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A GOVERNANÇA CORPORATIVA E A
PREVENÇÃO DE CONFLITOS SOCIETÁRIOS
Nova Lima-MG
2008
LEONARDO DE ALMEIDA SANDES
A GOVERNANÇA CORPORATIVA E A
PREVENÇÃO DE CONFLITOS SOCIETÁRIOS
Nova Lima-MG
2008
Faculdade de Direito Milton Campos – Mestrado em Direito Empresarial
Prof. Dr.
Prof. Dr.
Prof. Dr.
Ao meu querido orientador, Dr. Jason Soares Albergaria Neto, que me permitiu
beber nas águas do seu conhecimento, atuando como verdadeiro guia,
mostrando-me o caminho certo a trilhar.
A todos aqueles que, de uma forma ou de outra, me conduziram até aqui, seja
com seu apoio, com seu incentivo ou com sua compreensão (principalmente nos
momentos de ausência).
“Os princípios da boa governança são uma contribuição a
mais – que permeia vários campos do conhecimento,
entre eles o direito, a economia, as finanças, a sociologia
das organizações e a administração – para que a criação
de valor e a geração de riqueza, ambas de alto interesse
social, não sejam contaminadas por instituições
inadequadas ou obstruídas por processos de gestão de
má qualidade. A governança é, assim, um relevante valor
corporativo e social. Mas, por si só, ela não cria valor. A
criação de valor ocorre quando temos negócios atrativos e
bem gerenciados. Neste caso, as boas práticas de
governança corporativa permitirão uma gestão ainda
melhor, maximizando a criação de valor para os acionistas
e para outras partes interessadas nos resultados da ação
empresarial.”
Andrade e Rossetti
RESUMO
Figura
FIGURA 1 - O mercado de capitais no Brasil: desconto por falta de
transparência e governança corporativa........................................................ 116
Gráfico
GRÁFICO - Variação dos índices IBOVESPA X IGC. .................................. 118
Quadro
QUADRO 1 - Comparativo dos diferentes níveis de governança
corporativa................................................................................................ 93
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 13
4 GOVERNANÇA CORPORATIVA.......................................................... 65
4.1 Conceituação.......................................................................................... 65
4.2 Escorço histórico.................................................................................... 70
4.3 A governança corporativa no Direito Comparado.................................. 75
4.3.1 Modelos de governança corporativa...................................................... 75
4.3.2 A governança corporativa nos países anglo-saxões.............................. 77
4.3.3 A governança corporativa na Alemanha................................................ 79
4.3.4 A governança corporativa no Japão....................................................... 81
4.3.5 A governança corporativa na França..................................................... 82
4.4 A Lei “Sarbanes-Oxley”.......................................................................... 83
4.5 A introdução das práticas de governança corporativa no Brasil............ 88
6 CONCLUSÃO........................................................................................ 119
REFERÊNCIAS................................................................................................... 122
13
1 INTRODUÇÃO
1
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 11. ed. rev. e atual, v.2,
p.276, 2008.
14
Curial salientar que para Fábio Konder Comparato “controle é, pois, a prerrogativa
possuída pelo titular de um poder superior de impor suas decisões sobre o titular
de um poder inferior2.” Muitas das vezes, essa posição de superioridade de um
determinado grupo em detrimento do outro gera abusos, os quais podem trazer
reflexos econômicos negativos, seja para a sociedade, seja para o grupo situado
em posição oposta, detentora do “poder inferior”.
Todavia, quando o feixe de normas – sejam elas postas pelo Estado, seja aquelas
disciplinadas pela própria sociedade, em seus respectivos estatutos – se mostra
eficaz, tal sociedade se torna alvo do interesse dos investidores. E essas normas
podem ser traduzidas na adoção, pela sociedade, de práticas de governança
corporativa.
2
COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle e o controle do poder. In: COMPARATO,
Fábio Konder; SALOMÃO FILHO, Calixto. O poder de controle na sociedade anônima. Rio de
Janeiro: Forense, 2005. (Prefácio).
15
3
Entre os acionistas , estabelece-se uma relação de poder, que é tanto
mais complexa quanto maiores as diversificações dos interesses de cada
um. […] Essas relações de poder entre os acionistas representam um
importantíssimo tema da tecnologia jurídica societária, na medida em
que a equilibrada composição dos interesses em confronto é condição
para a companhia continuar contando com os recursos de todos os seus
integrantes. […] Ao direito societário, assim, cabe desenvolver
mecanismos de convivência entre os interesses dos acionistas, nem
sempre facilmente conciliáveis. O valor fundamental, na disciplina das
relações de poder, deve ser o desenvolvimento da companhia, objetivo
que traz benefícios a todos os seus sócios e representa o núcleo
4
aglutinante dos interesses destes .
3
O próprio autor estabelece uma divisão em categorias de acionistas, assim prescrevendo: “Os
acionistas são divididos, segundo o maior ou menor interesse com o cotidiano da atividade
empresarial da companhia, em empreendedores e investidores. Entre estes últimos, cabe também
distinguir os rendeiros dos especuladores.” (COELHO, op cit).
4
COELHO, op cit, p.275-276.
17
E somente se pode lutar, buscar e exigir seus direitos caso eles sejam
conhecidos. Então, procurou-se, no presente trabalho, enumerar e ordenar quais
são os principais direitos dos sócios/acionistas e, de maneira especial, os direitos
atribuídos pela lei exclusivamente aos acionistas minoritários5.
5
Nesta oportunidade, mister transcrever, ainda que de forma preliminar neste trabalho, a distinção
feita pelo professor Fábio Ulhoa Coelho: “Para entender as relações de poder entre os acionistas,
devem-se distinguir, inicialmente, duas posições: o acionista controlador e a minoria acionária.
Deve-se ressaltar, logo de início, que essas posições não refletem, necessariamente, uma relação
quantitativa, proporcional à contribuição dada à formação da companhia. Em outros termos, nem
sempre a minoria acionária, malgrado o nome, reúne os detentores das menores parcelas do
capital social. Pelo contrário, muitas vezes, em razão dos mecanismos de organização do poder
utilizados, o controle da sociedade anônima está nas mãos de quem contribuiu com parcela
reduzida para a constituição do capital social. Não há relação entre o poder e a proporcionalidade
na subscrição de ações da companhia.” (COELHO, op cit).
6
Como nos lembram Teixeira e Guerreiro, pelo fato de um acionista (o que vale também para os
sócios das sociedades contratuais) “ter subscrito ações da companhia, no ato de sua constituição
ou em aumento de capital, ou por tê-las adquirido no mercado de bolsa ou de balcão ou mediante
transação privada, o acionista passa a sujeitar-se a um complexo de disposições legais ou
estatutárias que lhe assegura direitos e comina obrigações, face à sociedade. Esse corpo de
normas definidoras do status socii e de suas conseqüências constitui o estatuto jurídico do
acionista, ao qual ele adere e se subordina, e cujo desconhecimento não pode alegar” (TEIXEIRA,
Egberto Lacerda; GUERREIRO, José Alexandre Tavares. Das sociedades anônimas no direito
brasileiro. São Paulo: Bushatsky, p. 267, 1979).
7
Afinal, o sócio pode se apresentar tão-somente como um investidor, sem qualquer interesse na
forma de condução dos negócios sociais, apenas preocupado com o resultado a lhe ser pago no
final do exercício.
18
Os direitos essenciais dos acionistas (os quais também podemos entender como
direitos efetivos dos sócios das sociedades contratuais) encontram-se arrolados
no artigo 109 da LSA, não podendo ser excluídos nem pelo estatuto nem pela
assembléia geral, o que não significa que necessariamente serão exercidos
sempre, podendo ser condicionados em determinadas circunstâncias (já que deve
prevalecer o interesse social em detrimento do interesse individual do acionista),
19
8
TOMAZETTE, Marlon. Direito societário. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, p.321, 2004.
9
LEÃES, Luiz Gastão Paes de Barros. Do direito do acionista ao dividendo. São Paulo:
Bushatsky, 1976 apud TEIXEIRA; GUERREIRO, op cit, p.281.
20
Por sua vez, nas sociedades contratuais, o direito de participar nos lucros e nas
perdas sociais encontra-se previsto no artigo 1.008, Código Civil, sendo vedada a
exclusão da participação dos sócios de qualquer deles, exceto daqueles sócios
cuja contribuição consista exclusivamente em serviços, que só participarão dos
lucros, não das perdas. Ademais, a referida participação pode ser estipulada em
percentual diferente da proporção investida pelo sócio no capital social (artigo
1.007, Código Civil).
Esse direito somente poderá ser exercido caso, liquidada a sociedade e pagos
seus credores, ainda reste algum valor para ser distribuído. “A justificativa ao
preceito reside no próprio fato de terem os acionistas contribuído para a formação
do capital social, com o qual a companhia desenvolveu sua atividade, e na
circunstância de terem corrido o risco do negócio objetivado pelo
empreendimento10.”
10
TEIXEIRA; GUERREIRO, op cit, p.282.
21
De todas estas, apenas a auditoria não encontra previsão expressa também nas
sociedades limitadas, o que, todavia, não impede que seja adotada.
