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ESTUDO DA CONSISTÊNCIA DE ARGAMASSAS PELO MÉTODO DE


PENETRAÇÃO ESTÁTICA DE CONE

Conference Paper · May 2015

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VI Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas
I International Symposium on Mortars Technology
Florianópolis, 23 a 25 de maio de 2005

ESTUDO DA CONSISTÊNCIA DE ARGAMASSAS PELO MÉTODO


DE PENETRAÇÃO ESTÁTICA DE CONE

BAUER, E. (1); SOUSA, J. G. G. (2); GUIMARÃES, E. A. (3)

(1) Eng. Civil, Professor do Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil da


Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Prédio SG 12, CEP:
70910-900, Brasília(DF), Brasil, e-mail: elbauer@terra.com.br
(2) Eng. Civil, Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco - Doutorando do
Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil da Universidade de Brasília,
Brasil. e-mail: jose.getulio@univasf.edu.br
(3) Eng. Civil, Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana e do CEFET-Ba.
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil da Universidade
de Brasília, Brasil, e-mail: elvioag@yahoo.com.br.

RESUMO
Este trabalho apresenta uma discussão sobre o uso do método de penetração de cone
para a avaliação da consistência das argamassas de revestimentos, parâmetro de
importância no estudo da trabalhabilidade deste material. O artigo aborda: o princípio
de funcionamento do método, questões operacionais importantes, além de resultados
experimentais comparados com outros métodos utilizados no estudo de argamassas, no
caso, vane test e mesa de consistência. Os resultados apontam que o método de
penetração de cone pode auxiliar na interpretação da consistência das argamassas,
apresentado uma forte correlação com os valores de tensão de escoamento (pelo método
vane test)

ABSTRACT
This work presents a discussion regarding the use of the Cone Penetration method for
the evaluation of consistency of rendering mortar, an important parameter to study the
workability of this material. This article discusses: the operation principle of the
method, significant operational requirements, and experimental results compared with
results obtained using other methods like vane test and flow table. The results point out
that cone penetration method can help to interpret mortar consistency, presenting a
strong correlation with the values of yield stress (by vane test).

Palavras-Chave: Argamassas, Trabalhabilidade, Consistência.

Key words: Mortar, Workability, Consistency.

1. INTRODUÇÃO
O estudo das propriedades das argamassas de revestimento no estado fresco é de grande
interesse para o meio técnico uma vez que este material é aplicado nesta condição. Esta
abordagem apresenta certo grau de complexidade dependendo dos fatores a serem
considerados, conforme apresenta a Tabela 1.

- 95 -
Em algumas situações o estudo ainda é dificultado pelo elevado grau de empirismo que
envolve a caracterização deste material no estado fresco. Como exemplo, cabe lembrar
que, no caso do estudo do concreto, a consistência, apesar de uma infinidade de formas
diferentes de avaliação, até hoje “reina” como parâmetro para caracterizar misturas de
concreto potencialmente utilizáveis. Para as argamassas de revestimento, o presente
nível de estudos apresenta dificuldades para caracterizar tais materiais sob iguais
condições de aplicação. Neste universo, apenas o conhecimento da consistência é
insuficiente para definir se uma argamassa é ou não trabalhável. Atualmente uma das
formas mais empregadas para definir tais características, utilizada pelos centros de
pesquisa e produtores de argamassas industrializadas, é a avaliação empírica de um
operário com certa experiência no manuseio e aplicação de argamassas.

Tabela 1 – Fatores que influenciam a trabalhabilidade das argamassas


Teor de água, muitas vezes definida em função da consistência necessária, proporção
Fatores
entre aglomerantes e agregado, distribuição granulométrica, forma e textura dos grãos
internos
do agregado, natureza e teor de aditivos (incorporadores de ar, retentores de água, etc.)
Tipo de mistura, transporte, aplicação no substrato, operações de sarrafeamento e
Fatores
desempeno e características da base de aplicação – tipo de preparo, rugosidade,
externos
absorção, etc.

