.d6 morreume hú fiquei con sinco que me saõ
d e m u ito e fe ito .
C o n v e m a o serviço de deus. e de V . Mg.1*6 mandar hú clérigo de boa vida e costumes exen-
p lo p era asistir nesta cidade, e que tenha poderes de admenistrador. pera asim poder dar Iça
p e r a ca za m .1®* e ou tras cousas semelhantes porq* o Bpo de Angolla. naõ quis dar esta 1.“ e ha
*

Apêndice >49

“KTuTLTZtLZ T aím e« * « * » * « . — * ^ «*«* ***


como a nao ha. pera caiarem, he dar mo|r, ;;
pesio a V. Mg> mefeça ALm« „ ferfm®4*' _
corrente, me poíst ir pera eueftl con . ' « »«»* & «*"* ««** Si >tf ***J*
e u° boi pessoa que mais pana t qB£!:'w ’<M **•»«**-****•
*codir a ires írmSs que tenho daotellutt^f'' W f V raí <*** ^ " rJtó
„recendo íusta esta minha petjçaõ m,„a óe tkíl * píi *
Lra mimnosso s” a Real p«oa de V «!<?*'*' V%**«« a.em,-w he ewtíl *
íelippe a. 6. de março de i,6.iü. moi 8 * for mtilt04e targoi uevi desu a à tít & t*ir>

freseatada. dt íunho de i.6 ij9tono*.


Depois detet escrito esta a V. Mg*c ,. .
vantou contra nos hüfidalgo iaga qyt e P hado c m {llí o natío $%» »loasi». *e at«-
legoas Pera 3 Par,e ie Angoila. correndo 8p°,em*do dtsl* «djJ' distaacta de qaarro
amigo por ser enentigo do gentio desta terra n.°?*co con®a"a »««ade. equetn nowi tef
0 fis quianbole. dagente preta que da Cappu,8St‘"llht !oftna. pella sececidada que tinha *
sade con nosco se foi apoderando de modo ° ^ iefois ie awío^í<,0 ®* ^ , m "
na5 anos negandonos aobediencia, e os nossoT W8htcÍ4 Por s* 0 i t s ’* w n *
conpanhta q eraó muitos nos começaraha f c a i intiaSÍdo’ f 01 tí!t « por os da «*
davamos sem húa guerra Preta, m a o L L * 08 ^ crir*°’ 8 de ascí ’ ***
gentio e que elle se fosse livrem>peraSlJ31 ne wctdo» que nmdesse c rtosso
em terra e que no mar so éramos homens ,resíWwiet) W os brancos ersrr-u c^lfcefes
sacreditados con estes e con o mais gentio da * °n°S*Umaperta£Í05 e W*« áe m£íhs:*&
vimento pondo tudo nas maos dedeusqUeessa7 *' P°,S’ 05naõ «stigavamen tendo ui atre-
V Mga#me deliberei a tornar a mandarlhe o °*Sôm*)re m’n*ia l«Ç*õ e he no serviço de
nossa gente preta, e se recolhese a sua terraTa TesuIeliv'fimU*^ ott 0,0 ^and--«e a
elle. e lhe mostraria se os brancos eraó molhem^ h ° Heo pM ea hi‘
pouqua conta nos tinha q se resolveo a a nleiiar °Q f m sob' fl,o <=t*w * en uo
aparelhamos sesenta companheiros deixando isto'0" n0!C°’ ᣠcoofes‘,<Joi ,f,'3os maí
quarta fr.« de trevas das nove oras pera as des dl91" T ^ °rílem' q°' h ‘ pWÍWÍ’
toda aquela noite passando dous Rios muitrabalhnu' m 2 câmin!,<>£ aIíiaDÍ0
pescoso por nafi termos outro remedio nos eobose * ' P° 1 m “ delte MS dir #g°* ptlio
por naÕser ainda menha. e tanto queamanheceoT ° * “ m8t° P<rt0 d* 5118
f r . da cea do s«. elle foi servido de nos dar hu' repre5entamo5 batalha- 1»* foi «tP“n«
nesta etiopia tendo nellam.‘» eo quemaisa j C 2 T j ^ r>m' k * * ^
de parte a parte, en 5 morrerão m.1“ dos setts e da n f ” * m t mUI’8arcabuia<ia' *ífec!s»*
o fidalgo filhos e molheres e mai e algas fidlteos d" ?"* W.hiir,iegr0ftechíd° C9tÍTi,m05
cativamos a!i nos detivemos quinaeáas mandando^:8n5Jier,í“ « m muita geme. 5
aos soldados que ficarao nella comm.<*mamim»quelhes o S i “ “ C‘daí*' f
giraÓ nos mandaraó todos os nossos escravos cudando t™ <,U8“ °SqUe
L o s en seu segim* por naõ nosa fa s ta rm o s ^ ^ d J líT i r * ° * ™
nella. recolhemonos alegres e contentes dando muitasgraças a ds.^e,
dar tan grande, vtetona sendo tanpoucos contra tanta nmlüdaódeenemkos

, , V
tanho ia avisadoMaaV.
» Mg* nacopia
J 1 ■ q con esta v i corren
« L ddJ ,« nosco fde am
o con PeriagU
nhecendo V. Mg. por verdadeiro snor e 0mesmo outro fidalgo por nome quimmbela com
isade6,e reco-
qW

roda a sua mormda e, pera ver se podta aquietar estes seteunvisinhos tivi noticia de huâ naçaõ
que chamao maqu.nbes tres d,as de caminho desta, cidade. Pella terra deo.ro os quais sos ve-
viao de asaltos a furtos que faaiaó a seus vesinhos e aperingue. e anos furiandonos algfis es­
cravos e sempre tendo espias soubemosa partee lugar aondeasistiafi que ha gente indo­
mável e que nunca estaemhú lugar sertonemsemea. e vindo as espiasnosepresurmosfqpres-
tamosf) e marchando sobre elies por asperas serras demos nelles envime oito de maio e eu
com mais dous de cavalo quatro arcabuzeirosque pr.ttchegamos aelies os quebramos e ron-
pemos de modo que fugirão e so hS matamos e cativamos tres negras velhas que naõ puderaõ

•v
55o Angola
co rre r la rg .n d o n o s mil cabeças de gado vacum e outros tantos de ovelhas e carneiros, e st« naõ
tiveraõ rosto por que línbaõ sabido da victoria que tínhamos avido dos iagas recofhemonos.
oder&dciro de maio e aqui achei o navio que tinha mandado buscar oloando o bom avisam10 que
fa deraõ vera V Mg.** pella sertidaõ q con esta vai e também, das deligencias dog*Mluís mendes
de vasconsellos c seu filho que ali fiquou. por seu luguar tenente tem feito contra mim tirando
test.M soldados e gente do marque desta conquista tinhao fugido, e o tenpo mostrara a V. M g*
alcaide de de cada hG. e de quem se ha por roilhor servido dos m.ara daloanda naõ trato porq
custumados saÕ apapeladas e acapitalos per cuio respeito ía fu» prezo por mandado de V. M g *
e V. Mg.** me fes M mandar apurar minha onrra. de modo que fui sentenciado por seus me-
nistros iulgando que V, Mg.** me fisese onrras e .Ms. como recebi muitas aque nunca serei in­
grato e asim aterei por mui grande, mandar V. Mg** aquele R.n* hua pessoa desentereçada e
crista, pera que devase de min ede meu procedim1* enq.t0 na quele Reino estive, que espero
endS. e na cristandade de V. Mg.** que amin premiara, conforme meus serviços merecem e
mandara que se castigem os que contra min ten jurado e dado papeis que saõ os mesmos que
da outra ves iuraraõ e deraõ capi talos contra min e pois ficaraÕ sen castigo da outra ves
pareçe que quer deGs, que lhe naõ falte desta.
Con esta vaÕ noventa equatro arateis de cobre; as argolas grossas serve aeste gentio no
pescoso e as delgadas nos brasos e pernas as mulheres as quais achamos nos maquinbas que
atras digo.
E no q toca as rtf^ias do cobre, ia V. Mg.dé forasor delias e eu tivera mandado muita canti-
dade. de pedra, se tivera gente pera me guardar esta cidade e agora nòs esta mais façilitado
porq tenho aqui comigo os°r delias q se vem. valer denos pera o irmos meter na sua terra,
adonde outro mais poderoso, o botou fora. e apertanos de noite e de dia que vamos que pora
a gente basta pera vencermos todo este R.°* porq todos estaõ mui timidos dever que desbara­
tamos os iagas e cativamos os°r delles que chamavaõ cangonbe. ao qual hú dia destes mandei
cortar a cabeça pera exenplo emorreo cristão con chamar pelio nome de jesu tres vezes comq
acabou e pera ver, se me pode presuadir ame por acaminho ten mandado gente sua. con hü
negro meu de confiança aburcar escondido as minas pedras as quais estou aguardando por
oras se vierem a tempo a tenpo irão com esta. equando nao na pr.* ocaziao que ouver. q. agora
com o correr a fama. ao brasil Doutras partes nao faltarao aqui navios porque temos mandado
aloanda dous carregados de pessas e este vai de vaquas e carneiros dos m.ora. e soldados que
mandaõ buscar o ness.* pera seu provimento deq se pagaõ os direitos a feitoria de V . Mg *
Eu estou resuluto anaõ sair daqui tan longe. Porq ainda q escrevo a V. M g > que saõ sete
dias emeo de caminho este fidalgo nos tem segurado e esta bem verificado que saõ tres dias
emeo de caminho de hú negro escoteiro e sinco pera nos m archarmos e asim me naõ ei de
abalar daqui sem a gente que tenho mandado pedir a V. Mg.d®porq naõ quero perder oganhado
e en me vindo os sento esincoenta. homens esta V. Mg.d* snof das minas e eu mandarei pedras
q fundidores naõ os renho se V. A lg.* os nao mandar.
Torno apedir a V. Mg d* me faça M. dalicença q tenho pedido com o isto ficar corrente, e
V, M g.* sw das minhas.
E porq V. Mg.do mande ver o de quanta utalidade e proveito he este Reino pera sua Real
coroa e fazenda mandei ajuntar este povo de que se fes opapel que com esta vai nosso sw a
Real pessoa de V . M g * g p o r largos annos desta cidade de sam filippe a 2 de iunho de 1618,

Manoel Gervra Pr**


(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secçfio Ultramarina. Papéis de Angola).
t

dpéndice m"
X )(

WCUMEXTO y . a,
ROTEIRO DA COSTA DE ANGÜIA í
nA ALTURA DE QUINZE C M O S ESt4 » e * . . . .
8nNHÊSESÇAS m u, DOS POBTOS, B ^ A s T ^ 1,1 C C m S ea * ” * «*TA, DAI
C tÍ rAS, O QUE TODO POY visto e D E iu if ° <SUMS’ 'u'íoi’ WWr7rf>' Cí «**
F reira , e pell 0 CAPlTÃ0 M Mas domihp P£,UüCOÍ' QI;ImDO* am an

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, d0 correndo a terra: ate esta bahia da * " nS’“ m i i m *,WM dt l ' í ,MÍ «•* *
j1 SancW Antonio aonde situamos por nã0 T pof OT"r0 BOrae M& B í* e t n u
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otto, ierra demais sa,utiferos ares, fertj| * * tm tod* wu C0ÍI* 114 Alton diu, r-*-Sor
Pbund'ancia de muito e diverso peixe^haoejwV^0" M'md° d* teml>£omo e*
dexecellente agoa, asimque vindo dessendo da altiT MUndo VHÍnhosi c dota Rios qoc corra»
mais Rara daque vem correndo do cabo nearo « T ,Clnla dilí TOrrtt^ >* tím “ l’ * *c‘ *»
terra aiU
alombada
I1,w“u escalvada
----- -V sem arvore
M»a» algua\e
»ore ato vem ™° 8°nt ,Sadí f u 610 VW4M^ «» h«*
nito legoas no
goas ao nordeste e susudueste, e no fima«, rreBja 7
dwtaTT*8 esta cos'*
««» pera
pírí 0 onorte
l j , .
Ao norte delia está hua enseada m> boa e abtiaarf T * ' l0mb,da fu ha* P00») *
dabanda
m t a>‘M ^

neíxe
peixe nesta
nesia enseada.
CU5>çaua- ® a dai v*otaniaj;
— he bem*«*»»
w fundo «« bM
«O íiltj
j um*
F Desta enseada pera 0 norte coura de 4 |eíoa. .
do sui Pera 0 none estao hus orecífes que as oedr • tW° i t Í ! m t * fcnl P001* <J’*»*&
paressem dous ilheos, adonde defronte delles nelT ^ 3!US de!ltí **° te*s P^ru oegraa
bata de negros e da banda do norte destes arecifes al'"'* de8tr° P°UC0tSp,M0’ n Ú faM
duas prayas adonde esta geme tem as suas j J , 80®ar de hua Poal1 ot8I* «'*>
porte; e sul. W| CQrTe$S€esta cosu ate mome otjro:

Monte negro he hum monte Redondo q-esu n»


jhe bate 0 mar ao pee delle tememsima este mon, h? 7 h°a tniíad* ad&ade
E ao norte delle couza de mea legoa hu ilheo comh ^ Rí f ^ “ “‘í0, 1,03 f0Bhtçeaíi-
çença abaixo esta este monte negro emAltura de i5 graos E »! 3 " 7 n fuemf “ conb*-
hua ponta darea q’ estava deste monte negro 3 ou a Í Z ^ 80.D0r,a de 6 * cbe8ír s
„as na costa muito bravo. 6 “ 4 les°35' 6514bu“ ^acho cheodearvoredo,
Da ponta que estaa ao norte de monte neero inm„ .
hua terra bem asombrada e chamna frontaria do mar buí ^ **
cantidade de 3ou 4 legoas ate que se descobre bua ponta 1 ! d! h
praya e hua emseada, e nella hum arvoredo muito verde,! da b J ! dooon' deIlaMtib“*
L ’- « « » . - » 7 - ;t r , r r
11 ^ — * - ■ * • «•— '
Deste mangral pera o norte couza de duas ou tres legoas vay correndo hua terra ígu»! da
cor da pissarra cortada aptque ao longo do mar e no acabamentodelia da banda defcmro
pera o norte hua d.go e no acabamento delia da banda do norte huá ponta alta e d. banda de
dentro pera o norte hua varzea q vay por antre doas serras a qual esta chea de hú arvoredo
grosso co hua alagoa de moita e boa agoa e ao longo delia muitas canas como asdeportugal
corresse esta costa até bua poma que está ao norte desta varzea nomordeste e susudueste
chamasse esta varzea a agoa do espirito sancto porque emseu dia surgimos defronte delia e
foy gente em terra e bebendo da agoa he muito boa.
Desta varzea da agoa do espirito sancto pera o norte couza de duaslegoas estahuápoma
q- he na entrada da terra mais grosa e da banda de dentro delia hua enseada que dá ponta ao

trf—r.r
xíT
552 Angola
fumfo adonde está hua praia avera pouco menos de duas legoas a terra q’ vay correndo d
ponta pera dentro desta enseada se co rre Leste e oeste; e he hua frontaria de terra a m ais má
q* ha hoje emtrada esta costa porque estando com o goroupeis de navio a barbado co’ a Rocha
senão toma fundo em toda ella com cem brassas qf he nessessario ir buscar esta praia q’ está
no fundo pera se poder surgir nella.
Em esta praia pera a banda do sul está húm morro, e da banda do norte delle em hua
varzea está hua fonte de agoa q* brota ao Hvel da terra tanta q' bem bastava pera sustentar
m.u gente. Não falta nesta enseada peixe em qualquer parte delia esiaa esta emseada em AI-
r tura de 14 graos e hú
Desta enseada pera o norte vay correndo hua ponta e montuosa negra cousa de 6 legoas
adonde faz digo vay correndo hua terra grosa e montuosa negra cousa de 6 legoas adonde faz
hua ponta e junto delia tem ilheo afastado de terra tiro de hua pessa e delle pera terra hus
arrecifes que arure elles e o ilheo pode passar hu navio e q’ he fundo m.10 a lá e a emseada q*
d ig o atras É este ilheo q1 digo fazem esta m ostra ou conhesença estaa este ilheo em altura de
14 g ra o s corresse esta costa ate o ilheo norte e sul.
E a P onta q* estaa junto ao ilheo atras dito lhe puzemos a ponta do padrão porque em
sim a delia vim os hu pao soo q1 parecia padrão.
D esta Ponta p.* o norte vay correndo hua terra grosa não tão escabrosa como atras couza
de 6 legoas adonde no fim de húa praya peqn.è entra hu morro cortado a pique ao lo n g o do
m ar muito áspero e dPfcabrozo negro q’ parece q’ nelle andou muito tempo fôgo, pus lhe a este
o m orro de V ulcano porque a terra delle paresse escumas de ferreiro, corresse esta costa nor­
deste e a quarta do norte, sudueste e a 4.1 do sul.
Deste m orro de V ulcano pera o norte couza de duas legoas esta húa poma negra ao pee
de hüa terra alta e ao mar delia húas pedras que paresem ilheos, e da banda do norte e es
está hüa emseada muito form oza q* nella devem de habitar algús pescadores porque estan o
nos surtos nos falarão hús poucos de riba da terra e nella lbe vimos bimbão he toda esta terra
muito escalvada, aspera escabroza correse a costa nordeste e sudueste.
A o norte desta emseada da Ponta das pedras couza de duas legoas em húa praya de com­
prim ento de meya legoa estaa hua emfiada sem Rio adonde defronte delia no comesso da praya
da banda do sul estivemos surros aquy foy o capitam e gente a terra porque tínhamos falia
dos negros os quais não tinhão nada pera fazerem quitanda tem esta emfiada húa casimba de
agoa na emtrada delia da banda do sul esta costa se corre nordeste e sudueste, estaa esta
Varzea em Altura de i 5 graos e m eyo puzemos A esta a Varzea dos martyres, porque em dia
dos Benaventurados Sam gervasio, e Protasio, surgímos nella, a ponta das pedras e emseada e
esta Varzea fazem estas senhas.
Desta varzea dos Mártires pera o Rio de Sam Francisco legoas, digo se corre a costa nor­
deste e sudueste avera delia ao Rio de Sam Francisco seis legoas he hua terra grosa escalvada
e ao longo do m ar húas emseadas pequenas co* suas prayas de area e vindo correndo esta .
costa querendo chegar ao Rio de S. Fran.eo se atravessa a terra pella proa q* he a terra que
v a y da enseada pera o norte adonde faz fim couza de mea legoa da boca deste Rio ao noroeste
em hua ponta de area desta ponta pera o fundo da enseada adonde sorgem os navios se corre
noroeste, e sueste fazendo no acabamento da praya q* he da banda do sul a donde tivemos o
Lucam bo, hum reconcavo, e a loeste delle hüa ponta de pedra que se chama a ponta das ostras
porque ha ally nella muitas e grandes, e defronte do Lucam bo estaa húa fonte de agoa muito
boa q’ qualquer navio a pode tomar nella tendo nessessidade porque morão os negros delia hua
legoa e mais.
A vera de Ponta a ponta perto de i 3 legoas ficando dentro deíla esta enseada e Rio de
S am Fran/* he este Rio com o o Rio do Bengo no grandor não se pode entrar dentro nelle senão
em húm batel pequeno porq* he m.*° baixo que não tendo banqo da barra pera dentro mais
fundo que 3 ou 4 palm os de A goa bem se pode tomar agoa nelle na pancada do mar na boca
da barra, e se o R io vier grande se tomara agoa adonde passa o navio estar surto faaz esta
r em seada, e R io, e fonte, estes sinaes, e estaa em A ltura de i 3 graos e hu quarto.
D este R io de Sam F rancisco pera o norte está hua ponta de area da coai vay correndo a
c o s ta a o nordeste ao longo do M ar huas prayas que a cada legoa vão fazendo huas pomas e
a o lo g o delias húa terra igo al raza a que vay fazer fim em hua das mais fermozas bahias que
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Apêndice 553
ahi ha m toda esta cotu poiqtw lw » " Btcaüàd» • S ** rt ^‘ . >g!(4!C£n m w [*
«hi oel)a adande surgimo» ftví* d « br«*»*, « *> * ,<* <fe ft «
»««a fr *da paixão e em« ií dia arwamol Ma ctw «ft« . c i i n m co a » **»«w
ser
ao pet hú CaUario pello qoe por neste dia lhe puxemos a MM» ^ ^r-; ^
vay 6guiada, e aquy jumunenu coma emseada da torte « » « ^ fr - , M*Ut,
vario cmAltura dc i3 graos c hú seismo, cortww a costa da pcft
nordeste e sudueste. . . 0 d* -
£ logo desta bahia do Calvario pera a cmseadt da torre que ifJ| %r ]j é
gongo que he o maioral desta emseada da torre »donde 0 u
lessueste porque ao norte deste porto, está büa ponta dc as q á c u *4 '.
se corre noroeste e sueste e f i e faxendo hCa ensexda ^ <
do sul adonde estaa a torre a e$ta de arca que digo que « * oont« h m
3
avera pouco menos de t legoas e fica fazendo de dentro * ^u3 3» u ím qa*
grande a torre está figurada a hua torre na ponta da banda do s ^ Ui
faz fim na bahia do calvario está este porto da enseada da to*** cm
esta enseada e torre co* a bahia do Calvario esta conhessença* Sttuamos a
Aquy nesta bahia e emseada q'como já sc disse se chama de santo ó fu tip ^ s« *' r
nossa Cidade a que 0 Conquistador Manoel Cerveíra pereira pos por nofflebam " ^
cada de hua aRochoado muy forte aterrada e de espinhos muy ásperos por P°
ella com seus baluartes nessessarios asim pera 0 roar como pera a te r f em « R04* w
partidas muitas pessas de artelharia pera todas as partes com todos os petrechos a tím tít ^
pera a ocazião servindo também de muro e amparo hua Igreja que levantamos d*
do Benaventurado Sam Josephe Sam Lourenço c u ja s imagens estão postas no alttrdcSUe
trato no como se vay augmentando a Cidadee crescendo naedií&casim*, porque me oío tenbt®
por sospeito, e asim tornando ao nosso Roteiro como ja tívessemos visto tod* a costa oa
Loanda ate onde situamos toraarey daquy a correr a costa na forma cm que hítmo» dapoat*
q’ está ao norte do emseada da torre pera 0 nordeste estaa hCas serras altas dobrada» digo
pera 0 nordeste estaa hua emseada que se chama 0 mangral no qual esw» hú Riacho como
asima paresse, e pella terra dentro da emseada da torre pera 0 norte vão correndoh4a» »erras
altas dobradas escabrozas que não ha em toda esta costa outras como eUas, vao correndo per-
longando a costa ate 0 Rio Cubo.
Passando este Ryo do Mangral pera 0 norte vay correndo a costa nomoideste e susudueste
ate chegar a outro Riacho que se chama 0 Rio do spirito santo e por outro nome o Rio Anha,
3
0 qual se some por debaixo da terra junto ao mar avera delle ao Mangral legoas e logo verão
&
querendo chegar a elle na terra ao longe do mar húas barreiras brancas q’ não ba por est»
costa outras assy da banda do norte da boca como da banda do sul 0 qual »»he por antredüas
pedras corresse esta costa nornordeste e susudueste.
Deste Rio do Espirito sancto ou 0 Anha pera 0 nordeste vay correndo a mesma costa ate
chegar a hú Rio pequeno que se chama 0 Rio Morombo avera de hú ao outro oito legoas he »
terra ao longo do Mar amodo de Pissarra a qual chega a hua ponta negra grossa como
fosinho de ballea que da banda do norte delia está hua emseada e nella hú Riacho ou alagoa
a qual tem hum arvoredo muito fermozo e verde e as arvores, a modo de palmeiras, pu-
zemos-lhe por nome 0 Rio das palmas, e a ponta atras, a ponta de S. L.Ç° porque ally digo
porque assy se chama nas cartas e desta ponta pera 0 norte cotiza de 4 legoas estaa húa em­
seada que sobre a poma delia da banda do sul estaa hua' Ubata de negros, Aquy está hum Ar­
voredo de emsandeiras junto de húa alagoa e aquy está outra Ubata, nos as vimos, e os negros
nos disserão que erao sumbes, coresse esta costa da poma de Sam Lourenço a ensseada ou
ponta das libatas nordeste e sudueste e faaz a costa des do Rio do Mangral ate estas libatas a
figura abaixo do Rio do Epr.10sancto Morombo, e ponta de S. Lç°, Rio das palmas, e ponta das
• libatas desta maneira, (
Da emseada e ponta das que digo q’ estão em Altura de onze graos e hú seismo pera o Rto
Cubo he húa terra ao longo do mar esbranquiçada e nao muito alta e de iras desta terra estão
huas serras negras muito conhessidas q’ são as q1 vao correndo ate sobre a enseada da torre,
fazem sobre 0 Rio Cubo hús cabeços Redondos como paes de asucar, e logo vay conendo a
entrada da praya deste Rio Gubo 0 qual Rio indo do sul peta o norte paresse que nao tem
70

