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LUTAS SOCIAIS
NAS PRIMEIRAS DÉCADAS
DO SÉCULO XX
sar o mundo republicano e sem escravidão não queria dizer pen- lógica, por conta das hierarquias raciais, os negros de-
veriam ter um tratamento jurídico diferenciado. Afinal,
sar uma sociedade de oportunidades iguais; muito pelo contrário, se as raças eram desiguais em termos civilizatórios, não
se poderia igualar a cidadania dos negros à dos bran-
a preocupação estava em garantir que brancos e negros continua- cos, ou seja, não era possível estabelecer direitos e
riam sendo não só diferentes, mas desiguais. deveres iguais para todos. Já em 1899 ele publicou um
estudo intitulado “Mestiçagem, crime e degenerescên-
A conseqüência da miscigenação era um dos itens mais polê- cia”, no qual relacionou certos problemas psiquiátricos
a miscigenação racial. No entanto, as suas convicções
micos das teorias raciais. Para alguns a “mistura racial” criava um racistas não o impediram de realizar pesquisas impor-
tipo biológico e social degenerado e incapaz mentalmente, o mula- tantes sobre a presença africana no Brasil. Nina Rodri-
gues foi autor de Os Africanos no Brasil, um estudo fun-
to. O termo mulato provêm da palavra mula, o animal estéril que damental para a história dos negros brasileiros. Nesse
livro, o autor trata, dentre outros aspectos, da origem
nasce do cruzamento do jumento com a égua . Na Faculdade de étnica dos escravos, suas práticas religiosas, valores e
Medicina da Bahia, uma das mais importantes instituições científi- costumes.
Revolta da Chibata
Ainda era madrugada de 23 de novembro de 1910, no Rio de Ja-
neiro, quando foram avistados navios de guerra em posição ofen-
siva na baía de Guanabara. Vinha à frente o encouraçado Minas
Gerais, seguido pelo São Paulo e o Bahia. Todos ostentavam uma
bandeira triangular vermelha. Era o sinal de que a tripulação era
de marinheiros rebeldes a exigir o fim dos castigos corporais, au-
mento de soldo e o afastamento de oficias que puniam injusta-
mente os soldados da Marinha brasileira. Nas palavras do poeta
Oswald de Andrade, testemunha do acontecido, “era contra a chi-
bata e a carne podre que se levantavam os soldados do mar”. Do
mar, os marinheiros gritavam: “viva a liberdade”.
O líder da revolta foi o marinheiro negro João Cândido
Felisberto. Sob suas ordens, a cidade do Rio de Janeiro acordou
com o estrondo dos canhões. Os disparos avisavam que caso as
reivindicações não fossem atendidas em doze horas, a capital fe-
deral seria bombardeada. Por três dias a população se manteve
apreensiva diante do risco de ter suas casas destruídas pelos tiros
dos canhões de longo alcance. Os oficiais, em sua maioria bran-
cos, foram feitos prisioneiros a bordo daqueles navios. O fato
ganhou grande repercussão nacional e internacional, o que desa-
gradou ainda mais as autoridades republicanas e aumentou o po-
der de pressão dos negros amotinados.
Tudo seguia conforme os planos dos revoltosos, ainda que
a data para o início da rebelião tivesse mudado duas vezes. A prin-
cípio o dia 15 de novembro, comemoração da proclamação da
218 Uma história do negro no Brasil
EXERCÍCIOS:
1 Movimentos sociais como Canudos, a Revolta da
Vacina e a Revolta da Chibata refletiam a insatisfa-
ção popular com os governos republicanos. Na sua
opinião em que sentido a questão racial contribuiu
para o clima de instabilidade social da época?
2 Comente a relação entre a revolta da vacina e as
reformas urbanas no Rio de Janeiro?
3 Analise a seguinte afirmação: as teorias raciais fica-
ram mais conhecidas no Brasil durante o processo
de declínio e destruição da escravidão.