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POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W.

Comercio y mercado en los


imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p. 289

Significado do termo econômico nas ciências sociais – os dois significados do


termo: real e formal.
O propósito principal deste capítulo é determinar o significado que se atribui ao
termo economico em todas as ciências sociais.
..o conceito de “econômico” referido a atividades humanas é uma mescla de dois
significados que têm raízes independentes, que chamaremos de significado real e
significado formal.
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Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p. 289

O significado real
O significado real deriva da dependência em que se encontra o homem com respeito a
natureza e a seus semelhantes para conseguir seu sustento. Se refere ao intercâmbio
com o entorno natural e social, na medida em que é esta atividade a que proporciona
os meios para satisfazer as necessidades materiais.
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p. 289

O significado formal
O significado formal deriva do caráter lógico da relação meios-fins, evidente em
palavras como economização. Se refere a escolha entre os diferentes usos dos meios,
dada a insuficiência destes meios, quer dizer, a escolha entre utilizações alternativas
de recursos escassos. Se chamarmos lógica da ação racional as normas que regem
esta eleição de meios, podemos designar a esta variante da lógica com o termo
improvisado da economia formal.
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Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada
p.289/290

Os significados, real e formal, de econômico não têm nada de comum.


O primeiro tem sua origem nos fatos empíricos, o segundo na lógica. O significado
formal implica uma série de normas que regem a eleição entre os usos alternativos de
meios escassos. O significado real não implica eleição nem escassez de recursos; o
sustento do homem não tem por que implicar a necessidade de escolhas, e se estas
existem não têm por que estar determinadas pelo efeito limitador de uma “escassez”
dos recursos; na realidade, algumas das condições físicas e sociais de sobrevivência
mais importantes, como a disponibilidade de ar e água ou a devoção materna aos
filhos não estão, em geral, tão limitadas. (...) p.290 - As leis são em um caso as do
pensamento e em outro as da natureza. Os dois significados não podem estar mais
separados; semanticamente se encontram em posições diametralmente opostas.
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p. 290

Opção do autor pelo significado real – Confusão entre os dois significados


o significado real do termo econômico pode proporcionarmos os conceitos que
necessitam as ciências sociais para estudar todas as economias que existiram ou
existem.
O obstáculo mais imediato que se interpõe em nosso caminho é, como se tem
indicado, a ingênua confusão dos dois significados, o formal e o real. Esta fusão de
significados não é prejudicial, por suposto, enquanto sejamos conscientes de seus
efeitos restritivos. O que ocorre é que a concepção corrente do econômico funde os
dois significados, o de “subsistência” e o de “escassez”, do econômico sem uma
consciência suficiente dos perigos que para a clareza do pensamento encerra tal
fusão.
Esta mescla de termos se deveu a circunstâncias acidentais desde o ponto de vista
lógico. OS últimos dois séculos originaram na Europa ocidental e América Norte uma
organização das atividades relacionadas com o sustento humano a que se podiam
aplicar perfeitamente as normas de escolha. Esta forma da economia consistia em um
sistema de mercados criadores de preços. Como os atos de troca praticados em tal
sistema obrigam aos participantes a efetuar escolhas determinadas pela escassez de
recursos, o sistema se podia reduzir a um modelo que permitia a aplicação de
métodos baseados no significado formal do econômico. Na medida em que a
economia estava controlada pelo sistema, os significados formal e real coincidiam na
prática. (...) Só Menger, em sua obra póstuma, criticou o termo, porém nem ele nem,
posteriormente, Max Weber e Talcott Parsons se deram conta da importância da
distinção para a análise sociológica.
Porém o antropólogo, o sociólogo e o historiador, que estudavam, cada um em seu
terreno, o lugar ocupado pela economia na sociedade humana, tinham ante si uma
grande variedade de instituições, alheias aos mercados, nas quais estava integrada a
atividade econômica do homem. Estas instituições não se podiam estudar por meio de
um método analítico ideado para uma forma específica da economia que dependia da
presença de elementos de mercado.
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p. 291
Exame das concepções formais – ação racional
Examinemos as concepções formais começando pela forma em que a lógica da ação
racional dá origem a uma economia formal e esta, por sua vez, senta as bases da
análise econômica.
A ação racional se define aqui como escolha de meios em relação a uns fins. Os
meios são qualquer coisa que sirva para alcançar o fim, seja em virtude das leis da
natureza ou de umas regras do jogo. Assim, racional é um adjetivo que não se aplica
nem aos fins nem aos meios, senão mais bem a relação entre uns e outros.
A lógica da ação racional se pode, pois, aplicar a todos os meios e fins concebíveis, o
que supõe uma variedade quase infinita de interesses humanos.
Se supomos que a escolha é conseqüência da escassez de meios, a lógica da ação
racional se converte na variante da teoria da escolha que temos chamado economia
formal. Todavia está logicamente desligada do conceito de atividade econômica
humana, porém se encontra algo mais próximo. A economia formal se refere a uma
situação de escolha que deriva de uma insuficiência de meios. Se trata do
denominado postulado da escassez, que pressupõe , em primeiro lugar, que os meios
são escassos, e, em segundo, que esta escassez é a que faz necessária e escolha. A
escassez de meios não apresenta muitos problemas de comprovação, porém para que
de lugar a uma necessidade de escolha os meios têm que ter diversos usos e tem de
existir uma gradação de fins, quer dizer, pelo menos dois fins ordenados segundo
uma ordem de prioridades. As duas condições são aleatórias. Não tem importância o
que a razão pela qual os meios só podem utilizar-se de uma maneira seja fruto do
costume ou da tecnologia; o mesmo se pode dizer da gradação dos fins.
Uma vez definidos assim a escolha e a escassez é fácil observar que existe escolha de
meios sem escassez e escassez de meios sem escolha. A escolha pode estar
determinada por uma preferência pelo bem sobre o mal (escolha moral) ou pode dar-
se uma encruzilhada ao existir diversos caminhos que conduzam ao fim perseguido e
têm as mesmas vantagens e desvantagens. Em ambos os casos a abundância de
meios, longe de reduzir as dificuldades da escolha, as aumenta. Evidentemente, na
maior parte dos campos da ação racional a presença de escassez é algo aleatório. (...)
Ou, para voltar a esfera da vida humana, em algumas civilizações as situações de
escassez são quase excepcionais, enquanto que em outras são por desgraça a regra
geral. Em ambos casos a presença ou ausência de escassez é um dado, tanto se tem
suas causas na natureza ou no direito.
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p. 292/293

Relação entre economia formal e mercados criadores de preços


Temos, last but not least, a análise econômica. Esta disciplina é o resultado da
aplicação da economia formal a uma atividade econômica de um tipo definido, quer
dizer, o sistema de mercado. A economia está neste encarnada em instituições que
fazem que as escolhas individuais produzam movimentos interdependentes que
constituem a atividade econômica. Isto se consegue pela generalização do uso de
mercados criadores de preços. Todos os bens e serviços, incluindo a utilização da
força de trabalho, a terra e o (p. 293)capital, estão a venda nos mercados e têm, por
conseguinte, um preço; todas as formas de ingresso derivam da venda de bens e
serviços: os salários, a renda da terra e o interesse do capital representam os preços
respectivos daqueles serviços. A introdução geral do poder de compra como o meio
de aquisição converte o processo de satisfação de necessidades em uma asignação de
recursos escassos com usos alternativos (o dinheiro) Disto se depreende que tanto as
condições da escolha como suas conseqüências são quantificáveis em forma de
preços. Pode afirmar-se que o concentrar a atenção nos preços como o fato
econômico por excelência o enfoque formal oferece uma descrição total da economia
como uma atividade regida por escolhas induzidas pela escassez de recursos. Os
instrumentos conceituais com os que se levanta esta construção teórica constituem a
disciplina da análise econômica.
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p. 293