Na maioria dos casos, a trabalhabilidade das argamassas é avaliada a partir dos mesmos
testes usados há vários anos. Em contrapartida, as características específicas dos
materiais, associadas a grande variabilidade, onde não se tem grande domínio sobre a
influência destes no comportamento das argamassas no estado fresco, vêm evoluindo
rapidamente. Atualmente, é cada vez mais discutida no meio científico a necessidade de
uma avaliação dessas propriedades, a partir de modelos de natureza quantitativa de base
científica, que possibilite a real caracterização do seu comportamento. Caracterização
esta, que deve, de certa forma, também envolver e relacionar os parâmetros
tradicionalmente conhecidos como, por exemplo: condições de trabalhabilidade,
consistência, plasticidade, dentre outros. Neste sentido, umas das possibilidades de
novas discussões estão baseadas na aplicação dos conceitos de reologia do material,
sendo caracterizado por ambos parâmetros físicos, tensão de escoamento e viscosidade1.
Deve-se ressaltar que esta proposta apesar de ser mais clara que os modelos tradicionais
de base qualitativa, ainda não é facilmente aplicada, uma vez que muitos dos testes
tradicionais, amplamente utilizados, não são satisfatórios do ponto de vista do estudo
reológico, isto porque estes se correlacionam apenas com um parâmetro, ou a
viscosidade ou a tensão de escoamento, condição insuficiente para caracterizar o
comportamento no estado fresco (FERRARIS, 1999).
Atualmente, existem equipamentos sofisticados que permitem uma avaliação mais
ampla do comportamento reológico de argamassas, fornecendo inclusive os parâmetros
fundamentais (viscosidade e tensão de escoamento). Estes equipamentos não são
amplamente utilizados nos mais diversos laboratórios de tecnologia das argamassas,
devido, em primeiro lugar, ao seu elevado custo e, em segundo lugar, a algumas
dificuldades operacionais. Cabe destacar ainda que a determinação de parâmetros
reológicos (como tensão de escoamento e viscosidade) não é tarefa simples,
principalmente no que diz respeito ao estudo de suspensões concentradas como o caso
de concretos e argamassas. Neste universo, muito dos métodos existentes são limitados
em suas aplicações, sendo comum encontrar, para um mesmo material, variações nos
valores dependendo das condições do experimento empregado. Esta afirmação pode ser
demonstrada a partir da Tabela 2, onde se observa uma considerável variação nos
1
Assumindo-se que as argamassas apresentam comportamento reológico definido pelo modelo de
Bingham => τ = τ o + ηγ , conforme discutido por FERRARIS (1999).

- 96 -
resultados de tensão de escoamento e viscosidade obtidos por diferentes reômetros.
Devido a estes e alguns outros fatores, apesar de todo o avanço, existem pesquisas
atualmente sendo desenvolvidas no sentido de correlacionar os parâmetros reológicos
com os resultados obtidos através de ensaios tradicionais favorecendo, inclusive, uma
avaliação prática em campo.

Tabela 2 – Medidas de viscosidade e tensão de escoamento realizado por diferentes


reômetros (Adaptado de BANFILL (2000)).
Tipos de reômetros disponíveis
BML BTRHEOM CEMAGREF-IMG Two-Point
Composições
τo µ τo µ τo µ τo µ
Pa Pa.s Pa Pa.s Pa Pa.s Pa Pa.s
1 76 17,4 406 18 437 3 80 13
2 139 45 505 78 487 63 145 41
3 90 32,7 549 54 410 43 98 38
4 125 15 624 25 504 3 159 19
5 248 35,9 740 50 535 43 253 19
6 442 29 1189 27 1034 21 516 16
7 584 39 1503 38 929 47 525 22
OBS.: τo – Tensão de escoamento, µ - Viscosidade