Vale ressaltar que, nas sociedades simples e nas limitadas, os sócios podem ter
acesso a todos os livros e documentos da sociedade, faculdade esta que pode
ser exercida a todo tempo, exceto se o contrato estipular épocas pré-
determinadas para tanto (artigos 1.020 e 1.021 do Código Civil). Ademais, a
votação das demonstrações financeiras – outra forma de fiscalização da gestão
social – deve ocorrer na reunião/assembléia anual de sócios, prevista no artigo
1.078 do Código Civil.
22
Esse direito surge todas as vezes que a sociedade anônima emite títulos ou
valores mobiliários que possam ter o condão de alterar a composição societária.
Saliente-se que a sociedade não está obrigada a emitir a mesma proporção de
ações (em relação à sua espécie) que existia antes do aumento do capital social,
de tal sorte que o direito de preferência pode ser exercido sobre ações de outras
classes12. Na verdade, em “princípio o exercício do direito de preferência se
estende apenas sobre as ações da mesma classe, só abrangendo ações de
outras classes se isto for necessário à manutenção da posição do acionista em
relação ao capital social13.”
Existe exceção ao exercício desse direito, estatuído na própria lei, no artigo 172
da LSA, que prevê, em seu caput, a exclusão do direito de preferência no estatuto
de companhia aberta de capital autorizado. Com a nova redação conferida pela
Lei nº 10.303/2001, foi facultada a previsão estatutária não só no sentido de se
11
CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade Anônima. Belo Horizonte: Del Rey, 3. ed. rev. e atual,
p.238, 2005.
12
TOMAZETTE, op cit, p.327.
13
TOMAZETTE, op cit, p.327.
14
BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário, Rio de Janeiro: Renovar, 9 ed. rev., aum. e
atual, p.122, 2004.
23
Nas sociedades contratuais, esse direito surge sempre que se deliberar realizar o
aumento do capital social, sob o mesmo fundamento teleológico das sociedades
institucionais: a preservação da participação do sócio, em termos percentuais.
15
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas, Lei nº 6.404, de 15 de
dezembro de 1976, com as modificações das Leis nº 9.457, de 5 de maio de 1997, e nº 10.303, de
31 de outubro de 2001, São Paulo: Saraiva, v.3 (t. 1 e t. 2), p. 581, 2003.
16
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas, op cit, p.584.
24
Pela importância deste tema – especialmente no que concerne aos interesses dos
grupos minoritários –, ele será abordado adiante, em tópico especial.
17
CVM. Cadernos CVM – Principais Direitos dos Acionistas Minoritários de Companhias Abertas.
26
Há ainda outros dispositivos, previstos na lei, que visam a dar mais transparência
à administração e, com isso, defender, direta ou indiretamente, os interesses dos
minoritários.
Outro importante direito a ser destacado é o direito de voto, que não é tido como
essencial, haja vista poder ser o mesmo restrito ou ainda inexistente (levando-se
em consideração as diversas classes de ações), embora todo e qualquer
acionista possua o direito de participar das assembléias gerais, nelas expressar
sua opinião sobre as matérias objeto de discussão e requerer esclarecimentos à
mesa ou aos administradores presentes.
Outro aspecto importante a se ressaltar quanto ao direito de voto é que este deve
ser exercido no interesse da companhia, conforme já ressaltado. “O legislador
alude-se expressamente a duas modalidades de voto contrário ao interesse
social, quais sejam, a) o voto abusivo; b) o voto conflitante21.” O voto abusivo
implica o dolo de prejudicar a companhia ou outros acionistas ou ainda de obter
vantagem indevida para si ou para terceiros, em franco prejuízo da companhia ou
dos demais acionistas, enquanto o voto conflitante é aquele em que o acionista
18
Se no estatuto houver previsão expressa sobre a cumulatividade dos dividendos (artigo 17, §4º,
LSA).
19
Artigo 120, LSA.
20
BORBA, op cit, p.322.
21
BORBA, op cit, p.329.
28
22
De acordo com Borba (p.330), são hipóteses em que o acionista encontra-se em situação
conflitante com a sociedade e que, por conseqüência, encontra-se impedido de votar: (1)
deliberação sobre laudo de avaliação de bens com que pretende integralizar o capital; (2)
aprovação das próprias contas, como administrador; (3) decisão sobre qualquer matéria que
possa beneficiá-lo de modo particular, seja direta ou indiretamente. E completa que, todo voto
conflitante implica, como conseqüência, o dever do acionista indenizar a companhia pelos
prejuízos sofridos.
23
Artigo 115, §4º, LSA.
24
Neste sentido, CAMPINHO, Sérgio. O Direito de Empresa à luz no novo Código Civil. Rio de
Janeiro: Renovar, 4. ed. ampl. e atual, p.164, 2004, e MAMEDE, Gladston. Direito empresarial
brasileiro: direito societário: sociedades simples e empresárias, São Paulo: Atlas, v.2, p.319, 2004.
25
Quotas preferenciais, por exemplo. Neste sentido, BORBA (p.115), ALMEIDA, Amador Paes de.
Manual das sociedades comerciais: direito de empresa. São Paulo: Saraiva, 14. ed. rev., atual. e
ampl, p.136, 2004 e WALD, Arnoldo. Comentários ao novo Código Civil: do direito de empresa.
TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (coord). Rio de Janeiro: Forense, v.XIV: livro II, p. 361, 2005.
26
SIMÃO FILHO, Adalberto. A nova sociedade limitada, Barueri, SP: Manole, p.105/109, 2004.
Este autor manifesta entendimento no sentido de que é possível a supressão do direito de voto ou
o estabelecimento de regras distintas quanto à forma de circulação das quotas.
29
27
TEIXEIRA; GUERREIRO, op cit, p.271.
28
TEIXEIRA; GUERREIRO, op cit, p.276.
30
29
BORBA, op cit, p.38.
30
O que não se aplica às limitadas, por expressa vedação legal, constante no §2º do artigo 1055
do Código Civil.
31
MAMEDE, (op cit, p.102).
32
BORBA, op cit, p.39.
33
CARVALHO DE MENDONÇA, J.X. Tratado de direito comercial, Campinas: Bookseller, Atual.
por NEGRÃO, Ricardo, v.2, t.II, l.II, p.86, 2001.
31
artigo 115). Ademais, o artigo 115, §1º da LSA veda o exercício do direito de voto
em deliberação em que o acionista tenha interesse conflitante com o da
companhia. Caso o faça, a deliberação poderá ser anulável, o acionista poderá
responder pelos danos causados e será obrigado a transferir para a sociedade os
benefícios e vantagens que tiver auferido (§4º).
Por fim, o sócio/acionista responde, solidariamente, até dois anos após seu
desligamento, perante a sociedade, pelas obrigações que tinha como sócio,
incluindo a responsabilidade subsidiária sobre as obrigações sociais.
34
RIBEIRO, Vera de Paula Noel. A minoria nas SAs. Rio de Janeiro: Forense, 2. ed, p.19, 2005.
35
RIBEIRO, Vera, op cit, p.25.
36
TEIXEIRA; GUERREIRO, op cit, 2005, p.297.
32
Na defesa dos interesses dos minoritários, a Lei das Sociedades Anônimas criou
uma série de mecanismos visando a equilibrar as posições antagônicas
assumidas pelos controladores e minoritários no seio social. Com efeito, os
direitos instrumentais criados pela lei para defender a minoria contra eventuais
abusos da maioria não desrespeitam o princípio máximo das sociedades
empresárias, que é a decisão pela maioria do capital37. O que se faz, na verdade,
é impor alguns limites à atuação dos controladores, estabelecendo-se um sistema
de pesos e contrapesos.
Diz a regra geral das sociedades anônimas que cada ação ordinária corresponde
a um voto nas assembléias gerais (e também as preferenciais, se não tiverem seu
direito de voto suprimido pelo estatuto da companhia). Todavia, nas deliberações
para eleição dos membros do Conselho de Administração, os acionistas – que
representem, no mínimo, 10% do capital social com direito de voto – podem
requerer a adoção do sistema de voto múltiplo, que facilita a eleição pelos
minoritários de seus representantes naquele órgão (artigo 141, LSA).
Por este sistema, cada ação passa a ter direito não mais a um único voto, mas
sim a tantos votos quantos forem as vagas no Conselho a serem preenchidas.
Assim, neste procedimento, os acionistas podem concentrar seus votos em um ou
mais candidatos e, desta forma, possibilitar a eleição de seus representantes no
Conselho de Administração.
37
Em conformidade com o princípio democrático, lição do Estado Democrático de Direito.
33
Tal prerrogativa deve ser solicitada pelos acionistas minoritários com 48 horas de
antecedência da realização da respectiva assembléia geral, cabendo à mesa que
dirigir os trabalhos da assembléia informar previamente aos acionistas o número
de votos necessários para a eleição de cada membro do Conselho38.
Com base nesse mecanismo, a lei busca viabilizar aos minoritários a eleição de
pelo menos um dos membros do Conselho, de forma a serem representados
também naquele órgão da administração.
representem, conjuntamente, pelo menos 10% do capital votante (artigo 141, § 5º,
LSA).
O Conselho Fiscal será composto por três a cinco membros indicados pela
assembléia geral. Os titulares de ações preferenciais sem direito de voto, ou com
voto restrito, têm direito a eleger um membro em votação em separado. Igual
direito cabe aos acionistas minoritários titulares de ações ordinárias, desde que
representem pelo menos 10% do capital social (artigo 141, § 4º, alínea “a”, LSA).
