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net/publication/314389525
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RESUMO
Este trabalho apresenta uma discussão sobre o uso do método de penetração de cone
para a avaliação da consistência das argamassas de revestimentos, parâmetro de
importância no estudo da trabalhabilidade deste material. O artigo aborda: o princípio
de funcionamento do método, questões operacionais importantes, além de resultados
experimentais comparados com outros métodos utilizados no estudo de argamassas, no
caso, vane test e mesa de consistência. Os resultados apontam que o método de
penetração de cone pode auxiliar na interpretação da consistência das argamassas,
apresentado uma forte correlação com os valores de tensão de escoamento (pelo método
vane test)
ABSTRACT
This work presents a discussion regarding the use of the Cone Penetration method for
the evaluation of consistency of rendering mortar, an important parameter to study the
workability of this material. This article discusses: the operation principle of the
method, significant operational requirements, and experimental results compared with
results obtained using other methods like vane test and flow table. The results point out
that cone penetration method can help to interpret mortar consistency, presenting a
strong correlation with the values of yield stress (by vane test).
1. INTRODUÇÃO
O estudo das propriedades das argamassas de revestimento no estado fresco é de grande
interesse para o meio técnico uma vez que este material é aplicado nesta condição. Esta
abordagem apresenta certo grau de complexidade dependendo dos fatores a serem
considerados, conforme apresenta a Tabela 1.
- 95 -
Em algumas situações o estudo ainda é dificultado pelo elevado grau de empirismo que
envolve a caracterização deste material no estado fresco. Como exemplo, cabe lembrar
que, no caso do estudo do concreto, a consistência, apesar de uma infinidade de formas
diferentes de avaliação, até hoje “reina” como parâmetro para caracterizar misturas de
concreto potencialmente utilizáveis. Para as argamassas de revestimento, o presente
nível de estudos apresenta dificuldades para caracterizar tais materiais sob iguais
condições de aplicação. Neste universo, apenas o conhecimento da consistência é
insuficiente para definir se uma argamassa é ou não trabalhável. Atualmente uma das
formas mais empregadas para definir tais características, utilizada pelos centros de
pesquisa e produtores de argamassas industrializadas, é a avaliação empírica de um
operário com certa experiência no manuseio e aplicação de argamassas.
Na maioria dos casos, a trabalhabilidade das argamassas é avaliada a partir dos mesmos
testes usados há vários anos. Em contrapartida, as características específicas dos
materiais, associadas a grande variabilidade, onde não se tem grande domínio sobre a
influência destes no comportamento das argamassas no estado fresco, vêm evoluindo
rapidamente. Atualmente, é cada vez mais discutida no meio científico a necessidade de
uma avaliação dessas propriedades, a partir de modelos de natureza quantitativa de base
científica, que possibilite a real caracterização do seu comportamento. Caracterização
esta, que deve, de certa forma, também envolver e relacionar os parâmetros
tradicionalmente conhecidos como, por exemplo: condições de trabalhabilidade,
consistência, plasticidade, dentre outros. Neste sentido, umas das possibilidades de
novas discussões estão baseadas na aplicação dos conceitos de reologia do material,
sendo caracterizado por ambos parâmetros físicos, tensão de escoamento e viscosidade1.
Deve-se ressaltar que esta proposta apesar de ser mais clara que os modelos tradicionais
de base qualitativa, ainda não é facilmente aplicada, uma vez que muitos dos testes
tradicionais, amplamente utilizados, não são satisfatórios do ponto de vista do estudo
reológico, isto porque estes se correlacionam apenas com um parâmetro, ou a
viscosidade ou a tensão de escoamento, condição insuficiente para caracterizar o
comportamento no estado fresco (FERRARIS, 1999).
Atualmente, existem equipamentos sofisticados que permitem uma avaliação mais
ampla do comportamento reológico de argamassas, fornecendo inclusive os parâmetros
fundamentais (viscosidade e tensão de escoamento). Estes equipamentos não são
amplamente utilizados nos mais diversos laboratórios de tecnologia das argamassas,
devido, em primeiro lugar, ao seu elevado custo e, em segundo lugar, a algumas
dificuldades operacionais. Cabe destacar ainda que a determinação de parâmetros
reológicos (como tensão de escoamento e viscosidade) não é tarefa simples,
principalmente no que diz respeito ao estudo de suspensões concentradas como o caso
de concretos e argamassas. Neste universo, muito dos métodos existentes são limitados
em suas aplicações, sendo comum encontrar, para um mesmo material, variações nos
valores dependendo das condições do experimento empregado. Esta afirmação pode ser
demonstrada a partir da Tabela 2, onde se observa uma considerável variação nos
1
Assumindo-se que as argamassas apresentam comportamento reológico definido pelo modelo de
Bingham => τ = τ o + ηγ , conforme discutido por FERRARIS (1999).