Limites da análise econômica como método - formal


Podemos deduzir de tudo o que foi dito os limites da análise econômica como
método. A utilização do significado formal apresenta a economia como uma série de
atos de economização, quer dizer, de eleições induzidas por situações de escassez.
Ainda que as normas que regem ditos atos sejam universais, a medida em que se
podem aplicar o estudo de uma economia determinada dependerá de se esta está
constituída realmente por uma série de atos deste tipo. Para produzir resultados
quantitativos, os movimentos de asignação e apropriação que figuram a atividade
econômica tem de apresentar-se como funções de ações sociais que partem de
recursos insuficientes e estão orientadas pelos preços resultantes. Esta situação só se
dá em um sistema de mercados.
A relação entre a economia formal e a atividade econômica humana é, com efeito,
contigente. Fora de um sistema de mercados criadores de preços a análise econômica
perde boa parte de sua importância como método de investigação dos mecanismos
econômicos.
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p. 293

Concepção real da economia – economia empírica – economia é uma atividade


institucionalizada. surgimento de dois conceitos:a tividade e o de
institucionalização
A fonte da concepção real é a economia empírica. Esta pode definir-se brevemente,
sem demasiada precisão, como uma atividade institucionalizada de interação entre o
homem e seu entorno que dá lugar a um fornecimento contínuo de meios materiais de
satisfação de necessidades. A satisfação de necessidades é “material” se requer a
utilização de meios materiais para alcançar os fins: no caso de um tipo definido de
necessidades fisiológicas, como as de comida e refúgio, inclui a utilização exclusiva
dos chamados serviços.
A economia é uma atividade institucionalizada. Surgem dois conceitos , o de
“atividade” e o de “institucionalização”.
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Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p. 294

Conceito de atividade - Atividade sugere uma análise em termos de movimento.


Os movimentos podem obedecer a mudanças de situação ou de apropriação ou
de ambos.
os elementos materiais podem alterar sua posição mudando de lugar ou mudando de
mãos; estas mudanças, muitos diferentes entre si, podem apresentar-se juntas ou
separadas. Estes dois tipos de movimentos esgotam todas as possibilidades da
atividade econômica como fenômeno natural e social.
Movimentos de situação são a produção e o transporte, que implicam deslocamentos
espaciais de objetos. Os produtos são de uma ordem superior ou inferior, segundo a
utilidade que tenham para o consumidor. esta famosa “ordem de bens” coloca os bens
de consumo frente aos bens de produção, segundo satisfaçam necessidades
diretamente ou só indiretamente, através de uma combinação com outros produtos.
Este tipo de movimento dos elementos representa o essencial da economia entendida
em seu significado real, quer dizer, como produção.
O movimento de apropriação compreende o que se costuma chamar circulação dos
produtos e sua administração. No primeiro caso, está determinado por transações, no
segundo por disposições. Por conseguinte, uma transação é um movimento de
apropriação entre sujeitos, enquanto que uma disposição é um ato unilateral de um
sujeito ao que a força de costume ou da lei lhe atribuem uns efeitos determinados. O
termo sujeito serve aqui para designar tanto entidades públicas como pessoas ou
empresas privadas, e as diferenças residem principalmente na organização interna.
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p. 294/295

Atividades e instituições econômicas


As atividades sociais podem chamar-se econômicas se formam parte da atividade
econômica; o mesmo pode dizer-se das instituições na medida em que contenham
uma concentração de tais atividade; pode chamar-se elementos econômicos a todos os
componentes da atividade econômica. Estes elementos podem agrupar-se
convenientemente como ecológicos, tecnológicos ou sociais segundo pertençam
fundamentalmente ao entorno natural, ao equipamento mecânico ou a sociedade
humana.
Não obstante, reduzida a uma interação mecânica, biológica e psicológica de
elementos, esta atividade econômica não podia ser uma realidade histórica. Não
contém mais que o mero esqueleto dos processos de produção e transporte e das
mudanças apropriativas. Sem as condições sociais que determinam as motivações dos
indivíduos (p. 295) não haveria nada, praticamente, que sustentasse a
interdependência dos movimentos e sua recorrência, necessárias para a unidade e a
estabilidade da atividade econômica. A interação dos elementos naturais e humanos
não formaria nenhuma unidade coerente, nenhuma entidade estrutural da que se
pudesse dizer que tem uma função na sociedade ou uma história. A atividade
econômica careceria das características que fazem que o pensamento cotidiano e o
especializado consideram as questões relativas ao sustento humano como um campo
de grande interesse prático e de dignidade teórica e moral.
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p. 295

Importância transcendental do aspecto institucional da economia

O que ocorre no cultivo de uma parcela de terra , ou em uma cadeia de montagem de


uma fábrica de automóveis é, prima facie, uma combinação de movimentos humanos
e não humanos. Desde o ponto de vista institucional é uma mera combinação de
termos como trabalho e capital, grêmio e sindicato, aceleração e atraso, traço
compartido e outras unidades semânticas do contexto social. (...) Nossa distinção
conceitual é vital para compreender a interdependência da tecnologia e as instituições
assim como sua independência relativa.
A institucionalização da atividade econômica confere a esta unidade e estabilidade;
da lugar a uma estrutura com uma função determinada na sociedade e modifica o
lugar da atividade econômica na sociedade, agregando assim significação a sua
história; centra o interesse sobre os valores, as motivações e a atuação prática.
Unidade e estabilidade, estrutura e função, história e atuação prática. Unidade e
estabilidade, estrutura e função, história e atuação prática revelam o conteúdo de
nossa afirmação da economia humana é uma atividade institucionalizada.
A economia humana está integrada e submergida em instituições de tipo econômico e
extraeconômico. A inclusão destas últimas é vital. Com efeito, a religião ou o
governo Governo podem ser tão importantes para a estrutura e o funcionmamento da
economia como as instituições monetárias ou a disponibilidade de ferramentas e
máquinas que simplifiquem o trabalho.
O estudo do lugar cambiante que ocupa a economia na sociedade não é, pois, mais
que a análise de como está institucionalizada a atividade econômica wem diferentes
épocas e lugares.
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p. 296

Um estudo sobre como estão institucionalizadas as economias deveria começar


pela forma em que a economia adquire unidade e estabilidade, quer dizer, pela
interdependência e a regularidade de suas partes. Instrumentos para descrever a
atividade econômica
Unidade e estabilidade são fruto da combinação de muito poucas pautas que se
podem chamar formas de integração. Como se manifestam juntas em diferentes
níveis e em distintos setores, é com freqüência impossível selecionar uma delas como
dominante para poder utilizá-las para classificar os diferentes tipos de economias.
Contudo, quando diferenciamos entre setores e níveis da economia estas formas
constituem um instrumento para descrever a atividade econômica em termos
comparativamente simples, permitindo ordenar as intermináveis variações desta.
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p. 296