Os demais membros serão indicados pelo acionista controlador.
Este é um dos direitos mais eficazes na defesa dos interesses dos acionistas
minoritários, pois compete ao Conselheiro Fiscal – cujos membros podem agir
individualmente ou em conjunto – a fiscalização da regularidade dos atos
praticados pelos administradores e verificação do cumprimento dos seus deveres
legais e estatutários, além de ser obrigação sua denunciar aos órgãos da
administração ou à assembléia geral a ocorrência de erros, fraudes ou crimes que
descobrir e sugerir providências úteis à companhia, bem como proceder à
verificação das demonstrações contábeis, entre outras enumeradas no artigo 163,
LSA.
Tal medida judicial somente terá cabimento quando o administrador agir com
culpa ou dolo, violando a lei ou estatuto e causando danos a outrem, seja à
sociedade, acionista ou terceiro. Uma vez deliberado, pela assembléia geral, o
ajuizamento de ação de responsabilidade contra o administrador, ele será
automaticamente afastado do cargo e substituído.
40
CVM. Cadernos CVM – Principais Direitos dos Acionistas Minoritários de Companhias Abertas.
41
CARVALHOSA, Comentários à Lei de Sociedades Anônimas, op cit, p.375.
42
COELHO, op cit, p.262-263.
43
HENTZ, Luiz Antonio Soares. Direito de empresa no código civil de 2002: teoria do direito
comercial de acordo com a Lei n. 10.406, de 10.1.2002. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira,
p.104, 2003.
44
CORRÊA-LIMA, op cit, 2005, p.195.
45
TOMAZETTE, op cit, p.399.
46
BORBA, op cit, p.408.
37
O preço a ser pago pelas ações adquiridas por meio da oferta pública deve
alcançar, no mínimo, 80% do valor pago pelas ações componentes do bloco de
controle. Isso nada mais é que o pagamento de “prêmio” aos ex-controladores,
pela aquisição de suas ações. A Instrução n.º 361 da CVM regula, em seu artigo
29, a oferta pública para aquisição do controle de companhia aberta.
Com efeito, o “controle” da sociedade possui um valor muito mais alto que o das
ações do majoritário tomadas isoladamente48. Por sua vez, as ações dos
minoritários, pelo fato de não possuírem esse poder de gerir a empresa, valeriam
menos. Na verdade, o controle da companhia passou a ter valor econômico, tanto
é que a lei faz alusão à “aquisição” do controle (artigo 254) e “alienação” do
controle (artigo 257), cujos efeitos podem refletir sobre os acionistas minoritários.
47
BORBA, op cit, p.500.
48
Do acionista majoritário, tomado isoladamente, ou do grupo que exerce o controle da sociedade.
38
Daí a extensão do benefício de venda das ações aos minoritários, como forma de
evitar prejuízos a esses acionistas. Há de se ter em mente que, quando o
investidor depositou suas economias naquela companhia, ele sabia quem seria
responsável por sua gestão e qual a filosofia dos controladores. Com a alienação
a terceiros, essa ciência prévia não mais existe, daí um dos motivos de se ensejar
essa forma anômala de exercício do direito de retirada, a partir da oferta de
aquisição desses valores mobiliários de propriedade dos acionistas minoritários.
Desta forma, o artigo 254-A da LSA visa à proteção dos acionistas minoritários,
porquanto a transferência do controle acionário é semelhante à alienação da
própria empresa. Isso poderá implicar a supervalorização das ações do bloco de
controle e, por outro lado, a subvalorização das demais, em franco prejuízo dos
acionistas minoritários. Destarte, a obrigatoriedade de se fazer a oferta pública de
aquisição de ações, pagando-se 80% do valor pago pelos papéis de propriedade
do bloco de controle, nos exatos termos do referido artigo 254-A, evita essa
distorção.
O artigo 137 da LSA não esgota as hipóteses em que pode ser exercido o direito
de retirada, podendo ocorrer também na:
• transformação da sociedade, com base em previsão estatutária (artigo 221,
LSA);
• desapropriação do controle (artigo 236, LSA), hipótese que excepciona a
regra geral de 30 dias para o exercício do direito, estendendo-a para 60
dias;
• incorporação de ações (artigo 252, §§1º e 2º, LSA,), obedecidas as
restrições de liquidez e dispersão previstas no artigo 137, II;
49
TEIXEIRA; GUERREIRO, op cit, p.285.
40
O exercício do direito de recesso pode se dar por qualquer acionista que se sinta
prejudicado com a deliberação social (desde que, óbvio, tenha ocorrido alguma
das hipóteses previstas na lei), ainda que não tenha comparecido à assembléia
geral que deliberou ou, mesmo que presente, tenha se abstido de votar. Ademais,
se apenas uma classe de acionistas tenha sido prejudicada com tal deliberação,
somente aos titulares dessas ações será facultado o exercício do direito de
recesso.
50
BORBA, op cit, p.380.
51
CORRÊA-LIMA, op cit, 2005, p.158. Na primeira edição de seu livro, afirmou que “a lei não faz
distinção nem condiciona o exercício do direito de retirada à comprovação ou alegação de prejuízo
por parte do acionista” (p. 158), alterando esse entendimento na terceira edição, na qual afirmou
que a prova do prejuízo é requisito para o exercício do direito de recesso.
52
CORRÊA-LIMA, op cit, 2005, p. 244.
53
ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Sociedade de Responsabilidade Limitada. São Paulo:
Quartier Latin, 2004, p. 234.
41
A transformação, para que ocorra, deve ser unânime (artigo 1.113 do Código
Civil), salvo quando no contrato social que constituiu a sociedade houver previsão
em outro sentido (diferentemente do estatuído para as sociedades por ações –
54
CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil. (AZEVEDO, Antônio Junqueira - coord).
São Paulo: Saraiva, v.13, p.506, 2003.
55
CARVALHOSA, Comentários ao Código Civil, op cit, p.503.
56
Fusão, cisão e incorporação.
42
artigo 221, LSA – nas quais basta a previsão no estatuto, não necessariamente
em seus atos constitutivos). E é somente nesses casos que poderá existir o
direito de retirada, pois apenas nas hipóteses em que há possibilidade de quorum
de deliberação, previsto no contrato social, diferente da unanimidade, que
poderemos aplicar tal regra. Saliente-se que basta que o sócio divirja da
deliberação, estando ele presente ou não ao ato, votando contra ou se abstendo.
57
CARVALHOSA, Comentários ao Código Civil, op cit, p.506.
58
Além disso, o registro dos atos societários nas Juntas Comerciais e sua conseqüente publicação
objetiva dar conhecimento a terceiros, mas não a seus sócios, que se presume cientes dos
acontecimentos sociais.
43
3 CONFLITOS DE PODER
Nas palavras de Carlos Antônio Goulart Leite Júnior, não existe divergência na
doutrina quanto ao conceito de affectio societatis, que está:
59
LEITE JÚNIOR, Carlos Antônio Goulart Affectio societatis: na sociedade civil e na sociedade
simples, Rio de Janeiro: Forense, p.112, 2006.
60
COELHO, op cit, p.276.
45
Com efeito, a maioria não é exatamente aquele grupo que detém a maior
quantidade de ações, não se restringindo, portanto, tão-somente ao aspecto
quantitativo. A definição de maioria é relacionada com o exercício do poder,
podendo-se caracterizar este grupo como os “controladores”. A própria Lei das
Sociedades Anônimas define controlador como aquele acionista ou grupo,
vinculado por acordo de voto ou sob direção comum, que detém, de forma
permanente, o poder de controle na sociedade (artigo 116, LSA). José Edwaldo
Tavares Borba61 ressalta que “as maiorias eventuais também não caracterizam o
controle, pois para tanto a lei exige um poder permanente.”
Por outro lado, a minoria deve ser entendida como aqueles que estão afastados
do poder de controle da sociedade, não estando necessariamente relacionada
com o direito de voto. Na verdade, a legislação brasileira usa a expressão
abrangendo todos aqueles que não são controladores, inclusive aqueles sem
direito de voto (preferencialistas). Portanto, “não há relação entre o poder e a
proporcionalidade na subscrição de ações da companhia62.”
61
BORBA, op cit, p.336.
62
COELHO, op cit, p.276.
63
TEIXEIRA; GUERREIRO, op cit, p.293.
46
64
TOMAZETTE, op cit, p.276.
65
BORBA, op cit, p.340.
66
Nas sociedades simples, por seu turno, por serem de caráter intuitu personae, as relações entre
sócios, interna corporis, são mais evidenciadas que nas sociedades de capital, de tal sorte que a
affectio societatis deve ser maior. E aqui se deve interpretar a afeição entre os sócios não
simplesmente como o comprometimento comum dos sócios para a consecução dos objetivos
sociais, mas também há de se ter em mente as relações pessoais (aspecto humano) entre os
sócios, que devem conviver harmonicamente – o que nem sempre é possível.
67
CUNHA, Rodrigo Ferraz Pimenta da. Estrutura de interesses nas sociedades anônimas:
hierarquia e conflitos, São Paulo: Quartier Latin, p.123, 2007.
