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URIANÁLISE I

UROANÁLISES I

1. INTRODUÇÃO À UROANÁLISE

1.1 Histórico
A uroanálise consiste na análise da urina com fins de diagnóstico ou prognóstico de
estados fisiológicos ou patológicos. Esse tipo de análise foi responsável pelo início da medicina
laboratorial e seu emprego remete a Antiguidade. Os antigos médicos embora não contassem
com os sofisticados métodos atuais, eram capazes de obter informações diagnósticas a partir de
observações básicas como cor, turvação, odor, volume, viscosidade e até mesmo presença de
açúcar, ao observarem que certas amostras atraíam formigas. Tabelas de cores, que descreviam
o significado de vinte diferentes tipos de cores, chegaram a ser criadas para auxiliar as análises
urinárias.
É interessante notar que essas mesmas características urinárias ainda são utilizadas pelos
laboratoristas hoje em dia. Contudo, os modernos métodos de uroanálise ampliaram seu campo
de ação, abrangendo não só o exame físico, mas também a análise bioquímica e o exame
microscópico do sedimento urinário. A persistência da popularidade da análise urinária pode ser
justificada pelo fato da urina ser uma amostra de fácil obtenção e coleta e por ser capaz de
fornecer informações sobre importantes funções metabólicas do organismo.
A facilidade de obtenção da amostra urinária, muitas vezes induz certo descuido no seu
tratamento, por isso é importante aumentar o foco na manutenção de padrões de qualidade
laboratoriais no setor de uroanálise. É de fundamental importância que os profissionais que
atuam nesse setor prezem pela qualidade de todas as etapas da análise urinária e saiba
reconhecer que seu descuido ou desatenção pode ser fonte de um diagnóstico incorreto.

1.2 Compreendendo as análises urinárias


A análise urinária representa um importante recurso do laboratório clínico por permitir a
avaliação de quadros metabólicos fisiológicos ou patológicos, com baixo custo e utilizando-se de
uma amostra de fácil obtenção. Para facilitar o entendimento dos tipos de análises que podem
ser realizadas utilizando a amostra urinária vamos classificar os exames de urina de acordo com
seus métodos e interesses diagnósticos em cinco tipos:
Análise Física da urina: Compreende a avaliação das propriedades físicas da urina, tais
como sua cor, odor, volume, aspecto (turbidez), densidade e pH;
Análise química qualitativa da urina: atualmente realizado através de tiras reativas,
compreende a avaliação de substâncias encontradas na urina, tais como, a bilirrubina,
nitrito, glicose, etc;
Análise sedimentoscópia da urina: Tem por objetivo identificar e quantificar os sedimentos
encontrados na urina, tais como células, cristas, cilindros, bactérias, etc;
Análise química quantitativa da urina: Representa as dosagens dos diversos elementos
eliminados através da urina, tais como uréia, creatinina, etc. Estas modalidades de
técnicas são realizadas, geralmente no setor de bioquímica;
Exame bacteriológico da urina: Também conhecido como urocultura, é realizado pelo
setor de bacteriologia e envolve a pesquisa de microorganismos, contagem de colônias,
bem como seu perfil de resistência / sensibilidade às drogas antimicrobianas
(antibiograma).

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UROANÁLISES I

Você sabia...
Usualmente a análise dos constituintes
bioquímicos da urina é feita através de tiras
reagentes, objetivando tornar a determinação de
elementos da urina mais rápida, mais simples e
mais econômica. Atualmente há no mercado
instrumentos que executam a leitura das fitas
reagentes, melhorando assim o grau de precisão
ao eliminar parte do elemento subjetivo inerente
à leitura das mudanças de cor pelo olho humano.
As tiras reativas de urina constituem um meio
simples e rápido de realizar dez ou mais análises
bioquímicas clinicamente importantes, como pH,
proteínas, glicose, cetonas, hemoglobina,
bilirrubina, urobilinogênio, nitrito, densidade e
leucócitos.

J. Bras. Patol. Med. Lab. vol.42 no.2 Rio de Janeiro Apr. 2006

Fonte:http://diaglab.com.br/urixxon.html

A rotina atual no setor de uroanálise envolve o exame de urina tipo I, ou Sumário de


Urina, ou, ainda, EAS (Elemento Anormais e Sedimento). Esse exame consiste nas análises
físicas, sedimentoscópica e química qualitativa da urina. Em outras palavras, compreende a
descrição dos caracteres gerais da urina, pesquisa de elementos anormais e estudo microscópico
do sedimento. O EAS é um exame simples, de fácil coleta, capaz de detectar anormalidades na
urina, fornecendo, desta forma, informações sobre as principais funções metabólicas do
organismo, doenças renais, infecções urinárias, doenças sistêmicas e graus de hidratação.

1.3 Formação e composição da urina


A urina é formada continuamente pelos rins. Trata-se, na realidade, de um ultrafiltrado de
plasma a partir do qual foram reabsorvidas glicose, aminoácidos, água e outras substâncias
essenciais ao metabolismo do organismo. Em geral, a urina é constituída por uréia (resíduo
metabólico produzido no fígado a partir da utilização de proteínas e aminoácidos) e outras
substâncias químicas orgânicas e inorgânicas dissolvidas em água. Podem ocorrer grandes
variações na concentração dessas substâncias, devido à influência de fatores como:

A dieta do indivíduo;
O estado nutricional;
Atividade física;
Metabolismo orgânico;
Função endócrina;
Estado geral do organismo;
Estado da função renal;

Embora não fazendo parte do filtrado plasmático original, a urina também pode
conter elementos como células, cristais, muco e bactérias. Quantidades aumentadas destes
elementos muitas vezes é indício de doença. Outras substâncias encontradas são: hormônios,
vitaminas e medicamentos.

Você Sabia...
Um adulto saudável de dieta comum pode produzir entre 1000 e 2000 ml de
urina por dia. O volume mínimo- de 3 -urina necessário para remover do
organismo todos os produtos residuais é de cerca de 0,5 L em um homem de
70 kg; todo o volume produzido acima deste consiste em excesso de água.
Uma grande ingestão de líquidos aumenta a quantidade de urina
produzida; uma grande perda de líquido através da transpiração, vômitos
UROANÁLISES I

Para verificar se determinado líquido é mesmo urina, a amostra deve ser analisada quanto
ao teor de ureia e de creatinina. Uma vez que essas substâncias estão presentes em maior
concentração na urina que em outros líquidos orgânicos, o alto teor de ureia e creatinina, na
amostra, pode servir como identificação da urina.

Fixando o conhecimento

1) Às vezes é necessário determinar se uma amostra é realmente urina. Para isso deve-se
medir a concentração de:

a) Glicose e cetonas
b) Ureia e creatinina
c) Ácido úrico e aminoácidos
d) Proteínas e aminoácidos
e) A cor amarela normal da urina é produzida por:

2) A cor amarela normal da urina é produzida por:


a) Bilirrubina
b) Urobilinogênio
c) Urocromo
d) Hemoglobina

3) Qual a diferença entre a análise química qualitativa e quantitativa?


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4) A tira reativa nos permite realizar uma análise química qualitativa, quantitativa ou ambas?
Pesquise e justifique sua resposta.
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5) Explique o que é a urocultura e como ela é realizada.

