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O significado real
O significado real deriva da dependência em que se encontra o homem com respeito a
natureza e a seus semelhantes para conseguir seu sustento. Se refere ao intercâmbio
com o entorno natural e social, na medida em que é esta atividade a que proporciona
os meios para satisfazer as necessidades materiais.
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imperios antiguos..
Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada.K. Polanyi
p. 289
O significado formal
O significado formal deriva do caráter lógico da relação meios-fins, evidente em
palavras como economização. Se refere a escolha entre os diferentes usos dos meios,
dada a insuficiência destes meios, quer dizer, a escolha entre utilizações alternativas
de recursos escassos. Se chamarmos lógica da ação racional as normas que regem
esta eleição de meios, podemos designar a esta variante da lógica com o termo
improvisado da economia formal.
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Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada
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por que na esfera econômica a conduta interpessoal com tanta freqüência não
tem os efeitos sociais esperados se não existem condições institucionais
adequadas.
Só em um entorno organizado simetricamente a conduta de reciprocidade dará lugar a
instituições de alguma importância; só donde se tem criado centros de asignação de
recursos os atos de distribuição dos indivíduos poderão fazer surgir uma economia
redistribuitiva; e só na presença de um sistema de mercados criadores de preços os
atos de intercâmbio realizados pelos indivíduos originaram preços flutuantes que
integrem a economia. Em caso contrário, os atos de intercâmbio serão e, por
conseguinte, tenderão a não realizar-se. Não obstante, em caso de realizar-se apesar
de tudo, de uma maneira mais ou menos aleatória, suscitam uma violenta reação
emocional, como a que produz contra atos de indecência ou de traição, pois a conduta
comercial não é nunca emocionalmente indiferente e, por conseguinte a opinião não a
tolera fora dos canais sancionados pelo costume.
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Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
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Como implica o transporte de produtos entre lugares distantes e em duas direções
opostas, o comércio tem, necessariamente, vários componentes, como o pessoal, as
mercadorias, o transporte e a bilateralidade, que podem analizar-se com critérios
sociológicos ou tecnológicos adequados. Estudando estes quatro fatores podemos
esperar aprender algo acerca do lugar cambiante que ocupa o comércio na sociedade.
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Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
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A sociedade antiga em geral não conhece mais que dois tipos de mercadores, um
situado na parte superior da escala social e o outro no fundo. O primeiro está
relacionado com os governantes, como exigem as condições políticas e militares dos
intercâmbios; o sustento do outro depende de agotadores trabalhos de carga. Este fato
tem grande importância para compreender a organização do comércio na
Antiguidade. Não podia existir uma classe de mercadores, pelo menos entre os
cidadãos. Deixando de lado o extremo oriente, que não podemos tratar aqui, só se
conhecem três exemplos significativos de existência de uma ampla classe média
comercial antes da Idade Moderna:
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Cap. XIII – A economia como atividade institucionalizada. K. Polanyi
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Usos monetários
A definição catalática de dinheiro é o meio de intercâmbio indireto. O dinheiro
moderno se utiliza para efetuar pagamentos e também como “padrão”,
precisamente porque é um meio de intercâmbio. Assim, nosso dinheiro é
dinheiro “para todos os usos”. Outras utilizações do dinheiro são variantes sem
importância desta, e todas dependem da existência de mercados.
A definição real de dinheiro, como o comércio, é independente dos mercados.
Deriva de usos definidos que se lhes dão a alguns objetos. Estes usos são o de
servir como meio de pagamento ou de intercâmbio e o de constituir um padrão. O
dinheiro, pois, se define aqui como objetos quantificáveis utilizados como alguns dos
fins mencionados. Fica por ver se é possível chegar a definiçõesw independentes
destes usos.
As definições dos diversos usos monetários contêm dois critérios: a situação,
sociologicamente definida, na que surge do uso, e a operação realizada com os
objetos monetários em dita situação.
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O pagamento é o descargo de obrigações em que mudam de mãos objetos
quantificáveis. A situação se refere aqui não a um tipo de obrigação senão a vários,
pois só se um objeto se utiliza para eliminar mais de uma obrigação podemos falar
dele como “meio de pagamento” no sentido distintivo do termo (do contrário só se
pode falar de descargo de obrigações em espécie).
