A Nova Espiritualidade e a Espiritualidade Adventista
Dois cristãos conversando:
- “Você já ouviu falar da nova espiritualidade?” - “Não, nem havia ouvido que existe uma velha…!” É exatamente nesse patamar que nos encontramos hoje em meio à cristandade no Brasil. Sempre falamos muito de igreja, de doutrina de Bíblia e da Verdade que ela contém. Falamos muito de que somos um ser integral: corpo, mente, espírito. No entanto falamos pouco de espiritualidade e consequentemente pouco sabemos e alguns reputam apenas a expressão espiritualidade ou o debate sobre o tema como sendo coisa do espiritismo ou da nova era. Sobre o corpo nós Adventistas sabemos muito através da mensagem da saúde e dos muitos médicos que estão em nosso meio. Sobre a mente também sabemos muito, e até a ciência se empenhou em descobrir o cérebro e que relação ele tem com a mente. Para quem não leu ainda existem dois volumes do livro Mente Caráter e Personalidade de Ellen White. Ali você descobre o que você precisa saber sobre a mente. E sobre o Espírito? Quanto sabemos? E sobre espiritualidade, que é o exercício da vida espiritual? Como funciona? O que é espiritualidade de acordo com a compreensão bíblica, levando em consideração a integralidade do ser humano? A maioria das outras religiões seguem a doutrina da antiga Grécia com a sua dicotomia ou tricotomia. A maioria das religiões acreditam que existe um ser dentro de nós que continua vivendo quando finalmente consegue se livrar da casca chamada corpo. Esse ser, segundo essa doutrina vai para o céu, para o inferno, em doutrinas mais orientais, ele pode migrar para outro corpo humano e até para um animal – reencarnação e transmigração da alma respectivamente. Muitos julgam que o corpo é contrário ao espírito numa má leitura de Gálatas 5:17 e desprezam a importância do corpo no ser humano como todo. Nesse modelo ainda fica difícil encaixar a alma, que também é algo parecido… Biblicamente surgem problemas quando se entra no assunto da ressurreição, pois o que ressuscitaria, se a alma ou o espírito (não se sabe) já foi para o céu por ocasião da morte. Com essa compreensão pagã, não bíblica do espírito humano, espiritualidade seria então a atenção e estímulo a esse ser dentro de nós. Como a Bíblia compreendida em seu todo não fornece essa compreensão do espírito humano, precisamos definir o que é espiritualidade a partir da Bíblia… Biblicamente é descrito que o espírito é a energia viva em nós, vinda da parte de Deus, e que ele apenas tem função quando unido ao corpo. A união do espírito com o corpo faz de nós a alma vivente que somos. (cf. Gn. 2:7) Então não temos uma alma, somos uma alma, mas temos um espírito que é a vida (no original hebraico RUAH) que está em nós, que não nos pertence. Essa vida que devemos administrar responsavelmente para honra e glória de Deus, essa energia vital volta para Ele que a deu (cf. Ec. 12:7). Como é dito no livro de Hebreus: “E, como aos homens está ordenado morrerem uma só vez…” Hb. 9:27, não temos vida contínua/eterna em nós mesmos, ela é emprestada por uma existência. O Novo Testamento, no entanto, fala sobre a vida na carne em oposição à vida espiritual. (cf. Mt. 26:41; Jo. 3:6; Jo. 6:63; Rm. 8:4-6, 9, 13; Gl. 3:3, 5:16, 5:17, 6:8). Vamos entender as coisas como estão na Bíblia: Quando uma pessoa vem à existência ela recebe o fôlego de Deus, que segundo o Antigo Testamento é o fôlego de vida (RUAH), é a vida em si, é o espírito que é colocado em nós, que unida à carne resulta na alma vivente. Como nos separamos de Deus (cf. Rm. 3:13, 5:12), precisamos fazer uma escolha de viver essa vida para Deus, pois como disse Jesus: “o que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é Espírito.” (cf. Jo. 3:6). Chamamos esse novo nascimento de conversão e ocorre quando um ser humano entende que a existência dele não ocorreu à toa, mas que Deus tem um propósito para ela. Em um momento esse ser humano decide que quer viver a vida para cumprir em obediência o propósito de Deus para sua vida. A Bíblia diz que nesse momento recebemos o dom do Espírito (cf. At. 2:38). Há