A observação empírica demonstra que as pautas principais são a reciprocidade,


a redistribuição e o intercâmbio.
A reciprocidade supõe movimentos entre pontos correlativos de agrupações
simétricas; a redistribuição consiste em movimentos de apropriação em direção a um
centro primeiro e, posteriormente, deste centro para fora outra vez; por intercâmbio
entendemos movimentos recíprocos como os que realizam os “sujeitos” em um
sistema de mercado. A reciprocidade, pois, pressupõe um transfondo social de
agrupações distribuídas simetricamente; a redistribuição depende da presença de
certo grau de centralização no grupo; o intercâmbio, para produzir integração,
necessita de um sistema de mercados criadores de preços. É evidente que as distintas
pautas de integração se encarnam em estruturas institucionais distintas.
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p. 296/297

Aqui pode ser interessante fazer algumas classificações.


Os termos reciprocidade, redistribuição e intercâmbio, com os que designamos
formas de integração, se utilizam com freqüência para definir interelações
pessoais. O fato significativo é que os meros agregados das condutas pessoais em
questão não bastam para produzir as estruturas.
Superficialmente, pois, poderia parecer que as formas de integração não fazem senão
refletir agregados das formas respectivas de conduta individual: assim, se é freqüente
a conduta de reciprocidade entre os indivíduos nos encontraremos ante uma
integração redistribuitiva; analogamente, os atos freqüentes de troca entre indivíduos
deram lugar a uma forma de integração baseada no intercâmbio. Se as coisas fossem
assim, nossas pautas de integração não seriam mais que simples agregados de formas
correspondentes de conduta ao nível pessoal. é certo que insistimos em que o efeito
de integração estava condicionado pela presença de determinadas situações
institucionais, como organizações simétricas, pontos centrais e sistemas de mercado,
respectivamente, porém estas situações acabam parecendo a representação (p.297)
agregada das pautas de conduta pessoais cujos efeitos condicionam. O fato
significativo é que os meros agregados das condutas pessoais em questão não bastam
para produzir as estruturas. A conduta de reciprocidade entre indivíduos só integra a
economia se estão já dadas estruturas organizadas simetricamente, como os sistemas
simétricos de grupos unidos pelo parentesco. Um sistema baseado no parentesco
nunca surge como resultado da mera conduta de reciprocidade no plano individual.
Analogamente, a redistribuição pressupõe um centro para onde se dirigem os recursos
da comunidade, porém a organização e a consolidação desse centro não é uma
simples conseqüência de ações freqüentes de participação do produto por parte dos
indivíduos. Finalmente, o mesmo se pode dizer do sistema de mercado. Os atos de
intercâmbio a nível individual produzem preços só se estão enmarcados em um
sistema de mercados criadores de preços, uma estrutura institucional que não pode
sugerir em nenhuma parte como fruto de atos de intercâmbio efetuados ao acaso. Não
queremos dizer, por suposto, que o marco institucional seja o resultado de forças
misteriosas que atuam fora do alcance da conduta pessoal ou individual. Queremos
simplesmente deixar sentado que se em qualquer caso os efeitos sociais das condutas
individuais dependem da presença de determinadas condições institucionais, nem por
isso estas são conseqüência das condutas pessoais em questão. Superficialmente, a
pauta institucional pode parecer o resultado de uma acumulação da conduta
individual correspondente, porém os elementos vitais de organização e consolidação
são criados por um tipo de conduta totalmente diferente.
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Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p. 297

Origens dos estudos sobre reciprocidade – Thurwald e Malinovski


O primeiro autor que falou da relação que existe entre a conduta de reciprocidade ao
nível interpessoal, por um lado, e umas agrupações simétricas dadas, por outro, foi,
segundo nos consta, Richard Thurwald, em 1915, em um estudo empírico sobre o
sistema matrimonial dos bánaro da Nova Guiné. Bronislaw Malinowski, uns dez anos
depois, referindo-se a Thurnwald, predijo que se descobriria que a reciprocidade
socialmente relevante se baseia sempre em formas básicas de organização simétricas.
Suas próprias descrições do sistema de parentesco das ilhas Trobriand e do comércio
de Kula apoiavam esta afirmação. O mesmo antropólogo seguiu o caminho traçado
por suas próprias investigações, considerando a simetria simplesmente como um dos
diversos marcos institucionais possíveis. Posteriormente acrescentou-se a
reciprocidade a redistribuição e o intercâmbio, outras formas de integração;
analogamente, ao lado da simetria colocou a centralização e o intercâmbio, os
correspondentes marcos institucionais. Daí nossas formas de integração e nossas
estruturas institucionais.
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Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p.298

por que na esfera econômica a conduta interpessoal com tanta freqüência não
tem os efeitos sociais esperados se não existem condições institucionais
adequadas.
Só em um entorno organizado simetricamente a conduta de reciprocidade dará lugar a
instituições de alguma importância; só donde se tem criado centros de asignação de
recursos os atos de distribuição dos indivíduos poderão fazer surgir uma economia
redistribuitiva; e só na presença de um sistema de mercados criadores de preços os
atos de intercâmbio realizados pelos indivíduos originaram preços flutuantes que
integrem a economia. Em caso contrário, os atos de intercâmbio serão e, por
conseguinte, tenderão a não realizar-se. Não obstante, em caso de realizar-se apesar
de tudo, de uma maneira mais ou menos aleatória, suscitam uma violenta reação
emocional, como a que produz contra atos de indecência ou de traição, pois a conduta
comercial não é nunca emocionalmente indiferente e, por conseguinte a opinião não a
tolera fora dos canais sancionados pelo costume.
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p. 298

Um grupo que deliberadamente empreendera a tarefa de organizar suas relações


econômicas de acordo com um modelo de reciprocidade tendería(teria) que
dividirse em subgrupos cujos membros puderam identificar-se entre si como
tais. A simetria não se limita a dualidade. Aristóteles ensinava que a cada tipo de
comunidade (koinonia) correspondia um tipo de boa vontade (filia) entre seus
membros que se expressava em reciprocidade (antipeponthos).
Os membros do grupo A podiam então estabelecer relações de reciprocidade com os
do grupo B, e vice-versa. Porém a simetria não se limita a dualidade. Três, quatro ou
mais grupos podem ser simétricos com respeito a dois mais eixos; assim mesmo, os
membros dos grupos podem não observar relações de reciprocidade entre eles e fazê-
lo para os correspondentes membros de terceiros grupos com os que mantêm relações
similares. Assim, um homem de Trobriand tem determinadas responsabilidades com
respeito a família de sua irmã, porém ele não recebe, por sua vez, ajuda do marido de
sua irmã, senão, se está casado, do irmão de sua própria mulher, membros de uma
terceira família.
Aristóteles ensinava que a cada tipo de comunidade (koinonia) correspondia um tipo
de boa vontade (filia)entre seus membros que se expressava em reciprocidade
(antipeponthos). Isto era válido tanto para as comunidades mais permanentes, como
as famílias, as tribos ou as cidades-Estado, como para as menos permanentes que
podem estar compreendidas nas primeiras e subordinadas a elas. Traduzido aos
termos que nós utilizamos, isto implica uma tendência das comunidades maiores a
desenvolver uma simetria múltipla que pode ser o marco de uma conduta de
reciprocidade nas comunidades subordinadas. Quanto mais próximos se sentem entre
si os membros da comunidade maior, mais geral será a tendência a desenvolver
atitudes de reciprocidade nas relações específicas limitadas pelo espaço, o tempo ou
outros fatores. (p. 299) O parentesco, a vizinhança ou o tótem são as agrupações mais
permanentes e amplas, dentro delas, associações voluntárias ou semivoluntárias de
caráter militar, profissional, religioso ou social criam situações nas que, pelo menos
transitoriamente ou de forma limitada a uma determinada localidade ou situação
típica, se podem formar agrupações simétricas cujos membros praticam alguma
forma de reciprocidade.
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p. 295

