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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO
RELATÓRIO
Fls. 188-204: a sentença rejeitou o pedido de isenção/restituição do imposto
de renda sobre a remuneração do autor, sob o fundamento de que “não há isenção
se o contribuinte, conquanto seja portador de uma das moléstias previstas na lei,
não se aposentou”.
FUNDAMENTOS DO VOTO
Atestado pela Junta Médica Pericial da SR/DPF/MG (Superintendência da
Polícia Federal) que o autor é portador de “adenocarcinoma de próstata”
(neoplasia maligna) desde 02.05.2007 (fl. 41), tem direito subjetivo à isenção do
imposto de renda sobre seus rendimentos, ainda que esteja em atividade, nos
termos da Lei 7.713/1988:
Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguintes rendimentos percebidos por
pessoas físicas:
....
XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os
percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental,
TRF 1ª REGIÃO/IMP.15-02-05 Document1
Criado por tr300846
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.2/6
Segundo a melhor doutrina, “não há lei que não contenha uma finalidade
social imediata. Por isso o conhecimento do fim é uma das preocupações
precípuas da ciência jurídica e do órgão aplicador do direito... O fim social é o
objetivo de uma sociedade, encerrado na somatória de atos que constituirão a
razão de sua composição; é, portanto, o bem social, que pode abranger o útil, a
necessidade social e o equilíbrio de interesses etc. O intérprete-aplicador
poderá: a) concluir que um caso que se enquadra na lei não deverá ser por ela
regido porque não está dentro de sua razão, não atendendo à finalidade social; e
b) aplicar a norma a hipóteses fáticas não contempladas pela letra da lei, mas
nela incluídas, por atender a seus fins. Consequentemente, fácil será perceber
que comando legal não deverá ser interpretado fora do meio social presente;
imprescindível será adaptá-lo às necessidades sociais existentes no
momento de sua aplicação. Essa diversa apreciação e projeção no meio
social, em razão da ação do tempo, não está a adulterar a lei, que continua a
mesma” (Maria Helena Diniz, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
Interpretado, 17ª ed., pags. 188-9).
3. As provas carreadas aos autos são suficientes a amparar direito líquido e certo, para
admitir análise por meio de mandado de segurança, não havendo qualquer necessidade
de nova produção de prova.
Juros moratórios
Deferida a restituição do indébito a partir de 02.05.2007, incidem somente
juros moratórios mensais equivalentes à taxa selic desde o recolhimento, nos
termos do art. 39, § 4º da Lei 9.250/1995, não podendo ser cumulados com
correção monetária. Nesse sentido: REsp 879.479-SP, r. Ministro Teori Albino
Zavascki, 1ª Turma do STJ:
...
4. Nos casos de repetição de indébito tributário, a orientação prevalente no âmbito da 1ª
Seção quanto aos juros pode ser sintetizada da seguinte forma:
(a) antes do advento da Lei 9.250/95, incidia a correção monetária desde o pagamento
indevido até a restituição ou compensação (Súmula 162/STJ), acrescida de juros de mora
a partir do trânsito em julgado (Súmula 188/STJ), nos termos do art. 167, parágrafo único,
do CTN;
(b) após a edição da Lei 9.250/95, aplica-se a taxa SELIC desde o recolhimento
indevido, ou, se for o caso, a partir de 1º.01.1996, não podendo ser cumulada, porém,
com qualquer outro índice, seja de atualização monetária, seja de juros, porque a SELIC
inclui, a um só tempo, o índice de inflação do período e a taxa de juros real.
Verba honorária
Conforme precedentes do STF/STJ à vista do que dispõe o art. 14 do
CPC/2015, proferida a sentença/decisão na vigência do CPC/1973, a verba
honorária é fixada de acordo com o código revogado, não se aplicando as
normas do CPC/2015. No recurso, o tribunal verifica se a lei vigente à época foi
aplicada corretamente.
DISPOSITIVO
Dou provimento à apelação para reformar a sentença isentando o autor do
imposto de renda sobre sua remuneração a partir de 02.05.2007 (data do laudo
médico).
A ré devolverá o indébito a partir daquela data acrescido de juros moratórios
mensais equivalentes à taxa selic e pagará a verba honorária de 5% sobre o valor
atualizado da condenação.
Brasília, 21.08.2017