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O CAÇADOR

E
O
FEITIÇEIRO

APRESENTAÇÕES:

Magia, vampiros, lobisomens, canibals, Lumenmancer, Umbramancer, Pyromancer,


Electrimancer, mago, feiticeiro, caçadores, guardiões-espirituais, espíritos de luz,
espíritos sombrios, junte todas essas palavras, e mais algumas e será o que encontrará
nesse livro.
Depois de uma revelação chocante, os irmãos Ian e Levi descobrem um mundo novo,
ou melhor dizendo, começam a conhecer melhor o mundo onde vivem.

PRÓLOGO:

Ian já estava farto de aprender a teoria da relatividade!


Tudo ali naquela sala de aula o irritava, o ar quente, as pessoas que não paravam de
conversar, e a voz fina e irritante da professora. Ela tentava chamar a atenção da turma
para si, mas eles não ligavam. Irene era uma mulher baixa, de pele parda e longos
cabelos escuros, os lábios carnudos eram revestidos por um batom vinho, que não
combinava com sua blusa azul índigo.
Ian olhou para a janela ao seu lado, em busca de ar puro e fresco. Observou à grama
verde no pátio da escola, ela balançava conforme o vento, em uma eterna dança.
Avistou dois jovens, um já era um conhecido seu. Cabelos loiros que caiam sobre a
cara, corpo definido, olhos tão azuis quanto à blusa da professora Irene, aquele era
Daniel, um menino que simpatizava com Ian, eles não tinham divergência alguma, e Ian
não iria procurar ter. Uma menina seguia Daniel no pátio do colégio, tinha longos
cabelos escuros com pontas pintadas de vermelho, pele tão clara quanto um grão de
neve,e , a cara era enfeitada por três piercings. Um que atravessava o nariz em
horizontal, outros dois nos lábios inferiores. Na língua dela, que ela não parava de
esticar e mostrar, havia mais um. Seu nome era Isabela, se Ian se lembrara bem.
Os dois jovens começaram a trocar caricias, beijos, abraços, mãos em lugares errados.
A menina fora tirando a camisa de Daniel. Ian não se impressionou com a situação,
afinal, o menino loiro era conhecido como garanhão. Daniel fazia sucesso entre as
garotas por ter sido esportista, agora, fazia mais sucesso ainda, era o vocalista de uma
banda mirim. Sempre quando perambulava pelos corredores, Ian acabava ouvindo
“Daniel”, fosse como elogio, ou como xingamento.
– Já reparou no tic dela? –Tália disse para o amigo.
Ian retornou para a realidade tão subitamente que chegou a ter um leve sobressalto.
Olhou para o lado e visualizou a menina, Tália, sua melhor amiga. Ela era uma menina
de pele negra, rosto e nariz fino, e olhos cor de âmbar, uma coloração tão rara que Ian
nunca havia visto nada igual. Os cabelos cacheados eram escuros, e caiam até a metade
das costas da menina.
Ele demorou alguns segundos para processar a frese:
–Que tic? –Ian perguntou, não entendo muito do que Tália estava falando. Professora
Irene era a professora mais normal que tinham.
–Ela fica abrindo e fechando os olhos a cada dois segundos. –A menina explicou. –
Repare.
Ian começou a encarar a mulher, e em poucos segundos pode ver as repetidas piscadas.
Riu bem baixo.
Interrompido aula da professora Irene, um barulho agudo ecoou por toda a escola. Os
alunos e levantaram como selvagens e começaram a guardar suas coisas. A professora
tentou conte-los, mas nada adiantou.
–Eu quero para amanhã as paginas cinqüenta e seis e cinqüenta e sete, copiadas e
respondias. –Ela gritou, tentando passar um dever de casa, mas assim como todas as
suas outras tentativas, não funcionou.
A sala de aula se evadiu em poucos segundos, comicamente, uma carteira ficou virada
ao contrario. Ian fora quase o ultimo a sair. Nos corredores fora espremido pela
multidão de desesperados, era sexta feira, todos queriam aproveitar o final de semana,
inclusive ele.

1- SEGREDOS DE FAMILIA.
Vista de cima, Costa da Areia era mais uma cidade normal do litoral paulista, com sua
praia sendo a mais limpa da região ela atraia muitos turistas, mas não era só por causa
da praia que os turistas adoravam aquela cidade, ela possuía o Museu de espécimes
marinhos. Tinha prédios altos e baixos, bairros ricos e pobres, e ruas largas e
principalmente, muitos becos. Desde sua construção, na época do descobrimento do
país, fora projetada de forma estranha, e as casas e prédios que foram sendo construídos
sem planos de arquitetura, foram fazendo lacunas, espaços que foram se tornando os
icônicos becos.
Apesar que essa época do ano ainda não ser inverno, estava chovendo ,o que não
incomodava muito.
Já era de noite, quando o casal Venator estava se arrumando. Na frente do espelho do
banheiro, Fenando se arrumava. Fernando era um homem alto, boa pinta, os cabelos
escuros penteados para frente combinavam com a barba rala. A aparência jovial dava a
ele mais elegância, todos diziam que ele tinha vinte e poucos, quando na verdade tinha
trinta e nove.
–Patrícia! –Frenando gritou. –Já está pronta?
No quarto do casal Patrícia se arrumava, ela passava pela quinta vez o batom vermelho.
Patrícia era uma belíssima mulher, o corpo era escultural e os cabelos escuros eram
longos, e estavam soltos. Os olhos brilhavam parecendo duas pedrinhas cor de
diamante.
–Já vou!–Ele gritou em resposta.
A mulher se olhou no espelho de novo, nada poderia estragar sua felicidade, era seu
aniversario de casamento, e como comemoração eles iriam jantar em um dos
restaurantes mais chiques da cidade.
–Mãe, você está linda!–Disse Levi, que entrava pela porta.
Levi era um jovenzinho não muito grande, com apenas quinze anos de idade, não tinha
o corpo muito defino. Algumas espinhas o pontilhavam a face, os cabelos escuros caiam
sobre os olhos devido à preguiça dele de pentear ou corta-los.
–Obrigada. –Ela agradeceu
–Então. –Falou Fernando que surgiu na porta. –Vamos ou não?
–Vamos.
O casal saiu do quarto e atravessou a sala, saiu pela porta. Lá fora, Fernando ligou o
carro e tirou o mesmo da garagem, enquanto Patrícia falava com os filhos.
–Daqui a pouco nos estamos de volta. Se quiserem comer alguma coisa...
–Eu deixei dinheiro debaixo do livro, e blablabla. –Disse Ian a interrompendo. –Mãe,
toda vez que vocês saem você acaba falando a mesma coisa.
Ian era um espelho do pai, diferente de Levi. Era brincalhão e às vezes serio de mais. A
aparência era quase idêntica, as únicas coisas que mudavam era a barba, que Ian ainda
não tinha, mas era uma questão de tempo para adquirir.
Patrícia saiu da casa e entrou no carro.O sedan preto sumiu quando virou a esquina.
Dentro do carro, Patrícia encarava a rua, com uma expressão seria, assim como
Fernando.
–Você contou a eles? –Ela perguntou com um tom seco.
–Não.
–Deveria ter contado. –Ela abriu a bolsa, tirou um pano úmido e começou a tirar a
maquiagem do rosto.
–Relaxa, não vai acontecer nada de mais.
–Isso é o que você pensa.
Acomodados na sala, Ian e Levi assistiam televisão. Era um filme de ação, vários
barulhos de tiro ecoaram pelo cômodo.
–Tá com fome? –Ian perguntou ao irmão mais novo.
–Pra falar a verdade, não. E você?
–Também não...
Nenhum dos dois reparou as horas passarem, apenas acabaram pegando no sono.
Ian acordou com as costas doloridas, talvez dormir todo esparramado no sofá não fizera
muito bem para sua coluna. Quando o menino se deu conta, percebeu que tinha dormido
no sofá da sala, o que era uma coisa estranha. Ian olhou para o lado, viu o
irmãodormindo.
–Levi. –Ian colocou as mãos nas pernas do irmão o começou a chacoalha-lo.– Ei
acorda!
–O que foi? –Falou Levi com tom sonolento.
–Você viu que horas a mãe e o pai chegaram ontem?
–Não. –Levi se sentou. –Porque dormimos aqui?
–Eu também não sei.
Ian se levantou e andou até o quarto dois pais, não tinha ninguém lá. Retornou a sala
para falar com o irmão.
–Eles não estão no quarto!
–Será que aconteceu algo. Pensa Ian, eles podem ter sido...
–Não. Pense em algo mais otimista por favor, vai ver eles acabaram se empolgando
demais e foram passar a noite em um motel.–Ian deu um sorriso ligeiro.
–Não é hora para piadinhas. Nossos pais sumiram e você fica falando essas merdas?!
–Calma Levi, era só para descontrair.
Levi pegou o telefone e tentou ligar para o celular de Patrícia. Chamada perdida.
Tentou de novo, mas dessa vez com o celular de Fernando. “Esse numero de telefone
não existe”.
–Droga! –Ele esbravejou.
–O que foi?
–Nenhum dos dois atendeu. Será que podemos ligar para o policia?
–Não, se não me engano só podemos acusar um desaparecimento depois de vinte e
quatro horas. O jeito e sentar e esperar.
As horas do dia passaram muito rápido, Ian e Levi não fizeram nada, não conseguiram
fazer nada, o desaparecimento repentino dos pais fora como uma bomba, que dizimou o
animo deles. E se Levi estivesse certo, e se os pais deles realmente tivessem morrido? E
agora, o que iriam fazer? Mesmo Ian tendo quase dezoito anos, ele não poderia adotar o
irmão, provavelmente iriam para algum abrigo do governo.
Talvez Levi desse sorte e fosse adotado, mas Ian tinha certeza que não seria. Já era
velho e tinha alguns problemas escolares, ninguém iria adotar um marmanjo
problemático.
Já eram uma da tarde, os irmãos não haviam almoçado, nem tomado café da manhã.
Quebrando o silencio da sala, o telefone tocou. Ian foi correndo para atender.
–Alô.
–Fernando? –Disse uma voz rouca, que Ian reconheceu no mesmo instante.
–Darlon?
–Ian? Seus pais chegaram em?
–Não. Sabe onde eles foram?
–Ian, preciso que você e o Levi venham a minha casa, o mais rápido possível!
A casa de Darlon ficava razoavelmente longe, no outro lado do bairro de Argema. Os
irmãos desceram do ônibus, e começaram a andar. Passaram por um beco de paredes
pichadas, um campinho de futebol onde crianças se divertiam e logo depois chegaramà
casa de Darlon.
Darlon era um antigo amigo da família, era só isso que os meninos sabiam, Fernando
também contou como o conheceu no colégio, mas fora uma historia bem rasa. A casa de
Darlon era uma casa de esquina. Ian se aproximou e tocou a campainha.
Lá de trás da casa saiu alguém. Pele clara, curtos cabelos pretos que chegavam à nuca,
cortados em Chanel. O jeito era um pouco despojado. Seu nome era Elizabeth.
–Olá meninos.–Ela falou enquanto abria o portão.
–Oi Beth.–Ian cumprimentou
–Entrem, Eu e Darlon queremos falar algo serio com vocês.
Ian e Levi seguiram a ordem da mulher, e entraram. Eles se sentaram no sofá e viram
Darlon Sair do corredor. Darlon era um homem alto, musculoso, pele escura e cabeça
careca.
–O que é tão importante assim?–Levi perguntou.
–Levi, mais educação. –Ian cutucou o irmão.
–Ian, Levi. Eu não sei como contar isso a vocês, mas. Seus pais estão mortos!

2- VERDADES.
–Oque?!–Falou Ian sem entender o que Darlon acabara de falar.
–Eu sei que pode parecer loucura, mas, infelizmente é verdade.–Darlon abaixou a
cabeça e passou a mão no rosto.
–E como sabe disso? –Levi perguntou.
Ian se virou para o irmão, não estava acreditando. Como Levi poderia duvidar de
Darlon, ele que era o melhor amigo de Fernando, e praticamente um tio para eles.
–Venham comigo. –Darlon se virou.
Os meninos trocaram olhares, e se levantaram. Darlon o levou até um cômodo de sua
casa. Era um cômodo simples com paredes marrons e duas estantes. O homem arrastou
uma das estantes para o lado, assim abrindo caminho a uma passagem secreta.
–O que tem aqui? –Ian questionou
–Guarde as perguntas para mais tarde.– Darlon constatou.
O homem desceu o túnel, seguido pelos irmãos e atrás do trio ia Elizabeth. O pequeno
túnel se abriu em uma extensa galeria de corredores subterrâneos. Na parede tinha um
mapa de Costa da areia, o mapa tinha varias linhas vermelhas traçadas, varias rotas para
vários pontos diferentes da cidade. Ian pode reparar queum dos caminhos levavam a sua
casa.
–Estamos no esgoto? –Ian perguntou
–Não, aqui é algo mais fundo. –Elizabeth explicou.
–Vamos. –Falou Darlon, que tinha acabado de tirar uma lanterna do bolso.
O quarteto andou por alguns minutos, até chegarem a uma porta de ferro. Darlon tirou
uma chave do bolso e a abriu. O cômodo a seguir não era estranho para Ian, de alguma
forma ele teve uma vaga de lembrança.
Ian lembrou-se de que um dia seus haviam saído, e que ele e o irmão estavam
brincando de esconde-esconde, e um lugar perfeito para ele se esconder era do lado da
estante, mas acidentalmente ele acabou a empurrando. O móvel de madeira havia
andado para o lado e um caminho até um aposento estranho havia se revelado, Ian ficou
alguns minutos lá e depois subiu, colocou a estante no lugar para não levar bronca, e
nunca mais voltou lá.
Por outro lado, Levi nunca havia estado ali antes. Aquele lugar era inédito. Darlon
entrou primeiro, colocou a mão para o lado e apertou um interruptor. Luzes súbitas
acenderam o lugar.
–Bem vindos, a verdadeira casa de seus pais. –Falou Darlon.

O cômodo não era muito grande, haviam duas estantes, uma na esquerda e outra na
direta. Uma mesa central com apenas quatro cadeiras e uma porta lateral que levava a
outro lugar. Ian andou até uma estante e de lá tirou um livro empoeirado. Na capa estava
bem desatacado a palavra “Caçadores”.
–Ian. –A mulher falou
–Oi Beth.
–Seus pais contaram a vocês, não contaram?
–Contaram o que? –Levi se intrometeu.
Elizabeth e Darlon trocaram olhares, os dois estavam com rostos preocupados.
–Fale logo. O que foi que eles não nos contaram. –Levi perguntou.
–Se eles não contaram a vocês, acho melhor a gente não contar.
–Fale logo. –Levi insistiu.
–Levi, espere um minuto. –Falou Ian, contendo o irmão. –Olha esse bilhete, que caiu do
livro. –Ian fez uma pausa. –Meus filhos, se estão lendo isso é porque o que Darlon e
Beth falaram é verdade, nos estamos mortos. E bem provável que nem eles nem vocês
sabem a causa da nossa morte, e advinham, vão continuar sem saber. Como eu e seu pai
combinamos com Beth e Darlon há alguns meses atrás eles iram pegar a guarda de
vocês na justiça. –Ian parou de ler.
–É só isso? Não tem mais nada escrito?
–Tem, aqui está dizendo. Caso queiram saber um pouco mais de nossa historia, virem o
papel, caso não, apenas fechem o livro e vão embora. –Ian olhou para o irmão. –Então,
acho que nos dois temos que decidir isso, vira ou não vira?
–Por mim pode virar.
–Já que é assim. –Ian virou o bilhete.–Vejo que estão decididos, mas para saberem de
tudo mesmo, vocês tem que ir até a sala ao lado. Apenas os dois podem abrir o selo.
–Selo? O que ela quis dizer com isso? –Levi questionou.
–Aqui. –Disse Darlon que havia andado até a porta lateral. –Coloquem suas mãos aqui.
Ian e Levi fizeram o que Darlon mandou, andaram até a porta cinza, ficaram se
encarando por alguns segundos até que eles tomaram coragem e colocaram as mãos na
madeira. Um circulo preto começou a aparecer, era esquisito, tinha runas antigas
desenhadas e um símbolo enorme no meio, que brilhava vermelho. Um barulho de vidro
quebrado ecoou pela sala, o circulo preto se quebrou, mas como algo desenhado iria
rachar? Aquilo era impossível!
A porta cinza desmoronou, a passagem estava aberta. Quando os irmãos entraram
juntos, algum tipo de sensor acendeu as luzes. A sala era inédita para ambos os irmãos
agora. As paredes cinzas combinavam com o chão cinza também, mas o que mais
chamava atenção era o arsenal pendurado na parede a direita. Armas de diversos
tamanhos e calibres, variavam de simples arco-e-flecha as modernas pistolas
automáticas As armas também eram vistosas algumas com detalhes dourados e
prateados.
–Meu Deus do céu.–Levi disse enquanto olhava deslumbrado para tudo aquilo. –Ian
sabe o que isso significa?
–Sim. Nossos pais eram terroristas! –Falou Ian.
–Não seu estupido. –Levi deu uma cotovelada no irmão. –Eram agentes secretos.
–Preferia acreditar que eram terroristas.–O irmão mais velho resmungou
–Nenhum, nem outro. –Darlon falou enquanto entrava na sala cinza. –Seus pais eram
caçadores.
–Caçadores? –Ian deu uma gargalhada. –Daqueles que saem na floresta para matarem
animais?
–Tirando a parte dos animais, e da floresta também. –Darlon mostrou a Ian o livro
empoeirado que o menino havia pego a alguns minutos atrás. –Está vendo? Caçadores.
–E o que são caçadores?
–Caçadores são pessoas que caçam, ué.
–Caçam o que?
–Agora você chegou à parte difícil de explicar. –Darlon passou a mão no rosto. –Mas
mesmo assim eu vou tentar. Caçadores caçam seres mágicos!

3- CAÇADORES

–Vocês esperam mesmo que a gente acredite nisso?–Falou Levi.–Seres mágicos? Essa
é nova.
–Vejo que vocês não acreditam na magia, –Disse Elizabeth. –Acho que posso mostrar a
vocês.
Elizabeth tirou do bolso do casaco um cetro, o objeto era bonito, tinha uma pedra
vermelha na ponta. A mulher girou o bastão entre os dedos e em seguida o apontou para
cima, em seguida falou:
–Ignis!
Chamas começaram a pular da ponta do cetro, as faíscas rubras caíram no chão e
formaram um fogaréu. Os irmãos retrocederam alguns passos.
–O que é isso? –Ian perguntou assustado.
–Magia. –Elizabeth explicou.
–Então magia existe de verdade? Tipo, pessoas conseguem controlar chamas, mover
objetos com a mente e essas coisas? –Ian perguntou.
–Magia não se resume a isso, existem varias outras coisas que um mago pode fazer.–
Elizabeth colocou uma mão na cintura.
–E os magos são caçadores? –Levi perguntou.
–Não só magos, pra falar a verdade, qualquer um pode ser um caçador.–Darlon
reforçou a explicação.
–Eu vou explicar para Levi e você explica para o Ian, ok? –Elizabeth perguntou a
Darlon
–Ok. –Ele acenou com a cabeça
Levi e Elizabeth saíram. Ian e Darlon ficaram se encarando por longos segundos, sem
sequer um dizer nada ao outro. O menino estava pensando nas informações recém-
recebidas, mundo magico, caçadores, pais mortos, magia, armas, tudo isso havia virado
uma mistura na cabeça do menino. E de alguma forma, ele sabia que Darlon o ajudaria a
desmistificar tudo.
–E então. –Ian tomou a iniciativa de falar primeiro. –Para onde Elizabeth vai levar
Levi?
–Ela vai explicar algumas coisas que sua mãe não teve tempo. –Darlon mudou
rapidamente de assunto. –Agora você pode me perguntar qualquer coisa.
–Sério?
–Mas é claro.
–Bem... –Ian olhou para cima para pensar. –O que são criaturas magicas?
–Vamos lá. –Darlon buscou folego para começar a explicação.–Criaturas magicas é
apenas um jeito bonito de falar, porque de magicas elas não tem nada. Trolls, demônios,
vampiros, lycans, canibals e etecetera.
Darlon encarou Ian por longos segundos. Enquanto Darlon o encarava com uma
expressão seria, Ian olhava incrédulo para o homem. Como assim vampiros existiam?
Lycans? O que eram aquilo?
–Eu sei que pode parecer um pouco confuso. Mas é a verdade.
–Darlon, eu te respeito muito e te trato como se fosse da família. Mas você está me
falando da existência de criaturas que voam, chupam sangue e morrem tostadas com a
luz do sol. Isso é completamente inacreditável!
–Inacreditável é você não acreditar nisso. Ian, seus pais não te criaram com essa
mentalidade, não tenha a cabeça fechada. Uma coisa que sempre dizíamos para
iniciantes era: Abra sua cabeça e seu campo de visão, não se assuste com os novos
inimigos, mas se enturme com o novo mundo.
–Poético. –Ian sorriu
–Ian, o que eu quero dizer é que, você tem eu parar de ver apenas o que quer, e
enxergar tudo que o mundo lhe oferece.
–Acho que finalmente entendi... –Ian mudou de assunto para disfarçar a
incompreensão. –Como os caçadores funcionam?

Elizabeth e Levi estavam na sala ao lado. A mulher procurava alguma coisa no meio dos
livros empoeirados.
–Oque está procurando?
–Achei! –Elizabeth puxou um livro do meio da estante.
O livro que a mulher segurava era diferente, era pequeno e cor de rosa, parecia mais um
diário. Elizabeth abriu o livro na primeira pagina e começou a ler em voz alta:
–Diário de Patrícia. Querido Levi, se está lendo isso é porque já sabe da verdade, já
sabe quem fomos e o que fazíamos. Mas acho que não sabe de tudo por completo. Levi,
eu era uma feiticeira!
Elizabeth parou de ler por alguns minutos para ver a reação do menino. Mas
surpreendendo a mulher, Levi quase não esboçou reação alguma, ainda a encarava com
a cara de serio.
–Acabou?
–Não. –A mulher não estava acreditando. Como alguém poderia receber uma noticia
daquelas e não esboçar nenhuma reação? Ignorando isso, Elizabeth prosseguiu: –Eu sei
que pode parecer loucura receber essa noticia de uma pedaço de papel, mas acho que irá
ficar feliz com isso, você também é um!
Levi finalmente fez algo. O menino levantou uma das sobrancelhas, assim demostrando
uma cara de questionamento e estranheza. A mulher iria continuar lendo, mas Levi
pegou o livro da mão dela.
–Posso terminar de ler por mim mesmo?
–É claro.
Levi voltou a atenção para o diário, leu e releu tudo o que Elizabeth tinha falado, e mais
um pouco.
–Hum. Beth, aqui nesse diário, minha mãe afirma que eu sou um feiticeiro.
–Exatamente.–Elizabeth acenou com a cabeça
–Existe alguma evidencia concreta disso? E porque Ian também não é um?
–Uma prova. –Elizabeth coçou a cabeça, tentando se lembrar de algo que fizesse
sentido. Foi quando finalmente lembrou-se de algo. –Se lembra daquele acidente na
escola? Aquele que o botijão de gás explodiu e você estava perto.
–Aquele que incinerou os meus melhores amigos? Como esquecer.
–Oh, me desculpe, tinha me esquecido dessa fatalidade. –Elizabeth trocou rapidamente
de assunto. –Mas então, você só não morreu queimado porque manifestou seus poderes.
Conseguiu criar uma barreira magica.
A mulher ficou sem falar por alguns segundos, esperando que o menino dissesse algo,
mas Levi continuou mudo.
–Quanto à pergunta de Ian, eu não sei responder. Acho que é algo genético, e como Ian
puxou mais o lado do seu pai ele não deve ter nascido feiticeiro. Vamos lá, tente
manifestar seus poderes.
–Como?
–Bem, eu não sei como. Mas siga o meu exemplo.–Elizabeth levantou o cetro e se
concentrou. –Subvolo.
As palavras saíram serenas da boca da mulher. Novamente a ponta do cetro acendeu.
Três livros que estavam na estante da direita começaram a voar. Eles saíram dos seus
lugares e levitaram! Aquilo era impossível, pelo menos para Levi. Elizabeth moveu o
bastão , como se estivesse controlando-os, e os livros foram até a mesa.
–Pronto. –Ela concluiu abaixando o cetro.
–Como fez isso?–Levi perguntou. –Apesar de ser quieto e serio, Levi era uma criança
curiosa.
–Bem. É magia. –Elizabeth não tinha outra forma de como explicar a ele. –Parece ser
um pouco complicado de inicio, mas depois você consegue.
–E como eu faço isso? Não tenho nenhum cajado magico.
–Levi, o cajado não é magico, eu sou magica. –Elizabeth começou a explicar.–O cajado
apenas catalisa a magia dentro de mim. Mas como você é um feiticeiro, você consegue
usar magia sem artefato algum, então comesse a tentar. Primeiro levite algo, é a coisa
mais simples do mundo.
–Tudo bem. –Levi concordou.
O menino colocou as mãos na frente do corpo, se concentrou nos livros nas estantes.
Levi pensou os ver saindo do lugar, mas não fora nada disso. Algo tinha dado errado, o
que era para ser a “coisa mais fácil do mundo” não havia acontecido. Tentou de novo.
Levi começou a mexer as pontas dos dedos, mas nada aconteceu.
–Acho que minha mãe se enganou. –Levi abaixou a cabeça. –Talvez Ian consiga.
–Acho que não. –Elizabeth colocou a mão no ombro do garoto. –Tenho certeza que
Patrícia estava certa. É só uma questão de tempo e você vai adquiri suas habilidades.

4- TEMPO CORRIDO
Ian saiu da sala cinza e se encontrou com o irmão, que não parava de mexer os dedos
das mãos. Ian tentou chamar a atenção dele mais Levi nem ligou.
–Levi. –O irmão mais velho perguntou. –O que você está fazendo? Eu tenho que te
contar algumas coisas. E sobre nossos pais.
–Nossa, que condescendência. –Levi finalmente deu atenção a Ian. –Eu também tenho
que te contar algumas coisas.
–Pode começar. Deixo você contar primeiro
–Então. –Levi se preparou – Nossa mãe era uma feiticeira e provavelmente eu também
sou. Eu posso levitar coisas com o poder da mente, mas não estou conseguindo.
–Chocante.–Ian ironizou. –Seria mais chocante ainda se eu te contasse que nossos pais
eram caçadores, e saiam por ai caçando vampiros e lobisomens.
Nenhum dos irmãos esboçaram reação a noticia do outro, mesmo elas sendo inéditas,
não foram surpreendentes. Ian e Levi haviam descoberto o que os pais faziam, e essas
novas informações eram apenas detalhes, surreais, mas não passavam de detalhes.
Elizabeth se dirigiu até a porta de entrada do local e a fechou, e em seguida a trancou.
–Não abram essa porta por nada, apenas se for uma emergência.
–Por que? –Ian a questionou.
–Como devem ter percebido, aqui ficam as vias subterrâneas.–Elizabeth guardou a
chave no bolso da calça. – E as vias subterrâneas não são usadas apenas por nos. Varias
pessoas sabem de sua existência e a utilizam. Ou seja, você tem acesso a toda cidade,
mas toda cidade tem acesso a você.
Depois da explicação da mulher, Darlon falou para eles subirem. Apesar de não
perceberam, atrás de um pano que estava sendo usado como cortina, havia uma escada.
Os degraus estreitos conduziam uma pessoa por vez. O primeiro fora Darlon, que ao
chegar em cima desemperrou a estante, seguido por Ian, depois Levi e por ultima
Elizabeth.
O caminho de saída deu no quarto dos pais dos garotos.
Quando lá em cima Darlon e Elizabeth já iram ir embora se Ian não os impedisse:
–Então. –Darlon concluiu.–Acho que já explicamos para vocês tudo o que tinha que ser
explicado. Agora depende de vocês se vão ou não continuar o legado dos seus pais. Nos
já vamos indo.
–Ei! –Ian os impediu.–E o lance da adoção? Como fica?
–Ah,–Darlon se lembrou – tecnicamente vocês já são nossos filhos.
–Mas já?–Levi não entendeu. –Tão rápido?
–Nada que uma boa quantia de dinheiro não possa adiantar. –Elizabeth falou. –Ian,
vamos deixar vocês morando aqui. Fora um pedido de Fernando. Ele queria que vocês
fossem independentes e tudo mais.
–Vocês tem consciência do que estão fazendo? –Ian fez uma pergunta retorica. –Estão
deixando dois adolescentes morarem sozinhos.
–Ian, se não me engano uma vez você comentou comigo e com seu pai, que tinha uma
menina na sua classe, acho que era Tália o nome dela. Você disse que ela mora sozinha
desde os treze, e disse que sentia inveja dela ter toda essa liberdade.
–Mas é diferente, o pai da Tália está vivo, e ela vive no luxo. A gente não, nossos pais
morreram e não temos onde cairmos mortos.
–Se dinheiro for o problema, a gente resolve. Todo mês vocês iram ganhar uma
mesada.–disse Darlon encerrando o dialogo.
O casal saiu pela porta e não escutou os protestos de Ian.
Estavam só, os dois irmãos agora. Ian o mais velho, e Levi o mais novo. Levi se sentou
no sofá e ligou a televisão. Apesar de Ian não concordar com o comportamento do
irmão, era assim que ele agia. Levi sempre fora uma criança muito fechada e
traumatizada, talvez isso se atribuía pelo fato da morte precoce do seu cachorro, que
fora atropelado devido ao descuido do próprio Levi. Ou também ao acidente na escola,
que vitimou seus melhores amigos. E agora havia outro motivo para Levi se fechar mais
para o mundo, a morte dos pais.
Ian também iria se sentar para ver televisão, mas agora ele já não podia mais. Agora
que moravam sozinhos, Ian era o responsável, e como responsável ele tinha que fazer
tudo que seus pais faziam.
–É...–Ian tentou falar alguma coisa mas demorou alguns segundos para sair. –Como
você está?
–Tirando o fato que nossos pais morreram. Eu estou bem. –Levi respondeu com seu
jeito calmo de ser.
–Levi, você parece um pouco triste. –Ian se aproximou do irmão.
–E não era para estar?
–Era, mas...–Ian pensou em algo para falar, porem não conseguiu, o irmão estava certo
em estar chateado. O menino então mudou de assunto: –Eu vou ler alguns livros na
biblioteca secreta. Qualquer coisa me chama.
Ian virou de costas e entrou pelo corredor, em seguida entrou no quarto dos pais e
desceu a escadaria que levava ao cômodo secreto. Na sala, Levi pegou o controle da
televisão e apertou o botão “Mute”, o menino pegou algo que estava escondido atrás da
almofada. Era um pequeno livro cor de rosa, aquele era o diário de Patrícia. Levi
abraçou a caderneta e começou a chorar.
As lagrimas caíram sobre o sofáde couro e escorreram para o chão. Para Levi, Patrícia
não era somente uma mãe, era sua melhor amiga. Diferente de seu irmão, Levi tinha
mais afinidade com a mãe do que com o pai. Talvez pelo fato de ser o filho mais velho,
Ian não tinha adquirido tanta intimidade com Patrícia.
Levi se levantou para ir lavar o rosto no banheiro, mas algo o surpreendeu. Uma
pequena foto caiu da caderneta. Levi se agachou e pegou a fotografia. No retrato havia
ele, Patrícia, Fernando e Ian, todos felizes e com sorrisos no rosto. Atrás havia um
grande parque de diversões.
–As férias passadas. –Em meio a lagrimas e soluços ele comentou com ele mesmo.

O resto do dia passou como uma bala para os irmãos, Ian ficou horas trancado naquela
biblioteca, só saiu de lá para comer e ir ao banheiro. Levi ficou a tarde inteira lendo o
diário de sua falecida mãe.
A segunda-feira amanheceu nublada e chuvosa. A chuva que batia na janela acordou o
irmão mais novo. Levi se levantou da cama e foi até a sala. Nenhum sinal de Ian. Levi
não tinha visto Ian no quarto, nem na sala, onde ele poderia estar? Pensou. A resposta
brotou em seguida na cabeça do menino. Levi andou até o quarto dos pais e desceu a
escadaria.
A biblioteca estava toda acesa e Ian estava dormindo apoiado na mesa. Com vários
livros aberto em seu redor, Ian havia babado em um livro.
–Ei. –Levi cutucou o irmão. –Acorda.
–o que. –Ian falou com tom sonolento.–O que foi?
–Escola.
Ian se levantou da mesa, havia esquecido que ainda estudava. Levi subiu as escadas,
provavelmente foi tomar banho. Ian ficou mais alguns minutos lá em baixo. O menino
ficou pensando nas coisas que havia lido a noite inteira. Estratégias, técnicas, e tudo
sobre os caçadores. Ian havia aprendido como matar uma alta gama de criaturas
magicas, pelo menos na teoria. O garoto também havia lido vários relatos e textos de
antigos caçadores, perfis de inimigos entre outras coisas.

5- ESCOLA.
Eram 7:50 quando Ian e Levi saíram de mochilas nas costas para irem a escolaA escola
Moacyr Marco não ficava muito longe da casa deles, totalizavam sete ruas de distancia.
Um sujeito estranho passou pelos irmãos quando eles atravessaram a Rua Anastácia, era
um homem alto ,loiro, e magro. Qualquer um na rua falaria que ele era um usuário de
drogas, um craqueiro miserável, mas Ian conseguiu reconhecer sua verdadeira
identidade, ele na verdade era um vampiro!
Seu nome era Franz e ele era alemão, pelo menos era isso que estava em um dos
registros. Mesmo com o inimigo a sua frente Ian não fez nada, decidiu seguir seu
caminho para a escola.
Quando finalmente chagaram a escola eles se separaram, Ian fora falar com seus
amigos, e Levi fora falar com Alex, seu único amigo. A escola Moacyr Marco era
consideravelmente grande, o complexo ocupava o quarteirão inteiro, e, além disso, a
escola possuía três andares. As cores dos azulejos que decoravam a frente escola eram
as mesmas da bandeira de Costa da Areia, azul e branco.
Levi se aproximou de Alex, que estava atrás de um grupo de meninas. Alex era um
menino um pouco mais alto que Levi, pele morena e cabelos cacheados, esses cachos
que pareciam estar sempre molhados.
Levi iria falar algo, mas quando chegou perto do amigo o sinal tocou. Os portões da
escola se abriram e ele e Alex entraram. O caminho inteiro Levi pensou em contar para
Alex tudo o que havia acontecido, afinal, eram melhores amigos. Mas no final das
contas ele decidiu ficar em silencio. Alex era seu melhor amigo, e o único, mas Levi só
o conhecia há seis meses, e apesar de sempre falarem besteiras juntos, Levi não tinha
tanta intimidade para falar com Alex sobre a morte dos seus pais, e seus recém-
descobertos poderes.
Ainda fora da escola, Ian observava as pessoas entrando. Diferente do irmão, Ian
gostava de entrar por ultimo, não era porque bolava aula, mas sim porque não gostava
de se espremer no meio da multidão. O menino viu seus amigos entrando e para o lado
de fora restou apenas ele e Tália, sua melhor amiga. Tália era uma menina bonita, pele
escura, rosto fino e cabelos cacheados que desciam até a metade das costas. Os olhos da
menina eram castanhos amarelados, cor de âmbar, o que a deixava mais encantadora
ainda.
–Vamos entrar? –Ela perguntou
–Vamos. –Ian voltou sua atenção ao que estava acontecendo.
O menino estava pensando de que forma iria contar a amiga sobre a morte de seus pais,
Mas assim como Levi, Ian decidiu manter anonimato. Talvez Tália falaria para ele parar
com as drogas, porque aquela seria a única resposta que algum poderia dar para Ian.
–Ian. –Ela puxou assunto. –O que tá acontecendo?
–Nada. –Ian respondeu gaguejando, de alguma forma ele se sentia mal quando mentia
para Tália.
–Ian, você mente tão bem quanto uma freira. –Ela brincou. –Qual é, ontem você não
falou nada no grupo, você praticamente sumiu.
–Já falei que ontem eu tive alguns compromissos. –Ian blefou.
–E que compromissos eram esses?
Ian gelou, não sabia o que fazer. Continuava com a mentira, ou contava a verdade? Ian
acabou demorando muito para responder.
–Eu entendo,às vezes o compromisso é tão importante, que não pode nem se contar a
melhor amiga. –Tália falou com ar de tristeza.
Apesar de estudarem em turmas e salas diferentes, as aulas não estavam
interessantespara nenhumdos irmãos. Levi não queria mais saber da lei da relatividade,
nem da lei de Newton, afinal, ele era um feiticeiro! Poderia fazer coisas flutuarem
apenas com um pensamento, ou criar chamas coloridas, ou quem sabe até fazer com que
ele flutuasse. Ian não queria mais saber de átomos nem de nada do tipo, a única coisa
que pensava era como iria explodir a cabeça de algum lobisomem, ou de como mataria
seu primeiro vampiro.
Mas eles ainda eram adolescentes, e isso era um fato. Por mais que fossem diferentes
do resto, eles ainda teriam que ficar confinados do mundo por seis horas. Essas seis
horas que no caso passaram voando. Ian quase não teve tempo de botar o papo em
dia,mas ele e seus colegas poderiam continuar conversando pela internet.
Assim como todo dia, Ian ficou esperando Levi na esquina da escola. Como de
costume, Levi não demorou muito para aparecer e então eles voltaram para casa.

A primeira coisa que Levi fez ao chegar em casa foi cair na cama, o menino nem tinha
ao menos trocado de roupa, e já estava dormindo. Ian ,por outro lado, desceu a escadaria
atrás da estante e foi estudar mais sobre os caçadores. O menino já iria começar a ler
mais um livro, foi até a estante e de lá tirou um livro, na sua lateral estava escrito
“Combate” em letras douradas.
O livro era enorme, mais de setecentas paginas, mas quando Ian abriu para folhar, todas
eram ilustradas, o que acabou incentivando ainda mais o menino. Ian então decidiu ler
tudo desde o começo.
Aquele livro era genial, além das informações que Ian já tinha absorvido dos outros
livros, aquele ensinava passo a passo comomatar um vampiro, lobisomem, canibal entre
outros seres.
A tarde, assim como a manhã passou voando, Levi ficou dormindo e Ian estudando.
Quando o relógio alcançou às dez da noite Levi acordou. O menino pensou em pensar a
dormir, mas lembrou-se que no dia seguinte não tinha aula, devido à reforma do
colégio. Essa reforma que também já emendava com as férias escolares, ou seja, ele
tinha mais três semanas de recesso.
Levi se levantou da cama e foi até a sala, ninguém. O menino caminhou para cozinha,
ninguém. Só restava apenas dois lugares, ou Ian estaria estudando ou estaria no
banheiro. Levi foi até o final do corredor e não viu nenhuma luz acesa. Era certeza, Ian
estava no cômodo oculto estudando.
Quando Levi desceu a escadaria atrás da estante, não havia ninguém ali. O garoto
andou até a sala cinza, algumas armas haviam desaparecido. Levi apenas juntou as
peças em sua cabeça, um adolescente desocupado, mais algumas armas, e seres mágicos
a solta, ele já sabia onde o irmão estava.
–Não. –Levi sussurrou para ele mesmo. –Ele não fez isso.
Levi foi até o livro que estava aberto em cima da mesa, lá havia um bilhete:
“Me desculpe por não me despedir, não queria causar nenhum tipo de preocupação ou
algo do tipo. Enfim, eu fui caçar. Prometo que estarei de volta antes das duas da
madrugada.”
Aquela era a letra de Ian!
Levi correu até o quarto e pegou um casaco, o menino saiu correndo atrás do irmão.

6- PRIMEIRA CAÇADA.
Ian caminhava normalmente nas ruas de Argema, parecia até ser um turista. Ele vestia
um jeans casual, e um moletom com capuz, atrás da calça ele levava uma Beretta 9mm,
a famosa M92F. Nos bolsos da calça ele levava pentes, para recarregar a arma, e nos
bolsos do moletom ele levava uma estaca de madeira.
Todo aquele armamento poderia parecer forte, mas na verdade, aquelas eram as coisas
mais básicas de um caçador, pelo menos era isso que diziam os livros. Ian atravessou
uma viela e parou em um beco. Sentiu algo se mexer nas suas costas. A luz do poste
falhou.
São eles, pensouIan.
Há minutos atrás o jovem havia checado alguns arquivos dos pais, e naquela área
constava que uma dupla de vampiros aterrorizavam as pessoas. E Ian iria os caçar, pelo
menos era esse o plano. Ian se virou e viu um homem o encarando sorrindo. O sujeito
era alto, magro, cabelos loiros e rosto torto, mas algo era diferente, as presas pulavam
para fora da boca.
–Eu não tenho nada para roubar. –Ian levantou a mão e foi andando de costas na
direção da parede.
–E quem disse que queremos te roubar. –Falou uma segunda voz.
Ian não encostou na parede, e sim em outro homem, esse era diferente, pele morena e
olhos vermelhos, e cabelos raspados..
–O que vocês vão fazer comigo? –Ian perguntou com tom medroso.
–Eu não sei. –Falou o loiro. –O que vamos fazer com ele?
–O sugamos ou transformamos ele em nosso escravo?–O careca reforçou a pergunta.
–O secamos. – dois falaram juntos.
O homem atrás de Ian o pegou pelo braço e o jogou contra a parede do beco, Ian bateu
as costas e caiu ajoelhado. Os homens se aproximaram dele e ficaram o encarando, Ian
lançava um olhar de medo, enquanto eles olhavam com desejo, fome. Ian abaixou a
cabeça e começou a rir.
–Do que você tá rindo? –Perguntou o de olhos vermelhos.
–Da poeira, digo, de vocês.
Ian levantou a cara e levou as mãos as costas, de lá tirou a Beretta. O menino mirou no
peito do loiro e começou a atirar, os disparos o atingiram, mas estavam longe de matar o
sujeito. Ian pegou no bolso do moletom a estaca de madeira, e a levou na direção do
homem de olhos vermelhos. Mas frustrando o menino, o inimigo conseguiu apanhar seu
pulso antes que a estaca penetrasse seu peito. O plano de Ian havia falhado.
–Você é o caçador mais ridículo que já tentou nos matar. –O homem comentou.
O sujeito fechou a mão, assim espremendo o pulso de Ian. Entre estalos e grunhidos,
Ian largou a estaca e a deixou cair no chão. O homem chutou o pedaço de madeira para
um canto escuro. Ian tentou levantar a Beretta para atirar, mas falhou. O oponente fixou
o olhar nos olhos de Ian, nem um centímetro a mais, nenhum a menos.
–Larga a arma. –Ele falou.
–O que? –Ian não entendeu.
A explicação veio rápido para Ian. Mesmo sem ele querer a mão dele soltou a arma.
–Caçadorzinho, cada minuto que passa, você fica mais engraçado. –O homem zombou
de Ian novamente. –Esqueceu que nos vampiros temos hipnose?
Ian abaixou a cabeça. Ele havia esquecido daquilo, um erro fora fatal para o fracasso.
Estava perdido, ninguém apareceria para salva-lo, a única coisa que poderia fazer era
esperar para os vampiros sugarem seu sangue.
–Solta ele! –falou uma voz que acabara de aparecer ali.
Ian olhou para ver quem era, e por mais impossível que parecia, era seu irmão, Levi. O
pequeno menino aparecia imponente, mas pelo seu animo ele parecia fraco. Ian sentiu
um misto de sentimentos, medo, esperança, felicidade. Talvez os dois irmãos
morressem ali mesmo, os vampiros eram muito fortes, mas também tinha o outro lado
da moeda, o potencial oculto de Levi.
Nem Fernando, nem Darlon, nem Elizabeth, nem mesmo Patrícia, sabiam o verdadeiro
potencial de Levi, e para falar a verdade, nem ele mesmo sabia. Levi só sabia que
poderia repensar uma ameaça global.
O vampiro loiro, que acabara de levantar, foi a encontro do menino.
–Não é hora de criança ficar na rua.–O vampiro caçoou.–o que fazemos com ele?
–Deixo ir embora, não atacamos crianças, não somos monstros.
–Então são o que? –Levi perguntou.
O menino levantou a mão direita, e com isso o vampiro na sua frente começou a se
contorcer. Entre tentativas, muitas frustradas, o vampiro tentou falar com seu parceiro.
–Jor... Jor
–O que foi?
–Socorro...
O vampiro que segurava Ian havia o soltado, ele saiu correndo em direção a Levi. Mas
antes que pudesse fazer algo Levi levantou a outra mão. E com isso, ele começou a
flutuar no ar.
–O que você é...–O vampiro perguntou desesperado.
Ian, que observava a cena, não soube o que fazer. Ele tentava entender como o irmão
fazia aquilo, mas aproveitando a brecha ele resolveu agir. Ian se levantou e pegou a
estaca de madeira no canto do beco, e saiu correndo na direção do vampiro loiro. Ian
enfiou a estaca no peito do inimigo, que em seguida se desfez em fumaça e em cinzas.
O menino iria falar algo para o irmão, mas se surpreendeu na hora que a estaca saiu
voando de sua mão. Levi ainda com o braço esquerdo levantado, segurava o oponente
no ar. A estaca de madeira flutuou como um pluma no ar e foi a direção do vampiro.
Levi fechou as mãos e a estaca entrou no corpo do oponente.
Levi relaxou e o corpo do vampiro começou a despencar, mas antes de atingir o chão,
ele já havia se desfeito. Apenas os irmãos sobraram no beco. Um encarando o outro, um
esperando a resposta do outro. Ian tinha que explicar a saída noturna, e Levi tinha que
explicar como havia conseguido tais habilidades.
–Levi...–Ian tomou iniciativa. –Como você fez isso?
–É fácil, apenas se concentrar. –Levi explicou.–Agora é minha vez de perguntar,
porque você saiu? Porque veio caçar?
–Divertimento.
–Um divertimento que quase custou sua vida.
–Eu tinha tudo sobra controle, tá?
–Se eu não tivesse aparecido, você teria feito o que?–Levi perguntou
–Eu...–Ian não tinha resposta.
–Não precisa responder...–Levi virou as costas.
Ian agachou, tentou pegar a pistola no chão, mas não conseguiu, graças ao pulso
fraturado.
–Ai..–Ele gemeu.
–O que foi? –Levi se virou. –Você está machucado?
–Não foi nada. –Ian blefou, o pulso estava doendo muito.
–Deixa eu ver isso.–Levi se aproximou do irmão, e pegou no braço dele. Viu o pulso de
Ian, estava vermelho e inchado –Lá em casa você coloca gelo nisso.
Ian fora despertar apenas meio dia, graças ao sol batendo em sua cara. Iria levantar para
fechar a janela, mas preferiu acordar de vez. Na cama do lado, Levi dormia como um
bebê. Ian se levantou e pegou o celular na escrivaninha do quarto. Vinte chamadas
perdidas.
Ian ficou curioso, e preocupado, quem o ligaria vinte vezes? Pelo o que lhe constava,
sua mãe estava morta, e mais ninguém o ligaria compulsivamente. Quando colocou a
senha para desbloquear o aparelho, ele viu o contato, Darlon.
O menino ligou para Darlon, afinal, o que era tão importante assim?
–Alo –Ian falou.
–Ian, que historia é essa de sair caçando por ai?–Elizabeth gritou do outro lado da linha.