A reciprocidade, como forma de integração, se reforça notavelmente quando


consegue utilizar tanto a redistribuição como o intercâmbio como métodos
subordinados.
Pode chegar-se a ela através da divisão do peso do trabalho segundo regras definidas
em redistribuição como no caso da realização de tarefas “por turno”, e também, as
vezes, através do intercâmbio a equivalências fixas para beneficiar a parte que carece
de algum tipo de bens de primeira necessidade. Nas economias sem mercado a
reciprocidade e a redistribuição se dão com freqüência juntas.
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p. 299

A redistribuição surge dentro de um grupo na medida em que a asignação dos


produtos está centralizada e se realiza seguindo costumes, leis ou decisões
centrais ad hoc. Também a redistribuição pode integrar grupos em todos os
níveis e em todos os graus de permanência
Em ocasiões consiste na arrecadação física do produto, acompanhada de
almacenamiento e redistribuição; outras vezes, a “arrecadação” não é física, senão
simplesmente jurídica, como no caso dos direitos sobre a localização física dos bens.
A redistribuição surge por muitas razões e a todos os níveis da civilização, desde a
tribo caçadora primitiva até os extensos sistemas de almacenamiento dos antigos
Egito, Suméria, Babilônia ou Perú.
p.300
Também a redistribuição pode integrar grupos em todos os níveis e em todos os graus
de permanência, desde o mesmo Estado até unidades de caráter transitório. Aqui
também, como no caso da reciprocidade, quanto mais compacta é a textura da
unidade maior mais variadas são as subdivisões nas que pode funcionar efetivamente
a redistribuição.
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p. 300

Para servir como forma de integração, o intercâmbio requer um sistema de


mercados criadores de preços.
Deve-se distinguir três tipos de intercâmbio: o movimento puramente físico de
uma “troca de lugares” entre os sujeitos (intercâmbio operacional); os
movimentos apropriativos de intercâmbio, a uma equivalência fixa (intercâmbio
acordado) ou a uma equivalência negociada (intercâmbio integrador).
Quando o intercâmbio se produz a uma equivalência fixa a economia está integrada
pelos fatores que fixam dita equivalência, não pelo mecanismo de mercado. Inclusive
os mercados criadores de preços não são integradores mais que quando estão
enmarcados em um sistema que tende a estender o efeito dos preços a outros
mercados que não sejam os diretamente afetados.
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p. 300/301

Se tem assinalado justamente no regateio a essência da conduta negociadora.


Para que o intercâmbio seja integrador a conduta das partes deve estar
orientada a produzir um preço que favoreça o máximo a cada um dos
contratantes.
Este comportamento contrasta fortemente com o do intercâmbio a um preço fixo. A
ambigüidade do termo ganho tende a ocultar a diferença. O intercâmbio a preços
fixos não supõe mais que um ganho para as duas partes implicadas na decisão de
intercambiar; o intercâmbio a preços flutuantes tem como objetivo um ganho que só
se pode conseguir por uma atitude de claro antagonismo entre os contratantes. Este
elemento de antagonismo pode apresentar-se muito diluído, porém não se pode
eliminar. Nenhuma comunidade que deseje preservar a solidariedade (p. 301) entre
seus membros pode permitir que se desenvolva uma hostilidade latente em torno a
uma questão como a comida, tão vital para a existência animal e, por conseguinte,
capaz de produzir tensão e ansiedade. Daí a proibição das transações motivadas pelo
ganho, pelo menos no que se refere a artigos de primeira necessidade, proibição
praticamente universal nas sociedades arcaicas. A exclusão generalizada do regateio
sobre as vituallas elimina automaticamente os mercados criadores de preços do
âmbito das instituições primitivas.
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p. 301/302

As agrupações tradicionais de economia que constituem um intento de


classificação segundo as formas dominantes de integração resultam sumamente
esclarecedoras. O que os historiadores suelem chamar “sistemas econômicos”
são um exemplo desta tendência. Neles, o predomínio de uma forma de
integração se identifica com o grau em que esta contém a terra e trabalho na
sociedade.
As formas de integração não representam “etapas” de desenvolvimento, pois não
implicam nenhuma ordem de sucessão no tempo. Junto com a forma dominante
podem apresentar-se varias formas subordinadas, e inclusive aquela pode sofrer
eclipses e reaparições.
A chamada sociedade bárbara está caracterizada pela integração da terra e o trabalho
na economia por meio de vínculos de parentesco. Na sociedade feudal os vínculos de
lealdade determinam o destino da terra e da força de trabalho ligada a ela. Nos
impérios fluviais eram o templo e o palácio os que distribuíam em grande medida as
terras, e o mesmo ocorria com o trabalho , pelo menos em sua forma independente. O
surgimento do mercado e sua conversão em força dominante na economia podem
seguir-se observando em que medida a terra e os alimentos se mobilizam através de
intercâmbios e o trabalho se convertia em uma mercadoria que se podia adquirir
livremente no mercado. Isto pode contribuir a explicar a pertinência da
historicamente insustentável teoria das etapas (escravidão, servidão, e trabalho
assalariado) que é tradicional no marxismo, uma classificação que parte da convicção
de que a natureza da economia estava definida pela condição em que se encontrava a
força de trabalho. Contudo, a integração da terra na economia é uma questão de
importância não menos vital.
Em qualquer caso, as formas de integração não representam “etapas” de
desenvolvimento, pois não implicam nenhuma ordem de sucessão no tempo. Junto
com a forma dominante podem apresentar-se varias formas subordinadas, e inclusive
aquela pode sofrer eclipses e reaparições. As sociedades tribais praticam a
reciprocidade e a redistribuição, e as sociedades arcaicas são predominantemente
redistribuitivas, ainda que possam permitir certo grau de atividade comercial. A
reciprocidade, que desempenha um papel dominante em algumas comunidades
melanesias, aparece como um traço de certa importância, ainda que subordinado, nos
impérios antigos redistribuitivos, nos que modela em grande medida a organização do
comércio exterior (levado a cabo em forma de dons e contradons). Em uma situação
de (p.302)emergência bélica, se voltou a introduzir em grande escala em nosso
século, sob o neme de lend-lease, em sociedades em que os mercados e o intercâmbio
eram as formas dominantes da vida econômica. A redistribuição, método dominante
nas sociedades tribais e arcaicas, ao lado do qual os intercâmbios têm uma
importância insignificante, adquiriu grande importância na última época do império
romano e está ganhando terreno hoje em alguns Estados industriais modernos.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p. 302

