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Autores tidos como desconhecidos


A acusação que dirigem com frequência a Olavo de Carvalho de citar “autores desconhecidos e
obscuros” é um argumento suicida, uma confissão de ignorância mas muito persuasiva para
outros ignorantes. Para estudantes e intelectuais brasileiros não é concebível ir em busca dos
tais “autores desconhecidos”, até porque se escandalizam quando lhes dizem que devem ler pelo
menos oitenta livros por ano para serem dignos de serem estudiosos sérios. Percebe-se que, no
fundo, acrecitam que um autor só deve ser citado como argumentum auctoritatis e, assim, ficar
colado a um prestígio reconhecido por uma classe medíocre, mais composta por jornalistas do
que por intelectuais.
Mas este “autores desconhecidos” que Olavo de Carvalho dá a conhecer podem, na realidade, ser
grandes filósofos reconhecidos internacionalmente, como Eric Voegelin, Bernard Lonergan,
Xavier Zubiri, Eugen Rosenstock-Huessy, Constantin Noica, Lucien Blaga ou mesmo o nacional
Mário Ferreira dos Santos. Podem ser também pesquisadores universitários respeitados no
círculo dos especialistas, e não se percebe como podem ser apelidados de “desconhecidos” se
eles povoam a bibliografia das teses universitárias. São ainda autores que foram injustamente
esquecidos mas que tiveram repercurssão em outras épocas, como Stanton Evans, Ivan Ilitch ou
Arthur Koestler, mas que para muita intelectualidade actual são autores que podem permanecer
no ocaso porque imaginam que o mundo começou com eles. São ainda autores sem grande
relevo mas que podem ajudar a compreender certos pontos, e não aparecem como autoridades
mas apenas como testemunhas para validar os factos. 356

Longe vão os tempos em que o intelectual era tido como aquele que buscava a verdade e como
aquele que desse a conhecer ao público algo que este não sabia, porque agora trata-se apenas de
repetir as mesmas opiniões de sempre, mas dando ares de estar a dizendo grandes novidades.
Cada um toma a sua própria ignorância como padrão obrigatório de conhecimento. As camadas
mais educadas vivem num circuito fechado, não se abrindo a mais nada que não seja o que elas
mesmas repetem. Face a este panorama, no futuro pode ser mais eficaz aos alunos do Curso
Online de Filosofia eleger como público os mais pobres, para começar a educa-los desde o início,
porque os universitários já adquiriram um conjunto de incapacidades invencível. William
Hazlitt já tinha falado das desvantagens da superioridade intelectual: se nós entendemos o
argumento do adversário mas ele é incapaz de entender o nosso, então, ele já ganhou. A única
coisa que podemos fazer é bater no sujeito, e se não tivermos recursos para isso temos de voltar
costas e ir para casa. α97

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