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Atividade extra-classe: Conhecendo o laboratório de uroanálise

2. ASPECTOS MORFOFUNCIONAIS DO APARELHO URINÁRIO E PRINCÍPIOS DE


FORMAÇÃO DA URINA
2.1 Introdução
Estaremos agora iniciando nossos estudos em uroanálise, ou seja, no campo das análises
clínicas que trata as análises da urina. Por isso, faz-se necessário um breve estudo acerca do
processo de formação da urina, bem como dos órgãos nos quais ela é formada (os rins),
conduzida e armazenada (ureteres, bexiga e uretra) antes da sua liberação para o exterior do
corpo, através da micção. Os rins e as vias urinárias, em conjunto, formam o sistema urinário.
Iniciaremos um estudo sobre a anatomia macroscópica do sistema urinário, ou seja, o
estudo macroscópico dos órgãos que o constituem. Posteriormente seguiremos fazendo uma
análise da anatomia microscópica dos rins, ou seja, estudaremos como esses órgãos são
formados microscopicamente e qual a relação dessa estrutura microscópica com as suas funções.
2.2 Anatomia Macroscópica do Sistema Urinário
Nosso sistema urinário é formado por dois rins, dois ureteres, uma bexiga e uma uretra.
Funcionalmente, os rins são os órgão responsáveis pela formação da urina , os ureteres
transportam a urina para a bexiga, a bexiga por sua vez armazena a urina até o momento da
micção e a uretra é o conduto através do qual a urina é expelida do corpo. Superiormente a cada
rim existe uma glândula chamada de glândula supra-renal, que é responsável pela síntese e
liberação de alguns hormônios.

Fonte: http://laboratoriodeanatomia.blogspot.com

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UROANÁLISES I

Dos cerca de 5 litros de sangue bombeados pelo coração a cada minuto,


aproximadamente 1.200 ml, ou seja, pouco mais de 20% deste volume flui, neste mesmo
minuto, através dos nossos rins. Trata-se de um grande fluxo se considerarmos as dimensões
anatômicas destes órgãos.
Os Rins
Os rins retiram o excesso de água, sais e resíduos do metabolismo protéico do sangue,
enquanto devolvem nutrientes e substâncias químicas ao sangue. Estão situados no
retroperitônio (atrás do peritônio) sobre a parede posterior do abdome, um de cada lado da
coluna vertebral no nível das vértebras T12-L3. O rim direito encontra-se logo abaixo do fígado
enquanto o esquerdo situa-se abaixo do baço e superiormente a cada rim encontramos a
glândula supra-renal. O rim direito situa-se um pouco mais abaixo do que o rim esquerdo,
provavelmente devido a sua relação com o fígado. Durante a vida os rins têm coloração marrom
avermelhada e medem aproximadamente 10 cm de comprimento, 5 cm de largura e 2,5 cm de
espessura e são envolvidos em toda sua superfície por um tecido fibroelástico fino chamado
cápsula renal.Cada rim possui duas faces
(uma anterior e uma posterior) , duas
bordas (uma medial e outra lateral) e dois
pólos ou extremidades (um superior e um
inferior).
Na margem medial côncava de cada
rim há uma fenda vertical,o hilo renal, onde
a artéria renal entra e a veia renal e a pelve
renal deixam o seio renal. A pelve renal é a
expansão afunilada, achatada da
extremidade superior do ureter. O ápice da
pelve renal é contínuo com o ureter. A pelve
renal recebe dois ou três cálices maiores, e
cada um deles se divide em dois ou três
cálices menores. Cada cálice menor é
entalhado pela papila renal, que é o ápice
da pirâmide renal, no qual a urina é
excretada
Ao realizarmos um corte frontal ( que
divide o rim em duas partes) é possível
reconhecer o córtex renal, uma camada mais externa e pálida, e a medula renal, uma camada
mais interna e escura. O córtex emite projeções para a medula denominadas colunas renais, que
separam porções cônicas da medula chamadas pirâmides. As pirâmides têm bases voltadas para
o córtex e ápices voltados para a medula, sendo que seus ápices são denominados papilas
renais.

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Os Ureteres
Os ureteres são ductos musculares com 25 a 30 cm de
comprimento, com luzes estreitas que conduzem urina dos
rins para a bexiga. Eles se originam da confluência dos vários
cálices renais, reunindo-se enquanto pelve renal. Os ureteres
descem então do abdome superior (onde estão os rins) até a
pelve posteriormente aos órgãos do trato gastrointestinal,
retroperitonealmente. A sua passagem junto de outras
estruturas condiciona estruturas onde é mais freqüente um
cálculo renal (pedra dos rins) ficar retido gerando obstrução:
estas estruturas incluem, a artéria ilíaca, o rebordo ósseo da
Pelve e a junção na entrada na Bexiga.
Os ureteres entram na bexiga posteriormente, e
fazem-no de forma oblíqua, envolvida pelas diversas camadas
musculares da bexiga, de modo a prevenir o refluxo da urina.
A urina é transportada pelos ureteres por meio de contrações
peristálticas, sendo transportadas algumas gotas a intervalos de 10-20 segundos

A Bexiga
A bexiga, uma víscera oca com fortes paredes musculares, é caracterizada por sua
distensibilidade e consiste num reservatório temporário para a urina variando de tamanho,
formato, posição e relações de acordo com seu conteúdo e com o estado das vísceras
adjacentes. Está situada na parte inferior do abdome (pelve menor), parcialmente superior e
parcialmente posterior ao púbis, nos homens situa-se diretamente anterior ao reto e, nas
mulheres está à frente da vagina e abaixo do útero.
É uma bolsa de parede elástica, dotada de musculatura lisa, possuindo fibras musculares
entrelaçada em todas as direções, originando o músculo detrussor. A túnica mucosa da maior
parte da bexiga vazia é pregueada, mas estas pregas desaparecem quando a bexiga está cheia.
A área da túnica mucosa que reveste a face interna da base da bexiga é chamada de trígono da
bexiga.
A bexiga urinária possui quatro faces, uma superior, duas ínfero–laterais e uma posterior
e anatomicamente pode ser dividida em ápice da bexiga (que aponta em direção a margem
superior da sínfise púbica quando a bexiga está vazia),fundo da bexiga, corpo da bexiga

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(principal parte da bexiga e localizado entre o ápice e o fundo) e o colo da bexiga (corresponde
ao fundo e as paredes ínfero-laterais).

A Uretra
A uretra é um conduto membranoso, que faz parte do sistema urinário, e pelo qual se
expele a urina desde a bexiga urinária até o meio externo. Na sua porção terminal existe um
conjunto de estruturas musculares, que formam o esfíncter uretral, e é responsável pela
continência urinária.
A uretra feminina e uretra masculina possuem diferenças anatômicas importantes e que
precisam ser reconhecidas. A uretra feminina mede aproximadamente uns 4 cm, que parte da
bexiga terminando no vestíbulo, entre o clitóris e a vagina e possui direção oblíqua para baixo e
para frente sendo levemente curva com a concavidade dirigida para frente. A uretra masculina
mede aproximadamente uns 16 cm, estendendo-se desde a bexiga até o final do pênis e
diferencia-se em três partes: prostática (porção mais dilatável, onde desembocam os canais
ejaculadores), membranosa (porção menos dilatável e mais estreita) e esponjosa (porção que
atravessa o corpo esponjoso do pênis).
Na mulher, a uretra faz parte exclusivamente do sistema urinário, já no homem, a uretra
faz parte dos sistemas urinário e reprodutor. Quando a uretra masculina deixa a bexiga, ela
passa através da próstata e se estende ao longo do comprimento do pênis. Assim, a uretra
masculina atua com duas finalidades: conduz a urina e o esperma.

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Você sabia...
Infecção do Trato Urinário (ITU)
As infecções podem acometer o trato urinário em qualquer altura. Dependendo da região
em que se localizem, são chamadas de uretrites (na uretra), cistites (na bexiga urinária)
ou pielonefrites (no parênquima renal).
Mais de 80% das ITUs são causadas por uma bactéria que vive no nosso intestino,
chamada de Escherichia coli (E.coli). A infecção ocorre quando por algum motivo essas
bactérias que deveriam permanecer no trato intestinal conseguem penetrar na uretra e
alcançar a bexiga. A E.coli é a mais comum, porém, várias outras bactérias do trato
intestinal podem também causar infecção.
Dois fatores anatômicos explicam a maior propensão das mulheres a desenvolverem
cistites: Primeiro, a entrada da uretra na mulher fica muito mais próximo do ânus do que
nos homens. Segundo, a uretra do homem é mais extensa, fazendo com que a E.coli
tenha que percorrer um caminho maior até chegar a bexiga.
Fonte: http://www.medipedia.pt/home/home.php?module=artigoEnc&id=299

2.3 Vascularização renal


Os rins são supridos pela artéria renal, que se origina da aorta abdominal. A artéria renal
dividi-se no hilo em um ramo anterior e um ramo posterior. Estes, dividem-se em várias artérias
segmentares que irão irrigar vários segmentos do rim. Essas artérias, por sua vez, dão origem às
artérias interlobares, que na junção cortiço-medular dividem-se para formar as artérias
arqueadas e posteriormente as artérias interlobulares. Dessas artérias surgem as arteríolas
aferentes, as quais sofrem divisão formando os capilares dos glomérulos, que em seguida,
confluem-se para forma a arteríola eferente. A arteríola eferente dá origem aos capilares
peritubulares a as arteríolas retas, responsáveis pelo suprimento arterial da medula renal.

