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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local


10 a 13 de novembro de 2014 - Universidade Federal de Juiz de Fora
Departamento de Turismo
FICHA CATALOGRÁFICA

Encontro Nacional de Turismo de Base Local (13.: 2014: Juiz


de Fora, MG).
Anais do XIII Encontro Nacional de Turismo de Base Local
Juiz de Fora, MG, 10 a 13 de novembro de 2014. – Juiz de
Fora:
[s.n.]., 2014.
1.502 p. : il.

ISSN 1808-9755
Tema: “Economia e Criatividade: arranjos e práticas sociais
do Turismo.”
Disponível também em: < http://www.ufjf.br/entbl2014/
anais>

1. Turismo - Base local. 2. Turismo - Brasil. 3. Economia


criativa. I. Universidade Federal de Juiz de Fora. II. Instituto
de Ciências Humanas. Curso de Turismo.

CDU 379.85

APOIO:
REALIZAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA - UFJF


Reitor
Júlio Maria Fonseca Chebli

Vice Reitor
Marcos Vinício Chein Feres.

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS


Diretor
Prof. Dr. Altemir José Gonçalves Barbosa

Vice-diretor
Prof. Dr. Ricardo Tavares Zaidan

DEPARTAMENTO DE TURISMO
Chefe de Departamento
Prof. Alice Gonçalves Arcuri

Vice-chefe de Departamento
Prof. Sandro Campos Neves

Coordenador
Prof. Edwaldo Sérgio dos Anjos Júnior

Vice-Coordenadora
Prof. Miriane Sigiliano Frossard

APOIO
Capes
CNPQ
FAPEMIG
Pró-Reitoria de Extensão da UFJF
Pró-Reitoria de Pesquisa da UFJF
Instituto de Ciências Humanas
Universidade Federal de Juiz de Fora
Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Turismo

ORGANIZAÇÃO

Comissão Científica Lonnie Menezes Rocha


Prof. Sandro Campos Neves Michele Araújo Machado
Prof. André Barcelos Damasceno Daibert Nayara Titoneli
Prof. Edwaldo Sérgio dos Anjos Júnior Stela Freesz
Prof. João Alcântara de Freitas
Giselle Aparecida Campos da Silva Comissão de Secretaria
Mayara Cristina Paiva Profª. Luciana Bittencourt Villela
Gislaine Cristina de Oliveira
Comissão de Comunicação Jéssica Martins (Comissão das bolsas)
Prof. Humberto Fois Braga Marcélia Castaldeli Fantini
Profª. Alice Gonçalves Arcuri Rayla de Paiva Reis
Prof. Lucas Gamonal Barra de Almeida
Profª. Tatiana Martins Montenegro Comissão de Infraestrutura
Aline Marques dos Santos Prof. Marcelo Trezza Knop
Camila Castro Nunes Prof. Edwaldo Sérgio dos Anjos Júnior
Glaucia Soldati Dias
Paulo Henrique Arruda Silveira Comissão de Produção Cultural
Pedro Luiz Fraga Profª. Luciana Bittencourt Villela
Tainah Curcio Prof. Edwaldo Sérgio dos Anjos Júnior
Tomás Lopes de Freitas Profª. Edilaine Albertino de Moraes
Profª. Tatiana Martins Montenegro
Comissão de Receptivo Profª. Raquel Fernandes Rezende
Profª. Miriane Sigiliano Frossard Nicolas Guimarães Teodoro
Profª. Anne Bastos Martins Rosa
Profª. Thais Lima Comissão de Alimentos e Bebidas
Prof. Kairo Ribeiro Profª. Alice Gonçalves Arcuri
Eliza Feres Profª. Raphaela Corrêa
Gracielly Amorim Rocha Profª. Thaís Da Dalt
Jéssica Costa Martins Flávio Menzer
Juliane dos Santos Machado Lívia Arcuri
Lina Lomeu Pereira Gouvêa Paola Frizero
Stela Freesz
XIII Encontro Nacional de Turismo de Base Local

Em 2014 o XIII ENTBL, com o tema central “Economia e Criatividade: arranjos


e práticas sociais do Turismo”, será organizado pelo Departamento de Turismo da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e acontecere em Juiz de Fora – MG.
O evento será realizado nas dependências do Instituto de Ciências Humanas e, além
de 13 docentes do Departamento de Turismo envolvidos, alguns deles ligados a
programas de pós-graduação do próprio instituto, o evento contará com o apoio de
membros do Departamento de Geografia da UFJF.

Ressalta-se que a opção pela construção desse tema se deu mediante três
razões: a primeira se deve ao ineditismo da proposta, tomado como parâmetro os
temas das edições anteriores do evento; em segundo lugar, devido à influência dos
debates em torno das Economias Criativa e Solidária, sem, entretanto, circunscrever a
discussão apenas a essas duas modalidades econômicas; por último, pela possibilidade
de promover a reflexão e a investigação em torno de formas e articulações singulares
de coletividades em torno do Turismo.

Importa considerar que a proposição por esse tema foi impulsionada pela
tentativa de se criar um fórum de discussão entre pesquisadores, comunidades,
agentes públicos e privados ligados ao turismo de base local, de maneira a lançar luz
sobre práticas e pesquisas do Turismo capazes de se pautar em outros paradigmas
que não a lógica economicista de cunho massivo, que, por vez, perpassa setores
do Turismo. Lógica essa que privilegia a competitividade, o liberalismo, a dimensão
individual dos seres humanos e que entende ser a desigualdade socioeconômica
algo decorrente quase que exclusivamente dos méritos de cada sujeito. Ou seja, a
busca por discutir “Economia e Criatividade: arranjos e práticas sociais do Turismo” se
justificaria pelo fato de, embora o turismo seja, também, uma prática econômica, ele
não se restringe a essa dimensão e, tampouco, a esse paradigma econômico vigente
em boa parte do mundo contemporâneo.

Pelo contrário, acredita-se que outros paradigmas e práticas são possíveis e


que elas, mediante um olhar científico, podem colaborar para a instauração de novas
dinâmicas em torno do turismo. Dinâmicas essas mais equânimes, menos desiguais,
pautadas na pluralidade cultural, no envolvimento e na crescente autonomia das
comunidades ligadas ao turismo. Acredita-se que, da forma como é proposta, a
discussão sobre as categorias “Economia” e “Criatividade” propicie pensar na atividade
turística e, no limite em qualquer atividade econômica, como instrumento de atuação
dos coletivos que com ela se envolvem antes que como instrumento de sua supressão
ou sujeição.

Opta-se com essa proposta por problematizar e desnaturalizar (na esteira da


tradição do ENTBL) categorias operantes para a reflexão e atuação turística, tais como
a própria noção de economia, submetendo-as ao jogo de elaboração e reelaboração
incessantes do fazer humano. Ao partir do pressuposto de que o turismo de base
local não se atém apenas à sua feição econômica, embora seja ela constituinte desse
fenômeno, busca-se, a partir do evento, lançar luz sobre modalidades e práticas
de turismo afinizados com uma proposta que valoriza os saberes, as práticas e os
arranjos socioculturais locais e, ao fazer isso, pensa e efetiva outros arranjos sociais,
muitas vezes decorrentes de outras formas próprias e singulares de se pensar a
Economia. Ou seja, como conciliar a dimensão econômica no turismo de base local
sem cair em um reducionismo de associar ao turismo apenas cifras? Como, ao ter o
turismo uma dimensão econômica, contemplar arranjos diferentes em sua efetivação
sem o paradigma mercantil-capitalista levado às últimas consequências? Como
pensar a economia sob prismas mais equânimes e singulares, como, por exemplo,
a Economia Criativa e a Economia Solidária? E como outras formas de organização
social e relação com os territórios possibilitam formas diferentes de se pensar a
dimensão econômica no Turismo?

Posto isso, o desafio de discutir o turismo de base local contemplando (e não


descartando) a Economia visa dissipar o eventual reducionismo de que o Turismo de
Base Local minimizaria a dimensão econômica. Parece-nos, antes disso, que o foco
deve ser os termos da relação neste tipo de turismo, isto é, como essas comunidades
ligadas ao turismo de base local pensam o turismo sob lógicas econômicas diferentes
daquele arranjo de cunho massivo? E como a Economia, nessas comunidades e
junto a essas experiências de base local, se correlaciona a outras categorias centrais
daquelas culturas, como a religião, a educação e o trabalho?
Editorial
O Encontro Nacional Turismo de Base Local, em sua 13ª edição, traz à luz, em
2014, uma proposta temática instigante: o turismo com foco na Economia e na Criatividade,
tomando como escopo os diferentes arranjos e práticas sociais existentes nas práticas
turísticas no Brasil. Posto isso, natural seria que significativo número de pesquisadores do
Turismo de Base Local acorressem à essa temática central, porém sob prismas diversos,
aparatos metodológicos singulares e objetos particulares.
Como se sabe, um evento científico é uma construção coletiva. Nesse sentido, a
Comissão Organizadora do XIII ENTBL tentou levar tal postulado à uma dimensão radical,
ao permitir que mesas-redondas fossem propostas. Não só: franqueou aos acadêmicos
a oportunidade de sugerir grupos de trabalho, estimulando, assim, novas abordagens
sobre o Turismo de Base Local. Além disso, procurou resgatar o sentido original da palavra
“encontro” que pressupõe, naturalmente, a convivência. Eis a justificativa para um evento
com 4 noites e 3 dias.
Em uma contemporaneidade célere, cuja impressão da falta de tempo acomete a
todos, inclusive ao fazer científico, o debate e a concretização dos resultados das pesquisas
se torna importante para amadurecer perspectivas, conhecer metodologias, revisar o
arcabouço teórico...
Sendo assim, entregamos à comunidade acadêmica do turismo, bem como aos
demais interessados, essa coletânea, constituída por 100 trabalhos, dentre os quais, 15 de
graduação e 85 de pós-graduação, dos mais diferentes níveis, subdivididos em oito grupos
de trabalho.
Percebe-se, ao longo dos Anais do XIII Encontro Nacional de Turismo de Base Local,
que temas, como a sustentabilidade, as diferentes formas de participação das comunidades
locais nos arranjos dos turismos em seus territórios, bem como a questão dos impactos
negativos do turismo tendem a ser predominantes nos debates.
Ademais, foi oportunizado que os saberes oriundos de diferentes formações viessem
à tona nesse encontro. Não por acaso, Ailton Krenak, militante da causa indígena, abre
o evento, bem como um representante do Ministério do Turismo, Ítalo Mendes, fecha o
congresso, a partir de sua conferência de encerramento.
Nos parece ser chegada a hora de agregar conhecimentos de diferentes atores, como
acadêmicos, profissionais, representantes da sociedade civil, entes públicos do Turismo em
torno do tema do Turismo de Base Local.
E, se há uma dimensão privilegiada do quinhão de contribuições dos pesquisadores,
certamente a publicação deste documento concretiza um esforço epistemológico de meses,
quiçá anos, nesse movimento permanente de perquirirmos a realidade.
Aos leitores, nosso fraternal abraço.
Comissão Científica do XIII ENTBL

PROGRAMAÇÃO

10/11/2014 (Segunda-feira)

15h: Credenciamento
Local: Sala A-I-12 (Secretaria do evento) - Instituto de Ciências Humanas.

19h30min às 21h: Conferência de Abertura

Os desafios do Turismo com Base Local: olhares indígenas sobre a


economia e a criatividade.

Conferencista: Ailton Krenak.


Local: Auditório 1 - Instituto de Ciências Humanas.
Mediador: Prof. Dr. Sandro Campos Neves.

21h: Apresentação Artística


Local: Auditório 1 - Instituto de Ciências Humanas.

11/11/2014 (Terça-feira)

09h às 11h: Mesa redonda

01 - ECONOMIA E CRIATIVIDADE NA PERSPECTIVA DA RELAÇÃO ENTRE OS


TRANSPORTES E O DESENVOLVIMENTO DE DESTINOS TURÍSTICOS.

Participantes: Carla Fraga (Coordenadora); José Augusto Sá Fortes; Elisangela Machado;

Local: Auditório 2 - Instituto de Ciências Humanas.

02 - INCLUSÃO E INOVAÇÃO: CAMINHOS DO FUTURO DO TURISMO


BRASILEIRO.

Participantes: Elimar Pinheiro do Nascimento (Coordenador); Helena Araújo Costa;


Daniela Fantoni Álvares; João Paulo Faria Tasso; Daniela Maria Rocco Carneiro.

Local: Auditório 3 - Instituto de Ciências Humanas.

11h às 12h: Apresentação artística


Local: Auditório 1 - Instituto de Ciências Humanas.
12h às 14h: Almoço
14h às 16h: Mesa redonda

03 - ELEMENTOS PARA AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DE PROJETOS


DE TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA.

Participantes: Magnus Luiz Emmendoerfer (Coordenador); Werter Valentim De Moraes;


Eduardo Jorge Costa Mielke; Marcela Pimenta Campos Coutinho.

Local: Auditório 1 - Instituto de Ciências Humanas.

04- O PATRIMÔNIO E O TURISMO FACE AOS NOVOS MOVIMENTOS DE VALORIZAÇÃO


E AUTO-AFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS NA ERA DA
GLOBALIZAÇÃO.

Participantes: Euler David de Siqueira (Coordenador); Vera Maria Guimarães; Sandro


Campos Neves; Susana Gastal.

Local: Auditório 2 - Instituto de Ciências Humanas.

05 - TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA E A GESTÃO DE ÁREAS NATURAIS – ESTUDO

DE CASOS NO ESTADO DE SÃO PAULO.

Participantes: Sidnei Raimundo (Coordenador); Alessandra Blenjini Mastrocinque Martins;

Fabrício Scarpeta Matheus; Juliana Ferreira De Castro; Paulo Tácio Aires Ferreira.

Local: Auditório 3 - Instituto de Ciências Humanas.

16h às 18h: Lançamento de Livros e Sessão de Pôsteres (Mostra Acadêmica)

Local: Foyer dos auditórios - Instituto de Ciências Humanas.

Observação: Durante o lançamento de livros e a sessão de pôsteres, serão exibidos os


documentários “Circuito Três Picos” e “Borel Tour” no Auditório 1.
A) São Luiz e seus lugares memória pelo olhar dos moradores da terceira idade do centro
histórico. Autora: Hanna Coelho Rocha.

B) Empreendedorismo cultural: perspectivas para o desenvolvimento do turismo cultural no


bairro da Madre Deus em São Luís, MA. Autora: Sâmya Cristini Pereira Mendonça.

C) Participação comunitária e políticas públicas do turismo estudo de caso cidade de


Xambioá –TO. Autores: Ana Claudia Macedo Sampaio, Leonardo Lima Lemos Salcides e
Aclésio dos Santos Moreira.
D) O patrimônio cultural do Quilombo Mocambo: aportes para o turismo étnico. Autoras:
Viviane Castro e Rosana Eduardo da Silva Leal.

E) Impactos e legados de megaeventos esportivos uma análise junto às empresas


organizadoras de eventos no Rio de Janeiro. Autoras: Desireé Souza e Márcia Barbosa.

F) A percepção da população de Currais Novos/RN em relação aos aspectos do


desenvolvimento da atividade turística no município. Autores: Fernanda Raphaela Alves
Dantas, Fernando Arthur Alves Dantas e Wellington Alysson De Araújo.

G) Roteirização turística a valorização histórica e cultural da cidade do Natal com enfoque


na zona administrativa leste. Autor: Carlos Jefferson Rodrigues do Amaral.

H) Elementos para a construção do mapa turístico do centro histórico de Porto Nacional -


TO. Autoras: Thalyta de Cássia da Silva Feitosa e Rosane Balsan.

I) Perfil do turista e sua relação com os elementos astrológicos: Autores: Bárbara Helenni
Gebara Santin e Eduardo Jorge Costa Mielke.

J) Turismo pra quem? Considerações acerca do turismo desenvolvido na comunidade


Barra Grande, Município de Cajueiro da Praia - PI. Autores: José Maria Alves da Cunha,
Inês de Carvalho Mélo e Heidi Gracielle Kanitz.

K) Voluntariado e hospitalidade como promotores da cidadania. Autoras: Manoela Carrillo


Valduga e Lydia Villela Mattos.

L) Turismo em favela: uma análise da relação visitante e visitados no museu favela. Autores:
Giovanna Machado, Juliana Nunes e Yuri Carvalho.

M) “Esse rio é minha casa”: Percepções acerca dos impactos gerados pelas chuvas na
atividade turística do centro histórico de Belém (PA). Autores: Jéssica da Silva Soares,
Flavio Henrique Souza Lobato e Ana Paula Melo de Morais

N) Turismo e infraestrutura: uma análise dos transportes na Ilha do Cambú - Belém (PA).

Autores: Flavio Henrique Souza Lobato, Jamyle Cristine Abreu Aires e Renata Carneiro
Lopes da Silva.

O) Acolhida da Serra: Responsabilidade turística e social na mesa do consumidor brasileiro.


Autores: Juliana Aparecida dos Santos e Eduardo Mielke

P) Turismo pra quem? Considerações acerca do turismo desenvolvido na Comuninade


Barra Grande, município de Cajueiro da Praia - PI

18h às 19h: Apresentação Artística


Local: Auditório 1 - Instituto de Ciências Humanas.
12/11/2014 (Quarta-feira)

08h às 12h: Grupos de Trabalho

01 - EPISTEMOLOGIA DO TURISMO: CONSTRUÇÃO POSSÍVEL?

Coordenadores: Alexandre Panosso Netto (USP); Christian Dennys De Oliveira (UFC).

Local: Sala B-I-07.

02 - TURISMO E MEIO AMBIENTE

Coordenadores: Luiz Afonso Vaz De Figueiredo (FSA); Sidnei Raimundo (USP).

Local: Sala A-II-01.

03 - TURISMO, PATRIMÔNIO E IDENTIDADES I


Coordenadores: Teresa Cristina de Miranda Mendonça (UFRRJ); Maria Geralda de
Almeida (UFG).

Local: Sala A-II-03.

03 - TURISMO, PATRIMÔNIO E IDENTIDADES II


Coordenadores: Euler David de Siqueira (UFRRJ); Vera Maria Guimarães (UNIPAMPA).
Local: Sala A-II-04.

04 - TURISMO E URBANIZAÇÃO I

Coordenadores: Marcello Tomé (UFF); André Damasceno Daibert (UFJF).

Local: Sala C-I-03.

04 - TURISMO E URBANIZAÇÃO II
Coordenadores: José Manoel Gonçalves Gândara (UFPR); Carlos Eduardo Pimentel
(UFPE).
Local: Sala C-I-04.

05 - TURISMO EM ESPAÇO RURAL

Coordenadores: Marlene Huebes Novaes (UNIVALI); Odaléia Telles (USP).

Local: Sala C-III-11.

06 - TURISMO COMUNITÁRIO E INCLUSÃO SOCIAL I

Coordenadores: Claudia Fragelli (CEFET/RJ); Eloise Botelho (UNIRIO).

Local: Auditório 1 - Instituto de Ciências Humanas.


06 - TURISMO COMUNITÁRIO E INCLUSÃO SOCIAL II
Coordenadores: Luzia Neide Coriolano (UECE); Edilaine Albertino de Moraes (UFJF).
Local: Auditório 2 - Instituto de Ciências Humanas.

07 - PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO I

Coordenadores: Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira (UFPR); Vanice Santiago Fragoso


Selva (UFPE); Milton Augusto Pasquotto Mariani (UFMS).

Local: Sala C-II-01.

07 - PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO II


Coordenadores: Nadja Maria Castilho da Costa (UERJ); Vivian Castilho da Costa (UERJ).
Local: Sala C-I-06.

08 - GÊNERO E SEXUALIDADES NO MERCADO TURÍSTICO


Coordenador: Ricardo Lanzarini (USP LESTE).

Local: Auditório 3 - Instituto de Ciências Humanas.

12h às 14h: Almoço

14h às 17h: Minicursos

01- MAPEAMENTO TURÍSTICO DE JUIZ DE FORA ATRAVÉS DA PERCEPÇÃO DO


USUÁRIO

Ministrantes: Aline Martins da Silva; Fernanda Costa da Silva.

Local: Sala A-II-02.

02 - TRANSPORTES E DESTINOS TURÍSTICOS: ATUALIZAÇÕES E

INSTRUMENTALIZAÇÕES

Ministrantes: Carla Fraga.

Local: Sala A-II-03.

03 - METODOLOGIAS, CUIDADOS E CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA COM CRIANÇAS

PARA O TURISMO DE BASE LOCAL

Ministrantes: Edwaldo Sérgio dos Anjos Júnior; Romilda Aparecida Lopes.

Local: Sala A-II-01.


04 - UTILIZAÇÃO DE GPS PARA CRIAÇÃO DE TRILHAS VOLTADAS PARA O TURISMO

Ministrantes: André Luiz Lopes De Faria; Saymon Felipe Eugênio Bittencourt.

Local: Sala C-I-04.

05 - O PAPEL DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

DE BASE LOCAL

Ministrante: Monalisa Barbosa Alves.

Local: Sala C-I-06.

06 - TURISMO COMUNITÁRIO, ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS E

DESENVOLVIMENTO EM ESCALA HUMANA

Ministrantes: Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano.

Local: Sala A-II-04.

07 - A GEOWEB COMO FERRAMENTA DE MARKETING TURÍSTICO DOS LUGARES:

APLICAÇÕES E ESTUDOS DE CASO

Ministrante: Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira.

Local: Sala A-I-11.

08 - TÉCNICAS NA PESQUISA FENOMENOLÓGICA DO TURISMO

Ministrante: Christian Dennys Monteiro de Oliveira.

Local: Sala B-I-07.

17h às 18h: Apresentação Artística


Local: Auditório 1 - Instituto de Ciências Humanas.

18h às 19h: Mercado de Trocas


Local: Auditório 2 - Instituto de Ciências Humanas.

19h às 20h: Reunião Comissão Nacional (reservada)


Local: Auditório 3 - Instituto de Ciências Humanas.
13/11/2014 (Quinta-feira)

08h30min às 10h: Sessão de Experiências I

Projeto Reinventando o Ensino Médio


Responsável: Prof. Allaoua Saadi (Instituto de Geociências/UFMG).

Local: Auditório 1 - Instituto de Ciências Humanas.

10h às 10h30min: Intervalo

10h30min às 12h: Sessão de Experiências II

Rede de Turismo, Áreas Protegidas e Inclusão Social (REDE TAPIS)


Responsável: Prof.ª Claudia Fragelli (CEFET/RJ).

Local: Auditório 1 - Instituto de Ciências Humanas.

12h - 14h: Almoço

14h - 17h: Minicursos

01 - MAPEAMENTO TURÍSTICO DE JUIZ DE FORA ATRAVÉS DA PERCEPÇÃO DO


USUÁRIO
Ministrantes: Aline Martins da Silva; Fernanda Costa da Silva.
Local: Sala A-II-02.

02 - TRANSPORTES E DESTINOS TURÍSTICOS: ATUALIZAÇÕES E


INSTRUMENTALIZAÇÕES
Ministrantes: Carla Fraga.
Local: Sala A-II-03.

03 - METODOLOGIAS, CUIDADOS E CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA COM CRIANÇAS


PARA O TURISMO DE BASE LOCAL
Ministrantes: Edwaldo Sérgio dos Anjos Júnior; Romilda Aparecida Lopes.
Local: Sala A-II-01.

04 - UTILIZAÇÃO DE GPS PARA CRIAÇÃO DE TRILHAS VOLTADAS PARA O TURISMO


Ministrantes: André Luiz Lopes De Faria; Saymon Felipe Eugênio Bittencourt.
Local: Sala C-I-04.
05 - O PAPEL DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO
DE BASE LOCAL
Ministrante: Monalisa Barbosa Alves.
Local: Sala C-I-06.

06 - TURISMO COMUNITÁRIO, ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS E


DESENVOLVIMENTO EM ESCALA HUMANA
Ministrantes: Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano.Local: Sala A-II-04.

07 - A GEOWEB COMO FERRAMENTA DE MARKETING TURÍSTICO DOS LUGARES:


APLICAÇÕES E ESTUDOS DE CASO
Ministrante: Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira.
Local: Sala A-I-11.

08 - TÉCNICAS NA PESQUISA FENOMENOLÓGICA DO TURISMO


Ministrante: Christian Dennys Monteiro de Oliveira.
Local: Sala B-II-07.

17h às 18h: Conferência de Encerramento

Economia e criatividade: as políticas públicas de turismo do Brasil


Conferencista: Ítalo Oliveira Mendes, Diretor de Gestão Estratégia do Ministério do
Turismo (MTUR).
Mediador: Prof. Dr. José Manoel Gonçalves Gândara (UFPR).

Local: Auditório 1 - Instituto de Ciências Humanas

18h às 19h: Plenária Final

Síntese do Encontro e Definição de Próximo local.


Coordenação: Prof. Edwaldo Sérgio dos Anjos Júnior.

Local: Auditorio 2 - Instituto de Ciências Humanas.

19h: Apresentação Artística


Local: Auditório 1 - Instituto de Ciências Humanas.

20h: Coquetel e Confraternização de Encerramento


Local: Foyer dos auditórios - Instituto de Ciências Humanas.
Sumário - grupos de trabalho

01 – Epistemologia do Turismo: Construção Possível? 28

Analise da produção acadêmica em turismo na Universidade


Federal de Pelotas a partir das monografias do curso
bacharelado em turismo Pelotas. 2000-2013.

Laura Rudzewicz ................................................................................................... 29

Notas para um estudo compreensivo da história e do turismo.

Solange Lopes Alencar ......................................................................................... 47

A prática do turismo e seu processo de aprendizado


interdisciplinar: uma reflexão sobre o turismo criativo.

Danielle Mesquita da Costa Silva e Maria Gilca Pinto Xavier ............................... 55

Uma proposta de análise da mercantilização da tradição


musical na véspera diamantinense: um contraponto aos
modelos analíticos de descaracterização e hibridismo
cultural.

Mariana da Conceição Alves e Alan Faber do Nascimento .................................. 65

O ESPAÇO TURÍSTICO A PARTIR DA MULTIESCALARIDADE TERRITORIAL:

COMPLEXIDADE E SISTEMATIZAÇÃO CONCEITUAL

Daniel Hauer Queiroz Telles e Vander Valduga ..................................................... 81

02 – Turismo e Meio Ambiente 97

Percepção ambiental E narrativas visuais da transformação


da paisagem e suas relações com o turismo na Ilha Comprida
(SP).

Izaias Carmacio Jr., Diogo Fernando Rodrigues e Luiz Afonso V. Figueiredo........ 98

Turismo em área de proteção ambiental: possibilidade de


turismo na Resex Caeté-Taperaçu/Bragança

Thiliane Regina Barbosa Meguis .......................................................................... 117


Unidades de Conservação: Ecoturismo e Hospitalidade

Érica Fonseca Afonso. .......................................................................................... 132

turismo em comunidades: experiências no mosaico de Áreas


protegidas do baixo rio negro - am.

Susy Rodrigues Simonetti, Nailza Pereira Porto e Alcilene de Araújo Paula......... 149

geo-food: uma nova perspectiva de preservação do patrimônio


geológico.

Tatiane Ferrari do Vale, Jasmine Cardozo Moreira e Graziela Scalise Horodyski 167

Processo participativo no planejamento de sistema de trilhas


de base comunitária no Amazonas

Ronisley da Silva Martins ...................................................................................... 180

Formação de Condutores e Educação Ambiental – Estratégias


de Desenvolvimento do Turismo Sustentável nas UCS do RS

Aline Moraes Cunha e Leandro dos Santos Bazotti ............................................. 195

A educação ambiental e sua importância no turismo

Vânia Lucia de Oliveira .......................................................................................... 211

Ecoturismo e Representações no Município de Barra do


Garças - MT

Valcilene Rosa Barbosa e Rita Maria de Paula Garcia .......................................... 219

03 – Turismo, Patrimônio e Identidades 231

Gestão do Patrimônio Museológico: a educação como aliada


na preservação do Museu Mariano Procópio

Aline Viana Vidigal Santana .................................................................................. 232

Cittaslow: valorização da identidade na perspectiva do


turismo comunitário, solidário e sustentável. Modelo
aplicado em Levanto - Itália

Carlota Vieira Mendonça e Grazielle Ueno Macoppi ............................................ 247


a festa do Santo Expedito: espaço sagrado e construção do
território E TURISMO

Claudemira Azevedo Ito ........................................................................................ 264

TURISMO CRIATIVO: UM FOCO NOS EVENTOS

Raquel Ribeiro de Souza Silva e Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira .............. 274

Os discursos turísticos e a construção das identidades: o


plano aquarela e seus dizeres sobre o patrimônio natural

Fernanda Lodi Trevisan e Aline Vieira de Carvalho .............................................. 286

Turismo, comunidades indígenas e tolerância cultural: uma


relação possível?

Sandra Dalila Corbari, Bruno Martins Augusto Gomes e Miguel Bahl................... 297

As fazendas históricas em barra do Piraí: percepções sobre


o papel do turismo na valorização local

Marlem Maria Cabral Ramalho .............................................................................. 314

Hospitalidade e interpretação turística: relações com a


comunidade local

Lélio Galdino Rosa e Isabela de Fátima Fogaça ................................................... 331

Turismo, tradicionalidade e conquista do território nativo


- parque estadual da Serra da Tiririca- Peset/RJ
Helena Catão Henriques Ferreira e Ari da Silva Fonseca Filho ............................ 345

Reflexões sobre o conceito de interpretação patrimonial e


suas interfaces com o patrimônio natural, cultural e o
turismo.

Rita Gabriela Araujo Carvalho, Pedro de Alcântara Bittencourt Cesar e Renan


de Lima da Silva .................................................................................................... 362

Desenvolvimento local, artesanato e turismo: uma análise


de dois municípios de Minas Gerais

Thiago de Sousa Santos, Cleber Carvalho de Castro e Raquel da Silva Pereira .. 377
Pensando em uma antropologia do consumo do turismo

João Alcântara de Freitas ..................................................................................... 393

Etnodesenvolvimento e turismo nos Kalunga do nordeste


de Goiás

Maria Geralda de Almeida ..................................................................................... 408

IDENTIDADE CULTURAL E GESTÃO PARTICIPATIVA NA ATIVIDADE


TURÍSTICA
Camila Benatti e Karoline Teixeira da Silva .......................................................... 425

PATRIMÔNIO IMATERIAL EVANGÉLICO EM FORTALEZA-CE


Luiz Raphael Teizeira da Silva .................................................................... 443

04 – Turismo e Urbanização 454

Planejamento participativo como instrumento de


desenvolvimento local em EspaçoS públicoS de lazer e
turismo

Pablo Vitor Viana Pereira ...................................................................................... 455

Urbanização e desenvolvimento do turismo: uma análise


sobre as ações e práticas adotadas pelo poder público em
nova Xavantina - MT

Judite de Azevedo do Carmo, Regiane Caldeira e Marcio José Celeri................. 466

ANÁLISE DA GESTÃO PÚBLICA PARA O TURISMO E O LAZER NO PARQUE


ESTADUAL SUMAÚMA (MANAUS-AM)

Alcilene de Araújo Paula, Adriano Saldanha Rodrigues e Susy Rodrigues


Simonetti ............................................................................................................... 484

Turismo, a cidade e o urbano: uma analise das tendências


contemporâneas.

Maurício Ragagnin Pimentel, Antonio Carlos Castrogiovanni ............................... 500


Cinema, representações do urbano e identidades: um olhar
sobre o marketing de destinos em Vicky Cristina Barcelona

Lucas Gamonal Barra de Almeida ......................................................................... 517

PAISAGEM URBANA E TURISMO NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS,


MARANHÃO: O CASO DA RUA PORTUGAL

Saulo Ribeiro dos Santos, Letícia Peret Antunes Hardt e Carlos Hardt................. 531

A gestão democrática de orlas urbanas e o turismo: o caso


do complexo ver-o-rio na cidade de Belém (PA)

Márcia Josefa Bevone Costa e Maria Lúcia da Silva Soares ................................ 549

Megaeventos esportivos e manifestações populares no


Brasil.

William Cléber Domingues Silva, Miguel Bahl e Luís Mundet i Cerdan................. 567

AS INFLUÊNCIAS DOS PLANOS DIRETORES NA DINÂMICA DOS DESTINOS


TURÍSTICOS: O CASO DO PLANO DIRETOR DE CURITIBA DE 2004.

Diogo Luders Fernandes e José Manoel Gonçalves Gândara .............................. 581

PLANOS DIRETORES DE CURITIBA E SUA INFLUÊNCIA NA EXPERIÊNCIA


TURÍSTICA URBANA

Diogo Luders Fernandes, Graziela Scalise Horodyski e José Manoel Gonçalves

Gândara ................................................................................................................ 603

O impacto da sinalização turística do setor histórico de

Curitiba durante a copa do mundo de futebol 2014.

Thiago Alves de Souza e José Manoel Gonçalves Gândara ................................ 624

05 – Turismo em Espaço Rural 641

Experiências com o turismo na comunidade quilombola da


Mubunca. Jalapão, TO, Brasil

Denise Scótolo ...................................................................................................... 642


Revisão bibliográfica sistemática preliminar sobre o campo
de estudos do turismo rural

Helga Cristina Carvalho de Andrade, Valderí de Castro Alcântara e Juliana


Soares Gonçalves ................................................................................................ 654

Pesquisa e extensão no espaço rural: uma experiência na


região serrana do Rio de Janeiro

Clara Carvalho de Lemos ...................................................................................... 671

Relações locais: descompasso do turismo no campo

Juliana Carolina Teixeira ........................................................................................ 687

A representatividade do turismo no espaço rural da região


metropolitana de Curitiba: reflexões a partir do censo
agropecuário e da cadeia produtiva do turismo

Marino Castillo Lacay ........................................................................................... 704

06 – Turismo Comunitário e Inclusão Social 726

A Ilha de Itamaracá/PE e seu turismo náutico: anÁlise


dos efeitos multiplicadores e seus contributos para o
desenvolvimento local

Mariana Amaral Falcão, Luís Henrique de Souza e Maria Helena Cavalcanti da


Silva Belchior ......................................................................................................... 727

Turismo de experiência na favela da Rocinha: entre o fetiche


pela pobreza e a busca pela inclusão social

Paulo Henrique Arruda Silveira ............................................................................. 746

Participação social e cidadania na comunicação

Aline Viana Vidigal Santana .................................................................................. 763

Contribuições da Hospedagem domiciliar ao município de


lagoa do carro/PE: oportunidades para o desenvolvimento
local

Maria Helena Cavalcanti da Silva Belchior e Narayna de Albuquerque Ferreira... 774


Turismo de base comunitária: um olhar sobre a participação
social

Karla Maria Rios de Macedo e Eduardo Gomes .................................................... 791

Turismo e participação: trazendo empresários para a agenda


dos pesquisadores

Bruno Martins Augusto Gomes e Leticia Bartoszeck Nitsche ............................... 808

Análise dos impactos socioambientais motivados pela


atividade turística na praia de Ajuruteua/PA

Diogo Rodrigo Lisboa Silva e Kelly Ribeiro Souza ................................................ 823

Turismo de base comunitária: uma análise sobre a Ilha de


Cotijuba - Belem do Pará

Thiliane Regina Barbosa Meguis ........................................................................... 840

Vale dos Vinhedos(RS): Compreendendo a participação local

Charlene Brum Del Puerto, Pedro de Alcântara Bittencourt Cesar ....................... 853

Turismo comunitário em terras indígenas: a experiência do


festival de cultura indígena YawanawÁ

Demerson de Souza Lima e Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano ................. 865

A importância do festival de comidas típicas de Cuiabá-Gouveia/


MG parA o desenvolvimento do turismo de base local

Claudete Maria Souza e Costa, Fernanda Alencar Machado Albuquerque e


Raquel Faria Scalco .............................................................................................. 882

Turismo como vetor de ascensão sociocultural e econÔmiCa:


estudo de caso sobre o roteiro de visitação ao projeto
“ateliê arte nas costas”, em Cubatão, São Paulo, Brasil

Aristides Faria Lopes dos Santos, Renato Marchesini e Renata Antunes da Cruz 900

Turismo criativo: uma proposta para o desenvolvimento do


turismo local no município de Inhambane em Moçambique

Pelágio Julião Maxlhaieie, Antônio Carlos Castrogiovanni .................................... 917


Turismo Rural comunitário em Itaqueri da Serra (SP)

Renata Salgado Rayel e Solange Terezinha de Lima Guimarães ........................ 935

AnÁlise do roteiro turístico de base comunitária do projeto


boas práticas na serra do Brigadeiro. MG - Brasil

Werter Valentim de Moraes e Magnus Luiz Emmendoerfer ................................. 951

O Turismo de base comunitaria como alternativa de


desenolvimento local: o caso de CuruçÁ - Pará

Liana Souza Freire e Helena Catão Henriques Ferreira ....................................... 968

Turismo de experiência em Marechal Deodoro: o filé como


produto turístico

Patrícia Lins de Arroxelas Galvão e Roberta Cajaseiras de Carvalho .................. 986

Capital Social e percepção ecoturistica na comunidade de


base de João Fernandes (Armação dos Buzios-RJ)
Milena Manhães Rodrigues ................................................................................... 999

Turismo de base comunitária em favelas cariocas


Camila Maria dos Santos Moraes ......................................................................... 1017

07 – Planejamento e Gestão do Turismo 1034

Sociedade Civil: anÁlise da representatividade nos conselhos


MUNICIPAIS DE TURISMO
Adriana Gomes de Moraes ................................................................................... 1035

ANÁLISE DE CONTEÚDO DAS POLÍTICAS DE USO PÚBLICO EM ÁREAS


PROTEGIDAS NO ESTADO DE SÃO PAULO
Fabricio Scarpeta Matheus e Sidnei Raimundo .................................................... 1051

A REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE GUIA DE TURISMO NO BRASIL:


UMA AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS PRESTADOS EM PORTO SEGURO-BA
Gustavo Aveiro Araújo ........................................................................................... 1070
Analise da satisfação dos turistas como estratégia de
gerenciamento turístico da área de proteção ambiental dos
recifes de corais, nordeste do Brasil
Clebia Bezerra da Silva ......................................................................................... 1081

Diagnóstico da área de proteção ambiental doS recifes de


corais (APARC)-RN, com base na análise SWOT
Wagner Araújo Oliveira e Clébia Bezerra da Silva ................................................. 1099

O conselho de turismo de Brotas: construindo novas


práticas de cidadania
Cintia Moller de Araújo .......................................................................................... 1110

(RE)Conhecendo o mercado turístico: o perfil dos guias de


turismo atuantes no estado de Alagoas
Roberta Cajaseiras de Carvalho ........................................................................... 1125

Os desafios enfrentados pelo setor de hospedagem no


destino periférico Urubici/SC
Kleber de Oliveira da Silva .................................................................................... 1142

Desastres naturais em destino turísticos: o caso do município


de Nova Friburgo
Laís Erthal Corbiceiro ............................................................................................ 1162

A RELAÇÃO ENTRE OS ATORES DA REDE TURÍSTICA DE JUIZ DE FORA-MG:


MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE DA REALIDADE DO TURISMO NO MUNICÍPIO
Tatiana Martins Montenegro .................................................................................. 1181

Estudo para implantação de cooperativa de turismo na Vila


de Barra do Una
Paulo Tácio Aires Ferreira e Ana Paula Vieira Freire ............................................ 1199

O TURISMO DE NEGÓCIOS COMO INDUTOR DO PROCESSO DE ASCENSÃO


SOCIOCULTURAL E ECONÔMICA DE COMUNIDADES RECEPTORAS POR
MEIO DO INCREMENTO DE FLUXOS.

Alan Aparecido Guizi, Airton José Cavenaghi e Aristides Faria Lopes dos Santos 1217
O envolvimento das agências de turismo no planeja -mento do
uso público do Parque Nacional do Pau Brasil, Porto Seguro-
BA.
Gustavo Aveiro Araújo ........................................................................................... 1228

Planejamento e desenvolvimento local do turismo: um estudo


sobre ferrovia, turismo e meio ambiente no estado do Rio de
Janeiro.
Eloise Silveira Botelho e Carla Fraga .................................................................... 1239

A gestão turística nas áreas de desastres.


Marcelo Mariano Rocha ........................................................................................ 1255

Contributo à governância no ordenamento do turismo em


ambientes insulares.
Vanilce Selva ......................................................................................................... 1273

08 – Gênero e sexualidade no mercado turístico 1288

Relações entre gênero e mercado de trabalho de


turismólogos em Minas Gerais

Juliana Medaglia Silveira e Carlos Eduardo Silveira ............................................. 1289

Rumo ao festival da diversidade sexual

Diogo Aparecido Cafola ........................................................................................ 1306

Homossexualidade, consumo e imprensa Gay no Brasil, os


roteiros turísticos na revista Junior (2007)

Diogo Aparecido Cafola ......................................................................................... 1322

Gênero e turismo de base comunitária: anÁlise sobre a


promoção da resiliência no movimento de mulheres das Ilhas
do Belém – MMIB
Neila Waldomira Cabral, Maria Lúcia da Silva Soares e Geisa Costa Coelho ...... 1340

Análise da prática de prostituição nos espaços turísticos em


orla de Atalaia – Aracaju- SE.
Laura Almeida de Calasans Alves ......................................................................... 1356
Sumário - Mostra acadêmica/
Sessão de pôsters

São Luiz e seus lugares memória pelo olhar dos moradores


da terceira idade do centro histórico.

Hanna Coelho Rocha ........................................................................................ 1375

Empreendedorismo cultural: perpectivas para o


desenvolvimento do turismo cultural no bairro da Madre
Deus em São Luis - MA
Sâmya Cristini Pereira Mendonça ...................................................................... 1391

Participação comunitária e políticas públicas do turismo


estudo de caso cidade de Xambioá –TO

Ana Claudia Macedo Sampaio, Leonardo Lima Lemos Salcides e Aclésio dos
Santos Moreira .................................................................................................. 1403

O patrimônio cultural do quilombo do Mocambo: aportes


para o turismo étnico

Viviane Castro e Rosana Eduardo da Silva Leal ................................................ 1420

Impactos e legados de megaeventos esportivos: uma


análise junto as empresas organizadoras de eventos no
Rio de Janeiro.

Desireé Souza e Márcia Barbosa ....................................................................... 1437

A percepção da população de Currais Novos/RN em relação


aos aspectos do desenvolvimento da atividade turística no
município

Fernanda Raphaela Alves Dantas, Fernando Arthur Alves Dantas e Wellington


Alysson De Araújo ............................................................................................. 1453

Roteirização turística: a valorização histórica e cultural


da cidade do Natal com enfoque na zona administrativa leste

Carlos Jefferson Rodrigues do Amaral .............................................................. 1471


ELEMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DO MAPA TURÍSTICO DO CENTRO
HISTÓRICO DE PORTO NACIONAL-TO
Thalyta de Cássia da Silva Feitosa e Rosane Balsan .......................................... 1487

PERFIL DO TURISTA E SUA RELAÇÃO COM OS ELEMENTOS


ASTROLÓGICOS
Bárbara Helenni Gebara Santin e Eduardo Jorge Costa Mielke ........................... 1503

VOLUNTARIADO E HOSPITALIDADE COMO PROMOTORES DA CIDADANIA


Manoela Carrillo Valduga e Lydia Villela Mattos ................................................... 1518

Turismo em favela: uma análise da relação visitantes e


visitados no Museu de Favela
Giovanna Machado, Juliana Nunes e Yuri Carvalho ............................................ 1531

“ESSE RIO É MINHA RUA”: PERCEPÇÕES ACERCA DOS IMPACTOS


GERADOS PELAS CHUVAS NA ATIVIDADE TURÍSTICA DO CENTRO
HISTÓRICO DE BELÉM (PA).
Jéssica da Silva Soares, Flavio Henrique Souza Lobato e Ana Paula Melo de
Morais ................................................................................................................... 1542

TURISMO E INFRAESTRUTURA: UMA ANÁLISE DOS TRANSPORTES NA


ILHA DO COMBÚ – BELÉM (PA).

Flavio Henrique Souza Lobato, Jamyle Cristine Abreu Aires e Renata Carneiro
Lopes da Silva ...................................................................................................... 1561

Acolhida da Serra: Responsabilidade turística e social na mesa


do consumidor brasileiro
Juliana Aparecida dos Santos ............................................................................... 1580

TURISMO PRA QUEM? CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TURISMO


DESENVOLVIDO NA COMUNIDADE BARRA GRANDE, MUNICÍPIO DE
CAJUEIRO DA PRAIA - PI
José Maria Alves da Cunha, Inês de Carvalho Mélo e Heidi Gracielle Kanitz ....... 1583
Grupo de Trabalho 01
Epistemologia do Turismo: Construção Possível?

Coordenadores: Alexandre Panosso Netto (USP); Christian Dennys De Oliveira (UFC).

Turismo e produção científica: paradigmas científicos, métodos e metodologias


possíveis. Dialógica e dialética dos sujeitos, agentes e objetos do fenômeno
socioespacial do turismo. O paradigma da complexidade como opção para a
reflexão sobre o turismo atual. Campos disciplinares de estudo do turismo: inter e/
ou transdisciplinaridade? Saber-fazer X saber-saber: o ensino do turismo nos cursos
técnicos, tecnológicos e nas universidades.
29
XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
10 a 13 de novembro de 2014 - Universidade Federal de Juiz de Fora
Departamento de Turismo

ANÁLISE DA PRODUÇÃO ACADÊMICA EM TURISMO NA UNIVERSIDADE


FEDERAL DE PELOTAS A PARTIR DAS MONOGRAFIAS DO CURSO DE
BACHARELADO EM TURISMO – PERÍODO 2000-2013
Laura Rudzewicz1

RESUMO: Neste artigo busca-se refletir sobre a importância do acompanhamento


da produção das pesquisas em Turismo e sua contribuição ao aprofundamento dos
conhecimentos científicos e à consolidação do campo. O objetivo é apresentar os
principais resultados da investigação sobre quantos são, quais são os temas e onde
foram realizados os estudos nas monografias do Curso de Bacharelado em Turismo
da Universidade Federal de Pelotas. Também se discute aspectos prioritários, lacunas
e desafios da pesquisa acadêmica em turismo. Este trabalho tem caráter exploratório-
descritivo, quali-quantitativo, de base documental a partir de 161 monografias, de
um total de 188 produzidas (período entre 2000 - 2013). Os principais resultados
alcançados refletem que os temas prioritários nas monografias foram planejamento e
gestão do turismo e segmentos do turismo, e os subtemas mais expressivos: turismo e
patrimônio, desenvolvimento do turismo, atrativos turísticos e meios de hospedagem.
Esse também surgiu entre as organizações mais estudadas. Os estudos priorizam
o estado do Rio Grande do Sul, principalmente a região turística Costa Doce e o
município de Pelotas. As lacunas da pesquisa nas monografias foram os temas turismo
e educação e pesquisa em turismo, bem como administração de empresas de eventos
e de entretenimento e lazer. Os desafios propostos são a necessidade de elaboração
de um Tesauro Brasileiro do Turismo e de estudos que analisem a contribuição das
pesquisas no nível da Graduação.
PALAVRAS-CHAVE: Produção acadêmica. Pesquisa em Turismo. Monografias.
Curso de Bacharelado em Turismo. Universidade Federal de Pelotas.

ABSTRACT: This paper reflect on the importance of monitoring the production of


research in tourism and its contribution to the scientific knowledge. The objective is
to present how many, what are the subjects and where were located the studies in
the monographs of the Bachelor on Tourism Course at the “Universidade Federal
de Pelotas”. It also discuss priority subjects, gaps and challenges on the academic
tourism research. This study is exploratory and descriptive, qualitative and quantitative,
based on the analysis of 161 monographs, from a total of 188 produced (2000-2013).
The main results reflect that priority subjects are on planning and management of
tourism and types of tourism, and the most significant secondary subjects: tourism
and heritage, tourism development, tourist attractions and hotels. This also is the most
studied organization. The priority on these studies are on the state of Rio Grande
do Sul, mainly tourist region of Costa Doce and the city of Pelotas. The gaps in the
research are tourism and education and tourism research, and also management the
business on events and entertainment. The challenges are the need to standardize a
Brazilian Tesauro Tourism and developing studies which analyze the contribution of
research on the level of Undergraduate.
KEYWORDS: Academic production. Research in Tourism. Monographs. Bachelor of
Tourism. Universidade Federal de Pelotas.
1 Doutoranda em Geografia (Instituto de Geociência, Programa de Pós-Graduação em Geografia,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS), Mestre em Turismo (Universidade de Caxias do Sul - UCS),
Bacharel em Turismo (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS). Docente do Departamento
de Turismo, Faculdade de Administração e de Turismo, Universidade Federal de Pelotas (UFPel). E-mail: laurar.
turismo@gmail.com
30
XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
10 a 13 de novembro de 2014 - Universidade Federal de Juiz de Fora
Departamento de Turismo

INTRODUÇÃO

A reflexão sobre as contribuições que a produção científica tem trazido ao


aprofundamento do conhecimento em Turismo e à consolidação desse campo
é pertinente ao debate sobre a epistemologia do Turismo. Nisso, inclui-se o
acompanhamento da produção também nos cursos de graduação na área, e, ainda,
a interação entre investigação acadêmica – conhecimentos científicos, buscando
compreender as possibilidades e desafios da pesquisa em seus múltiplos aspectos.

Para contribuir com essa reflexão, apresentam-se neste artigo os principais


resultados do projeto de pesquisa intitulado “Produção Acadêmica das Monografias
do Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas – UFPel
(2000-2013)”. Neste projeto, iniciado em 2011, tratou-se de mapear, caracterizar e
discutir a produção acadêmica sobre turismo na UFPel através das monografias do
Curso de Bacharelado em Turismo, no período de 2000-2013; e ainda, sistematizar
e disponibilizar um banco de dados para consulta pública, incentivando o
acompanhamento contínuo dessas informações.

Os objetivos neste artigo compreendem: a) apresentar a evolução da produção


acadêmica de monografias do referido Curso; b) analisar a caracterização das
monografias quanto aos temas e subtemas, locais/organizações ou grupos estudados
e localização geográfica foco dessas pesquisas; e c) discutir aspectos prioritários,
lacunas e desafios da pesquisa acadêmica em turismo.

A pesquisa caracteriza-se como exploratório-descritiva, documental e de corte


quali-quantitativo, acerca das monografias no ensino superior em Turismo na UFPel.
Foram utilizados como base diversos estudos sobre a produção científica em Turismo,
seja através da análise de teses, dissertações ou artigos, como em Rejowski (1996),
Lima et al. (2005), Baccon, Figueiredo e Rejowski (2007), Momm e Santos (2010),
Lima e Rejowski (2011), e Marfil e Valiente (2013).

A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS SOBRE A PESQUISA EM TURISMO NO


BRASIL

O desenvolvimento dos estudos sobre Turismo tem início no Brasil na década


de 1970, com o surgimento do primeiro curso de graduação específico, seguido dos
primeiros cursos de pós-graduação que contemplavam a área, no final da década
de 1980 (MOMM, SANTOS, 2010). Já os programas de pós-graduação stricto sensu
específicos em Turismo, em nível de Mestrado, surgiram somente a partir da década
de 1990 (LIMA, REJOWSKI, 2011), e em nível de doutorado, a partir de 2012.
31
XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
10 a 13 de novembro de 2014 - Universidade Federal de Juiz de Fora
Departamento de Turismo

Com isso, a formação de uma comunidade científica engajada com a


consolidação do campo do Turismo foi crescente, possibilitando um aumento
expressivo da pesquisa científica, a qual, segundo Rejowski (1996), funciona como
“‘mola propulsora’ do sistema técnico-científico, estabelecendo um fluxo contínuo de
conhecimento (...) provocando um processo de ‘maturação’ e delineando um corpo de
conhecimento sistemático e cumulativo” (REJOWSKI, 1996, p. 13).

Para exemplificar, Santos, Possamai e Marinho (2009) encontraram 105


teses de doutorado sobre turismo, cadastradas no Banco de Teses e Dissertações
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), entre
os anos 2005-2007, obtendo crescimento de 5.203% ano, quando comparado ao
resultado encontrado por Rejowski (1996), de 12 teses em 18 anos (1975-1992).

As pesquisas sobre a produção científica em turismo intensificaram-se ao


longo dos anos, tendo início na década de 1980 com Jafari e Aaser (1988), através de
um levantamento sobre as teses de doutorado em Turismo nos Estados Unidos, no
período de 1951 a 1987. No Brasil, esses estudos iniciaram com a tese de doutorado
de Rejowski em 1993, sobre dissertações e teses no período de 1975 a 1992 (LIMA,
REJOWSKI, 2011).

Momm e Santos (2010) também realizaram um mapeamento da produção do


conhecimento científico sobre a área no Brasil, considerando as dissertações dos
programas de pós-graduação stricto sensu em Turismo e áreas correlatas (entre 2000-
2006), trazendo uma análise sobre as temáticas dos estudos, o conteúdo, evolução e
as lacunas do conhecimento científico sobre Turismo. Elas justificam a importância de
mapear, categorizar e analisar as informações provenientes das pesquisas científicas
em Turismo pois:
Os resultados das pesquisas científicas podem converter-se em
conhecimento científico a ser disseminado entre a comunidade científica
da área e entre aqueles que buscarem soluções para as atividades que
desempenham. Além disso, a produção científica pode subsidiar a tomada de
decisões e os pesquisadores podem encontrar, no conjunto de representações
do conhecimento científico, as respostas para seus questionamentos,
identificando também lacunas que requeiram maior atenção. (MOMM,
SANTOS, 2010, p. 68).

Marfil e Valiente (2013) também justificam a importância de contribuir com o


desenvolvimento das “pesquisas sobre a pesquisa” científica em turismo, ou seja, a
“metainvestigação turística”, argumentando as possibilidades da análise bibliométrica,
capaz de oferecer um aporte de conhecimentos a gestores, políticos, empresas e
destinos turísticos. Realizando um estudo aplicado as revistas científicas turísticas
e não turísticas da Catalunha (Espanha), os autores descrevem algumas vantagens
políticas e acadêmicas da pesquisa sobre a produção científica:
32
XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
10 a 13 de novembro de 2014 - Universidade Federal de Juiz de Fora
Departamento de Turismo

Desde o ponto de vista político, os resultados podem ajudar a avaliar o ajuste


entre o conhecimento criado pela universidade e o conhecimento requerido
pelo setor turístico, por exemplo, ao estabelecer agendas de investigação
ou ao tratar de fomentar a transferência de conhecimento. Desde o ponto
de vista acadêmico, o interesse do estudo reside sobre o que analisa a
investigação desde múltiplos ângulos (temas, regiões, disciplinas, autores...)
e o que contempla a investigação publicada tanto nas revistas turísticas como
nas não turísticas. (MARFIL, VALIENTE, 2013, p. 56) (tradução da autora).

O referencial teórico acerca deste tema aponta para a existência de uma


ampla diversidade de análises qualitativas, quantitativas ou mistas, que buscam
retratar a contribuição da produção do conhecimento científico em Turismo no nível
acadêmico, no Brasil e em diversos outros países. A necessidade de compreender
o conteúdo e desenvolvimento da investigação turística também deve estar atrelada
a toda diversidade de produtos que contribuem para esta reflexão. Esses podem
ser denominados de comunicação científica, pois abrange “o conjunto de atividades
associadas à produção e uso da informação, desde o momento em que o cientista
concebe a ideia de uma pesquisa, até aquele em que a informação acerca dos
resultados é aceita como constituinte do conhecimento científico” (GARVEY, 1979
apud MINOZZO, REJOWSKI, 2004). Conforme identificados por Rejowski (1996) e
Momm e Santos (2010), devem incluir: livros, revistas científicas, teses, dissertações,
monografias, comunicações em eventos e outras obras de referência, impressas,
digitais ou eletrônicas.

Marfil e Valiente (2013) abordam uma classificação proposta por Tsang y Hsu
(2011) quanto aos diferentes tipos de estudos que tem analisado quantitativamente,
principalmente as revistas científicas, sendo eles: 1) os que se baseiam em indicadores
de produtividade para verificar a contribuição de autores, instituições ou regiões do
mundo, a partir da elaboração de rankings comparativos; 2) os que analisam as
metodologias e técnicas empregadas na investigação turística; e 3) os de “análise de
perfil”, que abordam os trabalhos publicados pelo seu conteúdo, estrutura e evolução,
a partir de múltiplas perspectivas.

A presente pesquisa pode então ser classificada pela terceira corrente, no


sentido de pretender contribuir com o desenvolvimento das “pesquisas sobre a
pesquisa” acadêmica através das monografias dos discentes dos Cursos Superiores
de Turismo nas Instituições de Ensino Superior do Brasil.

Bernardinello (2012) retrata a importância das monografias em Turismo,


ou trabalhos de conclusão de curso (TCCs), como “[..] um processo inclusivo de
aprendizagem científica [...]”, pois representam a possibilidade do aluno consolidar
os conhecimentos construídos ao longo do curso a partir do desenvolvimento do seu
projeto de pesquisa, além de ser um momento integrador dos elementos ensino e
33
XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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Departamento de Turismo

pesquisa, a partir da articulação entre teoria e prática (BERNARDINELLO, 2012, p.


89). Portanto, além do cumprimento de exigências formais, a elaboração dos TCCs
no meio acadêmico deve ser compreendida como uma possibilidade importante de
análise da produção dos conhecimentos e da formação profissional em Turismo.

CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE O CURSO DE BACHARELADO EM


TURISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

O Curso de Bacharelado em Turismo da UFPel foi aprovado pelo Conselho


Coordenador de Ensino, Pesquisa e Extensão (COCEPE) em 13 de junho de 2000,
iniciando suas atividades no segundo semestre do mesmo ano. O Ato de Autorização
ocorreu pela Resolução nº 03/2001, de 24 de março de 2001, do Conselho Universitário
e o Ato de Reconhecimento, a partir da Portaria do Ministério da Educação nº 52,
de 26 de maio de 2006. Em julho de 2012, o Curso obteve a renovação do seu
reconhecimento através da Portaria nº 124, de 09 de julho de 2012. O Curso passou
por algumas reformulações curriculares, nos anos de 2006, 2009 e 2013, buscando
atender as exigências das Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação
em Turismo (Ministério da Educação, Resolução nº 13, de 24 de novembro de 2006)
e o Regulamento do Ensino de Graduação na UFPel (Resolução nº 14, de 28 de
outubro de 2010) (PROJETO PEDAGÓGICO..., 2013).

A abertura do Curso de Turismo da UFPel acompanhou o movimento ocorrido


na primeira metade da década de 2000, denominado “boom” dos cursos de graduação
em Turismo no Brasil, caracterizado pela ascensão e explosão da oferta de cursos,
conforme consta em Lima e Rejowski (2011). No entanto, segundo as autoras, a
expansão dos cursos superiores de Turismo nas universidades públicas brasileiras
ocorreu mais tardiamente, a partir da segunda metade dos anos 2000.

Esse Curso caracteriza-se por regime acadêmico semestral, modalidade


presencial, turno noturno, sendo oferecidas 44 vagas anuais com ingresso no primeiro
semestre do ano letivo, com previsão de nove semestres para sua integralização.
O objetivo geral é “formar profissionais com conhecimento para analisar e intervir
no fenômeno turístico a partir dos princípios de responsabilidade socioambiental,
justiça e ética profissional” (PROJETO PEDAGÓGICO..., 2013, p. 8). Quanto ao
perfil do egresso, consta um profissional apto a atuar como gestor e/ou pesquisador
nos diferentes setores, de compreender a complexidade e a interdisciplinaridade do
fenômeno turístico, e de contribuir para o crescimento e desenvolvimento da atividade
turística e na melhoria da qualidade de vida das sociedades.

No que se refere a questão da pesquisa, no Projeto Pedagógico de 2009 (ainda


em fase de transição para a nova proposta curricular de 2013), constam na estrutura
34
XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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curricular do Curso as disciplinas de Pesquisa em Turismo I, Pesquisa em Turismo II


e Monografia em Turismo como atividades obrigatórias (PROJETO PEDAGÓGICO...,
2009), as quais permaneceram na reformulação curricular de 2013. É principalmente
nessas disciplinas que o discente é incentivado a refletir sobre conhecimento científico
e a importância da pesquisa para a área do Turismo, além de desenvolver e defender
uma monografia mediante banca examinadora, como um trabalho de iniciação
científica. No Projeto Pedagógico de 2013, a pesquisa científica ganhou ênfase diante
da nova proposta de organizar o Curso permeado por dois grandes eixos: Pesquisa e
Educação e Planejamento e Gestão. Além disso, a disciplina de Monografia vem nessa
nova proposta, vinculada a disciplina de Estágio II no que tange a escolha do discente
por umas das quatro linhas de pesquisa disponíveis, de forma a garantir uma integração
entre a prática profissional e o trabalho científico (PROJETO PEDAGÓGICO..., 2013).

METODOLOGIA

A pesquisa caracterizou-se como exploratório-descritiva, de corte quali-


quantitativo. O estudo teve caráter documental a partir do levantamento das
monografias, no formato impresso ou digital, e documentos oficiais da Faculdade de
Administração e de Turismo (FAT/UFPel) tais como: lista dos egressos, portarias das
bancas de defesa e Projetos Pedagógicos do Curso. As etapas da pesquisa foram:

1) Coleta do material documental: a busca das monografias teve início no


segundo semestre de 2011 até março de 2014, de forma a abranger a totalidade dessa
produção acadêmica gerada pelo Curso de Bacharelado em Turismo da UFPel desde
sua criação (ano de 2000). O universo encontrado foi de 188 monografias produzidas
em 11 anos, sendo as primeiras produções iniciadas em 2004. No entanto, a amostra
desta pesquisa é representada por 161 monografias (86%), pois 27 trabalhos foram
extraviados, impossibilitando sua inclusão na análise;

2) Instrumentos de pesquisa: permitiram a caracterização e sistematização


dos dados, sendo elaborados a partir das variáveis pretendidas:

a) ficha de cadastro das monografias, elaborada no programa Microsoft Office


Word, preenchida uma para cada trabalho, a partir dos seguintes campos: número de
registro, autor, data e hora da defesa, componentes da banca, título, resumo, palavras-
chaves, tema e subtema primário, tema e subtema secundário, locais/organizações/
grupos, localização geográfica e referência;

b) quadro de classificação de temas e subtemas das monografias, construído


com base em Lima et. al. (2005) e Baccon, Fiqueiredo e Rejowski (2007), serviu como
modelo referencial, sendo elaborado no programa Microsoft Office Word;
35
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c) planilha geral de classificação das monografias elaborada no programa


Microsoft Office Excell, cujos campos compreenderam: número de registro, nome do
autor, semestre letivo da defesa, tema e subtema primário, tema e subtema secundário,
locais/organizações/grupos, localização geográfica e referência;

3) Análise das variáveis do estudo:

a) evolução da produção de monografias: considerados os anos letivos


concernentes a defesa das monografias, incluindo dois semestres letivos para cada
ano, com exceção de 2004, quando as primeiras monografias foram apresentadas
no semestre letivo 2004/2. Os dados foram analisados tomando-se a totalidade das
monografias e o período total das produções acadêmicas (2000-2013), por anos, por
triênios (quatro) e pela média de monografias apresentada pelo Curso;

b) análise temática: identificou-se onze temas, cada um apresentando entre


três e nove subtemas respectivos (totalizando 55 subtemas), informados no quadro
referencial. Foram classificados em tema e subtema primário (um único descritivo para
cada monografia) e tema e subtema secundário (apenas aquelas que apresentaram
temática complementar, aceitando-se igualmente um único descritivo para cada ou
inexistente). A caracterização temática ocorreu a partir da leitura do título, palavras-
chaves e resumo, respectivamente;

c) análise dos locais, organizações ou grupos estudados: foi realizado um


agrupamento em categorias de análise que apresentassem semelhanças (Ex: diversos
tipos de meios de hospedagem agrupados sob o descritivo “Meios de hospedagem/
Redes de meios de hospedagem”), sendo preservados apenas algumas denominações
específicas que foram mais recorrentes (Ex: “Fenadoce” – Feira Nacional do Doce
de Pelotas/RS). Algumas monografias apresentaram mais de um descritivo nesta
questão, e em outras esse não foi identificado;

d) análise das áreas geográficas: foi realizado um agrupamento em


categorias que abrangeram três dimensões: âmbito nacional classificado por países
(Brasil, outros países, não identificado), âmbito estadual/regional por estados/regiões
(do Brasil e do exterior), e âmbito local por municípios pesquisados;

4) Interpretação e discussão dos resultados: os dados foram apresentados


por representação (número de ocorrências) ou percentualmente, sintetizados por meio
de gráficos, tabelas e quadros, elaborados através do Microsoft Office Excell ou Word.
Em algumas variáveis, optou-se por categorizar os resultados por nível de interesse
que surgem nas monografias (grande, médio e pouco), decorrente do parcelamento
equilibrado dos valores de ocorrência total. Os resultados aqui apresentados
compreendem uma revisão e atualização dos dados contidos em publicação anterior
(2012), bem como uma tentativa de aproximação com outras pesquisas que abordam
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o tema da produção científica em turismo.

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE MONOGRAFIAS E ANÁLISE TEMÁTICA

De forma geral, a produção de monografias no Curso de Turismo da UFPel


demonstrou uma média de 19 monografias/ano letivo, sendo que o ano de 2006 foi o de
maior produção (33) e o ano de 2004, o de menor produção (7) (Figura 1). Esse dado
é justificado pelo fato das primeiras monografias terem sido defendidas no semestre
letivo de 2004/2, sendo nos demais anos contabilizados dois semestres letivos. Ao
realizar uma análise comparativa em triênios, verificou-se que a maior produção de
monografias aconteceu nos últimos anos (2006, 2009 e 2012) em relação aos demais,
principalmente no segundo triênio (2007-2009), com 65 trabalhos acadêmicos, em
relação ao primeiro (48) e ao terceiro (57) triênio. No ano de 2013 houveram 18
monografias defendidas, o que demonstra que o índice tem se mantido próximo a
média geral, dando início a um novo triênio para análises futuras.
FIGURA 1: EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE MONOGRAFIAS (2000-2013)

O somatório dos dados referentes ao ano (2006) e ao triênio (2007-2009) de


maior produtividade de monografias corresponde a mais da metade dos trabalhos ao
longo da trajetória deste Curso (52,2%) (Figura 8). Isso vem a retratar o período que foi
denominado de “boom” dos cursos de graduação em Turismo no Brasil, caracterizado
por Lima e Rejowski (2011) como a primeira metade da década de 2000. De forma
geral, os discentes que defenderam nesse período (2006-2009) tiveram ingresso
no Curso entre os anos 2002-2005, tendo em vista sua estrutura curricular de nove
semestres letivos, mantida ao longo dos Projetos Pedagógicos.

No que se refere a análise temática, apresentou a seguinte ordem decrescente


nos temas principais (Figura 2): turismo e comunicação (16,1%), turismo e cultura
(15,5%), planejamento e gestão do turismo (14,9%), segmentos do turismo (11,8%),
turismo e administração (9,3%), turismo e meio ambiente (8,7% cada), turismo e lazer
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e oferta turística (6,2% cada), demanda turística (5,6%), e, por último, pesquisa em
turismo (3,7%) e turismo e educação (1,9%).
FIGURA 2: CLASSIFICAÇÃO DOS TEMAS PRINCIPAIS DAS MONOGRAFIAS

Já os temas secundários (Figura 3) foram identificados em 90,7% das


monografias, entre as quais segmentos do turismo (16,8%), planejamento e gestão
do turismo (13,7%), turismo e administração (11,2%), oferta turística (10,6%) e turismo
e cultura (9,9%), foram os mais expressivos. Pesquisa em turismo (1,2%) e turismo
e educação (3,1%) seguem sendo os menos expressivos, bem como na análise dos
temas primários, incluindo aqui o tema turismo e meio ambiente (3,1%).
FIGURA 3: CLASSIFICAÇÃO DOS TEMAS SECUNDÁRIOS DAS MONOGRAFIAS

Ao realizar uma análise integrada entre os temas primários e secundários,


pode-se classificar o nível de interesse conforme o número de ocorrências totais
(Figura 4). Dessa forma, cinco temas evidenciaram-se como os mais recorrentes,
correspondendo a 63,3% das monografias (Figura 8) classificadas entre os de grande
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interesse: planejamento e gestão do turismo e segmentos do turismo (46 ocorrências


cada), seguido de turismo e cultura (41), turismo e comunicação (38) e turismo e
administração (33). Os temas de médio interesse aparecem como: oferta turística
(27), demanda turística (21), turismo e lazer (20) e turismo e meio ambiente (19).
Os temas sob o critério de menor interesse nessas monografias foram identificados
como: pesquisa em turismo e turismo e educação (8 ocorrências cada).

FIGURA 4: CLASSIFICAÇÃO POR NÍVEL DE INTERESSE NOS TEMAS


Divisão
Ocorrências Ocorrências
por Total de
Temas entre temas entre temas
nível de ocorrências
principais secundários
interesse
1. 1. Planejamento e gestão do 24 22 46
turismo
Grande 8. Segmentos do turismo 19 27 46
interesse 6. Turismo e cultura 25 16 41
5. Turismo e comunicação 26 12 38
2. 2. Turismo e administração 15 18 33
3. 3. Oferta turística 10 17 27
Médio 4. 4. Demanda turística 9 12 21
interesse 10. Turismo e lazer 10 10 20
14 5 19
7. Turismo e meio ambiente
9. Turismo e educação 3 5 8
Pouco
interesse 11. Pesquisa em turismo 6 2 8

*Não identificado 0 15 15

Total 161 161 322


*Não identificado corresponde as monografias que não apresentavam tema e subtema secundário,
sendo classificadas apenas com um tema e subtema primário.

Entre os subtemas (Figura 5), quando analisadas de forma integrada as


ocorrências entre os subtemas primários e secundários, identificou-se que os de
maior interesse foram: turismo e patrimônio (22), desenvolvimento do turismo
e atrativos turísticos (19 ocorrências cada) e meios de hospedagem (18). Já os
subtemas de médio interesse foram: imagem e imaginário no turismo (14), turismo
de negócios e eventos (13), outros segmentos do turismo e atividades e espaços de
lazer (12 ocorrências cada), estudo de perfil do turista (11), turismo e identidade (10),
planejamento turístico e marketing turístico (9 ocorrências cada). Ressalta-se o dado
de que 52% das monografias concentram-se nesses primeiros 12 subtemas entre os
de grande e médio interesse (Figura 8). Os demais 43 subtemas propostos para este
estudo foram classificados como de pouco interesse, apresentando menos de sete
ocorrências cada. Também ficou evidente a inexistência de estudos sobre turismo e
administração em empresas organizadoras de eventos e de entretenimento e lazer,
além de outros subtemas referentes à oferta turística que não estejam relacionados
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aos atrativos, serviços ou equipamentos turísticos.

FIGURA 5: CLASSIFICAÇÃO POR NÍVEL DE INTERESSE NOS SUBTEMAS

Total de
ocorrências
Divisão por
(subtemas
nível de Subtemas
principais
interesse
+ subtemas
secundários)
6.1. Turismo e patrimônio 22
Grande
1.4. Desenvolvimento do turismo; 3.1. Atrativos turísticos 19
interesse
2.2. Meios de hospedagem 18
5.2. Imagem e imaginário no turismo 14
8.1. Turismo de negócios e eventos 13
Médio 8.9. Outros; 10.2. Atividades e espaços de lazer
interesse 12
4.1. Estudo de perfil do turista 11
6.2. Turismo e identidade 10
1.1. Planejamento turístico; 5.1. Marketing turístico 9
1.3. Políticas em turismo; 5.4. Utilização da tecnologia no turismo; 6.3.
História e memórias; 8.2. Turismo Rural 7
1.5. Acessibilidade; 2.7. Outros; 3.3. Serviços turísticos 6
5.5. Outros; 7.4. Impactos do/no Turismo; 8.7. Ecoturismo; 10.1 Turismo
e sociabilidade 5
2.1. Agências de viagens e turismo; 4.3. Motivação turística; 4.4.
Outros; 7.1. Gestão ambiental; 7.3. Planejamento ambiental e turístico;
9.2. Turismo no ensino 4
Pouco 1.2. Gestão em turismo; 2.3. Transportes turísticos; 5.3. Meios de
interesse comunicação; 7.6. Outros; 8.3. Turismo Religioso; 9.3. Outros; 10.3.
Outros; 11.1. História do turismo; 11.3. Produção científica em turismo 3
1.6. Outros; 2.5. Restaurantes, bares e similares; 3.2. Equipamentos
turísticos; 4.2. Comportamento do turista; 6.4. Outros; 7.2. Educação
ambiental; 8.5. Turismo Urbano; 8.6. Turismo de intercâmbio 2
7.5. Responsabilidade Socioambiental; 8.4. Turismo de Cruzeiros
Marítimos; 8.8. LGBT; 9.1. Sensibilização turística; 11.2. Epistemologia
do turismo; 11.4 Outros 1
2.4. Organizadoras de eventos; 2.6. Empresas de entretenimento e
lazer; 3.4. Outros 0
*Não identificado 15
Total 322

Na tentativa de aproximar os resultados com outras pesquisas sobre o tema,


identificou-se que os autores empregam diferentes formas de classificação temática,
o que torna difícil essa comparação. Alguns aspectos coincidiram no que tange aos
temas mais recorrentes, como em Marfil e Valiente (2013), que usaram a proposta
temática do Tesauro do Centro de Documentação Turística da Espanha (CDTE),
dividido em nove campos semânticos. Segue esses temas mais investigados em
ordem decrescente, comparativamente a pesquisa sobre as monografias:

a) patrimônio turístico: principalmente no que se refere ao patrimônio


natural – turismo sustentável, impacto ambiental, costas, espaços protegidos, outros;
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nas monografias o subtema mais expressivo também reflete a questão do patrimônio


(Figura 5), porém aqui considerados na sua relação com turismo e cultura, tendo em
vista que a maioria dos estudos versaram sobre o município de Pelotas (Figura 7),
onde o assunto apresenta grande relevância;

b) política turística: modalidades turísticas (turismo cultural, rural, urbano


e de sol e praia), marketing e promoção, desenvolvimento e planejamento turístico,
outros; os segmentos do turismo e o planejamento e gestão do turismo também
foram os temas mais recorrentes nas monografias (Figura 4). Entre os segmentos
surgiram negócios e eventos (13), rural (7), ecoturismo (5), religioso (3), urbano, de
intercâmbio, sustentável e para melhor idade (2 cada), e outras modalidades com
apenas uma ocorrência cada (10) como: de cruzeiros marítimos, LGBT, sexual,
cultural, arqueológico, de saúde, virtual, de aventura, de compras e geoturismo; nessa
relação, outros subtemas que se destacaram entre os de grande e médio interesse
nas monografias foram desenvolvimento do turismo (19), planejamento turístico e
marketing turístico (9 cada) (Figura 5);

c) aspectos econômicos: estudos econômicos (impacto econômico,


demanda turística, outros), gestão e controle de qualidade em empresas privadas,
contas nacionais de turismo, outros; considerou-se uma aproximação no que tange ao
tema turismo e administração (Figura 4), imponente nas monografias vinculado aos
meios de hospedagem (20) e aos bares, restaurantes e similares (7) (Figura 6);

d) aspectos sociais: sociologia do turismo (impacto sociológico,


comportamento do turista, turismo juvenil e escolar), investigação turística (dados
estatísticos e metodologias), psicologia do turismo (nível de satisfação e motivação
turística), outros; o que mais se aproximou foi o tema da demanda turística (Figura 4),
como de interesse mediano, principalmente quanto ao perfil do turista (Figura 5).

e) organizações turísticas (públicas, privadas, internacionais), a educação


e a formação turística (profissional, empresarial ou pós-graduação, centros docentes,
titulações, currículos educativos), atividades desportivas e recreativas, direito do
turismo e serviços turísticos foram os temas de menor peso em Marfil e Valiente (2013);
também nas monografias identificou-se os temas pesquisa em turismo e turismo
e educação como os de menor atenção, juntamente com os subtemas turismo no
ensino (4), história do turismo e produção científica em turismo (3 cada), sensibilização
turística e epistemologia do turismo (1 cada).

Momm e Santos (2010) encontraram praticamente a mesma ordem de


relevância das classes temáticas propostas no Tesauro do CDTE: Patrimônio Turístico,
Política Turística, Economia do Turismo e Serviços Turísticos; em relação às classes
Organização Turística, Atividade Esportiva e Recreativa, Direito, Turismo e Meio Social
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e Educação e Formação Turística. Já os temas gestão do turismo, desenvolvimento


do turismo e turismo e cultura apareceram em Baccon, Figueiredo e Rejowski (2007),
como sendo os principais assuntos retratados nas dissertações do Mestrado em
Turismo da UCS entre 2002 e 2006.

Aspectos temáticos diferenciados neste estudo das monografias em Turismo


dizem respeito à atrativos turísticos (19) como um subtema de grande de interesse,
bem como imagem e imaginário no turismo (14), atividades e espaços de lazer (12) e
turismo e identidade (10) como subtemas de médio interesse (Figura 5).

Porém, essa dificuldade de comparar os resultados coloca em debate a proposta


de Rejowski e Kobashi (2011), sobre a necessidade de utilização de Tesauros como
instrumento terminológico para padronizar as formas de representar os conteúdos dos
trabalhos acadêmicos em Turismo por meio de um vocabulário controlado sistêmico. As
autoras propõem a necessidade de elaboração de um Tesauro Brasileiro de Turismo.
Dessa forma, diversos autores tem defendido possibilidades de uso de tesauros de
modo a padronizar a classificação temática desses estudos, como em Lima e Rejowski
(2011). Momm e Santos (2010) também defendem a importância da aplicação de um
Tesauro específico do Turismo, bem como de métodos e técnicas bibliométricas, o
que, segundo elas, reforçaria “[...] o estado da arte da área, sinalizando as lacunas
representadas pela dispersão e desequilíbrio no desenvolvimento do conhecimento
científico na área.” (MOMM, SANTOS, 2010, p. 80). Portanto, a organização e estrutura
de um futuro Tesauro Brasileiro de Turismo poderia trazer um novo panorama a essa
pesquisa, com a possibilidade de revisão dos resultados a partir de uma categorização
padronizada e institucionalizada em nível de Brasil, assim como Marfil e Valiente
(2013) e Momm e Santos (2010) fizeram uso do Tesauro do CDTE.

Outras dificuldades encontradas na classificação temática dizem respeito aos


títulos e palavras-chaves nem sempre expressarem com exatidão o conteúdo das
pesquisas, bem como a falta de consistência e ordenação das palavras-chaves e de
informação precisa dos objetivos, métodos, resultados e conclusões nos resumos.
Também encontrou-se dificuldades na identificação temática, devido ao fato de muitos
trabalhos mesclarem grande variedade de assuntos, faltando precisão no delineamento
dos temas. A fragilidade das palavras-chaves e dos resumos também foram relatadas
por Momm e Santos (2010) e Lima e Rejowski (2011). Isso gerou impossibilidade de se
avançar e aprofundar a análise para outras variáveis, como métodos e procedimentos
metodológicos empregados nessas monografias.

ANÁLISE DOS LOCAIS, ORGANIZAÇOES OU GRUPOS E LOCALIZAÇÃO


GEOGRÁFICA DAS ÁREAS ESTUDADAS
42
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Através do agrupamento em categorias dos locais, organizações ou grupos


estudados nessas monografias (Figura 6), foi possível verificar que as redes de/ou
meios de hospedagem prevaleceram significativamente, sendo foco de estudos em 20
monografias (11,6%). Na sequência, foram classificados como locais/organizações/
grupos de interesse mediano: prédios e espaços históricos (10), órgãos públicos
municipais/de turismo e trade turístico (8 ocorrências cada), além de museus e bares,
restaurantes e similares (7 ocorrências cada). Essas seis classes mais investigadas
apareceram em 34,6% das monografias analisadas (Figura 8). Outros diversos locais,
organizações ou grupos apresentaram de 1 à 6 ocorrências cada nas monografias,
compreendendo 59,5% que foram classificados como de pouco interesse, além da
inexistência dessa informação em 10 monografias (5,8%).

FIGURA 6: CLASSIFICAÇÃO POR NÍVEL DE INTERESSE DOS LOCAIS/ORGANIZAÇÕES/GRUPOS


ESTUDADOS

Divisão por
Total de
nível de Locais/organizações/grupos estudados
ocorrências
interesse
Grande
interesse Meios de hospedagem/Redes de meios de hospedagem 20
Médio Prédios e Espaços Históricos 10
interesse Órgãos públicos municipais / de turismo; Trade turístico 8
Museus; Bares, Restaurantes e Similares 7
Agências de viagens e turismo 6
Eventos municipais; Distritos de Pelotas; Projetos/Programas em
Universidades 5
Fenadoce; Parques estaduais e nacionais; Cursos Superiores de Turismo;
Rotas/Circuitos/Caminhos turísticos; Estabelecimentos comerciais 4
Turistas; Ilhas; Gassetur; Balneário Cassino; Bairros, Vilas e Avenidas
de Pelotas 3
Cemitério; Jornal Diário Popular; Empreendimentos/ moradores rurais;
População local; Programas governamentais; Doçarias; Ferrovias; Sites;
Pouco Bancos; Parques; Consórcio de rota turística; Aeroporto/Transporte
interesse aéreo
Redes sociais; Hidrelétrica; Grafiteiros; Periódicos nacionais em Turismo;
2
Escola de Samba; Catedral; Escolas; Carnaval de rua; Geoparques;
Mercado Público Municipal; Pelotas Convention & Visitors Bureau;
Família Antunes Maciel; Rio Camaquã; Aldeia Tekoá Kóáju; Porto de Rio
Grande; Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN); Balneário
Hidromineral de Iraí; Grupo Capoeira Abadá; Centro de Informações
Turísticas; Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs); Centro
Budista Tibetano Khadro Ling; Gastronomia campeira; Infraestrutura
Esportiva 1
*Não identificado 10
Total 173
*Não identificado corresponde as monografias que não possuem delimitação de local, organização ou
grupo estudado.

Em Marfil e Valiente (2013), a investigação sobre os meios de hospedagem


também se destacou em relação aos demais serviços turísticos, principalmente no
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que se refere a hotéis, casas rurais e segundas residências. Os autores também


encontraram pesquisas sobre transportes, novas tecnologias e agências de viagens,
porém, pouca investigação sobre casas de diversão, gastronomia e enologia.

Quanto à localização geográfica (Figura 7), a análise em âmbito nacional apontou


para a concentração de 93,2% dos trabalhos realizados especificamente sobre o Brasil,
além de surgir um único para cada um dos países: Estados Unidos, Espanha e Uruguai
(os dois últimos de forma comparada ao Brasil). Oito monografias não apresentaram
localização geográfica definida. No âmbito estadual/regional, identificou-se que a
grande maioria das monografias (86,3%) retrataram especificamente o estado do Rio
Grande do Sul. Outros dois trabalhos enfocaram o estado de Santa Catarina, e ainda,
com apenas uma ocorrência cada: Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul e
Montana (Estados Unidos). Além desses, retoma-se os dois estudos que compararam
as regiões da Fronteira Brasil-Uruguai (Jaguarão - Rio Branco) e Espanha-Brasil
(Santiago de Compostela – Missões), e seis estudos que retrataram o Brasil de forma
abrangente.

FIGURA 7: LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DAS ÁREAS ESTUDADAS

Total de
Subdivisões Localização geográfica dos estudos %
ocorrências
Brasil 150 93,2
Países Estados Unidos 1 0,6
Estudos comparativos: Brasil/Uruguai; Brasil/Espanha *2 1,2
Não identificado 8 5
Subtotal 161 100
Rio Grande do Sul 139 86,3
Santa Catarina 2 1,2
Outros estados: Rio de Janeiro; São Paulo; Mato Grosso do
Estados/ Sul; Montana - Estados Unidos *4 2,5
Regiões Estudos comparativos: Jaguarão (Brasil)/Rio Branco (Uruguai);
Missões (Brasil)/Santiago de Compostela (Espanha) *2 1,2
“Brasil” 6 3,8
Não identificado 8 5
Subtotal 161 100
***Pelotas 89 63,1
***Rio Grande 13 9,3
***São Lourenço do Sul 6 4,3
***Jaguarão 3 2,2
***Piratini; Porto Alegre; “Rio Grande do Sul”; Três Coroas;
Viamão **10 7
Municípios/ ***Arroio do Padre; ***Cristal; ***Pedro Osório; ***São José
Regiões do do Norte; ***Pelotas/***Santa Vitória do Palmar/***Jaguarão;
RS Bagé/***Jaguarão;
Bagé; Derrubadas; Igrejinha; Iraí; Mostardas/Tavares; Quinze
de Novembro; Rodeio Bonito; São João do Polêsine; São
Miguel das Missões; Veranópolis *16 11,3
Outras regiões: Litoral norte do Rio Grande do Sul; Região
noroeste do RS; Jaguarão*** (Brasil)/Rio Branco (Uruguai);
Missões (Brasil)/Santiago de Compostela (Espanha) *4 2,8
Subtotal 141 ( 88%) 100
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*As áreas correspondentes tiveram uma ocorrência cada


*As áreas correspondentes tiveram duas ocorrências cada
***Municípios pertencentes a Região Turística Costa Doce (SETUR, 2014)

A partir do recorte espacial sobre o estado do Rio Grande do Sul, analisado


em 88% dos trabalhos (141), os resultados demonstraram maior preocupação em
investigar questões voltadas especificamente ao município de Pelotas (objeto de
estudo de 89 monografias, 63,1% dos trabalhos que versam sobre o Rio Grande do
Sul, e 55,3% do total de monografias), o qual sedia o Curso de Bacharelado em Turismo
da UFPel. Além disso, o foco de análise dos trabalhos está nos municípios da Região
Turística Costa Doce, presente em 75% das monografias analisadas (120) (Figura 8),
englobando além de Pelotas, os municípios de: Rio Grande (13), São Lourenço do
Sul (6), Jaguarão (3), Piratini (2), Arroio do Padre, Cristal, Pedro Osório e São José do
Norte (1 cada), e outros três estudos comparativos que apreciaram municípios dessa
região, incluindo Santa Vitória do Palmar.

A Figura 8 apresenta o resumo dos resultados mais significativos encontrados


em cada uma das variáveis analisadas, já discutidos em seus aspectos específicos.

FIGURA 8: PRINCIPAIS RESULTADOS DA ANÁLISE DAS MONOGRAFIAS


Variáveis analisadas Principais resultados da pesquisa %
Evolução da Total de monografias = 188 100%
Total de monografias analisadas = 161 86%
produção de Média de monografias (19/ano) -
monografias Triênio 2007-2009 (65) 34,6%
Ano 2006 (33) 17,6%
Subtotal 52,2%
1. Planejamento e gestão do turismo (46) 14,3%
Temas de grande 8. Segmentos do turismo (46) 14,3%
6. Turismo e cultura (41) 12,7%
interesse 5. Turismo e comunicação (38) 11,8%
2. Turismo e administração (33) 10,2%
Subtotal 63,3%
6.1. Turismo e patrimônio (22) 6,8%
1.4. Desenvolvimento do turismo (19) 5,9%
3.1. Atrativos turísticos (19) 5,9%
2.2. Meios de hospedagem (18) 5,6%
5.2. Imagem e imaginário no turismo (14) 4,3%
Subtemas de grande 8.1. Turismo de negócios e eventos (13) 4,0%
e médio interesse 8.9. Outros segmentos do turismo (12) 3,7%
10.2. Atividades e espaços de lazer (12) 3,7%
4.1. Estudo de perfil do turista (11) 3,4%
6.2. Turismo e identidade (10) 3,1%
1.1. Planejamento turístico (9) 2,8%
5.1. Marketing turístico (9) 2,8%
Subtotal 52%
Locais, organizações Meios de hospedagem/Redes de meios de hospedagem (20) 11,6%
Prédios e Espaços Históricos (10) 5,8%
ou grupos de estudo Órgãos públicos municipais / de turismo (8) 4,6%
de grande e médio Trade turístico (8) 4,6%
Museus (7) 4%
interesse Bares, Restaurantes e Similares (7) 4%
Subtotal 34,6%
Localização Âmbito nacional: Brasil (150) 93,2%
Âmbito regional: Rio Grande do Sul (139) 86,3%
geográfica conforme
Região Turística Costa Doce (120) 75%
critérios Âmbito local: Pelotas (89) 55,3%
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da análise da produção acadêmica em Turismo na Universidade Federal


de Pelotas foi possível verificar as questões referentes a quantos são, quais são os
temas e onde foram realizados os estudos monográficos pelos discentes do Curso de
Bacharelado em Turismo, analisando a pesquisa através de múltiplos ângulos (temas e
subtemas; locais, organizações ou grupos; localização geográfica). Assim, identificou-
se uma produção média de 19 monografias/ano no decorrer da trajetória deste Curso
(2000-2013), com maior produtividade decorrente dos alunos ingressados na primeira
metade dos anos 2000. A análise temática permitiu a visualização de que planejamento
e gestão do turismo e segmentos do turismo foram os temas mais recorrentes, com
destaque para a ascensão desse nos últimos anos, refletindo a grande diversidade
dos tipos de turismo. Entre os subtemas mais expressivos estão turismo e patrimônio,
atrativos turísticos, desenvolvimento do turismo e meios de hospedagem, este último
também apontado como sendo as organizações mais estudadas, seguido dos prédios
e espaços históricos, órgãos públicos municipais/de turismo e trade turístico. A análise
da localização geográfica das áreas estudadas levou ao resultado de priorização do
recorte espacial sobre o Rio Grande do Sul, com especial enfoque para os municípios
da Região Turística Costa Doce e, com mais da metade dos estudos refletindo sobre
questões do município de Pelotas/RS, onde está sediado o referido Curso de Turismo.

As principais lacunas das pesquisas contidas nas monografias analisadas


dizem respeito a interação entre turismo e educação e a pesquisa em turismo, onde
foi encontrado apenas um estudo que procurou discutir a questão da epistemologia do
turismo. Ainda foi apontada a inexistência de estudos sobre turismo e administração
em empresas organizadoras de eventos e de entretenimento e lazer, além de outros
subtemas referentes à oferta turística.

A inexistência dos levantamentos sobre a produção do conhecimento no âmbito


da graduação no Brasil foi um fator limitante para a análise deste estudo, trazendo a
necessidade de buscar dados referentes as demais formas de produção científica.
Além disso, ficou evidente a necessidade de elaboração de um vocabulário controlado
sistêmico do Turismo, que possa abranger as especificidades da investigação brasileira
na área, para subsidiar uma análise aprofundada sobre a produção do conhecimento
científico em turismo.

REFERÊNCIAS
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dissertações do mestrado em turismo da Universidade de Caxias do Sul - 2002 -
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PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE BACHARELADO EM TURISMO DA
UFPEL. Revisão Curricular aprovado pelo Conselho Universitário em 2009, Pelotas
– RS: Universidade Federal de Pelotas, 2009.
PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE BACHARELADO EM TURISMO DA
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SETUR. SECRETARIA DO TURISMO DO RIO GRANDE DO SUL. Disponível em:
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em: 12 jun. 2014.
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NOTAS PARA UM ESTUDO COMPREENSIVO DA HISTORIA E DO TURISMO

RESUMO: Estudar o fenômeno do turismo tem sido, cada vez mais, uma apropriação de
variadas disciplinas científicas. Ao longo de tantas pesquisas e publicações, trabalhos
cada vez mais profícuos têm mostrado que o domínio de conceitos, categorias e
ferramentas de análises diversas forneceu uma gama de contribuições para o
entendimento do turismo enquanto fenômeno social, político e econômico. Saindo
de estudos puramente descritivos em suas narrativas, além de apologéticos em seus
discursos, os estudos sobre o Turismo têm construído problemáticas cada vez mais
pertinentes a uma compreensão desse fenômeno contemporâneo. É neste âmbito
que este trabalho procura contribuir para uma leitura que se aproxima de um estudo
do conhecimento possível entre o Turismo e uma disciplina significativa para seus
problemas: a História. Objetivando contribuir para o entendimento da relação entre
História e Turismo, voltamo-nos para a compreensão da formação das duas áreas de
conhecimento ao longo do processo histórico do século XIX, de forma a compreender
que a História como disciplina e a negação do Turismo enquanto tal, fazem parte de
um processo histórico maior, mas que não elimina ou esconde suas positividades.
Ambos, quanto conhecimento, se constroem para a análise da sociedade.

PALAVRAS CHAVES: TURISMO – HISTÓRIA - INTERDISCIPLINARIDADE

ABSTRACT: Studying the phenomenon of tourism has been increasingly, an appropriation


of various scientific disciplines. Throughout many research and publications increasingly
fruitful studies have shown that the appropriation of concepts, categories and various
analysis tools provided a range of contributions to the understanding of tourism as,
political and economic social phenomenon. Departing from purely descriptive studies
in their narratives, and apologetic in his speeches, studies on tourism issues have built
increasingly relevant to a contemporary understanding of this phenomenon. It is in this
context that this paper seeks to contribute to a reading approaching a study of possible
knowledge between tourism and a significant discipline to their problems: a History.
To contribute to the understanding of the relationship between history and tourism, we
turn to understanding the formation of two knowledge along the historical process of
the nineteenth centurie, in order to understand that history as a discipline and denial
while Tourism such part of a larger historical process, but do not delete or hide your
positivity. Both, as knowledge is constructed for the analysis of society.

KEYWORDS: HISTORY – TOURISM - INTERDISCIPLINARITY


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NOTAS PARA UM ESTUDO COMPREENSIVO DA HISTORIA E DO TURISMO

INTRODUÇÃO

A relação entre a História e o Turismo tem tido um longo processo de formação,


o qual, como uma característica dos processos históricos, não se encontra de maneira
alguma inconcluso. É sempre importante “lembrar o longo percurso das elaborações
humanas, nem por isso fixas e nem tampouco definitivas (RESENDE 2010, p. 25),
para se proceder a estudos que visam as relações humanas. Nesse sentido é possível
perceber que tanto a História quanto o Turismo, enquanto disciplinas ou linhas de
estudos1, produziram ou estão ainda construindo, seus próprios espaços de afirmação
científica e estão em constantes transformações para produzir um conhecimento cada
vez mais próximo de seus objetos de pesquisas.

Nessa perspectiva buscamos identificar, por meio de uma compreensão da


formação de ambas as linhas de estudos disciplinares, como a História e o Turismo
se movimentaram para se firmarem no meio acadêmico. Fato que gera ainda grandes
discussões e, num contexto maior das ciências, expressam posições por vezes
dicotômicas.

É importante, contudo, perceber que os lentos processos de transformações


nos seios de ambas as disciplinas, possibilitaram o crescimento e o fortalecimento de
posturas científicas, as quais foram estabelecendo práticas metodológicas, enquanto
que, ao mesmo tempo, o relacionamento entre ambas, possibilitou ainda, as constantes
críticas criativas para esses crescimentos.

PENSANDO A HISTÓRICIDADE DAS PRÁTICAS

Durante um tempo significativo a História foi vista pelos pesquisadores do Turismo,


como uma disciplina a partir da qual podia ser utilizada sem maiores preocupações
metodológicas, e usada apenas como uma ferramenta por seus aspectos factuais.
Tendo sido inicialmente usada pelos estudos do Turismo para elencar dados, narrar
fatos, apontar acontecimentos, além de ditar cronologias, a História era vista como
“um simples suceder linear de acontecimentos que se vão acumulando” (CAMARGO
2007, p. 9), e considerada significante para entender a importância do Turismo como
parte de um sistema produtivo2. Partindo desta compreensão, o uso das categorias
1 Não há, até o momento, consenso acadêmico para se pensar o Turismo como uma disciplina
científica.
2 É interessante como a grande maioria das obras sobre o Turismo, iniciam com uma subrepití-
cia frase de efeito e, discursivamente, justificadora: “Nos últimos anos o turismo conquistou o status de
uma dos maiores setores da economia no mundo e cresce no Brasil...” (THEOBALD (org) 2002, p.09);
“Enquanto uma atividade econômica que se constitui, na atualidade, no principal setor em termos de
geração de renda e emprego...” (IGNARRA 2003, p. VII)
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históricas permitiu ser constituinte da formulação de um discurso economicista e


produtivista oficial do Turismo, compartilhado por vários pesquisadores e organismos
que atuam com o Turismo(PANOSSO NETO, e NECHAR, 2014, pp. 122-128).

Por outro lado o Turismo, como parte de um processo de relações sociais,


temporalmente marcadas e espacialmente delimitadas, é também um elemento
questionador, produtor e positivador destas mesmas relações; sendo, contudo, visto
pela disciplina História como um tema menor, considerado como uma conseqüência
a partir das transformações das atividades econômicas (CAMARGO 2007, pp. 10-11).

Estas formas de visualizações mútuas das disciplinas não estão


descontextualizadas de seus processos de formações enquanto campos de saberes.
Fazem parte de posturas construídas ao longo do tempo e das linhas de força pelas
quais elas foram se impondo frente a outras disciplinas.

Todavia, neste lento processo de formação, o Turismo se utilizou das ferramentas


de outras disciplinas. Esta característica foi, e continua sendo, sua marca principal
desde seu início em meados do século XIX, momento a partir do qual se consolidou
como uma prática econômica, mas que se embasava em ritos de viagens nem sempre
geradoras de alguma forma de economia lucrativa3. Para tanto as viagens eram e
continuam sendo uma prática social (CAMARGO 2007; GUIMARÃES 2011), as quais
foram apropriadas pelo sistema produtivo industrial do século XIX e englobadas na
forma sistemática do modelo Capitalista de produção e acumulação de riquezas.
(KONDER 2013, pp. 99-105). O que resultou dessa imbricação entre viagem-lucro-
capitalismo foi sendo construída ao longo do século XX e continua em processo de
consolidação na aurora do século XXI.

A prática de exploração produtiva/lucrativa das viagens se encontra, assim,


a partir dos Oitocentos dentro de um contexto histórico maior, o qual nos possibilita
entender o processo pelo qual se formou o Turismo e suas discursividades (ARAÚJO,
2007; GUIMARÃES, 2011; O´DONNEL, 2013), além das ferramentas para seu estudo.
E é a partir destas leituras que entendemos os usos das categorias da disciplina
História. Todavia é importante perceber que a discussão presente acima, conforme
apontou significativos estudos (PANOSSO NETO E LOHMANN, 2012; PANOSSO
NETO, E NECHAR, 2014) tem se tornado freqüente muito recentemente nos estudos
das Ciências Sociais.

É relevante entender esta formação uma vez que a Ciência, enquanto forma

3 Numa concepção marxista, o turismo só existe a partir da consolidação do sistema capitalista.


De acordo com Karl Marx a “... teoria de valor-trabalho: a idéia de que o trabalho exigido pela produção
das mercadorias mede o valor de troca entre elas e constitui o eixo em torno do qual oscilam os preços
expressos em dinheiro...” (MARX 1996, p. 27); Da mesma forma entende Camargo que o Turismo se
estabelece “por meio da exploração capitalista, implicando em mercantilização desses espaços [turís-
ticos]...” (CAMARGO 2007, pp. 18-19)
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de conhecimento e intervenção no mundo e entre os seres humanos, foi concebida,


enquanto campo disciplinar, também ao longo do século XIX, ao mesmo tempo em
que nascia a prática turística. É importante também perceber duas relações diretas
desse longo processo formacional, qual seja um primeiro positivo e positivador e que
chega até 1848, quando um pensamento calcado no movimento Iluminista, mesmo
tendo diferenças internas, possibilita o entender de uma linearidade para leituras e
conhecimentos sobre o mundo, isto é, a natureza e o ser humano; e um segundo, entre
1850-19104, embasado nas rápidas transformações do processo produtivo industrial
e suas tecnologias visivelmente responsáveis pelo assombroso tom de sucesso que
assumiu o mundo científico a partir de então (HARVEY 2012, pp. 36-37).

Ainda segundo Harvey (2012) e, da mesma forma Santos (2010), não se podia
mais representar o mundo por uma linguagem simples porque o conhecimento se
desenvolveu, criou complexidades, acumulou processos. Logo nem as perguntas e
muito menos as respostas podiam ser ainda simples. A compartimentalização científica
materializou essa compreensão a partir de disciplinas que produziam ciência, sem
contudo, dialogar entre si; o objeto da pesquisa podia ser obtido no mundo social,
independente da forma como as pessoas os interpretavam; e como não havia
interpretação também não havia necessidade de teorias, e/ou metodologias diversas
para amparar objetos diversos (MAY 2004).

A DISCIPLINA HISTÓRIA

É a partir deste contexto histórico e científico que se coloca a História e o


Turismo. A primeira como uma área disciplinar, tendo, todavia, uma historicidade
ligada aos primórdios do pensamento crítico da sociedade ocidental, embasados nos
postulados greco-romanos, onde se apresentava como uma forma de pensamento e
não estando contida no círculo esquemático de uma disciplina independente e com
pretensões científicas (TURIN 2014, p. 84).

De Heródoto a Tucídides, a História construiu seus alicerces bem antes do


enquadramento dos Oitocentos, acontecendo, todavia, neste período, um forte
controle na sua forma de produzir, o que de resto a colocou apenas como mais uma
disciplina científica. Além de que, numa hierarquia de saberes, abaixo das ciências da
natureza5. Certeau (1982) fala de uma separação entre História e escrita da História,
isto é, Historiografia; Febvre (1989) fala de uma

4 Santos estende esse processo até um pouco após a Primeira Guerra Mundial. (SANTOS,
2010)
5 Santos (2010, p. 10) fala que o modelo de racionalidade do século XIX é guiado pelas Ciências
Naturais, as quais criam uma confrontação ostensiva de conhecimento não científico e não racional,
como são vistos o senso comum e as humanidades.
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“vitória [pois a História] estava nos liceus, povoados e agregados


de História, nas Universidades providas de cadeiras de História,
nas escolas especiais reservadas ao seu culto. Transbordava
daí para as direçções de ensino, as reitorias, todos os grandes
postos da Instrução Pública. Orgulhosa e poderosa (...) [mas
e] a sua filosofia? Feita de qualquer maneira, com fórmulas
tiradas do Auguste Comte, do Taine, do Claude Bernard que
se ensinavam nos liceus. (...) A História sentia-se à vontade na
corrente destes pensamentos fáceis; aliás (...) os historiadores
não têm necessidades filosóficas muito grandes.” (FEBVRE
1989, p.16)

Apesar desse quadro, a História não perde sua característica maior que é a
análise das relações sociais, isto é, a perspectiva entre os próprios seres humanos,
seus interrelacionamentos e com o mundo físico que os cercam. Este aspecto,
encoberto mas não perdido, será retomado após os anos 1940, num novo movimento
de reconstrução ou releitura da ciência6, o qual continua em discussão até o presente
momento.

Sendo assim, a História saída do XIX se construiu numa perspectiva apologética


e não analítica. Possibilitando o acúmulo de um arsenal de argumentos, usados como
ferramentas para explicar como os fatos aconteceram, mas se eximindo de entender
o porquê aconteceram (ARIÈS, 2013). A busca para responder a primeira questão
se resumia em coletar informações, dados, datas, nomes, locais espaciais, isto é, no
linguajar científico, recolher provas e evidências em quantidade suficiente para não
deixar dúvidas. Nas palavras de Ariès,

... livros compactos, onde todos os acontecimentos e os


personagens de certo período histórico estavam registrados,
onde não faltava o nome de uma operação, de um poderoso, de
uma instituição política ou social sequer, onde se tinha realmente
reunido, sem exceção, tudo o que os documentos conservam
ainda dos fatos e ações do passo. (ARIÈS, 2013, p. 270)

O CONHECER DO TURISMO

Enquanto a História se (re)construía sob a nova luz do conhecimento disciplinar,


o Turismo, por sua vez, era considerado como uma prática econômica. Dessa forma,
durante a segunda metade do século XIX, não se constituiu enquanto corpo científico.

Ligado ao desenvolvimento tecnológico dos Oitocentos, o Turismo nascia

6 Do pensamento científico ocidental, atingindo, desta forma, todas as disciplinas científicas.


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junto com a consolidação da burguesia europeia, enquanto grupo de poder social e


econômico, e, a partir do qual, buscavam-se elementos para explorar o novo fenômeno
de produção capitalista, desconsiderando a busca pelo entendimento científico do
mesmo. Dessa burguesia, Pires (2001, pp. 14-20) destaca os funcionários públicos,
profissionais liberais, comerciantes, os gerenciadores, que partilhavam um poder de
compra significativo e que constituíram a base da hotelaria, do lazer, do ordenamento
do prazer, orientando-se por uma ótica incisivamente capitalista sobre as viagens.
Segundo O´Donnel (O´DONNEL 2013, p. 192), voltaram-se não só para a exploração
do espaço geográfico, da natureza enfim, mas para um pensar e agir dentro de
aceitação de que “sem atrações que não sejam as naturais o turista sairia (...) com a
carteira intacta.”

O contexto histórico do século XIX é o mesmo tanto para a História quanto para
o Turismo e, no entanto, seu reflexo sobre cada uma das áreas citadas se deu de forma
bastante distinta. Especificamente para o segundo se procedeu a uma absorção de
discursos vários, sendo estes considerados de caráter bastante científico e utilizados,
não para a ereção de um Turismo ciência, mas como formas de construção das práticas
das viagens pelos, a partir daquele momento, chamados de turistas, praticantes de
uma atividade chama de Turismo. (PIRES 2001, p. 23)

É neste entender que as obras médicas sobre as práticas dos banhos em


águas minerais, termalismo; ou ainda em água salgada, talassoterapia, por exemplo,
são apropriadas e reproduzidas para a constituição do Turismo economia, não
sendo apontadas por uma visão da Lógica. Neste caso desligou-se de uma base
epistemológica ao deixar de refletir sobre em quais condições os saberes humanos
podem ser considerados válidos (FOUREZ 1995). A prática subordinou a práxis, uma
vez que apenas aquilo aparentemente pronto e acabado superou o pensamento
metafísico, qualidade intrínseca dos seres humanos. Nesta visão marxiana,o autor
exemplifica mostrando que

“uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão,


e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a
construção dos favos de suas colméias. Mas o que distingue,
de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele
construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera.
No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já
no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto
idealmente.” (MARX 1996, p. 298)

Para Marx é o trabalho que media a relação homem-natureza. Para o Turismo


em seu nascimento nos Oitocentos, essa relação não é apresentada como um pensar
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sobre, mas um agir sobre.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

História e Turismo se desenvolveram, da forma como as entendemos hoje, a


partir das transformações econômicas, políticas e sociais do século XIX europeu. É
importante perceber nesta construção histórica, as bases para entender o porquê da
apropriação pelo Turismo da História apologia, da História fato, da História calendário.
Contextualizado na forma apresentada neste artigo, podemos entender também
que estas perspectivas não são pertinentes apenas ao Turismo, mas as demais
disciplinas, as quais, da mesma forma, se cercaram das categorias históricas sem se
preocuparem, inicialmente, no entendimento das mesmas.

Por outro lado, também a partir deste contexto, podemos entender os motivos que
levaram a História a considerar o Turismo como um conhecimento menor, como uma
conseqüência de atos e fatos mais importantes para o desenrolar da trama histórica.
Como uma prática, não é visto como ciência, não tendo, portanto, a importância dada
a uma disciplina. Sendo esta vista como ciência porque com metodologia para a
pesquisa.

A disciplinarização do conhecimento, sua compartimentalização estanque de


forma a não se comunicar com outras áreas, acabou por distanciar e, mesmo, isolar
o conhecimento que tanto a História quanto o Turismo estavam produzindo. Ambos
lidam com sujeitos, espaços e tempo (cronológico, social, do lazer ou do não-trabalho).

Enquanto as formas de conhecimento buscavam se individualizar, só ao longo


da segunda metade do século XX é que buscaram se aproximar, se entenderem,
apropriarem-se das categorias de análise que ambas construíram ao longo de seu
percurso de formação.

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LIVROS IMPRESSOS
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A PRÁTICA DO TURISMO E SEU PROCESSO DE APRENDIZADO


INTERDISCIPLINAR: UMA REFLEXÃO SOBRE O TURISMO CRIATIVO

Danielle Mesquita da Costa Silva 11


Maria Gilca Pinto Xavier2

RESUMO: Este artigo trata da análise do turismo criativo como estratégia de


ampliação do conhecimento da atividade turística. O turismo criativo, sendo uma nova
tendência mundial que se caracteriza pela relação intrínseca das expressões culturais
(arquitetura, artes cênicas e visuais, design, gastronomia, música, espetáculos,
festivais, entre outros) como amplo cenário de atuação no setor turístico, é uma ótima
oportunidade de criar e impulsionar atividades econômicas, requerendo, para isso, um
conhecimento amplo do turismo. Este trabalho adotou como metodologia a questão
discursiva, com a abordagem interdisciplinar, visando facilitar o entendimento da
relação do turismo criativo atrelado á educação. Com o decorrer do estudo, observou-
se que é indispensável trabalhar o contexto amplo e interdisciplinar do turismo, com
vistas ao desenvolvimento de atividades econômicas que valorizem as potencialidades
locais, proporcionando, sobretudo, melhorias para a qualidade de vida da população
autóctone.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo Criativo. Educação. Interdisciplinaridade

ABSTRACT: This paper is about the analysis of creative tourism as a strategy to expand
the knowledge of tourist activity. The tourism creative, being a new worldwide trend that
is characterized by intrinsic relationship of cultural expressions (architecture, performing
arts and visual design, gastronomy, music, concerts, festivals, others) as ample set
of actuation in tourism sector, it is a great opportunity to create and boost economic
activities, requiring, for this, a ample knowledge of tourism. This study adopted the
discursive methodology with the interdisciplinary approach, to facilitate understanding
of the relationship between creative tourism and education . In the course of the study,
it was observed that it is essential to spread the broad and interdisciplinary context of
tourism, with the goal of developing economic activities that value local potential, to
improve the quality of life of the population.

KEYWORDS: Tourism Creative. Education. Interdisciplinarity

INTRODUÇÃO

O turismo consiste em uma atividade relativamente antiga, no que se refere a


sua ocorrência, já que incide no deslocamento de pessoas, motivadas por inúmeras

1 Mestre em Administração e Desenvolvimento Rural – UFRPE. E-mail: Danielle.ufrpe@gmail.


com
2 Docente do Curso de Pós Graduação em Administração e Desenvolvimento Rural – UFRPE
E-mail: gilca.xavier@gmail.com
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razões para locais diferentes do seu habitual. No entanto, em relação a estudos e


aprofundamentos técnico-científicos, caracteriza-se por ser uma área relativamente
nova, sobretudo na relação de pesquisas atreladas a áreas correlatas, como
administração, economia, geografia, entre outros, onde esta combinação proporciona
uma vasta visão do turismo, ampliando o seu conceito e conhecimento, não se
limitando a uma atividade voltada e relacionada exclusivamente a viagens.
Nesse contexto, o turismo, a partir da sua atuação na economia, pode relacionar-
se com as características locais de um destino turístico, sendo o turismo criativo
a denominação para esta adesão. Bastante presente nos países desenvolvidos, o
turismo criativo tem sido introduzido no Brasil como uma forma de ampliar a atuação
econômica do turismo baseado nas potencialidades locais (design, artes, arquitetura,
gastronomia, moda, entre outros) com a transformação dos conhecimentos tradicionais
em produtos e serviços, que reflitam os seus valores culturais, proporcionando o
impulsionamento de seus setores econômicos.
Dessa forma, o turismo criativo contribui para a construção da visão holística
do turismo, a partir da análise ampla da possibilidade da sua atuação na economia,
aliada a cultura, por exemplo. É importante que este conhecimento seja introduzido
e impulsionado, inicialmente, no contexto educacional, onde o aprendizado da sua
caracterização, por parte dos discentes de cursos de turismo e áreas afins, torna-se
bastante necessário, proporcionando a ampliação do conhecimento da atividade, bem
como a conscientização de sua importância como propulsora de desenvolvimento, a
partir da criação de novas alternativas econômicas gerando emprego, renda e inclusão
social.
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é refletir sobre a importância de
se pensar no turismo no ponto de vista interdisciplinar, inicialmente incentivado no
contexto educacional, proporcionando assim, uma visão ampla acerca da atuação
da atividade, tomando como exemplo o turismo criativo, que, na sua prática, alia o
turismo, economia e cultura.

METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho, procedeu-se a pesquisa bibliográfica
com uma revisão de literatura sobre o assunto proposto, para a obtenção de um
conhecimento científico entre as questões basilares dos temas envolvidos, com
vistas a discussão destes temas devido a respectiva relevância para a construção do
conhecimento:
-Sobre o processo de aprendizagem, buscou-se autores que abordam e
incentivam o contexto interdisciplinar no ensino
-A respeito da caracterização do turismo, utilizou-se como referência autores
renomados na área que debatem o turismo como uma área multisetorial
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-Por último, sobre o turismo criativo, houve a construção da discussão da relação do


turismo com as potencialidades locais, visando o desenvolvimento de novas atividades
e impulsionamento das existentes, requerendo, assim, dos profissionais do turismo,
uma visão ampla a cerca da sua atuação, visando um conhecimento interdisciplinar
da atividade.
Nesse sentido, buscou-se, como referência, autores nacionais e internacionais,
pelo fato de ser um tema bastante discutido em outros países e ainda em consolidação
no Brasil.

O PROCESSO DE APRENDIZAGEM E SEU CONTEXTO INTERDISCIPLINAR: A


IMPORTÂNCIA DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO AMPLO DO DISCENTE
COMO DIFERENCIAL EM SUA ATUAÇÃO NO MERCADO
A interdisciplinaridade “compreende um processo de integração interna
e conceitual que rompe a estrutura de cada disciplina para constituir um conjunto
axiomático novo e comum a todas elas, com a finalidade de dar uma visão unitária de
um setor do saber” PIAGET (apud DENCKER, 1998, p.32). Consiste na construção de
um conhecimento não fragmentado, possibilitando ao aluno a compreensão de fatos
de maneira holística, a partir do olhar em diferentes prismas, dos temas tratados nas
diversas disciplinas.
O conhecimento adquirido, através da interdisciplinaridade, resulta em um
saber multifacetado e inovador, o que incentiva o discente, como profissional e
cidadão, a ser um agente engajado na formação de mudanças na sociedade e o
auxilia a sua compreensão enquanto parte dela. Além disso, incentiva a construção
de uma formação mais questionadora, de maneira que o ajude a contextualizar os
assuntos abordados na reflexão de suas práticas e valores. Por isso, é importante que
o conhecimento apresentado seja absorvido pelo aluno. LIBÂNEO (2003).
Atualmente, o contexto educacional tem sido diversificado levando em
consideração, geralmente, o perfil almejado do discente e futuro profissional na sua
área de atuação. Dependendo do objetivo final, um aluno pode escolher entre um
curso profissionalizante, técnico, tecnológico e superior, onde cada tipologia possui
a sua característica específica e finalidade. Independente do curso, no tocante da
formação do aluno, os conhecimentos práticos e teóricos precisam ser aliados de
forma que aconteçam conjuntamente, levando a um aprendizado interdisciplinar, uma
visão ampla acerca da sua área profissional pretendida.
Neste contexto, a formação do aluno deve proporcionar uma visão generalizada
da sua área de atuação almejada, mesmo que seja em áreas específicas do mercado de
trabalho, de forma que no término do seu curso, o discente obtenha um conhecimento
aprofundado, bem como o desenvolvimento das suas competências e habilidades,
proporcionado uma garantia de uma carreira de sucesso.
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O incentivo na interdisciplinaridade é de suma importância para a construção


do aprendizado do indivíduo. Neste pensamento, acerca dos saberes necessários á
educação, Morim (2001) afirma a existência de “buracos negros” , devido a existência
de uma deficiência na educação, sendo necessária a atenção destes aspectos na
formação dos jovens e futuros cidadãos:
Sobre o Conhecimento, não há o ensino do seu significado. Muitas vezes,
comete-se os erros pelo fato da percepção ser uma alucinação, exclusivamente
influenciada por ideias e diferenças. O conhecimento é de responsabilidade de todas
as pessoas, sendo necessário compreendê-lo incluindo a possibilidade de erro,
possibilitando a visualização da realidade. Além disso, o conhecimento precisa ser
pertinente, proporcionando a compreensão de todo o conteúdo do conhecimento
e seus diversos aspectos, contextualizando-o o sem fragmentá-lo, evitando a sua
aprendizagem de forma isolada. As futuras decisões devem considerar o erro, através
dos imprevistos, com o estabelecimento de estratégias, sendo corrigidas no processo
de ação.
Sobre a Identidade e Compreensão Humana, todas as ciências podem convergir
sobre a identidade humana, identificando a realidade, singularidade e diversidade do
humano, a exemplo da literatura e não apenas analisar alguns aspectos relacionados
ao campo de estudo.
Da mesma forma, há o incentivo no desenvolvimento da autonomia pessoal,
participação social e gênero humano, ligado a democracia e no desenvolvimento da
ética, bem como a necessidade da auto examinação e auto justificação, de forma
que diminua a incompreensão, sentimento que destrói relacionamentos interpessoais,
diminuindo o sentimento de individualismo que leva a auto- justificação e a rejeição ao
próximo
- Outra questão importante é a condição planetária, onde todas as coisas
possuem conexões: problemas comuns existentes no planeta, bem como o destino
para todos os seres humanos. É difícil a compreensão de todos os problemas que
acontecem em nosso planeta, sendo evitada a restrição destes problemas.
Da mesma forma, Gadotti (2000), fazendo menção a construção Freireana,
afirma que a interdisciplinaridade resulta de um trabalho coletivo e na vivência
da realidade global do professor e do aluno, levando em consideração o perfil,
necessidade e problemas das pessoas:
 Investigação Temática: Procura, pelo professor e aluno, de palavras e temas ge-
radores relacionadas ao cotidiano dos alfabetizandos.
 Tematização: Codificação e decodificação dos temas, buscando o seu significado
social, resultando no surgimento de novos temas, relacionados aos escolhidos
anteriormente.
 Problematização: Busca da transformação do abstrato para o real, resultando na
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identificação de limites e possibilidades visando a sua superação.


Nesse sentido, a interdisciplinaridade tem sido utilizada no contexto educacional
com o objetivo de trabalhar assuntos interligados e importantes nas disciplinas contidas
nos diversos cursos existentes. Uma de suas contribuições deve-se ao posicionamento
crítico dos discentes em temas pertinentes ao seu campo de estudo, bem como na
sua atuação no mercado de trabalho, estando preparado para lidar com as distintas
situações de sua profissão.

A REFLEXÃO DO TURISMO ENQUANTO ATIVIDADE MULTISETORIAL


O turismo, por ser uma atividade social, política, espacial, ambiental, cultural e,
sobretudo econômica possui forte relação com o local onde é desenvolvido, [OLIVEIRA
(2008); CUNHA e CUNHA (2005) e FERNANDEZ (1974)]. Segundo Herman Von
Schullern, o turismo consiste na “soma das operações, principalmente de natureza
econômica, que estão diretamente relacionadas com a entrada, permanência e
deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um país, cidade ou região”.
W. Hunziker e K. Krapf, conceituaram o turismo como: “a soma de fenômenos e de
relações que surgem das viagens e das estâncias dos não residentes, desde que não
estejam ligados a um domicílio permanente nem a uma atividade remunerada”. Jafar
Jafari, definiu turismo como “o estudo do homem longe de seu local de residência, que
satisfaz as suas necessidades; e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram
sobre os ambientes físico, econômico e sociocultural da área receptora” e Oscar de
La Torre, definiu o turismo como um “fenômeno social que consiste no deslocamento
voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente
por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de
residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa
nem remunerada, gerando múltiplas interrelações de importância social, econômica e
cultural” (apud IGNARRA 2003, p.13).
Em todas as definições apresentadas, é possível identificar características
essenciais do turismo como uma atividade ampla em relação a sua atuação no destino
turístico. Ademais, pode-se afirmar que, por consequência, consiste em uma atividade
complexa, que influencia e é influenciada por diversos fatores, levando a dificuldades
na identificação, em sua totalidade, do seu efeito em um local. Nesse contexto, Barreto
(2000) confirma que, no ponto de vista social, o turismo constitui-se um fenômeno
de interação, incluindo o turista e o núcleo receptor, bem como todas as atividades
decorrentes desse processo.
Na economia, o turismo sempre apresenta destaque, sendo considerado como
uma das principais atividades econômicas na atualidade e, por muitos autores, como
uma indústria [Barretto (2007); Gastal (2000); Serrano et al, (2000)] por impulsionar o
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desenvolvimento de outras atividades econômicas, devido a possibilidade de envolver


cerca de 50 setores da economia (Ministério do Turismo - MTUR, s.d.). Desse modo, a
atuação do turismo na cadeia produtiva local torna-se bastante diversificada, pelo seu
efeito multiplicador3, levando a empregabilidade de pessoas que trabalham tanto direta,
como indiretamente na atividade, com diferentes níveis de qualificação, incentivando
o desenvolvimento de iniciativas baseadas em sinergias locais, envolvendo diversos
segmentos e gerando benefícios de forma mais equânime (RODRIGUES, 2007).
Neste contexto, observa-se que o turismo possui, como característica a sua
relação com a economia. No entanto, também é fruto de uma série de fatores, que
ocorrem como consequência das atividades dos estrangeiros, quando estes visitam
um local fora do seu habitual, podendo ser a nível cultural, social, ambiental, entre
outros.

PARA SE PENSAR ALEM DO TURISMO: O TURISMO CRIATIVO COMO UM FRUTO


DE UM CONTEXTO INTERDISCIPLINAR
No decorrer do tempo, há o surgimento de novos conceitos de estratégias que
proporcionem o crescimento econômico aliado a melhorias, no ponto de vista social para
a população residente. A partir disso, surge a economia criativa, sendo a dinamização
dos setores econômicos locais, a partir do desenvolvimento de atividades com base
na produção de bens imateriais e intangíveis com alta relação com a inovação.
A Economia Criativa é um conceito baseado no potencial dos recursos que
se constituem criativos e que proporcionem a geração de crescimento econômico,
aliado ao aumento da qualidade de vida para as populações envolvidas. Consiste na
organização de indústrias originadas, a partir da criatividade individual, habilidade e
talento, detendo um potencial de riqueza e criação de emprego, através da geração
e exploração da propriedade intelectual (DEPARTAMENTO DE CULTURA, MÍDIA E
ESPORTE, 2001).
A exploração do valor econômico dá-se pela imaginação dos indivíduos e
os principais recursos produtivos consistem no conhecimento, criatividade e capital
intelectual no processo de criação, produção e distribuição de produtos ou serviços
(Howkins, 2001). Diversos setores encontram inseridos na economia criativa, como
artesanato, moda e design, compondo o ciclo de criação, produção e distribuição de
bens e serviços, utilizadores do capital intelectual (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES
UNIDAS SOBRE COMÉRCIO E DESENVOLVIMENTO, 2008).
Na economia criativa, existe um vínculo de dependência, no que se refere a
economia, em relação ao talento das pessoas e sua aplicação na introdução de novas
estratégias para a economia, com possibilidade de alteração da estrutura econômica,
3 Definição de Efeito multiplicador - Criação de riquezas (multiplicador de rendas) ou criação de
empregos (multiplicador de empregos) gerada pelos gastos diretos da atividade turística em um deter-
minado destino (OMT, 2005, p. 215).
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originado de uma economia voltada para o conhecimento, baseado em ideias e


inovação, resultando na produção de bens. Há o estímulo na geração de renda,
promovendo a inclusão social, diversidade cultural e desenvolvimento humano, já que
se caracteriza por valorizar a importância dessa diversidade no país, tendo a inovação
como uma estratégia para favorecer as especificidades locais, inclusão produtiva
baseada na economia cooperativa e solidária, além da presença da sustentabilidade
na sua execução, sendo necessária para a promoção do desenvolvimento local e
regional (SEBRAE, 2012).
Nesse contexto, também surge o turismo criativo, tornando a atividade turística
como propulsora desses setores econômicos, já que visa o desenvolvimento da
atividade no contexto inovador, proporcionando a promoção e comercialização do
destino turístico, através do contato e conhecimento das características locais e
singulares por parte dos turistas, proporcionando uma experiência única e inesquecível,
além da organização inovadora da regiões com fins de promoção, desenvolvimento
e comercialização da oferta turística. Essa relação com o turismo torna-se existente,
já que o contexto criativo baseia-se nas diversas formas de expressão do país como
destino turístico (canções, danças, poesias, histórias, imagens e os símbolos) sendo
patrimônio singular da terra e do povo. O patrimônio local torna-se o suporte para o
desenvolvimento do turismo, através do desenvolvimento de atividades baseadas em
sinergias locais, que, mesmo sendo projetos modestos, são criativos e inovadores,
dando oportunidades de envolvimento em diversos segmentos das comunidades
hospedeiras, gerando benefícios de forma mais equânime e localmente apropriados
(RODRIGUES, op. cit.).
Considerado como uma das estratégias de desenvolver setores econômicos
locais, o turismo criativo, bastante desenvolvido nos países desenvolvidos, tem sido
introduzida no Brasil como uma forma de ampliar a atuação econômica do turismo
baseado nas potencialidades locais. Nesse sentido, o turismo criativo contribui para
a construção da visão holística do turismo, com a noção da atuação do turismo e
economia aliado a cultura.
Pode-se afirmar que a turismo criativo surge como uma estratégia com grande
viabilidade a longo prazo, pois a utilização do capital humano e do conhecimento tente
a evitar os retornos decrescentes na economia, já que a utilização de capital natural,
pode levar a uma estagnação do crescimento econômico (SOLOW, 1956), atuando
de forma vinculada as potencialidades locais, associando-se a outros segmentos
produtivos.
A partir do investimento na prática do turismo criativo, surge novos modelos
de consumo baseados no desenvolvimento de tecnologias participativas resultando
uma combinação “multidisciplinar” de aspectos novos e tradicionais, no que se refere
a conteúdos e formas artísticos, de modo que haja uma complementação no que
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se refere a métodos de experimentar a cultura. Nesse sentido, torna-se bastante


importante a utilização da criatividade, investindo na bem como a sua pesquisa e o
desenvolvimento atividades de atividades que utilizem recursos naturais e culturais,
viando a revitalização e crescimento das econômicas locais de maneira sustentável
(COMISSÃO EUROPEIA, 2010). Além disso, o conhecimento amplo da atividade
turística resulta no aumento das possibilidades de se investir no turismo, no ponto de
vista criativo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A visão ampla do turismo, enquanto uma atividade intersetorial, pode
proporcionar a um conhecimento a acerca da sua atuação no destino a ser visitado,
tanto no cunho econômico, como no social, cultural, entre outros. Nesse sentido, o
turismo não deve ser pensado apenas como um aspecto ligado apenas as viagens,
mas como uma atividade que exerce influência no destino turístico de uma maneira
bastante ampla e diversa.
A partir disso, a interdisciplinaridade, quando utilizada na educação, auxilia tanto
na formação acadêmica, por possibilitar um aprendizado com amplo conhecimento,
evitando uma unilateralidade como no profissional, já que este conhecimento
abrangente auxilia no desenvolvimento de habilidades e competências, baseados em
um vasto contexto.
Independente de seu nível de formação, a escola, possui um papel fundamental
na construção da capacidade crítica dos alunos, através da discussão de assuntos
indispensáveis ao conhecimento dos mesmos, pois a bagagem teórica serve como
orientação de aspectos importantes para a prática profissional de forma a capacitar o
colaborador. Espera-se que o ensino esteja inserido neste contexto e trabalhando junto
para embasar o conhecimento do futuro profissional. Visto o exposto, independente
das disciplinas, deve-se desenvolver conhecimentos relevantes para a atuação em
qualquer setor.
A cerca do turismo, percebe-se a incipiência no que concerne a extensa
formação dos seus discentes, fato que compromete a visão do turismo enquanto
atividade multisetorial. Este fato pode ser exemplificado pela atual posição e atuação
do turismo no Brasil, pois mesmo com tantos profissionais no mercado e até no poder
público, não há um investimento adequado da atividade, mesmo com todo o potencial
existente. A visão do turismo em países desenvolvidos, enquanto uma atividade que
pode gerar diversas relações, é bem superior ao Brasil, mesmo com todo o potencial
existente no nosso país. Neste contexto, o turismo criativo sendo uma estratégia
inovadora propicia o desenvolvimento e inclusão social ao mesmo tempo que trabalha
e divulga as potencialidades locais, sendo um destino altamente competitivo. Mesmo
sendo uma opção para expandir os setores econômicos locais, No Brasil, ainda está
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bem principiante o desenvolvimento desta estratégia, sendo também, resultado da


educação turística.
O ideal é que haja integração/articulação das disciplinas no curso de turismo,
visando o conhecimento amplo e visualização da realidade, resultando na visualização
dos problemas que permanecem invisíveis. Nesse contexto, a visão ampla do turismo
construída a partir da academia, favorece o desenvolvimento do turismo, aumentando
possibilidade de potencializar o turismo como atividade propulsora de diversas
atividades econômicas aliando os benefícios da economia com melhorias para a
população local.

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UMA PROPOSTA DE ANÁLISE DA MERCANTILIZAÇÃO DA TRADIÇÃO


MUSICAL NA VESPERATA DIAMANTINENSE: UM CONTRAPONTO AOS
MODELOS ANALÍTICOS DE DESCARACTERIZAÇÃO E HIBRIDISMO CULTURAL
Mariana da Conceição Alves1
Alan Faber do Nascimento2

Resumo
O presente artigo busca, por meio de um modelo teórico-metodológico
materialista, histórico e dialético analisar a mercantilização da tradição musical
diamantinense expressa na produção das vesperatas - principal produto turístico
do município mineiro de Diamantina. Para tanto, o estudo inicia-se problematizando
os modelos analíticos que versam sobre as noções de descaracterização cultural e
hibridismo. A ideia é mostrar como tais análises efetuam uma leitura formal e não-
dialética das vesperatas, ao estabelecer uma relação de continuidade com as antigas
serenatas e retretas públicas, ainda que mediada por processos de homogeneização
ou hibridação. Ao contrário disso, procuramos mostrar que a vesperata é uma
mercadoria, cuja reprodução necessita da tradição como forma de tornar legível um
produto turístico para o consumo.

Palavras-chave: Vesperata. Mercadoria. Dialética. Hibridismo.


Descaracterização cultural.

Abstract

This article seeks, through a materialist, dialectical and historical theoretical


and methodological model to analyze the commodification of diamantinense musical
tradition expressed in the production of vesperatas - main tourism product of the town
of Diamantina. For both, the study begins questioning the analytical models that
deal with notions of mischaracterization and cultural hybridity. The idea is to show
how such analyzes perform a formal and non-dialectical reading of vesperatas, to
establish a relationship of continuity with the old serenades and public retretas, even if
mediated processes of homogenization or hybridization. In contrast, aim to show that
the Vesperata is a commodity whose reproduction need of the tradition as a way to
make  readable a tourist product for consumption.

Keywords: Vesperata. Merchandise. Dialectics. Hybridity. Cultural


1 Bacharel em Humanidades e bolsista do projeto de pesquisa “As vesperatas como um produto
turístico: uma proposta de análise de sua pauta musical” - Universidade Federal dos Vales do Jequiti-
nhonha e Mucuri. E-mail:mariana.sp15@hotmail.com
2 Doutor em Geografia Humana e Professor do curso de Turismo. Coordenador do projeto de
pesquisa “As vesperatas como um produto turístico: uma proposta de análise de sua pauta musical” -
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. E-mail: alan.faber@ufvjm.edu.br
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mischaracterization

INTRODUÇÃO

Além do conjunto arquitetônico setecentista e das belezas naturais que compõem


a paisagem da cidade de Diamantina, localizada no Alto Jequitinhonha, no estado
de Minas Gerais, encontra-se um elemento inerente à sua história, a musicalidade.
Enraizada na cultura diamantinense, a efervescência musical está presente de tal
modo que é usual o comentário de que em cada família moradora da cidade há pelo
menos um músico. Não por acaso, a tradição de execução de serestas e serenatas
tornou Diamantina mundialmente conhecida como a “terra nacional da serenata” –
título que, frequentemente, permeia os noticiários, apresentando o município, também,
como a “Cidade Musical de Minas Gerais”.

São muitos os fatores sociais e históricos que explicam a musicalidade


diamantinense. Uma hipótese plausível para o surgimento dessa expressão cultural
está relacionada com aquilo que a historiadora Laura de Mello e Souza (1997) chamou
de “sociedade movediça”. Grosso modo, o argumento gira em torno da ideia de que
nos arraiais auríferos não houve, de imediato, uma estrutura social hierarquizada
como ocorreu, por exemplo, no nordeste açucareiro. Os arraiais eram constituídos
e desconstituídos ao sabor das descobertas de novas jazidas, de modo que, num
contexto assim, era difícil uma tradição se manter. Prova disso é o descrédito dos
formalismos expresso nos hábitos e costumes de homens e mulheres: era comum,
durante as missas, as mulheres cruzarem as pernas, algo impensável em sociedades
mais rígidas, bem como o fato de os homens não usarem perucas e sapatos de
saltos. Contudo, a ausência de uma tradição não significou que ela não tenha surgido,
posteriormente, como tarefa a ser cumprida. E são justamente os letrados, classe
ociosa enriquecida pela mineração e a quem se começa a atribuir foros de nobreza,
que se encarrega de tal empreendimento, seja, por exemplo, pela dedicação às letras
e viagens ao exterior, notadamente à cidade portuguesa de Coimbra, ou por meio de
grandes somas de dinheiro destinadas à contratação de músicos e composição de
peças musicais3.

Para além das hipóteses teóricas sobre sua formação, o fato é que a tradição
musical diamantinense persiste até os dias de hoje, a ponto de ser apropriada pelo

3 Sem excluir a anterior, outra interpretação possível sobre a floração artístico-musical das Mi-
nas Setecentistas está relacionada à atuação das Irmandades e Ordens Terceiras e seus múltiplos
papéis desenvolvidos no território mineiro.
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turismo. Dessa apropriação, a chamada Vesperata4 é, sem dúvida, a que mais chama
atenção, tanto que é apresentada pelas agências e operadoras turísticas como
o principal atrativo local. É interessante notar que, embora as vesperatas sejam
apresentadas pela mídia como uma tradição que remonta às antigas tardes vesperais
e retretas públicas de fins do século XIX, a pauta do evento é, paradoxalmente,
dominada por músicas do repertório mundial e nacional. Alguns autores têm interpretado
esse paradoxo com base na ideia de descaracterização cultural, isto é, em razão
da turistificação das apresentações musicais e dos processos de homogeneização
induzidos pelo mercado, estaria ocorrendo a perda de identidade das vesperatas. Já
outros entendem que se trata de um fenômeno de hibridismo cultural, uma vez que a
cultura nunca permanece a mesma, porquanto se modifica, se transforma, em uma
palavra, se hibridiza nos diferentes contextos históricos e sociais.

Consideramos, contudo, que tais análises efetuam uma leitura formal e não-
dialética das vesperatas, ao estabelecer uma relação de continuidade com as antigas
serenatas e retretas públicas, ainda que mediada por processos de homogeneização
ou aculturação. Nossa hipótese é, portanto, outra. A nosso ver, as vesperatas se
originaram e são formadas enquanto um produto turístico5, cuja produção, se, por um
lado, se apropria de referências tradicionais; por outro, faz do tradicional algo para ser
visto, e não vivido, isto é, como citação que serve para familiarizar o consumidor a uma
determinada mercadoria. Aprofundando nesse debate, este artigo tem como objetivo
efetuar uma leitura dialética6 dos termos entre turismo e tradição, tomando como
4 A título de descrição, a Vesperata ocorre entre os meses de março e outubro, período em que a
estação seca permite as apresentações feitas ao ar livre na rua da Quitanda, situada no centro histórico
da cidade. O evento fica por conta da banda do 3º Batalhão da Polícia Militar e da Banda Mirim Munici-
pal Prefeito Antônio de Carvalho Cruz. Os músicos, trombonistas, trompetistas, flautistas, saxofonistas
e clarinetistas, se apresentam no alto das varandas de casarões históricos, enquanto o maestro, posi-
cionado ao nível da rua, comanda a orquestra rodeado pelo público que comprou uma mesa servida
pelos bares e restaurantes da rua da Quitanda. Isolando esse público do restante dos espectadores,
há uma corda suspensa por pedestais, que segue da parte baixa da rua até a sua porção mais alta, na
altura do antigo Grande Hotel, formando uma espécie de quadrilátero.

5 O nosso entendimento a respeito do conceito de produto turístico não se limita apenas a


visão técnico-administrativa do turismo que a define como um produto formatado para ser oferecido
aos turistas que inclui os atrativos, equipamentos e serviços. A utilização do termo neste artigo vai um
pouco mais além: refere-se a produto turístico no sentido de uma mercadoria que está ligada a lógica
da mercantilização dos conteúdos populares e da abstração de seus contextos sociais em razão de sua
comercialização.

6 No caso desse estudo, acreditamos que o materialismo-histórico dialético nos permite


fundamentar materialmente os processos culturais, buscando desse modo, as determinações históricas
e materiais da cultura e das mudanças culturais engendradas pela atividade turística. Segundo Alves
(2011), o materialismo histórico-dialético é apontado como um dos procedimentos metodológicos do
campo das ciências sociais utilizados nos estudos em turismo. Afinal, “o método dialético crítico, ou
materialismo histórico dialético, proposto por Marx, auxilia no desvendamento do fenômeno social,
a partir de uma análise que parte da estrutura e busca, na história, sua gênese, contemplando a
articulação dos múltiplos fatores sociais” (ALVES, p.604,2011).
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referência o caso das vesperatas. A ideia é problematizar dois modelos analíticos- a


descaracterização cultural e o hibridismo, que têm sido, constantemente, utilizados
nas produções acadêmicas para discutir as contradições existentes no evento. Mais
precisamente, o objetivo é demonstrar a Vesperata como um evento que já nasce como
um produto turístico e que apresenta contradições em seu repertório mundializado, no
seu esforço em transmitir uma ideia de autenticidade e na quantidade de citações que
permeiam a sua realização presentes nos signos de consumo e no uso de formas
sígnicas ligadas ao imaginário das cidades históricas.

Para discutir o modelo analítico pautado na ideia de descaracterização,


realizou-se uma pesquisa bibliográfica com base em autores que sustentam esse tipo
de interpretação, a exemplo das discussões realizadas por Antônio Carlos Fernandes
e Vander Conceição (2007) e Carlos Fortuna (1995). Já para analisar o segundo
modelo interpretativo, a metodologia utilizada se baseou nas reflexões de Néstor
Canclini (2008), autor que discute a hibridação no contexto contemporâneo da cultura
latino-americana, principalmente no México, e no trabalho desenvolvido por Leila
Amaral (2012) – autora que discute como que se dá o processo de hibridação nas
vesperatas. E para analisar as vesperatas como um produto turístico, os procedimentos
metodológicos compreenderam: pesquisa de campo de caráter observativo, realizada
durante a execução das vesperatas; pesquisa documental nos arquivos cedidos pela
Secretaria de Cultura, Turismo e Patrimônio de Diamantina; as pautas musicais das
vesperatas feitas entre os anos de 2012 e 2013; uma pesquisa de opinião realizada pela
prefeitura municipal no ano de 2013; as pautas dos anos de 2003 e 2009 cedidas pela
Banda do 3° Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais7, mais pesquisa bibliográfica
focada nos textos de Eric Hobsbawn (2013), e Renato Ortiz (1994).

A DESCARACTERIZAÇÃO CULTURAL: UM DEBATE SOBRE PERDA DE


IDENTIDADE E AUTENTICIDADE

A problemática da descaracterização das festas populares e das manifestações


culturais, comumente, está vinculada ao desenvolvimento da atividade turística.
Este argumento por sua vez, se desenvolve em um embate dualista entre tradição e
modernização, autenticidade e inautêntico, diversidade e homogeneização. Contudo,
por mais que o alcance explicativo da noção de descaraterização cultural tenha
sido reduzido, devido às revisões teórico-metodológicas ocorridas no campo da

7 O motivo da escolha em se trabalhar com pautas dos anos de 2003,2009,2012 e 2013 foi a ne-
cessidade de observar a evolução do repertório musical ao longo dos anos, algo que só seria possível
através da análise de pautas mais antigas e de pautas mais recentes. Porém, a intenção era trabalhar
com pautas anteriores a 2003, mais precisamente dos anos iniciais do evento, mas, uma das dificul-
dades desta pesquisa foi encontrar as pautas musicais da vesperata, já que muitas delas não foram
conservadas nem tão pouco guardadas.
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antropologia, as análises sobre a perda de autenticidade de formas culturais continuam


subjacentes no meio acadêmico.

Em particular, um dos autores que trabalhou o conceito de descaracterização


cultural no campo do turismo é Carlos Fortuna. Baseando-se em Boorstin(1961),
Fortuna(1995) introduz sua discussão através do relato de uma situação corriqueira
em que uma mãe andava, tranquilamente, com seu filho quando, em dado momento,
se encontra com uma velha amiga. Além dos assuntos costumeiros, a mãe recebe um
elogio devido à beleza de seu filho e, orgulhosa, ela responde de maneira categórica:
“isto não é nada...Devias de ver a fotografia!” Desnecessário dizer que essa situação
não se limita, portanto, apenas a um simples encontro casual, seguido de um elogio.
Por trás do pitoresco, existe todo um contexto de “desrealização do mundo” (termo
utilizado pelo autor), que muitas vezes, é atribuído à imprensa e à televisão. O que
se infere do caso é um contexto em que a representação se tornou mais real que a
realidade. É nesse sentido, também, que o autor irá afirmar que o turismo e o turista são
sinais da “arte perdida de viajar”, porque a experiência real se diluiu, transformando-
se em um objeto de descaracterização sociocultural: “instrumentalizados à medida
que o consumo se apoia na cultura visual, o espetáculo e a imagem tornaram-se o
ingrediente por excelência do ato turístico” (FORTUNA,1995, p. 20).

Outro autor que trabalha no âmbito desse modelo interpretativo é John Urry
(1990). A título de ilustração, o autor salienta que o turismo de massa promove o
deslocamento de pessoas que buscam sua satisfação em atrações com pouca
autenticidade. Nesse processo, a “realidade” não é levada em consideração, o que
provoca a produção de exibições excêntricas que seduzem o turista, mas que, ao
mesmo tempo, provocam um afastamento da comunidade.

(...) Isolado de um ambiente acolhedor e das pessoas locais, o turismo de


massa promove viagens em grupos guiados e seus participantes encontram
prazer em atrações inventadas com pouca autenticidade, gozam com
credulidade “pseudo-acontecimentos” e não levam em consideração o
mundo “real” em torno deles. Em consequência, os promotores do turismo
e as populações nativas são induzidos a produzir exibições cada vez mais
extravagantes para o observador de boa-fé que, por sua vez, se afasta cada
vez mais da população local. (URRY, 2001, p.23).

Tomando como referência, agora, o nosso objeto de estudo, Fernandes e


Conceição (2007) irão pautar suas análises sobre as transformações pelas quais as
vesperatas passaram ao longo dos anos como base na ideia de descaracterização
cultural. Vale dizer que, em sua análise, os autores fazem um resgate histórico das
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diversas apresentações musicais realizadas no século XIX na cidade Diamantina.


Chamam a atenção para as apresentações musicais do “Anjo da Meia Noite”, época
em que João Batista de Macedo, o maestro Piruruca, começou a reger as retretas
executadas pela banda militar de uma maneira diferente, cuja principal característica
era a distribuição de grupos de músicos e solistas nas sacadas dos sobrados:

(…) É uma fantasia muito bem elaborada, cuja melodia oferece aos
instrumentistas a possibilidade de executarem os solos em uma situação
bastante parecida com um sistema de pergunta e resposta, como se os
músicos estivessem praticando uma provocação musical, com destaque,
sobretudo, para os trompetes, trombones e bombardinos. Oferece uma
execução especial para o prato, destacando doze badaladas, as quais, nos
tempos da Sé antiga, algumas vezes ganharam a participação do bimbalhar
do sino da igreja, numa feliz inovação. O nome registrado nos frontispícios dos
manuscritos da partitura é italiano: La Mezza Notte. Sua autoria é atribuída
ao maestro D. Carlini. (FERNANDES, CONCEIÇÃO,2007, p.103)

No que aqui nos concerne, o importante é que, em vários momentos da análise,


os autores desenvolvem a ideia de que a Vesperata é um evento que já ocorria desde
o século XIX e que foi retomado no dia 16 de agosto de 1997:

(...) quando em 16 de agosto de 1997, durante o lançamento do Programa


Nacional de Turismo Cultural do Ministério da Cultura, foi retomada a secular
tradição musical diamantinense, idealizada pelo maestro João Batista de
Macedo, o grande maestro Piruruca, em suas apresentações com a Banda
Militar: os grupamentos de músicos eram destacados nas sacadas dos
sobrados, sendo regidos pelo maestro no centro da praça, ladeado pelo
público ouvinte. (FERNANDES e CONCEIÇÃO, 2007, p.176).

O que se infere de tais análises é que teríamos dois momentos de uma mesma
unidade. Num primeiro momento, teríamos as antigas serenatas e retretas públicas,
conduzidas pelo maestro Piruruca, à época, responsável por uma inovação nas
apresentações, ao organizar os músicos nas sacadas dos casarões; e num segundo
momento, caracterizado pela turistificação das apresentações a partir de 1997,
estaria ocorrendo a perda de identidade das vesperatas, devido à homogeneização
induzida pelo mercado. Assim, segundo esse modelo de análise, há um processo de
descaracterização de uma festa – que, todavia, guarda significados oriundos de seus
primórdios, quando, ainda, era designada como “O Anjo da Meia Noite” – cujo sentido
é sua transformação numa mercadoria qualquer.

Exposto, portanto, esse modelo analítico sobre as vesperatas, passemos agora


para as interpretações que as compreendem em termos de hibridação cultural.
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ENTENDENDO A VESPERATA EM TERMOS DE HIBRIDAÇÃO

O conceito de hibridismo cultural foi desenvolvido sistematicamente pelo


antropólogo Néstor Canclini. Em sua obra paradigmática “Culturas Híbridas”, Canclini
(2008) define a hibridação como um processo em que práticas ou estruturas que,
inicialmente, tinham sua existência independente se combinam gerando novas
práticas, objetos e estruturas. É o que se passa, por exemplo, com uma rua que, em
razão de seu desenvolvimento, abriga diferentes épocas e estilos ou com a própria
gastronomia de um local que incorpora diferentes elementos tornando-se híbrida8.

É importante sublinhar que a noção de hibridismo é apontada por Barreto e


Santos (2006) como uma das mais recentes contribuições nos estudos antropológicos
para discutir as transformações ocorridas no campo da cultura. Tal modelo analítico
tem sido utilizado para superar as análises baseadas em termos de descaracterizações
sociais, impactos e autenticidades que nortearam o debate acerca do tema até a
década de 19909. Mais ainda, para esses autores, o hibridismo permite enxergar a
cultura como algo dinâmico, e não como um sistema fechado, tal como ocorre com
a noção de aculturação. Isso porque o hibridismo parte do pressuposto de que a
cultura se hibridiza nos diferentes contextos históricos e sociais, não permanecendo
estática. É o que se passa com as manifestações culturais dos jovens balineses.
Apoiando-se em McKean(1989), Santos e Barreto(2006) ressaltam que as mudanças
ocorridas no artesanato, nas danças e nas demais manifestações culturais da região
em função da comercialização turística representou um verdadeiro processo de
convívio entre o tradicional e o moderno. Uma vez que, a comercialização de sua arte
é uma forma de manter viva uma tradição e uma identidade que se hibridizam com as
habilidades valorizadas pelos turistas, não representando dessa forma, o resultado de
descaracterização cultural tampouco de aculturação.

No tocante à questão das vesperatas, Amaral (2012) é uma das autoras


que se apoiam nas ideias de Nestor Canclini. Chamando a atenção para algumas
tensões existentes, ela identifica no campo econômico, a exploração entre público e
privado, além da tensão existente na relação com o patrimônio. Na primeira tensão,
a economia é vista como um campo de lutas e posicionamentos entre os agentes.

8 Alguns trabalhos foram desenvolvidos para discutir a hibridismo existente na gastronomia.


Como exemplo da utilização deste modelo teórico analítico temos a discussão levantada por Santos et
al. (2007) sobre o hibridismo gastronômico na rua Coberta em Gramado. No caso estudado, os auto-
res verificaram que a gastronomia local comumente conhecida como uma demonstração da culinária
alemã não pode ser entendida apenas dessa forma, afinal é fruto de uma interculturalidade em razão
da combinação de diferentes elementos e práticas que torna os pratos híbridos.
9 É importante destacar que o próprio Canclini já apontava essa necessidade no campo da cul-
tura em sua obra “Culturas híbridas”, isso porque a ideia de hibridação “serviu para sair dos discursos
biologísticos e essencialistas da identidade, da autenticidade e da pureza cultural” (CANCLINI,2003,
s/p.).
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Nesse sentido, cada indivíduo tem uma posição diferenciada dentro dessa estrutura
e por isso defende seus interesses e posicionamentos, criando um campo de lutas.
A segunda tensão é a contradição presente na exploração privada e econômica de
bandas públicas como a do Terceiro Batalhão da Polícia Militar e a Banda Municipal
Mirim Prefeito Antônio de Carvalho Cruz. E a terceira tensão se traduz nos anúncios
presentes no sítio eletrônico da agência responsável pelo evento, a agência Minhas
Gerais: “A Vesperata, por seus elementos culturais riquíssimos e fortíssimos sendo
um deles a musicalidade diamantinense é considerada um Patrimônio Imaterial da
cidade.” Ora, afirma a autora, o único bem intangível patrimonializado diamantinense
é o toque dos sinos das cidades mineiras, ainda que Diamantina seja Patrimônio
Histórico Cultural desde 1938 e da Humanidade desde 1999. Assim, na sua visão,
a utilização desse discurso existe para legitimar e reforçar a exploração de uma
manifestação cultural: “tal uso encobre uma série de questões como, por, exemplo,
para quem são as vesperatas de fato, bem como a relações de poder que estão
implícitas no uso do discurso do patrimônio para referenciar os usos que delas se faz”
(AMARAL, 2012, p.19).

Mas Amaral (2012) não se limita a problematizar os paradoxos existentes nas


vesperatas, posto que recorre a ideia de hibridação para discutir suas transformações.
Segundo a autora, o modelo teórico pautado na noção de hibridismo cultural
proporciona sair dos discursos biológicos e existencialistas, permitindo a explicação e
identificação de alianças fecundas existentes, já que é necessário entender como as
práticas históricas se misturaram e se constituíram. Assim, a autora se depara com
o seguinte questionamento: como se dão os processos de hibridação no caso das
vesperatas? A resposta encontra-se na reconversão do patrimônio:

(...) percebendo as Vesperatas como reconvertidas em um novo contexto,


desloca-se o estudo da identidade para a heterogeneidade e a hibridação.
Temos então dois momentos fundamentais: o das práticas discretas- o Anjo
da Meia Noite - e a hibridação - As Vesperatas. Não se trata de definir uma
identidade musical para, a partir dela, reafirmar a relevância e a importância
das práticas exercidas nessa manifestação cultural, mas sim de tentar
percebê-la em toda a sua heterogeneidade na reconversão (AMARAL, 2012,
p. 20).

Tomando como ponto de partida a própria etimologia da palavra tradição, que


vem do latim traditio e significa algo que uma geração entrega para outra, a Vesperata
é entendida como fruto de uma tradição musical que foi sendo, ao longo do tempo,
transformada por elementos culturais oriundos de diferentes contextos históricos. É
evidente que o argumento é plausível, no entanto, tal como no caso do modelo analítico
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fundado na ideia de descaracterização cultural, permanece a ideia de “continuidade”


com o passado, ainda que mediada por processos de hibridação ou aculturação. Ora,
o problema de noções como de hibridação e aculturação é que parecem operar uma
separação entre cultura e realidade socioeconômica, em parte porque abstraem as
determinações histórico-materiais da cultura, em parte porque não atentam para as
mediações culturais sobre os processos sociais e econômicos. Ora, é preciso situar
sócia e historicamente o campo simbólico-cultural, já que não se trata de mera questão
de encontro de universos simbólicos.

A VESPERATA ENQUANTO UM PRODUTO TURÍSTICO

Quantas vezes ao vermos imagens das cidades históricas mineiras nos meios
de comunicação de massa imaginamos construções históricas e elementos da vida
colonial permeando a vida cotidiana? E o que dizer dos pacotes de férias em que
as operadoras e agências exploram o turismo de sol e praia alimentando nossa
imaginação com referências ao bom tempo e a felicidade? Ou ainda, como afirma
Baudrillard (1972), o sol das férias já não guarda o significado de relação de vida e
morte que os astecas e os egípcios compartilhavam coletivamente, pois agora, é um
signo positivo que se opõe ao mau tempo e a chuva. Essas experiências que, muitas
vezes, passam despercebidas nos revelam a forte presença dos signos em nosso
cotidiano.

De fato, segundo Ortiz (1994), a principal novidade trazida pelo movimento


de mundialização da cultura foi a criação de um imaginário coletivo internacional
composto por um sem-número de referências sígnicas produzidas pelos meios de
comunicação de massa. Tal como um filme-global, produzido, dirigido e financiado
por agentes de diferentes nacionalidades, a formação desse imaginário sintetiza
signos e referências culturais mundialmente reconhecidos. Desse modo, semelhante
a um texto semiológico, o que tais espaços oferecem ao transeunte é um conjunto
de signos encarnados em objetos que tornam a abstração legível, reconhecível.
Dito de outra maneira, podemos dizer que a mundialização da cultura engendra dois
momentos: o da desterritorialização pelo signo e o da reterritorialização por um objeto
de consumo (ORTIZ, 1994). No primeiro momento, cria-se o signo que, ao contrário
das formas simbólicas, não se realiza enquanto representação do real, porquanto se
trata de forma autonomizada, podendo, portanto, circular livremente, independente do
território e do tempo histórico: “retirados do contexto original, uma cornija egípcia ou
um panteão ao ar livre podem coabitar ao lado de arcos clássicos ou góticos” (ORTIZ,
1994, p. 110). E num segundo momento, o signo se reterritorializa em objetos de
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consumo, isto é, em mercadorias cuja abstração demanda uma citação que as tornem
legíveis para o consumo. Assim, a nosso ver, o uso desses signos na realização das
vesperatas corresponde ao momento de reterritorialização das abstrações realizadas
pela forma-mercadoria, expressas, por exemplo, no cordão de isolamento que abstrai
os conteúdos populares das vesperatas ou no próprio nome que o evento leva (ele
mesmo uma citação, pois deriva de Vênus, o planeta que, na astrologia, simboliza a
paixão e o amor romântico), convertido em marca e objeto, inclusive, de contendas
por direitos de propriedade.

É interessante notar a quantidade de citações que permeiam a realização de uma


vesperata. Elas estão presentes no repertório povoado por referências fonográficas
mundializadas, nos signos de consumo (marcas) de uma lata de refrigerante, e no uso
de formas sígnicas ligadas ao imaginário das cidades históricas, a exemplo da luminária
e do clarinete, eleitos pelo marketing turístico como os carros-chefes da identidade
musical da cidade. Em relação à primeira classe de signos, cumpre destacar que a
pauta do evento contém músicas de diversos estilos, oriundas de diferentes épocas
e partes do mundo como a valsa “Ondas do Danúbio” de Ivan Invanovici, a seleção
de músicas do filme “Nos tempos da brilhantina”, a opereta demonstrada na música
“Cavalaria Ligeira” de Franz Von Suppé, o rock de Los Bravos em “Black is Black”, a
peça sinfônica “La Mer” de Charles Trenet, além de composições internacionais como,
“Granada”, “New York, New York”, “Can’t take my eyes off you”, “Besame Mucho”
e “How deep is your love”, bem como composições nacionais como “Aquarela do
Brasil”, “Carinhoso”, “Sampa”, “Canção da América” e “Borbulhas de Amor”. Por outro
lado, é pequeno o espaço dedicado às músicas propriamente locais e regionais, a
exemplo dos “Coretos de Diamantina”, compostos por músicas como “Diamantina em
Serenata”, “As Ruas e a Seresta”, “Peixe Vivo” e “Joia Rara”.

Assim, contrariando as discussões que entendem a Vesperata em termos de


descaracterização ou hibridismo, vários elementos nos indicam o seu caráter abstrato
e mercadológico, cuja presença não é apenas atual, posto que permeiam o evento já
há alguns anos. Desse modo, cumpre citar algumas músicas presentes no repertório
da Vesperata do dia 17 de maio de 2003, quando o evento possuía apenas seis anos de
existência. O repertório foi iniciado com a composição de Franz Von Suppé “Cavalaria
ligeira”, que costumeiramente aparece nas vesperatas mais recentes realizadas nos
anos de 2012 e 2013. Porém, a presença de músicas que são conhecidas por qualquer
frequentador atual do evento não se limita apenas a essa canção. No mesmo dia,
também, foi executado “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso e canções que recordam
os anos 1960. Do mesmo modo, a Vesperata realizada no dia 26 de abril de 2003,
igualmente, mostrou um repertório mundializado, sendo composto por músicas como
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“Tributo a Lupício”, “Love is All”, “Ibiza Dance” e “Dime”. A título de ilustração sobre
esses diversos estilos presentes no evento, vale citar que em uma das vesperatas do
ano de 2013 foi introduzida uma música do estilo sertanejo, intitulada “Apaziguar” de
Bruno e Marrone, com a utilização de referências sígnicas como: “vivemos um tempo
de guerra, por vezes velada, não declarada, mas ainda assim, guerra. Nos lares, nas
ruas, nas empresas, há sempre uma luta pelo poder, pelo dinheiro, pelo status social”.
Além disso, na Vesperata desse mesmo dia, foi acrescentada uma das músicas tema
de uma telenovela global no repertório: “Esse cara sou eu”, de Roberto Carlos.

Relacionada à observação anterior, é interessante observar o esforço, por parte


dos organizadores, em transmitir uma ideia de autenticidade. Razão por que abundam
referências ao passado de Minas Gerais, à tradição musical diamantinense e aos
personagens históricos da cidade. É pela mesma razão que Baudrillard (1972) afirma
que o gosto pelo antigo é uma maneira de consagrar o signo simbólico em uma busca
por legitimidade. É evidente que essas alusões não remetem a uma historicidade
concreta. Veja-se, por exemplo, o caso da ex-escrava Chica da Silva e do contratador
de diamantes João Fernandes. Esses personagens representam um dos pontos
altos de uma Vesperata. Eles atraem os olhares dos turistas, que, por sua vez, ficam
ansiosos por uma foto com o casal. No caso destes dois personagens, desnecessário
dizer que tudo se passa como se fosse mais uma das grandes histórias de amor da
literatura mundial. Poderíamos muito bem tomá-los por “Romeu e Julieta” ou “Tristão e
Isolda”. Trata- se, portanto, de uma história mitificada (no sentido atemporal do termo),
porquanto descolada do contexto das minas setecentistas e, por essa razão, sob a
forma de signo, passível de qualquer tipo de combinação.

Efetivamente, o turismo é constantemente divulgado como uma atividade ligada


à busca de experiências diferentes e ao desligamento da rotina ou até mesmo, no caso
das divulgações mais românticas e utilizadoras de certa nostalgia como uma atividade
que trabalha com os sonhos dos outros. Esse pensamento é utilizado principalmente
quando o turismo é entendido enquanto um fenômeno, baseado essencialmente na ideia
do filósofo Edmund Husserl, que entendia a viagem com base na ideia de experiências
vividas, na busca daquilo que se manifesta nas sensações e nos sentidos, ou seja,
naquilo que não se vê. Porém, em nosso entendimento, é importante, no entanto, não
considerar essa questão em termos de uma “autenticidade encenada”, isto é, como se
o turista fosse fraudado em sua busca por autenticidade porque lhe é oferecido pelo
mercado uma região de fachada. O uso de referências sígnicas para a montagem de
um produto parecem deslegitimar esse tipo de argumentação. Apoiando-nos, mais
uma vez, em Ortiz (1994), afirmamos que essas referências funcionam como um meio
de reconhecimento e comunicação, já que, por meio delas, é possível “sentir-se em
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casa” em qualquer lugar e situação vivida. Dito de outra forma, não se trata de fuga ou
mergulho numa realidade fantástica e feérica; pelo contrário, na experiência turística
tudo é costumeiro, não existem surpresas. Aliás, o que é fachada nessa experiência é
a pretensa demanda pelo autêntico, uma vez que o prazer está no reconhecimento,
na identificação daquilo que já se sabe. Sob esse ponto de vista, como definem
Crawshaw e Urry (1995), o turismo é a mercantilização das recordações do outro.

Prova do que estamos argumentando são as reações do público durante


as apresentações nas vesperatas: todos se alegram, cantam em voz alta, erguem
e balançam os braços. Uma das músicas preferidas é “Amigos para Sempre”,
normalmente, cantada no final de uma Vesperata. Por meio das pesquisas de
campo de caráter observativo, constatou-se que os organizadores do evento até
já tentaram trocar essa música por uma outra, mas não conseguiram devido aos
recorrentes pedidos do público. Sobre isso, cumpre observar que, nas pesquisas de
opinião realizadas pela organização, as avaliações do público sobre o repertório são,
majoritariamente, positivas. É o caso de uma pesquisa realizada em 05 de Outubro
de 2013, na qual foram entrevistadas 81 pessoas. Desse total, 79% dos espectadores
avaliaram o repertório do evento como ótimo; 17% como bom; 3% como regular; e
apenas 1% como ruim10.

Por fim, um outro argumento favorável à nossa hipótese está relacionado com a
própria criação da Vesperata. Ainda que, no discurso oficial, o evento seja anunciado
como uma retomada das antigas serestas e retretas públicas realizadas em fins do
século XIX e nas primeiras décadas do século XX, é interessante notar que a primeira
Vesperata feita remonta à campanha para tornar a cidade de Diamantina Patrimônio
Cultural da Humanidade, título concebido pela UNESCO – muito embora, na ocasião,
o nome “Vesperata” ainda não fosse utilizado. A esse propósito, uma situação que
nos leva a refletir sobre o surgimento da Vesperata é um diálogo presenciado em uma
roda de amigos. Nesse cenário, uma garota afirmava não ser diamantinense, mas que
se mostrava fortemente encantada com a tradição existente no município, e prova
disso era a existência da Vesperata. Incomodado com essa fala, um rapaz questionou
o comentário, afirmando que não entendia a constante relação que as pessoas faziam
entre a Vesperata e a tradição musical diamantinense, pois divulgam o evento como

10 Nessas pesquisas, além dos questionários, vale citar as sugestões feitas para a organização
e a montagem de novos repertórios, entre as quais destacam-se: o pedido de entrega das letras das
músicas aos turistas; a inclusão de cantores no evento e corais acompanhando as bandas, bem
como a valorização de músicos jovens; executar apenas músicas nacionais, tocar mais músicas de
compositores mineiros; incluir músicas folclóricas regionais, tocar músicas populares atuais e melhorar
a qualidade do som e das músicas de seresta; e incluir músicas do Clube da Esquina, de Carlos Gomes
e Tom Jobim, além de marchinhas, valsas e dobrados. Vale citar, ainda, a sugestão de que o evento
deveria providenciar um ator vestido de Juscelino Kubitschek para tirar fotos com o público.
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algo antigo, histórico e tradicional, como se acontecesse há vários anos, mas, ele que
mora na cidade desde a década de 1980, só viu o evento acontecer no final dos anos
1990.

O fato é que que as citações ao passado criam a ilusão do hibridismo cultural,


principalmente porque a produção da mercadoria-Vesperata envolve signos do
passado. A esse respeito, importa lembrar que, segundo Hobsbawn (2013), desde
a década de 1970, o número de festivais não cessou de crescer – na Grã-Bretanha,
por exemplo, em 2003, havia 120 festivais de música por ano; em 2006, o número
saltou para 221 apresentações. Todavia, para além das estatísticas, o curioso é que
os festivais floresceram, particularmente, em cidades pequenas e de porte médio
(como é o caso de Diamantina), porque, na visão do autor, requerem certo espírito
comunal que somente em situações excepcionais existe nas grandes metrópoles. Dito
de outra forma, buscamos na cultura aquilo que o processo histórico liquidou, ou,
melhor, informe e poluído, o tecido urbano-industrial, ao mesmo tempo em que nega
a cidade, reivindica a medida dos antigos núcleos e centros históricos, portadores não
mais de uma historicidade concreta, mas sim fictícia e, o mais das vezes, mitificada
(no sentido atemporal do termo), porquanto descolada do seu contexto social.

Desse modo, em nosso entendimento, acreditamos que a produção das


Vesperatas nos remete à problemática das “tradições inventadas”, tal como discutida
por Hobsbawn (2012). Dito de outra maneira, é possível que a Vesperata não tenha
sido criada apenas para reforçar a candidatura da cidade, ao lhe fornecer mais um
“chancela” histórica (ao lado, por exemplo, do calçamento pé de moleque de suas
ruas, que, segundo sugerem algumas fotos tiradas na década de 1970, não são tão
antigos como se diz), mas, também, para aumentar o fluxo turístico de “consumidores
conspícuos”, em razão da sazonalidade da atividade.

Enfim, ao contrário da ideia de descaracterização cultural ou hibridismo, todos


esses argumentos parecem confirmar que as vesperatas são e se formaram enquanto
um produto turístico, isto é, trata-se de um fenômeno histórica e socialmente datado
e determinado (particularmente, por exemplo, num contexto de disputa da cidade
de Diamantina pelo título de patrimônio da humanidade; e, estruturalmente, num
contexto de avanço do capitalismo sobre todos os domínios da vida, a exemplo da
própria cultura, transformada em uma nova mercadoria). De modo que as referências
ao passado utilizadas no evento são apenas formas sígnicas utilizadas para tornar
legíveis uma mercadoria lançada ao público consumidor.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da crítica desenvolvida neste trabalho, o fenômeno turístico é demasiado


complexo para ser esgotado em seus múltiplos significados e implicações. Daí que
nossa intenção não é rotular a atividade turística como um fator tão somente de
mercantilização de culturas, muito embora o seu desenvolvimento tem sido associado à
perda de laços temporais e territoriais de tradições, conforme procuramos demonstrar.
Assim, se, por um lado, a relação entre turismo e cultura no contexto contemporâneo
pode ser interpretada e criticada em termos de transformação da tradição em formas
sígnicas para o consumo de mercadorias; por outro, é preciso reconhecer que a
atividade, também, tem contribuído para o fortalecimento e resistência cultural num
processo em que o moderno e o tradicional estão em permanente comunicação e
renovação. A título de ilustração, note-se o caso das relações entre turismo e a cultura
dos índios Pataxó, num processo em que o artesanato tradicional local foi reelaborado
pelo desenvolvimento turístico, uma vez que a fabricação de gamelas para os turistas
manteve preservados os significados ligados ao antigo modo de vida indígena, ao
mesmo tempo em que ela ganhou uma nova significação expressa na sua moderna
configuração comercial (GRUNEWALD, 2003).

Em nosso entender, essas observações justificam a necessidade de se


repensar a relação entre turismo e cultura segundo os mais diversos modelos teóricos,
apontando os limites e as possibilidades de cada modelo teórico empregado. No
caso do materialismo histórico-dialético, devemos enfatizar que tal modelo analítico
nos permite, por meio das contradições entre turismo e cultura, identificar sínteses
possíveis. Afinal, como atesta a máxima segundo a qual o capital somente consegue
contornar as barreiras que lhe são inerentes empregando meios que, novamente
e numa escala mais imponente, fazem erguer diante dele as mesmas barreiras, a
reprodução do existente por meio da generalização da forma-mercadoria acaba,
contraditoriamente, potencializando conteúdos adversos, resistentes e irredutíveis.
Desse modo, se, por um lado, a forma (enquanto lógica) dissimula conteúdos, agindo
seletivamente, na tentativa de se autonomizar em relação a eles; por outro, ela pode
antecipar e potencializar aquilo que é do âmbito dos conteúdos (DAMIANI, 2001).
Dito de outro modo, ao se apropriar/expropriar de tradições e celebrações locais, o
turismo coloca em evidência resíduos de sociabilidade direta, ainda, não totalmente
subsumidos pela lógica do valor, tornando, desse modo, a apropriação (no sentido
agora do uso, e não da troca) uma virtualidade possível. Daí a importância de se pensar
(no caso deste estudo, a apropriação turística da tradição musical diamantinense)
segundo uma perspectiva histórica, material e dialética.
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GERAIS - PAUTAS DA VESPERATA: 2009 E 2013.
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O ESPAÇO TURÍSTICO A PARTIR DA MULTIESCALARIDADE TERRITORIAL:


COMPLEXIDADE E SISTEMATIZAÇÃO CONCEITUAL

Daniel Hauer Queiroz Telles1


Vander Valduga2

Resumo: Há algumas décadas o espaço turístico conforma-se como um conceito


integrador de abordagens científicas. Ao avançar como área de conhecimento autônoma, o
turismo passa a deixar lacunas para a sua abordagem espacial, uma vez que desconsidera sua
concepção ontológica - desde a geografia – em detrimento de sustentações metodológicas,
não raro, insuficientes. Próprio de uma época em que os fluxos se densificam, o turismo
como expressão social de relevância econômica permite à geografia o lançamento de
um olhar múltiplo sobre as relações entre sociedade e espaço. O território em que o
turismo estabelece-se, de modo relevante, está munido de desafios metodológicos para
sua análise. Buscando avançar, a partir de perspectiva multiescalar sobre o turismo, em
dois momentos distintos da discussão – antes e depois da o espaço turístico -, o presente
trabalho de cunho teórico sugere parâmetros integrados à abordagem geográfica do
turismo. Entende-se que, alinhando-se aos desafios do paradigma da complexidade e de
correntes do pensamento geográfico contemporâneo, esta discussão possa redimensionar
as discussões sobre o espaço turístico enquanto categoria de análise da abordagem
geográfica do turismo. Desta forma, apresenta elementos para discussão teórico-
metodológica que possam somar esforços no estabelecimento de superação epistemológica.

Palavras-chave: Espaço turístico. Multiescalaridade. Epistemologia.


Interdisciplinaridade.

Abstract: Touristic space has been proposed as a integrative concept in scientifical analysis for
few decades. To emerge as an autonomous area of k​​ nowledge Tourism create gaps in geographic
perspective of space. Typical of a time when flows grow, tourism as a social expression of economic
relevance to geography allows the release of a multiple look on relations between society and
space. The territory in which tourism is established in a relevant way methodological challenges is
provided for your review. Seeking forward from multiscale perspective on tourism in two distinct
moments of discussion - before and after the deconstruction of space tourism -, this work suggests
a theoretical slant integrated approach to tourism geographical parameters. It is understood
that, by aligning the challenges the paradigm of complexity and streams of contemporary
geographical thought, this thread can resize discussions on space tourism as a category of
analysis of the geographical approach to tourism. Thus presents evidence that theoretical and
methodological discussion that may combine efforts in establishing epistemological overcome.
Key words: Touristic space. Multiscalarity. Complexity. Epistemology. Interdisciplinarity.

1 Bacharel, mestre e doutor em Geografia. Professor Adjunto da Universidade Federal do


Pampa. danieltelles@unipampa.edu.br.
2 Bacharel e mestre em Turismo, doutor em Geografia. Professor Adjunto da Universidade
Federal do Paraná. vandervalduga@gmail.com.
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Introdução

Cada campo do saber tem buscado respostas às suas problemáticas em cada


tempo. No campo científico, os avanços têm ocorrido por rupturas e continuidades,
chamadas por Kuhn (1991) de revoluções científicas, quando os paradigmas são
transformados. Num cenário de diminuição de espaços e adensamento de fluxos,
conceber conhecimentos e interpretações mais abrangentes se torna imperativo. Para
tanto, parte-se do pressuposto de que a natureza de todo o conhecimento consiste
na constituição de uma relação entre o sujeito e o objeto (PIAGET, 1967). O turismo,
enquanto objeto de conhecimento – sem adentrar na definição de campo científico,
ciência e disciplina- avança a passos lentos, configurando-se continuamente como
um campo descritivo, em que metodologias são aplicadas e reaplicadas em diferentes
contextos, a margem do real avanço científico. No entanto, “o conhecimento científico
e a percepção direta não coincidem em absoluto” (VIGOTSKI, 2004, p. 277- 278),
sendo o conhecimento científico, antes de tudo, fruto de abstração.
Para Bachelard (1996, p. 18), diante do mistério do real, a alma não pode,
por decreto, tornar-se ingênua. “É impossível anular, de um golpe só, todos os
conhecimentos habituais. Diante do real, aquilo que cremos saber com clareza ofusca
o que deveríamos saber”. A partir desse “espírito científico” é que este artigo foi
motivado, na interpretação de que esse espírito é essencialmente uma retificação do
saber, um alargamento dos quadros do conhecimento e julga seu passado histórico a
partir da consciência de suas faltas históricas (BACHELARD, 1995).
Parece ser, portanto, uma problemática inerente a abordagem espacial do
turismo a constante investida descritiva de fenômenos, simplificando a complexidade
real do fenômeno sob discursos técnicos cômodos orquestrados por organismos oficiais
e sem a devida crítica acadêmica. Dados esses pressupostos iniciais, reconhece-se
como desafio ao presente trabalho uma reinterpretação da abordagem espacial do
turismo que avance em relação ao paradigma das abordagens tradicionais do espaço
turístico que concorrem à interpretação a partir do fluxo origem-ligação-destino. Essas
interpretações clássicas têm conduzido à interpretação ferramental-funcional do
turismo enquanto setor de serviços da economia, impossibilitando que seus estudos
fossem compreendidos a partir de outras bases (VALDUGA, 2012; TELLES, 2013).
Do ponto de vista de geografia, o espaço turístico é tratado de maneira sectária
e comumente sem uma interpretação ampliada do fenômeno turístico. De modo
semelhante à pouca apreciação por parte das ciências sociais, o turismo recebe
da geografia certa displicência, uma vez que esta se redime em dar sequência a
discussões profícuas já iniciadas, e acabar acomodando-se em apropriações
intelectuais como uma especialidade de alguns interessados. Isto se dá por motivos
que variam desde a impopularidade embutida em um suposto elitismo com relação
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ao assunto, até a dificuldade da própria geografia em estabelecer métodos frente


à condição pós-moderna e complexa do mundo do presente. Na primeira variável,
observa-se prática confortável, uma vez que pode se adequar facilmente à “sedução
do discurso fácil e do consenso imediato”, explicada e acusada por P. C. C. Gomes
(2009), como a “reprodução da banalidade” na geografia (p.27-29). Na segunda,
encontra-se a própria dificuldade desta disciplina em superar suas matrizes diversas
que acabam por obstruir a necessária interação com outras áreas.
A atual relevância do fenômeno turístico nas mudanças territoriais em todo o
mundo é um fato a ser destacado, sem sofrer diminuições por quaisquer que sejam as
razões. Tema em evidência e que tende a se estabelecer em diferentes localidades.
Fato que assola grande desafio ao conhecimento, antes de tudo, sob o ponto de vista
teórico-metodológico, do que catalográfico. Trata-se, neste sentido, de constituir um
raciocínio geográfico (LACOSTE, 2010) que conste em “distinguir e articular diferentes
níveis de análise espacial, que correspondem a levar em consideração conjuntos
espaciais de grande ou pequena dimensão [esta] dimensão metódica dos diferentes
níveis de análise” (p.231) atribui ao desafio em revigorar as abordagens geográficas
do turismo.
A elaboração teórica proposta tem como parâmetros aspectos inerentes ao
espaço geográfico: a multidimensionalidade que abrange o cultural, o político e
o econômico em coexistência, sendo a totalidade do território como expressão
não setorial de uma realidade em transformação, que conduz a discutir, por fim, a
turistificação. E a multiescalaridade enquanto concepção de abertura analítica para a
análise espacial de um fenômeno ou objeto, e recurso epistemológico de apreensão
da realidade.
Pela escala geográfica, em uma definição apenas introdutória, entende-se a
“pertinência do fenômeno observado” (CASTRO, 2009) e do “real como representação”
(Idem. 2002), abrindo a perspectiva de estudos sobre o espaço para uma perspectiva
existencial (SILVEIRA, 2006), ou seja, que verse, não apenas para os fatores de
medição, mas de conteúdo do espaço (HAESBAERT, 2004).
A perspectiva da complexidade a partir do princípio dialógico de
complementaridade, antagonismo e interdependência, somada à perspectiva
analítica da multiescalaridade/multidimensionalidade é apresentada como proposição
de um itinerário metodológico na abordagem espacial do turismo. Nesse contexto,
uma perspectiva territorial do turismo foi proposta considerando a simultaneidade de
ações, o território em relação, de maneira que as fronteiras sejam tomadas apenas
como ponto de partida para a compreensão. Essa perspectiva visa compreender e
ampliar o debate no que se refere ao espaço turístico e a sua noção mais empírica: a
turistificação.
O presente trabalho possui três etapas fundamentais: (i) a utilização das
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noções de multidimensionalidade territorial e multiescalaridade como abertura de


abordagem sobre o turismo no espaço; (ii) a sistematização e desconstrução do
espaço turístico, desde abordagens hipotéticas representativas sobre o turismo no
espaço; (ii) a multiescalaridade como abordagem e reconstrução da noção de espaço
turístico, apontando para um caminho epistemológico a servir de debate comum
na revisitação do espaço turístico. Como resultado, traz-se proposta preliminar de
reconstrução da noção de espaço turístico, no intuito de integrar as vertentes gerais
de base conceitual verificadas na sistematização do objeto, quais sejam: o espaço
geográfico do turismo e o espaço aplicado do turismo. Estas duas perspectivas não
se excluem, tampouco estão em total desavença, mas respondem por uma questão
de embasamento ontológico da própria noção de espaço turístico.
A multiescalaridade é tida como recurso analítico complexo, no intuito de revelar
a complementaridade, o antagonismo e a interdependência de perspectivas sobre
o turismo a partir do espaço. Esse recurso possui duas fases de incorporação na
discussão: a primeira como caminho metodológico que possibilita a desconstrução do
espaço turístico, ao pluralizar as perspectivas de abordagem utilizadas pelo mesmo; a
segunda como caminho epistemológico na qual a própria síntese do espaço turístico,
depois de sistematizada, seja considerada etapa axiomática no esforço de lançar
inteligibilidade não reducionista de base ao turismo.
Após constatar a necessidade de se repensar o espaço turístico, como resultado
da acomodação e divergências de uso que este conceito recebe, a multiescalaridade
pode ser entendida como opção metodológica e epistemológica relevante para
avanços em termos teóricos de abordagens interdisciplinares entre Geografia e
Turismo. Assumindo a incipiência desta proposição, contudo, é necessário abrir o tema
à discussão e testes de aplicação para que fortaleça sua validade ou não, suscitando,
por fim, o porquê dessa constatação. O presente trabalho apresenta como discussão
inicial a problemática do espaço turístico na abordagem geográfica do turismo; num
segundo momento apresenta uma abordagem multidimensional do território no turismo
considerando os preceitos da complexidade e dialógica; no terceiro momento se
propõe a desconstruir, analisar e reconstruir uma sistematização do espaço turístico.

Espaço turístico: a pertinência do conceito para a abordagem geográfica do


turismo

O turismo é um dentre um rol de outros usos na configuração territorial. Por


esta razão, propõe-se entendê-lo não somente como uma camada técnica sobreposta
ao espaço, mas como abertura interpretativa de uma realidade. Atua como uma lente
à procura de conteúdos e que resulte em uma imagem difundida nas diferentes
territorialidades coexistentes, o que não deixa de ser um elemento totalizante na
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identificação espacial. Nesta perspectiva, a sistematização do turismo para o território


se mune de menor pragmatismo como comumente estabelece-se em leituras, por
mais abrangentes que sejam.
Servindo, assim, como um caminho metodológico à procura de conteúdos e que
resulte em uma análise fundamentada de uma realidade espacial complexa. Lidar com
este fenômeno é um desafio científico, não somente pela recente institucionalização
acadêmica da área, mas pela tendência à apropriação de discursos legitimadores
de uma realidade imposta, ao invés de um modo de desvendar a realidade. Por
este fenômeno, em concepções não lineares se pode promover ampliação de novas
relações e perspectivas para este fenômeno.
O tipo, ou tipos predominantes de turismo que se verifica em cada local é
questão subjacente à sugestão anteriormente referida, sendo que os usos turísticos
adquirem particularidades em cada lugar e podem atender a interesses de acordo com
um desencadeamento de ações. É o que se entende por turistificação. Há diferentes
tipos de turistificação e, é sobre isto que a integração das categorias espaço, tempo
e sociedade podem intervir no conhecimento espacial geográfico, de modo que, hoje,
lidar com este fenômeno – o turismo - é um desafio geográfico em aberto não apenas
do ponto de vista epistemológico, mas também ontológico, importância crescente
como indicador de reconfigurações locais e regionais no atual estágio civilizatório do
mundo.
O arcabouço tipológico do turismo adquire particularidades em cada lugar
por conta da integração/desintegração ao processo histórico. É a turistificação como
totalidade, e não como reducionismo analítico, tal como oferecem leituras sobre
produção, aplicação ou promoção do espaço. Não foge a este panorama complexo a
capacidade de tornar inteligível o próprio turismo, uma vez que na noção de território
estão implícitas as relações de poder socialmente instituídas (RAFFESTIN, 1993) que
atendem a interesses de acordo com um desencadeamento de ações multidimensionais,
ou seja, econômicas, políticas e culturais em interdependência (CORRÊA, 2010). Há,
tal qual diferentes tipos3 de espaços, diferentes tipos de turistificação e, é sobre isso
que o território, enquanto totalidade pronta e em construção (SANTOS, 2008), deve
estar apto a embasar uma abordagem geográfica do turismo.
Expostas os variáveis gerais em questão, a preocupação em discutir a relação
interdisciplinar entre Geografia e Turismo, dada a relativa consagração epistemológica
da mesma, evidencia a importância de uma categoria de análise não menos consagrada
em níveis didáticos e de pesquisa. Tal consagração, por sua vez, não se reconhece
sem constatar a diferente natureza ontológica dessas duas áreas do conhecimento,

3 Apesar de reconhecer na tipologia weberiana um exercício analítico passível de


reducionismos, entende-se a tipificação de realidades como uma delimitação introdutória às
abordagens específicas, não excluindo-se a existência de outros caminhos metodológicos sobre os
fenômenos no espaço geográfico.
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o que em termos contextuais possui grande diferença conceptiva. No entanto, a partir


do desafio contemporâneo de superação de paradigmas, não compete à ciência firmar
ranços, mas sim suprir lacunas e vias interpretativas para aberturas da sociedade
do presente. Neste intuito, a pertinência do espaço turístico como categoria central
na formação de uma base notadamente consagrada para a condução de diferentes
metodologias de pesquisa é tida como condição para o tecer da presente discussão.
O espaço turístico constitui-se na categoria de base para as abordagens que se
apoiam em metodologias embasadas em outros conceitos de grande relevância nas
pesquisas em turismo, tais como: paisagem, lugar, região, planejamento territorial,
governança, entre outros. Estas, por sua vez, abrem-se para abordagens ainda mais
específicas, não lhe tirando o mérito científico pela possível superespecialização
conceitual. Independentemente do nível de abstração tomado como base para a
pesquisa, a negligência sobre a natureza dos conceitos e suas proposições mais
consagradas, mesmo que variem para autores e escolas diferentes, é uma atitude
pouco profícua na busca por teorizações ou mesmo análises aprofundadas.
A importância do espaço turístico é tamanha que oferece uma condição
preliminar para as pesquisas interdisciplinares em Geografia e Turismo, oferecendo
uma plataforma cuja base está no espaço geográfico e os caminhos no que seria o
objeto de estudos do Turismo, seja ele o sujeito turístico, o produto, o tempo turístico, o
destino, etc. Não sendo esta a preocupação da discussão, afirma-se pela necessidade
de se repensar o espaço turístico como categoria específica de análise de abordagens
geográficas do turismo, ou abordagens turísticas do espaço.

Abordagem Multidimensional do Território

O tecido epistemológico da construção em curso leva em consideração


os princípios da complexidade e da dialógica como caminho metodológico, na
possibilidade da interdependência, do antagonismo e da complementaridade entre
os elementos de análise e os fenômenos sociais (MORIN, 2003, 2007, 2008). A
abordagem complexa não é, a priori, excludente, contudo nasce como resposta à
visão não complexa das ciências humanas e das ciências sociais, que conceberam
que há uma realidade econômica por um lado, uma realidade psicológica, de outro,
uma realidade demográfica, de outro e assim por diante (MORIN, 1990).
O principio dialógico pressupõe a reintrodução do conhecimento em todo o
conhecimento e permite a compreensão do movimento, das inter-retroações do
sistema, a união de opostos ou a ordem/desordem/interações/organização. Não se
trata de opor um holismo global e vazio ao reducionismo mutilante. Trata-se de ligar as
partes à totalidade, pois o paradigma da complexidade permite reunir e distinguir. É o
pensamento apto a reunir, contextualizar, globalizar, mas ao mesmo tempo reconhecer
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o singular, o individual, o concreto (MORIN e LE MOIGNE, 2000).


Nesse sentido, a proposta teórica tem como parâmetro aspectos inerentes
ao espaço geográfico: multiescalaridade enquanto simultaneidade de ações e a
multidimensionalidade que abrange o cultural, o político e o econômico em coexistência
e enquanto totalidade do território como expressão não setorial de uma realidade em
transformação.
A partir do exposto, a noção de território pode ser apreendida não mais por
si mesmo ou por seus limites e fronteiras. A noção de fronteira, domínio e poder
são válidos enquanto ponto de partida na interpretação territorial, no entanto, as
especificidades do território resultam muito mais do contato do que do isolamento
espacial, isto é, ele também deve ser pensado como produto de inter-relações, de forma
que não há um ponto de partida original a ser recuperado ou uma posição anterior à
relação (MASSEY, 2008). Essa perspectiva de concepção integrada do território leva
em consideração a ideia de totalidade e abarca a vertente política, simbólico-cultural
e econômica. “Muito mais do que uma coisa ou objeto, o território é um ato, uma ação,
uma rel-ação, um movimento (de territorialização e desterritorialização), um ritmo, um
movimento que se repete e sobre o qual se exerce um controle” (HAESBAERT, 2004,
p. 127)4.
A vertente territorial é particularmente complexa e apresenta oportunidades do
ponto de vista da abordagem espacial do turismo, uma vez que espaços são produtos
de simultaneidades e coexistências (MASSEY, 2008, VALDUGA, 2011), e o turismo
apresenta-se como evento, fluxo, variável e imprevisível, impactando na territorialidade,
assumida como um conjunto de relações oriundas do sistema tridimensional:
sociedade-espaço-tempo, em vias de atingir a maior autonomia possível, compatível
com os recursos do sistema (RAFFESTIN, 1980).
Entender o turismo enquanto possibilidade é não torná-lo panaceia, mas sim,
ocasião de rearranjar um contexto socioespacial, afinal “o turismo só será justo quando
a sociedade for justa” (KANITZ et al., 2009, p.10). Há divergências sobre a pertinência
e o posicionamento do turismo dentro das abordagens geográficas. É fato que este
fenômeno tem recebido certo destaque nos estudos sobre o espaço, em que pese
“a dificuldade de se firmar e enquadrar-se a uma perspectiva única de investigação
científica, fato que tradicionalmente tem causado fortes embates entre os geógrafos”
(SANTANA; AZEVEDO, 2005, s/p).
As abordagens do turismo incorrem, frequentemente, na leitura de seu modus
operandi tomado como verdade, fato que, do ponto de vista da abordagem espacial,
pode ser considerada como sectária, pois o homem, ancorado no coração de um território

4 Atrelada à noção territorial emerge o problema das identidades e da autenticidade, campo


em aberto na interpretação social do turismo e comumente levado a interpretações de reificação de
espaços e a certa nostalgia de um espaço vivido. A esse respeito sugere-se o trabalho de Brubaker
(2001) e Yázigi (2009).
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apropriado na sua complexidade, não é necessariamente consumidor (ROUX, 2004).


O território se materializa enquanto probabilidade, isto é, de manutenção e exclusão
dos vetores que o definem, entre eles a existência do turismo como vetor territorial.
Como produto da sociedade de consumo onde “segmentar nossas existências em
objetos que são necessários adquirir imperativamente, como causas da felicidade a
vir” (ROUX, 2004, p. 54), a abordagem espacial do turismo não pode negligenciar os
diferentes projetos em curso, como o dos seus habitantes, quando da abordagem do
planejamento turístico.
Algumas perspectivas críticas do turismo, por outro lado, consideram este
fenômeno de modo apenas condenável, o que para a busca do entendimento sobre
a realidade, que visa novas relações na organização do território, é insuficiente. Há
de se ter a noção dos verdadeiros vetores da configuração territorial, dos fatos do
presente, não desconsiderando o movimento enquanto processo incessante. Sob
este entendimento estão as possibilidades, pelo que se torna imperioso qualificar o
território pelas lentes de interpretação do espaço turístico enquanto uma expressão
complexa do espaço geográfico, que é total.
É necessário, todavia, considerar que não é possível analisar o turismo desde
uma perspectiva unicamente espacial. Apesar de esta perspectiva constituir-se, talvez,
em uma das principais perspectivas sobre o fenômeno, existem abordagens que fogem
do âmbito geográfico para compreensão do turismo. Neste interim, a especificação
do objeto geográfico em uma derivação para aproximação interdisciplinar àquelas
disciplinas que também oferecem perspectivas analíticas importantes ao turismo se
torna necessária. Por isso o espaço turístico tem sido um conceito discutido e proposto
dentro de diversas abordagens que unem as áreas em tela (geografia e turismo).
O turismo enquanto fenômeno permite uma sistematização da realidade
expressa no espaço geográfico. O que não quer dizer que se torne selecionado de
uma dada configuração territorial para a descrição das espacialidades dos elementos
considerados turísticos. O recorte de um território é fundamental para que seja
considerada a sua historicidade que interfere na realidade (TELLES, 2012).
A possibilidade de se atribuir ao território uma trama de relações entre homens,
firmas e instituições implica em explicar a perspectiva de abordagem que se pretende
realizar. Sendo uma abordagem sobre o espaço turístico, tem-se a possibilidade de
atribuir-lhe conceitos. Desta forma, as abordagens que penderão entre a já sabida
dimensão cultural, política e econômica, evidenciarão seus próprios contornos; coloca-
se, neste ponto de vista, o turismo como um subsistema territorializado (TELLES,
2012). Evidentemente, estes e os elementos em relação no território estarão fortemente
imbuídos de relações de força, as quais a história se encarrega de tornar herança.
Em síntese e como um caminho metodológico preliminar, propõe-se uma
sistematização de compreensões-chave no que se refere à abordagem territorial do
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turismo. O quadro 01 sintetiza algumas proposições debatidas previamente.

Quadro 01: Síntese metodológica preliminar


Espaço Turístico Complexidade da abordagem
(território)

Noção dialógica dos vetores territoriais e


convergência das noções de espaço e tempo.
Multiescalaridade
Sistemas de ideias e ações, fluxos temporais e
diferentes temporalidades e espacialidades.

Interdependência entre os fenômenos espaciais.


Abordagem não sectária do espaço turístico.
Multidimensionalidade
Totalidade dialógica. Possibilidade de análise integral
da relação espaço/temporal no turismo.

Fonte: organizado pelo autores (2014)

Desconstrução e análise sobre o espaço turístico

A elaboração teórica das diferentes abordagens geográficas sobre o turismo


apresenta um leque de variações considerável, ou seja, não há uma proposta
metodológica única para as pesquisas que tenham como preocupação o turismo
em seu contexto espacial. A superação dos reducionismos comuns percebidos na
confluência interdisciplinar em tela repousa sobre o espaço turístico como conceito
conjugado de fundamental importância.
Isso não se constitui em algo excepcional ao fenômeno turístico, uma vez que a
geografia perfaz seu caminho sob outras áreas e correntes, com maior ou menor nível
de convergência . Isto varia e depende da própria ontologia e evolução paradigmática
próprias de cada área do conhecimento. Além da discutida pertinência de classificação
da Geografia em física e humana, como forma de enfatizar as especializações
metodológicas que ocorrem na práxis disciplinar, é, sobretudo, na utilização de uma
ou mais categorias de análise geográficas, que torna-se visível tal diversidade de
abordagens geográficas dentro da disciplina. Fato este que sugere a colocação de
diferentes geografias como atual panorama desta disciplina.
Em meio a essa problematização interdisciplinar entre turismo e geografia, nada
simples e meritória de pesquisas de estado da arte cada vez mais aprofundadas, a
proliferação de estudos acompanha a quantificação dos títulos na carreira acadêmica.
Estes, por sua vez, não raro, apoiam-se em convenientes caminhos metodológicos de
frágil base conceitual. Diante deste quadro, o espaço turístico estabelece-se menos
como constructo epistemológico do que metáfora facilitadora de aplicação de modelos,
mas não contribuindo com geração de conhecimento para a área intersecta (ao qual
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tem-se denominado abordagem geográfica do turismo, em sentido amplo).


Ocorre que o conceito de espaço turístico adquire função aplicada para a
compreensão do fenômeno turístico, o que implica em um distanciamento, quando
não, desamparo acadêmico no seu entendimento, em detrimento de sua priorização
operacional. A conveniência pela utilização de propostas em replicação de análises
empíricas de diferentes contextos históricos e escalares reflete o descaminho
científico que as abordagens geográficas do turismo têm passado. O turismo, tanto
quanto outras áreas contemporâneas, não sai desse embate sem perdas, justificando
a necessidade de novos paradigmas e a superação de metanarrativas. Alinha-se a
um desafio pós-moderno pelo qual as ciências devem incorrer novas abordagens
(JAMESON, 2003).
O turismo apresenta seus fundamentos geográficos, e estes não se restringem
apenas a apontar potencialidades, identificar fluxos e quantificar a oferta das localidades
(TELES, 2009). Debater acerca de parâmetros nos tratamentos conceituais ligados ao
espaço turístico – paisagem, região, lugar - incorre em considerar “que há tratamentos
setoriais e tratamentos integrados, que por vezes se confundem na utilização desses
conceitos” (TELLES, 2012, p.55). Diante disto, é necessário avançar na sistematização
da matéria. Para este autor, isto pode ser atingido, “primeiro, na consideração de que o
espaço turístico contemple um arcabouço teórico-metodológico do espaço geográfico.
Segundo, no reconhecimento da importância de saberes oriundos de outras disciplinas
na complementaridade do que, por fim, compõe a turistificação dos territórios” (p.55).
A turistificação, por sua vez requer uma abordagem multiescalar que dê conta de
considerar aspectos de diferentes origens, periodicidades, dimensões e magnitudes
em seu estabelecimento.
Nota-se um viés em surgimento que não se encerra apenas na constatação
da complexidade, mas a incorpora enquanto crise paradigmática. Bastaria não
desconsiderar-se categorias de ampla abstração, tais como espaço, tempo e
sociedade, na abordagem do espaço turístico.

Os diferentes espaços turísticos: proposta preliminar de sistematização

Considerando-se os diferentes tratamentos existentes sobre o espaço turístico,


foi necessário sistematizar as perspectivas, ainda que de modo não absoluto, pois
entende-se existirem diferentes concepções espaciais na abordagem geográfica do
turismo (Figura 1). Ressalta-se que a proposta a seguir pretende suscitar debates
na área e, sobretudo, pormenorizar reducionismos nas propostas analíticas,
especialmente nas pesquisas dentro da geografia que se fazem valer do espaço como
ponto de partida de suas discussões, e não como categoria de análise nuclear de
estudos geográficos.
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O tratamento dado ao espaço turístico separa-se em duas concepções gerais


que, por sua vez, agrupam concepções mais próximas da praticidade empírica em
pesquisas sobre o turismo desde um viés geográfico. Na primeira classe o espaço é
avaliado desde seu caráter inerentemente social e varia de acordo com correntes do
pensamento geográfico que atendam à sua característica eminentemente social. Na
segunda classe estão perspectivas que apenas tangenciam o espaço, eximindo-se de
seu teor conceitual, e das superações paradigmáticas da própria geografia.
Pode-se considerar a presente abordagem como um novo desafio epistemológico
à abordagem espacial do turismo e um constructo à abordagem geográfica do turismo.
Com todas as limitações que podem ser assumidas nesse contexto, pode-se inferir
que a presente abordagem remete a uma nova fronteira na interseção disciplinar do
turismo e da geografia, requerendo avanços ulteriores.

Figura 1 - Diferentes concepções do espaço turístico - desconstrução

Fonte: elaborado pelos autores

Dentre as diferentes utilizações metodológicas sobre o espaço turístico, num


primeiro recorte, estabelecem-se duas vias de análise: a primeira em que o mesmo
constitui-se em subsistema autônomo, desde que suportado pelo método geográfico
de espaço social e, finalmente, em que o espaço é um mero fator locacional, já não
suportado pelo entendimento contemporâneo de espaço pela geografia. Espaço
geográfico do turismo e espaço aplicado do turismo, portanto, constituem-se na
primeira sistematização necessária para a desconstrução do espaço turístico, visando
de modo posterior, sua reconstrução como contribuição epistemológica interdisciplinar.

Multiescalaridade na abordagem territorial do turismo: proposição metodológica


preliminar
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Avançar no entendimento sobre o espaço turístico numa perspectiva não estática/


inerte requer enfrentamento da complexidade inerente ao processo de turistificação
das sociedades em diferentes escalas e dimensões. Não apenas acomodar-se diante
da constatação de que vive-se em uma sociedade complexa, próprio de uma época
em que os fluxos se densificam. O turismo como expressão social de relevância
econômica permite à geografia o lançamento de um olhar múltiplo sobre as relações
entre sociedade e espaço. Tem-se como meta subsidiária a este fim, mecanismos
analíticos abstratos, ciente da dificuldade de realizar discussões neste âmbito da
produção do conhecimento, desde que reconhecida a insuficiência paradigmática a
que está-se diante. Para tanto, apoia-se na assertiva de que a natureza multiescalar
dos fenômenos decorre da complexidade dos mesmos e da natureza multidimensional
do território.
Inicialmente, é importante estabelecer a superação axiomática conferida
à geografia no entendimento do conceito de escala. Este debate não se faz sem
problemas, uma vez que é um debate, ainda pouco desenvolvido na geografia
(CASTRO, 1992). Considerando a mediação escalar entre uma abordagem e o
seu objeto, presume-se que um caminho não negligenciável deva ser conduzido
em pesquisas contextualizadas espacialmente sobre o turismo, ou qualquer outro
fenômeno social no espaço. Neste intuito, a multiescalaridade pretende ser uma
alternativa supostamente irredutível para tal condução argumentativa. Ainda que isto
incorra em uma forte semelhança com a constatação complexa de fenômenos na
ciência contemporânea, está-se diante de um impulso epistemológico entre diferentes
áreas do conhecimento pela sua superação axiomática. Dito isto, propõe-se a
multiescalaridade na abordagem territorial do turismo como um passo essencial para
o avanço de uma categoria demasiadamente importante e prévia a tantas abordagens
subsequentes em torno de outras categorias geográficas – paisagem, lugar, região - e
suas respectivas importâncias nos estudos do turismo. Passo, portanto, que impele
um retrocesso e, a partir disto pretende avançar na superação de reducionismos nos
estudos geográficos sobre o turismo.
Se constatada a preocupação de que “a própria escala, enquanto fenômeno
consubstanciada de toda análise, merece ser estudada de modo particular” por mediar
uma ação (RACINE; RAFFESTIN; RUFFY, 1983, p. 124), a relação entre o fenômeno
observado e sua abordagem requer consideração suficientemente clara sobre esta
mediação metodológica. Eis que uma abordagem sobre algo, em se tratando do
território, possui uma mediação escalar múltipla.
A escala se constitui numa preocupação metodológica fundamental às análises
espaciais. Através de seus diferentes, porém convergentes, enfoques, (a escala)
“não existe como medida, porque ela não fragmenta, mas, pelo contrário, integra”
(CASTRO, 1993, p. 59), de modo que a escala geográfica é considerada a pertinência
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de um fenômeno observado (Idem). Por essa via de embasamento conceitual, o objeto


ou fenômeno em questão visa receber um tratamento que “dê conta da multiplicidade
e da diversidade de situações e de processos” (SANTOS, 2008, p.64). Nesse sentido,
regional e local se interpenetram como abstrações da organização do território, mas
as escalas de análise adquirem vias próprias, dando especificidade a essas duas
expressões gerais de abordagem.
Lidar com a coexistência e com a multiplicidade de escalas é concordar que
são as diversas perspectivas que permitem a análise de um fenômeno espacial. Nas
palavras de Machado (1995):

Se a visão microscópica – que nos permite entrever os detalhes da organização


local através dos tempos – é essencial para captar a complexidade da
vida social e territorial, essa organização só pode ser entendida quando
complementada por uma visão macroscópica, isto é, pelo estudo das relações
do lugar com o espaço geográfico bem mais amplo onde está inserido
(MACHADO, 1995, s/p).

Para Corrêa (2010), “a operação escalar não introduz uma visão deformada,
geradora de dicotomias, mas ao contrário, ressalta as ricas possibilidades de se analisar
o mundo real [...] em níveis conceituais complementares” (p.136). A convergência
entre escalas de abordagem caracteriza a apreensão do objeto investigado. São as
conexões que se fazem possíveis identificar entre as escalas, sejam conceituais ou
espaciais, e que “contribuem para dar unidade à análise geográfica” (Ibid., p.136).
Reforça-se às preocupações anteriores “a perspectiva das escalas dos fenômenos
[que] permite organizar os campos da geografia, ampliando seu escopo” (SANTOS et
al. 2000, p.40).

Considerações finais

O que difere o espaço geográfico do turismo do espaço aplicado do turismo


é o posicionamento conceptivo. Essa diferença, entretanto, não significa separação.
Ou seja, uma abordagem que incorpore ambas as concepções, independente de sua
priorização e contexto, ou de sua base conceitual e seu encaminhamento metodológico
posterior, tende a superar insuficiências que se expressam, ora pelo lado da abstração,
ora do pragmatismo.
As categorias ligadas ao espaço que o desconsideram enquanto instância social
correm o risco de tornar a compreensão do turismo seletiva. Esse espaço sectário
opta por que elementos considerar em suas análises, fazendo uso de categorias
geográficas como muletas, pois reproduzem a seletividade da análise. A história se
faz ausente em tais abordagens, num tratamento aplicado de espaço que não se
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sustenta dentro da geografia desde sua renovação epistêmica.


O espaço turístico constitui-se num subsistema do espaço geográfico (TELLES,
2012; 2013). Sem esta compreensão, corre o risco de esbarrar nas limitações e
proposições de um espaço sectário, também cunhado como “espaço especial,
particular, adjetivado” (SANTOS, 1999, p.17). Há, muitas vezes, a equivocada
compreensão do espaço turístico sem a consideração de que a realidade vivida por
turistas seja sazonal, pois não se é turista. Ainda tendo este esclarecimento resolvido,
se estar turista apenas retrata um tipo social que não está imune em envolver-se
com intempéries sociais ou naturais ao longo de sua viagem e estada, ainda que
involuntariamente, é, no mínimo, estranho considerar que a experiência do turista não
se ocupe de acasos, dentre os quais se veem os reveses de salubridade, criminalidade,
abusos, entre outros.
Sobre o espaço aplicado ao turismo. Ele pode ter uma finalidade acadêmica:
planejamento. O planejamento permite que o espaço turístico não seja visto sob
uma ótica epistemológica geográfica e sim como um ente direcionado e sectário
da realidade (configuração territorial), tenha seu posicionamento conceitual de
importância acadêmica. O que não torna o espaço aplicado do turismo um objeto
exclusivo do Turismo. Ainda assim, este conceito vê-se dependente de apreensões
interdisciplinares, seja pela cartografia, arquitetura, urbanismo, desenvolvimento
regional, ecologia, educação, etc.
Estaria uma teoria crítica, no porvir do turismo, nascendo da união das
perspectivas do espaço geográfico e do espaço aplicado pela via da multiescalaridade?

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Grupo de Trabalho 02
Turismo e Meio Ambiente

Coordenadores: Luiz Afonso Vaz De Figueiredo (FSA); Sidnei Raimundo (USP)

O ecoturismo é uma atividade relativamente nova, sendo a sua normatização


também recente, tanto no Brasil quanto no exterior. Muitos ambientalistas o consideram
como uma atividade de baixo impacto, mas se for desenvolvido sem levar em conta
seus princípios básicos, uma série de danos ambientais poderão ser desencadeados.
Esse eixo pretende discutir sobre as políticas e práticas relacionadas o turismo na
natureza e sobre a dinamização da economia de regiões que apresentem recursos
naturais com elevado potencial procurando, paralelamente, promover a conservação
do meio ambiente e a inserção das comunidades locais.
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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PERCEPÇÃO AMBIENTAL E NARRATIVAS VISUAIS DA TRANSFORMAÇÃO DA


PAISAGEM E SUAS RELAÇÕES COM O TURISMO NA ILHA COMPRIDA (SP)

Izaias Carmacio Jr.


Diogo Fernando Rodrigues1
Luiz Afonso V. Figueiredo

RESUMO: O município de Ilha Comprida está localizado na região do baixo Vale do


Ribeira e Litoral Sul do estado de São Paulo, sendo emancipado politicamente em 1992.
Possui vegetação nativa de Mata Atlântica, associada com manguezais, restingas e
dunas, além de extensa faixa litorânea, incluído em 1987 em uma Área de Proteção
Ambiental (APA). A localidade está sujeita às atividades de turismo e segunda residência,
sofrendo problemas socioambientais com o processo de urbanização e construção da
ponte de interligação com o continente. O presente artigo tem por objetivo analisar a
percepção ambiental e os processos de transformação da paisagem, vivenciados por
moradores locais, tendo como estudo de caso o trecho entre o Bairro Boqueirão e a
Ponta da Praia na parte norte de Ilha Comprida. Os dados foram coletados por meio
de depoimentos orais com 10 moradores que tinham mais de 10 anos de residência
ou contato com a Ilha, identificando as relações homem-natureza e modificações do
meio físico. Para a composição das narrativas visuais foram escaneadas fotografias
antigas do município obtidas com os entrevistados e realizado um levantamento
fotogeográfico nos anos de 2012-2013, além de imagens coletadas em meio eletrônico
ou disponibilizadas pela Prefeitura Municipal da Ilha Comprida. Observou-se que os
moradores perceberam forte processo de transformação da paisagem, com destaque
para a influência após a construção da ponte em 2001. As imagens antigas quando
comparadas com as fotos recentes demonstraram as modificações da paisagem
principalmente no que se refere à construção civil, impermeabilização do solo, presença
de resíduos sólidos, avanço do mar destruindo habitações e introdução de espécies
vegetais exóticas. Ressalta-se a necessidade de se provocar discussões e subsidiar
ações de educação ambiental e ecoturismo, visando a melhoria da qualidade de vida
nessa região do complexo estuarino-lagunar paulista.

PALAVRAS-CHAVE: Percepção Ambiental. Narrativas Visuais. Transformação da


Paisagem. Ilha Comprida (SP).

ABSTRACT: The municipality of Ilha Comprida is located at the region of Vale do


Ribeira and South coast of the state of São Paulo, it has been politically emancipated
in 1992. There is Atlantic Forest vegetation related to mangroves, sandbank and
dunes, besides the stretch of coast, incluted in 1987 in a Environmental Protected
Area (EPA). The location is associated with touristic activities and second residences,

1 Biólogos (Centro Universitário Fundação Santo André). Professores da rede pública e privada do
estado de São Paulo. E-mail: izaias-carmacio@hotmail.com.
2 Professor Doutor da área de Educação e Ciências Ambientais do Centro Universitário Fundação
Santo André (FAFIL/CUFSA). E-mail: lafonso.figueiredo@gmail.com.
the region suffers environmental problems related to the process of urbanization and
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the construction of the bridge with the continent. The goal of this article is to analyze
the environmental perception and the process of landscape transformation, felt by the
residents located on the stretch between Boqueirão and Ponta da Praia neighborhood
on the North part of Ilha Comprida. The datas were collected by oral testimonies with
10 residents who lived over 10 years or are associated with island, it was possible to
identify the relationship human-nature and the modifications of the physical environment.
It was possible to make the composition of the visual narratives thanks to antique
photographs obtained with the residents, and accomplished a photogeographic survey
produced between 2012 and 2013, besides the images collected from the city hall of
Ilha Comprida. The results demonstrated that the residents noticed a strong process
of landscape transformation, they highlighted a great influence after the building of the
bridge in 2001. The antique images compared to the current photographs demonstrated
that the mainly modifications on the landscape was related to the asphalt, increasing
numbers of residences, soil sealing, huge presence of solid waste, advance of sea
level and destroyed houses, introduction of exotic species and destruction of local
vegetation along the coastline. The study emphasized the necessity to induce and
subsidize actions of environmental education and ecotourism, in order to improve the
quality of life on the region of the lagoon-estuarine complex in São Paulo.

KEYWORDS: Environmental perception. Visual narratives. Landscape transformation.


Ilha Comprida (SP).

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

O município de Ilha Comprida está localizado na região do baixo Vale do Ribeira


e Litoral Sul do estado de São Paulo, sendo emancipado politicamente em 1992.
Possui vegetação nativa de Mata Atlântica, associada com manguezais, restingas e
dunas, além de extensa faixa litorânea, incluído em 1987 em uma Área de Proteção
Ambiental (APA), caracterizada regionalmente no Complexo Estuarino-Lagunar de
Iguape-Cananéia-Ilha Comprida. (COSTA-PINTO; SORRENTINO, 2002; BEU, 2008).

Com a conclusão da ponte Laércio Ribeiro em 2001, o acesso à Ilha Comprida


foi facilitado, de um lado aumentando as atividades econômicas associadas ao turismo,
por outro lado, esse processo vem ocasionando transformações na paisagem em um
período de menos de 20 anos.

O modo tradicional de turismo em São Paulo se baseia no modelo sol e praia,


conseqüentemente, a Baixada Santista tornou-se um local de muita procura durante o
período de férias por ser de mais fácil acesso da metrópole paulista, no entanto, não
tem suportado o grande número de frequentadores. Sendo assim, novas alternativas
de lazer foram procuradas, como as praias do litoral sul, onde se localiza Ilha Comprida.

A questão relativa à forma como ocorre o turismo é fundamental para o


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entendimento dos processos de transformação da paisagem, principalmente nesses


municípios em que a atividade turística ganha um status de principal atividade
econômica. Por outro, Domiciano e Oliveira (2012, p.180), pondera que:

O turismo muito além de ser uma atividade- econômica apresenta-se como


um processo de produção social que interfere em vários setores da sociedade,
como o setor econômico, o social, o cultural e o ambiental.

O objetivo da pesquisa foi identificar e analisar os processos de transformação


da paisagem da Ilha Comprida (SP) por meio de depoimentos orais, narrativas visuais
e levantamento fotogeográfico, avaliando a influência do turismo e a ocupação humana
em relação à transformação da paisagem, tais como a presença de resíduos sólidos,
a supressão e alteração da vegetação nativa e contaminação do lençol freático e
cursos d água.

2 REFERENCIAL CONCEITUAL

2.1 Percepção Ambiental

A percepção ambiental de cada indivíduo está relacionada com suas funções


sensoriais, destacando-se a visão e podendo ser limitada por laços afetivos vivenciados
com sua cultura. Segundo Tuan (1980):

Um ser humano percebe o mundo simultaneamente através de todos os seus


sentidos. A informação potencialmente disponível é imensa. No entanto, no
dia a dia do homem, é utilizado somente uma pequena porção do seu poder
inato para experienciar. (TUAN, 1980, p. 12).

Os estudos de percepção ambiental são adequados para entender a relação


que ocorre entre pessoas que tenham contato duradouro com uma região, a partir da
ligação topofílica que ocorre com a paisagem.

Topofilia estaria relacionada com o sentimento, a relação de alegria e laços


afetivos que o ser humano tem com o seu ambiente. (TUAN, 1980, p. 129). O autor
pondera, entretanto, dizendo que “O meio ambiente pode não ser a causa direta da
topofilia, mas fornece o estímulo sensorial que, ao agir como imagem percebida, dá
forma às nossas alegrias e ideais”. (TUAN, 1980, p. 12).

A percepção ambiental permite a busca de informações essenciais, baseadas


na memória, que podem ser descritas e hierarquizadas. Conforme sugerido por
Amorim Filho (1992), os estudos podem focar os seguintes temas.

qualidade ambiental; paisagens valorizadas; riscos ambientais; representações


do mundo; imagens de lugares distantes; história das paisagens; relações
entre as artes, as paisagens e os lugares; espaços pessoais; construção
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de mapas mentais; percepção ambiental e planejamento. (AMORIM FILHO,


1992).

2.2 Narrativas visuais

As narrativas visuais demonstram o sentimento estimulado ao descrever uma


imagem, determinando diversas interpretações epistemológicas, destacando aspectos
históricos, expressões faciais e transformações do ambiente ou algo pessoal em um
determinado período de tempo ou ainda em longo prazo.

Nobre (2011, p. 114) em seu trabalho de fundamentação sobre o papel das


imagens como narrativas visuais destaca que “Ao concebermos a imagem como
narrativa visual, admitimos que o cenário retratado é determinante do universo
sociocultural analisado”. O autor discorda do uso da fotografia como material
secundário, complementar ou meramente ilustrativo, posto como mera oposição à
linguagem literária. A imagem ganhou destaque como forma de narrativa que antes
era exclusividade da palavra. (NOBRE, 2009, 2011).

De acordo com Nobre (2011) a riqueza do uso da narrativa visual não está
relacionada com a qualidade da imagem, mas com a cultura ou vivência de quem as
interpreta. As imagens ajudam a compor interpretações da realidade analisada.
A fotografia pode ultrapassar esses limites e permitir ao imaginário transpor
códigos lineares, penetrar a polissemia da narrativa visual, sendo um signo
cuja indicialidade representa, de forma mais próxima, as particularidades do
seu referente. Através da fotografia, podemos perceber a singularidade de
uma representação que indica informações referentes ao meio sociocultural
onde foi concebida. [...] Assim, a imagem fotográfica pode ser relida e revivida,
trazida de volta à lembrança para estimular a memória. (NOBRE, 2011, p.
114).

O trabalho de referência sobre uso de narrativas visuais para compreender a


paisagem do ponto de vista sociocultural foi desenvolvido por Nobre (2003, 2005),
fundamentando e aplicando a metodologia no interior do Rio Grande do Norte.

Alguns estudos têm sido realizados aplicando as narrativas visuais como


caminho para identificar a percepção ambiental e representações de meio ambiente,
muitas vezes, também, vêm associadas a depoimentos orais, ou mesmo traçando
contraposições com outras diversas imagens de épocas diferentes, propiciando
reflexões sobre a transformação da paisagem.

Araújo (2006) utiliza imagens e depoimentos para compor um mapeamento


da transformação da paisagem em áreas urbanas da região metropolitana de São
Paulo. Outro autor que utiliza a metodologia e realiza uma discussão do potencial
das narrativas visuais é Figueiredo (2010), que em seu trabalho de doutorado buscou
entender as cavernas como paisagens racionais e simbólicas, para isso as imagens
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foram fundamentais para a construção do discurso investigado.

O uso das imagens fotográficas no contexto de análise para a produção


do discurso das atividades espeleológicas e do turismo em cavernas, com
destaque para Alto Ribeira, foi fundamental para compreender a dinâmica do
fenômeno, assim como para avaliarmos de que modo as fotografias poderiam
demonstrar o potencial investigativo das narrativas visuais. (FIGUEIREDO,
2010, p. 98).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Área de Estudo

Ilha Comprida está Localizada na Planície Litorânea, na região sul do litoral


paulista, sendo uma longa e estreita restinga da Região Estuarino-Lagunar Cananéia/
Iguape/Paranaguá, conhecida como Lagamar. Está situada a poucos metros de altura
acima do nível do mar, possuindo cerca de 70 km de comprimento por 3 km de largura.
(Figura 1).

A região está localizada a 200 km da cidade de São Paulo e 260 km de Curitiba,


que são dois grandes centros emissores turísticos. A Ilha Comprida possui uma área
total de 189 km2 e uma população total de 9.025 habitantes, de acordo com o Censo
IBGE de 2010. (apud BEU, 2013).

A limitação da área de estudo foi da região do Boqueirão até a Ponta da


Praia, localizado no lado norte da Ilha, como mostra a Figura 1. Essa escolha foi
determinada devido à facilidade de acesso ressaltando a área mais sujeita a processo
de urbanização e degradação do meio ambiente.

Figura 1- Mapa da Ilha Comprida e região do entorno e destaque em vermelho


para a área de estudo. Centro e Boqueirão norte.
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(Fonte: http://www.ilhabela.net/praias/ilhacomprida.htm, 2014).

3.2 Trabalho de Campo

A execução da pesquisa ocorreu entre 2012 e 2013. Durante as visitas de


campo foram feitas observações gerais da situação da área de estudo, foi também
o momento em que se conseguiu contato com os moradores locais, com os quais
foram coletadas informações, documentos e fotos que caracterizaram os processos
vivenciados de transformação da paisagem na área de estudo.

O reconhecimento geral preliminar foi realizado em julho de 2012, quando


ocorreu o primeiro levantamento fotográfico e contatos com moradores. Na etapa de
coleta de dados optou-se por realizar o trabalho em dois momentos distintos, janeiro
de 2013, momento de alta temporada e julho de 2013, época de baixa temporada,
período esse que se mostrou mais adequado para realizar os depoimentos orais, pois
os entrevistados mostraram mais disponibilidade e tranquilidade, principalmente na
Prefeitura, quando os funcionários puderam dar maior atenção às entrevistas.

3.3 Depoimentos orais

Os estudos de percepção ambiental e transformação da paisagem foram


realizados na Ilha Comprida (SP), com pessoas que moram ou tenham contato
duradouro na região entre o Bairro do Boqueirão (norte) e a Ponta da Praia. Para isso,
foram selecionados moradores que tinham contato com a região por mais de 10 anos
e que trafegavam pela antiga balsa do município antes da conclusão da ponte Laércio
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Ribeiro em 2001, testemunhando o desenvolvimento turístico influenciado pela obra


que interliga o município de Iguape à Ilha Comprida.

As entrevistas foram realizadas por meio de depoimentos orais gravados em


I-Phone Apple (Modelo 4S) e posteriormente transcritos em editor de texto Word.

Os depoimentos permitiram analisar a diferenciação da percepção que cada


um possuía, tendo em vista que duas pessoas não iram assimilar a realidade da
mesma maneira ou mesmo grupos sociais diferentes não fazem exatamente a mesma
avaliação do meio ambiente, tal como descrito por Tuan (1980, p.6).

Foram entrevistadas 10 pessoas, conforme possibilidades e disponibilidades.


Não houve um tempo estimado à priori, uma vez que cada entrevistado teve a
oportunidade de se expressar livremente com o tempo necessário, de acordo com
cada temática solicitada. O tempo médio das entrevistas foi de 11 minutos.

As entrevistas foram feitas utilizando um roteiro semiestruturado, visando coletar


dados sobre os seguintes aspectos: Dados pessoais, relação com a Ilha Comprida e
tempo de contato; aspectos históricos da Ilha; percepção para a transformação da
paisagem; sensações e sentimentos em relação à Ilha; além de fotos históricas da
região.
3.4 Levantamento fotográfico e composição de narrativas visuais

As fotos foram produzidas utilizando câmera fotográfica digital Nikon D5000 e


Apple Iphone 4S, durante o ano de 2012 e 2013. Esse material imagético foi digitalizado
de modo a compor um corpus fotográfico, complementado pelas fotos feitas em
outras épocas pelos responsáveis da pesquisa e outras cedidas pelos entrevistados
a respeito dos processos de transformação da paisagem na Ilha Comprida, sendo
posteriormente selecionadas para a compor narrativa visual.

As narrativas visuais foram construídas a partir do levantamento fotográfico


que em conjunto com os depoimentos orais, pode compor um visão mais ampla do
processo, tal como desenvolvido no estudo realizado por Araújo (2006).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Percepção ambiental dos moradores da Ilha Comprida

Um aspecto muito citado pelos moradores em relação à paisagem foi a


preservação na região Sul, por ser um local com maior quantidade de vegetação nativa
e devido ao difícil acesso. Segundo a opinião de um entrevistado: “O Boqueirão Sul,
para mim é o top porque o Boqueirão Sul representa o que era aqui [Boqueirão Norte]
há 20 anos atrás” (D-6, funcionário público, ensino superior). Os relatos reforçam
como a paisagem mudou consideravelmente na região do Boqueirão Norte, onde se
vê a introdução de plantas exóticas, como pinheiros, eucaliptos e ornamentais.
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Durante as entrevistas, houve queixa dos moradores em relação à segurança


do município, isso ocorre durante a alta e mesmo na baixa temporada, grande
influência está relacionada com a construção da ponte. Segundo um dos entrevistados:
“Dependíamos do progresso, ele veio com a ponte, e saindo a ponte acabou a segurança”
(D-6, funcionário público, ensino superior) e completa dizendo que “o pessoal entra
sem fiscalização e o pessoal sai sem fiscalização”, isso mostra a insegurança não só
dele, mas de muitos outros moradores, inclusive outros entrevistados que vivenciam
esses acontecimentos.

Existe também outro ponto de vista relacionado ao comércio e/ou fator


econômico, de acordo com as épocas, ou seja, baixa e alta temporada, durante quatro
meses, quando o numero de turistas está elevado, o movimento econômico aumenta,
porém no decorrer dos oito meses restantes o número de turistas é muito baixo,
afetando assim os comerciantes. Segundo constata o entrevistado D-9 (comerciante,
ensino médio):

(...) “falta de dinheiro, a parte econômica realmente é complicada, a gente


passa aqui durante 4 meses em pé, depois você fica meio derrubado, vejam
vocês mesmo, o tempo que estão aqui e ninguém entrou ainda, quer dizer, é
praticamente o dia todo, então nós somos uns guerreiros.”

Tendo em vista a ocupação humana muito próxima da linha litorânea, tais como
construções de residências, observou-se em aproximadamente 10 anos que diversas
casas foram destruídas pelo mar. De acordo com o entrevistado D-6:

“A Ponta da Praia Norte mudou muito, pois quem observa a Praia do Leste
na região de Icapara não imagina que existia um pico com casas e pousadas,
que atualmente esta inundada pela ação das marés.”

O processo de urbanização é também destacado nos depoimentos. Como


exemplo temos o entrevistado D-5 (funcionário público, ensino superior): “tem muitas
construções aqui, hoje a cada dia a Ilha ganha novas casas, e isso com o passar dos
anos vai mudando as características da cidade”. Destaca-se aqui uma visão focada no
processo de urbanização, em contraposição, o entrevistado D-7 (funcionário público,
ensino superior) diz; “a própria Ponta da Praia, uma das coisas que eu gosto é que ela
sempre está modificando”.

“O desenvolvimento... aqui só tinha areia, não tinha rua, não tinha nada,
mas agora tá urbanizada, é uma cidade urbanizada, isso começou depois da
emancipação, antes não, porque Iguape não fazia nada aqui, por isso que
nós emancipamos, para poder desenvolver”. (D-8, funcionário público, ensino
superior).

4.2 Narrativas visuais da transformação da paisagem


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4.2.1 O boqueirão

A atividade turística cresceu depois que a ponte Laércio Ribeiro que interliga
o município de Iguape com Ilha comprida passou a funcionar, facilitando o acesso ao
município. No caso da foto 1, observa-se grande numero de freqüentadores na alta
temporada, maior número de residências e o asfaltamento.

Essa parte da Ilha é considerada a área que sofreu maior urbanização, diferente
do Boqueirão Sul, que está próxima a Cananéia, onde a paisagem permanece mais
preservada com maior incidência de dunas e uma faixa litorânea mais larga, porém
é uma área com maior dificuldade de acesso, por isso a concentração de turistas se
restringe muitas vezes mais no Boqueirão Norte.

Foto 1: Boqueirão norte, evidenciando Av. Beira Mar.

(Fonte: Prefeitura Municipal Ilha Comprida, 2007).

Foto 2 e 3: Boqueirão norte em 1990 e 2013, vista em direção à Cananeia.


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(Luiz Afonso V. Figueiredo, 1990, Diogo F. Rodrigues, jul. 2013)

4.2.2 O desenvolvimento urbano da Ilha e a ponte

A ponte foi implantada em 2001, sendo a principal via de acesso à Ilha Comprida
e proporciona facilidade para quem visita e mora, trazendo também o desenvolvimento
para o município segundo a percepção dos entrevistados, que enfrentavam problemas
como falta de água, esgoto, iluminação e transporte segundo os moradores.

“Depois da saída da ponte, quando tínhamos a balsa aqui. O desenvolvimento


estava parado, não tinha progresso com a balsa. Precisávamos que algo
acontecesse, porque quem vivia aqui em 1996, como meu caso, aqui era
intransitável.” (D-6, funcionário público, ens. sup.)

Foto 4 e 5: Ponte Laércio Ribeiro em construção e depois a obra finalizada.

(Luiz Afonso V. Figueiredo, 1990; Diogo F. Rodrigues, 2013)

Ao discutir com os moradores sobre a mudança da paisagem na Ilha Comprida,


foi apontado o desenvolvimento na questão do saneamento básico. Antes de 2001,
o município sofria com problemas de esgoto, acesso á água potável e energia
elétrica. Devido ao difícil acesso causado pelo transporte via balsa que resultava em
filas enormes de carros para poder atravessar, ou seja, as pessoas muitas vezes
necessitavam de um pouco de paciência para conseguir chegar até o outro lado, mas
hoje não é mais necessário se preocupar com esse detalhe, já que o acesso é pela
ponte, e a balsa ficou apenas na memória.

Depois da implantação da ponte, que além de abrir um novo acesso para


novos visitantes, também facilitou o transporte para implantação de serviços básicos
para os munícipes. Com o desenvolvimento e crescimento urbano, também houve
novos problemas, como a falta de segurança devido ao aumento dos frequentadores,
ocasionando um insuficiente abastecimento de água no município e queda frequente
de energia.

A falta de fiscalização implicou também no crescimento de lotes irregulares,


gerando conflitos fundiários, tendo em vista que toda a Ilha Comprida está inserida em
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uma Área de Proteção Ambiental (APA).

O processo de desenvolvimento da Ilha Comprida continua em andamento e


cresce a cada ano, e os moradores podem contar com maiores recursos como o
desenvolvimento da orla junto à praia, o tratamento de esgoto junto com a expansão
do asfalto que esta chegando a outros balneários que antes não tinham.
“Ah, com certeza ta mudando, mudanças em casas, residências, locomoção
porque antes não tinha asfalto, ruas, muitos loteamentos existem ainda,
então 70% da Ilha tem acesso e os outros 30% está em área verde.”. (D-3,
corretor de imóveis, ensino médio).

Foto 6 e 7: Boqueirão norte, setas indicam como referencia o restaurante Boi da


Ilha em 1981 e 2007 respectivamente.

(Fonte: Imagens da Prefeitura Municipal da Ilha Comprida, 1981 e 2007)

Foto 8 e 9: Pontos de referência onde ocorria o embarque e desembarque da


antiga balsa, respectivamente em Iguape e Ilha Comprida.

(Diogo F. Rodrigues, 2013).

4.2.3 Transformação da paisagem na Ponta da Praia

Nesse local é onde ocorre o mar recebe muitos sedimentos devido ao Rio
Ribeira, por isso a característica da água na região norte é diferente em comparação
com a região sul da Ilha, pois o rio traz sedimentos que deixa o mar com uma
coloração mais barrenta, consequentemente a água fica turva. De outro lado, um
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grande problema para os moradores, segundo eles é que “a Ilha está afunilando”,
ou seja, uma extremidade está sendo engolida pelo mar enquanto a outra está se
expandindo, correspondendo norte e sul, respectivamente.

“Pelo lado norte, observei com o passar do tempo tinha algumas casas que
o mar avançou e acabou derrubando essas casas, e interessante no lado sul
aumentou. Então esse é um fenômeno que acredito que seja natural que vem
decorrendo, mas eu também acredito que seja pela influência pela abertura
da barragem aqui do Ribeira de Iguape.” (D-5).

O processo de transformação continua a cada ano sendo mais visível devido


ao avanço anual do nível do mar, isso foi observado em Janeiro de 2013 a Julho de
2013 pelos pesquisadores, proporcionando uma analise comparativa do local.

Foto 10 e 11: Destruição de casas e exposição de sistema radicular de árvores


na Ponta da Praia.

(Diogo F. Rodrigues, jan. 2013)

Foto 12 e 13. Avanço do mar na Ponta da Praia, usando a boia como referencia.

(Diogo F. Rodrigues, jan. e jul. 2013)

“A Ponta da Praia Norte mudou muito, pois quem observa a Praia do Leste na
região de Icapara não imagina que existia um pico com casas e pousadas, que
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atualmente está inundada pela ação das marés. Para a gente que navega pra
poder entrar no canal da Juréia era obrigado contornar pelo mar e ter acesso
ao canal da Juréia, atualmente entra-se direto pelo canal do mar pequeno.”
(D-6, funcionário público, ens. sup.)

Foto 13: Avanço do nível do mar no período de ressaca já próximo à Avenida


Beira Mar

(Diogo F. Rodrigues, jul 2013).

4.2.4 Acúmulo de resíduos sólidos


Com o número elevado de frequentadores, o município sofre com o grande
acúmulo de lixo. Um dos entrevistados (D-6) afirma que isso é decorrente da “falta
eficiente na fiscalização”, devido ao acesso facilitado. Outra fala que pode confirmar
essa questão foi citada pelo entrevistado (D-3), “o cara vem aqui, acampa na praia e
sabe que não pode, e deixa 300 toneladas de lixo”.
“Que me incomoda? Quando o próprio turista ou o morador que fica jogando
lixo! Me incomoda demais! E os urubus que pegam o lixo para sobreviver,
mas acabam espalhando tudo.” (D-10, funcionário público, ensino médio).

A prefeitura desenvolve projetos para tentar controlar o descarte dos resíduos


sólidos, como o Cidade Limpa, no entanto, não é isso que se observa na paisagem.

“Depende da educação das pessoas. Olha, recentemente teve um concurso


nas escolas do ensino fundamental com frases da cidade na parte de limpeza,
e as melhores frases estão espalhadas nas cidades, nos pontos de ônibus e
com fotografias da parte bonita da Ilha, pra chamar a atenção das pessoas
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pra preservar. Tem sim um trabalho de conscientização, começando pelas


crianças. Aí acho que depende muito das pessoas, esse lado de educação
ambiental começa no berço, não só nas escolas, dentro de casa, acho que
a maioria dos brasileiros não tem essa conscientização.” (D-7, funcionário
público, ensino superior).

Foto 14: Avanço do mar destacando o acúmulo de resíduos

(Diogo F. Rodrigues, jul. 2013).


Foto 15 e 16: Concentração de resíduos sólidos na faixa litorânea devido à
ressaca do mar e campanha da prefeitura no Projeto Cidade Limpa

(Diogo F. Rodrigues, jul. 2013)

4.2.5 A beleza da paisagem

Mesmo que a transformação venha ocorrendo na Ilha Comprida devido à


urbanização e desenvolvimento, ela continua demonstrando uma infinidade de belezas
naturais na fauna, flora e suas interações ecológicas presente no bioma associado
á vegetação de dunas, restinga, mata atlântica e mangue, ainda sim proporcionam
prazer, conforto e paz.

A opinião dos moradores entrou em consenso, como reforça o entrevistado


D-6: “(...) porque a cidade que nós nascemos não pode escolher, mas sim a cidade
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que vivemos. Nasci em São Paulo por falta de opção, eu escolhi a Ilha Comprida para
viver. Não mudaria nunca.”

Com o modelo de turismo sol e praia, resulta no acúmulo de frequentadores


nas regiões litorâneas mais próximas das regiões metropolitanas, a procura da
Ilha Comprida vem aumentando a cada ano, mas ações de ecoturismo são poucos
exploradas, concentrando quase toda a atividade turística na praia, como relatado
pelo entrevistado D-6 (funcionário público, ensino superior):
“Acho que teria mais coisas que poderíamos fazer. Como passeios ecológicos,
explorar mais as dunas com responsabilidade, lógico, porque dá medo colocar
o turismo na mão de qualquer pessoa e simplesmente devastar o ambiente.
Eu acho que o turismo deveria ser mais explorado com profissionais. Preparar
o povo, tanto os profissionais, como orientar os turistas. Precisa ser mais
fiscalizado.”

Foto 17: Dunas associada à vegetação rasteira

(Diogo Rodrigues, 2013).

“O que mudou muito assim foi o pessoal ter conhecimento desses picos,
como hoje a prefeitura faz passeios ecológicos, leva o pessoal para conhecer
umas trilhas em Pedrinhas, então saiu uma parte da educação da população
para não jogar lixo, evitar o máximo possível. Essa mudança veio com a
população mesmo né, o pessoal começou a procurar mais aqui, devido às
outras praias com muitos problemas como falta de água e superlotação.” (D-
1, comerciante, ensino médio)

Foto 18 e 19: Beleza ao caminho do Boqueirão Sul.


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(Diogo Rodrigues, 2013; Izaias Carmacio Jr., 2012).

“Então o lugar que eu mais adoro na Ilha Comprida é o Boqueirão Sul. E


sem contar o caminho até o Boqueirão sul, que é muito bonito, nas dunas de
Juruauva.” (D-6, funcionário público, ensino superior)

Foto 20: Amanhecer no horizonte da Ilha Comprida.

(Diogo F. Rodrigues, 2012)

Quando os entrevistados foram questionados sobre a possibilidade de residir


em outro local, todos afirmaram que não abandonariam a Ilha, com exceção de
alguns que eventualmente tenham motivos financeiros, mas pelo menos metade dos
entrevistados afirmou que por motivo algum deixariam o “seu paraíso”.

“Eu moro no paraíso, e nunca pensei em sair daqui, conheço quase todo
o Brasil, mas nenhum lugar me chamou a atenção. Como disse antes, no
meu bairro se não construir nenhuma casa mais, é melhor.” (D-4, funcionário
público, ensino médio).
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao ser convidado ao mundo de cada entrevistado, constatou o respeito


e contemplação com o ambiente, nas entrevistas foram citadas muitas vezes a
tranqüilidade que faz parte da rotina dos moradores em época de baixa temporada,
não havendo problemas com congestionamento, como no exemplo descrito no
depoimento D-6:
(...) na Ilha Comprida o que é legal no caminho de casa até o trabalho você
cumprimenta todo mundo, você conhece todo mundo, sabe quem são, aqui
tem paz e não tem trânsito.

Os moradores apontaram que o boqueirão Sul da Ilha Comprida tem um


destaque na paisagem, justamente pelo atual estado de conservação influenciado
pelo seu difícil acesso. Mencionam, inclusive, locais que somente eles tiveram a
oportunidade de conhecer e guardam em suas memórias.

Com relação aos estudos sobre o imaginário e a relação com imagens, observa-
se em Figueiredo (2010), que:
O estudo sobre o imaginário permite decifrar o sistema de imagens
articuladas e a estrutura que se definem de modo a facilitar a compreensão
do funcionamento e das dinâmicas pelas quais as imagens são incorporadas
como conteúdo coletivo, implicando em visualizações, representações
sociais, resistências, pré-conceitos, que podem, inclusive, comprometer a
visão correta de um determinado conjunto de símbolos.

Observou-se que os moradores relacionaram a construção da ponte em 2001


como responsável pela ampliação da atividade turística e urbanização, trazendo
benefícios e dinamização para a economia do município, por outro lado, trouxe
problemas associados que antes não aconteciam, como delitos, interferências na
paisagem natural e falta de segurança, uma vez que não há fiscalização eficiente. Em
decorrência disso, ocorre também um aumento no acúmulo de resíduos sólidos.

Nas imagens coletadas observou-se o aumento da mancha urbana com


construções de vias de acesso, crescimento nos locais comerciais, alteração da fauna
local, aterramento de áreas de manguezais, supressão da vegetação nativa e das
dunas, impermeabilização do solo com construções e vias de acesso, locais com
grandes concentrações de segundas residências, terraplanagem das dunas para as
construções civis e o acúmulo de resíduos sólidos. Problemas com a qualidade da
água, condições de vida, contaminação ambiental.

O Balneário Ponta da Praia é o local de maior destaque na percepção dos


entrevistados, justamente por ser mais visível a alteração da paisagem, devido ao
avanço do nível do mar. Resultando na perda gradativa de residências ano a ano. O
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turista, ao visitar o local onde foram realizadas as fotografias, não imaginará que neste
local havia urbanização, porque atualmente é um local inundado, existindo no máximo
alguns escombros, como marcas desse processo.

O município está enfrentando ameaças de novas destruições na avenida principal


por conta da força marítima. As imagens relataram o processo de transformação na
paisagem da Ilha Comprida que ocorreu até o ano de 2013, mas a pesquisa deduz que
ainda haverá mais transformações no município se não for realizado uma intervenção
para tentar controlar, ou até mesmo transferir os moradores que atualmente estão
com suas residências próximas do mar, pois o que pode se observar é que o processo
de transformação indica que seu processo de transformação não esta concluído.

Ressalta-se, ainda, a necessidade de se provocar discussões e subsidiar ações


de educação ambiental e ecoturismo, visando a melhoria da qualidade de vida e a
conservação da paisagem natural nessa região do litoral Sul de São Paulo.

REFERÊNCIAS

AMORIM FILHO, O. B. Os estudos da percepção como a última fronteira da gestão


ambiental. SIMPÓSIO SITUAÇÃO AMBIENTAL E QUALIDADE DE VIDA NA REGIÃO
METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE E MINAS GERAIS, 2, 1992, Belo Horizonte.
Anais... Belo Horizonte, ABGE, 16-20, 1992. Disponível em http://sigcursos.tripod.
com/percepcao_ultima_fronteira.pdf. Acesso em 04 out. 2013.

ARAUJO, G. K. T. M. Percepção ambiental, memória e transformação da paisagem:


estudo de caso no sítio Tangará e bairros da região oeste de Santo André (SP).
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Ciências Biológicas) – Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, Centro Universitário Fundação Santo André, Santo André,
2006.

BEU, S. E. Análise socioambiental do complexo estuarino-lagunar de Cananéia-


Iguape e Ilha Comprida (SP): subsídios para o planejamento ambiental da região.
2008. 133f. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) – Programa Interdisciplinar
de Ciência Ambiental, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

COSTA-PINTO, A, B.; SORRENTINO, M. Trabalhos coletivos e educação ambiental


para a participação: uma parceria com moradores de Pedrinhas, Ilha Comprida/SP.
Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 8, p. 21-34, jan./jun.
2002. Disponível em http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-content/uploads/cea/Texto_
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DOMICIANO, C. S.; OLIVEIRA, I. J. Cartografia dos impactos ambientais no Parque


Nacional da Chapada dos Veadeiros. Mercator, Fortaleza, v. 11, n. 25, p. 179-199,
mai./ago. 2012

FIGUEIREDO, L. A. V. Cavernas como paisagens racionais e simbólicas:


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Departamento de Turismo

imaginário coletivo, narrativas visuais e representações da paisagem e das práticas


espeleológicas. 2010, 466f. Tese (Doutorado em Ciências, área de Geografia Física) –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, universidade de São Paulo, São
Paulo, 2010.

NOBRE, I. M. A fotografia como narrativa visual. Dissertação (Mestrado) -


Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2003.

NOBRE, I. M. Revelando os modos de vida da Ponta do Tubarão. Tese (Doutorado


em Ciências Sociais) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2005.

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TURISMO EM ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL: POSSIBILIDADE DE


TURISMO NA RESEX CAETÉ-TAPERAÇU/BRAGANÇA

RESUMO

O presente artigo tem como principal assunto o Turismo em área de proteção ambiental, tendo como
estudo de caso a RESEX Caeté-Taperaçu/Bragança que objetiva traçar estratégias conservacionistas
de proteção da biodiversidade, em que se faz necessária a regulação do uso e o acesso dos recursos
naturais da RESEX para afirmação da qualidade de vida dos próprios atores sociais, e principalmente
da comunidade que faz parte direta ou indiretamente da mesma, isto posto que, se faz necessário para
o direcionamento dos objetivos, a gestão participativa dos recursos naturais que caracteriza-se como
um modelo alternativo de participação da sociedade bragantina nos processos de tomada de decisão
de políticas, inclusive, na instituição de programas e projetos com caráter ambiental, para que, assim, a
comunidade se desenvolva de forma igualitária e minimize os impactos que, possivelmente, a atividade
turística poderia ocasionar na região.A metodologia de pesquisa envolveu a pesquisa bibliográfica que
deu subsidio teórico para a segunda etapa da metodologia, a pesquisa de campo.

Palavras-chave:Turismo, Área de proteção ambiental, Gestão, Participação.

ABSTRACT:

This paper has as its main subject the tourism area of environmental protection, taking as a case study
that aims to RESEX Caeté-Taperaçu/Bragança strategize conservation of biodiversity protection, where
it is necessary to regulate the use and access of resources natural RESEX for affirmation of the quality
of life of social actors themselves, and especially the community that directly or indirectly part of it, since
this, it is necessary for the targeting of objectives, participatory management of natural resources that
characterized as an alternative model of bragantina society participation in the processes of decision-
making policies, including the establishment of programs and projects with environmental character, so
therefore the community to develop equally and minimize the impacts that possibly tourism activity in
the region could cause.The research methodology involved the theoretical literature that gave subsidies
to the second step of the methodology, field research.

Keywords:Tourism, Area of Environmental Protection, Management, Participation.

INTRODUÇÃO

Verifica-se que desde o final do século XIX, a preocupação ambiental começou


a ser aborda por diversos paradigmas que conseguiram mobilizar fortemente
uma grande parte da sociedade industrial. Tal mobilização afetou não somente os
ambientalistas, biólogos e outros, como também diversas atividades econômicas,
dentre elas o turismo.

Para chegar à formulação do conhecimento ambiental, inicialmentebuscou-se


repensar os conceitos sobre a relação entre o meio ambiente e sociedade. A visão
de natureza passou por diversas transformações, como por exemplo: o conceito de
natureza selvagem, que surgiu no início do século XIX e era considerado como algo
ameaçador; outro conceito surgiu no final do século XIX, sendo ele o de natureza
inalterada, onde os locais naturais intocados tinham um significado muito especial
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por parte da sociedade, entre outros conceitos que foram de fundamental importância
para que o conceito de natureza fosse recapitulado.

Entre os conceitos formulados ao longo dos anos, ressalta-se a importância do


meio ambiente para a atividade turística, uma vez que há uma grande relação entre
o meio ambiente e a mesma. Contudo, observa-se que esta relação pode ocasionar
sérios impactos ambientais e sociais.

O turismo enquanto atividade ligada à prestação de serviços e as questões


capitalistas, vem buscando alternativas coerentes para firmar-se a esse modelo de
gestão ambiental, propondo novos paradigmas para uma relação sustentável entre o
local visitado, a cultura e suas tradições, dessa forma, surgem algumas alternativas
da atividade turística, que visam sobre tudo, à valorização cultural da localidade e a
sustentabilidade.

A preocupação com o novo modelo de desenvolvimento propõe novas formas


de pensar e agir dentro de um local, modifica a ideia de que a produção turística é
somente uma das produções econômicas que o mercado induz, despreocupadas com
a sociedade, com as condições de vida da população local bem como as problemáticas
produzidas em tais localidades. Atualmente, os impactos sobre a cultura e as paisagens
dos locais visitados passaram a ser estudado em nível científicoo que tem causado
a grande sensibilização do poder público para as questões ambientais nas viagens
turísticas (RUSHMANN, 2010).

Ressalta-se, também a importância do planejamento para esta atividade,


que deverá ser adequado de acordo com as especificidades do local, deve-se ter
a sensibilidade de que cada local tem as suas características peculiares, não
podendo generalizar a forma de planejamento. Essa atenção redobra-se às áreas
de preservação, que quando bem planejada possibilita o desenvolvimento de turismo
consciente com as questões ambientais e em áreas de uso sustentável permite aos
visitantes, o reconhecimento social e cultural do local.

Porém, este quadro vem se modificando fundamentalmente com a evolução


na prática desta atividade que vem tentando se consolidar não apenas através do
viés econômico como também na tentativa de englobar a cultura e a vida social da
localidade e de seus residentes. Essa perspectiva pode ser visualizada nas Áreas de
Proteção Ambiental.

Em torno a este contexto o presente artigo utiliza a determinada metodologia:


levantamento de referencial bibliográfico acerca do assunto; Trabalhos de campo na
localidade, para melhor compreensão do tema; entrevistas com os integrantes diretos
da comunidade e palestra com o integrante do ICMBIO.
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1. A NOVA CONCEPÇÃO DE TURISMO: ALTERNATIVO/ SUSTENTÁVEL

A busca pelo “verde” e a “fuga” do estresse dos grandes conglomerados urbanos


(RUSCHANN, 2010) vem se tornando cada vez mais difundida na nova concepção
de turismo. Busca-se um equilíbrio sustentável entre o homem e o meio ambiente, um
olhar diferente para aquela viajem, que antes, parecia sem muito diferencial para a
vida do turista e principalmente da comunidade receptora. Verifica-se a importância da
valorização do ambiente, dos hábitos e costumes da população visitada. Essa nova
proposta vem sendo discutida desde o inicio do século XX.

Esse turismo consciente com o meio ambiente e com as pessoas, tem


se configurado com base nos paradigmas da sustentabilidade e do ecoturismo
(QUARESMA, 2003) busca-se a tranquilidade, as aventuras, o conhecimento
profundo das regiões visitadas, bem como a peculiaridade cultural, natural e social.
Tal concepção vem atrelada diretamente ao discurso ambientalista, que desde o final
do século XX, “tornaram-se o foco de debates, em função ao esgotamento crescente
da capacidade de suporte dos recursos naturais” (McGRATH, 1993; ERICKSON,
1994 apud QUARESMA, 2003, p. 28), além do “vazio” ambiental deixado pela
industrialização crescente, também vem sendo discutidos os impactos sociais desse
esgotamento, pois tem afetado intensamente a existência de populações que veem
na natureza, a sua principal fonte de reprodução social.

No final do século XIX Jean-Jacques Rousseau (1985 apud QUARESMA 2003,


p. 44) já “ressaltava a importância do encontro do homem com o seu estado mais
puro”, contrariando a intensa busca pelo consumismo e a degradação ambiental
provocada pela industrialização. O autor ainda ressaltava que a natureza seria o
estado primitivo da humanidade, o que caracteriza a liberdade e espontaneidade,
inexistente na sociedade industrializada.