*
554 Angola
sohida ao mar por cazo que a emseada deste R io perlonga saindo ao longo da costa que vav
pera o morro de Bengueila o qual sahe no m.° da dxstançia desta terra, esiara o m orro de Ben-
guella do arvoredo deste Rio duas legoas o qual he hú m orro talhado apique negro e cubcrtõ
de hum mato de bassimeiras o qual tomando o da banda do sul, parece, ser com o o cabo de
Espichei, e o mesmo faz da banda do sul, tem da banda do norte húa emseada m uito grande e
no meio da praya delia hum m orro que paresse aos navios q’ afastados hum ilheo he terra firme
com o vím os; o que da paresença do Rio Cubo e emseada do m orro de Bengueila se vera abaixo
comforme aquy Yy, e juntamente a Altura em que esta este morro e porto de Bengueila, o qual
está em A ltura de to g raose dous tersos corresse a costa da enseada atras das libatas, ate este
morro de Bengueila nornordeste e susudueste.
Deste m orro de Bengueila pera o norte vay correndo a costa pera o norte noroeste, e su-
sueste ate chegar ao Rio da longa he esta terra muito conhessida, porque he hüa terra igoal ao
lon go do m ar e vay fazendo na mesma terra hús arcos amodo de pilares brancos os que se di-
vizão por estarem afigurados sobre terra vermelha fazem fim junto de hum morro caido a
quem chamamos o forninho que paresse com hum forno de telheiro o que esta na entrada da
praya que vay pera o Rio da longa he este Rio da longa hu R io que tem ao longo dessy hum
mangai muito grosso, o qual Rio yem sair ao mar ao longo da terra alta que he a terra que
entra nas tres pontas o qual Rio percazo q* aterra grossa entra na delgada da ponta da bocca
deste lhe esconde sua saída, corresse a costa do morro de bengueila ate esse Rio nornoroeste e
susueste. fc
E logo deste R io da longa pera o norte vay correndo a terra das tres pontas a qual he hua
terra esbranquissada cortada a pique ao longo do mar somentes, entre a do m.° e a ponta da
banda do norte faaz hua lombada de terra com hums cordoes ou quassimeiras ate que chega a
primeira ponta da banda do norte.
L o g o vay correndo hua lombada de terra q* vay fazer fim em o cabo ledo a qual he hua
terra preta vestida de arvoredo de espinheiros e cassimeiras na frontaria ao longo do m ar ate
q’ se acaba neste cabo ledo o qual he hum morro talhado a pique com hum pouco de Arvoredo
em sima o que não tem nenhua das pontas atras, e ao pee tem hua pedra q* paresse ilheo pe­
queno.
Faaz o Rio atras e estas tres pontas qT digo e o cabo ledo esta paresença abaixo. C orresse
esta costa do Rio da longa pera o cabo ledo, noroeste, e sueste na enseada deste cabo e de
fronte delie em 20 brassas hay muito peixe.
Do Cabo Ledo pera o Rio da Coanza avera nove legoas pouco mais ou menos e he hua
terra igoal baixa e querendo chegar a este Rio Coanza no acabam.10 desta terra estão huas
barreiras vermelhas. E o mesmo da banda deste Rio pera 0 norte, 0 qual Rio tem hum arvo­
redo grosso corresse a costa do cabo pera este Rio norte e sul.
Do qual pera a barra de Corimba vay correndo a costa ao nornordeste, avera de hua barra
a outra 7 ou 8 legoas, he hua terra ao longo do mar raza ou aberta digo raza cuberta de hu
arvoredo baixo de macans.
E pella terra dentro da banda da terra firme vay correndo hua corda de terra igoal mais
alta com huas arvores de alícondes grossos a qual se acaba defronte da barra de Corim ba em
hum morro que aly estaa, e também a melhor conhesença que aly nesta paragem fazendosse
qualquer navio do Rio de Coanza pera a Loanda Mandevigicor (?) pela terra e logo vera o brasso
da Barra de Corim ba pera a banda da Coanza, e o mesmo pera a Loanda e logo vera as cazas
da Cidade indo correndo a Ilha da Loanda se corre a costa nordeste e sudueste, tem de com ­
prido esta ilha da poma a barra de Corimbra sinco legoas. a barra está noroeste e sueste e da
banda de nordeste delia tem hum baixo e banco de area em que quebra o mar m uito, e pera
saber se estaa jaa tanto avante com o abaixo olhe pera a ilha, e vendo tres arvores em carreira
a quem chamamos os tres Irmãos, bem se pode chegar junto a terra q’ não tem de que se
goardar mais q' do que vir. Pelio que do Rio da Coanza, barra da Corim bra, Ilha da L oanda,
e emseada do Bengo Rio do dande se fara abaixo como se vera. 9

(Biblioteca Pública de Évora. côd. 0X71 n .° i).


X.39 *
Apêndice 555

DOCUMENTO N.* 83

Sertefiquo eu loureoço dias ferreira Capitaõ de infamaria nesta cidade de feJippVc


Reino de benguela escríuaó das execussoes e feitoria § hc uerdade que sendo n ee e e siík sa lg m í
cou2as pera seruíço desta Conquista asim de Comer per rezeG do pouco coobedaaento j^e e
ainda tínhamos da terra pera o ír buscar, como de uestir pera os soldados, o pitmt»«dor e
Conquistador Manoel Ceru-* pr.* me mandou a cidade da icaada com pessas suas p* que Coro-
praçe estas ditas Couzas; e juntam.1* me deu ha percatorio pera o guouernador de m$aU ou
quem seu Cargo seruiçe e outro ao ouuidor geral e prouedor da fazenda, em o qisa? preca­
tório lhe tnanifestaua o estado desta Conquisto c a falta que destas Couzas auia pera o que
pedia ao dito guouernador da parte de Sua Mag.* tomase e fretaçe hünauio pelo $ fosse ;u$to,
pera trazer estes ditos mantimentos e mais Couzas, que quase lhe pagaria o frete da faz,4* do
dito guouernador, E asim mais lhe pedia prenDesse todos os obriguados a esta Conquista que
estauaõ na dita cidade da loanda e outros que autaõ fugido antes de minha partida, £ chegando
eu a ella dei o dito precatório era maõ do Capitaõ mor e lugar tenente fr.** luís de vascocselo#
e outro a fr.e* Roiz de azeuedo que entaõ seruia de ouuidor geral eprt^edor da fazenda, como
he publico averlhos dado e elles os mostrarem a algüas pessoas e junta meote lhe deibüsroes
das pessoas que asima diguo pera que por elles se prendeçem as que eraõ obriguadas a esta
Conquista e a ella se mandaçem, e applicando eu o dito Capitaõ mor me desse nauio pera me
uir o naõ queria fazer detendome de hü dia em outro ate lhe dizer queria protestar pellos danos
que esta Conquista de sua Mag.** Recebia em íhe naõ acodir, o que naõ fis com temor de me
avexarem, e junta mente naõ auer escríuaó nem official de justiça na loanda que queira passar
papel nem protesto Contra o dito Capitaõ mor e ouuidor geral, e aCoocelhado de algüs homens
zelozos ao seruiço de sua iVtag.40 naõ fis os ditos protestos por naõ dilatar mais o reroedío e
socorro desta Conquista até q por o forma o dito Capitaõ mor enfadado de minhas importu­
nações falou a hü nauio cujo senhorio he hü Cosmo Carualho se queria uir fazer auiagent, ao
q Respondeo que lhe Auiaõ de dar muito bom frete e fianças mui abonadas a elle e as demoras
e estadas do dito nauio e outras Condicoés que por aCodir ao Remedio e socorro desta Con­
quista lhe fis dandolhe trezentos mH reis de frete paguos da fazenda do dito guouernador e as
ditas fianças na forma que pedia sem o dito Cap mor e ouuidor geral entreuirem nisso em
Couza algüa saluo em tirarem algüa couza das demoras e tomar sinco homens do mar pera o
dito nauio por fingir com isso satisfazem a sua obriguaçaõ antes trataua as Couzas desta terra
de modo que falando com alguas^ pessoas os ensitaua a que qua naõ uieçem falando em forma
que daua oCaziaÕ a que todos odiassem as Couzas desta Conquista, dando ordem asim elle
Como o ouuidor geral pera que se liuraçem os q de qua tinhaõ fugido, fingindo prirois, autos,
papeis so porque em algu tempo se lhe naõ eraputace em Culpa o naõ nos prenderem, como he
publico em toda a loanda, e tirando os mesmos fugidos por testemunhos em discredito desta
mesma Conquista dizendo que naõ era em nada de proueito ao seruiço de sua Mag** nem nela
auia cobre e que hüas malungas ou argolas que o dito Conquistador M.*1 Ceru.'* pr.* tinha
mandado ao dito saõr as trouxera da loanda pera esta Conquista e daqui as mandara, e outras
Couzas mais de que fes autos que todas ellas saõ publicas na loanda, sem fazerem deligençia
algüa emprenderemos obriguados a esta Conquista que na dita loanda escaõ, e asim sertifiquo
mais q he publico nella que o guouernador luismendes de vasconçelos mandara botar hü bando
que se ouuesse algüa pessoa q quizesse uir a benguela com o seu nauio ou esCoteira que lhe
fariaõ m.1®bons partidos e que nesta oCaziaÕ ueodo os Reuerendos p,*1 da Companhia de Jesüs
que naõ auia nauio q qua uiesse offerecerao o seu pataxo ao Dito guouernador o quoal lho naõ
quis aseitar, tomando por oCaziaÕ dizer que o homS que os padres offereciaô pera ir nellenaõ
era de sua satisfacao, e nomeandolhe outro naõ bastou serrandoce a seu pareçer que ja naõ •
queria que uiesse o dito pataxo a esta Conquista as quoaís Couzas alem de serem publicas na
loanda e cada quoal julgar de tal tençaõ o q lhe parecia eu escriuaõ o vi por Cartas de muito
credito ao mesmo Conquistador q me fora mostrada e por me ser pedida a prezeute a passey.
556 Angola
nesta cidade de sa6 feiipe R.B* de benguela aos quinze dias do rnes de junho de seis sentos e
dezouto annos. Lourenço dias fr."

Sertefico cu Manoel Paes da costa secretario deste Reino pelio juram 10 dos sanesos evan-
gelhos que a leira e sinal be de lourenço dias íerr.« que serue os offic.os que nesta serlidáo se
Contem e por ser uerdade oiuro ç asinei no mesmo dia E anno.

M a n o el P a e s da c J a
C tB lb lío tfca N acion al de Lisboa. S e c ç ío Ultram arina. Papéis de A n g o la ).

DOCUMENTO N.* 84

A U T O Q M A N D O U F A Z E R O O U U ID O R G E R A L E P R O U E D O R
DA FA Z / PEDRO N ETO DE M ELO
A REQUERIMENTO DO GUOUERNADOR E CONQUISTADOR M .“ - C ER U .* a PR . a SOBRE E POR
REZAÓ DE TER N O T IC I^ F A ZE R E N Ç E N A CIDADE DA LO AN D A P A P E IS CO N TR A E S T A C O N Q U IST A
P ,A O QUE O DITO OUUIDOR GERAL E CONQUISTADOR MANDARAÓ AJUNTAR TODO O POUO
P .A QUE DEÇE SEU PAREÇER O QUE ENTENDIA DA D ITA C O N Q U IST A DEBAXO DO JURAMENTO
DOS S A N T O S EVANGELHOS O QUAL HE O Q* A BA X O SE SEGUE

Aos quinze dias do mes de junho de mil e seis sentos e dezouto annos nesta cidade de saõ
feiipe do nouo Reigno de benguela 0 ouuidor geral e prouedor da fazenda de S u aM ag.d* Pedro
neto de mello mandou a mim lourenço dias ferreira escriuaõ que sou das execusois e feitoria
fizesse hü auto em Com o a requerimento do guouernador e Conquistador deste Reigno Manoel
Ceru.” pr.* se juntarao clero e todos os Capitais e mais pouo ao quoal disse o dito Conquis­
tador que tinha por informaçaõ que na cidade da loanda se tirauao papeis Contra esta Con­
quista com os quoais estrouauaõ o seruiço de Ds. e o de Sua Mag.íe dizendo nao era em nada
de proueito ao seruiço do dito sor nem avia nelia cobre antes huãs argolas que o dito Con­
quistador tinha mandado a sua Mag.d* pera serteza do muito que na terra ha, o tinha trazido
da mesma loanda; tirando per testemunhos pera Confirmaçaõ destas Couzas a homens que de
qua foraõ fugidos os quoais pera justificarem sua Cauza, diriaÕ tudo aquilo a q foçem indu­
zidos em males da dita Conquista, e outras Couzas q mais lhe opuzeraõ pera de todo desiparem
o bem q delia rezulta, e pedia a todos em Comü e cada hü em particular asien clero, Capitais,
Com o soldados deçem seu pareçer do q dela enrendiaõ e tinha uisro por experiençia debaxo do
juramento dos santos evangelhos que cada hü tomou, e se asinaçem todos ao Pé deste pera
Confirm acao do q deziaõ ao q todos responderão que esta dita Conquista era de muito proueito
e utilidade asim pera o seruiço de Ds conuersaõ das almas do gentio que nesta terra asiste
com o pera o de Sua Mag.d9 e sua Real Coroa e fazenda, por reza Do muito cobre que nela ha,
principalmente estando tam propinqua a ocaziaõ de o ir buscar, per cauza d.- termos em nossa
Com panhia hü fidaiguo por nome Cbo (E b o f) calunda legitimo sÕr das minas do dito cobre, o
qual se uem valer de nos pedindo fauor e aijuda pera o metermos de posse das ditas terras e minas
de que o ha botado fora hü seu Contrario, o quoal fidaiguo promete tanto Cantidade de cobre
das ditas minas quoanta per experiençia nos temos uisto asim pelo muito que este gentio tras
sobre si, com o pela pouca estima em que o tem, pera serteza do quoal mandou buscar algüs
negros carregados de pedra do dito metal que mais iargua mostra daraõ da uerdade de tudo,
principalmente estando nos oie tao avantejados asim em muitas uictorias que deste gentio
C auemos tido Com o as grandes prezas que lhe auemos tomado de muito gado com q fiquamos
hoje com prosperidade e juntamente a grande reputacaô que ja temos Com elles e 0 medo que
nos tem o que promete outras mayores victorias e bons sucessos, e alem disso o muito marfim
que ha pella terra dentro, e a grande íertelidade que ha nela no produzir os mantimentos e
Apêndice 55;
ou(r<í Comas Jj podem dar m 1* proutíto a fazeada de ma M ag* tomo be o aigocUfi de qv#
ba rnuira ibundaocia, e te pode plantar muito mais, e termo« uisto ate boje meiem douituruàas
Carregados de pessas e hG de guado por este porto /ora em eipassío de um ptmnn tempo «
podereoçe carregar outros muitos de guado « no porto os ouuera, alem do grande c o m e i s e
resgate de pessas abríndoçe os Caminhos pera bO grande seohof que ha nella chamado Canoa*
guo o quoal he semelhante a outro Rey de angola e n«Ò menor oo poder, a quem muito desta
gentio reconhece rassalaje por ser mui poderoso, ríquo de pessas e de terras fenefissinus, o
quoal estara desta cidade seis ou sete dias de Caminho conforme a infortnacafi $ temos o t)
tudo uira a Rezultar em muito proueito abríndoçe o dito resguaie em forma d i feiras o quese
tem por serto se abrírao com muita facilidade pello muito Conhecimento 1} este senhof ja tem
de nos E emfim que tudo nesta Conquista auia pera sustento e Conscruaçaõ delia saluo fal­
tamos gente pera ir as ditas minas de Cobre por rezaõ De naõ dezemparanao» esta cidade
aonde temos ainda algus uezinhos eaemiguos, pello qae todos eraõ de pareçer e d*u*ô sea uoio
que a dita conquista era de muito proueito e vtíl a coroa Real e faz.-* de sus Mag.*e prometia
de si ser hüa das melhores e mais proueitozas conquistas que sua Mag.* tinha ultra mar ma* t
asim o íurauaó pello juramento dos santos evangelhos que todos tinhaÕ recebydo pera firmeza
do quoal se asinaraó todos de que eu escriuaõ dey fee e fis este auto por mandado do dito ou»
uidor geral que Comiguo asinou e eu Lourenço dias ferreira escríuao das execussois e feitoria
o escreut e asinei de meu sinal razo ao dia anno mes, e era atras.
r
[Seguem-se as assinaturas].
(BtMioteca Nacional de Lisboa. Secçfo Ultramarina. Ptpèis de AofoUV

DOCUMENTO N * 85
N°aU° d a y fôlha, à margem: Vejase esta Carta de m.*1 Cem« no Cos.- da faz.» E or-
enece q o nauio que esta prestes para hsr para Angolla parta logo E <j nelle se iouíe todos os
5
prouymemos E monicoes que puder htr E o q parecer sobre o m.*1 Cem.™ diz se cósuhara E
3
esta Carta se me restytua Em Lx ■ a a de Abril de 1619.

Suor

5
Como tenho escripto Urguo a V. Mg.4- por quoatro uias nesta o na serei tanto por rezaõ
da preça com que esta hü pataxo que despacho pera a loanda, esó seruira de manifestar a V.
Mg.d- 0 estado em que tenho posto esta Conquista de que ya tenho também auizado a V. M>
mandando dous fechos de cobre, e tratando dos trabalhos q ei tido com esta imdomita gemte
pellos muitos leuantamentos e treiçoes q me tinhaõ armado queremdome matar com pesonha;
as Coais Couzas aímda comtínuaõ que me foi nesçesario recolher todas as armas a minha Caza
tiradas as dos Cappitaões sõ pellos muitos motins que cada dia fazem e leuantamentos que or-
denaõ, eos q se mouerao aguora de nouo foi oCaziaõ delles 0 g 4#r de Angola luís mendes de
uascomçelos q me tem posto em serquo por q naõ conçeme q a esta Comquista uenhaõ man­
timentos da Loanda estornando os nauios que os amde trazer e auexando os homês que uem
neles so pelos obriguar e compelir a que naõ uenhaõ, daqui lhe tenho pasado algus precatórios
de nenhü fas comta nem da a execução couza alguã das que lhe pesso, so por fingir satisfas a
sua obriguaçaõ tomou tres ou quoatro homês do mar pera hG nauio que la foi e eraõ elles de
taò pouco préstimo que bem sabia se naõ podia nauegar 0 nauio, e 0 Capp.*® que la mandei
com os precatórios naõ ouzou a lhe fazer protestos com temor das muitas auexaçoês que fas
aos homês que tíraõ, algfls papeis p.“ bem de sua justiça naõ consentindo que se tirem; emfim
elle trata esta comquista como senaõ foçe de uosa Mg.4- e por que hü negro meu de muito
tempo cazado se acolheu daqui com dous souas çircumuezinhos e leuaraõ omantimento que
puderaÕ carregar pondo 0 foguo e abrazando 0 demais que ficaua nos campos foi a Cauza de
nos faltarem os mantimentos da terra e uermonos em aperto ao que queremdome socorrer da
loanda a Custa de minha faz.4* tne faltou também o mantimento por naõ conçemir 0 g.i#r luis

_w g igjg«
558 Angola
dc «««"«*«>■ cno » ■ « !• « « * 05 sedados uendoçc com pouquo mantimento
des»Corsoados ordenao todas as horas fugidas pnm apalm ente uendo q fazemdotne V M c *
mcrçe lembrarse de mim e mandarme mantimentos e moniçocs nao quer luis mendes de uas-
conselos mandarmos nem que me venhaõ qua, proebindo aos mestres dos nauios que os trazem
a que os eimreguem a meus procuradores e homcs q mandey a loanda com poderes p/ que
trouxeçem os ditos mantimentos c momço^s e asim tem tudo empatado naõ queremdo res­
ponder né deferir aos mestres nem ainda asuas petições e se Respondia naõ se queria asinar ao
. pé do despachoro que Constara tudo dos papeis que com esta uaõ a que me Rem eto;
Eu fiquo doemte sangrado oito uezes mas fora de periguo Deos louuado e naõ me espanto
senaõ de como sou uíuo com os sobresaltos q cada dia tenho nesta Comquista prímçípalmente
sentimdo xamto a grande falta de mantimento que ha na terra e que esperamos auer ao diante
se deoS nos naõ acode por que auera mais de quoatro mezes que nos sustecntamos com huã
pouqua de Carne e esta m.40 por resaõ por que aguora se nos aCaba e daqui por diante come­
remos eruas ate auer outros mantimentos e p.* maior dano nosso se nos perdeo hG pataxoque
aqui tínhamos por descuido de hG piloto p.* o que ordeney fazer outro a minha Custa o quoal
mando aguora a loanda remetido ao bispo Dom fr.° manoel bautista ou aos p.°* da Companhia
de Jesus p.* que me socorr&õ a custa de minha fazemda com mantimentos pois o g.or luis mendes
de uasconcelos o oaõ quer fazer e achome por bem afortunado o achar qua algua faz.* minha
p.* com ella seruir a V. M g.*
tenho descubertolhmito desta terra e estou ya mui pratico nas couzas delia e cada uez
acho mais que pelo tempo adiente uíra a Responder com grandes proueitos p.fl a coroa e faz.*
de V. M g * , tenho serta Cantidade de Cobre diguo da pedra delle que naõ mando aguora a
V. Mg.* por me p&reser pouca eomeu dezeio lhe mandar nauios Carreguados pois sei mui bem
a onde esta roas nao posso ir a elle sem que V* Mg.* me faça merçe mandar prouer da gemte
que se seme auia de dar que saõ çento e simquoemta homens e os mineiros e fumdidores porque
ua o cobre em sustançía e naõ em pedra q oCupara mais luguar e juntamente que os degra­
dados se mandem a esta Comquista sendo gente que possa tomar armas e fazendome V. M g.*
merçe loguo farei lhano oposto aonde estaõ as minas e ficaraõ por V . M g .* porque na mostra
das pedras que tenho enumeraua a Cantidade de Cobre e a terra ferteüsima de outras Couzas
muitas Couzas e taõ bem espero que V. M g.* me faça merçe consederme l/ fl p.a que depois de
por o Cobre corremte e mandar nauio com elle me possa hir p,a minha Caza deixando pessoa
de Comfiança que aqui fique guouernando isto ate V. M g.* mandar prouer em quem for ser-
uido porque sou ya velho e quasi seguo da uista e Com huã frechada em huã perna que me
deraÕ na guerra que todas estas Couzas saõ bastamtes p.° que V. M g.* me faça merçe temdo
feito esta ate qui estando muito fraquo edebilicado da doemça que diguo semdo a terçeira ves
queme asemtaua em huã cadeira temdoçe semtemçeado hG home a morte por ter crelado delle
o Capp.,m mor, e ouuidor daquela cidade por lhe esCaiar os muros de sua C aza e emtrar com
huã filha sua domzela e prouarse por autos que disso se fizeraõ semdo homê baixo da naçaÕ
posto que auia sido Capp.aa a falta de homes nobres mas como o tal C arguo nao Cabia nelle
estamdo emtre enimigos repodiou e largou a gineta em minhas maõs e eu com caixa tamgida
mandei pello a Raiai todo botar baado que nimguem otiuesse ne conhesese por Capp.am nem
gozase das priminemçias preuílegos nem liberdades que o tal Carguo Com cedia.
Daqui tomaraõ motiuo simquo homês os quoais ya andauaõ com os ânimos danados
dantes pera larguarem aquela empreza adespouoarem a terra por serem pessoas baixas dôus
da nacaõ ebrea, hu mourisquo e outro q ueio degradado Anguola por ladraõ outro natural de
sezimbra home do mar e estamdo asim asemtado com o atras diguo aos doze do mes de janr.*
deste prezemre Anno emtraraõ na Caza aonde eu estaua hü padre da ordem de Saõ françisquo
terçeiro por nome frei stmaõ e hu cleriguo preto da tera fsic) por nome m.el R oiz que o bispo
m andou em minha Companhia e sem mais rezocs me diseraõ hu e outro se estaua em perdoar
aquele Culpado que estaua çemteçeado, ou que detreminaua respondílhes padres isto be do-
m ínguo naõ he dia de executar çemtemça uaõ dizer misa e emcomendeme a deos e torne por
qua, antaõ falarem os respondeo o frade de Saõ françisquo naõ me ej de ir daqui sem rezuluçaõ
de si, ou de naõ por que asim eomuem respondilhe tenho ditto a uosa Reuerençia que ua dizer
m isa enraõ que uenha que mais quer que lhe digua a todas estas couzas estauaõ prezentes yunto
a p orta tres dos simquo que atras diguo hu por nome pantaliaõ montr.° queseruia de sargento-
r