Demorou apenas vinte minutos para Elizabeth e Darlon atravessarem o bairro, e


chegaram à casa dos meninos. Ian iria abrir a porta para eles entrarem, mas ele não
precisou. Os dois entraram sem bater. Ian se sentou no sofá e abaixou a cabeça, pronto
para receber uma bronca.
–Me desculpem. –Ian falou com o tom triste.
–Te desculpar por quê? –Darlon pegou nos ombros do menino o chocalhou.–Vocês são
caçadores agora. Que orgulho!
–O que? –Ian perguntou. –Sério que não estão bravos? Sabe, eu sai por ai armado e
quase morri, arrisquei a vida do meu irmão inclusive.
–Nos sabemos disso. – Disse Elizabeth.–Queria que seus pais estivessem aqui para
verem esse momento.
–Eu também queria.–Ian comentou. Apesar de não parecer, ele também estava com
uma imensa saudade dos pais. Ian resolveu trocar de assunto para disfarçar a tristeza:–
Como vocês descobriram?
–Quill nos contou. –Darlon explicou.
–Quill? –Ian perguntou, de certa forma aquele nome não lhe era estranho. Ian procurou
nas lembranças algo relacionado aquele nome, e achou. –Quill é um metamorfo não?
–Sim, o pequeno Quill.–Elizabeth reforçou a explicação de Darlon. – Ele é um rato na
sua forma transformada, provavelmente ele devia estar no beco que você foi ontem. E
como sempre faz, saiu espalhando vocês por toda comunidade magica da cidade.
–Então quer dizer que agora somos famosos?
–Sim, ele espalhou o nome de vocês como Irmãos.–Falou Elizabeth.–Ian, se importa se
eu for usar o banheiro?
–Beth, você já é de casa.
Elizabeth andou alguns paços e entrou pelo corredor. Darlon se sentou no sofá e Ian fez
o mesmo.
–Ian. –Darlon puxou assunto. –É agora que as coisas vão piorar.
–Por que?–Ian não entendeu. Há segundos atrás eles estavam festejando, mas agora as
coisas estavam ruins?
–Ian, e agora que você vai escolher o seu lado. Caçar por contrato ou caçar por vontade.
Caso escolha caçar por vontade saiba que o mundo inteiro vai querer sua cabeça, mas se
caçar por contrato, saiba também que o mundo inteiro vai querer sua cabeça, menos
alguns.
–Ou seja. Ou eu viro um mercenário, ou um super-herói.
–Tecnicamente sim.
–Bem, se for para eu virar um cretino que tira a vida de pessoas, eu prefiro ser um
cretino bem pago.
–Bom, –Darlon se levantou encerrando a conversa. –Acho que eu e Elizabeth acabamos
por aqui. Vamos tentar divulgar o nome de vocês. Caso alguém aparece, primeiro escute
o que ele tem a dizer, talvez seja um contrato.
Subitamente um baque cala a conversa, Elizabeth saiu do corredor.
–Meu deus. –ela reclamou. –Vocês não lavam esse banheiro há quanto tempo?

7- ÉTICA.
Quando Darlon e Elizabeth saíram da casa dos meninos, Ian ficou pensando na sua
ultima decisão, será que era certo o que tinha falado? Matar pessoas por dinheiro não
era o que seus pais lhe ensinaram, mas era o que faziam. Ian não iria começar a fazer
aquilo por dinheiro, mas sim por entretenimento, um entretenimento muito sádico de
sua parte.
Será que isso era certo? Essa decisão passava por cima de todos seus valores de ética e
moral, que havia aprendido com seus pais e professores. Mas talvez ter escolhido caçar
por vontade própria seria pior. Mas talvez a opção certa fosse não caçar, mas Ian sabia
que quando começava não havia como parar. As noticias circulam muito rápido, e logo
poderia aparecer alguém para se vingar, o jeito era virar um caçador para sempre.
No quarto, Levi se levantou da cama. O menino caminhou até a sala e pegou o irmão
encarando a parede.
–Finalmente pensando na burrada que fez ontem?–Levi perguntou
Ian voltou à realidade, balançou a cabeça e viu o irmão na saída do corredor.
–Ah, você acordou. –Disse Ian. –Sim eu estava pensado, e vi que você tem habilidades
incríveis.
–Fale uma coisa que não sei.–Levi falou enquanto caminhava para o balcão da
cozinha.–Já tomou café?
–Não, tecnicamente acabei de acordar. Só vim aqui para falar com a Beth e o Darlon.
–Eles vieram nos ver?
–Não exatamente. –Ian levantou e foi até a cozinha. –Vieram falar do que aconteceu
ontem.
–Nossa, como rápido as coisas se espalham.–Levi disse com seu tom de desinteressado.
–Você não faz ideia.
Ian foi até a geladeira e pegou um pote com queijo e presunto, colocou na mesa.
–Espere. –Levi parou o irmão. –Hoje eu faço o café.
Levi levantou os braços e começou a gesticular os dedos. A jarra de suco saiu da
geladeira flutuando, em seguida a porta do aparelho se fechou, dois pães saíram do
armário e começaram a flutuar em cima da mesa. A gaveta de utensílios de abriu, e de lá
voaram duas facas.
Ian, que apenas observava ficou surpreso, Levi só havia descoberto seus “poderes” há
apenas dois dias atrás, como ele já tinha tal domínio? Levi mudou a postura dos braços,
agora os jogou para frente. As coisas que apenas flutuavam agora faziam algo, as facas
cortavam os pães e a jarra de suco encheu dois copos. Quando tudo estava pronto, os
irmãos se sentaram para comer.
–Como fez isso? –Ian perguntou de boca cheia.
–Já te respondi isso ontem, é só se concentrar. –Levi deu um gole no suco. –Por que
não tenta? Você é meu irmão e certamente tem uma grande quantidade de Magicha no
corpo.
–Magicha? –Ian não reconheceu aquela palavra.
–Você não sabe o que é Magicha?
–Não. –Ian respondeu.
–O que fica estudando lá em baixo? –Levi começou a explicar: –Magicha, é como os
ocidentais chamam, mas também é conhecida como Chi, Chakras, energia cósmica e
etecetera. Mas no fim das contas é a magia dentro das pessoas.
–Ah, entendi–Ian decidiu mudar de assunto. –O que vai fazer hoje à noite?
–Estava pensando em dormir na minha cama, mas acho que vou acabar dormindo no
sofá, porque a pergunta?
–Acho que vou caçar, ai queria que você me ajudasse.
–Talvez. –Levi terminou um copo de suco.
Os meninos ficaram sem se falar por longos três minutos, mas Levi reparou que algo
estava errado, um noticia muito perturbadora estava passando no noticiário local.
–O que está passando na TV? –Levi perguntou
–Porque não usa seus poderes de feiticeiro para aumentar o volume?–Ian brincou com o
irmão.
–Justamente por isso, sou um feiticeiro, não um Technomancer. –Levi respondeu com
sua seriedade de sempre.
O mais novo se levantou e procurou o controle remoto no sofá, que estava um bagunça.
Levi levantou um toalha que estava no braço do móvel e por sorte o controle estava lá.
O menino apontou o aparelho para o televisor e aumentou o volume.
Estava passando o noticiário intermediário, uma reportar estava em um cenário todo
destruído e ela falava sobre um acidente em um convento.
“–Estamos aqui nesse convento, onde ocorreu uma enorme explosão. Os peritos
estavam comentando que foi algum botijão de gás que explodiu, e que levou a uma
serie de outras explosões. Lembrando que esse convento se chama Lua cheia, e que fica
aos arredores de Costa da Areia. Se alguém tem algum parente aqui, venha ajudar a
reconhecer os corpos. Joelma Souza para CAJ.”
A transmissão se encerrou ali. Levi tirou o volume do aparelho, o resto do noticiário já
não o interessava mais. Os irmãos trocaram olhares, sabiam que aquilo não fora uma
simples explosão, mas também sabiam que não eram super-heróis para irem investigar.
Ian ouviu um barulho do quarto, era seu celular. O jovem saiu correndo para atender,
poderia ser alguma noticia de Darlon, ou talvez algo mais importante, mas era Tália que
havia ligado.
–Tália?–Ian perguntou
–Não, sou sua tia distante, só liguei pra falar que tio Antônio operou. É claro que é a
Tália.
–Tá de TPM?Porque está tão brava?
–Desde ontem você não quer me contar algo, e você anda muito sumido. Ian, pode
falar, pode confiar em mim, sou sua melhor amiga.
Ian iria responder, mas na hora gaguejou. Algo voltou a martelar sua cabeça, a ética.
Tália contava tudo a Ian, e ele a ela, mas agora eles pareciam tão distantes. Ian não
poderia continuar mentindo para ela, não aguentava continuar mentido, mas também
não poderia contar a ela que saia todas as noites atrás de vampiros e lobisomens, ou será
que poderia?
–Eu entendo. –Ela disse.–Você vai continuar com seus segredos.
–Tália, não é isso.
–É sim Ian, mas lembre-se, a mentira é como uma chama, no começo é grande, e aos
poucos vai se apagando, acabando. E Logo em seguida não se tem mais...
Tália desligou o telefone.

Ian estava treinando tirou a pontaria na sala cinza. Aquela era a única coisa que o
aliviava e esvaziava sua mente. Apesar das outras armas, Ian apenas usava a pistola, a
antiga Beretta que um dia já havia pertencidoao seu pai. Ian mirou na parede e disparou.
Levi entrou pela porta.
–Ah, você está ai. –Levi constatou.
–Sim. –Ian respondeu.
–Me responde uma coisa?–O feiticeiro puxou assunto.–Porque os disparos dessas
armas não fazem tanto barulho?
–Encantos. –Explicou Ian. –Todas as armas usadas tem um encanto de silencio.
–Entendi...
–Porque não tenta atirar? –Ian ofereceu a arama ao irmão.
–Não obrigado, não gosto de armas.
Ian saiu da sala, não estava conseguindo pensar direito, o desentendimento com Tália
havia o atrapalhado, e agora ele sofria da culpa enorme de mentir para a melhor amiga.
Ian fora até o cômodo do lado, a biblioteca, e pegou um livro, começou a ler para passar
o tempo.

8- COMO AS COISAS FUNCIONAM


Ian não havia percebido quantos minutos haviam se passado, mas sabia que fora muito
tempo. Quando o menino saiu do cômodo secreto reparou nas janelas, estava escuro. Ian
andou até a cozinha para comer alguma coisa, estava sem fome, mas mesmo assim tinha
que comer.
O menino preparou um sanduiche, já que aquilo era a única coisa que sabia fazer. Levi
saiu do corredor, o menino vestia um jeans e um casaco preto, aparentemente iria sair.
–Vai aonde? –Ian perguntou e logo em seguida mordeu o lanche.
–Caçar.
–Não, você não vai. –Ian censurou o irmão
–Porque não? –Levi perguntou
–Porque eu não vou, e você não vai sozinho.
–Não vai porque?
–Esqueceu. –Ian levantou o pulso inchado. –Meu pulso ainda está doendo.
Levi se aproximou do irmão e pediu para examinar o ferimento. O pulso de Ian estava
inchado e com marcas de dedos. Levi levantou a mão direita e a abriu. Fechou os olhos
e se concentrou.
Ian ficou encarando a postura do irmão, afinal, o que ele iria fazer? Algo começou a
aparecer na pala de Levi, uma espécie de chama prateada. O pequeno fogo cresceu, Levi
levou a chama ao encontro do pulso de Ian. Nos primeiros instantes Ian tentou tirar seu
braço, mas depois se acalmou. Para sua surpresa, o fogo não o queimava.
–O que é isso? –Ian perguntou
–Fogo prata. –Levi respondeu concentrado
–É estranho, é relaxante.
–Sim, ele cura ao invés de queimar.
A chama se apagou, Levi abaixou os braços. Ian encostou no pulso , não estava mais
doendo!
–E então. –Levi falou. –Já da pra caçar?
–Sim. –Apesar de Ian não querer, aquela era a única coisa que poderia fazer para esfriar
a cabeça.
Ian fora para o quarto se trocar.

Vinte minutos depois já estava tudo pronto, Ian estava trocado e equipado, uma pistola
presa atrás, pentes reservas em um bolso e uma estaca de madeira em outro.
–Cadê o crucifixo? –Levi perguntou.
–Crucifixo? –Ian não entendeu a pergunta do irmão.–Pra que?
–Vamos matar vampiros.
Ian deu uma rápida risada.
–Levi, pensei que não acreditasse em lendas urbanas. –Ian começou a explicar ao
irmão: –Só existem três maneiras de se matar um vampiro, ou fura seu coração com
uma estaca de madeira, arranca sua cabeça, ou queima ele vivo. Essa historia de
crucifixo é só uma lenda que a igreja inventou.
Depois da breve explicação, os irmãos saíram. A principio Ian não sabia para onde iam,
já era dez da noite, não poderiam ficar andando por ai, afinal, era dois adolescentes. Os
irmãos começaram a andar por lugares aleatórios, becos, praças, lojas, todos estavam
vazios, apenas o silencio e a luz dos postes.
–Ei.–falou uma voz de um beco. –Irmãos.
Ian se virou, e logo pegou a pistola, quem sabia que eles eram irmãos além de seus
conhecidos? Ian levantou a arma, mas não sabia em que, ou no que atirar, o beco estava
escuro demais. Vendo a dificuldade do irmão, Levi resolveu fazer algo. O mais novo
abriu as mãos e criou duas labaredas de chamas verdes.
–Calma. –Disse a voz.
Do beco saiu um sujeito, tinha pele clara, cabelos ruivos, cacheados, pele sardenta. O
homem tinha por volta de trinta anos. Mas algo que incomodava os irmãos não era seu
jeito desabitado, e sim o fato dele estar nu! A única coisa que trazia consigo era um
pequeno pedaço de papel.
–Um tarado? –Levi perguntou
–Olá... –Ian gaguejou.
–Oi. –O homem os cumprimentou. –Eu me chamo Quill.
–Já sabemos quem você é. –Levi falou. –O quer com a gente?
–Não é obvio? Quero que vocês cacem. –Quill disse isso enquanto levantava a pequena
folha de papel.
Ian olhou para a fotografia, nela tinha um homem alto, forte, musculoso e peludo. De
certa forma parecia um lenhador.
–Quem é esse? –Ian perguntou.
–Jorge. –Quill respondeu. –Ele é um lobisomem. Tive alguns desentendimentos com
ele há uns dias atrás, descobri que ele é um verdadeiro babaca. Enfim, apenas quero ele
morto.
–Tudo bem. –Ian disse pegando a foto da mão de Quill. –E o dinheiro?
–Dinheiro?–Quill perguntou. –Meninos, não sejam bestas. Vocês começaram há caçar
esses dias, não venham pedir o dinheiro adiantado. Vamos fazer assim, primeiro vocês
me trazem da cabeça dele, e depois eu de dou o dinheiro.
–Como assim? Não é assim que as coisas funcionam!–Ian elevou o tom de voz.
–Você acha que não é assim que as coisas funcionam. Vamos logo, o tempo está
correndo, me encontrem aqui, nesse mesmo beco, às duas horas da madrugada, estarei
com o dinheiro.
–Tudo bem. –Ian consentiu com a cabeça. –Só mais uma pergunta, onde ele mora
mesmo?
–Lima, no bairro vizinho.–Aquela fora a ultima fala do ruivo.
Quill, assim como qualquer transmorfo, virou um animal. Ian e Levi viram o homem
encolher, e se transformar em um rato. Era um ratazana enorme e vistosa, com alguns
pelos sujos de sujeira preta. Os irmãos Venator se colocaram a andar, afinal, teriam que
atravessar o bairro de Argema e chegar ao bairro de Lima.

Depois de trinta longos minutos, eles chegaram ao destino, Lima. Agora era só achar
onde o sujeito morava e mata-lo, o que não seria uma tarefa simples, já que, era noite de
lua cheia e ele era um lobisomem. Lycans, ou lobisomens, sempre foram conhecidos
por serem rápidos e ágeis como lobos, e inteligente como humanos. E era essa
combinação que os deixavam quase invencíveis.
–Para onde vamos? –Levi perguntou.
–Eu não sei. –Ian respondeu.
–Ótimo. –Levi reclamou. –Então o que viemos fazer aqui?
–Calma. –Ian falou. –Eu disse que não sabia onde o sujeito morava, não onde podemos
arranjar informações.
Ian começou a andar, Levi o seguiu. Os irmãos atravessaram a rua desértica, e entraram
em um beco. O lugar era estreito, e fétido, algumas latas e sacos de lixo o enfeitavam.
Do lado das lixeiras tinha apenas uma porta, uma saída de incêndio. Ian se aproximou e
bateu na porta, algo podia ser ouvido, era um som abafado. Em cima da porta
descansava um letreiro com algumas luzes piscando “Estrela da noite”
Um homem alto abriu, tinha pele negra e cabelos raspados. Ele encarouIan de cara feia
por alguns segundos, afinal, aquele não era lugar de adolescentes. O homem já iria
fechar a porta, se Ian não falasse algo.
–Olá. –Disse Ian.
O sujeito ignorou as palavras do menino e fechou a porta do mesmo jeito.
–Ótimo. –Levi comentou. –O que vamos fazer agora?
–Calma. Eu vou pensar em algo.
Ian caminhou até a lixeira, o menino alisava o queixo enquanto pesava em alguma
forma para entrar ali dentro. Afinal, se Ian quisesse alguma informação, era ali que iria
conseguir. Ian estava andando de um lado para outro, fora até o final do beco e agora
estava indo para a saída, mas quando iria sair ele ouviu vozes, Ian se inclinou para ver
quem era, dois homens, que provavelmente iriam para o “Estrela da Noite”.
O irmão mais velho puxou Levi para o canto escuro de beco, a fim de se esconder. Os
sujeitos fizeram o que Ian havia pensado, os homens estraram no beco e bateram na
porta. Não demorou muito para o segurança atende-los, mas diferente de Ian, eles já
eram membros veteranos e já sabiam o que fazer.
Um dos homens elevou os punhos fechados até a altura dos ombros, em seguida os
fechou, quatro vezes. Ian ficou incrédulo, aquele era o padrão para entrar ali? Tão fácil
assim?
Depois que o segurança deixou os homens estraram Ian fora tentar a sorte.

9- lYCANS.
Ian e Levi se aproximaram da porta, o mais levantou a mão e em seguida bateu. Uma,
duas, três vezes. Antes de o segurança abrir a porta, Levi começou a gesticular as mãos,
uma estranha fumaça preta envolveu os irmãos. O enorme segurança tornou a abrir a
porta. Ian fez o que os outros sujeitos haviam feito.
Depois que Ian fizera os gestos, o segurança ficou o encarando por longos cinco
segundos.
–Por acaso vocês são novos?–O segurança perguntou com sua voz rouca.
–Sim. –Ian inventou uma mentira na hora.
–Qual é a área de vocês?
–Nossa área? –Levi perguntou gaguejando
–Sim, sua área. –Disse o segurança, que deu um paço à frente.
–Somos da área leste de Argema, na divisa com Lima. –Ian soltou outro blefe.
–Não deveriam estar patrulhando?
–Sim deveríamos. –Disse Ian. –Mas como estávamos por perto, decidimos passar por
aqui para tomar uma.
O segurança franziu o cenho, encarou os irmãos dos pés a cabeça. O sangue de Ian
estava gelado e o coração acelerado, se a mentira não tivesse funcionado, eles estariam
mortos nos próximos instantes. Mas não fora isso que aconteceu. O segurança colocou
um ligeiro sorriso no rosto e falou:
–Olhem, dessa vez eu quebro o galho de vocês, só porque são novatos, mas não
abusem.
O enorme homem se deslocou para o lado, assim abrindo caminho para Ian. Os irmãos
entraram.
–O que você fez? –Ian perguntou para Levi.
–Um feitiço de ilusão. –O mais novo respondeu. –Mas vamos logo, não sei se posso
mantê-lo por muito tempo.
Ian e Levi abriram uma porta e saíram em um grande lugar.
O Estrela da Noite era um bar de vampiros, frequentado por muitos membros dos
Garras. O Estrela da Noite era como qualquer bar ou boate, o cheiro de álcool
predominava, algumas prostitutas dançavam para homens em mastros, e na canto direito
havia um balcão. Atrás desse balcão havia uma linda moça, pele clara como a neve,
rosto quadrado, longos cabelos escuros, e em sua boca carnuda, um lindo batom
vermelho.
Seu nome era Solange, pelo menos fora o que Ian havia lido nos registros, e qualquer
coisa que alguém perguntava sobre pessoas, Solange saberia responder.
Ian passou entre mesas e homens e chegou até o balcão de madeira, Solange não
desviou o olhar, estava secando um copo com um pano. Ian se debruçou no balcão, mas
antes do menino falar algo a mulher falou:
–Não deveria estar em casa? Já passou da hora de crianças dormirem.
Ian gelou, será que o feitiço de ilusão havia acabado?
–O que?–Disse o menino, gaguejando.
–Não adianta mentir para mim, sou filha de uma maga, feitiços de ilusão não
funcionam comigo.–Disse a mulher com seu tom calmo.–Então, o que querem crianças?
–Queremos saber que é esse sujeito.
Ian tirou do bolso a fotografia que tinha ganhado de Quill, e a jogou no balcão.
Solangedeixou o copo que estava esfregando de lado e se debruçou para ver a foto. A
mulher recuou alguns passos para trás, arregalou os olhos.
–Reconheceu?–Ian perguntou
–Sim. Esse sujeito é meu ex-noivo. O que erem com ele?
–Somos caçadores, e recentemente aceitamos um contrato, digamos que temos que
caça-lo.–Ian explicou para a mulher. –Então, sabe onde ele mora?
–É claro que eu sei onde esse cretino mora, mas ele não deve estar em casa. Deve estar
por ai fazendo vitimas.
–Por ai aonde, seja mais especifica.
–Olha, se quer informação precisa.–A mulher levantou a mão com a palma aberta. –Vai
ter que pagar.
–É que...–Ian não tinha como pagar, estava sem dinheiro e talvez se não pagasse ela
poderia velar sua identidade.
–Não temos dinheiro. –Levi se intrometeu.
–Como assim caçadores não tem dinheiro?
–É que começamos nosso negocio faz pouco tempo. –Ian disse coçando a cabeça.
–Tudo bem. –Solange respirou fundo. –Eu posso fazer um trato com vocês. Bem,
primeiro eu vendo a informação e depois vocês dão cinquenta por cento do dinheiro
final.
–Cinquenta? –Ian tentou pechinchar. –Que tal trinta?
–Quarenta e não se fala mais nisso. –A mulher encerrou as negociações. –Mas então,
ele mora a três ruas daqui, em um prédio de esquina, numero 569. Se ele não estiver lá,
tentam procurar perto da Star.
–Tudo bem. –Ian falou.
O menino já iria embora, mas uma pergunta o martelou a mente.
–Posso de pergunta uma coisa? –Disse Ian.
–Já perguntou. –a mulher respondeu.
–Porque confia na gente? Sabe, podemos pegar o dinheiro todo e sumir no mundo.
–Eu sou uma vampira, tenho faro apurado e posso prosseguir vocês até o inferno se for
preciso.–A mulher falou aquilo enquanto mostrava as presas afiadas.– E além disso eu
simpatizei com vocês. Pequenos caçadores.

Ian e Levi estavam na frente do tal prédio 569. Como Solange havia falado, era um
prédio de esquina, embaixo havia uma loja de bugigangas e quase não se via a entrada.
E falando em entrada, esse era o ponto X. Como Ian iria fazer para entrar? Não poderia
arrombar a porta, provavelmente iria fazer barulho e acordar a vizinhança.
–O que você vai fazer? –Levi perguntou.
–Nada. –falou Ian. –Não vou arrombar a porta, não somos bandidos. Eu vou até a Star e
ver se ele está lá.
Ian girou em cima dos calcanhares e começou a andar. Levi sem muita escolha seguiu o
irmão. A Boate Star não ficava muito longe, apenas cinco ruas do pequeno prédio. Ian
caminhava sem pensar em nada especifico, mas quando olhou para o céu ele havia
reparado no erro que cometera, era lua cheia!
Lua cheia, lobisomens, aquela duas palavras em uma mesma frase só pode acabar mal.
Ian ouviu um arbusto do outro lado da rua se mexer. As folhas chacoalharam de um
lado para outro, com certeza havia alguém escondido ali. O menino atravessou a rua
com passos leves, fez sinal de silencio com o dedo indicador, para o irmão Alguns
grunados podiam ser escutados, e um som estranho também, parecia uma boca abrindo
e fechando, além desses sons também se ouvia um rosnado.
–É ele. –Levi sussurrou para o irmão.
Antes de Ian responder um ser saiu da moita, era quadrupede, pelos marrons e forma
humanoide misturada com cachorro. A criatura pulou no peito de Ian e o derrubou no
chão. Era o lobisomem que estavam procurando.
Ian tentou pegar a arma nas costas, mas não conseguia, suas mãos estavam ocupadas
tentando afastar as garras do lycan de sua garante.
–Ajuda aqui. –Ian falou.
Levi tentou levitar o oponente e o jogar longe,mas não estava concentrado, não
conseguia se concentrar vendo seu irmão quase morto. O mais novo abriu as mãos e
criou labaredas verdes. Levi tacou as chamas esmeralda na direção do lobo, que pulou
para trás recuando. Mas por pouco ele não escapou, o fogo verde lhe acertou a ponta do
pé, que queimou por inteiro.
O lobo encarou Levi, e em seguida rosnou. Ian se levantou e pegou a pistola,
recarregou um pente e atirou. Uma, duas, três vezes na cabeça do lobisomem, agora era
certeza que ele estava morto.
–Essa foi fácil. –Levi comentou.

10- PAGAMENTO
Ian e Levi chegaram até o beco onde encontraram Quill pela primeira vez, aquela
pequena viela que fedia a lixo urbano. Não demorou muito para Quill aparecer, mas
desta vez ele apareceu vestido. Trajava uma jaqueta de couro e um jeans casual, os
cabelos como sempre desarrumados. A única coisa que o sujeito trazia consigo era um
envelope de papel pardo.
Quando o metamorfo viu Ian segurando uma cabeça de lycan falou:
–Então cumpriram o combinado.
–Mas é claro.–Ian respondeu.
–Então. –Falou Levi enquanto pegou a cabeça de lobo da mão do irmão. –Como vai
ser?
–Vai ser como vocês quiserem. –Disse Quill.
Levi jogou a cabeça para Quill, e o metamorfo a pegou sem problemas. Quill jogou
para os irmãos o envelope. Ian abriu para conferir o que havia dentro, dois blocos de
notas de cem reais.
O ruivo virou de costas e começou a andar, Ian e Levi dividiram o dinheiro, não entre
si, mas ainda faltava à parte de Solange, a doce e linda vampira que os ajudara a achar a
caça.

Quando voltaram ao Estrela da Noite, eles fizeram todo o procedimento novamente,


Levi usou o feitiço de ilusão e eles entraram. Enquanto os irmãos caminhavam entre
mesas, Ian avistou uma figura diferente, não era um homem, ou uma prostituta, era uma
menina, aparentemente de sua idade, não dava para ver seus cabelos pois estavam
cobertos com um capuz, a única coisa que se via era seu rosto, que era lindo.
–Mas já? –Solange perguntou
–Sim. –Levi respondeu. –Toma.
O mais novo jogou o dinheiro da mulher em cima do balcão, Solange pegou as notas e
as guardou no bolso.
–Foi bom fazer negócios com vocês caçadores. –Ela falou.
A menina que Ian observava se levantou, caminhou até a porta e saiu.Ian se despediu
de Solange com curtas palavra e puxou Levi até a saída, mas quando chegaram lá fora,
não viram ninguém, a menina havia desaparecido.

Ian acordou com dores no corpo, talvez pelo fato de ter dormido no sofá novamente, ou
pelo fato de não estar acostumado a caçar. Alguns arranhões ardiam no braço esquerdo,
na noite passada o lobisomem havia enfiado as garras nele, mas sabia que quando Levi
acordasse ele poderia cura-lo.
Vendo que não tinha nada para fazer, Ian fora tomar banho.
Quando a água quente bateu nos arranhões Ian soltou alguns baixos gritos de agonia.
Para passar o sabonete fora outra tortura, mas apesar de arder, e muito, aquilo era
necessário. Depois de quinze longos minutos de pura dor, Ian saiu do banheiro, vestiu
uma roupa casual, fora até a estante, pegou o dinheiro que ganhara na noite passada e
saiu de casa.
O dia estava lindo, os pássaros cantavam no céu azul anil, sem nenhuma nuvem para
atrapalhar. Por mais incrível que parecesse, as ruas estavam limpas. Ian desceu a rua em
sentido praia, rumando para a padaria.

Quando voltava da padaria com as mãos cheias de sacolas, Ian estava observando a
paisagem, era raro ver um dia de sol em Costa da Areia, pelo menos durante aquela
temporada de inverno. A brisa gelada combinada com o sol agradável deixavam todos
sorrindo, inclusive o próprio menino. Por alguma razão, Ian sentiu um calafrio no
pescoço, o menino resolveu olhar para trás.
Na calçada atrás dele havia apenas uma pessoa, uma menina, aparentemente de sua
idade, ela vestia um moletom preto e capuz tampando o rosto. Uma assaltante? Não,
pensou Ian. Talvez fosse apenas um usuária de drogas que fosse pedir uns trocados.
Para evitar o contato, Ian resolveu atravessar a rua.
Para a surpresa do menino, a menina fez o mesmo. Ian começou a correr. A menina
começou a acelerar os passos. Ian virou a esquina e entrou em um beco. A menina se
surpreendeu ao não ver o menino quando tinha acabado de virar a esquina, com passos
leves e cuidadosos ela andou alguns metros, mas subitamente fora puxada para dentro
do beco.
Ian a colocou contra a parede e tampou sua boca, a impossibilitando de gritar.
–Quem é você e o quer?
Nesse mesmo instante Ian pode encarar o rosto da menina por completo, já que quando
Ian havia a puxado seu capuz havia caído. Era a mesma menina do Estrela da Noite, de
rosto fino, olhos esmeraldas e traços encantadores. Seus cabelos castanhos eram curtos,
chegavam até a metade do pescoço.
Ian tirou a mão da boca da menina para ela responder suas perguntas.
–Caçador? –Ela perguntou
–Sim. –Ian respondeu.
–Preciso de seus serviços. –A menina tirou da do bolso um amontoado de notas azuis. –
Eu tenho dinheiro.
Ian soltou a menina e suspirou. O que iria fazer? Ele não era caçador, não àquela hora
do dia. Não tinha nenhuma arma nem nada, muito menos Levi para auxiliá-lo. Ian
pegou o dinheiro da mão da menina e o guardou no bolso da bermuda.
–O que é? –Ele perguntou.
–Preciso que você me proteja.–A menina respondeu
–Proteger de quem?
–Vamos para um lugar mais seguro. –Ela Disse. –Eles podem estar me perseguindo.

11- UMBRAMANCER
Ian serviu um copo de agua para a menina. Estavam os três sentados na sala de estar da
casa dos meninos, Ian, a menina, e Levi, que tinha acabado de acordar.
–Então. –Ian começou a conversa. –Como se chama?
–Nina. –ela respondeu.
–Nome bonito. –Ian elogiou.
–Acho que não estamos aqui para falarmos de nomes. –Levi se intrometeu.
–Tem razão. –A menina concordou e logo em seguida disse: –Preciso que me protejam.
–De quem? –Ian a questionou.
–Lumenmancers.
–Lumen o que?! –Levi perguntou
–Lumenmancers. –Ian falou: –São manipuladores de luz, obcecados pela plenitude.
Mas porque estariam atrás de você?
A menina iria responder mas Ian a interrompeu.
–Espera. Você é...
–Uma Umbramancer. –Nina fez uma pausa para continuar a falar. –Na verdade, sou a
ultima Umbramancer.
–A ultima do mundo? –Levi perguntou.–Tipo, só tem você?
–Não. –Ela respondeu. –Eu sou ultima do Brasil, devem existir outros conventos de
Umbras mundo afora, mas o convento do Brasil foi totalmente exterminado pelos
Lumen.
–Sinto muito por você. –Disse Ian. –Eu entendo sua dor, também perdemos algumas
pessoas queridas.
Ian sorriu para a menina, que ficou com as bochechas coradas, e em seguida retribuiu.
–Mas então Nina. –Levi se intrometeu novamente. –O que trouxe a Costa da Areia?
–Bem, além do fato que o convento era do lado da cidade, fiquei sabendo dos novos
caçadores da cidade, então resolvi vim buscar ajuda aqui. Acho que o resto da historia
você já sabe.
–Então Nina. –Disse o irmão mais velho. –Já que não temos outro local para te
esconder, você vai ficar aqui em casa mesmo. Vou te mostrar onde vai ficar.
Ian se levantou do sofá e a menina fez o mesmo. O garoto seguiu pelo corredor, a
menina o seguiu. Ian abriu a porta do quarto dos pais, e falou para Nina.
–Aqui. Bem vinda ao seu quarto temporário.
Nina entrou e se sentou na cama. Ian ficou em duvida por alguns instantes, talvez não
fosse certo dar o quarto dos pais para uma estranha, mas Nina de alguma forma passou
confiança, Ian sabia que poderia confiar nela.
A menina ficou encarando Ian por longos estantes, o assunto tinha acabado. Nina
abaixou a cabeça e começou a pensar. O que iria fazer? Não tinha mais dinheiro, e não
poderia morar na casa dos meninos sem pagar.
–Então. –Ian tomou iniciativa e falou. –Tente ficar o máximo de tempo possível no
quarto.
–Tudo bem. –Nina assentiu com a cabeça.
A menina tirou do bolso do moletom um livro, pequeno, edição de bolso. Na capa
estava escrito “Contos de Arcádia: Sombras”. Nina abriu o pequeno livro e começou a
ler.
–Ian. –Falou Levi, que tinha acabado de aparecer na porta. –Preciso falar com você.
O irmão mais velho saiu do quarto e fechou a porta. Ian andou até a sala e se sentou no
sofá.
–Não podemos dar abrigo para ela. –Levi murmurou.
–Porque não?
–Primeiro, essa menina me cheira a encrenca. Não dou duas horas para que esses tais
Lumen aparecerem aqui quebrando tudo. Segundo, ela não tem onde cair morta,
provavelmente vai dar um calote na gente.
–Fale coisas que eu não saiba. –Ian respondeu o irmão. –Ela cheirando a encrenca ou
não, ela nos pagou, e nós vamos protegê-la.
–Bem, você é o líder. Você que sabe.
Levi deixou o local depois dessa frase. O menino foi até o quarto e por lá ficou. Ian
deitou no sofá para assistir televisão, mas acabou dormindo.

–Acorda!–falou uma voz.


Um sentiu uma mão pousar no seu ombro. Era Levi.
Levi havia acordado há alguns minutos atrás, e assim como Nina, que também estava
ali, estava morrendo de fome.
–Parece que ele está com muito sono. –Disse Nina.
Levi ignorou o que a menina disse. O feiticeiro levantou as mãos e criou um fogaréu de
chamas brancas. Levi balançou as mãos e jogou a labareda sobre Ian.
–Não se preocupe. –Ele disse para Nina. –como pode ver, isso não queima, só assusta.
–O que pretende fazer com isso?–Ela perguntou
Levi não respondeu a menina. Ian abriu fora abrindo os olhos lentamente, mas quando
viu as chamas por cima do corpo, fez uma cara de espanto, e em seguida deu um pulo e
caiu de pé enfrente ao sofá. Nina deu uma rápida risada.
–Até que enfim acordou. –Levi falou.
–O que foi isso? –Ian perguntou, assustado.
–Nada de mais. –Levi estalou os dedos e as chamas se dissiparam. –Vai se trocar,
vamos comer algo na rua hoje.
Ian não respondeu o irmão, estava bravo, poderia ter o acordado de outro jeito. Ian
deixou a sala e entrou pelo corredor. Rapidamente ele trocou de roupa, colocou um
jeans e vestiu um casaco, mas quando iria saindo lembrou-se de algo.
Ian se baixou e pegou embaixo da cama a Beretta, checou a quantidade de balas e a
colocou atrás da calça.
–Vamos. –Ian disse quando voltou à sala.

A enorme Praça Verde era um ótimo lugar para comer algo, lá ficavam inúmeras
lanchonetes e restaurantes, alguns sorveteiros também reforçavam a concorrência. A
Praça Verde era um lugar, no bairro de Argema, um ponto turístico. Fundada em 1945
pelo preito, a Praça Simon era um ponto de referencia entre jovens e adultos. Com o
passar dos anos, os jovens começaram a chama-la de Praça Verde, e assim ficou
conhecida.
A Praça Verde era grande, além das enormes arvores, ela tinha um campinho de futebol
e uma área de alimentação, cheia de pequenas mesinhas redondas.
Quando Ian chegou à praça, logo sentiu uma brisa de ar fresco. O local estava lotado,
apesar de ser dia de semana, era época de férias escolares.Ian reconheceu vários
conhecidos de escola, alguns o comprometeram, alguns não.
O menino olhou para o lado, Nina não parecia estar bem.
–Eu vou comprar algo para gente comer. –Levi falou.
O irmão mais novo não esperou Ian concordar, apenas saiu andando.
Ian olhou para Nina de novo, ela parecia estar com falta de ar.
–Você está bem?–Ian perguntou
–Sim.–Nina respondeu, ofegante. –Só não estou muito acostumada com ambientes
assim.
–Assim como? Ao ar livre? Tem alergia a arvores?
–Não, não é isso. –Nina não parava de suspirar. –Digo, assim, lotados.
–Como assim? Nunca veio aqui antes? –Ian perguntou.–Aqui sempre foi assim, lotado.
–Ian, até três dias atrás eu morava em um convento, eu era uma freira.
O garoto levou Nina para um lugar mais afastado de pessoas, estavam na área de
alimentação, Ian se sentou em um banco e nina se sentou ao lado. Enquanto Levi não
chegava, Ian resolveu puxar assunto.
–Você falou no convento, como era lá?
–Era lindo. –Nina disse com os olhos brilhando. –As meninas corriam, pulavam, se
divertiam. Era lindo de se ver tanta alegria em um lugar só.
–E você? Até agora só falou das outras meninas.
–Eu sempre fui um pouco reclusa, talvez eu até tenha me afastado delas. Sempre fui
estudiosa, e acabei deixando isso me subir à cabeça.
–Então você se excluiu socialmente?
–No começo sim, mas depois elas me excluíram.
–Porque?–Ian perguntou
–Por isso.
Nina puxou a manga da blusa para o lado, assim revelando uma tatuagem no ombro
esquerdo. Era uma lua minguante, de cor purpura.
–Elas te excluíram por causa de uma tatuagem?
–Isso é uma tatuagem de graduação. Eu sou uma mestra.
–Você tem quantos anos?
–Dezessete.
–Só? E já é uma mestre? você é uma espécie de garota prodígio?
–Acho que sou.