Nesse contexto de valorização da natureza, as áreas de proteções naturais


ganharam força nos últimos anos e tem sensibilizado a opinião pública. Constata-
se que o então turismo de massa caracterizada, pelo grande fluxo de pessoas em
um mesmo local e na mesma época do ano contribui de forma significativa para
as “agressões socioculturais nas comunidades receptoras além de causar danos,
às vezes irreversíveis aos recursos naturais” (RUSCHMANN 2010, p.23).Atrelado
ao desenvolvimento sustentável, o turismo vêm procurando respeitar os limites da
capacidade de carga dos ecossistemas como também, procura melhorar as condições
de vida das comunidades, a partir de planejamentos compatíveis e integrados entre o
poder público, privado e sociedade civil.

Conforme, a Organização mundial de Turismo (OMT, 2012) esse segmento tem


se configurado como um forte aliado no desafio da sustentabilidade, mostrando-se
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capaz de ser uma atividade que consiga compatibilizar o crescimento econômico com
uma sociedade mais justa e uma natureza mais protegida. De modo geral, desde o
final da década de 1980 surgiu uma nova demanda de turismo que busca um tipo
alternativo/sustentável, ao então predominante turismo de “sol e praia” (DIAS, 2003,
p.16).

Esse “novo” turismo recebe diversas denominações: ora “alternativo”,


“responsável”, “ecológico” e o tradicional turismo Sustentável ou Ecoturismo. Apesar
de vários termos, verifica-se uma única preocupação: constituir uma harmoniosa
relação entre o Estado, a sociedade civil e os empresários (operadores e agentes de
turismo), que necessitam se adequar as propostasde sustentabilidade- natural, social,
política e econômica- desse novo segmento.

Levando em consideração que o maior produto desse modelo é a “venda”


do próprio ambiente das localidades e que, a estrutura deve se adequar ao tipo de
atividade desenvolvida e a vulnerabilidade do ecossistema “pergunta-se, até que
ponto os empresários seriam capazes de investir nesse turismo “ultrassensível”
que requer o dobro de atenção e planejamento que dificilmente gera lucro imediato”
(RUSCHMANN, 2010, p. 24) da mesma forma pergunta-se ao Estado, se terá um
compromisso maior na elaboração de leis que garantam o planejamento e a gestão
adequados do turismo nas áreas de proteção ambiental.

O Estado como possuidor de instrumentos legais para a elaboração de políticas


públicas tem a obrigação de proporcionar um “desenvolvimento ordenado dessa
atividade, a fim de evitar seus impactos negativos nas comunidades e no meio natural”
(RUSCHMANN,2010, p. 29), porém, dificilmente, as ações desses instrumentos legais
chegam de forma completa aos diversos destinos turísticos, inclusive as áreas de
proteção ambiental, que requerem o dobro de cuidado e atenção do Estado.

2. UNIDADES DE CONSEVAÇÕES E TURISMO

Pensar em fazer turismo de qualidade em locais que sejam legalmente


preservados é dar a possibilidade para que as gerações futuras possam conhecer
a natureza, espaços esses, que inevitavelmente são diferentes e autênticos, o que
possibilita um diferencial social e ambiental tanto para quem visita quanto para quem
é visitado.

Em se tratando do turismo em área de proteção ambiental, a consequência


do grande fluxo de pessoas é ainda pior que outras práticas de turismo, pois nesses
ambientes- ultrassensíveis-, torna-se necessário um planejamento de gestão do
turismo adequado, sendo capaz de monitorar a sua evolução e aprimorar a sua
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eficácia. A melhoria da qualidade de vida da população receptora, a preservação dos


recursos naturais, assim como o equilíbrio da capacidade de carga do lugar turístico
são os principais obstáculos a serem encontrados ao se planejar. Uma inovação no
segmento turístico, que busca a construção de novos valores e uma nova interação
entre o homem e a natureza.

Para entender a relação entre o turismo e essa área de conservação ambiental,


vale ressaltar a criação de áreas protegidas. No fim do século XIX, em meio a aceleradas
mudanças nas grandes cidades urbanas- sociais, econômico, político e ambiental-
quebram-se alguns valores e símbolos constituídos durantes toda a existência humana
entre a natureza e a sociedade. Ao perceber esse distanciamento acelerado, surge a
necessidade de criar áreas que pudessem efetivar o retorno do homem à natureza.
Segundo Quaresma (2003, p. 45) esse processo de retorno intensificou-se na década
de 1960, onde “aumenta a procura de casas de campo e de praia por parte das famílias
mais abastadas, que buscam um refúgio para os finais de semana e férias”.

Inicialmente pensar em áreas protegidas era pensar em áreas completamente


vazias ou intocáveis, verdadeiros- corredores ecológicos-, do qual pessoas que viviam
em seu interior não participavam das decisões que o Estado os impunha. Um caso
extremo citado por Diegues (1996 apud ARRUDA, 1997, p.9) foi o plano de manejo
da ilha de Cardoso, produzido em 1976, que proibiu as atividades de subsistência
praticada por seus moradores, obrigando-os a migrar para a cidade da Cananéia,
aumentando consequentemente, a segregação espacial deste local.

Haesbaert (2006, p. 124) ao abordar a dialética da des-re-territorialização e do


processo que a sociedade contemporânea vive, aponta que a todo instante, múltiplas
transformações (econômicas, políticas, cultural ou “natural”) ocorrem no mundo inteiro,
e ressalta que essas áreas naturais são consideradas “intocáveis”:

Não basta criar territórios fechados, para a sobrevivência de animais e plantas.


Torna-se imprescindível construir também, entre as reservas descontínuas,
elos e continuidades que permitam intercâmbios e fluxos, pois o próprio
ecossistemas não pode funcionar como uma constelação de enclaves de
desconectados.

Nessa perspectiva de criação de “áreas intocáveis”, criam-se os Parques Nacionais


“PN”, que com o tempo tornou-se motivo de grandes discursões entre os biólogos
conservacionistas e os preservacionistas.

Publicado oficialmente em 1866 sob o nome de ecologie por Ernest Haecler


a ecologia foi conceituada como a ciência da relação entre os organismos e o seu
meio ambiente que ao longo dos anos foi sendo constantemente redefinida pelos
cientistas ecológicos. Hannigan (1995) ressalta que na década de 1970 a ecologia
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foi, transformada num modelo cientifico para compreensão das comunidades da


fauna e flora, entretanto e recentemente os ativistas do povo, propuseram uma
nova perspectiva ecológica que considerasse as interpelações do ecossistema e o
conhecimento popular.

Começa-se a pensar o mundo natural em várias vertentes, em que de um lado


estão aqueles que acreditam que as comunidades humanas têm um efeito destrutivo
e devastador sobre o meio ambiente, valoriza a apreciação estética e espiritual da vida
selvagem (wilderness) - preservacionistas– em oposição, estão aqueles que começam
a verificar a grande importância do manejo humano sobre a natureza, assegurados
pelo manejo sustentável do meio - conservacionistas. (DIEGUES, 1994, p. 24-25)

Em meio a essas opiniões divergentes, hoje o turismo contribui de forma


significativa para conservação dos recursos naturais e culturais desse meio visitado.
Como exemplo, verifica-se que desde a criação do PN de Yellowstone o parque
recebe aproximadamente três milhões de visitantes-ano e o PN de Iguaçu, no Brasil,
recebe aproximadamente 1,5 milhão de visitante-ano (AREAS, 2003, p. 4 apud
QUARESMA, 2008, p. 7) assim o turismo, recreação ou lazer, são as principais
atividades de uso público nas UC de proteção integral e de uso sustentável, de
acordo com Dourojeanni&Padua (apud MAGRO, 2003), as atividades turísticas são
vistas como uma grande oportunidade para a sustentabilidade econômica das UC
brasileiras, mas reconhece também que, tanto o turismo tradicional como essa nova
proposta de ecoturismo, pode representar uma ameaça para a preservação do meio
ambiente caso não seja devidamente planejado (RUSCHANN 2010; QUARESMA,
2008).Nesse prisma, é de extrema importância ter-se um planejamento voltado para
o desenvolvimento sustentável do turismo nessas Unidades de Conservações.Uma
série de estratégias deve ser bem definida para que de fato o turismo seja sustentável
e ofereçam benefícios para o meio ambiente, visitante, e comunidades receptoras.

No Brasil a conservação de florestas em áreas públicas se dá através do


Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), instituído pela lei 9.985, de
julho de 2000, o qual definiu as UC’s como sendo “espaço territorial e seus recursos
ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes,
legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação [...]” Segundo
o artigo 7º desta lei, as UC’S Dividem-se em dois grupos: Unidades de proteção
Integral, que tem o objetivo de “preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso
indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei” e
as Unidades de Uso Sustentável, cujo objetivo é “compatibilizar a conservação da
natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais”

As áreas de Proteção Integral são as áreas destinadas à preservação da


natureza, com apenas uma restrição- permissão do uso da terra, respeitando as suas
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devidas exceções. As unidades inseridas nessa Categoria são: Estação Ecológica


(ESEC); a Reserva Biológica (REBIO); os Parques Nacionais (PN), Monumento
Natural e Refúgio da Vida Silvestre.

Já as unidades de Uso Sustentáveis dividem-se em: Área de Proteção Ambiental


(APA) as Floresta Nacionais (FLONA) e as Reserva Extrativistas (RESEX). No geral
essa categoria de UC, tem por objetivo conciliar a preservação ambiental, com a
integração das comunidades locais, ou seja, tanto a natureza quanto a população
local estão inseridos no modelo de preservação destinado ao local. (BRASIL, 2000).
As Reservas Extrativistas- RESEX, que será o caso de estudo deste artigo, conforme
aponta Cunha e Guerra (2009) foram criadas em 1990 pelo decreto 98.897 e passaram
a integrar o programa Nacional de Meio Ambiente como resposta as demanda dos
seringueiros reunidos a partir de 1985 em torno do Conselho Nacional de Reforma
Agrária. Conforme o decreto 98.897, as RESEX são espaços territoriais destinados à
exploração autossustentável e à conservação dos recursos naturais renováveis.

Ainda segundo o autor, o processo de formulação e implementação da RESEX


suscitou diversas contradições, pois a necessidade de promover a melhoria do padrão
de vida daqueles da comunidade muitas vezes camufla-se na regularização fundiária,
desvalorizando o ideal da preservação natural e social pregado pelas leis brasileiras.

Não se pode negar é claro, que nem todos aqueles que se beneficiam das
concessões de terra nas reservas extrativistas fazem o mau uso do seu benefício.
Verificou-se nas comunidades da RESEX marinha de Caeté- taperuçu – Vila do
Bonifácio; dos Pescadores e a Comunidade do Castelo- que muitas famílias realmente
usufruem daquele local para a sua própria sobrevivência, porém como não há o apoio
do poder público acabam abandonando ou vendendo.

Quanto às “políticas de manejo e de proteção das UC têm deixado muito a


desejar” (QUARESMA, 2003, p.58), pois além de criarem as unidades de conservação
sem o consentimento da população que constituiu por muitos anos uma relação de
extrema dependência com aquela área natural, não há uma articulação dos indivíduos
e de sua comunidade com o poder público, de forma que a mesma participe nas
decisões do Estado, ou seja, se a comunidade não conseguir unir forças e contrariar
as decisões do Estado, dificilmente elas serão mencionadas nas políticas do local.

3. POSSIBILIDADE DE TURISMO NA RESEX CAETÉ-TAPERAÇÚ

Bragança, situada no Pólo Amazônia Atlântica do Estado do Pará, mais


precisamente na região Nordeste do Pará, possui um legado histórico e cultural
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vasto e valoroso para oferecer ao turista, devido suas tradições que atravessam
os séculos e encantam aos visitantes que por ali passam. Este município, as-
sim como Vigia de Nazaré - segundo relato de historiadores – foi liderado pelo
francês Daniel de La Touche, senhor de La Lavandiere, que foram os primeiros
europeus a conhecer a região do Caeté em 08 de Julho de 1613. Porém, inicial-
mente, Bragança era habitada pelos índios da nação dos tupinambás.

Tendo como produtos turísticos a natureza, as paisagens das praias


como Ajuruteua com uma paisagem rodeada de manguezais e povoada de
garças, guarás e outras aves, a natureza do lugar ainda oferece iguarias consi-
deradas atrativos importantes para os visitantes como caranguejo, sururu, pei-
xes, camarão, ostras e frutas regionais. A Reserva Extrativista (Resex) Marinha
de Caeté-Taperaçu localiza-se no município de Bragança, a 210 quilômetros de
Belém. Nesta região, predominam extensos manguezais e rica fauna.

FIGURA 1: MAPA MOSTRANDO MOSAICO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO


NO LITORAL BRAGANTINO

Fonte: Ministério do Meio Ambiente/ MMA.

Na atividade de campo a RESEX Caeté-Taperaçu, visitaram-se três comunidades,


sendo que duas estão no entorno da RESEX – Vila Bonifacio e Vila Que era, e uma
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está dentro da mesma - Tamatateua. Percebeu-se que existe a má distribuição de


recursos o qual influi diretamente em cada uma das comunidades fazendo com que
uma detenha de mais infraestrutura física que as outras, dessa forma, as relações
desiguais de poder influenciam o uso e acesso a recursos naturais e fazem da noção
de território categoria fundamental na discussão da questão ambiental.

Seu Conselho Deliberativo da RESEX analisada foi criado em 2007 e reativado


em janeiro de 2010, que foi instituído com o objetivo de democratizar os processos de
decisão e ampliação da participação da sociedade civil bragantina, para assim, poder
amenizar os problemas ambientais e ocasionar a descentralização das atividades de
monitoramento, passando a fundamentar modelos alternativos de gestão ambiental.
O mesmo, já realizou diversas reuniões ordinárias, extraordinárias e dos Grupos de
Trabalhos criados com vários instrumentos, entre eles: Cadastramento dos Usuários;
Projeto Manguezais do Brasil; Planejamento e Elaboração do Plano de Manejo,
Sinalização e Demarcação, Organização Social das Comunidades, Contrato da
Concessão do Direito Real do Uso e Capacitações.

Esses instrumentos serão de fundamental importância para que a comunidade


tenha o direito de usar e usufruir o espaço com consciência, possuindo também uma
associação dos usuários da RESEX, que reuni os usuários que se disponham a cuidar
e contribuir para a conservação do espaço, que será um método para que a mesma
possa participar de forma direta do planejamento e da gestão.Um dos itens do plano
de manejo, o qual ainda se encontra em fase de finalização, é fornecer infraestrutura e
serviços de apoio ao turismo, sendo a comunidade a indicadora das áreas com maior
potencial para o desenvolvimento da atividade.

Segundo Cunha e Coelho (2009), até meados da década de 1980, o Estado ditou,
de forma centralizada, a política ambiental a ser seguida no Brasil, porém, percebe-
se que na RESEX visitada, o processo de formulação e implementação da política
ambiental ocorre de forma interativa entre o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBIO), a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA) e
a comunidade, onde os mesmos traçam estratégias de ações, para que todos os
interesses sejam levados em consideração e a proteção do meio ambiente aconteça
de forma articulada entre esses três atores sociais, contudo, o Estado continua sendo,
o órgão em que se negociam decisões e em que conceitos são instrumentalizados em
políticas públicas para o setor.

A partir da iniciativa do Governo Federal e embasando-se no decreto lei 9.985


de 18 de julho de 2000 - Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)
- em consonância com a comunidade local, o ICMBIO fez o mapeamento da área
de Bragança e instituiu os limites de abrangência da reserva extrativista (corredores
ecológicos e zonas de amortecimento). Conforme Cunha e Coelho (2009, p.44), tal
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acontecimento justifica: “a incapacidade do Estado brasileiro de implementar políticas


integradas de transformação socioespacial e de regulação dos comportamentos
individuais e coletivos.” Todavia, faz-se necessário a criação do documento técnico
que mediará os objetivos gerais da Unidade de Conservação (UC), estabelecendo o
seu zoneamento e as normas que irão nortear o uso da área e o manejo dos recursos
naturais, bem como a implantação das estruturas fiscais necessárias à gestão da
unidade (Plano de Manejo).

Conforme, Repinaldo (2013), Alguns dos principais focos da gestão ambiental


da RESEX Marinha de Caeté-Taperaçu, são: educação ambiental, divulgação e
mobilização, esses métodos tem como objetivos a sensibilização e o entendimento
para que as pessoas saibam a importância da conservação da biodiversidade da
natureza, essa gestão visa principalmente informar as pessoas sobre uma ótica mais
próxima da sua realidade.
Ainda segundo, o entrevistado (pesquisa de campo, 2013):
Existe uma forma de identificar as pessoas que fazem parte e que estão
diretamente relacionados com a RESEX Caeté-Taperaçu ou com a área de
amortecimento da mesma, os quais são beneficiados e afetados pelo uso dos
recursos que são encontrados na região, para que ocorra essa identificação,
foi necessário o cadastramento, que segundo Fernando Repinaldo Filho
(integrante do ICMBIO), é um método para saber quem são os usuários e
onde os mesmos se encontram, a pesquisa terminou em Março de 2012
e comprovou, que na área da RESEX e no seu entorno, possui nove mil
e quarenta e cincofamílias que se declaram dependentes das áreas de
manguezais para a sua sobrevivência, conforme o IBGE cada família possui
uma média de cinco pessoas, somando um total de 45 mil, quase a metade
do município de Bragança. As comunidades que se inserem nessa RESEX
são: Vila do Bonifácio; Vila dos Pescadores e Comunidade do Castelo.

Ainda segundo Repinaldo (2013), os usuários dessas áreas são: pescadores, tiradores
de caranguejo, organização comunitária, famílias dependentes da agricultura,
produções alternativas (ex: mel e farinha), pescadores de campo, pesquisadores, as
pessoas que desenvolvem a atividade turística, mesmo que não seja dentro da área,
mas, no entorno, entre outros.

Cada comunidade se organiza em um comitê comunitário, quando as mesmas


fazem parte de uma área geográfica parecida, elas se organizam em um grupo
chamado de polo, esses polos possuem acesso ao conselho, podendo assim tomar
decisões e participarem das reuniões, muitas das decisões que são tomadas em
relação a RESEX saem diretamente por esses comitês comunitários, os polos são:
treme, caratateua, cidade, campos, tamatateua, aracajó, bacuriteua e ajuruteua. Vale
ressaltar que o único polo que atrai o turismo fica em torno da RESEX, sendo o polo
ajuruteua.

Essa atividade refere-se aos mais variados tipos de captura (rede puçá,
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matapi, curral, espinhel, tarrafa, coleta de mariscos, tiração de caranguejo);


confecção/ conserto de equipamentos; preparo do produto. Não se restringe
somente à pesca de fora, ou no mar, mas também às feitas nos mangues,
nos rios nos igarapés, nas quais é possível uma presença mais constante de
mulheres, além das tarefas pré e pós-captura. (ALMEIDA, 2002, p. 95)

A importância dessas atividades é revelada também, para sobrevivência da cultura


local. Modos de vida que oscilam entre a sobrevivência e a criação de símbolos com
o meio ambiente. Um dos objetivos para a criação da Reserva Extrativista Marinha de
Caeté-Taperaçu- é assegurar a sobrevivência da cultura dessas populações.

Algumas problemáticas são encontradas dentro das três comunidades que


foram visitadas, como por exemplo: o processo de formulação e execução de políticas
públicas, com o propósito de dar qualidade de vida para essas comunidades, o lixo
é uma problemática aparentemente causada pelas enchentes do rio e por falta de
uma política ambiental que faça a coleta seletiva, causando assim muitos problemas
sociais e não desenvolvendo de certa forma a atividade turística nas mesmas, já que
para acontecer à atividade turística é necessário que, primeiramente, a comunidade
tenha qualidade de vida para oferecê-la também ao turista que entrará em contato
com a realidade local, dessa forma, segundo Cunha e Coelho (2009, p.44)

O processo de formulação e execução destas políticas é abordado a partir de


uma perspectiva histórica, em que se apresenta uma proposta de periodização
das políticas ambientais no país, e por meio de estudos de caso, em que
são analisadas duas iniciativas recentes de regulação do uso e acesso aos
recursos naturais: a) a legislação dos recursos hídricos e a instituição dos
comitês de bacia e b) a criação de reservas extrativistas como unidades de
conservação de uso direto.

Cada comunidade possui a sua forma subsistência, sendo que, na vila Bonifacio
a economia é diversificada e as atividades preponderantes referem-se ao uso dos
recursos hídricos e a agricultura familiar de subsistência: pesca do camarão, peixe,
mexilhão, turu, e caranguejo, extração do mel e a produção da farinha, sendo que,
alguns são para uso comercial, como por exemplo: a extração do mel, a pesca do
peixe, caranguejo e mexilhão, já o camarão é para consumo e para o uso comercial,
os outros são para consumo da própria comunidade.

Já a vila Que Era possui como principais formas de subsistência, a agricultura,


a pesca, a roça, a produção da farinha e a cerâmica, contudo, não há o interesse
por parte das gerações posteriores em aprender as técnicas de manipulação para
a criação do artesanato, esse é um dos grandes problemas a serem frisados, pois
percebe-se que a cultura irá se perder, pelo fato de não existir uma disseminação
desses conhecimentos para as gerações futuras e a mínima de iniciativas que
despertem os interesses dos jovens e das crianças com relação a continuação da
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criação do artesanato, valorizando de uma certa forma a cultura existente.Por fim,


Tamatateua possui como principais formas de subsistência, a pesca do camarão,
peixe, a produção do açaí e da farinha.

A comunidade Vila do Bonifácio apresentou uma séria problemática de


saúde pública - a falta de água potável. Conforme entrevistas com a Dona Socorro
(Representante da comunidade) houve uma verba de mais de R$170.000 destinados
a perfuração de poço, porém ao perfurar 60 metros de profundidade encontrou-se uma
área rochosa, o que impossibilitou a continuação do serviço. Cerca de quatro anos o
poço continua incompleto e enquanto não há a solução para esse grave problema, as
famílias quando tem condições, compram a sua água, porém a grande parte depende
de poços improvisados em sua casa cuja qualidade é completamente insalubre.

Segundo a Dona Marly (2013), a qual faz parte Vila Taperaçu, um dos grandes
problemas encontrados na comunidade é a falta de um modulo universitário, que dificulta
de certa forma a formação dos jovens e adultos que vivem na mesma, impedindo
assim, a dinamização dos saberes empíricos, uma outra dificuldade a ser abordada, e
que traz transtornos para educação, é o transporte que poderia facilitar o acesso dos
mesmos a universidade que existe na cidade de Bragança. Conforme a mesma, as
escolas possuem uma grande problemática, sendo ela a falta de infraestrutura para
que os estudantes possam estudar com o seu devido conforto, um exemplo disso, é,
a falta de climatização, o uso de telhas brasilites, sabendo-se que o clima é quente e
que prejudica o ensino.

A deficiência de transporte é latente nessa comunidade, pois só tem um


horário de ônibus e os jovens ficam impossibilitados de fazer um curso na cidade,
prejudicando a educação de diversos jovens. Outro problema grave é a falta de escola
de ensino médio, os jovens têm que se deslocar até a cidade de Bragança, com
horários estabelecidos pelo transporte escolar. Além disso, tudo, diversos relatos da
própria comunidade apontam para a falta segurança, e o aumento de consumos de
drogas pelos adolescentes que ali vivem.

Os conflitos interinstitucionais também são evidenciados na comunidade,


lideres comunitários são mal interpretados pela população local o que acaba gerando
diferentes posições e percepções.

Observou-se que, as pessoas não estão preparadas para administrar e


conservar uma Unidade de Conservação, mas que a criação de uma UC é uma ótima
iniciativa para ocorrer à mudança com relação, a valorização do meio ambiente e
da cultura existente, isso só irá acontecer com criação de políticas diferenciadas e a
iniciativa assídua dos órgãos responsáveis pela administração, sendo a comunidade
parte integrante dessa administração.
A única ajuda que as famílias possuem, é a bolsa família. Já existe um centro
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comunitário que funciona através da ajuda de pessoas do INCRA, apesar de


ter também gerado um sério conflito entre católicos e evangélicos. Pois não
queriam o centro lá, queriam derrubar o centro, uns diziam que pertencia
aos evangélicos, outros lutaram, pois independente de crenças o centro é da
comunidade. (PESQUISA DE CAMPO, 2013)

Quando a discussão sobre as Unidades de Conservação começam acontecer, os olhares


em torno de uma UC mudam, facilitando assim, o entendimento e proporcionando
alguns benefícios, uma delas foi proporcionada pela UEPA (Universidade Estadual
do Pará), com a criação de um projeto que tem como objetivo principal a saúde, esse
projeto visa fazer o pré-natal das grávidas, identificar as causas das pessoas adquirirem
os vermes, identificar a viabilidade da água que é consumida, entre outros objetivos,
conforme a Dona Marly, o projeto terá seis meses para observar a sua funcionalidade
na prática, depois disso o projeto será expandido para as outras comunidades.

Segundo os relatos da moradora da Vila do Bonifácio apesar das várias


dificuldades enfrentadas pelos moradores da RESEX, a presença do ICMBIO trouxe
grandes benefícios para a comunidade como maiores informações e participações
no que diz aos direitos e deveres dos moradores da UC, mas, percebeu-se que não
adianta em nada criar uma Unidade de Conservação se não existe a mínima estrutura
(física) para a manutenção da mesma e para suprir as necessidades das pessoas
que a habitam, um exemplo disso é inexistência de uma base do ICMBIO dentro das
comunidades, para terem o acesso direto com as dificuldades encontradas, facilitando
de certa forma o dialogo entre Instituto e comunidade.

Assim, a grande problemática verificada em campo foi em geral a latente falta do


poder público (Municipal e Estadual) na RESEX Marinha de Caeté- Taperaçú. Casos
que conforme a leitura do livro de Cunha e Guerra (2009) é preciso “uma análise mais
profunda das políticas ambientais e de sua integração com outras políticas públicas e
com as transformações sociais necessárias ao país”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O turismo em área de proteção ambiental pode apresentar-se como importante


gerador de divisas capaz de produzir oportunidades de trabalho e renda com o intuito
de contribuir para a redução das desigualdades regionais e sociais nas mais diversas
localidades do país, também como para estruturação e ordenamento da atividade
turística, baseando-se nos princípios da participação, valorização cultural e social.

No entanto observou-se que há a tentativa de uma gestão participativa eficaz,


porém, alguns problemas ainda são visíveis na Unidade de Conservação que poderão
ser minimizados através da conclusão e prática do plano de manejo e da iniciativa
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assídua da comunidade, buscando sempre comunicar-se com as esferas que estão


envolvidas na administração da RESEX Marinha Caeté-Taperaçú, dessa forma,
todos os interesses envolvidos serão atingidos, direcionando assim, para a inclusão
da sociedade, com o objetivo de desenvolver a atividade turística de uma maneira
sustentável e comunitária onde todos estejam inclusos tanto no planejamento quanto
na execução da mesma.

Portanto, percebeu-se durante a visita naRESEX Caeté-Taperaçu/Bragança a


tentativa de se estabelecer a atividade turística nas comunidades que fazem parte ou
que estão no entorno da mesma, podendo assim, servir futuramente, como exemplo
para práticas desse segmento do turismo em outras localidades, objetivando não
apenas a geração de renda a partir desta atividade, como também a geração de
emprego, valorização cultural e inserção da comunidade em todas as etapas da
prática da atividade turística, porém, observou-se a necessidade de infraestrutura,
planejamento, transporte e outros fatores que são fundamentais para tal prática e
principalmente para suprir as necessidades da própria comunidade.

REFERÊNCIAS

Almeida, Fernando- O bom negócio da sustentabilidade- Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 2002.

ARRUDA, Rinaldo. Populações tradicionais e a Proteção dos recursos naturais em


Unidades de Conservação”. In Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Unidades
de Conservação. Vol. 1 Conferência e palestra, pp. 262-276. Curitiba. Brasil, 1997.

BRASIL. Planalto. Lei nº 9.985, de 18.07.2000. Disponível em: <http://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm> Acesso em 20 de fev. 2012.

COELHO. Lígia Martha C. da Costa. História(s) da educação integral. Em aberto,


Brasília, v.22, n.80, p.83- 96, abr.2009.

CUNHA, L. H.; COELHO, M. C. N. Política e Gestão Ambiental. In: CUNHA, S. B.


da.; GUERRA, A. J. T. (Orgs.). A questão ambiental: diferentes abordagens. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. (p. 43-79).

DIAS, G.F. Educação Ambiental: princípios e prática. 8. ed. São Paulo: Gaia,
2003.

DIEGUES, O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Núcleo de Apoio à


Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas do Brasil – NUPAUB/USP,
1994
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HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização– Do “fim dos territórios” à


multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, 2a.ed.

HANNIGAN, J. A. Natureza, ecologia e ambientalismo: formulação do


conhecimento ambiental. In: HANNIGAN, J. A. Sociologia ambiental: a formação de
uma perspectiva social. Lisboa: Instituto Piaget, 1995. (p. 145-168).

MAGRO, T. C. Percepções do Uso Público em UCs de Proteção Integral. In: Alex


Barger. (Org.). Áreas Protegidas: Conservacao no Ambito do Cone Sul. Pelotas. 1
ed. Pelotas: edicao do editor, 2003, v. 1, p. 87-98.

RUSCHMANN, Doris. Turismo e planejamento sustentável: A proteção do meio
ambiente. Campinas, SP: Papirus, 2010. (Coleção Turismo)

Site das Unidades de Conservação no Brasil, disposto em: http://uc.socioambiental.


org/uc/4342 acesso em: 30/jan/2013 às 15:30 h.

QUARESMA, Helena Doris. O desencanto da princesa: Pescadores tradicionais


e turismo na área de proteção ambientais de Algodoal/Maiandeua. Belém: NAEA,
2003.

História de Bragança: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=883026


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UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: ECOTURISMO E HOSPITALIDADE

RESUMO:
As unidades de conservação, principalmente os parques nacionais, são um dos
principais ambientes para a prática do ecoturismo, sendo este amplamente incentivado
pelos órgãos governamentais sobre o meio ambiente e entendido como uma forma de
incentivo à conservação ambiental. Dessa forma os gestores dos parques nacionais
precisam se organizar e planejar de que forma vão permitir que os objetivos de tais
unidades de conservação, enquanto parque, sejam entendidos e percebidos pelos
visitantes que serão os agentes que perpetuarão o trabalho de conservação. Por isso,
os objetivos deste trabalho é perceber, baseado nos conceitos da hospitalidade, como
é feita a recepção aos visitantes no Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET),
localizado no Estado do Rio de Janeiro e apresentar ao parque um diagnóstico que
possa auxiliar o processo de recepção e acolhimento dos visitantes do parque. Na
metodologia, desenvolvemos indicadores de hospitalidade que foram verificados a
partir de visitas ao parque, fotografias e um questionário que enviamos por e-mail
e fomos respondidos. Observamos que o Parque Estadual Serra da Tiririca é um
importante atrativo de ecoturismo na cidade e de beleza irrefutáveis, mas que precisa
organizar e melhorar o processo de recepção e acolhimento aos visitantes a fim
de atingir o seu principal objetivo que se refere à sua própria conservação e outros
objetivos que o constituem.
PALAVRAS-CHAVE: Ecoturismo. Hospitalidade. Parque Estadual Serra da Tiririca

ABSTRACT / RESUMEN:
Las áreas protegidas, especialmente los parques nacionales son uno de los principales
espacios para el ecoturismo, que es ampliamente fomentado por las agencias
gubernamentales sobre el medio ambiente que la entienden como una forma de
fomentar la conservación del medio ambiente. Así, los administradores de los parques
nacionales deben organizar y planificar como van a permitir que los objetivos de las
áreas protegidas, como los parques, sean entendidos y percibidos por los visitantes
para que estos sean agentes que perpetúan el trabajo de conservación. Por lo tanto,
los objetivos de este trabajo es realizar, en base a los conceptos de hospitalidad, como
se hace la recepción de visitantes en el Parque Estadual Serra da Tiririca (PESET),
ubicado en el Estado de Río de Janeiro y hacer un diagnóstico que pueda ayudar
el proceso de recepción de los visitantes del parque. En la metodología, hemos
desarrollado indicadores de hospitalidad que se verificaron desde visitas al parque,
fotografías y un cuestionario enviado por correo electrónico. Tomamos nota de que
el Parque Estadual Serra Tiririca es una gran atracción del ecoturismo en la ciudad
y la belleza irresistible, pero necesita la organización y el proceso de recibir a los
visitantes a mejorar con el fin de alcanzar su objetivo principal a respecto de su propia
conservación y otros objetivos que lo constituye.
PALABRAS-CLAVES: Ecoturismo. Hospitalidad. Parque Estadual Serra da Tiririca
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INTRODUÇÃO

As áreas naturais nem sempre tiveram importância como opção de lazer


na sociedade, mas principalmente a partir do século XX, tais áreas tem sido muito
frequentadas. Atualmente, o ecoturismo é a modalidade do turismo que mais cresce
no mundo sendo responsável por 10% da motivação dos turistas segundo o MTur
(2014), assim, não há dúvidas de que o turismo é uma das razões de valorização
desses espaços.

As áreas naturais nem sempre tiveram importância como opção de lazer


na sociedade, mas principalmente a partir do século XX, tais áreas tem sido muito
frequentadas. Atualmente, o ecoturismo é a modalidade do turismo que mais cresce
no mundo sendo responsável por 10% da motivação dos turistas segundo o MTur
(2014), assim não há dúvidas de que o turismo é uma das razões de valorização
desses espaços.

O turismo como um fenômeno econômico, social, cultural e  ambiental  tem se


apropriado dos espaços naturais e urge a necessidade de que esses espaços sejam
organizados  e planejados de forma a garantir sustentabilidade e a conservação
ambiental sendo estes os princípios que fundamentam uma unidade de conservação.

Toda atividade realizada em uma unidade de conservação deve,


obrigatoriamente, considerar os princípios da sustentabilidade e da conservação
ambiental e esses pontos devem ser ampliados e perpetuados por todos aqueles que
praticam o ecoturismo.

Por esse motivo inserimos a hospitalidade no contexto do planejamento


do ecoturismo no Parque Estadual da Serra da Tiririca, pois, acreditarmos que a
hospitalidade possui valores e elementos que podem auxiliar na ratificação do turismo
sustentável e nos princípios que fundamentam a existência dos parques naturais.
Este artigo foi retirado do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no curso de
Turismo da Universidade Federal Fluminense no segundo semestre de 2013 intitulado
“As possíveis relações entre a hospitalidade e a prática do turismo nos espaços
naturais” tendo obtido nota máxima.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: ECOTURISMO E HOSPITALIDADE

O Brasil possui 346 unidades de conservação na categoria parque e destes, 42


estão localizadas no Estado do Rio de Janeiro, sendo este, o terceiro estado com a
maior quantidade de parques, divididos entre as três esferas administrativas, ficando
atrás de Minas Gerais e São Paulo com 51 e 48 respectivamente.

Os parques naturais, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação


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(ICMBio), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA),  são a categoria


mais antiga e popular de unidade de conservação e possui o principal objetivo de
conservar ambientes ecologicamente relevantes e que também possuem beleza
cênica.

Nos parques há a possibilidade de realização de diversas atividades de interesse


público como pesquisas, educação ambiental, ecoturismo, atividades esportivas e
outras, obviamente levando em consideração a conservação ambiental.

Dentre as atividades mencionadas anteriormente, destacamos o ecoturismo que


é o seguimento do setor turístico que mais cresce no mundo segundo a Organização
Mundial de Turismo (OMT). De acordo com o Ministério do Turismo (MTur) o ecoturismo:

é um seguimento da atividade turística que utiliza de forma sustentável,


o patrimônio natural e cultural, e incentiva  a sua conservação e busca a
formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do
ambiente, promovendo o bem-estar das populações. (Ministério do Turismo,
Ecoturismo: orientações básicas, p. 2010)

O dado apresentado pela OMT e a definição de ecoturismo do MTur mostram


a importância do ecoturismo e traz juntamente uma reflexão sobre a forma como os
parques têm sido organizados para que a partir do ecoturismo, consiga promover uma
prática sustentável em todos os sentidos.

Essa reflexão torna-se importante uma vez que na própria definição do


ecoturismo, essa atividade, está intrinsecamente relacionada a uma preocupação
com a sustentabilidade e com a formação de uma consciência ambiental, que envolve
e deve envolver todos aqueles que o praticam. Assim, a forma de organização dos
espaços onde há a realização do ecoturismo deve ser motivo de atenção e discussão.

Para esse assunto apontamos a hospitalidade como uma opção e um caminho


a ser percorrido para o alcance dos objetivos para os quais o ecoturismo se propõe.
A hospitalidade pode auxiliar e oferecer importantes benefícios ao planejamento das
atividades realizadas nos parques naturais.

Sobre essa questão, citamos Grinover (2007) ao apontar que aliado à


hospitalidade há outros fatores importantes como a educação, a gestão participativa e
o diálogo com os steakholders que se tornam os principais fatores para o planejamento
de qualquer atividade que busca um modelo sustentável de operação.

Grinover (2007) reforça que é necessário despertar em toda a sociedade essa


responsabilidade a fim de que a busca dos objetivos sejam melhores alcançados e de
forma coletiva. Ele complementa ao declarar que a hospitalidade torna-se a base para
o desenvolvimento sustentável sejam nos espaços urbanos ou naturais.
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Ao conceito da hospitalidade estão inseridos diversos sentidos e para Gidra


e Dias (p.119, 2004), a hospitalidade, é rica em significados e interpretações não
possuindo, muitas vezes, um sentido único e imperativo.

Para este trabalho concordamos com Batista (2002, p.157) que entende
a hospitalidade como um modo privilegiado de encontro interpessoal marcado
pela atitude de acolhimento em relação ao outro e apresenta-se como experiência
fundamental constitutiva da própria subjetividade, devendo, como tal, ser potenciada
em todas as suas modalidades e em todos os contextos de vida.

Destacamos no ponto de vista de Batista (2002), o fato de que a hospitalidade


deve ser compreendida em todas as suas modalidades e em todos os contextos de vida
e, sendo as áreas naturais espaços de interação social que fazem parte do contexto
de vida do turismo, que reafirmamos a importância de se analisar o ecoturismo sob a
ótica da hospitalidade.

Vale comentar, porém, que os valores da hospitalidade aproximam os diversos


sentidos, pois, em qualquer que seja a percepção da hospitalidade entre os diversos
grupos sociais, a ideia do bom acolhimento está inserida ao termo juntamente com o
espaço aonde essa ação de desenrola.

A ideia da hospitalidade, a partir do acolhimento, é estabelecer um ambiente


em que o respeito, a reciprocidade, o amor, a cortesia, a solidariedade, a empatia,
dentre outros valores sejam imperativos predominantes nas relações humanas. Torna-
se importante apontar que esses valores não se referem apenas às pessoas, mas aos
espaços e principalmente à natureza enquanto organismo vivo.

Acreditamos que o acolhimento pressupõe uma melhor forma de conhecimento


do outro através do respeito às particularidades, necessidades, exigências e diferenças.
O relacionamento deve ser um momento de agregação de valores, do despertar de
uma sensibilidade capaz de transformar pessoal e coletivamente todos os envolvidos
na relação.

É necessário que os imperativos da hospitalidade sejam mantidos para que


se consiga o bom acolhimento em todas as relações e espaços sociais, pois, o seu
principal objetivo é promover o (re) conhecimento e aproximação entre os seres
humanos e estes com a natureza e produzir um momento de construção ética, moral,
social e espiritual.

Ao voltarmos à definição de ecoturismo percebemos que ela vai de encontro


com o sentido da hospitalidade, pois, o (re) conhecimento e aproximação com os
parques naturais permitirão que os visitantes respeitem, cuidem e preservem o espaço
visitado, não apenas como um espaço turístico como se esse fosse o único significado
dado a esses locais, mas como um ambiente vivo e dinâmico que permite diversas
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formas e vivências.

Desse modo, torna-se necessário que os parques naturais sejam organizados


de forma a permitir o encontro do homem consigo mesmo, com o próximo e com a
natureza, afim de que, possam permitir a criação de vínculos humanos conscientes,
duradouros e transformadores.

Podemos dizer que as práticas sustentáveis nos espaços naturais são realizadas
a partir da apropriação, da identificação e do entendimento de que essa é uma meta
coletiva que envolve os planejadores e aqueles quem esse planejamento se destina.

ESPAÇOS SOCIAIS DA HOSPITALIDADE

Diversos são os estudos a cerca da hospitalidade e os espaços aonde ela


se desenrola. Existem duas escolas clássicas sobre o estudo da hospitalidade que
são a escola americana e a escola francesa que possuem orientações divergentes a
respeito do tema, mas essa discussão será realizada em outro trabalho, pois este não
é o foco deste estudo.

É importante destacar que essas escolas iniciaram à discussão do tema e,


atualmente, outros grupos de estudo de referência se formaram e têm produzido
importantes trabalhos. Citamos o grupo britânico representado pelos estudiosos
Conrad Lashley e Alison Morrison, e no grupo brasileiro destacamos a participação
de Luiz Otávio de Lima Camargo, cuja contribuição é a que fundamenta este trabalho.

Camargo (2004) desenvolveu um trabalho intitulado Hospitalidade e neste, ele


afirma que inúmeras circunstâncias da globalização fizeram da hospitalidade um tema
recorrente na discussão filosófica e científica atual. Neste trabalho ele ainda propõe
uma definição analitico-operacional em que o mesmo considera ser mais abrangente
que as encontradas em manuais de turismo.

O autor afirma que a hospitalidade possui um caráter ético e é considerada


um ato humano que pode ser exercida no contexto doméstico, público e
profissional de recepcionar, hospedar, alimentar e entreter pessoas que estão
temporariamente  deslocadas de seus locais de permanência efetiva.

A partir dessa definição Camargo (2004) cria dois eixos que são os tempos
e espaços sociais da hospitalidade. Os tempos sociais se referem à recepção e
acolhimento de pessoas, o ato de hospedar, entreter e alimentá-las; o segundo são
os espaços sociais que se referem aos locais onde o processo anterior se desenrola,
nesse sentido, o autor aponta os espaços domésticos, públicos, comerciais e virtuais.

Na tabela da figura 1 podemos ver os eixos criados por Camargo (2004).


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DOMÍNIOS DA HOSPITALIDADE

  Recepcionar Hospedar Alimentar Entreter

Doméstica Receber pessoas Abrigar pessoas Receber pessoas Receber pessoas para
em casa. em casa. em casa para momentos especiais
refeições. ou festas.

Pública Recepção em Hospedagem A gastronomia Espaços públicos de


espaços públicos proporcionada local. lazer e eventos.
de livre acesso. pelo lugar.

Comercial Serviços Meios de Restauração. Espaços privados de


profissionais de hospedagem lazer e eventos.
recepção. comercial.

Virtual Folhetos, cartazes, Sites e Programas na Jogos e


folderes, internet, hospedeiros de mídia e sites de entretenimentos na
telefone, e-mail. sites. gastronomia. mídia eletrônica.
Figura1: Os domínios da hospitalidade
Fonte: Adaptado de Camargo (2004)

O próprio autor destaca que a criação desses eixos são uma tentativa e um
desafio pessoal para responder quais seriam os locais e práticas sociais que poderiam
ser inseridas no contexto da hospitalidade. E a partir dessa questão que incluímos o
PESET nessa proposta, pois entendemos que este é um local de interação social
onde as melhores práticas de acolhimento resultarão em impactos mais positivos.

PARQUE ESTADUAL SERRA DA TIRIRICA

O Parque Estadual da Serra da Tiririca está localizado nas cidades de Niterói e


Maricá e foi criado no dia 29 de novembro de 1991 pela Lei Estadual nº 1.901. Nesta
década, havia intensas discussões sobre a proteção ambiental e as formas como esta
deveria ser feita, assim, grupos de ambientalistas, representantes de setores públicos
e comunitários lutaram para a formação do PESET.

Este parque conserva uma fauna e flora originais da Mata Atlântica e,


segundo o World Wildlife Fund (WWF) – Brasil, esse bioma é recordista mundial em
biodiversidade e também um dos mais ameaçados do planeta. Como reconhecimento
da importância ecológica desse bioma, o PESET, foi declarado como Reserva da
Biosfera da Mata Atlântica pela UNESCO no ano de 1992.

A criação do parque surgiu da necessidade de proteger o que restava de


mata atlântica, pois havia um processo de poluição, desmatamento e outros tipos de
degradação ambiental com a presença de mineradoras, saibreiras e a especulação
imobiliária.

Uma característica relevante é que o PESET é o único Parque Estadual criado


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por movimentação popular (INEA, 2009). A primeira delimitação do PESET é datada


de 1993; em 2007 foram definidos novos limites ao parque e, finalmente, no ano de
2012, a partir do Decreto Estadual 43.913, novas áreas foram anexadas à unidade.

No processo de formação do PESET além da critica às atividades econômicas


os grupos de ambientalistas e comunitários também criticavam a presença das
comunidades tradicionais que viviam naquele local desde o século XIX sendo
consideradas prejudiciais à conservação da natureza e, muitas vezes, eram vistos
como favelados (SIMON, 2003).

Vale destacar que uma das características das áreas naturais protegidas
brasileiras, como em grande parte da América Latina, é a presença de populações
tradicionais como os indígenas, caiçaras, ribeirinhos e quilombolas vivendo nesses
locais.

Esse fato torna-se pertinente uma vez que o modelo de unidades de conservação
do Brasil foi importado do modelo norte-americano que possuía a ideia de área natural
sem a ocupação humana. Essa situação causou muitos conflitos entre grupos contra
e a favor da permanência das comunidades tradicionais no ambiente que lhes era
natural.

O Ministério do Meio Ambiente ao criar a Lei que institui o Sistema Nacional


de Unidades de Conservação (SNUC) de nº 9.985, de 18 de julho de 2000, corrobora
com o entendimento de parques sem moradores “O Parque Nacional é de posse e
domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão
desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei”.

As vivências, as experiências e a moradia dos povos tradicionais foram


totalmente desconsideradas, embora a conservação dos espaços naturais tenha sido
possível devido ao desenvolvimento de um processo de utilização consciente dos
recursos da natureza.

A partir da luta dessas comunidades e de muitos outros atores sociais que se


aliaram a causa, o direito dos povos tradicionais à terra  foi percebido e entendido
como legítimo mesmo que ainda hoje, haja alguns conflitos nesse sentido. Sobre esses
conflitos na formação do PESET, a Universidade Federal Fluminense – UFF, através
do curso de Antropologia foi um importante aliados das comunidades tradicionais.

Essa luta foi garantiu a permanência das comunidades tradicionais nos


limites do parque através de uma lei datada 1995 e, além de assegurar este direito
às comunidades, também impõe que elas cumpram exigências que mantenham
a conservação do espaço. Atualmente existem quatro comunidades tradicionais
organizadas que vivem nos limites do parque.
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Embora o PESET tenha sido criado em 1991, somente dezessete anos depois,
em 2008, tomou posse o primeiro gestor do parque e, juntamente à posse, o desafio
de gerir um parque com muitos problemas desde a época que fora criado. Não havia
planejamento, organização e fiscalização das atividades que poderiam ser realizadas
no local. Na figura 2 podemos ver a um mapa da delimitação atual do parque:
MAPA DE AMPLIAÇÃO DO PESET – 2012

Figura 6: Delimitação PESET


Fonte RC Ambiental, 2013

Atualmente o parque conta com uma sede que possui um centro de visitantes,
um auditório, um laboratório para pesquisadores e um núcleo de prevenção de
incêndios de incêndios florestais; uma sub-sede com um pequeno espaço onde ficam
geralmente três guarda-parques que oferecem suporte aos visitantes.

O parque possui uma equipe de funcionários formados por um administrador,


uma subchefe, uma coordenadora de uso público, um agente administrativo, um
agente do serviço de proteção, guarda-parques e agentes de vigilância patrimonial. O
PESET possui um conselho consultivo atuante formado por 38 instituições, inclusive
com representantes da comunidade tradicional.

A gestão do parque, ainda que tenha seis anos de atuação, tem tentado organizar
o PESET e assim tem alcançado algumas conquistas. Um exemplo dessas conquistas
foi uma parceria com o curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense que
montou um grupo de pesquisa, Grupo de Trabalho de Turismo em Áreas Protegidas -
GTTAP em 2009, com o objetivo principal de conhecer o perfil dos visitantes do parque.
Em 2012 e 2013 a pesquisa foi realizada pela equipe de uso público de parque.
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Uma deficiência encontradas no PESET é a falta de um plano de manejo que


de acordo com o  MMA (2014) “é um documento consistente, elaborado a partir de
diversos estudos, incluindo diagnósticos do meio físico, biológico e social” que deve
ficar pronto no período de cinco anos após a criação do parque de acordo com o
SNUC.

O plano de manejo é um documento é essencial, pois ele auxilia no


planejamento e organização das atividades que poderão ser realizadas no parque e
visa, principalmente, a conservação e diminuição dos impactos negativos.  

ECOTURISMO NO PESET

Como mencionamos anteriormente, o PESET é um pólo de ecoturismo das


cidades de Niterói e Maricá e de acordo com o próprio parque, eles recebem cerca de
85 mil visitas por ano. Dado a importância que o parque possui, ele foi contemplado
com o projeto de “Fortalecimento e implantação da gestão de uso público para o
incremento da visitação nos parques estaduais do Rio de Janeiro” que prevê a
organização destes para os megaeventos de 2014 a 2016.

Diversas atividades podem ser realizadas no parque como escalada, pesca,


canoagem, passeios de barco, mas a principal delas são as caminhadas nas trilhas.
As trilhas disponíveis para visitação são Morro das Andorinhas, Morro do Tucum, mais
conhecido como ”Costão de Itacoatiara”, Enseada do Bananal, Alto Mourão ou “Pedra
do Elefante”, Córrego dos Colibris, Caminho Darwin e o Mirante de Maricá (INEA,
2009).

Após a expansão do parque em 2012 novas áreas de interesse turístico foram


anexadas ao PESET, porém a gestão do parque não faz a divulgação desses espaços
porque eles ainda não possuem um planejamento e um acompanhamento pela equipe
de uso público do parque. Assim que as áreas forem organizadas, o acesso aos locais
será disponibilizado.

Na figura 3 podemos ver um mapa das trilhas do PESET que são disponíveis
para visitação e depois faremos uma apresentação das trilhas.
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MAPA DAS TRILHAS DO PESET

Figura 3: Trilhas PESET1


Fonte PESET, 2012

Morro das Andorinhas – Esta trilha está localizada no bairro de Itaipu sendo
a única fora do bairro de Itacoatiara e representa um importante espaço do PESET,
pois além da belíssima vista e vegetação, abriga a comunidade tradicional do Sítio da
Jaqueira.

Morro do Tucum ou ”Costão de Itacoatiara” – Esta é a trilha mais visitada do


PESET e por estar próxima à praia, torna se um atrativo a mais para quem não conhecia
a trilha. Possui uma vista panorâmica das praias de Itacoatiara, Itaipu e Maricá. Esta
trilha é considerada moderada e é o setor que abriga a subsede do parque.

Enseada do Bananal – Localizada também em Itacoatiara e com acesso na


subsede do parque esta trilha é considerada leve e a caminhada pode ser feita em
30 minutos. Possui também beleza singular e além da caminhada podem ser feitos
mergulhos, escaladas e rapel em suas formações rochosas.

Alto mourão ou “Pedra do Elefante” – O acesso à Pedra do Elefante é feito


pelo Mirante de Maricá e é o ponto mais alto de Niterói. A caminhada desta trilha é
considerada pesada, possui cerca de 2km e pode ser feita em aproximadamente 1h30.
1 Na ordem de acordo com o mapa da figura 3: (1) Morro das Andorinhas, (2) Morro do Tucum
– Costão de Itacoatiara, (3) Enseada do Bananal, (4) Pedra do Elefante, (5) Sede PESET, (6) Mirante
Itaipuaçu, (7) Córrego dos Colibris, (8) Mirante Alto Mourão, (9) Sub-sede PESET, (10) Caminho Darwin
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Antigamente o acesso à trilha podia ser feito em Itacoatiara, na subsede do parque,


porém o grande número de pessoas que passava pela trilha causou muitos impactos
negativos como a degradação do espaço, forçando a sua interdição.

Córrego dos Colibris – É mais uma bela área do PESET. A caminhada pode ser
feita em 10 minutos, possui uma trilha plana e o acesso é feito pelo Engenho do Mato.
Esta trilha é muito visitada pelos colégios da região.   

Caminho Darwin - De grande importância mundial esta trilha recebeu a visita


de Charles Darwin no ano de 1832 quando o mesmo passava pelo Rio de Janeiro.
Esta trilha possui 2km de extensão e são feitas caminhadas, passeios de bicicleta e
cavalgada. O acesso ao Caminho Darwin é feito pelo Engenho do Mato, em Niterói, e
chega até Itaoca em Maricá  

Mirante de Maricá – Localizado no caminho entre os bairros de Itaipuaçu


(Marica) e Itacoatiara, este mirante possui uma belíssima vista do PESET e das praias
de Itaipuaçu. Como o acesso é feito por carro, muitos que passam por esse caminho,
aproveitam para tirar fotos e apreciar a vista.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA HOSPITALIDADE NO PESET

Os critérios de avaliação da hospitalidade no PESET foram baseados no quadro


dos domínios sociais da hospitalidade de Camargo (2009), apresentados anteriormente
e essa avaliação tem a finalidade de auxiliar o processo de acolhimento dos visitantes
no parque.

Entendemos que a forma como o parque acolhe, recepciona os seus visitantes


influi diretamente no alcance dos objetivos de conservação e da sustentabilidade
que fundamentam a existência do parque. Na figura 4 apresentamos os critérios de
avaliação desenvolvidos.

AVALIAÇÃO DA HOSPITALIDADE NO PESET


Receber Hospedar Entreter Alimentar

Centro de visitantes Conservação do parque Placas interativas Bebedouros


(plantas, trilhas)
Equipe de apoio Limpeza Eventos Oferta de alimentação
no entorno
Atendimento aos Lixeiras Atividades  
PNE’s esportivas
Atendimento bilíngue Placas informativas Atividades  
educativas
Equipe de primeiros Segurança Atividades para os  
socorros PNE’s1
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Sinalização interna Telefone público    

Sinalização externa Visita guiada    

Sinalização adaptada Sanitários     

Site      

Figura 4: Critérios de Avaliação da hospitalidade PESET


Fonte: Adaptado de Camargo

O receber da hospitalidade faz parte do primeiro contato entre hóspede e


anfitrião, entre visitante e visitado seja frente a frente ou no espaço virtual. Desse
modo, os critérios que propusemos no receber, acreditamos que poderão oferecer
um acolhimento de qualidade ao visitante e influenciará também no desejo de se
hospedar ou ser acolhido no ambiente do parque.

O hospedar é o momento de permanência do visitante no espaço e a organização


deste, precisa oferecer ao visitante todo o conforto necessário, obviamente, de
acordo com as características do local e permitir a aproximação entre este visitante
e o espaço visitado. O hospedar precisa reforçar essa necessidade de aproximação,
conhecimento, reconhecimento e renovação de laços entre homem e natureza.

O entreter, inserido no contexto do hospedar, está relacionado às atividades


desenvolvidas pelo anfitrião com o intuito de envolver o visitante nas dinâmicas do
parque. As atividades desenvolvidas neste, devem contribuir para que o momento
de permanência do visitante contribua para a interpretação e educação ambiental a
fim de promover e impulsionar atitudes conscientes em todos os espaços sociais de
convivência desse visitante.

No alimentar consideramos se o parque dispõe da água para os visitantes ao


longo da trilha ou no centro de visitantes, a oferta de alimentação no entorno e se há
algum tipo de integração e envolvimento com as comunidades tradicionais locais que
oferecem esse serviço.

RESULTADOS DA AVALIAÇÃO

Para a avaliação da hospitalidade no PESET realizamos quatro visitas ao


parque em dois finais de semanas do mês de novembro de 2013 e além destas visitas
montamos um questionário com algumas perguntas à turismóloga do parque que nos
foi respondido por email e telefone.

A hospitalidade do PESET está inserida no contexto de espaço público. As visitas


foram feitas nas trilhas do Morro das Andorinhas, Costão de Itacoatiara, Enseada do
Bananal, Córrego dos Colibris, Caminho Darwin e Mirante Itaipuaçu. Ficaram de fora
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da análise a trilha da Pedra do Elefante, a Reserva Ecológica Darcy Ribeiro e as Ilhas


do Pai, da Mãe e da Menina.

A trilha da Pedra do Elefante ficou de fora porque além de possuir um nível


pesado o seu acesso é pelo mirante de Maricá e o caminho para chegar a este mirante
não é seguro para uma caminhada, pois não possui calçada de pedestres e os carros
geralmente estão em alta velocidade. Ademais, segundo a responsável pelo setor de
uso público do parque, o mirante não é um bom local para estacionar o veículo.

As outras trilhas, como já comentamos, não constam como atrativos de


ecoturismo do PESET, pois ainda não foram organizadas para tal atividade e uma
visitação intensa gerariam muitos impactos negativos na região. Além do mais não
há funcionários suficientes no parque para que seja feita uma fiscalização completa.

No contexto do receber, apenas duas trilhas possuem postos de visitantes


que são a Enseada do Bananal e o Costão de Itacoatiara, sendo esta a trilha que
mais recebe visitantes do parque. Este posto serve apenas de abrigo para os guarda-
parques e/ou para os funcionários e não há contato com os visitantes salvo se forem
solicitados e nesse caso, são bastante atenciosos.

A equipe de apoio do PESET é pequena dada a sua dimensão, mas o parque


disponibiliza os números de telefone da sede e da sub-sede caso alguém necessite
de informação ou ajuda além de ter uma parceria com o corpo de bombeiros e com a
polícia militar local.

Alguns funcionários do parque são bilíngues. Sobre os PNE’s, ainda não há


nenhum tipo atendimento e atividades organizadas para este público, mas segundo
a turismóloga do parque que conversou conosco alguns projetos estão sendo
desenvolvidos.

Umas das nossas principais críticas ao parque se referem à sinalização que


está ruim principalmente no estado de conservação, pois grande parte delas sofreram
ação de vandalismo como pichações. Outra ponto negativo se refere à localização
das placas nas trilhas uma vez que algumas são impossíveis de serem observadas ou
nas trilhas os nos locais de acesso ao parque.

Na época em que realizamos este trabalho o parque possuía uma página oficial
na internet, era bastante organizado e trazia informações importantes sobre o horário
de funcionamento do parque, localização das trilhas e grau de dificuldade, dicas de
uma caminhada consciente, opção de visita guiada, telefones e e-mails de contato.

Um problema que encontramos neste site foi a falta de atualização da página


que trazia apenas informações de 2012. Quando questionamos isso por telefone
a responsável pelo parque, no momento, disse realmente que a página estava
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desatualizada, mas que as informações de contato e informações das trilhas estavam


corretas.

Porém não fomos informados sobre uma página oficial do parque no facebook,
criada naquele mesmo ano (2013) que é muito organizada, atualizada e possui
diversas informações sobre as atividades que o parque tem organizado como mutirões
de limpeza, atividades culturais e atividades realizadas com escolas relacionadas ao
meio ambiente, informações a fauna e flora, sobre serviços de primeiros socorros, e
muitas fotos.

No que se refere ao hospedar, de forma geral a conservação da trilha é boa,


embora seja possível encontrar traços de vandalismos como pichações nas rochas e
nas árvores, principalmente no Costão de Itacoatiara e enseada do Bananal. A limpeza
do parque também é boa, mas encontramos alguns lixos no chão, especificamente no
Costão de Itacoatiara e no Mirante.

As trilhas do Caminho Darwin e Morro das Andorinhas não possuem lixeiras ao


longo do percurso, porém não encontramos nenhum lixo. Todas as outras trilhas, com
exceção do Mirante, possuem lixeiras somente no início da trilha e é possível solicitar
sacolas plásticas para os guarda-parques se os visitantes estiverem na sub-sede do
parque que também é o único local com lixeiras seletivas.

Das trilhas visitadas as únicas que possuem placas de informações adicionais


sobre o espaço é o Caminho de Darwin e o Morro das Andorinhas, todas as outras
apontam apenas o nome das trilhas, ou as proibições impostas aos visitantes, desse
modo, não é possível que o visitante tenha informações sobre a fauna e a flora locais,
naturais da Mata Atlântica que, como comentamos anteriormente, é o bioma mais
importante do mundo.

Sobre a segurança na trilha a única que não prosseguimos até o final foi no
Caminho de Darwin porque além do lugar estar deserto, havia um carro queimado no
percurso. Quando informamos o fato ao parque, nos foi dito que a trilha era segura e
que aquele carro estava lá há algum tempo e que a trilha era segura.

Porém, para aqueles que não conhecem o local, essa situação não lhes
transmite segurança, motivo pelo qual não prosseguimos a caminhada. Durante o
percurso não encontramos telefones públicos e sanitários disponíveis aos visitantes,
e mesmo que tenha banheiro público na sub-sede do parque, ele é de uso exclusivo
dos funcionários.

Sobre a visita guiada, o parque tem uma parceria com uma empresa privada
que faz o serviço para grupos entre 10 e 20 pessoas de acordo com a capacidade da
trilha e é cobrado um valor entre 45 e 60 reais por pessoa. Os guarda-parques também
podem fazer o serviço, mas segundo informações do próprio parque, é preferível que
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a empresa faça esse serviço para não descaracterizar a função principal daqueles
que é a fiscalização.

Outra opção de visita guiada é oferecida pelos moradores tradicionais da trilha


do Morro das Andorinhas, porém nenhum responsável pelo parque nos deu essa
alternativa. Descobrimos essa alternativa quando estivemos na trilha e avistamos
uma placa não oficial informado sobre esse serviço, colocada pelos moradores na
entrada da comunidade.

Sobre o entreter o parque tem realizado diversos eventos culturais, obviamente


com uma proposta de cunho ambiental, como teatro de fantoches, roda cultural, PESET
itinerante com informações sobre o parque em algumas praças. Afirmamos que os
eventos são uma importante estratégia fortalecimento da relação com os visitantes,
com a comunidade local e do entorno.

Como placas interativas consideramos àquelas que chamam a atenção dos


visitantes a partir de brincadeiras, curiosidades do parque sobre a sua fauna e flora e
outras dinâmicas chamem a atenção dos visitantes e que agreguem valor à visitação
e estejam focadas na educação ambiental e conservação do ambiente. As únicas
placas que se aproximam dessa proposta foram encontradas no Morro das Andorinhas
e Caminho de Darwin.

As atividades de educação ambiental devem ser uma das principais ações a


serem desenvolvidas por uma unidade de conservação, pois são essas atividades
que ensinam as atitudes ecologicamente corretas tanto no ambiente natural quanto
no ambiente urbano que é o espaço de moradia da maior parte das pessoas e ajudam
da formação social do indivíduo.  

A educação ambiental que o parque realiza geralmente é feita nas escolas da


região, com os eventos, com informações no facebook e no momento da visita guiada,
quando o serviço é solicitado. Acreditamos que as placas informativas e interativas,
expostas anteriormente, podem auxiliar na educação ambiental daqueles visitantes
que não são alcançados de outras formas.

Como já comentamos anteriormente, diversas atividades esportivas podem ser


realizadas no parque, porém aquelas atividades mais complexas como mergulho e
escalada precisam ser autorizadas pelo parque.

O parque ainda não possui atividades específicas para o publico de PNE’s,


mas segundo a turismóloga do parque alguns projetos estão sendo desenvolvidos
afim de alcançá-los e inserí-los na temática ambiental. Em âmbito nacional, citamos o
Parque Nacional da Tijuca que possui atividades para os PNE’S, entendendo também
a importância de envolvimento desse grupo social.
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Para finalizar, no que se refere ao alimentar, a disponibilidade de água aos


visitantes é encontrado apenas na sub-sede do parque; sobre a oferta de alimentação,
no entorno do parque é possível encontrar alguns restaurantes mais simples e outros
mais formais, algumas pensões e lanchonetes.

Algumas comunidades tradicionais do parque também oferecem esse tipo de


serviço. No site oficial que o parque possuía, apontava sobre essa possibilidade, mas
não dizia qual comunidade e sobre como o visitante poderia obter esse serviço ou
contato. Atualmente a página do facebook não traz essa informação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o que apresentamos neste trabalho, acreditamos que a


hospitalidade pode auxiliar no processo de planejamento e organização das atividades
que os gestores do parque venham a organizar e potencializar a ratificação do turismo
sustentável.

Um ponto importante que precisamos ressaltar se refere aos parques naturais


como locais que possuem uma importância e uma responsabilidade social  ao
ajudar na formação de uma consciência ambiental, pois a prática do ecoturismo de
forma isolada não resulta na conservação da natureza e não gera uma mudança na
mentalidade dos visitantes.

Os elementos e estruturas que propomos para avaliar a hospitalidade no parque


não expressam sozinhos a hospitalidade, mas fazem parte de um contexto que tem por
objetivo proporcionar um bom acolhimento aos visitantes e, por conseguinte, alcançar
a sustentabilidade, a conservação do espaço e a mudança na mentalidade de todos.

Os eventos e trabalhos que o parque tem realizado fortalecem a sua relação com
o público que podem se tornar agentes fiscalizadores de forma a impedir atividades e
ações irregulares. Desse modo, o parque também precisa ser visto como um local de
aprendizagem e incentivador das boas práticas para além do espaço natural.

Entendemos que o PESET, como muitas outras unidades de conservação do


país de mesma categoria ou não, sofre com a falta de recursos, falta de estrutura, falta
de planejamento turístico, e depredação de muitos visitantes que embora estejam
praticando o ecoturismo não são de fato ecoturistas. Assim esse trabalho torna-se
relevante e um auxiliador do planejamento desta atividade.
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REFERÊNCIAS

Baptista, Isabel. In Hospitalidade reflexões e perspectivas. Barueri, São Paulo,


Manole, 2002.
CAMARGO, Luiz O. L. Hospitalidade. São Paulo, Aleph, 2009
GRINOVER, Lucio. A cidade a hospitalidade e o turismo. São Paulo: Aleph, 2007.
SIMON, Alba. Conflitos na conservação da natureza: o caso do Parque Estadual da
Serra da Tiririca.
PARQUE Estadual da Serra da Tiririca. Disponível em: <http://www.meioambiente.
uerj.br/destaque/tiririca_def_parque.htm>. Acesso em 18 de jun de 2014.
MATA Atlântica. Disponível em<http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_
prioritarias/mata_atlantica/> Acesso em 10 de jun de 2014.
PLANO de Manejo. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/
unidades-de-conservacao/plano-de-manejo>. Acesso em 15 de jun de 2014.
TRILHAS Especiais. Disponível em <http:/www/.terrabrasil.org.br/SGA/deficientes/def.htm>.
Acesso em 06 de jun de 2013
Turismo de lazer é o preferido do visitante estrangeiro. Disponível em: <http://www.
dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/geral_interna/noticias/detalhe/20111013-1.html>. Acesso
em 15 de jun de 2014.
Unidades de Conservação. Disponível em<http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/
unidades-de-conservacao> Acesso em 06/06/2014.
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TURISMO EM COMUNIDADES: experiências no Mosaico de Áreas Protegidas do


Baixo Rio Negro – AM

Susy Rodrigues Simonetti1


Nailza Pereira Porto2
Alcilene de Araújo Paula3

RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar o trabalho conjunto de instituições
e comunidades em prol do turismo de base comunitária no Baixo Rio Negro. A
visitação turística nas áreas protegidas da Região do Baixo Rio Negro, surge como
uma possibilidade de aproveitar o potencial turístico da região e, ao mesmo tempo,
como uma forma conservar a biodiversidade local por meio de uma atividade de baixo
impacto. Entretanto, sem planejamento e o devido envolvimento das comunidades
locais, o turismo nessa área precisou ser repensado e alinhado de modo que
contribuísse para a dinamização da economia local e promovesse a conservação
das espécies, ou seja, o ordenamento da atividade tornou-se indispensável. Para
mostrar como foi esse processo no rio Negro, utilizou-se da pesquisa de campo, da
entrevista semiestruturada e da observação participante. Os resultados sinalizam que
a gestão compartilhada é fundamental para apoiar a atividade turística da região,
ou seja, o apoio aos projetos de turismo nas comunidades é indispensável, porém
deve-se estimular que as iniciativas comunitárias deem continuidade no processo
de gestão e sustentabilidade das atividades em longo prazo, uma vez que a gestão
dos empreendimentos turísticos é realizada por famílias que são protagonistas nas
comunidades locais.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Meio Ambiente. Comunidades Locais. Unidades de


Conservação.

ABSTRACT: This article aims to analyze the combined efforts of communities and
institutions in favor of community-based tourism in the Lower Rio Negro. The touristic
visitation in protected areas of the Lower Rio Negro region, appears as a possibility
to harness the tourism potential of the region and at the same time, as a way to
conserve local biodiversity through a low-impact activity. However, without planning
and proper involvement of local communities, the tourism in this area needed to be
rethought and aligned so as to contribute to the revitalization of the local economy
and promote the conservation of the species, ie, the ordering activity has become
indispensable. To show how this process was the Black River, we used field research,
semi-structured interviews and participant observation. The results indicate that the
shared management is fundamental to support tourism in the region, ie, support for
tourism projects in communities is essential, but should be encouraged that initiatives
giving the continuity management process and sustainability of activities in the long
term, since the management of tourism enterprises is carried out by families who are
protagonists in local communities.
1 Mestre e Doutoranda em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia (PPGCASA/UFAM);
Bacharel em Turismo; Bolsista Fapeam. Professora da Universidade do Estado do Amazonas – UEA. E-mail:
susysimonetti@hotmail.com
2 Mestre em Gestão de Áreas Protegidas. Pesquisadora do Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ.
E-mail: nailza@ipe.org.br.
3 Engenheira de Pesca; Especialista em Turismo e Desenvolvimento Local. Chefe de Unidade de
Conservação da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável – SDS. E-mail: lene_paula@yahoo.com.br.
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KEYWORDS: Tourism. Environment. Local Communities. Conservation Units.

1 INTRODUÇÃO

O turismo, como qualquer outra atividade humana, pode gerar inúmeros


impactos, sejam eles positivos ou negativos. Na região do Mosaico do Baixo Rio
Negro – MBRN, no Estado do Amazonas, comunidades ribeirinhas e indígenas vem
desenvolvendo um turismo que se mostra promissor.

No entanto, essa situação já foi bastante diferente, a extração ilegal de


madeira e a caça ilegal ameaçavam a região. Mas com as discussões entre diversos
representantes dos segmentos sociais, dentre eles instituições governamentais e
não governamentais de turismo e meio ambiente, o trade turístico, guias de turismo,
proprietários de barcos, operadores, as comunidades locais, iniciou-se um trabalho
de sensibilização e capacitação para o turismo, o que possibilitou a correção do rumo
que a atividade vinha tomando.

Na região do MBRN pesquisas sobre turismo começaram principalmente a partir


dos anos 2000, por meio dos pesquisadores do Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ.
Souza et al (2010) realizaram um consistente relato de como ocorreu o ordenamento
da atividade turística nessa região; Coda et al (2011) fizeram uma avaliação do Projeto
de TBC do IPÊ, que estava em andamento, e constataram muitos resultados positivos
e encaminharam alguns direcionamentos. Em 2010 o governo brasileiro na Série
Áreas Protegidas, afirma que o Baixo Rio Negro apresenta grande potencial para
o turismo, especialmente por sua diversidade sociocultural e pela conservação dos
seus recursos nos limites de Unidades de Conservação e Terras Indígenas (JESUS
e TINTO, 2010). Mais recentemente, Neves e Lima (2013) fizeram um breve relato
sobre o TBC no Mosaico, bem como Costa Novo (2011) e Porto (2014) em suas
dissertações de mestrado fizeram uma análise crítica do TBC, abrangendo a Região
Metropolitana da Cidade Manaus, e uma análise socioeconômica do TBC envolvendo
duas das comunidades do MBRN, respectivamente.

Diante desses fatos, o seguinte questionamento deu início a este estudo: qual
o papel das instituições de apoio ao turismo nas comunidades do Mosaico do Baixo
Rio Negro? Quais as experiências promissoras dessa área? O artigo é o resultado
do envolvimento das pesquisadoras há mais de dois anos no Fórum de Turismo de
Base Comunitária - TBC, cujo intuito é promover a consolidação do TBC na região
do Baixo Rio Negro e diante dessa experiência, registraram-se imagens e anotações
diversas, utilizou-se da observação, das visitas às comunidades in loco e realizaram-
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se entrevistas semiestruturadas com consulta às fontes secundárias.

Assim, o objetivo do artigo é analisar o papel do Fórum de TBC que apoia o


turismo na região do MBRN, especificamente nas comunidades envolvidas no Roteiro
Tucorin (Turismo Comunitário no Rio Negro). Nas suas especificidades, o trabalho
busca discutir como funciona a articulação entre os diversos atores sociais nessa
região da Amazônia e apresentar a experiência do Roteiro Tucorin. É neste contexto
que várias instituições e comunidades do estudo estão inseridas e, de forma integrada,
buscam apoiar um turismo sustentável com bases locais.

2 A GESTÃO DAS ÁREAS PROTEGIDAS NO AMAZONAS

Relatórios técnico-científicos e publicações diversas apontam que o


desenvolvimento da atividade turística em Unidades de Conservação - UCs tem
aumentado nos últimos anos. Seja em busca de lazer, recreação, observação da
natureza, aproximação com o ambiente natural ou mesmo uma experiência espiritual,
a demanda por parques e comunidades localizados nos limites de áreas protegidas tem
se destacado nos últimos anos. Santos e Pires (2008) consideram que, principalmente,
a partir da década de 1980, com o aumento da preocupação com relação às questões
ambientais, a demanda em busca das áreas naturais se intensificou.

Observa-se no Brasil, um crescimento significativo da demanda, por exemplo,


por diversas formas de lazer e esporte em contato com a natureza. Os gestores de
UCs têm a difícil tarefa de conciliar o uso público com a conservação dos recursos
naturais e culturais. Para compatibilizar objetivos tão distintos como a conservação
da biodiversidade, a recreação e a interpretação da natureza, na visão de Takahashi
(2004) é essencial pesquisar tanto sobre as características dos visitantes e os tipos de
usos praticados, bem como conhecer as condições ambientais do local.

No Estado do Amazonas, de acordo com o Sistema Estadual de Unidades


de Conservação – SEUC, todas as UCs aceitam visitação, entretanto, cada uma
limita de que forma ela deve ser feita. Se o uso público for bem planejado, permite
o cumprimento dos objetivos de criação de muitas UCs, favorece o entendimento e
a apropriação desses espaços pelos indivíduos e, assim, os laços afetivos entre a
sociedade e o ambiente natural são estreitados. O uso público é uma alternativa de
utilização sustentável dos recursos naturais e culturais e contribui para a promoção
do desenvolvimento econômico e social das comunidades locais (TAKAHASHI, 2004;
MMA, 2006).

A gestão das Unidades de Conservação Estaduais é realizada pelo Centro


Estadual de Unidades de Conservação – CEUC, instituído pela Lei no. 3.244 de 04
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de abril de 2008, como parte da Unidade Gestora do Centro Estadual de Mudanças


Climáticas e do Centro Estadual de Unidades de Conservação – UGMUC, vinculado à
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas
– SDS. Dentre os objetivos do Sistema Estadual de Unidades de Conservação -
SEUC, está o favorecimento de condições para o desenvolvimento de atividades de
educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e o
turismo sustentável (AMAZONAS, 2007). De forma ideal, planejamento e normatização
devem se dar anteriormente ao início do fluxo de visitação e devem estar associados
às estratégias de controle e monitoramento das atividades. Mas, na atualidade, nas
UCs estaduais do Amazonas, a visitação começa a se desenvolver por força da
demanda turística local antes da Unidade estar implantada e preparada para tal uso.

3 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E O TURISMO

A conservação da diversidade biológica depende do uso sustentável dos


diversos habitats, e a criação de áreas protegidas, especificamente as UCs no
Amazonas, tem se mostrado uma ferramenta indispensável para se alcançar este
objetivo, na medida em que contribui para a gestão ambiental do território protegendo
os patrimônios natural e cultural e com os diversos serviços e produtos ambientais.
Passold e Kinker (2010) acreditam que, para que essas áreas sejam implementadas
de fato e alcancem os objetivos para os quais foram criadas, muitos desafios devem
ser superados, dentre eles aproximar a sociedade das UCs. É fundamental que a
sociedade perceba a importância desses espaços e seus inúmeros benefícios, mas é
igualmente importante garantir a sustentabilidade econômica das áreas protegidas por
lei, de modo que os recursos financeiros sejam revistos e aplicados adequadamente.
Mesmo diante dos vários mecanismos, alguns deles instituídos por lei visando
garantir recursos financeiros para a manutenção dessas áreas, como a compensação
ambiental e a concessão de serviços, a dependência financeira do setor público ainda
é muito forte.
Na esfera federal, no ano de 2006, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) em
parceria com a Secretaria de Biodiversidade e Florestas (SBF) e o Departamento de
Áreas Protegidas (DAP), lançou a Portaria n. 120 de 12 de abril de 2006, que aprovou
o documento denominado Diretrizes para Visitação em Unidades de Conservação.
Este documento sinaliza que devido ao crescimento expressivo da visitação em áreas
naturais no Brasil, com destaque para as atividades de turismo como um segmento
promissor nestes ambientes, houve a necessidade de prever a visitação no SNUC
de modo a permitir o cumprimento dos objetivos da sua criação, bem como utilizar
uma ferramenta de sensibilização para visitantes sobre a importância da conservação
de tais espaços e sua biodiversidade, além de possibilitar o desenvolvimento local e
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regional por meio dos recursos obtidos pelo acesso do visitante (BRASIL, 2006):

O turismo, ao mesmo tempo em que fortalece a apropriação das Unidades de


Conservação pela sociedade, incrementa a economia e promove a geração
de emprego e renda para as populações locais. Por outro lado, o desafio
consiste em fazer com que o turismo seja desenvolvido de maneira harmônica
e integrada para que a atividade não prejudique a manutenção dos processos
ecológicos, a diversidade sócio-cultural e conhecimentos tradicionais e a
conservação da biodiversidade. (BRASIL, 2006, p.9).

O referido documento é bastante significativo do ponto de vista legal, pois “tem


como objetivo apresentar um conjunto de princípios, recomendações e diretrizes
práticas, com vistas a ordenar a visitação em Unidades de Conservação, desenvolvendo
e adotando regras e medidas que assegurem a sustentabilidade do turismo” (BRASIL,
2006, p.9). No entanto, não aponta qualquer segmento turístico como prioritário, não
obstante, considera as características da visitação realizada nas áreas protegidas em
consonância com os objetivos do SNUC em unidades onde a visitação é permitida,
levando-se em conta os princípios da sustentabilidade.

A própria Lei Geral do Turismo n.º 11.771, de 17 de setembro de 2008, que


dispõe sobre a Política Nacional de Turismo (BRASIL/MTur, 2011), estabelece no Art.
5º que um dos seus objetivos é “propiciar a prática de turismo sustentável nas áreas
naturais, promovendo a atividade como veículo de educação e interpretação ambiental
e incentivando a adoção de condutas e práticas de mínimo impacto compatíveis com
a conservação do meio ambiente natural”. A Lei Geral esclarece ainda no parágrafo
único do mesmo artigo que “quando se tratar de unidades de conservação, o turismo
será desenvolvido em consonância com seus objetivos de criação e com o disposto no
plano de manejo da unidade”. No entanto, sabe-se que a implantação dos planos de
manejo nas UCs, especialmente na Amazônia, ainda é um desafio a ser transposto.

A visitação em UCs é conhecida pelo termo uso público, considerando os


pesquisadores, estudantes, professores, turistas, voluntários e a própria população
local como usuários da área protegida. No Brasil são adotadas várias terminologias
referentes à realização de atividades nas UCs, seja com fins educacionais, recreativos,
culturais ou outros: ecoturismo, turismo ecológico, visitação em Unidades de
Conservação, uso público em Unidades de Conservação, turismo em áreas naturais
etc. Estes são os termos mais usuais e presentes em instrumentos legais nas três
esferas de governo (PASSOLD e KINKER, 2010).

Visitação, visitação turística ou turismo, termos usados nesse estudo como


sinônimos no intuito de facilitar a compreensão do leitor, de forma geral, deveriam ser
sempre precedidos de plano de manejo ou gestão, que inclui o adequado zoneamento
da área, o plano de uso público e define os objetivos da área protegida. No entanto,
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como são documentos de difícil confecção - por serem muito caros e exigirem pesquisa
detalhada da área, com inventário preciso, dentre outros elementos -, na maioria das
vezes a visitação é permitida sem que esses documentos tenham sido elaborados, o
que pode gerar consequências bastante graves para a Unidade, como a degradação
do ambiente, a perda de ecossistemas, alteração nas paisagens, diversos tipos de
poluição, morte de indivíduos, alterações nos modos de vida e a dependência dos
recursos financeiros oriundos do turismo, transformando-o em atividade principal e
não complementar.

Mas há os aspectos positivos da visitação e para Passold e Kinker (2010, p.385)


ela pode levar ao desenvolvimento do turismo local, regional e até do nacional
(...) com a participação de uma diversidade de atores e forte envolvimento
das comunidades locais, é uma das principais atividades geradoras de
recursos para as UCs e para fora delas, e deve ser estimulada de maneira
a potencializar os benefícios, sem interferir na implementação de outros
programas e atividades de manejo e sem ocasionar impacto negativo aos
recursos naturais e valores histórico-culturais.

Diante desse contexto pode-se inferir que o turismo representado por seus
segmentos mais brandos, como o ecoturismo de gestão comunitária, que traz em seus
conceitos a minimização de impactos ambientais e sociais, a conservação ambiental,
a geração de renda e o elemento educativo (educação ambiental), é o mais indicado
para ser desenvolvidos em áreas protegidas. Nesse sentido, o poder público da região
amazônica passa a efetivar o planejamento ambiental incluindo o turismo como um
fator de desenvolvimento local. Mas a forma de fazer a gestão desse turismo, ou seja,
a base comunitária, vem se destacando nos últimos anos e ganhando espaço para
debates.

4 TURISMO E COMUNIDADE

Independente da existência do plano de manejo ou de gestão, a visitação


em UCs tem aumentado muito nos últimos anos em virtude da popularidade que
o ecoturismo tem alcançado. Isso não significa que se deva proibir a visitação nas
áreas protegidas pois, muito embora ela gere impactos negativos, também oferece
diversas vantagens, tais como: proteção da flora, fauna e habitats nativos, aumento
do conhecimento sobre a distribuição e condição das espécies, benefícios diretos para
a conservação da natureza, educação ambiental, lazer em contato com a natureza,
geração de receitas para a Unidade, geração de renda para população dos limites e
do entorno das áreas protegidas.

O turismo acontece em muitas áreas protegidas na região amazônica, mas a


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região do Baixo Rio Negro possui várias características que propiciam um intenso fluxo
de visitação, quais sejam: a beleza cênica, a proximidades das Unidades conectadas
espacialmente e do centro urbano de Manaus, a formação das praias durante a seca
dos rios, os hotéis, lodges e pousadas que oferecem hospedagem aos mais diversos
públicos, as comunidades locais e sua riqueza cultural entre outros. Por outro lado,
a participação das comunidades, compartilhando as decisões, oferecendo soluções,
envolvendo-se com a concepção, a implantação e avaliação de um determinado
empreendimento turístico, “é um caminho e um pressuposto para a busca da qualidade
de vida e constitui a prática dos princípios da sustentabilidade ambiental propagados
e perseguidos pelos atores sociais e políticos interessados no manejo das UCs,
incluindo aí as organizações não governamentais (ONGs)”. (GIRALDELLA e NEIMAN,
2010, p.131).

Entre os anos de 1960 e o início de 1980, tornaram-se muito populares os


projetos de desenvolvimento comunitário e a participação comunitária no processo
de desenvolvimento, bem como aumentou, gradativamente, o foco dos estudos de
turismo com a participação da comunidade no processo de desenvolvimento da
atividade (TOSUN, 1999). Cada vez mais utilizado, o termo comunidade ainda gera
inúmeras discussões. Seu significado varia de acordo com a área disciplinar que o
utiliza ou com as instituições políticas que o adotam. (CHAVES, 2001; BEENTON,
2006).

Salazar (2012) aponta que comunidade é um termo vago e evasivo,


usado amplamente na literatura do turismo e entendido, muitas vezes, com o
sentido de unidade, isto é, uma noção obsoleta de coletividade. No entanto, “não
surpreendentemente, a imprecisão da noção é habilmente explorada em marketing
turístico” (2012, p.9). O que não se pode negar é que a participação da comunidade
no processo de desenvolvimento do turismo é extremamente desejável e que ela deve
se beneficiar para que a atividade seja viável e sustentável ao longo do tempo, ainda
que encontre condições desfavoráveis (SALAZAR, 2012; TOSUN, 1999).

O termo comunidade, usado como referência nesse artigo, é entendido como


o local onde se institui um modelo singular de gestão dos recursos naturais e de
organização social, onde os indivíduos constroem sua identidade social fazendo
emergir um conjunto de saberes que são transmitidos de geração em geração. As
visitas em comunidades na Amazônia são bastante comuns, em geral, os visitantes
são ávidos por conhecer a cultura, o ambiente natural e o saber-fazer dos seus
moradores, muitas delas são compostas por populações tradicionais e indígenas que
vivem há gerações em seus espaços. Esse passa ser o local de encontro entre o
turismo e a comunidade.
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Sampaio (2008) assegura que o turismo comunitário ou turismo de base


comunitária surge como um desdobramento do diálogo científico no Brasil a partir do I
Encontro Nacional de Turismo de Base Local (ENBTL), realizado no ano de 1997 em
São Paulo. Mas nas últimas duas décadas a importância do TBC foi reconhecida no
contexto da discussão de turismo sustentável e pretende, pelo menos em termos de
discurso, desenvolver um turismo mais sustentável, com enfoque nas comunidades
que planejam o desenvolvimento da atividade (SALAZAR, 2012).

De acordo com Coelho (2013), o que vem se expandindo nos últimos anos
é o uso turístico de áreas protegidas que permite a permanência de populações
locais e o TBC é um protagonista neste processo, pois é “nesta lógica de encontros,
vivências, hospitalidade e trocas entre visitante e anfitriões que se dá a essência do
TBC” (2013, p.316). Para Salazar (2012) essa discussão iniciou na década de 1990,
com Pearce (1992), sugerindo que o TBC representaria uma forma de beneficiar todos
os envolvidos com o turismo mediante um consenso baseado em tomada de decisão
e controle local do desenvolvimento.

Rozemeijer (2001) lista três benefícios esperados pelo TBC:

1 - TBC gera emprego e renda e contribui para o desenvolvimento rural,


beneficiando especialmente áreas remotas; 2 - os benefícios derivados do uso dos
recursos naturais pelo turismo pode sensibilizar a comunidade para que utilize tais
recursos de uma forma sustentável; 3 - TBC agrega valor ao produto turístico nacional
através da diversificação do turismo, aumentando o volume e as economias de escala.

Este estudo corrobora com as considerações de Coelho (2013), quando afirma


que na Amazônia, são as populações tradicionais, ribeirinhas, seringueiros entre outros,
que se agrupam em comunidades no interior de áreas protegidas como Reservas
de Desenvolvimento Sustentável, Reservas Extrativistas e buscam se organizar para
desenvolver o turismo de base comunitária. Sansolo e Burztin (2009) entendem que
é uma opção de desenvolvimento para comunidades de pescadores, agricultores
familiares e extrativistas, ampliando as práticas cotidianas dessas populações,
especialmente no espaço rural.

A bibliografia sobre esse assunto é vasta, mas o que deve ser compreendido é
que o turismo de base comunitária se configura como um modelo de desenvolvimento
turístico endógeno, e não um segmento, cujo protagonismo das comunidades é notório,
visando a proteção do seu patrimônio cultural e natural. Apresenta-se a
seguir a metodologia do estudo que aponta a caracterização da pesquisa e o caminho
que as pesquisadoras seguiram com o intuito de apresentar como o Fórum de TBC e
o Roteiro Tucorin estão estruturados no Amazonas.
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5 METODOLOGIA

A região do Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro – MBRN inclui os


municípios de Manaus, Novo Airão, Iranduba, Barcelos e Manacapuru. A portaria Nr.
483 de 14 de dezembro de 2010, do Ministério do Meio Ambiente, reconheceu o MBRN
e deixou sob a gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade -
ICMBio onze UCs, aproximadamente 8 milhões de hectares de ecossistemas de água
preta e floresta tropical (CARDOSO, 2010).

O Mosaico está inserido na Reserva da Biosfera4 da Amazônia Central e no


Corredor Ecológico5 Central da Amazônia, maior área de proteção ambiental contínua
do mundo. Segundo o Relatório da Biodiversidade Brasileira, a importância ecológica
e social dos ecossistemas do Baixo Rio Negro é evidenciada pela alta diversidade
biológica o que lhe confere a classe de área de extrema importância para a conservação.
(BRASIL/MMA, 2002).

De acordo com o artigo 26 do SNUC,


Quando existir um conjunto de unidades de conservação de categorias
diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas
protegidas públicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gestão do
conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-
se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar
a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o
desenvolvimento sustentável no contexto regional. (SNUC, LEI 9985/2000).

Assim, em 2006 iniciou o processo de fortalecimento e a proposta de criação


do MBRN (Figura 1), submetido ao fundo Nacional de Meio Ambiente – FNMA. Para
as instituições que construíram a proposta, a região apresentaria um importante
componente biológico, abrigando ecossistemas florestais muito significativos para a
conservação mas também para o uso sustentável dos recursos, a possibilidade de
fortalecer as políticas públicas e promover ações integradas dos mais diversos atores
sociais. (CARDOSO, 2010).

Figura 1 - MAPA DO MOSAICO DO BAIXO RIO NEGRO

4 SNUC (Lei 9985 de 18 de julho de 2.000), em seu capítulo XI, reconhece a Reserva da Biosfera como
“um modelo, adotado internacionalmente, de gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais”.
5 SNUC (Lei 9985 de 18 de julho de 2.000), XIX - corredores ecológicos: porções de ecossistemas naturais
ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento
da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção
de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades
individuais.
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Fonte: SDS, 2010.

O artigo é o resultado da experiência de mais de dois anos participando do Fórum


de Turismo de Base Comunitária - TBC, formado por representantes de instituições
governamentais, não governamentais, trade turístico, academia, sociedade civil,
lideranças comunitárias. O Fórum objetiva promover a consolidação do TBC na região
do Baixo Rio Negro e isso fortalece a cada dia os trabalhos na região. Mas, há ainda
parte de trabalhos de doutorado e de mestrado em andamento nessa região que
possibilitam a aproximação com as comunidades e com as instituições que atuam no
mosaico.

A abordagem multimétodo, triangulação metodológica ou mixed methods é


indicada para este estudo, por aplicar ferramentas diferenciadas e, ao final, buscar
apresentar e discutir os resultados oriundos de cada tipo de coleta de informações
integrando-os (GÜNTHER et al, 2011), uma vez que abordar o turismo necessita-
se de uma abordagem múltipla. Quanto à perspectiva adotada, ela tem um caráter
qualitativo. A pesquisa qualitativa foi eleita para este estudo por buscar introduzir
um rigor que não envolve precisão numérica aos fenômenos a serem investigados,
mas dimensões pessoais do senso comum, como ideias, imagens, concepções e
experiências, neste caso dos comunitários e das instituições na gestão do turismo.

Ao realizar as devidas aproximações metodológicas, este estudo integrou a


observação (participante, sistemática e assistemática) e a entrevista semiestruturada
(individual). A observação se constituiu em elemento fundamental para a pesquisa
em face de sua flexibilidade. Neste estudo a observação foi participante, pois as
pesquisadoras atuaram nas comunidades e junto às instituições como espectadoras
atentas, procurando ver e registrar o máximo de ocorrências que eram de interesse
do trabalho, tomando parte nos conhecimentos objetos de estudo, participando das
discussões, atuando junto às comunidades e instituições.

As observações passaram da mais assistemática até estruturas mais


sistemáticas. Quanto às observações assistemáticas, foram registrados e recolhidos
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os fatos da realidade sem um controle rigoroso, entendendo que o objeto de pesquisa


encontrava-se definido, o que permitiu às pesquisadoras chegar a resultados válidos
pois, adquiriu-se uma postura de prontidão. Por outro lado, a observação sistemática
possibilitou o registro de elementos significativos na comunidade, tais como: a chegada
e a saída de visitantes, a aquisição de artesanato pelos visitantes, a relação entre
visitante e visitado, o uso do espaço da comunidade pelos visitantes, a atuação das
instituições e a relação delas com as comunidades.

Com relação às entrevistas semiestruturadas, foram necessárias várias horas


de gravação entrevistando comunitários que estão diretamente envolvidos com as
atividades de turismo, lazer e produção do artesanato nas comunidades e pernoites
na área de estudo. Os registros de campo também foram utilizados para dar suporte
ao trabalho. Além das observações sistemáticas e assistemáticas, foram utilizados
artigos, publicações diversas, teses de doutorado, dissertações de mestrado
relacionadas com o tema e atas das vinte e nove reuniões do Fórum ocorridas desde
a sua formação.

Como membros do fórum e pertencentes à diferentes instituições, as


pesquisadoras tiveram contato e reuniram-se com os mais diversos atores sociais no
intuito de buscar e consolidar informações para o artigo. O acesso aos informantes
residentes nas comunidades e aos membros das instituições deu-se por conveniência
ou acessibilidade, permitindo que se fizesse a seleção de alguns deles, de forma
aleatória, considerando-os sujeitos da pesquisa, admitindo-se que estes indivíduos
pudessem representar, de alguma forma, o universo (GIL, 2010).

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Devido à proximidade com a cidade de Manaus, o fluxo de visitantes na região


do rio Negro sempre foi intenso. Turistas e moradores da cidade aumentavam esse
fluxo, especialmente nos finais de semana, gerando problemas ambientais e sociais
associados às visitas, o agravante era que não se observava qualquer benefício às
comunidades visitadas. Ao observar essa problemática, o Instituto de Pesquisas
Ecológicas – IPÊ iniciou em 2000 trabalhos de pesquisa tentando minimizar os conflitos
de interesse dos diversos atores sociais entre aquela área protegida e o turismo,
partindo do pressuposto que turismo e meio ambiente precisam ser trabalhados de
maneira integrada (SOUZA et al, 2010).

Uma década após o início das atividades no Mosaico, foram identificadas e


mapeadas (Figura 2) pelo IPÊ em 2010, quinze iniciativas comunitárias que trabalhavam
de forma isoladas com grande potencial para o desenvolvimento da cadeia do turismo
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comunitário, muitas delas sem qualquer apoio institucional. São comunidades que
estão nos limites de áreas protegidas e, por meio do turismo, buscam dinamizar sua
economia. Algumas delas na margem direita, como Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, produzem artesanato e há quase trinta anos recebem visitantes em seu
espaço.

FIGURA 2 - MAPA DAS INICIATIVAS DE TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA - TBC

FONTE: INSTITUTO DE PESQUISAS ECOLÓGICAS – IPÊ, 2010.

A decisão também de outras instituições que atuavam na região, como ICEI6 em


2012, foi apoiar a organização comunitária de modo que o turismo fosse reordenado
na região. O resultado foi o fortalecimento das comunidades e a demanda por um
turismo de baixo impacto: o TBC surge nessa região com o intuito de oferecer melhores
produtos e serviços turísticos e contribuir para melhorar as condições de vida daqueles
que estavam envolvidos com a atividade nas comunidades locais.

O turismo nas comunidades do Baixo Rio Negro tem vários apoiadores que se
reúnem mensalmente por meio de um fórum: há organizações não governamentais,
fundações, órgãos do governo federal, estadual e municipal, academias e a Central
de TBC, sendo em média dezoito (18) instituições atuantes. Os comunitários também
são protagonistas da atividade, seus representantes participam do Fórum e das
quinze comunidades mapeadas, todas oferecem algum produto ou serviço ao turismo
da região. Neste estudo serão apresentadas seis (06) iniciativas que se destacam por
6 ICEI - Instituto de Cooperação Econômico Internacional
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meio de um roteiro de turismo integrado apoiadas pelo Fórum de TBC. Nesse sentido,
é importante esclarecer o surgimento desse Fórum para que se possa entender como
ele vem atuando e seu papel na região da área do estudo.

Como resultado de ações previstas no Plano de Desenvolvimento do Turismo


de Base Comunitária da Região Sul do Parque Nacional de Anavilhanas, elaborado
em 2010, a partir do convênio celebrado entre o IPÊ e o Ministério do Turismo, e no
intuito de dar continuidade e fortalecer espaços para discutir o ordenamento do turismo
na região, criou-se em 2011, um Grupo de Trabalho de Turismo de Base Comunitária,
que posteriormente ganha a denominação de Fórum de Turismo de Base Comunitária
do Baixo Rio Negro. O Fórum é um dos resultados do Plano citado, mais precisamente
da oficina de elaboração do Diagnóstico e Plano de Ação para o desenvolvimento
do TBC na região do entorno sul do Parque Nacional de Anavilhanas. O Fórum,
como já foi citado, é formado por representantes de instituições governamentais, não
governamentais, trade turístico, academia e lideranças comunitárias e seu papel é
incentivar e apoiar diretamente a implantação do Plano de Ação, viabilizando o diálogo
entre os diferentes grupos de interesse.

Desde 2011, já foram realizadas atividades conjuntas, como a participação


de seus membros em uma oficina para o desenvolvimento de capacidades para a
difusão de boas práticas voltadas para o turismo sustentável, mediante uma parceria
com a Rainforest Alliance. Os agentes institucionais e as lideranças locais estão,
gradativamente, replicando as boas práticas para comunidades que tem alguma
iniciativa de turismo em andamento, até o momento quatro oficinas de multiplicação
já foram realizadas. Foram realizadas ainda duas outras oficinas, uma na margem
direita e outra na margem esquerda do rio Negro visando a construção e elaboração
das diretrizes para o TBC na região.

Outras ações são intercâmbios, visitas técnicas em várias comunidades com


iniciativas de TBC e vinte e nove reuniões regulares para a definição de estratégias
de melhoria da atuação do Fórum na região do Baixo Rio Negro. Recentemente
organizou-se uma visita com um grupo de jornalistas, repórteres e a mídia de forma
geral em três das seis comunidades do Roteiro Tucorin, que será melhor descrito a
seguir. O planejamento das atividades relacionadas ao Fórum acontece durante uma
reunião mensal com todos os atores sociais envolvidos e essas reuniões também
ocorrem nas comunidades, para que os seus representantes tenham a possibilidade
de acompanhar as ações do Fórum de forma mais ativa e regular.

Durante a reunião, apresentam-se as demandas, discutem-se os problemas do


turismo em cada comunidade, dividem-se as tarefas das instituições e estabelecem-
se os prazos para cada uma executá-las. Para divulgar suas atividades o Fórum
participa de eventos diversos, como encontros, seminários, congressos que ocorrem
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anualmente; busca apoio para capacitação de seus membros e de comunitários;


estabelece novas parcerias; incentiva a participação de seus membros em intercâmbios
para o conhecimento de experiências de TBC em outras regiões do país e se prepara
para participar de editais.

Com relação ao roteiro integrado citado anteriormente, trata-se de uma


iniciativa que tem apoio de diversas organizações atuante do Fórum, que há anos vem
desenvolvendo um trabalho basilar na região, com o intuito de promover a capacitação
dos atores envolvidos na atividade de turismo nas comunidades localizadas dentro de
UCs. O Roteiro surgiu há aproximadamente três anos em face de toda a articulação e
demanda das próprias comunidades.

O Roteiro Tucorin (Turismo Comunitário no Rio Negro) integra comunidades


ribeirinhas, rurais e indígenas localizadas na margem esquerda do rio Negro. Os
visitantes podem chegar às comunidades com itinerários que variam de 30 minutos
a 1 hora e 30 minutos, por via fluvial, partindo de Manaus. As seis comunidades
pertencentes ao roteiro estão localizadas na margem esquerda do MBRN.

Três comunidades do Roteiro Tucorin estão nos limites da Reserva de


Desenvolvimento Sustentável (RDS) Tupé: São João do Tupé, Julião e Colônia Central.
O visitante tem a possibilidade de desfrutar das praias na vazante do rio (julho a
dezembro); fazer passeios em trilhas, lagos, igarapés; hospedar-se e utilizar serviços
de alimentação; e a oportunidade de assistir a uma apresentação de fragmentos
de rituais dos indígenas que moram na comunidade (eles são das etnias Dessana,
Tukano, Tuyuka, Tatuia e Unano), perpetuando suas tradições após saírem da região
do Alto Rio Negro. Nessa área, atuam mais frequentemente a Secretaria Municipal de
Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMMAS), por se tratar de uma RDS municipal,
instituições de ensino e a ONG Nymuendaju.

No Parque Estadual Rio Negro Setor Sul, recentemente recategorizado para


RDS Puranga Conquista, estão as comunidades Nova Esperança e Bela Vista e na
Área de Proteção Ambiental Estadual Aturiá–Apuauzinho a comunidade São Sebastião.
Nessas áreas atuam o órgão gestor (CEUC/SDS), instituições de ensino e a ONG
IPÊ, responsável pelo trabalho inicial na área junto aos comunitários. Os comunitários
oferecem aos seus visitantes alimentação, artesanato, caminhadas, banho de rio,
doces, compotas e vivências em atividades diárias como a farinhada e a confecção
de artesanato. A comunidade Bela Vista oferece acampamento e na comunidade
Nova Esperança, além do artesanato, há uma família que recebe visitantes em sua
residência.

Para Rabinovici (2009 apud PESSOA e RABINOVICI, 2010), os projetos de


turismo nem sempre respeitam as comunidades e seus aspectos culturais, o que
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leva ao descrédito e à desilusão com esses projetos e com quem os propôs. Nas
seis experiências do MBRN, percebe-se que as comunidades são protagonistas do
turismo: os comunitários tomam suas decisões que são respeitadas pelas instituições
atuantes, fato este que contribui para fortalecer as relações entre comunidades e
instituições.

O TBC está gerando principalmente renda direta para os atores sociais


envolvidos; a comunidade está utilizando seus recursos de uma forma sustentável,
pois há plano de manejo para a exploração da madeira na região; e por fim, o TBC
vem agregando valor ao produto turístico do Amazonas, o que corrobora, ainda que
em parte, com a lista de benefícios esperados do TBC (ROZEMEIJER, 2001).

Constatou-se que há um significativo grau de controle da atividade turística,


pois existem as parcerias e negociações para receber visitantes e articulações
constantes nesse sentido, com iniciativa das comunidades. Por outro lado, não se
percebeu o envolvimento ativo de todos os membros da comunidade no planejamento,
desenvolvimento e gestão da iniciativa, e sim apenas de grupos, que participam ou
se envolvem se assim desejarem. Esses grupos mantém estreita relação com as
instituições que constituem o Fórum, as quais respeitam e apoiam as suas decisões
quanto a participação ou não no turismo. As diretrizes do SEUC e o artigo 26 do
SNUC vem sendo cumpridos nessa região, pois o primeiro sugere que haja apoio,
cooperação, parcerias e o SNUC pede que a gestão do mosaico seja feita de forma
integrada e participativa, o que de fato vem acontecendo por meio das articulações do
Fórum de TBC.

Sansolo e Burztin (2009) entendem que o TBC é uma opção de desenvolvimento


para as comunidades de pescadores, agricultores familiares e extrativistas, ampliando
as práticas cotidianas dessas populações, especialmente no espaço rural. Essa é a
realidade constatada na área do estudo, os comunitários são pescadores, agricultores,
artesãos - todos de áreas rurais - que buscam desenvolver um turismo trocando
experiências e vivências com visitantes que desejam ser bem recebidos em suas
comunidades.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O papel do Fórum de TBC, ainda que pesem seus limites, vem sendo cumprido,
que é o de apoiar a implementação de ações de TBC na região. No entanto, é necessário
ampliar suas ações, buscar recursos, estabelecer mais parcerias. Não obstante,
hoje existe um espaço para se discutir sobre esta temática em diferentes níveis de
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governança e, devido sua participação em diferentes fóruns, pode-se considerar que


há um início de um trabalho regional visando influenciar políticas públicas voltadas
para o turismo em Unidades de Conservação.

O fato de que são várias instituições governamentais e não governamentais,


pesquisadores, academias, entre outros, envolvidos e articulados ao Fórum de
TBC, possibilita uma gestão compartilhada com a realização de ações em conjunto,
propiciando uma melhor comunicação e interação entre os atores sociais. Ainda que
os interesses sejam diversos, os objetivos são comuns e o consenso é de que o mais
importante é transformar as iniciativas comunitárias num roteiro de turismo de base
comunitária consolidada no Amazonas.

As iniciativas de turismo no MBRN tem se mostrado promissoras, ainda que


as comunidades não façam a gestão plena da atividade. Percebe-se que a gestão
participativa, seja por meio dos conselhos ou das reuniões do Fórum, fortalece
gradativamente o empreendedorismo social, a auto estima e o sentimento de
pertencimento dos comunitários, nota-se ainda uma valorização dos hábitos e
cultura local. O apoio à projetos de sensibilização e capacitação para a melhoria no
desenvolvimento da prática do turismo é indispensável, porém deve-se estimular
um trabalho de base contínuo e sólido para que as iniciativas comunitárias deem
continuidade no processo de gestão.

A valorização das iniciativas existentes de práticas de turismo em UCs que


colocam em evidencia o envolvimento e o protagonismo das populações locais, é uma
alternativa para se buscar de fato a consolidação dos objetivos de proteção e visitação
propostos à estas áreas por meio de instrumentos legais, já previstos dentro de suas
categorias de manejo. Sinaliza-se como ponto fundamental desenvolver pesquisas
sobre as características dos visitantes e os tipos de usos praticados na área do MBRN
(TAKAHASHI, 2004), o que ainda é pouco explorado.

8 REFERÊNCIAS

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Estadual de Unidades de Conservação. Diário Oficial do Amazonas. 2007.

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GEO-FOOD: UMA NOVA PERSPECTIVA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO


GEOLÓGICO

Tatiane Ferrari do Vale1


Jasmine Cardozo Moreira2
Graziela Scalise Horodyski3

RESUMO: A experiência de um turista em um destino vai muito além de visitar um


atrativo, pois as pessoas desejam levar consigo uma lembrança que materialize
a viagem após seu regresso. Uma das formas mais comuns de adquirir essas
lembranças são os souvenirs. Um dos tipos de souvenirs consumidos pelos turistas
durante uma viagem é o souvenir gastronômico, que advém dos alimentos e bebidas
e são objetos dotados de significados. Na perspectiva de comercializar produtos
alimentícios valorizando principalmente os aspectos geológicos e gastronômicos, o
Geopark Magma (Noruega) idealizou a utilização de souvenirs gastronômicos através
do Projeto Geo-food. O Projeto possui parceiros na Europa e na América do Norte, o
Grupo de Trabalho do Projeto Geopark Fernando de Noronha (PE) é o único parceiro
do Projeto na América do Sul. O objetivo desse trabalho foi apresentar o geo-food
como um souvenir gastronômico e geo-produto, apresentando exemplos de Geoparks
que já o utilizam como ferramenta de geoconservação e o potencial de Fernando
de Noronha para sua realização. A metodologia utilizada foi à pesquisa descritiva e
como aporte teórico a pesquisa bibliográfica. Como principais resultados, verificou-
se que o geo-food potencializa e valoriza os elementos da bio e da geodiversidade,
agrega valor e confere diferencial aos Geoparks, e no caso específico de Fernando de
Noronha constata-se que há potencial para o desenvolvimento do Projeto Geo-food,
que como consequência irá gerar novas alternativas de renda para a comunidade
local e proporcionará experiências únicas para os visitantes.

PALAVRAS-CHAVE: Souvenir Gastronômico. Geoparks. Geoconservação.

ABSTRACT / RESUMEN: The tourist’s experience in a destination goes beyond viewing


an attractive, because people want to carry a reminder that materialize the trip after
his return. One of the most common ways to acquire these memories are souvenirs.
One kind of souvenir consumed by tourists during a trip is the gastronomic souvenir,
which comes from food and beverages and objects that are full of meanings. From
the perspective of marketing some food products mainly valuing the geological and
gastronomic aspects, Magma Geopark (Norway) envisioned the use of gastronomic
souvenirs through Geo-food Project. The project has partners in Europe and North
America, the Project Geopark Fernando de Noronha (PE) Working Group is the only

1 Graduada em Turismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. tathy_ferrari@hotmail.


com
2 Pós-doutora pela Universidad de Zaragoza. Professora do Departamento de Turismo da Uni-
versidade Estadual de Ponta Grossa. jasminecardozo@gmail.com
3 Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Paraná. Professora do Departamento de
Turismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. grazitur@hotmail.com
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partner of the project in South America. The aim of this study was to present the geo-
food as a foodie souvenir and geo-product, presenting examples of Geoparks that
already use it as a tool of geoconservation and potential of Fernando de Noronha for
your realization. The methodology used was the descriptive and theoretical contribution
to literature. As main results, it was found that the geo-food strengthens and enhances
the elements of bio and geodiversity, adds value and makes the differential Geoparks,
and in the Fernando de Noronha’s case is observed that there is potential for the
development of the Project Geo-food, which as a result will generate new sources of
income for the local community and provide unique experiences for visitors.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Gastronomic Souvenir. Geoparks.


Geoconservation.

INTRODUÇÃO

Uma viagem envolve muito mais que a visita a determinados atrativos, ela é a
soma de experiências e inter-relações de diversos outros fatores que permitem que os
turistas tenham uma percepção do produto turístico que estão consumindo. A ideia de
materializar a viagem após seu regresso faz com que muitos desses turistas adquiram
uma ‘lembrancinha’ do local que visitaram, e uma das formas frequentemente utilizadas
para isso é o consumo de souvenir.

Os souvenirs são objetos repletos de significados, tangíveis e intangíveis,


podendo representar o imaginário de uma comunidade produtora sobre o lugar em
que vive, bem como corresponder à lembrança do visitante sobre a imagem turística
do lugar visitado (HORODYSKI; MANOSSO; GÂNDARA, 2013), ou seja, eles são tão
importantes para os turistas, quanto para a comunidade. O ato de trazer e guardar
um souvenir suscita nas pessoas sensações memoráveis à medida que proporciona
a materialização dessa lembrança. (MEDEIROS; CASTRO, 2007 apud HORODYSKI;
MANOSSO, GÂNDARA, 2013).

O consumo de souvenir acontece na maior parte dos países do mundo e seus


significados dependerão das experiências que as pessoas atribuíram a eles durante a
viagem. Esse consumo e seus significados estão relacionados com o tipo de viajante
que adquire esses objetos (LOVE e SHELDON,1998). Um dos tipos de souvenir
adquiridos durante uma viagem é o souvenir gastronômico, que está relacionado aos
alimentos e bebidas e servem também como ‘lembrancinhas’.
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Esses objetos são capazes de despertar inúmeros significados e buscando


valorizar o patrimônio geológico e a gastronomia local, o Geopark Magma (Noruega)
propôs o Projeto Geo-food. Por meio dessa iniciativa é gerado emprego e renda para
as comunidades locais, além de ser uma ferramenta de geoconservação. O Projeto
possui vários parceiros que desenvolvem ou tem interesse em implementar essa
iniciativa. No entanto, outros destinos, não necessariamente vinculados ao Projeto já
comercializam o geo-food.

O Projeto Geo-food tem como parceiros Geoparks de países da Escócia,


Canadá, Finlândia e Espanha, universidades, experts em gastronomia e projetos
de Geoparks da Dinamarca e Islândia. Na América do Sul o único parceiro dessa
iniciativa é o Grupo de Trabalho que está realizando a Proposta de Geopark Fernando
de Noronha.

Assim, esse trabalho tem como objetivo apresentar o geo-food como um


souvenir gastronômico e geo-produto, bem como exemplos de Geoparks pelo mundo
que já o utilizam como ferramenta de geração de renda e geoconservação. Também,
buscou-se apresentar o potencial de Fernando de Noronha, no que se refere aos
aspectos da bio e da geodiversidade do arquipélago para realização do geo-food.

Esse trabalho foi estruturado em quatro partes, a primeira busca contextualizar


e diferenciar os souvenirs dos souvenirs gastronômicos, a segunda visa apresentar
os conceitos de Geopark, geoconservação e geodiversidade, a terceira apresenta o
Projeto Geo-food e o potencial de Fernando de Noronha para realização do Projeto,
e a quarta e última parte apresenta exemplos de Geoparks pelo mundo que utilizam o
geo-food e as considerações finais.

A metodologia utilizada foi à pesquisa descritiva, e como aporte teórico, foi


utilizada a pesquisa bibliográfica, que possibilitou o entendimento de conceitos a cerca
do tema em questão. Também houve a consulta a sites da internet como complemento
bibliográfico.

SOUVENIRS GASTRONÔMICOS

Um souvenir é um objeto adquirido pelo turista durante a viagem, como uma


recordação dos locais visitados. Da mesma maneira que existem diferentes tipos de
turistas (explorador, elite, alternativo, etc.), há também diferentes tipos de souvenir,
que Gordon (1996) apud Horodyski et al. (2012) classifica como:
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• produtos como marca,

• réplicas de ícones,

• produtos pictóricos

• objetos ‘piece of the rock’,4

• e produtos locais.

A subcategoria produtos locais, abrange ainda outros elementos, como: arte,


artesanato, arte folclórica, produtos alimentícios, vestuário.

Horodyski et al. (2012) abordam os produtos alimentícios como souvenir


gastronômico, e esses advém dos alimentos e bebidas e seus diferentes consumidores.
De acordo com Shen (2011) apud Horodyski et al. (2012) os consumidores podem ser
classificados como culturais e comerciais. Segundo o autor os consumidores culturais
dizem respeito àqueles que se preocupam com o significado e autenticidade do objeto
e os comerciais estariam desinteressados a esses fatores.

Souvenir gastronômico pode ser conceituado como: (Horodyski et al 2012, p.


5) :

“um produto derivado de alimentos ou bebidas, com identidade diferenciadora,


identificação da origem, embalagem adequada e transporte facilitado; que
seja capaz tanto de materializar a experiência da visitação e prolongar as
sensações vividas pelas pessoas após o retorno de suas viagens turísticas
quanto permita compartilhar lembranças com outras pessoas e motivar novas
viagens”.

Os autores ainda propõem que esse tipo de souvenir deve necessariamente


considerar cinco elementos: alimentos e bebidas, identificação, embalagem, identidade
e transporte.

Os geo-produtos são conceituados segundo a UNESCO (1999, a p. 2) como “a


produção sustentável de artesanatos inovadores que tem a conotação geológica, por
exemplo, comercialização de fósseis e souvenirs”.

Sugere-se aqui uma subclassificação do souvenir gastronômico, que seriam

4  “objetos de caráter natural em seu estado bruto, ou manufaturados, como conchas, rochas,
areia, flores, sementes, animais empalhados, etc”. (HORODYSKI; MANOSSO; GÂNDARA, 2013).
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os geo-produtos, que são objetos que tem sua conotação voltada aos aspectos
geológicos dos locais visitados.

Entende-se então que o souvenir gastronômico pode ser qualquer produto


alimentício que tenha os elementos: alimentos e bebidas, identificação, embalagem,
identidade e transporte. Já os geo-produtos são sempre voltados aos aspectos
geológicos do local, e o geo-food seria um tipo de geo-produto e também um souvenir
gastronômico. Na figura abaixo se evidenciam as categorias que antecedem o geo-
food:

FIGURA 1: TIPOS DE SOUVENIR

Fonte: Adaptado de Horodyski et al (2012)

Como ressaltam Farsani et al. (2012, p.43), “os produtos turísticos não devem
seguir somente os princípios da sustentabilidade, mas também devem promover o
desenvolvimento do geoturismo como uma nova ramificação do turismo”, ou seja,
o souvenir gastronômico, também pode ser analisado como um elemento à parte,
mas ele depende necessariamente da atividade turística para ser comercializado.
No caso do geo-food há toda uma estrutura que antecede sua comercialização,
desde o planejamento de seu designer até o momento que será consumido nos
estabelecimentos.
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GEOCONSERVAÇÃO E TURISMO

Durante anos se discutiu a importância de preservar o patrimônio geológico,


mas nada de efetivo foi feito até a criação da Rede Europeia de Geoparks (2000) e
da Rede Global de Geoparks (2004). Desde a criação das redes muito se avançou no
que tange os princípios da geoconservação, evidenciando-se no número crescente de
membros inscritos e nas estratégias utilizadas para sensibilizar as pessoas a respeito
da importância de preservar o patrimônio geológico. Inicialmente as redes contavam
com apenas quatro membros: Geopark Maestrazgo (Espanha), Geoapark Vulkaneifel
(Alemanha), Geopark da Reserva Geológica de Haute-Provence (Romênia) e o
Geopark da Floresta Petrificada de Lesvos (Grécia), no entanto contam atualmente
com 100 Geoparks em 29 países. O Brasil possui somente um Geopark nessa Rede,
o Geopark Araripe no Ceará.

Um Geopark é um selo atribuído pela UNESCO, para áreas que combinam a


proteção do patrimônio geológico com o desenvolvimento sustentável. Um Geopark
não trata somente de geologia, engloba também aspectos ligados à biodiversidade,
arqueologia, história, cultura entre outros. A UNESCO (2006, b) conceitua um Geopark
como:

“Um  geopark é um território de limites bem definidos, com uma área


suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento
socioeconômico local. Deve abranger um determinado número de sítios
geológicos relevantes ou um mosaico de aspectos geológicos de especial
importância científica, raridade e beleza, que seja representativo de uma
região e da sua história geológica, eventos e processos. Além do significado
geológico, deve também possuir outros significados à ecologia, arqueologia,
história e cultura.”

Os objetivos de um Geopark são proteger e promover o patrimônio através


de iniciativas sustentáveis e atividades educativas. Geoparks buscam estimular a
geração de emprego e renda para as comunidades locais, através da valorização da
sua história, cultura e patrimônio. Esses aspectos incluem, entre outros, a promoção
e o incentivo de artesanato típico e a gastronomia local. A principal atividade turística
realizada em um Geopark é o turismo sustentável, que propicie a adequada proteção
e interpretação do seu patrimônio. Nesse contexto, insere-se a geoconservação
que pode ser definida como “ação feita com a intenção de preservar e melhorar
as características geomorfológicas e geológicas, processos, locais e exemplares”
(BUREK; PROSSER, 2008).
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Um conceito que está relacionado à geoconservação é o da geodiversidade,


que segundo Moreira (2011, a p.39) é: “a variedade de ambientes geológicos,
fenômenos e processos ativos, que dão lugar a paisagens, rochas, minerais, fósseis,
solos e outros depósitos superficiais que constituem a estrutura para a vida na Terra”.
Segundo a autora é importante que a Terra seja entendida como um todo, tanto no
que se refere aos aspectos da biodiversidade, quanto de geodiversidade; e uma
problemática existente é o termo geodiversidade ser pouco divulgado se comparado
a biodiversidade.

A falta de divulgação e até mesmo valorização desses aspectos, é um dos


motivos que faz com que muitos lugares tenham buscado novas alternativas para
uma maior proteção do patrimônio geológico, como criação dos Geoparks. Da mesma
forma que é necessário que sejam criadas medidas em prol da conservação, como
por exemplo, as Unidades de Conservação Federais e os Geoparks, também devem
ser criados mecanismos de divulgação e valorização do patrimônio geológico, como o
geo-produtos e o geo-food.

O PROJETO GEO-FOOD E FERNANDO DE NORONHA

Na perspectiva de desenvolvimento sustentável e geoconservação o Geopark


Magma (Noruega) desenvolveu a ideia de valorizar a gastronomia local com enfoque
nos elementos do patrimônio geológico e da biodiversidade, através do Projeto
Geo-food. Os parceiros desse Projeto são Geoparks da Escócia, Canadá, Finlândia
e Espanha, universidades, experts em gastronomia e projetos de Geoparks da
Dinamarca e Islândia. Na América do Sul o único parceiro dessa iniciativa é o Grupo
de Trabalho que está realizando a proposta de Geopark Fernando de Noronha.

No Brasil, o Projeto visa capacitar às comunidades para que sejam propostos


“geo-menus” e “geo-food” (incluindo também souvenirs gastronômicos) a serem
oferecidos por estabelecimentos selecionados e preparados pela comunidade local.
A valorização dos aspectos geológicos, culturais e naturais através desses produtos
tem como intuito gerar renda para as comunidades locais.

O arquipélago de Fernando de Noronha é composto por duas Unidades de


Conservação Federais, o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e
a Área de Proteção Ambiental Fernando de Noronha – Rocas – São Pedro e São
Paulo, no entanto, verificou-se que há necessidade de medidas mais efetivas para
a conservação do seu patrimônio geológico. Assim, após estudos e levantamentos
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sobre o patrimônio geológico (MOREIRA, 2008, b e CPRM, 2012), identificou-se que


Fernando de Noronha tem condições de se tornar um Geopark e um dossiê está
sendo preparado para ser enviado para a UNESCO. A ilha possui geodiversidade
única e excepcional e pesquisas e projetos vêm sendo realizados na ilha sobre esse
tema desde 2007. Em 2013 foi criado um Grupo de Trabalho com representantes
de diversas entidades e da comunidade local, e o Grupo vem trabalhando em ações
visando propor a candidatura de Fernando de Noronha à Rede Global de Geoparks.

Para integrar a Rede, é fundamental que os Geoparks possuam atividades


educativas e interpretativas, destinadas não só para os visitantes, mas também
para a comunidade. Além disso, um Geopark deve trazer benefícios a todos os seus
envolvidos, sem a comunidade, não há um Geopark. Esta não é uma iniciativa “imposta
de cima para baixo”. O apoio da comunidade e o seu envolvimento é absolutamente
imprescindível para o sucesso de um Geopark, seja no seu processo de planejamento
ou na execução de suas atividades e desenvolvimento de novos produtos.

Deste modo, destaca-se que Fernando de Noronha tem potencial para o


desenvolvimento do Projeto Geo-food, pois possui atrativos muito conhecidos como
o Morro do Pico e as ilhas Dois Irmãos, bem como aspectos da flora e da fauna
em geral que podem servir de inspiração para a criação de geo-menus e geo-foods,
podendo ser oferecidos para os visitantes, preparados pela comunidade, gerando
novas alternativas de renda e proporcionando experiências únicas para os visitantes.

EXEMPLOS DE GEO-FOOD EM GEOPARKS PELO MUNDO

Existem casos já consolidados de Geoparks que desenvolvem os geo-foods


como ferramenta de valorização e promoção da geologia, cultura e patrimônio natural.
Alguns exemplos são: Geopark Unzen (Japão), Geopark Vulkaneifel (Alemenha),
Geopark Jeju (Coréia), Geopark Hong Kong (China), Geopark Naturtejo (Portugal),
Geopark Açores (Portugal) e Geopark Arouca (Portugal).

No Geopark Unzen, no Japão, as bolachas possuem desenhos que remetem


a flora local e também ao vulcão da região. A embalagem apresenta a história das
ultimas erupções (Figura 2). Na Alemanha, no Geopark Vulkaneifel as bombas
vulcânicas integram a geodiversidade local, divulgando esse aspecto do patrimônio,
as confeitarias da região oferecem a “torta da bomba vulcânica”, em que a bomba é
retratada como um confeito na torta (Figura 3).
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FIGURA 02: BOLACHAS COM DESENHOS QUE REMETEM A FLORA LOCAL E


A UM VULCÃO DA REGIÃO NO GEOPARK UNZEN (JAPÃO)
FIGURA 03: TORTA DE BOMBA VULCÂNICA, REPRESENTANDO AS BOMBAS
VULCÂNICAS DO GEOPARK VULKANEIFEL (ALEMANHA)

Fonte: Os autores
Fonte: Gilson Guimarães

No Geopark Jeju (Coréia), seus gestores também aplicaram a ideia do geo-


food, e em 2014 desenvolveram a “Exibição de ideias de receitas de geo-foods” com
base nos recursos geológicos do Geopark. Esse evento teve a participação de vários
setores, como estudantes, cozinheiros e donas de casa. O Geopark visa comercializar
essas receitas de geo-foods em restaurantes, cafés, empresas e casas de hóspedes,
onde os lucros provenientes desse projeto podem ser devolvidos à comunidade local
através da atividade empresarial, e também ajudará a desenvolver a economia local
(GLOBAL NETWORK OF NATIONAL GEOPARKS, 2014).

FIGURA 04: EXEMPLOS DE GEO-FOODS PRODUZIDOS PARA UM FESTIVAL


GEOLÓGICO LOCAL NO GEOPARK JEJU, NA CORÉIA.

Fonte: http://www.globalgeopark.org/News/News/8616.htm

Há também o Geo-Menu, que é oferecido em restaurantes do Geopark


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Hong Kong (China), onde foram criados pratos em que sua apresentação remete
aos elementos do patrimônio local. Ele é um elemento que compõem os geo-foods
oferecidos em restaurantes, para que as pessoas possam escolher os produtos
alimentícios oferecidos. No caso do Geopark Hong Kong, o geo-menu é um cardápio
composto pelo nome e descrição dos pratos oferecidos, bem como uma foto da
característica geológica e do prato, e sua descrição geológica.

FIGURA 05: EXEMPLO DE UM PRATO DE UM GEO-MENU, SERVIDO NO


GEOPARK HONG KONG, QUE PROCURA IMITAR A FORMA DO GEOSSÍTIO

Fonte: Internet

O Geopark Naturtejo (Portugal) é um exemplo de Geopark que confecciona


geo-produtos. O estabelecimento de um geo-restaurante e uma geo-padaria foi uma
estratégia para criação de geo-produtos, que foram inspirados na paisagem e revivem
o passado das civilizações e tradições ancestrais. A geo-padaria é administrada por um
casal de geólogos, que confeccionam bolachas de trilobitas5 e granulitos6 (FARSANI,
et. al, 2012).

No Geopark Açores (Portugal), são produzidos licores artesanalmente (Figura


6), que possuem rótulos que destacam elementos da geodiversidade, como o Vulcão
da Ilha do Pico. No Geopark Arouca (Portugal), como citado anteriormente, os fósseis
de trilobitas são elementos expressivos de visitação turística, portanto, as padarias
locais oferecem biscoitos com o formato de trilobitas (Figura 7).

FIGURA 6: LICORES PRODUZIDOS NO GEOPARK AÇORES


FIGURA 7: BISCOITOS DE TRILOBITAS PRODUZIDOS NO GEOPARK AROUCA
(PORTUGAL)

5 Os trilobitas são membros extintos de um grupo animal muito grande, o filo Arthropoda, ao qual
pertencem os insetos modernos. Estão bem representados num grande e detalhado registro fóssil que
começa no Cambriano Inferior, há 550 milhões de anos radiométricos, e termina no Permiano, há 250
milhões de anos radiométricos. Encontram-se universalmente nos limites entre as rochas relativamente
desprovidas de vida metazoária e outras com abundante evidência de tal vida. (CHADWICK; DEHAAN,
2014)
6 Granulitos é uma rocha metamórfica equigranular, sem minerais micáceos ou anfibólios e,
portanto, sem xistosidade nítida. Produto de metamor-fismo regional do mais alto grau. (MINERO-
PAR, 2014).
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Fonte: Os autores

Produzir alimentos e bebidas são ações que promovem a valorização dos


aspectos da bio e da geodiversidade dos Geoparks. A criação de pratos diferenciados
faz com que os turistas associem os elementos já observados no Geopark ao souvenir
gastronômico, e ao regressarem de suas viagens, presenteando ou não um amigo
ou familiar estarão disseminando a importância da geoconservação. Se o souvenir
gastronômico apresentar adequadamente seus elementos, com informações a respeito
do geo-produto, a pessoa que até então poderia não conhecer nada a respeito das
características geológicos desses locais estará mais suscetível a entender os preceitos
e a importância da geoconservação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto Geo-food foi uma ideia inovadora para a disseminação dos preceitos
da geoconservação nos Geoparks, agrega valor a esses locais, sendo um diferencial,
pois seus elementos são explorados a partir de uma nova perspectiva. A realização
desse projeto em Fernando de Noronha pode ser uma ferramenta de valorização
das características locais que permite que os turistas tenham acesso a uma
informação sobre a biodiversidade e a geodiversidade de uma forma diferenciada e
criativa. A valorização dos elementos que compõem a paisagem através do souvenir
gastronômico promovem renda e geração de empregos a comunidades, criando
também um sentimento de valorização do patrimônio na própria comunidade.

Há diferentes tipos de consumidores de souvenir, os culturais e os comerciais,


estando os segundos desinteressados à cultura local. No entanto, como consideram
Horodyski et al (2012), “o consumo de produtos alheios à identidade local não deve ser
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considerado uma atitude negativa”. No entanto, entende-se que, segundo os objetivos


de um Geopark e do próprio desenvolvimento sustentável, as ações realizadas nesses
locais devem propiciar a adequada proteção e interpretação do seu patrimônio, ou seja,
é importante que os turistas tenham consciência da importância desses locais, e para
isso o souvenir gastronômico, através do geo-food podem auxiliar nesse processo. A
geração de renda é um dos fatores primordiais para a comunidade, mas será muito
mais benéfico para a geoconservação se os consumidores comerciais passarem a
serem consumidores culturais.

Fernando de Noronha é considerado um lugar de beleza rara e excepcional,


tendo suas áreas protegidas por Unidades de Conservação. No entanto, apesar do
arquipélago ter a devida proteção no que se refere aos aspectos da biodiversidade,
é importante que medidas mais específicas para a proteção do patrimônio geológico
sejam tomadas, como a criação de um Geopark. A criação de um Geopark irá beneficiar
primeiramente a comunidade local, e será uma catalizadora de emprego e renda.
No entanto, o Projeto Geo-food no arquipélago não depende necessariamente da
inscrição de Fernando de Noronha como membro da GGN, mas sim da comunidade
local e entidades parceiras aderirem à ideia, bem como a captação de recursos por
meio de projetos de financiamento.

Estudos sobre a importância do souvenir gastronômico como ferramenta de


valorização do patrimônio geológico são praticamente inexistentes, contando com
uma bibliografia limitada. É importante que novos trabalhos surjam abordando as
diferentes faces da utilização desses objetos, principalmente estudos de caso, para
que o conhecimento avance e análises mais amplas sejam possíveis.

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of London, 2008.

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PROCESSO PARTICIPATIVO NO PLANEJAMENTO DE SISTEMA DE TRILHAS


DE BASE COMUNITÁRIA NO AMAZONAS

RESUMO
O turismo no meio rural é expressivo no Estado do Amazonas, e na maioria das
atividades ocorre nos territórios de base comunitária, com utilização de equipamentos
integrados ao ambiente natural e as relações tradicionais das populações envolvidas.
Com isso este trabalho indica metodologias participativas no planejamento para
implantação de trilhas ambientais, objetivando envolver os comunitários no processo
para minimizar e controlar os impactos decorrentes da implantação e utilização dos
espaços estabelecidos para condução dos visitantes nas trilhas.
Palavras – Chaves: Planejamento Participativo, Comunidade, Sistema de Trilha

ABSTRACT
Tourism in rural areas is significant in the state of Amazonas, and most of the
activity occurs in the territories, community-based, with integrated use of the natural
environment equipment and the traditional relationships of the populations involved.
Thus this study indicates participatory methodologies in planning for deployment of
environmental tracks, aiming to involve the community in the process to minimize and
control the impacts of deployment and use of areas established for the conduct of
visitors on the trails.
Key - Words: Participatory Planning, Community Trail System

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da história da humanidade, o homem, para suprir a


necessidade de deslocamentos explora e se apropria da natureza abrindo nela
picadas, caminhos ou trilhas abertas.
No entanto, ao longo dos anos, atendendo a demanda do mercado do turismo,
as trilhas assumem um novo conceito. De deslocamentos, passam a configurar-se
como importante instrumento para o segmento do turismo de natureza, proporcionando,
ao turista, por meio da caminhada telúrica uma oportunidade de integração homem-
natureza, tão difícil nos dias atuais, em que as cidades, tomadas por concretos,
dificultam ao ser humano o uso desta prática.
Objeto de estudo em diferentes áreas do conhecimento, as trilhas classificam-
se em: interpretativas, botânicas, mitológicas, lendárias, históricas ou ecomedicinais.
Enquanto produto de elevado valor agregado para o segmento do ecoturismo, as
trilhas devem ser planejadas com base nas políticas de sustentabilidade visando um
equilíbrio socioambiental no qual esta inserida. Embora classificada como prática
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direcionada ao turismo alternativo há necessidade de estudos de impacto, visando a


conservação e preservação da flora, fauna e demais recursos existentes na estrutura
do ecossistema que passa, com a função adquirida, com a freqüência de uso, a
necessitar um monitoramento.
Com este enfoque, o texto a seguir remete a reflexão à realidade da Comunidade
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Lago Acajatuba no Município de Iranduba,
no Estado do Amazonas, onde, através do uso da metodologia Metaplan para o
planejamento participativo, identificou-se o uso de trilhas tradicionais em atividades
cotidianas, como potencial atrativo em roteiros turísticos de base comunitária. Pratica
que no contexto da área de estudo torna-se pertinente considerando a demanda
turística do entorno, tomada por empreendimentos hoteleiros no segmento “hotéis
de selva”. Potencial capaz de promover a geração de emprego e renda, visando, em
paralelo, potencializar entre os envolvidos os aspectos de conservação e preservação
dos recursos naturais e valorização dos elementos simbólicos do lugar.

O PLANEJAMENTO DE TRILHAS COMO ATRATIVO TURÍSTICO

Para Griffith e Valente (1979:9), “o planejamento e implantação de um sistema


de trilhas devem considerar a seqüência paisagística de cada percurso, devendo variar
entre diferentes classes de paisagem”. Já Lechner (2006:14), define o planejamento
de trilhas como um instrumento de suporte para a conservação ambiental

Um planejamento de trilhas deve considerar os objetivos da área protegida,


assim como os aspectos sociais e biofísicos da área destinada a receber
a trilha. Isto é necessário tanto para a implantação de novas trilhas como
para o melhoramento das já existentes. [...] podem potencialmente auxiliar a
alcançar objetivos conservacionistas e aumentar oportunidades sociais com
baixo impacto sobre o ambiente biofísico cortado pela trilha.

No que diz respeito à sustentabilidade, o sistema de trilha deve adotar técnicas


de manejo e monitoramento constante, conforme afirma Lechner (2006:14):

A sustentabilidade das trilhas, particularmente no que diz respeito a sistemas


de trilhas, é mais facilmente alcançável mediante uma abordagem integrada
no seu manejo. Este tipo de abordagem integra o planejamento, a construção,
a manutenção, o monitoramento e a avaliação, vinculados cada uma dessas
atividades por intermédio de retorno e interação contínuos.

Os itens descritos devem ser levados em consideração no processo de


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elaboração do planejamento de trilha de base comunitária. No entanto, os padrões de


designs devem ser tomados como fio condutor de todo o processo, pois definido de
acordo com a realidade local, tem como propósito inserir no roteiro da trilha a prática
cotidiana dos comunitários. E, neste contexto, o planejamento deve também levar em
conta os diferentes níveis de dificuldade exigidos, como observa Machado (2005), no
quadro abaixo.
GRAU DE DIFICULDADES EM ROTEIROS DE TRILHAS
DIFÍCIL MÉDIO FÁCIL
Trilhas com declividade acima Trilhas com declividade Trilhas com declividade
de 20%. entre 12% e 20%. inferior a 12%.
Trilhas com mais de dez Trilhas com cinco a nove Trilhas com, no máximo,
obstáculos a cada 500 m. obstáculos a cada 500m. quatro obstáculos a cada
500 m.
Trilhas com subidas em morros Trilhas com subidas em Trilhas em áreas sem
altos. morros de porte médio. alterações representativas.
Trechos muito longos de Caminhadas curtas dentro Acesso com pouco esforço
caminhada. da mata nativa. físico.

Requer alguma experiência em Não requer experiência. Não requer experiência.


caminhada.

Requer bom condicionamento Requer bom Requer bom


físico. condicionamento físico. condicionamento físico.

Em complemento às contribuições de Machado (2005), no planejamento de


trilhas, ainda se faz necessário: levantamento geral do sítio onde será implantada a trilha,
considerando aspectos legais da área, limitações territoriais, localização geográfica,
tipologia e morfologia do solo, vegetação, fauna, hidrografia e acessibilidade. Para
definição do traçado da trilha e, por conseguinte de intervenções com infra-estruturas
deve-se, previamente, identificar:

1. Pontos potenciais de atração, como cachoeiras ou cascatas, vistas


cênicas, afloramentos rochosos, desfiladeiros, fendas, áreas de expressividade
vegetal, áreas de expressividade animal.

2. Pontos estruturais, como solos frágeis, espécies representativas e


ameaçadas, desvios necessários, áreas de inundação.

3. Pontos estratégicos que contribuam para definir o traçado da trilha.


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Para a prática desta etapa técnica de trabalho de campo, Cavalcanti (2004:55)


indica alguns instrumentos de uso básico:

Os instrumentos auxiliares para estudo do caminho no mapa são: clinômetro,


bússola, bandeirinha de cores diferentes, marcador à prova d’água para fazer
anotações nas bandeirinhas, livro de campo, trado para verificar profundidade
de solo e as camadas de rochas, mapas e se possível um GPS (Sistema de
Posicionamento Global).

CLASSIFICAÇÃO, TIPOS, FORMAS E TRAÇADO DE TRILHAS

De acordo com (SALVATI, 2003), as trilhas classificam-se em:

a) Guiadas: são aquelas que exigem a presença de um monitor


especializado para conduzir o visitante em seu percurso. Nela são estabelecidos
pontos de parada para a abordagem de alguns temas. Logo, utiliza-se da caminhada
conduzida, que é um meio interpretativo pessoal.
b) Auto-guiadas: independem da presença de um condutor de visitantes
para ser interpretada. Deve possuir um bom sistema de sinalização e material
interpretativo de fácil manuseio/ atendimento para o visitante.

TIPOS

Na ausência de uma publicação que conceitue os diferentes tipos de trilhas


existentes, se fez com as diferentes contribuições uma coletânea onde, valorizando
as potencialidade e especificidades do Amazonas, se classificou os seguintes tipos
de trilhas:

Trilha Interpretativa
É um instrumento de base para as atividades de educação ambiental, que
visa contribuir para desenvolver no ser humano a conscientização à preservação,
conservação e a percepção ambiental, por meio de atividades dinâmicas e
participativas que relevam os significados do ambiente natural, principalmente por
meio de experiência direta (HOROWITZ, 2001).

Trilha Botânica
Tem o propósito de interpretar a paisagem da flora onde as espécies botânicas,
são identificadas com pequenas placas de alumínio contendo uma numeração, que
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catalogada produz um guia explicativo com informações das espécies mapeadas


(BASER, A.C.et al., 2003) .

Trilha ecológica
Caracteriza-se por ser implantada com fins de observação do meio ambiente,
onde não possui muita infra-estrutura para não modificar o meio (VIEIRA, 2003).


Ao se realizar o planejamento de trilhas, tanto as comerciais como as de base
comunitária, deve-se considerar toda a diversidade de ecossistemas existentes na área
de intervenção. Por este motivo, o inventário da área se caracteriza como importante
instrumento para auxiliar na definição do formato da trilha, que deve contemplar
pontos estratégicos de: paradas para descanso; sinalizações com placas; seqüências
paisagísticas; benfeitorias; extensão; capacidade de carga e interpretação ambiental
com a identificação dos atrativos. Com estas informações, se terá dados para mapear
por onde cada percurso deverá passar com objetivo de causar o mínimo impacto às
belezas cênicas, mantendo as características da vegetação.

FORMAS

Segundo Andrade (2003) e Vieira (2003), os diferentes formatos para um


sistema de trilhas estão, diretamente, associados à sua função. Sendo que forma
e função se caracterizam como categorias de análise para identificação e definição
do grau de dificuldades estabelecido para a trilha. Referente à função, os autores
classificam as trilhas, como por exemplo, as utilizadas por guardas ou vigilantes em
atividades de patrulhamento de parques ou áreas verdes, ou para uso público em
atividades educativas ou recreativas. Quanto à forma há cinco tipos de classificação:

1. Trilha circular - onde se estabelece uma trilha que passa por diferentes
lugares sem repetir o percurso voltando ao mesmo ponto de partida.
2. Trilha em oito - utilizadas em áreas limitadas para aproveitar bem todo
o espaço.
3. Trilha linear - um formato simples com o objetivo de interligar a um
atrativo.
4. Trilha em atalho – com objetivo de mostrar outras áreas como
alternativas para o visitante.

TRAÇADO

Os traçados de trilhas são trechos curtos que determinam uma virada abrupta
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no percurso, ou seja, as trilhas podem ser uma sequência de traçados contínuos. Um


dos objetivos de trilhas de uso público em áreas naturais é suprir as necessidades
recreativas de maneira a manter o ambiente estável e permitir ao visitante a devida
segurança e conforto. As trilhas devem sutilmente encorajar o visitante a permanecer
nelas por serem facilmente reconhecidas como caminho mais fácil, que evita obstáculos
e minimiza a energia dispensada. Para tanto, devem manter uma regularidade e
continuidade de seu caminho de acordo com suas formas, evitando mudanças bruscas
de direção e sinalização. Obstáculos como pedras, árvores caídas e poças de lama
devem ser evitadas, pois provocam a abertura de desvio.

Segundo Schelhas (1986), grande parte do impacto ambiental em trilhas é


devido ao abandono das mesmas por diferentes motivos como: tentativa de evitar
necessários ziguezagues, obstáculos e trilhas com superfície formada somente por
pedras, ou ainda, a procura pela sensação de “aventura”.

A alta qualidade do desenho de uma trilha depende primariamente do


balanço entre beleza e objetivo. As características naturais e cênicas devem ser
combinadas de forma criativa com os apelos culturais do local. De acordo com Agate
(1983) o planejamento de trilhas deve levar em consideração alguns fatores como:
1) variação das condições da região em decorrência das estações do ano; 2) quais
são as informações técnicas (mapas, fotografias, etc.) já existentes sobre a região;
3) a probabilidade de volume de uso futuro; 4) as características de drenagem, solo,
vegetação, habitat, topografia, uso e exeqüibilidade do projeto.

Quanto possível, as áreas atravessadas por trilhas devem conter grande


diversidade biológica, climática e topográfica. Tanto que um dos problemas do desenho
de trilhas está relacionado às variações de curvas de nível, onde a necessidade de
ascensão é contraposta pela erosão causada pela água. Por isso, evitar que a direção
da água seja a mesma da trilha ou que ao menos haja um sistema de drenagem
correto para que ela corra “pela” e não “ao longo” da superfície da trilha.
Para Martins (2003) e Lachner (2006) uma forma de ascensão moderada em
áreas de declive são os “ziguezagues”. Estes autores fundamentados em Proudman
(1977) definem que sua construção deve levar em consideração os seguintes fatores:
elas são difíceis de construir; sua repetição é monótona; devem dar a sensação de
avanço para quem sobe; deve ter curva espaçada para que uma não seja visível de
outra a fim de evitar que as pessoas cortem caminho; e, a distância entre elas deve
ser longa.
A concepção e desenho das trilhas também dependem do ambiente em que
a trilha se encontra, do acesso e volume de público que ela suportará. Existência ou
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não e tamanho de estacionamentos, também são fatores importantes que devem ser
levados em consideração.

METODOLOGIA METAPLAN PARA PLANEJAMENTO DE TRILHAS

Como descrito, a reflexão acerca do planejamento e gestão de trilhas de base


comunitária, esta embasada em resultados obtidos por meio de oficinas moderadas
pelo método METAPLAN, desenvolvida com os comunitários da comunidade de
Nossa Senhora Perpétuo Socorro no Largo do Acajatuba, município de Iranduba no
Amazonas, onde se implantou a Trilha da Súcuba.
O método Metaplan garante por meio de visualização e exploração de idéias,
experiências presenciais possibilitando a interação moderador-comunitário-objeto do
conhecimento, através do uso do diálogo ou exposição dialogada, de forma a estimular
o saber ouvir, o pensar, o senso crítico e a participação do comunitário envolvido nos
debates apresentados. Através da seleção e organização dos conteúdos das oficinas,
se estimulou a identificação de questões vivenciadas pelos comunitários em seu
cotidiano, inseridos temas transversais relacionados com ambiente natural, social,
territorial e econômico.

Detalhadas a seguir, as oficinas, dividas em cinco temáticas, garantiram


através das técnicas de aprendizagem em grupo, a construção do conhecimento
estimulando o trabalho em equipe.
a) Oficina de Sensibilização para a Educação Ambiental – focada na proposta de
estimular a percepção dos comunitários para entender a dinâmica do espaço e a
influencia da paisagem no cotidiano. Como meta esta oficina pretendia agregar
conhecimento quanto aos valores socioambientais nos aspectos de cuidados e
conservação do ambiente para garantir a sustentabilidade da trilha.

b) Oficina de Sensibilização para o Tratamento de Resíduos Sólidos – o objetivo


era o de sensibilizar a comunidade para a necessidade de manter o ambiente
limpo, evitando acúmulo de lixo em locais impróprios. Como meta a oficina
pretendia capacitar os comunitários envolvidos para em suas práticas cotidianas
tornarem-se multiplicadores de novas informações visando garantir o ambiente
limpo e saudável.

c) Oficina de Planejamento para Implantação de Sistema de Trilhas – baseado


nos resultados obtidos com as oficinas anteriores, nesta, definiu-se como objetivo
envolver os comunitários para a elaboração do planejamento e implantação da
trilha, discutindo todos os passos e ações a serem desenvolvidas.
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d) Oficina de Análise de Impacto Ambiental na Implantação de Trilha – nesta


prática avançou-se introduzindo atividades com conteúdos teóricos, com objetivo
favorecer que os comunitários identificassem as formas de impactos e os
indicadores para mensurar alguns impactos que virão a ocorrer com a implantação
da trilha comunitária. E, neste caso, já trabalhando no sentido de identificar medidas
mitigadoras para possíveis situações.

e) Curso Formação de Monitores de Trilha- mediante o desenvolvimento das oficinas


anteriores, esta oficina definiu como meta viabilizar técnicas de monitoramento,
manejo e manutenção de sistema de trilha para uma utilização economicamente
viável, ambientalmente justa e socialmente correta.

PRÁTICAS DESENVOLVIDAS NAS OFICINAS REALIZADAS PARA O


PLANEJAMENTO DE TRILHAS

Na organização das oficinas foram elaboradas perguntas orientadas para


estimular a discussão e a busca de solução para os problemas identificados. Como
parâmetro inicial do processo foi elaborado o questionamento (QUEM SOMOS?) para
identificar os participantes presentes. A partir daí se determinou a divisão do pessoal
em três equipes de trabalho para todas as oficinas realizadas.

Primeira Oficina - Sensibilização para a Educação Ambiental

A oficina teve como parâmetro para aplicação na trilha, o uso do conhecimento


tradicional e a apreciação da natureza através do esclarecimento de fenômenos
e características dos recursos naturais e culturais, proporcionando um melhor
entendimento, da função, vantagem e implantação de uma trilha para a comunidade.
Ação focada na preservação e conservação dos recursos, locais de forma sustentável.
Ao estímulo do entendimento dos conceitos ambientais em relação à educação
ambiental, foram elaboradas as seguintes perguntas orientadoras: O que é educação
doméstica? O que é educação escolar? O que é educação Ambiental? O que é
meio ambiente? Para interagir entre o conhecimento tradicional e científico voltado à
manutenção socioambiental.
Para aprofundar o conhecimento, a oficina com auxílio de painéis explicativos,
tratou sobre os princípios objetivos e fatores da temática - educação ambiental, de
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forma a estimular a percepção com foco em orientar a população local e, futuros


visitantes atraídos para o uso da trilha, para o mínimo impacto na utilização dos
recursos.
Com as atividades práticas, foram identificados os impactos ambientais na
comunidade e por meio de um mapa mental, traçado pelas equipes de trabalho, se
obteve, acerca dos fundamentos da educação ambiental, segundo o uso do espaço
cotidiano das equipes a seguinte exposição:
Com relação à oficina de educação ambiental, no que se refere ao que é
educação doméstica? As equipes definiram: Equipe – 01 Manter o ambiente que
vivemos sempre limpo é a educação que aprendemos em casa; Equipe – 02
Educações que aprendemos com os nossos pais. Exemplo: cuidar da casa e respeitar
as pessoas; e Equipe – 03 Respeitar os pais e os mais velhos, saber se comportar,
compartilhar e ser solidário.
No quesito educação escolar, as equipes enfatizaram: Equipe - 01 Ensino
que adquirimos através dos professores, Equipe – 02 É tudo que aprendemos na
escola. Ex: formação técnica e cursos profissionalizantes e Equipe - 03 Aprender ler
e escrever, preparação para o mercado de trabalho, saber as regras da escola e do
mundo.
Quanto ao entendimento do que foi tratado: Equipe – 01 É o que aprendemos
a tratar o meio ambiente para que depois ele não venha sofrer grandes impactos;
Equipe – 02 É algo que não venha prejudicar o nosso meio ambiente. Ex: poluição
dos rios, desmatamento e queimadas; e Equipe - 03 Preservar a natureza, não fazer
queimadas, não poluir os rios, lagos e igarapés e não jogar lixos nas ruas.
Quanto ao conhecimento de meio ambiente, responderam: Equipe - 01 É
tudo aquilo que nos rodeia, ou seja, o ambiente em que vivemos: a natureza, o ar
que respiramos e os rios; Equipe - 02 É o lugar onde vivemos: terra, rios, animais e
árvores; e Equipe - 03 É o lugar em que vivemos, é tudo que nos rodeia. Ex: ar, água,
solo, floresta e animais.
As atividades práticas de fixação do entendimento ocorreram com o
mapeamento mental para identificar pontos de impactos ambientais na comunidade,
tendo como finalidade expressa o mapeamento dos impactos ocorridos na comunidade
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Lago do Acajatuba. A apresentação do
resultado final da oficina se deu por meio de trabalhos escritos com uso do recurso
de cartazes e encenação, além de uma mobilização voluntária para sensibilização do
projeto comunitário de educação ambiental.

Segunda Oficina - Sensibilização para o Tratamento de Resíduos Sólidos


Neste ponto do trabalho os grupos se fundiram em dois, para discutir melhor
o tratamento de resíduos sólidos, a serem identificadas as soluções por parte dos
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comunitários para destinação, redução do consumo, reutilização e reciclagem dos


resíduos produzidos no local. Bem como a sensibilização do coletivo para a orientação
geral dos visitantes e comunitários locais em tratar os resíduos.
As características da importância do ambiente limpo na visão dos comunitários
esta em: prevenir doenças e, também, para evitar que os visitantes vejam a comunidade
suja, além de fatores realizados à higiene e saúde. Em síntese, todos visaram o bem
da comunidade.
As atividades desenvolvidas em grupo, nas oficinas apontaram como impactos
negativos, relacionados à falta de tratamento dos resíduos voltados aos aspectos
social, econômico e ambiental, os seguintes resultados:
• Equipe- 01 - Social- é quando consumimos produtos não reciclados
causando prejuízo para nossa saúde e dos demais. Ambiental- consumo de plástico
causa o uso exagerado do petróleo e a poluição do solo. Econômico- ao consumir
produtos que poluem o meio ambiente prejudicando a comunidade.
• Equipe - 02 - Social- o grande consumo de embalagem não reciclável.
Ambiental- queimadas, derrubadas e lixos ofendendo o bem estar da comunidade.
Econômico – com o lixo na comunidade os turistas não retornam.

Baseado na mesma atividade, na visão dos comunitários para os aspectos


dos impactos positivos, os resultados foram:
• Equipe – 01 – Social- é quando orientamos as pessoas sobre a
importância de consumirmos produtos recicláveis e termos um ambiente limpo.
Ambiental- produtos recicláveis que não prejudicam o meio ambiente. Econômicos-
é quando compramos produtos que podemos reciclar.

• Equipe – 02 - Social – consumo de mercadorias com embalagem


reciclável. Ambiental- evitar queimadas de lixo doméstico e fazer arborização.
Econômico- uma comunidade bem organizada para receber a demanda de turista.
Oficina de Planejamento para Implantação de Sistema de Trilhas
O planejamento para implantação de um sistema de trilha de base comunitária,
em uma área de floresta deve levar em consideração entre outros aspectos, o trabalho
de conscientização da comunidade local levando-a a fazer parte do processo de
planejamento. Com a participação dos comunitários é possível dar à comunidade
oportunidades de desempenhar uma efetiva ação de ecodesenvolvimento. Mobilizadas
elas desenvolvem seu próprio potencial tomando para si o dever de manter o
meio ambiente preservado das ações predatórias do homem, visando garantir a
sustentabilidade local para o desenvolvimento das atividades turísticas (VIEIRA,
2003).

De acordo com o resultado das oficinas, pode-se identificar que para os


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comunitários, as trilhas têm valor como instrumento para a educação ambiental


e recreativa, desenvolvendo através de um contato direto com a natureza, a
conscientização para o valor do meio natural, fonte da existência humana. Pautado
na experiência vivida, define-se, dentro do planejamento e gestão de trilhas de base
comunitárias o conceito de trilhas como um caminho aberto ou já estabelecido em
uma ambiente onde ocorrem atributos naturais e/ou culturais, dotados ou não de
equipamentos facilitadores, com o objetivo de permitir um contato direto com os
valores existentes.

Nessa abordagem estratégica para o planejamento e implantação da Trilha da


Súcuba, se seguiu passos fundamentais, onde, baseado nos trabalhados das equipes,
se destaca para o entendimento dos conceitos de caminho, trilha e picada em área de
floresta, o seguinte:
• Equipe – 01 - Caminho – Percurso que fazemos todos os dias. Trilha
– É um lugar onde segue muitas pessoas ou animais em sentido variado. Picada -
Pequena demarcação feita na mata.
• Equipe - 02 - Caminho- Ë algo que nós usamos diariamente. Trilha –
Um local organizado com riquezas naturais que são atrativos turísticos. Picada - É
uma demarcação na mata para abrir caminho.
O entendimento dos conceitos associados a forma de uso tradicional das
trilhas foram fundamentais para valorização cultural, no processo de planejamento.
Sobretudo, porque a definição de uso da trilha deve também estar associada às
práticas cotidianas desenvolvidas pelos comunitários. Aspectos fundamentais tanto
para estimulá-los à participar do processo, bem como facilitar a partir do projeto
implementado a manutenção e manejo da trilha. Desta forma, baseado em suas
necessidades eles identificaram como função da trilha:
• Equipe - 01- É estabelecida para roça e extração de madeiras e caça.
• Equipe – 02 - Para irmos à roça, para tirar madeira e extração de
sementes e frutas.
Identificada, a partir das oficinas, a trilha como potencial turístico favorável
ao desenvolvimento local, em grupo desenvolveu-se atividades para enumerar os
atrativos e as atividades potenciais conforme apontado:
• Equipe -01 - Madeira de lei, Plantas medicinais, pássaros e animais
• Equipe – 02 - o meio ambiente, paisagem, a fauna e a flora.
A relação de atividades tradicionais e turísticas foram identificadas como
fundamentos e razão de utilização das trilhas:
• Equipe – 01 - Tradicional- Caça, pesca, roça e tirada de tucumã.
Turística – Caminhada, pernoite, observação de animais, focagem.
• Equipe -02 - Tradicional- Para o nosso trabalho diário, roça, caça e
extrair alimentos. Turística- Caminhadas mostrando riquezas naturais, nossa cultura.
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Com todos os embasamentos teóricos a respeito de trilha e conservação dos


recursos, foi apontado pelos comunitários de forma participativa o local ideal, para
implantação da trilha, conforme figura abaixo.
• Encaminhamento indicado pelos comunitários - em uma área atrás
da comunidade, onde tem varias diversidade. Ex: Capoeira, igapó e floresta virgem.
Nas margens do Igarapé do Calado.
Após a escolha do local, motivados com o desempenho das atividades
desenvolvidas tiveram que escolher o nome adequado para trilha. Em uma visita
técnica com as equipes, mediante uma análise das características e peculiaridades da
paisagem local, identificou-se quantidade expressiva da espécie de valores fitoterápicos
Himatanthus sucuuba da família da Apocynaceae, popularmente conhecida como
Súcuba. Identificação determinante, para as equipes acordarem adotar para a trilha
sustentável da comunidade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, o nome de
TRILHA DA SUCUBA.
Posteriormente, as discussões direcionaram para os objetivos pertinentes ao
uso e comportamentos no uso da Trilha da Súcuba:
• Equipe – 01 - apresentar a importância dos recursos naturais e divulgar
a cultura local, criando um ambiente de troca de experiências, valorizando o ambiente
natural e cultural.
• Equipe – 02 - Promover o desenvolvimento sustentável, a apreciação
dos recursos naturais e culturais.
Com os objetivos estabelecidos as equipes identificaram as demandas para
uso da trilha:
• Equipe 01- Turistas Nacionais, Internacionais, alunos da comunidade.
• Equipe 02 – Visitantes alunos da escola local e comunitários.
Para garantir a manutenção e sustentabilidade da Trilha da Sucuba foram
abalizadas diretrizes básicas de gerenciamento:
• Equipe 01 - Formar grupos de pessoas da comunidade onde cada um
tenha uma tarefa para realizar.
• Equipe - 02 - gerenciar de maneira organizada, criativa, informando
orientando os visitantes para que isso possa atrair mais pessoas, capacitando os
comunitários para praticas de primeiros socorros aos usuários.

Oficina de Análise de Impacto Ambiental na Implantação de Trilha

Para que pudessem ter um parâmetro sobre a minimização de impactos


negativos na implantação de uma trilha foi direcionadas atividades para identificar as
ações de maiores impactos, tanto negativos como positivos. E através, do moderador,
192
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buscou-se motivar os comunitários e identificar soluções adequadas para a realidade


local.
Os trabalhos foram abordados de forma participativa à formação de dois
grupos influentes de pessoas. Foram apontados como impactos relevantes: social
– centralização do poder, divisão do grupo e desavença; no item econômico
foi identificado – concentração dos recursos e desvio de verbas; e no elemento
ambiental foi levantado – solo, desmatamento, ação predatória e retirada de plantas
inadequadamente.
O grupo salientou no campo social: a organização da comunidade na recepção
de visitantes, no econômico ressaltou a geração para os comunitários; e no ambiental
destacou a conservação e/ou preservação da natureza, bem como o reflorestamento
das áreas degradadas e a melhor interação com a natureza.
Foram apontados pelo grupo os tratamentos e controles para os impactos
causados nos campos sociais, econômicos e ambientais. No âmbito social,
propuseram criar um grupo de monitores para que a centralização não ocorra, formar
uma equipe para controlar invasores. No econômico: sugeriram criar junto a tesouraria
da associação uma comissão de administração de recursos, que ficaria responsável
por fazer o controle de entrada de visitantes por meio de taxas de uso da trilha. No
ambiental: a idéia foi trabalhar a educação ambiental e a interpretação da paisagem,
através de monitoria e acompanhamento dos visitantes na trilha.
Como forma de compensar as ações impactantes da implantação da trilha, o
grupo adotou medidas mitigadoras. No aspecto social a criação de uma equipe de
monitores para descentralizar os trabalhos de condução na trilha, a organização de
grupos. No econômico: a criação de uma comissão junto à tesouraria da associação
para administrar e planejar os recursos financeiros. Na área ambiental propõe o
trabalho de educação ambiental e interpretação da paisagem e o reflorestamento das
áreas degrada.
As práticas voltadas para minimização dos impactos ambientais na implantação
de trilha consistiu na retirada de espécies botânicas de 30 cm da linha central e
replantio em áreas degradadas, utilizando técnicas de escavação nas proximidades,
envolvendo todos os participantes da oficina no manuseio.
Conforme referencial acima citado, os impactos ambientais no uso de trilhas,
são provocados nos ambientes bióticos e abióticos, com efeitos diretos e indiretos nos
fatores solo, vegetação e fauna. No entanto, estes impactos podem ser minimizados se
o sistema de trilha for devidamente planejado antes de ser estabelecido, caracterizando
cada trecho e estabelecendo forma de manejos e controle de visitas ao local.
193
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CONSIDERAÇÕES

Buscou-se com a reflexão pautada na prática do planejamento participativo


para a implantação e gestão de trilha, desenvolvida junto à comunidade Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro no município de Iranduba no Amazonas, uma amostragem de
como é possível inserir o homem da floresta na estrutura do processo produtivo da
região, potencializando valores socioculturais, produzidos a partir do cotidiano do
lugar.

Considerando a potencial hoteleiro, estruturado no entorno da comunidade do


Lago do Acajatuba, foi identificada a demanda para o uso das trilhas, como produto de
valor agregado para o segmento de hotéis de selva. Cenário que valoriza a necessidade
de viabilizar projetos de natureza participativa, capazes de simultaneamente ao
valorizar os atrativos do lugar, gerar a sustentabilidade, proporcionando simetria entre
o mercado e a sociedade local.

A Trilha da Súcuba, empreendimento endógeno, implementada pelos


comunitários da comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, ao proporcionar
aos turistas uma atividade no segmento turismo de natureza, paralelamente, favorece
o resgate e a valorização dos valores cotidianos do lugar, uma vez que a trilha em
seu traçado lúdico tem como objetivo proporcionar aos usuários o sentimento e a
experiências do modo de vida Amazônico.
No cenário atual em que a Amazônia mercantilizada pelo mercado do
turismo, é uma das principais responsáveis por ações predatórias registradas em
trilhas é urgente a produção de novas alternativas de preservação que efetivamente,
contemplem de forma holística e integradora as necessidades locais, garantindo a
sustentabilidade da floresta por meio da inserção do homem da floresta no mercado
do turismo, com oportunidades iguais de geração de renda.

O estudo em questão, como dito, é apenas uma amostragem do que,


pretende-se, seja reproduzido em outras comunidades, envolvendo planejamento,
implementação, gestão e manejo participativo, como forma de garantir a floresta em
pé para uso dos que nela habitam e a quem deve servir.
.
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FORMAÇÃO DE CONDUTORES E EDUCAÇÃO AMBIENTAL – ESTRATÉGIAS


DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SUSTENTAVEL NAS UCS DO RS

CUNHA, Aline Moraes1

BAZOTTI, Leandro dos Santos2

RESUMO:

O presente artigo, surge da reflexão teórica dos autores, sobre a sistematização


da experiência na realização dos cursos de formação de Condutores Ambientais
Locais, ofertados a partir de 2012 pelo IFRS - Instituto Federal de Educação Ciência
e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus Porto Alegre, através do PRONATEC
– Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Para a correta
compreensão da construção teórica e prática realizada o artigo inicia pelo resgate
histórico quanto à Educação Ambiental, passando à abordagem quanto à vinculação
das Unidades de Conservação e Atividades Ecoturísticas, ao Turismo Sustentável e ao
necessário esclarecimento quanto aos profissionais que atuam em ambientes naturais
destacando do Guia ao Condutor Ambiental. Da mesma forma traz o esclarecimento
quanto à metodologia empregada e os resultados alcançados. Com esta configuração
busca compartilhar esta experiência exitosa, vivenciada no Rio Grande do Sul, de
forma a colaborar na construção de novas alternativas de estruturação do Turismo
Sustentável que promovam a educação ambiental e a conservação da natureza,
agregando as comunidades de entorno de Unidades de Conservação de todo o país.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental. Condutores Ambientais. Turismo


Sustentável.

ABSTRACT

This article arises from the authors’ theoretical reflection on the systematization of
experience in conducting training courses on Local Conductors , offered from 2012
by IFRS - Federal Institute of Science and Technology Education of Rio Grande do
Sul, Porto Alegre Campus, through PRONATEC - National Program for Access to
1 Mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS); Especialista em Agricultura Orgânica
(UCS); Bacharel em Turismo (PUCRS). Docente do curso de Bacharelado em Turismo do Centro
Universitário Metodista do IPA; Professora/Tutora dos Cursos de Condutor Ambiental Local do Instituto
Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS/PRONATEC; Presidente
do Conselho de Administração (gestão 2013/2014) da COODESTUR – Cooperativa de Formação
e Desenvolvimento do Produto Turístico - Ltda. Sócia Diretora da PLANTUR – Consultoria em
Planejamento Turístico. E-mail: alinetur@yahoo.com.br

2 Mestrando em Turismo e Desenvolvimento Regional (UCS); Especialista em Docência para


Educação Profissional (SENAC), Bacharel em Turismo (IPA); Técnico em Guia de Turismo (SENAC);
Professor/Tutor dos Cursos de Condutor Ambiental Local do Instituto Federal de Educação Ciências e
Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS/PRONATEC; Instrutor de Turismo de Aventura (SETUR RS);
Educador ao ar livre (OBB); Sócio diretor da Atlas Alpinismo; Diretor de Meio Ambiente da Associação
Porto Alegrense de Escalada Canionismo e Alta Montanha (APECAM); Servidor da SETUR RS;
Consultor da MINAS Outdoor Sports; E-mail: atlasalpinismo@terra.com.br

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Technical Education and Employment. For proper understanding of the theoretical and
practical construction held the paper begins by historical recovery as the Environmental
Education , from the approach to linkage of Conservation and ecotourism activities ,
the Sustainable Tourism Units and needed clarification as to professionals in natural
environments highlighting the Guide to Environmental Lead . Likewise brings clarification
on the methodology employed and results achieved . With this configuration seeks to
share this successful experience , lived in Rio Grande do Sul, in order to collaborate in
the construction of new alternatives for structuring the Sustainable Tourism to promote
environmental education and nature conservation, adding the surrounding communities
of Conservation Units nationwide.

KEYWORDS: Environmental Education. Conductors. Sustainable Tourism.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Desde os primórdios diversas culturas utilizavam a natureza como elemento


educativo e referencial. Entre as religiões orientais elementos e fenômenos da natureza
eram mais comumente tratados e aceitos, chegando ao Cristianismo somente em
1209, na Itália através da figura de São Francisco de Assis, que passou a questionar
a relação do homem com a natureza, ressaltando suas belezas e benefícios.

A partir do século XX na década de 1950, Conforme SENAC (2005, p.25):

[...] movimentos civis do pós-guerra a favor da paz e da vida, ao lado da


tradição protecionista que já havia despontado na Europa no século XIX,
forneceram as bases para o surgimento do preservacionismo, primeira
manifestação do movimento ambiental.

Nas décadas seguintes, cientistas começam a fazer a relação entre as alterações


provocadas nos Ecossistemas e a qualidade de vida do homem, constituindo a
necessidade de equilíbrio entre ambas. (CUNHA, 2005)

Na década de 1970 os movimentos de descontentamento com os rumos tomados


nas décadas anteriores, a preocupação com os futuros a serem tomados, levam à
efervescência de movimentos sociais que começam a questionar os modos de vida e
desenvolvimento adotados. Atendendo a estas demandas por soluções alternativas,
a ONU – Organização das Nações Unidas, convoca em 1972, a “I Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano”, em Estocolmo – Suécia, que
gerou a “Declaração de Estocolmo”, considerada um avanço ambientalista na época.
(CARVALHO, 2002)

Em 1975, a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação,


Ciência e Cultura e o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente,
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promovem a primeira reunião mundial dedicada à Educação Ambiental, sendo o


“I Encontro Internacional de Belgrado”. Este encontro reuniu profissionais da área
incumbidos de criar os princípios básicos para um programa Internacional de Educação
Ambiental, criando então a Carta de Belgrado. Esta por sua vez, apontou a Educação
Ambiental como elemento vital para a solução da crise ambiental vigente, passando
a defender uma nova “ética global”, questionando tanto as formas de exploração dos
seres humanos quanto dos recursos naturais, vinculando problemas mundiais como a
fome, o analfabetismo e a degradação do meio ambiente.

Em 1977, a UNESCO convoca o evento que ficou referenciado como o “marco


teórico da Educação Ambiental”, a primeira Conferência Intergovernamental sobre
Educação Ambiental, em Tbilisi, antiga URSS – União Soviética, ou “Conferência de
Tbilisi”, como ficou conhecida.

A Conferência de Tbilisi, gerou a “Declaração de Tbilisi”, contendo 41


recomendações que pela primeira vez apresentou a necessidade de abordar a Educação
Ambiental dentro de um contexto integral que considera as conexões existentes entre
os meios natural e social, ampliando também a visão sobre as fronteiras, visto que pela
primeira vez se tomou consciência das interferências e repercussões internacionais
que as atividades de diversos países poderiam ter. SENAC (2005).

Dentre estas recomendações, uma destaca-se pela defesa da


interdisciplinaridade, uma vez que defende a Educação Ambiental não como uma
disciplina, mais que deve representar as diversas disciplinas, para que se possibilite o
estudo das inter-relações no meio e se possa chegar à resolução dos problemas e á
compreensão do meio ambiente integralmente.

Depois de Tbilisi, outras conferências ocorreram, porém todas destacando a


importância de adoção das recomendações da Declaração de Tbilisi, o que indica o
tamanho da sua importância naquele momento histórico.

No Brasil, ainda na década de 70 (setenta), acontecimentos isolados começam


a chamar a atenção da sociedade para a questão ambiental, destacando nomes que
hoje figuram no histórico do ambientalismo brasileiro, como Miguel Abellá, Fernando
Gabeira, Augusto Ruschi e José Lutzemberger.

Neste cenário conforme Carvalho (2002), em 1971, a AGAPAN – Associação


Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, surge como a “primeira organização
combativa da década”, puxada por ambientalistas gaúchos, liderados por José
Lutzemberger.

O movimento ambientalista começa a ganhar força em todo o país na década de


80, com o surgimento de novos movimentos sociais e das ONGs – Organizações Não
Governamentais – ambientalistas. Este movimento chegou até mesmo à Constituição
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Brasileira de 1988, que garantiu que:


Todos têm direito ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras
gerações.

Incumbindo o Poder Público de “promover a educação ambiental em todos os


níveis de ensino”.

Na década de 1990, no Rio de Janeiro, ocorreu a Conferência da ONU sobre


Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como Rio 92 ou Eco 92.
Paralelamente à conferência ocorreu a “I Jornada de Educação Ambiental” que gerou
o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis. Também deste
momento surgiram a Rede Nacional de Educação Ambiental e a Agenda 21, marcos
importantes para a ampliação da consciência ecológica no Brasil.

Em 1996, o MEC - Ministério da Educação e Cultura inclui a educação ambiental


nos novos Parâmetros Curriculares (PNC) na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), e define:
O tema meio ambiente trata das questões relativas ao meio ambiente em
que vivem os seres humanos e as demais espécies do nosso planeta, o que
envolve não só os elementos físicos e biológicos, mas também os modos
como a humanidade interage com esses elementos, enquanto parte dessa
natureza, através dos processos vitais, do trabalho, da ciência, da arte, da
tecnologia. Esse tema trata em especial da busca de caminhos pessoais e
coletivos que levem ao estabelecimento de relações econômicas, sociais e
culturais, cada vez mais adequadas à promoção de uma boa qualidade de
vida para todos, tanto no presente quanto no futuro.

Conforme Carvalho (2002, p.37):

Na perspectiva de uma ética ambiental, o respeito aos processos vitais e


aos limites da capacidade de regeneração e suporte da natureza deveria
ser balizador das decisões sociais e reorientador dos estilos de vida e
hábitos coletivos e individuais. Aqui juntamente com uma ética, se delineiam
também uma racionalidade ambiental e um sujeito ecológico que se afirmam
contra uma ética dos benefícios imediatos e uma racionalidade instrumental
utilitarista que rege o homo economicus e a acumulação nas sociedades
capitalistas.

A partir desta busca por um “sujeito ecológico” capaz de trazer para o


cotidiano das pessoas esta chamada “ética ambiental” é que se tem buscado cada
vez mais atividades que promovam a desejada educação ambiental a partir de uma
sensibilização para a sua importância levando estes agentes envolvidos que podem
ser de públicos variados e em situações e locais dos mais diversos a uma real
mudança de comportamento visando a preservação e conservação do meio ambiente.
(CARVALHO, 2002)
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No momento atual, vivemos uma demanda cada vez maior por contato com
a natureza, e com o ganho de espaço na mídia sobre problemas ambientais e a
importância da construção de uma “Educação Ambiental” para as próximas gerações
que também já atue junto às atuais. Desta forma, diversas atividades e conhecimentos
tradicionais denominados durante muito tempo como alternativos, ganham espaço e
se perpetuam como ciência, o que ocorre com a Agroecologia, que agrega também
a possibilidade de atender á outra demanda atual, a por alimentos saudáveis, que
reflitam um meio ambiente saudável.
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E AS ATIVIDADES ECOTURÍSTICAS

De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC


(BRASIL, 2000), as Unidades de Conservação são:

[...] espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas


jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos
pelo Poder Publico, com objetivos de conservação e limites definidos, sob
regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas
de proteção. (BRASIL, 2000).

Machado (2005), ressalva que as Unidades de Conservação são áreas


protegidas para manter espaços naturais de valor, evitando assim, a destruição de
seus ecossistemas. Essas unidades buscam, entre outras coisas, meios que tornem
propícia a interação do homem com o meio ambiente.

Conforme Costa (2002), as Unidades de Conservação que integram o SNUC,


estão divididas em dois grupos com características próprias, sendo as Unidades de
Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável.

As Unidades de Proteção Integral têm o objetivo de preservar a natureza de


forma a assegurar a manutenção dos ecossistemas, sendo permitido apenas o uso
indireto de seus recursos naturais, exceto os casos previstos na lei. São elas: Estação
Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural, e Refúgio de
Vida Silvestre (COSTA, 2002). Irving (2002) acrescenta que a visitação é permitida
apenas nas três últimas tipologias, porém precisa estar sujeita às normas do Plano de
Manejo3.

Já as Unidades de Conservação de Uso Sustentável têm o objetivo de


conservação da natureza, compatibilizado com o uso sustentável de uma parcela dos
seus recursos naturais. São elas: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante
Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna,
3 “O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de
amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à
vida econômica e social das comunidades vizinhas” (IRVING, 2002, p. 55).
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Reserva de Desenvolvimento Sustentável, e Reserva Particular do Patrimônio Natural,


categoria que permite visitação para recreação e lazer. (COSTA, 2002)

Segundo Pires (2002), a Unidade de Conservação que serviu de exemplo para


o Brasil e para o mundo foi o Parque Nacional de Yellowstone, criado em 1872 nos
Estados Unidos, pois este foi o primeiro espaço legalmente protegido destinado à
utilização pública no mundo.

No Brasil, segundo Machado (2005), o primeiro parque a ser criado em 1937


no Rio de Janeiro, foi o Parque Nacional de Itatiaia, com objetivos de atender as
finalidades de caráter científico e turístico.

Em se tratando dos destinos de Ecoturismo4 no estado do Rio Grande do Sul,


Machado (2005) afirma que as iniciativas concretas de projetos ecológicos para o
Turismo tiveram início em 1991, com a criação da Comissão Estadual de Turismo
Ecológico (CETE), que era integrada pela Companhia Rio-grandense de Turismo
(CRTUR), IBAMA (RS), Departamento de Recursos Naturais Renováveis, Secretaria
Estadual da Agricultura, e a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB).

Ainda de acordo com Machado (2005), um dos pontos mais expressivos da


região metropolitana de Porto Alegre, é o Parque Estadual de Itapuã, área de estudo
deste trabalho, localizado no município de Viamão, pois “protege a última amostra
dos ambientes originais da região metropolitana, sendo considerada área núcleo da
Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.” (MACHADO, 2005, p. 151).

Considerando a relevância das Unidades de Conservação como importantes


ferramentas de conservação e manutenção da integridade da biodiversidade e dos
processos naturais, elas têm se firmado como espaço ideal para as práticas de
Ecoturismo e suas diversificadas atividades.

Segundo o Ministério do Turismo (BRASIL, 2010), observa-se a possibilidade


de desenvolvimento de uma grande variedade de atividades no âmbito do Ecoturismo,
porém:

[...] as atividades ecoturísticas devem seguir premissas conservacionistas


e ser estruturadas e ofertadas de acordo com normas e certificações de
qualidade e de segurança de padrões reconhecidos internacionalmente
(BRASIL, 2010, p. 26).

Ainda de acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, 2010), as atividades

4 O Ministério do Turismo (BRASIL, 2010, p.17) conceitua oficialmente o Ecoturismo no Brasil


como: “[...] um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e
cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da
interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações.”
201
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ecoturísticas mais frequentes e permitidas em Unidades de Conservação são:


Observação de Fauna e Flora; Observação de formações geológicas: Consiste
geralmente em caminhada por área com características geológicas peculiares e que
oferecem condições para discussão da origem dos ambientes, sua idade e outros
fatores; Mergulho livre no mar, rios, lagos ou cavernas; Caminhadas de um ou mais
dias; Safáris fotográficos organizados para fotografar paisagens singulares ou animais;
Trilhas Interpretativas, com percursos autoguiados ou com acompanhamento de
profissionais qualificados.
Como o Ecoturismo e suas atividades utilizam os recursos naturais e culturais
do local, é essencial que ele se desenvolva com base nos princípios sustentáveis,
estimulando o desenvolvimento em longo prazo, a preservação permanente da
biodiversidade local e a justiça social para com a população. Com este entendimento,
passamos a tratar da somatória do ecoturismo ao desenvolvimento sustentável.

TURISMO SUSTENTÁVEL

Na busca por um turismo que valorize a diversidade e proporcione experiências


individualizadas, através da diferenciação de atrativos, produtos e serviços, valorizando
e preservando os patrimônios naturais e culturais dos destinos, se reconhece ser o
turismo, um conjunto de relações humanas, que amparado por um sistema, ultrapassa
as fronteiras econômicas, financeiras e industriais, situando-se numa dimensão que
sintetiza o conhecimento científico e as aspirações dos indivíduos. (MOLINA, 2005)

Segundo Steil (2002), o turismo figura o campo das ciências sociais, através da
sociologia e antropologia, sendo que a primeira constrói um olhar externo, através de
seu papel na organização e no processo social como um todo, enquanto a segunda
tenta avaliar a sua dinâmica interna considerando suas dimensões culturais e
interculturais.

Conforme Steil (2002), a formação de uma área de estudos sobre o turismo nas
ciências sociais é antecedida por Veblen, com o livro The theory of the leisure class
lançado em 1889, considerado primeiro trabalho sociológico sobre o turismo, onde
o autor trata da evolução do lazer no processo de constituição das classes sociais,
estabelecendo uma associação entre turismo e lazer. O autor constata que o lazer,
que caracterizou a elite aristocrática pré-capitalista, também passa a ser assumido
pela nova elite, que também passa, em um mundo fundado sobre o valor absoluto do
trabalho a ostentar como meio de distinção, a sua inatividade em forma de lazer.

Na França em 1950, segundo Steil, o sociólogo Friedmann, destacou o lazer


como uma experiência de recomposição da personalidade do trabalhador, fragmentada
202
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pelo trabalho mecânico que se generalizou após a Segunda Guerra Mundial, através
do modelo fordista de produção industrial. Esta análise, em contraposição à tese do
lazer alienado e ostentatório, apresenta pela primeira vez o lazer compensatório,
tendo as férias como “cano de escape para as tensões produzidas pela atividade
produtiva.” (STEIL, 2002, p.54)

Seguindo na interpretação do turismo no campo da sociologia, Steil (2002),


aponta três correntes, de relevante importância, sendo a primeira o “simulacro do real”,
a segunda “os estudos da religião através da teoria dos rituais” e a terceira o “turismo
e consumo”. Tomamos aqui apenas a terceira corrente, que passa a considerar a
relação entre turismo e consumo.

Com o fato das atividades de lazer e turismo se tornarem objeto de status


social, também Campbell (1987) e Urry (1995), passam a considerar o turismo como
“objeto de consumo” da sociedade moderna.

De acordo com Campbell (1987, apud STEIL, 2002, p.65), inseridos no espírito
do capitalismo, “os indivíduos não procuram a satisfação nos produtos, mas através
deles. A satisfação nasce da expectativa, da procura do prazer, que se situa na
imaginação”. Assim os turistas não consomem os lugares, mas através destes buscam
a “realização de um desejo que povoa a sua imaginação”.

Urry (1996) considera que é difícil entender a natureza do turismo contemporâneo,


sem avaliar como suas atividades são construídas em nossa imaginação pela mídia.
Desta forma o autor, considera o “velho turismo” e o “novo turismo”. O primeiro
estaria ligado ao “consumo de massa fordista” que “reflete, sobretudo o interesse dos
produtores” e o segundo estaria relacionado ao “consumo diferenciado pós-fordista”,
que “caracteriza-se pela prevalência dos consumidores”. Desta forma o velho turismo
trabalhava com base em “empacotamentos e padronizações”, enquanto o novo
turismo passa a trabalhar de forma mais flexível buscando melhor atender a demanda
do mercado consumidor.

Desta forma, Molina (2004), avalia que com a pós-modernidade, as


descontinuidades do entorno, a mudança, a transformação e o estilo dinâmico,
passaram a ser estruturais da cultura e da sociedade de forma geral, assim
impactando de forma particular no turismo. Bem como, a instalação de sistemas mais
personalizados tanto de produção como de consumo, reconhecendo a mobilidade e a
mudança na busca pelo único.

No turismo, tratando de destinos e de suas ofertas, o autor adverte quanto


à “busca de identidade - de uma ou várias identidades simultâneas – através das
expectativas de demanda.” E que esta “é altamente mutante, dinâmica e volátil.”
(MOLINA, 2004, p.27)
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Molina (2004) aponta o surgimento de um novo turista a partir dos novos modelos
de consumo e destaca uma mudança na atitude do turista, de passiva, que aceita o
que lhe vendem, para uma atitude ativa, onde passa a selecionar as atividades de
seu interesse. Este novo turista quer mais do que belas paisagens e descanso, quer
experiências únicas, quer o contato com os saberes e fazeres típicos de cada lugar.

Cavaco (2011), abordando a construção de um novo turismo que seja de base


local, trata também do novo turista e nos traz uma boa descrição quanto à suas
expectativas. Para a autora, “o turista de hoje procura o novo, no sentido do diferente,
do único, básicos na atractividade turística.” (CAVACO, 2011, p.147)

Porém Reis (2008, p.127), tratando do consumo turístico, destaca que “para
viajar, é necessária uma renda excedente, devido aos custos que o turismo acarreta”.
Afirmando assim que o turismo se efetiva a partir do momento em que o “turista em
potencial” se dispõe a realizar o consumo de todos os bens e serviços envolvidos na
viagem.

Assim, o autor define consumo turístico como a “aquisição de bens e serviços


que atendem às necessidades do turista” (REIS, 2008, p.129). Tais necessidades,
podem surgir antes mesmo da viagem, assim “tudo o que for consumido antes, durante
e depois da viagem, e que a ela estiver relacionado, é considerado consumo turístico”.
Sendo bens e serviços diretamente relacionados ao turismo, transporte, hospedagem
e atividades recreativas (consumo primário), ou bens e serviços consumidos tanto
pelos visitantes quanto por qualquer outra pessoa, como protetores solares, pilhas e
cartões telefônicos (consumo secundário) (DIAS, 2005)

Com estas reflexões Reis (2008), destaca também a importância econômica


deste consumo para as comunidades receptoras, afirmando que “as trocas em dinheiro
determinam, em parte, a dinâmica entre demanda e oferta turística. Isso porque, quanto
mais turistas visitam uma cidade, maiores são as receitas das empresas turísticas”
(REIS, 2008, p. 127).

Assim aponta que uma estratégia empregada pelos gestores do turismo


é tentar elevar o nível de gastos dos turistas que frequentam uma localidade.
Entendendo que quanto mais se consome produtos locais, mais lucrativa será a
atividade turística e mais chances de que esta se torne economicamente viável e com
menos impactos ambientais negativos. Ideia que surge dos resultados observados
em destinos caracterizados pelo Turismo de Massa, em que os gastos diários dos
turistas com produtos locais nas comunidades, são menores em comparação com
outras modalidades de turismo. (REIS, 2008)

Da mesma forma o Ministério do Turismo, reconhece a geração e aumento das


compras locais, o aumento da renda local e a melhoria dos padrões de conservação
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do ambiente natural como impactos econômicos positivos do turismo, visto que este
estimula a economia local e com a consequente melhoria da qualidade de vida das
comunidades receptoras, estas tendem a colaborar com a preservação e conservação
dos espaços naturais, cada vez mais procurados pelos turistas. (BRASIL, 2007)

Assim, buscando um novo turismo, que considere as demandas e motivações


trazidas pelo consumidor, ou pelo novo turista que apresenta e reflete uma mudança de
comportamento e hábitos de consumo dos atores envolvidos na atividade turística como
um todo, passa-se a planejar no Brasil estratégias para o desenvolvimento do setor
de forma sustentável. Desta forma, o Ministério do Turismo (MTUR), destacou como
elemento norteador de suas ações, que a relação entre o turismo e a sustentabilidade
deveria seguir os princípios da sustentabilidade ambiental, econômica, sociocultural e
político-institucional. (BRASIL, 2010b)

De tal modo, com o intuito de desenvolver produtos turísticos sustentáveis em


harmonia com o meio ambiente e a cultura local, fazendo com que as comunidades
deixem de ser apenas espectadoras do processo de estruturação do setor, foi adotado
também no Brasil o conceito de turismo sustentável, elaborado pela Organização
Mundial do Turismo (OMT), que define:
Turismo sustentável é a atividade que satisfaz as necessidades dos turistas
e as necessidades socioeconômicas das regiões receptoras, enquanto a
integridade cultural, a integridade dos ambientes naturais, e a diversidade
biológica são mantidas para o futuro. (BRASIL, 2010, p.30)

Com esta reflexão quanto ao turismo, suas interfaces conceituais, e a delimitação


de novos paradigmas na busca de um “novo turismo” que o seja sustentável, passamos
a considerar na próxima seção estratégias de aproximação entre visitantes e visitados,
que buscam proporcionar maior interação e valorização dos saberes e fazeres locais,
ao mesmo tempo que gere renda, melhoria de auto estima, oportunidades de equidade
e autonomia.

DO GUIA AO CONDUTOR AMBIENTAL

No sentido de desenvolver o turismo sustentável em todas as suas vertentes,


colaborar na educação ambiental dos visitantes e na busca da efetivação da quebra
de paradigmas excludentes, adotou-se a estratégia de agregar os saberes e fazeres
dos moradores das áreas de entorno das Unidades de Conservação, gerando
oportunidades de trabalho e renda, colaborando no afastamento dos autóctones da
vulnerabilidade social em que geralmente se encontram.

De acordo com (BRASIL 2009), dentro das possibilidades de atuação para


condução, ligadas a ambientes naturais, formalizadas institucionalmente, existem
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os profissionais, guia de turismo especializado em atrativos naturais; o condutor de


turismo de aventura; e o condutor ambiental local.

Dentre estes, na atividade turística, a atuação do guia de turismo foi a primeira a


ser reconhecida, através da Lei nº. 8.623/935, que em seu Art. 5º constitui atribuições
do Guia de Turismo, como:
a) acompanhar, orientar e transmitir informações a pessoas ou grupos em visitas,
excursões urbanas, municipais, estaduais, interestaduais ou especializadas
dentro do território nacional;

b) acompanhar ao exterior pessoas ou grupos organizados no Brasil;

c) promover e orientar despachos e liberação de passageiros e respectivas


bagagens, em terminais de embarque e desembarque aéreos, marítimos,
fluviais, rodoviários e ferroviários;

d) ter acesso a todos os veículos de transporte, durante o embarque ou


desembarque, para orientar as pessoas ou grupos sob sua responsabilidade,
observadas as normas específicas do respectivo terminal;

e) ter acesso gratuito a museus, galerias de arte, exposições, feiras, bibliotecas


e pontos de interesse turístico, quando estiver conduzindo ou não pessoas
ou grupos, observadas as normas de cada estabelecimento, desde que
devidamente credenciado como Guia de Turismo;

f) portar, privativamente, o crachá de Guia de Turismo emitido pela Embratur.


(BRASIL,1993)

Ao Condutor de Turismo de Aventura, foram atribuídas responsabilidades


através de normas técnicas criadas através de parceria firmada entre o Ministério
do Turismo e a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, através do PAS
- Programa Aventura Segura, que deu direcionamento ao segmento no Brasil, sendo
reconhecido internacionalmente por esta iniciativa. (ABETA, 2009c).

De acordo com o SEBRAE – Serviço de Apoio á Micro e pequena Empresa


(2014) “é apropriado que se estabeleçam requisitos focalizados nas competências
mínimas consideradas essenciais e necessárias aos profissionais que atuam como
condutores de Turismo de Aventura” Neste sentido o MTUR, também colaborou
ao lançar o manual de boas práticas do condutor, que aponta as competências e
responsabilidades necessárias à atuação profissional destes.

Apesar da NBR 13285 “Competências Pessoal”, que diz respeito às competências


mínimas para o condutor de turismo de aventura, não fazer parte do arcabouço legal
brasileiro, assim como o condutor ambiental e o guia de turismo especializado em
atrativos naturais, ou ainda conforme a NBR 15331 referente ao sistema de gestão
da segurança, que tornou-se obrigatória quando promulgado o decreto de 2010 que
regulamenta a Lei Geral do turismo nº 11.771 de 2008, é oportuno os condutores
5 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8623.htm>. Acesso em 08 de maio
de 2014.
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ambientais se apropriarem dos procedimentos descritos neste manual, pois ele


aborda relevantes competências pertinentes a todo o profissional que atua em meio a
natureza pois no caso de algum sinistro, não havendo lei especifica, o aparato jurídico
pode fazer valer as normas técnicas existentes em áreas correlatas, ou seja, é de sua
responsabilidade estar informado sobre as recomendações presentes nas NBRs.

Sousa (2004), a este respeito, classifica a participação e a conduta emocional


do condutor como facilitador na decodificação das informações fornecidas pelo
ambiente.

A formalização do condutor ambiental propriamente dita, ocorreu através


da Instrução Normativa nº 08 do ICMBIO (2009), que estabelece “normas e
procedimentos para a prestação de serviços vinculados à visitação e ao turismo em
Unidades de Conservação Federais por condutores de visitantes”, de forma a dar
acesso às comunidades de entorno para que atuem nestas UCs, desde que atendam
as demandas de qualificação estipuladas na normativa.

METODOLOGIA

Para que se promova o desenvolvimento do turismo sustentável, e através de


condutores ambientais ocorram as ações de educação ambiental, aqui propostas, e
consequentemente o fomento ao desenvolvimento do turismo sustentável, o IFRS -
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus
Porto Alegre, através do PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e Emprego, ofertou a partir de 2012 o curso de Condutor Ambiental Local,
experiência aqui apresentada.

Em conformidade com a Instrução Normativa nº08 do ICMBIO (2009), que


estabelece “normas e procedimentos para a prestação de serviços vinculados à
visitação e ao turismo em Unidades de Conservação Federais por condutores de
visitantes”, o curso ofertado pelo IFRS, foi estruturado com 200 horas, divididas em
5 módulos, sendo: Orientação Profissional e Cidadania; Técnicas de Observação
e Identificação da Fauna e Flora Regionais; Turismo e Sustentabilidade; Trabalho
do Condutor Ambiental Local; Segurança e Primeiros Socorros. Ministrados por
professores Especialistas, Mestres e Doutores. Com aulas teórico-práticas, baseadas
na aplicação de metodologias e ferramentas participativas vivenciais em Unidades de
Conservação.

Desta forma, complementarmente às atividades em sala de aula, que faziam


uso de ferramentas e equipamentos multimídia e também de dinâmicas e atividades
integrativas e cooperativas, também foram proporcionadas saídas de campo, para
visitas em Unidades de Conservação – UCs, do estado do Rio Grande do Sul e de Santa
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Catarina, onde também se realizou uma atividade de integração com a Associação de


Condutores UATAPI, formada a partir de um curso de Condutores Ambientais ofertado
pelo PRONATEC/IFSC – Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Santa
Catarina, de forma a fomentar e colaborar na fundação de uma associação para os
condutores de Porto Alegre.

Como forma de apoio e fomento à organização solidária de um espaço de


trabalho, para os condutores formados em Porto Alegre, a Incubadora Social do IFRS,
passou a apoiar a formação da Associação Porto Alegrense de Condutores Ambientais
– APACA. Que se propõe a organizar, concentrar e direcionar a geração de trabalho e
renda para estes condutores.

RESULTADOS

Como principais resultados alcançados desta experiência inovadora no Rio


Grande do Sul, até o momento podemos destacar a formação da APACA - Associação
Porto Alegrense de Condutores Ambientais; a abertura de duas turmas em Porto
Alegre; a abertura de uma turma em Itapuã – Viamão/RS, para atuar no parque
Estadual de Itapuã; a promulgação da Instrução Normativa Nº 01 (03/01/2014) da
SEMA/RS, que “estabelece normas e procedimentos para a prestação de serviços
em Unidades de Conservação do Estado do Rio Grande do Sul, por condutores
ambientais autônomos; a formação de 60 Condutores Ambientais em Porto Alegre e
Região Metropolitana.

A realização das duas primeiras turmas que não tinham a sua formação
direcionada a atuação em nenhuma Unidade de Conservação especificamente,
proporcionou a agregação de diferentes públicos, porém não com menos entusiasmo,
visto que se organizaram e formaram a APACA, que atuou na construção e proposição
da Normativa Estadual, que acabou por beneficiar todas Unidades de Conservação
e comunidades de entorno do Rio Grande do Sul e estando atualmente atuando na
construção da Normativa Municipal junto à Secretaria de Meio Ambiente de Porto
Alegre.

Na turma aberta especificamente para os moradores da comunidade de Itapuã


no município de Viamão, para formar condutores ambientais que atuem no Parque
Estadual de Itapuã, a adesão comunitária tem apontado como benefícios iniciais a
articulação e ordenamento dos serviços turísticos na comunidade, como a retomada
da ACLEI – Associação dos Condutores Locais de Ecoturismo de Itapuã, que apesar
de formada em 2000, estava desativada e a aproximação com o poder público estadual
e municipal, inicialmente em vistas à Realização da Copa do Mundo FIFA 2014, já que
o Parque Estadual de Itapuã é uma das UCs do RS eleita como “Parque da Copa”.
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Desta forma, se almeja como legado da Copa, nesta comunidade a formação


de uma nova turma de condutores locais, a retomada da vinculação harmoniosa
da comunidade com o Parque, já que esta que foi traumática desde a formação do
Parque à 40 anos, atualmente desponta como a mais real e sustentável alternativa de
desenvolvimento local.

Com estes resultados, que consideramos iniciais, visto as articulações municipais


e regionais realizadas e os espaços já conquistados, apontamos como exitosa, esta
experiência de através da “Formação de Condutores e Educação Ambiental” buscar
a construção de estratégias de desenvolvimento do turismo sustentável nas UCs do
RS e suas áreas de entorno.

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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A SUA IMPORTÂNCIA NO TURISMO

RESUMO: A Educação Ambiental se apresenta como uma grande aliada à preservação


do Meio Ambiente, pois busca uma relação de equilíbrio entre a natureza e o homem,
que a explora economicamente e que a usa para sobreviver ou para conviver. A
prática do turismo se dá a partir da apropriação da natureza pelo homem, que a
transforma em mercadoria e a vende como um produto turístico. Neste contexto, a
Educação Ambiental ganha importância significativa para que a prática do turismo se
dê em conformidade com a preservação da natureza e com a manutenção do espaço
turisticamente transformado. Este trabalho tem o objetivo de analisar a importância
da Educação Ambiental para o turismo, a partir de uma percepção critica da atividade
turística. Uma breve revisão bibliográfica e algumas considerações sobre a ética e
a cidadania; temas tão importantes na formação de uma sociedade, comprometida
com a preservação ambiental, nortearam a metodologia utilizada. Percebeu-se que
quanto mais se compreende os efeitos causados pela transformação da natureza
em produtos turísticos, mais importância a Educação Ambiental ganha na prática do
turismo.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Educação e Turismo. Meio Ambiente. Natureza.


Produto Turístico.

ABSTRACT: The Environmental Education is presented as a great ally to the


preservation of the Environment; as it searches a balanced relationship between nature
and man, that economically explores it and the man that uses it to survive or to live.
The practice of tourism starts from the appropriation of the nature by man, which turns
it into goods and sells as a tourism product. In this context Environmental Education
has a significant importance for the tourism practice be given in accordance with the
nature conservation and the maintenance of the spaces transformed by tourism. This
work aims to analyze the importance of Environmental Education for tourism through its
critical perception by the population. A brief literature review and some considerations
about ethics and citizenship, important issues in forming a society committed to
environmental preservation, guided the used methodology. It was noticed that the
more people understand the effects of the transformation of nature into spaces and
tourist products, the more committed in the diffusion of the Environmental Education
they remain.

Keywords: Environmental Education. Education and Tourism. Environment. Nature.


Tourist Product.

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental aparece no cenário brasileiro a partir da segunda metade


do século XX e evolui no século XXI com toda a roupagem ideológica necessária para
que seja percebida como a solução de muitos problemas ambientais; problemas estes
causados pela ação do homem sobre a natureza; pois como coloca Costa e Rocha
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(2010, p. 33) “O homem deve ser compreendido como ser ativo que sofre a influência
do meio, porém atua sobre este, transformando-o”.

O meio ambiente começa a ser ameaçado e evidencia-se a questão da crise


ambiental, mas poucos realmente compreendem o que isso representa; e os que têm
o poder para buscar as soluções, só atuam em função de interessantes particulares.
Assim, se constrói uma das formas de se propagar o poder de manipulação de poucos
sobre muitos; além da propagação do “não saber”, instrumento político muito usado
no discurso, com objetivos ideológicos bem definidos.

Cardoso (1998, p. 4.), afirma que se estabelece o “[...] progresso infinito, visando
ao enriquecimento cada vez maior de uma parcela cada vez menor da humanidade,
por meio da dominação da natureza e do outro ser humano a qualquer custo [...]”.
Neste contexto, a natureza passa a ser objeto de disputa em todas as esferas do
poder, inclusive turisticamente; pois:
Toda relação é o ponto de surgimento do poder, e isso fundamenta a
sua multidimensionalidade. A intencionalidade revela a importância das
finalidades, e a resistência exprime o caráter dissimétrico que quase sempre
caracteriza as relações (RAFFESTIN, 1993, p. 53).

Perceber as relações de disputas: econômica, política e social pode parecer


fácil, mas perceber esta relação na educação e na prática do turismo, não parece
ser muito claro. No entanto, é na educação que se instalou um dos territórios de
disputa do poder sobre a natureza, pois é nela que se pode abordar o tema a partir de
diferentes pontos de vista.

Assim, começa na Educação Ambiental um trabalho de transformação do ser


humano. Porém, as transformações que os seres humanos vivenciam são resultados
da construção social que é definida pela sociedade, com sua cultura, política e
interesses particulares e disputas de poder, tal qual ocorre na atividade turística.

Propaga-se o turismo como uma atividade que pode gerar renda e melhorar
a qualidade de vida da população residente, inclusive considerando-o sustentável.
Cabe a Educação Ambiental apresentar outras análises do desenvolvido turístico, tais
como:
As ideias de preservação ambiental e de desenvolvimento local parecem
não estar presentes no crescimento econômico da atividade; no entanto, a
apropriação da paisagem se mostra constante, pois para cada novo tipo de
interesse do ecoturista, uma nova paisagem, com seus atributos naturais e
culturais é apresentada, satisfazendo a todos os interesses dos ecoturistas e
do mercado turístico. (OLIVEIRA, CASTRO e LERMONTOV, 2012, p. 1815).

A Educação Ambiental se apresenta como um tema transversal, às vezes


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de ampla compreensão por parte de alunos e professores e outras vezes, um tema


incompreendido por todos, inclusive por aqueles que praticam o turismo. Assim,
questiona-se a necessidade da Educação Ambiental para a solução dos problemas
ambientais ou se ela é um mecanismo de controle sobre a população.

Uma população educada ambientalmente é uma população sob o controle do


Estado, tal qual ocorreu com o paradigma do determinismo ambiental, que foi usado
para legitimar o expansionismo europeu (COSTA e ROCHA, 2010).

O objetivo do trabalho é analisar a importância da Educação Ambiental no


turismo, considerando as questões de cidadania e de ética, a partir de uma breve
revisão bibliográfica.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL, TURISMO E MEIO AMBIENTE

A necessidade de preservação do meio ambiente se dá a partir de um amplo


conjunto de acontecimentos que incluem, entre tantos outros, a Revolução Industrial,
o Capitalismo e a Segunda Guerra Mundial; tendo o seu ápice, no processo de
Globalização. Todos esses acontecimentos se resumem á manifestações de poder do
homem sobre a natureza e sobre o próprio homem, não havendo uma preocupação
com a ética, muito menos com os interesses dos cidadãos; no entanto, a ideologia
pregada para a sociedade é a do desenvolvimento, com melhorias para todos.

O ensino da Educação Ambiental é iniciado com o conceito de desenvolvimento


sustentável que “é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer
a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades”
(CMMAD, 1991, p. 46); mas não foi explicado como a natureza chegou ao estado
atual de degradação. Se for mesmo assim, cada um precisa fazer a sua parte,
pensando não só no seu bem estar, mas também no bem estar do outro; ou seja, não
há interesses individuais e sim coletivos.

A Educação Ambiental para o turismo continua sendo desenvolvida


ideologicamente, onde “[...] A destruição maníaca é paga simetricamente por uma
conservação também maníaca (LATOUR, 1994, p. 68)”; logo, se foi destruído, precisa
ser conservado. No entanto, esta é uma tarefa processual que depende não somente
de ações humanas, mas também dos organismos vivos se reestruturarem. Por
exemplo, um mangue que foi devastado por atividades humanas, pode contar com
o apoio e o trabalho de especialistas para restauração, mas o desenvolvimento do
bioma depende de um tempo próprio.
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Desta forma, a Educação Ambiental não discute como o processo de degradação


chegou ao que se vê hoje, mas transfere a todos, a responsabilidade de salvar o
mundo, onde cada ação local (individual) é importante para o global (coletividade). É
fácil perceber como se dá essa incorporação no ensino da Educação Ambiental, pois
se criou uma lei para isso. Assim, de acordo com a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999,
no Art. 1º:
Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais
o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida
e sua sustentabilidade.

O que se entende por Educação Ambiental está muito alinhado com a prática da
atividade turística que também prega: a conservação do meio ambiente, a qualidade de
vida da população e a sustentabilidade do local visitado. Swarbrooke e Horner (2002,
p. 268) colocam que “[...] o interesse pelas questões ambientais surge quando as
necessidades básicas do indivíduo – moradia, alimentação e emprego – tiverem sido
satisfeitas”. Em países em desenvolvimento, a questão ambiental não é prioridade,
pois as questões sociais e econômicas ainda precisam ser resolvidas.

A Educação Ambiental que deveria oferecer conhecimentos necessários à vida


do cidadão crítico e ético, se mostra como mecanismo de poder e dominação, tal qual
nos coloca Cardoso (1998, p. 4) quando fala que “a ciência sofre um processo de
ideologização a serviço da sociedade capitalista.” Não é isso que se espera de uma
Educação Ambiental comprometida com as questões ambientais, preocupada com
a preservação do meio ambiente e principalmente, responsável pela formação da
cidadania conscientemente crítica.

Cabe, então, a Educação Ambiental formar cidadãos éticos e críticos, a partir


de um ensino que questione o consumismo capitalista, que aponte os responsáveis
pelo processo de degradação do meio ambiente e que mostre que os pobres são
sempre os que mais sofrem (BOMFIM; PICOLLO, 2009).

A Educação Ambiental não deve relegar a compreensão de como toda


degração ambiental aconteceu no mundo, de que o capitalismo continua sendo o
sistema econômico vigente, que as grandes coorporações internacionais e as
potências econômicas continuam explorando os países pobres, que o processo de
globalização continua crescendo e cada vez mais levando a exclusão de países
inteiros; e desmitificar a ideia de que tudo o que resta ao mundo, para salvar o meio
ambiente, é que cada um faça a sua parte.

O turismo não está isento neste processo de degradação ambiental, pois é a


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partir dele que áreas naturais são transformadas em produtos turísticos por interesses
econômicos. De acordo com Gaeta (2005, p. 194), “No entanto, com o passar dos
anos foram se acumulando evidências que as metas econômicas perseguidas por
muitos podem causar sérios danos ao meio ambiente”.

Desta forma, é preciso que a Educação Ambiental atue no sentido de minimizar


o impacto negativo causado ao meio ambiente pela prática do turismo, contribuindo
para um maior conhecimento sobre as questões ambientais. Pois Ruschmann (2002,
p.110) considera “(...) como impacto ambiental todas as alterações que ocorrem nas
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente natural, causadas por
qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas”; inclusive
as atividades turísticas.

HOMEM E NATUREZA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL E TURISMO

Desde o momento em que o homem deixou de fazer parte da natureza, ele


se acha no direito de explorá-la continuamente. Para Mariano et. al. (2011, p.161)
“[...] o colonialismo foi o senhor e possuidor do mundo, consagrando a capacidade
humana de dominar a natureza.”; isso ocorreu a partir de uma construção social que
se perpetuou e que não mais se pode desconstruir, ou se está muito longe disso. Tal
situação faz com que o homem realmente acredite que tem poder sobre a natureza.
Para Drew (2005, p. 4):
O homem já deixou de ser mero aspecto da biogeografia (simples unidade
de um ecossistema), para se tornar cada vez mais um elemento afastado do
meio físico e biológico em que vive. Quando se tornar capaz de fabricar ou
sintetizar alimentos de matéria inorgânica – perspectiva que não é improvável
-, um vínculo basilar, o homem com a terra viva, estará rompido.

A Educação Ambiental, apesar de criada pelo homem para uma melhor relação
com a natureza, aborda a preservação ambiental de uma maneira bem ampla, plural ou
holística. Exatamente por isso, faz com que seja, muitas vezes, apenas uma vontade
e pouquíssimas vezes, uma ação. Tal fato se dá porque alguns valores são invertidos,
levando a população a entendimentos contrários a sua realidade.

No turismo pode-se identificar tal situação quando elementos da natureza são


transformados em produtos turísticos e para serem desfrutados, torna-se necessário
pagar por eles. Como exemplos, pode-se citar: parte de praias que alguns resorts
delimitam e a usam como particular, deixando de lado a população local, apesar da
praia ser pública; a classificação do mais lindo pôr do sol, apesar de só existir um sol
e é sempre o mesmo que se põe; a também classificação dos melhores climas do
mundo, sendo que determinado tipo de clima é igual em qualquer lugar; entre tantas
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outras possibilidades.

Mesmo não ocorrendo a retirada de matéria-prima da natureza, como ocorre


com o processo de extrativismo; a apropriação dos elementos naturais pela atividade
turística, caracteriza uma exploração do ambiente natural em nome do lucro e cria a
ideologia de que o turismo contribui para a preservação do meio ambiente. Mendonça
(2006, p. 160) reafirma esta ideia, quando diz: “A natureza é vista como um recurso,
algo que está à nossa disposição para qualquer tipo de uso: desde o direto, como as
extrações, até os indiretos, com as apreciações da paisagem e o gozo do ar puro e do
silêncio.”

Isso significa que a natureza oferta gratuitamente seus elementos e o homem os


explora economicamente, tornando-os mercadorias, inclusive para a população local;
mas com o forte discurso de que, com o turismo na cidade, haverá mais qualidade
de vida e preservação do meio ambiente. Fato que não se confirma, pois com o
aumento do fluxo de turistas, torna-se necessário um planejamento urbano e turístico
adequado para atender a demanda; quando isso não ocorre, diminui a qualidade de
vida e as áreas naturais tendem a ser degradadas. Para Swarbrooke e Horner (2005,
p. 266):
Na maior parte dos casos, ou os turistas parecem não ter consciência dessas
questões, ou então demonstram alguma consciência, sem que isso pareça
resultar em mudanças em seu comportamento ou em suas exigências. Ao
que tudo indica, em geral não são muitas as evidências de consumidores
boicotando certas atividades turísticas com base em preocupações
ambientais.

Desta forma, necessita-se de uma Educação Ambiente onde todos possam


participar e obter uma visão crítica de que há muito a ser feito para que o meio ambiente
realmente seja preservado.

Com tal Educação Ambiental, o cidadão poderá tornar-se crítico ao ponto de


perceber que somente a reciclagem e a reutulização, por exemplo, não são suficientes
para melhorias significativas no meio ambiente. Isso se confirma na fala da Praia, Gil-
Perez e Vilcher (2007), quando colocam que os cidadãos precisam ser preparados
para enfrentar devidamente as questões de ordem mundial e ser capazes de irem ao
encontro de decisões significativas para superar os problemas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Ambiental não é a salvação do meio ambiente e isso precisa ser


propagado para todos os cantos do mundo. O que se percebe hoje, com o ensino
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da Educação Ambiental é que, mesmo sabendo-se que ela não resolve os problemas
ambientais, ela é importante para minimizar o processo de degradação da natureza
e para despertar uma análise crítica das ações dos homens em relação ao meio
ambiente.

É preciso que a Educação Ambiental ofereça diferentes saberes, que permitam


uma visão crítica da atividade turística em relação a preservação da natureza e da
qualidade de vida das pessoas residentes no local visitado. No entanto, não há uma
preocupação significativa em oferecer todos esses saberes, e mesmo se houvesse,
não seriam partilhados; pois o saber significa poder e quem tem o poder também tem
o domínio sobre todas as outras coisas.

Tal poder se expressa quando o homem se apropria da natureza e a partir daí,


obtém lucro, como ocorre continuamente na atividade turística. O problema encontra-
se na ausência da criticidade necessária para avaliar que suas ações precisam de um
mínimo de preservação, para que se consiga manter aquele espaço natural com os
atrativos turísticos em condições de atender a demanda turística e de contribuir com
a melhoria da qualidade de vida da população. Mas enquanto os problemas sociais e
econômicos continuarem existindo, mais distante fica o alcance desta criticidade.

Não há um caminho definido para a Educação Ambiental que permita uma


compreensão, aos envolvidos na atividade turística, do seu papel de agente
transformador do espaço visitado; mas mesmo assim pode haver muitos caminhos para
a Educação Ambiental permitir uma desaceleração no impacto causado pelo turismo,
a partir de uma visão crítica e ética sobre as ações sofridas pelo meio ambiente.

Vive-se um momento de mudanças e só podem gerar as mudanças, os mesmo


que as fizeram necessárias. Apesar disso, nada garante que elas possam atender, de
forma imparcial, a todos os envolvidos. De qualquer maneira, para torná-las possíveis,
primeiro, é preciso querer; segundo, é preciso saber; e terceiro, é preciso segui-la com
ética.

REFERÊNCIAS

BRASIL. LEI DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Lei nº 9.795. Brasília, 27 de abril de 1999.

BOMFIM, A.; PICCOLO, F. D. Educação Ambiental Crítica: para além do positivismo e


aquém da metafísica. In: VII ENPEC. Anais. Florianópolis: ABRAPEC, 2009.
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CARDOSO, C. M. Ciência e Ética: Alguns Aspectos. Revista Ciência e Educação, v.


5, n. 1, p. 1-6. 1998.

CMMAD. Nosso Futuro Comum. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio
Vargas, 1991.

COSTA, F. R.; ROCHA, M. M. Geografia e Paradigmas – Apontamentos Preliminares.


In: Revista GEOMAE, v. 1, n. 2, Campo Mourão, pp. 25-56, 2010.

DREW, D. Processos Interativos Homem-Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand


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GAETA, C. Novos Desafios na Formação do Profissional de Ecoturismo. In: NEIMAN,


Z.; MENDONÇA, R. Ecoturismo no Brasil. Barueri, SP: Manole, pp. 187-200, 2005.

LATOUR, B. Jamais Fomos Modernos. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994.

MARIANO, Z. F.; SCOPED, I.; PEIXINHO, D. M,; SOUZA, M. B. A Relação Homem-


Natureza e os Discursos Ambientais. Revista do Departamento de Geografia da
USP. v. 22, pp. 158-170, 2011.

MENDONÇA, R. Educação Ambiental e Turismo. In: NEIMAN, Z.; MENDONÇA, R.


Ecoturismo no Brasil. Barueri, SP: Manole, pp. 160-169, 2005.

OLIVEIRA, V. L. de; CASTRO, R. T.; LERMONTOV, A. A Paisagem no Ecoturismo. In:


Comunidades, Natureza e Cultura no Turismo. Org. SEABRA, G. João Pessoa: Ed.
Universitária da UFPB, pp. 1309-1315, 2012.

PRAIA, J.; GIL-PEREZ, D.; VILCHES, A. O Papel da Natureza da Ciência na Educação


para a Cidadania. Revista Ciência & Educação, v. 13, n. 2, p. 141-156, 2007.

RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. Ed. Ática: Rio de Janeiro, 1993.

RUSCHMANN, D. Turismo no Brasil: Análise e Tendências. Ed. Manole: Barueri, SP.


2002.

SWARBROOKE, J.; HORNER, S. O Comportamento do Consumidor no Turismo.


São Paulo: Aleph, 2002.
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ECOTURISMO E REPRESENTAÇÕES NO MUNICÍPIO DE


BARRA DO GARÇAS – MT

Valcilene Rosa Barbosa1


Rita Maria de Paula Garcia2

RESUMO: O ecoturismo é um segmento do turismo que cresce consideravelmente,


já que possui suas bases na ideia da sustentabilidade, é considerado uma forma de
turismo alternativo ao turismo de massa e atrai por sua proposta de interação com o
meio ambiente natural. Essa interação acontece carregada de subjetividade, já que o
indivíduo interage com o meio ambiente de acordo com as representações que tem
dele. Esse trabalho objetiva identificar as representações da experiência turística no
Município de Barra do Garças-MT e, foi desenvolvido a partir dos resultados parciais
do projeto de iniciação científica “A territorialidade turística da Região Encontro das
Águas”. A partir de entrevistas coletadas nos atrativos Cachoeira Pé da Serra, Cachoeira
da Usina, Discoporto, Mirante do Cristo, Pousada Cachoeira Cristal e Portal da Serra
do Roncador no município de Barras do Garças, foram identificadas representações
que vão desde liberdade, descanso, peregrinação à fuga do cotidiano. A viagem com
tais representações pode ser considerada turismo romântico, pois revela o contato do
ser humano com a natureza numa relação de “veneração” e “pureza”.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Ecoturismo. Subjetividade. Representação.

ABSTRACT: Ecotourism is a tourism segment that grows considerably, as it has its


foundations on the idea of sustainability, it is considered a form of alternative tourism into
mass tourism and attracts by its proposal of interaction with the natural environment.
This interaction happens full of subjectivity, since the individual interacts with the
environment in accordance with the representations he have of it. This research intends
to identify the representations of the tourist experience in the municipality of Barra do
Garças-MT and was developed from the partial results of the scientific research project
“A territorialidade turística da Região Encontro das Águas”. From interviews collected
in the attractives Cachoeira Pé da Serra, Cachoeira da Usina, Discoporto, Mirante
do Cristo, Pousada Cachoeira Cristal and the Portal da Serra do Roncador in the
municipality of Barras do Garças, representations were identified ranging from freedom,
rest, pilgrimage to escape from everyday life. The travel with such representations can
be considered romantic tourism, because it reveals the human contact with nature in a
relationship of “veneration” and “purity”.

KEYWORDS: Tourism. Ecotourism. Subjectivity. Representation.

1 Graduanda em Turismo. Acadêmica e bolsista de Iniciação Científica - Uni-


versidade do Estado de Mato Grosso/ UNEMAT. E-mail: valcilene.turismo@gmail.
com
2 Doutora em Geografia. Docente do Curso de Turismo - Universidade do Esta-
do de Mato Grosso/ UNEMAT. E-mail: rita_turismo@hotmail.com
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INTRODUÇÃO

O ecoturismo é o segmento de turismo que mais cresce e ganha seguidores,


apresentando taxas entre 15% e 25% ao ano segundo o Ministério do Turismo (2014).
Uma de suas características fundamentais é oferecer o acesso aos atrativos prezando
pela sustentabilidade e se destacando aos olhos da sociedade.

Pensar o ecoturismo a partir do viés prático, voltado ao seu papel frente à


sustentabilidade, tem se mostrado uma tarefa complexa e em frequente discussão, o
que em parte se pode atribuir ao conflito de interesses entre o mercado da atividade
ecoturística e as entidades de proteção ambiental.

O ecoturismo é um segmento muito particular do turismo, que além da busca


pela conservação de áreas naturais, promove o contato do homem com a natureza.
Essa relação acontece com uma grande carga de subjetividade, o que torna cada
experiência única, já que se baseia não somente no contexto natural, mas no contexto
social da localidade e do turista.

Busca-se mostrar quais são as representações do ecoturista do município


de Barra do Garças em relação aos atrativos turísticos estudados e como aquelas
influenciam na forma de pensar e agir sobre estes.

A pesquisa se justifica no fato de o município de Barra do Garças - MT,


local do estudo, possuir um considerável fluxo de turistas e esse movimento não é
frequentemente estudado, já que há uma escassez de trabalhos acerca do turismo
na região. A opção pelo ecoturismo se deu a partir dos resultados da pesquisa de
demanda turística realizada por Garcia (2014) que constatou que as representações
do município e da região são voltadas, em sua maioria, aos elementos da natureza,
tais como rios, cachoeiras, matas, etc.

Pesquisas sobre representações sociais e sua relação com o turismo são


reduzidas no Brasil, além de ser um trabalho inédito no local pesquisado. Este estudo
abre caminho para futuras pesquisas relacionadas ao tema na região e em outras
localidades.

O trabalho está estruturado em introdução, revisão teórica com abordagem


de ecoturismo e representações sociais, metodologia da pesquisa, resultados e
discussões, e conclusão.

ECOTURISMO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

O turismo pode ser considerado um fenômeno fortalecido pelo capitalismo


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que vem se modificando ao longo do tempo influenciado por uma série de fatores
econômicos, ambientais, sociais, dentre outros.

Para Panosso Netto (apud LOHMANN; PANOSSO NETTO, 2012) o turismo


pode ser entendido como o fenômeno de saída e retorno do ser humano do seu local
habitual de residência, por motivos revelados ou ocultos, pressupondo hospitalidade,
encontro e comunicação com outras pessoas e utilização de tecnologia, entre inúmeras
outras condições, o que vai gerar experiências variadas e impactos.

Influenciado tanto pelos fatores externos quanto internos à atividade, o


turismo muda e se adapta às tendências e novas realidades. Um exemplo disso é o
desenvolvimento sustentável, discutido por diversos segmentos da sociedade, que
para o turismo resultou no surgimento de novas formas de pensar e fazer turismo.

Dentre estas tendências está o turismo alternativo, que como o próprio nome
diz, se constitui em formas alternativas ao turismo de massa considerado de grande
impacto.

Segundo Pires (2002) essas formas de turismo tendem a apresentar


características que as diferenciem do turismo de massa, tais como:

• Desenvolvimento moderado do turismo;

• valorização dos costumes e estilos de vida locais;

• geração de benefícios locais e aumento de oportunidades de


renda para as comunidades receptoras;

• poucos efeitos sociais e culturais negativos e maior receptividade


pelas populações residentes;

• pequena alteração da paisagem natural e cultural dos destinos;

• preservação e proteção dos recursos turísticos e incremento de


sua qualidade;

• motivação dos turistas para uma experiência social.

Baseado em discussões acerca de um turismo menos predatório ao meio


ambiente natural e mais benéfico às localidades receptoras, o turismo alternativo se
constitui no que se pode chamar o “turismo desejado”.

Não por acaso, essas características se identificavam com a nova


ética que se idealizava para o turismo, fundamentada em princípios
tais como o respeito às populações autóctones e valorização da sua
cultura, a proteção do ambiente e das paisagens naturais e a realização
de experiências turísticas multissensoriais enriquecedoras da condição
humana. (PIRES, 2002, p.81)
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Turismo rural, turismo étnico, turismo cultural, turismo de estudo, turismo de


aventura e ecoturismo são alguns exemplos de turismo alternativo. Dentre estes
segmentos, será abordado o ecoturismo, buscando mostrar a subjetividade da
experiência da relação “homem–natureza”.

Segundo a Embratur, o ecoturismo pode ser definido como:

Segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável, o


patrimônio natural e cultural, incentiva a sua conservação e busca a
formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação
do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas.
(apud COSTA, 2002, p.30)

O patrimônio cultural é constituído pelas obras materiais e imateriais que


expressam a identidade de um povo, enquanto o patrimônio natural é formado por
áreas de importância ambiental e histórica.

O que se percebe é que o conceito de ecoturismo gira em torno das características


propostas pelo turismo alternativo, que busca promover sustentabilidade ambiental,
econômica social e cultural à localidade envolvida na atividade turística.

A relação do homem com a natureza acontece pautada em representações,


já que segundo Godelier (apud DIEGUES, 2001, p. 63) “nenhuma ação intencional
do homem sobre a natureza pode começar sem a existência de representações [...]”.
Ainda segundo o autor é necessário entender o sistema de representações que cada
indivíduo ou grupo faz de seu meio ambiente para entender como age em relação ao
meio ambiente.

De acordo com Abbagnano (2003, p. 853):

[...] Representar tem vários sentidos. Em primeiro lugar, designa-se com este
termo aquilo por meio do qual se conhece algo; nesse sentido, o conhecimento
é representativo, e representar significa ser aquilo com que se conhece alguma
coisa. Em segundo lugar, por representar entende-se conhecer alguma coisa,
após cujo conhecimento conhece-se outra coisa; nesse sentido, a imagem
representa aquilo de que é imagem, no ato de lembrar. Em terceiro lugar,
por representar entende-se causar o conhecimento do mesmo modo como o
objeto causa o conhecimento [...].

Nesse sentido, pode-se dizer que a representação com qual se propõe trabalhar
é aquela do terceiro sentido acima citado, no qual o indivíduo leva consigo uma
representação e a investe no local que está sendo visitado. Tais representações são
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desenvolvidas pela sociedade “[...] são uma mistura das ideias das elites, das grandes
massas e também das filosofias correntes, e expressão das contradições vividas no
plano das relações sociais de produção.” (MINAYO, 2011, p. 91).

As representações influenciam na formação de pensamentos e comportamentos,


“são uma estratégia desenvolvida por atores sociais para enfrentar a diversidade e
a mobilidade de um mundo que, embora pertença a todos, transcende a cada um
individualmente”. (JOVCHELOVITCH, 2011, p. 68-69).

A necessidade de apreciar a natureza vem sendo amplamente difundida como


escape da vida conturbada dos centros urbanos. Essa ideia parte principalmente da
oposição trabalho versus lazer, segundo a qual o indivíduo deve se afastar de seu
ambiente habitual a fim de descansar e se recompor para novamente voltar às suas
atividades (SANTOS, 2002).

A viagem à natureza torna-se a fuga do cotidiano, o retorno à condição sagrada


ou edênica, representada pela paz, pela pureza do homem. Santos (2002) a denomina
“viagem romântica” ou “turismo romântico”, que segundo o autor:

Não se deduz de uma soma de viagens e serviços, mas de um conjunto


de práticas fundadas em crenças, apresentações e representações,
que operam a reconversão dos lugares, em torno de uma subjetividade
que projeta “o país das maravilhas, como o outro lado do espelho,
[...] horizontes de sonho onde o imaginário se oferece a realidade”.
(SANTOS, 2002, p.225)

O turismo romântico tem características que podem ser encontradas em


diversas formas de turismo alternativo, mas com mais frequência e intensidade no
ecoturismo.

METODOLOGIA

O locus da pesquisa é o município de Barra do Garças, localizado no extremo


leste do Estado de Mato Grosso, faz limite ao norte com Nova Xavantina – MT, ao sul
com Pontal do Araguaia – MT, ao leste com Aragarças – GO e Araguaiana – MT e a
oeste com General Carneiro – MT e Novo São Joaquim – MT (GIUGNI, 2010).

FIGURA 1: BARRA DO GARÇAS NO MAPA DE MATO GROSSO


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Fonte: Google, 2014

Segundo o IBGE (2014) o município possuía uma população estimada em


57.791 habitantes em 2013. A economia é baseada principalmente na agropecuária,
mas o turismo caminha rumo à consolidação.

A origem de Barra do Garças data de 13 de junho de 1924 com o nome de


Barra Cuiabana em decorrência de atividades de garimpeiros que buscavam por
ouro e diamante. O município foi criado em 15 de setembro de 1948, incorporando o
município de Araguaiana na condição de distrito, sendo considerado o maior município
do mundo (GIUGNI, 2010).

Barra do Garças possui uma série de atrativos naturais, dentre os quais se


destacam as praias e cachoeiras, mas também possui atrativos de origem antrópica,
os quais compõem a história do município e da região na qual se insere. O município
conta também com uma unidade de conservação, o Parque Estadual da Serra Azul,
que tem seus limites no perímetro urbano do município.

A pesquisa foi desenvolvida como parte do projeto “Viagem à Região Encontro


das Águas: investigando a territorialidade do turista” aprovado pelo Edital Universal
005/2012 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT),
através do subprojeto de iniciação científica “A territorialidade turística da Região
Encontro das Águas”.

A pesquisa se divide em duas etapas, bibliográfica e de campo. A pesquisa


bibliográfica abordou os temas turismo, representações e experiência turística,
servindo também como subsídio para a realização da pesquisa de campo.

A primeira etapa da pesquisa de campo do projeto acima citado é caracterizada


como quantitativa do tipo levantamento. Foram aplicados 1140 formulários junto aos
turistas em 5 pontos estratégicos dos municípios de Barra do Garças-MT, Pontal do
Araguaia-MT e Aragarças-GO, que formam a Região Encontro das Águas durante 12
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meses (abril de 2012 a março de 2013). Nessa etapa os turistas indicaram atrativos
turísticos de seu interesse.

Dentre os atrativos mencionados foram selecionados os pontos para coleta


de entrevistas, ou seja, segunda etapa da pesquisa caracterizada como qualitativa.
Desta forma, a pesquisa pretende identificar as representações da natureza através
da investigação dos atrativos turísticos naturais e da prática ecoturística.

A pesquisa bibliográfica realizada foi baseada nos temas: turismo alternativo,


ecoturismo, representações sociais, relação entre homem e natureza, tendo como
principais norteadores: Pires (2002), Santos (2002) e Diegues (2001).

Foram coletadas 20 entrevistas semiestruturadas junto aos turistas com o


objetivo de conhecer sua experiência nos seguintes atrativos turísticos do município
de Barra do Garças: Cachoeira Pé da Serra, Cachoeira da Usina, Discoporto, Mirante
do Cristo, Pousada Cachoeira Cristal e Portal da Serra do Roncador.

PARQUE ESTADUAL DA SERRA AZUL

O Parque Estadual da Serra Azul possui extensão territorial de 8.730 Km² e


possui uma série de cachoeiras que compõe sua atratividade, dentre as quais estão a
Cachoeira Pé da Serra e a Cachoeira da Usina. Dentro do parque há ainda atrativos
como o Discoporto e o Mirante do Cristo.

MIRANTE DO CRISTO

O mirante está localizado no alto da Serra Azul, de onde se pode avistar tanto
a cidade de Barra do Garças - MT, quanto as vizinhas Pontal do Araguaia - MT e
Aragarças - GO e o encontro dos rios Araguaia e das Garças.

DISCOPORTO

O local representa o misticismo da região, foi idealizado pelo vereador Valdon


Varjão e está localizado no Parque Estadual da Serra Azul. Uma nave feita com
chapas de aço e um painel de placa galvanizada em forma de extraterrestre permitem
ao visitante interagir com o ambiente e registrar fotos.
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POUSADA CACHOEIRA CRISTAL

Está localizada a aproximadamente 50 quilômetros do núcleo urbano de Barra


do Garças, às margens da BR 070, Km 40. A pousada conta com nove apartamentos
e oferece atividades como banhos de cachoeira e trilhas autoguiadas. As principais
cachoeiras são Cachoeira Cristal e Cachoeira João Poção.

PORTAL DA SERRA DO RONCADOR

Localizado a aproximadamente 70 quilômetros do núcleo urbano de Barra


do Garças às margens da BR 158 Km 732, atrai pela paisagem diferenciada e pelo
misticismo que o envolve.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os municípios de origem dos 20 entrevistados são: Goiânia - GO (4


respondentes), Várzea Grande - MT (2 respondentes), Ribeirão Cascalheira - MT,
Londrina - PR, Campo Verde - MT, Primavera do Leste - MT, Maringá - PR, Campinas -
SP, Nova Xavantina - MT, Cuiabá - MT, Guapó - GO, São Paulo - SP, Espigão do Leste
- MT, Querência - MT, Blumenau - SC e São Felix do Araguaia - MT (1 respondente
cada município).

FIGURA 2: ATRATIVOS TURÍSTICOS E REPRESENTAÇÕES


Atrativos Turísticos Representações
Cachoeira Pé da Serra • Fuga do cotidiano
• Pureza
• Beleza
• Tranquilidade

Cachoeira da Usina • Sentimento de liberdade


• Relaxamento
• Calma
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Discoporto • Tranquilidade
• Pureza
• Fuga do cotidiano
• Beleza da paisagem
• Descanso
• Estranheza
• Misticismo
Pousada Cachoeira Cristal • Descanso
• Renovação
Portal da Serra do Roncador • Liberdade
• Peregrinação
• Viver o momento
• Tranquilidade
• Fuga do cotidiano
• Descanso
Mirante do Cristo • Beleza da paisagem
• Superação
• Paz
• Beleza e diversificação da
paisagem
Trilha das Cachoeiras • Liberdade
• Positividade
• Superação
Fonte: Dados da pesquisa.

A experiência do turista em um atrativo é determinada pelas representações


que este tem do meio ambiente no qual se insere, da viagem e do atrativo turístico em
si.

No caso dos atrativos turísticos de Barra do Garças não é diferente, como


pode-se observar a partir das representações que os turistas têm de cada atrativo.
Durante a prática do ecoturismo o turista cria um vínculo muito particular, o qual difere
do turismo de massa.

Para Santos (2002) o turismo com tais características é romântico, marcado


pela subjetividade e o individualismo com os quais o turista se apropria do local
visitado. Nesse sentido o turista vê a natureza como símbolo de pureza e resgate da
condição pura do ser humano, o que muitos autores chamam de condição edênica.

O sentimento de fuga do cotidiano foi incorporado ao discurso da “agressividade”


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dos grandes centros urbanos e no retorno à natureza como reencontro com a identidade.
Baseado na dicotomia trabalho-lazer o indivíduo considera como “prisão” as atividades
do dia a dia, consequentemente fazendo com que as atividades realizadas no tempo
livre despertem um sentimento de liberdade e tranquilidade. Santos (2002) denomina
condição “sagrada” ou “edênica” aquela em que o ser humano busca o “retorno ao
Éden” num tempo em que havia apenas o homem (sem obrigações) e a natureza
numa relação harmoniosa e suficiente para manter a sobrevivência.

Na maioria das representações identificadas nos atrativos turísticos estudados


a natureza possui uma condição positiva e “pura”, digna de cuidado e “veneração”,
proporcionadora de experiências libertadoras e renovadoras, cujo discurso pode ser
atribuído, dentre outros, aos movimentos ambientalistas, tanto preservacionistas
quanto conservacionistas, difundidos dentre todas as classes da sociedade. Esses
discursos influenciam na formação das representações, já que são criados e difundidos
por agentes sociais de grande influência.

A origem, a idade, a ocupação são fatores que influenciam na formação das


representações que o indivíduo tem do meio ambiente e estas consequentemente
determinam a experiência turística, através das diferentes formas de apropriação do
meio ambiente.

A construção de imagens de atrativos a partir da representação, para o turista


significa uma forma de dotar de significado o espaço com o qual está interagindo,
enquanto para os atores do planejamento local pode significar uma forma de planejar
e melhorar os atrativos turísticos em questão, a partir da visão e das representações
do principal agente do turismo, o turista, buscando criar e reforçar imagens positivas
e modificar as imagens negativas.

CONCLUSÃO

A experiência turística é subjetiva, pois parte do contexto e das representações


da sociedade na qual o turista e o atrativo turístico se inserem.

No caso do ecoturismo, isso acontece com mais intensidade, já que desde


os tempos mais remotos a relação do homem com a natureza é pautada em uma
série de representações sociais. Cada sociedade age na natureza de acordo com a
representação que tem do meio ambiente natural.

No caso do município de Barra do Garças – MT, notou-se que a grande maioria


das representações é positiva, devido a subjetiva relação do turista com a natureza,
principal atrativo do município.

O estudo das representações permite conhecer as percepções e apropriações


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do espaço pelo turista, logo, pode subsidiar o planejamento local e o mercado através
das “construções” dos atrativos turísticos por meio da estruturação e divulgação dos
mesmos.

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Departamento de Turismo

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Grupo de Trabalho 03
Turismo, Patrimônio e Identidades

Morro do Imperador - Juiz de Fora | MG

Coordenadores: Teresa Cristina de Miranda Mendonça (UFRRJ); Maria Geralda de


Almeida (UFG); Euler David de Siqueira (UFRRJ); Vera Maria Guimarães (UNIPAMPA).

Este eixo propõe discutir a questão do patrimônio cultural como suporte de


identidades sob a perspectiva da imaterialidade e materialidade da cultura, assim
como, a valorização turística do patrimônio sob a perspectiva de gerenciamento do
universo simbólico da sociedade. Propõe também, a reflexão sobre a problemática
do agenciamento do patrimônio cultural como suporte de processos identitários de
base local, associado a uma sociedade de consumo, na qual, este se realiza como
mercadoria e, por conseguinte fonte de divisas para as localidades.
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GESTÃO DO PATRIMÔNIO MUSEOLÓGICO: A EDUCAÇÃO COMO ALIADA NA


PRESERVAÇÃO DO MUSEU MARIANO PROCÓPIO

Aline Viana Vidigal Santana1

RESUMO: O presente artigo apresenta como a gestão de museus aliada à educação


contribui para preservação do patrimônio cultural musealizado. Através da análise de
um dos principais atrativos turísticos de Juiz de Fora-MG, o Museu Mariano Procópio,
é possível observar que as ações educativas são essenciais para as relações de
identidade e pertencimento da população com o espaço e, consequentemente, para
sua preservação, mesmo com os prédios históricos fechados ao público.

PALAVRAS-CHAVE: Patrimônio Cultural. Gestão. Museu Mariano Procópio. Turismo.

ABSTRACT / RESUMEN: This paper presents the management of museums allied


to education contributes to preservation of musealized cultural heritage. Through
analysis of one of the main tourist attractions of Juiz de Fora, Minas Gerais, the Mariano
Procopio Museum, you can see that education is essential for relations of identity and
belonging of the population with space and, consequently, for its preservation, even
with the historical buildings closed to the public.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Cultural Heritage. Management. Museu Mariano


Procópio. Tourism.

INTRODUÇÃO

Os bens materiais e imateriais de um município podem se tornar elementos


atrativos para atividades de lazer e turismo, recuperando e/ou recriando novos
valores e significados locais. Para isso, a educação tem sido vista como processo
fundamental para a tomada de consciência no que se refere à preservação do
patrimônio cultural sendo a tríade museu, educação e preservação necessária para
um turismo responsável.

Neste artigo, levantaremos questões acerca do turismo e da gestão do


patrimônio, especificamente o museológico, com o objetivo de analisar a educação
em museus como aliada à preservação do patrimônio cultural. Como objeto de estudo,

1 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Especialista em Gestão do


Patrimônio Cultural pelo Instituto Granbery. E-mail: alinesantana888@gmail.com
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apontaremos o setor educativo do Museu Mariano Procópio, localizado em Juiz de


Fora-MG. Destacamos que não pretendemos, neste trabalho, aprofundar um estudo
sobre os projetos educativos do Museu, mas analisá-los de forma geral dentro do
contexto aqui proposto.

Com os prédios históricos fechados para revitalização desde 2008, o desafio


de gerir o Museu Mariano Procópio se acentuou, não apenas pela complexidade de
realização de obras de restauração, mas, também, pela necessidade de não deixar
que se perca a relação de identidade e pertencimento da população com o Museu.
Justifica-se, portanto, a intensificação de realização dos projetos culturais, educativos
e científicos na instituição.

2.2 GESTÃO DO PATRIMÔNIO MUSEOLÓGICO

A trajetória brasileira das instituições museológicas marca os diferentes


significados que estes espaços foram estabelecendo no decorrer dos anos como
museu de ciências, arqueologia, de arte e de história, por exemplo. A maioria dos
museus brasileiros foi fundada no século XX, como o Museu Mariano Procópio,
localizado em Juiz de Fora-MG, oficialmente aberto à visitação pública em 1915.

De acordo com o Sistema Brasileiro de Museus, até agosto de 2008, havia


2.501 museus presenciais e 19 museus virtuais, sendo que desses, 944 encontravam-
se no Sudeste, ou seja, 37,46% localizam-se nessa região (PNC, 2008). Em 2006, o
IBGE aponta que os museus localizam-se em apenas 21,9% dos municípios. Esses
dados apontam para uma realidade discrepante entre as regiões brasileiras (idem).
Entretanto, a cidade de Juiz de Fora se destaca dentro do setor cultural, uma vez que
possui 10 museus e 3 centros culturais, além 26 escolas de artes e galerias, de acordo
com dados da Prefeitura Municipal (PJF, 2013).

Diante dessa realidade, o governo vem implementando ações voltadas para o


campo museal brasileiro como a criação do Sistema Brasileiro de Museus que tem por
finalidade promover, entre outras, a valorização e disseminação de conhecimentos
do campo da museologia, desenvolvimento de ações nas áreas de aquisição de
bens, capacitação de pessoal, documentação, pesquisa, conservação, restauração,
comunicação e difusão. Com o objetivo de criar normas reguladoras, foi criada a Lei
Federal 11.904/2009 que institui o Estatuto de Museus, regulamentado através do
Decreto no 8.124/2013, que busca orientar e auxiliar instituições museais no que se
refere às normas de preservação, conservação e segurança do acervo.
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De acordo com o Estatuto de Museus, Art. 1º, consideram-se museus aquelas


“instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam
e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e
turismo (...) abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento”
(BRASIL, 2009a). De acordo com o Estatuto de Museus, são princípios fundamentais
dos museus:
I - a valorização da dignidade humana;
II - a promoção da cidadania;
III - o cumprimento da função social;
IV - a valorização e preservação do patrimônio cultural e ambiental;
V - a universalidade do acesso, o respeito e a valorização à diversidade
cultural;
VI - o intercâmbio institucional.
(BRASIL, 2009a)

O Ministério da Cultura, através da Superintendência de Museus do Estado


de Minas Gerais (SUM), vem produzindo oficinas de treinamento e capacitação
profissional, debates na área museológica por meio de seminários e fóruns, entre
outras ações que têm contribuído para seu aprimoramento e desenvolvimento. Em
Juiz de Fora, a Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage – Funalfa, é responsável pela
política cultural do município, promovendo grandes eventos, administrando alguns
centros culturais e o Museu Ferroviário. Vinculado à Funalfa, o Conselho Municipal de
Preservação do Patrimônio Cultural (Comppac) estruturado através da Lei no. 10.777,
de 15 de julho de 2004 visa proteger o patrimônio cultural da cidade, entre eles o
Museu Mariano Procópio, que em janeiro de 1983 teve suas edificações e parque
tombados, em nível municipal.

As instituições museológicas devem ser geridas como um recurso mercadológico,


mas não de forma a tratá-las apenas como mercadorias, pois além de seu caráter social
e cultural, os museus possuem importantes funções de comunicação, investigação,
pesquisa, preservação e educação. Isto acarreta em grande responsabilidade
dos gestores responsáveis em aliar a preservação destes bens a um uso público
responsável, prolongando a vida útil para usufruto das gerações futuras de forma a
transformá-los em espaços de educação, difusão da democracia e cidadania.

O Estado Brasileiro é a instância responsável por formular, programar, avaliar


e monitorar as políticas públicas de cultura, sendo representado pelo Ministério da
Cultura que deve, também, estabelecer estratégias e prioridades no investimento
dos recursos públicos para o setor. O Ministério da Cultura foi criado em 1985, num
processo de redemocratização da cultura sendo a área cultural reconhecida como
elemento insubstituível na construção da identidade nacional além de se destacar
como fonte de geração de empregos e renda.
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As décadas de 80 e 90 do século XX tiveram discussões acentuadas relativas


à economia no setor cultural, sendo a produção cultural vista como forte potencial
econômico. Nesse sentido, Teixeira Coelho (2012) lembra que houve um debate acerca
do desenvolvimento econômico promovido pela cultura e, portanto, desenvolvimento
humano, a paz e a diversidade. Já com a virada do século o destaque vai para o
campo museológico com o desmembramento do Departamento de Museus do IPHAN
com a criação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), autarquia federal vinculada
ao MinC, criada em 2009. Instituído através da Lei no. 11.906, o Ibram tem como
finalidades:
I – promover e assegurar a implementação de políticas públicas para o
setor museológico, com vistas em contribuir para a organização, gestão e
desenvolvimento de instituições museológicas e seus acervos;
II – estimular a participação de instituições museológicas e centros culturais
nas políticas públicas para o setor museológico e nas ações de preservação,
investigação e gestão do patrimônio cultural musealizado;
III – incentivar programas e ações que viabilizem a preservação, a promoção
e a sustentabilidade do patrimônio museológico brasileiro;
IV – estimular e apoiar a criação e o fortalecimento de instituições
museológicas;
V – promover o estudo, a preservação, a valorização e a divulgação do
patrimônio cultural sob a guarda das instituições museológicas, como
fundamento de memória e identidade social, fonte de investigação científica
e de fruição estética e simbólica;
VI – contribuir para a divulgação e difusão, em âmbito nacional e internacional,
dos acervos museológicos brasileiros;
VII – promover a permanente qualificação e a valorização de recursos
humanos do setor;
VIII – desenvolver processos de comunicação, educação e ação cultural,
relativos ao patrimônio cultural sob a guarda das instituições museológicas
para o reconhecimento dos diferentes processos identitários, sejam eles de
caráter nacional, regional ou local, e o respeito à diferença e à diversidade
cultural do povo brasileiro; e
IX – garantir os direitos das comunidades organizadas de opinar sobre os
processos de identificação e definição do patrimônio a ser musealizado.
(BRASIL, 2009b)

Tais medidas supracitadas, além de apontarem para uma coletiva construção


de políticas públicas, vêm contribuindo para o desenvolvimento e fomento dos museus
brasileiros bem como para uma eficiente gestão museológica. Entretanto, Carvalho
(2008) afirma que uma gestão não comprometida prejudica a comunicação entre o
acervo e a sociedade. Este diálogo é fundamental, pois pode interferir na percepção
de valor do usuário. Para Carvalho, a percepção de valor do museu para o usuário
pode ser dividida em: valor funcional, simbólico e emocional. O valor funcional pode
ser “decorativo, para entretenimento ou educativo”. O simbólico pode ser “patriótico,
social ou artístico”. Já o valor emocional “inclui os aspectos catártico, rememorativo,
passional e sensorial”. (CARVALHO, 2008, p. 37).
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Logo, pensar na percepção de valor do usuário nos leva a discorrer sobre a


gestão no âmbito do turismo e como é possível, através da educação, aliar o uso do
espaço para a preservação do patrimônio cultural musealizado, ação fundamental
para a prática do turismo sustentável.

TURISMO E PATRIMÖNIO MUSEOLÓGICO: EDUCAÇÃO ALIADA À PRESERVAÇÃO

Em seu aspecto global e totalizante, Teixeira Coelho coloca que cultura se


“remete à ideia de uma forma que caracteriza o modo de vida de uma comunidade”
(2012, p. 114). Já em sentido estrito o autor cita Raymond Williams que a cultura
“designa o processo de cultivo da mente, nos termos de uma terminologia moderna e
cientificista, ou do espírito, para adotar-se um ângulo mais tradicional” (idem). Coelho
explica ainda que
A cultura não se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos
tradicionalmente chamados culturais, de natureza espiritual ou abstrata,
mas apresenta-se sob a forma de diferentes manifestações. Assim, o termo
“cultura” continua apontando para atividades determinadas do ser humano
que, no entanto, não se restringem às tradicionais (literatura, pintura, cinema –
em suma, as que se apresentam sob uma forma estética) mas se abrem para
uma rede de significações ou linguagens incluindo tanto a cultura popular
(carnaval) como a publicidade, a moda, o comportamento (ou atitude), a
festa, o consumo, o estar-junto etc. (COELHO, 2012, p. 115)

O turismo cultural muitas vezes tem se ancorado em um consumo superficial


dos bens culturais que comumente se soma a um inadequado planejamento. Cabe
destacarmos que a relação entre consumo e cultura é delicada e complexa. Levando
em consideração que a cultura é elemento fundamental no desenvolvimento do
turismo, é de suma importância que profissionais da área busquem estratégias que
aliem a conservação dos bens culturais ao retorno social, cultural e econômico que o
usufruto destes pode fornecer.

As diferentes tipologias de turismo praticadas mostram que esta atividade é


uma importante opção de desenvolvimento local ao mesmo tempo em que desenvolve
importantes aspectos sócio-culturais que podem promover qualidade de vida para a
comunidade residente. Buscamos, então, destacar a importância da relação entre
patrimônio cultural e a atividade turística, tipologia traduzida pelo turismo cultural que
compreende “as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos
significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e
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promovendo os bens materiais e imateriais da cultura” (BRASIL, 2006, p.10)

Aprofundando este conceito, Dias esclarece que, mesmo aqueles turistas que
se deslocam, por outro motivo que não especificamente o cultural, praticam o turismo
cultural quando participam “de eventos musicais, ao assistir[em] a uma peça de teatro,
ao visitar[em] museus, (...) adquirir[em] peças de artesanato, ao procurar[em] conhecer
hábitos e os costumes da população local freqüentando feiras e mercados populares”
(DIAS, 2006, p.40), entre inúmeras outras atividades que a cultura pode proporcionar.

Entretanto, cabe enfatizar que, como exposto por Mancini, nem toda atividade turística
que envolve aspectos culturais pode se caracterizar como turismo cultural, visto que este se
assinala não apenas pelo que se vê, mas, principalmente, pela forma como se vê. O turismo
cultural “exige contato com a população, uma interação do turista com a localidade e seus
aspectos culturais. Não é possível caracterizar como turismo cultural a realização de uma
visita superficial, em que o turista não vivencie o que está visitando” (MANCINI, 2007, p. 129).
Essas características acima mencionadas já eram evidentes nos grand tours que, firmemente
estruturados no século XVII com o auge em meados do século XVIII, tinham como objetivo
maior “a aprendizagem com base na vivência e na experimentação de situações e objetos
reais, com forte apelo cultural” (COSTA, 2009, p.24).

