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Universidade Estadual

de Santa Cruz

Reitor
Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos

Vice-reitora
Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro

Pró-reitora de Graduação
Profª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa

Diretora do Departamento de Ciências da Educação


Profª. Maria Olívia Lisboa

Ministério da
Educação
Ficha Catalográfica

H673 História da Educação : Pedagogia EAD/UESC / Ela-


boração de conteúdo Eronilda Maria Góis de Car-
valho, Rachel de Oliveira, Raimunda Alves Moreira
de Assis. – [Ilhéus, BA] : UESC, [2009].
86 p. : il.

ISBN: 978-85-7455-180-7
Módulo I, vol. 3 - EAD de Pedagogia.
Inclui bibliografias.

1. Educação – História. 2. Educação na Antiguida-


de. I. Carvalho, Eronilda Maria Góis de. II. Oliveira,
Raquel de. III. Assis, Raimunda Alves Moreira de.

CDD 370.901
PEDAGOGIA
Coordenação UAB – UESC
Profª. Ds. Maridalva de Souza Penteado

Coordenação Adjunta UAB – UESC


Profª. Ms. Flaviana dos Santos Silva

Coordenação do Curso de Licenciatura em


Pedagogia (EAD)
Profª. Ds. Maria Elizabete Souza Couto

Elaboração de Conteúdo
Profª. Ds. Eronilda Maria Góis de Carvalho
Profª. Ds. Rachel de Oliveira
Profª. Ds. Raimunda Alves Moreira de Assis

Instrucional Design
Profª. Ms. Marileide dos Santos de Olivera
Profª. Ds. Gessilene Silveira Kanthack

Revisão
Profª. Ms. Aline de Santos Brito Nascimento

Coordenação de Design
EAD - UESC

Profª. Ms. Julianna Nascimento Torezani

Diagramação
Jamile A. de Mattos Chagouri Ocké
João Luiz Cardeal Craveiro

Ilustração e Capa
Sheylla Tomás Silva
Sumário

UNIDADE I

Educação na Antiguidade Clássica...........................................................................11


1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 13
2. DIFERENTES COMPREENSÕES SOBRE CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE................................ 14
3. GRÉCIA - BERÇO CIVILIZATÓRIO DA HUMANIDADE.................................................. 15
4. OS GRANDES FILÓSOFOS GREGOS......................................................................... 19
4.1 Sócrates.................................................................................................... 19
4.2 Platão ....................................................................................................... 20
4.3 Aristóteles ............................................................................................... 20
5. A EDUCAÇÃO EM ROMA: A INFLUÊNCIA DA GRÉCIA ................................................. 21
5.1 A educação romana: da imitação à criação das escolas..................................... 22
5.2 Os principais educadores de Roma................................................................. 23
RESUMINDO............................................................................................................. 24
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 25

UNIDADE II

Educação Medieval e Moderna................................................................................ 27


1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 29
2. QUEM ERAM OS POVOS EUROPEUS DA IDADE MÉDIA? ............................................. 30
3. A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA.............................................................................. 30
3.1 A importância dos Mosteiros para o desenvolvimento do campo
educacional .................................................................................................... 31
3.2 A educação no Renascimento........................................................................ 34
3.3 A Educação no Iluminismo............................................................................ 36
3.4 Precursores do Iluminismo e sua influência na educação.................................. 37
3.5 Filósofos Iluministas e suas contribuições para a educação................................ 38
4. A EDUCAÇÃO NA IDADE MODERNA (SÉCULO XX): PRINCIPAIS MOVIMENTOS............... 40
4.1 Contribuições de outros pensadores............................................................... 42
RESUMINDO............................................................................................................. 44
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 45
UNIDADE III

História da Educação no Brasil................................................................................ 47


1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 49
2. A PRIMEIRA FASE EDUCACIONAL NO BRASIL-COLONIA ............................................ 50
3. A FASE POMBALINA.............................................................................................. 51
4. A EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO................................................................................... 52
5. FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA.......................................... 54
RESUMINDO............................................................................................................. 57
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 58

UNIDADE IV

As Utopias Clássicas............................................................................................... 61
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 63
2. A EDUCAÇÃO NA DÉCADA DE 1930 E A REPÚBLICA NOVA. ........................................ 64
3. PRIMEIRAS REFORMAS DE ENSINO DA REPÚBLICA NOVA.......................................... 65
3.1 O manifesto dos pioneiros da Educação Nova................................................... 66
4. O ESTADO NOVO E A EDUCAÇÃO. .......................................................................... 67
4.1 “Leis” Orgânicas do Ensino............................................................................ 68
5. A QUARTA REPÚBLICA E A LEI 4.024/61 ................................................................. 69
6. A EDUCAÇÃO POPULAR NO BRASIL......................................................................... 71
7. A DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA: CONTRIBUIÇÕES PARA
A EDUCAÇÃO ...................................................................................................... 73
8. A EDUCAÇÃO E A REPÚBLICA NOVA ....................................................................... 76
RESUMINDO............................................................................................................. 79
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 79

UNIDADE V

A Produção Historiográfica da Educação na Região Cacaueira................................. 83


1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 85
2. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA REGIÃO CACAUEIRA: ALGUNS ASPECTOS.................... 86
3. A EDUCAÇÃO EM ILHÉUS. ..................................................................................... 87
4. A EDUCAÇÃO EM ITABUNA. ................................................................................... 90
5. O ENSINO SUPERIOR............................................................................................ 93
RESUMINDO............................................................................................................. 95
REFERÊNCIAS........................................................................................................... 96
DISCIPLINA

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Tendências e práticas educacionais nas sociedades


Ementa

antigas, medievais, modernas e contemporâneas


nos aspectos: políticos, sociais, econômicos e
tecnológicos. A origem das Universidades e o
desenvolvimento do saber. Os diferentes períodos
da história da educação brasileira e regional.

Carga Horária: 60 horas-aula

UNIDADE I: EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA

UNIDADE II: EDUCAÇÃO MEDIEVAL E MODERNA

UNIDADE III: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

UNIDADE IV: A EDUCAÇÃO BRASILEIRA A PARTIR DA SEGUNDA REPÚBLICA

UNIDADE V: A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA DA EDUCAÇÃO NA REGIÃO


CACAUEIRA
1

unidade
EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Profª. Drª. Rachel de Oliveira
Meta

Apresentar fatos sociopolíticos, econômicos e outros


que favoreceram o desenvolvimento da educação
na antiguidade clássica.
Objetivo

Ao final desta unidade, você deverá:

• compreender o complexo de relações existentes


entre a educação brasileira e os conhecimentos
produzidos na antiguidade clássica.
1
Unidade
UNIDADE I

1 INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), agora, tomaremos um barco de volta


à antiga Grécia. Você deve estar se perguntando por quê?
Como de volta? Mas você perceberá o quanto esta viagem é
extremamente necessária para todos os pedagogos brasileiros,
que carregam, conscientemente ou não, um grande volume de
bagagem cultural construída pelos gregos, embora muito de
nós jamais tivéssemos conversado com algum ou passeado por
lá.
Nesta viagem simbólica, dialogaremos sobre três pontos
considerados básicos para o entendimento desta cultura,
que se tornou sinônimo de civilização e se espraiou para
todos os continentes. São eles: a) Diferentes compreensões
sobre civilização e barbárie; b) Grécia - berço civilizatório da
humanidade; e c) Os grandes filósofos gregos.

UESC Pedagogia 13
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica

2 DIFERENTES COMPREENSÕES SOBRE CIVILIZAÇÃO E


BARBÁRIE

A Grécia é considerada o celeiro do pensamento pedagógico


ocidental. Lá surgiu, conforme diferentes historiadores, as
primeiras concepções e os primeiros debates sobre cidadania,
liberdade e democracia, como também floresceu o culto à
arte e à literatura. Facilitada pela posição geograficamente
estratégica, a Grécia disseminou sua cultura servindo de berço
civilizatório para toda a Europa e para os países conquistados
pelos europeus. Portanto, para se entender a história da
educação brasileira e interpretar as bases de nosso currículo
escolar, cujos princípios são basicamente eurocêntricos, é
fundamental estudar a história da civilização Grega.
Mas, apesar de ter se tornado referência “consagrada”, não
foi a Grécia que exclusivamente contribuiu para a consolidação
da chamada civilização moderna. E por quê? Então vamos tentar
compreender melhor o significado da palavra civilização e porque
ela representa o oposto da barbárie. A palavra civilização deriva
do latim civita, que designava cidade, e civile, o habitante
da cidade, que se diferenciava significativamente daqueles
que moravam no campo, supostamente os não civilizados,
por desconhecerem os códigos sociais dos supostamente
civilizados.
A expressão civilização originalmente se contrapõe e é
antônimo de barbárie. Civilização pode ser entendida como
a aprovação a um conjunto de crenças que inclui um modo
específico de produzir conhecimentos, de se relacionar com
a natureza, com as divindades e outros valores e costumes,
considerados corretos e modernos pelo grupo dominante.
Bárbaras seriam as pessoas que ignoram tais códigos por
desconhecimento, por resistência ou por ter construído outra
forma de ver o mundo.
Costumeiramente achamos altamente civilizados os
países que detêm poder sobre a tecnologia e as outras fontes de
conhecimento. Entretanto, mesmo estando no mais alto estágio
civilizatório, alguns grupos podem se comportar como bárbaros,
por exemplo, quando matam pessoas e destroem a natureza
para adquirir bens e se manter no poder. O que acontece,
atualmente, com alguns países considerados desenvolvidos, e

14 Módulo 1 I Volume 3 EAD


o que ocorreu no período das grandes navegações, quando os

1
invasores consideravam bárbaros os povos que divergiam de

Unidade
suas crenças e costumes, a exemplo de Portugal e da própria
Grécia, que invadiu muitos territórios para submetê-los ao seu
modo de ser, agindo de forma bárbara, destruindo pessoas e
expropriando suas culturas.
A partir destas singelas definições, podemos concluir que
a ideia de civilização pode abarcar muitos conflitos, notadamente
quando se analisa o patrimônio histórico dos mais diferentes
povos sem respeitar seus valores culturais. Para finalizar este
início de conversa, vamos acrescentar mais uma expressão
que está intimamente ligada ao fenômeno da barbárie e da
civilização: a colonização. Entendemos, assim, que dificilmente
alguém abandona seus valores de modo espontâneo, pois
uma cultura sempre se impõe a outra colonização por meio de
processos violentos de colonização de mentes e costumes.
Foi o advento do colonialismo que colocou a civilização
greco-romana ocidental como referencial universal de cultura.
Conforme Nascimento (2008, p. 63),

[...] de acordo com essa noção, a civilização


ocidental representaria o estágio mais avançado do
desenvolvimento humano, o único em que o progresso
conduz a uma qualidade cada vez melhor. As culturas
dos povos não-europeus são consideradas arcaicas,
primitivas, estáticas de pouca contribuição para
progresso humano.

Com este posicionamento, não deixamos de reconhecer


o valor dos conhecimentos produzidos pelo ocidente,
notadamente os produzidos pela Grécia, mas colocamos em
xeque sua exclusividade e autenticidade. Nascimento (2008)
ainda afirma que vários filósofos e teólogos gregos estudaram
com mestres africanos, a exemplo de Sócrates, Platão, Tales
de Mileto, Anaxágoras e Aristóteles. Muitos conhecimentos
considerados de origem greco-romana foram expropriados de
outros povos.

3 GRÉCIA - BERÇO CIVILIZATÓRIO DA HUMANIDADE

O diálogo realizado no tópico anterior nos ajudará a

UESC Pedagogia 15
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica

entender melhor a posição da Grécia no mundo antigo e por


que a educação brasileira ainda herdou suas influências.
A Grécia passou por diferentes
O período Homérico foi decisivo para a períodos de evolução. Invadiu territórios
U V
a FR sedimentação da cultura grega na Europa
K e também foi invadida pelos povos dórios,
C AM e em muitas outras partes do mundo.
Para Homero, a educação tinha um caráter mergulhando num período obscuro, antes dos
eminentemente prático e, por esta razão,
SAIBA MAIS

todos os gregos, obviamente os livres,


Tempos Homéricos. Conforme Aranha (2007)
deveriam atingir a sabedoria e o poder e outros estudiosos, a história da Grécia
de ação. Os poemas de Homero fizeram a
síntese entre educação e cultura, articulando Antiga registra a seguinte periodização: 1)
os conhecimentos entre a geografia, a
Civilização Micênica: séculos XX a XII a.C.;
história, a literatura e outros saberes. As
suas obras davam também extremo valor 2)Tempos Homéricos: séculos XII a VII a.C.;
à força e à bravura. Desta síntese, nasceu
uma educação voltada para o culto ao corpo 3)Período Arcaico: séculos VIII a VI a.C.; 4)
e o amor à arte.
Período Clássico: séculos V e IV a.C.; e 5)
Período Helenístico: séculos III e II a.C.
A Grécia inaugurou um novo conceito de educação, a
chamada educação liberal, resultado de um longo processo
de evolução histórica, fundamentada na liberdade individual,
dirigida ao homem livre. Contudo, a Grécia contava apenas
com 10% de sua população livre. E ser livre significava não
ter preocupação com os bens materiais ou com o comércio e a
guerra – atividades reservadas às classes inferiores. Entretanto,
para manter esse exército de escravos, foi necessário manter
outro exército de pessoas bem treinadas para manter a ordem
estabelecida pelo grupo minoritário. Por esta razão, a educação
foi quase que exclusivamente voltada para formar guerreiros
com estimulo à competição e o culto ao corpo.
Conforme Piletti (1987), a Grécia cultivou, entre outros,
os seguintes conceitos e ideias: de liberdade política no Estado
e através dele; do amor ao saber pelo saber, isto é, a filosofia;
do homem como sendo, primariamente, um ser racional; de
liberdade e responsabilidade moral; a formulada por Sócrates
de que o homem deve conhecer-se a si próprio; e a de que a
educação é a preparação para a cidadania.
Entretanto, os ideais gregos não se restringiam ao culto à
beleza e à filosofia; o dinheiro e o lucro fácil também permeavam
as relações, incentivando os conflitos entre os nobres e os
plebeus. Além do aperfeiçoamento dos aparelhos de navegação
e a cunhagem de moedas que servia para garantir o sucesso
dos nobres, no comércio externo, eles ainda exploravam os
escravos ao extremo.

16 Módulo 1 I Volume 3 EAD


1
Emprestando dinheiro sob hipoteca, o nobre – que

Unidade
já era dono de muitas terras – ia-se assenhoreando
das terras alheias [...]. O cidadão pobre que perdera
as suas terras poderia considerar-se feliz se lhe
permitissem continuar cultivando essas mesmas terras,
na qualidade de colono, com a condição de entregar ao
novo proprietário cinco sextos do seu trabalho (PONCE,
1992, p. 30).

Em razão desses conflitos e por serem os escravos muito


numerosos, como já citamos, a classe dominante transformou
a organização social num acampamento militar. Aos sete anos,
o Estado se apoderava dos espartanos, que eram liberados
somente aos 60. Poucos entre os nobres sabiam ler. Entre eles,
havia desprezo pelo conhecimento que não fosse estritamente
ligado às armas e à força física.
A civilização grega também foi marcada pela busca do Utilizamos aspas na
palavra “homem”
ideal do que é ser “homem”, ou seja, a compreensão do que é ser para preservar a
pessoa, ou a finalidade do ser humano. Duas cidades, Esparta linha do pensamento
da época, porém

VOCÊ SABIA?
e Atenas, tornaram-se rivais ao responder tal questão. com o sentido de
divergência da regra
Para Esparta, os homens deveriam ser desenvolvidos em de que as palavras
todos os sentidos e ser fisicamente fortes. Para os espartanos, o masculinas incluem
todos os seres
culto ao corpo se tornou fundamental e predominou a ginástica. humanos, homens
mulheres e crianças.
Enquanto os atenienses defendiam, como virtude principal, o
exercício da liberdade, ou seja, que, para além da beleza física,
as pessoas precisavam ser racionais, falar bem, defender seus
direitos e saber argumentar, os espartanos defendiam a força
física e a oratória.
Conforme muitos historiadores e filósofos, já na
antiguidade, os gregos atingiram o ideal mais avançado de
educação. Esta é a visão, por exemplo, de Gadotti (2005), que
afirma:

Assim, a Grécia atingiu o ideal mais avançado da


educação na Antiguidade: a Paideia, uma educação
integral, que consistia na integração entre a cultura
da sociedade e a criação individual de uma outra
cultura numa influência recíproca. Os gregos
criaram uma pedagogia da eficiência individual e,
concomitantemente, da liberdade e da convivência
social e política (p. 30).

O ideal de Homero, “Ser melhor e superior aos outros”,

UESC Pedagogia 17
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica

influenciou tanto os espartanos como os atenienses na busca


da perfeição. A educação totalitária de Esparta exigia o extremo
sacrifício de todos em função do Estado. Após os sete anos, as
crianças recebiam do Estado uma educação pública e obrigatória
e viviam em grupo de acordo com a faixa etária. Os jovens
aprendiam a suportar o desconforto, a fome e a viver de forma
despojada. A educação valorizava a obediência e o respeito aos
mais velhos.
Já os atenienses buscavam privilegiar o belo, a verdade
e a perfeição, embora também buscassem o exercício do poder.
Atenas foi a escola de toda a Grécia. Ao lado do cuidado com
o físico, destacou-se a formação intelectual e política para que
melhor pudessem participar do destino da cidade. Os meninos
eram orientados à pratica de exercícios físicos, que vinham
acompanhados pela orientação moral e estética.
Praticavam a dança, como expressão corporal abrangente,
e frequentavam o ensino elementar, pouco valorizado na época.
“O mestre de letras era geralmente uma pessoa humilde, mal
paga e não tinha o prestígio do instrutor físico. Com o tempo,
à medida que aumentou a exigência de melhor formação
intelectual, delinearam-se três níveis de educação: elementar,
secundária e superior” (ARANHA, 2006, p. 65).
A educação elementar completava-se aos 13 anos,
ocasião em que as crianças mais pobres saíam para buscar um
ofício, enquanto as ricas eram encaminhadas para o ginásio.
O ginásio originalmente também era um local da prática da
educação física, mas que, aos poucos, foi se transformando
em espaço de discussão literária, oportunizando a inclusão
de temas gerais, como Geometria, Astronomia, Matemática e
outros conhecimentos, com criação de bibliotecas e salas de
estudo.
A educação superior foi iniciada pelos sofistas, filósofos
que se dedicaram à formação dos mestres e à didática. Sócrates,
Platão e Aristóteles ministraram educação no nível superior,
exercendo maior influência sobre a educação dentro e fora da
Europa. No próximo tópico, você conhecerá um pouco da vida
desses principais filósofos.
Mas queremos finalizar chamando a atenção para as
estratégias da Grécia para se manter no poder. Para produzir
riquezas e conhecimento, a Grécia manteve um alto número

18 Módulo 1 I Volume 3 EAD


de escravos, incentivou guerras, manteve o exército sempre

1
reforçado e tanto expropriou a cultura de outros povos, como

Unidade
também impôs a sua, por meio da colonização, em diferentes
épocas. Como resultado, os filósofos gregos da antiguidade
continuam a fazer parte do currículo das escolas brasileiras,
sendo reverenciados como grandes mestres.