12- VINGANÇA
Ian viu Levi chegando. O menino estava trazendo três pequenos potes de bolo com
sorvete. Quando Levi entregou as vizinhas para começarem a comer, Ian pode perceber
algo, um homem estava seguindo Levi. Ele era alto, musculoso, barbudo e de aparência
suja. Aquele era Jorge, o lobisomem da foto!
Mas como?
Ian havia matado um lobisomem há dois dias atrás, ele não poderia esta ali, a não ser
que Ian tenha matado um lobisomem qualquer.
–Esperem aqui um minuto, vou no banheiro. –Ian se levantou.
Ian saiu andando rápido, andando no meio da multidão de pessoas, ele tentou o
despistar, mas não conseguiu, lycans tinham faro apurado. Quando Ian iria começar a
bolar uma estratégia algo o surpreendeu. Outro homem, provavelmente lobisomem
também, começou a conversar com osujeito.
Eles trocaram breves palavras, o outro lycan saiu em direção de Levi e Nina. Agora era
serio, Ian tinha que pensar em um plano rápido. Sua situação pirou quando viu a lua
cheia no céu.
O sangue de Ian estava gelado, tudo estava combinado, aquele dia seria o dia de sua
morte, e não teria como evitar. Não poderia atirar no meio da multidão. Também não
tinha as balas de prata.
–Já sei. –Ele sussurrou para ele mesmo.
Ian foi mais afundo na multidão. Andou até o quiosque de bolos. Contornou o
estabelecimento. Na parte dos fundos do pequeno quiosque havia apenas lixo, e dois
botijões de gás.
Bingo!
Seu plano estava pronto, poderia simular um incêndio, e em seguida os botijões iriam
explodir, assim chamando a atenção das pessoas da praça. Mas algo estava faltando, não
tinha como Ian fazer fogo. Ele não era um feiticeiro.
Por sorte, um homem estava passando por ali, era baixo e sujo, parecia um mendigo.
Ele estava fumando um cigarro de maconha.
–Ei cara. –Ian falou.
O homem não deu atenção a Ian, talvez pelo fato dele ser um adolescente. Vendo isso,
Ian teve que fazer algo que não gostaria. O menino caminhou até o mendigo e tirou a
pistola na parte de trás das calças.
–Passa tudo. –Disse Ian.
O homem não cogitou em nada, começou a tremer. Deixou o cigarro de erva cair no
chão. O mendigo começou a tirar do bolso os poucos trocados que tinha. Ian sentiu uma
tristeza momentânea, afinal, estava extorquindo um mendigo, uma pessoa que não tinha
nada. No meio dos trocados, o mendigo entregou um isqueiro.
O sorriso nos lábios de Ian fora instantâneo. Ian pegou apenas o isqueiro na mão do
mendigo, deixando o resto para o pobre homem, que saiu correndo depois que viu Ian se
aproximando dos botijões de gás. Ian se agachou e abriu a válvula de gás dos dois
botijões. Ateou fogo no lixo e se afastou do local. Agora era só esperar.
Ian saiu correndo em disparada de volta para a multidão.
A multidão estava agitada, principalmente agora que todos estavam sentido cheiro de
queimado. Ian driblou pessoas para poder voltar para a área de alimentação. O menino
não parava de olhar para os lados, procurando os dois lycans.
O caçador sentiu uma mão em seus ombros. Ian fechou os punhos e se preparou para o
pior, mas se surpreendeu ao se virar.Era Levi e Nina.
–Precisamos sair daqui. –Ian falou para ao irmão.
–O que está acontecendo? –Levi perguntou.
–Por enquanto apenas um incêndio controlado. –Ian girou o pescoço buscando sinal
dos lycans no meio do reboliço. –Mas daqui a pouco a coisa pode ficar muito pior.
Ian pegou Levi pela mão direita e Nina pela esquerda. O mais velho os guiou até fora
da multidão.
Boom!
Aquele fora o barulho da explosão dos botijões de gás.
–Ian. –Disse Levi. –O que está acontecendo?
–Eu já te explico. –Ian respondeu. –Mas agora apenas me acompanhem.
Ian rumou para dentro de uma construção abandonada que ficava ao lado da Praça
Verde.
A construção do edifício Hely havia sido embargada há dois anos, os motivos foram às
alegações de fantasmas no local, esses fantasmas que nunca foram vistos ou
fotografados. Agora o que restava de um glorioso projeto eram apenas dois andares de
construção, que abrigavam drogados.
Quando os três entraram no Hely, logo sentiram o aroma de maconha misturado com a
fumaça de crack. Nina deu uma breve tossida.
–Será que agora pode nos contar o que estava acontecendo?–Levi perguntou.
–Lycans. –Ian respondeu. –Lycans estão atrás de nós.
–O que vocês fizeram para eles? –Nina perguntou
–Matamos um deles, e acho que matamos o errado. –Ian explicou. –Bem, o fato é que
eles estão atrás de nossas cabeças.
–Como assim matamos o errado?–Levi questionou.
–Eu também não sei, acho que aquele lobisomem que matamos era um amigo deles,
mas não era o certo.
–Exato caçador. –Falou uma voz grossa.
Ian olhou para a entrada da construção, lá estavam os lycans. Eram dois, o homem da
fotografia e outro que tinha o mesmo perfil físico que ele, a única coisa diferente era a
cor dos cabelos, que eram castanhos.
Ian buscou a Beretta que estava presa na parte de trás das calças, ele pegou a arma e
apontou para os lycans.
Os inimigos não se intimidaram. Os lycans encararam a lua cheia e então algo estranho
começou a acontecer. Eles aumentaram de tamanho, pelos cresceram pelo corpo deles,
as unhas se transformaram em garras e os olhos agora eram amarelados.
–Levi. –Ian falou. –No três, você e Nina saem correndo, tente ser o mais rápido
possível.
–Como assim correr?
–Faça o que eu estou mandando, pelo menos uma vez na vida.–Ian fez uma pausa para
respirar. –Um, dois... Três.
No mesmo instante que Ian falara “Três” ele atirou contra uma pequena lâmpada. Levi
e Nina subiram as escadas da construção. O outro lobisomem, que estava
acompanhando Jorge, foi na direção da escada. Ian tentou o acertar com três disparos,
mas falhou em todos. Apenas restaram Jorge e Ian, um encarando o outro. Agora Ian
tinha que colocar a prova suas verdadeiras habilites, afinal, Levi não estava ali para
ajudar.
O lycan pulou na direção do menino, mas Ian foi ágil o suficiente e conseguiu rolar pra
o lado. Ian buscou cobertura atrás de uma pilastra e atirou nas pequenas e poucas
lâmpadas que iluminavam o local. O térreo da construção agora estava um breu.
O caçador tirou a jaqueta e a jogou longe, para que o lycan rastreasse o cheiro errado, e
assim ele ganhava mais tempo.
Ian andou até atrás de uma enorme caixa d’ agua, e resolveu pensar. Restavam apenas
cinco disparos, e não teria como matar o inimigo com nenhum deles, não eram balas de
prata. Ian então fez o que um bom caçador poderia fazer naquela situação, usou sua
maior arma, sua inteligência. Ian parou para analisar o terreno onde estava. Atrás dele
estava uma enorme caixa d’ agua, e ele estava em uma construção, o que não faltava ali
eram cabos de energia elétrica.
Mas algo interrompeu seu pensamento, o lycan havia descoberto onde Ian estava
escondido. Jorge pulou dentro da caixa d’agua, assim jogando o liquido gelado para
todos os lados e assustando Ian. O caçador se levantou e começou a atirar no
lobisomem, todos os disparos foram a queima roupa.
O lycan caiu desmaiado na caixa d’agua.
Ian começou a procurar cabos de alta tensão. O menino levantou um grande pedaço de
madeira, mas não havia nada atrás. Foi então que Ian viu um bolo de cabos
desencapados, eles estavam ligados a uma tubulação que saia do chão. Ian estava
caminhando na direção dos cabos, quando Jorge levantou.
O inimigo encarou Ian com olhos cerrados, cheios de fúria. O lobisomem pulou contra
o peito do garoto, que dessa vez não conseguiu desviar. Ian caiu de costas no chão e
com Jorge em cima de si. O lycan tentava enfiar as garras no corpo do garoto, e estava
quase conseguindo.
Estava claro que em menos de dez segundos, Jorge iria conseguiu rasgar Ian por
completo, Ian resistia, tentava afastar as mãos do lycan de seu corpo, mas a diferença de
força era evidente. Ian era um simples humano, um adolescente de dezessete anos de
corpo esguio, já Jorge era um lycan, um lobisomem com força sobre humana.
Ian olhou ao seu redor, os cabos de alta tensão não estavam muito longe. Ian juntou
toda saliva da boca e cuspiu na cara do oponente. Jorge ficou sem reação, apenas virou a
cara para o lado.
Agora era a hora! – Ian pensou.
O menino levantou as penas e jogou o lycan por cima de seu corpo. Jorge caiu onde Ian
planejava. Nos cabos elétricos.
Quando os cabos de alta tensão entraram em contato com o pelo molhado de
lobisomem, a única coisa que se viu foi à energia elétrica percorrendo o corpo do
mesmo, além do uivo estridente que o lycan soltou.
Ian se levantou e espalmou a camisa, antes de ir embora, fez questão de pegar um
pedaço de madeira e enfiar no peito do lycan, assim teria certeza de que ele estrava
morto. Ian pegou a jaqueta e a Beretta

Levi e Nina se sentaram atrás de uma pilha de tijolos. O lycan que os seguiu tinha
acabado de subir as escadas. Levi juntou as duas mãos para perto do corpo, fez uma
forma esférica com os dedos e começou a girar os pulsos. Uma nevoa apareceu. Levi
levou a nevoa para perto da boca e a assoprou.
A fumaça cinza tomou conta do local.
–O que é isso? –Nina perguntou.
–Um feitiço de ilusão. –Levi explicou. –Nina, é o seguinte. Quando eu me levantar
você sai correndo.
–E para onde eu vou?
–Eu não sei. Só corra por ai e espere a gente chegar.
–Mas pra que correr se eu posso ajudar?
–Nina, não me leve a mal, mas digamos que sua ajuda não é necessária.
–Você pelo menos sabe o que eu posso fazer?
–Não, mas não quero pagar para ver.
Levi se levantou. A sua nevoa de ilusão havia funcionado, mas havia um porem.
Lycans eram a mistura de lobos com humanos, ou seja, tinham sentidos apurados. A
ilusão funcionava apenas com a visão, não com a audição e com o olfato. Não demorou
muito para o oponente perceber que estava em um truque, e logo fechar os olhos, para
assim ser guiado apenas pelos outros sentidos.
O jovem feiticeiro abriu as palmas e criou labaredas verdes nas palmas, Levi jogou as
chamas contra o lobisomem, que, graças ao barulho do fogo cortando o vento conseguiu
desviar. Levi parou alguns segundos para pensar.
Não poderia fazer o lobisomem flutuar, pois para isso precisava estar concentrado, e
isso era o que menos estava. Também não poderia usar as chamas esmeraldas
novamente, elas seriaminúteis de novo, isso sem falar do enorme gasto de energia. O
fogo prata de nada adiantaria, assim como outros feitiços de ilusão. Levi estava perdido,
nenhuns dos seus feitiços iriam funcionar com o oponente.
O lycan fungou duas vezes e virou o rosto na direção do menino.
Nesse instante o sangue de Levi gelou, o coração acelerou e as pernas estremeceram.
O inimigo saltou contra o menino, Levi virou o rosto para o lado e fechou os olhos.
Nada aconteceu.
Ka boom!
Quando Levi abriu os olhos novamente, viu somente o lycan caído, atrás dele estava
uma pilha de placas de madeira. Nina estava do seu lado. A menina estava com um
braço levantado e com a palma arqueada. Levi não soube como, mas Nina havia o
salvado. Quando voltou a atenção para o lycan, que ainda respirava, Levi pode ver algo
se mexendo entre as pilhas de madeira, uma espécie de tentáculo, era negro como uma
sombra.
O tentáculo se enrolou no pescoço do lobisomem e começou a enforca-lo. O lycan não
teve outra reação ao não ser tentar tira-lo, mas não obteve êxito. Os olhos do lycan
foram se revirando e a respiração fora ficando cada vez mais fraca, Levi chegou a ter
uma pena momentânea, mas depois se lembrou de que o lycan queria o matar.
Nina levantou o outro braço e em seguida fechou as duas palmas.
Outro tentáculo apareceu entre os destroços de madeira. Esse tentáculo pegou umaplaca
de madeira quebrada e enfiou contra o coração do lobisomem.
O lycan não teve tempo nem para gritar. Os tentáculos recuaram para dentro do monte
de madeiras quebras, e desapareceram.
–De nada. –Nina falou.
–Isso foi você? –Levi perguntou, incrédulo.
–Mas é claro.
Cortando o assunto, Ian chegou. Nina viu os rasgos na jaqueta do menina e logo
perguntou:
–Você está bem?
–Sim. –disse Ian. –O que aconteceu aqui?
–Uma longa historia, o que precisa saber é que Nina me salvou. –Levi respondeu
–Como Nina te salvou?
–Nada de mais.
Ian, Levi e Nina saíram da construção e resolveram voltar para casa.

13- LUMENMANCERS

Nina acordou com a forte luz do sol, que entrava pela janela. Já eram meio-dia e meia.
Mas ela não estava com vontade de se levantar da cama. Nina se virou e ficou
encarando o teto por alguns minutos.
A menina ficou pensando no convento, no seu antigo lar. Nina reviu varias cenas na
sua cabeça. As outras meninas correndo e brincando no pátio, enquanto ela estudava na
biblioteca. Nina sempre fora estudiosa, mas nunca entendeu sua obsessão, talvez fosse
uma forma dela de se achar melhor que os outros, ou talvez apenas estudava para
compensar a falta de amigo.
A outra memoria que veio na cabeça da menina fora a do genocídio. Os Lumenmancers
invadindo, fritando tudo, ou como eles diziam, purificando tudo com sua manipulação
de luz. Nina nunca entendeu o significado do genocídio das Umbamencers, sempre
soube da rivalidade dos Lumens com as Umbras, mas nunca entendeu o porquê. Tudo
bem que eles eram dois extremos, luz e sombras, mas isso não indicava que tinham que
ser paz e caos.
Nina se lembrou da cena da irmã Ediviges se sacrificando por ela. Irmã Ediviges era a
Umbra mais rígida do convento, sempre obrigava as meninas as estudarem e praticarem
a umbramancia, mas ela nunca precisou obrigar Nina, e era por isso que Nina
simpatizava com ela. Nina reviu aquela cena na sua cabeça.
Todas as meninas tentando fugir, mas sendo pegas e “purificadas”.
“Corra garota” –A voz de Ediviges ecoou dentro da cabeça de Nina.
Nina se lembrou dela correndo como uma covarde, deixando para trás não só
irmãEdiviges, mas sim todo seu povo, toda sua família.
Uma lagrima escorreu do olho esquerdo da menina.
Nina ouviu alguém bater na porta.
–Nina? –Era a voz de Ian.
–Já estou indo. –Disse Nina.
A menina se levantou da cama e enxugou o rosto. Caminhou até o guarda-roupa e
trocou de veste. Ian havia permitido a Nina usar algumas roupas de sua mãe, se claro a
servisse. Nina buscou no fundo do armário uma roupa de Patrícia que cabia nela, era um
jeans casual, com alguns rasgos propositais, Nina também vestiu o seu moletom preto.
Quando a menina abriu a porta pode sentir o bafo quente. Estava calor.
Nina saiu pelo corredor e chegou à cozinha, Ian estava pegando algo na geladeira.
Quando o menino se levantou para cumprimentar Nina, ela subitamente tampou os
olhos. In ficou encarando Nina por alguns segundos, até entender o motivo.
–Nina, o que foi?
–Se vista. –Ela disse com as bochechas coradas.
Foi então que Ian percebeu o que estava acontecendo, ele estava sem camisa. Ian foi na
direção do corredor e logo voltou, agora vestido.
–Melhor agora. –Ela falou.
–Eu não acho, está muito quente, mas eu respeito os seus princípios.
–Onde está Levi? –Nina mudou de assunto.
–Ele foi fazer compras com Darlon e Beth. Falando em compras, acho que eles foram
comprar também algumas roupas para você
–Darlon e Beth?
–Ah, acho que não conhece eles ainda, são amigos da família.
–Ian, já que você falou em família, onde está a sua? –Nina perguntou.
–Morreram. –Ian falou tão espontaneamente que Nina até se assustou.
–Sinto muito por você.
Interrompendo a conversa dos dois, o telefone da sala começou a tocar. Ian fora
correndo atender.
–Alô. –Ian falou.
A expressão de Ian decaiu depois que ouviu o que Levi falara do outro lado da linha
telefônica.
–O que houve? –Nina perguntou.
–O pneu do carro de Darlon estourou. –Ian explicou. –Eles vão demorar muito para
voltar, a oficina está lotada.
–E porque tanta tristeza?
–Eles foram compras, ou seja, quanto mais demorarem pra voltar, mais tempo vai
demorar pra eu comer algo. E eu estou morrendo de fome.
–Porque não saímos para comer algo?
–Boa ideia.–Ian disse caminhando até o quarto. –Só vou pegar uma coisa e já volto.
O menino foi até o quarto e pegou algo em cima do criado mudo, a Beretta. Ian encarou
a arma como quem encara um animal de estimação, porque de certa forma, ela era um
bicho de estimação de Ian. O menino guardou a arma na arte de trás da calça.
–Porque está levando isso?–Nina questionou quando apareceu na porta repentinamente.
–Nunca se sabe.–Ian deu m sorriso espontâneo.
Já eram quase seis horas da tarde, e Ian e Nina ainda estavam na rua. Eles haviam
vagado o bairro de Argema inteiro. Ian fora contando coisas engraçadas que aconteciam
na escola, e Nina sempre ria, o que fazia os dois não pararem de rir por um instante
sequer.
Agora os dois estavam sentados em um banco na Praça Verde, o céu alaranjado
combinava com a paisagem, crianças estavam jogando futebol no pequeno campo ao
lado. Um sorveteiro que passava por ali vendeu a Ian dois picolés.
–Issoé bom? –Nina perguntou enquanto tirava da embalagem.
–É ótimo. –Ian respondeu.
–Você disse que é de frutas, mas porque é azul? Pelo o que eu saiba não existe
nenhuma fruta azul.
–É de trutti-frutti. Pare de perguntar e come logo isso.
Ian empurrou a mão de Nina, que sem querer acabou por chupar quase todo o picolé.
Nina tirou o alimento da boca, sentiu seu cérebro gelar por alguns instantes.
–Nina. Me responde uma pergunta?–Ian puxou assunto
–Claro.
–Como você salvou Levi? Digo, o que você consegue fazer.
–Se eu te falar acho que não vai acreditar, mas eu consigo manipular sombras.–Nina
respondeu
–Manipular sombras?–Ian repetiu
–É, posso transformar sombras em matéria, e com isso posso criar o que eu quiser. Veja
isso.
Nina gesticulou a mão esquerda, como se estivesse manipulando uma marionete. Ian
sentiu algo se enrolar na sua perna. O menino se abaixou para ver o que era, era um
tentáculo escuro, feito de pura sombra, ou como as Umbramancers chamavam, um
tentáculo de Umbra.

Um sedan branco parou em frente à pequena entrada da Praça Verde. Três homens
saíram do carro. Os três tinham longos cabelos negros, que caiam até as costas, vestiam
túnicas brancas com um símbolo de um sol amarelo estampado no peito. Um deles que
parecia o líder , tinha um detalhe curioso, o cabelo caia em três longas tranças. Eles
começaram a caminhar no meio da multidão.
Ian encarou os sujeitos, pareciam padres ou sacerdotes, mal sabia ele que havia
acertado no palpite, pelo menos parcialmente. No instante que Nina viu os três homens
ela pegou no pulso de Ian.
–Nina? –Ian perguntou depois que viu a expressão de horror da menina.
A garota não respondeu, apenas continuou a observar os sujeitos, horrorizada. Ian
chacoalhou a menina. Falou o nome dele novamente. Nada. Ian chacoalhou ela com
toda a força, Nina finalmente voltou a realidade.
–O que foi? –Ele perguntou.
–Temos que ir embora.–Ela disse enquanto se levantava do banco. –Não podemos ficar
aqui.
–O que está acontecendo?
–Eles estão aqui. –Nina puxou Ian do banco. –Os Lumenmancers.
Ian se colocou a correr. Não podia arriscar a vida das pessoas inocentes da Praça Verde.
Agora o que restava para o menino era pensar. O que iria fazer? Levi não estava ali, e
mesmo se estivesse ele não sabia o potencial dos inimigos. Talvez a única esperança
fosse fazer o que Nina mandou, correr. Mas assim ele só despistaria o problema, não iria
acabar, qualquer dia os Lumen poderiam voltar.
O jovem caçador desistiu de pensar, pelo menos por alguns minutos, agora o seu único
foco era fugir.
Nina e Ian pularam um arbusto e continuaram andando, Ian virou o pescoço e olhou por
cima do ombro, os homens não estavam muito longe. Ian encarou-os por mais alguns
segundos, reparou como era estranho o jeito que eles corriam, pareciam desajeitados,
pareciam não ter coordenação nas pernas. Nina e Ian atravessaram a rua, e por sorte
quando tinham acabado de atravessar o semáforo havia ficado vermelho, assim em
seguida uma frota de carros havia impossibilitado os perseguidores de atravessar.
–Quem são esses? –Ian perguntou.
–Sacerdotes Lumen. –Nina respondeu. –Sabe um lugar onde possamos nos esconder?
–Sei.
–Então vamos.
Ian levou Nina para um galpão que não ficava muito longe da Praça Verde. O galpão
era todo cinza, rustico, no teto faltava um pedaço. Algumas prateleiras faziam daquele
lugar um labirinto, mas para a sorte deles, Ian sabia os caminhos. Todo o final de
semana que queriam sumir do mundo, Ian e seus amigos se isolavam ali, já que aquele
galpão não tinha segurança alguma.
Ian e Nina se sentaram atrás de uma pilha de caixas.
Subitamente um baque ecoou pelo local.
O portão de ferro havia sido aberto, e os três Lumenmancers estavam ali,
imponentescomo três leões no meio da selva. Ian olhou para Nina e fez sinal para ela
não dizer nada. O caçador pegou a Beretta, puxou o cão da arma.
–Eu vou e você fica. –Ele sussurrou para ela.
Quando Ian disse isso para Nina ele encarou a expressão da menina, ela parecia
confusa, perturbada. Nina estava se contendo, um misto de sentimentos estava tomando
seu corpo. Raiva, muita raiva, ela estava na frente dos assassinos do seu povo, e
finalmente ela poderia ter uma vingança. Medo, muito medo de acabar como as outras
Umbras.
Nina não soube o que aconteceu, mas algo a fez levantar. Aquele não fora uma ação
programada de seu cérebro, fora um instinto, naquele momento a vingança falara mais
alto que o medo.
14- LUZ CONTRA SOMBRA
Quando Nina voltou a realidade, não estava entendo a cena que estava vendo. Ela
estava em pé, Ian agachado do seu lado, e três Lumenmancers na porta do galpão.
O sangue da menina gelou, e seu coração disparou, as pernas estremeceram e a vista se
embaçou um pouco.
Ian o que deduziu ser o líder dos Lumenmancers –O que estava de trança – girar os
braços e jogar as palmas para frente. Um forte luz começou a aparecer na mão do
sacerdote. A luz fora ficando mais forte a cada segundo. Não demorou muito tempo
para que o Lumenmancer estivesse com duas bolas reluzentes em suas mãos.
Ian não estava entendendo nada, o que ele poderia fazer com duas bolas de luz? Ele se
perguntou. Mas por outro lado, Nina já sabia do que os Lumen eram capazes. O homem
atirou os dois projeteis reluzentes contra Ian. O único reflexo do caçador fora se agachar
para desviar.
Quando as bolas de luz se chocaram com as caixas atrás do garoto, não se pode se ver
mais caixa, pois elas haviam sido desintegradas!
Ian encarou a situação, incrédulo.A minutos atrás ele estava sentado numa praça
tomando picolé, e agora estava lutando contra malucos que soltavam bolas de luz que
desintegravam as coisas, realmente, seu dia não tinha como ficar pior.
Os três homens se separam, um fora na direção de Ian, e dois na direção de Nina. O
sacerdote que vinha contra Ian jogou um braço para frente e com isso criou um raio de
luz , para não ser atingido Ian se projetou janela afora.
–Não! –Nina gritou.
–É pequena Umbra. –Disse o homem de tranças. –Parece que está sozinha agora.

Ian caiu no chão e por pouco não bateu a cabeça no chão, por sorte conseguiu dar uma
cambalhota para uma boa aterrisagem. Ian olhou ao redor, estava em um beco. Ainda
com a arma na mão o menino procurou o inimigo, mas não achou ninguém. Ian olhou
para todas as direções, não viu ninguém.
Vendo o suposto sumiço do oponente, Ian decidiu então voltar para o galpão, mas
quando iria pular a janela novamente, um raio dourado veio em sua direção. Ian
conseguiu colocar o corpo para trás, assim fazendo o feixe dourado passar a milímetros
do sua cara. Quando o raio de luz bateu contra a lixeira que ficava no final do beco, a
lixeira, assim como as caixas, fora desintegrada.
Ian já havia entendido, os Lumenmancers manipulavam a luz, e com isso poderiam
aquecer as coisas, aquecer tão rápido ao ponto de desintegrar algo em questão de
segundos. Mas não era só isso que ele podiam fazer, havia outra habilidade
desconhecida para Ian.
O garoto tentou olhar para a origem do raio dourado, mas não viu ninguém.
–Onde está você? –Ian perguntou.
–Aqui. –O sujeito respondeu.
Ian virou a cabeça para o lado, mas se surpreendeu ao não encontrar ninguém.
–Aqui. –O homem repetiu.
Ian virou o pescoço, agora o homem estava lá!
–Belo truque. –Ian ironizou.
–Obrigado. É um truque bem simples. Quer que eu te explique?
–Não, obrigado.
Ian atirou contra o peito do homem, mas a bala passou por dentro do sujeito. O corpo
do homem oscilou, assim como sinal ruim de televisão.
–Essa técnica é bem peculiar. –Falou o homem. –Caçador, o que nos Lumen
manipulamos?
–A luz. –Ian respondeu no mesmo instante.
–Então. Seu olho vê a luz, e com isso você enxerga as coisas, para ser mais simples,
você enxerga apenas luz. Nós Lumen podemos manipular aqui que você enxerga! –O
homem terminou de falar com o tom de voz elevado.
–Que legal, meu irmão também faz ilusões. Ele é um feiticeiro. –Ian comentou
–Isso não é ilusão, isso é o que vocês chamam de ciência!
O Lumen mexeu os braços e criou duas copias, duas ilusões iguais a ele, em seguida
executou o mesmo movimento, mas dessa vez fez dez ilusões, todas em volta de Ian. O
sangue do menino estava gelado, mas logo Ian se lembrou de uma coisa. Nina ainda
estava lá dentro, com dois Lumenmancers, ele ainda estava a protegendo.
–Vamos lá caçador, o que está esperando? –O sujeito provocou Ian.
Ian resolveu se concentrar. Ouviu passos vindo da direita. Atirou.
Uma mancha vermelha voou contra a parede.
O Lumenmancer que estava andando em círculos, caiu no chão e ficou apoiado na
parede.
–Como? –Ele perguntou gaguejando.
–Simples, você manipula a luz, ou seja, minha visão, mas você não manipula o som.
Você teve chance de me desintegrar mas não quis. E além disso.–Ian falou enquanto
colocava a arma contra o rosto do homem. –Eu ainda tenho uma Umbramancer para
proteger.
O tiro que saiu da arma, fora direto na cara do sujeito. Ian virou o rosto para ver o
estrago. O menino limou a roupa, e logo voltou para dentro do armazém.

–Desgraçados! –Nina esbravejou.


A menina pulou para se esconder atrás de uma prateleira, mas logo em seguida o
homem de tranças desintegrou o móvel de metal. Nina se virou e vez sair dois
tentáculos do chão.
Os membros de escuridão foram em direção aos inimigos, que rapidamente contra
atacaram criando uma barreira de luz. Quando o tentáculo negro se chocou com a
barreira luminosa, ele automaticamente desapareceu. Fora como se um canto escuro
fosse iluminado por uma lanterna. Era assim que era uma disputa de Lumen versus
Umbra, era assim que funcionava sombras contra luz.
Nina não se deu por vencida. A jovem Umbramancer criou mais dois membros de
Umbra, não eram tentáculos, e sim braços, finos e esqueléticos, mas mesmo assim eram
braços. Nina mexeu os seus braços como se tivesse pegando algo e jogando, e então as
mãos de trevas pegaram pilhas de caixas e jogaram contra os Lumenmancers.
–Não vê que isso é inútil?– Disse o sacerdote Lumen depois de desintegrar uma pilha
de caixas. –Você está sozinha, e além disso, você é jovem demais.
Nina não respondeu o homem, preferiu ficar calada.
Seu plano havia funcionado!
Aquelas caixas era, a distração perfeita, e eles ainda estavam centrados em desintegra-
las. Nina abaixou as mãos, e com isso criou uma mão gigante de Umbra no teto. O
murro sombrio desceu a toda à velocidade contra o Lumenmancer de tranças. Mas o seu
aprendiz pulou em direção ao mestre. Assim salvando-o.
–Não! –gritou o Lumen de tranças.
O sacerdote Lumenmancer não teve reação, ele apenas viu seu discípulo sendo
esmagado. A expressão calma que os Lumen sempre mentiam mudou para ódio. Nina
conseguiu ver as labaredas de raiva no olho do sujeito.
–Eu deveria ter te exterminado quando tive chance, assim como fiz com o seu povo.–
Ele disse com os dentes rangendo.–Ser das sombras, hoje você encontra seu fim.
O Lumenmancer rasgou a túnica branca na parte do ombro esquerdo, assim revelando
uma tatuagem, um sol amarelo, igual o que estava estampado no centro da túnica. Ele
arremessou o pedaço da roupa longe. E com a mão direta ele tocou na tatuagem.
–Plane-Light. –Ela disse pausadamente.
Uma forte luz tomou contra do local.
Nina teve que tapar a cara para não ficar cega. Mas mesmo com os olhos fechados, ela
sabia o que estava acontecendo. Plane-Light, já havia lido sobre aquilo antes, assim
como também havia lido sobre Full-Shadows. Esses nomes, eram nomes de Estados.
Quando um mestre Mancer tocava na sua tatuagem, ele automaticamente entrava em
Estado. Os Estados aumentavam a capacidade de um Mancer ao máximo, mas depois de
três minutos o Estado acabava, assim como todo poder do Mancer. Nina não sabia o que
exatamente o Plane-Light fazia, além de aumentar o poder dos Lumen, mas ela sabia
que estava encrencada.
Nina pensou em tocar em sua tatuagem, mas não conseguiu, teve medo de não vencer,
ou teve mais medo ainda de vencer, e ficar sem poderes, virar uma humana comum,
assim abandonando o legado das Umbras.
A luz parou, Nina pode finalmente abrir os olhos.
O sujeito estava completamente diferente, os olhos agora estavam brilhando, os cabelos
estavam flutuando, as três tranças pareciam as cobras da cabeça da mitológica medusa.
A roupa não parava de se mexer, parecia que ali dentro tinha uma forte ventania. Nina
teve a impressão de que o homem estava mais branco, mais pálido.
Ian pulou a janela do armazém, viu aquele homem emitindo luz, resolveu atirar. As
balas do menino foram desintegradas quando o Lumenmancer atirou dois raios
dourados dos olhos.
–O que é isso?–Ian perguntou horrorizado.
–Um ser perfeito. –O Lumen respondeu. –Um ser iluminado. Um deus!
–Isso está longe da perfeição. –Nina retrucou. –Você é um ser louco, um maníaco atrás
de uma coisa que nunca irá alcançar.
–Fique quieta ser de Umbra.
Depois de falar isso, o sujeito disparou outro feixe de luz pelos olhos, esse fora na
direção de Nina, e por pouco a menina não foi pulverizada. Nina conseguiu, no ultimo
segundo, criar uma parede de Umbra.
–Atrás de mim Ian. –Disse Nina.
Ian a obedeceu. Nina levantou as mãos e criou uma bolha de sombras.
–Estamos seguros aqui. –Falou a menina.
–Eu acho que não. –Ian discordou e em seguida apontando para o Lumen.
O homem brilhante atirou outro raio Lumen pelos olhos, esse raio fez um buraco na
bolha de Nina. A menina restaurou o dano rapidamente, mas sabia que se continuasse
assim não iria aguentar por muito tempo. Ela estava cansada demais , e era uma questão
de tempo para que não aguentasse mais manter a barreira, mas por outro lado, o Lumen
também tinha poucos minutos de poder, provavelmente um minuto já havia corrido e
agora faltavam apenas dois.
–Nina. –Ian falou.
–O que foi?
–O que aconteceu com ele? –O menino perguntou
–Ele está em estado de Plane-Light, é uma espécie de libertação. Nesse estado ele
amplifica seus poderes, mas relaxe, ele só pode ficar assim por três minutos.
–Não da para relaxar, você não está aguentando mais. Eu conseguiu pensar em um
plano. Assim.
–Não Ian. –Disse a menina interrompendo. –Ele está muito poderoso, é melhor
continuarmos aqui.
No momento que Nina disse aquilo ela caiu para trás, devido a outro raio dourado.
–Não Nina, não podemos continuar aqui. –Ian ajudou Nina a se levantar. –Meu plano é
assim, eu saio correndo e distraio ele, assim dando tempo para você criar vários desse
seus tentáculos. Assim você pode prende-lo.
Nina não disse nada, apenas assentiu com a cabeça.
A menina abriu um pedaço da bolha de Umbra e Ian saiu. O caçador começou a correr
em volta do inimigo e atirar, mas para a tristeza dele as balas eram desintegradas antes
de chegar à cabeça do Lumen.
Nina encarou do rombo do teto o céu, estava de noite, já havia escurecido por
completo, agora era sua deixa. De noite os poderes das Umbramancers ficavam mais
fortes, e ela sabia disso. Nina se agachou e colocou as duas mãos no chão, com um grito
ela criou vários braços de Umbra.
As mãos gigantes seguraram o Lumenmancer por completo, algumas foram
desintegradas antes de toca-lo mas outras conseguiram segura-lo.
–Não. –Disse ele com tom desesperado.
A luz nos olhos dele havia falado, assim como uma lanterna sem pilhas.
Está acabando, Nina pensou.
–Não darei o gosto da vitória para você, ser das sombras, você vai acabar como seu
povo! –Ele exclamou.
O Lumenmancer fechou os olhos se os abriu novamente, buscou toda a força e energia
que ainda tinha, e a usou como um ultimo ataque. Uma forte luz toou conta do local
novamente, e tudo envolta do homem começou a se desintegrar, inclusive o chão. O
sujeito começou a rir.
–Ian! –nina gritou. –Se afaste! Ele está desintegrando tudo.
A luz ficou tão forte que Nina fora obrigada a fechar os olhos.
Uma explosão jogou a menina para longe.

15- A VIDA CONTINUA


Nina abriu os olhos lentamente, a vista doía devido à exposição à alta claridade. Ela
estava deitada em uma cama, pode sentir o quão confortável era aquele colchão.
Quando a vista desembaçou ela pode ver que estava na casa de Ian, mas quando olhou
para o lado não viu quem esperava.
Ao lado de Nina estava uma mulher, pele clara, cabelos pretos em corte Chanel, os
olhos era finos e maquiados e a expressão era calma. Nina não sabia, mas o nome
daquela mulher era Elizabeth. A mulher estava segurando um cetro de ponta brilhante, e
ela brandia o instrumento de um lado para o outro, em cima de uma ferida no braço de
Nina.
–Ela acordou! –Elizabeth anunciou.
Ian, Levi e Darlon entraram pela porta. Ian fora correndo e se agachou ao lado da cama.
Nina percebeu que Ian estava com o braço enfaixado
–Está bem? –Ele perguntou.
–Sim, bem melhor agora. –Nina disse com um sorriso no rosto.
–Consegue se lembrar de ontem? –Ian perguntou.
–Para falar a verdade, não.
–Eu também não. –Ian disse com um sorriso ligeiro. –Darlon me falou que ele e Beth
acharam a gente ontem.
Nina tentou se levantar, mas sentiu sua perna pesar. A menina olhou para baixo e viu
sua perna enfaixada e com uma tala de aço na parte de trás.
–Minha perna! –Nina falou com tom de espanto.
–Calma. –Elizabeth respondeu com seu tom sereno. –Sua perna está quebrada, mas
daqui a alguns dias você já vai voltar a andar normalmente.
–Como eu quebrei minha perna?–Nina perguntou para a mulher
–Da mesma forma que Ian quebrou o braço. –Darlon respondeu, assim entrando na
conversa. –Quando aquele maluco explodiu, ela provavelmente acabou explodindo
alguns botijões de gás que estavam naquele armazém.
O quarto ficou em silencio por alguns minutos, Elizabeth continuou os movimentos em
cima da ferida da menina. Ian ficou encarando Nina com um enorme sorriso no rosto, e
Levi, que até agora não falara nada, estava apoiado na porta. Elizabeth olhou no
pequeno relógio de pulso que tinha, a mulher subitamente parou e guardou o pequeno
cetro na parte interna da jaqueta.
–Me desculpem não poder ficar, tenho que ir para o hospital agora. –Elizabeth disse
isso enquanto se levantava e pegava a bolsa.
–Eu também vou com você. –Falou Darlon.
Os dois saíram pela porta do quarto, Levi fora abrir o portão para eles. Ian e Nina
ficaram sozinhos no quarto, um encarando o outro. Nina não entendia, mas o menino a
encarava com um enorme sorriso, e ela , mesmo que involuntariamente, fazia o mesmo.
Ian fixou seu olhar nos olhos esmeralda dela. Reparou que a menina ficou com as
bochechas coradas.

Os próximos dois dias passaram tão rápido comoum míssil. Ian quase não sentiu mais
dores do braço devido a ajuda das chamas prateadas de Levi, Nina também fora curada
pelo jovem feiticeiro.
Com o corpo sadio, e com os Lumen mortos, Nina já não tinha mais motivos para ficar
ali. Era de noite, 23:30 quando Nina resolveu sair da casa dos meninos. Ian estava no
quarto fazendo algo, e Levi estava no banheiro. A menina cruzou a porta de saída, mas
algo puxou seu capuz. Quando Nina se virou viu que era Ian.
–Onde pensa que vai? –Ele perguntou
–Embora. –Nina respondeu com tristeza.
–Por quê?
–Bem, vocês já mataram os Lumen, e mesmo se eu continuasse aqui, não teria dinheiro
para pagar.–Nina se explicou
–Matamos os Lumen?–Ian fez uma rápida pergunta retorica. –Nina, nós matamos três
Lumenmancers, apenas três. Você sabe que se sair por ai provavelmente não irá
demorar para que mais venham atrás de você. Por isso que eu quero que você fique, se
for embora, meu serviço de proteção não estará completo.
–Mas e o dinheiro?
–Podemos fazer um acordo. Você nos ajuda a caçar e ganha uma parte do dinheiro,
além de casa e comida.
Nina se pôs a pensar. O que Ian falara era verdade, eles não tinham matado todos os
Lumen, e provavelmente não demoraria muito a vir outros atrás dela. Mas também por
outro lado, se ela ficasse e aceitasse caçar com eles, ela arriscaria a vida quase todos os
dias.
–Eu aceito. –Nina disse.
Ian a abraçou. E logo falou:
–Bem vinda.
–Então, o que vamos fazer hoje?–Ela perguntou
–Eu não sei, vou ver se a Simone tem algo para nós.

Ian, Levi e Nina estavam na esquina do beco onde ficava o Estrela da Noite. Dali já
podia se escutar uma musica lenta e algumas vozes gritando e falando alto. Ian fora até
a porta para bater, mas alguém falou algo.
–Meninos. –Falou uma voz feminina.
Solange apareceu atrás de Ian. Por alguns instantes, o caçador se perguntou como, até
se lembrar da velocidade sobre-humana da vampira. Solange estava elegante e
encantadora como sempre. Seu batom vermelho delineava sua boca carnuda, os olhos
estavam cobertos por sombra preta e sua jaqueta de couro refletia a luz da lua.
–Quanto tempo. –A vampira continuou o dialogo. –Pensei até que tinham morrido.
–Ah olá Solange. –Ian a cumprimentou. –O que faz aqui fora.
–Estou entrando agora, mas acho que essa pergunta é minha, o que os trazem aqui?
–Viemos atrás de algum contrato. –Levi respondeu se intrometendo na conversa.
–Entendi. –Elamurmurou. –Vamos, vou arranjar alguma coisa para vocês ai dentro.
Solange guiou o trio até a porta do Estrela da Noite, ela bateu na porta e o segurança a
deixou entrar sem problemas, mas quando ele havia visto o trio de adolescentes ele
havia falado que infelizmente não iria deixa-los entrar. Mas Solange fora esperta, a
vampira simplesmente falou o que Ian e Levi haviam feito. Matado dois três lycans e
dois vampiros, que eram considerados perigosos.
Quando Solange disse aquilo, o enorme segurança pareceu não acreditar, mas ele sabia
que Solange não mentia.
O Estrela da Noite estava como sempre, lotado de gente. A maioria das pessoas lá
dentro eram homens, marmanjos mal encarados que olhavam com olhar estranho para
Nina. Algumas mulheres também estavam lá, mas elas pareciam não se importar com as
outras pessoas. Solange levou os três amigos para um homem, era careca, alto e bem
pálido, as duas presas saiam da boca, assim revelando sua identidade vampírica.
–Então Tito, esses são os caçadores que eu te falei.
–Essas três crianças? –O vampiro perguntou com sarcasmo.
–Na verdade eram só dois, mas isso não vem ao caso agora. – Solange tentou persuadir
o homem. –Eles podem parecer jovens, mas são muito competentes. Sabe o Jorge,
então, foram eles que deram cabo dele.
–Isso não me convence, –O homem torceu o nariz.– me desculpe falar Solange, mas o
Jorge era um fraco, qualquer um podia mata-lo.
Solange olhou para Ian, o menino parecia não estar gostando da situação. Ian estava
com medo daquele local, qualquer passo em falso ele seria destroçado por uma horda de
vampiros, e por isso decidiu ficar calado para não falar besteira. Solange virou o rosto
para Tito novamente e sussurrou algo no seu ouvido.
–O que?! –O vampiro perguntou de olhos arregalados. –Foram eles que mataram o
Marlon e o...
–Cala a boca. –Solange advertiu. –Sabe a influencia que aqueles dois tinham, sabe que
se descobrirem é bye bye para os meninos. Mas e então?
–Depois dessa, eu vou confiar neles.
Solange se virou para Ian e falou:
–Agora é com vocês. –Ela disse colocando a mão no ombro do menino. –Só não se
esqueçam que eu quero minha parte. Vinte por cento está de bom tamanho já.
Solange saiu sem esperar Ian concordar.
–Então. –Disse Tito.–Não querem se sentar para a gente conversar melhor?

16- CANIBALS
Ian, Nina e Levi se sentaram em uma das mesas do bar. O vampiro se sentou no quarto
e ultimo lugar da mesa. Uma garçonete chegou para anotar os pedidos.
–Um copo de vodca. –Tito falou para a garçonete. –Vão querer alguma coisa?
–Não, obrigado. – Ian respondeu.
A mulher saiu com sua bandeja entre os braços e logo voltou com o copo de vodca de
Tito. O vampiro acabou com todo o liquido transparente em um gole só. Ian e Levi
ficaram assustados, nunca tinham visto alguém beber com tanta ferocidade.
–Onde estávamos mesmo. –Disse o vampiro depois de tirar o copo da boca. –Ah, é
mesmo. Quero que você matem esse cara.
O vampiro tirou do bolso uma pequena fotografia, nela tinha um homem, meia idade,
parecia estar na casa dos cinquenta, o cabelo grisalho ajudou Ian a chegar nessa
dedução. O homem não tinha nada de incomum, não era pálido como um vampiro, nem
peludo como um lobisomem.
–O que esse sujeito é? –Nina perguntou.
–Um canibal.–Tito respondeu.
–Tudo bem. –Ian falou e depois pegou a foto da mão do vampiro. –Sabe de alguma
coisa sobre ele? Nome, onde ele mora ou coisa do tipo?
–Ele mora em Flores, perto da Praça Hexagonal. E o nome dele é Francisco.