47
Tal tipo de contrato – que excepciona a teoria geral dos contratos – é formado por
uma pluralidade de partes e não apenas duas, como nos contratos bilaterais70,
cujas relações internas se dão como se fosse um emaranhado de feixes. Essas
68
RIBEIRO, Vera, op cit, p.15.
69
RIBEIRO, Vera, op cit, p.56.
70
ASCARELLI, Tullio. Problemas das Sociedades Anônimas e Direito Comparado, Campinas:
Bookseller, p.387-390, 1999.
48
71
ASCARELLI, op cit, p.387-390.
72
ASCARELLI, op cit, p.394.
73
BARBI, Otávio Vieira. Composição de interesses no aumento de capital das sociedades
limitadas, Rio de Janeiro: Forense, p.32-33, 2007.
74
SALOMÃO FILHO, Calixto. O novo direito societário. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Malheiros
Editores, p.90, 2006.
49
Salomão Filho sugere que existem duas fórmulas para a solução dos conflitos
internos na sociedade: a primeira, que denominou “solução orgânica ou
estrutural”, e a segunda, a “solução através da regra de conflito”.
75
EIZIRIK, Nelson. Temas de direito societário. Rio de Janeiro: Renovar, p.96, 2005.
76
SALOMÃO FILHO, op cit, p. 90-104.
77
O professor Nelson Eizirik, na mesma linha de pensamento, afirma acerca da necessidade de
existência da solução contratual para os conflitos de interesses, asseverando que “o conflito é
pressuposto da formação dessas relações contratuais entre a companhia e seu acionista”
(EIZIRIK, op cit, p.72).
78
EIZIRIK, op cit, p.71.
79
SALOMÃO FILHO, op cit, p.91.
50
80
CARNELUTTI, Francesco. Teoria Geral do Direito (FERREIRA, Antônio Carlos - trad). São
Paulo: LEJUS, p.105, 1999.
81
Conforme: “The Ronald Coase Institute”, disponível em http://www.coase.org, acesso em
03.11.2007.
82
FRANÇA, Philip Gil. Breves reflexões sobre o direito, a economia e a atividade regulatória do
estado. Disponível em
http://www.marinoni.adv.br/principal/pub/anexos/20070619020905Artigo.doc, acesso em
03.11.2007.
51
Há, ainda, outros aspectos que, de acordo com a teoria da “Análise Econômica do
Direito” – especificamente, neste aspecto, fazendo remissão aos custos de
transação – devem ser levados em consideração para solucionarem-se conflitos
de interesses, inclusive nas relações intersociais, tais como a racionalidade
ilimitada dos indivíduos envolvidos85, a busca pelo interesse próprio (em
detrimento do interesse social) e o custo de transferência do capital para outro
empreendimento86.
83
ZYLBERSZTAJN, Décio; SZTAJN, Rachel. Análise econômica do direito e das organizações”.
In: ZYLBERSZTAJN, Décio; SZTAJN, Rachel (org.). Direito & Economia: análise econômica do
direito e das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2. reimpressão, p.2-3, 2005.
84
ZYLBERSZTAJN; SZTAJN, op cit, p.3.
85
Ou seja, as pessoas absorverão e processarão todas as informações disponíveis antes de
tomar uma decisão, o que fortemente influenciará nos custos de transação (PINHEIRO, Armando
Castelar; SADDI, Jairo. Direito, economia e mercados. Rio de Janeiro, Elsevier, p.65, 2005).
86
PINHEIRO, op cit, p.65.
52
Destarte, a solução orgânica para a resolução dos conflitos sociais está mais
afeta à teoria dos custos de transação, sendo, pois, na visão dos teóricos da
análise econômica do direito, aquela que deveria prevalecer para a harmonização
desses interesses antagônicos.
Com efeito, nessa fórmula são definidas “as hipóteses que podem gerar riscos
para a sociedade e qual o grau de risco gerado”88. A formulação da regra cria a
expectativa de que o administrador da sociedade irá cumprir seu dever fiduciário,
agindo em conformidade com o interesse social.
Mas o que vem a ser o interesse social? Vale ressaltar o conceito trazido por
Rodrigo Ferraz Pimenta da Cunha. O referido autor, para chegar à sua própria
definição, cita primeiramente o significado trazido por Waldirio Bulgarelli,
ponderando que entende ser tal conceituação uma posição extremada:
87
SALOMÃO FILHO, op cit, p.91.
88
SALOMÃO FILHO, op cit, p.94.
89
BULGARELLI, Waldirio. Verbete: interesse da empresa. Enciclopédia Saraiva de Direito.
FRANÇA, Limongi R. (coord). São Paulo: Saraiva, v.5, p.344, 1977.
90
O que corrobora o entendimento de Jairo Saddi anteriormente apontado, no que se refere ao
aspecto predominantemente econômico dos conflitos, especialmente no seio das sociedades.
Para se saber qual é o conflito de interesses, deve-se antes verificar quais sejam esses
interesses.
91
CUNHA, op cit, p.160.
53
92
CUNHA, op cit, p.124.
93
EIZIRIK, op cit, p.96.
54
No caso de eleição de administrador ou fiscal que sabe inapto (inciso “d”), moral
ou tecnicamente, não só o controlador será responsabilizado, mas também o
administrador ou fiscal que praticar ou cooperar para a execução do ato ilegal
responderá solidariamente com o acionista controlador.
55
O inciso “h”, acrescentado pela Lei n.º 9.457/97, deve ser entendido, conforme
Borba, de forma diversa, “pois os bens não são estranhos ou pertinentes ao
objeto social, mas sim compatíveis ou não com o interesse social94.” Outras
hipóteses, ainda, de exercício abusivo do poder estão enumeradas no artigo 1° da
Instrução CVM n.° 323/2000 95 e são as seguintes:
94
BORBA, op cit, p.339.
95
Instrução CVM Nº 323, de 19 de janeiro de 2000.
56
privilegiada para obter vantagem, para si ou para outrem, com a compra e venda
de valores mobiliários da sociedade.
96
CARVALHOSA, Comentários à Lei de Sociedades Anônimas, op cit, p.206.
97
CARVALHOSA, Comentários à Lei de Sociedades Anônimas, op cit, p.206.
58
Com efeito, opera-se a diluição sempre que a companhia emite novas ações, cujo
preço é inferior ao valor patrimonial das ações já existentes98. Fábio Ulhoa Coelho
entende que o valor nominal das ações representa relativa garantia dos acionistas
contra a diluição de sua participação acionária, porquanto fixa um limite mínimo
para o preço de emissão de novas ações99.
Por fim, insta salientar que a exposição de motivos da Lei das Sociedades
Anônimas deixa claro que as hipóteses de exercício abusivo do poder, pelo
controlador, não são somente aquelas enumeradas no artigo 117, mas também
se podem considerar outros eventos que não aqueles relacionados na lei.
Com efeito, não restam dúvidas de que a posição societária dos controladores é
visivelmente superior à dos minoritários. Eric Hoffer, citado por Osmar Brina
Corrêa-Lima, assim leciona: “uma minoria se encontra sempre em posição
precária, não importa quão protegida esteja, pela lei ou pela força.”101 E é
exatamente por isso que a lei atribui algumas prerrogativas a esta classe, visando
assim, com tais privilégios, a equilibrar as relações existentes.
98
COELHO, op cit, p.97.
99
COELHO, op cit, p.98.
100
CARVALHOSA, Comentários à Lei de Sociedades Anônimas, op cit, p.170-171.
101
HOFFER, Eric. The True Believer. New York, Harper & Row publishers, 1951 (part 2, c.9:
“Minorities”), p.40, apud CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. O acionista minoritário no direito brasileiro,
Rio de Janeiro: Forense, p.1, 1994.
59
Pode ser o caso, por exemplo, das companhias em que há grande proporção do
capital social distribuído sob a forma de ações preferenciais. Ou, ainda, das
sociedades em que, mesmo emitindo somente ações ordinárias, determinado
102
COELHO, Fábio Ulhoa. Profissão: minoritário. In: CASTRO, Rodrigo R. Monteiro; ARAGÃO,
Leandro Santos (coord.). Sociedade Anônima: 30 anos da Lei 6.404/76. São Paulo: Quartier Latin,
p.148, 2007.
103
COELHO, op cit, p.290.
104
CUNHA, op cit, p.123.
60
acionista não exerce o poder conferido pela propriedade de suas ações (não
podendo, assim, ser chamado de controlador), como no caso dos investidores
institucionais.
105
CORRÊA-LIMA, op cit, 1994, p.136.
106
PALÓPOLI, Mayra. Configuração de abuso de poder exige fiscalização ativa. Espaço Jurídico
BOVESPA. Disponível em: http://www.bovespa.com.br/Investidor/Juridico/070911NotA.asp,
acesso em 28.11.2007.
61
O poder judiciário também deve estar atento às práticas perpetradas pelos grupos
controladores e, sempre que provocado, deve resguardar os interesses dos
minoritários, parte hipossuficiente nas relações de poder societárias. Isto porque é
sabido que, no campo societário, a maioria pode realizar manobras tendentes a
esvaziar a força da minoria, e de fato algumas vezes o faz. E são essas atitudes
que devem ser coibidas pelo poder judicante.