4 OS GRANDES FILÓSOFOS GREGOS

4.1 Sócrates

Sócrates (469-399
a.C.), uma das figuras mais
emblemáticas de seu tempo,
atendia seus discípulos em
praça pública e discordava dos
sofistas, que cobravam altas
taxas para ensinar a arte de
falar bem, sem se importar com
o desenvolvimento interior dos
alunos. Sua preocupação era
a busca pessoal e a verdade,
o pensamento próprio e a
busca da voz interior. Sócrates
foi perseguido e condenado à FIGURA 1 - Sócrates (por Draco).
Fonte: http://lh3.ggpht.com/_q79D0zFvxc0/SKN_KbnSjnI/AAAAAAAAB00/7hFd6kIrU6U/

morte, porque queria buscar IMG_0734.JPG

outros caminhos para definir o


que é conhecimento. Para ele, não bastava ser corajoso, era
necessário entender o que é coragem e entender a essência
das coisas.
Sócrates combatia a arte da persuasão do palavrório vazio
em função do aprofundamento do saber. O filósofo afirmava que
a sabedoria começa pelo reconhecimento da ignorância, porque
a verdadeira tarefa da filosofia começa quando o indivíduo
supera o enganoso saber baseado em ideias pré-concebidas.
“Só sei que nada sei” e “Conheça-te a ti mesmo” foram as
frases mais célebres de Sócrates.
Para Sócrates, o fim da educação era o autoconhecimento,
pois o verdadeiro saber vem do interior. Aranha (2006) afirma

UESC Pedagogia 19
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica

que derivam do pensamento socrático algumas ideias que até


hoje influenciam a educação, tais como: “o conhecimento tem
por fim tornar possível a vida moral; o processo para adquirir
o saber é o diálogo; nenhum conhecimento pode ser dado
dogmaticamente, mas como condição para desenvolver a
capacidade de pensar” (p. 70).
Acusado de corromper a juventude, como você viu,
foi condenado à morte. Nada deixou escrito, sua história foi
contada pelos seus discípulos.

4.2 Platão

Nascido em Atenas, Platão (427 -347 a.C.)


foi o principal discípulo de Sócrates. Descendente
de uma família nobre, esteve em contato com as
pessoas mais influentes de sua época. Suas obras
incentivavam a contemplação pura da realidade
que, para ele, era “desvelar o olho do espírito”,
fazendo-o voltar sempre para a luz. Esta seria a
FIGURA 2 - Platão (por Ricardo André Frantz). principal tarefa da educação. Entre as várias obras,
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Herma_of_Plato_-_0049MC.jpg
destacam-se: República, Alegoria da Caverna,
Banquete, Sofistas.

4.3 Aristóteles

Nascido na Macedônia, Aristóteles (384-322


a.C.) é considerado o maior sistematizador de toda
a antiguidade. Foi discípulo de Platão e ingressou
na academia aos 17 anos. Ao contrário do idealismo
de seu mestre, não acreditava que nascemos
determinados, mas que, durante a vida, temos a
oportunidade para aprender e nos tornar criaturas
nobres ou não.
Segundo Gadotti (2005, p. 38), Aristóteles
FIGURA 3 - Aristóteles (por Beachcomber). defende
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Aristoteles.png

[...] três fatores principais que determinam o


desenvolvimento espiritual do homem: ´disposição

20 Módulo 1 I Volume 3 EAD


inata, hábito e ensino`. Com isto mostra-se

1
favorável às medidas educacionais ‘condicionantes’
e acredita que o homem pode tornar-se a criatura

Unidade
mais nobre, como pode tornar-se a pior de todas,
que aprendemos fazendo, que nos tornamos justos
agindo justamente.

A fim de sistematizar um pouco do que viu nesse início


de unidade, você deverá resolver as questões abaixo.

ATIVIDADES
1) Como podemos definir e estabelecer relações entre as expressões: civilização,
barbárie e colonização?
2) Por que a Grécia não pode ser exclusivamente considerada o berço da
civilização?
3) Você acha que os ideais da cultura grega ainda são presentes na nossa civilização?
Comente.
4) O que Sócrates combatia e por que foi condenado à morte?

5 A EDUCAÇÃO EM ROMA: A INFLUÊNCIA DA


GRÉCIA

A cultura romana foi formada com a contribuição e


saberes de diversos povos, principalmente os gregos. Quando
Roma invadiu a Grécia, assimilou seus costumes, língua e
religião, transformando a sua civilização em Greco-Romana.
Mas, ao contrário dos gregos, que, além do culto ao
corpo, se dedicavam à filosofia buscando a finalidade do ser,
os romanos se preocupavam com os altos valores militares e a
utilidade mais imediata das coisas, ou seja, não tinham interesses
por temas altamente filosóficos. Por esta razão, os gregos os
consideravam incapazes de apreciar os aspectos superiores
da vida. Os romanos se defendiam, acusando os gregos de
visionários. Essas duas civilizações também escolheram
caminhos diferentes em relação ao desenvolvimento de temas
sociais. Enquanto a Grécia liderou os debates sobre cidadania,
liberdade e democracia, Roma se destacou pela elaboração de
conceitos sobre direitos e deveres.

UESC Pedagogia 21
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica

5.1 A educação romana: da imitação à criação


das escolas

A imitação foi o primeiro método de educação romana,


tendo a família como principal núcleo. O pai tinha um papel
fundamental, introduzindo os filhos nas diferentes atividades
(agrícola, militar, econômica, civil etc.). Mas a figura da mãe
também foi bastante valorizada. Diferentemente do que
acontecia no restante dos antigos impérios, a situação da
mulher em Roma era elevada e, apesar de participar da vida
pública, possuía respeitável autoridade dentro da família, sendo
venerada como mãe. Neste modelo educacional, os jovens
imitavam não somente seus pais, mas também os soldados, os
militares, outras pessoas que se destacavam na comunidade, e
tinham também a liberdade de imitar os deuses.
Para concretizar o desejo de universalizar sua cultura,
Roma, como você já viu, integrou os povos conquistados a seu
modo de ser, através da educação. Em cada lugar conquistado,
Roma abria uma escola e concedia aos escravos o status de
cidadão através do pagamento dos impostos. Dentro dessa
perspectiva, Roma incorporou o modelo educacional, de sua
província, a antiga Grécia, e igualmente desvalorizou o trabalho
manual, destinando-os aos escravos, e reservou à elite a
formação intelectual.
A concepção originária da educação romana foi
a humanitas, que, no seu sentido literal, se refere à
humanidade e à cultura do espírito. Trata-se “de uma cultura
predominantemente humanística e sobretudo cosmopolita e
universal, buscando aquilo que caracteriza o ser humano, em
todos os tempos e lugares” (ARANHA, 2006, p. 89).
A humanitas serviu como base do sonho romano para se
tornar um grande império; por esta razão, esse tipo de educação
não estava somente ao alcance dos sábios, mas se estendia à
formação de todos os indivíduos considerados virtuosos, como
ser moral, político e literário. Com o tempo, essa concepção
foi se restringindo aos estudos das letras, separando-se das
ciências.

22 Módulo 1 I Volume 3 EAD


5.2 Os principais educadores de Roma

1
Unidade
Roma teve vários teóricos da educação. Entre os que
defendiam a formação de grandes oradores, destacou-se Marco
Túlio Cícero (106 – 43 a.C.), proclamado como pai da pátria,
também considerado idealizador do Direito.
Marco Fábio Quintiliano defendia que o peso principal da
educação deve ser dado ao conteúdo do discurso, e a escola
deveria ser um espaço de alegria. O ensino da escrita e leitura
era oferecido pelo ludi magister (mestre de brinquedo).
Sêneca, que viveu por volta de 4 a.C. - 65 d. C., insistia
que a escola deveria ser voltada para a vida.
Plutarco defendia a ideia de que a educação devia mostrar
a biografia de grandes homens para servirem como exemplos
aos jovens.
Mas quando Roma precisou abrir escolas para a formação
de pequenos comerciantes e artesãos que passaram a ocupar
os cargos administrativos, fez por meio do Estado. Foi então
que, pela primeira vez na história, o poder público assumiu
a educação, porém utilizando uma metodologia rígida muito
semelhante à militar, calcada nos direitos e deveres.
Conforme Gadotti (2005), foi treinado um grande grupo
de professores e diretores para vigiarem as escolas, e “todas as
cidades e regiões conquistadas eram submetidas aos mesmos
hábitos e costumes, à mesma administração, apesar de serem
consideradas aliadas de Roma” (p. 44). Como você já deve
ter percebido, foi essa estratégia de educação e cultura que
garantiu a Roma tornar-se um Império. Em todas as cidades,
foram construídas, lado a lado, uma igreja e uma escola.

ATIVIDADES
1) Faça um breve comentário sobre o método da educação por imitação.
2) Qual foi a estratégia que Roma utilizou para consolidar sua cultura ao chegar em
terras invadidas?
3) Que diferenças marcam o pensamento dos educadores romanos?

UESC Pedagogia 23
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica

RESUMINDO

Nesta unidade, você teve a oportunidade de conhecer as


diferenças e as relações entre as expressões barbárie, civilização
e colonização. Também viu que, apesar de a Grécia ser vista
como berço da civilização, seu conhecimento é resultado de
um conjunto de conhecimentos oriundos de diferentes povos.
Viu que foi na Grécia que surgiram os primeiros conceitos de
educação liberal, como também os primeiros debates sobre
cidadania, liberdade e democracia.
Em relação à educação, a antiga Grécia foi considerada a
instância mais avançada por ter construído a Paideia, as bases
da denominada Educação Integral, que une a educação do corpo
ao intelecto, ao espiritual, como também a formação para a
cidadania. Você viu que a educação da Grécia era voltada para o
belo, exaltando o aprimoramento do corpo físico, mas também
das artes. Contudo, os gregos jamais desprezaram a arte da
guerra. Conheceu um pouquinho da memória dos três grandes
filósofos da época – Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sobre a cultura romana, viu que ela é resultada do
conhecimento também de diferentes povos. Roma incorporou
principalmente as bases da cultura grega, transformando a sua
própria cultura em Greco-Romana. Roma alimentou o firme
desejo de universalizar sua cultura e, para isto, em cada lugar
conquistado, criava uma igreja e uma escola. Assim, conseguiu
espalhar sua religião e seu modo de pensar pelo mundo. Foi lá
que, pela primeira vez, o Estado assumiu a escola como uma
instância do poder público.

24 Módulo 1 I Volume 3 EAD


1
Unidade
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da
re f e R Ê N C ias

Pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. revisão e ampliação. São


Paulo: Moderna, 2006.

GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. 8. ed.


São Paulo: Ática, 2005.

NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.). A Matriz Africana no


Mundo. Matrizes africanas da cultura brasileira. v. I. São
Paulo: Selo Negro Edições, 2008. Coleção Sankofa.

PILLETI, Claudino; PILLETI, Nelson. História da Educação.


São Paulo: Ática, 1991.

PONCE, Anibal. Educação e Luta de Classes. 12 ed.


Tradução de José Severo de Camargo Pereira. 12. ed. São
Paulo: Cortez; Autores Associados, 1992.

UESC Pedagogia 25
Suas anotações
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2

unidade
EDUCAÇÃO MEDIEVAL E MODERNA
Profª. Drª. Raimunda Alves Moreira de Assis
Profª. Drª. Eronilda Maria Carvalho Góis
Meta

Apresentar informações básicas e necessárias acerca


do processo de desenvolvimento histórico da educação
medieval e moderna.
Objetivo

Ao final desta unidade, você deverá:

• identificar os principais aspectos e contribuições da


educação medieval e moderna, que deram as bases
para a constituição dos atuais sistemas de ensino.
2
Unidade
UNIDADE II

1 INTRODUÇÃO

Caro aluno, nesta unidade, vamos analisar, juntos,


aspectos relevantes da educação da Idade Média e Moderna. Na
primeira parte, as informações dizem respeito a uma concepção
educacional baseada no aspecto moral, cujo ponto de partida é
a ideia da fé cristã da doutrina da Igreja Católica. Em seguida,
discutiremos sobre o Movimento Renascentista e Iluminista,
destacando os aspectos que visavam a formação do homem
burguês da Idade Moderna.

UESC Pedagogia 29
História da Educação I Educação medieval e moderna

2 QUEM ERAM OS POVOS EUROPEUS DA IDADE


MÉDIA?

Vamos iniciar essa conversa sobre a Idade Média


destacando a derrocada do Império Romano, que é o início
desse período, esclarecendo que esta mudança não ocorreu de
“um dia para o outro”. Foi um processo lento, que teve início
com a migração de vários povos pagãos - “os bárbaros” -
para os domínios romanos, a partir do século III. Os principais
povos invasores foram: os francos, burgúndios, alanos, godos,
vândalos, visigotos, ostrogotos, hunos, alamanos, suevos,
dentre outros.
Esses povos, ao longo do tempo, passaram a

Os povos bárbaros
participar do Império Romano, integrando-se às várias
U V
a FR eram povos de origem estruturas da administração, como, por exemplo, formação
K
C AM marcadamente germâni-
ca, que viviam nas regiões de exércitos, produção agrícola, atividades comerciais etc.
SAIBA MAIS

Norte e Nordeste da Europa


Com isso, houve trocas econômicas e culturais entre os
e Noroeste da Ásia. Eram
considerados “bárbaros”, romanos e “bárbaros” durante vários séculos, resultando
pelos romanos, porque
não falavam a língua em uma “fusão cultural”. Por consequência, a partir
oficial destes, o latim, e de certo período, romanos e bárbaros não eram mais
tinham cultura e religião
diferentes. estrangeiros, porque haviam fundido as duas culturas em
uma nova, a da Idade Média Ocidental.
Com a destituição do último imperador romano,
Rômulo Augusto, em 476, os povos bárbaros tornaram-se os
novos senhores, formando a base de uma nova sociedade e
implantando vários reinados: os dos Francos, Burgúndios e
Visigotos. Contudo, os novos senhores não tinham experiência
administrativa e política e precisaram assimilar parte das
estruturas político-administrativas do antigo regime romano.
Acresce que o grande elo entre as culturas foi a língua (o latim)
e a religião (o cristianismo). No dizer de Fonzar (1989), houve
uma “simbiose cultural, que através da religião consegue educar
os novos povos” (p. 6).
LEITURA RECOMENDADA
Se você quiser aprofundar
essa questão, sugerimos
que leia o livro “Pequena
História da Educação 3 A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA
Brasileira” de Jair Fonzar
(1989), e assista ao
filme “O nome da rosa”,
baseado no romance No campo educacional, a característica marcante da
de de Humberto Eco,
dirigido por Jean- educação dos povos europeus da Idade Média foi o poder
Jacques Arnnaud.
da doutrina da Igreja Católica sobre a disseminação do

30 Módulo 1 I Volume 3 EAD


conhecimento e o papel da ciência
nesse mundo, cujos pressupostos eram
alicerçados nos ditames do aspecto
moral e na fé cristã.
A condução do processo

2
educacional mediado pelos padres

Unidade
pressionava e defendia a necessidade
de banir a filosofia pagã e buscar o
saber da alma. Com esta postura,
,questionavam perante a sociedade:
quem deverá vencer? A ciência ou a FIGURA 1 - Mosteiro de San Xoán de Caaveiro
(Foto:José Antonio Gil Martínez)
Fonte: http://flickr.com/photos/17364971@N00/186537918
alma?
Como decorrência dessas pressões, as escolas primitivas
cristãs avançaram a sua ação, buscando a preparação moral
dos seus membros e dos jovens recém-convertidos.
Os bispos encarregavam-se de organizar os novos Os Mosteiros eram grandes U V
espaços de ensino, localizados agora nas catedrais, centros de sabedoria onde a FR
K
habitavam os monges. A forma C AM
transformados em escolas. Esses espaços foram de vida destes era chamada de
“monasticismo”, em que existia

SAIBA MAIS
denominados Mosteiros.
abdicação do mundo, para se
Como você pode perceber, os ideais educacionais ter total dedicação a Deus. Os
monges também cuidavam dos
dessa época eram limitativos se comparados aos doentes e dos pobres, além
de dedicar-se à oração pelas
princípios da Cultura Clássica. Cabe perguntar: não
almas dos mortos. Os Mosteiros
seria contraditório abandonar um conhecimento serviam também como abrigo
para os viajantes, sendo as
voltado para os saberes filosóficos e das ciências, primeiras “casas de hóspedes
que historicamente vinham sendo acumulados, para modernas”.

direcionar a educação a aspectos puramente morais, Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/


opombo/hfe/momentos/modelos/
messiânicos e teológicos? vidamosteiro.htm

3.1 A importância dos Mosteiros para o


desenvolvimento do campo educacional

Você deve estar questionando: qual seria a principal


função dos Mosteiros? Podemos afirmar que era oferecer
conhecimentos voltados para a vida religiosa dos seus
membros, desenvolvendo estudos teológicos, através de um
método disciplinar rígido, com práticas de estudos, meditação
e trabalhos braçais, que duravam de 6 a 8 anos, prepapando-os
para se tornarem aptos e responsáveis pela proteção espiritual
da sociedade (PONCE, 1963; MANACORDA, 2006).

