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Com a emenda, foi modificado o §6º do art. 226 da Constituição Federal, que previa a
dissolução do casamento pelo divórcio, mas exigia a separação judicial prévia, com a
decorrência do prazo de um ano, ou uma separação de fato de dois anos.
A Emenda Constitucional n. 66, promulgada em 13 de julho de 2010, ocasionou uma verdadeira revolução no
Direito de Família, e como toda mudança, trouxe consigo dúvidas, críticas e jurisprudências em diversos
sentidos.
Com a emenda, foi modificado o §6º do art. 226 da Constituição Federal, que previa a dissolução do casamento
pelo divórcio, mas exigia a separação judicial prévia, com a decorrência do prazo de um ano, ou uma
separação de fato de dois anos. A modificação se resume em dispor que:
“Art. 1º. O §6º do art. 226 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:
(...)
Com isto, excluem-se to texto constitucional a separação judicial, o divórcio por conversão, bem como a
necessidade de prazos para a dissolução do vínculo. Assim, com o advento da referida emenda, a única
medida juridicamente possível para o fim do matrimônio é o divórcio, seja consensual ou litigioso, não sendo
mais usada a expressão divórcio direto.
A Proposta de Emenda 33/07, que ficou conhecida como PEC do Divórcio, resultou de iniciativa do Instituto
Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM, após deliberação em plenário no IV Congresso Brasileiro de Direito
de Família, no sentido de ser apresentada Emenda Constitucional com o objetivo de unificar no divórcio todas
as hipóteses de cessação da vida conjugal (CARVALHO, 2010). A idéia então foi levada ao Congresso pelo
deputado Antônio Carlos Biscaia, como PEC 413/05, e posteriormente pelo deputado Sérgio Barradas
Carneiro, como PEC 33/07.
Nas manifestações parlamentares, foi ressaltada a idéia de que a desburocratização do divórcio apenas
refletiria um anseio da sociedade brasileira, onde muitas pessoas separadas judicialmente constituem união
estável com outra, por ainda não poderem se divorciar, embaraçando ainda mais as relações familiares e
sucessórias. Levou-se em conta também o fato de que no Brasil, o número de reconciliações de casais
separados de fato ou judicialmente é mínimo, e que a maioria dos processos de separação judicial começa ou
termina de forma consensual.
O deputado Sérgio Barradas Carneiro, na justificativa da PEC 33/07 [1], aduz que:
Criou-se, desde 1977, com o advento da legislação do divórcio, uma duplicidade artificial entre dissolução da
sociedade conjugal e dissolução do casamento, como solução de compromisso entre divorcistas e
antidivorcistas, o que não mais se sustenta. (...) A submissão a dois processos judiciais (separação judicial e
divórcio por conversão) resulta em acréscimos de despesas para o casal, além de prolongar sofrimentos
evitáveis. Por outro lado, essa providência salutar, de acordo com os valores da sociedade brasileira atual,
evitará que a intimidade e a vida privada dos cônjuges e de suas famílias sejam levadas e trazidas ao espaço
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público dos tribunais, com todo o caudal de constrangimentos que provocam, contribuindo para o
agravamento de suas crises e dificultando o entendimento necessário para a melhor solução dos problemas
decorrentes da separação.
Malgrado as manifestações em favor das mudanças, a EC n.66/2010 foi alvos de muitas discussões e críticas,
principalmente dos religiosos, que argumentavam no sentido de que a facilitação do divórcio seria uma
ameaça às famílias brasileiras, e banalizaria o casamento, uma vez que daria ensejo a matrimônios
inconseqüentes e predispostos ao fim..
No entanto, em que pese à resistência de uma parte da sociedade, a PEC 33/07 foi aprovada e transformou-se 10
na Emenda Constitucional n. 66/2010, gerando discussões quanto aos seus efeitos na separação e no divórcio
judicial e extrajudicial.
Com a entrada em vigor da Emenda Constitucional n.66/2010, que alterou o art. 226, § 6º, da Constituição
Federal, suprimindo o requisito de prévia separação judicial por mais de um ano ou comprovada separação
de fato por mais de dois anos para a extinção do vínculo matrimonial, muitos doutrinadores e operadores do
direito passaram a adotar o entendimento de que foi extinta a separação judicial, ao passo que outra corrente
entende que o referido instituto não foi revogado, subsistindo no ordenamento jurídico brasileiro.