Dias afirma que o patrimônio constitui “um diferencial para as cidades que competem
para atrair visitantes, cuja demanda gerará a multiplicação das atividades produtivas e dos
serviços e, conseqüentemente, o aumento de renda e de trabalho” (2006, p.vii). Daí Lima
assegurar que o turismo cultural integra a cultura enquanto processo e, também, enquanto
produto:

Enquanto processo, pelo qual um povo se identifica consigo próprio e a sua


forma de vida: a autenticidade. Enquanto produto, pela operacionalização
de um conjunto de recursos, infra-estruturas, serviços e criações culturais,
oferecidos de forma organizada e regular num determinado tempo e lugar.
(LIMA, 2003, p.62)

Considerando, como exposto por Carvalho, que o museu, desempenhando


o papel de mediador cultural, “pode gerar benefícios sócio-econômicos para a
comunidade, se aliado a um turismo cultural responsável e sustentável, estimulando
também o conhecimento e a preservação do patrimônio pela população” (2008,
p. 104). Desta forma, defendemos as ações educativas e culturais em instituições
museológicas fundamentais para o turismo cultural se agregar como processo e,
também, como produto, conforme elucidado por Lima (2003).

A promoção de atividades educativas está prevista no Estatuto de Museus, art.


29, e devem ser “fundamentadas no respeito à diversidade cultural e na participação
comunitária, contribuindo para ampliar o acesso da sociedade às manifestações culturais
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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e ao patrimônio material e imaterial” (ESTATUTO DE MUSEUS, 2009). Entendendo os


museus como espaço educativo fundamental, Castro esclarece que podem “até ser
utilizado para a concretização de um processo de educação compartilhada que inclua
a cultura e a memória como parte de seu processo” (CASTRO, 2013, p. 20). A autora
acrescenta que:

Os museus, assim como outras instituições culturais, podem desempenhar


um papel fundamental na educação coletiva, criando identidades, memórias
e legados, que, integrados à educação escolar, poderiam ampliar o escopo
do conhecimento socializado na escola, possibilitando, desse modo, novos
prismas no processo de formação das crianças e jovens provenientes das
classes trabalhadoras. (CASTRO, 2013, p. 20-21)

Defendendo a educação como aliada para a preservação, Soto afirma que essa
prática é a mais eficaz para “assegurar a defesa do patrimônio do país [e] sustenta-
se nas premissas de que é necessário conhecer para preservar e que a preservação
é fruto de uma tomada de consciência, de uma decisão e de uma vontade política”.
(2008, p. 24-25). Vale esclarecer que, como elucida Chagas, não é necessário a
imaginação de algum perigo que virá no futuro “é preciso, e esse não é um ponto sem
importância, que o sujeito da ação identifique no objeto a ser preservado algum valor”
(CHAGAS, 2003, p. 33).

Outra questão importante é que a ação educativa está inserida dentro de


um processo mais amplo conhecido como ação cultural, “uma vez que os museus
da atualidade realizam diversas outras ações, como (...) concertos musicais, entre
outros, todos contendo conteúdos educativos não-formais” (FRONZA-MARTINS,
2004, p.50). Para Dias (2006, p. 69), os bens patrimoniais constituem uma ferramenta
educacional importante “pois permitem que os jovens conheçam seu passado como
forma de compreender melhor o presente e, ao mesmo tempo, consolidem-se valores
e se fortaleça o processo de construção de uma identidade cultural”

Bemvenuti (2007, p. 619) esclarece que não é suficiente os museus estarem


abertos a todos “é preciso possibilitar o acesso aos bens culturais e provocar,
primeiramente, uma aproximação e uma relação mais íntima com este espaço,
envolvendo atividades de mediação dos objetos”. Como então, gerir um museu
fechado com o acervo quase indisponível ao público?

MUSEU MARIANO PROCÓPIO E A ATUAÇÃO DO SETOR EDUCATIVO

O Museu Marino Procópio, localizado em Juiz de Fora-MG, é formado por dois


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edifícios inseridos em um jardim. A Villa Ferreira Lage foi construída pelo empreendedor
Mariano Procópio na década de 1860, para hospedar a família imperial em visita à
cidade em virtude da inauguração da União e Indústria, primeira estrada de rodagem,
que ligava Petrópolis a Juiz de Fora. Entretanto, a estadia não ocorreu naquela
ocasião, pois a obra não foi finalizada. Marcada pelo imaginário da população como
“castelinho” a Villa foi transformada em museu-casa em 1915 pelo colecionador Alfredo
Ferreira Lage, filho de Mariano Procópio, após a morte de sua mãe. As características
de residência foram preservadas com a presença da coleção de Alfredo.

Com sua coleção em expansão, Alfredo constrói um edifício anexo à Villa,


“primeiro edifício da América Latina construído com a intenção de comportar uma
coleção, logo no início da década de 20 do século XX” (ANDREOLA, 2012, p. 5).
O acervo do Museu Mariano Procópio possui mais de 50 mil itens abrangendo
história natural, numismática, cerâmica, mobiliário, pinturas, documentos, desenhos,
fotografias e outros. Apesar de seu ecletismo é considerado acervo de referência do
Brasil Império.

O Parque Mariano Procópio teve sua história iniciada juntamente com a


construção da Villa, em 1861, constituindo-se, atualmente, uma área verde de 78.240
m2 em pleno espaço urbano de Juiz de Fora, de autoria atribuída ao paisagista francês
Auguste François Marie Glaziou. Para Cunha (2007, p. 52) “as paisagens criadas
artificialmente por Glaziou são consideradas pelos órgãos de defesa do patrimônio,
como IPHAN, como perfeitas manifestações do gênio humano. São portanto, parte da
paisagem cultural brasileira”.

Glaziou contribuiu não apenas para a configuração da paisagem do espaço


urbano em Juiz de Fora. Seu trabalho se desenvolveu principalmente na cidade do
Rio de Janeiro, entre eles a reforma do Passeio Público, Parque do Palácio do Catete,
Parque São Clemente, 1º. Plano para a Quinta da Boa Vista, entre outros.

Em Juiz de Fora, o jardim que compõe a área da Villa Ferreira Lage foi aberto
à visitação em 1934, sendo recoberto por uma vegetação arbórea, além de possuir
cinco ilhas, parquinho infantil, gruta ornamental e monumentos. Em 1936, os prédios
do Museu Mariano Procópio, todo o acervo e o Parque foram doados, pelo Alfredo
Lage, ao município de Juiz de Fora. Destaca-se que na escritura de doação consta a
exigência da perpetuidade de “Mariano Procópio” para nomear o Museu e o Parque,
além de não poder ser alterada a finalidade cultural dos mesmos. Assim é apontado
que “enquanto o pai investe na vinda de imigrantes alemães e italianos para a cidade,
o filho dedica-se à instrução do povo, por meio do Museu e sua coleção” (COSTA,
2006, p. 13).
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Importante destacar que o Parque do Museu Mariano Procópio é considerado


um jardim histórico que de acordo com a Carta de Florença, de maio de 1981, Art. 1, é
“uma composição arquitetônica e vegetal que, do ponto de vista da história ou da arte,
apresenta um interesse público. Como tal é considerado monumento” (CURY, 2004,
p. 253). Já no Art. 5, o jardim histórico é definido como:

Expressão de relações estreitas entre a civilização e a natureza, lugar de


deleite, apropriado à meditação e ao devaneio, o jardim toma assim o sentido
cósmico de uma imagem idealizada do mundo, um paraíso no sentido
etimológico do termo, mas que dá testemunho de uma cultura, de um estilo,
de uma época, eventualmente da originalidade de um criador. (CURY, 2004,
p. 254)

Acrescenta ainda que todo o complexo do Museu Mariano Procópio é um


patrimônio cultural nacional, sendo que as edificações e o Parque são tombados em
nível municipal e estadual. Ao se falar em patrimônio, nos remetemos aos bens culturais
que possuem uma homogeneidade de valor que se refere à sua disposição de guardar e
preservar lembranças da história, permitindo-nos constituir a identidade entre as pessoas
e os lugares. De acordo com Constituição Federal de 1988, Art. 216, o patrimônio
cultural brasileiro é constituído por “bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à nação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” (BRASIL, 1988)

Com os prédios históricos fechados para revitalização desde 2008, o desafio


de gerir o Museu Mariano Procópio se acentuou, não apenas pela complexidade de
realização de obras de restauração, mas, também, pela necessidade de não deixar
que se perca a relação de identidade e pertencimento da população com o Museu e,
consequentemente, o envolvimento para sua preservação.

A arquiteta Milena Andreola, em seu artigo “O Museu Mariano Procópio e a


reconstrução da sua relação identitária com a comunidade de Juiz de Fora”, afirma
que desde o fechamento dos edifícios históricos “os funcionários do Museu Mariano
Procópio convivem com o dilema de gerenciar um museu sem público” (2012, p. 11).
Entretanto, a aclamação pública pela sua reabertura e acesso ao acervo mostra o
contrário também, que os gestores da MAPRO estão com o desafio de “gerir” um
público sem o museu, sendo as ações educativas, culturais e científicas realizadas
(tanto no espaço do Parque quanto extramuros) uma forma de estreitar os laços
identitários. Claro que essas ações não preenchem a lacuna de 5 anos sem acesso
aos prédios e parte do acervo, mas tem sido uma forma de ampliar o contato do
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público com um patrimônio que lhes pertence.

A realização das atividades educativas, culturais e científicas são competências


do Departamento de Difusão Cultural, entre outras ações, conforme Decreto no 8.756
de 2005:
I – propor a formulação conceitual da MAPRO, em consonância com o
Departamento de Acervo Técnico;
II – propor e auxiliar na elaboração de planos, programas e projetos nas
áreas de Museografia, Educação Patrimonial e Ambiental, de Divulgação e
de atendimento;
III – promover a disponibilização do Museu e Parque para a fruição cultural,
lazer e eventos;
IV – promover, organizar e executar atividades de caráter cultural, visando
atender ou suscitar o interesse de diferentes setores sociais;
V – promover e monitorar, em conjunto com a Assessoria de Programação
Acompanhamento e demais Departamentos, eventos da MAPRO, cuidando
de todos os detalhes de sua execução;
VI – estabelecer, em conjunto com a Assessoria de Programação e
Acompanhamento e demais Departamentos, as regras para realização
de eventos promovidos por terceiros na MAPRO, assim como o devido
monitoramento e avaliação dessas atividades;
VII – realizar trabalhos de difusão cultural sob a forma de publicações,
exposições, conferências, cursos e seminários e outros, considerando as
orientações do Departamento de Acervo Técnico, quando for o caso;
VIII – proporcionar a profissionais, estudantes e instituições, orientação em
métodos e técnicas desenvolvidas em suas áreas de atuação;
IX – orientar e supervisionar a adequação e dinamização dos espaços para
desenvolvimento das atividades fins da instituição;
(...)
XIV – coordenar, controlar e avaliar as atividades museográficas, educativas
e de difusão cultural da MAPRO;
(...) (DECRETO 8756/05)

Com os prédios e parte do jardim fechados, o Departamento de Difusão Cultural


não está com as ações voltadas para o espaço expositivo. Novos projetos foram
criados, assim como aqueles antigos tiveram que sofrer adaptações.

O projeto “Oficinas Temáticas”, criado no início de 2011, tem por objetivo


aproximar o público do Parque, do Museu e de seu acervo através de atividades
dinâmicas e lúdicas (PJF, 2013)2. As vagas são limitadas e são para crianças de 7 a 10
anos, com inscrições realizadas por telefone. O projeto acontece aos sábados, uma
vez por mês de fevereiro a dezembro, com exceção de julho, férias escolares, ocasião
em que acontece o projeto Férias no Museu. Realizadas, geralmente, no Parque do
2 Disponível em: http://www.pjf.mg.gov.br/noticias/imprimir_noticia.php?idnoticia=37769. Acesso em:
10 de junho de 2014.
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Museu, as oficinas buscam apresentar para as crianças temas que envolvem o acervo.
Em algumas edições, as crianças têm acesso ao bosque e entorno dos casarões,
tornando as atividades ainda mais dinâmicas. Em 2013, algumas das Oficinas foram:
“Telefone: uma maravilhosa invenção”, “Uma divertida viagem pela estrada União e
Indústria”, “Aniversário de 92 anos do Museu Mariano Procópio”, “Brincando de Artista”,
“Na trilha da arte afro-brasileira”, “Um imperador que já foi criança”, “Esculturas no
Jardim”, “O tesouro da Viscondessa”, entre outros.

Já o Clube Ecológico, criado na década de 80, desenvolve atividades relativas


à educação ambiental. Com formato diferente das “Oficinas Temáticas”, o Clube busca
ser um trabalho mais contínuo. A inscrição é realizada através de cadastro prévio, na
sede administrativa, com apresentação de comprovante de residência, documento da
criança e uma fotografia 3x4. Após o cadastro, as crianças recebem uma carta todo
mês antes de cada encontro. Até 2013, o Clube possuía vagas ilimitadas e tinha como
público-alvo crianças de 6 a 12 anos. As atividades acontecem uma vez ao mês, aos
sábados, com exceção dos meses de janeiro e julho. (PJF, 2013)3

Nos períodos de férias escolares acontece o projeto Férias no Museu que


visa oferecer às crianças momentos de aprendizado e de brincadeira, possibilitando
criar um elo entre os participantes, o jardim histórico, o Museu, e os demais projetos
educativos da instituição como Oficina Temática e Clube Ecológico.

As visitas mediadas são segmentadas em 3 categorias: visitas guiadas,


realizadas no Parque do Museu; Visitas interativas que consistem de uma visita
guiada seguida de atividades de arte educação desenvolvidas pela equipe educativa
do Museu e visitas técnicas, destinadas à públicos acadêmicos. Estas são realizadas
pelos técnicos da instituição (arquitetos, museólogos, biólogos entre outros) na área
do Parque, bosque, prédios históricos e acervo.

O projeto Encontro de Educadores acontece desde maio de 2012. A cada


encontro um mediador é convidado a apresentar possibilidades de ações educativas
em sala de aula, pesquisas acadêmicas entre outros. O projeto é voltado para
profissionais da área de educação, principalmente professores e acontece uma vez
ao mês, com exceção dos meses de férias escolares.

O “Museu vai à Escola” teve início em setembro de 2012. O projeto que leva
exposições com reproduções de obras do acervo do Museu para escolas públicas
e particulares tem por objetivo motivar e sensibilizar os diferentes públicos para as
temáticas da arte, da cidadania, integrando momentos de formação e conhecimento,
3 Disponível em: http://www.pjf.mg.gov.br/noticias/imprimir_noticia.php?idnoticia=36980. Acesso em:
10 de junho de 2014.
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que estimula uma aproximação com a cultura, a relação com a comunidade e o


incentivo a criação de hábitos culturais (PJF, 2013).

Os projetos supracitados, além de outros como exposições, Baú de Leituras,


Música no Parque, Caça ao Saci, entre outros, levam ao Parque do Museu Mariano
Procópio milhares de visitantes. Em 2013, 200.116 visitantes foram registrados, sendo
684 visitantes de outras cidades, apenas em visitas guiadas. Como a instituição não
possui um estudo de público, não é possível quantificar os visitantes espontâneos de
outras cidades e países.

Observa-se, portanto que a atual gestão do Museu Mariano Procópio tem


investido nos projetos educativos, culturais e científicos, promovendo maior interação
entre o visitante, o acervo e o próprio espaço.

CONSIDERAÇOES FINAIS

O turismo cultural pode gerar benefícios através da recuperação, manutenção


e difusão de espaços culturais como os museus, compartilhando valores locais,
fortalecendo, e até mesmo restabelecendo, a memória e a identidade social da
comunidade local. Na batalha para atrair turistas, o patrimônio cultural, material ou
imaterial, representa um diferencial e, neste estudo, apontamos as potencialidades
do Museu Mariano Procópio: enquanto “processo” no pertencimento da população
com o bem e enquanto “produto” na operacionalização de vários recursos, serviços e
criações culturais.

A ênfase dada por Soto (2008) em “conhecer para preservar” mostra o


direcionamento que apresentamos neste trabalho: a importância do setor educativo
de museus para a sua preservação. Apontamos que enquanto todo o complexo do
Museu Mariano Procópio não for reaberto ao público os gestores devem proporcionar
o maior contato possível do visitante com o acervo e o espaço museológico. A atuação
do setor educativo do Museu, em momento que os prédios e acervo não estão
disponíveis ao público em sua totalidade, é fundamental para o incentivo de vínculos
identitários entre a comunidade local e seu patrimônio.

Entretanto, destaca-se que a instituição não possui um estudo de público


qualitativo. Com dados apenas quantitativos não é possível diagnosticar a participação
e motivação dos visitantes. É preciso conhecer as necessidades dos visitantes
que são as bases das motivações e estas exercem uma expressiva influência na
escolha do serviço oferecido pelo museu. De toda forma, o Museu Mariano Procópio
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possui ampla programação cultural, científica e educativa que abrange a população


autóctone e turistas em toda sua heterogeneidade. Essas atividades contribuem para
a percepção do museu pelo valor funcional, simbólico e/ou emocional, como proposto
por Carvalho (2008).

Atualmente, no setor educativo do Museu, percebe-se uma linha de atuação


voltada para o lúdico, no aprender de forma prazerosa e divertida, trazendo
possibilidades de olhares para os mais diferentes assuntos relacionados ao acervo,
às artes e cultura em geral ao mesmo tempo privilegiando o entretenimento, como
o projeto Oficinas Temáticas. Com atividades dinâmicas e lúdicas, que envolvem o
aprendizado com naturalidade e encanto, o museu deixa de ser um espaço inatingível
de guarda do antigo, para ser um território de pertencimento e deleite.

Com isso, os gestores estão formando novos atores aliados à preservação


do patrimônio Museu Mariano Procópio. Além da preservação, tais ações contribuem
para a promoção da cidadania, valorização da dignidade humana, o cumprimento
da função social e, também, para a valorização e o reconhecimento dos diferentes
processos identitários vinculados ao patrimônio museológico brasileiro, conforme
previsto na lei federal 11.904.

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identitária com a comunidade de Juiz de Fora. Juiz de Fora, 2012.

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CITTASLOW: VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE NA PERSPECTIVA DO TURISMO


COMUNITÁRIO, SOLIDÁRIO E SUSTENTÁVEL. MODELO APLICADO EM
LEVANTO – ITÁLIA

Carlota Vieira Mendonça1


Grazielle Ueno Macoppi2

Resumo:
Entende-se como turismo comunitário, solidário e sustentável um modelo de turismo
alternativo pautado na valorização e resgate da identidade e no desenvolvimento
sustentável. A iniciativa cittaslow se aproxima ao turismo comunitário, solidário
e sustentável no sentido de que ambos não são modalidades, mas um projeto em
desenvolvimento que atua como alternativa ao modelo convencional praticado. Neste
contexto surge à indagação que norteia este artigo, como conciliar a valorização dos
modos de vida locais com desenvolvimento e atividade turística? Para tanto objetiva-
se descrever e analisar o município de Levanto (Região Ligúria, Itália), cidade que
desenvolve um modelo de planejamento diferenciado baseado na recuperação e
valorização da identidade através dos fundamentos do cittaslow. Para isso, utilizou-
se pesquisa exploratória, a qual se baseia em análise documental, em um formulário
de coleta de dados qualitativos e em entrevistas semi-estruturadas (10 atores locais),
que analisam dados secundários, tomando como base a identidade, os modos de vida
locais e o território. Considera-se que o modelo cittaslow almeja potencializar o capital
social e cultural, aproximando-se ao turismo comunitário, solidário e sustentável,
no qual, se prioriza as pessoas, a conservação de modos de vidas tradicionais e
a preservação da biodiversidade por meio da utilização de medidas práticas que
beneficiam tanto os atores locais como os visitantes.
Palavras–chave: cittaslow. Levanto. turismo comunitário, solidário e sustentável.
Identidade.Território.

Abstract:
It is understood as a community, solidarity and sustainable tourism an alternative model
of tourism founded on the recovery and rescue of identity and sustainable development.
The cittaslow initiative approaches to community, solidarity and sustainable tourism in
the sense that both are not modalities, but an ongoing project that acts as an alternative
to the conventional model practiced. In this context the question that guides this article,
how to harmonize the exploitation of local ways of life with development and tourist
activity arises? To achieve the objective the municipality of Levanto (Liguria Region,
Italy) was described and analyzed, city that develops a model of differentiated planning
based on recovery of identity through the basics of cittaslow. For which it was used
1 Bacharel em Turismo, Pós-Graduada em Gestão do Patrimônio (UA, Universidade de Alicante, Espanha),
Máster em Desenvolvimento Integral de Destinos Turísticos (ULPGC, Las Palmas de Gran Canária, Espanha,
bolsista Ministério Turismo de Espanha, TURESPAÑA), Máster em Investigação em Ciências Sociais (UPV,
Bilbao, Espanha, bolsista do governo do País Vasco), mestranda em turismo (UFPR) e cursando licenciatura em
pedagogia (UFPR). Professora da área de Turismo – SENAC–PR e do curso em Gestão em Turismo - UNINTER.
Email: carturismo@gmail.com

2 Bacharel em Turismo, Pós Graduada em Educação para o Meio Ambiente (UFPR). Professora e
Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Gestão do Turismo – Centro Universitário Internacional –
UNINTER. Email: grazielle_ueno@yahoo.com.br
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exploratory research, which is based on document analysis, in a form of qualitative data


and semi-structured (10 local actors), that analyze secondary data interviews, based
on the identity, modes local life and territory. It is considered the cittaslow model aims
to enhance the social and cultural capital, approaching the community, solidarity and
sustainable tourism that prioritize the people, the preservation of traditional ways of life
and the preservation of biodiversity through the use of practical measures that benefit
each other local stakeholders and visitors. Keywords: Cittaslow. Levanto. Community,
solidarity and sustainable tourism. Identity. Territory.

INTRODUÇÃO

Atualmente o turismo, sem sombra de dúvida, é uma das atividades mais


importantes da economia mundial. Contudo, o turismo possui um caráter transversal
que não o resume somente ao cunho econômico, sua relevância envolve uma dinâmica
que engloba as relações sociais, culturais e ambientais de um território e de seus
autóctones. Neste cenário, o turismo comunitário, solidário e sustentável apresenta-
se como um novo eixo da atividade turística no qual o protagonista é a comunidade
local (CORIOLANO, 2009).

Segundo Krippendorf (2000) para que o turismo tenha futuro deve caminhar na
orientação de um humanismo maior. E complementa indagando que o importante é
reconhecer que o turismo deve servir ao homem, e não o contrário. Nesta orientação
o conceito slow, sugere um modelo de gestão articulada que visa resistir à vertiginosa
aceleração do ritmo de vida moderno e suas conseqüências.

Neste contexto a definição de cittaslow surge como uma ampliação do


movimento italiano slow food, nascido em Roma durante um manifesto liderado pelo
jornalista Carlo Petrini e que logro desenvolver uma filosofia que almeja resistir à
homogeneização, apoiando a diversidade e a cultura autóctone. Simples na concepção
e complexo na sua abrangência, o cittaslow propõe o protagonismo comunitário a
partir de propostas vinculadas ao território, ao meio ambiente, ao respeito cultural e
ao uso de novas tecnologias (RUSCHE, 2012).

Ainda que apresente um vertiginoso crescimento o cittaslow é um movimento


recente (15 anos), o que justifica sua escassez bibliográfica. Contudo a amplitude da
temática é expressiva na cadeia produtiva do turismo e confirma a relevância deste
estudo. Também se acredita na efetividade da iniciativa cittaslow para localidades com
baixa densidade demográfica (inferior a 50.000 habitantes).

Deste modo surge a indagação que norteia este artigo, como conciliar a
valorização dos modos de vida locais com desenvolvimento e atividade turística? A
fundamentação teórica esta organizada em três seções. A primeira apresenta um
desdobramento do conceito de turismo comunitário, solidário e sustentável. A segunda
aborda um aclaramento a respeito do modelo cittaslow desde seu principio até os dias
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atuais. E na terceira parte descreve e analisa o modelo cittaslow, praticado na cidade


de Levanto, na Itália.

Assim sendo o artigo pretende através de um estudo exploratório descrever


o movimento cittaslow, desenvolvido em Levanto e sua aproximação ao turismo
comunitário, solidário e sustentável. Para tanto, o estudo esta pautado em uma
pesquisa de cunho qualitativo de abordagem exploratória (CRESWELL, 2007;
VEAL, 2011). A análise esta baseada em artigos e livros relacionados ao tema. Para
a contextualização do município de Levanto, Itália, foi empregado um formulário de
coleta de dados qualitativo completado com base na entrevista com seu principal
protagonista, ademais da aplicação de entrevistas semi-estruturadas, concretizadas
através de correio eletrônico com uma amostra de dez atores locais, entre eles,
o fundador do movimento cittaslow, representantes de diversas associações,
comerciantes, moradores e autoridades locais. O roteiro da entrevista foi estruturado
em quatro eixos temáticos: percepções dos atores locais sobre o cittaslow, surgimento
e desenvolvimento do projeto cittaslow em Levanto, projetos e expectativas futuras e
compreensão da vida cotidiana em uma cidade titulada cittaslow.

Em seguida os dados foram analisados e interpretados propondo uma maior


compreensão sobre o movimento cittaslow, seus fundamentos e o papel do movimento
no contexto econômico e social do município. Com o intuito de manter a fidelidade e
o direito a privacidade este artigo se reserva ao anonimato dos entrevistados, que
serão citados como entrevistado 1, 2, 3 e assim sucessivamente. Em síntese esse
estudo não está esgotado, visto que é abrangente e abre oportunidades para novas
pesquisas sobre a temática no meio acadêmico.

1. TURISMO COMUNITÁRIO, SOLIDÁRIO E SUSTENTÁVEL (TCSS)

A preocupação pela sustentabilidade e pela preservação do bem comum por


vezes é vista de modo critico no contexto turístico, já que o meio ambiente e as relações
sociais com as comunidades autóctones sempre são citados como zonas de conflitos
da atividade turística. No entanto existe uma visão alternativa que compreende o
turismo como comunitário, solidário e sustentável.

Contudo existe uma tendência a relacionar o turismo comunitário, solidário e


sustentável com atividades desenvolvidas em espaços naturais, rurais e segmentos
populares em situação de vulnerabilidade. Entretanto, este artigo busca aclarar que o
espaço urbano também é propicio a este projeto alternativo de turismo. Neste sentido
Henríquez et al (2009) aponta três elementos essenciais ao turismo comunitário, são
eles: a comunidade, a convivencialidade e a cotidianidade.

O termo comunidade assegura o sentido de vínculo, pertencimento e


hospitalidade (BAUMAN, 2003). A compreensão de convivencialidade se entende
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pelo interesse de um individuo pelo outro, pela alteridade e autenticidade. Em outras


palavras significa a relação estabelecida entre visitantes e autóctones que vai além
do cunho comercial e estabelece o diálogo intercultural, resgata, constrói e promove
interação (ILLICH, 1976; IRVING; AZEVEDO, 2002; CORIOLANO; LIMA 2007;
SAMPAIO, 2005). E a cotidianidade que remete ao uso do tempo e do espaço e ao
entendimento das culturas no contexto do território (LIMA, 2004).

Segundo Sampaio (2011) o conceito de turismo comunitário, solidário e


sustentável está em construção e aflora a partir de debates sobre o turismo de base
local, priorizando os modos de vida, os saberes e fazeres locais e a preservação da
biodiversidade. Perspectivas que possibilitam uma nova economia, um desdobramento
da economia solidária denominada ecossocioeconomia (SAMPAIO, 2011).

A ecossocioeconomia favorece as experimentações e as complexidades do


cotidiano (SAMPAIO, 2011). É o contraposto a massificação do “ter” pela valorização
do “ser” (BAUMAN, 2003). Portanto o turismo comunitário, solidário e sustentável
não é uma modalidade, mas sim, um projeto em desenvolvimento que não visa
romantizar um cenário perfeito, porém realça uma nova mirada (URRY,1995) atrelada
a um modelo de desenvolvimento territorial que não se resume a atividade turística.
A vista disso, o turismo comunitário, solidário e sustentável não é ilusão e apresenta
limitações, até porque o turismo não deixa de ser atividade econômica, não obstante
se apresenta como uma atividade humana repleta de expectativas e uma possibilidade
de se desenvolver de modo justo (SAMPAIO, 2004).

Assim sendo, o enfoque adotado no turismo comunitário, solidário e sustentável


e no cittaslow remete aos pilares: comunidade, convivencialidade, cotidianilidade,
identidade, diálogo, social, modos de vida, biodiversidade e a ecossocioeconomia.

Contudo o cittaslow se desenvolve em núcleos urbanos e se faz necessário a


compreensão do conceito de capital social e cultural, o qual é composto pelo saber-
fazer local e a capacidade dos atores locais de promover um desenvolvimento com
características endógenas (OSTROM, 1995) e se torna essencial para o movimento
cittaslow, pois esse capital é que estabelece o potencial do desenvolvimento do
território (FLORES, 2006).

2. O CONCEITO CITTASLOW

Temos vivido um processo constante de aceleração nos últimos 100 anos.


A partir dos anos 80 as novas tecnologias e as comunicações começaram uma
verdadeira carreira de inovação. Com esta tendência mundial nos vemos imersos na
rapidez das comunicações onde até as relações pessoais se tornam efêmeras.
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Toda essa rapidez tem efeitos nocivos para a vida das pessoas. Neste contexto
nasce o movimento slow food (1989), na cidade de Roma por iniciativa do critico
gastronômico Carlo Petrini, em protesto a um empreendimento do McDonald´s,
alimentação sinônimo de fast food. O manifesto reivindicava a valorização dos produtos
e alimentos tradicionais da Itália. Do desdobrado deste movimento originam várias
iniciativas entre elas: a slow leitura, o slow café, a slow bibliotecas, a slow medicina, a
slow escola, a slow vivenda e o cittaslow.

A idéia do cittaslow surge em 1999, logo após o Congresso Mundial do Slow


Food em Orvieto, na Itália. Nesta ocasião o então prefeito de Greve in Chianti, Paolo
Saturnini buscava uma solução para o dilema de como permitir que a cidade continue
a receber cada vez mais turistas sem perder a identidade e seus valores culturais,
parte fundamental do que atraía os turistas, e ao mesmo tempo compartilhar os
benefícios para toda a comunidade, e não apenas para alguns poucos? Estavam
presentes nesta reunião as cidades e seus respectivos prefeitos: de Greve in Chianti
(Paolo Saturnini), de Bra (Francesco Guida), de Orvieto (Stefano Cimicchi) e Positano
(Domenico Marrone) e o posteriormente teve o apoio do presidente da slow food,
Carlo Petrini (RUSCHEL, 2012).

Nesta oportunidade e em conjunto com os demais representantes foi assinado


um acordo com o objetivo de aplicar os fundamentos do slow food na abrangência do
território, criando assim, o conceito cittaslow. Também estabeleceram que o objetivo
principal estivesse pautado na ampliação da filosofia do slow food às comunidades
locais e ao governo das cidades, aplicando os conceitos da sustentabilidade3 e da eco
gastronomia4 a prática da vida cotidiana (MAYER, 2006).

Assim se inicia o cittaslow propondo a melhora da qualidade de vida dos atores


locais a partir de propostas vinculadas ao turismo, ao território, ao meio ambiente,
ao respeito cultural, utilizando como protagonista a comunidade. Esta concepção se
aproxima da dimensão conceitual de turismo comunitário, solidário e sustentável, o
qual acentua a importância da autonomia das comunidades através da composição
de redes e dos princípios do turismo sustentável, da qualidade de vida, da valorização
do legado autóctone e principalmente da interação e do câmbio de experiências entre
visitantes e comunidade (GARCIA, FIGUEIRÓ & DEGRANDI, 2013).

Considerando que a grande fortaleza das pequenas comunidades esta na

3 Entende-se sustentabilidade como sinônimo de planejamento, boa gestão, consciência política,


participação, economia responsável, compromisso com valores humanos, cuidado com a natureza e as
pessoas e ação local com visão global.
4 É um conceito criado pelo movimento Slow Food e representa a união entre a ética e o prazer
da alimentação. Restitui ao alimento sua dignidade cultural, favorece a sensibilidade do gosto e luta
pela preservação e uso sustentável da biodiversidade. Protege espécies vegetais e raças animais,
contribuindo com a defesa do meio ambiente, da cozinha típica regional, dos produtos saborosos e do
prazer da alimentação.
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sua forte vinculação com o território: elas nascem, crescem, moram e trabalham em
fazendas, casas, ruas e bairros. O cittaslow parte do principio de valorizar o território
e não apenas ocupá-lo.

Assim a definição de território merece uma reflexão, a princípio o conceito


estava relacionada às ciências naturais, posteriormente se incorporo a geografia
através das noções de espaço, recursos naturais, sociedade e poder. E a partir disso,
várias disciplinas passaram a incorporar o debate.

Na percepção antropológica Tizon (1995) aponta que o território é o “ambiente


de vida, de ação, e de pensamento de uma comunidade, associado a processos
de construção de identidade”. Já em uma abordagem mais próxima da sociologia
do desenvolvimento, Abramovay (1998) indaga que “um território representa uma
trama de relações com raízes históricas, configurações políticas e identidades
que desempenham um papel ainda pouco conhecido no próprio desenvolvimento
econômico” (FLORES, 2006).

Deste modo agregando as visões antropológicas, sociológicas e geográficas


se entende o território como um espaço de relações sociais, onde há o sentimento de
pertencimento dos atores locais à identidade construída, e associada ao espaço de
ação coletiva e de apropriação, onde são criados laços de solidariedade entre esses
atores (FLORES, 2006). Ainda segundo Milton Santos (2005) o território compreende:

“O território é o chão e mais a população, isto é uma identidade, o fato e o


sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é à base do
trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre as
quais ele influiu. Quando se fala em território deve-se, pois, de logo, entender
que está falando em território usado, utilizado por uma população”.

A partir das referências podemos indagar que o território é um lugar privilegiado.


Assim sendo o cittaslow parte da premissa de desenvolver o território de modo integral,
sustentável e privilegiando a identidade. Na atualidade a rede cittaslow esta presente
a nível mundial e para aderir a ela entre outros critérios os municípios candidatos
devem ter até no máximo 50.000 habitantes e atender a diversos compromissos, entre
os quais:

• Política de planejamento, a qual deve servir para melhorar o território, e não


apenas para ocupá-lo.

• Programar uma política ambiental baseada na promoção da recuperação e


reciclagem de resíduos, quando não for possível evitá-los.

• Utilizar os avanços tecnológicos para melhorar a qualidade ambiental e de


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áreas urbanas.

• Promover a produção e utilização de produtos alimentícios obtidos de maneira


natural e ambientalmente respeitosos, excluindo os produtos transgênicos.

• Entender que o fortalecimento da produção local deve estar relacionado ao


território: agricultores e moradores tradicionais devem preservar suas mais antigas
tradições.

• Programar, quando necessário, políticas e serviços públicos de defesa de


grupos geralmente excluídos.

• Promover a hospitalidade respeitosa e a convivência harmoniosa entre os


moradores e turistas, sem exploração, mas com valorização.

• Mobilizar e educar a consciência dos residentes e dos operadores turísticos


sobre o que significa viver em uma cittaslow e suas implicações, com especial atenção
para a sensibilização dos jovens, através de planos de formação específica.

De acordo com o estatuto cittaslow, o modelo é mais viável a cidades com baixa
densidade demográfica, visto que, o objetivo é evitar que estes municípios cometam
os mesmos erros das cidades que crescem sem controle. Segundo o idealizador do
cittaslow o modelo é mais adequado:

Para cidades pequenas, para evitar que cometam os  mesmos erros das
cidades que cresceram sem controle. Cidades pequenas devem preservar;
cidades grandes precisam revolucionar – e não sabem como. Cidades
grandes têm mais de uma alma: de culinária, de transporte, de energia, etc
e por isso têm que fazer mudanças por bairros, por setores. Quem mora
em cidades grandes, pode perder a noção de território, de pertinência e de
tempo. Atualmente os estatutos da Cittaslow só aceitam cidades associadas
com até 50.000 habitantes. Talvez este limite seja revisado na medida em que
o movimento se amplie.

Ademais de atender os requisitos do estatuto que se dividem em sete categorias


(políticas ambientais, políticas de infra-estrutura, promoção do uso de tecnologia,
fomentar a produção e consumos de alimentos naturais, valorização da cultura
autóctone, promover a qualidade de hospitalidade e promover a cultura cittaslow),
destas desmembram outros critérios que são adaptáveis a cada município de acordo
com suas peculiaridades (CITTASLOW, 2014).

A cidade candidata também deve pagar uma taxa de inscrição, receber a visita
de auditores e promover uma reunião da qual participem pelo menos três municípios
associados da rede. Posteriormente deve aceitar os termos do estatuto da associação
e se comprometer com políticas públicas que ajudem a criar um ambiente propício
para atingir os objetivos (CITTASLOW, 2014).
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É interessante mencionar que a maioria dos municípios participantes do


cittaslow também faz parte de outras associações como, por exemplo, associações
de “identidade da cidade” (cidade do vinho da cidade, cidade Querida, cidades
floridas, etc.) que realizam políticas e objetivos similares ao cittaslow. No Brasil outros
movimentos similares são Cidades Sustentáveis e Transition Towns – de âmbito
nacional – e movimentos do Nossa Cidade e Observatório da Cidade (RUSCHEL,
2012).

Em síntese o cittaslow é um projeto em desenvolvimento no sentido de que


se aprimora por etapas. Quando uma cidade se torna uma cittaslow tem que atender
certos requisitos; com o tempo estes devem ser mantidos e na medida do possível
melhorados e também deve viabilizar outras exigências que ainda não apresentava
no momento de reconhecimento (RUSCHEL, 2012). Portanto o cittaslow sustenta
a capacidade de estimular a convivencialidade entre os visitantes e atores locais,
estabelecendo uma relação social em que prevalece o interesse de um sujeito pelo
outro (ILLICH, 1976).

Atualmente existem 182 cidades distribuídas em 28 países certificadas como


cittaslow. Destas, o país com maior número é a Itália (75 cidades), também está
presente em vários países com culturas diferentes da européia, como China, Estados
Unidos, Nova Zelândia, Coréia do Sul e África do Sul. Pode ser proposto por políticos,
mas na maioria das vezes é um movimento que nasce na base, liderado ou proposto
por intelectuais da comunidade. Outro aspecto relevante esta em que a proposta
logra sucesso se tiver o apoio do poder público (CITTASLOW, 2014). Até a presente
data nenhum país da América Latina esta certificada, existem algumas candidaturas
da Colômbia, da Argentina e duas do Brasil, as cidades de Antônio Prado, RS e
Tiradentes, MG, ambas com processo interrompido devido a trâmites burocrático
(CASTILHO; CASTRO, 2010).

3. MODELO CITTASLOW APLICADO EM LEVANTO – ITÁLIA

Fundada em 1797, Levanto pertence à região da Ligúria, província da Spezia e


possui aproximadamente 5.574 habitantes (Censo 2010). Seu relevo é montanhoso,
característica aproveitada para o cultivo das olivas e das vinhas. Está a 47 km a oeste
de La Spezia e a 80 km a leste de Gênova, seu território faz parte do Parque Nacional
de Cinque Terre e da área marinha protegida Cinque Terre.

O Parque Nacional Cinque Terre é um parque Nacional de 3.868 hectares,


tombado como Patrimônio Natural da Humanidade e abrange cinco aldeias:
Riomaggiore, Manarola, Corniglia, Vernazza e Monterosso al Mar. Ademais inclui uma
parte das cidades de Levanto (Punta Masco) e de La Spezia (Campiglia Tramonti).
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FIGURA 1: MAPA DE LEVANTO

Fonte: https://www.google.com.br/search?q=levanto&source

Levanto esta em uma região compreendida entre montanha e mar. As


montanhas desde seus primórdios estavam representada pelos feudos pastoris e o
mar pelo comércio naval. Ainda em época romana surge a primeira aldeia denominada
Ceula, localizada nas montanhas. Após a queda do Império Romano do Ocidente (476
dC), o vilarejo se tornou parte do Império Bizantino. Em 1229 passa a ser parte da
República de Gênova. Na Idade Média, a vida econômica de Levanto era caracterizada
principalmente pela fabricação de mármore colorido chamado de vermelho Levanto.

Na configuração atual grande parte da população de Levanto dependia da


indústria de armas, mas com a queda do muro de Berlim (1989) e o fim da guerra fria
a cidade se viu sem perspectiva. A crise das indústrias de pequeno porte relacionada
com a indústria da guerra havia devastado a pequena economia local.

Era evidente e necessário pensar em um renascimento através de um novo


modelo de desenvolvimento, que buscasse preservar a identidade e as tradições.
Nesta época os campos montanhosos praticamente haviam sido abandonados pela
falta de infra-estrutura. A falta de trabalho levou os jovens a abandonar o campo. A
situação necessitava uma rápida uma intervenção, para tanto uma integração entre
o vale e o continente era fundamental. Nesta nova estratégia se devia aproveitar a
vocação natural para o turismo (Levanto esta na Costa Mediterrânea e se encontra
nas imediações do Cinque Terre, patrimônio da humanidade). Desse modo o desafio
era criar um modelo de desenvolvimento direcionado a um turismo sustentável.

Diante da situação a primeira iniciativa do então prefeito Marcello Eugenio


Schiaffino (1996 a 2000/ 2000 a 2005) foi enviar uma carta às 2500 famílias residentes
no município, explicando que apoiaria as idéia das pessoas que tivesse a vontade
de investir no município. Esta ação de suporte aos projetos locais mobilizou o
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empreendedorismo, a valorização de produtos e a identidade local.

Assim sendo, o trabalho começou na consciência: na comunidade como um


todo, na valorização dos modos de vida através do autoconhecimento de seu legado e
de estímulos a iniciativas e práticas locais. Neste sentido o cittaslow surge para Levanto
como modalidade alternativa para o desenvolvimento urbano, no qual se baseia na
identidade local, nos modos de vida, produção, conhecimento e na própria paisagem
tradicional do território. Na figura 2 é possível observar uma breve perspectiva histórica
das modificações da função econômica em Levanto:

FIGURA 2: BREVE PERSPECTIVA HISTÓRICA DAS MODIFICAÇÕES DA


FUNÇÃO ECONÔMICA EM LEVANTO

Períodos e acontecimentos marcantes em Levanto e na Itália:

Na época O vilarejo se Na Idade Média Em 1229 passa a Ocorre grande O então prefeito Diversifica a
romana surge a tornou parte do (Inicia-se com ser parte da abandono do Marcello Eugenio oferta turística
primeira aldeia Império Bizantino. a Queda do República de campo para o Schiaffino (1996 a baseando em seus
denominada O declínio do Império Romano Gênova benefício de 2000 /2000 a 2005) patrimônios
Ceula. velho mundo rural do Ocidente e (um Estado centros costeiros. Envia uma carta a naturais e
Predomínio da resultou na termina durante a independente Parte da 2500 famílias culturais
agricultura nas alienação transição para a situado na população de explicando que (materiais e
zonas altas e progressiva de Idade Moderna), Ligúria). Levanto apoiaria as idéia das imateriais).
feudos pastoris. habitações nas predomínio da Construção da dependia até pessoas que tivesse Atrelar a
aldeias, volta se fabricação de nova alteia na então da a vontade de diversidade da
para atividades mármore colorido zona baixa. indústria de investir no oferta com o
marítimas. chamado de armas, mas com município. Marca o Cittaslow e com a
vermelho Levanto, a queda do muro retorno as origens, a identidade local.
que origina o nome de Berlim (1989) busca pela O trabalho
da cidade. e o fim da guerra recuperação das realizado em
Produção de fria a cidade se tradições e a Levanto ganhou
vinhos, azeites e viu sem valorização do o prêmio da
ampliação das perspectiva. campo. Em 2001 se associação slow
rotas marítimas. torna oficialmente cities como
Cittaslow. cidade modelo
em 2003.

Fonte: Elaboração própria


Oficialmente Levanto tornou-se parte do cittaslow, em 2001. A admissão para a
associação teve lugar após uma revisão dos requisitos do Estatuto sobre a qualidade
de vida. Graças à associação ao cittaslow, Levanto teve a oportunidade de fazer se
conhecer por sua excelência histórico, artístico, ambiental, mas também humano. O
trabalho de excelência realizado em Levanto ganhou o prêmio da associação cittaslow
como cidade modelo “cittaslow 2003”, sob a seguinte justificativa:
Por ter sido capaz de explorar o potencial de aspectos culturais e ambientais,
o valor humano através da proposta e a aplicação de projeto original para o
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desenvolvimento de todo o território. Levanto tem sido capaz de atingir os


propósitos do movimento “Cittaslow”, transformando em poucos anos, todos
os aspectos sociais, econômicos e culturais da cidade e atingindo assim um
novo ambiente sócio- econômico mais favorável que é proposto hoje como um
piloto para um modelo de desenvolvimento de qualidade. (Tradução própria).

Atualmente Levanto possui política substantiva de planejamento territorial.


Também apresenta representativa gastronomia, baseada na produção e utilização
de produtos alimentícios obtidos de maneira natural e ambientalmente respeitosos,
o que desestimula o uso de produtos transgênicos. O azeite produzido em Levanto
é considerado um dos melhores do mundo e a oliva é considerada patrimônio do
município. Também se privilegia a hospitalidade respeitosa e convivência harmoniosa
entre os moradores e visitantes, adotando a politica de preço justo, sem elevação
artificial de preços por ser uma destinação turística. A maioria das hospedarias é em
casas das famílias locais.

Em Levanto não existem fábricas. A única atividade que aporta para a economia
do lugar é o turismo: através dos serviços de alojamento, restauração, instalações
e serviços. Desta forma o que se pode identificar através das entrevistas é que a
filosofia slow, esta impregnada na vida da comunidade e daqueles que a visitam. Em
função do turismo, Levanto acelerou o processo de modernização, hospitalidade e
serviços o que proporcionou reverter uma situação que até quinze anos atrás estava
restrita ao período de verão ou de alta temporada, atualmente a sazonalidade esta
praticamente eliminada.

FIGURA 3 – VISTA DE LEVANTO NA TRILHA PARA CINQUE TERRE

Fonte: Comune di Levanto


No que diz respeito às atividades em Levanto, a filosofia slow é aplicada através
de informação e sensibilização sobre as “melhores práticas” a serem implementadas
no território. Na cidade surgiram inúmeras associações voluntárias que atuam
efetivamente em parceria com a prefeitura, em diversas áreas: organização de
eventos, promoção do turismo, controle e manutenção das trilhas, assistência às
pessoas necessitadas, emergência, proteção civil, cultura, esporte, folclore, etc.
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Graças a esta colaboração se criou uma rede funcional de pessoas, em grupos


ou individualmente, que dão suporte ao organismo público em atividades gerenciadas
pela própria comunidade. Consequentemente a economia em Levanto parte do
principio de servir os atores locais, caracteristica elementar do desenvolvimento
territorial sustentável.

Entre os vários projetos implementados em Levanto estão a construçao da


depuradora consórcio Levanto-Bonassola, a obtenção da certificação ambiental
“ISO 14001”, o regulamento para as emissões acústicas, a utilização de pesticidas
na agricultura, a separação de resíduos, o monitoramento da qualidade do ar e a
utilização da energia fotovoltaica para as escolas.

O l’hotel paese, também foi um dos elementos decisivos para permitir a integração
do turismo, entre o litoral e o vale, o projeto levou à recuperação dos edifícios das
aldeias medievais do vale e do centro histórico da capital, sem aumento de volumes
existentes, estão proibidas novas construções, o que incentiva a transformação de
pequenas estruturas em espaços dedicadas à hospitalidade.

Este novo modelo de hospitalidade, espalhados por todo o território dentro


das estruturas de pequeno e médio porte também permitiu a criação de pequenas
empresas, composta de famílias residentes, fortemente ligadas ao território, oferecendo
produtos locais, bem como o desenvolvimento do comércio de alimentos locais. Este
projeto levou um novo impulso à agricultura, cujos produtos encontram-se no mercado
local, e criou-se um círculo virtuoso que permite alimentar a produção típica, elevar
a qualidade, e oferecê-lo para o visitante, convidando-o para apreciá-la no mesmo
ambiente onde foi produzido. Atualmente a cooperativa agrícola local desenvolve
a produção de azeite, vinho, mel, geléias, molho pesto e legumes em conserva, e
é responsável por conferir o produto a ser processado e comercializado. A cidade
também mantém um vasto calendário anual de eventos que enaltece a cultura local.

As questões de conservação e uso sustentável da região também produziram


prêmios, que não só têm atribuído visibilidade a nível internacional, mas também
garantiu que o projeto fosse integrado. Um estudo sobre a percepção da identidade da
comunidade foi realizado pela Universidade de Urbino e publicado pela editora Franco
Angeli e constatou que os atores locais entendem o cittaslow e o modo “lento” de viver
não como um slogan promocional, mas um elemento importante da identidade local
Levanto (ANTONIONI, GEMINI & MAZZOLI 2010).

No âmbito da UNESCO, Levanto participa do grupo de cidades que programam


o desenvolvimento sustentável e a promoção do patrimônio cultural intangível. O
“modelo Levanto” esta continuamente sendo estudado por especialistas, professores
e técnicos que desejam reproduzir as condições de aplicação em regiões que tenham
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a necessidade de uma idéia qualitativamente válida para estimular o crescimento.


As visitas de delegações estrangeiras são constantes (principalmente chineses e
japoneses), de universitários e diversas reportagens voltadas para a qualidade de
vida.

A política administrativa adotada pelo poder público também promove a


promoção e o patrocínio de eventos (aproximadamente 14 ao ano), ações que
estimulam a qualidade de vida, a identidade, a expressão artística e as tradições
locais. Em conseqüência a história de Levanto é marcada por sua vasta trajetória que
engloba sua nata vocação paisagística para o turismo e diversas culturas estabelecidas
no território em diferentes épocas que caracterizam sua rica identidade. O conjunto
proposto em Levanto, que aperfeiçoa sua vocação natural favorece a valorização
local e a política participativa o que se aproxima dos preceitos básicos do turismo
comunitário, solidário e sustentável.

4. CONSIDERAÇÕES

Em síntese o modelo cittaslow preconiza desfrutar sem pressa de cada


minuto e através de pequenas atitudes promove uma nova escala de valores, a qual
considera os modos de vida, o conhecimento e a própria paisagem tradicional do
território. Importante aclarar que o cittaslow se associa a zonas urbanas, municípios
de até 50.000 habitantes e se apresenta como uma alternativa de desenvolvimento
promovido por comunidades que valorizam a identidade cultural e os princípios da
sustentabilidade. Não se trata de uma moda ou uma tendência, o cittaslow é um
movimento real que possibilita aos atores locais e aos visitantes uma maximização
consciente da experiência turística (ARAUJO & GELBCKE, 2008; SAMPAIO, 2005).

Através das narrações dos entrevistados foi possivel perceber um sentimento


de pertencimento e um modo de agir que reconhece a identidade deste território,
revelando seu carácter autêntico e sua necessidade de refletir sobre o desenvolvimento
econômico sem abandonar sua natureza, o que leva a compreender que o movimento
cittaslow é um importante elemento da identidade de Levanto (ANTONIONI, GEMINI
& MAZZOLI 2010).

Entre os entrevistados houve unanimidade dos atores locais ao contestarem


que não possuem o desejo de trocar de cidade, também alegam estar satisfeitos com
a vida em Levanto e confirmam que o modo “lento” de viver permite ser mais produtivo
e desfrutar das coisas simples da vida, como poder estar cercado pela família e pelos
amigos.

A questão da valorização autóctone é outro fator importante e relevante, uma vez


que, através da capacidade de reconhecer e identificar valores locais a comunidade
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se fortalece, se conhece e se respeita. Portanto os atores locais de Levanto se


reconhecem através de sua identidade. Conforme cita o entrevistado 1: “os turistas
gostam das mesmas coisas que eu gosto”.

Também é possivel afirmar que o cittaslow propõe um olhar de desenvolvimento


local, visto desde dentro, o qual prioriza a identidade e o território. Neste sentido
o cittaslow pode resumir-se em uma palavra, equilíbrio, viver com a velocidade
apropriada (HONORÉ, 2012). Portanto os valores vinculados ao cittaslow sugerem à
escala humana (MAX-NEEF, 2012), ou seja, relaciona o cotidiano, a simplicidade, a
tranqüilidade, a identidade e a convivencialidade (ILLICH, 1976), relações humanas
estabelecidas pelo respeito ao que é próprio de cada cultura.

Assim sendo, cada cittaslow possue elementos distintos, não obstante em


comum se tem o desafio de manter e resgatar as características ecossocioculturais
de suas comunidades, como alternativa de desenvolvimento territorial sustentável
(SAMPAIO, 2011).

O entrevistado 3 indaga que “Viver em Levanto significa fazer continuamente


parte de um tecido social humano, vivenciar ritmos de vida sustentáveis e ter uma boa
qualidade de vida, o que pode significar atingir níveis de conhecimentos comuns”. Em
síntese o entrevistado 6 complementa que “cittaslow é a capacidade de guardar se
dentro”.

Logo, o modelo adotado em Levanto desperto a autoestima da comunidade


através do respeito a tradição, da proteçao da natureza e ao amor pela própria história.
Deve-se atentar para o fato de que não se trata de uma cidade ideal, mas sim de
uma localidade onde o turismo ocorre de modo planejado e através de uma gestão
participativa, na qual existe sensibilidade para o sujeito do turismo, o homem, seja na
figura de autoctone ou do visitante. (BAHL, 2003).

Através da análise exploratória e das entrevistas podemos considerar que


Levanto reflete os preceitos do cittaslow, os quais buscam através da valorização
da identidade, dos modos de vidas e do território desenvolve um turismo alternativo.
Contudo este modelo depende de uma forte vinculação entre todos os setores e
consequentemente uma junção de ações em prol do bem viver.

Deste modo as percepções dos atores locais sobre o cittaslow reflete um novo
olhar sobre o desenvolvimento, o território e o turismo. Conforme o entrevistado 9:
“viver em Levanto não é ser lento. É ter uma filosofia de vida com ritmos adequados,
onde se respeita a natureza, as estações do ano, é viver cada momento de modo
adequado”.

Quanto ao surgimento e desenvolvimento do projeto cittaslow em Levanto


todos entrevistados coincidem e afirmam que a adesão ao cittaslow trouxe mudanças
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significativas e positivas em um contexto geral, também argumentam que a consciência


sobre a valorização local foi uma das vertentes mais positivas da iniciativa. Do mesmo
modo as expectativas futuras são em torno da constante preocupação com a qualidade
de vida e com a preservação da filosofia slow.

Em seguida o entrevistado 3 menciona: “o estado de consciência individual


e coletivo cresceu, atualmente respeitamos mais a natureza, portanto Levanto não
mudou sua maneira de ser, não existe antes ou depois do cittaslow, o que existe
é uma percepção do estado de consciência e de valorização do local”. Segundo o
entrevistado 1 um município cittaslow deve seguir o ditado “chi va piano va sano e va
lontano” (devagar se vai ao longe).

Quanto a problemática abordada neste artigo: como conciliar a valorização dos


modos de vida locais com desenvolvimento territorial e atividade turística? Podemos
indagar que a partir da pesquisa exploratória sobre o movimento cittaslow e da
experiência descrita é factível um equilíbrio entre capital social e cultural que privilegia
o saber-fazer local e a capacidade dos atores locais de promover um desenvolvimento
com características endógenas desde que se parta de princípios predeterminados e
exista um trabalho de consciência autóctone que atribua significado aos atores locais
e aos visitantes.

Por conseguinte o cittaslow se aproxima ao turismo comunitário, solidário e


sustentável, não no sentido de ser um território perfeito, romantizado, mas no aspecto
de ser um projeto em desenvolvimento que possui como base um pensamento
ecossocioeconomista (SAMPAIO, 2011) na percepção de fortalecer e valorizar os
modos de vida, a comunidade, o diálogo, a confiança, a reciprocidade, a cooperação,
a convivialidade, a cotidianidade, o manejo sustentável do território, ou seja, como
menciona Max-Neef (2012) um desenvolvimento a escala humana.
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TURISMO, PATRIMÔNIO E IDENTIDADES

A FESTA DE SANTO EXPEDITO: ESPAÇO SAGRADO E CONSTRUÇÃO DO


TERRITÓRIO E TURISMO

Claudemira Azevedo Ito1

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo o estudo da transformação do espaço
do Município de Santo Expedito/SP, considerando os conceitos de hierópolis e a
classificação entre espaço profano e sagrado. Santo Expedito/SP tem sua história
marcada pela devoção ao Santo Expedito. Na década de 1940, com a chegada de uma
família do Maranhão que trouxe em sua bagagem a imagem do Santo e a promessa
de construir uma capela. A devoção da comunidade local a Santo Expedito ocorre
desde a colonização do Municipio. O inicio da visitação de devotos provenientes de
outras localidades é incerto. Entretanto, considera-se como marco inicial da visitação
em massa, o dia 19 de abril de 1997, com a vinda de romeiros, a cavalo de São
Paulo. Desde então, o número de visitantes cresce ano a ano, chegando a receber
sessenta mil pessoas no dia do Santo. Isto se deve à agregação do diversos atrativos
na Festa de Santo Expedito, tais como a Cavalgada, a Festa do Milho, a feira de
artesanato e alimentação, o Leilão de Gado, sorteio de prêmios e shows. A construção
do Santuário com cerca de dez mil metros quadrados e alguns investimentos em
restaurante, lanchonetes e lojas para atender ao visitante contribuem para uma
nova territorialidade. Sendo que as manifestações ligadas aos ritos de devoção ao
Santo transformam-se em espetáculos. Os atos de fé dos peregrinos e romeiros se
transfiguram como atrativo turístico, atraindo o turista, que se move para a observação
do espetáculo. Dessa forma, o espaço da Missa campal, por exemplo, tempo e lugar
sagrado para o romeiro e peregrino, simultaneamente, é o mesmo do consumo de
alimentos e bebidas e ainda a contemplação do espetáculo pelo turista.
PALAVRAS-CHAVE: Geografia. Sagrado. Espaço. Território.

ABSTRACT
The Municipality of Santo Expedito / SP has a history marked by devotion to Santo
Expedito. In the 1940s, with the arrival of a family of Maranhão who brought in his
luggage and the image of the Holy promise to build a chapel. The devotion of the local
community to Saint Expedit occurs since the colonization of the City. The beginning
of the visitation of devotees from other places is uncertain. However, it is considered
as a landmark for the mass visitation, on April 19, 1997, with the coming of pilgrims
riding of São Paulo. Since then, the number of visitors grows each year, reaching
sixty thousand people receive on the day of the Holy.This is due to the aggregation of
several attractions at the Feast of St. Expedite, such as Cavalcade, the Feast of Corn,
a craft fair and food, Livestock Auction, raffle prizes and concerts. The construction of
the Shrine of about ten thousand square meters and some investments in restaurant,
snack bars and shops to suit the visitor contribute to a new territoriality. Since the events
connected with the rites of devotion to the Holy transformed into spectacles. The acts
1 Doutora em Geografia, Docente da Faculdade de Ciencias e Tecnologia, Campus de Presi-
dente Prudente-SP, Universidade Estadual Paulista- UNESP. ito@fct.unesp.br
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of faith of the pilgrims and pilgrims are transfigured as a tourist attraction, attracting
tourists, who moves to the observation of the show. Thus, the space of the outdoor
Mass, for example, time and sacred place for the pilgrim pilgrim and simultaneously is
the same as the consumption of food and beverages and even the contemplation of
the spectacle for tourists.
KEYWORDS: Geography. Sacred. Space. Territory.

INTRODUÇÃO

A Ciência Geografia interessa-se pelo estudo dos espaços e territórios, suas


características, conflitos e transformações. Nesse contexto o geógrafo depara-se com
as marcas espaciais produzidas pelas manifestações e práticas religiosas, ou seja, o
contexto espacial da religião. Em Santo Expedito-SP a presença religiosa na história
do Município é expressa desde a escolha de seu nome. A malha urbana cresceu
no entorno da Capela de Santo Expedito, que após diversas reformas e ampliações
determina a centralidade da Cidade. Hoje, o principal marco urbano ainda é a Igreja de
Santo Expedito, os principais festejos do Município são os organizados pela Paróquia
de Santo Expedito e ampliam a cada ano o número de visitantes e devotos.

Por volta de 1940, com a chegada família do Sr. Arnóbio Guimarães Tenório,
migrante vinda do sul do Maranhão, iniciou efetivamente a história do Município de
Santo Expedito-SP. Conta-se que na bagagem desta família foi trazida a imagem de
Santo Expedito, ao qual era devota, com a promessa de que, ao chegar ao Estado de
São Paulo e encontrasse trabalho e um lugar para morar, construiria uma capelinha a
Santo Expedito. A graça foi alcançada e Sr. Tenório cumpriu a promessa de construir a
Capela, inicialmente denominada “Capelinha da Vila Braga”, em alusão à Companhia
de Colonização instalada no local. Mas, predominou a utilização da denominação
“Capelinha”; e aos poucos, por conta da imagem de Santo Expedito existente na
Capela, o povo denominou a localidade de Santo Expedito.

Da Capela simples, construída de pau a pique, coberta por tabuinhas de cedro


e piso de terra batida, hoje, está em construção o Santuário de Santo Expedito com
dez mil metros quadrados. Das celebrações das missas dominicais para os poucos
habitantes locais, hoje, há missas campais para milhares de visitantes.

A Igreja de Santo Expedito tornou-se a maior referência da Cidade, polariza


e centraliza os serviços e o comercio, ou seja, foi o elemento determinante para a
hierarquização do “espaço homogêneo” encontrado pelos pioneiros da região,
importante na superação do “caos” e transformou-se no “centro” ou ponto fixo a partir
do qual foi edificado o Município.
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Estas transformações em Santo Expedito-SP instigam o estudo da Geografia


do Turismo, das relações entre o sagrado e o profano e suas manifestações espaciais,
o convívio do turista e peregrino, as manifestações religiosas e o poder político local.

SANTO EXPEDITO: O ESPAÇO SAGRADO

O processo de formação do espaço sagrado do município de Santo Expedito,


localizado no oeste do estado de São Paulo, está associado à devoção trazida pelos
migrantes que se instalaram na região na década de 1940. A imagem de Santo
Expedito e a promessa de construção da Capela em sua homenagem foram os marcos
iniciais das manifestações religiosas. Singelas e espontâneas se transformaram em
celebrações que ganham contornos de espetáculos.

A cidade de Santo Expedito apresenta em sua história fatos que ao serem


analisados à luz das pesquisas de Eliade (2002) apontam para o conceito de “espaço
não homogêneo”, o qual se apresenta em porções com características diferentes,
qualificando-se em sagrado e todo o resto.

Rosendahl (2002) ao analisar a relação de religião e necessidade de


espacialização do mundo sagrado afirma:

A ideia de que existem espaços sagrados e que pode existir um mundo


no qual as imperfeições estarão ausentes, conduz o homem a suportar as
dificuldades diárias. O homem não somente suporta as infelicidades da vida,
como também é conduzido a imaginar realidades mais profundas, realidades
mais autênticas que aquelas que seus sentidos revelam. O homem consagra
o espaço porque ele sente necessidade de viver em um mundo sagrado, de
mover-se em um espaço sagrado. O homem religioso, dessa maneira, se
exprime sob formas simbólicas que se relacionam no espaço: cada vez que
se ergue uma nova igreja, o grupo religioso tem a impressão de que cresce
e se consolida. Apesar da onipresença de Deus, existem espaços que são
mais sagrados que outros. Seja no budismo, no islamismo ou no catolicismo,
a hierarquização do sagrado está presente. É nos espaços sagrados de
peregrinação que essa diferenciação é mais nítida. (ROSENDAHL, 2002,
p.16).

Dessa forma, a qualificação de um espaço sagrado depende de um processo


de segregação espacial, ou seja, da não homogeneidade do espaço. Nesse sentido,
os conceitos de sagrado e profano são fundamentais para o entendimento dessa
heterogeneidade do espaço, em Santo Expedito-SP o sagrado é fundamental para
entender o processo de produção do espaço. Eliade (2002) utiliza o conceito de
“hierofania” para designar o “ponto fixo” ou um “centro”:
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É preciso dizer, desde já, que a experiência religiosa da não homogeneidade


do espaço constitui uma experiência primordial, que corresponde a uma
“fundação do mundo”. Não se trata de uma especulação teórica, mas de
uma experiência religiosa primária, que precede toda a reflexão sobre o
mundo. É a rotura operada no espaço que permite a constituição do mundo,
porque é ela que descobre o “ponto fixo”, o eixo central de toda a orientação
futura. Quando o sagrado se manifesta por uma hierofania qualquer, não
só há rotura na homogeneidade do espaço, como também revelação de
uma realidade absoluta, que se opõe à não realidade da imensa extensão
envolvente. A manifestação do sagrado funda ontologicamente o mundo.
Na extensão homogênea e infinita onde não é possível nenhum ponto
de referência, e onde, portanto, nenhuma orientação pode efetuar-se, a
hierofania revela um “ponto fixo” absoluto, um “Centro”.
Vemos, portanto, em que medida a descoberta – ou seja, a revelação – do
espaço sagrado tem um valor existencial para o homem religioso; porque
nada pode começar, nada se pode fazer sem uma orientação prévia – e
toda orientação implica a aquisição de um ponto fixo. É por essa razão que
o homem religioso sempre se esforçou por estabelecer se no “Centro do
Mundo”. Para viver no Mundo é preciso fundá-lo – e nenhum mundo pode
nascer no “caos” da homogeneidade e da relatividade do espaço profano. A
descoberta ou a projeção de um ponto fixo – o “Centro” – equivale à Criação
do Mundo. (ELIADE, 2002,p.17)

Este “Centro”, no Município de Santo Expedito-SP, sempre foi representado


pela Capela ou Igreja de Santo Expedito, a qual representa a orientação do “ponto fixo”
que estabelece o espaço sagrado do homem religioso. Na década de 1940, a região
do oeste Paulista, onde se localiza o Município de Santo Expedito contava com rede
urbana pouco densa e com população reduzida que vivia, sobretudo, na zona rural. A
Igreja na maioria das localidades se constituía o principal marco arquitetônico, assim
como, a manifestação do espaço sagrado, organizando o “caos” da homogeneidade
do espaço profano.

A Igreja de Santo Expedito representa a não homogeneidade do espaço


na leitura cotidiana, mesmo para os não crentes, estes lugares são considerados
especiais, únicos, ou espaços sagrados, os quais são qualificados como se abrisse
possibilidade de vivenciar uma outra realidade, diferente desta da existência cotidiana.

A fim de pôr em evidência a não homogeneidade do espaço, tal qual ela


é vivida pelo homem religioso, pode-se fazer apelo a qualquer religião.
Escolhamos um exemplo ao alcance de todos: uma igreja, numa cidade
moderna. Para um crente, essa igreja faz parte de um espaço diferente
da rua onde ela se encontra. A porta que se abre para o interior da igreja
significa, de fato, uma solução de continuidade. O limiar que separa os dois
espaços indica ao mesmo tempo a distância entre os dois modos de ser,
profano e religioso. O limiar é ao mesmo tempo o limite, a baliza, a fronteira
que distinguem e opõem dois mundos – e o lugar paradoxal onde esses
dois mundos se comunicam, onde se pode efetuar a passagem do mundo
profano para o mundo sagrado. (ELIADE, 2002,p.18)
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Nos dias de grande visitação em Santo Expedito-SP são observadas grandes


filas para adentrar a Igreja, os devotos esperam, às vezes, por mais de quatro horas,
sob sol forte e altas temperaturas, mas seguem resignados e respeitosos para tocar a
imagem de Santo Expedito e beijar sua mão. Alguns depositam flores e cartas aos pés
da imagem, além de deixar donativos nas caixas de coleta da Igreja. Isso tudo após
enfrentar a viagem, que algumas vezes dura a noite inteira. Há relatos de excursões
provenientes de até 800 km de distância de Santo Expedito-SP.

No interior da Igreja, as orações realizadas sob a imagem de Santo Expedito,


assim como os bilhetes e cartas mostram que o mundo profano é superado, abre-se a
possibilidade de comunicação com o Santo Expedito, como se existisse uma abertura
que levasse o devoto ao mundo dos deuses ou que trouxesse Deus e os Santos para
a Terra.

Pode-se refletir que a Capela e posterior Igreja de Santo Expedito, surgiram


com a necessidade do homem em romper a homogeneidade do espaço, qualificando-o
em sagrado e profano. A sacralização da Capela correspondeu ao imperativo de dar
segurança às famílias de migrantes, que viviam sob a ansiedade própria produzida
pela condição de migrantes em busca sobrevivência. Provavelmente, a escolha do
terreno não importava muito, algumas vezes está associada a fatores naturais, outras
vezes são frutos de visões e interpretações de sonhos, ou na busca de poder político
local.

Entretanto, o estabelecimento e criação do espaço sagrado é a expressão da


validação da posse do território pelos colonos/pioneiros que ocuparam o oeste paulista
nas primeiras décadas do Século XX. As extensas glebas de terras cobertas por
vegetação nativa eram entendidas como o Caos, era necessária, na visão dos pioneiros,
“a transformação do Caos em Cosmos, pelo ato divino da Criação. Trabalhando a
terra desértica, repetiam de fato o ato dos deuses que haviam organizado o Caos,
dando-lhe uma estrutura, formas e normas”. Eliade (2002,p22).

Quando se trata de arrotear uma terra inculta ou de conquistas e ocupar um


território já habitado por “outros” seres humanos, a tomada de posse ritual
deve, de qualquer modo, repetir a cosmogonia. Porque, da perspectiva das
sociedades arcaicas, tudo o que não é “o nosso mundo” não é ainda um
“mundo”. Não se faz “nosso” um território senão “criando-o” de novo, quer
dizer, consagrando o. Esse comportamento religioso em relação a terras
desconhecidas prolongou se, mesmo no Ocidente, até a aurora dos tempos
modernos. Os “conquistadores” espanhóis e portugueses tomavam posse, em
nome de Jesus Cristo, dos territórios que haviam descoberto e conquistado.
A ereção da Cruz equivalia à consagração da região e, portanto, de certo
modo, a um “novo nascimento”. Porque, pelo Cristo, “passaram as coisas
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velhas; eis que tudo se fez novo” (II Coríntios, 5:17). A terra recentemente
descoberta era “renovada”, “recriada” pela Cruz. (ELIADE, 2002,p.22)

Dessa forma, constata-se que a construção da Capela de Santo Expedito foi


a consagração do lugar em repetição à cosmogonia, equivale à afirmação de que a
estadia não é temporária, a família determinou a escolha daquele lugar para a sua
instalação permanente. Tratava-se da decisão vital para a família e a comunidade,
pois a partir da construção da Capela, estava indicada a necessidade de organizar e
ocupar, numa alusão de superação do “caos”, com a construção da vila, das vias de
circulação, organização da vida social e politica.

Ainda, a Capela de Santo Expedito, a partir de sua construção, na década


de 1940 , representou o “Centro do Mundo” para os habitantes do Município. Ao
apresentar o conceito de “Centro do Mundo”, Eliade (2002) faz a analogia de diversos
povos que constroem totens ou colunas como forma de ligação entre o Mundo dos
Deuses e a Terra. Estes construções dão origem à ideia de que o mundo se organiza
em torno delas, dai o simbolismo que todo deve ser planejado num “sistema” a
partir deste marco. É comum em algumas comunidades o “centro do Mundo” pode
ser representado por um fato geográfico, como uma montanha, pois representaria a
abertura ou passagem entre os mundos: sagrado e profano e vice versa.

Um grande número de mitos, ritos e crenças diversas deriva desse “sistema


do Mundo” tradicional. Não é o caso de citá-los aqui. Parece-nos mais útil
limitar-nos a alguns exemplos, escolhidos entre civilizações diferentes, e
que podem nos fazer compreender o papel do espaço sagrado na vida das
sociedades tradicionais – qualquer que seja, aliás, o aspecto particular sob
o qual se apresente esse espaço: lugar santo, casa cultual, cidade, “Mundo”.
Encontramos por toda a parte o simbolismo do Centro do Mundo, e é ele que,
na maior parte dos casos, nos permite entender o comportamento religioso
em relação ao “espaço em que se vive”. (ELIADE, 2002,p.24)

Dessa forma, em torno deste simbolismo organizou-se o Município de Santo


Expedito-SP, o espaço sagrado da Capela, e posteriormente a Igreja de Santo
Expedito, representou o “Centro do Mundo” para os primeiros habitantes (não índios)
da região, tornou-se o principal ponto de referência para o planejamento e crescimento
urbano. Até hoje, a Igreja de Santo Expedito está centro da Cidade, ao lado da sede
dos poderes constituídos: A Prefeitura Municipal e a Câmara de Vereadores. Assim
como centraliza os serviços e o comercio: Está ao lado da rodoviária, os bancos e o
centro comercial.

A importância exercida pela Igreja de Santo Expedito na História do lugar está


na determinação do nome do Município, assim como a inscrição do Brasão Municipal:
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“FID ET LABORE DUCO” – ou seja, com fé e trabalho tudo venço.

SAGRADO E PROFANO NA FESTA DE SANTO EXPEDITO

Desde a década de 1950 a Cidade de Santo Expedito-SP recebe devotos de


Santo Expedito, o número de visitantes cresce a cada ano, de algumas dezenas passa
de sessenta mil por dia no período de festa. Santo Expedito é invocado nos casos em
que é necessária intervenção imediata. Também é considerado protetor da juventude,
os estudantes recorrem a ele para ter êxito nos exames. Seus devotos confiam que
Santo Expedito não adia seu auxílio, atende na mesma hora ou dia aos que a ele
recorrem.

A Festa em louvor a Santo Expedito tem atraído um numero cada vez maior de
visitantes por diversos motivos: São poucas as Igrejas consagradas a Santo Expedito;
Divulgação de Santo Expedito promovida por fieis; Organização de festejos em vários
dias; Variedade de atrativos – feiras, shows, gastronomia, cavalgada.

A devoção a Santo Expedito se multiplica, pois os fieis que alcançam suas


graças geralmente promovem a distribuição “santinhos”- panfletos contendo a oração
de Santo Expedito, e ainda os dizeres: Em agradecimento, encomende e distribua um
milheiro desta oração. Dessa forma, os “santinhos” são distribuídos no comércio, nas
ruas, entre os amigos de tal forma que ampliam as possibilidades de convencimento
de novos devotos ao Santo.

A Festa de Santo Expedito se repete ano a ano, com alguns rituais que seguem
inalterados, com as Missas e visitação da imagem do Santo. Eliade (2002) analisa
esta necessidade em rememorar o ou reatualizar periódica do “tempo original” onde
o homem religioso tem um comportamento distinto daquele do tempo comum do
dia a dia, mesmo que sejam repetidas as mesmas atividades, este homem crê que
vivencia outra atmosfera impregnada do sagrado. É como se explica a importância da
participação da Missa de Santo Expedito, no dia 19 de abril, de cada ano, não vale
outra Missa, em outro lugar.

As múltiplas cerimônias que constituem as festas periódicas e que, repetimos,


não são mais do que a reiteração dos gestos exemplares dos deuses,
não se distinguem, aparentemente, das atividades normais: trata se, em
suma, de reparos rituais das barcas, de ritos relativos ao cultivo de plantas
alimentares (yam, taro etc.), da restauração de santuários. Na realidade,
porém, todas essas atividades cerimoniais se diferenciam dos trabalhos
similares executados no tempo comum pelo fato de só incidirem sobre alguns
objetos – que constituem, de certo modo, os arquétipos de suas respectivas
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classes – e também porque as cerimônias são realizadas numa atmosfera


imp regnada de sagrado. Com efeito, os indígenas têm consciência de que
reproduzem, nos mais ínfimos pormenores, os atos exemplares dos deuses,
tais como foram executados in illo tempore.
Assim, periodicamente, o homem religioso torna-se contemporâneo dos
deuses, na medida em que reatualiza o Tempo primordial no qual se
realizaram as obras divinas. Ao nível das civilizações primitivas, tudo o que
o homem faz tem um modelo trans humano; portanto, mesmo fora do tempo
festivo, seus gestos imitam os modelos exemplares fixados pelos deuses e
pelos Antepassados míticos. (Eliade, 2002,p46)

As entrevistas realizadas apresentam dados importantes que reforçam essa


ideia de reviver periodicamente este tempo do sagrado, não são raros relatos de
pessoas que participam das Festividades de Santo Expedito por décadas, repetindo o
ritual ano após ano. E ao serem questionadas justificam que são reabastecidas pela
fé, se sentem renovadas, por isso fazem todos os esforços de participar todos os anos.

Entretanto, a anual de Festa de Santo apresenta novos elementos ou atrativos


a cada reedição. A Cavalgada de Santo Expedito começou em 1997, se repete
todos os anos, com a adesão crescente de participantes, hoje congrega cerca de
1.500 cavaleiros da região de Presidente Prudente, de outras regiões de São Paulo
e de Mato Grosso do Sul. A Cavalgada composta de eqüinos, muares e bovinos,
tradicionalmente, inicia-se às 12:00 hs e, ao passar diante da Igreja, quando os
cavaleiros são aspergidos com água benta e recebem a benção do Padre.

Este é um ponto de grande atração de público, pois é uma rara oportunidade de


presenciar os animais e seus cavaleiros, com suas bandeiras, berrantes e indumentária
típica de tropeiro. Também é interessante notar a heterogeneidade entre os cavaleiros,
desde trabalhadores rurais, pequenos, médios e grandes proprietários de terras,
trabalhadores autônomos, servidores públicos, sendo ainda importante salientar a
grande presença de mulheres e crianças. Percebe-se a presença de famílias inteiras,
com elementos de várias gerações.

No período festivo, ao redor da Igreja de Santo Expedito, é organizada uma


feira, com ambulantes que apregoam todo tipo de mercadoria, de imagens de Santos
Católicos, terços, medalhas, calçados, bijuterias, confecções, utensílios domésticos,
ferramentas, brinquedos, além de artesanatos e barracas de alimentos e bebidas.

SILVA & SOUZA (2012) ao analisarem Trindade-GO e a Festa do Divino Espirito


Santo apontam que nas “cidades-santuário, as funções urbanas são fortemente
espacializadas associadas à natureza religiosa” p.360.

Ao lado das manifestações religiosas comparece o comércio, o que é muito bem


recebido pelos moradores locais, pois trata-se de ocasião de aumentar sua renda com
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a comércio, o serviço de estacionamento e até mesmo de cobrança de taxa de uso do


banheiro de sua residência. A Prefeitura Municipal é a responsável pela emissão dos
alvarás dos ambulantes, reserva área para os moradores locais e disponibiliza outras
para os comerciantes provenientes de outras localidades.

Ainda, as entrevistas realizadas entre os visitantes, apontam que a grande


maioria apoia a realização desta feira, não se incomodando com a convivência
do profano e o mundano na Festa Anual de Santo Expedito. A feira se tornou uma
componente da Festa e hoje já faz parte de sua tradição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Município de Santo Expedito tem sua história intimamente ligada à devoção ao


Santo Expedito, desde a sua fundação a partir da primeira Capela, estava determinado
o centro, não somente da Cidade, mas de um ponto de peregrinação, de milhares de
pessoas que viajam durante horas para participar de rituais religiosos ou profanos.

A escolha do nome do Município corroborou com a continuidade da importância


da Igreja de Santo Expedito no crescimento da Cidade, ao mesmo tempo em que
colaborou com o aumento da visitação e devoção, pois facilita a localização do
Município, e ainda ressalta a identificação dele com o Santo Padroeiro, dessa forma,
foi benéfica confusão entre a denominação do Município e o Santo, não restando
dúvida de quem visita o Município vem em função da devoção a Santo Expedito.

Ainda hoje, a Paroquia de Santo Expedito é o elemento mais importante


da paisagem urbana, além disso, se destaca na organização socioeconômica
do Município. Suas atividades, especialmente no período de Festas é o principal
dinamizador da economia local. O grande fluxo de visitantes movimenta o comércio
local, atrai ambulantes de diversas partes do Estado de São Paulo, do Paraná e Mato
Grosso do Sul.

Durante as Festas de Santo Expedito os ritos religiosos são acompanhados por


manifestações culturais, com destaque à cavalgada, que rememora antigos hábitos
da região.

Os visitantes compostos por peregrinos ou turistas, participantes dos rituais


religiosos ou profanos compõem uma dualidade que se expressa na paisagem urbana.
Espaços e lugares são resignificados, são criados territórios para as manifestações
de fé e do mundo sagrado. Enquanto, acontece a turistificação do território, com a
manifestação de atividades para o turismo, onde o profano vende e compra mercadorias
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e serviços. Compreender esta dualidade é o grande desafio, sagrado e profano e


suas relações de complementaridade. Afinal de contas o turismo religioso movimenta
cerca de 15 milhões de reais por ano no Brasil. Os visitantes, homens religiosos ou
não, a população local o poder público e os gestores religiosos atuam como agentes
modeladores do espaço.

Santo Expedito-SP exerce a função de cidade religiosa, atraindo visitantes que


buscam a proximidade com o sagrado. A Igreja é o centro desta busca e a partir
dela novamente se revela a dualidade, de polarizar o “mundo sagrado” e o “mundo
profano”, pois também vai determinar a hierarquização do comercio e serviços no seu
entorno. É o espaço sagrado interagindo com o profano.

BIBLIOGRAFIA

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TURISMO CRIATIVO: UM FOCO NOS EVENTOS

Raquel Ribeiro de Souza Silva1


Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira2

RESUMO: O turismo criativo é um conceito que prioriza a experiência turística e tem


por finalidade fazer com que as pessoas não sejam apenas espectadoras, mas sim
protagonistas de sua viagem, neste contexto os eventos surgem como estratégias de
comunicação que trazem nova vida às cidades, movimentam a economia em períodos
de baixa temporada e, além disso, são espaços de entretenimento que conduzem as
pessoas para a experimentação de emoções e tradições. Neste sentido, este artigo
apresenta e discute a importância social, econômica e cultural de dois eventos sob
a ótica da criatividade e da experiência turística, a Festa de Nossa Senhora do Pilar
e o Festival Sabores do Litoral, os quais são realizados anualmente no município de
Antonina, Estado do Paraná, utilizando-se da metodologia qualitativa, e apoiando-se
na pesquisa bibliográfica. Foi observado que os dois eventos podem ser considerados
criativos e de experiência, pois ambos proporcionam a oportunidade de envolvimento
entre a comunidade local e os visitantes, e contam ainda com os aspectos econômicos,
os quais favorecem o município em estudo, e os aspectos culturais e sociais que
valorizam os elementos tradicionais, fortalecendo a identidade local. Desta forma, ao
participar das atividades religiosas o visitante entra em sintonia com a fé e com os rituais
religiosos, experienciando algo de místico, enquanto que no festival gastronômico
há a possibilidade de absorção dos conhecimentos sobre os saberes e fazeres
dos pratos tradicionais do litoral paranaense. Estas análises indicam que ambos os
eventos trazem benefícios para o município e oferecem atividades diferenciadas e
enriquecedoras tanto para os visitantes como para os visitados.

PALAVRAS-CHAVE: Festas. Religião. Gastronomia. Turismo. Antonina.

ABSTRACT: The creative tourism is a concept that prioritizes the tourist experience
and aims to make people not only viewer, but protagonist of their trip. In this context,
creative events are communication strategies that bring new life to cities, move the
economy in periods of low season and, moreover, are entertaining spaces that lead
people to experiment emotions and traditions. Thus, this paper presents and discusses
the social, economic and cultural importance of two events, from the perspective of
creativity and experience tourism, The Feast of Our Lady of Pilar and The Coastal
Flavours Festival, which are held annually in the city of Antonina, at Paraná State,
by using qualitative methods, and relying on the literature research. It was observed
that the two events can be considered creative and of experience, as both provide
the opportunity to visitors engage themselves with the local community, besides that
there is the economic aspects which supports the municipality studied, and the social
and cultural aspects that give value to the traditional elements, by strengthening the
1 Bacharel em Turismo. Doutoranda em Geografia na Universidade Federal do Paraná. E-mail:
unesp2004@yahoo.com.br
2 Pós-Doutor pela Université de Paris 1 (IREST). Professor do Departamento de Geografia da
Universidade Federal do Paraná. E-mail: marcos.ufpr@yahoo.com.br
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local identity. Thus, by participate in religious activities the visitor can connect with
the faith and religious rituals, experiencing something mystical and by participate in
the gastronomic festival there is the possibility of absorption of knowledge about the
traditional dishes from the coast of Paraná. These analyzes indicate that both events
bring benefits to the county by offer a differentiated and enriching activities as much for
the visitors as much for the community.

KEYWORDS: Feast. Religion. Gastronomy. Tourism. Antonina.

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial do Turismo (2011), um organismo das Nações Unidas,


com sede em Madri, na Espanha, afirma que o turismo mundial alcançará 1,8 bilhões
de viajantes até 2030 e por movimentar diversos setores da economia, atualmente a
atividade turística já corresponde por 9% do PIB mundial.

Neste cenário, o turismo possui diversas segmentações para o atendimento


das preferências e expectativas destes viajantes. O turismo criativo é um destes
segmentos, cujo conceito baseia-se na oferta de experiências e aprendizagem de
conteúdos locais, singulares e autênticos, proporcionando um encontro entre a
comunidade local e o turista.

Este segmento começou a ser implantado e comercializado em meados do


ano 2000, inicialmente em alguns destinos da Europa, Estados Unidos, e hoje está
presente na Ásia, na América Central e Oceania e mais recentemente na cidade de
Porto Alegre, na América do Sul (PORTO ALEGRE, 2013).

Alguns exemplos das atividades integrantes deste segmento são a participação


em oficinas de artes visuais ou artesanato regional, tocar em um concerto de um grupo
musical da cidade, realizar uma oficina de gastronomia regional, assistir a palestras
sobre temas de referência do destino, participar de movimentos e festivais criativos,
de manifestações culturais, entre vários outros.

Com base nesta conceituação de criatividade no turismo e sob a ótica da


experiência turística, este artigo tem como objetivo apresentar e discutir a importância
social, econômica e cultural de dois eventos anuais que ocorrem no município de
Antonina (PR) o Festival Sabores do Litoral e a Festa de Nossa Senhora do Pilar. Para
tal será empregada a metodologia qualitativa, tendo como base a pesquisa empírica
e bibliográfica.

OS EVENTOS SOB A ÓTICA DA CRIATIVIDADE E DA EXPERIÊNCIA


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Os eventos possuem características inerentes a prática do lazer, por exemplo,


o caráter lúdico e hedonístico destes acontecimentos, além disso, há que se
considerar os desdobramentos culturais promovidos nas localidades que os realizam
(DUMAZEDIER, 2008).

Bahl (2004) define o termo evento como um acontecimento que ocorre a partir
de um motivo e de atividades programadas para serem desenvolvidas em um local
e tempo determinados, congregando indivíduos com interesses e objetivos comuns.
Alguns destes motivos podem ser comemorar ou registrar algum fato, acontecimento
ou celebração, estabelecer formas de interação social, comercializar e divulgar
produtos, promover e divulgar localidades, bem como estimular a criação de fluxos
turísticos.

Segundo Meirelles (1999) os eventos podem ser classificados como artísticos,


científicos, cívicos, culturais, desportivos, educativos, empresariais, informativos,
turístico, folclóricos, governamentais, de lazer, políticos e religiosos.

Independentemente de sua modalidade os eventos são estratégias de


comunicação que trazem nova vida às cidades, além de serem espaços de
entretenimento que conduzem as pessoas para a experimentação de emoções. No
entanto, para tal faz-se necessário o uso da criatividade, que significa inventar coisas
novas ou inventar novas maneiras de se fazer coisas que já se está acostumado a
fazer (MELO NETO, 2008).

São diversos os estudos acadêmicos que versam sobre o tema eventos


inseridos tanto no segmento do turismo criativo como no turismo de experiência (MELO
NETO, 1999; MEIRELLES, 1999; BRITO; RICHARDS; RAYMOND, 2000; FONTES,
2002, BAHL, 2004; NETTO; GAETA, 2010), analisando os tipos de impactos que esta
modalidade de turismo causa nos visitantes e nas comunidades receptoras.

Os eventos criativos são uma parcela de um segmento turístico de mesmo


nome, estabelecido no ano 2000 por Greg Richards e Crispim Raymond, cujo conceito
baseia-se em oferecer aos visitantes a oportunidade de desenvolver o seu potencial
criativo por meio de experiências e aprendizados relacionados com as características
locais dos destinos (RICHARDS; RAYMOND, 2000).

De acordo com Richards (2003), o turismo criativo está pautado nas


necessidades e desejos das pessoas e não apenas nos ciclos de mercado, por
essa razão, os destinos com grande efervescência cultural e com grande oferta de
atividades de aprendizado são os que têm maiores vantagens sobre os demais, uma
vez que possuem melhores chances de atender às necessidades e aos desejos de
uma maior quantidade de turistas.

Desta forma, tratando especificamente dos eventos, a criatividade consiste


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basicamente em fugir dos velhos padrões quebrando-os com a imaginação, tendo em


vista sempre a interatividade dos participantes.

Melo Neto (2008) sugere algumas estratégias para eventos criativos tais como
a criação de eventos em dias especiais ou temáticos; a realização de parcerias com
órgãos públicos e entidades culturais; o incentivo ao envolvimento da comunidade
nos festivais de folclore, de cultura popular, artísticos, religiosos, entre outras
manifestações, para assim preservar a autenticidade local.

Ao se considerar as novas necessidades e valores do mercado, onde o


componente emocional e os sentimentos adquirem maior relevância que o componente
racional (GILMORE; PINNE, 1999), os eventos criativos apresentam-se também como
uma modalidade de turismo de experiência despontando como elementos impactantes
que se converterão em um futuro próximo no mais memorável de todos os setores da
economia.

Netto e Gaeta (2010) e Beni (2004) afirmam que o turismo de experiência não é
uma construção informe, mas uma tendência no mercado turístico que se dedica não
apenas em ofertar serviços, mas também experiências diferenciadas, tendo em vista
que atualmente o turista não se contenta em ser um mero expectador passivo ele quer
vivenciar sensações e tornar-se personagem de sua própria viagem.

Os produtos serviços ofertados a este novo turista devem contar com quatro
fatores: educação, entretenimento, estética, e evasão, assim devem permitir o
aprendizado de algo, oferecer diversão e acuidade visual, ao mesmo tempo em que
conduzem a perda da noção do tempo por ser uma atividade prazerosa, pois conforme
Dumazedier (2008) o lazer não é sinônimo de ociosidade.

De forma geral, os eventos criativos são uma modalidade de turismo de


experiência, os quais representam uma alternativa para o crescimento e a consolidação
do turismo local devido à dinamicidade com que movimenta a economia, amenizando
os efeitos da sazonalidade ao mesmo tempo em que se constitui em ferramenta de
marketing para o destino, estimulando a divulgação e a permanência da visitação
turística.

A POTENCIALIDADE DOS EVENTOS CRIATIVOS COMO UMA EXPERIÊNCIA


TURÍSTICA NO MUNICIPIO DE ANTONINA (PR)

Antonina é um município do estado do Paraná que está situado na mesorregião


metropolitana da capital Curitiba, entre a Baixada Paranaense e a Serra do Mar
(FIGURA 1).
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FIGURA 1: LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA MUNICÍPIO DE ANTONINA

Fonte: Abreu (2006)

Possui uma extensão territorial de 882 km² que corresponde a 0.4427% da


área total do Estado. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(2010), a população local é de 18.981 habitantes e a densidade demográfica é de
21,41 hab./km².

A economia local esteve ligada inicialmente a fase de exploração do ouro,


sendo seguido pelo ciclo da erva-mate, passando pelas atividades portuárias, pela
implantação das Indústrias Matarazzo, o seu apogeu e culminando com o declínio
econômico da indústria e conseqüentemente do município ocasionando um processo
de abandono local devido à ausência de empregos (IPHAN, 2012).

Desde então conforme observados nos arquivos de notícias sobre o município,


disponíveis na Biblioteca Pública do Paraná, a atividade turística é tida como a
“salvação” para a economia local:
“Antonina: só o turismo poderá salvá-la” (O ANTONIENSE, 1970).
“Construções, templos e monumentos históricos” (O ANTONIENSE, 1974).
“Turismo vai dinamizar Antonina” (VIVER BRASIL, 1982).
“Antonina pólo turístico do Estado” (O ESTADO DO PARANÁ, 1983).
“Antonina quer ser a Parati do Paraná” (O ESTADO DO PARANÁ, 1990).
“Prefeito quer transformar a cidade em capital do turismo” (O ESTADO DO
PARANÁ, 1993).
“História de Antonina atrai turista do mundo todo” (O ESTADO DO PARANÁ,
2004)
“Unidos para atrair o turista pelo paladar” (GAZETA DO POVO, 2011).
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“Turismo que resgata a cidade” (GAZETA DO POVO, 2013).

Atualmente, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE) a base da atividade econômica de Antonina concentra-se no setor de
serviços, sendo que o turismo de eventos, classificados como religioso e gastronômico
destacam-se neste cenário, com os dois eventos anuais, o Festival Sabores do Litoral
e a Festa de Nossa Senhora do Pilar.

A FESTA NOSSA SENHORA DO PILAR

Conta a história (PARANÁ, 2006) que no período da colonização portuguesa,


entre os anos de 1648 e 1654, Antonio Leão, Pedro de Uzeda e Manoel Duarte
receberam de Gabriel de Lara, que era Capitão Povoador e Sesmeiro de Nova Vila
(Paranaguá), três sesmarias no litoral do município de Antonina, e foram seus primeiros
povoadores.

Nos arredores destas sesmarias algumas mulheres devotas consagravam culto


em louvor a Nossa Senhora do Pilar e celebravam todos os anos, em 15 de agosto,
festividades em sua homenagem. Devido à popularidade destas festas, em 1714 D.
Frei Francisco de São Jerônimo, bispo do Rio de Janeiro, autorizou a construção de
uma capela em homenagem a esta santa.

A construção da capela marcou a fundação oficial do município em 12 de


setembro de 1714, mas sua autonomia municipal veio apenas em 29 de agosto de
1797. Assim, em 6 de novembro de 1797, no decorrer da festa de Nossa Senhora do
Pilar, o povoado recebeu o nome de Vila Antonina, e em 21 de janeiro de 1857, pela
lei nº14, a Vila de Antonina foi elevada à categoria de Comarca.

Observa-se que a história do município está intimamente ligada com a Igreja


Nossa Senhora do Pilar e a tradicional festa em sua homenagem, que acontece até
os dias atuais sempre no início do mês de agosto, tendo duração de treze dias com
a participação da comunidade local e dos visitantes que praticam o turismo religioso
movidos pela fé e pela emoção (SILVA, 2014).

Andrade (2006) define o turismo religioso como o conjunto de atividades com


utilização parcial ou total de equipamentos e a realização de visitas às localidades que
expressam sentimentos místicos ou suscitam a fé, esperança e caridade aos crentes
ou pessoas vinculadas a religião.

O fato de esta festa ter resistido ao tempo e continuar a existir na atualidade,


pode ser considerado um exemplo de evento criativo, pois sem deixar de lado os
valores espirituais, conseguiu agregar elementos inovadores e atrativos, tais como a
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queima de fogos, e a comercialização de produtos da gastronomia local e souvenires


da festa, capazes de agradar o público participante e ao mesmo tempo gerar lucro e
renda.

A participação nesta festa pode também ser considerada uma prática de


turismo de experiência, pela oportunidade de envolvimento entre a comunidade local
e os visitantes no evento, pois durante a festa as missas são realizadas durante o
dia na Igreja e no período da noite há uma procissão luminosa pelas ruas centrais do
município, momentos estes onde o visitante entra em sintonia com a fé religiosa local
experienciando algo de místico.

Cabe ressaltar que além do fluxo de pessoas durante a festa, nos outros
períodos do ano, de acordo com o pároco da Igreja Nossa Senhora do Pilar, padre
Marcos José de Albuquerque, há cerca de três mil pessoas provenientes de diferentes
regiões do país e também do exterior, que visitam o templo (GAZETA DO POVO,
2012), e conseqüentemente outros atrativos do município, movimentando assim a
economia local.

O FESTIVAL SABORES DO LITORAL

O vocábulo gastronomie, de origem francesa, traz consigo os preceitos de


comer e beber bem junto à arte de preparar os alimentos com o objetivo de obter
deles o máximo de satisfação, desta forma a relação entre o turismo e a gastronomia
é notória em diversos destinos nacionais e internacionais pelo fato de transformar a
culinária local, o modo de preparo de pratos tradicionais e o ato de se alimentar em
uma motivação turística (FAGLIARI, 2005).

No litoral do Estado do Paraná, a idéia de fomentar o turismo na baixa temporada


fez com que os sete municípios litorâneos, dos quais Antonina faz parte, se unissem
desde 2011 para a realização do Festival Sabores do Litoral, o qual neste ano de 2014
está em sua quarta edição, e conta com a participação de 34 restaurantes, que no
período de 06 junho à 06 de julho oferecerão cardápio tradicional do litoral composto
pelo barreado, peixes e frutos do mar (PARANÁ ONLINE, 2014).

O Festival Sabores do Litoral é um exemplo de evento criativo criado


estrategicamente para movimentar a economia dos municípios litorâneos, por meio
do turismo gastronômico, pois para o turismo a gastronomia apresentam potencial de
atratividade, sendo que o desenvolvimento de tais atrativos gera inúmeros benefícios
que podem ser de ordem econômica, social e cultural (FAGLIARI, 2005; RUSCHMANN,
2001).

Os benefícios econômicos e sociais são notáveis na geração de lucro e renda


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para os locais onde ocorre o Festival, por meio do preparo e comercialização dos
alimentos, enquanto que os benefícios culturais são estendidos também aos visitantes
por meio da experiência, a partir da divulgação dos conhecimentos dos saberes e
fazeres dos pratos tradicionais.

Em 2012, conforme divulgado no balanço final da segunda edição do festival,


27 estabelecimentos participaram do evento e comercializaram 1.994 pratos, o que
representou 19% a mais que a primeira edição realizada em 2011 (GAZETA DO
POVO, 2012).

Em 2013, de acordo com o divulgado pela Associação Brasileira de Bares


e Restaurantes do Paraná, o Festival Sabores do Litoral, em sua terceira edição,
atraiu milhares de turistas para o litoral paranaense, e aumentou para 31 o número
de restaurantes participantes do evento, o que representa 55 % a mais que a primeira
edição do mesmo, sendo que nas duas últimas edições os restaurantes venderam
mais de 3,5 pratos (ABRASEL, 2013).

Com relação aos benefícios culturais dos eventos gastronômicos, Morais (2011)
afirma que a culinária local representa uma referência de identidade, capaz de gerar
a aproximação entre turistas e comunidade local, pois a comida típica evidencia as
experiências vividas, ao mesmo tempo em que reverência o passado colocando-o em
relação com os que vivenciam o presente.

Mascarenha e Ramos (2008) complementam esta ideia afirmando que a de-


gustação de pratos regionais e típicos é uma das maneiras de experimentar a cultura,
assim o conhecimento dos elementos que compõem a refeição e o que o prato sig-
nifica para a comunidade local é um fato importante para o entendimento da refeição
como um item representante da cultura local.

Observa-se, portanto, que o ato de comer durante uma viagem é tão importan-
te, quanto o conforto dos transportes ou a qualidade dos meios de hospedagem, po-
dendo até mesmo ser fator determinante na escolha de determinado destino (POLÀ-
CEK, 1986).

Fagliari (2005) afirma que a busca por experiências gastronômicas e a satisfa-


ção que elas podem trazer ajuda a criar impressões favoráveis ou desfavoráveis da
viagem em sua totalidade, já que a alimentação é ao mesmo tempo forma de lazer e
prazer e um dos elementos essenciais da experiência turística, mais marcante que um
simples souvenir.

Dentro deste contexto, o Festival Sabores do Litoral vem consolidando-se como


um evento importante para região litorânea do Paraná, por meio de investimentos na
divulgação do mesmo, buscando estimular a visitação e a valorização da culinária
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regional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Festival Sabores do Litoral e a Festa de Nossa Senhora do Pilar demons-


tram, ainda que timidamente, a aplicabilidade prática dos conceitos do turismo criativo
e do turismo de experiência desenvolvidos principalmente por Richard e Raymond
(2000) e Netto e Gaeta (2010).

Estes eventos são exemplos tanto de uma prática de turismo de experiência,


como do turismo criativo, pois no Festival de Sabores é possível experimentar a cultu-
ra local, a partir da divulgação e da criatividade no preparo dos pratos já consagrados
como tradicionais e na Festa de Nossa Senhora do Pilar, há a oportunidade de viven-
ciar momentos de sintonia com a fé, uma experiência religiosa.

Os benefícios culturais destes eventos são visíveis a partir do conhecimento


dos saberes e fazeres culinários transmitidos as novas gerações, fato este que para
Morais (2011) representa uma referência de identidade, bem como a continuidade da
tradição religiosa católica, que também possui traços identitários.

Os benefícios econômicos e sociais são igualmente notáveis na geração de


lucro e renda para os locais participantes do Festival Sabores do Litoral, por meio
do preparo e comercialização dos alimentos, e no aumento do fluxo de pessoas
provenientes de diferentes regiões do país e também do exterior, no período da Festa
de Nossa Senhora do Pilar.

Assim, os dois eventos apresentados neste artigo demonstram a capacidade


dos municípios se reinventarem com o intuito de manter as tradições ao mesmo tempo
em que agregam valor econômico e criatividade às atividades propostas.

Ambos os eventos possuem características de inovação e capacidade de


proporcionar experiências interessantes aos participantes, fazendo valer as palavras
de Pine e Golmore (1999), de que bens são tangíveis e serviços intangíveis, mas
experiências são memoráveis.

Por fim, observou-se que além dos aspectos econômicos, sociais e culturais
serem contemplados nos dois eventos apresentados, os benefícios gerados são
estendidos tanto à comunidade do município de Antonina como aos visitantes que
deles participam.
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Os discursos turísticos e a construção das identidades: o Plano


Aquarela e seus dizeres sobre o patrimônio natural

Fernanda Lodi Trevisan1


Aline Vieira de Carvalho2

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo discutir as práticas discursivas (FOUCAULT, 1999)
que produzem identidades territoriais para o Brasil e que são destinadas a divulgação do Brasil
no exterior; almejamos entender como esses discursos são associados ao marketing turístico em
áreas naturais, e, em especial, vinculadas aos Patrimônios Mundiais Naturais (áreas, paisagens
ou monumentos naturais reconhecidos pela UNESCO como áreas de valor universal). Entende-
se que mudanças nos discursos institucionais podem representar novas formas de vontade de
verdade, substitutas das antigas verdades que se tornaram ineficazes; por isso, analisaremos os
discursos produzidos pela EMBRATUR e pelo Ministério do Turismo, entre os anos de 2003
a 2009. Neste contexto, nos centraremos no Plano Aquarela (EMBRATUR, 2005, 2009), que
objetiva consolidar a imagem do país, na tentativa de apresentá-lo como um país emergente e
moderno, mas ainda ressaltando antigos estereótipos como as belezas cênicas e a miscigenação.

Palavras-chave: Patrimônios Naturais, Identidade Territorial, Turismo, Plano Aquarela.

Abstract: This paper aims to discuss the discursive practices (FOUCAULT, 1999) that
produce territorial identities to Brazil and intended for the dissemination of Brazil abroad; we
aim to understand how these discourses are linked to tourism marketing in natural areas, and in
particular linked to the Natural World Heritage Sites (areas, landscapes or natural monuments
recognized by UNESCO as a universal value areas). It is understood that changes in institutional
discourses may represent new forms of will to truth, replacement of old truths that have become
ineffective; therefore we will analyze the discourses produced by EMBRATUR and the Ministry
of Tourism, between the years 2003-2009. In this context, we will focus on the Aquarela Plan
(EMBRATUR, 2005, 2009), which aims to consolidate the image of the country in an attempt
to presents it as an emerging and modern country, but also emphasizing old stereotypes as the
scenic beauty and miscegenation.

Key-Word: Natural Heritage, Territorial Identity, Tourism, Aquarela Plan.

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo discutir as práticas discursivas (FOUCAULT, 1999)

1 Geógrafa. Doutoranda em Geografia, UNICAMP. E-mail: fer.lodi@gmail.com.


2 Historiadora. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Unicamp (NEPAM), UNI-
CAMP. E-mail: alinev81@gmail.com.
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produzidas pela EMBRATUR e pelo Ministério do Turismo, entre os anos de 2003 a 2009 na
construção de identidades territoriais para o Brasil no exterior, associadas ao marketing turístico
em áreas naturais, e em especial sobre os Patrimônios Mundiais Naturais. Os sítios, paisagens
e monumentos naturais passaram a ser qualificados internacionalmente como Patrimônios
Mundiais Naturais após a Conferência para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural
e Natural, promovida pela UNESCO em 1972, cujo resultado foi o tratado internacional,
conhecido como Convenção de Paris. Almejamos entender como esses Patrimônios Naturais
são articulados e representados no exterior para compor um Brasil. E, claro, queremos refletir
sobre quais as consequências desses discursos nas práticas cotidianas dos turismos brasileiros.

Em linhas gerais, o Patrimônio Cultural e Natural foi definido como “a nossa herança
do passado, o que vivemos hoje, e o que nós transmitiremos para as gerações futuras”
(UNESCO, 2008, p. 05). De acordo com a proposta da Unesco, eles fornecem elementos
para a construção de nossa identidade. Como são componentes da configuração do espaço
geográfico, os patrimônios naturais (paisagens, território) podem ser formadores da identidade
territorial, conceito definido por Haesbaert (1999) e discutido na seção 3 deste texto. Além disso,
configurar-se como Patrimônio Mundial aufere destaque no contexto da indústria turística, pois
este atributo lhe confere status e distinção simbólica (PEIXOTO, 2000).

Atualmente, o turismo representa uma importante porcentagem do PIB de muitos países,


e em 2008 o turismo passou a representar 30% das exportações de serviços do mundo (MTur,
2009). O Ministério do Turismo divulgou que trabalha em projetos de valorização turística
de Parques Nacionais (MTUR, 2010) e aposta no melhor aproveitamento do potencial dos
recursos naturais para impulsionar o turismo (MTUR, 2014).

A análise do Plano Aquarela (EMBRATUR, 2005 e 2009) permite identificar a


transformação na ordem discursiva política sobre os elementos formadores da imagem do
país, na tentativa de apresentá-lo como um país emergente e moderno, mas ainda ressaltando
antigos estereótipos como as belezas cênicas, a hospitalidade e a miscigenação. Essa foi
uma contrapartida às propagandas turísticas principalmente das décadas de 1970 e 1980 que
exploravam as paisagens da cidade do Rio de Janeiro, o futebol, o carnaval (destacando a
mulata e o samba), as paisagens de sol e praia, a miscigenação cultural, e a Floresta Amazônica
(ALFONSO, 2006).

2. O Patrimônio Mundial Natural

A definição das áreas com características naturais relevantes como Unidades de


Conservação ou Patrimônios Naturais vai além das necessidades ecológicas de proteção
sustentável dos ecossistemas, da saúde e do bem estar da população ou como reservas
de informação genética. As áreas naturais são parte do universo da cultura, pois quando
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delimitadas, reguladas e intencionalmente conservadas cumprem a função de amostras da


natureza (SERRANO, 2007). Uma vez que boa parte dos ambientes naturais foi transformada
em urbano foi necessário criar espaços para abrigar seus remanescentes (SERRANO, 2007).
Essas áreas naturais possibilitam o entendimento da história natural e revelam as consequências
das interferências humanas sobre o Planeta (ZANIRATO e RIBEIRO, 2006).

A transformação conceitual do patrimônio no decorrer do século XX pode ser entendida


como o resultado das mudanças das concepções de história e cultura. Segundo Choay (2001,
p. 207-210), nesse período a noção de patrimônio se expandiu no campo cronológico (com a
incorporação de bens cada vez mais próximos do presente), no tipológico (com a incorporação
de edifícios modestos, centros históricos, plantas industriais abandonadas), no público (como
resultado do projeto de democratização do saber, da sociedade do lazer e turismo cultural) no
campo geográfico, pois houve a difusão da noção de monumento histórico para áreas fora da
Europa, onde teve origem e por tempos ficou restrita, e a “mundialização dos valores e das
referências ocidentais” (CHOAY, 2001, p. 207).

Choay (2001, p. 211) identificou que a partir da década de 1960, os patrimônios passaram
a ser valorizados por duas principais funções: como obras que propiciam o saber – valor de
uso; mas também como “produtos culturais, fabricados, empacotados e distribuídos para serem
consumidos” principalmente pela indústria turística, ao explorar seu valor econômico “por
todos os meios, a fim de multiplicar indefinidamente o número de visitantes”.

Assim, a noção de patrimônio passou dos monumentos históricos para a noção


de Patrimônio Cultural, este “entendido como um conjunto de bens culturais, referentes às
identidades coletivas” (ZANIRATO e RIBEIRO, 2006, p 251.). Deste modo, a natureza também
pode ser incorporada à noção de patrimônio cultural.

A concepção da natureza como patrimônio cultural foi oficializada internacionalmente


pela UNESCO com a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural
de 1972, que definiu o património natural como as “formações físicas, geológicas e biológicas
excepcionais, habitats de espécies animais e vegetais ameaçados e áreas de valor científico, de
conservação ou estético” (UNESCO, 1972). Para Zanirato e Ribeiro (2006, p. 258) a adição da
natureza ao patrimônio cultural, “foi resultante da compreensão de que a identidade cultural
de um povo é forjada no meio em que este vive, e de que as obras humanas mais significativas
obtém parte de sua beleza do lugar onde se encontram instaladas”.
Por outro lado, a preocupação com a expansão urbana-industrial e a consciência da
incapacidade de alguns países conservarem seus patrimônios fomentou o surgimento da ideia de
um patrimônio universal e a criação de um espaço de cooperação internacional para a proteção
do mesmo. Essa ideia revela certa continuidade com pensamentos colonialistas dos séculos
passados, pois se mostra como uma forma de assegurar a proteção dos ambientes naturais nos
territórios dos países (agora) em desenvolvimento, ao legitimar sua propriedade soberana e,
entretanto, restringir sua exploração em virtude da conservação e transmissão para gerações
289
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futuras (LABROT, 1996).


A Convenção obriga os países-parte a estabelecer planos de gestão para os patrimônios
e incentiva sua candidatura na Lista do Patrimônio Mundial. Para isso, os sítios naturais devem
corresponder ao menos um dos critérios estabelecidos (estético, ecológico ou científico3) e
conservarem sua integridade (SCIFONI, 2003). É um processo complexo e rigoroso, o que
pode explicar a maior parte das inclusões pertencerem aos países desenvolvidos.
O Brasil está hoje entre os países considerados megadiversos. São cinco importantes
biomas, áreas marinhas e costeiras que configuram um mosaico das principais paisagens da
região tropical. Para proteção dessas áreas na escala nacional, foram criadas diversas Unidades
de Conservação ou ocorreram seus tombamentos através do Instituo do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN).
Atualmente a UNESCO reconhece 193 sítios como Patrimônios Mundiais Naturais e
sete deles estão no Brasil, conforme está apresentado na Tabela 01 com os respectivos anos que
receberam o título.
Tabela 01 - Patrimônio Mundial Natural no Brasil
Parque Nacional do Iguaçu (1986)
Mata Atlântica: Reservas do Sudeste (1999)
Costa do Descobrimento: Reservas da Mata Atlântica (1999)
Área de Conservação do Pantanal (2000)
Área de Conservação do Cerrado (2001)
Ilhas Atlânticas Brasileiras: Fernando de Noronha e Atol das
Rocas (2001)
Complexo de Conservação da Amazônia Central (2003)
Fonte: UNESCO, 2014, sítio.
Mas qual a importância do título de patrimônio da humanidade para a valorização
turística de um bem cultural? Luc Florent (2011), em pesquisa realizada com turistas na França,
concluiu que a imagem de um país desempenha um papel importante na escolha de um destino, e
que título de Patrimônio Mundial destaca alguns bens e oferece uma visão positiva do território;
mas, não necessariamente é determinante para que o turista escolha um destino. Em outras
palavras, os turistas veem o título da UNESCO como uma garantia de qualidade para o lugar,
mas, no caso dos patrimônios culturais menos conhecidos, a marca da UNESCO é maciçamente
usada para sua divulgação e, portanto, como atrativo turístico. Todavia, no caso dos patrimônios
já consolidados no mercado e mais conhecidos, a chancela da UNESCO, quando existente, é
pouco utilizada, pois com ou sem o título há intenso fluxo turístico. Assim, o autor conclui que
3 Os critérios para Promoção dos Sítios de Valor Excepcional são: (Vii) conter fenômenos naturais super-
lativos ou áreas de excepcional beleza natural e importância estética; (Viii) ser exemplos notáveis ​​que representam
grandes etapas da história da Terra, incluindo o registro da vida, significativa processos geológicos em curso no
desenvolvimento das formas terrestres ou de elementos geomórficos ou fisiográficos significativos; (Ix) ser exem-
plos notáveis ​​representando processos significativos ecológicos e biológicos na evolução e desenvolvimento de
água, ecossistemas terrestres, costeiros e marinhos e comunidades de plantas e animais; (X) conter os habitats
naturais mais importantes e significativos para a conservação in situ da diversidade biológica, incluindo aqueles
que contenham espécies ameaçadas de valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou da conservação.
(UNESCO, 2014, sítio).
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o título da UNESCO pode ser um real fator de atração; inserindo patrimônios desconhecidos
em rotas turísticas.

3. Marketing turístico e a identidade territorial

As identidades são elaboradas a partir das práticas discursivas. Os discursos são


construídos fundamentalmente pelas instituições, que são as responsáveis por selecionar o que
será silenciado ou destacado, e por difundir e naturalizá-los. Grandes mutações nos discursos
podem ser resultados de novas descobertas científicas, mas podem ser uma nova forma de
vontade de verdade, quem detém a verdade, detém o poder de coerção sobre os demais discursos
(FOUCAULT, 1999).

Castells (2010, p. 22-3) concebe a identidade coletiva como “a fonte de significado e


experiência de um povo”, é socialmente construída, sempre se dá em um contexto marcado pelas
relações de poder e os produtores de identidades e suas finalidades “são em grande medida os
determinantes do conteúdo simbólico dessas identidades”. A matéria-prima de sua construção
são os elementos fornecidos pela história, geografia, biologia, instituições produtivas, memória
coletiva, aparatos de poder, entre outros (CASTELLS, 2010).

Mesmo que os povos criem uma identidade que lhe faça sentido e lhe seja representativa,
esta pode ter uma significação diferente quando interpretadas por outras sociedades. A visão
hegemônica sobre o Brasil que predominou no exterior por muito tempo estava relacionada
ao exótico-erótico. Até mesmo instituições nacionais, como a Embratur, foram responsáveis
por manter e replicar esta representação do Brasil em propagandas turísticas que divulgavam
imagens eróticas das mulheres brasileiras entre 1970-1990 (GOMES, 2012). É possível verificar
essa postura no material publicado pela EMBRATUR na década de 1970 e analisado na pesquisa
de mestrado de Alfonso (2006).

FIGURA 01 – MATERIAL PUBLICITÁRIO


DA EMBRATUR NA DÉCADA DE 1970
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Fonte: ALFONSO, 2006.

O Plano Aquarela20204 (2009) – Marketing Turístico Internacional do Brasil (MTUR


e EMBRATUR, 2009) surge com a necessidade de atualizar da imagem do país no mundo,
distanciando-o da imagem de exótico-erótico, e o torne mais visitado por estrangeiros e garanta
“que o turismo seja uma atividade econômica cada vez mais importante para a geração de
divisas e empregos” (EMBRATUR, 2009, p. 22). Além da tentativa de diversificar os destinos
turísticos, essa mudança estratégica foi resultou da pressão dos movimentos sociais que, ao
longo da década de 1990, denunciaram a relação entre a exploração sexual no turismo e o uso
de fotos de mulheres sensualizadas nas campanhas publicitárias (GOMES, 2009 e 2012).
O Plano Aquarela tem como meta até 2020 passar do 6º maior PIB para o 3º maior PIB
turístico mundial. As expectativas são de que até 2020 haja um aumento de 113% no turismo
internacional e 304% da entrada de divisas com gastos estrangeiros no país (EMBRATUR,
2009). Para tal, a estratégia de promoção turística está alicerçada no Decálogo (Figura 02),
um conjunto de argumentos e valores, que individualizam o país frente aos demais destinos,
e despertam o interesse de potenciais turistas em conhecer o Brasil. Entre os argumentos,
encontram-se os patrimônios da humanidade.

Figura 02 – Argumentos e valores do Decálogo Brasil

4 O Plano Aquarela foi criado em 2003 e passa desde então anualmente por atualizações.
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Fonte: EMBRATUR, 2009.

Dessa forma, pode-se perceber que o cenário da política turística brasileira aponta para
investimentos em campanhas de marketing para valorização do território e das paisagens
naturais, incluindo os Patrimônios da Humanidade a fim de torna-los atrativos num contexto
concorrencial. Os dois Patrimônios Mundiais Naturais mais visitados por estrangeiros e também
mais divulgados no exterior são o Parque Nacional do Iguaçu (Figura 03) e o Parque Nacional
Marinho de Fernando de Noronha, ambos estão sob a gestão turística da concessionária
Cataratas do Iguaçu A.S. e sua filial, a EcoNoronha. A Cataratas do Iguaçu S.A. foi criada em
1999, com sede em Foz do Iguaçu com o objetivo de implantar, operacionalizar, administrar e
o aproveitamento econômico das áreas concedidas pelo ICMBio. Além dos dois Parques acima
mencionados, a Cataratas do Iguaçu S.A. também é responsável pela administração do Parque
Nacional da Tijuca, o Parque mais visitado do Brasil.

Figura 03 - Peça publicitária da campanha “Vire fã” (2005-2008)


veiculada no chile
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Fonte: <http://www.h2foz.com.br/noticia/foz-do-iguacu-ilustra-campanha-no-exterior>. Acesso em


16/05/2014.

A peça publicitária acima faz parte da campanha “Vire Fã”, realizada entre 2005 e 2008
na Argentina, Chile, Estados Unidos, Portugal, Alemanha e Reino Unido. Pode-se perceber a
intenção em mostrar o patrimônio natural junto à infraestrutura instalada para ampliar o contato
entre turista e a paisagem. A campanha “Vire Fã” e também a “Brasil Sensacional” (2008 a
2010) foram vinculadas exclusivamente no exterior.

Grande parte das peças publicitárias dessas campanhas faz uso de cenários constituídos
a partir das paisagens naturais. As paisagens, fragmentos do espaço geográfico, são portadoras
de sentido e carregam uma intencionalidade, pois elas são intencionalmente selecionadas, a fim
de dar maior eficácia ao aproveitamento turístico dos lugares,

Os patrimônios culturais e naturais traduzidos visualmente em paisagens são


transformados em símbolos que podem concorrer para a formação da identidade territorial. A
identidade territorial é uma identidade coletiva definida através do território, ou seja, nesse caso
o espaço geográfico é a dimensão real e concreta para sua operacionalização (HAESBAERT,
1999). Isso amplia seu poder simbólico e torna as identidades ainda mais efetivas. Uma vez
que as campanhas publicitárias visam o turista estrangeiro, pode-se falar na construção da
identidade transterritorial (HAESBAERT, 1999), caracterizada pelo pluriculturalismo, neste
caso e produto do relacionamento entre o universal (Patrimônios da Humanidade) e o particular
(especificidades do território brasileiro). Essas identidades transterritoriais estruturam-se pela
lógica do mercado e transformam patrimônios culturais e naturaiss em bens de valor econômico,
através do turismo.

4. Considerações sobre o trabalho

Esta pesquisa encontra-se em fase inicial, apresentaram-se aqui algumas ideias prelimi-
nares que fundamentaram o tema, a hipótese e objetivos da mesma.
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Mudanças nos discursos institucionais podem representar novas formas de vontade de


verdade, coercitivas e substitutas das antigas verdades que se tornaram ineficazes. Destaca-se
a elaboração de uma nova identidade territorial para o país no exterior, ancorada (não só, mas
também) nas áreas naturais - Patrimônios Naturais e Unidades de Conservação - com efeitos
práticos para a valorização turística do território brasileiro. Os Patrimônios Mundiais Naturais
contam com a certificação da UNESCO, o que representa simbolicamente, a garantia da excep-
cionalidade e integridade do bem. A prática do ecoturismo nos patrimônios naturais justifica-se
como uma estratégia para maximizar o acesso ao patrimônio e ao mesmo tempo gerar recursos
econômicos para sua preservação (BERTONCELLO, 2004).

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TURISMO, COMUNIDADES INDÍGENAS E TOLERÂNCIA CULTURAL: UMA


RELAÇÃO POSSÍVEL?

TOURISM, INDIGENOUS COMMUNITIES AND CULTURAL TOLERANCE: IS THAT


A POSSIBLE RELATION?

Sandra Dalila Corbari1


Bruno Martins Augusto Gomes2
Miguel Bahl3

RESUMO
O turismo é um fenômeno que pode impactar negativamente as comunidades
receptoras, entretanto, a atividade turística também é vista como um instrumento para
a aproximação de comunidades, propiciando melhor compreensão entre os povos
e promovendo a tolerância cultural. Desse modo, esse trabalho teve por objetivo
abordar as contribuições do turismo para o fortalecimento da tolerância cultural entre
indígenas e não indígenas, no estado do Paraná (Brasil). Para isso, se apresentará
um marco teórico sobre o tema de estudo e em seguida os resultados alcançados
por meio de entrevistas qualitativas com pesquisadores e técnicos envolvidos com os
temas “povos indígenas” e “turismo”. Através da pesquisa foi possível compreender
que o turismo pode se configurar como uma importante via para o fortalecimento da
compreensão e tolerância cultural, contudo, antes do desenvolvimento da atividade
turística envolvendo comunidades indígenas é preciso promover a cultura dos povos
indígenas através da sua divulgação e educação cultural.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo e sociedade. Cultura. Turismo étnico. Comunidades


indígenas. Tolerância cultural.

ABSTRACT
Tourism is a phenomenon that can negatively impact the host communities, however,
the tourism activity is also seen as an instrument for approaching communities, providing
a better understanding among the people and promoting the cultural tolerance. Thus,
this paper aims to address the contribution of tourism to the strengthening of cultural
tolerance in the state of Paraná (Brazil). For this, it will present a theoretical framework
about the topic and then the results obtained through qualitative interviews with
researchers and experts involved with the themes “indigenous peoples” and “tourism”.
Through the research it was possible to understand that tourism can be configured
as an important means for strengthening the understanding and cultural tolerance,
however, before the development of tourism involving indigenous communities is
necessary to promote the culture of indigenous peoples through the dissemination and
education cultural.
1 Graduação em Turismo (UFPR). Mestranda e Bolsista CNPQ do Programa de Pós-
Graduação em Turismo (UFPR). Email: corbari91@hotmail.com
2 Graduação em Turismo (UFOP). Mestre em Administração (UFLA). Doutorando em
Políticas Públicas (UFPR). Professor da UFPR junto ao curso de graduação em turismo. E-mail:
gomesbma@ufpr.br
3 Graduação em Turismo (UFPR) e Mestrado e Doutorado em Ciências da Comunicação
(USP). Professor da UFPR junto ao curso de graduação e mestrado em Turismo e nos de mestrado e
doutorado em Geografia. Email: migbahl@ufpr.br
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KEYWORDS: Tourism and society. Culture. Ethnic tourism. Indigenous communities.


Cultural tolerance.

INTRODUÇÃO

Desde os primeiros estudos referentes à sociedade, foi abordado que, a


segurança, o bem-estar e a igualdade entre os homens somente seria assegurada
com um “contrato social”. Apesar dos estudos nessa vertente contratualista como os
de Hobbes (1984), Locke (2010) e Rousseau (2003), tomando por modelo o primeiro,
o homem continua sendo “lobo do homem”. Nas palavras de Marconi e Presotto (1987)
os conflitos continuaram existindo, muitas vezes relacionados ao etnocentrismo,
supervalorização da cultura própria em comparação às demais.

Se por um lado há os conflitos, de outro a aproximação de culturas contribui


para o fortalecimento da etnicidade e da tolerância cultural. A tolerância cultural é
sinônimo de respeito, aceitação e apreço à diversidade e riqueza cultural, aos modos
de expressão e de manifestar a qualidade de humano, segundo a Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, 1995). Nesse sentido,
o turismo surge como um fenômeno sociocultural que promove a aproximação de
comunidades, um tipo de turismo que visa essa interação é o turismo étnico indígena.

O presente trabalho se caracterizou como um estudo exploratório, que visou


e teve como problema de pesquisa o seguinte questionamento: “O turismo étnico
indígena representa um meio de fortalecimento da tolerância cultural?”. O objetivo
geral da pesquisa foi analisar se o turismo étnico indígena representa um meio de
fortalecimento da tolerância cultural, a partir de um estudo no estado do Paraná
(Brasil). O estudo contou com duas etapas, primeiramente uma revisão teórica, que
representou um apanhado geral sobre a situação em que se encontra o problema. Em
seguida realizou-se uma pesquisa de campo, com o objetivo de obter informações
e/ou conhecimento acerca do problema, para o qual se buscou respostas. Esta
etapa contou com uma abordagem qualitativa dos dados e foi realizada por meio
de entrevistas com pesquisadores e técnicos envolvidos com os temas “turismo” e
“comunidades indígenas”. Assim, a seguir será abordado o referencial teórico utilizado
como embasamento da pesquisa, em seguida a metodologia de pesquisa detalhada,
os resultados e, ao final, as considerações finais da pesquisa, apresentando propostas
de estudos futuros.

SOCIEDADE E CULTURA: UMA BREVE ABORDAGEM

Segundo a visão Kantiana, referente aos estudos sobre a formação das


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sociedades, os seres humanos possuem uma tendência natural à associação, para


assim desenvolver suas disposições naturais que levam ao aperfeiçoamento da
espécie. Porém, o ser humano possui uma inclinação à separação, pois tem em si
uma qualidade insociável e de oposição (KANT, 2010). Desse modo, conforme Kant
(2010) para que ocorra o aperfeiçoamento das disposições humanas, é necessário
alcançar um modelo de sociedade onde impere o direito, a justiça e a liberdade. Para
que o modelo ideal de sociedade seja alcançado se faz necessário um contrato social,
por meio do qual os homens aceitariam a condição de não atacar aos demais em troca
do direito de não ser atacado, promovendo assim a segurança, bem-estar, liberdade
e igualdade entre os homens (HOBBES, 1984; ROUSSEAU, 2003).

Todas as sociedades fazem parte de uma cultura, que, segundo White (1975)
diz respeito à relação entre “simbolados”, termo de sua autoria. O referido autor
defende que, apenas os seres humanos têm a capacidade de simbolar, ou seja, de dar
sentido a coisas e eventos exteriores (simbolados). Para Giddens (2005) a cultura se
refere ao modo de vida dos membros de determinada sociedade e engloba aspectos
tangíveis, como objetos e tecnologias, e aspectos intangíveis, como tradições, ideias
e tradições. O autor observa que os termos sociedade e cultura possuem interligação
e interdependência, uma vez que a sociedade é uma rede que conecta os indivíduos,
por meio das relações sociais estruturadas conforme a cultura coletiva. Para Cuche
(1999), a cultura não é uma herança que se transmite de geração em geração, ela
é uma produção histórica, mais precisamente uma construção pautada nas relações
entre grupos sociais. Segundo esse autor, para entender um sistema cultural, é
preciso analisar a situação sociohistórica no qual ele está envolvido e, historicamente,
o contato vem em primeiro lugar.

O contato entre distintas culturas pode ocasionar um choque cultural incitado,


algumas vezes, pelo etnocentrismo. O etnocentrismo está presente nos seres humanos
e se refere à supervalorização da cultura própria em comparação às demais, podendo
se manifestar por meio de comportamentos agressivos e atitudes hostis (MARCONI;
PRESOTTO, 1987). Frente a essa realidade, Geertz (1985) destaca a importância
da compreensão cultural, que se dá através da socialização, principal meio pelo qual
os seres humanos transmitem a cultura e a identidade étnica através das gerações
(GIDDENS, 2005).

SOBRE A ETNICIDADE E TOLERÂNCIA

Se historicamente o contato vem em primeiro lugar, em seguida, tem-se o


jogo de distinção entre os grupos, ou seja, cada coletividade pode tentar defender
sua especificidade, buscando convencer (e se convencer) que seu modelo cultural é
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original e lhes pertence (CUCHE, 1999). Conforme a visão desse autor, o que separa
dois grupos etno-culturais não é o princípio da diferença cultural, mas sim o uso de
certos traços culturais e a “fronteira”, ou seja, a intenção de se diferenciar.
A etnicidade pode ser entendida como o conjunto de práticas e visões culturais
de uma determinada comunidade, tornando-as distintas das demais comunidades,
formando assim um grupo étnico (GIDDENS, 2005). Grünewald (2003) ressalta que
esse fenômeno social reflete as tendências positivas de identificação e inclusão de um
indivíduo em determinado grupo étnico. Assim, a etnicidade diz respeito à identidade
de um grupo e, nesse sentido, Dietz (1999) e Cuche (1999) defendem que a identidade
grupal somente surge em situações de contatos e interação com outros grupos, nunca
como uma característica própria do grupo. A identidade cultural surge como uma
modalidade de categorização da distinção nós/eles, baseada nas diferenças culturais
existentes (CUCHE, 1999). Desse modo, a etnicidade seria parte do processo de
construção de uma identidade cultural. E, por isso, ela também não se manifesta
nas condições de isolamento, mas na intensificação do contato que torna saliente as
identidades étnicas (POUTIGNAT; STREEIFF-FERNART, 1998).

Eller (2002), por sua vez, defende que a etnicidade não é um fenômeno social
unificado, mas sim uma gama de fenômenos analiticamente distintos e relacionados
(seus fundamentos, “marcadores”, história, objetivos e metas), que variam de grupo
para grupo, ou seja, enquanto em alguns casos a religião é o fator distintivo entre dois
grupos étnicos, em outros casos esse fator pode ser a história, o idioma ou qualquer
outra característica. Para definir a identidade e, consequentemente, a etnicidade, o
importante não é compreender quais traços culturais são distintivos, mas identificar
aqueles que são utilizados pelo grupo para afirmar e manter sua distinção cultural
(CUCHE, 1999), os quais Dietz (1999) denomina “emblemas de contraste”, como, por
exemplo, a origem, a história e a cultura do grupo (GRÜNEWALD, 2003).

Giddens (2005) defende que a etnicidade está associada, frequentemente,


às minorias étnicas, que possuem desvantagens se comparadas à população em
geral e possuem senso de que são um grupo, o que faz com que desenvolvam a
solidariedade e a lealdade, esta última reforçada por conta do preconceito e da
discriminação que eventualmente sofrem por parte da população majoritária. No caso
dos povos indígenas, eles integram um sentido de continuidade histórica, marcada por
reivindicações territoriais e, assim, têm uma identidade de resistência (DIETZ, 1999).

Na condição de comportamento inadequado relacionado à etnicidade, emerge


o preconceito e a discriminação (GIDDENS, 2005). Esses aspectos, assim como a
exclusão, hostilidade e intolerância podem ser manifestações de conflitos étnicos,
que podem passar do âmbito das relações interpessoais, pelas ações político-
institucionais e chegando a confrontos violentos (STAVENHAGEN, 1991). Em relação
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ao tema, Cardoso (2003) defende que, apesar de os povos estarem conectados pela
tecnologia, o que se pôde ver nas últimas décadas foi o aumento de conflitos étnicos e
religiosos, o que mostrou o poder negativo da intolerância e do preconceito. Conforme
Stavenhagen (1991) os conflitos étnicos ocorrem, geralmente, por conta dos modelos
homogeneizantes e integradores das nações e Estados e quando a ideologia dessas
nações e Estados é incapaz de abarcar a diversidade cultural e étnica, há uma maior
possibilidade de que ocorram conflitos étnicos. Cuche (1999) ressalta as hierarquias
entre as culturas, que resulta em estratificação social e, consequentemente, gera
tensão e, por vezes, conflitos violentos.

Nesse contexto, duas obras precursoras no tema “tolerância” são: a Carta


acerca da Tolerância, de John Locke, e o Tratado sobre a Tolerância, de Voltaire
(LOCKE, 2010; VOLTAIRE, 2000). A Carta acerca da Tolerância expõe a opressão e a
intolerância dos praticantes do cristianismo, o que é contraditório, uma vez que alguns
dos princípios do cristianismo são a caridade e o perdão (LOCKE, 2010). Para Locke,
se um homem não possui brandura, boa vontade e caridade para com os demais, ele
não corresponde à noção de um verdadeiro cristão. O autor ressalta, ainda, que não
foi a diversidade de opiniões que deu origem a conflitos e guerras no cristianismo, e
sim a intolerância frente aos que têm opiniões diversas. O Tratado sobre a Tolerância,
por sua vez, defende que a intolerância, mais precisamente a religiosa, é algo absurdo,
bárbaro e surge associado ao fanatismo alimentado pela ignorância frente a ideias
que uma religião expõe (VOLTAIRE, 2000).

Recentemente, com a publicação de vários documentos e declarações de


abrangência mundial que defendem a tolerância, tem-se destacado as ações da
Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). O ano de 1995, quando a ONU comemorou
seu cinquentenário, foi estabelecido como o Ano Internacional da Tolerância e no
mesmo ano foi elaborada e aprovada pela UNESCO a Declaração Mundial de Princípios
sobre a Tolerância (UNESCO, 1995). O referido documento caracteriza a tolerância
como um sinônimo de respeito, aceitação e apreço à diversidade e riqueza cultural,
aos modos de expressão e de manifestar a qualidade de humano, sendo fomentada
por conhecimento, comunicação, liberdade de pensamento, abertura espiritual,
consciência e crença. Ademais, conforme o documento, um indivíduo tolerante é
capaz de compreender que os seres humanos se caracterizam pela diversidade física,
situacional, comportamental, bem como pela diversidade de modos de se expressar e
pelos valores (UNESCO, 1995).
No Brasil a educação e a mídia, tradicionalmente, buscam ressaltar o país
como um símbolo da tolerância universal. Entretanto, o país é sede de vários conflitos,
marcados pela pobreza e por desigualdades que se evidenciam entre “brancos”,
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afrodescendentes e indígenas (CARDOSO, 2003). Cabe salientar que, ainda que não
ocorram conflitos étnicos de grande magnitude no país, há que ter atenção quanto às
relações entre esses povos. No que tange aos povos indígenas no Brasil, Arruda (2001)
observa que há uma visão na maioria das vezes negativa dessas sociedades, a partir
da qual se entende que os indígenas não são importantes para o progresso do país,
uma vez que são considerados povos arcaicos e representantes de um “pré-Brasil”.
Tendo em vista esta imagem negativa dos povos indígenas, no Brasil, apresenta-se o
turismo como uma possível ferramenta de educação e de fortalecimento da tolerância
cultural.

O TURISMO ÉTNICO INDÍGENA E A TOLERÂNCIA CULTURAL

Os visitantes estão separados de seus anfitriões por seu caráter de forasteiro,


pela distinção entre trabalho e tempo livre e pelas diferenças culturais, segundo Nash
(1989). Assim, para esse pesquisador, visitantes e visitados se tratam como pessoas,
mas, por vezes, também como objetos. Essa situação se torna mais evidente se
levado em consideração o fato de que o principal estímulo para o desenvolvimento
do turismo é de ordem econômica (SMITH, 1989). No entanto, acredita-se que outras
perspectivas devem ser analisadas.

Na década de 1970, o surgimento do pós-fordismo acarretou em mudanças no


turismo e a demanda por destinos turísticos tornou-se mais exigente (HARVEY, 1996).
Assim, a partir do final da década de 1980 surgiram “novos turismos”, pautados nas
condições e exigências do mercado (SANTANA TALAVERA, 2003). Conforme esse
autor, isso representou um modo diferente de praticar o turismo, através da busca
por experiências satisfatórias e autênticas em relação à natureza e à cultura. Nessa
perspectiva, outra questão a ser analisada é que se de algum modo a riqueza, a
motivação, a transitoriedade medeiam os efeitos do contato entre turista e residente, é
importante evitar generalizações sobre o processo de interação entre esses atores. Há
diversos perfis de turistas e alguns desses visitantes estão intensamente interessados
em interagir com os residentes (PEARCE, 2002).

Nesse sentido, vários pesquisadores abordam o turismo, enquanto fenômeno


sociocultural, como algo positivo. Dias e Aguiar (2002) apontam que o turismo contribui,
dentre outras coisas, para a facilitando a comunicação, aproximando comunidades e
favorecendo o intercâmbio cultural. Santana Talavera (2003) ressalta que o encontro
entre culturas pode promover a compreensão entre visitantes e visitados, minimizando,
assim, conflitos e tensões. Var e Ap (2001) destacam duas características do fenômeno
turístico que representariam as condições necessárias para a existência da paz: a
promoção do intercâmbio cultural, derrubando barreiras entre os povos e nações e a
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promoção de um maior entendimento entre os indivíduos ou grupos. Assim, conforme


esses autores, o turismo possibilita o contato entre indivíduos e, consequentemente, a
compreensão entre os povos. Por outro lado, Bahl (2004) destaca que, para que seja
possível a prática do turismo em determinado lugar, é preciso haver harmonia entre
os povos e respeitabilidade quanto às suas diferenças.

Entretanto, não são todos que compartilham dessa visão, Krippendorf (1987)
acreditava que, na sociedade capitalista os valores do “ter” se tornaram mais
importantes que os valores do “ser” e, por isso, aspectos como a fortuna, posse,
consumo e egoísmo são priorizados frente a comunidade, tolerância, honestidade,
dentre outros. Assim, o referido autor apontou que não acreditava no turismo como
instrumento de compreensão entre os povos, pois existem aspectos negativos desse
contato que não são ressaltados. No entanto, na visão de Wall e Mathieson (2006)
as dificuldades de interação entre turistas e visitados ocorrem, muitas vezes, por falta
de educação e compreensão por ambas as partes, principalmente quanto à maneira
de agir perante uma cultura diferente das suas. Cabe salientar que a atividade
turística, quando realizada sem o devido planejamento, tem grande possibilidade de
produzir impactos negativos, mais do que positivos (NERES; BOMFIM, 2008). As
autoras ressaltam que, se a atividade turística não for pensada de modo articulado,
visando a benefícios de turistas e residentes, é possível que essa situação produza
sentimentos de rancor, amargura e atitudes de hostilidade entre ambas as partes,
assim, é importante que os turistas interajam e tentem se integrar com a comunidade,
conhecendo sua cultura e seu modo de vida e desenvolvendo a tolerância cultural.

Um dos segmentos do turismo que se destaca em relação ao contato e interação


entre visitantes e visitados é o turismo étnico e, vinculado a este, o turismo indígena,
o qual será denominado na presente pesquisa como “turismo étnico indígena”. O
turismo étnico tem como atração principal o exotismo cultural de uma determinada
população (SMITH, 1989; BARRETTO, 2005; YÁZIGI, 2007). Bahl (2009) observa que
esse tipo de turismo se forma a partir dos resultados de dois tipos de sentimento: o
primeiro está associado ao aparato social e à cultura de uma determinada localidade
com sua identidade e diferenciação; o segundo, por sua vez, está ligado à ideia de
divulgação da existência de um grupo e/ou uma etnia, visando a seu reconhecimento
e sua inserção em um contexto nacional ou internacional. É possível ser trabalhada
a ideia de que o turismo étnico é um modo de expressão de interesse pela cultura
e pelo modo de vida de outros povos, bem como uma tentativa de compreender as
diferenças entre os povos.

Esse tipo de turismo objetiva promover um grupo étnico, englobando assim,


os povos e comunidades indígenas. O turismo envolvendo comunidades indígenas é
um tema delicado e promove discussões entre profissionais e estudiosos, por conta
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da diferença cultural entre os turistas e os indígenas. Para Oliveira (2006), o turismo


étnico, em geral, está relacionado à existência de uma fronteira étnica, a qual, por si
só, é um atrativo turístico. No entanto, há uma preocupação entre críticos do turismo no
que tange ao turismo em territórios indígenas por conta dos efeitos das atividades na
cultura da comunidade hospedeira, que pode resultar até mesmo na homogeneização
da sociedade. Esse ponto de vista é sustentado por uma perspectiva unilateral, que
vê o turismo como uma ameaça às comunidades indígenas. Para Yázigi (2007), no
entanto, o turismo em áreas indígenas não soa estranho, uma vez que os índios já
exploram a agricultura e a mineração, ou seja, o turismo seria apenas uma atividade
para complementação de renda. Além disso, povos tradicionais e primitivos de várias
partes do mundo já deram abertura para o turismo, como na Austrália e Canadá,
entre outros países. De acordo com Lustosa (2010), ressaltar os elementos da cultura
indígena é o diferencial de que esses povos necessitam para manter a dignidade
e resgatar os valores culturais que influenciaram até mesmo a cultura do não índio
brasileiro.
Alguns grupos indígenas já estão desenvolvendo o turismo no Brasil, como é
o caso dos Pataxós na Bahia (OLIVEIRA, 2006; GRUNEWALD, 1999) que são tidos
como os mais organizados quanto ao turismo em âmbito nacional. Entretanto, também
há a ocorrência de turismo sem planejamento, assim como exemplificado por Faria
(2007). Segundo essa estudiosa em áreas indígenas no município de São Gabriel da
Cachoeira, Amazonas, o turismo também ocorre clandestinamente, incluindo roteiros
em comunidades indígenas ou atrativos localizados dentro de Terras Indígenas.
Ademais, ressalta-se que, apesar do potencial brasileiro, não são todos os estados
que se destacam quanto ao turismo indígena.

No estado do Paraná, localizado na região Sul do país, habitavam no ano


de 2010, 26.559 pessoas declaradas ou consideradas indígenas (IBGE, 2012).
No entanto, o turismo envolvendo tais comunidades ainda é pouco expressivo, se
destacando a Aldeia Indígena Araçá-i, em Piraquara, que está aberta à visitação; a
Terra Indígena Mangueirinha, no município homônimo, que recebia grupos, porém
tem o programa desativado atualmente; a Reserva Indígena Tekohá Añetete, em
Diamante d’Oeste e a Aldeia Indígena Guaraguaçu, em Pontal do Paraná, que fazem
parte de circuitos da Caminhada na Natureza, projeto desenvolvido pela Secretaria
de Estado da Agricultura e do Abastecimento e pelo Instituto de Assistência Técnica
e Extensão Rural do Paraná. (HORCEL, 2010; BAGGIO, 2007; SEAB, 2012; SETU,
2008; SETU, 2012). A título de demonstração, uma vez que esse não é o objetivo do
presente artigo, apresenta-se a Tabela 1, na qual pode ser observado o potencial do
estado para o desenvolvimento do turismo indígena.
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TABELA 1 – DADOS SOBRE AS COMUNIDADES INDÍGENAS DO PARANÁ


Comunidades indígenas 29
Municípios que abarcam comunidades indígenas 30
Etnias presentes nas comunidades 9 (Guarani M’bya; Guarani Ñandeva; Guarani-
Kaiowá; Guaraní; Xetá; Xokléng; Fulni-ô;
Kaingang; Guajá)
Terras Indígenas Declaradas 2 Tradicionalmente ocupadas
Terras Indígenas Regularizadas 5 Reservas Indígenas
12 Tradicionalmente Ocupadas
1 Dominial Indígena
Terras Indígenas Homologadas 1 Tradicionalmente Ocupada
Terras Indígenas em Estudo 8 Tradicionalmente Ocupadas
Fonte: Adaptado de IBGE (2010); FUNAI (2014).

METODOLOGIA

O presente trabalho se caracterizou como um estudo exploratório, que visou


maior familiaridade com o tema abordado (GIL, 1991) e se embasou em estudos
referentes aos temas “turismo étnico”, “povos indígenas” e “tolerância cultural”.
A pesquisa foi desenvolvida visando responder ao seguinte questionamento: “O
turismo étnico indígena representa um meio de fortalecimento da tolerância cultural?”.
Conforme o problema de pesquisa, o objetivo geral da pesquisa foi o de analisar se o
turismo étnico indígena representa um meio de fortalecimento da tolerância cultural, a
partir de um estudo no estado do Paraná.

O estudo contou com duas etapas, primeiramente uma revisão teórica, na


qual foram utilizados como fonte de dados livros, artigos científicos, dissertações,
teses, documentos, entre outros materiais. Esta fase representa um apanhado geral
sobre a situação em que se encontra o problema, os trabalhos já realizados a respeito
do assunto e as opiniões dos estudiosos sobre o tema. Em seguida realizou-se uma
pesquisa de campo, com o objetivo de obter informações e/ou conhecimento acerca do
problema, para o qual se buscou respostas. Esta etapa contou com uma abordagem
qualitativa dos dados, pois não esteve interessada em números, mas nas opiniões
dos entrevistados. A pesquisa de campo foi realizada por meio de entrevistas.

A amostra se caracterizou como não probabilística intencional, pois a seleção


dos elementos da população para compor a amostra dependeu do julgamento do
pesquisador (MATTAR, 2001). A amostra da pesquisa foi constituída de nove
indivíduos: um pesquisador do Departamento de Turismo da Universidade Federal do
Paraná, uma pesquisadora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal
do Paraná, uma antropóloga, uma técnica da extinta Secretaria de Estado do Turismo
e um técnico do Serviço Social Autônomo Ecoparaná (que participaram em conjunto
de uma entrevista), um técnico do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural,
uma técnica da Fundação Nacional do Índio e duas técnicas da Secretaria Especial
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de Relações com a Comunidade (que participaram em conjunto de uma entrevista).


O instrumento de coleta de dados foi um roteiro de entrevista e, após a aplicação das
entrevistas, foi realizada a análise dos resultados, através da análise de conteúdo,
constituída por quatro procedimentos: pré-análise, codificação, categorização e
inferência (GOMES, 2006). No esquema a seguir é possível visualizar cada etapa e
os processos que integraram a análise (FIGURA 1).

FIGURA 1 - ESQUEMA DE ANÁLISE DE RESPOSTAS

Criar legenda de identificação dos entrevistados

PRÉ-ANÁLISE Criar legenda de identificação dos assuntos abordados na revisão teórica

Criar legenda de identificação dos objetivos

Transcrever entrevistas

Colocar em cada resposta a identificação relacionada ao objetivo a que


ela se refere

CODIFICAÇÃO Colocar em cada resposta a identificação relacionada ao assunto a que


ela se refere

Colocar em cada resposta a identificação relacionada ao entrevistado a


que ela se refere

Agrupar respostas de acordo com os objetivos de pesquisa

CATEGORIZAÇÃO
Ordenar internamente os grupos de respostas de acordo com os assuntos
de cada resposta

Analisar grupos de respostas (frequência, intensidade e direção dos


INFERÊNCIA/ temas relevantes)
ANÁLISE
TEMÁTICA
Realizar discussão dos resultados

Fonte: Adaptado de Gomes (2006)

Após a aplicação das entrevistas foi feita a análise dos resultados obtidos, os
quais são apresentados abaixo.
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RESULTADOS

No que diz respeito às contribuições do turismo étnico indígena para a


tolerância cultural, verificou-se que o turismo promove a aproximação de comunidades
e representa um importante instrumento em prol da compreensão entre os povos
e da tolerância cultural. O Código Mundial de Ética do Turismo aponta que a
compreensão, a promoção dos valores étnicos e o respeito à diversidade religiosa,
filosófica e moral são fundamentos do turismo responsável, mas também representam
uma consequência da atividade (OMT, 2010). Contudo, a atividade pode contar com
aspectos negativos caso não seja devidamente planejada, principalmente por função
das diferenças culturais e do modo como os produtos turísticos são ofertados, muitas
vezes visando apenas o lucro e não o beneficio real para a comunidade.

Dentre os aspectos positivos apontados pelos entrevistados, em relação ao


turismo étnico indígena tem-se: “[...] permitir aos não indígenas compreenderem que
as culturas e as tradições se transformam, mas essa transformação não significa
perda de identidade [...]” (ENTREVISTADO G7), contribuindo assim para a quebra
do estereótipo que se criou quanto à figura do indígena brasileiro. Além disso, foram
destacados como aspectos positivos pelos respondentes o intercâmbio cultural; o
resgate, fortalecimento e divulgação cultural; a valorização da diversidade cultural;
a quebra de tabus; o desenvolvimento sustentável ambiental, econômico, social e
das relações humanas e valores culturais; ademais que o turismo pode servir para
desfazer a relação de desigualdade entre indígenas e não indígenas.

Entretanto, os aspectos negativos desta atividade também foram apontados, e


se evidenciam principalmente quando os projetos de turismo são mal elaborados, sem
um consistente estudo prévio, ocasionado assim “[...] choque de cultura, preconceito,
ênfase aos estereótipos e o dinheiro sendo um fator desestruturante na organização
social indígena” (ENTREVISTADO D4). Ademais, a falta de conscientização e
sensibilização do visitante quanto à cultura indígena foi apontada como um importante
fator negativo, bem como a interferência na cultura dos grupos indígenas, sendo que
tais fatores advêm de projetos mal estruturados.

Sendo assim, compreende-se que a atividade turística representa uma


oportunidade para os mais diversos povos no mundo, porém o turismo deve ser
planejado, caso contrário os aspectos negativos irão se sobressair, assim como
defendido por Neres e Bomfim (2008). Para o turismo envolvendo comunidades
indígenas essa realidade se acentua por conta da pouca interação entre indígenas
e não indígenas, desse modo, as atividades precisam ser planejadas e geridas
visando à sustentabilidade, ou seja, os benefícios econômicos para a comunidade, a
preservação e conservação dos recursos naturais e a proteção e fortalecimento dos
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aspectos sociais e culturais da comunidade receptora.

Quando questionados se a aproximação entre comunidades contribui para


com a tolerância cultural, percebeu-se que os entrevistados demonstraram possuir
ciência de que a aproximação pode contribuir nesses aspectos, mas é preciso que
haja preparação prévia, como anteriormente citado, e que a população não indígena
obtenha conhecimento acerca dos povos indígenas, uma vez que “[...] a obscuridade
sobre cultura indígena dos brasileiros é gritante o que é lamentável” (ENTREVISTADO
C3). Conforme a opinião de um dos entrevistados “[...] o índio já tem uma visão do
externo, mas os externos necessitam ser preparados para conhecer outras realidades
sem depreciá-las [...]” (ENTREVISTADO M13). Deste modo, faz-se necessário mostrar
a cultura indígena e apresentar a realidade dos indígenas no Brasil. Destaca-se a
seguir uma das falas mais longas e expressivas sobre esse aspecto:

[...] Costuma-se ainda apresentar ou imaginar os índios como povos antigos,


em processo de extinção, que viviam nus, da caça e da pesca numa floresta,
exuberante, à beira de um belo rio. Nada mais fantasioso e longe da
realidade dos povos indígenas reais do Brasil de hoje: eles estão em franca
recuperação demográfica na sua grande maioria (fora da extinção, portanto);
têm graves problemas de saúde, urgentes problemas de demarcação
territorial; de subsistência, pois não possuem mais, na sua maioria, caça
e pesca abundante para se manterem devido à devastação ambiental que
produzimos; de educação, pois suas escolas (necessidade do contato)
ainda possuem professores sem formação ou professores não indígenas,
e infraestrutura deficiente; tais problemas são resultados de uma ausência
de políticas públicas sociais eficazes. É destes povos “modernos” que
devemos falar na escola [...], mas também, falar da enorme riqueza presente
na diversidade cultural deles: suas literaturas, suas artes, suas festas e
cerimônias, suas línguas, seus modos de conceber o mundo diferente de
nós, etc. (ENTREVISTADO H8).

Porém, também houve posicionamentos distintos. Para um dos entrevistados


a “[...] exibição de índios para não índios não serve para desfazer a desigualdade e
estimular a tolerância cultural [...]” (ENTREVISTADO J10).

Quanto ao turismo como uma força a serviço da paz e compreensão entre os


povos (DIAS; AGUIAR, 2002; SANTANA TALAVERA, 2003; VAR; AP, 2001; BAHL,
2004), os entrevistados manifestaram possuir opiniões similares, apontando que o
turismo é uma importante ferramenta, no entanto ressalta-se a importância de um
trabalho articulado e “[...] integrado envolvendo a sociedade do local e entidades nas
áreas culturais produto e serviços” (ENTREVISTADO F6). Entretanto, também se
verificou existir a preocupação quanto ao turismo e até mesmo opiniões contrárias.
Um dos entrevistados citou que “[...] não são raros casos contrários quando há o
sentimento de perda da privacidade, autonomia e até mesmo de liberdade por
comunidades, destinos” (ENTREVISTADO B2).
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Desse modo, entende-se que o turismo é uma importante via para o


fortalecimento da compreensão entre os povos, contudo, antes de se desenvolver
a atividade turística, deve haver um processo de educação cultural, ou seja, tanto
indígenas quanto não indígenas devem entender que cada cultura é distinta e que
é preciso saber lidar com essas diferenças e, principalmente, os turistas devem
entender quem são os indígenas, quais são seus hábitos, tradições, modos de vida,
dentre outros aspectos. Ademais, é necessário que os turistas tenham consciência
que a cultura sofre constantes alterações, e assim também ocorre com os indígenas,
sendo necessário desvinculá-los da visão arcaica do “indígena de 1500”. Porém, essa
educação deve ocorrer para a sociedade no geral, não apenas para quem desejar
visitar uma comunidade indígena. É importante que a cultura dos povos seja valorizada
e exaltada, não como um produto a ser comercializado, mas como constituinte do
patrimônio mundial.

Em relação à valorização da cultura das etnias indígenas pode ocorrer por


meio da divulgação das mesmas através do turismo. Sobre esse entendimento os
entrevistados apontaram que o turismo pode contribuir, como, por exemplo, “na
divulgação da sua cultura, artesanato, danças, músicas, alimentação, vestuário,
habitação e educação tradicional, através de um turismo bem pensado e consciente”
(ENTREVISTADO L12). Contudo, salienta-se que é preciso articulação entre os atores
envolvidos e que, “[...] o turismo só poderá contribuir se os próprios índios estiverem
à frente dos projetos de turismo indígena, fazendo parte de um projeto maior de
autonomia” (ENTREVISTADO J10).

Nesse sentido, pôde ser constatado a partir das entrevistas, o turismo pode
contribuir para a divulgação da cultura indígena, desde que a atividade esteja
embasada em um projeto estruturado que tenha colaboração e envolvimento de vários
atores, não apenas do governo, mas também da iniciativa privada (colaborando com
a divulgação e promoção de roteiros turísticos, por exemplo), de organizações não
governamentais, de instituições de ensino e, principalmente, da comunidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diferentes estudiosos abordam a tolerância há séculos, entretanto os conflitos


entre as sociedades e culturas passaram a ser discutidos com bastante intensidade
após a década de 1940, com a criação de organismos internacionais destinados à
defesa das diversidades culturais e da paz mundial. A paz mundial pode ser alcançada
por meio da tolerância cultural, que, por sua vez, não representa somente a ausência
de conflitos, mas também o respeito e o apreço às distintas culturas existentes.

A tolerância debatida por Locke e Voltaire pode ser alcançada por meio do
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turismo, uma vez que, ao visitar um grupo étnico distinto do qual está inserido, um
indivíduo adquire conhecimento acerca da cultura do local que esteja visitando.
Ademais, a implantação do turismo pode atuar como agente fortalecedor cultural de
uma comunidade receptora, bem como de sua etnicidade. Entretanto, a atividade
turística deve ser planejada e desenvolvida conforme as pretensões e necessidades
das comunidades, visando à sustentabilidade, ou então as comunidades se tornam
vulneráveis às mudanças e ficam passíveis de descaracterização dos seus modos de
vida, tradições, costumes e da cultura como um todo.

Nesse sentido, um segmento turístico a se destacar é o do turismo étnico, no


qual a intenção da viagem a de conhecer e interagir com pessoas de outras culturas.
Inserido no turismo étnico está o turismo étnico indígena, o qual pode ser realizado
dentro ou fora das terras indígenas. O turismo envolvendo comunidades indígenas,
principalmente o realizado dentro das terras destinadas à moradia e à subsistência
desses povos, é um tema defendido por alguns profissionais e estudiosos e criticado
por outros, que ainda não chegaram a um consenso quanto à importância e benefícios
da atividade para os indígenas. Caso o turismo seja aceito, planejado e gerido com e
para as comunidades, pode se constituir em um fortalecedor da própria cultura, bem
como contribuir para a geração de renda da população local. Assim, este estudo se
faz importante ao discutir como é possível fortalecer a tolerância cultural por meio da
valorização destes povos, utilizando-se de atividades turísticas, uma vez que através
do turismo se pode contribuir com o etnodesenvolvimento e com o fortalecimento do
orgulho cultural indígena, bem como promover a cultura indígena paranaense frente
aos povos não indígenas.

Desse modo, com a presente pesquisa foi possível responder ao problema


formulado se “o turismo étnico indígena representa um meio de fortalecimento da
tolerância cultural?”, pois a partir dela se evidenciou que o turismo pode ser uma
ferramenta para a aproximação das comunidades e fortalecimento da tolerância
cultural. No entanto, é pertinente ressaltar a necessidade de um planejamento, através
de uma equipe multidisciplinar, onde os povos indígenas tenham participação, e mais,
que parta deles tal iniciativa. Visando à sustentabilidade é que o turismo poderá trazer
benefícios para as comunidades indígenas, caso contrário, poderá acarretar apenas
malefícios ao cotidiano, ao modo de vida e à cultura de um local.

Como propostas para estudos futuros têm-se as de inventariação do patrimônio


material e imaterial dos povos indígenas. Além de pesquisas sobre os impactos das
visitações em comunidades indígenas; sobre as políticas públicas de incentivo à
cultura indígena; sobre a percepção da sociedade não indígena brasileira, preconceito
e discriminação dos povos indígenas; bem como sobre a própria percepção dos
indígenas a esse respeito, sobre a percepção dos turistas nacionais e internacionais,
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Departamento de Turismo

dentre outras atinentes.

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AS FAZENDAS HISTÓRICAS EM BARRA DO PIRAÍ: PERCEPÇÕES SOBRE


PAPEL DO TURISMO NA VALORIZAÇÃO LOCAL

RESUMO: O turismo é um fenômeno que tem sido valorizado por muitas localidades
receptoras, devido principalmente aos aspectos econômicos ocasionados pelo
setor. Esse processo tem ocorrido na mesma proporção no município de Barra do
Piraí, localizado no Sul Fluminense do Rio de Janeiro, em uma região conhecida
turisticamente como Vale do Café. Dessa forma, o fator motivacional desse trabalho
é a pesquisa sobre o papel do turismo para valorização e resgate cultural, tal como
analisar se e de que forma o turismo tem influenciado no desenvolvimento do
município. O trabalho é parte de uma dissertação de mestrado cujo tema é o papel
do turismo rural para o desenvolvimento em Barra do Piraí, de forma que a pesquisa
baseia-se na análise do corpo teórico, entrevistas com agentes locais e regionais e
questionários com 21 turistas. Observou-se que o turismo apesar de ser uma atividade
em expansão, ainda não influencia no desenvolvimento do local, é necessário discutir
o tema regionalmente, inserindo as comunidades locais no processo. Todavia, com o
incremento do setor, percebe-se que o turismo ajudou no resgate cultural do local e na
valorização e autoestima por parte dos moradores locais.
PALAVRAS-CHAVE: turismo histórico-cultural. Casarões. Ciclo do Café. Fazendas
históricas.

ABSTRACT / RESUMEN: Tourism is a phenomenon that has been valued by many


receptor locations, mainly due to economic factors caused by the sector. This process
has occurred in the same proportion in Barra do Pirai, located in South Fluminense of
Rio de Janeiro, in a region known as Vale do Café. Thus, the motivational factor of this
work is the research on the role of cultural tourism for recovery and rescue as examine
whether and how tourism has influenced the development of the municipality. The work
is part of a dissertation whose topic is the role of rural tourism development in Barra
do Pirai, so that the research is based on analysis of the theoretical, interviews with
local and regional stakeholders and questionnaires with 21 tourists. It was noted that
tourism despite being an activity expanding, not influence the development of the site,
you need to discuss the issue regionally, entering local communities in the process.
However, with the growth of the sector, it is perceived that tourism helped the local
cultural revival and appreciation and esteem by the locals.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: historical and cultural tourism. Mansions. Cycle


café. Historical farms.

INTRODUÇÃO

O turismo, fenômeno que tem seu desenvolvimento no mundo moderno marcado


a partir de meados do sec. XIX é uma atividade que tem crescido significativamente
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nas últimas décadas por conta das grandes inovações tecnológicas, principalmente
das que se referem aos meios de transportes; do sistema de comercialização e
distribuição de produtos e serviços turísticos; do acesso a uma maior camada social
às viagens, com destaque à classe média; e da garantia do tempo livre (REJOWSKI;
SOLHA, 2005).
Nesta perspectiva, o turismo passa a ser intensamente valorizado, visto
como uma atividade lucrativa, pois está diretamente ligada a busca da sociedade
atual pelo lazer e pela fuga do cotidiano. Esta é uma das razões pelas quais muitas
localidades, antes inexploradas, passam a possuir um ‘valor’, a desenvolver uma
atividade econômica no seu território devido à existência de um potencial turístico que
possibilite a prática da atividade. Outras razões que podem ser consideráveis para
explicar aumento da atividade foram: o aumento do crédito e do financiamento, ou
seja, hoje as viagens são mais acessíveis, deixando de ser muitas vezes, sinônimo de
status social; a incorporação da classe média no consumo, dentre outros.
Um dos principais aspectos positivos do turismo é a capacidade de gerar
emprego e renda, o efeito multiplicador, dentre outras perspectivas econômicas, das
quais tem influenciado o incremento do turismo em posições estratégicas na economia
de vários países. Nesta vereda, o turismo tem sido visto como ‘salvador da pátria’
para o crescimento e desenvolvimento de algumas localidades. Contudo, se, de um
lado, o turismo gera riqueza, de outro, pode desencadear processos inflacionário,
principalmente na escala local, dentre outras práticas negativas (CRUZ, 2006). Já em
relação à justiça social e a distribuição da riqueza, Cruz (2006) salienta ainda, que a
distribuição espacial da riqueza é diferente da distribuição estrutural da riqueza. Assim
muitos lugares pobres, que desenvolveram o turismo, não tiveram a sua população
local detentora de melhores condições de vida e renda.
Para Barreto (2007) o turismo é um fenômeno social que influencia o mundo
inteiro, do ponto de vista geográfico e relação ás camadas sociais. Neste sentido, do
ponto de vista geográfico, o turismo abrange o mundo inteiro, pois devido a fatores
tais como a internacionalização econômica, evolução dos transportes e dos meios de
comunicação, são poucos os lugares que não recebem alguma segmentação turística.
Já em relação às camadas sociais, todos tem alguma potencialidade de tornar-se
turista no futuro, e ainda, aqueles que não praticam o fenômeno são influenciados por
ele de alguma forma.
Sobre o fato que o turismo somente ocasiona benefícios para as localidades
receptoras, devido ao impacto econômico gerado pelo setor, Barreto (2007) sintetiza
que em 1979, o sociólogo holandês Emanuel de Kadt apontou alguns problemas que
foram gerados pelo turismo nas culturas receptoras no começo da década de 60 até
meados dos anos 70, de forma que chegou a conclusão que o turismo traz mais
efeitos adversos na cultura e na sociedade do que benefícios para o desenvolvimento.
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Na época o sociólogo contratou diversos especialistas para verificar se os projetos


de turismo estavam cumprindo seu objetivo de melhorar as condições de vida das
populações receptoras mais necessitadas, no terceiro mundo. Como conclusão
desse seminário promovido pela UNESCO e o Banco Mundial em Washington
(1976), observou-se que poucos estudos apresentavam bons resultados e a maioria
demonstrava que por falta de políticas nacionais adequadas, o dinheiro ocasionado
pelo turismo não estava ajudando na melhoria de vida dessas populações e sim
somente para o empreendimentos turísticos. Dessa forma, anos após esse comentário
é possível afirmar que políticas públicas do setor ainda não são suficientes para inserir
os mais necessitados nesse processo, acarretando benéficos para poucos.
O Vale do Café, como é denominado turisticamente através do Programa
de Regionalização do Turismo (PRT- ROTEIROS DO BRASIL), localiza-se no Sul
Fluminense do estado do Rio de Janeiro e é composto pelos municípios: Barra
do Piraí, Barra Mansa, Engenheiro Paulo de Frontim, Mendes, Miguel Pereira,
Paracambi, Paty dos Alferes, Pinheiral, Piraí, Rio das Flores, Valença, Vassouras e
Volta Redonda. A região ficou conhecida e foi denominada desta forma, devido ao
ciclo econômico do Café que ocorreu no Vale Paraíba no século XIX (o apogeu da
economia cafeeira foi entre 1835 e1875). Foi devido a este legado cultural que surgiu
uma das grandes potencialidades turísticas na região: o turismo histórico associado
ao turismo em espaço rural. Os patrimônios históricos podem ser considerados os
principais potenciais turísticos da região, caracterizado através de fazendas históricas,
museus, centros históricos, entre outros.
Barra do Piraí localiza no centro Sul Fluminense em uma distância de
aproximadamente 100 km da cidade do Rio de Janeiro e possui uma área de 582, 1
KM². As principais atividades econômicas são: a agricultura, as indústria, pecuária e
comércio. Ou seja, apesar do potencial, o turismo ainda não é considerado um das
principais atividades econômicas. O município possui 04 casarões da época do café
que estão abertos para visitação, de forma que 02 são utilizados também como meio
de hospedagem.
O turismo cultural por ter um público específico, avesso aos modismos das
grandes massas pode contribuir bastante para o desenvolvimento de certa localidade.
Ajuda no fortalecimento, valorização e preservação da cultura, Entretanto, muitas
vezes isso não ocorre, devido a “industrialização” da cultura, para somente atrair
turistas, não havendo resgate ou verdadeiro valor cultural, descaracterizando a cultura
que deve ser espontânea.
Neste sentido, diante da afirmação que quando planejado e incluída a comunidade
local neste processo, o turismo cultural pode contribuir para o desenvolvimento
sustentável das localidades receptoras, o presente trabalho tem como objetivo
entender de que forma o turismo tem colaborado para valorização e autoestima da
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população barrense, já que muitos moradores nem ao menos conheciam a história e o


patrimônio local, e com o incremento do turismo tem despertado para o conhecimento
da história da região e dos seus antepassados, aumentando o orgulho e a autoestima
em ser um cidadão barrense. Para isso serão analisados perspectivas tais como:
influência do turismo e turismo como fonte de renda.
Salienta-se que este trabalho é parte oriunda de uma pesquisa de mestrado
cujo nome é “Desvendando o turismo em Barra do Piraí: um estudo sobre o turismo
rural e sua relação com o desenvolvimento local”. Logo, através da analise de discurso
de entrevistas de importantes agentes locais cujo estão relacionados com o turismo
(proprietários e funcionários de fazendas históricas, Conselho Regional de Turismo,
associações comerciais e diretora de um museu). A pesquisa é justificada em vista dos
poucos trabalhos científicos sobre o local, especialmente sobre turismo e comunidade.
Salienta-se ainda, que o foco deste trabalho é no espaço rural do município, onde
estão localizados grande parte dos meios de hospedagem e fazendas históricas do
município (importantes estabelecimentos para o incremento do turismo no local).

TURISMO E CULTURA
Para o Ministério do Turismo (2010) a cultura pode ser definida como todas as
formas de expressão do homem: o agir, o fazer, o pensar, como também a relação
entre os seres humanos e a relação destes com o ambiente.

Freire e Pereira (2002) apontam que em meio ao crescimento do turismo,


da sua influência na economia das localidades receptoras e diante de todas as
segmentações turísticas, o turismo cultural pode ser considerado um dos segmentos
mais comprometidos com o fortalecimento da identidade, a preservação da memória
e do patrimônio cultural em localidades receptoras. Dessa forma, para os mesmos
autores (2002, p. 128):
(...) juntamente com os impactos positivos do turismo na economia local-
gerando recursos e criando novas oportunidades de negócios, trabalho
e renda-, há sempre os riscos de danos à natureza e à identidade local,
trazidos pelos empreendimentos do setor, que alcançam lugares os mais
distantes, onde geralmente a vida é muito simples e onde pequenas
comunidades, organizadas em torno de práticas culturais muito antigas, se
veem bruscamente alteradas pela chegada de forasteiros e seus estranhos
costumes. O turista cultural, entretanto, chega pedindo licença, e assim pode
visitar a história não só conhecendo as evidencias materiais do passado,
presentes em sítios, monumentos e objetos consagrados como patrimônio,
mas também escutando ou lendo relatos e lembranças dos que vivenciaram
e fizeram a história do lugar.

Para Goodey (2002, p. 135) o turismo cultural


(...) pressupõe um público educado e informado, que compartilhe com
órgãos de patrimônio uma definição sobre o que constitui lugares, eventos
e coleções corretas. Por outro lado, o turismo cultural deve ser visto
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pelos órgãos de preservação como um meio de arrecadar recursos para


a manutenção de lugares e manifestações, bem como instrumento de
informação ao público visitante.

Em relação ao turismo e as culturas, de acordo com o Ministério do Turismo


(2010), o turismo cultural deve valorizar e promover as culturas locais, preservar o
patrimônio histórico e cultural local ou regional, além de oportunizar negócios no
setor, respeitando os valores, os símbolos, os significados dons bens materiais e
imaterias para as comunidades receptoras. Como aspectos negativos, por mais que
seja contraditório, o turismo cultural muitas vezes “interfere na perda de identidade
diante do global, a deteorização de alguns lugares devido ao excesso de visitantes,
a comercialização da cultura e desrespeito ao direito da propriedade intelectual”.
(BARRETO, 2007, p. 41)
Neste âmbito, o turismo cultural pode valorizar e resgatar uma cultura e
consequentemente aumentar a autoestima de um povo. No caso de Barra do Piraí,
como será abordado a seguir, alguns proprietários das fazendas históricas da época
do Ciclo do Café, decidiram resgatar a historia dos casarões e do local, de forma
que muitos do envolvidos se capacitaram em história para o guiamento, além de
toda a pesquisa documental, busca de objetos, dentre outros objetos importantes.
Um grande exemplo, é que atualmente uma fazenda histórica, que também é um
meio de hospedagem, faz o guiamento dos visitantes através de representações (o
barão e a baronesa ) e no final há um teatro sobre como era a vida familiar daquela
época. Destaca-se que a funcionária que faz a escrava, antes do turismo trabalhava já
na propriedade, com a implantação do turismo, pesquisou sobre seus antepassados
e descobriu que os mesmos eram escravos daquela fazenda. Ou seja, hoje ela
representa a história da própria fazenda e fez resgatar laços importantes sobre a vida
da sua família. Todavia é preciso observar até que ponto o turismo pode chegar para
não ser meramente um espetáculo teatral.

Turismo em Barra do Piraí


O turismo no Vale do Café pode ser caracterizado principalmente como
consequência da evolução histórica que a região sofreu como apogeu e o declínio
do Ciclo do Café, que por muitos anos influenciou a economia do país. Ou seja, a
vivência das famílias tradicionais da época, a questão da escravidão, é apresentada
através da visita às fazendas históricas, museus e praças da região. Já, o turismo em
espaço rural pode ser caracterizado através dos hotéis fazenda, estabelecimentos de
lazer, e visita aos patrimônios culturais.
Segundo Lucas (2001, p. 257)
A região do Vale do Rio Paraíba do Sul foi cenário privilegiado deste ciclo,
que promoveu a riqueza do país através da derrubada maciça da Mata
Atlântica. A implantação da lavoura cafeeira deixou como legado histórico
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o patrimônio arquitetônico dos solares imperiais e a pecuária extensiva,


ocupando de modo decadente a região já desgastada pela monocultura.
A profunda crise conjuntural em que mergulhou o Vale estendeu-se até
recentemente, não obstante os surtos de industrialização que eclodiram na
região, a partir das primeiras décadas do século atual.

Logo, pode-se constatar que o turismo histórico em Barra do Piraí se formou


através principalmente da abertura dos casarões construídos na época do ciclo do
café para visitas guiadas, hospedagem e culinária. Para muitos donos de fazenda
o turismo pode ser visto como uma forma de arrecadar renda para manutenção do
patrimônio ou para aumentar a autoestima dos moradores locais, além de informar e
conscientizar sobre fatos importantes da história do Brasil.
Segundo relatório sobre o turismo no Vale do Café elaborado pela PRESERVALE
(Instituto de Preservação e Desenvolvimento do Vale do Paraíba, 2010) o turismo se
fortaleceu na região devido às ações individuais de investimentos na recuperação
do patrimônio material, na sua equipagem, manutenção e modernização. Todavia,
inicialmente esse processo não era para o turismo propriamente. Neste momento,
muitos casarões desvalorizados eram comprados. Assim, neste cenário emerge a
vontade e decisões para implantação e fortalecimento para o investimento no turismo
histórico. Segundo uma funcionária da Pousada com casarão histórico (nomes fictícios)
o turismo na região tem grande importância devido a
(...) um contexto histórico riquíssimo e que demorou muito para ser resgatado. A Evelin1 foi a pessoa,
que a agente pode falar que foi a mola propulsora, ela que começou a induzir a todos os outros amigos,
que eram também fazendeiros, tinham fazendas históricas, eram herdeiros dessas fazendas, mas
não necessariamente tinham dinheiro para manter. Ela que começou a colocar na cabeça dessas
pessoas que elas precisavam abrir essas fazendas, que geralmente eram fechadas para a família,
para visitação. Porque todas tinham um contexto histórico interessante, personalidades importantes
que na época passaram pelas fazendas. Então a gente pode dizer que o boom do turismo histórico-
cultural nessa região, na verdade, têm uns treze anos e começou com ela, fundando a PRESERVALE,
junto com um grupo de amigos, que, inclusive a Sonia Mattos. Foi ela, Sônia e mais. E ai começou
todo essa questão de resgate histórico, vamos fazer essa pesquisa então. Documentação a galera
tinha nas fazendas. A historia viva através do moveis, da arquitetura. Então vamos tentar resgatar,
organizar bem. E é isso que o PRESERVALE também fazia, meio que dava esse apoio técnico e eram
os próprios fazendeiros que tinham interesse forte por historia, como Paulo (...). E o Roberto, assim que
ela faleceu, ele deu continuidade ao projeto dela. E aí a gente foi pesquisando mais, organizando mais,
o projeto pedagógico foi se aprofundando mais. (Funcionária pousada com casarão histórico)

Para Lucas (2001, p. 257)

(...) nos anos setenta e oitenta esboçou-se a retomada da vocação regional,


através do interesse pelas antigas Fazendas do Café, que foram, em grande
parte, salvas da ruína por novos proprietários dedicados à recuperação destes
patrimônios. Motivados pela perspectiva do investimento em um novo alento
para a economia rural da região, diversas foram as fazendas restauradas por
particulares que, nesta tarefa, conseguiram resgatar a memória aristocrática
do Vale. Estes investimentos, contudo, não lograram atingir a revitalização
econômica das atividades agropecuárias, anteriormente predominantes na
1 Evelyn Pascoli foi herdeira de Nellie Pascoli que comprou a fazenda histórica em 1960. A
herdeira segundo os atuais administradores da pousada, resgatou a historia da fazenda e da região
através do desenvolvimento do turismo histórico cultural.
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região do Médio Paraíba e muitas destas Fazendas, mais uma vez, viram-se
estagnadas e sem opções de utilização sustentável.

O relatório ainda cita como foi a evolução turística da região do Vale Paraíba,
de forma que a partir de 1950 muitas fazendas a beira da ruína foram compradas
por motivações diversas, entre elas a busca de muitas famílias em resgatar a
memória aristocrática da região e dos seus antepassados ou somente a busca de
uma residência de veraneio para lazer, ou ainda para investimentos na agropecuária.
Na década de 70 e 80, muitas fazendas históricas passam para outros proprietários,
umas para investimentos em agropecuária e outras como forma de residência,
necessitando de grande manutenção e reparo, o que marcou os anos 80 (montagem
de residência, manutenção da infraestrutura de produção, equipamentos de energia).
Assim, a década de 80, foi marcada por um período de manutenção nas fazendas
históricas, investimento em paisagismo, aquisição de gado de leite e corte, criação de
cavalo e implantação de empreendimentos rurais. Neste período também, devido a
certo grau de amizade entre os proprietários das fazendas, dentre outros fazendeiros,
os mesmos deram inicio a o trabalho de acolhimento de visitantes para conhecer a
historia do Ciclo, devido à importância do legado patrimonial da região.
Já na década de 90, influenciados pela questão ambiental, os proprietários
decidiram apostar em uma proposta de desenvolvimento sustentável da região, através
da preservação dos patrimônios culturais e ecológicos com foco no turismo. A partir
dos anos 2000, houve uma grande divulgação da região, devido principalmente às
comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil. Depois de 2001, devido às
crises das viagens internacionais, houve um estímulo ao turismo interno, favorecendo
o crescimento da região como um importante destino turístico.
Neste sentido, para dar inicio a essa empreitada, muitos proprietários e
administradores iniciaram minuciosa pesquisa sobre a historia desses casarões e
da região, de forma que alguns administradores tiveram que realizar até graduação
em história par entender melhor sobre o assunto. Ou seja, a partir daí iniciou-se um
verdadeiro resgate cultural por parte dos envolvidos. O resgate da memória é de suma
importância para a formação de identidade de um determinado povo (BATISTA, 2005).
Para Batista (2005) filosoficamente, memória significa a capacidade de se reter
um dado de experiência ou algum conhecimento e trazê-lo a mente novamente. Para
ciência a memória é de enorme importância, já que a produção do conhecimento é
originada a partir de memórias passadas que são examinadas no presente.
Por outro lado, a memória histórica ajuda na identificação humana, que é a
marca ou sinal de sua cultura. De forma que é através da memória histórica que é
definida a identidade de cada grupo (BATISTA, 2005). Para Santos (2004), a memória
não pode ser entendida como apenas um ato de busca de informações do passado,
tendo em vista a reconstituição do passado. Ela deve ser entendida, como um processo
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dinâmico da própria rememorização, o que estará ligado à questão de identidade.


Assim, a memória é essencial para a identidade cultural e contribuição na
formação da cidadania (BATISTA, 2005) no momento em que contribui para que um
determinado grupo busque maiores informações sobre seu passado, contribuindo
também no resgate cultural desse grupo. Ou seja, através da memória desse
importante período para as famílias barrenses pode ter contribuído para formação de
uma identidade local e a valorização e autoestima por parte dos envolvidos.
Sobre identidade e turismo observa-se ainda que para Batista (2005) identidade
pode ser entendida como aspectos peculiares de um determinado povo como todas as
suas crenças, experiências e ritos comuns. E é através dessa memória e identidade
cultural que surge o turismo cultural, que tem como um dos objetivos preservar a
cultura local através da inserção do patrimônio cultural como atrativo turístico.
Neste cenário, o turismo no município é marcado principalmente pela visita
guiada nos casarões históricos, praças e centros históricos vizinhos, como Vassouras.
Assim, o turista interage com a história do ciclo através da apresentação realizada
geralmente pelos próprios proprietários das propriedades, onde são representados
hábitos da época, roupas, histórias das famílias e sua relação com os escravos,
características arquitetônicas, entre outros. È importante observar ainda, que muitas
vezes a visita guiada é marcada por um grande envolvimento do turista com a história,
devido aos guias interpretarem personagens da época, através do uso de vestimentas
da época e encenação de personagens como o barão e a baronesa no roteiro. Além,
do oferecimento de refeições típicas, como os chás com alimentos da época ou o
restaurante ser localizado em importantes locais da propriedade, como a senzala.
Segundo o Ministério do Turismo (2010, p. 16),
a criação de produtos tematizados, utilizando técnicas de interpretação e
interação, que ressaltem a história do lugar e de seus personagens, para
apresentar o patrimônio tangível e intangível do ambiente visitado, é uma
forma de ampliar o conhecimento, possibilitar a fruição e emocionar o visitante
.

E ainda, Para o Ministério do Turismo (2010, p. 62)

o principal atrativo a ser conhecido, observado e vivenciado, são os hábitos


e práticas seculares desses grupos sociais. È conhecimento tradicional que
deve ser sistematizado e organizado para a informação ao visitante. A atividade
turística, para ser sustentável, deve envolver direta e indiretamente, todos
os moradores, ser inclusiva e geradora de renda. As melhores experiências
estimulam as famílias a receber visitantes organizados em grupos, a preparar
as refeições utilizando a produção agrícola em base familiar, a desenvolver
atividades artesanais, as atividades de interpretação e guiamento devem
incluir um representante da comunidade.

È importante observar que o lazer apesar de muito importante para o turismo


histórico, não pode ser considerado o único objetivo, já que para que uma localidade
detenha das consequências positivas dessa segmentação, é necessário integrar
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com a comunidade, além de fazer do patrimônio uma atração educativa que atraia
visitantes em busca de observação e compreensão do mesmo, afim que este não seja
tão mercantilizado de forma que não contemple os objetivos reais do turismo cultural
(GOODEY, 2002).
Sobre a necessidade do controle local no planejamento e ação dessa
segmentação turística Swarbrooke (2000) afirma que quando a comunidade local e
o governo tem pouca influencia no processo do desenvolvimento do turismo cultural,
o processo está em desacordo com os ideais do “turismo sustentável”. Ou seja, é
um grande contraste relacionado ao legado cultural, além de não trazer grandes
benefícios para as localidades receptoras quando o turismo cultural é controlado por
profissionais de fora e não nativos.

Discussão
A pesquisa baseou-se na revisão bibliográfica: consulta de livros e materiais,
como documentos relacionados ao tema; análise de dados estatísticos sobre o
município. Além da pesquisa de campo, cujo foi estruturada através de entrevistas
com agentes envolvidos com o turismo, como proprietários, administradores e
funcionários de fazendas históricas e alguns meio de hospedagem no município,
associação e sindicato do comércio de Barra do Piraí e Vassouras, presidente do
Conselho Regional de Turismo do Ciclo do Vale do Café (CONCICLO), sindicato rural
de Barra do Piraí e diretora do Museu em Vassouras, Casa de Hera. Foram aplicados
também 21 questionários com turistas que visitavam o local. A análise da pesquisa
foi estruturada em alguns indicadores e aspectos qualitativos, entre eles: o mercado
de trabalho, onde foram analisados dados sobre número de empregos oferecidos
pelos empreendimentos, renda média dos funcionários, sazonalidade, a capacitação
dos funcionários desses empreendimentos e a questão dos “free lancers”; o grau de
produção interna para uso turístico; a conectividade entre agentes turísticos locais,
já que essa interação pode ajudar muito um desenvolvimento da atividade de um
local; a relação do setor público e privado; o turismo como fonte de renda para esses
empreendimentos turísticos e a influência destes no desenvolvimento do município.
Por fim, essas questões foram mescladas com dados econômicos e estatísticos do
município.
Neste trabalho serão abordadas questões relativas ao turismo como fonte de
renda para os proprietários das fazendas históricas e qual é a relação do incremento
do turismo local com a valorização da identidade local e regional, tal como a relação
com a comunidade local e sua autoestima.
Segundo o Ministério do Turismo (2014) o turismo cultural é aquele que
compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos
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significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e


promovendo os bens materiais e imateriais da cultura.
Já o patrimônio histórico e cultural são considerados bens de natureza material
e imaterial que expressam ou revelam a memória e a identidade das populações
e comunidades. São bens culturais de valor histórico, artístico, científico, simbólico,
passíveis de se tornarem atrações turísticas: arquivos, edificações, conjuntos
urbanísticos, sítios arqueológicos, ruínas, museus e outros espaços destinados à
apresentação ou contemplação de bens materiais e imateriais, manifestações como
música, gastronomia, artes visuais e cênicas, festas e celebrações. Os eventos
culturais englobam as manifestações temporárias, enquadradas ou não na definição
de patrimônio, incluindo-se nessa categoria os eventos gastronômicos, religiosos,
musicais, de dança, de teatro, de cinema, exposições de arte, de artesanato e outros
(MINISTÉRIO DO TURISMO, 2014).
Neste sentido, no caso de Barra do Piraí, o turismo cultural pode ser caracterizado
através de bens materiais2 moveis (roupas de época, movéis, documentos e utensílios)
e propriamente os casarões (bens materiais imóveis). Observa-se ainda, o patrimônio
imaterial, através de danças típicas originárias do período da escravidão, como o
jongo. Para a instituição (2014) configura-se patrimônio imaterial o uso, expressões,
conhecimentos e as técnicas, além de instrumentos, artefatos, objetos, e lugares
que estão associados à comunidades, onde os mesmos os reconheçam como parte
integrante do seu patrimônio histórico. Ressalta-se que por razões éticas optou-se
para nomear os estabelecimentos privados com nome fantasia.

Turismo como fonte de renda

Apesar do turismo não ser uma das principais atividades econômicas do


município, o setor tem um importante papel para os estabelecimentos turísticos. Para
alguns proprietários de fazendas históricas, o turismo ajuda muito na manutenção do
casarão, cujo valor é alto, apresentando papel fundamental no rendimento dessas
famílias:
E o que o turismo vem fazendo aqui, principalmente com a gente é ajudar a manter não só esse
patrimônio, mas como a fazenda como todo. O turismo vem crescendo, vem crescendo a cada ano.
Então eu acho que esse é o grande objetivo nosso: desenvolver o turismo na fazenda, preservar o
patrimônio, o acervo, o casarão é um dos acervos mais importantes da região e principalmente ajudar
na receita da fazenda como um todo, porque a fazenda não se resume só no casarão e no turismo. A
fazenda tem a parte de criação, nos somos produtores, então criamos frangos também. Então é isso,
tá indo bem, mas poderia estar indo melhor. (Proprietário Fazenda histórica B)

De acordo com a percepção da Fazenda Histórica A:


O turismo foi uma coisa que veio para ajudar a gente, principalmente na manutenção do casarão, não
2 De acordo com o Ministério do Turismo (2010) patrimônio material é constituído de bens
culturais moveis e imóveis. Os moveis são os bens que podem ser transportados, tais como, coleções
arqueológicas, acervos museológicos e documentais, dente outros. Já os imóveis são todos os bens
estáticos, como prédios, cidades e etc
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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é? Porque toda a renda que a gente tem, a gente reverte na manutenção do casarão que é muito difícil
e cara. A gente não recebe nenhuma ajuda, então tudo isso é feito por nós. (...). Então, aqui nos fizemos
isto. Revertemos toda a renda do turismo para conservação e manutenção das instalações da fazenda.

Sobre a valorização e resgate da identidade local, a proprietária ainda afirma:

Eu acho que o turismo veio resgatar, o turismo histórico das fazendas, veio resgatar toda essa historia
da nossa região que esta meio adormecida. Então ninguém conhecia, até os próprios moradores. Hoje
a gente recebe as escolas, os professores. E com isso a gente faz o resgate da nossa historia. Essa
região viveu a historia do café, então eu acho que esta sendo muito bom (Fazenda Histórica A).

Logo para a entrevistada, o turismo incentivou o resgate cultural e o maior


contato com a população local. Já o proprietário da fazenda histórica B, aponta que o
turismo tem um importante papel na manutenção do casarão:
E o que o turismo vem fazendo aqui, principalmente com a gente é ajudar a manter não só esse
patrimônio mas como a fazenda como todo. O turismo vem crescendo, vem crescendo a cada ano.
Então eu acho que esse é o grande objetivo nosso: desenvolver o turismo na fazenda, preservar o
patrimônio, o acervo, o casarão (...).

Para o mesmo, o turismo contribui da seguinte forma:

È 50% aqui. A gente pode dizer é 50% para a criação de frangos e outras coisinhas que a gente tem de
alugueis, alguns imóveis, mas pouca coisa. E 50% para o turismo segurar. Então quando eu comecei a
administrar aqui eu já tive logo essa visão de que “sabe” uma coisa tem que ajudar a outra (...).

Sobre o papel do resgate cultural do turismo, o mesmo afirma ainda:

O turismo tem esse compromisso, principal compromisso. O povo começar a conhecer a historia para
ele poder começar a criar essa identidade, (...) (Fazenda Histórica B).

O administrador da pousada com casarão histórico salienta que o turismo


ajuda na manutenção do casarão histórico, mas muitas das vezes não chega ter lucro.
Até devido ao efeito da sazonalidade, de forma que muitos dos atrativos recebem
visitantes somente nos finais de semana, o que não é bom para os envolvidos. O
mesmo explica essa questão do lucro com o funcionamento principalmente nos finais
de semana:
Ele mantém. Ele não te dar lucro, mas ele te dá uma condição de você manter o patrimônio. Às vezes
aperta, é sazonal, então tem período que você tem muito movimento e período que você não tem nada.

Dessa forma, o turismo é de fundamental importância na fonte de renda dos


empreendimentos turísticos de Barra do Piraí, principalmente na manutenção dos
casarões históricos, cujo custo é bastante alto. Assim, muitas das vezes o turismo
complementa a renda junto com atividades agropecuárias nas áreas rurais. Apesar
do não ser ruim, o fluxo turístico ainda não é adequado, principalmente pelo fato
da maioria dos empreendimentos, principalmente os meios de hospedagem, não
receberem hóspedes de segunda a quinta. Ou seja, é necessária a elaboração de
formas para manter continuo o fluxo de turistas a semana toda, tal como a contratação
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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e capacitação de funcionários para esse processo.


Outro ponto de vista bem interessante é o entendimento do turista ou visitante do
local da influência que o turismo exerce no local onde está ocorrendo. Principalmente
devido o perfil diferencial do turista, que muitas vezes preocupa-se em descobrir e
interagir com o ambiente natural e social do local visitado. Dessa forma, foi analisado
também sobre égide desses 21 turistas qual é opinião deles sobre a influência que
o turismo, em especial o empreendimento turístico visitado exerce no local. Dos 21
entrevistados, 19 acreditam que o empreendimento causa algum impacto econômico
ou influência no desenvolvimento do local e apenas 02 acreditam que não. Dentre
os que responderam que sim, 01 acredita que o turismo traz pessoas de todos
os locais para a região; 09 acreditam que o turismo traz recursos econômicos; 01
salienta que tudo ainda não é o suficiente, ainda precisa crescer mais; 05 afirmam
que a atividade ajuda na preservação do ambiente e da história do Vale do Café; 01
salienta que a influencia é positiva; 01 acredita que com o crescimento do turismo, tem
mais oportunidade de mão de obra; 01 acredita que o turismo impacta no comércio;
enquanto 01 acredita que o setor ajuda no aumento do investimento em infraestrutura
e apenas 01 afirma que o turismo influencia, pois aquilo é parte do Brasil e necessita.
Por outro lado, um aspecto negativo citado pelos empresários locais é que os
turistas geralmente se hospedam em meio de hospedagem que possuem o sistema all
incluse, ou seja, os mesmos não usufruem os serviços no município (como o comércio,
por exemplo) e quando sim, como restaurante e visitação às fazendas histórica, tudo
é programado em roteiros. Segundo a presidente da CONCICLO (Conselho Regional
do Ciclo do Vale da Café):

(...) São poucos os hotéis tipo resort que trabalha com sistema de all inclusive, que é um bom sistema,
também valorizado, uma coisa nova. Mas que busca o turismo de uma cidade, uma região como a nossa,
uma região interiorana, ele também curti ficar numa praça, ficar andando por aí tranquilamente. Ele curte
isso. Esses hotéis na realidade, eles interagem muito pouco com a cidade, com o desenvolvimento da
região. È um desenvolvimento localizado interno entende, porque ele não permite que o turista, ele,
vamos dizer assim, distribua, a renda dele. Então o interessante, que o turista, por exemplo, vindo de
carro, ele vai abastecer aqui. Ele vai comprar o artesanato. Ele compra um produto de fazenda, uma
linguiça, um queijo, produtos típicos da nossa região. Ou seja, ele vem e ele tem uma renda, que ele vai
gastar um valor per capta, que ele vai deixar na cidade. Ele vai abastecer o carro dele, ele vai comprar
um docinho, ele vai visitar uma fazenda. Ele vai visitar um museu. Então ele vai ter um gasto fracionado
na cidade e na região. Ao contrario, quando é um caso de um turistas de um resort que as vezes nem
passa pela cidade. Ele vai direto da casa dele para o resort, do resort para casa. Então ele não passa
pela região. Então esse turista não agrega tanto valor ao desenvolvimento do local, da cidade. (Ana
Lúcia, Presidente Conselho Regional de Turismo do Vale do Café Fluminense)

Por fim, dentro desta perspectiva, os eventos são importantes para fomento
do turismo local e fonte de renda para os envolvidos, já que quando planejado
adequadamente, divulga o local e aumenta o fluxo turístico. Sobre o assunto, o
proprietário da fazenda histórica B acredita que há uma grande controvérsia na relação
de turismo, evento e cultura local, por parte da política pública:
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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Ai quando ele entra lá, o que quê pensa, eu já passei experiência com gente fazendo isso. Ele acha
que turismo é fazer eventos, acha que é mais fácil pensar assim. Ai o cara começa a fazer festinha
na praça, começa trazer show do não sei o quê e vai fazendo só isso. Que é muito mais pratico e um
caminho curto. Porque você trazer shows, não é. Todo mundo gosta (...). È isso, acontece. Não, ai teve
uma exposição ai, eles estão tentando resgatar esse lado, mas é difícil. Porque já está inserido isso na
cultura de exposição, são shows, festas e bebedeiras. Sabe, é festa do peão. È por aí. (Proprietário
Fazenda Histórica B)

Todavia, alguns entrevistados citam também o evento “Festival do Café” como


um evento cultural marcante para o incremento do turismo no local, e outros afirmam
que o evento não apresenta a cultura de Barra do Piraí. Segundo o Ministério do
Turismo (2010, p. 17) os eventos culturais quando promovem aspectos singulares
e são estruturados adequadamente, têm o papel importante na promoção e na
consolidação da imagem de um destino cultural; sendo excelentes instrumentos para
reduzir os efeitos da sazonalidade. Para o proprietário da fazenda histórica B o festival
cumpre esse papel:
O que ajuda é o Festival Vale do Café. Esse sim é o mais importante festival. (...) Porque é o seguinte,
o festival é um concerto, então quando tem aqui na fazenda o concerto aqui. E aí eu ofereço uma
visitação. Aí eles pagam o concerto e já fazem a visitação. Ainda tem esse pensamento assim, sabe.
Mas a resposta, desse marketing vem depois. Não é uma coisa imediata. Porque quando dá o festival,
tem muita divulgação em jornal, no Globo. Ah, tem essa questão, quando sai no Globo, no outro dia tem
procura. (Proprietário Fazenda Histórica B)

Influência do turismo
O turismo tem influenciado bastante na inserção de trabalhadores no mercado
de trabalho, devido a sua característica de atrair grandes demandas e ao efeito
multiplicador, podendo gerar empregos diretos e indiretos. Esse fenômeno tem
acontecido em alguns empreendimentos turísticos do local, onde muitos jovens veêm
no turismo uma forma de inserção no mercado de trabalho e aprendizado.
Em relação ao número de empregos, observou-se na pesquisa que os hotéis
fazenda buscam jovens da região e estes veem no turismo uma forma de aprendizado.
Não se preocupando em trabalhar finais de semana ou feriados. Segundo a
recepcionista do hotel fazenda B, trabalhar com o turismo:
Foi muito bom, para mim tem sido muito bom, porque você conhece outras pessoas e conversa igual
aqui. Essa fazenda que eu não conhecia e vejo os turistas falando que passou em novelas. Para mim
foi até uma forma de estudo. (Recepcionista Hotel fazenda B)

Já em relação a uma nova oportunidade para comunidade rural, de acordo


com a recepcionista de um hotel-fazenda (trabalha um ano no empreendimento e tem
ensino médio completo) trabalhar com o turismo foi uma grande oportunidade, já que
antes a mesma trabalhava fazendo bicos em hotéis como garçonete.
Ah, olha. Porque igual assim, é, eu acho que, igual aqui, eu trabalho no hotel, então é um ponto
turístico. Porque eu começo, eu passei a lidar com as pessoas. Porque se eu não soubesse lidar
com as pessoas, como eu poderia estar trabalhando aqui num ponto turístico. Então isso foi muito
importante para mim. (Recepcionista Hotel Fazenda B)
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Para uma funcionária (de nível de escolaridade ensino médio completo) de


uma fazenda histórica o turismo tem trazido visitantes para um local onde não se há
tantas atividades ou expectativas. A mesma afirma ainda que voltou a trabalhar (está
há 11 anos no empreendimento) por causa da implantação da visitação na fazenda.
Eu moro aqui na cidade, trabalhei na fazenda porque fui babá (...) ele era bebezinho, saí e retornei
para cá por causa do turismo. Voltei para trabalhar com visitação. Sou de Barra mesmo. (Funcionária
Fazenda histórica B)

A mesma aponta ainda que o turismo influenciou na sua vida, já que trouxe
uma visão de vida diferente do que tinha anteriormente:
(...) Quando eu recebo o turista assim. Eu hoje eu tenho uma visão diferente. Bom se eu fosse, se eu
fosse mais nova, eu faria com certeza um turismo. Com certeza, porque é muito agradável. (Funcionária
Fazenda histórica B).

Referindo-se ainda na expectativa do crescimento do turismo para estes


funcionários, a camareira de um hotel fazenda cita:
Eu espero que traga coisas boas. Melhorias para Ipiabas. Porque nós estamos precisando não é, de
melhoria. Mais trabalho não. ( Camareira Hotel Fazenda C).

No mesmo sentido, a cozinheira de outro Hotel Fazenda exclama sua expectativa


em relação ao setor:
Mais desenvolvimento, mais emprego. (Cozinheira Hotel Fazenda Folhas Verdes)

Deste modo, estes funcionários veem o turismo como uma alavanca para o
desenvolvimento, que trará emprego, renda e autoestima para o local. Apesar dos
salários serem baixos ainda, todavia concede a oportunidade de exercer outras
atividades sem ser lida no campo nestas áreas rurais. A maioria dos funcionários
está retida em cargos operacionais (garçom, camareira, recepcionista), já os cargos
de gestão geralmente ficam com os proprietários ou pessoas com um grau de
escolaridade maior (a partir do ensino superior), sendo que dentre estes alguns são
da região e outros não, foram para o local para o emprego.
E ainda, a funcionária da Fazenda Histórica B aponta que com o turismo o local
se valorizou, já que para ela, ali não existia nada de interessante:
Eu acho que é uma coisa boa. Entendeu, é uma coisa muito boa para a região porque a nossa região
não tem quase que nada para mostrar, para apresentar, entendeu. Aqui não tem muita coisa para
mostrar e o turismo traz as pessoas para cá, entendeu.

Ou seja, para a funcionária o turismo contribuiu para a autoestima local, pois


antes ela não tinha emprego, agora pessoas passam a procurar a cidade, ela pode
conversar sobre os hábitos locais e regionais. Por outro lado, segundo a presidente da
CONCICLO, um grande entrave para o desenvolvimento do turismo na região é o fato
que muitos moradores locais ainda não conhecem o patrimônio local, o que dificulta
na valorização destes e na hospitalidade com os turistas:
Também vejo que a população ele não faz a parte dela, entende. Então, a valorização do lugar onde
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mora por parte da população. Se a própria população conhecesse o potencial turístico, investisse
nisso, e no mínimo conhecesse. Eu posso te garantir que quase 70% das pessoas que moram aqui não
conhece a nossas fazendas históricas.(...) E Algumas, uma boa parte, mas de 50% não sabe aonde
fica. Então isso é um fator que dificulta, porque ele pode até não conhecer, mas poderia valorizar. Ele
pode não conhecer, pode não valorizar, mas poderia orientar para chegar lá. E isso não acontece, o
turista quando ele chega aqui, ele tem maior dificuldade de acessar (...).

Logo, observa-se que o incremento do turismo em Barra do Piraí fez com que
grande parte da história local fosse resgatada, e através dessa memória, a identidade
local fosse fortalecida, além de dar autoestima para os envolvidos. Todavia, existem
problemas que devem ser atenuados, como divulgação, infraestrutura de acesso,
inserção da comunidade na gestão, qualificação dos mesmos, dentre outros. O
turismo, apesar da potencialidade, ainda não tem grande impacto econômico no
desenvolvimento local. Dessa forma, é necessário estruturar mecanismos para o
desenvolvimento de um turismo sustentável que favoreça o local em conjunto com
a região, envolvendo as comunidades locais, com através de estratégias tais como:
fomento de artesanatos, novas segmentações turísticas, como o turismo rural,
incentivo aos produtores rurais, entre outros.

Considerações finais
O turismo em Barra do Piraí pode ser caracterizado principalmente através
do patrimônio histórico e outras atividades que estão relacionadas com o turismo em
espaço rural.O turismo histórico foi fortalecido através do interesse dos proprietários
das fazendas históricas que resgataram a história da região e de suas propriedade,
abrindo-as para visitação e alguns também para hospedagem. Dessa forma, o turista
tem a possibilidade de voltar no período do ciclo do café através do guiamento pelas
propriedades. Algumas fazendas históricas exibem um teatro demonstrando a história
local e ainda oferecem alimentação típica da época nos “chá imperial” ou em locais
histórico, como o restaurante na antiga senzala.
Assim, para o fortalecimento do turismo histórico foi necessário o resgate da
historia do município, através de estudo de livros, documentos e objetos das famílias
da época. Ou seja, o desenvolvimento do turismo em Barra do Piraí, pode ter ajudado
no resgate cultural e fortalecimento da identidade local e ainda contribuído para
valorização e autoestima por parte dos envolvidos locais. Todavia, existem mazelas que
devem ser readequadas para que se tenha o desenvolvimento sustentável do turismo,
envolvendo e beneficiando todos os envolvidos, principalmente as comunidades
locais. Um exemplo, a valorização e conhecimento destes patrimônios por parte da
comunidade local, já que muitos não conhecem, logo não valorizam esse patrimônio.
Para Horta (1999) na perspectiva dos alunos, conhecer o patrimônio histórico da região
ajuda a despertar o interesse de conhecer mais sobre eles. Ou seja, é necessário
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investimento na educação patrimonial3 para que todos tenham ciência do valoroso


legado existente no local.
Deve-se inserir a comunidade neste processo, o que é bastante importante
para o turismo cultural. Para o Ministério do Turismo (2010) o turismo cultural deve
inserir a comunidade como protagonista, já que esta compreende a dimensão da
preservação e da interpretação dos bens culturais, demonstrando para os visitantes o
verdadeiro sentido e valor destes. Assim “(...) a interpretação, associada aos princípios
da educação patrimonial, é mais do que informar, em sua essência, ela deve ter
a capacidade de convencer as pessoas do valor e dos significados do patrimônio,
promovendo assim uma relação de respeito, atitudes conscientes de preservação
(Ministério do Turismo, 2010, p. 60). Ou seja, a comunidade conhecendo, irá valorizar
e preservar. Para Horta (1999) o conhecimento crítico e a apropriação consciente do
seu patrimônio por parte das comunidades locais são fatores de relevância para a
preservação desses bens e fortalecimento da cidadania e identidade.
Já para o Ministério do Turismo (2010, p. 63) o envolvimento da comunidade é
de grande importância para o desenvolvimento adequado do turismo, onde os aspectos
negativos devem ser minimizados e os benefícios maximilizados e distribuídos para
todos os participantes, principalmente as comunidades receptoras.
E ainda, embora a globalização tenha a tendência de impulsionar processos
como homogeneização de produtos, de padrões de consumo, de hábitos e consumo
em prol da maior eficiência e produtividade, a globalização de certo modo, reforça o
local. Na medida em que estimula organizações comunitárias para que o local não
seja excluído do processo de desenvolvimento. È neste sentido, que a participação da
comunidade se torna um requisito básico para a diminuição de desigualdades sociais
em busca do desenvolvimento local (CAMPANHOLA; SILVA, 2000).

REFERENCIAL TEÓRICO
BARRETO, M. Cultura e turismo: discussões contemporâneas. Campinas, SP:
Papirus, 2007.

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BRASIL. MINISTÉRIO DO TURISMO. Turismo cultural: orientações básicas. 3.ed.


3 A educação patrimonial consiste em um trabalho educacional centrado no patrimônio cultural
como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. A partir da experiência e
do contato direto com as evidencias e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos,
sentidos e significados, o trabalho da educação patrimonial busca levar as crianças e adultos a um
processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização da sua herança cultural, capacitando-os
para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos,
num processo continuo de criação cultural. (Horta; Grunberg; Monteiro, 1999, p. 06)
330
XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
10 a 13 de novembro de 2014 - Universidade Federal de Juiz de Fora
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HOSPITALIDADE E INTERPRETAÇÃO TURÍSTICA: RELAÇÕES COM A


COMUNIDADE LOCAL

Lélio Galdino Rosa1


Isabela de Fátima Fogaça2

RESUMO: O número de pessoas que viajam cresce de maneira vertiginosa a cada


ano. Diante disso, agentes, como governo, empresários e comunidade local têm
se mobilizado para promover seus atrativos, transformando-os em ferramentas de
educação, orientação, sensibilização e de desenvolvimento social e econômico. A
estratégia para obtenção de sucesso neste processo tem sido a interpretação do
patrimônio para turistas, em conjunto à sua requalificação. O processo da interpretação
busca a valorização da experiência do visitante, proporcionando-o uma melhor
compreensão e apreciação do lugar visitado, e ainda dá subsídios à valorização da
importância do patrimônio, quando este se incorpora como atração turística. O papel
da hospitalidade, junto ao processo de interpretação, vem se destacar de maneira
indissociável, pois ambos se complementam para o melhor acolhimento e transmissão
de informações ao visitante e à sensibilização, quanto à necessidade de preservação
do ambiente e da cultura. Por intermédio de um levantamento bibliográfico e relato de
experiências, este estudo define o que podemos entender por interpretação turística
e suas relações com a prática da hospitalidade. Identificou-se as características
essenciais da interpretação para a captação de públicos específicos e ainda o
reconhecimento da importância da relação da comunidade local com a interpretação
turística. E, ter a certeza de que a hospitalidade é uma ação de suma importância
para o sucesso do processo de intepretação que facilita o convívio harmonioso entre
autóctones e turistas.
PALAVRAS-CHAVE: Hospitalidade; Interpretação Turística; Turismo; Patrimônio.

ABSTRACT
The number of people traveling grows each year of dizzying manner. Thus, agents
such as government, business and local communities have mobilized to promote its
attractions, turning them into education, guidance, awareness and social and economic
development tools. The strategy for achieving success in this process has been the
interpretation of the heritage for tourists, together with their rehabilitation. The process
of interpretation seeks the enhancement of the visitor experience, providing a better
understanding and appreciation of the place visited, and even gives subsidies to the
appreciation of the importance of equity, when it is incorporated as a tourist attraction.
The role of hospitality, by the process of interpretation, comes to stand inseparably, as
both are complementary for the best reception and transmission of information to the
1 Doutor em Geografia (Organização do Espaço). Mestre em Turismo e Hotelaria. Especialista
em Administração Hoteleira. Bacharel em Ciências Econômicas. Professor Doutor Adjunto III, dos
Cursos de Bacharelado em Hotelaria e Licenciatura em Turismo da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro-UFRRJ. leliogaldino@uol.com.br
2 Doutra em Geografia (organização do Espaço). Mestre em Turismo e Hotelaria. Especialista
em Planejamento Urbano e Regional. Bacharel em Turismo. Professora Doutora Adjunta II, dos
cursos de Bacharelado e de Licenciatura em Turismo da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro-UFRRJ. isafog@hotmail.com
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visitor and raising awareness on the need to preserve the environment and culture.
Through a literature review and report of experiments, this study defines what we
understand by tourist interpretation and its relations with the practice of hospitality.
Identifies the essential features of interpretation to attract specific audiences and
further acknowledge the importance of the relationship with the local community tourist
interpretation. Also proves that hospitality is an act of paramount importance to the
success of the Interpretation process that facilitates the harmonious coexistence
between native and tourists.

KEYWORDS
Hospitality; Tourist Interpretation; Tourism; Heritage

INTRODUÇÃO

Quando surge o interesse em promover e desenvolver a atividade turística em


uma localidade, a maioria das decisões é tomada por agentes que não pertencem
à comunidade local. Normalmente, essas medidas são direcionadas à melhoria dos
transportes, dos meios de hospedagem, dos restaurantes, das novas opções de lazer
e entretenimento, assim como dos locais para compras. Eles realmente acreditam
que o turista por si só descobrirá e ele se encantará com os atrativos existentes.
Com isso, percebe-se que são muito pouco valorizadas as informações, referentes à
localidade e seus habitantes, bem como seus costumes e hábitos, a história do local,
suas crenças etc.

A interpretação do patrimônio busca promover a melhor ampliação do


conhecimento a respeito do mesmo. Ou seja, tenta provocar nos visitantes diferentes
maneiras de compreender o que, a princípio, lhe é estranho. Em uma viagem, o
visitante utiliza-se da exploração visual como sendo seu principal sentido para
descobrir singularidades do lugar, seus símbolos e significados.

Temos, portanto, o processo da interpretação como sendo o responsável em


estabelecer uma comunicação efetiva entre visitantes e local visitado, conduzindo à
preservação do patrimônio e o desenvolvimento cultural local.

A hospitalidade é uma grande aliada do processo de interpretação que facilita


o bom convívio entre autóctones e visitantes.

O QUE É INTERPRETAÇÃO?

Goodey e Murta (2005) esclarecem que interpretar é um ato de comunicação.


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Interpretar é a arte de comunicar mensagens e emoções a partir de um texto, de uma


música, de uma obra de arte, de um ambiente ou de uma expressão cultural.

No nosso caso, profissionais do turismo, devemos considerar a interpretação


de um patrimônio como sendo um processo de agregação de valores à experiência
do turista, por intermédio de disponibilidade de informações e representações que
destaquem a história e as características culturais e ambientais de um determinado
local.

Freman Tilden foi o primeiro pesquisador a escrever sobre interpretação de


patrimônio, seu trabalho teve como local de estudo a prática sistemática da interpretação
no Serviço Nacional de Parques do EUA, no final da década de 1950. Seu intuito era
sensibilizar o grande número de pessoas que visitavam os Parques de Yosemite e do
Grande Canyon sobre a importância da preservação daqueles santuários naturais.

Para Tilden (1967, p.43) é “por intermédio da interpretação obtém-se a


compreensão; por intermédio da compreensão chega-se à apreciação e via da
apreciação conquista-se a proteção”.

Compreender a interpretação, além de um mero processo de informação,


conduz-nos à realidade de que interpretar é revelar significados, provocar emoções,
estimular a curiosidade, entreter e inspirar novas atitudes no visitante, proporcionar
uma experiência inesquecível com qualidade (GOODEY; MURTA, 2005).

Morales (1998) reforça, garantindo que a interpretação do patrimônio é a arte


de revelar o significado do legado natural, cultural e histórico, ao público que visita
esses lugares em seu tempo livre.

Nesse processo de interpretação turística, existem os quatro agentes capazes


de promover um turismo sustentável, são eles: a comunidade autóctone, os turistas, o
Meio Ambiente e a atividade turística propriamente dita.

Se esses agentes atuarem de maneira harmônica e com bom planejamento,


o turismo pode proporcionar impactos positivos e ser um propulsor de restaurações,
conservação, requalificação, de ambientes naturais e culturais, fortalecendo a cultura
local e contribuindo para a geração de renda e empregos (OMT, 2003).

Essa maneira de atuação, além de considerar importante a preservação da


natureza, dos costumes (cultura) e dos meios produtivos locais, adota uma abordagem
de sensibilização da população local e os hábitos das organizações turísticas locais.
Ou seja, a população local deve participar ativamente no planejamento turístico, onde
se deve considerar todos seus anseios, angústias e necessidades.

Desta forma percebemos que a interpretação, sendo considerada um meio de


comunicação, assume também o papel de despertar atitudes de conservadorismo
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entre os envolvidos – comunidades locais, turistas, e investidores.

A finalidade de uma interpretação turística é promover alterações nos âmbitos


cognitivos, afetivos e comportamentais dos agentes envolvidos no processo, que
devem se manifestar de forma duradoura e contínua. Mas para que isso aconteça, a
interpretação turística deve:
a) atrair e manter a atenção do turista;
b) o turista tem de entender a mensagem transmitida e retê-la para si;
c) a partir dessas informações obtidas o turista adote atitudes positivas;
d) que seja perceptível essa mudança de forma permanente.

Com base da teoria de Freeman Tilden (1975), para colocarmos em prática a


interpretação turística, devemos conhecer seu significado, seus propósitos e ainda,
considerar alguns princípios básicos, tais como:

- a interpretação deve provocar a atenção, curiosidade ou interesse do público.


Se não obtivermos a atenção desse público, provavelmente não conseguiremos
transmitir a mensagem, ou conteúdo desejado ao visitante;
- a interpretação tem de se relacionar com a vida cotidiana do visitante. Sendo
que esse visitante se vê conectado ao atrativo visitado. A informação obtida deve ser
algo que tenha alguma utilidade para sua vida;
- a interpretação deve revelar a essência do significado do lugar ou do objeto.
É como uma essência da informação disponível, uma vez que nem sempre se pode
transmitir ao visitante tudo o que se sabe sobre um determinado sítio ou fenômeno;
- a interpretação deve unir as partes em um todo. Cada lugar pode apresentar
diferentes aspectos e conter muitos detalhes, que terão de se interrelacionar para
transmitir uma ideia coerente;
- a interpretação é uma arte; portanto, deve produzir impacto no público, além
de transmitir significados, produzir sensações e emoções. E os responsáveis pela
interpretação – como bons comunicadores – devem aplicar as técnicas disponíveis,
como uma grande dose de criatividade, para chegar ao coração das pessoas;
- a interpretação deve tentar ir além do mero fato da visita. Deve contribuir para a
prevenção e a solução de problemas sociais, ambientais e de patrimônio, provocando
um efeito que perdure nos visitantes.

Miranda (2005) garante-nos que em um período muito curto não é possível que
os turistas estabeleçam vínculos afetivos ou cheguem, por sua própria conta, a uma
ligação com o lugar que estão visitando. Para que isso aconteça, o público deve ser
beneficiado com algum tipo de auxílio para compreender a mensagem, desenvolver
atitudes e alterar seus comportamentos. Assim, temos como essência da interpretação
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a mensagem e a estratégia para a elaboração de uma interpretação sólida, ou seja,


criar mensagens impactantes e efetivas começa pela proposta de objetivos:

a) Gerais: políticas de gestão ou metas (exemplo: “contribuir para uma ótima


utilização do espaço no Horto Florestal).
b) Secundários: identificam ou conduzem a temas e conceitos (Exemplo:
mostrar os aspectos mais significativos dos cursos de água no parque
nacional).
c) Específicos: efeitos que queremos produzir no público. Estes são os que
mais devem nos interessar (exemplo: que os visitantes não toquem nas
obras de arte).

Os objetivos específicos podem ser subdivididos, ainda, em três níveis: para


conhecimento, para afetividade e, enfim, para as atitudes e/ou comportamentos
(Morales, 1998). Sendo assim, estes três objetivos específicos permitirão, em um
processo de interpretação, avaliar o grau de captação das mensagens transmitidas,
como também apreciar a resposta de comportamento por parte dos turistas. A partir
desse comportamento, percebemos qual a verdadeira efetividade da interpretação.

Após a definição dos objetivos específicos a serem adotados, a interpretação


é realizada mediante a aplicação de certas técnicas, seja em um museu ou um sítio
arqueológico. Com isso, faz-se necessário conhecer a que tipo de público será dirigida
a interpretação para que possamos adequar, da melhor maneira possível, a mensagem
e escolher a metodologia a ser utilizada. De maneira geral, Miranda (2005) caracteriza
os destinatários da interpretação como sendo: a) não frequentador assíduo e não está
lá obrigado e b) está em seu tempo livre.

Com essas características, exige-se que o espaço de comunicação com o


público leve em conta o contexto recreativo em que este se encontra.

CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA INTERPRETAÇÃO, VOLTADA À CAPTAÇÃO


DE PÚBLICO

Segundo Miranda (2005), se a interpretação é voltada para captação do público,


a mesma tem de possuir algumas características essenciais, tais como:

- capacidade de atrair o público;


- ser compreensível;
- revelar-se de maneira interessante;
- ter um bom roteiro e,
- ainda, deve estar estruturada em torno de uma frase tema ou de uma ideia central.
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Para atrair a atenção do público, os programas interpretativos vão depender de


vários fatores:

a) a promoção e a publicidade nas diferentes mídias e programas;


b) a aparência dos programas e as técnicas interpretativas;
c) o meio de interpretação utilizado (alguns visitantes preferirão atividades guiadas,
outros preferirão um folder);
d) o grau de esforço percebido pelos visitantes (alguns preferirão assistir a programas
de duas horas, outros disporão de menos de meia-hora).
Quanto ao fato da mensagem ter de ser compreensível, temos de lembrar que
o entendimento conceitual, isto é, os conceitos e as palavras que são utilizadas têm
de ter um significado claro para quem ouve. Uma mensagem é ou não compreensível
dependendo do nível de conhecimento e da cultura de quem a recebe e, neste sentido
torna-se muito pessoal. Para que isso seja alcançado, há de se evitar os conceitos
técnicos e acadêmicos, e utilizar uma linguagem mais próxima possível da usada
pelos visitantes.

O ponto vital para uma boa interpretação é tornar a mensagem interessante.


A mensagem tem de ser relevante para o ego do visitante. Por exemplo, um guia de
turismo pode utilizar termos simples e conseguir que todos entendam sua mensagem.
No entanto, se o guia não passa a mensagem de maneira interessante para o ego dos
turistas, eles (os turistas) podem deixar de prestar atenção, ou seja, distraem-se do
que estão sendo orientados, mesmo que compreendam a mensagem. Para que uma
mensagem seja relevante ao ego, ela deve se referir diretamente ao sujeito, conter
analogias ao ser humano ou à vida cotidiana, ou elementos de relevância pessoal (por
exemplos: filhos, a família etc) (MIRANDA, 2005).

A existência de um roteiro lógico surge com intuito de ser o delineador do


argumento estruturado em sequências lógicas, para que a informação seja convincente
e seja assimilada em um contexto. O roteiro é a estrutura da apresentação. Miranda
(2005, p. 101) mostra-nos que “esquemas conceituais ou roteiros típicos são as
formas de relato sequencial, seguindo a estratégia e as etapas de um conto: narração
cronológica, informação em categorias e a descrição de processos gerais para chegar
a fatos particulares”.

Outro componente do processo de comunicação para interpretação consiste


em uma ideia central, ou seja, uma frase de impacto. Esta frase deve apresentar-se
de maneira completa, “uma frase de estilo próximo ao coloquial” (MIRANDA, 2005,
p.101).

Lewis apud Miranda (2005) demonstra como se elabora a frase tema:

a) Há de se determinar o tópico da apresentação: ‘do que se vai


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falar?’ Por exemplo, ‘quero falar sobre aves’... esse é o tópico.


b) Determinar o tópico específico: ‘sobre que aspecto das aves
quero comentar?’ Por exemplo, ‘quero falar das aves insetívoras’... esse é o
meu tópico específico.
c) Formular a frase tema: ‘o que pretendo que o visitante saiba
sobre as aves insetívoras’. Por exemplo, ‘quero que as pessoas saibam que
as aves insetívoras evitam que muitos insetos se convertam em praga’...
este é o tema.

Esta frase, tal e qual, será a que aparecerá na apresentação do guia, do folheto, da
placa ou da exibição. Como os leitores poderão apreciar, esta frase coincide com o
objetivo para o conhecimento.

Algumas vantagens são apresentadas e defendidas por Ham (1992):

a) Da direção ao interprete. Colabora ao saber o que necessita ser


averiguado para desenvolver a apresentação completa, diminui e muito o
trabalho de preparação e facilita a apresentação.
b) Auxilia o público a compreender a mensagem. Este aspecto é
lógico, pois contribui para centralizar a atenção; o tema é o adesivo (slogan?)
para essas cinco, ou menos, partes da apresentação.
c) Pode servir de título. É o mais sugerido; se a frase está bem redigida, é curta
e agradável, pode-se usá-la como cabeçalho de qualquer apresentação. Cumpre
uma função próxima a de uma manchete: transmite algo sobre a notícia ou a matéria
tratada e, em boa medida, é uma informação que capta uma ampla porção do público
que somente leem manchetes, principalmente em folders, placas e exposições.
Para fazer da viagem uma experiência verdadeiramente cultural, precisamos
desenvolver a preservação e a interpretação de nossos bens culturais, traduzindo
seu sentido para quem visita. Mais que informação, a interpretação tem como objetivo
convencer as pessoas do valor de seu patrimônio, encorajando-as a conservá-los.
Esta é sua essência (MURTA; ALBANO, 2005).

Para atingir seus objetivos, a interpretação utiliza várias artes da comunicação


humana – teatro, literatura, poesia, fotografia, desenho, escultura, arquitetura – sem
se confundir com os meios de comunicação ou equipamentos que lhe servem de
veículos para expressar as mensagens: placas, painéis, folders, mapas, guias, centros,
museus etc. No entanto, nada substitui a interpretação ao vivo, realizada por guias e
condutores sensíveis ao ambiente e às necessidades dos visitantes.

COMUNIDADE LOCAL: SUAS CARACTERÍSTICAS E A RELAÇÃO COM A


INTERPRETAÇÃO TURÍSTICA
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Uma grande quantidade de autores é unânime em afirmar que um planejamento


turístico com base local é fundamental para o desenvolvimento do turismo sustentável.
Essa ideia fundamenta-se no propósito de que ninguém melhor que os autóctones
conhecem o lugar e obviamente sua própria história. Nenhuma outra pessoa está tão
envolvida e comprometida com o lugar onde nasceu e onde se vive.

Goodey (2005, p.106) explica que “na maioria dos países, as decisões de
planejamento local são tomadas com base nos padrões de poder existentes,
especialmente no que diz respeito à administração territorial e de serviços”.

Podemos considerar como comunidade local, grupos de pessoas mutáveis que


compartilham um território conhecido, como, por exemplo, um vilarejo, um edifício de
apartamentos, uma rua, entre outros. Há também uma certa padronização do uso
deste espaço compartilhado, há determinados marcos, símbolos, nomes e percepções
que estabelecem uma geografia particular do lugar.

Com relação às pessoas, notamos um conjunto de opiniões compartilhadas


sobre como a área e sua população devem ser gerenciadas. Na comunidade local,
existe uma visão parcialmente explicitada e compartilhada sobre como a região poderá
ser no futuro, para além do tempo de vida da população que hoje nela mora.

Em uma comunidade local é notória a convicção de que a maioria dos esforços


físicos e financeiros, oriundos daquela região, deveria ser ali investida em infraestrutura
e serviços públicos. E, ainda, percebe-se uma certa relutância em aceitar gente de
fora (visitantes ou imigrantes) e mudanças (novas estradas ou desenvolvimentos) que
impliquem em uma modificação significativa no estilo de vida local (GOODEY, 2005).

Por mais distante dos grandes centros que uma comunidade localize-se, ela
pode se interar de qualquer dos assuntos que estejam acontecendo mundo a fora,
via Internet, antenas parabólicas etc. Porém, estes equipamentos podem não ser
capazes de alterar completamente seus hábitos, crenças e costumes. Tendo apenas a
vantagem de promover a percepção das implicações, tanto positivas quanto negativas,
de como as outras pessoas fazem as coisas em outros lugares.

Nenhuma comunidade local é estável; ou elas estão em um processo de


declínio populacional e/ou decadência econômica, ou estão prosperando. Ou
elas estão abandonadas, descartadas, subutilizadas, ou estão crescendo,
prosperando, modernizando-se. (GOODEY, 2005, p. 49)

PLANEJAMENTO LOCAL

O planejamento com base local, a princípio, não é bem visto por todos da
comunidade, tornando-se até um pouco desconfortável, pois a sua efetivação requer
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um foro representativo local, aberto à participação de todos moradores daquela


localidade. E, antes disso se faz necessário um inventário do que existe no local, que
envolve o levantamento da disponibilidade de infraestrutura, de recursos financeiros,
quais as potencialidades, interesses e compromissos.

Para Goodey (2005), em um processo de desenvolvimento local, o visitante


ou o plano de interpretação são apenas partes desse processo. E, para que, esse
processo torne-se uma experiência positiva e enriquecedora, o mesmo autor sugere
alguns requisitos importantes para assegurar o sucesso do mesmo, tais como:

• Haver algum representante local respeitado, não necessariamente entre


os mais antigos, mas alguém que leve à comunidade uma visão futura, de
potencialidade do lugar.
• A visão da potencialidade futura do lugar deverá atrair também investidores
dispostos a participar com seus negócios e outros interesses, independente
das estruturas sociais existentes.
• Um fórum de discussão deverá ser estabelecido, a fim de estimular a formação
de um corpo de representantes da comunidade, eleitos ou indicados.
• Este fórum apresentará um programa preliminar para as metas a serem
alcançadas, o que certamente encontrará alguma oposição por parte dos
interesses tradicionais e, possivelmente, governamentais.
• Uma forma de compatibilização dos novos interesses com os interesses
tradicionais terá de ser desenvolvida e deverá incluir:
- representação ampliada;
- mapeamento e organização dos dados;
- um programa da elaboração do plano, por etapas;
- a articulação das parceiras que fornecerão apoio técnico e institucional;
- ações ou eventos imediatos que marquem a presença de um pensamento
renovado na comunidade.
• Essa fase de compatibilização pode ser longa, mas poderá significar a
oportunidade de agregação de novas informações e de novos conceitos a
serem desenvolvidos, testados e avaliados.
• Visando mobilizar membros da comunidade que antes não participavam, novos
grupos poderão ser formados, como os de jovens, de idosos e os de recém-
chegados, os quais levarão algum tempo para se estruturar.
• Um cronograma claro para execução do plano é a coluna dorsal do esforço
local. Para tanto, é essencial definir datas, especificando quando a informação
será reunida, quando as oportunidades serão avaliadas, quando ocorrerão os
eventos e quando as propostas deverão ser implementadas.
• O plano propriamente dito não é um documento pronto e acabado.
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• As questões centrais do plano são:


Qual é o propósito de uma iniciativa ou decisão específica?
Por que ela está sendo tomada?
Quem a conduzirá?
Como ela será financiada e implementada?
Onde ela acontecerá e
Que impactos terá?

Um planejamento ideal normalmente se dá por intermédio de reuniões


periódicas com a comunidade local, podendo até utilizar-se de maquetes, entre outros
equipamentos que consigam formular uma simulação de planejamento local.

O planejamento local, mesmo que não surta grandes efeitos, inicia um processo
de renovação do autoconhecimento, que inclui a identificação dos valores presentes
na comunidade. Tais valores reforçam não só as crenças e costumes, mas também
o valor intrínseco de construções, paisagens, festivais e de outras manifestações
culturais, herdadas do passado. Ou seja, aquilo que a comunidade valoriza para si
própria, o que ela deseja preservar, é possivelmente o que ela vai querer compartilhar
com dos outros (GOODEY, 2005).

A PARTICIPAÇÃO DOS VISITANTES E SUAS EXPERIÊNCIAS

Quando chegam a uma determinada localidade, os visitantes logo se ocupam de


todo aquele espaço. “As vozes, seus tempos, seus percursos, atitudes e necessidades
podem rapidamente se apropriar do espaço físico e temporal. As casas noturnas e os
carros de aluguel seguem essa tendência e multiplicam” (GOODEY, 2005, p. 53).

O que antes era dominado apenas pela comunidade local, agora está sendo
compartilhado por outras pessoas que possuem anseios e desejos diferentes. Para
que haja um equilíbrio dessas necessidades e expectativas, o ideal é buscar apoio
positivo de organizações regionais e nacionais.

Os modelos de harmonização entre comunidade e visitantes são os seguintes:


recursos, mercados e temas.

Deve-se fazer um levantamento do que se tem para ser oferecido, o que há


de melhor na localidade, o que pode ser de interesse a visitações. Exemplos: sítios
arqueológicos, cachoeiras, danças típicas, artesanatos etc.

Após a análise do que se pode oferecer, ou seja, do produto a ser comercializado,


surge a necessidade de determinar quem será o consumidor. Qual o público específico
que pode se interessar pelo produto ofertado? Quais são os agentes desse mercado
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em potencial: idade, origem, nível de escolaridade, renda, interesses e atividades


desenvolvidas.

Em conjunto a esses dois itens, há de se considerar os temas específicos,


por meio dos quais o turista é colocado em contato com os recursos locais. Temas
variados, como: antiguidades, pesquisa, observação de pássaros, biologia etc. Estes
lugares podem ser potencializados e valorizados pelos autóctones por intermédio da
interpretação e da hospitalidade, via sinalizações, publicações, eventos, exposições.
A grande parte dos turistas procura ter uma experiência bem estruturada que os
entretenha, que informe e acrescente lembranças positivas de sua viagem de férias;
somente uma minoria – geralmente bem informada, aberta e sensível, procurará ter
um contato próximo com os valores mais enraizados da comunidade.

Goodey (2005, p. 55) reforça, ainda, que “nunca devemos nos esquecer de que
as férias são um breve afastamento do contexto e dos valores que nos são familiares.
É um período no qual é possível viver novas experiências e durante o qual alguns
valores sociais poderão ser postos de lado”.

O planejamento local deve ser capaz de enfatizar o que se pretende ou pelo


menos o que se busca alcançar. Neste sentido, Goodey (2005) apresenta algumas
características essenciais ao sucesso do planejamento local:

Quadro 1: Características para um planejamento local de interpretação turística


O plano deve Significa que:
ser:
Compreensivo As implicações sociais, ambientais, econômicas e políticas
devem ser integralmente analisadas e compreendidas como
parte de uma abordagem holística do planejamento.
Interativo e O planejamento deve ser contínuo, respondendo às mudanças
dinâmico circunstanciais, e ser capaz de realizar ajustes dentro do
contexto de uma adaptação de políticas e estratégias.
Sistemático Os possíveis impactos deverão ser avaliados de forma a evitar
efeitos negativos: as motivações e as demandas do visitante
deverão ser analisadas e conjugadas com as capacidades
locais para desenvolver produtos que aumentem a integridade
dos recursos locais.
Integrativo O planejamento e a administração deverão colocar o turismo
dentro de um processo de planejamento socioeconômico e de
uso do solo mais amplo, de modo que as decisões que venham
a afetar o turismo sejam bem compreendidas e consideradas
na íntegra.
Voltado para a Tem de haver envolvimento e comunicação com a comunidade
comunidade local na atividade de planejamento e administração, de
forma que todos aqueles afetados tenham oportunidade de
expressarem de fato suas ideias; a participação máxima de
todos os habitantes na atividade e nos serviços turísticos deve
ser estimulada.
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Departamento de Turismo

Renovável O plano deverá ser conduzido como uma atividade renovável,


na qual as fontes naturais e culturais mantenham sua
integridade de forma a permitir um uso continuado e futuro.
O estabelecimento de limites para mudanças aceitáveis e a
capacidade de absorver o turismo têm de ser tornar objetivos
primários de todo e qualquer planejamento turístico. Desta
forma, devem ser desenvolvidos produtos que utilizem e
reforcem a integridade dos recursos locais.
Implementável É preciso que haja clareza quanto aos objetivos que o turismo
e voltado para pode de fato alcançar através de políticas especificas; a
os objetivos estratégia de desenvolvimento e os programas de ação devem
ser adaptados especificamente à consecução de objetivos
concretos; deve haver uma distribuição justa dos benefícios
e dos custos entre os negócios, voltados para o turismo e a
comunidade local – no presente e no futuro.
Fonte: adaptado, Goodey, (2005 p. 57)

O quadro 1 demonstra que a interpretação e a hospitalidade devem ser


desenvolvidos em conjunto ao planejamento, compondo um único processo.

A AÇÃO DA INTERPRETAÇÃO

Nenhuma localidade inicia um processo de interpretação sem que o mesmo já


não exista de alguma maneira. “Geralmente, há monumentos que já estão incluídos
em guias turísticos; museus ou trilhas que passaram a ser, ao longo dos anos, objetos
de responsabilidade oficial ou do entusiasmo local” (GOODEY, 2005, p. 57).
Todo planejamento tem entre seus agentes envolvidos a população local como
a mais importante. Neste sentido, percebe-se que a interpretação auxilia no processo
de demonstrar a essa comunidade, quais são os seus verdadeiros anseios, desejos
e valores.

Quando surge o interesse em divulgar ou promover uma determinada localidade


ou região, a atuação de governos, federal, estadual ou municipal, é de tentar atrair
tanto visitantes quanto investidores, de maneira a fomentar linhas de créditos e até a
implementação de infraestruturas: rodovias, edificações, acervos etc. Assim, surgem
questionamentos do tipo: A comunidade local participa desse processo? Qual é a visão
dos autóctones a respeito desses recursos? Campanhas de divulgação, nacional e
internacional, auxiliam no aumento do interesse e o respeito da comunidade local?

Na grande maioria das vezes, percebe-se a responsabilidade pelo controle dos


patrimônios existentes, concentrada nas mãos de especialistas e autoridades que não
fazem parte da população local, excluindo-as deste processo. “O visitante eventual
pode até pagar para ver a cultura oficial, mas jamais perceberá a local e é ela que
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possivelmente contém a essência do lugar” (GOODEY, 2005, p. 87).

Portanto, todo planejamento tem de considerar e envolver a comunidade local


de maneira íntegra, contemplando o potencial para uma interpretação em conjunto no
processo de compartilhamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A interpretação assume um papel superior ao de simplesmente informar, pois


tem como principal objetivo e essência a busca pelo convencimento dos indivíduos
sobre o real valor do patrimônio, motivando-os a preservá-los.

O sucesso da interpretação parte da necessidade de se fazer um bom


planejamento que inclua a participação efetiva da comunidade local, indiscutivelmente.
Promover a curiosidade, estimular um olhar diferenciado e aprofundado dos visitantes
com relação aos patrimônios, às paisagens, aos costumes, à história, hábitos e
costumes locais, faz com que a experiência da viagem seja mais interessante e
inesquecível.

Portanto, a interpretação possui a principal função de estabelecer a mais perfeita


comunicação entre visitante e localidade visitada, promovendo e estabelecendo nesta
relação a sensibilização de todos os agentes envolvidos da importância de preservação
e do desenvolvimento das comunidades locais, possuidoras de atrativos turísticos.
Promover a interpretação turística representa valorizar e acrescentar valores ao
produto ofertado.

REFERÊNCIAS
HAM, Sam H. Interpretación ambiental: una guia prática para personas com grandes ideas y
presupuestos pequeños. Colorado: North American Press, 1992.

LEWIS, Willian J. Interpreting for park visitors. 2nd ed. [S.l.]: Easem National Park and
Monuments Association, 1981.

MIRANDA, J. M. O processo de comunicação na interpretação. In: MURTA, S. M. M.;


ALBANO, C. Interpretar o patrímônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG,
2005. p. 95-105.

MORALES, J. Guia práctica para la interpretación del patrimonio. Andalucia: Tragsa, Junta
de Consejería de Cultura, 1998.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Turismo sustentável: Manual para


organizadores locais, [S.l.], 2003.
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10 a 13 de novembro de 2014 - Universidade Federal de Juiz de Fora
Departamento de Turismo

TILDEN, F. Interpreting our Heritage. Carolina: University of North Carolina Press, 1967.

PEDRÓGÃO grande. Disponível em: <http://www.cm-pedrogaogrande.pt/index.php/


turismo>. Acesso em: 08 jun. 2011.
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TURISMO, TRADICIONALIDADE E CONQUISTA DO TERRITÓRIO NATIVO -


PARQUE ESTADUAL DA SERRA DA TIRIRICA- PESET/RJ
Helena Catão Henriques Ferreira1
Ari da Silva Fonseca Filho2

RESUMO
A implantação de unidades de conservação da natureza (UCs), principalmente as de
Proteção Integral, provoca diversas mudanças na vida das populações locais, por um
lado por estabelecer regras que restringem seus usos costumeiros e, por outro, por
atrair visitantes, com suas demandas próprias. Em geral, a recomendação legal é o
reassentamento da população, já que moradores não são permitidos nestas áreas. No
estado do Rio de Janeiro, a Lei 2393/95 protege os residentes há mais de cinquenta
anos em UCs do estado, concedendo-lhes o direito real de uso das áreas ocupadas,
desde que sejam considerados como “populações tradicionais”. Face às restrições
dos costumes nativos impostas pelas leis ambientais, o turismo controlado tem sido
uma alternativa econômica para estas populações. Algumas formas de organização
do turismo têm despontado como passíveis de aceitação pelos gestores das unidades,
como o ecoturismo e o turismo de base comunitária, por propalarem o “baixo impacto”
em suas práticas, a partir de cuidados ambientais e sociais. No território do Parque
Estadual da Serra da Tiririca-PESET e em seu entorno encontram-se populações
habitantes do local desde antes da criação da unidade, que a partir da afirmação
de sua “tradicionalidade” lutam pelo direito de ocupação e uso do território. Este
trabalho tem por objetivo comunicar resultados parciais de pesquisa em andamento,
que busca entender como se constroem as relações dessas comunidades com o
turismo que lá ocorre, e averiguar sobre as perspectivas e expectativas relacionadas
com o desenvolvimento da atividade na área, tendo em vista a importância da
categoria “tradicional”, tanto na conquista de direitos territoriais como com relação
ao desenvolvimento do turismo. A pesquisa é desenvolvida a partir de metodologia
qualitativa, com base etnográfica, utilizando entrevistas em profundidade com diversos
atores sociais envolvidos, observação direta e participação em reuniões comunitárias.
PALAVRAS-CHAVE: Unidade de conservação. População tradicional. Turismo
comunitário. Parque Estadual da Serra da Tiririca.

ABSTRACT

The implementation of conservation units of nature, especially the Integral Protection,


causes several changes in the lives of local people, first by establishing rules that
restrict their customs and, secondly, to attract visitors with their own demands. In
general, the legal advice is the resettlement of the population, since residents are
not allowed in these areas. In the state of Rio de Janeiro, Law 2393/95 has protected
residents for over fifty years in such areas of the state, giving them the real right to
1 Doutora em Ciencias Sociais CPDA/UFRRJ. Professora adjunta da Faculdade de Turismo e
Hotelaria, da Universidade Federal Fluminense - UFF. Coordenadora do Grupo de Pesquisa CNPQ -
Turismo, Cultura e Sociedade.
2 Doutor e Mestre em Educação pela FEUSP, Bacharel em Turismo pela UEPG. Professor Ad-
junto da Faculdade de Turismo e Hotelaria, da Universidade Federal Fluminense - UFF.
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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use the occupied areas, since they are regarded as “traditional populations”. Given
the constraints on native customs imposed by environmental laws, controlled tourism
has been an economical alternative for these populations. Some forms of organization
of tourism have emerged and been deemed acceptable by managers of units, such
as ecotourism and community based tourism, promoting the “low impact” in their
practices, from environmental and social care. In the territory of the Parque Estadual
da Serra da Tiririca (State Park) and its surroundings are the local populations who
have been living there since before the creation of the unit, which from the assertion of
their “traditionalism” fight for the right of occupation and use of the land. This work aims
to communicate partial results of ongoing research that seeks to understand how to
build relationships with these communities through the tourism that occurs there, and
find out about the prospects and expectations concerning the development of activity
in the area, highlighting the importance of a “traditional” category, both in gaining land
rights and in regards to the development of tourism. The research is developed from
qualitative, ethnographic methodology, using in-depth interviews with various actors
involved, direct observation and participation in community meetings.

KEYWORDS: conservation unit. Traditional population. Community tourism. Parque


Estadual da Serra da Tiririca (State Park).

INTRODUÇÃO

A implantação de unidades de conservação (UCs), que representa hoje uma


das principais estratégias das políticas de conservação da natureza, provoca diversas
mudanças nas formas de vida das populações locais. Em primeiro lugar porque
estabelece regras que impedem usos costumeiros destas populações e, por outro, por
atraírem visitantes e turistas para estas áreas, criando expectativas e interferências
na vida local.

Quando estas populações têm seu território em uma área que se transforma
em unidade de conservação do grupo “Proteção Integral” (BRASIL, 2000), geralmente
a recomendação legal é que sejam reassentadas em outro local, pois estas categorias
não permitem moradores em sua área.
Esta tem sido a razão de inúmeros conflitos entre populações locais e órgãos
ambientais administradores de unidades de conservação da natureza, já que no Brasil
a maioria destas áreas já estava ocupada anteriormente por autóctones.

No estado do Rio de Janeiro, desde abril de 1995, a permanência destas


populações passou a ser protegida pela lei 2393/95 que dispõe sobre o direito real
de uso de populações nativas residentes há mais de cinquenta anos em unidades
de conservação do estado, desde que dependam para sua subsistência, direta e
prioritariamente dos ecossistemas locais, exigindo como contrapartida sua participação
na preservação, recuperação, defesa e manutenção das unidades de conservação (Lei
2393/95). Entretanto, alguns de seus usos e costumes tradicionais, como a caça, coleta
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de determinadas plantas, pequena agricultura e pesca, etc. passam a ser regulados e


frequentemente interditados por caracterizarem alteração dos ecossistemas.

Para que possam permanecer na área e sejam beneficiadas por esta lei, é
necessário que estas comunidades3 sejam consideradas como “tradicionais”4. Esta
exigência geralmente se torna problemática, devido ao caráter dinâmico da vida social.
Por mais que prezem suas formas de vida específicas, estes grupos têm contatos
e interações com a sociedade mais ampla, o que dificulta esta classificação como
tradicional.

Uma das questões que interfere nesta problemática é que o próprio movimento
de estabelecer os territórios destas populações como prioridade para conservação
(transformando-os em UCs) os coloca em destaque, estimulando, mesmo que
involuntariamente, um fluxo turístico.

As populações locais, por um lado restringidas em suas práticas costumeiras,


geralmente se vinculam de alguma maneira à prestação de serviços turísticos, o que
muitas vezes é interpretado como uma descaracterização de sua “tradicionalidade”.

Algumas formas de organização do turismo têm despontado como passíveis


de aceitação pelos órgãos gestores das unidades, como o ecoturismo e o turismo
de base comunitária, principalmente por propalarem o “baixo impacto”, a partir de
cuidados ambientais e sociais, e o respeito à cultura dos grupos em questão.

O que se entende hoje por turismo comunitário, ou de base comunitária abarca


uma diversidade de situações. Como afirmam Sansolo; Bursztyn (2009), considerando
a vasta diversidade ambiental e cultural brasileira, pode-se inferir também uma
grande diferenciação de sentidos de comunidade e de tipos de turismo, bem como
do significado de turismo de base comunitária. Esse tipo de turismo se propõe a ser
uma alternativa aos modelos que priorizam as motivações puramente econômicas de
agentes externos às áreas receptoras. Em primeiro lugar, porque resultaria de uma
demanda “[...] dos próprios grupos sociais residentes no lugar turístico, e que mantém
com este território uma relação cotidiana de dependência material e simbólica”
(IRVING, 2009, p. 112).

Outro aspecto importante seria o protagonismo destes atores sociais no


desenvolvimento da atividade. Este protagonismo social, como infere Irving (2009),
reflete o poder de influência sobre as decisões relacionadas à organização do turismo e
3 É preciso esclarecer que o uso do vocábulo comunidade, neste texto, deve-se ao fato de ser
o modo como estas populações se referem a si mesmas, não tendo a pretensão de qualifica-las como
grupos fechados, homogêneos ou isolados da sociedade abrangente.
4 A categoria “tradicional”, neste texto, é utilizada sempre entre aspas para que seja relativizada;
já que se apresenta como uma categoria polissêmica, referida por atores diversos de diferentes manei-
ras. No caso em foco, um dos propósitos da pesquisa é justamente perseguir as diversas formas como
é utilizada pelas populações locais de modo a atender às exigências legais para a permanência nos
territórios que habitam de longa data e sobre o qual reivindicam direitos.
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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só pode “[...] ser expresso plenamente quando o ator social se reconhece como agente
do processo de construção da realidade e da dinâmica de desenvolvimento” (IRVING,
2009, p. 112). Sendo assim, ele se inscreveria em uma dinâmica de desenvolvimento
orientado para o local e baseado em recursos endógenos, implicando também a
valorização cultural dos grupos em questão e na autogestão de seu próprio projeto de
turismo.

O Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET), unidade de conservação do


grupo Proteção Integral (BRASIL, 2000), abrange a quase totalidade da Serra da
Tiririca, que divide os municípios de Niterói e Maricá, no estado do Rio de Janeiro.
Foi criado pela Lei Estadual nº 1.901, de 29 de novembro de 1991. Possui uma área
de aproximadamente 2.264 hectares, e está inserido no ecossistema Mata Atlântica,
abrigando um conjunto de montanhas rochosas, que se localizam a beira mar.

Por estar na Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro, com grande


densidade populacional e uma situação ambiental e paisagística privilegiada, a
área tem sofrido, principalmente a partir da década de 1980, fortes investidas da
especulação imobiliária, um dos motivos que promoveram uma mobilização popular,
composta principalmente por ambientalistas, favoráveis à criação da unidade.

No território do Parque e em seu entorno encontram-se populações que já


habitavam o local antes de sua criação, como a que reside no Morro das Andorinhas,
localizado entre os bairros de Itaipu e Itacoatiara, em Niterói, entre outras.

Conforme Mota (2009) a ocupação do topo do Morro das Andorinhas se deu


desde o final do século XIX por uma população que tinha laços de parentesco e
sociabilidade com os pescadores artesanais de Itaipu. Apesar da intensa especulação
imobiliária que tem ocorrido na região, fazendo com que a praia e o bairro de Itaipu
tenham sido ocupados por residências de classe média alta e mansões, diversas
famílias de pescadores ainda habitam a área.

A partir da legislação ambiental, a ocupação desta área foi considerada ilegal.


Diversos conflitos ocorreram entre a população local e o poder público. O pequeno
núcleo populacional foi considerado como “um típico processo de favelização”, não
se distinguindo “ocupação irregular” e “ocupação antiga”, como era o caso destas
moradias. Outra categoria classificatória imposta aos moradores foi a de “invasores”
(MOTA, 2009).

As relações histórico-culturais e de pertencimento das populações locais com seu


território frequentemente não eram e em muitos casos ainda não são compreendidas
e consideradas pelo poder público ao estabelecer políticas de conservação ambiental.
Neste processo é comum que a consequência seja o surgimento de propostas de
retirada da população da área.
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No caso do Morro das Andorinhas, como relata Mendes (2003 apud MOTA,
2009), em 1995 a Prefeitura de Niterói intimou os considerados invasores da Área
de Preservação Permanente (APP) a desocuparem seus imóveis, que em seguida
seriam demolidos. Em resposta a esta intimação, os moradores receberam apoio da
Procuradoria Geral da Defensoria Pública, que alegou a antiguidade da posse e a
necessidade absoluta de moradia, argumentando sobre seu direito real de uso com
base na já citada Lei 2393 (20.04.95), que dispõe sobre a permanência de populações
nativas em unidades de conservação do estado do Rio de Janeiro (MENDES, 2003
apud MOTA, 2009).