UESC Pedagogia 31
História da Educação I Educação medieval e moderna

Para Ponce (1963), desse regime severo de estudos e


disciplina, sob a orientação dos monges, surgiram benefícios
importantes para a educação. Podemos citar o aparecimento de
novas escolas religiosas; a conservação e cópia das produções
literárias; o estudo de obras clássicas; a definição de horários
diários para o estudo da literatura; a criação de um ambiente
de reflexão e de pesquisa.
Há registro, ainda, de que foi por meio do desenvolvimento
dessas atividades que obras importantes do passado chegaram
a outras gerações e que ainda hoje continuam presentes entre
nós, como, por exemplo, a Bíblia Sagrada.
Atribuiu-se, ainda, aos monges a responsabilidade da
transmissão e compilação dos saberes da época nas “Sete
A retórica era Artes Liberais”, denominadas Trivium, as artes preparatórias
parte de uma das
“três artes liberais” da gramática, retórica e lógica; e de Quadrivium: aritmética,
ou triviutrivium en-
sinadas nas facul-
geometria, música e astronomia.
dades da Idade As escolas monásticas eram divididas em externas (para
Média (as outras
duas corresponde- leigos) e internas (para o clero). O que menos importava nessas
riam à dialética e
gramática). escolas era a instrução científica. O centro das preocupações
fonte: http://pt.wikipedia. era, sem dúvida, a teologia, cujo lema era: “Amar e venerar a
org/viki Acesso: 28 set.
2009). Deus” (PONCE, 1963, p. 94).
Essa cultura medieval/cristã teve muitos seguidores,
desde sua formação no século IX até a decadência no final
do século XII. Podemos citar alguns de seus formuladores:
Santo Anselmo (1033 – 1109); Santo Alberto Magno (1200-
1280); Tomás de Aquino (1225-1274) e outros. Salientamos,
porém, que este modelo escolástico de educar os jovens não
era consensual entre os mestres e estudantes.
Todavia, cabe reconhecer que foi desse regime rigoroso
de estudo nos Mosteiros que nasceram as Universidades, no
final daquele período, e o seu desenvolvimento foi favorecido
por circunstâncias de diferentes naturezas. Podemos citar
algumas: as transformações econômicas que abalaram as
bases do feudalismo; a revitalização dos centros urbanos com
o desenvolvimento do comércio; a criação de oficinas dos
artesãos; os ateliês e corporações de ofícios e as progressivas
modificações científicas e tecnológicas.
Todas essas mudanças contribuíram para o
desenvolvimento dos centros urbanos, atraindo populações
de diferentes localidades, onde eram realizadas as múltiplas

32 Módulo 1 I Volume 3 EAD


trocas (materiais, afetivas, intelectuais etc.). Essa
Movimentos comunais são U V
dinâmica favorecia o aumento crescente da presença movimentos de independência a K F R
e emancipação de algumas C A
M
de professores e estudantes nas cidades.
cidades com importância
Um outro fato de destaque, naquele período,

SAIBA MAIS
econômica através da aliança
foi a ocorrência dos chamados movimentos comunais, entre reis e burgueses

2
em detrimento do poder
empreendidos pelos burgueses contra as autoridades

Unidade
aristocrático e clerical.
locais dos senhores feudais e do clero, constituindo- Tiveram como consequência
a libertação das cidades da
se o início da separação de poderes entre a Igreja e autoridade dos senhores
o Estado. Diante da urbanização das cidades e das feudais e a estruturação do
modo de produção capitalista,
primeiras iniciativas de constituição de um governo laico no período da Baixa Idade
(não pertencente ao clero) nas municipalidades, houve Média (séc. XI – XV).

um crescimento das corporações de ofício denominadas


universitates.
Essas corporações levaram
à formação de um outro tipo de
associação bastante singular, por
volta do século XII, a Universitas
Studii. Nas palavras de Veiga
(2007), a Universitas Studii
era “uma associação de alunos
e mestres para transmissão e
aprendizagem de conhecimentos
‘desinteressados’, ou seja, sem
aplicabilidade imediata” (VEIGA,
FIGURA 2 - José Manuel Breval (23-03-2009).
2007, p. 17). Fonte: http://historiageneral.com/2009/03/23/los-fenicios-portadores-de-la-civilizacion/

Essas associações, que


representavam interesses de novos grupos sociais,
reagiram às rígidas normas impostas pelos eclesiásticos
Corporações de ofício eram
para a criação de novas escolas, e invocaram a proteção do associações juridicamente
reconhecidas por todos
Papa, que acolheu o pleito. Isso fez com que a Universitas
(universi), formadas
Studii se propagasse por toda a Europa, saindo da “tutela” por pessoas de mesmo
VOCÊ SABIA?

ofício (artesãos, ateliês,


da Igreja.
agricultores, comerciantes
Tempo depois, as novas instituições de ensino etc.), que tinham um
estatuto regimental, o
foram denominadas Studium generale. Significava um
qual regulava as relações
instituto geral que definiria conhecimentos destinados (direitos e deveres) dos
mestres e aprendizes
aos homens livres, as chamadas “Artes Liberais”.
e, também, mediava as
No final do século XIV, o nome Studium generale relações externas com o
poder municipal e com o
foi substituído pelo de Universitas, assumindo um novo
mercado, ou seja, compra e
significado, o de investigar. Os jovens que desejavam venda de produtos (VEIGA,
2007, p. 17).
estudar Artes Liberais deveriam seguir determinados

UESC Pedagogia 33
História da Educação I Educação medieval e moderna

Dentro da definição contemporânea, as primeiras


passos em que discentes e mestres
U V
a F R universidades surgiram na Europa medieval, se dedicassem com liberdade a
K
C AM durante o renascimento do Século XII. As primeiras
universidades da Europa foram fundadas na Itália e na
todos os ramos do saber (universitas
SAIBA MAIS

França para o estudo de direito, medicina e teologia. litterarum).


Antes disso, instituições semelhantes existiam no
mundo islâmico, sendo a mais famosa a do Cairo. Na
A Universidade de Nápoles,
Ásia, a instituição de ensino superior mais importante fundada em 1824, é vista como a
era a de Nalanda, em Bihar, Índia, onde viveu, no
século II, o filósofo budista Nagarjuna. Na Europa
primeira que organizou, por seções,
destacamos: a Oxford (1214), na Inglaterra; a de as quatro grandes divisões do
Paris (1250), na França; a de Bolonha (1230), e a
de Nápolis (1224), na Itália; a de Salamanca (1218)
conhecimento daquela época: Teologia,
e a de Valladolid (1250), na Espanha; e a de Lisboa Direito, Medicina e Filosofia.
(1290), em Portugal (MANACORDA, 2002).

3.2 A educação no Renascimento

A palavra Renascimento significa, etimologicamente, a


ação de renascer. O período do Renascimento foi considerado
uma fase de transição, que incide entre a decadência do Mundo
Medieval, em meados do século XIV, até os primeiros contornos do
Mundo Moderno (XVII), período em que a autoridade
O Renascimento é a manifestação
Real e da Igreja são questionados a partir de ideias
primeira da ordem burguesa
em evolução para a conquista e fatos: O Renascimento/Humanismo/Iluminismo; as
do poder político. Porém, os grandes navegações; novas descobertas e invenções
primeiros clarões manifestaram-
VOCÊ SABIA?

se nos domínios da cultura.


científico-tecnológicas; a Contra-Reforma; e outros
Uma série de “ilustrados” surge, movimentos. Esses desencadearam as primeiras
principalmente, nas cidades do
revoluções científicas, originando o pensamento da
Norte da Itália. Destacamos:
Petrarca (1304-1374) e modernidade, cujo berço foi a Itália, que se propunha
Boccaccio (1313-1375), nas a inovar as diferentes formas de conhecimento.
letras; da Vinci (1452-1519),
nas artes; Maquiavel, na política, Reis Filho (2002) amplia a discussão
exigindo completa destruição do afirmando que concomitantemente estava ocorrendo
sistema feudal, ao proclamar
que os dirigentes políticos
o nascimento do modo de produção capitalista
não tinham que dar contas ao (mercado e acumulação). Declara, ainda, que “as
poder espiritual, nem admitir
transformações da infraestrutura técnico-econômica
um “catolicismo supranacional”,
atitude que o identifica como o permitiram à Europa uma imensa mudança em suas
primeiro teórico do nacionalismo instituições, valores e ideais” (p. 117). Conclui-se
(SUCUPIRA FILHO, 1984).
que o ser humano passou a ser o centro e o sentido
do Universo.
Como você deve estar percebendo, este movimento
ganhou força e os intelectuais humanistas buscaram o retorno
ao estudo dos clássicos latinos e gregos na sua forma original.
Eles defendiam os direitos do homem como ser de razão contra
as exigências do ensino dogmático. Também se posicionavam

34 Módulo 1 I Volume 3 EAD


favoráveis a uma vida mais laicizada, ou seja, com interesses
voltados para vida terrena, para os negócios, pela investigação
e pela razão humana. Uma outra característica deste momento
Renascentista foi a subjetivação das emoções, isto é, o interesse
pela vida real do homem, vivendo as reações humanas: do

2
prazer, da satisfação, da alegria, do belo, da vida.

Unidade
Esses ideais são consolidados nos meados do século XV,
ganhando impulso após a impressão dos livros; a ampliação do
número de escolas; o novo ideal de homem; a criação de uma
nova cultura com base experimental e crítica, presente nos O ideal de homem
que a sociedade
conhecimentos da Geografia, da Meteorologia, da Medicina, da
passou a exigir foi de
Literatura e das Artes Plásticas. um outro tipo, era o
gentleman, que seria
Os representantes de maior destaque no campo
a fusão dos traços do
educacional foram Victorino da Feltre, na Itália, criador da escola cavaleiro cortesão
medieval com os
Casa Giocosa, que defendia um ensino gradual e ministrado de
dotes artísticos e
acordo com o desenvolvimento psíquico do aluno, desenvolvido humanistas das
cidades comerciais.
em um ambiente de satisfação; François Rabelais, na França,
que era contra a educação tradicional, e ironizava as práticas
educativas por meio das novelas pedagógicas Gargântua e
Pantagruel; e Michel de Montaigne, na França, que criticava a
educação livresca. Enfim, o ideal educativo defendido era o de
preparar homem para o mundo.
Alguns autores destacam que houve uma
grande contribuição do mundo medieval para com
a educação moderna. No plano conceitual, eles
apontam como legado um referencial teórico, que,
ainda hoje, enquadra a educação atual (o conceito de
educação com uma proposta curricular – Trivium e
Quadrivium); e, no plano metodológico, enfatizam a
questão do método, ou seja, como essa aprendizagem
deve ocorrer.
Após este percurso, você deverá responder as
questões a seguir, como forma de fixação de alguns Figura 3 - Novelas pedagógicas:
Gargântua e Pantagruel, de François Rabelais.
conhecimentos que você vem adquirindo durante o Fonte: http://www.expasy.ch/spotlight/
back_issues/066/
estudo.

UESC Pedagogia 35
História da Educação I Educação medieval e moderna

ATIVIDADES
1) Descreva as principais características da educação na Idade
Média;
2) Produza um pequeno texto identificando as principais contribuições
téoricas e práticas surgidas na Idade Média para a educação,
apontando as suas principais influências na educação brasileira
ainda hoje.

3.3 A Educação no Iluminismo

O embrião da modernidade caracterizou-se como uma época


histórica que se opunha à visão naturalista do curso do mundo,
marcada pela autonomização do pensamento, o predomínio da
ciência e da técnica. Foi um projeto ambicioso e revolucionário
que coincidiu com a emergência do Capitalismo como modo de
produção dominante nos países da Europa.
A partir do século XVIII, também chamado de século das
luzes, surgiu uma corrente de pensadores decidida a abolir os
mistérios e os milagres que ainda restavam
O termo iluminismo relaciona-se com o
U V na Idade Média. A origem desse movimento
a FR vocábulo esclarecimento, porque, para
K
C AM os iluministas, os homens da sociedade intelectual, de nome Iluminismo, começou
do Antigo Regime (Idade Média) viviam
na França e espalhou-se pela Inglaterra,
SAIBA MAIS

nas “trevas da ignorância”. Para eles (os


iluministas), o homem é produto do meio
em que vive, da sociedade e da educação
ampliando-se por outros países da Europa.
(SAVIANI; LOMBARDI; SANFELICE, 2007). Podemos afirmar que o Iluminismo
Os iluministas, genericamente chamados de
filósofos, admitiam que os seres humanos se constituiu em um movimento político-
estariam em condições de tornar este mundo
melhor, mediante a introspecção, do livre
cultural que expressou as necessidades e
exercício das capacidades humanas e do os anseios da sociedade burguesa do século
engajamento político-social. Combatendo
a tirania dos governantes absolutos, os XVIII, o “século das luzes”. Este Movimento
iluministas tinham em comum a defesa da
denunciava erros e vícios do Antigo Regime,
pessoa humana e dos direitos básicos à vida,
à liberdade e à justiça. abrindo caminho para diversos movimentos
sociais.
Como você deve lembrar, no Antigo Regime, a educação
estava sob o controle da Igreja Católica. Isto não era bem visto
pelos novos pensadores, ou seja, os iluministas, pois, para eles,
a Igreja ensinava uma filosofia arcaica, tornando a sociedade
ignorante, fanática e submissa. Por isso, a educação precisava
ser mudada, a razão, ou melhor, a capacidade de pensar por

36 Módulo 1 I Volume 3 EAD


si próprio, deveria ficar à frente
• O Iluminismo foi um movimento intelectual surgido na
na educação.   segunda metade do século XVIII (o chamado “século
das luzes”), que enfatizava a razão e a ciência como
O século XVIII mostrou formas de explicar o universo.
uma nova maneira de pensar • Foi um dos movimentos impulsionadores do

VOCÊ SABIA?
capitalismo e da sociedade moderna.
e os filósofos desse período • Desenvolveu-se na Alemanha, França e Reino Unido.

2
Tinha uma grande influência na Áustria, Itália, Polônia,
tinham como objetivo a busca da

Unidade
Países Baixos, Rússia, nos países da Escandinávia e
felicidade. Eles eram contrários à na América.
• O nome se explica porque os filósofos da época
injustiça, à intolerância religiosa acreditavam estar iluminando as mentes das
pessoas. É, de certo modo, um pensamento herdeiro
e à concentração de privilégios
da tradição do Renascimento e do Humanismo por
nas mãos de poucos (ricos e defender a valorização do Homem e da Razão.
• Os iluministas acreditavam que a Razão seria a
poderosos). Para os iluministas, explicação para todas as coisas no universo e se
a razão era importante para os contrapunham às ideias em que predominava a fé.
• As novidades trazidas pelo movimento iluminista
estudos dos fenômenos naturais influenciaram alguns monarcas da época que,
incorporando certas ideias, procuraram desenvolver
e sociais. De certa forma, uma forma mais democrática de governo.
eles eram deístas, ou seja, Esses monarcas foram chamados de “déspotas
esclarecidos” promovendo inúmeras reformas sociais,
acreditavam em Deus, e que estimulando a educação com a abertura de inúmeros
estabelecimentos de ensino.
este Deus agiria indiretamente • O Iluminismo exerceu vasta influência sobre a vida
nos homens, através dos política e intelectual da maior parte dos países
ocidentais.
fenômenos naturais e sociais. • A época do Iluminismo foi marcada por transformações
políticas, tais como a criação e consolidação de
A principal característica
estados-nação, a expansão de direitos civis, e a
desse movimento foi, sem redução da influência de instituições hierárquicas
como a nobreza e a Igreja Católica.
dúvida, a valorização da ciência e
(Fonte: Cad. Cedes. Campinas, v. 25, n. 66, p. 165-184, maio/
da racionalidade como forma de ago., 2005. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br).
eliminar a ignorância dos seres
humanos acerca da natureza e
da vida em sociedade. O iluminismo teve destaque nos campos
filosófico, político, econômico, das artes e da literatura.
Que tal conhecer alguns pensadores desse momento da
História?

3.4 Precursores do Iluminismo e sua influência


na educação

Conforme já assinalamos, o Iluminismo foi um movimento


político-cultural que expressou as necessidades e os anseios da
sociedade burguesa do século XVIII, o “século das luzes”. Trata-
se, portanto, de um conjunto de ideias frontalmente opostas ao
absolutismo dos reis e ao misticismo religioso.
São chamados de precursores do Iluminismo os

UESC Pedagogia 37
História da Educação I Educação medieval e moderna

renomados pensadores que divulgavam algumas ideias, tais


como:

• ênfase na valorização da ciência e da racionalidade como


forma de eliminar a ignorância;
• entendimento de que os governos deveriam existir para
o bem da sociedade com a função de garantir a liberdade
econômica e individual e da igualdade de todos perante
a lei; e de, quando o Estado não cumpre suas funções, a
população tem o direito de se rebelar contra ele.

Dentre os precursores, destacam-se: Francis Bacon,


René Descartes e Isaac Newton.

Francis Bacon: filósofo inglês René Descartes: dedicou-se ao Isaac Newton: matemático,
que desenvolveu o método expe- estudo da física, matemática e da astrônomo, físico e filósofo,
rimental, no qual enfatizava a filosofia. Procurou desenvolver um contribuiu para a formulação da lei
importância da observação e método que produzisse verdades da gravitação universal. Principal
da experimentação para o de- absolutas. Escreveu: Regras para obra: Os princípios matemáticos
senvolvimento do conhecimento. a direção do espírito; Discurso do da filosofia da natureza, que reúne
Seus estudos se aplicavam em método e Meditações. as bases da mecânica clássica.
ciências naturais. Para ele, as ideias tinham origem
nos sentidos humanos, contrario
à teoria do direito divino dos reis,
afirmava que os governos eram
criações humanas. Formulou a teoria
FIGURAS 3-5- Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page do Estado liberal e da propriedade
INFORMAÇÕES - Fonte: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/renascimento/index.php
Acesso em 20 abr. 2009. privada.

3.5 Filósofos Iluministas e suas contribuições


para a educação

Dentre os principais pensadores iluministas, destacam-


se: Voltaire, John Locke, Montesquieu, Rousseau, Denis Diderot
e Johann Pestalozzi:

38 Módulo 1 I Volume 3 EAD


2
Unidade
Voltaire: tornou-se um dos grandes Montesquieu: um dos mais John Locke: considerado o “pai
pensadores do movimento iluminista, brilhantes filósofos franceses do do Iluminismo”, representa o
sobressaindo pelas suas críticas à século XVIII, que se notabilizou pela individualismo liberal contra o
Igreja Católica, que, segundo ele, sua teoria da separação dos poderes absolutismo monárquico. Para Locke,
mantinha uma rigorosa aliança do Estado (Legislativo, Executivo e o homem, ao nascer, não possui
com o estado absolutista. Defendeu Judiciário), a qual exerceu impor- qualquer ideia e sua mente é como
os direitos individuais da pessoa tante influência sobre diversos uma tábula rasa. O conhecimento,
humana, entre os quais o direito à textos constitucionais modernos e em decorrência, é adquirido por meio
liberdade de pensamento. contemporâneos. dos sentidos, base do empirismo e
processado pela razão.

Jean-Jacques Rousseau: demo- Denis Diderot: foi o responsável Johann Heinrich Pestalozzi: edu-
crata convicto, desenvolveu a sua pela organização da grande cador suíço, concebeu um plano de
teoria educacional, partindo do Enciclopédia, obra em 35 volumes, ensino cuidadosamente graduado,
princípio de que o homem é bom publicada entre 1751 e 1752, que dava margem à manifestação
no seu estado natural e que o que continha as novas ideias das diferenças individuais. Ele
papel do educador seria afastar a proclamadas pelos iluministas. partiu do método indutivo, isto
criança dos vícios da sociedade, O governo condenou a obra, é, de experiências concretas,
permitindo-lhe desabrochar, espon- proibindo sua divulgação em para estimular a observação e o
taneamente, suas potencialidades duas oportunidades. Diderot foi raciocínio. Dizia que as atividades
inatas. Combateu a severidade dos auxiliado por um matemático, dos alunos deviam iniciar-se com o
professores da época que reagiam chamado d’Alembert, tendo como conhecimento dos objetos simples,
ao erro do aluno, como quem colaboradores vários pensadores e até chegar aos mais complexos,
condena uma situação criminosa. escritores desse novo momento. partindo do conhecido para o
desconhecido, do concreto para o
abstrato, do particular para o geral.
Pestalozzi elaborou sua proposta
pedagógica retomando de Rousseau,
a concepção da educação como
FIGURAS 6-11 - Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page
processo que deve seguir a natureza
INFORMAÇÕES - http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/renascimento/index.php e os princípios como da liberdade,
Acesso em 20 abr. 2009.
da bondade inata do ser e da
Fonte: Cad. Cedes. Campinas, v. 25, n. 66, p. 165-184, maio/ago, 2005. Disponível em: personalidade individual de cada
<http://www.cedes.unicamp.br>
criança.