Apêndice

mor„ _ . ( j r- e *n dê fttim b íí por no?r.ç C fíiO e fjtr s iffc ' V *nt


fcçmirõro‘ q u V d l “ c ï » ^ ‘ Í Í J . S r f Caru.Iho m « > » 6 lo m U ,n £ * S . « p r , * . «
n9í nrti . ^ c o m « « p* p . m#uBús «imouo por o o r .e AndresC©* ide -r^cr i>
nao pode cmtrar neste R.** e outro dof xnewDos *»»*« y >
c uendo as derradeira* p.laura* do frade leuar.6 jonto» das op ada* e * * a p * g n u a d o todas
très estais prezo Imdo p.# me lcuanur o frade me pegou por bua perna doa f f V '* * e por e«r*r
no estado em que estaua me naS pude bulir e me deraõ bu# cotiUda hfi do« tr? . <} mc (n fcü
golpe no roupeta sobre o peito dereito eoutro na aba e loguo me dersS da?-; *©'.*-ada» hui n i
fome esquerda e outra na mesma orelha e outra oas costas íj me esCalireS ' ? mei o prim o
caimdo no chao con muitos estocadas que milagrozamente me naô ma tara 6 e ■ *«r io m s a com
hG rapas que me tinha maõ na Cadr* por naõ cair delia por ser aimda çed-^ -r - ? Ji
minha guoarda estar ainda Recolhida e quoando acodiraõ ya os simquo esuuaÕ, que eraõ os
amotinados com algGs trímta ou quoaremta que tinhaõ comuocados com padres p.» este
effeito e eu lançado no cha6 por morto e sem acordo do muito sangue que se me tính* ido e
da fraqueza da doemça de que me leuantaua que niroguem me yulgou a uida eloguo eleç-;7oS
cabeça em ire sí, por capitaõ mor, a hü ra.*1 pais home da naçaô que era secretario hfl dos «no*
tinadores e leuantados e loguo forao ter comiguo com algGs da sua parçelidade e me botarad
hüs grilhois sem me curarem apoderandose de todo minha fazemda, ouro, prata, escrauos soltos
de guerra e esCrauas soltas grande copia, e muitas fazemdas de regates e nouerara pesas que
tinha em prizaõ p.* mandar no pataxo a buscar mantimentos que tudo pasa de m ab de trimia
e dous mil cruzados os quoais fazemdo feitor ao diUmquerote que estatm p * eroforcar lhe em-
treguaraÕ toda minha faz.* soltamdo a elle e premdemdo amim em ferros e a terça fr.*quínize
do mesmo mes très Dias depois do aComteçim> de noite me embarcaraõ em hü batei estron­
cado efeito pedaços com hüm mastro quebrado e hua ueüa uelha erota roe embarcaraõ sem
5
mantimento mais q com hu pouca daguoa, e sem cama e sem uestido mais ïj o que tinha
quoamdo me premderaõ e deraõ as Cotüadas o que eles numqua fizer&Õ se eu esüuera sa6 nem
tal ímtermaraõ e embarcamdome da maneira que diguo sem me deixarem trazer dous Criados
p.» curarem de mim foi deoS seruído trazerme a esta loanda a saluam.1* em simquo dias oiterata
legoas de costa comendo hü. pouco de peixe que me deraõ no batel com hü pequeno de uinagre
sem mais outra Couza que todos os que sabem esta Costa o atrebuirao a milagre e desembar­
cando aqui de noite me leuou logo hu soldado que me trazia a seu Carguo a caza do guouer-
nador luis mendes de uascomçelos o quoal mostrou comdolerse de me uer no estado em que
cheguaua e taÕ mal ferido eu o Cri por que he fidalguo e Cristaõ, mas com todas as forças
tem procurado aniquilar e desacreditar aquela comquista com uosa M g * com olaseterauisto
por seus papeis semdo a milhor couza que uosa Mag.4* oie tem e a isso empeaho minha cabeça
e a de hu filho que tenho eu aguoardo comualeser se deos for seruido recolhido neste colego
dos p.e> da companhia de Jesus aonde fiquo esperamdo ordem de V. Mg.* do que eide fazer e
estamdo em estado pera poder sair fora e negoçear com o g ,4w me de simquoemta hom€s fa-
semdo o gasto a minha Custa e leuar mantimentos daqui p.a os pouquos que la estaõ e com
hü capp.*m dos que aqui ha, tornar a írme ameterme de posse daquela praça e premder os
simquo amotinados e emtregualos ao Capp.*1" p.1 que os tragua aqui ao g.or e elle mandalos a
V . Mag.de por que doutra manr.* amde fugir na primeira embarcaçao que duerem e ade custar
muito a guanhar outra uez e os mais que la ficarem com suas molheres filhos e filhas e o gentio
d a terra os ha de comer e asse de perder tudo, de toda manr.* V. Mag.4* mande acodir com
breuidade pelas rezoes que apomto pois tem custado tamto, nao estou em estado p.1 me alargar
mais nosso sõr a real pesoa de vosa M g * guoarde por largos annos desta loanda aos i \ de
Janr* de 1619.— (a.) Manoel Cerufipr.a

DOCUMENTO N.° 86

EM CARTA DE S. MAG* DE 21 DE DEZEMBRO DE 1618

De Manoel serueira pereira conquistador do Rn.» de Benguela se recebeo agora a segunda


via de om ra c a m Sua que se nos auia remettido com o correo de a8 de Agosto passado que
56o Angola
x»ny neste desp.» e assy copia do que entaõ se nos cscreueo sobre os particulares de que iraua
E porque esta segunda via tras accrescentado de nouo o que delia entendereis. Me pareceo
também remetteruola; E encomendamos que se ainda naõ esiiuer executado o que mandev
em a8. de A gosto ordeneis que com efleuo se cumpra, E senaõ dtllaue mais enuiara M .•* ser-
ueira o soccorro que pede, lançando maõ do empréstimo que para elle offereçeo do que estiuer
feito e se for fazendo me auizeis, para ev saber o estado que tudo tem E também ordenareis
que se íaçaõ cartas minhas para M .•* serueira auizandoho de com o se receberão as suas, e en-
carregandolhe ^ue nas guerras que intentar proçeda com todo o tento e justificação, escuzando
r quanto lhe for possiuel rompimento com os naturaes da terra e tratando muito de os domes*
ticar com boas obras, e correspondência, E principalmente attenda a conuersaõ das almas
fauorecendo os ministros da Igreia, e procurando que d ies cumprao com suas obrigações E
anunçiem aquellas gentes o Sancto Evangelho com o cuidado, e pontualidade que deuem; E
para o Bpo de C ongo, e Angolla se fará também carta minha porque se lhe encomende que
enuie ally sacerdotes a preposito para a cura das almas dos Portugueses, e conuersaõ do
gentio dandolhes os poderes neçessarios para as cousas que M.tl serueira apponta, E tenha
co m elles toda a boa correspondençia fauorecendo a conquista e pessoas que nella assistem
para que uá. adiante, Escreuendosse iuntamente ao Gouernador de Angolla sobre o fauor e
assistençia que deue dar a M.*1 serueira por termos iam apertados que o obriguem a lhe nao
faltar; E Porque M.®1 serueira auiza a que alem das Minas de cobre de que tinha notíçia se
descubriraõ no Poru^em que estaua outras de Zimbo de grande importância para o tratto de
A ngolla ordenareis q se veya no cons.0 da fazenda que ordens se lhe deuem emuiar p.° o be­
neficio de huãs e outras, e se cons.te com breuidade o q. pareçer de q com o uosso me auizaTeis./.

R u i d ia i dm hs .
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção Ultramarina. Documentos de Angola).

DOCUM ENTO N • 87

Ordenoume o sõr Visorey q enuiasse a V. S. a copia da Carta de Smg.4 q era com esta,
com os papeis q ella acuza tocantes ao socorro que Manoel ceru.4 pereira conquistador do
Reijno de Bengela, pede se lhe enuie e p.4 que V. S. ordene se exsecute o q smg.d manda com
todo cuydado e que p,* se responder a Manoel ceru.M como se receberão as suas cartas e o
estado em q estaõ as cousas q trata ordene V. S, se faça hua Relaçaõ do q sobre esta matéria
se tíuer feito pello conselho da faz.4 p.4 q se lhe possa auizar ao certo pella secretaria a q."1
R elaçaõ com este escrito ordenará V. S. se enuie a minha maõ. Ds. goarde a V. S. casa n . de
jan.” de 1619.
R u i d ia l dmns.
Conde de faro. „ ,
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção ultramarina. Documentos de Angola)«

DOCUM ENTO N.° 88

PAX
T en h o escrito a V . M. largam.16 da missaõ do Congo cõ larga relaçaõ; depois desta, o fiz
taÕbe em 14 de A gosto por hua nao q' partio daqui p.* Pernambuco, e iuntam.te mandei largas
relações destas partes, desdo tempo q* escrevi quando cheguei de Congo, A gora parte hua nao
r P« Pernam buco naõ quis perder ocasiaõ e nella mando a V . M. hü Copo de unicorne q* me deraõ
os p ." q ' foraõ a m issaõ de Benguella em Comp.4 do g.dor M.e! Cerveira P.I# indosse meter de
posse c õ os soldados q* vieraõ do reino q* seraõ 70 todos rapazes ou os mais delles, ia escrevi
de C o m o o g.dof o prendeo e Em barcou, e chegou a Benguella em hü mez, se os p.#» naõ foraõ
5 6 1
A pên dice

c ô e!le, nã e n tra ra no governo se guerra, mas os p •* a p *x ig u *r » 3 tudo. E l l r « m t o t r e í ÍT


«tn d e s c o b rim e n to das m in as de Cobre, e se ctte o u n r a com etei ta! e o p re ^ t p o f m eio Je /? w t»
b e llic o zis s itn a , se g u e rra de m om ento por$ por todos seríab 70 espiogardas» « m g u e rra p t r is
p o rQ os neg ro s q* a via acolhersõse na sua volta do m otim - e destes 70 soí-laJo* eoroecaraU
lo g o a d o e c e r, de m o d o q* nc escravos avia p.1 o» carregsr. M as Í m de os t*rrt« í> , q' no m e io
deste d eá em p aro e pcrssguicoés, descobrisse as minas, q’ d ite saõ oaoy nquas. E s iaõ d is ta n te *
d o m a r hO d ia de cam in h o de Carregadores esteve neltas o utro dia tirando afguS* pedras e n í
ap a re lh o s a v ia p.* c a v a r ta ò esbulhada fiquou a Conquista, emfi.ro per ma! e bem tírar**> * r r*
q u in taes de p e d ra , e cscassam.** os poderaó a c a rre ta r,p o r faltare negros, p o z c ftõ o u tro d ia co **
c a m in h o , e ia q u a si todos os soldados vinhaõ doentes. E assí se em barcara& o u tra ves p.a Hct>-
g u e lla ; p o rq * o g,4«" n aõ quis ir p or te rra , mas veio p or m ar dem andar a terra, das m in a* q ’ f
d is ta de B e n g u e lla d ia e m eio de C am inho p.* a p arte do norte. E n tre as pedras arHaraÔ duas
piq u en as co fio s de c o b re q* a cercavaõ q’ he sinal de m.** cobre. Asai voltou o g,—* p . B c iv
g u e lla triu n fa n te de seos in im ig o s q’ tc iu rad o na 3 aver m inas de Cobre em Benguella, dea&asda
e v in d a ad o eceraÕ q u a si todos, e os q* fiquaraõ em Benguella, os m ortes fora 3 ate .17 e o%
m a is esteveraÕ g ra v is s im a m .^ doentes a te o g.*' q* tornou p.* esta Loanda cõ as am ostras p *
e n v ia r a e lre i, e m Corap.« dos padres. E em tres caixoSs m andou as pedras a ei r e i q* p artiraõ
d a q u i ao s 21 de ja n e iro de 621. P o r via de Pernam buco. A qui no C ollegto fizem os fundtczõ,
e o c o b re he fin íssim o e sé d u v id a té ouro. E note. V . M , q* se no cum e do m onte a flo r da
te r ra as p e d ra s té c o b re , q' fa ra entrando p o r eíla e dandosse na v e a ^ beta delfe. o g.4* se
p a r tio p.® B e n g u e lla sS aiu d a nenhu 5 aos t8 de M a rç o de 621. ds o aiude q ’ assas patientia
tem m o s tra d o e lle he p o r n a tu re z a cap itao e soldado e era tudo ventorozo, e se se dera «ioda
a esta C o n q u is ta de B e n g u e lla estivera o je m.*° prospera; mas ate gora foj dezemparada, elle f
pede a S u a M a g .4* P a d re s d a C om p.» e he ra-*® am igo nosso e antigo, isto quanto a Benguella.
E a c e rc a d o C o p o de u n íc o rn e q* em Benguella dize aver m.‘" e eu creio sa& Abadas, mas té a
m esm a v irtu d e q* ia se fez co n s ta isto ser assy.
D e C o n g o n a õ sei q’ d ig a, m o rre o M anibam ba dõ An.4» da sylva depois q’ dele viem os,
fiq u o u h ü seu filh o p o r d u q u e, q* n aõ quiz sogeitarse a elrei deraõlhe guerra, cortaraõlhe a ca­
bessa, e fiq u o u p o r duq ue o In fa n te .
E s ta o re in o q u a si a c a b a d o , e o g.ot de A n gola naõ contente com as couzas de Congo.
T h e S o v a p e rte n c e n te a C o n g o pede ser christaõ, naõ sei se he cõ medo da guerra q* tem e
lh e de o g.4or p e r te r e m suas te rra s escravos fugitivos de Portugueses, desta C onquista de A n­
g o la m a n d o la rg a re la ç a o e ia se v a i acabando o m ais certo he q* ir a cõ esta carta, e quando
n a õ ir a n a pr.® o c a z ta õ T u d o s a õ g u erras e h a 3 . mezes q* naõ tem os novas delia, foi d ar era
M a ia m b a q ’ a v e ra 3 o annos q ’ nos m a to u m ais de 3 oo portuguezes, os cam inhos estaõ tapados,
e assi n a õ se sabe n a d a de c e rto ds os liv re , o g.dor de A n g o la q* dantes corria cõ nosco, cõ a
v in d a de M .* 1 C e rv e ir a p.® a este co llg.° se to rn o u a re tira r. Os m issionários de Benguella fezerao
la m .co fr u ito . E u fiq u o d e sau d e p re g a n d o esta C o resm a no nosso C o llegto. espero largas novas
de V . M . e e s tim a re i q* seiaõ m a is araeudadas e assy co m o V . M . escreve na mençaõ de M arço •*
ta m b ê o p o d ia fa z e r n a de S e te m b ro . C õ o Copo vai huã pedra da cabessa de peixe mdher, e
iuntamJ* a caveira do mesmo p e ix e q' V. M. gostara ver, porq* té dentes como home particular- \
mJe os queixais. E s te p e ix e n a õ h e c o m o os m ais q* poe ovos, m as c riaõ nas entranhas como
os m a is a n im a is , o q ’ se sabe po rq * a p a n h a ra o e pescaraõ hu peixe femea e dentro nas entranhas
lhe a c h a r a õ h u f ilh o , q* m e m a n d a ra Õ , ou p.® m e lh o r d izer a pelle q* tenho guardada, a pedra
serve p.® a lm o r x im a s , febres, m o íd a m .1* b em estrum ados aquelles pos era agoa ou vinho can-
tid a d e q* c a ib a n a m o e d a d e d o u s v in te is , he c o n tra o a r, boa p.® doença de figado de m odoq*
to d o s os ossos d e s te p e ix e saõ m e d ic in a e s ; a p e d ra criasse na cabessa com o a de cavalo m a-
rin h o . V . M . v e ia o q ’ m a n d a de seu serviço q* o fa re i de m il vontades. dS nosso s.or eit *6 de
M a r ç o 6 2 1 . C õ e s ta v a i a re la ç a Õ das festas q* se fizeraõ ao B P, fr de Xavier, os erros perdoe
V . M . q* n a õ h a b o n s e s c riv a é s .

A m argem : S.°* M.®1 S e v e rim de fa ria . ®


Matheus Cardoso.
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção Ultramarina, Angola c f. o.* íg ,

7*

i* r r :-
562 Angola

D O C U M E N T O N.» 89

C A R T A D O C O N Q .00* D E B E N G U E L A A O G .° " J O .- C O R R E A
DE SO USA
V ossa Snjjria seja cnuy bem chegado e bem ido a loanda, nalm a estou sintido, estar no
estado em q estou sangrado 4. uezes, e com huã fonte aberta ha 4. dias em hG braço q h e causa
de n aô poder ir pessoalm ente uer a V . S. e darlhe hu grande abraço e oflereçer me de nouo a
seu seruiço ainda q ha annos estou nelle. Aqui estou com 53 companhr.0i entre uelhos e mininos,
e eu quasi çego d o olh o esquerdo e cada dia cõ as arm as na maõ pellos inimigos uerem o mi-
serau el estad o em q estam os; Se V . S. por seruiço de S. Mag.d* nos pode fazer. m. de nos so­
c o rre r c õ algu s soldados, a elle faz grande seruiço, e a nos m.u m. por naõ perecermos em
m aõs d e inim igos. Naõ tenho q offereçer mais que esta pessoa que pera 0 seruiço de V . S. me
n aõ podem nunca faltar forças e sobejar vontade. Nosso $.or g.do a V. S. e o torne a le u a ra sua
ca sa com o eu desejo tr pera a minha. Desta Cidade de Sam Philippe hoje 4. de 8>ro de 1621.
annos.
M a n o e l C e r v e ir a P*a
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção Ultramarina Angola).
*

D O CU M EN TO N.° 90

R E S P O S T A D O G .OOR D E A N G O L A A M .eL C E R U .A P .A
P ello pataxo q encontrei nesta C osta soube ter V, M. a saude q estimei q sem achaques ia
se naõ viu e, e estim arei q V . M. me de occasioes de o seruir q o hey de fazer co muy boã von­
tade. De P ortu gal e Castella naõ mandei nouas a V . M. por q entendi telo sabido por quá q
todos tem os que sintir nellas. Conform e as nouas q acho de Angola de estar tudo reuolto e ba­
ralhado m al me posso eu resoluer no neg.90 dos soldados, de mais de trazer muy poucos, e elles
de m ui ma vontade Gearem neste sitio. Leuarm eá Ds. a Angola Com tudo o q em my for hey
de seruir a V . M. cõ muy bom animo. Nosso s.or g.d9 a V . M. ette. Desta nao em 4. de 8 > o de
621. — Joaõ Corrêa de Sousa.
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção Ultramarina. Angola).

D O CU M EN TO N.° 91

P o r esta por nos assignada. Certeficam os nos Bertholameu Diaz Adjudante neste Reyno e
conquista de Benguela, & Gaspar ferreira soldado delia q he uerdade que passando por este
p o rto o Gouernador de A ngola Joaõ Corrêa de Sousa, e indo nos a bordo da nao em q hia o
d ito gouernador a reconheçer o que era por mandado do snõr gouernador e conquistador
deste R eyno Manoel Cerueira Pereyra, falando com o dito gouernador Joaõ C o rrêa de Sousa,
elle nos disse, que era o que faziacnos aqui, que por que nos naõ hiamos, pois naõ seruiamos
nesta Conquista a Ds, nem a EIRey, e que se fossem que elle daria a cada hum seu cargo con­
form e aqui o tinhaõ a saber, ao capitao, o faria capitaõ, e ao Alferes, e o adiudante seria tam
bem adiudante. e assi o Certeficam os e iuramos aos santos euangelhos e por uerdade nos
assinam os aqui em SaÕ felipphe hoje vinte e sete de Octubro de mil e seiscentos e vinte e hum
annos.

o ajudante bertolam eo dias


guaspar fr.*
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção Ultramarina. Angola).
Apêndice 563

DOCUMENTO N.- ç>j

PRECATÓRIO

Manoel Ceru.” P.* fidalgo da casa deiRey nosso s.* G.<#r Conquistador t Gap.™ geral d c r e
nouo R.®®de Benguela e das puincias (sic) a elle annexas pello díio s." Cap. ÍA o saber ao a.»
Jo * Corrêa de sousa g.w e Capiiaõ geral do R.** de Angola, ou a quem seu lugar tiuer em como
4
S. Mag.tfí me manda per huS sua 4. tiue ponha em correnteza o lauor das minas do cobre 4
tenho descuberto e me auisa dera ordem a V. S. pera que dessa loanda me socorresse e «io­
dasse cõ tudo o q eu de qua lhe pedisse mandandomc gente bastante p.®soiar o porto de Lumbe
4
Ambala e assi hum Cap."* experimentado na guerra seja pessoa de confiança e hü Ant_* TH«
6
tendalo c toda sua gente preta o treslado da qual ordem o dito s.w me mondou pera 4
4
uisse a ordem * V. S. trazia aserca do socorro q* me auia de dar e o treslado delia uai iunto
4
co esta carta de precatório authentico, Pello uendo eu o grande aperto em estou posto e 4
a necessidade q tenho assi de gente como do dito Cap.*" e Ant.® DiSz tendala e assi mais de bü
5
barbr.® pera sangrar os doentes, e de hü sima f r l sarralhr.* q nessa conq.1* assiste obrigado
4
a esta pera concertar m.u* armas - tenho desconçertadas pois poucas tqgho em forma q siruaõ,
e também ires caualos os quaes o g " luís Mendez de Vazconcelos me tomou nessa loanda q.
.1
me madaua S. MagA e por q. também naõ tenho nauios p me poder mudar pera o dito porto
de Sumbe Ambala cõ a geme municoês e artelharia e assi estarmos hoje aqui poucos e tardando
o prouimento e socorro dessa loanda poderense unir estes gentios todos nossos inimigos contra
nos como tenho entendido q o andaõ ordenando e por atalhara isso e a outros inconuenientes
**9
q podem aconieçer e principalm.** por dar comprimento ao q S* Mag me manda fazer na mn-
tería da continuação das minas como leal vassallo q sou seu, determinei fazer esta carta de
precatória p.* V. $.■ pella qual lhe requeiro da p.*f de S. M ag* e da minha peco muito por merce
q tanto q lhe for apresentada em comprimento delia me mande logo cem soldados relhos dessa
Conq.u q, outros tantos fugirão daqui q hoje andaõ por la e serue nas guerras dessa Conquista
e assi mais hü Cap.*mhomê experimentado e de posses de quem eu possa fiar a guerra e Ant.®
Diaz tendala por outro nome Ant.° Mossungo co toda sua gente preta q he m.u e o dito barbr.®
e sarralhr.® açtma declarado cõ os tres caualos q me tomou luis Mendez e iuntamente na­
uios em q nos mudemos co tudo p.* o dito porto de Sumbe Ambala, e dali vamos a sitiar as
ditas minas de cobre p.* q nos ditos nauios possa mandar quantidade de pedra por lastro
delles a S. Mag.da a entregar nas p do Brazil aonde elles ajaõ de ir carregados cõ peças
dessa loanda aos feitores do dito s.or p.* q lhe ínuiem a dita pedra a Portugal cõ ordem q os
ditos leuaraojminha, Pello q lhe torno a requerer da p.,f do dito s.®Tde comprimento a ordem
4
q tem sua em virtude da qual fiz este precatório, e fazendooV. S. assi fara o elRey nosso s.M
manda e a mí m.um. e do contr.® q naõ espero de V. S. protesto por todas as perdas, dãnos e
danificações q daqui resultarem a sua Real fazenda e de senaõ conseguir o beneficio das minas
do cobre e a perda da artelharia e munições que aqui se arnscaÕ pellos poucos q aqui estamos
e per remate o perdermonos todos e nos comer o gentio da terra e assi lhe encampo e Ibe hei
de nouo por encampada esta Conquista cô todas as mais perdas e damnos atras declarados e q
tudo auera S. Mag.ífl pella pessoa e fazenda de V. $. o q entendo naõ sera assi antes V. S. dara
.1
comprimento ao q he seruiço de S. Mag.*® & a mim me fara m. p o q mandei passar dous deste
theor mandando este a V. S. pello Alferes Xpouaõ Roiz e ficandome outro em meu poder pera
em todo tempo constar disso escripta nesta Cidade de São felipphe R.s* de Benguela por mim
assinada e sellada com o sello de minhas armas Manoel Pereyra Secretario deste R.M e do s.”
g,or e Conquistador a fiz por seu mandado Aos 7. de nouembro de i6ai annos.
(Biblioteca Nacional de Lisboa. SecçSo Ultramarina. Angola).
564 Angola

D O CU M EN TO N.» 9 3

Snor

Dia de S. fr/* q. foraS 4. de 8 > o passado, passou por este porto 0 g.™ de Angola Joao
C orrea de S o u ^ , e hum luis da R ocha m esire de hG nauio q hia em sua com p/ me entregou
as cartas de V . M ag/* escriptas hua em Madrid a 5 . de M arco e outra Ix/ a 3 * de Junho desie
presente anno de 6a». e co ellas o treslado da copia e orde q V . M ag/8 mandou dar ao dito
g * p/ me aiudar co gente e outras cousas necessr/* a esta Conq/* e iuntamente fui sabedor
da m orte del R ey Dom Philipphe terçeiro nosso s/T q Ds. tem pay de V , Mag/* a qual senti m/8
com o leal vassalo q sempre fui e serei de V. Mag/* e com o a perda de tao grande Monarcha 0
pedia, e logo eu e os mais companheiros ficamos consoladissimos e mui alegres por uermos q.
foi nosso s / r seruido dam os a V . M ag/8 em seu lugar q viua muitos annos p/ remedio e amparo
nosso e de toda a christaodade,

Pellas de V . Mag/* uejo mandar me assista nesta Conq/1 e ponha em correnteza o lauor
das minas do cobre q, tenho descubertas de q tenho mandado as amostras a V. Mag/* o q naõ
pode ter efiecto ate VCM ag/* mandar o q ia em dUtras pedi q he mandar V. Mag/8 cj o g/r de
A ngola o seja tao bem deste nouo R /° pera q assi possa tirar de Angola sem contradicaõ alguã
tudo o q for necessário pera esta Conquista sem se despender nada da fazenda de V. Mag/* assi
gente branca e preta com o os mantimentos, e q seja pessoa q de inteiro comprimento aos
mandados de V, M ag/* por q entendo q o g / r de Angola naõ me ha nunca de ajudar em nada,
nem ha de com prir os mandados e ordem de V. M ag/r pello q aqui se deixou declarar. Elle
me m andou uisitar por hum Criado seu de palaura, eu lhe escreuí hü escripto por hü C a p /W
cujo treslado uai com esta humiihandome pera co isso o mouer aq desse comprimento a ordem
de V. Mag/* pedindolhe me socorresse cõ alguã gente por nao estarmos aqui mais q ( 5o?) p /8
entre mancos e aleijados uelhos e meninos, ao q eile me nao quis dtfferir mandandome hG es­
cripto de q também mando o treslado a V. Mag/8 e mandando eu o Adjudante e hu soldado a
bordo da sua nao a reconhecer o q era, eile os induzto a q fugissem dizendolhes, q por q se
nao hiaÕ desta Conq/* q na5 faziaõ aqui nenhü seruiço a Ds. nê a V. M ag/9 como consta da
Certidão q co esta vay e o mesmo disse a hu p • CapellaÕ q aqui está comigo e a outras p/* q
falarao co eile, no q logo mostrou o pouco q se lhe daua de dar comprimento a ordem de
V. M ag/8 Eu ihe escreuo nesta occasiaõ co m/* cortezia, por q nuca tenha rezaÕde dizer qeu
me descompus co eile em cousa alguã, e lhe mãdo hü precatório co o treslado da copia e ordem
q V. Mag/* me mandou p / que uisse o q lhe auia de pedir; no dito precatório lhe peço çem
soldados uelhos, tres caualos q me leuou o g /T luis Mendes de Vasconçelos q V. Mag/8m emã-
daua hu barbr.« e hu sarralhr/ e o mais q V. M ag/9 lhe manda me dé, e iuntamente nauios p/
me mudar daqui p/ Sumbe Ambala o treslado do qual precatório mãdo a V. Mag/* p / q ueja
o q lhe peço, e dando eile o comprimento deuido a ordem de V. Mag/® comecarei a ir man­
dando pedra das minas por lastro dos nauios e carregarem de peças pera o Brasil
a entregar la com ordem minha aos feitores pera q a enuiem a V. Mag/* emquanto V. Mag/*
nao mandar mineiros e fundidores pera beneficiarem o lauor delias que entendo haõ de ser de
m/° proueito a Real C oroa de V. M ag/6 por q em altura de hum estado se ha de tirar cobre e
isto sem despeza alguã da faz/8 de V. Mag/° dandome Joaõ Correa de Sousa Ant.° Mossungo
cõ toda sua gente e tudo o mais q lhe peço. E em caso q 0 dito g.0f nao cumpra a ordem de
V. M ag/8 com o ia o uai fazendo, ou me falte c 5 alguã cousa das que lhe peço no precatório,
eu rae naõ posso mudar daqui pera Sumbe Ambala nem sustentar isto aonde estou arriscando
eu e m ais companheiros a pereçermos todos sem eu poder ser bom em q nem a elles, ne eu os
poder sustentar estando empenhado ate nos cabelos da cabeça deuendo na loanda mais de de­
zassete mil c / « e o q peor he q estamos em risco de nos comer o gentio da terra nossos ini-
m igos pellos poucos q hoje samos, e de merce peço a V. Mag/8 me de l/ 8pera me ir pera minha
casa, ou mande logo cõ m/* breuidade se me acuda cõ tudo o q peço por q estou uelho e cego
de hu olho, gastado de trabalhos desta Ethiopia e cõ outros mil achaques q naõ digo, e assi
Apêndice 565
daoui nn>C' ,r 5
à ou ownde c m.** brcuidade te me de o $ peço m miade tmr líto
Mntn • j 1110 mC aíreY° a 5u,rentar * í » esw praça $an ter ordenado algl1 mais que « u m *
coDSummdo com estes poucos c o m p r o , sem neabff prooetfo.