Ocorre que, do ajuizamento da ação até o trânsito em julgado, dela se vão alguns
anos, o que pode trazer prejuízos irreparáveis para os negócios sociais. Desta
forma, cumpre aos juízes, ao se depararem com uma demanda ajuizada por
acionistas minoritários, fazer criteriosa perquirição acerca dos motivos
apresentados pelos acionistas para buscarem seu direito e verificar se eventual
deferimento de uma tutela de urgência não irá provocar mais prejuízos à
sociedade que aos acionistas – afinal, os interesses da empresa devem se
sobrepor aos de seus acionistas individualmente considerados.
107
O próprio autor, no mesmo artigo, explica o que seria “prêmio de sossego”. Na verdade, seria
um plus pago pelas ações do acionista minoritário que utiliza seus direitos previstos na lei visando
a tumultuar a administração quotidiana da sociedade, tentando, desta forma, valorizar as ações de
sua propriedade. Assim, o controlador se veria “incentivado” a pagar mais por aquelas ações para
se livrar de tal incômodo (COELHO, Profissão: minoritário, op cit, p.146).
108
COELHO, Profissão: minoritário, op cit, p.153.
62
109
CORRÊA-LIMA, op cit, 1994, p.135.
110
COELHO, Profissão: minoritário, op cit, p.150.
111
CORRÊA-LIMA, op cit, 1994, p. 132.
63
112
CORRÊA-LIMA, op cit, 1994, p.2.
64
4 GOVERNANÇA CORPORATIVA
4.1 Conceituação
Arnoldo Wald defende que a expressão mais adequada seria “governo das
empresas”, embora admita que será difícil, senão impossível, modificar a
expressão tal como está consagrada pela doutrina115.
113
LAUTENSCHLEGER JÚNIOR, Nilson. Os desafios propostos pela governança corporativa ao
direito empresarial brasileiro: ensaio de uma reflexão crítica e comparada. São Paulo: Malheiros
Editores, p.28, 2005.
114
LAUTENSCHLEGER JÚNIOR, op cit, p.29.
115
WALD, Arnoldo. O governo das empresas. Revista de direito bancário, do mercado de capitais
e da arbitragem, São Paulo, ano 5, n.15, p.53, jan-mar/2002.
66
mais elegante e que exprime com mais clareza o que trata o instituto: “boa gestão
societária116.”
Todavia, tal tradução – ainda que não represente com exatidão o seu verdadeiro
significado, e mesmo que em princípio não transpareça a verdadeira idéia de
governança corporativa – já se incorporou na doutrina brasileira, razão pela qual a
adotaremos neste trabalho.
116
CORRÊA-LIMA, op cit, 2005, p. 397.
117
LAUTENSCHLEGER JÚNIOR, op cit, p. 30.
67
Para Leonardo Barém Leite, que também entende ser inadequada a tradução
literal da expressão, a governança corporativa:
118
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Governança Corporativa.
Disponível em <http://www.ibgc.org.br/home.asp> Acesso em 10 jun. 2007.
119
SILVA, Edson Cordeiro. Governança corporativa nas empresas: guia prático de orientação para
acionistas e Conselho de Administração: novo modelo de gestão para redução do custo de capital
e geração de valor ao negócio. São Paulo: Atlas, p.16, 2006. O professor Edson Cordeiro da Silva
é graduado em Economia e Contabilidade, daí apresentar um conceito de governança corporativa
mais voltado para tais áreas.
120
BRAGA, Gilberto. Governança Corporativa. Rio de Janeiro: Faculdades IBMEC, Curso MBA,
2005 (Transparências de aula), apud BORGERTH, Vania Maria da Costa. SOX: entendendo a Lei
Sarbanes-Oxley: um caminho para a informação transparente. São Paulo: Thomson Learning,
p.68, 2007.
68
Vera Helena de Mello Franco e Rachel Sztajn, numa definição bastante restritiva
do que vem a ser a governança corporativa, afirmam ser “as relações entre
administradores e acionistas regidas por normas jurídicas entre as quais se
destaca o dever de lealdade122.”
121
LEITE, Leonardo Barém. A Lei de Sociedades Anônimas, 30 anos depois! Uma breve análise
da evolução da legislação e da realidade do mercado brasileiro, chegando-se ao momento atual –
em tempos de Governança Corporativa, “IPOs” e “Sarbanes-Oxley Act”. In: CASTRO; ARAGÃO,
op cit, p.526, 2007.
122
FRANCO, Vera Helena de Mello; SZTAJN, Rachel. Manual de direito comercial: sociedade
anônima e mercado de valores mobiliários. São Paulo: Revista dos Tribunais, v.2, p.191, 2005.
123
GARCIA E SOUZA, Thelma de Mesquita. Governança corporativa e o conflito de interesses
nas sociedades anônimas. São Paulo: Atlas, p.23, 2005.
69
Tal pensamento se coaduna com aquele formulado pelo professor Osmar Brina
Correa-Lima, que afirma que a “boa gestão societária (=governança corporativa)
124
GARCIA E SOUZA, op cit, p.24.
125
RIBEIRO, Milton Nassau. Aspectos Jurídicos da Governança Corporativa. São Paulo: Quartier
Latin, p.12, 2007.
126
Artigo 116, Parágrafo único - O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a
companhia realizar o seu objeto e cumprir a sua função social e tem deveres e responsabilidades
para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em
que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender.
70
Dos estudos promovidos por essa comissão, deu-se origem ao Cadbury Report,
tido como o primeiro de todos os “códigos de melhores práticas de governança
127
CORRÊA-LIMA, op cit, 2005, p.397.
128
Tal fenômeno é contemporâneo ao movimento verificado nas sociedades de dispersão do
capital acionário.
129
Neste sentido, merecem consulta as seguintes obras: ANDRADE, Adriana; ROSSETTI, José
Paschoal. Governança Corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. São Paulo:
Atlas, 3. ed, p.337-339, 2007; RIBEIRO, Milton, op cit, p.26-30; LAUTENSCHLEGER JÚNIOR, op
cit, p.37-39.
130
RIBEIRO, Milton. op cit, p.36.
71
Todavia, alguns aspectos restaram pouco abrangidos pelo relatório divulgado por
esse comitê, o que levou à criação de outro, o Comitê Greenbury, em 1995. Este
também publicou seu relatório, com conclusões que apontavam avanços no que
concerne à remuneração dos administradores e práticas de governança
corporativa132.
131
Milton Nassau Ribeiro lembra que a “Comissão Cadbury foi criada para estudar a governança
corporativa, depois de um grande número de escândalos que evidenciaram a necessidade de
rever o papel e as responsabilidades do Conselho de Administração” (RIBEIRO, Milton, op cit,,
p.18)
132
RIBEIRO, Milton. op cit, p.36.
133
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.341.
72
Logicamente, o executivo tinha interesse em fazer com que a cotação das ações
na Bolsa permanecesse por valor superior ao previsto no seu contrato de opção
de ações. Assim, ganharia com a possibilidade de adquirir ações por um valor
inferior e depois vendê-las a um preço mais alto na Bolsa. Também os acionistas
ficariam satisfeitos, pois a companhia (suas ações) estaria valorizada no mercado,
o que seria bom para a própria empresa, que atrairia novos investimentos135,
criando, assim, um círculo virtuoso.
134
BORGERTH, op cit, p.1.
135
RIBEIRO, Milton, op cit, pp.29-30.
136
Outras empresas também podem ser mencionadas: Xerox, Bristol-Myers Squibb, Merck, Tyco,
ImClone Systems, Parmalat.
73
A Enron, em 2001, era considerada a quinta maior companhia dos EUA. Surgida
em 1985, a partir da fusão de duas empresas distribuidoras de gás natural,
passou em 1989 a atuar no mercado de commodities de energia, principalmente
gás natural. Um ano antes do escândalo, havia uma projeção de aumento do
valor de suas ações em 1.700% desde seu lançamento na Bolsa, tendo atingido o
pico de US$ 90. Na data do escândalo, sua ação valia US$ 54,54, tendo caído
para US$ 0,81 algumas semanas depois. Menos de um mês depois do escândalo,
pediu sua falência137.
Além disso, a sociedade transferia alguns ativos “podres” para essas SPEs na
época da divulgação das demonstrações, a fim de ocultá-los, ou fazia
empréstimos disfarçados, como se contratos de compra e venda fossem, a fim de
não demonstrar a elevação de seu endividamento.
137
BORGERTH, op cit, pp.1-5.
138
.BORGERTH, op cit, pp. 1-5.
139
RIBEIRO, Milton, op cit, p.30.
74
A mais absurda prática adotada, e que praticamente serviu para confessar que a
Arthur Andersen estava acobertando as práticas de “contabilidade criativa” da
Enron, foi o fato de “ter destruído toda e qualquer documentação que pudesse
comprometer a Enron ou a si própria, na mais declarada atitude antiética que uma
empresa do seu setor poderia tomar142.”
140
BORGERTH, op cit, pp.7-9.
141
BORGERTH, op cit, p.6.
142
BORGERTH, op cit, p.6.
143
Requisitos essenciais e indispensáveis para a atuação nesse ramo de negócios.
75
O governo dos Estados Unidos, então, se viu pressionado a intervir com medidas
legislativas que fossem fortes o bastante para restaurar a confiança perdida e
evitar que a crise atingisse proporções ainda maiores, o que será objeto de
estudos.
