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Introdução:

O presente trabalho sobre a Hermenêutica em santo Agostinho mostrara um


pouco sobre este tratado que foi considerado por pensadores contemporâneos como
sendo o primeiro tratado de hermenêutica. Seguiremos de início um pouco do contexto
histórico do surgimento da hermenêutica desde suas origens com os gregos até
chegarmos no limiar das primeiras linhas escritas por Agostinho, não pretendemos neste
pequeno trabalho mostrar toda a contribuição de autores que ao longo do tempo
escreveram sobre o assunto. Mas sim apontar alguns pontos que o mestre de Hipona
lançou e que até os dias atuais ainda servem de referência no mundo interpretativo.

1. Contexto histórico da palavra Hermenêutica.


A etimologia da palavra hermenêutica remonta dos gregos, na crença em que
havia um deus que seria capaz de traduzir as palavras dos deuses tornando clara a
mensagem enviada aos homens, também era considerado o deus dos poetas trazendo um
sentido de que os poetas seriam capazes de traduzir aquilo que se encontra em sua
interioridade, uma expressão captada da alma e se fazendo externa aos homens. Mas
relatos afirmam que os gregos haviam absorvido esta tradição dos egípcios pois havia
entre eles um culto a um deus chamado de Hermes Trimegisto cujo registros apareceram
no século III e foram traduzidos para o grego, por Marsilio Ficino estes registros eram
considerados herméticos outra característica literária por considerar obscura a
compreensão dos textos.

Ainda na analise do que venha ser a hermenêutica que traz uma idéia sobre o
objeto, a ser entendido, o sentido encontrara em sua etimologia desde tempos remotos
vários significados, conceitos tais como explanação, explicação, exegese, interpretação
e hoje o mais usados pelos hermeneutas, compreensão sedo constantemente empregados
como sinônimos. Mas o que seria esta idéia trazida pela técnica ou arte da interpretação,
esta reflexão aparecerá quando surgi o desafio de transição da tradição religiosa, sobre
tudo com o advento do império macedônico com Alexandre o grande período que se
tornou conhecido como helenístico, em que o objetivo seria equipara o logos racional
com a filosofia não sendo conveniente a deuses ou a razão, de suas ocorrências
demasiadamente humanas ou de ciúmes no olimpo grego no período épico, ou mítico.
Essa linguagem mítica já não servia mais como anteriormente, quer dizer ao pé da letra ou
em sentido literário exigindo-se uma interpretação “alegórica”. Tendo o seu início com os
estoicos que elabora uma interpretação sistemática, racionalizante e posteriormente
alegórica dos mitos. Ao se expressar o espírito comunica algo de interno para o externo o
seja para fora, tornando-os conhecidos ao púplico os conteúdos internos enquanto a
interpretação procurará dissertar a expressão que foi lançada para fora de suas entranhas.
Em ambas o que estará em jogo será a compreensão ou um mediação dos sentidos. A
interpretação procura o sentido interno o que está por trás do que foi expresso, enquanto
ao se expressar anuncia a sua parte de algo interior. Nisto consistirá o que veria ser o
expressar como um interpretar, como uma hermeneúein.

2. A interpretação em Agostinho
Agostinho em sua obra intitulada de a doutrina cristã ou em latim De Doctrina
Christiana que foi escrita no início de seu episcopado em 397, tem por objetivo instruir
os cristãos de sua época vindo a termina-lo trinta anos após uma revisão de sua obras,
ao se referir a um sermão por ele pregado oito anos antes em Cesaréia da Mauritânia em
418. É interessante observarmos que a interpretação é considerada uma espécie de
desvelamento do texto bíblico algo que se apresenta oculto e misterioso, tendo a
possibilidade de abertura para a o descobrimento e esclarecimento dos códigos e
metáforas, para o círculo da época era uma espécie de status social interpretar textos que
se apresentavam como herméticos.