UESC Pedagogia 39
História da Educação I Educação medieval e moderna

Outros filósofos também deixaram diversas contribuições


para a educação, como, por exemplo, Basedow, que afirmava
que o ideal na educação das crianças seria a construção de
um currículo que fosse satisfatório para o seu desenvolvimento
integral, ou seja, um currículo que estivesse perfeitamente de
acordo com os anseios infantis, que se voltasse para o interesse
Você sabia que a das crianças e não para a vontade dos adultos.
Independência dos Os filósofos do Iluminismo buscaram enxergar, de maneira
EUA, a Inconfidência
Mineira e a Revolução racional, as sociedades, destacando os problemas das nações
VOCÊ SABIA?

Francesa foram
influenciadas pelas
imersas no Antigo Regime. Dentre os aspectos interpretados,
ideias iluministas? destacam-se a crítica à sociedade estamental de privilégios de
nascimento e a autocracia monárquica exercida sob o pretexto
da intervenção divina.

4 A EDUCAÇÃO NA IDADE MODERNA (SÉCULO XX):


PRINCIPAIS MOVIMENTOS

Para você entender as realizações educacionais desse


período, convém lembrar que os pedagogos anteriores à época
moderna aceitavam como verdade incontestável a doutrina,
segundo a qual o centro do processo educacional era a
transmissão de conhecimentos emanada do professor para o
aluno. Ou seja, a educação centralizava-se, unicamente, no ato
de ensinar.
Os educadores do século XX, reunidos em torno de
uma nova corrente do pensamento, chamada de Pedagogia da
Atividade, trouxeram revolucionárias contribuições, como, por
exemplo, de que o centro da educação não deveria ser o ato de
ensinar, mas o ato de aprender, transformando o educando na
pessoa mais importante da educação. Formulou-se o princípio
de que a aprendizagem precisa partir de dentro para fora, tendo
como elemento básico o fator motivação.
A atividade escolar começou a ser encarada de forma
mais ampla, incluindo não apenas a cultura livresca, mas os
trabalhos manuais, a expressão artística, os jogos recreativos
e as excursões de pesquisa e de vivência (RIBEIRO, 2005).
Que tal conhecermos um pouco mais sobre as contribuições
de alguns teóricos da educação? Vejamos, então:

40 Módulo 1 I Volume 3 EAD


John Dewey: filósofo, nasceu e desenvolveu sua
obra nos EUA, durante a última metade do século XIX
e primeira do século XX. Ele enfatizava que a educação
é uma permanente organização ou reconstrução da
experiência, que, sendo um processo ativo, será sempre
completado pelos períodos subsequentes. A expressão
“escola-ativa” reflete, em síntese, essa concepção

2
e contrapõe-se aos estudos puramente intelectuais.

Unidade
Tornou-se um dos maiores pedagogos americanos,
contribuindo intensamente para a divulgação dos
princípios do que se chamou de Escola Nova.

William Kilpatrick: criou


uma pedagogia que chamou
de Métodos de Projetos, cuja
finalidade era globalizar o
Maria Montessori: educadora e médica italiana, criou ensino, mediante atividades
o Método Montessori, que permite que a criança escolha manuais. Este método
a atividade que corresponder às suas necessidades do visou, sobretudo, dirigir a
momento e se desloque em um espaço concebido por atividade mental do aluno
ela. Assim, essa criança se organiza com a ajuda do para um propósito objetivo,
material didático por ela construído, tendo em vista a muito utilizado atualmente.
educação sensória, que facilita a adaptação ao meio e
o controle de seus erros.

Ovídio Decroly: criou um método globalizante para ser realizado pela criança em
três estágios: a observação, que visa pôr a criança em contato os objetos, fenômenos,
seres e acontecimentos; a associação, que visa relacionar, entre si e fatos próximos
e longínquos, presentes e passados, o homem e o seu meio; e a expressão, que
visa manifestar o pensamento de modo acessível aos demais, por meio da palavra,
da escrita, do desenho, do trabalho manual etc. Decroly propôs que o ensino se
desenvolva por CENTROS DE INTERESSE. Os conhecimentos não se apresentaram
classificados por disciplinas, em quadros lógicos formais, que carecem de maior
significação para o aluno. Propôs criar um laço entre as disciplinas, para fazê-las
convergir ou divergir de um mesmo centro, tendo-se sempre em conta o INTERESSE
da criança, que, segundo ele, é a alavanca de tudo.

Édouard Claparede: desenvolveu uma pedagogia


baseada nas necessidades e interesses da criança,
chamando-a de “educação funcional”, isto é, a FIGURAS 12-17
Fonte: http://commons.
escola deve inspirar-se numa concepção funcional wikimedia.org/wiki/Main_Page
da educação e do ensino. Tal concepção consiste em
tomar a criança o centro dos programas e dos métodos INFORMAÇÕES
http://www. klickeducacao.com
escolares. A escola deve ser ativa, um laboratório e Acesso em 20 abr. 2009.
não um auditório, e deve evitar que o trabalho escolar
seja detestado. A escola já se constitui em um meio
social, válido por si mesmo e preparatório para as
realidades da vida adulta. Nela, o pedagogo é, antes
de tudo, um “estimulador de interesses”.

Jean Piaget: a partir da observação cuidadosa de seus próprios filhos e de muitas


outras crianças, concluiu que, em muitas questões cruciais, as crianças não
pensam como os adultos. Por ainda lhes faltarem certas habilidades, a maneira de
pensar é diferente, não somente em grau, como em classe. Ele criou a teoria do
desenvolvimento cognitivo, que é uma teoria de etapas e que pressupõe que os
seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis.

UESC Pedagogia 41
História da Educação I Educação medieval e moderna

Piaget não propõe um


método de ensino, mas,
ao contrário, elabora uma
ATIVIDADES
teoria do conhecimento
e desenvolve muitas
ATENÇÃO

investigações cujos resul- 1) Procure conhecer as teorias de ensino de Piaget e


tados são utilizados por descubra os seus pressupostos básicos.
psicólogos e pedagogos.
2) Destaque as principais implicações do pensamento
Desse modo, suas pes-
quisas recebem diversas piagetiano para a aprendizagem. Na internet, visite o
interpretações que se site do Centro de Referência Educacional.
concretizam em propostas
didáticas também diver- 3) Piaget afirma que “o principal objetivo da educação
sas. Sobre o assunto, é criar indivíduos capazes de fazer coisas novas e
ver KAMII, Constance.
não simplesmente repetir o que as outras gerações
A criança e o número:
implicação educacionalista fizeram”. Emita a sua opinião.
da teoria de Piaget para a
atuação junto a escolares
de 4 a 6 anos. Campinas,
São Paulo: Papirus, 1991.

4.1 Contribuições de outros pensadores

Ainda no início do século XX, surgiu outra corrente


psicológica, liderada por Broadus, Watson e Thorndike, disposta
a explicar, cientificamente, a conduta humana. Essa corrente
ficou conhecida, em termos gerais, como behaviorismo.
Os primeiros behavioristas eram
A pedagogia de Jerome Bruner valoriza inspirados pela Física. E, assim, como esta
U V
a FR a figura do professor dentro da sala
K ciência explicava os fenômenos naturais pelo
C AM de aula, ressaltando que, apesar dos
múltiplos recursos didáticos, o professor mecanismo das causas e efeitos, os behavioristas
é o elemento principal do processo do
SAIBA MAIS

ensino. Um aspecto relevante de sua procuravam estabelecer, para os fenômenos


teoria é que o aprendizado é um processo
ativo, no qual aprendizes constroem da conduta, um princípio geral que também os
novas ideias, ou conceitos, baseados em
seus conhecimentos passados e atuais. explicasse. Para o behaviorista, o processo de
O aprendiz seleciona e transforma a
informação, constrói hipóteses e toma
aprendizagem se resume no problema de criar
decisões, contando, para isto, com uma condicionamentos entre estímulo e resposta,
estrutura cognitiva (esquemas, modelos
mentais). entendendo-se por condicionamento a relação
Fonte: http://www.klickeducacao.com
estabelecida entre estímulo e resposta capaz
de produzir modificação no comportamento.
A principal escola rival dos behavioristas, no terreno da
aprendizagem, é a Psicologia de Campo-Gestalt. Esta escola
originou-se na Alemanha, na primeira metade do século XX,
e teve como fundadores os psicólogos Max Wertheimer e Kurt
Koffka.
Para os psicólogos da teoria gestalt, a aprendizagem

42 Módulo 1 I Volume 3 EAD


ocorre mediante a percepção, pelo indivíduo, de um todo global
e consiste no desenvolvimento de insights. O ambiente não se
apresenta com estímulos únicos, individualizados. O que existe,
na verdade, são blocos de estímulos que configuram uma
situação geral. Estes blocos de estímulos formam, então, um

2
campo que age sobre a percepção (GHIRALDELLI JR., 2003).

Unidade
Os insights diferem da aprendizagem mecânica, baseada
em uma série de tentativas de ensaio e erro, ou descobertas
por acaso. O insight é o momento em que se dá a iluminação
do problema.
Burrhus Frederic Skinner ficou conhecido no
mundo inteiro como uma das principais figuras da
Psicologia do século XX. As experiências efetuadas
por Skinner, com animais inferiores, tais como
ratos e pombos, levaram-no a concluir que as leis
da aprendizagem podem ser aplicadas, em termos
gerais, a todos os organismos, inclusive os seres
humanos. Segundo Skinner, a função do professor
dentro da sala de aula é elaborar um adequado
programa de estudos, de maneira que todas as
respostas desejadas da parte do aluno sejam
FIGURA 3 - Burrhus Frederic Skinner
convenientemente reforçadas. Fonte: http://commons.activemath.org/ActiveMath2/
content/piaget/pics/burrhus_frederic_skinner.jpg

Mas, para que isso aconteça, o professor


deverá organizar o seu sistema de ensino dentro
do processo da instrução programada, cujos
princípios básicos são: apresentação do conteúdo
em pequenas doses; exigência de resposta-ativa;
avaliação imediata das respostas fornecidas; e
verificação da aprendizagem.
Em oposição ao movimento behaviorista,
no Século XX, surgem alguns pensadores,
representados por Carl Rogers.
Ele foi um dos mais destacados psicólogos do
século XX e líder da corrente psicológica conhecida
como “a terceira força”, que se caracterizou pela
oposição ao movimento behaviorista. Para Rogers,
a educação poderia ser o grande instrumento de um
FIGURA 4 - Carl Rogers
novo mundo, mas, para isso, seria necessária uma Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:8.
Carl_Rogers.jpg
ampla revolução de base no sistema educacional
vigente, o qual deveria remover o medo pela aventura

UESC Pedagogia 43
História da Educação I Educação medieval e moderna

criativa, repelir as posições rígidas, fechadas e conservadoras


e deveria ser centrada nos alunos que deverão ser estimulados
para que desenvolvam as suas próprias potencialidades, num
clima de liberdade, autorealização e consciência social (ARANHA,
2006).

RESUMINDO

Vamos concluir esta unidade destacando as influências e


principais contribuições que a Idade Média e Moderna deixaram
para a educação. Podemos afirmar que os movimentos intelectuais
e fatos que se desenvolveram nos séculos XVI e XVII foram
mudando o contorno da realidade social e deixaram contribuições
importantes para os diferentes campos do conhecimento.
A velha concepção de educação, voltada para moral e fé
cristã, é substituída pelo ideal de um novo homem, valorizando a
razão, o conhecimento. Há a separação entre o estado e a igreja;
o desenvolvimento do capitalismo, que favorece o surgimento
das sociedades modernas; o desenvolvimento da democracia e as
reformas sociais, que asseguram a expansão os direitos civis.
Houve ainda, a ampliação do acesso à educação. E, por fim,
podemos destacar as contribuições para os planos teórico e prático.
No plano teórico, a definição do conceito de educação, desenvolvendo
o seu sentido de formação integral da pessoa humana; no plano
prático, houve o aprendizado de práticas metodológicas, com a
organização dos saberes (currículo); novos métodos de ensino;
novas teorias de aprendizagens; e modificações nos conteúdos da
educação.

44 Módulo 1 I Volume 3 EAD


FONZAR, Jair. Pequena história da educação brasileira:
tradicionalismo e modernismo: duas tendências que
re f e R Ê N C ias

marcam a filosofia pedagógica brasileira. Curitiba: Scientia

2
et Labor; Editora da UFPR, 1989.

Unidade
GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. 8.
ed. São Paulo: Ática, 2005.

GHIRALDELLI JR., Paulo. História da Educação. São


Paulo: Cortez, 1990.

GHIRALDELLI JR., Paulo. Filosofia e História da Educação


Brasileira. Barueri, São Paulo: Manole, 2003.

KAMII, Constance. A criança e o número: implicação


educacionalista da teoria de Piaget para a atuação junto a
escolares de 4 a 6 anos. Campinas: Papirus, 1991.

MANACORDA, Amario Alghieri. História da Educação: da


antiguidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez, 2002.

PILETTI, Cláudio; PILETTI, Nelson. Filosofia e História da


Educação. 9. ed. São Paulo: Ática, 1991.

PILLETI, Claudino; PILLETI, Nelson. História da Educação.


São Paulo: Ática, 1991.

PONCE, Aníbal. Educação e Luta de Classes. Tradução


de José Severo de Camargo Pereira. 12. ed. São Paulo:
Cortez; Autores Associados, 1992 (Coleção Educação
Contemporânea)

REIS FILHO, Casemiro dos. Transplante da Educação


Européia no Brasil. Revista Brasileira de História da
Educação. n. 3. jan./jun.2002.

UESC Pedagogia 45
Suas anotações
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3

unidade
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
Profª. Drª. Rachel de Oliveira
Meta

Apresentar principais os fatos sociopolíticos,


econômicos e outros que sustentaram a educação
brasileira nas fases do Brasil-Colonia, Império e
Primeira República.

Ao final desta unidade, você deverá:


Objetivos

• apontar os aspectos gerais do percurso histórico


da educação brasileira;
• identificar as múltiplas relações que se
estabelecem entre a sociedade e a educação no
seu processo de desenvolvimento em diferentes
momentos.
3
Unidade
UNIDADE III

1 INTRODUÇÃO

Nesta unidade, você terá a oportunidade de conhecer


os primeiros fatos históricos da educação brasileira, a partir
dos registros oficiais, considerando que as pesquisas sobre
a cultura indígena são ainda muito escassas, notadamente
no período anterior às grandes navegações, que resultou
na invasão do Brasil. Mas é preciso compreender que a
nossa história não começa com a intervenção européia. Os
portugueses aqui encontraram mais de 200 nações indígenas
que tinham um modo específico de construir seu conhecimento
e de se educar. Conhecerá também as influências e mudanças
que ocorreram no campo da educação no período do Império e
Primeira República, ressaltando o processo de exclusão social
que sempre caracterizou a formação da população brasileira
em relação à educação. Ao mesmo tempo, verá a introdução
de teorias pedagógicas que começaram a quebrar o ritual da
escola tradicional, principalmente a partir da década de 1920.

UESC Pedagogia 49
História da Educação I História da Educação no Brasil

2 A PRIMEIRA FASE EDUCACIONAL NO BRASIL-


COLONIA

A chegada dos portugueses ao Brasil em 1500 foi


resultado da disputa entre os países europeus para conquistar
novas terras. Até 1822 Portugal conservou nosso território em
seu poder, escravizando inicialmente índios e, depois, os negros
que foram “libertos” em 1888.
A libertação dos es- A escravidão foi um fenômeno social de longa duração
cravos por meio da
Lei Áurea assinada
utilizado desde a antiguidade por diferentes povos, com o
pela princesa Isabel objetivo expandir seus domínios territorial e econômico, como
continua a ser ques-
PARA REFLETIR

tionada, tendo em ocorreu entre os gregos e os romanos. Até o final do século


vista que esta medida
não proporcionou con-
XIX, os Estados Unidos da América e diversos países da Europa
dições para que os utilizaram o mesmo recurso para aumentar suas riquezas.
negros pudessem ser
inseridos dignamente Mas a escravidão jamais se sustentaria sem o auxílio
na sociedade.
de duas poderosas instituições que contribuíram de maneira
decisiva para que o governo de Portugal implantasse à força
sua cultura: a igreja e a escola
Neste período de 1500 a 1822, data da independência do
Brasil, a educação passou por três fases: a do predomínio dos
jesuítas; a da reforma realizada por marquês de Pombal, que
expulsou os jesuítas do Brasil e de Portugal em 1759; e a das
reformas promovidas por D. João VI, rei de Portugal, quando
trouxe a corte para o Brasil em 1808.
Na primeira fase do Brasil colônia a educação esteve
nas mãos dos jesuítas que pretendiam por meio da catequese
transformar os indígenas em trabalhadores dóceis que
aceitassem passivamente a cultura europeia em detrimento de
sua própria cultura; esta foi a missão que a coroa portuguesa
confiou à igreja.
O padre Manoel da Nóbrega teve a missão de iniciar a
catequese dos indígenas e formar outros padres. Foi então
que desenvolveu escolas de ordenação, levou a instrução aos
filhos dos colonos brancos que não tinham outra opção escolar
e organizou o primeiro Plano de Ensino. Na primeira etapa o
plano previa o ensino de português, a doutrina cristã a leitura
e escrita, e na segunda, a música instrumental e o canto
orfeônico. Quem quisesse cursar o nível superior deveria
seguir para a Europa ou então se tornar um profissional ligado
à agricultura.

50 Módulo 1 I Volume 3 EAD


Os Jesuítas exerceram forte influência na formação da
elite brasileira. Ribeiro (2005) afirma que

(...) a importância social destes religiosos chegou a


tal ponto, que se transformaram na única força capaz
de influir no domínio do senhor do engenho. Isto foi
conseguido não só através dos colégios, como do
confessionário, do teatro e, particularmente, pelo
terceiro filho, que deveria seguir a vida religiosa (o
primeiro seria o herdeiro, o segundo o filho letrado)
(p.28).

3
As escolas jesuíticas eram permeadas pela rigidez do

Unidade
catolicismo ora vigente. O número de escolas construídas pelos
religiosos era bastante significativo, por volta de 100 instituições,
somando escolas de ler e escrever, seminários, missões,
colégios e residências, embora não haja consenso quantitativo
entre os estudiosos. Mas, na primeira fase do período colonial,
coube praticamente às famílias o ensino das primeiras letras, o
Estado não se responsabilizou pela organização das escolas.
Podemos afirmar que a função da educação na primeira
fase do período colonial era a conversão de almas ao catolicismo,
ao mesmo tempo em que se operavam mudanças culturais
drásticas e mantinha a mão de obra escrava produzindo
riquezas. Estas ações foram lideradas pelos jesuítas.