144
LA PORTA, Rafael et al. Law and Finance. Journal of Political Economy, v.106, n.6, 1998.
145
WALD, O governo das empresas, op cit, p.59.
76
146
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.338.
147
Milton Nassau Ribeiro assim definiu stakeholder: “Esse termos, ainda sem tradução para o
português, é utilizado para designar os demais interessados nas atividades da companhia, como
empregados, fornecedores, clientes, comunidade e até mesmo cidadãos do governo. Stake quer
dizer risco no jargão do mercado financeiro. Stakeholder refere-se àqueles que possuem o risco
associado ao desempenho da empresa ao qual se relacionam” (RIBEIRO, Milton, op cit, p.24)
148
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.349.
77
dividendos – que, é óbvio, não são esquecidos, mas sua importância é mitigada –
preocupam-se em demonstrar a efetividade das políticas sociais da empresa e
sua sustentabilidade, inclusive com a publicação de balanços ambientais, sociais
e de cidadania corporativa.
149
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.347.
150
WALD, O governo das empresas, op cit, p.64-65.
151
RIBEIRO, Milton, op cit, p.50.
152
GARCIA E SOUZA, op cit, p.10-11.
78
Isto se reflete pelo mundo inteiro, tendo esses investidores institucionais passado
a pressionar pela adoção de determinadas normas de transparência na gestão e
pela disseminação de sua cultura institucional em termos de controle corporativo,
principalmente pela prestação de contas aos acionistas.
153
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.335-337.
154
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.338.
155
Que nesses países, geralmente, são pequenos acionistas, já que a propriedade das ações
encontra-se pulverizada, como já dito.
156
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.338.
79
157
GARCIA E SOUZA, op cit, p.11.
158
RIBEIRO, Milton, op cit, pp.38-39.
80
159
RIBEIRO, Milton, op cit, p.40.
160
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.347-350.
161
RIBEIRO, Milton, op cit, p.48-49.
162
RIBEIRO, Milton, op cit, p.48.
81
163
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.353-354.
164
Normalmente, os membros do Conselho nas companhias do Japão são indicados em razão
dos relevantes serviços prestados ao conglomerado, uma homenagem à longa trajetória de vida
dentro da estrutura de determinada companhia. Culturalmente, no Japão as relações
empregatícias se mantêm por longo prazo, chegando mesmo a ser vitalícias (ANDRADE;
ROSSETTI, op cit, p.357).
165
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.357.
166
Para Andrade e Rossetti, o modelo japonês de governança corporativa preconiza “a segurança
de longo prazo, fundamentada na atenção que a corporação assegura a múltiplos interesses, em
modelo claramente stakeholders oriented” (op. cit., p.357)
82
167
RIBEIRO, Milton, op cit, pp.43-44.
168
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.365.
169
RIBEIRO, Milton, op cit, p.46.
83
170
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.365.
171
RIBEIRO, Milton, op cit, p.28.
84
172
BORGERTH, op cit, p.60.
173
BORGERTH, op cit, introdução, p. XVI.
174
RIBEIRO, Milton, op cit, p.32.
85
Com efeito, mais uma vez de acordo com as palavras de Vania Maria da Costa
Borgerth:
175
BORGERTH, op cit, p.55-56.
176
LAUTENSCHLEGER JÚNIOR, op cit, p.111.
177
BORGERTH, op cit, p.20.
86
178
BORGERTH, op cit, p.28.
87
por não cumprimento das exigências formais que impliquem a alteração dos
resultados da companhia.
179
A Lei 11.638/2007 harmonizou o sistema jurídico brasileiro com diversas regras e princípios
internacionalmente adotados em Contabilidade em todo o mundo. Houve adequação das normas
contábeis brasileiras ao International Financial Reporting Standards (IFRS) e a obrigatoriedade
das demonstrações contábeis das companhias abertas e de grande porte serem auditadas por
auditores independentes.
180
BORGERTH, op cit, p.35-41.
181
BORGERTH, op cit, p.41.
88
Deste modo, vê-se que a Lei Sarbanes-Oxley foi editada para provocar
significativas mudanças na estrutura da administração das sociedades norte-
americanas, mormente no que condiz com a adoção de melhores práticas de
governança corporativa. Para Antonino Cirrincione, citado por Vania Maria da
Costa Borgerth182:
182
CIRRINCIONE, Antonino. Ética, sustentabilidade e negócios mais duradouros. Valor
Econômico, p.D6, 21 nov. 2005, apud BORGERTH, op cit, p.64.
183
RIBEIRO, Milton, op cit, p.56.
89
O IBGC tem tido papel fundamental nos estudos e avanços do tema no Brasil,
contando, entre seus membros, com juristas, economistas, administradores e
outros profissionais gabaritados, que têm contribuído para a divulgação e
expansão da matéria, incentivando a adoção de políticas de governança
corporativa nas empresas.
As significativas alterações trazidas por tal lei devem ser destacadas, pela sua
importância, com o estabelecimento de normas que introduziram, definitivamente,
na legislação societária, os princípios da governança corporativa, como destacou
Milton Nassau Ribeiro:
184
RIBEIRO, Milton, op cit, p.67.
90
Por fim, as empresas listadas no Novo Mercado devem adotar todas essas
práticas listadas para aquelas sociedades dos níveis 1 e 2 (que não forem
incompatíveis com as características deste), além de:
• ter o capital social da empresa representado, integralmente, por ações
ordinárias (que possuem direito de voto).
185
Com tal medida, visa-se a facilitar a representação dos minoritários no Conselho de
Administração, sem se esquecer do princípio majoritário que rege as sociedades anônimas. A
adoção de tal regramento permite que os acionistas minoritários que representem, no mínimo,
15% do capital votante e os acionistas que possuem ações preferenciais, representando no
mínimo 10% do capital social, possam eleger, cada um desses grupos, um membro e seu
respectivo suplente no Conselho de Administração.
186
Tal disposição deve vir inserta no estatuto da companhia, regulando o processo de arbitragem
e definindo o órgão arbitral que funcionará, bem como enumerando as matérias que estarão
sujeitas à arbitragem. De acordo com o entendimento de Modesto Carvalhosa, a referida cláusula
compromissória não vincularia os acionistas que não tenham concordado inequívoca e
expressamente com ela, nos termos do artigo 4º, §2º, da Lei n.º 9.397/96. Todavia, tal posição não
é a predominante na doutrina pátria, afirmando diversos autores que, ainda que o acionista não
manifeste expressamente sua anuência com a cláusula compromissória, ele estará sujeito à
arbitragem, simplesmente pelo fato de ter se tornado acionista da companhia e ter, assim, aderido
às disposições do estatuto, ainda que de maneira tácita.
92
187
Ficam dispensadas dessa distribuição pública as companhias que já mantêm registro de
negociação no mercado principal da BOVESPA e possuam pelo menos 500 acionistas.
188
BOVESPA – BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO. Comparativo entre segmentos de
listagem (parte). Disponível em <http://www.bovespa.com.br/Principal.asp> Acesso em 24 jun.
2007.
93
QUADRO 1
Comparativo dos diferentes níveis de governança corporativa
NOVO
TRADICIONAL NÍVEL 1 NÍVEL 2
MERCADO
Percentual Não há regra No mínimo No mínimo No mínimo
mínimo de 25% de free 25% de free 25% de free
ações em float float float
circulação (free
float)
Características Permite a Permite a Permite a Permite a
das ações existência de existência de existência de existência
emitidas ações ON e ações ON e ações ON e somente de
PN PN PN (com ações ON
direitos
adicionais)
Características Mínimo de três Mínimo de Mínimo de Mínimo de
do Conselho membros três cinco cinco
de (conforme membros membros, dos membros, dos
Administração legislação) (conforme quais pelo quais pelo
legislação) menos 20% menos 20%
devem ser devem ser
independentes independentes
Demonstrações Facultativo Facultativo US GAAP ou US GAAP ou
financeiras IFRS IFRS
anuais em
padrão
internacional
Concessão de 80% para 80% para 100% para 100% para
tag along ações ON ações ON ações ON ações ON
(conforme (conforme 80% para
legislação) legislação) ações PN
Adoção da Facultativo Facultativo Obrigatório Obrigatório
Câmara de
Arbitragem do
Mercado
ON = Ordinárias Nominativas PN = Preferenciais Nominativas
Fonte: BOVESPA.
podendo ser aplicadas, também, nas sociedades limitadas. Adalberto Simão Filho
é um grande defensor da adoção de tais medidas nas referidas sociedades:
Embora, em princípio, se possa pensar que não faz sentido a adoção de tais
práticas nas sociedades limitadas – pelo fato destas não possuírem valores
mobiliários em negociação em Bolsa –, a governança corporativa poderá melhorar
a imagem da empresa na comunidade em que está inserida, em face de seus
empregados, seus fornecedores e consumidores, além de outros entes que com
ela se relacionem, o que, em última análise, poderá refletir (positivamente) em
seus resultados.
Com a adoção das práticas de governança corporativa a cada dia por mais e mais
empresas, espera-se que o mercado acionário brasileiro se desenvolva e se
fortaleça, possibilitando às companhias oportunidades de captação de recursos a
baixo custo, oferecendo, em contrapartida, aos investidores, mais segurança e
rentabilidade no longo prazo. Além disso, tais práticas possibilitam aos acionistas
minoritários contarem com mecanismos mais robustos e eficazes de proteção de
seus interesses.