Dos ensaios mais utilizados na caracterização das argamassas no estado fresco, pode-se
dizer que o método da Mesa de Consistência é um dos testes mais empregados na
avaliação da consistência, estando presente na maioria dos laboratórios de materiais de
construção. Entretanto, apesar da grande utilização, este é um dos ensaios mais
criticados quanto à avaliação de uma condição de trabalhabilidade. Um dos muitos
fatores que contribuem para esta discussão, além da própria concepção do ensaio, diz
respeito a uma não correspondência de resultados entre os valores que caracterizam
mesmas condições de trabalhabilidade.
Apesar das críticas, é certo que a mesa de consistência ainda está longe de ser
aposentada, fato que pode ser atestado pelos inúmeros modelos de mesas atualmente
disponíveis comercialmente. Outro fato que merece destaque é carência de parâmetros
para o meio técnico, principalmente nacional, que sente a necessidade da inclusão das
medidas de espalhamento durante a caracterização das argamassas de revestimento no
estado fresco.
Outro método de ensaio que merece destaque é o método Vane Test. No estudo dos
materiais de construção é possível encontrar trabalhos que utilizam o Vane Test para
caracterizar concretos e argamassas como é o caso dos trabalhos desenvolvidos por
AUSTIN (1999), ALVES (2002) e SANTOS (2002). Na pesquisa de ALVES (2002)
foi possível definir faixas de tensões de escoamento que caracterizavam a consistência
de determinadas argamassas com aditivos incorporadores de ar (considerando um
processo de aplicação manual em blocos de concreto sem chapisco). O mesmo
equipamento foi utilizado por SANTOS (2002), onde se encontrou um valor mínimo de
tensão de escoamento para uma condição de bombeabilidade de argamassas para
projeção. O método vem ganhando espaço nas pesquisas devido a sua simplicidade de
execução fornecendo resultados representativos que favorecem uma discussão mais
ampla do real comportamento das argamassas
Quanto ao ensaio de penetração de cone, este é outro método simples, porém eficiente
para se avaliar a consistência de argamassas de revestimento. Este método adota um
procedimento de ensaio que, em parte, se assemelha a alguns tipos tradicionalmente
utilizados na avaliação de materiais de construção civil como, por exemplo, o aparelho
de Vicat utilizado para avaliar a consistência de pastas de cimento, o penetrômetro

- 97 -
utilizado na mecânica dos solos para avaliar a consistência de solos e asfalto, dentre
outros. As vantagens deste método resulta de uma melhor reprodutibilidade dos
resultados e, principalmente, uma menor variação devido aos operadores e
equipamentos.
Para o estudo de argamassas a rotina de ensaio utilizada é descrita na norma ASTM C
780-01. Em geral, o método consiste na penetração de um cone com massa e dimensões
padronizadas e descritas no referido documento. Como base para fixação do cone,
utiliza-se um aparelho de Vicat modificado para acomodar as devidas dimensões dos
dispositivos (cone, haste guia e recipiente). Na seqüência, após o preparo da amostra em
recipientes cilíndricos, a mesma é posicionada na parte inferior do cone, sendo este
liberado em queda livre. Como resultado, o ensaio fornece uma avaliação indireta da
consistência a partir da profundidade de penetração do cone, expresso em milímetros.
As características específicas do método, bem como dos dispositivos utilizados, estão
detalhadas na Tabela 3 e na Figura 1.

Tabela 3 – Particularidades operacionais do método de penetração de cone


Característica Características do equipamento
Base de medida do
Aparelho de Vicat modificado disposto de régua com precisão de 1 mm
equipamento
Cone e haste guia O conjunto cone e haste devem ter uma massa total de 200 g, detalhes Figura 1.
Recipiente cilíndrico com
Dimensões do
diâmetro = 76 ± 1,6 mm e altura = 88,1 mm, sendo ajustado para um volume de
recipiente
400 ± 1 ml, com água destilada a uma temperatura de 23o C
Apos a mistura o material é colocado no recipiente de ensaio em três camadas
Preparo da amostra iguais, sendo aplicado em cada uma 20 golpes com uma espátula de 152,4 mm de
altura e 12,7 mm de largura.
Cone Haste metálica

77,35°
88,9

Detalhe A - Ponta
arredondada do cone
A
41,3

Figura 1 – Características do dispositivo em forma de cone utilizado no ensaio

Segundo FERRARIS (1999), o resultado fornecido por este método apresenta forte
correlação com o parâmetro reológico tensão de escoamento. Segundo consta, a
profundidade de penetração dependerá da tensão de escoamento do material testado.
Como, na maioria dos casos, a massa do cone é pré-estabelecida, o método avalia se a
tensão aplicada é maior ou menor que a tensão de escoamento do material,
estabelecendo assim uma correlação direta com a profundidade de penetração do cone.
É certo também, que o método provoca um cisalhamento no material durante o processo
de penetração do cone. Na mecânica dos solos, através de um procedimento de ensaio
similar, o valor de penetração de cone obtido durante o ensaio é associado a o índice de
plasticidade e a uma medida de cisalhamento não drenada da amostra de solo.

