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MÓDULO I - INTERVIR PARA AVANÇAR

HIPÓTESES DE ESCRITA
As pesquisas realizadas por Emília Ferreiro, nos mostra que a criança aprende a ler e a
escrever porque é desafiada a confrontar suas hipóteses, sobre leitura e escrita, com as
convenções que serão oferecidas pelo professor.
Usaremos para nomear essas hipóteses, a nomenclatura presente na documentação de
nosso município que se embasa em diferentes materiais teóricos sobre o assunto, são elas: Pré –
silábico; silábico sem valor sonoro; silábico com valor sonoro; silábico – alfabético; alfabético.
Ressaltando que há variações devido às inúmeras pesquisas que permeiam esse assunto, bem
como diferentes interpretações encontradas na internet.
Dando sequência ao nosso estudo sobre as hipóteses formuladas pelas crianças, iremos
aprofundar nossa reflexão em relação as inúmeras características dentro de cada hipótese.
Este texto tem por objetivo descrevê-las, visando facilitar o ato de intervenção do
professor para que possa conquistar o sucesso no desenvolvimento de seus alunos.

Hipótese Pré-silábica

Características Principais

PS1
 Escrita com desenhos e garatujas
PS2
 Relação entre o nome e o tamanho do objeto;
 É preciso uma quantidade mínima de letras para que esteja escrito alguma coisa;
 É preciso um mínimo de caracteres para que uma série de letras sirva para ler.

CONFLITOS VIVIDOS PELA CRIANÇA NESTA ETAPA:


Que sinais eu uso para escrever palavras?
Conhecer o significado dos sinais escritos.

O que deve ser trabalhado no nível Pré-silábico


 Atividades com nomes próprios e outras listas: cadernos de autógrafos, agenda da turma,
atividades da semana.
 A relação grafema-fonema (letra-som) com alfabetos cantados, bingo de letras, de rótulos,
atividades com alfabeto vivo, atividades com fichário dos nomes dos alunos.
 Formar o “Tesouro da Classe” com palavras significativas que deem repertório às crianças.
Uso do alfabeto concreto.
 Presenciar frequentemente atos de leitura e escrita, observando onde se lê e como e o que
se pode escrever.
 Explorar e manusear as letras do alfabeto em diferentes materiais e contextos: crachás,
rótulos, textos, bingos, etiquetagens, legendas, jogos (memória e baralho alfabético),
colagens e recortes.
 Analisar a quantidade, variedade, posição de letras, comparando, seriando, completando e
classificando palavras pela letra inicial/final, em um contexto significativo (ex.: nomes
próprios, itens de uma receita, personagens da semana...).
 Atividades com aspectos topológicos das letras: sacola surpresa, alfabeto corporal,
caminhando com as letras, agrupamentos por características semelhantes, dentre outras.
 Muitas atividades de escrita espontânea e não cópias.

AVANÇOS:
- Diferenciar o desenho da escrita;
- Perceber as letras e seus sons;
- Identificar e escrever o próprio nome;
- Identificar o nome dos colegas;
- Perceber que usamos letras diferentes em diferentes posições.

Hipótese Silábica
Silábica sem valor

Características Principais
 Crença de que cada letra representa uma sílaba (a menor unidade de emissão sonora).
 Quantidade mínima de letras para que possa ser considerada uma palavra. Pode
apresentar resistência ao escrever palavras monossílabas.
Silábica com valor
 Crença de que cada letra representa uma sílaba.
 Preocupação com o valor sonoro convencional ora com vogais, ora com consoantes. Pode
apresentar resistência ao escrever palavras com sílabas que apresentem vogais iguais. Ex:
BARATA.

CONFLITOS VIVIDOS PELA CRIANÇA NESTA ETAPA:


- A escrita está vincula à pronúncia das partes da palavra?
- Como ajustar a escrita à fala?
- Qual a quantidade mínima de letras necessárias para se escrever?