3 A FASE POMBALINA

Como você viu anteriormente, os jesuítas dominaram


a educação, construíram muitas instituições e influenciaram
fortemente pensamento e ações dos senhores do engenho. Os
jesuítas foram também acusados de beneficiarem apenas a
ordem religiosa e impedir o progresso científico. Estas questões
muito desagradaram o governo português que estava arruinado
economicamente e precisava se modernizar para continuar
atuando no mercado europeu. Conforme Ghiraldelli Jr (2003),

(...) a companhia de Jesus foi expulsa de Portugal e do


Brasil, quando o marquês de Pombal, então ministro do
Estado em Portugal, empreendeu uma série de reformas
no sentido de adaptar aquele país e suas colônias ao
mundo moderno, tanto do ponto de vista econômico

UESC Pedagogia 51
História da Educação I História da Educação no Brasil

quanto político e cultural. Neste último campo, tratava-


se da implementação de idéias mais próximas ao
iluminismo. Em ambos os países ainda que a mão de
obra para o ensino continuasse a ser aquela formada
pelos jesuítas, nasceu o que, de certo modo, podemos
chamar de ensino público, ou seja, um ensino mantido
pelo Estado e voltado para a cidadania enquanto noção
que se articularia com o Estado, e não mais um ensino
atrelado a uma ordem religiosa que, de fato – como
denunciou Pombal -, estava sendo preponderância
sobre o Estado (p.8).

No plano do ensino superior as mudanças implantadas

A principal caracterís-
por Pombal foi muito incipiente, os intelectuais continuaram
U V
a FR tica do Iluminismo a terminar os estudos na Europa, mas agora em cursos mais
K
C AM foi a ênfase na razão
associado à crença modernos organizados por partidários do Iluminismo.
no desenvolvimento
SAIBA MAIS

Pombal criou o cargo de diretor geral dos estudos


humano por meio da
educação, da ética, do e proibiu o ensino público e particular sem licença deste.
progresso científico,
completamente des- Determinou a prestação de exames para todos os professores
vinculada da religião.
e designou comissários para o levantamento do estado das
escolas. Transformou o currículo do ensino secundário em aulas
avulsas, desarticulando o antigo modelo que tinha como base
a Humanidades. Criou escolas para os nobres e para as classes
pobres com a intenção de modernizar a sociedade brasileira e
fortalecer a metrópole. Ribeiro (2005) destaca que,

(...) do ponto de vista educacional, a orientação adotada


foi de formar o perfeito nobre, agora negociante,
simplificar e abreviar os estudos fazendo com que um
maior número se interessasse pelos cursos superiores;
propiciar o aprimoramento da língua portuguesa;
diversificar o conteúdo, incluindo o de natureza
científica; torná-los os mais práticos possíveis (p.33).

Mas ainda estas mudanças foram insuficientes para de


fato quebrar o elitismo educacional e melhorar as condições
culturais do Brasil, o que começou ocorrer numa nova fase,
com a vinda da família real.

4 A EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO

Protegida pela Inglaterra, em 1807, a família real fugiu


de Napoleão, o imperador da França, e veio para o Brasil

52 Módulo 1 I Volume 3 EAD


com 15.000 pessoas a
bordo. Este fato mudou
significativamente o
cenário político e cultural
da colônia, provocando
o desenvolvimento da
vida urbana em Vila
Rica, Salvador, Recife,
mas principalmente no
Rio de Janeiro, que se

3
tornou sede do governo

Unidade
português. A organização
desta nova sede exigiu a FIGURA 1 - Chegada da Família Real, Óleo sobre tela (de Geoffrey Hunt), 
609 x 914 milímetros - Coleção particular.
criação de ministérios e Fonte: http://www.arqnet.pt/portal/imagemsemanal/novembro0203.html

de vários outros órgãos


da administração pública. Merecem destaque, entre outras, as
instituições descritas abaixo:

• a fundação do primeiro Banco do Brasil, em 1808;


• a criação da Imprensa Régia e a autorização para o
funcionamento de tipografias e a publicação de jornais
também em 1808;
• a abertura de algumas escolas, entre as quais duas de
Medicina – uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro;
• a instalação de uma fábrica de pólvora e de indústrias de
ferro em Minas Gerais e em São Paulo;
• a vinda da Missão Artística Francesa em 1816, e a
fundação da Academia de Belas-Artes;
• a mudança de denominação das unidades territoriais,
que deixaram de se chamar “capitanias” e passaram a
denominar-se de “províncias” (1821);
• a criação da Biblioteca Real (1810), do Jardim Botânico
(1811) e do Museu Real (1818), mais tarde Museu
Nacional.

Foram férteis as mudanças no campo da educação, com a


criação de diferentes cursos para atender as novas demandas.
Por exemplo, em razão da necessidade de defesa militar, foi
criado em 1808 a Academia Real da Marinha, no mesmo ano o
Curso de Cirurgia na Bahia, que se instalou no Hospital Militar, e

UESC Pedagogia 53
História da Educação I História da Educação no Brasil

em 1810, a Academia Real Militar. Estas ações e outras similares


representam a inauguração do ensino superior no Brasil.
É a partir da época do Império que o ensino brasileiro se
estrutura em três níveis: primário, secundário e superior. Afirma
a historiadora Ribeiro (2005) que o primário permaneceu um
nível de instrumentação técnica (escola de ler e escrever) e o
secundário continuou com as aulas régias, apesar de serem
criadas, em algumas províncias, as cadeiras de gramática
latina, desenho e filosofia.
Um destaque importante foi a criação do colégio D. Pedro
II no Rio de Janeiro. Inaugurado em 1838, sua função era ser
modelo de ensino secundário, mas, ao longo do império, sofreu
várias modificações e acabou funcionando como uma escola
preparatória para o ensino superior.
Leôncio de Carvalho, ministro do Império e professor
da Faculdade de Direito de São Paulo, mudou o panorama
educacional, em 1879, ao promulgar o Decreto nº 7.247
que instituiu a liberdade do ensino primário e secundário no
município da Corte e a liberdade do Ensino Superior em todo o
país. Conforme Ghiraldelli Jr (2003),

(...) por ‘liberdade de ensino’ a nova lei entendia


que todos que achassem, por julgamento próprio,
capacitados a ensinar, poderiam expor suas idéias e
adotar os métodos que lhes conviessem. [...] Por fim
sob a mesma rubrica, a lei entendia que a freqüência
aos cursos secundários e superiores era livre, que os
alunos poderiam aprender com quem lhes conviesse
e, ao final, deveriam se submeter a exames de seus
estabelecimentos (p. 13).

Esse autor ainda afirma que, com tal procedimento,


transformou o ensino brasileiro em um ritual de exames,
característica que permaneceu também na Primeira República
e, até hoje, sentimos seus resquícios.

5 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA


REPÚBLICA

Apesar de ter sido resultado do movimento dos militares


e das classes economicamente favorecidas, a proclamação da
República e a consequente queda da monarquia representou

54 Módulo 1 I Volume 3 EAD


um grande avanço para instalação do processo democrático no
Brasil.
O anseio por mudanças e os conflitos políticos permearam
todo o período de 1889 a 1930, correspondente à fase da Primeira
República, que inicialmente assegurou a descentralização do
poder, o desaparecimento dos títulos de nobreza e o fim do
voto censitário. República
Palavra de origem
A educação passou por algumas mudanças influenciadas romana res- pública
(coisa pública).
diretamente por dois movimentos denominados “entusiasmo
pela educação” e “otimismo pedagógico”. O primeiro, cujo

3
foco era a quantidade das instituições educacionais, solicitava

Unidade
veementemente a abertura de escolas, e o segundo se
preocupava com os métodos e conteúdos do ensino. A força
destes dois movimentos se alternou durante a Primeira e a
Segunda República.
Com o final da Primeira Guerra Mundial e a emergência
dos Estados Unidos da América, o Brasil rapidamente se
tornou credor, dependente cultural e partidário das referências
educacionais norte-americanas. Ghiraldelli Jr (2003) afirma
que,

(...) nesse contexto, absorvemos ou começamos a


absorver de modo mais intenso, a literatura pedagógica
norte-americana. Esta literatura foi em parte, o conteúdo
do movimento do ´otimismo pedagógico`. Não era
apenas a abertura de escola que queríamos, mas,
como diziam os livros que nos chegavam, era preciso
também alterar nossa pedagogia, nossa arquitetura
escolar, nossa relação aprendizagem, nossa forma de
administrar as escolas e a educação em geral, nossas
formas de avaliação, nossa psicopedagogia (p.17).

John Dewey, filósofo norte-americano, tornou-se um


educador de alta referência para os estudiosos brasileiros.
Seus estudos denominados “Pedagogia da Escola Nova” ou
Escolanovismo influenciaram o ciclo de reformas estaduais
da educação que ocorreram na década de 1920. Os maiores
protagonistas desta teoria foram Anísio Teixeira, grande
educador baiano, e Lourenço Filho, que escreveu a obra
Introdução ao estudo da Escola Nova, publicada em 1929.
A Pedagogia da Escola Nova contestava a educação
tradicional, a prática da memorização, do castigo, do conteúdo

UESC Pedagogia 55
História da Educação I História da Educação no Brasil

pelo conteúdo, do professor como autoridade máxima. Para a


Escola Nova, educação é sinônimo de vida e o aluno, o centro
da aprendizagem. Conforme Aranha (2006),

(...) ao lado da atenção especial na formação do


cidadão em uma sociedade democrática e plural – que
estimulava o processo de socialização da criança -,
havia o empenho em desenvolver a individualidade, a
autonomia, o que só seria possível em uma escola não
autoritária que permitisse ao educando aprender por si
mesmo, e aprender fazendo (p.263).

Este período foi coroado de reformas, fruto das muitas


discordâncias políticas. Por exemplo, em 1911, Rivadávia
Correia criou uma Lei que desoficializava o ensino, tornava
a presença dos alunos facultativa. Em contraposição, Carlos
Maximiniano, em 1915, reoficializou o ensino e regulamentou o
acesso às escolas superiores, como também reformou o colégio
D. Pedro II.
Em termos de legislações mais duradouras, tiveram
destaque as reformas propostas por Benjamim Constant (1892)
e Rocha Vaz (1925). Benjamin Constant criou o Ministério
de Instrução, Correios e Telégrafos e declarou que o ensino
deveria ser “livre, leigo e gratuito”, passando a exigir o diploma
da escola normal para o exercício do magistério. Rocha
Vaz tentou articular uma direção única entre as propostas
elaboradas pela União e pelos estados, sobre a eliminação dos
exames preparatórios e parcelados e ainda sobre a promoção
da educação primária.
A Primeira República terminou com um quadro educacional
ainda muito tímido. Por exemplo, em 1920, São Paulo, o estado
mais rico da nação não conseguia abrigar mais que 28% da
população em idade escolar; para cada 04 crianças em idade
escolar, uma era analfabeta. Situação que ficou inalterada até
1940, conforme argumenta Ghiraldelli, Jr (2003).
O descontentamento com a Primeira República
desencadeou a revolução de 1930, dando início ao Governo de
Getúlio Vargas, que apesar de conturbado, criou leis e decretos
na área da educação, trabalhista e outras, que até o momento
estão em vigor.

56 Módulo 1 I Volume 3 EAD


ATIVIDADES
1) Comente sobre as características da educação brasileira no primeiro período da
colonização.
2) Porque os jesuítas foram expulsos?
3) Quais foram as mudanças educacionais que caracterizaram o período pombalino?
4) Pesquise a situação de instituições brasileiras que permanecem funcionando desde
a época do Império. Cite pelo menos duas.
5) Quais os movimentos pedagógicos que influenciaram o debate educacional na
Primeira República? Comente.
6) A primeira República correspondeu os anseios educacionais da população?

3
Comente.

Unidade
RESUMINDO

São de ordem econômica as razões da chegada dos portugueses


ao Brasil. Você viu que a conquista de terras e a colonização
caminharam juntas. E para consolidar este fenômeno os jesuítas
utilizaram a religião, como um modo de educar para a aceitação de
outra cultura.
A principal missão dos jesuítas era a catequização dos índios,
mas não só, naquele período toda a educação brasileira era de base
religiosa, portanto os filhos dos colonos brancos recebiam as mesmas
orientações educacionais, que só mudou com a expulsão dos jesuítas,
por ordem de Marquez de Pombal que criou um novo sistema de
educação considerado laico e com um currículo de bases científicas.
O período do Império trouxe muitas vantagens para a
construção da estrutura cultural do Brasil, incluindo as mudanças
no campo econômico e no educacional. A reforma promovida por
Leôncio de Carvalho, ministro do Império à época, impulsionou a
criação de Escolas de nível Superior em todo o país. Em relação ao
ensino secundário, a novidade foi a criação do Colégio D. Pedro II,
idealizado para ser modelo. Você viu que a Primeira
República foi um período marcado por muitos descontentamentos,
mudanças constantes, mas também avanços na legislação e nos
fundamento pedagógicos da educação brasileira. As ideias de John
Dewey, defendidas por Anísio Teixeira, tornaram-se ponto principal
dos debates realizados na época. Não houve avanço em termos de
acesso da população à escola. O quadro político da Primeira República
desencadeou a Revolução de 1930.

UESC Pedagogia 57
História da Educação I História da Educação no Brasil

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e

re f e R Ê N C ias
da Pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna,
2006.

GIRALDELLI JR, Paulo. Filosofia e História da Educação


Brasileira. São Paulo: Manole, 2003.

RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História da Educação


Brasileira. Campinas: Autores Associados, 2003.

58 Módulo 1 I Volume 3 EAD


Suas anotações
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4

unidade
A EDUCAÇÃO BRASILEIRA A PARTIR
DA SEGUNDA REPÚBLICA
Profª Dra. Eronilda Maria Góis de Carvalho
Profª Dra. Raimunda Alves Moreira de Assis

Fornecer informações que sirvam para alicerçar


Meta

o processo de construção do conhecimento do


aluno sobre a História da Educação para que ele
seja capaz de compreender as múltiplas relações
que se processaram na constituição da História da
Educação Brasileira.

Ao final desta unidade, você deverá:


Objetivos

• analisar, de forma crítica, as distintas fases da


História da Educação Brasileira;
• identificar os diferentes aspectos que
caracterizaram o ensino e os movimentos
desenvolvidos para a organização, implantação
e o desenvolvimento das reformas educacionais
nos diferentes períodos históricos.
UNIDADE IV

4
Unidade
1 INTRODUÇÃO

Nesta unidade, inicialmente, você conhecerá as mudanças que


ocorreram na estrutura de poder do país após a Revolução de 1930,
bem como os principais movimentos encetados pela sociedade civil e
pelo estado para o desenvolvimento da educação, considerada como
“salvadora da pátria”. Também verá as contribuições do Manifesto dos
Pioneiros de 1932 para a implantação das reformas do ensino que se
sucederam, além da identificação de alguns aspectos do ensino público
marcado pelo golpe militar de 1964, que buscou restringir a liberdade
política do povo e limitar a autonomia dos educadores e educandos,
além da condução do sistema educacional brasileiro para um modelo de
ensino tecnicista e excludente.

UESC Pedagogia 63
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república

2 A EDUCAÇÃO NA DÉCADA DE 1930 E A


REPÚBLICA NOVA

Por que o Brasil mudou radicalmente a sua estrutura


de poder no período pós 30, capitaneado pelo movimento
tenentista? Esse movimento foi uma consequência direta da crise
econômica do setor agroexportador do café, agravada com

O tenentismo foi um
a quebra da bolsa de Nova York, de 1929, e o alinhamento
U V
a FR movimento político-militar do Brasil a uma nova ordem econômica que se instalava.
K
C AM composto principalmente
de militares de média e
Para Ianni (1984), foi a Revolução de 1930 que
SAIBA MAIS

baixa patente do Exército alterou as funções e a própria estrutura do Estado Brasileiro,


Brasileiro, formado
durante os últimos anos
como consequência da derrota, ainda que parcial, das
da República Velha. O oligarquias dominantes até então. As transformações que
grupo propunha reformas
na política e estrutura
se acumularam operaram em favor do surgimento de uma
de poder do país. As nova ordem econômica e social, a partir da emergência
principais ações que
marcaram o chamado
de novos grupos e classes sociais urbanas, provocando a
movimento tenentista passagem do Estado Oligárquico para um Estado Burguês-
foram Revolta dos 18 do
Forte de Copacabana, em
Capitalista, o que tornou possível a reorganização das
1922, a Revolta Paulista, relações entre Estado e Sociedade a partir desses novos
a Comuna de Manaus, de
1924 e a Coluna Prestes
parâmetros (FAUSTO, 1985; SODRÉ, 1978; IANNI, 1984).
(FAUSTO, 1985). Saiba, ainda, que essa época ficou conhecida como a “Era
Vargas”, período constituído de três momentos distintos:
o primeiro momento, denominado Governo Provisório, pós-
outubro de 1930; o segundo, após a promulgação da Constituição
de 1934 (governo constitucional); e o terceiro, depois do golpe
de 1937, governo ditatorial, conhecido como “Estado Novo” e
que Vargas comandou até 1945.
No dia 10 de novembro
Esse período é denominado República Nova, época
de 1937, o presidente
Getúlio Vargas anunciava em que o Brasil intensificou sua industrialização e, com isso,
o Estado Novo, em cadeia
a urbanização crescia cada vez mais, principalmente em
de rádio. Iniciava-se um
VOCÊ SABIA?

período de ditadura na cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Essa nova realidade
História do Brasil, que
social exigia mais escolas e mão de obra especializada.
durou até 1945.
Vargas insistiu num plano de “reconstituição nacional” com
19 pontos. O item sobre a educação dizia da necessidade de
propagar o ensino público, principalmente o ensino técnico-
profissional. Para tanto, estabeleceu um sistema de estímulo e
colaboração direta com os estados. E para colocar em prática a
política formulada, foi criado o Ministério da Instrução e Saúde
Pública em 1930 (GHIRALDELLI JR., 2003, p. 28).

