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23/11/2018
Número: 0720667-67.2018.8.07.0000
Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO
Órgão julgador colegiado: 6ª Turma Cível
Órgão julgador: Gabinete da Desa. Vera Andrighi
Última distribuição : 23/11/2018
Valor da causa: R$ 0,00
Relator: VERA LUCIA ANDRIGHI
Processo referência: 0733972-18.2018.8.07.0001
Assuntos: Assembléia, Administração
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
CONDOMINIO MANSOES ENTRE LAGOS (AGRAVANTE)
HELLEN CRISTINA PAULINO SILVA (ADVOGADO)
JOAO TERCIO SILVA AFONSO (AGRAVADO)
JOSE ROBERTO DE AGUIAR BAPTISTA (AGRAVADO)
DIVINO BARBOSA (ADVOGADO)
COSMO JOSE BALBINO (AGRAVADO)
DIVINO BARBOSA (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
6378075 23/11/2018 Decisão Decisão
19:53
PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO
6ª Turma Cível
0720667-67.2018.8.07.0000
DECISÃO
“(...)
Pois bem.
Segundo a tese do Condomínio, os réus criaram uma comissão eleitoral e convocaram ilicitamente uma
assembleia para eleição de síndico, subsíndico, secretário e conselheiros. Por isso, requereram a proibição
da realização do ato.
O artigo 1.350 do Código Civil determina que “Convocará o síndico, anualmente, reunião da assembléia
dos condôminos, na forma prevista na convenção, a fim de aprovar o orçamento das despesas, as
contribuições dos condôminos e a prestação de contas, e eventualmente eleger-lhe o substituto e alterar o
regimento interno”.
Segundo o artigo 1.350, § 1°, do Código Civil: “Se o síndico não convocar a assembleia, um quarto dos
condôminos poderá fazê-lo”. Portanto, a legitimidade dos condôminos para a convocação do ato depende
da inércia do Síndico, o que, aparentemente, está caracterizado neste caso.
Também está demonstrado lá e cá, em cognição superficial, que alguns condôminos subtraíram os
documentos e o computador que pertencem ao “Condomínio” e que seriam utilizados para a prestação de
contas da gestão do Síndico naquela ocasião. Tanto que houve necessidade de uma ação de busca e
apreensão para recuperar tais documentos. A certidão expedida nos autos dessa ação mostra que foram
devolvidos à advogada do Condomínio em 08/11/2018 (id 25426556).
Tendo em vista as dimensões do Mansões Entre Lagos, que conta com 2.432 lotes, é natural a necessidade
de reorganização dos documentos (id 25453097), o que, aliás, deixou claro o Contador no comunicado id
25453121, emitido em 19/11/2018: “informo que o referido trabalho não deverá ser concluído em menos
de 45 dias”.
Como já passou quase um mês desde a realização da outra assembleia, houve tempo mais do que
suficiente para o Síndico convocar novo ato. Ademais, considerando a tese da inicial e as informações do
Contador, tudo leva a crer que não existe pretensão de convocação antes do decurso dos 45 dias
informados naquele comunicado. Por isso, a depender da vontade da atual Administração, uma nova
assembleia certamente não ocorrerá neste ano. Por isso, não vejo óbice para que os “condôminos”
(possuidores de lotes) possam convoca-la, desde que, obviamente, respeitem as regras legais e
convencionais.
A regra legal concede legitimidade a um grupo específico, composto por ao menos 1/4 dos Condôminos.
Regra semelhante aparece no Regimento Interno do Condomínio (artigo 9°, inciso IV). No caso dos autos,
a assembleia foi convocada por uma “comissão eleitoral”, supostamente chancelada por 1/4 dos
condôminos. Essa comissão parece ser um nada jurídico. Isso porque deveria ter sido nomeada pelo
Conselho Consultivo do Condomínio, mas isso não ocorreu.
No entanto, pouco importa a denominação assumida pelos réus. O essencial é que estejam amparados por
1/4 dos condôminos.
Também pouco importa o registro do edital de convocação no Cartório de Notas, pois não há exigência
legal nesse sentido.
A lista apresentada pelos réus contém 739 assinaturas de possuidores de lotes que “requerem a
convocação de Assembleia” (id 25599317 e seguintes). Como o “Condomínio” possui 2432 lotes, está
preenchido com bastante folga o mínimo legal.
2°) Os autores tentaram notificar o Síndico e o Sub-Síndico para que fornecessem a lista dos possuidores
adimplentes, mas não conseguiram (id 25601401 e id 25601425); e
3°) É muito cômodo para o atual Síndico a demora na reorganização dos documentos, especialmente
quando se utiliza disso como argumento para não convocar nova assembleia e prolongar a sua gestão.
De outro lado, observo que estão sendo tomadas várias cautelas para que a assembleia seja realizada da
melhor forma possível, bem como para que o acesso dos “condôminos” seja facilitado.
O ato será realizado no interior do loteamento, num domingo, com a presença da polícia militar e a
utilização de urnas eletrônicas. Além disso, tudo será registrado por meio de ata notarial.
Não bastasse, tenho que a proibição de realização da assembleia implicaria flagrante violação a direito
De acordo com o artigo 5°, XVI, da Constituição Federal, “todos podem reunir-se pacificamente, sem
armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra
reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente”.
Ora, se é direito fundamental o de reunião em locais públicos, com maior razão também o é o de reunir-se
em locais privados.
A questão é saber se o evento do dia 25/11/2018 será uma assembleia apta a produzir efeitos jurídicos –
caso preencha os requisitos formais –, ou apenas uma confraternização entre os possuidores dos lotes do
Mansões Entre Lagos – caso não os preencha. Por ora, em cognição superficial, tudo sinaliza para a
primeira possibilidade.
Registro, por fim, que não se pode temer um pleito democrático, especialmente quando aberto para
qualquer interessado concorrer, inclusive o atual Síndico.
Sobre a reconvenção, observo que não há interesse processual, porquanto é absolutamente desnecessária.
O pedido incidental de exibição de documentos é meio de prova e pode ser manejado por qualquer das
partes ao longo do procedimento.
Por outro lado, determino ao autor que apresente, em 15 dias, a lista dos “Condôminos” adimplentes, ou a
justificativa que entender adequada.
Como o autor já se manifestou nos autos após a apresentação da contestação, o prazo para réplica já está
em curso desde então.
Aguarde-se.”
O Condomínio-agravante postula a antecipação da tutela recursal nos mesmo moldes da medida requerida
perante o Juízo a quo e indeferida pela r. decisão.
Comunique-se ao i. Juízo.
Publique-se.
VERA ANDRIGHI
Desembargadora