Com a resuluçaõ e reposta das amostras do cobre íj tenho mfidado a V, M,** $ espero tqui
por o o Janeiro me determinarei t saberei o ^ hei de fazer. E torno a duer $ as minas u 6
riquíssimas, e tenho notiçia de outras hS dia de caminho destas segundo me di**ersÕ Ç o *5
estão ainda descubertas, nem eu o posso fazer sem ter gente e todo* os apprauc* e o mais q J *
peço, e fico em estado <J se Jo.“ Corrêa me naõ socorrer aqui morrerei cS ot companhr.** corv
solandonos cõ acabar a uida no seruiço de V, Mag*

E alem das minas $ digo, tenho também noticia de outras $ saí>*s Cubo, e o cobre
nao ha de fazer custo neohQ era se Iaurar nas minas nem em fretes, por 1} nos rutuios $ f<>rem
de Angola pera o Brazil poderá ír por lastro delles, e dahi a Portugal sem despe» afguí da
fazenda de V. Mag * como mais largamente tenho escripto. Nosso s r a Real pessoa de V. Mag *
5
g.-1 por largos annos. Desta Cidade de , felippe hoje 7. de Nouembro de 1611 annos.

[Segue-se a assinatura de Manoel Cerveira Pereira].

a **** ***** n° conse^° faz,i> e que parecer, em Lx.*


(Biblioteca Nacionil 4e Liaboa. Secçlo Uitrccarma. AojoU}.

Do g« de benguella. 5
R. a a de Mayo 6aa.

de Ameola- E ' o5 a ?r* ^ Uata áe se na aner de separar ào goueroo


f p Na
2 ! terceira nart* Rm * j
ade ser “ * der ôstado
de bênge,a; a * q trata d0 socorro
«PMn5 pertencõ a esta Conq*.
se mandou fundi: e declararao ^ re ^ U ^ V 11* ” andou da Pedra de cobre se ade dlzer <lae
P <51
q se deu? escusar as despesas se fazem n l t f E qUeSOpOS' ° 5 " 5 dellaS e0bre
m naquella conquista pois só se faz? p* o dito efeito.
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Secção Ultramarina. Angola).

DOCUMENTO N.° 95

C O P I A D A C A R T Á D E A N T .° P I N T O C A P P 1 T A Ô M O R , E T E ­
N E N T E D E M .*1 S E R U .* P E R E Y R A Q U E E S T Á N O P R E Z 1 D I O
DE BENGUELLA

Eu fico doente sangrado quatro vezes, e cõ febres continuas, tudo cauzado de ver a mizeria
e dezemparo de quatro homõs que aquy estaõ porq andaõ nüz e despidos, (açolhe o que posso,
mas haõ mister muito; elles vive como querê, e agora ficaõ se P.6 será pior que o P.a Camba-
-quirio morreo em sete dias, e o P.a lorenço Dias vaisse muito mal, e ficaõ dezaseis soldados
todos doentes, e isto desbaratado de modo q. seruimos aquy delhegoardar a sua gente ao Con­
quistador, e o seu sal, e o seu zimbo, de nenhü effeito isto he, meus peccados me trouxeraõ
-quâ, V. S. se lembre de my, e nas occazioes q ouuer me naõ falte, e na causa de minha doença
f
'1
! ? #

566 A n g o la

me na6 deixa hir mais por diante, o tj farey se Ds me dcr vida. A que Nosso s.OTme gr/* como
detejo Benguella 9 de Abril de 1616.
Criado de V. S.
Antonio P in to .
tBlbllotec* N a d o u » ! de L itb o a . tàecçfio U ltra m a r in a . A n g o la ).

r r « --------------------
r

DOCUMENTO N.* 96

R E L L A Ç A Õ D A C O N Q .TA E P R E Z ID IO D E B E N G U E L L A
Os Souas amigos que corre cõ o Prezidio de Benguella, saõ dous: Peringue que he Vez.*
e quinzamba que assiste na Bahia de SaÕ fran.ft Estes resgataõ de hordin.r|° mantimentos, eas
mais cousas da terra por contaria. i
Ha muitos outros Souas que naõ saô amigos que pode resgatar, e alguãs vezes o faze co
Vacas per contaria. ^
Ha tres Jaguas Caconda, Angury e Capingueoa, naõ ha mais Jagas naquele destricto, estes
resgataõ peças por fazenda. Os dereitos das peças cobrou sempre o Conquistador M.eI Serueyra
Pereyra.
Ha perto do Prezidio Paó de quicongo que se resgata por contaria de que se naõ pagaraõ
atl agora dereitos. Vai nesta Cidade o quintal deste paó atres mil rs. de bom dr.°
Ha na costa pescaria de zimbo, e que te negras para ysso o pode tirar ate agora senaõ
pagaraõ dereitos delle; o Conquistador Manoel Serueyra yntentou q se lhe desse os quintos do
zimbo, mas naõ teue effeito por lhe dizerf os P.es da Companhia q hera dereito ynjusto. *4
Tem a Mina do Sal que esta no destricto da Bahia de S. fran.0; Delia se pode tirar m.° em f
tpo. seco, orrendimento delia cobrou yntr.*m.le Manoel Serueyra em quanto viueo dizendo q
lhe pertencia, e seus testamr.0* pede 0 que veyo a esta Cidade depois delle morto, e dizem que
pertence a seus herdr.0*
Ha outra mina de sal ao sul da Bahia, que agora se vay ver, te necessidade d’escrauos
pera se tirar, ese Carregar nos Nauios, ha Sal de Marinhas q naturalm.16 se beneff.0 algu se
congella.
As terras Vez.** do prezidio saõ fertis, e podem vir delias por resgate pera esta Cidade
mantimentos, e Gado, pelo que aynda que se aja de mudar o Prezidio pera Sumbe ambala pera
ahy se continuar cõ as Minas de cobre deue ficar pouoaçaS no sitio onde agora está o Prezidio
por respeito do resgate que se pode Contrariar cõ o sal.
As Armas, monicoes, e mais petrechos, ficaõ entreguos a Lucas ferreyra, e he escriuaõ da
feitoria Manoel Pereyra. e o lucas ferreyra he Alferes actual do Prezidio.

>
Gente de guerra.

Antonio Pinto que M,eI Serueyra nomeou em sua vida por cappitaõ mor, e seu Tenente, de
que lhe passou prouizaõ cõ hordenado.
Manoel da Costa cappitaõ de Infanteria.
Lucas ferreyra Alferes do Prezidio.
Dionizio da Mota Sargento.
Manoel Roiz cabo dTLsquadra.

r
Alferes reformados.

Chris touaõ Ro\í.


Paulo Ribeiro.
Joaõ Pinheiro.
56
Soldwfov

MA* de freius, inn.** Teixeira.


Caspar de Sousa. Mtaoc! glf.
Antonio Diax. Adl* M ii.
J.* frcyre-
5 6
îmi Barboxr
Nicolaô (erreira. Manoel Pr.‘
M.*' da C o su Alberaas. Domingo* AJuarcf
Ignacio Rodriguez. Gonçalo Rott. 0 ^
Adao de Gusmaô. fran.** Pinheyro.
Ant.® d’OUueyra. Amador Teix.'1
Joaô d'Oliueyra. P • Alarei,
M.*' d’Oliueyra. P.* Diaz,
fraa.*® AJurai. P.* frf. Pesqueira,
Matheus d'Orgas. frandsco d'Elgado

Destes soldados ficauaõ ympedidos pera n aÕ poder tomar Armas quatro, s í medico, çurur*
giaÕ. e Barbr.®, e sê Capelaõ todos oüs, e descalços, e faltos de todo o remédio pera pera fite
a vida, e saude, e em dezesperaçao tao grande 4, $e lhes pode perdoar a culpa se a cometerão
O Nauio traz da Mina do Sal quatro mil e oito centos alq.*1 ficarqf pagos os fretea tres mu
e quinhentos que poderão ymportar quatro rotl cruzados, este he o estado daquele Prezidio, e
Conquista, em Loanda 9 de Julho de 1626,
Femaõ dc S ousj
(Bibiiôtect Nsdooil de LUbot. Secçfo U itn a rá t. An|ob).

DOCUMENTO N.* 97

Ordem q levou lopo soares lasso.


Fará V. M* a víagé cõ grande vegia por não cayr em algfi Inimigo, fala ha por fundo de
vinte ate corenta braças por não perder a terra, emeontrando de força arribará, ou se fará oa
volta do mar, como parecer mais seguro. Tomará o porto de sumbeambata, e desembarcará
nelle cõ muita segurança, mandando primeiro descobrir aterra, e verá se o sitio dela edo Rio,
he deffensavel por mar, e capaz de se mudar 0 Presidio e dele conquistar as minas que estão
cinco legoas pola terra dentro e mais perto do socorro do que está Benguela: Reconhecido
continuará cõ a viagÊ e tanto q. chegar a Benguela, ordenará huã embarcação que descubra as
Bayas de balravento, e avize os navios amigos do estado em q. esta a costa. Nos tres chapeos
porá V. M® vegia emquanto dura a monção dos navios do R.n0 que vegíe o mar dos navios Ini­
migos para não tom&re 0 prezidio dezapercebido; Vindo á Bahia de Benguela, n§o os provo-
cará V. M* co artelharia por não sabere de quão pouca força he e somu huzara deU yndo
lanchas a terra, e sobre a bala mandara meter cartuxos co bala de mosquete, ou dados de ferro,
q. mandara fazer do q. ha no Almazem; procurará saber de todo 0 Inventario que fiz das
armas, moniçoes, Polvora, e mais petrechos de guerra, ferramentas das minas, escrito por Ma­
noel Pr* escrivão do Prezidio, e de tudo avizara V. M* a S. Mag* pera mandar prover no que
ouver mais falta. Df. leve a V. M* a salvamento em loanda xxiv de abril de s .d c x x v u annos.
5 3
(Bib)ioteca da Ajuda, cód. i.*ut* o, foi. 337 áo t.® to I.).

DOCUMENTO N.®98
16x9.
A folhas sessenta e huã do livro da feitoria está hu auto q. 0 Proáflf da fazenda de S. Mg4*
:mandou fazer cujo treslado de verbo ad verbum he 0 seg.18Anno de nascim10 de nosso s« Ijü
568 A n g o la
xp6 de mil e seis centos e v«° e nove annos, aos vinte e tres dias do mes de julho nesta Cid* d
S feltpe R” de Benguela, nas pouzadas de Luis ley tão ouvidor gerai e Prov4*' da faz4«de S Mc4*
nestes R.*°#por ciie foi rad* o mi escrivão fazer este dizendo q. p* q. a todo o tempo constasse
o estado em q. as cousas deste R*° estavão ao tpõ q. o sw Conq4« lopo Soares lasso nelle
entrou c tomou posse do governo delle e do q. tinha sucedido dahi em diante e p« q, s. mc4*
possa ser informado inteira c verdadeiram18 de todos os successos q, nas matérias de seu ser
viço tem aconteçido, era necess0 serem perguntadas p*mde amhorid* e credito dos mT8> desta
cidade q. mais rezão tivessem de saber de todas estas cousas, as quais o $or Conq4« mandava
q, fossem os s e f '1: *0 capBmXpovão Roíz e os alferes João de Oliv,* João Pinhr®, Paulo Ribr*
e Lucas ferr* e os sarg10# Gp8r de souza e Dtomsio da Motta, e os ajudantes Manuel de freitas,
e marcos marteb E sendo vidos perante elle ouvidor geral, elie lhes deu juram10 dos sanctos
evangelhos sob cargo do qual lhes mandou q. declarassem e dissessem o q. sabião ena verdade
passava de cousas seg'0t Primeiramente quantos e quais sovas avia q, fosse f°* e estivessem a
obediência de s. mg4* e ao serviço desta fortaleza quando o dito sor ConqdoTtomou posse delia,
e q, terras culúvavão os mc,t daqui e em q. pl* e qu distancia estava desta fortaleza, e cõ q.
gemes unhão amizade e comercio, e se os mt8t desta terra hião co liberdade ás terras dos gen*
tios, ainda q. não fosse Io* e q. distancia avia delles a esta fortaleza, e juntam1* o dia e tpõ em
q. o dito s°* Conqd*r tomou posse deste prezidio, e as saidas q. tem feito, e guerras q tem dado
ate hoie, e o tpõ em q. forão, e do successo e dillação q. teve em cada hüa delias, e a distancia
dos lugares, e quãtos ^>vas assi Jagas como Ambundos tem í.u* f •• desta fortaleza e reduzidos
a obediência de S. M.d* e se andão cõ liberdade pellas terras comarcãs a esta fortaleza, assi os
negros captivos dos Portuguezes, como os brancos, per todas as p,lB* aonde o dito s.°ros man­
dava sem serem offendidos nem impedidos por nenhü dos Serês gentios, assi vassalos de S. Mg.d*
e f.t0# f ®* da fortaleza, como dos q inda o não erao, q terras se cultivavao ia de presete pellos
m.0^* desta Cid.*, e quãta destancia estavão daqui./* E por cll®s depois de praticarem sobre as
ditas cousas q lhes forão pregutadas de hua voz ê hüa mesma conformid.8 foi dito q ao tpo q
o s.0F Conqdof tomou posse deste prezidio, q foi o dia q aqui chegou da loanda dez de Mayo do
anno de 627 não avia mais Sovas f.0B desta fortaleza q estivessem a obediência de S. Mg.4e q os
segJ" ff Peringue, Maniberro, Quinzamba, e o Sova da praya q sao os vez.0* mais chegados a
esta Cid*, e dos Jagas so Caconda era f.° e estava a obediência, e q Manisongo corria em ami­
zade cõ os Portuguezes, mas q não era f.° e q os m.0T8a desta Cidade cultivavâo algüas terras
aqui perto da fortaleza cousa de mea legoa pouco mais ou menos, e q algüs negros Ambundos
de Cabamba vinhão aqui fazer feira de algüas cousas sem embargo de não ser f.°, nê estar a
obediência de S. Mg.d%e q os Portugueses não hião as suas terras ne sahiao desta Cidade mais
q a seus arimos e ate Molundo. e q tanto q o s.or Conq.dor aqui chegou por ser informado do
dano q Anguri Jaga poderoso q vive daqui 16 ou 17 legoas tinha f.*° as gentes de Peringue e
Maniberro f.ea desta fortaleza, roubandolhes seus gados e suas molheres e f.os sahio logo em 27
do dito mes de Mayo em q aqui chegou cõ outenta soldados portuguezes pouco mais ou menos,
e deu no impuri q he hua Serra asperissima, e cõ grandes covas por debaixo de terra, a onde
o dito Jaga vive, pelejando com elle onde lhe matarão g.te e o obrigarão a pedir q o reçebessem
por f.*, e depois de o deixar assi castigado passou avãte pelejando cõ Quissangue e Bisansongo
a quem teve cercado no seu impuri onde tinha grande poder e gente, no qual çerco foi morto o
mesmo Bisansongo, segundo os seus disserão, com q outro negro q disse ser seu Quiambole
veyo dar obediência, e estando neste çerco veyo outro negro por nome Bambe q vive alem de
Bisansongo a fazerse f.®e dar obediência e o s.or Conq.doT o mandou metter de posse das suas
terras q outro negro lhe tinha tomado, e nesta saida e guerras q deu se matou m.u quantdô de
inimigos, e dos nossos escravos forão mortos sinco ou seis e m.10* feridos, e foi morto fr.«°Dias
Quiião Tendala da g.le preta e feridos mais de quarenta Portuguezes e hü $0 morto de sua
doença, e q daqui a Bisansongo e a Bambe serão quarenta legoas pouco mais ou menos pella
terra dentro ao rumo de leste, e o pprio s.or Conq.dor foi ferido de duas frechadas, de fj perdeo
a y.u do olho esquerdo, e tornou a este presidio o pr.° dia de separo do dito anno de 627, dei-
f xando grande estrago em todas as terras dos inimigos por onde passou. E q logo em 21 de
fevr.° do anno seg10 de 628. sahio o dito s.or Conq.dor cõ a guerra fora cõ 75 homens portugueses
pouco mais ou menos, e entroas em terras de Culimata q sao daqui 20. legoas pouco mais ou
menos pella terra dentro cõ o qual não pellejou por os negros andarem sempre fugindo e cõ
** \ "*0*

A pêndice 569

tudo lhe tomarão doas míl raccas pouco nui» ou meno* e alguts peças cô 3 tomaria es:« pre­
sidio em az de Março do dito anno de 618./.
E logo a tres de septr* do dito anno de 6z8 partio 0 s." Conq.** c6 ?5 homem Ponugwtxrt
pouco mais ou menos, e cousa de mil e quinhentos negros Ambundos e Jagu a J jt cuerr* 4
Cabaraba s.or das terras de luqueco q era 0 mais poderoso e tímido negro 1} atcgorc ie sabe
em iodas estas p.Wl por não querer vir a obediência de S. Mg'* e o desbaratou tendo
a mor quanttd* de g.* de guerra q nflea se vio neste R.-* e lhe matarão grão quamd* g *c C 4 -
ptívarão m.u*peças e tomarão quatro ou sinco mil cabeças de gado pouco mais ou nssrr s ■
tornou a este prezidio ao pr.a dia de Outubro do dito anno de 6 a3 e na dita guerra íorão áridos ^
dous portuguezes som,a, e hG negro morto e m.*“ feridos, sendo q so os porragu«« pelejarão
ate romperem os inimigos e os porem em fugida./ e q logo em a 5 de Nov.fc* do dito tono de 6z3
partira 0 dito s* Conq ** p.” os Sumbes aonde estio as minas de cobre «, por cujo resp.u
S. Mg* mandou aqui 0 g.* M.*1 Cerv> pr.“ fazer este prezidio, e a dez de Dezembro do dito
anno deu no quilombo (q he arrayal) dos inimigos q se puserão em fugida os quais seguio
quatro dias sem os alcançar, e se tomarão nesta guerra mil p " captivas pouco mais ou menos,
e se reduzirão a obediendia de S. Mg* e se fizerao f.** desta fortaleza treze Sovas aigGs des
quais são mui poderosos e te m.lMoutros seus vassalos, e cõ isto foi 0 dito 5 * as mints de ”T
'%
cobre, de que tomou posse por S. Mg.* mansa e pacificam,**, e tirou delias as mostrasdometa!
q mandou a S. Mg.* cõ os autos q disso fez, e cõ isto tomou a este prezidio 0 derrad" de
Março de 629. se perda ne morte de nenhü português, posto q dous fígKrtf*ferides na guerra q
deu a Cahuri e q desta Cidade as minas do cobre serão trinta legoas pooco mais ou menos p.*
0 Norte. E q alem dos treze Sovas Sumbes q se reduzirão a obediência de S. Mag.* e fizerSo
{.«, tinha reduzidos 0 dito s.VTConq.a#r Manisongo, Lubémbe, Manineanga, Quitemo, Cabombo,
Conzamba, Monadundo, Mani Ca tubela, Caungueca, Cabambe, Gumbe, e languanda; e q depois
%
q 0 s.or Conq.** esta neste R.M e fez a pr* saída, andarão sempre os portugueses e seus es­
cravos cÕ Uberdade e segurança por todas as terras por onde 0 dito s»w os mandou assi dos q -9
■-yH
ia são f.#l como dos q ainda 0 não são, e se tem cultivado m.u* terras assi ao redor desta for­
taleza, como na varzea de Catubeia q he daqui quatro legoas pouco mais ou menos onde se
q
tem reduzido m.,M terras a cultura em ia este anno ha ro.1* quãtid.* de pão, e se espera aver
tanto q baste p.1 não serem necess.*' manúm.tM de fora; o q assi sabião por aver aonos
q rezedião neste prezidio antes q a etle viesse o s.or Conq.dw, e q conforme o estado em q estão
as cousas deste R."° e 0 grande cuidado e dtUg* co q o dito s.^ Conq.*' trata deltas, e os bons
successos q ds nosso s.#r lhe tem dado se espera q etn m * breve tpo seja este R.M e as Conq,u*
delle hüa das de Mayor importância q S. Mg.* tem nestas p.1*’ do Sul. e q isto era 0 q sabíío
e entendíao do q lhe foi perguntado de q 0 dito Ouvidor geral roãdou fazer este auto e termo
q todos cõ elle assinarão e eu M.#1 p.« escrivão da Ouvidoria geral e da faz.* de S. Mg * nestes
R.bm de Benguela q 0 escrevi // Luis leytão// Cristováo Rois// João dolivr.*// Paulo Ribr.* da
mata, Marcos Martel, Manoel de íreitas// Dionisio da Mota, Guaspar de Souza.
O qual auto eu sobre dito Manoel P.* escrivão da Ouvidoria geral da faz * de S. Mg.* 3
nestes R.8®1 de Benguela tresladei do proprio qesta em o livro da feitoria a q em todo e por 4
7
todo me reporto q esta em poder de luis leilão Sotto mayor Ouvidor geral e pv.*1 da faz.* de ■í
■a
S. M g* nestes R.n#* bem e fielm.1* se antrelinha nem cousa a q faça duvida, salvo no rosto da i
p.ft lauda desta peza hü borrão no meo da regra vigessima tenia q diz q tem dado. q se fez na
verdade e a tres aqui em Benguela de meu sinal custumado eoie dezasseis de Agosto de mil e
seis centos e vinte e nove annos.
Afanod P.o
(Biblioteca Nacional de Lisboa. Seeçlo Ullramariai. Angola).

» 5Í

7a

1
Angola

D OCUM EN TO N.» 99

COPIA DA ORDEM Q U E ME MANDOU O SEC R ETA R IO DE ES­


T A D O FRAN~ DE LUÇENA EM 9 DE JAN° DE i 6 3 2

C a rta 17 do m cs de Dezembro passado, dis sua Magd®que por quanto im porta muito
a seu serviço p o r m uitas occazioens delle de grande im portançia que ordinariam ente se offe-
rcçem aver nas S ecretarias destado, das m atérias tocantes hâ india e m ais partes ultram arinas
a descripç&o de todas as costas delias, cada governo, e cappitania de per sy, tudo arrum ado,
com d eclaraçao dos portos, Abras, sergidouros, e fundos delles, apontando seus baixos, e tudo
o m ais que cum prir pera ser inteira n oticia de todas as particularidades que nisto convenhão,
com plantas, em papeis Aparte das fortalezas, feitorias, e casas fortes, q os vassalos de sua
Mag** tem em cada districto, A rtelharia, e armas com que estão providas, gente de guerra, e
offiçiais que â de asentamento em cada praça e consignaçoens de seus pagamentos e com isso
RelaçoHns particulares das m onçoens, que correm na C osta, e dos tempos que durão, e assy
das correntes que ouver, e em que conjunçoSns dandosse nellas tambctn noticias de tudo o
mais que ouver em Tãffb capitania, que convenha saberse pera qualquer cazo, e asy dos Reys
vistnhos, ley que profeção, com ercio, Paz ou guerra que se tenha cõ elles, e de tudo o mais que
ouver em particular dos mesmos Reys de que convenha aver lembrança pera todos os fins, assy
em Rezão da converção dos Gentios, com o do trato, ou com ercio, ou conquista, e se tem
com m onicação com naçoêns estrangeiras, e quais, e os meyos que pode aver de se impedir pera
se tomarê as noticias referidas, manda sua Magdo que peça delias ptenaria inform ação aos g o ­
vernadores, ou capitaens que estiverem neste Reyno, que o aião sido nas conquistas, de que
avizo a V . M. da parte de sua Mag^* para que satisfaça a esta ordem no que toca ao governo
de Angolia que V . M* servio, e Rem eta ã minhas maõs a R elação que sua Magde manda por duas
vias com a brevidade que for possível. Gd* Ds. a V , M. de C aza a 9 de jan° de 6 3 z. franco de íu-
çena.
R E P O S T A com a Relação da Costa,
e Reyno de A ngolia, e de Benguella,
do Reyno de Congo, Loango, ate Mayom-
be, que mandey ao secretario frc0 de
lucena com a planta de toda a costa
em 21 de fev° de i 6 3 s por duas vias.

