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24/11/2018 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

Poder Judiciário da União


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

19VARCVBSB
19ª Vara Cível de Brasília

Número do processo: 0733972­18.2018.8.07.0001
Classe judicial: CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE DECISÃO (10980)
EXEQUENTE: CONDOMINIO MANSOES ENTRE LAGOS
REPRESENTANTE: COSMO JOSE BALBINO, JOSE ROBERTO DE AGUIAR BAPTISTA,
JOAO TERCIO SILVA AFONSO
 
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
 
 
No processo n° 0732114­49.2018.0.07.0001, terceiras pessoas promoveram uma
demanda  contra  o  “Condomínio”  com  a  finalidade  de  serem  nomeadas  para
administrá­lo provisoriamente, pois o mandato do Síndico já terminou.
Como  neste  processo  se  discute  a  licitude  de  uma  Assembleia  designada  para
eleição  dos  cargos  de  direção  do  mesmo  “Condomínio”,  tenho  que  há  risco  de
decisões conflitantes. Por isso, nos termos do artigo 55, §3°, do CPC, e em nome
da  segurança  jurídica,  ambos  os  processos  devem  tramitar  simultaneamente,
estando este Juízo prevento.
Sobre  a  competência,  existe  regra  expressa  na  Convenção  elegendo  o  foro  de
Brasília  para  dirimir  as  questões  oriundas  do  “Condomínio”.  Apesar  da  alegação
de que fora anulada por decisão do TJDFT, os réus se limitaram a copiar a ementa
de  um  acórdão,  não  tendo  demonstrado  que  diz  respeito  ao  “Condomínio”  em
questão.
Antes  de  decidir  os  requerimentos  das  partes,  é  necessário  registrar  alguns
pontos e premissas:
1)  A  utilização  de  expressões  do  tipo  “comparsas”  e  “asseclas”  viola  o  dever  de
urbanidade e respeito e, por isso, não será mais admitido;
2)  Se  o  autor  e  as  suas  advogadas  querem  interpretar  as  decisões  deste  Juiz,
devem  fazê­lo  de  forma  minimamente  razoável  e  observar  a  boa­fé.  A  partir  da
decisão  que  proferi  no  outro  processo,  não  existe  a  menor  possibilidade  de
vislumbrar  desobediência  a  partir  da  conduta  dos  réus.  Basta  ler  o  que  foi
decidido: “(...) Por essas razões, à míngua de prova cabal de que o Condomínio
está  sendo  administrado  mediante  prática  de  abusos  e/ou  ilícitos,  a  melhor
solução  é  manter  a  Administração  atual  e  aguardar  a  realização  de  nova
Assembleia,  a  ser  designada  nos  moldes  da  Convenção”.  Portanto,  não  foi
determinado a quem quer que seja que se abstivesse de fazer qualquer coisa;