Há quem entenda que a Emenda nº 66 apenas alterou a disciplina constitucional do divórcio, permanecendo o
regramento infraconstitucional da separação judicial, quer por não haver incompatibilidade, quer por se
vislumbrar perfeitamente possível que um casal pretenda dissolver a sociedade conjugal, sem colocar fim,
definitivamente, ao casamento.[2]
Outros argumentam ainda, que a separação judicial dever persistir no Direito de Família como opção àqueles
que pretendam discutir a culpa pelo fim da sociedade conjugal (separação sanção), a fim de que sejam
aplicadas ao cônjuge culpado as sanções relativas ao uso do nome, aos alimentos, bem como à guarda dos
filhos. No entanto, não é o entendimento mais acertado, nem o que se tem predominado.
No entanto, a doutrina já se manifestou pela extinção da separação no direito brasileiro. Maria Berenice Dias
(2011, p. 628) ressalta que
(...) Ainda que permaneçam no Código Civil os dispositivos que regiam o instituto (arts. 1.571 a 1.578), tal não
significa que persista a possibilidade de alguém buscar somente o “término”do casamento, quer judicial quer
extrajudicialmente. Agora é possível pleitear a dissolução do casamento via divórcio.
Para Rodrigo Pereira da Cunha (2010), em uma interpretação sistemática e teleológica, a Emenda
Constitucional não recepcionou a separação, retirando a eficácia, apesar de ainda vigente, da legislação
infraconstitucional que regula a separação judicial e administrativa.
Se interpretada de forma literal, poderia se chegar à conclusão de que a separação judicial não foi afastada da
ordem jurídica. Porém, se levado em conta o histórico da legislação brasileira no que tange ao fim do
casamento, percebe-se uma evolução, que caminhou da fase de indissolubilidade do vínculo conjugal, a uma
facilitação cada vez maior do mesmo. Em todas essas fases, o Direito Brasileiro consagrou a separação judicial
em seu texto constitucional, pois até então era imprescindível a sua existência, a fim de acompanhasse o
desenvolvimento da sociedade, que não ainda não se sentia segura em facilitar o divórcio. Assim, a
manutenção da separação judicial contraria os fins sociais e confronta com os novos valores que a
constituição passou a exprimir em sua evolução (LÔBO, 2010).
Não merece ser acolhido também o argumento dos que defendem a permanência da separação judicial como
alternativa de quem não deseja se divorciar, na medida em que a ação de separação de corpos pode
perfeitamente ser utilizada como opção, ao por fim aos deveres do casamento, romper o regime patrimonial,
mas manter hígida a sociedade conjugal.
Com o fim da separação judicial, por meio de uma revogação tácita, se excluem também os dispositivos que
regulamentavam a discussão da culpa no fim do matrimônio. Este fica desvinculado a qualquer causa ou
motivo, bastando a vontade inequívoca de pelo menos um dos cônjuges. A mesma vontade de união que é
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acerca das questões discutidas no processo de separação sanção, como o uso do nome e os
alimentos. Para os defensores da manutenção do sistema dual, a discussão acerca desses temas é um
direito do cônjuge que se sentir lesado, o qual não foi retirado pela EC n.66. Entretanto, não é o
pensamento mais correto, uma vez que com o fim da separação, findam-se também as sanções dela
decorrentes.
Há de se ressaltar ainda que o nome de casado não é emprestado ao outro cônjuge. Ele passa a
integrar o direito de identidade do outro, ainda mais quando há filhos em comum. O descumprimento
de algum dos deveres do casamento não pode se sobrepor a um direito da personalidade consagrado
10
constitucionalmente.
No tocante aos alimentos, independentemente da culpa pelo fim do casamento, o Código Civil (art.
1694, §2º) imputa a responsabilidade àquele que houver dado causa à situação de necessidade do
outro. As disposições acerca da culpa nos alimentos tinham o intuito de proteger a mulher, quando
ainda não havia a total igualdade entre os cônjuges na sociedade. O casamento ainda estava enraizado
a idéia de que a mulher era sexo frágil, e se o homem fosse culpado pelo fim do casamento, deveria
manter o mesmo padrão de vida que a concedeu ao se casarem. Tais discussões não têm espaço nos
casamento sob a tutela do Código Civil de 2002, pois o que se vê cada vez mais são mulheres que
possuem fonte de renda própria; e mesmo as que recebem alimentos dos ex-cônjuges buscam uma
alternativa para manterem o padrão de vida de quando casada.
Todavia, as mudanças na sociedade e na legislação caminham para uma total inexistência de punição
pelo desamor. O uso do nome de casado é um direito adquirido com o casamento, o qual não admite
condição. O nome passa a fazer a integrar o direito de identidade do cônjuge, principalmente se
houverem filhos em comum.