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2.4 Anatomia Microscópica dos rins


Cada rim é formado por cerca de 1 milhão de pequenas estruturas chamadas de néfron.
Cada néfron é capaz de eliminar resíduos do metabolismo do sangue, manter o equilíbrio
hidroeletrolítico e ácido-básico do corpo humano, controlar a quantidade de líquidos no
organismo, regular a pressão arterial e secretar hormônios, além de produzir a urina. Por esse
motivo dizemos que o néfron é a unidade funcional do rim, pois apenas um néfron é capaz de
realizar todas as funções renais.
O néfron é uma longa estrutura tubular microscópica que possui, em uma das
extremidades, uma expansão em forma de taça, denominada cápsula de Bowman, que se
conecta com o túbulo contorcido proximal, que continua pela alça de Henle e pelo túbulo
contorcido distal; este desemboca em um tubo coletor.
Cápsula Glomerular ou Cápsula de Bowman é o final dilatado do néfron,
formado por uma camada de células epiteliais;
O glomérulo é um novelo de capilares localizados dentro da cápsula de Bowman.
Ao penetrar na cápsula de Bowman, a arteríola aferente divide-se em várias alças
capilares, formando o glomérulo. Esses capilares voltam a se unir formando a
arteríola eferente que sai da cápsula de Bowman pelo pólo vascular;
O túbulo Contorcido
proximal contínuo a cápsula
glomerular é composto de um
segmento contornado proximal
e de um segmento retilíneo
proximal. O segmento
contornado está contido dentro
do córtex, e o segmento
retilíneo estende-se
parcialmente para a periferia da
medula. Tem como principal
função a reabsorção volumosa
de água e solutos filtrados;
A alça de Henle é o segmento
do néfron que vem logo após o túbulo contorcido proximal, sendo uma estrutura

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tubular em forma de U, com uma porção espessa e outra delgada. Os néfrons


situados próximos à superfície renal possuem alças mais curtas, enquanto que os
néfrons situados mais profundamente no parênquima renal, possuem alças mais
longas. Nas alças longas, a curvatura é sempre na parte delgada e nas alças
curtas, a curvatura ocorre na parte espessa. A maior parte da porção descendente
é delgada; já a porção ascendente, em sua maior parte, é espessa.;
O túbulo contorcido distal é o segmento do néfron que vem logo após a alça
de Henle . Ao penetrar na região do córtex renal, a parte espessa da alça de Henle
conserva a mesma estrutura histológica, porém torna-se tortuosa e passa a ser
denominada de túbulo contorcido distal. Esta estrutura é importante na
reabsorção de água e sais. Seu funcionamento é estreitamente relacionado com o
ADH (hormônio anti-diurético);
O túbulo coletor é o segmento subseqüente ao túbulo contorcido distal. Os
túbulos coletores se unem formando tubos cada vez mais calibrosos, seguindo
uma trajetória retilínea até desembocarem na papila renal. Neste segmento ocorre
também reabsorção de NaCl acompanhado de água, como ocorre no túbulo
contornado distal. Da mesma forma como no segmento anterior, a reabsorção de
sal depende muito do nível do hormônio aldosterona e a reabsorção de água
depende do nível do ADH.

3. FISIOLOGIA RENAL

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3.1 Introdução
Os rins são fundamentais na regulação do meio interno, em que estão imersas as células
de todos os órgãos, eles desempenham duas funções primordiais no organismo: 1. eliminação de
produtos terminais do metabolismo orgânico, como uréia, creatinina e ácido úrico, dentre outros
e, 2. controle das concentrações da água e da maioria dos constituintes dos líquidos do
organismo, tais como sódio, potássio, cloro, bicarbonato e fosfatos. Os principais mecanismos
através os quais os rins exercem as suas funções são a filtração glomerular, a reabsorção
tubular e a secreção tubular de diversas substâncias.
3.2 Função do néfron
A função essencial do néfron consiste em depurar o plasma sanguíneo das substâncias
que devem ser eliminadas do organismo. O néfron filtra uma grande proporção do plasma
sanguíneo através da membrana glomerular. Cerca de 1/5 do volume que atravessa o glomérulo
é filtrado para a cápsula de Bowman que coleta o filtrado glomerular. Em seguida, à medida que
o filtrado glomerular atravessa os túbulos, as substâncias necessárias, como a água e grande
parte dos eletrólitos são reabsorvidas, enquanto as demais substâncias, como uréia, creatinina e
outras, não são reabsorvidas. A água e as substâncias reabsorvidas nos túbulos voltam aos
capilares peritubulares para a circulação venosa de retorno, sendo lançadas nas veias arqueadas,
e finalmente, na veia renal. Uma parte dos produtos eliminados pela urina é constituída de
substâncias que são secretadas pelas paredes dos túbulos e lançadas no líquido tubular. A urina
formada nos túbulos é constituída por substâncias filtradas do plasma e pequenas quantidades
de substâncias secretadas pelas paredes tubulares.
A membrana glomerular possui três camadas principais: uma camada endotelial, do
próprio capilar, uma camada ou membrana basal e uma camada de células epiteliais na face
correspondente à cápsula de Bowman. Apesar da presença das três camadas, a permeabilidade
da membrana glomerular é cerca de 100 a 1.000 vezes maior do que a permeabilidade do capilar
comum. A fração de filtração glomerular é de aproximadamente 125 ml/minuto. Em 24 horas são
filtrados aproximadamente 180 litros de líquido por todos os glomérulos (filtrado glomerular),
para formar de 1 a 1,5 litros de urina, o que demonstra a enorme capacidade de reabsorção dos
túbulos renais.
O líquido reabsorvido nos túbulos passa para os espaços intersticiais renais e daí para os
capilares peritubulares. Para atender a essa enorme necessidade de reabsorção, os capilares
peritubulares são extremamente porosos. A grande permeabilidade da membrana glomerular é
dependente da estrutura daquela membrana e das numerosas fendas e poros existentes, cujo
diâmetro permite a livre passagem das pequenas moléculas e impede a filtração das moléculas
maiores, como as proteínas. O filtrado glomerular possui aproximadamente a mesma composição
do plasma, exceto em relação às proteínas e células sanguíneas. Existem no filtrado glomerular,
diminutas quantidades de proteínas, principalmente as de baixo peso molecular, como a
albumina.

Você sabia...
Mieloma Múltiplo e Proteína de Bence Jones
O mieloma múltiplo é o câncer das células plasmáticas ou plasmócitos, as responsáveis
pela produção dos anticorpos (imunoglobulinas ou gamaglobulinas). O plasmócitos se
originam dos linfócitos. Seguindo os mesmos mecanismos de qualquer câncer, no
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mieloma mutações genéticas fazem com que o organismo perca o controle da produção
de plasmócitos, que passam a se multiplicar indefinidamente. O resultado é um acumulo
de células plasmáticas malignas na medula óssea (órgão responsável pela produção de
todas as células do sangue) e um excesso de anticorpos (que são proteínas) produzido
UROANÁLISES I

3.3 Como funcionam os rins

O sangue chega ao rim através da artéria renal, que se ramifica muito no interior do
órgão, originando grande número de arteríolas aferentes, onde cada uma ramifica-se no interior
da cápsula de Bowman do néfron, formando um enovelado de capilares denominado glomérulo
de Malpighi.