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3)  Se  o  atual  Síndico  vem  causando  prejuízos  ao  Condomínio,  os  interessados
podem promover as demandas que entenderem cabíveis. O certo é que isso não
tem qualquer relação com este processo;
4)  O  mesmo  se  diga  em  relação  ao  suposto  envolvimento  do  Síndico  e/ou  dos
réus  com  os  responsáveis  pelo  parcelamento  ilegal  de  área  rural  e  criação  do
“Condomínio”;
5)  Se  a  Loteadora  vai  causar  prejuízos  aos  adquirentes  dos  lotes,  cada  um  que
busque  os  seus  direitos  nas  vias  apropriadas.  Certamente,  isso  também  é
impertinente para este processo;
6) Não existe Condomínio neste processo, mas sim um loteamento irregular, muito
provavelmente  oriundo  de  parcelamento  ilegal  do  solo.  Por  isso,  as  regras  do
Código Civil que regem os condomínios edilícios devem ser aplicadas cum grano
salis;
7) Em se tratando de condomínio, loteamento, associação ou qualquer outro tipo
de comunidade organizada, deve prevalecer a vontade dos seus componentes e o
Poder  Judiciário  deve  intervir  somente  em  último  caso  e  exclusivamente  para
verificar questões formais;
8)  Conforme  dispõe  a  primeira  parte  do  artigo  8°,  do  CPC,  “ao  aplicar  o
ordenamento  jurídico,  o  juiz  atenderá  aos  fins  sociais  e  às  exigências  do  bem
comum”. 
 Pois bem.
Segundo  a  tese  do  Condomínio,  os  réus  criaram  uma  comissão  eleitoral  e
convocaram  ilicitamente  uma  assembleia  para  eleição  de  síndico,  subsíndico,
secretário e conselheiros. Por isso, requereram a proibição da realização do ato.
O artigo 1.350 do Código Civil determina que “Convocará o síndico, anualmente,
reunião da assembléia dos condôminos, na forma prevista na convenção, a fim de
aprovar  o  orçamento  das  despesas,  as  contribuições  dos  condôminos  e  a
prestação de contas, e eventualmente eleger­lhe o substituto e alterar o regimento
interno”.
Segundo  o  artigo  1.350,  §  1°,  do  Código  Civil:  “Se  o  síndico  não  convocar  a
assembleia,  um  quarto  dos  condôminos  poderá  fazê­lo”.  Portanto,  a  legitimidade
dos condôminos para a convocação do ato depende da inércia do Síndico, o que,
aparentemente, está caracterizado neste caso.
Conforme comprovado neste e no outro processo, inclusive registrado na decisão
transcrita  na  inicial,  a  assembleia  do  dia  25/10/2018  não  foi  concluída  por
questões  de  segurança,  visto  que  se  instaurou  uma  enorme  balbúrdia  no  local
designado para o ato. Houve até necessidade de intervenção da Polícia Militar.

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Também  está  demonstrado  lá  e  cá,  em  cognição  superficial,  que  alguns
condôminos  subtraíram  os  documentos  e  o  computador  que  pertencem  ao
“Condomínio”  e  que  seriam  utilizados  para  a  prestação  de  contas  da  gestão  do
Síndico naquela ocasião. Tanto que houve necessidade de uma ação de busca e
apreensão para recuperar tais documentos. A certidão expedida nos autos dessa
ação mostra que foram devolvidos à advogada do Condomínio em 08/11/2018 (id
25426556).
Tendo  em  vista  as  dimensões  do  Mansões  Entre  Lagos,  que  conta  com  2.432
lotes, é natural a necessidade de reorganização dos documentos (id 25453097), o
que,  aliás,  deixou  claro  o  Contador  no  comunicado  id  25453121,  emitido  em
19/11/2018: “informo que o referido trabalho não deverá ser concluído em menos
de 45 dias”.
No  entanto,  a  eleição  do  corpo  diretivo  do  “Condomínio”  não  precisa
necessariamente aguardar a aprovação das contas da atual gestão. Nada impede
que  ocorra  uma  assembleia  para  eleger  os  novos  dirigentes  –  até  porque  o
mandato do Síndico se findou – para, em outra oportunidade, submeter tais contas
à aprovação.
Como  já  passou  quase  um  mês  desde  a  realização  da  outra  assembleia,  houve
tempo  mais  do  que  suficiente  para  o  Síndico  convocar  novo  ato.  Ademais,
considerando a tese da inicial e as informações do Contador, tudo leva a crer que
não  existe  pretensão  de  convocação  antes  do  decurso  dos  45  dias  informados
naquele  comunicado.  Por  isso,  a  depender  da  vontade  da  atual  Administração,
uma  nova  assembleia  certamente  não  ocorrerá  neste  ano.  Por  isso,  não  vejo
óbice para que os “condôminos” (possuidores de lotes) possam convoca­la, desde
que, obviamente, respeitem as regras legais e convencionais.
A regra legal concede legitimidade a um grupo específico, composto por ao menos
1/4  dos  Condôminos.  Regra  semelhante  aparece  no  Regimento  Interno  do
Condomínio (artigo 9°, inciso IV). No caso dos autos, a assembleia foi convocada
por uma “comissão eleitoral”, supostamente chancelada por 1/4 dos condôminos.
Essa comissão parece ser um nada jurídico. Isso porque deveria ter sido nomeada
pelo Conselho Consultivo do Condomínio, mas isso não ocorreu.
No  entanto,  pouco  importa  a  denominação  assumida  pelos  réus.  O  essencial  é
que estejam amparados por 1/4 dos condôminos.
Também pouco importa o registro do edital de convocação no Cartório de Notas,
pois não há exigência legal nesse sentido.
A  lista  apresentada  pelos  réus  contém  739  assinaturas  de  possuidores  de  lotes
que “requerem a convocação de Assembleia” (id 25599317 e seguintes). Como o
“Condomínio”  possui  2432  lotes,  está  preenchido  com  bastante  folga  o  mínimo
legal.