A considerável influência restritiva do enfoque baseado no mercado sobre a


interpretação das instituições comerciais e monetárias. Isto não concorda com os
dados da antropologia e a historia
inevitavelmente, o mercado aparece como o lugar do intercâmbio, o comércio como
sua forma e o dinheiro como seu meio. Como o comércio está orientado por preços e
estes são uma função do mercado, todo o comércio é comércio de mercado, da
mesma maneira que todo dinheiro é dinheiro para o intercâmbio. O mercado é a
instituição geradora da qual o comércio e o dinheiro são funções.
Tudo isto não concorda com os dados da antropologia e a historia. O comercio e
alguns costumes monetários são tão velhos como a humanidade, enquanto que os
mercados, ainda que já no neolítico pudesse haver reuniões com caráter econômico,
não adquiriram importância até períodos históricos bastante mais recentes. Os
mercados criadores de preços, que são os únicos capazes de constituir um sistema de
mercado, não existiam evidentemente antes do primeiro milênio da Antigüidade, e
inclusive logo permaneceram eclipsados por outras formas de integração. Porém nem
sequer estes fatos tão simples e óbvios puderam descobrir-se enquanto perdurou a
crença de que o comércio e o dinheiro estavam circunscritos a uma forma de
integração baseada no intercâmbio. uma terminologia restritiva desterrou os largos
períodos históricos nos quais a economia estava integrada pela reciprocidade e a
redistribuição e as esferas em que seguia ocorrendo o mesmo incluso em tempos
modernos.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p. 303

O comércio é, essencialmente, um método relativamente pacífico de conseguir


produtos que não se acham ou faltam em um determinado lugar. É uma atividade
externa ao grupo, como a cacería, a expedição de captura de escravos e a incursão
pirata. Em todos estes casos o fundamental, o objetivo da ação, é a aquisição e o
transporte de produtos desde certa distância. O que distingue o comércio da busca de
presas, botim, madeiras raras ou animais exóticos é o caráter bilateral do movimento,
que assegura seu desenvolvimento pacífico e bastante regular.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p. 302

..o comércio é um movimento de produtos através do mercado. Todas as mercadorias


– objetos produzidos para a venda – são objetos potenciais de comércio; uma
mercadoria se move em uma direção e outra na direção contrária; o movimento está
controlado por preços: comércio e mercado estão indissoluvelmente ligados entre si.
Todo comércio é comércio de mercado.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p. 303

Como a caça , a incursão ou a expedição em condições primitivas, o comércio é uma


atividade de grupo mais que individual; isso o acerca a organização do galanteio e do
aparelhamento, que com freqüência implica aquisição de esposas em lugares
longínquos por meios mais ou menos pacíficos. Assim o comércio se centra na
reunião de diferentes comunidades com a finalidade, entre outras, de intercambiar
produtos. Estas reuniões não produzem taxas de intercâmbio, como os mercados
criadores de preços, senão que, pelo contrário, as pressupõem. Não existem
mercadores individuais nem motivações de ganho pessoal.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p.304

A importância da “aquisição de produtos longínquos” como elemento constitutivo do


comércio deveria por de relevo o papel dominante desempenhado pelas importações
no comércio antigo. No século XIX se impuseram os interesses exportadores: um
típico fenômeno catalactico.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi

p.304
Como implica o transporte de produtos entre lugares distantes e em duas direções
opostas, o comércio tem, necessariamente, vários componentes, como o pessoal, as
mercadorias, o transporte e a bilateralidade, que podem analizar-se com critérios
sociológicos ou tecnológicos adequados. Estudando estes quatro fatores podemos
esperar aprender algo acerca do lugar cambiante que ocupa o comércio na sociedade.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p. 304

Em primeiro lugar, temos as pessoas que levam a cabo as atividades comerciais.


A “aquisição” de produtos longínquos” pode praticar-se por motivos referentes a
condição de mercador em sociedade, como uma norma que compreende elementos de
dever e de serviço (motivação por classe(categoria)) ou bem pelo benefício material
que consegue pessoalmente o comerciante pelo fato de comprar e vender (motivação
pelo ganho)
Apesar das múltiplas combinações possíveis destes incentivos, a honra e o dever, por
um lado, e o ganho, por outro, aparecem como motivações primárias claramente
diferenciadas. Se a motivação de classe, como ocorre com frequência, está reforçada
por benefícios materiais, estes não suelen tomar a forma de ganho realizada no
intercâmbio, senão mais bem de presentes ou concessões de terras efetuadas pelo rei,
o templo ou o senhor como forma de recompensa. Na realidade, os ganhos realizados
no intercâmbio são sumas bastante mesquinhas, que não se podem comparar com as
riquezas que o senhor concede ao mercador audaz e afortunado. Assim, o que
comercia por dever e honra se faz rico, e o que se dedica ao intercâmbio com ânimo
de lucro não sai da pobreza; uma razão adicional para que as motivações materiais se
mantenham ocultas na sociedade antiga.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p.305

A sociedade antiga em geral não conhece mais que dois tipos de mercadores, um
situado na parte superior da escala social e o outro no fundo. O primeiro está
relacionado com os governantes, como exigem as condições políticas e militares dos
intercâmbios; o sustento do outro depende de agotadores trabalhos de carga. Este fato
tem grande importância para compreender a organização do comércio na
Antiguidade. Não podia existir uma classe de mercadores, pelo menos entre os
cidadãos. Deixando de lado o extremo oriente, que não podemos tratar aqui, só se
conhecem três exemplos significativos de existência de uma ampla classe média
comercial antes da Idade Moderna:
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p.305

Existe um terceiro enfoque, mais estritamente histórico do problema. Os tipos


de mercadores da Antiguidade eram o tankarum, o meteco ou residente
forasteiro e o “estrangeiro”.
O meteco surgiu com certa força a luz histórica em Atenas e algumas outras cidades
gregas como um mercador de classe mais baixa e com o helenismo se converteu no
protótipo de uma classe média comercial grecofalante ou levantina que se estendeu
desde o vale do Indo até as colunas de Hércules. O estrangeiro se encontra, por
suposto, um pouco em todas as partes. realiza os intercâmbios com tripulações
estrangeiras e em terras estrangeiras; nem pertence a comunidade nem goza da
categoria especial de residente forasteiro, senão que é membro de uma comunidade
diferente.
Existe uma quarta distinção, esta antropológica, que proporciona a chave para
compreender a curiosa personalidade do mercador estrangeiro. Ainda que o
número de “povos comerciantes” aos que pertenciam estes “estrangeiros” era
comparativamente pequeno, servia para explicar a instituição, muito estendida,
do “comércio passivo”.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p.306

Em segundo lugar, a organização do comércio antigo devia diferir segundo as


mercadorias transportadas, a distância a recorrer, os obstáculos a superar pelos
viajantes, as condições políticas e ecológicas da aventura. Por isso, entre outras
razões, todo o comércio é específico em suas origens; assim o determinam as
mercadorias e seu transporte. em tais condições não pode existir comércio “em
geral”.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p.306