Este método já vem sendo utilizado em pesquisas sobre argamassa no Brasil, sendo
inclusive apresentado no V SBTA resultados de caracterização de argamassas no estado
fresco como o trabalho de ANGELIM et al. (2003). Entretanto, percebe-se no meio
técnico a necessidade de uma discussão mais ampla sobre o método. Sendo assim, o

- 98 -
objetivo deste trabalho é promover uma avaliação sistemática do ensaio de penetração
de cone a partir do estudo das propriedades das argamassas no estado fresco,
favorecendo inclusive uma comparação de resultados fornecidos por outros
procedimentos de ensaio.

2. AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DO MÉTODO


Neste item será apresentado um estudo experimental onde se buscou avaliar os
resultados de Penetração de Cone (ASTM C780/96) em comparação com outros
métodos utilizados na caracterização de argamassas no estado fresco, a saber: Mesa de
Consistência (NBR 13276/95) e Vane Test (maiores detalhes sobre o método Vane test
pode ser encontrado na referência BAUER et al. (2004)).

2.1 Variáveis do estudo


Neste trabalho foram definidas as seguintes variáveis:
• tipos de argamassas de revestimento – foram avaliadas dois tipos diferentes de
argamassas: uma argamassa de cimento, cal hidratada e areia na proporção 1:1:6 em
volume (1:0,60:8,57 em massa), e uma argamassa industrializada, ambas
comumente utilizadas na produção de revestimentos no Brasil. Estas argamassas
foram utilizadas porque as mesmas caracterizam-se por apresentarem diferentes
propriedades no estado fresco para uma mesma trabalhabilidade quando avaliadas
por diferentes métodos;
• consistência da argamassa – cada argamassa foi avaliada em três condições de
consistências diferentes, definidas pelo método de penetração estática de cone
(ASTM C780/96), a saber => 35 mm, 50 mm e 65 mm. Estes valores foram
estabelecidos por representarem um intervalo no qual a maioria das argamassas de
revestimento apresentam-se trabalháveis.
Estas variações tiveram o objetivo de investigar, numa primeira análise, como
alterações na composição das argamassas, bem como, nas suas propriedades no estado
fresco, podem influenciar os resultados obtidos pelos diferentes métodos de avaliação.
As composições das séries de estudo estão descritas na Tabela 4.

Tabela 4 – Descrição das séries de estudo


Composição das argamassas (% massa) Consistência
Série Penetração de
% Cimento % Cal % Areia % Água
cone (mm)
AM-1 10 6 84 19,00 35 mm
Argamassa mista
AM-2 10 6 84 21,00 50 mm
(cimento e cal)
AM-3 10 6 84 22,00 65 mm
AI-1 100 15,00 35 mm
Argamassa
AI-2 100 16,00 50 mm
industrializada
AI-3 100 18,60 65 mm

Cabe lembrar que a quantidade de água foi definida, para cada argamassas, em função
da consistência desejada, ou seja, adicionou-se água até obter o valor de penetração de
cone pretendido (penetração de cone => 35mm, 50 mm e 65 mm)

2.2 Caracterização das argamassas no estado anidro


A caracterização dos materiais utilizados na composição das argamassas AM está
apresentada nas Tabelas 5, 6 e 7. O agregado miúdo foi obtido artificialmente por

- 99 -
britagem de rocha calcária. No estudo, ainda, foi utilizada cal hidratada CHI, não
aditivada (conforme classificação NBR 7175/92), e cimento CP II F 32 (conforme
classificação NBR 11578/91).
Quanto às argamassas da série AI não foi possível obter maiores informações sobre sua
composição. Entretanto, sabe-se que este material é composto de cimento, cal, areia fina
e certos teores de aditivos incorporadores de ar e retentores de água. Algumas ainda são
produzidas sem cal, com teores de aditivos adequados para tentar suprir a necessidade
deste material (com relação às propriedades no estado fresco). No Brasil, grande parte
destas argamassas é produzida pela industria do cimento, sendo fornecidas ao
consumidor em sacos de 20 e 50 kg.

