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Século de prática de
ensino de geografia
permanências e mudanças
Maria Adailza Martins de Albuquerque
Introdução
vista como um problema que perdura na prática escolar até os dias atuais.
Por outro lado, contudo, é possível enxergar propostas de rupturas em ca
da uma dessas citações.
Não há motivo para descrever aqui o contexto histórico do final do
século XIX e início do XX para que possamos retomar os fragmentos dos
textos anteriormente expostos, pois somente algumas considerações se fa
zem necessárias. No bojo dos movimentos de independência (1822), de
proclamação da república (1889) e de libertação dos escravos (1888) todo
um novo contexto histórico se configura no país. Uma série de movimentos
intelectuais passa a compor o debate acerca do papel da educação na formação
da nação brasileira. Nesse contexto, a escola e, mais especificamente, o ensino
de geografia e história tornam-se essenciais à difusão das ideias patrióticas.
É nesse contesto que José Veríssimo, no final do século XIX, escreve
o livro Educação Nacional (1890). A questão do nacionalismo e a ideia de
uma escola para todos é que motivava esse autor a questionar os métodos
utilizados no ensino de geografia e sua vertente europeizada quando do trato
dos conteúdos (leia-se nomenclaturas), e, além disso, reclamar a carência
de cientificidade na geografia escolar brasileira. Diante dessas questões,
propunha uma ruptura no ensino dessa disciplina. Para ele, era necessário
que se fizesse uma geografia brasileira – escrita por brasileiros – e que os
alunos pudessem estudá-la em vez de decorar nomenclaturas de cidades
e acidentes geográficos estrangeiros. Sugere a superação dos currículos
que tratavam de maneira simplificada a corografia (lugar) brasileira, e via
como urgente uma reforma na geografia pátria, visto que esta difundiria
o sentimento patriótico, necessário à construção da identidade nacional.
Também apontava propostas metodológicas, sugerindo a adoção do mé
todo “hodierno” do ensino geográfico. Para o desenvolvimento de suas
proposições, aponta a necessidade de professores hábeis e devotados, bem
como o aparelhamento da escola com mapas e novos compêndios.
Compreendo que aquele era um momento de ruptura para as
metodologias de ensino de geografia empregadas na época, mas devo
lembrar que não existia formação superior destinada a professores de
geografia que, portanto, as metodologias resultavam da ação de “pro
fessores leigos” de sua prática e da perpetuação do que já existia.
Quando novas ideias, como as mencionadas, eram introduzidas no
debate, nem sempre atingiam os professores, pois estes estavam distanciados
de tais preocupações, e, em geral, eram (e continuam sendo) obrigados
a seguir o que a sociedade de cada época, em especial pais e superiores
hierárquicos, estabeleciam como o melhor método/conteúdo de ensino.
Geografia 19
É assim que vemos constituir-se uma tradição, seja ela dos métodos
ou dos conteúdos. Podemos recorrer ao conceito de “tradição seletiva” para
melhor compreendermos esse processo. Rocha (1996), baseado em Apple
(1989), nos aponta como a disciplina escolar de geografia selecionou e
legitimou, ao longo de sua trajetória e diante de um leque de conhecimentos
geográficos, uma série de conteúdos “desinteressantes”, métodos mnemônicos
e distantes da realidade dos educandos.
Chervel (1990) nos aponta, ainda, que as disciplinas escolares
têm uma certa autonomia e que é preciso pensar em seus objetivos em
cada momento específico. Desse modo, o que compreendemos é que os
conteúdos, os métodos e as práticas mudam ou permanecem conforme
uma série de fatores (objetivos específicos, escolha de métodos e con
teúdos, relações sociedade-escola, etc.) e sujeitos sociais envolvidos no
processo de construção e reconstrução da disciplina escolar (pais, alunos,
professores, diretores, entre outros).
As permanências e as dificuldades
para propostas de rupturas
Considerações finais
Referências
ALBUQUERQUE, M. A. M. de. Lugar: conceito geográfico nos currículos pré-ativos
– relação entre saber acadêmico e saber escolar. 2004. Tese (Doutorado em Educa-
ção) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.
AZEVEDO, A. de; MONBEIG, P.; CARVALHO, M. da C. V. de. O ensino secundário de
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115, 1990. Documento original disponível na Revista Geografia, v. 1, n. 4, [1935?].
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CARVALHO, C. M. D. de. Geographia do Brasil, tomo II. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
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CONTI, J. B. A reforma do ensino em 1971 e a situação da geografia. Boletim Paulista
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