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A prática infundada da avaliação ao longo das diversas correntes educativas tem deixado
lacunas conceituais que impedem sua aceitação por parte de alunos e a transformam em
ferramenta de poder nas mãos dos professores. A dificuldade em se distinguir e identificar
métodos, ferramentas e objetivos impedem uma prática avaliativa coerente com todo o processo
educativo. A atividade avaliativa tem se caracterizado como uma prática ausente de consistência
e coerência, que insiste em residir, separadamente, o conceito de avaliação em cada um dos seus
elementos constituintes, e não no seu conjunto. Toma-se apenas uma parte pelo todo em
detrimento da completude da avaliação, resumindo sua complexidade a meros métodos como
exames, produções de texto, seminários e relatórios entre outros, com objetivos diversos e até
contrários aos quais deveriam servir realmente.
Uma discussão sobre conceitos pode parecer inútil a quem se acostumou à prática não
reflexiva e às situações de urgência em se definir ou executar um programa curricular. Todavia,
defende-se aqui uma reflexão sobre os objetivos práticos do conceito a ser compreendido e
delimitado, uma vez que à prática influencia e é influenciada pela sua percepção conceitual. Se
um professor entende que teoria musical é o mesmo que percepção musical, logo terá sua prática
docente voltada para tal concepção.
Uma possível justificativa para tal generalização do termo pode ser a apresentada por
Méndez (2002) que aponta desconexões entre a prática avaliativa e as concepções educacionais
às quais deve servir. Mesmo com todas as mudanças interpretativas no conceito, pouco se mudou
na prática avaliativa. Méndez (2002) afirma que as palavras não fazem reformas nem mesmo
criam realidades, mas apenas as expressam. A confusão conceitual presente no contexto
educativo nacional resulta de uma prática raramente refletida e engessada pelas estruturas
educacionais que pouco mudaram ao longo dos tempos e das correntes ideológicas da educação.
2. Avaliação em música
A literatura específica tem apresentado uma concepção de avaliação mais abrangente, que
não se limita aos seus métodos, visando coletar dados a serem analisados para uma posterior
tomada de decisão. Para Lukesi (2003), o ato de avaliar consiste em diagnosticar e depois
decidir. São dois processos indissociáveis, sem os quais a avaliação não se completa. O
diagnóstico, por sua vez se compõe pelos atos de constatar e qualificar. O constatar implica
uma identificação de algo, a fim de oferecer base material para sua posterior qualificação. O
qualificar implica uma atribuição de qualidade positiva ou negativa segundo um critério pré-
determinado. A posterior tomada de decisão deve ser tomada em função dos objetivos, sob um
arcabouço teórico e parâmetros considerados como satisfatórios. Em outras palavras, tomemos
como exemplo um carro de passeio ao ser avaliado por um empresário, dono de uma loja de
móveis, que pretende fazer entrega em domicílio dos seus produtos. Ele pode constatar que é um
carro bonito, com bom desempenho e acabamento, mas que não serve aos seus objetivos por não
ser um carro de carga, sendo portando desqualificado para o trabalho. Ele decide, então, procurar
outro carro. Trata-se de um exemplo externo às situações educacionais com um contexto menos
complexo, mas que pode esclarecer as principais ações presentes em um ato avaliativo.
descomprometida com o seu marco conceitual, sofrendo poucas interferências, não passando do
âmbito discursivo.
Para Swanwick (2003) a concepção e a percepção do que é a música e do que ela faz
pode ser mais importante do que o método específico de ensino. Para ele, uma compreensão
clara de como se avaliar musicalmente e de maneira formal pode ajudar nos processos mais
informais da avaliação. É necessária uma compreensão da complexidade que envolve a
experiência musical, que não deve ser resumida a uma única dimensão. Tal postura ignora o
aspecto global da experiência musical ao procurar mensurar separadamente suas dimensões.
“Devemos evitar cair na tentação do nível pobre de significado embutido em notas e ser
cautelosos com a falsa impressão da exata quantificação que os números podem dar”
(SWANWIC, 2003, p. 84).
Del Ben (2003) concluiu em suas observações que a prática das professoras pesquisadas
sofria interferências de suas concepções acerca da subjetividade na música que parecia “impedi-
las ainda de definir um conjunto de saberes a ser desenvolvido pelos alunos e de investigar-se
[...]” (DEL BEN, 2003, p. 39). Afirma ainda a necessidade de se explicitar não só como se avalia
em música, mas também o que tem sido avaliado, quais as concepções a respeito do
conhecimento musical, da aprendizagem em música e das funções da música na educação.
4. Considerações finais
O ato de avaliar deve transcender seus métodos e funções, pois implica diagnosticar uma
determinada situação e tomar uma decisão sobre ela a fim de se alcançar um objetivo pré-
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5. Referências
ANDRADE, Margareth Amaral de. Avaliação do canto coral: critérios e funções. In:
HENTSCHKE, Luciana; SOUZA, Jusamara et al. Avaliação em música: reflexões e práticas.
Org. Luciana Hentschke e Jusamara Souza. São Paulo: Moderna, 2003. pp. 76- 90.
DEL BEN, Luciana. Avaliação da aprendizagem musical dos alunos: reflexões a partir das
concepções de três professoras de música do ensino fundamental. In: HENTSCHKE, Luciana;
SOUZA, Jusamara et al. Avaliação em música: reflexões e práticas. Org. Luciana Hentschke e
Jusamara Souza. São Paulo: Moderna, 2003. pp. 29 – 40.
LUKESI, Cipriano Carlos. A avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando conceitos e
recriando a prática. Salvador: Malabares Comunicações e Eventos, 2003.
MÉNDEZ, Juan Manuel Álvarez. Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Trad. Magda
Schwartzhaupt Chaves. 2. ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.
SANTOS, Cynthia Geyer Arrusul dos. Avaliação a execução musical: a concepção teórico-
prática dos professores de piano. In: HENTSCHKE, Luciana; SOUZA, Jusamara et al.
Avaliação em música: reflexões e práticas. Org. Luciana Hentschke e Jusamara Souza. São
Paulo: Moderna, 2003. pp. 41 – 50.
SWANWIC, Keith. Ensinando música musicalmente. Trad. Alda Oliveira e Cristina Tourinho.
São Paulo: Moderna, 2003.