Governo do Reyno de B enguella .


O governo de Angolia se estendia â toda a costa pera o sul ate o cabo de boa esperança,
e por Rezoens que se offerecerão ceparou sua Magde delle a conquista de Benguella, e a fes go­
verno çeparado por huã provizão muy ampla feita em Lx* por P° Vareiia, em 14 de fevereiro
de i 6 i 8 , peila qual fes IVL â Manoel serveira pereira de o fazer capitão mor, e conquistador do
R eyno de Benguella, como se pode ver da dita provizão.
Fes Manoel serveira a povoação de Benguella cidade, e poslhe o nome de sam Felippe do
N ovo Reyno de Benguella, nella acistio annos en q ouve levantamentos de soldados, e por esse
respeito e p or outros me mandou sua Magd* visitasse o prezidio de que avizei a sua Magde de
que rezuitou hirlhe c a n a de sua magde derigida a mim pera lha inviar, peila qual lhe fazia
M erçe de lhe dar liçença pera se vir pera o Reyno, e a mim mandou por outra nomeasse a
pessoa q me pareçesse mais conveniente â seu serviço, eao dito cargo, e por ser falecido o dito
m anoel çerveira pereira na cidade de loanda, quando Receby as cartas, e por não açeitar bento
.• é

Apêndice
banhg Cardoso, o que íoi nomeado, nomay lo$» íj peitou 9 p m te c c w u & t #
effeico que sua Mag* mandava lhe dey toda ayudo, favor, anuas, Polvora, cmbarc*.,^!, e at- r
tema e dous soldados, os mais dcilu velhos da conquiiu, e juo m s.s respeito á x *•:.'-ts.fi.Uds
en que estava de gente 0 Reyno de Angoila, c a soa conquista: tWiChe o regimtoto orspr ‘ que
se linha dado a manoel serveira pereira feito em Lxa por lois de moura em »6 de it-nr^ ( t 6 1'
asinado pello Arcebispo primar Vizorrey porquanto «11 mag* me nío mandou n* *4 t t u
ntaís que nomear a pessoa que ouvesse de exercitar 0 cargo; e pera o desome era j
1
fazer sua mag* de Rogação da provirão, da çeparaçío J avia feno da de Beoqç»: .•
do governode Angolla de que foço esta lembrança pera saber sua M at- « v à « * =5 Sue m *
soares foi provido na dita conquista onde estâ.
A enceada de Benguella está doze graos e meyo da bandt do SuU setmta ligei* 3 »ir*-
vento do porto da çidade de loanda, entre hCa poma de are* da banda do norv;. ? « d , chapei ;
que esta da parte do Sul; de bGa hâ outra ba tres legoas de praya enque se p de dr*=mb*rcar
sem o impedirem: he capas de grande Dumero de embarcaçoens cô fundo dc *&<:©, ate coetr.i À
braças ficando da terra á úro de mosquete; podem estar iunias sem perigo, porq
radas do Vento sul q he 0 gerai da costa e vailhe por sima da terra. No da p: 7 * o .* ■%
çituada a dita povoação de Benguella, hora Cidade de são Fclippc, Tem tres baluartes, e hwa
delles se fa$ corpo de guarda que demora ao sul, outro a leste, outro ao Norte, todos dc taipa
de pilão de pouca concíderação; Tem cada hum delles tres peças de ferro de coatro livra* de
baila, sem serviço, e artelheiro que possa acudir a hQa ncçessidade, <#■ * são de mais effimc-
que pera defecção do gentyo; ha mais outra peça desemcavalgada. N&o se limitou ha esta con­
I
quista numero certo de gente, nella entrarão com Manoel serveira pereira duzentos e rincocnta
soldados, delles, poderá aver vinte e sinco, e de presente, ao mais noventa e coatro; muitos
delles enfermos, e desses ficão no prezidio quando vay a guerra fora muito arisctdos por ser o
gentyo muito atrtiçoado; Padessem todos muitas neçessidades polia falta que tem de todo, e
por serem mal pagos, de § tem rezuhado levantamentos que se podem temer.
Tem falta de armas porij estão desconçertadas, e as mais delias gastadas da ferrugem:
Tem sincoenta barris de duas e tres arrobas de polvora, mas muita falta de moniçao, pello
se deve conciderar se convS sustentar aquella conquista, estando tam lonje de Socorro e nao
tendo defenção por mar, aos Rebeldes, nem convir fazer guerra pello sertão por não ser iusta, e
ser mayor a despeza pera sua Magá* que o proveito, e não o sendo as minas de cobre (que tombem
he de concíderação) se se deve extinguir esta eonquista, e recolher artelharia, polvora, armas, e
moniçoens e que somente fique huã povoação com os moradores que quizerem viver nella pera
Resgate de mantimentos, guados, Madeira de quic ongo, Pescaria de zimbo, e de alguss peças pera
as armaçoens, porq quando aly foi a pr* armada Olandeza no anno de 624 desembarcarão em
terra e virão o cityo, os baluartes, Artelharia, e tudo o mais há vista de Olhos, e & falta, e fraqueza
que nella há pera sua defenção, e tornado haquella costa facilmente a renderão, e dirão que to­
marão a sua Mag* huã fortaleza, não sendo mais que povoação de pescadores. A balravento da i
ditta enceada há muitas ate 0 cabo negro q está em dezasseis graos enque podem surgir m18* na­
vios : Na de sam frw que esta em doze graos, e dous terços ha huã mina de sal natural enque o mar
Rebenta por baixo da terra, e fas tanto que tirado 0 que esta feito, se fas logo outro, e sempre
esta co sal; he neçessario fabrica de negros pera 0 tirar e por em monte, e bateis pera 0 levar aos
navios enque se ouver de carregar porq se tira em pedras grandes: he sal groço, e nam tam bom
como 0 deste Reyno porq he muito forte, e penetra demaziadamente, o que salga. O proçedtdo
deste sal apliquey hi despeza desta conquista, e vai na çidade de loanda a mil rs. de panos o al­
queire que he moeda corrente da terra, não indo sal deste Reyno tera mayor despeza, e rendi­
mento, e podersea contratar Pera a fazenda Real. Tem mais esta conquista pera sua despeza os .1
direitos dos escravos que saem despachados de Beoguella que não pagão na feitoria de loanda por
merce especial que Sua Magde fes a Manoel serveira p.MAgilavento da dita ençeada de benguella
tres legoas delia pera a parte do Norte esta o porto de Catumbeila em doze graos largos da
banda do sul; nelle pode estar trinta naos com as proas em terra, entre Mangues, em fundo de
dezoito braças, sem as poderem ver os navios que vão fazendo viagem pera o porto de loanda, **
entralhe hum Ryo enque podem fazer agoada dos bateis com boa pescaria; nelle estiverao os
primeiros olandezes que forão ha Ãgolla no anno de 624 (saindo de Benguella) e no dito porto
de Catumbela espalmarão, e alimparão â sua vontade por espaço de quinze dias, e delle fizerao
À

\
572 A ngola
prezes cm nevios que pasavSo pera 6 de ioanda, e eu lhe fiquey no mesmo tempo na baya do
chapco, e no dia que se levarão de Catumbella entrey na enceada de Benguella. Agilavcntode
porto de Catumbella pera o norte esta o de Quicombo em onze grãos, e hG terço, nclle desem­
barcou Lopo soares quando foy de Ioanda pera Benguella; Nelle entra o Ryo Cubo que 0 fas
bom cityo, e çadio; Se as minas de cobre forem de proveito de q lopo soares mandou amostras
pera este porto se hade mudar a povoação dc Benguella porq está das minas sinco legoas, e
entrfio nelle embarcoçoeus, mas não sé sabia se hé o Ryo navegável ate o citio das minas que
^ estão visinhas a elle. Tem esta conquista peiio cenúo sovas poderozos com muitos gados, e
* mantimentos, e boas terras, mas poucas peças de escravos, de Resgate pella banda do sul; Pella
do Norte tem as províncias dos Sumbes, e da longa, ate Quiçam a, com Jagas guerreiros e trei-
çoados que não fazem Resgate, nem querem avaçelarse; tem citios muito fortes a que cham io
Impures, que são covas, por baixo da terra, e grutas, com agoas e mantimentos enq se metem
muito difiçeis de entrar, pello que he a guerra por aquella parte de mais perigo, e despeza q
proveito. Não se fes descrtpçáo do Cabo Negro pera o de boa esperança, por ser terra baixa e
não se ver senão quando se da nella, he de grande perigo pera os navios por não ter fundo e
ser de pedra, como me succedeo que vy terra de dezanove graos como se Vé pello Roteiro, e
porpertençer ao governo de benguella de que o governador dará verdadeira informação, em
Lx* 21 de fevereiro de i 6 3 i.
5 3
(Biblioteca da Ajuda, cód. i-vui- i, 2.0 vol., foi. 10 v.° a 18

Copia da ordem que me mandou o Secretario f r c0 de tuçena


em 3 de Junho de 633 .

Sua Magd* por carta sua de 18 de mayo passado manda se tome informação de V . M. sobre
a importançia de que hé, e poderá vir a ser a conquista de Benguela, e que utilidade se segue
delia de prezente hà sua Real fazenda, e â de que se pode esperar que venha a ser; E se convem
conservarse; E proseguirse, ou iargarse, e as Rezoens, e conveniências de huá, ou outra couza:
V. M. se servirá de fazer Relação de tudo dirígindoa â minhas maos; Ds. grde a V. M. como de­
sejo de caza a 3 de Junho de 6 3 3 .fra nco de Luçena .

Copia da Reposta .
Em 14 de junho de i 6 3 3 .
Pello secretario franeo de luçena se me disse mandava V. Mag*0 que eu informasse de q
importançia hé, e poderá vir a ser a conquista de Benguela, e que utilidade se segue delia de
prezente há fazenda Real, e a de que se pode esperar, que venha a ser; e se convem conser­
varse, e proseguirse, ou largarse, com as Rezoens, e conveniências de huã, e de outra couza.
Benguella hé huã enseada q esta em doze graos e m° da banda do Sul, setenta legoas a
balravento do porto de Ioanda, Reyno de Angolla. Pellas informaçoens que Manoel serveira
Pereira deu das utilidades, q Resultarião de V. Magdo a fazer eonquista, e governo separado, do
de Angolla, foi V. Magde servido de Separar, e desunir do governo de Angolla o Reyno de Ben-
guelia por huã provizão mui ampla q fes nesta çidade P° varela em 14 do mes de fevereiro
de i 6 i 5, pella qual fes V. Magdé Merce a Manoel serveira pereira de o nomear por capitão mor
e conquistador do Reyno de Benguella, como se pode ver do Registo da ditta provizão, e cõ
elia se lhe deu Regimtft que fes nesta çidade Luis de moura em 26 de março de 1615 assinado
pello Arçebispo primas visorrey. Partio Manoel serveira deeste porto com gente de guerra,
armas, polvora, muniçoeíís e instrumentos pera o lavor das minas de cobre, q elle dizia avia
em Benguella, com ordem de hir servir de governador â Angolla, ate lhe hir successor e que
daly se iria provido do neçessario pera prosseguir a conquista de Benguella, descobrimento
das minas, e lavor delias, de q não tinha noticia çerta, e por lhe parecer mais conveniente pera
seus intentos levou de Angolla gente de guerra de conquista, e com ella, em embarcaçoãns se
^ foi há dita povoação de Benguella polia commodidades q nâ terra avia de mantimentos, guados,
Resguates, e posto que se lhe não limitou numero serto de soldados, e gente pera povoar a dita
povoação entrarão nella com elle duzentos e sincoenta soldados, todos velhos, e escolhidos por
eile, com obrigação de os pagar do Rendimento da conquista. Fes Manoel serveira pereira da
Apêndice
5
gaelll°m fS0 * BengW,,, ^idfáe’ e P0*®* 0 B0B* ' o F«£i>p« do V«*o Rrwo de fim-

Nella aíiitjo ancot, e neün oure rarioj rooiini, e le m a x e u m por am e, t B a io d»


ser a terra muno cdíc/bm, c padecerem oi soldados noureb poiiâ fole* d$* *tpw,
e por lhes faltar iodo o socorro umano, e por oi navios Ç htlo deste R«>.<*> «A-*- quererem
tomar aquelle porto poíío Roim gasalbado qoe ichzvlo nelfe3 de que R ^ iiou s^ rerc»
muitos soldados, e o$ vivos caírem en grandes mirerias de doenças e cbaga«, de qyc fixer*»
queiras a V. Mag* apontando a pouca utilidade de qne era aquell# ce-VfVsí.t p m £
Real de V. Mag* e as misérias q padcçcrlo, pello que me mandou V. qsfn fc>party ^ **
AngoJIa tomasse o porto de Benguella e me informasse a avisasse V. Mag* te qu« «cUvse, s
me pareçesse. Heu o fis e estive no dítto porto nove dias, e neítes rirty bom íumarrr do
qual mandei treslado a V. Mag* por vías consertado por mim cõ proprío, ndle m c ip a u So
todos que não convinha sustemarse aqueila conquista por não « r de utilidade, nem de Reputa
çao pera esta coroa polia fraqueza de çitio e por não aver minas de cobre, e q«« Manoel
serveira mandou amostras, não serem de sustancía como se vio no encajro tpae ia em pedr»
escolhidas, e por não aver sovas que se avasseíose a V. Mag* nem escravos de Resguane» e
mayor a despeza que o Rendimento, e pollo perigo a que cstavlo, «postos pello gentio ser
guerreiro, e muito atreiçoado, e dos Rebeldes que avião desembarcado em terta e visto a pouca
força que avia pera se defender delles. De tudo avizei a V. Mag* e que me parcçia flío convinha
sustentar a ditta conquista. Depois que dcy coma a V. Mag* do RefcndpMccedeo, outro mo­
tim, e levantamento contra Manoel serveira Pereira, e embarcarãono os soldados £ força, e
fizerao cabeça que os governasse, fis disso lembrança a V. Mag* e de quanto convinha mandar
V. Mag* tomar asento, e Resolução que mais conviesse ao serviço de V. Mag* de que Resultou
mandarme V. Mag* por carta sua, que não podendo escuzar bento banha cardozo, que V, Mag*
avia mandado por capitão mor da guerra de Angolla, eu nomeasse para Benguella a pessoa que
me pareçesse mais conveniente*, e a Manoel serveira pereira dava V. Mag* liçença pera se vir
pera o Reyno o que nlo teve eífeito por ser falecido na Çidade de Lofcnda, quando chegou a
carta: E por Bento banha cardozo não querer hir a Benguella, polias rezoens que deu, e eu es-
crevy a V. Mag*, nomeey Lopo soares por concorrere nelle os Requezitos necessários, e pera
se conseguir o Real serviço de V. Mag* lhe dey Armas, Polvora, Monição, e setenta, e dous
soldados, os mais delles velhos da conquista de Angolla, e embarcaçoefis em q forao, e não
lhe dey mais gente polia necessidade que tinha delia. Levou o Regimento uriginal que se deu a
Manoel serveira pereira, porq V. Mag* me mandou somente nomear â pessoa que avia de su-
çeder a Manoel serveira, e exercitar o cargo de Capitão mor, e conquistador, e pera desunir a
conquista, e dar novo Regimento, era necessário fazer V. Mag* expreça derrogação da pro-
vizão que se deu a Manoel serveira E da separação que V, Mag* tinha feito do Reyno de Ben­
guella do governo de Angolla de que faço esta declaração pera ser presente a V. Mag* como
foi provido Manoel serveira pereira, e nomeado Lopo soares na dita conquista onde está. Despois
de Lopo soares estar em Benguella ouve hum motim, e levantamento de algus soldados com
determinação de o prender e embarquar como avião feito a Manoel serveira pereira.
Prendeo logo lopo soares as cabeças, e cumpUçes a mandou executar pena capital em nove
delles de que mandey a V. Mag* o treslado dos amos e da sentença de que não tive reposta.
Tal he a gente, e a terra, que dos duzentos e sincoenta soldados que Manoel serveira meteo em
Benguella, e dos 72 que levou lopo soares, avia quando vim noventa e coatro, e muitos delles
enfermos e estes ficaváo no prezidio quando Lopo soares sahya com guerra pello senão, mui
aRiscados, porser 0 gentio muito atreiçoado. Padeçiáo todos neçessidades polia falta que tinbáo
de tudo, e por serem mal pagos; tinhão falta de armas, por estarem descoosertadas, e as mais
delias gastadas da ferrugem, averia sincoenta barris de duas e de tres aRobas de polvora, e
muita falia de munição. Esta he 0 estado enque ficava a conquista de Benguella: e porque ao
tempo que estiye no governo de Angolla não Resultou da conquista de Benguella cousa de im­
portância, nem de utilidade pera a fazenda Real; Me pareçe a não avera ao diante, nem será
mais do q de prezente hé, e em rezáo de conquista será de cada ves menos porq vay morreado
a geme, despendesse a polvora, e moniçoens, gastanse as armas sem esperança de soccorro de
outras, porq de Angolla não lhe podem hir polia falta que tem delias, e por lhe ser neçessario
todo 0 soccorro q lhe for deste Reyno, e quando 0 possa dar, alo será de utilidade, porq a
574 A n g o la
guerra que se dá pollo sertão de Benguella, não he neçessaria nem delia resulta hâ fortuna de
V, M ag* utilidade, por ser a despeza m ayor que o proveito quando for justa. Nao fi sovas que
se avassalem & V. Mag.-* e os q â não quiserão nunca pagar baculam entos nem fazem Resgate
de peças de escravos, porque o não costum ão, e som ente cratao de suas sementeiras, e de
críçocfís de gado enque a fazenda de V. Magdo nâo intereça cotiza algua, porq as prezas se Re­
partem pelos soldados, offiçiaís e capitão m or e V. M agde despende a polvora, e nioniçocns.
Pera defenção dos Rebeldes não somente nao convS aver aiy prezidio, m as he conveníen-
tissimo ao Rea^serviço de V. Mag*1* desmantelalo, e mandar se leve pera A ngolla a arcelharia,
armas, Polvora, moniçoefís, e soldados pera sua defenção, porq a enceada de Benguella esta
em 12 grãos e m° da banda do sul setenta legoas de Loanda donde não pode ser socorrida por
mar nem por terra, nem se pode defender, com o está entre hüa ponta de A rea da banda do norte
e a do chapeo que está da banda do sul, e de huã ponta â outra hâ tres legoas da praya e nella
pode o inimigo desembar sem lho impedirem, e he capas de grande numero de embarcaçoens
cõ fundo de sinco ate coatro braças ficando de terra a tiro de mosquete, e podem estar juntas
sem perigo porq ficão emparadas do Vento Sul, q he o geral da co sta e vailhe por cima da
terra. No meyo da praya está cituada a povoação a qual tem somente tres baluartes; em hum
delles se fas corpo de guarda q demora ao sul, outro â leste, o outro ao Norte, todos tres são
de taipa de pilão da pouca concideraçao: tem cada hum delles tres peças de ferro de quatro
livras de bala sem serviço, e sem Artilheiro que possa acudir â huã necessidade, com outra
peça desemcavalga^S^e nao são de mais efeito, que pera defenção do gentio comq se não pode
Resistir a nenhum cometimento polia banda do mar, e infalivelmente indo o inimigo â quelle
porto com pouca poder se fará Sõr da povoação, e estando provida de tãm Roim gente, sen-
tregarâ logo, ea que se retirar pella terra dentro a degolará o gentyo, e sendo tao fraca po­
voação se dirâ q se tomou a V. Magd* hua força na costa de Á frica, pello q mepareçe se deve
extinguir esta conquista, e Reforçar com o ^ se tirar delia â de A ngolla, por que quando ou-
vera era Benguella minas de cobre conçideraveis, com o dizia Manoel serveira pereira; e dis
lopo soares não conve a V . Magde meter de cabedal nellas estando tsm afastadas de socorro,
porq nunca poderão Responder há despeza pella pouca fedelidade comque se despende a fa­
zenda de V. Magde em partes tam Remotas, de que se não da conta, e serâ mais conveniente
meter esse cabedal nas minas de OEm bo Reyno de C ongo.
Na povoação de Benguella pode ficar gente que quizer viver nella p* Resgatar alguãs peças,
mantimentos, vaccas, carneiros, fazer pescaria do zimbo, Quicongo, q he mader*, peixe seco,
pera as armaçoSns, e contratandosse este Resgate cõ a mina do sal, cresserâ o Rendim10 do
Reyno de angola sem V. Magd# despender nisso de sua fazenda e posto que ha pera isso as
rezoefís Referidas, h5 de conçiderar se em tempo de tantos, e tam poderozos inimigos convem
sustentar tantas conquistas tam devedidas e mal socorridas e se serâ mais conveniente Re-
duzillas a menos e mais defensáveis, isto me pareçe, V. Mag*0 mandará o q for servido em L x a
14 de junho de 6 33 .
5 3
(Biblioteca da Ajuda, cód. i-vut- i, 2.0 vol., foU. 43-^5 v.°).