Demorou exatamente trinta minutos para o trio chegar em no bairro onde a caça
morava. Flores, esse nome quando ouvido em Costa da Areia já era acocado a pessoas
ricas e prédio enormes, e era muito bem associado. Flores era o bairro mais rico de toda
Costa da Areia, o bairro onde ricos mantinham seus apartamentos de férias e suas casas
na praia.
A Praça Hexagonal era o ponto de encontro no bairro de Flores, assim como a Praça
Verde era para o bairro de Argema. A Praça Hexagonal fazia jus ao seu nome, sendo ela
hexagonal e com um pequeno playground no meio, algumas esculturas de arte moderna
jaziam ali, mas Ian e Levi tentaram não decifrar seus significados.
–Então. –Levi tomou iniciativa e finalmente falou algo. –Como vai ser?
–Bem, ele mora aqui, e ele é um canibal. Cedo ou tarde ele vai vir atrás de seu
alimento.
Levi e Nina não sabiam muitosobre canibals, mas diferente deles, Ian sabia muito sobre
eles. Ian havia lido que canibals eram obviamente canibais, se alimentavam de seres
humanos e não podiam se alimentar de animais, pois para eles, carne de animais é
horrível e altamente perigosa.
–Faz tempo que não vem aqui, não é Ian? –Levi perguntou
–Ian costumava vir aqui?–Nina perguntou.
–Sim, quase todo dia.–Levi respondeu.–Uma namorada dele morava aqui?
–Namorada?–Nina perguntou com a expressão caída.
–Levi, se está falando de Tália, por favor não fale besteira. –Ian advertiu o irmão. –Ela
é minha melhor amiga e só.
–Mas você já namoraram.
–Está falando daquilo?–Ian deu uma risada ligeira. –Aquilo não foi um namoro, apenas
acabamos confundindo as coisas.
–Você já namorou? –Nina perguntou, seu tom se assemelhava ao uma menina de cinco
anos.
–Mas é claro que sim, –Ian respondeu com um certo alivio. –É isso que adolescentes
fazem.
–Falando em namoro de adolescentes. –Levi disse apontando para um casal que
passava na rua.
Era uma menina, alta e de expressão cansada, ela estava abraçada com um menino, um
pouco mais baixo que ela. Os dois caminhavam lentamente, como se não tivessem
pressa. Eles pararam na frente de um prédio, e por lá ficaram por longos cinco minutos,
apenas se beijando e trocando caricias.
Ian desviou o olhar dos jovens para se concentrar na caçada, mas quando virou o rosto
pode reparar na faceta que Nina fazia. A Umbramancer parecia esboçar nojo e
curiosidade ao mesmo tempo. Quando Ian voltou a olhar os dois namorados, havia
percebido algo, uma pequena tatuagem na nuca do garoto. Era uma letra “C” com um
risco na horizontal a cortando ao meio.
Ian não pode acreditar, mas aquele menina era um Canibal!
Tudo aquilo estava muito obvio, ele era esquisito, baixo e até andava estranho. Era
inaceitável que namorasse com uma menina daquelas, que parecia mais uma modelo de
capa de revista. Mas Ian sabia como havia conseguido conquistar a garota.
Atração Fatal, essas palavras brotaram na mente do garoto. Ian já havia lido sobre isso
antes. Atração Fatal era uma técnica dos canibals, eles usavam involuntariamente, mas
mesmo assim usavam. Não funcionava como a hipnose dos vampiros, era pior, fazia a
pessoas se apaixonar perdidamente pela outra.
Os jovens que não paravam de se beijar começaram a andar em direção ao um beco
escuro. Nina virou o rosto.
–Algum problema?–Levi perguntou.
–Não acredito que eles vão fazer isso na rua. –Nina falou horrorizada.
–Preciso falar com aquele menino.–Ian disse quando começou a correr.
O caçador começou a correr atrás do canibal. De acordo com os livros que Ian havia
lido, os canibals se dividiam em partes da cidade, e eram como uma enorme família.
Então provavelmente esse garoto iria saber algo sobre esse tal de Francisco.
Quando Ian chegou ao beco se impressionouao ver a menina com a cabeça no ombro do
menino, mas ela estava diferente, parecia que estava dormindo, foi ai então que Ian
percebeu que ela estava desfalecida!
O menino não soltava os dentes do pescoço dela. Ian iria falar algo, mas uma voz falou
antes dele
–Eu já não te falei para não abater ninguém na minha área?–Disse uma voz grave
O caçador se escondeu na parede da esquina, junto com Levi e Nina que tinham
acabado de chegar. De repente um homem caiu no beco. Alto, um pouco magro, cabelos
e barba grisalha, aquele era Francisco, mas para surpresa de Ian, ele não estava sozinho.
Mais três homens apareceram atrás deles, todos pulando no beco.
Apesar da aparência humana, canibals possuíam força e velocidade sobre-humana, e
era obvio que Francisco e seus capangas estavam segundo o menino pulando de telhado
e telhado.
O jovem canibal caiu no chão de medo, e começou a tremer. Os olhos se encheram de
lagrimas, e coração começou a pulsar três vezes mais rápido.
–Me desculpem.–Ele disse entre suspiros de desespero.
–Desculpar? –O homem de cabelos grisalhos repetiu.–Renan, já não é de hoje que te
avisamos. Você vem abatendo no nosso território desde o começo do ano, já te
perdoamos muitas vezes.
–Eu já pedi desculpas. –O jovem canibal se ajoelhou e começou a se esfregar no pé de
Francisco. –Desculpas!
–Desculpas é o cacete. Deem um fim nele por favor. –Francisco disse com tom de
alivio.
O canibal grisalho deu lugar para dois de seus capangas. Renan tentou gritar, mas eles
logo taparam sua boca. Os canibals jogaram o menino contra uma parede um deles o
segurou contra o pescoço.
–Algum pedido chefia?–Falou o capango com sua voz nasalada
–Quero que arranquem a cervical dele, acabei de notar que não tenho uma cervical na
minha parede.
Renan tentou soltar outro grito, mas não conseguiu. O outro capanga obedeceu as
ordens de Francisco, do bolso pegou um pequeno punhal de ouro, e sem dó nem pena,
enfiou a faca nas costas do menina, e com a adaga arrancou a colona cervical do jovem
canibal.
–Não! –Nina disse involuntariamente.
Os quatro canibals se viraram para a entrada do beco e viram os três jovens.
–Obrigado Nina.–Levi falou com sua ironia de sempre.
17- INJUSTIÇA.
No mesmo instante que Nina falara aquilo, Ian já teve certeza que não iria mais voltar
para casa, não vivo. Os quatro canibals que estavam no beco viraram os rostos para o
trio, começaram a os encaram com seus profundos olhos escarlates.
–Ataquem! –Francisco disse como se estivesse com raiva deles, por terem visto aquela
execução.
Os três capangas flexionaram os joelhos e em seguida pularam em direção a Ian. Mas
impedindo a investida deles, Nina criou uma parede de Umbra. Mesmo assim, os
canibals foram astutos demais e conseguiram pular por cima da parede escura.
–Vamos para praça. –Falou Ian. –Aqui o espaço é muito estreito.
Os três correram para Praça Hexagonal. Os canibals os seguiram até lá. Levi se
apressou e logo criou uma nevoa de ilusão, porem para a infelicidade do feiticeiro, ela
não havia funcionado.
– Não gaste seu tempo com isso, parece que não sabe que em noites de lua minguante
magias de ilusão ficam praticamente nulas.–Ian constatou.
Levi levantou os pulsos e fez toda a nevoa ficar em volta da praça, assim disfarçando o
local para pessoas externas.
–Então Ian, o que fazemos?–Nina perguntou
–Tentar sobreviver seria uma boa. –Ian respondeu com seu sorrisinho de canto de rosto
indispensável.
–Bela instrução. –Levi ironizou. –Porque a gente ainda te tem como líder?
Os canibals que pouco se importavam com o dialogo dos amigos, partiram para cima.
Ian deu três disparo contra a cara de um capanga, que vinha na sua direção em alta
velocidade, mas infelizmente não acertara nenhum. O caçador tentou desviar para o
lado, mas sem sucesso, fora pego pelo canibal.
–Eu poderia fazer com que sua cabeça voasse pelos ares, do mesmo modo que faço
com tampas de garrafas de champanhe. –O canibal disse isso bem perto de Ian.
Apesar de estar a poucos segundos de ter sua cabeça explodida, Ian sabia o que estava
fazendo. Tudo fora armado, e o canibal nem suspeitava. Ian queria confronta-lo
diretamente, apenas para pegar seu punhal dourado.
Desde que passara noites estudando sobre criaturas sobrenaturais, Ian descobrira que
canibals morriam apenas com ouro, logicamente que poderiam ser baleados ou
perfurados por outros materiais, mas eles acabariam se regenerando. Mas com ouro era
diferente, canibals não se regeneravam com o contato com ouro, era como se o ouro
estivesse fervendo, mesmo estando gelado, eles sentiam o ardor na pela apenas se
encostar no material.
Ian sentiu falta de ar, mas mesmo assim não desistiu. O caçador colocou a mão no
bolso da bermuda do homem de lá retirou o punhal. Ian enfiou a faca no antebraço do
sujeito. A mão dele afrouxou na hora. Ian respirou fundo e em seguida enfiou a faca no
coração do canibal. O oponente caiu morte em sua frente.
Nina se agachou juntou as duas mãos em gesto de oração. Tentáculos escuros se
projetaram no chão, assim como sombras, e começaram a seguir os inimigos. Os
canibals não estranharam os membros de sombra se movendo no chão, afinal, Levi
estava fazendo um bom trabalho os distraindo.
O jovem feiticeiro lançou uma labareda d chamas verdes contra os oponentes. Os
canibals não sabiam, mas as chamas verdes eram feitiço letal, pois onde atingisse, não
poderia ser curado, independente do fator de cura da criatura. Mesmo sem saber do
perigo, os canibals conseguiram desviar sem problema algum.
Quando os canibals menos esperavam os tentáculos de Nina se desgrudaram do chão e
de sombras, viraram matéria Umbra. Os membros negros prenderam os oponentes no
chão. A brecha estava aberta.
Ian correu começou a cortar jugular por jugular, até todos os canibals estarem mortos,
inclusive Francisco.
–Já acabou?–Levi perguntou.
–Até que formamos um bom trio.–Nina comentou.

Não demorou muito para voltarem ao Estrela da Noite, mas apesar de não ser demorado
era cansativo demais, afinal, não era nada agradável cruzar praticamente a cidade inteira
andando.
Os quatro estavam sentados na mesma mesa. Tito estava segurando um envelope, o
vampiro não parava de encara-los.
–Então. –Tito foi o primeiro a falar. –Como foi lá?
–Bem fácil. –Ian respondeu. –Será que agora pode nos dar o dinheiro.
–Mas é claro que sim.
O vampiro jogou o envelope por cima da mesa, as notas azuis esparramaram-se, todas
mal arrumadas. Ian juntou o dinheiro e fora entregar a parte de Solange no balcão.
–Está aqui. –Ian disse colocando a quantia de dinheiro que a mulher havia exigido em
cima do balcão.
–Obrigado. – Solange agradeceu.
Ian já iria virar as costas, mas Solange o puxou pelo colarinho e falou algo perto de seu
ouvido.
–Ian, tenha cuidado com esse Tito, ele nunca foi de muita confiança.
–Como você me manda um cliente que não se pode confiar?
–Bem, ele estava atrás de vocês desde que vocês apareceram. Ele estava me
infernizando para eu falar onde ele poderia contratar vocês.–Solange chegou mais perto
do ouvido de Ian. –Mas voltando a falar dele, ouve boatos que ele é um informante dos
Presas.
Presas, esse nome ecoou na cabeça do menino por alguns segundos. Mas não demorou
muito para Ian relembrar de algumas que havia lido. Os Presas, eram uma facção de
lobisomens que dominavam gangues de Costa da Areia, eles usavam seus poderes de
lycan para roubar ou extorquir pessoas. E era obvia a preocupação de Solange de ter um
pé atrás com Tito, se ele fosse mesmo um informante dos Presas, estaria traindo a
confiança dos Garras.
Os Garras eram outra facção de Costa da Areia, mas ao contrario dos seus rivais, os
Garras eram mais elaborados, tinham sedes, a maioria eram boates e bares, assim como
o Estrela da Noite, mas mesmo assim eram sedes.
–Quer que eu dê uma investigada nele?–Ian perguntou para a mulher.
–Pode ser. –Solange concordou. –Mas cuidado, não deixe ele perceber que está sendo
seguido. Aqui nos Garras, quando somos perseguidor, não temos o costume de
perguntar que é.
Ian trocou curtas palavras de despedida de agradecimentos com Solange. O caçador
encontrou Levi e Nina na saída e os três voltaram para casa, exaustos.

18- GUARDIÃ ESPIRITUAL


Levi fora o primeiro a acordar. O dia ainda raiava e ele tentava dormir novamente, mas
não conseguia. No fim acabou tendo que levantar para ir ao banheiro. Depois da higiene
matinal o menino pegou um pouco de dinheiro, que estava guardado e em seguida saiu.
O feiticeiro não sabia onde iria, nem que horas iria voltar. Levi queria apenas relaxar a
mente, se afastar do mundo por alguns minutos, talvez horas. O menino pensou em ligar
para Alex, para combinarem de fazer algo, mas naquele momento, Alex parecia tão
distante, desde o inicio das férias seu amigo não dava sinal de vida.
Quando Levi voltou para a realidade, reparou que estava no calçadão. Sentia a brisa
matinal da praia, os pequenos grãos de areia de deslocavam pelo ar. Os cabelos do
menino se balançavam em uma eterna dança.
–Socorro. –Uma voz feminina sussurrou
Levi virou o pescoço para todos os lados, não viu ninguém.
–Me ajude.–A voz repetiu, mas agora ela parecia mais fraca.
–Onde você está? –Levi perguntou.
–Rápido...
A voz parou, era como se não tivesse mais força para falar, era como se ela estivesse
morta. Mesmo achando que era tarde de mais e não conseguiria fazer nada, Levi não
desistiu de tentar achar a origem da voz.
O menino fechou os olhos e se concentrou, tentou lembrar de onde a voz vinha e
começou a caminhar na direção.
Levi acabou parando em uma casa. Era um sobrado, o menino entrou assim que viu o
portão quebrado. Levi não reparou muito no lugar, era uma casa simples, nada de mais.
Conforme o menino andava, mais destruída a casa ficava, parecia que passara um
furacão ali dentro. O jovem feiticeiro subiu as escadas e chegou a um quarto, no chão
havia alguém deitado.
Era uma menina, aparentemente da sua idade, pele claríssima, parecia nunca ter tomado
um raio de sol. Os longos cabelos negros estavam esparramados. Levi se aproximou da
menina, ela sussurrava algo que ele não estava entendendo. Um enorme corte do braço
da menina não parava de sangrar.
O feiticeiro gesticulou os dedos por cima da ferida, e criou uma labareda de chamas
prateadas. O fogo cinzento fora curando o machucado.
A menina abiu os olhos e se levantou, como se tivesse acabado de acordado de um
pesadelo. Levi se assustou, e caiu para trás. A menina se levantou do chão e andou
contra a parede, ela ficou por alguns segundos tocando-a. Enquanto Levi tentava
entender o que a garota fazia, ela começou a apalpar o próprio corpo.
–Não é possível!–Ela exclamou em baixo tom.
A menina correu para o banheiro, que ficava ao lado do quarto, e lá ela se olhou no
espelho quebrado.
–Consegue me ver?! –Ela perguntou para Levi.
–Consigo. –Levi respondeu lentamente ainda tentando entender o que estava
acontecendo.
–Eu estou presa em uma carcaça, mas como?
–Carcaça? –Levi repetiu.
–Que dia é hoje? –Ela não parou com as perguntas.
–Segunda-feira. –Levi respondeu.–Catorze de julho.
–Eu dormi por três dias!
–O que está havendo? –Levi finalmente perguntou.
–Eu não sei, –Ela respondeu pondo a mão entre os cabelos.–Não era para eu ser visível.
–Porque?!
–Eu sou uma guardiã-espiritual! –Ela explicou. –Não tenho corpo, não corpo físico.
–Se acalme! –Levi Disse gritando. –Vamos tentar esclarecer as coisas. O que são
guardas espirituais?
Levi andou até a menina e pegou suas mãos, o feiticeiro a colocou de joelhos e os dois
começaram a conversar.
–Guardiões espirituais são seres que protegem as pessoas no plano físico.
–Primeira duvida respondida, agora, porque não era para você existir?
–Eu sei que isso pode soar estranho, principalmente para um humano tão materialista
como você. Mas nos não temos corpo, não no plano material. Somos...
Antes da menina começar a falar ela desmaiou. Levi pegou a menina antes dela cair no
chão. Olhou o cenário envolta, não tinha condições de continuar ali. O menino colocou
Tati nas costas, e saiu da casa. Antes de ir embora Levi ligou para a policia de um
orelhão próximo dali.

–Então essa biblioteca é sua? –Disse Nina com os olhos brilhando, ela parecia um
criança de três anos que acabara de ganhar um presente.
–Sim, todinha minha. –Ian respondeu. O menino deixou o livro que estava lendo entre
os braços e foi na direção da menina.–Aqui tem vários livros, estórias, historias, contos,
manuais. Agora que você é uma de nós, nada mais justo do que saber da biblioteca.
Nina desviou o olhar para uma porta de ferro, que ficava ao fundo do cômodo, mas
antes dela perguntar algo Ian já esclareceu.
–São as vias subterrâneas.
–Vias subterrâneas? –Ela repetiu em forma de pergunta.
–Sim, mas não me pergunte mais nada sobre isso, são apenas caminhos que cruzam a
cidade inteira.
Quando terminou de explicar das vias subterrâneas, Ian andou até a sala cinza e de lá
pegou uma arma da parede. Era uma escopeta de cano cerrado, pela tintura descascada
era antiga. Seguido de um estalo Ian abaixou o cano da arma, verificou a munição,
estava carregada. Ian disparou uma vez contra uma parede.
O estalo fora perceptível para Nina do lado de fora. Não era porque as armas tinham
encanto de silencio que elas seriam inaudíveis, Ian sabia disso.
–Porque não usa essa arma? –A Umbramancer perguntou.–Ela parece ser bem mais
forte que sua pistola.
–Diversos motivos. –Ian deixou a arma no lugar onde estava. –O primeiro é que apesar
do encanto de silencio, ela ainda faz muito barulho. Segundo, ela tem pouca munição, e
as balas dela são menos diversificadas. Terceiro, eu gosto da minha Beretta.
Depois que Ian explicou os motivos de continuar usando a pistola, um baque da porta
abrindo pode ser ouvido. Alguém havia acabado de chegar. Ian e Nina saíram do
cômodo subterrâneo.
Quando chegou a sala Ian não esperava ver o que estava vendo. Levi estava segurando
uma menina nas costas, ela tinha uma enorme ferida no braço.
–Quem é ela? –Ian perguntou.
–É uma longa historia, só sei que ela se intitula guardiã-espiritual.
Levi jogou a menina no sofá e com um estalo de dedos criou duas labaredas pratas. O
feiticeiro começou a passar o fogo cinza no machucado da garota.
–Guardiã-Espiritual? –Ian não entendeu.
A menina se levantou do sofá, igual fizera a minutos antes na casa destruída. Ela
encarou o ambiente ao redor, viu Ian e Levi, em posição de combate, prontos a ataca-la,
caso ela desse uma paço em falso. Mas Nina, diferente deles estava com um olhar
acolhedor, a Umbra se ajoelhou perene a menina e falou.
–Que honra te receber aqui, ser que me guarda.
–Nina, o que está fazendo? –Ian murmurou.
–Não se ajoelhe. –A suposta guardiã-espiritual falou.
Nina se levantou e eles prosseguiram com a conversa.
–Que estranho, não estou conseguindo passar para o astral.–E menina comentou.
–Astral?
–Sim, o plano astral, o lugar onde os espíritos vivem.Parecem que essa carcaça foi feita
para me prender.
–O menina.–Levi a advertiu.– Que tal você começar a falar coisa com coisa.
–O que vocês querem saber?
–Tudo! O que você é, porque quer passar para esse tal de plano astral, porque disse que
não era visível, porque disse estar presa a uma carcaça, e porque Nina se ajoelhou?
–Bem, acho que isso vai ser meio estranho para vocês, eu sou uma guardiã-espiritual –
A menina começou a esclarecer não só as duvidas de Levi, mais as de Ian também. –E
eu estava tentando passar para o plano astral porque é lá que eu vivo, já que sou um
espirito.
Levi abriu a boca para fazer mais perguntas, mas a menina fora mais rápida.
–Se acalme, eu ainda não acabei. –A menina continuou a explicar. –Reforçando a
explicação, eu sou uma guardiã-espiritual, assim como os outros espíritos sou criada a
partir da consciência coletiva das pessoas no plano físico.
–Então você é como um amigo imaginário?–Ian perguntou com um sorrisinho.
–Não, um amigo imaginário na verdade éum espirito de luz, criado a partir da solidão
de uma criança carente. Eu, e os outros guardiões-espirituais somos criados a partir do
consciente coletivo, por sentimentos como fé e esperança.
–Você está nós dizendo que você é fruto dos pensamentos de varias pessoas? –O
feiticeiro a questionou.
–O ser humano pode fazer coisas inimagináveis com a força do pensamento.–Ela
respondeu
Quando a menina terminou de explicar, Ian e Levi ficaram a olhando boquiabertos,
pareciam crianças de seis anos que tinham acabado de saber da teoria da relatividade.
Nina por outro lado já sabia de tudo aquilo.
–Ah, acho que esqueci de uma pergunta. –A menina se lembrou coçando a cabeça.–Sua
amiga apenas me agradeceu.
–Sim,–Nina disse assentindo com a cabeça. –Nós Umbras sempre fomos muito
espiritualizadas, e sempre agradecemos aos guardiões.
–Para falar a verdade, você ainda não me respondeu uma pergunta. –Levi a alfinetou. –
Porque disse que estava em uma carcaça.
–Eu não te respondi isso porque nem eu sei a resposta. Sou um espirito, não uma alma,
não deveria ter corpo mundano.
–Não se lembra de como apareceu presa nesse corpo?
–Não. –A menina levou a mão na cabeça. –Para falar a verdade, eu não me lembro de
coisas recentes, a única coisa que eu lembro é que fui atacada por um espirito das trevas.
Logo depois disso, eu fui acordada por seu irmão.
–Esquecemos de perguntar. –Falou Nina. –Como se chama?
–Me chamo Tati.
Os olhos da menina brilharam, e ela caiu desmaiada no sofá novamente.
19- ESPIRITOS SOMBRIOS
Tati acordou em uma cama, olhou para a janela ao lado, já havia anoitecido. Uma
súbita dor de cabeça a colocou em posição fetal. Nina, que estava ao lado da cama,
tentou ajuda-la, a Umbramancer perguntou o que estava acontecendo, mas Tati não
conseguia responder.
Quando Tati conseguiu abrir os olhos, eles estavam brilhando. A menina estava tendo
algo que não tinha há muito tempo, uma visão.
Seis jovens jogados no chão, envoltos em uma poça de sangue. Além de Nina e os dois
irmãos, Tati viu mais três jovens. Uma menina, pele escura, o rosto não era visível pois
ela estava de bruços. Os cabelos cacheados estavam espalhados pelo chão. Ao lado
dessa menina Tati viu um menino, ele estava com a mão estendida para cima, os cabelos
loiros o caia sobre a vista. Afastado de todos, tinha outro menino, porem diferente dos
demais, esse estava com um capuz, assim impossibilitando Tati de ver seu rosto.
A guardiã-espiritual retornou a realidade. Ian e Levi estavam na porta, o caçador estava
com sua Beretta apontada para a menina, Levi segurava uma labareda verde.
–Vocês. –A menina murmurou.
–O que está acontecendo? –Ian perguntou
–Vocês... –Ela repetiu.
–Nina, o que aconteceu?–Dessa fez fora Levi que perguntou
–Eu não sei, foi como a sala, os olhos dela começaram a brilhar e ela acordou.–Nina
respondeu.
–Eu não posso deixar que isso aconteça.–Tati disse para ela mesma em baixo tom.
–Isso o que?–Nina perguntou para a menina.
–Eu tive uma visão. –Tati aumentou o tom de voz para que todos escutassem. –Vocês
estavam nela, não só vocês, mais pessoas também.
–E o que nos fazíamos nessa visão? –Ian questionou abaixando a arma.
–Vocês estavam mortos. –Tati disse horrorizada. –Todos mortos, ensanguentados,
machucados, feridos. Não gosto nem de pensar nisso.
O quarto ficou em silencio. Ian ficou encarando a menina, primeiro ela disse ser um
espirito preso em corpo mundano, depois ela falou que foi criada a partir de sentimentos
das pessoas, e logo em seguida ela disse ter tido uma visão de todos mortos. Bem, ela
não era uma menina normal.
Ian fez um gesto para Nina vir até ele. Ian, Levi e Nina começaram a conversar
baixinho.
–O que vamos fazer com ela?
–Como assim?–Nina perguntou.– Ela não vai ficar?
–Eu não sei. –Ian respondeu.–Algo me diz que essa menina vai ser muito importante
um dia.
–E esse mesmo algo me diz que ela é encrenca. –Levi argumentou.–Qual é gente, não
podemos sair dando abrigo para qualquer um que bate aqui na porta.
–Ela não é qualquer um – Nina rebateu. –ela é uma guardiã-espiritual, ela
provavelmente já deve ter te salvadode um ataque de um espirito das sombras.
–Foco. –Ian chamou a atenção dos dois. –Bem Levi, acho que como vivemos em
democracia, a maioria ganha.
Levi virou a cara, e Nina fora logo contar a novidade para a nova moradora.
–Relaxe, é só até ela se recuperar. –Ian sussurrou. –Não quero ser um cretino e jogar a
menina na rua, ela não tem casa nem comida.
–Faça como quiser, mas depois que aparecer uma horda de fantasmas atrás dela, não
diga que não avisei.
Tati se levantou da cama e saiu correndo em direção à porta. Nina perguntou o que
havia acontecido, mas a guardiã-espiritual se limitou a responder apenas “Espirito
sombrio”. Nina saiu em disparada atrás dela, e comicamente, Ian fora atrás de Nina, e
Levi atrás do irmão.

Tati os conduziu até uma construção não muito longe da casa dos garotos, diferente do
Edifício Hely, essa construção ainda estava em obras, e já estava com seis andares
construídos.
–Aqui. –Ela murmurou.
–O que tem aqui? –Nina perguntou com tom de uma criança de seis anos que brincava
de explorador.
–Uma alma.–Tati respondeu e em seguida cerrou o cenho. –Droga, esqueci que não
posso enxergar através do astral.
–Que tal voltarmos para casa? –Levi sugeriu.
–Tem medo de fantasmas? –Ian alfinetou o irmão.
–Medo. –Levi falou com ar debochado, o menino estalou os dedos e criou labaredas
esmeralda. –Acho que eles deveriam ter medo de mim.
Quando Levi terminou de falar isso, eles ouviram algo estranho, um grito de agonia.
Era uma mulher, ela gritou novamente, agora com mais angustia ainda.
–Tarde de mais. –Tati sussurrou para ela mesma.–Vocês precisam sair daqui.
–Porque? –Nina perguntou
–Espíritos sombrios se alimentam de sentimentos ruins, ou quando isso está faltando no
local, eles se alimentam de almas. Saiam daqui, agora!
Mas antes de eles se mexerem, algo saiu de uma parede, não a quebrou, apenas
emergiu, como um fantasma de filme. Era uma criatura arroxeada, anatomia de lobo
gigante, os olhos eram amarelos, pareciam duas pepitas de ouro. Dois chifres de
carneiro saiam de sua cabeça.
O lupino levantou a cabeça e rosnou.
–O que é isso?!
–Um espirito sombrio. –Tati murmurou.
Levi não esperou para ver o que aquela coisa era capaz. O feiticeiro jogou duas bolas
de fogo verde contra o espirito das trevas, mais para sua surpresa as chamas esmeralda
apenas o atravessaram e atingiram a parede. A criatura encarou os quatro jovens, os
olhos pareceram se acender. O espirito sombrio correu na direção de Nina.
A Umbramancer não teve reação, apenas ficou parada. O espirito prensou Nina contra a
parede, colocando suas patas em cima dos antebraços da menina. Nina tentou reagir,
mas infelizmente seu esforço foi em vão. Ian atirou contra o espirito furioso, mas assim
como as chamas de Levi, as balas apenas atravessaram a criatura.
–Você não disse que esses espíritos viviam apenas no plano astral? –Ian perguntou a
Tati.
–Sim, mas quando eles estão em um local muito espiritualizado, ou com poucas
pessoas, eles podem transcender ao mundo material. Principalmente de noite. –Depois
que terminara de explicar, Tati se lembrou de um detalhe. –Que horas são?
–Exatamente três da madrugada.–Ian respondeu
–Droga! –Ela esbravejou. –É exatamente essa hora que os planos estão mais próximos.
Nesse hora que os espíritos conseguem perambular pelo mundo material.
–E o que vamos fazer? –Ian questionou
–Pensei que você fosse o líder. –Levi respondeu antes da menina.
–Eu posso tentar purifica-lo, mas nossa prioridade é distrai-lo. –Tati sugeriu. –Por
acaso você tem balas de platina?
–Balas de platina? –Ian repetiu. –Provavelmente tenho lá em casa, mas para que você
quer balas de platina?
–Não sabe? –Ela perguntou retoricamente. –Platina é o único metal que consegue ferir
espíritos, ele é capaz de cortas através dos dois planos, o material e o espiritual.
–Vamos tentar distrai-lo normalmente mesmo. –Levi focou os companheiros.
Enquanto os três conversavam, Nina soava frio. A menina tentava gritar, porem não
conseguia soltar nenhuma palavra. Alguma coisa no olhar do espirito sombrio fazia
Nina perder os sentidos. Era seu brilho, o brilho das orbes amarelas era hipnotizante.
Ian descarregou o pente de balas contra a cabeça do espirito, apesar dos projeteis
atravessar, fora o suficiente para distrai-lo. O espirito soltou Nina e correu na direção do
caçador. Já prevendo o movimento, Ian escapou para o lado e deixou o espirito
atravessar a parede.
Levi fechou os olhos e se concentrou. O feiticeiro começou a gesticular os dedos e uma
pilha de tijolos que estava ali começou a levitar. O espirito retornou para o lugar aonde
estavam. Levi abaixou as mãos e jogou todos os tijolos no espirito sombrio.
A criatura encarou o feiticeiro com os olhos cerrados. Apesar daquilo o atravessar, era
completamente desconfortável. A tática havia funcionado. O espirito sombrio correu na
direção de Levi, mas não hora que o menino iria se chocar com o monstro, Tati
interferiu.
A menina pulou na frente de Levi e colocou a mão direita na cabeça do lobo. Os olhos
de ambos começaram brilhar branco. A pelugem purpura do lobo fora ficando
amarelada, e seus chifres foram se transformando em galhos.
–Ela está...–Ian falou.
–O purificando. –Nina completou.
Quando o processo acabou, o lobo estava completamente diferente, por começar pela
pelugem, que agora era branca com alguns detalhes dourados. Os chifres que eram
atrofiados e rústicos, se transformaram em lindos galhos de arvoras, com flores nas
pontas. A expressão do lupino também havia mudado, agora ela parecia feliz, não
atormentado como era antes.
Tati iria cair no chão, mas Levi conseguiu a pegar.
–Alguma coisa?–O feiticeiro perguntou.
–Não. –A guardiã-espiritual perguntou. –Só foi gasto de energia, ele era um espirito
sombrio bastante forte.
–O que você fez? –Disse Ian quando se aproximou dos dois.
–Como sua amiga já disse, eu o purifiquei.
O lobo lambeu o rosto de Tati depois que Levi a colocou de pé. A menina retribuiu a
lambida com um cafuné.
–Agora ele irá espalhar bons sentimentos.–Ela disse com um sorriso na cara.
–Acho que já chega por hoje. –Levi admitiu. –Estou muito cansado.
–Você não é o único.–O irmão mais velho disse.–Mas infelizmente acho que não vou
voltar para casa.
–Vai aonde?–Nina perguntou
–Tenho falar algo com Solange. –Ian explicou. –Você podem ir indo, prometo não
demorar.
20- CLÃ FECTORE
Ian estava na porta do Estrela da Noite, quando resolveu finalmente entrar. Estava
pensando sobre sua vida, o que tinha feito, o que estava fazendo, e o que iria fazer. Ser
caçador não era fácil, além do desgaste físico ainda havia o preocupação social. Fazia
quase duas semanas que Ian não falara com nenhum amigo, nem mesmo Tália. Mas
para justificar isso ele tinha uma desculpa, não tinha mais tempo. Ian havia virado o que
caçava, uma criatura noturna. Ele dormia de dia, e acordava apenas de noite.
Ignorando seus problemas, o caçador resolveu entrar.
O Estrela da Noite estava do mesmo jeito. Mulher seminuas dançando e mastros para
homens maus encarados, alguns vampiros ficavam trocando caricias em um canto
escuro. Ian não quis perder tempo encarando pessoas e fora logo falar com Solange.
A vampira estava atrás do balcão. Solange estava esfregando um prato, e por mais
cômico que fosse, ela tentava enxergar seu reflexo.
–Solange.–Ian iniciou o conversa.
–Diga pequeno caçador.–A mulher respondeu, não tirando a atenção do prato de
limpava.
–Alguma novidade?
–Não. –A mulher ainda não tirou a atenção do prato. –Ah, para falar a verdade tem
sim...
A conversa fora interrompida por uma pessoa, o segurança fora até ali e pegou no
ombro de Ian. O rapaz geloude medo. O que será que o segurança iria fazer?
Mas superando todas suas expectativas, o segurança apenas falou:
–Coloca esse saco na cabeça.–O homem levantou a mão e ofereceuum saco de plástico
a Ian. –O chefe quer falar com você.
Ian ficou encarando o homem por alguns segundos. Mas como não podia fazer nada
resolveu obedecer.
O caçador fora pego no colo depois que colocou a sacola preta na cabeça. Ian foi
conduzindo por uma serie de curvas e escadas. Quando o menino menos esperava, ele
foi deixado em uma cadeira. Era larga e almofadada, espaçosa e confortável. O
segurança tirou o saco da cabeça do menino.
Ian olhou ao redor.
Era um cômodo de tamanho médio, parecia um escritório. Na poltrona em sua frente
estava sentado um homem, era pálido e os cabelos loiros eram bem ralos. Ao lado desse
homem, em pé, tinha outro sujeito, esse era alto, pele bronzeada, corpo parrudo, e rosto
bem barbado.
–Pode nos deixar a sós. –Disse o homem sentado na cadeira.
O segurança saiu da sala e provavelmente ficou vigiando do lado de fora. Ian não podia
acreditar no que estava vendo, aquele homem na cadeira era o chefe dos Garras, seu
nome era Mikael. E ao seu lado estava o chefe dos Presas, Gil. Mas como? Ian se
perguntou, eles eram lideres de facções rivais, não poderiam estar na mesma sala, como
se fossem melhores amigo.
–Alguma pergunta caçador? –O vampiro perguntou a Ian.
–Muitas, para falar a verdade. –Ian se inclinou na cadeira quando disse isso.–A
primeira é que...
–Pode parar. –o Lycan cortou Ian. –Mikael apenas perguntou se você tinha perguntas,
não que poderia perguntar algo.
Ian virou o rosto e se ajeitou na cadeira novamente.
–Caçador, o motivo de te chamarmos aqui é bem simples. –O chefe dos Garras fez uma
pausa dramática para terminar de falar: –Clã Fectore.
–Clã Fectore?–Ian repetiu.
–Pelo jeito anda desenformado.–O lycan se intrometeu novamente. –Não sabe quem
são?
Ian não precisou abrir a boca para responder, apenas balançou a cabeça de um lado para
o outro, em negativo.
–Bem. –Mikael disse isso e depois se levantou da cadeira. –Falando de uma forma bem
resumida, eles são caçadores, mas não como você. Eles caçam por puro prazer, prazer
de ver a dor e morte. Mas continuando, eles acabaram de chegar na cidade, não sabemos
onde estão, pois todo informante que mandamos é assassinado antes de voltar.
–Então vocês querem que eu mate eles?
–Mas é claro que sim.–O lycan pela primeira vez falara algo que não era para
incomodar Ian.–Mas antes de você ir embora, quero que conheça nosso informante.
Pode entrar!
A porta atrás de Ian se abriu, e quem saiu de lá não era o segurança. Era alguém que Ian
já conhecia, Tito. O vampiro ficou ao lado de seus chefes e, assim como eles, começou
a encarar o caçador.
–Ele, ele é seu informante?–Ian apontou para o vampiro. –Mas, estavam falando que
ele é um informante dos Presas
–E ele é. –O lycan assentiu com a cabeça. –Dos presas e dos Garras.
–Caçador, falam muitas coisas ao meu respeito, inclusive que eu sou um vampiro. –
Tito disse com sua voz nasalada.
–E você não é um vampiro?
–Não. –Tito falou.
O informante girou o pescoço, quando voltou ao encarar Ian, estava completamente
diferente. Sua careca ficara cheia de cabelo, o rosto estava diferente, não estava tão
pálido, e nem os dentes escapavam da boca. Era havia virado outra pessoa. Ian se
afundou no encosto da cadeira.
Era tudo tão obvio. Se ele não era um vampiro, nem om Lycan, ou um canibal,
logicamente teria que ser um metamorfo!
–Isso mesmo que está pensando. –Tito admitiu. –Sou um metamorfo.
–Como já disse, Tito é nosso informante numero um, já tentamos envia-lo uma vez,
mas infelizmente ele não conseguiu fazer praticamente nada.–O vampiro disse.
–Bem. –Ian disse se levantando da cadeira. –Acho que já foi muita loucura para um dia
só. –admitiu. –Eu já entendi o recado, caçar os Fectore.
–Só esquecemos de um detalhe. –O lycan falou, ele se agachou e pegou um envelope
que estava embaixo da mesa. –Está aqui.
O lobisomem jogou o envelope para Ian, o caçador pegou sem problema algum.
–Seu dinheiro. –Os dois chefes falaram em sincronia.
–Ah, e antes de ir embora, quero falar uma coisa. Haja o que acontecer, não conte a
ninguém o que nós conversamos. Não podemos deixar todos aterrorizados.
–Se me perguntarem sobre o que aconteceu aqui, o que eu falo? –Ian perguntou.
–Sei lá, mente, vocês caçadores são bons nisso. –Disse o chefe dos vampiros
Ian assentiu com a cabeçae deixou a sala. O segurança colocou a sacola em sua cabeça,
e o levou de volta ao Estrela da Noite.

O dia tinha amanhecido chuvoso. E Ian não sabia disso. Ele havia passado a noite
inteira lendo na biblioteca subterrânea. Leu tudo que tinha sobre os Fectore. Os métodos
que usavam, a ideologia, as armas, os estilos de luta. Absolutamente tudo.
A ideologia deles era simples até demais, eles queriam apenas um mundo sem magia e
seres sobrenaturais, no final, queriam apenas um mundo sem segredos. E a melhor
forma de acabar com isso, era exterminando tudo, e todos que tinham contato com esse
“mundo secreto”.
Ian fora fechando os olhos lentamente, mas os abriu de novo quando viu algum na
porta. Nina.
–O que faz aqui tão cedo? –A Umbramancer perguntou.
–Cedo? –Ian questionou. –Que horas são?
–Sete da manhã.
Interrompendo a conversa dos dois, o celular de Ian tocou. O caçador não demorou
muito vero que era. Uma mensagem de texto, de Darlon.
“Me encontre no Café&Cia agora”
21- O HOMEM DE TERNO
Ian não demorou muito para chegar ao Café&Cia, uma lanchonete que ficava na parte
mais elevada de Argema. Era uma lanchonete de esquina, com fachada branca e várias
mesas espalhadas pelo estabelecimento. Quando chegou lá, viu Darlon, sentado em uma
mesa, mas ao lado de seu tutor havia mais alguém, e não era Beth. Era um homem,
vestia um terno musgo e usava um boné que tampava a cara.
O caçador encarou o sujeito, quem em sã consciência usaria um boné com terno? Era
completamente ridículo. Porem, ignorando esse fato, Ian resolveu falar com eles mesmo
assim.
–Ainda bem que veio rápido. –Darlon disse antes de Ian cumprimentá-los. –Precisamos
falar com você urgentemente.
–O que foi? –Ian perguntou com preocupação, afinal, o que era tão urgente assim?
–Clã Fectore. –Darlon silabou. –Eles estão na cidade.
–Sim, fiquei sabendo disso ontem. Eu fui até contratado para mata-los.. –Ian se conteve
para não deixar escapar.
–Contratado por quem? –Disse o homem que Ian desconhecia.
–Darlon, quem é esse cara? –Ian questionou. –Como iremos saber se ele é confiável?
–Ele é um conhecido de longa data.–Darlon esclareceu
–Não reconhece minha voz? –Falou o homem. –Tudo bem.
O sujeito levantou o rosto, e Ian se surpreendeu ao ver o prefeito da cidade! Era ele,
prefeito Gilberto, aqueles olhos cristalinos não mentiam.
–Prefeito? –Ian se inclinou para trás quando disse isso.
–Sou eu mesmo. –Ele falou com um sorriso de orelha a orelha.
–Darlon, de onde você conhece o prefeito? –Ian não estava entendo nada, porque o
prefeito da cidade estava ali?
–Como eu já disse, ele é um conhecido de longa data.–depois de explicar, Darlon se
apressou e foi logo ao assunto. –Mas não é isso que viemos falar aqui, pessoas veem
desaparecendo de uns tempos para cá.
–Ué, isso não é obvio? –Ian perguntou e respondeu a si mesmo. –Clã Fectore.
–Exatamente. –Darlon assentiu com a cabeça.
–O que eu quaro que você faça caçador, é que traga essas pessoas a mim, todas em
segurança. –O prefeito disse de rosto abaixado.
–Mas e os seus policias? Ian não parava com as perguntas.
–Digamos que eles não são muito confiáveis. –O homem de boné respondeu, dando
uma risada rouca.
–Tudo bem. –Ian respondeu e se levantou da mesa. –Depois acertamos o pagamento.
–Ian. –Darlon chamou o menino. –Nós não te chamamos aqui só para isso. Temos algo
para te contar.
Ian se sentou na cadeira novamente, e Darlon prosseguiu:
– O Clã Fectore tem um método estranho de matar as pessoas, eles não matam de uma
vez só. –Darlon se inclinou para frente. –Elesgeralmente sequestram todas as pessoas
que tem ligação ao submundo magico de uma cidade, e depois as mata, todas juntas.
–E? –Ian perguntou
–É bem capaz de eles terem sequestrados seus pais. –No momento que Darlon disse
isso, ele reparou que Ian quase caiu para trás. –Mas Ian, não queremos de dar falsas
esperanças. Isso não é uma certeza.
Ian não respondeu nada por longos vinte segundos, todos que estavam na mesa ficaram
apenas trocando olhares. Talvez Darlon estivesse certo, Ian pensou, talvez seus pais não
estivessem mortos, apenas sequestrados, assim como varias outras pessoas da cidade.
Ian se despediu de Darlon e deixou o Café&Cia. No trajeto de volta para casa, pensou
apenas de como iria fazer para destruir não só uma pessoa, mas um clã inteiro.
Quando chegou em casa, Ian se pois a estudar novamente, tudo o que sabia daquele clã
era pouco, e para destrui-lo por completo, tinha que saber mais. Contou sobre os
encontros para Levi e Nina, e os dois simplesmente concordaram. Já estava de noite, e
Ian estava sentado em sua cama, não estava conseguindo dormir, talvez fosse pela
descoberta da suposta chance de vida dos pais, ou pela preocupação de destruir um clã
de assassinos, mas na verdade não conseguia dormir por causa de Tália.
Fazia quase duas semanas que Ian não tinha contato com a melhor amiga, uma pessoa
que era tão especial para ele, e ele quase havia esquecido dela. Antes de pegar no sono,
o menino pegou o celular na cabeceira da cama e mandou uma mensagem para ela:
“Tudo bem? Desculpe meu sumiço. Preciso conversar com você, é algo importante.”

