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Black Mirror – National Anthem

Giovanni Werneck

No primeiro episódio desta série antológica, que conta a história de uma


irresoluta escolha, o que mais pesa para seu desfecho é a opinião pública. Tema
que estamos discutindo ao longo do semestre. Em especial na situação
destacada pelo episódio, um funcionário público (que representa o povo) deve
tomar uma decisão, fazer nada ou seguir a ordem dos sequestradores. O pedido
dos criminosos era que o primeiro-ministro tivesse relações sexuais com um
porco e que isso fosse transmitido ao vivo para todos. Em troca, ele libertaria a
princesa que havia sido raptada. Caso não obedecesse, ela morreria.

O episódio é absolutamente angustiante de assistir. Fica-se na


expectativa de uma outra saída para aquele problema, que acaba por não vir. A
tensão se estabelece quando a resolução do conflito deve ser algo “ao vivo”,
imediato, instantâneo. Não há tempo para preparações ou fugas. Claramente,
no início, pode-se notar uma tentativa de postergar a situação ou de omiti-la, ao
proibir que as emissoras divulgassem as ameaças que o governo estava
recebendo. Chama atenção o fato de que a opinião pública não precisa ser
agitada, de acordo com os políticos. Eles fazem de tudo para impedir o
vazamento de informações e dados. O que não funciona. Na era da internet e da
comunicação digital, esconder alguma coisa é um trabalho hercúleo. Por fim, a
informação vaza no YouTube e a nação inteira descobre. Abre-se espaço para
uma discussão sobre privacidade, nesse momento.

Outro fator de relevância é a importância das mídias tradicionais para com


a verdade. Por mais que vídeos e comentários acerca do sequestro surgissem
na internet, o público só realmente acreditou quando as TVs e a grande mídia
passaram a divulgar. Afinal, são elas que detêm a credibilidade para com a
informação. Isso foi muito bem explorado. São elas que dão os meios para a
sociedade pensar e refletir, analisar e se posicionar.

Sobre a opinião pública, pode-se afirmar que ela teve uma força
avassaladora para a decisão do ministro. O que as pessoas em geral pensam
influenciam os rumos da história. Todo mundo quer ter uma opinião, todo mundo
quer julgar o que está ao redor. Isso faz com que existam grupos de opiniões
que defendem as mais variadas bandeiras. Por ser esta a era da informação,
onde tudo vale o tempo de um segundo, não existe o timing necessário para se
aprofundar e refletir sobre o que está sendo exposto.

Nesse episódio de Black Mirror, a decisão precisava ser estabelecida até


o fim do dia, ou seja, tudo tinha que ser pensado imediatamente. Essa parte
deixa claro o imediatismo ao nosso redor. A sociedade recebe uma informação
e já apresenta seu veredito. O que aparece na mídia é o suficiente para que uma
pessoa tome suas decisões. Vide, por exemplo, as pesquisas de intenção de
voto. Algumas simplesmente preferem votar “no que está ganhando”. Nem
sequer imaginam em pesquisar sobre ele. Além disso, temos a questão do
posicionamento individual frente a um grupo. Às vezes, por estar inserido num
contexto muito maior que você, o indivíduo realiza atitudes que não faria se
estivesse em outra situação.

National Anthem abre reflexão sobre a cultura de mídia sobre o qual


estamos inseridos, onde cada um de nós é uma imagem no imaginário do outro,
com seus problemas, conceitos e percepções. A velocidade com a qual pode-se
errar e simplesmente sumir da mídia é absurda. Para o primeiro-ministro, sua
imagem de uma pessoa séria, comprometida com a nação e principalmente, de
“escolhido” da Rainha, desaparece quando o ato é consumado. A opinião pública
que dizia “não” à realização do pedido do sequestrador ficou chocada com a
decisão. Porém, e aqui mora o problema, ela apreciou o ato.

Quando um senhor impede que a televisão seja desligada por uma criança que
estava entediada, o que ele quis dizer era que o momento era histórico. Se sentia
parte de algo maior. Sentia que, por mais que fosse algo extremamente
repugnante, aquilo era importante. O poder incompreendido da opinião pública
merece ser destacado. Por mais que, naquele momento, a história poderia estar
sendo escrita, um ano depois, ninguém mais lembrava daquilo. Como disse
anteriormente, no tempo de um segundo, tudo volta ao normal. Com relação ao
primeiro-ministro, na verdade sua popularidade até subiu depois do ato. Ele foi
visto como um herói e as pessoas passaram a gostar mais dele. Ele fez o que
as pessoas queriam. Quando uma pessoa faz isso, a sociedade retribui com sua
atenção ou com seu dinheiro, por exemplo. Mas, toda situação extrema deixa
marcas. O episódio termina com as sequelas verdadeiras: a esposa do primeiro-
ministro apesar de ter posado sorridente ao lado dele para as fotos dos
jornalistas, quando chega em casa não fala com ele. Isso criou uma ferida na
relação deles.

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