189
SIMÃO FILHO, op cit, p.203
190
“Os investidores institucionais – Seguradoras, fundos de pensão e fundos mútuos de
investimentos – são agentes essenciais para o processo de formação da poupança de longo prazo
destinada ao desenvolvimento econômico e social do país. Detentores de grandes volumes de
capital e guardiões das aposentadorias futuras de milhares de trabalhadores, os investidores
institucionais pretendem retornos a serem obtidos através de prazos mais longos” (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Governança corporativa no Brasil. Disponível
em <http://www.ibgc.org.br/ibConteudo.asp?IDArea=61&IDp=2> Acesso em 20 jun. 2007).
95
recordes sendo batidos pela Bolsa de Valores de São Paulo, tanto em volume de
negociações, quanto em rentabilidade.
No próximo capítulo, demonstrar-se-á que tais assertivas são verídicas, haja vista
que as companhias listadas nos mercados diferenciados da BOVESPA têm
alcançado mais rentabilidades se comparadas com o índice das demais
sociedades (índice BOVESPA - IBOVESPA).
191
RIBEIRO, Milton, op cit, p.56.
96
192
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.140.
97
Os custos para uma sociedade que investe na transparência nas suas relações
também são mais baixos. Pesquisa coordenada pelos professores Alexsandro
Broedel Lopes, da Universidade de São Paulo e da Fundação Instituto de
Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), e pela professora
Roberta Carvalho de Alencar, da Fucape Business School, do Espírito Santo,
criou um índice para avaliação da transparência das empresas. O trabalho
concluiu que a cada ponto que a empresa avança nesse índice há redução de
0,14 ponto percentual em seu custo de capital196.
193
Milton Nassau Ribeiro, em sua obra Aspectos Jurídicos da Governança Corporativa (São op
cit), discorre sobre o fundamento legal da governança corporativa no Direito Brasileiro e afirma ser
ele o parágrafo único do artigo 116 da Lei das Sociedades Anônimas. Porém, aqui, não se está
tratando do fundamento legislativo da governança corporativa, mas, sim, do embasamento legal
referente ao princípio da transparência (disclosure).
194
Artigo 157. O administrador de companhia aberta deve declarar, ao firmar o termo de posse, o
número de ações, bônus de subscrição, opções de compra de ações e debêntures conversíveis
em ações, de emissão da companhia e de sociedades controladas ou do mesmo grupo, de que
seja titular.
195
A Instrução n.º 358 da CVM dispõe sobre a divulgação e uso de informações sobre ato ou fato
significante relativo às companhias abertas, disciplina a divulgação de informações na negociação
de valores mobiliários e na aquisição de lote significativo de ações de emissão de companhia
aberta, estabelece vedações e condições para a negociação de ações de companhia aberta na
pendência de fato relevante não divulgado ao mercado.
196
PAVINI, Angelo. O valor da transparência. Valor Econômico, 13 mar. 2008. Disponível em
<http://www.valor.com.br/valoreconomico/285/eueinvestimento/O+valor+da+transparencia,,,50,482
6416.html> Acesso em 13 mar. 2008.
197
A classificação dada pelas agências internacionais de risco, posicionando o Brasil na categoria
de “grau de investimento” (investment grade), foi alcançada no primeiro semestre de 2008,
conforme amplamente noticiado pela imprensa.
98
A integridade ou eqüidade (fairness), por sua vez, está ligada ao respeito aos
direitos e interesses dos minoritários e ao efetivo cumprimento das leis e do
estatuto, sem perder de vista, outrossim, a lealdade dos administradores para
com os interesses da companhia.
198
Artigo 147. Quando a lei exigir certos requisitos para a investidura em cargo de administração
da companhia, a assembléia geral somente poderá eleger quem tenha exibido os necessários
comprovantes, dos quais se arquivará cópia autêntica na sede social.
§ 1º São inelegíveis para os cargos de administração da companhia as pessoas impedidas por lei
especial, ou condenadas por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão,
peculato, contra a economia popular, a fé pública ou a propriedade, ou a pena criminal que vede,
ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos.
§ 2º São ainda inelegíveis para os cargos de administração de companhia aberta as pessoas
declaradas inabilitadas por ato da Comissão de Valores Mobiliários.
o
§ 3 O conselheiro deve ter reputação ilibada, não podendo ser eleito, salvo dispensa da
assembléia geral, aquele que: I - ocupar cargos em sociedades que possam ser consideradas
concorrentes no mercado, em especial, em conselhos consultivos, de Administração ou Fiscal; e II
- tiver interesse conflitante com a sociedade.
o o
§ 4 A comprovação do cumprimento das condições previstas no § 3 será efetuada por meio de
declaração firmada pelo conselheiro eleito nos termos definidos pela Comissão de Valores
Mobiliários, com vistas ao disposto nos arts. 145 e 159, sob as penas da lei.
99
199
Artigo 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem
para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da
função social da empresa.
§ 1º O administrador eleito por grupo ou classe de acionistas tem, para com a companhia, os
mesmos deveres que os demais, não podendo, ainda que para defesa do interesse dos que o
elegeram, faltar a esses deveres.
(…)
200
Artigo 156. É vedado ao administrador intervir em qualquer operação social em que tiver
interesse conflitante com o da companhia, bem como na deliberação que a respeito tomarem os
demais administradores, cumprindo-lhe cientificá-los do seu impedimento e fazer consignar, em
ata de reunião do Conselho de Administração ou da diretoria, a natureza e extensão do seu
interesse.
§ 1º Ainda que observado o disposto neste artigo, o administrador somente pode contratar com a
companhia em condições razoáveis ou eqüitativas, idênticas às que prevalecem no mercado ou
em que a companhia contrataria com terceiros.
§ 2º O negócio contratado com infração do disposto no § 1º é anulável, e o administrador
interessado será obrigado a transferir para a companhia as vantagens que dele tiver auferido.
201
Artigo 153. O administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o
cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus
próprios negócios.
202
Artigo 155. O administrador deve servir com lealdade à companhia e manter reserva sobre os
seus negócios, sendo-lhe vedado: I - usar, em benefício próprio ou de outrem, com ou sem
prejuízo para a companhia, as oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em razão do
exercício de seu cargo; II - omitir-se no exercício ou proteção de direitos da companhia ou,
visando à obtenção de vantagens, para si ou para outrem, deixar de aproveitar oportunidades de
negócio de interesse da companhia; III - adquirir, para revender com lucro, bem ou direito que
sabe necessário à companhia, ou que esta tencione adquirir.
§ 1º Cumpre, ademais, ao administrador de companhia aberta, guardar sigilo sobre qualquer
informação que ainda não tenha sido divulgada para conhecimento do mercado, obtida em razão
do cargo e capaz de influir de modo ponderável na cotação de valores mobiliários, sendo-lhe
vedado valer-se da informação para obter, para si ou para outrem, vantagem mediante compra ou
venda de valores mobiliários.
100
§ 2º O administrador deve zelar para que a violação do disposto no § 1º não possa ocorrer através
de subordinados ou terceiros de sua confiança.
§ 3º A pessoa prejudicada em compra e venda de valores mobiliários, contratada com infração do
disposto nos §§ 1° e 2°, tem direito de haver do in frator indenização por perdas e danos, a menos
que ao contratar já conhecesse a informação.
o
§ 4 É vedada a utilização de informação relevante ainda não divulgada, por qualquer pessoa que
a ela tenha tido acesso, com a finalidade de auferir vantagem, para si ou para outrem, no mercado
de valores mobiliários.
203
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.140.
204
Recentemente, o Brasil se enquadrou nas normas internacionais de Contabilidade, a partir da
reforma sofrida pela Lei das Sociedades por Ações, instituída pela Lei n.° 11.638, de 28 de
dezembro de 2007, que alterou as disposições relativas à elaboração e divulgação de
demonstrações financeiras. A rotina contábil das empresas deverá, a partir desta lei, ser
significativamente alterada. Além do balanço patrimonial (que passou a contar com novas contas,
tal como ativo intangível, por exemplo) e da demonstração de resultados do exercício, deverão as
sociedades elaborar dois novos documentos: a “demonstração de fluxo de caixa” e a
“demonstração de valor adicionado”. Esses novos demonstrativos servem, respectivamente, para
mostrar ao público o trânsito do dinheiro na companhia e o quanto de riqueza a empresa gerou no
ano. A demonstração de fluxo de caixa veio para substituir a “demonstração de origem e aplicação
de recursos”, que foi extinta por tal lei. Ademais, os registros passarão a ser feitos nos ativos e
passivos a valor de mercado, substituindo o arcaico formato de se contabilizar tais valores pelo
seu preço de custo. Na verdade, a compatibilização das demonstrações financeiras com os
principais mercados, enquadrando-as ao padrão internacional de Contabilidade, facilita a análise
por parte dos investidores do desempenho da companhia, harmonizando as normas contábeis
brasileiras com as regras internacionais, de modo a possibilitar fazerem-se comparações com
empresas do mesmo setor, tanto no mercado interno, quanto no exterior, decidindo assim onde
investir seus recursos.