Já era de noite quando Tália e Fin voltavam para casa. A menina estava vestindo um
capuz para se proteger da chuva que lhe alvejava a cabeça. Fin, seu tutor, fazia o
mesmo. O tutor da menina, era um homem alto, loiro, e de olhos cinzas, mas uma coisa
incomum nele era sua tatuagem, um tribal envolta do olho esquerdo.
–Porque tínhamos que ir tão longe? –Tália perguntou.
–Querias que concluíssemos seu treinamento aonde? –Fin perguntou e logo se
respondeu. –Na Praça hexagonal que não seria.
–Mas também não precisa ser tão longe –A menina murmurou. –Estamos do outro lado
da cidade.
–Precisávamos de uma floresta, infelizmente só existe essa aqui em Costa da Areia.
–Vamos logo. –Tália apertou o passo. –Meus pés estão me matando.
Quando a menina disse isso, o estomago de seu tutor roncou com uma moto no deserto.
–Meu estomago está me matando. –Fin brincou.–Que tal pararmos para comer?
–Você também é uma draga. –Ela reclamou, mas logo em seguida também sentiu fome.
–Tudo bem.
Os dois entraram em um bar, em um dos incontáveis becos do bairro suburbano de
Lírio.
O bar era uma espelunca, Tália pensou. Paredes manchadas de mofo, chão faltando
piso, e cadeiras rangendo. Mas ignorando isso tudo, eles se sentaram em uma mesa que
ficava encostada na parede.
A garçonete os abordou.
Fin pediu uma xicara de café e um pedaço de bolo, Tália quis só uma lata de
refrigerante. Quando a atendente voltou, Fin não demorou muito para atacar a iguaria.
–Como consegue comer a comida desse fim de mundo? –Ela perguntou horrorizada.
A menina abriu a lata de refrigerante e quase acabou com tudo em um gole.
–Como consegue tomar essas coisas cheias de corantes e conservantes? –Ele rebateu
com outra pergunta.
–Como consegue ser tão chato?
–Eu lhe pergunto o mesmo.
Os dois caíram na gargalhada.
–Tália, –Fin estava falando sério agora. –Espero que saiba que seu treinamento não está
concluído. Você só ganhou a tatuagem...
–Porque você vai voltar para a Irlanda e blá bláblá, não sabe que dia vai voltar e mais
blá bláblá. Você poderia abrir o jogo e simplesmente falar que eu já sou uma mestra.
–Você não é, ainda tem técnicas que você ainda nem sonha em dominar.
Tália parou de prestar atenção na conversa quando a porte de entrada fora arrombada.
Duas granadas de fumaça foram arremessadas para dentro do bar, e logo explodiram,
causando uma nuvem. Três homens entraram pela porta. Os três vestiam uniformes
pretos e no rosto vestiam mascaras de gás.
Fin e Tália sabiam quem eram, era o Clã Fectore. Os dois se apressaram e cobriram a
boca e o nariz com a gola do casaco. Tália e seu tutor saíram correndo para a saída, mas
algo os impediu, um homem veio contra eles.
O sujeito tentou atacar Tália com sua pequena adaga, mas a menina pegou o pulso do
assassino antes dele acerta-la. Tália torceu o braço do homem contra suas costas e não
se conteve para quebra-lo.
O sujeito do outro lado da mascara podia ser um assassino frio, mas Tália também não
era umaZé ninguém. Treinada desde pequena em diferentes artes márcias, e ainda com
seu pai rico, Tália tinha a melhor defesa pessoal que o dinheiro podia comprar.
Quando Tália conseguiu sair daquela espelunca, ela não viu Fin. Olhou para trás,
nenhum sinal dele. A menina ouviu um cantar de pneu no final do beco, uma van levava
algumas pessoas amordaçadas, e uma delas era Fin. Dois homens mascarados fecharam
as portas.
Tália viu seu tutor desaparecer quando o veiculo virou a esquina.
22- PLANO ASTRAL
Sentada no sofá, Tati tentava meditar. A menina estava com as penas cruzadas e os
punhos fechados. Gotas de suor começaram a brotar em sua testa.
–Parece que não está conseguindo. –Levi comentou quando se sentou ao lado dela no
sofá.
–E eu não estou. –Ela respondeu, com tom tristonho.
–Posso tentar? –Levi disse, o menino cruzou as penas igual ela e colocou as mãos por
cima dos joelhos.
–Tentar você pode, só não sei se vai conseguir.–Ela respondeu.
Levi ignorou o desafio da menina. O jovem feiticeiro fechou os olhos e se pôs a tentar.
Nada.
Ele insistiu mais alguns minutos, mas mesmo assim, nada. Tati também não tivera
êxito.
–Conseguiu? –Ela murmurou para ele.
–Não.
–Acho que isso vai nós ajudar. –Tati disse isso quando pegou nas mãos de Levi. O
menino a principio se negou, mas logo depois deu as mãos para a menina. –Sinto uma
grande quantidade de energia espiritual vinda de sua alma.
–É tão grande que até um dia atrás eu não sabia nada de espíritos.–Levi ironizou.
Dispensando a conversa, Tati e Levi se concentraram.
Os dois ficaram quase dez minutos de mãos dadas, tentando entrar no plano astral, mas
assim como as outras tentativas, não tiveram resultado positivo. Quando Levi abriu os
olhos, se surpreendeu, todos os moveis da sala estavam flutuando.
–É você? –Tati perguntou.
–Eu acho. –Levi respondeu com a voz tremula.
O menino sentiu uma leve pontada na cabeça, os moveis caíram no chão e voltaram aos
seus lugares.
–Você está bem?–A guardiã-espiritual perguntou.
–Sim, é só uma dorzinha de cabeça.
Levi se levantou para ir lavar o rosto no banheiro, mas Tati puxou sua camisa.
–Espera, –Ela disse com tom de quem estava bolando algum plano. – acho que você
pode ir ao plano astral.
–Como? –Levi perguntou .–Você conseguiu?
–Não, mas eu tenho isso. –Ela mostrou a mão direita para o menino.
Levi se surpreendeu ao ver uma tatuagem, parecia à letra “S”, mas tinha alguns
detalhesa mais. O feiticeiro analisou a tatuagem de ponta a ponta, e em seguida
perguntou.
–O que é isso?
–Estranhamente, é a prova que essa carcaça foi feita para mim, com os mínimos
detalhes. –Tati explicou. –Nós, guardiões-espirituais, temos essa runa na mão, ele serve
para purificar espíritos, mas também serve para expulsar espíritos e almas de corpos.
–Você não planeja...–Levi não conseguiu completar a frase.
Tati pulou na direção do garoto. Ela colocou a palma aberta no peito de Levi, o menino
caiu deitado no sofá, pelo menos seu corpo.

Levi viu seu corpo jogado no sofá, tudo esteva cinza. Tati encarava e cutucava o corpo.
Um cordão que saia de seu umbigo o ligava com seu corpo. Levi não queria acreditar
que estava no plano astral, era tudo cinza. O menino se sentiu flutuar, e logo entrou no
seu corpo novamente.
Ele abriu os olhos.
–Então, como foi? –Ela perguntou com um sorriso no rosto.
–Traumático –Levi respondeu.
–É normal se sentir assim, é sua primeira viagem astral, quando eu conseguir me
desprender dessa carcaça, eu vou poder guia-lo.
–Eu só tenho uma pergunta.–Levi começou a falar. –Porque tudo cinza?
–Tudo que é material é cinza. –Tati explicou. –Coisas que são matérias, como paredes e
os outros moveis, são vistas como cinzas, mas a natureza é colorida no astral.
Levi viu os olhos de Tati brilharem novamente, a menina desmaiou por um curto
período de tempo.
–Outra visão?
–Quase, acabei de ver um espirito sombrio.
A menina se levantou e saiu correndo na direção da porta. Levi pensou em avisar Ian,
mas o que podia acontecer de ruim?
Ele foi atrás dela.

Tati o levou ao prédio um pouco mais afastado, ficava no final de Argema, na divisa do
bairro com Lírio. Edifício Becker, Levi se lembrou que ali era lar de muitas famílias, até
pegar fogo e nunca ser restaurado.
Apesar de não poder ver, Tati sentiu a presença de muitos espíritos sombrios naquele
lugar, afinal, ali fora um crematório coletivo, muitas pessoas morreram agonizando, e
seus sentimentos de dor, foram se transformando em espíritos das trevas. Levi encarou a
expressão da menina, ela parecia seria de mais.
–Alguma coisa? –Ele perguntou.
–Muitas. –Ela respondeu, e logo em seguida franziu as sobrancelhas. –Posso sentir a
presença de vários espíritos sombrios, mas também de muitas almas. O que aconteceu
com esse prédio?
–Incêndio. –Levi respondeu.–Lembro que assisti no noticiário local que fora proposital,
alguém ateou fogo em um apartamento e trancou as saídas.
–Nossa, parece que temos um trabalho difícil para hoje anoite.–Ela comentou
–Porque não voltamos para casa e chamamos Ian e Nina? –Levi sugeriu.
–Não posso. Nós guardiões-astrais somos incumbidos de tentar purificar todos os
espíritos sombrios. Não podemos deixar o trabalho para mais tarde, mesmo que isso
custe nossa vida.
–Poético, mas mesmo assim minha resposta ainda é não. Você seria louca de entrar ai.
–Pode ser não para você, mas para mim é sim.
Tati começou a andar na direção do prédio, Levi tentou impedi-la com palavras, mas
nenhuma funcionou. A menina não estava prestando atenção em nada do que o menino
dizia. Ela queria apenas saber por que ainda havia tantas almas ali dentro.
Era obvio que devido ao incêndio, os espíritos sombrios dali ficaram mais fortes, e com
isso poderiam ter desenvolvido pensamento racional, já não eram bestas que pensavam
em apenas afetar os humanos através do plano astral, eram seres pensantes!
O motivo das almas logo brotou na cabeça da menina. Almas atraiam espíritos de luz, e
além disso sentinelas-espirituais também, aquilo tudo era um banquete perfeito para os
espíritos das trevas.
Tati viu um brilho se aproximar, quando chegou mais perto, reparou que era um ser de
asas de borboleta, de cor azul turquesa. O pequeno ser pousou no ombro da menina, foi
quando Levi percebeu que não se tratava de um inseto, e sim de algo diferente, aquilo
tinha corpo de mulher, uma mulher muito pequena, mas ainda sim uma mulher.
O espirito de luz sussurrou no ouvido da garota, algo que Levi tentou entender, mas
parecia ser em outro dialeto. Tati virou a cabeça e olhou para a pequena mulher, a
guardiã-espiritual assentiu com a cabeça. O pequeno brilho saiu voando
–O que era aquilo – Levi perguntou com tom de espanto
–Um espirito de luz. –ela explicou. –Ou como vocês humanos chamam os espíritos que
tem esse formato, uma fada.
–Você está me dizendo que fadas existem?!
–Ainda estou espantada, você não deveria estranhar nada, afinal, não sou eu que solto
fogo verde pelas mãos.–Ela respondeu ironizando.
–E o que ela falou?
–Ela disse que não era para mim entrar aqui, pois é muito perigoso.
Os dois pararam de conversar no mesmo instante que entraram no prédio. Tati fez sinal
para Levi ficar calado, ele obedeceu. Eles caminharam pelas ruinas do edifico Becker
como duas crianças exploravam uma pequena floresta, sempre com o maior cuidado
para não fazer barulho.
O silencio que Tati e Levi tentavam manter, fora repentinamente quebrado por um grito
estridente.
Era uma alma agonizando.
Tati tentou manter a calma, mas para a infelicidade de Levi, ela não conseguiu. A
menina começou a correr na direção da voz. Levi tentou conte-la agarrando no seu
braço, mas ela empurrou o menino para trás. O jovem feiticeiro caiu no chão, e a
sentinela-astral continuou a correr.
O corredor estava chagando no fim. Tati chegou ao um enorme pátio. Apesar de estar
no plano físico, ela conseguiu ver um amontoado de almas sofrendo, ela não conseguiu
contar quantas, mas passavam de vinte. Aquelas almas eram chamadas de Agonias pelos
guardiões-espirituais, elas eram pessoas muito apegadas aos bens matérias, ou pessoas
que morreram de forma brutal, então suas almas não conseguiam ascender a planos
superiores, e eram condenadas a ficaram no astral, vagando e agonizando a espera de
um espirito de luz, ou um guardião espiritual para purifica-las.
A menina se aproximou das Agonias, mas para a surpresa da garota, algo caiu do teto,
ficou entre ela e o monte de almas.
–Uma guardiã-espiritual, quanto tempo eu não via um por essas bandas. –A coisa que
caiu em sua frente murmurou.
–Saia da minha frente, espirito! –Ela esbravejou. –Preciso purificar essas almas!
–Realmente seria uma pena se isso não viesse a acontecer.–Ele retrucou.
–Eu posso te ajudar também. –Ela falou com tom suave e persuasivo. Tati deu alguns
passos para se aproximar da criatura. –Você só está confuso, deixe eu te purificar.
–Não! –A criatura esbravejou.
O espirito sombrio revelou sua identidade. Ele abriu suas enormes vistas vermelhas.
Sua estrutura era estranha, parecia um polvo gigante. Os tentáculos purpura que não
parava de se mexer, avançaram contra Tati.
A menina conseguiu desviar para o lado, mas caiu de mal jeito no chão.
–Meu nome é Cidra!–Ele gritou com sua voz aguda. –E você ira ser um ótimo jantar!
23- CIDRA
Dois tentáculos foram na direção da guardiã-espiritual. Tati fora apanhada, Cidra ficou
alguns segundos analisando a garota. Ela não era uma guardiã-espiritual normal, ela
tinha um corpo físico, uma carcaça.
–Você é peculiar. –Ele comentou.–Você é diferente dos outros que eu já devorei, você
tem uma carcaça terrena.
Tati tentava responder, mas não conseguia, um tentáculo a segurava pela garganta. Ela
estava quase apagando. Nesse momento, Levi chegou. O jovem feiticeiro jogou duas
bolas de fogo esmeralda contra os membros que seguravam Tati. Os tentáculos
afrouxaram, ele largou a sentinela-astral.
Por um breve minuto, Levi Pensou em como havia acertado aquele espirito, já que a
um dia atrás, na luta contra o lobo, suas chamas haviam atravessado. A resposta fora
uma sugestão, ele presumiu que,como aquele espirito era visivelmente mais forte, ele
acabaria por se materializar mais no plano físico, por isso não era intangível como o
lobo.
Parando de pensar em uma explicação, Levi voltou o foco no que estava acontecendo.
Tati estava em plena queda, e o espirito estava atordoado. Era sua hora de agir. Por um
breve reflexo, Levi levantou a mão, a garota parou de cair. Tati flutuou como uma
pluma ao chão, e alcançou o solo em segurança.
–Tudo bem com você?
–Sim, –Ela respondeu. –precisamos de uma estratégia.
–Que falta o Ian me faz. –Levi comentou. –E agora?
–Eu não sei.–Ela admitiu. –Nunca enfrentei um espirito com essas proporções. Não que
eu me lembre.
Levi iria dizer algo, mas Cidra interrompeu eles. O polvo enorme de cor purpura jogou
mais dois tentáculos na direção deles, Tati empurrou Levi para a direita e ela se evadiu
pela esquerda. Mas surpreendendo os dois, um tentáculo menor saiu das sombras, ele
agarrou Levi pela perna e suspendeu o garoto de cabeça para baixo.
O espirito sombrio jogou Levi para cima, e logo apanhou o garoto no ar. O monstro
continuou com os movimentos, e começou o malabarismo com o menino. O jovem
feiticeiro gritou algumas vezes, e quase vomitou de enjoo. Cidra jogou Levi para cima e
abriu sua enorme boca rodeada de dentes, Levi torceu para que atravessasse aquilo.
–Pare! –Tati exclamou.
Cidra fechou a boca e pegou o menino no ar com outro tentáculo.
–Por que eu deveria? –O espirito respondeu.–A alma dele é tão enérgica, vai ser um
verdadeiro banquete.
–Deixe ele no chão, e você pode me levar. –Ela pediu.
O espirito a encarou, e em seguida falou:
–Não. –Ele negou. –Prefiro ficar com ele mesmo.
A guardiã-espiritual cerrou o olhar. Tati tentou mandar uma mensagem telepática para
a fada que estava mais perto, mesmo não recebendo resposta, ela prosseguiu. A menina
saiu correndo na direçãode Cidra. O espirito sombrio tentou a para-la jogando
tentáculos em sua direção, mas Tati se evadiu de todos os membros, com cambalhotas e
saltos bem executados, a menina conseguiu chegar perto do monstro.
Mas para a infelicidade da garota, todo seu esforço tinha sido em vão. Cidra consegui a
agarra-la e a suspendeu no ar.
Um enorme brilho tomou conta do local.
Quando Tati e Levi abriram os olhos, eles viram duas fadas entrarem no local. Mais
seis apareceram. Os pequenos seres luminosos flutuaram até Cidra, o espirito sombrio
tentou as espanta-las balançando seus tentáculos, mas de nada funcionou.
Cidra havia começado a ser atordoado pela bondade e o brilho dos espíritos de luz. O
tentáculo que segurava a menina afrouxou, isso podia ser um belo sinal para a liberdade,
mas ela se lembrou que estava a três metros do chão. Tati se viu novamente em plena
queda livre.
Antes de atingir o chão, algo pegou a menina no ar. Ela caiu nas costas de algo, quando
olhou para baixo viu o lobo, o mesmo lobo que havia purificado há um dia. O animal
caiu no chão graciosamente, e deu um rosnado na direção de Cidra, que agora estava a
gemer loucamente devida a pseudo-purificação.
–Vá ajudar Levi, –Ela falou para o lobo. –Eu purifico ele.
O lupino pulou entre tentáculos e fora ajudar Levi. Tati se aproximou em passos lentos
de Cidra. A menina encostou a mão direita na enorme boca do espirito-sombrio. A runa
em formato de “S” brilhou, assim como os olhos de ambos. A purificação havia
começado.
Quando Cidra fora purificado, todos seus tentáculos viraram graciosas garças douradas,
enquanto o corpo virou uma espécie de elefante branco. Tati agradeceu as fadas que a
ajudaram. Mas logo pediu ajuda para elas novamente
A menina caminhou até o amontoado de almas, as fadas formaram um circulo envolta.
Tati encostou a sua runa em uma alam, todas começaram a brilhar. Elas ficaram
douradas por um curto período de tempo, logo em seguida, elas apenas se dissolveram
em poeira amarela.
–Agora elas se livraram desse sofrimento. –Tati comentou com tom emocionado. –
Agora podem ir em paz para planos superiores.
–Planos superiores? –Levi questionou a garota, quando chegou montado nas costas do
lobo.–O que é isso?
–Por favor, não me pergunte, é tão complexo que eu não sei explicar. –Ela disse. –
Digamos que elas vão para um lugar melhor.
Tati e Levi não fizeram muita cerimonia para sair do edifício Becker, deixar aquele
antro de sentimentos negativos fora bem para os dois.
Enquanto andavam na rua, Levi sugeriu que passassem por um beco, um atalho que ele
costumava pegar quando passava por ali. Os faróis de van quase os cegou, o veiculo
parou na frente deles.
–Levi. –Tati murmurou. –Eu não sinto bons sentimentos vindo disso.
–Espirito sombrio?
–Não, são humanos.
Quando Tati respondeu, a porta do compartimento traseiro se abriu. De lá saíram dois
homens, eles vestiam roupa preta com detalhes cinza, e ambos possuíam mascaras de
gás. Um dos homens carregava uma boleadeira, ele a girava sem parar. O sujeito jogou
o artefato contra o tórax de Tati, a menina caiu no chão sem poder mexer os braços.
Levi tentou reagir mas algo o pegou pelas costas.
Era uma mulher, o volume dos seios fez o menino deduzir isso. Ela imobilizou os
braços do menino e em seguida colocou um pano na boca dele. Levi amoleceu e fora
lentamente perdendo os sentidos, mas não chegou a desmaiar.
Eles colocaram os dois no veiculo, Levi pode reparar com sua visão turva que não
estavam sozinhos, o compartimento estava lotado, e dentre as pessoas amordaçadas,
Levi reconheceu um homem, Quill, o metamorfo que se transformava em rato.

Eles foram conduzidos por algum lugar que Levi não conseguiu deduzir onde era. Ele
sentiu o veiculo inclinar, sinal que estavam indo para algum lugar subterrâneo. O
veiculo subitamente parou, e as portas se abriram. Todos que estavam ali foram
conduzidos até uma enorme porta de aço. Dois sujeitos, que também trajavam mascaras
de gás, os empurraram para dentro.
Lá dentro Levi e Tati viram mais de uma dezena de pessoas, todas no mesmo estado
que ele, amordaçadas ou dopadas. Cristais vermelhos que emanavam luz própria
iluminavam a pequena cela.
O jovem feiticeiro caiu no chão, e a menina fora o amparar. Apesar de ouvir os sons
abafados, Levi conseguiu ouvir o que o homem falou logo quando iria fechar a porta.
–Aproveitem seus últimos dias, seres imundos de magia. – A voz saia chiada devido a
mascara de gás. –Pois não irá demorar muito para o seu extermínio.
A porta se fechou com um baque.

Ian acordou apavorado quando não viu o irmão em casa. Tentou procura-lo em todos os
cantos, mas nem sinal dele e de Tati. Nina ajudava o caçador, mas eles acabaram não
encontrando ninguém.
–Acho que eles não estão aqui. –A Umbramancer falou.
–Você acha? –Ele respondeu com tom alterado. –Eles não estão aqui.
–Se acalme Ian.–Ela se aproximou do menino.
–Me acalmar como?–Ian coçou a cabeça Meu irmão desapareceu e um bando de
malucos estão soltos pela cidade, é bem capaz dele ter sido raptado.
–Afaste esses pensamentos ruins. –Ela disse. –Pense que ele está bem, além de não ser
nada bom, isso gera espíritos sombrios.
–Tem razão. –Ele amenizou o tom de voz. –Preciso manter a calma, principalmente de
uma situação como esta .
–Que tal irmos tomar um picolé na Praça Verde?–Ela sugeriu. –lá você poderá pensar
com mais calma.
Os dois saíram de casa com passos lentos, à medida que andava, Ian apenas pensava
onde Levi poderia estar, talvez junto com seus pais. Mas como Nina havia pedido, ele
resolveu dar um tempo para aquilo tudo.
Quando chegaram a Praça Verde Ian comprou os dois picolés do sorveteiro que
passava. Nina agora já não estranhava a iguaria. A menina abriu a embalagem e logo
colocou na boca. Eles se sentaram em um banco. Ficaram sem trocar uma palavra por
alguns segundos, apenas ficaram observando o céu azulanil.
–Obrigada. –Ian subitamente agradeceu a menina.
–Pelo o que? –Ela perguntou.
–Tudo, você vem sendo uma ótima amiga para mim. Se você não me acalmasse, nem
saberia o que iria fazer, sempre fui calma, mas se algo acontecesse com Levi, acabaria
fazendo uma besteira.–Ian explicou o motivo de ter agradecido a ela.
–É para isso que servem os amigos, não é? –Ela perguntou quando virou o rosto para
ele.
Por um minuto, eles ficaram se encarando, um olhando no olho do outro. Ian agarrou as
mãos dela, as bochechas da Umbramancer se coraram. Nina virou o rosto, o cabelo
castanho caiu sobre sua vista. O coração de ambos começou a bater mais forte.
Os rostos foram se aproximando.
–Espero não estar interrompendo nada. –Falou uma voz feminina, que Ian reconhecera
no mesmo instante. –Caçador.
O menino desistiu de beijar Nina e virou o rosto. Não precisou olhar para saber que era.
Só pela voz já reconhecera, era Tália!
24- PYROMANCER
Tália, a melhor amiga de Ian, estava ali, o encarando e o chamando de caçador.
Como ela sabe? –Ian se perguntou por um breve minuto.
–Tália. a..–Ele gaguejou.
–Ia Ian...–Ela gaguejou de volta, ironizando a fala do garoto. –I aí, saudades?
Ian se levantou do banco e abraçou a amiga, Nina virou o rosto.
–Por onde andava? –ele perguntou.
–Eu que te perguntou Ian. –ela retrucou.–Ian não, digo, caçador.
–Como você sabe?–ele se espantou, afinal, já era a segunda vez que ela se dirigia a ele
como caçador.
–Eu estava mexendo em alguns papeis de Fin, acabei achando o endereço da sua casa,
no papel estava escrito Caçadores. – Ela explicou. –Quando pretendia me contar sobre
isso?
Ian abaixou a cabeça e falou com tom tristonho:
–Não iria demorar muito, só estava juntando coragem.
–Não se sinta triste, as vezes temos que esconder as coisas, mesmo sendo para os
melhores amigos. –Tália levantou o rosto do menino com a ponta do dedo indicador. –
Olhe aqui, eu não estou chateada. Eu também estava juntando coragem para te contar
algo.
Tália tomou distancia de Ian, a menina recuou dois passos, os cabelos cacheados se
balançavam com a leve brisa, assim como sua jaqueta, que estava amarrada na cintura.
A menina levantou a mão direita, e em seguida estalou os dedos. Uma chispa de fogo
apareceu na palma dela.
Ian quase caiu para trás quando viu aquilo. Poderia esperar qualquer coisa de sua
melhor amiga, menos aquilo.
–Você é... –Ele não conseguiu terminar a fala.
–Uma Pyromancer. –Ela esclareceu.–Vai falar que nunca desconfiou? Todas as tardes
que eu treinava eu te expulsava de casa, sem falar daquela metáfora da mentira e do
fogo, era muito obvio
–Desfaça isso. –Nina interviu.–Não pode usar isso em publico.
–Ela tem razão. –O caçador concordou. –Os Fectore estão por ai.
–É sobre isso mesmo que vim falar com você.–Tália fez uma pausa para pegar ar e
desfazer a pequena chama.– Fin foi raptado.
–Fin, o seu tutor? –Ian perguntou. –Então ele também era um Pyromancer?
–Mas é claro. –Ela falou erguendo uma das sobrancelhas. –Todo Mancer precisa de um
mestre.
–Que tal irmos para um lugar mais reservado. –Nina sugeriu. –Aqui é muito publico,
eles podem nos achar a qualquer momento.
Ian levou a Pyromancer para sua casa. Lá eles se sentaram no sofá, e por longos dois
minutos ficaram se encarando. Ian ainda lidava com o fato de sua amiga ser uma
Pyromancer, uma pessoa que consegue manipular e produzir chamas.
Tália ficou analisando o local de ponta a ponta, nem sinal de Patrícia, Fernando ou
Levi.
–Então é assim que é a casa de um caçador? –Ela perguntou. –pensei que teriam armas
penduradas por todos os cantos.
–Sou um caçador, não um terrorista. –Ian fez uma piadinha para descontrair.
–Onde está Levi e seus pais? –Tália perguntou outra vez.
–Provavelmente onde Fin está. –O menino respondeu.
–Falando nisso. –Nina focou os companheiros. –Precisamos bolar um plano de acabar
com os Fectore.
–Acabar com os Fectore? –Tália repetiu com uma risada despojada. –Vocês, acabarem
com os Fectore? Nunca que isso irá acontecer. Eles são assassinos frios e treinados,
vocês são um menino que tem algumas armas, e uma menina emo.
–Mesmo não sabendo o que é uma menina emo, eu sei que não sou isso.
–Então o que é? Gótica?–Tália provocou a garota.
–Porque não vem descobrir? –Nina soltou a pergunta sem querer, não aguentava mais o
descaso da menina.
Tália se levantou e encarou Nina, A Umbramancer que já estava em pé não se
intimidou. Ian, que só assistia, resolveu intervir. Caso não fizesse isso, acabaria tendo
sua casa destruída e uma das suas amigas mortas. Ele se levantou e se colocou no meio
delas.
–Que tal acalmarmos os ânimos? –Ele falou, um sorriso forçado tomou conta do rosto.
A Pyromancer se sentou novamente, e Nina resolver ir para a cozinha.
–Então. –Tália puxou assunto. –Como pretendem acabar com os Fectore?
–Eu não sei, tenho um plano mas ele é muito cru.–Ian falou coçando o queixo.– Só três
pessoas não dá. Preciso de reforços. Vou ligar para Darlon, vou ver se ele e Beth me
ajudam.
Ian andou até o telefone e ligou para seu tutor. Ninguém atendeu. Ele tentou de novo,
mas dessa vez no celular. Caixa postal.
–Alguma coisa?–A melhor amiga perguntou.
–Não.
–Já que a montanha não atende Maomé, Maomé vai até a montanha. –Tália ironizou.

Ian, Tália e Nina foram até a casa de Darlon. O que fora algo muito difícil, já que a
recém descoberta rivalidade entra as duas dificultou tudo. Ian não entendeu por que
tanto descaso de uma com a outra, já que elas poderiam ser ótimas amigas. Ele chutou
que era ciúmes, mas Tália não era assim. Talvez fosse algo delas duas, personalidades
totalmente opostas quando colidiam, não podia sair um resultado mais esperado como
aquele. A cada descaso de uma com a outra, Ian intervia, mas não podendo ficar no lado
de nenhuma, por um breve momento se lembrou da sua mãe, e de quando brigava com
Levi, era exatamente a mesma situação, não podia ficar do lado de ninguém, mas
mesmo assim tinha que parar a briga.
Quando chegaram a casa de do tutor de Ian, viram o portam encostado, resolveram
entrar.
Estava uma bagunça. Roupas jogadas para todos os lados, a mesa da cozinha estava
quebrada no meio, e o chão estava sujo de sangue.
–O que aconteceu aqui? –Nina perguntou.
–Provavelmente os Fectore já passaram por aqui antes da gente. –Ian lamentou.
–A bruxinha não pode fazer uma magica para podermos ver o que aconteceu?
Nina ignorou o descaso da menina, respirou fundo e em seguida respondeu:
–Não, não posso. E para falar a verdade, não sou uma bruxa.
–Meninas, será que podem agir como pessoas da idade de vocês? –Ian falou. –Meu
tutor foi levado por um bando de malucos, e vocês estão ai discutindo como duas
crianças de dez anos.
–Bem vindo ao clube das pessoas que tiverem os tutores sequestrados.–Tália brincou.

O trio esperou anoitecer, e o lugar para onde iam já estava planejado, Estrela da Noite,
provavelmente alguém ali iria saber onde os Fectore se escondiam, e Ian torcia para esse
alguém ser Solange.
Quando entraram no bar, Tália a principio não estranhou, as coisas que via já era mais
do que esperado para um ambiente como aquele. Não querendo perder tempo, Ian fora
falar com Solange, mas quando chegou ao balcão não encontrou a vampira.
Quem estava ali era uma mulher, rosto redondo e longos cabelos loiros com mechas
escuras.Ela tinha uma feição de quem não dormia durante muito tempo. O batom da
boca era borrado e escuro.
–Quem é você? –Ian perguntou.
–Me chamo Simone. –Ela respondeu, com sua voz baixa. –Não acho que esse seja um
lugar para crianças.
–Onde está Solange?
A mulher se debruçou e falou bem baixo, tão baixo que os três tiveram que se inclinar
para ouvir.
–Eu não posso ficar espalhando isso por ai, mas dizem que aqueles malucos de mascara
de gás a levaram.
Ian não precisava ouvir mais nada, já tinha uma confirmação de que eram os Fectore.
Tália iria perguntar o que iriam fazer, mas algo interrompeu a menina. O enorme
segurança que guardava a porta fora arremessado e caiu em cima de um sujeito que
bebia uma garrava de uísque. Todos se viraram para olhar.
Duas granadas pousaram no meio do local. Quando elas explodiram, liberaram um gás
cinzento, o cheiro não era nada agradável, principalmente para os vampiros. A maioria
das pessoas ali caíram no chão quando inalaram a substancia.
Era uma bomba de alho.
Seis sujeito entraram pela porta, eles viram que os únicos que sobraram em pé eram três
adolescentes. Eles pegaram suas armas e avançaram, Ian, Tália e Nina fizeram o
mesmo.
Por um acesso de raiva, Ian atirou no peito de dois, ele se lembrou do que haviam feito
não só com Levi, mas com Elizabeth, Darlon e Solange. Nina criou dois tentáculos de
Umbra e os jogou contra dois sujeito, eles desviaram com um precisaram incrível, e
continuaram avançando contra a menina. Tália resolveu fazer algo.
A Pyromancer criou duas labaredas nas mãos e deu um soco flamejante contra um
homem, que tentou escapar, mas ela o surpreendeu com uma rasteira. A menina pisou
no estomago do homem sem pena alguma. Quando viu o erro de Nina, ela jogou contra
os homens que atacariam a garota duas bolas de fogo, que pegaram em cheio e jogaram
os homens para longe, contra a parede.
Mas não se dando conta que em sua direção vinha mas um sujeito de mascara, Tália
quase fora atingida, mas Nina a salvou no ultimo instante. A Umbramancer criou um
tentáculo escuro e agarrou o pé do sujeito e o jogou longe.
–Precisamos sair daqui. –Ian falou. –Eles provavelmente devem ter pedido reforço.

25- CIDADE INSEGURA


-Na noite anterior-

Já era de noite quando o carro de Darlon estava parado na frente do hospital municipal
de Costa da Areia. A noite estava fria, assim como o dia, alguns pingos de garoa que
caiam do céu, deixavam sua marca no vidro do carro.
–Ele está demorando. –Ele murmurou.
A porta se abriu, Darlon teve um susto momentâneo, mas quando olhou para o lado viu
sua esposa, Elizabeth.
–Se assustou?–Ela perguntou
–Não.–Ele negou para não perder a compostura.
A mulher levantou o cetro que tirou de dentro da bolsa. Ela brandiu o instrumento em
cima da careca de Darlon e em seguida falou:
–Lihem.
A ponta do artefato começou a acender e apagar, assim como uma lâmpada que estava
para queimar. Um sorriso brotou nos lábios da mulher.
–Sabe o que isso significa não é?–ela perguntou
–Esse seu cetro deve estar quebrado. –Ele resmungou
–Não está não. –Ela disse risonha. –É mas fácil admitir que sentiu medo.
–Que tal me falar do seu dia?–Ele mudou de assunto.
O casal demorou exatos quarenta minutos para se deslocar de Orghas até Argema, o
bairro onde moravam. A rua estava vazia, nenhuma pessoa ali, mas isso já era de se
esperar, afinal, já eram quase duas da madrugada. Eles saíram do carro e entraram em
casa. Elizabeth fora para o quarto se trocar, e Darlon ficou na sala. Ele esticou o
pescoço e falou para sua esposa:
–Topa um filminho? –Darlon sugeriu.
–Não, –Ela negou com seu tom sereno de ser. –Estou morta, além do plantãotive que
ficar cuidando de uma senhora que estava doente, e nenhum familiar dela havia ido
visitar.
–Ficaram fazendo crochê a tarde inteira?
–Quem me dera. –Elizabeth reclamou. –Ela tinha Alzheimer e a cada dez minutos ela
esquecia quem eu era.
Darlon se sentou no sofá, buscou o controle remoto da televisão, mas não viu.
–Beth, entraram aqui em casa.
–O que? –Ela não entendeu. –Como assim entraram aqui?
–O controle não está aonde eu deixei.
–Vai ver você deixou em outro lugar antes de sair de casa.
–Não, eu não deixei em outro lugar.
–Eu vou ter que ir ai e achar mesmo?
A maga saiu do quarto e fora até onde Darlon estava. Ela pegou o cetro e recitou um
encantamento, uma fita feita de luz saiu da ponta o objeto e guiou os dois até onde
estava o controle, atrás do aparelho de som.
–Está aqui.–Ela entregou para ele.
–Isso ainda não conclui minha suspeita que invadiram nossa casa.
–Vai dormir Darlon. –Ela respondeu, já não aguentava mais a paranoia do marido.
A porta do banheiro se abriu, do corredor saíram dos homens com mascaras de gás.
Pela porta de entrada surgiu uma mulher, também vestia preto e usava a icônica mascara
de gás dos Fectore.
Os desconhecidos começaram a se aproximar lentamente
–Lhav! –Elizabeth gritou.
Os Fectore foram arremessados longe pela magia da mulher, um que não tivera sorte
voou por cima do balcão e acabou caindo em cima, e quebrando, a mesa da cozinha.
Darlon tentou fazer algo, mas a mulher da que estava na porta sacou uma arma de
choque e disparou contra o caçador. Os finos fios condutores acertaram a cabeça do
caçador, que caiu desmaiado por causa da descarga elétrica.
Depois que viu seu marido cair, Elizabeth tentou reagir, mas um dos sujeitos atacou
uma faca afiada em sua mão. O punhal cortou o cômodo e se perfurou a mão da maga.
Ela deixou o cetro cair. A mulher da porta se aproximou e sacou um bastão elétrico. Ela
encostou o bastonete nas costas de Elizabeth. Depois de um grito a maga desmaiou.

Solange estava atrás do balcão do Estrela da Noite, assim como todos os dias. Ela
esfregava um copo. Tito, chegou e encostou no balcão.
–Solange, sempre tão sozinha. –Ela falou com tom bajulador. –Sempre tão focada em
ficar aqui atrás desse balcão.
–O que quer? –Ela apenas virou os olhos para olhar para ele.
–Calma. Não sou tão interesseiro assim. Só queria saber se depois do serviço você está
livre.
–Estou, mas você sabe que eu estou namorando Quill.–Ela arranjou uma desculpa para
não sair com ele.
–Mas eu não falei nada sobre namorar, mas já que tocou nesse assunto, porque não
dispensa esse rato de laboratório?
–Talvez pelo incrível fato de que estar com um rato de laboratório, é mais interessante
do que ficar com você.
Solange dispensou a conversa com Tito e virou de costas. O metamorfo não se deu por
vencido e mesmo assim continuou apoiado no balcão, apenas esperando a hora dela sair
dali.
Tito teve ficar esperando duas horas, quando relógio bateu as quatro da madrugada,
Solange finalmente fora embora e Tito a seguiu.
Ela ficou na frente do Estrela da Noite, esperando Quill por alguns instantes.
–Sabe que ele não vai aparecer. –Disse Tito.
–Acho que isso não é da sua conta.
Ela o xingou com um palavrão em baixo tom, e em seguida saiu andando. Ela andava
rápido, apensa não usou suas habilidades vampíricas pois estava muito cansada, ela
entrou em um beco para despista-lo. Mesmo andando o mas rápido que pode, Tito
conseguiu alcança-la.
–Você não cansa de ser maltratado?–ela perguntou
–Não. –Tito respondeu. –E você, não cansa de ser linda?
Tito colocou a mão no rosto dela, mas ela tirou com um reflexo rápido.
–Serio que quer me conquistar com essa cantada dessas?–Ela soltou uma risada com
pena. –você só fica mais patético a cada dia que passa.
Tito havia respondido algo, mas Solange não prestou atenção. Um sujeito com vestes
pretas e mascaras de gás parou na frente do beco. O sangue de ambos gelaram. Solange
olhou para trás para fugir, mas se surpreendeu quando viu outro sujeito igual.
–O que vocês querem?! –Ela gritou.
A voz da mulher ecoou belo beco. Os homens que não responderam nada, começaram a
se aproximarlentamente.
–Eu sou uma vampira, e posso explodir a cabeça de vocês como balão de festa.–Ela
ameaçou.
–Então porque não tenta. –Uma voz que veio de cima falou.
O sujeito que estava na frente jogou um punhal contra a face de Solange, mas a
vampira conseguiu desviar no ultimo segundo. Dois sujeitos mascarados caíram na
frente deles. Solange tentou reagir, mas o forte cheiro de alho que exalou da roupa dos
sujeitosfez ela cair de joelhos. Tito não deve reação alguma, apenas começou a tremer.
O sujeito que estava em sua frente o nocauteou sem problemas.
Mesmo zonza, Solange ainda enxergava, embaçado, mas ainda sim enxergava. Ela e
Tito foram levados para uma van, eles foram colocados no compartimento traseiros.
As portas do veiculo se fechou com um baque.
A visão da vampira se apagou.
26- IDEIA NÃO MUITO GENIAL
Ian, Tália e Nina corriam ferozmente do sedan preto de os seguia. Já era a terceira
esquina que viraram e ainda não haviam conseguido despista-lo. Nina tropeçou a quase
caiu, mas Tália conseguiu levanta-la a tempo.
–Cuidado bruxinha. –Tália disse.
Pela primeira vez Ian viu Tália e Nina não se atacando verbalmente, tudo bem que eles
estavam sendo perseguidos por um clã de assassinos, mas mesmo assim aquilo era um
alivio para o caçador.
–Então. –Nina falou entre respirações ofegantes. –Para onde vamos?
–Assim que despista-los, vamos para casa.–Ian respondeu
Quando terminara de falar isso, Ian as puxou para um beco. Era uma viela, assim como
outra inúmeras de Costa da Areia. O caçador ficou alguns segundos pensando no que
iriam fazer. Não poderiam ficar ali, parados atrás de uma lixeira, seria muito obvio.
O motor do carro parou. Pode se escutar o baque das portas sendo abertas.
–Rápido Nina, crie uma escada.
–Tudo bem.
A Umbramancer levantou os braços e em seguida os girou, puxou os pulsos para perto
do corpo e uma escada feita de sombras surgiu. Era uma escadaria em espiral, levava até
o topo do prédio que ficava no lado do beco.
Os três subiram como três desesperados, e era o que realmente eram, quase se
atropelaram no caminho, mas no final conseguiram. Lá no telhado do pequeno edifício,
eles se incluíram pra frente para poder ver o que ocorria no beco.
Dois homens e três mulheres foram atrás deles, mas quando chegaram lá não
encontraram ninguém. Ian poderia rir, mas naquelas condições não conseguia. Além do
cansaço físico, tinha a preocupação de o que havia acontecido com seu irmão, e com
seus tutores, com o tutor de Tália e com mais pessoas que haviam desaparecido.
–Que tal irmos para meu apartamento? –Tália subitamente sugeriu.
–Por quê?–Ian perguntou
–Provavelmente não é de agora que eles veem seguindo vocês, eles já sabiam onde seus
tutores moravam, é muito provável que eles já saibam onde você moram.
–Você tem razão. –Ian concordou a com a amiga.–Então, rumo ao seu apartamento.
Os três começaram a caminhar pelas telhas do telhado do prédio, Tália observava o seu
prédio, que mesmo sendo consideravelmente distante, era o maior da cidade.

Levi abriu os olhos lentamente. Sua cabeça latejava, e sua visão era embaçada, os
ouvidos tampados e a dificuldade de respirar era extrema. O feiticeiro olhou ao seu
redor, Tati estava dormindo, e ele ainda se viu em uma cela com varias pessoas
desconhecidas, o espaço ali era algo que não existia, estavam todos apertados e
espremidos, passavam de cinquenta pessoas em uma pequenas cela de pouco mais de
dez metros de largura. Ainda não sabia se era dia ou noite, o local era totalmente
fechado, provavelmente iriam morrer de falta de ar antes do extermínio final.
O menino tentou se levantar, mas suas pernas ainda tremulavam, resolveu ainda
continuar sentado.
–Garoto. –falou uma voz que não era estranha para Levi.
Ele se virou, e encontrou quem menos esperava, Solange. A jaqueta de couro estava
rasgada e os cabelos despenteados, o olhar parecia de uma criança anêmica, nem parecia
ser a mesma vampira linda do Estrela da Noite.
–Você? –Levi perguntou.–Por que está aqui?
–Talvez pelo mesmo motivo que você, nenhum.
Levi continuaria a puxar assunto com a vampira, mas alguém o pegou pelo ombro. Ele
não conseguiu ver quem era, só soube que a mesma pessoa o abraçou. Mas na hora
reconheceu o perfume doce.
–Beth? –Seu tom perguntando parecia de uma criança de seis anos de idade.
–Fico tão feliz que está bem. –Elao abraçou mais forte.
–Não tão bem assim. –Ele brincou.
–Ele está Ian? –Darlon, que estava no lado de sua esposa, perguntou.
–Parece que ele deu a sorte grande, eu não estava com ele quando eles me pegaram.–
Levi explicou.
–A onde você estava?–A maga perguntou
–Ajudando uma guardiã-espiritual a purificar um espirito.
–Esse negocio de espirito é tão chato. –Solange comentou, se intrometendo na
conversa. –Meu padrasto era um shaman, era tanta baboseira.
–Nem me fale. –Levi admitiu.
Elizabeth caiu subitamente no chão, ela tentou estancar um sangramento na mão
direita, mas não conseguiu. Levi tentou manter o máximo de calma, ele pegou a mão da
tutora e levantou a sua, abriu a palma esperando criar uma pequena chama prata, nada
aconteceu.
Ele estalou os dedos mais algumas vezes, nada.
–Eu não estou conseguindo fazer feitiços.
–Mas é claro que não. Está vendo aquilo. –Darlon disse apontando para uma das pedras
vermelhas de emitiam luz própria e iluminavam o local. –Aquilo é Rubi-Kublic,
bloqueia qualquer manifestação metafisica. Ou seja, nenhum vampiro, lycan, canibal,
metamorfo, ou até mesmo magos ou feiticeiros, tem poderes aqui.
–Por que não quebram isso?–O jovem perguntou.
–Porque se fizéssemos isso seria pior, o gás e a radiação que isso liberam depois de
quebrados, causa perda permanente de poderes a quem inala.–Darlon continuou a
explicar: –E ainda por cima é muito rígido, humanos comuns levariam semanas para
quebrar uma pedra.
–Quer dizer que estamos trancados aqui?
–A não ser que aconteça um milagre, sim, estamos.–Darlon lamentou.
A porta de ferro se abriu, e uma luz amarelada entrou no local. Mais pessoas foram
arremessadas lá dentro. Levi recuou dois paços, devido o reboliço que aconteceu. A
porta de ferro se fechou com uma batida alta.