Entretanto, em 2001, o Ministério Público Estadual requereu a desocupação da


área alegando que a presença destes moradores provocava “desequilíbrio ambiental”.
No processo de luta pela permanência em seu território, a população do Morro
das Andorinhas criou uma associação, denominada “Organização da Comunidade
Tradicional do Morro das Andorinhas”, em que afirmava uma “tradicionalidade” capaz
de lhe garantir direitos.

Em 2002, fez parte dos autos do Inquérito Civil 120/2002, Ministério Público –
Niterói – RJ, um laudo emitido por antropólogo da Universidade Federal Fluminense
– UFF, defendendo a permanência da população na área, com base na afirmação
de que a regeneração da Mata Atlântica local está associada à presença do grupo
no espaço (SATHLER, 2012). De acordo com esta visão, no Morro das Andorinhas
está constituída a territorialidade deste grupo, que não permitiu que a área fosse
invadida pela especulação imobiliária, não se tratando somente do direito à moradia,
mas também à reprodução de seu modo de vida, saberes, ligações com um território
específico, constitutivos de sua identidade (SATHLER, 2012). Hoje a comunidade é
representada pela Associação de Comunidades Tradicionais do Morro das Andorinhas
(ACOTMA).

Ao mesmo tempo em que se dava este processo de questionamento e


defesa de direitos de permanência da população do Morro das Andorinhas em seu
território nativo, o parque estadual ia se estabelecendo e a frequência de visitantes se
intensificando, motivado, principalmente, pela prática de montanhismo, contemplação
da paisagem, etc.

Assim como a referência às questões ambientais se transforma em um discurso


corrente que passa a fazer parte da vida dessas populações, o turismo também
desponta como um ressignificador dos espaços, que passam a ser vistos como lugar
de lazer e desfrute.

Outra comunidade associada ao PESET, que se autodenomina “tradicional”, é a


que habita a área da antiga fazenda do Engenho do Mato, hoje também conhecida como
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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“Quilombo do Grotão”. Composta por descendentes de antigos colonos da fazenda,


estes moradores hoje reivindicam o reconhecimento legal de sua “tradicionalidade”
na área, por parte da administração da unidade de conservação, como fizeram os
moradores do Morro das Andorinhas. Ao mesmo tempo trabalham em um processo de
“resgate” da “cultura negra”, organizando rodas de samba e de capoeira, feijoadas, etc.,
recebendo já um número representativo de visitantes e frequentadores e procurando
envolver também as outras “comunidades tradicionais” no projeto, esboçando, desde
já, a ideia de um turismo de base comunitária.

Concomitantemente, outro processo de afirmação da “tradicionalidade” se


dá por meio da luta dos pescadores artesanais de Itaipu pela criação da Reserva
Extrativista Marinha de Itaipu, que após muitos anos foi estabelecida em outubro de
2013. Neste momento os pescadores deram início aos trabalhos para a construção de
seu Conselho Deliberativo. Há também expectativas quanto à organização de projeto
de turismo comunitário.

“TRADICIONALIDADE” E DEFESA DO TERRITÓRIO NATIVO

Importante na tarefa de assegurar a presença humana em áreas de unidades de


conservação, mas ao mesmo tempo ocupando lugar em distintos campos discursivos
na esfera do ambientalismo, essa noção tem gerado mais polêmica que consenso em
torno de seu significado.

Foi inicialmente definida no âmbito internacional do debate sobre a relação de


alguns grupos sociais com a conservação da biodiversidade. Sua formulação inicial
teria se inspirado em correntes do pensamento social preocupadas em distinguir os
tipos regionais brasileiros relacionados com a ideia de culturas rústicas. Posteriormente,
o conceito teve um novo impulso ao se inserir em movimentos sociais, ocorridos
principalmente na década de 1980 no Brasil, que incorporaram a questão ambiental
como dimensão importante de sua prática (BARRETTO FILHO, 2006). Na década
seguinte, essa noção entra em novo ciclo de polêmica ao ser utilizada no contexto do
projeto de lei que veio dar origem ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC). O motivo principal desse longo período de negociações foi a questão de
populações e unidades de conservação de Proteção Integral. O debate, com o aporte
da noção de populações tradicionais, para desagrado dos preservacionistas, apontava
para possibilidades de reclassificação dessas áreas onde houvesse moradores para
categorias menos restritivas.

Segundo Sant’Anna (2003), a polêmica relativa à terminologia e definições


adequadas se estendeu até o momento em que a lei foi sancionada pelo Presidente
da República, quando, então, foi vetada. Esse veto deveu-se à dificuldade de definir
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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o conceito de modo que não se cometessem injustiças, excluindo grupos pertinentes


ou incluindo indevidamente outros grupos. Uma das críticas ao emprego do termo
“tradicional” era de que a adoção da noção de tempo e espaço para determinar a “tra-
dicionalidade” do grupo fazia com esta não se aplicasse a todos os grupos que a lei
pretendia atingir. Tradicional, deste modo, estaria se referindo ao estilo de vida dessas
populações. Além de carregar um sentido pejorativo, era uma categoria construída
pelos atores externos e não pelos membros dos próprios grupos (SANT’ANNA, 2003).

Estas divergências e dificuldades fizeram com que antropólogos, ambienta-


listas, parlamentares, dentre outros representantes da sociedade civil, negociassem
o veto da definição, propondo, em troca, que ela fosse elaborada caso a caso, na
utilização prática da lei (SANT’ANNA, 2003). Apesar de a noção ter sido vetada, a lei
continuou a utilizá-la. As Reservas Extrativistas (RESEX) e as de Desenvolvimento
Sustentável (RDS), por exemplo, são específicas para “populações tradicionais”. Essa
categoria está, portanto, relacionada à defesa de direitos de populações aos seus ter-
ritórios. Diegues (2001) argumenta que a identidade do indígena no Brasil é definida
de forma mais clara do que aquela das “comunidades tradicionais” não indígenas. O
reconhecimento dessa identidade coexiste com intenso debate a respeito do signifi-
cado dos termos: populações “nativas”, “tribais”, “indígenas” e “tradicionais” utilizados
internacionalmente (DIEGUES, 2001).

Alguns problemas podem ser apontados em relação ao conceito de “populações


tradicionais”: em primeiro lugar, a dificuldade na delimitação do que as diferencia de
outras sociedades. A noção também pressupõe a ideia de sociedade estática, não
observando o aspecto dinâmico da reprodução sociocultural. Como observa Zanoni
(2000), tratar essas populações como “tradicionais” pode ser importante para mostrar
que são povoadoras de longa data da região onde vivem e por legitimar sua permanência
nas áreas protegidas. No entanto, gera também ambiguidades que podem prejudicar
a compreensão das dinâmicas históricas que produzem, reproduzem e transformam
seus modos de vida. Além disso, pode implicar uma tendência à uniformização de
grupos heterogêneos, dificultando a apreensão de sua historicidade. Barretto Filho
(2006) argumenta que essa noção conspiraria contra a autonomia desses próprios
grupos diante de suas aspirações ao ingresso na modernidade, em relação aos níveis
de consumo e bem-estar, por exemplo.

É importante, porém, considerar que o processo identitário é marcado por am-


biguidades. Em alguns momentos, ser “tradicional” tem um sentido produtivo para
aqueles que assumem essa identidade, e em outros não. Oliveira (1974) chama aten-
ção para a necessidade de focalizar as identidades dentro da perspectiva de que
estão “em crise”, na medida em que os processos de identificação pessoal ou grupal
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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chegam a estar mais condicionados pela sociedade envolvente do que pelas “fon-
tes” originárias dessas mesmas identidades. Nesse sentido, a “tradicionalidade” não
é nativa, mas uma resposta às situações criadas a partir de questões externas ao
grupo, como por exemplo, a criação de unidades de conservação e/ou a chegada do
turismo. A construção das identidades está relacionada, portanto, a uma permanente
reconstrução do sistema de valores de uma determinada sociedade (BARTH, 2000).
Sendo assim, a partir do aspecto fluido e mutante das identidades, é possível enten-
der que elas são constituídas a partir de objetivos e não essencialmente (BAUMAN,
2005).

Nesse sentido, com relação ao desenvolvimento do turismo nestas áreas, por


exemplo, a “tradicionalidade” passa a ser um elemento forte, pois ajuda a constituir
um produto turístico diferenciado.

Com relação às “comunidades tradicionais” do Parque Estadual da Serra da


Tiririca, o fato de constituírem-se como tal tem representado por um lado, a possibi-
lidade de permanência na área do Parque, como já dito e por outro, um elemento de
atratividade turística.

O TURISMO COMUNITÁRIO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Apesar das experiências hoje denominadas como turismo comunitário serem


de tipos diversificados, não sendo possível enquadrá-las em um só campo de ação ou
mesmo de investigação, é possível identificar algo comum entre elas, como o fato de
tentarem responder às questões colocadas pela noção de sustentabilidade.

Algumas críticas à atividade turística, a partir do ponto de vista das ciências


sociais, tem se concentrado no foco economicista que marcou durante longo tempo
não só grande parte dos projetos elaborados para as áreas turísticas, como também a
produção acadêmica sobre o tema. Por outro lado, foi se tornando evidente a assimetria
de poderes nas relações entre os empreendedores turísticos e as populações locais,
frequentemente deixadas de fora dos empreendimentos. Outra preocupação eram
as “interferências” culturais das populações “visitantes” sobre as “visitadas”, tidas
muitas vezes como desagregadoras. O turismo comunitário representaria, portanto,
uma tentativa de desenvolvimento local que pudesse “resguardar” esses valores e
sociabilidades.

Uma das características marcantes da maioria dos projetos e ações de turismo


comunitário é de que muitos deles estão associados a unidades de conservação da
natureza, principalmente as de Uso Sustentável, como Reservas Extrativistas (RESEX)
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e Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS). Por outro lado, geralmente


estão localizados em pequenos povoados, aldeias e vilas, não abrangendo todo um
município, embora não tenham uma dimensão territorial muito definida (SANSOLO;
BURSZTYN, 2009).

Pimentel (2009) apresenta diversos projetos e experiências de hospedagem


familiar, que por suas características enquadram-se no perfil do turismo de base
comunitária, apresentando como traço distintivo a importância dada ao acolhimento e
a hospitalidade ao visitante. Ao contrário de lógicas perversas que ocorrem em grande
parte da operação do turismo em macro escala, no qual as populações locais se
integram (quando se integram) de forma subalterna, no turismo de base comunitária,
seu papel central iria desde a organização e eleição de elementos que compõe a
atividade, até as possibilidades de ganhos com ela. A escolha dos recursos a serem
utilizados – humanos, naturais e patrimoniais – seria feita, prioritariamente, a partir
dos interesses coletivos do grupo, mesmo que articuladas aos interesses do mercado
globalizado, mas não exclusivamente para atender às suas demandas.

Nesse sentido, um importante aspecto é o de que o turismo comunitário ressalta


o modo próprio de cada comunidade entender e fazer o turismo, sua criatividade em
promover soluções para as demandas contemporâneas a partir de sua própria cultura
(SAHLINS, 1997). Muitas vezes essa “interpretação local do turismo” (IRVING, 2009)
ou os padrões em que este tipo de turismo é operado, expressos em rusticidade
e simplicidade, são entendidos, a partir de um ponto de vista etnocêntrico do
mercado turístico, como falha ou inadequação. Mas, também, tem crescido o número
de turistas que buscam o contraste da vida simples do campo com seu cotidiano
urbano, tido como mais complexo e equipado. Por outro lado, tem sido necessário o
desenvolvimento de uma mentalidade cooperativa e associativa, capaz de superar
o excessivo foco na competitividade e no individualismo presentes nas sociedades
contemporâneas. Este aspecto tem sido talvez o maior gerador de dificuldades nos
projetos, pois, muitas vezes, as aspirações de crescimento individual comprometem
os interesses das coletividades. A criação de associações, cooperativas e redes tem
sido a solução encontrada para lidar com o problema e tem se constituído não só numa
forma de colocação dos pequenos empreendimentos na disputa perante o mercado
turístico, como também na visibilidade frente ao Estado para a obtenção de subsídios
e infraestruturas necessárias, mas, sobretudo, no exercício e no aprendizado da ação
coletiva.

Outra característica importante seria a pequena escala dos empreendimentos,


geralmente de estrutura familiar, aproveitando equipamentos utilizados pela própria
família ou comunidade, com menor impacto construtivo. Nesse sentido, a pressão
por modificações no espaço e na paisagem é reduzida. Valores como hospitalidade,
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respeito a tradições culturais, identidades e pertencimentos locais, proteção ambiental


e participação social fazem parte de um vocabulário e de um ideário comum aos
projetos deste tipo.

Durante várias décadas, tomando como foco o caso brasileiro, o turismo


considerado adequado para as unidades de conservação era o ecoturismo. As
concepções biocêntricas, hegemônicas principalmente no discurso e nas ações
dos órgãos ambientais e de alguns grupos ambientalistas, pressionavam para que
as áreas protegidas passíveis de visitação, como os parques, fossem planejadas
para a implantação de ecoturismo. Porém as comunidades locais, apesar de serem
mencionadas conceitualmente, eram invisibilizadas nestes projetos.

O longo processo resultante da promulgação da Constituição de 1988, em


que surgem e se fortalecem no Brasil os movimentos sociais de afirmação étnica,
fez com que diversas populações locais, muitas delas habitantes de áreas onde se
implantaram unidades de conservação, passassem a atuar no cenário político nacional
e se colocassem como protagonistas dos processos de desenvolvimento local. Não
se pode afirmar que esse processo se dê sem conflito. Forças econômicas e políticas
locais e translocais, sobretudo associadas ao grande capital, continuam a pressionar
para manter o poder na mão das elites, e procuram deslegitimar os processos de
conquista dos grupos subalternos. Por outro lado, ainda se verifica um caráter
predominantemente biocêntrico nas políticas brasileiras de conservação/preservação
da natureza, que dificulta os processos de democratização da criação e gestão das
unidades de conservação, embora este seja hoje um campo muito mais relativizado
pelas ideias contrárias.

Hoje o turismo comunitário associa-se a diversos projetos de desenvolvimento


local e é percebido como uma alternativa econômica para as populações que habitam
a área e o entorno de unidades de conservação de Uso Sustentável.

PROCESSOS DE ETNOGÊNESE/SOCIOGÊNESE E O TURISMO NA SERRA DA


TIRIRICA

O termo etnogênese tem sido utilizado para indicar processos de reelaboração


cultural de populações indígenas brasileiras. Tendo passado por processos
colonizadores e de “mistura” com outros segmentos da sociedade, não sendo mais
considerados indígenas, nem mesmo pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI),
alguns grupos se reorganizam culturalmente, emergindo com novas identidades
étnicas frente a demandas principalmente de defesa do território nativo.

Grünewald (2011) fala da existência de diversos grupos requerendo o


reconhecimento de sua condição indígena junto à FUNAI, pois com a Constituição de
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1988, o Brasil passou a reconhecer sua diversidade étnica e a especificidade cultural


dos índios, assim como de diversos grupos como caiçaras, ribeirinhos, entre outros.
Segundo o autor, ela ainda estaria se reestruturando a fim de cumprir as determinações
da constituição no sentido de atender melhor às demandas da população indígena.
A disputa por território é intensa, na medida em que as terras indígenas são alvo de
diversos interesses econômicos de grande porte por parte de empresários, fazendeiros,
e até de grileiros e posseiros (GRÜNEWALD, 2011).

Guardadas as diferenças, algumas populações não indígenas são também


alvo de disputas territoriais, passando por processos de reorganização étnica/social
na luta pelo direito de ocupação e uso dos territórios nativos, como já foi tratado
neste texto. Por não se tratar aqui especificamente da gênese de grupos étnicos ,
preferimos falar destes processos, como Grünewald (2011) aponta para a noção
de sociogênese. A discussão sobre a territorialidade destes grupos considerados
tradicionais se relaciona com as maneiras como utilizam o espaço e a natureza, sua
organização social, cultural e econômica, seu sistema de valores e simbologia, tendo
a territorialidade como elemento central para a construção da identidade do grupo. O
turismo entra como um fator de reforço a esses processos de reorganização social e
construção identitária, na luta pelo território.

O turismo contemporâneo apresenta-se como um fenômeno a cada momento


mais complexo e com uma grande diversidade em relação aos objetos de motivação
turística. A busca pelo “outro” e pelo “exótico” encontra formas diferentes de se
reproduzir. Grünewald (2003) argumenta que embora algumas formas de turismo não
estejam preocupadas com questões de história, cultura própria, etc., outras tomam
por objeto aspectos da identidade e alteridade. E esse é um fator estimulante para
que ocorram os processos de revitalização cultural, em que as populações locais
procuram ressaltar sinais diacríticos que permitam uma reconfiguração étnica e neste
processo se reinventam como atrativo turístico.
São movimentos localizados de emergência de novos sujeitos sociais, novas
etnicidades, novas comunidades em posições subalternas que tentam falar
de si mesmos contra o mundo anônimo e impessoal das forças globalizadas
presentes na diversidade do mundo pós-moderno. A etnicidade aí seria o lugar
ou o espaço necessário a partir do qual as pessoas falam (GRÜNEWALD,
2003, p. 144).

O autor chama a atenção para a importância contemporânea deste fenômeno,


como alternativa econômica e revitalização cultural dessas populações. Aponta,
também, que no início das investigações no campo da antropologia do turismo, as
interações entre turismo e populações locais eram vistas como “impactos negativos”,
que levariam necessariamente a processos de aculturação. Porém, a partir de
perspectivas desenvolvidas mais recentemente, embora tenham surgido ainda na
década de 1970, com o trabalho de Nelson Graburn (1976, apud GRÜNEWALD, 2003),
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passa-se à ideia de que o turismo poderia produzir um reforço da etnicidade e de certas


tradições. Estas visões se aliam a concepções não essencialistas da cultura, em que as
distinções culturais se dão a partir de interações entre as sociedades, e as identidades
são criadas no presente, para fins de autorrepresentação ou representação para os
outros, embora para os membros dos grupos o discurso étnico costume ressaltar
elementos de origem, cultura, história, e muitas vezes raça (GRÜNEWALD, 2003).

Neste sentido, as comunidades citadas estariam passando por um processo de


sociogênese, em que procuram de forma consciente ou não, constituir-se como grupos
diferenciados, desenvolvendo um processo de patrimonialização a partir de elementos
materiais e imateriais, em que possam ancorar sua identidade. Este processo, como
já foi dito, não está referido unicamente ao turismo, mas principalmente à luta por
direitos territoriais, se configurando como eminentemente político. Gonçalves (2001)
argumenta que os “[...] chamados ‘patrimônios culturais’ podem ser interpretados como
coleções de ‘objetos’ móveis e imóveis, através dos quais é definida a identidade de
pessoas e de coletividades como ‘nação’, ‘grupo étnico’, etc.” (GONÇALVES, 2001,
p.19).

Com relação ao turismo nas comunidades tradicionais do Parque Estadual


da Serra da Tiririca, pode-se observar um processo em formação. A cultura destas
populações não é ainda a motivação da maioria dos visitantes, mas já se verifica um
fluxo direcionado, principalmente em relação à comunidade do Engenho do Mato.

Santana Talavera (2003) argumenta que ainda que o turismo cultural esteja
presente desde as primeiras manifestações da atividade, de modo geral, chega-se
a ele indiretamente, por meio das formas mais convencionais, sendo pequeno ainda
o número de turistas que tem como motivação principal o conhecimento de culturas
consideradas “diferentes”.

No PESET, em grande parte dos casos, o interesse cultural é indireto. A


procura pelo parque se baseia na possibilidade de “contato com a natureza”, “de se
exercitar nas trilhas” ou “para observar a paisagem”. Como relatado por um morador5
do Morro das Andorinhas, a trilha que passa em meio às casas da comunidade já
é muito visitada, por pessoas de variadas origens, desde jovens montanhistas
até estrangeiros motivados pelas caminhadas e pela paisagem. Este assédio tem
representado para eles a possibilidade de ganhos, embora não tenha ainda uma ideia
precisa de “como fazer”, mas também um motivo de preocupação e de medo da perda
do controle sobre o território (de outra maneira), pois, o parque, em sua visão, divulga
a trilha como um de seus atrativos, mas não promove sua manutenção e o controle
dos visitantes. Neste caso não se observa um grande envolvimento ainda com a
atividade turística. A “tradicionalidade” é mais acessada para a garantia do direito
5 Entrevista realizada em 09 de março de 2013.
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ao território. Porém, a luta e o reconhecimento como comunidade com um “laudo


antropológico” legitimando sua etnicidade, coloca-os em um lugar diferenciado. Os
moradores tornaram-se conhecidos por aparecerem em matérias jornalísticas, tendo
sido alguns deles, inclusive, convidados a participar de eventos na universidade,
sendo frequentemente entrevistados por pesquisadores. Tudo isso gera curiosidade
e divulgação, contribuindo para um aumento no fluxo de visitação. O turismo seria
algo, então, com o qual estes moradores precisam lidar e aos poucos vão descobrindo
maneiras de fazê-lo.

Já a comunidade do Engenho do Mato, localizada no bairro de Itaipu, na


Região Oceânica de Niterói, liderada pelo neto do primeiro colono ocupante da área,
já possui uma visitação direcionada para um movimento cultural de “resgate” e defesa
da cultura negra. O avô, descendente de escravos, chegou do Sergipe para trabalhar
na Fazenda Engenho do Mato (FEM), que se dedicava à produção açucareira, na
década de 1920. Os bairros de Itaipu e Piratininga caracterizaram-se pela produção
açucareira, e também, como área rural produtora de hortifrutigranjeiros e pescado
(MENDONÇA, 2006).

Em 1946, a fazenda, em decadência, foi hipotecada. Os colonos passaram a


desenvolver agricultura familiar, produzindo também, farinha de mandioca em pequena
escala. Esta produção sustentou as famílias até meados dos anos 80, porém muitos
moradores começaram a se vincular a outros empregos, para reforçar a renda familiar.
Com a morte da proprietária da fazenda, em 1949, a Empresa de Terras Brasileiras
(Terrabraz) deu início a loteamentos das terras. Os antigos trabalhadores rurais da
fazenda que ocupavam vários sítios no entorno da sede iniciaram um processo de
resistência contra o loteamento (MENDONÇA, 2006).

Mendonça (2006) argumenta que, devido aos conflitos pela terra, o governo
do estado do Rio de Janeiro desapropriou, para fins de reforma agrária, uma parte da
fazenda ainda não loteada, localizada na vertente da Serra da Tiririca, voltada para
Niterói. Esta foi uma iniciativa do primeiro Grupo de Trabalho Agrícola no estado e o
documento base intitulava-se “Plano de Ação Agrária (PAA): Estudo sobre a Fazenda
Engenho do Mato”. O processo de desapropriação só foi concluído em 1998. Segundo
Mendonça (2006) o PAA era baseado na questão do uso social da terra, pois enfatizava
que a Constituição Federal vigente (de 1988) fornece poderes aos governos para
não permitir que a especulação imobiliária arrase terras agricultáveis para a obtenção
de lucros usuários nos loteamentos. O PAA previa uma série de benefícios para as
famílias contempladas, porém não foi implantado como havia sido concebido, devido
principalmente ao golpe militar de 1964, que afastou as discussões sobre reforma
agrária no Brasil. Na década de 1970, com a expansão imobiliária na região, muitas
famílias foram pressionadas por proprietários dos terrenos loteados a deixar os sítios
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que ocupavam.

Na década de 1980, já havia a ideia de se criar uma unidade de conservação


na Serra da Tiririca, para proteger espécies raras ou ameaçadas de extinção por
projetos imobiliários. Grupos ambientalistas da região se mobilizaram para defender a
criação do Parque Estadual da Serra da Tiririca, o que acabou ocorrendo em 1991. O
representante da comunidade do Engenho do Mato, identificado por R.6, relata que em
1991 os moradores receberam a notícia de que a área em que viviam ia ser transformada
em parque. Este fato fez com que novos tipos de conflitos surgissem, pois parque
é uma unidade de conservação que não admite moradores em sua área, como já
citado. Hoje os sitiantes que ainda restaram na área lutam pelo reconhecimento como
comunidade “tradicional” pela unidade de conservação, para que possam permanecer
na área. Organizam-se hoje na Associação da Comunidade Tradicional do Engenho
do Mato (ACOTEM). Os movimentos culturais que promovem atualmente tiveram
início a partir das reuniões da associação, quando decidiram produzir feijoadas para
os participantes, servidas debaixo das árvores de sua casa. Segundo ele, no ano de
2003 estas reuniões já se ampliaram bastante e participantes dos movimentos de
capoeira começaram a frequenta-las, aglutinando, em seguida, diversos grupos de
capoeira de Niterói. Não tardou para que as rodas de sambam tivessem início. Hoje,
no último sábado de cada mês, acontece um evento, que mistura roda de samba
com feijoada e que tem atraído cada vez um número maior de visitantes. No domingo
do mesmo final de semana ocorrem as rodas de capoeira. R. vê nesse movimento
cultural o embrião do processo de construção do turismo comunitário. Deseja reunir
as outras “comunidades tradicionais” da região, em um projeto conjunto, integrando
os grupos através da produção e venda de artesanato, a partir de um trabalho de
organização familiar.

Com uma unidade de conservação de Uso Sustentável, a Reserva Extrativista


Marinha de Itaipu recém-criada, os pescadores artesanais de Itaipu conseguiram
dar um grande passo em direção ao reconhecimento de sua “tradicionalidade”, por
parte do Estado e da sociedade civil. O processo de criação da reserva começou em
1996, junto ao CNPT7. Porém a proposta não foi à frente nesta época e em 2010,
foi encaminhada pelo atual ICMBIO8 ao INEA9, por compreender que ela seria mais
adequada à esfera estadual (INEA, 2013). De acordo com o documento “Estudo
Técnico para a Criação da Reserva Extrativista Marinha de Itaipu (RESEX Itaipu)”
(INEA, 2013) um grupo de pescadores artesanais de Itaipu reapresentou, em 2012,
6 Para garantir a identidade do entrevistado, utilizou-se a identificação R., sendo este o repre-
sentante da comunidade do Engenho do Mato. Entrevista concedida em: 15 de junho de 2013.
7 Centro Nacional para o Desenvolvimento Sustentado de Populações Tradicionais (Ministério
do Meio Ambiente - MMA e Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis-I-
BAMA).
8 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
9 Instituto Estadual do Ambiente.
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a demanda à Secretaria de Estado do Ambiente (SEA), que reativou o processo em


parceria com o INEA e a Universidade Federal Fluminense (UFF). Reserva Extrativista
é uma categoria de unidade de conservação do grupo de Uso Sustentável, de domínio
público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais. Tem como objetivo
central a proteção dos meios de vida e cultura dessas populações, assegurando o uso
sustentável dos recursos naturais da unidade (BRASIL, 2000). A pesca artesanal na
região segue uma tradição secular, que se originou na época da ocupação da região
pelos indígenas. Há muitos estudos antropológicos sobre ela que demonstram as
características diferenciadas das atividades pesqueiras da região (INEA, 2013).

Segundo entrevistas10 com pescadores artesanais de Itaipu constatou-se que há


uma competição desigual pelo acesso aos peixes, na medida em que grandes barcos
da pesca industrial, com equipamentos de tecnologia avançada localizam cardumes a
grande distância e capturam peixes de tamanhos diversos, deixando “quase nada” para
os pescadores artesanais, aqueles que ficam na praia ou próximo a ela “esperando os
peixes passarem”. De acordo com C., um pescador artesanal que atua nas imediações
da praia de Itaipu, a pescaria foi prejudicada ao longo dos anos devido ao aumento
da pesca industrial e à poluição decorrente do crescimento populacional e do turismo
desenfreado. O pescador declarou-se entusiasta do turismo ecológico, porém não
defende o turismo como principal fonte de renda. Para ele a atividade serviria como
um complemento da renda das famílias e traria o reconhecimento do trabalho dos
pescadores, contribuindo para a diminuição de conflitos. Pensa que o turismo precisa
ser feito com o apoio do poder público, com atendimento aos turistas em um centro
de visitantes, espaço para os pescadores e informações sobre a pesca. É necessário
também cuidar da segurança dos barcos, equipá-los com os itens necessários. Outros
pescadores artesanais entrevistados têm opiniões semelhantes. A. afirmou que a
melhor definição para a pesca artesanal hoje seria a “incapacidade de pescar”, devido
a todos os problemas que ela enfrenta. Mostra-se a favor do turismo, contanto que seja
feito de forma organizada e com a devida estruturação; com placas de sinalização,
controle de ônibus de turismo, instalação de banheiros químicos e etc. Para ele
turismo é sinônimo de aumento na venda de peixes, beneficiando toda comunidade.
Mas pessoalmente não gostaria de participar de uma proposta de serviços de passeio
para turistas, pois teria que modificar a embarcação e até largar a pesca, o que ele
não quer. Tem esperança que a Reserva Extrativista possa controlar os “barcos dos
poderosos”. J. relata que hoje o ciclo da pesca está prejudicado, devido à mudança
na reprodução das espécies de peixes resultante da pesca desenfreada de amadores
e da indústria pesqueira. Pensa que a RESEX trará benefícios ao ambiente e aos

10 Entrevistas ocorridas nos dias 15 e 22 de julho de 2013 e 11 de fevereiro de 2014, sendo que
na primeira data a entrevista foi feita com o pescador identificado por C. e na segunda o pescador A.
e a terceira com o pescador J.
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moradores, como a possibilidade de investimentos na comercialização do pescado e


o ordenamento no uso da área demarcada. Entende que o turismo existe em Itaipu,
mas de forma desorganizada e mal aproveitada e que para haver o crescimento da
atividade devem ser feitos investimentos em infraestrutura e o aproveitamento de
espaços como o Museu Arqueológico de Itaipu, de grande importância histórica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora com relação ao turismo no parque não se possa até o momento falar
de um processo muito intenso, e principalmente em relação às comunidades locais, a
expectativa quanto ao que pode ser desenvolvido no futuro já é grande. Esta expectativa
nem sempre é positiva. Muitas vezes é traduzida como medo e preocupação com
as transformações e também com as possibilidades reais de ganhos. A visitação ao
parque até o momento tem demonstrado ser principalmente voltada aos atributos
paisagísticos e caminhadas nas trilhas. Entretanto, estas comunidades estão “no
caminho” dos visitantes e despertam o interesse turístico.

Verificou-se a ocorrência de um processo de patrimonialização da cultura por


parte dos grupos sociais em questão, visando à construção e/ou comunicação de
identidades étnicas. Estas identidades são importantes na conquista e manutenção de
direitos territoriais e são reforçadas pelo olhar do “outro” proporcionado pela atividade
turística.

Contudo, o turismo comunitário faz parte das expectativas destes grupos,


supõe-se que, em grande parte, pelo fato desta prática ser comunicada por
pesquisadores, ambientalistas e pessoas ligadas às unidades de conservação, como
a mais adequada para a área em questão. Neste sentido, contribuiria na construção
identitária dos grupos e se apresentaria como uma alternativa econômica, reforçando
as possibilidades de reconquista do território nativo.

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REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE INTERPRETAÇÃO PATRIMONIAL E


SUAS INTERFACES COM O PATRIMÔNIO NATURAL, CULTURAL E O TURISMO1

Rita Gabriela Araujo Carvalho2


Pedro de Alcântara Bittencourt Cesar3
Renan de Lima da Silva4

RESUMO: O trabalho propõe uma reflexão do conceito de Interpretação


Patrimonial inicialmente proposto por Freeman Tilden. A Interpretação Patrimonial é
compreendida como um ato de comunicação, sendo um elemento fundamental para
o estabelecimento de uma relação entre visitante e o objeto a ser interpretado. Assim,
objetivou-se compreender, através da revisão bibliográfica e análise documental,
como este conceito vem sendo abordado e utilizado tanto no campo cultural como no
natural. Buscou-se analisar, através dos documentos disponibilizados pelo ministério
do turismo, a relação da Interpretação com os segmentos de turismo cultural e
ecoturismo. Verificou-se, também, a existência de planos de Interpretação Patrimonial
nos órgãos envolvidos com a área ambiental, cultural e com o turismo. Parte-se de
uma abordagem weberiana. Nesta, elenca-se a teoria desenvolvida por Tilden (2007),
e contrasta-se aos diferentes conceitos, atribuídos a distintos grupos (ambiental
e cultural). Inicialmente, na pesquisa, apresenta-se o conceito de Interpretação
Patrimonial e sua trajetória histórica, logo se busca entender a relação desta com as
respectivas áreas de abordagem. A partir dessas reflexões verificou-se que o conceito
de Interpretação Patrimonial vem sendo entendido pelos teóricos das áreas ambiental
e cultural em seus respectivos campos de análise de forma distinta. Desse modo,
foi possível observar que, enquanto no campo cultural o conceito é definido como
Interpretação Patrimonial, no campo do patrimônio natural ele é conceituado como
Interpretação Ambiental. No entanto, ambos mencionam e utilizam como referência
em suas pesquisas a definição de Interpretação do autor Freeman Tilden. Além disso,
verificou-se nos documentos disponibilizados pelos órgãos federais envolvidos com as
temáticas abordadas no trabalho, que não há orientações para elaboração de planos
de Interpretação Patrimonial ou Ambiental. Isso demonstra que apesar da importância
da Interpretação para valorização desses ambientes, ainda há muito que avançar no
que se refere as ações governamentais.
PALAVRAS-CHAVE: Interpretação Patrimonial. Turismo. Patrimônio Natural.
Patrimônio Cultural

ABSTRACT: The paper proposes a reflection of the concept of Interpretation Sheet


originally proposed by Freeman Tilden. The Heritage Interpretation is understood
as an act of communication, being a key to establishing a relationship between the
1 Pesquisa realizada com apoio do CNPq.
2 Bacharela em Turismo pela Universidade Federal de Pelotas. Mestranda em Turismo da
Universidade de Caxias do Sul/Bolsista FAPERGS l. Email: ritagabyar@hotmail.com
3 Arquiteto e Urbanista e Doutor de Geografia (USP). Professor Adjunto II do Centro de Artes e
Arquitetura e do PPGTur (Mestrado) da Universidade de Caxias do Sul. Email: pabcesar@ucs.br
4 Tecnólogo em Gestão do Turismo, pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).
Mestrando em Turismo, Pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Email: renan.turismo@gmail.
comv
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visitor and the object to be interpreted element. Thus, the objective was to understand,
through the literature review and document analysis, as this concept has been
discussed and used both in the cultural field and in the natural. We sought to analyze,
through the documents provided by the ministry of tourism, the ratio of Interpretation
with the segments of cultural tourism and ecotourism. Also verified the existence of
plans Interpretation Sheet in organs involved with environmental, cultural and tourism
area. Part is a Weberian approach. This, lists the theory developed by Tilden (2007),
and contrasts the different concepts, assigned to different groups (environmental
and cultural). Initially, research, presents the concept of Interpretation Sheet and
its historical trajectory, soon seeks to understand the relationship of this with their
respective areas of focus. From these considerations it was found that the concept of
Interpretation Sheet has been understood by theorists of environmental and cultural
areas in their respective fields of analysis differently. Thus, it was observed that
while the cultural field the concept is defined as Interpretation Sheet, in the field of
natural heritage as it is conceptualized Environmental Interpretation. However, both
mention and use as a reference in their research setting Interpretation of the author
Freeman Tilden. Furthermore, it was found in documents made available by the federal
agencies involved with the issues addressed in the work, there are no guidelines for
the preparation of plans or Environmental Interpretation Sheet. This demonstrates that
despite the importance of interpretation for recovery of such environments, there is still
a long way to go regarding government actions.

KEYWORDS: Interpretation Heritage. Tourism. Natural Heritage. Cultural heritage

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como temática a Interpretação Patrimonial (IP). Esta é


compreendida como um ato de comunicação, sendo um elemento fundamental para
estabelecimento de uma relação entre o visitante e o objeto a ser interpretado.
Neste diálogo, busca-se aproximar o observador dos bens culturais ou naturais.
Entende-se a IP como ferramenta educativa, recreativa e turística, considera-se esta
uma excelente aliada à preservação e valorização do patrimônio, seja este natural ou
cultural. Através desta técnica há uma reelaboração da linguagem científica por meios
interpretativos. O conhecimento a ser interpretado poderá estar relacionado com as
diferentes áreas do saber, assim, sua transposição deverá ocorrer de forma lúdica e
atrativa, possibilitando ao visitante a compreensão dos fenômenos. Sua abordagem
fundamenta-se em uma dimensão conceitual multidisciplinar e se estabelece por
distintas possibilidades de relações.

A Interpretação, também, é considerada um elemento essencial de diversas


modalidades do turismo. A mesma agrega valor ao produto turístico e proporciona a
sensibilidade e aprendizagem dos visitantes sobre determinados aspectos de uma
natureza e de sua cultura (MURTA, ALBANO, 2002). Ao utilizar-se da interpretação no
turismo, tem-se por objetivo estimular o olhar do turista, enriquecendo sua experiência
com o meio visitado.
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Embora a interpretação patrimonial seja considerada uma técnica essencial


para o desenvolvimento social e turístico, quando se refere aos seus conceitos
teóricos são percebidas algumas divergências nas bibliografias encontradas. Portanto,
nesta pesquisa objetivou-se compreender, através da revisão bibliográfica e análise
documental, como este conceito vem sendo abordado e utilizado tanto no campo
cultural como no natural. Buscou-se analisar, através dos documentos disponibilizados
pelo ministério do turismo, a relação da Interpretação com os segmentos de turismo
cultural e ecoturismo. Verificou-se, também, a existência de planos de Interpretação
Patrimonial nos órgãos envolvidos com a área ambiental, cultural e com o turismo.

MÉTODO E PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

O objeto da interpretação se estabelece por uma formulação e construção social.


Nessa condição, sabe-se que normalmente estes se posicionam como Patrimônio
(CHOAY, 2011). Desse modo, nesta pesquisa realiza-se um levantamento bibliográfico
acerca da Interpretação Patrimonial, associando como um entendimento patrimonial,
nos seu aspecto cultural e natural.

Nota-se, comumente uma maneira diferenciada no tratamento ao objeto


relacionado com a interpretação. Assim sendo, são estabelecidos direcionamentos
distintos para a Interpretação do Patrimônio, ao ser tratado como objeto cultural e
natural, consequentes da sua utilização por distintos campos disciplinares como o
Turismo, a Arquitetura, a Geologia, a Biologia, dentre outros. No entanto, tem-se
como pressuposto que as referências utilizadas têm um campo único, sendo este
apropriado pelas diversas áreas do conhecimento na formulação de uma proposta
para aproximação do visitante ao meio visitado.

Parte-se de uma abordagem weberiana. Nesta, elenca-se a teoria desenvolvida


por Tilden (2007), e contrasta-se aos diferentes conceitos, atribuídos a distintos grupos
(ambiental e cultural). Assim, o entendimento dessas referências e fatores estabelecidos
associam “as características individuais dos agrupamentos” (WEBER,1997, p.91)
devidamente representado em cada campo epistemológico, estudado. Leva-se a
buscar explicações históricas para tais situações. Nesta pesquisa, não se espera
caracterizar as distintas áreas. Porém, espera-se localizar possíveis distanciamentos.

Inicia-se a pesquisa realizando levantamento por fontes bibliográficas. Esta,


caracterizada como estudo exploratório (GIL, 1987), tem como objetivo reconhecer as
referências adotadas na formulação de propostas de Interpretação adotadas no país.
Pesquisa-se em documentos disponíveis em órgãos oficiais estaduais e federal de
turismo, meio ambiente e cultura, além do banco de dados da Capes. Tais informações
possibilitam, a adotar uma análise com abordagem metodológica weberiana como
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instrumento de validação da questão norteadora.

ASPECTOS DA TRAJETÓRIA DA INTERPRETAÇÃO

A elaboração da técnica de Interpretação Patrimonial iniciou com o Serviço


Nacional de Parques dos Estados Unidos, na metade do século XX. Posteriormente,
na década de 1960 foi utilizada no Reino Unido, principalmente na Escócia, visando
a valorização de áreas rurais e reservas naturais e a partir dos anos 1970 é que
a interpretação evoluiu para monumentos históricos (MURTA, GOODNEY, 2002).Na
década seguinte, a Interpretação e a requalificação do patrimônio são consideradas
fundamentais para elaboração das atrações históricas e culturais, a fim de atender as
necessidades de um mercado consumidor. No entanto, ocorreram alguns problemas
nesse processo, sendo um deles a exclusão das comunidades locais no planejamento.
Nesta condição, as atrações históricas são construídas sem a vitalidade das praticas
culturais e sociais das comunidades locais.

Hoje um turismo sustentável prima por harmonizar as necessidades da


comunidade receptora, dos visitantes, do meio ambiente e do próprio atrativo turístico
(MURTA, GOODNEY, 2002).
No Brasil, as práticas de IP são dispersas. Algumas referências de suas práticas
comumente apontadas são: Espetáculo Som e Luz do Sitio Arqueológico de São
Miguel das Missões (RS), além do Projeto Tamar, principalmente na praia do Forte
na Bahia, o Projeto de Som e Luz do Museu Imperial de Petrópolis (RJ), (FARIAS,
2008, MORALES, 2010) entre outras iniciativas com ênfase no cultural. Já em relação
à interpretação voltada ao patrimônio natural destaca-se o Parque Nacional Marinho
de Fernando de Noronha, algumas iniciativas em Unidades de Conservação (com
destaque para os parques), o Projeto Geoparques do Serviço Geológico do Brasil,
Projeto Caminhos Geológicos no Rio de Janeiro, entre outros (NASCIMENTO,
RUCHKYS, MANTESSO-NETO, 2008). Porém, percebe-se que as pesquisas teóricas
sobre essa discussão ainda são incipiente no Brasil. O que por um lado é contraditório
visto o potencial turístico natural e cultural ímpar que se tem no Brasil.

Nas últimas décadas a Interpretação tem se configurado por diversas


vertentes. Na área ambiental, a regulamentação do Sistema Nacional das Unidades
de Conservação em 2002 e a definição de suas práticas de visitação foram marcos.
Nas Diretrizes Para uma Politica Nacional de Ecoturismo (BRASIL,1994) foram
estabelecidas a importância de ações e planos de interpretação. Neste mesmo
momento, iniciam-se as publicações acerca do assunto. Provavelmente Murta e
Goodey (1995) são as principais fontes de pesquisa nessa temática no país, somando-
se a estes, Murta e Albano (2002) que irão, por meio de relato de experiência, construir
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as bases conceituais que caracterizam a pesquisa no país.

As ações desenvolvidas no Sitio Arqueológico de São Miguel como práticas


de IP, já ocorrem a mais de quatro décadas, sendo considerada uma das primeiras
experiências interpretativas. Entretanto, Farias (2008), ao apresentar um panorama
dos grupos que desenvolvem práticas de IP não faz referência ao Sitio Arqueológico
de São Miguel. Destacam-se trabalhos desenvolvidos nas cidades históricas de
Minas Gerais, nas Unidades de Conservação, em ações para o Governo Federal no
Nordeste, como por exemplo o projeto Tamar.

Farias (2008) identifica três métodos distintos utilizados nas práticas de


Interpretação Patrimonial descritos a seguir. No sul e sudeste do país comumente
adota-se a transposição das técnicas dos Estados Unidos. No Rio de Janeiro,
algumas décadas passada iniciou um processo de interpretação, baseado em fatos
marcantes do período cafeeiro com um acentuado apelo em uma ambientação
histórica. Nesta, o uso do objeto museológico se fez interagido com o visitante.
Segundo Farias (2008) às referencias a escravidão, sem um estudo mais detalhado,
fez causar constrangimentos e reflexão ideológicas marcantes quando as encenações
adotadas. Desde a década de 1990 Tiradentes (MG) tem desenvolvido práticas de
interpretações patrimoniais com os visitantes, reforçando seus valores simbólicos. A
aproximação com a Fundação Roberto Marinho, ligado à rede Globo fez melhorar o
seu posicionamento mercadológico, agregando valores à imagem da localidade na
mídia nacional. Posteriormente foram elaboradas trilhas interpretativas no Núcleo
Histórico da cidade associando as informações turísticas (PIRES, ALVARES, 2010).

Outro grupo de pesquisadores associa a IP a projetos de inserção social. Assim,


essa tentativa de envolvimento comunitário torna-se uma característica dos projetos
desenvolvidos no Brasil. Entre eles, o Projeto Tamar (1998), com uma possibilidade
de inclusão social. Esta perspectiva agregada as práticas desenvolvida pelo Serviço
Brasileiro de Apoio as Micros e Pequenas Empresas - Sebrae, rapidamente torna-se
referencia para Ministério do Turismo (Farias, 2008).

Deve-se tomar a preocupação para que ocorra o envolvimento da Interpretação


com assuntos políticos ou memórias que causem transtornos a grupos sociais
(KNUDSON, CABLE, BECK, 2003, p.124). Trabalha-se na perspectiva que a
Interpretação venha a favorecer o uso social do Patrimônio (BALLART, TRESSERRAS,
2001).

A Interpretação não se faz como uma ferramenta instrutiva ou de informação.


Nela, os fatos devem ser retratados por justificativa do fenômeno sociocultural que
o insere, podendo possibilitar uma compreensão sistêmica, ou mesmo profunda do
patrimônio, da sociedade envolvida e dos contextos diversos. Suas ações possibilitam
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leituras de paisagens naturais e culturais, ou de referencias diversas, como as


históricas, geográficas e artísticas (KNUDSON, CABLE, BECK, 2003, p.4). São
atributos da Interpretação Patrimonial: desenvolver ou reforçar um senso de lugar
na localidade envolvida; enriquecer a experiência do visitante; confluir interesses;
produzir benefícios para um produto comercial e administrativo e atender necessidades
diversas do usuário (KNUDSON; CABLE; BECK, 2003, p.8-10).

INTERPRETAÇÃO PATRIMONIAL

De acordo com Murta e Goodey (2002, p.13) entende-se como interpretar o


patrimônio “o processo de acrescentar valor à experiência do visitante, por meio do
fornecimento de informações que realcem a história e as características culturais e
ambientais de um lugar”. Atribui-se a Freeman Tilden como o primeiro a conceituar o
termo interpretação. Porém, inicialmente, aponta a interpretação como uma atividade
educacional, com suas formas e canais de comunicação (TILDEN, 2007). E s t a
polêmica afirmação reformulada anos mais tarde pelo autor, em diversas palestras,
reforça o intuito de relacionar a interpretação com a recreação e não apenas, ou
diretamente com a educação. A Interpretação e a Educação Patrimonial são ações
políticas que envolvem os mesmos objetos e atores sociais, embora com sujeitos
distintos no intuito de sua finalização. Logo, tem-se uma necessidade conceitual de
distingui-las. Tilden em 1967 (2007) reforça que a interpretação não é um relato,
mas uma revelação, uma arte, uma provocação e utiliza-se de parte do arcabouço
apresentado no processo de educação. Entretanto, há nela outros valores, como os
recreativos e de comunicação. Sua ação aborda um visitante (como sujeito), com
interesse distinto, então, não se espera que ele tenha como prioridade formular
conceitos educativos do patrimônio.

Interpretar é revelar significados, estimular a curiosidade, inspirar novas


atitudes nos visitantes. Assim, a interpretação se utiliza de teatro, poesia, fotografia,
arquitetura ou ainda expressa suas mensagens utilizando meios de comunicação como
placas, painéis, mapas, guias, folders ou mesmo a elaboração de guias e condutores
locais para atender os visitantes (MURTA e GOODEY, 2002, p.14). Tilden (2007, p.9)
estabelece seis princípios a Interpretação Patrimonial, aos quais considera etapas
importantes para elaboração da mesma, sendo eles:

1. Qualquer forma de interpretação que não esteja relacionada com que


pretende-se exibir ou mostrar, com algo presente na personalidade ou na experiência
pessoal do visitante será estéril;

2. Informação, como tal, não é interpretação. Interpretação é o modo de


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revelação com base em informações, sendo estes processos distintos. No entanto,


toda interpretação inclui informações;

3. A interpretação é uma arte que combina muitas artes, mesmo que os


conteúdos apresentados sejam científicos, históricos ou arquitetônicos. Toda arte de
alguma forma de aprendizagem;

4. O objetivo principal da Interpretação não é a instrução, mas a provocação;

5. A Interpretação deve ter como objetivo apresentar o todo e deve ser dirigida
ao homem de maneira integral;

6. A interpretação direcionada às crianças não deve ser uma adaptação daquela


realizada para adultos. A abordagem deve ocorrer de forma diferenciada. Para se
alcançar os melhores resultados será necessário um programa em separado.

O autor descreve que outros princípios poderão ser acrescentados por


pesquisadores e estudiosos do tema. O uso do termo Interpretação Patrimonial
sempre associa ao bem cultural ou natural. Mesmo que técnicas específicas como as
utilizadas pela museologia distanciem na sua concepção final. Um ponto básico para
a sua implantação estar na definição de uma temática a ser desenvolvida. Assim, com
a utilização de uma linguagem acessível ao visitante, se espera estabelecer vínculos
emocionais com ele, estimulando o seu pensamento acerca do patrimônio em questão.
Utilizam-se, normalmente simultaneamente, diversos elementos (ou ferramentas) para
facilitar esta interlocução como materiais audiovisuais, folheterias, mapas, placas,
guias e mesmo espaço apropriados como os Centros de Interpretações (MORALES,
SAM, 2010).

Diversas propostas de Interpretação associam aspectos amplos na sua


elaboração. Como exemplo, pode-se citar a vitivinícola, que envolve diversas questões,
sejam estas culturais, ambientais ou geológicas. Portanto, devem ser considerados
os aspectos como os históricos do assentamento, a definição de uma Indicação de
Origem associado a características geográficas, os elementos geológicos, entre outros
que podem constituir a referência da proposta (HERNÁNDEZ, 2008). Entretanto,
propostas com esta temática, como as desenvolvidas em Mendoza (Argentina) tem
contemplado somente o aspecto cultural (MANZINI, 2011).

Definem Miranda e Ham (2008) a interpretação como um processo. Sua


característica baseia-se na sustentação de muitas etapas, sendo que a primeira
consiste no reconhecimento do objeto por sua cientificidade. Logo, diversas áreas
do conhecimento como a arqueologia, a ecologia, a antropologia, a arquitetura, a
história, a geologia e a geografia podem estabelecer aspectos de interpretação inicial
a este patrimônio natural ou cultural. No segundo momento, as informações devem
se tornar acessíveis. Aqui, chama-se de tradução da linguagem científica para um
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entendimento mais abrangente, para no próximo passo definir as formas que se tratará
o objeto e como envolver em uma abordagem que leve ao envolvimento do público
que o verá. Qual a mensagem que se quer passar ao visitante? Esta questão refere
ao entendimento para elaborar as ferramentas de comunicação da Interpretação
Patrimonial.

O PATRIMÔNIO CULTURAL E A INTERPRETAÇÃO

Para entendermos a relação que se estabelece entre a IP e o patrimônio


faz-se necessário relatar algumas definições. O termo patrimônio cultural remete a
várias possibilidades e interpretações. Geralmente esta definição associa-se a uma
abordagem geral de patrimônio, sendo relacionada com os elementos culturais
materiais e imateriais, alguns autores, também, defendem que este conceito engloba
o patrimônio natural. No entanto, nesta pesquisa preferiu-se trabalhar a IP focada,
primeiramente, ao patrimônio cultural e ao turismo cultural. E um segundo momento
aborda-se as questões referentes a IP no ambiente natural, pois se entende que IP
é uma técnica adotada por várias áreas do conhecimento e cada campo possui suas
próprias termologias.

Os valores definidos pela Revolução Francesa relaciona o patrimônio a uma


condição cidadã de identificação do sujeito como pertencente a uma identidade
nacional (CHOAY, 2011). Esses, ao longo dos anos foram dando novos contornos,
a identidade ganha aspectos plurais (LEITE, 2004). Assim sendo, os seus valores
hoje envolvem relações diversas de identidade e seu estatuto associa tanto a valores
culturais como os da natureza e das materialidades diversas, ou seja, dos saberes aos
fazeres. Como mencionado anteriormente, pensa-se o objeto patrimonial de forma
hibrida (LATOUR, 1994).

A conservação do Patrimônio se faz por muitas bases conceituais. Pode ser


folclorista, com uma valorização do objeto como relíquia do passado; construtivista,
pelo seu posicionamento no processo de construção social e na representação de
uma identidade; patrimonialista, ao dar ênfase nas explicações das mudanças sociais
de um grupo; produtivista, ao pensar em seu uso como valor da indústria cultural
e finalmente; participacionista, ao dar utilidades ao mesmo, buscando a sua não
coisificação como mero monumento (PEREIRO PÉRES, 2013). Estas duas últimas
abordagens contribuem para a elaboração de ações de posicionamento social que
o reconheça. Dentro dessas ações, enquadram-se a educação e a Interpretação
Patrimonial, de acordo com Dhein (2012,p.37) a educação refere-se do entendimento
da população local de seus próprios valores identitários. Este reconhecimento
possibilitará estes, inclusive, a serem agentes atuantes no processo de interpretação.
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Assim, “o morador reconhece o patrimônio da cidade na medida em que este alcança


o status de um lugar na memória, de pertença, compõe sua história e integra a sua
cultura” (BASTOS, 2006, p.51). Ainda, de acordo com Dhein (2012), a experiência de
Educação Patrimonial leva em consideração os seguintes aspectos:

Percepção/observação: olhar é uma possibilidade de enriquecer a


experiência do conhecimento do mundo material. Desenvolver a habilidade
de observação e interpretação dos objetos auxilia na compreensão do
mundo. Ao treinar a observação desenvolve-se a capacidade de percepção.
Motivação: atender às necessidades de quem está envolvido no projeto e
estar adequada ao seu nível de desenvolvimento emocional e intelectual.
Memória: a memória modifica o nível de percepção, já que lembramos
apenas o que nos interessa. Por isso se torna indispensável ao processo
de aprendizado. Emoção: o fato emocional faz com que as pessoas se
envolvam em determinadas situações, permitindo que as conheçam e as
vivenciem. Quanto maior o envolvimento afetivo, melhor a percepção e a
motivação (DHEIN, 2012, p.40).

Entende-se a educação patrimonial como um aprendizado. Nela espera-se que


de uma forma multidisciplinar seja trabalhada em todo o processo educativo cidadão
dos moradores do local envolvido. Atualmente, a função primária do patrimônio cultural
é fornecer “subsídios para a formação de esquemas mentais coletivos de identidade”
(PARAIZO, 2009, p.53), embora esse possa adquirir diferentes significados para as
pessoas. Os bens encontrados ao longo das ruas e nos museus foram tornando-se
uma referência arcaica e distante das necessidades da sociedade em julgar como
resultante de seu espelho social e cultural. Tais condições exigem que se busquem
novos instrumentos e ferramentas para aproximar os objetos (materiais e imateriais)
do sujeito. A compreensão do patrimônio cultural através da Interpretação torna-
se essencial para as comunidades, pois como apontado por Goodey (2002) esse
processo fará com que a comunidade descubra a si mesmo. A IP servirá, também,
como suporte para o desenvolvimento do Turismo Cultural. Para que a interpretação
realizada pelo turista não se distancie da realidade dos moradores, faz-se necessário
inseri-los nas etapas do planejamento interpretativo. Para Murta e Goodey (2002,
p.19) através do processo de planejamento da interpretação orienta-se:
[...] a limpeza e a descoberta de fachadas originais; a harmonia da sinalização
do desenho de placas e letreiros compatíveis com o ‘espírito’ do lugar; as
trilhas pela malha urbana que ‘decifram’ a cidade e as placas informativas que
ampliam a percepção ambiental do visitante. Também no âmbito de museus
e casas históricas, a interpretação, realizada com uso de sedutoras técnicas
interativas, amplia a compreensão popular sobre sítios e coleção históricas.

O Turismo Cultural associa-se a uma experiência do visitante com o patrimônio


material ou imaterial, e essa deve ocorrer de forma que haja uma conexão entre o
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turista e a comunidade.
O prazer do turismo cultural se associa largamente com estar na presença
do objeto, quer se trate de um sítio histórico, um edifício, uma pintura, por
exemplo – trata-se de perceber um objeto aurático, ou seja, o próprio objeto
e a história que ele incorpora (PARAIZO, 2009, p.51).

Desse modo entende-se que há uma relação de interdependência entre


a educação e a Interpretação patrimonial e as mesmas são essências para que o
Turismo cultural ocorra de forma sustentável e participativa.

O PATRIMÕNIO NATURAL E A INTERPRETAÇÃO

O patrimônio natural envolve o meio biótico e o abiótico, sendo o primeiro


referente aos aspectos da biodiversidade e o segundo representado pelo meio
físico (geodiversidade). O patrimônio natural biótico é constituído pelo conjunto de
seres vivos que, pelas suas características únicas e fragilidade dos ecossistemas
exige medidas de proteção e valorização (PEREIRA, 2006). Esse patrimônio tem
sido beneficiado com as políticas de conservação, à vista disso, os pesquisadores
e autores criticam a maneira como os governos e a sociedade relacionam-se com
o patrimônio abiótico. A preocupação com o patrimônio natural se tornou relevante,
conforme Pereira (2006), somente com sua destruição e danificação excessiva pela
sociedade. O seu reconhecimento pela Convenção do Patrimônio Mundial ocorreu em
1972 (RIBEIRO, 1997), a qual considerou patrimônio natural como: os monumentos
naturais constituídos por formações físicas e biológicas ou por conjuntos de formações
de valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico; as formações
geológicas e fisiográficas, e as zonas estritamente delimitadas que constituam habitat
de espécies animais e vegetais ameaçadas, de valor universal excepcional do ponto
de vista estético ou científico, e; os sítios naturais ou as áreas naturais estritamente
delimitadas detentoras de valor universal excepcional do ponto de vista da ciência, da
conservação ou da beleza natural.

Nesse sentido, observa-se que tanto a biodiversidade quanto a geodiversidade


estão contempladas na categoria de patrimônio natural. No Brasil umas das iniciativas
para proteção desse patrimônio foi instituir em 18 de Julho de 2000, o Sistema Nacional
de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, mediante a Lei 9.985, com
abrangência sobre as Unidades de Conservação Federais, Estaduais e Municipais
(BRASIL). Conforme artigo 2º do SNUC denomina-se Unidade de Conservação como:
espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas
jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído
pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob
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regime especial de administração, a qual se aplicam garantias adequadas de


proteção (BRASIL).

As Unidades de Conservação –UCs estão divididas em dois grupos, sendo o


primeiro denominado Unidade de Proteção Integral compondo as categorias: estação
ecológica, reserva biológica, parque nacional, monumento natural e refúgio de vida
silvestre. O segundo grupo é composto pelas Unidades de Uso Sustentável, dessa
forma estão inseridas as categorias: área de proteção ambiental, área de relevante
interesse ecológico, floresta nacional, reserva extrativista, reserva de fauna, reserva
de desenvolvimento sustentável e reserva particular do patrimônio natural (COSTA,
2002). É importante salientar que dentre os objetivos do SNUC estão a promoção
da educação e da interpretação ambiental. Os parques são as áreas naturais mais
conhecidas, possuindo um imenso valor turístico e patrimonial, são definidos como:
[...] área destinada à proteção dos ecossistemas naturais de grande relevância
ecológica e beleza cênica, onde podem ser realizadas atividades de
recreação, educação e interpretação ambiental, e desenvolvidas pesquisas
científicas (BRASIL, p. 2011).

Assim, observa-se que a interpretação ambiental é uma das atividades propostas


para serem desenvolvidas pelos parques naturais, juntamente com a educação
e recreação. Segundo as diretrizes para a visitação em Unidades de Conservação
(M.M.A, 2006, p. 10) a IA é considerada um meio de “representar linguagem da
natureza, os processos naturais, a inter-relação entre o homem e a natureza, de
maneira que os visitantes possam compreender e valorizar o ambiente e a cultura
local”. Esse documento, também, estabelece diretrizes especificas para a IA, dentre
elas destaca-se aqui, a importância dessa técnica para compreensão sobre as UCs,
a utilização de uma linguagem acessível ao visitante e o envolvimento da população
local na elaboração dos instrumentos.

A interpretação do patrimônio natural antecede ao cultural, no entanto,


quando se refere ao termo “patrimônio”, associa-se este aos bens culturais, dessa
maneira, utiliza-se uma denominação diferenciada para a Interpretação Patrimonial
nos elementos da natureza. Essa denominação como se observa na citação acima é
intitulada Interpretação Ambiental (IA), de acordo com Moreira (2011, p. 78), a mesma
“é considerada como uma parte da Educação Ambiental, sendo o termo usado para
descrever as atividades de uma comunicação realizada para melhor compreensão
do ambiente natural [...]”. Já a Educação Ambiental (EA) conforme consta na Política
Nacional de Educação Ambiental- Lei nº 9.795 é entendida como:

[...] processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem


373
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valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências


voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999,
p.1) )

Moreira (2008, p.240) ao relacionar a EA com os aspectos da geodiversidade


descreve que “é necessário resgatar e repassar ainda mais as características
geológicas e geomorfológicas das UCs, compartilhando conhecimentos sobre a
história geológica, sua importância, recursos e fragilidade do ambiente”. De acordo
com Mendonça (2005) o termo EA foi mencionado na Primeira Conferência Mundial
sobre o Meio Ambiente Humano e Desenvolvimento (1972) em Estocolmo, sendo
esta atividade responsável de levar assuntos relacionados às questões ambientais
para um público geral, em que se devem preparar os indivíduos para uma atuação
responsável e compreensiva.

A educação e a interpretação do patrimônio natural são primordiais para


o desenvolvimento sustentável do turismo nas UCS, esses dois elementos estão
conectados a proposta do ecoturismo, de acordo com a EMBRATUR (BRASIL, 1994,
p.19) esta modalidade de turismo pode ser definido como:
um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o
patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação
de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente,
promovendo o bem-estar das populações.

Desse modo, como no desenvolvimento do ecoturismo faz-se necessário


a Interpretação, outro segmento que tem a IA como base é o geoturismo. Nesse
último, trabalham-se as questões referentes ao patrimônio abiótico (geodiversidade),
no entanto, o mesmo ainda não é reconhecido pelo Ministério do Turismo. Portanto,
observa-se a importância dos meios interpretativos em áreas naturais, em que
diferentes aspectos desse patrimônio sejam abordados, sensibilizando os turistas e
visitantes, fazendo com que estes percebem o significado e a importância da natureza
para permanência do ser humano neste planeta.

CONSIDERAÇÕES FINAS: OS PONTOS CONVERGENTES E DIVERGENTES

Com este estudo foi possível identificar que a Interpretação Patrimonial tem
como base um campo único, no entanto, este é apropriado pelas diversas áreas do
conhecimento para formulação de uma proposta para aproximação do visitante ao
meio visitado. Observa-se que enquanto no campo cultural o conceito é definido como
Interpretação Patrimonial, no campo do patrimônio natural ele é conceituado como
Interpretação Ambiental. No entanto, ambos mencionam e utilizam como referência
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em suas pesquisas a definição de Interpretação do autor Freeman Tilden.

Verificou-se através dos documentos disponibilizados pelo Ministério do Turismo


que a Interpretação Patrimonial é fundamental para a atividade turística, seja realizada
no meio natural ou cultural, visto que segmentos como o ecoturismo e turismo cultural
tem esta como base para seu desenvolvimento. No entanto, identifica-se que assim
como o órgão oficial que promove o Patrimônio Cultural e a Educação Patrimonial
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN) não menciona a
Interpretação Patrimonial e não apresenta nenhum plano ou planejamento para esta,
o mesmo identifica-se nas publicações governamentais referentes às áreas naturais
disponíveis no Ministério do Meio Ambiente –MMA e Instituto Chico Mendes da
Conservação da Biodiversidade – ICMBio. Isso demonstra que apesar da importância
da Interpretação para valorização desses ambientes, ainda há muito que avançar no
que se refere às ações governamentais. Contudo, o Ministério do Turismo em duas
publicações (Turismo Cultural: Orientações Básicas e Ecoturismo: orientações Básicas,
2010), (BRASIL, 2006; 2008), menciona a Interpretação em seus respectivos campos
(cultural e ambiental), apresentando as definições, objetivos e um plano interpretativo,
ambos baseados em Murta e Albano (2002). Portanto, percebe-se a conectividade
da Interpretação, seja ela conceituada como Interpretação Patrimonial ou Ambiental,
com a atividade turística, principalmente com os respectivos segmentos. De acordo
com Murta e Goodey (2002, p.18) um Plano de Interpretação, seja ele para um local
específico ou uma região, revela-se um grande aliado do planejamento.

Com essas considerações pretende-se provocar os futuros pesquisadores ou


envolvidos com essa temática sobre as questões mencionadas, assim excitando-os a
realizar uma abordagem mais profunda sobre o tema.

REFERENCIAS

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DESENVOLVIMENTO LOCAL, ARTESANATO E TURISMO: UMA ANÁLISE DE


DOIS MUNICÍPIOS DE MINAS GERAIS

Thiago de Sousa Santos


Cleber Carvalho de Castro
Raquel da Silva Pereira

RESUMO
O artesanato é uma atividade que pode ser analisada nas suas dimensões histórica,
econômica, social, cultural e ambiental. Além do potencial de ocupação e geração
de renda, é uma expressão da riqueza cultural de um povo e tem forte vinculação
com o setor de turismo. A atividade vai ao encontro das propostas conceituais do
desenvolvimento local, mostrando-se como uma alternativa sustentável e, até mesmo,
estratégica no crescimento econômico de certas localidades. Nesse sentido, este
trabalho foi realizado com o objetivo de descrever e analisar o papel econômico, social
e cultural exercido pelo artesanato no desenvolvimento local dos municípios mineiros
de Resende Costa e Santa Cruz de Minas. Adotou-se uma abordagem qualitativa,
utilizando-se o método de estudos multicasos e dados primários e secundários. Os
resultados obtidos no município de Resende Costa demonstram que a atividade
artesanal vem desenvolvendo importante papel no desenvolvimento local. Em Santa
Cruz de Minas, o artesanato é ainda recente, mas já sinaliza suas potencialidades
econômica, social e cultural para o desenvolvimento do município.

Palavras-chave: Desenvolvimento Local. Artesanato.Turismo.

ABSTRACT
The craft is an activity that can be analyzed in its historical dimensions, economic,
social, cultural and environmental. Besides the potential for employment and income
generation, is an expression of cultural wealth of a people and has strong linkages with
the tourism sector. The activity meets the conceptual proposals for local development,
showing itself as a sustainable alternative and even strategic economic growth in certain
localities. In this sense, this work was carried out in order to describe and analyze the
role of economic, social and cultural crafts exercised by the local development of mining
municipalities of Resende Costa and Santa Cruz de Minas. We adopted a qualitative
approach, using the method of multi-case studies and primary and secondary data.
The results obtained in the municipality of Resende Costa demonstrate the craft activity
has been developing important role in local development. In Santa Cruz de Minas,
the craftsmanship is still young, but already shows its potential economic, social and
cultural development of the municipality.

Keywords: Local Development. Craft. Tourism.

RESUMEN
La artesanía es una actividad que puede ser analizada en sus dimensiones históricas
, económicas, sociales , culturales y ambientales . Además del potencial de ocupación
y generación de ingresos , es una expresión de la riqueza cultural de un pueblo y
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tiene fuertes vínculos con el sector turístico. La actividad reúne las propuestas
conceptuales para el desarrollo local , apareciendo como una alternativa sostenible e
incluso estratégico en el crecimiento económico de ciertas localidades . Por lo tanto ,
este estudio se realizó con el fin de describir y analizar el papel económico , social y
cultural que desempeñan las embarcaciones en el desarrollo local de los municipios
mineros de Resende Costa y Santa Cruz de Minas . Adoptamos un enfoque cualitativo
, utilizando el método de los estudios de varios casos y datos primarios y secundarios.
Los resultados obtenidos en el municipio de Resende Costa demuestran que la
actividad artesanal se ha desarrollado papel importante en el desarrollo local . En
Santa Cruz de Minas , la nave es todavía joven , pero ya se señala su potencial
económico, social y cultural para el desarrollo del municipio .

Palabras clave: desarrollo local. Artesanato.Turismo .

INTRODUÇÃO

Em diversas partes do mundo, a busca por melhores condições de vida, que


superem o objetivo estrito de crescimento econômico, tem induzido as sociedades
a repensar sobre quais outros caminhos podem ser traçados de modo a romper, ou
ao menos amenizar, as discrepâncias sociais que assolam a população mundial,
especialmente nas regiões periféricas.

Representantes públicos e órgãos de fomento, por sua vez, passam a apoiar e a


incentivar práticas voltadas para o associativismo e para a cooperação entre empresas,
governos e grupos de pessoas, o que faz com que seja mais fácil a promoção do
desenvolvimento e a qualidade de vida das comunidades com a capacidade de suas
necessidades mais imediatas e de acima de tudo incrementar o intercâmbio externo
por meio de ações comunitárias conjuntas.

Nesse sentido, partindo do pressuposto de possuir elevado potencial de


ocupação e geração de renda no Brasil, a atividade artesanal posiciona-se como
um dos eixos estratégicos de valorização e desenvolvimento dos territórios, razão
pela qual vem ganhando destaque crescente no conjunto das estratégias de atuação
empreendidas, tanto pelo setor público quanto o privado (MARTINS, 1973). Num cenário
no qual há busca crescente, por parte dos consumidores, de produtos diferenciados e
originais, o artesanato emerge como um contraponto à massificação e à uniformização
de produtos globalizados ao promover o resgate cultural e a identidade regional.

Com as mudanças ocorridas nas últimas décadas houve a necessidade


de adaptação a novas condições socioeconômicas, políticas e ambientais. O
desenvolvimento local é capaz de promover o dinamismo econômico e a melhoria da
qualidade de vida da população, principalmente de pequenas comunidades. Assim
sendo, o que este artigo busca mostrar é o papel do artesanato no desenvolvimento
local dos municípios mineiros de Resende Costa e Santa Cruz de Minas, regiões
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essas que apresentam forte relação entre artesanato e turismo.

Diante deste cenário, este estudo busca compreender se as relações


caracterizadas pela atividade artesanal e turismo podem favorecer o progresso de
uma determinada população com vistas ao desenvolvimento local, além de contribuir
também para um entendimento maior entre a atividade artesanal e sua relação com o
desenvolvimento local e o turismo.

ABORDAGEM CONCEITUAL REFLEXIVA

Pensar o desenvolvimento local sem levar em conta as estratégias políticas


que foquem determinada localidade ou região pode ser o mesmo que caminhar sem
ter um objetivo. Numa análise de diversas experiências de desenvolvimento local,
passou-se a observar que fatores antes considerados secundários ao crescimento e
com forte diferenciação local eram importantes na explicação do sucesso de certas
localidades. Esses fatores, quando estimulados, permitiam melhorar a produtividade
e possibilitavam uma melhor distribuição de renda (AMARAL FILHO, 1996).

O desenvolvimento local só tem sentido se puder ser pensado enquanto


desenvolvimento sustentável ao mesmo tempo que econômico,o que vem a ser
uma estratégia de indução ao desenvolvimento utilizando a metodologia participativa
mediante mobilização da sociedade civil. Por esse prisma, a concepção de
desenvolvimento local considera o desenvolvimento social, ambiental, cultural e
político, ou seja, o desenvolvimento em escala humana (CLAXTON, 1994).

Devido à sua importância, várias são as iniciativas de estímulo ao


desenvolvimento local, como afirmam Cocco e Galvão (2001, p. 69):”o “local” parece
estar se constituindo na tônica geral de definição dos novos rumos das políticas
públicas ativas de desenvolvimento econômico e social no Brasil nesta virada de
século.” Dessa forma, entender o papel desempenhado pelos atores locais envolvidos
com a atividade artesanal torna-se fundamental para a compreensão do processo de
desenvolvimento local e da atividade artesanal nos municípios em pauta.

É de suma importância a participação dos artesãos como atores locais, porque


dessa forma eles acabam sendo responsáveis pelo seu próprio desenvolvimento.
Considera-se que, além da ação do Estado, são necessárias iniciativas que partam
dos próprios artesãos, em que esses se sintam agentes ativos para a promoção do
desenvolvimento local.

Nas experiências de desenvolvimento local em alguns países da Europa, o ator


principal que tem sido destacado é o animador institucional, mais ainda que as empresas.
Esta personalização não prejudica a qualidade e a competências dos empreendedores,
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mas ela apresenta uma tentativa voluntarista do projeto de desenvolvimento, marcada


pelas visões de autonomia prescrita e autonomia desejada.

Conforme Santos (1996), são as relações sociais que transformam o espaço,


mas para que essa transformação ocorra é importante considerar que há diferenças
entre um lugar e outro de acordo com seus recursos biofísicos e humanos, relações
sociais, modos de produção e sua cultura. As ligações dessas especificidades com
fatores exógenos dão origem às identidades territoriais.

O que se verifica é que a (re)afirmação da identidade territorial no contexto


da economia e cultura globalizadas tem ganhado importância estratégica no mundo
contemporâneo, principalmente em países e regiões periféricas e menos desenvolvidas.
A preservação e o reforço da identidade territorial têm sido defendidos e aceitos como
um eixo fundamental para o desenvolvimento regional e local, argumentando-se que
conciliar modernidade e tradição implica, no plano territorial e geoestratégico, em
necessidade de combinar vivências cosmopolitas com a valorização de identidades
coletivas (FLORES, 2007).

As relações sociais estabelecidas no local permitem, portanto, o desenvolvimento


de um espaço de cooperação e ação coletiva, formando laços de solidariedade entre
os atores (BRUNET, 1990). Essa cooperação é gerada pela formação do capital social,
indispensável para a coesão e ações de desenvolvimento endógeno. Entretanto,
existem estratégias de desenvolvimento territoriais voltadas para o fortalecimento
dos recursos específicos disponíveis com base na organização de ações voltadas
para a promoção das qualidades construídas (adquiridas) ou, mesmo, intrínsecas do
território.

Existem várias características que identificam o conjunto das atividades


artesanais como um arranjo produtivo local informal, como a elevada informalidade,
a forte tradição familiar que marca todos os elementos estruturais da empresa, como
as relações de trabalho e a forma de apreensão e de transmissão de conhecimento,
com reflexos na dinâmica de inovação do produto (DINIZ; DINIZ, 2007). No caso do
artesanato, o trabalho tem um significado que, embora a tecnologia não seja o ponto
que o destaca, a territorialidade e as relações estabelecidas são preponderantes no
exercício da atividade.

Um outro aspecto a ser destacado no artesanato é a forte ligação que este


possui com o setor de turismo, pois a atividade turística tem grande relevância no
desenvolvimento de uma localidade, além de ser considerada uma prestadora de
serviços e responsável por receitas importantes de diversos setores que estão ligados
direta ou indiretamente à economia local, tais como construção civil, alimentício,
comércio, etc.
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Na visão de Schneider e Santos (2013) o turismo é um fenômeno de caráter


complexo e multi-inter-transdisciplinar que vem sendo objeto de muitas definições e
linhas de abordagem. O Desenvolvimento Regional também vem sendo analisado no
setor de Turismo. Não só pelo fato da frequência cada vez maior que vem se falando
em regiões, clusters e polos de turismo, mas principalmente porque o turismo tende a
ser visto como um importante fator do Desenvolvimento Regional (GIL, 2009). Deste
modo, o turismo representa uma das mais importantes forças capazes de atuar em
prol da melhoria da infraestrutura nas áreas afastadas e na dispersão da atividade
econômica (PORTER, 1999). O turismo estimula o desenvolvimento de várias
atividades econômicas, como os meios de hospedagens, o comércio, os transportes e
serviços de forma geral. Além disso, necessita de infraestrutura local como estradas,
aeroportos, saneamento, o que implica em iniciativas tanto do poder público local, como
também de incentivos estaduais e federais aliado a parcerias público-privado.

O turismo caracteriza-se por ser um setor que se tem destacado como uma das
atividades com maior potencial de expansão a nível mundial e como um impulsionador
do crescimento econômico. Se a nível nacional o interesse do turismo é significativo,
a nível local esse sector apresenta-se como um instrumento fundamental no
desenvolvimento regional, sendo um meio para evitar a desertificação e a estagnação
econômica das regiões, estimulando as potencialidades das zonas mais deprimidas
(FRANCO, ESTEVÃO, 2010).

O turismo é importante para preservar os bens patrimoniais, os modos de


vida e as tradições ,principalmente quando possui sua base no legado cultural
. (BARRETTO, 2005). Por meio da cultura local conhecem-se e valorizam-se o
comportamento, a autenticidade e a educação das pessoas. Assim, pode-se evidenciar
o desenvolvimento local a partir da sua cultura, pois a comunidade é importante aliada
nas tomadas de decisões pertinentes ao planejamento, desenvolvimento e gestão do
turismo numa localidade.

A sustentabilidade econômica reforça a questão de que o turismo tem contato


com várias atividades econômicas diferentes. Trata-se de uma atividade que tem
vários campos a serem explorados, como hotelaria, agência de viagens, eventos,
recreação, lazer, gestão, comunicação, ecoturismo e turismo ecológico (ARCHER;
COOPER, 2001).

O desenvolvimento da economia local pode ser alavancado, pelo turismo.


Segundo Silva (2006) o modelo de desenvolvimento territorial é considerado mais
apropriado para o desenvolvimento turístico, pois utiliza recursos produtivos de
base local, proporcionando um efetivo grau de endogeneização dos benefícios
socioeconômicos gerados no processo.
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O crescimento do turismo cultural é considerado uma das principais tendências


da evolução da demanda turística e é uma das prioridades da política do turismo
em muitos países (LORENZINI; CALZATI; GIUDICI, 2010). No entanto, um problema
inerente às estratégias de distinção cultural é que muitos lugares adotam estratégias
semelhantes e, portanto, até mesmo na cultura começa a faltar distinção (RICHARDS;
WILSON, 2007). Por esta razão, elementos como artesanato local podem representar
um aspecto importante na atratividade de um destino turístico. Inclusive, de acordo
com Casasola (2003), o campo do artesanato e o das artes populares são os que têm
maior repercussão na atividade turística.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa apresentada por este artigo é de cunho qualitativo e é caracterizada


como descritiva, pois o intuito do trabalho foi o de expor as características dos municípios
analisados e serviu também de base para explicar quais fatores são determinantes
para o desenvolvimento local da região estudada no contexto de produção artesanal
e como as instituições públicas e privadas locais, junto com a sociedade civil, se
inserem neste processo.

O método utilizado é o de estudo de casos múltiplos. Conforme Benbasat,


Goldstein e Mead (1987), o estudo de casos múltiplos é desejável quando a intenção
da pesquisa é o conhecimento mais profundo de uma realidade, para a construção de
proposição teórica. Segundo Yin (2005), este método pode ser definido como o estudo
envolvendo mais de um caso, seguido de uma comparação entre eles.

Como instrumento de coleta de dados, inicialmente, foram utilizadas fontes


secundárias a partir de pesquisa bibliográfica, tais como livros, periódicos, revistas,
jornais e internet, além de dissertações e teses, com a intenção de aprofundar o
conhecimento referente ao assunto pesquisado. Realizou-se também pesquisa
documental, incluindo projetos de execução, relatórios de gestão e estatutos, que
foram disponibilizados pelas prefeituras e instituições que fizeram parte do estudo.

Para fins deste estudo, os dados foram obtidos nas associações comerciais,
associações de artesãos, prefeituras municipais, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Fundação João Pinheiro, Associação dos Municípios da Microrregião dos Campos
das Vertentes (AMVER) e demais instituições envolvidas na promoção do artesanato
nas cidades pesquisadas.

Os dados primários foram obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas


realizadas com artesãos, empresários que comercializam o produto artesanal ou que
tenham como natureza de seus negócios a relação direta com produtos artesanais
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ali produzidos, representantes do poder público municipal e instituições de apoio. Um


fato curioso a ser destacado é que, tanto em Santa Cruz de Minas quanto em Resende
Costa, vários empresários também desenvolvem o ofício artesanal.

Os artesãos e os empresários do setor artesanal entrevistados no estudo, foram


definidos parte aleatoriamente e outra parte a partir dos bancos de dados do SEBRAE-
MG, associações de artesãos, prefeituras municipais e demais instituições relacionadas
a atividade artesanal, utilizando como base acessibilidade e respeitando o critério de
saturação, ou seja, quando os dados passarem a se mostrar redundantes. Foram
também entrevistados o representante do SEBRAE-MG na região, representantes do
poder público municipal, das associações de artesãos e de instituições de apoio que
se julgou necessário para enriquecimento da pesquisa e que, conforme as entrevistas,
revelaram-se importantes.

Foram utilizados para o estudo os dados de 20 entrevistas realizadas, conforme


distribuição demonstrada na Tabela 1.
TABELA 1: RELAÇÃO DOS ENTREVISTADOS
Artesão/ Instituições
Municípios Artesão Empresários Total
empresário de apoio
Resende Costa 3 0 4 3 10
Santa Cruz de
Minas 2 1 4 3 10
TOTAL 5 1 8 6
Fonte: Elaborado pelo autor

Foi adotada a técnica de análise de conteúdo no tratamento dos dados das


entrevistas. A análise de conteúdo foi conduzida seguindo-se as etapas básicas
propostas por Bardin (2004): pré-análise, exploração do material e tratamento dos
resultados e interpretação.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Localizados na região conhecida como Campos das Vertentes, em uma área


predominantemente montanhosa, Resende Costa e Santa Cruz de Minas fazem
parte do Circuito Turístico Trilhas dos Inconfidentes, juntamente com mais dezoito
municípios,os quais integram este circuito turístico evocando tradição e poesia,
guardando em seus caminhos e recantos parte significativa da história de Minas e do
Brasil. Em todo o circuito há diversas manifestações culturais, como pintura, escultura,
música e culinária.

Na região, o artesanato e o turismo mobiliza pessoas das mais variadas classes,


tendências e estilos. Santa Cruz de Minas é um município brasileiro do estado de
Minas Gerais, considerado o menor de todos os municípios do país em extensão
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territorial, com apenas 3,11 km² e também um dos mais novos do Brasil (IBGE, 2010).
A cidade é conurbada com o município de São João Del Rei, bem à margem direita do
Rio das Mortes.

A população do município é de 7.865 habitantes, conforme o censo de 2010.


Toda a população do município reside em área urbana, inexistindo a população
residente em área rural (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
- IBGE, 2010).

A base econômica do município é a extração e beneficiamento de areia de


quartzo e indústria de beneficiamento de cal. Mas, Santa Cruz já começa a perceber
sinais positivos relacionados à atividade turística com os visitantes que ali chegam
à procura das várias lojas de móveis em estilo colonial e objetos artesanais para
decoração em ferro forjado, cerâmica, fibra de taboa, dentre outros, concentradas
principalmente na Avenida Ministro Gabriel Passos. Na afirmação de sua vocação
para o fazer artesanal, a cidade já conta, inclusive, com duas associações de artesãos
– a Associação Porto Real Arte e a Corporação de Artesãos de Santa Cruz de Minas.

A atividade artesanal do município vem ganhando destaque, sobretudo devido


à sua localização. A Estrada Real corta o município e é uma das principais vias de
acesso, ligando São João Del Rei e Tiradentes, ambos com forte apelo turístico. Com
essa localização estratégica, Santa Cruz de Minas passou a se beneficiar do fluxo de
pessoas que por ali circulam. Pode-se dizer que os turistas que visitam São João Del
Rei e Tiradentes são aqueles que procuram um turismo cultural, religioso e patrimonial.
Sendo assim, a atividade artesanal desenvolvida no município está voltada para esse
público. Observa-se que, no município, houve um aumento expressivo no número de
estabelecimentos que comercializam o artesanato.

O município de Resende Costa está situado na Região das Vertentes e foi


criado em 30/08/1911, com a denominação de Vila de Resende Costa. A instalação
oficial do município aconteceu no dia 1º de junho de 1912 e apenas em 1923 passou a
ser chamado de Resende Costa. Anteriormente, era conhecido como Distrito da Lage
e, conforme Teixeira (2009), o então distrito era composto de quatro localidades, que
tinham a seguinte denominação: Arraial da Lage (atual sede do município de Resende
Costa, MG); quarteirão dos Campos Gerais e quarteirão do Ribeirão de Santo. Antônio
(atual zona rural do município de Resende Costa) e quarteirão do Mosquito (atual
município de Coronel Xavier Chaves, MG).

Curiosamente, Resende Costa – nome que desde 1923 foi dado ao Distrito da
Lage -, destaca-se como uma das cidades mineiras que têm, atualmente, na produção
doméstica têxtil, uma atividade produtiva informal que garante a sobrevivência de
grande parte da sua população.
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A produção artesanal nos séculos XVIII e XIX era destinada tanto para fins de
subsistência quanto para atender à demanda emergente de um mercado consumidor
interno (LIBBY, 1997; MACEDO, 2006). Conforme Libby (1997), essa atividade
também poderia ter sido uma possibilidade de ocupação feminina e de eliminação ou,
pelo menos, de redução da necessidade de compra de tecidos do mercado externo.

Conforme já destacado por Silva (2010), é importante considerar que, mesmo


existindo um maior número de empresas no município de Resende Costa, a maioria
dos moradores envolvidos com a atividade artesanal produz em domicílios de forma
autônoma, e a produção nesses locais é informal.

Assim, Resende Costa destaca-se como uma das cidades mineiras que
tem, na produção artesanal têxtil, uma atividade produtiva informal que garante a
sobrevivência de grande parte da sua população. O município de Resende Costa
é mais populoso e com maior PIB per capita do que de Santa Cruz de Minas. Este
número está bem abaixo do PIB per capita do estado de Minas Gerais, que é de R$
14.233 (IBGE, 2010).

No município de Resende Costa, o setor de serviços se destaca no quesito


valor adicionado, seguido pelo setor agropecuário. Em Santa Cruz de Minas
acontece o mesmo com o setor de serviços, no entanto, o setor agropecuário tem
pouca expressividade e perde para a indústria. Tal fato justifica-se pela dimensão
territorial do município e pela inexistência de área rural. Verifica-se que as atividades
econômicas do setor agropecuário, industrial e de serviços contribuem pouco para os
PIBs municipais. Os dados sobre a população e a economia local são característicos
de pequenos municípios que, geralmente, têm nas finanças públicas um fator de
destaque na geração de recursos financeiros para a economia local. Verifica-se
que tanto Resende Costa quanto Santa Cruz de Minas melhoraram seus índices, no
entanto, isso ocorreu, de forma geral, na grande maioria dos municípios. Comparado
com o IDH brasileiro, que em 1991 era de 0,696 e de 0,766 em 2000 e com o IDH de
Minas Gerais que, em 1991, era de 0,697 e em 2000, de 0,773, tal situação não é tão
vantajosa.

Para uma análise complementar, são apresentados os dados do Índice Mineiro


de Responsabilidade Social (IMRS), que abrange um conjunto de dados referentes
a educação, saúde, segurança pública, emprego e renda, gestão, habitação,
infraestrutura e meio ambiente, cultura, lazer e desporto.

Resende Costa sempre teve melhores índices que Santa Cruz de Minas cidade
essa, onde a população tem maior acesso a educação, saúde, lazer, segurança
pública, emprego e renda, gestão habitação, infraestrutura e meio ambiente, cultura,
lazer e desporto.
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Referente a atividades culturais dos municípios, observa-se que Resende Costa


está bem mais envolvida com este tipo de atividade. Santa Cruz de Minas possui um
envolvimento menor. No entanto, cabe ressaltar que, devido à proximidade com São
João Del Rei e Tiradentes, a população pode se envolver em atividades culturais
daqueles municípios.

Em relação á questão da importância do artesanato para o desenvolvimento


local, em ambos os municípios, é possível retomar a visão de Barquero (1999), no qual
identifica pelo menos três dimensões nos processos de desenvolvimento endógeno: a
dimensão econômica, caracterizada por um sistema específico de produção que permite
que os empresários locais usem eficientemente os fatores produtivos e alcancem
os níveis de produtividade que permitem que sejam competitivos nos mercados. A
sociocultural, os atores econômicos e sociais se integram com as instituições locais,
formando um sistema denso de relações que incorporam os valores da sociedade no
processo de desenvolvimento. Por último, a dimensão política, que se instrumentaliza
mediante as iniciativas locais e que permite criar um entorno local que estimula a
produção e favorece o desenvolvimento sustentável.

Questões como falta de qualificação profissional, estrutura do município,


forte competição e pouca articulação dos atores envolvidos foram destacadas
como limitadores da produção artesanal dos municípios. Cabe destacar que o
desenvolvimento, para ser aproveitado pela localidade de forma mais profunda,
implica que a própria comunidade seja integrada ao processo como partícipe e isso
só é possível se ela, por meio de seus empreendedores locais, de seus técnicos
e seus trabalhadores, estiver preparada para aproveitar as oportunidades que o
desenvolvimento pode proporcionar.

Observa-se que devido ao fato de ser uma produção artesanal, os artesãos


não se preocupam com um controle rigoroso de seus produtos. No entanto, os órgãos
normativos exercem a fiscalização e têm exigências para com o produto artesanal.
Nesse sentido, os artesãos encontram dificuldades para adequar os produtos e
necessitam de apoio. Este apoio, na visão dos artesãos, deveria ser do poder público,
o que não é percebido.

É possível observar que, na visão deles, existem alguns artesãos que não se
preocupam com as normas, o que pode gerar um descompasso no quesito qualidade
entre os produtos artesanais produzidos no município.

É possível perceber a insatisfação dos entrevistados com o poder público.


Entretanto, cabe ressaltar que, conforme fragmentos de outras categorias, os próprios
entrevistados destacam que a inclusão do município no projeto Estrada Real, do
governo de Minas Gerais, favoreceu e potencializou o desenvolvimento da atividade
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artesanal no município. Cabe ressaltar que conforme colocado por Lemos (2013), o
turismo é um setor de negócio privado. Este pode ser entendido como um fenômeno
social que está diretamente ligado ao fluxo de pessoas, ao nível de produção e
consumo que pode ser tanto de produtos como de serviços.

No município de Resende Costa é possível perceber um potencial significativo


para a exploração do turismo. No entanto, há sérios problemas quanto à estrutura do
município para desenvolver o setor. Os entrevistados veem a oportunidade de buscar
no turismo uma forma de promover a atividade artesanal no município e de exploração
de outro nicho no mercado. Diversificar a economia local, com base na identidade
cultural existente no município, permite que seja criado um espaço de sustentabilidade
cultural.

O conceito de sustentabilidade cultural coaduna com a ideia de que o turismo é


importante para preservar os bens patrimoniais, modos de vida e tradições. O turismo
com base no legado cultural é aquele que tem como principal atrativo o patrimônio
cultural (BARRETTO, 2000).

Sendo assim, em ambos os municípios analisados, existe grande potencial


turístico, no qual o artesanato possui um papel significativo. Tal fato revela-se de grande
importância, uma vez que o turismo é uma das atividades que mais se desenvolvem
no mundo, evidenciado pelo aumento de sua participação relativa dentro do setor
de serviços que, por sua vez, vem apresentando crescente influência no Produto
Interno Bruto dos países. Nesse sentido, o artesanato destaca-se como um elemento
imprescindível na composição do produto turístico, que contribui significativamente
para o setor no incremento do turismo cultural e, particularmente, na formação de
roteiros turísticos.

Embora seja uma característica dominante na configuração produtiva local,


a baixa densidade de cooperação entre os artesãos ou entre empresários não é
fenômeno homogêneo. Durante a pesquisa, observou-se que, em alguns pontos,
existe a cooperação, como, por exemplo, a indicação de um cliente para um artesão
que detém o produto ou, até mesmo, o fornecimento de matéria-prima para suprir
temporariamente a falta do recurso do concorrente direto.

Cooke e Wills (1999) pontuam que a cooperação é também relevante como


alicerce do capital social de uma região. O capital social pode ser definido como o
conjunto de recursos individuais e coletivos que resultam de um trabalho em rede
e são institucionalizados por meio do conhecimento e do reconhecimento mútuo
dos agentes envolvidos. Assim, o capital social se desenvolve à medida em que as
empresas de um local vão formando parcerias com clientes, fornecedores, outras
empresas do setor e instituições de pesquisa.
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Como observado por Benko (2000), desde os anos 1980, diferentes grupos
de estudiosos se debruçaram sobre a questão do desenvolvimento local, dando
origem a diversas abordagens. Em cada uma delas a cooperação desempenha papel
importante. Um primeiro conjunto de reflexões consiste nos trabalhos de economistas
como Giacomo Beccatini, Alfredo Bagnasco e Sebastiano Brusco sobre os distritos
industriais italianos, que recuperaram a noção marshalliana de externalidades
associadas ao território. Este conjunto inclui também os trabalhos de Michael Piore
e Charles Sabel sobre a especialização flexível. Nos trabalhos destes autores, os
casos de sucesso de desenvolvimento local, como os das empresas da Terceira Itália,
mostram que a cooperação desempenha papel fundamental para a competitividade
das empresas (COCCO; GALVÃO; SILVA, 1999).

O desenvolvimento, normalmente, não acontece por acaso, exigindo que se


coloque grande quantidade de esforços ordenados para que ele ocorra. Como existe
uma série decomponentes que diferenciam as localidades e regiões umas das outras,
as soluções para cada um desses locais estimular seu desenvolvimento também
serão diferentes.

Em Resende Costa, a tradição no tear e o histórico da atividade demonstram um


artesanato mais consolidado, mas que carece de um planejamento estratégico para
desenvolver áreas relacionadas ao setor e um empenho em estruturar o município
para o turismo.

Em Santa Cruz de Minas, sua localização geográfica, tida como fator diferencial,
pode proporcionar ganhos com a atividade turística na região. Entretanto, a articulação
com São João Del Rei e Tiradentes faz-se fundamental, uma vez que sua limitação
territorial pode impedir o município de desenvolver seu turismo próprio. Dessa forma,
caso os dois municípios que fazem divisa com Santa Cruz de Minas não desenvolvam
o setor turístico de maneira apropriada, o município seria altamente prejudicado, uma
vez que depende diretamente do fluxo de pessoas que circulam na região.

Assim, o desenvolvimento se caracteriza pelos padrões de seus modelos físico,


econômico e social que devem promover a mudança da situação em que a localidade se
encontra para aquela que se deseja. Sua finalidade consiste, a partir da compreensão
dos traços fundamentais e da história da localidade, em estabelecer os requisitos de
competitividade e habilidade que possibilitem a essa comunidade enfrentar o futuro e
progredir econômica e socialmente num espaço físico harmoniosamente ordenado.

Dada a importância do artesanato para o desenvolvimento, observa-


se a necessidade da realização de projetos de fomento, partindo de entidades
governamentais e não governamentais, sempre levando em consideração os
três fatores fundamentais: o cultural, o econômico e o social, a fim de adequá-los
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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às condicionais regionais e locais. Observa-se o início do desenvolvimento local


sustentado pelo desenvolvimento econômico, no entanto, pouco participativo.

Do ponto vista cultural, é preciso contextualizá-lo historicamente e considerá-lo


dentro de sua realidade sociocultural, valorizando suas atividades para revigorar os
fazeres tradicionais dentro de uma experiência e uma realidade histórica para formar
novos artesãos. Pois é a continuidade desses fazeres tradicionais que permitirá a
garantia da continuidade desses elementos culturais, preservando-os como patrimônio
autêntico da comunidade.

Já numa perspectiva econômica, principalmente a comercialização, é necessário


preparar e adequar a produção do artesanato aos padrões de consumo atual para
garantir suas vendas em novos nichos de mercado, para que os produtos alcancem
preços justos em função de sua importância cultural, artística ou funcional.

Quanto ao aspecto social, conforme já percebido nas entrevistas realizadas, o


artesanato tem papel significativo na renda, no emprego e na ocupação das pessoas
que vivem nos municípios. Outra percepção é quanto aos impactos do artesanato no
turismo ou quanto ao efeito do turismo no artesanato. É necessário que a comunidade
receptora esteja sempre atenta ao desenvolvimento das atividades turísticas para
suprir a demanda dentro das realidades locais de produção e com a sua construção
“identitária”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho, foram realizadas discussões e reflexões sobre


desenvolvimento local, o artesanato e o turismo nos municípios mineiros de Resende
Costa e Santa Cruz de Minas.

A atividade artesanal existente nos municípios necessita ser mais bem


compreendida e analisada por diversos atores, pois sua disseminação e evolução
ocorreram como uma espécie de verdade inquestionável, e pode ser capaz de
contornar alguns problemas do município e potencializar o desenvolvimento local. Por
isso torna-se necessário compreender sua origem e os interesses que a norteiam,
para que a decisão de promovê-la não seja demasiadamente descomprometida.

A atividade pertencente à cultura local caracteriza o aspecto sócio-cultural e se


desenvolve dentro de um mesmo território, enfatizando o aspecto local, e gera uma
alternativa econômica para o município, para os artesãos e seus familiares, dentro
dos parâmetros de sustentabilidade econômica, social e cultural.

Observou-se algumas mutações ocorridas no cenário internacional a partir


dos anos 1970, constatando-se uma nova lógica de pensar o desenvolvimento. O
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desenvolvimento local destaca a mobilização de recursos locais, recursos territoriais e


da comunidade, na promoção do desenvolvimento sustentável de determinada região.
Do relacionamento entre a comunidade e os recursos locais e territoriais surgem
os planos de ação que articularão da melhor maneira as ações futuras focadas no
desenvolvimento.

Constatou-se que a atividade artesanal e turística desenvolvida nos municípios


podem sim vir a serem utilizadas como um setores estratégicos para a prática do
desenvolvimento local. No entanto, na análise das dimensões econômicas, sociais e
culturais dos municípios foram reveladas grandes lacunas, as quais necessitam ser
superadas, para que, de fato, possam ser um exemplo de desenvolvimento local.

Dentro do conjunto das dimensões dos referidos quadros de análise, podem-


se destacar alguns pontos importantes que necessitam ser aprimorados para que
favoreçam o desenvolvimento da atividade turística e artesanal, que consequentemente,
potencializem o desenvolvimento local. Observa-se que os municípios, salvo suas
peculiaridades, ainda necessitam de uma estrutura que favoreça o fortalecimento de
outros setores para, assim, promover um desenvolvimento mais intenso e integrado.

Analisando o artesanato como estímulo ao turismo, observa-se um imenso


potencial dos municípios para a atividade. No entanto, a carência de suporte e,
novamente, uma estrutura propícia para a expansão do turismo são questões que
comprometem a possibilidade de exploração do setor.

As articulações dos artesãos, empresários, instituições de apoio e poder público


ainda não são estabelecidas com um propósito comum a todos os envolvidos, o que
dificulta o alcance de metas que, por ventura, possam ser traçadas. Em Resende Costa
já existe um movimento que compreende o cooperativismo. No entanto, encontra-se
numa fase bem incipiente e com a minoria dos atores envolvidos.

De qualquer modo, a pesquisa revela que, em ambos os municípios, o artesanato


e o turismo influenciam fortemente a dimensão econômica, social e cultural, tendo
nestas uma importate fonte de renda e ocupação para a população, conforme dados
levantados nas entrevistas.

O que se pôde averiguar foi que o artesanato e turismo são capaz de


representar um potencial para o desenvolvimento de uma localidade , ainda mais se
forem integrados de forma mais precisa a outros setores.

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federalista. Brasília: IPEA, 1996.
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PENSANDO EM UMA ANTROPOLOGIA DO CONSUMO DO TURISMO

João Alcantara de Freitas1

RESUMO: Os objetos comunicam, eles são cheios de significados culturais que são
transferidos para o indivíduo através de rituais de troca, posse, cuidados pessoais; e
desapropriação, como bem destaca McCracken (2007). Ancorado em proposições de
pesquisa anterior (FREITAS, 2013) , tenta-se reiterar a apropriação ao Turismo do
modelo de estrutura e movimentação do significado cultural proposto por McCracken.
No entanto, este artigo tem como objetivo final discutir a pertinência de uma possível
Antropologia do Consumo de Turismo.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Significado Cultural. Antropologia do Consumo.


Souvenir.

ABSTRACT / RESUMEN: The objects communicate, they are full of cultural meaning
that are transferred to the individual through rituals of exchange, possession, groom-
ing, and divestment, as well emphasizes McCracken (1986). Anchored in propositions
of previous research, this paper attempts to reiterate the appropriation for Tourism of
the structure and movement of the cultural meaning model, proposed by McCracken.
However, this article has as ultimate objective to discuss the pertinence of a possible
Anthropology of Tourism Consumption.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Tourism. Cultural Meaning. Antropology of


Consumption. Souvenir

INTRODUÇÃO

O consumo é uma prática social imprescindível, sobretudo no mundo contem-


porâneo, “pode-se viver sem produzir, mas, não, sem consumir” (BARBOSA, 2006,
p.7). Baudrillard (2009) sugere, inclusive, pensar em uma Sociedade do Consumo. Tal
importância foi reconhecida por alguns cientistas sociais – sobretudo, antropólogos –
que se empenharam em ampliar a compreensão que se tinha acerca do consumo, até
então reduzida a uma abordagem econômica e utilitarista.

Paulatinamente, esses autores2 conseguiram fazer com que o consumo dei-


xasse de ser mero reflexo da produção, posicionando-o no centro de suas análises,
dando devida atenção aos significados culturais que permeiam o fenômeno. Barros
1 Professor Assistente I no Departamento de Turismo da Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF). Doutorando no Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais (PPHPBC)
no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação
Getúlio Vargas (FGV). Mestre pelo mesmo programa. Bacharel em Turismo pela Universidade Federal
Fluminense. E-mail: joaofreitas@id.uff.br
2 cf. DOUGLAS, 1979; SAHLINS, 1979; McCRACKEN, 1988; CAMPBELL, 1987; MILLER,
1987. A título de exemplo.
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(2007) itera que a perspectiva antropológica é fundamental para a compreensão do


fenômeno, pois “o consumo é um fato social refratário a explicações que o reduzam
ao plano individual, mas é passível de interpretações que envolvam significados cul-
turais e públicos” (p.102).

Destaca-se que, em um primeiro momento, a Antropologia de Consumo se


concentrou na abordagem dos bens materiais, abordando os serviços adjacentemen-
te. Atualmente, há relevantes pesquisas nesta vertente da Antropologia que propõem
investigar os serviços e suas peculiaridades, no entanto, há uma perceptível lacuna
em relação ao consumo do turismo, especificamente.

A partir da teorização de McCracken (1986)3, propus em pesquisa anterior


(FREITAS, 2013) a utilização da Antropologia do Consumo e seu arcabouço teórico
para a análise do Turismo enquanto fenômeno social. Tal proposição não negligencia
a relevância do que se consolida como Antropologia do Turismo, apenas tenta desta-
car, reitero, os benefícios analíticos possíveis a partir da perspectiva da Antropologia
do Consumo.

Nesta pesquisa anterior, destaquei a importância e necessidade de perscrutar


com mais rigor as hipóteses que lançara. O objetivo do presente artigo é, justamente,
retomar a pesquisa anterior, ratificando alguns pontos e reiterando outros. Insiste-se
em pensar em uma Antropologia do Consumo do Turismo, pois acredita-se que tal
perspectiva oferece valiosas ferramentas analíticas, tendendo a enriquecer os estu-
dos do turismo.

Inicialmente, cabe abordar diretamente a questão do significado cultural, con-


ceito chave da Antropologia do Consumo. Aproveito para apresentar o modelo de
estrutura e movimentação do significado cultural dos bens de consumo alvitrado por
McCracken e o modelo que propus acerca da movimentação do significado cultural do
turismo, argumentando porque o modelo de McCracken não é pertinente ao turismo.

SIGNIFICADO CULTURAL

Os significados dos bens de consumo vão muito além do caráter utilitário e de


valor. A significância destes bens reside, sobretudo, na habilidade de carregar e co-
municar significado cultural (DOUGLAS; ISHERWOOD, 1978; McCRACKEN, 1986).
McCracken destaca o dinamismo do significado cultural:
O significado cultural é absorvido do mundo culturalmente constituído e trans-
ferido para um bem de consumo. O significado é, então, absorvido do ob-
jeto e transferido para um consumidor individual. [...] O significado cultural
3 O artigo Culture and Consumption: A Theoretical Account of the Structure and Movement of
the Cultural Meaning of Consumer Goods, publicado em Journal of Consumer Research. Mais infor-
mações na bibliografia.
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se localiza em três lugares: no mundo culturalmente constituído, no bem de


consumo e no consumidor individual, movendo-se numa trajetória com dois
pontos de transferência: do mundo para o bem e do bem para o indivíduo.
(McCRACKEN, 2007, p. 100)

Nesta linha de análise, o bem de consumo é responsável por transferir o sig-


nificado cultural do mundo culturalmente constituído para o consumidor. Munidos de
significado cultural, os bens materiais tornam os indivíduos “legíveis”. Essa lógica é
pertinente a todos os bens materiais, mas parece excluir os bens intangíveis, como o
turismo, por exemplo. Talvez até seja uma interpretação equivocada das palavras de
McCracken, mas, neste artigo em questão, ele parece abordar estritamente os bens
materiais. Sendo assim, indago se tal ideia pode ser estendida aos serviços, mais
especificamente ao turismo.

Krippendorf (1989) inclui o turismo no rol de bens de consumo, consideran-


do-o um bem de consumo abstrato. Por ser abstrato, ou seja, imaterial e intangível,
os consumidores não podem vê-lo antes da compra, sendo impossível fornecer uma
amostra do “produto” ao cliente. Mesmo defendendo que a viagem começa antes de
a pessoa partir, com a expectativa que se cria em torno da viagem, o consumo só
acontece efetivamente no momento em que o turista está no destino. Por ser intangí-
vel, o turismo não pode ser “lido”. Na maioria das vezes, não é possível saber que a
pessoa fez determinada viagem apenas olhando para ela. Dessa maneira, o indivíduo
que, usando uma série de recursos, se encarrega de “comunicar” aos outros sobre o
significado cultural da sua viagem. Segundo Rocha (2008), os bens de consumo tem
a capacidade de criar “pontes” e “muros”, ora afastando, ora aproximando indivíduos.
A aquisição de determinado bem faz com o indivíduo pertença àquele universo simbó-
lico que tal bem representa. O que não significa resumir o consumo a mera emulação
social, nos moldes de Veblen (1988). O significado cultural não deve ser resumido à
confrontação de status.

Apesar das diferenças entre os bens materiais e imateriais, intui-se que, em re-
lação ao turismo, a transferência de significado cultural ocorra de maneira semelhante
ao que propõe McCracken, ou seja, o serviço turístico também funciona como um
meio de transferir significado do mundo culturalmente construído para o sujeito. Aten-
ta-se, entretanto, para a primeira diferença: quando se trata dos bens materiais essas
duas transferências de significado ocorrem em momentos e dimensões diferentes.
Segundo McCracken, a primeira transferência (do mundo culturalmente construído
para os bens de consumo materiais) ocorre por meio da publicidade e pelo sistema
de moda, enquanto a segunda transferência (dos bens de consumo materiais para o
consumidor individual) ocorre a partir do contato do consumidor com o objeto através
dos rituais de: troca, posse, cuidados pessoais e desapropriação, figura 1.
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FIGURA 1 – MOVIMENTAÇÃO DO SIGNIFICADO CULTURAL DE BENS MATE-


RIAIS

Por conta do turismo ser um bem intangível, os rituais de troca, posse, cuida-
dos pessoais e desapropriação não se aplicam - pelo menos, não como os bens ma-
teriais. Entretanto, podemos usar o mesmo verbo que McCracken usa para explicar
as transferências no trecho citado anteriormente: “absorver”. No caso do turismo, o
consumidor absorveria o significado cultural do serviço que ele está consumindo de
duas maneiras: 1) materialmente: por meio de souvenirs e presentes que guarda para
si ou distribui aos amigos; e 2) narrativamente: por mais que não premeditadamente,
o turista absorve aquela experiência e a transforma imediatamente em uma narrativa,
as fotografias tiradas durante a viagem são ilustrações dessa narrativa que ele está
construindo. No caso dos souvenirs, os rituais de troca, posse, cuidados pessoais e
desapropriação podem ser interpretados como instrumento de transferência de signi-
ficado.

A seguir, apresento um modelo de localização e movimento de significado cul-


tura no Turismo, inspirado no modelo de McCracken apresentado anteriormente. A
figura 2 sintetiza e esclarece a argumentação acerca da movimentação do significado
cultural do turismo. Após breve explicação acerca, primeiro, das localizações do signi-
ficado cultural, e, segundo, dos instrumentos de transferência de significado, preten-
de-se argumentar acerca da pertinência da perspectiva da Antropologia do Consumo
do Turismo.

FIGURA 2: MOVIMENTAÇÃO DO SIGNIFICADO CULTURAL NO TURISMO.


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AS LOCALIZAÇÕES DO SIGNIFICADO CULTURAL

Ao longo do texto, reitera-se que a estrutura de movimentação do significado


cultural dos bens turísticos é diferente dos bens matérias. Entretanto, supõe-se que
o ponto de partida – onde o significado cultural reside inicialmente – é o mesmo: o
mundo culturalmente construído. Segundo McCracken (2007, p. 101), “Trata-se do
mundo da experiência rotineira, em que o mundo dos fenômenos se apresenta, aos
sentidos individuais, plenamente formado e constituído pelas crenças e premissas de
sua cultura.” O próprio conceito de cultura é bastante amplo e pode ser interpretado
de distintas maneiras; McCracken explicita a compreensão que tem deste conceito4:
A cultura constitui o mundo dos fenômenos de duas maneiras. Primeiramen-
te a cultura é a “lente” pela qual o indivíduo enxerga os fenômenos; assim
sendo, determina como os fenômenos serão apreendidos e assimilados. Em
segundo lugar, a cultura é a “planta baixa” da atividade humana, determinan-
do as coordenadas de ação social e atividade produtiva, e especificando os
comportamentos e objetos que derivam de uma e de outra. Na qualidade de
lente, determina como o mundo é visto. Na de planta baixa, determina como
o mundo será moldado pelo esforço humano. (2007, p.101)

Por aderir plenamente à definição do autor e entendendo como prescindível


refazer o caminho já percorrido, julga-se desnecessária explicação acerca do mundo
culturalmente construído, passando assim para a segunda localização do significado
cultural: bens turísticos. Emprega-se este termo no intuito de fazer uma analogia aos
bens de consumo materiais, tomando emprestada a amplitude com a qual eles são
abordados. Segundo a definição operacional de Beni, os bens turísticos podem ser:
1) materiais (monumentos, museus, galerias de arte, praias e outros) e imate-
4 McCracken apresenta outros conceitos importantes, como Princípios Culturais e Categoria
Cultural, que, de certa maneira, ajudam a sustentar a sua tese.
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riais (clima, paisagem e outros); 2) imóveis (terrenos, casas hotéis, museus,


galerias e outros) e móveis (produtos gastronômicos, artísticos e artesanais);
3) duráveis ou perecíveis (artesanais ou produtos gastronômicos); 4) de con-
sumo (bens que satisfazem diretamente as necessidades dos turistas) e de
capital (os que são utilizados para a produção de outros bens); 5) básicos,
complementares e interdependentes; 6) naturais ou artificiais. (BENI, 1997,
p.38)

Concorda-se parcialmente com o autor, sobretudo por conta da objetividade


com a qual tende a tratar de questões que são notavelmente complexas. Não é possí-
vel separar – pelo menos, não de maneira maniqueísta – os bens turísticos materiais
dos imateriais. Entretanto, recorre-se a esta definição por conta da abrangência com
a qual aborda bens turísticos e por ser amplamente aceita.

Na estrutura proposta, a última localização do significado cultural é ocupada


sempre pelo Turista – no singular –, enquanto no modelo de McCracken, o Consumi-
dor Individual. Insistiu-se desde o início na ideia de que o consumo é eminentemente
social e refratário a explicações que o reduzam ao plano individual, no entanto, em
ambas estruturas de movimento de significado cultural a última instância é ocupada
por um indivíduo. Isto corrobora que, mesmo que o processo seja social, o significado
cultural é, irremediavelmente, transferido ao indivíduo.

Percebe-se que, com exceção de algumas diferenças conceituais inerentes à


própria diferença da natureza dos objetos, há bastante semelhança entre o modelo
de McCracken e a hipótese aqui defendida, no que tange à localização do significado
cultural. A grande diferença dos modelos – o que justificaria uma releitura da teoria
de McCracken – é em relação aos instrumentos de transferência. Pretende-se nas
seções seguintes explorar os quatro instrumentos: História do Lugar, Publicidade, Ab-
sorção material e Absorção narrativa.

HISTÓRIA DO LUGAR

Na pesquisa anterior (FREITAS, 2013), compreendia-se História do Lugar


como o conjunto de fatos históricos e as interpretações que os historiadores têm de-
les. Mesmo considerando a distância entre realidade histórica e ciência histórica (LE
GOFF, 2003), esta definição não era coerente ao que a pesquisa propunha. Para o
presente trabalho, intenciona-se ampliar esta concepção. Para tanto, é necessário
compreender que o lugar é uma construção histórica e cultural. A história, como antes
apresentada, continua sendo importante alicerce, mas as representações sociais pa-
recem mais valiosas, de acordo com a perspectiva aqui alvitrada.

Seguindo esta linha de pensamento, a construção histórica e cultural do lugar


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interfere diretamente nos outros instrumentos de transferência de significado. A publi-


cidade apropria-se das representações sociais do local e transforma-os em atrativo,
em alguns casos, inclusive, sem muito compromisso com a realidade. Os souvenirs
só tem sentido e significado se referenciados a essa construção social, ao contrário
seriam apenas “lembrancinhas”, como ironizado no título de uma seção posterior. As
narrativas, por sua vez, operam bilateralmente, fazendo uso das representações so-
ciais existentes, mas, principalmente, construindo novas. Nas seções seguintes, cada
um desses instrumentos serão discutidos.

PUBLICIDADE

Dos instrumentos de transferência de significado cultural sugeridos em Cultura


e Consumo, a Publicidade é o único que se repete nesta proposição. De fato, é
muito difícil desassociar o consumo da Publicidade. McCracken explora de maneira
cuidadosa como a Publicidade transfere o significado:
A publicidade funciona como método em potencial de transferência de sig-
nificado, reunindo o bem de consumo e uma representação do mundo cul-
turalmente constituído no contexto de uma peça publicitária. [...] Quando
essa equivalência simbólica é estabelecida com sucesso, o espectador/ leitor
atribui ao bem de consumo determinadas propriedades que sabe existirem
no mundo culturalmente constituído. As propriedades conhecidas do mundo
culturalmente constituído passam, assim, a residir nas propriedades desco-
nhecidas do bem de consumo, e se realiza a transferência de significado do
mundo para o bem. (McCRACKEN, 2007, 104)

A facilidade e clareza com as quais autor expõe sua tese dá a impressão de


que essa transferência ocorre de maneira mecânica e imediata. É necessário ressal-
var que este é um processo mais complexo do que o este trecho transparece. Por
isso, é imperativo ressaltar que “significado cultural” refere-se a valores intangíveis e
de difícil manipulação e nem sempre as informações apresentadas pela publicidade
são interpretadas pelos espectadores da maneira que o idealizador imagina.

Os anúncios publicitários são recorrentemente abordados em algumas pesqui-


sas de Antropologia (cf. ROCHA, 1985; WILLIAMS, 1995; MILLER, 2002). Além de
terem papel importante na transferência de valor cultural, como já dito anteriormente,
os anúncios apresentam um mundo sempre perfeito. Rocha explora o mundo mágico
dos anúncios e destaca:
Mundo onde produtos são sentimentos e a morte não existe. Que é parecido
com a vida e, no entanto, completamente diferente, posto que sempre bem-
sucedido. Onde o cotidiano se forma em pequenos quadros de felicidade
absoluta e impossível. Onde não habitam dor, a miséria, a angústia, a ques-
tão. Mundo onde existem seres vivos e, paradoxalmente, dele se ausenta a
fragilidade humana. Lá, no mundo do anúncio, a criança é sempre sorriso, a
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mulher desejo, o homem plenitude, a velhice beatificação. Sempre a mesa


farta, a sagrada família, a sedução. Mundo nem enganoso nem verdadeiro,
simplesmente porque seu registro é o da mágica. (ROCHA, 1995, p.25)

Esse mundo mágico descrito por Rocha parece ter muito em comum com o
imaginário que é criado acerca dos destinos turísticos. Segundo Tresidder (1999), o
turismo é um sistema dinâmico de produção, distribuição e consumo de imagens, ima-
ginários e sonhos. Para Aoun (2003), a “indústria turística” utiliza a ideia de paraíso na
terra e através da sua propaganda transforma o paraíso em uma mercadoria atraen-
te, ao alcance de todos. Selwyn (1996) reitera a ideia afirmando que muitos folhetos
turísticos apresentam o mundo como um supermercado no qual quase tudo pode ser
comercializado.

É como se o mundo mágico dos anúncios publicitários passasse a existir e se


tornasse possível a visitação. Até este ponto, abordei o destino turístico genericamen-
te, intuindo, talvez, que todos os destinos acabam vendendo um imaginário mágico.
Entretanto, por mais óbvio que seja, seria um equívoco não ressalvar que os destinos
são diferentes entre si e que nem todos trabalham em cima de imagens glamorosas.
(FREIRE-MEDEIROS, 2009).

Como dito anteriormente, a experiência turística só é efetivamente consumada


no momento em que o turista está no destino. Contudo, deve-se atentar às mobi-
lidades imaginativas que circulam nos fluxos globais de objetos de representação,
tais como fotografias, cartões postais, folhetos, filmes e tecnologias de representação
como a Internet e aparelhos de televisão, que durante longas noites de inverno aju-
dam às pessoas a sonhar e (re)viver praias ensolaradas de verão (BÄRENHOLD et
al, 2004). Essas imagens antecipam, ainda que imaginariamente, a experiência que
o turista pode ter naquele determinado destino. Destaco ainda que esse material é
determinante no processo de mediação entre o turista e o local, delineando sua expe-
riência e estimulando a visita a determinados lugares.

SOUVENIRS, MAIS DO QUE UMA LEMBRANCINHA

Mesmo o Turismo sendo uma área do pensamento nova em comparação a


áreas mais tradicionais das Ciências humanas e sociais, há uma boa quantidade de
trabalhos que versam sobre o que aqui convencionamos chamar de significado cultu-
ral. Em um breve retrospecto, é possível perceber valorização excessiva ao “imaterial”,
uma certa obsessão com poder simbólico que negligencia a importância do suporte
material do turismo. Aparentemente, os pensamentos pós-estruturalistas e construti-
vistas (cultural turn) influenciaram significantemente as pesquisas em Turismo, levan-
do ao pé da letra a célebre frase de Marx de que tudo que é sólido desmancha no ar
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(PHILO, 2000). Ao enfatizar os processos cognitivos humanos – pensar, imaginar, in-


terpretar e representar –, corpos, coisas e lugares foram desmaterializados em sinais
culturalmente inscritos, em valor simbólico (HALDRUP; LARSEN, 2006).

Algumas pesquisas das últimas décadas demonstraram que é um equívoco


limitar a compreensão do Turismo ao significado cultural (nos termos de McCracken)
ou ao valor simbólico (BOURDIEU, 1998).

Sendo assim, o Turismo só pode ser concebido a partir da dualidade materia-


lidade/imaterialidade; parecendo ser equivocado limitar a análise a apenas uma des-
sas duas dimensões. Uma perspectiva que ajuda na compreensão desta dualidade é
a metáfora do castelo de areia. Como castelos de areia, lugares turísticos são cons-
truções tangíveis, mas frágeis, híbridos de mente e matéria, imaginação e presença,
cultura e natureza. O castelo só existe a partir da reunião de certos objetos, mobilida-
des e performances híbridas. (BÄRENHOLDT et al, 2004).

Um importante aporte material para que se compreenda a transferência de sig-


nificado cultural no turismo é o souvenir. Segundo Freire-Medeiros e Castro (2007),
“souvenires são o que o viajante traz consigo ― representam materialmente o vínculo
entre o lugar visitado e o lar para o qual se retorna.”. São evidências tangíveis da
viagem, eventualmente compartilhadas com amigos e parentes, que tem a verdadeira
função de reviver memórias da experiência (GRABURN, 1989).

O souvenir é peça importantíssima da análise que aqui está sendo construí-


da sobre a transferência de significado cultural. Ele é a representação material da
viagem, responsável por “capturar” o significado cultural do seu lugar de origem e
transferi-lo para o turista que o compra e, eventualmente, distribui para os seus pares.
Edmund Carpenter esclarece que:
A conexão entre o símbolo e as coisas vem do fato de que o símbolo - a pa-
lavra ou imagem (ou artefato) - ajuda a dar a “coisa” a sua identidade, clareza
e definição. Ele ajuda a converter determinada realidade, e é, portanto, uma
parte indispensável de toda experiência. (1973, p.17. Tradução minha)

Mais do que transferir o significado cultural do mundo culturalmente construído


para o turista: o souvenir tem também a função de comunicar o significado cultural.
De certa maneira, supõe-se também que parte desse significado cultural é transferido
para a pessoa que recebe o souvenir como presente.

Os souvenires podem ser analisados a partir de diferentes perspectivas. Há


pesquisas que exploram o objeto como representação e síntese da cultura de deter-
minado local, outros que, seguindo a linha de McCannell (1999), falam das buscas
(quase sempre malsucedidas) por souvenires “autênticos”, entre outros. O objetivo
de trazer o souvenir para essa análise, além de iterar que não é apenas uma lem-
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brancinha, é sinalizar a sua importância nessa cadeia de transferência de significado


cultural. O souvenir é uma forma de “absorver” materialmente significado cultural de
uma experiência que é, por excelência, intangível.

Por último, sinaliza-se que, por mais que se tenha tentado separar a absorção
material e absorção narrativa do significado cultural, seria ignóbil supor que são pro-
cessos que ocorrem separadamente e que não há interação entre eles. Muito pelo
contrário, além de serem processos complementares de uma mesma experiência, as
fronteiras entre eles não são muito claras. A seguir, algumas ponderações acerca do
que seria a absorção narrativa do significado cultural, demonstrando como o souvenir
também é parte constituinte deste elemento.

O TURISMO E SUA NARRATIVA MÁGICA

Na seção sobre Publicidade, tentou-se sublinhar, abrangentemente, a impor-


tância da imagem para o Turismo. Com o avanço notável das ditas mobilidades minia-
turizadas5, o turista deixaria de ser apenas consumidor passivo das imagens e passa
a ser também produtor e difusor. O registro imagético da experiência turística serve
culturalmente a diversos propósitos: 1) demonstrar que viajou e que esteve em deter-
minado local; 2) as imagens são detentoras de poder simbólico (BOURDIEU, 2007)
e servem para afirmar pertencimento a um determinado grupo social; 3) registrar ma-
terialmente a experiência turística no intuito de criar uma “galeria” de acumulação de
capital turístico, a fim de manter viva a experiência (GRABURN, 1989).

Ao falar da promoção turística e dos guias turísticos sugeriu-se que as imagens


apresentadas são tão “mágicas” quanto as utilizadas na publicidade. Acredita-se, por-
tanto, que as fotografias tiradas pelos próprios turistas tenham também, pelo menos,
a pretensão de ser mágica. A fotografia é uma performance, uma construção preme-
ditada, até mesmo para os que não são fotógrafos profissionais, pois a partir do visor
das máquinas digitais pode-se deliberar se a foto atendeu às suas expectativas ou
não e deletá-las, se bem entender. O que sugiro é que, quando o turista fotografa ou
é fotografado, ele captura o momento da transferência do significado cultural, como
se tentasse provar que os significados culturais daquela localidade foram transferidos
para ele.
[...]fotografia e turismo são as principais práticas sociais através das quais as
pessoas modernas produzem biografias e memórias que fornecem sentido
às suas identidades e suas relações sociais. Fotografia de turismo e fotogra-
fia de família se confundem, o que novamente reflete que, em um mundo mo-
derno móvel, o turismo não é uma ‘exótica ilha’, mas conectado à vida social
‘comum’. (HALDRUP; LARSEN, 2003, p.42. Tradução minha)

5 Miniaturized Mobilities se refere aos celulares, máquinas fotográficas, laptops, tablets, Mp3
players, conexões wi-fi, entre outros. (ELLIOT; URRY, 2010)
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Há em torno da fotografia todo um aparato material, mas isso, em si, não jus-
tifica concebê-la estritamente como uma forma de absorção material. Seguindo a ló-
gica da argumentação aqui construída, a fotografia seria ilustração da construção
de narrativa, algo que, além de dar credibilidade, funciona como um mediador entre
a realidade e memória. Para William Cannon Hunter, “representações em forma de
fotografias tornaram-se fundamentais para a própria realidade do turismo. Eles são
componentes fundamentais do imaginário e do mecanismo de seus discursos” (2008,
p.357. Tradução minha)

Sem intenção de resumir a experiência turística a uma prática emulativa (VE-


BLEN, 1988), cabe atentar ao fato de que a única maneira de se alardear o consumo
do turismo é a partir da construção – e divulgação – dessa narrativa. A abordagem da
absorção narrativa refere-se basicamente à história (ou seria estória?) que o turista
constrói sobre a sua viagem, tal como as narrativas de viagem dos grandes navega-
dores. Mary Louise Pratt investiga os relatos de viagem produzidos no século XVIII e
uma das perguntas que baliza a sua pesquisa é a seguinte: “Como o relato de viagem
e exploração produziu o resto do mundo para leitores europeus em momentos particu-
lares da trajetória expansionista da Europa?” (1999, p.28-29). O que chama atenção
nessa pergunta é a expressão “produziu o resto do mundo”; mesmo sendo um pouco
anacrônico, acredita-se que essa expressão serve para explicar a proposta de absor-
ção narrativa. Ao contar a viagem a seus conhecidos, o turista está, de certa maneira,
“produzindo” aquele lugar para o imaginário dessas pessoas. Mesmo que os ouvintes
conheçam o lugar, o que o turista contar sobre sua experiência vai ser sempre único,
inerente à experiência que só ele teve naquele lugar e em circunstância específica.

Reiterando tal argumentação, cabe recordar o brilhante artigo de Bruner (1995),


no qual o antropólogo narra a experiência que teve na “reunião de viagem” na casa
dos Sullivan, na qual as pessoas eram identificadas a partir dos locais que haviam
visitado.

Em oposição à ideia do consumo como um campo restrito a símbolos distinti-


vos, Lipovetsky (2007) apresenta a ideia de consumo emocional, argumentando que
o consumo não é motivado apenas pela distinção social, já que não se estampa na
testa de ninguém que a pessoa esteve em um hotel cinco estrelas, mas porque esses
serviços oferecem benefícios reais e práticos para o indivíduo.

Parece ser possível conjugar os modelos de Veblen e de Lipovetsky acerca


das motivações do turista. Mesmo sem a intenção de alardear posição social, os tu-
ristas criam, ainda que para si mesmos, uma narrativa sobre aquilo que está sendo
vivido, como um meio de compreender a própria experiência. Essa narrativa não deve
ser imaginada apenas como uma história que pode ser contada oralmente, as foto-
grafias e os souvenirs são também suportes da narrativa. Reitera-se nesse ponto o
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quanto a absorção material depende da absorção narrativa e vice-e-versa. São, dessa


maneira, elementos fundamentais da transferência de significado cultural.

Apresentados os elementos que compõem o modelo proposto, pretende-se na


seção seguir argumentar a importância de se pensar em uma possível Antropologia
do Consumo do Turismo.

ANTROPOLOGIA DO CONSUMO DO TURISMO: É POSSÍVEL?

Ao longo destas páginas, tentou-se aproximar a Antropologia do Consumo ao


Turismo, a partir da apropriação do modelo de estrutura e movimentação de significado
cultural para o turismo. Ainda que o título sugira, pretensiosamente, pensar em uma
Antropologia do Consumo do Turismo, não será a partir deste artigo que tal campo será
consolidado. Essa aproximação não é feita de maneira direta, já que a Antropologia do
Consumo se debruçou por muito tempo sobre os bens tangíveis, relegando a segundo
plano as especificidades dos serviços, inclusive o turismo.

O objetivo primeiro do texto era apropriar adequadamente o modelo de movi-


mento de significado cultural de McCracken para o Turismo, sendo pertinente reiterar
que o próprio significado cultural é também dinâmico, sendo modificado pelos contex-
tos históricos, sociais e econômicos.

Creio que os quatro elementos (história do lugar, publicidade, absorção mate-


rial, absorção narrativa) aos quais atribuiu-se a qualidade de instrumento de transfe-
rência de significado cultural não compreendem todo o fenômeno turístico, por este
ser naturalmente complexo.

A própria Antropologia do Consumo demorou a ser reconhecida como um campo.


Ainda que o consumo já estivesse sendo afirmado como prática social elementar da
sociedade contemporânea, era tido como um tema supérfluo e banal, se comparado
com os campos de estudo mais tradicionais. Tal barreira só foi transposta a medida
que pesquisas consistentes foram sendo desenvolvidas e formaram massa crítica
consistente. Mesmo assim, o reconhecimento, reitera-se não foi imediato.

Pretendeu-se com este artigo traçar uma linha que pudesse aproximar, ainda
que remotamente, a Antropologia do Consumo e o Turismo, no intuito de fazer com
que outros pesquisadores possam vislumbrar o leque de possibilidades que tal campo
oferece e o quanto ele poderia enriquecer os próprios estudos do turismo.

No entanto, a proposição de tal campo não sugere fechar-se nos autores da


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Antropologia do Consumo. A quantidade de autores de diferentes áreas que foram


mobilizados para sustentar este artigo ajudam a corroborar o quão necessário é
pensar interdisciplinarmente, mesmo que isso seja igualmente difícil. Reitera-se que
a pesquisa em Turismo só pode ser concebida a partir de um olhar multifacetado e
despido de preconceitos (pré-juízos).

A sedimentação da Antropologia do Consumo do Turismo só será possível se


diversos pesquisadores se unirem em torno do tema e reiterarem a peculiaridade e
importância de tal perspectiva para, a partir daí, desenvolverem pesquisas com rigor
metodológico e profundidade analítica.

É possível que isso nunca aconteça, mas a própria ciência se constitui a partir
do próprio esforço de, tempos em tempos, analisar a si mesma e pensar em novas
possibilidades. De qualquer forma, um Encontro de Turismo como ENTBL parece ser
o local ideal para que tal debate seja empreendido.

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ETNODESENVOLVIMENTO E TURISMO NOS KALUNGA DO NORDESTE DE


GOIÁS²
Maria Geralda de Almeida¹

RESUMO
Os Kalunga, população afrodescendente, são povos tradicionais, que têm suas
comunidades no Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, no Nordeste de Goiás. A
atividade turística na comunidade dos Kalunga foi introduzida desde a década de 2000,
com mais vigor na comunidade de Engenho II. A metodologia fez uso de consultas a
sites, leituras de relatórios e dissertações sobre o tema e, a realização de entrevistas
no procedimento da pesquisa-ação; além de refletir sobre a inserção de turismo e seus
impactos políticos, econômicos e sociais até na percepção dos Kalunga, considerou-
se importante refletir o turismo local à luz do etnodesenvolvimento. Os resultados
apresentados derivam de análise feita na comunidade Engenho II. Conclui-se que
os Kalunga daquela comunidade concebem a atividade turística como promotora da
melhoria de vida para alguns e há o interesse por esta atividade; contudo, a presença
de turistas no Sitio não se deve ao etnoturismo, na opinião deles; atualmente, o turismo
favorece o enriquecimento de alguns, agravando as fissuras sociais, as possibilidades
de fortalecimento do turismo e de fazer a inclusão social dos Kalunga depende de
um empoderamento da Associação. O etnodesenvolvimento nos Kalunga é a forma
democrática, solidária de promover a socialização do trabalho e da renda advinda
com o turismo.

PALAVRAS-CHAVE: Comunidade quilombolas. Economia social.


Etnodesenvolvimento. Turismo.

ABSTRACT
The Kalunga, African descendants, are traditional people who have their communities
in Historical and Cultural Heritage Site Kalunga, at northeast of Goiás, the tourism
activity in the community of Kalunga has been introduced since the 2000s, with more
force in the community Engenho II. The methodology ​​used the data from some sites,
reading reports and dissertations about the theme and conducting interviews in the
procedure of action research, beyond to reflecting on the integration of tourism and its
political, economic and social impacts even in the kalunga perception, it was considered
important to reflect the tourism in the Kalunga to the light of ethno-development. The
presented results are derived from analysis made in Engenho II community. We
conclude that Kalunga conceive that tourism as a promoter of better living for some
and there is interest in this activity; however, the presence of tourists in the site is not
due to ethno-tourism, in their opinion currently the tourism favors the enrichment of
some aggravating social fissures, the possibilities for strengthening tourism and make
the social inclusion of Kalunga depends on empowerment of Association. The ethno-
development on Kalungas is democratic, partnership to promote socialization of labor
and income arising from tourism.

KEYWORDS: Quilombolas community, social economic, ethno-development, tourism.


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INTRODUÇÃO

Na década de 1970, surgiram as primeiras manifestações calorosas sobre


o ambiente, e sobre as formas de uso desregrado do mesmo. Nesta década, o
economista Ignacy Sachs, divulga um modelo com o termo ecodesenvolvimento; no
qual, aponta as possibilidades de desenvolvimento com base aos recursos ambientais
e com sustentabilidade. Contudo, as preocupações com o estilo de desenvolvimento
persistiram.
Em 1981, na Reunião de Peritos de Etnodesenvolvimento e Etnocidios na
América Latina, em Barbados, acadêmicos e governantes se preocupam em discutir
um “desenvolvimento alternativo” para os povos etnicamente diferenciados. O objetivo
daquela Reunião era criar a possibilidade de pensar um desenvolvimento que fosse
adequado à condição étnica de cada sociedade, isto é, um desenvolvimento com
etnicidade.
As primeiras sistematizações sobre etnodesenvolvimento surgiram com
esta Reunião, sobretudo, por ela ter sido respaldada pela sólida contribuição de
antropólogos e sociólogos e instituições como a Flacso-Faculdade Latino-Americana
de Ciências Sociais e ONU - Organização das Nações Unidas.
Tal fato forneceu um valor político e teórico-acadêmico ao etnodesenvolvimento.
Cabe destacar que, no cenário mundial, a ONU foi a principal articuladora de eventos
e discussões que culminavam na busca e entendimento de um novo modelo de
desenvolvimento/etnodesenvolvimento referência para outros povos. Contudo, é em
1984 que Stavenhagem formula uma concepção de ecodesenvolvimento, que passa
atrair a atenção da academia, dos grupos étnicos e dos promotores de políticas.
O termo “etnodesenvolvimento” tem duas grandes acepções na literatura
especializada: (1) o desenvolvimento econômico de um grupo étnico; e (2) o
desenvolvimento da etnicidade de um grupo social (STAVENHAGEN, 1985). Na
realidade, as duas acepções não são excludentes. Ao contrário, existem em relação
dialética constante, de tal modo que o desenvolvimento da etnicidade sem um
correspondente avanço no plano econômico só promoveria a existência de grupo
étnico marginal e pobre.
O ecodesenvolvimento, conforme Grunewald (2003) emerge como uma
proposta para reorganizar os sistemas econômicos e sociais para que estes permitam
populações etnicamente diferenciadas possam ser inseridas em uma perspectiva de
desenvolvimento, sem necessariamente romper com suas características étnicas e
culturais específicas.
Neste estudo, propõe-se discutir o turismo e suas práticas no Sitio Histórico
Patrimônio Cultural Kalunga, uma comunidade Quilombola, visto como uma
possibilidade de desenvolvimento econômico e uma maneira de fazer a inclusão
social dos Kalunga.
Procurará cotejar as práticas do turismo em curso, enquanto proposta
desenvolvimentista, com o propugnado pelo etnodesenvolvimento O olhar será com
o entendimento da concepção de etnodesenvolvimento de Stavenhagen e aquela
reelaborada pelo Grunewald.O propósito é ter uma alternativa de desenvolvimento
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que leve em conta a etnicidade e as condições econômicas e sociais na Comunidade


dos Kalunga..

1. ETNODESENVOLVIMENTO E FORTALECIMENTO DAS DIVERSIDADES


ÉTNICAS E CULTURAIS

O reconhecimento e a aceitação dos quilombolas como grupo étnico resultam de


um processo histórico e político na sociedade brasileira. Batalla (1988) nos lembra
que a relação significativa, necessária para conceituar e definir o grupo étnico, é
aquela que se estabelece entre uma sociedade e sua cultura própria.

A noção de uma origem comum, a identidade coletiva, o território, a unidade na


organização política, a língua e outros traços comuns, adquirem valor como elementos
característicos do grupo étnico, na medida em que seja possível enquadrá-los dentro
desta relação especifica e significativa existente entre sociedade e cultura própria.
Este autor na mesma obra afirma que grupo étnico:

...é um conjunto relativamente estável de indivíduos que mantém continuidade histórica


porque reproduz biologicamente e porque seus membros estabelecem entre si, vínculos de
identidade social distintiva a partir de que assume como uma unidade politica (real ou vitual,
presente ou passada) que tem o direito exclusivo ao controle de um universo de elementos
culturais que considera como próprios. Os elementos culturais próprios estão conformados,
primeiramente, pelo patrimônio cultural herdado e, secundariamente, pelo que o grupo cria,
produz e/ou reproduz. (BATALLA,1988,p.10)

A concepção de Batalla sobre grupo étnico é esclarecedora do atual


contexto das ações e políticas valorativas direcionadas para o grupo étnico dos
Kalunga, como são conhecidos os Quilombolas do Norte e Nordeste de Goiás e do
Estado de Tocantins. O foco central de quaisquer programas ou atividades que
visam o etnodesenvolvimento é o grupo étnico e suas necessidades econômicas e
reivindicações políticas.
Para tanto, o principal nível no qual se aplica o etnodesenvolvimento é
o local, justamente porque é nesse nível onde existem maiores oportunidades para
os grupos étnicos exercerem influência nas decisões que lhes afetam e, como
consequência, promover mudanças nas suas práticas econômicas e sociais. É no
nível local que começa o processo de construção da autogestão étnica.
Quando se combina a problemática do desenvolvimento com a do
reconhecimento da diversidade cultural, o etnodesenvolvimento introduz um conjunto
de novos temas no seio do espaço público dos Estados nacionais. No plano político,
o etnodesenvolvimento promove um recorte étnico aos debates sobre a questão da
autodeterminação dos povos.
Assim é que já existe nos planos do Ministério do Desenvolvimento Agrario,
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e tem o ano de 2005 como marco do principio de divulgação de ações mais sólidas
tipificadas como políticas de etnodesenvolvimento para os Quilombolas.
Alem desse fato, em Reunião Ministério da Agricultura, para o PPA 2012-
2015 participou a Coordenação Geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento. Neste
PPA ela tem o objetivo de implantar e desenvolver a Política Nacional de Gestão
Ambiental e Territorial em Terras Indígenas, por meio de estratégias integradas e
participativas voltadas ao desenvolvimento sustentável dos povos indígenas.
A vertente mais ressaltada do etnodesenvolvimento é a autonomia cultural.
Assim, a autonomia cultural implica ter uma participação direta nas decisões sobre
o destino dos recursos naturais contida no seu território e, igualmente importante,
o controle sobre os recursos culturais do grupo (língua, organização social, práticas
tecnológicas).A autonomia cultural, para funcionar como um verdadeiro subsídio
para o etnodesenvolvimento teria que operar em pelo menos três planos: político,
econômico e simbólico.
No plano político, os apelos à autonomia cultural procuram eliminar os
fortes vestígios do “colonialismo interno” - para usar um conceito da geração anterior
de antropólogos mexicanos (veja CASANOVA, 1969; BONFIL BATALLA, 1970) -
que ainda orientam as relações interétnicas em muitos países latino-americanos. A
estrutura política da autonomia cultural varia de país em país, devido às distintas
formas vigentes do colonialismo interno e do desenvolvimento nacional.
Referenciando-se nos acordos e convenções internacionais sobre o
racismo e direitos humanos, assim como nos acordos e nas leis brasileiras, o Governo
institui a Politica Nacional de Promoção da Igualdade Racial, em 2003 (SILVA, 2010).
Nela, o Governo tem uma base legitima para articular os discursos de igualdade racial
e desenvolvimento étnico.
E, a partir desta, dois anos após o Governo lança o Programa de Brasil
Quilombola e sua consequente proposta de desenvolvimento étnico para as
comunidades de quilombos. Até o presente este é o primeiro e único Programa
nacional para o etnodesenvolvimento quilombola.
Em conformidade com o Decreto 4887/2003, o etnodesenvolvimento,
imbuído dos propósitos do Programa Brasil Quilombola e, de acordo com Silva (2010),
o etnodesenvolvimento tornou-se uma missão dos diferentes órgãos governamentais
afirmando ser o meio de garantir a reprodução social, cultural, econômica e física das
diversas comunidades étnicas.
No plano econômico, a autonomia cultural propõe a tarefa de sair das
situações de “desenvolvimento por pilhagem”, os grupos étnicos estão tentando
elaborar práticas produtivas que garantem o abastecimento das suas necessidades
básicas ao mesmo tempo em que permite a produção de excedentes a serem utilizadas
na geração de renda para a compra de produtos industrializados.
O guia para a elaboração dessas práticas reside nos conhecimentos da
etnoecologia; já que as relações ecológicas existentes, tomadas no seu conjunto,
mostram os caminhos da sustentabilidade ambiental por ser, em muitos casos, um
exemplo empírico dela.
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No plano simbólico, o etnodesenvolvimento local requer controle sobre os


conhecimentos científicos e sobre os processos educativos. Quanto ao conhecimento
científico, a valorização e fortalecimento dos “saberes locais” e suas tecnologias
associadas constituem uma tarefa importante (LITTLE, 2001).

2. ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL KALUNGA E O ENCONTRO COM O TURISMO

Conforme destacado em estudos anteriores por Almeida (2010), os Kalunga


são comunidades quilombolas, ou como denomina a Fundação Cultural Palmares,
comunidade afrodescendente. Os Kalunga têm suas comunidades no Sítio Histórico
e Patrimônio Cultural Kalunga, ocupando uma área de 263,2 mil hectares na trijunção
dos municípios de Cavalcanti, Teresina de Goiás e Monte Alegre, no nordeste de
Goiás (figura 1):

FIGURA 1.ENTRADA DA AREA DO SITIO HSTÓRICO E PATRIMONIO CULTURAL


KALUNGA NO MUNICIPIO DE CAVALCANTI.

Autora M.G. de Almeida, fevereiro de 2014.

A maior parte do Sítio, isto é, 71% encontra-se em Cavalcante, mas ocupa


apenas 26% da área total do município; em Monte Alegre, ele representa 13% da área
total, ocupando 10% da área total do município. Já em Teresina de Goiás, a despeito
de ser somente 15% do Sítio, ele ocupa 50% da área total do município.
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Não existe limite territorial entre os quatro principais subterritórios de


aglomerados populacionais: o Engenho II, considerado mais dotado de infra-estrutura,
mais próximo de núcleos urbanos e de fácil acesso, o Vão do Moleque, o Vão de
Almas e o Ribeirão dos Bois (Marinho, 2008).Esta divisão e terminologia é usada pelos
Kalunga para os diferentes espaços por onde espalham as dezenas de comunidades.
Em relação à população do Sítio, o Laudo Histórico sobre a Comunidade
Kalunga (1998) estimava em 4.200 pessoas; essa população era maior que aquela
apresentada nos dados de 2004, descritos por Marinho, cuja estimativa era de 3.752
habitantes, isto é, 958 famílias, distribuídas em 884 domicílios. Na ausência de um
Censo específico do IBGE para grupos étnicos afrodescendentes, recorremos às
estimativas.
Ao se considerar que são detentores de um patrimônio, após a formalização
de identidade por meio da Lei Estadual nº 11.409-91, desde então, os Kalunga
buscam o reconhecimento e o apoio nacional. Um avanço ocorreu em 2009, em 20 de
novembro, quando o presidente da República assinou 30 decretos de regularização de
territórios quilombolas entre os quais do Sitio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga.
O Sítio configura-se, de acordo com a concepção do Bonnemaison (1981, p.
256), como um geossímbolo, “um lugar, um itinerário, um acidente geográfico, que por
razões políticas, religiosas, históricas ou culturais, possui aos olhos de certos grupos
sociais ou povos uma dimensão simbólica que alimenta e conforta sua identidade”.
Essa construção da identidade territorial decorre, também, de interferências
externas e a dimensão simbólica do lugar e da paisagem cultural tem constituído um
atrativo singular, exótico para o turismo.
A paisagem cultural é a imagem sensorial, afetiva, simbólica e material dos
territórios nas palavras de Beringuier (1991). A paisagem cultural tal como Beringuier a
concebe, ilustra-se neste âmbito com o Sítio do Patrimônio Histórico Cultural Kalunga,
banhada de elementos imateriais e intangíveis que se revelam no cotidiano, nos
conflitos, nos risos, nas festividades, nos encantamentos, nas cores, nas sonoridades
e nos odores.
O lugar/paisagem Sítio Patrimônio Histórico Cultural Kalunga, emerge
palpitante de vida, de movimento e de sonoridade conduzidos pelos Kalungas que dão
um significado e um valor ao local. E, a paisagem cultural pode ser uma maneira de
demonstrar a identidade territorial, que os turistas buscam ao visitar aquele território:
um lugar de quilombolas, um sitio Kalunga.
Este é um dos desafios de uma comunidade que procura atrair visitantes
pela sua rusticidade, tradições e, necessita modernizar-se com aquisição de produtos
alimentares industrializados e uso de equipamentos modernos na agricultura, nas
festividades e na cozinha.
Neste sentido, ela se preocupa com a autonomia cultural, buscando uma
forma de desenvolvimento que seja compatível com seus recursos social, cultural,
econômico e ecológico.
A dispersão territorial em pequenas unidades produtoras, chamadas de
roçados, é uma das características da economia local. As limitações topográficas e
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a escassez de terras férteis levam os Kalunga do Engenho II a explorar as faixas de


terras marginais como encostas, topos de morros, às vezes em áreas de fazendeiros.
Além disso, devido à distância, eles são obrigados a caminhar no mínimo
duas horas para chegarem aos seus roçados. Ali, com o uso da enxada e da foice, eles
plantam mandioca, milho, arroz, batata doce, abóbora, feijão, fumo e algodão, sem
fertilizantes e agrotóxicos, fato comentado por eles com bastante orgulho. Próximos
à comunidade de Ribeirão, em outro município, alguns Kalunga também cultivam o
gergelim, vendido nas padarias de Teresina de Goiás.
O costume é permanecer cinco anos plantando na mesma área. Quando a
terra pertence a um fazendeiro, o contrato é para devolvê-la no segundo, terceiro ou
mesmo quatro anos, dependendo do fazendeiro, com pastagens.
De produtos produzidos pelos Kalunga, o que tem maior valor comercial
é a farinha, reputada pela qualidade em todo Norte e Nordeste Goiano, e a cachaça
“Maquiné”, de fabricação artesanal vendida por um kalungueiro, em Engenho II.
Em pequena escala, os Kalunga extraem do cerrado frutos como o pequi,
o buriti, o jatobá, o cajuzinho, baru em menos quantidade, dependendo da estação
do ano. Todavia, ainda hoje, as matas, os pastos naturais, os recursos hídricos são
explorados de forma comunal.
A construção de espaços que contemplam estratégias de pluriatividades
de uso da terra garantiu uma base alimentar e a consolidação da identidade étnica e
cultural da comunidade Kalunga.
Os Kalunga construíram o território Kalunga. Conforme já o afirmamos
(ALMEIDA, 2010), é, antes de tudo, uma convivialidade, uma espécie de relação
social, política e simbólica que liga o homem à sua terra e, ao mesmo tempo, constrói
sua identidade cultural. Também, é o modo como criam uma identidade e “enraízam-
se” no território, produzindo uma paisagem cultural que se torna um patrimônio e
objeto de turismo cultural.
Há um súbito e crescente interesse pelos bens culturais, pelos saberes,
pelos grupos étnicos, o que pode explicar o fato de o Sítio dos Kalunga ter se
transformado em um dos atrativos turísticos, cultural, dos mais visitados no Estado de
Goiás pela população do Distrito Federal.
O turismo é um fenômeno social que manifesta um crescimento constante,
considerado como uma importante fonte de riqueza econômica e como oportunidade
para impulsionar áreas deprimidas nos aspectos econômicos e sociais. Por esse
motivo, ele foi introduzido no território Kalunga com o apoio do Sebrae, parceiro da
Goiás Turismo no fomento desta atividade. Natureza, Cultura, mitos, fantasias criaram
a imagem Kalunga e os atrativos turísticos para tal.
Costuma-se explorar o isolamento, as tradições do tempo da escravidão, o
retorno ao século XIX, como motivadores para as visitas ao Sítio Histórico Patrimônio
Cultural. Neste caso, agentes publicitários e de turismo, “contam” uma história de
isolamento, fantasiosa, bastante atrativa.
A categoria quilombo passou a ser discutida por antrologos e sociólogos
que defendem ser o quilombo uma comunidade e, como tal, é uma unidade viva,
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um locus de produção material e simbólica. O quilombo institui-se como um sistema


político, econômico, de parentesco e religioso, que margeia ou pode ser alternativo à
sociedade abrangente.
Também, Munanga e Gomes (2005) reafirmam a presença de negros
diversos naquele espaço e o quilombo ser uma organização de uma sociedade livre.
Ou seja, eles ressaltam a presença de negros alforriados, também preferindo morar
nos quilombos, sendo essa, atualmente, a versão mais aceita sobre a formação dos
quilombos.
Nesse sentido, espera-se que o turismo seja uma estratégia e também,
recurso para apresentar uma história em uma versão real e desmistificar os mitos
sobre a formação dos quilombos/Kalunga.
Embora ainda careçam de inventários aprofundados, pode-se afirmar que
se delineiam três territórios de turismo no Sítio: território do Engenho II, território do
Vão de Almas e do Vão do Moleque e, o território de Teresina de Goiás-Monte Alegre,
ao longo da GO 118. (Figuras 2) A apresentação deles está na sequencia.
O território do Engenho II contempla a comunidade de Engenho II, situada
a cerca de 20 Km da cidade de Cavalcante , tem a facilidade do acesso, uma
infraestrutura que se consolida e os atrativos naturais mais visitados: Mirante Serra
da Nova Aurora e Cachoeira Ave Maria no trecho de Cavalcante que dá acesso ao
Engenho II; a Cachoeira Kandaru, Cachoeira Capivara e a Cachoeira Santa Barbara,
considerada como a mais bela queda d’água do Sitio Histórico e do Norte Goiano
superando mesmo aquelas do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

FIGURA.2.LOCALIZAÇÃO DE COMUNIDADES E TERRITORIOS TURISTICOS


NO SITIO KALUNGA.

Fonte: Bruno Abdala, 2012.


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Por esse motivo, o turismo surge como uma fonte de renda e de trabalho
muito desejável no inicio da década de 2000, introduzido com o apoio do Sebrae. Os
técnicos do Sebrae encontraram em Engenho II, um líder comunitário Kalunga, que se
interessou pela proposta e implantou, na Comunidade, a prática do turismo na lógica
da mercantilização: acessos controlados e pagos, visita guiada para as cachoeiras
por um Kalunga.
Há um súbito e crescente interesse pelos bens culturais, pelos saberes,
pelos grupos étnicos, o que pode explicar o fato de o Sítio dos Kalunga ter se
transformado em um dos atrativos turísticos mais visitados no Estado de Goiás pela
população do Distrito Federal.
Com olhares curiosos,os visitantes observam o agrupamento de casas
sem arruamentos, às “casas kalungas”, construídas pelo governo, avistam algumas
mulheres e crianças adornadas com rastafári e outros se aventuram mesmo a
encomendar uma refeição caseira para o retorno da visita às cachoeiras.
Progressivamente, no Engenho II incluiu-se a hospedagem, camping
rústicos, refeições possível em três casas, sendo uma delas do próprio líder
comunitário. Este, desde o final de 2013, tornou-se um empresário melhor sucedido
entre os Kalunga, com um restaurante privado, de porte médio e a posse de uma área
para camping..
Este território destaca-se ainda pela ocorrência de um expressivo evento
festivo, a Folia de Santo Antônio, convenientemente deslocada de junho para 13 de
julho para possibilitar um público maior devido às férias. Neste dia tem o arremate da
folia, uma “janta” farta e ainda um forró sendo os dois últimos os atrativos para um
afluxo de visitantes que supera 200 pessoas naquele dia. Os Kalunga se aproveitam
para “bons”negócios” com a venda de bebidas alcoólicas, de comida junina, de
rapadura e de água.
O território do Vão de Alma (60 Km de Cavalcante) e do Vão do Moleque
(120 Km) têm dificuldades de acesso, de infraestrutura e carência de atrativos
naturais.Estes territórios conseguem ter destaque com folias e festas religiosas. Os
participante/visitantes deslocam de várias localidades e, durante um tempo, alojam-
se em ranchos precários nos lugares festivos, para celebrarem seus santos, fazerem
seus pequenos negócios, reforçarem os laços identitários e territoriais.
O calendário festivo é rico se destacando algumas festas: em janeiro, Folia
de Reis e festa de São Sebastião; em junho, a festa de Santo Antônio na Maiadinha,
folias em algumas comunidades e a festa de São João, com matinas, império, levante
de mastros, encerra-se com a festa de São Pedro.
Porém, os grandes festejos dos Vãos são duas romarias: Em agosto, a
Romaria de Vão de Almas com o Império do Divino Espírito Santo e novena a Nossa
Senhora da Abadia. E, em setembro, a Romaria do Vão do Moleque com novenas
a Nossa Senhora do Livramento, Nossa Senhora das Neves e São Gonçalo. Nesta
acontece o Império e a Coroação mantendo as tradições de festejar os imperadores
dos Kalunga. Estas festas, com forte presença das tradições constituem o diferencial
no turismo desse território.
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O território de Teresina de Goiás-Monte Alegre, ao longo da GO-118


apresenta-se com atrativos turísticos mais diversificado, se comparado com os Vãos
do Moleque e de Almas. Em novembro de 2000, foi realizado pelo Grupo Nativa, em
parceria com o Sebrae/GO, o Inventário da Oferta Turística de Teresina de Goiás.
Segundo os resultados desse trabalho, existem 27 atrativos turísticos
na região, porém, somente as corredeiras do Funil constam nesse inventário como
atrativos situados nas comunidades Ribeirão e Diadema de Quilombolas. Além disso,
o estudo reiterou que a presença da Comunidade Kalunga em grande parte do seu
território, conformaria a identidade turística do município, um diferencial em relação
aos demais municípios da Chapada dos Veadeiros. Contudo, quase 12 anos após não
se implementa o turismo naquele território.
Em inventário mais recente Lima e Almeida (2011), constataram que o território dessas
comunidades é dotado de elementos que podem ser atrativos para o turismo rural,
para o turismo de pesca, o turismo de natureza, ecoturismo e turismo cultural. Estas
pesquisadoras identificam cinco locais potencialmente turísticos, com a colaboração
dos próprios Kalunga das comunidades:
1) Ribeirão dos Bois: potencialidades de atrativos turísticos, especialmente por
propiciar no verão banhos, e, a prática de canoagem e de bóia-cross em partes mais
acidentadas do córrego.
2) Rio Paranã: nasce no Planalto Central e deságua no rio Maranhão no estado do
Tocantins. Possui corredeiras em alguns locais, profundidade e aspecto caudaloso em
outros. Na jusante o rio se alarga alcançando um extenso horizonte. Na confluência
do Ribeirão dos Bois com o rio Paranã, a Serra da Contenda, ao fundo, constitui
uma paisagem bastante atraente.O rio é propicio para atividades como canoagem,
passeios de barco, banho, pescaria, e possibilita a implantação de tirolesas.
3) 5) Trilhas pelo cerrado: As trilhas pelas matas da região constituem-se um atrativo
turístico, para observações da vegetação, das espécies de animais como o pássaro
preto, o quero-quero etc, e das espécies vegetais como mangaba, baru, pequi,
cagaita, araçá, araticum, buriti, entre outras. Além disso, elas permitem o acesso dos
conhecimentos sobre as espécies, aos saberes e tradições locais dos Kalunga.
4) Funil: Tem essa denominação por ser o local que o rio Paranã afunila-se ao “pé” da
Serra do Vão de Almas. Esse é o lugar preferido para a pesca por muitos moradores das
comunidades Kalunga, deslocando uma distância aproximada de cinco quilômetros a
partir da escola de Diadema. Turistas/pescadores vindos principalmente de Brasília
frequentam o local. A paisagem compõe-se do rio encaixado e a intensa correnteza
das águas. O percurso final feito a pé, em meio ao cerrado e também da quantidade
de grandes blocos de rochas no caminho, o que exige muito esforço físico. (Figura 3).
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FIGURA 3: FUNIL, PESCADORES DAS COMUNIDADES KALUNGA

Fonte: Luana N. M.Lima, 2011.

5) Casa de Farinha:Trata-se de equipamentos para beneficiamento criada pelo governo


municipal de Teresina de Goiás por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura (Pronaf) do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, com maquinários
necessários para fazer farinha. Localiza-se próxima à escola de Diadema. A Casa
é pouco usada embora seja o espaço onde as comunidades, especialmente as
mulheres, exercitam práticas tradicionais do preparo deste alimento, o convívio e a
sociabilidade. (Figura 4).

Figura 4: MAQUINÁRIOS DA CASA DE FARINHA

Fonte: Lima, Luana N. M. 2011.

Muitos Kalunga preferem as formas tradicionais de fazer farinha, utilizando


pau de angico para ralar a mandioca, em suas próprias casas. Para a Casa de Farinha
se constituir um atrativo cultural, torna-se necessário que as mulheres procurem
utilizar com mais frequência e regularidade aquele espaço, sobretudo porque o plantio
de mandioca e a produção de farinha acontecem o ano inteiro.
Desde setembro de 2011, o Centro de Excelência do Turismo-CET de
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Brasilia, anuncia em seu site,a inauguração do Memorial Kalunga Casa de Dona Lió
- Fazenda Ema Teresina de Goiás/GO. Dona Lió é uma personagem respeitada pelos
Kalunga devido aos seus conhecimentos, à sabedoria e à autoridade na Comunidade
Ema. A construção do Memorial, no mesmo local onde era sua casa de adobe, pretende
tornar-se um museu com seus objetos pessoais, embora haja quase um ano que as
obras tenham sido paralisadas. Ainda não oferece condições para ser visitada..
Cabe ressaltar que nestes três territórios aquele de Engenho II destaca-
se por ter uma Associação de Guias e Condutores que, já mencionado seu papel
importante na geração de trabalho e renda para os jovens daquela comunidade. Cada
“guiagem” custa 60,00 para o grupo de visitantes no qual o número máximo é seis.
Em 2008, havia aproximadamente 21 condutores inscritos na Associação
e, curiosamente, 11 eram da família Maia, 5 da família Rosa, 2 da família Silva e o
restante de diversas outras famílias. Estes dados são reveladores do empoderamento
de algumas famílias, do abandono total das atividades tradicionais por parte de
algumas famílias ao terem um número tão elevado de membros na atividade turística.
Em 2012, o número de condutores já alcançava 70, embora alguns
estivessem em Brasília, Goiânia e Cavalcanti para estudos e exerçam a prática de
condução esporadicamente, nas férias e feriados. Em fevereiro de 2014, de acordo com
informações no próprio CAT de Engenho II, os moradores que realmente trabalham
como condutores são 30.
Destes, 10 ali ficam no CAT diariamente.. O restante tem a atividade
turistica como complementar, pois se dedicam a cuidar do roçado, do quintal, ajuda
ao vizinho no seu roçado...A agricultura é, ainda uma importante fonte de renda para
os moradores

3 OPORTUNIDADES E DESAFIOS RECENTES PARA O ETNOTURISMO E O


OLHAR DOS KALUNGA

O turismo contribui para assumir a identidade Kalunga e, ao mesmo tempo,


transformá-la em um slogan para as conquistas e lutas pela terra e em mercadoria
para atrair os visitantes. Nesse contexto, as dinâmicas que se instauram sinalizam
para uma dualidade entre criar e manter os traços que exotizam a comunidade face
aos olhos dos visitantes, e buscar se inserir no mundo moderno.
Neste caso, os Kalunga podem optar-se pela hibridização das alternativas
e buscarem seu desenvolvimento próprio.O desafio para eles é utilizar as conexões
que mantêm com grupos e instituições nos outros níveis - organizações não-
governamentais, órgãos governamentais, agências multilaterais de financiamento –
para seu próprio benefício.
Algumas ações engendradas pelas instituições procuram transformar a
natureza e a cultura dos Kalunga em oportunidades. Entre elas, dois projetos realizados
pela Universidade Federal de Goiás. Um deles, a oficina “Informação e Receptividade
Turística” oferecida no Projeto “Kalunga Cidadão”, na comunidade Engenho II em
setembro de 2011.
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O outro, um Projeto de Extensão como parte das ações do projeto “Troca


de Saberes no Cerrado: Valorização dos Quintais, Segurança Alimentar e Cidadania
nas Comunidades Kalunga em Teresina de Goiás”, consistiu igualmente em oficinas
nas comunidades Kalunga de Teresina de Goiás ao longo 2011. As referidas oficinas
foram para motivar, esclarecer e capacitar os Kalunga em noções sobre o turismo
valorizando a cultura própria e sua relação com o Cerrado.
A UnB criou e implementa o projeto “Observatório para o Turismo Sustentável
de Cavalcante”, executado pelo Centro de Excelência em Turismo (CET/UnB) com a
parceria da Fundação Banco do Brasil. O Observatório nasceu com o objetivo de ser
um banco de dados, e também, uma ferramenta que possibilite uma gestão turística
planejada e compartilhada com a comunidade com acompanhamento mensal da
análise da atividade turística.
Paralelo ao Observatório foi lançado no CET/UnB, o guia Cavalcante -
chapadões, águas e cultura cerratense – Goiás, em março de 2012. Este guia resulta
do Projeto de Capacitação Profissional em Turismo, da Fundação Banco do Brasil.
Seu objetivo é divulgar a riqueza da biodiversidade e da cultura da região; além de
servir às suas comunidades como instrumento que oferece opções para o ecoturismo
e para a construção de estratégias de desenvolvimento sustentável.
O CET e o Observatório visam uma maior sensibilização e conhecimento
sobre o valor turístico e a importância da divulgação desses locais para turistas.; porém,
é clara a opção pelo discurso de desenvolvimento sustentável que é contraditório, é
ambíguo no seu uso (sustentável para quem?), ao projetar-se na preservação para
uso das gerações futuras (e as gerações atuais, quem pensará nelas?) e, ser um
discurso amplamente assumido pelos órgãos governamentais, pelos investidores e
empreendedores do turismo, organizações não governamentais e pela sociedade
civil. Náo cabe aqui aprofundar esta discussão.
Como desafios para o turismo naquele Sítio, três outros ainda se destacam:
primeiramente, a Associação dos Quilombolas, não consegue ser uma interlocutora
para discutir e implementar um plano de desenvolvimento do turismo no Sitio como
um todo. Prevalecem os interesses particulares de comunidades e, mesmo de cada
Kalunga; segundo, são as operadoras, agências de turismo com atividades turísticas
que já consolidam uma regularidade de visitas turísticas no Sítio Kalunga.
Algumas são indicadas aos turistas no CAT – Cavalcante e operam a partir
daquela cidade. Outras têm sites, e sedes em Brasília e em Alto Paraíso, operando
com um público diversificado. Destaque para Suçuarana Roteiros e Expedições que
inclui Roteiro de Vivência da Cultura Kalunga, Roteiros diversos do Sitio Histórico
Kalunga e outros, de observação de Arara Azul, Gavião Rei nos arredores do Sítio,
demonstrando uma atuação em várias modalidades de turismo.
O pouco envolvimento dos Kalunga com as atividades das operadoras,
restringe um projeto de interesse dos Kalunga; terceiro, é a pouca valorização do
turismo nas gestões municipais de Monte Alegre, Teresina de Goiás e Cavalcante
.Tal fato reflete na pouca articulação e envolvimento municipal com os Kalunga na
promoção desta atividade.
A atual turistificação do patrimônio, tanto o cultural quanto o natural,
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favorece sua mercantilização. O valor que os bens culturais possuem, por um


lado, é o que a sociedade por suas práticas sociais lhe atribui e, por outro lado, é o
definido pelos interesses da lógica do mercado. O turismo, nesse processo, reinventa
o patrimônio cultural, como tem ocorrido com os Kalunga e adota, sabiamente, o
etnodesenvolvimento.
Contudo, o principal desafio para os Kalunga reside, ainda, na interação
que teria que estabelecer com o mercado. Neste aspecto, uma primeira dificuldade
reside na rigidez dos valores com que o mercado funciona - incessante procura do
lucro; visão de curto prazo; interesses coletivos como externalidade; tendência ao
monopsônio -, que muitas vezes não se compatibilizam com os valores locais.
Uma segunda dificuldade é o dinamismo e as exigências das redes
regionais, nacionais e internacionais do mercado que podem minar as bases da
autonomia cultural. Por outro lado, com a adoção de “desenvolvimento alternativo”
fica cada vez mais difícil consolidar práticas de etnodesenvolvimento que excluem o
mercado.
À luz do exposto, ressalta-se que o estabelecimento de uma situação de
autonomia cultural não implica o desligamento do grupo local do mundo maior, algo
quase impossível dada à interdependência do mundo atual. O que precisa ser pensado
por parte do grupo étnico é quais interações devem ser feitas, com quais instituições e
para quais finalidades, ou seja, a escolha dos parceiros do grupo local que atuam em
outros níveis é também um dos elementos principais da autonomia.
Se o grupo não tem essa liberdade ou capacidade; o que acontece em
situações de tutela por parte do Estado nacional; não existem condições adequadas
para pensar’ num etnodesenvolvimento.
Conceber o turismo como elemento para o etnodesenvolvimento deveria
contemplar a dimensão social como fundamental.Todavia, se os grupos sociais não
são vistos na totalidade, poderá beneficiar alguns, enriquecer poucos e a maioria
permanecer marginalizada da renda que ingressa na comunidade, como já foi relatado
no caso de EngenhoII.
Esgarçam-se as relações sociais quando os interesses financeiros
predominam e notam-se exclusões e inclusões sociais, como na comunidade de
Engenho II. Há um constrangimento devido ao entendimento de que o Sítio é de
todos, mas o que é cobrado para a entrada nele não é socializado entre todos os
moradores da comunidade.
O fato do líder comunitário ter uma visibilidade externa maior, ser uma
liderança local, um interlocutor quase obrigatório quando o assunto é Kalunga no
Estado de Goiás fazem com que esse líder seja uma referência a ser buscada por
todos que chegam à Comunidade do Engenho II. Além disso, conforme já foi dito, ele
tem a posse de uma hospedagem e do principal restaurante.Dois outros moradores
também oferecem hospedagem domiciliar e igualmente dois outros a refeição caseira.
Diante disso, o projeto do coletivo se compromete com famílias que ganham
poder econômico e político; fato observado por uma ONG que atuava na região entre
20011 e 2013.Esta, respaldada no apoio financeiro da Petrobrás, deslocou o CAT
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das proximidades da casa do líder, para um espaço próprio e, deu maior autonomia
aos condutores.
Apesar disso, Engenho II já apresenta suas fissuras sociais. o que não
impede de, aos poucos, as demais comunidades e territórios, mesmo desconhecendo
a existência de seus potenciais produtos turísticos, aspirarem que o turismo também
seja implantado neles.

À GUISA DE CONCLUSÃO

Estariam os Klaunga interessados no turismo, como alternativa de


desenvolvimento? Para responder esta questão iremos nos basear em pesquisa
realizada em Engenho II, fevereiro 2014. Foram 26 entrevistados; 20 deles disseram
estar de acordo com a prática de turismo no Sitio, igual número admite que o turismo
traz benefícios para a Comunidade deles.
E, 22 confessaram conhecer famílias que melhoraram de qualidade de vida
com o turismo, embora dentre eles somente 14 entrevistados tenham familiares como
condutores na atividade turística. Ou seja, no olhar deles, as atividades turísticas é
favorável economicamente para os Kalunga.
No que diz ao capital cultural, quase 80% dos entrevistados pensam que
os visitantes se interessam pelas cachoeiras mas, 16 deles acreditam que o modo de
vida Kalunga atrai o interesse dos visitantes e, um número expressivo (9 entrevistados)
dizem que não.
Breve, os Kalunga, em sua totalidade ainda não se reconhecem como
portadores de uma diversidade cultural condutora para o etnodesenvolvimento pois,
está muito sedimentado o capital ecológico como o valorizado pelos visitantes.
É muito recente o tímido controle exercido pelos Kalunga na atividade
turística como processo econômico. As etapas para transformar um potencial em
produto turístico, implantar uma infraestrutura, fazer um marketing de seus produtos,
do seu território, comercializar e re-investir esbarra na falta de capacitação dos
membros da organização para cobrir cada uma dessas fases e a incapacidade de
controlar os fatores externos desfavoráveis.
Não existe nenhuma garantia que esse modelo demonstraria sustentabilidade
a médio ou longo prazo. A sustentabilidade é muito difícil de se alcançar por qualquer
modelo econômico. Mas, sem conseguir um mínimo de sustentabilidade, um projeto
de etnodesenvolvimento, termina sendo uma espécie de “engano” pelo simples fato
de que o desenvolvimento que promoveu não é durável no tempo.
Além do mais, a sustentabilidade precisa ser estabelecida em múltiplas
esferas - ambiental, demográfica, econômica, social, cultural, política, técnica - sendo
que falhas em uma ou mais dessas esferas podem comprometer o modelo no seu
conjunto.
Mas, uma verdadeira sustentabilidade somente seria possível quando
existissem mecanismos sustentáveis funcionando nos níveis nacional e internacional.
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A implementação de mecanismos que respeitem e promovam o etnodesenvolvimento


nesses níveis é extremamente difícil, particularmente, onde predomina a ideologia
neoliberal.
Essa apropriação do patrimônio Kalunga pelo turismo é uma decisão
estratégica, vinculada a um processo socioeconômico mundial que é, segundo
expressão de Vallbona e Costa (2003), a turistização : o turismo enquanto se integra
profundamente na economia local, convertendo-se na principal atividade econômica,
potencializa e revaloriza o patrimônio cultural espetacularizado para tal propósito.
Algumas dúvidas persistem: se o turismo é uma oportunidade a ser
aproveitada para revalorizar o Sítio, potencializar o etnodesenvolvimento, ou se ele é
um agravante da baixa condição socioeconômica de alguns Kalunga, com a ascensão
de poucos, ou mesmo a via equivocada que conduz ao empobrecimento do patrimônio
Kalunga; ou se o turismo é a chave para o etnodesenvolvimento, desde que os Kalunga
consigam o controle sobre suas próprias terras, seus recursos, sua organização social
e sua cultura, e é livre para negociar com o Estado o estabelecimento de relações
segundo seus interesses, somente o futuro dirá..

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compartilhado no Sitio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga-Goiás”, Colóquio de
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IDENTIDADE CULTURAL E GESTÃO PARTICIPATIVA NA ATIVIDADE TURÍSTICA

Camila Benatti1
Karoline Teixeira da Silva2

RESUMO: O Turismo cultural recorre à utilização do patrimônio como um atrativo


turístico, valorizando assim os costumes e as particularidades de determinados grupos.
A prática do Turismo incentiva a preservação da memória e da identidade cultural dos
povos. Todavia, o fluxo de visitantes sem planejamento e gestão adequados, podem
degradar os bens patrimoniais e afetar as manifestações genuínas dos nativos.
Pretende-se então, mostrar neste trabalho, como estes danos podem ser minimizados
se os autóctones tiverem participação nos processos turísticos de seu espaço. Por
meio de pesquisa bibliográfica e estudo de caso, concluiu-se que ações conjuntas
entre a atividade turística e a população local são imprescindíveis para a preservação
de sua cultura e a participação ativa da população que poderá se beneficiar do Turismo.
Deste modo, comunidades podem proteger e preservar seus hábitos, símbolos e
patrimônios, criando também um relacionamento entre visitantes e anfitriões por meio
de um planejamento integrado e a execução conjunta da atividade turística.

PALAVRAS-CHAVE: turismo. cultura. gestão participativa.

ABSTRACT: The Cultural tourism turns heritage into tourist attraction, thus enhancing
the customs and peculiarities of certain groups. The practice of tourism encourages
the preservation of memory and people’s cultural identity. However, the flow of visitors
without planning and management can degrade the heritage assets and affect the
genuine manifestations of the natives. We intend to show in this work how this damage
can be minimized if the natives participate in the tourism processes of their space.
Through literature review and case study, it was concluded that joint actions between
tourism activities and the local population are essential to the preservation of their
culture and the active participation of the people that can benefit from tourism. Thus,
communities can protect and preserve their habits, symbols and heritage, and also
creat a relationship between hosts and guests through an integrated planning and joint
implementation of tourism.

KEYWORDS: tourism. culture. participatory management.

1 Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal do Ceará; Mestre em Geografia Hu-


mana pela Universidade de Lisboa; Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Ouro Preto.
E-mail: camilabenatti@hotmail.com
2 Bacharel em Turismo pelo Instituto de Ensino Superior de Fortaleza. E-mail: karoline.ts21@
gmail.com
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INTRODUÇÃO

Este artigo é dedicado ao estudo da relação entre identidade, gestão participativa


e turismo. O trabalho é divido em três seções que abordam os seguintes temas:
Identidade Cultural na Pós-modernidade, relacionando-a com cultura e atividade
turística. Por conseguinte, nesta mesma seção, se discorre sobre patrimônio como
instrumento da memória. Posteriormente, na segunda seção, se desencadeia um
debate acerca da ação da comunidade local no desenvolvimento e nos processos
turísticos. Por fim, é feita uma análise de estudo de caso, no qual são feitas
algumas recomendações e reflexões acerca da investigação realizada, seguida das
considerações finais.

O estudo de caso desenvolvido, baseado em fontes bibliográficas e websites,


teve como objeto a FCG - Fundação Casa Grande; Memorial do Homem Kariri,
localizada na região do Cariri na cidade de Nova Olinda, no Estado do Ceará. Esta
fundação não governamental reúne crianças, jovens e pais da região, com um intuito
educacional e de gestão social. A FCG tem como meta levar a educação ao “mundo do
sertão”, onde trabalham com programas de Memória, Artes, Comunicação e Turismo.

Espera-se com este trabalho, auxiliar os profissionais de turismo e a população


residente de destinos turísticos a instituírem ações conjuntas com o objetivo de proteger
e preservar os seus bens, além de criar um bom relacionamento entre visitantes e
anfitriões, através de um bom planejamento e da execução conjunta entre os agentes
e atores que envolvem esta atividade.

IDENTIDADE, CULTURA E TURISMO

Apreendem-se por identidade comum de um povo as suas características


específicas que são compartilhadas em uma nação ou localidade, aspectos estes
que, segundo Cláudio Batista (2005), formam uma identidade particular. A identidade
pode estar ligada à religião, costumes, etnias, crenças, gênero, idade e classe social.
Para determinar a identidade cultural de uma sociedade, segundo Santos (2004), é
preciso diferenciar as suas características em relação a outras identidades e culturas
diversas.

No final do século XX as sociedades passaram por uma transformação


estrutural que ocasionou mudanças e fragmentações socioculturais. Segundo Stuart
Hall (2006), estas transformações mudaram nossas identidades pessoais, perdendo
a ideia de sujeito integrado, do que era sólido, ocasionando o que é chamado de
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deslocamento do sujeito. “Esse duplo deslocamento – descentração dos indivíduos


tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos – constitui uma
‘crise de identidade’ para o indivíduo” (Hall, 2006, p. 9).

O que está em evidência é que o sujeito está composto de várias identidades,


que vai adquirindo através de interconexões com outras culturas e costumes,
podendo obter como consequência crises de identidades e contradições do seu eu.
Na modernidade, as identidades nacionais subordinam as identidades individuais,
todavia, essas estão se deslocando e comprimindo distâncias e tempo. Esse colapso
cultural e identitário estão diretamente vinculados ao processo de globalização (Hall,
2006).

Como consequência dessa reestruturação nas sociedades e de influências


externas, as identidades locais têm adquirido grande relevância, e novas identidades
hibridizadas têm surgido. Dessa forma, a cultura nacional antes tão centrada, tem se
fragmentado. Isto é, através do intercambio cultural as identidades hibridizadas têm
produzido culturas novas e complexas. Assim, no item que se segue, apresentar-se-á
uma discussão sobre o papel da comunidade na conservação do patrimônio cultural
para a manutenção da memória social, e para reforçar a identidade cultural dessa
mesma comunidade.

A fim de contribuir para a discussão das ideias, torna-se relevante expor


os principais debates que giram em torno da cultura. Portanto, para Peter Burns
(2002, p. 73), a cultura abrange “tudo o que constitui a sociedade humana”, como
identidades étnicas, modo de vida, gêneros, relações entre homens e familiares. Para
a Antropologia Social, cultura é como um código específico de um grupo de pessoas,
do qual exprime suas tradições, os modos de vida, de pensar e agir. Permite traduzir
as diferenças entre povos e pessoas, possibilitando resgatar a nossa humanidade, no
outro, de forma recíproca. (Da Matta, 1981).

De certo modo, poderíamos dizer que ‘cultura é tudo’, incluindo a


experiência socialmente aprendida, instituições sociais, ciência, arte etc. A
lista prossegue e inclui, é claro, aspectos ligados tanto com a recepção de
turistas quanto com a condição de ser um turista (Burns, 2002, p.74).

O trabalho de Ulpiano T. B. de Meneses (1996) destaca quatro proposições


sobre o conceito de cultura. A primeira delas refere-se à cultura como o universo
da escolha, da seleção e da opção. A segunda destaca que o universo da cultura é
historicamente criado, por isso os sentidos e valores que o sustentam precisam ser
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explicados, declarados e propostos. A terceira reforça a ideia de que o valor cultural


não está nas coisas, mas é produzido pelo jogo concreto das relações sociais. A
quarta proposição afirma que as políticas culturais devem dizer respeito à totalidade
da experiência social e não apenas a segmentos seus privilegiados.

O termo cultura é um termo muito utilizado nas abordagens antropológicas e


foi apropriado pela Nova História Cultural (NHC). O antropólogo Bronislow Malinowski
(1975, p. 43) já havia definido cultura de maneira ampla, “abrangendo as heranças
de artefatos, bens, processos técnicos, ideias, hábitos e valores”. Outro antropólogo
que teve grande influência nessa concepção foi Clifford Geertz (1989, p. 52), que em
sua “teoria interpretativa da cultura”, define o termo como “o padrão, historicamente
transmitido, de significados incorporados em símbolos, um sistema de concepções
herdadas, expressas em formas simbólicas, por meio das quais os homens se
comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atitudes acerca da
vida”. Esse também é o conceito de cultura ao qual adere Roger Chartier (1990), e que
se distancia da proposta hermenêutica, incorporando o conceito de representações
da realidade.

A cultura seria o referencial básico para o estudo do comportamento do homem


dentro de um grupo. Os simbolismos desse grupo, como a arte, a linguagem e os
gestos, são uma dinâmica de construção, de transmissão e de renovação da cultura.
Assim, a cultura constitui uma forma de explicação dos fenômenos contextuais. É
resultado da invenção social e é transmitida e apreendida somente por meio da
comunicação e da aprendizagem (Martins e Leite, 2002).

Na Idade Média, intelectuais e estudiosos aristocratas, viajavam pela Europa


com o intuito de pesquisas, aprendizado e contemplação de obras de artes e
monumentos, essas viagens receberam o nome de Grand Tour. Nota-se desde aquela
época a relação entre turismo e cultura, quando estes estudiosos que liam sobre a
existência de sítios e artes, sentiam o desejo de identificar no local aquilo do que
tinham conhecimento, desfrutando o anseio de visualizar o seu imaginário. Mais tarde,
entre os anos de 1765 e 1820, o Grand Tour deixa de lado o caráter de conhecimento
educacional e atinge uma característica mais mundana, prazerosa, havendo um
aumento nas diversidades dos atrativos culturais e se aproximando dos fundamentos
do turismo atual (Vasconcelos, 2006).

De acordo com Camilo Vasconcelos (2006), no século XIX o turismo já era


considerado um fenômeno, uma atividade em expansão. Nessa época, na Europa,
o patrimônio cultural se consolidou, atraindo turistas de vários lugares do mundo.
Através das literaturas de viagens e românticas, houve a propagação do conhecimento
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do patrimônio e de sua preservação como identidade de um povo ou de uma nação.


No final deste mesmo século, notaram que a junção entre turismo e legado cultural era
positiva, sendo esta consolidação chamada pelo turismo cultural de circuito clássico.

Em 1998, a UNESCO realizou em Paris uma reunião denominada ‘Cultura,


Turismo e Desenvolvimento – Desafios para o Século XXI’ e nela foi declarada
que ‘qualquer forma de turismo produz um efeito cultural tanto no turista como
no anfitrião’. Assim é natural que os turistas passem a buscar a prática do
chamado turismo cultural. (Vasconcelos, 2006)

A atividade turística tem se diversificado em segmentos, onde o Turismo Cultural


tem lugar significativo. Este proporciona ao indivíduo um intercâmbio cultural, rico em
conhecimentos e experiências. Os turistas que procuram por este tipo de turismo têm
como principal objetivo conhecer sítios históricos, obras artísticas, tradições étnicas,
festividades típicas e os bens materiais e imateriais, tais como os saberes e fazeres
de uma localidade, região ou país, ou de um determinado grupo, proporcionando
vivências de situações e aspectos da identidade cultural de uma população.

Ao tentar aproximar o conceito antropológico de cultura ao turismo, podemos


afirmar que a atividade turística promove relações sociais das quais geram interações
e transmissão de tradições culturais, possibilitando a globalização da cultura. O
fenômeno passou a servir como ferramenta de desenvolvimento econômico e
preservação do legado cultural de muitos países e localidades, pois ao mesmo tempo
em que oferece empregos e gera renda para a comunidade receptora, ele também
possibilita a conservação do seu patrimônio e a valorização da identidade local.
Assim, o turismo utiliza a cultura como um meio de atração e renda, e a cultura por
sua vez utiliza o turismo como forma de valorização e conhecimento de sua herança
e identidade. Deste modo, se insere o conceito de representações de Chartier (1990),
na qual a realidade é representada, sendo a própria cultura e o turismo frutos de
invenções ou imaginações.

Alguns autores afirmam que, ao atrair a atenção para o patrimônio natural


ou cultural, o turismo promove sua conservação e valorização. Há também
uma idéia romântica que está muito em voga na atualidade, proveniente
dos séculos XVIII e XIX: de que o turismo gera e promove a harmonia entre
os povos, sendo inclusive assumida pela UNESCO, quando afirma que o
turismo promove um diálogo mais rico entre as culturas (Vasconcelos, 2006,
p.33 e 34).
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A tradição construída na idade moderna e que se torna hegemônica até meados


do século passado (o século XX) é a de tomar como patrimônio cultural as grandes
construções culturais e identitárias, comumente associadas às obras monumentais
de uma arte ligada às classes dominantes. Principalmente com elo à arquitetura,
escultura, pintura, literatura (incluído o teatro) e a música. Além disso, os grandes
fatos da história nacional (ou regional), especialmente aqueles ligados aos grandes
feitos políticos, eram tomados como os verdadeiros fatos históricos de herança. Dessa
tradição, inclusive, vem o uso da palavra patrimônio no lugar de outras de significado
mais ampliado, como herança e legado (Menezes, 2004).

Os elementos culturais são responsáveis por atrair visitantes e recursos para


o desenvolvimento econômico de uma localidade. Para tanto, a atividade turística
deve ser realizada de modo sustentável, buscando a preservação do meio ambiente,
o crescimento econômico e harmonia entre visitantes e residentes. Dessa forma o
legado cultural e seus atrativos não serão descaracterizados ou extintos, para atender
a demanda turística. Os atrativos culturais materiais e imateriais não devem ser como
produtos para comercialização. Os destinos turísticos devem ter planejamento para
colher os benéficos do turismo e minimizar seus impactos.

O turismo é uma ferramenta de revalorização da identidade local, sendo


uma oportunidade de fortalecimento da cultura e tradição de um povo, com o intuito
de preservar suas origens e sua história, de modo a resguardar e revitalizar o seu
patrimônio, bem como manter vivas as manifestações culturais. Para tanto, também
é necessário afirmar que as sociedades pós-modernas se caracterizam pelo seu
hibridismo cultural, sendo o turismo uma das forças que direcionam esta concepção.
Portanto, este patrimônio é invenção desta sociedade, assim como, a atividade
turística.

No turismo cultural a memória e a identidade são essenciais para o


desenvolvimento deste segmento turístico, que vem crescendo a cada década
devido às exigências dos padrões do turismo, no caso cultural, pois um dos
fatores que faz crescer esse tipo de turismo é a elevação da escolaridade da
população que de uma forma ou de outra vem aumentando graças a esse
mundo globalizado (Batista, 2005, p.33).

Pierre Nora (1993) utiliza o conceito de “lugares de memória”, partindo do


pressuposto de que não há memória espontânea, de que é necessário criar arquivos,
que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres,
porque essas operações não são naturais. Desta forma, o turismo é um modo de
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representação dos lugares de memória, no qual os visitantes o entendem como


conhecimento de uma dada realidade social e histórica. A cultura utiliza a memória
e a identidade para preservá-la e motivar o turismo, ressalta-se então que este tipo
de atividade atinge um público com um nível de instrução educacional alto, que quer
conhecer, experimentar e vivenciar a história de um local ou de um grupo social.

COMUNIDADE E OS TURISTAS: ATORES SOCIAIS DO DESENVOLVIMENTO

A partir da década de 1960, o turismo começa a ser considerado como alternativa


de emergência aos países subdesenvolvidos. No entanto, a atividade turística ocorreu
sem planejamento, de forma desordenada. O grande fluxo de visitantes em áreas
inaptas a receber turistas ocasionou danos ao meio ambiente e as populações
residentes (MTur, 2006).

Realizada dessa forma, os processos da atividade turística com um foco cultural,


podem gerar uma ação de mercantilização da cultura e de seu legado na comunidade
receptora. Para Maragarita Barretto (2002), dentro do fenômeno turístico, o fator que
merece mais atenção é o receptivo local, como a prestação de serviços ao turista e
todas as relações que ocorrem entre visitantes e residentes.

O cotidiano local, mais que estimulador de curiosidade, é elemento


problematizador do objeto que se brusca fruir, e as intermediações que se fazem entre
a cultura passada e o cotidiano é o que possibilita o entendimento, a contextualização
instigante e a memorização prazerosa, que permanece na mente, revive o momento
da compreensão e estimula a busca de novos entendimentos e de novos prazeres
(Menezes, 2004).

Alguns tipos de turistas não tem como prioridade estabelecer relações com
os indivíduos locais. No entanto, ao agirem desse modo, produzem um sentimento
de inferioridade e hostilidade nos autóctones. Esse modo de ação deve ser mudado,
para que a atividade turística se desenvolva de forma harmoniosa entre visitantes e
residentes. De acordo com muitos pesquisadores o turismo trabalha na manutenção de
relações pacíficas, para a interação com a cultura e a vida do outro. Para Krippendorf
(2003), o turismo permite o encontro entre seres humanos pertencentes a culturas e
criações distintas, operando em prol da aproximação e compreensão entre os povos,
fomentando a tolerância.

Em muitos locais turísticos a população incorpora novos estilos de vida, se


reestruturando e desconfigurando o seu modo tradicional de vida para atender aos
visitantes e se adaptarem à atividade turística. A população pode perder o sentimento
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de pertence por sua localidade, sua identidade cultural e descaracterizar suas tradições
e modos de vida, entrando num processo de esquecimento de seus valores e de sua
história.

Sob este aspecto crítico do turismo, recorremos a Luzia Neide Coriolano (2002,
et al. Martins, 2002), a qual situa o turismo como uma das mais novas modalidades
do processo de acumulação, que vem produzindo novas configurações geográficas e
materializando o espaço de forma contraditória pela ação do Estado, das empresas,
dos residentes e dos turistas. O turismo para se reproduzir, segue a lógica do
capital, quando poucos se apropriam dos espaços e dos recursos neles contidos,
apresentando-os como atrativos transformados em mercadorias.

Entre muitos benefícios no turismo, pode-se destacar o intercâmbio cultural que


esta atividade proporciona, bem como a evolução psicológica, intelectual e pessoal
decorrente do diálogo entre turistas e a população. As trocas culturais proporcionadas
pela atividade turística podem ser catalisadoras do processo de autoestima e
valorização cultural dos nativos.

Considerando, então, o patrimônio como a síntese simbólica dos valores


identitários de uma sociedade que ela própria reconhece como próprios e sabe
interpretar e preservar. Sob outro ângulo, ao tomar o patrimônio reconhecido como um
documento histórico da memória que construímos e que reflete nossa capacidade de
edificar uma cultura através do tempo seria possível criar parâmetros de interpretação.
Esses parâmetros deverão assumir formas que tenham como substrato a busca
sensível de auscultar e ouvir a realidade e as vivências históricas dos habitantes
dos locais onde, historiadores e turismólogos, atuam na construção de espaços de
memória e de atrativos turísticos (MENEZES, 2004).

Para que isso aconteça, o turista deve agir de forma ética, ter respeito pela
população residente e seus bens, sem degradar o meio ambiente e o seu legado
cultural, levando do lugar novas experiências, aprendizado e conhecimentos. Assim
que o turista deve agir na sociedade, com bom senso e educação, beneficamente. É
preciso que haja o cuidado para que todos sejam favorecidos. “Quase ninguém tem a
preocupação com as condições de vida dos autóctones, ou com a manutenção com o
equilíbrio ecológico e os recursos naturais” (KRIPPENDORF, 2003, 81).

Contudo, é essencial compreender que a integração, amiga e respeitável, entre


visitantes e residentes, precisa ser elevada, proporcionando novos conhecimentos,
apreensão de novas culturas e paz de diferentes povos, bem como a valorização do
artesanato local e a geração de empregos.
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A aceitação da atividade em sua localidade pode trazer benefícios, seguida da


vontade de participar e planejamento adequado, com o autóctone interagindo com
o turista e vice-versa, de forma harmoniosa, paciente e respeitável à sua criação,
costumes e modos de vida. Havendo esta compreensão, a atividade turística pode
prosseguir de forma menos impactante, favorecendo a todos. Sendo assim, torna-
se crucial verificar o papel da comunidade local no processo de desenvolvimento da
atividade turística, visando a minimização de impactos da sua identidade cultural e de
seus bens patrimoniais.

A AÇÃO SOCIAL DA COMUNIDADE NO PROCESSO TURÍSTICO

Quando a cultura passa a ser um produto turístico, é inevitável que seus


“atrativos” (tangíveis ou intangíveis) sofram danos. Nesse sentido, é de tamanha
importância que a população local se insira na gestão turística, de modo a trazer
proteção da sua herança cultural, além da geração de renda e empregos.

O envolvimento dos indivíduos locais e o sentimento de pertença levam a


comunidade a defender seus bens, de forma que os turistas não o degradem e de
maneira que tragam benefícios econômicos para si.

No turismo comunitário, o interesse volta-se para o trabalho dos adultos para


melhorar a renda das famílias, e as crianças são preservadas da antecipação
do trabalho. As atividades turísticas comunitárias são associadas às demais
atividades econômicas, com iniciativas que fortalecem a agricultura, a pesca
e o artesanato, tornando estas atividades preexistentes ao turismo mais
sustentável. Prioriza a geração de trabalho para os residentes, os pequenos
empreendimentos locais, a dinamização do capital local, a garantia da
participação de todos, dando espaço também às mulheres e aos jovens.
Assegura a participação de pessoas das comunidades com o planejamento
descentralizado e associativo [...] (CORIOLANO, 2009, p. 284).

O turismo pode se constituir como ferramenta de interpretação do patrimônio


cultural, fomentando a revitalizações de bairros e centros, de conjuntos arquitetônicos
e monumentos para atender aos visitantes e conservar os bens da localidade. A
participação ativa da população no planejamento e gestão do turismo pode trazer
vários benefícios como: a preservação e conservação de seu legado cultural e de sua
identidade; a elevação do conhecimento; autoestima; valorização de suas tradições
e de seu patrimônio; empregos; e avanço econômico. Para que isto ocorra, os
indivíduos devem estar dispostos a participar e a se inserirem de forma atuante e bem
planejada na atividade. “O turismo comunitário é um processo de descoberta, quando
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a comunidade discute o que quer e o que pode fazer para o desenvolvimento das
pessoas e do lugar”. (CORIOLANO, 2009, p. 285).

Nessa perspectiva, é essencial que haja ações conjuntas entre o setor público,
privado, os profissionais especializados e a população local. Esta última deve se
envolver nos projetos e planos, participando de conselhos administrativos do setor
turístico, trabalhando dentro do trade, ou até mesmo se especializando através de
cursos profissionais da área, para com isso se incorporar no planejamento e execução
do setor.

Para melhor compreensão desta dinâmica, Barretto (2002, pp. 49-51),


menciona um exemplo da cidade de Colonia del Sacramento, no Uruguai, onde um
bairro chamado Sur (Sul) de relevância histórica, era usado como zona de prostituição.
Em 1969, foi criada uma comissão honorária do patrimônio dirigida por um arquiteto
da comunidade que já mostrava interesse por esse bairro em suas pesquisas na
faculdade. Esta comissão, em ação conjunta com o Ministério de Educação e Cultura,
iniciaram pesquisas e escavações que após vinte anos vem produzindo grandes feitos
para a cidade como recuperação histórica e restauração do bairro, empregando à
Colônia o título de Patrimônio da Humanidade conferido pela UNESCO em 1996. Este
é um exemplo, de como é necessário e importante que exista participação comunitária
nos processos turísticos. Além de a população redescobrir sua história e desabrochar
um sentimento de pertence, a atividade turística proporciona a partilha de benefícios
dentro da comunidade, o desenvolvimento da economia e a geração de empregos.
Hoje, este bairro é o principal atrativo turístico da cidade.

Há vários métodos de incentivar os indivíduos à participação no planejamento


e na implementação do turismo, primeiramente, conscientizando-os e sensibilizando-
os sobre a importância e o valor de sua herança cultural. Esta conscientização deve
ser feita através de palestras, esclarecimentos públicos, reuniões ou conselhos.
Devem ser apresentados nestas reuniões os projetos turísticos, as leis e os direitos de
preservação e conservação do patrimônio, como também serem solicitadas sugestões,
estimular as discussões sobre cidadania e educação patrimonial. É necessário solicitar
o engajamento da população no desenvolvimento e elaboração dos projetos, para
que assim todos desfrutem dos benefícios e trabalhem juntos para a progressão da
localidade. Nestas reuniões devem ser convocadas as presenças da comunidade, de
lideranças locais e de instituições de ensino.

Algumas populações são resistentes aos visitantes e por vezes não tem interesse
de participar da construção do turismo em sua localidade. Portanto, torna-se difícil
reunir as pessoas para desenvolvimento do turismo comunitário. Se os indivíduos não
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estiverem dispostos a participar da atividade, é custoso conceber o turismo de base


local e beneficiar a comunidade.

Essa dificuldade parece inerente no cenário brasileiro, onde a baixa cidadania


é nossa herança histórica. Sant´Anna, Oliveira e Berenstein (2001) ressaltam esta
questão analisando que é o Estado e a iniciativa estatal – e não a sociedade – que
chegam primeiro ao Brasil. Ou seja, quem atravessa o oceano, no século XVI, é o
Estado português patrimonialista – uma ordem burocrática através da qual o soberano
está superposto ao Cidadão onde o Estado determina tudo e conduz a economia
como se fosse empresa sua. É a partir disso que é possível explicar as raízes da falta
de cidadania brasileira, e a confusão no Brasil entre o que é público e o que é privado,
confusão que permanece até hoje.

No livro “Educação Ambiental para o Turismo Sustentável: vivências integradas


e outras estratégias metodológicas”, os autores (Matheus, Moraes e Caffagni, 2005)
citam como exemplo o caso do Balneário Santo Antônio, localizado no município
de Itirapina, São Paulo, onde foi elaborado um projeto para conservação ambiental
da represa Lobo-Broa. Este projeto foi apresentado para as lideranças locais, para
a Associação de Proprietários de Imóveis do Broa (APIB) e para as instituições de
ensino. Para convocar os moradores para essa apresentação foram distribuídos 150
panfletos na portaria do Balneário e nos ônibus escolares. Além disso, foram afixados
cartazes em pontos estratégicos do balneário, constando a discussão do projeto, o
local, a data e o horário. O local, data e horário, foram designados da melhor forma,
estrategicamente, para que a maioria comparecesse. Estiveram presentes na reunião
somente 15 moradores.

Como se pode observar, ainda há muita falta de cooperação dos moradores


locais na atividade turística. É importante que haja sensibilização da comunidade
local, pois somente com a participação de considerável número de residentes é
possível desenvolver a atividade turística de modo que esta proporcione benefícios
compartilhados, a preservação e proteção de seu legado. Para Pessoa & Rabinovici
(2010) a intervenção da população no turismo leva à busca dos seus interesses
econômicos, políticos, culturais e sociais. Deste modo, a seção seguinte aborda o uso
turístico das localidades enquanto processo identitário e social, por meio da análise
de estudo de caso.

FUNDAÇÃO CASA GRANDE: MEMORIAL HOMEM KARIRI, NOVA OLINDA (CE)

A Fundação Casa Grande: Memorial do Homem Kariri, localizada em Nova


Olinda, Ceará, foi criada em 1992 com o objetivo de promover a inserção da população
local em projetos sociais e nas atividades desenvolvidas pela Fundação. Dessa forma,
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essa instituição tem como missão a formação cultural de jovens e crianças da região,
com a finalidade de levar uma educação contextualizada ao “mundo do sertão”, mas
não qualquer mundo, e sim um mundo que proporcione o “empoderamento da cultura
e da cidadania”.

Segundo o site dessa fundação

A sua criação se deu a partir da restauração da primeira Casa da Fazenda


Tapera, hoje cidade de Nova Olinda, ponto de passagem da estrada das
boiadas que ligava o Cariri ao sertão dos Inhamuns, no período da civilização
do couro, final do século XVII.

A metodologia de trabalho dessa organização visa a sensibilização dos sentidos


(ver, ouvir, fazer e conviver) da população, proporcionando acesso a um conteúdo de
qualidade por meio de quatro programas, denominados: Memória, Artes, Comunicação
e Turismo, os quais têm o objetivo de desenvolver atividades interdisciplinares e
promover a gestão participativa no turismo.

FIGURA 1. FUNDAÇÃO CASA GRANDE – MEMORIAL DO HOMEM KARIRI

Fonte: Augusto Pessoa http://www.fundacaocasagrande.org.br/principal.php

Segundo o site da FCG – Fundação Casa Grande, o programa Memória investiga


o acervo mitológico e arqueológico da pré-história do homem da região do Cariri,
catalogando-os e expondo-os nos laboratórios de produção da própria Fundação,
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como o Memorial do Homem Kariri.

O Programa de Artes busca desenvolver a pesquisa étnica musical das lendas


e dos mitos da Chapada do Araripe, onde se precedeu o Memorial do Homem Kariri.
Este programa tem como objetivo sensibilizar as crianças através das artes e qualidade
de conteúdo e incentivar a produção artística.

O Programa de Comunicação tem por finalidade produzir materiais educativos


e formar leitores, ouvintes e telespectadores. Com a criação da Rede de Crianças
Comunicadoras Língua Portuguesa, este programa se difundiu e uniu o Brasil ao
Moçambique e à Angola com o apoio da UNICEF – Fundo das Nações Unidas para
a Infância. Essa rede tem como intuito integrar crianças e jovens de países de língua
portuguesa, produzindo a comunicação entre eles e debatendo temas como os direitos
das crianças e dos adolescentes, difundindo a diversidade cultural.

Nos Laboratórios de Conteúdo se encontram a Gibiteca, Biblioteca, laboratório


de informática, DVDteca, discoteca e Educação Patrimonial. Nos Laboratórios de
Produção se localizam os laboratórios de TV, Teatro, Rádio, Editora e Memorial.
Segundo o site oficial da FCG “O laboratório do Memorial do Homem Kariri promove
a formação de Recepcionistas mirins, com aulas de arqueologia, conservação do
patrimônio, mitologia e museologia”.

Como foi visto nos dados acima, retirados do site oficial da Fundação, a FCG
desenvolve um trabalho social de considerável importância na região do Cariri, em
Nova Olinda, Ceará. Em ações conjuntas com crianças, jovens e adultos locais,
desenvolvem os Programas de Memória, Artes, Comunicação e Turismo, através dos
Laboratórios de Conteúdo e Produção. O trabalho de formação educacional leva as
crianças e jovens ao “mundo do sertão”, e despertam neles o sentimento de pertença
e conhecimento de sua história, memória e de sua herança cultural. As crianças têm
acesso à biblioteca, aos laboratórios audiovisuais, informática, teatro, rádio, editora e
educação patrimonial, na qual são conscientizadas a valorizar e proteger os bens que
lhes pertencem.

Devido à tamanha demanda de visitantes, a FCG em ações conjuntas com os


pais das crianças e jovens da Fundação, criaram uma cooperativa para apresentar a
Casa Grande como destino turístico. Eles fizeram cursos de capacitação para meninos
e meninas em serviços turísticos, como cursos para recepcionistas, guias de campo
e relações públicas. Portanto, a FCG agrega a população no planejamento e gestão
de suas atividades, fornecendo a educação desde as crianças e jovens aos pais,
engajando-os a participarem no desenvolvimento de suas atividades e dando suporte,
conhecimento e valorização ao seu patrimônio.
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Noronha (2008), em sua dissertação, afirmou que para as crianças da FCG, a


memória é objeto de conhecimento.

Através de suas vivências, meninos e meninas adquirem o hábito de preservar


os achados arqueológicos para a história da humanidade, sabem por que o
fazem e explicitam esse fato nos diálogos empreendidos com os visitantes,
principalmente quando estão apresentando as peças do museu. (NORONHA,
2008, p. 144).

A Fundação mantém parcerias com a Fundação Araripe, Banco do Nordeste,


UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura,
Ministério da Cultura, BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social, e Governo do Estado do Ceará, entre outros.

No museu, as peças expostas propiciaram/propiciam a “observação”, que


levou/leva ao “registro”, descrição escrita de cada objeto, feita pelas crianças
da Casa. As peças continuam a ser “exploradas”, mesmo depois de expostas,
pois é apropriando-se de seus significados (em constante construção) que
meninos e meninas passam a compor historinhas, músicas, desenhos e
compartilhar todo aprendizado com os visitantes que adentram a ONG
(NORONHA, 2008, p. 145-146).

FIGURA 2. LABORATÓRIO MEMORIAL DO HOMEM KARIRI

Fonte: http://www.fundacaocasagrande.org.br/Memorial.php
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A Fundação Casa Grande é considerada uma experiência de sucesso, e devido


a isto, muitas pessoas vão conhecer de perto o projeto da Fundação. Foi nesse cenário
que surgiu o Programa de Turismo, para coordenar ações e potencializar o considerável
número de turistas que a FCG tem atraído. Em 2006, segundo informações do site
oficial da Fundação, eles receberam cerca de

28.050 pessoas, nove vezes a população urbana da cidade de Nova Olinda.


Para atender a esta demanda, a Fundação Casa Grande criou junto aos pais
uma cooperativa (COOPAGRAN) para comercializar a Casa Grande como
um destino turístico e forma meninos e meninas para o receptivo turístico:
recepcionistas, guias de campo e relações públicas. (Site Oficial da Fundação)

Dessa forma, realiza-se na Casa Grande o “turismo de conteúdo”, no qual os


turistas têm acesso aos laboratórios de conteúdo e às atividades desenvolvidas nos
laboratórios de produção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi visto ao longo deste artigo, o turismo pode proporcionar a valorização,
o sentimento de pertença, autoestima, construção identitária, geração de trabalho e
renda, conhecimento, proteção e preservação dos bens culturais de uma comunidade
e/ou de um povo, desde que seja bem utilizado no uso social da cultura. Caso
contrário, pode causar grandes danos, como preconceito, sentimento de inferioridade,
desigualdade social, descaracterização das tradições e degradação do patrimônio.

Este trabalho buscou analisar a preservação e proteção do legado cultural


através da inserção da população local na atividade turística. É importante que a
comunidade se engaje em participar dos projetos e contribuir com o desenvolvimento
do turismo, pois os atrativos desta atividade são os patrimônios materiais e imateriais
que constituem sua cultura, identidade e memória.

Muitos indivíduos não têm conhecimento de suas origens, mitos, histórias,


tradições, cultura, patrimônio que lhes pertencem e de seu respectivo valor por falta
de educação patrimonial. Essa conscientização pode ser concebida com a inserção
dos habitantes locais na atividade turística. A participação da população nos projetos
turísticos proporciona maior conhecimento e aprendizado, bem como a conscientização
sobre a história e a origem de seu povo, sobre seus direitos, e sobre o que os pertence.

Por meio dos estudos e pesquisas bibliográficas foram identificados dois


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problemas comuns em localidades turísticas e em sua gestão participativa: a exclusão


dos autóctones nas atividades por parte dos servidores e gestores de turismo e a
resistência dos residentes que não se interessam em participar do desenvolvimento
do turismo no local.

É fundamental que os profissionais de turismo se conscientizem da importância


que tem enquanto agentes sociais. É preciso também que se conscientizem da
necessidade da inserção da população local para o planejamento e gestão da atividade
turística, por meio de ações conjuntas entre ambos. A partir daí, esses profissionais
devem convocar a população para reuniões e conselhos, primeiramente, com o
intuito de conscientizá-los sobre a relevância de sua participação, sobre o valor de
sua herança cultural e desta como produto, através da Educação Patrimonial. Por
conseguinte, é necessário que os profissionais exponham o planejamento, os atrativos
e o andamento da atividade turística na comunidade, solicitando sugestões e opiniões
dos residentes.

Por fim, para que seja possível a inserção dos indivíduos locais, é necessário
que forneçam cursos de capacitação em turismo e em áreas como comunicação,
receptividade, cultura local, inclusão digital, gestão e idiomas. Todavia, não é eficiente
oferecer a capacitação se não houver oportunidades de trabalhos locais, ou seja, é
necessário assegurar a empregabilidade dos nativos na área, promovendo a melhoria
da qualidade de vida da população.

Concluímos que passando por todos esses procedimentos, na tentativa de


inserir a população local, cabe então, a esta, o interesse e a vontade de se inserir,
participar, se envolver, de cuidar, planejar e organizar o seu patrimônio como atrativo
turístico, de modo que não seja degradado e que se mantenha preservado e protegido,
pois o planejamento participativo, realizado pela comunidade juntamente com os
setores públicos e a indústria turística, é o melhor meio de minimizar os impactos no
local receptor.

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PATRIMÔNIO IMATERIAL EVANGÉLICO EM FORTALEZA-CE

RESUMO: A presente pesquisa estuda a espacialização do fenômeno religioso


contemporâneo de matriz evangélica, analisando a expressão da religião no campo
da percepção humana e das representações simbólicas, tendo as festas no espaço
metropolitano como expressão maior de religiosidade consolidada e pujante. Festas
estas que tornam-se produtos turísticos na sociedade mediática contemporânea.
Identifica as formas de apropriação do espaço metropolitano e a influência desse
movimento religioso sobre os espaços de vulnerabilidade da Região Metropolitana de
Fortaleza, desenvolvendo uma patrimonialização dessas práticas culturais. A pesquisa
busca explicitar o turismo religioso em sua primeira instância, onde o este sempre visto
como patrimônio material torna-se ainda mais intrigante ao ser percebido antes de tudo
como oriundo do imaterial e subjetivo. Traz uma reflexão de como o patrimônio imaterial
é concebido a partir da subjetividade intrínseca ao sujeito (coletivo e/ou individual) e
que o conceito de patrimonialidade pode existir independe da patrimonialização. A
paisagem é analisada como uma relação intersubjetiva dos sujeitos para manifestar a
patrimonialidade de um fenômeno produzido e reproduzido por um determinado grupo
social. O turismo é norteador da análise, para discutir a dimensão política e mediática
do poder religioso evangélico presente no Estado laico contemporâneo. Sendo assim,
a geografia da religião se revela aqui como um campo de investigação privilegiado,
já que por meio dos espaços simbólicos podemos compreender aspectos submersos
nas relações sociais coletivas.

PALAVRAS-CHAVE: Patrimônio. Evangélicos. Turismo religioso.

ABSTRACT:
This research studies the spatial distribution of the contemporary religious phenomenon
of evangelical matrix, analyzing the expression of religion in the field of human perception
and symbolic representations, and the festivities in metropolitan space as consolidated
and increased expression of religiosity thriving. These parties to become tourism
products in contemporary media society. Identifies ways of appropriation of metropolitan
space and the influence of this religious movement on spaces of vulnerability of the
Metropolitan Region of Fortaleza, developing a patrimony of these cultural practices.
The research seeks to explain the religious tourism in its first instance, where this
always seen as tangible heritage becomes even more intriguing to be perceived
primarily as coming from the intangible and subjective. Shows a reflection of how the
intangible heritage is conceived from the subjectivity inherent to the subject (collective
and / or individual) and that the concept of patrimonialidade can exist independent
of the patrimony. The landscape is analyzed as an intersubjective relationship of
individuals to express patrimonialidade a phenomenon produced and reproduced by
a particular social group. Tourism is guiding the analysis, to discuss the political and
media dimension of the evangelical religious power present in contemporary secular
state. Thus, the geography of religion is revealed here as a privileged field of research,
since by means of symbolic spaces can understand aspects submerged in collective
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social relations.
KEYWORDS: Heritage. Born Again. Religious tourism.

RESUMEN
Esta investigación estudia la distribución espacial del fenómeno religioso contemporáneo de la
matriz evangélica, el análisis de la expresión de la religión en el campo de la percepción humana
y las representaciones simbólicas, y las fiestas en el espacio metropolitano como consolidados
y una mayor expresión de la religiosidad próspera. Estos partidos se conviertan en productos
turísticos en la sociedad mediática contemporánea. Identifica las formas de apropiación del
espacio metropolitano y la influencia de este movimiento religioso en espacios de vulnerabilidad
de la Región Metropolitana de Fortaleza, en desarrollo de un patrimonio de estas prácticas
culturales. La investigación pretende explicar el turismo religioso en su primer caso, cuando
esto siempre visto como el patrimonio tangible se vuelve aún más interesante para ser percibido
principalmente como proveniente de lo intangible y subjetivo. Muestra un reflejo de cómo el
patrimonio intangible se concibe a partir de la subjetividad inherente al sujeto (colectivo y / o
individual) y que el concepto de patrimonialidade puede existir independiente del patrimonio. El
paisaje se analiza como una relación intersubjetiva del individuo para expresar patrimonialidade
un fenómeno producido y reproducido por un grupo social particular. El turismo está guiando el
análisis, para discutir la dimensión política y mediática del poder religioso evangélico presente
en estado secular contemporánea. Por lo tanto, la geografía de la religión se revela aquí como
un campo privilegiado de la investigación, ya que por medio de espacios simbólicos pueden
entender aspectos sumergidos en las relaciones sociales colectivas.

PALABRAS-CLAVES: Patrimonio. Protestantes. El turismo religioso.

INTRODUÇÃO

A religiosidade apresenta notável dinamismo, forte influência e marcante


presença na formação socioespacial do Brasil. Porém, nas últimas décadas,
temos assistido a uma efervescência cada vez mais inovadora na religiosidade
contemporânea, analisada aqui a partir da perspectiva metropolitana.

Dentre os vários grupos religiosos presentes nas metrópoles contemporâneas,


alguns desses, relativamente sem expressão há algumas décadas, alcançam nesses
últimos anos um vertiginoso crescimento. Conquistando uma maior visibilidade social
e, por conseguinte, adquirindo um poder simbólico cada vez mais expressivo.

Emerge no espaço da metrópole grupos religiosos dispostos a desafiar as


estratégias de outros grupos dominantes numericamente e politicamente. Nesse contexto
surge recentemente uma nova denominação evangélica, são os neopentecostais. O
neopentecostalismo é um movimento dissidente do pentecostalismo clássico.

Estes possuem elementos inovadores como seus principais diferenciais,


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destacando-se: a presença massiva de técnicas mercadológicas de marketing,


promovendo suas doutrinas e seus espetáculos públicos de fé; uma “Guerra Santa”,
entendida como sendo o combate direto entre as “Forças do Bem” (o Espírito Santo,
os anjos, os profetas de Deus) contra as “Forças do Mal” (Satanás, demônios,
catolicismo); a ausência dos sinais externos de santidade (como vestes recatadas,
cabelo comprido para as mulheres e a abstenção de acessórios que demonstrem
vaidade ou sensualidade); uma nova forma de interpretar algumas práticas e costumes
tidos, anteriormente, como mundanos, tais como música dos mais variados estilos,
tatuagens, piercings, etc; Além da ênfase na teologia da Prosperidade, que pressupõe
a idéia de que o crente tem direito de desfrutar os benefícios prometidos pela divindade
durante sua existência mortal e terrena. (SIEPIERSKI, 2001:92 e MARIANO, 1999:32-
48).
Os neopentecostais adotaram um estilo de vida integrado com a dinâmica social
metropolitana: promovem grandes eventos, mantêm um relacionamento pacífico com
os não-convertidos, visando expressar uma modernidade condizente com a metrópole
contemporânea. Costumam adotar a mídia como ferramenta de difusão da doutrina
e se empenham em conseguir maiores espaços no rádio e na televisão, a fim de
propagar seus projetos religiosos e ideológicos por todo o território da metrópole. O
crescimento dessas igrejas em número de adeptos e a espacialização territorial têm
provocado inúmeras reações no campo religioso e no contexto social brasileiro (NERI,
2011).
Siepierski (2001), citando Mariano fala que essa nova configuração dos
pentecostais é uma forma de acomodação desse grupo ao mundo moderno e que
evidencia “a dessectarização, a ruptura com o ascetismo contracultural e a progressiva
acomodação destes religiosos e suas denominações à sociedade e à cultura de
consumo.” (Mariano, 1999. p.9 apud Siepierski, 2001. p. 6)

Levando em conta a concepção de Maffesoli (1988), podemos considerar que


o crescimento desses grupos neopentecostais também pode ser entendido a partir
da formação de tribos urbanas. Onde a sociabilidade se estabelece pela comunhão
emocional e de fé, baseada em um conhecimento compartilhado simultaneamente
pelos sujeitos do processo. Pois como diz Keske (2005):

Segundo Maffesoli “as cidades contemporâneas são povoadas por tribos”,


o que implica que, na sua pluralidade de origens e comportamentos,
as sociedades não nascem da redução da diversidade a um elemento
centralizador único, mas da conjunção de elementos díspares. (P.34)

Porém existem autores que ao refletirem sobre a dinâmica de crescimento do


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neopentecosalismo, vinculam tais crescimentos à conversão do homem religioso,


entendida como importante nesse processo, devido tratar-se de uma:

[...]conversão a uma religião intensamente sacral não constitui simplesmente


um mérito para a nova religião do converso, mas reflete sobretudo uma
incapacidade da religião tradicional (no caso brasileiro: do catolicismo
tradicional) que, ao se envolver num pacto secularizante com o saber
moderno, esvazia-se de explicações que esse pacto promete mas não é
capaz de cumprir inteiramente. Isto é, a ressacralização, visível à saciedade
no crescimento das religiões mediúnicas e pentecostais, nada mais é do que
conseqüência do colamento do catolicismo à secularização da sociedade.
A adesão, consciente, a seitas marcadamente sacrais não é mais que a
reposição de uma sacralidade de que o catolicismo abriu mão (PIERUCCI e
PRANDI apud SIEPIERSKI, 2001, p. 6).

O adensamento de espaços simbólicos, que nos referimos anteriormente vem,


primeiramente, pelo grande número de templos religiosos percebidos no espaço
metropolitano.

No caso dos templos evangélicos vê-se um crescimento numérico por toda a


metrópole, seguindo a estrutura descentralizada que rege algumas denominações e
a capacidade de adaptar espaços construídos para outros fins, segundo o interesse
expansionista de cada denominação. Fatos que acabam auxiliando no surgimento de
um grande número de novas igrejas nos mais variados espaços da metrópole.

As arquiteturas dessas igrejas são as mais diversas possíveis. Encontramos


sedes bem modestas, adaptadas a partir de residências, galpões, garagens e lojas
que estavam desocupadas ou que seus proprietários ao se converterem fazem
adaptações em seus imóveis para torná-los em novos pontos de pregação da Fé.

Todavia encontramos também mega estruturas físicas que celebram a expansão


da fé, com santuários gigantes, nos quais o culto é um show e o pastor é tido como um
“astro pop”. Onde, com o objetivo de atender aos ritos espetaculares dos pastores e
o conforto dos fiéis, os novos templos foram construídos com estruturas semelhantes
à casas de espetáculos, com sistemas de som, luz e telões que garantem uma
participação completa e integral de todo o culto.

Os mega templos deixam claro que sua intenção é que os fiéis sintam que
aquele local de oração faz parte do dia-a-dia deles, e não apenas lugar de encontro
dominical. Além disso oferecem outros recursos de infra-estrutura desde escolas,
seminários até hospitais, lanchonetes, livrarias e lojas que vendem os ditos produtos
Gospel. Uma forma de marcar seu território de forma permanente e efetiva.

Contudo, não podemos deixar de citar que o adensamento dos espaços


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devocionais religiosos no território metropolitano também está baseado no grande


número de festas religiosas que ocorrem no espaço público da metrópole, nos espaços
privados das casas de show e nos templos religiosos espalhados por toda a cidade,
bem como na sua difusão por espaços diversificados.
O discurso e as estratégias dessas igrejas são ousadas, tendo como resultado
diversas e variadas reações, que algumas vezes e em alguns casos, partem de outras
igrejas evangélicas. Essas reações podem ser percebidas por gerarem reconfigurações
nas práticas socioreligiosas, de evangélicos mais conservadores como os pentecostais
clássicos, assim recriando territórios e territorialidades no espaço metropolitano.

Em nossa pesquisa tratamos de como um grupo evangélico reformula


suas práticas tradicionais e incorpora estratégias e dinâmicas da religiosidade
contemporânea. Tendo, a partir dela, desenvolvido estratégias de emancipação
capazes de aglutinar características neopentecostais convenientes ao seu desejo
de expansão territorial e estabelecimento de suas territorialidades, sem abandonar
totalmente um discurso evangelizador.

Neste sentido, os fiéis pentecostais passam por um processo de conversão


às novas práticas sociais urbanas. Sem, necessariamente, abrir mão de suas
referências religiosas fundamentais e de seus distintivos religiosos. Podemos perceber
que o pentecostalismo foi se tornando cada vez mais ajustado ao modo de vida
metropolitano. Pois nesse modo de vida não percebemos espécie alguma de pureza
nas transformações sociais, espaciais e culturais oriundas da religiosidade.

São espaços profanos que se sacralizam durante momentos passageiros,


mas que produzem uma religiosidade permanentemente e atuante. Realizando suas
manifestações simbólico-territoriais com vistas a uma mobilização social que os
fortaleça e una em torno do seu ideal de suplantar as práticas religiosas dominantes.

UM CAMINHO PARA PATRIMONIALIZAÇÃO


O patrimônio cultural é entendido como práticas e representações humanas
de um determinado povo, assim podemos considerar que ele está presente em todos
os espaços e atividades realizadas pelo homem. O patrimônio Cultural faz parte do
cotidiano, sendo resultado e formador de identidades.

Quando uma prática humana é reconhecidamente identitária de um dado povo,


essa pode ser institucionalmente reconhecida como patrimônio cultural daquele. Sendo
que este, para receber o título institucional, passa por um processo de reconhecimento
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legal que pode ou não vir acompanhado de orientações que visem a preservação
dessa prática através da manutenção do máximo de características reconhecidas à
época da legislação como pertencentes a tal patrimônio.

Entretanto nós entendemos que as práticas humanas identitárias nem sempre


necessitam de um processo legislativo para que possam ser entendidos por uma
comunidade local como um patrimônio. Nesses casos a patrimonialidade surge como
resultado de um sentimento de identidade e por consequência um interesse em
preservá-lo ou de simplesmente praticá-lo:

Uma identidade cultural possui componentes que formam um todo integrado,


inter-relacionado e único como a língua, a história, o território, os símbolos,
as leis, os valores e crenças e os elementos tangíveis, incluindo a tecnologia.
O patrimônio cultural é, nesta perspectiva, para Vallbona e Costa (2003, p.10)
“o repertório inacabado de testemunhos materiais e imateriais que constituem
as referências da memória coletiva, o acúmulo das experiências que estas
sociedades guardam em sua retina”. (Almeida, 2013. p.189)

Essa ideia de patrimônio cultural está diretamente ligada com as dinâmicas


da sociedade contemporânea, onde a patrimonialidade aparece como processo
resultante de uma busca ou valoração constante do passado que é entendido como
cosmogonias. Entretanto entendemos que essa adequação à contemporaneidade, no
caso patrimônio religioso não foge a essa lógica cosmogonica, mas acrescenta uma
outra dinâmica que é a de anunciação do futuro. Um futuro profético e muitas vezes
triunfalista de dada denominação religiosa que entende seu patrimônio sagrado como
um elo entre o registro do passado perceptível no presente e anunciador do futuro.

Já que o papel desse patrimônio é muitas vezes triunfalista ele associa-se,


muitas vezes, a manifestações espetaculares e no meio evangélico isso se dá dentro
do processo festivo e congregador fazendo com que seu uso atual possa facilmente
ser vinculado ao turismo:

Na atual turistificação do patrimônio, tanto o cultural quanto o natural,


favorecem sua mercantilização. O valor que os bens culturais possuem, por
um lado, é o que a sociedade, por suas práticas sociais, lhe atribui e, por
outro lado, é o definido pelos interesses da lógica do mercado. O turismo,
nesse processo, reinventa o patrimônio cultural... (Almeida, 2013. p.190)

Podemos perceber esse processo patrimonial, espetacular e festivo, descrito


nas entrelinhas até aqui, através do estudo de caso da presente pesquisa: “Caminhada
da Paz”. Evento instituído como parte integrante do calendário oficial de eventos do
Município de Fortaleza a partir de 06 de Novembro de 2012. Fruto do projeto de lei
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0217/2012 de autoria do vereador Walter Cavalcante, instituindo que o evento será


comemorado anualmente no mês de Outubro.

Trata-se do mesmo político envolvido em vários questionamentos da opinião


pública a respeito de outros projetos de sua autoria que deram origem a pontos de
peregrinação católicos no espaço da metrópole em virtude da construção de grandes
imagens religiosas no espaço público.

Podemos citar como exemplo a imagem de Nossa Senhora da Assunção que


é padroeira católica de Fortaleza, erguida em uma praça localizada na frente do
santuário dedicado a mesma. A imagem conta com 12 metros de altura, esculpida em
Juazeiro do Norte pelo artista Franciné Diniz e inaugurada no dia 31 de julho de 2007.
A obra foi feita a partir de um projeto de lei de autoria do vereador Élson Damasceno
do Partido Humanista da Solidariedade (PHS) e subscrito pelo mesmo vereador Walter
Cavalcante (PHS) que é um dos paroquianos fiéis a esta comunidade religiosa.

Mas as atividades políticas do vereador Walter Cavalcante, membro do Partido


Humanista da Solidariedade - PHS, em prol do Santuário de Nossa Senhora da
Assunção não se limitaram a construção da imagem na praça em frente ao Santuário.
O vereador, também, foi autor de uma lei que consagrou o dia 13 de agosto como
homenagem ao monumento de Nossa Senhora da Assunção. Quando em 2007,
ficou-se estabelecida essa data de homenagem ao monumento na programação do
calendário oficial cultural e religioso do Município de Fortaleza.

Ainda o referido vereador é o autor da lei municipal n° 8.796 de 09 de dezembro


de 2003 que determinou o dia 15 de agosto como feriado municipal. Possibilitando
uma maior mobilização da sociedade metropolitana em torno da grande festa da
padroeira da cidade de Fortaleza.

Segundo Walter Cavalcante, o projeto que oficializou a Caminhada da Paz no


Município de Fortaleza, teve o objetivo de revitalizar na sociedade fortalezense os
valores humanos, a necessidade da paz entre os homens, as posturas e atitudes
que devem ser adotadas diariamente em relação aos idosos, os mais carentes, bem
como protestar contra o crescimento da violência na cidade que já foi intitulada por
organismos internacionais como uma das mais violentas do mundo.

A primeira Caminhada da Paz surgiu por iniciativa Comunidade Cristã Logos,


uma igreja evangélica neopentecostal liderada pelo pastor Everaldo Silva e sua
esposa Ilma Silva. Em sua primeira edição já houve a presença de um grande número
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de pessoas, sobretudo religiosos confessionalmente evangélicos.

A caminhada ocorreu durante a tarde pelas ruas da zona oeste da cidade com
o objetivo de manifestar o desejo de paz na cidade. A área onde esta igreja se localiza
é reconhecidamente uma área de vulnerabilidade social onde o Governo do estado
fundou um projeto de segurança pública intitulado de “Território da Paz”, daí o nome
dado a caminha ser Caminhada da Paz.

A caminhada ocorreu acompanhada por um trio elétrico que animava os


caminhantes e possibilitaram momentos de oração e de profecias manifestadas nas
ruas da metrópole. A Caminhada foi finalizada com um culto a noite, realizado nas
dependências da igreja onde houve pregação entusiasmada e carismática, repleta de
palavras de ordem e determinações de prosperidade e mudança de vida para aqueles
que tornassem fiéis àquele grupo religioso.

Nesta primeira edição do evento não havia ainda nenhuma lei municipal que
amparasse o evento, mas já havia um engendramento político que subsidiava o mesmo
e o projeto de lei que incluiria a Caminhada da Paz no Calendário Oficial de Eventos
de Fortaleza já estava sendo elaborado através de contatos entre os religiosos e o
político autor do projeto já citado. Mesmo sem contar com leis de amparo o evento
recebeu uma verba pública de 40 mil reais para ajudar nos custos.

Posteriormente o autor do projeto de lei que institucionalizou a Caminhada da


Paz argumentou que ao instituir o evento no Calendário Oficial de Fortaleza seria
garantido a população a oportunidade de se unir em nome de DEUS e que o evento
seria realizado por uma instituição filantrópica criada para esse fim, o Instituto Logos
de Desenvolvimento Social.

O CALENDÁRIO TURÍSTICO

O calendário é um sistema de organização e ordenamento de dias criado para


servir às necessidades humanas, portanto à cultura. Assim podemos considerar que
o calendário de eventos de uma dada sociedade organiza possíveis manifestações
que podem servir de atrativos turísticos ou até mesmo despertar a atividade em dado
lugar.

O processo de midiatização da sociedade faz com que a mídia tenha tomado


um papel central nas relações sociais contemporâneas. A atividade turística moderna
é alimentada e realimenta o papel da comunicação, pois a constante busca de novos
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lugares se dá a partir do compartilhamento de informações e experiências entre


indivíduos e a comunicação virtual, material e experimental são os principais caminhos
para a promoção.

O calendário turístico exerce esse papel comunicador, mas também regulador


ou gestor das múltiplas possibilidades de ocorrência de festas e eventos no espaço
social. Nesse caso a promoção que se dá é do turismo religioso, ao mencionar o termo
Turismo Religioso é de que seu usuário pretenda tão somente fazer um trocadilho
com duas noções que se defrontam; ou que se aproximam pelo choque de dois
interesses sociais muito diversos. Afinal, de que maneira os aspectos ditos “profanos”
do universo turístico – lazer, prazer, entretenimento e descontração – podem compor
uma atividade cheia de obrigações espirituais ou “sacrifícios” como um fenômeno
religioso?

Essa primeira impressão, para definir o tipo de viagem que nasce de diferentes
motivações religiosas, reproduz-se limitada por tratamento “natural” da visão
dicotômica ou dualista. Chamamos de “natural” o tratamento positivista, capaz de
reconhecer nos fatos a associação imediata de conceitos como um mecanismo de
sim/não; um sistema binário de relações. Por conseguinte, pode-se negar o turismo
religioso com o simplório pré-conceito: quem vivencia o fenômeno religioso não pode
estar fazendo turismo. Logo, se viajo por motivações turísticas, para lugares turísticos,
usando serviços turísticos, não exerço compromissos religiosos.

Assim começamos a apresentar uma conceituação, de raízes históricas, capaz


de representar dimensões múltiplas das culturas humanas contemporâneas. Temos
um turismo religioso, a não ser que a própria realidade religiosa absorva bases e
estruturas do fazer turístico. Chamamos isso de Religiosidade Turística (OLIVEIRA,
2001). Uma definição talvez mais incômoda para se popularizar, porém muito
mais operacional para compreensão das características essenciais da formação e
crescimento do turismo religioso, em tempos recentes.

O turismo religioso não é, necessariamente, um turismo feito por religiosos,


místicos, santos populares, devotos e sacerdotes/profissionais de qualquer credo
ou confissão religiosa. O adjetivo religioso deve ser reconhecido em sua amplitude
espiritual e metafísica, embora, nos limites específicos da cristandade, seja responsável
pela sistematização desse significante, como herança irradiadora do poder imperial
romano. Seu “fazer turístico” é capaz de manifestar algum dado de religiosidade; o
atrativo, em espiritualidade, o atrativo é de certa forma, um pretexto.
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Os lugares do turismo religioso tornam-se especiais, na capacidade de manter e,


simultaneamente, renovar-se como “santuários”. Podem, além de tradicionais, serem,
naturais, metropolitanos, ou rituais (sacroprofanos). No estudo que desenvolvemos
aqui as duas tipologias últimas se encontram em um mesmo fenômeno. Mas refletem
este especial – que chamamos de sagrados, de energia ou fé – que levamos como
turistas e podemos, de repente, reencontrar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos nas páginas anteriores de forma teórica e empírica que a religiosidade


contemporânea se apresenta de forma muito atuante na produção e reprodução
do espaço geográfico metropolitano brasileiro. Principalmente nas duas últimas
décadas, houve uma significativa mudança no quadro religioso, com a ascensão
de grupos religiosos e de práticas religiosas massivas, que até bem pouco tempo
não apresentavam, em números, na paisagem, nas práticas sociais e nem nas
territorialidades religiosas, grande representatividade.

Hoje, tais grupos e práticas religiosas já aparecem figurando como personagens


principais de muitas cenas que dinamizam a sociedade e ressignificam espaços
metropolitanos, adotando a mídia e o poder público como ferramentas para ampliação
de seus territórios simbólicos e se empenhando em inculcar nos sujeitos religiosos
participantes desse processo, suas ideologias religiosas. Promovendo um crescimento
dessas instituições, tanto em número de adeptos, como em redes de influência
socioespacial e chegando a influenciar a demanda turística metropolitana.

Assim encerramos esse trabalho com a ideia de que os resultados qualitativos


são mais uma forma de contribuição para elucidarmos o fenômeno religioso brasileiro
contemporâneo. Entendendo que a relevância de resultados obtidos para a reflexão
científica e para a mobilização social estão postos a partir do fato de que a religiosidade
contemporânea não é uma manifestação sobrenatural de fé, nem é dirigida por um
governo profético iluminado.

Antes concluímos esse trabalho entendendo que o que vemos é uma série de
estratégias e metodologias criteriosamente estudadas, que visam uma ampliação do
poder simbólico dessas instituições sobre os sujeitos sociais, logo sobre o produzir e
reproduzir a Metrópole. Tornando esta mais um produto para demanda turística em
mais uma faceta de exploração deste fenômeno.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ALMEIDA, M. G. . PAISAGENS CULTURAIS E PATRIMÔNIO CULTURAL:


CONTRIBUIÇÕES INTRODUTÓRIAS PARA REFLEXÕES. In: Álvaro Luiz Heidrich,
Benhur Pinós da Costa, Cláudia Luisa Zeferino Pires (organizadores). (Org.). Maneiras
de ler: geografia e cultura [recurso eletrônico]. 1 ed. Porto Alegre: Imprensa Livre :
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KESKE, Humberto Ivan. Por um novo laço social: da formação de tribos à comunhão
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NERI, M. C. ; MELO, L. C. C. de . Novo Mapa das Religiões. Horizonte: Revista de


Estudos de Teologia e Ciências da Religião (Online), v. 9, p. 637-673, 2011.

OLIVEIRA, Christian D. M. de . Turismo Religioso. 01. ed. São Paulo: Aleph, 2004.
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SIEPIERSKI, Carlos Tadeu. “De Bem com a Vida”: O sagrado num mundo em
transformação: Um estudo sobre a Igreja Renascer em Cristo e a presença
evangélica na sociedade brasileira contemporânea. São Paulo: USP, 2001. Tese
apresentada a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de
Antropologia Social da Universidade de São Paulo, 2001.
Grupo de Trabalho 04
Turismo e Urbanização

Coordenadores: Marcello Tomé (UFF); André Damasceno Daibert (UFJF); José Manoel
Gonçalves Gândara (UFPR); Carlos Eduardo Pimentel (UFPE).

Pressupomos o turismo como atividade que, mesmo quando não realizada em


ambiente citadino, é essencialmente “urbanizadora” face à natureza das relações
sociais travadas e mesmo considerando a infraestrutura de suporte da prática turística.
O eixo convida a refletir sobre os processos e conteúdos da urbanização fomentados
pelo turismo e seu diálogo com a base local, envolvendo temas como: o capital
imobiliário e a especificidade da segregação socioespacial em cidades turísticas;
city marketing e representações do urbano; morfologia e as novas centralidades
na cidade; os espaços públicos, a cidadania e as políticas urbanas relacionadas
ao turismo; paisagens, lugares e territórios da urbanização turística; impactos dos
megaeventos.
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PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO COMO INSTRUMENTO DE


DESENVOLVIMENTO LOCAL EM ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER E TURISMO

Pablo Vitor Viana Pereira1

RESUMO: Este trabalho aborda de forma conceitual e empírica pontos de debate sobre
a importância do planejamento participativo como ferramenta de inclusão da população
local nos processos decisivos dos espaços públicos de lazer e turismo. Objetiva
apontar a relação do planejamento participativo como instrumento de sociabilidade
de espaços públicos de lazer e do turismo a partir da premissa do desenvolvimento
local como ferramenta de participação. Portanto, para concretizar os benefícios aos
moradores locais, faz necessário um olhar mais prudente da gestão pública sobre as
questões que concerne à participação da população no planejamento, uma vez que,
planejados coletivamente tem mais sucesso de pertencimento da comunidade aos
lugares socialmente transformados.

PALAVRAS-CHAVE: Planejamento Participativo. Desenvolvimento local. Espaços


Públicos.

ABSTRACT: This work deal with, in a conceptual and empirical way, points for debate
about the importance of participatory planning as inclusion tool of population in the
decision making processes of public spaces for leisure that also are refers to tourist
activities, as well as use the involvement of society in the process of local development.
It objectifies to point out relationship of participatory planning as instrument of sociability
of public spaces for leisure and tourism from the premise of local development as
contribution to a more participatory society. However, to realize the benefits to the
local inhabitants, it is needed a more cautious gaze to the issues which concern about
popular participation in planning, once collectively planned, is more successful of
belonging of community to places socially transformed.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Participatory Planning. Local development.


Public Spaces

INTRODUÇÃO

Este texto tem por finalidade apresentar a importância do planejamento


participativo em espaços públicos de lazer e turismo. A atividade turística como
precursora desses ambientes tem sido uma das atividades que transformam esses
1 Bacharel em Turismo pela UFPA, estudante de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão
Pública do Turismo e do Lazer – FIPAM. NAEA/UFPA. E-mail: pablo.viana28@gmail.com
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locais socialmente construídos, no entanto, quando se modifica para o externo “turista”


surgem controvérsias no acesso a esses ambientes, já que eles também são elaborados
para as comunidades. O modelo de desenvolvimento urbano trazido da Europa nos
anos 90 intensificou na implantação de projetos com poucos estudos das realidades
das cidades, ou seja, essas propostas tinham o interesse de modificar espaços ou
reconfigurar ambientes a partir de uma gestão de planejamento que implicava na não
participação da sociedade como instrumento de sociabilidade (NOVAIS, 2007).
Após a verificação de que essas práticas não conseguiam responder as
necessidades das comunidades surge como modelo da gestão pública agora
preocupada com uma participação mais inclusiva da sociedade local, o planejamento
participativo. Conceição e Nuñes (2007, p. 11) salientam que o processo de
planejamento participativo está fundamentado pela “indagação valorativa tem uma
grande capacidade de exprimir as reais preocupações e aspirações coletivas dos
atores sociais que tomam consciência de seus problemas e se empenha em resolvê-
los de maneira conjunta”. Nesse sentido é importante frisar que essa indagação
valorativa é um método técnico que se estabelece pela prática da cooperação frente
aos modelos tradicionais de planejamento.
Partindo da premissa que o turismo está atrelado no complexo contexto do
lazer, no qual o individuo revigora suas forças com práticas advindas do seu tempo
livre “ócio”, pode-se dizer em um panorama das políticas públicas esses espaços
“turistificados” tem sido construído por um processo de ideias, valores e conceitos
fundamentados na mudança na qualidade de vida dos cidadãos.
No contexto do planejamento do turismo, Cruz (2006) vem mostrar as
convergências e contradições da produção do espaço tomado pela politicas públicas
de turismo como forma de desenvolvimento. Entretanto, a autora salienta duas
características intrínsecas do turismo, a prática social como fator de suma importância
para o planejamento e o espaço como principal objeto de consumo. Dentre essas
características, deve-se destacar a prática social, pois são as relações sociais que
dão um sentido no desenvolvimento do turismo, ou seja, quando se pensa em planejar
a atividade turística em espaços antes construídos coletivamente ou reconfigurados
para o turismo, precisa-se compreender toda a realidade da localidade, pois existem
diversos grupos sociais com peculiaridade diferentes.
O objetivo deste texto é salientar para a importância do planejamento participativo
como ferramenta de gestão mais democrática. O texto encontra-se dividido em três
secções além da introdução e considerações finais. Na primeira, serão abordados
alguns aspectos teóricos referentes ao planejamento participativo como ferramenta na
gestão dos espaços públicos de lazer e do turismo. Na segunda, serão traçados alguns
comentários sobre o planejamento participativo como instrumento no desenvolvimento
local. Na terceira, será sistematizado o conceito de lazer e turistificação a fim de trazer
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reflexões críticas construtiva na gestão de espaços públicos de lazer e turismo.


Com base nessa discussão busca-se compreender o papel do planejamento
participativo como instrumento de inclusão das comunidades no processo das gestões
pública, posto que, a sociedade faz parte da construção histórica e sociológica das
cidades.

2 UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO

Quando se pensa em planejamento, logo vem à palavra organização como


termo explicativo, no entanto, planejar vai muito além da ação. Para planejar um país
o presidente, por exemplo, precisa saber diferenciar os vários tipos de planejamentos,
nesse sentindo, surgem os tipos de planejadores, aquele chamado de político
tradicional que executa seu planejamento pensando no imediatismo, não obedecendo
ao tempo estipulado para a realização do plano, do outro lado o planejador tecnocrata
cujo perfil é caracterizado pela prática correta dos prazos de execução por apresentar
uma dinâmica de técnicas de planejamento (MATUS, 1989). É importante destacar que
planejar sobre diferentes perspectivas requer um olhar mais apurado das realidades,
isso significa que quando uma pessoa planeja ela está pensando em outras pessoas,
isto é, o planejamento preciso englobar não apenas o “EU” no processo, mas o todo,
pois as ações serão direcionadas também as demais partes do processo.
Segundo Brandão (2007, p. 45) pensar em um tipo de planejamento pautado no
local, onde as ações seriam “construída por atores e agentes, e não classes sociais,
que orientariam suas ações pelo compartilhamento dos valores da auto-identidade
e do pertencimento a comunas, mais do que por interesse de classe”. Diante do
exposto, percebe-se que o desenvolvimento das comunidades tem que ser construído
em parceria com os atores locais, estabelecendo o que chamamos de planejamento
participativo, ou com uma participação mais atuante da população.
Convém, desde logo, ressaltar que modelo básico de planejamento é o
mesmo. O que diferencia são os modos de planejar, é que não há ação humana
sem planejamento. Nesse sentido, é importante caracterizar o planejamento por três
etapas, a compreensão da realidade local, isto é, fazer um levantamento de sugestões
junto ao público. Outro passo será o “diagnóstico” que é caracterizado pela buscar de
identificar os problemas e por fim a “decisão” de solucionar os entraves a partir de
propostas concretas (GANDIN, 2001).
Nota-se dessa forma o planejamento como instrumento de desenvolvimento
para diversas realidades e não como paradigma às necessidades de qualquer
localidade. Por isso as contribuições acima salientadas complementam conceitos
novos que integraliza as necessidades das localidades e compreender o planejamento
participativo como instrumento que:
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[...] parte da idéia que não basta uma ferramenta para “fazer bem as coisas”
dentro de um paradigma instituído, mas é preciso desenvolver conceitos,
modelos, técnicas, instrumentos para definir “as coisas certas” a fazer, não
apenas para o crescimento e a sobrevivência da entidade planejada, mas
para a construção da sociedade (GANDIN, 2001, p. 87).

O surgimento desse novo conceito produz um moderno sentido ao planejamento,


uma vez que, motiva novos horizontes para sociedade, onde possibilita o usufruto dos
bens naturais, culturais e os produzidos pela ação humana.

[...] participação no Planejamento Participativo inclui distribuição do poder,


inclui possibilidade de decidir na construção não apenas do “como” ou do
“com que” fazer, mas também do “o que” e do “para que” fazer; além disto, o
Planejamento Participativo contém técnicas e instrumentos para realizar esta
participação (GANDIN, 2001, p. 88).

Saturiet al. (2004) salienta que os métodos são sustentados pelo conhecimento,
ideias e experiências entre os envolvidos no processo, ou seja, parte de um pensamento
coletivo. Porém vale ressaltar quede acordo com Gandin (2000, p 54) o conceito de
participação pode incidir em três erros:

[...] a manipulação das pessoas pelas “autoridades”, através de uma


simulação de participação; a utilização de metodologias inadequadas, com
o consequente desgaste da ideia; a falta de compreensão do que seja
realmente participação.

Cavalcante; Ferraro (2002) ressalta que os “atores sociais” só se percebem como


tal a partir da posição de agente transformador da própria realidade. O planejamento
participativo deve ter claro propósito de intervenção social a fim de ser um instrumento
de construção de uma sociedade mais igualitária e justa.
Kunsch (2012) destaca o planejamento participativo sendo aquele que
democratiza a intervenção, ou seja, em termos realista e dialético essa interferência
se dá como alternativa as políticas públicas para equacionar os problemas sociais
a partir de uma participação mais presente da população, mesmo que em certos
momentos essa atitude seja manipulada. Conceição e Nuñes (2007, p. 3) lembra que
o desenvolvimento deve está pautado em ações estratégicas sustentáveis.

O modelo participativo de planejamento do desenvolvimento regional baseia-


se na ampliação da base de decisões autônomas por parte dos atores locais,
gerando a capacidade de harmonizar as sinergias locais com um plano
de desenvolvimento que produza raízes e identidades regionais e com a
consciência coletiva de pertencer ao território comum, onde o conceito de
espaço seja entendido como um meio constante de transformação.
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O surgimento desse modelo trouxe discussões acerca da participação dos


atores locais no processo das políticas públicas, posto que, inclui diretrizes específicas
ao planejamento. Entretanto, ainda precisa mudar a concepção do desenvolvimento
apenas pelo lado econômico, é preciso perceber o todo, ter um olhar do social, não
apenas como pretensão política, mas sólida no contexto das relações sociais.
Buscar o enfoque participativo do planejamento por meio dos planos, programas
e projetos com trocas de informações e ideias no qual se tenha um consenso para
tomada de decisão com vista às mudanças as realidades locais.

3 O PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO COMO INSTRUMENTO NO


DESENVOLVIMENTO LOCAL
Diante das discussões acerca das crises econômicas e sociais que permeia
o desenvolvimento desigual, surge como um processo complexo de mudanças e
transformações de ordem econômica, política, humana e social, o desenvolvimento
local, modelo pautado no endógeno que objetiva melhoria de vida para todas as
pessoas nela situadas como (trabalho, renda, acesso a alimentos e bens básicos
de consumo, segurança pessoal, econômica, social e afetiva, educação, saúde,
lazer, liberdade e um ambiente saudável) (VASCONCELOS e GARCIA, 2008, apud
OLIVEIRA, 2002).
Esse desenvolvimento entendido como local2 e endógeno, no qual a definição
compreendida como território “espaço vivenciado e construído historicamente por
específicos grupos sociais em determinadas condições naturais, econômicas, sócio-
culturais, jurídico-politicas e, até mesmo, psicológicas” (HAESBERT, 2004 apud
MIRANDA, 2008, p.1). Esse modelo está mais ligado às questões do humano e social,
pois se estabelece a partir da concepção do planejamento específico as realidades
locais, onde a população local tem mais autonomia perante seu crescimento
socioeconômico além de ter controle efetivo do seu patrimônio cultural e natural. Ou
seja, esse crescimento apresenta um perfil mais socializante, posto que, coloca a
comunidade como precursora do seu tempo e espaço.
Ao incluir o planejamento participativo dentro do contexto do desenvolvimento
local, deve-se considerar a participação de todos, uma vez que, muitas decisões
serão tomadas e que afetará a maioria da população, isto é, a comunidade no qual
está acontecendo o processo. Segundo Tenório (2004, p.2) as atuações locais devem
“funcionar como um articulador e facilitador de ações, que só terão eficácia quando
representativas de um projeto de desenvolvimento apropriado pela sociedade, no
qual o poder público seja apenas um dos agentes envolvidos”. Porém é importante
2 Local aqui será identificado como aquele espaço territorial delimitado em municípios ou cida-
des.
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trabalhar a cultural local para afirmar seus direitos.


Vale destacar, também, que outros conceitos surgem na perspectiva da
terminologia contemporânea como governança3, no qual ressalta o papel dos cidadãos
no processo político, como identificação dos problemas, promovendo à formulação,
implementação e avaliação dos resultados. Para isso é interessante trabalhar numa
dinâmica horizontal-territorial a fim de abordar problemas setoriais, se contrapondo a
uma estrutura vertical- centralista e que seja pautado em modelos

[...] de gestão pública fundado em processo democrático, cooperativo


e educativo, na medida que a população, conscientizada de seu papel
político-participativo, possa influenciar todos os níveis decisórios, desde o
planejamento até a execução, sendo solidários no empenho para a realização
dos objetivos propostos (TENÓRIO, 2004, p. 3).