64 Módulo 1 I Volume 3 EAD


3 PRIMEIRAS REFORMAS DE ENSINO DA REPÚBLICA
NOVA

Diante desta nova realidade sociocultural


Francisco Luís da Silva Campos: U V
do País, o governo procurou organizar o formado em Direito, Deputado Estadual a FR
K
ensino. O novo Ministério, sob o comando e Federal por Minas Gerais. Defendia C AM
posições antiliberais, participando das
do Ministro Sr. Francisco Campos, criado

SAIBA MAIS
articulações que levaram ao movimento
com poderes amplos e controle sobre o setor armado de outubro daquele ano, que
pôs fim à República Velha, colocando
educacional, logo que surge, executa como Getúlio Vargas na presidência da
uma das primeiras realizações a reforma República. Assumiu a direção do
recém-criado Ministério da Educação
conhecida como Reforma Francisco Campos, e Saúde, em 1930, encarregando-se
que se tornou efetiva através de uma série de fazer a reforma do ensino do país.
Promoveu, então, a reforma do ensino
decretos. Conforme Saviani (2004, p. 32), são secundário e universitário no país. Era
eles: um conservador, sendo um dos mais
importantes ideólogos da direita no

4
Brasil. Foi o responsável pela elaboração
● Decreto n° 19.850 – 11 de abril de

Unidade
da nova Constituição Federal, após o
golpe de estado de 1937. Você saberá
1931: cria o Conselho Nacional de Educação; mais visitanto a página:
● Decreto n° 19.851 – 11 de abril
http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/
de 1931: dispõe sobre a organização do biografias/ev_bio_franciscocampos.htm
Ensino Superior no Brasil e adota o Regime
Universitário;
● Decreto n° 19.852 – 11 de abril de 1931: dispõe sobre
a organização da Universidade do Rio de Janeiro;
●Decreto n° 19.890 – 18 de abril de 1931: dispõe sobre
a organização do Ensino Secundário;
●Decreto n° 20.158 – 30 de junho de 1931: organiza o
Ensino Comercial, regulamenta a profissão de Contador e dá
outras providências;
●Decreto n° 21.241 – 14 de abril de 1932: consolida
as disposições sobre a organização do Ensino
Secundário. Os educadores católicos defendiam a U V
educação subordinada aos princípios a FR
K
da doutrina religiosa (católica) C AM
Mas os educadores brasileiros não além de educação diferenciada para
SAIBA MAIS

concordavam com estas reformas pontuais, o sexo masculino e feminino e a


responsabilidade de educar pertencia
sobretudo, porque deixavam de lado o à família. Os educadores liberais,
Ensino Primário. Era consenso, entre eles, defensores dos ideais da “escola nova”,
defendiam a laicidade, a coeducação,
a necessidade de uma política nacional de a gratuidade e o dever do estado
educação. A Associação Brasileira de Educação em fornecer educação para todos
indistintamente de classe. Para maiores
(ABE) realizava congressos anuais e, nesses detalhes, ler Alencar Francisco et al.:
eventos, as disputas de propostas eram História da Sociedade Brasileira.
Cap. “O povo nas ruas”, 1980.

UESC Pedagogia 65
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república

acirradas, principalmente entre os católicos e liberais. Em um


dos congressos, o Presidente Vargas e o Ministro Francisco
LEITURA RECOMENDADA
Para saber mais Campos estiveram presentes e solicitaram aos educadores para
sobre o Manifesto dos
Pioneiros da Educação definirem o “sentido pedagógico da revolução”. Um ano depois,
Nova, consultar Otaíza
Romanelli (1989), Paulo na V Conferência Nacional de Educação de 1932, foi lançado à
Ghiraldelli (1990), bem
como o site http://www. Nação o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
pedagogiaemfoco.pro.
br/heb07a.htm.

3.1 O manifesto dos pioneiros da Educação


Nova

É um documento conhecido como o “Manifesto de 1932”,


inspirado nas ideias da Escola Nova, cujas bases se aproximam
de diversas tendências de pensamentos, a exemplo do filósofo
John Dewey e do sociólogo francês Émile Durkheim. Segundo
Ghiraldelli Jr., o Manifesto, redigido pelo educador Fernando de
Azevedo, “compunha uma autêntica e sistematizada concepção
pedagógica, indo da filosofia da educação a formulações
pedagógico-didáticas, passando pela política educacional”
(2003, p. 32).
U V Anísio Spínola Teixeira: baiano, formou-se em Direito no
a FR ano de 1922, sendo logo em seguida convidado a ocupar o O Manifesto consolidava
K
C AM cargo Inspetor Geral de Ensino da Bahia, iniciando, assim, a a visão de um segmento da
sua carreira de pedagogo e administrador público. Em 1931,
elite intelectual que, embora
SAIBA MAIS

tornou-se Secretário da Educação do Rio de Janeiro, realizando


uma ampla reforma na rede de ensino, integrando o ensino da com posições ideológicas
escola primária à universidade; ocupou o cargo de conselheiro
geral da UNESCO em 1946. No ano seguinte, foi convidado diferenciadas, vislumbrava
novamente a assumir o cargo de Secretário da Educação da a possibilidade de interferir
Bahia, período em que criou a Escola Parque, em Salvador,
primeiro centro de educação integral do país. Em 1951, na organização da sociedade
assumiu a função de Secretário Geral da CAPES (Campanha brasileira, do ponto de vista da
de Aperfeiçoamento do Ensino Superior), tornando-se, no
ano seguinte, diretor do INEP (Instituto Nacional de Estudos educação. Uma das propostas
Pedagógicos). Em fins dos anos 1950, participou dos debates apresentadas era que o Estado
para a implantação da Lei Nacional de Diretrizes e Bases,
sempre como árduo defensor da educação pública. Ao lado organizasse um plano geral de
de Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira foi um dos fundadores da educação e que a escola fosse
Universidade de Brasília, da qual se tornou reitor em 1963.
Após o golpe militar de 1964, foi para os Estados Unidos, única, pública, laica, obrigatória
lecionando nas Universidades de Colúmbia e da Califórnia. e gratuita. Isto quer dizer que o
Retornando ao Brasil em 1966, tornou-se consultor da
Fundação Getúlio Vargas. Morreu em 1971, em circunstâncias Estado deveria se responsabilizar
consideradas obscuras. Seu corpo foi achado num elevador pelo dever de educar o povo, sem
na Avenida Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Apesar do laudo
de morte acidental, há suspeitas de que tenha sido vítima das distinção de classe social. Dentre
forças de repressão do governo do General Emílio Garrastazu os 26 intelectuais, signatários
Médici (FAVERO, M. L. A.; BRITTO, J. M. (Org.) Dicionário de
educadores no Brasil: da colônia aos dias atuais. 2. ed. Rio do documento, destacamos a
de Janeiro: UFRJ; Brasília: MEC/INEP, 1999). participação efetiva do baiano

66 Módulo 1 I Volume 3 EAD


Anísio Teixeira, além de outras personagens
da intelectualidade brasileira, como:
Fernando de Azevedo, Afrânio Peixoto,
Lourenço Filho, Roquette Pinto, Delgado de
Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles.
Em 1934, a nova Constituição do
Brasil (a segunda da República) absorveu
pontos importantes sugeridos pelo
Manifesto dos Pioneiros, dispondo, pela
primeira vez, que a educação é direito
de todos, devendo ser ministrada pela
família e pelos Poderes Públicos, princípio
anteriormente atribuído à família. Além do
que o capítulo II da Constituição Federal

4
fora dedicado inteiramente à educação,

Unidade
Figura 1 - Anísio Teixeira - Imagem da Divisão de Cultura do
que procurava contemplar os interesses dos Município - Prefeitura de Caetité - Bahia

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:An%C3%ADsioTeixeira.jpg
educadores católicos e liberais. Contudo,
esta Constituição teve vida curta, abolida
com o golpe do Estado Novo em 1937.

4 O ESTADO NOVO E A EDUCAÇÃO Plano Cohen - foi um U V


documento escrito pelo a FR
K
capitão integralista C AM
Getúlio Vargas, alegando a existência de um Olímpio Mourão Filho - na

SAIBA MAIS
suposto plano comunista (Plano Cohen) e aproveitando época membro do Serviço
Secreto - a pedido de Plínio
o momento de instabilidade política pelo qual passava Salgado, líder da Ação
o país, aplicou um golpe de Estado, que contou com o Integralista Brasileira, de
ideologia nacionalista,
apoio de grande parte da população (principalmente da com a intenção de simular,
classe média com medo do comunismo) e dos militares. supostamente para efeitos
de estudo, uma revolução
Este período ficou marcado, no campo político, por um comunista no Brasil. O
governo ditatorial. plano foi utilizado pelo
governo federal com o
Logo em seguida, o presidente restringiu a objetivo de aterrorizar
liberdade política e impôs ao País outra Constituição a população e justificar
um golpe de Estado
de tendência fascista, escrita pelo ministro Francisco que permitiria a Getúlio
Campos e que ficou conhecida como “Polaca”, outorgada Vargas perpetuar-se na
Presidência do país.
em 10 de novembro de 1937. A orientação político-
educacional que ficou explícita no seu texto indicava,
praticamente, a desobrigação do dever do Estado para com a
educação pública. Por outro lado, orientava a preparação de
um ensino pré-vocacional e profissional. A intenção era manter

UESC Pedagogia 67
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república

explícito o dualismo educacional. Ou seja, os ricos seguiriam


as escolas propedêuticas e os pobres as escolas profissionais
(GHIRALDELLI JR., 2003, p. 83-84).
A nova Constituição de 1937 restringiu direitos sociais
anteriormente adquiridos, desobrigando o Estado do dever de
Escolas Propedêuticas
ofertar educação para todos indistintamente. O artigo 125 dizia
desenvolviam estudos
nas áreas humana e que a educação integral da prole é o primeiro dever e o direito
científica que precedem,
natural dos pais. O Estado não seria estranho a esse dever,
como fase preparatória e
indispensável, os cursos colaborando, de maneira principal ou subsidiária, para facilitar
superiores de espe-
a sua execução ou suprir as deficiências e lacunas da educação
cialização profissional ou
intelectual. particular (grifo nosso). As reformas educacionais desse período
foram implantadas através das Leis orgânicas do Ensino.

4.1 “Leis” Orgânicas do Ensino


 
As chamadas “Leis” Orgânicas do Ensino se constituem,
na verdade, num conjunto de
U V Gustavo Capanema Filho: mineiro, formou-se bacharel em Decretos-Lei elaborados por
a FR Direito em 1924. Em 1934, foi nomeado por Getúlio Vargas
K uma comissão de “notáveis”,
C AM para a pasta da Educação e Saúde Pública. Sua gestão
caracterizou-se principalmente pela retomada das campanhas presidida por Gustavo Capanema
SAIBA MAIS

sanitárias, promulgação da Lei Orgânica do Ensino Secundário,


instituindo um primeiro ciclo de quatro anos de duração, e outorgados pelo presidente
denominado ginasial, e um segundo ciclo de três anos, que
podia ser o curso clássico ou o científico, visando à criação
Getúlio Vargas. O objetivo dessas
da Universidade do Brasil. Contudo, opôs-se à criação da leis era reformar e padronizar
Universidade do Distrito Federal (UDF), concebida por Anísio
Teixeira durante a gestão de Pedro Ernesto na prefeitura da todo o sistema nacional de
capital da República. Em 4 de abril de 1939, inaugurou a
educação, com vistas a adequá-
Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, que
viria a ter profunda influência no ensino médio e superior. lo à nova ordem econômica e
Ainda em 1939, foram fundadas a Faculdade Nacional de
Arquitetura e a Faculdade de Ciências Econômicas. Também social que se configurava no
fundou o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), Brasil naquela época (expansão
nomeando para sua direção o professor Lourenço Filho, em 30
de julho de 1938. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 10 do setor terciário urbano,
de março de 1985 (ROMANELLI, 1989; GHIRALDELLI, 1990).
constituição de uma classe
média, do proletariado e da
burguesia industrial, resultante da intensificação do capitalismo
no país).
Os decretos, desse conjunto conhecido como Reforma
Capanema, são:

● Decreto-lei nº 4.048, de 22/01/1942 – cria o SENAI (Ser-


viço Nacional de Aprendizagem Industrial);
● Decreto-lei nº 4.073, de 30/01/1942 – “Lei” Orgânica do

68 Módulo 1 I Volume 3 EAD


Ensino Industrial;
●Decreto-lei nº 4.244, de 09/04/1942 – “Lei” Orgânica do
Ensino Secundário;
●Decreto-lei nº 6.141, de 28/12/1943 – “Lei” Orgânica do
Ensino Comercial;
●Decreto-lei nº 8.529, de 02/01/1946 – “Lei” Orgânica do
Ensino Primário;
●Decreto-lei nº 8.530, de 02/01/1946 – “Lei” Orgânica do
Ensino Normal;
● Decretos-lei nº 8.621 e 8.622, de 10/01/1946 – criam o
SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial);
● Decreto-lei nº 9.613, de 20/08/1946 – “Lei” Orgânica do
Ensino Agrícola.

4
Como você viu, o governo do Estado Novo, através

Unidade
dos decretos-leis, organizou o ensino secundário de forma
marcadamente profissionalizante. Este tipo de educação era
destinado para os filhos dos trabalhadores, enquanto que,
para os jovens das classes privilegiadas, criava-se um ensino
propedêutico. Isto porque esta classe iria certamente se
constituir na “elite condutora” do país.

5 A QUARTA REPÚBLICA E A LEI 4.024/61

O Estado Novo findou com a deposição de Getúlio Vargas


em 29 de outubro de 1945. Esse ato foi consubstanciado com a
elaboração de uma nova Constituição (1946), com características
de cunho liberal e democrático, e elegeu-se para presidente da
República, pelo voto direto, o General Eurico Gaspar Dutra.
Na área da Educação, a Constituição determinava
a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dava
competência à União para legislar sobre Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Além disso, a nova Carta Magna do País fez
voltar o preceito de que a educação é direito de todos, inspirada
nos princípios proclamados pelos Pioneiros, no Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, nos primeiros anos da década de
30.
O ambiente político da época estava marcado pelo
populismo que há algum tempo já predominava na cena política

UESC Pedagogia 69
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república

do país, principalmente através dos partidos: PSD, PTB e UDN.


Nesse quadro, tramitava no Congresso Nacional a formulação
da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN).
O Ministro da Educação Clemente Mariani (UDN) criou
uma comissão com o objetivo de elaborar um anteprojeto de
reforma geral da educação nacional, presidida pelo educador
Lourenço Filho e, entre seus membros, encontravam-se grandes
representantes do debate educacional da década de

U V Num primeiro momento, 1920 e 1930, tais como: Fernando de Azevedo, Padre
a FR as discussões estavam
K Leonel Franca e Alceu de Amoroso Lima. O anteprojeto
C AM voltadas às interpretações
contraditórias das propostas foi elaborado e encaminhado à Câmara Federal, contudo
SAIBA MAIS

constitucionais, quando,
foi arquivado em 1948 por questões ideológicas em
nesse ínterim (06 anos),
o projeto foi extraviado. A torno das propostas.
discussão recomeça em 1957,
As discussões foram marcadas por lutas ideo-
após a elaboração de um
novo projeto. Mas o processo lógicas, relacionadas com a questão da responsabilidade
foi atropelado, em 1958, pelo
do Estado quanto à educação, inspirados nos educadores
substitutivo do Deputado
Carlos Lacerda (UDN), que da velha geração de 30, conforme já citamos no
alterava substancialmente a
parágrafo acima. Por um lado, tinham-se os defensores
proposta original, defendendo
o interesse dos donos das da escola pública gratuita e, por outro lado, os católicos
escolas privadas.
defensores das instituições privadas de ensino.
O debate sobre a educação ultrapassou o espaço
do Congresso e do poder Executivo e se estendeu por toda a
sociedade. Muitos órgãos assumiram posições diferenciadas,
como a igreja católica, os órgãos de imprensa, associações,
profissionais liberais, surgindo um movimento de Defesa da
Escola Pública, iniciado
Dentre as variadas em 1959, pelo jornal
U V
a F R ações, podemos
K “O Estado de S.
C AM destacar o trabalho
realizado pelo professor Paulo”.
SAIBA MAIS

Florestan Fernandes, Depois de 13


que iniciou uma jornada
de discussões pelo anos de acirradas
interior do país através discussões na Câmara
de palestras, seminários,
encontros etc. Para dos Deputados
maiores informações e no Senado, foi
sobre a contribuição
deste grande intelectual, promulgada a Lei
visitar página: http:// 4.024, em 20 de
b r. g e o c i t i e s . c o m /
dce_ielusc/biografia_ dezembro de 1961,
florestan.htm Figura 2 - Florestan Fernandes.
pelo Presidente da
Fonte: http://cienciassociaispucrs.blogspot.com/
2009_09_01_archive.html
República, João

70 Módulo 1 I Volume 3 EAD


Goulart, prevalecendo as reivindicações da Igreja Católica e dos
donos de estabelecimentos particulares de ensino no confronto
com os que defendiam a escola pública e laica.
Por fim, podemos afirmar que a primeira Lei de Diretrizes LEITURA RECOMENDADA
e Bases para a Educação Nacional foi um fato marcante na Para obtenção de
maiores informações
História da Educação Brasileira, porque ela conseguiu organizar sobre A lei de Diretrizes
e Bases da Educação
o Sistema Nacional de Ensino, pelo menos no seu aspecto Nacional, nº 4.024/61,
você poderá ler
formal, em todos os níveis. Contudo, é bom que fique claro que Romanelli, Otaíza de
a legislação educacional herdada do Estado Novo vigorou até Oliveira. História da
Educação no Brasil.
1961, quando foi aprovada a nova LDB. Vozes, 1989; ou navegar
na Internet, digitando
palavras básicas sobre
o tema em questão.

6 A EDUCAÇÃO POPULAR NO BRASIL

4
O período de 1946 a 1964 foi uma fase especialmente

Unidade
rica no que diz respeito à atuação de diversos movimentos de
educação popular, e, talvez, o mais fértil quando se trata de
ações no campo da História da Educação. Podemos destacar
alguns fatos marcantes, de modo particular, os destinados
a combater o analfabetismo. Em 1947, foi patrocinada pelo
Ministério da Educação uma campanha de educação de adultos
coordenada pelo Professor Lourenço Filho, até 1950.
Muitos Estados e Municípios desenvolveram ações nesta
direção. Vamos destacar algumas das principais iniciativas.
Em 1950, em Salvador/Bahia, Anísio Teixeira inaugurou
o Centro Popular de Educação e desenvolveu ações de combate
ao analfabetismo; em 1952, em Fortaleza/Ceará, o pedagogo
brasileiro Lauro de Oliveira Lima iniciou uma didática baseada
nas teorias científicas de Jean Piaget, que criou o método
psicogenético, enfatizando o trabalho por equipes em sala de
aula, a partir de situações-problema, que se complexificam
conforme o nível mental da criança, como forma de auxiliar
a aprendizagem. Em 1961, a Prefeitura Municipal de Natal,
no Rio Grande do Norte, também iniciou uma campanha de
alfabetização (De Pé no Chão Também se Aprende a Ler).
A técnica didática, criada pelo pernambucano Paulo Freire,
propunha-se a alfabetizar adultos analfabetos em 40 horas.
A sociedade civil organizada, também, participou dessa
campanha para desanalfabetizar o País. Tivemos o Movimento
de Educação de Base (MEB), organizado pela Conferência

UESC Pedagogia 71
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república

Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a


Paulo Reglus Neves Freire - educador brasileiro,
U V
a FR nasceu em Recife, em 19 de setembro de partir de duas experiências de “educação
K
C AM 1921, e faleceu em São Paulo, em 2 de maio
radiofônica” realizadas no Nordeste pelas
de 1997. Destacou-se por seu trabalho na
dioceses de Natal e Aracaju, planejado
SAIBA MAIS

área da educação popular, voltada tanto para


a escolarização como para a formação da
para cinco anos, com início em 1961.
consciência. É considerado um dos pensadores
mais notáveis na história da pedagogia mundial, Ainda em 1962, foram criados o
tendo influenciado o movimento chamado
Plano Nacional de Educação e o Programa
pedagogia crítica.
Fonte: http://www.google.com.br/search?hl=pt- Nacional de Alfabetização, pelo Ministério
BR&q=PAULO+fREIRE&meta=&aq=f&oq=
da Educação e Cultura, inspirado no
Método Paulo Freire. Mas todo este
processo de organização popular e de
combate ao analfabetismo teve fim com
o golpe militar de 1964, que abortou
todas as iniciativas de se revolucionar a
educação brasileira, sob o pretexto de
que as propostas eram comunizantes e
subversivas.
Figura 3 - Paulo Freire na biblioteca do Intituto Paulo Freire
Creative Commons by-nc-nd 2.5 Vamos realizar uma pequena pausa
http://www.paulofreire.org/Crpf/CrpfAcervo000039
para refletirmos sobre algumas questões
pontuadas até aqui?