Pela primeira vez na semana Ian não acordou com as costas doendo, o sofá do
apartamento de Tália era muito confortável. Não somente o sofá era confortável e caro,
mas tudo naquele lugar era assim. Tália era rica, seu pai era um grande empresário
conhecido pela mídia como o “Gênio Louco”. Os negócios deles variavam desde
fazendas no interior do pais, até concessionarias de carros luxuosos, Humberto Aguiar,
sempre apostava em um negocio novo, e o incrível era que ele sempre ganhava.
Mas Tália era totalmente diferente de seu pai, e Ian sabia disso melhor que qualquer
pessoa no mundo. Ela não ligava para os negócios da família, apenas gostava de lutar, e
desfrutar os seus videogames nos finais de semana.
Quando finalmente resolveu se levantar do sofá, ele tentou ao máximo não fazer barulho
nenhum, Nina estava no sofá do lado, dormindo tão profunda mente que mesmo se Ian
tocasse um sino ela não iria acordar. Ele cruzou a enorme sala do local, e se dirigiu para
a cozinha.
Segundos antes de começar a fuçar nos armários par procurar comida, Ian se perguntou
se aquele apartamento, que era a cobertura do prédio, não seria quase do mesmo
tamanho de sua casa, essa pergunta se perdeu em sua mente quando ele não achou nada
de comida, apenas sacos de café em pó.
–Um pouco deselegante de sua parte mexer nas coisas dos outros. –Tália, que acabara
de aparecer ali, disse.
Ian poderia arrumar uma desculpa como “Eu só estava procurando o que comer” ou “É
que eu estava procurando o banheiro”, mas resolveu ficar quieto, apenas sorriu para a
amiga, respondendo a brincadeira.
–Você já teve melhor senso de humor.–Ela comentou.
–Desculpe. –Ian disse tão baixo que Tália quase não escutou. –Não estou muito bem
desde Levi foi raptado.
–É verdade, você sempre foi um pouco serio, mas agora chega até estar sem graça. –A
Pyromancer reclamou.
–Não entendo porque não está assim também, Fin também foi sequestrado.
–Eles fizeram o que eu estou tentando fazer faz anos, dar um fim naquela praga.–Tália
brincou, mas quando viu a expressão do amigo de horror, falou: –É brincadeira.
–Não deveria brincar com coisas tão sérias.
–Nossa, o que aconteceu com você? –Ela se aproximou dele e deu um leve tapa em seu
ombro. –Nem parece o Ian que eu conheço.
–Porque eu não sou o Ian que você conheceu! –Ele elevou o tom de voz. –Eu mudei, eu
sou um caçador e meu irmão foi sequestrado por um bando de lunáticos!
–Já que está com tanta saudades dele, porque não se deixa ser levado também. Acho
que lá você vai encontrar com ele.–Ela debochou.
Em meio o acesso de raiva, Ian parou. Ele analisou a fala da amiga e simplesmente uma
ideia brotou em sua cabeça.
–Tália! –Ele exclamou. –Você é uma gênia.
–Fale algo que eu não sei.
–Você está certa, temos que nós deixar ser sequestrados, ai depois acabamos com eles,
de dentro para fora.
27- INFILTRADOS
–Você está louco?!–Tália perguntou gritando.–Você que ser levado por maníacos que
vestem mascaras de gás.
–Pense Tália. Você nunca assistiu um filme de espionagem ou de golpe de estado? –Ian
colocou as mãos no ombro da amiga. –O cara entra na organização e depois vai
estragando ela, dentro para fora.
–O que aconteceu com você? –Ela falou. –Pedi meu amigo Ian de volta e Deus me deu
uma criança de cinco anos viciada em espionagem.
–Estou falando serio.–Ian defendeu sua ideia.
–Eu também. –Ela retrucou.–Como pretende fazer para se infiltrar lá? Não vai me dizer
que você vai roubar e depois vestir as roupas deles.
–Não. –Ian negou. –Vou me deixar ser pego. Veja Tália, aqui de fora não sabemos
nada, nem onde se escondem, mas lá dentro...
–Iremos continuar sem saber nada. –A Pyromancer não o deixou terminar a frase. –Ian,
você acha que eles fazem o que com os prisioneiros? Dão chazinho o mostram para eles
as instalações? Não é assim que funciona.
–Você fala como se já tivesse ido para lá.
–Não que eu tenha ido para lá, mas... –Tália parou a frase e já começou outra. –Só me
responda uma coisa, mesmo eu tentando te convencer, você não vai desistir não é?
–Você me conhece tão bem, mas é claro que não que não irei desistir.
–Fala digna de principal de filme. –Ela ironizou.
–agora me responda uma coisa você, porque tanto pó de café?–Ian finalmente
perguntou o que queria saber a minutos.
–Fin é viciado nisso. –Ela explicou. –Pode-se parecer estranho, mas é o vicio dele,
tenho que respeitar.–Ela trocou de assunto. –AS dispensas estão vazias, esqueci de ir ar
mercado ontem, que tal irmos tomar café da manhã em uma lanchonete que tem aqui
perto?
–Eu topo.
–Então acorda a bruxinha. E não se preocupa ,é por minha conta.

Levi ainda estava fraco, apesar de que já havia se passado um dia, certamente, o que
aquela mulher havia dado para ele cheirar, não era apenas um calmante. Tati já estava
acordada, e ela estava tão assustada como todos ali, a guardiã-espiritual estava abraçado
com o braço do menino, tremendo de medo.
–Você está bem?–Tati perguntou quando reparou na vista cansada do garoto.
–Não muito.–Ele respondeu.
–O que sente. –Ela murmurou.
–Além de muita dor de cabeça e no corpo, sinto ânsia e enjoo.
–Deve estar gravido.–Falou uma terceira voz.
A voz vinha de trás, quando Tati e Levi se viraram para olhar, viram que era um garoto,
mais ou menos da idade de Ian, cabelos loiros caiam sobre a cara e seus olhos azuis
refletiam as luzes vermelhas das Rubi-Kublic’s do local. Ele era um pouco alto, mesmo
tamanho do irmão do feiticeiro, o corpo era perceptivelmente definido, aquele era
Daniel.
Levi não o conhecia como amigo, ou ao menos colega, ele apenas estudava no mesmo
colégio que ele, era popular entre as pessoas. Daniel já fora a estrela do time de futebol
da escola, mas agora estava parado, o que não fez seu nome para de circular nos
corredores.
–Daniel? –Levi perguntou.–O que faz aqui?
–Eu poderia te fazer a mesma pergunta, Venator. –Ele respondeu.–Mas não quero saber
dos seus segredos, e também não quero que saiba dos meus.
–O que quer?–Tati interveio.
–O mesmo que vocês.–Ele fez uma pausa para pegar ar, o que era algo realmente difícil
ali. – Sair daqui.
–Como?–O feiticeiro ficou curioso, afinal, o lugar era totalmente fechado e não tinha
como escapar dali.
Antes de Daniel responder, Tati interveio. A menino ficou por alguns segundos
analisando as características do menino, seus cabelos loiros não lhe eram estranhos, ela
já havia visto aquilo antes. Mas se espantou ao lembrar de onde, sua visão, aquele
menino era o menino de cabelos dourados, ele estava morto com as mãos esticadas ao
lado de outra menina.
–É ele. –Tati avançou a pegou no ombro do garoto.
–Ei. –Ele reclamou. –Controle sua namorada, Levi.
Daniel tirou as mãos da garota de seus ombros.
–Ele quem? –Levi perguntou.
–Ele também estava na minha visão.–Ela explicou
–Visão. –Daniel não compreendeu. –Vocês são mais estranho do que eu pensava.
O menino se afastou deles, Levi iria atrás para saber mais da fuga, mas não conseguiu
se mexer direito, ainda estava muito fraco.

Já era de noite quando Ian, Nina e Tália haviam deixado a cobertura da menina.
Haviam deixado tudo lá, celulares, armas e qualquer outra coisa, estavam apenas com a
roupa do corpo.
O trio rumou para a escola Moacyr Marco, onde Ian e Tália estudavam, e lá ficaram por
um bom tempo sentados, esperando algum carro preto para os leva-los, mas ninguém
apareceu. Eles decidiram que não iriam ficar mais ali.
–Como fazemos para eles aparecerem? –Tália perguntou, já estava cansada de andar e
esperar.
–Paciência. –Nina respondeu.
–Espere. –Ian teve uma ideia. –Eles certamente devem ter algo que nós rastreie, talvez
um satélite ou sei lá o que.
–Certamente sim, –Tália concordou com o amigo. –Mas não acho que eles tenham um
satélite, isso é pensar alto demais, no máximo devem ter câmeras espalhadas pela
cidade.
–Poderia criar uma labareda? –Ian pediu a amiga. –Algo que chame muita atenção.
Mastente ser discreta.
–Meio contraditório o que você disse, mas vou tentar.
Tália girou os braços fazendo um enorme circulo no ar, ela rapidamente juntou as mãos
o mais perto possível do corpo e em seguida levantou os braços com as palmas abertas.
Uma labareda surgiu nos punhos da garota. Uma enorme bola de fogo fora lançada ao
ser estrelado da cidade.
Agora era só uma questão de tempo, pensou Ian.
E o que o garoto havia pensado, havia se tornado realidade. Dois veículos vieram ao
encontro deles, um era um sedan preto e o outro uma Van. Eles tentaram resistir com
encenações mal feitas, mas os Fectore não desconfiaram de nada e os levaram.
28- SURPRESA
O veiculo que estavam dentro cruzou ruas e avenidas, mesmo não podendo ver, Ian
pode sentir. As pessoas que estavam ao seu lado não importavam, eram prisioneiros
assim como ele. De rosto pode reconhecer alguns, que havia visto nos registros, muitos
ali era lycans, ou canibals, Ian palpitou que eles haviam passado em alguma cede dos
Garras antes de prender a ele, Tália e Nina.
Com o passar dos minutos Ian pode perceber a falta dos barulhos de pneus e buzinas,
sinal que já não estavam mais na cidade. Pode-se sentir um declínio no caminho,
provavelmente o abrigo deles era subterrâneo. Um baque súbito fez as portas do
compartimentotraseiro do veiculo se abrirem.
A luz amarelado traspassou os olhos só não do caçador, mas te todos que estavam
algemados e amordaçados. Um homem, que trajavam mascara de gás falou com sua voz
chiada:
–Por aqui. –Ele apontou para um corredor estreito. –E para o bem de vocês, não tentem
nenhuma gracinha.
Todos começaram a caminhar para o aonde o sujeito havia mandado, mas
surpreendendo Ian, o homem mascarado o pegou pelo braço.
–Você não.
–O que? –Ian não entendeu. –Deixe me ir.
–Acha que caímos no seu plano? –O homem puxou com mais força, sua luva fria fez
Ian se acalmar. –Não irá para o mesmo lugar dos outros.
O mascarado levou Ian para um corredor a esquerda, o caçador viu Tália e Nina se
perderem quando foram jogadas em uma cela. Mas ao contrario dela, ele fora levado
para um lugar diferente.
Era uma pequenas sala no final do corredor, as paredes eram de tijolos cinzentos e o
chão era de mármore frio, duas correntes de ferro maciço estavam a espera do menino.
O Fectore jogou Ian no chão e logo em seguida prendeu seus pulsos com as correntes. O
assassino saiu da sala, deixando o caçador sozinho.
Deu tudo errado.–Ian pensou.
Antes de começar a pensar em outra estratégia de como iria sair dali, alguém abriu a
porta. Era um homem alto, os cabelos ralos denunciavam sua calvície, e diferentemente
dos outros do clã, ele não usava uma mascara de gás.
–Olá. –O sujeito disse, apesar da sua expressão rígida, as palavras saiam serenas de sua
boca.
–O que quer? –Ian perguntou. –Por que estou nessa sela diferente?
–Porque você é especial. –O homem juntou as mãos e começou a balança-las. – Nós
observamos não só você, mas essa cidade inteira por meses. Sabemos que você é, muito
antes de você se tornar um caçador medíocre.
–O que você quer dizer com isso?
–Ian, quer trabalhar com a gente? Quer fazer parte do clã?
O caçador iria xinga-lo porem parou no momento que ouviu aquela proposta. Aquilo
era completamente estranho, e incoerente com a situação. Primeiro eles sequestram Ian,
e depois o oferece uma vaga no clã de assassinos?
–Não. –Ian negou.
–É uma verdadeira pena. –Mesmo ele estando desapontado, sua expressão não decaiu.–
Uma lastima que você irá gastar essa suas habilidades tão incríveis para ser um caçador,
um mercenário de baixo custo. –Ele se levantou e se dirigiu até a porta. –Caso mude de
ideia, peça para falar com o líder do clã.
O homem saiu porta afora, e não deu um olhar de despedida para o garoto. A porta de
ferro se fechou com um estrondo. Ian pode ouvi passos no corredor, ele foram ficando
mais fracos a cada segundo.

Não muito longe de onde o caçador estava, pode-se ouviu um barulho. Metal sendo
arrastado para o lado. A luz exterior tomou conta da cela, todos cobriram os olhos.
Vários outros prisioneiros foram arremessados lá dentro, incluindo Nina e Tália. A
Umbramancer caiu em cima de quem menos esperava, Tati.
–Nina. –Levi, que estava do lado da garota, perguntou.
–Você está bem. –Tati a abraçou.
–Não muito. –Nina admitiu.
–Ninguém aqui está bem. –Tália falou. – Precisamos falar com Ian.
–Ian? –Levi perguntou. –Ele está aqui?
–Está, ele que deu a ideia para que eles nos raptassem, mas nosso plano falhou, eles
separam Ian do resto e o levaram para outro lugar.
–Deixaram ser raptados? –Levi encarou Tália com uma expressão incrédula.
–É uma longa historia.–Ela disse, sorrindo.
A Pyromancer tentou pensar em algo, mas não conseguia. Tália nunca fora tão esperta
como Ian, não que ele fosse burra, mas como seu amigo ela não era. Tinha pensamento
rápido para lutas e videogames, mas naquela situação, de nada podia fazer. A menina
esticou o pescoço para olhar as pessoas ao seu redor.
Ouviu uma voz já conhecida.
Ela correu em disparada a origem do som, não se importando com quem, ou o que,
estava na sua frente. Passou por um homem mal encarado, pela aparecia parecia um
lycan, mas nem ligava para ele, jogou o sujeito para o lado com um empurrão e achou a
pessoa que procurava.
Fin, seu tutor. Ele estava aparentemente bem, com alguns ferimentos no braço, mas
nada que não pudesse lidar. Ela correu até o homem e o abraçou.
–Você está bem.
–Nossa; –Ele disse, sem reação. –Você me abraçando? Tem certeza que está bem?
–Seu idiota. –ela deu um leve murro em no peito do tutor.
Aquela cena não era de se estranhar, pelo menos não para as pessoas que não
conheciam Tália. Ela sempre fora rígida e durona, e não era de ter momentos fraternais
com muitas pessoas, mas com Fin era diferente, ele era como um pai para ela. Desde os
treze anos, Tália fora deixada pelo seu pai, não abandonada, mas ela mesma quis se
isolar em uma cidade pequena, para não ter que ficar viajando junto com ele. E Fin, que
fora mestre do pai da Tália antes dele abdicar de seus poderes, ela a melhor pessoa para
cuidar dela.
Levi, Tati e Nina seguiram Tália.
O feiticeiro esperou o reencontro da menina com seu tutor e depois perguntou:
–Qual era o plano de Ian?
–Eu não sei. –Ela respondeu. –Ela disse que pensaria em um plano quando estivesse
aqui dentro.
–Precisamos falar com ele. –Nina disse.
–Mas como? –Tati interveio. –Tudo aqui está fechado, não tem uma abertura em lugar
nenhum, sem falar que nossas habilidades estão bloqueadas por causa daqueles rubis.
–E se talvez começássemos uma revolução, um briga envolvendo tudo e todos.–Fin,
que estava calado finalmente abriu a boca.
–Não dá. –Levi explicou.–O que eles mais querem é que gente se mate, seria um favor
ara eles se a gente começar a se espancar.
–Então o que iremos fazer?
–Talvez sentar, e esperar um milagre. –Tati admitiu com tom triste.

Um dia se passou, e ninguém fizera nada além de pensar em uma maneira de como
iriam sair dali, mas não importasse quantos planos pensassem, nenhum iria funcionar.
Um homem entrou na cela de Ian, sua aparência era igual a de qualquer pessoa daquele
clã, roupas escuras com detalhes cinza, e uma mascara de gás que produzia chiados. Ele
ficou encarando o menino por alguns segundo antes de começar a falar.
–Diga para seu chefe que eu não estou interessado na oferte dele. –Ian se adiantou e já
respondeu o homem antes da pergunta, que já era mais do que esperada.
Mas ignorando a resposta do menino, o sujeito perguntou algo completamente
diferente:
–O que sabe sobre as Aberrações?–Sua voz grossa combinada com o chiado da mascara
fazia ele parecer que tinha uma batata quente na boca.
–Aberrações?–Ian repetiu. –O que são?
–São se faça de idiota. O homem se aproximou dele. –Seus pais roubaram nossos
arquivos, conte aonde eles esconderam.
–Meus pais estão mortos, a não ser que você consiga falar com fantasmas, você não irá
saber de nada.
–Para de brincadeiras.
O sujeito levantou a perna direta e jogou seu pé contra a cara de Ian, o chute fez o
caçador virar o pescoço e seguida disse ele pode ouvir seus olhos estalando. Um
pequeno corte em sua boca se abriu.
Ian resmungou um palavrão em baixo tom, e o homem apenas continuou, como se nada
tivesse acontecido.
–Fale logo onde está os arquivos que eles roubaram, não quero te machucar.
–Já está me machucando.
O Fectore se agachou e pegou Ian pelos cabelos. O menino encarou os olhos do homem
através das lentes transparente da mascaras de gás. O assassino já estava cansado, não
demoraria muito para acabar matando Ian espancado. Ian virou os olhos em sinal de
descaso.
O homem bufou, fumaças cinzas saíram dos filtros da mascara. Os olhos do sujeito se
viraram subitamente, sua mão afrouxou e Ian se viu livre.
O assassino caiu no chão, com os olhos virados, a aparecia parecia mais pálida, ele
parecia estar morto. Foi quando o menino percebeu que nas costas do sujeito estava
fincada uma faca, uma adaga bem pontuda, parecia algum item de colecionador, já que
o cabo era todo detalhado.
O homem estava realmente morto!
29- LUCCA

Ian levou as mãos à boca, incrédulo. Na frente do caçador tinha outra pessoa, a pessoa
que havia feito aquilo. Era um Fectore também, a mascara de gás comprovava essa
certeza, porem, pela estrutura física Ian via que não era um homem, e sim um garoto.
De vista, Ian viu que ele aparentava ter a mesma idade que seu irmão, sua estrutura
física mesmo por debaixo de todas aquelas roupas, era magra. Espalhadas pelas roupas
Ian conseguiu ver diversas facas e dardos, posicionados em pontos estratégicos, prontos
para o menino pega-los e lança-los, ele também tinha duas espadas-gancho presas a
cintura, daquelas que Ian havia visto no livro de historia na parte que falava sobre a
China antiga.
O garoto tirou a mascara de gás. Seu rosto era um pouco redondo, mas afinava no
queixo, a pele era morena escura, o nariz era um pouco largo e os olhos eram cinzentos.
O cabelo, mesmo coberto com o capuz, dava para ver que era raspado. Ele jogou um
molho de chaves para o caçador.
–Meu nome é Lucca, e eu irei ajuda-los a sair daqui.–ele falou com a sua voz de
adolescente que ainda oscilava entre aguda o grave.
–Você é louco?! –Ian perguntou quase gritando.–Você matou um sujeito do seu clã.
–Eu não pertenço a esse lugar, não mais. –Ele virou o rosto, parecia estar deprimido. –
Eles são um bando de malucos, lunáticos que pensam que iram melhorar o mundo.
Ian trocou olhares para o menino, mão sabia como o agradecer pelo o que estava
fazendo, não só por ele, mas sim por todos que estavam presos, Lucca fora um
verdadeiro milagre. O caçador pegou as chaves que o menino jogou, e abriu suas
correntes. Pode sentir o conforte de ter seus pulsos livres novamente, ele os girou para
testa-los.
–Hoje a noite será extermínio. –Falou o menino quando se agachou. –Vai ser nessa
hora que iremos tirar seus amigos de lá.
Lucca começou a despir o morto, Ian ficou encarando a situação por alguns segundos,
mas já entendeu o que iriam fazer.
O caçador teve que vestir as roupas ensanguentadas do sujeito morto, o que fora algo
um pouco desagradável, mas essencial para o plano deles. Lucca tirou um enorme saco
de dormir da pequena bolsa que estava em suas costas. O assassino e In colocaram o
corpo do defunto na enorme sacola e em seguida Lucca fechou o zíper.
–Coloque essa mascara e vamos logo.
No momento que Ian colocou a mascara, um sujeito apareceu na porta.
–O que está acontecendo aqui?–Ele perguntou com sua voz rígida.
–Capitão Huey, o prisioneiro resistiu a uma sessão de interrogação e quase conseguiu
matar o meu amigo John, mas felizmente eu conseguiu chegar atempo e salvar sua vida.
–Lucca vez Ian virar para o seu superior ver o buraco da faca na roupa. Ele assentiu. –
Ele resistiu e infelizmente tivemos que mata-lo.
–Você o matou?! –O sujeito exclamou perguntando. –Sabe a importância que ele tinha?
–Importância alguma, ele não sabia de nada, não sabia onde os pais deles haviam
escondidos os documentos, nem sabia da existência das Aberrações.
–Entendo. –Ele disse desconfiado. –Desovem o corpo no cremador, nos vemos mais
tarde na cerimonia de extermínio.
–Tudo bem senhor.
O homem não fora embora, ficou alguns segundos os encarando, Ian tremia de medo,
caso o blefe de Luca fosse descoberto, não saberia o que iria acontecer com ele e com o
garoto. O superior se aproximou do assassino e deu dois tapas leves em seu ombro.
–Lucca, você sempre tão eficiente.–Ele virou o rosto para Ian. –Já você, trate de treinar
mais, você fora quase morto por um garoto que mal sabe manejar uma faca.
Ian poderia responder um “Sim senhor” mas preferiu ficar calado e abaixar a cabeça.

Ian e Lucca caminharam entre caminhos estreitos das instalações dos Fectore, depois de
algumas curvas e corredores escuros, eles começaram a sentir um calor. Cheiro de
coisas queimando entrou pela narina do menino, não só de queimado, mas de podridão
também. O fedor era tão forte que obrigou Ian a levantar a mascara de gás.
–É aqui.–Lucca anunciou.
Ele e o caçador jogaram o saco com o defunto dentro do crematório. Era uma estrutura
de pedra, quadrada com chamas ardentes que crepitavam sem parar. Depois de jogar o
corpo no crematório, eles viram nos calcanhares e voltaram para o corredor anterior.
Lucca chamou Ian para uma sala, era uma espécie de salada de armazém. Alguns
armários ficavam presos nas paredes, também tinha uma mesa central com um baralho
todo esparramado. Quando eles entraram, Lucca trancou o cômodo e guardou a chave
no bolso.
Sem se importar muito, Ian arrastou uma cadeira e se sentou:0
–Então, –Ele puxou assunto enquanto Lucca procurava algo nos armários. –é aqui que
vocês bolam planos para aniquilar as criaturas sobrenaturais?
–Não. –O Fectore disse sem desviar a atenção do armário. –Aqui é a sala de descanso.
A sala de reuniões fica no corredor três.
Ian deu um suspiro e depois perguntou:
–Por que está fazendo isso com seu próprio povo?
–Eles não são meu povo, eu não faço parte daqui, não mais. –Lucca esclareceu. –Aqui!
O jovem assassino tirou de um armário uma enorme mala, quando jogou em cima da
mesa central, Ian teve um leve sobressalto. O caçador abriu a mala sem perguntar o que
era, ou o que tinha dentro, e se surpreendeu ar ver duas armas ali dentro. Eram suas as
armas!
A sua escopeta de cano cerrado esua Beretta
–Eu dei uma passada em sua casa antes de vim te soltar. –Lucca falou. –Espero que não
se incomode.
–Eu deveria estar de agradecendo. –Ianrespondeu.–Mas acho que não tenho como dizer
isso em palavras, sabe, você está traindo seu próprio clã para ajudar desconhecido.
–Eles não são meu clã! –Lucca aumentou o tom de voz sem prestar atenção.–E você
pode estar me agradecendo depois que me ajudar a acabar com isso.
–Me respondeu uma coisa, por que tanta raiva assim?
–Motivos pessoais.–Lucca bateu a porta do armário.
Ian não perdeu tempo, ele guardou a pistola em um bolso interno do uniforme, e a
escopeta ele escondeu em uma pequena mochila que era acoplada nas costas. Com tudo
pronto, eles resolveram que já estava na hora de agir.
–Eu já pensei um plano. –Lucca disse para o caçador. –Quando o Extermínio começar,
eu irei atacar todos, depois disso vocês vão procurar saída B e C, que são as mais
desprotegidas. –ele entregou um mapa para Ian.–Eu irei plantar explosivos no lugar
inteiro, então não percam um minuto. Vocês terão exatos cinco minutos para fugir, sem
um minuto a mais e nenhum a menos. Só uma observação, é melhor se dividirem em
dois grupos.
–Então. –Ian disse analisando o mapa. –Vamos?
–Espere. –Lucca voltou para um dos armários.
O menino pegou algo que se parecia com uma luva preta, era metálica e no seu centro
tinha um pequeno circulo azul, que brilhava intensamente. Vendo aquilo, Ian se
imaginou estar em um filme de super-herói. Ele se aproximou do caçador e entregou o
artefato a Ian.
–O que é isso. –Ian disse vestindo a luva.
–Uma luva eletrificada, era um projeto de arma nova, mas não fora muito desenvolvida.
Eu resolvi continua-la, mas agora não tem mais serventia alguma, pode ficar com ela.
–Um presente?
–Diria que é um Suvenir.–Lucca pela primeira vez sorriu.

30- EXTERMINIO
Om dia havia chegado ao seu final, e Ian e Lucca sabiam disso, agora que a lua estava
no céu, era a hora de por o plano deles em execução. O caçador o assassino se separam,
Lucca fora plantar as bombas, enquanto Ian foi com o resto dos membros para assistir o
tão falado extermínio.
–Só quero ver a cara de agonia que eles irão fazer. –Disse um sujeito que estava do lado
do caçador.
–Eu também. –Ian respondeu sem jeito, afinal, eram seus amigos e possivelmente seus
pais que estariam ali.–eles vão gritar como galinhas agonizando.
–Galinhas? –O homem repetiu.
–Digo, porcos imundos, porque é isso que realmente são!
–Isso mesmo irmão. –ele bateu levemente no ombro de Ian. –Porcos imundos!
A fila inteira de pessoas gritou em coro “Porcos imundos, porcos imundos!” . Ian teve
que concordar com Lucca, eles eram sim um bando de malucos.
Parando de prestar atenção nos gritos, Ian reparou que passou por uma sala escura, com
uma mesa central, parecia ser algum tipo de sala de registros.
“Diga o que sabe sobre as Aberrações.”–A voz do sujeito ecoou na cabeça de Ian. –
Seus pais roubaram nossos registros.”
O caçador retrocedeu alguns passos e entrou na saleta.
Era escura, mas mesmo assim ele decidiu não acender as luzes para não chamar a
atenção dois demais. Dispensando perda de tempo, ele resolveu ser direto e procurar
sobre as tais Aberrações.
Ian abriu um gaveta que tinha uma etiqueta com “A” na frente. Fora passando os pastas
entre dedos como uma secretaria experiente. Ouviu alguém bater na porta.
Seu correção quase saiu pela boca, mas quando olhou viu que era Lucca.
–O que está fazendo? –Ele perguntou. –Deveria estar com os outros.
–Eu sei.–Ian fechou a gaveta. –só estava procurando sobre as Aberrações.
–Eu não sei muito bem sobre isso, mas falaram que os registros sobre elas foram
roubados. –Lucca explicou.–Mas talvez eu possa te explicar o que sei depois de tudo
isso.
–O que sabe?
–Muito pouco, esse assunto era da cúpula principal, eu era da liga.–A explicação de
Lucca não fizera sentido algum para o caçador. –Essas informações não chegavam até
mim, mas eu já ouvi alguns boatos.
–E que boatos eram esses?–A curiosidade de Ian era extrema.
–Já falei. –O assassino o calou com um chiado. –Depois falamos disso.
Lucca o puxou pelo pulso, e o levou até onde estava ocorrendo o extermínio.

A enorme porta de aço se abriu com um rangido ensurdecedor. Tália virou os olhos
para não se cegar devido a claridade repentina. Um homem entrou e com ele ele trazia
uma enorme corrente, cheia de algemas.
Ele apontou para alguns prisioneiros em uma ordem aparentemente aleatória,Tália
sentiu um aperto no peito quando viu que Fin era um dos escolhidos. A Pyromancer
pensou em reagir, mas poderia dificultar as coisas para Fin
–Não, pai. –Daniel, que estava no meio da multidão,exclamou
Levi, assim como Tália, se surpreendeu ao ver Daniel soltar uma lagrima, afinal, Daniel
não aprecia o tipo de pessoa que chorava. O homem saiu levando seus prisioneiros com
ele.
–Não tentem reagir. –Ele disse com sua voz chiada. –Essas correntes são banhadas em
Rubi-Kublic.
A porta não se fechou, ao invés disso, alguns assassinos apareceram ali, e falaram.
–Vocês por aqui.
Todos que estavam na cela se levantaram e começaram andar para onde o homem
apontava.
Levi estava tão fraco, seu corpo doida por inteiro, uma dor de cabeça quase o derrubava
no chão, sua visão turva estava quase fazendo isso. Sua expressão também não era
sadia, tinha olheiras enormes, parecia não dormir as meses.
–Você está bem? –Elizabeth perguntou.
–Não. –Ele respondeu, baixíssimo.
–Deixe eu ajudar. –Darlon interveio.
O caçador pegou Levi no colo e o jogou em suas costas.
–O que será que ele tem?–Tati perguntou para Elizabeth, preocupada.
–Bem, eu sou enfermeira e até hoje nunca vi nada igual.
Quando o curto dialogo das duas acabou, elas se viram em um local completamente
diferente. Era um lugar amplo, redondo, e presas nas parede haviam algumas pedras de
Rubi-Kublic. A guardiã-espiritual começou a ouvir passos,os Fectore que saíram de
uma portaforam se posicionando envolta da arena, fora quando ela percebeu que não
estava em uma sala quadrada, e sim em um enorme buraco no chão.
Os assassinos que iriam assistir o extermínio começaram a vibrar. Eles gritavam
ofensas e sacudiam os braços, pareciam uma torcida de time de futebol em um estádio.
A porta de ferro se fechou um baque, não havia para onde eles fugirem!
–Seres imundos. –Disse uma voz rouca. –Hoje vocês não somente sucumbirão, mas
irão deixar o mundo melhor, mais limpo.
Uma figura que se escondia nas sombras apareceu, era alto, magro, e os poucoscabelos
que tinha eram penteados pra trás, aquele era o líder dos Fectore.
–Tragam o veneno! –Ele gritou.
Dois homens vieram carregando uma enorme lata com algo prateado dentro, Ian, que
observava tudo no meio dos outros assassinos, não demorou muito para entender o que
era, era mercúrio.
Uma explosão fez metade da plateia voar longe, sangue, braços, pernas, pedaços de
corpo para todo lado. Ian por um minuto ficou sem entender nada, mas logo se lembrou,
Lucca.
A porta atrás dos reféns se abriu.
Dentro de todo aquele reboliço que estava, Ian pulou no grande buraco e começou a
procurar por seus conhecidos, tirou a mascara para não ser confundido. De repente pode
sentir um leve murro no seu ombro. Mesmo sem olhar para trás já sabia quem era.
–Onde você estava? –Tália perguntou.–Não me diga que seu plano de roubar as roupas
deles funcionou.
–Esse plano não foi meu, mas a parte das roupas funcionou.
–Ian. –Nina disse ao reconhece-lo
A Umbramancer o abraçou.
–Será que podemos ir logo? –Tália falou. –Tem um clã de assassinos atrás da gente.
Ian deixou as duas e saiu correndo em disparada para a frente do grupo, eles já estavam
muito avançados, mas driblando varias pessoas o caçador conseguiu chegar na frente de
todos. Ian parou e abriu os braços, impossibilitando todos de prosseguirem.
–Não nos diga que se bandeou para o lado deles. –Alguém que estava no meio do
monte de gente gritou.
–Não, estou tentando os instruir. –Ian berrou em resposta. –É o seguinte, eles sabem
que nos escapamos, e provavelmente estão pensando em algo para nos prende de novo.
Eu tenho um mapa e só irei conseguir guiar um grupo.– Ian jogou o mapa para seu tutor,
que conseguiu ver no meio da multidão. –Darlon os levará até a saída B, eu irei para a
saída C. Dividam-se em dois grupos, e nos vemos fora daqui!

31- FUGA
Antes de partir Ian havia dado ao tutor a escopeta de cano cerrado. Os dois grupos
foram divididos inconscientemente por todos, algumas pessoas seguiram Ian e algumas
pessoas resolveram seguir Darlon.. Ian não viu todas as pessoas que estavam os
seguindo, mas conseguiu ver Tália e Solange ao seu lado, Nina, por outro lado havia se
confundido e seguindo pelo lado de Darlon.
O grupo de Ian virou a direita em um corredor, atravessaram uma enorme sala com
vários sacos de pancada, naquele momento da fuga Ian agradecera o que sempre teve e
nunca usou, sua memoria fotográfica.
Pelo o que o mapa dizia, ali era a sala de treino. Estava toda apagada, mas
repentinamente as luzes se acenderam. Se viram cercados por assassinos. Eram vinte,
não, trinta. Fora isso que Ian conseguiu contar rapidamente.
O caçador olhou para seu grupo e pode ver todos mostrando suas armas, os lycans que
o acompanhavam se transformaram e mostraram suas enormes presas, os vampiros,
inclusive Solange, estavam prontos para avançarem, e os canibals estalavam os dedos.
Aquilo não era somente um combate, era um pequena guerra.
–Agora. –Gritou um assassino quando avançou.
Solange correu até o inimigo com sua incrível velocidade, ele tentou a cortar com uma
espada, mas ela conseguiu se evadir. A vampira o olhou friamente nos olhos, por
segundos ele ficou sem reação, ela pegou o braço dele e arrancou. O sangue que jorrou
fora a gota d’ água, todos avançaram.
Um assassino começou a correr da direção de Tália, ela não se intimidou. Ele tirou de
um dos inúmeros bolsos que possuía uma faca, a brandiu contra a cara da menina mas
ela apenas se inclinou para trás, afim de desvirar. Ele tentou enfiar a faca contra o peito
da Pyromancer, mas Tália fora mais rápida. Ela pegou o homem pelo pulso e o puxou
com toda sua força, a ação fora tão repentina que o assassino ficou sem reação. Ela
apenas levantou o joelho, dando um joelhada na barriga do homem. Ele caiu no chão
agonizando.
Uma mulher pulou em sua direção, mas ela fora jogada longe devido um soco de um
vampiro, que a atingiu ainda no ar.
Tália agradeceria quem a salvou, mas a pessoa não estava mais lá. A menina se pôs a
correr contra outro sujeito. Ela já estava perto do sujeito quando decidiu usar uma
técnica que havia prendido a algum temo. A técnica de propulsão consistia em apenas
soltar jatos de fogo pelo pé, para se impulsionar para cima. E fora isso que elas fez. No
ar, a menina chutou a cara do oponente, que caiu desfalecido no chão.
Quando voltou ao chão novamente, fora atingidapor um estilete que a penetrou o
ombro. Ela deu um gemido de dor
–Está ferida? –Ian perguntou. O caçador não fez muita mira para atirar no peito de dois
sujeitos.
–Não,–Ela respondeu com seu jeito durona de ser
Um sujeito começou a avançar contra Ian, o caçador tentou atirar nele, mais as balas
haviam acabado. Resolveu então usar o que Lucca havia dado para ele. Ian vestiu aquela
estranha luva, algo que ficou folgado em sua mão, mas não tendo tempo de ao menos
aprender de como se usava aquilo atacou o assassino que vinha em sua direção.
Tália tirou sua atenção do amigo e começou a disparar bolas de fogo a longa distancia.
O homem tentou um soco contra a cara de Ian, sem conseguir desviar, Ian fora atingido
e cairá no chão. O assassino se aproximou do rosto de Ian e o puxou pelos cabelos, ele
tirou uma pequena faca de um dos incontáveis bolsos da roupa.
Ele estava pronto para rasgar a garganta de Ian, mas o caçador conseguir reagir. Ian
encostou o núcleo azul da luva contra o braço do sujeito, e isso fora o suficiente para o
inimigo cair no chão com gritos de agonia. Ele não sabia quantos volts aquilo tinha de
potencia, mas era o suficiente para derrubar uma pessoa a deixar inconsciente em
segundos.
–Gostei do brinquedo novo. –Ela comentou.
O caçador poderia contar como conseguiu a luva, ou como ela funcionava, mas preferiu
prosseguir com a fuga
–Vamos. –Ian gritou em meio à cachina.
Ele e Tália saíram correndo em disparada á porta, depois dali era apenas virar o
corredor e já estavam na saída B.

Darlon e Elizabeth guiavam o segundo grupo até a saída C. E até agora não haviam
enfrentado nada, conseguiram escapar das instalações dos Fectore sem problemas. A
saída C dava em uma floresta, as imensas arvores comprovavam essa suspeita.
Assassinos que trajavam mascaras de gás, saíram de trás de arbustos e os cercaram.
Darlon cerrou os olhos e verificou a quantidade de balas na arma, Elizabeth pegou seu
cetro e começou a girar o instrumento entre os dedos, Nina firmou os pés no chão e
criou vários tentáculos de Umbra a sua volta. O resto das pessoas também entraram em
posição de ataque.
–Ei menina. –Darlon falou para Tati. –Será que consegue cuidar de Levi por alguns
instantes?
–Cl...Claro.–Ela gaguejou.
O caçador deixou o menino no chão e Tati se sentou, ela começou a avaliar a situação
do garoto, ele estava muito ruim. Todos os sintomas apontavam uma coisa. Levi abriu
os olhos, Tati o recebeu com um sorriso, mesmo estando cercados por assassinos. O
menino levantou o pescoço e olhou para o lado, vomitou uma poça de um liquido verde.
–Agora!–Um assassino gritou.
Todos começaram a avançar. Elizabeth contou quantos viam em sua direção,
totalizavam cinco, a maga apenas girou o cetro entre os dedos e em seguida apontou
para eles e recitou um encanto:
–Stopara!
Um pequeno feixe e luz saiu da ponta do artefato, ele atingiu os sujeitos e eles
começaram a ficar mais lentos, até ficarem parados. A magia havia funcionado. Darlon
apenas esticou o braço e atirou no peito de um.
Nina abaixou seus braços rapidamente e os levantou em seguida. Os tentáculos de
sombra em sua volta começaram a se mexer e avançaram contra os inimigos. A
Umbramancer fez seus membros de sombra pegarem dois homens pelos pés e
começaram a bater em seus inimigos com os sujeitos. A cena poderia ser cômica, caso
eles ainda não estivessem cercados de assassinos.
Uma mulher mascarada conseguiu desviar dos tentáculos de Nina. Com uma acrobacia
ela pulou por cima de um, e com uma cambalhota ela se evadiu de dois. A Fectore tirou
um pequeno estilete do bolso e avançou contraa Umbramancer. Nina por um instante
pensou o que iria fazer, já que era horrível em combate corpo a corpo, interrompendo o
pensamento da menina, a mulher atacou.
A Fectore aplicou uma rasteira em Nina e ela não teve como escapar, sua atenção ainda
estava nos tentáculos de sombra. A Umbramancer caiu de costas no chão e a mulher
enfiou a faca no ante braço da menina, assim, a prendendo no chão.
Nina soltou um grito de dor. A mulher aproximou sua cara da de Nina e a encarou
friamente com seus olhos pálidos, mas quando ela menos esperava, Nina contra atacou.
A menina mexeu o braço direito e com isso conseguiu fazer que um dos tentáculos
agarrassem a mulher. Nina a jogou longe, sem dó nem piedade.
Levi abriu os olhos novamente, mesmo com sua visão turva conseguiu ver todos a sua
volta lutando bravamente, não só seus conhecidos, mas pessoas que Levi sem se quer
sabia que existiam.
Mas alguém no meio do embate chamou a atenção do menino. Era alguém que Levi
sequer conhecia as habilidade, era Daniel. O menino golpeava os oponentes com golpes
rápidos e leves, murros rápidos que pareciam não surtir efeito algum, mas quando
Daniel parou com os movimentos, todos os oponentes a sua volta caíram,
convulsionando loucamente.
Uma súbita explosão fez as portas das instalações dos Fectore voar longe. Tudo ali
havia explodido.