No início do livro Agostinho procurara orientar os leitores das Sagradas


Escrituras apontando para dos princípios geral para a interpretação dos textos: a
descoberta do que é para ser entendido e posteriormente a sua habilidade de expor com
autoridade aquilo que foi compreendido. Partindo para a apresentação das coisas e
sinais, ou seja, códigos que precisam ser decodificados pelo interprete para assim então
dominar a linguagem do texto bíblico e não só mente o texto bíblico aja vista que seus
alguns de métodos sejam aplicados nos dias atuais como sendo de grande valia, na
auxilio das interpretações. Outra observação feita no texto da obra a doutrina cristã são
as classificações das coisas como ele mesmo nos fala no capítulo três que estas coisas
são divididas em: coisas para ser fruídas, outras utilizáveis e outras para o homens fruí-
las mas também utilizá-las. Isto demarca umas das fundamentais teses de santo
Agostinho no que diz respeito a moral podendo o homem então poder disfrutar das
coisas, em que pode e deve gozar de sua plenitude, das coisas fruídas lhe assegurando a
felicidade e podendo praticá-las como instrumento na busca da sua felicidade. Ainda
discorrendo sobre as coisas em Agostinho no qual irá falar que haverá sinais que
representaram gêneros que estarão demarcados só para significar algo exemplificando
nas palavras que estarão responsáveis em dar sentido ou significado a alguma coisa.

Dai para Agostinho se deduzira que classifico os sinais a tudo empregando


significados a alguma coisa para ir mais longe de si. Sendo o sinal ao mesmo tempo
alguma coisa em si mesma, considerando as coisas como sendo próprias, mas não
significando além do seu sentido. Então a trindade o Pai, o Filho e o Espírito Santo,
serão uma unidade uma e primordial da realidade, ou seja, a única coisa ser fruída,
sendo uma espécie de bem comum a todos, se é que se poderá pensar em coisa a não
reconhece-lo como causa de todas as coisas. Por certo os homens serão impulsionados a
dirigir-se aos bens por diversos modos uns pela via dos sentidos do corpo e outros pela
razão ou inteligência espiritual.

Os que depositam nos sentidos corporais julgam o próprio Deus ser o céu ou até
o próprio mundo real, mas se espera-lo além deste mundo então imaginam ser algo mais
luminoso, mas em suas vãs ficção o fazem um ser infinito e dotado de uma forma que
lhes forneça uma superioridade sobre todas as coisas, e para o caso daqueles que não
creem na sua existência de um Deus onipotente, onipresente e onisciente como único
sobre todos os deuses mas ao contrário creem em múltiplos deuses os representando em
seus espíritos atribuindo feição física como bem entende.
Em seguida Agostinho discorrera sobre vários aspectos da vida religiosa enumerando
cada ponto concernente a vida religiosa, falando sobre a sabedoria a imutabilidade, a
trindade, a encarnação de Cristo em que o verbo se fez carne e habitou andou como
homem entre nós.
Mas falaremos um pouco sobre a filosofia de santo Agostinho no circulo
contemporâneo ao qual foi recebida pelo jovem Heidegger assim como Gadamer,
filósofos da contemporaneidade que resolveram enxergar um pouco atrás para um
sacerdote que viveu a tanto tempo antes deles, para assim então reconhecerem que em
Agostinho já havia os primeiros rudimentos de Hermenêutica, é claro que Aristóteles
também já os havia lançados no seu Peri Hermenêia numa tentativa de estabelecer
regras para a interpretação das poesias e teatro grego, mas Heidegger um jovem que se
na perspectiva fenomenológica em uma de suas palestras de verão no ano de 1921, ao
ministrar um curso sobre neoplatonismo e santo Agostinho, e ainda no ano de 1930 em
uma conferência mas também as referências a ele feita em sua obra Ser e Tempo, me
parecem positivas sobre o que fez Agostinho em seus escritos hermenêuticos, Heidegger
tendo em vista já o seu comprometimento com a destruição da crítica da história
ontológica ocidental.