O sangue arterial é conduzido sob alta pressão nos capilares do glomérulo. Essa pressão,
que normalmente é de 70 a 80 mmHg, tem intensidade suficiente para que parte do plasma
passe para a cápsula de Bowman, processo denominado filtração. Essas substâncias
extravasadas para a cápsula de Bowman constituem o filtrado glomerular, que é semelhante,
em composição química, ao plasma sanguíneo, com a diferença de que não possui proteínas,
incapazes de atravessar os capilares glomerulares.

O filtrado glomerular passa em seguida para o túbulo contorcido proximal, cuja parede é
formada por células adaptadas ao transporte ativo. Nesse túbulo, ocorre reabsorção ativa de
sódio. A saída desses íons provoca a remoção de cloro, fazendo com que a concentração do
líquido dentro desse tubo fique menor (hipotônico) do que do plasma dos capilares que o
envolvem. Com isso, quando o líquido percorre o ramo descendente da alça de Henle, há
passagem de água por osmose do líquido tubular (hipotônico) para os capilares sanguíneos
(hipertônicos) – ao que chamamos reabsorção. O ramo descendente percorre regiões do rim
com gradientes crescentes de concentração. Consequentemente, ele perde ainda mais água para
os tecidos, de forma que, na curvatura da alça de Henle, a concentração é elevada.

Esse líquido muito concentrado passa então a percorrer o ramo ascendente da alça de
Henle, que é formado por células impermeáveis à água e que estão adaptadas ao transporte
ativo de sais. Nessa região, ocorre remoção ativa de sódio, ficando o líquido tubular hipotônico.
Ao passar pelo túbulo contorcido distal, que é permeável à água, ocorre reabsorção por osmose
para os capilares sanguíneos. Ao sair do néfron, a urina entra nos dutos coletores, onde ocorre a
reabsorção final de água.

Dessa forma, estima-se que em 24 horas são filtrados cerca de 180 litros de fluido do
plasma; porém são formados apenas 1 a 2 litros de urina por dia, o que significa que
aproximadamente 99% do filtrado glomerular é reabsorvido.

Além desses processos gerais descritos, ocorre, ao longo dos túbulos renais, reabsorção
ativa de aminoácidos e glicose. Desse modo, no final do túbulo distal, essas substâncias já não

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são mais encontradas. Os capilares que reabsorvem as substâncias úteis dos túbulos renais se
reúnem para formar um vaso único, a veia renal, que leva o sangue para fora do rim, em
direção ao coração.

Imagem: GUYTON, A.C. Fisiologia Humana. 5ª ed., Rio de Janeiro, Ed. Interamericana, 1981.

O fluxo sanguíneo através dos rins corresponde, em média, à aproximadamente 20% do


débito cardíaco, podendo variar, mesmo em condições normais. Em um adulto de 60 Kg de peso,
o débito cardíaco corresponde a 4.800 ml/min; a fração renal do débito cardíaco será de 960 ml.
O fluxo sanguíneo renal é muito maior que o necessário para o simples suprimento de oxigênio.
Cerca de 90% do fluxo sanguíneo renal são distribuídos pela camada cortical, onde abundam os
glomérulos e, apenas 10% se distribuem pela região medular. Os rins possuem um eficiente
mecanismo de autoregulação que permite regular o fluxo de sangue e, através dele, regular a
filtração glomerular. Este mecanismo é capaz de manter um fluxo renal relativamente constante
com pressões arteriais que variam entre 80 e 180 mmHg. Sob determinadas condições, como por
exemplo na depleção líquida ou no baixo débito cardíaco, quando o fluxo renal não pode ser
mantido, o mecanismo autoregulador preserva a filtração glomerular, produzindo vasoconstrição
da arteríola eferente, que mantém o gradiente transglomerular de pressão. A resistência vascular
renal se ajusta automaticamente às variações na pressão de perfusão renal. As arteríolas
aferente e eferente são influenciadas por muitos dos estímulos nervosos e hormonais vasculares,
embora sua resposta dependa das necessidades renais e seja moderada pelos mecanismos
autoregulatórios.

3.4 Filtração Glomerular


A filtração do plasma nos glomérulos obedece às diferenças de pressão existentes no
glomérulo. A pressão nas artérias arqueadas é de aproximadamente 100 mmHg. As duas
principais áreas de resistência ao fluxo renal através do néfron são as arteríolas aferente e
eferente. A pressão de 100 mmHg na arteríola aferente, se para uma pressão média de 60

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mmHg nos capilares do glomérulo, sendo esta a pressão que favorece a saída do filtrado do
plasma para a cápsula de Bowman. A pressão no interior da cápsula de Bowman é de cerca de
18 mmHg. Como nos capilares glomerulares 1/5 do plasma filtra para o interior da cápsula, a
concentração de proteínas aumenta cerca de 20% à medida que o sangue passa pelos capilares
do glomérulo, fazendo com que a pressão osmótica do plasma se eleve de 28 para 36 mmHg,
com um valor médio de 32 mmHg, nos capilares glomerulares. A pressão no interior da cápsula
de Bowman e a pressão osmótica das proteínas do plasma são as forças que tendem a dificultar
a filtração do plasma nos capilares glomerulares. Dessa forma a pressão efetiva de filtração nos
capilares glomerulares é de apenas 10 mmHg, ou seja, a diferença entre a pressão arterial média
nos capilares (60 mmHg) e a soma da pressão da cápsula de Bowman com a pressão osmótica
do plasma.
A membrana capilar glomerular tem poros de aproximadamente 30 angstroms de
diâmetro e, portanto, partículas de maiores dimensões, podem atravessar esses poros. Seu peso
molecular é da ordem de 80.000 a 90.000 daltons.
Diversos fatores podem afetar a filtração glomerular. O fluxo sanguíneo renal aumentado
pode aumentar o coeficiente de filtração e a quantidade final de urina produzida. O grau de
vasoconstrição das arteríolas aferentes dos glomérulos faz variar a pressão glomerular e
conseqüentemente a fração de filtração glomerular. O mesmo ocorre na estimulação simpática
neurogênica ou através de drogas simpáticas como a adrenalina, por exemplo. O estímulo pela
adrenalina produz constrição intensa das arteríolas aferentes, com grande redução da pressão
nos capilares glomerulares que podem reduzir drasticamente a filtração do plasma e conseqüente
formação de urina.

3.5 Reabsorção Tubular


O filtrado glomerular que alcança os túbulos do néfron flui através do túbulo proximal,
alça de Henle, túbulo distal e canal coletor, até atingir a pelve renal. Ao longo desse trajeto mais
de 99% da água filtrada no glomérulo é reabsorvida, e o líquido que penetra na pelve renal
constitui a urina propriamente dita. O túbulo proximal é responsável pela reabsorção de cerca de
65% da quantidade de água filtrada nos capilares glomerulares, sendo o restante reabsorvido na
alça de Henle e no túbulo distal.
A glicose e os aminoácidos são quase inteiramente reabsorvidos com a água enquanto
outras substâncias, por não serem reabsorvidos nos túbulos, tem a sua concentração no líquido
tubular aumentada em cerca de 99 vezes. A reabsorção da glicose exemplifica bem os
mecanismos de reabsorção de determinadas substâncias dentro dos túbulos renais. Normalmente
não existe glicose na urina ou no máximo, existem apenas ligeiros traços daquela substância,
enquanto no plasma a sua concentração oscila entre 80 e 120 mg%. Toda a glicose filtrada é
rapidamente reabsorvida nos túbulos. À medida que a concentração plasmática de glicose se
aproxima dos 200 mg%, o mecanismo reabsortivo é acelerado até atingir o ponto máximo, em
que a reabsorção se torna constante, não podendo ser mais aumentada. Esse ponto é chamado
limiar de reabsorção da glicose. Acima do valor plasmático de 340 mg%, a glicose deixa de ser
completamente absorvida no sistema tubular e passa para a urina, podendo ser facilmente
detectada pelos testes de glicosúria.
Os produtos terminais do metabolismo, como a uréia, creatinina e uratos tem outro
tratamento nos túbulos renais. Apenas quantidades moderadas de uréia, aproximadamente 50%
do total filtrado, são reabsorvidos nos túbulos enquanto a creatinina não é reabsorvida. Os uratos
são reabsorvidos em cerca de 85%, da mesma forma que diversos sulfatos, fosfatos e nitratos.
Como todos são reabsorvidos em muito menor proporção que a água, a sua concentração
aumenta significativamente na urina formada.
A reabsorção nos túbulos renais obedece à diferença de concentração das substâncias
entre o espaço intersticial peritubular e os vasos retos peritubulares. A reabsorção de água é