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Sobre a necessidade de que os condôminos sejam adimplentes, faço as seguintes
observações:
1°)  Justamente  porque  os  documentos  do  “Condomínio”  foram  extraviados  e
recuperados,  e  em  razão  do  grande  número  de  requerentes,  não  será  tarefa
simples verificar quem são os eventuais inadimplentes;
2°) Os autores tentaram notificar o Síndico e o Sub­Síndico para que fornecessem
a  lista  dos  possuidores  adimplentes,  mas  não  conseguiram  (id  25601401  e  id
25601425); e
3°)  É  muito  cômodo  para  o  atual  Síndico  a  demora  na  reorganização  dos
documentos,  especialmente  quando  se  utiliza  disso  como  argumento  para  não
convocar nova assembleia e prolongar a sua gestão.
Por  tudo  o  que  expus  até  aqui,  não  vislumbro  irregularidades  na  convocação  da
assembleia pelos réus, ao menos em cognição superficial.
De  outro  lado,  observo  que  estão  sendo  tomadas  várias  cautelas  para  que  a
assembleia seja realizada da melhor forma possível, bem como para que o acesso
dos “condôminos” seja facilitado.
O ato será realizado no interior do loteamento, num domingo, com a presença da
polícia militar e a utilização de urnas eletrônicas. Além disso, tudo será registrado
por meio de ata notarial.
Não  bastasse,  tenho  que  a  proibição  de  realização  da  assembleia  implicaria
flagrante  violação  a  direito  fundamental,  conquanto  sejam  comuns  decisões
judiciais nesse sentido.
De acordo com o artigo 5°, XVI, da Constituição Federal, “todos podem reunir­se
pacificamente,  sem  armas,  em  locais  abertos  ao  público,  independentemente  de
autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para
o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.
Ora,  se  é  direito  fundamental  o  de  reunião  em  locais  públicos,  com  maior  razão
também o é o de reunir­se em locais privados.
A  questão  é  saber  se  o  evento  do  dia  25/11/2018  será  uma  assembleia  apta  a
produzir efeitos jurídicos – caso preencha os requisitos formais –, ou apenas uma
confraternização entre os possuidores dos lotes do Mansões Entre Lagos – caso
não  os  preencha.  Por  ora,  em  cognição  superficial,  tudo  sinaliza  para  a  primeira
possibilidade.
Registro,  por  fim,  que  não  se  pode  temer  um  pleito  democrático,  especialmente
quando aberto para qualquer interessado concorrer, inclusive o atual Síndico.
Sobre  a  reconvenção,  observo  que  não  há  interesse  processual,  porquanto  é
absolutamente  desnecessária.  O  pedido  incidental  de  exibição  de  documentos  é
meio  de  prova  e  pode  ser  manejado  por  qualquer  das  partes  ao  longo  do
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procedimento.
Diante do exposto, INDEFIRO O PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA.
Por  outro  lado,  determino  ao  autor  que  apresente,  em  15  dias,  a  lista  dos
“Condôminos” adimplentes, ou a justificativa que entender adequada.
Como o autor já se manifestou nos autos após a apresentação da contestação, o
prazo para réplica já está em curso desde então.
Aguarde­se.
 
 
 

BRASÍLIA, DF, 22 de novembro de 2018 16:03:12.

RENATO CASTRO TEIXEIRA MARTINS
Juiz de Direito
Assinado eletronicamente por: RENATO CASTRO TEIXEIRA MARTINS
22/11/2018 21:20:21
https://pje.tjdft.jus.br:443/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento:

18112221202100200000024652066
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