Tabela 5 – Caracterização do agregado utilizado na composição da argamassa AM e da


argamassa Industrializada AI
Massa unitária Massa específica (g/cm3) Coeficiente de
3 Módulo de finura
(g/cm ) uniformidade
1.40 2.84 1.09 2.70
Distribuição granulométrica dos agregados utilizados na produção das argamassas mistas
Peneira
2.4 1.68 1.2 0.84 0.6 0.42 0.3 0.21 0.15 0.105 0.075
(mm)
% Passante 100 100 100 100 99 91 69 48 22 12 8
Distribuição granulométrica da argamassa industrializada
Peneira
2.4 1.68 1.2 0.84 0.6 0.42 0.3 0.21 0.15 0.105 0.075
(mm)
% Passante 100 100 100 92 84 72 59 43 26 20 14

Tabela 6 – Caracterização da cal utilizada na composição da argamassa AM


Análise física Análise química
ME MU AE
PF SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO Na2O K 2O SO3
(g/cm3) (g/cm3) (cm²/g) NBR
Cal
NBR NBR NBR NBR NBR NBR NBR NBR
NBR NBR NBR livre
5743 8347 9203 9203 9203 9203 9203 9203 9203
9676 7215 7224
2,23 0,59 6.320 1,28 24,14 1,28 0 0,21 71,98 0,54 0,05 0,09 0,37
ME – Massa específica, MU – Massa unitária, AE – Área específica, PF – Perda ao fogo, NBR – Norma Brasileira Registrada

Tabela 7 – Caracterização do cimento utilizado na composição da argamassa AM


Análise física Análise química
ME MU AE
(g/cm3) (g/cm3) (cm²/g) PF RI SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO Na2O K 2O SO3
NBR NBR NBR NBR NBR NBR NBR NBR NBR NBR
NBR NBR NBR 5743 5744 9203 9203 9203 9203 9203 8347 8347 5745
9675 7215 7224
3,05 0,98 4.000 5,16 1,38 25,95 4,68 3,25 52,99 4,05 0,34 0,77 2,81
ME – Massa específica, MU – Massa unitária, AE – Área específica, PF – Perda ao fogo, RI – Resíduo insolúvel, NBR – Norma Brasileira Registrada

2.3 Procedimento experimental


O procedimento utilizado durante o desenvolvimento do estudo pode ser enumerado nas
seguintes etapas:
1. homogeneização dos materiais anidros;
2. adição da água e homogeneização manual com espátula;
3. mistura em argamassadeira planetária por um período de 1,5 min, sendo que, após
os 30 primeiros segundos, a mistura era interrompida e feita uma nova
homogeneização manual com espátula;
4. após o término da mistura a argamassa era submetida aos ensaios: penetração
estática de cone (ASTM C780/91), mesa de consistência (NBR 13276/95) e vane
test;

- 100 -
5. as argamassas ainda foram caracterizadas no estado fresco quanto aos ensaios:
densidade de massa NBR 13278/95, retenção de água 13277/95 e teor de ar
incorporado (NM 47:95).
As particularidades operacionais do método Vane Test estão discutidas na Tabela 8.
Para os demais métodos, os procedimentos empregados foram os mesmos
recomendados pelas respectivas normas de ensaio (Mesa de Consistência - NBR
13276/95 e Penetração de Cone – ASTM C780/96).

Tabela 8 – Particularidades operacionais do método vane test empregado


Característica Características do equipamento
Base de medida do
Constante da mola = 0,0231kgf.cm/o
equipamento
Palheta Palheta com duas lâminas em cruz - Altura = 50 mm e Largura = 25 mm
Dimensões do recipiente Recipiente cilíndrico - Diâmetro = 100 mm e Altura = 100 mm
Apos a mistura o material era colocado no recipiente de ensaio em três
Preparo da amostra
camadas iguais, sendo aplicado em cada uma 20 golpes.
Taxa de cisalhamento Velocidade angular = 0.1 rpm

2.4 Apresentação e discussão dos resultados


Alguns resultados complementares da caracterização das argamassas no estado fresco
estão apresentados na Tabela 9.
Percebe-se que os dois tipos de argamassas avaliadas (série argamassas mistas AM e
argamassas industrializadas AI) apresentam, para uma mesma consistência (avaliadas
pela penetração de cone) propriedades no estado fresco bastante diferenciadas. Estas
diferenças são mais acentuadas nos parâmetros:
• teor de água, onde a série AM necessita de uma quantidade de água bastante
superior a necessidade das argamassas da série AI, considerando uma mesma
consistência pelo método de penetração estática de cone (previamente definida);
• teor de ar incorporado, com reflexo direto na massa específica, observando-se a
influência da presença do aditivo incorporador de ar nas argamassas
industrializadas (série AI), que tem este aditivo como principal agente plastificante.