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UROANÁLISES I

dependente da reabsorção de íon sódio, que é o soluto mais reabsorvido nos túbulos renais.
Existem ainda dois mecanismos de intercâmbio muito importantes. O primeiro se refere à troca
de íon sódio (Na+) pelo íon hidrogênio (H+), nos túbulos, como parte dos mecanismos de
regulação renal do equilíbrio ácido-básico. Quando há necessidade de eliminar íon hidrogênio, os
túbulos secretam ativamente o hidrogênio para a luz, dentro do filtrado e, em troca, para manter
o equilíbrio iônico absorvem o íon sódio. O outro mecanismo de intercâmbio corresponde à
reabsorção de íons cloreto (Cl-) quando há necessidade de se eliminar ácidos orgânicos pelo
mecanismo de secreção tubular. Os mecanismos de transporte na reabsorção tubular podem ser
ativos ou passivos, dependendo da necessidade de utilizar energia celular para a sua realização.
O sódio, a glicose, os fosfatos e os aminoácidos estão entre as substâncias cujo transporte é feito
com utilização de energia celular, transporte ativo, enquanto o transporte da água, uréia e
cloretos não necessita consumir a energia das células (transporte passivo).
3.5 Secreção Tubular
A secreção tubular atua em direção oposta à reabsorção. As substâncias são
transportadas do interior dos capilares para a luz dos túbulos, de onde são eliminadas pela urina.
Os mecanismos de secreção tubular, à semelhança dos mecanismos de reabsorção, podem ser
ativos ou passivos, quando incluem a utilização de energia pela célula para a sua execução ou
não. Os processos de secreção mais importantes estão relacionados à secreção tubular de íon
hidrogênio, potássio e amônia. Determinadas substâncias são eliminadas do organismo pelos
mecanismos de secreção tubular, após metabolização no fígado. Os processos de reabsorção e
de secreção ativa dos túbulos distais são influenciados por hormônios, pela quantidade total de
solutos, pela dieta, pelo equilíbrio ácido-base e pelo fluxo do filtrado.
Reabsorção e Secreção no néfron

Figura extraída do vol 3 Sônia Lopes

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UROANÁLISES I

Você sabia...
Clearance ou depuração de creatinina
A maior parte da informação clínico-laboratorial utilizada para a determinação da função
renal é derivada ou relacionada com a medição da depuração de alguma substância pelos
rins. A depuração de uma substância é definida como a quantidade de sangue ou plasma
completamente liberada desta substância, por unidade de tempo, através da filtração
renal. O teste de depuração da creatinina é realizado com medição da creatinina em
uma amostra de urina colhida em um tempo estabelecido e também em uma amostra de
sangue colhida no período de colheita da amostra de urina.
A creatinina é um produto da degradação da fosfocreatina (creatina fosforilada) no
músculo, e é geralmente produzida em uma taxa praticamente constante pelo corpo —
taxa diretamente proporcional à massa muscular da pessoa: quanto maior a massa
muscular, maior a taxa. Através da medida da creatinina do sangue, do volume urinário
das 24 horas e da creatinina urinária é possível calcular a taxa de filtração glomerular,
que é um parâmetro utilizado em exames médicos para avaliar a função renal.
Fonte : http://pt.wikipedia.org/wiki/Creatinina

Fixando o conhecimento

1) Cada rim é composto por aproximadamente:


a) 100 néfrons
b) 1.000 néfrons
c) 10.000 néfrons
d) 1.000.000 néfrons
2) O fluxo sanguíneo renal total é de aproximadamente:
a) 60 ml/min
b) 120 ml/min
c) 600 ml/min
d) 1.200 ml/min
3) O rim normal desempenha todas as funções seguintes, com exceção de:
a) Remover os resíduos metabólicos do sangue
b) Regular o balanço ácido-básico do organismo
c) Retirar o excesso de proteína do sangue
d) Regular o teor de água do organismo
4) O filtrado glomerular é descrito como:
a) Um filtrado de proteínas do plasma
b) Um filtrado do plasma que contém glicose e proteínas
c) Um filtrado do plasma sem glicose nem proteínas
d) Um ultrafiltrado do plasma que não contém proteínas

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UROANÁLISES I

4. EXAME DE URINA E OS TIPOS DE AMOSTRA

4.1 EXAME DE URINA


Pelo baixo custo e facilidade de obter amostras, a análise urinária é um dos exames mais
rotineiramente realizado no laboratório de análises clínicas, principalmente por fornecer ao clínico
dados informativos sobre patologias renais e do trato urogenital, bem com, sobre doenças extra-
renais. A amostra matinal recente, não sofre influências de alimentação e nem de exercício, e
nem contaminação bacteriana, sendo a mais adequada por estar mais concentrada, aumentado
assim a possibilidade de conter elementos anormais ou normais em concentrações elevadas.
A coleta da urina de forma correta é fator decisivo para obter um resultado realmente
condizente com a clínica e funcionamento orgânico daquele momento, para colher uma
amostra de urina que represente o estado metabólico do paciente, é necessário controlar
certos aspectos da coleta, hora, duração, dieta e medicamentos ingeridos e métodos da coleta.
O exame de urina é realizado com o objetivo de verificar a existência de sinais
prematuros de uma doença. Além disso, pode ser usado para detectar infecção do trato urinário
ou sangue na urina além de ser usado para monitorar diabetes ou doença renal. A investigação
de doença renal tem geralmente três finalidades principais: Estabelecer um diagnóstico; avaliar
as complicações da função renal e monitorar o avanço de doenças ou o resultado da medicação
administrada.

4.2 COLETA E MANIPULAÇÃO DA AMOSTRA


A urina é um material biologicamente perigoso, o que exige a observância de precauções
universais. As análises devem sempre ser feitas com luvas e as amostras nunca devem ser
centrifugadas sem tampa. O descarte da urina pode ser feito numa pia, jogando-se depois
grande quantidade de água; o recipiente em que a amostra ficou deve ser descartado à modo de
lixo com risco biológico.
O fato de a amostra de urina ser de fácil e rápida obtenção, muitas vezes induz a certo
descuido no tratamento de amostra após a coleta. Ocorrem alterações na composição da urina
não só in vivo, mas também in vitro, havendo, portanto, necessidade de técnicas corretas no
manuseio da amostra após a sua colheita.

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UROANÁLISES I

Há três regras importantes quanto aos cuidados com a amostra de urina que, na realidade,
aplicam-se a todas as amostras recebidas pelo laboratório:

1. A amostra deve ser colhida em recipiente limpo e seco. Recomenda-se o uso de


recipientes descartáveis por serem econômicos e por eliminarem a possibilidade de
contaminação decorrente de lavagem incorreta. Esses recipientes existem em vários
tamanhos e formas; inclusive bolsas plásticas com adesivo para colheita de amostras
pediátricas e recipientes grandes para amostras de 24 horas. As tampas de rosca tendem
a produzir menos vazamento, quando bem fechados, do que as de encaixe.
2. O recipiente de amostra deve ser devidamente etiquetado com o nome do paciente, data
e hora da colheita e, se conveniente, informações adicionais tais como: a identificação do
hospital e o nome do médico. Deve-se lembrar que as amostras não etiquetadas,
colocadas sobre suas respectivas requisições, podem ser facilmente removidas e trocadas.
As etiquetas devem ser postas sobre o recipiente, e não sobre a tampa.
3. A amostra deve ser entregue imediatamente ao laboratório e analisada, dentro de uma
hora. A amostra que não puder ser entregue ou analisada em uma hora deverá ser
refrigerada ou receber conservante químico apropriado.