101
O balanço social é um instrumento que deve ser mais amplamente utilizado pelas
empresas como uma forma de demonstrar, a todos os stakeholders, sua
preocupação com as demandas sociais, além de melhorar sua imagem perante a
comunidade em que estão inseridas, deixando claro que sua conduta é, além de
transparente, ética.
205
IBASE, Publique seu balanço social. Disponível em
<http://www.balancosocial.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/startigohtm?sid=2> Acesso em 6 mar. 2008.
206
WENDELING, Marcelo do Amaral. Responsabilidade social: o administrador como agente de
transformação nas organizações e na sociedade. Revista Eletrônica de Administração e Negócios.
102
209
A ninguém é permitido alegar o desconhecimento das normas.
210
GARCIA E SOUZA, op cit, p.p. 10.
211
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.522-524.
104
Fatores Externos:
- normas mais duras e efetivas dos órgãos de regulação;
- ativismo dos investidores institucionais;
213
- organização e mobilização dos acionistas minoritários.
Fatores internos:
- emprego dos princípios da boa governança para harmonização de
conflitos de agência;
- gestão preventiva contra fraudes;
- reordenamentos organizacionais nas corporações;
- percepção de benefícios superiores a custos.
212
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.523.
213
Embora os referidos autores entendam que a mobilização dos minoritários seja exógena à
sociedade, entendo que tal fator deveria ser classificado como interno, pois os acionistas
minoritários exercem seus direitos e, quando possível, desempenham atos de controle ou pressão
(o sistema de pesos e contrapesos já referido anteriormente) nos órgãos das companhias,
principalmente nas assembléias gerais.
214
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.330.
105
Até então, bastava que se tivesse a maioria do capital social para que lhe fosse
autorizado “mandar e desmandar” dentro da sociedade. Aos minoritários, restava
aguardar, resignados, aos efeitos da administração conduzida a mão-de-ferro
pelo controlador (ou por alguém de sua confiança) e rezar para que fosse
distribuído algum lucro ao final do exercício.
Ocorre que tal concepção encontra-se ultrapassada e hoje não mais se aplica às
companhias que pretendem ou possuem algum progresso. É fato que a cada dia
se torna mais necessário para as sociedades conseguirem capital para investir,
visando a aumentar sua produtividade e seus ganhos em escala.
215
GARCIA E SOUZA, op cit, p.22.
106
Mas para que o negócio seja atrativo ao investidor, não só as regras gerais da lei
ou emitidas pela CVM devem ser integralmente cumpridas pelas companhias
(compliance), mas também as normas internas, presentes nos contratos sociais
ou estatutos ou, ainda, nos acordos de acionistas, devem preconizar o equilíbrio
(equity) nas relações entre os shareholders e demais stakeholders e,
principalmente, devem ser claras (disclosure).
216
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.117.
217
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.124.
108
Nisso divergem Salomão Filho e o já citado Milton Nassau Ribeiro. Enquanto para
o primeiro o referido parágrafo único do artigo 166, LSA, não passa de “uma mera
218
SALOMÃO FILHO, op cit, p.92.
219
SALOMÃO FILHO, op cit, p.92-93.
220
SALOMÃO FILHO, op cit, p.90-99.
109
Ocorre que a vontade de adotar tais condutas dificilmente existiria sem que
houvesse prévia disciplina legislativa, ainda mais por sermos um país que adota o
sistema de direito romano-germânico. Somente com a introdução de tal
principiologia na norma de regência das sociedades é que se passou a cobrar dos
atores envolvidos nas relações societárias o respeito a tais regras.
221
SALOMÃO FILHO, op cit, p.98.
222
RIBEIRO, Milton, op cit, p.130-133.
110
É fato que os investidores tomam suas decisões de como aplicar seu capital
baseados no binômio segurança/rentabilidade. Com efeito, as empresas que
adotam as práticas de governança corporativa – obedecendo aos princípios
declinados anteriormente – têm suas ações mais valorizadas no mercado
(rentabilidade), exatamente por oferecerem mais segurança aos seus
acionistas, em virtude da transparência e lealdade com que seus administradores
e/ou controladores se propõem a atuar. As companhias que adotam tais práticas,
portanto, encontram-se num “círculo virtuoso”, atraindo, cada vez mais, novos
investimentos e investidores.
Não há como negar que a governança corporativa tem ajudado a maior parte das
economias de mercado avançadas, garantindo enormes fluxos de recursos para
as empresas e o retorno dos lucros aos fornecedores de recursos.
223
COELHO, op cit, p.324.
224
RIBEIRO, Milton, op cit, p.69.
111
225
REVISTA BOVESPA, A transparência das empresas veio para ficar. Jan-Mar 2005, disponível
em <http://www.bovespa.com.br/InstSites/RevistaBovespa/93/Capa.shtml> Acesso em 20 abril
2008.
226
Conforme citado por Carlos Guilherme de Paula Aguiar, foi realizado estudo pela McKinsey &
Co, em parceria com o Banco Mundial, a qual visava verificar e medir eventuais acréscimos de
valor às companhias que adotassem boas práticas de governança corporativa. Apurou-se que os
investidores estariam dispostos a pagar entre 18% e 28% a mais por ações de empresas que
adotam melhores práticas de administração e transparência. (AGUIAR, Carlos Guilherme de
Paula. Governança corporativa e geração de valor aos acionistas. Monografia. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Economia. Rio de Janeiro, junho, 2005. Disponível em
<http://www.cvm.gov.br/port/public/publ/ie_ufrj_cvm/Carlos_Guilherme_de_P_Aguiar.pdf> Acesso
em 24 jun. 2007).
227
BRAGA, apud BORGERTH, op cit, p.68.
112
Assim, a realização do objetivo primordial das empresas – gerar lucros para seus
proprietários – pode ser maximizada com o atendimento dos interesses dos
stakeholders, uma vez que o mercado passa a privilegiar as “companhias que
apresentem os melhores resultados econômico-financeiros e as melhores
perspectivas de mantê-los ou ampliá-los231.”
228
RIBEIRO, Milton, op cit pp.162-163.
229
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.113.
230
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.113-114.
231
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.114.
113
232
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.113-128.
233
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.122-124.
114
234
Conforme citado anteriormente, para alguns, como Milton Nassau Ribeiro, o fundamento da
governança corporativa está estabelecido no parágrafo único do artigo 116 da LSA que possui a
seguinte redação: “O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia
realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os
demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua,
cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender.”
115
235
REVISTA BOVESPA, op cit.
236
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.196.
237
REVISTA BOVESPA, op cit.
116
Desconto por
desigualde de direitos
Valor justo (-) desconto por baixa (-) desconto por (=) valor de mercado
transparência governança inadequada
- Transparência
- Participação
Governança - Representação
- Remuneração
238
ANDRADE; ROSSETTI, op cit, p.523-527.
117
Do ponto de vista empírico, existe grande debate na literatura sobre como medir a
qualidade da governança corporativa das empresas. Para a professora Adriana
Andrade, da Fundação Dom Cabral, “a governança tem sido equiparada a outros
indicadores de desempenho, como as demonstrações contábeis da evolução
patrimonial e dos resultados da operação, como fator de avaliação das
empresas239.”
239
REVISTA BOVESPA, op cit.
240
De acordo com o site da BOVESPA, “o IGC - Índice de Ações com Governança Corporativa
Diferenciada tem por objetivo medir o desempenho de uma carteira teórica composta por ações de
empresas que apresentem bons níveis de governança corporativa.” As empresas que compõem a
referida carteira teórica são todas aquelas que estão admitidas à negociação no Novo Mercado ou
nos níveis 1 ou 2 de governança corporativa da BOVESPA.
241
Para a elaboração do GRÁF. 1, foram colhidos dados do site da BOVESPA, verificando-se a
rentabilidade mensal de cada um dos índices, a partir de julho de 2001 (primeiro levantamento
existente do ICG).
118
700,00
600,00
500,00
Ganho percentual
400,00
∆ Ibovespa
300,00
∆ IGC
200,00
100,00
0,00
jul/01
jan/02
jul/02
jan/03
jul/03
jan/04
jul/04
jan/05
jul/05
jan/06
jul/06
jan/07
jul/07
-100,00
A valorização das ações, então, pode ser tida como conseqüência natural da
adoção das regras de governança corporativa, um verdadeiro reconhecimento do
mercado, ou melhor, um prêmio para aqueles empresários que se dispõem a
prestar informações de forma transparente aos interessados na companhia. Como
se viu, o benefício é recíproco.
119
6 CONCLUSÃO
Para que possam ser minimizados tais conflitos de poder, a lei estabelece regras
mínimas, que concedem aos sócios das sociedades – independentemente de sua
condição – direitos e obrigações, que servem para harmonizar tais relações.
Não é somente este aspecto solucionador dos conflitos de agência que deve ser
destacado na adoção de práticas de governança corporativa. A valorização das
companhias que estão imbuídas de tais princípios norteadores da conduta de
seus órgãos de administração é um dado relevante, que não pode ser
desprezado. Percebe-se que os investidores têm reconhecido que uma
companhia que busca as práticas de governança corporativa é uma sociedade
que preza pela transparência e pelo cumprimento das regras, o que gera mais
segurança para o capital nela investido.
REFERÊNCIAS
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125
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