Percebe-se que são muitas as questões pendentes acerca da separação, motivo pelo qual as normas
que regulam este instituto ainda não foram retiradas do Código Civil. O cônjuge separado
judicialmente continua com o estado civil de casado, não passando ao estado de divorciado
automaticamente, devendo para tanto requerer o divórcio, sem a necessidade de comprovação de
lapso temporal ou separação prévia. É o que aduz Ionete de Magalhães Souza[3]:
(...) Diante disso, vislumbram-se dois possíveis procedimentos: requerer a Conversão da Separação em
Divórcio, mas, desta feita, sem qualquer observância de prazo, ou requerer diretamente o Divórcio,
desconsiderando a Separação Judicial ou a Extrajudicial anterior. Acredita-se, perfeitamente, que a
primeira hipótese sobrevive, haja vista que, quando da Separação, pode ter ocorrido a discussão de
todos os fatos e termos, estando os quesitos cumpridos, restando tão-somente alegar na petição inicial
a dita conversão; não sendo necessária a apresentação de todos os dados e fatos novamente, como o
seria, caso se ajuizasse o Divórcio, com fundamento na EC nº66/2010 (2010).
Por fim, cabe ressaltar que aqueles que se encontram separados judicialmente, podem restabelecer a
sociedade conjugal a qualquer tempo, mesmo que administrativamente, uma vez que, como dito
acima, a mudança constitucional não alterou o estado daqueles se encontram nessa situação.
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O divórcio passou ser o exercício de um direito potestativo, podendo ser exercido por qualquer
dos cônjuges que não queira permanecer unido ao outro, independentemente do tempo de
casados, se um ano, um mês, ou uma semana (GAGLIANO, 2011).
Com efeito, com o novo ordenamento constitucional, deixa de existir a modalidade de divórcio
por conversão, ante o fim da separação judicial, só sendo possível nos casos de cônjuges
separados judicialmente antes da emenda. Por conseqüência, também não cabe mais
utilizar-se a expressão divórcio direto, uma vez que não há mais a necessidade de distinguir o 10
divórcio de forma direta ou por conversão. O divórcio passa a ser único, de forma consensual
ou litigiosa.
Com efeito, não é necessária a presença de testemunhas perante o tabelião, que antes,
serviam para comprovar os requisitos supracitados.
Considerações Finais
Por mais que houvesse o afastamento dos dogmas religiosos do ordenamento jurídico
brasileiro, ainda se faziam presente resquícios do Direito Canônico, uma vez que não era
possível se dissolver o vínculo matrimonial, sendo permitido no máximo o desquite. No
entanto, no decorrer do século XX a mulher passou a ter um papel diferente na sociedade, no
momento em que começou a se afastar do domínio do marido e ocupar o mercado de
trabalho. Essas mudanças nas famílias brasileiras culminaram com o fim do preconceito
contras as mulheres desquitadas, e a mudança no pensamento das próprias mulheres.
Para consagrar uma nova era no Direito de Família, veio a Lei n. 6.515/77, a Lei do Divórcio.
Esta lei adveio após um clamor da sociedade, e como forma de se regularizar as diversas
situações que o ordenamento jurídico até então não permitia. As relações familiares haviam
evoluído, o que não havia era uma legislação que atendesse e amparasse essa evolução.
A partir daí, o ordenamento jurídico brasileiro deu grandes passos na normatização das
relações familiares, por meio de diversas leis e constituições. O reconhecimento da união
estável hetero e homossexual e da família monoparental, a igualdade de direitos entre homem
e mulher, o fim da distinção entre filhos naturais ou adotivos e havidos ou não fora do
casamento, dentre outras inovações, foram uma alerta de que o século XXI se aproximava com
um novo Direito de Família.
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Outra questão que, apesar dos avanços ainda não havia mudado, era a existência
obrigatória da separação judicial prevista da constituição de 1967, com previsão
expressa do sistema dual para dissolver o casamento, com o objetivo de dificultar o
divórcio. Como reflexo da sociedade do século XX, entendia o legislador que era
necessário um tempo para que o casal refletisse sobre a decisão de por fim ao
casamento. A sociedade brasileira ainda não estava preparada para uma mudança tão
radical como a que viria em 2010.
A discussão da culpa pela separação há muito tempo estava sendo afastada pela
jurisprudência e pela doutrina. Essa postura punitiva contava com um dado de ordem
psicológica: a enorme dificuldade de qualquer pessoa de romper vínculo que foi
estabelecido para ser eterno.
Desta forma, a mudança no art. 226, §6º da CF/88 não poderia ter vindo em momento
melhor, extinguindo um procedimento desnecessário, acompanhando o real momento
vivido pela sociedade, fugindo dos velhos dogmas enraizados e mais: consagrando o
princípio da liberdade e da autonomia da vontade que devem estar presentes tanto na
constituição, como na dissolução das relações conjugais.
REFERÊNCIAS
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, 8 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011.
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil: Direito
de família – as famílias sob perspectiva constitucional, 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2011, v.
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