Coletor Pediátrico Recipiente para coleta


4.3 CONSEVAÇÃO
O método de conservação mais usado é a refrigeração, capaz de evitar a decomposição
bacteriana da urina pelo período de uma noite. A refrigeração da amostra pode provocar
aumento da densidade na medição por urodensímetro, bem como a precipitação de fosfatos e
uratos amorfos, que podem prejudicar a análise microscópica do sedimento. É preciso deixar que
amostra volte à temperatura ambiente antes da análise química com fitas reativas; isso corrigirá
a densidade e poderá dissolver alguns dos uratos amorfos. Quando a amostra tiver de ser
transportada a grandes distâncias e não for possível refrigerar, deve-se acrescentar conservantes
químicos. O conservante ideal deve ser bactericida, inibir a uréase e conservar elementos
figurados do sedimento, ao mesmo tempo em que não interfere nos testes bioquímicos.

4.4 ALTERAÇÕES NA URINA NÃO CONSERVADA


Os problemas criados pela conservação podem ser considerados pouco importantes se
levarmos em cota as alterações que ocorrem quando a urina não é conservada. Amostras
mantidas à temperatura ambiente por mais de uma hora, sem conservantes, podem apresentar
as alterações abaixo:

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UROANÁLISES I

1. Aumento do pH decorrente da degradação da uréia e sua conservação em amônia por


bactérias produtoras de uréase;
2. Diminuição da glicose em decorrência de glicólise e de sua utilização pelas bactérias;
3. Diminuição das cetonas em decorrência da volatilização;
4. Diminuição da bilirrubina em decorrência da exposição à luz;
5. Diminuição do uribilinogênio por sua oxidação e conversão em urobilina;
6. Aumento do nitrito em decorrência da redução do nitrato pelas bactérias;
7. Aumento do número de bactérias;
8. Aumento da turvação, causado por proliferação bacteriana e possível precipitação de
material amorfo;
9. Desintegração das hemácias e dos cilindros, particularmente na urina alcalina e diluída;
10. Alterações na cor devidas a oxidação ou redução de metabólitos.

4.5 TIPOS DE AMOSTRAS


Pra coletar uma amostra que seja realmente representativa do estado metabólico do
paciente, muitas vezes é necessário controlar certos aspectos da coleta, como hora, duração,
dieta e medicamentos ingeridos e método de colheita. É importante dar instruções aos pacientes
quando eles tiverem de seguir procedimentos especiais de colheita.
Amostras Aleatórias (ao acaso)
Trata-se do tipo mais comum devido à facilidade de coleta e ao menor desconforto para o
paciente. É útil para detectar anormalidades que sejam bastante evidentes, em caso de pacientes
no pronto-socorro e urgências. Algumas vezes geram resultados errados devido à ingestão de
alimentos ou à atividade física realizada pouco antes da colheita da amostra.
Primeira amostra da manhã
Amostra ideal para exame de rotina ou Tipo I de preferência deve ser colhida no
laboratório, se não for possível deve ser levado ao laboratório dentro de 1 hora. Este tipo de
amostra é essencial para evitar resultados falsos negativos no teste de gravidez e para avaliar a
proteinúria ortostática. Trata-se de uma amostra mais concentrada o que garante a detecção de
substâncias que podem não estar presentes nas amostras aleatórias, mais diluídas. Deve-se
instruir o paciente para colher a amostra logo que se levantar e entregá-la ao laboratório dentro
de uma hora
Amostra em Jejum (segunda da manhã)
É resultado da segunda micção após um período de jejum, por isso é diferente da
primeira amostra da manhã. Essa amostra não contém nenhum metabólito proveniente do
metabolismo dos alimentos ingeridos antes do início do período de jejum e é recomendado para
a monitorização de glicosúria (glicose na urina).
Amostra colhida duas horas após a refeição (pós-prandial)
Instrui-se o paciente para urinar, pouco antes de se alimentar normalmente, e colher uma
amostra 2 horas após comer. Faz-se a prova de glicosúria e os resultados são utilizados
principalmente para controlar a terapia com insulina em pessoas com diabetes mellitus. Pode-se
fazer uma avaliação mais completa do estado do paciente se for feita uma comparação entre os
resultados da amostra colhida 2 horas após a refeição e os da amostra colhida em jejum.

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UROANÁLISES I

Amostra para teste de tolerância à glicose (TTG)


As amostras de urina são colhidas no mesmo instante em que se colhe o sangue para
fazer o TTG. O número de amostras varia segundo a duração desejada do teste. Na maioria das
vezes as amostras são colhidas: em jejum, depois de ½ hora, depois de 1 hora, depois de 2
horas e depois de 3 horas, consecutivamente após a ingestão da carga de glicose necessária na
prova de TTG. Se possível também serão colhidas amostras de 4, 5 e 6 horas após a ingestão de
glicose. Verificam-se na uroanálise a glicosúria e cetonúria e os resultados são registrados
juntamente com os da glicemia para avaliar a capacidade do paciente em metabolizar
determinada quantidade de glicose.
Amostra de 24 horas ( ou com tempo marcado)
Muitas vezes é necessário medir a quantidade exata de determinada substância química
na urina, ao invés de registrar apenas sua presença ou ausência. Deve-se usar uma amostra
colhida cronometrada cuidadosamente para conseguir resultados quantitativos exatas. Quando a
concentração de substância a ser medida varia segundo as atividades do dia, como exercícios,
refeições e metabolismo orgânico, é necessário a coleta de 24 horas. Se, por outro lado, sua
concentração permanece constante, a amostra pode ser colhida por um período mais curto.
Entretanto deve-se tomar cuidado para manter o paciente suficientemente hidratado durante os
períodos de coletas curtas. Os pacientes devem ser claramente instruídos sobre os
procedimentos da colheita com tempo marcado. Para conseguir uma amostra precisamente
cronometrada, é necessário iniciar o período de colheita com a bexiga vazia.
1º dia – 7 da manhã: o paciente urina e descarta a amostra. O paciente então colhe toda urina
nas próximas 24 horas.(Manter refrigerada)
2º dia – 7 da manhã: o paciente urina e junta toda esta urina com aquela previamente colhida.
Ao chegar ao laboratório, a amostra de 24 horas deve ser homogeneizada e seu volume
medido e registrado precisamente. Usar pequena quantidade para os testes necessários e não
desprezar o resto, pois pode haver necessidade de repetição do teste ou a realização de outros.
A conservação a amostra deve ser feita com um conservante não tóxico para o paciente e
não deve interferir nas análises a serem feitas. Antes de iniciar a colheita deve-se dar ao paciente
todas as informações necessárias para o modo correto da colheita e os testes a serem realizados.
Para garantir a precisão desse tipo de amostra pode-se dar ao paciente uma quantidade
conhecida de marcador químico atóxico como ácido – 4 – aminobenzoico, no inicio do período de
colheita. A concentração do marcador excretada na amostra é medido para se determinar se a
amostra está completa ou não. Recomenda-se o uso de um marcador inerte, injetável, cuja
concentração possa ser controlada, para a medição de creatinina urinaria endógena, que varia
segundo a ingestão alimentar e a nossa massa corpórea.
Amostra colhida por cateter
A amostra é colhida em condição estéreis passando-se um tubo através da uretra até a
bexiga. Usado para urocultura. A urocultura também pode ser feita na urina colhida para exames
tipo I ou de rotina, entretanto deve-se primeiro fazer a assepsia para evitar contaminação.Outra
indicação menos usada é quando se deseja avaliar separadamente a função de cada rim. As
amostras provenientes do rim direito e esquerdo são colhidos separadamente, passando um
cateter através do ureter de cada rim.

