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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

RELATOR(A) : DESEMBARGADOR FEDERAL NOVÉLY VILANOVA


APELANTE : WILSON MARTINS VALADARES
ADVOGADO : MG00102493 - IZABELLA GUIMARAES VALADARES E OUTROS(AS)
APELADO : UNIÃO/PFN
PROCURADOR : CRISTINA LUISA HEDLER

RELATÓRIO
Fls. 188-204: a sentença rejeitou o pedido de isenção/restituição do imposto
de renda sobre a remuneração do autor, sob o fundamento de que “não há isenção
se o contribuinte, conquanto seja portador de uma das moléstias previstas na lei,
não se aposentou”.

Fls. 206-9: o autor apelou alegando que é portador de neoplasia maligna,


tendo, assim, direito à isenção do imposto de renda de a comprovação da doença
em maio/2007, nos termos da Lei 7.713/1988, art. 6º. A jurisprudência do TRF é no
sentido de que a isenção é concedida tanto na atividade como na inatividade.

Fls. 217-20: a União/ré respondeu, pedindo o desprovimento do recurso.

FUNDAMENTOS DO VOTO
Atestado pela Junta Médica Pericial da SR/DPF/MG (Superintendência da
Polícia Federal) que o autor é portador de “adenocarcinoma de próstata”
(neoplasia maligna) desde 02.05.2007 (fl. 41), tem direito subjetivo à isenção do
imposto de renda sobre seus rendimentos, ainda que esteja em atividade, nos
termos da Lei 7.713/1988:
Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguintes rendimentos percebidos por
pessoas físicas:
....
XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os
percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental,
TRF 1ª REGIÃO/IMP.15-02-05 Document1
Criado por tr300846
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Processo na Origem: 531797520104013800

esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e


incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante,
nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte
deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com
base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída
depois da aposentadoria ou reforma.

Não obstante o disposto no art. 111 do CTN e o REsp nº 1.116.620-BA,


representativo de controvérsia, r. Ministro Luz Fux, 1ª Seção, a orientação da 4ª
Seção deste Tribunal contém adequada e específica fundamentação estendendo o
benefício fiscal também para o servidor/empregado em atividade, levando em
conta o fim social a que se destina o art. 6º/XIV da Lei 7.713/1988 (CPC, art. 8º).
Nesse sentido: Embargos Infringentes 2009.33.00.009545-1/BA, r. Desembargador
Federal Luciano Tolentino do Amaral:
1- A isenção, vicejando só em prol dos "inativos portadores de moléstias graves", está
descompromissada com a realidade sócio-fático-jurídica; a finalidade (sistemática) da
isenção, na evolução temporal desde sua edição em 1988; os princípios da isonomia e da
dignidade humana e, ainda, com o vetor da manutenção do mínimo vital.
2- A contextualização fático-jurídica, em olhar conectado com o hoje, da isenção
(salvoconduto tributário), que propende a ser vitalícia, é do tipo "geral" e "ex vi legis", a
toda situação em que caracterizadas as patologias. Eventual e continuada ampliação do
rol das doenças não considera eventuais cura, agravamento, recidivas ou remissão de
sintomas.
3- Da institucionalização da isenção (1988) até hoje transcorreram 25 anos. Àquele tempo,
a transposição para a inatividade, imperativa e com afastamento obrigatório das atividades,
era a conseqüência para os males. Mantida a densidade de significado ("ratio legis") para
justificar a isenção, que sempre foi o "fato objetivo da moléstia grave em si" e a idéia
genérica do incremento de custos para continuidade da vida (perda/redução da capacidade
contributiva), abrem-se novas situações: contribuintes conseguem manter-se, em certos
casos, em pleno potencial profissional, auferindo proventos de aposentados (rendimentos
da inatividade) e, até, valores decorrentes de vínculos ulteriores (rendimentos da
atividade).
4- Inimaginável um contribuinte "sadio para fins de rendimentos ativos" e,
simultaneamente, "doente quanto a proventos". Inconcebível tal dicotomia, que atenta
contra a própria gênese do conceito holístico (saúde integral). Normas jurídicas não
nascem para causar estupor.
5- O só conviver com a patologia, à constante sombra da morte ou da má qualidade de
vida, alça novos vínculos empregatícios ao grau de terapêutica afeto-social (de higiene
mental) e reforço do sentido de existir: tributação seria desestímulo sem justa razão.