ATIVIDADES
1. Com o Movimento Revolucionário de 1930, o Brasil mudou radicalmente
a sua estrutura político-social, buscando desenvolver novas bases
econômicas, iniciando a industrialização e centralizando o poder
político. Nesse sentido, a educação passou a ser mola propulsora de
desenvolvimento. Comente sobre as principais alterações que ocorreram
no campo educacional.

2. O Manifesto dos Pioneiros, de 1932, é um programa que foi sugerido


para a educação brasileira. Procure saber se ele ainda é uma proposta
que está em curso ou se os elementos apontados já foram concluídos.

3. Apresente uma pequena síntese, destacando a importância da


implantação da Primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei n. 4.024/61) para a educação no País.

72 Módulo 1 I Volume 3 EAD


7 A DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA:
CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO

Que tal um pouco mais de História e da nossa História?


Para começar essa conversa, o que você conhece da história
da Ditadura Militar e o processo educativo desse período?
Recordemos, então, alguns fatos:
O período entre 1964 a 1985 foi, sem dúvida, um dos
mais significativos e transformadores da história educacional
do Brasil. Uma época marcada pela intervenção militar, pela
burocratização do ensino público, por teorias e métodos
pedagógicos que buscavam restringir a autonomia dos educadores
e educandos, reprimindo à força qualquer movimento que se
caracterizasse como barreira para o pleno desenvolvimento

4
dos ideais do regime político vigente, conduzindo o sistema de

Unidade
instrução brasileiro a uma submissão até o momento inigualável
(MANACORDA, 2002).
Instalados no poder e tendo se apropriado de toda a
máquina pública de forma autoritária, os militares, juntamente
com a elite conservadora, esforçaram-se no objetivo de
suplantar qualquer manifestação cultural que pusesse em risco
a sua estrutura ideológica.
Procurou-se evidenciar que a política do governo militar
empenhou-se na destruição cultural das forças que poderiam
resistir à barbárie. Ao se impor pela força, adotando um
modelo consequente e coerente com a Doutrina de Segurança
Nacional, a ditadura mostrou a sua verdadeira natureza em
termos culturais. “Se essa história de cultura vai nos atrapalhar
a endireitar o Brasil, vamos acabar com a cultura durante trinta
anos” (CHIAVENATO, 2004, p. 149).
Os militares incitaram o sentimento de descontentamento
e insegurança da nação, estimulando uma série de expressões
públicas contrárias ao governo Jango e, por consequência,
atingiram o seu principal objetivo: controlar plenamente o
Brasil. Também contaram, num primeiro instante, com o apoio
de vários segmentos civis, inclusive de empresas privadas e
da Igreja Católica. Conscientes das suas metas, utilizaram-se
de um contexto, de um povo, cuja fragilidade era detectada
facilmente em vários setores da sociedade.
A partir de 1968, a ditadura militar, gradativamente,

UESC Pedagogia 73
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república

começava a se desprender das forças sociais em que as apoiou,


intensificando suas ações cada vez mais repressoras. Assim,
esta forma adotada pelo regime militar gerou contradições
entre os interesses dos setores sociais e dos militares, que
passaram a cassar os direitos políticos, perseguir e punir quem
se constituísse obstáculo para o sistema.
Nesse sentido, Ghiraldelli (2003) questiona: dentro
de uma perspectiva social, como esse modelo, baseado na
repressão, permeou a mentalidade nacional em meio século
XX? Quais as suas promessas e influências diretas ou indiretas
nos dias atuais? Por que tais acontecimentos se processaram
desta forma?
Com a sede de desenvolvimento econômico, o desejo pelo
poder e como forma de enquadrar a maior parte da sociedade
num sistema político autoritário, os militares desenvolveram
um método de ensino centrado em formar pessoas, não para
a vida social, mas para o mercado de trabalho. Tentaram
adequar o sistema educacional brasileiro aos seus interesses
políticos, firmando diversos convênios, entre eles, o acordo
entre o Ministério da Educação (MEC) e a United States Agency
of Internatinonal Development (USAID). Conforme Chiavenato
(2004),

[...] o modelo proposto pelo USAID se beneficiou de uma


situação concreta: a ascensão das multinacionais criou
os seus próprios ‘intelectuais orgânicos’, que amoldam
ou cooptam as elites culturais, e estas, por serem ou
sentirem-se ‘elites’, chamam a si a responsabilidade (e
o poder) de ditar as regras da cultura (p. 46).

A parceria MEC-USAID
U V A Pedagogia liberal tecnicista aparece nos Estados Unidos, na
a FR segunda metade do século XX, e é introduzida no Brasil entre
intencionava, para o País,
K
C AM 1960 e 1970. Nessa concepção, o homem é considerado um uma instrução/educação nos
produto do meio. É uma consequência das forças existentes
moldes da educação norte
SAIBA MAIS

em seu ambiente. A consciência do homem é formada nas


relações acidentais que ele estabelece com o meio ou controlada
cientificamente através da educação. “Na tendência liberal
americana. Pregava-se um
tecnicista a educação escolar organiza o processo de aquisição sistema educacional tecnicista,
de habilidades, atitudes e conhecimentos especificos” (LUCKESI,
1994, p. 60-61). É matéria de ensino apenas o que é redutivel excludente e sem nenhuma
ao conhecimentos que pode ser observado e os conhecimentos
atenção à educação básica
decorrem da ciência objetiva. Procure conhecer mais sobre as
tendências pedagógicas no Brasil lendo ARANHA, Maria Lúcia de pública.
Arruda. História da Educação e da Pedagogia: geral e Brasil.
3. ed. São Paulo Moderna, 2006.

74 Módulo 1 I Volume 3 EAD


Em suma, não visava desenvolver o senso crítico dos
educandos, nem um entendimento real do seu quadro social
(que são metas básicas da LDB/96), ao contrário, fazia brotar
em cada educando o sentimento involuntário de individualismo,
manifestado através da competitividade gerada pelo sistema,
uma vez que as teorias reprodutivistas propagavam a ideia de
uma “escola reflexo”, fruto da sociedade capitalista.
O Governo Militar, juntamente com outras parcerias,
objetivando pôr em prática os seus planejamentos econômicos
e políticos, reprimiu professores e burocratizou a educação,
incluindo-a numa “linha hierárquica” dentro de um sistema
militar, concorrendo para a constante perda da autonomia
docente.
Com essa política repressora e burocrata, os militares

4
conduziram o sistema de ensino brasileiro às modificações

Unidade
em sua estrutura interna e externa, principalmente com a
criação das leis 5.540/68 e 5.692/71, que enfatizam a reforma
universitária e a reforma do ensino do 2º grau, respectivamente
(MANACORDA, 2002).
Paradoxalmente, neste período, deu-se a grande
expansão das universidades no Brasil. E, para acabar
com os “excedentes” (aqueles que tiravam notas
suficientes para serem aprovados, mas não conseguiam
vaga para estudar), foi criado o vestibular classificatório.
      Naquele momento,  foi criado o Movimento Brasileiro
de Alfabetização - MOBRAL, para erradicar o analfabetismo
no Brasil, mas esse programa fracassou. E, entre denúncias
de corrupção, foi extinto. É no período mais cruel da ditadura
militar, em que qualquer expressão popular contrária aos
interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violência
física, que é instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, em 1971. A característica mais marcante
desta lei era tentar dar um cunho profissionalizante à formação
educacional.
Dentro do espírito dos slogans propostos pelo governo
militar, como “Brasil grande”, “ame-o ou deixe-o”, “milagre
econômico” etc., planejava-se fazer com que a educação
contribuísse, de forma decisiva, para o aumento da produção
brasileira. A ditadura militar se desfez por si só. Tamanha era a
pressão popular, de vários setores da sociedade, que o processo

UESC Pedagogia 75
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república

de abertura política tornou-se inevitável. Mesmo assim, os


militares deixaram o governo através de uma eleição indireta,
mesmo que concorressem somente dois civis (Paulo Maluf e
Tancredo Neves).

ATIVIDADE
1. O objetivo principal da educação não deve ser a transmissão autoritária
de conhecimentos dogmatizados a serem absorvidos passivamente, mas a
preparação de cada ser humano para o diálogo fraterno na construção da
verdade, do bem e da justiça. Você concorda com essa afirmação? Emita a
sua opinião sobre o assunto.

8 A EDUCAÇÃO E A REPÚBLICA NOVA

Você já ouviu falar no período da República Nova? Que tal


aprendermos um pouco mais? Veja então alguns acontecimentos
educacionais desse período.
O Brasil ingressou em um processo de redemocratização,
a partir das eleições ocorridas em 1985, quando o poder militar
se extinguiu. Após 15 de novembro de 1985, foi finalizado o
ciclo da Ditadura Militar no Brasil, ocasião em que o Colégio
Eleitoral em Brasília declarou eleito, para o cargo de Presidente
da República, o candidato Tancredo Neves.
Um dia antes da posse, no dia 13 de março, Tancredo se
encontrava com a saúde bastante debilitada e faleceu no dia
21 de abril, sem ter tomado posse. Naquele momento, o Vice-
Presidente José Sarney tomou posse e deu-se início à chamada
Nova República.
Com o fim do Regime Militar, pensou-se que seria possível
discutir, novamente, as questões sobre educação, de uma
forma democrática e aberta, uma vez que, naquele momento,
a discussão sobre as questões educacionais já havia perdido
o seu sentido pedagógico e assumido somente um caráter
político.
Para que essa abertura acontecesse, de fato, houve
a participação mais ativa de pensadores de outras áreas do

76 Módulo 1 I Volume 3 EAD


conhecimento, que passaram a falar de educação num sentido
mais amplo do que as questões pertinentes a escola, a sala de
aula, a didática e a dinâmica escolar em si mesma.
Portanto, muitos profissionais da área de Sociologia,
Filosofia, Antropologia, História, entre outras - impedidos
de atuarem em suas funções, por questões políticas durante
o Regime Militar -, passaram a assumir postos na área da
educação.
Em 1985, no Governo Sarney, foi lançada a proposta da
“educação para todos” e de combate à pobreza, chamada “tudo
pelo social”. Logo depois, aconteceu o desenvolvimento da
política educacional com tendência à educação assistencialista
e compensatória – perspectiva “redistributivista” e
“participacionista” - destinada a socorrer e não a resolver os

4
problemas educacionais existentes (VEIGA, 2007).

Unidade
O governo Collor caracterizou-se pela inexistência de um
programa de governo para a educação, havendo tão somente a
multiplicação de planos e programas, sem qualquer articulação.
Em 1990, esse governo lançou o projeto de construção de
Centros Integrados de Apoio à Criança (CIACs), inspirados no
modelo dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs),
existentes desde 1982, no Rio de Janeiro. Entretanto, os CIACs,
organizados naquele momento, quase não saíram do papel.
No governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC),
houve um destaque para a criação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs 1998) e a multiplicação de programas de apoio
à escola e às famílias.
Mesmo com todos os ranços, não se pode esquecer que
a educação brasileira apresentou avanços expressivos nas
últimas décadas do século XX, tais como:

• promulgação da Constituição de 1988;


• criação do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA/1990);
• criação e promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei n° 9.394/96);
• reorganização e redefinição das competências do Conselho
Nacional de Educação (CNE/99);
• implantação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
do Ensino Fundamental (FUNDEF);

UESC Pedagogia 77
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república

• elaboração do Referencial Curricular Nacional Para a


Educação Infantil (RCNEI, 1998);
• elaboração e divulgação das Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI/1999).

Entretanto, muitas dessas conquistas só se efetuaram


no plano legal, deixando uma lacuna e uma enorme frustração
no plano das suas realizações reais.
Para encerrar esta seção, que tal resumirmos esse
momento da História do Brasil e seus reflexos na educação?

• A política educacional assume a tendência tecnicista,
partindo do pressuposto da neutralidade científica,
inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e
produtividade;
• a preocupação da escola com a eficácia e a eficiência
do ensino transforma os conteúdos em técnicas de
planejamento, ensino, materiais instrucionais etc.;
• houve uma dicotomia entre teoria e prática;
• houve reformas no ensino de 1º e 2º graus (objetivos,
estrutura e conteúdos); no ensino superior: Criação da
Lei 5.540/68, que versava sobre o acesso à universidade;
a desmobilização da organização estudantil; os acordos
MEC-USAID;
• a partir da metade dos anos 70, houve a abertura
gradual do processo democrático; contestação do
caráter tecnicista da educação; desvelamento de que
toda prática pedagógica é social e política;
• no início dos anos 80 até 85, aconteceram alguns fatos:
LEITURA RECOMENDADA luta pela instalação de uma Nova República; luta dos
Para maiores Informações,
educadores pela recuperação da escola pública; luta por
procure ler: MANACORDA,
Mário Alighieri. História da mais verbas para a educação; discussão e disseminação
Educação: da antigüidade
aos nossos dias. São da concepção crítica de educação, chamada de Pedagogia
Paulo: Cortez, 2002; e
AZEVEDO, Janete M. L. de. Crítica;
A educação como política
pública. Campinas: Autores • nos anos 90, houve uma aceleração do processo de
Associados, 2002.
globalização do conhecimento e da tecnologia, pondo em
xeque a figura do professor, os cursos de formação e sua
contribuição nesse processo (PILETTI; PILETTI, 1991).

78 Módulo 1 I Volume 3 EAD


RESUMINDO

Você estudou que o processo de evolução do sistema


educacional tem implicações diretas com os mais variados aspectos
da sociedade brasileira e que os seus sistemas de ensino se
organizam condicionados por um determinado tempo histórico, ou
seja, uma realidade social concreta, sendo o Estado o responsável
pela definição de suas diretrizes e metas que devem estar de acordo
com os interesses em cada momento histórico. Nesse sentido, você
viu que a evolução do processo histórico da educação brasileira
apresentou as virtudes, carências e malefícios no seu processo de
desenvolvimento.

4
Unidade
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e
re f e R Ê N C ias

da Pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna,


2006.

AZEVEDO, Janete Lins de. Educação Como Política Publica.


Campinas: Autores Associados, 2002.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.


São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1989.

CHIAVENATO, Júlio José. O golpe de 64 e a ditadura militar.


São Paulo: Moderna, 2004.

FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e


história. São Paulo: Companhia das Letras, 1985.

GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. 8. ed.


São Paulo: Ática, 2005.

GHIRALDELLI JR., Paulo. História da Educação. São Paulo:


Cortez, 1990.

GHIRALDELLI JR., Paulo. Filosofia e História da Educação


Brasileira. Barueri: Manole, 2003.

UESC Pedagogia 79
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república

IANNI, Otávio. Estado e planejamento econômico no


Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 1984.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São


Paulo: Cortez, 1994

MANACORDA, Amario Alghieri. História da Educação: da


antigüidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez, 2002.

PILETTI, Cláudio; PILETTI, Nelson. Filosofia e História da


Educação. 9. ed. São Paulo: Ática, 1991.

RIBEIRO, Maria Luiza Santos. História da Educação


Brasileira: a organização escolar. 11. ed. São Paulo: Cortez,
1991.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. A História da Educação no


Brasil. Rio de Janeiro: Vozes, 1989.

SAVIANI, LOMBARDI; SANFELICE (Orgs.). Liberalismo


e educação em debate. Campinas: Autores Associados,
2007.

SAVIANI, Dermeval et al. O legado educacional do século


XX no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2004.

SODRÉ, N. W. Formação Histórica do Brasil. 3. ed. São


Paulo: Brasiliense, 1978.

VEIGA, Cynthia Greive. História da Educação. São Paulo:


Ática, 2007, 328p.

http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/renascimento/index.php.
Acesso em 20 abr. 2009.

80 Módulo 1 I Volume 3 EAD


Suas anotações
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5

unidade
A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA DA
EDUCAÇÃO NA REGIÃO CACAUEIRA
Profª. Drª. Raimunda Alves Moreira de Assis

Apresentar informações básicas a respeito da


Meta

história da educação regional e desenvolver análises


e interpretações sobre a necessidade e importância
de se preservar e escrever a memória histórica.
Objetivos

Ao final desta unidade, você deverá:

• ter uma visão geral do percurso histórico da


educação na Região cacaueira;
• identificar as principais características que
marcaram o desenvolvimento da Educação na
Região.
UNIDADE V

1 INTRODUÇÃO 5
Unidade

Nesta unidade, você estudará alguns aspectos históricos

que caracterizam o desenvolvimento da educação na Região

Cacaueira, bem como fatos importantes que se estabeleceram

para constituir as formas de organização e desenvolvimento do

ensino. Também conhecerá alguns movimentos sociais em defesa

da educação, em que a sociedade reivindicava escolas para educar

os seus filhos, material didático, além da expansão e ampliação

do nível de escolarização da população.

UESC Pedagogia 85
História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira

2 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA REGIÃO


CACAUEIRA: ALGUNS ASPECTOS

O estudo no campo da História da Educação na Região
ainda é muito recente, apresentando muitos percalços a
enfrentar. As limitações são de diferentes ordens. No campo
teórico-metodológico, as poucas produções existentes pecam
pela falta de uma análise contextualizada do quadro educacional.
Também existe carência de um grupo de pesquisadores que
alimentem o interesse individual e coletivo por esta linha
de pesquisa, promovendo debates que ampliem o interesse
de pesquisadores e estudantes no campo historiográfico
educacional.
Mesmo diante dessas carências, já começam a surgir
alguns ensaios de produção científica, nesta linha de pesquisa,
resultantes de trabalhos monográficos e outras formas de
produção, realizados por alunos dos Cursos de Licenciatura em
História e Pedagogia e do curso de pós-graduação lato-sensu
em História Regional, ofertados pela Universidade Estadual de
Santa Cruz (UESC).
Observamos, contudo, que ainda não se privilegia o eixo
da História da Educação, existindo poucas questões estudadas
neste campo do conhecimento. Constatamos que, até o ano de
2000, as informações existentes a esse respeito consistiam de
pequenas notas de autores, informando número de escolas ou
registro de matrícula.
Os primeiros estudos com características acadêmicas são
as pesquisas da professora Raimunda Assis (2000), com a obra
intitulada A Educação em Itabuna: um estudo de organização
escolar: 1906-1930, a do Prof. Arléo Barbosa (2001) sobre a
Evolução da rede pública de Ensino Médio de Ilhéus de 1940 a
1980; e o livro de Maria Luiza Heine sobre o Instituto Municipal
de Ensino Eusínio Lavigne. Estas pesquisas são resultados de
monografias e dissertação de mestrado em educação.
Não temos, até o momento, conhecimento na literatura
regional de publicações sobre a História da Educação na Região
Cacaueira. Nesse sentido, tomamos como referência, para
identificar as principais características que marcaram a história
educacional da Região, os dois maiores municípios: Ilhéus e
Itabuna.