Considerando tal perspectiva, observa-se que existem parâmetros para se


chegar a exemplos sólidos de desenvolvimento, pois isso depende de conceitos
atrelados ao movimento como cidadania, participação, capital social e cultural etc.
Quando se aponta o termo cidadania, implica dizer uma ação mais deliberativa, isto
é, com decisões políticas decisivas na discussão do processo e “orientados pelos
princípios da inclusão, do pluralismo, da igualdade participativa, da autonomia e do
bem comum” (TENÓRIO, 2004, p.8).
A importância do tema participação dentro da lógica do planejamento participativo
é entender as possibilidades do empoderamento, inclusão social e governança
democrática como instrumentos de envolvimento da sociedade. Irving (2009, p. 114)
salienta que “quanto maior o envolvimento local e mais desenvolvidas as estratégias
de participação social em planejamento e implementação de projetos, mais evidentes
tendem a ser os níveis de protagonismo social”. Todavia, é fundamental observar
que o processo de participação é lento e precisa ser trabalhado de acordo com as
realidades locais, uma vez que os níveis de ponderação são frutos de uma construção
histórico-cultural de uma sociedade excluída do desenvolvimento centrado no capital.
Como alerta Bordenave (1994), a participação deve apresentar uma visão
progressista, na qual o conhecimento reforça uma consciência crítica da população,
tendo como resultado o poder de contestação de seus direitos e tornando-a parte do
processo. Cabe ressaltar que participação é uma ferramenta que promove a cidadania,
e desse modo é possível entendê-la como algo adquirido através de reinvindicações e
do respeito às múltiplas diferenças sociais. Dessa forma, Demo reafirmar dizendo que
participação é conquista e defende sua posição estabelecendo.

3 Segundo Fischer (1996:19), “governance é um conceito plural, que compreende não apenas a
substância da gestão, mas a relação entre os agentes envolvidos, a construção de espaços de nego-
ciação e os vários papéis desempenhados pelos agentes do processo”.
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[...] que participação é conquista para significar que é um processo no sentido


legítimo do termo, infindável, em constante vir-a-ser, sempre se fazendo.
Assim, participação é em essência autopromoção e existe enquanto conquista
processual. Não existe participação suficiente, nem acabada. Participação
que se imagina completa, nisto mesmo começa a regredir (DEMO, 1996, p.
18).

De fato, a participação é de suma importância na construção do desenvolvimento


local, mesmo que as desigualdades sociais sejam de ordem estrutural, a sociedade tem
que dar um passo na conquista pela mudança. O conceito de desenvolvimento local
vem congregando, sistematicamente, novos subsídios a fim de resolver os dilemas da
sociedade contemporânea entre eles estão o “capital social” entendido como:

[...] conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse


de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de
interconhecimento e de inter-reconhecimento ou, em outros termos, à
vinculação a um grupo, como conjunto de agentes que não somente são
dotados de propriedades comuns (passíveis de serem percebidas pelo
observador, pelos outros ou por eles mesmos), mas também são unidos por
ligações permanentes e úteis (BOURDIEU, 1998, p.67).

Bourdieu (1998) compreende capital social sendo uma rede de relações


estabelecida entre os agentes, para que haja a disseminação do conhecimento e
da reciprocidade entre eles, estabelecendo dessa forma, a confiança. Portanto, vale
observar que o capital social exerce poder de confiança no outro, ou seja, o coletivo
tem a responsabilidade sobre o capital social possuído. No entanto, deve-se ter a
preocupação no desgaste da conduta do outro sobre o grupo.
Assim, parece que buscar uma fórmula ao desenvolvimento local carece
desmitificar conceitos e olhar mais as peculiaridades das comunidades, deve-se
atentar para as mudanças, as transformações sociais, nessa perspectiva adentra o
planejamento participativo, não apenas como instrumento da política pública, mas
pelo poder de sociabilidade das anuências da sociedade.
Portanto, como bem coloca Irving (2009) os projetos bem-sucedidos
apresentam características interdependentes que são: o enfoque local no processo de
desenvolvimento e a participação da sociedade local na elaboração e implementação
de projetos e demais iniciativas, entretanto, o conceito de planejamento e
desenvolvimento não precisam ser limitados, acredita-se então em uma abrangência
maior, onde podem influenciar tanto diretamente quanto indiretamente as questões
sociais, culturais, ambientais, políticas e cientificas etc.

4 LAZER X TURISTIFICAÇÃO: PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO EM QUESTÃO.


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Nota-se que espaços públicos de lazer venham apresentando um perfil de


lugares mais socializantes, porém, o processo de participação dos moradores com
seus lugares ainda expõe uma resistência quanto ao espaço modificado para o turista,
sabendo que os atores sociais são parte importante do processo. Matos (2001, p.
126) salienta a importância de se participar do processo, uma vez que o “espaço,
como um dos elementos fundamentais para vivência do lazer, deve estar situado com
grande relevância a partir da política urbanística da cidade”. Alguns espaços muitas
vezes tornam-se ambientes sacralizados para população fazendo com que essas
construções limitem o olhar do cidadão.
Entender as múltiplas facetas do lazer requer compreende-lo pelas suas
possibilidades (descanso, divertimento e desenvolvimento pessoal e social), no
entanto, o lazer acontece através do seu tempo livre ou por atitudes (escolhas). O
lazer pode ser entendido por um conjunto de escolhas de ocupações nas quais o
ser humano pode-se envolver de livre vontade, ou seja, partindo do pressuposto
do repouso, do divertimento, da recreação, do entretenimento, do desenvolvimento
pessoal e de sua participação voluntária após suas obrigações familiares, sociais e
profissionais (DUMAZEDIER, 1976).
Gomes (2004) salienta afirmando que lazer é um fenômeno sociocultural que
surgiu em diferentes contextos (histórico, social e político) e que pode ser dinâmico,
pois representa uma diversidade em cada grupo social no qual está inserido. O
mesmo autor reforça que o lazer é caracterizado como um fenômeno complexo, pois
apresenta conflitos, tensões e contradições.
Segundo Dumazedier (1973), o lazer é compreendido como um conjunto de
atividades desenvolvidas para o divertimento ou recreação, que exerce papel para
o desenvolvimento pessoal e social, ou seja, o “lazer é um bem social, um direito do
cidadão e um instrumento essencial à apropriação da cidade por toda sociedade”
(MATOS, 2001, p. 119). Vale destacar, a importância do lazer como cultura4, pois parte
da extensão do imaterial, do intangível e da condição humana.
Nessa perspectiva é interessante ressaltar a importância do planejamento em
espaços públicos de lazer e do turismo a partir da “participação”, buscando atender
aos diversos interesses de moradores e de visitantes. Também é necessário refletir
para pontos cruciais na reconfiguração de ambientes socialmente construídos, posto
que às vezes tornam-se “privatizados” ou mesmo “turistificados”, entender esse
“processo de turistificação dos espaços implica na substituição da lógica da produção
(esfera do trabalho) pela lógica do lazer (esfera do lazer)” (FRATUCCI, 2007, p.
1099). Cabe ressaltar, que o termo turistificação significa criar espaços para atividade
turística, porém esses espaços não podem ser limitados a uma parte da sociedade
4 Cultura entendida aqui como “modo de fazer, ser, interagir e representar que, produzidos so-
cialmente, envolve simbolização e, por sua vez, definem o modo pelo qual a vida social se desenvolver”
(MACEDO; QUEIROZ apud VALLE, 1982, p.35).
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(FIGUEIREDO, 2008).
Os espaços públicos do lazer e do turismo são elementos importantes para
vivência do lazer, visto que, esses ambientes quando reconfigurados coletivamente
tende dar novos significados ao morador quanto ao turista. Portanto exercer o
planejamento participativo nas questões da cidade implica envolver o social, o
simbólico e cultural dos lugares, pois estabelece vínculos com a população através da
atividade turística e do lazer.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os espaços públicos de lazer por tantas vezes vem apresentando conflitos
e contradições na reprodução da vida dos lugares, essa modificação se caracteriza
quando ambientes são turistificados com o fino propósito de alavancar a atividade
turística, deixando de lado quem mais precisa deles. O esforço para transformar
“lugares” para o lazer nas cidades vem sendo muito debatido ao longo dos anos,
sendo que, às vezes ou na grande maioria o planejamento feito pela política pública
não contempla a grande massa da população por diversos motivos, por exemplo,
(deslocamento já que esses ambientes estão localizados no centro da cidade, o não
acesso gratuito, entre outros), e além do que os espaços são reconfigurados para o
turismo onde acabam criando barreiras de exclusão aos morados pelos seus modelos
elitizados e controversos as realidades locais.
No entanto, o reconhecimento e inserção dos atores locais em lugares públicos
destinados ao lazer pela ação pública vem se “repaginando” ao ponto de observar a
comunidade como parte daquele espaço, posto que, as políticas públicas tomam o
novo olhar a essa parcela da população, porém com passos curtos no que tange ao
(consumo, segurança, ações culturais etc.). Vale destacar, que o desenvolvimento
do lazer deve perpassar por um processo de planejamento mais participativo, sem
deixar de considerar a população como parte importante de auto-identificação, onde
os espaços públicos de lazer, também motivados pelo turismo não tenham apenas a
valorização estética e mercadológica, e sim social para a cidade.
Com base nesse contexto, constatou-se a importância do planejamento
participativo na construção e gestão dos espaços públicos do lazer e do turismo, pois
estabelece parâmetros de sociabilidade ao lugar, lembrando que a população tem
direito ao acesso e direito ao lugar (BAHIA; FIGUEIREDO, 2008, p. 13), posto que, a
efetiva participação só será concretizada quando houver um olhar critico aos desafios
e comprometida com os anseios da população.

REFERÊNCIAS
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URBANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO TURISMO: UMA ANÁLISE SOBRE


AS AÇÕES E PRÁTICAS ADOTADAS PELO PODER PÚBLICO EM NOVA
XAVANTINA-MT
Judite de Azevedo do Carmo
Profª. Drª. do curso de Licenciatura em Geografia da Unemat/Colider/MT
juditeacarmo@gmail.com

Regiane Caldeira
Profª. Me. Do curso de Bacharelado em Turismo da Unemat/Nova Xavantina/MT
regycaldeira@gmail.com

Marcio José Celeri


Prof. Dr. do curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste/
Guarapuava/PR

RESUMO: A crescente importância do turismo na sociedade atual como um fator de


significativa contribuição para o crescimento econômico tem levado as pequenas
cidades, economicamente deprimidas, mas com elevado potencial turístico, a
promoverem, por meio de seus gestores, a atividade turística de base local. Porém, a
promoção desta atividade tem desencadeado investimentos públicos em infraestruturas
nos espaços destinados ao turista, enquanto os de uso da população residente ficam
em segundo plano, refletindo uma paisagem urbana segregada. Com o objetivo de
verificar como este processo se realiza em Nova Xavantina (MT), foi realizada uma
pesquisa empírica procurando identificar as ações do poder público na implantação
e manutenção da infraestrutura com vistas ao desenvolvimento turístico. Para tanto,
foram utilizados procedimentos metodológicos como pesquisa bibliográfica, entrevista
semiestruturada junto às Secretarias de Infraestrutura Urbana e Vias Públicas, de
Limpeza Urbana, de Turismo e Meio Ambiente, assim como a pesquisa de campo para
observação e descrição da paisagem urbana e dos espaços turísticos. O resultado
da pesquisa empreendida revelou que as intervenções urbanas no município são
realizadas com o objetivo primeiro de implantar as infraestruturas das quais o território
local é carente, porém estas intervenções nos espaços potencialmente turísticos têm
se apresentado com maior intensidade, consequentemente, tais desencadeamentos
indicam a necessidade de observar com proximidade o crescimento e desenvolvimento
destes espaços de forma inclusiva (comunidade local e turista) e não exclusiva às
atividades turísticas.

PALAVRAS-CHAVE: Urbanização. Turismo. Desenvolvimento.

ABSTRACT / RESUMEN: The growing importance of tourism in society today as a


significant contributing factor to economic growth has led small cities, economically
depressed, but with high tourism potential, to promote, through their managers,
touristic activity on a local basis. However, the promotion of this activity has triggered
public infrastructure investment in spaces for the tourist, while the use of the local
population are in the background, reflecting a segregated urban landscape.With the
goal of checking how this process takes place in Nova Xavantina (MT), an empirical
survey was conducted trying to identify the actions of government in the implementation
and maintenance of infrastructure with a view to tourism development. It was used
methodological procedures such as research on the related literature, semi-structured
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interview with the Departments of Urban Infrastructure, Urban Sanitation, Tourism and
Environment, as well as field research for observation and description of the urban
landscape and the touristic spaces. The results revealed that urban interventions in
the municipality are undertaken for the primary purpose of deploying the infrastructure
of which the local territory is lacking, but these interventions in the potentially touristic
areas have been presented with greater intensity, consequently, such outbreaks
indicate the need to observe closely the growth and development of these spaces in
an inclusive way (local community and tourist) and not exclusive to tourist activities.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Urbanization. Tourism. Development.

INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo verificar as ações e práticas do poder público na
implantação e manutenção da infraestrutura com vistas ao desenvolvimento turístico
no município de Nova Xavantina (MT). Para a realização da pesquisa adotamos
procedimentos como consulta às bibliografias que trataram do tema urbanização
e turismo, as quais compõem a base teórica da pesquisa empreendida; entrevista
semiestruturada junto às Secretarias de Infraestrutura Urbana, de Limpeza Urbana de
Turismo e Meio Ambiente para a obtenção de dados e informações sobre as práticas
e ações do poder público voltadas à implantação e manutenção da infraestrutura
urbana; pesquisa de campo para a descrição da paisagem urbana do município.

O turismo na atualidade é entendido como uma atividade propulsora de


desenvolvimento na localidade onde se materializa, por meio deste entendimento,
muitos dos gestores públicos almejam o desenvolvimento desta em seus territórios.
Porém, é comum encontrar em bibliografias a menção da necessidade de uma
infraestrutura básica e turística para a realização do turismo, entretanto, analisando o
processo de urbanização no Brasil verifica-se que este é extremante deficitário, sendo
que algumas cidades não apresentam o mínimo necessário de estrutura e serviços
urbanos que possam incluí-las no rol de urbanidades.

Estas deficiências detectadas nos instigam a refletir sobre algumas questões


como: quais são as ações e práticas adotadas pelo poder público de localidades que
desejam o desenvolvimento do turismo em seu território? As intervenções urbanas
empreendidas atendem o interesse da comunidade local ou reproduzem um espaço
segregado com fins a realizar o acúmulo de capital?

A reflexão sobre estas questões, tendo como base a bibliografia consultada nos
direciona ao entendimento de que a inserção de algumas cidades economicamente
deprimidas no mercado turístico como uma saída para alavancar a economia local,
tem condicionado a produção do espaço urbano ao atendimento das demandas da
atividade turística, de forma a privilegiar os interesses do turista em detrimento da
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população local.

Para verificar se estas reflexões teóricas iniciais são condizentes com a


realidade realizamos a pesquisa empírica, tomando como universo espacial de análise
o espaço urbano de Nova Xavantina/MT (fig. 1), uma cidade localizada no Vale do
Araguaia ao Leste do Estado de Mato Grosso, distante 657 km da capital Cuiabá, com
uma população de 20.403 habitantes, de acordo com o IBGE (2010).

FIGURA 1 LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE NOVA XAVANTINA (MT)

Fonte: Mapa base da Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN),


Cuiabá, 2007
Desenho de Cleberson RibeiroJesuz
Organizado por Judite de Azevedo do Carmo

Nova Xavantina possui diversos atrativos turísticos, dentre os quais se


destacam: Praia do Sol e Praia da Lua – localizadas no perímetro urbano e de fácil
acesso à comunidade local e turistas, são unidas por uma passarela exclusiva para
pedestres. Local de realização de muitos eventos, em especial o festival de pesca,
um evento anual, regular que em sua última versão (2013) recebeu em média 60.000
pessoas (SECRETARIA DE TURISMO, 2014) durante os quatro finais de semana
do mês de julho; Ilha do Coco – localizada a 30 km do centro da cidade, oferta
hospedagem e alimentação para pequenos grupos (máximo 12 pax), Praia do Chiquito
– bastante frequentado de abril à setembro, possui mais de 150m de praia, com área
para camping, apartamentos, restaurantes, quiosques para churrasco, salão de jogos
e estacionamento aberto, localizada a 7km do centro da cidade de várias quedas
d’água em sequência, com área de camping; Rancho Ponte de Pedra – localizado nas
margens do Rio das Mortes, 28km da zona urbana, conta com espaço para camping,
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possui além do Rio várias quedas d’ água; Unidade de conservação - Parque municipal
Mario Viana (Parque do Bacaba) com 480 hectares, criado em 1995, anteriormente
no local funcionava uma base da força aérea e desde 1991encontra-se o Campus
da Universidade do Estado de Mato Grosso –UNEMAT, o parque possui várias
trilhas, além da própria estrutura em si ser um atrativo; Santuário de Nossa Senhora
das Graças – construção diferenciada que atrai devotos para atividades realizadas
durante todo ano. A igreja em parceria com a Universidade do Estado de Mato Grosso
– Campus Nova Xavantina desenvolvem, no momento, um projeto voltado para o
turismo religioso. Na pesquisa privilegiamos os espaços potencialmente turísticos:
Praia do Sol e Praia da Lua.

URBANIZAÇÃO E TURISMO: BREVES REFLEXÕES

O turismo é um fenômeno que tem se apresentado na atualidade em grande


expansão. Autores que têm se dedicado ao estudo deste fenômeno procuraram
elaborar uma conceituação em torno deste. Para Coriolano (2006) o turismo é uma
forma elitizada de lazer, uma modalidade do uso de tempo livre, a qual exige viagens,
deslocamentos, infraestrutura urbana e de serviços, transporte e hotéis.

Barreto (1999) já coloca que o turismo pode ser considerado como a soma de
relações e de serviços resultante de uma mudança de residência de forma temporária
e voluntária, cuja motivação é diferente das de negócios ou profissionais.

O turismo também é compreendido por Beltrão (2001) como o conjunto de


atividades culturais, sociais, políticas, econômicas e naturais, e estas envolvem pessoas
que se deslocam para os mais diferentes lugares com permanência temporária, com o
objetivo de buscar informações, lazer e descanso.

A Organização Mundial de Turismo (2001) traz a seguinte definição para turismo:


uma gama de atividades realizadas pelas pessoas em suas viagens e estadias nos
lugares para onde se dirigem, por um período inferior a um ano, cujas motivações são
a realização de lazer, negócios, dentre outras.

Como se vê são vários os conceitos de turismo apresentados pelos autores


acima, mas no geral ele pode ser considerado um fenômeno social, uma vez que
envolve relações das mais diversas, cuja prática se realiza em um determinado espaço
diferente daquele do cotidiano das pessoas que a realiza. Por ser o turismo, nos
dizeres de Fratucci (2006) um fenômeno socioespacial característico da sociedade
contemporânea, provoca transformações importantes nos espaços onde ele se realiza,
influenciando direta e indiretamente no processo de urbanização.

A urbanização é um processo que tem sido alvo de muitos estudos no âmbito


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da Geografia, porém o seu conceito ainda é apresentado de forma difusa. Em algumas


obras bibliográficas é possível identificar o conceito sendo relacionado ao processo
de aglomeração de pessoas em determinado espaço, proporcionando o aumento do
número de cidades. Em outras, verifica-se um conceito mais abrangente que direciona
a caracterizar um espaço urbanizado como sendo aquele em que se identifica um
modo de vida urbano. Além destas conceituações apresentadas, alguns autores que
se dedicam a um conhecimento mais aplicado, consideram a urbanização como um
processo em que se verifica a implementação de infraestrutura urbana.

No caso do artigo que ora apresentamos, a urbanização será tomada como


um processo desencadeado em um espaço que lhe proporciona transformações por
meio da implantação de infraestruturas, oferta de serviços como saúde, educação,
saneamento básico, dentre outros.

No Brasil o processo de urbanização vai ocorrer de forma deficitária, conforme


explicação de Rolnik (2011), por meio de uma política nacional de desenvolvimento
urbano estruturada nos anos de 1960 e 1970 para promover o financiamento de
habitação e saneamento. A mesma autora continua explicando como esta política foi
estruturada, o governo federal arrecada e redistribui os recursos do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS), mediante empréstimos. Na construção de habitações houve
o financiamento tanto da iniciativa privada como da pública, já para implementação
de sistemas de saneamento básico identifica-se o financiamento de companhias
públicas. Porém, o sistema de financiamento visa o retorno do capital ao fundo
público. Diante disto, como forma de garantir o retorno, os financiamentos ocorreram
com maior expressão nas regiões onde se verificam maiores rendas. Portanto, Rolnik
(2011) conclui que este modelo adotado pela política de desenvolvimento urbano foi
estruturado para atender as grandes cidades.

Refletindo criticamente sobre a postura do Estado na produção de espaços


urbanizados, Rolnik (2011,s/p.) assevera que este:
regulou a produção por meio de leis de parcelamento, zoneamentos e
planos urbanísticos, delegando ao loteador privado a missão de produzir
terra urbanizada, com infraestrutura e espaços públicos para a expansão da
cidade.

Quando é delegada ao setor privado esta missão de produzir as urbanidades,


sem as devidas fiscalizações por parte do poder público, estas emergem no espaço
brasileiro de forma extremamente desigual. Assim temos em nível nacional, regiões
altamente urbanizadas, como a região Sul e Sudeste, enquanto nas outras regiões
é possível verificar áreas precárias, sem infraestruturas, com baixa qualidade
urbanística; em nível local evidenciam-se espaços elitizados com todos os requisitos
necessários à efetiva urbanização, estes são destinados às classes médias e altas; e
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espaços sem a menor condição urbana, destinados à população cujos rendimentos


não lhe possibilitam uma moradia adequada.

Diante das colocações dos autores consultados pode-se dizer que o processo
de urbanização no Brasil, até mesmo nos grandes centros se deu de forma precária,
por conseguinte, um significante número de municípios apresenta o mínimo de
urbanidade, ou seja, uma infraestrutura que não condiz com as exigências para a
efetiva caracterização de uma área urbana.

A forma precária como ocorreu o processo de urbanização no Brasil possibilita


identificar, como especifica Fonseca e Costa (2004), que muitas vezes as políticas
de turismo, na atualidade, tem se confundido com as políticas urbanas, uma vez que
o poder público de localidades que possuem a pretensão de desenvolver a atividade
turística em seu território tem atuado no sentido de amenizar os problemas urbanos,
através de políticas de urbanização turística.

A urbanização turística, denominação dada ao processo de urbanização ocorrido


em razão da atividade turística, de acordo com Cruz (2000) foi conceituada por Mullins
em 1991 para designar uma nova forma de produção do espaço urbano que estava
se verificando na modernidade. Após o trabalho deste autor, outros estudiosos se
empenharam na abordagem desta temática, como por exemplo, Lopes Junior (2000),
Luchiari (2000), Cruz (2000) Mascarenhas (2004), Bittencourt César (2010), Körössy
e Cordeiro (2010).

O conceito de urbanização turística, de acordo com Lopes Júnior (2000), surgiu


para expressar uma nova forma de urbanização em decorrência do desenvolvimento da
atividade turística, emergindo, portanto, novas paisagens urbanas, principalmente no
fim do século XX. O mesmo autor referenciado explica que esta forma de urbanização
ao contrário daquela verificada em razão do processo de industrialização, tem sua
efetivação deslocada da produção para o consumo.

Cruz (2000) defende que a urbanização turística se manifesta por dois


processos distintos, quais sejam: a urbanização turística dos lugares e a urbanização
para o turismo. O primeiro refere-se ao processo de criação e implementação de
infraestrutura indispensável ao desenvolvimento da atividade; o segundo já é aquele
processo concernente à criação de infraestrutura de suporte para o turismo.

Desta forma, a urbanização desencadeada pela atividade turística promove a


construção de novas formas urbanas com novas funções, ou a atribuição de novas
funções para velhas formas urbanas. As cidades sob esta nova lógica transformam-se
em um produto a disposição do mercado.

O espaço urbano sendo produzido para atender a demanda da atividade


turística, que tem como foco principal a satisfação do turista, contribui para o
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crescimento econômico da localidade, por isso o grande interesse verificado em


diversos municípios em desenvolver o turismo em seu território.

A implantação de infraestrutura configura-se assim, de fundamental importância


para o desenvolvimento urbano e da atividade turística, isto já é consenso entre os
autores e Barreto (1991) adverte que sem a infraestrutura urbana adequada não é
possível o desenvolvimento turístico da localidade, mesmo quando a atividade seja
baseada nos recursos naturais, pois o espaço urbano é utilizado como suporte por
meio da oferta de alojamentos, restaurantes, dentre outros.

O processo de urbanização sob a ótica do turismo reflete interesses conflitantes,


podendo ser verificada uma segregação funcional do espaço. O poder público e os
investidores do ramo turístico selecionam os espaços com potenciais turísticos e
os equipam com as infraestruturas básicas e turísticas, ocorrendo uma valorização
desses espaços, consequentemente a terra terá seu preço elevado na forma de
especulação imobiliária, bem como, os usos e os serviços ofertados, o que dificultará
o acesso da população de baixa renda, consequentemente, esta se enclausurará nas
áreas com serviços urbanos deficitários, efetivando assim, o processo de segregação
socioespacial, visível na paisagem urbana.

Podemos entender, conforme Oliveira (2006), que o turismo pode se tornar um


agravante dos conflitos existentes na cidade, pois os espaços produzidos para o turista
recebem tratamento diferenciado daquele levado aos espaços ocupados pelo restante
da população, especialmente aquela de baixo poder aquisitivo. Reflexões sobre a
produção diferenciada de espaços para moradores e turista podem ser verificadas em
Kushano, Monteiro e Machado (2010); Santos (2010); Meliani (2011).

A literatura sobre o fenômeno turístico, especialmente aquela que visa a


reflexão sobre o planejamento do turismo, enfatiza a necessidade da produção de um
espaço turístico em que o residente seja incluído para diminuir os conflitos entre estes
e o turista. Entretanto, o que se verifica é que o modelo de desenvolvimento turístico
adotado na maior parte das cidades turísticas privilegia o turista, ficando o residente
à margem do processo.

A partir da reflexão teórica sobre o processo de urbanização desencadeado no


Brasil explicitando as contradições a ele inerentes, bem como a sua relação com a
atividade turística que também tem atuado no sentido de reproduzir espaços altamente
segregados, apesar dos estudiosos evidenciarem a necessidade de minimizar estas
relações conflitantes, nos dispomos a analisar as ações e práticas do poder público
em Nova Xavantina no que concerne a implantação e manutenção da infraestrutura
urbana e sua relação com o desenvolvimento do turismo, cujo resultado será exposto
na seção seguinte.
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INFRAESTRUTURA URBANA E O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM NOVA


XAVANTINA (MT)

A redação desta seção está fundamentada no resultado da análise das


entrevistas semiestruturadas realizadas junto à Secretaria de Infraestrutura e Vias
Públicas, bem como a de Limpeza Urbana e a de Turismo e Meio Ambiente e por
fim na pesquisa de campo desenvolvida para descrever a paisagem urbana de Nova
Xavantina no que se refere à infraestrutura.

A entrevista realizada junto às Secretarias teve como objetivo identificar as


ações do poder público no sentido de implantar e manter a infraestrutura urbana, bem
como aquelas que visam o desenvolvimento do turismo no município.

Nova Xavantina possui aproximadamente 50% de suas vias públicas


pavimentadas. Existe um projeto na Prefeitura Municipal que prevê mais 80.000
metros de pavimentação até o final de 2014 e de todo o município até o final de 2016.

As condições das vias públicas estão precárias, com ruas esburacadas em


praticamente toda a extensão pavimentada, problema que se agrava no período de
chuvas, o que evidencia a necessidade de recapagem das mesmas.

FIGURA 2 - SITUAÇÃO PRECÁRIA EM QUE SE ENCONTRAM AS VIAS


PÚBLICAS
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Foto: Regiane Caldeira/abril de 2014

Em campo foi possível comprovar estas condições como pode ser observado na
figura 2. Esta situação dificulta a circulação de automóveis, motocicletas e bicicletas,
além de expor os seus usuários a riscos de acidentes. É importante destacar que
as vias públicas de todo o município apresentam este estado precário, até mesmo
aquelas próximas aos espaços urbanos considerados, pelos próprios Secretários
Municipais, potencialmente turísticos como praias do Sol e da Lua, Praças Públicas e
Santuário Nossa Senhora das Graças.

As ações realizadas com o intuito de melhorar as condições da pavimentação


das vias públicas são emergenciais, que na verdade não solucionam os problemas,
como é o caso do “tapa buracos”. Entretanto recorre-se a esta prática em razão da
ausência de recursos para a realização da recapagem.

Como já foi colocado anteriormente apenas 50% das vias públicas do


município são pavimentadas, as que não são também necessitam de manutenção,
pois se encontram esburacadas e no período de chuva a situação se torna ainda
mais complexa, prejudicando o acesso da população à suas residências. É importante
salientar que muitas das vias não pavimentadas se encontram próximas ao centro da
cidade, evidenciando que este não é problema restrito aos bairros.

As redes de drenagem foram outro quesito avaliado. De acordo com o Secretário


de Infraestrutura e Vias Públicas, estas não atendem a demanda de escoamento das
águas pluviais. Existem planos para novas redes serem instaladas, porém não há
recursos para a execução destes projetos.

Quanto ao abastecimento de água, 99% das habitações são atendidas e no


que se refere ao sistema de afastamento de esgoto apenas 60% delas são atendidas,
mas há uma meta em atingir até 2020, 70% das habitações.
A coleta de resíduos sólidos é realizada em 100% do município, sendo os bairros
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atendidos em três vezes por semana. Apesar do avanço neste setor, não existe no
momento nenhum projeto que tenha como objetivo a implantação da coleta seletiva.
Se por um lado existe uma ação positiva e benéfica, que seria a coleta regular, por
outro, pode-se notar que estes resíduos têm como destino o lixão, o que a curto e
longo prazo pode gerar danos não somente a imagem do município como também à
saúde da população.

A pesquisa de campo revelou que a limpeza das vias públicas é realizada


diariamente na parte central da cidade e nas áreas de interesse público como as
praças e os espaços potencialmente turísticos, enquanto nos bairros é realizada em
dias alternados. A quantidade de terra acumulada nas guias trazidas pelas enxurradas
em época de chuva chama a atenção na paisagem urbana, não sendo retirada pelo
serviço de limpeza pública, proporcionando um aspecto negativo à paisagem.

A coleta de resíduos realizada regularmente evita o seu acúmulo em áreas


públicas, entretanto, observamos que muitas residências e empresas não possuem
lixeiras a fim de evitar o contato direto com as calçadas e atraiam animais, insetos,
dentre outros. Além disto, a população não é orientada a colocá-lo na rua somente
nos dias em que há a coleta, assim, é muito difícil encontrar as ruas livres desses
resíduos, que, mesmo estando em lixeiras, geram uma imagem negativa ao espaço
urbano.

Outro aspecto analisado em campo foram as calçadas; as de responsabilidade


privada em sua maioria apresenta estado de conservação ruim, quebradas e com
mato. Muitas residências não possuem calçadas, principalmente nos bairros, em
decorrência da não fiscalização em relação a obrigatoriedade de construção das
mesmas pelos residentes ou limpeza de lotes.
Oliveira (2008) coloca que em locais de concentração de atividades turísticas,
pode ocorrer o agravamento da poluição do meio ambiente em razão da quantidade
de resíduos sólidos gerada no período de alta temporada. Esta questão necessita de
reflexão por parte dos agentes que pretendem desenvolver o turismo no município,
destarte antes mesmo de ter uma intensa atividade turística já apresenta dificuldade
de gerenciamento da destinação correta dos resíduos.

As edificações do município em sua maioria, mesmo aquelas próximas aos


espaços urbanos de interesse turístico como praia do Sol e da Lua, apresentam
aspecto arquitetônico antigo, sem os devidos cuidados com a fachada, estando estas
em mau estado de conservação, já os loteamentos mais recentes têm apresentado
construções com designs modernos e suas fachadas estão bem cuidadas.

Assunção (2012) explica que o turismo possui uma capacidade muito grande
de transformação e adaptação às exigências e novas demandas de mercado e isto
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faz com que deva se considerar os patrimônios cultural e natural, e aqui se inclui o
patrimônio arquitetônico, “como elementos estratégicos de grandes projetos turísticos”.
Portanto, há a necessidade de realizar a conservação das edificações antigas, pois a
paisagem composta por estes elementos muito interessa à atividade turística. Como
pode ser verificado em campo, em Nova Xavantina não têm ocorrido ações no sentido
de preservar o patrimônio arquitetônico.

A distribuição da energia elétrica também chega a 100% das habitações. Já a


telefonia fixa é disponibilizada a 50% da área urbana, enquanto a móvel a 100% desta
área.

Quanto às intervenções na área urbana, especificamente com vistas ao


desenvolvimento do turismo, existem vários projetos em andamento, principalmente
em espaços urbanos com potencial turístico como a Praia do Sol e a Praia da Lua.
Estas praias localizam-se em áreas densamente ocupadas, sendo que a primeira fica
muito próxima ao centro financeiro e comercial de Nova Xavantina, no Setor Nova
Brasília (figura 3). A segunda está localizada no setor Xavantina, onde encontra-se
o centro político-administrativo do município. Apesar deste setor ser de ocupação
mais antiga e da existência de várias edificações, esta ocupação é mais rerefeita com
terrenos de metragem maior, sendo possível verificar a existência de chácaras no
entorno da praia.

FIGURA 3- LOCALIZAÇÃO PRAIAS DO SOL E DA LUA

Fonte: http://www.mteseusmunicipios.com.br (2013).

Há um projeto que está em fase de implantação, denominado de “Balneário


Praia do Sol e Praia da Lua”, o qual abrange as duas praias. Por meio deste projeto
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já estão sendo realizadas as seguintes construções: Quiosque para o atendimento


de até 100 pax sentados em área aberta; acesso à passarela que liga a Praia da
Lua à Praia do Sol (Setor Xavantina, Praia da Lua, verifique figura 4); um restaurante
com capacidade de atendimento para até 80 pax sentados em área coberta; uma
lanchonete com capacidade de atendimento para até 7.000 pessoas em área aberta;
acesso à passarela que liga a Praia da Sol à Praia da Lua (Setor Nova Brasília, Praia
do Sol, verifique figura 5).

FIGURA 4- OBRAS NA PRAIA DA LUA

FIGURA 5 – OBRAS NA PRAIA DO SOL

Foto: Regiane Caldeira/abril de 2014

No ano de 2009 foi realizado um diagnóstico socioambiental pela Secretaria


de Turismo e Meio Ambiente na Praia do Sol, cujo objetivo, segundo o documento foi
subsidiar os trabalhos de formatação do local para eventos de fomento ao turismo e
entretenimento da comunidade local.

De acordo com o diagnóstico encontravam-se na Praia do Sol sete


estabelecimentos comerciais (bares), que comercializavam alimentos e bebidas, que
em razão das condições de funcionamento exigiam intervenções.
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Uma situação destacada no diagnóstico é a residência de menores, filhos ou


parentes dos proprietários dos estabelecimentos, em cômodos no fundo dos bares.
Desta forma, eram expostos ao ambiente de consumo de álcool, jogos de bilhar, bem
como às brigas e aos usuários de entorpecentes, correndo-se o risco de possíveis
atos de coação e abuso destes menores.

Estas condições identificadas reprimiam o uso do local pelas famílias


xavantinenses que reclamavam por intervenções na área. Além disto, estas condições
locais comprometiam o desenvolvimento do turismo.

Uma das ações da Prefeitura Municipal para tentar reverter o quadro e


transformar o uso que estava sendo feito do espaço, foi desapropriar as propriedades,
ação esta que custou aos cofres públicos em torno de meio milhão de reais e até o
momento continuam as intervenções no local, como já explicitadas linhas acima.

Meliani (2011) explica que no planejamento do espaço turístico os discursos


e as ações dos sujeitos como o poder público, empresas, turistas, trabalhadores e
comunidades locais são determinantes, mesmo cada um apresentando diferença de
poder econômico e influência política. Esta diferença, conforme o autor, condiciona
um exercício assimétrico na territorialidade pelos sujeitos, aqueles com maior poder
econômico e influência política são privilegiados quando da definição do uso do
território, ocorrendo, inclusive apropriação privada dos espaços públicos.

Alguns projetos vêm sendo executados na área urbana, que no entendimento


do Secretário de Turismo e Meio Ambiente contribuem para a atração turística do
Município, são os casos da praça Bairro Vermelho; praça Virgílio do Nascimento (Setor
Xavantina) e praça Jardim Tropical (Setor Nova Brasília). A praça Bairro Vermelho
(Setor Xavantina) foi inaugurada em dezembro de 2013, no Setor Xavantina. Neste
local foram construídos: uma lanchonete com capacidade de atendimento para até 60
pax em área coberta e até 200 pax com a área aberta; um espaço para exposições;
Casa do Artesanato; quadra esportiva sem cobertura; Espaço infantil – playground;
concha acústica e academia ao ar livre.

A praça Virgílio do Nascimento (Setor Xavantina) está quase finalizada com


95% do projeto concluído. Aí se encontram quadra esportiva sem cobertura; rampa
para skate; espaço infantil – playground.

Praça Jardim Tropical (Setor Nova Brasília) está 90% finalizada com as
seguintes estruturas: quadra esportiva sem cobertura; espaço infantil – playground.

Este tipo de empreendimento implementado pela Prefeitura Municipal é uma


obra de infraestrutura urbana que a princípio tem como principal objetivo atender a
comunidade local, mas como proporciona um aspecto paisagístico que embeleza o
espaço urbano, acaba por valorizá-lo, assim contribui indiretamente para a atratividade
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turística do município.

No que se refere ao ornamento e paisagismo no município, identificamos que


algumas vias principais possuem canteiros centrais gramados e arborizados, enquanto
em outras estes são apenas arborizados, sem gramado. As praças públicas, em sua
maioria, possuem árvores, gramas e outros tipos de plantas. Porém há a necessidade
de melhoramento neste aspecto, bem como a manutenção regular desses ornamentos.

De acordo com a Secretaria de Limpeza Urbana existe um projeto de


ornamentação em desenvolvimento, o qual conta com a participação da Universidade
do Estado de Mato Grosso, campus de Nova Xavantina, esta trabalha a parte de
produção de mudas. A previsão para finalização do projeto é novembro de 2014.

Um município que tem a pretensão de desenvolver o turismo necessita investir


e incrementar a sinalização turística. Entretanto observamos em campo que em Nova
Xavantina até mesmo a sinalização de trânsito é deficitária, sendo bastante simplificada
(placas de pare, placas de sentido único de direção, de lombada, de estacionamento,
dentre outras) e em sua maioria existentes apenas em vias de maior fluxo, portanto
não atendem de forma satisfatória todas as vias de circulação do município. Não há
semáforos, as faixas de pedestres são poucas e as lombadas necessitam de pintura.

A sinalização turística é inexistente e não existem projetos aprovados para este


requisito. Alguns projetos estão cadastrados na plataforma do Ministério do Turismo e
aguardam aprovação para que os recursos financeiros sejam obtidos, pois segundo o
Secretário do Turismo e Meio Ambiente, o Governo Estadual não dispõe de recursos
para esta finalidade.

O que podemos verificar por meio da pesquisa de campo e da entrevista


realizada é que Nova Xavantina é um município com potencial turístico relevante, tanto
em espaços naturais como em área urbana, e tendo consciência disto, os gestores
públicos almejam o desenvolvimento da atividade turística de base local.

Porém, como salientamos no momento em que elaboramos as reflexões sobre


a relação urbanização e turismo, o processo de urbanização no Brasil é deficitário,
com muitos municípios apresentando o mínimo de infraestrutura urbana, e; muitas
vezes, conforme Fonseca e Costa (2004), as políticas de turismo se confundem com
as políticas urbanas. Desta forma, o município em análise é mais um exemplo destas
contradições, o poder público local tem atuado no sentido de amenizar os problemas
urbanos através de políticas de urbanização turística.

A pesquisa realizada permite-nos ressaltar que para o desenvolvimento do


turismo local será necessário grandes investimentos na infraestrutura urbana, pois
esta é imprescindível para se alcançar o objetivo desejado.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os municípios de menor porte, com pouco desenvolvimento econômico e


que apresentam potenciais turísticos têm procurado realizar ações com o objetivo
de desenvolver a atividade turística em seus territórios como forma de alavancar a
economia local, porém estes apresentam grande dificuldade nesta empreitada, uma
vez que os recursos disponíveis para a implantação da infraestrutura urbana são
escassos e esta é a base para o desenvolvimento turístico.

A análise das ações do poder público em Nova Xavantina no Estado do Mato


Grosso evidencia esta dificuldade, haja vista a cidade ser carente de infraestrutura
urbana básica, como consequência de um processo geral de urbanização
desencadeado no Brasil que tem privilegiado os grandes centros em detrimento das
pequenas cidades, especialmente as do interior do país.

Entretanto este município compõe o rol daqueles que desejam o desenvolvimento


turístico de base local, para tanto tem realizado algumas intervenções urbanas com
fins de formatar os espaços potencialmente turísticos para o atendimento do turista.
Por meio de projeto como “Balneário Praia do Sol e Praia da Lua” uma nova paisagem,
agora valorizada para o turismo, tem emergido na cidade.

Embora a bibliografia evidencie que esta forma de intervenção urbana para o


turismo produz áreas segregadas e conflitos na cidade, a pesquisa empírica mostrou
que em Nova Xavantina as intervenções realizadas procuram sanar as deficiências
de infraestrutura do município como um todo, embora as ações nos espaços
potencialmente turísticos como Praia do Sol e Praia da Lua têm sido realizadas de
forma mais intensa.

Estas ações do poder público são corroboradas pela comunidade local que
sempre reivindicou práticas que procurassem valorizar os espaços potencialmente
turísticos para que estes pudessem ter um uso que proporcionasse a sua preservação
e se revertesse em recursos para o local, uma vez que o mesmo é carente de atividades
produtivas de outra natureza.

Entretanto, é de suma importância a ressalva de que o município como um todo


é carente de infraestrutura urbana básica, por isso se faz necessária a implantação
de projetos que visem a estruturação não só dos espaços potencialmente turísticos,
mas de todo o espaço urbano para não correr o risco de emergir o processo de
segregação socioespacial na cidade, processo este que pode desencadear futuros
conflitos entre turistas e residentes e até mesmo uma antipatia pela atividade por
parte da comunidade local.

Além disto, como também já é consenso entre os estudiosos do turismo, sem


infraestrutura urbana básica será pouco provável o êxito no desenvolvimento da
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atividade, uma vez que o turista deseja consumir espaços organizados, agradáveis,
belas paisagens, bem como deseja desfrutar de conforto e comodidade, sem estes
requisitos a cidade não desempenhará atração sobre o mesmo.

É importante que se tenha claro que para o desenvolvimento da atividade no


município é necessária a realização de um planejamento que conte com a participação
de todos os agentes locais como o poder público, os empresários do trade turístico,
as instituições como universidades e a comunidade local. Este tipo de abordagem
estimulará o sentimento de pertencimento e estes agentes tornar-se-ão parte essencial
no desencadear do processo de desenvolvimento turístico. Desta forma, poderão ser
minimizados os conflitos que possam surgir e as atividades turísticas poderão atingir
um nível satisfatório para todos os stakeholders.

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ANÁLISE DA GESTÃO PÚBLICA PARA O TURISMO E O LAZER NO PARQUE


ESTADUAL SUMAÚMA (MANAUS-AM)

Alcilene de Araújo Paula1


Adriano Saldanha Rodrigues2
Susy Rodrigues Simonetti3

RESUMO: O ordenamento do uso público em Unidades de Conservação estaduais do


Amazonas está em processo de elaboração. Entretanto, algumas unidades, incluindo
os parques, têm recebido turistas para realizar diferentes atividades. No Parque
Estadual Sumaúma a visitação é uma realidade em função de estar localizado na área
urbana de Manaus. Este artigo tem como objetivo analisar a infraestrutura existente
no referido Parque para a atividade turística, em relação aos objetivos propostos
para esta categoria no Sistema Estadual de Unidades de Conservação, fornecendo
informações que possibilitem orientar as condições de uso público. Para a pesquisa
valeu-se da observação e investigação em documentos oficiais. Os dados levantados
demonstraram que o Parque Estadual Sumaúma não está preparado para receber os
visitantes adequadamente.

PALAVRAS-CHAVE: Uso público, Unidade de Conservação, Parque Estadual


Sumaúma.

ABSTRACT: The ordering of the public use of state of Amazonas Conservation Units
are currently in preparation. However, some units, including parks, tourists have
received to perform different activities. In Sumaúma State Park visitation is reality due
to be located in the urban area of Manaus. This article aims to analyze the existing
infrastructure in that park for tourism, in relation to those proposed for this category in
the State System of Conservation Units goals, providing information that enables steer
the conditions for public use. For research, he took advantage of on-site observation
and investigation in official documents. The data collected showed that the Sumaúma
State Park is not ready to receive visitors properly.

KEYWORDS: Public Use, Conservation Unit, Sumaúma State Park.

1 INTRODUÇÃO
A criação de áreas naturais protegidas tem sido uma das principais estratégias
para a conservação da natureza, tendo como principal objetivo a preservação de
espaços com atributos ecológicos importantes. O desenvolvimento da atividade turística

1 Engenheira de Pesca; Especialista em Turismo e Desenvolvimento Local. Chefe de Unidade de


Conservação da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável – SDS. E-mail: alcilenepaula@hotmail.com.
2 Licenciado em Geografia; Especialista em Turismo e Desenvolvimento Local. E-mail: aislansaldanha20@
hotmail.com
3 Bacharel em Turismo, Mestre e Doutoranda em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia
(PPGCASA/UFAM), bolsista FAPEAM. Professora do Curso de Pós-Graduação em Turismo e Desenvolvimento
Local da Universidade do Estado do Amazonas – UEA. E-mail: susysimonetti@hotmail.com
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em Unidades de Conservação tem aumentado nos últimos anos, principalmente a


partir da década de 1980, com o aumento da preocupação com relação às questões
ambientais (SANTOS & PIRES, 2008).
De acordo com o Sistema Estadual de Unidades de Conservação – SEUC,
todas as Unidades de Conservação aceitam visitação, entretanto, cada uma limita
de que forma esta visitação deve ser feita. O Parque Estadual é uma das categorias
que permite visitação para fins de recreação em contato com a natureza e de turismo
ecológico, sendo a visitação um dos objetivos básicos de sua existência.
O uso público quando bem planejado, permite o cumprimento dos objetivos
de criação de muitas Unidades de Conservação - UC, favorece o entendimento e a
apropriação desses espaços pelas pessoas e, assim, estreitando os laços afetivos
entre a sociedade e o ambiente natural. É uma alternativa de utilização sustentável
dos recursos naturais e culturais e contribui para a promoção do desenvolvimento
econômico e social das comunidades locais (TAKAHASHI, 2004; MMA, 2006).
Observa-se no Brasil, um crescimento significativo da demanda por diversas
formas de lazer e esporte em contato com a natureza. Os gestores de UC têm a difícil
tarefa de conciliar o uso público com a conservação dos recursos naturais e culturais.
Para compatibilizar objetivos tão distintos como a conservação da biodiversidade,
a recreação e a interpretação da natureza, é essencial pesquisar tanto sobre as
características dos visitantes e os tipos de usos praticados, bem como conhecer as
condições ambientais do local (TAKAHASHI, 2004).
De forma ideal, planejamento e normatização devem se dar anteriormente ao
início do fluxo de visitação, e devem estar associados às estratégias de controle e
monitoramento das atividades. Mas, na atualidade, nas UC estaduais do Amazonas,
a visitação começa a se desenvolver por força da demanda turística local antes da
unidade estar implementada e preparada para tal uso.
Nesse sentido, percebe-se que no Parque Estadual Sumaúma, localizado na
área urbana de Manaus, a visitação é uma realidade, mas há um descompasso entre
a implementação da unidade e a atual demanda de visitantes?
É nesse contexto que se insere o presente artigo, cujo objetivo é analisar a
infraestrutura existente no Parque Estadual Sumaúma para a atividade turística em
relação aos objetivos propostos para esta categoria no Sistema Estadual de Unidades
de Conservação, fornecendo informações que possibilitem orientar as condições de
uso público.

2 SISTEMA ESTADUAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO ESTADO DO


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AMAZONAS – SEUC
Instituído pela Lei Complementar no. 53, de 05 de junho de 2007, o Sistema
Estadual de Unidades de Conservação baseia-se no Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza – SNUC (Lei no. 9.985, de 18 de julho de 2000). Esta
lei estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das Unidades
de Conservação estaduais, classifica infrações e trata das infrações e penalidades
cometidas em seu âmbito (AMAZONAS, 2007).
O processo de elaboração da Lei do SEUC trouxe muitos avanços no que se
refere a temas que ainda não foram tratados pelo Sistema Nacional (SNUC). Estes
avanços são fundamentais para consolidar a execução da atual política de conservação
que vem sendo adotada pelo governo do Estado do Amazonas.
Categorias inéditas de UC foram inseridas no contexto do Sistema Estadual,
tais como Estrada Parque (Art. 23) e o Rio Cênico (Art. 25). Foi redefinida a Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN) como categoria de proteção integral e criada
a Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável – RPDS na categoria de uso
sustentável para as áreas particulares.
A Lei estabelece um capítulo específico que trata da questão de fiscalização,
infrações e penalidades, estabelecendo inclusive os valores das multas e dando
maior agilidade aos processos de aplicação e execução das mesmas. Inclui também
um capítulo que trata do ordenamento fundiário das UCs garantindo os contratos
de concessão de direito real de uso (CDRU), atendendo as suas finalidades
socioambientais.
No Estado do Amazonas, 24% do território são destinados às UCs federais e
estaduais em diferentes categorias, com uma área de 36.520,440 milhões de hectares,
sendo 11,92% do governo Federal e 12,19% do governo estadual (AMAZONAS, 2009).
O SEUC possui sob sua responsabilidade, 41 UC sendo 33 de uso sustentável
e 08 de proteção integral, correspondendo uma área de 18.808.342,59 milhões de
hectares. São 15 diferentes categorias de manejo, das mais restritivas às menos
restritivas (AMAZONAS, 2011):

• Unidades de Proteção Integral: objetivo básico de preservar a natureza,


sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com
exceção dos casos previstos na Lei. As categorias de UC de Proteção
Integral são: Estação Ecológica (ESEC), Reserva Biológica (REBIO),
Parque Estadual (PAREST), Monumento Natural, Refúgio de Vida
Silvestre e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

• Unidades de Uso Sustentável: objetivo básico de compatibilizar a


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conservação da natureza com o uso sustentável de parcela de seus


recursos naturais. As categorias de UC de Uso Sustentável são Área
de Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante Interesse Ecológico
(ARIE), Floresta Estadual (FLORESTA), Reserva Extrativista (RESEX),
Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS),
Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável (RPDS), Estrada
Parque e Rio Cênico.
Os Parques Estaduais são de posse e domínio públicos, devendo as áreas
particulares incluídas em seus limites serem desapropriadas na forma de lei. A
visitação pública deve ser autorizada pelo gerente da Unidade, respeitando as normas
e restrições estabelecidas no Plano de Gestão e pelo órgão responsável por sua
gestão e as disciplinas previstas em Regulamento.
A gestão das UC Estaduais é realizada pelo Centro Estadual de Unidades de
Conservação – CEUC e foi instituído pela Lei no. 3.244, de 04 de abril de 2008, como
parte da Unidade Gestora do Centro Estadual de Mudanças Climáticas e do Centro
Estadual de Unidades de Conservação – UGMUC, vinculado à Secretaria de Estado
do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas – SDS. O CEUC
tem como missão “Implementar e consolidar o Sistema Estadual de Unidades de
Conservação do Amazonas promovendo a conservação da natureza, a valorização
socioambiental e o manejo sustentável dos recursos naturais” (CEUC, 2009).

3 USO PÚBLICO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - UC


Todas as categorias de manejo de UCs são passíveis de visitação pública,
desde que observadas as regras contidas no plano de manejo e no plano de uso
público. A visitação em UC é conhecida pelo termo uso público, considerando os
pesquisadores, estudantes, professores, turistas, voluntários e a própria população
local como usuários da área.
O uso público é conceituado como o conjunto das atividades recreativas,
educativas e de interpretação ambiental realizadas em meio natural e em conformidade
com os objetivos de manejo da UC (IBAMA, 2005). O Programa de Uso Público (PUP)
é um dos componentes do Plano de Manejo, no caso das UC do SEUC denomina-se
plano de gestão.
O Plano de Gestão é um documento técnico e gerencial, fundamentado nos
objetivos da UC que estabelece o seu zoneamento, as normas que devem regular o
uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação da estrutura
física necessária à gestão da unidade (AMAZONAS, 2007).
Os objetivos do SEUC preveem o favorecimento de condições para o
desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação
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em contato com a natureza e o turismo sustentável (AMAZONAS, 2007). As diretrizes


do SEUC celebram ações e atividades que busquem apoio, cooperação e parcerias
entre as esferas governamentais, as organizações da sociedade civil e pessoas físicas
para o desenvolvimento de estudos, pesquisas científicas, práticas de educação
ambiental, atividades de lazer e de turismo sustentável, monitoramento, manutenção
e outras atividades de gestão das UC (AMAZONAS, 2007).
No entanto, é necessário entender as implicações do uso público nas UC,
pois são muitos os problemas de manejo que tem origem na visitação dessas áreas
(HENDEE et al, 1990 apud BARROS, 2003). Vale ressaltar que algumas atividades
relacionam-se às diferentes políticas setoriais do governo e existe a intenção de
desenvolvê-las em conformidade com as orientações de tais políticas, como é o caso
do turismo e da educação ambiental (IBAMA, 1999).
A visitação em UCs podem gerar impactos positivos e negativos, inclusive para
as áreas de entorno. Sua influência pode gerar alterações no ambiente físico, social,
cultural e econômico. Normalmente, os impactos positivos são a geração de emprego
e renda para as comunidades locais, as possibilidades de interação social e cultural
entre visitantes e comunidade, a geração de renda para a própria UC, através da
cobrança de taxas e a venda de material informativo ou de souvernirs (BENI, 2001;
COOPER, 2001). Com relação aos impactos gerados pelos visitantes, é importante
ressaltar que os impactos positivos geralmente são mais promovidos, enquanto que os
custos ambientais e sociais causam menor preocupação (GIONGO, BOSCO-NIZEYE,
WALLACE, 2005).
Os resultados negativos resultantes da visitação, conforme menciona Pádua
(1997), são resultantes da falta de conhecimento dos objetivos de manejo e conservação
das áreas naturais protegidas. Possivelmente, este aspecto seria facilmente resolvido
por meio de ações e programas de educação ambiental ou mesmo de um programa
de relações públicas. Segundo Niefer (2002), quanto maior é o número de visitas de
um indivíduo a uma UC, maior é a sua sensibilidade aos objetivos de manejo e as
regras de visitação.
O uso público deveria ser sempre precedido de plano de gestão, que inclui
o adequado zoneamento da área, o plano de uso público e define os objetivos da
UC. Todavia, como o plano de gestão é um documento de difícil confecção, por ser
muito caro e exigir pesquisa detalhada da área, com inventário preciso, dentre outros,
muitas vezes a visitação é permitida sem que esse documento tenha sido elaborado,
o que pode gerar consequências bastante graves para a unidade.
Independente da existência do plano de manejo, a visitação em UC tem
aumentado muito nos últimos anos, em virtude da popularidade que o turismo
ecológico tem alcançado. Dessa forma, há a necessidade de conciliar uso público
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com preservação da biodiversidade e demais recursos.

Isso não significa que se deva proibir a visitação nas UC pois, muito embora ela
gere impacto, também oferece diversas vantagens, como: educação ambiental, lazer
em contato com a natureza, geração de receitas para a UC, geração de renda para
população do entorno.

4 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA


Segundo Dencker (1998), tanto a pesquisa quantitativa quanto qualitativa
são empíricas, pois com ou sem interpretação de dados, maior ou menor distância
do objetivo investigado, com os dados mais ou menos esquematizados, a base é a
realidade empírica, a observação dessa realidade por meio de métodos empíricos
experimentais. Dessa forma, esta pesquisa é considerada empírica, exploratório-
descritiva e de caráter qualitativo. A pesquisa qualitativa faz emergir aspectos
subjetivos e atingem motivações não explícitas, ou mesmo conscientes, de maneira
espontânea. Ela foi usada para se buscar a natureza geral de uma questão, nesse
caso a análise centralizou-se na infraestrutura do Parque Estadual Sumaúma para a
atividade turística, como forma de contribuir com o ordenamento da atividade turística,
abrindo espaço para a interpretação.
Realizou-se ainda uma pesquisa bibliográfica com os principais autores
relacionados aos temas da pesquisa, tais como: uso público, turismo e unidades de
conservação. Também foram analisados documentos oficiais relacionados com a
referida UC, como: plano de gestão, decretos, leis, relatórios.
Na pesquisa de campo utilizou-se a observação não participante, permitindo
observar detalhes e fazer anotações em cadernos de campo que, posteriormente,
foram analisadas. Os registros fotográficos também contribuíram para ilustrar o
trabalho mostrando a realidade do objeto estudado.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O Parque Estadual Sumaúma (PAREST Sumaúma) é uma Unidade de


Conservação de Proteção Integral que compõem o Sistema Estadual de Unidades
de Conservação (SEUC) do Estado do Amazonas. Criado pelo Decreto Estadual no.
23.721, de 05 de setembro de 2003 (AMAZONAS, 2003), e redelimitado pela Lei no.
3.741, de 26 de abril de 2012 (AMAZONAS, 2012), possui uma área de 526.197,16
m2 (Figura 01).

FIGURA 01- MAPA DO PARQUE ESTADUAL SUMAÚMA


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FONTE: LABGEO – CEUC/SDS, 2012.

É a única Unidade de Conservação Estadual em área urbana e está localizada


na zona de maior densidade populacional na cidade de Manaus, capital do Estado do
Amazonas. Manaus é o oitavo município mais populoso do Brasil, possui aeroporto
internacional, transporte fluvial e transporte público municipal, esses fatos conferem à
área facilidades de acesso.

O PAREST Sumaúma apresenta grande relevância ao SEUC por contribuir


para a manutenção da biodiversidade e dos recursos genéticos, por proteger e evitar
ameaças às espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, por contribuir para a
preservação e a restauração de ecossistemas, por proporcionar meios e incentivos
para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental, por
favorecer condições e promover a educação e a interpretação ambiental, a recreação
em contato com a natureza e o turismo sustentável.

O benefício social desta área para o município é relevante, pois melhora e


equilibra o microclima urbano, minimiza a poluição atmosférica, sonora e visual,
além de proporcionar o contato com a natureza por meio da pesquisa, do turismo, da
recreação e da educação. O Parque é uma das poucas áreas preservadas para refúgio
do primata sauim-de-coleira, espécie endêmica da região e criticamente ameaçada de
extinção (SDS, 2009).
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A área florestal da Unidade é componente do bioma Amazônico, possuindo uma


diversidade de espécies da floresta ombrófila densa, sendo um relevante exemplar de
floresta dentro da cidade na educação para a conservação da natureza (SDS, 2009).

O parque recebeu esse nome por ter em sua área algumas espécies de Sumaúma
que se destacam no seu interior. A Sumaúma é uma árvore frondosa considerada
sagrada pelo Povo Maia e pelos que vivem na floresta, seu nome científico é Ceiba
pentandra e possui crescimento rápido e pode atingir 70 metros de altura (GRIBEL et
al 1999).

No entorno do PAREST Sumaúma há uma grande concentração de crianças,


jovens, universitários e organizações sociais que sinalizam condições favoráveis ao
sucesso do Programa de Uso Público da Unidade através da pesquisa científica, da
educação e interpretação ambiental e da recreação. Vale ressaltar que a área da
Unidade foi reivindicada para a preservação pelos próprios moradores do entorno.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para que um Parque possa receber seus visitantes é necessário que o mesmo
disponha de mínima infraestrutura e serviços eficientes, tendo em vista que o próprio
parque com suas atividades são as atrações para os visitantes. No que diz respeito à
infraestrutura, como o tema abordado é em uma UC, é necessário adaptá-la para que
possa atender às necessidades dos visitantes.
a oferta de infra-estrutura mínima é condição essencial para o atendimento às
necessidades da demanda turística. Porém, a satisfação desse item engloba
também a necessidade de planejamento com o mínimo impacto ambiental e
total integração entre grupos sociais envolvidos. (COSTA, 2002, p 41).

Dada a devida importância ao Parque como patrimônio natural, a melhoria da


qualidade de vida é um fator importante para a população da região. No turismo, o
planejamento é fundamental, assim é necessário organizar a infraestrutura básica
para que tal atividade se desenvolva.
A infra-estrutura turística de um núcleo abrange a infra-estrutura de acesso,
a infra-estrutura urbana básica, os equipamentos e serviços turísticos, os
equipamentos e serviços de apoio e os recursos turísticos. A soma e o inter-
relacionamento desses elementos será a infra-estrutura que a cidade possui
para o turismo (BARRETO, 2003, p. 48).

A estruturação dos parques tem que estar em sintonia com a implementação


de infraestrutura de apoio ao turismo e com a promoção turística destas áreas, neste
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sentido o “Programa turismo nos parques” dispõe sobre a infraestrutura mínima para
esta categoria de unidade de conservação, a saber: sede administrativa, portaria,
centro de visitantes, sinalização e trilhas de acesso aos principais atrativos (BRASIL,
2008).

5.1 INFRAESTRUTURA NO PARQUE ESTADUAL SUMAÚMA

Em relação à infraestrutura existente no Parque Estadual Sumaúma, foram


observadas as seguintes:

∗ Centro de Visitantes – possui uma cozinha, dois banheiros, um


escritório e almoxarifado. Está localizado no interior do parque e é onde acontece
o primeiro contato com o visitante, de acordo seu zoneamento encontra-se na
Zona de Uso Intensivo, neste local também acontecem reuniões e eventos da
semana do meio ambiente (Figura 02).

FIGURA 02 - CENTRO DE VISITANTES

FONTE: ACERVO SUMAÚMA – CEUC/SDS. 2010.

∗ Energia Elétrica – a concessionária Eletrobrás Amazonas Energia


instalou a energia elétrica em 2010 como compensação ambiental de quatro
usinas termoelétricas implantadas no interior do Estado do Amazonas.

∗ Estacionamento – área asfaltada destinada para veículos com


vagas para aproximadamente 20 (vinte) carros (Figura 03).

FIGURA 03 - ÁREA PARA ESTACIONAMENTO


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FONTE: ADRIANO SALDANHA, 2012.

∗ Biblioteca e Laboratório – prédio com duas salas, dois banheiros


e um pequeno hall para exposição. Foi instalado em 2009, mas até o momento
não foi equipado por ausência de segurança, está sem funcionamento (Figura
04).

FIGURA 04 - BIBLIOTECA E LABORATÓRIO

FONTE: ADRIANO SALDANHA, 2012.

∗ Viveiro de Mudas Florestais – com capacidade de armazenamento


para 3.000 (três mil) mudas, porém encontra-se em condições precárias de uso
(Figura 05).
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FIGURA 05 - VIVEIRO DE MUDAS FLORESTAIS

FONTE: ADRIANO SALDANHA, 2012.

∗ Trilhas – o sistema de trilhas ecológicas teve sua implantação


concluída em 2009 e foram considerados alguns potenciais para estimular
este processo, são eles: oportunidades de interpretação de natureza, aspectos
cênicos e paisagísticos, características naturais (igarapés), acessibilidade
plena, apoio à atividade de manejo e, principalmente, integração com sistema
de trilhas já existentes, que foram utilizadas no passado para atividades de
extrativismo e de caça predatória. Essas trilhas são numeradas para facilitar
sua identificação em relatórios técnicos e mapas e vão do número 01 ao número
08, mais a trilha de acesso, sendo que as trilhas 05 e 06 foram canceladas
no período de execução, pois implicariam em aumentar a vulnerabilidade do
parque. A Figura 06 mostra o estado de quatro dessas trilhas.

FIGURA 06 - TRILHAS 1 E 2 (PARTE SUPERIOR) E TRILHAS 7 E 8


(PARTE INFERIOR)
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FONTE: ACERVO SUMAÚMA – CEUC/SDS, 2009.

∗ Sinalização – existem algumas placas de sinalização, embora as


informações estejam desatualizadas (Figura 07).

FIGURA 07 - PLACA DE SINALIZAÇÃO

FONTE: ACERVO SUMAÚMA – CEUC/SDS. 2008.

Sobre o desenvolvimento das atividades os visitantes geralmente são alunos do


ensino fundamental que são recepcionados no Centro de Visitante e logo em seguida
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saem em caminhada para percorrer as trilhas. Durante a caminhada nas trilhas são
abordados temas sobre o meio ambiente, o objetivo é oferecer ao visitante mais uma
opção de atividade, possibilitando a interação com a natureza e o aprendizado. A
finalidade das trilhas pode ser de interpretação ou simples observação. Dentre as
trilhas há uma em especial construída em concreto com a intenção de atender tanto
aos cadeirantes quanto as crianças.
O parque recebe público diverso, desde grupos de católicos para retiros
espirituais a grupos da terceira idade. Percorrendo as trilhas, observa-se que ao longo
delas existem alguns espaços onde são desenvolvidas atividades lúdicas com temas
voltados para o meio ambiente. Alunos de escolas estaduais e municipais participam e
interagem com instrutores em busca de conhecimentos a respeito do tema abordado.

Em relação à infraestrutura prevista no Plano de Gestão do Parque Estadual


Sumaúma (AMAZONAS, 2009), temos:

∗ No Programa de Uso Público – implantar 08 trilhas interpretativas


(guiadas); implantar 02 trilhas autoguiadas;

∗ No Programa de Operacionalização – construir os banheiros; construir


estrutura de guarida na entrada do parque; planejar e construir cerca telada e instalar
placas de sinalização para identificação dos limites; adquirir e instalar lixeiras de coleta
seletiva; instalar placas de sinalização nas áreas adjacentes à área urbana pública e
terrenos da Rua 47; adquirir e instalar bebedouros; instalar escritório.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muito embora a visitação à UC em geral seja admitida pelo SEUC, o principal
objetivo de qualquer uma é a proteção do ambiente natural, com especial destaque
para os recursos da biodiversidade; a visitação deve estar prevista no Plano de
Gestão, que envolve o Plano de Uso Público (PUP) e ser realizada de acordo com as
restrições nele impostas.
De acordo com informações obtidas durante esta pesquisa, foi possível observar
que:

• a infraestrutura e equipamentos de apoio ao uso público do Parque


Estadual Sumaúma não atendem completamente às necessidades de uso atual,
principalmente em termos de informação, interpretação e manutenção das trilhas e
viveiro de mudas florestais;

• falta a implementação do Plano de Gestão no que tange ao Programa


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de Uso Público e Operacionalização;

• é notória a ausência de um Plano de Uso Público.

Tendo em vista os objetivos e as observações apresentadas, seguem algumas


recomendações acerca da infraestrutura para o uso público, que podem vir a contribuir
no planejamento e ordenamento da atividade turística:

• Investir em equipamentos de interpretação ambiental para ambientes


internos como o centro de visitantes;

• Implantar sinalização tanto informativa quanto interpretativa nos atrativos,


áreas de uso público e nos limites do parque e seu entorno;

• Elaborar de forma participativa e, a partir dos aspectos definidos no


Plano de Gestão, um Plano de Uso Público visando prioritariamente o ordenamento e
monitoramento das atividades realizadas;

• Adequar os equipamentos de acesso, recepção e recreação, atendendo


ainda aos portadores de necessidades especiais como estímulo a um público
diferenciado;

• Implantar instalações e estruturas para paradas e aproveitamento do


tempo livre das atividades realizadas no parque com quiosques com mesas e cadeiras,
bancos, áreas de descanso e observação. Nesse sentido, é importante estabelecer
um padrão para as construções e instalações do parque, principalmente em termos
de matéria prima, mantendo o conforto e aconchego das atuais, mas sem primar pelo
bem estar.

Percebe-se um esforço do Estado nesses últimos anos para a implementação da


área, mas pode-se afirmar que, tanto em recursos humanos, quanto em infraestrutura,
ainda há necessidade de investimentos para conferir à Unidade uma melhor condição
de gerenciamento. A falta de garantia da manutenção da equipe, contratos temporários
e a dependência de recursos de doação também são fatores que fragilizam a gestão
e a atividade turística.

As dificuldades de ordenamento e implementação das atividades de lazer e


recreação tem sido grandes na medida em que a ausência de infraestrutura adequada
é uma realidade, paralelamente à crescente demanda por contatos com a natureza.
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7 REFERÊNCIAS

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Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SDS,
Manaus, Amazonas, 2009.

AMAZONAS. Centro Estadual de Unidades de Conservação: Estrutura


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Sustentável – SDS, Manaus, Amazonas, 2009.

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Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SDS,
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AMAZONAS. Relatório de Gestão 2011. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e


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de 2003), e dá outras providências. Diário Oficial do Amazonas. 2012.

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TURISMO, A CIDADE E O URBANO: UMA ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS


CONTEMPORÂNEAS.
Maurício Ragagnin Pimentel1
Antonio Carlos Castrogiovanni2

RESUMO: este ensaio faz parte de uma pesquisa em que, num certo momento textual,
procura, através da contraposição de três concepções distintas de turismo, discutir a
relação entre esse conceito e os de urbano e de cidade. É uma pesquisa qualitativa,
amparada na Complexidade. Percebem-se as dificuldades do termo ‘turismo urbano’
e a necessidade de distingui-lo das práticas turísticas que têm as cidades como palco,
e cuja presença é, através dos tempos, um signo de ‘urbanidade’. Na sequência,
analisa-se essas relações sob a arquitetura produtiva do capitalismo tardio, em que
é atribuído ao turismo um novo papel do turismo na economia das metrópoles, tendo
em vista o aumento das mobilidades e a tendência de mesclar o binômio moderno
tempo de trabalho e de não-trabalho. No entanto, no caso das metrópoles brasileiras,
percebem-se também outras tendências contemporâneas como a migração da
sociabilidade para novos espaços semiprivados, com implicações sobre a dinâmica
dos lugares públicos outrora consolidados enquanto espaços identitários e atrativos
turísticos, o aumento dos condomínios fechados, e a escassez de informação dirigida
aos visitantes; elementos que irão minar o discurso turístico da cidade enquanto lugar
do encontro e da diversidade e questionar a configuração das metrópoles brasileiras
enquanto destinos, com seus respectivos imaginários e práticas turísticas a esses
associados. O que por fim irá retornar ao questionamento das próprias concepções de
turismo colocadas no início do ensaio. Em que pese certas constatações tenham sido
generalizadas, esse ensaio tomou como base de suas reflexões a cidade de Porto
Alegre.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo em cidades. Urbanização contemporânea. Metrópoles
brasileiras. Porto Alegre.

ABSTRACT: This essay aims to discuss, through the contraposition of three


distinguished concepts of tourism, the relation between tourism and the notions of
urban and of city. It notes the difficulties with the term ‘urban tourism’. It also point to
the need to differ the latter from the tourist performances staged in cities, presences
which arte a sign of ‘urbanity’ throughout time. Following, these relations are analyzed
under the productive architecture of late capitalism, in which a new role is attributed to
tourism in the metropolises economies, considering the rise of mobilities e the tendency

1 Mestre em Geografia pela UFRGS. Doutorando em Geografia na UFRGS. Professor do Cur-


so de Turismo Binacional da FURG. E-mail: mauriciopimentel@furg.br
2 Doutor em Comunicação Social pela PUCRS. Professor do Programa de Pós-Graduação em
Geografia da UFRGS. E-mail: castroge@ig.com.br
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to merge the modern dichotomy between labor time and non-labor time. However, in
the case of Brazilian metropolises there are other contemporary trends such as the
migration of cities sociability to new semi-privatized spaces, which has implications on
the dynamics of public places formerly consolidated as spots of social identity and as
tourist sights, the rise of gated communities, and the lack of information addressed to
visitors. These aspects will undermine the discourse of the city as place of encounter and
diversity and will question the configuration of Brazilian metropolises as destinations,
for which there should be associated with tourist imageries and performances. At last,
this considerations will return to the questioning of the very own tourism concepts
under which the essay started. Despite some findings were generalized, this essay
drew its conclusions from the reality of Porto Alegre, Brazil’s southernmost capital.
KEY-WORDS: City tourism. Contemporary urbanization. Brazilian metropolises. Porto
Alegre.

1. PROVOCAÇÕES INICIAIS

Nos meses que antecederam a Copa do Mundo no Brasil uma das pautas
presentes na mídia era a discussão sobre em que medida as cidades-sede preenchiam,
ou não, os requisitos para serem consideradas cidades turísticas. Opiniões como: “o
que virão fazer aqui fora os jogos? Não tem nada para ver, e nem tem praia”, eram
contrastadas com anúncios de investimentos importantes na ampliação da oferta
hoteleira e no discurso do turismo como justificativa para as intervenções urbanas.
Por outro lado, havia a tentativa de capturar a opinião sobre o que os estrangeiros
“pensam de nós” e sua impressão de surpresa, apreciação ou indiferença sobre
determinados ícones identitários da mitologia fundacional de cada destino. Já aos
visitantes domésticos, que aportam às cidades por inúmeras razões, não era conferido
o status de turistas, pois “são gente nossa, fazem parte do movimento normal”. Será
que esse movimento é turismo? Ou para isso é necessária a figura do ‘outro’, o turista
estrangeiro rico no paraíso (sub) tropical?

Esse contexto parece desafiar nossa compreensão sobre os termos turismo,


urbano e cidade e provocar a necessidade de reflexão sobre sua interação na
arquitetura produtiva atual que conecta as metrópoles brasileiras. É o que procuraremos
realizar neste ensaio a partir de uma costura entre três pontos: diferentes conceitos
e compreensões sobre turismo, desde OMT (2003) , Maccannell (2006) Urry (2001),
Équipe MIT (2005); a relação dessas compreensões com as noções de urbano e
de cidade, tomando a última como palco de práticas turísticas (MONTE-MÓR, 2011;
GASTAL, 2006; KADRI, 2007; HAYLLAR et al, 2011); e as tendências recentes da
urbanização na América Latina, apresentadas por De Mattos (2006) e por Abramo
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(2007). Como realidade sobre a qual buscamos dados e exemplos para ancorar nossa
reflexão está a cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.

O espaço urbano é um objeto de estudo consolidado nos estudos geográficos.


No entanto, nas investigações de geografia urbana o turismo tem sido uma temática
marginal, e nas abordagens geográficas sobre o turismo a cidade, enquanto campo
de análise, não tem tido o destaque que merece, se considerarmos a sua importância
como destino de boa parte dos fluxos turísticos, o que parece ser consenso entre as
obras recentes nesta temática (SPIROU, 2011; KNAFOU, DUHAMEL, 2007; SELBY,
2004). Há uma predominância na literatura sobre turismo em cidades do estudo
de grandes intervenções urbanas, muitas associadas a algum megaevento, com
propósito de refuncionalizar antigas áreas industriais ou portuárias tornando-as polos
de lazer e entretenimento. Tais discussões, em geral, pautam-se por julgamentos e
avaliação dos resultados dessas intervenções. Outra abordagem é tomar as cidades
como marcas, avaliando os valores de sua imagem e sua eficiência na atração de
visitantes e investimentos. O que poderia ocorrer com outros objetos ou lugares,
não havendo o exame de algo particular ao turismo em ambiente urbano, ou sobre
a influência do urbano no turismo. Devido à natureza mercadológica desses estudos
turísticos é possível perceber em outras áreas acadêmicas, como a Geografia, por
exemplo, certo pressuposto que tende a vincular o termo turismo necessariamente
ao termo consumo, o que gera alguns desentendimentos que inibem a produção do
conhecimento para além dos estereótipos, que tanto povoam a (má) compreensão da
figura do ‘turista’, como bem aponta o estudo de Urbain (2002), ‘O idiota da viagem’.

2. TURISMO EM TRÊS DEFINIÇÕES

Como uma prática social espontânea que foi posteriormente conceitualizada,


por vezes tem-se a impressão de que as teorias sobre o turismo têm dificuldade em
capturar a complexidade de sua natureza e de suas transformações. Sem pretensão
de exaustividade, consideramos três abordagens que julgamos pertinentes para a
finalidade deste trabalho.

a) O interesse científico inicial sobre o turismo advém da constatação de suas


implicações econômicas na balança de pagamentos e no ingresso de divisas para as
nações, a exemplo das contribuições da Escola de Berlim. A partir dessa percepção, ao
turismo foi atribuída a natureza de mercado, como no termo inglês industry, entendido
a partir da relação entre oferta e demanda. Nessa perspectiva o turista é visto enquanto
consumidor e os locais que ele visita são produtos turísticos. Grande parte dos esforços
de analíticos é focada em como os destinos podem inserir-se de modo mais eficiente
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nesse mercado, maximizando os benefícios – renda, divisas, empregos, imagem, soft


power3– e minimizando os possíveis efeitos negativos – dependência externa, passivos
ambientais, sazonalidade, desigualdade social –, além de tratar da própria ampliação
desse mercado através da diminuição de barreiras alfandegárias, vistos, taxas sobre
transporte e sobre outras atividades consideradas características do turismo. Uma
definição de turismo que o denota por essa ontologia e que se pretende consensual
é a da OMT (2003, p.22) – agência das Nações Unidas, composta e financiada por
associados dos setores público, privado e organizações sem fins lucrativos –, para
a qual: “turismo [é]: as atividades de pessoas que viajam para lugares afastados
de seu ambiente usual, ou que neles permaneçam [em acomodações privativas ou
coletivas no local visitado] por não mais de um ano consecutivo, a lazer, a negócios
ou por outros motivos”. Essa definição possibilitou muitos avanços no entendimento
do turismo, em especial por ser ponto de partida para coleta de dados estatísticos. No
entanto, no estudo da relação entre turismo e cidade é crucial considerar que desde
essa perspectiva, alguém que vai a um destino a trabalho e paga por hospedagem
é considerado um turista, enquanto aquele visitante que realiza atividades de lazer e
pernoita na casa de amigos e parentes não. Um relato sobre as insuficiências dessa
definição e seus corolários pode ser visto em Duhamel (2013)

b) Outra perspectiva teórica sobre o turismo surge desde estudos culturais e


sociológicos, que irão considerá-lo um produto da sociedade contemporânea e um
elemento para a sua compreensão. Maccannell (2006) lança o tópico do turismo como
uma busca por autenticidade, em uma sociedade em que o indivíduo foi alienado
do seu trabalho. O turista seria um peregrino moderno, em busca de símbolos que
autentiquem e deem sentido ao mundo e à sua existência. O autor vai estudar a partir
da semiótica o que chama de estrutura de display, em que um sight (vista, ou um
atrativo) é marcado por determinadas informações a partir das quais os visitantes o
significam, sendo que, muitas vezes, o envolvimento é maior com marcador do que
com o próprio sight. A estrutura display que caracteriza o turismo não se restringe
aos visitantes em uma terra estranha, mas é pervasiva da sociedade em situações
em que há essa busca por mostrar os bastidores – como nas vitrines para a cozinha
nos restaurantes – e dar um toque autêntico, mesmo que seja uma autenticidade
reconhecidamente encenada – como os shows folclóricos. Outra contribuição
importante é a de Urry (2001) que, baseado no olhar clínico de Foucault, propõe a
categoria ‘Olhar do Turista’, que corresponde à formação e institucionalização de um
regime de visualidade pautado pela viagem e que valoriza elementos que merecem,
ou não, serem vistos, bem como os comportamentos dos turistas diante dessa
alteridade. Urry (2001) ainda aponta para a busca pela distinção social dos turistas
3 Soft power: termo das Relações Internacionais que designa a habilidade de um ator em influenciar os
outros por sua cultura e seus valores, estabelecendo preferências e inspirando os demais a buscarem os mesmos
fins. Esse é, assim, um instrumento de poder além dos tradicionais usos de força, coação, ou de recursos, indução.
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ao buscar vincularem-se a determinados lugares, ou comportamentos associados à


determinada classe. Os objetos e regimes de comportamento do “Olhar do turista”
seriam uma lupa para compreender melhor a sociedade pós-moderna.

c) A abordagem anterior é tem origem na bibliografia anglo-saxã, a terceira


proposta é de raiz francófona. Desde a Europa do século XVIII, o turismo foi
transformando-se, passando a englobar novos lugares, novos comportamentos,
novos significados e a associar agentes diversificados. É importante perceber que
as inovações vinculadas a essa prática social surgiram, e continuam a surgir, em
contextos espaço-temporais determinados, e são levadas a cabo por agentes
também específicos, no que a Équipe MIT (2005) denomina “momento de lugar”. Por
exemplo, o costume do banho marítimo consolida-se no gelado mar de Brighton no
Reino Unido, a partir de 1753, com as indicações do médico Russel. Já a prática
do banho em águas quentes e do bronzear-se só irá surgir nos Estados Unidos no
século XX. Essas inovações sublinham o caráter situado e múltiplo do turismo, que
não pode ser compreendido quando se lhe dota a natureza única de mercado. Assim,
a Équipe MIT (2005, p.342) define turismo como: “sistema de atores, de lugares e de
práticas permitindo aos indivíduos a recreação através do deslocamento e da vivência
temporária em outros lugares.” Tal sistema irá constituir-se de modo diverso em cada
destino, na medida em que conecta atores, lugares e práticas diferentes. No entanto,
a partir do estudo de diversas situações foi possível estabelecer alguns elementos
do “DNA” dos lugares turísticos, úteis para a investigação de novos lugares, de suas
transformações e da difusão de novas práticas. O quarteto fundador, correspondente a
quatro tipos de atores recorrentes que intervêm em tornar os lugares turísticos: artista
ou cientista, o próprio turista, o investidor ou incorporador, os poderes públicos. Em
seguida, o estudo do processo de formação do olhar e do simbolismo sobre aquele
lugar, da frequentação e do início dos fluxos turísticos, do processo de equipá-lo e
dotá-lo de infraestrutura, de legislar e planificar sobre o turismo, e uma análise das
práticas turísticas ali presentes, que, em geral, enquadram-se em três categorias:
descansar, descobrir e jogar.

3. O TURISMO, O URBANO E A CIDADE: TENDÊNCIAS NO CAPITALISMO


TARDIO DESDE O LOCAL PORTO ALEGRE (RS).

O fenômeno urbano está vinculado à história moderna. As cidades são


representações dos macros movimentos dos sujeitos que atuam com grande
capacidade de organização, transformação e reordenação. Elas são um recorte do
mundo, onde, independentemente de suas dimensões ou relevância regional, vibram
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e se transformam de acordo com as necessidades e solicitações das políticas e


movimentos sociais locais, atrelados cada vez mais aos movimentos globais. As cidades
são produtos culturais e a materialização do discurso, os textos que as compõem
revelam lógicas do modo de pensar a ordenação territorial. Fruto da construção social
e cultural carregam na sua corporeidade, em cada parte, a totalidade das condições
de sua [re]construção (CASTROGIOVANNI, 2013).

Tendo em vista as três possibilidades de compreensão do turismo, como estudar


a sua relação com o urbano e com a cidade?

Um ponto de partida seria a reflexão de Monte-Mór (2011) sobre a relação


entre rural e urbano, campo e cidade. Nesse sentido, o turismo, de acordo com as
concepções (b) e (c), supramencionadas, nasce em uma sociedade urbana capitalista,
como discutido por Pimentel (2010). A sociedade industrial e burguesa destrói o ócio
como norma, instituindo o trabalho como valor universal (DEPREST, 1997). O próprio
modo de vida urbano então ascendente contribui para tal ruptura, ao vir a significar,
entre outras coisas, uma nova temporalidade. O tempo do trabalho passa a ser ditado
pelo relógio, cronométrico, possibilitando sua oposição com o tempo cronométrico do
não-trabalho. Segundo Dumazedier (2004), para as sociedades rurais os dias sem
trabalho não possuíam o caráter de liberação que ganharam as férias e os fins-de-
semana para os habitantes da urbe, pois estavam ligados essencialmente ou a fins
espirituais, ou à impossibilidade de labutar devido ao clima. O dia sem trabalho do
camponês tinha, ao invés, uma conotação negativa, e o repouso dos trabalhadores
estava inserido no próprio ritmo de trabalho, naquela época mais ligado aos próprios
ritmos da natureza.

Assim, o turismo parece ser um vetor de expansão da revolução urbana, de


que comenta Lefebvre (2002). A cidade industrial sofre um processo de implosão –
concentração de pessoas, de atividades, de instrumentos, de pensamentos – para sua
posterior explosão – projeção de fragmentos múltiplos de signos urbanos, estendendo
a urbanização à sociedade como um todo. O campo, sinônimo de autonomia alimentar,
e de um modo de vida próprio, passa a ter sua produção convertida em produção
industrial e subordinada às lógicas e demandas urbanas. O turismo ao ser portador
de sociabilidades, formas de poder e de relação com a natureza, próprias das cidades
para outros espaços, como o litoral, os parques nacionais, os sítios de lazer, faz com
que esses se tornem espaços urbanos. Mesmo que tais espaços sejam simbolizados
como uma ruralidade, ou como campo, portador de alteridade. Essa situação em que
há um descolamento entre referente e significado, em que se tem o signo de um
espaço rural, em que pese esse espaço esteja agora ancorado em uma lógica urbana,
dando lugar a uma autenticidade encenada, tem sido tratada como uma “crise da
representação”, tema recorrente nos estudos sobre geografia e turismo, como em
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Minca (2004). No entanto, esse movimento de extensão do urbano significa também


que o termo não se refere mais apenas à cidade (MONTE-MÓR & LIMONAD, 2011).

Monte-Mór (2011, p.231) apresenta a cidade como sede da tríade festa, poder
e excedente coletivo. Por concentrarem aparelhos de Estado, serem as praças de
mercado para trocas, ter concentrado a industrialização no país, as cidades constituem
centralidades polarizadoras de fluxos e hoje, com a terceirização de suas economias,
permanecerem como sedes de decisão das empresas e do Estado. Mas haveria
nessas mobilidades, fluxos que podem ser caracterizados como turísticos? Antes de
examinar essa questão é válido apontar a distinção apresentada por Duhamel (2007),
que descartam o uso da expressão ‘turismo urbano’, frequentemente aludida como um
segmento do mercado de viagens, pautado pela visita a cidades ao invés de praia ou
montanha, e que foi incorporada no discurso acadêmico. Os motivos para o abandono
da expressão são :
a) o turismo é intrinsecamente urbano, pois é feito por citadinos
– então o adjetivo não é necessário ; b) mal nomeado, pois o
‘turismo urbano’ significa ‘turismo na cidade’, e não dá conta da
diversidade de situações urbanas provocadas pelo turismo : es-
tações turísticas, colônias de férias, sítios turísticos, metrópoles
turísticas, cidades de segunda residência, etc. Do mesmo modo,
evitaremos falar em atração ou vocação dos lugares, pois ge-
ralmente tais termos, empregados após a turisficação (mis en
tourisme), não dão conta das razões que presidiram a sua trans-
formação. (DUHAMEL, 2007, p.354)

Assim, embora o turismo possa ser visto como um vetor de urbanização, o


que interessa para o propósito deste ensaio é a cidade enquanto palco de práticas
turísticas.

Se considerarmos a primeira definição de turismo apresentada, aquela pautada


mais pela mobilidade dos sujeitos e uso de serviços caracterizados como turísticos do
que por suas práticas do descansar, descobrir e jogar da terceira definição, percebe-
se que as cidades, além de centros emissores de visitantes, também são destinos
turísticos importantes. Inclusive, com o processo de globalização há uma tendência
para um aumento do peso do turismo e lazer na economia das cidades (SPIROU, 2011)
– ou melhor dizendo, cidades que são nós importantes na malha territorial urbana.
De Mattos (2006), ao analisar a dinâmica urbana da América Latina contemporânea
aponta que nas últimas décadas é possível verificar-se uma transformação radical
na organização, funcionamento e paisagem das cidades, produto de uma nova
arquitetura produtiva. A organização das empresas em rede, ocorrida desde processos
de descentralização, flexibilização e dispersão das distintas atividades em busca de
vantagens locacionais – também conhecido como outsourcing –, com o auxílio das
novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) deu origem a um processo
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de relativa desindustrialização das cidades e de sua progressiva terceirização, em


uma condição onde os serviços passam a ser o núcleo dessa nova economia urbana.

Nessa nova configuração econômica reticular percebe-se, de modo generalizado,


um aumento expressivo da mobilidade. Como aponta Telles (2005), se por um lado
as TICs possibilitaram e banalizaram novas formas de comunicação, elas também
viabilizaram um aumento das conexões existentes e da necessidade de comunicar
novos conteúdos. Assim, ao invés de significar a diminuição das mobilidades, as TICs
acarretaram no aumento do desejo em deslocar-se e na valorização dos lugares e das
experiências portadores de alguma riqueza exclusiva, não telecomunicável.

Esse aumento da mobilidade tem implicado, certamente, um crescimento


das ditas atividades características do turismo (ACTs) – hospedagem, alimentação,
transportes, entretenimento, cultura. Como corolário desse movimento, é possível
perceber que o sucesso de uma cidade enquanto destino turístico, desde a definição
(a), está estreitamente relacionado à sua posição na rede urbana. Assim, pode-se
perceber São Paulo como o maior parque hoteleiro do país e principal portão de
ingresso ao Brasil, suplantando, nesses termos, destinos com imaginário turístico
consagrado – segundo a definição (b) –, como Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu e as
capitais nordestinas.

Um exemplo destas mudanças na dinâmica urbana recente é o processo de


terceirização que ocorreu em Porto Alegre, como demonstra o estudo de Furtado
(2011). Desde os anos 1970, com o encarecimento do solo urbano, com as regulações
urbanísticas e com as possibilidades de conexão geradas por novas infraestruturas,
as indústrias migraram da capital para outros municípios vizinhos, assim como a sua
mão de obra operária. Em Porto Alegre restaram as atividades gerenciais; serviços
associados a essa produção – jurídicos, consultorias, publicidade, etc. –; serviços
para as famílias – comércio, saúde, educação, entretenimento –; bem como uma
população residente habilitada a arcar com o aumento do custo de vida.

No caso de Porto Alegre nota-se o aumento expressivo da mobilidade se


considerado como indicador o fluxo de passageiros do Aeroporto Internacional Salgado
Filho fornecido pela Infraero, conforme apresenta a Figura 1.

FIGURA 1 – FLUXO DE PASSAGEIROS NO AEROPORTO SALGADO FILHO,


PORTO ALEGRE (RS) (2003-2012).
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Fonte: Infraero, 2014.

Percebe-se também uma alta considerável de sua oferta hoteleira na última


década, indicador que se tomado como definição de turismo, apontaria o município
como principal polo da atividade no Estado, conforme mostra a Figura 2. Embora
boa parte da mídia e população locais não a reconheçam enquanto tal, ao contrário
da região da Serra Gaúcha, cujo imaginário enquanto destino turístico é mais
fundamentado nos termos das definições b e c.

Figura 2 – OFERTA DE APARTAMENTOS NA REDE HOTELEIRA DE PORTO


ALEGRE (RS) (1998-2016)

Fonte: SINDPOA, 2013.


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Assim como em outras capitais, a exemplo de Goiânia, Curitiba, Belo Horizonte,


a maior parte da demanda hoteleira de Porto Alegre concentra-se em dias de semana
e apresenta uma queda nos períodos de férias escolares e feriados prolongados.

Para rentabilizar sua oferta hoteleira e compensar a sazonalidade, as cidades


investem na criação de equipamentos como centros de eventos, mas também na
produção de uma imagem da cidade enquanto destino turístico, seja através da
publicidade e promoção, através da ativação e valorização turística de seu patrimônio,
ou através de intervenções urbanas com a intenção de magnetizar visitantes, a exemplo
de ícones arquitetônicos. Ou seja, buscam tornarem-se turísticas nos sentidos das
definições (b) e (c), promovendo seus lugares, manifestações e paisagens enquanto
elementos dignos de capturar o “olhar do turista”, e seu espaço como local para jogar,
descobrir e descansar. Aqui ressalta-se a indicação de Piriou (2011), para quem a
excelência de um lugar turístico não está ancorada na qualidade dos serviços ou na
busca por aperfeiçoamento, mas na construção de um simbolismo identitário forte o
suficiente para que as pessoas o percebam como uma alteridade que merece que
para ali se desloquem e desenvolvam determinadas práticas. Isso vai ao encontro de
uma definição semântica da palavra ‘destino’, constituída em dois polos em continuum:
um lugar aonde ir/permanecer e um emprego, uso ou função ao qual o lugar está
destinado (KADRI et al, 2011). Quais seriam então os empregos turísticos da cidade
que lhe conferem esse caráter de destino?

Para Gastal (2006), o imaginário turístico sobre a cidade está calcado na tríade
praça, palco e monumento. Brevemente, a praça corresponde ao lugar do encontro,
das trocas e das festas. O monumento como elemento para a constituição da identidade
e memória daquele espaço em diferentes tempos e como possibilidade da leitura e
interpretação dessas pelos visitantes. O palco como um local para ver e ser visto, com
destaque para o espaço público, entendido como em Gomes (2013) enquanto espaço
da publicidade, distinto do espaço político, da polis. Certamente esses são elementos
simbólicos e podem travestir-se e estar presentes em outros referentes: o shopping
corresponder à praça, o metrô ser um monumento, ou praça ser o palco. Já a literatura
anglo-saxã, a exemplo de Hayllar et al (2011), identifica o que denomina de tourist
precints, que seriam determinadas áreas da cidade que acabam por concentrar as
atividades dos visitantes e os serviços para eles intencionados, no que seriam áreas
funcionais turísticas, a exemplo das antigas áreas industriais ou portuárias da cidade
moderna, Spirou (2011), em analogia aos CBDs [Central Business Districts] aponta
esses espaços como CRDs [Central Recreational Districts].

A existência dessas áreas funcionais turísticas conduz a considerarem-se


novamente as transformações provenientes do processo de globalização, incremento
das TICs e uma economia reticular. Por um lado, essa terceirização indica que o
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turismo passa a assumir um posto mais proeminente na economia urbana, apontando


para a necessidade de uma territorialidade urbana apta à hospitalidade. Além disso, a
difusão da cidade-arquipélago4 aponta para um aumento das mobilidades e cada vez
mais pessoas encontram-se em algum momento na condição de turistas. Por outro
ângulo, é possível visualizar que as práticas turísticas passam a ocupar interstícios do
mundo cotidiano (LUSSAULT, 2007), inclusive pela própria tendência de flexibilização
e desregulação do trabalho comentada por De Mattos (2006). Há nesse contexto uma
alteração profunda de relações entre termos que antes eram tidos como distintos,
tais como a relação entre lazer e trabalho, cotidiano e extra-cotidiano, visitantes e
visitados. Em um mundo de aumento das mobilidades e de multiterritorialidades, o
próprio entendimento do que vem a ser as práticas turísticas e turistas fica abalado.
É possível notar o declínio do hábito das férias prolongadas para descansar, próprio
de uma sociedade industrial, e o aumento de viagens curtas em que a busca pelo
envolvimento em novas experiências, não telecomunicáveis, para seguir a indicação
de Telles (2011), é maior. Também é perceptível que a cidade referida na concepção
de Monte-Mór (2013), como local da festa, do poder e do excedente de produção,
em uma economia terceirizada passa, cada vez mais, a ofertar a possibilidade da
experiência da alteridade sem o deslocamento, como o acesso a produções culturais
e à gastronomia, próprias de outros lugares (MINCA, 2004). Nesse sentido, há uma
expansão da estrutura display – comentada na concepção (b) – característica do
turismo para outras práticas cotidianas, e a criação de valor a partir da esfera do
simbólico, notadamente nos ramos de serviços e do varejo.

De tal modo, é possível perceber que o turismo, prática tradicionalmente


associada à fuga da cidade industrial, torna-se atualmente um signo de urbanidade
e de centralidade dessa cidade terciária simbolizada pela festa, multiculturalidade e
poder. Um processo em que a existência de serviços turísticos e a capacidade de
atrair visitantes, interessados na diversidade de opções de descoberta, de jogo, de
entretenimento e de consumo que determinada cidade oferece, torna-se uma medida
de sua importância enquanto nó da rede global (GRAVARI-BARBAS, 2007).

A utilização do turismo para a promoção de uma determinada imagem do que


as cidades desejam ser, ou melhor do que os idealizadores dessa imagem desejam
que a cidade seja, não é um fenômeno novo. No caso de Porto Alegre, a Exposição
do Centenário Farroupilha em 1935, e as comemorações do Bicentenário da cidade
em 1940, foram ocasiões em que havia o intuito de promover aos visitantes, mas
também afirmar à população local, a imagem de uma cidade moderna e conectada

4 Forma urbana típica do capitalismo avançado, que designa os múltiplos fragmentos do urbano tecido
conectados por redes que possibilitam a mobilidade e interação entre essas ilhas. Ao contrário da centralidade,
fator decisivo na constituição da cidade compacta do capitalismo industrial, e que a diferenciava do espaço rural
circundante.
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a tendências globais. Verifica-se isso em consulta aos recortes sobre o Touring Club
do Rio Grande do Sul5, instituição que surge a essa época com intuito de promover o
turismo no estado. Nesse sentido, um tema que merece investigação é a possibilidade
de não estar ocorrendo também com o turismo um descolamento entre referente e
significado, na medida em que a promoção do status turístico de uma cidade veicula
uma marca e uma imagem de uma urbe desejada por seu idealizador, mas que muitas
vezes não corresponde às práticas e aos imaginários dos turistas ali encontrados,
e tampouco à existência de uma territorialidade hospitaleira difundida entre os
habitantes locais que comunique essa imagem, buscando torna-la “legível” para os
visitantes (PIMENTEL, 2013). Aí reside a importância de uma abordagem geográfica
do turismo que busque analisar as práticas dos diferentes atores, compreendendo
o turismo enquanto um sistema – concepção (c) – situado e com especificidades no
modo em que cada arranjo estudado está associado. Seria interessante verificar o
surgimento dessas citybrands e o modo como estão associadas, ou não, a práticas
turísticas, e quais outros atores e setores que promovem e têm interesse em promover
determinados imaginários sobre a cidade.

Se a situação das cidades na rede urbana é um indicativo para a condição de


sua demanda turística, caracterizada nos termos de (a), é a organização dos atores
sobre a realidade local e os processos intraurbanos que irão indicar a constituição de
seus espaços enquanto objetos do olhar do turista, ou enquanto destinos turísticos,
segundo os termos de (b) e (c). A constituição de uma cidade enquanto destino turístico,
nesses termos, estará vinculada à capacidade de criar e de comunicar narrativas e
propor performances sobre seu espaço, seus personagens e suas sociabilidades, de
modo a despertar o interesse e a possibilidade de conhecê-la em uma visita turística.
Nesse processo a população residente tem um papel crucial, na medida em que
valida essa identidade promovida e também a promove, indicando locais a serem
visitados e práticas a serem realizadas, no que seria uma territorialidade pautada pela
hospitalidade.

Em relação à situação intraurbana, outras tendências da urbanização latino-


americana tiveram implicações para a paisagem, sociabilidade e política das cidades6
e, consequentemente, sobre o turismo nas cidades do continente. De Mattos (2006)
aponta para uma limitação do papel governamental na gestão urbana, o abandono
de uma concepção de planificação racionalista. A esse aspecto podemos associar
a proposição de Abramo (2007), em que indica a difusão da urbe, tanto por uma
camada social mais pobre em busca de moradia mais barata na periferia, quanto por
uma camada social com maior poder aquisitivo atraída por novos empreendimentos

5 Disponíveis no acervo do jornalista Osvaldo Goidanich, abrigado no Espaço Delfos da PUCRS.


6 Capel (2007), em uma análise sobre Barcelona, confere à cidade uma ontologia tripla, baseada na Urbe –
espaço construído – Civitas, sociabilidades urbanas – e na Polis, o processo político na construção da cidade.
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distantes do centro e que apresentam a segurança e a oferta do verde como fatores


de distinção. Processo complementado por uma concentração promovida pelas novas
configurações familiares que passam a ocupar as áreas consolidadas. Resta, portanto,
uma cidade “com-fusa”, a um só tempo compacta e difusa. A paisagem urbana resta
marcada pelos muros e grades das gated communities, ou condomínios fechados,
pela obsolescência de áreas da cidade já consolidadas e por uma ineficiência na
manutenção dos espaços públicos. As iniciativas e projetos de revitalização dos
centros, ao menos no caso brasileiro, parecem ter componentes distintas em relação
aos países mais centrais no sistema capitalista, uma vez que: aqui a inovação e
promoção do capital imobiliário continuam a ser feitas, majoritariamente, ainda sobre
novas áreas de ocupação; a memória social e o patrimônio como ativos de valorização
imobiliária não parecem corresponder aqui aos mesmos efeitos de distinção social
atribuídos naquelas realidades; a participação e a consideração dos desejos da
população para reformulação da urbe, e dessas áreas em particular, não parecem
receber muita preocupação em nossas polis não inclusivas.

4. Quase concluindo!

O espaço urbano não é construído por/para um sujeito apenas, mas por/para muitos
e estes apresentam olhares identitários singulares, de formação específica, diversidade
social e, portanto, interesses e necessidades. Deve-se estar atento, pois vive-se em um
mundo repleto de falsos conceitos e expectativas sobre as culturas e comunidades às
quais não se pertence. No entanto, cada vez mais, parece ser a diversidade a norma
estabelecida. A cidade deve ser vista como uma representação da condição humana,
sendo que esta representação se manifesta através da arquitetura em si – das formas
e da ordenação dos seus elementos – estrutura e processo. As cidades modernas
são complexas e procuram apresentar áreas com especialização que atendam as
características individuais dos diversos grupos, constituindo-se de lugares urbanos.
Tais lugares trazem singularidades e criam diferentes marcas na paisagem, sentidas
e, portanto representadas diferentemente pelos sujeitos. O movimento da cidade deve
ser disciplinado e incentivado por planos diretores. Quando o plano diretor não existe,
tende a aumentar a indisciplina na ordenação espacial o que parece favorecer mais
um possível sentimento de medo. A salvaguarda dessas especificidades é necessária,
pois favorece a heterogeneidade do tecido urbano e conserva a história da ordenação
espacial, assim materializada (CASTROGIOVANNI, 2013).

O capitalismo produz um tipo de espaço, um espaço instrumental, aquele da


reprodução das relações de produção. O espaço capitalista é um mundo de interesses
que nem sempre representa a maioria dos sujeitos. Ele é dinâmico e respeita o próprio
movimento do capital. Com o processo de globalização, o espaço cada vez mais
se manifesta como sendo um produto fundamental para a expansão do processo
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capitalista. Ele é visto como mercadoria e, portanto, participa das trocas. O espaço
é produzido, ocupado e transformado de acordo com modernas tendências. Áreas
desocupadas, como montanhas, desertos, banhados e até mesmo fundos de oceanos
e mares são ocupadas ou apropriadas, destinando-se ao lazer para quem pode usufruir
delas. O espaço comum tende a se desvalorizar. O território, ou seja, a configuração
geográfica do espaço é um produto que possui um valor relativo. O valor de consumo
do território inserido no espaço atende às tendências do mercado e, nem sempre, às
necessidades sociais.

A cidade é um produto que faz parte do espaço geográfico. O espaço deve


ser visto como um fator da complexidade social, portanto produzido e reproduzido
constantemente através de diferentes discursos.

O discurso turístico da cidade enquanto um local de encontro e da diversidade,


tão frequente em destinos citadinos, fica seriamente ameaçado no caso das metrópoles
brasileiras, em uma situação em que há o crescimento do medo e o declínio do espaço
público enquanto local de sociabilidade, inclusive sendo um espaço marcado pela
ausência de informação mediadora, ou de uma territorialidade hospitaleira referida
anteriormente. Certos lugares consolidados enquanto elementos formadores da
identidade de uma comunidade – antigos ou potenciais tourist precints – têm sua
dinâmica alterada, tornando-se obsoletos e pobremente comunicados, o que afeta os
laços simbólicos que o indicavam enquanto local a ser visitado naquela cidade. Por
outro lado, os novos espaços privados para aonde muito da sociabilidade foi transferida
não possuem traços suficientemente distintivos para tornarem-se elementos do ‘olhar
do turista’, visto que não trazem o discurso da alteridade ancorada na identidade local,
mas a segurança dos comuns em uma suposta aldeia global.

No caso de Porto Alegre, o aumento da oferta hoteleira segue uma distribuição


espacial em que há uma tendência dos empreendimentos em se situar nos bairros
que representam as novas centralidades econômicas da cidade, afastando-se do
Centro Histórico e de seu conjunto patrimonial. Novos equipamentos da indústria
cultural, como cinemas e teatros, também estão sendo realizados fora do centro, em
geral combinados a shoppings e associados à promoção de novos empreendimentos
imobiliários. Enquanto isso, ao Centro Histórico da cidade é reservada a conotação de
comércio popular, e ao seu conjunto patrimonial que abriga equipamentos culturais,
é atribuído um caráter de cultura alternativa, ou de alta cultura. Se, por um lado,
o discurso das reportagens e guias de viagem sobre quais lugares, paisagens e
manifestações da cidade que a configuram enquanto destino turístico referem-se ao
patrimônio e à oferta cultural do centro e seus bairros adjacentes, por outro, na fala
dos representantes do setor de turismo está a oferta de uma cidade séria, pautada
em um turismo de negócios e eventos, desvinculada de uma experiência do lugar e
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de sua identidade como ativos turísticos. Essas contradições, no entanto, parecem


colocar em questão a própria definição do que venha a ser turismo e o modo como ele
está presente nessa metrópole terceirizada, parte de uma urbanização arquipélago.

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CINEMA, REPRESENTAÇÕES DO URBANO E IDENTIDADES: UM OLHAR


SOBRE O MARKETING DE DESTINOS EM VICKY CRISTINA BARCELONA

Lucas Gamonal Barra de Almeida1

RESUMO: Dentre as múltiplas possibilidades das narrativas, temos que elas são
capazes de nos fazer viajar simbolicamente e, assim, também acabam por motivar
deslocamentos físicos. Dessa forma, é recorrente a associação entre cinema e turismo,
principalmente como estratégia de marketing de destinos. Exemplo dessa dinâmica
está na recente produção do cineasta Woody Allen, alterando suas características
habituais e se deslocando para criar em cenários europeus. A fim de analisar esse
contexto, voltando nosso olhar para as tensões envolvendo as representações do
urbano e as questões identitárias, examinamos, com inspirações na técnica de
análise do conteúdo, o filme Vicky Cristina Barcelona. O filme tem como destaque a
narração da cidade de Barcelona e obteve grandes êxitos na promoção do destino,
garantindo diversificação das decorrentes apropriações e retorno dos investimentos
públicos e privados realizados, porém também acabou por refletir em conflitos acerca
das identidades que omite e/ou coloca em destaque.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Cinema. Urbano. Identidades. Vicky Cristina Barcelona.

CINEMA, URBAN REPRESENTATIONS AND IDENTITIES: AN OVERVIEW OF


THE MARKETING STRATEGY FOR TRAVEL DESTINATIONS IN VICKY CRISTINA
BARCELONA

ABSTRACT: Among the multiple possibilities of narratives, we assume they are able
to make us travel symbolically, and thus happen to motivate physical displacements as
well. In this way, the association between cinema and tourism is recurrent, especially
as a marketing strategy for travel destinations. An example of this dynamic can be
found in the recent production of the filmmaker Woody Allen, who changes his usual
features and dislocates in order to create in European sceneries. For the purpose of
analyzing this context while turning our attention to the tensions which involve urban
representations and identity issues, we examine the film Vicky Cristina Barcelona, with
inspirations of the technique of content analysis. The film is highlighted by the narration
of the city of Barcelona and achieved great success in promoting the destination,
ensuring the diversification of appropriations and the return of public and private
investments, nevertheless it also turned out to reflect on conflicts about identities which
were omitted and/or highlighted.

KEYWORDS: Tourism. Cinema. Urban. Identities. Vicky Cristina Barcelona.

1 Bacharel em Turismo e mestrando em Comunicação, na linha de pesquisa “Comunicação e


Identidades”, ambos pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Professor Auxiliar no Departamento de
Turismo da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: lucasgamonal@hotmail.com.
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INTRODUÇÃO

O contexto midiático é possibilitador de deslocamentos simbólicos e forte


motivador de deslocamentos espaciais. Ainda que fisicamente parados, a ausência
de fronteiras naturais nos põem a navegar através das poltronas, “surfando” pelos
canais da TV ou “mergulhando” nas telas dos cinemas, por exemplo. Esse cenário nos
permite a realização de viagens sem que de fato tenhamos nos deslocado de nossos
espaços habituais.

Essas viagens sem partida, enquanto narrativas, surgem como representações


das sociedades e espaços que apresentam, funcionando como “recursos para ampliar
nossas geografias imaginárias”, nos colocando em encontro cultural frente ao diverso
e permitindo que possamos nos familiarizar com o distante e conhecer a alteridade,
protegidos pela experiência mediada (TOMILINSON, 1994; BUONANNO, 1999 apud
BUONANNO, 2004, p. 346).

Nesse sentido, devemos ressaltar que essa “proteção mediada” possui seu viés
negativo, pois demonstra a construção de uma zona de conforto onde o espectador-
viajante se posiciona para “dialogar” com a alteridade a partir de uma visão às vezes
etnocêntrica. Cabe reforçar que os espetáculos-produtos – principalmente quando
pensamos em obras de ficção – não possuem compromisso com a realidade e
recebem a impressão das características de seus criadores.

Tratando mais especificamente do cinema, sua associação ao turismo é


recorrente. Como ilustra McLuhan (2005, p. 319), através dele “enrolamos o mundo
real num carretel para desenrolá-lo como um tapete mágico da fantasia [...]” e são
essas mágicas narrativas que passam a compor nosso imaginário. E esse imaginário,
por sua vez, envolto por um contexto midiático de constante retroalimentação, acaba
por inclinar os sujeitos a se deslocarem turisticamente, a fim de experienciar o que
antes vislumbraram através das telas.

Retrato do exposto pode ser obtido quando voltamos nossos olhares para
a recente produção do roteirista e diretor Woody Allen. Com alteração em sua
filmografia, a maioria de suas últimas películas possui como mote as histórias fora de
sua locação habitual, os Estados Unidos, e acaba por promover destinos turísticos,
que são apresentados em destaque enquanto cenário de construção das tramas ou
mesmo com personificação das cidades, tornando o lugar personagem das histórias.

Mais uma vez utilizando as palavras de McLuhan (2005, p. 320), temos


que “a tarefa do escritor e do cineasta é a de transportar o leitor e o espectador,
respectivamente, de seu próprio mundo para um mundo criado pela tipografia e pelo
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filme”. Dessa forma, é destaque que os artistas consigam realizar a tarefa de fazer com
que possamos nos deslocar e emergir em outros espaços, ainda que estacionados
em nossos ambientes habituais.

Nesse pensamento, o autor ainda pondera, como abordado anteriormente, que


a narrativa arquitetada acaba por, muitas vezes, inserir os sujeitos nessa mágica sem
que realizem um exercício consciente. Então, vale colocar em relevo, uma vez mais,
a importância em se considerar a pluralidade das identidades em representação,
observando os produtos midiáticos como possibilidades de olhar e não como visões
inquestionáveis.

É importante destacar, ainda, que o olhar da narrativa de viagem arquitetada,


ao permitir um deslocamento simbólico, cria e/ou alimenta o desejo dos sujeitos por
mover-se fisicamente a fim de obter seu próprio olhar sobre determinado espaço e,
com isso, manter em construção o desenho de sua cartografia sentimental.

Nas representações de um espaço real, inúmeros espectros de novas


territorialidades tornam-se imagináveis, de acordo, também, com quais direcionamentos
darão base a essas criações; imagens (re)criadas que pautam um (re)criar das
cidades. E a partir daí é aberta uma série de possíveis apropriações midiáticas do que
fora arquitetado, refletindo, então, na engenharia das emoções.

Sendo assim, o trabalho aqui proposto visa pensar o cinema e sua relação
com os deslocamentos turísticos, direcionando nossa atenção para os efeitos na
cidade-cenário de Barcelona, bem como sua relação com os diversos atores sociais
envolvidos nesse processo. Além de pensar a representação do urbano e o marketing
de destinos, observaremos a abordagem dos aspectos identitários apresentados pelo
filme.

Abordando a constituição da pesquisa, justifica-se a escolha da obra por conta


do grande êxito que obteve, tanto considerando os números de suas bilheterias,
quanto a grande visibilidade que alcançou, também levando em consideração, em
especial, seus efeitos turísticos.

O TURISMO COMO INDÚSTRIA DO CONSUMO E DA CIVILIZAÇÃO DAS IMAGENS

Em nosso cenário pós-moderno, podemos dizer que há forte presença midiática


permeando as mais diversas esferas de nossas vidas. Como coloca Bauman (1999), a
atual indústria do mundo globalizado atua a fim de criar atrações e tentações. Somos
uma sociedade de consumo sem limites, uma vez que um desejo realizado logo se
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torna obsoleto e vários outros são formatados em sequência, buscando que o ciclo
dos lucros e do crescimento econômico não tenha freios.

Ainda segundo o pensador, temos que, enquanto nossa sociedade predecessora


tinha grande preocupação em produzir, a sociedade contemporânea tem o centro de
suas ansiedades em consumir. Os sujeitos, ainda que de forma inconsciente, estão
dispostos a serem seduzidos pela máquina do capitalismo e é o bom funcionamento
desses mecanismos de condicionamento que mantém o funcionamento dessa
sociedade de consumo.

Ferrés (1998, p. 15) questiona esse complexo jogo de poder:


As limitações à liberdade provêm seguidamente da indução mais ou menos
inadvertida de desejos e temores. Uma coisa é impedir o indivíduo de agir
conforme sua vontade e outra é condicionar sua vontade para que aja
conforme se deseja. [...] Não se pode falar de liberdade quando se permite
fazer o que se deseja, mas se leva a desejar o que interessa que se deseje.

Estamos moldados aos interesses do sistema que impera em nossa sociedade,


embora vivamos um mito de liberdade da condição humana. O desejo por consumir rege
os movimentos dos indivíduos, que movem a indústria e garantem a retroalimentação
de suas engrenagens. A ordem racional perde espaço ao agito das emoções, que
alteram as percepções e garantem que as decisões sejam tomadas de acordo com os
interesses daqueles que as manipulam.

Nesse sentido, a mídia atua de forma coletiva, perpetuando desejos e anseios


por todo o globo, de forma ainda mais rápida nos dias de hoje. Tratando mais
especificamente da relação entre a mídia e o turismo, Falco (2011, p. 26) revela que,
[...] pode-se compreender que a mídia também é capaz de agendar os
lugares a serem levados em conta como turísticos por famílias em férias,
por casais em lua-de-mel, por crianças, idosos, etc. Cria-se assim uma
espécie de cartografia turística, que irá designar locais atrativos nos mais
diversos segmentos turísticos. As mudanças midiáticas ocorridas nas últimas
décadas do século XX geraram ainda o que seriam os novos “espaços de
sociabilidade” ao provocarem no público efeitos de presença e participação
que geram uma co-moção por parte dos espectadores que passariam a viver
a mesma emoção JUNTOS, através da transmissão.

Levando em consideração que como integrante da indústria dos serviços o


produto turístico é intangível, a decisão por partir em viagem está relacionada a certa
tensão, uma vez que não há possibilidade de experimentação prévia. Nesse sentido,
a mídia, e principalmente as imagens por ela veiculadas, seja através da fotografia,
novelas ou filmes, possuem forte poder de influência sobre a percepção humana.

Dessa forma, também cabe a reflexão acerca do conceito de espetáculo,


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elaborado por Guy Debord. Como apresentam Lopes Filho [et al] (2012, p. 48), as
narrativas imagéticas transmitem seus valores simbólicos e, dessa forma, alteram
a percepção sobre determinada realidade. Nesse simulacro, o que é colocado em
destaque é “[...] algo grandioso, positivo, indiscutível e inacessível, transmitindo aí a
noção de que ‘o que aparece é bom’”. Nesse cenário, uma vez mais, força e penetração
da mídia se destacam, tratando das intervenções emocionais que são capazes de
promover, ainda que de forma inconsciente.

Refletindo o que o foi discutido até aqui, através do olhar de Urry (2001, p.
123) temos que “o turismo é prefigurativamente pós-moderno, devido a sua particular
combinação do visual, do estético e do popular”. Sendo assim, pensar imagens e
imaginários nesse cenário é de fundamental importância na compreensão da forte
relação entre a mídia e o fenômeno turístico, ainda levando em consideração o desejo
em se criar espetáculos que envolvam e desloquem os viajantes.
O pós-modernismo problematiza a distinção entre as representações e a
realidade. Isso resulta de inúmeros processos. A significação é cada vez mais
figurativa ou visual e, assim, existe um relacionamento mais próximo e íntimo
entre a representação e a realidade do que quando a significação se exerce
através das palavras e da música, sem as vantagens de um filme, televisão,
vídeo, vídeo pop, etc. Além disso, uma proporção cada vez maior dos
referentes da significação, a “realidade”, é uma representação ou, conforme
a famosa argumentação de Baudrillard, aquilo que consumimos cada vez
mais são os signos ou representações (URRY, 2001, p. 121).

Enquanto sujeitos pós-modernos, praticantes da semiótica, lemos as imagens


que nos são expostas a fim de conceder-lhes significados. O cinema, como exemplo,
conciliando os reflexos da inspiração de seus criadores e o espetáculo-produto que
desejam vender, criam e dão novos significados aos imaginários a partir de seus
personagens e cenários, possuindo forte poder de influência sobre o grande público
que consegue atingir.

Como salienta Musse (2008, p. 44),


A imaginação, expressa através dos sonhos, músicas, fantasias, mitos,
sempre fez parte do repertório de qualquer sociedade, mas a novidade,
hoje, é a de que será através da mídia, incluindo a imprensa e a indústria do
entretenimento, que as populações vão imaginar novas formas de vida, antes
nunca pensadas, como vão tentar reinventar os laços como uma origem
perdida.

A fala da pesquisadora reafirma a forte presença da mídia no processo de


constante construção de imaginários. A ideia de “viagens na hiper-realidade”,
apresentadas por Umberto Eco e também discutidas por Urry (2001) marcam uma
noção de simulacros que advém das formações mentais pautadas unicamente através
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desses produtos culturais e que acabam por criar outras realidades.

É tido que o turismo envolve a criação de espetáculos e que, por muitas vezes,
Aquilo que as pessoas “contemplam” são representações ideais da vista em
questão e que elas internalizam a partir dos cartões postais, dos guias de
viagem e, cada vez, mais, dos programas de televisão. Mesmo quando não
conseguem “ver” de fato a maravilha natural em questão, ainda podem senti-
la em suas mentes. Mesmo quando o objeto deixa de corresponder a sua
representação, é esta última que permanecerá na mente das pessoas, como
aquilo que elas “viram” de verdade (URRY, 2011, p. 122).

Como expressa o trecho, pode ser observado que é recorrente que o imaginário
de determinado destino torne-se tão consolidado para o viajante que, mesmo após uma
experiência real no local, sua percepção permaneça inalterada, pautada principalmente
nos elementos que fizeram parte da composição de sua formação emocional anterior,
baseadas nos diversos produtos midiáticos com os quais teve contato.

Dessa forma, colocamos em relevo a grande força e permeabilidade dos produtos


midiáticos quando pensada a formação das imagens e imaginários das localidades,
principalmente voltando os olhares para as destinações turísticas. Enquanto produtos
em comercialização, as localidades enxergam excelentes oportunidades de visibilidade
e promoção utilizando-se da indústria cultural e seus possíveis efeitos.

O CINEMA REPRESENTANDO A CIDADE E UTILIZADO COMO MARKETING DE


DESTINOS

O cenário urbano se configura como um trabalho coletivo de diversos produtores


que mantêm constante seu processo de construção. A cidade-labirinto se coloca como
um texto que remete ao outro e que, por sua vez, conduz a um terceiro:
A cidade como ambiente construído, como necessidade histórica, é resultado
da imaginação e do trabalho coletivo do homem que desafia a natureza. Além
de continente das experiências humanas com as quais está em permanente
tensão, “a cidade é também um registro, uma escrita, materialização de sua
própria história” (GOMES, 2008, p. 23).

Enquanto “metrópole babélica”, temos que a construção da cidade é moldada


em tensão, como um quebra-cabeça. Dessa forma, suas peças se apresentam em
variedade, com um produto final que não é uniformizado, mas que se mantém como
espetáculo de grande representação, ainda que essa representação se coloque
em multiplicidade. Tratando mais especificamente da representação desse urbano
no audiovisual, temos que ela pode se dar através de figurações reais, no uso da
estética e linguagem dos documentários; ou ficcionais, quando a cidade se coloca
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como cenário e, muitas vezes, também como personagem da trama.

A cidade narrada pelos produtos culturais, conforme colocado por Susana Gastal
(2005), se apresenta como “marca da pós-modernidade” e como grande representação
da “civilização da imagem” em que vivemos. Cada vez mais a dimensão estética e as
sensações obtidas através do olhar ganham grande força em nossa formação como
indivíduos, sendo capazes de criar ou alterar valores e pensamentos.

Podemos dizer que há uma “estetização da vida cotidiana” (GASTAL, 2005,


p. 30) e que as inúmeras imagens que nos cercam em nossa paisagem urbana e
também pelo contexto midiático formam uma série de imaginários, que, assim como
as cidades, estão sempre em reformulação. Além disso, variam, também, conforme o
contexto em que cada indivíduo está inserido, de acordo com as ideias apresentadas
por Lynch (1997).

Partimos em viagem por conta dos mais variados motivos, mas principalmente
pelo desejo de encontrar o outro; aquilo que não vivemos em nosso cotidiano.
Conforme descreve de Botton (2012, p. 22), na arte – salientando que as narrativas de
viagem apresentam-se sob os mais diversos suportes dela, seja através do cinema,
da literatura ou da pintura, por exemplo – torna-se mais fácil vivenciar as expectativas,
eliminar os períodos de tédio e dar maior atenção aos momentos críticos.

Sendo assim, como coloca o autor, “[...] parece que estamos mais capacitados
a habitar um lugar quando não enfrentamos o desafio adicional de estarmos mesmo
presentes ali” (DE BOTTON, 2012, p. 30). Dessa forma, os deslocamentos simbólicos
que nos são narrados trazem, ainda, essas características para maior identificação e
encantamento de seu espectador-viajante.

Ao acompanhar o sujeito que percorre seu trajeto, somos inseridos às suas


aventuras de forma ainda mais livre, por permanecermos distantes (fisicamente) do
cenário e das ações que ocorrem em seus itinerários, porém imersos e seduzidos por
sua representação, realizando um “turismo imaginário”.

Em oposição, usando do que foi exposto por Urry (2001, p. 15), quando tratamos
de “lançar um olhar ou encarar um conjunto de diferentes cenários, paisagens ou
vistas de espaços que se situam fora daquilo que, para nós, é comum” nos vemos
ainda mais envolvidos e, em muitos casos, motivados a nos mover e experimentar
turisticamente aquilo que somente observamos.

Como também trata o autor, os olhares são construídos das mais diversas
maneiras, através da diferença, não existindo apenas um único olhar que possa ser
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definido. O contexto em que se enquadra cada indivíduo dará conta de direcionar e


formar esse olhar, trazendo seus efeitos turísticos e não-turísticos.

No caso dos produtos culturais, esses funcionam como promotores de imagens


e seus imaginários e, nesse sentido, a indústria cinematográfica também se coloca
como construtora de olhares e de estratégias de promoção dos destinos. Prova disso
são os investimentos realizados pelos poderes públicos e privados com o intuito de
atrair produções para suas localidades.

A cartilha Turismo Cinematográfico Brasileiro (BRASIL, 2008), do Ministério


do Turismo, destaca as oportunidades do segmento e traz orientações para que
as localidades consigam se tornar locações e, posteriormente, consigam atender
com qualidade produtores e futuros visitantes. Atualmente, seja através de Film
Commissions, Convention & Visitors Bureau ou outras entidades, as cidades
conseguem captar financiamentos para que filmes sejam preparados em suas regiões.
Esse cenário competitivo se coloca como realidade recorrente na atualidade, onde as
películas produzidas se tornam importante peça no marketing de destinos.

Nesse sentido, temos que o cinema realiza uma propaganda sutil, encoberta
por seu desenvolvimento narrativo. Segundo Stanishevski apud Aertsen (2011, p. 2),
temos que:
El cine, especialmente el de ficción, juega um papel importantísimo en la
creación de la imagem de un destino, un territorio, una ciudade o un país como
posible destino turístico. Sus mensajes no seu perciben como publicitarios, ya
que la mente del receptor está aberta a la recepción tanto em su dimensión
subconsciente como consciente (a diferencia de um mensaje percebido y
reconocido como publicitario), por lo tanto sus efectos persuasores se hacen
mayores y pueden ser tanto positivos como negativos, dependendo de
aquello que se perceba.

Então, com a relação entre o universo das viagens e do cinema se fortalecendo


e diversificando cada vez mais, o fenômeno passa a ser denominado Cineturismo.
De acordo com Nascimento (2009, p. 12), o termo cunhado pelos italianos é “nada
mais, nada menos, que uma forma de turismo que se baseia na visitação às locações
onde são produzidos filmes e séries televisivas e cinematográficas”. Com o caminhar
dos estudos, outras alcunhas relacionadas são criadas, todas elas remetendo à
abrangência de influências que a indústria do turismo passa a receber através dos
produtos culturais em suas variadas plataformas, como a televisão, o cinema e a
internet.

Os set jetters, como são chamados, tornam-se cada vez mais numerosos e
público-alvo bastante visado por diversos destinos. Em busca dos cenários onde se
desenrolam as tramas de seus filmes, programas de TV ou livros favoritos, esses turistas
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têm o imaginário (re)formatado pelos diversos produtos como sua principal motivação
de viagem. Nesse sentido, como reflete Nascimento (2009), há impossibilidade de
pensarmos as imagens dos mais variados destinos sem considerar a influência de
todas as obras que deles tratam.

Levando em consideração o contexto aqui descrito, é recorrente observarmos,


como na recente obra de Woody Allen, os interesses imbricados e os fatores financeiros
– altos custos de produção, distribuição e promoção, por exemplo – interferindo
diretamente na produção dos artistas. Com isso, vemos a criação e/ou adaptação de
obras que promovem determinada localidade e a marca desses interesses, ainda que
de maneira sutil, podendo ser observadas nos produtos finais.

CENÁRIO E ALTERAÇÃO NA FILMOGRAFIA DE WOODY ALLEN

Atualmente, o cineasta Woody Allen conta com um total de 45 filmes em sua


filmografia. Desse total, 34 (75,5%) deles têm os Estados Unidos como local onde a
trama se desenrola e 37 (82,2%) tiveram o país como locação de filmagem. Seguindo
esse levantamento2, temos que apenas em 12 (26,6%) das películas outros países
são espaços de desenvolvimento das ações do roteiro e de produção das obras,
em especial na Europa. Esses dados ressaltam a grande afeição do diretor norte-
americano por seu país de origem, uma de suas principais características.

Conforme descreve Soares (2013), após os baixos números de Melinda e


Melinda, no ano de 2005, Allen se vê acometido por um cenário de crise do cinema
hollywoodiano e passa a buscar outras oportunidades, em especial no mercado
europeu, onde sempre teve seus projetos bem aceitos e criticados, notadamente com
público fiel na França.

Dessa forma, grande ruptura é realizada a partir de 2005, pois, habituado a


conduzir suas produções nos Estados Unidos, mais especificamente em Nova York,
Woody Allen passa a utilizar outros países e cidades como cenários de seus filmes.
Tal mudança, levando em conta questões de produção e infraestrutura, se deu por
investimos públicos e privados das localidades, que viram as obras do artista como
forte peça de promoção (ISTOÉ ONLINE, 20093).

Sua trajetória além dos limites dos EUA começa na Inglaterra, com o filme Ponto
Final – Match Point (2005), seguindo com Scoop – O Grande Furo (2006) e O Sonho

2 Dados obtidos através de levantamento realizado nos sites Internet Movie Database (IMDb) – www.imdb.
com – e Adoro Cinema – www.adorocinema.com – com acesso em datas diversas, até junho de 2014.
3 ISTOÉ ONLINE. Quanto vale Woody Allen. Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/18761_
QUANTO+VALE+WOODY+ALLEN.
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de Cassandra (2007). O diretor, então, parte para mais um grande sucesso, dessa
vez filmando na Espanha, com Vicky Cristina Barcelona (2008), retorna à Inglaterra
com Você Vai Encontrar o Homem dos Seus Sonhos (2010), segue para a França
com Meia-Noite em Paris (2011) e, mais recentemente, filma Para Roma Com Amor
(2012), na Itália.

Essa alteração na filmografia do diretor, como já colocado, se dá em virtude


das possibilidades oferecidas pelas entidades públicas e privadas das localidades
em exposição, que visam obter grande repercussão com o lançamento dos filmes –
o chamado “efeito Woody Allen” (ISTOÉ ONLINE, 20094), alcunha criada pela mídia
espanhola após o sucesso de Vicky Cristina Barcelona. Foram oportunidades que
viabilizaram a produção do artista, e que, além disso, fizeram com que seu cachê
fosse bastante valorizado, mas principalmente trouxeram grandes retornos aos
investimentos feitos.

Uma vez apresentado o contexto de alteração e produção recente do diretor


norte-americano, nos aprofundaremos em um dos filmes dessa nova fase, Vicky
Cristina Barcelona. Tal escolha se deu em razão da notável representação do urbano
realizada, do grande êxito obtido pela película no cenário internacional, bem como
pelo debate gerado em torno das questões identitárias catalãs apresentadas na obra.

VICKY CRISTINA BARCELONA, CITY MARKETING E IDENTIDADES

Lançado em 2008, Vicky Cristina Barcelona narra a história de duas amigas


norte-americanas que decidem passar um período em Barcelona, na Espanha.
Vicky parte por conta das pesquisas de seu mestrado, que tem como foco questões
identitárias da Catalunha, enquanto Cristina busca novas experiências e inspirações
artísticas. Durante essa estadia, conhecem e se encantam pelo pintor Juan Antonio,
que ainda possui forte contato com sua ex-esposa, Maria Elena. Nesse cenário,
com as três mulheres apaixonadas pelo mesmo homem, relações conflituosas se
desenrolam, ressaltando nossas buscas hedonistas e os complexos paradoxos entre
razão e emoção.

Com orçamento de cerca de 15 milhões de dólares, tornou-se um dos filmes de


maior sucesso em bilheterias na carreira de Woody Allen, tanto no Brasil quanto no
mundo, com um faturamento total de mais de US$96 milhões, sendo US$ 23,3 milhões
só nos Estados Unidos (AERTSEN, 2011). Indicado a diversos prêmios, recebeu
o Globo de Ouro de Melhor Filme (Comédia/Musical) e fez com que a espanhola
4 Ibidem, ISTOÉ ONLINE. Quanto vale Woody Allen.
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Penélope Cruz conquistasse o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Ambos os prêmios,


grandes reconhecimentos da categoria, também proporcionaram maior visibilidade à
película.

Ressaltando a fundamental importância do contrato firmado entre o diretor e a


produtora espanhola MediaPro, que garantiria ainda outras produções, a obra contou
com investimentos públicos e privados por parte dos espanhóis. Conforme informações
oficiais da Barcelona Turisme Convention Bureau5, a Câmara Municipal de Barcelona
cofinanciou o montante de um milhão de euros, quase 10% de toda a quantia
despendida para a realização do filme. Como justificativa, as falas governamentais
apontavam a garantia de retorno dos valores gastos e o pensamento em tornar a
cidade um set de filmagens internacional.

Esses investimentos também tiveram relevância no processo de criação da


narrativa audiovisual. Isso porque, conforme entrevistas veiculadas pela mídia
especializada, Woody Allen afirma que o roteiro original tinha a cidade de São Francisco,
nos Estados Unidos, como cenário da trama. Contudo, os incentivos oferecidos, bem
como o imaginário do artista, fizeram com que Allen enxergasse a possibilidade de
adaptação do roteiro, agora tendo a Espanha como locação e pano de fundo das
ações de seus personagens.

No que tange às questões identitárias, alguns críticos, principalmente espanhóis,


apontam sentir a ausência de um maior mergulho na temática, em especial dos
aspectos catalães levantados pela personagem Vicky. Aspectos esses que, no entanto,
acabam não sendo aprofundados na narrativa. Ainda assim, como coloca Aertsen
(2011), a citação desses elementos de diferenciação passa a compor a construção da
cidade enquanto produto turístico e dá corpo ao desenho do cartão postal projetado
por Woody Allen e os atores sociais envolvidos na produção cinematográfica.

A questão local também perpassa o processo de produção do filme. Ainda


conforme Aersten (2011), houve acordo para que a maior parte da equipe técnica e
alguns atores fossem espanhóis, porém o idioma do roteirista foi impedimento para
que todos os papéis principais pudessem ser de espanhóis e a alternativa encontrada,
também pensando em uma visibilidade internacional da película, foi trazer atores
já reconhecidos e com fluência na língua inglesa, caso de Penélope Cruz e Javier
Barden.

Vicky Cristina Barcelona caminha em direção diferente ao marketing promovido


durante o Franquismo. Enquanto à época o slogan “Spain is different” promovia a

5 BARCELONA TURISME CONVENTION BUREAU. Disponível em: http://www.barcelonaturisme.com/up-


dates/21/update_en_news.html.
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unidade espanhola através de touradas, praias e festas, o recente filme busca construir
a imagem da cidade através das artes, arquitetura e urbanidades, ressaltando as
diversas possibilidades que os espaços oferecerem e as experiências proporcionadas
quando da interação com eles.

Os personagens da trama também possuem importante papel na construção da


atratividade em relação à obra e ao destino turístico. Isso porque, em sua pluralidade,
geram identificações e interesses por parte dos espectadores-viajantes. Enquanto
Juan Antonio e Maria Elena podem ser tidos como estereótipos espanhóis – criativos,
sedutores e passionais –, Vicky e Cristina ilustram turistas descobrindo a si mesmas
e explorando os encantos da cidade. Acompanhadas por suas câmeras fotográficas,
permitem a elaboração de registros de memória e novos olhares, tanto quando
pensado o contexto narrativo como o das mensagens transmitidas ao público-alvo da
película.

Com a constituição desse projeto, podemos dizer que as ideias de seus


idealizadores foram bem-sucedidas. O diretor e roteirista Woody Allen mais uma vez
obteve oportunidades de concretizar um projeto e com ele obter ótimo reconhecimento,
enquanto Barcelona e Oviedo – cidade que também compõe a narrativa – obtiveram
grande visualização e retorno dos investimentos, com o incremento de sua imagem-
produto e diversificação de opções aos turistas, que se revertem no aumento do
número de visitantes e receitas geradas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tido como cineasta das cidades, principalmente por sua relação afetiva com
Nova York, Woody Allen reafirma essa característica em sua recente produção
estrangeira. Quando pensado o intuito de promover os destinos, ao trazer seu nome
impresso, até o mesmo o título da obra analisada já é indício bastante expressivo de
seus objetivos.

É observado o sucesso da sutil promoção realizada pelos filmes envolvendo


as imagens que desejam divulgar no desenrolar da trama e no espetáculo que
criam. Contudo, deve ser ponderado que quando outras questões são envolvidas,
principalmente abarcando a realidade local, devemos refletir de modo mais crítico. Em
Vicky Cristina Barcelona, objeto aqui em análise, abordamos o conflito sobre a rasa
apresentação dos aspectos identitários da Catalunha.

No panorama tratado, vemos não somente as novas possibilidades de produção


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que o diretor e roteirista Woody Allen conquista, mas sua forte valorização perante
o mercado cinematográfico, absorvendo um novo nicho de mercado e grandes
interesses dos diversos atores sociais – instituições públicas e privadas. É notório o
reconhecimento do artista em diversas esferas, como o título de doutor honoris causa
concedido pela Universidade Pompeu Fabra e, mais recentemente, sua possibilidade
de retorno aos EUA com o filme Blue Jasmine (2013).

As apropriações midiáticas de nosso objeto têm os mais diferentes usos,


podendo ser destacados os movie walking tours, tendência já consolidada não apenas
quando utilizadas as obras de Woody Allen, mas também outras narrativas de viagem
de sucesso. Além disso, como dissemos, o imaginário arquitetado passa a compor a
nova imagem que as instituições espanholas desejam propagar, desvinculando-se do
marketing de destino propagado no período franquista.

Considerando as estratégias utilizadas pelos poderes públicos e privados


das cidades, podemos enxergá-las como complexas organizações em busca pela
consolidação de identidades. Identidades essas que, por sua vez, serão utilizadas
como formas de promoção, atuando também na constituição de imagens e imaginários
em constante processo de formação.

Nesse complexo jogo de identidades e representações, os organismos


privados também possuem importante atuação e fortes interesses. A partir da película
examinada, vemos a diversificação das possibilidades de atuação, bem como a
abertura de novas oportunidades dentro dos fenômenos turísticos.

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PAISAGEM URBANA E TURISMO NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS,


MARANHÃO: O CASO DA RUA PORTUGAL

Saulo Ribeiro dos Santos1


Letícia Peret Antunes Hardt2
Carlos Hardt3

RESUMO: A velocidade da urbanização e do turismo tem provocado relevantes


modificações nas paisagens das cidades, o que conduz ao questionamento sobre
como essas alterações são percebidas num determinado local. Sob essa ótica, o
objetivo geral da presente pesquisa consiste em analisar a percepção das influências
da atividade turística na paisagem urbana, adotando-se, como estudo de caso, o
Centro Histórico de São Luís, Maranhão. Os procedimentos metodológicos foram
apoiados em técnicas de investigação bibliográfica, documental e empírica, com
análise quantitativa e qualitativa de respostas de questionários aplicados a turistas
e a moradores. Os resultados revelam que, em geral, os respondentes perceberam
as intervenções do turismo na paisagem urbana do local específico de estudo, a Rua
Portugal, em termos de aspectos tanto positivos quanto negativos. Conclui-se assim,
que as transformações paisagísticas ocorridas no Centro Histórico de São Luís são
provenientes não somente da urbanização e de projetos de revitalização, mas também
da atividade turística.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Paisagem urbana. Percepção. Centro Histórico de São
Luís. Rua Portugal.

ABSTRACT: The speed of urbanization and tourism has caused significant changes
in the landscapes of cities which leads to questions about how these changes are
perceived in a certain place. Under this view, the general objective of this research is
to analyze the perception of influences of tourism in the urban landscape, adopting,
as a case study, the city of São Luís, Maranhão. The methodological procedures were
supported by bibliographic, documental and empirical research with quantitative and
qualitative analysis of responses from questionnaires given to tourists and residents.
The results reveal that, in general, the respondents perceived the interventions in the
urban landscape of tourism in the specific local in study, Portugal Street, in terms of both
positive and negative aspects. Therefore, it is concluded that the landscape changes
occurring in the Historic Center of São Luís are coming not only from urbanization and
revitalization projects, but also of tourist activity..
KEY WORDS: Tourism. Urban landscape. Perception. Historic Center of São Luís.
Portugal Street.

INTRODUÇÃO

Mediante a importância histórico-cultural do patrimônio urbanístico, as


1 Turismólogo. Doutorando em Gestão Urbana (PUCPR) e Geografia (UFPR). Professor da
UFMA. Bolsista CAPES. saulosantosma@uol.com.br
2 Arquiteta e Urbanista. Doutora em Engenharia Florestal. Professora do Programa de Pós-Gra-
duação em Gestão Urbana da PUCPR. l.hardt@pucpr.br
3 Arquiteto e Urbanista. Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Professor do Programa
de Pós-Graduação em Gestão Urbana da PUCPR. c.hardt@pucpr.br
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administrações de cidades vêm realizando planos de revitalização urbana para a sua


adequação a critérios estabelecidos por organizações internacionais, nacionais e
regionais (VIEIRA, 2007).

Nesse contexto, a renovação de centros históricos, a requalificação de


espaços públicos e a reincorporação de vazios urbanos, entre outros aspectos,
tornam-se fundamentais para o desenvolvimento da atividade turística, o que acarreta
transformações paisagísticas (FONSECA, 2009; HAYLLAR et al., 2011).

Recentemente, organizações voltadas à gestão do patrimônio, da cultura e do


turismo ganharam maior notabilidade, gerando políticas públicas que regem a ativi-
dade turística (OLIVEIRA, 2008; VIEIRA, 2007), destacando-a como relevante dife-
rencial no processo de planejamento, sendo, em geral, os programas voltados ao seu
fomento e às suas relações com bens históricos bem recebidos pela população em
geral (SANTOS, 2008).

Com o reconhecido crescimento do turismo em nível global (HAYLLAR et al.,


2011), os centros históricos ganham força como vetores de interesse político, disposto
a delimitar formas para o seu gerenciamento, sendo criados, então, órgãos governa-
mentais destinados à organização e ao fomento da atividade.

Com a inserção do turismo em programas governamentais e com a criação de


políticas públicas de preservação de centros históricos, espaços delimitados como
patrimoniais se consolidam como objetos de ações para a melhoria das condições lo-
cais, promovendo diversas alternativas de proteção de bens públicos ou, até mesmo,
privados (OLIVEIRA, 2008; VIEIRA, 2007).

Com a adoção do turismo como uma das suas principais fontes econômicas, a
cidade absorve os seus impactos, dentre os quais se destacam aqueles pertinentes a
intervenções na paisagem urbana, gerando, por um lado, benefícios aos locais histó-
ricos, com a preservação e revitalização dos seus espaços para visitação (LIHTNOV;
VIEIRA, 2010; OLIVEIRA; ANJOS; LEITE, 2008) e, por outro, situações paisagísticas
deletérias se oriundas de ações inadequadas.

Como produto da percepção visual do ambiente urbano (HARDT, 2000), a


paisagem das cidades é formada por elementos naturais, como relevo e vegetação,
por exemplo, e construídos, como ruas, edifícios e calçadas, dentre muitos outros
componentes, com destaque, ainda, para a presença do homem e de suas atividades
sociais, econômicas, políticas e institucionais.

Face ao anteriormente exposto, o objetivo geral da pesquisa consiste em


analisar a percepção das influências da atividade turística na paisagem urbana,
adotando-se, como estudo de caso, o Centro Histórico de São Luís, Maranhão, e,
mais especificamente, a Rua Portugal.
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CONCEPÇÕES SOBRE PAISAGEM URBANA

No Período Renascentista, a paisagem passou a ser associada à pintura,


quando artistas priorizaram a representação de cenários naturais. Mas seu conceito foi
fortalecido no século XVII, sendo voltado, naquela época, principalmente a aspectos
rurais. Nesse âmbito, Bonametti (2010) explica que a própria origem da palavra está
ligada à noção de território e de espaço geográfico, abrangidos pela visão humana.

Hoje, o estudo da paisagem urbana vem ganhando progressiva importância,


a partir de rápidas, frequentes e expressivas alterações conceituais processadas
na segunda metade do século XX (ANTROP, 2004). Por decorrência, na visão de
Maderuelo (2010), a paisagem não consiste em um objeto, mas compreende um
constructo mental elaborado por determinado observador a partir de sensações e
percepções apreendidas durante a contemplação de dado lugar – rural ou urbano.

Por sua vez, Andreotti (2012, p.6) comenta que a paisagem vai além da sua
própria definição, refletindo a sociedade e a sua história, pois, para a autora, “não
pode ser separada do homem, seu espírito, da sua imaginação e percepção”.

Para os autores citados, a paisagem pode, portanto, ser captada pelo homem
nos seus aspectos tanto rurais quanto urbanos. Adicionalmente, Hardt (2000) a
conceitua como combinação de elementos naturais e antrópicos, inter-relacionados e
interdependentes, que produzem um conjunto de sensações.

Assim, o cruzamento de diferentes espaços, em variados momentos, forma no


espaço urbanizado, o que pode ser interpretado como paisagem urbana, composta
pela sobreposição de acontecimentos históricos e socioeconômicos presenciados ao
longo do tempo (HARDT; HARDT, 2006), sendo concebida a partir de composição
espacial peculiar à sociedade à qual pertence.

Consequentemente, a paisagem urbana é o produto da percepção visual


sobre algo que constitui o ambiente urbanizado, formado por ruas, edifícios, praças e
calçadas, entre outros componentes. Bonametti (2010, p.5) complementa essa ideia
ao afirmar que:
a intervenção nas paisagens urbanas deve levar em consideração a evolução
da sociedade e suas transformações básicas, pois as cidades são dotadas
do peso e da permanência das paisagens, onde o atual convive com a
decadência; o futuro, com a antiguidade; onde os vestígios e as lembranças
estão presentes.

Jones (2010) enfatiza este aspecto intervencionista ao destacar a tendência


à alteração paisagística tanto por processos sociais globais quanto por condições
históricas e geográficas de contingências locais.
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Adam (2008) complementa que, a partir dessas concepções, é possível perceber


a existência várias formas de entendimento da paisagem urbana, pois a cidade é
construída no decorrer dos anos, formando e (re)formando o ambiente urbanizado
(HARDT ; HARDT, 2006). Por sua vez, Cullen (2006) estrutura um conceito que
recorre aos seguintes aspectos:

a) visão propriamente dita – constituída por percepções sequenciais (séries)


dos espaços urbanos;

b) reações do sujeito com relação à sua posição no espaço – direcionadas


a aspectos de localização, interna e externa, do observador, referentes às
sensações provocadas pelos espaços: abertos, fechados, altos, baixos
etc.;

c) construção da cidade – relacionada a características das cores, texturas,


escalas e estilos dos elementos construídos e naturais, bem como a
conformações da malha urbana.

Nesse sentido, Fernandes (2009, p.2) esclarece que “a cidade é construída ao


longo do tempo num processo que, longe de uma estratigrafia perfeita, vai deixando
novas inscrições que coexistem ou se sobrepõem a elementos do passado”. Assim,
a paisagem urbana é uma marca, carregada de subjetividade, e, ao mesmo tempo, é
uma interpretação a partir da descrição do espaço geográfico analisado visualmente.
Portanto, exprime a evolução histórica do ambiente, formada pela ação do seu próprio
desenvolvimento na sociedade, refletindo a cultura e a identidade do homem, bem
como o relacionamento das funções sociais com os recursos naturais. Segundo o
pensamento de Ortigoza (2010, p.1):
a paisagem urbana é a materialização mais imediata e momentânea da
vida social. Sua decomposição revela o cotidiano, as representações,
seus significados, e, principalmente as visões de mundo e as relações da
sociedade com a natureza. Por ser um conjunto único e complexo, cada
paisagem demonstra as culturas constituintes e a identidade socioespacial.

Por decorrência, a paisagem urbana é constantemente submetida a processos


perceptuais (HARDT, 2004), com o significado dos elementos representando o reflexo
de motivações, preferências e atitudes relativas ao espaço (YUEN; HIEN, 2004). De
forma complementar, Oliveira et al. (2012, p. 5) apontam que o:
estudo da percepção de paisagens e de lugares tem assumido cada vez
mais papel de destaque, uma vez que expressa a preferência, o gosto e as
ligações afetivas dos seres humanos e de suas comunidades para com os
lugares e paisagem e com o próprio meio ambiente.

Com a evolução e acúmulo dos tempos, a paisagem apresenta condições


diferenciadas no espaço urbanizado, de maneira que, a cada alteração no ambiente,
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os cenários se configuram de forma diversa. No complexo processo de mudança


do estilo rural para o urbano, que cresceu a partir do século XIX e que está ligado
principalmente aos sistemas de transportes, Antrop (2004) verifica que a constante
transformação da sociedade modifica também o conceito de paisagem urbana, pois a
dinamicidade das cidades na era da globalização tem causado mutações nos cenários
construídos e culturais, a partir das próprias intervenções antrópicas. Nesse cenário,
Alcântara (2012, p. 21) lembra que:
paisagem urbana é [...] produto impregnado de cultura, resulta de processos
biofísicos e sociais e de gestão do território, incorpora seus diversos
tempos e escalas, e apresenta elementos de integração ou fragmentação
territorial, criando e recriando formas, funções e fluxos, com funções
ecológicas diversas, nos diferentes estágios de intervenção humana. Como
sistema, é determinada por toda ação que ocorre sobre a paisagem, local e
regionalmente, e a reação correspondente que promove alterações totais ou
parciais em sua morfologia.

Da mesma maneira, Choay (2010, p.68) ressalta que a sociedade destacou-se


por uma nova construção do espaço urbano, pois:
à medida que a cultura ocidental aprofunda sua tomada de consciência de
si através de uma reflexão sobre suas próprias realizações, a cidade tende
a tornar-se seu símbolo por excelência, e o comentário sobre a cidade um
lugar privilegiado para a expressão de uma visão do mundo e de uma ideia
de natureza humana).

Conforme a sociedade vai evoluindo, a cidade vai criando um cenário cultural


promovido pelas relações sociais, que promovem características singulares do
passado e do presente no espaço urbanizado (ANDREOTTI, 2008; 2010). Na mesma
linha, Michelin (2012, p.172) evidencia a ideia da paisagem como uma construção
da cultura local, ao afirmar que “a artificialidade do ambiente urbano, entendida a
cidade como uma construção social, corporifica a real natureza do homem”. Por essa
multiplicidade de interações,:
diferentes sistemas que, em conjunto, constituem o fenômeno urbano global,
entram necessariamente em colisão uns com os outros e são precisamente
essa colisão, esse desencontro e esse conflito que estão na base e que
tornam possível o desenvolvimento da cidade (SILVA, 2006, p.25).

O ambiente urbano, portanto, caracteriza-se por essa união de fenômenos


que promovem o meio cultural, formado por elementos naturais, que constituem o
patrimônio turístico, paisagístico, arquitetônico, artístico, histórico, arqueológico e
espeleológico, conforme prescrevem os artigos 215 e 216 da Constituição Federal
(BRASIL, 1988; 2009). Nessa conjuntura de formação da cidade a partir das relações
entre vários elementos, é possível verificar que a paisagem também é modificada
por essas interseções. Na visão de Cavallazi (2010, p.52), toda paisagem “é fruto
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da interpretação do homem e, portanto, o meio ambiente cultural não é um terceiro


aspecto e sim está imbricado em todo o meio ambiente, principalmente naquele que
constitui espaço urbano”.

Conseuqntemente, o entendimento sobre a paisagem urbana significa


compreender as diferentes fases de um território, em contínua interação entre os
contornos internos e externos e seus elementos estruturais no tempo, ou seja, a
cidade e suas defesas externas, a produção econômica e a forma de interação dos
cidadãos; então, afirma-se que a paisagem é resultante da relação do homem com
determinado ambiente (ANDREOTTI, 2010; 2012).

Nesse contexto, as relações das atividades turísticas com a paisagem urbana


são fatores decisórios para a escolha da visitação de um destino (CASTROGIOVANNI,
2013). Observar e avaliar o espaço tornam-se exercícios prazerosos que despertam o
interesse pelo lugar visitado, pois os cenários das cidades indicam para o turista que
o mesmo está fora do seu cotidiano, ou seja, que há mudanças de rotina e de lugar.

ESTRUTURAÇÃO METODOLÓGICA

A avaliação da percepção das intervenções da atividade turística na paisagem


urbana compreende o estudo de caso4, envolvendo o aprofundamento dos temas
visando à ampliação do seu conhecimento específico (GIL, 2006).

Assim, justifica-se parte da abordagem ser qualitativa, visto que a interpretação


dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas nesse tipo de investigação.
Outra parte do estudo é de ordem quantitativa, frente à melhor distribuição e análise de
opiniões e informações por meio de números. Dentre as várias formas classificatórias
de pesquisas, adota-se a tipologia de delineamento com agrupamentos5, proposta por
Vergara (2004), justificada tanto pelos fins quanto pelos meios.

Quanto aos fins, é exploratória, porque “[...] é realizada em área na qual há


pouco conhecimento acumulado e sistematizado”, bem como descritiva, pois “expõe
características de determinada população ou determinado fenômeno.” (VERGARA,
2004, p.47).

Quanto aos meios, envolve procedimentos de campo e pesquisas bibliográficas e

4 Estudos de caso são estratégias preferidas quando questões “como” ou “porque” estão presen-
tes e quando o investigador tem reduzido controle sobre os eventos. Trata-se de uma investigação
em que se procura compreender, descrever ou explorar acontecimentos sobre uma situação espe-
cífica, e seu principal intuito reside na interação entre fatores e eventos, de forma a contribuir para
a compreensão global do fenômeno de interesse (YIN, 1994).
5 O delineamento com agrupamentos corresponde à escolha de um plano a ser conduzido para
a investigação em relação às categorias dos objetivos, procedimentos, objetos e fontes de informa-
ção, ou seja, compreende a verificação de semelhanças entre tipologias de pesquisa (VERGARA,
2004).
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documentais. Os primeiros são realizados no local “onde ocorre ou ocorreu um fenômeno


ou que dispõe de elementos para explicitá-lo” (VERGARA, 2004, p.47).

A delimitação do trecho da área pesquisada em São Luís foi baseada nos


seguintes critérios específicos de seleção: grau de representação turística para São
Luís, nível de importância histórica para a cidade e existência de intervenções públicas
e privadas na paisagem urbana do espaço específico, ocorridas num recorte temporal
de, no máximo, 30 anos, devido os projetos de revitalização e turísticos terem sidos
realizados com intensidade a partir da década de 90. .

Como resultado da aplicação desses critérios, tem-se a definição da Rua Portugal


(Figura 1), por ser uma das vias da capital maranhense mais visitadas pelos turistas
(SMTUR, 2013); por conter o maior conjunto de casarões revestidos em azulejo português
da América Latina, tendo, no passado, forte representação econômica para a cidade,
devido à instalação de comércio nessas edificações (ANDRÈS, 2008; LOPES, 2008); e
por estar localizada em malha urbana de inserção pública e privada, com existência de
intervenções realizadas mediante projetos de revitalização do Centro Histórico de São
Luís, como o Projeto Reviver, realizado na década de 1980 (ANDRÈS, 2008; LOPES,
2008).

A pesquisa de percepção foi desenvolvida por meio de métodos exploratórios


e explicativos, além de técnicas de análise perceptual, realizada pela aplicação de
questionários com perguntas abertas e fechadas a turistas e moradores de São Luís,
no mês de abril de 2014, limitando-se ao processo de percepção sobre as intervenções
turísticas na paisagem urbana,

A amostragem para aplicação dos questionários foi por acessibilidade, ou seja, em


situações em que o pesquisador seleciona indivídios aos quais tem acesso, admitindo
que são representativos no universo delimitado. Assim, os critérios de seleção foram:
turistas – aqueles que permaneceram, no mínino, dois dias na cidade e que visitaram
seu centro histórico – e moradores – os que residem na cidade há, pelo menos, um ano,
garantindo a sua mínima interação com a realidade local.
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Figura 1: Mapa de localização do Centro Histórico de São Luís com destaque para a
Rua Portugal

Fonte: Elaborada com base em Lopes (2008).


Nota: UNESCO = Organização das Nações Unidades para a Educação, a
Ciência e a Cultura

PERCEPÇÃO DOS TURISTAS E MORADORES SOBRE A PAISAGEM URBANA

Com referência ao perfil dos 40 turistas entrevistados, tem-se a representatividade


de quase todas as regiões do país, sendo vários deles procedentes do próprio Nordeste:
Recife, Pernambuco; Teresina, Piauí; e Bacabal, Caxias e Imperatriz, Maranhão. A
Região Sudeste é representada por visitantes de São Paulo, Guaratinguetá e São
José dos Campos, São Paulo; além do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, dos estados
do Rio de Janeiro e Minas Gerais, respectivamente. Para a Região Norte, tem-se o
registro de visitas originadas apenas de Belém, Pará, e para a Região Centro-Oeste,
somente de Brasília, Distrito Federal. A Região Sul não foi representada na amostra.
Esses dados se aproximam dos resultados de pesquisa realizada pela Secretaria
Municipal de Turismo de São Luís (SMTUR, 2013), que apresenta indicativos de que,
tanto na alta quanto na baixa temporada, a maior procedência de visitantes é do
próprio Maranhão, seguido por estados vizinhos (Pará, Piauí e Ceará) e por aqueles
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com ligações aéreas (Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo).

O tempo de estadia em São Luís (Figura 2) foi predominantemente de um a


cinco dias (84,0%). Houve predomínio de pessoas entre 42 a 48 e entre 49 a 60 anos
(25,0% cada), com apenas 5,0% de idosos (acima de 60 anos). A maior parte desses
visitantes era constituída por mulheres (64,0%). Grande parcela possuía grau de
escolaridade relacionada aos níveis de ensino médio (50,0%) ou superior (40,0%),
ambos completos. Constata-se, novamente, similaridade com resultados da pesquisa
realizada pela SETUR (2013), o que ratifica que as estratégias de segmentação do
turismo para um determinado público alvo em São Luís têm sido consolidadas ao
longo dos anos.

Figura 2: Gráficos de proporcionalidade de características do perfil dos turistas


entrevistados

tempo de estadia (em dias) faixa etária (em anos)

gênero grau de escolaridade


Fonte: Elaborada com base nas respostas dos questionários aplicados.

Quando solicitada a opinião sobre a promoção, pelo turismo, de mudanças


significativas na paisagem do Centro Histórico de São Luís, a maioria respondeu
afirmativamente (65,0%), podendo ser destacadas as seguintes colocações:
Mesmo sendo a primeira vez na cidade, notei que o turismo causa mudanças
aqui assim como em outros locais. Achei Interessante algumas ruas daqui,
ser proibido o tráfego de carros e podemos andar sem preocupação pra isso
(TURISTA 1, 2014).
Porque essa atividade movimenta economia e não deve ser diferente aqui.
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Mas falta infraestrutura e organização, principalmente no mercado daqui


(mercado da Praia Grande) (TURISTA 2, 2014).
Comparando São Luís com Ouro Preto, a gente percebe a necessidade de
infraestrutura, cuidados com os casarões antigos, empreendimentos voltados
pra turista que aqui ainda não tem, mas tem potencial também (TURISTA 3,
2014).

No mesmo sentido dessas afirmativas, Silva (2004, p.27) comenta que:


os lugares turísticos são escolhidos e admirados por suas paisagens. Neles,
os panoramas da natureza e a visão do homem e sua cultura inseridos
no território são prazeres a serem desfrutados e, na maioria das vezes,
constituem o motivo condutor do viajante. Admiradas como cenários, as
paisagens são testemunhos visuais de elementos estéticos e simbólicos
construídos historicamente e que, quando identificados e apropriados pelo
viajante, despertam um renovado interesse no lugar visitado.

Completando o pensamento dessa autora, tem-se que:


as mudanças que ocorrem no ambiente refletem na paisagem, principalmente
quando se considera que os territórios estão em constante expansão,
acompanhando o desenvolvimento das populações [...]. Dos agentes
transformadores da paisagem urbana, um em especial foi o grande
responsável pela estruturação de diversas cidades em um curto espaço de
tempo, a atividade turística (DAL MOLIN; OLIVEIRA, 2008, p.6-7).

Cabe mencionar que a maioria dos entrevistados estava em São Luís pela
primeira vez e a comparavam com outras cidades que já tinham visitado. Pesquisa
realizada pela Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento (FSAD, 2004,
s.p.), sobre a atratividade da capital maranhense em comparação com outros destinos
similares, aponta que:
o polo São Luís possui uma pior avaliação da atratividade (isto é, mais próxima
do valor 1) quando comparado com Salvador, Recife e Olinda – cidades
igualmente marcadas pela diversidade do patrimônio histórico-cultural
e pelas praias. No entanto, quando comparado a cidades exclusivamente
associadas ao patrimônio histórico (como são os casos das cidades históricas
mineiras, como Ouro Preto e Mariana), São Luís encontra-se melhor
posicionado (isto é, mais próximo do valor 5).

A significativa proporção de 65,0% dos respondentes não soube opinar sobre


mudanças notáveis promovidas pelo turismo na paisagem do Centro Histórico de
São Luís, destacando apenas pontos negativos. Porém, vale destacar as seguintes
citações:
Percebi uma construção ou reforma de um museu da gastronomia aqui, isso
é legal pra que a gente possa entender mais da culinária daqui (TURISTA 4,
2014).
Seria interessante que os bares locais tocassem mais música da região,
além da [música popular brasileira] MPB e rock nacional, foi o que percebi e
que poderia agradar muitos visitantes até pra conhecer melhor (TURISTA 5,
2014).
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Esses empreendimentos que são decorados com artesanatos do local e


“conservam” a cultura local pra gente vivenciar (TURISTA 6, 2014).
Gostamos muito da feirinha (Mercado da Praia Grande) e dos produtos e
bares que tem lá, mas falta um pouco de conforto e higiene pra quem trabalha
e compra lá (TURISTA 7, 2014).

Cavazalli (2010) esclarece que a percepção da paisagem urbana é individual;


portanto, essas declarações revelam, de forma intrínseca, que os turistas percebem
alterações na paisagem urbana ocasionadas pelo turismo, mas não conseguem expor
claramente como são processadas.

Completando, destaca-se o pensamento de Dal Molin e Oliveira (2008, p.7)


sobre a percepção da paisagem:
tendo a própria paisagem como argumento, o turismo chega aos sonhos
dos turistas, introduzindo novos códigos culturais e propondo sistemas de
símbolos galgados por imagens que fogem à realidade. São esses artifícios
que motivam o deslocamento e a concretização de prazer, descanso e
divertimento por meio da atividade turística. Contudo, a leitura dessa paisagem,
seja no turismo ou na arquitetura, torna-se um processo complexo, pois
envolve a experiência individual, construída por meio de bagagens culturais,
histórias de vida, pensamentos e sentimentos, diferente do que uma simples
leitura, por isso ela se torna de grande importância para o turismo.

Incentivados a citar as razões dos seus posicionamentos anteriores, alguns


comentaram que:
Percebemos muitos casarões ocupados por setores públicos e seria
interessante ter mais bares ou restaurantes por aqui. Até bons hotéis e
pousadas; nós estamos hospedados na praia, mas se tivesse um bom hotel
aqui seria melhor (TURISTA 8, 2014).
Não estou a par das políticas públicas do turismo aqui, mas sei que as decisões
dos gestores é importante pra manutenção e cuidado desses casarões, por
exemplo (TURISTA 9, 2014).

Ratificando essas exposições, Dal Molin e Oliveira (2008, p.7) expõem que:
quando a própria paisagem, com edificações, praças, monumentos, entre
outros pontos nodais, se torna a atração, concomitante à apreciação do
conjunto estrutural, são criados significados novos atribuídos aos seus
elementos que refletem na percepção do olhar, motivados por essa bagagem
simbólica primordial.

Na busca da opinião sobre intervenções positivas do turismo sobre a paisagem


do Centro Histórico de São Luís, ressaltam-se as seguintes citações:
Acredito que com visitação constante exista algum planejamento para limpeza
e conservação dos prédios antigos, calçadas, ruas (TURISTA 10, 2014).
Percebi câmeras de segurança aqui e deu mais tranquilidade (TURISTA 11,
2014).
Da última vez, estive aqui no São João e estava tudo decorado pra festa,
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boi, danças de tambor, palcos e explicações no intervalo da cultura local para


quem estava visitando (TURISTA 12, 2014).

Sobre as intervenções negativas, salientam-se as menções:


Na verdade, falta de cuidados com o centro histórico, não percebi manutenção
desses casarões como existe em Ouro Preto (TURISTA 13, 2014).
Percebemos aqui um fedor enorme de barata, esgoto e incomodou muito,
principalmente quando estávamos comendo (TURISTA 14, 2014).
Tivemos medo de passar por baixo de uns casarões abandonados, parece
que vão cair a qualquer momento (TURISTA 15, 2014).
O mercado da Praia Grande é um ótimo atrativo, mas que precisa de
manutenção, limpeza e organização dos produtos. Os casarões que estão
abandonados e o odor no centro histórico que é muito forte e desconfortável
(TURISTA 16, 2014).

A análise da paisagem urbana ou dos seus componentes se faz necessária


para o entendimento da atratividade ou do potencial enquanto recurso turístico,
especialmente porque é captada:
pelo turista de forma seriada, armazenada em sua memória e avaliada
conforme seus valores; a análise deve atentar para as motivações dos
visitantes, buscando agregar valor à sua atratividade, sem a descaracterização
de sua originalidade, assim como para o seu significado para a comunidade
local (OLIVEIRA; FERNANDES; STACH, 2007, p.86).

Além disso, Castrogiovanni (2013) enquadra as paisagens turísticas


intrinsecamente nas motivações dos visitantes. Por decorrência, torna-se fundamental
o conhecimento dos elementos paisagísticos visando à melhoria do ordenamento do
espaço turístico para que os visitantes possam contemplar a distribuição territorial dos
atrativos.

Em termos gerais, as entrevistas com os turistas evidenciam a decepção


da maioria com a sua experiência na cidade, com várias reclamações relativas ao
Centro Histórico, como a falta de segurança, a presença de pedintes, o insuficiente
atendimento dos empreendimentos e a reduzida manutenção nos banheiros de alguns
estabelecimentos.

Com relação ao perfil dos 50 moradores entrevistados, tem-se o registro de


suas residências em 13 bairros, com destaque para Cohatrac e Cidade Operária.

O tempo predominante de residência em São Luís (Figura 3) é de mais de


20 anos (74,0%), com prevalência de pessoas entre 21 a 27 anos (40,0%). A maior
proporção também é de mulheres (62,0%). Grande parte possui grau de escolaridade
relacionada aos níveis de ensino médio completo (48,0%). As profissões mais citadas
são de estudante e autônomo).
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Figura 3: Gráficos de proporcionalidade de características do perfil dos moradores


entrevistados

tempo de residência (em anos) faixa etária (em anos)

gênero grau de escolaridade


Fonte: Elaborada com base nas respostas dos questionários aplicados.

Sobre a opinião da promoção, pelo turismo, de mudanças significativas na


paisagem do Centro Histórico de São Luís, a maioria respondeu de forma afirmativa
(68,0%), ponderando que:
o fluxo de turistas aumentou na área, movimentando a economia da cidade,
gerando renda da população local (MORADOR 1, 2014).
o turismo também melhora a imagem da cidade, o que acontece no centro
histórico (MORADOR 2, 2014).
houve mudança [positiva] de infraestrutura no local, saneamento básico e
revitalização de alguns casarões (MORADOR 3, 2014).

As colocações negativas mais relevantes foram:


com a intervenção do turismo, a paisagem urbana do centro histórico passa
por uma descaracterização do seu patrimônio arquitetônico (MORADOR 4,
2014).
mesmo com esse Projeto Reviver, o centro histórico não está preparado para
receber turistas ou sofrer mudanças através desta atividade (MORADOR 5,
2014).

A paisagem interessa prioritariamente aos moradores e, a partir dessa relação,


é que atrai os turistas, transeuntes e visitantes, justamente pela diferença dos seus
cotidianos (CASTROGIOVANNI, 2013).
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Com relação a opiniões sobre mudanças marcantes promovidas pelo turismo


na paisagem do Centro Histórico de São Luís, destacam-se:
apropriação e utilização dos prédios abandonados (MORADOR 6, 2014).
depredação do patrimônio público (MORADOR 7, 2014).
incentivo ao empreendedorismo individual (artesanatos) (MORADOR 8,
2014).
[...] não vejo mudanças na paisagem por influência do turismo (MORADOR 9,
2014).

Para Marujo e Santos (2012, p.37), “o turismo pode ser um agente de


preservação, mas também um causador de mudança de cenários e elementos de
paisagens”. Quando das análises paisagísticas voltadas às atividades turísticas sob
a ótica do morador, é imperativa a consideração do cenário cultural, principalmente
em relação às transformações e às formas das suas interpretações pelos indivíduos
(OLIVEIRA; FERNANDES; STACH, 2007).

Relevante proporção de 73,0% dos respondentes disse que não acredita que
a paisagem do Centro Histórico de São Luís vem sofrendo intervenções oriundas de
políticas públicas de turismo, criticando a gestão municipal e estadual, a exemplo da
colocação de que a atividade é desorganizada e que o “centro histórico não está em
condições de atender turistas por falta de infraestrutura, atrações extras e acervo
arquitetônico (MORADOR 10, 2014). Todavia, o restante dos entrevistados afirma a
existência dessas intervenções, mas não soube explicar suas causas e suas formas
de implementação, parecendo não entender o contexto de políticas públicas.

A opinião sobre ações positivas do turismo sobre a paisagem do Centro Histórico


de São Luís pode ser atestada principalmente pelos seguintes argumentos:
comunidade local investindo em artesanatos, alimentos e informações para
atender a demanda turística (MORADOR 11, 2014).
movimentação do mercado local [mercado das tulhas] (MORADOR 12, 2014).

incentivo à revitalização de prédios históricos (MORADOR 13, 2014).


abertura de novos empreendimentos (MORADOR 14, 2014).

Por sua vez, as negativas são relacionadas a:


especulação imobiliária na região do centro histórico, pois muitos prédios
pertencem ao governo e outros são usados como hotéis, bares e restaurantes
(MORADOR 15, 2014).
consumo de drogas por turistas e/ou moradores incentivando a venda no
local (MORADOR 16, 2014).

Ratifica-se, portanto, o pensamento de Andreotti (2008; 2010) e Michelin (2012)


quanto à evolução da sociedade por intermédio das relações sociais, evidenciando
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uma paisagem urbana proveniente da construção entre o passado e o presente no


espaço urbanizado.

Vale destacar que houve dificuldade dos entrevistados para listar as mudanças
na paisagem ou discorrer sobre o assunto, com algumas respostas vagas com recusa
do respondente para explicar ou aprofundar o tema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar das limitações da pesquisa, especialmente aquelas referentes à reduzida


amostra selecionada para as entrevistas, com consequente ampliação do seu caráter
qualitativo, e ao recorte de apenas um trecho do centro histórico (Rua Portugal),
os resultados alcançados revelam questões de interesse para a interpretação da
relação entre aspectos paisagísticos e atividades turísticas, com contribuições para
investigações futuras, tanto no âmbito acadêmico-científico quanto na esfera técnica-
administrativa.

Como produto da apropriação visual da cidade e da sobreposição de vários


tempos vividos, a paisagem do Centro Histórico de São Luís propiciou o diagnóstico
de que atores partícipes da atividade turística que percebem intervenções do turismo
nesse espaço têm o sentimento de insatisfação em relação à gestão pública estadual e
municipal quanto às políticas públicas de preservação. Aqueles que não notam essas
intervenções sequer reconhecem ações no sentido da melhoria da atividade nesse local
classificado como Patrimônio da Humanidade, não obstante ser visível que algumas
construções foram direcionadas para o seu atendimento, como no caso de museus,
bares, restaurantes e meios de hospedagem, por exemplo. Essas considerações
conduzem à assertiva da necessidade de aprofundamento da compreensão acerca
das condições paisagísticas urbanas em associação com o aperfeiçoamento dos
estudos teóricos e das aplicações práticas das análises perceptuais com vistas ao
adequado processo democrático de administração de cidades e dos seus patrimônios
materiais e imateriais.

Dessa maneira, conclui-se que, em conformidade com teorias e conceitos


de planejamento e gestão urbanística e turística, é imprescindível a integração de
políticas, planos, programas e projetos, em diversas áreas e em variados níveis
governamentais, para que o processo seja desenvolvido de forma adequada,
promovendo benefícios aos envolvidos nessa cadeia, com efetiva participação de
todos os segmentos pertinentes.
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A GESTÃO DEMOCRÁTICA DE ORLAS URBANAS E O TURISMO: O CASO DO


COMPLEXO VER-O-RIO NA CIDADE DE BELÉM (PA)

Márcia Josefa Bevone Costa1


Maria Lúcia da Silva Soares2

RESUMO: O artigo apresenta uma discussão sobre a gestão de orlas urbanas, com
direcionamento ao modelo de planejamento e gestão democrático-participativa adotado
na orla da cidade de Belém/PA, no recorte territorial denominado ‘Complexo Ver-O-
Rio’, e a atividade do segmento de turismo e suas principais características como
fenômeno social, enfatizando o modelo de turismo sustentável, que é trabalhado para
oportunizar a população das localidades o desenvolvimento de atividades de lazer,
turismo e geração de trabalho e renda. Esse artigo é derivado de uma dissertação
de mestrado que teve como base a utilização de técnicas metodológicas de análise
documental e entrevistas semiestruturadas direcionadas aos atores envolvidos nesse
processo de planejamento e gestão, como planejadores, gestores públicos e outros. O
artigo mostra que o modelo de gestão democrático-participativa apresenta diferenças
fundamentais para uma cidade mais justa com inclusão social, geração de trabalho e
renda e aproveitamento dos recursos do território de forma coletiva.

PALAVRAS-CHAVE: Orla Urbana. Gestão Urbana. Turismo. Desenvolvimento Local.

ABSTRACT: The article presents a discussion on the management of urban waterfronts,


targeting the planning model and participatory democratic management adopted in the
city of Belém/PA’s shore, in the ‘Ver-O-Rio Complex’ and the tourism sector activity and
its main characteristics as a social phenomenon, emphasizing the sustainable tourism
model, which is working to nurture the development of leisure, tourism and generation
of employment and income activities to local population. This article is derived from a
master the sis which was based on the use of methodological techniques of document
analysis and semi-structured interviews directed to the actors involved in the process of
planning and management, as planners, policy makers and others. The article shows
that the democratic-participatory model presents fundamental differences for a fairer
city with social inclusion, employment and income generation and exploitation of land
resources collectively.

KEYWORDS: Urban fringe. Urban Management. Tourism. Local Development.

INTRODUÇÃO

Os locais às margens de corpos d’água sempre foram estratégicos e são alvos


de um contínuo processo de ocupação que se intensificou especialmente com o
advento da urbanização do espaço mundial (SANTOS, 2002). Segundo Brasil, (1998,

1 Mestre em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia. Professora


no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA/Campus Belém. E-mail: mbe-
vone@yahoo.com.br.
2 Mestre em Educação. Professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Pará – IFPA/Campus Belém. E-mail: malu.ssores@g.mail.com.
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apud SANTOS, 2002), cerca de 70% da população brasileira está concentrada ao


longo dos 7.480 km de faixa litorânea. Esta população vive principalmente em grandes
centros urbanos que, por fatores históricos e geográficos, também se concentra ao
longo da faixa litorânea.

Na atualidade, verifica-se uma forte pressão das atividades produtivas nas


áreas de orlas urbanas3. Estas áreas se apresentam como espaços de multiuso e
permanentes conflitos sociais, pois são predominantemente dominados por atividades
de comércio, transporte, serviços, recreação e turismo. De fato, as áreas de orla,
litoral e costa das cidades são consideradas importantes espaços estratégicos e
propícios para a atração de atividades socioeconômicas (MMA/MP, 2002). Estudos
que abordem de forma interdisciplinar a gestão de orla ainda são muito raros no Brasil
e, muito especialmente, na Amazônia.

O setor turístico nos últimos anos tem sido considerado um dos mais importantes
segmentos da economia internacional, não apenas pela justificativa de seus índices
de crescimento e desenvolvimento socioeconômico, mas principalmente por ter se
transformado em uma das alternativas que proporcionam a geração de emprego e
renda e inclusão social, possibilitando, em consequência, o aumento da qualidade
de vida e da reestruturação das relações sociais desestabilizadas pelos problemas
inerentes as lacunas do desenvolvimento (CORIOLANO, 2006).

Nas atuais discussões sobre desenvolvimento e contrapondo-se ao modelo


do turismo de massa, discutem-se modelos de desenvolvimento para o turismo
destacando-se o turismo sustentável e o de base local, considerados como modelos que
contribuem para dinamizar a economia, promover a sustentabilidade das comunidades
envolvidas, uma vez que pode gerar benefícios e inclusões a essas comunidades e
incluí-los nas discussões acerca de seu desenvolvimento de forma mais participativa
(CORIOLANO, 2003a). O modelo de desenvolvimento sustentável para o turismo
considera a conservação do meio ambiente, a inclusão social e a participação na
gestão local como condições fundamentais para a viabilidade da atividade turística em
longo prazo. (BRASIL, 2007).

Nesse entendimento o Complexo Ver-O-Rio, espaço de lazer e turismo localizado


na orla central da cidade de Belém (PA) foi escolhido como objeto da pesquisa. Essa
escolha se deu em função das características que o diferenciam de outros espaços,
situados em orlas que são pensados eminentemente para turistas. O Complexo Ver-O-
Rio traz em sua proposição a inclusão social, economia solidária e gestão participativa.
O turismo passa a ser trabalhado como componente de gestão sustentável e como
instrumento de inclusão social uma vez que busca a geração de trabalho e renda no

3 Esta pressão leva à poluição e contaminação da orla, como aponta Ramos, 2004. Contudo, este não é o
foco de nossa análise.
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espaço da orla, além de proporcionar lazer para a sociedade local e comunidades do


seu entorno. Trata-se, na verdade, de uma tentativa de implementação da concepção
de turismo sustentável.

Nesse sentido, o objetivo do presente artigo é analisar a concepção e prática de


implantação do modelo de planejamento e gestão urbana democrático-participativa da
orla fluvial de Belém (PA), particularmente do recorte territorial denominado Complexo
Ver-O-Rio e a relação com o turismo. Utilizando-se da análise sobre os estudos de
planejamento e gestão urbana4, em especial sobre o modelo de planejamento e
gestão democrático-participativo e, também, de análise documental e entrevistas
semiestruturadas com planejadores e gestores públicos, proprietários de micro
empreendimentos e vendedores ambulantes que foram incluídos no planejamento e
gestão do complexo, busca-se refletir sobre quais as dificuldades de se colocar em
prática uma gestão democrático-participativa e quais os impactos no desenvolvimento
do turismo local.

A partir desta concepção o artigo é apresentado em três seções, uma abordando


a gestão de orla urbana por via da análise teórica sobre planejamento e gestão urbana
e enfatiza o modelo de gestão participativa. A outra aborda teoricamente o turismo
enquanto fenômeno social e toma como referência a concepção de turismo sustentável.
E a última apresenta uma análise empírica que trata especificamente da gestão da
orla urbana da cidade de Belém (PA) e as relações geradas pelo desenvolvimento do
turismo com o Complexo Ver-O-Rio.

PLANEJAMENTO E GESTÃO URBANA

Por princípio, o planejamento e a gestão urbana buscam a superação


de problemas da ordem de injustiça social e da melhoria da qualidade de vida,
compreendidos como estratégias de desenvolvimento, não apenas da cidade ou do
local, mas também regional e nacional (SOUZA, 2008). Por essa ótica, o planejamento
e a gestão são estratégias de desenvolvimento urbano na busca da melhoria da
qualidade de vida que se entende como a crescente satisfação das necessidades
básicas, não básicas, materiais e não materiais de uma parcela cada vez maior da
população, mesmo que a compreensão de justiça social dependa da multiplicidade e
complexidade da própria idéia de justiça social existente em cada sociedade (SOUZA,
2008).

Planejamento e gestão não devem ser compreendidos como sinônimos ou


como termos que podem ser trocados entre si, mas como atividades complementares
e distintas, pois planejar remete intuitivamente a uma idéia de futuro, enquanto gestão
4 Para uma visão mais abrangente sobre planejamento urbano e saneamento ambiental, ver a contribuição
de PEREIRA et al, 2003.
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se refere ao presente (REZENDE, 2006). No entender de Souza (2008, p.46) planejar


significa tentar prever a evolução de um fenômeno ou, para dizê-lo de modo menos
comprometido com o pensamento convencional, tenta simular os desdobramentos de
um processo com objetivo de melhor precaver-se contra prováveis erros e benefícios.
Já a gestão remete ao presente; gerir significa administrar uma situação dentro dos
marcos dos recursos presentemente disponíveis e tendo em vista as necessidades
imediatas (SOUZA, 2008).

O conceito de gestão, sob a ótica da administração, está relacionado com o


conjunto de recursos decisórios e a aplicação das atividades destinadas aos atos
de gerir. Em termos gerais, a governança pode ser entendida como competência
dos gestores nas atividades e nas ações de gestão. (REZENDE, 2006). Portanto,
governança envolve princípios da gestão social que tem, dentre outras características,
a participação dos atores envolvidos nos processos de planejamento e gestão de
políticas públicas, inclusive de gestão de territórios e espaços.

Este artigo não tem objetivo de discutir os diversos significados de participação,


cuja literatura também é vasta, assim considera como participação a possibilidade
da população tomar parte nas decisões, nos mais diversos níveis, no processo de
gestão (CANÇADO, TENÓRIO, PEREIRA, 2011). Cançado; Tenório; Pereira (2011)
demonstram ainda a importância da participação e do diálogo entre estado, sociedade
civil e mercado na implementação de políticas públicas. Para esses autores, a
participação e a tomada de decisão coletiva é fundamental para a construção de uma
sociedade mais justa e democrática.

A gestão municipal pode ser entendida como a gestão da prefeitura e de


seus órgãos, institutos, autarquias e secretarias, sendo o poder municipal o principal
responsável pela efetiva gestão do espaço urbano. Está relacionada com o conjunto
de recursos e instrumentos da administração aplicada na gestão local por meio de
seus servidores municipais (REZENDE, 2006). Em relação a gestão urbana, esta pode
ser entendida como a gestão da cidade relacionada com o conjunto de recursos e
instrumentos da administração aplicados na cidade como um todo, visando a qualidade
da infraestrutura e dos serviços urbanos, propiciando as melhores condições de vida
e aproximando os cidadãos nas decisões e ações de governança pública municipal
(REZENDE, 2006).

A partir da orientação da Constituição Federal de 1988 em seu art. 30, os


municípios devem elaborar suas próprias leis e normas complementares, considerando
suas condições socioeconômicas, culturais, históricas e geo-climáticas, ficando com a
competência do desenvolvimento e o ordenamento territorial por meio do planejamento,
do controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano, a fim de promover
a proteção do patrimônio histórico-cultural local. O Plano Diretor Urbano, a partir da
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Constituição Federal de 1988, passa a ser utilizado como principal meio de promover a
reforma urbana, voltado para o processo efetivo de participação popular nas decisões
relativas à vida da cidade. (SOUZA, 2008).

Neste artigo, o entendimento de democracia refere-se ao sistema político no


qual a população tem o direito de participação no processo de decisão política, direito
expresso na Constituição Federal de 1988. Tem como fundamento a soberania, a
cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa e o pluralismo (BRASIL, 2006).

Neste sentido, o Plano Diretor Urbano, pautado como instrumento de


planejamento e gestão, tem como principal desafio, por parte do governo, a questão
social, através do incentivo à construção de espaços públicos de participação e
decisão, abrindo-se um campo de negociação dos múltiplos interesses que disputam os
recursos e a gestão municipal das políticas públicas sob a concepção de governança.
Assim, as estratégias de desenvolvimento sócio-espacial vão basear-se no tripé:
solidariedade, participação social e gestão local. (SILVA apud SANTOS, 2002).

Nesse sentido, este artigo considera o modelo ou matriz teórica bastante


discutida nas experiências de planejamento e gestão urbana no Brasil, que é o
planejamento e gestão democrático-participativa, assentada especialmente no fomento
da participação popular e na promoção de uma reestruturação nos mecanismos
decisórios e no atendimento de demandas sociais (FREY, 1996; SOUZA, 2008),
conforme será apresentada a seguir.

PLANEJAMENTO E GESTÃO DEMOCRÁTICO-PARTICIPATIVA

O modelo participativo, também considerado como político-ideológico tem


sido discutido por vários autores que, apesar de o denominarem de modo diferente,
mantêm alguns elementos genéricos, dentre eles: a participação da comunidade na
gestão (orçamento participativo, conselhos populares, fórum da cidade, audiências
públicas e conferências municipais), a prevalência de princípios de cooperação e
integração dentro da administração, a politização de questões ligadas à justiça social
e a valorização política do poder legislativo (FREY, 1996; AMARAL, 2005; SOUZA,
2008).

Para Souza (2008), qualquer atividade de planejamento e gestão que se deseje


realmente democrática e participativa, deve estar pautada no princípio de autonomia
individual e coletiva, o que implica mudanças radicais na forma de entender a gestão
e o planejamento. (SOUZA, 2008). Assim, o modelo de planejamento e gestão
democrática tem em sua concepção o compromisso político de reformular a relação
da população com o poder público através dos seguintes princípios: inversão de
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prioridades dentro da cidade, a função social da cidade e a gestão democrática através


de maior participação popular na gestão e da transformação da cultura política local
(AMARAL, 2005; SANTOS, 2002; SOUZA, 2008).

A inversão de prioridades na cidade é definida como uma nova lógica que


universaliza o acesso aos equipamentos e serviços urbanos com o atendimento
prioritário do consumo coletivo das camadas populares (SOUZA, 2008). De acordo
com Souza (2008), é preciso que prevaleça o interesse comum ao interesse individual
de propriedade, o que implica o uso socialmente justo e ambientalmente equilibrado
da cidade. Logo, estas medidas encaixam-se na perspectiva de que a regularização
fundiária do espaço urbano é condição primaz para o aumento da eqüidade social.

A gestão democrática da cidade redunda na participação efetiva da sociedade,


criando um pacto entre o poder público municipal e os demais atores sociais que
interferem na produção, no uso e na ocupação do espaço urbano. Tal acepção se
refere à forma de planejar, conduzir, operar e produzir as cidades, submetidas ao
controle e à participação popular (SOUZA, 2008). Cabe ao poder público saber
valorizar diferentes experiências de cada setor social e agregá-las ao processo de
construção da democracia participativa (BOVO, 2006).

A gestão democrática confere aos cidadãos o real direito de decisão e não


apenas consulta. A participação na gestão local não pode ser confundida com práticas
do tipo que informam a população sobre as ações políticas. Ao contrário, ela deve
ser fundamentada no envolvimento real de todos os atores sociais nos processos de
implementação e de gestão, pois, é através do engajamento efetivo que esses atores
conseguem participar de uma ação global que se torna negociada e implementada
(SILVEIRA, 2002 apud BOVO, 2006).

ENTENDENDO O SEGMENTO TURÍSTICO

Entendendo o turismo como fenômeno social por implicar no deslocamento de


grandes contingentes de pessoas e por fazer parte das necessidades criadas pelo
mundo contemporâneo, transformou-se em um importante segmento nas sociedades
modernas uma vez que é uma atividade que tem relevante papel no desenvolvimento
socioeconômico (BARRETO, 1997; CRUZ, 2000).

Barreto (1997) afirma que o turismo é movimento de pessoas, é um fenômeno


que envolve, antes de tudo, gente. A essência do turismo está na relação das pessoas
umas com as outras e destas com os espaços em que elas e os outros vivem. Dessa
forma, o turismo pode ser entendido como um fenômeno social cujos componentes
básicos para reflexão são o homem, o espaço e o tempo (BARRETO, 1997; CRUZ,
2000). Na realidade, no turismo, o epicentro do fenômeno é de caráter humano, pois
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são os homens que se deslocam, e não as mercadorias, o que impõe complexidade


ao esforço de uma argumentação sistemática dessa realidade, afirma Moesch (2002,
p. 13).

Após esta breve apreciação do turismo enquanto fenômeno social acredita-


se ser importante entender o posicionamento teórico desta pesquisa que parte dos
estudos de Coriolano (2003a; 2003b; 2006) e Rodrigues (1997) que apontam o turismo
como uma interessante alternativa para o desenvolvimento, tanto em nível local como
regional e nacional. Isto porque se trata de um setor com amplas perspectivas de
geração de empregos e renda, podendo se constituir, também, como um importante
vetor para inclusão social, melhor distribuição de renda e conservação do meio
ambiente (CORIOLANO, 2006).

A inclusão de uma localidade no circuito turístico deve ser precedida de uma


preparação para transformar o município em um local em que sua população tenha
qualidade de vida com a garantia de atendimento de suas necessidades básicas de
sobrevivência e de desenvolvimento social, em que a proteção do meio ambiente
permeie todas as políticas públicas e atividades privadas. Enfim, que a localidade
seja tão boa para sua comunidade como deve ser para os turistas que a visitam
(CORIOLANO, 2006).

Para Coriolano (2003a), uma das principais preocupações referentes ao


turismo é a de realizá-lo de forma a desenvolver uma melhor distribuição de riqueza
e renda, aumentar empregos e ajudar a diminuir as desigualdades. Rodrigues (1997)
corrobora com Coriolano ao contemplar no turismo, e em particular no modelo de
turismo local, uma grande oportunidade para inserção das pessoas no mercado de
trabalho e minimização da exclusão social, seja através da abertura de novos postos
de emprego ou oferecendo oportunidades de ocupação, principalmente no setor
informal, para uma massa crescente de desempregados que o mercado formal se
mostra incapaz de absorver.

Na perspectiva acima, assume-se o pressuposto do desenvolvimento local.


Este deve ser entendido como um processo que promove mudanças, pois mobiliza
pessoas e instituições a criarem oportunidades de trabalho e renda utilizando os
recursos locais em beneficio da população e do meio ambiente. Por se tratar de um
fenômeno humano, busca a transformação da economia e da sociedade e estimula
a participação de todos os agentes envolvidos no processo de municipalização do
desenvolvimento (CORIOLANO, 2003a; RODRIGUES, 1997).

Desta constatação, surge a necessidade de atribuir às destinações o papel de


pensar e implementar as estratégias para promover o desenvolvimento e gerenciar as
tensões e os conflitos oriundos da atividade turística. Assim, desenvolver essa atividade
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é uma tarefa que tem de ser fomentada e coordenada pelas instâncias políticas que
podem, de fato, sentir e intervir nas destinações. Esta função compete aos governos
locais que devem elaborar e implementar políticas públicas que enfoquem não só
o ponto de vista econômico, mas, principalmente, os aspectos sociais, culturais e
ambientais do turismo (BOVO, 2006).

Aevolução gradual, porém acelerada, do turismo como opção de desenvolvimento,


fizeram com que os conceitos de sustentabilidade fossem se incorporando às diversas
atividades que fazem parte do turismo, conforme será demonstrado na próxima seção.
Assim, os embasamentos teóricos desta pesquisa partiram desses pressupostos,
principalmente dos estudos de Coriolano (2003a; 2003b; 2006) que demonstram que
o turismo é um instrumento de inclusão das comunidades e localidades e que mais
contribui para o desenvolvimento, podendo colaborar, também, com os princípios de
sustentabilidade econômica, social, ambiental e cultural.

TURISMO SUSTENTÁVEL

O termo sustentabilidade advém do conceito de desenvolvimento sustentável


que apresenta uma ampla gama de possibilidades de interpretações. Para efeito
deste estudo, a sustentabilidade é entendida como o princípio que envolve a melhoria
da qualidade de vida, o crescimento econômico eficiente com equidade social e a
conservação do meio ambiente, associado à participação efetiva das comunidades.

Garantir a sustentabilidade é um desafio que deve ser iniciado pelas autoridades


públicas locais, já que as demandas e os recursos se encontram nos municípios. Cabe
ressaltar aqui a importância do papel do governo local em oferecer incentivos para que
toda atividade, de produção ou de serviço, promovida no município, adote também os
princípios da sustentabilidade, contribuindo, assim, para um objetivo comum. (BOVO,
2006).

As políticas públicas para a sustentabilidade devem conter mecanismos que


estimulem os setores que podem adicionar valor ao desenvolvimento, contribuindo,
assim, para a conservação do meio ambiente. Um dos setores que apresenta
possibilidades de colaborar significativamente para a aplicação e avanço da
sustentabilidade, desde que bem planejado, é o turismo, devido sua necessidade de
manter a qualidade ambiental e social para sua própria sobrevivência (BOVO, 2006).

O turismo sustentável é um modelo de desenvolvimento econômico que foi


concebido para assegurar a qualidade de vida da comunidade; proporcionar satisfação
ao turista e manter a qualidade do ambiente do qual dependem tanto a comunidade
como o turista. Dentre os benefícios do turismo sustentável, segundo a EMBRATUR
(1994) citamos: incentivo a conscientização das pessoas em relação aos impactos
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sobre o meio ambiente natural, cultural e humano; criação de empregos diretos


e indiretos ao turismo; geração de entrada de divisas e a injeção de capital e de
dinheiro na economia local; diversificação da economia local; estimulo às melhorias
na infraestrutura da localidade; criação de instalações recreativas; melhoria da
autoestima da comunidade local; entre outros.

O turismo interpretado como a atividade econômica que mais cresce no mundo


passa gradualmente a incorporar novos olhares de planejamento, nesse sentido,
segundo Irving (2005), a discussão da sustentabilidade, em sua perspectiva global e
em termos da reflexão ética se consolida como um dos temas centrais, na atualidade,
no debate do turismo como fenômeno complexo. A sustentabilidade do turismo é
consequência, portanto, da responsabilidade de todos os segmentos envolvidos,
embora seja evidente e necessário o papel de liderança dos governos neste processo.
A autora explica que “em realidade, todas as formas de turismo deveriam ser
sustentáveis e esse deveria, em tese, ser o compromisso central em planejamento”.
(IRVING, 2005, p.15).

Dias (2003) afirma que para se atingir a sustentabilidade do turismo se faz


imprescindível a participação do Estado, a existência de planejamento e a participação
das organizações sociais nas discussões sobre os rumos do turismo, com destaque
para a participação da sociedade que passou a ver o turismo como uma alternativa
econômica viável (DIAS, 2003).

Considera-se também a participação da sociedade como um dos elementos


principais para que ocorra o turismo sustentável, pois são nestes termos que as
estratégias de desenvolvimento do turismo regional está pautada, ou seja, em um
paradigma que tem no respeito ambiental, na presença integrada e participativa
da sociedade e na construção de um ambiente de negócio as forças motrizes da
competitividade, da inovação e da criatividade e constituindo-se nos meios de se
chegar ao desenvolvimento regional e local e elevar a qualidade de vida da população,
transformando-a em sujeito do desenvolvimento (DIAS, 2003).

Os projetos de urbanização de espaços públicos que tenham como consequência


o turismo sustentável estão a exigir uma compreensão baseada em análise científica.
Os espaços públicos urbanos desempenham importantes funções na cidade como,
por exemplo, a (a) social através de encontros, (b) a cultural, através da realização de
eventos, (c) a funcional, e até mesmo (d) a higiênica (mental ou física). Logo, entende-
se que estimular melhores condições de infraestrutura urbana municipal, em especial
a partir de projetos como o do Complexo Ver-O-Rio, espaço de lazer e turismo situado
na orla urbana da cidade de Belém (PA), significa incentivar o turismo regional, além
de contribuir para melhoria na qualidade de vida da população (LOUREIRO; SOUZA,
2003).
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A GESTÃO DA ORLA URBANA DE BELÉM (PA)

Nas cidades que compõem a Amazônia brasileira, os rios são os principais


elementos naturais formadores da realidade socioeconômica desta região, com os
quais a população criou, ao longo do tempo, uma íntima relação simbólica e funcional,
utilizando-os para contemplação, lazer, meio de transporte e meio de atividades
econômicas (SANTOS, 2005). A cidade de Belém (PA), como um expoente da região
Amazônica, tem na relação com a água um elemento importante na sua composição
paisagística (FIGUEIREDO; BAHIA, 2008).

O intenso processo de ocupação nas orlas, localizadas em áreas urbanas,


tornaram o contato direto com a beira do mar, rio ou qualquer outro corpo d’água um
privilégio de poucos. Essa é a situação, por exemplo, da orla fluvial urbana da cidade
de Belém do Pará (SANTOS, 2002).

A mudança na forma de planejar e gerir o espaço urbano de Belém sempre


esteve atrelado às transformações sociais, políticas e econômicas por que passou
essa cidade dirigida pelas elites locais5. Até a década de 60, Belém ainda possuía
uma posição de destaque, isolada no panorama econômico regional, devido suas
características geográficas, constituindo-se num polo onde passavam os principais
fluxos econômicos que entravam e saiam da Amazônia. A partir da década de 70, o
quadro histórico de destaque da cidade de Belém na região começa a se modificar, pois
novos eixos de desenvolvimento econômico passam a surgir na região, provocando
uma queda no movimento econômico e comercial polarizado por Belém (PARÁ apud
SANTOS, 2002).

Aliada ao declínio dos fluxos econômicos, Belém passou por um rápido processo
de metropolização e urbanização, típica de áreas periféricas do sistema capitalista,
ocasionando uma expansão urbana desordenada e sem critérios quanto ao uso do
solo que legou para a cidade problemas estruturais e funcionais paisagisticamente
visíveis, como é o caso do atual estado de ocupação em que se encontra sua orla
fluvial (SANTOS, 2002). A cidade, que ao longo do tempo, cresceu “de costas” 6 para
o rio, hoje busca resgatá-lo através de políticas urbanas pontuais (AMARAL; VILAR,
2005).

A gestão do uso do solo da orla fluvial de Belém, seja pelo Estado ou por outros
agentes produtores do espaço urbano, sempre esteve vinculada a fins econômicos e
individuais, segregando e privando a população de Belém de suas raízes ribeirinhas
5 Vejamos o que diz SARGES, 2002 ao analisar a Belém da Belle-Époque (1870-1912): “ A re-
modelação da cidade tornou-se um projeto das elites locais que a propunha em nome do progresso e
do interesse coletivo”, p. 161.
6 Esta expressão é usada para explicar como a cidade de Belém, que é cercada por rios e baías,
e que nasceu às margens da baía do Guajárá, cresceu e desenvolveu seu processo de povoamento e
urbanização através da expansão da construção de ruas e imóveis com faixadas viradas para o lado
oposto às margens dos rios localizados na frente da cidade.
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e de sua reprodução social em um espaço de grande valor simbólico (TRINDADE


JUNIOR et al, 2005). Trindade Junior et al (2005) propunha uma prática de gestão em
que a apropriação e uso coletivo da orla possam ser considerados como elementos
para uma melhor qualidade de vida, sendo que seria correto ter preservado a cidade
sempre olhando e vivenciando o rio e sua baía.

Na realidade apresentada pela orla fluvial de Belém, a apropriação marcadamente


privada do espaço foi estabelecida ao longo do processo de produção territorial da
cidade, culminando com o seu caráter atual de uso seletivo (TRINDADE JUNIOR
et al, 2005), com negação de sua condição de ser bem público e que tende a se
reafirmar discursivamente em algumas das experiências de intervenção urbana mais
recentes. A necessidade de reverter essa condição coloca o acento nos princípios que
estabelecem a inversão de prioridades no tocante às políticas urbanas e no interesse
de ter a orla urbana de Belém como espaço público.

O CASO DO COMPLEXO VER-O-RIO

O projeto Ver-O-Rio representa, ao mesmo tempo, um exemplo de instrumento


de planejamento e desenvolvimento urbano para Belém e a própria ação de intervenção
urbana pública na orla. Sua proposta consiste na busca de ações que articulem com
o espaço urbano da metrópole questões referente à sustentabilidade socioambiental
urbana, pois Belém é uma cidade que possui uma orla profundamente degradada
do ponto de vista socioambiental e a continuidade de projetos como o do Complexo
Ver-O-Rio caracteriza-se como uma das ações referidas para o desenvolvimento do
urbano, da cultura e do meio ambiente. (BELÉM, 2000; SANTOS, 2005).

Na administração pública municipal no período compreendido entre os anos de


1997 a 2004 o discurso do Gestor tinha o desafio de modificar o paradigma modernista
de desenvolvimento urbano, essencialmente economicista, e de inspiração externa,
por articulações políticas vinculadas aos conflitos de interesses próprios da cidade.
Traziam a concepção de romper com o modelo de planejamento “tecnocrata” das
administrações anteriores tentando associar a ideia de construção de uma nova matriz
de desenvolvimento e de uma (re)orientação dos arranjos institucionais existentes,
com intuito de aumentar o compromisso com a identidade política e sociocultural na
cidade.

O projeto executado na ocupação da faixa de orla central da cidade, surge por


conta dessa nova concepção política-ideológica. A administração municipal de Belém
assumiu, então, o ideário de produzir uma política de desenvolvimento alternativa
e direcionada para os assentamentos humanos excluídos da cidade, sendo esse,
portanto, o referencial político-filosófico que serviu de base para a intervenção
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desempenhada pela Prefeitura no Ver-O-Rio, na qual se buscou privilegiar os


grupos sociais historicamente excluídos do ‘direito à cidade’ (LEFEBVRE, 1991),
classes populares e grupos étnicos, através da geração de trabalho e renda, do
empoderamento, da solidariedade, do controle social, da singularidade regional e do
uso público do espaço.

O Complexo Ver-O-Rio é um espaço de lazer e turismo localizado na orla


central da cidade de Belém que foi inaugurado no ano de 1999 e inclui em suas
instalações uma praça, quiosques de comidas, bebidas e lanches, palco para shows,
playgroud infantil, reconstituição de uma antiga rampa construída no passado para
pouso de hidroaviões, trapiche lateral e parapeitos para a contemplação da baía, posto
para guarda municipal e posto de informações turísticas, banheiros públicos, ponte,
lago com passeio de pedalinho, áreas de convivência com tratamento paisagístico,
monumento e quadra poliesportiva de areia.

Em entrevista com o Gestor e idealizador do projeto do complexo, constata-se


qual era o objetivo de revitalização do espaço urbano, na época:

O projeto pretendia revitalizar o rio, reurbanizar a área, implantar sistemas


de saneamento, de pavimentação e criar no futuro um potencial de uso
econômico em geral e turístico em particular (...) o Ver-O-Rio foi pensado
como projeto urbanístico que inclua desenvolvimento econômico (...) pois
em uma cidade ribeirinha como no caso de Belém, é garantir o direito de
qualquer cidadão de ter acesso a orla de sua cidade (E. R., ex-Gestor de
Belém, entrevista concedida em 02/07/2013).

O desafio do governo municipal de Belém da época de criação do Complexo


Ver-O-Rio foi o incentivo à reapropriação da orla da cidade como um espaço público,
priorizando em suas políticas públicas de intervenção urbana a população mais
marginalizada e excluída socioespacialmente dos recursos naturais e áreas construídas
da cidade. Assim, o Ver-O-Rio se tornou uma nova área de lazer público na orla da
cidade e passou a ser mais um lugar turístico de Belém. Além dessas atividades, o
complexo contempla mais duas características que são marcantes e diferenciais, que
é a inclusão social, através do uso coletivo do espaço, e a mobilidade socioeconômica
dos atores sociais que trabalham no mesmo. Através de entrevista com o Gestor de
Belém na época, constata-se:

Nos projetos orla implantados na cidade, tinha-se sempre a idéia de dar


o acesso ao povo ao rio, criar espaços de lazer e ao mesmo tempo criar
espaços que dinamizassem a economia (...) gerar emprego (...) um projeto
de urbanização que criou um espaço para atividades econômicas, com
vendedores ambulantes devidamente cadastrados, flanelinhas, as barracas
(quiosques da praça) administradas por dezenas de famílias organizadas em
cooperativas (...) então a melhor forma de dar dignidade ao povo é garantindo
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trabalho, especialmente quando comanda uma atividade econômica que


lhe permita uma renda que dignifique sua vida (E. R., ex-Gestor de Belém,
entrevista concedida em 02/07/13).

A revitalização do Complexo Ver-O-Rio foi inserida numa concepção de gestão


e de planejamento urbanos que tinha como compromisso político reformular a relação
da população com o poder público através dos seguintes princípios: inversão de
prioridades dentro da cidade, a função social da cidade e a gestão democrática através
de maior participação popular na gestão e da transformação da cultura política local.

A concepção de cidade e o princípio básico da proposta do projeto do Complexo


Ver-O-Rio fundamentaram-se no ideário da reforma urbana, consubstanciado pela
ideia do Orçamento Participativo (OP), sustentado pela abertura para a participação
popular no processo de elaboração e execução, tanto, que o principal instrumento
político é denominado de gestão participativa (TOMAZI, 2011). Nesse sentido,
objetivou consolidar um espaço permanente de participação popular no planejamento
da cidade e nas ações de gestão, definidos coletivamente (RODRIGUES; ARAÚJO;
NOVAES, 2002).

Estas afirmações foram constatadas através da entrevista com o Gestor de


Belém, na época de implantação do projeto do complexo:

A política que se desenvolveu no município nessa época manteve-se fiel a


seu princípio de participação popular e ao compromisso de proporcionar o
desenvolvimento socioeconômico sem provocar degradação. Seu objetivo
era tornar acessíveis os equipamentos de entretenimento e lazer aos mais
excluídos, além de gerar emprego e renda ao município de Belém (E. R., ex-
Gestor de Belém, entrevista concedida em 02/07/13).

A continuidade e descontinuidade de processos participativos na gestão


são gravemente afetadas com as mudanças de governo. As novas administrações
tendem a interromper projetos de impacto político de administrações oponentes,
abandonando-os ou alterando-os significativamente, de forma a descaracterizá-los,
diminuindo, assim, a possibilidade de reverter em dividendos políticos para seus
criadores (BOVO, 2006).

O modelo de governança participativa concebido sob a ótica do planejamento


participativo em vigor na cidade de Belém (1997-2004) cessou com a mudança na
administração municipal, a partir de 2005, tendo em vista que as estratégias que
norteavam a participação popular e promoviam a interação de fatores inter-relacionados
à gestão deixaram de ser estimulados.

A gestão municipal (2005-2012) implantou novamente, em Belém, o modelo de


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governança tecnocrático-tradicional já implantado na cidade em gestões anteriores a


1997. Esta gestão conduziu suas ações de forma que raramente contemplavam nas
decisões políticas as opiniões das comunidades locais sobre suas demandas (MAIA,
2009). Assim, as ações de planejamento e gestão desenvolvidas pela Prefeitura
nesse período não propiciou a participação dos atores sociais, particularmente, no
que diz respeito às ações pertinentes à gestão do Complexo Ver-O-Rio, conforme
pode ser evidenciado através de entrevista feita aos comerciantes e trabalhadores do
complexo, que explicitam motivos, enfatizando o principal deles:

‘A questão partidária, como foi o PT que fez o espaço e administrou por 8


anos, os outros partidos não tem obrigação de dar continuidade. É unânime
a opinião das pessoas daqui sobre a gestão do E. R. positivamente e
como mudou pra pior nos outros governos’ (S.R. proprietário de um dos
estabelecimentos comerciais do Complexo Ver-O-Rio).

Assim, apesar de o Complexo Ver-O-Rio representar um ganho de espaço


público relativamente pequeno diante dos segmentos de orla ocupados para fins
particulares, ele pode ter inaugurado um novo processo de reconquista territorial desse
espaço para fins de uso coletivo. Nesse sentido, a partir da implementação desses
espaços, tem-se a possibilidade de construir uma nova cultura política para cidade,
em que as camadas populares se apropriam do aparelho de Estado no sentido de
promover a transformação social, o aprimoramento de formas de participação direta e
o protagonismo social (SANTOS, 2002; AMARAL, 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise referente ao planejamento e gestão urbana na orla do município de


Belém, destaca-se a concepção de planejamento e gestão democrático-participativa,
com ações que primam por uma relação mais próxima entre governo e sociedade,
buscando a inversão de prioridades, a justiça social da cidade e a universalização dos
direitos urbanos. Este modelo de gestão que também fundamentou o Complexo Ver-
O-Rio, desde sua criação, trouxe como guia uma tendência a perspectiva autonomista,
pois apresentou uma grande abertura para com a participação popular, buscando
mecanismos para a sua transformação, a exemplo do Congresso da Cidade.

Em relação à análise referente ao turismo sustentável na orla do município de


Belém, destaca-se a importância estratégica que esse espaço assume no contexto das
ações de planejamento e gestão urbana, na sua maioria atribuída ao grande potencial
turístico e comercial que ela revela e que se fazem presentes nesses espaços de
forma significativa.
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Diante deste quadro, projetos como do Complexo Ver-O-Rio, merecem


relevância, sobretudo por terem como concepção ações de melhoria urbana na cidade.
Além disso, esses projetos trazem novas tendências de apropriação e funcionalidades
para os espaços orla das cidades, neste caso específico, para a cidade de Belém, que
estão voltadas predominantemente para o lazer, o consumo e o turismo sustentável,
corroborando resultados visíveis para os atores locais envolvidos de inclusão social,
melhoria da renda, melhoria da qualidade de vida e a melhoria das condições
fundamentais para a viabilidade da atividade turística em longo prazo.

Ressalta-se ainda a inclusão do espaço no circuito turístico da localidade


entendendo a transformação do local, visando prioritariamente a qualidade de vida
da população na satisfação de suas necessidades básicas de sobrevivência e de
desenvolvimento social, sempre pensando a sustentabilidade e, como exposto por
Coriolano (2006) que a localidade seja tão boa para sua comunidade como deve ser
para os turistas que a visitam.

Nesse sentido, a experiência do Complexo Ver-O-Rio representou uma


possibilidade real de construção de um planejamento urbano alternativo para inclusão
dos grupos sociais excluídos, pois conforme foi demonstrado nos estudos de Santos
(2002) e Amaral (2005), o Ver-O-Rio inaugurou um novo processo de reconquista
territorial do espaço orla para fins de uso coletivo.

Então, é necessário criar mecanismos de gestão que favoreça a construção


de uma aliança mais participativa, que possibilite dessa maneira, o fortalecimento e a
efetiva participação social dos atores nas discussões das ações pertinentes à gestão
urbana, especificamente de orla urbana, incluindo o Complexo Ver-O-Rio, e que pode
servir de base e replicação para gestão de outros espaços situados em orlas urbanas
do Estado do Pará e do país.

Assim, a análise desta experiência demonstra que as expectativas sobre a


participação devem ser ajustadas e que sérias limitações estruturais que continuam
obscuras precisam ser desvendadas para que a participação alcance seu efetivo
potencial. Pode-se constatar a efetiva participação, pois a população pode tomar
parte nas decisões, nos mais diversos níveis, no processo de planejamento e gestão
de um determinado espaço urbano. Contudo, muito ainda há para se avançar em
mecanismos institucionais que assegurem a continuidade das políticas públicas,
haja vista a mudança radical no tratamento recebido pelos atores locais pelas atuais
administrações.
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MEGAEVENTOS ESPORTIVOS E MANIFESTAÇÕES POPULARES NO BRASIL


Sports mega-events and popular protests in Brazil

William Cléber Domingues Silva1


Miguel Bahl2
Luís Mundet i Cerdan3

RESUMO: Neste artigo se objetivou analisar as possíveis relações existentes entre os


megaeventos esportivos e as manifestações populares no Brasil. Para isso realizou-se
uma pesquisa exploratória com o intuito de melhor compreender tais relações. Diante
disso, foi feita uma busca em livros, artigos científicos e reportagens de jornais de
circulação nacional. As conclusões do trabalho sugerem que existiam relações entre
os megaeventos esportivos e as manifestações populares que estavam ocorrendo
pelo país a partir do segundo semestre de 2013.

PALAVRAS-CHAVE: Megaeventos esportivos. Manifestações populares. Copa do


Mundo FIFA de Futebol, Brasil.

ABSTRACT: The objective of this article is to investigate the possible relationships


between the sports mega-events and the protests in Brazil. In order to comprehend
these relations an exploratory research was made by searching in books, scientific
articles, and journals of large scale. The conclusion of the study suggests that there
are relations between the mega-events and the popular protests that took place in the
country in the second half of 2013.

KEY WORDS: Sports mega-events. Popular protests. FIFA world cup, Brazil

1 Bacharel em Turismo pela Fundação Educacional São José, MG. Mestre em Turismo e
Meio Ambiente pela UNA-BH. Doutorando em Turismo, Direito e Empresa pela Universitat de Girona,
Espanha. Professor Assistente do Departamento de Administração e Turismo da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro.
2 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Paraná. Mestre e Doutor em Ciências da
Comunicação pela Universidade de São Paulo. Professor Classe Titular no curso de Graduação em
Turismo e nos Programas de Pós-Graduação de Geografia e no de Turismo da Universidade Federal
do Paraná.
3 Doutor em Geografia pela Universidade de Girona. Atualmente é professor Titular na Universitat
de Girona e membro do Laboratório Multidisciplinar de Pesquisa em Turismo (LMRT).
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INTRODUÇÃO

Neste trabalho se teve por objetivo fazer uma reflexão teórica relacionada aos
megaeventos esportivos no contexto das manifestações populares que se espalharam
pelo Brasil a partir da realização da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013
evento preliminar à realização da Copa do Mundo de Futebol da FIFA de 2014. Para
isso, no decorrer do texto serão apresentados conceitos, definições e análises que
objetivam possibilitar uma melhor compreensão sobre o tema.

Diante disso, inicialmente se faz uma abordagem sobre os conceitos e


definições inerentes aos megaeventos esportivos. Logo em seguida são apresentadas
informações relacionadas aos riscos e oportunidades de sediar megaeventos
esportivos. Finalizando a análise se faz uma reflexão sobre os megaeventos esportivos
no contexto das manifestações populares que estavam voltando a ocorrer pelo Brasil
um mês antes do início da Copa do Mundo de Futebol da FIFA de 2014.

1 MEGAEVENTOS ESPORTIVOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Na última década acredita-se que ocorreu no Brasil um considerável esforço


por parte das autoridades públicas em alcançar maior projeção do país por meio da
promoção de megaeventos esportivos como, por exemplo, Jogos Pan-americanos
Rio 2007 Jogos Mundiais Militares 2011, Copa das Confederações FIFA Brasil 2013,
Copa do Mundo FIFA 2014 e Jogos Olímpicos Rio 2016.

Diante desse cenário, Tavares (2011) comenta que devido ao sucesso da


estratégia brasileira em captar esses megaeventos, o termo “megaevento esportivo”
passou a fazer parte do cotidiano dos brasileiros, principalmente pelo fato de junto
dele, vir a ideia de que melhorias na qualidade de vida poderiam ser percebidas.

Sendo assim, as discussões que envolvem os aspectos positivos e negativos de


se promover tais acontecimentos em terras brasileiras se ampliou consideravelmente
nos meios sociais, de comunicação e também acadêmico.

Perante tal fato, Tavares (2011) percebeu a importância de se tratar sobre os


conceitos e definições até então atribuídos aos megaeventos esportivos, postura
até então já explorada pela mídia e pela academia, mas de maneira ainda não tão
intensiva quanto deveria ocorrer.
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Sendo assim, o mesmo autor explica que:

Têm sido chamados de megaeventos esportivos competições internacionais


que reúnem um número de atletas que atinge a casa dos milhares em um
espaço de tempo de um mês, no máximo, com potencial de impacto em
diferentes setores da sociedade e que possui significativa carga simbólica.
(TAVARES, 2011, p. 16).

Ao analisar a citação acima, pode-se perceber que a organização e promoção


desse tipo de acontecimento não é tarefa fácil e que a realização de tais acontecimentos
pode provocar duradouros e complexos impactos em diferentes segmentos sociais e
econômicos de uma cidade ou país sede.

Ao aprofundar a análise relacionada à definição do termo megaevento, Hall


(2006, p. 59) acrescenta que esses acontecimentos apresentam:

Grandiosidade em termos de público, mercado alvo, nível de envolvimento


financeiro do setor público, efeitos políticos, extensão de cobertura televisiva,
construção de instalações e impacto sobre o sistema econômico e social da
sociedade anfitriã.

As colocações de Hall (2006) remetem à ideia de que a maior parte dos custos
e investimentos realizados durante a preparação de uma localidade sede para a
realização de megaeventos esportivos normalmente recai sobre os cofres públicos e
não sobre a iniciativa privada como muitos gostariam que ocorresse.

Lo Bianco (2010) acrescenta que o envolvimento do governo federal na


preparação desse tipo de acontecimento torna-se indispensável para o sucesso do
mesmo. No caso brasileiro, espera-se acentuada articulação política entre a prefeitura
do Rio de Janeiro, o Governo do Estado e o Governo Federal na preparação dos Jogos
Olímpicos que ocorrerão em 2016. Tal sintonia entre os diferentes níveis de governo
sugere maiores possibilidades de sucesso e consequentemente a de se implantar um
maior legado para a cidade e para o país nos próximos anos e décadas.

Ampliando tal raciocínio, acredita-se que a estratégia de promover megaeventos


traz para uma localidade sede uma série de oportunidades e riscos inerentes à
própria organização de tais acontecimentos. Contudo é importante destacar que as
considerações relacionadas aos impactos positivos e possivelmente negativos da
promoção de megaeventos esportivos serão tratadas no decorrer desse artigo.
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Voltando à discussão que envolve a definição de megaeventos esportivos 


Souza e Marchi Júnior (2010), trazem sua contribuição ao acrescentarem que por:

Megaeventos esportivos entendemos a conjuntura material e simbólica, o


que inclui a mobilização de muitos agentes e estruturas dos mais distintos
campos sociais (esportivo, econômico, político, midiático etc.), constituída
em torno do esporte fazendo do mesmo tanto um meio quanto um fim para
reunir adeptos e consumidores em escala global e de modo a romper com as
fronteiras culturais e econômicas que se impõem em termos de nação, região
e grupos, ou no mínimo, imprimir novos sentidos e dinamismos as mesmas.
(SOUZA; MARCHI JUNIOR, 2010, p. 246).

Diante das colocações dos autores, considera-se poder melhor compreender


a conjuntura material e simbólica que atualmente os megaeventos esportivos como a
Copa do Mundo de Futebol da FIFA e os Jogos Olímpicos representam na sociedade
pós-moderna.

Em outra definição, Roche (2000, p. 1) argumenta que megaeventos, são


produtos que ficam sob a responsabilidade de organizações não governamentais
internacionais que possuem autonomia para delegar mediante seus interesses as
próximas sedes desses acontecimentos.

Nesse sentido o autor acrescenta que os megaeventos podem ser compreendidos


como:

Eventos de larga escala cultural (incluindo comerciais e esportivos) que


têm uma característica dramática, apelo popular massivo e significância
internacional. Eles são tipicamente organizados por combinações variáveis
de governos nacionais e organizações internacionais não governamentais e
ainda podem ser ditos como importantes elementos nas versões “oficiais” da
cultura pública. (ROCHE, 2000, p. 1).

Ao fazer a análise dessa definição pode-se notar que um megaevento


para ser caracterizado enquanto tal deve, em princípio, contar com a participação
de organizações internacionais não governamentais. No caso dos megaeventos
esportivos, destacam-se dentre essas organizações, o Comitê Olímpico Internacional
(COI) e as Federações Internacionais, como por exemplo, a Federação internacional
de Futebol Associado (FIFA).

Ao concluir o tópico pode-se apresentar que esses acontecimentos para que


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sejam bem sucedidos necessitam de profunda articulação de pessoas, políticos,


empresas, instituições governamentais e não governamentais e países, demandando
por parte das autoridades um considerável volume de recursos financeiros,
planejamento e visão de longo prazo.

2 DESENVOLVIMENTO

Nesta parte são tecidas considerações referentes aos riscos ou oportunidades


alinhadas aos megaeventos e sobre megaeventos esportivos e manifestações
populares no Brasil.

2.1 MEGAEVENTOS ESPORTIVOS: RISCOS OU OPORTUNIDADES?

A realização de megaeventos esportivos provoca uma série de impactos em


uma localidade sede. Colocações como as de Vainer (2011, p. 9-15) sugerem que a
realização dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, representa o alinhamento
de políticas públicas que objetivam introduzir em terras brasileiras e na capital do
Estado do Rio de Janeiro uma nova concepção de cidade e de planejamento urbano.

Diante da dimensão alcançada por esses acontecimentos, identifica-se


que a promoção de megaeventos esportivos exige planejamento de longo prazo,
planejamento esse necessário ao sucesso do evento e também a maximização dos
impactos positivos e a consequente redução dos possíveis impactos negativos, que
em muitas vezes são observados nas cidades ou países que se disponibilizam a
promover tais acontecimentos.

O quadro a seguir, sintetiza os possíveis impactos gerados com a promoção de


megaeventos esportivos:
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QUADRO 1 - IMPACTOS DOS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS

TIPO DE IMPACTO POSITIVO NEGATIVO


- Prejuízos ecológicos
- Construção de novas - Mudanças em processos
estruturas naturais
- Preservação do patrimônio - Poluição arquitetônica
Físico/ambiental
- Promoção ambiental - Destruição do patrimônio
- Impactos esportivos - Superlotação
- Estruturas não utilizadas
(elefantes brancos)
- Aumento no nível permanente
de interesse local e de
participação e de tipos de - Comercialização de atividades
atividades relacionadas ao que eram livres
evento - Potencial aumento do crime
Social/cultural - Fortalecimento de valores e - Mudanças na estrutura da
tradições regionais comunidade
- Diminuição local do crime - Aburguesamento
- Aburguesamento - Deslocamento social
- Movimento voluntário mais
forte
- Aumento do orgulho
nacional/local e do espírito de
comunidade - Tendência a atitudes defensivas
- Aumento da consciência tratando da região
Psicológico ecológica Sede
- Nacionalismo saudável - Choque cultural
(identificação) - Manipulação comercial
- Atmosfera festiva durante o
evento
- Exploração econômica da
população local / legitimar
decisões impopulares
- Aumento do reconhecimento
- Distorção da real natureza do
internacional da região
evento para refletir valores das
- Desenvolvimento de
Político/administrativo elites
habilidades entre planejadores,
- Inabilidade em atingir os
políticos e outros
objetivos
- Entendimento internacional
- Aumento nos custos
administrativos
- Corrupção
Fonte: Preuss (2007, p. 23).

Conforme exposto por PREUSS (2007, p. 23), verifica-se que a realização de


megaeventos esportivos gera impactos físicos, ambientais, socioculturais, psicológicos,
políticos e administrativos.

Diante de tal realidade, o autor acrescenta que em muitos casos percebe-


se a superestimação dos impactos positivos, dos benefícios econômicos e sociais
gerados e a subestimação dos possíveis impactos negativos, dos altos custos com
a organização do evento, dos possíveis problemas de superfaturamento de obras,
dentre outros.
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Ao se analisar as colocações de Tavares (2011), observa-se que em muitos


casos os impactos positivos gerados pelos megaeventos esportivos são amplamente
divulgados pelas autoridades responsáveis pela organização de um megaevento.

Acredita-se que essa estratégia objetiva alcançar um maciço apoio popular


durante os preparativos da localidade para a realização do acontecimento.

Diante das promessas de melhorias nas condições de vida da população


anfitriã do evento, Pillay e Bass (2008) alertam que em alguns casos, a realização de
megaeventos esportivos esbarra em erros de planejamento e de adequada análise
do efetivo legado a ser deixado por esses acontecimentos. Nesse cenário, os autores
destacam que alguns megaeventos esportivos são realizados com várias promessas
não cumpridas de desenvolvimento local e de diminuição da pobreza.

Perante tais afirmações, recomenda-se haver ampla participação da sociedade


civil organizada e dos órgãos públicos de controle na ininterrupta fiscalização e
acompanhamento das obras de preparação de uma cidade sede.

Ao fazer a leitura do tópico, podem-se identificar diferentes possibilidades de


impactos gerados pela promoção de megaeventos esportivos. Nesse ambiente de
realização da Copa do Mundo de Futebol da FIFA 2014 e de preparação para os Jogos
Olímpicos Rio 2016, observa-se que a sociedade brasileira cada vez mais questiona
as autoridades sobre os aspectos positivos e de se direcionar volumosos recursos
públicos para a realização de megaeventos esportivos.

Diante desses fatos, percebeu-se no Brasil desde o segundo semestre de


2013 diversas manifestações populares que dentre outras reivindicações também se
posicionavam contrariamente à realização da Copa do Mundo de Futebol da FIFA
2014 a ocorrer no país nesse ano.

Com o intuito de melhor compreender esse novo fenômeno e ao mesmo tempo


fazer uma reflexão acadêmica acerca do assunto, no próximo tópico são tecidos
comentários relacionados aos megaeventos esportivos no contexto das manifestações
populares no Brasil.

2.3 MEGAEVENTOS ESPORTIVOS E MANIFESTAÇÕES POPULARES NO BRASIL

Anteriormente ao início da Copa do Mundo de Futebol da FIFA a ser realizada


em diferentes cidades brasileiras entre os meses de junho e julho de 2014, observou-
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se ocorrer no país o recrudescimento de diversos protestos e manifestações populares


espalhadas por diferentes regiões do Brasil.

Diante da realidade dos possíveis impactos que tais manifestações populares


poderiam provocar durante a realização do megaevento esportivo Copa do Mundo
de Futebol da FIFA 2014, verificou-se haver a iniciativa de autoridades públicas
brasileiras de tentar dialogar com diferentes movimentos sociais e diversas categorias
trabalhistas que estavam ameaçando promover greves e paralisações durante o
período de realização desse importante acontecimento na vida política, econômica e
social do país.

Na edição de 9 de maio de 2014 do Jornal Econômico, se destacou que o


Movimento de Sem Teto (MST - São Paulo) bloqueia ruas, invade empresas e negocia
com Dilma. Na mesma edição do jornal o ministro da Justiça José Eduardo Martins
Cardoso, afirma que o Estado “irá sancionar pessoas que acham que podem utilizar
manifestações para cometer crimes”. Apesar de tal posicionamento, o ministro da
Justiça negou que o país estivesse assistindo a uma nova temporada de protestos.
(VALOR ECONÔMICO, 09/05/2014).

Esclareça-se que dois dias antes no Rio, durante a convocação da seleção


brasileira para a disputa da Copa do Mundo de Futebol da FIFA 2014, dezenas de
policiais federais realizaram protesto e ameaçaram o governo com greve durante
a realização do evento caso suas demandas não fossem atendidas. (VALOR
ECONÔMICO, 09/05/2014).

Apesar da sinalização da categoria, o ministro da Defesa Celso Amorim procurou


passar tranquilidade à sociedade e aos organizadores do evento ao afirmar que “as
ameaças de greve em várias categorias não vão ameaçar a realização da Copa do
Mundo” (VALOR ECONÔMICO, 09/05/2014).

Paralelamente a isso na cidade de São Paulo, três empresas ligadas ao setor


de construção pesada, Andrade Gutierrez, OAS e Odebrecht foram invadidas por
manifestantes que se diziam insatisfeitos com os desembolsos públicos com a Copa
do Mundo (VALOR ECONÔMICO, 09/05/2014).

De acordo com Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos


Trabalhadores Sem Teto (MTST) tais ações faziam parte da campanha “Copa sem o
povo, tô na rua de novo”. (VALOR ECONÔMICO, 09/05/2014). De acordo com Boulos,
“vai ter mobilizações semanais dos movimentos populares urbanos, para denunciar os
abusos e as medidas impopulares feitas em relação à Copa” (VALOR ECONÔMICO,
09/05/2014).
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Nesse contexto de proximidade do início do megaevento da FIFA e ampliação dos


protestos populares, ainda na reportagem do jornal Valor Econômico do dia 9/05/2014
se destacou que diferentes categorias saíram às ruas do país com suas reivindicações
trabalhistas: Rodoviários pararam no Rio de Janeiro, Florianópolis, Campinas e região
do grande ABC paulista. Também se mencionou que servidores públicos pararam em
Salvador e funcionários da limpeza urbana fizeram novas manifestações em Fortaleza
após o décimo sétimo dia de paralisação. (VALOR ECONÔMICO, 09/05/2014)

Destacou-se que a Copa criava empregos e engordava salários. Segundo


Eduardo Belo e de acordo com levantamento realizado pelo grupo CATHO especializado
em recrutamento e seleção de mão de obra, comprovou-se ter havido crescimento
pela procura de profissionais nas áreas de hotelaria e turismo, tradução e ensino de
idiomas, bares e restaurantes. (VALOR ECONÔMICO, 25/04/2014).

Em outra pesquisa, essa sobre os impactos econômicos gerados pela Copa


do Mundo FIFA 2014, divulgada pela Confederação Nacional do Comércio no início
do mês de abril, se constatou que existia uma expectativa de contratação de 48 mil
pessoas durante a realização do evento. Diante desse cenário, o empenho ou a
necessidade das empresas realizarem contratações em ano de Copa do Mundo fez
com que a demanda por mão de obra especializada provocasse também o aumento
da remuneração da média salarial dos trabalhadores contratados o que se refletiu na
carência de mão de obra.

Com isso, se constatou que por um lado a Copa do Mundo da FIFA estava
gerando empregos e remuneração elevada para diferentes setores da cadeia produtiva
do turismo, por outro lado estava gerando protestos e questionamentos sobre a
capacidade das autoridades públicas promoverem o evento com transparência,
segurança e controle dos gastos públicos com a preparação do mundial.

Diante desse cenário de inquietação popular o que poderia explicar os protestos


e manifestações populares ocorridas no Brasil e quais suas possíveis relações com os
megaeventos esportivos?

Responder a tal questionamento não é tarefa fácil, contudo, acredita-se que a


motivação de tantos questionamentos sobre a realização de megaeventos esportivos
no Brasil poderia estar associada a diferentes fatores que se apontam a seguir.

Inicialmente torna-se relevante destacar as colocações de Hasan Tuluy,


vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e Caribe contidas em
artigo publicado pelo mesmo no caderno Opinião do Jornal Valor Econômico do dia
11/10/2013. (VALOR ECONÔMICO, 11/10/2013)
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No artigo publicado pelo Jornal Valor Econômico no dia 11/10/2013 Hasan


Tuluy fez algumas considerações sobre os protestos na América Latina.

Quando as pessoas saem de casa para reivindicar melhores serviços, as


autoridades eleitas são pressionadas a aprofundar e fortalecer o progresso
que puderam alcançar. Os governantes eleitos que compreenderem o
significado desse desafio têm a oportunidade de ampliar a transparência e os
mecanismos de prestação de contas (TULUY, 2013).

Complementando sua análise, Tuluy comenta que pela primeira vez na história
havia mais latino-americanos na classe média do que na pobreza. Nesse cenário, o
autor esclarece que esse contingente volumoso não garantia que a sociedade como
um todo estivesse vivendo dentro dos padrões de classe média. (TULUY, 2013).

Diante disso, acredita-se que as manifestações populares percebidas no Brasil


poderiam estar associadas à grande demanda da sociedade brasileira por melhorias
nos serviços públicos, como mobilidade urbana, segurança pública, saúde, educação,
moradia, saneamento básico, dentre muitos outros.

Apesar de tal constatação, Tuluy mencionou crer que os protestos populares no


país não representavam atestado de falência do governo central e sim um sintoma de
um contrato social que ainda não havia sido totalmente colocado em prática, uma vez
que, a melhoria dos serviços públicos não acompanhou a expansão da renda de boa
parte das populações residentes em diferentes países da América do Sul nos últimos
30anos. (TULUY, 2013).

Juntamente com as demandas por melhores serviços públicos, constatou-


se haver no Brasil também vários questionamentos relacionados aos benefícios
concedidos pelo governo federal à FIFA através da Lei Geral da Copa (Lei 12663/2012)
o que motivou ações judiciais por parte da Procuradoria Geral da República. (VALOR
ECONÔMICO, 06/05/2014)

Percebendo possíveis abusos nessa área, a Procuradoria Geral da República


(PGR) ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal questionando três
pontos da Lei Geral da Copa, que segundo a PGR beneficiavam indevidamente a
FIFA. (VALOR ECONÔMICO, 06/05/2014).

Ao entrar com a ação, o então procurador geral da república, Roberto Gurgel


fez a seguinte colocação:
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A procuradoria realmente critica, e o faz fundamentalmente, certos excessos


em relação a esses benefícios, e eu diria ao próprio domínio da FIFA
em relação ao país que sedia a Copa, disse Gurgel na ocasião. (VALOR
ECONÔMICO, 06/05/2014.).

Ao se fazer a análise das colocações do procurador geral da república se pode


pensar que os benefícios concedidos à FIFA, por meio da Lei Geral da Copa poderiam
acentuar o ceticismo dos brasileiros em relação aos possíveis benefícios gerados pela
realização da Copa do Mundo de Futebol da FIFA 2014 em terras brasileiras. Nesse
cenário acredita-se que tais possíveis benefícios à FIFA também estavam sendo
questionados pelos manifestantes durante muitos protestos populares observados
pelo Brasil a partir do segundo semestre de 2013.

Outro fator que poderia estar associado à expansão dos protestos e


manifestações populares durante o processo de preparação do país para a realização
da Copa do Mundo FIFA 2014 seria a construção de arenas esportivas em regiões
com poucos ou de nenhum time de futebol de projeção nacional juntamente com os
atrasos nas obras acompanhados de consequentes aumentos dos gastos públicos
com a preparação das arenas e demais serviços de infraestrutura necessários à
realização do mundial.

Em reportagem do caderno Empresas do Jornal Valor Econômico do dia


9/05/2014, colocou-se que apesar do investimento de R$ 330 milhões em infraestrutura,
a comunicação poderia falhar em arenas da Copa durante a realização do evento
devido a atrasos. (VALOR ECONÔMICO, 9/05/2014).

Em outra reportagem da mesma data e do mesmo caderno apontou-se ainda


que não haveria wi-fi em todos os estádios preparados para a Copa o que poderia
atrapalhar a experiência vivenciada pelos expectadores e com isso passar ao mundo
uma sensação de ingerência e até mesmo falta de capacidade administrativa por
parte dos organizadores do evento, ou seja, das autoridades públicas. (VALOR
ECONÔMICO, 9/05/2014).

Complementando o leque de opções que supostamente fizeram boa parte


dos brasileiros retirarem o seu apoio em relação à realização da Copa do Mundo
de Futebol da FIFA no Brasil em 2014, pode-se destacar ainda a possível falta de
segurança durante as obras preparativas para o mundial (O GLOBO, 28/11/2013).

Em reportagem do caderno Esportes do Jornal o Globo do dia 28/11/2013


divulgou-se que a queda de um guindaste matou dois operários nas obras do estádio
Itaquerão, local da partida de abertura da Copa de 2014, comprometendo mais ainda
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a imagem do país. (O GLOBO, 28/11/2013)

Em complemento, em outra reportagem, o caderno Empresas do Jornal Valor


Econômico do dia 9/05/2014 foi destacada a morte de mais um operário em obras
da Copa. Nela constando que ao ser atingido por uma descarga elétrica na arena
Pantanal, Mohamed Ali Maciel Afonso, de 32 anos fez com que chegasse a nove o
número de mortos por acidentes de trabalho nas arenas da Copa no Brasil. (VALOR
ECONÔMICO, 9/05/2014)

Diante das observações feitas pode-se pressupor que os protestos e


manifestações populares percebidas no Brasil durante os preparativos do país
para realização da Copa do Mundo de Futebol da FIFA 2014 poderiam estar tendo
motivações que se complementavam. Em reportagem do dia 29/04/2014 do Jornal
Valor Econômico se ressaltou que os representantes do Governo esperavam que a
rejeição à Copa se diluísse com os jogos. (VALOR ECONÔMICO, 29/04/2014).

Visando alcançar tal objetivo a Secretaria de Comunicação do governo realizou


pesquisas qualitativas em que se identificou que crescia a percepção de que a Copa
traria mais prejuízos que benefícios ao país (VALOR ECONÔMICO, 29/04/2014).

Perante tal constatação iniciou-se nos canais de comunicação uma campanha


com a tentativa de reverter a percepção popular negativa em relação à Copa do Mundo
FIFA 2014. Acredita-se que tais campanhas publicitárias estariam objetivando ampliar
o apoio da opinião pública em relação ao posicionamento do governo brasileiro em
promover megaeventos esportivos.

CONCLUSÃO

Finalizando a presente reflexão teórica e mediante as colocações feitas nesse


texto, conclui-se que possivelmente estavam existindo relações entre a realização
do megaevento esportivo Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e o
recrudescimento das manifestações populares no Brasil.

Apesar das tentativas dos representantes do governo em passar uma sensação


de tranquilidade a todos, identificou-se que muitos setores e ou categorias estavam
utilizando-se da visibilidade proporcionada pelo megaevento esportivo Copa das
Confederações da FIFA Brasil 2013 e de preparação para a Copa do Mundo de Futebol
da FIFA 2014 para questionarem a transparência com os gastos públicos, o aumento
da inflação, os problemas nos serviços públicos, a falta de moradia e o investimento
na valorização de diferentes categorias trabalhistas.
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Acredita-se ainda que as manifestações populares acompanhadas de atos


violentos e depredação de bens públicos poderiam estar sendo uma forma encontrada
pelos manifestantes de pressionarem os governantes a adotarem as ações que fossem
ao encontro com as aspirações e desejos dos mesmos.

Diante de tal possibilidade ao se finalizar o texto acrescenta-se a seguinte


reflexão: Será que os governantes estariam se mobilizando em prol do atendimento
das demandas populares tão bem expressas nas manifestações populares do segundo
semestre de 2013 ou seriam necessárias novas fases de manifestações populares
repletas de atos violentos?

Sendo assim, diante desse cenário de contestações e agitação popular e da


proximidade do evento Copa do Mundo FIFA 2014, ainda não se tinha na época desta
pesquisa como identificar realmente qual imagem o país iria conseguir passar ao
mundo quando a bola começasse a rolar. Considera-se que isso seria plenamente
justificável de pesquisar e conferir após a realização de tal megaevento no Brasil, mas
que não se teve oportunidade de efetuar para a presente reflexão teórica.

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Departamento de Turismo

AS INFLUÊNCIAS DOS PLANOS DIRETORES NA DINÂMICA DOS DESTINOS


TURÍSTICOS: O CASO DO PLANO DIRETOR DE CURITIBA DE 2004.

Diogo Luders Fernandes1


José Manoel Gonçalves Gândara 2
Resumo
Os espaços urbanos possuem potencialidades para o desenvolvimento do turismo. A
produção do espaço urbano deve acontecer por meio de um planejamento com base na
comunidade, de modo que a aceitação, conhecimento e entendimento da população local
estejam diretamente relacionados ao sucesso do projeto de desenvolvimento. O turismo pode
aproveitar as potencialidades locais buscando proporcionar ganhos econômicos, sociais,
culturais e ambientais com um desenvolvimento responsável, compatível com o meio ambiente
onde a comunidade está inserida. Com base no exposto, este trabalho tem como objetivo
analisar o Plano Diretor de 2004 de Curitiba Lei nº. 11266 de Dezembro de 2004 e suas
contribuições para o turismo na capital paranaense. Para atingir este objetivo, foi realizado
um estudo documental destacando-se a análise da Lei nº. 11266 de Dezembro de 2004.
Como resultados, verificou-se que Curitiba, por meio de um planejamento participativo, busca
adaptar-se as novas realidades e coloca-se no mercado global como uma cidade competitiva,
na busca de investimentos para um crescimento econômico, harmonizando preservação
ambiental e cultural, criando espaços que proporcionem a seus usuários experiências
prazerosas, oportunizando assim um nível elevado de qualidade de vida. Assim, é fundamental
que o plano diretor se torne um instrumento de orientação do desenvolvimento e de definição
da paisagem e imagem de qualidade da cidade visitada. Este trabalho foi desenvolvido no
grupo de pesquisa da avaliação de Curitiba para Copa do Mundo de 2014, com financiamento
do CNPQ 383098/2014-9 no projeto Encomenda da Copa do Mundo 2014, deste modo meus
agradecimentos ao CNPQ por oportunizar o desenvolvimento deste estudo.
Palavras-chave: Turismo; Planos Diretores; Espaço urbano; Destino Turístico;
Curitiba.

Abstract
Urban areas have potential for the development of tourism. The production of urban
space must take place through a community-based planning, so that acceptance, knowledge
and understanding of the local population are directly related to the success of the project.
Tourism can take advantage of local potential seeking provide economic gains, social, cultural
and environmental with a responsible development, compatible with the environment where
the community is entered. On the basis of the above, this study aims to analyze the 2004
master plan of Curitiba law nº. 11266 December 2004 and his contributions to tourism in the
capital of Paraná. To achieve this goal, we conducted a documentary study with emphasis on
the analysis of law nº. 11266 December 2004. As a result, it was found that Curitiba, through
participatory planning, seeks to adapt the new realities and in the global market as a competitive
city, in search of investments for economic growth, harmonizing environmental and cultural
preservation, creating spaces that provide your users experience enjoyable, so providing a
high level of quality of life. Thus, it is essential that the master plan becomes an instrument of
1 Doutorando do Programa de Geografia da UFPR. Mestre em Turismo pela UNIVALI/
SC. Graduado em Turismo pela UEPG. Professor na Universidade Estadual do Centro Oeste/Pr -
UNICENTRO. diggtur@yahoo.com.br.
2 Doutor em turismo e desenvolvimento sustentável pela ULPGC, professor e pesquisador
do Departamento de Turismo e do Programa de Mestrado e Doutorado em Geografia da UFPR.
jmggandara@yahoo.com.br.
3
Este trabalho foi desenvolvido no grupo de pesquisa da avaliação de Curitiba para Copa do Mundo
de 2014, com financiamento do CNPQ 383098/2014-9 no projeto Encomenda da Copa do Mundo
2014, deste modo meus agradecimentos ao CNPQ por oportunizar o desenvolvimento deste estudo.
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Departamento de Turismo

orientation of the development and definition of the landscape and quality image of the city.
Keywords: Tourism; Master Plans; Urban Space; Tourist Destination; Curitiba.

Introdução

Os espaços urbanos apresentam grande potencialidade para o desenvolvimento


do turismo, uma vez que possuem legados espaciais na malha urbana, representante
da história de uma sociedade que constantemente se transforma; infraestrutura de
suporte para o desenvolvimento de atividades econômicas diversas; além de serviços
que possibilitem a visitação e o acolhimento dos turistas fora de seu local de residências
(PEARCE 2003; LOPÉZ PALOMEQUE, 1995; BAHL, 2004; CASTROGIOVANNI,
2001).
A produção do espaço urbano demanda um planejamento com base nas
dinâmicas de mudanças, com foco na comunidade, de modo que a aceitação,
conhecimento e entendimento da população local estejam diretamente relacionados
ao sucesso do projeto de desenvolvimento. Proporcionando à cidade resultados
econômicos, ambientais, políticos e socioculturais positivos e igualitários (LOPES,
1998; CORIOLANO, 2003; SOUZA, 2005).
As cidades são espaços de encontros, de convivências, de história, cada
qual com suas singularidades, fruto da ocupação e produção espacial, possuem
atratividades diversas que motivam suas visitações, mas, para isso, devem ser locais
adequados ao convívio em sociedade ao apresentarem qualidades sociais, culturais
e ambientais que atendam as necessidades da população e estimulem a visitação
(ASCHER, 2010; RAMOS et. al., 2008; MOURA, 2007).
Conforme Xavier (2007), o turismo deve aproveitar as potencialidades
locais buscando proporcionar a geração de emprego para população e incentivar
o surgimento de novos empreendimentos pela própria comunidade, conjugando a
proteção dos recursos naturais e culturais com um desenvolvimento responsável,
compatível com o meio ambiente onde a comunidade está inserida.
O plano diretor consiste em um documento que congrega os demais
instrumentos de planejamentos descritos anteriormente, orientando e normatizando a
elaboração dos demais, assim como os utilizando como ferramentas para tomada de
decisão e ordenamento urbano (LOPES, 1998; SOUZA, 2005).
Este trabalho objetiva analisar as propostas do plano diretor de 2004 de
Curitiba Lei nº. 11266 de Dezembro de 2004 e suas contribuições para o turismo na
capital paranaense.
Para tanto a pesquisa se deu por meio de um levantamento bibliográfico sobre a
temática em questão e um estudo documental na Lei nº. 11266 de Dezembro de 2004.
Desta forma, primeiramente identificou-se todos os componentes do planejamento
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urbano trabalhos no plano diretor de 2004, assim listou-se todos os indicadores


relacionados a cada componente com relação direta e/ou indireta com o turismo, de
modo a orientar quais os elementos existentes na Lei nº. 11266/2004 do planejamento
urbano tiveram intervenções na dinâmica do turismo na capital paranaense.
A análise e a validação dos resultados se deu segundo Laville e Dionne (1999),
por emparelhamento com a discussão conceitual realizada anteriormente no marco
teórico, e os dados encontrados na pesquisa de documental. O uso do emparelhamento
justifica-se, uma vez que o pesquisador buscou, a partir de uma abordagem teórica,
compreender o fenômeno estudado. (KRIPPENDORFF, 1980; LAVILLE; DIONNE,
1999).

Referencial Teórico

As cidades são espaços privilegiados para o consumo, sendo o próprio espaço


urbano consumido pelos usuários, incentivada por meio da publicidade, sendo o
turismo e o lazer uma destas atividades. A dinamicidade dos espaços urbanos, bem
como suas características de singularidade e de local de encontro, transformam as
cidades em locais de interesse turístico, devido ao fato que a urbes apresenta, em
seu território, os principais elementos do patrimônio turístico: atrativos que motivam
a visitação, equipamentos e serviços turísticos que atendem as necessidades do
viajante, infraestrutura que apoia o desenvolvimento da atividade, uma superestrutura
que coordena e orienta o desenvolvimento das cidades (BOULLÓN, 2002;
CASTROGIOVANNI, 2001, MOURA, 2008; LOPÉZ PALOMEQUE, 1995, OBIOL
MENERO, 1997; VERA REBOLLO et al., 2011).
Os espaços urbanos não se estabelecem de forma ocasional, mas conforme
distintas formas de produzir, baseadas em relações sociais específicas que refletem a
vida da população e o modo de como esta se apropria dos espaços urbanos. Segundo
Ribeiro (2005), Moura (2008), Lopes (1998), Souza (2005) tal interação ocorre para
que a sociedade possa produzir um espaço que atenda suas necessidades, visando
o funcionamento do ciclo do capital e a produção humana.
Assim, a cidade não pode ser considerada somente como reflexo de um fato
econômico, o modo de produção, mas sim, de fatores sociais, políticos, ambientais.
Como explica Carlos (1994) e Sagi (2008), o urbano é fruto do estilo de vida de uma
sociedade que se modifica ao longo do tempo deixando na cidade marcas de sua
forma de apropriação do espaço.
A cidade pode ser entendida por três sistemas distintos: o de produção, de
reprodução e o de circulação. O espaço urbano deixa de ser um espaço de produção
para se torna um espaço produtivo. Onde a as condições de deslocamento se torna
elemento imprescindível na distribuição espacial das atividades, funções e serviços
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urbanos (VASCONCELLOS, 2001; PEREIRA, 2009; AMOUZOU, 2000).