O que deve ser trabalhado no nível Silábico


 Presenciar atos de leitura e escrita e ser incentivado a ler e produzir escritas silábicas para
que o conflito em direção ao próximo nível aconteça.
 Atividades que reforcem a compreensão da relação grafema-fonema (letra-som) para que
entenda a constituição de sílaba por exemplo, alfabetos cantados, bingo de letras, de
rótulos, atividades com alfabeto vivo, atividades com fichas e/ou crachás dos nomes dos
alunos, diagramas, exploração de listas (letra inicial, ordem alfabética,...).
 Continuar explorando todo alfabeto em jogos, cartões de palavras com letras faltosas,
letras móveis com a quantidade correta da palavra, forcas, bingos, dominós letra inicial x
figura, palavra X figura, atividades com texto lacunado, com e sem diagrama (utilização
de banco de palavras para os silábicos sem valor) legendas em gravuras, palavras
escondidas com figuras para colocar as iniciais.
 Memorização de escrita de palavras significativas e exercícios de desmontar/montar
palavras, descobrir palavras escondidas, completar palavras, atividades de ligar com
desafios (ex.: desenhos em que seus nomes comecem com a mesma letra), contar,
classificar, comparar palavras, segundo o número de letras, iniciais, finais e pela ordem
das letras.
 Atividades de desenvolvimento da oralidade com posterior produção escrita:
escrever/ordenar textos que se sabe de cor como músicas, poemas e histórias em
sequência (texto fatiado em palavras, versos e estrofes).
 Trabalhar o eixo qualitativo em rimas (pintar partes iguais), acrósticos, cruzadinhas, listas.
 Trabalhar com textos que se sabe de cor para induzir a vinculação do oral com o escrito,
explorando a formação das sílabas, a ordem das palavras nas frases, a organização da
escrita, a estruturação do texto.
 Leituras de histórias e demais narrativas com posterior reconto oral e escrito.
 Muitas atividades de escrita espontânea de palavras e não cópias (respostas do livro por
exemplo).

AVANÇOS:
- Atribuir valor sonoro às letras.
- Aceitar que não é preciso muitas letras para se escrever, apenas o necessário para
representar a fala.
- Perceber que palavras diferentes são escritas com letras em ordens diferentes.

Hipótese Silábica alfabética

Características Principais

 Hipótese de transição entre o nível silábico e o nível alfabético.


 Descoberta de que é necessário analisar outras possibilidades de escrita, uma vez que ela
vai além da sílaba, normalmente é conhecida como a fase do “come letra”.

CONFLITOS VIVIDOS PELA CRIANÇA NESTA ETAPA:


- Como fazer a escrita dela ser lida por outras pessoas?
- Como separar as palavras na escrita se isto não acontece na fala?
- Como adequar a escrita à quantidade mínima de caracteres?
O que deve ser trabalhado na hipótese silábico – alfabética
 Relacionar personagens a partir do nome escrito;
 Confecção de glossários;
 Relacionar figura às palavras, aumentando o desafio através de palavras que comecem
com a mesma letra, as quais induzem a criança a olhar para o todo da palavra;
 Ter contato com a escrita convencional e analisá-la em atividades significativas, atividades
de ortografia regular;
 Reconhecer palavras em um pequeno texto conhecido;
 Leitura de textos conhecidos;
 Relacionar textos memorizados com sua grafia, quebra-cabeça de texto, procurar palavras
em textos, organizar texto lacunado em palavras, versos e até mesmo em letras;
 Cruzadinhas e diagramas;
 Caça-palavras como parceiro ora de alunos silábicos, ora de alfabéticos;
 Completar lacunas em textos de palavras, podendo usar ainda o apoio do diagrama;
 Construir um dicionário ilustrado, desde que o tema seja significativo;
 Evidenciar rimas entre as palavras;
 Usar o alfabeto móvel para escritas significativas;

AVANÇOS:
- Usar mais de uma letra para representar o fonema quando necessário;
- Atribuir o valor sonoro das letras.

Hipótese Alfabética

Características Principais
 Escreve com dois sinais gráficos para cada sílaba oral (sílabas canônicas cvcv).
 É importante conhecer o valor sonoro convencional das letras.
 Há necessidade de distinguir algumas unidades linguísticas tais como: letras, sílabas,
palavras e textos.
 Estar alfabético não significa estar alfabetizado completamente, por esse motivo a hipótese
se divide em três estágios distintos.
CONFLITOS VIVIDOS PELA CRIANÇA NESTA ETAPA:
- Por que escrevemos de uma forma e falamos de outra?
- Como distinguir letras, sílabas e frases?
- Como aprender as convenções da língua escrita?
Alf1
 Se caracteriza pela hipótese de que, a cada vez que se abre a boca para se pronunciar
uma palavra, se escreve obrigatoriamente uma consoante e uma vogal, nesta mesma ordem
rígida (chamada de utilização das sílabas canônicas).
Ex: escada – SECADA
Alf2
 A ordem “consoante-vogal” pode ser invertida.
 Às vezes, a sílaba tem somente uma vogal ou até duas.
 Às vezes, a sílaba tem duas consoantes, ou juntas ou separadas por vogal.
 Constatação de que há sons que deverão ser representados por duas letras.
Ex.: NH, LH, CH, RR, SS.
Ex.: pro – PORFESSORA, jor – JRONAL.