Tabela 9 - Resumo dos resultados obtidos na caracterização das argamassas


Massa Teor de ar Retenção de
Penetração de Teor de água
Argamassa específica incorporado água
cone (mm) (%)
(g/cm3) (%) (%)
AM-1 35 19,00 2,05 3,20 92,34
AM-2 50 21,00 1,91 4,30 90,53
AM-3 65 22,00 1,91 4,20 89,25
AI-1 35 15,00 1,74 16,40 95,20
AI-2 50 16,00 1,65 19,00 93,15
AI-3 65 18,60 1,68 18,60 93,47

Os resultados do índice de consistência (método da Mesa de Consistência) estão


apresentados na Figura 2, em função dos valores de penetração de cone. Em geral,
percebe-se que uma análise isolada de cada tipo de argamassa (série AM ou AI), leva a
concluir que ambos parâmetros, fornecidos pela mesa de consistência e penetração de
cone, são fortemente dependentes, observando-se tendências diretas, ou seja, à medida
que se aumenta o valor de penetração de cone o índice de consistência da argamassa
também aumenta. Este fato leva a imaginar que determinados grupos de argamassas
podem ser muito bem caracterizados no estado fresco pelo ensaio da mesa de
consistência, o que justifica, em algumas regiões, a predefinição do índice de

- 101 -
consistência por parte de alguns pesquisadores, partindo da hipótese de que os materiais
utilizados na composição das argamassas não sofrem grandes variações.

320
290

Espalhamento (mm)
260
270
224 260
220
189 224
170

120
20 35 50 65 80
Penetração de cone (mm)
AM AI

Figura 2 – Relação entre os resultados de penetração de cone e espalhamento

Entretanto, analisando os dois tipos de argamassas, para um mesmo valor de penetração


de cone, constata-se que os resultados fornecidos pela mesa de consistência são
consideravelmente diferenciados. Este comportamento de certa forma justifica o fato de
que o resultado fornecido pela mesa de consistência é influenciado pelos parâmetros
reológicos: tensão de escoamento e viscosidade, sendo difícil caracterizar a influência
isolada de ambos os parâmetros, principalmente se tratando de argamassas com
consideráveis diferenças nas propriedades no estado fresco, como no caso analisado (no
caso específico teor de ar e densidade de massa).
Contribuindo para a discussão SOUSA e BAUER (2002), numa avaliação dos
resultados da mesa de consistência relatam que o valor fornecido pelo ensaio é bastante
influenciado pela plasticidade da argamassa. Cabe relatar ainda que o efeito da
plasticidade na redução do valor do índice de consistência também foi observado por
SELMO (1989) no estudo de argamassas mistas (cimento e cal). Esta propriedade é
fortemente pronunciada nas argamassas com aditivos incorporadores de ar onde a
estrutura interna pode está sendo influenciada pela introdução de parâmetros que estão
relacionados ao princípio ativo do material, como, por exemplo, o “efeito ponte”,
discutido por ALVES (2002).
Como resultado desse efeito, têm-se identificado menores valores de espalhamento para
uma mesma trabalhabilidade. Pode-se imaginar ainda que a estruturação interna do
material, resultante da incorporação de ar, gera uma condição suficiente para absorve os
impactos sofridos durante o ensaio na mesa de consistência, resultando em menores
valores de espalhamento para um mesmo valor de penetração de cone. Esta estruturação
não é pronunciada nas argamassas da série AM, onde prevalece o contato íntimo entre
as partículas (baixo teor de ar incorporado conforme apresenta a Tabela 9), sendo
favorecido o espalhamento do material durante a aplicação dos golpes. A Figura 3
descreve esquematicamente a estrutura encontrada no interior das argamassas. Outro
ponto que merece certa consideração refere-se ao fato das argamassas ensaiadas
apresentam diferentes massas específicas, influenciando na massa total do material
ensaiado na mesa de consistência, parâmetro que deve ser melhor avaliado.