A especificidade do comércio está agudizada pela necessidade de adiquirir os


produtos importados por meio de outros exportados, pois quando a economia
não está regida pelo mercado as importações e as exportações tendem a estar
submetidas a regimes distintos. O processo pelo que se recolhem os produtos
destinados a exportação só está separado e ser relativamente independente do que
rege a divisão dos bens importados. O primeiro pode ser uma questão de tributos ou
impostos ou de presentes feudais ou de qualquer outro mecanismo pelo que as
mercadorias fluíam para o centro, enquanto que os impostos repartidos podem
discorrer por canais completamente diferentes.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p.307

O que a natureza hizo diferente o mercado o vuelve homogênio. Pode inclusive


esquecer-se a diferença entre os produtos e seu transporte, pois no mercado
ambos podem comparar-se e vender-se (no mercado de produtos e no de fretes e
seguros, respectivamente). Nos dois casos há oferta e demanda e os preços se
formam de idêntica maneira.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p.307

O transporte e as mercadorias, dois das partes constituintes do comércio


adquirem um denominador comum em termos de coste. Assim, a preocupação
pelo mercado e sua homogeneidade artificial pode ser útil para fazer boa teoria
econômica, porém não boa história econômica. finalmente, descobriremos que as
rotas comerciais e os meios de transporte podem ter tanta importância para as formas
institucionais do comércio como os tipos de produtos transportados. Com efeito, em
todos estes casos, as condições geográficas e tecnológicas estão entrelaçadas com
a estrutura social.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p.307

Analisando a bilateralidade, nos encontramos ante três tipos principais de


comércio: comércio de presentes, comércio administrativo e comércio mercantil.
O comércio de presentes une as partes por relações de reciprocidade; podemos
citar os exemplos dos amigos hóspedes, os sócios kula e os grupos visitantes. Durante
milênios o comércio entre impérios foi comércio de presentes, pois nenhuma outra
forma de bilateralidade podia ter satisfeito melhor as necessidades da situação. A
organização deste tipo de comércio suele ser cerimonial, com apresentação mutua,
embaixadas, tratos políticos entre chefes ou reis. Os objetos de intercâmbio são
tesouros, produtos de luxo; no caso extremo dos grupos de visitantes se pode
encontrar um caráter mais “democrático” porém os contatos são superficiais e os
intercâmbios reduzidos e espaçados.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p.307

O comércio administrativo se cimenta em tratados mais ou menos formais.


Como por ambas partes o determinante é o interesse em importar, os
intercâmbios se desenvolvem por canais controlados pelo governo, e o comércio
de exportação se organiza de forma similar. Por conseguinte, toda a atividade
comercial está regida por métodos administrativos. Isto se estende à forma em que
se realizam as transações, incluindo os acordos sobre as “taxas” ou proporções em
que se intercambiam as unidades, as facilidades portuárias, o passado, a comprovação
da qualidade, o intercâmbio físico das mercadorias, a vigilância, o controle do pessoal
comercial, a regulação dos “pagamentos”, os créditos,a s diferenças de preços.
Algumas destas questões deviam de estar ligadas naturalmente a recaudacion dos
produtos de exportação e a divisão dos importados, pois tanto uns como outros
pertenciam a esfera resdistribuitiva da economia doméstica. As mercadorias que se
importam mutuamente estão estandarizadas no referente a qualidade e embalagem,
peso e outros critérios. Só estes “produtos comerciais” se podem intercambiar. As
equipes se fixam em relações entre unidades simples; em princípio, se intercambia
uma unidade por outra.
p.308
O regateio não forma parte dos procedimentos; as equivalências se fixam uma
vez e para sempre. Sem embargo, como para fazer frente as circunstâncias
cambiantes não se podem evitar os reajustes, se regateia só sobre os elementos
alheios ao preço, como as medidas, a qualidade ou os meios de pagamento. Se
podem produzir inumeráveis discussões sobre a qualidade dos produtos alimentícios,
a capacidade e o peso das unidades empregadas, as proporções entre as moedas, se se
utilizam distintos tipos. Inclusive os “ganhos” se “regateiam” com freqüência. O
fundamental é, por suposto, manter invariáveis os preços,; se estes tem de ajustar-se
as condições reais da oferta, como em uma emergência, se recorre ao intercâmbio de
duas unidades por uma ou de dois e meio por uma, quer dizer, se comercia, como
diríamos agora, com um ganho de 100% o de 150%. Este método de regateio sobre os
ganhos a preços estáveis, que foram provavelmente bastante gerais nas sociedades
antigas, se utilizava todavia no Sudão central no século XIX.
O comércio administrativo pressupõe corpos comerciais relativamente
permanentes, como governos ou, pelo menos, companhias concessionárias. O
entendimento com os nativos pode ser tácito, como no caso de relações
tradicionais ou consuetudinárias.
Uma vez estabelecidas em uma região, sob a proteção solene dos deuses, as
formas administrativas de comércio podem praticar-se sem nenhum tratado
previo. A principal instituição é, como se começa a compreender agora, o porto
de comércio, como chamamos aqui ao lugar donde se desenvolve o comércio
administrativo. O porto de comércio oferece segurança militar a potência interior,
proteção civil ao comerciante estrangeiro, facilidades de fundo, descarga e
armazenamento, autoridades judiciais, acordo sobre os produtos a intercambiar e
sobre as “proporções” das diferentes mercadorias nos paquetes mistos.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
p.309
O comércio mercantil é a terceira forma típica de comércio. Nela os
intercâmbios são a forma de integração que relaciona as partes entre si. Esta
variante relativamente moderna de comércio proporcionou uma torrente de riqueza
material a Europa ocidental e Norteamérica. Ainda que na atualidade se ache em
recessão, é todavia a mais importante de todas. a gama de bens que podem ser objeto
de transações, as mercadorias, é praticamente ilimitada, e a organização do comércio
de mercado segue as linhas traçadas pelo mecanismo da oferta e a demanda que
criam um preço. O mecanismo do mercado demonstra seu imenso campo de
aplicação ao adaptar-se não só ao manejo de mercadorias, senão ao de qualquer outro
elemento do comércio: armazenamento, transporte, riesgo, crédito, pagamentos, etc. ,
graças a formação de mercados especiais para fletes, seguros, créditos a curto prazo,
capital, espaço de armazenamento, facilidades bancárias e assim sucessivamente.
O interesse do historiador econômico se centra hoje nas perguntas seguintes:
Quando e como se relacionaram o comércio e os mercados? e Em que época e
lugar se produz o surgimento do fenômeno que chamamos comércio mercantil?
Na realidade, estas perguntas não sentido dentro da lógica cataláctica, que tende
a fundir inseparavelmente comércio e mercado.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

p. 309
Usos monetários
A definição catalática de dinheiro é o meio de intercâmbio indireto. O dinheiro
moderno se utiliza para efetuar pagamentos e também como “padrão”,
precisamente porque é um meio de intercâmbio. Assim, nosso dinheiro é
dinheiro “para todos os usos”. Outras utilizações do dinheiro são variantes sem
importância desta, e todas dependem da existência de mercados.
A definição real de dinheiro, como o comércio, é independente dos mercados.
Deriva de usos definidos que se lhes dão a alguns objetos. Estes usos são o de
servir como meio de pagamento ou de intercâmbio e o de constituir um padrão. O
dinheiro, pois, se define aqui como objetos quantificáveis utilizados como alguns dos
fins mencionados. Fica por ver se é possível chegar a definiçõesw independentes
destes usos.
As definições dos diversos usos monetários contêm dois critérios: a situação,
sociologicamente definida, na que surge do uso, e a operação realizada com os
objetos monetários em dita situação.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

p. 309
O pagamento é o descargo de obrigações em que mudam de mãos objetos
quantificáveis. A situação se refere aqui não a um tipo de obrigação senão a vários,
pois só se um objeto se utiliza para eliminar mais de uma obrigação podemos falar
dele como “meio de pagamento” no sentido distintivo do termo (do contrário só se
pode falar de descargo de obrigações em espécie).