DOCUMENTO N.° 100

D E S C R E V E M - S E A S P R O V Í N C I A S D O R E I N O D E B E N G U E L L A

E L I B O L O E C O N F I N A N T E S

A Província que relatamos da Quisama confina em huma ponta que mette o caudalozo rio
Longa desagoando suas doces agoas nas salgadas, e costa dom ar, mas por dentro vem fazendo
hum saco em que se estende a basta Província do Libolo, que antigamente chamavão Atum da,
com suas dilatadas terras e sovas mui poderozos, ficando seu território entre o rio Longa e
P rovin d a da Quisama, hindo fazer seus limites em a Provinda dos Sumbis, e porto do Sova
M ani-Quicombo, sitio em a costa do mar. onde pára com suas correntes o rio Cubo, e suas
num erozas agoas, pagando com ellas seu tributo ao mar, ficando entre elle, e o rio L onga,
^ jlP i« W. - ^ p p p M « ^ S f* - *

Apêndice 5y5
Aoica, rio também de c*ud»l, e outro* riacho*, qoe reg lo aqodla* dilatada» Prorioctea, m cttm d o
suas agoas em hum e outro, e para a pane do S en S o; cahrado sobre o río Cocm xa, e t t i •
Proviacía do A rco, outros lhe chamão o Sela, em que também h l scrtvs p o d em o a , M i a m
de grossas terras e vassallos; e passado o rio Cubo da banda deicm do S e n lo , o oosso
Reino de Benguella com sua Cidade SSo Pheüppe beira mar, sita em a Proviact* chamados doa
Químbundos, com a qual confina a dos Sumbís, e peilo S ertfo dentro com a Prt>rme;a do
Gemge, toda povoada de Quilombos de Jagas, outros lhe chtxnSo, o * Quilteogas.
Este Reino de Benguella antes desta terra ser tomada pcllo HoUandes, t ^ e sobre si G o* ^
verno separado, onde havia feiraria, e officites Rcaes, que davSo despacho is peças deste R*nw>,
e assim despachadas vínhao para esta Cidade de SSo Paulo da Assumpção, ficando oaqvelle
Reino os direitos delias, para a paga e sustento da Infantaria, c mais ordinários, tw d o »eu G o­
vernador o honorifico, como os de mais Governos; o que se disiinguio por aastm dever de
comprir ao Real serviço; e só lhe ficou a potestade de Capitão mor e Governador daquella
Praça subordinado do Governador e Capitão Geral destes Reinos de Angola e suaa P ro v m d u
e Conquistas. »
Já dissemos em a nossa historia das guerras Angolanas em o prim eiro tom o e voa prim ara
parte o com o foi feita sua fundação peilo Governador, e Capitão Geral M anod de S ervem
Pereira, que foi o primeiro Conquistador que fez guerra nestas Províncias deixando feita aquelta
Cidade, dando-lhe o appelido de SSo Phelíppe, pella haver povoado, e começado sua Conquisia
era tempo do Senhor Rey Dom Phelippe Prudente, segundo de Castella ^ p R n tir o d e PortugaL
Guaraecem-na Cem homens de prezidio que servem de defeosa da Fortaleza, com Ajudante,
Alferes, e mais Officiaes, com Capitão delia, e outro de guarnição, com bastante ariethana,
Condestables e artilheiros, com Almoxarife, e seu Escrivão, a cujo cargo está a feiraria daquelie
Reino, de toda a polvora e muniçoens, e mais petrechos de guerra, e o que administra justiça
á pessoa que he nomeado por Ouvidor, dando appellação e aggravo para o Governador e Ca­
pitão Geral, e Ouvidor Geral Corregedor da Commarca, e Auditor da geme de guerra destes
Reinos; havendo também Provedor da Real fazenda, e dos defuntos e auzentes com seu Tesou­
reiro e Escrivão subordinados á provedoria desta Cidade de São Paulo da Assumpção, e ao
Tezoureiro geral destes Reinos, estando tudo o que lhe toca á ordem do Capitão mor daquella
Cidade e R eino; e quando há couza de importância ou occasião de guerra, he soccorrido aquelle
Reino, com Infantaria, e sempre se esta provendo de gente, em razão do mao clima, que gasta
muita; terá sua povoação até vinte moradores com suas cazas e famílias, e escr? varia, e peilo
tempo passado houve muitos, que o mesmo tempo e clima gastou, e consumio; tendo seu V i­ 4
gário da Matriz daquella Cidade, que administra os divinos sacramentos a soldados, e mora­
dores, e gente forasteira, e a todo o gentio bautizado do grêmio da Santa Madre Igreja, tendo
sua ordinaria da fazenda Real; mandando os Officiaes Reaes desta Cidade de São Paulo da
Assumpção para a todcs os militantes; havendo naquelte Reino muito negocio de peças e
marfim, tendo também pescaria de zimbo, que há a moeda que corre no reino de Congo, com o .i
já havemos feito menção; muito pao de Quicomgo, e Quiseco, e outros paos de préstimo, e
pontas de Abadas, e dentes de eogala, e $e matão algumas 2 evras, de que vem aquellas formozas
e vistozas pelles, e chingas de Emdure, que são mui prezadas deste gemio, com o também as de
elefante, de que também há muitas; abundante de gado vacum e ovelhum, e há carneiros tão
façanhozos de grandes que lhe chamão de cinco quartos, pella grande cota que tem, vem a fazer
o quinto; abundozo de pescado, pescado em sua costa, que permittio Deos, já que o seu Paiz
hé tão calamitozo não faltasse a sua divina providencia, que sustenta o menor savandija, da
terra, tivessem os viventes e habitantes daquelie Reino o sustento necessário, para a vida hu­
mana; tendo também o refresco de uvas, romaâs, meloens e melancias, figos, e outras frutas
da terra; só o de que necessita hé de farinha de guerra, a qual lhe vay desta Cidade; e quando
há agoas bastantes que ás vezes lhes faltão se remedeio com suas milharadas, de que produz
muito, chovendo; tem sovas senhores de muitas terras e vassallos, principalmente o poderozo
de Gola Amginbo, que peilo muito que possuhe, se tem por Rey, daquelie Paiz e Reino, que
■ ■ WITTTTtBí

dista da Cidade de São Phelippe seis ou sete dias de caminho, onde há a força do negocio de
peças e marfim.
Esta Provinda que havemos relatado dos Quínbundos confina com a que chamão de o
Aila, a qual querem dizer vai correndo até o Cabo da Boa Esperança; o que parece duvidozo,
lir. irr •
576 A n g ola
porque estando 0 porto do Reino de Benguella em doze gráos, e o C a b o T orm en torio em trinta
« cin co, em minutos me não m etto por não ser de minha profissão, parece ser P rovín cia dila­
tad a; o certo he e a experiência o tem mostrado, o serem muitas P ro v ín cia s; e não diz o
A u tor só P ro v in d a s, se não Reinos, porque deste gentio de o HiU vem onde estão as salinas
poucas legoas de Benguela, onde está hum Sova Senhor daquella adm in istração do sal, que
cham ão a seus vassnllos os Mondombes, que bé o gentio mais fiel aos vassallos portuguezes
que há em todas aquellas P ro v in d a s Confinantes; ali vem com o dizem os resgatar o d eq u en e-
cessitão trazendo em desconto seu marfim, e outras couzas da sua terra, com o são chingas, ou
sedas de emdure, que são mui estimadas, com o atraz dissemos de toda a gente destes Reinos,
para ornato do pescoço, mãos, e pés; o bicho que tem estas sedas ou cabellos, se não tetn visto
de nós até a gora, que deve ser couza para se poder ver, porque estas sedas são de tres ou
quatro palm os de com prido, mui pretas e agibichadas, vindo entre ellas algum as brancas, que
tem préstim o para a azia, amarradas na munheca dos braços, que deve de ser algum bicho ou
anim al medonho, os que as tem deste gentio que dizemos, se entende o seu lingoagem . Succedeo
no Governo de Andre Vidal de Nigreíros hir hum homem pratico a descubrir esta co sta por
nome Joseph da Roza, por ver se achava alguma noticia de boca de rio que entrasse para os
de Cuam a, e chegando Costa a C osta, a dezaouto graos por alem de C abo Negro, não achando
noticia do que buscava, trazer gentio daquella paragem, que se não entendia nada do que
fallava; e a falia com o de estralo, gente com o selvagem, que bem o dem ostravão assim em
comerem a carn e^ i^ eixe, e milho cru, e por acenos, só se entendia delles algum a couza, os
quaes se mandarão pór outra vez em suas terras, á custa de quem os trouxe, sem os haver
comprado, nem resgatado, o que bem se demostrava em tanta distancia de Sertão haver mais
Províncias de gentios de diferentes lingoas e costumes, e não ser só a de o Hila (i).
Pello sertão desta, ou destas Províncias atravessa o rio Cuneni, que quer dizer na lingoa da
terra rio Grande; não se sabe com certeza em que paragem da C o sta se m ette em o m ar, o
que deve ser muito alem do Cabo Negro, e da Costa descuberta de dezaouto g raos, porque
desta paragem para cá hé sabida dos que navegão até á C osta da Guiné, que assim lhe ch am ão;
só o que ha noticia hé que hindo o Capitão mor L opo Soares L a ç o fazendo aquella Conquista
do Reino de Benguela, muitas jornadas pello sertão dentro chegára a este cau d alozo rio Cuneni,
e que da outra banda delie tinha suas terras e Senhorio hum Rei ou apotentado p o r nome Mu-
zumbo a Calunga que quer dizer no seu idioma a boca ou beiços do m a r ; e este appellido era
em razão de ter seu dilatado Senhorio, em aquelle tão espaçozo rio, que tem aquelle gentio
para si, e a boca do mar pela grandeza que te m ; deste Rey ou sova teve falia p or seus inviados,
o dito Capitão m or Conquistador, e eile dezejava muito de ter com m unicação com a nossa
gente Poriugueza; e mandando lá o Capitão m or a hum homem filho do B razil, para tomar
intelligencia da terra e dem ostrar áquelle Rey o queríamos por amigo, se dívertio, e esqueceo
o dito inviado daquella banda de calidade que não tornou, affeiçoado daquellas dam as negras,
ou negras damas, com quem se teve noticia se abarregou; imitando nisto ao Santiago no Reino
de Cambaya, que o despois servio de Interprete daqueile Rey Bandur, para o fam ozo G over­
nador Nuno da Cunha; e nao proseguio o Capitão m or Conquistador em mandar outros in­
viados, por lhe ser necessário virse recolhendo daqueile sertão, e proseguir outras emprezas,
em que teve sua perdição, com o se relatou em o primeiro tomo da nossa historia general das
guerras Angolanas em o Governo de Pedro C ezar de Menezes, quando chegou de viagem do
Reino de Benguela, que lhe foi relatado o successo desta perdição, pello G overnador que então
era Niculao de Lem os Landin, pedindo ao Governador e C apitão Geral o soccorresse de gente,
arm as, e muniçoens, pella falta que tinha aquelle Reino de tu d o; despois andando algum tempo
se soube em com o o nosso Jaga Casangi, hindo fazendo pello Sertão dentro suas conquistas
tivera batalhas e recontros com o poderozo de Muzumbo a Calunga, e na prim eira fora ven- 1

(1) Também se sabe por couza certa viera huma embarcação ligeira Flamenga descobrindo esta Costa, e ehegara
ate o nosso porto de Benguela em busca do mesmo a v e r: qne em tudo e6sa Nação nos quer ganhar por m io , como o
tem feito em todas nossas Conquistas da índia, que tanto custarão á Coroa Real de Portugal; mas esta diligencia lhe
ficou incógnita como a nós, os quaes vlerão fazer esta diligencia da Fortaleza e povoação que tem na babia das Vacas do
Cabo da Boaesperança para dentro: dos ditos disserão os que virão vinhão tarabem dispostos e corados como se vierão
do Norte, e gabarão muito o Palz,
Apêndice S '/
eido Casangl, com o medo, e pavor de hansa arma <h fogo que boiav* to » » f a n dt «1 to ■ 1
quqcb vista, que devia 0 Muxumbo a Calunga ter atcaoçado 4 c o ó s f nxquelta pequena z v r z >
nicaçao que coro nosco teve, ou a levaria coro *?.*•> c nos*- , u 4o que lá m ficou; oairc« tio
de opinião, que Casangi fora 0 que levára a arma de fogo, c a disparar« hum yorr^zcx
natural da Ilha de São Thomé, por nome Pucoal Rod ri;-. Quemb», que em noxso* temp'1«
ainda vtyia, que foi Escrivão do Quilombo da Casangi, e seu Secretario; que u n u *dmir*çl<*
faria huma arma de fogo naquelíe tempo entre aquellei gemí.-„ 0 + rJío he " i«m tgo;% q^e
são «ao bastes, por todo este Senfio.
Despois da primeira batalha em que foi roto 0 poder de Casangi, rerarr?i^-$< de ou vor **
poder, ficou vencedor de Muzumbo a Calunga ficando coroo seu mbutario, .<ix o C^oqvtíiadü
de suas armas; e já que chegamos com esta nossa historia, & «áo dímnr. : träger,'. hirem> i
delineando, e não pintando, como o fez 0 invíado do Irmão do Sercnisvmo Rcy da Gram Bre­
tanha, o Senhor Duque de Jorca, corao O apontamos no fim do Governo do Governador e Ca­
pitão Geral que foi destes Reioos Aires de Saldanha de Menezes e Souza, cm ' aossa batons
general das guerras Angolanas, em 0 segundo coroo, e sua quarta parte.
Sabido hé dos navegantes, e lho ensínão os seus roteiros, em como o Cabo da Boa espe­
rança está era trinta e cinco graos, e sahido deüe para dentro se da em a C ifraria, onde foi «
perda do valerozo Vuo-Rey da Índia Dom Francisco de Almeida, que disse sabindo da soanao
a terra, onde vos levão sessenta annos; também hé certo está a terra chamada do Natal, onde
deo aquclla Nao da Índia á Costa, de que também fizemos menção primeiro tomo da
nossa historia general em o Governo de Pedro Cezar de Menezes, de coroo veyo a este Porto
de Angola hum dos dous barcos que se fizerão de suas madeiras, que trouxe a salvamento 1
Cabedal dei Rey que 0 avaliavão em seiscentos mil cruzados, o mais deite em diamantes, que
veyo a buscar do Reino huma caravella bem esquipada na era de itrôp, governando em Portugal
a Senhora Infanta Dona Margarida de Saboya Duqueza de Mamua; e em vinte e hum para
vinte e dous graos se sabe a desgraçada perda da Capitania, e Almirante do Governador e Ca­
pitão Geral Pedro Cezar de Menezes, que vinha despachado pello Príncipe nosso Senhor para
o Governo destes Reinos de Angola, sendo sua perda na terra alagada desta Costa, como se
tem relatado no Goveroo de Francisco de Tavora Governador e Capitão Geral que foi destes
Reinos (D .
Também se tem dito atraz em como da altura de dezaouto graos se trouxera daquelle
gentio, que se lhe não entendia a lingoa, geme asaWajada; e começando em dezaseis graos em
que está o Cabo Negro vem correndo esta Costa até á Bahia Faria, que este nome lhe derão os
primeiros descubridores, por se apanhar noüa muito pescado de diversa casta, a qual dizem
está em quatorze graos pouco mats ou menos vem corrente as menzas, por a terra fazer esta
parença, vai correndo 0 rio chamado de São Francisco, por no dia do gloriozo Patriarchs ser
descuberto, corre 0 Sombreiro, por assim 0 assemelhar hum pico, que em terra se vê logo as
salinas de tão abundante e claro sal; vê-se logo hum morro que sahe hum pouco ao mar, e
por dentro em huma bahia o Porto do Reino de Benguela, com sua Fortaleza na marinha, e a
sua Cidade de São Phelippe, estando em doze graos, ou 0 que na verdade fôr, o que está si­
tuado na ProvinCia dos Quimbundos e Mondombes.
3
Extracto de orna cópia do mino»crito do .* to!, d» Historia
Geral dat Guerrat Angolanas por António de Olivnro
Odoroega (1680-82}, existente na BibUcteca de Tans.

$*7
3

(D Este nanfragio foi em 19 de Novembro de i 673; este Governador é outro e uio 0 do mesmo nome de que o amor
tem faiado. (Sola do Cónego Delgado/.
73
578 Angola

DOCUMENTO N.» 101

HISTORIA GERAL DAS GUERRAS ANGOLANAS


Capitulo Quarto da Segunda Parte do Primeiro Tômo. Págs. i33.
...................... ................................................................................................................................................................................
«Foi logo batel a terra e nelie veyo logo o Governador daquelle Reino, que então era Ní-
cuUo de Lemos Landim natural da villa de Estremos pessoa de geração nobre, despachada
com aquelle Governo por patente Real, o qual depois de haver dado as boas vindas ao Gover­
nador e Capitão Geral, ihe deu informação do estado em que se achava aquelle Reino e sua
conquista, falto de gente armas e muniçoens a respeito da perda que tinha havido proximo no
sertão, em que havia sido roto e desbaratado huma nossa guerra, governada por hum Capitão
m or de valor e calidade por nome Lopo Soares Laso o qual havia hido com toda a possibili­
dade daquelle Reino, a dar guerra a hum sova poderoso que se tem por Rei daquella gentilí-
dade, por nome Gola Amgimbo o qual tendo chegado a suas terras pello sertão dentro, man­
dara diser este poderoso ao Capitão mor e aos Moradores daquelle Reino que acompanhavSo
que rasáo havia para lhe faserem guerra, que se o fasião por alguns escravos fugidos que la
tinhão lhos manda^^Cntregar, e se por ambição de peças que elle lhe daria tantas, com que a
sua cobiça se satisfisesse; que não era bem o fossem buscar a suas terras e senhorio onde es­
tava vivendo quieto e pacifico; Esta protestação tem alguma parecença com a que contao
nossas historias que mandou faser elRei de Fez ao nosso Rei Dom Sebastião que não foi
admettida justificando sua causa, como também o não foram a deste Rey, antes os nossos com
aquelle orgulho Portuguez, foram fasendolhe guerra entrando em suas terras e suas povoa-
çoens, o que elle foi resistindo e defendendo o seu partido com muito valor ate não poderem
mais, que lhe entrarão os nossos Portugueses com seu esforçado Capitão mor a Povoaçao prin­
cipal e Batnza de sua morada, prendendo camzando e abrasando tudo o que nella havia, em
que todos andavão engolfados e divididos; o que vendo aquelle Poderoso, tendo se refeito de
novo de mayor poder, que lhe havia accudido de suas dilatadas terras, e dos sovas circum-
visinhos, andando a nossa gente Portuguesa occupados etn quem havia de apanhar mais, sem
lhe parecer que poderia haver cousa que os podesse ofFender dera de emproviso sobre os nossos,
e como andavão divididos os forão matando, e que deste disbarata e rota escapara só hum
homem que trouxe a nova desta perdição............................................. c disse mais aquelle G o­
vernador que hindo naquella campanha a possibilidade de gente de todo aquelle Reino de Ben­
gala, ali perecera toda, não escapando unicamente mais de hum que foi o correyo da ruim
nova.
Tendo informado como dito he a o Governador e Capitam Geral do estado em que se
achava aquelle Reino lhe mandou dar logo algumas armas, e mosquetes e Arcabuzes que a In­
fantaria trazia preparados com que fazião no mar seu exercício militar, com mais algumas
muniçoens promettendo lhe que chegando a cidade da Loanda conforme a possibilidade com
que se achasse aquelles Reinos lhe mandaria, e soccorreria da Infantaria que podesse, hindo o
Governador para terra mandou hum grandioso prezente de refrescos de novilhos, sevados, e
carneiros que são os melhores que pode haver, porque nas outras partes tem quatro quartos
ordinariamente, e estes que vierão daquelle Reino tem cinco, porque tem a cola tão grossa de
tanta grossura e gordura que com elle faz os cinco; Vierão também muitas uvas, melancias
ricas e boas, Romaãs Goyavas, e outros frutos da terra como bananas, e mecefaz tudo com
abundancia que o nosso Geral mando repartir pellas mais Naos, e Infantaria..............................

t
A m argem ; «Fulano Barriga conta dei Rey dom Sebastião em África onde o pode ver o
Curioso ou Especulativo; e Jeronimo de Mendonça o tras mais espelicado».
Extraído do Mss. existente na Biblioteca da Academia das
Ciências de Lisboa.
Apêndice 5*'-

DOCUMENTO N- toa
HISTORIA GERAL DAS GUERRAS ANGOLANAS
Tomo Primeiro, Parte Terceira , Capitulo Quarto . Pdgs. s S. 3
• /

Estando o Governador em Maiaogano já convalecente da grande doença que teve, chegou


hum Negro por terra do Reino de Benguela atraveçando aquellas província* do* Sambís e Lt*
bolo, e foí o primeiro que semelhante caminho fez era Negro imelligeme de bom Morador
daquelle Reino autorizado que havia occupado postos mayores, por nome A,* Gomes de Govea,
o qual vinha por poder aturar iSo dilatado caminho com alparcas dc couro cró nos pé* cotco
outros Gabaonitas que as trazião de tão perto para enganar e este de tão longe, não par* isso,
o qual veyo a sahir a nossa fortaleza de Cambambe trouxe huma carta a o Governador em que
avizava o Capitão mór e Governador, que então era por morte de Niculao de Lemos Landim,
Manoel Preira, e a substancia, que continha, era em como o Flamengo se havia apoderado da
cidade de são Phelipe, cabeça daquelle Reino, e de sua Fortaleza qu^jtfno esta situada na
marinha, a borda do mar, a começou a bater com Artilharia de suas Naos, e por terra com
gente que nella botou, e lhe forSo dados rijos combates em que de parte a parte tinba havido
mortos e feridos, mas que com o muito poder, depois de grande resistência se havia rendido a
partido por não serem entrados a força de Armas e fossem passados todos ao fio da Espada,
e que havião feito Capitulação e pacto em seu rendimento com o Governador daquelle Remo
Nicolao de Lemos Landim, em que estarião os Moradores e Soldados na Cidade, e Povoação
de bôa paz com seu Governador, que passado algum tempo tinhão sido avizados por hum
Commissario da bolsa Catholico, que havia cazado na dita cidade com huma nossa Portugueza
pessoa honrada assistente naquelle Reino em como o Flamengo as queria esbulhar do que
possubiao, e com este avizo que tiverão, passado palavra entre toda a gente Portugueza que
naquelle Reino havia, se tinhaÓ retirado pella terra dentro para o Quilombo do Jaga Caconda
distante da Cidade cinco dias de caminho, onde havia morto o Governador Niculao de Lemos
Landim, e todos os mais estavão padecendo muitas mizerias faltos do necessário, com mortes
de seus companheiros cangados da aspereza do senão e nao passar fsic); o que tudo sofríao
por serviço de seu Rey, e conservação daquelle Reino, e não estarem na sogeiçáo de outro
Princepe e Nação, e muito menos de que não era CathoUco, e que o Commissario que fora
parte, com o avizo que lhes deu de não serem todos destituídos do pouco que possuhião, e não
estarem de baixo de sua servidão estava retirado também com elles em companhia de sua mu­
lher, esta era a relação que dava de estado daquelle Reino de Benguela, seu Capitão mór e Go­
vernador, ao Governador, e Capitão Geral Pedro Cezar de Menezes.

Á margem: «Dos Gabaonitos de que fala vieram com os vestidos e alparcas rotas para en­
ganar como o relata o Autor do Governador Chrisüano».
(Extraído do Ms. existente oa Biblioteca da ÀcademU das
Ciências de Lisboa).

BIBLIOTECA
*
PORTO
58o A ngola

DOCUM ENTO N.» io 3 (i)

1612 ANOS / 1MBENTAIR 0 DA FAÇENDA. QUE FICOU. POR


MORTE. DO SS. D. MEL R. PEREYRA. QUE DEOS TEM
p hu e & r ip u m o ....................................................................................... 45#ooo
p hun anel........................*............*......... . .............................................. 2#ooo
p houtro A n e l........ ...................... ............................... ......................... 2#ooo
Hum aRelicàrio.............................. . . . . . ............ *................................. 2#ooo
A cadea de o r o ........ . , ♦ ...........................*............................................ 142Í&000
Hun aV ito de o r o ........................................ ....... . ................................ 5#ooo
Houtro avito e hu c o r d ã o .................................................................... 4 # 2° °
Hua Ponta da b a d a ............................. . ............... .......... . .................. io#ooo
duas onzas de hambre............................................................................ i6#ooo
Hun escriptorio de n o g e ira .................................................................. 17^000
Hua canastra encoyrada *................... 6#ooo
doZe p ratcç^ rad es. de prata, co 5 8 - 6 .............................................. 1 5 a# 100
Vinta e quatro. Pratos de p ra ta .............................................. . ......... 93#275
Seys pratos, de meya couzinha co 1 4 -6 ............................................ 38 # 35 o
dois fruteros. de prata co. i 5 . Marcos................................................ 39#ooo
dois patanganos. de prata co .............................................................. 2i#45o
Huma bazia. e escalfador. co. 1 4 - 4 ................................................... 37Í&700
dois pratos, e Jarros daguas maos. co 18.4.................................... . 48# 100
quatro Saluas, doiradas.- 12 m.°* e 4 ................................................ 3 z# 5oo
Hun Saleyro grande co pimentera de prata. 3 , 5 ............................... 9 #,4 2°
dois copos, de pealto doirados, e outros dois piquenos doirados,
co 5 m.°* 3 oz. 4.8*1 ......................................................................... i4#o8o
Hua Salua chan. e garrafa, labrada e huma gorgo. leta co tapa-
doíro e hu copo de biero co piedaguia co 10............. ................ 26#ooo
763 # 175
dezasete ( . . . ) e 18 ( . . . ) hun grande e huma tesoira ..................... 19^010
Hum. montante co guarnição de p rata............................................. 26^000
Hua. espada, de guarnição de p r a t a ..................... *.......................... 2S#ooo
Huns. talabartes, e daga....................................................................... 2#ooo
Hua Salua e tinteiro de la t ã o ............................................................. i#ooo
Hua espada, de crezer...................... 3 :#ooo
Hua caixa encoirada............................................................................ 5 #ooo
Hum baril. 8 # 5o o ........ .. ................................................................. 8 # 5oo
Hua frasquera........................................................................................ 6#000
Hua cadeyra Sitral....................................... 2o#ooo
Hum. coiro, de Sindia.......................................................................... io#ooo
dois. cobertores, de escriptorio........................................................... 600

(x ) A p á g s . 19S e 196 d e s te tra b a lh o fa z -s e r e fe r ê n c ia a o in v e n ta r io d o s b en s d o fa le c id o G o v e r n a d o r D . M a n u e l P e ­


r e ir a , s e m q u e s e t i v e s s e e n c o n tr a d o a té e n tã o , ta l d o c u m e n to , m a s p o r q u e a v iú v a d o G o v e r n a d o r o c it a v a e , b a s e a d a
n e le , f a z ia m e n ç ã o d e v á r io s b e n s r o u b a d o s .
D e p o i s d a m u d a n ç a d o a r q u iv o U ltr a m a r in o p a r a o P a lá c io d a E g a , p r o c e d e n d o o E x . mo S n r . C o n s e r v a d o r E r n e s to
E n e s , a u m a c u id a d a r e v is ã o d o s d o c u m e n to s q u e lh e fo ra m c o n fia d o s , e n c o n tr o u e n tre o u tr o s o in v e n tá r io a q u e p r o ­
c e d e u o G o v e r n a d o r in te r in o B e n t o B a n h a C a r d o s o , in v e n t á r io q u e c o n s titu i um d o c u m e n to d e g r a n d e v a lo r p a r a o e s ­
ta d o da é p o c a .
Tam bém o m e s m o E x .® ° S n r . e n c o n tr o u m a is u m a c a r t a b a sta n te in te r e s s a n te , d o G o v e r n a d o r M a n u e l C e r v e ir a P e ­
r e ir a p a ra F ilip e l í d e C a s t e la , sô b re o q u e p r e c is a v a p a r a p o d e r e fe e tu a r a d e s c o b e r ta d a s m in a s d e c o b r e .
P u b lic a m - s e e m s u p le m e n to e s t e s d o is d o c u m e n to s c o m o s n .° s i o 3e 104.
Apêndice 5Bi
TV)
Huma esteyra da Yodta..........................
Han espelho . . .....................................
%oo
70QOO
* 9000 .
Hua Colcha branca............................. -
dois colchois. de u feta........................... 400
Hua caia- de estoxo. co dois pentes........
Huma bezeta- co duas. bolsas de seda......
Hun Zíbão e calçoís. de setim berde........ 109000
Hum bufete........... * ..............*.............. »6©ocjo
outro ................................................... 109900
duas. cadeyras. grandes........................ 169000
Seys caderas. piquenas.......................... 109 0 0 0
quatro cadeyras Rasas........................ * * too03G
>553
100^)8$
Soma A lauda atras Como pareçe
Seys. Rodelas, da Yndia........ .........* * ...........^ 109000
Hun leyto de quiqongo.............................................. " \ \ \ ........ 339000
Hun leyto de pao preto........................................ *............ a39ooo
Tres colchois con dois trabeseros...............................' ........... ' * 419000
Hua colcha de ..................................................... k...............
Catorze casúcays. de prata 3 8 m.8* ........................................
Hum prato, de aguas mãos. hun Jarre e hun saleto. con si. <2q9a5o
ços 2/8.................. ....................................................... . *S5o
Zinco, pratos, de prata, de meya couzinha 12. marcos e a o z .- .- g9 ^ 5o
nobe pratos, de prata, piquenos. 1&-6.........* ................................ *o9t5o
Hua paleta, e outras miudeças co ................................................
dois basos toscos, de prata, co patacas que bradas, em huma posta-
de prata e 4S patacas. pesou tudo 3a m.** 7 . 4 ........................
dozoito Pratos de estano................................................... . 7900°
Hua Jarra grande de Yndia.......................................*........... * • * 159° ° °
Hun tabulero de taboas ............................................................. ^°°
Seys Lençóis husados.................................................................. Q&ioo
quatro trabeseyros. seys almofadinhas ......................................... 496 &
hu trabesero. e huma almofadinha................................................ a9o°0
treze toalhas, de aguas mãos nobas e quatro husadas. dez guar­
danapos.................................... ............................................. 69®o°
tres toalhas de mesa a zftrs .............................. ............................ 29000
duas piruleyras de poluora . ................................... ...................... 199200
1.4869315
H u m a C o r j a de b e i r a m e s .............................................................................. 3o9ooo
H u a M o le q a .................................. ....................... ... ............. .......................... *209000
outra m oleqa.................. .......................................................... .. 209000
oytenta e duas. cabeças de gado....................................................... 1.47*19000
Setenta y seys quintas. 3 a. y media de tacula a i f t r s ................... 15 3 9 7 3 o
Hum p a t a jo ............................................................................ . . . . . 5709000
Hun nauio grande........................................................... .................. 4509000
tres. esclanos S o lt o s ........................................................................... 1769000
Hun cabalo. S e la d o ............................................................................ 1009000
outro cabalo, que se bendeo a elRey................................................ too9o°°
Zen alqueres. de Sal. ...................... ................................................... 269000
Hua tijela, de prata, e gobelete 6 .1.3 ................................- ............. 169040
Conoçimiento; de Antonio de Andrade onze pieças Viezas que se
tarzo................................. . ........................................... 1879000
otro de Svlbestre Suash....................................... * ........................... 199Soo
otro da Luys. gomez machado............................................................ 3597^0
otro de Júlio m azoti........................................................................... 9
60 000
•s^lï