32- O FIM
Ian tentou escapar, mas acabou sendo pego por um assassino. O homem prensou Ian
contra a parede e começou a esmurra-lo freneticamente. Tália bem que queria tentar
ajudar o amigo, mas ainda tinha que lidar com seus próprios oponentes.
Eles já haviam saído das instalações, estavam em um floresta. E pela contagem de Ian,
faltava apenas um minuto para tudo aquilo explodir. O grupo do menino havia saído por
uma escotilha, e não demoraria muito para a escotilha voar pelos ares.
A mulher que tentava bater em Tália era alta, e fora só isso que a menina conseguiu
lembrar no meio do embate. A assassino tentou um chute contra a cara da Pyromancer,
que apenas se inclinou para trás e esperou a hora certa de revidar. Tália tentou um soco
contra a barriga da mulher, mas ela pegou a menina pelo pulso a jogou de costas no
chão.
Tália tentou reagir, tentava escapar com todas suas forças, mas não conseguiu. A
mulher prensou Tália contra o chão sentando-se em cima de sua barriga. Ela retirou uma
adaga do uniforme e tentou enfia-la contra a cara da menina. A garota conseguiu prever
o movimento e tirou o rosto do lugar, a faca ficou fincada no chão.
–Eu odeio fazer isso. –Tália comentou, com um sorrisinho no rosto.
A Fectore ficou sem entender a queixa da menina .A Pyromancer abriu a boca e em
seguida cuspiu uma enorme labareda contra a cara da mulher. Tália odiava aquela
técnica por dois motivos, o primeiro era que ela gastava muita energia, e o segundo era
seu nome, O Sopro do Dragão.
A mulher caiu para trás com o susto que levou, por sorte seu rosto não fora machucado
graças a mascara de gás. Tália se levantou rapidamente e tratou logo de nocauteá-la.
Ian já estava farto de apanhar, o caçador tentava reagir, mas a luva que já havia o
salvado um vez parecia não estar funcionando agora. Ele encostada o núcleo azul contra
o braço do sujeito mas nada acontecia. Já havia perdido a conta de quantos socos havia
levado.
Vendo a situação do menino, Tália resolveu ajudar. A menina abriu a mão e criou uma
bola de fogo, uma Pyromancia bem simples, mas que já era bastante para aquela
ocasião. Ela jogou o projetil incandescente contra o assassino e já fora o suficiente para
ele cair de lado, desesperado tentando apagar as chamas. Tália ajudou fora até o amigo
eIan a se levantar.
–Você está bem? –Ela perguntou.
–Nem um pouco. –Ele quase não conseguiu responder, ainda recuperava o ar perdido.
Calando os dois amigos, a escotilha explodiu. O esconderijo dos Fectore havia
finalmente sido explodido. Todos que se confrontavam paravam para olhar aquele
espetáculo.
–Irmãos! –Algum assassino gritou no meio da multidão. –Vamos!
Todos avançaram novamente, mas agora pareciam estar com mais raiva, estavam mais
perigosos.
Ian levantou o pescoço, conseguiu ver alguém no ar, estava em plena queda livre. Era
Lucca!
O jovem assassino tirou duas pequenas facas de seus bolsos e no ar, as jogou contra as
cabeças de dois ex-colegas assassinos. Lucca caiu no chão, e não parou. Ele começou a
correr e a atacar dardos contra seus inimigos. Ian ficou impressionado com a precisão de
Lucca, era com certeza não era um assassino tão inexperiente quanto aparentava. Ele
acertou todos os assassinos que avançavam, acertava todas as facas nas cabeças, e única
coisa que se ouvia ali era o barulho do aço das adagas se chocando e penetrando nas
mascaras de gás.
Lucca deu tempo o suficiente para todos se recuperarem. Ele tentou pegar mais facas,
mas seus bolsos já haviam esvaziados. Mas assim como as facas de Lucca, os inimigos
também já haviam acabado, todos estavam mortos, jogados no chão com dardos e facas
enfiados na cabeça.
–Você é bom nisso. –Ian elogiou.
–Obrigado. Eu tive a melhor professora que você pode imaginar.–Lucca espalmou as
mãos.
–Traidor!–Gritou uma voz.
O ultimo assassino saiu de um arbusto, com certeza estava com medo de morrer, mas
por algum motivo ele finalmente avançou quando viu Lucca trair o clã. Tália já estava
pronta para lutar contra o novo oponente, mas Lucca a deteve. O menino finalmente
tirou das cinturas suas espadas-gancho e as brandiu contra o oponente.
O homem avançou rapidamente contra Lucca, mas ele se evadiu e o derrubou apenas
puxando sua perna com a ponta da arma. O sujeito capotou e caiu de bruços no chão.
–Por que está fazendo isso? –O assassino que estava no chão disse entre lagrimas.–Por
que nos traiu.
–Junior, sempre tão emotivo. –Lucca falou, o menino começou a rodear o inimigo. –
Sempre tão chorão.
Lucca ignorou o choro do menino e se agachou, pegou no bolso do antigo amigo, uma
faca.
–Lamento que isso tenha que acabar desse jeito.–Lucca disse.
O Fectore friamente matou seu amigo, a sangue frio. Para todos ali, Lucca poderia ser
considerado um monstro, mas na sua visão, aquilo era renascimento. Ele finalmente
havia feito o que planejava há meses, havia acabado com aquele clã de lunáticos.
Todos os que estavam ali, começaram a ir embora, afinal, tudo já havia voltado ao
normal.
Ian, Tália e Lucca prevaleceram ali, trocando olhares.
–Obrigado. –Lucca agradeceu Ian. –Você me ajudou a acabar com isso.
–Acho que quem deve um obrigado aqui sou eu. –Ian retrucou. –Graças a você eu
consegui fugir daqui.
–Sabe para aonde os outros presos foram levados?–Tália perguntou para Lucca.
–Outros presos?
–Sim, antes daquela cerimonia, um cara passou recolhendo alguns presos. Ele os levou
para outro lugar.
–Que estranho. –Lucca cerrou o cenho. –Isso não constava no relatório da operação.
–Por falar em não constava. –Ian entregou a o assassino a luva elétrica. –Seu brinquedo
não está mais funcionando.
–Me dá isso aqui. –O Fectore pegou a arma da mão de Ian. Ele a analisou por completo
e apenas deu um leve tapa na lateral, o núcleo azul voltou a brilhar. –Estava em modo
de desligado. –Ele explicou. –Está vendo, quando você mexe ela para a direita ela
desliga e depois se mexer demovo ela liga.
Ian pegou a luva da mão de Lucca, igual uma criança que acabava de ganhar um
presente. Mesmo podendo agradecer, ele preferiu falar outra coisa:
–Para onde vai agora? Sabe, acabamos de destruir sua antiga casa.
–Eu não sei –Lucca admitiu –Uma vez vi em um livro que, as encruzilhadas do destino
são imprevisíveis, talvez um dia a gente se encontre.

O garoto tirou sua mascara de gás, e a jogou contra o chão. Lucca a pisoteou até virar
pequenos cacos. O menino virou de costas e começou a pular e escalar as arvores com
uma agilidade impressionante, fora então que Ian descobrira o porque das espadas-
gancho, elas não eram para ferir em combate, mas sim para ajuda-lo nas escaladas.
Lucca desapareceu na densa floresta.
Ian e Tália decidiram fazer como os outros, a sair dali, mas quando viraram para
caminhar, viram uma figura no meio da floresta. Era um homem alto, pálido que vestia
um terno escuro, Ian reconheceu o rosto dele no instante que viu, era o líder dos
Fectore.
Ele começou a aplaudir.
–Bravo, bravo. –Ele falou.
–O que quer? –Tália perguntou, a menina fechou os punhos e criou duas chamas.
–Calma, não precisa de violência, quero apenas avisa-los. –Ele não perdeu a
calamidade. –Eu e meus irmão logo vamos tomar o controle do que é nosso.
–Seus irmãos? –Tália ironizou. –Nós acabamos de matar todos.
–Não digo esses irmãos. –O homem expressou um sorriso tão sádico que até Tália
sentiu medo de sua expressão. –Nós, as Aberrações iremos tomar o que é nosso por
direito!
Depois desse berro do homem, ele virou a cabeça em trezentos e sessenta graus. Ian e
Tália ficaram horrorizados e congelados, aquilo era coisa de filme de terror. Quando a
cabeça do homem voltou ao normal, ele já não tinha a mesma aparecia. O rosto era
pequeno e redondo, sua aparência era de uma criança de dez anos. Os cabelos eram
espetados e mal arrumados.
Tália tentou jogar uma bola de fogo contra o homem, mas o corpo dele encolheu até o
tamanho de um rato, e fora isso que ele virou, um rato que desapareceu na mata. Ali
ficou apenas a sua roupa.
–O que aconteceu aqui?–Ian perguntou, estático.
–Não me pergunte.–Tália respondeu.

33- INFECÇÃO ESPIRITUAL

Ian e Tália conseguiram encontrar ogrupo de Darlon. Eram cinco pessoas, o tutor de
Ian, Elizabeth, Nina, Levi e Tati. O irmão mais novo estava no chão, enquanto Tati
tentava o manter acordado.
–Ian! –Elizabeth gritou de felicidade, a mulher correr até o caçador e o abraçou com
todas as forças
–Calma Beth. –Ian controlou o abraço da maga.
Quando o abraço entre o caçador e a maga havia acabado. Nina fora na direção de Ian,
sem ao menos dizer uma palavra, ela o abraçou.
–Fico feliz que esteja bem. –Ele disse bem baixo no ouvido dela.
–Não tão bem.–Ela o soltou e mostrou a ele o machucado no antebraço. A facada ainda
doida, mas o sangramento fora estancado por Elizabeth.
Quando viu que Nina estava bem, Ian voltou à atenção para o irmão mais novo. Levi
estava jogado no chão, parecia estar muito mal. O caçador se agachou e perguntou para
a guardiã-espiritual.
–O que ele tem?
–Eu não sei.–Ela respondeu. –Ele começou a passar mal desde que fomos raptados.
–Eles deram alguma coisa para ele?
–Deram algo para ele cheirar, mas eu realmente acho que não é isso. Deve ser outra
coisa.
–Então o que é?
–Que tal deixarmos para pensar nisso depois.–Darlon sugeriu. –Vamos voltar para casa.

Eles fizeram o que Darlon havia falado, voltaram para casa, mas todos voltaram para a
casa de Ian.
Eles deitaram o Levi na cama e Tati ficou ao seu lado, ela não parava de acariciar sua
cabeça. Apesar de inconsciente, Levi podia sentir aquilo.
–O que aconteceu com vocês antes de serem pegos?–Ian perguntou
–Antes de sermos raptados? –Ela repetiu. A menina levou as mãos atrás da cabeça e
começou a coçar os cabelos. –Nós lutamos contra Cidra, um espirito sombrio.
No momento que disse isso, Tati pode sentir os cabelos da nuca se arrepiarem. A
menina arregalou os olhos, de repente pode sentir uma enorme influência no lugar,
parecia que tinha algum espirito sombrio os observando. Tati girou o rosto procurando
a entidade.
–Alguma coisa? –Ian perguntou
–Posso sentir a presença de algum espirito sombrio aqui.
–Por que não tenta ver através do astral?
–Eu não consigo, essa carcaça parece não deixar.
–Nunca irá conseguir se não tentar.
Quando Ian disse aquilo, ela teve uma motivação inesperada. Desde que tentara pela
primeira vez na construção, ela nunca mais havia tentado ver através do plano astral. Ela
fechou os olhos e se concentrou.
Passou alguns segundos de olhos fechados, e quando os abriu, quase caiu para trás
quando viu tudo cinza.
Ela enxerga Ian em cinza também, mas sua alma que ficava dentro de seu corpo era
colorida . A alma, uma dos maiores mistérios que os guardiões-astrais tinham, ela era
composta por uma energia inexplicável que dava vida para os humanos, era
verdadeiramente divina.
Ignorando as questões filosóficas que sempre cercaram sua mente, ela resolveu ver o
que acontecia com Levi. A alma de Levi estava de olhos fechados, assim como o
menino, no peito do menino ela via flutuar algo, um pequeno tentáculo.
Era obvio o que Levi tinha, aqueles sintomas, vomito, dor de cabeça, moleza, ele estava
com infecção espiritual!
Tati resolveu voltar a enxergar o físico, para falar com Ian.
–Conseguiu ver o que ele tem?
–Infecção espiritual.–Ela disse. Quando viu a cara de Ian de quem não sabia de nada,
resolveu explicar:–É uma doença espiritual, ela acontece quando um espirito sombrio
consegue deixar um pedaço seu dentro de um humano. Cidra propelente deixou esse
pedaço quando o pegou. –Ela voltou o foco na explicação. –E então esse pedaço vai
devorando a alma do hospedeiro, até que ele consiga energia suficiente para dele nascer
outro espirito sombrio.
–Não tem como você purificar?–Ian perguntou, o caçador tentava de tudo para salvar o
irmão mais novo. –Igual vez com o espirito na construção.
–Infelizmente não dá.–Ela lamentou. –Posso amenizar a dor dele, mas se eu purificar o
pequeno pedaço, acabarei purificando a alma dele sem querer.
–O que cura isso?
–Água espiritual. –Tati se recordou. –Isso é o que cura
–E onde conseguimos isso?–Ian não cessava com as perguntas.
–Eu não sei, eu só vi um oásis espiritual uma vez na minha vida, e nem era aqui, foi no
sul do país. Mas provavelmente algum shaman deve ter.
–Eu si onde posso encontrar um, – Ian se lembrou sobre o que Solange havia falado. –
Mas só posso fazer isso amanhã.
–Tudo bem. –Tati assentiu com a cabeça.
A menina botou a mão direita contra o peito do menino e flexionou a runa. O desenho
de “S” na mão da menina acendeu por alguns instantes, Tati o tirou logo para não
purificar a alma de Levi. O feiticeiro soltou todo ar dos pulmões e logo abriu os olhos.
–Tati. –Ele disse tão baixo que ela quase não escutou.
Ele voltou a dormir.
Ian fora até a sala falar com todos.
–Ele ficará bem. –Ele disse para Elizabeth, que era a pessoa mais aflita ali.
–Tem certeza?
–Beth, ele é meu irmão, eu sei o que tem que ser feito. Pode deixar que eu cuido dele,
se tudo der certo amanhã ele já estará bom novamente.
A maga deu um forte abraço em Ian, e em seguida segui Darlon pela saída.
–Tália, pode dormir aqui se quiser.

Ian havia cedido o quarto dos pais para Nina e Tália dormirem, já que ele e Tati estavam
no outro quarto cuidando de Levi.
A Pyromancer penteava o cabelo em frente o espelho da suíte, enquanto Nina se
preparava para dormir. Nina estava vestindo uma camisola de Patrícia, que ficava
folgada nela. Tália por outro lado estava com uma blusa sem mangas e uma calça de
moletom.
–Por que não fica com Ian? –Tália perguntou tão repentinamente que Nina teve um
sobressalto.
–O que?!–Nina perguntou com as bochechas coradas. –Ficar?
–Isso mesmo que você escutou.–Tália fora até a cama para se deitar. –Ficar, namorar,
enfim, porque ainda não beijou ele?
–Eu não sei se ele gosta de mim.
–O que?–Tália deu uma gargalhada. –Mas é claro que ele gosta de você, e você gosta
dele.
–Isso é muito evidente?
–Até um cego pode ver. –Tália ironizou. –Bem, amanhã você pode pensar melhor nisso
bruxinha. Boa noite.
Tália se deitou e apagou o abajur.

34- IRMÃOS
O dia havia acabado de amanhecer, e Ian e Tati já estavam na rua.
Estava chuviscando, o que não iria os expedir. Eram seis da manhã, o céu ainda estava
clareando, a brisa matinal os obrigava a vestirem casacos.
Os longos cabelos escuros da guardiã-espiritual balançavam conforme o vento.
–Para onde estamos indo?–Ela perguntou.
–Encontrar essa tal água espiritual.–O caçador respondeu.
A menina sentia que Ian não estava tão descontraído como era de costume, ele parecia
estar mais ríspido agora. E ela o entendia, afinal, era a vida do irmão mais novo dele que
estava correndo perigo.
Os dois caminharam por alguns minutos até chagarem na divisa de Argema com Lírio,
eles pararam na frente de um pequeno edifício. Era um prédio de três andares, embaixo
tinha um bazar que fedia a roupa mal lavada.
–É aqui que mora o shaman?
–Não. –Ian tomou frente e entrou pela porta estreita que levava a uma antessala. –Mas é
aqui quem mora a pessoa que pode nos dizer onde mora o shaman.
A antessala na verdade era um térreo. Ao lado Ian conseguiu ver apenas uma porta
escrito“Escada de Emergência” e ao lado tinha outra porta “Zeladoria”. Ele tentou
apartar o botão do elevador, mas quando virou o pescoço viu a placa indicando que
estava quebrado.
Decidindo deixar a frustação de lado, ele resolveu logo seguir pela escada. Tati fora
atrás.
Eles subiram todos os três andares, chegaram a um longo corredor. As lâmpadas
estavam queimadas, ou pelo menos não estavam ligadas. O cheiro de podridão ali
tomou as narinas dos dois, parecia que alguém havia jogado comida podre ali. Por
alguns instantes, Ian pode ver um rato atravessar o corredor e entrar por um pequeno
buraco em uma porta.
Ian fora até a porta que o rato entrou e bateu.
Toc, toc, toc.
A porta de numero 301 se abriu, e quem os esperava do outro lado era Solange. A
Vampira teve um pequeno sobressalto quando viu Ian na porta, o caçador a encarava
com uma expressão seria, por um minuto pensou que Ian havia sido contratado para
mata-la.
–Caçadorzinho, você por aqui?–Ela perguntou.
Antes de Ian abrir a boca para responder, ele pode ouvir uma voz que saía dos cômodos
mais afastados:
–Amor, volta logo.
–Caramba Quill! –Solange disse para o namorado, que estava deitado no quarto. –Estou
recebendo visitas. Esqueceu que esse apartamento é meu?
Pode-se ouvir um baque da porta do quarto sendo fechadas, talvez o metamorfo e ela
estivessem brigando.
–Entrem. –Ela os convidou.
Ian e Tati trocaram rápidos olhares e fizeram o que a mulher pediu. O aparamento de
Solange era escuro, as janelas eram fechados por tiras de madeira, talvez pelo fato dela
ser uma vampira e não poder receber luz solar. A única luz que tinha ali era de um
pequeno abajur, que ficava em um criado mudo.
As paredes avermelhadas e os sofás de coro combinavam com a personalidade da
mulher. Ela andou até a geladeira, e pegou uma lata de cerveja.
–Vocês querem? –Ela ofereceu.
–Não. –Ian recusou. –Não bebo.
–Então essa é a guardiã-espiritual que você falou?
Tati não respondeu nada, apenas ficou observando a situação.
–Solange, preciso que me diga uma coisa.
–Pode falar.–Ela quase acabou com a bebida em um gole só.
–Como consigo falar com seu padrasto?
Depois de ouvir essa pergunta, Solange quase engasgou.
–O que quer com meu padrasto?
–Um pouco de água espiritual. –Tati se intrometeu na conversa.
–Lamento não poder ajudar você, mas ele morreu faz alguns anos.
Ian quase cairá para trás quando recebeu tal noticia, não podia ser verdade, e agora? O
que iria fazer para Levi?
–Você não sabe onde guardava as coisas de Shaman dele?–Ele perguntou com tom
alterado
–Se acalme. –Depois de dizer isso, Solange acabou com todo liquido da lata, a amassou
a jogou contra a lixeira.–Ele morreu, mas meu meio-irmão ficou com as quinquilharias
dele. Acho que ele pode arranjar isso para vocês.
–Aonde ele mora?
–Vai com calma caçadorzinho. Kitrel ficou muito, digamos...–Ela tentou achar uma
palavra para descrever o irmão.–pior, depois que o pai dele morreu.
–O que você quer dizer com pior?
–Ele decaiu para as trevas, virou bruxo.
–Ótimo. –Ian comentou. –Agora temos que achar um bruxo, e ver se ele nós dá a droga
da água espiritual.
–Achar não vai ser um problema. –A vampira caminhou até sua bolsa e de lá retirou um
pequeno bloco de notas, ela escreveu rapidamente um endereço. –Pronto, ele mora ai.
Ian pegou o papel da mão dela e agradeceu. Eles foram embora.

–É aqui? –A guardiã-espiritual perguntou.


–Sim.–Ian respondeu depois de dar uma ultima olhada no endereço. –No antigo
sanatório.
O sanatório Luiz da Gague era um lugar grande, ficava um pouco afastado da cidade,
diziam que era para os loucos não terem contato com as pessoas de fora. Era um lugar
de dois andares, paredes que já foram brancas, mas que agora eram pretas, vinhas
entravam por todos os lugares, janelas, portas, buracos. Provavelmente aquele sanatório
embargado havia virado lar para parasitas e desabrigados.
–Esse lugar é horrível.–Ela reclamou.
–Nem me fale.–Ian disse: –Queriam acabar com ele ano passado, mas não puderam, o
terreno e o sanatório são particulares, e os donos sumiram no mundo. A prefeitura ainda
precisa de mais alguns anos para se apropriar do lugar.
Os dois pararam de conversar depois que resolveram pular o portão. Eram barras de
ferro que rangiam a cada segundo, Ian quase não pulou de medo que o portão
desmoronasse com ele em cima. Já dentro, eles seguiram a pequena estradinha de pedra.
O jardim não estava aos pés do que já fora um dia. Patrícia costumava falar para Ian
que quando passava perto dali, costumava ver as plantas coloridas e bem tratadas.
Agora, eram apenas simples pedaços de folha murchos que se balançavam conforme o
vento.
–Acho que chegamos. –Tati comentou.
A estrada de pedras terminava em uma mansão, aquele era o verdadeiro sanatório Luiz
da Gague, aquele era o verdadeiro manicômio, era ali que o pesadelo começava.
–Estranho. –Tati falou, subitamente.
–O que?
–Eu não consigo ver através do astral – Ela cerrou o cenho para tentar de novo, mas
nada aconteceu.
–Seus poderes sumiram novamente?
–Não, parece que usaram um encanto de Parede-Astral aqui.
–O que é isso?
–É uma magia que se usa em um local, ela impede de qualquer espirito ou alma passar
para o físico, ou vice-versa. Também bloqueia a visão para o outro plano.
–Sente algo de ruim vindo daqui?
–Não, nenhuma presença de espirito-sombrio. Não tem sentido ter essa Parede já que
não tem espíritos sombrios no local.
As portas duplas da mansão se abriram sozinhas.

35- RITUAL
Ian fora quem deu o primeiro passo. O caçador entrou, claramente se via o medo em
sua expressão, e em seu jeito de andar, mas a vontade para salvar a vida de seu irmão
era maior. Levi era a única família que restava para Ian, e ele faria de tudo para poder
salva-lo. Tati quase não entrou, vendo o poder daquele encante de Parede-astral, ela
ficou com medo de entrar, ali dentro ela era apenas mais uma pessoa normal, assim
como Ian.
O primeiro piso do lugar era grande, consistia em um hall principal com uma escada ao
fundo e duas portas na direita, e três na esquerda. O piso feito de tiras de madeira,
rangia a cada passo que o caçador e a guardiã-espiritual davam, o que fazia eles ficarem
arrepiados.
Ele pensou em perguntar para ela para onde iriam, que porta iriam entrar, mas preferiu
assumir a liderança e dispensar o dialogo.
O menino rumou até a primeira porta da direita, tentou abri-la. Trancada. Ian poderia se
agachar e tentar arrombar a porta com seus recém adquiridos conhecimentos de
arrombamento, mas não fez isso para não denunciar que estavam ali.
Tentou a porta do lado. Puxou a maçaneta, mas ela parecia emperrada. Quase sem
esperanças, ele tentou a ultima porta da direita, abriu. Eles estraram.
O cômodo a seguir era um refeitório, ou pelo menos parecia um. Era realmente enorme
e extenso, mesas retangulares acuavam o local inteiro, mas nem tudo eram flores. Um
cheiro horrível saia de trás de um balcão de dava acesso a cozinha, parecia que alguém
ainda guardava comida podre. Sangue, muito sangue espalhado pelo local, parecia ter
havido uma cachina ali, porem nada disso havia ocorrido. Pelo o que constava nos
registros de Ian, o sanatório fora abandonado devido a falta de funcionários, e
sucessivamente a falta de internos.
Ian olhou para Tati, e ela fez o mesmo. Mesmo não trocando uma palavra, os dois
sabiam o que eles haviam pesado. Voltar, fora isso que eles pensaram, certamente
aquele lugar não estaria naquelas condições, se no caso algo não havia acontecido, algo
de muito ruim por sinal. Mas a mesma força que fizera eles entrar, os impedia de voltar,
a força que os obrigava a salvar Levi.
Eles foram até a cozinha, pularam por cima do balcão pois a portela estava emperrada.
Se o cheiro de podridão no refeitório já estava ruim, na cozinha estava três vezes pior,
tão ruim que obrigou os dois a respirarem apenas pela boca. Os fogões industriais
pareciam estarem amaçados e a geladeira era a única coisa que iluminava o local. O
refrigerador estava ligado, sua luz confirmava isso, a fumaça branca que saia de dentro
do aparelho resfriava o local.
Tati cruzou os braços para tentar buscar calor, mas não adiantara de nada.
–Cuidado!–Ian gritou repentinamente.
O caçador pulou contra a menina, a derrubando no chão.
“Pup!”
Tati ficou estável depois que ouvira aquilo, parecia o barulho de algo perfurando
madeira, algo que vinha em alta velocidade. Quando esticou o pescoço para ver o que
era, viu que suas suspeitas estavam certas, uma faca estava fincada no armário da
dispensa.
–Obrigada. –Ela agradeceu.
–Não foi nada.–Ian se levantou. Em seguida, o caçador a ajudou a fazer o mesmo.
–Quem jogou isso?
–Ninguém. –Ian respondeu. –Eu vi com meus próprios olhos. A faca começou a flutuar
e fora na direção da sua cabeça, se eu não tivesse feito algo...
Tati viu alguém atrás de Ian. Era corcunda, vestia um manto que o tampava o rosto, a
única coisa que se via eram seus lábios cor de sangue, curvados com um sorriso
malvado.
–Ian cuidado! –ela exclamou.
O sujeito levantou as mãos e depois as abaixou, Ian tentou virar, mas já era tarde
demais. Ele fora arremessado contra uma parede e caiu desmaiado. Tati tentou avançar
contra o desconhecido, mas ele fez o mesmo.
A menina voou através da cozinha e acabou caindo dentro de uma baú empoeirado. Ela
tentou se levantar, mas a tampa se fechou e do lado de fora ela conseguiu ouvir o
barulho de um cadeado se fechando.
Clic
–Ei!–Ela berrou. Começou a bater na tampa do baúafim de conseguir fugir. –Deixe-me
sair, podemos conversar!
Ele conseguiu ouvir uma risada sádica do lado de fora.
–Sou uma guardiã-espiritual. –Ela continuou a tentar convence-lo. –Eu posso te ajudar!
Só queremos um pouco de água-espiritual! Me deixe sair!
Tati parou de bater na tampa, não estava funcionando. Ela pode ouvir o baque da porta
se fechando. Começou a chorar.

Ela estava chorando não por que estava com medo, mas por não ter ajudado em nada.
Desde que conhecera Ian e Levi, ela apenas os causava problemas, primeiro arriscou a
vida deles contra um espirito sombrio e depois deixou Levi contrair uma infecção. Que
bela guardiã-astral era ela.
–Tati. –Uma voz ecoou dentro de sua cabeça. –Me ajuda....
Era Levi, mas como?
Ela sabia como. Desde o dia que se conheceram, eles compartilhavam de um vinculo
espiritual muito grande, mesmo ela não entendendo.
A menina parou de chorar. Respirou fundo e enxugou as lagrimas, tentou pensar em um
jeito de sair dali, não tinha como. Fora então que percebeu que ali a parede astral não
funcionava. Por algum motivo aquele encanto fora feito apenas em alguns lugares do
sanatório, mas na cozinha, o encanto não funcionava.
Fechou os olhos e se concentrou. Mesmo não conseguindo nas ultimas tentativas,
aquela era a hora dela conseguir se desprender daquela carcaça.
Permaneceu de olhos fechados por alguns minutos. Aquele lugar já estava começando a
ficar quente, gotas de suar começavam a escores da esta da menina, mas subitamente
essa sensação de calor passou. Tudo parecia ter voltado para a temperatura ambiente.
Tati abriu os olhos, tudo estava cinza!
O plano astral era um reflexo do plano físico, porem tudo que fosse material era cinza,
mas coisas da natureza ou espirituais eram coloridas. Tati sentiu-se flutuar, parecia estar
em uma piscina, seus cabelos balançavam sem brisa alguma, ela finalmente havia saído
daquela carcaça, finalmente estava livre. Ela agora tinha voltado a sua forma original,
havia voltado a ser um espirito, solto, sem não estar presa a uma carcaça que ela nem
sabia de onde surgira.
Ela virou a cabeça e viu o baú onde seu corpo estava preso, talvez pudesse abrir o
cadeado, mas para isso precisaria da chave.
Sentiu seu corpo pousar no chão. Apesar de almas poderem flutuar no astral, ela não
podia, era um espirito, e espíritos ainda sofriam com a gravidade, mesmo no plano
espiritual.
A menina saiu da cozinha quando atravessou uma parede. Sentiu uma sensação de
nostalgia, estava fazendo aquilo novamente, depois de quase uma semana presa dentro
de um saco de carne, agora estava livre novamente. Mesmo na situação que se
encontrava, ela não conseguiu contar o sorriso.
A sala que Tati estava agora era larga, espaçosa. As paredes, assim como tudo ali era
cinza. A menina andou até um amontoado de chaveiros. Suspeito que ali era a sala dos
funcionários, e fazia sentido, já que tinha vários sofás e colchonetes espalhados. A
menina pegou um molho de chaves que tinha uma etiqueta escrito“Dispensas” e saiu do
cômodo.
Por um minuto pensou na visão que as pessoas teriam no plano físico, um chaveiro
flutuando, aquilo fora tão cômico que ela sorriu novamente. Não podendo atravessar a
parede com o chaveiro, Tati teve que fazer o percurso tradicional. Abriu a porta de saída
e chegou ao hall principal da mansão, por um milímetro ela conseguiu passar entra a
área coberta pela Parede-Astral. Entrouna coz1inha, destrancou o baú.
A menina fechou os olhos e se concentrou. Seu espirito retornou para a carcaça.
Tati acordou com inúmeras gotas na sua testa. Sua visão de inicio era embaçada, mas
não demorou muito para voltar ao normal. Quando fora se levantar, suas pernas
falharam, aquela era a primeira vez que fazia uma viagem astral como uma humana,
nunca havia entrado em uma carcaça, não que se lembrasse.
Tati se levantou e logo se pôs a correr, saiu da cozinha, cruzou o refeitório, e quando
chegou ao pátio da mansão, começou a ouvir sussurros. Parecia um cântico antigo, era
uma voz rouca, parecia desgastada. Fora então que percebeu que se tratava de ritual, e
provavelmente a única coisa para se sacrificar naquele ritual era Ian!

36- FUSÃO

Tati tropeçou em um degrau da grande escadaria e caiu. Quase rolou escada abaixo,
mas conseguiu se levantar novamente. Estava contando os segundos, era a vida de Ian
que estava em jogo.
Ela terminou a escadaria e entrou tentou abrir uma porta. Trancada. Fora então que se
lembrou que esquecera de pegar as chaves. Desceu tudo que subira em poucos instantes.
Voltou para a sala dos funcionários e pegou o molho de chaves com uma etiqueta
“Segundo andar”.
Tati voltou-se para a escada e dessa vez não cairá. Ela abriu a porta e começou a seguir
a origem do cântico. A voz fora ficando mais forte.
A menina se viu em um extenso corredor, as paredes eram cobertas por um papel de
parede que já fora azul anil, mas agora estava azul marinho. Ela não ligou muito para a
decoração, seguiu rumo à porta no final. Quando a abriu se viu na frente de uma enorme
e extensa escadaria. Suspirou fundo, se começou a subir.
A escada deu no forro da mansão que era o sanatório.
Ian estava acorrentado no meio de um circulo desenhado no chão, com um pentagrama
o centro e runas antigas enfeitavam as extremidades. Ele xingava o bruxo com vários
palavrões, mas o sujeito não ligava. O bruxo estava em frente a Ian, mas fora do
desenho.
O homem levantou uma das mãos, e algo se materializou, uma enorme adaga. Sua
lamina era comprida e os tinha dentes cerrados. O sujeito fora aproximando a lamina
fria do corpo do menino, Ian tentava sesoltar, mas de nada adiantava.
–Você tem um poder incrível ai dentro. –Ele disse quando chegou com a adaga perto do
peito de Ian.–É um feiticeiro?
–Não. –Ian respondeu.
–Isso é estranho. –Sua voz falhou, e Ian quase não conseguira ouvir o que o sujeito
falara. –O que guarda no peito.
–Acho que meus pulmões só.
Ian tentava levar as mãos as costas, talvez conseguisse pegar a Beretta.
Tati chegou na hora certa. O caçador estava quase sendo perfurado. A guardiã-
espiritual pulou contra o bruxo e o acertou com sua mão tatuada.
A tatuagem da menina brilhou rapidamente.
O bruxo caiu para trás com um esbravejo, e Tati fora ajudar Ian.
–Você está bem?–Ela perguntou, a menina tentou achar uma chave que abrisse aquilo,
mas nada funcionou.
–Sim. –Ian respondeu. –Pegue minha pistola.
A menina fez o que ele mandou. Tati ficou a Beretta para Ian e o caçador pediu para ela
atirar nas algemas, apesar não nunca ter manuseado uma arma de fogo antes, Tati não
tevês problemas.
–Obrigado. –O caçador agradeceu. O menino girou os pulsos. –Descobriu algo.
–Acho que sim. –Tati murmurou. –Ele é uma Fusão.
–Fusão?
–Sim, Fusão é uma variação da infecção espiritual.–Ela começou a explicar. –Quando
uma alma está vulnerável, um espirito das trevas pode ataca-la, mas quando ele não a
devora, e a tristeza nessa alma é mais forte que o próprio espirito, ela acaba devorando o
espirito para sim mesma.–Tati concluiu.–Ele pode ter se fundido o espirito depois da
morte de pai, ele ficou tão triste que absorveu o espirito.
–Então o espirito está na mente dele agora.–Ian disse.
–Exatamente.–Ela concordou. –Temos que ter cuidado, a situação dele é mais grave do
que pensamos.
–Não seja por isso. –Ele levantou a pistola. –Essa Beretta está carregada com balas de
platina. Pronta para matar qualquer espirito.
–Você tinhas balas de platina esse tempo todo?
–Mas é claro,desde daquele dia na construção, eu nunca mais saio com você sem
minhas balas de platina.
Ian fez mira para atirar no peito do bruxo, que aos poucos se levantava, mas Tati o de
teu.
–Não, –Ela o censurou, abaixando a arma. –Não pode atirar contra ele, platina também
machuca as almas.
–Então o que vamos fazer?
Tati franziu o cenho, e olhou através do astral. A situação estava mais complicada do
que ela imaginava. A alma do sujeito já havia se fundido completamente com o espirito
sombrio.
O sujeito finalmente havia se levantado, ele começou a caminhar na direção dos dois,
com a adaga em suas mãos tremulas.
–Não queremos te machucar. –A guardiã-espiritual disse. –Queremos apenas um pouco
de água espiritual.
O bruxo ignorou o Tati falou e partiu para o combate. Ele tentou enfiar a arma contra o
peito de Ian, mas o menino se evadiu para o lado e em seguida se abaixou, desviando do
corte que o homem dera. O caçador se levantou e continuou com as evasões.
Por um minuto pensou de como seria bom se Tália estivesse ali. Ela era ótima em
combates corpo a corpo e poderia desarmar aqueles bruxo em instantes, sem falar que
poderia nocauteá-lo em seguida, ou simplesmente torra-lo vivo, que era bem mais o
jeito de Tália.
Voltando sua atenção para o embate, Ian deu um passo para trás, afim de desviar de um
corte em horizontal. Para uma pessoa em condições decrepitas, aquele homem estava
bem ágil. A esquiva do menino falhara, um corte superficial se abrira em seu peito. O
sangue começou a jorrar. Ian começou a recuar mais rápido, mas logo se viu prensado
na parede.
Sem saída –Pensou.
Fora quando resolveu tomar uma atitude, não poderia se deixar ser morto por um
homem magricela. O sujeito tentou enfiar a adaga cerrada pelo lado direito, mas Ianfora
mais ágil e pegou o seu pulso, por alguns instantes eles ficaram se encarando olho no
olho. O bruxo tinha um olhar vago, olhar de pessoas que já haviam se perdido dentro de
seus sentimentos. Ian botava toda força que tinha no braço, tentando bloquear que a faca
chegasse até seu corpo.
–Você não precisa fazer isso. –Tati falou. –Sabemos que anda atormentado, Kitrel,
deixe eu te ajudar.
Quando o bruxo ouvira seu nome ele desistiu do embate, apenas abaixou a cabeça e se
virou para Tati.
–Sei que anda triste depois da morte de seu pai. –ela começou a se aproximar dele. –
Deixe te ajudar. não deixe esse espirito das trevas te dominar.
–Kitrel. –ele murmurou.
Os dois foram se aproximando lentamente.
–Sabe o que eu acho peculiar em vocês?–A voz do bruxo mudara de repente, parecia
destorcida, era o espirito que estava falando agora: –Você tentam ajudar todo mundo,
que patético.
O homem ergueu a faca e avançou contra a guardiã-espiritual.
–Tati! –Ian gritou.
Tati o abraçou e antes que o homem a perfurasse, ela encostou a marca em forma de
“S” em sua nuca. O bruxo possuído caiu no ajoelhado no chão.
–Pensa que pode fazer isso com uma pobre alma? –Ela falou entre os dentes.
Ian quase caiu para trás ao ver a expressão de Tati, pela primeira vez a menina estava
brava.
Quando a purificação acabou, o corpo do bruxo caiu de lado. Ian não pode ver, mas no
plano astral ela viu a alma de bruxo purificada. Ela flutuava em cima do corpo que já
fora seu.
–Obrigado por me salvar. –Ele agradeceu, –Kitrel, não lembrava mais como soava meu
nome. Aquele maldito espirito me corrompeu, conseguiu se fundir comigo, me fez me
transformar na coisa que eu mais abominava, um bruxo. A escoria do mundo, uma
pessoa que só busca poder e não mede esforços para conseguir.
–Está tudo bem agora. –Tati falou. –Ele já foi purificado, e você vai poder ascender
para os planos superiores agora.
–Não tenho palavras para de agradecer.–Ele colocou a mão no ombro de Tati.–A
proposito, a água-espiritual está naquela prateleira.
Ele apontou para um móvel empoeirado, e em seguida se desfez.

37- OBRIGADO

Levi cuspiu um jato de um liquido verde na blusa de Tália. A menina soltou um


palavrão involuntariamentee limpou a boca do menino com um pano. Aquela já era a
quinta vez que aquilo acontecia, desde que Ian e Tati haviam saído de manhã cedo, ela e
Nina foram obrigadas a cuidar de Levi, que não parecia estar nada bem. O jovem
feiticeiro não parava de se mexer, ele soava frio e ,como havia acabado de acontecer,
vomitava um liquido verde.
Tália fora trocar de blusa, e deixou Nina para cuidar do garoto.
–Onde será que eles foram?–A Pyromancer perguntou.
–Eu não sei.–Nina respondeu.–Talvez tenham ido achar alguém que cure ele.
–Talvez, talvez, talvez.–Tália repetiu. –Já perdi as contas de quantas vezes você falou
isso. Também perdi a conta de quantas vezes tive que trocar de blusa.
–Chegamos! –Ian anunciou quando entrou pela porta.
–Finalmente.–Tália comentou.
–Que foram fazer? –Nina perguntou.
Ian e Tati não responderam a pergunta da Umbramancer, eles foramaté o quarto e
colocaram Levi sentado. Tati abriu um pequeno pote que trazia consigo e despejou um
liquido amarelado na boca do jovem feiticeiro.
Levi engasgou e tossiu. O menino vomitou tudo no chão uma poça de liquido
arroxeado, pelo menos no plano físico era aquilo. Tati, que estava vendo pelo astral, viu
a alam do menino expelir um pedaço de Cidra, um pequeno tentáculo que ficou se
debatendo no chão. Antes que ela se agache-se para purifica-lo, ela desapareceu, a água
espiritual já havia feito aquilo por ela.
Voltando a atenção para a alma do garoto, Tati a viu altar a cor normal novamente.
Levi estava curado.
O menino abriu os olhos lentamente e encarou todos a sua volta. Sua visão estava turva
e uma leve pontada o cutucava sua cabeça. Ian abraçou o irmão.
–Ainda bem que isso funcionou. –A caçador disse.
–O que aconteceu?–Levi perguntou, sua voz era falha e baixa.
–Cidra deixou um pedaço dentro de você.–Tati explicou. –Você estava com uma
infecção espiritual, mas grassas a água-espiritual que achamos, você está bem.
–Tati, –Levi disse, ele começou a se aproximar dela. –Eu não sei como te agradecer.
–Não foi nada.–Ela sorriu. –Da mesma forma que vocês já me ajudaram, eu posso
ajudar vocês.
–Espera. –Ele disse, calmamente. –já sei como te agradecer.
Todos no local trocaram olhares, o que Levi poderia fazer? Abraça-la fora a única coisa
que todos conseguiram pensar.
Surpreendendo todos ali, Levi a beijou.
Quando os lábios deles se separam, Nina falou.
–Mas que....Lindo –Os olhos da menina brilharam, parecia estar dentro de um dos
livros de romance que já havia lido.
–Meloso, isso sim. –Tália falou.–Só falta agora começarem a namorar.
–E porque não?–Levi perguntou, ele desviou o olhar para Tati e antes de dizer outra
cosia ela já respondeu.
–Eu aceito.
Eles se beijaram novamente.
–Nossa, que lindo, amor colegial. –Tália ironizou. A Pyromancer andou até a porta e
disse: –Vou até meu apartamento, talvez lá tenha algo para comer, alguém me
acompanha?

Tália, Nina e Ian haviam acabado de descer do ônibus. O ponto não ficava muito longe
do prédio da Pyromancer, eles foram conversando.
–Sabe onde tem um biblioteca na cidade? –Nina perguntou para Ian, mas não fora ele
que respondeu.
–Biblioteca? –Tália repetiu, o tom da menina era de puro desdenho. –Existe uma coisa
chamada internet, quem ainda lê livros?
–Eu ainda leio livros.–Ian comentou.–São mitos bons.
–São uma fonte de conhecimento, cultura, ajudam as pessoas formar seu caráter e te
dão uma profunda emersão....–Nina fora interrompida.
–E blá, blá , blá. –Tália virou os olhos.–Já perdi a conta de quantas vezes Fin me falou
isso.
–Falando em Fin, onde ele está?–A Umbramancer perguntou.
–Provavelmente raptado. –A Pyromancer respondeu.–Depois daquele dia, não tenho
ideia onde ele esteja.
–Eu vou tentar descobrir algo.–Ian falou. –Talvez eu saia de noite, Solange deve saber
de alguma coisa.
Depois de que Ian falara aquilo, eles chegaram. O edifício Roberta, era ali que Tália
morava. Era o maior prédio de Costa da Areia, e o mais imponente. Suas paredes
brancas parecias sempre estar limpas e seu canteiro era sempre cheiroso.
Eles entraram em um hall de piso de mármore azulado, o teto era escuro es paredes era
decoradas com espelhos e pinturas de barco. O porteiro cumprimentou Tália, e ela o
cumprimentou de volta. Os três subiram até a cobertura e chegaram ao apartamento da
menina.
Tália abriu os braços em sinal de “Como é bom estar em casa de novo”, a menina tirou
os sapatos e os jogou longe. Ian e Nina foram andando lentamente, mas não esperando
suas visitas, a Pyromancer fora logo para o quarto.
–O que viemos fazer aqui? –Ian a questionou.
–Bem, eu queria que vocês se mudassem para cá, esse lugar vai ficar tão sozinho sem o
Fin.–Tália disse quando voltou para a sala.
–Mudarmos para cá? Morarmos nessa cobertura? –Ian repetiu a proposta da garota.
Não era uma má ideia, afinal, além de já ter passado alguns dias na casa de Tália
enquanto os pais estavam viajando, aquele lugar era fascinante.Mesmo com todos esses
pontos positivos ele teve que negar. –Não posso.
–Por quê?
–Essa vista realmente é muito bonita, mas não posso deixar a casa dos meus pais.
Tália fora entrou no corredor novamente. Não estava chateada com a recusa do amigo,
entendia o ponto de vista do amigo, mas ela não queria passar o resto dos dias sozinhas.
A menina entrou em um cômodo que ela o tutor carinhosamente haviam apelidado de
sala de treino. Era um sala de paredes vermelhas.um tatame cobria o chão. Três sacos de
pancada estavam espalhados no local.
Tália começou a socar um saco de pancada.
–Não está chateada, está? –Ian perguntou quando entrou pela porta.
–Mas é claro que não. –Ela deu um chute. –Estou apenas matando a saudade daqui.
–Você não luta o estilo dos Pyromancers tradicionais. –Nina falou, enquanto observava
os golpes rápidos de Tália. –Seu estilo é diferente.
–Realmente bruxinha.–Tália concordou.–Aqueles golpes lentos e coreografados não
fazem meu estilo, prefiro misturar as artes-marciais que já aprendi. Que tal uma aula de
defesa pessoal?
–Não.–Nina recusou.
Ian fora na direção de Tália, aceitando a proposta da menina.
–Eu já tentei te ensinar, e não deu muito certo. –Ela brincou. –Mas já que quer tentar de
novo. Bem, vamos do básico, primeiro vamos aprender a defender um golpe básico.
Tália se colocou em posição de combate, firmou os pés no chão e levantou os punhos.
Ian imitou a amiga e fez o mesmo. A Pyromancer deu um soco pela lateral, Ian segurou
o pulso dela antes de que a mão da menina colidisse com sua cara.
–Muito bom o reflexo.–Ela o elogiou. –Mas ainda deixou uma brecha para isso!
Quando ela disse aquilo, Ian não conseguiu pensar em nenhum contra ataque. Tália
pegou o punho do garoto com sua outra mão e o abaixou com uma velocidade extrema.
A força que a menina aplicara fora tana que Ian deu uma cambalhota área antes de cair
de costas no chão.
O baque ecoou pelo local, Nina fora correndo o acudir.
–Você está bem?–Ela perguntou, preocupada.
–Relaxa.–Tália disse. –Vazo ruim não quebra.