O sistema viário e de transporte coletivo são elementos do cotidiano urbano
que qualifica a cidade, quando este for bem gerido e executado, este deve ser
encarado como um fator determinante no crescimento e desenvolvimento da urbe,
possibilitando a mobilidade eficiente de pessoas, assim como auxiliando para redução
de congestionamentos e consequentemente no melhor deslocamento de bens,
serviços e produtos (ASCHER, 2010; SOUZA, 2005; NTU, 2008; VASCONCELLOS,
2001).
Portanto, as políticas públicas devem ser formuladas com o intuito de minimizar
conflitos e proporcionar oportunidades de crescimento ordenado em harmônio com o
meio ambiente, atendendo as necessidades dos cidadãos das cidades, assim como
as expectativas dos turistas. Estas políticas não são exclusivamente turísticas sendo
necessário para o bom funcionamento do turismo investimentos, em infraestrutura
urbana, que primeiramente irão melhorar a cidade para os habitantes deste modo
podendo atender de modo satisfatório aos seus visitantes (RIBEIRO; SILVEIRA, 2006;
MOURA, 2007; RUSCHMANN, 1997; LOPES PALOMEQUE, 1995; SINCLAIR et. al.,
1994).
o planejamento urbano deve compreender que os espaços urbanos se
configuram em espaços fragmentados, devido à diversidade de usos da terra (lazer,
serviços, indústria, educação, circulação, moradia, etc.) que se tem justapostos entre
si. Tendo no plano diretor um instrumento de planejamento importante quanto a
organização da cidade (SIVIERO, 2004, P.17; OBIOL MENERO, 1997; LOPES, 1998;
SOUZA, 2005).
Desde 2004, o Plano Diretor é exigência da Constituição Federal brasileira
para municípios com mais de 20 mil habitantes. Este documento deve estabelecer as
diretrizes do desenvolvimento urbano de modo a atingir a melhor e maior qualidade de
vida aos habitantes, de forma participativa. Atendendo aos anseios da população, em
um processo participativo na gestão e no planejamento elaborando e fiscalizando ações
que proporcionem aos espaços urbanos melhorias sociais, ambientais, econômicas,
políticas e culturais. Focada nas funções mais diversas como: morar, trabalhar,
locomover, lazer, entre outras. Na intenção de encontrar um lugar de destaque na
economia global (YAZIGI, 2001; SOUZA, 2005; QUEIRÓS, 2009; BRASIL, 2001;
CÉSAR; STIGLIANO, 2010; SINCLAIR et. al., 1994; LOCH et. al., 2008).
O plano diretor se converte em uma ferramenta de orientação para formulação
das políticas públicas de modo a indicar princípios e regras formuladas por meio de
um debate entre os atores sociais que definirão como se dará o desenvolvimento do
espaço urbano que fazem parte. O planejamento urbano não deve ser pensado por
uma visão estritamente física que priorize a ordenação do território, sua configuração
arquitetônica, seus equipamentos coletivos, mas sim proporcionar um ambiente que
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possa possibilitar construir a cidadania em seus habitantes (BRASIL, 2001; LOPES,


1998; SOUZA, 2005, OBIOL MENERO, 1997).
O plano diretor deve ser entendido como um espaço de debate, de construção
coletiva do espaço urbano, para de modo a promover a melhoria da qualidade de vida
da comunidade de modo a ordenar o espaço urbano na integração entre o trabalho, o
lazer e a moradia, ao mesmo tempo pode promover o desenvolvimento econômico por
meio de estratégias que atraiam novos setores produtivos (RIBEIRO, 2006; LOPES
PALOMEQUE, 1995; LOCH et. al., 2008; RODRIGUEZ; ACOSTA, 2009).
As facilidades que muitas vezes são pensadas para a população acabam sendo
utilizadas como elementos de atratividade de turistas, de modo que intervenções
estipuladas nos planos diretores de organização do espaço urbano tem grande
interferência na capacidade de transformar a urbe em espaços a serem utilizada pelo
setor do turismo. Principalmente quando as diretrizes são: a preservação e conservação
do patrimônio cultural e natural da cidade, a melhoria de infraestrutura do sistema viária,
a realização de programação com foco no lazer e na recreação, em fim em melhorias
que proporcione a comunidade maior bem estar e uso dos serviços espaços públicos
da urbe. A atratividade da cidade consiste em estes espaços e paisagens conterem
uma boa densidade de artefatos diferenciados, que tem a capacidade de surpreender
o turista a cada momento ( BOULLÓN, 2002; WAINBERG, 2001; SCHERER, 2002;
CULLEN, 1971; GANDARA, 2008; LOPES, 1998, SINCLAIR et al., 1994).
O espaço urbano deve ser pensado de modo a produzir um ambiente de
qualidade, onde os serviços públicos a disposição da população atenda seus anseios.
Os espaços urbanos devem viabilizar uma percepção positiva de seus usuários, sejam
estes habitantes ou visitantes da cidade, para isso o instrumento de planejamento, de
gestão e controle deve ser baseado na realidade da localidade, sendo as políticas
públicas integradas e formuladas mediante uma atividade conjunta entre poder
público, iniciativa privada e comunidade (ASCHER, 2010; MOURA, 2007; CÉSAR;
STIGLIANO, 2010; CRUZ, 2001; RAMOS et. al., 2008; LOCH et. al., 2008; SOARES
et. al., 2012).
As transformações propostas pelos planos diretores deixam marcas nas
paisagens das cidades, sendo esta um dos elementos trabalhos muitas vezes por tais
instrumentos, uma vez que consistem na representação espacial e temporal da ação
de diversos fatores físicos, biológicos e antrópicos em constante evolução, possuindo
historicidade que pode ser lida e compreendida por observadores, por meio de signos
e símbolos que conduzem ao entendimento da formação geomorfológica e social da
paisagem contemporânea e de suas sucessivas fisionomias anteriores. (POLLETE,
1999; MENESES, 2002; RODRIGUES, 2001).
A infraestrutura e os serviços urbanos consistem nos principais responsáveis por
uma experiência turística e avaliação positivas da paisagem da cidade, uma vez que a
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infraestrutura incide em um elemento de fundamental importância para o funcionamento


do turismo, pois os atrativos e os equipamentos turísticos são insuficientes para
o funcionamento da atividade turística. A infraestrutura e os serviços urbanos tem
influência expressiva na percepção da paisagem como fator definidor da qualidade da
experiência ao experimentar a paisagem urbana (SCHERER, 2002; BOULLÓN, 2002;
WAINBERG, 2001; CASTROGIOVANNI, 2001; LOPEZ PALOMEQUE, 1995).
A percepção de uma cidade não se dá de forma imediata, mas pela somatória
de sensações e emoções experimentadas e vivenciadas em ambientes diversos na
cidade, de forma seriada, a imagem é o resultado da percepção de um observador
do meio ambiente urbano, uma série experiências e imagens individuais e únicas
que avaliadas, são somadas e sobrepostas uma a outra, formando a imagem da
cidade. Uma vez que a imagem do destino é reflexo da satisfação da vivencia, um
conjunto de impressões e sentimentos do morador e visitante dos elementos tangíveis
e intangíveis de uma cidade. (LYNCH, 1997; BOULLÓN 2002; SILVA, 2004; FRAIZ
BREA; CARDOSO, 2011; CAMPUBRÍ et al., 2009; AZEGLIO; GANDARA, 2010a;
CARBALLO et al., 2011; CROMPTON, 1979; GANDARA et. al., 2012).
A imagem da cidade vai se moldando de acordo com as pressões internas e
externas ocorridos na cidade, na busca de formar símbolos que possam ser reconhecidos
pelos visitantes e incorporados ao cotidiano dos residentes da cidade, sejam estes
antigos ou novos, na tentativa de transformar tais símbolos em mensagens para ser
experimentadas e vivenciadas em programas de visitação turística, representando o
entendimento da imagem que a cidade, por meio do plano diretor deseja demonstrar.
(MOURA, 2008; GANDARA 2001; BERG et al., 1995; PALOU RUBIO, 2006; CAZES,
1998 apud GANDARA, 2008; AZEGLIO; GANDARA, 2010b)
Sendo assim, como expressam Gândara (2001) e Palou Rubio, (2006), só
existirá uma imagem de qualidade uma vez que exista qualidade no ambiente e esta
seja percebido pelo usuário da cidade. Assim, podemos compreender que a imagem
da cidade é um processo no qual existe uma interação entre o ambiente e o usuário
de maneira induzida, por meio de informações recebidas. Na maioria das vezes este
processo direcionará seu olhar e percepção cada vez que este experienciar o destino,
reavaliando e formulando uma nova imagem do mesmo (CAMPUBRÍ et al., 2009;
PINTO, 2012; FRAIZ BREA; CARDOSO, 2011; AZEGLIO; GANDARA, 2010a).
Portanto os instrumentos de planejamento urbano, como os planos diretores
municipais, têm relevância ao interferir na qualidade da cidade e consequentemente
na imagem da cidade, uma vez que os mesmos buscam estruturar os ambientes
para que estes venham a proporcionar a maior quantidade de experiências positivas
possíveis, de modo a melhor atender as necessidades dos seus usuários, nos casos
dos espaços urbanos, os residentes e visitantes.
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Planejamento Urbano de Curitiba

A imagem de Curitiba está diretamente relacionada ao seu planejamento urbano,


destacando-se o aspecto de cidade organizada e com qualidade de vida. Elementos
urbanos como transporte coletivo, parques urbanos e as iniciativas que buscam
a melhoria da qualidade de vida de sua população são resultados dos anos de
ordenamento e uso de instrumentos de planejamento como os planos diretores. Tais
ações proporcionaram espaços que são apropriados pelo turismo, que no ano de 2010
estimaram a visitação de 3.410.219 turistas (HOTELIÊR NEWS, 2009; INSTITUTO
MUNICIPAL DE TURISMO, 2011).
Nos anos 1941 e 1943 foi elaborado o primeiro plano urbanístico de Curitiba,
conhecido como plano Agache. Mesmo com poucas intervenções realizadas, este
primeiro plano urbanístico deixou suas marcas que podem ser vistas até hoje na capital
do Paraná. Como a delimitação do Centro Cívico, o Parque Barigüi, o Tarumã com seu
uso esportivo, o Centro Politécnico da UFPR e o Quartel do Bacacheri. Este plano teve
como iniciativa também o remodelamento do sistema viário da cidade, na tentativa
de descongestionar o centro da cidade, Agache planeja uma circulação radial por
meio da criação de perimetrais externas, sendo estas avenidas largas com canteiros
centrais, que circundavam o centro da cidade sendo as avenidas: Nossa Senhora
da Luz, Presidente Arthur Bernardes, Sete de Setembro, Silva Jardim, Visconde de
Guarapuava e o eixo monumental da Avenida Cândido de Abreu (RAMOS et al.,2008;
PREFEITURA MUNIICPAL DE CURITIBA, 2008).
Tal plano tem seus legados ainda hoje sendo utilizado por moradores e visitantes
na cidade, seja pelas avenidas que são utilizadas ainda hoje como formas de circular
pela cidade sem passar pelo centro, pela organização da cidade que ainda hoje se
mantém, ou por atrativos como o parque Barigui, além de criar na Rua XV de novembro
passeios cobertos, onde os usuários da cidade podem se locomover e apreciar as
vitrines das lojas sem se importar com as condições do clima. (IPPUC, 2004)
Em 1965, a prefeitura municipal lança um concurso para elaboração do novo
plano diretor, tendo como vencedora a proposta da empresa SERETE em conjunto
com Jorge Wilheim Arquitetos Associados. O Plano Urbanístico Preliminar deu origem
ao novo Plano Diretor, implantado por meio da Lei nº 2828 de 31 de julho de 1966. Este
plano foi sustentado pelo tripé de integração física– zoneamento, transporte coletivo
e sistema viário, mas constantemente trabalhado em conjunto com outras questões
essenciais, que formam um tripé paralelo das diretrizes do plano diretor: dinâmica
econômica, organização social e meio ambiente (IPPUC, 2004).
Este plano foi responsável pela imagem da cidade de Curitiba de cidade planejada
e organizada, como modelo de desenvolvimento, onde surge um transporte coletivo
de forma inovadora, aliando novo design das estações tubos, com um sistema novo de
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linhas caracterizado por cores, se deslocando em vias próprias. O que atraiu diversos
interessados à conhecer Curitiba.(OLIVEIRA, 2000; MENEZES, 1996, CURITIBA,
2004)
No ano de 2004 é instituída pela Lei nº 11266 de 16 de dezembro de 2004 a
necessidade de adequar o plano diretor de Curitiba, considerando da Lei nº 10.257, de
10 de julho de 2001, a qual ficou conhecida como Estatuto das Cidades. A adequação
do antigo plano as novas exigências vigente pelo Estatuto das Cidades deveria ser
elaborada por meio de um processo participativo envolvendo a comunidade como um
todo (IPPUC, 2004). O plano diretor de 2004 demonstra os legados que os demais
planos diretores de Curitiba deixaram para cidade, e deixa claro que estas iniciativas
continuarão em vigor de modo a proporcionar ao espaço urbano curitibano, novas
oportunidades de desenvolvimento da cidadania na capital do Paraná (IPPUC, 2004).

Influencias no turismo do Plano Diretor De Curitiba 2004 – Lei nº. 11266 de


Dezembro de 2004

Este plano diretor foi elaborado mediante necessidade de adaptação a nova lei
que altera algumas formas de gestão e controle do plano anterior estipulado pela Lei
nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Havendo assim a necessidade de uma revisão do
mesmo. Vale salientar o fato de o plano ser elaborado de forma participativa, havendo
um envolvimento de diversos setores econômicos unindo iniciativa privada, poder
público e a sociedade organizada. O plano diretor de 2004 de Curitiba Lei nº. 11266
de Dezembro de 2004 possui 7 títulos os quais totalizam 92 artigos que versam sobre
a normatização do crescimento, desenvolvimento e arranjo urbano (CURITIBA, 2004).
O Plano Diretor de 2004 por ser uma revisão e atualização do elaborado em
1966, mantém a proposta de planejamento participativo que integra e conjuga o
ordenamento da cidade mediante 3 elementos físicos que devem ser destacados:
uso do solo, sistema viário e transporte coletivo. Melhorando a qualidade ambiental,
o acesso e as instalações de equipamentos e serviços a toda a comunidade.
Possibilitando assim um melhor uso e consumo dos espaços urbanos na tentativa
de destaca-lo em um cenário competitivo global (ASCHER, 2010; OBIOL MENERO,
1997; CAZES GEORGE, 1995).
Isto porque hoje as realidades de produção, comunicação e consumo são
distintas de antigamente, as cidades deixam de serem espaços de produção para
se transformarem em espaços produtivos, que possibilitam o consumo do mesmo
por diversos agentes locais, regionais, nacionais e globais. Assim tal plano identifica
a necessidade destas mudanças produzindo nas cidades espaços de qualidade,
integrados a sistemas de comunicação e transportes eficientes a fim de se colocarem
no mercado mundial, seja por meio do turismo ou em busca de investimentos para
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cidade (LOPES, 1998; RIBEIRO, 2005; LAMAS, 2000; ASCHER, 2010; OBIOL
MENERO, 1997; QUEIRÓS, 2010).
O plano de Curitiba não cita o turismo como uma iniciativa primordial em seu plano.
Mas com as melhorias de acesso, transporte público, ordenamento, conservação,
preocupação com a qualidade da paisagem, em criar ambientes de recreação nos
espaços abertos da cidade, e na intenção de formar uma imagem de qualidade de vida,
a cidade possui espaços que são apropriados e consumidos pelo turismo (GANDARA,
2008; LYNCH, 1997; BOULLON, 2002; LOPEZ PALOMEQUE, 1995; SINCLAIR et. al.,
1995).
Foi possível identificar ao analisar o documento que diversas normas têm
influenciado a boa avaliação e experiências prazerosas para turistas e moradores ao
vivenciar a cidade de Curitiba, um dos elementos de destaque é a integração no modo
de planejar e gerir a cidade na integração do uso do solo, sistema viário e transporte
coletivo. Que é trabalhada no Título III Da Política Urbanística Ambiental Capítulo
I – Da Estruturação Urbana, Seção II – Do Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo,
Seção III – Dos Eixos de Estruturação Viária, Seção IV – Dos Eixos de Estruturação
do Transporte Coletivo, estes três elementos formam o tripé que está baseado todo
o planejamento urbano de Curitiba, de modo a proporcionar a cada local da cidade a
possibilidade de desenvolvimento de modo integrado respeitando suas particularidades
e potencialidades, onde o deslocamento de bens, informações, pessoas e mercadorias
são uma prioridade, de modo a orientar o crescimento e adensamento de Curitiba
de modo a atender as funções econômicas e sociais da cidade (CURITIBA 2004;
BOULLÓN, 2002; CASTROGIOVANNI, 2001; LOPÉZ PALOMEQUE, 1995, OBIOL
MENERO, 1997; VERA REBOLLO et al., 2011; SCARINGELA, 2001; AMOUZOU,
2000; SOUZA, 2005).
Desta forma possibilita diversidades de paisagens e atrativos na cidade,
oportunizando assim o uso turístico de forma diversificada e segmentada, produzindo
imagens de qualidade, com índices variados de atratividade, integrados por um
sistema viário e de transporte coletivo eficiente, possibilitando o deslocamento entre
os pontos de interesse de visitação (PAGE, 2002; PALHARES, 2002; BOULLÓN,
2002; WAINBERG, 2001; SCHERER, 2002; CULLEN, 1971; GANDARA, 2008).

SISTEMA VIARIO

O sistema viário é trabalhado em diversas partes do documento mas seu principal


destaque é Título III Da Política Urbanística Ambiental Capítulo II – Da Mobilidade
Urbana e Transporte, Seção II – Dos Sistemas Viários, de Circulação e de Trânsito,
Art. 17. Ao traçar tais diretrizes para o desenvolvimento de um sistema viário de modo
integrado com o uso e ocupação do solo e o transporte coletivo, buscam oportunizar
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a qualidade visual e funcional no deslocamento, por meio da hierarquização das


vias, da diversidade dos meios de deslocamento pela cidade possibilitando opção
entre os veículos motorizados, áreas exclusivas para pedestres e ciclovias, o plano
proporciona à atividade turística outras possibilidades de visitar a cidade, uma vez
que os visitantes podem optar por conhecer a cidade em meios de deslocamentos
que possam lhes proporcionar sensações e contatos com o espaço urbano de modo
diversificado (CURITIBA, 2004; PAGE, 2002; PALHARES, 2002; SCARINGELA, 2001;
AMOUZOU, 2000; SOUZA, 2005).
As melhorias no sistema viário basicamente consistem nos incrementos no
sistema viário da cidade dinamizando o tráfego, por meio da instalação de novos
binários, e no sistema de transporte favorecendo o transporte coletivo ao individual
e mais de 300 km de ciclovia na cidade, aumento de área de circulação exclusiva de
pedestres, demonstram as iniciativas do plano diretor em tentar solucionar o problema
do congestionamento na cidade. Assim como a implantação de um sistema de
sinalização apto a orientar o transeunte, favorecendo a circulação na cidade auxiliando
e proporcionando certa hospitalidade a Curitiba (IPPUC, 2008; CABRAL, 2011).
Entendendo que o deslocamento é um fator fundamental na atividade turística o
sistema viário e de transporte é fundamental para oportunizar o acesso aos atrativos
da cidade e a circulação entre os pontos de interesse turísticos, seja de carro particular,
por transporte coletivo, a pé e de bicicleta. Assim como buscar a integração social por
meio de meios de transportes que favoreçam e facilite o acesso e o deslocamento
de pessoas que possuam dificuldades de locomoção (PAGE, 2002; PALHARES,
2002; SCARINGELA, 2001; AMOUZOU, 2000; SOUZA, 2005; ASCHER, 2010;
VASCONCELLOS, 2001).

TRANSPORTE COLETIVO

Quanto ao transporte coletivo símbolo de organização e desenvolvimento de


Curitiba, possui mais de 40 anos de planejamento, sendo implantado mediante o
plano diretor de 66, que no final da década de 60 com a construção das canaletas
exclusivas para o transporte de massa possibilitou a implantação do sistema integrado
de transportes. Tal sistema é trabalhado no plano diretor no Título III Da Política
Urbanística Ambiental Capítulo II – Da Mobilidade Urbana e Transporte, Seção I – Do
Transporte de Passageiros, Art. 16. No qual se evidencia a busca pela qualidade e
atratividade no transporte coletivo sendo um dos elementos que oportunizam que
o turista chegue e sai da cidade assim como possa acessar aos atrativos de forma
eficiente e barata, possibilitando um real envolvimento entre o turista e a realidade da
cidade visitada. Além da preocupação na integração social por meio de transportes que
favoreçam e facilite o acesso e o deslocamento de pessoas que possuam dificuldades
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de locomoção. Em um mecanismo de melhorias deste sistema por meio de parcerias,


cooperação e integração entre a iniciativa pública e privada (IPPUC, 2008; CURITIBA
2004; PAGE, 2002; PALHARES, 2002; SCARINGELA, 2001; AMOUZOU, 2000;
SOUZA, 2005).
Devem-se encontrar alternativas para se locomover na cidade, priorizando o
transporte coletivo ao individual, tanto para residentes como para os visitantes, para
estes, Curitiba oportuniza três serviços, as linhas convencionais na Rede Integrada
de Transportes, a Linha Aeroporto (Executivo) e a Linha Turismo, que oferecem a
possibilidade de uso do transporte público ao particular, com preços acessíveis,
veículos confortáveis, itinerários e horários compatíveis com as necessidades dos
turistas, facilitando a entrada e saída da cidade, assim como, deslocamentos entre os
principais atrativos e pontos de interesse turísticos (NTU, 2008; PDU apud AMOUZOU,
2001; PAGE, 2001; PALHARES, 2002).
A conectividade do transporte coletivo com os atrativos turísticos da cidade,
atendidos ou não pela Linha Turismo é uma realidade, mas ainda é difícil conseguir
informações quanto às paradas e itinerárias do transporte convencional pelos turistas
que visitam Curitiba, uma vez que a maioria dos locais onde se encontram estas
informações eles não estão em outro idioma a não ser o português (BERG et. al., 1995).
Logo, constata-se que o problema esta centrado muito mais na disponibilização da
informação das rotas integradas com as linhas do transporte coletivo convencional, do
que da viabilidade de acessar os atrativos utilizando essa modalidade de transporte.
As linhas de transporte coletivo de Curitiba são bem avaliadas por seus usuários,
sendo um meio de deslocamento eficiente tanto para residentes como para visitantes,
as linhas do aeroporto e a linha turismo, não são usada exclusivamente por turistas,
mas sim por toda a população Curitiba, uma vez que estas linhas oferecem serviços
que são cômodos para a população no deslocamento dentro da cidade, sendo no
caso da Linha Turismo uma opção de lazer e entretenimento que possibilita o uso e a
vivencia na cidade de Curitiba (PAGE, 2001; PALHARES, 2002; RAMOS et. al., 2008;
VERA REBOLLO et al., 2011; YAZIGI, 2001).
Um elemento de destaque nas instalações do transporte público em Curitiba
são os pontos de paradas de ônibus, as estações tubos, mobiliários urbanos que
se destacam na paisagem e são elementos definidor de qualidade ambiental na
cidade, muitas vezes tornando elementos que compõem a paisagem da cidade e são
registrados pelos turistas, uma vez que estes são sim mobiliários que caracterizam a
cidade de Curitiba e são elementos definidores de sua imagem (SOUZA, 2013; LYNCH,
1997; BOULLÓN 2002; SILVA, 2004; FRAIZ BREA; CARDOSO, 2011; CAMPUBRÍ et
al., 2009; AZEGLIO; GANDARA, 2010a; CARBALLO et al., 2011).
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USO DO SOLO

O uso do solo é outro elemento constantemente encontrado no plano diretor,


o qual orienta a forma como este está classificado, informando mecanismos de
normatização e controle, estabelecendo áreas diferenciadas de adensamento, uso e
ocupação do solo visando dar a cada região melhor utilização em função das diretrizes
de crescimento, da mobilidade urbana, das características ambientais e locacionais,
objetivando o desenvolvimento harmônico da comunidade e o bem estar social de
seus habitantes. Onde o turismo acaba se apropriando de paisagens formadas por
estas normas de ordenamento de forma a utilizá-las para promover o desenvolvimento
em harmonia com as potencialidades locais (RAMOS et. al., 2008; VERA REBOLLO
et al., 2011; YAZIGI, 2001; LOPES, 1998; SOUZA 2005).
Com estas normas se vê a integração entre o uso do solo, o sistema viário e o
transporte coletivo, na busca de um melhor atributo ambiental e consequentemente uma
paisagem com qualidade natural e cultura, deste modo proporcionando ao ambiente
urbano características únicas que podem ser utilizados pelo turismo, assim como um
espaço com qualidade de circulação e visitação (SCARINGELA, 2001; AMOUZOU,
2000; SOUZA, 2005). Desta forma, possibilita diversidades de paisagens e atrativos
na cidade, oportunizando assim o uso turístico de forma diversificada e segmentada,
produzindo imagens de qualidade, com índices variados de atratividade, integrados
por um sistema viário e de transporte eficiente, possibilitando o deslocamento entre
os pontos de interesse de visitação (BOULLÓN, 2002; WAINBERG, 2001; SCHERER,
2002; CULLEN, 1971; GANDARA, 2008; LOPES, 1998, SINCLAIR et al., 1994; PAGE,
2001; PALHARES, 2002).
Esta parte do plano deixa claro que a qualidade da paisagem é uma resultante
do ordenamento do espaço urbano, e que os espaços públicos devem ser pensados
e organizados de modo a proporcionar seu uso conforme suas potencialidades. Assim
o turismo acaba se apropriando destes espaços dotados de infraestrutura, facilidades
e qualidade, para desenvolver sua atividade onde cada espaço deve ser utilizado
conforme suas vocações, oportunizando ao turista uma diversidade de atrativos e
espaço de encontros, aprendizados e lazer. Desta feita integrando o visitante e o
visitado em espaços de múltiplos usos. Fica evidente que a imagem de cidade com
qualidade de vida formada por turistas e moradores em Curitiba é reflexo deste encontro
e das paisagens de qualidade que os atrativos da cidade possuem (BOULLÓN 2002;
SILVA, 2004; FRAIZ BREA; CARDOSO, 2011; CAMPUBRÍ et al., 2009; AZEGLIO;
GANDARA, 2010a; CARBALLO et al., 2011;).
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PAISAGEM URBANA

No Título III Da Política Urbanística Ambiental Capítulo IV – Da Paisagem


Urbana e do Uso do Espaço Público, Seção I – Da Paisagem Urbana, Art 21 e 22. Tais
artigos tratam da paisagem urbana definindo-a e ditando seus objetivos e diretrizes.
Quanto aos objetivos fica evidente a preocupação com a qualidade da paisagem,
de modo a proporcionar uma imagem positiva, a qual possa ser identificada, lida e
compreendida. Cuja proteção dos elementos naturais, históricos e culturais são
elementos fundamentais para fortalecimento da identidade do ambiente urbano. Quanto
às diretrizes fica claro o interesse do envolvimento da população na conservação,
leitura, identificação valorização da paisagem urbana para que esta a compreendam
e a entenda como um fator de melhoria da qualidade de vida. É evidenciado também
a importância do mobiliário urbano como um elemento definidor e de qualidade na
paisagem urbana de Curitiba (CURITIBA, 2004).
A paisagem de um destino turístico não representa somente um atrativo, ou
elemento motivador da visitação. Mas consiste em um fator de influencia na qualidade
da experiência de visitação, sendo esta formadora da imagem do destino urbano
visitado. Portanto, um elemento que é avaliado, a todo momento pelo visitante, sendo
esta responsável pela formação da imagem que o turista levará da cidade visitada.
Sendo assim, a qualidade da paisagem e o que ela representa tanto para população
como para o turista é um fator primordial. A facilidade e a oportunidade da leitura,
compreensão e vivencia de paisagens singulares que despertem no turista o interesse
pelo destino consiste em um dos elementos motivadores e de formação da imagem do
destino (SCHERER, 2002; BOULLÓN, 2002; WAINBERG, 2001; CASTROGIOVANNI,
2001; LOPEZ PALOMEQUE, 1995; AZEGLIO; GANDARA, 2010b).

MEIO AMBIENTE

O meio ambiente e a cultura são elementos do cotidiano urbano que são


trabalhados em conjunto e distintos no plano, no Título III Da Política Urbanística
Ambiental Capítulo III – Do Patrimônio Ambiental e Cultural, Art 19 e 20. Tal capítulo
trata diretamente das diretrizes e objetivos de: uso, preservação e recuperação do
patrimônio cultural e ambiental de Curitiba. Fica evidente a importância destes ao
turismo uma vez que assim há a criação de atrativos naturais e culturais de qualidade
assim como um incentivo a qualidade paisagística da cidade, onde podem ser
identificados elementos históricos, culturais e naturais de Curitiba. É importante frisar
que a integração entre estes elementos, natural e cultural, é uma realidade na cidade.
Criando assim atrativos únicos que acarretam em uma paisagem singular com muitos
signos e símbolos. Acrescentando valor aos ambientes naturais e culturais da Cidade,
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oportunizando o surgimento de espaços públicos destinados ao lazer e ao encontro


dos cidadãos e dos visitantes (CURITIBA, 2004; TORRES, 2007; BOULLÓN, 2002;
WAINBERG, 2001; SCHERER, 2002; CULLEN, 1971; GANDARA, 2008; LOPES,
1998, SINCLAIR et al., 1994; VERA REBOLLO et al., 2011).
No que tange ao meio ambiente, o cuidado com ambiente urbano e a criação
de parques é destacado no plano diretor, demonstrando a importância e preocupação
com o cuidado com o meio o que proporciona a cidade um ambiente mais agradável à
visitação e a recreação., encontram-se mais de 30 parques e bosques. Oportunizando
o surgimento de espaços públicos destinados ao lazer e ao encontro dos cidadãos
e dos visitantes. (CURITIBA, 2004; TRINDADE, 1997; RIBEIRO 2005; ASCHER,
2010; LOPES, 1998; RAMOS et. al., 2008; LOPES PALOMEQUE, 1995, CAZES
GEORGE, 1995; PEDRON, 2013). Outra questão de destaque no plano é a questão
de limpeza pública tais diretrizes estão formuladas de forma conjunta com a qualidade
ambiental e saúde, se preocupando com o controle de doenças epidemiológicas, e
o saneamento básico, onde se pode destacar o programa de coleta seletiva de lixo
existente na cidade. Desta forma possibilitando ao turista uma cidade mais limpa e
mais segurança (BOULLÓN, 2002; CASTROGIOVANNI, 2001; AMORIM et. al., 2012;
LOPÉZ PALOMEQUE, 1995, OBIOL MENERO, 1997; VERA REBOLLO et al., 2011).
No plano diretor é definido também outros instrumentos no controle e uso
do solo que possibilitam investimentos na área da preservação ambiental, estes se
encontram no Título VI dos Instrumentos da Política, Capítulos IV e V, que tratam da
Outorga Onerosa do Direito de Construir e Da Transferência do Direito de Construir, o
primeiro consiste na autorização de construir acima de coeficiente de aproveitamento,
ou alteração de uso do solo mediante uma contrapartida em investimentos em diversas
áreas sendo uma delas na preservação e conservação de áreas naturais na cidade
(CURITIBA, 2004).
Já o Capítulo V, referente a transferência do direito de construir, também
denominada transferência de potencial construtivo, é a autorização expedida pelo
Município ao proprietário do imóvel urbano, privado ou público, para edificar em outro
local, ou alienar mediante escritura pública, o potencial construtivo de determinado
lote, para as seguintes finalidades: promoção, proteção e preservação do patrimônio
histórico cultural, natural e ambiental; implantação de equipamentos urbanos e
comunitários, e espaços de uso público (CURITIBA, 2004).
Estes são alguns dos instrumentos utilizados pelo plano diretor que podem valer-
se para conservação de ambientes de interesse ambiental na cidade, proporcionando
a mesma atrativos de qualidades paisagísticos e dotados de infraestruturas para um
bom atendimento ao turista, que ao visitá-los registrará em sua memória de modo
a formar a imagem da cidade de Curitiba (BOULLÓN, 2002; WAINBERG, 2001;
SCHERER, 2002; CULLEN, 1971; GANDARA, 2008; LOPES, 1998, SINCLAIR et al.,
1994).
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CULTURA

A Cultura possui um tratamento no Titulo IV da Política Social e Econômica


Capítulo I – Do Desenvolvimento Social, Seção II Da Cultura, Art. 32 e 33. Tais artigos
tratam da política de incentivo, promoção e disseminação da cultural, tem como
diretrizes promover a cidade como centro de eventos artísticos culturais, assim como
oportunizar o acesso a cultura a população, principalmente em espaços públicos e
de convívio do cotidiano do cidadão, além de promover a conservação, preservação
e divulgação dos patrimônios culturais da cidade de Curitiba. Está seção trata
diretamente dos patrimônios culturais da cidade, sua conservação e preservação são
fundamentais para prática do turismo, uma vez que desta forma estará preparando
atrativos de qualidade que possam ser desfrutados por turistas e moradores. Outro
elemento importante é a realização de eventos, mencionado nos artigos, sendo
estes acontecimentos podem dar mais vida ao cotidiano urbano, possibilitando
novos olhares e curiosidades à cidade, estimulando a visita e a leitura da mesma.
(CURITIBA, 2004; TRINDADE, 1997; RIBEIRO 2005; BOULLÓN, 2002; WAINBERG,
2001; CASTROGIOVANNI, 2001). Como exemplos, nos últimos anos o poder público
apoiou ou promoveu novas iniciativas: o Pré-Carnaval Garibaldis e Sacis, a Virada
Cultural de Curitiba, as programações de sábado na Praça da Espanha com feira de
antiguidades e eventos culturais, o Reveillon fora de época, entre outros.
A cultura assim como a preocupação com a conservação dos artefatos
históricos culturais da cidade está entre os objetivos do plano diretor, tais objetivos de
forma indireta influenciam e são influenciados pelo turismo como um instrumento de
desenvolvimento encontrando nos bens culturais da cidade, elementos de atratividade
para a prática desta atividade. Deste modo ao trabalhar o uso deste patrimônio o turismo
se encaixa como uma das atividades que podem proporcionar ao mesmo tempo o
ganho econômico, a valorização cultural e a integração social para estes espaços na
cidade. Aliando a preservação, o uso, a requalificação e a integração entre os ganhos
econômicos, sociais, culturais e ambientais. (BOULLÓN, 2002; CASTROGIOVANNI,
2001; LOPÉZ PALOMEQUE, 1995; VERA REBOLLO et al., 2011).
Tendo nos instrumentos de controle e uso do solo propostos no Título VI dos
Instrumentos da Política, Capítulos IV e V, que tratam da Outorga Onerosa do Direito
de Construir e Da Transferência do Direito de Construir, discutidos anteriormente,
ferramentas de manutenção e criação de atrativos culturais para cidade a serem
utilizados por turistas e morados como espaços de lazer, aprendizado, descanso
e cultura (BOULLÓN, 2002; WAINBERG, 2001; SCHERER, 2002; CULLEN, 1971;
GANDARA, 2008; LOPES, 1998, SINCLAIR et al., 1994).
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HABITACAO, SEGURANCA, SAUDE, EDUCACAO, LAZER, ESPORTE

É devido a estas e outras ações propostas e destacadas nos planos diretores,


tais como ações de cunho social, de habitação, segurança pública, saúde, educação,
lazer e esporte, cada uma em sua seção específica no Titulo IV da Política Social e
Econômica Capítulo I – Do Desenvolvimento Social, onde é verificada a preocupação
em proporcionar ao usuário de Curitiba espaços públicos seguros como: parques,
praças, edificações, instituições culturais, museus, entre outros. Que proporcionem
ambientes de recreação, aprendizagem, descanso e geração de conhecimento. Tais
espaços podem se tornam espaços de interesse de visitação turística, assim como
roteiros turísticos pela cidade podem ser utilizados como instrumentos interativos de
ensino e aprendizagem, descoberta e diversão em diversas áreas (ASCHER, 2010;
LOPES, 1998; RAMOS et. al., 2008; LOPES PALOMEQUE, 1995, CAZES GEORGE,
1995; CASTROGIOVANNI, 2001; VERA REBOLLO et al., 2011;).
A questão da segurança pública e da saúde é essencial para o bom
funcionamento da atividade turística uma vez que são fatores definidores de qualidade
na experiência dos turistas na cidade. Tais aspectos devem ser realmente pensados
e trabalhos no plano diretor, de modo a se tornar uma política, uma vez que estes
são problemas urbanos de grandes centros, mas que devem ser minimizados para
diminuir a insatisfação dos turistas já que estão diretamente relacionados à qualidade
das experiências turísticas e que muitas vezes são os principais elementos que
acarretam a sensação de falta de segurança acarreta a fuga dos usuários de áreas
com potenciais e interesse para visitação (BOULLÓN, 2002; RODRIGUES, 2001;
YÁZIGI, 2001; AMORIM et al.,2012).

DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL

As diretrizes e os objetivos de desenvolvimento social e econômico estão


presentes no plano no Titulo IV da Política Social e Econômica Capítulo I – Do
Desenvolvimento Social; Capítulo II – Do Desenvolvimento Econômico. Onde se
expõem os objetivos e diretrizes. Sendo que o turismo pode surgir como um dos
instrumentos a usar as potencialidades locais e uma mão de obra qualificada para
sua prática, assim como oportunizar a inserção de parcela da população no mercado
de trabalho por meio de incentivos a produção de bens de interesse turístico e por
meio do trabalho no trade. Tais diretrizes abrem a possibilidade do uso do turismo
como uma nova ferramenta de desenvolvimento econômico, que pode proporcionar a
concretude dos objetivos e das diretrizes descritas no plano. Uma vez que consiste em
uma atividade que para seu pleno desenvolvimento deve utilizar os recursos naturais
e culturais, buscando incentivar as potencialidade humanas locais para geração de
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ganhos econômicos, sociais, culturais e ambientais, assim mantendo a atratividade


e o desenvolvimento da prática turística (YAZIGI, 2001; SOUZA, 2005; QUEIRÓS,
2009; BRASIL, 2001; CÉSAR; STIGLIANO, 2010; et. al., 1994; LOCH et. al., 2008).
O plano diretor, em muitas partes, menciona a necessidade de criar a possibilidade
de novos empregos e de espaços produtivos de modo a incluir a população em um
desenvolvimento mais equilibrado, e equitativo social e economicamente, sendo
assim podemos entender que o turismo tanto como atividade econômica como
ferramenta de oportunidade de distribuição de renda e ganhos sociais, podem auxiliar
na concretização de tais objetivos e diretrizes do plano, uma vez que pode vir a utilizar
potencialidades naturais, culturais e humanas existente em determinados espaços
que muitas vezes não são utilizadas por outras atividades econômicas (YAZIGI,
2001; SOUZA, 2005; QUEIRÓS, 2009; BRASIL, 2001; CÉSAR; STIGLIANO, 2010;
SINCLAIR; CLEWER; PACK, 1994; LOCH; SANTIAGO; WALKOWSKI, 2008).
Oportunizando o desenvolvimento de uma atividade alternativa a comunidades
que muitas vezes não encontram inserção no mercado convencional, seja por meio
de produção de bens de consumo, culturais, ou pelo uso da mão de obra destes
em atrativos equipamentos e serviços existentes na localidade (BOULLÓN, 2002;
WAINBERG, 2001; CASTROGIOVANNI, 2001).
Tais intervenções urbanísticas acabaram propiciando à cidade de Curitiba
um espaço de qualidade, que oferece ao usuário, seja visitante ou residente, a
oportunidade de se surpreender ao andar pela cidade, podendo desfrutar em cada
momento de lugares com imagens únicas focadas no meio ambiente, na cultura,
na cidadania e na tecnologia, criatividade e inovação, oportunizando a urbe uma
imagem de qualidade de vida, oferecendo aos moradores e turistas, espaços de
lazer, recreação, aprendizado, comércio e encontros, aspectos importantes discutidos
por diversos autores (WAINBERG, 2001; CASTROGIOVANNI, 2001; AZEGLIO;
GANDARA, 2010a).
Foi evidenciada, ao analisar o plano, a intenção do mesmo em estipular imagens
da cidade, sim o cuidado em ordenar a cidade de modo que a mesma possa transmitir
uma imagem a seus moradores e visitantes. Tais imagens são inicialmente segregadas
em cada área da cidade, mas todas com a mesma finalidade, transmitir qualidade
de vida, seja em um bairro histórico que conta sua historio por meio de legados
conservados, seja pelos espaços urbanos abertos e bem arborizados, floridos com
qualidades visuais com a integração harmônica entre elementos artificiais e naturais,
como nas praças, nos parques, jardins, passeios, rios e mar. Ou pela qualidade dos
serviços prestados aos seus usuários: transporte, sistema viário, limpeza, segurança,
entre outros. Quando tais imagens são tomadas em conjuntos refletem uma cidade
ordenada que possui uma excelência em qualidade de vida (GANDARA, 2008; PALOU
RUBIO, 2006; CAMPUBRÍ et al., 2009; PINTO, 2012; FRAIZ BREA; CARDOSO, 2011;
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AZEGLIO; GANDARA, 2010a).


As intervenções dos planos diretores de Curitiba aqui discutidas demonstram
que a organização e a normatização impostas por tais documentos às formas da cidade
de Curitiba, seja pelo zoneamento e uso do solo, seja pela opção do sistema viário e
de transporte público, ou simplesmente pelas soluções e esforços para manutenção
de um ambiente da cidade agradável aos seus usuários, proporcionaram à cidade
uma infraestrutura que valoriza o espaço urbano. Consequentemente, ordenaram
e planejaram Curitiba, estipulando critérios de formas e usos para cada lugar,
transformando a cidade em um mosaico de espaços que devido ao planejamento
proporcionaram a capital paranaense uma quantidade variada de artefatos que
fascina a cada olhar (BOULLÓN, 2002; WAINBERG, 2001; CASTROGIOVANNI,
2001, YÁZIGI, 2001).

Considerações Finais

Ao analisarmos o desenvolvimento dos espaços urbanos, entendemos que as cidades


são reflexos das ações da sociedade sobre o espaço, ações estas normalmente
intencionais que tem a capacidade de deixar marcas na malha urbana de modo que
possam ser uma oportunidade ou entrave para o desenvolvimento da urbe. Assim,
o uso do planejamento urbano, como uma ferramenta de ordenamento racional, por
meio do plano diretor que organiza e normatiza o crescimento e desenvolvimento
urbano é fundamental para construção de uma cidade com qualidade de vida que
cria espaços para o desenvolvimento econômico de modo harmonioso com o meio
ambiente, com equidade social protegendo seu legado cultural.
Devido aos avanços nas tecnologias de transporte e comunicação, se vive um novo
cenário global econômico onde as barreiras tempo e espaço que muitas vezes são
quebradas, motivando a uma nova realidade a ser adaptada pelas cidades que antes
se baseavam na industrialização. Isto porque as cidades deixam cada vez mais de ser
um espaço de produção e distribuição para se tornarem um espaço produtivo, criativo
e de consumo.
Ao analisarmos o Plano Diretor de Curitiba de 2004, é notável que esta cidade, por
meio de um planejamento participativo, busca adaptar-se a esta nova realidade e
colocar-se no mercado global como cidades competitivas em busca de investimento
que lhes traga um crescimento econômico aliado a preservação ambiental e cultural,
criando espaços na cidade que proporcionem a seus usuários experiências prazerosos,
oportunizando assim um nível elevado de qualidade de vida.
O turismo não só se apropria das melhorias proposta pelos planos como também
pode ser um instrumento de viabilidade de execução dos mesmos, possibilitando uso
para espaços a serem conservados, uma nova alternativa de atividade econômica
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em áreas que possuem potencial de atração aos turistas, mas pode ser um veículo
de comunicação e divulgação da imagem própria urbe. Sendo assim é fundamental
que o plano diretor se torna um instrumento de orientação do desenvolvimento e de
definição da paisagem e imagem de qualidade da cidade visitada.

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PLANOS DIRETORES DE CURITIBA E SUA INFLUÊNCIA NA EXPERIÊNCIA


TURÍSTICA URBANA

Diogo Luders Fernandes1


Graziela Scalise Horodyski2
José Manoel Gonçalves Gândara 3
Resumo:
As emoções e experiências vivenciadas durante a vivencia de um espaço urbano muitas vezes
são reflexo de um planejamento urbano que busca a formação de uma imagem de qualidade
à cidade. Por meio dos planos diretores induzem a formação de espaços de consumo repletos
de significados e emoções, que são percebidos, avaliados e experienciados por visitantes
e residentes, influenciando assim na concepção da imagem da cidade. Assim este trabalho
tem por objetivo avaliar o modo como o planejamento urbano de Curitiba, por meio dos
planos diretores da cidade interferiu na experiência de visitação e na formação da imagem da
Cidade. Para tanto foi realizado uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo exploratório,
com as técnicas de coleta de dados como estudos bibliográficos e documentais. Foi possível
apurar que os planos diretores de Curitiba e suas propostas de intervenção urbanas, em
seus mais de 60 anos de planejamento influenciam positivamente nas experiências turística,
possibilitando a formação de uma imagem de cidade com qualidade de vida e ecológica para
visitantes e residentes. Este trabalho foi desenvolvido no grupo de pesquisa da avaliação
de Curitiba para Copa do Mundo de 2014, com financiamento do CNPQ 383098/2014-9 no
projeto Encomenda da Copa do Mundo 2014, deste modo meus agradecimentos ao CNPQ
por oportunizar o desenvolvimento deste estudo.
Palavras-chave: Curitiba; experiência; imagem; planejamento urbano; plano diretor.

Abstract
The emotions and experiences during the experiences of urban space are often
reflective of an urban planning that seeks the formation of a quality image to the city . Through
the master plans induce the formation of consumption spaces full of meanings and emotions
that are perceived , evaluated and experienced by visitors and residents , thereby influencing
the design of the image of the city . Thus this paper aims to assess how urban planning in
Curitiba , through the city of directors plans interfered with visitation experience and training
image of the City. Therefore, we conducted a qualitative exploratory descriptive research , with
the techniques of data collection as bibliographic and documentary studies . It was found that
the master plans of Curitiba and its proposed urban intervention in its over 60 years of planning
positively influence the tourist experience, enabling the formation of an image of the city with
quality of life and ecological information for visitors and residents
Keywords: Curitiba; experience; image; urban planning; master plan.

1 Doutorando do Programa de Geografia da UFPR. Mestre em Turismo pela UNIVALI/


SC. Graduado em Turismo pela UEPG. Professor na Universidade Estadual do Centro Oeste/Pr -
UNICENTRO. diggtur@yahoo.com.br.
2 Doutora em Geografia pelo Programa de Geografia da UFPR. Mestre em Turismo pela
UNIVALI/SC. Graduado em Turismo pela UEPG. Professor na Universidade Estadual de Ponta
Grossa/Pr - UEPG. grazitur@hotmail.com
3 Doutor em turismo e desenvolvimento sustentável pela ULPGC, professor e pesquisador
do Departamento de Turismo e do Programa de Mestrado e Doutorado em Geografia da UFPR.
jmggandara@yahoo.com.br.
4
Este trabalho foi desenvolvido no grupo de pesquisa da avaliação de Curitiba para Copa do Mundo
de 2014, com financiamento do CNPQ 383098/2014-9 no projeto Encomenda da Copa do Mundo
2014, deste modo meus agradecimentos ao CNPQ por oportunizar o desenvolvimento deste estudo.
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Introdução

As cidades são espaços de encontro, de convivência, de história, cada qual


com suas singularidades, fruto da ocupação e produção espacial, o que proporciona
diferentes atratividades sob a perspectiva turística, mas que, antes disso deve ser
locais adequados ao convívio em sociedade, apresentarem qualidades sociais,
culturais e ambientais que atendam às necessidades da população e estimulem a
visitação. (ASCHER, 2010; LOPES, 1998; RAMOS; GANDARA; TRAMONTIM, 2008;
MOURA, 2007)
Segundo Campos Filho (2003, p.88): “A dialética de uma cidade como valor
de uso é constituída pelo evoluir histórico em meio aos conflitos sociais que lhe são
inerentes na produção, apropriação e consumo das estruturas urbanas e tecidos
urbanos [...]”. Dessa forma, a produção do espaço urbano demanda um planejamento
com base nas dinâmicas de mudanças, com foco na comunidade, de modo que a
aceitação, conhecimento e entendimento da população local estejam diretamente
relacionados ao sucesso do projeto de desenvolvimento.
Para tanto, o instrumento de planejamento deve ser baseado na comunidade,
sendo as políticas públicas integradas e formuladas mediante uma atividade conjunta
entre poder público, iniciativa privada e comunidade. No mesmo sentido, Gandara et.
al. (2012), Queirós (2009) e Lopes (1998) salientam que as cidades devem viabilizar
experiências e uma percepção positiva aos usuários, sejam estes habitantes ou
visitantes.
A visitação aos espaços urbanos é carregada de emoções, percepções e
impressões dos aspectos turísticos e urbanos da destinação, que estimulam e
influenciam diretamente na experiência vivenciada pelo turista. Ao experienciar uma
cidade o turista acaba por ser impulsionado a interagir com um ambiente novo, não
habitual, o qual é avaliado e registrado de forma seriada conforme suas informações
e vivencias anteriores, formando assim uma imagem da cidade visitada por meio
da somatória de experiências vividas nos principais espaços turísticos da urbe.
(GANDARA et al, 2012)
Os espaços urbanos, segundo Pearce (2003), Lopéz Palomeque (1995), Bahl
(2004) e Castrogiovanni (2001), apresentam potencialidade para o desenvolvimento
do turismo, uma vez que possuem legados espaciais na malha urbana representante
da história de uma sociedade que constantemente se transforma, infraestrutura
de suporte para o desenvolvimento de atividades econômicas diversas, além de
serviços que possibilitem a visitação e o acolhimento dos turistas fora de seu local de
residências.
Portanto o planejamento dos espaços urbanos deve levar em consideração
aspectos tangíveis e intangíveis da cidade que se está organizando, é preciso
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compreender as pessoas que ali vivem, a forma como estas se relacionam entre
si e com o espaço que ocupam, tendo o Plano Diretor como um instrumento de
debate e orientador das diretrizes para produzir soluções viáveis às dificuldades de
desenvolvimento urbano. (LOPES, 1998; SOUZA, 2005)
Assim este estudo tem por objetivo avaliar o modo como o planejamento urbano
de Curitiba por meio dos planos diretores da cidade interferiram na experiência de
visitação e na formação da imagem da Cidade.
Para concretização do objetivo proposto, inicialmente foram realizadas
pesquisas bibliográficas sobre cidades, planejamento urbano, planos diretores,
qualidade, satisfação, imagem, economia de experiência, destinos turísticos, e turismo
em geral. Tais leituras se deram com intuito de embasar teoricamente o estudo e
auxiliar a análise dos dados e da realidade encontrada. Juntamente com a pesquisa
bibliográfica foi realizada a pesquisa documental, sendo considerados: os Planos
Diretores de Curitiba de 44, 66 e 2004, os Estudos da Demanda Turística realizado
pelo Instituto Municipal de Turismo de Curitiba (2011), os resultados dos estudos
de HORODYSKI ; MANOSSO; GANDARA (2012) materiais do IPPUC (Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba).
Para identificar elementos que permitissem ampliar o contato com a realidade de
seu objeto de estudo estes materiais foram analisados e validados à luz do referencial
teórico a fim de atingir o objetivo proposto no trabalho. (LAVILLE; DIONNE, 1999).

Referencial

As cidades são espaços privilegiados para o consumo, sendo o próprio espaço


urbano consumido pelos usuários, incentivada por meio da publicidade, sendo o
turismo e o lazer uma destas atividades. (SÁNCHEZ, 2003; LOPES PALOMEQUE,
1995, CAZES GEORGE, 1995)
A dinamicidade dos espaços urbanos, bem como, suas características de
singularidade e de local de encontro, transformam as cidades em locais de interesse
turístico, devido ao fato que a urbes apresenta, em seu território, os principais
elementos do patrimônio turístico: atrativos que motivam a visitação, equipamentos
e serviços turísticos que atendem as necessidades do viajante, infraestrutura que
apoia o desenvolvimento da atividade, uma superestrutura que coordena e orienta o
desenvolvimento das cidades. (BOULLÓN, 2002; CASTROGIOVANNI, 2001, MOURA,
2008; LOPÉZ PALOMEQUE, 1995, OBIOL MENERO, 1997; VERA REBOLLO et al.,
2011)
A cidade não é simplesmente para ser vista, mas sim para ser explorada e
compreendida, pois esta relata a história de cada sociedade, ela possui memória,
apresenta registros do passado e do presente que juntos formam um grande atrativo
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para o turismo. As cidades, cada qual com suas características arquitetônicas e de


urbanismo, se mostram como produtos diferenciados para o turista que ao se deparar
com uma paisagem cheia de simbolismos e códigos, muitas vezes se sente agredido
e ao mesmo tempo impulsionado a decodificar esta paisagem. (GANDARA, 2008;
WAINBERG, 2001; CASTROGIOVANNI, 2001; MARTINEZ; ALFONSO; AGRA, 2010)
Assim, na busca de entender a realidade existente nas cidades para Moura
(2007), Sánchez (2003), Souza (2005), Vera Rebollo et al. (2011) e Lopes (1998)
salientam que devemos abordar a cidade por meio das suas relações de produção
do espaço urbano uma vez que esta abordagem permite compreender os modelos e
fatos espaciais como produtos e processos de uma sociedade.
Deste modo destaca-se que os espaços urbanos não se estabelecem de forma
ocasional, mas conforme distintas formas de produzir, baseadas em relações sociais
específicas que refletem a vida da população e o modo de como esta se apropria dos
espaços urbanos. Segundo Ribeiro (2005), Moura (2008), Lopes (1998), Souza (2005)
tal interação ocorre para que a sociedade possa produzir um espaço que atenda suas
necessidades, visando o funcionamento do ciclo do capital e a produção humana.
Carlos (1994) coloca que um dos principais elementos motivadores das
mudanças das cidades consiste no desenvolvimento das forças produtivas. Surgindo
assim inúmeras oportunidades de modificações nos usos dos espaços já existentes,
podendo tornar lugares antes desqualificados em espaços produtivos. (CORIOLANO;
PARENTE, 2011; CASTROGIOVANNI, 2001; MOURA, 2008). Deste modo em função
da divisão do trabalho as cidades apresentam seus espaços fragmentados e em
subespaços diferenciados (SANTOS,1993). Apesar de unos, os espaços urbanos
possuem guetos com características particulares (OBIOL MENERO, 1997).
A valorização de certos espaços urbanos, seja para o turismo ou outra finalidade,
não ocorre somente por sua potencialidade, uma vez que a cidade deve ser entendida,
segundo Turégano (2007), Coriolano; Parente (2011), Obiol Menero (1997), como um
espaço onde o poder público deve atuar como mediador, de modo a proporcionar
investimentos em infraestrutura e organização que visam à reprodução do capital,
bem como, a melhoria das condições de vida da população, gerenciando conflitos e
contradições que venham impedir tal ciclo.
As políticas públicas devem ser formuladas com o intuito de minimizar conflitos
e proporcionar oportunidades de crescimento ordenado em harmônio com o meio
ambiente, atendendo as necessidades dos cidadãos das cidades, assim como as
expectativas dos turistas. Muitas vezes estas políticas não são exclusivamente
turísticas sendo necessário para o bom funcionamento do turismo investimentos, em
infraestrutura urbana, que primeiramente irão melhorar a cidade para os habitantes
deste modo podendo atender de modo satisfatório aos seus visitantes. Para isso,
muitas cidades tem como instrumento de planejamento o Plano Diretor. (RIBEIRO;
607
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SILVEIRA, 2006; MOURA, 2007; RUSCHMANN, 1997;)


Este documento deve estabelecer as diretrizes do desenvolvimento urbano de
modo a atingir a melhor e maior qualidade de vida aos habitantes. Atendendo aos
anseios da população, em um processo participativo na gestão e no planejamento,
elaborando e fiscalizando ações que proporcionem aos espaços urbanos melhorias
sociais, ambientais, econômicas, políticas e culturais. Focada nas funções mais
diversas como: morar, trabalhar, locomover, lazer, entre outras. Na intenção de
encontrar um lugar de destaque na economia global. (YAZIGI, 2001; SOUZA, 2005;
QUEIRÓS, 2009; BRASIL, 2001; CÉSAR; STIGLIANO, 2010; SINCLAIR; CLEWER;
PAC et. al., 1994; LOCH et. al., 2008).
Portanto o plano diretor deve ser entendido como um espaço de debate, de
construção coletiva do espaço urbano, para de modo a ordenar o espaço urbano na
integração entre o trabalho, o lazer e a moradia, ao mesmo tempo pode promover
o desenvolvimento econômico por meio de estratégias que atraiam novos setores
produtivos. (RIBEIRO, 2006; LOPES PALOMEQUE, 1995; LOCH et. al., 2008;
RODRIGUEZ; ACOSTA, 2009)
Os espaços urbanos devem viabilizar uma percepção e experiências positivas
aos seus usuários, sejam estes habitantes ou visitantes da cidade, para isso o
instrumento de planejamento, de gestão e controle deve ser baseado na realidade
da localidade, sendo as políticas públicas integradas e formuladas mediante uma
atividade conjunta entre poder público, iniciativa privada e comunidade. (ASCHER,
2010; MOURA, 2007; CÉSAR; STIGLIANO, 2010; CRUZ, 2001; LOCH et. al., 2008;
SOARES et. al., 2012)
As atratividades e facilidades que muitas vezes são pensadas para a população
acabam sendo utilizadas como elementos de atratividade de turistas, de modo que
intervenções estipuladas nos planos diretores de organização do espaço urbano
tem grande interferência na capacidade de transformar a urbe em espaços a serem
utilizada pelo setor do turismo. Principalmente quando as diretrizes são: a preservação
e conservação do patrimônio cultural e natural da cidade, a melhoria de infraestrutura
do sistema viária, a realização de programação com foco no lazer e na recreação, em
fim em melhorias que proporcione a comunidade maior bem estar e uso dos serviços
espaços públicos da urbe. (CORIOLANO, 2003; PETROCCHI, 2004; LOPES, 1998)
Sendo assim, temos na infraestrutura e nos serviços urbanos alguns dos grandes
responsáveis por uma boa experiência turística e avaliação da paisagem da cidade,
uma vez que a infraestrutura consiste em um elemento de fundamental importância
para o funcionamento do turismo, pois os atrativos e os equipamentos turísticos são
insuficientes para o funcionamento da atividade turística. A infraestrutura e os serviços
urbanos tem influência expressiva na percepção da paisagem como fator definidor
da qualidade da experiência ao experimentar a paisagem urbana. (SCHERER, 2002;
608
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BOULLÓN, 2002; WAINBERG, 2001; CASTROGIOVANNI, 2001)


As viagens proporcionam aos turistas experiências e vivencias nos espaços
visitados, as quais são carregadas de sentimentos, impressões e emoções, que
ficaram registradas por eles por meio da interação com o destino resultante da
visitação temporário de um determinado espaço. Sendo assim é importante entender
quais são estas emoções e experiências, ao viajar as pessoas buscam cada vez mais
por destinos que sejam emocionantes e inesquecíveis. (REIS, 2008; TUAN, 1983;
CLAVAL, 2011; HORODYSKI et. al., 2012; JENSEN, 1999; GANDARA et. al., 2012)
As experiências são reflexos de vivencias, emoções e percepções individuais
ligados a aspectos sensoriais e ao imaginário sobre o espaço visitado, portanto
um elemento de caráter totalmente subjetivo. Onde podem ser elencadas quatro
variáveis correlacionadas a experiência e a visitação: entretenimento, aprendizagem,
contemplação e evasão. (HORODYSKI et. al., 2012; PINE; GILMORE, 1999;
GANDARA et. al., 2012)
Tais variáveis estão diretamente ligadas às percepções e vivencias do turista
no destino, quando este é uma cidade tais emoções devem ser analisadas, para
se possível utilizar suas características no planejamento destes espaços de modo
a satisfazer aos usuários da urbe, identificando aspectos urbanos que necessitam
de orientação de modo a proporcionar percepções e experiências prazerosas para
visitantes e visitados. (HORODYSKI et. al., 2012; TONINI; 2009; GANDARA et. al.,
2012)
Uma vez que a percepção de uma cidade não se dá de forma imediata, mas
pela somatória de sensações e emoções experimentadas e vivencias em ambientes
diversos na cidade, de forma seriada. Sendo assim, a imagem é o resultado da
percepção de um observador e o meio ambiente urbano, uma série experiências e
imagens individuais e únicas que avaliadas, são somadas e sobrepostas uma a outra,
formando a imagem da cidade. (LYNCH, 1997; BOULLÓN 2002; SILVA, 2004; FRAIZ
BREA; CARDOSO, 2011; CAMPUBRÍ et. al., 2009; AZEGLIO; CARBALLO et. al.,
2011; CROMPTON, 1979; GANDARA et. al., 2012)
A imagem da cidade pode ser compreendida como um processo no qual existe
uma interação entre o ambiente e o usuário, onde a imagem é uma representação das
informações obtidas, antes durante e depois da visitação assim como a experiências
que os turistas têm do destino. A imagem de uma destinação deve ser fruto de uma
experiência prazerosa no lugar visitado, portanto de um destino que seja percebido pelo
usuário da cidade como um destino de qualidade. Uma vez que a imagem do destino
é reflexo da satisfação da vivencia, ou um conjunto de impressões e sentimentos do
morador e visitante dos elementos tangíveis e intangíveis de uma cidade, esta se torna
um elemento importante no marketing turístico de qualquer destinação. (RAMOS et.
al., 2008; FRAIZ BREA; CARDOSO, 2011; PINTO, 2012; CAMPUBRÍ et. al., 2009,
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CHON, 1990; GUNN, 1972; BEERLI; MARTIN, 2004; AZEGLIO; GANDARA, 2010b)

Curitiba

A imagem de Curitiba está diretamente relacionada ao seu planejamento


urbano, a que a dá destaque como uma cidade organizada e com qualidade de vida,
aspectos urbanos como: transporte coletivo, parques urbanos e as iniciativas que
buscam a melhoria da qualidade de vida de sua população, são resultados dos anos
de ordenamento e uso de instrumentos de planejamento como os planos diretores. Tais
ações proporcionaram espaços que são apropiados pelo turismo, que no ano de 2010
estimaram a visitação de 3.410.219 turistas (HOTELIÊR NEWS, 2009; INSTITUTO
MUNICIPAL DE TURISMO, 2011).
Nos anos 1941 e 1943 quando foi elaborado o primeiro plano urbanístico de
Curitiba, conhecido como plano Agache, plano este que foi parcialmente implantado
devido às dificuldades de condições financeiras e a ocupações irregulares. Porém,
mesmo com poucas intervenções realizadas, este primeiro plano urbanístico deixou
suas marcas que podem ser vistas até hoje na capital do Paraná. Como a delimitação
do Centro Cívico, o Parque Barigüi, o Tarumã com seu uso esportivo, o Centro
Politécnico da UFPR e o Quartel do Bacacheri. Este plano teve como iniciativa também
o remodelamento do sistema viário da cidade, na tentativa de descongestionar o centro
da cidade, Agache planeja uma circulação radial por meio da criação de perimetrais
externas, sendo estas avenidas largas com canteiros centrais, que circundavam
o centro da cidade sendo as avenidas: Nossa Senhora da Luz, Presidente Arthur
Bernardes, Sete de Setembro, Silva Jardim, Visconde de Guarapuava e o eixo
monumental da Avenida Cândido de Abreu. (RAMOS et. al., 2008; PREFEITURA
MUNIICPAL DE CURITIBA, 2008)
Em 1965, a prefeitura municipal lança um concurso para elaboração do novo
plano diretor, tendo como vencedora a proposta da empresa SERETE em conjunto
com Jorge Wilheim Arquitetos Associados. O Plano Urbanístico Preliminar deu origem
ao novo Plano Diretor, implantado por meio da Lei nº 2828 de 31 de julho de 1966. Este
plano foi sustentado pelo tripé de integração física– zoneamento, transporte coletivo
e sistema viário, mas constantemente trabalhado em conjunto com outras questões
essenciais, que formam um tripé paralelo das diretrizes do plano diretor: dinâmica
econômica, organização social e meio ambiente. (IPPUC, 2004)
No ano de 2004 é instituída pela Lei nº 11266 de 16 de dezembro de 2004 a
necessidade de adequar o plano diretor de Curitiba, considerando da Lei nº 10.257, de
10 de julho de 2001, a qual ficou conhecida como Estatuto das Cidades. A adequação
do antigo plano as novas exigências vigente pelo Estatuto das Cidades deveria ser
elaborada por meio de um processo participativo envolvendo a comunidade como um
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todo. (IPPUC, 2004)


O plano diretor de 2004 demonstra os legados que os demais planos diretores
de Curitiba deixaram para cidade, e deixa claro que estas iniciativas continuarão em
vigor de modo a proporcionar ao espaço urbano curitibano novas oportunidades de
desenvolvimento da cidadania na capital do Paraná. (IPPUC, 2004)
Incrementos no sistema viário da cidade dinamizando o tráfego, e no sistema
de transporte favorecendo o transporte coletivo ao individual e mais de 300 km de
ciclovia na cidade, demonstram as iniciativas do plano diretor em tentar solucionar o
problema do congestionamento na cidade. Assim como a implantação de um sistema de
sinalização apto a orientar o transeunte, favorecendo a circulação na cidade auxiliando
e proporcionando certa hospitalidade a Curitiba. (IPPUC, 2008) O zoneamento e uso
do solo demarcam áreas da cidade que devem ser preservadas e possibilitando seus
usos para conservação do meio ambiente e do patrimônio histórico cultural da capital,
oportunizando o surgimento de espaços públicos destinados ao lazer e ao encontro
dos cidadãos e dos visitantes. (TORRES, 2007)
No que tange ao meio ambiente o sistema de coleta seletiva e a criação de
parques é destacado no plano diretor, demonstrando a importância e preocupação
com o cuidado com o meio ambiente o que proporciona a cidade um ambiente mais
agradável a visitação e a recreação. Assim como a revitalização de prédios históricos
e a construção de teatros e museus, que vem a oportunizar espaços culturais e de
qualidade ambiental, no resgate da memória da história de Curitiba e do próprio
Estado. (TRINDADE, 1997; RIBEIRO 2005)
As intervenções dos planos diretores de Curitiba aqui discutidas demonstram
que a organização e a normatização impostas por tais documentos às formas da cidade
de Curitiba, seja pelo zoneamento e uso do solo, seja pela opção do sistema viário e
de transporte público, ou simplesmente pelas soluções e esforços para manutenção
de um ambiente da cidade agradável aos seus usuários, proporcionaram à cidade
uma infraestrutura que valoriza o espaço urbano. Consequentemente ordenaram
e planejaram Curitiba, estipulando critérios de formas e usos para cada lugar,
transformando a cidade em um mosaico de espaços que devido ao planejamento
proporcionaram a capital paranaense uma quantidade variada de artefatos que
fascina a cada olhar. (BOULLÓN, 2002; WAINBERG, 2001; CASTROGIOVANNI,
2001, YÁZIGI, 2001)

RESULTADOS

A tabela a seguir apresenta a avaliação de moradores e visitantes (turistas/


excursionistas) quanto alguns aspectos urbanos, principalmente ligados à infraestrutura
e serviços urbanos e aspectos turísticos da cidade de Curitiba, elementos estes que
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têm influencia direta na experiência turística e na avaliação e formação da imagem


da cidade, uma vez que são eles que qualificaram ou não o espaço urbano para os
moradores e visitantes. (BOULLÓN, 2002; YAZIGI, 2001; SOARES et. al., 2012)

QUADRO 01: AVALIAÇÃO DOS RESIDENTES E VISITANTES QUANTO ALGUNS


ASPECTOS URBANOS E TURÍSTICOS DE CURITIBA. (EM PORCENTAGEM)

Aspectos Urbanos Residente Visitantes


Turísticos Ruim Regular Bom Ótimo Ruim Regular Bom Ótimo
Limpeza Pública 4,6 20,3 58,7 16,4 2,0 11,2 63,4 23,3
Segurança Pública 23,6 40,2 31,8 4,4 7,8 24,4 56,1 11,7
Sinalização Urbana 6,2 19,0 60,9 13,9 3,9 14,1 62,5 19,5
Sinalização Turística 6,0 17,9 61,0 15,2 4,2 15,9 57,0 23,0
Transporte Coletivo 15,0 24,3 44,7 16 4,4 12,0 56,8 26,8
Vias Urbanas 11,9 28,1 52,1 7,9 4,6 18,9 61,4 15,0
Tráfego 48,7 32,8 16,8 1,7 32,2 32,1 29,9 5,8
Áreas Verdes 1,0 9,6 52,2 37,2 0,7 6,6 47,5 45,3
Conservação dos 4,9 31,6 56,3 7,2 1,5 21,9 63,5 13,0
Edifícios
Poluição do Ar 17,7 39,8 39,6 3,6 8,3 31,1 50,7 10,0
Poluição Sonora 24,3 43,1 20,0 2,6 14,3 38,6 40,8 6,2
Qualidade de Vida 1,9 12,1 59,1 26,8 1,6 8,7 55,2 34,5
Atrativos ______ ______ ____ ______ 1,1 3,7 40,9 54,3

Fonte: Instituto Municipal de Turismo de Curitiba (2011); Adaptado pelos autores.

Os aspectos urbanos avaliados na pesquisa demonstram que os elementos da


infraestrutura e serviços como: limpeza, sinalização urbana e turística, vias urbanas,
transporte coletivo, em sua maioria (mais de 50%) foram avaliados como bom e ótimo
tanto desde a perspectiva de visitantes como de visitados. As exceções são os itens
de segurança pública e tráfego que para os moradores segundo os dados do Instituto
Municipal de Turismo de Curitiba é em sua maioria é avaliado como regular e ruim.
Tais itens tem um influencia negativa na experiência pessoal, a sensação de falta de
segurança acarreta a fuga dos usuários de áreas com potenciais e interesse para
visitação. Assim como o problema com o tráfego proporciona ao usuário desconforto
como: irritação, dificuldade de direcionamento e perda de tempo. Cabe destacar
que neste aspecto a percepção dos visitantes é mais positiva que a dos visitados
(BOULLÓN, 2002; RODRIGUES, 2001; YÁZIGI, 2001; AMORIM; et. al., 2012)
Esta avaliação foi comprovada na aplicação dos questionários quando arguido
os turistas quanto a palavra que os mesmos associavam a Curitiba, conforme o gráfico
01.
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GRÁFICO 01 – PALAVRAS QUE OS TURISTAS ASSOCIAM À CIDADE DE CURITIBA

Fonte: HORODYSKI; MANOSSO; GANDARA, 2012

Fica evidente que os termos “beleza, limpeza, elegancia, organizada e moderna”


são os termos mais citadas, tais impressões estão diretamente ligadas as experiências
de entretenimento e contemplação. E é inegável que a organização da cidade mediante
as ações e diretrizes dos planos diretores proporcionou a Curitiba tais legados, uma
vez que tais impressões positivas da cidade também são encontradas na avaliação
dos turistas e residentes na pesquisa de demanda realizada pela prefeitura, conforme
o quadro 01, quando questionados quanto aos aspectos urbanos relacionadas a
estas impressões como: limpeza, conservação dos edifícios, áreas verdes e a própria
qualidade de vida que são muito bem avaliadas, obtendo mais de 50% de satisfação
pelos residentes e turistas. Desta forma confirmando que muitas das propostas e
melhorias estipuladas pelos planos diretores para melhoria da qualidade de vida dos
usuários da cidade se tornam fatores relevantes e de destaque na experiência turística
de Curitiba. (PINE; GILMORE, 1999; HORODYSKI et. al., 2012; RIBEIRO; SILVEIRA,
2006)
A experiência de evasão está diretamente relacionada as palavras “tranquila e
agitação”, esta segunda pode ser também relacionada a experiência de entretenimento.
Quanto à evasão as duas palavras citadas pelos turistas denotam uma mudança de
hábitos, seja pela percepção de visitantes de cidades menores que se deparam com
a agitação de um grande centro, ou de turistas que residem em cidades maiores e
comparativamente ao caos de suas cidades, Curitiba se torna uma cidade tranquila. É
interessante frisar que as experiências de visitação são individuais e cada turista avalia
a cidade visitada conforme seus critérios e ótica, comparando-a com experiências
passadas e informações obtidas, formando assim uma imagem da cidade visitada
conforme suas vivencias antes durante e depois da visitação. (RAMOS et. al., 2008;
FRAIZ BREA; CARDOSO, 2011; PINE; GILMORE, 1999; HORODYSKI et. al., 2012;
PINTO, 2012; CAMPUBRÍ et. al., 2009, CHON, 1990; BEERLI; MARTIN, 2004;
AZEGLIO; GANDARA, 2010b)
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Termos como: “planejamento, centro cívico, história, parques e natureza”, podem


estar relacionados à experiência de aprendizado, uma vez que estas são vivencias
e palavras muitas vezes utilizadas para representar Curitiba, portanto sendo obtidas
por meio de uma imagem induzida que acaba por orientar a experiência do turista na
cidade de modo a proporcionar ao mesmo conhecimentos prévios do espaço visitado.
Deste modo o planejamento da cidade além de induzir uma imagem a vários anos
de cidade planejada e ecológica, realmente possibilitou uma organização na urbe
que formou espaços urbanos com significados, com símbolos e signos que contam a
história da capital paranaense. (CAMPUBRÍ et. al., 2009; PINTO, 2012; HORODYSKI
et. al., 2012; FRAIZ BREA; CARDOSO, 2011; PINE; GILMORE, 1999; GANDARA,
2001)
Outro elemento de destaque na cidade de Curitiba que tem interferência positiva
no espaço urbano é o sistema de transporte coletivo, o qual foi citado pelos turistas
entrevistados como: ‘progresso’, ‘transporte’, ‘trânsito’. Uma vez que o mesmo em
conjunto com o zoneamento do solo e sistema viário definiram a ordenação e as
formas da cidade, sendo percebidos e avaliados pelos turistas. (IPPUC, 2010).
O sistema de transporte de Curitiba se destaca por ser uma rede integrada com
diversas linhas com sua identificação por cores nos veículos, assim dinamizando o
deslocamento na urbe, além do mobiliário urbano, as estações tubos, que é um dos
destaques na paisagem da capital paranaense, uma vez que causa um estranhamento
do turista, incentivando-o a explorar a cidade em busca da leitura de seus signos
e símbolos codificados. (BOULLÓN, 2002; CASTROGIOVANNI, 2001; LOPEZ
PALOMEQUE, 1995; BOTE GÓMEZ, 1995; VERA REBOLLO et al., 2011; BALOGLU
& MCCLEARY, 1999; MORENO; BEERLI E MARTÍN, 2004)

GRÁFICO 2. EMOÇÕES SENTIDAS PELOS TURISTAS DE CURITIBA


.

FONTE: HORODYSKI; MANOSSO; GANDARA, 2012


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Quando arguidos sobre as emoções que sentiram ao visitar os atrativos da cidade


observa-se que as emoções mais citadas são a alegria e a felicidade. O que pode ser
entendimento por experiências positivas a estes turistas, especialmente a experiência
de entretenimento, onde a conservação dos prédios, as áreas verdes e a qualidade
de vida da população, assim como as oportunidades de visitação proporcionadas pela
organização e planejamento da cidade acarretam em emoções positivas dos espaços
vivenciados. (PINE e GILMORE II, 1999; CÉSAR; STIGLIANO, 2010; HORODYSKI
et. al., 2012; LOCH et. al., 2008; SOARES et. al., 2012; GANDARA et. al., 2012).
Quanto as experiências contemplativas, destacam-se as emoções ligadas ao
“encantamento, admiração, atração e fascinação”. Os termos “interessado e curioso”
são emoções que despertaram no visitante o interesse de conhecer o que as paisagens
os apresentavam, oportunizando uma vivencia de aprendizado ao visitar a cidade.
Uma vez que os anos de planejamento da cidade se importou com a diversidade
de paisagens, formando uma variedade de espaços e artefatos que se destacam
na cidade estimulando o turista a ler os signos e símbolos escritos na paisagem,
de modo a aprender com o patrimônio de Curitiba. (GANDARA, 2008; WAINBERG,
2001; CASTROGIOVANNI, 2001; PINE e GILMORE II, 1999; MARTINEZ et. al., 2010;
SCHERER, 2002; HORODYSKI et. al., 2012; BOULLÓN, 2002; GANDARA et. al.,
2012)
Os termos “tranquilo, nostálgico, relaxado, otimista” são vivencias positivas,
reflexo muitas vezes de experiências e avaliações individuais quanto ao espaço visitado,
no qual foi percebido qualidades que instigaram tais emoções. Em contra partida
aspectos urbanos avaliados por visitantes e turistas no quadro 01 como segurança
pública e tráfego, que necessitam de maior atenção do poder público, estimularam a
emoções como: “preocupado, irritado e perdido”, demonstrando certa insatisfação por
visitantes e moradores, o que faz com que emoções como as citadas pelos turistas
sejam associadas ao fluxo lento de automóveis nas vias do centro, e os riscos de
assaltos, conforme citaram os entrevistados. É importante salientar que a imagem
da cidade é formada por um conjunto, onde os aspectos urbanos não são avaliados
individualmente, portanto é preciso que os espaços urbanos oportunizem vivencias e
experiências prazerosas e positivas em todos os seus elementos. (GANDARA, 2001;
PINE; GILMORE II, 1999; FRAIZ BREA; CARDOSO, 2011; PINTO, 2012; CAMPUBRÍ
et. al., 2009; HORODYSKI et. al., 2012; CHON, 1990; BEERLI; MARTIN, 2004;
GANDARA et. al., 2012)

GRÁFICO 03 – CATEGORIA DE EXPERIÊNCIAS DE CONSUMO CONFORME PINE


E GILMORE (1999)
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Fonte: HORODYSKI; MANOSSO; GANDARA, 2012

As emoções de entretenimento e a contemplação foram as experiências mais


citada pelos turistas, seguindo-se da aprendizagem e a evasão. A quantia expressiva
da experiência de entretenimento pode ser comprovada no Gráfico 02, uma vez que
os turistas em sua maioria afirmaram sentirem-se felizes e alegres em Curitiba. As
experiências de entretenimento ficam em destaque nesta etapa do questionário, onde
são constatadas também respostas relativas às atividades gastronômicas em feiras,
em restaurantes, bares e em Santa Felicidade, visitas a museus e parques, a estádios
de futebol, passeios a pé pelo centro, pela Linha Turismo, uso de equipamentos para
shows, teatros, cinemas e boates. Verificam-se diversas atividades relacionadas às
compras, as quais se destacam: passeio e compras em shopping centers, a feiras
de artesanato, no centro, lojas de antiguidades e no mercado municipal. Quanto
as experiências de aprendizado deve-se destacar: a visita a museus, aos parques,
Mercado Municipal e estádios de futebol, participação em eventos, passeios pela
Linha Turismo ou em ônibus regular. As experiências de evasão mais expressivas
são: a caminhada nos parques e no centro da cidade, visita a museus, fotografar
mobiliário urbano, idas ao cinema e atividades de entretenimento noturno em bares e
boates. (HORODYSKI et. al., 2012; PINE; GILMORE II, 1999; GANDARA et. al., 2012)
Como fica evidente as visitas aos parques urbanos da cidade são as principais
experiências citadas, uma vez que estes se tornaram espaços de entretenimento,
evasão, aprendizado e contemplação, devido a suas características e qualidade
paisagística. Este fato se confirma ao analisarmos a pesquisa de demanda do Instituto
Municipal de Turismo de Curitiba, quando este questiona aos entrevistados quais
foram os atrativos mais visitados durante a viagem, os parque se configuram entre
os 4 primeiros sendo: o Jardim Botânico (40,6%), Opera de Arame (20,9%), Parque
Barigui (15%) e Parque Tanguá (9,4%), tais parques fazem parte das diretrizes dos
planos diretores municipais que a princípio foram criados para contenção de enchentes
e como área de lazer para comunidade, mas que devido a sua qualidade vem sendo
apropriados pela atividade do turismo como atrativos da cidade. (CURITIBA, 2010;
IPPUC, 2004, VERA REBOLLO et al., 2011; CORIOLANO, 2003; PETROCCHI, 2004;
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LOPES, 1998; RAMOS; GANDARA; TRAMONTIM, 2008;)


Alguns aspectos negativos percebidos pelos turistas como: “sentir medo,
insegurança e perder-se no trânsito”, afetaram negativamente as experiências
de visitação. Tais aspectos devem ser realmente revistos, uma vez que estes são
problemas urbanos de grandes centros, mas que devem ser minimizados para diminuir
a insatisfação dos turistas e residentes quantos a questões de segurança pública e de
tráfego, já que estão diretamente relacionados a qualidade das experiências turísticas
e que muitas vezes, como foi evidenciado nas duas pesquisa, são os principais
elementos que acarretam experiências negativas a visitação. (BOULLÓN, 2002;
YAZIGI, 2001; AMORIM et. al., 2012; HORODYSKI et. al., 2012; PINE; GILMORE II,
1999; GANDARA et. al., 2012)
O que pode-se observar com as pesquisas é que as principais experiências da
cidade de Curitiba, são resultantes das diretrizes, metas e ações dos planos diretores
da cidade, que buscaram transformar a cidade de modo a conservar espaços de
entretenimento, aprendizado, recreação e contemplação, por meio da conservação
das edificações, criação de áreas verdes, atividades culturais e de recreação,
na busca de um sistema de transporte coletivo inovador, implantação de áreas de
circulação exclusiva para pedestres além de ciclovias, formas diferenciadas de visitar
a cidade como a linha turismo. Ações estas que acarretam a melhoria da qualidade
de vida da população assim como o surgimento de espaços com usos diversos que
podem ser utilizados pelos residentes e visitantes, diversificando artefatos urbanos
que possuem atratividade turística e usos recreativos e educacionais aos usuários da
cidade. (RIBEIRO; SILVEIRA, 2006; YAZIGI, 2001; SOUZA, 2005; QUEIRÓS, 2009;
CÉSAR; STIGLIANO, 2010; LOCH et. al., 2008; RAMOS et. al., 2008; GANDARA et.
al., 2012).
Assim a avaliação da cidade de Curitiba se destaca nas pesquisas por seus
aspectos positivos, particularmente em alguns elementos que qualificam a imagem
da cidade, tais como as áreas verdes, a conservação dos prédios e a qualidade de
vida. (GANDARA, 2008; LYNCH, 1997; BOULLON, 2002; LOPES PALOMEQUE,
1995; AMORIM et. al., 2012; CHON, 1990; GUNN, 1972; BEERLI; MARTIN, 2004).
Ressalta-se que estes aspectos tem alta avaliação positiva tanto por visitantes quanto
por visitados, conforme a tabela 1.
O constante aperfeiçoamento dos aspectos urbanos que foram avaliados na
pesquisa é reflexo de uma continuo processo de planejamento e remodelação do
ambiente da urbe, que proporciona aos visitantes e visitados uma percepção positiva
quanto à cidade de Curitiba. Uma vez que, a característica da cidade é refletida na
qualidade de vida da população, que impacta na conformação da imagem da cidade.
Gandara (2001) e Yágizi (2001) salientam que uma cidade com atributos positivos
proporciona a seus usuários sejam estes turistas ou moradores, uma experiência
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prazerosa que reflete na imagem que estes levam da destinação visitada e que os
habitantes tem em seu ambiente cotidiano. (RAMOS; et. al., 2008; FRAIZ BREA;
CARDOSO, 2011; PINTO, 2012; CAMPUBRÍ et. al., 2009; CARBALLO et. al., 2011;
CROMPTON, 1979; AZEGLIO; GANDARA, 2010a; GANDARA et. al., 2012)

QUADRO 02: AVALIAÇÃO DOS RESIDENTES E VISITANTES QUANTO A IMAGEM


DA CIDADE DE CURITIBA. (EM PORCENTAGEM)

Imagem da Cidade Inst. Mun. De Turismo de Curitiba (2011)


Residentes Visitantes
Cidade com Qualidade de
Vida 37,2 38,5
Cidade Ecológica 20,7 16,6
Cidade Cultural 11 12,5
Cidade Turística 12,1 11,7
Cidade Universitária 5,9 4,2
Outras 12,9 16,5

Fonte: Instituto Municipal de Turismo de Curitiba (2011); Adaptado pelos autores.

As interpretações de um lugar são subjetivas e estão fortemente relacionadas


à percepção quanto ao bem-estar social ou, como o conceito é mais popularmente
conhecido, a qualidade de vida. Esse conceito comumente relaciona-se apego ao
lugar, dependência, identidade. Também não relaciona-se apenas a experiência
particular do observador, mas sim de um relacionamento contínuo com um ambiente
físico que na maioria dos casos é compartilhado com outras pessoas. Ao se tratar
de uma destinação turística, a satisfação do turista ao experimentar e comprovar
a imagem da cidade que este tinha pré-estabelecida, reforça a imagem da cidade
visitada, possibilitando um elemento de marketing para o destino turístico. (CAMPUBRÍ
et. al., 2009; PINTO, 2012; FRAIZ BREA; CARDOSO, 2011; BOSSELMANN, 2008;
CUTTER, 1985, GANDARA, 2008; CHON, 1990; GUNN, 1972; BEERLI; MARTIN,
2004; AZEGLIO; GANDARA, 2010b)
As medidas estipuladas nos planos diretores quanto à melhoria da qualidade
de vida da população, a preservação do patrimônio natural e cultural da cidade são
os elementos que mais tem destaque na construção da imagem de Curitiba. Tais
ações estão inseridas nos mais de 60 anos de planejamento urbano da capital, tendo
como elementos norteadores os planos diretores que vem a realizar melhorias que
são utilizadas pelo turismo, mas foram feitas para qualificar o espaço onde vive o
cidadão, proporcionaram um ambiente de qualidade urbana percebido nas paisagens
de Curitiba, e refletido nas imagens que os usuários têm da capital do estado do
Paraná. (MENESES, 1996; AMORIM et. al. , 2012; LOCH; SANTIAGO; WALKOWSKI,
2008)
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É interessante observar que a paisagem de Curitiba é formada por uma série de


espaços abertos e edificações com apelos recreativos, educativos, de resgate histórico,
de identidade e turístico, que proporcionam ao visitante e visitado uma imagem
seriada de diversos artefatos que chamam a atenção e despertam à leitura da cidade,
formada pela captação, compreensão e avaliação do observador de forma seriada
e ordenada, onde a variedade de paisagens torna a cidade atraente ao transeunte.
(LYNCH, 1997; BOULLÓN 2002; SILVA 2004; PEREIRA,2009; KOMOROWSKI, 2007;
CULLEN, 1971; CARBALLO et. al., 2011; CROMPTON, 1979; AZEGLIO; GANDARA,
2010a; GANDARA et. al., 2012)
Tendo no turismo a ferramenta de materialização e de disseminação das
mensagens das imagens da cidade derivada do resultado de ambientes físicos e
sociais experimentados e vivenciados pelos usuários da cidade na forma de uma
programação turística, o planejamento urbano se converte em um norteador dos
caminhos como a cidade quer ser percebida de modo a se posicionar no cenário
nacional e internacional. (MOURA, 2008; GANDARA, 2008; SANCHEZ, 1999;
CAMPUBRÍ; GUIA; COMAS, 2009; PINTO, 2012; FRAIZ BREA; CARDOSO, 2011;
BERG; BORG; MEER, 1995; PALOU RUBIO, 2006; AZEGLIO; GANDARA, 2010b)
O conjunto de fatores tangíveis e intangíveis existentes nestes lugares qualificou
e proporcionou uma boa experiência de visitação ao turista, assim como um bom
espaço cotidiano para a comunidade local, de modo a ter uma imagem atraente,
original, de fuga da rotina, aprendizado, qualidade estética e lazer (PINE; GILMORE,
1999; AZEGLIO; GANDARA, 2010a; GANDARA et. al., 2012), em uma cidade que
se preocupa com o bem estar social aliado a um compromisso ambiental, cultural e
econômico. Os dados da pesquisa indicam um resultado positivo da avaliação dos
espaços da cidade de Curitiba, consequentemente as experiências vivenciadas nestes
lugares proporcionaram ao turista e ao morador uma imagem da urbe com qualidade
de vida.

Considerações Finais

As cidades são espaços de encontros, de convivências, de história, cada qual


com suas singularidades fruto da ocupação e produção espacial, possuem atratividades
diversas que motivam suas visitações, mas, para isso, deve ser locais adequados ao
convívio em sociedade apresentarem qualidades sociais, culturais e ambientais que
atendam as necessidades da população e estimulem a visitação.
A partir da década de 60 os planos diretores de Curitiba se basearam em um
tripé de sustentação: o zoneamento e uso do solo, o sistema viário e o transporte
coletivo, que, em conjunto com outros instrumentos de planejamento dão base para
a proposição de ações ambientais, econômicas e sociais, influenciando diretamente
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nas ações que moldara o espaço da cidade.


Tais soluções em muitos casos proporcionam o surgimento de artefatos urbanos
que oportunizam novos usos e significados à antigas formas da cidade que ao serem
valorizadas pela comunidade e pelo mercado puderam ser utilizadas pela atividade do
turismo, como por exemplos: edificações antigas preservadas, centro históricos, áreas
públicas como: praças e parques, além de toda a infraestrutura do sistema viário.
(VERA REBOLLO et al., 2011)
Muitas das ações resultantes destes planos acabam deixando marcas profundas
na cidade que são apropriadas não somente pelos moradores, mas por quem a visita,
incentivando o turismo no espaço urbano. No caso de Curitiba, devido a seus vários
anos de planejamento e organização por meio das diretrizes formuladas por seus
Planos Diretores, a cidade apresenta atrativos naturais e culturais em seu espaço
urbano que são valorizados positivamente tanto por turistas como por moradores.
A organização espacial deve ser entendida como uma ação de cunho social,
que deve ser elaborada de modo a proporcionar a melhoria da qualidade de vida da
comunidade, portanto, um modo de inserção social, isto porque não podemos supor
que todos os lugares devem se tornar lugares turísticos, mas devem ser organizados
para a satisfação das necessidades das pessoas que as utilizam nas suas funções
mais diversas como: morar, trabalhar, locomover, lazer, entre outras (YAZIGI, 2001).
O planejamento da cidade tem trazido ganhos para o turismo uma vez que os
planos têm ordenado tais espaços de modo que “a preocupação com o território não
diretamente turístico se justifica por respeito ao cidadão e a seu direito a um ambiente
público de lazer.” (YAZIGI, 2009, p. 33), realizando melhorias que são utilizadas pelo
turismo, mas que foram feitas para qualificar o espaço onde vive o cidadão.
Desta forma, observar-se a importância do planejamento urbano em geral, e
dos planos diretores em particular, no ordenamento e crescimento do espaço urbano,
conforme é apresentado por diversos estudos e documentos. Seu papel não consiste
simplesmente em disciplinar as construções no território, mas sim um aparato de
planejamento utilizado para proporcionar as cidades um desenvolvimento responsável
ambientalmente, socialmente buscando promover a qualidade de vida da população
aliada ao incremento econômico, além de atender as demandas atuais e futuras da
comunidade.
Curitiba, devido a seus muitos anos de planejamento e cuidado com a urbe,
resultado da interação de políticas de resgate cultural, cuidado ambiental e cidadania,
proporciona aos visitantes e moradores espaços que refletem e permitem experiências
de lazer, cultura, entretenimento, evasão, educação, aprendizado, estética e
contemplação.
Tais aspectos construíram uma imagem de cidade com qualidade de vida,
ecológica e cultural, sendo avaliada desta forma pela maioria dos usuários da urbe,
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sejam visitantes ou visitados. Isto se mostra como um reflexo da boa qualidade da


infraestrutura e serviços urbanos e aspectos turísticos, assim como de um espaço
pensado de forma racional que qualifica a vida urbana em um compromisso social,
ambiental, econômico e cultural.

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O IMPACTO DA SINALIZAÇÃO TURÍSTICA DO SETOR HISTORÍCO DE


CURITIBA DURANTE A COPA DO MUNDO DE FUTEBOL 2014.

Thiago Alves de Souza1


José Manoel Gonçalves Gândara2

RESUMO

A Sinalização Turística impacta na atividade turística pois influência no fluxo


turístico de pedestres e automóveis, assim como é um elemento utilizado na
interpretação do patrimônio e atrativos. O Setor histórico de Curitiba, uma das
Sedes da Copa do Mundo de Futebol 2014 é objeto de estudo desse traba-
lho, que tem como objetivo analisar o impacto da sinalização turística sobre o
comportamento de turistas no setor histórico. A metodologia utilizada no artigo
foi uma pesquisa de campo, descritiva exploratória, através de registros foto-
gráficos das placas direcionais e interpretativas. Como principais resultados, o
artigo identifica pontos de melhoria para futuros projetos de sinalização turística
de acordo com os requisitos do Guia Brasileiro de Sinalização Turística.

Palavras-chave: Sinalização Turística. Curitiba. Copa do Mundo de Futebol


2014.

ABSTRACT

The Signaling Tourist impacts on tourism as influence the tourist flow of pedestrians and
cars, as it is an element used in the interpretation of heritage and touritic attractions.
The historic center of Curitiba, one of the host cities of the World Cup 2014 is the
object of study of this paper, which aims to analyze the impact of tourist signs on
the behavior of tourists in the historic center. The methodology used in the article
was a field research, exploratory and descriptive, through, es photographic pictures
of directional and interpretive signs. As main results, the article identifies areas for
improvement for future projects of tourist signs in accordance with the requirements of
the Brazilian Tourist Guide Signs.

Keywords: Tourist Signs. Curitiba. World Cup Football 2014.

1 Bacharel em Turismo e Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. E-mail: thia-
gohc@gmail.com;
2 Doutor em Turismo e Desenvolvimento Sustentável pela ULPGC, professor e pesquisador do Departa-
mento de Turismo e do Programa de Mestrado em Turismo da UFPR e do Programa de Mestrado e Doutorado
em Geografia da UFPR, jmggandara@yahoo.com.br;
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1.INTRODUÇÃO

A Sinalização Turística, tanto para pedestre quanto para automóveis,


fazem uso de placas (indicativas ou interpretativas). Percebe-se que esse tipo de
equipamento urbano impacta no desenvolvimento da atividade turística, uma vez
que são responsáveis por orientar o fluxo de turistas e por fornecer informações
sobre os atrativos. Com este trabalho pretende-se analisar a eficiência e coerência
das informações das placas de sinalização turísticas instaladas no centro histórico
de Curitiba. Basicamente foram analisados duas categorias de placas de sinalização
turística. As direcionais cuja finalidade é orientar os usuários, direcionando-os e
auxiliando-os a atingir destinos pretendidos”. (Guia Brasileiro de Sinalização Turística,
2001, p.16). E “as placas interpretativas que são a tradução do conhecimento por meio
de uma linguagem prazerosa e de fácil compreensão. Objetivam enriquecer a vidas das
pessoas, apresentando- algo em que pensar, lembrar ou explorar” (Guia Brasileiro de
Sinalização Turística, 2001, p.16). Logo, fica evidente que tanto as placas direcionais ,
quanto as interpretativas, funcionam como elemento de apoio ao turista. Esse trabalho
busca os analisar os projetos de sinalização turística instalados do setor histórico de
Curitiba, buscando mensurar o impacto sobre a atividade turística durante a Copa do
Mundo de Futebol de 2014. Optou-se por essa região como amostragem da pesquisa,
por concentrar atrativos turísticos e distintos tipos de sinalização, principalmente as
direcionadas a pedestre.
A metodologia para o levantamento de dados e análise está embasada no
Guia Brasileiro de Sinalização Turística. Primeiramente foi realizada uma pesquisa
documental nos projetos de sinalização urbana e turística para avaliar aspectos
pertinentes a atividade turística, bem como em referencial teórico barra embasamento
da pesquisa de campo.(exploratória descritiva). Essa for realizada através de registro
fotográfico, a fim de verificar a veracidade da aplicação dos projetos de sinalização
turística. Por meio dos dados levantados, identificou-se como a Infraestrutura de
sinalização influencia na formação da imagem de Curitiba.
A seguir são apresentados os principais temas que fundamentaram a pesquisa
de campo e foram utilizados para análise cruzadas dos resultados identificados em
campo:

2. INTERPRETAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E TURÍSTICO

Cada pessoa percebe e interpreta o espaço urbano e turístico de formas


diferentes, contudo, apesar disso existe uma imagem pública comum à maioria. Isso
ocorre, pois, “embora as imagens sejam construídas individualmente, há uma imagem
pública desses destinos urbanos. Eles são relativamente consagrados e por isso
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mesmo embalados como produtos de consumo”.(WAINBERG, 2001, p.13 e 14) “No


processo de percepção e recepção, o visitante é ativo, pois seleciona da interação que
realiza com o ambiente, e de acordo com seus próprios critérios de significação, os
elementos que devem compor a imagem a ser transportada no retorno”.(WAINBERG,
2001, p.13)
O turismo caracteriza-se muito pelo aspecto visual, ou seja, é a paisagem que
chama a atenção do turista. Por este motivo ”o fenômeno turístico, por ser relativamente
frenético e controlado no tempo, é, em essência, fortemente visual”.(WAINBERG,
2001, p.15). A relação cultural com a interpretação ocorre a partir do momento em que
“ o primeiro choque cultural é ,por isso mesmo, urbanístico” (WAINBERG, 2001, p.15)
Como a atividade turística é dependente do observador, essa deve preparar
o ambiente e espaço urbano para que se torne um espaço, também, turístico.
(CASTROGIOVANNI, 2001, p.27) Desta maneira, percebe-se que a cidade deve ser
planejada do ponto de vista urbano e também turístico. (CASTROGIOVANNI, 2001,
p. 26)

3.INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO

A sinalização turística pode influenciar na interpretação do patrimônio. Mas é


preciso, antes de entender essa relação, conceituar as características da interpretação
do patrimônio.
O principal foco da interpretação é estabelecer uma comunicação efetiva,
que geralmente é a visual, com o visitante. Mantendo importantes interfaces com o
turismo, através da preservação do patrimônio que gera o desenvolvimento cultural das
comunidades locais. (MURTA e ALBANO, 2002, p.10) A interpretação do patrimônio
é fundamental para a atividade turística. “Investir em interpretação significa agregar
valor ao produto turístico.” (MURTA e ALBANO, 2002, p.10). Quanto melhor for a
interpretação do patrimônio por parte do Turista, maior será o grau de atratividade do
espaço. Por isso a importância de elementos urbanos que auxiliem ou contribuam com
interpretação do patrimônio por parte do turista. A interpretação do patrimônio pode
ter duas funções distintas de valorização. Uma, valoriza a experiência do visitante,
levando-o a uma melhor compreensão e apreciação do lugar visitado. A outra valoriza
o próprio patrimônio, incorporando-o como atração turística. (MURTA e GOODEY,
2002, p.13).
A interpretação do patrimônio aplicada em centros históricos pode relacionar
interesses turísticos e de conservação do patrimônio. Mas para que isso ocorra é
preciso que o objetivo comum seja o fortalecimento cultural da comunidade local.
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(MURTA, 2002, p.141) Visto a importância da interpretação do patrimônio em cidades


históricas e turísticas, percebe-se que elementos como a sinalização turística podem
influenciar no turismo, bem como na interpretação do patrimônio histórico e cultural,
de centros históricos.

4. SINALIZAÇÃO TURÍSTICA

Identificada a importância sinalização turística para o desenvolvimento da


atividade, em 2001 foi lançado o Guia Brasileiro de Sinalização Turística. Além de
ter sido elaborado pela EMBRATUR (órgão oficial de Turismo na época), contou com
a colaboração do IPHAN e do DENATRAN. Essa iniciativa comprova que há algum
tempo existe a preocupação do mobiliário urbano contribuir através da sinalização e
interpretação do patrimônio, inclusive em setores históricos.
O Guia Brasileiro de Sinalização Turística contém informações técnicas
fundamentadas em princípios, definições e estratégias de sinalização de orientação
turística. Com base nisso traz modelos de elaboração de planos funcionais e projetos,
que seguem padrões e normas para conceber o mobiliário urbano (placas) de acordo
com o padrão estabelecido.
A Sinalização Turística tanto para pedestre quanto para automóveis, mencionadas
no Guia, necessita de placas para inserção das informações. Essas por sua vez, são
classificadas como mobiliário urbano. Logo percebe-se que esse tipo de equipamento
é de suma importância para o desenvolvimento da atividade turística. “A finalidade da
sinalização é orientar os usuários, direcionando-os e auxiliando-os a atingir destinos
pretendidos”. (Guia Brasileiro de Sinalização Turística, 2001, p.16). E no que tange a
interpretação do patrimônio cultural, o Guia sugere as placas interpretativas. “As placas
interpretativas são a tradução do conhecimento por meio de uma linguagem prazerosa
e de fácil compreensão. Objetivam enriquecer a vidas das pessoas, apresentando- algo
em que pensar, lembrar ou explorar” (Guia Brasileiro de Sinalização Turística, 2001,
p.16). Logo, fica evidente que tanto as placas direcionais , quanto as interpretativas,
indicadas no Guia Brasileiro de Sinalização Turística funcionam como elemento de
apoio ao turismo cultural. Pois ao mesmo tempo que indicam os atrativos, também
promovem e facilitam a interpretação do mesmo. Os projetos de sinalização turística
“devem atender da melhor forma possível às necessidades da população usuária
do espaço público em questão.” Uma vez que os usuários geralmente não podem
opinar sobre esses projetos. “O produto lhes é imposto, independentemente de sua
preferência.” Quando os projetos não são adequados a população, pode acarretar a
má utilização ou até mesmo a não utilização das placas de sinalização. (MOURTHE,
1998, p.8).
Um ponto a ser destacado é o vandalismo sofrido pelas placas de sinalização
628
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turística. “Pesquisas demonstram que no imaginário popular social dos brasileiros


o conceito de público equivale a de ninguém” (BARRETO, 1991, p.40). Por estar
localizado em tais espaços, geralmente em ruas, o as placas de sinalização sofrem
com a ação indevida e depredação. Isso ocorre, pois, “o espaço da rua é tão impessoal,
tão de ninguém quanto a água de um rio que flui. Estes espaços impessoais, temidos,
podem ser maltratados, pode-se nele jogar lixo, quebrar coisas” Muitas pessoas são
incapazes de conviver de forma harmoniosa com o ambiente externo e público, muitas
vezes o que ocorre é a apropriação indevida pelo sujeito e a partir disso pode ocorrer
a transgressão de uso e depreciação indevida. (BARRETO, 1991, p.41)
Portanto, a sinalização turística, deve atender as necessidades usuais da
população autóctone e ter um significado cultural mais amplo de modo que contribua
com o Turismo e com a interpretação do patrimônio histórico e cultural. Para que isso
seja aplicável é necessário inserir a sinalização turística no planejamento urbano e
considerá-la no planejamento turístico.

5. ANÁLISE DA SINALIZAÇÃO TURÍSTICA DO SETOR HISTÓRICO DE CURITIBA

Antes de realizar a análise da sinalização turísticas, placas direcionais e


interpretativas, o Guia Brasileiro de Sinalização Turística recomenda que seja feita
uma microanálise, neste caso, do setor histórico de Curitiba.
O quadro a seguir, apresenta as principais perguntas norteadoras para a
micronálise da sinalização turística, bem como a análise dos resultados encontrados
durante a pesquisa de campo no setor histórico:

Quadro 1 – Microanálise da Sinalização Turística


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Quais são os atrativos turísticos Para compor essa lista utilizou-se como referência o
existentes? mapa “Curta Curitiba a Pé” (FIGURA 1), elaborado pelo
Instituto Municipal de Turismo que será disponibilizado
aos turistas apenas em 2014, e focou-se nos atrativos
da região do Largo da Ordem que constam no guia,
uma vez que não existem placas direcionais que
conectam com outros atrativos turísticos, como a
Catedral de Curitiba e demais pontos de interesse do
entorno. Sendo assim, temos: 1-Sociedade Beneficente
Protetora dos Operários; 2- Belvedere; 3-Ruínas e
Arcadas de São Francisco; 4- Sociedade Garibaldi;
5-Museu Paranaense; 6-Relógio das Flores; 7-Palacete
Wolf; 8-Igreja do Rosário; 9-Igreja Presbiteriana
Independente; 10-Memorial de Curitiba; 11-Solar do
Rosário; 12-Casa Lilás; 13-Casa HoffMann; 14-Igreja
de São Francisco e Museu de Arte Sacra; 15-Casa
Romário Martins; 16-Casa João Turin; 17-Casa do
Artesanato; 18-Conservatorio de MPB

Onde estão localizados? A FIGURA 2 mostra o mapa de onde estão os principais


atrativos turísticos passíveis de serem localizados pelos
turistas que visitam o setor histórico de Curitiba e utilizam-
se da sinalização turística para seus deslocamentos,
encontram-se nas Rua Jaime Reis, Rua Kellers e Rua
Claudino dos Santos. Os atrativos da Rua Rua Treze de
Maio, Trajano Reis, Praça Tiradentes e Paço Municipal
(que ficam após a Travessa Nestor de Castro) não são
sinalizados (a partir do setor histórico) e por isso não
foram considerados nessa análise preliminar.

De onde vem o turista? Como ele chega 1 – Linha Turismo – Desembarque em Frente ao
ao local? Palácio Garibaldi (Rua Dr. Murici) onde a placa de
sinalização não é nem direcional e nem interpretativa,
não possibilitando que o turista encontre os atrativos de
seu interesse;
2 – Veículos – Os principais acessos são através das
Ruas Trajano Reis, Rua Martin Afonso e Rua Cruz
Machado, todas com sinalização direcional para
veículos seguindo as recomendações do Guia Brasileiro
de Sinalização Turística
3 – Ônibus – existem paradas de diversas linhas de
ônibus na Travessa Nestor de Castro e na Praça
Tiradentes, mas não existem placas turísticas direcionais
e interpretativas para facilitar o acesso aos atrativos da
região.
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Existe infra-estrutura para recebe-lo? Qual O PIT – Posto de Informação Turística do Setor Histórico
é? (Palacete Wolf) FIGURA 7 encontra-se fechado (no mês
de Dezembro de 2013) inviabilizando que os turistas
recebem informações sobre os principais atrativos
turísticos que pode visitar, quer seja por meio de material
impresso (mapas, guias) que por meio de atendimento
pessoal. A existência de sinalização turística direcional
minimiza esse tipo de problema. Uma vez que as
placas direcionais são fundamentais no processo de
informação e sensibilização dos visitantes, permitindo
que ele se localize com facilidade e realize o maior
número possível de deslocamentos a pé, em roteiros
de visitação.

A acessibilidade está garantida para todos O objetivo aqui não é analisar a acessibilidade de
os turistas, inclusive para os portadores de calçadas e/ou a promovida pelo mobiliário urbano. Mas
deficiência? não pode-se negar o fato de por exemplo, a ausência
de um sinaleiro para pedestres no cruzamento da Rua
Kellers com a Rua Dr. Muricy, em frente ao desembarque
da Linha Turismo, não comprometer o deslocamento
de turistas e portanto estar relacionado a sinalização
turística. O que observou-se quanto a esse aspecto
é uma despreocupação com a acessibilidade de uma
forma generalizada, e como a sinalização turística o
padrão negativo se manteve.

Os trajetos apresentam condições de Abordando especificamente o aspecto de segurança,


conforto e segurança? notou-se que existe policiamento no setor histórico,
principalmente nas ruas Jaime Reis, Rua Kellers e
Claudino dos Santos. Outro fator importante é que a
iluminação pública da Rua Claudino dos Santos é muito
eficiente, possibilitando a sensação de segurança no
período noturno.
Existe estacionamento próprio para os No Setor histórico de Curitiba é possível estacionar
turistas? veículos de forma regular, entretanto é necessário a
compra do cartão “Estar” com agentes de trânsito da
cidade, que nem sempre estão próximos quando é
necessário. Com o cartão “Estar” o tempo máximo de
permanência no mesmo ponto é de 2 horas, tempo que
nem sempre é suficiente para o turista visitar todos os
atrativos que gostaria. Desta forma, resta como solução
os estacionamentos privados. Não existe qualquer
sinalização indicativa de pontos de parada de ônibus
turísticos. O que foi encontrado, na frente do Museu
Paranaense, foram ônibus escolares estacionados de
forma irregular.
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Quais os trajetos de maior interesse a Atualmente não existem placas de sinalização turística
serem disponibilizados e caracterizados direcionais e portanto o turista que visita o setor
como rotas de circulação para acesso aos histórico de Curitiba não é orientado para uma rota de
atrativos? circulação específica. O que o Instituto de Turismo de
Curitiba já criou mas não iniciou a distribuição é um guia
com mapa e 3 roteiros (Roteiro Principal, Alternativo e
Gastronômico) para a região do centro histórico. Neste
relatório procurou-se focar inicialmente no roteiro
principal (FIGURA 2). Todavia, esse material impresso
não é sufiente, pois como já comentado, nem todo
turista terá acesso ao mesmo, uma vez o PIT encontra-
se desativado. Além disso, as placas de sinalização
direcional tem caráter mais democrático e combinadas
com a sinalização interpretativa (que já existe) podem
proporcionar uma experiência única aos turistas
Fonte: O Autor, 2013

FIGURA 1 – Mapa do Guia CURTA CURITIBA A PÉ

Fonte: Instituto Municipal de Turismo, 2013

FIGURA 2 – Mapa de onde estão localizados os principais atrativos


do Setor Histórico de Curitiba
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Fonte: Instituto Municipal de Turismo, 2013

Uma vez realizada a microanálise de ambienta da sinalização turística, a


seguir, inicia-se a análise propriamente dita. Lembrando que a sinalização turística faz
parte do conjunto de sinalização de indicação de trânsito e por esta razão deve seguir
alguns objetivos e princípios fundamentais.
Como a principal finalidade da Sinalização é orientar os usuários, direcionando-
os e auxiliando-os a atingir os destinos pretendidos, inicialmente, durante a pesquisa
de campo, o ponto de atenção esteve focado nos princípios básicos definidos pelo
Guia Brasileiro de Sinalização Turística. O quadro a seguir apresenta uma análise da
sinalização turística do setor histórico de Curitiba, com base nestes princípios:

QUADRO 2 - ANÁLISE DA SINALIZAÇÃO TURÍSTICA DO SETOR HISTÓRICO


DE CURITIBA

Princípios Básicos Parecer


Legalidade Para avaliar esses aspectos faz-se necessário o
Cumprir o estabelecido no código de trânsito projeto executivo de sinalização turística a fim de
Brasileiro – CTB e nas resoluções do Conselho verificar aspectos técnicos que são inviáveis de
Nacional de Trânsito - Contran serem analisados em campo, tais como tamanho
de letras, matérias, etc;
Cumprir a Legislação de preservação de sítios
tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional - Iphan
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Padronização Durante a pesquisa de campo no setor histórico,


Seguir um padrão pré-estabelecido quanto a: formas percebeu-se a inexistência de sinalização
e cores dos sinais , tarjas, setas e pictogramas; turística direcional. Encontrou-se apenas uma
aplicação – situações idênticas sinalizadas da placa direcional (FIGURA 3) em frente ao Museu
mesma forma; colocação na via ou nas localidades Paranaense e conflitando com outra placa
interpretativa do atrativo. Desta forma, avaliou-se
a padronização das placas de sinalização turística
interpretativa. Essas seguem um padrão diferente
ao sugerido no Guia Brasileiro de Sinalização
Turística, algumas tem o design seguindo a
identidade do mobiliário urbano da cidade – placas
com suporte na cor cinza e outras tem o suporte na
cor verde e tentam reproduzir um estilo de época,
o que não é recomendado pelo guia.(FIGURA 4).

Visibilidade, legibilidade e segurança A sinalização turística para veículos automotores


Ser visualizada e lida a uma distância que permita instalada nas principais vias de acesso ao setor
segurança e tempo hábil para a tomada de decisão, histórico tem boa visibilidade e estão instaladas
de forma hesitação e manobras bruscas conforme as orientações do Guia Brasileiro de
Sinalização Turística. Um fator observado diz
Selecionar trajetos de fácil compreensão para os
respeito a toponímia. O setor histórico de Curitiba
usuários, como o objetivo de valorizar os aspectos
é também conhecido como Largo da Ordem.
de interesse cultural e turístico, levando em conta a
Desta forma, algumas placas direcionais (para
segurança do trânsito.
automóveis) indicam Centro Histórico e outras
Largos da Ordem ( este fato foi observado nas ruas
Garantir a integridade dos monumentos destacados Trajano Reis e Martin Afonso). Esse conflito de
e impedir que a sinalização interfira em sua informação pode gerar dúvida no turista e dificultar
visualização. a tomada de decisão durante os deslocamentos
com veículos.
No que tange as placas interpretativas (pedestres)
alguns atrativos são sinalizados com placas
que fogem ao padrão do atual mobiliário urbano
da cidade. Muitas vezes essas sinalização se
confunde com a arquitetura dos atrativos e podem
passar despercebidas pelos turistas (FIGURA 5)

Suficiência Este é o principal problema identificado durante a


Oferecer as mensagens necessárias a fim de pesquisa de campo. Atualmente o setor histórico de
atender os deslocamentos dos usuários; Curitiba carece de sinalização turística direcional.
O atual mobiliário urbano prevê apenas placas de
Auxiliar a adaptação dos usuários as diversas
sinalização interpretativa, desta forma ao chegar
situações viárias.
aos atrativos o turista encontra informações
descritivas do mesmo. Porém o maior problema
é a sinalização direcional para que o mesmo
acesse os atrativos. O que poderia ser uma
solução complementar – mapas e guias turísticos
(geralmente distribuídos em Postos de Informação
Turística), não promovem a roteirização do setor
histórico (FIGURA 6).
Durante o mês de Dezembro o PIT – Posto de
Informação Turística permaneceu fechado (FIGURA
7) e o outro PIT mais próximo está muito distante
(Rua 24h) para que o turista possa se informar dos
principais atrativos que pode visitar.
634
XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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Continuidade e Coerência Este princípio está diretamente relacionado ao


Assegurar a continuidade das mensagens até atingir anterior, uma vez que é fundamental que existam
o destino pretendido, mantendo coerência nas placas direcionais já que mesmo com a existência
informações de placas interpretativas que apresentam mapas
(FIGURA 8), essas não possibilitam a compreensão
Ordenar a cadência das mensagens, para garantir
plena de direção, distância e sequência de visitação
precisão e confiabilidade
dos atrativos turísticos do setor histórico.
Quanto a coerência das mensagens das placas
interpretativas pode-se afirmar que as mesmas
cumprem sua função de apresentar informações
que instiguem o turista a pensar, lembrar e explorar,
vivenciando uma experiência nova no atrativo.
Manutenção e Conservação Este aspecto é mais crítico em algumas ruas do
Estar sempre conservada, limpa, bem fixada e, setor histórico, como a Rua Trajano Reis , onde as
quando for o caso, corretamente iluminada placas de interpretação estão tão mal conservadas
a ponto de impossibilitar a leitura (FIGURA 9). Mas
de uma forma geral, apesar das pichações, grande
parte das placas, encontram-se em bom estado de
conservação.
Fonte: O Autor, 2013

FIGURA 3 – Placa de Sinalização


Turística Direcional

Fonte: O Autor, 2013


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FIGURA 4 – Comparativo do
Padrão de Sinalização Turística
Interpretativa

Fonte: O Autor, 2013

FIGURA 5 – Sinalização Interpretativa


(com baixa legibilidade e fora do
padrão do atual mobiliário urbano)

Fonte: O Autor, 2013


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FIGURA 6 – Atual mapa


Turístico do Setor
Histórico de Curitiba

Fonte: Instituto Municipal de


Turismo, 2013

FIGURA 7 – PIT
do Setor Histórico
(Fechado no mês de
Dezembro)

Fonte: O Autor, 2013


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FIGURA 8 – Placa
de Sinalização
Interpretativa contendo
o mapa de atrativos do
Setor Histórico

Fonte: O Autor, 2013

FIGURA 9 – Placa
de Sinalização
Interpretativa com
pichações, na Rua
Trajano Reis

Fonte: O Autor, 2013


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Como já mencionado, a sinalização de orientação turística para pedestres


deve ser articulada a outras formas de comunicação, integrada a um planejamento
que garanta a coerência entre os roteiros sinalizados, os mapas e as publicações,
a localização dos serviços de informação e etc. Entretanto isso não acontece, pois
alguns atrativos muito próximos ao setor histórico não são considerados no novo guia
Curta Curitiba a Pé, como por exemplo a Cinemateca e a União Paranaense dos
Estudantes que inclusive apresentam sinalização interpretativa instalada (FIGURA
10).

FIGURA 10 – Placa de Sinalização


Interpretativa da UPE e Cinemateca

Fonte: O Autor, 2013

O Guia Brasileiro de Sinalização Turística recomenda que quando coexistirem


as duas modalidades de circulação – veículos e pedestres – deve ser dada prioridade
à colocação de placas para atender aos usuários de veículos, uma vez que essa
sinalização permite a leitura pelos pedestres, e não ao contrário. Entretanto, as placas
direcionais encontradas no setor histórico não indicam quais os atrativos desta área,
ou seja, para o pedestre, pouco adianta saber que estão no Setor Histórico, mas não
saber as direções e como chegar aos atrativos específicos.
Apesar dos inúmeros problemas apresentados anteriormente, a sinalização
interpretativa, principalmente a que segue o padrão do mobiliário urbano da cidade,
estão muito bem instaladas e cumprem um papel fundamental. Uma vez que as placas
interpretativas são a traduzem o conhecimento a respeito de determinado atrativo
turístico de uma forma a facilitar a compreensão do turista e mesmo da comunidade
local, que aprende mais sobre elementos do seu cotidiano, instigando o pensar,
lembrar e querer explorar mais a área. Os projetos dessas placas foram planejados
para durar (mesmo com o vandalismo das pichações, se houvesse a manutenção e
conservação as placas continuariam cumprindo sua função), com estrutura resistente
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(poucos estavam com a estrutura danificada) e conteúdo preciso (que apesar de


ser diferente dos matérias impressos, tem uma linguagem fácil, de rápida leitura e
compreensão, já que em geral os turistas não ficam muito tempo parados para ler).
Contudo, a quase inexistência de placas direcionais de sinalização turística,
principalmente para orientação de pedestres é o maior problema diagnostica. Caso
um projeto como esse seja implantado, as placas devem ser colocadas em locais que
não poluam visualmente a área, não interfiram no atrativo sinalizado, nem obstruam a
passagem de pedestres.
Logo, a atual sinalização turística do setor histórico de Curitiba não é eficaz,
pois não garante o fácil acesso aos atrativos turísticos.

7. CONCLUSÃO

A análise da sinalização turística em Curitiba se mostrou muito eficiente,


gerando um resultado conciso e com aspectos que orientam os principais problemas
e possíveis soluções que os planejadores urbanos e turísticos podem seguir caso
desenvolvam um novo projeto de sinalização turística para a região. Portanto, uma
nova abordagem de reflexão com essa pesquisa apontou algumas questões que agora
podem ser amadurecidas e solucionadas através de projetos executivos visando a
melhoria da experiência do turista.
Os principais problemas diagnosticados e as respectivas sugestões de
melhorias são:
• Falta de continuidade nas mensagens utilizadas, com interrupção da informa-
ção, dificultando que o Turista visite os atrativos. Esse problema pode ser re-
solvido com um projeto executivo de placas direcionais desenvolvidas e insta-
ladas com base nos critérios do Guia Brasileiro de Sinalização Turística
• Placas com diferentes critérios de diagramação, nas mais variadas formas, sem
padrão de ordenação das informações e mensagens; Problemas que pode ser
resolvido com a instalação das placas interpretativas no padrão do atual mo-
biliário urbano, nos atrativos que estão sinalizados com padrões antigos ou
não sinalizados. Quanto a padronização da informação, recomenda-se primei-
ramente que as placas interpretativas sejam traduzidas (pelo menos para o
inglês) e que os atrativos que ainda não estão sinalizados recebem os mesmos
textos interpretativos do Guia Curta Curitiba a Pé.
• Aplicar os princípios de sinalização turística na análise empírica e pesquisa de
campo no setor histórico de Curitiba foi um piloto de análise que se mostrou
muito eficiente, gerando um relatório condensado e com aspectos que orien-
tam os principais problemas e possíveis soluções que os planejadores urbanos
e turísticos podem seguir caso desenvolvam um novo projeto de sinalização tu-
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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rística para a região. Possivelmente, muito dos problemas aqui levantados não
são percebidos pela comunidade local, e consequentemente pelo poder públi-
co. Portanto, uma nova abordagem de reflexão com essa pesquisa apontou
algumas questões que agora podem ser amadurecidas e solucionadas através
de projetos executivos visando a melhoria da experiência do turista.

8. REFERÊNCIAS

BARRETTO, M. Planejamento e organização em turismo. 6 ed. Campinas: Papirus,


1991.

CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. Turismo Urbano 2 ed – São Paulo: Contexto,


2001.

GUIA BRASILEIRO DE SINALIZAÇÃO TURÍSTICA, Embratur, IPHAN e DENATRAN.


Brasília, 2001.

GOODEY, B. Interpretação e comunidade local in: MURTA, S. M., ALBANO, C.


Interpretar o Patrimônio: um exercício de olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMMG, 2002,
p.13

MOURTHE, Claudia. Mobiliário Urbano. Rio de Janeiro: 2AB, 1998.

MURTA, S. M., ALBANO, C. Interpretar o Patrimônio: um exercício de olhar. Belo


Horizonte: Ed. UFMMG, 2002.

MURTA, S. M. e GOODEY, B. Interpretação do Patrimônio para visitantes:um quadro


conceitual in: MURTA, S. M., ALBANO, C. Interpretar o Patrimônio: um exercício de
olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMMG, 2002, p.13

WAINBERG, J. Cidades como sites de excitação turística in:CASTROGIOVANNI,


A.C. Turismo Urbano, São Paulo: Contexto, 2001, p.13 e 14
Grupo de Trabalho 05
Turismo em Espaço Rural

Coordenadores: Marlene Huebes Novaes (UNIVALI); Odaléia Telles (USP).

O desenvolvimento de atividades turísticas no espaço rural está associado ao


processo de urbanização que ocorre na sociedade e no transbordamento do espaço
urbano para o espaço rural e, neste sentido, “novas” formas de ocupação passaram a
proliferar no campo. Destarte, o objetivo deste eixo temático é o de analisar o turismo
rural e, como ele vem desempenhando papel importante no processo de transformação
desse espaço, como novas ressignificações, além de conhecer as características
das abordagens da produção familiar e suas estratégias de sobrevivência, sejam
através de empregos agrícolas ou não agrícolas, processos fundamentais para o
desenvolvimento do turismo com base local.
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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EXPERIÊNCIAS COM O TURISMO NA COMUNIDADE QUILOMBOLA DA


MUMBUCA, JALAPÃO, TO, BRASIL.

Denise Scótolo1
Alexandre Panosso Netto2

RESUMO: A Comunidade Quilombola da Mumbuca, localizada no Parque Estadual do


Jalapão, no Estado do Tocantins, tem percebido incremento socioeconômico desde
o início das atividades turísticas na região. Atraídos pelas belezas naturais, pelas
peculiaridades da cultura local, pelos artesanatos exclusivos feitos a partir da palha do
Capim Dourado ou, ainda, pela comunhão religiosa, muitos dos turistas que chegam
até Mumbuca têm contribuído para a promoção do desenvolvimento local. Partindo da
compreensão de que as atividades turísticas realizadas em comunidades localizadas
devam proporcionar a melhoria da qualidade de vida de suas populações, este
estudo apresenta como têm ocorrido as experiências com o turismo na Comunidade
Quilombola da Mumbuca e propõe uma discussão sobre o Turismo de Base Local nessa
comunidade. O estudo é fruto de uma investigação qualitativa realizada na Mumbuca
durante o mês de julho de 2013. A pesquisa foi realizada a partir de observações não
participantes e de uma entrevista em profundidade realizada com uma das lideranças
locais. Verificou-se que a comunidade tem experimentado diferentes modalidades de
turismo: ecoturismo, turismo religioso, turismo científico e visitas a parentes e amigos.
Mumbuca tem sido vista por algumas operadoras turísticas e por alguns visitantes
como um atrativo turístico e não como um destino, o que significa dizer que muitos
dos viajantes que chegam até a comunidade permanecem por ali durante poucas
horas, não usufruindo da infraestrutura turística existente e não experienciando a
cultura local. Seja por falta de informação sobre a estrutura e sobre a hospitalidade
local, seja por falta de interesse de operadores e visitantes em permanecer por mais
tempo na comunidade, o excursionismo que ali ocorre minimiza os benefícios que
a atividade turística pode proporcionar aos visitantes e visitados. Em contrapartida,
alguns viajantes estão interessados em vivenciar as singularidades de um destino
autêntico como é Mumbuca e, através da permanência no destino e da abertura para
a troca cultural, colaboram para o desenvolvimento da comunidade. A Comunidade da
Mumbuca tem mostrado sua capacidade de planejamento, de execução e de gestão
de atividades adequadas àqueles que a visitam, de forma a maximizar os benefícios
trazidos pelo turismo. Conclui-se que Mumbuca possui potencial para desenvolver um
programa de Turismo de Base Local que promova, de fato, a melhoria da qualidade
de vida de sua população.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo de Base Local. Comunidade Mumbuca. Ecoturismo.
ABSTRACT: The Mumbuca Community, located in Jalapão State Park , State of
Tocantins , has perceived socioeconomic growth since the beginning of the tourist
1 Mestranda no Programa de Pós Graduação em Estudos Culturais da Escola de Artes, Ciências e Huma-
nidades da Universidade de São Paulo – EACH/USP; bacharel em Turismo e especialista em Gestão de Serviços
E-mail: denisescotolo@usp.br
2 Livre Docente em Teorias do Turismo e pro-
fessor no Curso de Graduação em Lazer e Turismo, no Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais e coor-
denador do Programa de Pós-Graduação em Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universi-
dade de São Paulo – EACH/USP. E-mail: panosso@usp.br. Blog: www.panosso.pro.br
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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activities in the region . Attracted by the natural beauty, the peculiarities of the local
culture, the unique handcrafts made from the golden grass straw or even for religious
communion, most of the tourists who come to Mumbuca have contributed to the
promotion of local development. Starting from the understanding that the tourist activities
in local communities should provide improvement of quality of life of their populations,
this study shows how experiments with tourism in Mumbuca Community have occurred
and proposes a discussion on Community-based tourism in this community. The study
is the result of a qualitative investigation in Mumbuca during July 2013. The survey was
conducted from non- participant observations and an in-depth interview conducted
with one of the local leaders. It was found that the community has experienced different
forms of tourism: ecotourism, religious tourism, scientific tourism and visits to relatives
and friends. Mumbuca has been seen by some tourist operators and some visitors as
a tourist attraction but not as a destination, which means that most of the travelers who
come to the community o remain there just for a few hours, not taking advantage of
the existing tourism infrastructure and is not experiencing the local culture. Whether
by lack of information on the structure and on the local hospitality, either for lack of
interest from operators and visitors in staying longer in the community, the backpacking
which occurs there minimizes the benefits that tourism can provide to visitors and local
people. However, some travelers are interested in experiencing the uniqueness of an
authentic destination as Mumbuca and, when been there and open to cross-cultural
exchange, they can collaborate for the development of the community. The Mumbuca
Community has shown its capacity for planning, fulfillment and management of suitable
activities to those who visit it, in order to maximize the benefits brought by tourism. We
conclude that Mumbuca has the makings of developing a program that promotes the
community-based tourism, which, in fact, improve the quality of life of its population.
KEYWORDS: Tourism Local Base. Mumbuca Community. Ecotourism

INTRODUÇÃO

Na porção leste do Estado do Tocantins e a 180 quilômetros da capital Palmas,


encontra-se a região do Parque Estadual do Jalapão. Em meio à mata de transição
entre a caatinga e o serrado, existe uma área de vegetação rasteira similar às savanas e
cercada por rios, chapadas e dunas, além de flores e animais exóticos. É nessa região
que brota uma espécie peculiar de Sempre-Viva, o Capim Dourado (Singhnantus
Nintens). Com haste fina e de intenso brilho metálico dourado, o Capim Dourado
tem se transformado em matéria-prima para a confecção de bijuterias, acessórios de
moda e artefatos decorativos (fig. 1). A arte feita a partir do Capim Dourado surgiu no
Povoado da Mumbuca – atualmente Comunidade Quilombola da Mumbuca – distante
35 quilômetros do município de Mateiros (fig. 2), e serviu durante anos como moeda
de troca entre quilombolas locais e mercadores distantes. A junção entre beleza
natural, particularidade histórica e produção artesanal de peças exclusivas da região
tornou o Jalapão conhecido internacionalmente, atraindo turistas e interessados nas
peculiaridades regionais.
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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FIGURA 1 – ARTESANATOS FEITOS A PARTIR DO CAPIM DOURADO

Fonte: FIGUEIREDO, I. et al. Catálogo Capim Dourado.

Assim como outras cidades e comunidades do Jalapão, Mumbuca também


integra os circuitos comumente oferecidos pelas operadoras turísticas especializadas
na região. Entretanto, a Comunidade Quilombola da Mumbuca tem sido ofertada com um
atrativo turístico e não como um destino turístico, o que significa dizer que os visitantes
que até ali são conduzidos passam no local algumas poucas horas da totalidade de
seus roteiros, não tendo oportunidade de conhecer as particularidades da cultural
local, nem tendo tempo hábil para criar vínculos afetivos com seus anfitriões. Para a
comunidade, ficam os lucros obtidos com a venda de seus artesanatos, a perspectiva
de uma vida melhor e, por vezes, o lixo deixado para trás pelos “ecoturistas”.

FIGURA 2 – MAPA DA REGIÃO DO JALAPÃO

Fonte: <http://www.onix.com.br/ivan/jalapao.htm>.
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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Esse panorama vai na contramão das prerrogativas atualmente discutidas


sobre atividades turísticas em territórios de comunidades tradicionais. Acadêmicos de
diversas áreas do saber (MALDONADO, 2006; ROUSSEL, 2006; CORIOLANO, 2003
e 2009; ZAOUAL, 2008; BARTHOLO, SANSOLO e BURSZTYN, 2009) têm apontado
para modalidades de turismo que devem ser planejadas e geridas pela comunidade
anfitriã a partir de seus interesses e de suas potencialidades, considerando as reais
possibilidades de promoção do desenvolvimento local.

O Turismo de Base Local tem se consolidado nacionalmente como um potencial


indutor de desenvolvimento local endógeno. O Brasil tem registrado experiências em
comunidades que, por meio do planejamento e da gestão local de seus recursos,
encontraram no turismo uma possibilidade de complementação de renda e de
fortalecimento de seus aspectos culturais. São exemplos dessas experiências a
comunidade da Prainha do Canto Verde, no Ceará (MENDONÇA, 2009); a comunidade
da Praia do Aventureira, na Ilha Grande, no Rio de Janeiro (COSTA; CATÃO; PRADO,
2009); a Resex Marinha do Delta do Parnaíba, entre o Maranhão e o Piauí (MATTOS,
2009); a comunidade quilombola de Furnas do Dionísio, em Mato Grosso do Sul
(OLIVEIRA; MARINHO, 2009) entre outras.

Essa modalidade de turismo vem ganhando força em locais de grande


atratividade paisagística e cultural, pois tem respondido a um específico nicho de
mercado formado por viajantes “em busca de experiências pessoais originais e
enriquecedoras, combinando vivências culturais autênticas, desfrutando de cenários
naturais e de uma remuneração adequada do trabalho comunitário” (MALDONADO,
2009, p. 26). Esse nicho de mercado, integrante do que tem sido chamado de Turismo
Criativo, possui interesse em vivenciar as singularidades do destino e em experienciar
o mundo imaterial e a cultura viva do local visitado, integrando-se ao cotidiano dos
anfitriões. Além da existência de um público potencial, o sucesso do Turismo de
Base Local depende, necessariamente, do interesse comunitário em desenvolver o
turismo em seu território, da participação de seus membros em planejar e gerir as
atividades turísticas e da preservação dos aspectos naturais e culturais que compõem
determinado território.

Corroborando a ideia de que o turismo deva ser planejado, executado e


administrado pela comunidade anfitriã e enfatizando a necessidade primária de que
os benefícios socioeconômicos advindos das atividades turísticas praticadas em seu
território devam ser destinados para a melhoria da qualidade de vida da comunidade,
este trabalho apresenta como têm ocorrido as experiências com o turismo na
Comunidade Quilombola da Mumbuca e propõe uma discussão sobre o Turismo de
Base Local nessa comunidade.

A discussão apresentada é resultado de uma investigação qualitativa realizada


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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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na Mumbuca no mês de julho de 2013. A pesquisa foi realizada a partir de observações


não participantes e de uma entrevista em profundidade realizada com Tonha, uma das
lideranças locais que já foi vereadora no município de Mateiros dentre os anos de
2005 e 2008 e que, atualmente, é proprietária e administradora da única pousada de
Mumbuca.

O POVOADO DA MUMBUCA

A caracterização histórico-social da Comunidade Quilombola da Mumbuca é


fator relevante para o seu atual cenário de desenvolvimento socioeconômico e para
a construção de sua identidade cultural. Os mumbuquenses estão instalados no
Jalapão há pelo menos seis gerações. O pequeno Povoado da Mumbuca (fig.3) foi
formado pela miscigenação entre escravos migrantes do sertão baiano e índios da
região (provavelmente da etnia Xerente). A comunidade, que se organizou de forma
matriarcal, manteve-se isolada por muitos anos até que o Jalapão despontou como
destino turístico e a comunidade ganhou destaque pela confecção de seu peculiar
artesanato.

FIGURA 3 – IMAGENS DO POVOADO DA MUMBUCA

Fonte: Arquivo pessoal.

Originária do povoado de Mumbuca, a arte desenvolvida a partir do Capim


Dourado está sendo responsável por um novo paradigma de geração de renda, de
crescimento econômico e de desenvolvimento social, tanto no povoado da Mumbuca
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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quanto nos sete municípios da Região do Jalapão3.

Ações comunitárias regionais e interações sociais apoiadas por iniciativas


privadas e políticas públicas resgataram as práticas artísticas locais e desenvolveram
habilidades humanas para a confecção de brincos, pulseiras, colares, chapéus, bolsas,
vasos, mandalas, entre outros artefatos decorativos e de moda feitos a partir da palha
do Capim Dourado.

Em Mumbuca, a maior parte da produção do artesanato é colocada à venda


na Associação Capim Dourado. É lá que turistas nacionais e internacionais podem
apreciar e comprar produtos originais “costurados” pelas mãos dos descendentes
daqueles que criaram essa arte. A renda obtida com a venda das peças artesanais
tem contribuído para o incremento econômico da comunidade. Entretanto, não
existem informações sobre o volume de dinheiro movimentado pelo comércio do
artesanato, nem tampouco sobre os demais impactos financeiros e sociais advindos
das atividades turísticas na comunidade. Sabe-se, contudo, que o turismo ainda é
insipiente no local, uma vez que o acesso à comunidade tem sido restrito a veículos
com tração nas quatro rodas ou a caminhões e ônibus capazes de percorrer os mais
de 200 quilômetros de estrada irregular e de terreno arenoso.

O TURISMO NA MUMBUCA

A dificuldade de acesso pode ser considerada um aspecto relevante para o baixo


fluxo de visitantes em Mumbuca. Contudo, o governo estadual tem se empenhado em
fomentar o turismo em toda a região do Jalapão, o que tem sido visto com bons olhos
pelos habitantes locais, pois estes veem no aumento do fluxo de turistas o consequente
aumento nas vendas de seu artesanato. O Programa de Desenvolvimento Regional
Integrado e Sustentável (PDRIS), financiado pelo Banco Mundial, prevê a destinação
de recursos financeiros para a adequação da infraestrutura e do acesso aos atrativos
do Jalapão, incluindo a Comunidade Quilombola da Mumbuca e a vizinha Comunidade
Quilombola do Prata.

A inserção de comunidades tradicionais em circuitos turísticos é, todavia,


considerada por Maldonado (2009) um assunto complexo e delicado:

É complexo em função do impacto gerado por uma atividade muito


competitiva e crescente internacionalizada em comunidades localizadas em
regiões remotas, dedicadas às atividades tradicionais de sobrevivência, com
poucas fontes alternativas de rendimento. É delicado em função do caráter
3 Os Municípios que integram a região do Jalapão são: Lagoa do Tocantins, Lizarda, Mateiros, Novo
Acordo, Ponte Alta do Tocantins, Santa Tereza do Tocantins e São Félix do Tocantins.
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ambivalente do turismo: embora isto represente uma oportunidade para


melhorar o bem-estar das comunidades, não obstante, sempre traz consigo
“efeitos de pacote”, muitos destes irreversíveis, como as alterações nos
padrões de produção e de consumo, e as ameaças à cultura (MALDONADO,
2009, p. 25-26).

Assim, entende-se que, para que o turismo ocorra de forma a maximizar


os benefícios e minimizar os impactos negativos próprios da atividade, é preciso
um planejamento cuidadoso que considere primordialmente os objetivos de
desenvolvimento da comunidade, assim como a disposição de seus membros em
colaborar ativamente – como atores principais – na gestão das atividades turísticas.

Essa prerrogativa, todavia, parece não encontrar ressonância nas operações


turísticas que envolvem a visita a Mumbuca. O povoado tem sido visitado por a) turistas
integrantes de pacotes fechados adquiridos junto às operadoras de ecoturismo e que
incluem uma breve passagem na Mumbuca, para a compra de artesanatos feitos da
palha do Capim Dourado; b) pesquisadores nacionais e internacionais das diversas
áreas científicas; c) membros das cruzadas promovidas pela Igreja Assembleia de
Deus; d) amigos e familiares dos moradores locais; e) ecoturistas e visitantes em geral
interessados nos aspectos naturais e/ou culturais da região.

Os pacotes criados por operadoras de ecoturismo costumam oferecer aos


turistas um roteiro circular com duração média de quatro dias. Os roteiros comumente
são iniciados em Palmas, seguem por uma das estradas que passam pelo Parque
(TO-030 ou TO-255), alcançam o Município de Mateiros no extremo leste do Jalapão
e retornam pela outra estrada, chegando novamente em Palmas. Os pacotes podem
incluir a visitação aos Municípios de Novo Acordo, São Félix do Tocantins e Ponte
Alta do Tocantins, além das Dunas do Jalapão, da Cachoeira da Velha, da Serra
da Catedral, da Serra do Gorgulho e do Mirante Vermelho. Os atrativos visitados
em Mateiros incluem o Fervedouro (um pequeno poço formado por uma nascente
subterrânea com pressão hidrostática que impede que qualquer corpo que se coloque
em sua direção afunde, produzindo uma sensação de flutuação), a Cachoeira da
Formiga e o Povoado da Mumbuca.

Os visitantes que alcançam o povoado são recebidos na porta da Associação


Capim Dourado pelas artesãs locais com as canções “Visitante seja bem vindo” e “Meu
Capim Dourado”, uma adaptação da cantiga popular “Alecrim Dourado”. Após as boas
vindas, os turistas são convidados a entrar na Associação, onde podem apreciar a
arte local e escolher as peças que desejam comprar. A visita não se estende por muito
tempo, já que o grupo deve prosseguir no circuito. Por vezes, alguns grupos aproveitam
a visita e almoçam na comunidade, em um dos dois restaurantes existentes no local.
Os mesmos restaurantes oferecem comida caseira preparada em fogão à lenha para
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aqueles que fizeram uma reserva antecipada. Isso porque o fluxo de visitantes não
é constante e mediante um agendamento prévio é que é possível que as refeições
sejam preparadas conforme o número de interessados no almoço, evitando-se, assim,
o desperdício de alimentos.

Um dos restaurantes é parte da única pousada existente no lugarejo. A


pousada, administrada por Tonha, seu marido e filhos, foi aberta em 2003 e, assim
como as demais casas da comunidade, é feita de tijolos de adobe, palha de coco e
piaçava. Apesar da simplicidade, a pousada oferece acolhida para os turistas que
desejam passar alguns dias na comunidade. Seus hóspedes não são os integrantes
dos roteiros circulares. São os ecoturistas, os turistas interessados na cultura local e,
em sua maioria, os pesquisadores. Segundo a anfitriã,

Vinha muita gente de São Paulo visitar aqui e não tinha onde dormir. Eu tinha
uma casinha aqui, pequenininha, que não tinha luz nem água encanada. A
gente fazia fogueira pra poder esquentar eles. Aí eu tive a ideia de fazer
uma pousada para quem quisesse ficar. (...) No começo vinham mais
pesquisadores, mas agora também vem turista a passeio. (TONHA, 2013,
informação verbal)

Desde sua abertura, a pousada vem passando por constantes melhorias.


Tonha afirmou investir parte da renda deixada por cada turista em pequenas reformas
no espaço. Hoje, a pousada oferece cinco quartos, luz elétrica, um banheiro coletivo
com chuveiro e um salão para refeições. Tonha afirma que o maior movimento do
negócio ocorre em julho e em dezembro. Poderia, contudo, haver mais movimento, se
houvesse uma melhor divulgação sobre a infraestrutura existente em Mumbuca:
Aqui não tem informação. Tem vez que [os turistas] vêm de lá de Mateiros
visitar aqui. Quando chegam aqui, acham bom e querem ficar, mas não ficam
porque já pagaram as pousadas em Mateiros e dizem ‘se eu soubesse que
aqui tinha pousada, eu tinha ficado aqui, porque aqui é tão bom! É mais
perto do povo’. E daí, quando chegam aqui, passam direto (TONHA, 2013,
informação verbal).

Tonha afirma que muitos dos visitantes que chegam até Mumbuca manifestam
seu desejo por permanecer alguns dias na comunidade, mas como já estão com seus
pacotes fechados, vão embora em poucas horas. Afirma também que seria melhor
para o povo local se estes visitantes pudessem ficar hospedados no povoado, pois
assim, uma maior parte dos gastos dos turistas ficaria para a comunidade e não para
terceiros. “O turista que fica aqui compra o artesanato, almoça e dorme, e isso é um
dinheirinho que entra na comunidade” (Tonha, 2013, informação verbal).

Algumas das operadoras turísticas que oferecem os roteiros circulares


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possuem infraestrutura própria, tanto para alimentar quanto para abrigar os turistas.
Os visitantes que participam desse tipo de pacote são deslocados em caminhões que,
engatados a baús ou caminhonetes, também transportam as bebidas, os alimentos
e os suplementos necessários à estadia. A hospedagem, na sua vez, se realiza
em tendas exclusivas, denominadas de Safari Camp. Este tipo de roteiro conduz o
visitante ao desfrute do destino turístico; contudo, não possibilita que o montante dos
recursos gastos pelos visitantes com a viagem permaneça nos destinos visitados. Tal
modalidade não promove o desenvolvimento local das comunidades visitadas, nem
tampouco contribui para a interação entre turistas e anfitriões, impossibilitando as
trocas culturais.

A comunidade também é visitada por participantes das cruzadas evangelistas


da Igreja Assembleia de Deus. Durante as cruzadas, toda a comunidade se mobiliza
para garantir que o evento, com duração de dois dias, seja agradável para os visitantes:
uma peça de teatro representando a história da comunidade e do artesanato feito
de Capim Dourado é apresentada; grupos de jovens apresentam canções de louvor;
grupos de vigília são formados; barracas de doces e salgados são erguidas e casas de
moradores se transformam em hospedarias. Durante o mês de julho de 2013, período
em que esta pesquisa foi realizada, pôde ser observado grande movimentação e
grande entusiasmo da comunidade anfitriã em receber os participantes da cruzada. Os
visitantes demonstravam interesse pelos aspectos culturais do povoado e pareciam
estar interessados em trocar informações não somente sobre sua fé, mas também
sobre o modo de viver da comunidade.

As diferentes modalidades de turismo existentes atualmente na comunidade da


Mumbuca são reflexos da diversificada gama de atrativos naturais e culturais existentes
na comunidade, assim como reflexos da capacidade de atendimento de diferentes
públicos (cada qual com sua motivação) e do interesse dos habitantes locais em
promover o turismo na comunidade. Isto posto, acredita-se que a Mumbuca possua
potencial para desenvolver um programa de Turismo de Base Local e deva investir
nisto, devendo, para tanto, contar com apoios diversos que, espera-se, cheguem à
localidade, guardando, é claro, a devida consciência ecológica e o respeito à cultura
local.

CONCLUSÃO

O Turismo de Base Local tem como alicerce o desejo comunitário de desenvolver


o turismo responsável e sustentável em seu território, de forma a promover a melhoria
da qualidade de vida de seus habitantes. Para tanto, essa modalidade de turismo
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prevê a necessidade de que a sociedade local se organize a fim de planejar e gerir as


atividades turísticas propostas.

Mumbuca tem recebido turistas e visitantes interessados em seus aspectos


naturais e culturais. Entretanto, não são todos os visitantes que têm a oportunidade
de permanecer na comunidade tempo suficiente para conhecer as riquezas culturais
ali existentes. Seja por falta de informação sobre as características e infraestrutura
turística local, seja por estarem inseridos em pacotes fechados, alguns turistas passam
somente algumas horas de seus roteiros na comunidade da Mumbuca, tendo tempo
apenas para comprar os artesanatos feitos a partir da palha do Capim Dourado e,
quando muito, para almoçar.

Os mumbuquenses são simpáticos ao desenvolvimento do turismo e sabem se


organizar para promover o bom atendimento e a boa acolhida aos visitantes. Os cerca
de duzentos anfitriões moradores da Mumbuca possuem histórias interessantes, um
modo de vida particular e disposição para compartilhar sua cultura com quem ali chega.

As cruzadas evangelistas refletem a capacidade dos membros da comunidade


em planejar, executar e gerir atividades que são adequadas aos interesses daqueles
que a visitam e que, ao mesmo tempo, são geradoras de benefícios para a própria
comunidade. Ainda que a motivação dos participantes das cruzadas evangelistas
esteja ligada às questões religiosas que os movem, o tipo de turismo que ocorre
em função de tais cruzadas se aproxima dos pressupostos existentes no Turismo de
Base Local: planejamento, execução e gestão das atividades pela comunidade local;
integração entre visitantes e visitados; interesse no modo de vida local; respeito pelos
autóctones, por sua cultura e pelo meio ambiente em que estão inseridos; benefícios
gerados pelas atividades permanecem na comunidade para usufruto dos habitantes
locais.

Os demais visitantes, sejam eles ecoturistas, pesquisadores ou viajantes em


geral, também encontram na comunidade, além dos atrativos naturais e culturais,
a hospitalidade mumbuquense e a infraestrutura necessária para permanecerem na
comunidade por mais que algumas horas.

Acredita-se, portanto, que a mesma organização social colocada à disposição


das cruzadas evangelistas possa ser colocada a favor do desenvolvimento de um
programa contínuo de Turismo de Base Local, promovendo, assim, o aumento do
fluxo de turistas, o consequente aumento na venda de artesanatos e a valorização dos
recursos naturais e culturais existentes na Mumbuca.
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REFERÊNCIAS

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Virtual de Turismo. V. 8, n. 2, 2008, p. 1-14.
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SISTEMÁTICA PRELIMINAR SOBRE O CAMPO DE


ESTUDOS DO TURISMO RURAL

Helga Cristina Carvalho de Andrade1


Valderí de Castro Alcântara2
Juliana Soares Gonçalves3

RESUMO: O caráter dinâmico da atividade turística, somado à necessidade de


promoção do desenvolvimento, faz surgir novos segmentos turísticos, dentre
os quais o Turismo Rural. O Turismo Rural é determinado como um segmento de
extrema importância nacional, principalmente pela possibilidade de promoção do
desenvolvimento de áreas rurais por meio da visitação turística. O campo de estudos
do Turismo Rural é recente e apresenta crescente número de publicações. Por se tratar
de um segmento estratégico do Turismo, torna-se importante investigar a construção
de conhecimentos dentro do campo, seus pesquisadores de maior destaque e os hiatos
que possibilitariam novos estudos relevantes. Este trabalho tem o objetivo de realizar
um estudo preliminar sobre o campo de estudos, utilizando a ferramenta de revisão
bibiográfica sistemática para analisar a produção científica sobre o tema, a partir dos
artigos mais citados internacionalmente, publicados nos periódicos indexados na
plataforma Web of Science.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo Rural. Revisão Bibliográfica Sistemática. Campo de


Estudos.

ABSTRACT / RESUMEN: The tourism has a dynamic nature. Associated with the
need to promote development, it makes new tourist segments, which the Rural Tourism
is one possibility. The Rural Tourism is a very important segment in Brazil, because
it offers the possibility of increasing the development of rural areas through touristic
visitation. The rural tourism field of studies is recent and the number of publications
that covers this subject is growing. As a strategic segment of tourism, it is important to
investigate the construction of this field of knowledge, it’s most important researchers
and gaps that provides opportunities for others relevant studies. This paper aims to
conduct a preliminary study on rural tourism field of studies, using the bibliographic
systematic review as a tool to examine the scientific literature on the subject, analyzing
the internationally most cited articles published in indexed journals in the Web of
Science plataform.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Rural Tourism. Bibliographic Sistematic Review.


Field of Studies
1 Turismóloga, Especialista em Cafeicultura Empresarial (IFSULDEMINAS) e Mestranda em Adminis-
tração (UFLA); e-mail: helga.barista@gmail.com
2 Administrador, Mestrando em Administração (UFLA); e-mail: valderi.alcantara@ufv.br
3 Turismóloga, Especialista em Processos Comunicativos e Dispositivos Midiáticos (UFMG); e-mail:
julianasoares.gonçalves@gmail.com
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INTRODUÇÃO

O caráter dinâmico da atividade turística, somado à necessidade de promoção do


desenvolvimento, faz surgir novos segmentos turísticos. Dentre eles, o Turismo Rural
desponta de forma promissora e com incontestável potencial no Brasil. É relevante o
número de propriedades rurais que estão incorporando atividades turísticas em suas
rotinas. Percebe-se que são necessárias ações para a estruturação e a caracterização
desse tipo de turismo para que essa tendência não ocorra desordenadamente, de
modo a consolidar o Turismo Rural como uma opção de lazer para o turista e uma
importante e viável oportunidade de renda para o empreendedor rural. (BRASIL, 2003).

Para fins de planejamento e elaboração de políticas, o Ministério do Turismo


propõe a divisão do turismo em segmentos que agrupam consumidores com
características semelhantes. O Turismo Rural é determinado como um segmento
de extrema importância nacional, principalmente pela possibilidade de promoção do
desenvolvimento de áreas rurais por meio da visitação turística. O Turismo Rural,
conforme o conceito adotado pelo Ministério do Turismo, exige comprometimento da
atividade com a paisagem e o modo de vida rurais, sendo definido como
“o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural,
comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos
e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da
comunidade” (BRASIL, 2003, p.11).

Além de Turismo Rural, outras terminologias são utilizadas no país para


designar atividades de turismo em áreas rurais, como turismo de interior, endógeno,
campestre, sertanejo, agroturismo, entre outros. A terminologia Agroturismo é adotada
pelo Ministério do Turismo para designar iniciativas de turismo rural comprometidas
com a produção agropecuária e dependentes da existência do processo produtivo
para ocorrer.

O segmento de Turismo Rural insere-se no contexto do Plano Nacional do


Turismo, na medida em que contribui para diversificar a oferta turística; aumentar os
postos de trabalho e a renda no meio rural; valorizar a pluralidade e as diferenças
regionais; consolidar produtos turísticos de qualidade; e interiorizar a atividade turística
(BRASIL, 2003).

Para afirmar o entendimento do Governo Brasileiro de que o Turismo Rural


é realmente importante para o país, o Ministério do Turismo apresenta as Diretrizes
para o Desenvolvimento do Turismo Rural – Brasil, fruto do trabalho multidisciplinar de
técnicos, agentes e atores envolvidos com a atividade turística e o desenvolvimento
rural, iniciado em 1997. O documento tem como base a valorização da ruralidade, a
conservação do meio ambiente, os aspectos socioeconômicos do setor, com destaque
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para a agricultura familiar e a articulação interinstitucional e intersetorial, definindo


algumas ações norteadoras para o envolvimento do poder público, iniciativa privada,
organizações não governamentais e comunidades. Espera-se que o planejamento
do Turismo Rural possa consolidar-se como vetor de desenvolvimento com inclusão
social nas áreas rurais brasileiras.

Por se tratar de um segmento estratégico do Turismo, torna-se importante


investigar a construção de conhecimentos dentro do campo, seus pesquisadores
de maior destaque e os hiatos que possibilitariam novos estudos relevantes. Este
trabalho tem o objetivo de realizar um estudo preliminar sobre este campo de estudos,
utilizando a ferramenta de revisão bibiográfica sistemática para analisar a produção
científica sobre o tema.

ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS
De um modo geral, destaca-se que a forma de condução de uma revisão
bibliográfica não tem recebido a devida atenção em muitos campos de estudo, em
especial nos temas que são considerados emergentes (CONFORTO, AMARAL e
SILVA, 2001). Em geral, procura-se apenas a coleta e análise de dados empíricos,
negligenciando a ligação entre os estudos propostos e o estado da arte de pesquisas
publicadas na mesma área de estudo, que possam resultar no desenvolvimento de
uma teoria.

De acordo com Conforto, Amaral e Silva (2001), a revisão bibliográfica é importante


para definir os limites da pesquisa que se deseja desenvolver e é útil na definição dos
tópicos chave, autores, palavras, periódicos e fontes de dados preliminares. A revisão
bibliográfica é, assim, considerada um passo inicial para qualquer pesquisa científica.
Desenvolvida com base em dados secundários, disponíveis em material já elaborado
como livros e artigos, a pesquisa bibliográfica possui caráter exploratório, pois permite
maior familiaridade com o problema, aprimoramento de ideias ou descoberta de
intuições.

Segundo Cook et al. (1997) a revisão bibliográfica pode ser narrativa ou


sistemática. Aquela de caráter narrativo é baseada em uma descrição simplificada
de estudos e informações sobre um determinado assunto. Já a sistemática, apesar
de também possuir caráter narrativo, é baseada na aplicação de métodos com maior
rigor científico, podendo alcançar melhores resultados e reduzir erros e o viés da
pesquisa. A revisão sistemática permite ao pesquisador compilar dados, refinar
hipóteses, estimar tamanho de amostras, definir o melhor método de pesquisa a ser
adotado para um determinado problema e elaborar direções para futuras pesquisas
(COOK et al., 1997).

Para realização da pesquisa bibliográfica sistemática proposta neste trabalho,


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foram utilizados artigos científicos sobre o tema “Turismo Rural”, publicados


internacionalmente. Para a delimitação do corpus, primeiramente foi escolhida a
base de dados Web of Science como ponto de partida, por ser internacionalmente
conhecida e considerada uma das mais completas do mundo (MARIANO, CRUZ e
GAITÁN, 2011).

Em seguida, foi realizada uma busca com o termo “Rural Tourism”. Devido ao
grande volume de dados obtidos na busca pelo termo, foram selecionados dois filtros
capazes de proporcionar um resultado mais refinado. Primeiramente foi restringida a
ocorrência do termo ao título dos artigos, resultando em 189 publicações. Em seguida,
foi realizado um filtro temporal, por meio do qual foram localizados documentos
publicados entre 2000 e 2013. Como resultado, foram encontrados 165 artigos.

Para filtrar os resultados de acordo com a relevância de sua contribuição para


a produção científica do tema “Turismo Rural”, gerou-se um relatório de citações que
permitiu a identificação dos artigos que apresentavam maior fator de impacto, ou seja,
aqueles mais citados pelos autores cujos trabalhos estão indexados na base Web of
Science. Para a realização da revisão bibliográfica sistemática final, foram utilizados
os artigos que apresentaram número de citações igual ou superior a dez.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela 1 apresenta uma descrição da frequência com que os artigos que
abordam a temática do Turismo Rural dos principais periódicos são citados dez ou
mais vezes por outros autores da mesma área. Conforme pode ser observado, há uma
concentração das publicações mais citadas em duas revistas: Tourism Management e
Annals Of Tourism Research.

No periódico norte-americano Tourism Management foi possível contabilizar


a ocorrência de 13 artigos com dez ou mais citações no período de 2000 a 2013,
representando 36,11% das ocorrências. Já o periódico Annals Of Tourism Research,
também dos Estados Unidos, apresentou sete publicações com dez ou mais citações
no mesmo período, correspondendo a 19,44% das ocorrências. O periódico brasileiro
Memórias do Instituto Oswaldo Cruz apresentou duas ocorrências de publicações
citadas dez ou mais vezes, representando 5,56%. Os demais periódicos apresentaram
apenas uma ocorrência cada um. Entre os periódicos apontados com dez ou mais
citações indexadas, apenas um periódico é brasileiro.

Observa-se que os periódicos Tourism Management e Annals Of Tourism


Research são reconhecidos pela comunidade acadêmica da área de Gestão do
Turismo em geral, sendo relevante considerá-las como foco para futuras pesquisas
sistemáticas sobre o tema.
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Tabela 1: Periódicos indexados e frequência da ocorrência de publicações


citadas dez ou mais vezes
Periódicos Frequência Porcentagem
Tourism Management 13 36,11%
Annals Of Tourism Research 7 19,44%
Memorias Do Instituto Oswaldo Cruz 2 5,56%
Agricultural Economics 1 2,78%
Aquatic Conservation-Marine And Freshwater 1 2,78%
Ecosystems
Australian Geographer 1 2,78%
Environmental Management 1 2,78%
European Urban And Regional Studies 1 2,78%
French Historical Studies 1 2,78%
Geoforum 1 2,78%
Journal Of Agricultural Economics 1 2,78%
Journal Of Gender Studies 1 2,78%
Journal Of Rural Studies 1 2,78%
Journal Of Sustainable Tourism 1 2,78%
Journal Of Travel Research 1 2,78%
Society & Natural Resources 1 2,78%
Tourism Geographies 1 2,78%
Total 36 100,00%
Fonte: Dados da pesquisa.
O periódico Tourism Management deve ser destacado pela importância das
suas publicações para outros autores, já que das dez publicações mais citadas, cinco
são provenientes dele (ver tabela 2). Observa-se também que não há nenhum autor de
destaque com maior número de publicações, demonstrando que a produção a respeito
do tema ainda está dispersa e carece de maior integração entre os pesquisadores.

Tabela 2: Dez publicações que receberam mais citações no período de 2000 a


2013 na área de Turismo Rural

Título Autores Periódico Ano Citações


Tourism routes as a tool for the Briedenhann, J; T o u r i s m 2004 68
economic development of rural Wickens, E Management
areas - vibrant hope or impossible
dream?
Rural tourism and the challenge of Sharpley, R T o u r i s m 2002 61
tourism diversification: the case of Management
Cyprus
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Characteristics and goals of family Getz, D; Carlsen, T o u r i s m 2000 58


and owner-operated businesses J Management
in the rural tourism and hospitality
sectors
Re-conceptualising rural Garrod,
B; J o u r n a l 2006 40
resources as countryside capital: Wornell,
R; Of Rural
The case of rural tourism Youell, R
Studies
Does rural tourism benefit from Fleischer,
A; T o u r i s m 2005 38
agriculture? Tchetchik, A
Management
Rural cultural economy - Tourism Kneafsey, M
Annals Of 2001 37
and social relations To u r i s m
Research
Support for rural tourism - Does it Fleischer, A; Annals Of 2000 36
make a difference? Felsenstein, D To u r i s m
Research
Rural tourism in Israel: service Reichel, A; T o u r i s m 2000 32
quality and orientation Lowengart, O; Management
Milman, A
Tourism, place identities and Kneafsey, M E u r o p e a n 2000 32
social relations in the European Urban And
rural periphery Regional
Studies
Rural tourism in Spain: an analysis Canoves et al. Geoforum 2004 31
of recent evolution
Fonte: Dados da pesquisa.

Com relação à data de publicação, foi identificado um equilíbrio entre o volume de


publicações no período entre 2000 e 2013. Conforme pode ser observado na figura 1, o
ano de maior ocorrência de publicações citadas foi 2000, com cinco periódicos citados
dez ou mais vezes, seguido dos anos de 2003, 2005 e 2008, com quatro ocorrências,
dos anos de 2002, 2004, 2006, 2007 e 2009 com três ocorrências e finalmente os anos
de 2001 e 2010 com duas ocorrências. Essa distribuição parece levar à conclusão de
que o tema Turismo Rural tem sido progressivamente discutido, porém as publicações
mais recentes não apresentam alto grau de inovação, contribuindo de forma não mais
que regular para a construção do conhecimento do campo de estudos.
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Figura 1: ocorrência de publicações citadas dez ou mais vezes por ano no período de
2000 a 2013.
Fonte: Dados da pesquisa.

Entre as publicações mais citadas, existe uma grande variação entre o número
de vezes que cada publicação foi citada. Conforme descrito na tabela 3, quatro
publicações, ou 11% das mais citadas, foram citadas quarenta vezes ou mais por
outros autores. Dez publicações, ou 28% delas, apresentaram ocorrência de citações
superior a trinta, e um total de dezenove publicações, ou 53% , foram citadas mais de
vinte vezes por outros autores.

Observa-se que a frequência de citações é gradual, por exemplo, o artigo


mais citado é mencionado 68 vezes, e os artigos seguintes na tabela de frequência
apresentam quantidade de citações que se reduzem gradualmente. Dessa forma,
pode-se dizer que a área não conta com pesquisadores centrais como referência, o
que pode ser explicado por consistir de uma área de estudos em crescimento e que
ainda carece de bases mais sólidas para o seu desenvolvimento. Identifica-se, enfim,
uma oportunidade de pesquisa a partir da sistematização das publicações sobre o
tema como um todo, de forma a propor uma organização do arcabouço teórico sobre
o Turismo Rural e suas interfaces de estudo.

Tabela 3: Frequência dos periódicos por quantidade de citações


Quantidade Porcentagem
Citações Frequência Porcentagem Acumulada
68 1 3% 3%
61 1 3% 6%
58 1 3% 8%
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40 1 3% 11%
38 1 3% 14%
37 1 3% 17%
36 1 3% 19%
32 2 6% 25%
31 1 3% 28%
29 1 3% 31%
28 1 3% 33%
27 1 3% 36%
24 1 3% 39%
23 2 6% 44%
22 1 3% 47%
20 2 6% 53%
17 2 6% 58%
15 4 11% 69%
13 4 11% 81%
12 2 6% 86%
11 1 3% 89%
10 4 11% 100%
Fonte: dados da pesquisa.

A fim de identificar as palavras-chave que mais se relacionam com a temática


do Turismo Rural foi utilizado o softwares Atlas.ti para a realização da contagem da
frequência com que termos importantes são citados no título e resumo dos artigos
analisados. Em seguida, o resultado com as palavras com frequência superior a
seis ocorrências foi refinado, resultando na seleção dos substantivos e adjetivos
que demonstravam relação íntima com o objeto de estudo. Finalmente, buscou-se
o embasamento na teoria dos Sistemas Turísticos (BENI, 2006) para determinar
categorias para o agrupamento das palavras-chave.

O SISTUR, ou Sistema Turístico, consiste em uma estrutura proposta por Beni


(2006) para explicar as relações existentes dentro do sistema turístico. É composto
por três esferas de análise: Relações Ambientais, Organização Estrutural e Ações
Operacionais. As Relações Ambientais são divididas em quatro dimensões: Econômica,
Ecológica, Social e Cultural, dentro das quais são estabelecidas as comunicações e
atividades entre os diversos agentes da cadeia do turismo. A Organização Estrutural
é composta pela Superestrutura e pela Infraestrutura. A Superestrutura reúne as
instituições relacionadas ao setor do turismo, configurando práticas formais (leis,
normas e regulamentos) e informais (cultura, hábitos, valores). A Infraestrutura abarca
as condições de acesso e outras estruturas que viabilizam a existência de atividade
turística em determinada localidade, como serviços de comunicação, transporte, saúde
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e segurança. As Ações Operacionais, por sua vez, envolvem as relações entre oferta
e demanda, bem como o contexto do desenvolvimento, promoção, comercialização,
distribuição e consumo do produto turístico. (Beni, 2006).

As palavras-chave encontradas foram agrupadas em quatro categorias. Três


das categorias coincidem com as esferas de análise do Sistema Turístico: Relações
Ambientais, Organização Estrutural e Ações Operacionais. A quarta categoria reúne
os termos relacionados com o campo de estudos em si, apontando direcionamentos
com relação à concentração de estudos de referência no espaço e às preferências
metodológicas no estudo do Turismo Rural. As quatro categorias de análise e as
palavras-chave identificadas com cada uma delas estão descritos nas tabelas 4, 5, 6
e 7 a seguir:

Tabela 4: Relações Ambientais


Palavra-chave Frequência
Community 21
Residents 15
Economic 15
Social 15
Communities 13
Cultural 13
Agricultural 10
Groups 9
Visitors 9
Attitudes 8
Natural 8
Production 8
Agriculture 6
Family 6
Fonte: dados da pesquisa.

Quatorze palavras-chave foram agrupadas na categoria “Relações Ambientais”.


Esta categoria envolve as dimensões Ecológica, Cultural, Social e Econômica.

Com relação à dimensão Ecológica, é citada a palavra “Natural”, utilizada como


referência a recursos naturais (MBAIWA e STRONZA, 2010), alvo de modificações
constantes em função do uso humano da paisagem. Os recursos naturais apresentam
grande importância para o turismo rural, na medida em que são determinantes
para o estabelecimento da cultura e atividades produtivas humanas e, portanto,
conformadores dos atrativos para esta modalidade de turismo.
663
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Na dimensão Cultural, encontra-se a palavra “Cultural”, que também é utilizada


em referência a recursos culturais (BRANDTH e HAUGEN, 2005; BRIEDENHANN &
WICKENS, 2004), ou aqueles produzidos pelas sociedades humanas em função da
disponibilidade de recursos naturais. A palavra também é citada na expressão “Cultural
Economy” (KNEAFSEY, 2001), como possível abordagem para a análise dos recursos
produzidos pela cultura. Também é citada a palavra “Cultural” em associação com
a palavra “Difference”, demonstrando a importância de considerar a multiplicidade
de formas culturais rurais no planejamento da atividade de turismo rural. Encontrou-
se também a expressão “Cultural Rural Tourism” (MACDONALD e JOLLIFFE, 2003),
demonstrando a prática do turismo rural em função do foco do interesse do turista nas
manifestações culturais rurais.

Na dimensão Social encontram-se as palavras “Community” e seu plural


“Communities”, além das palavras “Residents”, “Social”, “Groups”, “Visitors”,
“Attitudes” e “Family”. A palavra “Social” é citada com relação aos “Recursos Sociais”
(BRUYERE e BEH, 2009) e ao “Ambiente Social” (GARROD et al., 2006), suas
relações (KNEAFSEY, 2001; 2000) e serviços (MBAIWA e STRONZA, 2010). As
palavras “Community” e “Communities”, bem como “Residents” e “Groups” se referem
às populações rurais dos destinos de turismo rural (BYRD e BOSLEY, 2009; WANG
e PFISTER, 2008; DICKINSON e ROBBINS, 2008; YING e ZHOU, 2007; PARSONS
e WARBURTON, 2003; ENK e AMORIM, 2003; ENGLISH e MARCOUILLER, 2000),
sendo apresentadas sob a perspectiva da gestão de base comunitária, envolvimento
comunitário e do desenvolvimento local (MBAIWA e STRONZA, 2010; PETRZELKA
e KRANNICH, 2005); e das relações entre comunidade e visitantes (PARSONS e
WARBURTON, 2003).

Na dimensão Econômica, a palavra “Economic” é utilizada associada


a “Desenvolvimento” (SHARPLEY, 2002; FLEISCHE e FELSENSTEIN, 2000)
e “Viabilidade” (BRIEDENHAM e WICKENS, 2004); “Recursos” e “Benefícios”
(BRUYERE e BEH, 2009; WANG e PFISTER, 2008); “Estrutura” (SAXENA e CLARK,
2007; ENGLISH e MARCOUILLER, 2000); “Influência do Ambiente” (GARROD e
WORNELL, 2006); “Valor” (SKURAS et al., 2006; PARSONS e WARBURTON, 2003)
e “Arrecadação” (PARSONS e WARBURTON, 2003). As palavras “Production”,
“Agriculture” e “Agricultural” demonstram a importância da atividade produtiva
como atrativo e razão de ser do turismo rural (SAXENA e CLARK, 2007; GARROD
e WORNELL, 2006; SKURAS et al., 2006; FLEISCHER e TCHETCHIK, 2005;
PETRZELKA e KRANNICH, 2005; VANSLEMBROUCK e HUYLENBROECK, 2005;
WALMSLEY, 2003; ROGERS, 2002; KNEAFSEY, 2000; REICHEL e LOWENGART,
2000).
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Tabela 5: Organização Estrutural


Palavra-chave Frequência
Development 50
Local 27
Benefits 13
Resources 11
Region 9
Value 8
Integrated 8
Landscape 8
Resource 7
Capital 6
Destination 6
Economy 6
Framework 6
Fonte: dados da pesquisa

Na categoria Organização Estrutural, o Sistema Turístico prevê a existência


de uma Superestrutura, relacionada às políticas e normas que regulam a atividade
turística, e da Infraestrutura, que precisa existir para viabilizar a prática da atividade
turística. Nas palavras-chave identificadas, “Development”, “Benefits”, “Value” e
“Economy” demonstram a visão do turismo rural como vetor do desenvolvimento de
regiões rurais (BYRD e BOSLEY, 2009; SAXENA e ILBERY, 2008; SAXENA e CLARK,
2007; GARROD e WORNELL, 2006; LIU, 2006; SKURAS et al., 2006; BRIEDENHAM
e WICKENS, 2004; MACDONALD e JOLLIFFE, 2003; ROGERS, 2002; SHARPLEY,
2002; FLEISCHE e FELSENSTEIN, 2000; GETZ e CARLSEN, 2000; KNEAFSEY,
2000) e também do desenvolvimento do próprio mercado de turismo rural (MBAIWA e
STRONZA, 2010; DAUGSTAD, 2008; YING e ZHOU, 2007; CANOVES e VILLARINO,
2004; CLARKE ET AL., 2001).

As palavras “Local”, “Region”, “Integrated, “Destination” e “Framework”


ressaltam a característica da governança do turismo rural, notadamente de base
local e cuja análise exige adaptação do turistmo às condições locais e individuais
das comunidades envolvidas (DICKINSON e ROBBINS, 2008; DAUGSTAD , 2008;
SAXENA e CLARK, 2007; LIU, 2006; BRIEDENHAM e WICKENS, 2004; ENK et al.,
2004; ROGERS, 2002; CLARKE et al., 2001; KNEAFSEY, 2001; 2000;

As palavras “Resources”, “Landscape”, “Resource” e “Capital” abordam o sentido


dos recursos para o turismo rural, cujo cerne principal é a paisagem rural (BRUYERE e
BEH, 2009; DAUGSTAD, 2008; GARROD e WORNELL, 2006; VANSLEMBROUCK e
HUYLENBROECK, 2005; BRANDTH e HAUGEN, 2005; ENGLISH e MARCOUILLER,
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2000).

Tabela 6: Ações Operacionais


Palavra-chave Frequência
Tourists 24
Management 19
Income 13
Quality 12
Perceptions 10
Tourist 10
Servisse 8
Demand 7
Expenditure 7
Satisfaction 7
Travel 7
Fonte: dados da pesquisa

As Ações Operacionais compõem uma categoria que reúne palavras


relacionadas a oferta, demanda, promoção e distribuição do turismo. O agrupamento
de palavras-chave também considerou aquelas relacionadas à percepção do turista a
respeito da oferta do turismo.

As palavras “Income”, “Tourist” e “Tourists”, “Service”, “Demand”, “Expenditure”


e “Travel” se referem à demanda pelo turismo rural e ao investimento dos clientes
nos produtos e serviços oferecidos pelas destinações de turismo rural (MBAIWA
e STRONZA, 2010; SAXENA e CLARK, 2007; SKURAS e PETROU, 2006;
VANSLEMBROUCK e HUYLENBROECK, 2005; ENK et al.; 2004; PARSONS e
WARBURTON, 2003; SHARPLEY, 2002; ENGLISH e MARCOUILLER, 2000)

Já as palavras “Quality”, “Satisfaction” e “Perceptions” se referem à


correspondência da qualidade esperada e percebida pelo turista nos produtos e
serviços de turismo rural adquiridos (DEVESA e LAGUNA, 2010; BRUYERE e BEH,
2009; BYRD e BOSLEY, 2009; DAUGSTAD, 2008; HERNANDEZ-MAESTRO et al.,
2007; SKURAS e PETROU, 2006; CLARK e DENMAN, 2001; REICHEL et al., 2000).

Tabela 7: Campo de Estudos


Palavra-chave Frequência

Case 13
Survey 8
European 7
Empirical 6
Fonte: dados da pesquisa.
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A categoria Campo de Estudos foi elaborada devido à necessidade de identificar,


a partir das palavras-chave selecionadas por frequência, aquelas que aludiam aos
locais onde os estudos mais citados estão sendo desenvolvidos, bem como às
metodologias e ferramentas utilizadas para a investigação no campo de estudos do
turismo rural.

Nesta categoria foi identificada a palavra “European”, que remonta aos principais
locais onde se encontram os estudos de referência em turismo rural, desenvolvidos
seminalmente no Reino Unido e outras localidades europeias, como a Espanha
(SKURAS et al., 2006; CANOVES et al., 2004; KNEAFSEY, 2000).

Com relação aos parâmetros metodológicos, as palavras encontradas com


mais frequência foram “Survey”, “Empirical” e “Case”. É consenso dos pesquisadores
na área do turismo que a produção científica na área baseia-se primordialmente no
processo indutivo, de forma que, do ponto de vista qualitativo, os estudos de caso
são o método mais frequente nos estudos de turismo (GARROD e WORNELL, 2006;
CLARKE et al., 2001). Do ponto de vista quantitativo, o survey (MBAIWA e STRONZA,
2010; SKURAS et al., 2006) se apresenta como metodologia recorrente. O processo
empírico de construção dos estudos em turismo também é marcante (FLEISCHE e
FELSENSTEIN, 2000), demonstrando que a revisão sistemática e a discussão do que
já foi produzido por outros autores, construindo conhecimento reflexivo e progressivo
sobre o campo de estudos é ainda limitado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, buscou-se apresentar uma análise preliminar sobre o campo de
estudos do Turismo Rural, utilizando a ferramenta de revisão bibiográfica sistemática
para verificar a produção científica sobre o tema a partir das publicações mais citadas
dos periódicos indexados. Pode-se concluir que a pesquisa bibliográfica consiste em
uma ferramenta de grande utilidade, que deve ser usada de forma mais recorrente
para analisar os estudos no campo do Turismo, como um todo, e do Turismo Rural,
em particular, de forma a identificar e inter-relacionar os constructos das principais
produções científicas, proporcionando maior reflexão sobre os caminhos do campo de
estudos e a construção de uma teoria sólida.

Entre os estudos selecionados pelo volume de citações, a presença de


produções brasileiras é ínfima, em função provavelmente da pouca participação dos
pesquisadores brasileiros da área nos periódicos internacionais e também à barreira
do idioma: os pesquisadores brasileiros da área de Turismo majoritariamente publicam
seus trabalhos em português, o que faz com que a maioria não seja lido e citado,
mesmo que os trabalhos sejam de grande relevância para o campo. Tal fato pode
também ser atribuído à baixa indexação de periódicos brasileiros nas bases de dados
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internacionais.

Sugere-se que sejam realizadas revisões sistemáticas especificamente nas


bibliografias publicadas nos idiomas Português e Espanhol, de forma a compreender
melhor a produção científica sobre Turismo Rural especialmente na América Latina.
Compreende-se que os países latino-americanos têm muito a desfrutar dos benefícios
potenciais do Turismo para o desenvolvimento de áreas rurais.

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PESQUISA E EXTENSÃO NO ESPAÇO RURAL: UMA EXPERIÊNCIA NA REGIÃO


SERRANA DO RIO DE JANEIRO.

Clara Carvalho de Lemos1

RESUMO: Este trabalho apresenta os principais resultados da primeira fase de um


projeto de pesquisa e extensão realizado na zona rural do município de Teresópolis,
região serrana do estado do Rio de Janeiro. Os principais objetivos do projeto são
identificar as potencialidades e os desafios para consolidação do turismo rural nas
propriedades de agricultores familiares, oferecer subsídios para fins de planejamento
turístico na região; desenvolver ações de sensibilização para o turismo junto aos
jovens e adultos da zona rural de Teresópolis, RJ e oferecer oportunidades de atuação
prática aos alunos do curso de turismo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ). Para tanto foi desenvolvida uma série de ações de sensibilização para o
turismo como palestras, curso de extensão e atividades de ida a campo com alunos
do ensino médio de uma escola estadual localizada na zona rural do município. Os
principais resultados alcançados até o momento indicam uma mudança significativa
na percepção dos alunos envolvidos em relação ao turismo e um aumento no interesse
em se envolver profissionalmente com atividades de turismo.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo rural. Rio de Janeiro. Pesquisa. Extensão.

ABSTRACT / RESUMEN: This paper presents the main results of the first phase of a
research and extension project carried out in the rural area of the city of Teresopolis,
located in the highlands of ​​the state of Rio de Janeiro. This project seeks to identify
potentials and challenges for the consolidation of rural tourism in family driven farms;
to provide inputs for tourism planning and development; to raise awareness of tourism
development benefits among youth and adults of rural areas and to provide opportunities
for practical activities to graduation students. For that a range of initiatives were carried
out such as open lectures, extension courses and field trip activities with high school
students of a public school located in a rural area of ​Teresópolis. The main results
obtained so far indicate a significant change in the perception of the students involved
in relation to tourism and an increase in interest in getting professionally involved with
tourism activities.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Rural tourism. Rio de Janeiro. Research.


Extension.

1 Bacharel em Turismo. Mestre e Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental – EESC/USP.


Professora Adjunta no Departamento de Turismo, Instituto de Geografia, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. E-mail: clara.lemos@uerj.br
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INTRODUÇÃO

Boa parte das discussões atuais a respeito das transformações e possibilidades


de desenvolvimento das áreas rurais trata das novas funções e atividades
socioeconômicas presentes nesse espaço, que ganharam destaque nos últimos anos,
em especial a partir da segunda metade do século XX.

Neste contexto, ganham destaque os patrimônios natural e cultural, fonte


de novas possibilidades econômicas e funções sociais valorizadas pela população
urbana, o que, segundo Veiga (2002) só reafirma o contraste entre os contextos
ambientais do campo e da cidade. Essa valorização desse patrimônio, portanto,
implica na possibilidade de um desenvolvimento que não depende necessariamente
da urbanização.

Já se argumentou, inclusive, que o intenso processo de êxodo rural verificado na


segunda metade do século XX, responsável pelo alto grau de urbanização alcançado
pela população brasileira, encontra-se hoje em fase de desaceleração, tornando-se
cada vez mais significativa a migração entre pequenos municípios rurais e o movimento
cidade-campo (Marques, 2002). O rural, portanto, passa a ser reconhecido como
um espaço de múltiplas funções e atividades, onde o patrimônio natural e cultural
ganha destaque por oferecer oportunidades de desenvolvimento baseadas na sua
atratividade, que inspiram e estimulam deslocamentos de um número cada vez maior
de pessoas.

Além da desaceleração do êxodo, já foi demonstrado que no Brasil o grau


de urbanização é um fenômeno superestimado, como relatado por Veiga (2002) e
Marques (2002). Por não haver critérios específicos para determinação do que é rural
no Brasil, esse dimensionamento acaba por sofrer distorções, sendo definido a partir
de carências e não de suas próprias características, além de ser alvo de arbitrariedade
dos poderes municipais por razões de interesses fiscais (Marques, 2002).

Veiga (2002) conclui que 90% do território brasileiro, 80% de seus municípios
e 30% de sua população são essencialmente rurais. Os 13% restantes da população
caberiam numa categoria intermediária, que pode ser denominada como “rurbana”.
Essa constatação chama a atenção também para um fenômeno que é de interesse
para este trabalho, qual seja a possibilidade de desenvolvimento do espaço rural
baseado nas atividades de turismo e lazer, ou seja, no aproveitamento dos atrativos,
amenidades e serviços que o espaço rural oferece.

Um exemplo dessa atratividade pode ser reconhecido na região serrana do


Estado do Rio de Janeiro. Nessa região está localizado o município de Teresópolis, que
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pode ser caracterizado como altamente estratégico em termos de desenvolvimento


turístico e agrícola. O Censo Agropecuário de 2006 mostrou que Teresópolis possui
2.833 estabelecimentos agropecuários e um total de 7.311 pessoas ocupadas na
atividade agropecuária.

Uma das características marcantes da região é o fato de o município possuir


atividades agrícolas de estrutura familiar expressivas, além de um setor de turismo
consolidado. Tais condições, portanto, são consideradas ideais para o desenvolvimento
de pequenos empreendimentos de turismo rural.

Além da aptidão natural, acredita-se que nos próximos anos a região sofra
parte dos impactos induzidos que os grandes eventos esportivos sediados na cidade
do Rio de Janeiro irão causar na região, já que Teresópolis encontra-se na área de
influência desses eventos e abriga a sede da Confederação Brasileira de Futebol,
base dos treinos e concentração da seleção brasileira. A grande preocupação atual,
no entanto, é identificar formas de maximizar os ganhos e impactos positivos para
a região, garantindo um legado positivo que não comprometa a qualidade de vida,
o patrimônio local e as características que fazem da região um local de grande
atratividade turística.

Considerando a importância estratégica da região, o grande número de pequenos


produtores rurais, o potencial para desenvolvimento de atividades complementares
baseadas na atratividade cultural e natural, e a presença da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro - UERJ, com seu Departamento de Turismo- DTur, identificou-
se, portanto, um grande espaço potencial para atuação no âmbito da pesquisa e da
extensão universitárias.

É fato que a extensão universitária em Turismo, de modo geral, tem recebido


pouca atenção dos estudiosos da educação superior na área (Malerba; Rejowski,
2014). Além disso, os alunos do curso de graduação demandam possibilidades de
atuação profissional e aprendizado voltado para a prática na região. Assim, além de
verificarem in loco questões discutidas em sala de aula e relatadas na literatura, os
alunos têm a possibilidade de se sentirem parte de um processo de troca com a
sociedade local.

Este trabalho, portanto, versa sobre um projeto de pesquisa e extensão em


alguns bairros da zona rural do município de Teresópolis. Projeto este que foi gestado
a partir das motivações e questões aqui destacadas e que serão mais detalhadamente
discutidas a seguir.

No que diz respeito ao desenvolvimento turístico, e aqui mais especificamente


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falando o turismo desenvolvido no espaço rural, entende-se como necessário o


desenvolvimento de estratégias específicas de inclusão e participação ativa da
população, que ofereçam oportunidades para que a capacidade empreendedora local
seja fomentada e receba o apoio necessário para seu pleno desenvolvimento.

Um recente estudo, encomendado pelo Ministério do Turismo à Fundação


Getúlio Vargas, apontou a articulação interinstitucional e intersetorial como o problema
mais urgente a ser resolvido no segmento de Turismo Rural. Tendo em vista que a
sensibilização para a atividade turística é um dos fatores primordiais para o estímulo
ao empreendedorismo e associativismo locais, este projeto se inicia com uma análise
dessas questões junto à população residente em alguns bairros da zona rural de
Teresópolis, com o intuito de apontar subsídios importantes para ações futuras de
planejamento local, estímulo ao turismo e ao desenvolvimento local.

Além disso, a identificação do grau de sensibilização dos produtores rurais


para o desenvolvimento turístico também envolve a análise dos pontos fortes e fracos
no que diz respeito às possibilidades futuras de desenvolvimento do turismo local e
identifica o atual estágio de desenvolvimento das propriedades rurais de Teresópolis
no que diz respeito à hospitalidade e oferta de serviços turísticos.

Esses dados, portanto, oferecerão um retrato atual das possibilidades e


desafios para desenvolvimento de atividades relacionadas ao turismo nas pequenas
propriedades rurais do município, bem como oferecerão informações relevantes para
futuras ações de planejamento, investimento e formação e capacitação.

OBJETIVOS

Este artigo apresenta parte dos resultados de uma ação integrada de pesquisa
e extensão, desenvolvida com o apoio da UERJ, na região serrana do Rio de
Janeiro, que tem como objetivo geral identificar as potencialidades e os desafios para
consolidação do turismo rural nas propriedades de agricultores familiares no município
de Teresópolis, RJ.

Como objetivos específicos, o projeto pretende oferecer subsídios para fins de


planejamento turístico na região; desenvolver ações de sensibilização para o turismo
junto aos jovens e adultos da zona rural de Teresópolis, RJ e oferecer oportunidades
de atuação prática aos alunos do curso de turismo da UERJ.
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METODOLOGIA

A primeira fase do projeto de pesquisa e extensão consiste no desenvolvimento


de três principais etapas: 1) articulação e mobilização; 2) identificação e análise de
recursos e; 3) ações para consolidação de produtos e roteiros, todas baseadas em
Brasil (2010).

Os alunos de graduação envolvidos no projeto, orientados por docente do curso


de graduação da UERJ, também são responsáveis pela elaboração de documentos
com a sistematização da revisão bibliográfica e do referencial teórico que dá base aos
documentos produzidos e aos cursos de extensão oferecidos.

Essa primeira fase consiste no levantamento de dados e caracterização da


região, o que vem sendo conduzido por meio de reuniões e palestras explicativas
junto ao público alvo do projeto, aplicação de questionários e pelos proprios cursos
oferecidos, que oferecem oportunidades de discussões e maior compreensão da
realidade estudada. A fase de visitas às propriedades e idas a campo também já foi
iniciada, mas deve se extender durante toda a duração do projeto.

Nesse momento os alunos e o docente de graduação estão envolvidos na


análise dos dados já coletados em campo, ou seja, na consolidação e interpretação
dos dados quali e quantitativos e na elaboração de relatórios e artigos finais que irão
fundamentar as próximas etapas.

Inicialmente foram realizados contatos preliminares com Associações e


Agroindústrias no Município de Teresópolis, com o intuito de identificar o universo do
projeto de pesquisa e extensão. Nesta fase o contato com a Secretaria Municipal de
Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, com a colaboração especial do
Departamento de Desenvolvimento Rural. O contato com as lideranças e representantes
das entidades de classe foi prejudicado pelas dificuldades de comunicação e falta
de atualização do cadastro de associados. Além disso, cada associação conta com
um amplo número de associados, nem sempre ativos ou com cadastro atualizado.
Por essas razões optou-se pela restrição da pesquisa a alguns bairros previamente
selecionados.

Dessa forma, decidiu-se concentrar essa primeira fase do projeto no Bairro de


Venda Nova e suas adjacências, tendo em vista a presença de uma escola estadual
agrícola no bairro e o interesse da direção da escola em trabalhar em parceria com
o projeto da UERJ/DTUR. Além disso, a possibilidade de trabalhar exclusivamente
com jovens, nessa primeira fase, foi vista como um ponto positivo, considerando
as possibilidades de efeito multiplicador junto a esse público. Os alunos do Centro
Interescolar de Agropecuária José Francisco Lippi, portanto, formaram o público alvo
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principal da primeira fase deste projeto.

Para realizar a caracterização exploratória do público-alvo, foi aplicado um total


de 86 questionários entre alunos do curso técnico agrícola e do último ano do Ensino
Médio regular. Obteve-se um retorno de 44 questionários respondidos. As principais
questões tratadas no questionário foram: características socioeconômicas, análise
de opinião sobre a atratividade do local de residência (propriedade rural), grau de
sensibilização para o turismo, grau de interesse em participação em curso de extensão
na área de turismo etc.

A partir das informações coletadas no questionário, um curso de extensão


de 28h foi desenvolvido (“Introdução ao turismo e suas práticas no meio rural”) em
conjunto com os alunos estagiários do curso de Turismo da UERJ. Um total de 30
vagas foram disponibilizadas aos alunos da Escola Francisco Lippi e à comunidade.

Os principais objetivos do curso eram: oferecer oportunidades para que alunos


do ensino médio da zona rural de Teresópolis e seus familiares entrem em contato
com conceitos relacionados ao fenômeno e a atividade do turismo, em especial os
segmentos desenvolvidos na zona rural; propiciar a análise dos conceitos introdutórios
do fenômeno e da atividade do turismo, tendências atuais, temas e segmentos, como
também discutir acerca dos efeitos e das possibilidades do turismo sobre a realidade
das comunidades rurais do município de Teresópolis; analisar o turismo rural e, como
ele vem desempenhando papel importante no desenvolvimento local, além de discutir
e formatar conjuntamente propostas de produtos e roteiros para a região.

O curso de extensão, portanto, se tornou uma das principais ferramentas de


articulação e mobilização do público-alvo. Além disso, o curso previa que, ao final, os
alunos desenvolvessem uma proposta de roteiro de turismo rural, uma tentativa de
explorar a segunda etapa da primeira fase do projeto, ou seja, a identificação e análise
de recursos da região.

A identificação e análise de recursos da região ainda está em curso, e além de ter


contado com a ajuda dos alunos do ensino médio participantes do curso de extensão,
está sendo complementada por idas a campo e visitas técnicas dos estagiários do
curso de turismo da UERJ.

A próxima etapa, de ações para consolidação de produtos e roteiros, deverá ter


início no primeiro semestre do ano de 2015.

TURISMO RURAL NO MUNICÍPIO DE TERESÓPOLIS: AÇÕES PARA FOMENTO À


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PARTICIPAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO DE JOVENS

Segundo Guilhoto et al. (2006) o segmento familiar da agropecuária brasileira


e as cadeias produtivas a ela interligadas responderam, em 2003, por 10,1% do PIB
brasileiro, fato este que evidencia o peso da agricultura familiar na geração de riqueza
do país.

A agricultura familiar se caracteriza pela dimensão da propriedade – não deve


ultrapassar quatro módulos fiscais -, pela utilização predominante de mão-de-obra da
própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento, pelo percentual
mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu estabelecimento
e pela participação dos demais membros da família na direção das atividades
desenvolvidas (BRASIL, 2006).

Dentro deste contexto, Marafon e Ribeiro (2006) também destacaram o fenômeno


da pluriatividade no meio rural como um fenômeno de diversificação da remuneração
familiar nas áreas rurais, fenômeno este que está intimamente relacionado com as
atividades de prestação de serviço do setor de turismo.

Esta transformação das atividades presentes no meio rural tem ocasionado


uma série de impactos profundos no modo de vida das pessoas e no seu poder
aquisitivo, fato que já foi observado na região objeto de estudo desta pesquisa. Esta
transformação já foi alvo de indagação de alguns autores no que diz respeito ao
alcance dos benefícios das “pluriatividades” ligadas ao setor do turismo por parte dos
produtores familiares (Marafon; Ribeiro, 2006).

O município de Teresópolis se destaca pelo grande número de pequenas


propriedades rurais administradas por famílias, o que lhe aproxima de um perfil de
agricultura familiar. Apesar disso, essas pequenas propriedades pouco se envolvem
em atividades diretamente relacionadas ao turismo e à hospitalidade.

Este fato, portanto, está intimamente relacionado com o escopo desta


pesquisa, na medida em que pretende investigar não só o atual grau de sensibilização
e envolvimento dos pequenos produtores rurais com o turismo, mas também a sua
disposição em participar efetivamente de ações empreendedoras de turismo rural.

Qualquer iniciativa que vise à educação, inclusão ou sensibilização de


determinados setores da sociedade para o envolvimento com as atividades do turismo
deve passar necessariamente pelo conhecimento, caracterização e quantificação
deste público alvo. Além disso, este tipo de iniciativa deve estar atrelado a uma
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estratégia de envolvimento e participação efetiva da população, no sentido de torná-la


protagonista do processo de desenvolvimento local.

Neste sentido, ao oferecer cursos de extensão na área de turismo aos jovens


da zona rural de Teresópolis, este projeto pretende não somente sensibilizá-los para
as possibilidades que o turismo rural pode oferecer em termos profissionais, mas
também melhor conhecer esse público, seus anseios e perspectivas. Hanai (2009)
destacou que qualquer iniciativa de sensibilização e envolvimento da população
local no planejamento e incentivo ao turismo, deve passar por etapas preliminares
de consulta e caracterização da população local e os resultados preliminares aqui
apresentados foram resultado desta primeira fase de aproximação do público alvo e
das primeiras iniciativas de sensibilização para o turismo.

Conhecer o grau de conscientização da população em relação ao turismo


é fase essencial para auxiliar na definição e elaboração de programas futuros de
planejamento e desenvolvimento turísticos, adequados e adaptados às condições de
vida, interesses e anseios da população alvo, em função das suas características
culturais, econômicas e sociais (HANAI, 2009).

RESULTADOS PRELIMINARES

Alunos do ensino médio: caracterização e sua relação com o turismo na região

Como já exposto aqui, as atividades de pesquisa e extensão desenvolvidas


por este projeto estão concentradas no bairro de Venda Nova e adjacências do vale
do Bonsucesso, em Teresópolis. A seguir são apresentados os principais resultados
da primeira etapa do projeto, ou seja, a aproximação dos jovens por meio das ações
desenvolvidas no Centro Interescolar de Agropecuária José Francisco Lippi e o curso
de extensão desenvolvido pelo Departamento de Turismo da UERJ.

As primeiras ações desenvolvidas no CIA Francisco Lippi se concentraram


na construção de uma parceria com a direção e o corpo docente dos cursos do
ensino médio e técnico agrícola. Após a concordância da equipe da escola em apoiar
o projeto, foram iniciadas as atividades em sala de aula. Em todas as turmas do
último ano do ensino médio e técnico agrícola foram apresentadas palestras e vídeos
sobre a UERJ em Teresópolis, o Departamento de Turismo, o turismo na região e
o papel da universidade nas ações de pesquisa e extensão. Além disso, os alunos
foram estimulados a falarem sobre turismo e receberam o questionário para a primeira
caracterização do público alvo.
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Dos oitenta e seis (86) questionários distribuídos, foi obtido um retorno de 44


questionários respondidos.

Percebeu-se um baixo número de alunos (16) que realizam atividades no


campo em suas horas vagas, e um número mais baixo (14) ainda de alunos com
intensão de trabalhar futuramente na zona rural, conforme ilustrado nos gráficos 1
e 2. Esses números reforçam a preocupação com a saída dos jovens da zona rural.
Chama a atenção o fato de mais de 50% dos entrevistados não quererem trabalhar
na zona rural. Importante destacar que não foi perguntado se os alunos pretendiam
trabalhar com atividades agrícolas, mas sim se pretendiam trabalhar na zona rural, o
que pode indicar uma motivação real em sair da zona rural, ou mesmo uma visão de
que as oportunidades na região ainda estão restritas ao trabalho no campo.

Gráfico 1. Participação atual dos alunos em atividades do campo.


Gráfico 2. Disposição dos alunos em trabalhar futuramente na zona rural.

A grande maioria dos entrevistados (41) afirmou nunca ter trabalhado com
atividades relacionadas ao turismo, conforme mostrado no gráfico 4. Essa informação
pode também reforçar a dificuldade dos alunos em reconhecer algumas atividades
desenvolvidas no campo como algo relacionado ao turismo. Não se pode afirmar
categoricamente, mas é de se esperar que alguns proprietários rurais sejam
fornecedores de estabelecimentos comerciais, hotéis, restaurantes etc. Além disso,
conforme o relato de alguns alunos, os visitantes que circulam na região frequentemente
abordam trabalhadores rurais na expectativa de comprarem hortaliças e outros
produtos cultivados na região. Além disso, boa parte dos alunos (33) reconhece a sua
região como atrativa.
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Gráfico 3. Opinião dos alunos sobre a atratividade da região.


Gráfico 4. Envolvimento profissional dos alunos com atividades de turismo.

A percepção sobre os benefícios do turismo na região é positiva. De acordo com


os gráficos 5 e 6, pode-se perceber que os alunos (34) reconhecem a contribuição do
turismo para o desenvolvimento do turismo na região. Um número menor (29), mas
ainda significativo, de alunos acredita que esse desenvolvimento está sendo bom
para eles. Outros 13 não souberam dizer se o desenvolvimento do turismo era bom, e
4 alunos acreditam que o turismo não melhora o desenvolvimento da região.

Gráfico 5. Percepção dos alunos sobre o turismo na região.


Gráfico 6. Percepção dos alunos sobre o turismo na região.
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A partir desses dados e das informações obtidas nas palestras e discussões


em sala de aula ficou claro que a percepção sobre o desenvolvimento turístico é
fortemente baseada na experiência que esses alunos e as suas famílias têm na região.
Ou seja, as possibilidades de envolvimento com atividades de turismo na região estão
restritas às oportunidades que empregos temporários que surgem nos grandes hotéis
e pousadas da região, na sua maior parte com baixos salários e remotas possibilidades
de crescimento profissional.

Por essa razão, o interesse em assuntos relacionados ao turismo é baixo; os


alunos não vêem o turismo como um campo de trabalho possível ou mesmo atrativo;
boa parte dos alunos desconhece a existência do Departamento de Turismo da UERJ
em Teresópolis; além de não vislumbrarem a possibilidade de se envolverem com o
turismo como agentes ativos e empreendedores desse processo de desenvolvimento
que ocorre na região.

Essas constatações guiaram a concepção do curso de extensão oferecido na


escola. Com a participação de alunos estagiários do curso de turismo da UERJ, um
curso de carga horária de 20 horas teóricas e 8 horas práticas foi oferecido aos alunos
do ensino médio da escola Francisco Lippi e a inscrição também foi aberta a membros
da comunidade e das famílias desses alunos.

Curso de extensão: impactos e sensibilização para o turismo

Apesar de todas as vagas - 30 no total - terem sido preenchidas, 4 alunos não


completaram o curso. Além disso, todos os inscritos eram alunos do ensino médio
da escola parceira. Não houve participação da comunidade e nem das famílias dos
alunos.

É importante destacar que boa parte das inscrições foi motivada pelo fato de
que o certificado final do curso de extensão poderia ser contado como cumprimento de
horas obrigatórias de estágio que os alunos do curso técnico agrícola devem realizar.
Ficou claro, no primeiro dia de curso, que os alunos não tinham real interesse no
campo do turismo, não se viam atuando nessa atividade, e precisavam do certificado
para terminar o ensino médio.

Durante o curso, os alunos foram confrontados com os conceitos de turismo


rural, identidade e patrimônio, as práticas possíveis de turismo rural e algumas
experiências referência existentes no Brasil e no mundo. Foram feitos exercícios de
discussão sobre as práticas, produtos e roteiros existentes na região estudada, o
que os fez questionarem se o que vem sendo ofertado na região pode realmente ser
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considerado turismo rural. Um dos alunos citou o exemplo de um hotel fazenda da


região, que oferece a seus hóspedes uma visita a uma mini fazendinha, com animais
confinados como ovelhas, pavão etc. O aluno questionou essa experiência, pois na
sua opinião ela não retrata a realidade circundante, muito mais baseada no cultivo de
hortaliças e outros produtos agrícolas. Não é tradição na região a atividade de criação
de animais.

Os alunos foram estimulados a elaborar um roteiro que retratasse a sua região,


o seu patrimônio e a sua identidade. O roteiro foi efetivamente colocado em prática e
os alunos e alguns docentes do curso de graduação da UERJ o testaram na prática.

Ao final do curso os alunos responderam a um questionário em que avaliaram


a experiência e o conteúdo do curso. Ao serem questionados se o curso despertou o
interesse em trabalhar com turismo, onze (11) alunos disseram concordar plenamente
com essa questão. Nenhum aluno discordou dessa afirmação, conforme ilustrado no
gráfico 7.

Gráfico 7. Interesse dos alunos em trabalhar com turismo após a realização do curso.

Todos os alunos afirmaram ter mudado a sua visão sobre o turismo após a
realização do curso, dos quais 17 afirmaram ter mudado completamente essa visão,
conforme gráfico 8.
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Gráfico 8. A visão dos alunos sobre turismo após a realização do curso.

Os alunos também foram questionados sobre a possibilidade de envolvimento


de seus familiares em outros cursos de extensão sobre o tema a serem ofertados
futuramente na região. Esse foi um tema frequentemente discutido em sala de aula,
pois os jovens sempre traziam à tona a percepção de que parece não haver disposição
e interesse por parte das famílias em abrir suas casas aos visitantes da região, por
dificuldades como baixa auto-estima, pouca instrução, ou mesmo desconhecimento
sobre as possibilidades de envolvimento com atividades de turismo. Conforme
mostrado no gráfico 9, boa parte dos alunos ainda tem dúvidas sobre esse interesse.

Gráfico 9. Percepção sobre o interesse das famílias em participar de cursos de extensão


sobre turismo.
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Quando questionados sobre o potencial da região para o desenvolvimento


turístico, 15 alunos responderam que acreditam nesse potencial e pretendem se
envolver de alguma forma com esse tipo de atividade, o que pareceu surpreendente
considerando o baixíssimo nível de interesse demonstrado no início do curso. Essa
mudança de opinião também pode ser creditada ao fato de que, antes do curso, os
alunos não conseguiam se ver como parte do desenvolvimento turístico na região, nem
de forma direta nem indireta. Dez alunos disseram não ter interesse em se envolver
com atividades de turismo, conforme gráfico 10.

Gráfico 10. Percepção sobre o potencial turístico da região e disposição em se envolver com
o turismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo apresentou os resultados preliminares de um projeto de pesquisa


e extensão ainda em andamento. Com o objetivo de identificar as potencialidades
e os desafios para consolidação do turismo rural nas propriedades de agricultores
familiares no município de Teresópolis, esta pesquisa já identificou algumas questões
e subsídios importantes, que podem ser úteis para fins de planejamento e para as
próximas etapas do projeto em andamento.

A primeira questão que ficou evidente foi o baixíssimo grau de interesse dos
jovens da região estudada em permanecer na zona rural e em trabalhar com atividades
relacionadas ao turismo. A visão de turismo que esses alunos possuem é fortemente
baseada na experiência vivida ali, ou seja, a de que o turismo rural depende de altos
investimentos para a construção de grandes empreendimentos que oferecem uma
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experiência de representação de um rural diverso do que eles conhecem e vivem.


Além disso, as possibilidades profissionais no campo do turismo na região são mal
remuneradas e não oferecem muitas possibilidades de crescimento profissional.

A realização do curso de extensão junto a esse público de jovens se mostrou


uma experiência rica para ambos os lados. Da parte da equipe do projeto, foi uma
oportunidade para melhor conhecer a realidade estudada, a visão dos jovens que
moram ali, suas aspirações e percepções sobre o turismo na região. Além disso, os
exercícios de levantamento e identificação de recursos e possíveis produtos a serem
ofertados na região foram extremamente esclarecedores para as próximas etapas
do projeto. Para os alunos do ensino médio, a percepção sobre as possibilidades
que o turismo rural pode trazer para a região mudou significativamente. Eles foram
apresentados a um grande número de experiências de turismo rural existentes no
Brasil e foram capazes de perceber o potencial da região e as possíveis oportunidades
de complementação de renda que o turismo pode trazer.

Além disso, foram identificados alguns desafios para o desenvolvimento de


atividades de turismo rural na região. Boa parte dos jovens ainda aspira sair da zona
rural para estudar em centros urbanos próximos como a cidade do Rio de Janeiro,
Nova Friburgo ou mesmo na cidade de Teresópolis. Boa parte dos jovens ainda vê a
região como um lugar atrasado, com poucas oportunidades profissionais, e onde só
ficam aqueles com menores aspirações de vida.

Os alunos também apontaram algumas questões críticas em relação à baixa


auto-estima das famílias que ainda moram e vivem das atividades no campo, o baixo
grau de instrução de seus pais e avós, e a percepção de que eles não estão preparados
para oferecer serviços profissionais de turismo em suas propriedades.

A parte prática do curso envolveu a elaboração de um roteiro, que foi testado


por alunos e docentes do curso de Turismo da UERJ. O roteiro envolveu a caminhada
em trilhas da região, um almoço na casa de um dos alunos e a visita a um rancho com
criação de cavalos.

As próximas etapas do projeto deverão sistematizar os recursos e possíveis


produtos de turismo rural identificados na região e pensar ações para consolidação
de possíveis roteiros. Outros cursos de extensão serão ofertados ainda em 2014 e
também contarão com o apoio do CIA Franscisco Lippi e com a participação dos
alunos de graduação do Departamento de Turismo da UERJ.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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htm>. Acesso em 23 fev. 2014.

GUILHOTO, J. J. M. ET AL. (2006). A importância do agronegócio familiar no Brasil.


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RELAÇÕES LOCAIS: DESCOMPASSOS DO TURISMO NO CAMPO

TEIXEIRA, Juliana Carolina 1

RESUMO: Na mesma medida em que avança o processo de urbanização, cresce


também a valorização das representações da vida do campo. O aumento da demanda,
caracterizada por habitantes citadinos, inflamam os discursos que tratam da atividade
como meio de desenvolvimento de regiões, as quais sofreram com os resultados do
desenvolvimento desigual promovido pela modernização da agricultura. É preciso,
contudo, compreender que o turismo, enquanto prática econômica e social que ocorre
no espaço, também se coloca como mais um dos desdobramentos do capitalismo no
campo e, pautado nas relações de consumo, transforma em mercadoria o espaço e
tudo o que está contido nele. Em contraposição, está a ordem moral dos agricultores
de base familiar, pautada no direito das pessoas e não no das coisas, em que a terra é
terra de trabalho e não de negócio. Baseada nesses pressupostos, a presente pesquisa,
portanto, teve como objetivo geral avaliar as relações entre o turismo como atividade
alternativa de desenvolvimento local e os agricultores de base familiar da Mesorregião
Centro-Ocidental do Paraná. O método dialético foi utilizado para a realização no
estudo desse objeto, uma vez que ele pressupõe a interpretação dinâmica e totalizante
da realidade, dando aporte para a análise de suas contradições. Os resultados finais
apontaram que as contradições existentes entre as características econômicas e
sociais da atividade turística e as representações dos atores sociais familiares no
campo impedem o avanço da atividade com a participação desses mesmos atores na
Mesorregião Centro-Ocidental do Paraná.

PALAVRAS-CHAVE: Grupos sociais campesinos. Desenvolvimento local. Turismo.

ABSTRACT: In the same proportion that the process of urbanization advances, grows
as well the valorization of the field’s life representations. The growth of the demand,
characteristic by urban citizens, explode the speeches about the activity as a developing
tool to the regions, which suffered with the results of unequal growing promoted by the
modernization of agriculture. It is necessary, however, to comprehend that the tourism,
as an economic and social business that occurs in this space, also puts itself as another
activity of capitalism in the field and, based on the consumption relations, turns the
space and everything contained in it into a mercantile product. On the contrary, there
is the moral peasant order, based on the rights of people, not in the rights of stuff,
where the land is for working, not for business. Supported by this assumptions, this
research had as objective to evaluate the relations between tourism as alternative
activity for local development to the peasants of the Central-Occident Mesoregion in
Paraná. The dialectical method was used to the realization of this object’s study, once
it presumes the dynamic and panoramically interpretation of the facts, supporting the
analysis of its contradictions. The final results pointed that the existing contradictions
between the economic and the social characteristics in the touristic activities and he
1 Bacharel em Turismo e Meio Ambiente pela Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão
(FECILCAM); Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Docente do curso
de Turismo e Meio Ambiente da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) / Campus Campo
Mourão. E-mail: julianatma@gmail.com
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representations of peasant social actors impedes the growth of the activity with the
participation of those same actors in the Central-Occident Mesoregion in Paraná.

KEYWORDS: Social peasants groups. Local development. Tourism.

INTRODUÇÃO

A modernização excludente do setor agropecuário avança, desenvolvendo,


de maneira desigual, inúmeras áreas rurais do território brasileiro. Em regiões como a
Mesorregião Centro-Ocidental paranaense, o turismo é apontado como uma possível
saída na busca de alternativas para esse quadro. Em detrimento da crescente
urbanização e da inserção de atividades não agrícolas no campo, a citada atividade
se coloca, para o poder público, como um dos fatores de desenvolvimento e de fixação
da população rural nessas áreas.
É necessário compreender que o turismo, como atividade econômica capitalista,
possui especificidades, que, por vezes, dificultam sua implementação em propriedades
de agricultura familiar. Cruz (2000) assevera que é necessária uma infraestrutura
mínima para receber turistas com uma estrutura específica para a atividade, superando
as expectativas de uma demanda ávida pelas características do cenário bucólico do
mundo rural.
Além disso, é preciso compreender a inserção da atividade turística dentro dos
conflitos já vividos por esses atores sociais, como demonstrou Martins (1991), diante
das questões agrárias. As lutas políticas, de resistência, para ter acesso à terra e
manter-se na terra por meio de alternativas, em um país marcado pelo latifúndio,
apontam as tensões vividas nesse espaço. Considerando assim, as dificuldades do
campo brasileiro, as especificidades da ordem moral dos agricultores de base familiar,
pautada no direito das pessoas e não no das coisas, e as características de consumo
da atividade turística, nos questionamos sobre a possibilidade da implementação
dessa atividade como outra opção de renda para essas famílias.
Dessa forma, baseado nesses pressupostos, o presente trabalho, teve
como objetivo avaliar as relações entre o turismo como atividade alternativa de
desenvolvimento local e os agricultores de base familiar de nosso recorte espacial a
Mesorregião Centro-Ocidental paranaense. Isso porque, suas características físicas e
socioeconômicas, trouxeram para a região discursos e iniciativas de implementação
do turismo como atividade de desenvolvimento para a localidade e alternativa de
renda para esses agricultores. Nesse sentido, a delimitação temporal deste trabalho
foi estabelecida historicamente a partir do ano de 1994, quando foram iniciadas as
atividades na região voltadas para o desenvolvimento do turismo, lideradas pela
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secretaria da Indústria, Comércio e Turismo da época. Desde então são mais de dez
anos, por meio de iniciativas públicas e privadas, buscando desenvolver o turismo na
região.
Nas áreas de colinas e morrarias, o processo de modernização da agricultura
não avançou com facilidade em função da impossibilidade de utilizar maquinários
agrícolas nessas regiões. Para essas áreas se deslocaram, com maior intensidade,
as pequenas propriedades e o modo de vida e produção camponês, em função da
concentração fundiária. As características da paisagem e a permanência de pequenos
agricultores nesses locais deram origem a iniciativas de revalorização das mesmas e
de seus atores para o turismo, que funcionaria, ao mesmo tempo, como alternativa de
desenvolvimento regional.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento dessa pesquisa as discussões realizadas estão


baseadas na utilização do método dialético. A dialética, segundo Lakatos et al (2007),
é um método de interpretação dinâmico e totalizante da realidade. Considera que os
fatos não podem ser analisados fora de um contexto social, político, econômico, etc.
É a análise da complexa realidade social que pressupõe contradições. Nesse sentido,
baseamos a análise das contradições contidas entre turismo e agricultura familiar no
presente método.
O referencial teórico-metodológico deste trabalho está baseado principalmente
em técnicas qualitativas. Utilizamos a pesquisa bibliográfica ao tratarmos dos
questionamentos a respeito do turismo como fator de desenvolvimento e alternativa
de renda para agricultores de base familiar nessa Mesorregião Centro-Ocidental.
Os referenciais bibliográficos foram detalhadamente levantados e, a partir
deles, buscamos apresentar e refletir a respeito dos aspectos que versaram sobre:
as características da região em questão e que são propostas como atrativos para o
turismo; sobre o fenômeno social do campesinato, sua recriação e resistência frente
ao avanço do capital no campo, o qual o poder público pretende fortalecer por meio
da atividade turística; e sobre os aspectos do próprio turismo que ocorre no campo,
enquanto atividade submetida à lógica do capital apontada como atividade que
pretende alavancar o desenvolvimento nas áreas rurais.
Também foram coletados dados junto aos órgãos que organizam e planejam
a atividade do turismo nas mais diversas escalas, a exemplo dos dados do Ministério
do Turismo, da Secretaria de Estado do Turismo do Paraná (SETU), e do Conselho
Municipal de Turismo de Campo Mourão, cidade pólo da região. Todas essas
informações foram captadas por meio de fontes primárias e ou secundárias.
Os estudos empíricos foram captados por meio de observações em campo,
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entrevistas e obtenção de imagens. A metodologia de trabalho utilizada para a pesquisa


de campo foi, portanto, baseada na observação sistemática, conforme tratam Lakatos
et al (2007), uma vez que houve a necessidade de traçar parâmetros de análise
para manter objetividade nos estudos realizados em campo. As entrevistas, do tipo
semiestruturadas, corresponderam à aplicação de questionamentos abertos, que
seguiram a um roteiro preestabelecido para manter o objetivo, mas respeitando sempre
as falas dos depoentes, permitindo a elas maior riqueza de detalhes e informações.
As imagens também foram utilizadas como fontes de análise para a compreensão dos
fatos sociais, como tratou Martins (2008).
As entrevistas foram realizadas com dois grupos distintos. O primeiro grupo
refere-se aos representantes do poder público. Nesse sentido, buscamos informações
com a ex-presidente do Conselho Municipal de Turismo de Campo Mourão, sra. Isolde
Silveira Tonet, em função de sua atuação na época das primeiras ações municipais e
regionais para impulsionar o turismo localmente e com o Diretor do Centro de Produção
do município de Iretama, sr. Aparecido José da Silva, o qual é responsável pelas
ações de implementação do turismo como alternativa de renda para os agricultores
em um dos municípios da região.
O segundo grupo refere-se aos agricultores de base familiar que a) buscam
implementar o turismo como alternativa de renda em suas propriedades e b) aqueles
que já passaram pelo processo de receber turistas em suas propriedades. Para a
exequibilidade desta pesquisa, selecionamos, portanto, duas famílias de agricultores.
A primeira família localiza-se no município de Iretama e foi indicada pelo poder público
do município como propriedade a ser visitada para a realização da pesquisa. A segunda
família, situada no município de Luiziana, foi indicada pela ex-presidente do COMTUR
de Campo Mourão, como exemplo de família de agricultores que já passaram pela
experiência em receber visitantes em suas propriedades.

A PLURIATIVIDADE DO UNIVERSO AGRÍCOLA E O TURISMO RURAL COMO


ATIVIDADE ALTERNATIVA DE RENDA

Acredita-se que em virtude de inúmeros problemas, como a diminuição da renda


decorrente dos baixos preços auferidos aos produtos primários, e da industrialização
no campo, atividades não agrícolas despontam como mecanismos para auxiliar a
fixação do homem no campo. A introdução dessas atividades na propriedade com base
no trabalho familiar é compreendida por Silva e Del Grossi (2002) como o processo de
mercantilização do tempo livre, dessas famílias.
Isso significa, para os autores, que a fabricação de doces, de utensílios
domésticos para o autoconsumo e as suas atividades de lazer (como a caça, a pesca,
o artesanato), são agora comercializados como outra mercadoria qualquer. Nesse
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sentido, a mercantilização do tempo livre diz respeito tanto às relações de produção


como às de trabalho. Para Silva e Del Grossi (2002), isso pode representar “[...] as
famílias rurais crescentemente dependentes dos capitais associados não apenas
aos mercados agrícolas, mas a uma matriz de múltiplas atividades (pluriatividade) de
seus membros” (SILVA; DEL GROSSI, 2002, p. 48). Os pesquisadores, nesse quadro,
deixam claro seu posicionamento sobre o conceito de agricultura familiar fortemente
ligada ao mercado e sobre sua proletarização, mesmo que, dentro de sua propriedade,
sem abandonar, porém, a produção agropecuária.
Dessa forma, os autores tratam da pluriatividade como alternativa de
sobrevivência, em que a família agricultora realiza múltiplas atividades em sua
propriedade no período em que não estão ocupadas com o trabalho agrícola,
atividades exercidas como fonte de reforço da renda familiar. O turismo, então, é
apontado por Silva e Del Grossi (2002), como atividade não agrícola, que surge, para
a família agricultora, como atividade pluriativa no campo. Uma vez que, no processo
de industrialização da agricultura, o Brasil é mais urbano do que rural, segundo as
propostas de Silva e Del Grossi (2002), não há mais espaço para uma agricultura de
base familiar pautada apenas na produção agropecuária. Os pesquisadores, nesse
sentido, dentro da atividade turística, citam o segmento do turismo rural como potencial
a ser explorado pelos indivíduos, aos quais se referem como sendo agricultores
familiares.
Segundo Joaquim (2003), as primeiras manifestações de turismo no espaço
rural surgem na Europa, mais especificamente na França por volta de 1971 e a partir
de então se espalha mundialmente. No Brasil, a primeira iniciativa foi a da Fazenda
Pedras Brancas, no município de Lages, em Santa Catarina, fazenda que, em 1986,
recebeu um grupo de turistas para nela pernoitar e participar dos trabalhos no campo,
conforme apresenta Rodrigues (2003). No Paraná, a atividade inicia-se em 1992,
na região de Arapongas, segundo os dados da Secretaria de Estado do Turismo do
Paraná (SETU). O maior desenvolvimento da atividade no país ocorre com a evolução
da busca pela população urbana de volta ao rural, ao reencontro com a natureza,
sendo também uma alternativa ao turismo de “sol e mar”.
As discussões terminológicas sobre as atividades turísticas realizadas no
espaço rural são muitas, isso em detrimento do vasto campo de atividades que nele
se realizam, como já apontamos acima. Alguns conceitos convergem, porém, para o
entendimento de que toda atividade realizada em espaço rural se denomine Turismo
em Espaço Rural e nele estão incluídos, por exemplo: o turismo religioso, o turismo
de eventos, o turismo de negócios, o turismo de aventura, o ecoturismo, o turismo
rural, entre outros. Já as atividades que estão mais intimamente ligadas ao meio rural,
o estilo de vida e a cultura de seus habitantes são denominadas de Turismo Rural,
conforme Tulik (2004).
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É preciso, contudo, considerar alguns impasses para a execução do turismo


como alternativa de renda dentro da propriedade familiar. Afinal, não podemos deixar
de salientar que o turismo, além de atividade social, também é atividade econômica
submetida à lógica da produção e de reprodução do capital e se coloca como mais
um reflexo do avanço do capitalismo, transformando o campo também em espaço
de realização de lazer e de negócios. A atividade turística submete o espaço a uma
lógica de consumo, através da reprodução ampliada do capital (CARLOS, 1999).
Assim, cada vez mais e de forma mais intensa, são criados espaços similares para a
comercialização do produto turístico.
Observando essa complexidade da atividade, para facilitar o acesso de
agricultores de base familiar à possibilidade de investir no setor, o Estado cria políticas
públicas, a exemplo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF)2. Dentro desse mesmo programa temos seus desdobramentos, como o
PRONAF – Turismo Rural, que, por sua vez, destina auxílios do governo na tentativa
de impulsionar as atividades de turismo dentro das propriedades de base familiar
no campo. Considerando, mais uma vez, que a realidade do campo brasileiro é
heterogênea, por inúmeras vezes essas políticas podem não beneficiar todos de forma
igualitária. Nesse sentido, por exemplo, ao tratar da Política Nacional de Turismo:

A diversificação do produto turístico, embora apareça como um objetivo, pode


ser entendida como uma estratégia da política, já que o objetivo, nesse caso,
é diversificar os fluxos para determinadas porções do território nacional. Essa
política de turismo revela um aspecto seletivo, do ponto de vista espacial,
quando sugere a difusão de novos pontos turísticos, privilegiando aqueles
localizados em “regiões de melhor nível de desenvolvimento”. As regiões
mais pobres, assim, continuariam em desvantagem, do ponto de vista de um
possível uso de seu território pelo turismo. (CRUZ, 2001, p. 59).

Nessa perspectiva, Martins (1994) verifica que as políticas públicas do Estado
por ora se revelam alheias à verdadeira realidade, o que nos faz questionar sobre a
eficácia de programas que estimulam o agricultor camponês sem que, ao menos, a
maioria deles possua terra para trabalhar.
O poder público, por vezes, parece negligenciar esse quadro. Pode-se afirmar
isso porque a sua preocupação, nas mais diversas escalas, em desenvolver as
diferentes realidades rurais brasileiras, pautadas no turismo, ocorre, em parte, pela
crescente procura da demanda turística por esses espaços. Não raro, é possível
encontrar discursos em documentos públicos, na mídia, dentre outros veículos de
informação, que o turismo cresce como atividade econômica, podendo ser vetor de
desenvolvimento em regiões menos favorecidas.
2 O Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF é um programa do governo
federal e busca auxiliar a agricultura de base familiar e os empreendimentos relacionados a ela, através
de financiamentos e de outras assistências técnicas dadas aos produtores. Dele se desmembram
vários outros programas, a exemplo do PRONAF – Turismo Rural.
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Segundo o Ministério do Turismo (2008), a atividade turística praticada no campo


pode auxiliar no desenvolvimento econômico e social, valorizando os patrimônios e
os produtos locais. Ao mesmo tempo, o Ministério ressalta que é necessário tomar
uma série de medidas para estruturar, desenvolver, promover e comercializar
adequadamente o atrativo turístico.
No Estado do Paraná, o Plano de Desenvolvimento do Turismo no Paraná
2008-2011 aponta que, na Política Estadual de Turismo referente aos anos de 2003-
2007, o fluxo de turistas e a receita gerada cresceram como resultado da eficácia da
mesma política. O fluxo turístico na ordem de 7,3 milhões de pessoas cresceu 29% de
2002 a 2006 e a receita gerada atingiu 1,5 bilhão, crescendo mais que 60% no mesmo
período.
Para o Plano referente aos anos de 2008-2011, o governador da gestão 2007-
2010, Roberto Requião, deixa clara a sua expectativa em relação à atividade e
demonstra a importância da mesma para a diversificação da economia de municípios
e regiões: “O Turismo se impõe como um dos fatores indutores de desenvolvimento do
Estado, pois reduz as desigualdades sociais e combate a pobreza através da geração
de emprego e renda” (SECRETARIA DE ESTADO DO TURISMO, 2007).
A Secretaria de Estado do Turismo (2007) enfatiza que se compromete em
desenvolver o Turismo Rural para valorizar a ruralidade, preservar o meio ambiente e
proporcionar a inclusão social, dando oportunidade de emprego e renda principalmente
aos agricultores familiares. Nesse sentido, compreendemos que em todas as escalas
existe a preocupação em desenvolver as áreas rurais, que sofreram com o avanço do
capitalismo no campo, pautadas na atividade do turismo.

A PEQUENA PROPRIEDADE DE BASE FAMILIAR E O TURISMO COMO


COMPLEMENTAÇÃO DE RENDA

As políticas públicas do setor em escala nacional, como as Diretrizes para o


desenvolvimento do Turismo Rural no Brasil e o Programa Nacional de Turismo Rural
na Agricultura Familiar e o Programa de Turismo Rural do Paraná incentivam ações na
Mesorregião Centro-Ocidental paranaense para a iplementação do turismo rural como
alternativa de desenvolvimento e renda para a agricultura de base familiar. É importante
ressaltar que esse cenário pode ser interpretado como abordagem realizada por Cruz
(2007), pelo esforço do poder público brasileiro em diminuir a pobreza por meio do
turismo. A Mesorregião Centro-Ocidental (Figura 1) é uma das dez Mesorregiões do
Estado do Paraná3 e ocupa uma área de 1.191.893,6 hectares (que equivale a 6,0%
de toda a área do Estado (IPARDES, 2004). Sua divisão político-administrativa pode
3 Delimitadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as Mesorregiões são
subdivisões dos Estados brasileiros que congregam municípios em função de suas semelhanças
econômicas, sociais, físicas, dentre outras.
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ser visualizada na Figura 1, a seguir:

FIGURA 1: LOCALIZAÇÃO DA MESORREGIÃO CENTRO-OCIDENTAL


PARANAENSE

Fonte: IPARDES, 2004.

A região em questão possui relevo bastante heterogeneo atingindo altitudes


de 1150 metros, declinando a 225 metros, o que torna parte dos solos inaptos ao
uso agrícola (IPARDES, 2004). Na Mesorregião nenhum município atinge a média de
IDH-M do Estado (0,787). O maior IDH- M na região está em 0,774 e o menor em 0,677.
Nesse quadro, a região apresenta umas das mais altas taxas de pobreza do Estado,
superiores a 30% do total de famílias (IPARDES, 2004). A pequena produção familiar,
ocupa uma área de 24,3%, representando 84,4% dos estabelecimentos. Ainda, mesmo
em um espaço menor, são responsáveis por 74,4% do pessoal ocupado, que cresceu
de 77% em 1996 para 79% em 2006. Nesse quadro, enquanto a agricultura baseada
no trabalho familiar ocupa 15,3 milhões de trabalhadores em seus estabelecimentos,
a agricultura não familiar ocupa 1,7 milhão (IBGE, 2009).
A Scretaria de Turismo do Paraná atualmente divide o Estado em 14 regiões
turísticas. A Mesorregião Centro-Ocidental compoem esse quadro com a região
“Roteiros da COMCAM”. A sigla COMCAM significa Comunidade dos municípios da
região de Campo Mourão, em que, esse município é o pólo regional. Desde a década
de 90 inúmeras ações buscam desenvolver a atividade turística da região.
O município de Iretama é um exemplo dessas ações. Um dos muitos pequenos
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municípios com baixo IDH-M de 0,699 (IPARDES, 2010), é rico em uma paisagem de
morrarias em função de seu relevo acidentado e também é palco da resistência da
agricultura familiar, com um total de 1.166 estabelecimentos familiares, contra 373
estabelecimentos não familiares, segundo o Censo Agropecuário 2006 (IBGE, 2009).
Conforme o Diretor do Centro de Produção4, o sr. Aparecido José da Silva, “[...] o forte
mesmo aqui para o pequeno agricultor, até agora no momento, é a produção de leite.
Mais de 50% trabalham na produção de leite”5
O diretor do Centro de Produção relata que deseja desenvolver o turismo no
município com os agricultores de base familiar. Dessa forma, houve uma mobilização
entre os aqueles que tinham interesse em implementar a atividade, somando um
total de quinze propriedades. Com relação aos recursos, apesar do entusiasmo que
demonstra o sr. Aparecido, ele confirma não ter auxílio até o momento de políticas
públicas que possam auxiliar o desenvolvimento da atividade no município junto aos
agricultores.
Quando questionado sobre quais as maiores dificuldades enfrentadas até
o presente momento para alavancar o turismo no município com os agricultores
familiares, o diretor do Centro de Produção relata que um dos problemas está nos
recursos humanos, uma vez que, cinco funcionários da secretária de agricultura do
município não estão exclusivamente envolvidos com projetos de turismo. Ele coloca a
importância do concurso público, o qual trará funcionários permanentes, garantindo,
dessa forma, a continuidade do projeto.
Apontamos, a exemplo desses entraves, uma família de agricultores do distrito
de Águas de Jurema, em Iretama6. A propriedade da família possui 72 hectares, onde
se produz soja e aveia e há área de pastagem para o gado leiteiro, conforme relatos
do agricultor entrevistado7. O mesmo agricultor afirma que quase toda família trabalha
na propriedade. Aqueles que não estão exercendo nenhuma função nela trabalham
no resort localizado no distrito. Segundo seu depoimento: “Um deles é recepcionista
e otro trabalha no departamento pessoal. Um deles começou como ajudante no
departamento e hoje é responsável pelo departamento. O otro começou como garçom
e hoje é recepcionista”8. Compreendemos que o turismo, pode, sim, beneficiar muitas
camadas da sociedade e de muitos modos auxiliar no processo de desenvolvimento,
porém a geração de emprego e renda, muitas vezes, segundo Froelich (2000).
Sobre o turismo, como possível complementação de renda, o agricultor conta
4 O Centro de Produção, segundo o sr. Aparecido José da Silva, é uma horta pertencente à
prefeitura, a qual fornece alimentos para as escolas do município.
5 Em depoimento coletado no mês de março de 2010 (Duração: 39 min. e 50 s).
6 O sr. Aparecido conhece as quinze famílias que possuem interesse em implementar a
atividade em sua propriedade. Nesse sentido, solicitamos ao diretor do Centro de Produção que nos
acompanhasse até uma delas para que pudéssemos conhecer a realidade e os anseios da mesma com
relação ao turismo como complementação de renda.
7 Em depoimento coletado no mês de março de 2010 (Duração: 44 min e 33 s).
8 Em depoimento coletado no mês de março de 2010 (Duração: 44 min e 33 s).
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que “Até hoje a gente tem trazido, assim, por amizade, não tem cobrado, não tem
tirado custo de tudo isso. Mas a gente tá se preparando pra ver se a gente começa
realmente vendê esse trabalho”. O agricultor relata que muitos conhecidos dizem
que eles devem fazer da propriedade um lugar turístico, mas o problema são os
recursos. Sem recurso, segundo ele, não é possível: “Sempre as pessoas chegavam
e comentavam: ‘Ô, aqui dá pra você fazer um lugar turístico!’. Mas e recurso? Pra isso
tem que ter recurso”9. Ele afirma que não há esclarecimentos pelos proponentes do
poder público em implementar a atividade turística em como captar auxílios e tudo fica
no plano do discurso.
O agricultor coloca que recurso financeiro e tempo para receber os turistas
são os maiores entraves atualmente, apesar da vontade para implantar a atividade:
“Queremos o turismo para fortalecer a renda, vimos os nossos vizinhos vender suas
propriedades por falta de recursos, também não quero que meus filhos vão embora
e o turismo pode nos trazer isso”10. Esse quadro aponta para o desejo de reverter o
quadro de êxodo rural e fixação da família no campo, porém, para a implementação da
atividade, destacamos o que Froelich (2000) colocou com relação à baixa ou nenhuma
capacidade de endividamento ou apresentação de garantias desses agricultores para
a concessão de créditos e, ainda, em alguns casos, “[...] de equívocos provocados
pela imagem panaceica do turismo rural como estratégia de desenvolvimento, esta
poderá retirar recursos públicos, já parcos, da ‘agricultura familiar’” (FROELICH, 2000,
p. 10, grifo do autor).
Além das dificuldades financeiras, a ordem moral da família agricultora se coloca
como mais um entrave para a implementação do turismo como complementação de
renda para a propriedade familiar11. Sobre essa questão, observamos a família de
agricultores que mora às margens do lago da barragem da Usina Hidrelétrica Mourão,
por meio da indicação da ex-presidente do Conselho Municipal de Turismo de Campo
Mourão, sra. Isolde Silveira Tonet. Esses agricultores já receberam visitantes em sua
propriedade, possibilitando-nos, assim, a avaliação dos impasses entre a sua ordem
moral e as especificidades do turismo.
Em um total de quinze alqueires, o agricultor camponês12 relata que cultiva
soja em apenas seis com sua família, em função das leis ambientais do Paraná13,
que regulamentam a utilização do restante do espaço, que abriga recursos hídricos,
para áreas de preservação ambiental. Na propriedade também ocorre a criação de
gado leiteiro para a produção de leite e derivados, além de outras alternativas, como

9 Em depoimento coletado no mês de março de 2010 (Duração: 44 min e 33 s).


10 Em depoimento coletado no mês de março de 2010 (Duração: 44 min e 33 s).
11 Nessa perspectiva, nos direcionamos ao município de Luiziana, uma vez que o mesmo
possui agricultores de base familiar que já passaram pelo processo de recepção de visitantes em sua
propriedade.
12 Em depoimento coletado no mês de julho de 2010 (Duração: 58 min e 10 s).
13 Conforme Decreto Estadual nº 387, de 1999, do governo do Estado do Paraná.
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a produção de bolachas caseiras e outros produtos domésticos produzidos pela


esposa e pela filha do agricultor. As Figuras 2 e 3 também ilustram as características
das propriedades de base familiar que se colocam como atrativos para o turismo: a
proximidade com a natureza, com os animais típicos do campo e o modo camponês
de organizar a propriedade, que tanto chamam a atenção dos turistas. A manutenção
da horta cercada, com as galinhas criadas soltas pelo quintal e o pomar carregado
com as frutas da época, podem ser visualizadas a seguir:

FIGURA 2: HORTA CERCADA FIGURA 3: POMAR

Autoria: Juliana Carolina Teixeira Autoria: Juliana Carolina Teixeira


Data: Julho de 2010. Data: Julho de 2010.

A história da composição dessa propriedade tem início quando o agricultor veio


de Minas Gerais com os pais em 1948 para o Norte do Paraná, onde cultivaram café.
Em função das geadas que dificultaram a produção da cultura, em 1953 toda a família
deslocou-se para o município de Luiziana e, em 1971, se fixaram na propriedade
onde moram atualmente. Da totalidade da família, apenas o agricultor entrevistado,
com sua esposa e filhos, ainda se mantém no campo. Seus pais e irmãos venderam
a propriedade e buscaram fixar residência na cidade.
O agricultor, que manteve seus trabalhos no campo, relata que, quando se
instalou no município com sua família, “[...] naquele tempo a pescaria era coisa de
loco. Você olhava a noite aqui, você olhava a margem da água aqui, era fogo pra
tudo quanto é lado”. Dessa forma, o agricultor começou a receber amigos, em sua
propriedade, para pescar nos fins de semana. De alguns amigos, passou-se para um
número considerável de visitantes: “Teve uma temporada aí, que, olha, nós tivemo
que cortá. Chegava quinze, dezesseis carro. Se você pôr na média de quatro, cinco
pessoa por carro, virava quase uma festa de casamento”14.
Uma vez que a visitação da propriedade foi indicada pela ex-presidente do
COMTUR de Campo Mourão, esperávamos encontrar uma propriedade de agricultores
de base familiar que auferiam lucro por meio da recepção de visitantes de forma direta,
14 Em depoimento coletado no mês de julho de 2010. (Duração: 58 min e 10 s).
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porém, para a nossa surpresa, ao ser questionado sobre o valor que o agricultor
cobrava dos visitantes que entravam em sua propriedade para desfrutar de seu pomar,
da pescaria no rio, do banho de rio, da sombra das árvores, do acampamento no seu
gramado, dentre outras qualidades da vida no campo, o agricultor respondeu que não
cobrava valor algum: “Não. Nunca tivemo nem barco pra alugá, nem nada. Eu, pra
falá bem a verdade, nem onde tava o pescador nóis não vai. A gente não gostava de
misturar o sistema do pescador com o nosso.”
Ora, para o turismo, o espaço e o que está contido nele possuem valor de
troca - condição necessária para que haja o negócio entre a compra e a venda desse
produto. Isso, porém, para o agricultor camponês, não ocorre. O valor de uso o impede
de cobrar entrada na propriedade. Para além, a natureza ali contida é dádiva divina,
como apontou Woortmann (2004) e a mesma pode ser usufruída por todos. Ainda há
a sua afirmação sobre não ter interesse em “se misturar” com os pescadores, o que
excluí outra característica própria do agroturismo, que é a interação do proprietário
com os visitantes.
Para ele, todos podiam entrar e desfrutar de tudo aquilo gratuitamente, desde
que fossem indicados por alguém, não sendo visitantes desconhecidos. Segundo o
agricultor, os visitantes acabavam levando o queijo, o leite e outros produtos feitos na
propriedade, ou seja, poder vender o que ele produzia na propriedade para quem ali
viesse passar o fim de semana já valia a visita. Porém só os amigos podiam sentar na
varanda e tomar um café feito na hora pela esposa do agricultor. O convite para entrar
na varanda para o café é demonstração de confiança e amizade: “Aquele que vinha
pescá, por exemplo, nóis não misturava. Nóis chamá ele aqui nem pra tomá um café
aqui, por exemplo, nóis não chamava. Só se fosse um cara muito amigo mesmo”15.
Ao questionarmos se ele se preocupava em receber estranhos, o mesmo respondeu
que: “Não, não vinha estranho. Vinha os cara que... por exemplo, os cara que vinha
de Cianorte: ‘Posso trazer meus amigo lá?’ ‘Se você se responsabiliza por ele, pode
trazê.’ ‘Não, esse é amigo meu.’ ‘Então pode trazê’”16.
O camponês afirma que as atividades dos visitantes foram encerradas quando
houve a proibição, em função da lei ambiental paranaense, de qualquer atividade às
margens do lago da usina no perímetro estipulado. Ao questionarmos o depoente
sobre a falta que ele sentia dos visitantes, o agricultor disse que não sentia falta do
barulho e da confusão que gerava problemas com seus vizinhos de cerca, que também
ficavam incomodados com o fluxo de visitantes, fato esse que destoa da característica
marcante do turismo como a circulação ininterrupta de turistas. Ele afirma, contudo,
que sente falta dos amigos que iam até a propriedade passar o fim de semana e que
sentavam na varanda para tomar um café. Ao contrário das famílias de agricultores
de Iretama, que buscam receber visitantes, o agricultor de Luiziana, que já passou
15 Em depoimento coletado no mês de julho de 2010. (Duração: 58 min e 10 s).
16 Em depoimento coletado no mês de julho de 2010. (Duração: 58 min e 10 s).
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por isso, afirma que não tem interesse algum em repetir essa experiência por meio do
turismo.
Ao perguntarmos para o agricultor se ele possui interesse em receber turistas
em sua propriedade para conhecer sua horta, seu pomar, as atividades da propriedade
como ordenhar as vacas e trabalhar com o gado, recebendo dinheiro para isso, a
resposta negativa do agricultor foi rápida e categórica. Para ele receber gente
estranha na propriedade não é positivo. O agricultor relata que sua filha e esposa não
se sentiriam bem em trabalhar com estranhos observando e que isso também era
perigoso nos dias de hoje. Então trabalhar com turismo:

Não! É que, pra começá, digamos assim, se for mexê, vê lá minha minina,
mexe com leite lá, ela já não gosta que tem uma pessoa lá perturbando, né.
Que perturba, né. Otra coisa, tem uns zóiudo que olha a vaca lá que dá 30
litro de leite por dia, no outro dia ela dá só oito (risos). Aí minha minina não
gosta. Mas a gente não, no caso assim, passa um dia pra acampá, ou em otro
caso não tem problema né. […] Trabalhá com gente hoje é problema. Tem
gente hoje de educação tudo diferente17

A declaração do agricultor aponta para o incômodo que os visitantes poderiam


causar para suas filhas e esposa durante as atividades rotineiras na propriedade.
Ocorre que, como assevera Martins (2003), o camponês está voltado para sua família,
sua comunidade, voltado para dentro e não para o mundo regido pelas mercadorias.
Por esse motivo, o agricultor diz não ter interesse em transformar em mercadoria seu
mundo, seu espaço, sua família.
As superstições também têm grande valor para ele, uma vez que muitas
pessoas analisando as tarefas do dia a dia, essa interferência poderia diminuir os
recursos como a ordenha dos animais. Esses aspectos apontam para os entraves
entre o turismo e a ordem moral da pequena família agricultora, entraves que não
permitem o avanço da atividade junto a esses agricultores.
Além dos relatos dos agricultores de base familiar sobre o turismo como
complementação de renda familiar, destacamos as declarações fornecidas pela
ex-presidente do COMTUR de Campo Mourão, sra. Isolde S. Tonet18. Em suas
afirmações, a sra. Isolde compreende que muitos foram os motivos que se colocaram
como entraves para o desenvolvimento da atividade como forma de complementação
de renda na região.
Segundo a depoente, desde 2000, ou seja, em mais de dez anos, a atividade
cresceu pouco ou quase nada na Mesorregião. Ela afirma que isso está acontecendo
porque o envolvimento dos políticos foi um dos entraves que dificultou os trabalhos
do COMTUR. Apesar de as políticas públicas, a exemplo do PNMT, pregarem a total
separação de interesses políticos em relação às atividades de organização e de
17 Em depoimento coletado no mês de julho de 2010. (Duração: 58 min e 10 s).
18 Em depoimento coletado no mês de julho de 2010 (Duração: 1 h 23 min e 4 s).
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planejamento da atividade pelo COMTUR, a influência política era inevitável: “Tanto


que, quando mudou o prefeito, esse Conselho se destituiu, porque as lideranças que
constituíam o Conselho se desestimularam”19. Esse quadro reforça a ideia de Cruz
(2006) sobre as divergências políticas em relação ao setor:

[...] o planejamento regional requer a abdicação, por parte dos poderes


públicos municipais, de parte de seus projetos individuais em prol de um projeto
coletivo, que requer a superação de vaidades pessoais e o desenvolvimento
da capacidade de diálogo. (CRUZ, 2006, p. 343).

Além das questões políticas estão às questões ligadas a diferente realidade da


região com outras regiões brasileiras com potencial turístico.
Apesar do discurso em utilizar as características físicas da Mesorregião e a
permanência das pequenas propriedades familiares que resistiram ao processo de
modernização da agricultura para o turismo, muitos impasses se colocam para que ele
ocorra. As divergências políticas, os entraves financeiros, a conformação da paisagem
regional (resultado de sua ocupação heterogênea) e a ordem moral dos agricultores
de base familiar impedem o avanço da atividade com a participação dos mesmos,
em que a mão de obra local só participa do processo de avanço do turismo regional
quando está trabalhando assalariada nos empreendimentos turísticos existentes,
diferentemente do agroturismo citado por Silva (1998).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendemos que as dificuldades relacionadas aos recursos financeiros,
impedem que muitos agricultores que se baseiam no trabalho familiar aloquem uma
estrutura capaz de receber hóspedes de maneira satisfatória. A partir do esforço para
construir os simples banheiros pela família de agricultores em Iretama, compreendemos
que a necessidade de implantação de uma infraestrutura básica exige recursos que
esses agricultores, muitas vezes, não possuem. E, ainda, a criação de uma estrutura
precária pode comprometer a atividade realizada naquele local.
Para buscar, dentre outros objetivos, amenizar as dificuldades financeiras
enfrentadas pelos agricultores que desejam trabalhar com o turismo, o Estado cria
as políticas públicas específicas para esse setor. Porém, em função da extrema
burocracia, dos gargalos existentes, como a falta de informação sobre a existência e
o papel das mesmas, dentre outros aspectos, impedem a condução desses recursos
para a implantação da atividade turística nas propriedades.
Outro aspecto está relacionado às questões políticas na região. Por muitos
motivos, os interesses políticos e as vaidades pessoais impedem que muitos projetos

19 Em depoimento coletado no mês de julho de 2010 (Duração: 1 h 23 min e 4 s).


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para desenvolver o turismo regional avancem. A instabilidade de cargos políticos


relacionados à atividade não possibilitam a continuidade desses projetos, questão
assinalada pelo sr. Aparecido José da Silva, que aponta para a importância de cargos
estáveis por meio de concursos públicos para o setor. É preciso também, que os
interesses individuais sejam suprimidos por um interesse maior, o desejo coletivo, que
beneficie a todos. Esse quadro foi apontado pela sra. Isolde S. Tonet, quando tratou
a respeito do Conselho Municipal de Turismo de Campo Mourão e a utilização dos
recursos do Fundo de Turismo Municipal. Conforme seu depoimento, as tentativas e
os anseios da coletividade em busca de possibilidades, por meio do turismo, acabam
se dissipando em função de interesses políticos individuais.
Além disso, como um dos entraves estão às contraposições existentes entre a
ordem moral dos agricultores de base familiar e as características da atividade turística.
A falta de interesse pela implantação da atividade, como alternativa de renda, do
agricultor camponês de Luiziana exemplificou essa questão. Para sua ordem moral,
a natureza e os benefícios da terra estão postos em sua propriedade para que os
amigos e conhecidos possam usufruir dela. Utilizar o turismo como valor de troca que
comercializa as tarefas realizadas pela sua família, mercantiliza sua terra, sua vida,
não vai de encontro com o valor de uso que o mesmo têm por seu modo de vida e
produção.
Receber pessoas desconhecidas, para eles, não é seguro atualmente, fato que
dificulta o desenrolar da atividade turística aos moldes do turismo rural na propriedade
familiar. Isso porque, para esse ator social, receber amigos e conhecidos que usufruam
das qualidades da propriedade sem interromper a rotina da sua família é algo possível.
Porém, receber visitantes estranhos a família, para auferir lucro em troca da interação
do turista com a vida que se passa em seu núcleo familiar não parece ser algo viável.
É preciso ainda, considerar a especificidade da realidade da região de Campo
Mourão. A modernização da agricultura que avançou nesse território e, posteriormente,
isolou as pequenas propriedades em sua maioria em regiões de morros e colinas.
Nesse sentido, as propriedades dos pequenos agricultores familiares ficaram muito
isoladas, com estradas de acesso restrito.
Em função desses aspectos, compreendemos os impasses em relação ao
turismo com a participação de pequenos agricultores familiares, a partir das informações
e das observações coletadas durante a pesquisa. O turismo rural, atividade proposta
como alternativa e como complementação de renda encontra impasses para avançar
na região.
O turismo não possui condições de sozinho resolver problemas como a
desigualdade social, isso porque o mesmo é resultado das relações sociais, sendo
um produto da própria sociedade. Os resultados da atividade podem ser positivos e ou
negativos, assim, tratar da atividade como solução das tensões sociais vividas tanto
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no campo quanto na cidade é um equívoco cometido tanto pelo poder público, quanto
pela iniciativa privada.

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A REPRESENTATIVIDADE DO TURISMO NO ESPAÇO RURAL DA REGIÃO


METROPOLITANA DE CURITIBA: REFLEXÕES A PARTIR DO CENSO
AGROPECUARIO E DA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO

Marino Castillo Lacay1

RESUMO: O tema Representatividade do turismo no espaço rural da Região


Metropolitana de Curitiba, é parte de uma reflexão mais ampla sobre o turismo
rural e agroturismo (PORTUGUES, 1999) na RMC, Paraná realizado como parte
da dissertação de mestrado em 2012. O propósito desse estudo foi estabelecer
os nexos entre o processo de consolidação e apropriação do espaço por parte do
turismo autodenominado rural no periurbano da capital paranaense. Para discutir a
prática, parte-se do desenvolvimento local - desigual e combinado- dos municípios
do entorno chamados de Núcleo Urbano Central -NUC, e de como as práticas da
agricultura familiar desenvolvidas na região são um produto de restrições naturais
e ambientais impostas pela própria região, por ser fornecedor de agua da grande
Curitiba, ou pela complementação a projetos regionais da metrópole, e não por um
esfoço conjunto das politicas públicas ou da governança regional do turismo e da
agricultura. Junto com os dados do Censo, analisam-se também tabulações especiais
de empreendimentos rurais da hotelaria e da gastronomia rural, levantados durante
pesquisa de campo em 2006 e atualizados em duas visitas de campo realizadas a
esses mesmos empreendimentos em 2010. O resultado obtido com essa comparação
aponta para o entendimento de que mesmo estando perto de um grande mercado de
demanda como Curitiba, o turismo rural é penalizado pela falta de uma governança
que garanta uma identidade local com a ruralidade que diz promover. A interferência
de agentes públicos e privados e a falta de articulação destes agentes enquanto
governança regional que direcione sua organização e desenvolvimento coíbe o mais
importante: formas para o fortalecimento da propriedade rural, da agricultura familiar e
do desenvolvimento local acordes com a realidade regional periurbana.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo rural. Desenvolvimento rural. Agroturismo.


Periurbano.