582 '*■ Angola


oiro . de el padre p rieto ......................................................
otro de nuno fernandez de aguinr ...................................... ..............* * ’ ^j^ooo
otro IX. de a cu n h a ................. ............................................ ' ' * ‘ * *' i 32# ooo
oiro de Julio m a z o t i................................. ...................... **»*■ .*. 5g# ooq
oito de Jeronimo C o rrea ............................... ******* 20#000
otro de cnaesire R a fa e l.......................................................... ’ " *............ 5
^ >ooo
otro do S SR . g « bento b a n a ,....................... , . 7 ’ . *°°°
otro de Julio m a z o t i...................................................................... ^ # 55^>ooo
o tro de<t\ cap#m A ntonio m achado .♦ ................................................... 5o#ooo
o tro de el c a p « Miguel b o rg e s............................................................... 5o#ooo
“ 54 »6«>355
bum a la laudra atras com o p a r e ç e ............ ..................$486#>355
hun L e y to que foi d o ira d o ....................................................................... 6#ooo
dois c a ld e y r o e s ............................................................................................ 2#0oo
H u a frijidera e espumadera .« ................................. ................................ 200
Hum alm ofaris . .......................................................................... ............. ^00
Huma grella e espeto .............................................................. „ .............. 400
hum negro, de L ib a n b o .................................. 16^000
Q uatro negros de L ib a n b o ....................................................................... 64&000
Hun calçãofÇg^oupeta de g o r g e r l o . . . . . .................................... . . . . 26^000
Hum* calção , e Roupeta e ferregolo. de d a m a sco ................ ........... 23
$ooo
Seys guadam eçis.................... 27^000
quatro can arias........... * .................................................................. 4#>000
Manuel, fernandez» beloso por escripto........ *..................... .. 371^460
Zuo NuneZ» P o r Resto de contas* .......... 98^340
tom e p i r i z ........................................................... . . . . . . ............. . ............. 22^000
Dom ingos, de Abreu, por quenta de el libro, en que entra* escripto,
de 19& 500................ ............................... * . ......... . * .......... .. 74 5
$ oo
garçia mendez. de Resto de quenta, y de hun conoçimiento de
42$000. *.......................................... ................................ .................... 25#>40O
los padres, de la companhia de Resto de q.ta ....................................
la haçienda de Luys piriz por R esto ................................................ .. * 7
°^ °
Hun capote espeguÜado............ *................... .................................... 1 ^ 00
Hua. Roupeta e calçois de p a n o ............................................................ 12^000
Hun Zibão de S e d a .. . .................. * ......... .............................................. 7#ooo
Hum ferregolo Roupeta e calçois de ch am elote.............................. • ____a »ooo 3
& 6447*641
Hum ferregolo. Roupeta, e Zibão de tafetão p r e to ............ .. 13#ooo
Hum Roupão, calçois. Roupeta e Zibão* e calçois de ta feta .......... 28^000
Hum ferregolo. de Vinte doseno. .......................................................... 17^000
dezasete Camisas n o b a s.............................. *......................................... 22^000
deZ. Zeruelas. ............................................................................................. 6#>2oo
dois penteadores......................................................*..........*..........’ * ’ 3íí>000
oyto manteos. nobos................................ *......................................... * * 9*000
Hun. Roupão b e lh o .................................................................................. 2#ooo
Hun c o le te .................................................................................................. lt° ° °
dezaseys m anteos.......................................................................... ' ..........
seys. pares, deescarpins..................................................*............*.......... ^°°
Zinco lenços.. . . . . . . « • . . * » « * « « * ............ ............................................. 4
*& ° °
Zinco carapuços ...................... 400
o padre João Pireyra & 14 alq.ffl8 de ...................................* • * • 8^400
Domingos de abreu 190 alqueres de ra a s a ........................................... 57*000
ff
Manuel. João. too alqueres. a 240........................................................... 24*000
5
Zeronim o correa i o alqueres. a .......................................................... 42*000
Antonio dandrada Vinte alqueres. a 280.....................• ..................... 5»600
Apêndice 5*3

Luys. Rodriguez. Pinheto. 10 il queres . ............................ .............


o ssr cap- mor. bento, b&nh*........................................................ - • lo^oco
3
MM1 correa por o cabeças de gado. abethav.......................... *• 179000
T rima e seys ferregolos ............................ ................................ - «* *
dezanobe toalhas a 900........................ ................... .. 179*00
Trinta pocherises.................................................................................
deZ. cobenores. a i&aoo ................................ *...............................
6*oS9 tf-t
Soma A lauda atras como pareze .. 6.87
Zinq» Y. seys c " de U— b ra n c o ................
Zinq* Y nuebe c“* de UMbermelho............
Vinte e hu c** 1/2 de Londres a o ........ 55 ii» 55o
Vinta e quatro, arrs de cayamena a ttoo
2 S 38>«00
/3
Seys c°* i de palm ilha............................. .
a® 53o
8 9640
trintay seys baras. de cachera a »40.........
25 X 500
Zinco en sacas............................................. •
Sete peças de Yndias..................................
I4S5&OOO
dois quimays. 86 arrs. de m arfim ........... ,. IO980O
2 83
. o alqueres. de masa ........................ ... 5669000
69860
ònZe Cobertores.......................................
Vinte e Sete ferregolos. a 198 0 0 .......... . 489600
dois pieças de frisado, co 56
cM a i o . 3 79280
Vinta Seys. decachera. a too.................. 139 40 0
treçe c°* de Am arelo, a 340 ..................... 49420
V inte e duas. baras. de cachera a 200. 49400
Zien alqueres. de masa. a 100 •.............. 229000
9
Hum barril de farinha. io r s ............... 109000
quarenta y medio, de berm elho. a 600 249^00
T rin ta e hum a toalha, a 900 ................ 2799c0
oyto baras. de to a lh a s........................... . 89000
38 c0' de R a ja que esta en S an ............. , 459600
2 t c°* de Londres, a 19200................. .. 259200
T r è s colch as, da ylh a do prinçtpe . . .. 39000
T r è s cob ertores, a 520
................... .... t » 56o
7.9829281
dezysete baras de cachera, a 200.............................................. 39400
deZasete baras. de cachera a 3 2 0 ............................................ 59440
Zinco ferregolos........... ........................................................... 11$000
quatro cobertores, a 2#rs......................................................... S9000
dez cobados. de U.n0 bratvco a 5o o ............................................ 59000
deZoito c de frisádo q. estan en s e r........................................... 2$340
quatro. aRobas. 24 arrates. de cayama 19200.................... . 1845)800
Vinte he quatro Peças, de escravos............................................ 5049000
dois ferregolos.................... i ..................................................... 89000
deZasete ferregolos. 8 a 29100 9. a 2#>000.................................. 3 $9 6 oo
Zinco toalhas, a 900.................................................................. 49500
deZ. Pipas, de V in o ..................................................................... 2645)000
Por huma Restituçao........................... ........................................ 79500

9.0159861

eu franw demar. Tirey esta cota, do ymbentairo do dou mauoel Pereira em pteseuza
do sr. gor. Bento banha cardosso Juntam*» co outras pesoas que p™ ysto nombtou \ qual cota
584 A ngola
tne f remeto em loamda 3 de ag*° t6 ia / Fran** Demar (oi uisto y conssertado por mim deuerbo
auerbo oie a de agosto de 6ia.
B ento banka C ardoso
(Arquivo Híttôrico Colonial* Angola. Documento n.° ^5^

C DOCUM ENTO N.° 104

»Snor / fem ao dematos secretr* destado de VM ag4* e do seu C° por hu / seu bilhete deoito
deste prezente mes meordenou da / parte de VMag** q apontase loguo tudo o § fose neses.rt/p*
obem efeito da conquista do Reino de bengela a que VM ag.de me manda o Va seruir /
E são as seguintes / i E porq a conuersão daquelles gentios anosa santa fee / catholica
deue ser oprim ." com o ocudado das almas / que aconquista forem serão neses.™ dous cle-
riguos ou / Relegiosos qual VMagda for mais servido.
a Ofesiaes da fazenda de VMag.do hum prouedor efeitor / E escriuao,
3 Dous mineiros q seíão pratiquos ede experiencias / pâ obeneficio das minas do cobre E
mais expedientes / deminas segundo os motivos tj mais der aconquista / asim de ouro como
outros metais.
4 Trezentos soldados os quais sedevem enbarquar no / porto delisboa Eneste numero duas
prassas debarbeiros E hua desurujam.
5 Vinte caualos loguo dos quais os des aomenos são / neses1,0' leuar loguo delisboa os
mais pode VM agd* sendo seruido mandar secomprem nobrazil Esera / com menos custo com
mais dobrazil quarenta / armaduras vde algodam p* os de caualo § são armas q Rezistem as
frechas*
6 E P orq os caualos os guasta m.10 aterra E tanto que / não sofrem andar ferados E he o
sustansial daconquista pela reputação q os negros delles thetn de que VMagdfl sendo seruido
mandar passar sua prouizão pela coroa de castela pera q doporto debuenos aires posa tirar
athe quarenta caualos são os miiho/res pa aquellas partes mandando p* setirarem Escravos.
7 quatro sentos arcabuzes Esem mosquetes tudo deboa mo/nição E de bisquajatodos
porq não sendo estes a experiencia them mostrado os outros nao seruem por aRebentarem
/ mt0 E ser amonisão depequena bala,
8 O chumbo neses® p* os pilouros muran se escuza porq la o / ha sem custar afazenda de
VM ag.de E sefas decasqua de / huas aruores m!o bom.
9 sem lansas p* agente decaualo Ede Respeito Epera o corpo / de guarda*
10 sento Evinte quintaes depoluora com Rezerua deser / prouido porq apoluora, e so he
que ade abrir E fasiiitar/ aconquista ofendendo E espantando com o ordin." tirar / indo mar-
chando Eentrando aterra.
11 Despesas de artelharia Edestad pelo menos quatro debronze E / ordem p* algua q esta
en angola sem uzo Esem Repairos por / não auer no porto de angola fortaleza nem aonde aja
de / seruir p* q esta Repairendose com amais se fortificar afortaleza que no porto de bengela
se adefazer Emais fortes que / nesses/0* forem dentro naterra Esobre asminas do cobre.
12 sem aluioims-sem machados-sem enxadas des seras-sem / pas-sem selhas E baldes depau
ferados-doze quintaes de pregos de toda sorte*
13 A Pagua dos soldados em lisboa acostumada q sepaga pelos / almazens de VMag.deaos
q uão aquellas partes Easin aos / capitaens alferes sargentos cabos Etanbores barbeiros Esuru
/ jam Echeguados aconquista sepagarão la Eos soldados de /caualo conforme VM ag.de manda
la pagar agente de guerra / Ediferense deprassas dela-Esendo VMag da seruido man / dar se
diga aos capitaens alferes Esargentos q delisboa / partirem VMag.da tera Resp.*° alhes fazer m
conforme ho / seruirem pera os animar mais.
< 14 A s couzas neses.ra* pera botiqua Ecura dos enfermos pera a j. / nada demar.
i 5 E P orq VMag.do no bilhete defernio dematos memanda d ig u (.. .)/ p * o bem efeito desta
conquista tudo deuo partir doporto de / lisboa dir/° ao de angola em oqual aomais me poderey
deter / Eser neses." de quatro osinco mezes segundo amonsam / emq chegar Eesperar a q mé
Apêndice 585
he ceies." p* ir abengela Een/trar aterra-logoo Een angola Reftxendoise da* cocuou / ame«-1**
q jerSo mantím-*** Eiroquar dos trezentos soldados / $ lettar durenfo« por otifflrm lacrot
dageate deangoU / E conguo porquanto he ioíaliue) Eaexpcríancí* otbcm / mosvodo adoeser
a gcote q uaj do Reino aquelUs partes / da doença dtterra q os que Escapam them bwgoa
conualcsencia Eos soldados $ leuar do Reino adoesemlo Enan/goU podem ser curados t>q nio
poderá ser naconquista / Eemrando aterra alojando ao descuberio E nta truqua i com «germe
de angola Econguo não fas falia pois selhe / da oatra tanta nem afizera por ía utt ca** Emais,
não / auendo em angola conquista. ^
16 Eos negros frecheiros $ líure m.u quizerem seguir aconquisu dos quais ba infinitos Ea
estes VMag> não pagua / couza algua.
17 E P * q VMag.* E seus ministros com roayor clareza uejSo / 6 pouqoo q todo isto uzrm
acusiar athe sair doporto de / lisboa cm consideração do m.M q se uay «ganhar me pareseo
conuinha dizer E a seu Real scruiso q tudo não / pasara devinte mil cruzados E me obrigoo
asair do / porto delisboa com todas as couzas apontadas exseto / «rtelharia £q estes umte mil
cruzados q se ande / despender nas compras destas couzas Epagas dos sof/dados Eroata ofenaes
E fretes dos nauios pelos ofesiaes / Dafazenda de VMag.* será VMag,* seruido mandar Eu
asisia / as pagas Ecompras delias.
ï 8 Demy Edeminha molher efilho não trato deixando tudo / nagrondeza de VMag.* Estia
cristandade q mandara con/siderar o e m q o uou asemr o Risquo de mmha vida E / opouco
Remedio q minha molher Efg terão faltandolhe / Eu p* asms. <j for seruído fozerme
p“ ella Eelle Ea / my como desua Real grandeza espero En madrid a 11 de / março de 611. /
Manoel Cerur1 prf.
19 E Porq acabada esta conquista do Reino de bengela Efeita / a fortaleza noporto E os
mats fortes q oprogreso delia pe/dtr espero em Ds. se consigna aconquista Eg&aharense / as
Requisimas minas de ouro de monomotapa Een Rezio / do seruiço de VMag.* mepareseo
lenbrar q p» seganharem / com m.10 menos custa de sua Real fazeada Eos homens de / consi­
deração Enobrcs se desporem atao inportante couza / com prontisimo animo inporiara p* se
conseguir leuar doze abitos das ordens melitares-quatro foros defidalgos / Evinte decaualeiros
fidalguos E quarenta demosos du Camr* / as quais ms. de abitos Eforos nio auerão efeito as
pesoas / a q se ouuerem de dar senão despois q VMag> fors.0' das mi/nas de monomotapa
Epeltos seru •” q En as ganhar a VMag.d#/ fizerem.
(Arquivo Histórico Colooiil. Angola. Documento n.* 40).

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ÍNDICE

PARTE I
Zaire e Congo

I — O s nossos descobrimentos. — C o m o fomos a Ceuta. O Infante D . H enrique teptwinào


de C euta armado cavaleiro, estabelece-se em S. V icente. O r g a tu x a ç ío da V i U d o Ic*
fante e início das viagens. G il Eanes dobra o ca b o B ojador. A fo n so B a i(U í*t H ettof
Homem e Diogo de Almeida. - O desastre de T ân ger e a ia sistín cía do Infame p a ra
se tirar a desforra. — Viagem de A ntão G onçélves. O s prim ffSPs rtsg^iei- ~~ A f* 1-
toría de Arguim, — O arrendamento do resgate na terra da Guiné a F e r n ío Gom es* —
João II. — A colonização de S . T o m é , $ . Jorge da Mi&a t os descobrim entos de
D iogo Cão. — Considerações. . . . . . . . . . . ................................................. W g. 3
H — O reconhecimento do Z aire. — A s viagens de D iogo C ã o ao Z aire. O s indígenas q u *
trouxe do C o n go e o seu regresso. — A armada de R ui de S o u s a Desem barque a a s
terras do Manisonho e viagem até S. Salvador. O baptism o do Rei d o C o n g o e a
acção dos padres missionários. Auxilio que prestaram para a submissão do s A a z ic o s .
Rivalidades entre os dois filhos do rei do C oago, vencendo D. A fon so que se fêx
proclam ar rei por morte de seu p a i ........................................................................ Pág. l7
III — A ocupação do C ongo. — Primeiras relações de S. T o m é co m O C o n go . — M issões reli­
giosas para o Congo. Sua acção, — D. Manuel 1, 5
em i ia, envia S im ão da S ilv e ira
com o embaixador. Análise do regimento de Simao da Silveira. S u a s consequências*
Rivalidades entre portugueses. — A s com unicações pelo Z aire c o m o Preste João.
Gregório da Quadra. A navegação do Zaire para além do Yelala. — P o lítica de D . M a­
nuel no C ongo, A c ç ã o desenvolvida pelos portugueses,— D. João H L S u a p o lític a
no Congo e a mão de obra para o Brasil. — A Com panhia de Jesus no C o n g o . Sua
acção. L u tas com o restante clero e com os portugueses. — A p olítica de D. A fo n s o
rei do C o n go . — L utas políticas no C ongo depois do falecim ento de D . A fon so.
D . Diogo e os jesuítas. Protestos coatra o desvio do negócio d o C o n g o para o s
portos do sul. A acção de S. T om é, dos jesuítas, do clero regular e do s portu­
gueses................................................. ... ....................................................................... Pég. 33

P A R T E 11
Angola

I— Os A mbundos. — R econhecimentos e resgates. — P enetração. — O sobado do Dongo. —


R elações do C ongo com A ngola. E feito s em A ngola da nossa acção no C o n go .
Desenvolvimento do sobado do N ’gola e suas relações com o C o n go . — E m i Sí o D . M a­
nuel manda em missão a A ngola M anuel P acheco e B altasar de C astro . O regím enio
e sua análise. — Outras viagens de exploração pelas co stas de A n g o la até a o r io d a
L o n ga, favorecidas por S. T om é. Consequências. L u ta s etitre o C o n g o e A n g o la ,
588 Angola
dirigidas por portugueses. — Embaixada do N’go!a a D. João III. Falecimento dêste
e política de D. Catarina. — O soba de Angola pede para lhe mandarem jesuítas.—-
Primeira missão de Paulo Dias. Apreciação dos seus resultados e regresso de Paulo
Dias b Lisboa ................................................................................... .......................p$g, gg

II — A D o n a t a r ia d e A n g o l a . — Tendo falhado a conquista das minas de ouro do Monomo*


tapa, procura-se substituí-las pelas de prata de Angola. A Companhia de Jesus, iote-
ressada^jias descobertas mineiras, obtém para Paulo Dias a donataría. — Às condições
da doaçáo. Encargos e proventos. — A chegada a Luanda, Relações com brancos e
indígenas. — As relações com o Congo. — As primeiras lutas com os naturais. Paulo
Dias é forçado a quebrar as boas relações, lançando-se na luta para a conquista. Re­
forços vindos da Metrópole. — O primeiro combate em Anzele, a marcha para o
Cuanza e o seguimento até à Mocumba, — Paulo Dias com os seusefeciivos reduzidos
pelo clima manda pedir o auxílio do rei do Congo e entretanto o capitão Manuel João
avança na direcção deCambambe para a conquista das minas de prata. O desastre de
Manuel João depois de encarniçada luta. O socorro do Congo é desbaratado. — A
reorganização das forças com o auxílio dos padres jesuítas Afonso e Barreira. A vi­
tória de Teca-Ndungo sobre a gente do rei de Angola. Ocupação de Massangano.—
Falta de reforços do reino tomam crítica a situação. Acodem os dois padres jesuítas
Barreira Chega o reforço de João Castanho Velez, vindo com ele João Re­
zende Morgado trazendo operários e instrumentos para trabalharem o minério de
Cambambe. A reconquista e nova vitória sôbre a gente de Angola, que relinira grande
número de sobados contra nós.— Na impossibilidade de se fazer desde já a conquista
de Cambambe, Paulo Dias consente que Castanho Vellez vá fazer uma surtida ao
gentio da região. Ataque ao jaga Calunga, e a desforra dêste que, fingindo vir
avassalar-se, assassina traiçoeiramente os nossos soldados. O rei de Angola adquire
alento para de novo nos acometer e reunindo três formidáveis exércitos é pelos nossos
desbaratado na passagem de Lucala. Inacção forçada dos nossos por falta de gente. A
ocupação de Benguela Velha e o desastre dos 5o portugueses que para lá foram. Fa­
lecimento de Paulo Dias. — Considerações sôbre a donataria de Angola. — Desastre
de Luís Serrão no acampamento do Lucala. A retirada para Massangano. Morte de
Luís Serrão e sucessão de André F erre ira .........................................................Pág. 121

III — O G o v e r n o G e r a l . — A situação depois da morte de Paulo Dias e dos desastres sofridos.