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6- Cabe ao interprete da norma legal extrair da sua objetividade normativa o seu


alcance social, não significando, tal, ampliação dos seus destinatários e/ou os casos
de sua incidência.

Segundo a melhor doutrina, “não há lei que não contenha uma finalidade
social imediata. Por isso o conhecimento do fim é uma das preocupações
precípuas da ciência jurídica e do órgão aplicador do direito... O fim social é o
objetivo de uma sociedade, encerrado na somatória de atos que constituirão a
razão de sua composição; é, portanto, o bem social, que pode abranger o útil, a
necessidade social e o equilíbrio de interesses etc. O intérprete-aplicador
poderá: a) concluir que um caso que se enquadra na lei não deverá ser por ela
regido porque não está dentro de sua razão, não atendendo à finalidade social; e
b) aplicar a norma a hipóteses fáticas não contempladas pela letra da lei, mas
nela incluídas, por atender a seus fins. Consequentemente, fácil será perceber
que comando legal não deverá ser interpretado fora do meio social presente;
imprescindível será adaptá-lo às necessidades sociais existentes no
momento de sua aplicação. Essa diversa apreciação e projeção no meio
social, em razão da ação do tempo, não está a adulterar a lei, que continua a
mesma” (Maria Helena Diniz, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
Interpretado, 17ª ed., pags. 188-9).

A ausência de reaparecimento da enfermidade não afasta o direito à


mencionada isenção tributária, conforme jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça e desta Corte,:
REsp 1235131/RS, r. Ministro Benedito Gonçalves, 1ª Turma do STJ em 22/03/2011:
...
4. "Reconhecida a neoplasia maligna, não se exige a demonstração da
contemporaneidade dos sintomas, nem a indicação de validade do laudo pericial, ou a
comprovação de recidiva da enfermidade, para que o contribuinte faça jus à isenção de
imposto de renda prevista no art. 6º, XIV, da Lei 7.713/88. Precedentes do STJ"(RMS
32.061/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe de 20.8.2010).
...
AMS 0038200-50.2006.4.01.3800-MG, r. Juiz Federal Rafael Paulo Soares Pinto
(convocado), 7ª Turma do TRF 1 em 09/12/2008:
...
...o fato de a doença não estar em atividade não tem o condão de excluí-lo da isenção
constante da L. 7.713/88, art. 6º, XIV.

2. Remansosa e hodierna jurisprudência assenta não ser necessário a atividade da


neoplasia maligna para que o portador faça jus à isenção.

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3. As provas carreadas aos autos são suficientes a amparar direito líquido e certo, para
admitir análise por meio de mandado de segurança, não havendo qualquer necessidade
de nova produção de prova.

4. Merece reforma a r. sentença, pois o fato de não haver "evidência de atividade do


carcinoma ", não significa que o portador se encontra curado da doença. Assim, não é
necessário que a doença (neoplasia maligna) esteja em atividade para que o seu portador
faça jus à isenção , uma vez que o espírito da lei é o justamente favorecer o tratamento de
seu portador, ainda que seja para impedir sua manifestação no organismo.
...

Juros moratórios
Deferida a restituição do indébito a partir de 02.05.2007, incidem somente
juros moratórios mensais equivalentes à taxa selic desde o recolhimento, nos
termos do art. 39, § 4º da Lei 9.250/1995, não podendo ser cumulados com
correção monetária. Nesse sentido: REsp 879.479-SP, r. Ministro Teori Albino
Zavascki, 1ª Turma do STJ:
...
4. Nos casos de repetição de indébito tributário, a orientação prevalente no âmbito da 1ª
Seção quanto aos juros pode ser sintetizada da seguinte forma:
(a) antes do advento da Lei 9.250/95, incidia a correção monetária desde o pagamento
indevido até a restituição ou compensação (Súmula 162/STJ), acrescida de juros de mora
a partir do trânsito em julgado (Súmula 188/STJ), nos termos do art. 167, parágrafo único,
do CTN;
(b) após a edição da Lei 9.250/95, aplica-se a taxa SELIC desde o recolhimento
indevido, ou, se for o caso, a partir de 1º.01.1996, não podendo ser cumulada, porém,
com qualquer outro índice, seja de atualização monetária, seja de juros, porque a SELIC
inclui, a um só tempo, o índice de inflação do período e a taxa de juros real.