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O uso de dinheirocomo meio de pagamento era o mais corrente na Antiguidade. As
obrigações não solían ser conseqüência de transações , pois na na sociedade primitiva
não estratificada os pagamentos estão relacionados mais bem com instituições como
o preço da noiva e as multas. Na sociedade arcaica continuam estes pagamentos,
porém perdem importância com respeito aos direitos, impostos, contribuições e
tributos que dão origem a pagamentos de mais envergadura.
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O uso do dinheiro como padrão, com fins contáveis, é a equiparação de quantidades
de diferentes tipos de produtos, com propósitos determinados. A “situação” é o
trueque ou bem o armazenamento e a administração de alimentos; a “operação”
consiste em atribuir valores numéricos aos diversos objetos para facilitar sua
manipulação. Assim, no caso da troca, se pode equilibrar a suma de objetos por
ambas as partes, e, no caso da administração de alimentos, se consegue fazer
possíveis a planificação e a elaboração de pressupostos.
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Temos de consignar aqui duas extensões do significado do dinheiro. A primeira
amplia a definição de dinheiro mais além dos objetos físicos, isto é, a unidades ideais;
a outra inclui, junto aos três usos convencionais do dinheiro, a utilização dos objetos
monetários como expediente operativo.
As unidades ideais são meras verbalizações ou símbolos escritos utilizados como se
fossem unidades quantificáveis, principalmente para realizar pagamentos ou como
padrão. A “operação” consiste na manipulação das contas de deudas de acordo com
as regras do jogo. Estas contas são habituais na vida das comunidades primitivas, e
não, como se tem acreditado com freqüência, próprias exclusivamente de economias
monetarizadas.
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Falemos agora do mercado. Do ponto de vista catalático, o mercado é o lugar donde
se efetua o intercâmbio: mercado e intercâmbio aparecem juntos. Em efeito, segundo
os postulados cataláticos, a vida econômica se pode reduzir a atos de intercâmbio
realizados através do regateio e se enmarca no mercado. Assim, se descreve o
intercâmbio como a relação econômica e o mercado como a instituição econômica. A
definição do mercado deriva logicamente destas premissas.
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Para estudar o mundo das instituições de mercado o melhor parece ser enfocá-lo em
termos de “elementos de mercado”. Isto não só nos servirá como guia através da
diversidade de configurações agrupadas sob a denominação de mercados e
instituições de mercado, senão que ademais constituirá uma ajuda para a análise de
alguns dos conceitos convencionais que obstruem nossa compreensão destas
instituições.
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Existem dois elementos de mercado que tem de considerar-se como específicos: as
multidões oferentes e as demandantes. Se os dois estão presentes falaremos de
mercado. Lhes segue em importância o elemento de equivalência, quer dizer, a taxa
de intercâmbio; segundo o caráter desta os mercados se podem classificar em
mercados a preços fixos e mercados criadores de preços.
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A competência é uma característica que, diferente das equivalências, só aparece nos
mercados e subastas criadores de preços. Finalmente, existem elementos que
podemos chamar funcionais. Em geral se dão a margem dos mercados e instituições
de mercado, porém se aparecem junto com as multidões oferentes ou demandantes
podem modelar aquelas instituições de uma forma que pode ter grande importância
prática. Entre estes elementos funcionais podemos citar a situação geográfica, os
produtos que se intercambiam, os costumes e as leis.
Esta dicersidade de mercados e instituições de mercado ficou obscurecida em época
recente em nome do conceito formal de um mecanismo de oferta-demanda-preço.
Não cabe dúvida de que baseando-nos nos termos de oferta, demanda e preço
conseguiremos ampliar notavelmente nossa visão se adotamos um enfoque empírico.
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Antes nos referimos as multidões oferentes e demandantes como elementos do
mercado separados e distintos. Isto seria a todas luces inadimissível aplicado ao
mercado moderno, já que nele existe um nível de preços em que os compradores se
convertem em vendendores, e outro em que o milagre se inverte, fato que tem
conduzido a muitos a passar pelo alto que os vendedores se os compradores podem
estar separados de formas distintas as definidas pelo tipo moderno de mercado. Isto
tem dado lugar a um duplo mal entendido. Em primeiro lugar, “a oferta e a
demanda”, apareciam como forças elementares combinadas, enquanto que, na
realidade, cada uma delas estava constituída por dois componenetes muito distintos,
quer dizer, por uma quantidade determinada de bens e por certo número de pessoas,
relacionadas com aqueles como compradores e vendedores. Em segundo lugar, “a
oferta e a demanda” pareciam inseparáveis como irmãos siamenses, enquanto que na
realidade formavam grupos distintos de pessoas, segundo dispusessem de bens como
recurso ou os buscaram como necessidades. Por conseguinte, as multidões oferentes e
demandantes não têm que apresentar-se juntas.