RESUMEN: El tema la representatividad del turismo en las zona rural de la Región


Metropolitana de Curitiba, es parte de un debate más amplio sobre el turismo rural
y el agroturismo (PORTUGUES, 1999) en el RMC, Paraná y realizado dentro de la
disertación de maestría. El propósito de este estudio fue establecer conexiones entre
el proceso de consolidación y apropiación del espacio por el turismo rural con énfasis
en los municipios de la conurbación de Curitiba. Para hablar sobre la práctica turística
rural y del desarrollo local –desigual y combinado- de los municipios circundantes
llamados Núcleo Urbano Central-NUC, ubicados en el primer y segundo anillo de ese
conurbado; y de cómo la práctica del turismo se ha difundido en la agricultura familiar
de la región a pesar de las restricciones físicas, naturales y ambientales impuestas
por la propia región, que es cuna de los manantiales y principal proveedora de agua
1 Economista, Doutorando em Geografia, UFPR. Mestre em Geografia (UFPR), Especialista em
Políticas Publicas (ILPES/CEPAL). Servidor público do IPARDES. E-mail:marinno@uol.com.br
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en el área urbana, o para complementar los proyectos regionales de la metrópolis, y


no como producto de un conjunto de políticas públicas diseñadas por la gobernanzas
regionales del turismo y de la agricultura. Junto con los datos del censo agropecuario,
se analizaron también las tabulaciones especiales de los emprendimientos rurales
que participaron de la investigación de campo realizada por el IPARDES en 2006
y actualizadas por el autor en 2010 en visitas de campo. Fueron escogidas las
actividades más representativas de hostelería y gastronomía rurales. En ese nuevo
encuentro y con esta comparación se apuntaron algunas conclusiones a respecto
de la comprensión del proceso en análisis: a pesar de la cercanía de un mercado
potencial importante con una gran demanda potencial como Curitiba, el turismo rural
se ve obstaculizado por la falta de gobernanza que garantice una identidad local con
la ruralidad que dice promover. La interferencia desordenada en términos de objetivos
claros, de los agentes públicos y privados, y la falta de articulación de estos como
la gobernabilidad que impulsa a su organización para un desarrollo de base local
antenado con las posibilidades existentes limita el fortalecimiento de la propiedad
rural, de la ruralidad y de desarrollo local, acordes con la realidad regional periurbana.
KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Turismo rural. Desarrollo rural. Agroturismo.
Periurbano.

INTRODUÇÃO

Identificar a ação do turismo rural no espaço, como fenômeno social e como


mais um elemento para o desenvolvimento dos territórios através da decodificação
dos dados do Censo Agropecuário e da tabulação especial dos dados da Cadeia
produtiva na Hotelaria e Gastronomia Rural, observando seus modos de produção,
organização na RMC e constando mediante visita de campo a evolução desses
roteiros, é o objetivo desta reflexão.

A síntese desse novo paradigma do desenvolvimento dos territórios que se


estabelece tem pontos de encontro com aspectos do antigo planejamento estratégico,
com o desenvolvimento institucional e a administração a partir da modernização do
Estado. A proposta de desenvolvimento desde o local se configura a partir da gestão
descentralizada das políticas públicas, para as regiões e territórios (AROCENA, 2001;
BOISIER,1995, 2001; 2005), e, sobretudo para o desenvolvimento do turismo com
níveis de decisão mais autônomos e sustentáveis.

Os processos deflagrados a partir da Constituição do Brasil de 1988 e, que


influenciaram de forma radical o papel do Estado (federalismo, descentralização, pacto
federativo) com a descentralização, passaram a pautar a elaboração de planos e de
políticas públicas, com uma participação cada vez maior de governanças regionais
e das comunidades, introduzindo novos atores e novos agentes na configuração de
uma nova ordem econômica e social no País: dedica-se um espaço para discutir as
escalas institucionais no desenvolvimento do turismo metropolitano e alguns conflitos
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inerentes do processo de turistificação do espaço metropolitano.

Baseados as tabulações dos dados do censo agropecuário de 2006, dos


estabelecimentos que declararam aferir algum tipo de renda com a atividade de
turismo rural e nas pesquisa de campo da Cadeia Produtiva do Turismo, realizada
pelo IPARDES, realizada no ano de 2006 com tabulações especiais feitas para este
trabalho em torno dos empreendimentos autodeclarados rurais se estabeleceram
nexos entre as políticas públicas e as escalas de aplicação dessas políticas públicas
do turismo no território. De fato, o apóio das políticas públicas e o envolvimento ou não
das escalas local (municipal) são definitórias para o êxito ou fracasso dos circuitos
e roteiros existentes, no caso da agricultura familiar; porém não ocorre da mesma
maneira no agroturismo ou turismo no espaço rural de empreendimentos tipicamente
urbanos na área rural. Complementarmente, durante os meses de julho e agosto de
2010 foram realizadas duas visitas técnicas aos 10 circuitos turísticos estabelecidos
entre 1998 e 2004 para reavaliar o “estado da arte” onde a agricultura familiar foi
preponderante na RMC2. Muitos desses circuitos funcionam sem estruturas de apoio
institucional ou só permanecem vigentes nas placas de sinalização turística.

Finalmente, muitos autores citados neste texto já têm trabalhado ou trabalham


o turismo, e mui em particular o turismo rural, como um dos recortes da economia
global, porém optou-se por deixar de lado a sua análise, embora a linha de raciocínio
perpassa por entender que a organização espacial do turismo no Brasil e a inserção
de grandes regiões no processo de turistificação obedecem a regras e contra-regras
de atuação ditadas a partir desse sistema espacial global, que tem como um dos
agentes dinamizadores desse processo o Banco Interamericano de Desenvolvimento
-BID3.

1. DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL E PLURIATIVIDADE

Um processo de desenvolvimento territorial refere-se a um conjunto de


ações, mecanismos, estratégias e políticas endógenas, desencadeadas por atores
locais/regionais em interação com as demais escalas de poder e gestão, reforçando
e constituindo territórios por meio de novos usos políticos e econômicos. Nessa
perspectiva, o desenvolvimento territorial se produz a partir do momento em que os
atores, formando uma comunidade/sociedade, se reconhecem como tal e tem como
referência primeira seu território. Projetam suas ações a partir de relações de poder
2 Em duas visitas técnicas, os municípios visitados foram Pinhais, Piraquara, Quatro Barras,
Campina Grande do Sul, Colombo e Almirante Tamandaré na primeira. Almirante Tamandaré (Mer-
gulhão), Campo Magro, Campo Largo e Araucária na segunda. Todos os municípios pertencentes ao
primeiro anel metropolitano.
3 É o BID quem pauta através da imposição de planos de desenvolvimento e orientando a forma
de utilização dos financiamentos quem pauta a dinâmica na construção do turismo no Brasil e a inser-
ção da região metropolitana de Curitiba (RMC). Ver também termo de referência do PRODETUR - BID
(2004), disponível no site do MTUR.
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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(RAFFESTIN, 1993), desenvolvendo suas potencialidades (ambientais, humanas,


econômicas), constituindo-se assim, como atores mais ativos na intervenção sobre
seu território.

Segundo Boisier et al (1995), o objetivo do desenvolvimento territorial é triplo:


(1) o aperfeiçoamento do território entendido não como um contendor e suporte
físico de elementos naturais, mas como um sistema físico e social estruturalmente
complexo, dinâmico e articulado; (2) o aperfeiçoamento da sociedade ou comunidade
que habita esse território; (3) o aperfeiçoamento de cada pessoa, que pertence a essa
comunidade e que habita esse território.

Dentro desta perspectiva, é importante destacar que os autores citados tratam


da armadilha local. Ressaltam que não há, a priori, uma escala adequada, ideal, ao
desenvolvimento, nem local, nem regional, nacional ou mesmo global. O alcance dos
objetivos a que os processos de desenvolvimento se propõem, estão relacionados
ao empoderamento dos atores que usam e atuam sobre o território, e isto se dá em
diferentes escalas.

Se por um lado, a escala local normalmente se torna a esfera privilegiada


para os processos de desenvolvimento, pois é nela que os indivíduos mais interagem,
cooperam, trocam informações e estabelecem mecanismos de controle e coesão,
por outro lado, isso não se faz sem a interação com outras escalas. Esta interação
está próxima ao que os referidos autores denominam de teoria das redes. Ou seja, o
estabelecimento de redes entre escalas, ou, a interação entre as escalas socialmente
construídas, é o que vem tornando as experiências coletivas sementes e brotos de
transição para processos de desenvolvimento territorial.

É neste cenário de multidimensionalidade de atores e escalas, e no caso


brasileiro, com a redemocratização do Estado que emerge o poder da sociedade civil,
como um ator central nos processos de desenvolvimento territorial. Ou ainda, incapaz
de acompanhar as rápidas mudanças em curso, o Estado passou a sofrer sucessivas
alterações nas suas funções e incumbências, alterando o seu caráter centralizador
para uma forma mais suscetível e permeável à participação das diversas instâncias
e organizações da sociedade civil. (SCHNEIDER e TARTARUGA, 2004, SCNEIDER,
2009). Assim sendo, em regiões periféricas, nas quais predomina a agricultura familiar,
a participação e o protagonismo da sociedade civil e demais atores locais em ações
voltadas ao desenvolvimento, colocam-se como essenciais para que estes processos
venham atender as especificidades, as demandas, as necessidades territoriais.

Por sua vez, esta participação local, seja de agricultores familiares ou suas
instituições/organizações, pode ser territorializada a partir da governança. A própria
abordagem territorial do desenvolvimento se coloca muito próxima a esta questão
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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devido à multidimensionalidade do poder presente e atuante sobre o território:


Uma análise mais detalhada, mostra que o enfoque territorial é permeável
às noções de governança (interação e regulação entre atores, instituições
e Estado) e de concertação social ou coordenação de interesses de
atores que transcorrem em um espaço determinado que é o território.
Tanto a governança como a participação passam a ser entendida como de
fundamental importância para determinar o novo papel das organizações e
instituições locais (SCHNEIDER e TARTARUGA, 2004, p.13).

A respeito das mudanças que ocorreram no meio rural, SILVA (2000) destaca que:

“há quase 15 milhões de pessoas economicamente ativas no meio rural bra-


sileiro. Destas, 4,6 milhões (quase 1/3), trabalham em ocupações não-agríco-
las que cresceram em média 3,7% ao ano na década de 90. Em contraparti-
da, o emprego agrícola, substituído pela mecanização no campo, vem caindo
a uma taxa de 1,7% ao ano neste mesmo período. Por esta e outras razões,
hoje não podemos mais caracterizar o meio rural brasileiro como sendo estri-
tamente agrário.”[...] “está cada vez mais difícil delimitar o que é rural
e o que é urbano... ...Pode-se dizer que o rural hoje só pode ser
entendido como um “continuum” do urbano do ponto de vista espa-
cial; e do ponto de vista da organização da atividade econômica, as
cidades não podem mais ser identificadas apenas com a atividade
industrial, nem os campos com a agricultura e a pecuária.”4

A principal conclusão obtida na fase I do Projeto Rurbano foi constatar o


crescimento da população rural economicamente ativa embora o emprego agrícola
vir caindo desde meados dos anos 80. Para explicar este fato, a pesquisa sugeriu
que a compensação das perdas de postos de trabalho no setor agrícola, têm sido
compensada com o aumento de número de atividades não-agrícolas no meio rural.
Em “O novo rural Brasileiro”, Silva (2000) destaca o crescimento de três setores
não relacionados a nenhuma atividade agrícola, que são os seguintes: Atividades
relacionadas às indústrias no meio rural, em particular, as agroindústrias; atividades
relacionadas à crescente urbanização do meio rural, sejam na forma de moradias,
turismo, lazer e até mesmo a preservação ambiental; crescimento das residências
secundárias no meio rural, as chamadas chácaras ou sítios de recreio, destinadas ao
lazer de famílias de classe média urbana.

Em relação à renda familiar, o Projeto Rurbano destacou que no período entre


4 A partir da divulgação pelo IBGE dos microdados das Pesquisas Nacionais por Amostra de
Domicílios (PNADs) de 1992, um grupo de 25 pesquisadores, coordenados pelos professores José
Graziano da Silva e Rodolfo Hoffmann do Instituto de Economia da Unicamp, iniciaram uma pesquisa
multidisciplinar, com a finalidade de se caracterizar a população residente no meio rural brasileiro e do
paulista em particular. Tal pesquisa, denominada de Projeto Rurbano, que visava basicamente a re-
construção das séries históricas a partir dos microdados das PNADs para o período 1981/95, relativos
à população ocupada, emprego e renda e com eles identificar o comportamento do novo rural que se
configurava no Censo Agropecuário, porém impossível se ser captado pelos dados colhidos em campo.
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1995 e 1997, houve uma queda da renda “per capita” dos agricultores familiares
– entendidos como aqueles que trabalham por conta-própria e não contratam
trabalhadores permanentes. Como consequência disso, observa-se uma crescente
importância das atividades não-agrícolas entre as famílias rurais por conta-própria. Em
outras palavras pode-se dizer que as famílias rurais estão deixando a atividade primária,
passando a procurar outras fontes de renda, através de atividades não-agrícolas. Os
resultados do Projeto Rurbano destacam que o meio rural brasileiro, à semelhança do
que ocorre em outras partes do mundo, apresenta uma crescente diversificação de
atividades agrícolas e não-agrícolas; e o que é ainda mais significativo, enquanto as
atividades agrícolas vêm reduzindo o nível de ocupação e gerando cada vez menos
renda, as atividades não agrícolas no meio rural vêm aumentando o número de
pessoas ocupadas e proporcionando uma renda significativamente maior do que as
obtidas nas atividades primárias (agropecuárias).

2. A REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

A Região Metropolitana de Curitiba concentra 27% da população paranaense


e tem participação significativa no Valor Adicionado do Estado - 38,48%. (IPARDES,
2010). Atualmente, a Região Metropolitana de Curitiba é constituída por 26 municípios
com uma população de 3.172.127 habitantes (IBGE, 2010). Destes, apenas 250,859
habitantes são residentes rurais. É a maior região metropolitana do Brasil, onde se
observa grandes diferenças entre estes, especialmente quanto se trata de identificar
a dinâmica de interação diária de pessoas, produtos e atividades e nas formas de
apropriação do território. Nota-se ainda um extraordinário esforço das políticas públicas
do meio rural se inserirem nos municípios, pelas disputas do uso do solo em áreas de
preservação ambiental (Mapa 1).

MAPA 1 - LOCALIZAÇÃO DO PARANÁ, A REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA E O


NÚCLEO URBANO CENTRAL (NUC)
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Fonte: LACAY, 2012

No entanto, a maioria do território da Região Metropolitana de Curitiba apresenta


um dado comum, pois 89% do total do território é constituído por áreas com algum
grau de urbanização – desde suas vilas até a metrópole. (IBGE, 2010; IPARDES,
2003; PARANA, 2006). Entre os municípios da região metropolitana se apresentam
diferenças na quantidade de população; níveis de renda; níveis de escolaridade;
densidade habitacional; infra-estrutura urbana; equipamentos e serviços urbanos,
muitas dessas ações oriundas de políticas públicas estão configuradas sobre 3 pontos
(MOURA e ULTRAMARI, 1994; MOURA, 2003): ordenamento do uso do solo, sistema
viário e transporte coletivo. Após 40 anos, o contexto urbano curitibano continua
sendo privilegiado em relação aos municípios vizinhos. Fazendo uma leitura da
densidade populacional e fluxos de deslocamentos diários na região metropolitana, se
evidenciam 3 anéis. O primeiro anel é formado pela cidade-polo, Curitiba e outros 11
municípios (Almirante Tamandaré, Araucária, Campina Grande do Sul, Campo Largo,
Campo Magro, Colombo, Fazenda Rio Grande, Pinhais, Piraquara, Quatro Barras e
São José dos Pinhais). É nesses municípios que a ação do turismo rural acontece, é
também nesses municípios onde se concentra a maior parte dos fluxos e deslocamentos
de pessoas para a grande cidade. Curitiba tradicionalmente polarizou o processo de
ocupação na região e no próprio Estado. Atualmente, Curitiba concentra 61,5% da
população da RMC – ou seja, 1,797,408 habitantes – e apresenta os melhores índices
urbanísticos, econômicos e sócio-culturais dentre os 26 municípios. O segundo anel
de adensamento é constituído por 7 municípios que não mantém continuidade física
com a mancha urbana polarizada por Curitiba e nos quais existe um nível médio de
atendimento de infra-estrutura e serviços públicos urbanos, sendo que nesse contexto
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se observam ‘ilhas’ de riqueza quanto ‘ilhas’ de miséria. Os municípios do segundo


anel metropolitano mantêm, entretanto, relações frequentes com o polo.

O terceiro anel é formado por 7 municípios de características eminentemente


rurais, cuja dinâmica econômica se encontra assentada sobre a atividade florestal
e pequenas propriedades rurais, tradicionalmente com fluxos migratórios negativos
e com uma baixa densidade populacional. Se reconhece ainda essa diferenciação
quando municípios do Vale do Ribeira são portadores dos mais baixos índices de
desenvolvimento humano do Estado.

2.1 A modernização conservadora d na RMC

A década e 70 foi um marco do processo concentração fundiária (PEREIRA et al.,


2010) e de urbanização do sul do Brasil e especialmente da metropolização nacional
(MOURA e KLEINKE:1999, MAGALHAES, 1996, 2003). A agricultura tradicional
paranaense modernizou-se com a adoção de técnicas poupadoras de mão de obra que
aumentaram a produtividade e elevavam as condições de produção e competitividade
no mercado internacional, com produtos como a soja, milho e derivados: também
ocorre a ampliação da pecuária e da produção agroindustrial de proteína animal em
larga escala. A produção agroindustrial elevou a renda da produção capitalista do
setor de 40% na década de 70 para mais de 50% nos anos 90 do total da riqueza
gerada no Paraná.

Como resultado desse processo desde os anos 70, 82% dos 399 municípios
paranaenses passaram por um esvaziamento populacional. Grande contingente dessa
população expulsa do Estado do Paraná migrou para regiões chamadas de novas
fronteiras agrícolas, locais distantes como o Estado de Rondônia ou para o Estado do
Mato Grosso, ou ainda se aventuraram em países vizinhos como o Paraguai e Bolivia
em busca de opções para atividades ligadas a agricultura. Os de menos condições
ficaram marginalizados na RMC.

É também na década de 90, que se instalaram indústrias do segmento metal-


mecânico na RMC, com destaque para multinacionais montadoras de automóveis
como Audi e Renault. Esse fato provocou transformações diversas inclusive na
estrutura de uso e ocupação do solo, valorização dos imóveis, além de aumentar das
pressões por demandas de serviços públicos e infra-estrutura ao atrair população de
vários locais do país e do interior do Estado em busca de oportunidades de emprego.
O polo automotivo que se constitui na região metropolitana foi viabilizado graças ao
provimento de infra-estrutura e recursos como energia elétrica além de generosos
estímulos fiscais. O primeiro anel metropolitano tornou-se ainda mais denso e terminou
por reproduzir um padrão de concentração similar ao que já vinha ocorrendo noutras
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cidades capitais do sul e sudeste do Brasil5.

Curitiba, a Região Metropolitana acumula 31,9% da população, com altos


contrastes que combinam o aglomerado urbano mais importante do Estado (Curiti-
ba) com os de maior pobreza (Vale do Ribeira). Há, portanto, uma combinação de
espacialidades socialmente críticas com outras de extrema relevância econômica e
institucional; entre seus municípios alguns com elevado grau de desenvolvimento en-
quanto outros caminham para descobrir a sua vocação (IPARDES, 2006). Entretanto,
o progresso conjunto enfrenta a necessidade do desenvolvimento de corresponsabi-
lidade de todos os municípios, precisando de ajustes em cada uma das questões ao
desenvolvimento regional de interesse comum.

2.2. O turismo rural metropolitnano, os dados do Censo Agropecuário no Paraná


e RMC.

O turismo, como atividade típica da modernidade capitalista (BAUMAN, 2006)


é uma combinação complexa de inter-relacionamentos entre produção e serviços,
em cuja composição integram-se uma prática social com base cultural, com herança
histórica e, um meio ambiente diverso, com uma cartografia natural, com relações
sociais de hospitalidade numa troca de informações interculturais. O somatório desta
dinâmica sociocultural gera um fenômeno, recheado de objetividade/subjetividade,
consumido por milhões de pessoas, como síntese: o produto turístico6..

No espaço rural, a análise do turismo na Mesorregião Metropolitana de Curitiba


demonstra a relevância que a atividade adquire ao longo dos últimos anos, a alternativa
de renda nas pequenas propriedades rurais da mesorregião e, não menos importante, à
capacidade de incorporar grandes contingentes de pessoas, pela introdução da modali-
dade de turismo de massa versus o turismo de elite que até os primórdios da década de
90 se praticava na região.

Mas o espaço rural metropolitano convive com uma grande diversidade: há


uma profusão de atividades que acontecem no espaço rural e que podem ser confun-
didas como serviços turísticos. Para poder analisar o estado da arte do turismo rural
definiu-se dois grupos de informações representativos. Uma primeira leitura se faz a
partir dos dados do censo agropecuário 2006. Com os dados, se tenta identificar os
estabelecimentos que obtiveram receita com a atividade de turismo rural. Posterior-

5 Não da para negar alguns aspectos positivos, tais como ao aumento da produção industrial. Se
em 1996 a indústria da Região Metropolitana de Curitiba era 7,8 vezes menor que a indústria instalada
na cidade de São Paulo – polo industrial nacional e maior cidade da América Latina – em 2000 essa
proporção diminui para 5,3 vezes. (DESCHAMPS, 2004)
6 Bauman (op.cit, p.104-105) afirma que a sociedade posmoderna é uma sociedade que com-
promete a seus membros como consumidores o que introduziu diferencias enormes em quase todos
os aspectos da sociedade, da cultura e da vida individual.
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mente, se analisam os dados da pesquisa da cadeia produtiva do turismo na RMC, em


tabulações especiais para os empreendimentos rurais pesquisados.

Na tabela 1, os dados apresentam que o Estado do Paraná teve 26,5%


dos estabelecimentos da região Sul que obtiveram alguma receita com turismo rural,
sendo que os empreendimentos da agricultura familiar foram mais bem sucedidos
(26,9%). O Paraná, entretanto representou apenas 7,9% dos estabelecimentos agro-
pecuários do Brasil.

TABELA 1 NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS QUE


OBTIVERAM RECEITAS E AGRICULTURA FAMILIAR

NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS ATIVIDADES DE TURISMO RURAL


AGROPECUÁRIOS (Abs.) NO ESTABELECIMENTO
BRASIL, REGIÃO
Agricultura Agricultura Agricultura Agricultura
GEOGRÁFICA
E UNIDADE DA Não Não
FEDERAÇÃO Total Familiar Familiar Total Familiar Familiar
Brasil 3.620.670 589.5 3.031.170 3.551 1.363 2.188
Sul 805.401 123.618 681.783 942 354 588
Paraná 286.450 52.910 233.540 279 115 164
Brasil % coluna 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Sul 22,2 21,0 22,5 26,5 26,0 26,9
Paraná 7,9 9,0 7,7 7,9 8,4 7,5

Fonte: IBGE, 2006

Ao identificar a distribuição regional dos estabelecimentos que aferiram algum


tipo de renda pelas atividades de turismo rural, na tabela 2, dos 279 estabelecimentos
no Paraná, 69 estavam na Região Metropolitana, o que representa um quarto dos
estabelecimentos rurais de todo o Estado. Número este, significativo, tendo em vista
o valor agregado da agricultura na RMC é muito pequeno se comparado com outras
atividades da região. Com tudo, esse valor pode estar sinalizando que a atividade do
turismo rural deve servir como atividade complementar na propriedade rural, tendo
em vista o número de empreendimentos da agricultura não familiar envolvidos com a
atividade (33 contra 31 da agricultura familiar). Outra leitura desses dados pode estar
relacionada com a informalidade da atividade dentro da agricultura familiar, a ponto
de, mesmo realizar algum tipo de atividade vinculada ao turismo, essa atividade não
tenha sido declarada pelo seu proprietário. Uma última consideração pode ser produto
de quem declara no censo é o responsável pela propriedade7.

TABELA 2 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS


QUE OBTIVERAM RECEITAS NO ANO (UNIDADES)  

7 Lembra-se que neste caso, é muito comum que a atividade de café colonial, fabricação de pão,
compotas e geléias esta mais identificada com a mão de obra feminina. O estudo da Cadeia Produtiva
do Turismo (IPARDES, 2009) constatou que na gastronomia, há predominância da mão de obra femi-
nina.
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NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS ATIVIDADES DE TURISMO RURAL


BRASIL, REGIÃO AGROPECUÁRIOS (Abs.) NO ESTABELECIMENTO
GEOGRÁFICA,
UNIDADE DA Agricultura Agricultura Agricultura Agricultura
FEDERAÇÃO,
MESORREGIÃO
GEOGRÁFICA E Não Não
MUNICÍPIO Total Familiar Familiar Total Familiar Familiar
Paraná 286.45 52.91 233.54 279 115 164
Paraná 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Noroeste
Paranaense 8,3 10,8 7,8 5,4 0,9 8,5
Centro Ocidental
Paranaense 6,1 7,1 5,9 4,3 6,1 3,0
Norte Central
Paranaense 14,7 19,3 13,6 15,8 21,7 11,6
Norte Pioneiro
Paranaense 7,7 9,1 7,4 4,7 3,5 5,5
Centro Oriental
Paranaense 4,5 6,2 4,1 7,2 13,0 3,0
Oeste
Paranaense 15,9 15,5 16,0 15,8 8,7 20,7
Sudoeste
Paranaense 13,1 7,8 14,3 7,9 4,3 10,4
Centro-Sul
Paranaense 11,1 11,1 11,2 5,0 4,3 5,5
Sudeste
Paranaense 11,3 7,1 12,2 9,3 6,1 11,6
Metropolitana de
Curitiba 7,3 6,0 7,6 24,7 31,3 20,1

Fonte: IBGE, 2006

FERREIRA (2002) citando o grupo de trabalho do MADE destaca para o


novo rural que,

Essa outra face do rural é uma tendência em expansão, porém ainda


restrita. O rural e as pequenas cidades passaram a ser espaço residencial
para uma faixa da população que trabalha nos centros maiores e também
para aposentados. No entanto, por uma questão de mobilidade cotidiana e
de acesso a serviços, esse fenômeno se restringe às áreas mais próximas
das grandes e médias cidades. A precariedade do nosso meio rural constitui
um freio para que se consolide como espaço residencial nos moldes das
experiências européias e norte-americanas.[...] Em algumas regiões, cresce
nos espaços rurais periurbanos, o número de citadinos que se lançam
em empreendimentos agrícolas ou rurais com finalidades não agrícolas,
desenvolvendo um contínuo intercâmbio com as cidades e otimizando as
oportunidades disponíveis nos dois espaços (FERREIRA, 2002).

Os números do censo, embora pouco representativos quanto a quantidade,


são um claro indicativo da utilização do espaço rural como lugar de lazer e como pai-
sagem que tem um valor em si e que pode se tornar um recurso importante para atrair
atividades de desenvolvimento local naqueles municípios particularmente dotados de
recursos naturais atraentes e mais distantes do entorno metropolitano. Embora o pro-
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cesso não seja incipiente, ele ainda enfrenta vários obstáculos, como a existência de
conflitos entre os desenhos de políticas públicas e sua aplicação nos territórios, e a
ausência de uma boas estradas e serviços de infra-estrutura que propiciem uma base
às atividades turísticas no meio rural e em pequenas cidades.
Enquanto no urbano, a maioria dos estabelecimentos dedicados ao turismo
na RMC é composta por micro e pequenas empresas, muitas delas de caráter familiar,
com escassa capacidade financeira e com pessoal ocupado e de gestão pouco prepa-
rados, no rural, o perfil não é muito diferente.
Quanto ao conflito institucional das políticas públicas, as manifestações
ocorrem de duas formas diversas: a primeira, sob o comando da SEAB e suas vincu-
ladas na orientação dos municípios notadamente rurais; num segundo grupo, os mu-
nicípios com empreendimentos turísticos no espaço rural, fortemente aparelhados por
atividades de lazer e/ou urbanas no espaço rural, também chamado de agroturismo
(TULIK; 2003).

3. O RURAL NA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO: DADOS DA TABU-


LAÇÃO ESPECIAL DAS ATIVIDADES DE HOTELARIA E GASTRONOMIA NO RU-
RAL METROPOLITANO

Em geral, os equipamentos turísticos do espaço rural metropolitano


pesquisados 19 estabelecimentos de meios de hospedagem se auto classificaram
como rurais e 32 serviços de alimentação. Via de regra, esses equipamentos tem
como características gerais:
1. Uso limitado de inovação tecnológica. Mais individual.
2. Poucas estratégias voltadas para envolvimento da comunidade – (ver respostas
da comunidade);
3. Frágil relação entre os atores de governança local e regional – setores público
e privado e terceiro setor;
4. A pesar do esforço pela integração nos circuitos turísticos a imagem de região
(metropolitana) é fragmentada o que acaba por limitar o desenvolvimento da
atividade.
5. Desalinhamento dos órgãos do governo (público - público, público vs privado,
privado- privado, municípios vs região) e das necessárias parcerias entre as
diversas escalas de poder;
6. Competição espúria, o estabelecimento vizinho não é um competidor na região.
7. Embora utilizada, ainda é pouca a utilização da internet para promoção.
Essas características gerais são o resultado da opinião dos administradores ou
donos dos estabelecimentos que responderam os questionários a partir de diversos
temas que envolviam a análise da cooperação e dos entraves para o desenvolvimento
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da atividade. Vejamos o resultado por atividade.

3.1 Os meios de Hospedagem no rural metropolitano8


Dos 19 estabelecimentos, 05 hotéis fazenda, 01 SPA/resort, 08 pousadas e 01
camping, com um total de 700 leitos: 48% deles opera antes do ano 2000 (26% destes
entre 1990 e 2000); e 85% é atendido pelo proprietário.
• 75% oferece internet;
• Mais de 55% instalados antes de 2000, o que induz a pensar que modificações
e reformas dos equipamentos são necessárias.
• 40% depois do ano 2000 – RECENTE incorporação de inovações pauta;
aumento de competitividade do setor;
• 69% são únicos e 63% deles administrados pelo proprietário; já não é forte a
administração familiar na região,
• 22% cadeia nacional ou estadual à Competem no grande mercado!
• Média de escolaridade esta concentrada no ensino médio completo 31% e
superior 13%).Uma das medias mais altas do Estado o que permite margens
de competitividade em relação a outras regiões do Estado (IPARDES, 2009).
• Predominância do uso da mão de obra feminina 47%;
• 48% diz não exigir experiência de trabalho para contratação; só 27% realiza
treinamento da mão de obra, refletindo processos de terceirização em
andamento e contratação temporaria.
• Articulação com outros elos. 40% compra serviços na região, porém 84% afirma
comprar produtos da região
compras regionais e locais podem aumentar para fortalecer elos para trás
e para frente da cadeia; 76% contrata mão de obra local;
• 82% não utiliza financiamento e dos que utilizam, só 9% usa para investimento;
baixo uso do capital ( credito como instrumento de crescimento da atividade),
a questão não discriminava se o financiamento era PRONAF ou outra fonte de
crédito.
• A melhor media de participação em e associações de classe; 77% faz parte.
Porém, 78% não faz parcerias ou atividades cooperadas. Não há tradição da
região em trabalho cooperativo. Mas tampouco é incentivado pela governança
regional para melhorar eficiência coletiva (VISITA DE CAMPO, 2010).
• Contratar empregados qualificados esta entre uma das principais dificuldades
que enfrentam os estabelecimentos (61%), junto com Impostos e taxas (65%) e
manter os preços dos serviços (50%). Contraditório com a falta de capacitação,
pois o “Sistema S”; promove uma inclusão forçada no mercado com margens
8 Estes resultados formam parte das tabulações especiais para o rural metropolitano da disser-
tação (LACAY, M. 2012).
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menores, e os clientes, no entanto, procuram usufrir qualidade com preço


menor (VISITA DE CAMPO, 2010)
• Questões ambientais em pauta: 84% faz coleta seletiva; 75% faz controle de
desperdício de água e eletricidade, porém dos entrevistados 12% desconhece
o plano de gerenciamento de resíduos embora seja obrigatório para os meios
de hospedagem.

3.2 A Gastronomia
• 75% dos estabelecimentos estão em localizados na área urbana-central; 7%
na zona rural, 18 % urbano-periférico. Dos que estão no espaço rural, mais da
metade se instalou após o ano 2000.
• Autoavaliação de categoria 56% se considera de categoria médio. Há no en-
tanto 14% luxo ou superluxo O dobro da média do Paraná.
• 81% dos estabelecimentos são únicos e 86% administrados pelo proprietário;
sendo que 56% da mão de obra que trabalha nestes estabelecimentos é femi-
nina.
• Tipo de gastronomia mais comum 54% comida caseira, 26% Cozinha Interna-
cional; 20% churrasco; 19% comida regional;
• Maioria dos estabelecimentos foram instalados após o ano 2000 (51%).
• Não depende exclusivamente do turismo para crescer (92% clientes da própria
cidade); 53% oferecem marmitex. A divulgação depende predominantemente
dos impressos (67%) e do boca a boca pois 25% desse estabelecimentos não
faz divulgação.
• Novos hábitos de consumo em pauta. A origem dos clientes é de Curitiba nos
finais de semana (87,5%), durante a semana, quem trabalha atende a própria
cidade.
• 78% dos estabelecimentos informou não utilizar linha de crédito e 81% do total
afirma não ter problemas para obter crédito;
• entre as dificuldades apontadas para “ tocar o negócio” foram elencadas ques-
tões referentes a qualidade da mão de obra, sugerindo como política pública a
capacitação em nível médio para a região (72%) e a melhoria da infra-estrutura
(estradas, 59%). Há uma maior participação em associações e sindicatos nesta
atividade (62,5%).

3.3 A GESTÃO INSTITUCIONAL E A FALTA DE INTEGRAÇAO TURISMO


RURAL NA RMC: NOTAS DOS DESCOMPASSOS 9.
9 O trabalho de . Telles e Ribeiro (2010), apresenta um resumo é uma interessante reflex-
ão a respeito da construção dos circuitos turísticos e dos espaços de governança que se seguiram
desde 1998 na RMC.
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A Secretaria de Agricultura e Abastecimento e suas vinculadas, em especial


a EMATER, vêm trabalhando a organização de circuitos rurais desde 1998. Inicial-
mente, a proposta de organização desses circuitos tinha como objetivos primordiais:
1. Estabelecer uma proposta para o desenvolvimento sustentável em áreas
rurais dos mananciais.
2. Contemplar as Áreas de Proteção Ambiental, com um conjunto de ações
sistematizadas que promovam a geração de emprego e renda.
3. Recuperação de valores éticos/culturais das populações que promove-
ram a colonização destas áreas.
4. Ampliar as propostas em andamento, conjugando o Turismo Rural, como
uma alternativa aos modelos de desenvolvimento existentes.(NASCI-
MENTO E BELTRÃO:2004)

Como pode ser observado, a principal preocupação tem sido uma preocupação
preponderantemente ambiental que levasse ao desenvolvimento da região, além
do cuidado com os mananciais que abastecem à cidade de Curitiba e da região,.
A Secretaria preocupava-se na época com a organização institucional do turismo
nas prefeituras com o programa de municipalização do turismo PNMT. O programa
de turismo rural da SEAB foi pioneiro em aliar a preocupação ambiental (até hoje
presente) com o turismo rural:
“Aliado aos recursos naturais, as características predominantemente rurais
da população, possibilitam a exploração do Turismo Rural em propriedades
de agricultura familiar, onde o visitante tem a oportunidade de conhecer as
atividades típicas do trabalho no campo, a cultura local (com seu artesanato,
festas, arquitetura) e principalmente a gastronomia, que além de ser um
atrativo também é um serviço necessário”

O desenvolvimento do turismo na região já enfrentava outros problemas de


ordem institucional, e a mudança de autoridades municipais e do governo representaram
outros obstáculos para o distanciamento de alguns municípios do incentivo ao
desenvolvimento da atividade turística na região. Somando-se a isso, esta o fato do
mercado a quem se destina todo a organização do turismo rural: potencialmente é
para quem mora em Curitiba.
Fora de Curitiba, os produtores contavam com poucas formas de divulgação
efetiva para o grande mercado, pois além do abusivo uso do “buzz marketing”
ou marketing boca a boca, os diversos circuitos deveriam por um processo de
transformação em “produtos” que permitissem a sua negociação dentro da cadeia de
distribuição dos principais centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais - principais exportadores natos de turistas domésticos; ou em ultima instancia,
os colocasse diretamente na cadeia de distribuição via internet. Esse tem sido um dos
gargalos do processo de emancipação e autonomia dos pequenos empreendimentos
rurais para o turismo, como se observa mais adiante na análise das tabulações
especiais dos dados da cadeia produtiva (IPARDES, 2009).
A questão institucional por tanto, não transitava apenas pelas escalas da gestão
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institucional, tinha também o mercado como sinalizador. Os debates fundamentais


da participação comunitária na construção e subsidiariedade (complementaridade),
cooperação ou gestão das políticas públicas pelo Estado remetem também a análise
da descentralização e participação contidas na Constituição Federal (Art. 23 e 24).
No Paraná, a política realizada pelo Ministério do Turismo, e seguida pela
Secretaria de Estado do Turismo, defendia a criação de conselhos de desenvolvimento
da atividade em estados e municípios. Porém, mesmo com a criação deste na RMC, o
turismo foi um setor pouco relevante do ponto de vista social e tem sido mantido fora
das agendas de políticas públicas setoriais com um orçamento muito limitado, tanto
no Estado quanto nos próprios municípios envolvidos, e, em ambos os casos, na mais
das vezes, tornou-se moeda de troca de parlamentares para com seu reduto político
por cargos nos municípios e no próprio estado.
Além disso, a gestão do turismo rural trombou com orientações distintas
advindas dos gestores do desenvolvimento rural (EMATER/SEAB) e dos gestores
o desenvolvimento do turismo (SETU/PRTURISMO). Assim o desenvolvimento da
atividade turística no espaço rural contou com duas abordagens, uma orientada para
consumo do espaço rural, do lugar, e da paisagem, tentando reforçar a ruralidade e a
pluriatividade e assentada nas políticas públicas de desenvolvimento dos territórios.
A outra orientação, advinda do desenvolvimento do turismo e do Plano Nacional
do Turismo, que privilegiava o turismo como negócio, estimulando a formatação de
“produtos” e que tem esquecido o mais fundamental que é o planejamento do território
que de certa forma contradiz outras Se a cadeia produtiva tem de ser normalizada e
orientada poder público, o território tem de ser abordado como elemento fundamental
do processo, muito mais ainda se o elemento central desse território é a pequena
produção familiar.

Em visita técnica realizada nas ultimas semanas do mês de agosto de 2010,


foi constatada a existência de pequenos produtores rurais pertencentes a circuitos
turísticos desenhados no século passado e que hoje lamentam o fato das prefeituras
não dar seguimento ao processo (VISITA TECNICA 2, 2010). Foi constatado entretanto,
a convivência de algumas grandes propriedades com SPAs, bistrôs, restaurantes
de grande porte que só abrem nos finais de semana, assim como a existência de
restaurantes-haras, nos municípios de Quatro Barras, Campo Magro e Campo Largo.
Nesses municípios a mercantilização do espaço rural se generaliza e se banaliza: os
processos de troca, produção, distribuição e investimento passam a exaltar o urbano
dentro do espaço rural.

Numa outra visita técnica, observou-se que as estratégias de reprodução


social das famílias rurais da região contêm práticas que reforçam a condição de
pequeno produtor rural constituído pelas referências da vida camponesa oriunda
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de seus antepassados de colonização europeia (VISITA TÉCNICA 1, 2010). Alguns


deles, como constatado no município de Piraquara, Colombo e na Colônia Mergulhão
em Almirante Tamandaré já adaptaram seus empreendimentos rurais para o
aproveitamento do fluxo de excursionistas e visitantes da região nos finais de semana,
alguns com o agravante de ter abandonado a atividade rural por completo ao longo dos
10 a 12 anos de atividade. Essas mudanças, surgiram como forma de sobrevivência no
mercado turístico abonado pelos esforços de turistificação do território que a entrada
das parcerias da Secretaria de Turismo junto ao SEBRAE tem desenvolvido na região.
Por outro lado, esses produtores lidam também, com as pressões que surgem
da ampliação do urbano pelas políticas publicas municipais de expansão do perímetro
urbano e instalação de industrias, algumas altamente poluidoras, demandantes
em larga escala de recursos naturais (terra, água e infra-estrutura de esgotamento
sanitário e elétrica). Essas indústrias recebem de forma indireta um tratamento
diferenciado (captação de água própria, impostos pagos são vinculados ao ITR e
não ao IPTU, o pagamento de eletricidade consta como empreendimento rural, e há
certas liberalidades no tratamento do lixo e do esgotamento sanitário), que no entanto
representam oportunidades de emprego para as novas gerações das famílias na
região e que os coloca em estreita com o urbano e a indústria.
Constatações similares foram já elencadas por vários trabalhos (como
os de NASCIMENTO e BELTRÃO, 2004; CORONA, 2006; 2010; NITSCHE, 2007;
NITSCHE, NERI E BAHL 2007; CANDIOTTO, 2007; SILVEIRA, 2001; 2010; e TELES,
2008; POITEVIN et al., 2008). Na região metropolitana ainda coexistem tessituras e
diversos contextos de ruralidades (WANDERLEY, 1997, 1999, 2000). manifestados
quer seja na produção agropecuária para o mercado, na forte produção tradicional
para o consumo em feiras tradicionais de Curitiba e ou na venda de excedentes e
a pluriatividade. Também, no atendimento as demandas de alimento e mão de obra
locais, ou nas respostas as políticas públicas de modernização do campo que,
mais recentemente, disputam acirradamente o espaço com as preocupações de
conservação dos mananciais de água e dos remanescentes florestais decorrente das
políticas para o desenvolvimento sustentável e da agroecologia.
O rural metropolitano não é sinônimo de agrícola, há uma crescente influencia
da sua condição de periurbanidade e do movimento pendular da população e embora o
mercado seja um ponto de convergência é ao mesmo a arena de disputa dos recursos
públicos disponibilizados pelas políticas ou, do fluxo de visitantes que cresce sem
qualquer monitoramento: as lógicas do rural ali manifestadas vão servindo de marco
referencial para estudos mais abrangentes de seus efeitos no desenvolvimento do
território.
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4. CONSIDERAÇOES FINAIS

De fato, o turismo representa uma oportunidade para o desenvolvimento


socioeconômico de um território, porém é impossível generalizar esse fato como uma
verdade tautológica. Esse tem sido o pecado dos que defendem o desenvolvimento
do fenômeno turístico como panaceia do desenvolvimento em localidades onde
nenhum outro segmento econômico é capaz de produzir excedente econômico
para a reprodução do capital, nem consegue fortalecer redes locais para a criação
de sinergias. No caso da RMC é necessário conhecer o mercado, as escalas e os
processos de turistificação em andamento, caso a caso, nos espaços onde eles
proliferam para avançar numa vertente mais afinada com a chamada sustentabilidade,
além de identificar qual o relacionamento entre as escalas de poder: Federação, o
Estado e os Municípios, na construção dos chamados produtos e roteiros turísticos.
Quanto à construção das sinergias, convergências e os conflitos inerentes
às relações entre agentes e atores na produção dos espaços turísticos produto da
especialização produtiva regional, saliente-se a existência de uma farta bibliografia
trabalhada nas diversas tessituras da RMC e que tratam o espaço a partir das trans-
formações socioeconômicas e espaciais ocorridas na RMC. É preciso identificar onde
se insere o turismo e quais são os pontos de convergência para entender os já cons-
tatados conflitos da produção do turismo no espaço metropolitano e para que as polí-
ticas públicas queiram possam encontrar os pontos de convergência, seja do lado dos
órgãos e instituições do Estado (como a COMEC e a SEAB) que defendem o turismo
entre seus planos de desenvolvimento territoriais voltados ao pequeno produtor rural,
como aqueles que defendem o grande turismo e sua massificação (SETU, SEBRAE).
Porém, a intenção desta reflexão, limitada pelo espaço, foi no sentido de
enunciar em termos os conceitos de desenvolvimento e turismo rural mantem a
alguma inter-relação no espaço metropolitano de Curitiba. A primeira questão perpassa
por entender o que é a RMC e qual a relação do espaço rural periurbano enquanto
fenômeno que sintetiza as contradições de processos das múltiplas territorialidades
que nele convergem. Pelas fontes citadas e pelas visitas a campo, se constatou que
o rural exerce uma função de minimizador das pressões entre a agricultura comercial
e a agricultura familiar. O rural metropolitano joga um duplo papel social, ao integrar
propriedades da pequena produção familiar no circuito da comercialização de um
turismo, valoriza a propriedade e permite ganhos de renda adicionais em atividades
de serviços prestados em atividades de lazer.
Ainda, no caso específico da RMC, serve para amortizar uma compensação
ambiental, porque muitas das propriedades estarem encurraladas às restrições
de uso a tecnologias que permitiriam um ganho adicional de produtividade para a
limitada atividade agrícola e hoje conflitam com as bacias hidrográficas nas áreas
de mananciais que abastecem o urbano. Embora uma questão emblemática, esse
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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tema não foi objeto de análise neste momento, resgatando apenas a sua condição de
importância como variável que pressiona o mundo rural na RMC.
Outro objetivo deste trabalho foi apontar outros conflitos inerentes a aplicação das
políticas públicas: embora os esforços realizados pelos ministérios de Desenvolvimento
Agrário e do Turismo para estabelecer uma norma única para os empreendimentos
turísticos no meio rural, as políticas públicas do PRONAF, aplicadas com zelo pela
SEAB e suas empresas vinculadas, EMATER e IAPAR, não cumprem a mesma função
das políticas do turismo rural defendidos pelos Ministérios de Agricultura e Pecuária
-MAPA e do Turismo -MTUR, que pautam um padrões de “qualidade dos serviços”
e de competitividade da cadeia de valores do turismo similar aos empreendimentos
turísticos urbanos, padrão esse que vem sendo monitorado pela SETU (SEBRAE
e governanças regionais) no Estado. Essa divergência se reflete no espaço rural
metropolitano e nos diversos turismos praticados nele. E esse é apenas um reflexo
desses grandes dicotomias que compõem os processos de turistificação de territórios,
onde o importante é capitalização e aferição de lucros e não a sustentabilidade e o
desenvolvimento das populações locais.
A turistificação dos lugares ocorre por uma cada vez maior pressão pelo
consumo. o resultado dos processos de territorialização do turismo é medido pela
integração das novas regiões no consumo global. Uma rápida análise de como se
constrói a lógica dos atores (agentes e comunidade) é fundamental: É nas suas
representações do real, nos seus comportamentos singulares e nos seus sistemas de
valores, todos estes imbricados no território, que se formatam as novas territorialidades
e se consolida o processo de turistificação.
Uma expressão desse processo é que nem todas as formas de circulação e
mobilidade e turismo são acessíveis da mesma maneira para todos. O turismo, e mui
especialmente o turismo rural, traz à tona a necessidade de questionar se a política
pública deve se esforçar em manter e preservar a identidade e as singularidades do
rural, mesmo a revelia do crescimento do fenômeno pelo estimulo de seu consumo
como “produto”, ou, se seria necessário conter, antes que seja tarde demais as
influencias do mercado capitalista.

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Grupo de Trabalho 06
Turismo Comunitário e Inclusão Social

Coordenadores: Claudia Fragelli (CEFET/RJ); Eloise Botelho (UNIRIO); Luzia Neide


Coriolano (UECE); Edilaine Albertino de Moraes (UFJF).

Propomos o debate voltado à compreensão do papel do turismo na


recuperação psicofísica e ascensão sociocultural e econômica dos indivíduos,
na promoção da igualdade de oportunidades, da equidade, da solidariedade e do
exercício de cidadania; da inserção de pessoas, grupos e regiões que por motivos
variados podem ser considerados excluídos da fruição do turismo. Para isso
sugerimos a seguinte abrangência temática: Turismo e inclusão social; deficiência
e acessibilidade; grupos sociais de interesse turístico; histórico do turismo social;
turismo e estratificação social; segmentos populares em situação de vulnerabilidade;
pequenos e microempreendedores do turismo; efeitos multiplicadores do turismo;
políticas públicas de turismo e inclusão; Turismo: trabalho formal e informal.
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A ILHA DE ITAMARACÁ/PE E SEU TURISMO NÁUTICO: ANÁLISE DOS EFEITOS


MULTIPLICADORES E SEUS CONTRIBUTOS PARA O DESENVOLVIMENTO
LOCAL
Mariana Amaral Falcão1
Luís Henrique de Souza2
Maria Helena Cavalcanti da Silva Belchior3
RESUMO
Frequentemente, o Turismo assume perspectivas salvacionistas no que respeita aos
seus impactos econômicos positivos, sobretudo, pela difusão dos efeitos diretos,
indiretos e induzidos no contexto das comunidades anfitriãs. O presente artigo
destaca como objetivo central compreender a importância do turismo náutico para
o desenvolvimento econômico do município de Itamaracá, analisando os gastos
realizados com a renda gerada pelos turistas e seus efeitos multiplicadores no tecido
local. Utilizou-se o método de um estudo de caso, com abordagem quantitativa e
coleta de dados por intermédio de entrevista com os barqueiros e com o vice-
presidente da Associação de Jangadeiros do Forte Orange, única associação voltada
para o segmento do turismo náutico na localidade. De acordo com o que foi levantado,
pode-se perceber que o local onde é praticado o turismo náutico na Praia do Forte
Orange não apresenta infraestrutura adequada para a realização da atividade e que
os gastos no município se restringem a poucos setores da economia local, existindo,
também, uma significativa fuga de capital para fora da Ilha de Itamaracá, restringindo
a potencialidade de desenvolvimento local pelo Turismo.

Palavras-chaves: Ilha de Itamaracá/PE; turismo náutico; desenvolvimento econômico


local.

ABSTRACT

Frequently, the Tourism assumes salvationist perspectives with regard to its positive
economic impacts mainly by diffusion of direct, indirect and induced effects in the
context of host communities . This article highlights, as main objective, to understand
the importance of nautical tourism to the economic development for the municipality
of Itamaraca/PE, analyzing the expenses generated by the tourists`s income and
their multiplier effects on the local tissue. We used the method of a case study with
a quantitative approach and data collection through interviews with the boaters and
the vice-president of the “Associação dos Jangadeiros do Forte Orange”, which is
the only association from the locality focused on the segment of the nautical tourism.
According to what has been raised, it´s possible to realize that the place where it is
practiced nautical tourism at the “Praia do Forte Orange” does not have adequate
infrastructure to carry out the activity and the expenses in the municipality are restricted
to few sectors of the local economy, also, there are a significant capital evasion from
Itamaracá, restricting the potential of the tourism for local development.

Keywords: Ilha de Itamaracá/PE; nautical tourism; local economic development

1. INTRODUÇÃO
1 Graduada em Turismo pela Universidade Federal de Pernambuco
2 Professor do Departamento de Hotelaria e Turismo da Universidade Federal de Pernambuco
3 Professora do Departamento de Hotelaria e Turismo da Universidade Federal de Pernambu-
co
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O Estado de Pernambuco dispõe de um litoral propício para visitação turística


durante todo o ano. Devido à relevância do seu litoral, o estado é um destino que
possui grande potencial para o desenvolvimento do turismo náutico que se caracteriza
pelo uso de embarcações para a prática da atividade turística. Cruzeiros marítimos e
fluviais, passeios, excursões e outras viagens realizadas em embarcações náuticas
representam atividades que estão ligadas a essa ramificação do turismo.

Para as comunidades que vivem no litoral, o turismo náutico pode contribuir


para gerar e complementar a renda da população local, uma vez que os trabalhadores
que antes viviam da pesca, hoje, utilizam seus barcos também para oferecer serviços
de passeios turísticos, tal como acontece no município da Ilha de Itamaracá/PE, cujos
moradores da ilha e das cidades vizinhas oferecem travessias e passeios de barco da
Praia do Forte Orange para a Ilhota da Coroa do Avião. É importante avaliar a prática
desta atividade e a receita por ela gerada, analisando como esta atividade faz circular
renda no município e se a mesma contribui para ao desenvolvimento econômico
daquela localidade. Dessa forma, o presente trabalho pretende analisar os impactos
econômicos do turismo náutico na Ilha de Itamaracá através dos efeitos econômicos
diretos, indiretos e induzidos na economia local.

2. EFEITOS MULTIPLICADORES DO TURISMO NA ECONOMIA LOCAL

O turismo, enquanto atividade econômica e fato social, gera impactos positivos e


negativos no território em que se desenvolve. Segundo Lage e Milone (1996, p.93-94),
“a entrada de divisas, via setor turístico, é de grande importância para o crescimento
econômico dos países em desenvolvimento, [...] e é uma indústria intensiva de mão de
obra e, portanto, é um meio eficiente de gerar novos empregos”. Outro ponto positivo
é que o turismo pode ser um meio de redistribuição de riquezas, pois a renda que é
obtida em um lugar poder ser gasto em outro. Ainda de acordo com Lage e Milone
(1996) por possuir uma diversidade de atrativos naturais e culturais, o Brasil deve
estimular a atividade turística de maneira que haja uma melhora na distribuição de
renda nas localidades onde esses atrativos turísticos se encontram.

Segundo Cooper (2001) para fazer uma avaliação completa do impacto


econômico da atividade turística é necessário que outros fatores sejam considerados,
entre eles destacam-se os efeitos diretos, indiretos e induzidos. De acordo com Cooper
(2001, p.179-180) estes efeitos são assim descritos:

a) Efeitos diretos: quando os turistas gastam dinheiro em estabelecimentos


turísticos de “linha de frente”, como hotéis, restaurantes e táxis, permeando
depois através do resto da economia.
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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b) Efeitos indiretos: os estabelecimentos que recebem diretamente os gastos


dos turistas, também precisam adquirir mercadorias e serviços de outros
setores da economia local.

c) Efeitos induzidos: durante as rodadas diretas e indiretas de despesas, a


renda caberá a residentes locais, na forma de ganhos, salários, distribuição
de lucros, aluguéis e juros. Essa quantia que é acrescentada à renda local
será, em parte, gasta novamente na economia local, em mercadorias e
serviços, o que irá gerar ainda mais rodadas econômicas.

Nesse contexto, os turistas injetam seu dinheiro nos empreendimentos turísticos


como os meios de hospedagem, empresas de receptivo, empresas de turismo náutico,
locadoras de automóveis, entre outros. Esta injeção de renda corresponde ao efeito
direto. Seguindo este raciocínio, no efeito indireto, os empreendimentos que trabalham
diretamente com a área turística recorrem a outras empresas para desenvolver seus
serviços, e neste contexto, a receita gerada nos estabelecimentos turísticos da linha
de frente é repassada para a economia local através da aquisição de produtos e
serviços de outros setores da economia. Por outro lado, o efeito induzido ocorre
quando os empreendimentos turísticos pagam salários a seus funcionários e estes
realizam gastos na economia local.

Nesta dinâmica, observa-se que o dinheiro gasto pelos turistas circula por toda
a economia do destino, passando primeiramente pelos estabelecimentos turísticos
e chegando por fim a população local, que por sua vez gasta o dinheiro na própria
localidade. Quando a entrada ou saída dessa receita gera um aumento ou uma
diminuição do equilíbrio da renda, esse efeito é denominado efeito multiplicador (LAGE;
MILONE, 1996). O estudo desses multiplicadores permite que sejam analisados os
impactos gerados pelo turismo e com isso o planejamento da atividade reúne uma
maior eficiência.

Existem vários tipos de multiplicadores que podem ser utilizados para calcular
o impacto do turismo em qualquer economia. Segundo Lage e Milone, (1996, p.91) os
principais multiplicadores no turismo são:

a) Multiplicador de renda: representa as variações da renda interna causadas


pela variação inicial dos gastos turísticos;

b) Multiplicador de produto: demonstra as variações do produto, ocasionadas


pela variação inicial no nível de gastos turísticos;

c) Multiplicador de emprego: simboliza as variações do número de empregos


ofertados, causados pela variação inicial dos gastos turísticos;

d) Multiplicador de importações: indica o valor associado das importações de


bens e serviços com cada unidade de gasto adicional do turismo;
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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e) Multiplicador de receita do governo: representa o montante de receita do


governo, criada por cada unidade adicional de gasto turístico.

No âmbito dos efeitos diretos, indiretos, induzidos e dos efeitos multiplicadores


decorrem relações entre o turismo e diversos outros setores econômicos (relações
intersetoriais) no destino, pois cada setor influencia de alguma forma em outro, por
exemplo, uma agência turística recorre a uma gráfica para fazer os materiais de
divulgação da empresa, a gráfica procura uma papelaria para adquirir o material
necessário e a papelaria por sua vez compra os produtos diretamente com o fabricante.
Ignarra (1999, p.103) ressalta o potencial dessa ligação entre os setores afirmando
que “em função desse relacionamento com inúmeros fornecedores e da utilização
intensiva de mão de obra, o turismo possui um fator de multiplicação de renda muito
elevado”. Esse fator dependerá, sobretudo, da ligação entre os setores da economia
e do tipo de economia de uma área.

É importante ressaltar que todo impacto gerado pela atividade turística, seja
ele positivo ou negativo, deve ser considerado na hora de avaliar a contribuição
econômica do turismo para o destino receptor e como esses efeitos beneficiam o
desenvolvimento da localidade. O item seguinte discute a relação do turismo com
desenvolvimento local.

3 TURISMO DE BASE LOCAL: INTERFACES ENTRE TURISMO E


DESENVOLVIMENTO LOCAL.

Acredita-se que o turismo, além de contribuir para a economia, também pode


ajudar no desenvolvimento do destino. Diante desta perspectiva, a atividade foi
ganhando um novo foco e novas definições sobre desenvolvimento local e a sua relação
com o turismo foram criadas. Buarque (2008, p. 26) caracteriza o desenvolvimento
local como “o resultado de múltiplas ações convergentes e complementares, capaz de
quebrar a dependência e a inércia do subdesenvolvimento e do atraso em localidades
periféricas e promover uma mudança social no território.” Ou seja, o desenvolvimento
não se deve apenas a um fator econômico e sim a uma série de mudanças nas
condições de vida da população.

O autor ainda enfatiza a importância da interação com a comunidade e com as


condições do local para realização da atividade, de acordo com Buarque (2008, p.25):

Desenvolvimento local é um processo endógeno de mudanças, que leva


ao dinamismo econômico e a melhoria de qualidade de vida da população
em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos. Para ser
consistente e sustentável, o desenvolvimento local deve mobilizar e explorar
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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as potencialidades locais, contribuindo para elevar as oportunidades sociais


e a viabilidade competitiva da economia local; ao mesmo tempo deve
assegurar a conservação dos recursos naturais locais, que são à base das
suas potencialidades e condições para a qualidade de vida local.

De modo semelhante, Perroux (1967, apud TOMAZZONI, 2009, p.21) explica


que “desenvolvimento é a combinação de mudanças sociais e mentais de uma
população que a torna apta a fazer crescer, cumulativamente e de forma durável,
seu produto real e global”. Este não é um trabalho fácil e demanda tempo para que
seja realizada essa sensibilização da população, porém, não é algo impossível de
acontecer, como pode ser observado no exemplo abordado em Coriolano (1998)
sobre as comunidades de Flecheiras e Guajiru- CE. Os moradores se organizaram
na busca pelo desenvolvimento e tomaram consciência da sua força e da própria
capacidade de encontrar soluções. “Os habitantes, os recursos e os problemas de
um lugar constituem as bases de seu desenvolvimento, do qual todos os residentes
devem ser também os atores sociais.” (CORIOLANO, 1998, p.142).

Sabe-se que, apenas a atividade turística não tem poder para transformar
a realidade de uma comunidade, é preciso que exista uma preocupação do poder
público com as questões básicas e essenciais, além de investimentos oriundos do
setor privado que possam originar uma fonte de emprego e renda que favoreçam à
população local. Outro fator que se destaca, e que se conforma num dos facilitadores
do turismo, é a possibilidade de serem utilizados recursos já existentes na localidade,
buscando sempre explorá-los de forma sustentável para que haja um desenvolvimento
durável dessa atividade no plano local.

Denomina-se turismo de base local quando a atividade turística tem como


referência pequenas unidades político-administrativas, numa base territorial. Por
muito tempo, apenas as grandes regiões recebiam subsídios para o desenvolvimento
turístico da localidade. Com o passar dos anos a atividade e seus benefícios se tornaram
acessíveis às demais regiões e o desenvolvimento do turismo nas comunidades se
fortaleceu de forma que todas as decisões são tomadas na localidade, o que foi
denominado turismo de base local.

O conceito de turismo de base local, por muitas vezes, é confundido com o


conceito de turismo de base comunitária. Sansolo e Bursztyn (2009, p. 158) consideram
o turismo de base comunitária como:
A possibilidade de um novo paradigma para o turismo, cujas bases se assentam
nas relações de hospitalidade, da vontade de receber para intercambiar o
que se tem de mais caro, que é o sítio simbólico de pertencimento e de ser
recebido, estar aberto, viajar deslocando-se do seu centro de referência para
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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encontrar o outro.

Sendo assim, observa-se que, para os autores, o turismo de base comunitária


está ligado a interação entre os moradores e os visitantes, onde a comunidade é
beneficiada pela atividade turística. O turismo de base comunitária pode ser
caracterizado por essa organização social onde um grupo se une para desenvolver
a atividade turística de forma produtiva visando o desenvolvimento local. Enquanto
a essência do turismo de base comunitária é o social, o turismo de base local
caracteriza-se pelo enfoque no desenvolvimento do turismo numa área geográfica
limitada. No turismo de base local a população se une para desenvolver a atividade
turística participando efetivamente e exclusivamente da tomada de decisão, levando
em consideração a questão econômica como, por exemplo, a utilização da receita
gerada já que o objetivo é que essa renda circule na própria comunidade evitando que
haja um escoamento dessa renda para outras localidades.

Rocha et al (2007, p.355) destacam a relação da comunidade local com o turismo


declarando que “O turismo influencia de maneira sociocultural tanto os turistas como
a comunidade autóctone, bem como a relação entre esses dois atores.” Quando bem
trabalhada essa relação favorece o desenvolvimento local e da atividade turística, pois
há uma maior valorização da cultura daquela comunidade e há a geração de emprego
e renda, já os turistas se sentem satisfeitos com a receptividade e a experiência
vivida na localidade que suprem as suas necessidades hedônicas. Os autores ainda
reforçam a importância da inserção da comunidade na atividade, pois a mesma possui
papel fundamental nesse processo e influencia diretamente o sucesso da atividade.

Irving e Mendonça (2004, p.20) ressaltam que “do ponto de vista econômico e
mercadológico, os destinos que apresentam o modelo de base comunitária ainda não
são considerados sucessos de venda e consumo por turistas nacionais e internacionais”.
Mas ainda assim, esse tipo de turismo é bastante promissor. A participação efetiva da
comunidade em todas as etapas do desenvolvimento da atividade, desde a tomada
de decisão até a implantação das ideias é fundamental para que sejam alcançados
bons resultados. Estes serão obtidos em longo prazo e quando a população estiver
consciente do seu papel e disposta a trabalhar no projeto de desenvolvimento. Por
este raciocínio, esse destino terá um turismo de base local apropriado.

Quando os cidadãos são identificados a partir da sua história e da sua cultura


cria-se uma relação afetiva que, segundo Ferraz (2012), “possibilitará uma atividade
turística mais legítima, com uma comunidade efetivamente mais participativa, a visar
não apenas um crescimento econômico, mas uma atuação como indivíduo que cuida,
preserva, valoriza, dissemina a cultura que lhe faz parte.” Ou seja, a comunidade
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sente que se integra à atividade e percebe a sua importância no processo, sendo


assim se torna mais engajada.

A atividade turística tem contribuído com o desenvolvimento local e, por esta


via, vários programas e projetos estão sendo criados, como citam Irving e Mendonça
(2004, p.15): “Uma fração significativa dos programas de desenvolvimento local,
que foram ou estão sendo implementados no Brasil, tem tido o turismo como objeto
prioritário.” Como exemplo, no estado de Pernambuco, a Cooperativa de Prestação
de Serviços Técnicos e Agropecuários de Pernambuco – Coperata, criou o Projeto
de potencialização do turismo de base comunitária em Porto de Galinhas. O projeto
consiste em implantar e desenvolver uma proposta de turismo de base comunitária;
formular um Plano Estratégico de Gestão da Comercialização dos artesãos nas
comunidades locais; diagnosticar a produção artesanal e fomentar o resgate da cultura
para a elaboração de uma identidade do artesanato local e regional; incentivar o uso
de novas técnicas e materiais; implantar um sistema de divulgação pela produção de
embalagens, material impresso e virtual; e desenvolver um Plano de Marketing para
o lançamento dos produtos.

Dessa forma, o estado de Pernambuco tem explorado o potencial que a atividade


turística de base local possui, ao promover campanhas como “Pernambuco conhece
Pernambuco” que visa à prática do turismo nas cidades do interior e do litoral. Dentre
esses destinos, o município da Ilha de Itamaracá se destaca pela sua diversidade de
atrativos turísticos, notadamente, pela potencialidade da prática do turismo náutico,
objeto de análise da discussão que se segue.

4 TURISMO NÁUTICO

De acordo com o dicionário Aurélio, o termo náutico é relativo à palavra náutica


que significa a arte da navegação sobre a água (FERREIRA, 2010). Quando essa
navegação se dá com intuito de passeio turístico a mesma é considerada como turismo
náutico. O Ministério do Turismo (2010, p.14) conceitua o turismo náutico como uma
atividade que “caracteriza-se pela utilização de embarcações náuticas como finalidade
da movimentação turística.”

Durante muito tempo o transporte náutico foi utilizado com fins de tráfego
comercial, de descobrimento de novos lugares, entre outros. Segundo Montejano
(2001) a partir de 1900 até a década de 1950 os transatlânticos eram o meio de
transporte mais importante e o único apto para viagens de longa distancia. Porém,
do período que compreende a segunda guerra mundial até a década de 1970 o
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desenvolvimento da aviação voltada para a área comercial fez com que o meio de
transporte náutico entrasse em decadência, só a partir dos anos de 1970 que os
transatlânticos voltaram a ter mais visibilidade ao serem utilizados para realização de
cruzeiros turísticos. “O “crucerismo” é um sistema de serviço turístico conhecido já no
século XIX e no começo do século XX que atualmente voltou à moda”. (MONTEJANO,
2001, p. 222). Atualmente esses cruzeiros estão mais acessíveis permitindo que mais
turistas também possam usufruir desse serviço.

Além dos navios transatlânticos, o segmento do turismo náutico se caracteriza


pelo uso de embarcações de diferentes modelos e tipos, cada uma adequada para
atender a objetivos e necessidades específicos. Segundo o Ministério do Turismo
(2010), de acordo com o tipo e porte da embarcação, delimita-se uma área de
navegação que dependerá também das condições e características do local onde a
atividade se realiza, como por exemplo, se é em mar aberto ou em águas interiores.
A Marinha do Brasil por meio da NORMAM03-DCP – Normas da Autoridade Marítima
para Amadores, Embarcações de Esporte e/ou Recreio e para Cadastramento e
Funcionamento das Marinas, Clubes e Entidades Desportivas Náuticas – classifica os
tipos de embarcação em: (MARINHA DO BRASIL, 2013, p.13).

a) Para navegação interior: são aquelas realizadas em águas consideradas


abrigadas, dentro dos limites estabelecidos pela Capitania local para esse
tipo de navegação;

b) Para Navegação de Mar Aberto: São aquelas realizadas em águas


marítimas consideradas desabrigadas.

Após identificar o tipo da embarcação, é indicada a área em que a mesma pode


circular que são divididas em quatro tipos, conforme verificado em Marinha do Brasil
(2013, p.13):

a) Navegação Interior 1- aquela realizada em águas abrigadas, tais como


lagos, lagoas, baías, rios e canais, onde normalmente não sejam verificadas
ondas com alturas significativas que não apresentem dificuldades ao tráfego
das embarcações;

b) Navegação Interior 2 - aquela realizada em águas parcialmente abrigadas,


onde eventualmente sejam observadas ondas com alturas significativas e/ou
combinações adversas de agentes ambientais, tais como vento, correnteza
ou maré, que dificultem o tráfego das embarcações;

c) Navegação Costeira - aquela realizada entre portos nacionais e estrangeiros


dentro do limite da visibilidade da costa, não excedendo a 20 milhas náuticas;

d) Navegação Oceânica - também definida como sem restrições (SR), isto


é, aquela realizada entre portos nacionais e estrangeiros fora dos limites de
visibilidade da costa e sem outros limites estabelecidos.
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Com base nas normas estabelecidas pela Marinha, a atividade náutica pode
se realizar de forma adequada e segura sendo imprescindível que os responsáveis
pela utilização dessa atividade para fins turísticos cumpram essas prerrogativas,
garantindo a segurança dos clientes que, de acordo com a nomenclatura turística, são
denominados “turistas náuticos”. Segundo o Ministério do Turismo (2010), analisar os
recursos naturais existentes no destino, verificar se o mesmo é propício à navegação e
identificar os que apresentam potencial para atrair os turistas são os primeiros passos
para o desenvolvimento da atividade. Importa destacar que os recursos devem possuir
características que sejam essenciais a atividade como o clima, a fauna e a flora e a
qualidade da água e do solo próximo ao recurso hídrico. Além dos atrativos naturais, a
infraestrutura existente no local é imprescindível para que a atividade possa acontecer
de forma positiva como afirma o Ministério do Turismo (2010, p.42):

A operação de um empreendimento náutico envolve diversas


responsabilidades e questões administrativas, tais como: segurança, acesso,
plano de emergência (incêndio), resgate de barcos, terminal de passageiros,
coordenação de competições, regatas e festividades, manutenção, seguros,
treinamento de marinheiros, escolas de vela e outros ofícios náuticos,
previsão do tempo, tábua de marés etc.

Sendo assim, observa-se a importância da realização de um estudo do


ambiente para identificar as potencialidades locais. Analisar essas potencialidades
juntamente com a viabilidade econômica da atividade favorece o turismo náutico e o
próprio destino em vários aspectos, mas é necessário também um estudo do mercado
para avaliar a rentabilidade do turismo náutico no destino.

O mercado turístico precisa estar sempre inovando e buscando adaptar-se


ao perfil exigente dos consumidores. No caso do turismo náutico é necessário estar
atento à diferença entre os tipos de turistas; à infraestrutura do destino e aos serviços
oferecidos, pois, esses são fatores que influenciam na escolha dos locais a serem
visitados. De acordo com o Ministério do Turismo (2013) a atividade náutica possui um
grande potencial enquanto geradora de emprego e renda.

Observa-se que o Brasil possui grande tendência para o desenvolvimento do


turismo náutico por possui uma rica hidrografia. Pernambuco é um dos estados onde
a atividade se destaca, juntamente com os demais estados do nordeste e o Rio de
Janeiro. O estado pernambucano conta com uma relevante infraestrutura náutica e
diversos projetos que visam melhorar a atividade e potencializá-la, como o projeto de
sinalização náutica e o projeto de navegabilidade dos Rios Capibaribe e Beberibe,
que cortam a cidade do Recife. Conforme Eicomnor (2012), também se destacam
como práticas de turismo náutico no estado: o passeio de jangadas para as piscinas
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naturais da Praia de Porto de Galinhas; os passeios de barco e catamarã entre a


Praia de Guadalupe e a Praia de Carneiros, no litoral sul do estado; o passeio de
barco visitando as vinícolas da região de Petrolina; diversos passeios náuticos no
Arquipélago de Fernando de Noronha; a travessia entre o Bairro do Recife e o Parque
de Esculturas Brennand no Porto do Recife, o passeio de catamarã pelo Rio Capibaribe
na região central do Recife, além da travessia entre a Praia do Forte Orange e a Ilhota
da Coroa do Avião, no canal de Santa Cruz, entre os municípios de Itapissuma e Ilha
de Itamaracá, objeto deste estudo, cuja metodologia é detalhada no item seguinte.

5. METODOLOGIA

O objeto de estudo desta pesquisa se debruça na análise do turismo náutico


na Ilha de Itamaracá/PE, através das travessias diárias entre a praia do Forte Orange
e a ilhota da Coroa do Avião. A responsabilidade pelas travessias é da Associação
dos Jangadeiros do Forte Orange que existe há 14 anos e conta com 30 associados
divididos em dois grupos que revezam os dias de trabalho. A associação funciona de
domingo a domingo no horário das 7h às 17h. No sentido de viabilizar os objetivos
desta pesquisa, foram utilizados alguns procedimentos metodológicos os quais estão
descritos a seguir.

A pesquisa possui caráter descritivo no qual de acordo com Heerdt e Leonel


(2007, p.65) “o pesquisador não interfere na realidade, apenas observa as variáveis
que estão vinculadas ao fenômeno e as suas conclusões consideram o conjunto de
variáveis que podem estar correlacionadas com o objeto da investigação.” O trabalho
propôs uma análise descritiva de como é realizado o turismo náutico e da ligação
entre o segmento e o desenvolvimento local. A abordagem empregada é quantitativa
e, desta forma, foram utilizadas variáveis relacionadas ao perfil dos entrevistados,
a caracterização do turismo náutico na localidade e a compreensão dos efeitos
econômicos diretos, indiretos e induzidos no município de Itamaracá; e utilizou-se a
estatística descritiva para a análise dos dados coletados.

Para a coleta de dados foram utilizados dois questionários do tipo estruturado:


o primeiro, que foi direcionado ao vice-presidente da Associação dos Jangadeiros do
Forte Orange; e o segundo, direcionado aos 30 barqueiros da associação. A coleta
de dados ocorreu no mês de março de 2013. O primeiro questionário possuiu 25
perguntas e se dividiu em três partes: a primeira, caracterização do perfil do vice-
presidente; a segunda; caracterização da atividade; a terceira, sobre a injeção da
receita gerada pelo turismo náutico nos empreendimentos do próprio município. O
segundo questionário, direcionado para os barqueiros, é composto por 12 perguntas
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e se divide em duas partes: a caracterização do perfil e o estudo da contribuição da


atividade turística náutica para a economia.

6. ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS

As respostas para as perguntas sobre a caracterização do perfil indicam


que o entrevistado é do sexo masculino, tem 48 anos de idade e possui o grau de
escolaridade fundamental incompleto. O mesmo é natural de Itamaracá mas reside em
Itapissuma, cidade vizinha. Além de vice-presidente, o entrevistado também trabalha
há mais de 15 anos como jangadeiro, realizando travessias entre a Ilha de Itamaracá
e a Coroa do Avião. Assim como os demais barqueiros, o vice-presidente não possui
outra atividade remunerada, apenas a atividade turística náutica. Conforme dados
coletados, todos os associados participaram de capacitações em cursos de idiomas
(inglês) e excelência no atendimento. Por outro lado, os barqueiros da Associação que
foram entrevistados são predominantemente do sexo masculino e a média de idade
varia entre 34 e 60 anos. Apenas 7% dos entrevistados concluíram o ensino médio, os
outros 93% afirmaram ter cursado apenas o ensino fundamental.

Dos 30 associados, 25 residem em Itapissuma, o que totaliza 83% da amostra,


enquanto apenas 17% moram em Itamaracá (ver gráfico 1).

Gráfico 1. Local de residência dos associados


Fonte: dados da pesquisa (2013).

O tempo de serviço varia pouco, conforme observado no gráfico 2, 20%


trabalham na área há aproximadamente 10-15 anos e 80% trabalham há mais de 20
anos.
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Gráfico 2. Tempo de serviço no turismo náutico


Fonte: dados da pesquisa (2013).

No quesito renda mensal, os barqueiros não souberam afirmar com precisão a


média de quanto faturam por mês, mas todos concordaram que varia muito de acordo
com a época do ano. Nos períodos de alta estação, a renda pode chegar a mais
de seis salários mínimos, enquanto em alguns meses de baixa estação os mesmos
conseguem faturar cerca de três salários mínimos.

6.2 CARACTERIZAÇÃO DO TURISMO NÁUTICO NA PRAIA DO FORTE


ORANGE, ILHA DE ITAMARACÁ/PE

Na segunda parte do questionário direcionado ao vice-presidente as perguntas


tiveram o intuito de caracterizar a atividade realizada pelos associados. Atualmente
a associação conta com 30 associados, cada qual com sua própria embarcação
totalizando dessa forma 30 barcos, todos confeccionados com fibra de vidro, conforme
ilustrado na figura 1.

Apesar de contar com um píer, o embarque não é feito na estrutura e sim


diretamente na areia da praia. Os barcos ficam próximos à sede da associação e
são levados ao mar à medida que os turistas vão aparecendo, o tempo de viagem de
cada travessia é de aproximadamente três minutos para ir e três para voltar e o preço
cobrado, à época da pesquisa, é de dez reais por pessoa. Há uma ordem de saída,
cada associado é numerado e só podem realizar a travessia no momento em que é
solicitado. No final do expediente as embarcações permanecem na praia ao redor da
sede sob a vigilância do segurança contratado pela Associação (ver figura 2).)
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Figura 1. Embarcações da associação Figura 2. Embarcações ao redor da associação


Fonte: Acervo dos autores (2013) Fonte: Acervo dos autores (2013)

Todos os barcos são de pequeno porte, possuem seis lugares cada, número máximo
de lugares estipulados pela própria Associação e dispõem de colete salva vidas como
medida de segurança para os passageiros.

Assim como grande parte dos segmentos turísticos, o turismo náutico também
apresenta características da sazonalidade. Segundo o vice-presidente da associação,
o período de alta temporada se inicia no final de dezembro e se estende até o mês
de fevereiro. Durante esse período, em média, são transportados cerca de 10.200
passageiros e são realizadas aproximadamente cerca de 1.700 travessias, o que dá 57
travessias por dia, dividida por 16 embarcações, pois vale ressaltar que os associados
revezam os dias de trabalho. De acordo com o vice-presidente esse número varia,
pois nem sempre as embarcações saem completas, com os seis lugares ocupados,
sendo assim, o número de travessias pode aumentar ou diminuir.

Já o período de baixa estação é verificado no período de março até o início de


dezembro, tendo abril e maio como os meses de menor fluxo turístico. Nesse intervalo
são realizadas, em média, cerca de 170 travessias e o número de passageiros
transportados é de aproximadamente 1020 pessoas (ver gráficos 3 e 4).
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Gráfico 3. Sazonalidade da atividade turística Gráfico 4. Sazonalidade da atividade turística


náutica: Número de travessias náutica: Número de passageiros
Fonte: dados da pesquisa (2013). Fonte: dados da pesquisa (2013).

6.3 CONTRIBUIÇÕES DO TURISMO NÁUTICO PARA A ECONOMIA LOCAL

Na última parte do primeiro questionário as respostas permitem compreender


como a atividade turística náutica pode colaborar com o desenvolvimento econômico
local, avaliando a injeção da renda gerada pelo turismo náutico nos estabelecimentos
do município.

Ao analisar o turismo náutico na praia do Forte Orange, é possível observar os


efeitos econômicos provocados pela atividade turística náutica. O efeito direto ocorre
quando há injeção de renda diretamente nos empreendimentos e serviços da linha de
frente, nesse caso é caracterizado pela busca e aquisição do serviço de transporte
náutico de passageiros ofertado pela Associação. Sabendo a média de passageiros
transportados nos períodos de alta e baixa estação e com o conhecimento a respeito
do valor cobrado por pessoa (R$10,00), pode-se apontar que nos meses de alta
estação a receita gerada pela atividade é de aproximadamente R$102.000 (cento e
dois mil reais) por mês, enquanto no período de baixa estação esse valor, por mês, é
de aproximadamente R$ 10.200 (dez mil e duzentos reais).

Conforme os dados expostos, percebe-se a expressividade do efeito direto


na atividade turística náutica, principalmente nos meses de alta estação. Segundo
o entrevistado, a atividade apresenta alto rendimento, entretanto os gastos com
materiais e com manutenção, ou seja, os custos da atividade, também são elevados,
o que diminui a lucratividade da operação do turismo náutico.

No que diz respeito ao efeito indireto, que ocorre quando os estabelecimentos


turísticos buscam serviços ou produtos de outros setores econômicos para subsidiar
suas próprias atividades, observa-se que, dentre os gastos realizados pela Associação,
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75% são realizados no município de Itamaracá enquanto os outros 25% são referentes
aos gastos em Itapissuma (ver gráfico 5).

Gráfico 5. Injeção de renda na economia local


Fonte: dados da pesquisa (2013).

Dos 75% gastos em Itamaracá, 25% são injetados no setor de comércio através
da aquisição de materiais para as embarcações (Ex.: combustível e óleo para o motor)
e 50% no setor de serviço devido à realização do serviço de manutenção dos barcos e
a contratação de associados. Já os outros 25% gastos em Itapissuma são referentes
à contratação do funcionário responsável pelo serviço de vigilância da associação (ver
gráfico 6).

Gráfico 6. Setor no qual a renda gerada pelo turismo náutico é injetada


Fonte: dados da pesquisa (2013).

Em relação ao efeito induzido, ocasionado pelo gasto dos barqueiros a partir da


renda recebida da Associação, os resultados obtidos foram os seguintes: apenas 20%
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dos gastos são realizados na Ilha de Itamaracá e 80% em Itapissuma. Avaliando os


gastos, observou-se que deste percentual de 20%, o setor de comércio local consome
12% desses gastos que são destinados à aquisição de produtos alimentícios, produto
têxtil e combustível, enquanto o setor de serviços absorve 8%, sendo este percentual
relacionado a despesas com transporte público, manutenção das embarcações
realizadas em uma oficina local e em bares, lanchonetes e clínicas odontológicas (ver
gráfico 7).

Gráfico 7. Gastos dos barqueiros e setor da economia local em Itamaracá


Fonte: elaboração própria

Do percentual de 80% gastos em Itapissuma, 27% referem-se à aquisição de


serviços de alimentação, transporte público, atendimento médico e educação, ao
passo que o setor de comércio consome os 53% restantes direcionados a aquisição
de, por exemplo, produto têxtil, alimentício e ao sustento familiar (ver gráfico 8).

Gráfico 8. Gastos dos barqueiros conforme setor da economia local em Itapissuma


Fonte: elaboração própria
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A partir destas análises, observa-se uma baixa contribuição do efeito induzido


para a economia de Itamaracá, uma vez que os gastos dos barqueiros da Associação
são realizados predominantemente fora da Ilha de Itamaracá.

Por fim, as resposta obtidas em relação à existência de infraestrutura adequada


para o desenvolvimento da atividade mostraram que há um déficit de equipamentos
e instalações apropriadas para realização da atividade sob a alegação de que faltam
investimentos e comprometimento das autoridades competentes para com a atividade
turística; além da falta de apoio e parceria com os próprios estabelecimentos turísticos
locais.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo proporcionou o entendimento do turismo, especificamente o


turismo náutico, como uma atividade que colabora com o desenvolvimento econômico
de um determinado município, nesse caso a Ilha de Itamaracá. Percebe-se que,
assim como os demais segmentos do turismo, o náutico possui uma maior receita
nos meses que são considerados de alta estação, mas sofre com a sazonalidade da
atividade. De acordo com informações dos trabalhadores foi possível entender que o
turismo náutico gera uma receita elevada, mas os custos com materiais e manutenção
impedem um maior lucro e, portanto, diminui a possibilidade para proporcionar uma
melhora de vida para os jangadeiros.

No que respeita aos efeitos multiplicadores da atividade, observou-se que os


turistas gastam diretamente nos empreendimentos de linha de frente do turismo e
estes, por sua vez, investem indiretamente nos estabelecimentos locais e de forma
induzida já que boa parte da mão de obra é do próprio município. Ao analisar os
gastos da associação, é notável a ocorrência do efeito direto de forma mais expressiva,
pois há uma alta geração de renda na associação advinda dos gastos dos turistas.
Já o efeito indireto não é significativo, pois ocorre de forma relevante uma fuga de
capital para as cidades vizinhas. Pode-se inferir que esta situação decorre do fato dos
barqueiros não residirem em sua maioria em Itamaracá.

De acordo com as informações obtidas, analisou-se que na concepção não


só do vice-presidente, mas de todos os barqueiros, a atividade tem como obstáculo
o descaso das autoridades e a falta de investimento na atividade. A opinião de que
o local não possui infraestrutura adequada para o desenvolvimento da atividade foi
unânime entre eles.
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Diante do que foi exposto entende-se que atividade do turismo náutico possui
uma relevante importância econômica principalmente em função dos efeitos diretos.
Porém, no caso do município de Itamaracá, o potencial da atividade para contribuir com
o desenvolvimento local não está evidente uma vez que se constatou uma quantidade
pequena de setores da economia que são beneficiados pelos efeitos indiretos do
turismo náutico. De modo semelhante, este desenvolvimento pelo turismo náutico
não recebe contribuição do efeito induzido, uma vez que a maior parcela desses
gastos é feita fora da economia local. Também foi identificada a necessidade de
melhores condições de trabalho para os jangadeiros. Uma boa infraestrutura turística
é fundamental para facilitar o desenvolvimento da atividade, oferecendo aos turistas
um melhor serviço prestado.

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TURISMO DE EXPERIÊNCIA NA FAVELA DA ROCINHA:


ENTRE O FETICHE PELA POBREZA E A BUSCA PELA INCLUSÃO SOCIAL

Paulo Henrique Arruda Silveira1

RESUMO: Este artigo se propõe a estudar a maneira como a atividade turística se


sobrepõe e negocia sua existência com o cotidiano dos moradores da Favela da
Rocinha (RJ).O primeiro capítulo aborda a questão da influência da globalização na
sociedade atual e como o desejo de consumo das pessoas se expandiu, transformando
sociedades e culturas em objetos de fetiche. Ainda nesse capítulo, estuda-se o
conceito de turismo de experiência, que é um turismo que explora o imaginário do
viajante, que seduz, visando proporcionar uma vivência única e inesquecível, onde
sonhos podem ser realizados. A favela se transforma em um cenário desse tipo de
turismo, onde há o desejo de se visitar uma comunidade pobre. Para responder à
problemática, analisamos quatro agências que operam o passeio na comunidade: Jeep
Tour, Favela Tour, Exotic Tour e Be a Local, Don’t Be a Gringo. No decorrer do estudo
constatamos que a Rocinha se transformou hoje em um ícone popular, conhecido
mundialmente e que hoje se parece muito mais com um bairro de comércio intenso do
que com uma comunidade desfavorecida. Devido a essa popularidade, o desejo de as
pessoas conhecerem não somente uma favela, porém, “A Favela da Rocinha”, gerou
uma demanda pelos passeios turísticos dentro do lugar. Verifica-se que as agências
que operam com o passeio dentro da comunidade trabalham com roteiros diversos e
promovem a comunidade de diferentes maneiras. E, apesar de esses roteiros serem
iguais em alguns pontos, essas empresas atribuem certas características que podem
influenciar o imaginário de um turista.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo de experiência, fetiche, comunidade, agências de


turismo receptivo, Favela da Rocinha.

ABSTRACT / RESUMEN: This article proposes to study the way the tourism overlaps
and negotiates its existence with the daily life of residents of Favela da Rocinha (RJ).
The first chapter addresses the influence of globalization in today’s society and how
people’s consumer desire has expanded, transforming societies and cultures into
objects of fetish. Still in this chapter, it is studied the concept of experience tourism,
which is a way of tourism that explores the traveler’s imaginary and that seduces, trying
to provide a unique and unforgettable experience, where dreams can be accomplished.
The slum becomes a scenario of this kind of tourism where there is a desire to visit a
poor community. To answer the problematic we analyzed four tourism agencies that
work in the community: Jeep Tour, Favela Tour, Exotic Tour and Be a Local, Don’t Be
a Gringo. During the study we realized that the Rocinha became a popular icon today,
known worldwide, and now it looks more like a neighborhood with intensive trade
than with a disadvantaged community. Due to this popularity, the desire for people to
know not only a slum, but, “The Favela Rocinha” has generated a demand for tours
inside the place. We can see that the agencies which work with the tourism inside this
slum deal with several screenplays and promote community in different ways. And,
although these routes are equal in some respects, these companies attribute certain
1 Bacharel em Ciências Humanas. Graduando em Turismo pela Universidade Federal de Juiz
de Fora. E-mail: pauloarrudajf@gmail.com
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characteristics that may influence the imagination of a tourist.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Experience tourism, fetish, community,


receptive tourism agencies, Favela da Rocinha.

INTRODUÇÃO

A Rocinha, maior favela da América Latina, hoje, com aproximadamente 70000


habitantes é um atrativo turístico do Rio de Janeiro, desde a década de 1990, quando
algumas empresas começaram a promovê-la. O comércio dentro dela é intenso,
contando com bancos, supermercados, lan houses, médicos, e um próprio canal de
televisão. Estamos falando não mais de uma favela, porém, de um bairro. E nesse
bairro ocorrem vários eventos importantes e visitas de pessoas famosas. Devido a
unidades de pacificação, esses lugares estão mais seguros e passíveis de serem
visitados.
A Favela da Rocinha, que tem ganhado fama mundial, passou a receber
visitantes de vários lugares, sendo fomentada a atividade turística no território.
Algumas agências de turismo criaram passeios e os divulgaram, atribuindo algumas
características a eles, como o exotismo, o diferente, o radical e o autêntico, muitas
vezes fantasiando e escondendo características negativas da comunidade, com o
intuito de manipular o imaginário do turista, fazendo-o desejar e consumir aquele
lugar. Por outro lado, os moradores que lá residem, acabam fazendo parte do passeio.
Porém, de que modo?
O objetivo geral desse trabalho é entender como o turismo na Favela da
Rocinha e o cotidiano dos moradores dessa comunidade dialogam e se influenciam
mutuamente. Almejamos também, como objetivo específico, estudar a forma como
esse turismo é trabalhado para estimular seu consumidor.
E cremos na importância de se estudar esse tema para a universidade, pois
permite à mesma projetar com olhares teóricos, não somente sobre as influências que
o fenômeno turístico pode ter sobre determinada sociedade, como também atualizar
as concepções a respeito das favelas cariocas, principalmente a Favela da Rocinha.
O mercado pode aproveitar este estudo para se apropriar de como se opera o turismo
no lugar, bem como as tendências, e não cometer alguns erros já observados. Por
fim, essa pesquisa é útil para a sociedade, pois permite um maior conhecimento sobre
a favela e pode atenuar ou extinguir barreiras criadas pelo preconceito, bem como
estereótipos cristalizados.
No primeiro capítulo iremos estudar o que é a globalização e quais seus efeitos na
sociedade contemporânea. Para isso, será abordado o autor Anthony Giddens (2005).
Em seguida, será estudada a relação entre globalização e o desejo ascendente que
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as pessoas têm de consumo desenfreado, sendo utilizado Helton Ricardo Ouriques


(2005), para abordar esse tema.  Por fim, serão abordados Alexandre Panosso Netto
(2010) e Cecília Gaeta (2010) para estudarmos o conceito de “turismo de experiência”.
No segundo capítulo, iremos contextualizar a Rocinha nos dias de hoje e
entender como ela interage com a cidade do Rio de Janeiro. Além disso, conheceremos
um pouco sobre o funcionamento da atividade turística na comunidade, o itinerário
dos passeios e quais as agências que lá atuam, utilizando uma pesquisa de Bianca
Freire Medeiros (2009).  
Por fim, no terceiro e último capítulo faremos um estudo a respeito de quatro
agências: ”Jeep Tour”, “Favela Tour”, “Exotic Tour” e “Be a Local, Don’t Be a Gringo”,
que lá operam com os passeios, ao mesmo tempo em que dialogaremos com as
abordagens teóricas do primeiro capítulo. Como metodologia, iremos fazer pesquisas
nos web sites dessas agências e por telefone, tentando analisar a forma como a
favela e o turismo são difundidos.
Esperamos que no final desse trabalho cheguemos a distinguir as diferentes
maneiras que o turismo e a favela são pensados e difundidos e ampliar os nossos
horizontes a respeito da Rocinha, compreendendo que ela já não é mais um lugar de
pobreza e miséria, mas sim, um bairro que está aprendendo a conviver com o turismo.

A GLOBALIZAÇÃO E A FETICHIZAÇÃO DO TERRITÓRIO

A sociedade de hoje é marcada pelo fenômeno da globalização. Quando


pensamos neste termo nos vem em mente a ideia de conexão, de união, de
transposição de barreiras. E se repararmos bem, o nosso cotidiano está repleto de
símbolos de várias nacionalidades, como marcas, filmes e programas. (GIDDENS,
2005). “O mundo em que vivemos hoje nos faz muito mais interdependentes, mesmo
a milhares de quilômetros de distância, do que jamais fomos” (GIDDENS, 2005, p.60).
A globalização representa esse processo de intensificação das relações globais
e a dependência que os países passam a ter entre si. Assim, podemos definir a
globalização como sendo “um estágio da sociedade moderna integrada mundialmente:
uma sociedade sem fronteiras definidas, de fluxos e interações globais” (CASTELLS
apud SOARES, 2007, p. 64). E essa interação global ocorre, principalmente, através
dos fluxos proporcionados pelos meios de transporte e de comunicação.
O fenômeno denominado globalização é complexo e acarreta em mudanças
sociais, culturais e políticas, nos âmbitos global e regional. Trata-se de fenômeno
anterior ao capitalismo, com ideias que, a princípio não envolvem o Estado e as
relações comerciais, mas sim a conexão e o aumento das relações que ocorrem entre
os povos.
É muito comum nós associarmos esta ao capitalismo, como se os dois conceitos
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fossem um só. Porém, segundo Santos (2001):

Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de


homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são
aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores
hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o
sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o culto
ao consumo é estimulado (p19).

E esse culto ao consumo estimulado pelos mercados globais se reflete em


nossa sociedade atual pelo desejo, um fetiche de adquirir algo, para suprir nossas
infelicidades.
O marxismo se utiliza da definição de fetiche, colocada em moda pelos
portugueses no período das navegações para falar do “fetichismo de mercadoria”,
que encobre as características sociais do trabalho dos homens e as apresenta como
sendo materiais e propriedades sociais inerentes aos produtos do trabalho. As relações
sociais acabam sendo substituídas por relações entre coisas (MARX apud OURIQUES,
2005). São objetos de desejo na prateleira, prontos paras ser consumidos.
Além de implicar em um desejo pelo bem material, o fetiche de mercadoria
ultrapassa o ter e chega ao parecer, gerando a “sociedade do espetáculo”, que é
definida como uma potencialização do fetichismo da mercadoria. O mundo em si,
portanto, passa a ser substituído por uma seleção de imagens que existe acima dele,
a fim de ser tornado mais atrativo para quem vê. O mundo da mercadoria-imagem
passa a dominar tudo que é vivido (JAPPE apud OURIQUES). É o império das imagens.
Se entendemos que os produtos e a vida social podem ser comercializados e
fetichizados, o território e a cultura também podem participar deste jogo social. Existem
diferentes concepções a respeito de território. Este, que está ligado à representação
cultural, é estudado em diversos campos do saber.

Um “território” no sentido etológico é entendido como o ambiente [enviroment]


de um grupo (...) que não pode por si mesmo ser objetivamente localizado,
mas que é constituído por padrões de interação através dos quais o grupo
ou bando assegura certa estabilidade e localização. Exatamente do mesmo
modo o ambiente de uma única pessoa (seu ambiente social, seu espaço
pessoal de vida ou seus hábitos) pode ser visto como um “território”, no sentido
psicológico, no qual a pessoa age ou recorre (GUNZEL apud HAESBAERT,
2011, p. 38).

Roberto da Matta caracteriza cultura como “a maneira de viver total de um


grupo, sociedade, país ou pessoa. Cultura é, em Antropologia Social e Sociologia,
um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um dado grupo
pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmo”2. Dessa maneira,
todos temos culturas que são diferentes, e que, junto com o território também são
2 UFSC: Universidade Federal de Santa Catarina. Você tem cultura? Disponível em: “http://
naui.ufsc.br/files/2010/09/DAMATTA_voce_tem_cultura.pdf”. Acesso em: 10 de maio de 2012
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postas no mercado pelo capitalismo.


Consequentemente, a identidade do “outro”, diferente de ‘nós”, pode ser
comercializada. Há um desejo em ver o modo de viver do outro e o ambiente onde ele
vive, ao mesmo tempo em que idealiza-se os hábitos e costumes. Essa fetichização
do território e da cultura se dá principalmente através da atividade turística.

No turismo, o fetichismo da mercadoria é potencializado. A Natureza (vamos


dizer, a paisagem natural) parece ser dotada, intrinsecamente, de finalidade
turística. Isto é, praias e montanhas (por exemplo) acabam se transformando,
“naturalmente”, em objetos de consumo turístico. Os bens culturais modificam-
se e metamorfoseiam-se em mercadorias “turísticas” pelo simples fato de
serem prédios antigos, castelos, praças, fortes e presídios (OURIQUES,
2005, p.60).

Sendo assim, conclui-se que o mercado consegue transformar tudo em produto.


Relações, sociedades e até o sofrimento são mercantilizados e consumidos. No caso
do turismo, as agências de viagens funcionam como verdadeiros supermercados
do turismo, contendo prateleiras cujos produtos são territórios e culturas rotulados,
fetichizados, prontos a serem escolhidos e consumidos, diversificados pelo mercado
turístico.

O QUE É O TURISMO DE EXPERIÊNCIA?

Nos dias de hoje fala-se muito em uma mudança na alteração dos gostos
do consumidor. Apesar do nosso sistema econômico se basear sempre na ideia de
consumo, as pessoas estão mais exigentes quanto a seus gostos e preferências, do
que eram há tempos atrás, almejando algo único e inesquecível. Passam, portanto,
a incorporar a emoção em suas demandas, prezando a aquisição de experiências
(PANOSSO NETTO et GAETA, 2010). É como se, de uma forma, o “comum” não nos
bastasse mais e tivéssemos a necessidade de romper com ele em nossas escolhas,
que vão se refletir principalmente nas demandas de consumo.
A qualidade dos serviços se torna um requisito de competição, agregando
experiência (MOLINA, 2003).

Se antigamente a qualidade dos serviços e dos produtos era um diferencial


das empresas, hoje se tornou requisito de competição. [...] ao cliente não
só se oferece um prato e o serviço que o acompanha, mas que a função de
alimentar-se e receber um serviço lhe agrega um valor, o de uma experiência:
uma diversão ou um entretenimento, uma fantasia que ultrapassa o
cumprimento de uma necessidade fisiológica e de segurança (MOLINA,2003,
p.38).

A experiência, portanto, vira um agente determinante na satisfação dos


consumidores e deixa de ser algo simples e banal.
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Em geral, a experiência é entendida como um fluxo de eventos particulares


conhecidos apenas pelo sujeito que os vivencia, levando em consideração
as problemáticas relações com outros eventos, como os acontecimentos do
mundo externo ou fluxos de eventos similares pertencentes a outras pessoas.
O fluxo forma a vida consciente do sujeito possuidor. A experiência é, portanto,
algo particular [...] (TRIGO in PANOSSO NETTO et GAETA, 2010, p.25).

E o mercado, ciente dessas mudanças, mudou o foco de seus produtos, para


atender à nova clientela. Promovem-se não mais os produtos ou os serviços, mas
experiência, composta por esses dois. Consequentemente, e é aí que queremos
chegar, o setor turístico também muda o seu foco, para atender ao novo tipo de
consumidor-turista, criando assim o “Turismo de Experiência”: “quando falamos de
turismo de experiência, estamos nos referindo a um tipo de turismo que pretende
marcar o turista de maneira profunda e positiva [...]” (PANOSSO NETTO in PANOSSO
NETTO et GAETA, 2010, p.44).
O autor referido se baseia em discussões do turismo que põe em jogo o uso que
as pessoas têm da atividade como válvula de escape da rotina maçante e a viagem
como uma autorreflexão, como um descobrimento interior. Essas características
levariam o indivíduo a desejar uma experiência exótica, onde ele poderia agregar
valores diferentes para sua vida, ao mesmo tempo em que iriam contrastar com o seu
cotidiano.

O olhar do turismo é direcionado para aspectos da paisagem do campo e da


cidade que os separam da experiência de todos os dias. Tais aspectos são
encarados porque, de certo modo, são considerados como algo que se situa
fora daquilo que nos é habitual (URRY, 2001, p.19).

Nesta perspectiva, tomemos o exemplo de um turista europeu que ao visitar uma


favela brasileira, entrando em contato com os barracos e as vielas (metáforas de uma
pobreza e miséria), acabasse por se maravilhar e se chocar com algo que nunca tinha
presenciado antes – formando, assim, o exotismo na diferença.
E tendo percebido isso, as empresas turísticas passaram a vender experiências
estereotipadas acopladas a destinos turísticos. Essas experiências vão ser fetichizadas
pelas pessoas e transformadas em símbolo de status, mesmo que a maioria delas não
seja completamente verídica.
Esse turismo de experiência em lugares associados ao sofrimento também foi
transformado em produto pelo mercado, através dos reality tours, ou tours de realidade,
que tem um caráter trágico e de miséria. Um exemplo dessa falsa imagem acoplada
ao território visitado é o das favelas, que tem ganhado reconhecimento internacional
nos últimos anos.
As tecnologias de informação em massa, que são componentes da globalização,
globalizaram, também, o “morro3”. Sendo assim, a “favela tornou-se um prefixo
3 Termo popular usado pelos cariocas para se referirem à favela, fazendo contraponto ao ter-
mo “asfalto”, que significa a “cidade urbanizada”.
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tropical capaz de incrementar e tornar ‘exóticos’ lugares e produtos os mais variados”


(PHILIPS, apud FREIRE-MEDEIROS, 2007, p.65.).
E, no mercado da imagem dessas comunidades, são somente algumas das
favelas que viram alvo de turistas e da mídia. Portanto, não adiantaria ter uma
experiência em um “morro” qualquer. É preciso ir a um que tenha status, como a
Favela da Rocinha.
Existe também a tentativa de esconder os problemas como a miséria e o
tráfico. Outra função das cores, principalmente as verdes e amarelas é mostrar que
a Rocinha faz parte da nação do Brasil. (NUNES in PANOSSO NETTO et GAETA,
2010). Esse é um fato que integra o turismo de experiência, onde as experiências
podem ser manipuladas, com o intuito de não prejudicar a imagem criada pelo turista,
a respeito do território visitado.
É interessante fazermos outra discussão a respeito do imaginário do turista
que visita uma favela. Este sabe que irá adentrar um espaço onde que representa um
risco à sua vida, porém, que é controlado. Há uma confiança em que tudo irá acabar
bem no final das contas e que voltará para sua casa a salvo. É o chamado “sistema
perito”.
De acordo com Fois-Braga (2004, p. 33), ao discutir Giddens, o define
como sendo “a confiança que se deposita em um conhecimento técnico, e não no
responsável. É uma confiança no impessoal, em algo já tido como testado, e não na
pessoa responsável pela ‘criação’ daquele ‘objeto’, sistema ou realidade específico”.
Um exemplo de sistema perito são os brinquedos radicais de parques de
diversões, onde se correm vários riscos, mas há a confiança na tecnologia. Desse
modo, o indivíduo que pratica a atividade turística na Rocinha, tem em mente um
esboço do que pode encontrar lá e dos riscos que corre, mas sabe que estes são
controlados e/ou amenizados pela confiança na situação. No entanto, como nada é
perfeito, a situação pode sair de controle. Entra então a negociação do que é aceitável
e o que não é no turismo de experiência.
Enfim, o turismo de favela, enquanto turismo de experiência propicia uma
experiência exótica, diferente do cotidiano do turista, ao mesmo tempo em que
propicia a fetichização do território. Há um desejo em ver o modo de vida do “outro”,
que é diferente do “meu”. E esse desejo em consumir o território e a cultura da favela
é satisfeito pelo mercado, que transforma em mercadoria exótica esses dois aspectos.
Uma vez transformados em mercadoria, eles são difundidos, rotulados e
precificados com certa facilidade, graças aos meios de comunicação e transporte,
proporcionados pela globalização. E, como nós vivemos na sociedade do “ter” e,
principalmente do “parecer”, o indivíduo que visita a favela internacionalizada adquire
status e brinca de ser antropólogo, no meio de um cenário de aventuras, mesmo que
esse cenário não represente a realidade e o cotidiano dos moradores da favela.
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A experiência do turista é trabalhada a fim de satisfazer o mesmo. As emoções


negativas, por exemplo, como medo e insegurança, são manipuladas para garantir
uma vivência única e marcante no visitante. No entanto, como escrito no parágrafo
acima, as emoções podem fugir do controle e acarretar em prejuízo para o turista. No
turismo de experiência, ganha o jogo quem souber trabalhar melhor com as emoções
do turista.

CONTEXTUALIZANDO A ROCINHA

A cidade do Rio de Janeiro, capital do estado com o mesmo nome, é composta


por 32 regiões administrativas (RA’s), chamadas também de subdistritos. Cinco dessas
regiões são formadas por favelas, como o Complexo do Alemão, Jacarezinho, Cidade
de Deus, Maré e Rocinha. A população ali residente é pobre, com baixa escolaridade,
com pouca acessibilidade física e cultural, e condições de saúde precárias4. No Rio, a
maioria delas está situada em encostas íngremes, com uma densidade populacional
muito alta.
De acordo com o IBGE, as favelas, junto às invasões e comunidades, são tidas
como aglomerados subnormais do país, que são caracterizados pelas ocupações e pela
carência de serviços básicos adequados, por exemplo, saneamento, pavimentação,
segurança, saúde, etc. O Censo 2010 mostra que a população da Rocinha é de 69.161
habitantes, sendo assim, a maior favela do Brasil5.
Esses lugares, marcados pelo tráfico de drogas e pela violência, recentemente
têm sofrido uma forte intervenção do governo, através das UPP (Unidades de Polícia
Pacificadora), caracterizadas como “um novo modelo de Segurança Pública e de
policiamento que promove a aproximação entre a população e a polícia, aliada ao
fortalecimento de políticas sociais nas comunidades” 6.
Segundo o site ainda, as UPP’s buscam recuperar os territórios marcados pelo
tráfico. O discurso é sempre voltado para a harmonia dos “morros” e a convivência
entre os habitantes desses lugares e os policiais militares. Querendo ou não, as
favelas tornam-se mais seguras para a visitação de turistas.
Segundo Freire-Medeiros (2009), a Rocinha se tornou um dos pontos turísticos
oficiais do Rio de Janeiro, de acordo com a lei n° 4405/06, sancionada pelo então

4 FGV – RJ: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Desigualdade e Favelas Cariocas: a Cidade


Partida está se integrando? Disponível em: http://www.fgv.br/cps/favela/. Acesso em: 18 de maio de
2012.
5 UOL NOTÍCIAS: RJ, DF, SP e PA dominam ranking das 20 favelas mais populosas, diz
IBGE; Rocinha lidera. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2011/12/21/
rj-df-sp-e-pa-dominam-ranking-das-20-favelas-mais-populosas-diz-ibge-lider-e-a-rocinha.htm. Acesso
em: 18 de maio de 2012.
6 UPP REPÓRTER: Conceito UPP: A polícia da paz. Disponível em : http://upprj.com/wp/?pa-
ge_id=20. Acesso em: 18 de maio de 2012.
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prefeito César Maia. Este justificou a inclusão da favela, realçando sua urbanização, a
localização privilegiada (mata verde, praia, cores), o comércio e o sentimento de fazer
parte de uma comunidade.
Esperava-se aumentar a integração entre a cidade e a favela e desmistificar a
visão de que a Rocinha tinha somente violência. Apesar de ter sido reconhecida em
2006, já havia práticas regulares de turismo na década de 1990, mais precisamente a
partir da ECO 927.Nessa época houve uma grande disseminação dos tours feitos em
carros como jipes, onde os turistas percorriam as ruas da favelas, montados nesses
carros.Com o tempo, as agências foram aderindo a essas modalidades.
As primeiras empresas de turismo surgiram então, através dessa tendência.
Uma das empresas mais atuantes nesse segmento é a Jeep Tour, que vem crescendo
no decorrer dos anos, através dos tours realizados na Rocinha e em outros lugares do
Rio de Janeiro. O passeio na Rocinha tem duração de 3 horas.
Há também a Exotic Tour, agência que promove o contato com o exótico, com o
não usual, onde os viajantes obtêm contato com a comunidade de uma maneira mais
intensa. Terreiros de umbanda, de candomblé, cemitérios, são muitas vezes visados.
“No que se refere aos passeios pela Favela, a Exotic Tour traz dois diferenciais
interessantes: o tour é feito a pé e conduzido, na maior parte das vezes, por guias de
turismo da própria Rocinha” (FREIRE-MEDEIROS, 2009, p.54).
Outra agência importante é a “Favela Tour”, cujo dono, Marcelo Armstrong, gosta
de ressaltar que os passeios pela comunidade não são feitos em jipes. Ao contrário
das outras agências apresentadas, a Favela Tour é a única que opera exclusivamente
nos morros cariocas. Esta trabalha muito com a ideia de valorização da favela e da
sua imagem como um lugar de cores, de alegria, que pertence ao Rio de Janeiro.
Segundo a autora, há uma quarta agência chamada “Be a Local, Don’t Be a
Gringo”, que é voltada para os mochileiros que gostam de se aventurar, e propõe um
passeio mais radical, onde visitantes passam por vielas apertadas, montados nas
garupas de moto taxis velozes. Além dessas opções de agências, existem também o
passeio com taxistas e guias autônomos, que fazem parte, também da concorrência
(FREIRE-MEDEIROS, 2009).
A venda de souvenires é outro aspecto que fomenta a atividade turística na
Rocinha. Existem quatro pontos que concentram a venda de produtos para turistas.
São o Centro de Artes Geisa Gonçalves, o Centro Comunitário Alegria das Crianças,
a área precária Roupa Suja e, por último, o ponto considerado o mais importante na
venda dos souvenires, a “Rua 1”, localizada na parte alta da favela.
Outro componente da venda de souvenires, segundo a autora citada acima, são
os produtos “by rocinha”, que são produtos feitos de material reciclável, como caixas
de fósforo, de remédio, sacolas, fios de telefone, que se transformam em bolsas,

7 Rio Conference on Environment and Sustainable Development.


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cintos e maquetes.
Hoje a favela referida vem ganhando um grande destaque na mídia nacional
e internacional, tornando-se palco de eventos, de filmes, cartões postais e sendo
visitada por celebridades e fazendo parte cada vez mais do cenário carioca. Segundo
FREIRE – MEDEIROS (2009) existe uma vasta rede de comércio e serviços em suas
ruas, desde mercados informatizados, ao próprio canal de TV a cabo. Há também a
presença de ONG’S
A Rocinha é hoje uma “cidade” de 70000 habitantes.
E essa “cidade” vem ganhando cada vez mais lugar no território do entretenimento
carioca, principalmente após a sua pacificação. Já foi, por exemplo, palco de alguns
eventos importantes, como o“Rio Fashion Business”, as Olimpíadas Escolares e
outros eventos.

POR DENTRO DOS PASSEIOS: ENTREVISTA COM AS AGÊNCIAS DE TURISMO


RECEPTIVO QUE OPERAM NA ROCINHA

Para conhecer mais sobre os passeios turísticos realizados na comunidade e


como eles dialogam com o cotidiano dos moradores, decidimos realizar uma pesquisa
com algumas dessas agências que atuam no ramo, mencionadas anteriormente no
texto: “Jeep Tour8” (JP), “Exotic Tour9” (ET), “Favela Tour10” (FT) e “Be a Local, Don’t
Be a Gringo11“. A pesquisa foi realizada em 2012, através de consultas nos websites
dessas agências e também com a aplicação de um questionário, para complementar
as informações. Devido ao fato de haver um breve conhecimento acerca delas, tornou-
se mais fácil encontrar alguns dados.
Para realização da pesquisa, entrevistamos um atendente da “Jeep Tour”, de
nome Teixeira, o proprietário da “Favela Tour”, Marcelo Armstrong e o proprietário da
“Be a Local, Don’t Be a Gringo”, Luis. Com exceção de Teixeira, os entrevistados foram
cordiais e responderam às perguntas de boa vontade. Em relação à “Exotic Tour”, não
foi necessário ligar para o seu telefone, já que o site se mostrou bem completo quanto
ao conteúdo sobre o passeio na favela.
É interessante notar que os sites estão escritos em língua estrangeira
(inglês e espanhol), dando a entender que o público alvo são os estrangeiros,
com exceção da Jeep Tour. Esta, por sua vez, tem em negrito uma frase peculiar:
“Jeep Tour. Mais que passeios, aventuras!” 12. E, realmente, em 2012, ao navegar
pelo endereço, tivemos a sensação de estar comprando um safári no Rio de Janeiro.
8 http://www.jeeptour.com.br/
9 http://www.exotictours.com.br/
10 http://www.favelatour.com.br/
11 http://bealocal.com/
12 JEEPTOUR Mais que passeios. Aventuras. Disponível em :http://www.jeeptour.com.br/
.Acesso em 28 de setembro de 2012.
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A própria arte gráfica nos remeteu a essa ideia, com tons predominantemente verdes,
com um emblema de um jipe e alguns bambus, galhos e folhas. Ao verificar novamente
o website dois anos depois, percebemos que a frase peculiar havia sumido e a página
inicial ganhado tons mais fortes amarelos e vermelhos, enfatizando palavras como
“experiência”, “carioca” e “diversidade”. Apesar de haver um link para o passeio em
uma favela, não explicitava em qual era o nome exatamente.
Ao pesquisar o site “Favela Tour”, podemos encontrar algumas peculiaridades
que contrastam com a primeira agência.,com um aviso em inglês, espanhol e italiano
de que o passeio não é feito em jipes ou motocicletas. Sendo um diferencial de
mercado, a agência sugere aos internautas que os seus passeios, por serem a pé,
permitem que os visitantes vivenciem de uma maneira mais autêntica o cotidiano dos
moradores, e não uma aventura radical.
Podemos ver, ainda no site, que há uma ilustração de uma favela colorida,
com pessoas soltando pipa e turistas felizes tirando fotos. “ O passeio muda sua
reputação das áreas, relacionadas apenas à violência e pobreza. Não fique tímido,
você é bem vindo lá e a comunidade local apoia sua visita. Se você realmente quer
entender o Brasil, não saia do Rio sem ter feito o FAVELA TOUR (minha tradução)”.13
É uma imagem idealizada, como se no “morro” fôssemos encontrar um lugar colorido
e pacífico, com gente bonita e acolhedora. Por outro lado, há um esforço em não
mostrar o negativo, como se isto fosse atrapalhar a experiência do visitante. Porém,
como dito anteriormente, a possibilidade de ir a um lugar marcado pela violência e
pobreza parece seduzir de maneira mais eficaz o futuro visitante.
Dando continuidade ao estudo, entramos na web page da “Exotic Tour”. O site
é em inglês e francês, onde Rejane Reis, sua organizadora, defende que a agência
opera exclusivamente na cidade do Rio, e enfatiza o passeio na Rocinha, como o
mais procurado, e a agência Exotic, como a primeira a ter operado o turismo com os
moradores. Ainda na página inicial do site há um texto sobre o turismo sustentável
na comunidade referida. Das quatro companhias estudadas, esta parece ser a
que mais inclui a comunidade no contexto do turismo, enfatizando que a visita dos
turistas contribui com uma escola local e que ajuda na criação de oportunidades de
emprego.
Porém, apesar de aparentemente passar a ideia de que é uma agência que
se preocupa com a população local, vemos que a Exotic Tours pode utilizar-se disso
para atrair a clientela, explorando a ideia de que somente eles podem garantir a
segurança do visitante, por estarem conectados mais profundamente à comunidade.
Por exemplo, em uma parte do site sobre as perguntas mais frequentes, pergunta-se
13 “The tour changes their reputation of areas related only to violence and poverty. Don’t be shy,
you are welcome there, and local people support your visit. If you really want to understand Brazil, don’t
leave Rio without having done the Favela Tour”. FAVELA TOUR. What is it all about. Disponível em:
http://www.favelatour.com.br/ing/whatis.htm. Acesso em 30 de setembro de 2012
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se a Rocinha é perigosa. O site responde da seguinte maneira: “Se você for sozinho,
sim. Nós NÃO recomendamos que você vá por conta própria dentro de nenhuma
favela do Rio de Janeiro ou outra cidade” (tradução minha)14. O sistema perito se
mostra atuante nesse caso, como se o passeio com o guia proporcionasse confiança
e segurança, como se sem ele, a pessoa não conseguisse sair do lugar, viva.
O quarto site, “Be a Local, Don’t Be a Gringo”, mostra, de maneira muito mais
explícita do que os outros, a capacidade do mercado em transformar as sociedades e
culturas em produtos de prateleira, que despertam desejo no consumidor. Apesar de
o nome nos convidar a sermos os “nativos”, parece que nos remete muito mais a uma
experiência controlada, do que uma vivência do cotidiano da comunidade.
Por exemplo, no site há fotos de um baile funk em uma favela e um texto
perguntando se o internauta se imagina dançando e agitando com os ritmos do funk
popular local, com direito a uma suposta entrada VIP. Todavia, a parte mais inusitada
é a de que abaixo do vídeo há um campo para a pessoa escolher qual “produto” ela
quer comprar: Bilhetes de carnaval, um city tour, Baile Funk na Favela, jogo de futebol,
tour na favela ou trabalho voluntário. Como se não houvesse nada mais importante do
que a forte relação entre o comprador e o produto.
Para buscar mais informações a respeito das agências e dos passeios,
resolvemos ligar para seus números, nos passando por pessoas que queriam montar
um grupo de excursão e que estavam interessadas no produto comercializado por tais
empresas. Para isso, elaboramos um questionário de quatro perguntas, com o intuito
de conhecer mais sobre as relações envolvendo turistas, agências e residentes.
Quando os entrevistados foram indagados sobre a forma como os passeios
são feitos, obtivemos basicamente a resposta que replica a encontrada nos sites: o
visitante passeia pela Favela e visita os principais atrativos da Rocinha. No caso da
“Jeep Tour”, os passeios são feitos a jipe e com a empresa “Be a Local, Don’t be a
Gringo”, através de moto-táxi. Marcelo Armstrong, dono da “Favela Tour”, ressalta que
o passeio é bem informativo e situa a favela dentro do contexto social brasileiro. Por
último, o site da “Exotic Tours” chama a atenção da possibilidade de ter contato com
o estilo de vida real do lugar.
Dando continuidade à pesquisa, a segunda pergunta foi: “No passeio, em que
momento conseguimos conversar, ter um contato maior com os moradores?”. Teixeira
(JP), disse que não há um momento específico e que teríamos que demandar isso em
um e-mail, já que em passeios individuais isso não existe. Ou seja, a aproximação do
morador transforma-se em um produto que deve ser solicitado em uma lista.
Já Marcelo Armstrong (FV) deixa claro que não existem restrições quanto ao
contato direto e informal com os moradores, porém, isso não está no roteiro porque
14 If you go alone, yes. We do NOT recommend that you go by yourself through any favela in Rio
de Janeiro or any other city. EXOTIC TOUR. FAQ’s. Disponível em :http://www.favelatourismworkshop.
com/faqs.htm. Acesso em 01 de outubro de 2012.
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não seria espontâneo parar para interagir com o turista. Essa resposta parece deixar
clara a linha tênue entre o que é classificado como cotidiano e o que é o anticotidiano.
O “Exotic Tours” diz que os moradores dão boas vindas aos visitantes e se mostram
positivos às visitas, ao mesmo tempo em que há o respeito da parte da empresa.
Por último, Luis, dono do Be a Local, não impôs empecilhos e disse que até ajudava
o turista se ele não conseguisse se comunicar. “Durante o passeio, se o turista falar
português, pode ficar à vontade. Se não falar, eu até ajudo na hora.”
A terceira pergunta foi feita com o intuito de conhecer os limites impostos aos
visitantes, com relação aos moradores, já que ninguém é completamente pacífico e
simpático: “Existe algum tipo de restrição em relação à comunidade?”. Teixeira e Luis,
ambos das duas agências que demonstram ser mais funcionais, disseram que não
existe nenhuma restrição. Querendo ou não, isso nos faz pensar que poderíamos
fazer qualquer coisa no território visitado. Ou seja, um atrativo a mais para quem está
pensando em ir. Marcelo Armstrong (FT) disse que, apesar de a presença do visitante
já fazer parte do contexto do lugar e que eles muitas vezes nem são notados, ressalta
que tais turistas também não podem fazer tudo o que tiverem em mente. Porém, o
“Exotic Tour” é o que mais abrange a questão dos cuidados a se tomar, tanto que
na central de perguntas mais frequentes, vários tópicos abordam essas precauções,
como, por exemplo, respeitar a privacidade alheia, se vestir modestamente, não
adentrar o lugar sozinho, etc.
Por fim, a quarta e última pergunta foi feita com o objetivo de investigar se os
moradores são beneficiados de alguma forma com a atuação das agências, através
de projetos sociais: “Vocês tem algum projeto social na Rocinha? Como eu faço para
participar?”.
Foi levantado que, com exceção da Jeep Tour, todas as empresas atuam com
projetos sociais. Armstrong disse que existe o projeto “Para Ti”, onde funciona um
centro de artesanato e de informática. Porém, para participar, a pessoa teria que entrar
em contato com o grupo que administra o projeto. Ao acessar o site desse projeto,
percebemos que ele não é específico da Favela Tour, mas, sim, uma organização que
é auxiliada por esta. É interessante notar que não há uma superpromoção da obra
social para atrair clientes.
A Exotic Tour, ao contrário, enfatiza a todo o momento as obras e os projetos
apoiados, como o turismo sustentável, onde o site diz que ela treina os moradores e
jovens para serem guias. “Rejane Reis, proprietária da Exotic Tours, é a pioneira em
turismo dentro da Rocinha, e agora ela treina pessoas locais para serem guias em
um projeto sustentável dentro da Rocinha” (minha tradução) 15. É possível notar que o
15 “Rejane Reis, owner of Exotic Tours, is the Pioneer in tourism inside Rocinha and now she trains
local people how to be guides as a sustainable Project inside Rocinha”. EXOTIC TOURS. Rocinha
Favela Tourism workshop. Disponível em: http://www.favelatourismworkshop.com/.
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site utiliza esses projetos sociais para atrair o internauta, como se Rejane Reis fosse
a porta de acesso à autenticidade do cotidiano da população, por possuir a confiança
deles, por ser uma benfeitora. Por último, Luís comentou sobre um projeto no “Roupa
Suja”, uma área precária da favela, que não funciona aos fins de semana. A pessoa
que quisesse participar deveria ver como o projeto funcionava, durante duas semanas.
Resumindo o que acabamos de estudar, das quatro empresas, podemos
perceber que a Jeep Tour é a que menos disfarça a falta de inclusão e de
contextualização dos moradores da Favela da Rocinha em seus passeios, focando
muito mais na experiência única que o turista obtém ao visitar uma favela.
Um caso parecido é o da “Be a Local, Don’t Be a Gringo”, em que fala-se
pouquíssimo da comunidade referida e se enfatiza mais o território favela e a
possibilidade de o consumidor turista sentir como é viver em uma favela. Porém, esta
empresa apresenta uma maior participação com os moradores da favela, do que a
primeira. Em ambas, vemos que esse não é o foco principal.
A Favela Tour e a Exotic Tours, ao contrário, se focam na preocupação e na
inclusão dessas pessoas. Vemos, porém, que nessa há um esforço em esconder o
que é negativo e passar uma imagem multicolorida e idealizada do lugar, enquanto
na última há o discurso de que Rejane Reis é a única que mostra a autenticidade do
lugar e opera com o turismo sustentável e um esforço em mostrar isso, em seu site.
Mostrando ou não os moradores, o importante é atrair a pessoa que irá fazer o
passeio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo se propôs a estudar como o turismo na Favela da Rocinha dialoga


com o cotidiano dos moradores que lá vivem. Para isso, estudamos primeiramente o
fenômeno da globalização e a intensa conexão entre as sociedades de hoje, causada
principalmente pelo aprimoramento das TIC’s e dos transportes. Embora globalização
e capitalismo não sejam interdependentes, a associação dos dois permitiu um aumento
maior de consumo a nível mundial e as pessoas passaram a ser movidas pelo desejo
de possuir coisas novas, bem como as relações movidas pelo fetiche de possuir tal ou
qual mercadoria.
Esse fetiche passou a ser pautado não somente no ter, mas sim, no parecer,
onde o modo de ser, a cultura, os costumes, os territórios e as sociedades passaram
a ser desejados; e, se as pessoas desejam uma sociedade, o mercado rapidamente
passa a comercializar essa sociedade. Desse modo, uma favela, como por exemplo,
a Favela da Rocinha, que passe a ser reconhecida mundialmente e desperte o desejo
das pessoas em obtê-la, será comercializada pelo segmento que permite que as
pessoas se desloquem e vão até o local desejado. Essa é a premissa do turismo
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contemporâneo.
Percebendo que hoje as pessoas anseiam em suas vidas pelo que é único e
inesquecível, refletindo isso em seus hábitos de consumo, o mercado passou a usar a
experiência como um diferencial para conquistar seus consumidores. Decorrente disso,
o setor turístico utilizou-se de cenários, pessoas, tradições, para criar experiências, as
mais distintas e atraentes. E quanto mais exótico fosse e contrastasse com o cotidiano
do viajante, mais atraente seria para o mesmo. Uma dessas mercadorias seria os
reality tours, ou tours da realidade, onde poderíamos ter contato com o cotidiano difícil
de algumas sociedades, como por exemplo, a favela, a princípio associada a miséria
e violência.
Em um segundo momento, esse mesmo território, representado principalmente
pela Favela da Rocinha passou a ser reconhecido mundialmente, transformando-se
em um ícone “pop”, o que motivou muitas pessoas a desejarem não apenas visitar,
mas consumir esse lugar. Os agentes relacionados ao “morro”, como prestadores de
serviços e a comunidade, percebendo essa demanda de vista, passaram não somente
a organizar, mas tentar controlar as possíveis percepções que o visitante teria, ao
adentrar o território.
Em seguida, entramos em contato com alguns dados acerca das favelas e,
especificamente, da Favela da Rocinha, entendendo que a atividade ali vista não é
prematura.
Após termos feito essas constatações, tomamos como objeto de estudo, quatro
agências de turismo que operam com o passeio na Favela da Rocinha: “Jeep Tour”,
“Favela Tour”, “Exotic Tours” e “Be a Local, Don’t Be a Gringo” Inicialmente, faríamos
uma pesquisa em campo e entrevistaríamos moradores, turistas e guias. Porém,
devido a dificuldades de compatibilidade de horário e uma greve nas universidades
federais que durou cerca de quatro meses, as pesquisas foram feitas nos web sites
dessas empresas e por telefone.
Ao interpretar essas quatro agências, interpretamos também, quatro maneiras
distintas de apresentar a Rocinha ao seu visitante. Algumas cercam o “produto” de
encantamento e fetiche, ou estimulam o medo e a violência, como atrativo. Outras
demonstram a preocupação com o lado social e procuram passar uma ideia de
que a favela é um lugar onde todos vivem felizes e em paz. Os moradores ora são
apresentados como pobres, violentos e miseráveis, ora como felizes, pacíficos e belos.
Por fim, a Rocinha é vista como um lugar “pop” ou uma favela perigosa. Tudo
depende de como se quer atrair a atenção do turista e de como se quer trabalhar
o imaginário para que ele viva uma experiência, de acordo com suas preferências.
Há quem vá preferir viver uma aventura no “morro”, entre os “nativos” e ter uma
experiência radical, ou quem prefira um contato mais “autêntico” com a comunidade.
O importante é fazer o viajante desejar a Rocinha.
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Devido à impossibilidade de ir a campo, aconselhamos a continuidade desse


estudo através de visita ao lugar e realização de ao menos um passeio com essas
agências.
Por fim, entendemos que, ainda que os moradores sejam inseridos nesse meio
e que recebam determinados benefícios, como reconhecimento e participação em
projetos sociais, o mundo gira em torno de quem é de fora.

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PARTICIPAÇÃO SOCIAL E CIDADANIA NA COMUNICAÇÃO TURÍSTICA

Aline Viana Vidigal Santana1

RESUMO: Atividade indissociável do processo comunicativo, o turismo tem seu


estudo científico relativamente recente introduzindo, cada vez mais, uma convergência
de áreas científicas para reflexão de sua atividade. Através de uma pesquisa teórica,
este artigo procura pensar a participação dos sujeitos no processo de comunicação
turística sendo possível analisar a importância desta relação para o exercício da
cidadania e para a inclusão social.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Comunicação turística. Participação. Cidadania.


Inclusão social.

ABSTRACT / RESUMEN: Inseparable activity of the communicative process, tourism


is relatively recent scientific study introducing increasingly a convergence of scientific
areas for reflection of their activity. Through a theoretical research, this article tries to
think the participation of subjects in tourist communication process being possible to
analyze the importance of this relationship to citizenship and social inclusion.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Tourism. Tourist communication. Participation.


Citizenship. Social inclusion.

INTRODUÇÃO

Atividade que envolve uma gama de setores prestadores de serviços, o turismo


tem seu estudo relativamente recente, mas vem ampliando suas pesquisas científicas
gradativamente e, também, de forma inclusiva quando agrega pesquisas de outras
áreas de estudo para enriquecer a sua teoria e, fundamentalmente, aprimorar a prática.
O Brasil é um país que possui uma pluralidade de ofertas de atrativos turísticos
tornando-o privilegiado no cenário mundial turístico. O papel da mídia para difundir a
imagem de uma nação ou, até mesmo, de uma cidade – num menor nível identitário
– será determinante sobre a motivação do potencial turista para realizar uma viagem.
Entretanto, a comunicação turística não ocorre apenas de forma oficial e planejada,
como veremos.
Buscamos neste trabalho, a partir de análise sobre comunicação turística
em sua complexidade, como proposta por Baldissera (2007 e 2010), refletir sobre
1 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Especialista em Gestão do
Patrimônio Cultural pela Faculdade Metodista Granbery. E-mail: alinesantana888@gmail.com
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a participação popular na comunicação turística e como este processo corrobora


para o exercício da cidadania e inclusão social. Esperamos, com este artigo, trazer
contribuições para novas formas de transcender os limites da comunicação turística
pautada, na grande maioria das vezes, em seu enfoque publicitário e comercial
que excluem a comunidade de uma participação efetiva e transformadora. Assim, é
possível criar um modelo participativo da comunicação turística?
A partir de uma análise teórica pautada em comunicação turística, participação
e cidadania, não procuraremos dar respostas limitadas a tal questionamento, mas,
sim, traçar reflexões acerca da temática proposta trazendo contribuições para as
diversas perspectivas de aplicabilidade.

BREVE NOÇÃO DA COMUNICAÇÃO NO TURISMO: COMUNICAÇÃO


TURÍSTICA

Numa percepção ampla e também flexível, o turismo é compreendido, pela


Organização Mundial de Turismo, pelas “atividades que realizam as pessoas durante
suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual2, por um
período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras”
(OMT, 1994, apud OMT, 2001, p.38). Essas práticas histórico-sociais nas quais os
sujeitos se deslocam em tempos e espaços distintos ao habitual implicam novas
práticas e comportamentos (GASTAL e MOESCH, 2007) que são movidos pela busca
de momentos de lazer, conhecimento, cultura, diversão, prazer, entre outros.
Os destinos turísticos precisam “comercializar” sua imagem, seus produtos e
serviços ao mesmo tempo que o potencial turista precisa receber essas informações
através de algum instrumento midiático, seja impresso, eletrônico e/ou interativo,
para que possa conhecer um produto turístico e se sentir motivado a “consumi-lo”,
para isto, o estudo da comunicação é intrínseco ao do turismo. Baldissera afirma,
portanto, que “pela comunicação um atrativo, produto, pólo turístico passa a existir
socialmente, ou seja, antes disso, sua existência tende a se reduzir a uma existência
localizada, tangível ou intangível”. (2007, p. 02). Além disso, “a imagem de um destino
turístico criada através de diferentes canais de comunicação influenciará a motivação
e, subseqüente, afetará o tipo de viagem empreendida” (COOPER, 2007, p. 85).
Mas refletir sobre a relação da comunicação com o turismo não se reduz à
publicidade e ao comércio de produtos turísticos, Nielsen, numa interpretação do
turismo como uma experiência de comunicação, define a atividade turística como uma
forma de auto-expressão, o desejo de exercer as muitas liberdades que usufruímos
na sociedade moderna e, consequentemente, comunicar esses desejos em decisões
2 Em 1995, a OMT – Organização Mundial de Turismo – esclareceu que “o entorno habitual de uma pessoa
consiste em certa área que circunda sua residência mais todos aqueles lugares que visita freqüentemente”. (OMT,
2001, p.38)
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ou ações de turismo e viagens de maneira comercial, estética, física, virtual, real e


emocional (2002, p. 17).
Dito isso, torna-se imprescindível traçarmos alguns apontamentos conceituais
acerca dos termos comunicação, conhecimento e informação. Destaca-se que
informação se difere dos termos comunicação e conhecimento, como explica Pernisa
Júnior, que informar significa “trabalhar um conjunto de dados para repassá-los
ou para utilizá-los. Já na comunicação há uma relação interpessoal, uma troca de
informações. O conhecimento também trabalha com informações, mas depende de
uma comparação entre elas” (2008, p. 171).
Importante acrescentar a necessidade identificada por Freire, desde 1960,
de repensar a noção de comunicação “no sentido de ter em comum, compartilhar,
estar conectado pela mesma teia simbólica construtora de sentido, em um contexto
histórico desigual e contraditório” (LIMA, 2004, p. 54). Lima (2004) esclarece ainda,
que o advento de novas tecnologias interativas de comunicação no século XXI obriga
a uma rediscussão conceitual interligada à cultura. Assim, para o autor, a interatividade
– que possibilita uma interação simultânea entre emissor e receptor – é uma das
tendências promissoras do novo cenário tecnológico. Para Freire “a comunicação é
uma interação entre Sujeitos iguais e criativos. Mas esta interação é de natureza tal
que necessita estar fundada no diálogo” (LIMA, 2004, p. 62).
Assim, nas palavras de Baldissera, “pensar turismo é, também, pensar
comunicação”, podendo ser a comunicação pensada sob vários enfoques e
complexidade, tais como:

Os processos estratégicos de divulgação e promoção publicitária dirigida


aos turistas reais e/ou potenciais, as campanhas de valorização do turismo,
os processos políticos e negociais entre as diferentes forças/poderes, as
relações com as mídias, a capacitação/desenvolvimento de pessoas para
atuarem na área e afins, a circulação de informações, as falas de resistência,
as mediações e midiatizações, as campanhas de sensibilização, os
processos de construção e/ou fabricação da imagem-conceito, os processos
mercadológicos (comercialização), os lugares de participação (ou não) das
comunidades, as regiões de silêncio, os lugares de boicote, as aferições
de opinião, clima, imagem-conceito, as pesquisas de mercado, as relações
interpessoais entre turistas e nativos, as tensões entre a comunicação oficial
(formal) e a comunicação não-oficial (informal), a cultura como memória
não hereditária, informação, organização e comunicação, a organização de
informações para serem apresentadas aos turistas em diferentes ambientes
e a própria criação dos ambientes como lugar a ser significado, como
mensagem a ser interpretada. (BALDISSERA, 2007, p. 01-02)

Esses enfoques descritos por Baldissera demonstram o potencial dos meios


de comunicação social e os estímulos que podem ser propiciados para aumento
do fluxo de turistas e para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da atividade na
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contemporaneidade corroborando que “com uma velocidade sem precedentes, somos


hoje bombardeados por informações que tanto podem nos motivar ao deslocamento
quanto inibir tal ação”, tornando os meios de comunicação essenciais na história do
turismo (WILD, 2004, p. 32).
O turismo presente na contemporaneidade pode ser descrito por Gentilli que,
discorrendo sobre as modificações nos diferentes níveis da realidade social provocada
pelas modernas sociedades de massas, cita Daniel Bell: “a revoluções nos transportes
e nas comunicações têm colocado os homens em um contato mais estreito entre si e
produzido novas formas de relacionamentos” (apud GENTILLI,1995, p. 86).
Deste modo, atento à importância da comunicação para a atividade turística,
Baldissera (2007 e 2010) propõe um estudo da comunicação turística em suas várias
dimensões e complexidades destacando, para isso, os três princípios básicos do
Paradigma da Complexidade que são, conforme Morin, o dialógico3, o recurvo4 e o
hologramático5 (apud BALDISSERA, 2007, p. 03), ou seja, pensando a comunicação
como “disputa de sentidos, como fluxos multidirecionais, como dispersão/(des/re)
organização, ordem/desordem, e como lugar de tensão entre interlocutores – em
diálogo”, dentre outras (BALDISSERA, 2010, p. 68). Dito isso, o autor elucida que a
comunicação turística:

é toda comunicação que se realiza no âmbito das relações de turismo,


em seus diferentes processos, suportes e contextos, ou seja, compreende
a comunicação que, de alguma forma e em algum nível – formal e/ou
informalmente -, atualiza/materializa sentidos relativos às idéias e às práticas
de turismo. Subsistemas de comunicação que presentifica sua interface com
o turismo, a comunicação turística beneficia-se das reflexões realizadas
no campo da comunicação, nos níveis epistemológico, teórico e prático,
particularmente naqueles referentes às áreas de atuação das Relações
Públicas, do Jornalismo, da Publicidade e Propaganda, do Cinema e do
Radialismo. Daí a amplitude e a complexidade dos estudos nesse subsistema.
(Baldissera, 2010, p. 68)

O que Baldissera (2010) propõe é que pensemos a comunicação não


apenas em seu modelo oficial, planejado e formal, mas, também, que olhemos para
3 O princípio dialógico funda-se “[...] na associação complexa (complementar, concorrente e antagônica) de instâncias
necessárias ‘junto’ à existência, ao funcionamento e ao desenvolvimento de um fenômeno organizado” (MORIN, 2000 apud
BALDISSERA, 2007, p. 02). “Procura compreender a complexa lógica que, para além do lugar da justaposição, associa/une
termos do tipo ordem/desordem, sapiens/demens, organização/desorganização, como noções ao mesmo tempo antagônicas
e complementares, atualizadas nos processos organizadores do sistema complexo. Daí que noções ‘inimigas’, como ordem e
desordem, em certos casos, mais do que suprimir uma à outra produzem organização” (BALDISSERA, 2007, p. 02).
4 “ ‘Um processo recursivo é um processo em que os produtos e os efeitos são ao mesmo tempo causas e produtores
daquilo que os produziu’ (MORIN, 2001, p.108). [...] Pela recursividade, rompe-se com a idéia linear de causa/efeito, produto/
produtor. Tudo o que é produzido volta, de alguma forma, sobre o seu produtor, pois “os produtos e efeitos gerados por um
processo recursivo são, ao mesmo tempo, co-causadores desse processo’ (MORIM, 2002, p. 102)”. (BALDISSERA, 2007, p. 03-
04)
5 “Pelo princípio hologramático, que ultrapassa as idéias do holismo (foco único no todo) e do reducionismo (foco
único nas partes), Morin pontua a noção de que ‘a parte não somente está no todo; o próprio todo está, de certa maneira,
presente na parte que se encontra nele’ (2002, p. 101)”. (BALDISSERA, 2007, p. 03)
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outros fluxos comunicacionais independentes do planejamento de profissionais de


comunicação e/ou do turismo, que são oficialmente responsáveis pela comunicação de
um empreendimento, pólo ou atrativo. Outros fluxos comunicacionais que acontecem
informalmente podem ser estabelecidos “entre turistas, entre turistas e comunidade
local, entre diferentes indivíduos da comunidade local, entre investidores e Poder
Público, entre gestores e funcionários, entre funcionários e turistas, entre turistas e
seus familiares/amigos [...]” (BALDISSERA, 2010, p. 68-69).
Nesse sentido “a comunicação experimenta lugares e processos próprios,
que não se deixam apreender e/ou controlar” (Baldissera, 2010, p. 70) e, por isso,
buscamos refletir, neste artigo, as possibilidades e a importância da participação da
comunidade autóctone na comunicação turística. A seguir, apontaremos uma breve
noção de participação como subsídio teórico para esta reflexão.

PARTICIPAÇÃO NA COMUNICAÇÃO TURÍSTICA: INTERAÇÕES POSSÍVEIS


PARA A CIDADANIA

“O futuro ideal do homem só se dará numa sociedade participativa”


(Bordenave, 1992, p. 17)
A participação tem acompanhado o homem no processo construtivo de sua
história social sendo possível observar uma “tendência para a intensificação dos
processos participativos” (BORDENAVE, 1992, p. 12) causado pelo “descontentamento
geral com a marginalização do povo dos assuntos que interessam a todos e que são
decididos por poucos” (idem). Para o mesmo autor a participação vista pelos setores
progressistas facilita o desenvolvimento de uma consciência crítica da população e
seu poder reivindicatório além de prepará-la para adquirir mais poder na sociedade.
Na visão dos planejadores democráticos a participação garante ao povo um maior
controle e fiscalização das autoridades e serviços públicos.
De acordo com Bordenave (1992), há vários graus e níveis de participação
(conforme figura 1) sendo o menor grau o de informação. A elaboração/recomendação
seria um grau mais avançado na qual os subordinados elaboram propostas, que
podem ser aceitas ou não. Já na auto-gestão não há diferença entre administradores
e administrados.
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GRÁFICO: GRAUS E NÍVEIS DE PARTICIPAÇÁO

Figura 1: Graus que pode alcançar a participação numa organização qualquer, do ponto de vista do
menor ou maior acesso ao controle das decisões pelos membros. Fonte: Bordenave, 1992, p. 31.

Sobre o envolvimento da comunidade em programas públicos, Ferreira (1995)


“apresenta três tipos de participação: nas decisões; na execução; e nos resultados. A
cada um deles corresponde uma modalidade diferente de exercício de poder” (apud
PERUZZO, 1999, p. 76). Peruzzo (1999) afirma que, no Brasil contemporâneo, a
participação da população nas decisões é a menos usada.
A participação da comunidade autóctone muitas vezes não é privilegiada nos
processos de comunicação turística, podendo gerar um distanciamento do morador
com a atividade por ausência de um sentimento de pertença ao turismo em sua
cidade. A tendência das deliberações com relação ao turismo serem determinadas
pelos setores públicos e privados sem, no entanto, envolver as necessidades, medos
e opiniões da comunidade faz com que os moradores não se sintam responsáveis
pelo processo, podendo trazer consequências sérias para o sistema turístico. Além
disso, a comunidade, se preparada e envolvida, pode ser a maior beneficiada com a
presença de um turismo sustentável e planejado em sua cidade.
Sobre a questão da participação, Cecília Peruzzo (1999) nos lembra que essa
é uma questão pautada na experiência histórica. Peruzzo argumenta que os povos
não têm tradição em participação além de se representarem em valores autoritários,
à falta de conscientização política e a outros fatores, a autora acrescenta que, no
Brasil, desde o “período colonial, nos foi obstada ou até usurpada a possibilidade
de avançar nessa prática. Nossas tradições [...] apontam mais para o autoritarismo
e a delegação de poder do que para assumir o controle e a co-responsabilidade na
solução de problemas” (1999, p. 73-74).
Entretanto, no que cerne à atividade turística há uma busca pelo pós-
colonialismo que implica numa primazia por um desenvolvimento sustentável com
gestão e planejamento participativos voltados para os interesses locais (GASTAL
e MOESCH, 2007). A participação da comunidade local no planejamento turístico
propiciará um maior usufruto dos impactos positivos ocasionados pela atividade
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preparando a população, ainda, para os possíveis impactos negativos.


Demo nos adverte que a participação “não é dada, é criada. Não é dádiva, é
reivindicação. Não é concessão, é sobrevivência. A participação precisa ser construída,
forçada, refeita e recriada” (DEMO, 1988 apud PERUZZO, 1999, p. 75).

A participação é o caminho natural para o homem exprimir sua


tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo e dominar a
natureza e o mundo. Além disso, sua prática envolve a satisfação de outras
necessidades não menos básicas, tais como a interação com os demais
homens, a auto-expressão, o desenvolvimento do pensamento reflexivo, o
prazer de criar e recriar coisas, e, ainda, a valorização de si mesmo pelos
outros. (BORDENAVE, 1992, p. 16)

Uma modalidade que favorece a “participação democrática, ativa e autônoma,


propiciando, de modo mais completo, o crescimento das pessoas ou das organizações
coletivas enquanto sujeito” seria a participação-poder, na qual o poder é compartilhado,
sendo a co-gestão e a auto-gestão expressões desta modalidade (PERUZZO, 1999,
p. 81). Na perspectiva da co-gestão, funcionários de um empreendimento turístico
ou organismo público, por exemplo, ou a população em geral teria uma participação
ativa no processo administrativo, mas com limitações, uma vez que as decisões
permanecem nas mãos da alta hierarquia. Já do ponto de vista da auto-gestão a
população e/ou funcionários teriam participação direta na tomada de decisões.
Isso nos remete aos direitos e deveres de ser um cidadão e, por isso, Manzine-
Crove nos explica que a cidadania apenas existe se:

Houver a prática da reivindicação, da apropriação de espaços, da


pugna para fazer valer os direitos do cidadão. Neste sentido, a prática da
cidadania pode ser a estratégia, por excelência, para a construção de uma
sociedade melhor. Mas o primeiro pressuposto dessa prática é que esteja
assegurado o direito de reivindicar os direitos, e que o conhecimento deste
se estenda cada vez mais a toda a população. (MANZINE-CROVE, 2001,
p. 10)

Peruzzo (1999) nos lembra que a Declaração Universal dos Direitos Humanos
estabelece que todos os cidadãos têm o direito de participar da vida em comunidade
ao mesmo tempo que possuem deveres para com a mesma. Nesta perspectiva, a
autora assegura que “uma das múltiplas instâncias pelas quais o homem pode exercer
esse direito e esse dever é a comunicação social, compreendendo-se todos os níveis
e todos os meios criados para efetivá-la” (1999, p. 275).
Uma forma de aumentar a participação popular na mídia seria sua regulamentação
que possui o papel de “determinar o interesse público, numa base contínua, com
relação a questões específicas” (RABOY, 2005, p. 199). Entre os vários papeis da
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autoridade regulatória, citada por Raboy (2005), seria supervisionar o equilíbrio entre
os setores público, privado e comunitário; facilitar a viabilidade do setor comunitário e
supervisionar o desenvolvimento do sistema.
Assim, a regulamentação da mídia, como propõe Raboy, traria contribuições para
um novo modelo, também, para o sistema da comunicação turística. Cabe, portanto,
fazermos um apontamento sobre o fenômeno do lazer no processo da globalização
que vem desenvolvendo uma relação intrínseca com a dinâmica da atividade turística,
uma vez que o aumento do tempo livre, com a diminuição da jornada de trabalho,
trouxe uma expressiva busca por atividades para ocupação do tempo disponível.
Está presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, em seu
artigo XXVI, que “todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação
razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas”. O artigo XXII
assegura ainda que “todo ser humano, como membro da sociedade tem direito à
(...) realização (...) dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua
dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade” (ONU, 1948).
Silva Júnior (2010) esclarece que dentre todos os textos constitucionais
brasileiros a Constituição da República de 1988 (CRFB/88) é a primeira a trazer a
rubrica lazer em seu texto como um direito social assim como educação, saúde,
segurança e proteção à maternidade e à infância. Bobbio (1992) esclarece que os
direitos são históricos e gradualmente formados, assim, “essas exigências nascem
somente quando nascem determinados carecimentos. Novos carecimentos nascem
em função da mudança das condições sociais e quando o desenvolvimento técnico
permite satisfazê-los” (BOBBIO, 1992, p. 07).
A necessidade e o direito ao lazer contribuem para o desenvolvimento das
mais variadas formas de entretenimento – entre eles, o turismo – e, paralelamente, a
mídia tem sido aliada na transmissão de informações para melhor aproveitar o tempo
livre disponível. Isto nos leva a refletir sobre o direito à informação como porta de
acesso a outros direitos levando Gentilli a afirmar que “a informação, conforme seja a
necessidade que dela se tenha pode ser entendida como direito social, como direito
civil e como direito político” (1995, p. 25).
Por se tratar de um processo social fundamental para todas as relações e
organizações sociais que Melo e Sathler (2005) defendem a inclusão da Comunicação
como um Direito Humano. Para eles “incluir os Direitos à Comunicação nessa luta é
reconhecer a centralidade do ser humano como agente do seu próprio destino, seja
como indivíduo ou grupo, capaz do diálogo” (2005, p. 08).
A inclusão da comunicação como direito social humano, assim como o lazer,
poderia apontar para maior liberdade e mobilização popular na comunicação turística
podendo ser um grande catalisador do processo de construção e exercício da
cidadania.
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Neste início de século, uma grande questão posta às cidades seria inserir-se
com autonomia nas redes internacionais, abdicando-se de um modelo reprodutor da
globalização, como o turismo. Gastal (2007) aponta que esta internacionalização passa
pelas mídias e pela capacidade de produzir e conservar informação e que submetidas
às tecnologias de informação e comunicação, as cidades encaminhariam, em princípio,
para uma certa homogeneização de comportamento e pensamentos, mas, afirma a
autora, “as cidades, nas suas rotinas, impõem o constante exercício do conviver com
a diversidade, o que aceleraria e transformaria a idéia de cidadania” (GASTAL, 2007,
p. 24). Ainda para a autora, as mídias, quando entregues à competência comunicativa
das comunidades e de suas culturas, permitiriam a cidadania como respeito ao
universal, devido ao reconhecimento das diferenças e à abertura para o outro.
Em suma, correlacionar o envolvimento popular na comunicação turística
requer que tenhamos conhecimento das várias possibilidades e níveis de participação
que pode desenvolver neste subsistema da comunicação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste artigo pudemos observar que o fenômeno turístico na
sociedade capitalista ganhou força com a revolução dos meios de transportes, meios
de comunicação atrelados às novas tecnologias além do direito ao lazer e às férias
remuneradas. Neste cenário, os meios de comunicação são ferramentas fundamentais
para que as informações sejam repassadas, o que nos faz reconhecer o direito às
informações como porta de acesso aos direitos social, civil e político.
Assim, para que um modelo de comunicação turística pautado em sua
complexidade, como propõe Baldissera, seja inclusivo, participativo e democrático há
uma necessidade de envolver a população nos processos de produção, planejamento
e gestão deste subsistema da comunicação, abarcando, portanto, vários contextos
de cidadania. Entretanto, destacamos que cada realidade possibilita um tipo e grau
de participação, não sendo nosso objetivo, neste artigo, traçar modelos limitados e
centralizados.

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de Comunicação da Região Sul. Passo Fundo/RS, 2007.

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CONTRIBUIÇÕES DA HOSPEDAGEM DOMICILIAR AO MUNICÍPIO DE LAGOA


DO CARRO / PE: OPORTUNIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL.

Maria Helena Cavalcanti da Silva Belchior 1


Narayna de Albuquerque Ferreira 2

RESUMO:
O presente estudo propõe-se apresentar as possibilidades de implantação de
hospedagens domiciliares do tipo Cama e Café no município de Lagoa do Carro,
situado na zona da mata norte do estado de Pernambuco como forma de dotar a
localidade de condições propícias à acomodação, alimentação e alojamento a seus
visitantes. Para tanto, foram realizadas, no decorrer dos anos de 2010 a 2013,
incursões com vistas à coleta de dados no locus de pesquisa, buscando através da
realização de observações e entrevistas, primeiramente informais e, em seguida,
semiestruturadas, com a comunidade e o poder público local, a obtenção de dados
que viessem a responder acerca de ser ou não viável a implantação deste tipo de
hospedagem. Somado à pesquisa de campo, amparou-se o presente estudo em
revisões do tipo bibliográfica e documental à luz das temáticas: hospitalidade e turismo
comunitário primordialmente. Como resultados, destaca-se a possibilidade quanto a
tornar-se viável as hospedagens do tipo Cama e Café, haja vista a disponibilidade de
imóveis para tal fim, a população engajada e sensível à melhora na cadeia produtiva
do turismo e o interesse do poder público local ciente dos contributos oriundos do
desenvolvimento do turismo fincado em bases sustentáveis e benéficas a seus atores.
PALAVRAS-CHAVE: Lagoa do Carro. cama e café. turismo. hospedagem.
desenvolvimento local.

ABSTRACT / RESUMEN:
This study intends to present the possibilities of locating the type of residential
accommodation bed and breakfast in Lagoa do Carro, situated in the Zona da Mata
of the state of Pernambuco in order to provide the location of conditions conducive
to accommodation, food and accommodation to its visitors. For thatwereperformed
during the years 2010 to 2013, raids aiming at collecting data on the locus of research,
searching by conducting observations and interviews, informal first and then semi-
structured, with the community and the power local public, obtaining data that come
about to answer or not feasible to implement this type of hosting. In addition to field
research, steadied in the present study reviews the literature and documents in the
light of the thematic type: hospitality and tourism community primarily. As a result,
there is the possibility as to become viable Hosts the type bed and breakfast, given
the availability of land for this purpose, the engaged and sensitive to improvement in
1 Graduação em Turismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialização em
Administração de Marketing pela Universidade de Pernambuco (UPE) e em Educação a Distância pela
Faculdade Integrada de Jacarepaguá (FIJ). Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentá-
vel pela Universidade de Pernambuco (UPE). Professora do Departamento de Hotelaria e Turismo da
UFPE. E-mail: maria.hcsilva2@ufpe.br.
2 Graduação em Turismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). E-mail: naray-
na_10@hotmail.com
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tourism production chain population and the interest of local government aware of the
contributions coming from the development of tourism in sustainable and beneficial
stuck his actors bases.
KEYWORDS: Lagoa do Carro. bed and breakfast. tourism. hosting. local development.

1 INTRODUÇÃO

A promoção do turismo em municípios interioranos traz consigo a possibilidade


de desenvolvimento de novas formas da atividade que fuja das habituais segmentações
voltadas ao sol e mar, lazer, negócios e eventos, por exemplo. A interiorização,
especificamente tratando-se do estado de Pernambuco, permite que municípios
situados em regiões como agreste, sertão e zona da mata possam despontar como
destinos que apresentam a seus visitantes novas formas de turismo e, por conseguinte,
venham a disponibilizar estrutura condizente à receptividade de turistas.
Lagoa do Carro, município pertencente à região de desenvolvimento zona da
mata norte pernambucana (PERNAMBUCO, 2014), é conhecido primordialmente pela
sua forte produção artesanal, notadamente à voltada para os tapetes. A localidade,
contemplada no Planejamento Estratégico do Turismo de Pernambuco intitulado
“Pernambuco para o mundo”, tem em sua população força motriz para uma execução
plena da atividade turística.
O município vem nos últimos anos atraindo a atenção pública com ações em
prol do turismo haja vista seu acervo histórico, arquitetônico, cultural e natural. Situado
em uma região de clima ameno e com atratividades que vão além do visualizado no
litoral do estado, possui condições de despontar com sua atividade turística a partir de
sua forma acolhedora e hospitaleira presente na comunidade.
É oportuno apontar que as tradições locais, a exemplo da remanescente
comunidade quilombola Barro Preto e seu Maracatu de Baque Solto Estrela da Tarde
de Barro Preto, a realização de eventos como a Feira do Tapete e do Artesanato de
Lagoa do Carro, que já está em sua 12ª edição, e atrações de ordem natural como a
Cachoeira do Roncador e Barragem do Carpina são alguns dos exemplares disponíveis
aos visitantes da localidade (SANTOS, 2014; FETALC,2013). Ainda destaca-se no
município o Museu da Cachaça, propriedade de ordem particular criada em 1998.
Em seu portal eletrônico encontra-se que seu proprietário é o maior colecionador de
cachaça do mundo tendo o local recebido do Guiness Book tal certificação (MUSEU
DA CACHAÇA, 2000).
Dado o conjunto de atratividades de ordem cultural, natural e histórica é
mister destacar que em um cenário bucólico as experiências e a troca destas entre
população local e visitantes carrega consigo forte importância além de trazer uma nova
significância ao fazer turismo a partir do engajamento local, ou seja, o fortalecimento
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de um turismo fincado em bases comunitárias com vistas a incluir os entes de uma


localidade. Apoiando-se nas ideias de Coriolano e Vasconcelos (2013, p.108):

As atividades turísticas comunitárias são associadas às demais atividades


econômicas com iniciativas que fortalecem agricultura, pesca e artesanato,
fazendo-os atividades preexistentes ao turismo. Prioriza a geração de trabalho
de residentes, pequenos empreendimentos, dinamização do capital local, a
garantia da participação de todos.

Em virtude da estreita relação do turismo e da hotelaria, e visando responder


ao problema de pesquisa, ou seja, a viabilidade de implantação de hospedagens
domiciliares do tipo Cama e Café no município em tela, o estudo pautou-se
primordialmente na ausculta da população e o seu real interesse em ter suas
residências transformadas em hospedagem.
A escolha por Lagoa do Carro é centrada fundamentalmente em contribuir com
dados que auxiliem gestores e população a respeito das benesses surgidas a partir
de um desenvolvimento turístico amparado nas questões locais, apresentar – a partir
da realidade estudada – contributos para uma possível implantação de hospedagens
domiciliares e estimular novas formas geração de renda no município.
Sabe-se que esta pesquisa não esgotará a temática ora estudada e sim abrirá
caminhos para novas formas de se pensar o turismo e suas relações nas comunidades
principalmente ensejando para estudos em distintas regiões turísticas do estado de
Pernambuco. Ratifica-se a importância de pesquisas como a proposta a municípios
que ora descobrem a atividade turística demonstrando que na sua base constitutiva
o turismo se faz presente de forma às vezes incipiente, mas que podem com o
envolvimento local prover novas formas de sustento à comunidade e, por conseguinte,
ao município.

2 REVISÃO DA LITERATURA

O presente trabalho buscou enfatizar a importância do turismo de base


comunitária, tendo como base uma pesquisa desenvolvida em Lagoa do Carro,
município do interior de Pernambuco. O trabalho desenvolvido na comunidade
em questão objetivou analisar a viabilidade para a implantação de um meio de
hospedagem do tipo Cama e Café no município, com intuito de envolver a população
local no processo de desenvolvimento turístico do destino, visando o desenvolvimento
de ambos, comunidade e destino. Para termos de definição de hospedaria domiciliar
do tipo Cama e Café usar-se-á a concepção defendida por Pimentel (2007), que
define esta modalidade de hospedagem como: o tipo pelos quais os moradores não
se ausentam durante a estadia do hóspede, prestam a estes serviços e oferecem café
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da manhã. Trata-se do que é classicamente conhecido como bed and breakfast (b&b),
home stay, ou Cama e Café no Brasil.
Na análise para o desenvolvimento das hospedarias no município levou-se em
consideração primordial o interesse e a hospitalidade da comunidade local neste tipo
de empreendimento, usando como definição de hospitalidade o que propõe Grinover
(2007, p.30), quando afirma que hospitalidade é um: “ato de bem receber, que
proporciona uma sensação de bem estar”, buscando sempre mostrar para a população
a importância do envolvimento da mesma no processo de desenvolvimento do turismo
no município, e os benefícios trazidos pelo entrosamento da comunidade juntamente
com os órgãos gestores locais na promoção do turismo com base comunitária, que
visa o envolvimento da comunidade como atores principais, participantes e ativos. Ao
se tratar de turismo comunitário usa-se a definição de Coriolano (2003, p.41) apud
Barbosa e Coriolano (2013, p.4), que afirma que turismo de base comunitária é:

aquele desenvolvido pelos próprios moradores de um lugar que passam a ser


articuladores e construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o lucro ficam
na comunidade e contribuem para melhorar a qualidade de vida.

Pode-se perceber que as hospedarias domiciliares se enquadram perfeitamente


na definição de turismo comunitário descrita acima por Coriolano e Barbosa, já que o
empreendimento em estudo depende primordialmente do envolvimento da comunidade
para existir.

2.1 Turismo de base comunitária

O turismo de base comunitária possibilita a inclusão da comunidade na tomada de


decisões, no planejamento e no usufruto dos benefícios trazidos pelo desenvolvimento
do turismo, cujas principais características são descritas por Carvalho (2007, p.1), no
seguinte trecho:

O turismo comunitário destaca-se pela mobilização da comunidade na luta


por seus direitos contra grandes empreendedores da indústria do turismo
de massa que pretendem ocupar seu território ameaçando a qualidade de
vida e as tradições da população local. Este modelo de turismo através do
desenvolvimento comunitário é capaz de melhorar a renda e o bem-estar
dos moradores, preservando os valores culturais e as belezas naturais da de
cada região.

A melhora da renda e do bem-estar assim como o aproveitamento da


infraestrutura existente para a implantação das hospedarias domiciliares, que tem
como intuito aproveitar a própria casa dos moradores como leitos para os visitantes
seguem as características de turismo de base comunitária proposta acima por
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Carvalho.
Sendo o turismo uma atividade capaz de atrair divisas, gerar empregos
e melhorar o nível de vida das comunidades, o turismo de base comunitária visa
minimizar os pontos negativos trazidos pelo desenvolvimento do turismo através da
promoção ativa da comunidade e sua inclusão visando seu desenvolvimento ativo
juntamente com o turismo e as oportunidades do destino.
Desta feita, o Ministério do Turismo brasileiro tem trabalhado com ações voltadas
ao fortalecimento e o fomento dos destinos turísticos do país, por meio principalmente
dos Programas Regionais de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR), e de ações
de infraestrutura, da promoção e marketing, com destaque à promoção internacional
do país pelo Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), da qualificação profissional,
entre outras iniciativas do poder público federal, o que tem contribuído de forma
positiva para o desenvolvimento do turismo de base comunitária. Outra forma de
valorização do trabalho da comunidade local é a promoção do artesanato, da cultura
e da culinária, assim como todos os outros trabalhos que beneficiem e valorizem
diretamente as pessoas da comunidade e os tornem atores principais no processo de
desenvolvimento do turismo local, assim como afirma Carvalho (2007, p.1):

O turismo comunitário apresenta-se sendo desenvolvido pela própria


comunidade, onde seus membros passam a ser ao mesmo tempo
articuladores e construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o lucro
permanecem na comunidade contribuindo para melhoria de qualidade
de vida, levando todos a se sentirem capazes de cooperar e organizar as
estratégias do desenvolvimento do turismo. Além de requerer a participação
de toda a comunidade, considera os direitos e deveres individuais e coletivos
elaborando um processo de planejamento participativo. Desenvolvendo assim
a gestão participativa, ou seja, os atores sociais na sua maioria se envolvem
com as atividades desenvolvidas no local de forma direta ou indireta tendo
sempre em vista a melhoria da comunidade e de cada participante, levando
em conta os desejos e as necessidades das pessoas, a cultura local e a
valorização do patrimônio natural e cultural.

A utilização da mão de obra local, assim como o incentivo para a qualificação


da comunidade e uso de estruturas preexistentes para o desenvolvimento das
hospedarias domiciliares do tipo Cama e Café seguem o proposto por Carvalho
enquadrando o meio de hospedagem do tipo Cama e Café no eixo de atividades do
ramo participativo comunitário.

2.2 Hospedaria domiciliar do tipo Cama e Café

A hospedaria domiciliar é um tipo diferenciado de hospedagem que surgiu da


necessidade de mercado e se adequar aos novos e antigos clientes e alinhar-se as
novas tendências. O Cama e Café se direciona a um público diferenciado que está à
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procura, não apenas de baixos custos, mas também de novas experiências, através
de mais contato com o destino, com a cultura e com a vida cotidiana das pessoas do
local. Na hospedagem domiciliar, especialmente do tipo bed and breakfast, turistas e
comunidade encontram-se em um espaço comum, se conhecem e criam, até mesmo,
laços de amizade (PIMENTEL, 2007).
No Brasil, a prática do bed and breakfast (Cama e Café), assim como de outras
formas de hospedagem domiciliar, ocorre já há alguns anos, embora, em muitos
casos, de modo informal e desarticulado. A situação legal e organizativa pode variar.
As hospedagens domiciliares podem ser formais – a partir do Cadastro Nacional de
Pessoas Jurídicas e registro no Ministério do Turismo; semiformais – quando há uma
instituição “guarda-chuva” concedendo apoio aos empreendedores a exemplo do
Serviço brasileiro de apoio às micro e pequenas empresas (SEBRAE), associação de
moradores, secretarias de turismo municipal ou estadual; ou completamente informal.
(PIMENTEL, op. cit.).
Hoje a hospedagem domiciliar do tipo Cama e Café, foi inserida no Sistema
Brasileiro de Classificação dos Meios de Hospedagem (SB Class) que a define
como: “hospedagem em residência com no máximo três unidades habitacionais
para uso turístico, com serviços de café da manhã e limpeza, na qual o possuidor do
estabelecimento resida” (BRASIL, 2010, p.6).
A necessidade da presença de morador quando da implantação e continuidade
de um Cama e Café é de extrema importância de forma que o mesmo não se exclua do
processo, como acontece em alguns casos onde os moradores deixam suas próprias
casas e vão morar em casa de amigos, parentes ou até mesmo em casas alugadas
para usufruir de um aluguel. Tal situação torna-se inadequada, pois, o anfitrião não
compartilha nem interage com os visitantes a sua cultura nem a sua rotina, nem muito
menos pratica a hospitalidade, ou seja, o ato do bem receber característica principal
para a existência das hospedarias domiciliares.

2.3 Hospitalidade: base primordial para as hospedagens Cama e Café

A prática da hospitalidade é de primordial importância para o desenvolvimento


das hospedarias domiciliares do tipo Cama e Café, tendo em vista que os anfitriões
irão exercitar plenamente o ato do bem receber proposto pelo modo de hospedagem,
que promove uma troca mútua como sugere a definição da hospitalidade descrita
por Lashley, (2004, p. 5) que diz que: “a hospitalidade envolve, originalmente,
mutualidade e troca e, por meios dessas, sentimentos de altruísmo e beneficência”. Tal
pensamento é reafirmado por Boff (2005) ao tratar a reciprocidade como item relativo
à hospitalidade, assim como para Praxedes (2004) que escreveu ser a hospitalidade
uma forma de relação humana baseada na ação dos visitantes e anfitriões e também
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baseadas em questões de reciprocidade, ou seja,a necessidade de que a comunidade


seja receptiva é de extrema importância e relevância para o desenvolvimento de um
Cama e Café, como afirma Beni (2007, p.216):

Dentro da questão dos meios de hospedagem, faz-se necessário interpretar a


hospitalidade como os fatos que possibilitam a indivíduos e a grupos sociais,
em lugares diferentes, abrigar-se e proporcionar trocas construtivas entre
hóspedes e anfitriões. Isso significa que a hospitalidade implica práticas de
sociabilidade, ajuda e serviços que facilitem o acesso a recursos locais e o
engajamento de relações que vão além da interação imediata.

A interpretação de mutualidade na relação de hospitalidade é comum entre


os atores. Esta relação é a também proposta pelas hospedarias domiciliares do
tipo Cama e Café, onde os dois lados, tanto o do anfitrião, quanto o do visitante
são amplamente satisfeitos através da hospitalidade, onde de um lado é gerado o
envolvimento com ganho monetário por parte do anfitrião e do outro gerado a satisfação
por meio dos serviços oferecidos aos hóspedes. Ademais a experiência trocada entre
ambos também pode ser apontada como fundamental à hospitalidade imbuída neste
processo recíproco.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Focando-se em responder ao problema desta pesquisa, ou seja, a viabilidade


quanto à implantação de hospedagens domiciliares do tipo Cama e Café em Lagoa
do Carro, escolheu-se delimitar a pesquisa como sendo do tipo exploratória, que,
conforme Gil (2002) provê ao pesquisador uma maior familiaridade ao problema de
forma que o torne mais compreensível. Concernente aos procedimentos fez- se o uso
por fontes bibliográficas e documentais amparando-se em livros, artigos disponíveis
em periódicos, endereços eletrônicos governamentais a exemplos do Ministério do
Turismo brasileiro e Base de Dados do Estado de Pernambuco (BDE).
Em busca de prover à pesquisa um caráter aplicado, a etapa relativa à pesquisa
em seu locus foi realizada entre 2010 e 2011, haja vista o município ter sido estudado
dentro da programação de duas disciplinas do curso de bacharelado em Turismo da
Universidade Federal de Pernambuco, e novamente em 2013 quando da realização
das entrevistas e observações diretas, o que veio a ser um facilitador quanto ao
desenvolvimento do estudo pelo estabelecimento de contatos prévios e sistematização
de visitas à localidade. Sobre a pesquisa de campo, Lakatos e Marconi (2010, p.169)
preceituam que a mesma “consiste na observação de fatos e fenômenos tal como
ocorrem espontaneamente, na coleta de dados a eles referentes e no registro de
variáveis que se presumem relevantes, para analisá-los”.
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No decorrer das diversas visitas foram realizados registros fotográficos,


conversas, preliminarmente informais com a população e, em seguida, em caráter
semiestruturado, com vistas a observar o cotidiano local, a impressão da comunidade
acerca de uma possível implantação de hospedagens domiciliares e a aceitabilidade
à ideia, bem como vivenciar o município e a experiência da convivência com seus
pares. Além da realização de conversas informais, também foram feitas entrevistas
sistematizadas com o poder público local e com moradores do destino que, alinhadas
às impressões já colhidas anteriormente, serviram como base para a construção das
análises necessárias à consolidação do estudo.
Relativo às entrevistas, as mesmas foram divididas por grupos de interesse
sendo aplicadas a personalidades envolvidas com questões públicas como o secretário
municipal de Cultura, Turismo e Desporto, do presidente da Associação de Tapeceiras
de Lagoa do Carro e a Coordenadora geral do Centro de Mulheres Urbanas e Rurais
de Lagoa do Carro e Carpina (CEMUR), município vizinho, e à comunidade. Aos dois
grupos o período destinado à coleta de dados ocorreu em setembro de 2013. A estes
entes foram desenvolvidas perguntas específicas ao formulário do tipo “A” sendo este
dividido nas seções: 1. “conhecimento sobre o Cama e Café” apresentado a partir
de quatro perguntas com possibilidade de respostas abertas e fechadas, 2. “ações
estaduais e municipais na área do turismo e da hotelaria” contendo 11 perguntas do
tipo abertas e fechadas quanto à resposta e 3. “interesse a respeito do Cama e Café”
contendo quatro perguntas com respostas podendo variar em abertas e fechadas.
Ressalta-se que para os dois grupos de entrevistados foram feitas em um
primeiro momento perguntas com vistas a traçar um perfil dos respondentes com
questões que versavam sobre faixa etária, grau de instrução, município de nascimento
do respondente e renda mensal (estipulada por salário mínimo). Para a comunidade
local, composta pelos moradores de Lagoa do Carro, foi desenvolvido um formulário
intitulado como “B” também dividido por seções. A diferença quanto ao formulário “A”
referiu-se ao item 2. intitulado “estrutura física para o Cama e Café”. Informa-se que
para as entrevistadas da Associação de Tapeceiras de Lagoa do Carro e do CEMUR,
as perguntas centraram-se na Seção 3.”interesse a respeito do Cama e Café”. Tal fato
deve-se à representação destas envolver um percentual significativo de associadas
que poderiam vir a demonstrar interesse pelas ações decorrentes à implantação do
tipo de hospedagem proposto.
A escolha pela entrevista do tipo semiestruturada seguiu as diretrizes de
Lakatos e Marconi (2010) no que concerne a flexibilização do roteiro pré estabelecido
com vistas a acrescer, suprimir e alterar questões de acordo com as necessidades
da pesquisa quando da sua execução. Sobre a aplicação das entrevistas com os
moradores foram respondidos um total de 20 formulários somados aos três específicos
ao grupo “A”. As informações foram tratadas a partir da análise do conteúdo das falas
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dos respondentes além de se usar para as perguntas do tipo fechada a tabulação dos
dados pautando-se no programa Microsoft Excel.
Elenca-se como limitações ao estudo a falta de dados registrados (quantitativos
e qualitativos) quanto ao desenvolvimento do turismo na localidade, haja vista não se
ter uma catalogação destes em poder do órgão municipal responsável pela atividade
quando da realização deste estudo.

4 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

Concernente à analise dos dados coletados quando da realização das


entrevistas, mostra-se em um primeiro momento o perfil dos entrevistados de forma
geral, ou seja, sem a delimitação de grupos, haja a vista as perguntas terem sido as
mesmas. Conforme disposto no gráfico 01, 40% dos entrevistados possuem idades
relativas à faixa etária 35 a 40 anos, 30 % idade constante na faixa etária acima de 50
anos. Um total de 20 % dos entrevistados possuíam idades entre 25 a 35 anos e 10 %
dos entrevistados foram inclusos na faixa etária de 18 a 25 anos.
Quando perguntados acerca do local de nascimento (gráfico 02) 70% de
entrevistados teve seu nascimento ocorrido em outro município que não seja Lagoa
do Carro. Destaca-se que a criação do referido município somente ocorreu em 1991
(PERNAMBUCO, 2014), ou seja, há 23 anos, o que reflete no percentual de 30 % dos
respondentes terem nascido na localidade.


Dentre os questionamentos iniciais, também foi perguntado aos entrevistados
o grau de escolaridade. Nesta pergunta optou-se por apresentar como possibilidades
de respostas o disposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL,
1996) no que tange os extratos educacionais divididos basicamente em educação
básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e a educação superior.
Dentre os respondentes encontram-se os dados dispostos no gráfico 03:
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Quanto à escolaridade 45% dos entrevistados possui o ensino médio concluso,


ou seja, possuem a educação básica conforme a LDB vivenciada de forma integral.
Quarenta por cento dos entrevistados enquadram-se em relação aos estudos no
item ensino fundamental incompleto. Merece destaque o percentual de 10% dos
entrevistados possuírem o ensino superior completo, inclusive com cursos de pós-
graduação nas áreas de turismo e cultura, por exemplo. Não foram registradas
respostas específicas à escolaridade “superior incompleto” e “fundamental completo”.
Os 5% restantes enquadraram-se em respostas do tipo ensino médio incompleto.
A última pergunta relativa ao perfil do entrevistado versou sobre a renda
mensal deste (gráfico 04). A partir das respostas foi obtido um percentual de 87% dos
respondentes com rendas enquadradas na faixa salaria de 1 a 2 salários mínimos.
A faixa salarial de 3 a 4 salários mínimos foi respondida por 13% dos entrevistados.
Não foram apresentados respondentes que não tivessem renda ou que possuíssem
um ganho mensal superior a cinco salários mínimos. Sobre este dado, destaca-se
que a inclusão de novas possibilidades de trabalho no município, a exemplo das
hospedagens domiciliares do tipo Cama e Café, possa vir a influenciar no quadro dos
ganhos da população local.
Relativo à análise dos entrevistados no perfil “A” os respondentes, conforme
já descrito, tem relação direta com questões de ordem pública. A primeira entrevista
realizada com a coordenadora da CEMUR trouxe contribuições relevantes especialmente
sobre o objetivo da entidade voltada à promoção do empreendedorismo e incentivo
à independência financeira de suas associadas. Sobre este aspecto a entrevistada,
além de possuir conhecimento sobre questões inerentes à hospitalidade e à forma de
hospedagem Cama e Café, destaca que já é uma prática a hospedagem de parentes
e amigos em residências locais e que pelo fato de a Associação trabalhar com vistas
à realização de ações empreendedoras, a criação de hospedagens domiciliares
receberia o apoio, haja vista o estímulo à qualificação das mulheres associadas.
A entrevista seguinte veio a representar a Associação de Tapeceiras de
Lagoa do Carro. A presidente possui experiência em órgãos públicos chegando a
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ter atuado em gestão passada como Secretária de Cultura, Turismo e Desporte do


município estudado. A Associação de Tapeceiras de Lagoa do Carro tem seu trabalho
reconhecido local, estadual e nacionalmente a partir da produção artesanal de
tapetes. Sendo assim foi objetivo das pesquisadoras a participação da entrevistada
haja vista a Associação congregar diversas artesãs que também vieram a demonstrar
o interesse acerca das hospedagens domiciliares como uma forma adicional de
prover dividendos à sua família. Focando-se especialmente em questões de ordem
prática, ou seja, quanto à implantação das hospedagens Cama e Café no município,
a entrevistada demonstrou aceitabilidade à ideia por já conhecer sobre o assunto
e perceber oportunidades a partir destas para o desenvolvimento do turismo local.
Ademais o interesse em qualificar-se e conhecer mais sobre o Cama e Café pode
ser percebido quando da entrevista realizada bem como o apoio da presidente da
entidade em ações voltadas à comunidade.
A entrevista realizada com o secretário de Turismo, Cultura e Desporto do
município ocorreu em um momento apontado pelo gestor como de adaptação devido
à transição de gestões. O secretário, empossado há oito meses quando da realização
da coleta de dados, demonstrou relevante interesse quanto o desenvolvimento da
atividade do turismo na localidade bem como o incentivo por parte da prefeitura de
Lagoa do Carro. Quando perguntado sobre as ações decorrentes à participação do
município no Planejamento Estratégico do Turismo de Pernambuco foi relatada a
visita de profissionais ligados à Secretaria de Turismo Estadual à Lagoa do Carro.
Não foi possível a obtenção de respostas mais apuradas relativa à Seção 2. “ações
municipais e estaduais na área de turismo e hotelaria” pelo motivo acima exposto.
Buscando obter informações específicas quanto a uma possível implantação
de hospedagens do tipo Cama e Café em Lagoa do Carro o secretário demonstrou
interesse e destacou a importância deste como meio de receber e acomodar
visitantes no município. Quando perguntando sobre ações voltadas à qualificação da
comunidade, especialmente em se tratando do turismo e da hotelaria, foi informado
pelo gestor que ainda não havia sido promovidas pelo município ações específicas
à qualificação, porém demonstrou interesse em firmar parcerias com órgãos e
entidades que trabalhem com ações voltadas a este fim. Oportuno destacar na fala do
entrevistado possíveis dificuldades para a implantação de hospedagens do tipo Cama
e Café, a exemplo de: incipiente qualificação da população além do receio perante o
desconhecido, pois o pioneirismo no município poderia trazer dúvidas à comunidade
sobre o êxito da atividade proposta.Em sua fala, também foi informada que a gestão
municipal percebe a importância de melhorias estruturais na localidade o que vem a
ser benéfico aos moradores e visitantes, por conseguinte.
Quando questionado sobre o fato dos munícipes serem hospitaleiros, o
entrevistado aponta que a comunidade é hospitaleira e, com a realização de cursos
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voltados à sua qualificação poderá ter as situações negativas trabalhadas em prol de


um desenvolvimento harmônico da atividade turística.
Partindo para a análise dos dados do perfil “B”, moradores de Lagoa do Carro,
quando perguntados “se já tinham ouvido falar ou se conheciam sobre o Cama e
Café” 74% dos entrevistados afirmaram que sim, tendo um deles, inclusive, informado
já ter se hospedado em um. Os dados apresentam-se em formato de gráfico a seguir.


Buscando colher informações a respeito do conhecimento do que viria a
ser hospitalidade na visão do entrevistado (gráfico 06), 85% não sabiam informar
e 15% definiram ao seu modo. Nesta pergunta não se buscava que o entrevistado
apresentasse conceitos e sim a sua ideia ou opinião sobre a hospitalidade, fato que viria
a somar com a pergunta seguinte: “A comunidade de Lagoa do Carro é hospitaleira?”
(gráfico 07). Interessante destacar que, quando feita a pergunta desta forma, os
respondentes trouxeram suas considerações acerca da cidade ser hospitaleira por
possuir uma população que “sabe receber, que é acolhedora e que sabe servir”.
Ainda foi apresentada como resposta que os moradores sabem prestar informações
aos que vem de fora. Ressalta-se que neste item entrevistados sinalizaram para a
necessidade de uma qualificação voltada a práticas do bem receber com vistas a
melhorar a recepção da comunidade para com o visitante.

Com vistas a facilitar o entendimento para os entrevistados acerca do que


vem a ser um Cama e Café, focando-se primariamente em questões de ordem
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funcional e estrutural e da importância deste meio de hospedagem, foi aberta a


Seção 2 da entrevista com a comunidade. Ao término da explanação de uma das
pesquisadoras sobre a hospedagem do tipo Cama e Café, os entrevistados, em sua
totalidade, apresentaram-se interessados a partir do que ouviram e demonstraram-se
interessados com a possibilidade de terem em suas residências o desenvolvimento
deste tipo de acomodação.
Na Seção 2 a pergunta inicial versava sobre a moradia do entrevistado ser
própria ou alugada (gráfico 08), com 80% dos respondentes pertencentes à primeira
categoria e 20 % na segunda. O primeiro percentual coaduna com o fato de que 65%
dos entrevistados dessa categoria moram em residências com mais de oito cômodos)
quando contrastados com a pergunta que versava sobre a quantidade de cômodos
das residências tendo sido obtido 65% com mais de oito cômodos (gráfico 09).
Pode-se perceber que a partir do expressivo percentual de 80% dos entrevistados
residirem em locais próprios, suas residências apresentarem mais de oito cômodos e
a aceitabilidade manifestada quando da explicação do conceito de Cama e Cáfe”) uma
ampla possibilidade de se trabalhar localmente junto à comunidade a viabilidade e, por
conseguinte, a implantação de hospedagem como a destacada. Aqui se apresenta a
ideia pautada nas questões de ordem física, porém sabe-se que a implantação de todo
e qualquer serviço relativo ao turismo precisa ser tratado a partir das peculiaridades
locais respeitando-se os costumes e tradições da comunidade. Somente assim as
benesses da atividade poderão servir ao local e ao público externo.


Na Seção 3 foram realizadas as perguntas finais aos moradores entrevistados
de Lagoa do Carro. Objetivou-se a coleta de dados centrada no interesse dos
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entrevistados no que concerne abertura de um Cama e Café em sua residência. A


primeira pergunta versou sobre a hospedagem de pessoas que não pertencessem
à família do entrevistado na residência deste. Cinquenta e cinco por cento dos
entrevistados já tinham hospedado pessoas sem grau de parentesco com as mesmas.
Quando questionados se hospedariam novamente pessoas não pertencentes à sua
família, 100% afirmaram que receberiam novamente em suas residências pessoas
não pertencentes a seu convívio familiar. Ao grupo que não havia hospedado pessoas
além da sua família em seu lar (45%), quando questionados se assim o fariam, foi
obtido um percentual de 66%.
Quando perguntados acerca do interesse em transformar sua residência em uma
hospedagem domiciliar do tipo Cama e Café, 70 % dos respondentes afirmaram que
estariam dispostos a ter em suas residências cômodos voltados para o recebimento de
hóspedes. Dentre estes entrevistados ainda foi obtido um percentual de 50% relativo
à aceitabilidade em realizar mudanças físicas em suas residências para tal finalidade.
Na pergunta final, objetivou-se coletar dados específicos ao interesse dos
entrevistados em participar de cursos, palestras e oficinas voltados à qualificação nas
áreas do turismo e da hotelaria. Assim, 85% dos entrevistados demonstrou interesse
em participar de ações com vistas à sua qualificação profissional.

5 CONCLUSÃO

Somado aos atrativos naturais e artificiais, é válido ressaltar o acolhimento ao


visitante que chega à Lagoa do Carro, ponto de destaque em termos de atividade
turística e primordial à hospitalidade. Através das entrevistas realizadas o interesse
demonstrado pelos respondentes sobre as hospedagens domiciliares, em especial,
as do tipo Cama e Café foi perceptível. Ademais o casario da localidade, composto
por residências com número acentuado de cômodos sejam estas, casas, casarões
e chácaras, também vem a ser um facilitador enquanto estrutura física, de maneira
geral, para a criação do Cama e Café.
A interação entre hóspedes e o seu hospedeiro ou anfitrião pode trazer uma
experiência enriquecedora ao visitante justamente pela oportunidade de vivenciar o
local como se dali fosse. Nas palavras de Lotta, Pimentel e Paulics (2005, p.22):

Essa solução de hospedagem domiciliar vem resolver dois problemas vitais


para as atividades turísticas: o primeiro é a sazonalidade, uma vez que não
há investimento tal que precise de turistas o ano inteiro para existir, o que é
uma vantagem para o seus proprietários. O segundo, é que um programa de
hospedagem domiciliar assegura a geração de renda direta para a população
local, sendo esta o ator principal do processo.
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Destaca-se ainda a tríade para a implantação de uma rede de Cama e Café


alinhando-se a um turismo includente e socialmente justo, ou seja, a base deste
volta-se à hospitalidade, à hospedagem e à sustentabilidade. Afinal, trata-se de uma
rede de beneficiários e geração de dividendos ímpares aos envolvidos não centrados
apenas em valores monetários, mas também em trocas culturais e necessárias aos
indivíduos.
Referente ao item qualificação, poder público e moradores sabem e
apresentaram em suas respostas o interesse em preparar-se para receber o visitante.
Por ser algo novo, a necessidade de prover conhecimento à população sobre aquilo
que não faz parte do seu cotidiano torna-se imprescindível ao êxito de qualquer ação,
e nesta, voltada a implantações de hospedagens domiciliares não seria diferente.
Sobre este aspecto, a representação da secretaria de Turismo, Cultura e
Desporto também abordou em sua entrevista a necessidade de melhorias quanto
à infraestrutura local o que vem a servir em primeiro plano ao morador e, por
conseguinte, ao visitante. Neste aspecto é perceptível a necessidade de se trabalhar
o local pautando-se em questões sustentáveis e o pilar voltado ao social, ou seja,
prover condições em primeiro plano à comunidade local é fundamental ao êxito de
qualquer ação de planejamento do turismo pautado nos princípios da sustentabilidade
(RUSCHMANN, 2008; BRASIL, 2012).
Por fim ratifica-se que a localidade realizando um trabalho conjunto vem a
apresentar, a partir dos resultados coletados nas entrevistas, interesse em implantar
as hospedarias domiciliares do tipo Cama e Café. Para tanto urge a necessidade
de se fazer um trabalho articulado entre os atores locais buscando prover novas
possibilidades de atuação da comunidade que tenham a hospitalidade como um dos
fatores chaves ao êxito da ação. Sobre este fato o Ministério do Turismo (2007, p.13)
expõe:

receber o cliente com hospitalidade não é meramente uma competência


do mundo do trabalho. Está relacionado também a uma característica,
uma parte da cultura brasileira. Presente num cotidiano que se transforma,
transformando essa hospitalidade.

É aproveitando-se da hospitalidade genuinamente brasileira e em especial


a encontrada em Lagoa do Carro que os dividendos oriundos das hospedagens do
tipo Cama e Café podem vir a se fazer presentes no cotidiano local, transformando
a comunidade e provendo novas possibilidades de se fazer o turismo pautado na
realidade vivenciada no município.
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Departamento de Turismo

TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: UM OLHAR SOBRE A PARTICIPAÇÃO


SOCIAL.

Karla Maria Rios de Macedo 11


Eduardo Gomes2

RESUMO: O presente artigo trata da participação comunitária no turismo de Base


Comunitária; a metodologia utilizada foi bibliográfica e pesquisa de campo. O objetivo
foi contribuir para avaliar como a participação comunitária redefine a reflexão sobre o
tema o Turismo de Base Comunitária e qual a importância desse modelo de turismo
para o Ministério do Turismo. Podendo assim considerar que a participação local e o
protagonismo comunitário são elementos extremamente relevantes para os projetos
de TBC, já que esses dependem da demanda direta das comunidades para escolha
do TBC como forma de desenvolvimento.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo de base comunitária. Participação. sustentabilidade

ABSTRACT: This article deals with community participation in community based


tourism; the methodology used was the literature and field research. The aim was to
contribute to evaluate how community participation redefines reflection on the theme
of Community-Based Tourism and the importance of this tourism model for the Ministry
of Tourism. Can thus consider that local participation and community leadership are
extremely relevant to the projects TBC elements, since these depend on the direct
demand of communities to choose the TBC as a form of development

KEYWORDS: Community-based Tourism. Participation. sustainability

INTRODUÇÃO

O crescimento do Turismo de Base Comunitária (TBC) deu-se a partir da


oportunidade de um modelo de desenvolvimento de turismo alternativo, pois o modelo
vigente, dado que uma exploração desregulada de recursos naturais e humanos
necessitava ser revisto, aproximando a questão da participação comunitária ao
sucesso dos empreendimentos de TBC. De acordo com a Embratur (2001),

A realidade contemporânea mostra que o modelo de


desenvolvimento econômico vigente não pode ser mais
1 Mestre em Sistemas de Gestão – Universidade Federal Fluminense- UFF. Docente do Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia Fluminense. E-mail: Karla.macedo@hotmail.com
2 Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago. Docente da Universidade Federal
Fluminense E-mail: gomese@oi.com.br
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mantido. As diversas atividades econômicas atuais


estão associadas a um sistema político-operacional que
rapidamente destrói dois processos importantes para a vida
humana: o processo de manutenção de recursos ambientais
e de desenvolvimento das comunidades locais. Em todo o
mundo há inúmeras evidências de que a atividade econômica
tem ação destrutiva atingindo áreas cada vez maiores,
afetando a qualidade de vida das comunidades locais e a
possibilidade de sobrevivência de muitos agrupamentos
humanos.

Sansolo e Bursztyn destacam a diversidade de iniciativas de TBC no mundo


através de publicações acadêmicas brasileiras e internacionais:

Mitchell e Reid (2001) estudaram a integração da comunidade de


Ilha Tequile no Peru no processo de planejamento, desenvolvimento
e gestão do turismo de base comunitária. Horn e Simons (2002)
tratam comparativamente a relação do turismo com comunidades
tradicionais na Nova Zelândia. Tosun (2006), estudando um caso
na Turquia, aborda o sentido da participação comunitária no
planejamento e desenvolvimento do turismo. Rugendyke e Thison
(2005) estudaram no Vietnam a substituição das atividades agrárias
tradicionais pelo turismo de natureza relacionado às unidades
de conservação. Koster&Randal (2005) usam indicadores para
avaliação do desenvolvimento econômico de comunidades no
Canadá que estão envolvidas com turismo. Mansfeld e Jonas
(2006) tratam da capacidade de carga cultural em uma comunidade
judaica que trabalha com turismo em um Kibutz & Israel. No Brasil,
podemos citar a quantidade e diversidade de casos e experiências de
turismo de base comunitária apresentados em trabalhos científicos
durante o II Seminário Internacional de Turismo Sustentável (SITS),
realizado em Fortaleza (Ceará) no mês de maio de 2008.

O Turismo de Base Comunitária, portanto vem crescendo em todo mundo,


assim, os estudos também aumentaram, mesmo que ainda seja um campo de estudo
de pouca atenção da academia e sofreu preconceito e esteve em uma posição
marginal.
Durante muitos anos, a reflexão sobre turismo de base comunitária,
no Brasil, trazia em sua expressão um sentido marginal, periférico
e até mesmo romântico, diante das perspectivas de um mercado
globalizado e ávido por estatísticas e receitas. Neste período,
poucos foram os pesquisadores que se atreveram a mergulhar
neste campo de investigação, uma vez que esta marginalidade
sutil vinha também impregnada de uma crítica silenciosa de
distanciamento da realidade, considerando-se as tendências de
políticas públicas, em âmbito nacional e internacional (IRVING,
2009, p. 108)

Diante disso, é necessário trazer a lume a discussão da importância do Turismo


de Base Comunitária, como alternativa de desenvolvimento. Propondo uma opção e
não como substituto das atividades originais dessas comunidades como: a pesca,
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agricultura, entre outras. Além disso, o TBC deve ser fator de fomento de preservação
do patrimônio cultural e natural, já que destinos mal conservados não são capazes de
atrair visitantes.
Enfim, esse é o contexto no qual se situa o TBC, na busca de um modelo de
desenvolvimento que traga mais equidade, preservação cultural, ambiental e social,
bem como de buscando novas formas de apresentação através do turismo rural,
ecoturismo, etnoturismo entre outros.
Não obstante, apesar de a participação da comunidade nos projetos turísticos ser
um desafio discutido por vários autores (CORIOLANO, 2001; BENI, 2002; IRVINING,
2003), reconhece-se que a gestão democrático-participativa é um processo contínuo
que tem no grau de comprometimento da comunidade a possibilidade de garantia da
sua continuidade.
Portanto, pode-se perceber que a participação da comunidade em projeto é um
fator de máxima importância em um processo democrático e sustentável, mesmo que
não haja consenso do nível e da forma de participação da comunidade nem de seus
efeitos. Assim, Swarbrook (2000) afirma que:

[...] as comunidades [podem ter] o controle total da política


estratégica e das decisões táticas em relação ao turismo na
área; as comunidades [podem ter] poder de veto contra todas
as políticas e decisões sobre turismo que estejam nas mãos das
entidades do setor público; as comunidades [podem estabelecer]
as prioridades e os parâmetros da política e/ ou das decisões do
setor público; às comunidades é permitido escolher uma política
ou estratégia entre um pequeno número de opções, todas as
quais foram geradas pelos que elaboram as políticas do setor
público; as opiniões da comunidade são utilizadas para ajudar a
justificar as decisões tomadas pelos órgãos do setor público; a
comunidade [pode ser] consultada, mas os seus pontos de vista
[podem não influenciar] significativamente a política do setor
público (SWARBROOK, 2000, p. 65).

A afirmativa acima apresenta muitas possibilidades quanto à forma de


participação, o que traz uma inquietação científica ainda maior em relação à
necessidade de buscar maior conhecimento sobre o tema.
Para Irving, (2010 p. 112) o Turismo de Base Comunitária se constitui em uma
alternativa real aos padrões “pasteurizados” de mercado, principalmente no contexto
atual, quando são evidentes as tendências de expansão de uma nova forma de se
fazer turismo, associada a compromissos de responsabilidade social e ambiental
Uma premissa essencial é que o TBC se desenvolva em escala limitada,
definida a partir dos recursos locais, potencialidades e restrições identificadas com a
participação direta das populações envolvidas. Assume-se, assim, que o estudo relativo
ao Turismo de Base Comunitária se faz, em grande medida, a partir dos indivíduos
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envolvidos no projeto, de sua participação na construção do mesmo e da avaliação


dos impactos causados por essa participação, bem como pelo desenvolvimento do
projeto e sua sustentabilidade.

1.1 METODOLOGIA

O presente trabalho buscou compreender premissas e envolvimento de


participação dos atores locais nos projetos de Turismo de Base Comunitária na
perspectiva do Ministério do Turismo. Quanto ao procedimento, realizou-se a pesquisa
bibliográfica em revistas, livros, artigos, dissertações, teses. Para Boccato, (2006) a
pesquisa bibliográfica busca a resolução de um problema por meio de referenciais
teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas. Esse
tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado,
como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na
literatura científica. Foi realizada também pesquisa de campo com o Ministério do
Turismo para entender como o MTUR percebeu a importância da participação social
nos projetos aprovados no edital de chamada pública MTUR/n. 001/2008 por ser o
primeiro e único edital voltado para o TBC do Ministério do Turismo. O instrumento de
coleta de dados e de análise da pesquisa constituiu-se de questionário (APÊNDICE
A). Seguiu-se um roteiro estruturado considerando que a pesquisa foi feita a distancia
através da plataforma Google Docs.

1.2 OBJETIVO

Contribuir para avaliar como a participação comunitária redefine a reflexão sobre o


tema o Turismo de Base Comunitária e a percepção do MTUR para participação social
nos projetos aprovados no edital de chamada pública MTUR/n. 001/2008.

1.3 A DIMENSÃO DA PARTICIPAÇÃO

Apesar de já terem sido introduzidos cabe rever alguns conceitos de TBC. A


Rede Cearense de Turismo Comunitário, por exemplo, ressalta que:

O turismo de base comunitária é aquele no qual as


populações locais possuem o controle efetivo sobre o
seu desenvolvimento e gestão, e está baseado na gestão
comunitária ou familiar das infraestruturas e serviços turísticos,
no respeito ao meio ambiente, na valorização da cultura local e
na economia solidária(TUCUM 2012).

Já para (Maldonado) por turismo comunitário entende-se:


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[...] toda forma de organização empresarial sustentada na


propriedade e na autogestão sustentável dos recursos
patrimoniais comunitários, de acordo com as práticas de
cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos
benefícios gerados pela prestação dos serviços turísticos. A
característica distinta do turismo comunitário é sua dimensão
humana e cultural, vale dizer antropológica, com objetivo de
incentivar o diálogo entre iguais e encontros interculturais de
qualidade com nossos visitantes, na perspectiva de conhecer e
aprender com seus respectivos modos de vida (MALDONADO,
2006).

Pires, de sua parte,

[...] categoriza o TBC em enfoque ou ênfase em: enfoque


cultural/histórico/antropológico, enfoque no ambiente, enfoque
na sustentabilidade e na conservação, enfoque na natureza e
na vida selvagem, enfoque no campo e nos aspectos rurais,
enfoque na aventura e na ação, enfoque no planejamento,
enfoque em especialidades e estudos e ainda o enfoque no
envolvimento e na participação local, cabendo neste último,
o turismo participativo, turismo de solidariedade e o turismo
local (PIRES, 2002 p.34).

Apresentando as várias definições sobre o TBC, percebe-se semelhança relativa


entre a função da comunidade local na protagonização do papel de desenvolvimento do
projeto e a valorização de sua participação na construção e gestão do empreendimento
de TBC. Mas, há que se fazer a ressalva que o conceito de TBC ainda é um conceito
em construção, como afirma Bartholo (2011 p.7), apesar do crescimento significativo
de atividades turísticas em diferentes comunidades.
No meio acadêmico não, há uma definição única e am­plamente aceita que
defina o TBC, ainda que demonstrem similaridades de princípios antropológicos,
sociológicos, econômicos, políticos, históricos, psicológicos e ambientais. Pode-se
ver, portanto, que participação é um tema crucial ao TBC, tornando importante discutir
as formas de participações trazidas pelos pesquisadores do assunto.

1.4 A INTERFERÊNCIA DA SUSTENTABILIDADE

Ao tratar da participação da comunidade na sustentabilidade de


empreendimentos de TBC é preciso retomar à sua base que é o desenvolvimento
sustentável. Assim, um dos primeiros documentos a falar abertamente sobre o conceito
de desenvolvimento sustentável foi o World Conservation Strategy, pela International
Union for the Conservationon Environment Resources3. A partir de 1987, com o
Relatório da Comissão Mundial de Ambiente e Desenvolvimento intitulado de Nosso
3 União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais
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Futuro Comum, conhecido também como Relatório Brundtland, dá-se a disseminação


do termo.
Swarbrooke (2002, p. 11), desenvolve uma cronologia sobre o conceito de
turismo sustentável que ajuda a entendê-lo ao longo das últimas décadas do século XX
(Figura 01). Percebe-se, então, que o debate sobre turismo sustentável é influenciado
em grande parte pelo conceito de desenvolvimento sustentável.

FIGURA 01 - DESENVOLVIMENTO CRONOLÓGICO DO PROCESSO DE DEBATE


DO CONCEITO DE TURISMO SUSTENTÁVEL.

Reconhecimento dos potenciais Aquecimento do Ampliação do


impactos da explosão do turismo conceito de turismo conceito de turismo
de massa. verde sustentável

Ampliação do conceito de
gestão de turistas

1960 1970 1980 1990

Fonte: SWARBROOKE (2002, p.11)

Para o autor acima, as expressões turismo verde e questões verdes eram mais
comuns até meados da década de 1980 em países como a Inglaterra e a Alemanha,
pois refletiam a influência do crescimento de políticas verdes. Os princípios do turismo
verde eram a redução dos custos e a maximização dos benefícios ambientais do
turismo.
Após a Conferência de Leeds na Inglaterra, no início dos anos de 1990, a
expressão turismo sustentável passou a ser usada com frequência. Na expressão
compreende-se a importância da comunidade local, a forma como as pessoas
são tratadas e o desejo de maximizar os benefícios econômicos do turismo para
a comunidade. Os princípios que apoiam a gestão do turismo sustentável são a
preocupação, não apenas ambiental, mas também econômica, social, cultural, política
e administrativa.
No turismo sustentável procura-se trabalhar com a ideia de sustentabilidade
econômica (uso adequado dos recursos e respeito aos direitos das gerações
futuras), sustentabilidade ambiental (manejo adequado dos recursos e preservação),
sustentabilidade sociocultural (preservação da identidade, aceitação e respeito mútuo
entre local e visitante). Porém, para Swarbrooke (2000, p. 109), a dimensão social do
turismo tem recebido pouca atenção no debate do turismo sustentável, talvez porque
as alterações sociais do turismo aconteçam de forma mais vagarosa e discreta com o
passar do tempo.
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Em função dessa pouca discussão da dimensão social, encontram-se,


também, poucos estudos sobre a questão da sustentabilidade e sobre a importância
da participação da comunidade local no desenvolvimento do turismo. Nesse sentido,
acredita-se ser necessário discutir o tema participação, como discutido anteriormente
o envolvimento e a participação local são condições para projetos de TBC.
Resende traz a lume a Declaração de Manila e o Código de Ética Mundial
do Turismo, no qual recomenda o turismo sustentável como oportunidade de
desenvolvimento para os pobres e enfatiza a participação comunitária nas discussões
e decisões referentes ao desenvolvimento do turismo:

As comunidades locais e os pobres em seu seio, mais


provavelmente se beneficiarão do ganho de planejamento
quando estão envolvidos nas discussões e decisões sobre o
desenvolvimento do turismo e quando a complementaridade
entre as diferentes formas de desenvolvimento do turismo
e suas estratégias de subsistência são considerados. A
Declaração de Manila pediu “um maior envolvimento das
comunidades nos processos de planejamento, execução,
acompanhamento e avaliação das políticas de turismo,
programas e projetos” e “campanhas de conscientização da
comunidade para informar as pessoas dos benefícios a serem
obtidos a partir do desenvolvimento do turismo”. Somente desta
forma os efeitos negativos do turismo poderão ser geridos e os
benefícios econômicos positivos maximizados para beneficiar
as comunidades, através do grande emprego de força de
trabalho local no turismo e proporcionar uma participação mais
positiva das mulheres e dos jovens (RESENDE, 2011).

Os documentos acima confirmam a importância da participação local nos projetos


de Turismo de Base Comunitária para que haja uma distribuição mais igualitária dos
resultados da atividade turística, possibilitando a oportunidade de inclusão de grupos
menos beneficiados.
O conceito de participação comunitária no processo de tomada de decisão por
parte do setor público não é novo – data de 1969, no Reino Unido – com a publicação
do Relatório Skeffington sobre “Povo e Planejamento”, que definiu participação como
“o ato de compartilhar a formulação de políticas e propostas” (SWARBROOKE, 2000,
p. 66).

1.5 PARTICIPAÇÃO GOVERNO E DEMOCRACIA

Segundo Coppatti (2010, p.27), a cidadania está relacionada com a democracia,


que nos tempos atuais se impõe mais necessária nos moldes participativos, tendo em
vista a insuficiência da democracia direta e da democracia representativa, porque
possibilita ao cidadão ser fundamental no desenvolvimento social.
O substantivo da democracia é, portanto, a participação. Quem diz democracia
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diz ao mesmo tempo, máxima presença de povo no governo, porque, sem participação
popular, democracia é quimera, é utopia, é ilusão, é retórica, é promessa sem arrimo
na realidade, sem raiz na história, sem sentido na doutrina, sem conteúdo nas leis
(BONAVIDES, 2003, p.283).
Demo (1996, p.26) elenca cinco canais de participação que podem ser aplicados
no âmbito local, a saber: organização da sociedade civil, planejamento participativo,
educação como formação à cidadania, cultura como processo de identificação
comunitária e processo de conquista de direitos.
Para Moroni (2009),

A participação tem valor em si mesma, por isso não é


instrumental de um projeto político. Podemos dizer que a
participação de duas dimensões fundamentais interligadas
e que interagem permanentemente: a dimensão política e a
pedagógica. Participação, antes de tudo, é a partilha do poder e
o reconhecimento do direto a interferir de maneira permanente
nas decisões políticas (dimensão política). É também a maneira
através da qual as aspirações e as necessidades de diferentes
segmentos da população podem ser expressas no espaço
público de forma democrática, estando associada ao modo
como esses “grupos” se percebem como cidadãos e cidadãs. A
participação é um processo educativo-pedagógico. Expressar
desejos e necessidades, construir argumentos, formular
propostas, ouvir outros pontos de vista, reagir, debater e chegar
ao consenso são atitudes que transformam todos aqueles
que interagem processos participativos. É uma verdadeira
educação republicana para o exercício da cidadania, que
amplia o espaço público real, em que a construção dialogada
do interesse público passa a ser o objetivo de todos os homens
e mulheres. Por isso participar também é disputar sentidos e
significados (p.117).

Para Avritzer, (2010, p.259) os estudos da participação evoluíram muito nas


últimas décadas no Brasil. Os principais elementos de estudos desenvolvidos deram-
se através de quatro pontos:

a) Teoria sobre a importância da participação dos atores da


sociedade civil nas políticas e associação entre tal presença e
elementos democratizantes destas políticas;
b) Análise sobre os efeitos democratizantes e distributivos das
instituições participativas nas políticas públicas associada a
ideia de participação política da população de baixa renda;
c) Análise sobre os elementos deliberativos contidos nestas
instituições através da qual a participação é associada a
mecanismo de deliberação pública no interior dos conselhos
de políticas de orçamentos participativos;
d) Análise sobre os tipos de relação entre Estado e sociedade
propiciados por estas formas de participação.

Esses avanços podem ser entendidos, também, a partir de influências políticas


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e legais. A constituição de 1988 e também o surgimento das legislações locais sobre


conselhos, no começo dos anos de 1990 e de 2000, com a aprovação do Estatuto da
Cidade, foram responsáveis pelo processo de interiorização da participação do Brasil,
que até então só acontecia em grandes centros. Após esses dois eventos, houve
uma pluralização da participação local, uma vez que foram implantados conselhos em
diversas áreas públicas como: saúde, assistência social, criança e adolescente.
Nesse cenário de mudanças a expansão do Partido dos Trabalhadores foi
outro fator importante, que culminou com a vitória do partido nas eleições do final da
década de 1980 em vários municípios brasileiros. Atribuem-se a este último e aos
outros fatores citados acima, a implementação da participação local e a do Orçamento
Participativo (AVRITZER, 2010).
Avritzer afirma ser possível apontar três grandes tendências da relação sociedade
civil e políticas participativas no Brasil: gestões participativas exitosas que contribuem
para continuidade da administração que as implantam; a existência de limites políticos
às experiências participativas no Brasil, uma concentração em algumas regiões em
três estados, mais especificamente, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais,
uma lacuna abissal na região Nordeste e por último, uma pluralização nos formatos
de participação, não restringindo a Conselhos de Política e Orçamento Participativo.

1.6 A PARTICIPAÇÃO VISTA POR MODELOS

Cortes e Gugliano (2010, p.45) analisam os diferentes modelos interpretativos


dos principais fóruns constituídos no Brasil. Para Cortes (2005, p.46) as análises sobre
fóruns participativos podem ser divididas em dois blocos. O primeiro apresenta-se
“descrente” de fóruns participativos favorecerem a gestão pública. O segundo bloco
afirma que fóruns participativos induzem a democratização do Estado.
Os blocos divergem no que tange à interpretação sobre o papel institucional dos
fóruns participativos, em relação à natureza desses espaços e dos interesses sociais
ali apresentados. Para um grupo, os fóruns são a expressão de interesses gerais de
movimentos sociais e associações - seria este grupo chamado de deliberacionistas
- enquanto os neocorporativistas defendem que os fóruns participativos representam
interesses de grupos específicos, defendendo pleito particular.
Para Habermas (2010, p. 47), a esfera pública não seria nem uma instituição,
nem uma organização, consistindo mais numa rede comunicacional na qual a ação
social é produzida a partir do diálogo. A obra de Habermas defende a perspectiva
deliberacionista, enquanto que para Schmitter (1974 apud CORTES; GUGLIANO,
2010, p.50) os fóruns participativos são caracterizados como neocorporativas.
Segundo estes autores, a principal característica do corporativismo estatal moderno
é a associação entre grupos de interesse e setores dirigentes do Estado. Neste
800
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arranjo, os dirigentes estatais manteriam certo controle sobre a seleção de liderança


e demandas a serem colocadas nas agendas de discussão.
Cortes e Gugliano (2010, p.51) afirmam, ainda, que:

Apesar das divergências, ambos os blocos consideram que


o desenho institucional dos fóruns favorece a emergência de
um novo tipo de processo decisório que pode, ou abarcar os
interesses gerais, na visão dos adeptos às teorias democrático
deliberativas, ou incluir novos grupos de interesses seccionais,
conforme os simpatizantes das teses neocorporativistas.

Assim sendo, torna-se importante assinalar que não há um consenso sobre


o tema participação local. Ao reconhecer a divergência de linhas de pensamentos,
enriquece-se a discussão sobre o tema ainda carente de estudos e a diferença entre
orçamento participativo e conselhos de políticas públicas.
Ao tratar da participação nos projetos de Turismo de Base Comunitária, este
assunto fica mais próximo da participação nos orçamentos participativos do que dos
conselhos de políticas públicas. Por razão das suas características, como afirmam
Costa e Gugliano (2010, p.20), os orçamentos participativos são abertos a todos os
cidadãos, e mesmo seus participantes mais assíduos, os ativistas dos movimentos
sociais, podem ter interesses em distintas áreas de políticas públicas, enquanto os
conselhos congregam participantes especializados em determinadas áreas. Outra
diferença marcante é que os conselhos são altamente institucionalizados, enquanto
os orçamentos participativos não o são.
Para Maldonado (2009), essas formas são entendidas como:

a) Autogestão do negócio turístico;


b) Parceria de negócios com uma empresa privada;
c) Parceria comercial com operadoras de turismo;
d) Concessão de recursos comunitários em usufruto;
e) Trabalho assalariado para operários.

Nas formas de participação apresentadas por Maldonado, percebe-se que,


apenas no primeiro caso – autogestão do negócio turístico–, há um protagonismo
da comunidade local. Nos outros, pode-se dizer que a participação é diminuída,
gradualmente, até chegar a uma situação em que a comunidade autóctone é vista e
beneficiada apenas como mão de obra, não tendo nenhum envolvimento no processo,
nenhuma oportunidade de ser ouvida.
As formas e níveis de envolvimento dos atores locais no processo de
desenvolvimento local remetem a discussões de participação e suas variáveis. Segundo
Campanhola e Silva (2000, p.27), referindo-se a Pretty, há duas visões distintas de
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participação. Uma é a de que ela aumenta a eficiência, pois as pessoas concordam


e assumem posição ativa na implementação das decisões. A outra considera que
a participação é um direito básico no qual o principal objetivo é a mobilização para
ações coletivas, fortalecimento e construção institucional (CAMPANHOLA; SILVA,
2000, p.27).
De acordo com os mesmos autores, é possível encontrar até sete tipos de
participação:

[...] a) manipulada, em que há representantes da sociedade


nas comissões oficiais, mas aos mesmos não é delegado
nenhum poder; b) passiva, onde há apenas comunicação do
que já foi decidido ou do que já aconteceu; c) por consulta,
refere-se à situação em que as pessoas são consultadas ou
respondem questionários, mas os agentes externos é que
definem os problemas e os processos de coleta de informações,
controlando portanto as análises; d) por incentivos materiais,
onde as pessoas contribuem em troca de alimento, dinheiro
ou outras formas de incentivo; e) funcional, que se resume a
discussões em grupo para atingir objetivos predeterminados e
é vista por agências externas como um meio de atingir metas de
projetos com custos reduzidos; f) interativa, na qual as pessoas
participam na análise conjunta, no desenvolvimento de planos
de ação, na formação ou fortalecimento de instituições locais,
e na disponibilização dos recursos a serem utilizados, por
meio de métodos interdisciplinares que buscam perspectivas
múltiplas e fazem uso do processo de aprendizagem sistêmico
e estruturado; g) e mobilização própria, em que a participação
das pessoas independe de instituições externas, podendo ou
não desafiar as distribuições existentes de riqueza e poder
(CAMPANHOLA; SILVA, 2000, p.27).

Ao tratarem da participação local esses autores reconhecem nos cinco primeiros


exemplos percebe-se praticamente uma ausência de participação, pois a comunidade
não tem oportunidade de apresentar demandas, interferir nos processos de decisão,
enfim, não é possível entendê-la como participação efetiva da comunidade. Na
mobilização própria, há uma relação mais forte entre a comunidade e o desenvolvimento
de um projeto de turismo comunitário. Pode-se falar em protagonismo comunitário, o
que se espera quando trata de participação.
Bordenave (1994, p.30) categorizou a participação em diversos graus que
indicam o menor ou o maior acesso ao controle das decisões pelos membros de um
grupo local (Figura 02).

FIGURA 02 - GRAUS DE CONTROLE DOS MEMBROS DE UM GRUPO SOBRE


AS DECISÕES TOMADAS
802
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Fonte: Dissertação MENDONÇA, Teresa Cristina de Miranda. Turismo e participação comunitária:


“Prainha do Canto Verde, a “Canoa” que não quebrou e a “Fonte” que não secou?” Rio de Janeiro,
2004.

A partir da análise do gráfico, retratado na Figura 02, percebe-se uma relação


inversamente proporcional no que tange ao tema controle. Quando há controle de
dirigentes externos, o controle da comunidade local é menor. E, quando no projeto de
Turismo de Base Comunitária há o protagonismo da comunidade local, apresentado
como membros, o controle é grande e os dirigentes têm influência menor.
Muitos dos aspectos mais relevantes levantados pelos vários autores que
debruçaram sobre o tema foram recuperados afora trata-se de optar por aquele melhor
permite verificar as especificidades da importância e características da participação
social no sucesso da implantação de projetos de TBC o que foi encontrado em Avritzer
(2009).

1 COLETA E ANALISE DE DADOS

Para o MTUR o formato do edital possibilitou a participação da comunidade


local. Embora considerando as características dos lugares onde tenha atividade de
TBC, muitas vezes longe de centros urbanos, a participação da comunidade sofreu
entraves desde a dificuldade de acesso a documentos simples como: Cadastro de
Pessoa Física (CPF), que foi uma exigência para receberem a verba disponibilizada
pelo edital, assim, a participação de outros atores como ONGS e Associações foram
necessárias para colocar o projeto em prática. (Tabela 01)

TABELA 01- NÍVEL DA PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE NA CONSTRUÇÃO


DOS PROJETOS APRESENTADOS NO EDITA MTUR 01/ 2008

Ministério do Turismo – MTUR Alto Médio Baixo


Participação local nos projetos dos aprovados X
no edital MTur 01/2008
Fonte: Da Própria autora

O MTUR entendeu que o formato do edital favoreceu a participação local nos


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projetos de TBC (Tabela 02).

TABELA 02 - FORMA DE APRESENTAÇÃO DO EDITAL X FAVORECIMENTO A


PARTICIPAÇÃO LOCAL
Ministério do Turismo – MTUR Sim Não
Participação local nos projetos dos aprovados X
no edital MTUR 01/2008
Fonte: Da Própria autora

Para o MTUR o Siconv, ou seja, o modelo de prestação de contas dos


projetos de TBC gerou grande dificuldade de execução para os proponentes dos
projetos. O Sistema é complexo e de difícil gerenciamento para pequenas estruturas
administrativas, como é o caso de grande parte dos proponentes de projetos de TBC,
o MTUR também não ofereceu treinamento para uso dessa plataforma (Tabela 03).

TABELA 03 - DIFICULDADE GERADA PELO SICONV PARA OS PROJETOS DE


TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA
Ministério do Turismo – MTUR Alto Médio Baixo
Nível de dificuldade gerada pelo Siconv X
Fonte: Da Própria autora

O nível de importância do TBC para o Ministério do Turismo é médio, sendo


possível explicar porque esta foi a primeira e única vez que o MTUR aportou algum
valor nesse modelo de desenvolvimento (Tabela 04).

TABELA 04 - IMPORTÂNCIA DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA PARA O


MTUR
Ministério do Turismo – MTUR Alto Médio Baixo
Importância do segmento de TCB para o MTUR X
Fonte: Da Própria autora

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O TBC é uma alternativa de turismo frente ao que está posto, ou seja, um


turismo eminentemente industrial, pasteurizado. O turismo de Base Comunitária surge
como uma possibilidade de apresentar algo genuíno e peculiar ao turista, levando-
se em consideração seu caráter singular, pois cada localidade tem algo único a ser
apresentado. Entretanto, o TBC mostra suas fragilidades como a participação social no
desenvolvimento da atividade, mas é sabido que nem sempre acontece. Para outros
autores há hierarquia para participação, chegando à situação que o envolvimento
social é insignificante. Afirmar que a participação social nos projetos é a condição
para sustentabilidade é delicado, pois a continuidade do projeto depende de outros
aspectos como a capacidade de comercialização, proteção a cultura e ambiente local.
O MTUR como responsável pelo edital trouxe respostas relevantes. Para o
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MTUR o Turismo de Base Comunitária tem nível de importância média, o que explica
o investimento ainda pequeno no setor de TBC por parte do Ministério do Turismo,
que atualmente justifica-se em função da impossibilidade de repasse de renda para
ONGs, organizações essa foram as principais proponentes de projetos de TBC. Mas o
MTUR prevê ações de apoio ao setor no que tange a comercialização, fato que requer
atenção, pois a literatura até aqui consultada ao tratar de TBC mostra fragilidade nesta
área.
O Sistema de Convênios do Governo Federal - Siconv, mesmo não sendo
inicialmente elemento da pesquisa, gerou dificuldades na prestação de contas no final
dos projetos. Levando em consideração as características de TBC os quais muitos
projetos são desenvolvidos em região longe dos grandes centros e com maior grau de
dificuldade de acesso a informação, esse problema pode ter tido um efeito maior. O
próprio MTUR reconheceu a dificuldade gerada pelo sistema utilizado para prestação
de contas.
Destarte, a intenção desse trabalho não é esgotar o tema participação local no
Turismo de Base Comunitária, mas, destacar que a participação local e o protagonismo
comunitário são elementos extremamente relevantes para os projetos de TBC, já que
esses dependem da demanda direta das comunidades para escolha do TBC como
forma de desenvolvimento.

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TURISMO E PARTICIPAÇÃO: TRAZENDO OS EMPRESÁRIOS PARA A AGENDA


DOS PESQUISADORES

Bruno Martins Augusto Gomes1


Leticia Bartoszeck Nitsche2

RESUMO: Apesar da relevância dos empresários para o turismo - pois é a partir


deles que se tem um mercado turístico funcionando - são menos frequentes as
pesquisas que tratam da participação nas políticas públicas de turismo enfocando a
presença dos mesmos. Por isso surge a importância de desenvolver pesquisas com
foco nos empresários. Assim este artigo tem como objetivo apresentar uma pauta de
investigação sobre a participação dos empresários nas políticas públicas do turismo.
Para tanto, após a introdução é exposto o referencial teórico discutindo a participação
dos empresários sob a ótica corporativista em um Estado contratualista ressaltando
o histórico de ocorrência desta no Brasil. Como resultados tem-se a apresentação de
uma agenda de investigação voltada para a inserção dos empresários nas pesquisas
de turismo. Esta proposta tem como parte inicial quatro blocos de questões norteadoras
(como o Estado lida com o turismo; quem participa; como é a participação; qual a
diferença a participação faz). É apresenta ainda uma proposta de fundamentação
metodológica para a referida análise. Então são expostas as considerações finais
expondo a importância de abordagens como institucionalismo e ética estarem
agregadas à discussão proposta.
PALAVRAS-CHAVE: Participação. Empresários. Turismo. Políticas Públicas

ABSTRACT: Despite the entrepreneurs importance for tourism – they do tourism


market works - are less frequent surveys about tourism policy participation focusing on
entrepreneurs. Hence arises the importance of bringing entrepreneurs to the researcher’s
agenda. So this article aims to present an research agenda on tourism participation but
with the entrepreneurs in the center of discussion. To that end, after an introduction, it’s
exposed a theoretical discussing about entrepreneurs participation using the corporatist
and contractualist theory highlighting this with historical occurrences in Brazil. As result
is presented a research agenda focused on the integration of tourism entrepreneurs
in participation research. This proposal has four blocks of guiding questions (how the
state deals with tourism; who participates; how to participate; what difference does
participation). This part also presents a methodological foundation for this analysis.
Than, the final considerations are expose the importance of institutionalism and ethical
approaches to this discussion.
KEYWORDS: Participation. Entrepreneurs. Tourism. Public Policy

INTRODUÇÃO

Tendo em vista a necessidade de um planejamento integral do turismo que


1 Bacharel em Turismo (UFOP). Mestre em Administração (UFLA). Doutorando em Políticas
Públicas (UFPR). Professor do Curso de Turismo da UFPR. E-mail: gomesbma@ufpr.br
2 Bacharel em Turismo (UFPR). Mestre em Geografia (UFPR). Doutora em Geografia (UFPR).
Professora do Curso de Turismo e do Programa de Pós-Graduação em Turismo da UFPR. E-mail:
lticia@gmail.com
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considere as variáveis ideológica, política, econômica, social, antropológica e físico-


ambiental (MOLINA, 2005), envolvendo a sociedade civil, a iniciativa privada, o
setor público e os turistas, reforça-se neste artigo a importância de se considerar a
participação da iniciativa privada dentro da perspectiva do Estado.

O turismo é um fenômeno social e tem a economia como parte essencial para


a sua existência, o que está diretamente vinculado a participação dos empresários do
setor. Ainda, que os turistas e a sociedade civil sejam importantes, estes se envolvem
menos com as políticas públicas de turismo enquanto os empresários são os mais
envolvidos, diferentemente do que ocorre, por exemplo, nas políticas de saúde ou
segurança em que a atuação do cliente final e da sociedade civil é maior.

Frente a esta realidade, nos estudos na área do turismo os temas como


planejamento, demanda e segmentação, participação da comunidade, descrição e
avaliação de políticas são importantes e amplamente discutidos. Contudo, apesar da
relevância dos empresários para o turismo - pois é a partir deles que se tem um mercado
turístico funcionando – e da respectiva necessidade de um setor público próximo do
empresariado e da sociedade civil, são menos frequentes as pesquisas que tratam da
participação nas políticas públicas de turismo enfocando os empresários.

Diante deste contexto esse ensaio tem como objetivo estimular a reflexão
sobre a importância das pesquisas sobre participação no turismo contemplarem os
empresários. Para tanto apresenta informações a respeito da inserção deste tema nesta
respectiva área do conhecimento. Então propõe uma pauta de investigação sobre a
participação no turismo, colocando os empresários no centro da discussão. Para tanto
primeiramente foi realizada uma pesquisa no site <http://publicacoesdeturismo.com.
br> com o intuito de identificar as pesquisas que tratavam dos termos participação,
participação e empresa, participação e política, empresa ou empresário, e política
pública em seu título, resumo ou palavras-chave. Após a identificação destes artigos
os termos presentes nos mesmos foram agregados em função de suas semelhanças
e então analisados quantitativamente para verificar aqueles mais presentes nos títulos
dos artigos listados pelo site.

Assim, após a introdução o texto discute a participação dos empresários em


um Estado contratualista ressaltando o histórico de ocorrência desta no Brasil. Em
seguida são apresentados os resultados da análise dos artigos, expõe-se a agenda
de investigação voltada para a inserção destes agentes nas pesquisas de turismo,
para então serem expostas as considerações finais sobre o assunto.

ESTADO E PARTICIPAÇÃO EMPRESARIAL

Para discutir a importância do Estado sob a ótica contratualista é necessário


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remeter a Hobbes (2008) para o qual o problema da convivência dos homens em


sociedade, reside no próprio homem, por este ser egoísta, invejoso e movido pela
paixão. Frente a esta condição e diante da necessidade de conservar a si próprio,
os homens se impuseram regras de convivência em sociedade, com a instituição
do Estado, restringindo sua própria liberdade e o poder de domínio sobre os outros
homens (HOBBES, 2008). Locke (1994) defende que o governo é a solução para estas
inconveniências, desde que os homens tenham liberdade para seguir sua vontade.
Rousseau (2005) também defende um pacto social, entretanto, cada cidadão, como
membro de um povo, deve concordar em submeter sua vontade particular à vontade
geral. Segundo Varnagy (2009) na perspectiva contratualista todos se obrigam a formar
uma comunidade a partir de um pacto ou contrato revogável visando proteger a vida,
a liberdade e a propriedade, podendo os homens retirarem o poder do governante
quando este não cumprir sua função.

Assim, na tradição contratualista esta legitimação do Estado é precedida por dois


contratos que o originam: primeiramente um pacto de sociedade, pelo qual um grupo
de homens decide viver em comunidade e o segundo que é o pacto no qual o povo
que tendo poder soberano outorga sua confiança a um governo legítimo (VARNAGY,
2009). Mas Locke (1994) destaca que o equilíbrio entre chefe e povo é rompido com
o surgimento da ambição e do luxo que, diretamente vinculados ao poder, levaram
os príncipes a interesses distintos daqueles de seu povo. Assim, cada vez mais os
governantes usam o poder não para o bem coletivo, mas para sua vantagem pessoal.

A partir deste desequilíbrio, Locke (1994) propõe a divisão do poder, distinguindo-o


em legislativo (elaborar as leis), executivo (executar as leis) e federativo (responsável
pela segurança e pelo interesse público externo). Nesta hierarquia, o executivo e o
federativo estarão subordinados ao legislativo e este é submisso ao poder supremo
da comunidade. Mill (2006) acrescenta que o povo inteiro ou uma parte significativa
dele exerce, por meio dos deputados, periodicamente eleitos pelo próprio povo, o
poder controlador. Assim, a assembleia representativa deverá fiscalizar e controlar
o governo, obrigando-o a justificar seus atos quando forem duvidosos e expulsar os
homens que compõem o governo se eles abusarem nos seus atos.

Para tanto é necessário um modelo deliberativo de democracia composto


fóruns públicos nos quais cidadãos debatam e cheguem a um acordo sobre a solução
dos conflitos em sua comunidade. No entendimento de Nino (2003) a democracia
permite superar conflitos e buscar a cooperação de atitudes e condutas. Segundo o
autor a troca de argumentos conduz a uma cooperação social em busca de decisões
e soluções. O intercâmbio de ideias e a necessidade de se exporem razões perante
os demais incrementa o conhecimento de outros interesses e a identificação de
possíveis erros. Neste ambiente, segundo Habermas (1996), mediante a participação,
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as consultas sobre leis e políticas os cidadãos buscarão responder à questão “o que


devemos fazer”, identificando o problema e a forma como ele pode ser resolvido.
Estas deliberações servirão para a ponderação e o discernimento de fins coletivos,
bem como para a construção e escolha de estratégias de ação.

Segundo Pessali (2011) a participação é entendida como o envolvimento de


pessoas potencialmente afetadas pelas políticas públicas. Contudo, esta participação
é mais abrangente que o simples exercício do direito de votar. Ela diz respeito também
ao cidadão que deixa a sua posição inerte e assume posição engajada, intervindo nas
lutas sociais, econômicas e políticas de seu tempo (BORDENAVE, 1992).

Conforme defende Pessali (2011), na elaboração de políticas públicas existem


os agentes potencialmente afetados (partes interessadas) e aqueles em condições de
implementar uma política pública (arquitetos), sendo que estes últimos não detêm todo
o conhecimento sobre todas as variáveis ​​locais. Por isso estimulam a participação das
partes interessadas visando reduzir a lacuna de conhecimento.

Todavia no turismo, como mencionado, é praticamente nula a interação do


cliente final, os turistas, na formulação das políticas públicas de turismo, pois este
permanece no destino por um tempo limitado. E o mesmo ocorre com a sociedade civil,
na qual poucos cidadãos se dispõem a uma participação nas políticas de turismo. Por
outro lado os empresários, ainda que distante do necessário, são os mais envolvidos
com as políticas públicas de turismo.

A WTO (2000) ressalta que esta é necessária para que o setor público assim
absorva as mudanças do turismo nas políticas públicas, regulação, infraestrutura
e tributação. Hall (1999) enfatiza que cabe ao Estado estimular uma atividade com
forte interesse empresarial, mas que está estritamente relacionada com a cultura, os
recursos naturais e o cotidiano de uma sociedade. Este enfoque está presente nos
direcionamentos dados pelo Ministério do Turismo (BRASIL, 2013) no Brasil. Em seus
programas, sobretudo naqueles ligados à estruturação e gestão de destinos turísticos,
o Ministério enfatiza o desenvolvimento da atividade de forma regionalizada, com foco
no planejamento coordenado e participativo, a partir de instâncias de governança,
envolvendo agentes públicos e privados.

Neste sentido há uma expectativa de que o Estado se aproxime dos empresários


para assim formular políticas públicas coerentes com as necessidades mercadológicas
destes, que por sua vez deve estar em conformidade com o que os turistas desejam,
mas ao mesmo tempo é dever do setor público interagir e defender os interesses da
sociedade civil, pois é ela a principal afetada pela atividade.

Esta participação dos empresários possibilita um alinhamento com as


necessidades locais e estas podem ser melhor aceitas pelos agentes locais. Outra
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vantagem é a redução nos dispêndios de recursos para planejar, negociar, criar


salvaguardas relacionadas às transações (custos ex-ant) bem como fiscalizar e corrigir
problemas surgidos quando as transações não ocorrem como esperado (custos ex-
post). Estes dispêndios são denominados pela Economia dos Custos de Transação
(ECT), proposta por Williamson (1989), como custos de transação. O entendimento
dos custos de transação está fundamentado no princípio da racionalidade limitada,
oportunismo, frequência, incerteza e ativos específicos.

A participação nas políticas públicas influencia o comportamento dos agentes


e estimula a construção de políticas públicas negociadas em função do aumento na
frequência da relação entre os empresários e destes com os agentes do poder público
e a consequente troca de informação e redução das incertezas. Ao participarem das
políticas públicas os agentes locais se sentem constrangidos em não cumprir um acordo
ou trapacearem visto que estão cooperando com um grupo que tem um objetivo em
comum. Ao assumirem esta postura de cooperação, os custos de transações ligados
ao oportunismo tendem a se minimizar.

Por outro lado, a retórica dos arquitetos e agentes políticos bem como a falta
de continuidade das políticas públicas colocam em risco os investimentos específicos
feitos pelos empresários. Por isso o êxito de investimentos em ativos específicos
depende da participação dos agentes locais na elaboração, implantação e controle
defendendo a continuidade das mesmas. A aplicação mais detalhada da Economia
dos Custos de Transação às políticas públicas de turismo são encontradas em Gomes
(2008).

Este trabalho ao focar a participação empresarial nas políticas públicas torna


relevante recorrer às proposições teóricas do corporativismo já que busca exatamente
explicar a representação de interesses privados perante o Estado. O objetivo principal
do neocorporativismo é assimilar as novas formas de intermediação de interesses,
possuindo suas vertentes marxista e as análises dos aspectos político-organizacionais.
A primeira compreende o neocorporativismo como um método de redução de conflitos
de classe. Já a segunda, que é a adotada nesta pesquisa, entende o corporativismo
como um modelo institucionalizado de formação das políticas no qual as grandes
organizações colaboram entre si e com o Estado na articulação dos interesses e na
implementação das políticas públicas (ARAÚJO e TAPIA, 1991).

Seguindo o exposto por Schmitter (1974), tem-se conhecimento de que existem


outros entendimentos sobre corporativismo, porém o adotado neste trabalho descarta
a aproximação do termo com qualquer ideologia, regime autoritário. Assim, defende-
se um corporativismo originário da dinâmica da sociedade civil, ficando preservada
a autonomia fundamental dos atores coletivos envolvidos (ARAÚJO E TAPIA, 1991).
Porém estes autores chamam a atenção para o fato do corporativismo envolver o
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componente estatizante (subordinação ao Estado das organizações da sociedade


civil) e ao mesmo tempo um componente privatista (avanço de setores da sociedade
civil sobre o Estado, a abertura do Estado para interesses organizados da sociedade
civil, principalmente das classes e setores dominantes). Cabe a ressalva de Schmitter
(1974) de que o corporativismo sofre com pressões para a ampliação da participação,
não apenas dentre os empresários, mas também por parte dos movimentos sociais.

Araújo e Tapia (1991) acrescentam que a partir da década de 1970 o debate


sobre o neocorporativismo passou a envolver estudos sobre os conselhos de política
públicas. Cortes e Gugliano (2010) destacam a contribuição do neocorporativismo
para compreender as características estes fóruns e o contexto institucional que a
envolve. Sob a ótica neocorporativista, estes fóruns são institucionalizados, regulados,
compostos por representantes (não funcionam por democracia direta) de grupos de
interesses específicos e suas agendas são influenciadas pela dinâmica da área de
política pública com a qual se relacionam e estão abertas a propostas dos gestores
públicos. No entendimento das autoras, os cientistas sociais que relacionam o
neocorporativo aos processos participativos tendem a identificar estes ambientes de
participação como uma complementação da democracia representativa, que possibilita
aperfeiçoar a governança aproximando as políticas públicas de sua clientela. Porém,
elas admitem que o desenho institucional dos fóruns favorece a emergência de um
processo decisório influenciado por interesses particulares de beneficiários das
políticas públicas, num processo de delegação de responsabilidades do Estado para
as organizações sociais.

Finalmente, é importante dedicar os parágrafos finais para ilustrar que a


participação dos empresários é histórica no Estado brasileiro. Desde o período
de Getúlio Vargas, segundo Diniz (1994), há uma articulação Estado-sociedade
caracterizada pela incorporação de atores estratégicos e pelo corporativismo,
fortalecendo-se assim, um canal bipartite entre as elites empresariais e o Estado.
A autora acrescenta que o sistema corporativo de intermediação de interesses
representou, na transição da sociedade agrária para a urbano-industrial, a abertura de
espaço político para os empresários em formação, permitindo-lhes uma inserção no
Estado. Cabe ressaltar, todavia, que esta articulação prejudicou a integração entre os
órgãos do governo assim como a coerência entre as políticas públicas (DINIZ, 1994).

Seguindo esta mesma trajetória, nas décadas de 1960 e 1970 a relação entre
estado e sociedade ocorreu por meio de corporativismo (formal) e anéis burocráticos
(informal – contatos pessoais entre decisores, lobbies e clientelismo), conforme
esclarece Codato (2003). De acordo com Soares (1994) não há dúvida que empresas
multinacionais e o governo norte-americano apoiaram o golpe e a conspiração
começou antes da queda de Goulart com a participação de empresas nacionais e
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multinacionais. Assim, o golpe foi fruto de uma união de interesses entre os militares
e grupos econômicos, com apoio estrangeiro. Nas palavras de Motta (1979, p.131) a
burguesia deu a mão para a burocracia e esse aperto de mãos tornou-se, às vezes,
forte demais.

Assim, o entendimento de Codato (2003) sobre o passado de regime militar


brasileiro também é coerente com o presente quando o mesmo expõe que os
empresários buscavam ocupar uma posição dentro do Estado que os possibilitassem
uma melhor negociação, influenciando a formulação de políticas e o processo decisório.
Logo, fica evidente a importância dos estudos de turismo dedicarem maior atenção à
participação empresarial nas políticas públicas de turismo tendo em vista que, até em
momentos que a contrato social e democracia são considerados menos importantes,
os empresários não perderam importância no Estado brasileiro.

PROPOSTAS PARA A INVESTIGAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO EMPRESARIAL NAS


POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO

Diante das discussões teóricas evidenciando a importância de se contemplar os


empresários nas pesquisas sobre turismo e participação, tema este presente inclusive
na política nacional de turismo do Ministério do Turismo, tem-se a seguir observações
sobre como este tema é tratado nas pesquisas em turismo.
O Gráfico 1 demonstra as principais palavras presentes no título das
pesquisas sobre participação. Os temas com maior frequência são sustentabilidade,
desenvolvimento, comunidade, lazer, gestão, social, planejamento e cultura. Aqueles
com frequência intermediária são: local, políticas, ecoturismo, projeto, patrimônio,
ambiental, conservação e rural. A palavra “gestão” é a única do gráfico que em
princípio poderia estar associar participação e empresários. Mas esta também pode
estar vinculada ao setor público, por exemplo, na expressão gestão pública assim
como em outras encontradas nos artigos analisados: “gestão da visitação em destinos
turísticos”, “gestão participativa”, “gestão regionalizada”, “gestão social”. Portanto, os
termos empresa, empresários ou setor privado não constam entre as denominações
mais frequentes atribuídas às pesquisas sobre participação no turismo pesquisadas.

Gráfico 1 - Frequência de Palavras no Título de Pesquisas sobre Participação


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No Gráfico 2 estão representadas as palavras mais presentes nas pesquisas


que se relacionavam a participação e política. É importante enfatizar que outros termos
forma identificados, mas todos com apenas uma ou duas menções, o que dificultaria a
interpretação do gráfico em função do excesso de informação. Logo as três variáveis
(desenvolvimento, lazer e gestão) apresentadas foram citadas respectivamente 3, 4
e 5 vezes. Comparando este gráfico com o anterior confirma-se a ênfase nos termos
“desenvolvimento” e “gestão” por parte das pesquisas. Reforça-se que também no
Gráfico 2 o termo “gestão” não remete a relação entre iniciativa privada e participação e
sim ao setor público e unidades de conservação, por meio de expressões como “gestão
pública”, “gestões municipais”, “gestão e uso público de unidades de conservação”.

Gráfico 2 - Frequência de Palavras no Título de Pesquisas sobre Participação e


Política
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Ao tratar das pesquisas sobre políticas públicas identificou-se, conforme


ilustrado no Gráfico 3, que os temas com maior frequência de menção nos títulos das
pesquisas foram lazer, desenvolvimento, cidade, gestão e espaço. Em relação aos
que manifestaram uma presença intermediária estão social, planejamento, esporte,
regionalização e cultura. Como mencionado, os termos com menor frequência foram
excluídos visando uma melhor apresentação do gráfico. No Gráfico 3 os termos
“desenvolvimento” e “gestão” continuam entre os mais citados, porém o lazer é termo
com maior presença. Portanto nas pesquisas sobre políticas públicas também está
ausente a menção aos empresários entre os termos mais citados.

Gráfico 3 - Frequência de Palavras no Título de Pesquisas sobre Política Pública


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Cabe observar que ao analisar as pesquisas que tratam de participação e


empresa não foi identificado nenhum termo de maior frequência, com exceção da
expressão “cooperar”, a qual não tem relevância em termos de análise. Da mesma
forma analisadas as pesquisas que trazem em seu título os termos “empresa” ou
“empresários” mas constatou-se que estas também não estão relacionadas a
participação.

Apesar da relevância dos empresários para as políticas públicas aliada à baixa


frequência deste tema nos estudos de turismo expõe-se a seguir uma proposta para
investigação da participação com foco nos empresários. Pautando-se no entendimento
de Strauss e Corbin (2008) de que a essência de uma investigação é fazer perguntas
e buscar respostas para estas, esta proposta é formada por quatro blocos de questões
norteadoras aliados à uma fundamentação metodológica para a busca das respostas.

Para analisar participação dos empresários nas políticas públicas de turismo é


necessário considerar primeiramente as características do Estado no qual estas estão
inseridas e a influência destas características nas referidas políticas públicas, o que
remete às seguintes indagações iniciais:

a. COMO O ESTADO LIDA COM O TURISMO?

Como o turismo se insere na estrutura administrativa e na agenda do executivo


e do legislativo? Como a relação entre as esferas federal, estadual e municipal
influenciam nas políticas públicas de turismo? Como é a relação entre o executivo
e o legislativo ao trabalharem o turismo? Quais as condições oferecidas pelo poder
executivo e legislativo para a participação empresarial nas políticas públicas de
turismo, analisando: quais as possíveis formas de participação existentes? Qual o
papel dos fóruns de políticas públicas ligados ao turismo? Qual a qualificação e a
experiência prévia relacionadas a turismo e participação os servidores possuem?
Quais as condições materiais para a participação (espaço físico, equipamentos) o
setor público oferece?

Diante destas características das políticas públicas de turismo e o papel dos


empresários nesta, tem-se os questionamentos a seguir acerca da atuação empresarial
nas mesmas:

b. QUEM PARTICIPA?

De qual área do turismo são os empresários/organizações participantes?


Por que alguns empresários de turismo não participam? Qual a qualificação dos
empresários participantes? Qual a motivação dos mesmos para participarem? Quais
as assimetrias de poder existes entre eles?
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c. COMO É A PARTICIPAÇÃO?

Como é a interação (frequência, local, duração)? Qual a estrutura para a


participação? Ela é oficializada? Quais ideias são debatidas? Quais as dúvidas
manifestadas? Como é a identificação de problemas e soluções? Como é a tomada
de decisão? Quais as capacidades decisórias de cada agente participante? Como
é a hierarquia das decisões? Como os interesses políticos, econômicos e sociais
relacionados ao turismo se manifestam na interação? A sociedade civil organizada
também está presente? Como cada agente defende seus interesses? Qual a razão
utilizada para convencer (financeira, emprego, voto, harmonia entre as partes)? Como
as experiências passadas influenciam na participação dos empresários? Como é a
confiança entre os envolvidos na participação? Como o grupo lida com o imobilismo
de alguns membros? Como os eventos externos interferem na participação dos
empresários por parte do Estado?

d. QUAL A DIFERENÇA A PARTICIPAÇÃO FAZ?

Como a participação empresarial influenciou na agenda das políticas públicas


de turismo? Quais as influências na formulação das políticas públicas de turismo
ocorrem em função da participação empresarial? Quais a mudanças na implementação
foram geradas pela participação empresarial nas políticas públicas de turismo? Qual
a colaboração da participação empresarial para a redução do oportunismo nas
políticas públicas de turismo? Como esta participação influenciou nas incertezas dos
empresários e do poder público? Quais aproximações entre as políticas públicas de
turismo e as necessidades dos agentes locais a participação empresarial possibilitou?

Ao analisar esta relação é importante observar quais cargos públicos são


concedidos a empresários e como eles utilizam estes cargos para influenciarem na
formulação as políticas públicas. Esta influência ocorre especialmente na política
econômica e naquelas relacionadas ao setor em que sua empresa atua. Também
devem ser analisadas as interferências da participação empresarial nas relações
entre os órgãos do governo.
A respostas para estas perguntas devem ser obtidas a partir da análise dos
modos de compreensão, ou seja, como a maneira que os agentes interpretam os
elementos de um espaço político (atores, regras, idéias e suas relações causais)
e como estabelecem uma relação coerente entre estes (SCHNEIDER E INGRAM,
2007). Para tanto, propõe-se como metodologia uma pesquisa qualitativa, buscando
portanto compreender os detalhes da interação. Esta envolve uma coleta de dados
por meio de observação nos fóruns nos quais são debatidas as políticas públicas de
turismo, análise documental (principalmente das atas resultantes destes encontros)
e entrevistas com empresários, sobretudo diretores de associações empresariais da
área de turismo, e representantes do setor público, com destaque àqueles que atuam
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nos órgãos de turismo.


Propõe-se a análise dos dados a partir da análise de conteúdo (BARDIN,
2011) operacionalizando por meio dos procedimentos de pré-análise, codificação,
categorização e inferência. Na pré-análise escolhe-se os documentos a serem
submetidos à análise e elabora-se a lista de variáveis, a partir do referencial teórico,
que fundamentarão a interpretação. Na codificação os dados coletados recebem uma
identificação de acordo com sua semelhança à determinadas variáveis acima. Na fase
de categorização estes dados são agrupados considerando a semelhança de temas
e afinidade com os objetivos da pesquisa. Na fase de inferência são analisadas a
frequência (vezes que cada tema aparece), intensidade (advérbios de modo, adjetivos)
e direção (posicionamento do entrevistado sobre um tema - favorável, desfavorável
ou neutro) dos dados. A partir das análises da fase de inferência constrói-se um texto
comparando estes resultados com o referencial teórico, obtendo assim explicações
acerca da participação empresarial nas políticas públicas de turismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A participação empresarial é uma característica da política brasileira desde o


presidente Getúlio Vargas. Porém a mesma é pouco abordada nos estudos sobre
participação nas políticas públicas de turismo. Neste sentido este artigo apresentou
uma pauta de investigação sobre a participação no turismo, colocando os empresários
no centro da discussão.

Para atender este proposito o artigo assumiu o argumento de Diniz (1994) ao


rejeitar o entendimento de passividade empresarial frente às políticas públicas visto
que estes agentes devem ser participantes ativos, sujeitos de suas opções e ações.
É relevante, segundo a autora, a disposição dos empresários para influenciarem uma
política pública quando esta não os agrada e principalmente quando o Estado se
dispõe a concorrer com os mesmos no mercado, o que é comum no turismo.

Assim, após o referencial teórico foi apresentada uma pauta de investigação


voltada sobre a inserção dos empresários nas pesquisas de turismo sobre participação.
Mediante está é possível observar que as pesquisas participação no Brasil enfatizam
os temas sustentabilidade, desenvolvimento, comunidade, lazer e gestão (associando
este termo ao setor público). Cabe notar ainda que nas pesquisas sobre política pública
o tema lazer tem grande presença, seguido de “desenvolvimento” e cidade. Estas
informações corroboram a defesa de que ademais sua importância, a abordagem dos
empresários recebe pouca atenção nas pesquisas de turismo. Frente a este cenário
foi apresentada uma agenda de pesquisa tendo como parte inicial quatro blocos de
questões norteadoras (como o estado lida com o turismo; quem participa; como é a
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participação; qual a diferença a participação faz), sendo esta parte seguida de uma
proposta de fundamentação teórica e metodológica para a referida análise.

Diante do exposto, a reflexão a qual este artigo teve como objetivo estimula
algumas indagações: qual a influência da formação dos pesquisadores de turismo
na baixa ênfase dada aos empresários nas discussões sobre participação? O termo
participação tende a estimular os pesquisadores do turismo a caminharem mais pelas
ciências sociais e humanas e menos pelas sociais aplicadas (sobretudo administração
e economia)? Qual a percepção de pesquisadores de turismo mais vinculados às
ciências sociais e humanas sobre a proposta de inserir os empresários no debate?

Assim, pesquisas futuras podem se dedicar à pauta proposta neste artigo e


em caso de uma curiosidade mais epistemológica também podem se aventurar por
estas questões apresentadas no parágrafo anterior. É importante ainda que agreguem
outras variáveis além das aqui apresentados visto que demais estudos, além daqueles
selecionados para este artigo, complementam a abordagem. Por exemplo, esta
complementação teórica pode se dar por meio da análise da participação empresarial
nas políticas públicas de turismo sob ótica do institucionalismo e da ética assim como
estabelecer diferenças entre a participação empresarial na esfera pública municipal,
estadual e federal.

Cabe ressaltar finalmente que a análise da participação empresarial requer


o entendimento do grau de articulação entre os empresários. Também é importante
considerar, que a participação empresarial pode ocorrer de forma indireta, ou seja,
por meio da difusão de valores favoráveis aos seus interesses, influenciando assim a
agenda do governo (Diniz, 1994).

Dessa forma, a proposta deste artigo e as consequentes pesquisas aqui


sugeridas contribuem para o aperfeiçoamento das práticas dos agentes envolvidos
com o turismo. Por isso ressalta-se a necessidade de não restringir estas discussões
ao âmbito acadêmico, levando os resultados destas pesquisas às associações
empresariais de turismo, legislativo e executivo para que sejam aplicadas, aumentando
a efetividade das políticas públicas de turismo.