Não se aplica a nova forma de cálculo de correção e de juros moratórios,


estabelecida no art. 1º-F da Lei 9.494/1997, incluído pela Lei 11.960/2009, em
virtude do princípio constitucional da igualdade (correção monetária pela TRD +
juros moratórios mensais de 0,5%). Se no recolhimento do tributo com atraso
incidem juros pela taxa selic (Lei 9.430/96, art. 61), o mesmo tratamento deve ser
adotado na restituição ou compensação do indébito (Lei 9.250/95, art. 39, § 4º).
Afinal, onde existe a mesma razão aí se aplica a mesma disposição.

Nesse sentido: REsp 1.270.439 – PR, representativo de controvérsia, r.


Ministro Castro Meira, 1ª Seção do STJ em 26.06.2013:
...

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14. O Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade parcial, por arrastamento,


do art. 5º da Lei 11.960/09, que deu nova redação ao art. 1º-F da Lei 9.494/97, ao
examinar a ADIn 4.357/DF, Rel. Min. Ayres Britto.

15. A Suprema Corte declarou inconstitucional a expressão "índice oficial de remuneração


básica da caderneta de poupança"contida no § 12 do art. 100 da CF/88. Assim entendeu
porque a taxa básica de remuneração da poupança não mede a inflação acumulada do
período e, portanto, não pode servir de parâmetro para a correção monetária a ser
aplicada aos débitos da Fazenda Pública.

16. Igualmente reconheceu a inconstitucionalidade da expressão "independentemente de


sua natureza" quando os débitos fazendários ostentarem natureza tributária. Isso porque,
quando credora a Fazenda de dívida de natureza tributária, incidem os juros pela taxa
SELIC como compensação pela mora, devendo esse mesmo índice, por força do
princípio da equidade, ser aplicado quando for ela devedora nas repetições de
indébito tributário.
...

Verba honorária
Conforme precedentes do STF/STJ à vista do que dispõe o art. 14 do
CPC/2015, proferida a sentença/decisão na vigência do CPC/1973, a verba
honorária é fixada de acordo com o código revogado, não se aplicando as
normas do CPC/2015. No recurso, o tribunal verifica se a lei vigente à época foi
aplicada corretamente.

“Não prospera a pretensão de se verem aplicados preceitos contidos no art.


85 do novo CPC quando o acórdão recorrido tiver decidido a questão dos
honorários advocatícios à luz do art. 20 do CPC/1973, tendo em vista a legislação
de vigência da matéria à época do julgamento do recurso no tribunal de original,
em homenagem ao princípio do tempus regit actum” (EDcl no Ag Int no REsp
1.450.445-SP, r. Og Fernandes, 2ª Turma do STJ em 09.03.2017)

Vencida a União, a verba honorária é fixada consoante apreciação equitativa


do juiz (CPC, art. 20, § 4º), independentemente do valor da causa (§ 3º). São
observados apenas “o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do
serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e
tempo exigido para o seu serviço” (alíneas “a”, “b” e “c” do § 3º)

Diante disso, são razoáveis os honorários de 5% sobre o valor atualizado da


condenação, considerando o trabalho do advogado do autor desde o ajuizamento
da ação em12.07.2010.
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DISPOSITIVO
Dou provimento à apelação para reformar a sentença isentando o autor do
imposto de renda sobre sua remuneração a partir de 02.05.2007 (data do laudo
médico).
A ré devolverá o indébito a partir daquela data acrescido de juros moratórios
mensais equivalentes à taxa selic e pagará a verba honorária de 5% sobre o valor
atualizado da condenação.

Brasília, 21.08.2017

NOVÉLY VILANOVA DA SILVA REIS


Desembargador Federal Relator

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