aqueles que gostam do frenesi mágico de uma compreensão supersticiosa do que isso significa. Interpretam que poderes mágicos serão emprestados para aqueles que recebem o Espírito, como se Deus despersonalizasse pelo Espírito aquilo que Ele quis pessoal e fizesse uniformemente na vida de todos que o recebem autômatos dependentes. Que distorção!!! Veja como Elias experimentou a Deus em 1 Reis 11-12. De maneira suave Deus se apresenta. Davi disse que precisamos aquietar, para saber quem é Deus. (cf. Sl. 46:10). E veja a recomendação de Isaías 30:15 – é sossegando e descansando e confiando que seremos salvos – ele ainda teve uma repreensão para Israel: “mas não o quisestes!” O trabalho do Espírito de Deus é silencioso, eficaz e respeita o nosso tempo. Geralmente Ele trabalha de maneira educativa com a participação e o envolvimento do ser humano. E poucas vezes é fácil se submeter à ação do Espírito. Muitas vezes com Ele vêm uma luta entre as duas naturezas que habitam em nós a partir da conversão: a natureza natural, nascida conosco e a nova natureza implantada pelo Espírito Santo – a natureza espiritual. Veja a descrição dramática que Paulo faz em sua carta aos Gálatas 5:13-24. Ali fala que existe uma batalha dentro de nós pelo trono de nosso coração. Quem vai ter o comando em sua vida é disputado a cada momento e a cada decisão que você faz na vida. Em curto espaço, como num artigo desses permite – Espiritualidade Adventista é o processo educacional ao qual o Espírito de Deus quer nos submeter por meio de sua silenciosa guia no dia a dia. Aquele que não tem paciência, precisa aprender paciência, pois para os relacionamentos com Deus, consigo mesmo e com o próximo, paciência é um produto altamente requerido. Aquele que não sabe amar, precisa treinar os músculos flácidos do amor e descobrir a lógica do amor. Aquele que é orgulhoso e prepotente, precisa aprender humildade e mansidão… Veja a lista de itens que precisamos trabalhar quando Jesus apresentou o que Ele sempre quis como sendo espiritualidade já no primeiro sermão de Seu ministério aqui na Terra. Veja também Gálatas 5:22-23 e 1 Coríntios 13. Jesus nos convida para adquirirmos a Sua mente, que é uma mente espiritual e dominarmos a lógica das coisas que não se veem. (cf. 1 Co. 2:16; 2 Co. 4:18). Enquanto a nova espiritualidade quer explorar exatamente o frenesi mágico de uma religião supersticiosa e egoísta, que quer usar a Deus para satisfação do crente, a espiritualidade buscada por um adventista na Bíblia é a do crescimento altruísta em Cristo: “antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (cf. 2 Pe. 3:18). É a do desenvolvimento da Salvação: “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor!” (cf. Fp. 2:12). E sabemos que esse crescimento/desenvolvimento tem a guia e a incursão do Espírito momento a momento: “Aquele que começou a boa obra em vós há de concluí-la até o dia de Cristo!” (cf. Fp. 1:6). A espiritualidade Bíblica não se detém na especulação com os mistérios e vibrações supersticiosas de coisas desconhecidas, mas procura aprender em um processo educacional, numa vida prática a vontade de Deus. A espiritualidade Bíblica não procura a satisfação egoísta de suas necessidades, mas está disposta a seguir a Cristo como Ele o pediu em Mateus 10:34-39. A espiritualidade Bíblica não pressupõe o uso de Deus pelo ser humano, nem o ser humano tentando persuadir a Deus a fazer a vontade humana (cf. Mt. 26:39) – essa é especificamente a nova espiritualidade que não é nada mais nada menos do que a religião pagã requentada em moldes pós-modernos. Nessa busca da espiritualidade como Deus a queria, no início nos parece estranho crescer, parece ser mais fácil seguir como fazíamos: cedendo aos apelos de nosso próprio coração, mas Deus vai incorporando em nosso viver prático os princípios de Seu Reino e pouco a pouco a natureza espiritual cultivada pelo Espírito Santo em nós, torna-se a nossa primeira natureza. Lutas sempre teremos, perfeito ninguém será, pois o processo de santificação continuará até o final da vida. Deus o abençoe em seu crescimento.