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A religião sempre foi determinante na política, a tal ponto que a Igreja Católica e
as monarquias que governavam os países europeus se fundiram na mesma
estrutura durante séculos.
Ronaldo Almeida teve criação católica, frequentou igreja pentecostal como fiel e
teve experiências em religiões de matriz africana, mas hoje se diz um agnóstico
fascinado pela experiência religiosa, principalmente pela intersecção entre religião
e política.
Ele conversou com o Nexo sobre o crescimento evangélico, sobre sua influência
na política e sobre os críticos desse movimento que, segundo ele, muitas vezes
resvalam na mesma intolerância que pretendem condenar.
[O pastor e deputado federal pelo PSC de São Paulo] Marco Feliciano, [o pastor
Silas] Malafaia e [a presidente da Rede] Marina Silva são da Assembleia de Deus,
enquanto Edir Macedo e, seu sobrinho Marcelo Crivella são da Igreja Universal do
Reino de Deus.
Feliciano e Malafaia têm um perfil mais moralista enquanto Edir Macedo e a Igreja
Universal são mais flexíveis, embora com um forte discurso demonizador das
religiões afro-brasileiras. Os neopentecostais são muito aderentes. Por isso o
Crivella é um político tão aderente, que se adapta; ele desce bem, tem uma
plasticidade muito grande.
É importante ter clareza que toda esta imagem conservadora desses religiosos
não corresponde a todo o universo. O que está em destaque na política nacional
são pessoas que falam em nome dos evangélicos, representam a maior parte
deles, mas existem nesse meio também segmentos progressistas, que fazem
uma militância mais próxima da sociedade civil, como em algumas ONGs, por
exemplo, e investem menos na via eleitoral.
RONALDO ALMEIDA Esse crescimento vem desde os anos 1960, mas explode
nos anos 1980 e 1990, e segue crescendo. Hoje, quase ¼ dos brasileiros se
declaram evangélicos, sendo que a grande maioria é de pentecostais. O Rio de
Janeiro é o termômetro mais expressivo dessa mudança. O Rio e Rondônia já são
os dois Estados brasileiros nos quais os católicos são menos de 50% da
população, de acordo com dados do último Censo. E nas regiões periféricas da
cidade do Rio, há quase o mesmo número de católicos e de evangélicos. Logo,
não há nada de surpreendente na eleição para cargos majoritários de candidatos
que se identificam com essa população.