38- ELECTRIMANCER

Daniel já estava farto de acatar ordens de seu tio. Ele e Ariano, seu tio, estavam no
terraço do baixo prédio onde Daniel morava.
–Será que não consegue fazer isso direito?!–O homem gritou.
O tio do menino era parecido com ele, porem diferente em certos aspectos, seus cabelos
loiros tinham mechas pretas, os olhos eram castanhos e a expressão era fechada.
MasAdriano um dia já havia sorrido, antes de Daniel nascer. Ele era irmão da mãe do
menino, e durante o período de vida dela ele sorria quase todo dia que via a irmã,
visitava ela e o pai de Daniel com frequência, mesmo morando em outra cidade.
Mas depois da morte dela, ele havia virado uma pessoa amarga, e por mais incrível que
parecesse, ele sempre culpou Daniel pelo óbito da irmã. Ela tinha uma série de
problemas cardíacos, e era claro que a gravidez fosse de risco.
O tio de Daniel havia acabado de chegar à cidade. Ele, assim como o sobrinho, era um
Electrimancer, uma pessoa capaz de manipular qualquer tipo de energia elétrica.
O homem fechou os punhos e deixou apenas os dedos indicadores levantados. Ele girou
as mãos e em seguida disparou um raio de cor azul contra o menino.
Se não fosse por seu reflexo rápido, ele não iria conseguir reagir. Daniel se levantou e
colocou o dedo levantado para receber a descarga elétrica. Ele pode sentir todos os
pelos de seu corpo se arrepiando, a energia fluiu dentro dele. Rapidamente, com a outra
mão, Daniel levantou o dedo e apontou para o tio, afim de redirecionar o raio. E eram
isso que estavam tentando fazer, Redirecionar Raios, essa era a técnica que faltava para
Daniel virar mestre.
O raio explodiu na ponta do dedo no menino. Daniel cairá para trás, felizmente não
teve nenhuma lesão grave, apenas sentiu o choque e a decepção e não conseguir fazer
aquilo.
–Será que consegue fazer isso direito?!–Adriano gritou, sua voz já estava gasta de
gritar aquilo tantas vezes.
–Se quer raios, então irei te mostrar meus raios.
Daniel começou a mexer os braços, a fim de começar a fazer a técnica. O menino não
fez muita cerimonia para disparar um raio no peito do tio.
Adriano não ligou para o ataque do sobrinho. Ele permaneceu parado, até que quase
fosse atingido. O Electrimancer recebeu o raio com a ponta do dedo indicador e em
seguida apontou o outro dedo para o menino.
O sangue de Daniel gelou. Ele não poderia receber outra descarga daquelas, não iria
conseguir absorver e iria acabar frito.
Adriano levantou o dedo para cima, e soltou o raio para a nuvem cinza que pairava
sobre eles.
A nuvem estourou e soltou o barulho de um trovão, gotículas de água começaram a cair
do céu. Havia começado a chover
–Entendo que esteja bravo. –O mestre do menino disse isso quando começou a se
aproximar dele. –Principalmente com você, já que não consegue fazer isso.
–Você é um cretino.
Daniel se levantou e logo tratou de entrar no prédio novamente. Ele desceu as escadas
como um relâmpago, queria sair logo não só do terraço, mas queria sumir do mundo.
Não suportava seu tio persistindo no treinamento de Electrimancer dele, ele nem queria
ser um Electrimancer!
Não via utilidade em soltar raios em pessoas. Aquilo não era mais útil nos tempos
modernos, tudo bem que essas habilidades já haviam o salvado contra os Fectore, mas
ele não queria mais aquilo, fora aquilo que matou sua mãe, e provavelmente aquilo que
iria mata-lo também.
Ele entrou no pequeno apartamento que morava, dividia apenas com seu pai , já que seu
irmão havia se mudado para fazer faculdade em outra cidade. Daniel lembrou de seu pai
quando viu o porta retratos da família na estante.
O delegado Salles como era conhecido pelos outros, ou como chamado pelos mais
íntimos, Rodrigo. Já fazia dois dias desde que seu pai fora levado por aquele homem
mascarado, nas instalações dos Fectore. Daniel chegou a ter pena dele, já que ele dali
era a pessoa mais normal, claro que ele sabia de todo o submundo sobrenatural que
existia não só na cidade, mas no mundo inteiro. Mas não fazia sentido levarem ele, já
que o Electrimancer ali era Daniel.
Deixando essas questões que martelavam sua cabeça de lado, Daniel voltou sua atenção
para o mundo a sua volta. Ele foi até o seu quarto e lá apenas pegou sua guitarra
elétrica. Antes de sair parou alguns segundos enfrente ao espelho.
Ele era bonito, chegou a essa conclusão em poucos instantes. Não era só ele que
pensava assim, todas as garotas que tinha beijado também pensavam isso. Os cabelos
loiros do menino estavam cheios de gel, eram penteados para frente, fazendo um leve
topete na ponta. Os olhos dele eram azuis como o mar e seu rosto era um pouco
quadrado. O físico dele era sarado, algo eu atraia varias garotas da escola
Parando de ser narcisista, Daniel saiu da frente do espelho.
Ele saiu do apartamento onde morava e desceu as escadas, encontrou com seu tio.
–Onde vai?
–Para um ensaio com a banda. –Daniel murmurou
Ele estava pensando em falar algo como “Não te devo satisfações”, mas para evitar um
conflito resolveu ficar calado.

Levi e Tati haviam acabado dechegar, eles estavam abraçados e trocando caricias, o
que fez Tália revirar os olhos. Ian não ligou muito, continuou a jogar junto com a
amiga. Depois que voltaram do apartamento de Tália, a menina havia levado algumas
coisas, como o seu videogame preferido, e seu notebook.
–Chegamos. –Levi anunciou.
Ninguém respondeu.
Ian poderia dizer um “Oi, como foi lá?” mas estava muito concentrado em ganhar de
Tália em um jogo de luta. O caçador fazia inúmeras facetas, enquanto a Pyromancer
apenas colocava a língua para fora.
Tália soltou um grito de comemoração e deixou o controle ao lado.
–Falei que era imbatível!–Ela provocou.
–Que tal mais uma?!–Ian já estava estressado de perder pela quinta vez seguida.
–Oi gente. –Tati falou. A menina virou o pescoço procurando pela amiga. –Onde está
Nina?
–Ela está na biblioteca estudando.–Ian respondeu rapidamente para não tirar a atenção
do jogo.
Tati deixou Levi na sala e fora atrás de Nina. Desde que voltara do incidente com os
Fectore nunca mais havia conversado com ela, apesar do pouco tempo delas se
conhecerem, já se consideravam melhores amigas.
A guardiã-espiritual entrou pelo corredor e em seguida atravessou o quarto dos finados
pais de Ian. Ela desceu pela passagem que dava acesso a biblioteca subterrânea e
chegou até o cômodo secreto.
Nunca havia estado ali antes, e era mais do que esperado que ela se surpreendesse. Se
encantou pela vasta quantidade de livros que os meninos tinham, eles não parecia gostar
de ler. Nina estava na mesa central, ela estava usando o notebook de Tália.
Quando se aproximou viu que a Umbramancer olhava um site de biologia. Havia uma
enorme estrutura óssea de um lobo na pagina, um modelo tridimensional com vários
detalhes que Tati não conseguiu compreender.
–O que é isso?–Ela apontou para o lupino na tela.
–Isso é um modelo de lobo. –Nina respondeu. Sua voz parecia estar cansada, assim
como sua vista. –Preciso aprender ele para uma Umbramancia.
–Como assim?
–Bem. –Nina se levantou e se ajeitou na cadeira.–Nos Umbras, podemos criar tudo com
sombras, não só tentáculos e mãos gigantes. Mas para isso precisamos saber toda a
estrutura óssea da coisa, por isso os tentáculos são mais fácies para iniciantes.
–Já não deveria saber como faz isso? –Tati ficou confusa. –Já é uma mestra.
–Esse negocio de Mestra não é totalmente oficial.–Nina soltou um suspiro. –As
Umbras me nomearam mestra por eu saber mais do que as outras. Elas tinham um
pressentimento de um ataque Lumen, e então me deixaram mestra, caso a gente
sobrevivesse eu pudesse ensinar as outras garotas.
–Nossa. –Tati arregalou os olhos, mas resolveu rapidamente trocar de assunto. –Por
que não tenta fazer esse lobo das travas logo?
–Eu posso tentar.
Nina se levantou da cadeira quando disse isso. Ela começou a gesticular os braços, Tati
começou a procurar de onde o lobo de Umbra iria sair. Nina afastou os braços e com um
movimento gracioso os juntou novamente.
O lobo de escuridão saiu de onde Tati menos esperava, debaixo da mesa. Era um
quadrupede enorme, os pelos obviamente eram escuros como as sombras que Nina
manipulava. Os olhos eram duas pedras foscas, sem brilho algum. Ele exalava uma
fumaça escura que não possuía cheiro, apenas desaparecia depois que saia do corpo do
animal.
–Eu consegui!–Nina começou a comorar.
–Será que ele aguenta nós duas?–Tati perguntou quando subiu nas costas do animal de
Umbra.
–Acho que sim, mas por quê?
–Bem, estava planejando um programa com a minha amiga hoje. Isso, é claro, se ela
aceitar.
–Para onde vamos?
–Nos últimos dias eu estive pensando.–Tati abaixou o tom de voz, começou a falar de
forma estranha, não sabia de como dizer aquilo para Nina.–Você disse que suas amigas
Umbras morreram de uma forma explicita. Acho que as almas delas devem ter virado
Agonias, então tenho que ir purifica-las.
–Realmente.–Nina concordou.
Nina desfez a técnica e o lobo de reduziu a sombras. As duas subiram as escada e não
demoraram muito para saírem. Levi perguntou a namorada aonde elas iam, e ela
respondeu:
–Vou purificar almas. Agora é a vez de Nina me ajudar.

39- HAIKAS

Foram exatas uma hora e meia para Nina e Tati saírem da cidade e chegaram as ruinas
do convento onde a Umbra morava.
Nina quase cairá para trás quando viu que o lugar permanecia do jeito que os Lumens
deixavam, tudo destruído, as paredes estavam abaixo, e as poucas que sobravam em pé
faziam um labirinto. A enorme luz purpura que ficava na fachada, estava no chão, assim
como qualquer outra coisa ali.
A Umbramancer começou a chorar. Tati podia sentir de sua alma uma vibração ruim. A
guardiã-espiritual se arriscou e olhou através do astral.
Nenhum sinal de alma alguma. Era como se ali não houvesse genocídio algum. Aquilo
era impossível!
Tati tentou olhar de novo, mas continuou a não ver alma alguma.
–Nina. –Ela murmurou.
A Umbramancer não ligou para o que amiga falava. Continuou a caminhar e se
desfazer em lagrimas. A cada soluço da menina era uma lembrança, e a cada lembrança
era mais um lagrima.
Olhou ao redor, se viu onde era o antigo pátio. Era um lugar que ficava no meio do
convento, sem teto, grama rala, era ali que Nina passava as tardes estudando, embaixo
da sombra de uma enorme arvore. Olhou ao redor novamente, viu apenas destroços.
–Nina. –Uma voz murmurou para a garota.
Aquelavoz. Nina virou o pescoço tão rápido que pode se ouvir um estalo. Ela havia
reconhecido aquela voz, e era de alguém muito especial para ela. Irmã Ediviges!
Nina começou a correr entre os destroços.
Tati percebeu algo de errado ali, era impossível não haver um resquício de alma ali.
Resolveu dar uma olhada no astral, enquanto não perdia Nina de vista. Estava tudo tão
pacato como o físico, nada e nem ninguém além delas.
Fora quando Tati sentiu um calafrio, os pelos se arrepiaram e alguém aparece para ela.
Uma enorme entidade, três metros no mínimo, parecia não possuir mais corpo do tronco
para baixo. No rosto, o sorrido em tom vermelho brilhava, os enormes e largos braços
eram roxos, assim como o resto do corpo.
E espirito sombrio apenas observava as garotas e ria. Ele desapareceu.
Tati pensou em avisar Nina, mas quando voltou a enxergar o plano físico, ela já havia
desaparecido.
Nina pulou por uma enorme concentração de pedras, em seguida se esgueirou por um
túnel feito involuntariamente pelo desmoronamento. A Umbramancer não tinha noção
do que estava fazendo, suas pernas se mexiam sozinhas, ela apenas tentava chegar a
origem da voz.
–Nina...–Alguém sussurrou para ela, não era Ediviges agora, pelo tom fino, poderia ser
outra menina do convento.
–Estou indo.–Ela falou em resposta.
Nina arrastou uma enorme pedra para o lado, usou uma força que ela mesma não sabia
que tinha. Fora forçada a engatinhar por dentro de um micro corredor, mas o fim já
estava próximo, ela já conseguia ver a luz no final.
E mesmo sendo uma Umbra, ela não pensou duas vezes antes de ir para luz. O
problemas, foi que não encontrou o que esperava. Estava em um campo aberto, a mata
batia nos seus joelhos e nada se via, parecia estar muito longe do convento. Olhou ao
redor, nada.
–Nina....–Um coro de vozes falaram.–Onde está, irmã?
–Estou aqui.–Ela procurava, mas não achava ninguém.
Fora então que se tocou que as vozes saiam de sua cabeça. Se virou e tentou voltar, mas
alguém a impediu. Subitamente em sua frente apareceu uma figura que ela já conhecia,
irmã Ediviges. Ela estava mais pálida do que já era, os cabelos estavam tampados por
um lenço rubro. Um fio de sangue escorria da boca da mulher.
–Você nos deixou aqui, para morrer– Ela começou a se aproximar de Nina lentamente.
–Você nos traiu.
Nina começou a dar passos para trás, afim de escapar da mulher, mas ela tropeçou em
um pequeno relevo de terra. Caiu no chão e quando olhou ao redor, viu todas as Umbras
do convento, elas estavam ensanguentadas e a encarando friamente.
Nina soltou um grito de medo.
Tati se pôs a correr logo quando ouviu o grito da menina. Por alguns instantes pensara
que algo de ruim havia ocorrido com Nina, mas resolveu espantar pensamentos
negativos. Ela pulou sobre uma pilha de tijoles e caiu de mal jeito, as costas se
choraram contra o chão enquanto seu pulmão se esvaziou, parou alguns segundos para
respirar, mas quando levantou viu que a calça estava presa em um viga de ferro.
A guardião-espiritual puxou a perna com tanta força que a metade da calça ficara para
trás. Ela saltou por cima de uma pedra e em seguida se esgueirou por um corredor de
destroços. Sentiu o joelho arder por alguns segundos, quando olhou viu que estava
ralado. Doía demais, Tati quase deu um grito de dor. Nunca havia sentido aquilo antes,
sempre fora um espirito, livre de qualquer dor física, logicamente que as pancadas que
tomava de espíritos sombrios doíam, mas nada comparados aos cortes terrenos.
Ignorando suas dores, ela resolveu prosseguir, o fim do caminho já estava perto.
Quando saiu do túnel, viu Nina. Ela estava com a expressão assustada, vários tentáculos
de Umbra estavam envolta da menina, ela parecia estar se defendendo de alguma coisa.
Tati não precisou olhar pelo astral para ver as almas. Eram Agonias, pode ouvir os
sussurros delas. Dor, sofrimento, reclamação, elas cochichavam algo parecido com isso.
Tatinão estranhou as Agonias ali, alias, fazia todo o sentido ali ter Agonias.
–Nina. –A sentinela-astral gritou enquanto se aproximava da amiga.
A Umbramancer não aparentava estar em boas condições mentais, seu olhar paranoico
fez Tati deduzir isso. Nina estava girando os tentáculos sombrios envolta dela, eles
atacavam tudo que se aproximava, as almas retrocediam com as investidas dos membros
escuros, elas não eram atingidas, apenas retrocediam por vontade própria.
Quando Tati chego perto de Nina, um dos membros de Umbra batera no seu tórax, ela
caiu para trás assustada. O seu peito ardia, mais ela sabia que a dor era passageira.
–Saiam daqui! –Nina gritou.
A Umbramancer girou e cima dos pés, por um momento pareceu uma bailarina
graciosa, mas em seguida abriu os braços. Os chicotes negros fizeram o mesmo e
começaram a se debater.
“É inútil”–Nina pensou.
As almas apenas se afastavam e se aproximavam novamente, em um movimento
repetido, não pareciam estar com raiva de Nina, pareciam que estavam sendo
controladas. Em meio a pensamentos nebulosos, Nina retornou a realidade. Ela viu Tati
no chão, jogada, fora então que percebeu que em um ato involuntário havia ferido a
amiga.
Nina fora correndo até Tati para acudir a amiga.
–Tati? –Ela balançou a menina. –você está bem?
A guardiã-espiritual abriu os olhos lentamente, reparou que não estavam enxergando o
plano físico, mas sim o planos astral. Ela via apenas a alma de Nina, que estava como
sempre tremulando dentro do corpo da menina, o som destorcido da sua voz ecoava pela
cabeça da garota.
Uma risada ecoou no local.
Tati virou o pescoço com tanta força que pode se ouvir duas vertebras estralando. Ela
olhou para um lado, nada. Olhou para a esquerda, viu um sorriso de cor escarlate, era
apenas uma boca redonda vermelha, não aparentava der olhos nem corpo.
A menina voltou seu olhar para as almas, as Agoniasestavam com os movimentos
repetidos, fora então eu reparou que nas costas de cada alma tinha um pequeno cordão,
todos seguiam para a mesma direção.
Tati se apoiou em Nina para levantar.
–Me desculpa, eu não tive a intenção de te machucar.
–Não foi nada. –Tati mentiu para acomodar a amiga, seu tórax ainda estava doendo,
nunca pensou que sombras podiam ser tão dolorosas. –Acho que já sei o queestá
acontecendo aqui.
–O que?
–Bem, essas almas estão sendo controlados por um espirito sombrio. Se eu conseguir
purifica-lo, acho que acabo por purificar elas também.
–Você é bem esperta. –Falou uma voz grossa.
As pernas das duas tremeram quando elas ouviram essa terceira voz. De repente um
espirito sombrio se materializou no plano físico, na frente das duas. Ele era enorme, três
metros de altura no menino, o corpo era humanoide, tinha ombros largos, e braços com
mãos gigantes. Uma coisa curiosa que Tati e Nina poderão notar era que ele não tinha
pernas, do tronco para baixo ele deixava de existir.
Os olhos vermelhos as fuzilavam.
–O que quer? –Tati tomou iniciativa e falou primeiro. –Deixe essas almas em paz!
–Haikas receiaque não, pequena sentinela-astral. –Ele respondeu.–Haikas quer
sentimentos ruins, Haikas vai conseguir.
Tati não precisou ouvir muito do discurso do espirito para saber que ele era pouco
desenvolvido, provavelmente nascera do sofrimento das Umbramancers que morreram
ali, e nunca mais fora alimentado por sentimento ruim algum. A incógnita dele não
comer aquelas almas flutuou na cabeça da menina por segundos, até que ela mesma se
respondeu, ele era um espirito pouco desenvolvido, criado por sentimentos mistos. A
dor das Umbras, mais o sadismo dos Lumen pode ter resultado naquilo, um ser que
apenas usava as Agonias para apavorar outras pessoas, e então se alimentar de seus
medos.
Haikas, o espirito sombrio levantou uma de suas enormes mão arroxeadas e tentou
esmagar as duas. Se não fosse por um reflexo de Nina, provavelmente já estariam
mortas. A Umbramancer criou uma bolha de Umbra, que felizmente fora o suficiente
para aguentar a pancada.
–O que iremos fazer?–Nina perguntou, por alguns instantes se lembrou da luta contra
os Lumen, ela e Ian estavam na mesma situação, dentro da bolha.
–Eu posso purifica-lo. –Tati respondeu. –Mas acho que será um pouco difícil.
–Não tem um plano ou algo do tipo?–Nina abriu os braços em um movimento rápido,
assim reforçando a bolha. Mais uma pancada as atingiu.
–Que eu me lembre, a garota prodígio aqui é você.

40- ELETRICIDADE
Nina e Tati não tinham um plano formado quando se separaram. Uma correu para a
direita e outra para a esquerda. A Umbramancer fez mãos de sombras, essas mesmas
mãos que começaram a pegar pedaços de pedra e jogar contra o espirito sombrio.
Haikas fora ferido na cara algumas fezes, mas se injuriou e tentou esmagar Nina
novamente. Novamente a bolha de sombras havia salvado a menina. Dentro da bolha, m
baixo tom, Nina agradeceu a irmã Ediviges por ter-lhe ensinado aquela técnica.
Por poucos centímetros Tati não fora esmagada, reparou nos padrões de golpes de
Haikas, ele era literalmente uma criança. Apenas esmagava as coisas e jogava longe, e
brincava com seus brinquedos, que seriam as almas das Umbras. A guardiã-espiritual
teve que ralar o joelho no chão para escara de um soterramento que estava acontecendo.
Quase não conseguiu, a dor era muita, mas no final conseguiu.
Fora então eu percebeu uma brecha, poderia escara o monte de tijolos que havia
acabado dese formar e então tentar purificar. Ela resolveu fazer isso.
Escalar o monte de pedras não estava sendo fácil, já havia escorregado três vezes e se
escorregasse mais uma não iria tentar novamente, mas para a felicidade dela, ela
conseguiu. Lá de cima conseguiu verNina no chão. A Umbramancer lutava bravamente.
Nina consistia na bolha de sombras, sua ideia não era atacar o inimigo, era distrai-lo, e
estava funcionando. Tati deu alguns passos para trás, e em seguida deu um salto para
frente. No meio do ar seus cabelos que estavam presos se soltaram e sua presilha fora
para longe, por segundo pensou o que aconteceria com ela se Haikas se
desmaterializasse e voltasse para o astral, provavelmente iria morrer se caísse daquela
altura.
Mas para a felicidade dela, O espirito não percebeu ela chegando. Tati encostou sua
marca em forma de “S” nas costas do espirito e por alguns segundos se agarrou a ele.
Seus olhos, e os de Haikas, começaram a brilhar. A cor roxa do corpo de Haikas fora
ficando branca, e os olhos vermelhos ficaram azuis, o sorriso tenebroso virou um sorriso
amigável. As almas que estavam ligadas a Haikas por cordas, começaram a brilhar.
Elas viraram poeira dourada e despareceram.
–Você evoluiu muito, Nina.–Uma voz falou.
Nina se virou para ver quem era, mas não viu ninguém. Reconheceu a voz e não
acreditou, Irmã Ediviges?
Uma lagrima escorreu no rosto da menina.
Haikas havia se tornado um espirito de luz, e provavelmente iria se encontrar com fadas
que iria guia-lo, assim como o lobo havia feito. Tati caiu no chão e acompanhou Nina
saída de lá. Antes de saírem nina havia pedido para passaram em um cômodo destruído.
A pesar de estar em pedaços, um livro ainda havia sobrado.
Elas voltaram para casa.

Levi estava dormindo no sofá quando elas chegaram. O dia já estava amanhecendo e
céu estava alaranjado. O feiticeiro se levantou com pressa do sofá quando viu a
namorada na porta. Ele abraçou Tati.
–Onde estava? Eu estava preocupado.
–Fomos apenas atrás de Agonias. –Ela explicou, com o tom de voz cansado. –Agora eu
preciso dormir.
Nina e Tati rumaram para o quarto onde dormiam, a guardiã-espiritual deu um beijo de
despedida no seu namorado e fora descansar um pouco. Enquanto as duas se deitavam
para dormir, Tália havia acabado de levantar. A Pyromancer não quis incomoda-las
então decidiu sair do cômodo.
Viu o feiticeiro se recolhendo para continuar a dormir no quarto que dividia com o
irmão.

Daniel não sabia para onde ir, já era o segundo dia que seu tio Adriano estava na sua
casa, comendo da sua comida, usufruindo de suas coisas e ele não podia falar nada,
qualquer coisa já era motivo de falar para respeita-lo não só por ser mais velho, mas por
ser seu tio.
Saiu logo cedo de manhã, com sua guitarra elétrica nas costas, com a antiga desculpa:
“vou ensaiar com a banda”, Adriano podia falar que estava mentindo, mas não queria
ser um tirano prendendo o menino dentro de casa.
Daniel chegou a Praça Verde, a principio desacreditou que chegou ali tão rápido, havia
atravessado o bairro de Lima inteiro, e chegado a Argema em pouco minutos, mas
voltando-se a realidade a sua volta, resolveu sentar-se em um banco.
Pensou para um lugar onde poderia ir, nenhum veio a sua cabeça. Já havia passado o
dia anterior inteiro na casa de Fred, seu melhor amigo, poderia ligar para outros amigos,
mas desanimou-se em fazer isso. Por alguns instantes se lembrou de seu pai, onde
poderia estar agora?
Talvez morto, talvez vivo, essa duvida pairou na cabeça do menino até que se lembrou
de uma coisa que ouviu de seu pai quando fez quinze anos:
“–Filho, se precisar de algo, e eu não estiver mais aqui, procure algo na terceira
gaveta do meu escritório. Lá tem um endereço de velhos amigos meus.”–A voz rouca
de seu pai ecoou pela sua cabeça.
O Electrimancer se levantou rapidamente e limou as calças com safanões , se pôs a
andar para a delegacia, que não era muito longe dali onde estava.
O grande complexo de delegacia de Costa da Areia era enorme para compensar a falta
de delegacias menores espalhadas pela cidade. Era um edifício largo e grande, um
quarteirão e meio de largura, e três andares de altura. A estrutura e arquitetura eram da
época colonial, tijolos beges com detalhes em branco. No topo jazia um enorme sino,
uma das provas que ali já fora uma antiga igreja.
Daniel iria entrar, caso não tivesse algo de errado, tinham muitas pessoas lá dentro, não
poderia entrar no escritório de seu pai e pegar o que quisesse. Não iriam deixa-lo fazer
isso. Mas não tento outra saída, resolveu seguir
O lugar de entrada da delegacia era grande, tinha cadeiras almofadadas cor de creme a
esquerda, e cartazes de leis anti-fumo e contra pedofilia à direita. O piso de mármore era
escuro, assim como um balcão de madeira que centralizava ali. Ele entrou sem tentar
ser notado por ninguém, mas para sua infelicidade, seu plano falhou miseravelmente.
Um companheiro de trabalho de seu pai fora falar com ele, era o cabo Walmir, um
homem vestido de farda azul marinho, e com longos cabelos escuros por baixo de uma
boina cinza.
–Eae garoto. –Ele cumprimentou Daniel com seu jeito escandaloso de ser. Walmir
falava alto e ainda por cima gesticulava com as mãos, não surpreenderia Daniel se ele
descobrisse que tinha hiperatividade.
–Oi. –Daniel falou entre os dentes. Ele iria perguntar algo como “Como vai à família”
ou “como anda o serviço”, mas o policial tomou iniciativa antes.
–Onde está seu pai? –O policial perguntou. –Faz dias que ele anda sumido, ele é
delegado, não pode desaparecer assim de uma hora pra outra.
–Ele está com a minha avó no interior. –Daniel inventou um blefe tão espontâneo que
quase duvidou de si mesmo, sempre fora bom em mentir, mas agora tinha sido tão
rápido: –Pensei que tinha falado a você.
–Ele não disse nada. –O oficial começou a coçar o ralo cavanhaque que tinha. –
Estranho.
Daniel tentou desviar do cabo Walmir andando para o lado, mas o homem seguiu seu
movimento, Walmir ficou na frente do Electrimancer, assim impossibilitando Daniel de
seguir para onde queria.
–Onde quer ir?
–Eu queria ir para a sala do meu pai. –Daniel tentou se evadir para o lado, mas o
homem seguiu seu movimento novamente.
–Por que não falou antes?! –Ele disse berrando. Daniel teve vontade de soltar um raio
no meio da cara dele, mas se conteve. –Eu posso te levar até lá.
–É que eu gostaria de ir sozinho. –O Electrimancer tentou despista-lo.
–É melhor não, meus superiores irão brigar comigo se eu deixar uma criança andar por
ai sozinha.
–Mas o seu superior é o meu pai.
–Exatamente. –ele levantou o indicador, como se estivesse ensinando uma criança. – Se
ele descobrir disso quando voltar, irei estar frito.
“Frito você vai estar quando eu te jogar um raio”–Daniel pensou.
Ele e o Cabo foram andando pelos corredores da delegacia. Fazia tempo que Daniel não
entrava ali, já até tinha esquecido como era. Os corredores largos de paredes verde
musgo, com inúmeras portas e pessoas que não paravam de transitar com bolos de papel
na mão. Uma mulher esbarou neles, mas ela nem ligou e continuou seguindo seu trajeto.
Eles subiram uma escadaria que ficava no final do corredor que estavam.
A escada levava para outro corredor, mas esse era menor, havia apenas uma virada no
final e apenas uma porta. A porta que Daniel tanto ansiava. O Electrimancer tentou
abrir, trancada.
–Vai com calma menino. –O oficial o advertiu.
–Droga, esqueci que isso vive trancado. –Daniel resmungou.
–Não será problema. –Walmir enfiou a mão por debaixo da farda e de lá tirou uma
copia da chave.–Seu pai sempre deixou essa cópia comigo, caso algo acontecesse com
ele.–O policial abriu a tranca e Daniel entrou como um desesperado. –O que quer aqui
garoto?
–É que eu deixei uma antiga palheta da sorte há um tempo aqui, só não me lembro
onde.–Daniel soltou outro blefe.
A sala do delegado Salles era quadrada, as paredes eram de cor azul marinho e um
enorme vidro coberto com uma cortina dava ao corredor. Daniel estava xeretando a
mesa do pai dele, por alguns instantes pensou em não fazer nada, apenas ficar ali
descansando naquela confortável poltrona que ficava lá.
Era uma mesa em forma de “L” de madeira escura, um computador jazia ali, na tela se
via apenas o brasão da policia de Costa da Areia. Daniel se agachou e abriu a segunda
gaveta, por sorte estava destrancada. Começou a remexer nos papeis que ali estavam,
teve um sobressalto quando pegou acidentalmente um revolver que seu pai guardava.
Devolveu a arma ao seu lugar antes de Walmir ver. Ele mexeu por alguns segundos,
mas parou quando um papel caiu no chão, era o que estava procurando
“Para Daniel, em caso de emergências”
Ele pegou o papel e voltou-se para porta, antes disso fechou a gaveta e ajeitou tudo,
para ninguém desconfiar de nada. Rumou até Walmir que o esperava na porta, fazendo
vigia.
Daniel agradeceu o policial com rápidas palavras, e em seguida foi embora.
41- FIM DE TARDE

Já era fim de tarde, Nina e Tati estavam conversando na cozinha, as duas tentavam
cozinhar algo, mas pelo cheiro que tália sentia da sala, não estava dando certo. A
Pyromancer estava jogando no seu videogame contra Ian, que como sempre, estava
fazendo suas facetas e linguetas.
–Parece que eu ganhei.....de novo –Ela o provocou.
–Você é uma viciada. –Ele reclamou. O caçador deixou o controle no chão e se levantou
do sofá. –Vou ver o que elas estão fazendo.
–Acho que estão botando fogo na sua casa. –Tália ironizou. –Talvez queiram ajuda. –
Ela estalou os dedos e criou uma chispa de fogo.
–Talvez não.–Ian encerrou a conversa.
O caçador fora até a cozinha e quando chegou lá viu uma enorme nuvem de fumaça
escura, por um minuto torceu para que fosse uma técnica da Umbramancer.
–O que vocês duas estão fazendo? –Ele perguntou quando o cheiro de queimado
invadiu suas narinas.
–Era para serem muffins, mas acho que Nina errou na receita. –Tati falou, ofegante. A
guardiã-astral tentava dissipar a fumaça com safanões no meio do ar.
–Eu errei na receita? Não sou eu que tenho duzentos anos de vida e ainda não sei
cozinhar.–Nina tentou argumentar entre tosses e pigarros.
–Mas eu nunca precisei comer! –Tati tossiu enquanto explicava.
Nina cansou de respirar aquela fumaça queimada, a Umbramancer criou duas mãos de
sombra, ela começou a abanar o ar, as mãos de Umbra seguiram seus movimentos. Em
poucos segundos a fumaça se dissipou e Ian pode ver sua cozinha toda melecada, era
massa de muffins para tudo quanto era lado.
–Tratem de limpar isso. –Ele disse. Por instantes se lembrou de sua mãe, Patrícia,
sempre quando ele inventava de fazer algo na cozinha, acabava sempre do mesmo jeito.
Nina e Tati trocaram olhares desconfiados, caíram na gargalhada.
Ian não entendeu a reação das meninas, mas decidiu ignorar. Rumou até o quarto,
imaginou ver Levi deitado, mas não viu ninguém. Andou pelos outros cômodos da casa,
nenhum sinal do irmão. Desceu as escadas e fora até a biblioteca subterrânea, Levi
estava lá!
O feiticeiro estava sentado em uma cadeira, lendo um pequeno livro que Ian já havia
visto. Forana caixa que Ian havia pego as balas de platina que esse livro também estava
guardado. O nome do pequeno volume era “Espíritos”, era gravado na capa com letras
douradas.
–Que milagre você por aqui.–Ian comentou para o irmão.
–É verdade, desde aquele dia que descobrimos sobre tudo isso aqui, eu nunca desci
aqui.–Levi falou com tom de nostalgia, mesmo não tento porque, já que tudo isso fazia
menos de um mês.
–Falando nisso, o dia que a gente descobriu isso aqui é tão estranho. –Ian continuou a
conversa. –Nossas vidas mudaram por completo.
–Totalmente.–Levi concordou com o irmão.
O cômodo ficou em silencio, os irmãos apenas ficaram pensando de como suas vidas
haviam mudado. Ian havia virado um atirador, e descoberto que sua amiga era uma
manipuladora de fogo, o amigo de seus pais um caçador e a esposa dele uma maga. Levi
revisou a visão que tinha dos pais, pessoas muito ocupadas, que provavelmente
arriscavam a vida todas as noites. Havia conhecido uma guardiã-espiritual e se
apaixonado por ela, mesmo em poucos dias, seu amor por aquela jovem era
incondicional.
–Por que está lendo esse livro? –Ian decidiu falar algo.
–Estou tentando aprender algo sobre espíritos, estava lendo algo sobre suas fraquezas e
descobri que consigo fazer um feitiço novo. –Levi abriu a palma e se concentrou.
Ficou encarando a mão aberta por instantes, mas em seguida algo pareceu, era uma
chama roxa. Parecia não produzir luz, apenas crepitava na mão do menino. Ian teve um
leve sobressalto.
–Nossa, você consegue fazer as chamas purpuras.–Ian se lembrou daquilo graças a um
livro que havia lido.
–Mas é claro.–Levi desfez a chama roxa. –Agora posso atacar espíritos sombrios ,
mesmo eles estando no plano astral.
–Levi, sem querer ser chato, sei que acabou se apegando demais a essa garota. –Ian
falou com jeito se, graça. –Mas você sabe que ela não vai ficar aqui para sempre. Ela é
uma guardiã-espiritual, ela já recuperou seus poderes, já consegue deixar seu corpo.
Não tem mais sentido ela continuar aqui.
–Do que você está falando? –Levi não compreendeu o irmão.–Ela não vai me deixar,
ela gosta de mim.
–Levi, a questão não é essa, você sabe se ela tem certeza de que ela está disposta a
deixar a antiga vida que tinha, para agora viver em um corpo permanentemente?
–Pensei que você me apoiasse.–Levi andou batendo os pés até a porta.
–Eu te apoio, só não quero que se machuque.–O caçador argumentou.
–Está parecendo um velho falando. –O feiticeiro saiu da biblioteca.
Ian iria atrás do irmão, caso não ouvisse um barulho estranho. Parecia um telefone
tocando, o som era abafado. Ele fora seguindo a origem do som, e chegou à prateleira
da direta. Afastou uma pilha de livros e se surpreendeu a ver um telefone. Era um
aparelho vermelho, com dígitos pretos e cabo enrolado.
Sem muitas escolhas, resolveu atender.
–Alô, preciso que me encontre na Praça Verde em vinte minutos, seja o mais discreto
possível, vá sozinho. Estarei de óculos escuro, digo isso para você poder me identificar.
Ian havia acabado de abrir a boca para responder, mas a pessoa no outro lado da linha
desligou. Não tento muitas opções, ele resolveu fazer o que a voz mandou. Saiu de casa
sem ser notado por ninguém, Levi, estava trocando beijos e braços com Tati, Nina
limpava a sujeira na cozinha, e Tália estava muito ocupada tentando ganhar no
videogame.

A Praça Verde estava desértica, algo raro de se ver, principalmente em temporada de


férias escolares. O sol do fim de tarde alaranjado fazia contraste com as folhas verdes
das arvores. Ian ouviu os guizos do carrinho de um sorveteiro, era o Velho Manuel, Ian
o conhecia desde a infância e seus picolés sempre foram deliciosos.
Ele girou o pescoço para procurar por mais pessoas, cogitou que o fora Manuel que
havia ligado para ele, mas tirou a ideia da cabeça. Desde o incidente com os Fectore,
desde que havia visto aquele monte de seres sobrenaturais em um lugar só, pensou que
todas as pessoas de Costa da Areia fossem vampiros, canibals, metamorfos ou lycans.
Tirou essa ideia da cabeça quando avistou mais alguém.
Era um jovem, cabelos loiros, corpo atlético, carregava nas costas uma guitarra. Ian
reparou que os olhos estavam escondidos atrás de um óculos escuro. Mesmo sendo um
menino de sua idade, Ian resolveu seguir.
Conforme fora se aproximando, notou a identidade do menino, aquele era Daniel, seu
colega de classe. Pensou em dar no pé, não poderia ver nada interessante em Daniel, ele
era um esportista que tocava em uma banda, não poderia ter alguma ligação com o
submundo magico. Decidiu afastar esse pensamento preconceituoso de sua cabeça, uma
coisa que havia aprendendo como caçador era que todas as pessoas, todas, tem uma
historia para contar, e alguém que querem matar.
–Daniel. –Ian falou.
–Ha? –Daniel ainda estava de costas, ele se virou e viu o antigo colega de classe.–
Ian?Então você é o caçador?
–Sim, e você é? –Ian tentou acertar o que o menino poderia ser: –Um metamorfo?
Lycan?
–Eu acho que não deveria estar te contando isso. –Ele abaixou o tom de voz, mesmo a
raça estando deserta. –Mas já que estamos no mesmo barco. Eu sou um Electrimancer.
Ian poderia cair para trás, dar risadas talvez, ou ficar preocupado, mas aquela altura já
não se surpreendera. Poderia imaginar tudo, para todas, não iria se surpreender se o
velho Manuel fosse um tipo de Mancer também. Talvez um Criomancer?
Ele retornou a realidade quando ouviu uma terceira voz.
–Ele é um Electrimancer? –Alguém sussurrou baixinho. –Não é possível!
–Ei, fica quieta. –Pode se ouvir outra voz, ela soltou um chiado para calar a outra. –Não
podem saber que estamos aqui.
O caçador não pode acreditar no que estava ouvindo, eram Nina e Tália. Ele olhou para
o lado mais uma vez, não viu ninguém, deduziu rapidamente.
–Levi. –Ele falou pausadamente, suspirou e continuou. –Desfaça isso.
De repente, o invisível se tornou visível e os quatro surgiram ali, Levi, Tati, Nina e
Tália. Todos encaravam Ian com cara de paisagem.

42- PATRULHEIROS
Tália soltou uma gargalhada quando viu que ninguém falou nada.
–O que estão fazendo aqui?–O caçador perguntou.
–Viemos atrás de você, –Nina falou o obvio, mas logo em seguida complementou a
explicação. –Ficamos perolados com sua saída repentina, queriam saber onde iria.
–Eu só vim encontrar com ele. –Ian virou o rosto para Daniel.–Falando em você, disse
que é um Electrimancer não é mesmo.
–Isso. –O loiro assentiu.
–Espere um minuto. –Levi interrompeu a conversa.–Se é um Electrimancer, como fez
aquilo com os Fectore.–A lembrança dos homens convulsionando voltou na memoria do
menino.
–Aquilo? –Daniel respondeu.–Aquilo é muito fácil. Eu apenas aumentei a corrente
elétrica nos nervos deles, até que o lobo cerebral deles se sobrecarregasse. Electrimancia
não serve apenas para lançar raios, é pura ciência.
–Voltando ao assunto principal. –Ian focou todos que estavam ali. –O que quer comigo?
–Tecnicamente não queria nada com você, mas sim com seus pais...
–O que tem meus pais?–Ian perguntou, ele colocou as mãos nos ombros de Daniel e
balançou o menino.
–Eu acho que sei o que está acontecendo, digo, sobre os sumiços na cidade.–O
Electrimancer replicou.
–Já resolvemos isso, eram os Fectore. –Tália respondeu antes de Ian.
–Não ficaram sabendo? –Ian olhou para o resto do grupo. –Pessoas continuam sumindo.
–Exatamente, e eu acho onde elas devem estar.
–Aonde? –Levi avançou contra o menino.–Onde eles estão?
–Eu não sei dizer ao certo, mas acho que muitas pistas sobre esses sumiços estão no
deposito dos Patrulheiros.
Ian repetiu mentalmente a ultima palavra que Daniel havia falado, esse nome pairou em
sua cabeça, tentou se lembrar de algo, conseguiu. Em um os livros que já havia lido
sobre a vida de seu pai, havia descoberto dessa força tarefa na região do Litoral Paulista.
Eles caçavam todas as criaturas sobrenaturais de Costa da Areia e das cidades vizinhas.
Fora por causa dessa equipe que Fernando havia ido parar na cidade e ter estabilizado
uma família lá.
Mas por que Daniel saberia dos Patrulheiros? Era algo muito secreto. Fora então que
Ian se lembrou de um pequeno detalhe, o pai do menino, o Delegado Salles, era um
Patrulheiro também. E além disso, era o fornecedor de armas de Fernando.
–Qual é seu ponto? –Ian perguntou seco para Daniel.–Você já sabe onde encontrar o
que quer, por que precisa da gente?
–Dois motivos. –O loiro levantou dois dedos. –Primeiro: pelo o que eu andei lendo,
aquele lugar não é muito seguro, não posso ir sozinho.–Ele abaixou um dedo, deixou
apenas o indicador levantando. –Segundo: O único jeito de chegar ao deposito é pelas
Vias Subterrâneas.

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