- 96 -
resultados de tensão de escoamento e viscosidade obtidos por diferentes reômetros.
Devido a estes e alguns outros fatores, apesar de todo o avanço, existem pesquisas
atualmente sendo desenvolvidas no sentido de correlacionar os parâmetros reológicos
com os resultados obtidos através de ensaios tradicionais favorecendo, inclusive, uma
avaliação prática em campo.
Dos ensaios mais utilizados na caracterização das argamassas no estado fresco, pode-se
dizer que o método da Mesa de Consistência é um dos testes mais empregados na
avaliação da consistência, estando presente na maioria dos laboratórios de materiais de
construção. Entretanto, apesar da grande utilização, este é um dos ensaios mais
criticados quanto à avaliação de uma condição de trabalhabilidade. Um dos muitos
fatores que contribuem para esta discussão, além da própria concepção do ensaio, diz
respeito a uma não correspondência de resultados entre os valores que caracterizam
mesmas condições de trabalhabilidade.
Apesar das críticas, é certo que a mesa de consistência ainda está longe de ser
aposentada, fato que pode ser atestado pelos inúmeros modelos de mesas atualmente
disponíveis comercialmente. Outro fato que merece destaque é carência de parâmetros
para o meio técnico, principalmente nacional, que sente a necessidade da inclusão das
medidas de espalhamento durante a caracterização das argamassas de revestimento no
estado fresco.
Outro método de ensaio que merece destaque é o método Vane Test. No estudo dos
materiais de construção é possível encontrar trabalhos que utilizam o Vane Test para
caracterizar concretos e argamassas como é o caso dos trabalhos desenvolvidos por
AUSTIN (1999), ALVES (2002) e SANTOS (2002). Na pesquisa de ALVES (2002)
foi possível definir faixas de tensões de escoamento que caracterizavam a consistência
de determinadas argamassas com aditivos incorporadores de ar (considerando um
processo de aplicação manual em blocos de concreto sem chapisco). O mesmo
equipamento foi utilizado por SANTOS (2002), onde se encontrou um valor mínimo de
tensão de escoamento para uma condição de bombeabilidade de argamassas para
projeção. O método vem ganhando espaço nas pesquisas devido a sua simplicidade de
execução fornecendo resultados representativos que favorecem uma discussão mais
ampla do real comportamento das argamassas
Quanto ao ensaio de penetração de cone, este é outro método simples, porém eficiente
para se avaliar a consistência de argamassas de revestimento. Este método adota um
procedimento de ensaio que, em parte, se assemelha a alguns tipos tradicionalmente
utilizados na avaliação de materiais de construção civil como, por exemplo, o aparelho
de Vicat utilizado para avaliar a consistência de pastas de cimento, o penetrômetro
- 97 -
utilizado na mecânica dos solos para avaliar a consistência de solos e asfalto, dentre
outros. As vantagens deste método resulta de uma melhor reprodutibilidade dos
resultados e, principalmente, uma menor variação devido aos operadores e
equipamentos.
Para o estudo de argamassas a rotina de ensaio utilizada é descrita na norma ASTM C
780-01. Em geral, o método consiste na penetração de um cone com massa e dimensões
padronizadas e descritas no referido documento. Como base para fixação do cone,
utiliza-se um aparelho de Vicat modificado para acomodar as devidas dimensões dos
dispositivos (cone, haste guia e recipiente). Na seqüência, após o preparo da amostra em
recipientes cilíndricos, a mesma é posicionada na parte inferior do cone, sendo este
liberado em queda livre. Como resultado, o ensaio fornece uma avaliação indireta da
consistência a partir da profundidade de penetração do cone, expresso em milímetros.
As características específicas do método, bem como dos dispositivos utilizados, estão
detalhadas na Tabela 3 e na Figura 1.
77,35°
88,9
Detalhe A - Ponta
arredondada do cone
A
41,3
Segundo FERRARIS (1999), o resultado fornecido por este método apresenta forte
correlação com o parâmetro reológico tensão de escoamento. Segundo consta, a
profundidade de penetração dependerá da tensão de escoamento do material testado.
Como, na maioria dos casos, a massa do cone é pré-estabelecida, o método avalia se a
tensão aplicada é maior ou menor que a tensão de escoamento do material,
estabelecendo assim uma correlação direta com a profundidade de penetração do cone.
É certo também, que o método provoca um cisalhamento no material durante o processo
de penetração do cone. Na mecânica dos solos, através de um procedimento de ensaio
similar, o valor de penetração de cone obtido durante o ensaio é associado a o índice de
plasticidade e a uma medida de cisalhamento não drenada da amostra de solo.