p. 310
O uso de dinheirocomo meio de pagamento era o mais corrente na Antiguidade. As
obrigações não solían ser conseqüência de transações , pois na na sociedade primitiva
não estratificada os pagamentos estão relacionados mais bem com instituições como
o preço da noiva e as multas. Na sociedade arcaica continuam estes pagamentos,
porém perdem importância com respeito aos direitos, impostos, contribuições e
tributos que dão origem a pagamentos de mais envergadura.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

p. 310
O uso do dinheiro como padrão, com fins contáveis, é a equiparação de quantidades
de diferentes tipos de produtos, com propósitos determinados. A “situação” é o
trueque ou bem o armazenamento e a administração de alimentos; a “operação”
consiste em atribuir valores numéricos aos diversos objetos para facilitar sua
manipulação. Assim, no caso da troca, se pode equilibrar a suma de objetos por
ambas as partes, e, no caso da administração de alimentos, se consegue fazer
possíveis a planificação e a elaboração de pressupostos.

A utilização do dinheiro como padrão é essencial para a elasticidade de um sistema


redistribuitivo. A equiparação de produtos como a cevada, o azeite e a lã, com os que
se tem de pagar impostos ou rendas, rações ou salários, é de importância vital, pois
permite tanto ao pagador como ao acreedor escolher entre os diferentes bens. Ao
mesmo tempo, se criam as condições de finanças em grande escala “em espécie”, que
pressupõem a noção de fundos e saldos, ou, em outras palavras, o caráter
intercambiável dos produtos.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos.

O uso do dinheiro como meio de intercâmbio surge da necessidade de objetos


quantificáveis para o intercâmbio indireto. A “operação” consiste em adquirir
unidades de ditos objetos através de transações diretas, para adquirir os produtos
desejados por meio de um ulterior ato de intercâmbio. As vezes os objetos estão
disponíveis desde o princípio, e o intercâmbio duplo tem como única finalidade
conseguir uma quantidade superior dos mesmos. Esta utilização de objetos
quantificáveis não surge de atos de troca efetuados ao azar, como pretendiaq o
racionalismo do século XVIII, senão a aprtir do comércio organizado, especialmente
em mercados. Na ausência de mercados, a utilização do dinheiro como meio de
intercâmbio não é mais que um traço cultural secundário. A surprendente resistência
dos grandes povos comerciais da Antiguidade, como Tiro e Cartago, a utilizar
moedas, nova forma de dinheiro muito adequada para o intercâmbio, pôde dever-se
ao fato de que os portos comerciais dos impérios antigos não estavam organizados
como mercados, senão como “portos” de comércio.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

p. 311
Temos de consignar aqui duas extensões do significado do dinheiro. A primeira
amplia a definição de dinheiro mais além dos objetos físicos, isto é, a unidades ideais;
a outra inclui, junto aos três usos convencionais do dinheiro, a utilização dos objetos
monetários como expediente operativo.
As unidades ideais são meras verbalizações ou símbolos escritos utilizados como se
fossem unidades quantificáveis, principalmente para realizar pagamentos ou como
padrão. A “operação” consiste na manipulação das contas de deudas de acordo com
as regras do jogo. Estas contas são habituais na vida das comunidades primitivas, e
não, como se tem acreditado com freqüência, próprias exclusivamente de economias
monetarizadas.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

Como temos visto, o dinheiro se utilizava na Antiguidade com finalidades


específicas: para os diferentes usos monetários se empregam diferentes objetos;
ademais, os usos se estabelecem de forma independente entre si. Tudo isto tem
implicações muito importantes: pór esxemplo, não existe nenhuma contradição no
fato de “pagar” com objetos com os que não se pode comprar, nem o de servir-se
como “padrão” de objetos que não se usam como meios de intercâmbio. Na
Babilônia de Hammurabi a cevada era o meio de pagamento, e o padrão universal era
a prata; nos intercâmbios, que eram reduzidos, ambos se utilizavam junto com o
azeite, a lã e outros produtos. Se esclarecem, pois, as razões pelas que os usos
monetários - como as atividades comerciais - podem alcançar um nível quase
ilimitado de desenvolvimento não só a margem de economias regidas pelo mercado,
senão na ausência total de mercados.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

p. 311
Falemos agora do mercado. Do ponto de vista catalático, o mercado é o lugar donde
se efetua o intercâmbio: mercado e intercâmbio aparecem juntos. Em efeito, segundo
os postulados cataláticos, a vida econômica se pode reduzir a atos de intercâmbio
realizados através do regateio e se enmarca no mercado. Assim, se descreve o
intercâmbio como a relação econômica e o mercado como a instituição econômica. A
definição do mercado deriva logicamente destas premissas.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

Na realidade, mercado e intercâmbio têm características empíricas independentes.


Qual é, pois, aqui o significado de intercâmbio e mercado? Em que medida estão
relacionados entre si?
O intercâmbio é, em essência, um movimento mutuo de apropriação de produtos
entre sujeitos, que se pode produzir a equivalências fixas ou negociadas. Só este
último caso é resultado do regateio entre as partes.
Ali donde há intercâmbios existem, pois, equivalências. Isto é certo tanto se ditas
equivalências são negociadas como se são fixas. Há duas observações que o
intercâmbio a preços negociados é equivalente ao intercâmbio catalático ou
“intercâmbio como forma de integração”. Só este tipo de intercâmbio está limitado
especificamente a uma determinada instituição, aos mercados criadores de preços.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

As instituições de mercado se definiram como instituições que compreendem uma


multidão oferente ou uma multidão demandante ou ambas coisas a la vez. A su vez,
as multidões oferentes ou demandantes se definiram como uma multiplicidade de
sujeitos desejosos de adquirir ou de desfazerse de produtos no intercâmbio. Ainda
que, como se depreende do anterior, as instituições de mercado são instituições de
intercâmbio, mercado e intercâmbio não são termos ligados inextricavelmente.
Também existe intercâmbio a equivalências fixas sob formas de integração
caracterizaqdas pela reciprocidade ou a redistribuição; o intercâmbio a equivalências
negociadas, como se tem dito já, está restrito aos mercados criadores de preços. Pode
parecer paradoxal que o intercâmbio a equivalências fixas seja compatível com
formas de integração que não são a de intercâmbio, poré, isso se explica pelo fato de
que só o intercâmbio negociado se cine ao significado catalático do termo, que é uma
forma de integração.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