86 Módulo 1 I Volume 3 EAD


Essa foi a estratégia que recorremos para levantar
as principais características que marcaram a história da
educação regional. Isso, certamente, não nos permite fazer
maiores generalizações, porque não se deve perder de vista
as singularidades, o particular de cada localidade. Contudo,
ponderamos que este caminho poderá nos ajudar a identificar
os pontos existentes em comum que unem a educação na
região.

3 A EDUCAÇÃO EM ILHÉUS

5
Unidade

FIGURA 1 - Mapa da cidade de Ilhéus - BA. Fonte: http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl

Os primeiros educadores da Capitania de Ilhéus foram


os jesuítas, que vieram para o Brasil através da Companhia
de Jesus. Eles se instalaram, inicialmente, nas localidades das
sesmarias de Rio de Engenho e Camamu. Segundo Barbosa
(1994),

[...] pode-se afirmar que o primeiro professor de


Ilhéus foi o padre Diogo Jácome que, em 1549, veio
acompanhado do Pe. Leonardo Nunes e ensinou as

UESC Pedagogia 87
História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira

primeiras letras e religião. Nesta época, em carta


dirigida ao provincial informa Nóbrega: Diogo
Jácome que fez muito fruto em ensinar aos moços
e escravos (p. 83).

O autor aponta que havia um interesse da população


em alfabetizar os seus filhos e iniciá-los nas “práticas dos bons
costumes”. A primeira escola na região que se tem notícia
surgiu no século XVIII. O ensino ministrado preocupava-se com
a escrita, leitura, gramática latina e religião.
Um fato interessante destacado pelo autor em seu livro
Notícia Histórica de Ilhéus é “que em cada três europeus um
falava Tupy”. Apesar de os Jesuítas terem escrito gramáticas
para facilitar a comunicação entre os colonizados e indígenas,
não introduziram a língua Tupy no processo educacional,
provavelmente ajudando a destruir a característica bilíngue da
população naquela época.
A partir do Decreto de expulsão dos Jesuítas, de 03
de setembro de 1759, houve um agravamento no processo
educacional na Capitania de Ilhéus por muitos séculos, o que
causou descontentamento na população, pois os Jesuítas
cultivaram muito afeto e devoção.
Em 1805, o povo já reclamava ao Príncipe Regente,
D. João, que solucionasse o problema educacional da Vila,
enviando professor para lecionar, “uma vez que a situação da
educação foi agravada em razão da expulsão dos jesuítas do
Brasil, [...] graças as intrigas da Corte de D. José I e do seu
ministro déspota esclarecido Marquês de Pombal” (BARBOSA,
1994, p.84). Este fato teve repercussão internacional, tendo
o pensador Francês Voltaire se manifestado sobre a expulsão,
dizendo ser “um excesso ridículo e absurdo junto ao excesso
de horror”.
Mais de um século depois (1904) é que foi iniciado o ensino
público em Ilhéus. Foi nomeado professor Camuto Trindade
Rosa, assumindo a cadeira de ensino, para os alunos do sexo
masculino, e a professora Isabel Josepha do Nascimento, para
o sexo feminino.
Diante do descaso das autoridades com o quadro
educacional do município, a população e os jornais de oposição
da época começaram a criticar os governantes pela falta
de políticas públicas para a educação. Diziam: ”os chefes

88 Módulo 1 I Volume 3 EAD


políticos nomeados escorados
nas baionetas da política, sem
prestígio e ignorantes, têm
razão de abominar a instrução
que os pode comprometer, e é
por isso que o Sr. Adami difunde
o ensino por meio de alfaiates”
(BARBOSA, 1994, p.84).
O ensino em níveis mais
elevados ao primário foi criado
em 1905. A escola complementar Figura 2 - Instituto Nossa Senhora da Piedade
Fonte: Jamile Ocké
começou a funcionar sob a
regência do engenheiro Ervídio
Velho, num prédio situado à rua direita do comércio.
Barbosa (1994) ressalta que, na década de 1920,
existia, no município de Ilhéus, cerca de 30 escolas primárias
mantidas pelo município e a rede estadual possuía cinco
escolas elementares e uma

5
complementar. Como se vê, um
quadro ainda bastante precário

Unidade
para uma cidade que progredia
a olhos vistos. O autor ainda
afirma que a população
estudantil se ampliava a cada
ano e foi somente a partir
da década de 1960 que os FIGURA 3 - Instituto Municipal de Educação de Ilhéus Eusínio Lavigne

grupos escolares estaduais e Fonte: http://catucadas.blogspot.com/2009/03/sete-decadas-do-ime.htm

municipais começaram a surgir


nos bairros e nos distritos de Ilhéus.
O autor pontua que o ensino secundário em Ilhéus
iniciou com o curso normal, no atual Instituto Nossa Senhora
da Piedade, dirigido pelas religiosas ursulinas que chegaram em
1915. Em março de 1920, já iniciavam o curso normal voltado
para jovens da região cujas famílias tinham um alto poder
aquisitivo. A primeira turma de normalista da região diplomou-
se em 1923, num total de seis professorandas.
As classes populares só vieram a ter acesso ao curso
ginasial público em 1939, com a construção do Ginásio Municipal
de Ilhéus, implantado no governo do Dr. Mário Pessoa. Para a
realização da sua construção, foi assegurado o recolhimento de

UESC Pedagogia 89
História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira

uma taxa de 10% de todos os impostos municipais. Em 15 de


março de 1939, foi inaugurado oficialmente o ginásio municipal
com ato solene. Nas palavras de Barbosa (1994), foi “uma
iniciativa de inestimável valor educacional. Foi o 1º Ginásio do
Sul do Estado, daí o grande número de estudantes que nele
ingressaram. O IME honra o ensino do Estado da Bahia” (p.
86).
Na sequência, foram fundados vários outros ginásios:
Centro Educacional Álvaro Melo Vieira (1939), Instituto de
Educação D. Eduardo (1968), Ginásio Afonso de Carvalho
(1969), Centro Integrado de Educação Rômulo Galvão (1964).
Hoje, o quadro educacional do município apresenta novas
características, é ofertada a escolarização às diferentes camadas
da população, tanto da cidade como do campo, interiorizando a
sua ação nos diferentes níveis e modalidades de ensino.

4 A EDUCAÇÃO EM ITABUNA

O ensino de Itabuna, na sua primeira fase (1906 a 1930),


é caracterizado pela organização e evolução do seu sistema de
ensino primário, demarcado pela necessidade de as famílias

FIGURA 4 - Mapa da cidade de Itabna - BA. Fonte: http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl

90 Módulo 1 I Volume 3 EAD


dos coronéis e dos grandes comerciantes exportadores de
cacau terem escolas para os seus filhos. Este segmento social
patrocinou o surgimento das primeiras escolas no município,
contratando professores e cedendo espaços (privados) para
instalação de escolas, a fim de que os seus filhos pudessem
estudar sem precisar sair para outros centros urbanos mais
desenvolvidos. Outras instituições estabeleciam convênios,
sendo parte das despesas subsidiadas pelo município (ASSIS,
2000).
Nesse sentido, esses segmentos responsabilizavam-se
em suprir o dever constitucional do Estado de fornecer educação
para todas as crianças em idade escolar. As fontes apontaram
que esta não era uma particularidade somente do Município
de Itabuna. Foi uma característica que também marcou o
desenvolvimento do ensino nos demais municípios da região.
Outra característica da rede de ensino era a falta de
vagas para demanda potencial. Na década de 1920, a demanda
efetiva de crianças de 07 a 14 anos nas escolas era de 4.893 e o

5
número de vagas ofertadas, no município, era somente de 2.250
vagas, ficando um número expresso de crianças sem estudar e,

Unidade
certamente, eram as crianças das classes populares.
Acrescente-se, também, ao quadro geral do ensino, a
precariedade das instalações físicas e mobiliárias das escolas,
de tipos: isoladas e reunidas, funcionando em casas ou salas
improvisadas (galpões, barcaças, vagões da estrada de ferro
etc.). O ensino era ministrado por professores leigos, em salas
mistas e multisseriadas, com uma programação para atender
alunos da 1ª a 4ª séries. Acrescente-se a estas precariedades as
dificuldades para assegurar a educação do campo decorrentes
da falta de transportes, moradia, distância das fazendas,
forma de locomoção e os baixos salários que os professores
recebiam.
O primeiro grupo escolar primário público de Itabuna foi
a Escola Lucia Oliveira, inaugurada no ano de 1935, com um
atraso histórico de quase 40 anos em relação ao primeiro grupo
escolar do Brasil e de 20 anos em relação a Ilhéus, município
vizinho.
No segundo período, entre 1930 a 1945, as mudanças
foram pontuais e singelas. A prioridade estabelecida para
educação de Itabuna passou a ser a ampliação do nível da

UESC Pedagogia 91
História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira

escolarização dos alunos. Em


outras palavras, o foco das
políticas públicas voltava-se
para a implantação de cursos
mais elevados. Certamente
essa política visava atender os
interesses de uma determina
classe social, cujos filhos já
haviam ultrapassado a primeira
etapa do ensino elementar
(primário) e precisavam
ingressar no ginásio. Isso
FIGURA 5 - Inauguração do Grupo Escolar Lucia Oliveira aprofundava o nível de exclusão
Fonte: Acervo da Fundação Henrique Alves de Itabuna - Ba - 2000
social.
É oportuno lembrar o
silêncio e a falta de informações existentes sobre as questões
da educação na região e, de modo especial, em Itabuna, como
já apontamos inicialmente. Os únicos dados que conseguimos
LEITURA RECOMENDADA garimpar foram por meio da Profa. Maria Palma Andrade, no
Para uma análise mais seu livro Itabuna: estudo monográfico, onde apresenta alguns
detalhada do estudo,
você pode consultar dados a partir do ano de 1960. Fica, portanto, um grande vazio
diretamente. ASSIS,
Raimunda Alves Moreira de informações e que, certamente, precisa ser preenchido.
de. A Educação em
Itabuna: um estudo da A autora informa que foi nesse período que o Município
organização escolar:
(1906/1930). Ilhéus, de Itabuna ampliou a sua rede de escolas em nível primário
BA: Editus, 2006, tese
de Doutorado em Edu- e médio, sendo construídos alguns novos grupos escolares
cação realizada na
Universidade Federal pelo Estado; outras escolas foram agrupadas em espaços mais
Fluminense (UFF), con-
cluída em 2008. adequados, além de assinaturas de convênios com Instituições
da sociedade civil organizada para ampliar o número de escolas.
Ainda aponta que, no ano de 1972, o município tinha um total
de 19.204 alunos cursando o ensino primário e, no nível do
ensino ginasial e médio (nos diferentes cursos), existia um
contingente de 7.663 alunos.
Ressalta, contudo, que o crescimento da população era
cada vez maior, havendo a necessidade de serem criados mais
estabelecimentos de ensino em diferentes níveis, para que
toda a população em idade escolar pudesse frequentar escolas
(ANDRADE, 1972, p. 63-64).
As fontes apontaram que esse desejo pelo aumento do
nível de escolarização não era uma ação isolada do Município
de Itabuna. Esse movimento era um anseio da Região e

92 Módulo 1 I Volume 3 EAD


envolvia pessoas das cidades circunvizinhas e de diferentes
organizações sociais. Destacamos algumas personalidades,
consideradas da “elite intelectual” da época dos dois municípios
de maior prestígio econômico na região, em Ilhéus, Dr. Álvaro
Melo Vieira, Dr. Mário Pessoa e o Dr. Eusínio Lavigne, e, em
Itabuna, Aziz Maron, Dr. Gileno Amado, D. Amélia Amado, Dr.
Claudionor Alpoim, entre outros (ASSIS, 2000).

5 O ENSINO SUPERIOR

Após vários anos de reivindicação das comunidades da


região cacaueira para instalação de faculdades de nível superior,
instalou-se no município de Ilhéus, na década de 60, a primeira
instituição de nível superior na região, a Faculdade de Direito
de Ilhéus, posteriormente a Faculdade de Filosofia de Itabuna
e Faculdade de Ciências Econômicas de Itabuna, com decreto
para funcionamento nos anos 1968 e 1970, respectivamente.
Posteriormente estas instituições congregaram-se

5
formando a Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e

Unidade
Itabuna – FESPI, através de uma fundação de natureza privada.
Em 06 de dezembro de 1991, foi incorporada ao quadro das
escolas públicas de 3º grau da Bahia, transformando-se em
Universidade Pública, denominada Universidade Estadual de
Santa Cruz – UESC. Desde então, vem ampliando os serviços
prestados, oferecendo diversos cursos, com atividades no
campo do ensino, pesquisa e extensão.
Atualmente já são oferecidos 29 cursos de graduação e
de pós-graduação, Lato Sensu (21) e Stricto Sensu, sendo 11
cursos de mestrado e um de Doutorado. Muitos destes cursos
vêm sendo referência em nível estadual e nacional, atendendo
um número crescente de estudantes da região cacaueira
e de outros estados. A UESC já graduou, no seu período de
funcionamento mais de 15.550 estudantes. (Fonte: Jornal da
Universidade Estadual de Santa Cruz Ano XI – No. 108/2009).

Até a década de 1990, além da UESC, existia a Faculdade


de Educação Montenegro, reconhecida pelo MEC, através
do Decreto nº. 97.787. É uma instituição de direito privado,
situada no município de Ibicaraí. Atualmente vem oferecendo os
cursos de Educação Física; Pedagogia; Turismo; e Secretariado

UESC Pedagogia 93
História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira

Executivo; além de diversos cursos de pós-graduação em


convênio com outras Instituições.
Recentemente as instituições de nível superior privadas
vêm se multiplicando na região, como consequência de uma
política pública implantada em todo o País. E, pelo que podemos
observar, este mercado cresceu de forma abusiva, tornando-se
um bom negócio empresarial, resultado da política neoliberal
implantada no país, principalmente a partir do governo de
Fernando Henrique Cardoso (1994-2002).
Portanto, cabe à sociedade avaliar esta nova fase da
educação: se é algo para democratizar ou se para mercantilizar
o ensino na lógica do lucro, o que deixa a educação à mercê
das incertezas do mercado. Cabe também a você, estudante,
refletir sobre essa situação, pois as consequências vão definir,
em muito, o seu futuro profissional.

ATIVIDADE
1. Apresente, em linhas gerais, a evolução do sistema público de ensino de seu
Município, destacando:

a) o contexto histórico da época;


b) o número de habitantes, por faixa etária, de pessoas analfabetas, o número
de ações educativas do Município, conselhos existentes etc.;
c) a organização do Sistema de Ensino, número de alunos no meio rural e
urbano, escolas, espaço físico das escolas, professores;
d) desempenho escolar, número de alunos matriculados, aprovados, reprovados,
distorção série/idade etc.

94 Módulo 1 I Volume 3 EAD


RESUMINDO

Você viu, nesta unidade, as principais características históricas


que marcaram o início da implantação do processo educacional
na região cacaueira. Ele foi marcado por um processo precoce
de implantação do ensino, que teve início a partir da chegada da
Companhia de Jesus à Capitania Hereditária de São Jorge dos Ilhéus
em 1549. Viu que as primeiras escolas implantadas foram instituições
religiosas, o que, de certa forma, retardou o desenvolvimento
educacional na região por muitos séculos.
No decorrer da implantação do processo educacional, o projeto
que se desenhou para desenvolver o ensino foi de caráter privatista,
voltado para atender os interesses das famílias que tinham um alto
poder aquisitivo. No bojo desse projeto, algumas Instituições da
sociedade civil, sem fins lucrativos, como Rotary Clube, Sociedade
São Vicente de Paula, Maçonaria Itabunense incubiram-se de construir
algumas escolas, permitindo, assim, que as classes populares
passassem a ter acesso ao ensino primário.
O desejo da população pelo aumento do número de vagas e

5
ampliação dos níveis de escolaridade na região era uma realidade
presente nos diferentes documentos pesquisados. Isso começa a

Unidade
acelerar somente na década de 1970, quando são instalados muitos
grupos escolares em várias cidades da região.
Como parte desse projeto de expansão do ensino na região,
surgiram as primeiras instituições de ensino superior (particulares)
nas cidades de Ilhéus e Itabuna, transformadas, em 1991, em
Universidade pública - a Universidade Estadual de Santa Cruz.
Atualmente a educação na região encontra-se em franco
processo de expansão nos seus diferentes níveis de ensino. Contudo,
não podemos afirmar que todas as pessoas têm possibilidades de
ter acesso a eles. Por outro lado, ainda é possível identificar que o
seu processo de ampliação é marcado por carências de diferentes
naturezas: infra estrutura escolar; permanência dos alunos nas
escolas; qualidade do ensino; e formação de professores.
Por fim, acrescentamos que o estudo sobre a História Regional
ainda é muito lacunoso. Por conseguinte, temos o desafio de motivar
os pesquisadores, professores e estudantes a se debruçarem
sobre as fontes primárias e secundárias, ou mesmo fontes orais
(praticamente as únicas existentes nos municípios), com a finalidade
de criar grupos de pesquisas para produzirem novos conhecimentos
no campo da História da Educação Regional para que venhamos a
suprir este quadro de carência hoje existente.

UESC Pedagogia 95
História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira

ALVES, Gilberto Luiz. Nacional e Regional na História

re f e R Ê N C ias
Educacional Brasileira: uma análise sob a ótica dos Estados
mato-grossenses. In: Educação no Brasil: história e
historiografia/Sociedade Brasileira de História da Educação
(Org.). Campinas: Autores Associados, SBHE, 2001.

ASSIS, Raimunda Alves Moreira de. A Educação em Itabuna:


um estudo de organização escolar, 1906-1930. Ilhéus - BA:
Editus, 2006.

AZEVEDO, Janete Lins de. Educação Como Política Pública.


Campinas: Autores Associados, 2002.

BARBOSA, Carlos Roberto Arléo. Notícia histórica de Ilhéus.


3. ed. Itabuna: Colorgraf, 1994.

HEINE, Maria Luíza. IME: o sonho de Euzínio Lavigne 1939


– 1999: 60 anos de História. Ilhéus, BA: Editus, 2000.

REIS FILHO, Casemiro dos. Transplante da Educação Européia


no Brasil. Revista Brasileira de História da Educação, n.
3. jan./jun. 2002.

http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/renascimento/index.php.
Acesso em 20 abr. 2009.

96 Módulo 1 I Volume 3 EAD


Suas anotações
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