A sindicância feita por Abreu de Brito e as suas propostas. — A Companhia de Jesus
estendendo a sua acção por tÔda a conquista obriga o Rei a tomar providências no
sentido de rehaver para a Coroa todo o poder e autoridade. O primeiro governador
geral D. Francisco de Almeida abandona a conquista por não se poder manter em
vista das hostilidades da Companhia de Jesus. — Seu irmão Jerónimo de Almeida con­
tinua o plano da conquista das minas de prata de Cambambe, procurando ocupar em
primeiro lugar as minas de sal de Ademba. Combate com o soba Cafuche que des­
barata as nossas forças. Furtado de Mendonça procura atacar pelo norte, os sobas
fronteiros do Congo marchando contra o Icoío e Bengo, mas o clima dizimou-lhe a
maior parte das suas tropas. Reorganizadas estas, conseguiu castigar o gentio, mas
entretanto Massangano era atacada pela gente do Ngola, indo em seu auxílio Baltasar
Rebelo de Aragão, que derrotou os indígenas e foi fundar o presídio das minas de sal.
Acção de Furtado de Mendonça para o sul. — Os assientos para o fornecimento de
negros para as colónias espanholas* João Rodrigues Coutinho assentista e governador
de Angola, bem recebido e ajudado pela Companhia de Jesus. Seu falecimento e
eleição de Manuel Cerveira Pereira por sugestão dos jesuítas. — Ataque do soba
Agoacaiongo e marcha sôbre Cambambe, que foi conquistada. A desilusão da prata e
a nova sugestão do cobre de Benguela. A interinidade de Manuel Cerveira. — O novo
governador D. Manuel Pereira Porjaz e as suas sociedades em negócios. Descobri­
mento de novas minas de cobre. Seu falecimento e o inventário dos seus bens. —
Bento Banha Cardoso eleito para o substituir. Combate vitorioso sôbre o gentio di-
índice 589

RcírMtA TS*
alAn dc^LnrT^ * Cnmbumlv, • nurtà* L» mrrap-. p*ra
* 7 1 * ^ ° p0r &*010 DânKs^<*** ^(«ÍOIS a / oru í«*
conmiUr«^ C .â°I!C ^Cn,cifa ^ereir*, governador interiao d? AogóU r *^«ínodor e
A stJm ^ . -

.^ . , 0r * ^€DSuc^a‘ PgJíücí do remo a roprito <WÀrtgolè, C..r>;> e Rr*wL


A,í Mendes de Vasccncelo*. Deícia contra oc hoUsdests. Ataqt» Ngr.U.
ança com os jagas- Dcsimiçio da embala do Ngola que fugiu e txr.po*ivi » '« o?a
n uro ao sucessor. AgiuçSo geraL A G : ^ i At ncg^>ct«çóes de Frio Corrí-** u*
9
°.ÜS^ ^n uanl° a nteirópole resolve o caso da Ginga, ataca o Caaaasw t
pelo Congo onde se fere uma imporunle baulhi - Joío Correia d? W a c Je-
smtas. O testamento de Gaspar Alvares. Fuga do» jesuíta* para o C* r-ío e pedido
o rei do Congo aos holandeses para nos virem atacar. — O Gsrzrrtct ú. termo án
Bispo D. F r Simão Mascarenhas. Ataque dos holandesc-s. — FernSo de Sctufia A si­
tuação com a Ginga. A guerra que lhe mandou fazer. Derrota da Gire* * nomeaç&o
o novo soba, tributário de Portugal, criando-se junto dele o lugar k r^^ínho da
rte e campo. A nossa acção em Angola e Congo, O clero. — Oí hoíãmjcse#
atacam Luanda. Dificuldades de Feraão de Sousa para a organização da dcíoe. O*
o an eses retiram, queixando-se de que o rei do Congo nSo prestara o auxfiri que
tinha oferecido. Considerações ................................. ... . . . ...................Páfr i7J

IV
A ctividade económica e situação fwanceira. — O resgate de esflWjS. Colombo e *■ *
índias de Castela. Falta de mão de obra. 0
rei de Castela manda comprar negros
que envia, para experiência, nas suas colónias. Regularização do negocio de ex­
portação de escravos. — A política colonial espanhola. — Os negócios de Sevílha. A
casa da contratacioa,— As licenças para navegar escravos. — Carlos V e o desenvol­
vimento deste negócio. — As condições impostas pelo governo de Castela. Má vontade
do governo para com os portugueses de quem Castela dependia para o fornecimento
de mão de obra. Nas colónias espanholas os serviços dos agentes dos ízsienris/as por­
tugueses são considerados úteis e relevantes. A situação modtfica-se um pouco a favor
dos portugueses por parte das autoridades. A Espanha não consegue manter o ex­
clusivo do comércio e navegação para as suas colónias. — Considerações sõbre os
contratos de cobrança de impostos e de fornecimento de escravos feitos na época da
Usurpação, para as colónias espanholas e para o Brasil. A mão de obra no BrasiL
Jesuítas e colonos. — Os contratos e o contrabando. Castela alarmada com o con­
trabando do Rio da Prata, toma medidas rigorosas para o evitar. Recorrendo a vio­
lências causam graves transtornos ao comércio português. — O que aconselhavam os
governadores de Portugal. — A Espanha cede em grande parte e cria as licenças de ín-
ternaciônj que vieram abrir as suas colónias aos estrangeiros. — O negócio em Angola.
Sua regularização. As feiras. — A moeda. As transferências. A riqueía particular em
Angola. As festas da comemoração da beatificação de S, Francisco Xavier. Pág. i 55

P A R T E III
Benguela

I — P rimeiros reconhecimentos. — Situação do reino de Benguela* Sua formação, — Explo­


rações dos portugueses pela costa. O resgate no tio da Longa. Ocupação de Ben­
guela por Lopes Peixoto. Viagem do Governador João Furtado de Mendonça para
negócio na Baía das Vacas. André Batteli. Reconhecimentos da costa até ao Cabo
da Boa Esperança. — A busca do cobre para substituir a prata de Cambambe. D. Ma­
nuel Pereira Forjaz prende Manuel Cerveira Pereira e manda-o para o reino. Pág. i 33
Ü— 0G overno G eral no R eino de B enguela . — Manuel Cerveira Pereira teodo»se justificado
de tôdas as acusações obtém o governo de Benguela, separado de Luanda, e a no­
meação de conquistador, Chegada a Luanda. Trabalhos de organização. Fuga de
Angola

parte do pessoal que trouxe. Partida para Benguela. ~ Percurso da costa até ao C abo
Negro c regresso vindo fundear na baía da T ôrrc. Relações com o soba. Castigo
rigoroso das primeiras represálias de parte dos indígenas. Revolta dos portugueses e
seu castigo. Necessidade dos prom etidos esforços para se fazer a ocupação das minas,
Luís Mendes de Vasconcelos passa á vista de Benguela, não fundeando para não en­
tregar o refõrço que trazia. Manuel Cerveira protesta e manda a Luanda arranjar
recursos. Entretanto castiga o j a g a que fizera seu tandala. A população portu­
guesa jfc novo se revolta e amarrando Manuel C erveira, mete-o em urna embarcação,
que a corrente trouxe a Luanda. Os jesuítas recebem-no e tratam-no. Cerveira
queixa-se a Filipe UI da falta de cumprimento das promessas, que lhe manda satisfazer
o pedido de gente. Cerveira parte de novo para Benguela acom panhado pelos jesuítas
e dtrige-se logo ás minas de Sumbe Am bala, trazendo uma porção de pedras. Re­
colhe a Luanda ao Colégio dos Jesuítas e manda as amostras das pedras para o reino.
— Demora nas resoluções da côrte que termina por determinar se mande novo auxílio
de gente. João Correia de Sousa desculpa-se com a situação em Luanda e não deixa
era Benguela soldados nem armamento, e antes procura induzir os que auxiliavam
Manuel Cerveira a abandoná-lo, prometendo-lhes iguais lugares em Luanda. Na côrte
analisam as amostras de cobre, que nao satisfazem e mandam suspender a conquista*
— Perdidasas esperanças do cobre de Benguela que fazer ao novo governo? Fernão
de Sousa íCüífeado governador geral de Angola recebe ordem para fazer a viagem por
Benguela e sabe que os holandeses iam ali abastecer-se de frescos. Sua acção no
sentido de uma orientação clara sôbre a continuação ou abandono da conquista*
Manuel Cerveira que estava em Luanda vai ainda a Benguela, mas volta desiludido,
falecendo pouco depois, antes de receber a ordem de regresso ao Reino. — Aflitiva
situação em Benguela. A côrte manda a Fernão de Sousa que nomeie um gover­
nador. Vai Lopo Soares Lasso, que depois de alguns anos de campanhas, sempre
vitoriosas, viu destruído o seu exército e teve ele próprio a morte, nas proximidades
de Caconda, pelo soba Ngola Njumbe. — A opinião de Fernão de Sousa sôbre Ben­
guela. — Os holandeses tomam Benguela. Defesa heróica da população. — Benguela
na reconquista de Angola. O governador Souto Maior. Os portugueses abandonam
Benguela na intenção de se reünirem às forças do governador Souto Maior em Qui-
combo, mas este por indicação dos portugueses de Massangano resolve abandonar o
acampamento sem esperar pela gente de Benguela. A desolação no meio do mato e
marcha para Caconda. — A nossa acção no sul de Angola e causas que a determi­
naram ........................... - ....................................................................* . . . . . Pág. 3 3 1

APÊNDICE

D ocumento n.° i — História do Reino do Congo (Mss. incompleto do autor anónimo) Cap. i,
2, 3 , 4, 13, 14, 15 , ............................................................................................................. Pág. 375
Doc. n.08 2-3 — Autos da arrematação dos quartos da ilha S. Tomé e do Príncipe a João da
Fonseca e a António Carneiro............................................................................. ... Pág. 379
Doc. n.° 4 — Traslado do auto e inquirição sôbre as coisas que Gonçalo Roiz fêz nas partes
da Guiné. . .......................................................................................................................... Pág. 38 o
Doc. n.° 5 — Regimento que El-Rei D. Manuel deu a Simão da Silveira quando o mandou a
M anicongo.............................................................................................................. Pág. 383
Doc. n.° 6 — Alvará de D. Manuel I para se entregar a Manuel Vaz que ia a Manicongo deter­
minados a r tig o s ............................................. pág. 3^0
Doc. n.° 7 — Alvará de defesa que El-Rei passou para não poderem carregar nem trazer do
Congo coisa alguma senão nos navios de El-Rei .......................................................pág. 391
Doc. n ° 8 Carta do Rei do Congo D. Afonso para D. Manuel I sôbre o aprisionamento de
um barco francês (?) que arribara ao Sonho............................................................. Pág. 3^
D oc. n . ° 9 — Idem sôbre o filho D. Henrique, bispo..........................................................pág. 3^4
• £ h * J w ;. ..

Índice 5çi
Doc. ».• io — L b u do* Rei* do Congo d# E. G. R m » * « « ......................... . . . . . P**-
D oc #.• ii — Caru do p*dre Jorge V « para o capitlo <U ift» d t S T o « * em vp» íM oftoc***
do que se pmara ao Congo depois da reorad* do padre Diogo Gon>e#.............
D oc »• ia — Cana do padre Diogo Rodrigue i para a Rainha D. Leoaor com quota** *******
procedimento do rei do Congo « de ciguos poffugoese».................................. * ***£ -
3
Doc- a* i - Regimento dado por El-Rei D. Manuel a Manuel Pacheco e a B aitm r de Castra
que foram descobrir o reino de Angola. ...........................................................* ^ - 5
Doc. M,• 14 — Regimento com que Diogo do SoveraJ partiu para o rio da Lor^a cm Renaseí«*
a fazer uma armaçfio............... * * ......................................................................d***
5
Doc. ns i — Curta de Diogo Roiz a D. J0S0 IIJ dando noticia do faiecimeoto de AUnue! Pa­
checo e sôbre a sua mi conduta , . „ , ............... ...............................................* * *
Doc, N* i6 — Apontamento de noticias sòbre a ida de Paulo Dias deNoteis a Angola « *
56
i i .................................................. Pág* o45
Doc. n,®17 — Carta da doação de Angola a Paido Dias de Notais...................................... ?*&* 4*7
Doc. N« 18-20 — Regimento de João Morgado................................... P*& 4 11
Doc. te®at Traslado da provisão que nomeou Lopo Delgado escrivão da fazenda em Au-
3
°la ......................................................................................... „ .................. Pâg. 4*7
Doc. n.° 22 * Processo de habilitação de um sucessor de Paulo Dias de Novais i Capiunia át
4*3
Angola............................................................................................................................. Pág.
23
Doc. n,® — Traslado de um Alvará estabelecendo aos padres da CofÇíahia de Jesus o or-
denado para seu mantimento em Angola............................. Pág. 4*9
Doc. N.®24 — Cópia das referências de E. G, Ravenstein à viagem a Benguela do Governador
['urtado de Mendonça.................................................. Pig. 430
25
Doc. N.° — Traslado da sentença que absolveu Manuel Cerveira Pereira das acusações que
lhe fizeram como Governador interino de Angola. . . . . . . . . . . . . . . . . Pág, 42*
Doc. N.®26 — Traslado da patente de nomeação de D. Manuel Pereira para Governador Gera!
de Angola..........................................................................., .............. ... Pág. 426
Doc. n.° 27 — Contrato do Governador D. Manuel Pereira com Jofio de Argomedo . Pág. 427
Doc. N.° 28 — Cana do Governador D. Manuel Pereira a João de Argomedo............ Pág* 428
Doc. n.°* 2c)-3o — Cartas do sindicante André Velho da Fonseca sôbre diversas irregularidades
cometidas pelas autoridades em Angola..................................................................... Pág.429
3
Doc. n.° i — Auto de perguntas a João de Argomedo feito pelo juiz da índia e Minas. Pág. 43a
32
Doc. n.° — Traslado dos autos que se processaram por morte do Governador D. Manuel Pe­
reira e do Gapttão-mór que lhe sucedeu.................... . Pig. 433
33
Doc. n.° — Processo de justificação dos actos de Bento Banha Cardoso............... Pág. ? 43
Doc. k,° 34 — Provisão de Filipe III, mandando separar o reino de Benguela do Governo de
Angola, e formar um novo Governo. . ............................................................ , Pág. 440
35
Doc. n.° — Traslado de assentos do Registo das mercês que dizem respeito a D. Gonçalo
Cominho.............................. ... . . . .................................................................. Pág* * 44
36
Doc. n.° — Regimento do Governador de Angola. ................................................ Pág. 442
Dog. n.° 37 — Carta de Luís Mendes de Vasconcelos sôbre as necessidades de geme, armas e
munições para Angola. ......................................................... ............................. Pág. 45o
3
Doc. n.° b — Relatório do Bispo de Angola sôbre alguns actos dos Governadores. . Pág. 452
Doc. N.° 39— Carta de Luís Mendes de Vasconcelos sôbre vários factos ocorridos com os seus
antecessores.................................... .................................................................. Pág- 4 #
Doc. n.° 40 — Carta do GovernadoT João Correia de Sousa . ................................ Pág. 457
Doc. N041 — Extrato do Cap. x da 1.* parte do 1 * tomo da História Geral das Guerras An­
golanas de Oliveira Cardonega................................... ......................................... Pág* 458
Doc N9 42 — Relação dos rendimentos certos e incertos que no Colégio de Luanda tinham os
padres da Companhia de Jesus....................... ... ................................. Pág. 462
Doc. n.° 43 — Reprodução de um documento em pergaminho, sôbre os reis de Angola. Pág. 469
Doc. n.° 44 — Informação avulsa prestada sôbre os reis de Angola. . ......................... Pág. 469
Doc. h.° 45 — Relação dos tributos que pagavam os sobas ........................ Pág. 471
Doc. N.®46 — Relação dos usos e costumes da gente do Congo pelo Bispo de Angola. Pág. 473
5ç2 Angola
Doe- n." 47 — Reprodução da gravura da medalha mandada cunhar pelo Papa Paulo V a pro»
posiio da visita de um embaixador do Rei do Congo. ........................................... Pág, ^ 5
Doc. N.° 48 — Informação do Bispo de Angola sôbre a conquista do Congo e construção de uma
fortaleza no Pinda................................................................. " ................................... Pág. 476
Doc. N* 49— Cópia de uma carta do capitão de Cambambe Constamino de Cadena sobre as
minas....................................................................... ....................................................... Pág. 479
DoC. n * 5o — Certidão de Afonso Dias Jácome escrivão da fortaleza de Cambambe sôbre 0
sítio das Minas.......................................... ^ ....................................... ......................... Pág. 480
Doc. n.° 5 t — A ito do contrato do assiento feito com Pedro de Sevilha e António Mendes de
Lamego . . ................................................................................... ...............................Pág. 481
Doc. n.° 52 — Lei de ii de Novembro de 1595 sôbre a Uberdade dos índios do Brasil. Pág. 484
Doc. n . ° 53 — Alvará e Regimento de 26 de Julho de 1596 sôbre a ordem que os padres da Com­
panhia de Jesus hio-de ter com o gentio do Brasil. * ....................................... Pág. 485
Doc. n.®54 — Auto do contrato de João Rodrigues Coutinhosôbre avenda de negros para as
Índias de Castela........................................................................................................... Pág- 486
Doc. H.®55 — Notícias sôbre o arrendamento dos contratosde A n g o la ......................Pág. 487
Doc. r*.° 5 6 _Exposição dos agricultores de Portugal sôbre o contrabando de vinhos para An­
gola ______________________________________________ ... Pág. 488
Doc. n.° 57 — Cédula que se passou em Setembro de i 6 i 3 paraas províncias do Rio da Prata
sôbre o exercí^TBIo comércio pelos portugueses..................................................... Pág. 489
Doc. n .® 58 — Notícia sôbre a forma como se fazia o contrabando de escravos de Angola para
as Colónias da América Espanhola .................................................. ......................... Pág. 491
Doc. h.° 59 — Protesto dos homens de negócio portugueses contra a cédula de 2 de Outubro
de 1608 do rei de C a s te la ........................................................................ ................... Pág. 4 9 *
Doc. n.° 60 — Cédula de 1610 para que não ficasse nenhum português nas índias de Castela sem
licença esp ecial.............................................................................................................Pág. 493
Doc. n.° 61 — Cédula de 20 de Abril de i 6 i 3 mandando vir a Sevilha todos os negros embar­
cados nas colónias portuguesas para as índias de C a stela ................................. - Pág. 494
Doc. n . ° 62 — Contestação a várias considerações contra o negócio exercido por portu­
gueses .................................................... ................................. .................................... Pág- 494
Doc. n.° 0 3 — Nota do rendimento das licenças de exportação dos negros das diversas co­
lónias ...................... .............................................................. Ptg. 497
Doc. n-° 64 — Informação de Mendo da Mota e do Conde de Vila Nova sôbre os inconvenientes
das medidas tomadas contra o negócio exercido pelos portugueses.....................Pág. 497
D gc. n.° 65 — Apreciação da Junta sôbre as medidas tom adas.....................................Pág. 5o3
Doc. n.° 66 — Carta de Francisco Demax sôbre os negócios em A n g o la ................. * Pág. 504
Doc. n.° 67 — Alvará de 3 de Outubro de 1624 do Governador Geral de Angola Fernão de
Sousa creando 0 lugar de Maniquitanda da feira de Ambaca..................................Pág. 5 19
Doc. n.®68— Alvará regulando o serviço das feiras. .................................................. ... Pág. 5i9
Doc. n.®69'— Preços para a feira de Ambuila.................................................................. Pág. 519
Doc. N.®70 — Bando do Governador Fernão de Sousa mandando sair da liamba todos que ali
residam e determinando se recolhessem a Luanda ou aos presídios.....................Pág. 5ao
Doc. N.®71 — Carta do Governador Fernão de Sousa repreendendo o capitão mór de Ambaca
e recomendando-lhe a proibição de se intrometer na vida dos s o b a s -.................Pág. 520
D oc . n.0,72-73 — Repetição dos bandos com prorogação dos prasos para apresentação. Pág. 521
Doc, n.° 74 — Regimento que Fernão de Sousa deu ao Capitão Manuel Dias quando o mandou
verificar a execução dos bandos acima e estabelecer relações com os sobas. . . Pág, 522
Doc. N.° 75 — Registo de concessões de terrenos ao tempo e no Governo de Fernão de
^Scusa............................................................................................................................... Pág. 524
Doc. n.° 76 — Memória dos cargos públicos que havia em Angola ao tempo que era Governa­
dor Fernão de Sousa..................................................................................................... Pág. 529
Doc. n ° 77 — Relação das festas que se realizaram em Luanda para comemorar a beatificação
de S Francisco Xavier................................................... .............................................. Pag, 53t
Doc. n.®78 — Provisão de 14 de Fevereiro de iô i 5 separando o reino de Benguela do Governo
Geral de Angola (repetido)......................................................................................... Pág. 544
Indice 5ç3
Doc w.a 79 — Pro»isSo de 14 de Fevereiro de 161S autorizando Manuel Cerrem Pereira. sr-
quanto fôr precito, a acumular 0 Governo Geral de Angola c m / de frrogutl*1 p m '
$e poder preparar para a cônquim dãste...................................... - P ^ t1
D o c N* 8 0 — Despacho deFilípe li! »òbre uma carta de Miftue) Ccrvtnra Piteira, Y$t : :
poc. N.* 81 — Carta de a de Junho de i6j8 de Manuel Certeira Pereça* . , , . . f\v r
Doc. n.9 8a — Roteiro da Costa de Angola«................................... .................. pí<;
83
Doc. K.* — Declarações do Capitão Lourenço Dias Ferreira i6bre a ml conduta -h, *
dades de Luanda para com Manuel Cernira Pereira............... ÍJ$ é '*
Doc« n .# 84 — Auto sôbre 0 mesmo assunto.............................................................................................. s ^
85
Doc. n.° — Cana de 24 de Janeiro de 1619 de Manuel Certeira Pereira.......................... 357
Doc. H.™86-87 — Despacho sôbre uma carta de Manuel Cerveira Pereira.............. p4£
Doc. N.* 88 — Carta de 16 de Março dc iôat do Padre Jesuita Mateus Cardoso sôbre as
de cobre de Benguela.................. .......................................... • .............. P4g.
Doc. n«#i 89-90 — Correspondência trocada entre Manuel Cerveira Pereira e 0 Co*err.*iof
Geral J0S0 Correia de Sousa................................................................ .. - Pa^.
Doc. N.®91 — Declaração de Bartolomeu Dias ajudante de Benguela e Gaspar Ferrem, soldado,
sôbre os convites que a bordo lhes fizera 0 Governador João Correia de Sousa para aban­
donarem Benguela....................................................................................... .. - Pig >ó»
Doc. 92 — Precatório de Manuel Cerveira Pereira ao Governador G e r^ r Angola. Pág, 563
Doc. N093 — Carta de 7 de Novembro de 1621 de Manuel Cerveira Pereira............ Pág.
Doc. n .° 94 — Despacho sôbre uma carta de Manuel Cerveira Pereira ............................ Pág. 565
5
Doc. n.° g — Cópia de uma carta de António Pinto que ficara em Benguela substituindo Ma­
nuel Cerveira Pereira...................................... .. .......................................... ... Pig. 565
Doc. N.8 96 — Relação do presídio de Benguela.................................................... 566
Pia.
Doc. n .° 97 — Instruções dadas a Lopo Soares Lasso quando foi para Benguela. - . Pág. 567
Doc. N.9 98 — Auto a que mandou proceder Lopo Soares Lasso sôbre o estado em que encon­
trou os serviços em Benguela e o que fez.................................................... ... . Pág. ; 56
Doc. n .m 99-100— Relatório e informação de Fernao de Sousa sôbre Benguela . - . Pág. 570
Doc. N.0* lot-102 — Transcrição da História Geral das Guerras Angolanas de Oliveira Cador-
nega, da parte referente a Benguela na época dos Holandeses...........................Pág. $78
3
Doc. n.° io — Inventário dos bens e valores arrolados em Luanda após 0 falecimento de D. Ma­
nuel Pereira....................... ............................................................................. Pág. o 58
Doc. N«fl 104 — Gana de Manuel Cerveira Pereira indicando 0 pessoaJ e material que precisava
para a conquista de Benguela.............. ............................................................ Pág. 584

Por lapso foi repetido a pág. 544 e com o n * 78, o documento já publicado a pág. 440 com
o número 34.
r ff

C
E R R A T A * m *

Linha Onde te l i Leiaute


Pàg-
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193 IO Cam bane C am bam be
208 29 N g o la N d a m b i N g o la M b an d i
209 16 » V» » »
» 20 N dam bi M bandi
1» 27 d o rio a o r io
23 I 20 r e fe r ir a m r e fe r ia m

233 9 Q u in a g r a n d e Q u in a G r a n d e

292 36 p o d e r a r r a n ja r p oder, co m a c e n tr a liz a ç ã o d o


n e g ó c io , a r r a n ja r

3 11 33 n o s ig u a la v o s ig u a la

325 A lt o d a p á g in a P a r t e IX — A n g o l a P a rte III — A n g o la

326 32 O que Que

327 A lt o d a p á g in a P a r t e II — A n g o la P a rte III — A n g o la

358 1 4
a p r e s e n te a p r e s e n ta

35 9 n o t a (2) ( G o l d a . ..) ( G o lla )

362 16 levarem a Angola levarem do Brasil pata Angola


369 27 c u b ic a c u b iç a

3 yo 35 0 que Que
487 37 Documento 54. Documento 55
.

Sjfe.

EDIÇÕES
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IM PRENSA DA U N IV E R SID AD E
».•©is V * ( e x T ttA C T O DO C.ATA1.OCO) •

S C R IP T O R E S HERVM L V S IT A N A R V M
- *
* ' - SÊ H IE A ) *.
Pqbllc^ o :
F E R N À O L O P E S D E C A S T A N H E D A . — H istória do descobrim ento, c conquista da
. índia. E d. revista pelos snrs. Pedro de A zevedo e P . M. L a ra n jo Coelho, v o í.», u e m,
Em algodão, cada vol. . * ............... 40300
Em linho, cada v o l............................. 100300
DAMIAM DE G O E S . — Chronica do Felicíssim o Rei Dom Em anvel. Conform e a ed.
• pnpceps. Rev. pelo Dr. David Lopes, 4 volu m es...............................................8o$oo
F E R N A O G U E R R E IR O . — R ela ção anual das coisas que fizeram os padres da Com -
* paohia de Jesus nas suas Missões do O riente, da Á frica e B rasil nos anos de 1600
a 16Ó9. E d . com pleta das 5
R elações, dirigida e pref. por A rtu r V ie g a s, vol. 1 e n.
E m algodão, cada vol......................... 6o$oo
Em lítm o, cada v o l .................. . . . i20$oo
JOÃO DE BARROS.— Décadas— vol. t, Em algodão.............................. 6o$>oo
^ . Em linho.................................... 120&00
P.e JOAO RODRfcUES GIRAM. — Carta Apua da Vice-Provlncia do Japão, integra
inédita agora prefaciada por António Baião.
E m a lg o d ã o , ca d a v o l ......................... 20$oo
E m Unho, c a d a v o l............... ... 40&00
No prélo i
DAMIAO DE GOÇS — Chronica do Príncipe Domloam. Conforme a ed. princeps.
DUARTE GALVÃO. — Crónica de D. Afonso Henriques. Revista e prefaciada por
Tomás da Fonseca. j
JOAO DE BARROS e DIOGO DO COUTO.— Décadas. Ed. conforme a ed. princeps.
revista e prefaciada pelo Dr. António Baião.

Em preparação;
Papéis relativos á guerra da restauração b independência de P ortugal.

S É R IE B )
Publicados t
I. — HIERONYMO OSÓRIO. — De rebus EmmanveUs gestis. vols . . . . 3 605^00
II. — Itinerários Q uinhentistas da jwdia a Portugal. — Rev. e prefaciados pelo
Dr. António Baião, vol. 1..................................................................................... io?poo
III. — C omentários do grande A fonso d’A lbuquerque — Conforme a 2.* ed. Rev. e
prefaciada pelo Dr. António Baião, vol. 1 (Partes t e ti) e n (Partes m e iv). $oo 35
Em preparação:

A N T O N I O G A L V A O . — T r a ta d o d o s d iversos e d e sva ira d o s ca m in h os p or onde nos


tem pos p assad os a pim en ta e esp e ciaria veio d a ín d ia às n o ssa s p arte s, e assim de
to d o s o s desco b rim en to s a n tig o s e m o d ern o s que s ã o feito s em a e ra de i o. 55
série c )
Publicado:
D . F R A N C I S C O M A N U E L D E M E L O . — E p a n a p b o r a s d e v a r ia h is to r ia p ortuguesa.
Ed« d irig id a p e lo D r . E d g a r P r e s ta g e .

Em preparação:
H is tó r ia T r á g ic o -m a r ít im a

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