Quando, por exemplo, o general vencedor subasta o butim, só existe uma multidão
demandante; analogamente, sói existe uma multidão oferente quando se asignam
contratos ao pressuposto mais baixo. Ambos casos estavam extendidos na sociedade
arcaica, e na antiga Grécia as subastas foram precursoras dos mercados propriamente
ditos. Esta separação das multidões oferentes e demandantes configurou a
organização de todos os mercados premodernos.
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Em quanto ao elemento de mercado chamado corretamente “preço”, fica
compreendido aqui na categoria das equivalências. A utilização deste termo geral
deveria evitar equívocos. A palavra preço sugere flutuações, coisa que não ocorre
com equivalência. A mesma expressão preço fixado sugere que antes da fixação
podia sofrer mudanças. Assim, a mesma linguagem faz difícil a compreensão dos
fatos reais, quer dizer, de que o “preço” é originariamente uma quantidade
rigidamente fixada, sem a qual não pode realizar-se o comércio. Os preços mutantes
ou flutuantes de caráter competitivo são de surgimento relativamente recente, e seu
surgimento é um dos temas de estudo da história econômica da Antiguidade. Se tem
suposto tradicionalmente que a ordem era o inverso: se considerava o preço como o
resultado do comércio e do intercâmbio e não como sua condição.
O “preço” é a definição de relações quantitativas entre produtos de diferentes tipos,
alcançada através do truque ou do regateio. É a forma de equivalência característica
das economias integradas através do intercâmbio. Porém as equivalências não estão
de modo algum restringidas a relações de intercâmbio, senão que também são
correntes sob uma forma de integração redistribuitiva. Designam relações
quantitativas entre bens de diferentes tipos que são aceitáveis como pagamento de
impostos, rendas, direitos ou multas ou que denotam qualificações para um status
cívico dependente de um censo de propriedade. Também podem estabelecer a relação
a que se pode escolher a forma de pagamento dos salários ou as rações em espécie. A
elasticidade de um sistema de finanças baseado em vituallas - sua planificação e sua
contabilidade - se baseia neste sistema de equivalências. A equivalência denota aqui
não o que tem de dar-se por outro bem, senão o que pode exigir-se em vez deste. Em
formas de integração regidas pela reciprocidade as equivalências a quantidade
“adequada” em relação ao grupo situado simetricamente. Evidentemente, este
contexto de conduta é diferente do deu sistema de redistribuição ou de intercâmbio.
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Os sistemas de preços, ao desenvolver-se ao largo do tempo, podem conter posos de
equivalências que surgiram historicamente sob formas diferentes de integração. (...)
Max Weber assinalou que, ao faltar uma base que servira para definir os costes, o
capitalismo ocidental não havia podido desenvolver-se sem a rede medieval de preços
estabelecidos e regulados, rendas consuetudinárias, etc. uma herança dos grêmios e
os senhorios. Assim, os sistemas de preços podem ter uma história institucional
própria em termos dos tipos de equivalências que intervieram em sua formação.
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É com a ajuda de conceitos não cataláticos de comércio, dinheiro e mercados, do tipo
dos mencionados, como se podem tratar melhor, e, finalmente, resolver como
esperamos, problemas tão fundamentais da história econômica e social como a
origem dos preços flutuantes e do desenvolvimento do comércio de mercado.
Para concluir, cabe assinalar que uma revisão crítica das definições cataláticas de
comércio, dinheiro e mercado deveria proporcionar uma série de conceitos que
formam a matéria prima das ciências sociais em seu aspecto econômico. Seu alcance
em questões de teoria, de política econômica e de perspectiva pode compreender-se a
luz das transformações institucionais graduais que se tem produzido desde a
primeireira guerra mundial. Inclusive no que se refer ao mesmo sistema de mercado,
a concepção de mercado como único marco de referência está passada da moda. Sem
embargo, como deveríamos compreender hoje mais claramente do que se tem
compreendido as vezes no passado, o mercado não se pode substituir como marco
geral de referência enquanto as ciências sociais não consignam desenvover um
marco de referência mais amplo ao que se pode referir o mesmo mercado. Esta é,
precisamente, nossa principal tarefa intrelectual hoje no terreno dos estudos
econômicos. Como também temos intentado demonstrar, uma estrutura conceitual
deste tipo tenderá que basear-se em um enfoque empírico da economia.