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19VARCVBSB
19ª Vara Cível de Brasília
Número do processo: 073397218.2018.8.07.0001
Classe judicial: CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE DECISÃO (10980)
EXEQUENTE: CONDOMINIO MANSOES ENTRE LAGOS
REPRESENTANTE: COSMO JOSE BALBINO, JOSE ROBERTO DE AGUIAR BAPTISTA,
JOAO TERCIO SILVA AFONSO
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
No processo n° 073211449.2018.0.07.0001, terceiras pessoas promoveram uma
demanda contra o “Condomínio” com a finalidade de serem nomeadas para
administrálo provisoriamente, pois o mandato do Síndico já terminou.
Como neste processo se discute a licitude de uma Assembleia designada para
eleição dos cargos de direção do mesmo “Condomínio”, tenho que há risco de
decisões conflitantes. Por isso, nos termos do artigo 55, §3°, do CPC, e em nome
da segurança jurídica, ambos os processos devem tramitar simultaneamente,
estando este Juízo prevento.
Sobre a competência, existe regra expressa na Convenção elegendo o foro de
Brasília para dirimir as questões oriundas do “Condomínio”. Apesar da alegação
de que fora anulada por decisão do TJDFT, os réus se limitaram a copiar a ementa
de um acórdão, não tendo demonstrado que diz respeito ao “Condomínio” em
questão.
Antes de decidir os requerimentos das partes, é necessário registrar alguns
pontos e premissas:
1) A utilização de expressões do tipo “comparsas” e “asseclas” viola o dever de
urbanidade e respeito e, por isso, não será mais admitido;
2) Se o autor e as suas advogadas querem interpretar as decisões deste Juiz,
devem fazêlo de forma minimamente razoável e observar a boafé. A partir da
decisão que proferi no outro processo, não existe a menor possibilidade de
vislumbrar desobediência a partir da conduta dos réus. Basta ler o que foi
decidido: “(...) Por essas razões, à míngua de prova cabal de que o Condomínio
está sendo administrado mediante prática de abusos e/ou ilícitos, a melhor
solução é manter a Administração atual e aguardar a realização de nova
Assembleia, a ser designada nos moldes da Convenção”. Portanto, não foi
determinado a quem quer que seja que se abstivesse de fazer qualquer coisa;
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3) Se o atual Síndico vem causando prejuízos ao Condomínio, os interessados
podem promover as demandas que entenderem cabíveis. O certo é que isso não
tem qualquer relação com este processo;
4) O mesmo se diga em relação ao suposto envolvimento do Síndico e/ou dos
réus com os responsáveis pelo parcelamento ilegal de área rural e criação do
“Condomínio”;
5) Se a Loteadora vai causar prejuízos aos adquirentes dos lotes, cada um que
busque os seus direitos nas vias apropriadas. Certamente, isso também é
impertinente para este processo;
6) Não existe Condomínio neste processo, mas sim um loteamento irregular, muito
provavelmente oriundo de parcelamento ilegal do solo. Por isso, as regras do
Código Civil que regem os condomínios edilícios devem ser aplicadas cum grano
salis;
7) Em se tratando de condomínio, loteamento, associação ou qualquer outro tipo
de comunidade organizada, deve prevalecer a vontade dos seus componentes e o
Poder Judiciário deve intervir somente em último caso e exclusivamente para
verificar questões formais;
8) Conforme dispõe a primeira parte do artigo 8°, do CPC, “ao aplicar o
ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem
comum”.
Pois bem.
Segundo a tese do Condomínio, os réus criaram uma comissão eleitoral e
convocaram ilicitamente uma assembleia para eleição de síndico, subsíndico,
secretário e conselheiros. Por isso, requereram a proibição da realização do ato.
O artigo 1.350 do Código Civil determina que “Convocará o síndico, anualmente,
reunião da assembléia dos condôminos, na forma prevista na convenção, a fim de
aprovar o orçamento das despesas, as contribuições dos condôminos e a
prestação de contas, e eventualmente elegerlhe o substituto e alterar o regimento
interno”.
Segundo o artigo 1.350, § 1°, do Código Civil: “Se o síndico não convocar a
assembleia, um quarto dos condôminos poderá fazêlo”. Portanto, a legitimidade
dos condôminos para a convocação do ato depende da inércia do Síndico, o que,
aparentemente, está caracterizado neste caso.
Conforme comprovado neste e no outro processo, inclusive registrado na decisão
transcrita na inicial, a assembleia do dia 25/10/2018 não foi concluída por
questões de segurança, visto que se instaurou uma enorme balbúrdia no local
designado para o ato. Houve até necessidade de intervenção da Polícia Militar.
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Também está demonstrado lá e cá, em cognição superficial, que alguns
condôminos subtraíram os documentos e o computador que pertencem ao
“Condomínio” e que seriam utilizados para a prestação de contas da gestão do
Síndico naquela ocasião. Tanto que houve necessidade de uma ação de busca e
apreensão para recuperar tais documentos. A certidão expedida nos autos dessa
ação mostra que foram devolvidos à advogada do Condomínio em 08/11/2018 (id
25426556).