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UROANÁLISES I

Aspiração Suprapúbica
A amostra é colhida pela punção da bexiga. Este método propicia amostra para cultura de
bactérias completamente livre de contaminação externa. Este tipo de amostra também pode ser
usado para exame citológico.
Amostras pediátricas
Usar coletores de plástico transparente com adesivo para prender a área genital de
meninos e meninas. Amostras estéreis pode ser obtida por cateterização ou aspiração
suprapúbica. As análises bioquímicas quantitativas podem ser feitas na urina de lactentes,
extraídas de fraldas descartáveis durante um período de tempo determinado.
Coleta estéril de jato médio

Coletar em pote (frasco) estéril. É útil para realização de cultura em urinas suspeitas de infecção
bacteriana.

Como coletar a urina:

Mulheres: De preferência no vaso sanitário, sentar com as pernas afastadas, fazer assepsia da
vagina (lavar com água e sabão, enxaguar bem e secar) destampar o frasco estéril. Com uma
das mãos afastar os grandes lábios e com a outra segurar o frasco já destampado. Desprezar o
primeiro jato (primeira porção da urina que sai). Colher a porção média no frasco estéril,
urinando em jato para que a urina não escorra na região genital. Desprezar o restante da
micção. Tampar o frasco imediatamente. Salvo casos graves evitar coletar em período menstrual.

Homens: fazer assepsia do pênis (lavar com água e sabão, enxaguar bem e secar) destampar o
frasco estéril, retrair o prepúcio com uma das mãos e com a outra segurar o frasco já
destampado. Desprezar o primeiro jato de urina. Colher a porção média no frasco estéril
urinando em jato para que a urina não escorra na região genital. Desprezar o restante da
micção. Tampar o frasco imediatamente. Não é necessário colher grande volume, 10 a 20 ml é
ideal.
Os tipos de amostras e coletas mais usuais são estas, existem outros tipos de amostras que
podem ser colhidas, dependendo da análise que é necessário ser realizada além do estado de
saúde em que se encontra o paciente.

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UROANÁLISES I

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UROANÁLISES I

Fixando o conhecimento

1- É previsível que uma amostra não conservada, colhida às 8 horas da manhã e conservada
à temperatura ambiente até o início do turno da tarde, apresente:

1. Menos glicose
2. Mais bactérias e nitrito
3. Menor pH e menos turvação
4. Grande número de elementos celulares
a)1,2 e 3 b)1,2 e 4 c) 1 e 2 apenas d) apenas 4

2- A desintegração das hemácias será mais rápida na urina:

a) Concentrada e ácida
b) Concentrada e alcalina
c) Diluída e ácida
d) Diluída e alcalina

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UROANÁLISES I

3- As análises quantitativas da urina são feitas com:

a) Primeira amostra da manhã


b) Amostras com tempo marcado
c) Amostra colhida em jato médio
d) Aspiração suprapúbica

4- Quando se tem um resultado negativo no teste de urina para detecção de gravidez em


amostra aleatória, pode ser necessário repeti-lo com o uso de uma amostra de tipo:

a) Estéril
b) Primeira da manhã
c) Em jejum
d) De 24 horas

5- O que é proteinúria ortostática e com evitá-la?

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UROANÁLISES I

5. DOENÇAS DO TRATO URINÁRIO

5.1. INTRODUÇÃO

O trato urinário pode ser acometido por diversas patologias. A variedade e complexidade das
doenças impossibilitam o estudo detalhado de cada uma delas ao longo do nosso curso, porém
faremos uma pequena discussão acerca das três distúrbios com maior incidência na população. O
conhecimento dessas patologias facilitará o entendimento dos achados laboratoriais.

5.2INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO

A infecção sintomática do trato urinário (ITU) situa-se entre as mais freqüentes infecções
bacterianas do ser humano, figurando como a segunda infecção mais comum na população em
geral, predominando entre os adultos em pacientes do sexo feminino.
A infecção urinária pode comprometer somente o trato urinário baixo, o que especifica o
diagnóstico de cistite, ou afetar simultaneamente o trato urinário inferior e o superior; neste
caso, utiliza-se a terminologia infecção urinária alta, também denominada pielonefrite. A infecção
urinária baixa ou cistite pode ser sintomática ou não.
As infecções do trato urinário podem ser complicadas ou não complicadas, as primeiras tendo
maior risco de falha terapêutica e sendo associadas a fatores que favorecem a ocorrência da
infecção. A infecção urinária é complicada quando ocorre em um aparelho urinário com
alterações estruturais ou funcionais. Habitualmente, as cistites são infecções não complicadas
enquanto as pielonefrites, ao contrário, são mais freqüentemente complicadas, pois em geral
resultam da ascensão de microrganismos do trato urinário inferior e estão freqüentemente
associadas com a presença de cálculos renais.
A maior suscetibilidade à infecção no sexo feminino é devida às condições anatômicas: uretra
mais curta e sua maior proximidade com vagina e com ânus. Outros fatores que aumentam o
risco de ITU nas mulheres incluem: episódios prévios de cistite, o ato sexual, o uso de certas
geléias espermicidas, a gestação e o número de gestações, o diabetes (apenas no sexo feminino)
e a higiene deficiente, mais freqüente em pacientes com piores condições socioeconômicas e
obesas.
A infecção do trato urinário baixo (cistite), quando sintomática, exterioriza-se clinicamente
pela presença habitual de disúria, urgência miccional, polaciúria, nictúria e dor suprapúbica.
Febre, neste caso, não é comum. Na anamnese, a ocorrência prévia de quadros semelhantes,
diagnosticados como cistite, deve ser valorizada. O aspecto da urina pode também trazer
informações valiosas: urina turva (pela presença de piúria) e/ou avermelhada (pela presença de
sangue), causada por cálculo e/ou pelo próprio processo inflamatório. A infecção do trato urinário
alto (pielonefrite), que habitualmente se inicia como um quadro de cistite, é habitualmente
acompanhada de febre – geralmente superior a 38 graus centígrados –, de calafrios e de dor
lombar, uni ou bilateral. Esta tríade febre + calafrios + dor lombar está presente na maioria dos
quadros de pielonefrite.
A infecção urinária é caracterizada pelo crescimento bacteriano de pelo menos 105 unidades
formadoras de colônias por ml de urina (100.000 ufc/ml) colhida em jato médio e de maneira
asséptica. Em determinadas circunstâncias (paciente idoso, infecção crônica, uso de
antimicrobianos) pode ser valorizado crescimento bacteriano igual ou acima de 104 colônias
(10.000 ufc/ml). A bacteriúria assintomática é definida como a presença de, no mínimo, 105
colônias/ml da mesma bactéria em pelo menos duas amostras de urina em paciente,
habitualmente mulher, que não apresenta os sintomas de infecção urinária habituais.

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UROANÁLISES I

1. Exame de urina I com sedimento urinário. Este exame irá fornecer – quando associado à
anamnese e ao quadro clínico, os dados que praticamente confirmam o diagnóstico de ITU:
presença de piúria (leucocitúria), de hematúria e de bacteriúria. Os valores encontrados são,
habitualmente, proporcionais à intensidade da infecção.
2. Urocultura. A cultura de urina quantitativa, avaliada em amostra de urina colhida
assepticamente, jato médio, poderá fornecer, na maioria dos casos, o agente etiológico causador
da infecção e trazer subsídio para a conduta terapêutica. Sua importância crescerá quando,
diante de falha da terapia empírica, possibilitará a realização do teste de sensibilidade in vitro
(antibiograma) que orientará uma nova conduta terapêutica.

Cultura urinária com crescimento bacteriano intenso

Fator limitante à importância da cultura de urina é a demora habitualmente exigida para a


obtenção do seu resultado. Na grande maioria das vezes, a paciente com cistite não complicada,
tratada empiricamente, já está clínica ou mesmo microbiologicamente curada quando o resultado
da cultura é fornecido; nestas situações este exame torna-se inútil, além de dispendioso.