Este método já vem sendo utilizado em pesquisas sobre argamassa no Brasil, sendo
inclusive apresentado no V SBTA resultados de caracterização de argamassas no estado
fresco como o trabalho de ANGELIM et al. (2003). Entretanto, percebe-se no meio
técnico a necessidade de uma discussão mais ampla sobre o método. Sendo assim, o
- 98 -
objetivo deste trabalho é promover uma avaliação sistemática do ensaio de penetração
de cone a partir do estudo das propriedades das argamassas no estado fresco,
favorecendo inclusive uma comparação de resultados fornecidos por outros
procedimentos de ensaio.
Cabe lembrar que a quantidade de água foi definida, para cada argamassas, em função
da consistência desejada, ou seja, adicionou-se água até obter o valor de penetração de
cone pretendido (penetração de cone => 35mm, 50 mm e 65 mm)
- 99 -
britagem de rocha calcária. No estudo, ainda, foi utilizada cal hidratada CHI, não
aditivada (conforme classificação NBR 7175/92), e cimento CP II F 32 (conforme
classificação NBR 11578/91).
Quanto às argamassas da série AI não foi possível obter maiores informações sobre sua
composição. Entretanto, sabe-se que este material é composto de cimento, cal, areia fina
e certos teores de aditivos incorporadores de ar e retentores de água. Algumas ainda são
produzidas sem cal, com teores de aditivos adequados para tentar suprir a necessidade
deste material (com relação às propriedades no estado fresco). No Brasil, grande parte
destas argamassas é produzida pela industria do cimento, sendo fornecidas ao
consumidor em sacos de 20 e 50 kg.
- 100 -
5. as argamassas ainda foram caracterizadas no estado fresco quanto aos ensaios:
densidade de massa NBR 13278/95, retenção de água 13277/95 e teor de ar
incorporado (NM 47:95).
As particularidades operacionais do método Vane Test estão discutidas na Tabela 8.
Para os demais métodos, os procedimentos empregados foram os mesmos
recomendados pelas respectivas normas de ensaio (Mesa de Consistência - NBR
13276/95 e Penetração de Cone – ASTM C780/96).
- 101 -
consistência por parte de alguns pesquisadores, partindo da hipótese de que os materiais
utilizados na composição das argamassas não sofrem grandes variações.
320
290
Espalhamento (mm)
260
270
224 260
220
189 224
170
120
20 35 50 65 80
Penetração de cone (mm)
AM AI
- 102 -
Pasta
Bolhas de ar Agregados
(a) (b)
Figura 3 – Esquema da estrutura encontrada nos dois tipos de argamassa (a) Argamassa
com aditivo incorporador de ar e (b) Argamassa mista de cimento e cal
2,0
1,7
1,5
1,45
0,9
1,0
0,82 0,61
0,5
0,54
0,0
20 35 50 65 80
Penetração de cone (mm)
AM AI
- 103 -
350
Espalhamento (mm)
290
300
260 260
250
224 224
200
189
150
100
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00
Tensão de escoamento (kPa
AM AI
Deve-se ressaltar que os resultados da mesa de consistência não devem ser descartados
durante a avaliação das argamassas, uma vez que este ensaio está presente na maioria
dos laboratórios de materiais de construção, sendo um dos parâmetros de referência
mais conhecido pelo meio técnico. Recomenda-se, apenas, que este ensaio deva ser
complementado com os demais métodos avaliados no presente estudo (cone de
penetração e vane test).
3. CONCLUSÕES
Com base no estudo em questão, pode-se concluir que:
• o método de penetração de cone pode auxiliar na interpretação dos resultados de
espalhamento (mesa de consistência), principalmente, quando se trata de
argamassas com aditivos incorporadores de ar;
• as diferenças entre os resultados de tensão de escoamento fornecidas pelo
método vane test e penetração de cone não são significativamente pronunciadas
como no caso da mesa de consistência o que pode indicar que ambos parâmetros
possuem forte correlação;
• analisando, isoladamente, os grupos de argamassa (industrializadas ou mistas),
os valores de penetração de cone e de tensão de escoamento (vane test),
apresentam uma forte correlação. As diferenças são pronunciadas apenas quando
a analise é feita em conjunto, considerando os dois grupos ao mesmo tempo;
• o método de penetração de cone, ao contrário da mesa de consistência, pode vir
a atuar como uma ferramenta de controle da consistência das argamassas;
• uma avaliação isolada do valor de penetração de cone ainda é insuficiente para
uma definição de trabalhabilidade, uma vez que apenas um parâmetro reológico
está sendo avaliado, restando uma avaliação da viscosidade.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Laboratório de Ensaios de Materiais da Universidade de
Brasília pela infra-estrutura cedida a pesquisa e pelo custeio dos ensaios, ao CNPq e a
FAPESB pelo apoio financeiro no desenvolvimento desta pesquisa e as instituições:
Universidade de Brasília, CEFET Bahia, Universidade Estadual de Feira de Santana e
Universidade Federal do Vale do São Francisco.
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