Segundo os testemunhos de Heidegger e Gadamer havia uma admiração por


Agostinho que seria uma espécie de actus signatus uma elocução predicativa, que se
realizava na sua concretização no actus exercitus que enfeitiçava os seus ouvintes assim
relata Gadamer, que também sentia o mesmo em Freiburgo e Marburgo. Esta recepção
foi feita por Gadamer em um prefácio de um colóquio realizado por ele menciona uma
qiuestãode retroativamente em Agostinho a pretensão de universalidade da
Hermenêutica, na obra Verdade e Método o próprio Gadamer dedica um capítulo
decisivo, permitindo ir um pouco mais além do esquecimento da linguagem ontológica
grega, no qual a compreensão se se caracteriza como técnico-nominalista da linguagem.
Acabamos de comentar um pouco sobre a importância deste tratado que foi elaborado
para servir de manual e regra de fé aos cristãos da época que conseguiu ultrapassar os
séculos e influenciar para o desenvolvimento desta que se tornaria ao longo de todo
século XX, umas das grandes áreas do conhecimento e no auxilio no campo da exegese
obra de magnífica erudição e pedagógica por tratar de assuntos que ainda hoje em
círculos acadêmicos é recebida com grande apreço entre os que se dedicam ao filosofar
e tendo-a como ferramenta ou chave interpretativa. E sendo reconhecida como a
primeira hermenêutica por possuir um grande estilo, ainda é possível observar que neste
tratado Agostinho lança as bases de que toda ciência tem por base seus fundamentos: a
fé, a esperança e o amor serão a formação do que venha ser daquele que interpretar as
sagradas escrituras.
Nisto consiste em toda a obediência a regras, a luz do texto bíblico por se fazer
necessária para perscrutar passagens mais obscuras das Escrituras, só podendo ser
iluminada pelo próprio Deus. Um ponto que nos chama a atenção no método de Santo
Agostinho é o ponto análogo observado pelo mesmo que consiste na própria Escritura
em sentido próprio ou histórico, mas toda via o sentido figurado e o profético, tendo a
interpretação como finalidade o Amor, ou seja, de Deus, mas também do próximo
apontando para ambos ao mesmo tempo. O que vemos neste análogo é o Amor
tridimensional revelado pelo divino em que Deus Ama o homem ser pecador, mas,
também o responsabilizando o mesmo homem que Ame o próximo como a si mesmo e
ambos Amem ao criador, vemos a formação de um triângulo que se forma em Deus ao
se dirigir aos homens e retorna para Deus.

Detectamos na obra pontos que se aproxima do pensamento Patrístico, em


defesa da própria Filosofia que nos foi legada pelos gregos, assim como Justino
defendia que Deus havia revelados aos gregos o logos uma espécie de revelação
antecipada da verdade oriunda das razões seminais da teoria estóica, que anteciparia
esta verdade da fé revelada ao gênero humano pois Justino os Filósofos gregos tinham
recebido esta revelação divina por isso sendo os precursores da religião revelada,
mesmo que os mesmos não a tenham compreendido de maneira mais consciente.
Vejamos o que diz Agostinho no seu tratado hermenêutico ao compartilhar deste
pensamento de legado dos gregos:
Os que são chamados filósofos, especialmente os platônicos, quando
puderam, por vezes, enunciar teses verdadeiras e compatíveis com a nossa
fé, é preciso não somente não serem eles temidos nem evitados, mas antes
que reivindiquemos essas verdades para o nosso uso, como alguém que
retoma seus bens a possuidores injustos.

A doutrina cristã absorveu muito da cultura grega pagã, ao longo de toda


Patrística observamos autores determinados a absorver aquilo que era útil a
compreensão das Escrituras e à própria educação espiritual. Tendo estes elementos dos
gregos como ferramenta a serviço da fé, aqui Santo Agostinho nos fala o porquê da
aceitação destes elementos incorporados ao cristianismo à razão que se encontra será
que a verdade independente de onde esteja pertencera ao Senhor.

Considerações finais:

O tratado De Doctrina Christiana, tem por finalidade a instrução dos primeiros


cristãos convertidos a religião revelada, um manual que inspira fé e razão delegando aos
que se dedicariam a pregação do evangelho de Cristo, ao trata de diversos temas de
investigação de cunho interpretativo, na qual norteava a fé com segurança e
confiabilidade e respondendo aos que pedia satisfação da fé dos que professavam a
crença na filho de Deus. Assim se buscou logo no início dar respostas aos pagãos da
época, que desferiam ataques de todos os lados com a finalidade de minar a fé dos que
criam no senhor, tendo em seus embates o Gnosticismo uma facção de cunho filosófico
que se propagava no início do segundo século, cabendo a esses homens embora falhos
torna-se verdadeiros instrumentos nas mãos de Deus para combater os diversos ataques
desferidos pelos pagãos, e não estes mas as heresias que surgia no ceio da Igreja um
período de fé mas também de muito esforço intelectual para mostra que a fé não é coisa
de gente ignorante, mas daqueles que possuem a plenitude daquele que se fez carne para
salvar a qualquer um que aceite o seu sacrifício no madeira cruento, se fazendo
participante da carne e espírito de Cristo.

Referências Bibliográficas:

Grondin,Jean. Introdução à Hermenêutica Filosófica, editora, Unisinos, coleção


Focus,Rio Grande do Sul, 1999.
Agostnho,Santo. A Doutrina Cristã, coleção Patrística, Pulus,3ª edição,2011.
Universidade Federal de Pernambuco
Departamento de Filosofia
Disciplina de História da Filosofia Medieval 1
do Prof. Dr. Marcos Nunes

A Hermenêutica em Santo Agostinho

Leandro Januário Rodrigues de Santana


Recife-2014

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