5.2. INSUFICIÊNCIA RENAL (AGUDA E CRÔNICA)


Chamamos de insuficiência renal a condição na qual os rins perdem capacidade de
efetuar suas funções básicas. A insuficiência renal pode ser aguda (IRA), quando ocorre súbita e
rápida perda da função renal, ou crônica (IRC), quando esta perda é lenta, progressiva e
irreversível. Como sua instalação é lenta, o organismo consegue adaptar-se até fases bem tardias
da insuficiência renal crônica. Portanto, trata-se de uma doença silenciosa.

Muitas pessoas acham que podem identificar um rim doente pela dor ou pela diminuição
do volume de urina. Nada mais falso. O rim apresenta pouca inervação para dor e por isso só dói
quando está inflamado ou dilatado. Como na maioria dos casos de insuficiência renal crônica
nem um nem outro ocorrem, o paciente pode muito bem precisar de diálise sem sequer ter
sentido uma única dor nos rins.

A quantidade de urina também não é bom indicador. Ao contrário da insuficiência renal


aguda (IRA) onde a oligúria (redução da urina) é fator quase sempre presente, na insuficiência
renal crônica, como a perda de função é lenta, o rim adapta-se bem e a capacidade de eliminar
água mantém-se até fases bem avançadas da doença. Na verdade, a maioria dos pacientes que
entram em diálise ainda urinam pelo menos 1 litro por dia.

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UROANÁLISES I

Duas análises laboratoriais são de extrema importância para o diagnóstico:


- Dosagem da creatinina sanguínea
- Análises de urina
A partir dessas 2 análises, é possível identificar aqueles com insuficiência renal em fases iniciais
e portanto, assintomáticos.

Você Sabia...
A hemodiálise é um tratamento que consiste na remoção do
líquido e substâncias tóxicas do sangue com um rim artificial. É
o processo de filtragem e depuração de substâncias indesejáveis
do sangue como a creatinina e a ureia. A hemodiálise é uma
terapia de substituição renal realizada em pacientes portadores
de insuficiência renal crônica ou aguda, já que nesses casos o
organismo não consegue eliminar tais substâncias devido à
falência dos mecanismos excretores renais.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hemodi%C3%A1lise

5.3 GLOMERULONEFRITE

A glomerulonefrite é a destruição lenta e progressiva dos glomérulos renais com uma


perda gradual da função do órgão (e, com o tempo, insuficiência renal crônica). A doença pode
ser causada por problemas específicos do sistema imune, mas a causa precisa é desconhecida na
maioria dos casos.
As glomerulonefrites costumam ser provocadas pela acumulação de determinados
elementos fabricados pelo sistema imunitário nos glomérulos, as unidades do rim encarregues de
filtrar o sangue, o que pode produzir uma alteração na estrutura dos glomérulos ou um problema
no seu funcionamento, mais ou menos reversível de acordo com a forma adotada pela doença.
Normalmente, o problema é originado numa infecção localizada num outro sector do
organismo, em que o sistema imunitário fabrica anticorpos, de modo a combater os agentes
infecciosos. Porém, após desempenharem a sua missão, estes anticorpos juntam-se a outros
elementos que circulam no sangue, formando imunocomplexos que, ao chegarem ao rim, se
acumulam nos glomérulos renais, provocando a sua inflamação. Como esta situação, na maioria
das vezes, é provocada por uma infecção produzida pelo estreptococo beta-hemolítico, o agente
causador de processos como a amigdalite, faringite, erisipela e escarlatina, esta doença é
designada glomerulonefrite pós-estreptocócica. Em outros casos, a glomerulonefrite constitui
uma complicação de outras infecções, entre as quais se podem mencionar a sífilis, o paludismo, a
esquistossomose e a hepatite viral.
Embora com menor frequência, apesar de o mecanismo ser semelhante, a
glomerulonefrite também pode ter origem numa doença auto-imune, ou seja, numa alteração em
que o sistema imunitário fabrica anticorpos que atacam os próprios componentes do organismo.
Por isso, a glomerulonefrite também pode ser provocada por doenças como o lúpus eritematoso
sistêmico, determinados tipos de tireoidite ou algumas formas de púrpura. Por último, como em

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UROANÁLISES I

alguns casos a origem da doença ainda não é perfeitamente conhecida, esta é designada como
glomerulonefrite idiopática.
A lesão dos glomérulos, com a subsequente ineficiência da filtração, causa uma perda de
sangue e proteínas pela urina. Como os sintomas se desenvolvem gradualmente, a doença pode
ser descoberta quando se encontra um exame de urina tipo I anormal durante um exame físico
rotineiro por distúrbios não relacionados.

Fixando o conhecimento

1) Maria Clara, 25 anos, chegou ao Hospital América, às 8 horas da noite com febre intensa, se queixando de
calafrios. Ela relatou ao médico que sentia dores ao urinar e que sua urina estava com um odor fétido e
turva.

A) Qual a principal suspeita clínica?

B) Que tipo de coleta urinária deve ser realizado nesta situação? Você é o técnico de laboratório de plantão
nesta noite, como você orientará esta paciente a realizar a coleta?

C) Maria Clara não sabia que tipo de recipiente deveria usar e como deveria identificá-lo. Dê a ela as
corretas instruções.

D) Como o setor de uroanálise estava com um grande volume de exames para ser realizado naquela noite a
amostra de Maria Clara só iria ser analisada após aproximadamente duas horas. Como você poderia
conservar essa amostra e porque a conservação é importante?

E) Você esqueceu-se de descartar a amostra após a realização das análises. Na manhã seguinte o técnico
do dia processou novamente amostra, que agora se encontrava mal conservada. Que alterações foram
observadas?

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UROANÁLISES I

CRIE SEU GLOSSÁRIO!

Albuminúria:_________________________________________________________

Anúria:______________________________________________________________

Bacteriúria:__________________________________________________________

Cetonúria:___________________________________________________________

Citoscópio:___________________________________________________________

Disúria:_____________________________________________________________

Diurese:_____________________________________________________________

Diurético:____________________________________________________________

Edema:_____________________________________________________________

Glicosúria:___________________________________________________________

Hematúria___________________________________________________________

Hiperestenúria:_______________________________________________________

Hipoestenúria:________________________________________________________

Isoestenúria:_________________________________________________________

Nictúria:____________________________________________________________

Oligúria:____________________________________________________________

Piúria:______________________________________________________________

Polidipsia:___________________________________________________________

Poliúria (Polaquiúria): _________________________________________________

Pressão Hidrostática: __________________________________________________

Pressão osmótica (oncótica): ____________________________________________

Proteinúria:__________________________________________________________

Urodensímetro:_______________________________________________________

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UROANÁLISES I

BIBLIOGRAFIA

Fisiologia Renal de Vander- DOUGLAS C. EATON e JOHN P. POOLER


Uroanálise e Fluidos Biológicos - SUSAN KING STRASINGER
Fisiologia - MARGARIDA DE MELLO AIRES
http://bio.bd.psu.edu/cat/Urogenital_System/index.htm
http://www.webciencia.com/11_02bexiga.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ureter
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aparelho_urin%C3%A1rio
http://www.scribd.com/doc/11125835/Apostila-Anatomia-Sistema-Urinario
http://www.afh.bio.br/excret/excret1.asp
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-urinario/rins-6.php
http://www.afh.bio.br/excret/excret1.asp
http://estudmed.com.sapo.pt/fisiologia/fisiologia_renal_1.htm
http://www.lvb.com.br/uranalise.html
http://www.plugbr.net/exame-de-urina-tipos-e-coleta-da-amostra/
http://sorrilab.vilabol.uol.com.br/Urina_tipos_de_amostras.htm
http://www.medipedia.pt/home/home.php?module=artigoEnc&id=284
http://adam.sertaoggi.com.br/encyclopedia/ency/article/000484.htm
http://www.mdsaude.com/2009/08/insuficiencia-renal-cronica-sintomas.html

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