Para estudar o mundo das instituições de mercado o melhor parece ser enfocá-lo em
termos de “elementos de mercado”. Isto não só nos servirá como guia através da
diversidade de configurações agrupadas sob a denominação de mercados e
instituições de mercado, senão que ademais constituirá uma ajuda para a análise de
alguns dos conceitos convencionais que obstruem nossa compreensão destas
instituições.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

p. 312
Existem dois elementos de mercado que tem de considerar-se como específicos: as
multidões oferentes e as demandantes. Se os dois estão presentes falaremos de
mercado. Lhes segue em importância o elemento de equivalência, quer dizer, a taxa
de intercâmbio; segundo o caráter desta os mercados se podem classificar em
mercados a preços fixos e mercados criadores de preços.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

p. 313
A competência é uma característica que, diferente das equivalências, só aparece nos
mercados e subastas criadores de preços. Finalmente, existem elementos que
podemos chamar funcionais. Em geral se dão a margem dos mercados e instituições
de mercado, porém se aparecem junto com as multidões oferentes ou demandantes
podem modelar aquelas instituições de uma forma que pode ter grande importância
prática. Entre estes elementos funcionais podemos citar a situação geográfica, os
produtos que se intercambiam, os costumes e as leis.
Esta dicersidade de mercados e instituições de mercado ficou obscurecida em época
recente em nome do conceito formal de um mecanismo de oferta-demanda-preço.
Não cabe dúvida de que baseando-nos nos termos de oferta, demanda e preço
conseguiremos ampliar notavelmente nossa visão se adotamos um enfoque empírico.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

p. 313
Antes nos referimos as multidões oferentes e demandantes como elementos do
mercado separados e distintos. Isto seria a todas luces inadimissível aplicado ao
mercado moderno, já que nele existe um nível de preços em que os compradores se
convertem em vendendores, e outro em que o milagre se inverte, fato que tem
conduzido a muitos a passar pelo alto que os vendedores se os compradores podem
estar separados de formas distintas as definidas pelo tipo moderno de mercado. Isto
tem dado lugar a um duplo mal entendido. Em primeiro lugar, “a oferta e a
demanda”, apareciam como forças elementares combinadas, enquanto que, na
realidade, cada uma delas estava constituída por dois componenetes muito distintos,
quer dizer, por uma quantidade determinada de bens e por certo número de pessoas,
relacionadas com aqueles como compradores e vendedores. Em segundo lugar, “a
oferta e a demanda” pareciam inseparáveis como irmãos siamenses, enquanto que na
realidade formavam grupos distintos de pessoas, segundo dispusessem de bens como
recurso ou os buscaram como necessidades. Por conseguinte, as multidões oferentes e
demandantes não têm que apresentar-se juntas.
Quando, por exemplo, o general vencedor subasta o butim, só existe uma multidão
demandante; analogamente, sói existe uma multidão oferente quando se asignam
contratos ao pressuposto mais baixo. Ambos casos estavam extendidos na sociedade
arcaica, e na antiga Grécia as subastas foram precursoras dos mercados propriamente
ditos. Esta separação das multidões oferentes e demandantes configurou a
organização de todos os mercados premodernos.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

p. 314
Em quanto ao elemento de mercado chamado corretamente “preço”, fica
compreendido aqui na categoria das equivalências. A utilização deste termo geral
deveria evitar equívocos. A palavra preço sugere flutuações, coisa que não ocorre
com equivalência. A mesma expressão preço fixado sugere que antes da fixação
podia sofrer mudanças. Assim, a mesma linguagem faz difícil a compreensão dos
fatos reais, quer dizer, de que o “preço” é originariamente uma quantidade
rigidamente fixada, sem a qual não pode realizar-se o comércio. Os preços mutantes
ou flutuantes de caráter competitivo são de surgimento relativamente recente, e seu
surgimento é um dos temas de estudo da história econômica da Antiguidade. Se tem
suposto tradicionalmente que a ordem era o inverso: se considerava o preço como o
resultado do comércio e do intercâmbio e não como sua condição.
O “preço” é a definição de relações quantitativas entre produtos de diferentes tipos,
alcançada através do truque ou do regateio. É a forma de equivalência característica
das economias integradas através do intercâmbio. Porém as equivalências não estão
de modo algum restringidas a relações de intercâmbio, senão que também são
correntes sob uma forma de integração redistribuitiva. Designam relações
quantitativas entre bens de diferentes tipos que são aceitáveis como pagamento de
impostos, rendas, direitos ou multas ou que denotam qualificações para um status
cívico dependente de um censo de propriedade. Também podem estabelecer a relação
a que se pode escolher a forma de pagamento dos salários ou as rações em espécie. A
elasticidade de um sistema de finanças baseado em vituallas - sua planificação e sua
contabilidade - se baseia neste sistema de equivalências. A equivalência denota aqui
não o que tem de dar-se por outro bem, senão o que pode exigir-se em vez deste. Em
formas de integração regidas pela reciprocidade as equivalências a quantidade
“adequada” em relação ao grupo situado simetricamente. Evidentemente, este
contexto de conduta é diferente do deu sistema de redistribuição ou de intercâmbio.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

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Os sistemas de preços, ao desenvolver-se ao largo do tempo, podem conter posos de
equivalências que surgiram historicamente sob formas diferentes de integração. (...)
Max Weber assinalou que, ao faltar uma base que servira para definir os costes, o
capitalismo ocidental não havia podido desenvolver-se sem a rede medieval de preços
estabelecidos e regulados, rendas consuetudinárias, etc. uma herança dos grêmios e
os senhorios. Assim, os sistemas de preços podem ter uma história institucional
própria em termos dos tipos de equivalências que intervieram em sua formação.
POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los
imperios antiguos..

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É com a ajuda de conceitos não cataláticos de comércio, dinheiro e mercados, do tipo
dos mencionados, como se podem tratar melhor, e, finalmente, resolver como
esperamos, problemas tão fundamentais da história econômica e social como a
origem dos preços flutuantes e do desenvolvimento do comércio de mercado.
Para concluir, cabe assinalar que uma revisão crítica das definições cataláticas de
comércio, dinheiro e mercado deveria proporcionar uma série de conceitos que
formam a matéria prima das ciências sociais em seu aspecto econômico. Seu alcance
em questões de teoria, de política econômica e de perspectiva pode compreender-se a
luz das transformações institucionais graduais que se tem produzido desde a
primeireira guerra mundial. Inclusive no que se refer ao mesmo sistema de mercado,
a concepção de mercado como único marco de referência está passada da moda. Sem
embargo, como deveríamos compreender hoje mais claramente do que se tem
compreendido as vezes no passado, o mercado não se pode substituir como marco
geral de referência enquanto as ciências sociais não consignam desenvover um
marco de referência mais amplo ao que se pode referir o mesmo mercado. Esta é,
precisamente, nossa principal tarefa intrelectual hoje no terreno dos estudos
econômicos. Como também temos intentado demonstrar, uma estrutura conceitual
deste tipo tenderá que basear-se em um enfoque empírico da economia.

POLANYI, K; ARENSBERG, C.M; PEARSON, H.W. Comercio y mercado en los


imperios antiguos..

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