Alf3
 Processo no qual o aluno apresenta mais um conflito e outra descoberta, a de que uma
consoante pode ser desacompanhada de vogal.
Ex: PNEU, OBJETO, ADVOGADO.
O que deve ser trabalhado na hipótese Alfabética
 Atividades que reforcem a compreensão da relação grafema-fonema (letra-som) para que
entendam a construção da sílaba por exemplo, alfabetos cantados, bingos de letras e de
sílabas, de rótulos, atividades com alfabeto vivo, atividade com fichário dos nomes dos
alunos.
 Atividades que visem descolar a escrita da fala, como no caso das palavras. CADIADO e
KAVALU – as vogais E e O no final de sílabas átonas assumem o valor sonoro de /i/ e /u/,
por isso que se fala /cadiado/ e se escreve CADEADO, fala-se /cavalu/ e escreve
CAVALO, fala-se /leiti/ e escreve-se LEITE.
 Atividades para trabalhar as convenções e regras ortográficas, como: dígrafos orais (ch, lh,
nh, qu, gu, rr, ss, sc, xc) e nasais (am, an, em, en, im, in, om, on, um, un) como na escrita
da palavras “aranha” e “campo” e usos de letras que representam o som /s/.
 Atividade para evitar a hipercorreção como na escrita da palavra CUECA escreve COECA.
 Trabalho intenso com a leitura dos e para os alunos de diferentes gêneros: leitura
compartilhada, silenciosa, em capítulos, em diferentes ambientes, por diferentes motivos,
com dramatização, com interpretação oral, sugerindo mudanças, criando versões,
recriando finais, introduzindo elementos, comparando narrativas, notícias, enredos,
propagandas, explorando rimas.
 Produzir textos: coletivamente, em grupos, em duplas, sozinho, a partir de imagens, de
leituras, de situações, de questionamentos, de necessidades de informar, divulgar,
pesquisar, discordar, concordar, divertir, recontar, anunciar, convidar...
 Montar e explorar bancos de palavras e construir coletivamente as regras ortográficas
regulares, usar jogos de raciocínio para fixação destas regras (veremos maiores detalhes
no quinto encontro).
 Montar e explorar bancos de palavras com dificuldades ortográficas irregulares.
 Organizar jogos com regras para memorização das mesmas.
 Trabalhar revisão de textos produzidos coletivamente (grupos, duplas) ou individualmente.
 Trabalhar com a análise linguística de textos bem escritos, selecionando alguns conteúdos
por vez para a análise.
 Atividades de desenvolvimento da oralidade com posterior produção escrita.
 Leitura de histórias e demais narrativas com posterior reconto oral e escrito.

AVANÇOS:
- Preocupação com as questões ortográficas e textuais (parágrafo e pontuação).
-Usar a letra cursiva.

OBS:

O desafio proposto pela dinâmica dos jogos de alfabetização, desperta o interesse pela
leitura e proporciona oportunidade de exercício, porém o momento de aplicação do jogo precisa
ser planejado, pensando sempre, refletir sobre os questionamentos que precisam ser feitos para
problematizar a hipótese em que o aluno faz uso, elencar quais regras precisam estar presentes,
a fim de garantir o envolvimento de toda a sala e dinamizar sua atenção aos que mais precisam.

Aprendemos fazendo, vivenciando, experimentando, errando e retomando, os jogos assumem


um caráter pedagógico funcional, servem para desenvolver o processo de leitura e escrita de
forma lúdica. Porém não são a única maneira de intervenção e não possibilitam o sucesso da
aprendizagem sozinhos, necessitam de muito planejamento e dedicação.

REFERÊNCIAS

FERREIRO, Emília. A desestabilização das escritas silábicas: alternâncias e desordem com pertinência. In. Relações
de (in)dependência entre a oralidade e escrita. Porto Alegre: Artmed, 2003.

http://diariodeumeducadorbaiano.blogspot.com.br/2010/03/os-niveis-de-escrita-bem-resumido.html

https://pedagogiamk.files.wordpress.com/2013/08/por-que-e-como-saber-o-que-sabem-os-alunos.pdf

http://psicopedagogialudica.blogspot.com.br/search/label/Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o-
Processo%20de%20Escrita%20e%20Hip%C3%B3teses

http://omundodaalfabetizao.blogspot.com.br/2012/05/etapas-e-niveis-de-alfabetizacao.html

LEMLE, M. Guia teórico do alfabetizador. São Paulo: Ática, 2007.


CORREA, J.; MACLEAN, M. O desenvolvimento da consciência fonológica e o aprendizado da leitura e da escrita
durante a alfabetização. In: LAMPRETCH, R. (org). Aquisição da Linguagem: estudos recentes no Brasil. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2011. p.129-144. CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione. 1989.

Adaptação:

Formadora: Tatiana de Camargo Schiavon


tatianacursotrilhas@gmail.com

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