- 102 -
Pasta

Bolhas de ar Agregados

(a) (b)
Figura 3 – Esquema da estrutura encontrada nos dois tipos de argamassa (a) Argamassa
com aditivo incorporador de ar e (b) Argamassa mista de cimento e cal

Quanto à relação entre a consistência medida pelos métodos de penetração de cone e


vane test (Figura 4), observa-se que as diferenças entre as medidas de tensão de
escoamento para uma mesma penetração de cone não são significativamente
pronunciadas como no caso da mesa de consistência o que pode indicar que ambos
parâmetros possuem forte correlação. Este fato contribui para a discussão de que o
resultado de penetração de cone se correlaciona com o parâmetro reológico tensão de
escoamento. No caso do ensaio de penetração de cone, devido ao principio do método
(provocando um cisalhamento na amostra) e as características do instrumento (não
variando durante a avaliação das argamassas), percebe-se que os resultados de
consistência fornecidos não são consideravelmente influenciados pelas alterações na
estrutura interna do material. Este comportamento permite abordar a hipótese de que o
método de penetração de cone, ao contrário da mesa de consistência, pode atuar como
uma ferramenta de controle da consistência das argamassas. Entretanto, é certo que uma
avaliação isolada deste parâmetro ainda é insuficiente para uma definição de
trabalhabilidade, uma vez que apenas um parâmetro está sendo avaliado (tensão de
escoamento), restando uma avaliação de outros parâmetros.
Tensão de escoamento (kPa)

2,0
1,7
1,5
1,45
0,9
1,0
0,82 0,61
0,5
0,54

0,0
20 35 50 65 80
Penetração de cone (mm)
AM AI

Figura 4 – Relação entre os resultados de penetração de cone e tensão de escoamento

A Figura 5 apresenta a relação entre os resultados de tensão de escoamento (vane test) e


espalhamento (mesa de consistência). Nesta avaliação as diferenças entre os parâmetros
de consistência também são pronunciadas. Entretanto, similar à avaliação da relação
entre os resultados de penetração de cone e mesa de consistência (Figura 4), uma análise
isolada de cada tipo de argamassa, leva a concluir que ambos parâmetros são fortemente
dependentes.

- 103 -
350

Espalhamento (mm)
290
300
260 260
250
224 224
200
189
150
100
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00
Tensão de escoamento (kPa
AM AI

Figura 5 – Relação entre os resultados de penetração de cone e tensão de escoamento

Deve-se ressaltar que os resultados da mesa de consistência não devem ser descartados
durante a avaliação das argamassas, uma vez que este ensaio está presente na maioria
dos laboratórios de materiais de construção, sendo um dos parâmetros de referência
mais conhecido pelo meio técnico. Recomenda-se, apenas, que este ensaio deva ser
complementado com os demais métodos avaliados no presente estudo (cone de
penetração e vane test).

3. CONCLUSÕES
Com base no estudo em questão, pode-se concluir que:
• o método de penetração de cone pode auxiliar na interpretação dos resultados de
espalhamento (mesa de consistência), principalmente, quando se trata de
argamassas com aditivos incorporadores de ar;
• as diferenças entre os resultados de tensão de escoamento fornecidas pelo
método vane test e penetração de cone não são significativamente pronunciadas
como no caso da mesa de consistência o que pode indicar que ambos parâmetros
possuem forte correlação;
• analisando, isoladamente, os grupos de argamassa (industrializadas ou mistas),
os valores de penetração de cone e de tensão de escoamento (vane test),
apresentam uma forte correlação. As diferenças são pronunciadas apenas quando
a analise é feita em conjunto, considerando os dois grupos ao mesmo tempo;
• o método de penetração de cone, ao contrário da mesa de consistência, pode vir
a atuar como uma ferramenta de controle da consistência das argamassas;
• uma avaliação isolada do valor de penetração de cone ainda é insuficiente para
uma definição de trabalhabilidade, uma vez que apenas um parâmetro reológico
está sendo avaliado, restando uma avaliação da viscosidade.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Laboratório de Ensaios de Materiais da Universidade de
Brasília pela infra-estrutura cedida a pesquisa e pelo custeio dos ensaios, ao CNPq e a
FAPESB pelo apoio financeiro no desenvolvimento desta pesquisa e as instituições:
Universidade de Brasília, CEFET Bahia, Universidade Estadual de Feira de Santana e
Universidade Federal do Vale do São Francisco.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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