Tendo em vista as dimensões do Mansões Entre Lagos, que conta com 2.432
lotes, é natural a necessidade de reorganização dos documentos (id 25453097), o
que, aliás, deixou claro o Contador no comunicado id 25453121, emitido em
19/11/2018: “informo que o referido trabalho não deverá ser concluído em menos
de 45 dias”.
No entanto, a eleição do corpo diretivo do “Condomínio” não precisa
necessariamente aguardar a aprovação das contas da atual gestão. Nada impede
que ocorra uma assembleia para eleger os novos dirigentes – até porque o
mandato do Síndico se findou – para, em outra oportunidade, submeter tais contas
à aprovação.
Como já passou quase um mês desde a realização da outra assembleia, houve
tempo mais do que suficiente para o Síndico convocar novo ato. Ademais,
considerando a tese da inicial e as informações do Contador, tudo leva a crer que
não existe pretensão de convocação antes do decurso dos 45 dias informados
naquele comunicado. Por isso, a depender da vontade da atual Administração,
uma nova assembleia certamente não ocorrerá neste ano. Por isso, não vejo
óbice para que os “condôminos” (possuidores de lotes) possam convocala, desde
que, obviamente, respeitem as regras legais e convencionais.
A regra legal concede legitimidade a um grupo específico, composto por ao menos
1/4 dos Condôminos. Regra semelhante aparece no Regimento Interno do
Condomínio (artigo 9°, inciso IV). No caso dos autos, a assembleia foi convocada
por uma “comissão eleitoral”, supostamente chancelada por 1/4 dos condôminos.
Essa comissão parece ser um nada jurídico. Isso porque deveria ter sido nomeada
pelo Conselho Consultivo do Condomínio, mas isso não ocorreu.
No entanto, pouco importa a denominação assumida pelos réus. O essencial é
que estejam amparados por 1/4 dos condôminos.
Também pouco importa o registro do edital de convocação no Cartório de Notas,
pois não há exigência legal nesse sentido.
A lista apresentada pelos réus contém 739 assinaturas de possuidores de lotes
que “requerem a convocação de Assembleia” (id 25599317 e seguintes). Como o
“Condomínio” possui 2432 lotes, está preenchido com bastante folga o mínimo
legal.
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Sobre a necessidade de que os condôminos sejam adimplentes, faço as seguintes
observações:
1°) Justamente porque os documentos do “Condomínio” foram extraviados e
recuperados, e em razão do grande número de requerentes, não será tarefa
simples verificar quem são os eventuais inadimplentes;
2°) Os autores tentaram notificar o Síndico e o SubSíndico para que fornecessem
a lista dos possuidores adimplentes, mas não conseguiram (id 25601401 e id
25601425); e
3°) É muito cômodo para o atual Síndico a demora na reorganização dos
documentos, especialmente quando se utiliza disso como argumento para não
convocar nova assembleia e prolongar a sua gestão.
Por tudo o que expus até aqui, não vislumbro irregularidades na convocação da
assembleia pelos réus, ao menos em cognição superficial.
De outro lado, observo que estão sendo tomadas várias cautelas para que a
assembleia seja realizada da melhor forma possível, bem como para que o acesso
dos “condôminos” seja facilitado.
O ato será realizado no interior do loteamento, num domingo, com a presença da
polícia militar e a utilização de urnas eletrônicas. Além disso, tudo será registrado
por meio de ata notarial.
Não bastasse, tenho que a proibição de realização da assembleia implicaria
flagrante violação a direito fundamental, conquanto sejam comuns decisões
judiciais nesse sentido.
De acordo com o artigo 5°, XVI, da Constituição Federal, “todos podem reunirse
pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para
o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.
Ora, se é direito fundamental o de reunião em locais públicos, com maior razão
também o é o de reunirse em locais privados.
A questão é saber se o evento do dia 25/11/2018 será uma assembleia apta a
produzir efeitos jurídicos – caso preencha os requisitos formais –, ou apenas uma
confraternização entre os possuidores dos lotes do Mansões Entre Lagos – caso
não os preencha. Por ora, em cognição superficial, tudo sinaliza para a primeira
possibilidade.
Registro, por fim, que não se pode temer um pleito democrático, especialmente
quando aberto para qualquer interessado concorrer, inclusive o atual Síndico.
Sobre a reconvenção, observo que não há interesse processual, porquanto é
absolutamente desnecessária. O pedido incidental de exibição de documentos é
meio de prova e pode ser manejado por qualquer das partes ao longo do
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procedimento.
Diante do exposto, INDEFIRO O PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA.
Por outro lado, determino ao autor que apresente, em 15 dias, a lista dos
“Condôminos” adimplentes, ou a justificativa que entender adequada.
Como o autor já se manifestou nos autos após a apresentação da contestação, o
prazo para réplica já está em curso desde então.
Aguardese.
RENATO CASTRO TEIXEIRA MARTINS
Juiz de Direito
Assinado eletronicamente por: RENATO CASTRO TEIXEIRA MARTINS
22/11/2018 21:20:21
https://pje.tjdft.jus.br:443/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento:
18112221202100200000024652066
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