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ANÁLISE DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS MOTIVADOS PELA ATIVIDADE


TURÍSTICA NA PRAIA DE AJURUTEUA/PA1

SILVA,Diogo Rodrigo Lisboa2


SOUZA, Kelly Ribeiro

RESUMO: O presente artigo objetiva verificar o inicio do processo gerador dos


impactos; analisar os impactos sociais na praia de Ajuruteua causados pela atividade
turística; caracterizar os principais impactos ambientais ocasionados pela atividade
turística; Identificar se há políticas públicas voltado para a questão socioambiental
na praia de Ajuruteua/Pa. Este estudo teve como estratégia metodológica a pesquisa
bibliográfica e análise descritiva e explicativa, com caráter qualitativo. Constatou-se
que é da necessidade a preservação das características da praia de Ajuruteua/PA,
que se faz necessário à implantação de uma nova forma de turismo baseado em
estratégias provocadoras de sustentabilidade que implique no desenvolvimento de
políticas que valorizem o patrimônio cultural e ambiental.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Impactos Socioambientais. Ajuruteua. Pará.

ABSTRACT: This article aims, check the beginning of the process generating the impacts;
analyze the social impacts of beach Ajuruteua caused by tourist activity; characterize
the main environmental impacts caused by tourist activity; Identify whether there are
public policies focused on social and environmental issues in the beach Ajuruteua /
Pa. The present study was methodological strategy to bibliographical research and
descriptive and explanatory analysis with qualitative character. It was found that is
the need to preserve the characteristics of the beach Ajuruteua / PA, which is needed
to implement a new form of tourism based on provocative sustainability strategies
involving the development of policies that value the cultural and environmental heritage.

KEYWORDS: Tourism. Social and Environmental Impacts. Ajuruteua. Pará.

1. INTRODUÇÃO

O atual contexto socioambiental vem exigindo máxima atenção da sociedade


mundial, pois a degradação ambiental esta crescendo e ocasionando problemas di-
versos, que tem influência direta e indireta na vida da população global. As causas são
muitas, assim como suas conseqüências e entre esse emaranhado de complicações
põe-se em risco a vida de todo um planeta que depende do meio ambiente para sua
1 Artigo desenvolvido a partir da apresentaçao do Trabalho de Conclusão de Curso de Turismo
à Universidade Federal do Pará.

2 Bachareis em Turismo pela Universidade Federal do Pará.


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sobrevivência.

Diante desse grave problema enfrentado hoje pela população mundial passou
a ser, cada vez mais, comum o incentivo a práticas que possam de alguma forma
colaborar com a conservação do meio ambiente. E entre tais práticas pode-se
encontrar o turismo que vem ganhando cada vez mais espaço no mercado mundial.

Segundo Ruschmann (1997), a inter-relação entre o turismo e o meio ambiente


é incontestável, uma vez que este último constitui a “matéria prima” da atividade. A
atividade turística possui como a maior parte das atividades econômicas e sociais, a
capacidade de promover impactos de ordem positiva e negativa. É baseado nisto que,
o presente trabalho vai abordar como atividade turística na região bragantina vem se
preocupando em tornar pública a importância da preservação e do planejamento, de
forma concreta e permanente da praia de Ajuruteua/PA.

Ruschmann (1997, p. 37) ressalta ainda que:

[...] Os impactos do turismo sobre as localidades receptoras já ocorrem em


amplos segmentos envolvidos com viagens turísticas e várias propostas tem
surgido e sido levadas a efeito com relativo sucesso, no sentido de minimizar
os impactos negativos, otimizar os positivos e enriquecer a experiência
vivencial das pessoas que viajam em férias.

Nesse contexto, a expansão turística na região bragantina, não se faz


acompanhar de políticas publicas, ou programas norteadores, capazes de conciliar
interesses econômicos e sociais e nem de promover a desejada sustentabilidade.
Essa ausência de critérios se verifica no nível de Poder Público, local, estadual e
federal, pois a partir da construção da rodovia PA – 458, no município de Bragança, a
estrada que liga Bragança – Ajuruteua gerou problemas e devastação de manguezais
com relevantes prejuízos à fauna e a comunidade local (MANESCHY, 1995).

Ademais, o Pará é considerado a obra prima da Amazônia, recebe turistas do


mundo inteiro, por possuir uma natureza exuberante, paisagista e bela. No entanto
isso acaba contribuindo para a destruição desta natureza, já que estes muitas vezes
poluem as praias, sujam as suas praças, os seus monumentos arquitetônicos, entre
outros impactos. Em contrapartida é indispensável à presença destes no Estado, já
que estão em fase de expansão do turismo. Contudo a forma desordenada contribui
rapidamente para sua degradação, sendo o ícone deste turismo insustentável às
comunidades residentes dos destinos turísticos. Assim o objetivo geral do estudo é
analisar as questões negativas que o turismo causa na praia de Ajuruteua, visando à
atividade turística a fomentar de forma sustentável o desenvolvimento socioeconômico
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na sua localidade, assegurando a melhoria da qualidade de vida e o respeito ao meio


ambiente.

2. IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DO TURISMO

Segundo Dias (2003) o turismo por algum tempo foi considerado uma prática
econômica limpa, não poluente, geradora de emprego e de empresas que não emitiam
gases poluentes na atmosfera. Porém, o que se observa no cenário atual, são diversos
impactos que apontam que o turismo contribui para alterações problemáticas ao meio
ambiente e às sociedades receptoras.
[...] há muitos aspectos negativos nos impactos do turismo no meio ambiente.
Esses impactos surgem, por exemplo, no desenvolvimento da infraestrutura
para o turismo, num incorreto manejo dos resíduos gerados pela atividade,
nas cicatrizes na paisagem, geradas pelo crescimento da infraestrutura nas
áreas naturais e pelo volume de visitantes que afetam os ecossistemas mais
frágeis (DIAS, 2003, p. 78).

Nesse contexto o turismo se torna uma causa ao meio natural, pois as


conseqüências disto é o grande número de visitantes às comunidades, gerando uma
aculturação ao meio, poluição e degradação ao meio ambiente local. Ademais Cooper
(2007, p. 210) ressalta da seguinte forma: “o ambiente, seja ele natural ou construído,
é o ingrediente artificial mais fundamental do produto turístico”.
Para Cooper (2007, p. 211), os impactos ambientais associados do turismo,
assim como os impactos econômicos, podem ser considerados em termos de seus
efeitos diretos, indiretos e induzidos. Novamente, alguns dos impactos podem ser
positivos e outros negativos. Não é possível desenvolver turismo sem que ocorram
impactos ambientais, mas é possível, com o planejamento correto, gerenciar o
desenvolvimento do turismo com o objetivo de minimizar os impactos negativos, ao
mesmo tempo em que se estimulam os impactos positivos.
Segundo Ruschmann (1997), os impactos provocados pelo turismo ecológico
também podem ser caracterizados nos aspectos positivos e negativos em diversas
relações socioculturais nos ambientes em questão ela classifica da seguinte forma
(Ver Tabela 1):
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QUADRO 1 - IMPACTOS ECOLÓGICOS.


Impactos Positivos Impactos Negativos

Nos ambientes naturais: criação Nos ambientes naturais: acumulo de lixo


de áreas, programas e entidades nas margens dos caminhos e das trilhas,
(governamentais e não governamentais) nas praias, nas montanhas, nos rios e
de proteção da fauna e da flora. Exemplo: lagos; uso de sabonetes e detergentes
Projeto Tamar-Tartarugas Marinhas. pelos turistas, contaminando a água dos
rios e lagos comprometendo sua pureza
e a vida dos peixes e da vegetação
aquática; contaminação das fontes e
dos mananciais de água doce e do mar
perto dos alojamentos, provocada pelo
lançamento de esgoto e de lixo in natura
nos rios e no oceano; coleta e destruição
da vegetação das margens das trilhas e
dos caminhos na floresta; caça e pesca
ilegal, em locais e épocas proibidas.

Nos ambientes socioculturais: campanhas Nos ambientes socioculturais:


e programas de educação ambiental descaracterização das tradições e dos
para as crianças, adultos, turistas e costumes das comunidades receptoras,
moradores das localidades turísticas; cujos ritos e mitos muitas vezes são
desenvolvimento do “orgulho étnico”. As transformados em show para os turistas;
comunidades receptoras passam a sentir sentimento de inveja e ressentimento diante
orgulho da originalidade dos recursos de hábitos e comportamentos diferentes
naturais da sua localidade e de suas dos turistas e da ostentação de tempo e
características culturais, engajam-se nas de dinheiro, muitas vezes escassos para
campanhas preservacionistas e fiscalizam os moradores das localidades; aumento
as ações destruidoras dos visitantes, dos preços das mercadorias e dos
atuando como guias de passeios pelas terrenos; migração de pessoas originárias
matas; de regiões economicamente debilitadas
para os novos pólos turísticos, e busca
de empregos, provocando excedentes na
oferta de mão- de - obra e escassez de
moradia.

Diante disto, a atividade turística não só pode ocasionar impacto ambiental


negativo, como, também pode gerar impacto positivo, no entanto, ele ocasiona mais
impacto negativo do que positivo, pois para haver um equilíbrio, depende muito de
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como ele é planejado.

Essa relação do turista e o meio em que ele visita tem que ocorrer de maneira
harmoniosa, sem causar impactos, porém de forma planejada, em razão de que toda
atividade turística ocasiona algum impacto na comunidade receptora seja ambiental,
social ou cultural. Fontenele (2004) expõem que, qualquer projeto/planejamento de
caráter econômico, social, político ou cultural deve se atentar aos impactos ambientais
e os reflexos causados na vida das populações.

Contudo, com esses problemas os moradores locais acabam sofrendo com o


reflexo da invasão de turistas na localidade. Onde acaba se criando caminhos para
a instalação de equipamentos turísticos para melhor atender as necessidades dos
visitantes ocasionando a perda da identidade local e migração dos moradores para
áreas periféricas da localidade pela expansão de comércio como hotéis e pousadas.

Entretanto, o meio ambiente está sofrendo alterações preocupantes à


sociedade. Em relação ao Brasil, os impactos ambientais ultimamente têm aumentado,
principalmente na região amazônica. Neiman (1998) afirma que, os mangues, a
vegetação, praias e dunas também são muito afetados, construções de portos e de
casas de veraneio, exploração turística, extração do sal e pesca predatória foram
atividades que completaram o estrago causado pelo homem em ecossistemas
litorâneos.

3. MATERIAL E METODOS

3.1. ÁREA DE ESTUDO

Com 400 anos de fundação e uma tradição colonial, o município de Bragança


fica localizado no nordeste paraense, a 210 km de Belém. Conhecida também como
“Pérola do Caeté”, por estar situada à margem esquerda do rio Caeté. Tem como cargo
forte em sua economia o setor pesqueiro e a agricultura familiar, com plantações de
mandioca para a produção da farinha, que é revendida em vários municípios. Possui
um povo hospitaleiro, um conjunto arquitetônico diversificado que ainda guarda suas
origens e um grande potencial turístico.

O município de Bragança localiza-se à mesorregião nordeste paraense e à


microrregião bragantina, ficando entre o Pará e o Maranhão. Limita-se ao Norte com
o Oceano Atlântico, ao Sul com os municípios de Santa Luzia do Pará e Viseu, a
Leste pelo município de Augusto Corrêa e a Oeste pelos municípios de Tracuateua
e Capanema (IBGE, 2013), ficando sobre a jurisdição da Prefeitura desse município,
assim como os órgãos competentes, para atuarem na área como a Secretaria Municipal
de Turismo de Bragança (SETUR), este órgão é responsável pelo planejamento e
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organização do turismo desse município, assegurando para a comunidade local o uso


de forma consciente dos recursos naturais que a região possui.

3.2. PRAIA DE AJURUTEUA/PA

A praia (figura 2) localiza-se na planície costeira bragantina apresenta cerca


de 40 km de linha de costa, estendendo-se desde a Ponta do Maiaú até a foz do rio
Caeté.

Nesta planície, a praia de Ajuruteua possui cerca de 2,5 km de extensão e 0,3 km


de largura, apresenta forma de arco e está orientada na direção NW-SE, delimitada por
dois canais de macromarés com deltas de maré vazante associados, representados
pelo canal da Barca (SE) e do Chavascal (NW) (ALMEIDA et. al. 2012;BRAGA, 2007;
BRAGA et al. 2007; MONTEIRO et al. 2009; PEREIRA et. al. 2006; SILVA, 2002),
ficando a 36 km da cidade de Bragança, fica de frente pro Oceano Atlântico, e é
considerada uma das mais belas do litoral paraense,

FIGURA 2 - LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA PRAIA DE AJURUTEUA.

Fonte:
Google mapas, 2013.

Foi a partir da conclusão da PA-458, que o turismo se intensificou na praia de


Ajuruteua, facilitando assim o melhor descolamento de famílias que residiam ali e com
fins de alavancar o turismo na região, gerando assim emprego, renda, e proporcionando
ao visitante conhecer e explorar com mais acessibilidade à região. A praia possui
bares/restaurantes e meios de hospedagem, porém a implantação de grande parte
dessa infra-estrutura ocorreu de forma desordenada, o visual não é agradável, há
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construções em locais inapropriados, muito próximo da maré, contribuindo para um


não aproveitamento real e até mesmo um afastamento de turistas após um primeiro
contato.

Em função do longo processo de ocupação desordenada (figura 5) visando


ao seu aproveitamento para o turismo, hoje o lugar padece com diversos problemas
ambientais e infra-estruturais, que comprometem o desenvolvimento sustentável da
atividade turística do lugar. Desde que minimizados, os problemas ocasionados com a
ocupação desordenada da praia de Ajuruteua, principal atrativo natural de Bragança, o
segmento de sol e praia, pode ser trabalhado de forma agregada a outros segmentos,
gerando estímulo à demanda regular ao longo do ano à Ajuruteua, já que o fluxo
turístico para o lugar se intensifica somente nos períodos de alta estação.
FIGURA 3 - A OCUPAÇÃO DA PRAIA DE AJURUTEUA/PA

Fonte: Google mapas, 2013.

A praia de Ajuruteua, está sofrendo por impactos ambientais motivados


pela atividade turística desde a criação da PA-458 até os dias atuais, com isso, se
intensificou o turismo de massa, ocasionando assim vários problemas à população
local. Contudo, a praia esta sofrendo um processo erosivo, devido à ocupação
desordenada no entorno do seu litoral, que aumenta em todos os verões. A ocupação
do setor costeiro de Ajuruteua se deu através dos loteamentos e da especulação
imobiliária. Segundo a SETUR, a praia não tem dono e com isso a dinâmica costeira
acaba ficando restrita.

Devido à complexidade dos problemas apontados e a condição socioeconômica


da comunidade local, todo o sistema de Ajuruteua encontra-se fortemente ameaçado,
seja seu patrimônio natural, paisagístico e como modo e meio de vida, devido à falta
de planejamento e de um gerenciamento que vise à melhoria da praia.
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Segundo a entrevista com os seguintes órgãos do município: Secretaria


Municipal de Turismo de Bragança (SETUR), Instituto Chico Mendes (ICMBio),
Secretaria de Pesca e Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Emater) nos relatou que, está começando a ser desenvolvido o Projeto Orla no
município, este projeto visa a melhoria da praia quanto a infra-estrutura turística.
O Projeto Orla começou a ser discutido em Bragança no ano de 2012, através
de reuniões formadas por um grupo de trabalho e gerenciamento chamados
GTs, que visa à implementação do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
no município.

O Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro (PMGC), legalmente


estabelecido, deve explicitar os desdobramentos do Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro (PNGC) e do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (PEGC), visando
à implementação da Política Municipal de Gerenciamento Costeiro, incluindo as
responsabilidades e os procedimentos institucionais para a sua execução (SOUZA,
2007, p. 156).

E com base no PNGC é que alguns órgãos do município estão se reunindo,


em reuniões periódicas para a construção desse plano municipal. E dentro desse
plano existe o Projeto Orla, que busca elaborar e implementar um plano de Gestão
Integrada para ordenar o uso e ocupação do solo nas faixas junto aos rios e mares.
(BRASIL, 2006):

O Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima - Projeto Orla, surge


com uma ação inovadora no âmbito do Governo Federal, conduzida pelo
Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria de Qualidade Ambiental
nos Assentamentos Humanos e pela Secretaria do Patrimônio da União do
Planejamento, Orçamento e Gestão, buscando implementar uma política
nacional que harmonize e articule as praticas patrimoniais e ambientais, com
o planejamento de uso e ocupação desse espaço que constitui a sustentação
natural e econômica da zona costeira (BRASIL, 2004).

Diante disto, esse projeto tem o objetivo de estruturar o município, organizar,


controlar os impactos ambientais e sociais e o fomento do turismo, a reorganização
dessa área, é um projeto extremamente benéfico para Bragança, especialmente para
a bela praia de Ajuruteua.

3.3. INICIO DOS IMPACTOS MOTIVADOS PELA ATIVIDADE TURISTICA NA PRAIA


DE AJURUTEUA/PA

A região da praia de Ajuruteua começou a ter uma ocupação relevante a partir


da década de 1980, com 64% (Verificar gráfico 4) dos residentes atuais e a construção
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da PA-458 na década de 70 contribuiu para essa ocupação, facilitando o acesso à


região e possibilitando a migração de pessoas carentes para essa área, Maneschy
(1993), em seu estudo, revela que esses fatores contribuíram para difundir novos
estilos de vida e assim proporcionando uma expansão do turismo dentro do povoado
e a construção da rodovia, contribuiu ao longo dos anos para o aumento do fluxo de
visitantes na praia no período de veraneio do Estado, nos meses de julho e feriados
prolongados.

GRÁFICO 4: PERÍODO DE OCUPAÇÃO

Fonte: Pesquisa de campo – Ajuruteua/ PA, 2013.

Já o processo de ocupação da região se deu por forma espontânea, onde 29%


dos residentes invadiram ou foi cedido o espaço em uso (Verificar Gráfico 5). Por se
tratar de terras da União, esses moradores não possuem posse legal desses terrenos.
Maneschy (1993) informa que essas áreas são classificadas como terra de marinha e,
portanto não podendo ser vendidos como propriedades particulares.
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GRÁFICO 5: FORMA DE OCUPAÇÃO

Fonte: Pesquisa de campo – Ajuruteua/ PA, 2013.

Essa procura dos visitantes para essa região motivou a construção de estruturas
para receber essa demanda, só que as construções desordenadas nessa região
propiciam problemas ambientais, principalmente em razão de muitas casas terem
sido construídas em regiões de dunas e assim descaracterizando a praia.

FIGURA 6 - POUSADAS E BARRACAS CONSTRUÍDAS NAS ÁREAS DE DUNAS, EM


AJURUTEUA-PA.

Ocupação

Dunas

Fonte: Pesquisa de campo – Ajuruteua/ PA, 2013.


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E uma das observações na praia de Ajuruteua, são os efeitos negativos do


fluxo turístico, o crescimento desordenado dentro do perímetro da praia, ocasionando
a extinção de dunas, contribuindo para o avanço do mar, fazendo com que muitos dos
estabelecimentos e casas particulares recuem para não sofrerem com a ação erosiva
das mares.

FIGURA 7 - RESULTADO DA AÇÃO EROSIVA DO MAR ANO 2008 – 2013.

Fonte: pesquisa de campo, 2013.

O principal problema enfrentado após a ocupação da área foi, ausência


de serviços públicos com 59%, para atender as necessidades dos novos moradores
locais e 41% a erosão costeira que obriga os moradores recuarem suas casas/
barracas com o efeito da maré (Verificar Gráfico 8).

GRÁFICO 8: DIFICULDADE ENFRENTADAS APÓS A OCUPAÇÃO

Fonte: Pesquisa de campo – Ajuruteua/ PA, 2013.


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Os residentes ao serem indagados sobre qual seria o tipo de impacto que a


praia vem sofrendo, 64% responderam impacto ambiental, um dos principais motivos
que gera o avanço progressivo da maré a cada ano, os residentes e donos de
estabelecimentos no perímetro da faixa da praia têm que recuar para não sofrerem com
o avanço da maré (Verificar Gráfico 9).

GRÁFICO 9: IMPACTOS OCORRIDOS NA PRAIA.

Fonte: Pesquisa de campo – Ajuruteua/ PA, 2013.

Os residentes ao serem questionados sobre se o turismo oferece algum beneficio


a região, 82% informaram que sim, que o turismo beneficia a comunidade local, com
aumento da renda familiar, aumento de emprego e contribui para o desenvolvimento
da comunidade. E 18% responderam que o turismo não trás nenhum beneficio, que
pelo contrario contribui para a degradação da praia, aumento do lixo e desigualdade
social.

GRÁFICO 10: O TURISMO TRÁS ALGUM BENEFÍCIO À REGIÃO?


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Fonte: Pesquisa de campo – Ajuruteua/ PA, 2013.

Um dos fatores negativos que o turismo gera para comunidade, é o grande


fluxo de ônibus de passeio fretados, os chamados “piquenique”, que nos períodos
de veraneio são comuns serem avistados na via principal da praia, causando grande
transtornos a comunidade e visitantes

FIGURA 11 - TURISTAS DE PIQUENIQUES - PRAIA DE AJURUTEUA/PA.

Fonte: Pesquisa de campo – Ajuruteua/ PA, 2013.


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FIGURA 12 - LIXO DESPEJADO PELOS TURISTAS – PRAIA DE AJURUTEUA/PA.

Fonte: Pesquisa de campo – Ajuruteua/PA, 2013.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas hipóteses traçadas para o presente estudo constatamos


que a praia de Ajuruteua esta abandonada devido à falta de uma melhor gestão e
a conscientização de alguns visitantes e população local, isso só contribui para a
degradação ambiental, sendo que a atividade turística se intensificou após a conclusão
da rodovia PA-458, que há mais de 30 anos da construção dela, a praia vem sofrendo
transformações, sociais, econômicas, culturais e ambientais.

Dentro dos objetivos estava analisar, identificar e verificar os tipos de impactos


socioambientais que a praia vem disseminando ao longo do tempo. Foi possível
verificar o quanto ela está impactada, a pesquisa identificou o período do processo
erosivo, o que o turismo agrega nessa região e quais as perspectivas futuras para
mitigar esses impactos ocasionados pela atividade turística. A ocupação desordenada
também foi alvo da pesquisa, no qual, entrevistamos os barraqueiros e verificamos
também a necessidade de uma melhor infra-estrutura e qualidade de vida a essa
população residente.

Contudo, falta de melhoria na praia, leva-nos a deficiência em infra-estrutura


e urbanização que receba os turistas, pois sendo desta forma, não existe turismo
na praia. Existe um potencial turístico elevando a deficiência no que chamamos de
produto turístico. Um dos problemas que contribui é a ausência do poder público para
intervir com políticas que beneficiem e contribuam para o desenvolvimento do turismo,
além do que a praia é somente um objeto de desejo dos visitantes, no entanto, ela não
possui um plano ou um projeto, pois a falta de políticas públicas é inoperante, e faz
que ela seja esquecida dos órgãos municipais, estaduais e federais.
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Algo que nos chamou atenção foi a discussão da implementação do “projeto da


orla”, que segundo a SETUR, ICMBio e SEMEP, será executado pela esfera Federal,
que visa um melhor ordenamento e gerenciamento da praia para conter o avanço do
mar, esse projeto ao ser discutido por Grupos de Trabalhos (GTs) esta dentro do plano
de Gerenciamento Costeiro, que se for executado Bragança será o primeiro município
a ter o projeto Orla dentro da Lei Nº 7661 no estado do Pará, mais um fator positivo
para o turismo na região.
Ademais, os impactos gerados pelo turismo são preocupantes ao meio ambiente
e devem ser analisados de forma a garantir o equilíbrio dos seus recursos naturais em
todos os seus aspectos. É necessário haver um planejamento turístico em Ajuruteua
onde sua principal atração são os recursos naturais, logo, é licito se trabalhar com o
conceito de sustentabilidade ambiental através de um desenvolvimento responsável
da atividade turística. Segundo Ruschmann (1997), informa que o planejamento físico
é uma técnica que pertence às categorias experimentais do conhecimento científico,
onde o homem é o responsável pelas ações no território, modificações na estrutura e
modificação do espaço natural que ocorre ao longo da exploração do espaço e esse
planejamento têm como objetivo aperfeiçoar o uso atual dos recursos e assim otimizar
os recursos não renováveis e evitando o esgotamento antecipado dos espaços
turísticos.
O desenvolvimento em longo prazo é a finalidade da sustentabilidade, e para
ter êxito é necessária a interação da população local, e com isso alcançar uma melhor
qualidade de vida, podendo estabelecer uma relação entre turistas e anfitriãs. Tendo
uma preocupação com a conservação, o meio físico e das formas de organização das
comunidades receptoras, seus usos, costumes e tradições assim como participação
nas fases de planejamento.

Portanto, o turismo mal planejado, desordenado e predatório pode comprometer


as localidades onde são praticados, de diversas formas, causando entre outros
impactos negativos, poluição atmosférica, aquática, sonora, visual, destruição de
espécies animais e vegetais nativas, e também gerando grande impacto na cultura
local, devido a essa degradação e ocupação ao meio ambiente, ocasionados por
grandes “atores” que tomam posse da terra como meio capitalista de desenvolvimento.
O turismo é uma fonte social natural sustentável, que depende das comunidades locais,
pois elas que vão fomentar de modo sustentável os turistas para a sua região, além
de ponderar sobre suas conseqüências trazendo transformações para o mercado e
sendo responsável por envolver diversas áreas sociais, e assim trazendo qualificação,
tornando-se um turismo como fonte positiva para a sociedade.

Diante deste trabalho de pesquisa analisamos o grau de importância e


preocupação que nós como acadêmicos e como sociedade, se quisermos que a praia
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de Ajuruteua/PA permaneça sendo um ambiente de atrativo natural e paisagístico


durante muito tempo, precisa das seguintes condições: desenvolver a qualidade de
vida da população local com técnicas de manejo na pesca, melhorar a infra-estrutura
local, enfatizar a educação ambiental aos turistas e a comunidade local. Para evitar
os impactos ambientais, deve-se planejar o destino turístico levando em conta os
aspectos sociais, econômicos e ambientes específicos, e intensificar as reuniões do
projeto orla proposto pelos órgãos municipais da região para que não fique só no papel
que seja posto logo em prática, diminuindo assim o problema da erosão costeira.

REFERÊNCIA:

BRASIL. Kazuo Nakano, Coord. Projeto Orla: Implementação em territórios


com urbanização consolidada. São Paulo: Instituto Polis; Brasília: Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, 2006.

________Subsídios para um projeto de gestão/ Brasília: MMA e MPO, 2004.


(Projeto Orla).

BRAGA et al. Morfologia e sedimentologia da praia de macromarés de Ajuruteua,


Amazônia, Norte do Brasil. Boletim Paranaense de Geociências, n. 60-61, p. 11-30,
2007.

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Porto Alegre: Bookman, 2007.

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São Paulo. Atlas, 2003.

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Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 15 dez. 2013.

Lei 7.661/1988. Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC). disponível


em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/orla/_arquivos/pngc2.pdf>Acesso em: 15 dez.
2013.

MANESCHY, M. C. Ajuruteua, uma comunidade pesqueira ameaçada. Belém:


UFPA/NAEA, 1993.

NEIMAN, Z. Era verde? Ecossistemas brasileiros ameaçados. São Paulo, atual,


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1998(serie meio ambiente).

RUSCHMANN, D.V. De M. Turismo e planejamento sustentável. São Paulo: Papirus,


1997.

SOUZA, R. M. E. Redes de monitoramento socioambiental e tramas da


sustentabilidade. São Paulo: Annablume; Geoplan, 2007.
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TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: UMA ANÁLISE SOBRE A ILHA DE


COTIJUBA-BELÉM-PARÁ.

¹Thiliane Regina Barbosa Meguis




RESUMO: O presente artigo tem como principal assunto o Turismo de Base Comunitária (TBC) no
município de Belém-PA, esse trabalho objetivou pesquisar a possibilidade do turismo como viabilizador
de desenvolvimento local, tendo como exemplo o projeto “Trilhas do MMIB” que tem por objetivo a união
do espaço físico com a comunidade de forma que o espaço e sociedade possam trabalhar juntos para a
melhoria do meio em que vivem deste modo produzindo (TBC) que é pautado nos direcionamentos de
sustentabilidade, integração socioeconômica, valorização cultural, participação e confiança para que,
assim, a comunidade se desenvolva de forma igualitária e minimize os impactos que, possivelmente, a
atividade turística poderia ocasionar na região. Dessa forma, o conhecimento adquirido durante a visita
na comunidade de Cotijuba-Pa mostra a tentativa de se estabelecer o TBC que serviria, futuramente,
como exemplo para práticas desse segmento do turismo em outras localidades, objetivando não
apenas a geração de renda, como também a geração de emprego, valorização cultural e inserção da
comunidade em todas as etapas da prática da atividade turística. A metodologia de pesquisa envolveu
a pesquisa bibliográfica que deu subsidio teórico para a segunda etapa da metodologia, a pesquisa de
campo.

Palavras-chave: Comunidade. Cultura. Turismo. Participação.

ABSTRACT: This paper has as main subject the Community Based Tourism (TBC) in the city of
Belém-PA, this study aimed to investigate the possibility of tourism as an enabler of local development,
taking as example the project “tracks MMIB” which aims the union of the physical space with the
community so that space and society can work together to improve the environment they live thereby
producing (TBC) which is guided in the directions of sustainability, socio-economic integration, cultural
appreciation, participation and confidence to that thus the community to develop equally and minimize
the impacts that possibly could lead to the tourist activity in the region. Thus, the knowledge gained
during the visit in the community Cotijuba-Pa shows the attempt to establish the TBC would serve in the
future as an example to practice this segment of tourism in other locations, aiming not only to generate
income, but also job creation , cultural appreciation and inclusion of the community in all stages of the
practice of tourism. The research methodology involved the theoretical literature that gave subsidies to
the second step of the methodology, field research.

Keywords: Community. Culture. Tourism, Participation.


_________________
¹Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Pará (2013); Pós-graduanda Latu Sensu: Planejamento e
Gestão Pública do Turismo e do Lazer pela Universidade Federal do Pará/ Núcleo de Altos Estudos Amazônicos
(NAEA) 2014.
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1. INTRODUÇÃO

Duas características são fundamentais para a atividade turística, sabe-se que a


mesma é considerada uma atividade econômica e produtiva, mas também, uma prática
social que necessita principalmente da paisagem para obter êxito em sua execução,
as relações sociais e históricas construídas por uma determinada comunidade devem
ser levadas em consideração para que o turismo aconteça de forma benéfica, tanto
para o visitante quanto para o visitado, pensando dessa forma, o desenvolvimento do
turismo deve ser um projeto construído coletivamente e não uma resposta a interesses
particulares, de grupos sociais específicos.

O turismo causa consequências positivas (riqueza, renda, postos de trabalho,


etc.), mas se planejado de forma desarticulada trás consigo fatores negativos (pode
desencadear processos inflacionários, principalmente na escala local, e aprofundar
práticas indesejadas como prostituição infantil e tráfico de drogas) para um determinado
local, o planejamento é considerado como um sujeito que pode minimizar essas
consequências negativas.

Destarte, o turismo como promotor de desenvolvimento regional, implica-


se pensá-lo como uma escolha das comunidades, visto como uma oportunidade
de melhoramento de vida, desenvolvendo uma política de turismo que se integre a
uma política de desenvolvimento ampla, objetivando a inclusão social, afirmação da
identidade cultural e da cidadania. O TBC visa, sobretudo, a integração do espaço
com a comunidade de forma em que ambos possam desenvolver-se e desfrutar das
melhorias que a atividade turística irá proporcionar produzindo desta forma um turismo
com menores fatores negativos e maiores positivos.

Tendo por objetivo discutir temas atuais e emergentes do turismo, como o TBC
além de vivenciar e conhecer projetos que estão atuando nesta nova perspectiva no
Estado do Pará, esse artigo tem como analise principal: O Movimento de Mulheres
do Município de Belém, que existe na ilha de Cotijuba e atualmente vem atuando
neste seguimento através do projeto “Trilhas do MMIB”. O projeto trabalha o TBC e
realiza outras ações na ilha, como a inclusão digital, inclusão a leitura e a inclusão do
trabalho agrícola das famílias que sobrevivem dessa atividade, além disso, o projeto
desenvolve o turismo na ilha, que ocorre nos períodos de alta estação, o turismo de sol
e praia é desenvolvido por alguns voluntários que se dispõem a estarem trabalhando.

A pesquisa pautou-se no levantamento bibliográfico e posteriormente a


pesquisa de campo, que nasceu através de um trabalho da graduação em turismo,
que objetivou proporcionar um conhecimento prático sobre o TBC, para que os alunos
pudessem visualizar na prática o que já havia sido estudado em sala de aula.
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2. TURISMO SUSTENTÁVEL, UMA DAS ALTERNATIVAS PARA O TURISMO.

Conforme Bursztyn (2009), no Brasil, o poder público aposta no setor turístico,


desde a última década, como um fator de equilíbrio e de promoção do desenvolvimento
regional, com criação de postos de trabalho e renda, e o fortalecimento da infraestrutura.
No entanto, os efeitos negativos da atividade estão cada vez mais no enfoque do debate
acadêmico, a participação dos atores sociais locais e a promoção do desenvolvimento
socioeconômico da região são fatores elementares que a atividade deve levar em
consideração no seu planejamento, dessa forma, o TBC entra no debate, como criador
de um novo caminho de desenvolvimento socialmente mais justo e ambientalmente
responsável.

O processo de desenvolvimento aconteceu de forma economicista, vinculado


à noção de prosperidade e a associado ao processo de produção de riquezas, muitos
países não levaram em consideração a forma como o processo de desenvolvimento
aconteceu, o que importava no momento era se desenvolver a qualquer custo e crescer
economicamente. O desenvolvimento situado, por sua vez, se caracteriza, portanto,
pela participação dos cidadãos como atores e sujeitos do processo, que leva em
consideração a articulação da tradição, do passado, da inovação e da modernidade
para se criar um pacote tecnológico.

Partindo, desse pressuposto, a busca pelo verde e a fuga do estresse das


grandes cidades, vem se tornando um enfoque diferenciado da atividade turística,
busca-se principalmente, o equilíbrio entre o homem e o meio ambiente, esse
olhar diferenciado torna-se evidente em uma viagem, que antes parecia “banal” e
sem importância. É necessário traçar limites entre o que é permitido e o que não é,
instituindo a responsabilidade que a sociedade deverá ter com o espaço em que ela
vive ou que a mesma irá visitar.

O TBC é o oposto do turismo massificado e nasce com um enfoque diferente,


busca valorizar a natureza e a cultura local, é outro modelo de visita, visando sempre
o diálogo entre o turista e visitado, não se trata de encontrar outras rotas exóticas para
a atividade turística, mas sim, outra forma de visitar. A participação da comunidade no
processo de planejamento e de ação práticas turísticas sustentáveis é um processo
contínuo de aprendizagem, pode-se observar aqui o modelo de desenvolvimento
situado, que visa à sustentabilidade cujo foco principal é o bem-estar e a geração de
benefícios para a comunidade local.

Esse turismo consciente com o meio ambiente e com as pessoas, tem


se configurado com base nos paradigmas da sustentabilidade e do ecoturismo
(QUARESMA 2003, p 105), “busca-se a tranqüilidade, as aventuras, o conhecimento
profundo das regiões visitadas, bem como o contato com a peculiaridade cultural,
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natural e social”.

Para a discussão de uma nova abordagem do turismo é necessário rever o


compromisso social, os valores e a ética, mas infelizmente essa é uma discussão
deixada em segundo plano na concretização do planejamento turístico o que de
fato trás consequências negativas para o desenvolvimento atual do setor que vem
crescendo no Brasil e gerando impactos para as comunidades locais das regiões
afetadas. O desenvolvimento da atividade turística classificada como “sustentável”
exige uma revisão dos valores e da ética.

Todavia, a discussão ainda é incipiente no Brasil, mesmo tendo se intensificado


a educação ambiental ainda é amadora, principalmente, quando se fala de projetos
de planejamento e compromisso dessa educação. Vale ressaltar que a discussão do
ecoturismo no Brasil é recente e só se concretizou de fato com a publicação das
diretrizes, mas embora as diretrizes conceituem muito bem o papel do ecoturismo o
mesmo tem sido difundido como um mero turismo no qual a natureza é o único atrativo.
Para solucionar esses problemas é necessário que não se separe: natureza e cultura,
afim de que exista uma vivência no ambiente turístico capaz de sensibilizar o homem
para que o respeito e a solidariedade à natureza e as populações se concretize.

As práticas do planejamento territorial apresentam respostas para os problemas


enfrentados no dia a dia da vida cidadã, intervenções significativas e importantes para o
espaço físico da cidade, acreditando que através do planejamento serão solucionados
os conjuntos de problemas sociais, econômicos, culturais e ambientais existentes.
Segundo Barreto (2002, p. 12):

O planejamento é uma atividade, não é algo estático, é um devir, um


acontecer de muitos fatores concomitantes, que têm de ser coordenados
para se alcançar um objetivo que está em outro tempo. Sendo um processo
dinâmico, é lícita a permanente revisão, a correção de rumos, pois exige um
repensar constante, mesmo após a concretização dos objetivos.

Conforme Souza (2006) é perceptível à organização de determinados grupos no interior


e mediante um esquema participativo, no entanto necessita-se de mais autonomia
individual e coletiva, a população é uma parcela significativamente importante, nas
tomadas de decisões, principalmente quando a questão são projetos que busquem
melhoria para a região em questão. Sendo assim, Putnan (1996) acredita que, a
participação é o que desenvolverá no ser humano o espírito de cooperação e o senso
de responsabilidade comum, para as necessidades coletivas.

O Brasil por ter uma diversidade e possuir uma beleza natural paisagística, que
é a Amazônia, que por sua vez possui saberes e conhecimentos tradicionais, tendo
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em vista as habilidades produtivas da população e os serviços ambientais de alta


relevância para o desenvolvimento sustentável do país e do turismo em particular,
mas, para o acontecimento da valorização do potencial turístico existente no país,
faz-se necessário primeiramente o planejamento adequado, para que em um segundo
momento o turismo seja praticado de forma benéfica, consciente e sustentável.

3. TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA, PERSPECTIVAS TEÓRICAS

Apesar do turismo de base comunitária ser uma nova iniciativa da atividade


turística, segundo Irving (2009) por muitas vezes o mesmo foi visto com um sentido
marginal, periférico e até mesmo romântico, diante das expectativas de um mundo
globalizado, que valoriza a geração de lucro a qualquer custo, no entanto, quando
o turismo passou a ser interpretado, no país, com um novo olhar, e uma alternativa
possível para que ocorra a inclusão social, aguçando a discussão sobre participação
social e governança democrática, o mesmo começou a ganhar seu lugar nas discussões
nacionais e internacionais.

Mesmo diante disto, o enfoque ainda estava voltado para a percepção de


que o avanço no desenvolvimento turístico nem sempre tem ocorrido a favor das
comunidades locais, e com frequência tem sido o responsável pela exclusão social,
neste momento, que o turismo passou a exigir ajuste na forma e execução do seu
planejamento. Não somente no sentido de proteção ambiental, mas em um sentido
mais amplo que reconheça aqueles que vivem em comunidades tradicionais, que
valorize suas tradições e sua cultura de modo geral, portanto, o turismo nesse “novo”
sentido reflete também em uma mudança significativa dos seus consumidores, pois
muitos estão centrados em características distintas ao turismo de massa, buscam
uma natureza preservada e a autenticidade dos produtos que consomem.

Sendo assim, se torna fundamental sinalizar que esta discussão parte da


interpretação do turismo não apenas em sua vertente de mercado, mas, principalmente,
como fenômeno social complexo da contemporaneidade, levando em consideração
os saberes locais, cultura, identidade, natureza e principalmente a participação social,
tanto no planejamento quanto na execução de projetos turísticos, levando em conta
que o mesmo interfere na dinâmica socioambiental de qualquer destino. Atualmente,
os impactos sobre a cultura e as paisagens dos locais visitados passaram a ser
estudado em níveis científicos (KRIPPENDORF, 1989), o que tem causado a grande
sensibilização do poder público para as questões ambientais nas viagens turísticas
(RUSHMANN, 2010).

Ressalta-se, que o TBC, é uma forma da prática do turismo que, na teoria,


favorece a união e o laço social, fortalecendo a coletividade na vida em sociedade,
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destarte, promovendo a qualidade de vida, o sentido de inclusão, a valorização da


cultura local e o sentimento de pertencimento, só podendo obter êxito quando os
atores sociais se reconhecem como agentes do processo de construção da realidade
e da dinâmica de desenvolvimento da atividade, já que são os mesmos que conhecem
a sua própria realidade, podendo assim compartilhar o seu conhecimento a favor de
iniciativas que visem o melhoramento da vida, desenvolvimento local, divulgação dos
seus conhecimentos e do local onde ocorre a prática do TBC.

O modelo de TBC surge a partir da necessidade de empoderamento


comunitário para atividades produtivas, a partir disso far-se-á o uso sustentável do
patrimônio natural, particularmente em áreas protegidas e que necessitam de uma
maior preocupação sobre a forma como o turismo é planejado e praticado, como
por exemplo: propriedades rurais, da manutenção e vivência com modos de vida
tradicionais, de quilombolas, caiçaras e ribeirinhos.

Para que ocorra de fato, o TBC é necessário à participação e a geração do


capital social entre os atores locais, ou seja, não basta apenas fazer o uso sustentável
da natureza, necessita muito mais que isso, busca-se principalmente o reconhecimento
e a valorização da comunidade para as suas atividades habituais sejam valorizadas, e
a partir da junção entre o capital social, atrativo, seja natural ou não, com os visitantes
que buscam essa autenticidade e o convívio mais próximo com a comunidade é que
nasce o sentido real do Turismo Base Comunitária.

Contudo, para que se haja o TBC, Machado e Villela (2006, p.3) afirmam: “Deve
haver a interação entre cada setor da sociedade seja ele público ou privado, para assim
poder enxergar à inclusão social, ligada as possibilidades da prática do turismo”. Essa
interação é necessária para se planejar qualquer atividade, seja ela turística ou não,
proporcionando também, que a troca aconteça de forma espontânea, entre o turista
o visitado, uma interação, descoberta e troca de saberes e de culturas diferentes que
nitidamente são observadas na prática do mesmo.

4. TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NA ILHA DE COTIJUBA

A ilha de Cotijuba está localizada às margens da baía do Marajó, próximo a


cidade de Belém do Pará. O acesso à ilha se dá a partir de Belém e também através
de embarcações que partem do bairro de Icoaraci, essas viagens a partir de Icoaraci
duram, em média, 45 minutos, já de Belém a viagem dura uma hora e meia.
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FIGURA 1: MAPA DA LOCALIZAÇÃO DA ILHA DE COTIJUBA.

Fonte: http://comisemariana.blogspot.com.br/2012/10/conheca-paroquia-sao-
francisco-das.html.

São 22 km de distâncias de Belém até a ilha de Cotijuba, depois de


aproximadamente 45 minutos, chega-se à ilha que teve como seus primeiros habitantes
os índios tupinambás. Foram os índios que a batizaram com o nome de Cotijuba, que
segundo os mesmos e na língua falada por eles, Cotijuba quer dizer “trilha dourada”.
A ocupação da ilha só aconteceu na década de 30, com a construção do Educandário
Nogueira de Faria, que hoje encontra-se em ruínas, construído a princípio para alojar
menores infratores, anos depois o espaço abrigou presos.

FIGURA 2: EDUCANDÁRIO NOGUEIRA DE FARIA.

FONTE: MEGUIS (2012)

A pesquisa se deu através da visita a Ilha de Cotijuba, onde se verificou a


diversidade e a riqueza do local. Cotijuba possui belas praias e pessoas interessadas
em desenvolver o Turismo de Base Comunitária, que é aquele que busca a participação
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ativa da comunidade, tendo como um dos objetivos principais a valorização dos


costumes e cultura local. A ilha possui famílias que sobrevivem da agricultura, da pesca
e da venda de artesanatos, sobrevivem também do turismo de final de semana, mas
que no período das férias de julho deixam essas atividades e priorizam a atividade
turística, que é o chamado turismo de massa o qual movimenta a economia da ilha, no
entanto provoca alguns impactos em que essa população não esta habituada.

A ilha de Cotijuba abriga uma parte da comunidade que se orgulha de fazer


parte do MMIB – Movimento das Mulheres das Ilhas de Belém –, que busca novos
referenciais socioeconômicos para a região e respeito à diversidade como base para
a construção da cidadania e do desenvolvimento sustentável. O TBC surge como um
alarmante a esse turismo massificado, reconfigurando as políticas públicas de turismo
em diversos países, no entanto, não se pode dizer que o mesmo é uma solução para
todos os males, mas sim, uma iniciativa que se bem trabalhada junto à comunidade
é uma nova forma de planejar e criar ações para o turismo em uma determinada
comunidade, contribuindo para que haja cada vez mais espaço para o fortalecimento
das organizações comunitárias e para um possível desenvolvimento situado.

O TBC no Movimento de Mulheres da Ilha de Belém- MMIB, no decorrer da


sua criação foram desenvolvidos projetos como: “Sons da Ilha” com o apoio da
“Comunidade Solidária”, destinados a jovens da Ilha. Somente quatro anos depois
criaram a denominação atual- MMIB, e se dispuseram a participar junto à empresa
Natura na produção da Priprioca (Cyperusarticulatus) uma erva aromática e medicinal
da Amazônia que a partir da manipulação de sua raiz produz-se uma das fragrâncias
naturais da linha Ekos de referida empresa de cosméticos.

Irving (2002) sinaliza a participação como questão central na sustentabilidade


de projetos de desenvolvimento. A participação social e a parceria com a gestão
pública, segundo uma perspectiva estratégica se torna importante para o êxito do
TBC, embora, deva sinalizar que, existem investimentos a longo prazo que são
consideráveis para execução de tal atividade, como por exemplo, investimento em
formação de recursos humanos e construção de arcabouços metodológicos capazes
de lidar com as especificidades locais, gerando respostas positivas.

Segundo relato da participante do MMIB (Movimentos de Mulheres das Ilhas


de Belém), o mesmo nasceu a partir da antiga APIC (Associação de Produtores da
Ilha de Cotijuba) que era composta basicamente por homens e depois se inseriram as
mulheres nesse contexto, mais precisamente em 1999 quando houve uma capacitação
das mesmas e estas assumiram o domínio da associação que, por causa das muitas
dívidas bancárias contraídas e não quitadas, decidiram dessa forma, montar o MMIB.
Percebe-se que uma das únicas e mais viável alternativa para buscar pessoas que
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pudessem estar interessadas a participarem do MMIB, foi através da divulgação boca


a boca.

Dessa forma o MMIB apareceu como uma alternativa de tentar desburocratizar


a atividade turística fazendo todas as articulações de forma direta, onde os próprios
participantes negociam os acordos e propõem as suas condições para que estes
sejam fechados. Devido a esta tentativa de desburocratização do turismo, o MMIB
buscou parcerias que ajudassem na sua consolidação e oferecessem a possibilidade
de maior integração da comunidade no mesmo.

Assim, o MMIB tem como parceiros o Instituto Gabiru, a UFPA (Universidade


Federal do Pará), o banco Bradesco (relação comercial, valorização econômica
e estímulo) e a Natura, que, em 2003 iniciou sua parceria com o mesmo para a
comercialização de uma fragrância produzida através do ativo priprioca, que é cultivado
pelos participantes deste e vendida à empresa.

Anualmente, a Natura leva pessoas de sua equipe de produção para trabalhar


na parte operacional da produção da fragrância e tentar reconhecer a cooperação e,
com a tentativa de aumentar o plantio da priprioca que, por causa das condições do
espaço físico, ainda é pequeno. Outro propósito da parceria da empresa com o MMIB
é o reconhecimento pelo trabalho social. Com essas parcerias, o Movimento obteve
várias conquistas, dentre elas, foi à reforma da sede deste, que, atualmente, abriga
uma biblioteca capaz de atender os associados e mais seis escolas.

Percebe-se que inovar na atividade turística é possível, quando ocorre de forma


harmônica a relação entre visitante e visitado, onde o último é o ator coadjuvante
do processo de planejamento e execução de projetos em sua própria localidade,
objetivando principalmente o melhoramento de vida e a distribuição da renda obtida
com a atividade entre a população local, se for interpretado como alternativa ética,
duradoura e humanizante o êxito fará parte do TBC, que segundo Beni (2006, p. 36):

[...] visa atender às necessidades e demanda da população local por meio


da participação ativa da comunidade envolvida. Mais do que obter ganhos
em relação à posição do sistema produtivo local na divisão nacional ou
internacional do trabalho, o objetivo é buscar o bem-estar econômico,
social e cultural da comunidade local, o que leva à diferentes caminhos
de desenvolvimento, conforme as características e capacidades de cada
economia e sociedades locais.

A participação é um fator essencial para a dinamização do TBC, um dos seus


maiores desafios é o processo de planejamento e de execução, que por muitas
vezes não priorizavam os desejos das comunidades locais, mas sim a transposição
espacial para os locais de visitação e lazer, objetivando os desejos dos turistas e dos
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grandes empresário, que procuravam a partir do turismo obter lucro a pequeno prazo.
Ocorrendo assim, a valorização de territórios que antes não eram tão valorizados, o
que provoca a pressão da especulação imobiliária, causando impacto sociocultural
desestruturando o modo de vida das comunidades.

No entanto, para de fato acontecer o TBC, necessita-se conforme Carvalho


(2007), o amadurecimento da comunidade, composta por indivíduos habilidosos para
a formação sólida e só então com seu amadurecimento e normalmente em formações
associativas atingir o desenvolvimento comunitário. Porém, como formar indivíduos
habilidosos? Ainda segundo o autor, é necessário o desenvolvimento do individuo
dando a estas condições mínimas e recursos básicos para esta busca.

Para que aconteça o desenvolvimento, é evidente a necessidade das políticas


públicas de turismo associar-se a outras políticas públicas setoriais, posto que o turismo
necessita das mesmas para que sua prática ocorra com êxito, como por exemplo,
transporte, infraestrutura, saúde, entre outras. O planejamento visa orientar o futuro, a
partir do processo permanente e metódico de elaboração de sua abrangência, partindo
do pressuposto que há diferentes alternativas para sua consolidação, o planejamento
é meio e não um fim para alcançar um determinado objetivo. O turismo por sua vez,
pode e deve ser resultado de um processo contínuo de planejamento, sempre levando
em consideração as especificidades locais.

Percebeu-se na ilha a presença desses serviços básicos, que, como o próprio


nome já diz, são tidos como básicos e não primordiais, no entanto apresentam algumas
precariedades, como a saúde onde observou a presença de um posto de saúde, o
qual não atende as necessidades de toda população local. Outro fator observado foi
à precariedade do transporte que dá acesso a ilha, os portos de embarcações não
suportam a demanda de pessoas que os utilizam, percebendo-se também a falta de
estrutura para as pessoas com deficiência (acessibilidade).

Segundo Coriolano (2006) o jeito diferenciado de trabalhar com o turismo.


Deve visar um segmento do turismo centrado no trabalho de comunidades, de
grupos solidários, ao invés do individualismo predominante no estilo econômico do
eixo tradicional, o TBC é um segmento do turismo que objetiva a participação da
coletividade, tanto no planejamento quanto na execução do mesmo.

Uma das principais características do MMIB, ainda segundo as informações


obtidas juntamente com os moradores é justamente o capital social gerado a partir
desta comercialização, pois o dinheiro arrecadado através da comercialização da
raiz é em sua grande parte destinado não somente as famílias que trabalham nessa
parceria como também são investidos em diversos benefícios para o movimento como
um todo, como investimentos na infraestrutura da sede do movimento, em tecnologia,
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artesanato entre outros.

Dessa forma, percebe-se que o TBC trouxe para a comunidade local da ilha
de Cotijuba uma perspectiva de vida maior e podendo assim adquirir incentivos para
crescerem como projeto e como seres humanos, não beneficiando apenas a comuni-
dade local, mas todos que estão ligados direta ou indiretamente com o projeto de TBC
que acontece na ilha, assim como, afirma a WWF-Internacional (2001, p. 2):

Turismo comunitário ou de base comunitária pode ser definido como aquele


onde as sociedades locais possuem controle efetivo sobre seu desenvolvi-
mento e gestão. E por meio do envolvimento participativo desde o início, pro-
jetos de turismo devem proporcionar a maior parte de seus benefícios para
as comunidades locais.

Esse fator é vislumbrado através das várias parcerias, que segundo o blog do
MMIB, ajudam a dar continuidade do movimento, algumas dessas parcerias são: o
Instituto Peabiru, a Mapinguari Design, o FMAP, o GMB, as empresas Natura e Beraca
e Bradesco.

Portanto, a ilha de Cotijuba abriga uma comunidade que se orgulha de fazer


parte do MMIB, e busca a cada dia, novos referenciais socioeconômicos para a região
e a cima de tudo o respeito à diversidade como base para a construção da cidadania e
do desenvolvimento sustentável. Percebeu-se através da pesquisa que o TBC é uma
alternativa para amenizar os impactos gerados pelo turismo de massa e enfatizando
que a participação da comunidade é item primordial para que o Turismo de Base
Comunitária aconteça de maneira a proporcionar o bem estar de toda a coletividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por muito tempo, o processo de desenvolvimento do país contribuiu


decisivamente para o processo de desenvolvimento do turismo, causando assim
vários fatores negativos para as comunidades que o recebiam, através de um
processo de planejamento desarticulado, que não levava em consideração as
especificidades locais, observava investimentos gradativos em infraestrutura, para
que o turista saísse satisfeito e não a comunidade local, visando aumentar o fluxo de
viajantes em determinada região ou contribuir para a atração de divisas externas para
o país, investindo pouco em qualificação profissional e um planejamento em que a
comunidade estivesse inserida.

O processo de planejamento, gestão, escala local e o mercado do turismo passou


por grandes transformações, o que por um bom tempo não levava em consideração
um planejamento articulado e desconcentrado, pode-se perceber que atualmente o
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discurso da sustentabilidade e os grandes programas de desenvolvimento do turismo


a partir de então contemplam, em muitos casos, o fomento do TBC e o processo de
planejamento e gestão do mesmo.

Partindo do princípio que o turismo é uma prática social não deixando de lado
a sua importância econômica, que também, é uma atividade que produz o espaço
em que esta sendo inserido, dessa maneira, não deve-se planejar o turismo como
uma totalidade, ou seja, um único planejamento que irá ser inserido em todas as
localidades, um princípio fundamentalmente importante para o mesmo é levar em
consideração as especificidades locais.

Percebe-se na ilha de Cotijuba, o potencial turístico, considerando o mesmo


como um fator de desenvolvimento local, principalmente com TBC, onde observou-se
que a população local é o principal ator determinante do processo de planejamento e
execução dos projetos para a localidade, com o objetivo de melhorar a vida, preservar
a natureza, a história e a cultura local, não deixando de lado o fator econômico, que
também está inserido nesse processo, mas com algo diferente, que é a forma de
distribuição de renda, que acontece de forma igual entre os atores que são participantes
desse processo, ou seja, a própria comunidade. No entanto, muitas coisas ainda
devem ser revistas, principalmente em relação ao transporte de acesso, educação
ambiental entre outros fatores que são em sua maioria responsabilidade do pode
público local.

Portanto, o principal empecilho com relação ao TBC na ilha é a falta de


articulação do poder público, objetivando proporcionar subsídios não apenas para
a atividade turística, nesse caso o TBC, mas principalmente visando a melhoria de
vida da população local e por conseguinte o turismo será beneficiado. Destarte, deve-
se enfatizar que na localidade o turismo surge como uma atividade complementar a
atividade que já acontece, portanto, pôde-se perceber que a decisão da implementação
do TBC partiu da comunidade, esse é um dos fatores da obtenção do sucesso na
inserção do turismo como uma atividade complementar.

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VALE DOS VINHEDOS (RS): COMPREENDENDO A PARTICIPAÇÃO LOCAL1

Resumo: Neste estudo analisa-se a participação dos moradores locais do Vale dos
Vinhedos na prática de Enoturismo. Localizado predominantemente no município
de Bento Gonçalves (RS), destino indutor do turismo nacional segundo o Ministério
do Turismo. Historicamente nessa área, bem como sua região cultural envolvida, a
Serra Gaúcha, fora estabelecida com a ocupação e produção por uma agricultura
familiar em minifúndios. Nesta pesquisa objetiva-se perceber o entendimento que os
pequenos produtores tem com a atividade turística neste atrativo desta localidade.
Assim, observa-se que neste roteiro turístico as práticas envolvem predominantemente
empreendimentos maiores do que aqueles tradicionalmente estabelecidos em área
de produção vitivinícola. Na produção de vinhos e derivados, o local tem atualmente
Indicações Geográficas (I.G.), que são valores qualitativos agregados na sua produção.
Tais referenciais relacionam-se às condições físicas, culturais e sociais do território.
Condição que as aproximam às características daqueles moradores que os formaram
ao longo do tempo. Na pesquisa, ao adotar como método uma abordagem histórico-
genética através da oralidade, realiza-se um confronto das realidades existentes e
suas formações espaciais. Com este intuito realizou-se diversas entrevistas com
os moradores locais. Deste modo, observam-se os distanciamentos daqueles que
diretamente não estão inseridos na atividade devido ao processo de produção
existente.

PALAVRAS-CHAVE: Enoturismo.Vale dos Vinhedos. Turismo Comunitário. Moradores


locais.

ABSTRACT: In this study is analyzed the participation of the local residents from Vale
dos Vinhedos in the practice of Wine Tourism. Mainly localized in Bento Gonçalves
(RS), destination considered by the Tourism Ministry as inductor of the national tourism.
Historically, this area, as the geographic region involved, the Serra Gaúcha, was
established with the occupation and production by a small-scale familiar agriculture.
The objective of this research is to understand what do the small producers think
about the touristic activities and what is the impact of this in the locality. So, with this
touristic itinerary we could observe that the practices are normally related to bigger
buildings than those who are traditionally established in the wine production area. In
the wine and his derivates production the local has currently Geographical Indications,
qualitative values aggregated to his production. Those references are related with
the physical, cultural and social conditions of the territory, and those are similar to
the characteristics of the residents, formed during the time passage. In this research,
using a historical-genetic method through orality, it is possible to make a confrontation
between the existing realities and their spatial formations. To accomplish that they
have been made many interviews to the local residents. By this way it is possible
observe the detachment of those that are not directly inserted in the activity due to the
production process that exists.

KEYWORDS: Wine Tourism.Vale dos Vinhedos. Community-based Tourism.Local


Residents.
1 Pesquisa realizada com apoio do CNPq.
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INTRODUÇÃO

O Vale dos Vinhedos destaca-se como um dos principais destinos de Enoturismo


no Brasil. Sua prática de visitação altera profundamente a paisagem e toda a estrutura
funcional e social do local. Nela, destacam-se poucos empreendedores com suas
atividades produtivas.

Esta situação justifica-se na própria necessidade de concentração econômica,


característica de uma produção capitalista. Assim, a reprodução do capital se
estabelece como uma de suas condições, mesmo que por processos contraditórios
de acúmulos de riqueza em consequência da exploração de seus diversos recursos
materiais e sociais existentes. Nestas condições, muitas vezes, regulamentações por
políticas e ações superestruturais não são suficientes para mudanças de tal panorama,
não criando maiores possibilidades de acesso aos outros agentes envolvidos, neste
caso, os outros moradores.

A definição de uma área nos municípios de Bento Gonçalves (RS), Monte


Belo do Sul (RS) e Garibaldi (RS) como território associado a Indicações Geográficas
compreende seu reconhecimento territorial e abrange valores agregados e diferenciados
na sua produção. Consequentemente, espera-se que as atividades associadas à
vitivinícola reproduzam em ganhos sociais a todos que estejam diretamente envolvidos
neste território. Questionamento que norteia esta pesquisa, ou seja, verificar qual é o
papel dos moradores no enoturismo.

O reconhecimento dos atores sociais relacionados com uma determinada área


ajuda na definição de políticas, estabelecendo ou alterando-as. Nesta condição a
pesquisa tem como referência o entendimento da sociologia pela prática do cotidiano
(SIMMEL, 2006). Nela, situa-se o espaço vital dos seus moradores, lugar de reprodução
da vida com suas necessidades específicas para a produção familiar e seus arranjos
comunitários (LEFEBVRE, 2000).

MÉTODO E PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Parte-se do entendimento do objeto por uma abordagem histórico-genética


(LEFÉBVRE, 1986), também definida como regressivo-progressivo (FREHSER, 2001).
Nela, espera-se reconhecer contrastes diversos das práticas espaciais por diversos
atores sociais, distantes das lógicas hegemônicas, e pertencentes ao respectivo
território. Caracterizam-se as práticas envolvidas, analisando o posicionamento
econômico e social de alguns de seus atores sociais.

Utiliza-se como recorte espacial uma área especifica entre os municípios da


Serra Gaúcha de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, denominada Vale
dos Vinhedos. Assim, adotam-se os limites estabelecidos pelos órgãos municipais
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e regionais competentes que estabelecem suas configurações geográficas. Neste


lugar, tem-se como principal característica o cultivo de uva, e hoje, uma transformação
marcante com a produção de vinhos finos e a prática do enoturismo.

Inicialmente, na pesquisa de campo os aspectos paisagísticos e sociais, que


os caracterizam colaboram para compreender alguns aspectos na configuração do
espaço analisado. Posteriormente, realiza-se levantamento com atores sociais não
envolvidos de forma direta com a visitação turística. Para tal prática, adotam-se
as análises das representações espaciais de Bourdieu (2003) contemporizada em
método por César (2007) para a identificação de grupos específicos.

Tem-se como pressuposto que neste local, as pessoas são pautadas por fortes
relações tradicionais, desenvolvidas desde o processo de formação como Colônia
Agrícola. Entretanto, parte destes moradores lança-se em um capitalismo moderno de
mercado, com relações de sociabilidade hierárquicas estabelecidas para atender as
novas configurações econômico-sociais e espaciais, o que implica em racionalidades
do capital. Centraliza-se a pesquisa na história de vida daqueles que estão à margem
do processo capitalista.

Trabalha-se a memória por meio da oralidade de seus atores sociais (BOSI,


2003). Não se pretende confrontar esta metodologia como disciplina autônoma
(LOZANO, 2008, p.11), mas contribuir para um conhecimento geográfico e turístico.

Neste procedimento se tem uma rica possibilidade de elaborar uma experiência


de contato com outros campos disciplinares das ciências sociais potencializando seus
recursos, habilidades e resultados (LOZANO, 2008, p.13), tanto de categorias do
cotidiano como econômicas. Busca-se assim refletir as ações dos sujeitos por suas
próprias vozes.

Desta maneira, utiliza-se não como ferramenta epistemológica para o


entendimento de um aspecto histórico, mas como instrumento para reconhecer os
processos de formação espacial que caracterizam a atividade turística. Distanciam os
entrevistados, daqueles que têm o atrativo turístico como recurso vital do seu cotidiano.

Realizou-se uma análise dos sujeitos sociais envolvidos na sua interpretação


com o território em questão e deste com o mundo contemporâneo. Desta maneira,
espera-se, “construir nuevas y productivas fuentes de información, especialmente
enfocar sus esfuerzos a generar las ‘fuentes orales’ necesarias para recabar el cuerpo
de información básico y medular de su investigación” (LOZANO, 2008, p.11).

Nas pesquisas de campo, ao adotar este procedimento metodológico, foram


reconhecidos, por depoimentos e entrevistas não estruturadas, o papel destes
moradores com os atrativos e as atividades diversas no território. Assim, se “reforça
complexidade do real” (THOMSON, 2002, 345).
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Corrobora ainda THOMSON, que inclusive “nas narrativas dos migrantes,


as redes de sociabilidade são mostrada com aspecto crucial da experiência da
migração” (2002, p. 346), reforçando suas lembranças além de possibilitar tomadas
de consciências sociais e econômicas.

Foram coletados depoimentos diversos usando entrevistas não estruturadas.


Tinha-se o intuito de reconhecer o papel dos atores sociais ouvidos e identificando
seu envolvimento com os grandes produtores e detentores dos principais atrativos
turísticos do destino turístico do Vale dos Vinhedos.

CONTEXTO HISTÓRICO E ESPACIAL DO VALE DOS VINHEDOS


Conhecer o Vale dos Vinhedos perpassa o entendimento de sua região.
Esta, denominada culturalmente de Serra Gaúcha, compreende uma ampla área no
nordeste do Estado do Rio Grande do Sul que teve como condição predominante
de ocupação a vinda de imigrantes europeus a partir do final do século XIX. Assim,
esses se estabeleciam, principalmente, em glebas rurais predeterminadas. (FROSI,
MIORANZA, 2009)

As divisões destas áreas de colonização, predominantemente italiana, tiveram


como referência as colônias de Caxias, Conde D’Eu e Dona Isabel. Esta última dando
origem ao município de Bento Gonçalves. Dentro dela, estabelecem, entre outras, as
linhas Leopoldina, Graciema e Zemith. Todas situadas ao oeste da sede colonial que
por muitos anos, serviu de ligação a um porto fluvial, situado em Santa Tereza (RS)
(FROSI, MIORANZA, 2009).

FIGURA 1: DIVISÃO FUNDIÁRIA E LOCALIZAÇÃO DO VALE DOS VINHEDOS


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Fonte: Próprio autor, baseado em levantamento da UFRGS (2014)

Estas áreas, como em toda a região de migração italiana do nordeste do Rio


Grande do Sul, desenvolveram-se por um processo de agricultura familiar. Nestes
pequenos lotes agrários, cada família além de produzir mantimentos para seu sustento,
destinavam algumas produções para a venda. Desta maneira, logo nas primeiras
décadas de assentamento, foram observadas ações estratégicas que estabeleciam
valores agregados que favoreciam a produção de uvas e vinhos (HERÉDIA, 1997).
Inicialmente, para abastecer demandas mais regionais, rapidamente alcançaram
penetração em mercados do sudeste brasileiro (HERÉDIA, 1997).

Sua produção organizada inicialmente efetivava-se como cooperativas.


Embora a maior parte do fabrico elaborava-se desta maneira também pequenos
estabelecimentos familiares produziam a bebida e derivados (FROSI, MIORANZA,
2009). Estas duas configurações reforçam uma paisagem marcada por uma produção
familiar, o que caracteriza fundamentalmente o território e as paisagens das áreas
coloniais.

Os seus territórios são marcados por fortes valores culturais. O sujeito definido
por famílias de imigrantes italianos, a sua produção doméstica cercada por parreirais
em minifúndios de produção agrária e a presença de área com contrafortes geográficos
marcantes no seu horizonte, são algumas das características que definiram histórica
e geograficamente o Vale dos Vinhedos. Atualmente, sua posição estratégia como
atrativo referencial da prática do enoturismo no país tem agregado valor à produção,
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o que associa ao reconhecimento geográfico da produção vitivinícola no registro de


marca por I.P. (Indicação de Procedência) e de D.O. (Denominação de Origem). Todas
estas condições se engendram em uma ampla estrutura sociocultural que define
marca e produções espaciais, principalmente das uvas e do turismo. Entretanto,
esses valores agregados contribuem para as condições socioculturais estabelecidas.
Sabe-se que:

As IGs possuem um desenvolvimento bastante recente nos países em


desenvolvimento, a exemplo do Brasil, tais mecanismos têm sido discutidos
e reconhecidos como fatores relevantes para estratégias de desenvolvimento
territorial por significarem a urbanização de bens, serviços e produtos
agro-alimentares articulados à promoção da cultura local, a crescimento
da demanda por produtos diferenciados e ao apelo a atividade turística
(NASCIMENTO; NUNES, 2012, p.379).

Numa perspectiva economicista pode-se pontuar que “o Vale dos Vinhedos


é composto por pessoas físicas e jurídicas, envolvidas ou não com a atividade de
enoturismo local” (TONINI, 2008, p.214). Argumento que inclusive retrata as condições
de todo o processo de formação de seu território. Conforme anteriormente mencionado
atualmente, os valores do enoturismo são associados “a forte competição dos vinhos
no mercado nacional [que] levou as vinícolas a investirem no desenvolvimento turístico
local ao redor do mundo e da cultura italiana” (NASCIMENTO; SILVA, 2012, p.381).

Nesta condição se desloca o ator social da prática de visitação e das


territorialidades para as vinícolas do Vale dos Vinhedos. Das ações desses decorre
o desenvolvimento reordenando, investimentos e mudanças políticas. Embora, como
dito anteriormente, nas Indicações Geográficas (I.G.) tem-se como condição sine qua
nonas características socioculturais encontradas.

Assim, essa mesma configuração espacial dá forma aos territórios e configuram-


se de elementos paisagísticos agregados de apelos culturais, que caracterizam
essas unidades residenciais, de produção agrária e agro-industrial nesta zona rural.
Importante reforçar que “o ambiente que cerca o enoturismo inclui infraestrutura, área
física, paisagem, cozinha regional, além de componentes socioculturais da região,
criando um terroir de enoturismo, ou seja, as características particulares do local”
(TONINI, 2008, p.215).

Suas especificidades características se constroem na relação íntima do homem,


sujeito do meio, e o ambiente, espaço físico social.Por sua vez, certamente, as I.G.
estão associadas com conceito de qualidade (MOLINARI, PADULA, 2013, 184).
Entretanto, a esses, outros aspetos do território se faz como elemento de competição
na definição dos seus produtos gerados.

Nesta condição, marca a conquista da I.P. (Indicação de Procedência) em


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2002 pelo Vale dos Vinhedos, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(INPI). A ele remetem ao processo de extração, produção e fabricação dos vinhos e
derivados. O reconhecimento da D.O (Denominação de Origem) reforça a existência
de características peculiar na região, que associam as condições naturais e culturais
no seu preparo.

Entretanto, a reelaboração do lugar como localidade turística envolve mais que


a existência de recursos necessários. A sua transformação abarca o envolvimento
de pessoas ou grupos de interesse na produção (ou reprodução) de capital em um
território determinado.

Soma-se assim, ações políticas determinadoras (TONINI, 2008, p.217) como as


que possibilitaram o reconhecimento do município como destino indutor, por parte do
Ministério do Turismo, e a sua classificação geográfica. Desta maneira, se reconhecem
as possibilidades de políticas e ações concretas para o turismo em Bento Gonçalves
no turismo nacional e na classificação de Indicação de Procedência e Denominação
de Origem para sua produção vitivinícola.

A RELAÇÃO ENTRE OS ATORES NO TERITÓRIO DO VALE DOS VINHEDOS

Na pesquisa de campo, realizada no mês de abril de 2014, foram localizadas


pessoas aparentemente não envolvidas com a atividade turística. Neste trabalho, não
se espera uma identificação censitária, mas busca-se compreender nestes atores um
panorama social do envolvimento da atividade com o território, como parte importante
de sua totalidade.

As pessoas contatadas foram sendo ocasionalmente localizadas no roteiro.


Essas estavam, com raras exceções, no seu tempo livre, dentro o Vale dos Vinhedos,
e próximo de suas residências. Assim, identificaram-se de forma sucinta, os seus
papéis bem como o de seus familiares. Nota-se que esses têm funções sociais e
econômicas relacionadas com os setores produtivos do Vale dos Vinhedos, havendo
assim uma relação com o lugar.

Dificilmente identificam-se famílias que não estejam envolvidas com a produção


de uva e vinho, a qual é a principal fonte de renda. A uva Isabel, a qual foi historicamente
referência de cultivo, hoje se encontra marginalizada para o mercado de consumo nos
grandes centros, e atualmente é utilizada em sua maioria, para a produção de sucos e
vinhos coloniais de mesa. Já os vinhos finos, são produzidos por empresas maiores,
com tecnologia agregada, as quais utilizam mão de obra local para sua produção.

No depoimento dos moradores/produtores, notam-se diversos aspectos que


podem se caracterizar pelo ceticismo desses com relação à viticultura. Os residentes
demonstram uma perspectiva pessimista no cultivo, pois o valor de mercado dos
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produtos oriundos da fruta, não é repassado ao pequeno produtor. Por terem dificuldade
de manter a propriedade, os residentes acreditam que em um período de quatro anos,
não serão mais donos das próprias terras, pois pensam em vender as propriedades.
Fato já ocorrido com alguns agricultores, em função do interesse mercadológico dos
empresários e da pouca valorização dada ao produtor agrícola.

Há também a mudança no pensamento familiar. Os filhos de proprietários de


terras que cultivam uvas, não intencionam continuarem trabalhando diretamente com a
terra. Desta maneira, muitos jovens estão envolvidos com outras atividades produtivas
como o enoturismo, sendo eles, turismólogos, enólogos, estudantes de engenharia
de produção e de tecnologia em gastronomia. Geralmente, esses profissionais são
utilizados como mão de obra pelas empresas locais.

Ainda que alguns moradores estejam trabalhando direta ou indiretamente com


o turismo no Vale dos Vinhedos, também há descrença quanto à atividade, pois os
residentes não tem participação direta nos lucros e benefícios. Mesmo com essa
adversidade, os produtores de uva, não demonstraram intenção de se fortalecer
enquanto um grupo através de cooperativas e/ou associações, as quais poderiam dar
incentivos para se inserirem nas atividades de turismo e enologia.

O discurso de identidade observado retrata o morador e sua condição de


descendente de imigrantes italianos, fato também observado com morador de outras
etnias como a polonesa. Não foi observado nenhum discurso coletivo associado à
condição de pertença ao local. Não se observou nenhuma perspectiva empreendedora
por parte dos pequenos produtores, pois os poucos que veem o futuro com certo
otimismo estão envolvidos em alguma atividade econômica maior. Nessa situação, a
condição é favorável às indústrias localizadas na área, as quais se posicionam como
grandes empregadoras.

Observa-se com os depoimentos coletados que, empreendimentos privilegiam


fundamentalmente as questões econômicas e não demonstram preocupação com
a identidade dos moradores para a construção da imagem turística do Vale dos
Vinhedos. As questões sociais dos moradores não são contempladas, e os mesmos,
não usufruem diretamente do crescimento dos empreendimentos do Vale.

O SUJEITO E O TURISMO LOCAL

Com a pesquisa, também se busca entender a relação do sujeito com as lógicas


de poder que definem a apropriação social da terra e consequentemente do capital.
Esta, segundo a Escola Crítica, tem uma associação direta com as apropriações
socioeconômicas que um determinado grupo exerce sobre outro, o que remete ao
entendimento da relação de poder.
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Ávila-Fuenmayor por uma abordagem foucaultiana (2006) define aspecto


do poder. Seu estabelecimento pode ser exercido por mandos de autoridades, por
arbitragens diversas e por forças que configuram seus respectivos tecidos sociais
e funcionalidades econômicas. Não se espera nesta pesquisa aprofundar estas
questões, mas apontar esta categoria como formadora das lógicas territoriais e de
reprodução do espaço-social.

Conforme exposto anteriormente, os moradores da região observada


estabelecem relação empregatícia com os proprietários das empresas turísticas e
de produção de derivados da uva. Um modo alternativo a esta lógica capitalista é o
turismo comunitário, atividade na qual os moradores se apropriam da organização e
dos proventos de um roteiro turístico.

O Ministério do Turismo tende a definir o turismo de base local como turismo


comunitário. Ao apresentar como análogo define como “uma forma de turismo em
que comunidades locais assumem o comando do desenvolvimento do turismo em
seus territórios” (CRUZ, 2009, p.106), ou seja, é um modo de desenvolver a atividade
turística, a partir dos próprios moradores. Nesse tipo de turismo a comunidade é quem
delimita as práticas da atividade, levando em conta as demandas e necessidade
socioeconômicas do local.

Desse modo, contribui para uma maior e melhor conservação e desenvolvimento


local, gerando benefícios diversos ao ambiente. Para que ele ocorra deve existir
interação entre os diversos atores da prática turística. No entanto, a participação do
setor privado fica em escala reduzida, já que a dimensão da comunidade deve ser
priorizada.

Escapando da lógica hegemônica, onde a comunidade tem o menor poder de


decisão e participação, esse tipo de atividade que tem sua cadeia produtiva articulada
principalmente pelos moradores, surge como um modo de se opor as cadeias
dominantes. CORIOLANO et. al. (2009, p. 63) expõe que “o turismo comunitário surge
como contraposição ao chamado turismo de resorts e dos megaempreendimentos e
como forma de evitar que empreendedores externos dominem as comunidades”. Para
Sampaio, a comunidade e os turistas são os sujeitos atuantes para desenvolver a
prática turística na comunidade. Sendo assim, o turismo comunitário:

[...] se baseia na relação dialética entre turista e comunidade receptora, e não


na sobreposição da comunidade ao turista. Turista e comunidade, ambos,
são considerados agentes de ação sócio-econômico ambiental que devem
repensar as bases de um novo tipo de desenvolvimento, regulando padrões
de consumo e estilos de vida, e de um conjunto de funções produtivas e
sócio-ecológicas, regulando a oferta de bens e serviços e seus impactos
ambientais (SAMPAIO et. al,2006, p. 6).
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Na região dos Vales dos Vinhedos o processo não ocorre dessa forma, uma
vez que, são os diversos empreendimentos (vinícolas, hotéis, restaurantes, lojas) que
organizam as cadeias produtivas do enoturismo, e não a comunidade. Dessa maneira,
a região não se caracteriza como turismo comunitário, uma vez que a atividade implica
na relação de inclusão e participação direta de seus moradores.

Observa-se que o Vale dos Vinhedos ocupa uma dimensão predominantemente


mercadológica o que é, de certo modo, um fator crítico para a atividade turística, já
que a sobrevivência do destino fica reduzida se for considerada apenas sua economia.
Um dos inúmeros fatores que demonstra essa situação é a especulação imobiliária,
o que faz com que haja perda de propriedade do pequeno produtor devido à pressão
mercadologia.

A APROVALE (Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos


Vinhedos) congrega diversos estabelecimentos privados, no entanto, a comunidade
não é representada por essa organização. A associação e as empresas, a qual
representa, não tem contato direto com os moradores limitando o desenvolvimento de
um turismo sustentável, o que coloca em risco as próprias vinícolas.

Tampouco os moradores possuem uma instituição que os representem,


talvez devido ao poder de domínio exercido pelos empreendedores da região. Esse
distanciamento entre o produtor de uvas e os empresários faz com que o roteiro
turístico do Vale dos Vinhedos não retrate o modo de vida do local.

No entanto, atividade turística ali realizada, influência diretamente no modo como


a área urbana se desenvolve, devido ao aumento do número de empreendimentos e
residências. Esse fato pode ser observado na alteração do modo de vida e de produção
bem como, nas transformações que a paisagem sofreu e sofre ao longo do tempo.

CONCLUSÃO:

Apesar das distâncias entre empreendedores e moradores, não se observa


qualquer condição de confronto, já que relações sociais, culturais e econômicas são
retratadas com certo fatalismo. As transformações do Vale dos Vinhedos como um
dos principais destinos de enoturismo do país, não é percebida por aqueles que não
participam do setor, tampouco pelos funcionários de baixa renda existentes no destino
turístico.

Conforme observado na pesquisa, os moradores não participam diretamente


do turismo no Vale dos Vinhedos, talvez por não possuírem uma instituição que os
representem. Embora a APROVALE seja importante na consolidação do roteiro,
esta representa predominantemente os empreendedores, os quais detém o capital
econômico, delimitando o comportamento da região.
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Esse distanciamento entre o produtor de uvas e os empresários poderia ser


diminuído ao ser implementado um turismo de base local, no entanto, torna-se difícil
esse tipo de atividade, pois, os empreendimentos maiores já estão instalados e dominam
as questões sociais e mercadológicas na região do Vale dos Vinhedos. Essa pressão
de mercado intimida os produtores a se organizarem em uma perspectiva diferente
daquela já formada. Porém, o turismo de base local como alternativa seria voltado às
soluções dos problemas sociais, beneficiando também os empreendimentos.

Embora exista a hegemonia dos empreendimentos, é imprescindível a


participação do produtor mesmo que de forma indireta. Essa articulação entre
ambos reforça a identidade local e valoriza o roteiro, o que pode garantir uma maior
sustentabilidade do enoturismo na região.

Trabalhar de forma associativa e comunitária no mercado turístico prevê a


manutenção da região tanto de modo social quanto econômico, no entanto, parece
que no momento não há interesse entre produtores e empresários. Essa confluência
de interesses relacionados às relações locais na atividade turística configura-se como
uma maneira de manter o roteiro

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TURISMO COMUNITÁRIO EM TERRAS INDÍGENAS:


A EXPERIÊNCIA DO FESTIVAL DE CULTURA INDÍGENA YAWANAWÁ

RESUMO: O texto foca o debate em torno do turismo em territórios indígenas como


alternativas de geração de renda, inclusão social e resgate etnocultural de populações
tradicionais. O objetivo é relatar experiências do turismo comunitário na Terra Indígena
do entorno do Rio Gregório no município de Tarauacá-AC, com a realização anual do
Festival de Cultura Indígena Yawanawá. O referencial teórico foi determinado por meio
da revisão da literatura pertinente e de estudos sobre índios. Realizou-se entrevistas
com lideranças indígenas e acesso a relatórios técnicos sobre o festival de cultura,
somadas a vivências de campo embasaram a metodologia do trabalho, que é dialética
no sentido de encontrar as determinações e os conflitos. No Acre, as políticas públicas
voltadas ao turismo foram implantadas em processo contínuo, sempre alavancadas
pelo poder público, o que fez surgir efeitos de longo prazo, entrelaçados em parcerias
privadas, e, em alguns casos, contemplando comunidades tradicionais que passaram
a explorar a atividade, resgate cultural e consolidação de produtos turísticos. As
comunidades indígenas buscam o etnoturismo associado ao meio ambiente e a
valorização histórica e cultural possibilitando a vivência dos visitantes com seus modos
de vida e espaços vividos na realização do Festival Cultural Yawanawá.
PALAVRAS-CHAVE: Territórios Indígenas. Turismo Étnico, Comunidades tradicionais,
Turismo comunitário.

ABSTRACT: This article focuses on the debate about tourism in indigenous territories
as an alternative to increase income growth, social inclusion and ethnic cultural rescue
in traditional communities. Our aim is to report experiences of community tourism in
the Indigenous Land surrounding the Gregório river in the municipality of Tarauacá-AC,
in the annual Yawanawá Indigenous Culture Festival. The theoretical framework was
determined through a review of relevant literature and studies on Indians. Interviews
with indigenous leaders, access to technical reports on the festival of culture and
our field experiences provided the basis for the dialectical methodology of work
seeking to find requirements and conflicts. In Acre, public policies for tourism were
implemented as a continuous process, always ​​by the government, which has raised
long-term effects, non governmental partnerships, and in some cases, considered
traditional communities, which began to explore the field, the cultural invigoration and
consolidation of tourism products. Indigenous communities seek ethnic tourism with
the environment, historical and cultural awareness, enabling visitors to experience
their way of life and their spaces experienced in the Yawanawá Cultural Festival
KEYWORDS: Indigenous territories. Ethnic tourism. Social inclusion. Traditional
communities. Community tourism.

INTRODUÇÃO

O turismo por ser uma atividade altamente consumidora de espaços, territórios


e paisagem, é acompanhado de conflitos e contradições no seu desenvolvimento e
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execução. Neste contexto, novas tendências surgem buscando alternativas que insiram
comunidades locais como atores desse processo, deixando o papel de coadjuvantes,
como prestadores de serviços da atividade e consumidores de seus territórios.
Estes aspectos fazem com que as comunidades tradicionais busquem alternativas e
projetos que valorizem aspectos endógenos territoriais, por meio de nichos e práticas
de turismo contra hegemônicos, em caminho inverso ao das tendências segregadoras
e degradantes que marcam o turismo estandardizado.

O turismo é atividade socioeconômica consumidora de espaços e territórios, se


utiliza de paisagens como objeto de consumo, do meio ambiente como atrativo, das
comunidades tradicionais e seus artefatos como produtos a serem negociados. Nesse
interim, o presente debate aborda o turismo em comunidades tradicionais, dando
ênfase em territórios indígenas que veem a atividade como alternativas de geração
de renda, inclusão social e resgate etnocultural de populações tradicionais. O recorte
espacial e os objetivos relatam a experiência do turismo comunitário na Terra Indígena
do entorno do Rio Gregório no município de Tarauacá-AC, com a realização anual do
Festival de Cultura Indígena Yawanawá ou Yawá. Estas discussões têm como base, a
elaboração do referencial teórico por meio da revisão da literatura, relatórios técnicos,
entrevistas com lideranças indígenas e acesso a matérias sobre os festivais de cultura
indígena.

O trabalho está organizado em três partes, sendo primeiramente abordado


o turismo em terras indígenas levantando o debate da diversidade de tipologias e
segmentos que envolvem a atividade, dando uma ênfase ao turismo comunitário de
base local em comunidades tradicionais, como em áreas indígenas. Num segundo
momento, aborda-se recorte espacial dos territórios indígenas no Estado do Acre e da
Terra Indígena do Rio Gregório em Tarauacá-AC, destacando o papel das organizações
sociais representativas no desenvolvimento da atividade. Para finalmente avaliar e
debater a experiência bem sucedida das comunidades indígenas na realização dos
festivais de cultura, para depois apresentar as considerações finais.

1. 1 A CONFIGURAÇÃO DO TURISMO COMUNITÁRIO EM TERRAS INDÍGENAS

A diversidade de processos identitários da sociedade contemporânea faz da


lógica global a local associada à mobilidade, interação e integração em redes para
atrair atividades econômicas que tem no turismo o aporte de sua forma e conteúdo.
Destacam-se entre outras atividades o comércio, transportes e serviços, todos
relacionados de alguma forma com o turismo considerado uma das mais promissoras
atividades socioeconômicas da atualidade.
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O turismo é atividade socioeconômica consumidora de espaços e territórios,


se utiliza de paisagens como objeto de consumo, do meio ambiente como atrativo,
das comunidades tradicionais e seus artefatos como produtos a serem negociados.
Assim, territórios habitados por populações tradicionais, com valores culturais únicos
e preservados nas especificidades entram no frenesi do turismo como forma de
desenvolvimento local passando a promover e atrair empreendimentos solidários e
inovadores, mas na contramão de empreendimentos padronizados acumuladores na
busca criativa de melhorias de vida e de valoração dos produtos locais.

Ações públicas, privadas e comunitárias em parcerias efetivam infraestruturas,


projetos e programas em terras indígenas, para efetivar e inserir comunidades tradicionais
em atividades de desenvolvimento alternativos, mas com atenção à sustentabilidade.
Emerge, nesse vértice, a valoração das potencialidades e especificidades locais, na
busca do desenvolvimento endógeno e da valoração dos elementos tradicionais abrindo
possibilidades empreendedoras na geração de alternativas de emprego e renda, como
por exemplo, o turismo comunitário.

No turismo comunitário os residentes possuem o controle produtivo da atividade


desde o planejamento até o desenvolvimento e gestão dos arranjos produtivos.
Assim, conseguem melhorar suas economias, as oportunidades para o lugar,
e se preocupam com o envolvimento participativo, não de forma individualista;
daí o avanço para as gestões integradas dos arranjos produtivos que passam
a ser comunitários, e facilitam os enfrentamentos. Realizam, assim, projetos
que garantem a melhoria das condições de vida local, além de prepararem
condições para receber visitantes e turistas de uma forma mais digna. [...].
(CORIOLANO, 2009, p. 283).

Esta forma peculiar de turismo é ligada à forma de gerir patrimônios culturais


voltados a endogenia regional, participação da comunidade no gerenciamento da
atividade, e à busca da melhoria da qualidade de vida de população local. Por ser de
base local, deve ser gerido pelas comunidades. O turismo comunitário busca de forma
associativa a valorização e a consolidação de arranjos locais, no qual, comunidades
tradicionais que habitam terras indígenas, reservas extrativistas e quilombos, entre
outras, possuem o controle efetivo e de uso de suas terras.

Populações tradicionais são grupos étnicos, com culturas diferenciadas, que


utilizam os territórios que habitam e os recursos naturais como condição de reprodução
socioeconômica e organização social. Comunidades indígenas tem se inserido
progressivamente na lógica turística contemporânea, por meio de práticas solidárias
e comunitárias, contudo voltadas à economia de mercado. Têm nesses princípios
oportunidade de resgate, valorização, preservação e divulgação de suas culturas, além
de oportunidades também de ganhos financeiros e sociais. (CORIOLANO; LIMA, 2012).
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A atividade turística em territórios indígenas é peculiar, de acordo com o costume


dos índios. Os visitantes são levados a conviver com a realidade local, com a cultura
e aos elementos do lugar e interagir com residentes adaptando-se aos seus modos de
vida. O modo de vida e a cultura das populações tradicionais passam a ser também
atrativos e a fomentar o turismo nos lugares indígenas, ou territórios etnográficos
valorando a etnicidade, vivências peculiares únicas, retratadas na diversidade cultural
e no espaço vivido dessas comunidades indígenas.

Faz-se necessário considerar as diversas nomenclaturas que envolvem o


turismo em terras indígenas com variedade de terminologias e concepções que, às
vezes dificultam o seu entendimento, como por exemplo: turismo étnico, etnoturismo
e turismo indígena, mas todos estão relacionados. Todos eles significam o mesmo
turismo com diversos segmentos, como por exemplo: o turismo comunitário, o turismo
cultural e o ecoturismo, entre outros.

O turismo étnico é alimentado pelo interesse dos visitantes em ter acesso


à cultura e ao povo indígena, buscando conhecer seus costumes e crenças
no próprio ambiente de vivência dos mesmos. Para isso, muitas populações
selecionam símbolos que conferem ao grupo distinção, tradição e prestígio
diante dos fluxos turísticos, utilizando-se de sinais diacríticos que são
fundamentais na arena turística. (LEAL, 2009, p. 246).

O turismo étnico está associado à realização de atividades turísticas em áreas


de grande valor étnico cultural, como aldeias indígenas, comunidades quilombolas
e extrativistas. O marketing dessa modalidade de turismo está associado ao modo
de vida dos residentes com singularidades e identidades culturais preservadas e
autênticas, repleta de saberes tradicionais, comum em territórios indígenas.

A literatura específica costuma reconhecer em Pierre L. Van der Berghe um


dos pioneiros a estudar e definir o turismo étnico, em cujo contexto se situa
o turismo indígena. Hoje vem sendo denominando turismo étnico aquele
exercido em meio a identidades exóticas – indígenas - aborígine ou o que
possa existir. Mas, tem se diferenciado turismo indígena, exercido entre
indígenas, (estando eles presentes ou não) de ecoturismo indígena – quando
há presença de uma comunidade indígena. (YAZIGI, 2007, 142).

Este tipo de turismo se aproxima ao etnoturismo, que está ligado aos aspectos
culturais de um determinado grupo étnico, estando o turismo étnico e o indígena, ambos
enquadrados nesses fundamentos. “Etnoturismo é um tipo de turismo cultural que
utiliza como atrativo a identidade, a cultura de determinado grupo étnico (japoneses,
alemães, ciganos, indígenas, etc.)”. (FARIA, 2007, p. 292).

Nesses casos, esses aspectos possibilitam oportunidade de resgate,


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preservação e respeito pelas culturas, repletas de ritos, danças, cantos, línguas,


peculiaridades gastronômicas, mitos e lendas regionais. Quando os residentes
tem oportunidade de divulgar a cultura, e prestar serviços aos visitantes, ofertando
alimentação, hospedagens, transportes, artesanatos, entre outras atividades ligadas
ao lazer e ao turismo abrem oportunidades de desenvolvimento local.

Nesse contexto, Faria (2007, p. 293), define: “turismo indígena, como o


nome sugere, é o turismo desenvolvido em terras indígenas ou fora delas com base
na identidade cultural e no controle da gestão pelo grupo/comunidade indígena
envolvida”. Contemporaneamente, é comum presenciar grupos indígenas fora de
suas aldeias divulgando culturas, artesanatos, culinária, danças e rituais, obtendo
ganhos financeiros e socioeconômicos. Podendo o turismo neste contexto, ser uma
alternativa para preservação da cultura e dos territórios, pois os valores identitários
ficam preservados na sua origem e ocorre menor pressão nas comunidades indígenas.

Yazigi (2007) argumenta que a atividade turística em territórios indígenas


representa uma atividade econômica a mais, apenas para diversificação das atividades
produtivas. As relações das populações indígenas com as populações “brancas” ou não
indígenas é realidade desde tempos remotos, voltadas a interesses econômicos tanto
em atividades tradicionais, como agricultura familiar e extrativismo, como nas turísticas.
Assim atividades ilegais realizadas por brancos envolvem indígenas na exploração
madeireira, agropecuária e na extração mineral, o que retrata a exploração da terra e do
povo indígena que busca alternativas de desenvolvimento econômico e inclusão social,
como o turismo comunitário. A Figura I demonstra essas manifestações etnoculturais
valorizadas pelo turismo comunitário indígena.

FIGURA 1 – MANIFESTAÇÃO ETNOCULTURAL NA TI DO RIO GREGÓRIO-AC


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FONTE: Cooperativa Agroextrativista Yawanawá - COOPYAWA, 2013;

Dessa forma, os residentes passam também a utilizar a paisagem cênica,


histórica e cultural de forma inovadora nos negócios turísticos com empreendimentos
comunitários, de base local realizado de forma solidária. A atividade passa a ser realizada
como opção socioeconômica e ambiental pelos e para os habitantes promovendo
benefícios diretos aos envolvidos nas atividades de alimentação, hospedagem, venda
de artesanatos e de entretenimentos.

A organização da população local em cooperativas e associações passa a


serem meios facilitadores para os residentes tornarem-se sujeitos de suas histórias,
empreendedores solidários de seus territórios fazendo diminuir a pressão sobre
os mesmos em atividades impactantes. O planejamento participativo é uma das
ferramentas eficazes para consolidar esse processo, envolvendo toda a comunidade
e parcerias pros residentes, além de consolidar a atividade turística nas diversas
nuances em territórios tradicionais.

Portanto, a ameaça do processo de aculturação pelo turismo tende a diminuir,


passando a fortalecer e reforçar a etnicidade e consciência dos residentes, pois, o visitante
busca a vivência em territórios étnicos como valores preservados. Um dos caminhos
do turismo étnico, em comunidades tradicionais, perpassa a valorizar experiências
em territórios com peculiaridades regionais preservadas, arraigados de diversidades
culturais, com fortes apelos históricos e ambientais. Neste contexto, destacam-se as
populações tradicionais na Amazônia, absorvem estes preceitos, como os indígenas,
extrativistas, ribeirinhas e quilombolas que buscam a inserção no mercado solidário
do turismo apoiados no patrimônio histórico, cultural e ambiental das comunidades. O
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modo de vida indígena amazônico apresenta comportamentos peculiares fomentam o


turismo étnico cultural, em ascensão em comunidades tradicionais, como nas Terras
Indígenas do Acre.

2 OS TERRITÓRIOS INDÍGENAS NO ESTADO DO ACRE

Na Amazônia desde o período da colonização os territórios indígenas são


historicizados por fases, marcados inicialmente pelas correrias, ciclo das drogas dos
sertões, e o ciclo da borracha, da mineração e da agropecuária. Em todas essas
fases a população e os territórios sofrem fortes pressões pela abundancia de recursos
naturais nas terras que habitam. Estes aspectos fazem a cultura indígena passar
por influências nos âmbitos: histórico, econômico, social e ambiental, passando por
processos de aculturação, desterritorialização e segregação social desintegrando
etnias, hábitos e costumes.

No Estado do Acre, estes aspectos fazem parte da historicidade indígena, com


maior ênfase na implantação do período denominado Ciclo da Borracha, no qual, os
índios habitantes nativos da região, sofreram retaliações e processos violentos de
domesticação para servir como mão-de-obra na economia da borracha. Processos
de desterritorialização foram ocasionados por invasões aos territórios indígenas, por
exploradores e seringalistas na busca de riquezas naturais, principalmente a árvore
da seringueira que fornecia o látex para a produção da borracha. Muitas tribos e
etnias foram extintos após esse período de colonização na Amazônia Sul-ocidental,
reduzindo progressivamente a população indígena.

Contemporaneamente a história indígena é marcada pelo reconhecimento dos


direitos dos índios e demarcação das terras. O direito coletivo territorial dos indígenas
e o uso de terras ocupadas tradicionalmente ocupadas foram reconhecidos pela
Constituição Federal, e entidades governamentais. A organização social indígena
acompanha essa tendência, quando os índios passam a reivindicar direitos a serviços
de saúde, educação, produção e divulgação de suas culturas.

Os indígenas do Acre possuem população em torno de 13 mil habitantes,


composto por 14 povos ou etnias indígenas, distribuídos em 34 territórios indígenas
com situação fundiária regularizada. O território indígena ocupa extensão territorial
equivalente a 2.390.112,26 ha, o equivale aproximadamente a 14,6 % da extensão
territorial do Estado, presente na metade dos 22 municípios acreanos. Este território
tem relevante papel socioambiental por estarem nas regiões de fronteiras, de formação
de bacias hidrográficas nas cabeceiras de rios, próximos a corredores de grande
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interesse ecológicos e unidades de conservação-UC’s, formando um importante


mosaico de contínuo de áreas conservadas. (ACRE, 2010).

O Estado do Acre é dividido em duas mesorregiões, o Vale do Acre e o


Vale do Juruá que apresentam realidades distintas principalmente pela variedade
de ecossistemas e a processos de desenvolvimento, que ocasionaram grandes
desmatamentos principalmente pela agropecuária, que ocorre com maior ênfase na
região do Vale do Acre. A mesorregião do Vale do Juruá concentra a maior parte das
UC’s e TI’s, concentrando a maior extensão territorial indígena, possuindo 29 terras
indígenas – TI, do total de 34 terras reconhecidas pela Fundação Nacional do Índio –
FUNAI. (ACRE, 2010).

A Figura 2 mostra a localização de terras indígenas no Acre, com destaque a TI


do Rio Gregório aonde vem sendo desenvolvido turismo comunitário indígena.

FIGURA 2 - LOCALIZAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS - ACRE/


TERRITÓRIO INDIGENA DO RIO GREGÓRIO

Fonte: Zoneamento Ecológico Econômico do Estado do Acre - ZEE/AC (Fase II), 2010.

As terras indígenas no Vale Juruá são valorizadas pelo patrimônio ambiental e


cultural, ricos em ecossistemas e valores etnoculturais, que despontam para atividades
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ligadas ao turismo comunitário e ecoturismo. Nos últimos anos, a organização comunitária


possibilitou a formação de cooperativas e associação de moradores representando a
população indígena e busca de projetos alternativos incentivem o desenvolvimento
local.

Há hoje no Acre 21 associações indígenas de base local, algumas criadas a


mais de 15 anos, outras recentemente. Com recursos de ‘projetos’ financiados
por agências humanitárias e embaixadas, programas governamentais e
da cooperação internacional, e/ou trabalhos desenvolvidos por ONGs,
quase todas vem desenvolvendo atividades econômicas e de gestão
territorial, capacitação de recursos humanos locais, educação bilíngue e de
fortalecimento cultural. (ACRE, 2010, p. 218).

As organizações sociais indígenas encontram-se em diferentes estágios de


desenvolvimento, atrelados principalmente a gestão e articulações político-institucionais.
Sendo as mesmas, resultados de formas específicas de organização social, territorial
e política, no qual, as entidades indígenas buscam parcerias empreendedoras para
consolidarem no mercado de forma competitiva. As ações centradas na gestão
participativa comunitária, identidade cultural e territorial dos habitantes, que são sujeitos
sociais do processo, principais conhecedoras da realidade local e beneficiárias das
conquistas almejadas. (FARIA, 2007).

As comunidades valorizam o patrimônio ambiental, histórico e cultural, tanto no


âmbito material como imaterial e buscam atenuar pressões em nível local por meio de
práticas sustentáveis e ações inovadoras de desenvolvimento. Neste contexto, algumas
atividades socioeconômicas surgem e são adotadas na busca de valorizar hábitos e
costumes da cultura indígena direcionando-as para o turismo comunitário.

Assim, muitas comunidades, especialmente no Nordeste e Norte do Brasil,


as regiões mais injustiçadas socialmente, inventaram uma forma diferente
de organizar a atividade, o turismo comunitário em defesa das populações
litorâneas e ribeirinhas. Programaram o turismo de base local, que se volta
para a oferta de serviços, passeios, entretenimentos associados aos valores
dos residentes, priorizando o rústico e não o luxo, associado a atividades que
dizem respeito à sustentabilidade socioespacial, priorizando valores culturais
e descobrindo formas inteligentes de participação na cadeia produtiva do
turismo, com produtos diferenciados. E, sobretudo, com uma visão própria
de lugar, de lazer e turismo. Um turismo que não seja apenas voltado ao
consumo, mas à troca de experiências, fortalecimento de laços de amizade e
valorização cultural. (CORIOLANO, 2009, p. 282).

No Acre políticas públicas voltadas ao turismo foram implantadas em processo


contínuo, sempre alavancadas ações estatais, o que fez surgir efeitos de longo prazo,
entrelaçados em parcerias privadas, e, em alguns casos, contemplando comunidades
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tradicionais. Assim, as ações na alocação de infraestrutura e parcerias entre poder público


e comunidades foram determinantes para a atividade tornar-se realidade em territórios
indígenas e extrativistas, configurando-se como uma alternativa de desenvolvimento
regional e local. Estes aspectos possibilitaram territórios povoados ancestralmente por
populações tradicionais indígenas realizarem festividades que resgatam valores étnicos
culturais, como os festivais de cultura indígena, como o Festival Yawá/Yawanawá e
Festival Mariri Yawanawá na TI do Rio Gregório.

3 O TURISMO E O FESTIVAL DE CULTURA INDÍGENA YAWANAWÁ

No Estado do Acre, a política estadual de turismo busca a regionalização da


atividade, ressaltando o potencial regional centradas no patrimônio histórico, cultural
e ambiental, dando atenção especial às comunidades tradicionais. Nesse sentido, o
planejamento estatal dividiu territorialmente o Estado em dois polos turísticos, o Polo
do Vale do Acre e o Polo do Vale do Juruá.

As iniciativas planejamento turístico acompanharam as diretrizes do Governo


Federal para este setor, possibilitando a elaboração e implantação de rotas turísticas
regionais por meio do Programa Regionalização do Turismo do Ministério do Turismo-
MTUR. Realizados em parceria do MTUR com a Secretaria Estadual de Turismo-
SETUL, os roteiros turísticos regionais confirmam a potencialização da oferta de
serviços, delimitação de produtos e a melhoria de infraestrutura de acesso.

No Vale do Acre e do Juruá foram delimitadas algumas rotas turísticas regionais.


No primeiro polo sobressaem as Rotas Caminhos da Revolução, Caminhos de Chico
Mendes e Caminhos do Pacífico. No polo do Juruá foi delimitada a rota regional Caminhos
das Aldeias e da Biodiversidade, associados às UC’s e TI’s. Roteiros retratados nas
áreas extrativistas e indígenas configuradas em PAE’s, RESEX’s e TI’s, possuem ricos
ecossistemas amazônicos e diversidades culturais com forte apelo ao turismo comunitário,
ligados às populações tradicionais. (LIMA, 2011).

As potencialidades regionais passam a ser associadas ao patrimônio etnocultural


e ambiental, de significante valor para o turismo, passando a fazer parte das políticas
estaduais e federais do setor almejando o desenvolvimento. Nessa perspectiva,
comunidades indígenas e extrativistas passam a se organizar para o turismo comunitário
em seus territórios. Destaca-se o turismo comunitário de base local desenvolvido no
Projeto de Assentamento Agroextrativista Chico Mendes – PAE CM, no município de
Xapuri-AC. A comunidade com iniciativa dos assentados, por meio de parcerias públicas
possibilitou a construção da Pousada Ecológica Cachoeira na sede do assentamento,
a Comunidade Fazendinha. Estas parcerias possibilitaram a diversificação de produtos
turísticos e atividades ligadas ao meio ambiente, como trilhas, pescaria, arvorismo,
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tirolesa e ciclismo. (CORIOLANO; LIMA, 2012).

Neste âmbito, as populações indígenas também se inserem nessa política através


de cooperativas e associações, no qual, lideranças indígenas buscam apoio e parcerias
com órgãos públicos, privados e do terceiro setor, ligados ao turismo, produção e a
questão indígena. No âmbito do turismo as parcerias são de fundamental importância,
para consolidação do turismo e divulgação da cultura indígena, além da capacitação
profissional e na dotação de infraestrutura.

No Vale do Juruá, as organizações indígenas comunitárias também estão


presentes e algumas comunidades próximas à cidade de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima,
Jordão e Porto Walter que realizam atividades etnoculturais aproveitadas pelo turismo
de base local. As comunidades indígenas que desenvolvem turismo comunitário,
nesse caso o etnoturismo, têm apoio e fazem parcerias com órgãos públicos ligados
à área e ao turismo, além de contarem com o apoio de Ong’s.

Em relação ao turismo etnocultural, ligado a eventos e a questão indígena de


forma organizada e consolidada, destacam-se o Festival Indígena Yawá e o Mariri
Yawanawá, Matxu (Festival da Caiçuma), Festival de Cultura Xinã Benã, Encontro
Cultural Nukini-Nawá, os dois primeiros realizados no município acriano de Tarauacá, e
os demais em Feijó, Jordão, Mâncio Lima, respectivamente, estando todos localizados
na mesorregião do Vale do Juruá.

Entre estas manifestações culturais se destaca o Festival Yawá, que em


2013 realizou sua décima segunda edição, realizado pelos povos indígenas da etnia
Yawanawá (yawá-queixada e nawá-povo), que significa “Povo da Queixada”, que é
um porco do mato da região amazônica, que anda em bandos, de forma organizada e
são aguerridos. O Festival de Cultura Indígena Yawá é realizado anualmente na TI Rio
Gregório, na Aldeia Nova Esperança no município de Tarauacá no Acre.

Desde os tempos imemoriais, os Yawanawá o povo da queixada ocupam


as cabeceiras do rio Gregório, afluente do rio Juruá, geograficamente
pertencente ao município de Tarauacá, Acre. Sua população atual é de 636
pessoas e pertence ao tronco linguístico Pano. As famílias estão distribuídas
nas comunidades Nova Esperança, Mutum, Escondido, Tibúrcio e Matrinxã.
As comunidades são formadas pelas famílias Yawanawá, Arara, Kãmãnawa
(povo da onça), Iskunawa (povo do japó), Ushunawa (povo da cor branca),
Shanenawa (povo do pássaro azul), Rununawa (povo da cobra) e Kaxinawá
(povo do morcego). (VINNYA; 2006, p. 13).

As festividades do evento de cultura indígena Yawanawá têm recebido


turistas de várias partes do mundo, e grupos étnicos da Amazônia e da América
Latina, promovendo o intercâmbio étnico cultural entre indígenas e não indígenas. A
comunidade domina toda a organização durante a realização do festival, mantendo
parcerias com agências de turismo para o translado de visitantes até o Estado,
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concentrando nas cidades de Cruzeiro do Sul, Rio Branco e São Paulo.

Festival Yawá, criado em junho de 2002 com intuito de promover e disseminar


as práticas culturais Yawanawá, especificamente as brincadeiras e cantos
Yawanawá, que na época estava praticamente esquecida. [...]. ‘O YAWA foi
o renascimento e o redescobrimento da identidade dos Yawanawá com sua
cultura e espiritualidade vivas em pleno século XXI’. Os Yawanawás praticam
seus rituais de cantos, danças do mariri, pinturas corporais e uso das medicinas
sagradas desde tempos imemoriais, porém, durante o período das missões
religiosas, qualquer manifestação da cultura tradicional era proibida. Mas ainda
assim, mesmo camuflada acontecia entre os mais velhos. O Festival Yawá é,
portanto, a celebração da dança, expressão artística, cultural e espiritual do povo
Yawanawá; é a ligação do povo Yawanawá com o criador e seus antepassados.
Que traz para o mundo contemporâneo uma demonstração da cultura tradicional
indígena sem perder sua identidade cultural e sua essência tradicional. [...].
(YAWANAWÁ JR, 2013, p. 02).

O Festival de Cultura Yawanawá, há mais dez anos, reúnem várias aldeias da


região, da Amazônia e da América Latina. Juntam-se a estes visitantes de diversas
partes, entre indígenas e não indígenas, autoridades e turistas. Uns pontos fortes
dessas atividades são a interação entre os habitantes mais antigos, os pajés, com as
novas lideranças e a população jovem e feminina que são encarregados de atividades
específicas. Abrindo possibilidades para que os indígenas de diversas gerações se
sentirem valorizados e como atores locais, preservando suas tradições.

As festividades são repletas de rituais sagrados e danças típicas, fazem


também uso tradicional do chá da Ayahuasca (Huni entre os índios) e da caiçuma
(bebida tradicional fermentada da mandioca), kampô (vacina do veneno de anfíbios),
o rapé (inalador de casca de árvores, ervas e tabaco), sendo o uso opcional aos
visitantes. Entre as inúmeras atividades durante o festival destacam-se as danças
e cânticos tradicionais (conhecidas como mariri), rituais espirituais, confecção de
artesanatos e adornos (colares, cocares, pulseiras e brincos) e cerâmicas e trajes
típicos. Além da contação de histórias pelas lideranças indígenas, pinturas corporais e
rituais fortalecem identidade local, despertam curiosidade dos visitantes em interagir
com a comunidade nessas atividades.

Para os Yawanawá não existem datas e nem dias específicos para se fazer
uma festa. Quando todos da comunidade estão em harmonia, como de
costume, as festas começam à noite e vão até a manhã do outro dia. Um dia
antes de acontecer à festa conhecida como sayti, o cacique da comunidade
convida os chefes de famílias para comparecerem para a preparação da
festa. Os homens e rapazes trabalham na fabricação dos cocares de penas,
saias de envira de vixu, os bastões de mushu e nos ensaios das músicas
tradicionais. Por sua vez, as mulheres são responsáveis por preparar as
tinturas corporais. [...]. O cipó, conhecido como huni faz parte da cerimônia
da festa durante toda a noite. Quem costuma beber o huni são os velhos
cantores, rapazes, mulheres que estão de bem com o espírito As danças e os
balançados dependem de cada música que se canta. [...]. Os belos cocares
de diferentes aves da região dão orgulho a cada adolescente que usa em
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sua cabeça. Na festa tradicional Yawanawá, as mulheres não devem dançar


na roda com roupa dos brancos da cintura para cima. Elas usam saias de
envira (casca de árvore chamada de vixu). Para diferenciar da saia usada pelos
homens, as saias delas são mais curtas. (VINNYA, 2006, p. 143-144).

Segundo Leal (2009), o valor étnico do turismo em territórios indígenas é retratado


pela vivência e acesso à cultura indígena pelos visitantes, presenciando os costumes
e crenças no próprio ambiente de origem. Como estratégia de marketing e valoração
cultural os indígenas selecionam símbolos e rituais que lhe conferem esta autenticidade
na cenarizarção turística, buscando uma interação entre participantes.

Nas aldeias indígenas, como na TI do Rio Gregório, a atividade turística de


forma organizada, tem se consolidado nos últimos anos, onde a comunidade planeja
e executa a atividade turística. A logística na organização de transporte é adaptada à
realidade regional, o que envolve meios de transporte aéreo, fluvial e terrestre, pois
para se chegar à aldeia é necessário percorrer longas distâncias.

Já a hospedagem é disponibilizada acomodações coletivas, hospedagem


familiar/solidária nas residências dos índios. Além da organização e venda de pacotes,
as associações mantêm parcerias com agências de viagens regionais e de outros
Estados que são especialistas em turismo alternativo com atividades personalizadas,
atendendo uma demanda peculiar, disposta a ter gastos maiores com lazer e
atividades alternativas. Isto é, os visitantes e turistas fazem parte de um nicho de
turismo específico, de maior renda, nível cultural e buscam experiências originais,
sem grandes confortos e comodidades da vida urbana. De formal, geral esse nicho
busca imergir experiências inusitadas e vivências autênticas, como no modo de vida
indígena em cenários peculiares como os ecossistemas amazônicos.

As entidades da etnia Yawanawá estão centradas na Organização de Agricultores


Extrativistas Yawanawá do Rio Gregório (OAEYRG)1 e pela Cooperativa Agroextrativista
Yawanawá (COOPYAWA) que são vinculadas e a Associação Sociocultural Yawanawá
(ASCY). Estas entidades representam comunidades diferentes, mais ambas buscam a
inserção do turismo comunitário indígena nas suas atividades produtivas e a valorização
e o resgate da cultura indígena. Uma das estratégias para inserir-se nesse mercado e
a divulgação festivais, ver Figura 3.

1 Esta associação mantem uma parceria que perdura há mais de 20 anos, com a indústria de
cosméticos norte-americana AVEDA Corporation, que incentiva e compra a produção de urucum, uma
semente que possui um corante natural utilizado para fabricação de produtos cosméticos, alimentícios
e farmacêuticos. Os indígenas produzem também o coloral, um corante regional apreciado na culinária
local comercializado nos municípios da região. A parceria da Empresa AVEDA e a TI Rio Gregório se
efetiva também em projetos socioambientais e culturais como nos festivais de cultura indígenas.
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FIGURA 3 – FOLDER DOS FESTIVAIS INDÍGENAS NA TI RIO GREGÓRIO - 2013

Fonte: COOPYAWA, 2013; ASCY, 2013.

Destaca-se entre as articulações das organizações indígenas para a divulgação


e publicidade do Festival Yawá e o Festival Mariri, que são propagadas por várias
revistas de publicidade do setor, sites, blogs e agências turísticas. Sobressaem-se
as parcerias com Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Acre -
SEBRAE/AC, Secretaria de Turismo do Estado do Acre – SETUL, com capacitação,
ações de empreendedorismo comunitário, além de apoio na participação dos artesãos
indígenas em feiras nacionais e internacionais.

As parcerias também possibilitaram a implantação da Casa de Produção e


Cultura da Mulher Yawanawá, com Secretaria Estadual de Políticas para a Mulher com
financiamento do BNDES, que é destinada a capacitação, produção e comercialização
do artesanato indígena de salutar importância para valorização e resgate da cultura,
além de alternativa de renda. Ainda no apoio ao setor turístico, foram construídas
pousadas, refeitórios comunitários, banheiros e uma arena de festa para realizações
das festividades, representada por grande maloca indígena.

Na área da produção destaca-se a capacitação de agentes florestais indígenas,


construção de açudes fortalecendo a piscicultura e a criação de quelônios, apicultura/
meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) e implantação de marcenaria comunitária
e apoio a agricultura familiar com insumos para produção. Acrescenta-se na área social
a capacitação e contratação de agentes comunitários de saúde indígena, as visitas do
Programa Saúde Itinerante e a implantação das escolas indígenas bilíngues. Ressalta-
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se a importância que a Assessoria Especial para Assuntos Indígenas2, do governo


local e a FUNAI, que tem a finalidade de atuar articulando parcerias com as demais
secretarias estaduais e outros órgãos públicos na questão indigenista, socioeconômica
e ambiental em TI’s no Acre.

Estes aspectos retratam a adequação das comunidades tradicionais na busca


de alternativas de renda tradicionais com pluriatividades, destacando-se as ligadas
ao turismo de base comunitária em terras indígenas como alternativa de geração
de renda, resgate das tradições culturais e a possibilidades de intercâmbio étnico
e cultural, como exemplificado nas experiências exitosas na TI Rio Gregório no
município de Tarauacá. Ressalta-se a importância desta comunidade desenvolver
outras atividades produtivas, principalmente a agricultura familiar, não criando uma
dependência exclusiva do turismo. A atividade turística gira em torno dos festivais de
cultura que são realizados anualmente, tendo seu fluxo nesse período, dedicando-se a
comunidade as demais atividades socioeconômicas no restante do ano. Outro aspecto
importante e o estágio de preservação ambiental de seus territórios que disponibiliza
uma abundância de recursos naturais, para alimentação e produção, além de um
chamariz para a atividade turística.

CONCLUSÃO

As experiências de turismo de base comunitária no Estado do Acre é uma


realidade, sendo desenvolvido por comunidades tradicionais. Estas comunidades
buscam se inserir no competitivo mercado turístico com ações inovadoras que aproveitam
valores étnicos culturais, e o patrimônio ambiental de seus territórios. Nesse ínterim, as
comunidades acrianas indígenas desenvolvem o turismo étnico, etnoturismo associado
ao meio ambiente e a valorização histórica e cultural possibilitando a vivência dos
visitantes com modos de vida de seus espaços vividos. Estas experiências são retratadas
no território do Rio Gregório, no qual, tem se concretizado de forma eficiente e solidária
em parceria com o poder público e a comunidade por meio de planejamento participativo.
Sendo estas relações primordiais para realização e efetivação da atividade, além de uma
alternativa de renda e resgate cultural.

A implantação de infraestrutura de acesso, apoio na logística, em capacitações


profissionais, e divulgação, planejamento e gestão da atividade contam ações estatais,
com iniciativas que partem da população indígena que reivindicam alternativas de
renda e melhor qualidade de vida nas aldeias. Assim, o envolvimento da comunidade

2 Esta assessoria em gestões passadas chegou a ser uma pasta especifica na gestão pública
estadual, a Secretaria Especial dos Povos Indígenas – SEPI, gerida na época por representante indígena.
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em todas as fases, principalmente na organização política e comunitária são


primordiais para o sucesso da atividade, assim como, no planejamento e na prestação
de serviços ao turista, possibilita a circulação de renda no espaço local caracterizando
o turismo de base comunitária. Assim, a importância da vontade política e a efetivação
de parcerias e sinergias para concretização do turismo indígena viabiliza o turismo na
TI do Rio Gregório.

Os festivais de cultura indígena são realizados anualmente, este fato diminui a


pressão na comunidade e nos seus residentes com hábitos e costumes de visitantes
não índios, atenuando os riscos de uma turistificação de seus territórios. Portanto, o
turismo nos territórios indígenas possibilita uma alternativa de renda a mais, além de
uma oportunidade de resgate étnico e cultural de suas tradições locais. Somados a
conscientização da preservação do meio ambiente pelos índios, e não índios, pois,
além de ser a principal fonte de sobrevivência socioeconômica dos índios, torna-se o
atrativo que fomenta demanda crescente de turistas.

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A IMPORTANCIA DO FESTIVAL DE COMIDAS TÍPICAS DE CUIABÁ-GOUVEIA/


MG PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE BASE LOCAL

Claudete Maria Souza e COSTA1


Fernanda Alencar Machado ALBUQUERQUE2
Raquel Faria SCALCO3

RESUMO: O presente trabalho consiste em um estudo a respeito da realização do


evento “Festival de Comidas Típicas de Cuiabá” no município de Gouveia - Minas
Gerais, na perspectiva da sua contribuição para o desenvolvimento do turismo na
comunidade de Cuiabá. Dessa forma, o artigo traz uma fundamentação teórica sobre
Turismo de Base Comunitária, Turismo de Vilarejo e Eventos, conceituando-os e
apresentando os impactos que estes tipos de turismos geram no local em que se
desenvolvem. O artigo aborda uma contextualização da comunidade rural anterior
ao Festival de Comidas Típicas de Cuiabá, descreve o processo de construção e a
evolução do evento, desde sua primeira edição, em 2011, bem como a sua influência
para o desenvolvimento do projeto de turismo do vilarejo. O objetivo do presente
estudo consiste, então, em demonstrar a importância do Festival de Comidas Típicas
de Cuiabá para o desenvolvimento do turismo de base local. Para tanto, foram
desenvolvidas as seguintes etapas metodológicas: pesquisa bibliográfica, pesquisa
de gabinete, observação participativa no Festival e aplicação de questionários com
os turistas presentes à 4° edição do evento. Como resultado do trabalho, constatou-
se, principalmente, que a maioria dos participantes é da região, predominantemente
formada por adultos possuindo o terceiro grau completo; souberam do evento por
meio de amigos e parentes e que grande parte dos visitantes ficou satisfeita, sendo
unanimidade o retorno ao próximo Festival. Por fim, com esse estudo, foi possível
demonstrar que o Festival de Comidas Típicas de Cuiabá, contribuiu significativamente
para a geração de ocupação e aumento da renda dos moradores locais; para a
organização e o fortalecimento do grupo gestor do projeto de turismo de vilarejo; para
a qualificação dos envolvidos no evento e para a divulgação do distrito para novos
visitantes, além de favorecer o desenvolvimento do turismo de base local. Desta
forma, o Festival de Comidas Típicas de Cuiabá pode ser considerado um importante
evento desta comunidade.

Palavras-chave: Turismo, Turismo de Base Local; Turismo de Vilarejo, Eventos.

ABSTRACT: This paper consists of a study about the event “Festival of Typical Food
of Cuiabá” in Gouveia - Minas Gerais, in view of its contribution to the development of
tourism in the community of Cuiabá. It presents a theoretical foundation on Community
Based Tourism, Village Tourism, and Events, conceptualizing them, and presenting on
site impacts. The article discusses a context of the rural community which is previous to
1 Graduação em Agronomia e Especialização em Ecoturismo e Turismo Rural. Coordenadora
Técnica Regional de Turismo Rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de
Minas Gerais (EMATER-MG). Email: claudete@emater.mg.gov.br.
2 Graduação em Turismo, mestrado em Turismo e Meio Ambiente e Doutorado em Educação.
Professora Adjunta do Curso de Turismo da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
(UFVJM). Email: alencarf@hotmail.com.
3 Graduação em Turismo e Mestrado em Geografia. Professora Assistente do Curso de Turismo
da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Email: raquel.scalco@yahoo.
com.br.
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the Festival; it describes the process of construction and evolution of the event since its
first edition in 2011 as well as its influence on the development of the tourism project in
the village. Our aim is to demonstrate the importance of the Festival for the development
of locally based tourism. The methodological stages were: Bibliographical research,
desk research, participant observation at the Festival and questionnaires applied to
tourists attending the 4th edition of the event. The results reveal that: most participants
are from the region which is predominantly constituted by adults having completed the
higher level; they have learned of the event through friends and relatives; most of the
visitors were satisfied, being unanimously to return the next Festival. Finally, it was
demonstrated that the Festival has significantly contributed: to the generation of jobs
having increased the income of local residents; to the organization and to strengthen
the project management group of village tourism; to the qualification for those involved
in the event; and to publicize the district to new visitors, besides encouraging the
development of locally based tourism. This way, the Festival of Typical Food of Cuiabá
can be considered an important event in this community.

Keywords: Tourism, Local Based Tourism; Village Tourism; Events.

INTRODUÇÃO

O turismo é uma atividade que tem crescido a cada ano, sendo notórios e
consensuais os benefícios causados pelo setor. Conforme Figueira & Dias (2011)
o turismo pode ser considerado a atividade econômica mais importante em alguns
países, regiões ou localidades, constituindo um fator determinante nos rumos do
desenvolvimento, porém, ressaltam que não deve ser tratado apenas como um
fenômeno econômico, mas, também, como um fenômeno social, cultural e ambiental.

No entanto, a partir do reconhecimento dos impactos negativos que também o


turismo pode causar, tem-se a necessidade de desenvolver a atividade sob as bases
do desenvolvimento sustentável. Assim, de acordo com a Organização Mundial do
Turismo – OMT (1999):
O Turismo sustentável atende às necessidades dos turistas atuais e das
regiões receptoras e ao mesmo tempo protege e fomenta as oportunidades
para o turismo futuro. Concebe-se como um caminho para a gestão de todos
os recursos de forma que podem satisfazer-se as necessidades econômicas,
sociais e estéticas, respeitando ao mesmo tempo a integridade cultural, os
processos ecológicos essenciais, a diversidade biológica e os sistemas que
sustentam a vida. (OMT, 1999.)

Dentro desse contexto, insere-se o turismo de base comunitária que, de acordo


com o Ministério do Turismo:
É compreendido como um modelo de desenvolvimento turístico, orientado
pelos princípios da economia solidária, associativismo, valorização da cultura
local, e, principalmente, protagonizado pelas comunidades locais, visando à
apropriação por parte dessas dos benefícios advindos da atividade turística.
(MINISTÉRIO DO TURISMO, 2008)

Dessa forma, esse segmento da atividade do turismo é desenvolvido


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coletivamente e de forma organizada, propiciando aos moradores de uma comunidade


produzir, comprar e vender seus produtos e serviços, de forma sustentável, responsável
e sem explorar as pessoas, sejam elas colaboradores, parceiros ou clientes.

Segundo Sansolo e Bursztyn (2009), essa proposta de turismo é sustentada


pelos componentes: conservação ambiental, valorização da identidade cultural
e autogestão, bem como a geração de benefícios diretos para as comunidades
receptoras. Enquanto o turismo convencional produz espaços segregados para o
turista e para os moradores, o turismo de base comunitária disponibiliza seu lugar,
espaços vividos, de experiências e de encontros, proporcionando maior convivência
entre visitantes e anfitriões.

No caso da comunidade de Cuiabá, que será apresentada no presente trabalho,


outro conceito pode ser associado à modalidade de turismo desenvolvida: o Turismo
de Vilarejo. Segundo a OMT:
O Turismo de Vilarejo envolve a prática de hospedagem de estilo local, em
vilarejos tradicionais, ou próximo a esses, onde os turistas permaneçam,
comam pratos típicos, observem e/ou participem de atividades do local, numa
experiência de interação cultural, que se baseia nas atividades decorrentes
do ato de receber, hospedar, alimentar e entreter visitantes, como estabelece
o conceito de hospitalidade. No Turismo de Vilarejo as instalações são,
necessariamente, construídas, administradas e de propriedade da comunidade
autóctone que também oferece refeições da culinária típica local e outros
serviços turísticos. (OMT, 2003 apud ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DA
COMUNIDADE DE CUIABÁ, 2008)

Sendo assim, os habitantes do vilarejo recebem diretamente os benefícios do


turismo, e os turistas aprendem sobre o estilo de vida local, suas tradições, artes,
artesanato, comidas típicas e atividades econômicas como o manejo de animais
e o cultivo da terra. Além da oferta de alimentação típica e hospedagem em suas
casas, os moradores podem disponibilizar serviços de condutores para passeios a
áreas próximas e organizar apresentações de dança, teatro e música para os turistas,
compartilhando sua história e tradições.

Compreendendo a importância desse tipo de turismo para o país, em 2008,


o Ministério de Turismo lançou um edital de chamada pública de projetos MTur/nº
001/2008, com objetivo de apoiar financeiramente projetos de fomento a iniciativas
de turismo de base comunitária que promovessem a inserção de comunidades na
economia de mercado, dentro dos princípios da economia solidária.

A partir daí, percebendo a oportunidade, os moradores do distrito de Cuiabá


apresentaram um projeto para Implantação do Turismo de Vilarejo nas Comunidades
Rurais de Cuiabá e entorno, tendo como proponente a Associação de Moradores da
Comunidade de Cuiabá, contando com as parcerias de várias instituições locais e
regionais: Prefeitura Municipal de Gouveia, Conselho Municipal de Turismo - COMTUR,
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Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais - EMATER-MG, o


Circuito Turístico dos Diamantes e a ONG Caminhos da Serra.

O projeto foi aprovado e, posteriormente, executado sob a coordenação da


empresa Esfera Consultoria, sendo concluído em maio de 2011, priorizando as
seguintes ações: qualificação de pessoas da comunidade para a economia solidária;
melhoria da qualidade dos produtos da produção associada ao turismo e dos serviços
do atendimento aos turistas; gestão comunitária de negócio e da valorização do
patrimônio cultural e ambiental desta comunidade, para inserção dos mesmos de
forma competitiva no mercado turístico regional.

Primeiramente, foi realizado um diagnóstico da situação das famílias locais.


Posteriormente, os moradores foram treinamentos e qualificados, por meio de
palestras com abordagens sobre: Turismo de Vilarejo e Gestão Comunitária;
Sustentabilidade na atividade turística; Cadeia produtiva do turismo e atendimento
e hospitalidade em turismo. Algumas oficinas também foram realizadas enfocando:
Hospedagem domiciliar; Técnicas de condução de visitantes; Formatação de roteiros;
Empreendedorismo turístico; Desenvolvimento de produtos artesanais; Uso do
potencial gastronômico, Comercialização e Qualificação do Grupo Gestor do Projeto
na Comunidade. Na sequencia, foram desenvolvidos 7 (sete) Roteiros Locais e a
divulgação e promoção do projeto de “Turismo de Vilarejo de Cuiabá- Gouveia/ MG”.

Ao final do referido projeto houve uma cerimônia de encerramento na


comunidade, contando com a participação dos moradores locais, representantes
das instituições parceiras que apoiaram o mesmo, além de visitantes. Também, na
ocasião, para valorizar a cultura local e gerar renda para a comunidade, foi realizado
o 1º Festival de Comidas Típicas de Cuiabá. A partir de então, o evento acontece
anualmente, no mês de maio, sendo que em 2014 aconteceu a 4ª edição do Festival
de Comidas Típicas de Cuiabá.

O objetivo geral do presente artigo é demonstrar a importância do Festival de


Comidas Típicas de Cuiabá para o desenvolvimento do turismo de base local. Além
disso, tem-se como objetivos específicos: analisar os benefícios gerados pelo evento
para a comunidade local; contribuir para a melhoria constante do Festival, por meio
dos resultados da pesquisa; e registrar e tornar pública a importância do Festival para
a divulgação do distrito.

Para o alcance de tais objetivos foram desenvolvidas as seguintes etapas


metodológicas: pesquisa bibliográfica, pesquisa de gabinete, observação participativa
no Festival e aplicação de questionários com os turistas presentes à 4° edição do
evento.

Desta forma, foi possível perceber que o Festival interfere diretamente no


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desenvolvimento do turismo de base local em Cuiabá, tanto durante como após a


realização do evento. As avaliações dos participantes foram bastante positivas e a
intenção de retorno em outras ocasiões é grande. Com o desenvolvimento deste
estudo foi possível fazer uma comparação entre a forma como o turismo ocorria
no local antes e após a realização das 4 edições do Festival, constatando-se a
importância do mesmo como gerador de renda, valorização das atividades tradicionais
da comunidade e de melhoria da autoestima local.

METODOLOGIA

O presente artigo é resultado de uma pesquisa realizada pelos alunos do curso


de Turismo da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, durante a
realização do 4° Festival de Comidas Típicas de Cuiabá.

Trata-se de uma pesquisa quantitativa que, segundo Richardson et.al. (1999,


p.70, apud LAKATOS & MARCONI, 2007, p.269), “caracteriza-se pelo emprego da
quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento
delas por meio de técnicas estatísticas”.

Para o desenvolvimento da pesquisa, foram desenvolvidas as seguintes etapas


metodológicas:

Primeiramente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre Turismo,


Turismo de Base Local, Turismo de Vilarejo e a importância dos eventos para o
desenvolvimento do Turismo. Esta etapa teve por objetivo subsidiar teoricamente as
discussões a respeito da importância do Festival de Comidas Típicas de Cuiabá para
o desenvolvimento do turismo de base local.

Posteriormente, foi desenvolvida uma pesquisa de gabinete seguida de análise


documental em órgãos que desenvolvem ações relacionadas ao turismo de base local
em Cuiabá, a saber: a EMATER, a UFVJM e a Esfera Consultoria. Esta etapa foi
desenvolvida com o intuito de coletar e analisar as informações a respeito do povoado
de Cuiabá e sobre o turismo de base local ali desenvolvido.

Por fim, foi feito um trabalho de campo, com observação participativa e


aplicação de 110 questionários, no dia 18 de maio de 2014, durante a realização do 4°
Festival de Comidas Típicas de Cuiabá. Os questionários foram aplicados por alunos
das disciplinas de Formatação de Produtos e Roteiros Turísticos e Gestão de Eventos
do Curso de Turismo da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. O
questionário consistia de 15 perguntas abertas e fechadas sobre o perfil e satisfação
do visitante presente ao 4° Festival de Comidas Típicas de Cuiabá.

Posteriormente, os dados foram tabulados, analisados e foram criados gráficos


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para permitir melhor visualização das respostas.

Seguindo as etapas metodológicas acima descritas, foi possível atingir o


objetivo principal deste estudo que é analisar a importância do Festival de Comidas
Típicas para o desenvolvimento do turismo de base local em Cuiabá.

A COMUNIDADE DE CUIABÁ

O Distrito de Cuiabá pertence ao município de Gouveia – MG e está situado a 8


(oito) Km de sua sede. O município localiza-se no Vale Alto do Jequitinhonha, próximo
à cidade de Diamantina, titulada e reconhecida em 1999, como Patrimônio Cultural da
Humanidade, destacando-se como importante indutora de turismo regional no Circuito
Turístico dos Diamantes. O distrito possui aproximadamente 60 habitantes, divididos
em 22 famílias, boa parte destes com idade acima dos 50 anos.

A referida região se insere no Bioma Cerrado, sendo caracterizada por campos


rupestres ou de altitude, cujos solos são rasos e arenosos. No que se refere à vegetação,
predominam-se as gramíneas, as ciperáceas, as eriocauláceas (conhecidas como
sempre-vivas), além das xiridáceas e das velosiáceas (exemplificadas pelas canelas
de ema). Alguns arbustos esparsos, principalmente da família das compostas, das
malpighiáceas e das poligonáceas, crescem nesse tipo de ambiente, deixando suas
serras floridas durante todo o ano. Em alguns locais, há ocorrência das matas de galeria
próximas aos grotões onde correm os cursos d’água, sempre entremeados pelos
campos cerrados que dominam o relevo mais aplainado dos vales. (ASSOCIAÇÃO
DOS MORADORES DA COMUNIDADE DE CUIABÁ, 2008.)

A fauna regional caracteriza-se pela presença de inúmeras famílias de


artrópodes, aves, peixes e mamíferos de pequeno porte. Há algumas ocorrências que
podem ser apontadas como típicas. É o caso do lagarto teiú (Tupinambis merianae),
da seriema (Caraiama cristata), do joão-de-barro (Furnarius rufus), do anu-preto
(Crotophaga ani), tucanos, gaviões, papagaios e maritacas que em bandos voam e
alvoroçam o ambiente. (CEMIG, 2003.)

Segundo seus moradores mais antigos, a ocupação do vilarejo teve início na


época dos bandeirantes que estavam em viagem com destino a Cuiabá no Estado de
Mato Grosso. Por ser o vilarejo um local estratégico pela disponibilidade de água, era
utilizado como ponto de parada e descanso. Numa dessas viagens, um grupo formado
por 3 (três) homens já bastante cansados e com pouco alimento, como de costume,
fez uma parada no local para um pernoite. Um dos homens, o único que conhecia o
caminho, estava em estado muito debilitado de saúde e veio a falecer. Os outros dois
tentaram prosseguir a viagem, sem sucesso, pois ficaram perdidos. Assim resolveram
ficar no local e criar o “seu Cuiabá”.
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O vilarejo de Cuiabá reúne características únicas que atraem visitantes como


o casario antigo, muito bem conservado pelos moradores; as manifestações culturais,
com destaque para a tradicional festa da padroeira Nossa Senhora Imaculada
Conceição; suas comidas típicas, como o Cobu (bolo de fubá típico da região) e o
Frango ao Molho Pardo; as cavalgadas; os atrativos naturais com possibilidades de
várias trilhas e as Cachoeiras do Córrego, do Bicho e a de Zé Nunes.

Os moradores locais, em sua grande maioria, são agricultores familiares


que cultivam em seus quintais, sempre bem cuidados diversas espécies frutíferas,
hortaliças, condimentos, plantas medicinais, flores, culturas, principalmente, milho,
feijão e mandioca, além da criação de pequenos animais. A produção supre as
necessidades de subsistência familiar, além de prover o sustento das mesmas, pela
comercialização dos diversos produtos in natura e processados em forma de doces de
frutas e de leite, pasta de alho, conservas e quitandas, nas feiras livres de Gouveia,
Diamantina e em programas institucionais que adquirem alimentos para escolas e
entidades que beneficiam famílias carentes.

Associados aos atrativos culturais e naturais do vilarejo, os “Quintais de Cuiabá”,


apresentados na Figura 1, evidenciam toda a sua ruralidade e remetem alguns
visitantes às lembranças de tempos em que as famílias cultivavam seus próprios
alimentos e a tranquilidade com uma boa prosa, tão raros na atualidade.

FIGURA 1: FOTO DE UM QUINTAL DE CUIABA


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Apesar de reunir grande potencial para o desenvolvimento da atividade do turismo


de base comunitária, destaca-se que anterior à implantação do projeto de Turismo de
Vilarejo, que culminou com a realização do Festival de Comidas Típicas, Cuiabá era
um local pouco conhecido e divulgado; tinha um reduzido fluxo de visitantes, em sua
maioria jovens, que adotavam condutas desrespeitosas para com os moradores locais
ao colocarem som automotivo em alto volume; as suas manifestações culturais não
eram valorizadas pelos visitantes; e seus moradores passavam por sérios problemas
com a falta de ocupação e baixa renda. Salienta-se também que a governança local,
representada pela Associação dos Moradores da Comunidade de Cuiabá, passava
por dificuldades com sua organização fragilizada.

O FESTIVAL DE COMIDAS TÍPICAS DE CUIABÁ

Não existe um consenso quanto a uma conceituação universal de evento.


Ela é dificultada pela própria natureza intrínseca da atividade, seu dinamismo e sua
abrangência.

De acordo com o Ministério do Turismo (2008), os eventos pertencem ao


segmento de Turismo de Negócios e Eventos e é um dos segmentos que mais cresce
dentro do turismo. Além disso, é considerado o que mais oferece retorno econômico
e social.

Uma das características principais do turismo é a sazonalidade da demanda,


ou seja, a concentração da demanda turística em certas épocas do ano, como férias
escolares, feriados prolongados e/ou finais de semana. Para minimizar os impactos
negativos da sazonalidade, muitas cidades têm adotado a estratégia da realização de
eventos durante a baixa temporada.

Os eventos, além de movimentar a economia de empresas diretamente


relacionadas à sua organização e realização, englobam atividades de deslocamento,
hospedagem, alimentação e lazer. Em torno de um evento gira um grande volume de
capital, gerando maior arrecadação de impostos. Conforme destaca Canton (2000), o
investimento com os eventos traz, além do crescimento econômico, benefícios sociais,
inerentes ao desenvolvimento local.

Sendo assim, a comunidade de Cuiabá vislumbrou a possibilidade de realizar


um evento, mediante o projeto “Turismo de Vilarejo de Cuiabá- Gouveia/ MG”. A ideia
de se criar um Festival Gastronômico surgiu da necessidade de promover um evento
para marcar o encerramento da implantação do projeto e que ao mesmo tempo atraísse
visitantes para a comunidade. Como principais objetivos da criação do Festival, tinha-
se: difundir a cultura local, destacando os saberes e sabores da culinária tradicional
da comunidade; valorizar os produtos e serviços locais; gerar ocupação e renda para
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os moradores; inserir a mulher na cadeia produtiva da atividade do turismo e divulgar


a comunidade.

A partir daí, o “1º Festival de Comidas Típicas de Cuiabá”, sob a coordenação


do Grupo Gestor do Projeto Turismo de Vilarejo de Cuiabá, da Associação Comunitária
dos moradores de Cuiabá, da Prefeitura Municipal de Gouveia e da Esfera Consultoria
aconteceu no mês de maio de 2011. Na ocasião, 15 jornalistas de Belo Horizonte
foram convidados a se hospedar na comunidade e a participar da programação do
evento. Esta edição contou com uma cerimônia para a entrega, aos moradores da
comunidade, da Imagem da Padroeira Nossa Senhora da Conceição, que havia sido
restaurada com recursos do projeto; apresentação de uma exposição de objetos
e documentos antigos, que retratou a origem da ocupação do vilarejo, ligada aos
bandeirantes; a montagem de barraquinhas, uma tradição local, com apresentação
de pratos típicos da sua culinária, confeccionados e comercializados na ocasião pelos
próprios moradores; além de apresentações culturais. Nesse primeiro ano, não houve
muita ênfase na classificação e premiação dos participantes do Festival, uma vez que
considerou-se mais importante o ganho coletivo da comunidade com a implantação
do projeto. Ao final do evento, o objetivo foi alcançado com a satisfação dos visitantes
e moradores, além da ampla divulgação positiva do evento e do destino na mídia do
estado e região. Estima-se que cerca de 1.000 ( mil) visitantes participaram do evento
em 2 dias.

A partir do ano de 2012, o Grupo Gestor do projeto, constituído por moradores


da comunidade rural de Cuiabá, com a função de coordenar as atividades locais
e organizar os moradores, buscou o fortalecimento de novas parcerias para dar
continuidade e sustentabilidade ao projeto. Nesta edição o Festival contou com apoio
da Secretaria Municipal de Cultura, Esportes, Lazer e Turismo de Gouveia – CELT,
da Unidade Regional da EMATER-MG, da Empresa de Consultoria e Planejamento
Turístico Lugares. Destaca-se que a partir desse ano, a Prefeitura Municipal de Gouveia
passou a dar um importante aporte para realização do evento, com a manutenção da
estrada de acesso, provendo o som, palco, iluminação, atração musical, instalação
das barracas e banheiros químicos. Nessa edição do Festival, houve a participação
de seis famílias que apresentaram pratos típicos e comercializaram seus produtos
em barracas montadas para o evento. Foi realizada, ainda, uma avaliação do evento
do ano anterior, elaborado um plano e um regulamento para a participação dos
moradores de Cuiabá, assim como, os critérios e pontuações a serem considerados
pelos julgadores do Festival. Foram criadas também as folheterias para apresentação
dos pratos; as planilhas utilizadas pelos jurados para premiação dos vencedores;
estabelecimento de horários; a programação musical condizente com a proposta de
valorizar as raízes locais; a estruturação de espaços destinados ao estacionamento
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e realização do festival, conferindo maior organização e profissionalismo ao evento.


Observou-se que o público e a renda obtida nesta edição se mantiveram equiparados
com a edição anterior.

No ano de 2013, a comissão organizadora aprimorou o regulamento e a


folheteria do evento. Além disso, contou com apoio de um consultor para melhorar a
apresentação dos pratos, respeitando a sua criação original, que sempre foi de autoria
dos moradores da comunidade, considerando as sugestões apontadas pela avaliação
de parceiros, jurados e visitantes que sempre contribuíram para a evolução e melhoria
do Festival. Houve a manutenção do número de famílias participando do evento com
a apresentação de pratos e mais duas famílias participaram comercializando produtos
em barracas. Também nesse ano, foi instituída a premiação dos participantes com
troféus para os três primeiros colocados e certificados de participação para todos.

Em 2014, os alunos do Curso de Turismo da Universidade Federal dos Vales


do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM foram convidados a participar do Festival, por
meio de uma apresentação em sala de aula, e também a vivenciar uma experiência na
comunidade. Surgiu ainda, a ideia dos alunos contribuírem com a realização de uma
pesquisa sobre o perfil e a satisfação do público que participa do Festival. Nesse ano,
por problemas de saúde de alguns participantes do Festival que atuaram nos anos
anteriores, o evento contou com a apresentação de quatro pratos típicos e mais duas
famílias comercializando produtos nas barracas. A Prefeitura Municipal patrocinou a
premiação para o 1º lugar, no valor de R$ 300,00 (trezentos reais), mantendo-se a
entrega de certificados de participação para todos.

Desde 2013, estima-se que a média de visitantes na Comunidade de Cuiabá


em dois dias do evento vem se mantendo em torno de 1.200 pessoas. Há relatos
dos moradores que após a realização do evento, aumentou o fluxo de turistas que
retornam à comunidade nos feriados e finais de semana, geralmente acompanhados
de famílias e em grupos para apreciar a gastronomia local e também para se hospedar.

O FESTIVAL DE COMIDAS TÍPICAS DE CUIABÁ E SUA IMPORTANCIA PARA O


DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE BASE LOCAL

Para compreender a importância do 4° Festival de Comidas Típicas de Cuiabá


para o desenvolvimento socioeconômico do local e sua contribuição para turismo de
base local, foi realizada uma pesquisa com os visitantes presentes a este evento.

Pela presente pesquisa, percebeu-se que a maioria dos visitantes são


provenientes de cidades próximas, como Diamantina e Gouveia, sendo a faixa etária
predominantemente formada por adultos com idade entre 21 e 40 anos, possuindo em
sua maioria o terceiro grau completo.
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Como no turismo de base local a comunidade é protagonista no processo de


desenvolvimento do turismo, o Festival de Comidas Típicas não teve uma ampla
divulgação nas mídias, sendo que a maior parte das pessoas que responderam ao
questionário, cerca de 75%, afirmaram que ficaram sabendo do Festival por amigos
e parentes. Os demais meios pelos quais os participantes tomaram conhecimento do
Festival tiveram pouquíssimas respostas e seguem no gráfico 1. Os dados confirmam
a importância da propaganda boca-a-boca e refletem, também, uma preocupação
da comunidade em relação às formas de divulgação do evento e do público que
pretendem atrair, para que o Festival não tire o sossego e a tranquilidade típica do
povoado.

GRÁFICO 1 – COMO OS PARTICIPANTES FICARAM SABENDO DO FESTIVAL

De acordo com a pesquisa, apenas cerca de 33% dos entrevistados


participaram do Festival pela primeira vez, destacando-se que aproximadamente 23%
dos participantes estiveram presente em todas as edições do evento. Estes dados,
apresentados no Gráfico 2, nos remetem à satisfação dos participantes das edições
anteriores que buscaram retornar na edição atual do Festival.

GRÁFICO 2 – QUANTAS VEZES PARTICIPOU DO FESTIVAL


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Pode-se perceber que grande parte dos respondentes consumiu algum


prato que estava participando do Festival, sendo os seguintes pratos concorrentes:
Galinhada com Molho de Laranja, Dobradinha com feijão branco, Costelinha com
coração de banana e Rabada.

Nas barracas que os moradores de Cuiabá montaram com suas famílias,


apresentadas nas Figuras 2 e 3, estavam sendo comercializados os pratos concorrentes
do Festival, feitos com comidas típicas e ingredientes produzidos no local, além de
outros pratos e tira-gostos característicos da comida mineira, como feijão tropeiro,
caldos, carne na chapa, quitandas e bebidas.

FIGURA 2: FOTO DAS BARRACAS DO 4° FESTIVAL DE COMIDAS TÍPICAS DE


CUIABÁ
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FIGURA 3 – FOTO DAS BARRACAS DO 4° FESTIVAL DE COMIDAS TÍPICAS DE


CUIABÁ

Destaca-se que por ser um local que vive principalmente da produção agrícola,
o Festival favorece o desenvolvimento socioeconômico da comunidade não apenas
pela venda direta dos produtos comercializados nos barracas durante o Festival, mas
também movimenta a economia indiretamente, já que a maior parte dos elementos
que constituem os pratos são também produzidos no local.

Sobre os preços dos produtos comercializado durante o Festival, a maior parte


dos respondentes, cerca de 83% diz ser adequado; 9% diz ser inadequado e 8% não
soube responder, porque ainda não havia consumido nada.

Os entrevistados foram questionados, ainda, sobre sua intenção em retornar


ao Festival em sua próxima edição e a resposta surpreendeu positivamente, sendo
unanimidade a pretensão de retorno. Neste sentido, infere-se que houve uma
satisfação muito grande com o Festival.

Esta questão é ainda reforçada quando se analisa as respostas dos participantes


em relação à sua satisfação, sendo que aproximadamente 88% disseram estar
satisfeito com o Festival; 12% disseram estar mais ou menos satisfeito e nenhuma
pessoa disse estar insatisfeito.

Sobre a pretensão de retorno à Cuiabá em outras épocas fora do período de


realização do Festival, aproximadamente 96% dos entrevistados disseram ter esta
intenção, como demonstrado no Gráfico 3.
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GRÁFICO 3: INTENÇÃO DE RETORNO À PRÓXIMA EDIÇÃO DO FESTIVAL

Dentre os visitantes que citaram os motivos para retornar ao local após o


Festival, a vista à amigos e parentes e a hospitalidade e receptividade dos moradores
obtiveram 26% das respostas cada. Isso reforça o perfil do público alvo que valoriza
esta relação com a comunidade local e se sente acolhido pelos moradores. Foram
citados também como motivo para um possível retorno os entrevistados terem se
identificado com o local (11%); para conhecer o local e seus atrativos (10% cada);
porque gostou do local (6%); porque possui casa ou sítio no local (5%); para fazer
caminhada (4%); outras respostas (2%). Estes dados são apresentados no Gráfico 4,
abaixo.

GRÁFICO 4: MOTIVO PARA RETORNAR AO LOCAL APÓS O FESTIVAL

Estes dados são bastante importantes, pois é percebido que o Festival tem
uma função também de promoção turística para o povoado. Para além de gerar um
fluxo turístico em períodos de baixa temporada, movimento a economia do local, os
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eventos são também importantes para favorecer a divulgação e a imagem do destino


frente ao público consumidor. Desta forma, entende-se que se não houvesse o Festival
muitas destas pessoas poderiam nem sequer conhecer o local. Tendo ido ao Festival
e ficado satisfeito com o evento, com o contato com os moradores e com a beleza
do local, isso irá favorecer o desenvolvimento do turismo em outras épocas do ano,
fortalecendo outros projetos desenvolvidos no distrito como é o caso do receptivo
familiar. Vários moradores do local receberam capacitação, adequaram e melhoraram
suas casas para receberem turistas em seus lares e, desta forma, propiciar a eles uma
vivência de sua cultura, seus hábitos e costumes. Em contrapartida, o turista incentiva
o desenvolvimento socioeconômico do povoado e faz com que a comunidade seja de
fato protagonista do desenvolvimento do turismo, evitando que forasteiros sejam os
maiores beneficiados com a atividade turística.

Os participantes foram questionados ainda sobre os pontos fortes e fracos do


Festival. Dentre os pontos fortes, apresentados no Gráfico 5, destacam-se os mais
citados: o envolvimento, receptividade e hospitalidade da comunidade (28%); a
culinária (26%); a música (17%); e a organização (6%).

GRÁFICO 5 – PONTOS FORTES DO FESTIVAL

Sobre os pontos fracos, destacados no Gráfico 6, a maior quantidade de


respondentes disse não ter percebido nenhum ponto fraco ou não soube responder
a esta pergunta somando cerca de 47% das respostas. Dentre os que apontaram
algum ponto fraco, os aspectos mais citados foram: poucas mesas e cadeiras (31%);
problemas relacionados à infraestrutura como banheiros, lixeiras e acesso ao povoado
(29%); e a divulgação (11%).
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GRÁFICO 6: PONTOS FRACOS DO FESTIVAL

Por fim, os participantes foram questionados sobre sugestões de melhoria


para a próxima edição do Festival, sendo citados os seguintes aspectos: aumentar o
número de mesas; aumentar o número de lixeiras; melhorar a divulgação; colocação
de placas educativas sobre lixo; criar um local específico para deixar os cavalos;
criação de atividades para crianças; som mais baixo; policiamento; venda de produtos
da comunidade (quitandas, doces, artesanato, etc); descentralização das barracas;
melhores shows; fazer mais festas; mais dias de festa; mais atrações culturais; servir
pratos vegetarianos; servir maior variedade de pratos; coibir o mau comportamento
dos visitantes; criar locais cobertos para os participantes ficarem.

Houve uma devolutiva do resultado da pesquisa, em reunião para os componentes


do Grupo Gestor do evento, e os mesmos propuseram algumas mudanças e melhorias
para a próxima edição, buscando sanar as deficiências apontadas pelos visitantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comunidade de Cuiabá, localizada no município de Gouveia/Minas Gerais,


acessou recursos do Ministério do Turismo, por meio do edital de chamada pública
MTur/nº001/2008 que possibilitou a implantação do Projeto “Turismo de Vilarejo
de Cuiabá”, com vistas a desenvolver o turismo de base comunitária e modificar
a realidade do local de ser pouco conhecido e divulgado, ter um reduzido fluxo de
visitantes, ter suas manifestações culturais com pouca expressividade, moradores
com falta de ocupação e baixa renda.

Uma das ações finais da implantação desse projeto foi a realização de um


evento gastronômico, denominado Festival de Comidas Típicas de Cuiabá. Dessa
forma, em 2011 foi realizada a primeira edição do Festival de Comidas Típicas de
Cuiabá, que a cada ano vem evoluindo e mantendo uma média de visitantes em
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torno de 1.200 pessoas. O evento é considerado atualmente, o principal vetor para


consolidação do Projeto Turismo de Vilarejo de Cuiabá.

Segundo relatos dos moradores locais envolvidos no projeto, em reuniões


de avaliações, credita-se ao evento o aumento do fluxo dos visitantes, com perfil
diferenciado, conforme aferido na pesquisa aplicada por alunos do Curso de Turismo
da UFVJM: famílias de maior poder aquisitivo, que valorizam a cultura e consomem os
produtos locais. Estes procuram a comunidade nos finais de semana e feriados, em
busca de hospitalidade, tranquilidade e principalmente, da boa culinária típica mineira.
O Festival está sendo referência exitosa na região do Circuito Turístico dos Diamantes
e no Estado de Minas Gerais
Assim, pode-se concluir que o objetivo do presente estudo foi atingido, uma
vez que foi possível demonstrar a importância do Festival de Comidas Típicas de
Cuiabá para o desenvolvimento do turismo de base local. Foi possível perceber que o
evento está cumprindo com a sua finalidade de divulgar o distrito de Cuiabá; ampliar
o fluxo de visitantes; ampliar a renda dos moradores locais; propiciar o investimento
na melhoria das estruturas das pousadas domiciliares; fortalecer o grupo gestor,
promovendo maior organização das ações e interação entre os envolvidos no evento;
valorizar a culinária típica da comunidade e o maior aproveitamento dos produtos
oriundos dos quintais; ampliar a rede de parceiros que apoiam o festival; promover
a qualificação dos participantes, servindo como ferramenta de transformação da
realidade e favorecimento para o desenvolvimento do turismo de base local.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DA COMUNIDADE DE CUIABÁ. Projeto de
Implantação do Turismo de Vilarejo no Distrito de Cuiabá, Gouveia, 2008.

CANTON, A. M.. Eventos: ferramenta de sustentação para as organizações do terceiro


setor. São Paulo: Roca, 2000.

CEMIG. Guia Ilustrado de Animais do Cerrado de Minas Gerais. 2ª ed. São Paulo:
Editare Editora, 2003.

FIGUEIRA, V; DIAS, R. A Responsabilidade Social no Turismo. Lisboa: Escolar


Editora, 2011.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia Científica. 5ª ed. São Paulo : Atlas,


2007.
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MINISTÉRIO DO TURISMO. Turismo de Negócios e Eventos: orientações básicas.


Brasília, 2008.

MINISTÉRIO DO TURISMO. Edital de Chamada Pública de Projetos Mtur/


Nº001/2008. Projeto de Implantação do Turismo de Vilarejo no Distrito de Cuiabá -
Gouveia, 2008.

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SANSOLO, D. Gruber; BURZSTYN, I. Turismo de Base Comunitária: Diversidade


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TURISMO COMO VETOR DE ASCENSÃO SOCIOCULTURAL E ECONÔMICA:


ESTUDO DE CASO SOBRE O ROTEIRO DE VISITAÇÃO AO PROJETO “ATELIÊ
ARTE NAS COTAS”, EM CUBATÃO, SÃO PAULO, BRASIL.

Aristides Faria Lopes dos Santos1


Renato Marchesini2
Renata Antunes da Cruz3

RESUMO: A presente investigação propõe a compreensão do turismo como vetor no


processo ascensão sociocultural e econômica dos indivíduos e suas comunidades e
na promoção da igualdade de oportunidades. A experiência relatada nesse trabalho
possui como objeto de pesquisa o roteiro de visitação a um grupo social de interesse
turístico do litoral paulista. O roteiro em questão é um produto da Caiçara Expedições
em parceria com o projeto “Ateliê Arte nas Cotas”, realizado no município de Cubatão,
que localiza-se na Região Metropolitana da Baixada Santista, litoral do estado de São
Paulo. Esse projeto é parte integrante do “Programa de Recuperação Socioambiental
da Serra do Mar”, oriundo de uma parceria entre o Bando Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e o Governo do Estado de São Paulo por meio da Companhia
de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU), da Fundação Florestal e da Polícia
Militar Ambiental. No início do século XX teve início o processo de industrialização do
país e, nos anos 1920, iniciaram as obras de construção de duas grandes indústrias
nessa cidade: São Paulo Light S.A. Serviços de Eletricidade e fábrica de papel e
celulose Companhia Santista de Papel S.A., que iniciou suas operações em 1932.
A segunda, por sua vez, motivou a criação da vila Fabril, local de moradia dos
funcionários que trabalhavam na empresa. Atualmente, o bairro passa por processo
de estudo e planejamento de intervenções de recuperação urbana, restauração do
patrimônio arquitetônico local e qualificação profissional dos moradores locais. Dentro
desse universo de ações, em 2011 surgiu a iniciativa de criação do “Ateliê Arte nas
Cotas”. Os alunos aprendem técnicas de estêncil, que consiste na aplicação de tinta com
rolos, ou sprays para preencher um papel com desenho vazado. Essa técnica e mosaicos
são aplicados nos muros das casas do bairro Cota 200. Essa pesquisa caracteriza-se
como um estudo de caso, empírico, exploratório, cuja abordagem de análise dos dados
é qualitativa. Realizou-se pesquisa bibliográfica e documental e observação participante.
Verificou-se alta adesão dos moradores locais, tanto participando dos cursos práticos
quanto autorizando a pintura de suas casas. Foi possível constatar o orgulho dos
moradores cujas casas foram coloridas por meio do projeto, sobretudo, por que passaram
a receber visitantes.

Palavras-chave: Turismo de Base Comunitária. Sustentabilidade. Caiçara Expedições.


Cubatão (SP). Hospitalidade.

1 Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi. aristidesfaria@yahoo.com.


br;
2 Caiçara Expedições. renato@caicaraexpedicoes.com;
3 Caiçara Expedições. renatacruz@caicaraexpedicoes.com;
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TOURISM AS A VECTOR SOCIAL, CULTURAL AND ECONOMIC RISEN: CASE


STUDY OF THE SCRIPT OF VISITING TO THE PROJECT “WORKSHOP ART IN THE
QUOTAS”, CUBATÃO, SÃO PAULO, BRAZIL.

ABSTRACT
This research proposes an comprehension of tourism as a vector in the process of social,
cultural and economic rise of individuals and their communities and the promotion of equal
opportunities. The experiment reported in this paper has as a research script the visitation
to a social group of tourist interest of São Paulo’s coast, southeast region of Brazil. The
script in question is a product of “Caiçara Expedições” in partnership with the project
“Ateliê Arte nas Cotas” held in Cubatão, city located in the metropolitan area of ​​“Baixada
Santista”. This project is part of the “Programa de Recuperação Socioambiental da
Serra do Mar “, wich comes from a partnership between the Interamerican Development
Bank (BID) and the Government of the State of São Paulo through th Urban Housing
Development Company (CDHU), the Forestry Foundation and the Environmental Police
department. Earlier in the twentieth century began the Brazilian industrialization process
and in the 1920 started the construction of two major industries in this city: São Paulo
Light S.A. Electricity Services and paper mill and pulp Santos Paper Company S.A., which
began operations in 1932. This second, in turn, motivated the creation of the neighborhood
“Fabril”, place of residence of employees of this company. Currently, the neighborhood
goes through an study and planning process of urban regeneration, site restoration and
architectural heritage. Within this universe of stocks, in 2011, the initiative to create the
“Ateliê Arte nas Cotas” emerged. Students learn techniques of stencil, which consists
of applying paint with rollers or sprays to fill a role with cast drawing. This technique is
applied and mosaics on the walls of houses at “Cota 200” community. This research is
characterized as an exploratory case study, empirical, whose approach to data analysis
is qualitative. It was conducted literature and document research. It was observed high
adherence of the locals, both participating in the workshops as authorizing the painting of
their homes. It was possible to see the pride of residents whose homes were colored by
the project, especially because they began to receive visitors.

Key words: Community cased tourism; sustainability; Caiçara Expedições; Cubatão (SP);
Hospitality.

INTRODUÇÃO

O presente artigo relata a experiência de turismo de base comunitária


empreendida pela Caiçara Expedições em parceria com o projeto “Ateliê Arte nas
Cotas”, realizado no município de Cubatão, localiza-se na Região Metropolitana da
Baixada Santista, litoral do estado de São Paulo. O objetivo do referido projeto é elevar a
autoestima dos moradores e promover a construção de nova identidade comunitária. Como
relatado nesse trabalho, verifica-se que as ações citadas acontecem em comunidades
carentes do município de Cubatão.
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O referido projeto é parte integrante do “Programa de Recuperação


Socioambiental da Serra do Mar”, oriundo de uma parceria entre o Bando Interamericano
de Desenvolvimento (BID) e o Governo do Estado de São Paulo representado por
meio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU), da Fundação
Florestal e da Polícia Militar Ambiental.

Ao todo, a região possui 1.625.000 habitantes, sendo que Cubatão tem 125.178
(IBGE, 2013). Mais especificamente, a cidade foi edificada no sopé da Serra do Mar,
que originalmente servia como ponto de parada para as pessoas que acessavam ao
planalto paulista. Conforme informações da Prefeitura Municipal de Cubatão (2013),
para acessar ao planalto, “seguia-se no início a trilha dos índios Tupiniquins. Depois,
através do Vale do Rio Perequê (...). Mais tarde, a Calçada do Lorena se tornou o
principal caminho entre o litoral e o planalto”.

No início do século XX teve início o processo de industrialização do país e, nos


anos 1920, iniciaram as obras de construção de duas grandes indústrias: São Paulo
Light S.A. Serviços de Eletricidade e fábrica de papel e celulose Companhia Santista
de Papel S.A. (denominada originalmente como Companhia Fabril de Cubatão), que
iniciou suas operações em 1932. A segunda, por sua vez, motivou a criação da vila
Fabril, local de moradia dos funcionários que trabalhavam na empresa.

Atualmente, o bairro passa por processo de estudo e planejamento de


intervenções de recuperação urbana, restauração do patrimônio arquitetônico local e
qualificação profissional dos moradores locais, sobretudo, por meio da implantação do
Centro Vocacional Tecnológico (em fase final de obras) na cidade, espaço educacional
que objetiva a qualificação profissional para inclusão no mercado de trabalho local e
regional.

Dentro desse universo de ações, em 2011, surgiu a iniciativa de criação do


“Ateliê Arte nas Cotas”. Os alunos aprendem técnicas de estêncil, que consiste na
aplicação de tinta com rolos, ou sprays para preencher um papel com desenho vazado.
Essa técnica e mosaicos são aplicados nos muros das casas do bairro Cota 200. Além
dessa iniciativa, são confeccionadas camisetas, agendas e almofadas, que são vendidas
e cujo faturamento revertido ao projeto.

Desde 2013, a Caiçara Expedições, agência de viagens e turismo sediada na


cidade vizinha de São Vicente, oferece um roteiro turístico de base comunitária, ou seja,
que preconiza a experiência e o relacionamento do turista em contato com as pessoas da
localidade.

Essa pesquisa caracteriza-se como um relato de experiência. É um estudo


exploratório, cuja abordagem de análise dos dados é qualitativa. Realizou-se pesquisa
bibliográfica e documental e observação participante.
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O trabalho foi organizado em três tópicos temáticos, sendo o primeiro sobre a


convivência e a coabitação em comunidade, onde se insere a atividade turística e as
relações de hospitalidade entre visitante e visitado. Os principais autores consultados
foram Grinover (2007), Yázigi (2001), Bauman (2003), Wall (1997) e Laraia (2008).

O segundo tópico trata sobre a questão da competitividade empresarial com


especial destaque para o segmento do turismo. Para a elaboração desse referencial
foram consultados autores como Ferreira (2006) e Leis (1998). Apresenta-se no terceiro
fragmento, além de dados sociais, econômicos e ambientais sobre o município de Cubatão,
o relato do roteiro de visitação do projeto “Ateliê Arte nas Cotas”, realizado em Cubatão.
A elaboração do panorama histórico da cidade de Cubatão teve como principal referência
Torres, Junior e Borges (2002).

A visita de observação participante ocorreu no dia 08 de junho de 2014. Nessa


ocasião os pesquisadores tiveram contato com voluntárias do projeto “Ateliê Arte nas
Cotas”, turistas (residentes na própria Região Metropolitana da Baixada Santista) e
moradores da Cota 200.

TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: RELAÇÕES DE HOSPITALIDADE

Para essa pesquisa, a hospitalidade compreende-se como a intenção


espontânea de receber bem, da atitude intencional ou involuntária de acolher, proteger
e servir ao visitante, seja este convidado ou não. Montandon apud. Grinover (2007, p.
29) escreve que a hospitalidade “não se reduz ao oferecimento de uma restauração
ou de um alojamento, mas à relação inter-pessoal estabelecida, que implica uma
ligação social e valores de solidariedade e de sociabilidade”. É possível perceber
nessa citação dois pontos essenciais para a discussão em torno da hospitalidade:
“relação inter-pessoal”; e “ligação social”.

Primeiro, conforme o autor sugere, torna-se possível inferir que se há relação


de hospitalidade, a mesma deve ser pessoal, humana e, dessa maneira, jamais
impessoal, que remete, então, a hostilidade. Do mesmo modo, se há relação pessoal,
direta entre visitante e visitado, passa a existir uma ligação, uma relação social, que
remete invariavelmente a uma relação comunitária, já que o indivíduo carrega consigo
elementos de seu entorno – material e imaterial – habitual. Cabe, então, uma reflexão
em torno dos cenários em que se desenrolam os fenômenos sociais apresentados
anteriormente, como propõe Grinover (idem, p. 20)

O autor afirma que “a história da hospitalidade é a história do homem, de


seus encontros, de seus diálogos e de tudo aquilo que tem criado para facilitar sua
aproximação com seus semelhantes”. Acredita-se que seja fundamental discutir sobre
os espaços onde se materializam tais relações e – dada a proposta desse estudo –
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a análise de uma experiência gerencial no campo do turismo de base comunitária


parece ser um meio enriquecedor para tal.

Discute-se há bastante tempo a questão da cobrança de taxas de ingresso


para visitação a monumentos do patrimônio material, tais como acervos de museus
ou mesmo áreas naturais protegidas. O termo “privatização” parece ser percebido de
maneira equívoca e mesmo sua compreensão destoada ideológica e propositadamente.

No intuito de promover a cultura local, as tradições da população autóctone e


o folclore regional, gestores públicos ligados a áreas como turismo, lazer e cultura,
por exemplo, tendem a incorrer nesse equívoco conceitual. Há de se concordar que
a transversalidade do turismo impõe um desafio relevante no sentido de equilibrar
interesses (entre entes públicos e privados) e equacionar conflitos (entre comunidades
receptoras e seus visitantes).

Assim, privatizar as manifestações tem sido privatizar o acesso do público (seja


local ou não). A consequência tende a ser a segregação e a cenarização de rituais
e mesmo da paisagem. Trata-se, pois, da conversão de costumes e em cenas, que,
segundo Bauman (2003, p. 63), torna a comunidade em uma “estética gerada pela
[pré]ocupação com a identidade [...] que alimenta a indústria do entretenimento”.
Antagonicamente, é a comercialização4 do patrimônio que o faz deixar de ser valioso
por sua significação na história ou na identidade local e passa a ser valioso porque
pode ser “vendido” como atrativo turístico (WALL, 1997, p. 138). O turismo baseia-
se no consumo e na apropriação dos espaços, privatizando alguns e recuperando a
utilidade pública de outros.

Sobre essa ambiguidade, Barretto (2000, p. 34) afirma que “a revitalização de


bairros inteiros para o consumo cultural e turístico, sobretudo em áreas centrais ou
portuárias de cidades, também tem sido uma forma de permitir a conservação das
construções históricas neles existentes”. Nesse sentido, o olhar sobre tais iniciativas
deve ser ponderado e a propositura de projetos tem de atender aos preceitos de
sustentabilidade social (os quais demandam base local, participação comunitária e
distribuição de benefícios e mitigação de custos, também).

A questão é controversa. Parece clara a necessidade de proteção, de defesa.


Mas, ao mesmo tempo, esses termos soam como distanciamento ou desconhecimento.
Fato é que há de se financiar tal administração. E qual organização deverá fazê-lo?
A própria Constituição Federal informa, na Seção II: da Cultura, em seu artigo 216,
que “o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos e acesso às fontes da
4 Grivoner (2007 p.59), sobre a perda do verdadeiro sentido de acolhimento da hospitalidade,
afirma que “a comercialização da hospitalidade e do acolhimento, não podendo ser atribuída como
culpa entre os profissionais do turismo, não implica obrigatoriamente uma depreciação dessa prestimo-
sidade. É verdade que o serviço ao cliente e sua exploração financeira são de tal modo imbricados um
no outro, que se tornou impossível separa-los”;
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cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações


culturais”. Ora, se a Carta Magna afirma que “garante o acesso”, logo preconiza que a
privatização citada anteriormente deixa de ser polêmica e passa a ser inconstitucional.

Fica evidente a demanda por erradicação da visão de preservação do patrimônio


cultural desligada de seu uso social e do acesso pela população. Assim, ganham força
tanto o senso de cidadania, quanto a questão da sustentabilidade (CANTARINO, 2007).
O problema se mostra na harmonia entre a hospitalidade original [ou conservação,
no caso] versus a sua exploração comercial (GRINOVER, 2007, p. 59). A atenção
à revitalização do patrimônio histórico tem sido positiva, enobrecendo e valorizando
o crescimento da etno-história e das representações do passado e do presente.
Logicamente, contribuindo para sustentabilidade do turismo de caráter cultural.

Para fazer frente à banalização do termo sustentabilidade e dos seus princípios,


defende-se a “educação patrimonial” como elemento condicionante das práticas de
viagem de motivação cultural (CHIOZZINI, 2006). Esse autor afirma que “a educação
patrimonial vem ganhando destaque nas discussões sobre patrimônio histórico e
também encontra um campo fértil dentro do turismo cultural”. Paralelamente, acredita-
se que propostas de educação ambiental, no sentido de educação para o exercício da
cidadania planetária, podem ser de grande colaboração ao promover a identificação
entre o patrimônio histórico-cultural e a sociedade.

Laraia (2008, p. 72) afirma que “o homem tem despendido grande parte da sua
história na Terra, separado em pequenos grupos, cada um com sua própria linguagem,
sua própria visão de mundo, seus costumes e expectativas”. Nesse sentido, Bauman
(2003, p. 9) aponta que “uma coletividade que pretenda ser a comunidade encarnada,
o sonho realizado, e (em nome de todo o bem que se supõe que essa comunidade
oferece) exige lealdade incondicional e trata tudo o que fica aquém de tal lealdade
como um ato de imperdoável traição”. O autor promove uma interessante diferenciação
entre um agrupamento (ao que chama de coletividade) e uma comunidade (no sentido
de identidade, vínculo e cumplicidade).

Outro elemento muito pertinente dentro dessa questão é a diversidade, em seu


sentido de mais amplo entendimento. Trigo (2009, p. 144) afirma que

os segmentos [comunidades] alternativos formam justamente o pluralismo e


a diversidade nas sociedades democráticas pós-industriais, com suas tribos,
etnias e grupos com interesses e comportamentos variados.

Mais especificamente, os grupos juvenis tendem a apegarem-se mais em


julgamentos, visto que seus membros são, normalmente, mais inseguros e não
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possuem referenciais sociais. Nesse mesmo sentido, Levisky apud. Uvinha (2001, p.
38) escreve que

nos grupos de jovens, o que há de comum é o fato de todos eles estarem à


procura de algo, isto é, de estarem à procura de si mesmos [...], no grupo, uns
se parecem com os outros e nisso se confortam; um é modelo para o outro;
sofrem de angústias semelhantes e na indefinição é que se encontram; dentro
do grupo cada um está na busca de si mesmo, e o grupo como unidade existe
nesse sentido; o encontro visa, antes de mais nada, a externalizar os próprios
pensamentos e confronta-los com os demais.

Conforme Yázigi (2001, p. 46), “construir uma identidade, isto é, dar-lhes uma
forma, é legitimar a própria vida, porque é a forma que dá fundamento à existência”.
No mesmo sentido, Laraia (2008, p. 68) aponta que “podemos entender o fato de que
indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma série de
características, tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem mencionar a
evidência das diferenças linguísticas, o fato de mais imediata observação empírica”.
Essa “série de características” é a “forma” a que se refere Eduardo Yázigi, corroborando
os elementos de identificação levantados anteriormente.

Especificamente sobre os ídolos, Bauman (2003, p. 66) aponta que “os ídolos,
pode-se dizer, foram feitos sob encomenda para uma vida fatiada em episódios. As
comunidades que se formam em torno deles são comunidades instantâneas prontas
para o consumo imediato – e também inteiramente descartáveis depois de usadas”.
Fato que não descarta a identidade entre os membros do grupo, tampouco os vínculos
emocionais compartilhados. Por mais efêmera que seja uma comunidade, ela terá
sido intensa enquanto manteve seus propósitos.

Laraia (idem, p. 67) acredita que “homens de culturas diferentes usam lentes
diversas, e, portanto, tem visões desencontradas das coisas”. É interessante como
o autor sintetiza de modo contrário a visão do convívio harmônico. Refletir sobre o
assunto é complexo, pois a diversidade de cenários é ampla – do ponto de vista
geográfico – e está passando por processo de homogeneização – ao passo que a
globalização elimina singularidades. O mesmo autor escreve que se trata de um “tipo
de comportamento padronizado por um sistema”. Sistema que se convenciona chamar
de capitalismo liberal.

Os diversos grupos sociais desenvolvem códigos entre seus participantes.


O mesmo autor escreve, ainda, que “a chegada de um estranho em determinadas
comunidades pode ser considerada como a quebra da ordem social ou sobrenatural”
(Ibidem, p. 73). A cultura constitui-se de sistemas de símbolos que interagem entre si,
ensejando o dinamismo contemporâneo. Ao retomar as reflexões sobre a hospitalidade,
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é possível observar que, conforme Grinover (2007, p. 36),

o gesto de hospitalidade é, de início, aquele que coloca de lado a hostilidade


latente a qualquer ato de hospitalidade, mesmo que, na própria essência de
seu funcionamento, a hospitalidade tenha, por necessidade, de manter o
estrangeiro como tal, isto é, “preservar certa distância” para preservar sua
identidade.

Seguindo esse raciocínio, o autor destaca o “acolhimento” como meio de


materialização da dita hospitalidade. E o define como “o conjunto dos comportamentos
[...] para ter um bom êxito na aproximação [...] de uma relação humana de qualidade,
com o objetivo de satisfazer sua curiosidade, suas necessidades [...] e na perspectiva
de desenvolver e estimular [...] a tolerância e a compreensão entre os seres humanos”
(Idem, 2007, p. 60).

Comentando a construção da identidade das comunidades, Yázigi (2001, p.47)


aponta que “deveria ser também uma arte porque redefine nossas relações com outras
pessoas, grupos, lugares, coisas [...]”. Cabe destacar a chamada do autor ao termo
“lugares”. A diante será abordado esse tema, ou seja, a percepção e a ligação entre
os valores de determinada comunidade e o espaço em que suas relações acontecem.

Pinto (2003, p. 5) escreve que “como atividade humana, é necessário considera-


la [a comunicação] integrada aos processos culturais e, para estudar sua evolução, não
é possível desvincula-la da cultura”. À ligação comunicação/comportamento refere-se
como agente de fortalecimento do vínculo existente dentro de cada grupo social.

Então, ainda que pertencer a uma comunidade seja atingir a plenitude social,
Laraia (2008, p. 80) aponta que “a participação do indivíduo em sua cultura é sempre
limitada; nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos de sua cultura”.
É relevante registrar que o autor não faz referência sobre as motivações de cada ser,
mas infere-se que tais participações são genuínas e de vontade própria. Sem a efetiva
participação nos processos interiores ao grupo, desaparece o senso de pertencimento
e a efetividade daquela comunidade, o que descaracteriza seus vínculos com “seu”
local original.

Cabe refletir acerca da espontaneidade das manifestações culturais, pois


a partir do momento em que um vínculo é “forçado” a existir e a se manter vivo,
acredita-se que o deixa de ser genuíno. Segundo Ayala e Ayala (2002, p. 63), “uma
manifestação cultural deixa de ser popular, tornando-se institucional, mesmo que
tenha sido anteriormente muito difundida em segmentos subalternos da população,
quando seus produtores passam a depender, para sua realização, de uma entidade
pública ou privada [...]”.Ainda sobre hospitalidade, torna-se oportuno afirmar que
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hoje esse segmento tem se estruturado por conta de seu comércio. A hospitalidade
comercial, ou seja, os negócios ligados diretamente aos serviços de hospedagem,
alimentação, entretenimento, transporte e lazer, institui-se em um paradoxo em vista
de sua história, pois em essência é gratuita, espontânea (GRINOVER, 2007, p. 57).

Interferir direta ou indiretamente no sentido de manter certa tradição ou


manifestação é atuar para a extinção da emoção e da afetividade que caracteriza
a “vinculação” proposta. Sobre a espontaneidade em manter-se em determinada
comunidade, honrando o compromisso hora firmado, Bauman (2003, p. 62) faz
algumas reflexões, a saber:

a) A comunidade, cujos usos e princípios são confirmar, pelo poder do número, a


propriedade da escolha e emprestar parte de sua gravidade à identidade a que
confere “aprovação social”, deve possuir os mesmos traços;

b) Ela deve ser e permanecer flexível, nunca ultrapassando o nível “até nova ordem”
e “enquanto for satisfatório”;

c) Sua criação e seu desmantelamento devem ser determinados pelas escolhas feitas
pelos que as compõem – por suas decisões de firmar ou retirar seu compromisso;

d) Em nenhum caso deve o compromisso, uma vez declarado, ser irrevogável: o


vínculo constituído pelas escolhas jamais deve prejudicar, e muito menos impedir,
escolhas adicionais e diferentes.

É intrigante como o termo “flexível” aparece por diversas vezes. E quem é o


indivíduo que definirá os níveis de flexibilidade? Como no debate sobre os ídolos e
a efemeridade das comunidades, pergunta-se: quais membros devem opinar para
a criação ou desmantelamento do grupo? E os que desejassem permanecer firmes
na proposta? Continuam gozando de legitimidade? Ao que parece, segundo o autor,
os compromissos não prejudicariam os papéis exercidos pelas pessoas fora da vida
comunitária.

Como visto, o estabelecimento e a consolidação de identidade e vínculos


se faz, sobretudo, por meio da comunicação. Seja corporal, escrita ou mesmo pela
linguagem. Assim, o tópico a seguir propõem reflexões sobre a competitividade
empresarial balizada por preceitos da sustentabilidade.
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COMPETITIVIDADE EMPRESARIAL

Propõe-se nesse tópico reflexões em torno de dois assuntos-chave: a


competitividade empresarial como especial destaque para o segmento do turismo
receptivo e a questão da experiência de viagem.

Em termos genéricos e globais, conforme aumenta o acesso a aquisição de


produtos e serviços turísticos e de pacotes de viagens, cresce o número de fornecedores
e, consequentemente, a competitividade entre os mesmos. Tal competição é natural e
pode ser sadia ao passo em que fomenta a qualificação de empresários e empregados
para manter e aumentar sua participação nesse mercado, que é altamente dinâmico.

Isso faz com que os competidores do mercado turístico – sediados na cidade de


origem ou no próprio destino de viagem – busquem índices de qualidade, produtividade
e eficiência comparáveis a setores da economia menos dependentes da força de
trabalho humana e mais ligados a ferramentas tecnológicas. Essa diferenciação
acontece de modo natural já que a atividade turística é altamente dependente tanto
da qualidade do atendimento ao cliente quanto da percepção que esse consumidor
afere do serviço prestado ou do produto oferecido.

Há, então, uma evolução qualitativa da oferta e quantitativa da demanda, que


acontece paralela a uma espécie de refinamento da percepção da demanda, entre
outros fatores, mais qualificada por conta da quantidade de informação e relatos de
experiência disponíveis na rede mundial de computadores, que balizam a formação
da percepção do consumidor. Ou seja, conforme se amplia o mercado consumidor
– em múltiplos segmentos – incrementa-se, também, o nível de exigência acerca da
oferta de serviços de hospitalidade.

Acredita-se que isso aconteça por três razões principais, a saber: a globalização
da economia aliada ao processo de valorização das potencialidades e singularidades
locais; a difusão da informação vinculada à descentralização da produção dessa
informação e da consequente formação da opinião pública; e, por fim, a estratégia
de segmentação do mercado, o que possibilita aferir objetivos de consumo mais
específicos.

Verifica-se, pois, que as múltiplas relações entre “visitantes” e “visitados”


são fruto de uma evolução do tempo e dos tipos de interação estabelecidos entre
residentes, viajantes e o entorno em que acontecem esses encontros, no caso
estudado comunidades carentes do município de Cubatão.

É relevante perceber que mais forte a identidade compartilhada entre os


membros da comunidade receptora, mais “protegida” é a terra e seus recursos, a
gente e suas tradições e a materialidade e a imaterialidade do patrimônio. O “senso
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de pertencimento” parece preservar as localidades receptoras das interferências


exógenas.

Ferreira, ao comentar casos de vandalismo ocorridos na cidade de São Paulo,


afirma que

o senso de pertencimento, de inquietação em relação a atos de vandalismo


contra o patrimônio foi comprovado em fins de agosto, quando ocorreu o
roubo da placa de bronze do busto de Carlos de Campos. Os alunos,
inconformados, estão em busca de formas para impedir um possível roubo do
busto na entrada da escola, cuidando para evitar qualquer descaracterização
do patrimônio e sua depredação (2006, p. 5).

A autora utiliza-se do termo “inquietação”, que resume a percepção da presente


pesquisa acerca do assunto. É, não necessariamente a insatisfação, mas o desejo
particular de que a paisagem, suas significações e a todos elementos que compõem
o cenário local não sofram com a imposição de valores, usos e costumes estranhos,
importados.

No que tange a experiência de viagem, verifica-se que esta não se forma


apenas a partir das percepções do visitante sobre as estruturas físicas, os ambientes
construídos e o patrimônio material. A percepção advinda do relacionamento entre
“visitante” e “visitado” é relevante nesse processo, que é formativo e participativo,
uma vez que pode ter duração aumentada ou diminuída conforme a prorrogação ou
enceramento do contato com residentes do local visitado, no caso das viagens, por
exemplo. Além disso, há as expectativas construídas com base na projeção imaginada
de uma realidade desejada, que pode ser influenciada pelo já citado crescimento das
mídias sociais e canais de comunicação.

O desejo crescente de o turista envolver-se com as singularidades dos locais


visitados e as pessoas é parte integrante e indissociável desse processo e pode ser
verificado em números apresentados por Leis (1998, p.15 a 43).

Apresenta-se no tópico a seguir o relato de experiência sobre o roteiro de


visitação ao projeto “Ateliê Arte nas Cotas”, realizado no município de Cubatão,
localizado na Região Metropolitana da Baixada Santista, litoral do estado de São
Paulo.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ESTUDADA: CUBATÃO, SÃO PAULO, BRASIL.

A primeira referência formal sobre a localidade data de 1533, quando redigiu-se


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documento que formaliza a concessão a Rui Pinto, entre outras, as terras da “Barra
do Cubatão”.

A cidade foi edificada no sopé da Serra do Mar, que originalmente servia como
ponto de parada para as pessoas que acessavam ao planalto paulista desde o litoral.
Conforme informações da Prefeitura Municipal de Cubatão (2013), para acessar ao
planalto, “seguia-se no início a trilha dos índios Tupiniquins. Depois, a partir de 1560,
através do Vale do Rio Perequê (...). Mais tarde, em 1792, a Calçada do Lorena se
tornou o principal caminho entre o litoral e o planalto”. Anos depois, em 1867, foi
inaugurada a estrada de ferro que liga o litoral ao planalto e interior do estado de São
Paulo, designada como “São Paulo Railway” (TORRES; JUNIOR; BORGES, 2002).

No início do século XX teve início o processo de industrialização do país e, nos


anos 1920, iniciaram as obras de construção de duas grandes indústrias: São Paulo
Light S.A. Serviços de Eletricidade e fábrica de papel e celulose Companhia Santista
de Papel S.A. (denominada originalmente como Companhia Fabril de Cubatão), que
iniciou suas operações em 1932. A segunda, por sua vez, motivou a criação da vila
Fabril, local de moradia dos funcionários que trabalhavam na empresa.

A essa época tiveram início articulações locais para elevar Cubatão a condição
de município, separando, assim, a localidade da administração de Santos. Após anos,
em 1949, o distrito ganhou a categoria de município e seu primeiro prefeito foi o Sr.
Armando Cunha.

Atualmente, a região possui 1.625.000 habitantes, sendo que Cubatão tem


125.178 (IBGE, 2013). Duas rodovias estaduais permitem esse trânsito tanto para
veículos de carga quanto para automóveis: rodovia Anchieta e rodovia Imigrantes,
inauguradas respectivamente em 1947 e 1976, sendo que a segunda ganhou
ampliação no ano de 2002.

O município de Cubatão é sede de um polo industrial, no qual operam vinte e


quatro indústrias. Dentro do panorama histórico apresentado, é importante citar que
do total de vinte e quatro empresas, dezoito foram implantadas no período entre 1955
a 1975, investimentos fomentados, essencialmente, por três razões: a localização
estratégica entre o Porto de Santos, a capital e o interior do estado; a inauguração
da rodovia Anchieta (1947) e, posteriormente, incentivos fiscais e a concessão de
terrenos para a implantação dessas indústrias.

Em vista da geografia propícia e a pujança do polo industrial local, duas dessas


indústrias – Ultrafértil e Cosipa (atual Usiminas) – possuem terminais portuários, onde
recebem matéria prima e embarcam produtos acabados.

É possível inferir, então, que além da geração de empregos, a concentração


industrial propiciou a geração de resultados econômicos e financeiros relevantes para
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o município, já que a arrecadação tributária concentra-se no Imposto sobre operações


relativas a circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual, intermunicipal e de comunicação (ICMS), oriundo das operações
industriais5.

O desempenho das indústrias locais e a modernização de serviços públicos


abrem caminho para investimentos e parcerias em torno do lazer e do turismo. Nesse
sentido, a Administração, aplicou recursos na reforma e modernização de um parque
público municipal que localiza-se na região central da cidade. A inauguração do
parque Anilinas aconteceu parcialmente em 2011 e, no ano seguinte, foram entregues
obras finais dessa área de lazer. Em discurso à ocasião da cerimônia de inauguração,
a então prefeita Márcia Rosa afirmou: “Estamos devolvendo ao povo o orgulho de
ser cubatense. Esse patrimônio é de vocês, cuidem bem dele. Estamos deixando
um legado para a cidade, um parque à altura da grandeza de Cubatão”. É possível
perceber, então, o empenho do poder público local em proporcionar espaços públicos
de lazer para a população residente e de visitantes, já que o espaço recebe eventos
artísticos e esportivos.

Nesse mesmo sentido, no que tange a administração pública da atividade


turística, Branco (1992, p. 77) diz que o “turismo [...] pode ser construtivo e
enriquecermos culturalmente. A busca de lugares tranquilos para lazer e aprendizado
é muito salutar”. E a cidade, enquanto espaço de diálogo e convívio entre visitantes
e visitados, deve ser administrada no sentido de harmonizar essas inter-relações (de
hospitalidade ou hospitalidade, como visto).

No tópico a seguir relata-se a experiência de gestão e operação do roteiro de


visitação ao projeto “Ateliê Arte nas Cotas”, iniciativa que se encontra alinhada com o
bom momento econômico da cidade, que inicia investimentos na promoção turística.

ROTEIRO DE VISITAÇÃO AO PROJETO “ATELIÊ ARTE NAS COTAS”

O projeto “Ateliê Arte nas Cotas” é parte integrante do “Programa de


Recuperação Socioambiental da Serra do Mar”, oriundo de uma parceria entre o
Bando Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Governo do Estado de São
Paulo por meio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU), da
Fundação Florestal e da Polícia Militar Ambiental. O objetivo do referido projeto é elevar
a autoestima dos moradores e promover a construção de nova identidade comunitária.

O roteiro de visitação ao projeto “Ateliê Arte nas Cotas” foi idealizado e formatado
por Renato Marchesini, Guia de Turismo e Diretor de Projetos da Caiçara Expedições,
agência de viagens e turismo sediada na cidade vizinha de São Vicente. Ao descer
5 Prefeitura Municipal de Cubatão. Origem e desenvolvimento. Disponível em < http://www.
cubatao.sp.gov.br/historia/origem-desenvolvimento/ >. Acessado em 17 de junho de 2014;
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a Serra do Mar, pela rodovia Anchieta, o profissional se deparou com um colorido


especial nas casas, muros e praças da Cota 200, comunidade residente nas encostas
da Serra do Mar.

A ideia de formatação de um roteiro de visitação ao local partiu da percepção


dessa intervenção urbana – até então pouco conhecida – realizada pelos alunos do
Ateliê, ainda em fase inicial de operação. Marchesini acredita que “o turismo com base
comunitária é uma proposta que beneficia as famílias locais, tanto economicamente
quanto na autoestima6”. Assim, além de conhecer pontos turísticos cubatenses, os
visitantes podem participar de uma oficina para aprender a técnica de estêncil, que é
utilizada pelos alunos para colorir as moradias. Por meio de uma moldura feita com
papelão ou plástico, os alunos criam desenhos nas paredes, muros e praças das
cotas, por meio da combinação de cores e padrões.

Segundo Fernanda Saguas Tresas, coordenadora do projeto, “será uma alegria


mostrar o trabalho social feito no ateliê e nos outros projetos do bairro. Incluir os bairros
Cota em um passeio por Cubatão é algo incrível e diferente7”. O roteiro caracteriza-se
pelo rico patrimônio natural, histórico, arquitetônicas, cultural e social local.

A visitação a sede do projeto inclui uma apresentação sobre a iniciativa, suas


intervenções artísticas na comunidade da Cota 200 e uma oficina prática. Assim, além
o próprio projeto, são visitados a Vila Fabril, o Largo do Sapo, o Cruzeiro Quinhentista
e o Parque Anilinas. Adicionalmente, são avistados ao longo do trajeto: o Parque
Estadual da Serra do Mar / Núcleo Itutinga-Pilões, a Usina Henry Borden e o polo
industrial da cidade.

Ao chegar a Cota 200 realiza-se uma parada em um mirante que fica em uma
pequena praça conhecida como Praça das Mangueiras, construída para a comunidade
residente de onde é possível contemplar o encontro das duas pistas da rodovia
Imigrantes, a rodovia Anchieta, e, ao longe, as cidades de Cubatão, Santos, Guarujá,
São Vicente e Praia Grande8.

É interessante citar a aceitação do projeto. A senhora Lúcia Georgina Moura


(comerciante local) afirma: “eu adorei o colorido no meu comércio, o bairro está mais
alegre e alto astral, muito boa essa iniciativa”. No mesmo sentido, a senhora Fátima
Maria Costa (aluna do projeto) aponta que o projeto “ajuda a formar uma favela, [que]
é um pedacinho da gente nestes desenhos. Fica mais bonito”.

6 Diário do Litoral. Cubatão entra no roteiro do Turismo Comunitário. Disponível em < http://www.
diariodolitoral.com.br/conteudo/9351-cubatao-entra-no-roteiro-do-turismo-comunitario >. Acessado em
16 de junho de 2014;
7 Idem.;
8 A Tribuna. Turistas visitam Cota 200 e Cubatão quer criar turismo comunitário. Disponível
em < http://www.atribuna.com.br/2.685/turistas-visitam-cota-200-e-cubat%C3%A3o-quer-criar-turis-
mo-comunit%C3%A1rio-1.277559 >. Acessado em 16 de junho de 2014;
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A turista Marli Cuzzo, após ter apreciado as pinturas, o entorno, a comunidade


e a paisagem, afirma que “É a primeira vez que eu visito uma comunidade, uma
favela mesmo, confesso que eu tinha receio, mas mudei totalmente a concepção,
achei interessante, lindo9”.

Em termos de resultados quantitativos, verifica-se que até 2013, mais de três


mil moradores da localidade já aderiram as oficinas oferecidas gratuitamente pelo
projeto “Ateliê Arte nas Cotas”. Adicionalmente, cerca de 60 pessoas se formaram no
curso de “Intervenção em Arte Urbana”.

Além disso, destaca-se que a implementação de projetos como esse contribui


para a sustentabilidade urbanística, socioeconômica, ambiental e cultural das
intervenções promovidas pela CDHU, pois o trabalho é ancorado em princípios de
construção do pacto social preliminar como subsídio e apoio à intervenção física
urbanística e organização comunitária com desenvolvimento local10.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do turismo de base comunitária em Cubatão configura-


se como elemento de diferenciação mercadológica tanto para a imagem da cidade
quanto para a agência de viagens e turismo que opera esse roteiro.

Ao mesmo tempo em que aumenta a competitividade entre os destinos turísticos


cresce a disputa por clientes entre os prestadores de serviços turísticos. Desse modo,
torna-se essencial fomentar novos modelos de gestão, operação e promoção dos
produtos turísticos.

É pertinente afirmar que a visitação a comunidade Cota 200 tende a fortalecer


vínculos, ajudar a mudar a imagem que as pessoas – residentes e visitantes – têm da
cidade e da comunidade e pode colaborar para a manutenção da qualidade de vida
da população local uma vez que atrai investimentos e propicia o consumo no local.
O projeto “Ateliê Arte nas Cotas” é integrante de um amplo programa de recuperação
socioambiental regional, nesse sentido, poderá, inclusive, estabelecer novas relações e
fortalecer relações comunitárias já existentes entre outras comunidades semelhantes.

O trabalho foi organizado em três tópicos temáticos, sendo o primeiro sobre a


convivência e a coabitação em comunidade, onde se insere a atividade turística e as
relações de hospitalidade entre visitante e visitado. O segundo tópico tratou da questão
da competitividade empresarial com especial destaque para o segmento do turismo.
9 Idem.;
10 Diário do Litoral. Cubatão entra no roteiro do Turismo Comunitário. Disponível em < http://www.
diariodolitoral.com.br/conteudo/9351-cubatao-entra-no-roteiro-do-turismo-comunitario >. Acessado em
16 de junho de 2014.
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Apresentou-se no terceiro fragmento, um panorama histórico e dados socioeconômicos


sobre a cidade de Cubatão. Foi apresentado, também, o relato de experiência de visitação
ao projeto “Ateliê Arte nas Cotas”.

Como resultados, verificou-se que há alta adesão dos moradores locais, tanto
participando dos cursos práticos quanto autorizando a pintura de suas casas. Como visto,
até 2013, mais de três mil moradores da localidade já aderiram as oficinas oferecidas
gratuitamente pelo projeto “Ateliê Arte nas Cotas”.

Adicionalmente, cerca de 60 pessoas se formaram no curso de “Intervenção


em Arte Urbana”. Foi possível constatar, ainda, expressão do orgulho dos moradores
cujas casas foram coloridas por meio do projeto, sobretudo, por que passaram a receber
visitantes. Conclui-se que, nesse caso, o roteiro promovido pela Caiçara Expedições
ajuda a valorizar as pessoas e a iniciativa do projeto “Ateliê Arte nas Cotas”, promover a
identidade cultural local e a desmistificar e transformar a realidade socioeconômica local
pelo turismo.

REFERÊNCIAS

A Tribuna. Turistas visitam Cota 200 e Cubatão quer criar turismo comunitário.
Disponível em < http://www.atribuna.com.br/2.685/turistas-visitam-cota-200-e-
cubat%C3%A3o-quer-criar-turismo-comunit%C3%A1rio-1.277559 >. Acessado em 16 de
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comunitario-roteiro.html >. Acessado em 16 de junho de 2014.
Caiçara Expedições. Turismo com Base Comunitária Cota 200 / Cubatão (SP).
Disponível em < http://www.caicaraexpedicoes.com/antigo/produto.php?produto=242 >.
Acessado em 16 de junho de 2014.
Caiçara Expedições. Turismo Comunitário em Cubatão: Cota 200. Disponível em <
http://www.blogcaicara.com/2013/04/turismo-comunitario-em-cubatao-cota-200.html >.
Acessado em 16 de junho de 2014.
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Eletrônica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN): nº3, janeiro/
fevereiro, 2006.
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TURISMO CRIATIVO: UMA PROPOSTA PARA O DESENVOLVIMENTO DO


TURISMO LOCAL NO MUNICÍPIO DE INHAMBANE EM MOÇAMBIQUE

Pelágio Julião Maxlhaieie1


Antônio Carlos Castrogiovanni 2

RESUMO: O presente artigo tem como tema “Turismo criativo: uma proposta para o
desenvolvimento do Turismo local no Município de Inhambane em Moçambique”. O
objetivo é discutir o atual modelo de desenvolvimento da atividade neste município,
que vem seguindo o mesmo padrão implantado na maior parte do território nacional,
desde a década de 1970, perante aos novos desafios do Turismo na pôs-modernidade
(pôs-turismo). Por meio da pesquisa bibliográfica, consulta documental e trabalho de
campo, através de observações diretas, seguidas da análise e interpretação de dados
secundários, constatou-se que o Turismo em Inhambane, e em Moçambique, é uma
atividade intimamente atrelada ao capitalismo global que registra altos índices de
crescimento econômico no Município de Inhambane, como resultado da revitalização
do Turismo que havia sucumbido totalmente em consequência da guerra civil, que se
alastrou durante dezesseis anos após a independência nacional em 1975. Entretanto,
projetos do setor para promover o desenvolvimento local têm-se demostrado pouco
cooperativo-participativos. Nesta logica de reflexão, ao que nos parece, os problemas
socioeconômicos, ambientais e políticos associados ao Turismo no passado parecem
ter sido grandes demais. Contudo, sob determinadas condições, um novo modelo
de Turismo pode impulsionar o desenvolvimento do Turismo local de forma positiva,
sobretudo na área de preservação do patrimônio natural e cultural, e na questão da
melhoria qualitativa das condições e dos padrões gerais de vida das comunidades
locais e de seus integrantes.

PALAVRAS-CHAVES: Turismo industrial. Turismo criativo. Desenvolvimento do


Turismo local. Município de Inhambane.

ABSTRACT: This paper is about “Creative Tourism: a proposal for local Tourism
development at Inhambane Municipality in Mozambique.” It aims to discuss how the
current model of Tourism development in this municipality, which follows the same
principles that were nationally spread, since the late 1970s, can face the new challenges
of Tourism in postmodernity (post-tourism). After literature review, documental research,
first hand observations done in fieldwork, and secondary data analysis and interpretation,
it was found that Tourism in Inhambane, and Mozambique, is closely linked to global
capitalism. The latter is responsible for Inhambane’s Municipality high economic growth
rates, especially as a result of the renewal of Tourism, after having ceased during the
civil war that raged for sixteen years succeeding Mozambique’s national independence
in 1975. However, the industry’s plans to promote local development have shown to

1 Graduado em Turismo, orientação em Planejamento Turístico. Mestrando em Geografia, na


área de Análise Territorial no Instituto de Geociências da UFRGS. E-mail: pelagianismo@hotmail.com.
2 Doutor em Comunicação Social na área de Práticas Sociais em Geografia, Comunicação e
Turismo. Professor Associado e Adjunto da UFRGS e PUCRS. E-mail: castroge@ig.com.br
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be uncooperative. It seems that socioeconomic, environmental and political problems


associated with Tourism in the past have been away too big. However, under certain
conditions, a new model of Tourism can boost the local Tourism development in a
positive way, especially on natural and cultural heritage preservation, and on the
improvement of life qualitative conditions of local communities and general living
standards of Mozambique’s population.

KEYWORDS: Industrial Tourism. Creative Tourism. Local Tourism development.


Inhambane Municipality.

1. INTRODUÇÃO

O Turismo é uma criança mal amada da agenda internacional para o


desenvolvimento. As repercussões negativas que podem advir do desenvolvimento
parecem ser múltiplas e de grande envergadura, quer seja a utilização do patrimônio
das populações locais para fins econômicos, o despojamento das populações dos
seus locais de habitação tradicionais, a poluição do meio ambiente, os conflitos
sociais ou a perca da identidade cultural. Não obstante, o Turismo representa um
fator socioeconômico importante, e uma oportunidade para que os ditos países em
desenvolvimento possam beneficiar-se na abundância dos países industrializados
(ERBES, 1973; HUMBOLDT-UNIVERSITÄT ZU BERLIN, 2002).

Como atividade econômica, acredita-se que o Turismo se desenvolve no mundo


com grande pujança, sob égide do capitalismo global, trazendo consigo um conjunto
de benefícios para os diferentes lugares e atores envolvidos, principalmente através
da mobilização de recursos, geração de empregos, e desempenhando significativo
papel na balança de pagamentos e na arrecadação de impostos de muitos países,
tendo no espaço do lugar, o seu principal objeto de produção/reprodução e consumo/
uso.
O turismo nasceu e se desenvolveu com o capitalismo. A cada avanço
capitalista, há um avanço do turismo. A partir de 1960, o turismo explodiu como
atividade de lazer, envolvendo milhões de pessoas e transformando-se em
fenômeno econômico, com lugar garantido no mundo financeiro internacional
(MOESCH, 2000, p.9).

O desenvolvimento do Turismo local surge neste âmbito como um termo


híbrido, abrangendo não só os espaços, as motivações e as repercussões, mas
também às ligações complexas que existem entre atores e instituições multiescalares
e transtemporais (PEARCE e BUTLER, 1999). Seu enfoque consiste na melhoria
qualitativa das condições socioculturais, econômicas e ambientais das comunidades
receptoras do Turismo, através da sua participação ativa no processo.

A consolidação do Turismo como prática social massiva ao longo do século XX,


com seu pico considerável a partir do período pós-segunda guerra mundial, teve como
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consequência, a afirmação do Turismo como um fenômeno de grandes proporções.


Este é o momento em que o Turismo passa a ser adoptado como um dos setores-chave
para impulsionar o desenvolvimento econômico de muitos países (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DO TURISMO – OMT, 2001; ERBES, 1973).

Em Moçambique, este processo se efetiva através da criação do Ministério


do Turismo (MITUR) em 2000, no qual o governo passa a reconhecer formalmente o
Turismo como uma das alternativas às estratégias de melhoria da qualidade de vida
e bem-estar das populações locais; claramente, sob umbrela das recomendações de
organismos internacionais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a
OMT e a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura), a partir das décadas de 1980 e 1990.

Este artigo propõe-se a discutir o atual modelo de desenvolvimento do Turismo


em Moçambique, considerando a sua influencia no desenvolvimento local, tomando
o Município de Inhambane como objeto empírico, face à crescente importância do
Turismo local e internacional. Todavia, abordar o Turismo na pós-modernidade (pós-
turismo), remete-nos a repensar, rediscutir e refletir seu significado, sobretudo nos
ditos países em desenvolvimento, pois a lógica de sua introdução e crescimento –,
de orientação ocidental, tem levantado uma seria de indagações, por se mostrarem,
muitas delas, inadequadas às situações locais.

O texto sustenta-se no exame do desenvolvimento do Turismo no Município de


Inhambane, com destaque para as relações estruturais entre origens e destino dos
atores nas diferentes escalas espaciais (HILLS e LUNDGREN, 1977; PEARCE, 2003,
MOLINA, 2011). Na perspectiva destes autores, os benefícios deste crescimento
são frequentemente ilusórios e superestimados, daí que devem ser cuidadosamente
estudados, considerando as especificidades socioeconômicas, políticas e ambientais
das áreas receptoras, como ponto inicial para (re)adaptar um modelo sustentável de
desenvolvimento do Turismo local.

Diante desta leitura, o Turismo criativo tem se demostrado como proposta para
melhor compreender o Turismo como fenômeno socioespacial e transformacional. Esta
visão desconstrói a lógica de abordagem do desenvolvimento do Turismo sob a matriz
do “Turismo Industrial” –, da visão romântica e mítica, na ideia de que o Turismo traz
automaticamente o desenvolvimento econômico para o lugar. Portanto, entendemos
o Turismo como uma atividade complexa e (re)ordenadora dos espaços, que pode
produzir qualidade de vida para as populações locais, mas o seu desenvolvimento
pode gerar repercussões negativas, invadindo, destruindo, alterando ou produzindo
novas desigualdades.

A pesquisa é de natureza qualitativa, na medida em que se preocupa em


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contextualizar o Turismo em termos locais, temporais e situacionais, por meio da


análise dos significados do lugar, da experiência e das práticas sociais inseridas na
matriz cultural local. O artigo foi proposto através das técnicas de pesquisa bibliográfica;
pesquisa documental e trabalho de campo com a observação em primeira mão, onde
se recolheu informações em fontes e/ou instituições ligadas à gestão da atividade
turística (Conselho Municipal de Inhambane, Direção Provincial do Turismo e Instituto
Nacional de Estatística), assim como em trocas dialogias com a população envolvida
para realizar-se um movimento metodológico de triangulação.

2. QUADRO TEÓRICO E CONTEXTUAL

2.1. Desenvolvimento do Turismo Local

O termo desenvolvimento é muito ambíguo pela existência de diferentes usos


do mesmo em diferentes contextos e áreas de conhecimento. Para Sachs (2009,
p.29), o “desenvolvimento é por essência um conceito dinâmico, e as instituições para
o desenvolvimento são também conceitos dinâmicos, evolutivos. E é dentro desse
movimento que se deve definir estratégias de sua utilização”.

Segundo Pezzoli (1997), o desenvolvimento é definido como a promoção do


progresso social e a melhoria dos padrões gerais de vida com maior liberdade de
uma determinada coletividade ou comunidade. Trata-se de um conceito que se refere
a todas as partes do mundo, em todos os níveis, desde o indivíduo até a respectiva
sociedade, a partir de um local a um nível global.

Por sua vez, o termo desenvolvimento do Turismo local é uma concepção


usada nos estudos do Turismo em diferentes contextos, para expressar um espaço
geográfico que já foi apropriado pela atividade turística e que experimenta sua
evolução ou estagnação, podendo ainda sugerir outros tipos de resultados, processos
e articulações entre atores endógenos e exógenos do Turismo.

Pearce e Butler (1999) observam que o desenvolvimento do Turismo é uma


expressão que abrange não apenas os espaços, as motivações e os impactos, mas
também as relações complexas que se estabelecem entre todos os atores e instituições,
num sistema global de interligação entre a oferta global e a demanda. Os autores
argumentam ainda que o desenvolvimento do Turismo é um termo também ambíguo,
no qual a pesquisa de campo deve consistir-se de uma antecipada preparação de
base literária, para uma melhor compreensão e aplicação.

Com enfoque na oferta turística do lugar, Pearce (1989, p.15) define o


desenvolvimento do Turismo local como “a prestação ou melhoria de instalações e
serviços para atender às necessidades dos turistas” localmente. Ele levanta a questão
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de que o Turismo, como um setor, também pode ser visto como um dos meios de
desenvolvimento em um sentido muito mais amplo, ou seja, o caminho para alcançar
um estado final ou condição. Isso implica que o foco não deve ser sobre o Turismo
como ator de desenvolvimento, mas no processo que fortalece o Turismo como ator
de desenvolvimento socioeconômico do lugar.

2.2. Turismo Criativo

A teoria e a prática do Turismo têm experimentado diversas fases, em seu


processo evolutivo, entre as quais é possível identificar três grandes: o pré-turismo (o
grand tour), o Turismo (as concepções industriais) e o pós-turismo (MOLINA, 2003),
de onde deriva o Turismo criativo, como se explica mais adiante. Como destaque, a
terceira fase, marcada pela modernidade, é influenciada pela quantidade e qualidade
de recursos tecnológicos à disposição de todos os setores de atividade, inclusive na
criação e na proliferação dos megaresorts, nos não-lugares3 e/ou entre-lugares4 e dos
parques temáticos (playgrounds). Nessa fase, registra-se, também, uma influência
significativa da natureza e da cultura.

No mundo pós-moderno, ou na era do pós-turismo, o espaço turístico tende a se


confundir com toda a superfície terrestre. Entretanto, esse mundo do Turismo, tende
a ultrapassar o espaço físico e cinemático, chegando a outras categorias de espaço,
como o virtual e o psicológico (XAVIER, 2007, p. 52-53). Assim, nos auxiliamos aos
fundamentos de Knafou (1996), ao propor três possibilidades distintas que enfocam
Turismo e espaço, a saber: os “espaços sem Turismo”, “Turismo sem espaço” e, ainda,
“espaços turísticos”. Com isso, a primeira possibilidade baseia-se no fato de alguns
lugares, não estarem preparados para receber os turistas. O segundo tipo relaciona-
se com as viagens virtuais, possibilitadas pelos computadores, em especial através
das novas tecnologias de informação e comunicação. E, por último, está a existência
de lugares inventados e produzidos pelos turistas, ou seja, sem o turista o lugar não
tem razão de ser.

É nesta última possibilidade que delimitamos o Município de Inhambane, no


qual o Estado, a sociedade humana, áreas culturais, firmas e mercados turísticos
interagem uns com os outros, (re)organizando-se numa constante evolução, como

3 Termo usado por Marc Augé, para expressar [...] “tanto as instalações necessárias à circulação
de pessoas e bens (vias expressas, trevos rodoviários, aeroportos) quanto os próprios meios de
transportes ou os grandes centros comerciais, ou ainda os campos de trânsito prolongado onde são
estacionados os refugiados do planeta” (AUGÈ, 1994, p.36-37).
4 Castrogiovanni (2004, 2007), inspirado em Homi Bhabha (1998), concebe o entre-lugar,
como o lugar praticado pelo sujeito turista, num certo tempo. Assim entendemos o entre-lugar turístico
como sendo a lugarização do espaço geográfico, substanciada pelo sujeito visitante na dialogicidade
estabelecida entre o seu lugar (lugar conhecido) e o lugar/não-lugar visitado (desconhecido). Ele é
simbólico, enquanto existência, mas possui uma densidade representativa, a partir da cultura. Portanto,
depende das incorporações tempo-espaciais do sujeito visitante.
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assinala Dolfus (1991), na sua visão sistêmica da organização geográfica global.


Como apontam Santos (1985) e Rodrigues (2003), estes atores, são os principais
responsáveis pela turistificação do espaço.

Segundo Moesch (2000), o Turismo compreende uma combinação complexa


de inter-relacionamentos entre produção e serviços, em cuja composição integra-se
numa prática socioespacial com base cultural, herança histórica, a um meio ambiente
diverso, cartografia natural, relações sociais de hospitalidade e troca de informações
interculturais. Para esta autora, os benefícios originários deste fenômeno são também
complexos e podem ser verificados na vida econômica, politica, e sociocultural da
comunidade local de forma endógena.

É nesta vertente que surge o Turismo criativo, como uma nova síntese política,
social e econômica, e como tal, que se propõe a resolver (quase) todas as grandes
carências geradas pelo Turismo industrial, como: desigualdades, fragmentação
social, a perspectiva eminentemente materialista da vida, migração, preconceitos
ideológicos, empobrecimento intelectual e emocional, apatia cidadã e em geral, uma
ampla lista de subdesenvolvimentos diversos (MOLINA, 2011). Segundo esta leitura, o
Turismo criativo se orienta a criar bem-estar compartilhado e estendido, a desenvolver
habilidades e valores únicos que geram lucros, a reconstituir o espaço e as relações
que se manifestam nele a partir de um protagonista: a comunidade residente e seus
integrantes.

3. O TURISMO NO MUNICÍPIO DE INHAMBANE

O Município de Inhambane, capital da Província5 de Inhambane, localiza-


se na região sul de Moçambique e ocupa uma parte da zona costeira da província
de Inhambane. Situa-se entre as latitudes 23º45’50” (Península de Inhambane) e
23º58’15” (Rio Guiúa) Sul, e as longitudes 35º22’12” (Ponta Mondela) e 35º33’20”
(Cabo Inhambane). Este cobre uma parte continental e duas ilhas, o que circunscreve
uma área total de 192 Km2 (NANTUMBO, 2007). Com uma população de 65.149
habitantes, o município limita-se a norte pela Baia de Inhambane, a sul pelo Distrito de
Jangamo, a este pelo Oceano Indico e a oeste pela Baia de Inhambane e Cidade da
Maxixe (INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA – INE, 2008), conforme demostra
a Fig. 02 em anexo.

A Província de Inhambane, durante vários anos de experiência turística foi


considerada a “Capital do Turismo”. Igualmente, foi o espaço que auferiu o maior
volume de investimentos no setor, em termos de dimensão de projetos de investimento
(HUMBOLDT-UNIVERSITÄT ZU BERLIN, 2002). A província ocupa a segundo posição,

5 A Província equivale ao Estado para o caso da República Federal do Brasil.


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depois de Maputo (capital do país) no ranking nacional, em termos de capacidade


de “indústria turística”. De acordo com o INE (2008), Inhambane contava com 4574
camas em 2007 o equivalente a 27,8%, em termos de capacidade de alojamento
turístico (Fig. 01).

Figura 01 – Distribuição de Leitos por Província em 2007


35 30.5
30 27.8
Percentage of beds

25
20
15 9.9 8.2 7.0
10
4.1 4.0 3.9 2.4
5 2.2
0
Maputo Inhambane Nampula Gaza Sofala Tete Zambézia C. Delgado Manica Niassa
Provinces

Fonte: Nhantumbo (2009), com base em dados do INE (2008)

As chegadas turísticas internacionais, na província cresceram de 13 170 em


2001 para 20 280 visitantes em 2006, enquanto os visitantes domésticos aumentaram
de 10 590 para 11 400 no mesmo período. O número total de visitantes aumentou
de 23 760 a 31 680 no período de cinco anos (INE, 2007, NHANTUMBO, 2009).
Flutuações no número de visitantes nacionais e internacionais são significativos,
embora o número de visitantes domésticos não tenha aumentado significativamente.
Muatxiwa e Eberherr (2007) apud Nhantumbo (2009) relatam que o número de pessoas
empregadas no sector do turismo aumentou de 2050 em 2003 para 3350, em 2006,
conforme os dados demonstrados na Tabela 01.

Tabela 01 – Indicadores do Turismo na Província de Inhambane (2004-2008)


% Taxa de C.
Indicador 2004 2005 2006 2007 2008
Anual
Estabelecimentos 270 296 322 378 431 14.9
Quartos 1 025 1 200 1 672 2 789 3 701 65.3
Camas 3 750 4 300 4 535 8 786 10 620 45.8
Empregos 2 222 2 542 3 351 3 833 4 521 25.9
Projectos aprovados 18 33 27 47 52 47.2
Investimento (103 USD) 2 779 3 200 18 420 89 057 150 538 1 329.3
Fonte: Nhantumbo (2009)

Observa-se que os números de estabelecimentos turísticos, quartos e camas


cresceram 60%, 261% e 180%, respectivamente, entre 2004 e 2008. O investimento
no setor cresceu de forma impressionante de apenas US$ 2,8 milhões em 2004 para
US$ 150,6 milhões em 2008. O número de pessoas empregadas no setor de turismo
foi mais do que o dobro, comparando 2004 e 2008. Por outro lado, o número de
projetos turísticos aprovados aumentou quase 200% (MOÇAMBIQUE, 2009). Estes
indicadores refletem claramente o aumento do fluxo de turistas para Inhambane, e
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ressaltam a necessidade de investigar este cenário de evolução.

O Município de Inhambane, maior centro turístico provincial, insere-se num


dos espaços prioritários para o desenvolvimento do Turismo, denominados de Áreas
Prioritárias para o Investimento em Turismo (APIT) de “1ª Classe”6, com subáreas
que já foram apropriadas pela prática social do Turismo, sobretudo o de sol e mar.
Todavia, na atualidade, pelas potencialidades que oferece, este município tem sido
gradualmente (re)apropriado e reconstituído, (re)produzido e consumido/usado por
novas tipologias de Turismo emergente ou alternativo (segmentos de nicho), ávidas
pela exploração do patrimônio cultural ou histórico-cultural e no retorno ao consumo
de elementos da natureza, em detrimento do tradicional Turismo sol e mar, o que
fundamenta a importância do Turismo no Município de Inhambane.

3.1. Análise do Desenvolvimento do Turismo Local no Município de Inhambane

O Turismo emprega, de acordo com a OMT (2001), desde 1995, cerca de uma
a cada dez pessoas no mundo. No plano atual, os fluxos turísticos internacionais
cresceram 4,6% entre 2010 e 2011, de 940 milhões a 983 milhões de turistas,
respectivamente. As receitas do Turismo na escala global dilataram 3,9% em
termos reais, em igual período de análise, gerando US$ 1,030 bilhões (dólares norte
americanos), sabendo-se de antemão que no ano anterior, o setor arrecadou US$
928 bilhões. A escala global prevê-se um crescimento a uma taxa anual de 3,3%,
entre 2010 e 2030, o que originará até o ano final indicado, um total de 1.8 bilhões de
chegadas, representando um aumento real de mais de 43 milhões de chegadas por
ano (WORLD TOURISM ORGANIZATION – UNWTO, 2012).

De acordo com esta fonte, os espaços turísticos das economias emergentes nas
últimas quatro décadas conheceram um crescimento significativo comparativamente
aos espaços das economias mais avançadas e esta tendência ainda permanecerá
nos próximos tempos. Entre 2010 e 2030, espera-se um crescimento mais acelerado
das chegadas turísticas nos países emergentes, isto é, 4,4% ao ano, o equivalente
ao dobro das economias mais evoluídas, onde a taxa prevista é de 2,2% ao ano.
Este fenômeno é evidenciado por outro lado pela tendência da quota de mercado das
economias emergentes, que cresceu na ordem de 30% em 1980 a 47% em 2011 e,
projeta-se que a mesma atinja 57% até 2030, o equivalente a mais de um bilhão de
chegadas turísticas internacionais.

6 De acordo com o Ministério do Turismo (2003/2004), na sua Politica Nacional do Turismo e


no seu Pano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo, o Município de Inhambane insere-se
numa das APIT do Tipo A – que são aquelas que possuem certo nível de desenvolvimento de Turismo
e infraestrutura de Turismo, para além da diversidade do patrimônio turístico. As outras APIT são as do
Tipo B - áreas com elevado potencial de Turismo, com localização estratégica, mas que efetivamente
ainda não têm nível significativo de desenvolvimento do Turismo e, as do Tipo A/B – referente a áreas
com um limitado nível de desenvolvimento turístico, mas possuidoras de potencialidades turísticas.
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Moçambique é um dos países pertencentes às economias emergentes, na qual


as cifras do Turismo são ainda modestas, mas assinalam perspectivas significativas.
As receitas do Turismo internacional cresceram o equivalente a US$ 54 milhões em
3 anos, de US$ 126 milhões em 2005 para US$ 180 milhões em 2008. Aprovou-se
um volume médio anual de investimento no setor de 585 milhões de dólares entre
2005 e 2008, mas o pico foi atingido em 2007, com US$ 952 milhões. Não tendo sido
encontrado dados referentes principalmente a 2009, em 2011 o Turismo registrou um
crescimento significativo arrecadando cerca de US$ 230 milhões de receita para os
cofres do Estado. O valor resulta da visita  de 3 milhões de turistas internacionais ao país,
o que representa um aumento na ordem dos 9,6%, equivalentes a aproximadamente 2
milhões de visitas registradas no ano anterior. As receitas do setor também cresceram
na ordem de 17,1%, comparativamente ao ano anterior (MINISTÉRIO DO TURISMO
– MITUR, 2012).

Retomando ao nosso objeto empírico, de acordo com o Plano Estratégico do


Município e Inhambane 2009-2019, o Turismo é a principal atividade em Inhambane,
mas que o conhecimento do município nesta área ainda está pouco desenvolvido,
bem como o papel que poderá desempenhar para atrair e controlar um Turismo que
faça uso dos recursos locais sustentavelmente (INHAMBANE, 2009).

Apesar da enorme dificuldade no acesso a dados estatísticos referentes à


quantidade e evolução da estrutura turística – número de entradas/visitantes, receitas
e gastos realizados no sector, de acordo com o relatório da Direção Provincial do
Turismo de Inhambane, num universo de 445 estabelecimentos turísticos na província,
constatou-se que maior número destes, cerca de 110 estabelecimentos (25%) situam-
se no município em analise, representada pela rede de alojamento (hotéis e lodges),
restaurantes, lojas de souvenir, bares, salas de dança, discoteca, aeródromo e serviços
de entretenimento.

No que se refere à demanda turística, dos 231 600 turistas que visitaram a
província em 2011, a maioria (30%) preferiu este munícipio, num universo de 14
distritos (INE, 2012). Por outro lado, constatou-se que nos últimos anos o investimento
no setor subiu substancialmente, de US$ 16 mil em 2005, para US$ 56 mil em 2007 e
US$ 2.085 mil em 2008 (AZEVEDO, 2009).

Todavia, apesar do significativo contributo no crescimento econômico através


do incremento ao longo da história de infraestruturas turísticas e outras relacionadas,
estes indicadores não tem se refletido do ponto de vista de desenvolvimento
econômico, pois, esta mudança na província e no município em particular, pouco tem
contribuído para melhorar os padrões gerais de vida e o bem-estar da população
residente, fato que faz com que a região seja classificada como sendo uma das mais
pobres do país. Cerca de 80% da população local na província vive abaixo da linha da
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pobreza absoluta e fortemente dependente da agricultura familiar ou de subsistência


(HUMBOLDT-UNIVERSITÄT ZU BERLIN, 2002).

Ainda de acorde com esta fonte e observações efetuadas no campo, pouco


debatido até então é a possibilidade de uma combinação do Turismo para a diminuição
da pobreza (Pro Poor Tourism), na questão de como o desenvolvimento turístico
deveria ser planejado para servir como fonte de renda local ou regional e possibilitar
pelo menos uma parcela da população a infraestrutura, comunicação, informação,
entre outras facilidades.

Assim como qualquer outra atividade humana, o Turismo vem gerando


repercussões de ordem social, cultural, ecológica e econômica, transformando
paisagem e culturas em mercadorias, produzindo apropriação dos lugares pelo capital
e excluindo do processo turístico camadas da população de menor poder aquisitivo
(XAVIER, 2007), fato que tem se verificado em Inhambane.

No geral, entendemos que o modelo do “Turismo industrial”, que se instalou


neste município, é no mínimo comodista e, inertemente abre espaço para beneficiar
a população residente e o local, devido a sua logica orientada para a maximização
econômica empresarial, na escala do espaço de fluxos, apesar de ter-se a ciência
de que, este grupo participa na construção do espaço turístico (KRIPPENDORF,
2000; XAVIER, 2007; MOLINA, 2011). Como consequência, a limitação do Turismo
ao interesse do capital econômico global e dos políticos7, coloca as comunidades
receptoras, aqueles que vivem e/ou atuam nos lugares do espaço, em uma posição
quanto menos subordinada, quanto mais inerte, como apontou Bertoncello (2008).

Alguns autores (HILLS e LUNDGREN, 1977; PEARCE, 2003), ao examinar


o paradigma do “Turismo industrial”, nos ditos países em desenvolvimento (como
o modelo importado para o Município de Inhambane), já na década de 1980,
alertavam as consequências da sua inadequação, pois, os benefícios do Turismo
nas comunidades locais são frequentemente ilusórios e superestimados, pela fraca
cooperação no desenvolvimento local, em parte, pelo fato das empresas que exploram
a atividade turística serem maioritariamente estrangeiras ou de capital externo, e
pouco considerarem os interesses e subjetividades dos atores locais.

Uma explicação para tal ocorrência é encontrada em Dolfus (1991), na


sua visão sistêmica da organização geográfica global. Segundo o autor, o mundo
se organiza em pavimentos de Estados e pavimentos de mercados. Na evolução
dessa organização, nota-se claramente que a expansão das formas neoliberais de
organização dos estados produz uma verdadeira falência do Estado-nação e uma

7 Segundo Santos (1985) e Rodrigues (2003), das instituições do Estado, emanam ações
racionais, pragmáticas, ditadas pelas forças da economia capitalista hegemónica e ao serviço do
Estado.
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considerável expansão do domínio dos mercados sobre governos (XAVIER, 2007), tal
como aconteceu em Moçambique8, sobretudo a partir de 1980.

A esse aspecto da organização deve-se acrescentar o componente “rede”, que,


ligando os pavimentos do mundo, traça os fluxos intensos, complicados, por vezes
não visíveis e destituídos de qualquer forma de controle político. Nesse complexo
sistema mundo, há grande concentração no que se refere às tomadas de decisão.
Os centros de decisão do capitalismo hegemónico do sistema mundo, de modo geral,
estão geograficamente localizados nas grandes aglomerações urbanas dos países
desenvolvidos. Ressalta-se, ainda, a existência de sociedades periféricas (como
Inhambane) marcadas pelas imagens da anomia ou de violência e que colocam seus
atrativos à disposição dos centros de decisão (XAVIER, 2007).

O Município de Inhambane é um espaço de lugar turístico inserido num país


onde se enfatiza a fraqueza estrutural herdada dos tempos coloniais como fator que
possibilita às multinacionais (empresas externas) uma imposição do seu sistema
de exploração turística, fazendo do Turismo uma atividade particularmente frágil e
vulnerável às mudanças do entorno social, econômico e ambiental, o que justifica a
necessidade de adoção de novos modelos viáveis de acordo com as características
socioeconômicas, culturais e ambientais do lugar, e que valoriza os saberes e
conhecimentos endógenos, como o modelo proposto na abordagem a seguir.

4. TURISMO CRIATIVO E DESENVOLVIMENTO DO TURISMO LOCAL NO


MUNICÍPIO DE INHAMBANE

O conjunto de transformações que a sociedade experimentou nas últimas


décadas incidiu de maneira determinante na estrutura e no funcionamento do Turismo.
Para Molina (2003, 2011), não se trata de mudanças isoladas que alteram apenas
um ponto específico do fenômeno turístico – ainda que essas mudanças tenham
iniciado dessa forma, como parcelas, desvinculadas umas das outras –, mas sim
da entrada em um novo limiar do desenvolvimento do Turismo que não pode ser
explicado unicamente pelas tecnologias de projetos, pela qualidade de serviços ou
pela competitividade. Segundo o autor, trata-se de um novo paradigma denominado
“pós-turismo”, para expressar o fenômeno Turismo na pós-modernidade.
O pós-turismo não é só mais uma fase, mas uma ruptura com o turismo
8 Desde a década de 70 que os países africanos se têm esforçado em traçar paradigmas de
desenvolvimento com as suas próprias convicções e percepções. O exemplo de Moçambique no pós-
independência foi o Plano Prospectivo Indicativo (PPI), mais tarde abandonando face à crise econômica
e social que levou o país à adopção em meados da década 80 à economia de mercado, sob a matriz
de instituições financeiras internacionais. […] A retórica para a promoção de desenvolvimento […] e
a redução da pobreza absoluta têm sido focalizados pela importância que assumem as políticas de
desenvolvimento capazes de promover a melhoria de qualidade de vida e o bem-estar das populações
[…] (RÜCKERT, MUNGÓI, RAMBO, 2006, p. 22-23).
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tradicional (o de carácter industrial com suas diferentes etapas evolutivas),


que implica novas concepções e enfoques, metodologias e tecnologias,
além de uma nova distribuição do papel dos governos das empresas e das
comunidades locais (MOLINA, 2003, p. 10).

Ao falarmos de um pós-turismo, há que reconhecer a existência de um pré-


turismo, o chamado grand tour, e de um Turismo, o derivado da lógica das práticas mais
comuns da civilização industrial. O Turismo industrial, propiciado por reformas legais
que favoreceram seu desenvolvimento, tal é o caso do reconhecimento de viagens
pagas e aumento de facilidades fronteiriças (primeiro nos países desenvolvidos),
corresponde à fase da globalização e do Turismo de massa, incrementada com
o surgimento de empresas e de consórcios integrados verticalmente, e com a
(aparente) intervenção do Estado nas atividades de planejamento, desenvolvimento,
coordenação, promoção e educação em Turismo.

Molina (2003, 2011) nomeia o chamado pós-turismo para se referir a terceira


e última fase do desenvolvimento do Turismo, que constitui um novo paradigma, uma
categoria histórica emergente que altera certas considerações fundamentais dos
modelos do Turismo originado nas fases anteriores. As tecnologias de alta eficiência,
associadas aos fenômenos econômicos e socioculturais da década de 1990 explicam
a evolução do pós-turismo em contraste com princípios que alteram a continuidade
dos tipos de Turismo industrial.

Segundo nossa reflexão, o Turismo industrial, constitui o modelo característico


que molda muitos países em desenvolvimento, devido a sua base de implantação,
relacionada com a imposição e possibilidade do capital financeiro externo; associado
ao fato de relegarem-se ao segundo plano as capacidades, ideias e visões futuristas
intrínsecas a comunidade local. Em nossa compreensão, circunstanciamos o Município
de Inhambane, um dos espaços turísticos de referência, inserido numa APIT do Tipo A,
como um espaço explorado na lógica do modelo do Turismo industrial em coexistência
com o papel subsidiário do Estado.

Segundo Molina (2011), um espaço turístico que desenvolve a perspectiva


de Turismo industrial, pode sem sombra de hesitação, apresentar indicadores de
sucesso por suas taxas anuais de crescimento de turistas, de receitas, de impostos,
pela frequente construção e ampliação da rede de infraestruturas turísticas, como
hotéis, restaurantes e locais de diversão e entretenimento.

Contudo, como sustenta Erbes (1973), pelo tipo de capital investido, nos países
em desenvolvimento, o Turismo industrial (fordista) enfrenta algumas desvantagens
potenciais que podem perigar seu desenvolvimento, como a exportação do capital
resultante do Turismo, devido a importação de investimentos, tanto na fase de
implantação de projetos turísticos, assim como na fase de operacionalização
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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destes, o que resulta na perpetuação da baixa qualidade de vida da população local,


associado ainda, ao fato de não se considerar a sua participação ativa no processo
de desenvolvimento do Turismo, não obstante seus espaços de lugar serem barrados
pelos estabelecimentos turísticos e invadidos pelos turistas.
Um Turismo que não toma em conta a população residente gera grandes
externalidades negativas, de ordem moral, espiritual e material aos integrantes
da comunidade em que a atividade se instala. Produz divisão social, gera
desemprego, trabalho eventual/sazonal e obriga às instituições públicas
a intensificar seus programas de assistência social, para fazer face aos
desequilíbrios e desigualdades socioeconômicas (MOLINA, 2011, p.12).

Autores como Rodrigues (2000) e Molina (2011) são unânimes em afirmar


que em muitos espaços o modelo de Turismo industrial se instalou graças ao
despojamento de propriedades, ao desalojamento compulsivo das comunidades das
terras produtivas, a ocupação privilegiada e forcada de estabelecimentos turísticos e
similares junto a sítios patrimoniais e arqueológicos sensíveis, como a construção de
resorts em dunas primárias nas praias do Município de Inhambane.

A implantação deste modelo, também tem sido beneficiada pela disponibilidade


abundante de mão-de-obra barata e, em geral, de políticas que tem favorecido sua
integração com a economia das elites (ERBES, 1973; PEARCE, 2003). A proliferação
de clubes de iates, marinas, de resorts de alto gasto e de campos de golfe são algumas
evidências do modelo. Sua matriz econômica não responde a objetivos vinculados ao
funcionamento dos sistemas locais existentes, perante um mundo de incertezas e de
constantes mudanças. Mas na ânsia de se legitimar, a “indústria do Turismo” promove
a ideia de que a economia está se desenvolvendo em muitos lugares (MOLINA, 2011;
HILLS e LUNDGREN, 1977).

Estas são algumas das consequências do Turismo industrial nos países em


desenvolvimento, um modelo importado de outra realidade que exila a comunidade de
se seu próprio espaço (mundo vivido), que questiona seus costumes e seus valores,
que aumenta a vulnerabilidade social, familiar e pessoal (MOLINA, 2011). Este Turismo
é resultado de uma política pública, que promove e incentiva seu desenvolvimento, ou
de uma política que deixa o capital hegemónico impor suas regras, o que é consistente
com um Estado subsidiário. Verificamos ser este o desenvolvimento do Turismo
amplamente estendido no Município de Inhambane.

Assim, entendemos que quando se fala de desenvolvimento e preciso atender,


além das iniciativas e injeções de recursos financeiros e propostas concretas de projetos
produtivos (PEARCE, 2003; MOLINA, 2011), um conjunto de dimensões sociais como
as questões relacionadas com a propriedade e direto de uso e aproveitamento de
terra, e o consequente despojamento da população, a participação dos moradores
locais nos processos de tomada de decisão, a defesa das culturas tradicionais e do
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patrimônio natural, e a integridade dos indivíduos e das famílias (KRIPPENDORF,


2000; MOLINA, 2011).

O autêntico desenvolvimento do Turismo aparece como um híbrido, que


se preocupa com os processos de mobilidade social, do emprego seguro, da
segurança social e acesso universal a uma ampla gama de infraestruturas e serviços.
Parafraseando os autores citados no paragrafo anterior, observamos que o Turismo
industrial não se compromete a resolver nenhum destes desafios, se bem que os ignora
na maioria dos casos, pela sua lógica de orientação, preocupada com a eficiência do
capital externo e competitividade global no espaço de fluxos.

Seguindo esta linha de argumentação e, tendo em conta o anteriormente exposto,


Molina (2011) desenvolveu um novo paradigma de desenvolvimento do Turismo, mais
autóctone à realidade dos ditos países em desenvolvimento, que reconhece e valoriza
na sequência as especificidades do entorno natural e cultural do lugar turístico. A essa
nova concepção, ele denominou de “Turismo criativo”. Trata-se de um modelo que
oferece observações criativas para aproveitar a variedade de capacidades humanas
e recursos naturais e culturais existentes em um determinado âmbito geográfico, no
qual figuramos o Município de Inhambane.

Assim, diante desta visão futurística, reconhecemos as desvantagens


potenciais que se prendem no Município de Inhambane, ao ver no Turismo uma força
mágica e alternativa para podem impulsionar seu desenvolvimento local. Inspirados
em Erbes (1973), dentro desse conjunto de inconvenientes que podem perigar a
mudança qualitativa do Turismo neste lugar, destacamos: (1) a exportação do capital
resultante do Turismo, devido à importação de investimentos; (2) embora gerador
de emprego, o Turismo emprega população não qualificada, pagando pouco em
salários; (3) a instabilidade ambiental que o Turismo causou durante a guerra civil; (4)
a estandardização de qualidade de alguns produtos e serviços que afeta o Turismo,
devido a fraca qualidade, com o aparecimento de turistas cada vez mais exigentes e;
(5) a concorrência internacional dos lugares turísticos.

No que se refere ao desenvolvimento local do Turismo, estes aspectos devem


ser considerados substancialmente, no entanto, especificamente, o Turismo criativo
atende para dois grandes desafios. O primeiro é de desestabilizar as categorias
do Turismo industrial, amplamente estendido e em processo de consolidação em
Inhambane e; o segundo consiste em questionar as representações unívocas da
vertente industrial que pretende erguer-se como “O Sr. Turismo”, como “O Modelo de
Desenvolvimento” (MOLINA, 2011).

Adicionalmente, seus desafios também consistem no aprofundamento de sua


própria linguagem e proposta de desenvolvimento mais endógeno, para que assim
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possa ampliar sua liderança e efetividade de suas intervenções de acordo com a


realidade no qual o modelo se instala (Ibidem). Portanto, entendemos ser o Turismo
criativo uma estratégia que busca o desenvolvimento econômico e social a partir da
inclusão dos atores do Turismo, enaltecendo o papel da comunidade local.

No pós-turismo, as propostas que se inscrevem no desenvolvimento local, se


relacionam fortemente com a participação local e com a valorização do patrimônio.
Segundo esta perspectiva, a ativa e comprometida participação da comunidade
local, como sustenta Bertoncello (2008), permite ativar seu próprio acervo patrimonial
e valorizá-lo através do Turismo, cujo crescimento, por sua vez, incentivaria o
desenvolvimento do lugar. Deste modo, se garante a preservação e difusão do
patrimônio, ao mesmo tempo em que se melhoram as condições de vida para as
populações do lugar, objeto do Turismo, tanto mediante sua participação nas atividades
econômicas que o Turismo incentiva (carácter transversal e efeito multiplicador do
Turismo), como através do reconhecimento de sua própria capacidade para criar
estas mudanças dadas ao reconhecimento de seu patrimônio.

5. CONSIDERAÇÕES (NÃO) FINAIS

O Turismo afigura-se como uma das principais oportunidades a médio e longo


prazos para o desenvolvimento local no Município de Inhambane, em decorrência da
conjugação de fatores de ordem natural e cultural (abundancia de potencialidades
turísticas); situação política e socioeconômica, como a paz e o clima favorável para o
investimento endógeno, respectivamente.

Em harmonia com os fundamentos de Erbes (1973) e HUMBOLDT-


UNIVERSITÄT ZU BERLIN (2002), este protagonismo deve-se as seguintes razões:
(1) historicamente o Turismo é um sector dinâmico e em crescimento no Município de
Inhambane; (2) os países desenvolvidos são os maiores emissores de turistas, dai
que Inhambane beneficia-se de ganhos da moeda forte; (3) o Turismo tende a ser uma
atividade local geradora de empregos diretos e indiretos; (4) o município enquadra-
se num espaço tropical, oferecendo condições naturais favoráveis para o Turismo:
clima, praias, paisagem, ambiente menos degradado, parques naturais, entre outros
elementos; (5) existe ainda a possibilidade de se desenvolver um Turismo assente
nas tradições e cultura locais, ainda inexploradas e; (6) o excesso de mão-de-obra
que possibilita a minimização dos custos nas empresas turísticas.

Entretanto, ao longo do artigo, constatamos que o modelo de desenvolvimento


do Turismo ora em vigor em Inhambane, não tem demostrado resultados satisfatórios;
em como esse Turismo poderia se comprometer com as questões da proteção do
patrimônio natural e cultural, e com a questão de alivio à pobreza (melhorias das
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condições gerais de vida das populações locais), devido a sua logica orientada ao
capitalismo global no espaço de fluxo.

Portanto, é nesta vertente que elegemos o Turismo criativo, como uma nova
síntese política, social e econômica, que se propõe a resolver as maiores carências
geradas pelo Turismo industrial no Município de Inhambane, na medida em que se
demonstra viável à realidade local, e se preocupa em responder questões-chaves
como as seguintes: (1) Como se poderá estruturar o desenvolvimento do Turismo
local para que as repercussões negativas possam ser minimizadas e as positivas
possam incluir a melhoria das estruturas comunitárias e locais? (2) Quem poderia ser
o produtor de tal desenvolvimento? E (3) que tipo de gestão seria necessária para
coordenar e orientar esse processo de forma integrada e sustentável?

6. REFERÊNCIAS
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Anexo: Figura 02 – Localização Regional do M. de Inhambane

Fonte: Nhantumbo (2007)


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TURISMO RURAL COMUNITÁRIO EM ITAQUERI DA SERRA (SP)

Renata Salgado Rayel1


Solange Terezinha de Lima Guimarães²

RESUMO
Este artigo propõe apresentar a experiência de desenvolvimento do turismo rural
comunitário realizado em Itaqueri da Serra, munícipio de Itirapina (SP). Um segmento
turístico que está se consolidando no local, por meio da metodologia participativa
que se fundamenta em ações de diálogo com a comunidade, ao utilizar técnicas de
pesquisa participante e pesquisa-ação aliadas ao método fenomenológico. Como
resultado identificou-se que, os empreendedores turísticos e os produtores artesanais
têm se apropriado de suas habilidades para implementarem no turismo, atividades
coletivas de economia criativa, em busca do desenvolvimento territorial sustentável e
da proteção patrimonial dos ativos tangíveis e intangíveis.

Palavras-chave: Turismo Comunitário. Metodologia Participativa. Inclusão Social.

RESUMEN
Este artículo se propone presenta la experiencia de desarrollo del turismo rural
comunitario realizado en Itaqueri da Serra, municipio de Itirapina (SP). Un segmento
turístico se está consolidando en el sitio, a través de una metodología participativa
que se basa en las acciones en diálogo con la comunidad, utilizando las técnicas
de investigación de investigación y acción participativa combinada con el método
fenomenológico. Como resultado fui identificado que, los empresarios turísticos y los
productores artesanales se han apropiado de habilidades para poner en el turismo
las actividades colectiva de economía creativa, em busca del desarrollo territorial
sostenible y de la protección patrimonial de los activos tangibles e intangibles.

Palabras-clave: Turismo comunitario. Metodología Participativa. Inclusión Social.

1. INTRODUÇÃO
A multifuncionalidade das paisagens rurais tem dinamizado as diferentes
atividades coexistentes e complementares em uma mesma área, incluindo o turismo
como segmento econômico que busca integrar os sistemas naturais e produtivos.
Nesse sentido, as práticas recreativas no meio rural vêm ganhando espaço e garantia
de lazer, por meio de ações inovadoras que buscam na economia criativa despertar o
interesse para novos negócios de empreendedorismo turístico.
Sob a ótica das múltiplas funções das paisagens, fundamentada em Jean
(2002), os territórios rurais podem caracterizar-se pela função ambiental/territorial
1 Mestranda em Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho” (UNESP).
Professora Especialista do SENAC São Carlos. E-mail: rerayel@gmail.com
² Professora Doutora e Livre Docente da Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho” (UNESP).
Rio Claro. E-mail: hadra@uol.com.br
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representada pela ocupação e gerenciamento de espaços, conservação de recursos


naturais e paisagens; função de produção em que o proprietário rural produz produtos
de qualidade e origem conhecida pelos consumidores; e função social/econômica
voltada para novas ofertas de trabalho e melhor nível de renda, a partir da criação
de serviços coletivos culturais que aproveitam os elementos rurais. Essas funções
conferem ao território rural uma pluralidade em sua dinâmica socioeconômica e política,
por possibilitar novos dimensionamentos da ruralidade que se ampliam no sentido do
investimento na atividade turística, sob uma perspectiva do desenvolvimento territorial
sistêmico, solidário e sustentável, ao promover maior convivência entre visitante e
residente.
Nota-se que em meio ao fenômeno de evolução do turismo no espaço rural, há
características semelhantes vivenciadas em áreas urbanas, como a mercantilização
de produtos, serviços e áreas naturais, que no passado sem a intenção econômica
faziam parte, somente da vida do habitante e trabalhador rural. Cristovão (2002, p.84)
destaca que “as ideias construídas sobre o quotidiano no campo, o contacto com a
natureza e as culturas tradicionais, traduzem-se numa revalorização social do rural e
do local e induzem uma busca do singular, do específico, do autêntico”. A afirmação
anterior colabora para análise de renovação da organização do espaço rural, com
a ampliação da dimensão agropecuária para as dimensões culturais, propiciando
um diferencial das novas relações socioeconômicas, ao implementar o turismo
como força motriz para muitas pequenas e médias propriedades rurais, levando a
uma reconstrução de suas estruturas paisagísticas e formas de valoração objetiva e
subjetiva.
Os distintos espaços rurais no Brasil passaram por significativas transformações,
principalmente, a partir da década de 1980. Nesta época surgiu o termo “novo
rural”, em que muitos camponeses passaram a não depender exclusivamente das
atividades agropastoris para subsistência. Para Graziano da Silva e Del Grossi (1999)
a perspectiva do “novo rural” está reconfigurada no desenvolvimento de práticas não
agrícolas ligadas à produção de produtos que complementem a prestação de serviços
e são comercializadas pelo turismo, ao utilizar o simbolismo dos modos de vida e
costumes tradicionais para a promoção dessa atividade econômica.
O “novo rural” de acordo com Fogaça (2009, p.179) ocorreu pela “mercantilização
das atividades agrícolas que antes eram realizadas em seu tempo livre ou para
autoconsumo”. Isso significa, que muitas atividades do cotidiano rural ou afazeres
domésticos, como tecer um tapete, fabricar um cesto de palha, doces ou queijos,
acabaram fazendo parte do cenário socioeconômico de propriedades rurais que
agregam esses ativos como mercadorias para o mercado turístico. Assim, o Turismo
insere-se neste contexto, como necessidade de inovação no meio rural e de forma
criativa de empreender em áreas rurais, a partir da multifuncionalidade dos espaços
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rurais ampliada na pluriatividade cotidiana.


Segundo Reis (2008) a criatividade, a singularidade e o simbolismo –
considerados pilares da economia criativa – servem como estratégias de
desenvolvimento territorial que podem ser aplicados ao turismo. Isso ocorre ao propor
um novo contexto de economia formada pela “convergência de tecnologias, a
globalização e a insatisfação com o atual quadro socioeconômico mundial atribui à
criatividade o papel de motivar e embasar novos modelos de negócios, processos
organizacionais e uma arquitetura institucional que galvaniza setores e agentes
econômicos e sociais”. (REIS, 2008, p.23).
Conforme definida pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e
o Desenvolvimento (UNCTAD) as comunidades criativas funcionam “como os ciclos
de criação, produção, distribuição de bens e serviços que usam a criatividade e o
capital intelectual como principais insumos”. Segundo o Relatório de Economia
Criativa, referem-se ao conjunto de ações baseadas “no conhecimento que produzem
bens tangíveis e intangíveis, intelectuais e artísticos, com conteúdo criativo e valor
econômico”. (UNCTAD, 2010).
As criações culturais coletivas ocorridas no campo e fomentadas pelo turismo se
apresentam como fundamento social da base comunitária, ou seja, por meio da união,
envolvimento e participação popular são definas as diretrizes para o desenvolvimento
territorial sustentável. Desta forma, a inclusão social vem como elemento primordial à
definição de turismo comunitário. Para o aprofundamento do tema em pauta, requer
melhor entendimento conceitual na visão de acadêmicos e instituições. A ONG World
Wild Found (WWF-International) conceituou em 2001, o significado de turismo de
base comunitária como:

[ ] a form of ecotourism where the local community has substantial control


over, and involvement in, its development and management, and a major
proportion of the benefits remain with in the community (WWF-International
2001, p. 2).

Nessa linha de compreensão, porém em maior amplitude, a Federação


Plurinacional de Turismo de Base Comunitária (FEPTCE), do Equador, utiliza o
conceito abaixo para embasar este segmento:

El turismo comunitario es una actividad económica solidaria que relaciona


a la comunidad con los visitantes, desde una perspectiva intercultural, con
participación consensuada de sus miembros, propendiendo al manejo
adecuado de los recursos naturales y a valoración del patrimonio cultural,
basados en un principio de equidad en la distribución de los beneficios
generados (FEPTCE, 2008).

O Ministério do Turismo – Mtur – reconheceu oficialmente o turismo de base


comunitária, no Basil, no ano de 2008, apoiando-o com recursos de fomento sob a
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seguinte definição:

[ ] um modelo de desenvolvimento turístico, orientado pelos princípios


da economia solidária, associativismo, valorização da cultura local, e,
principalmente, protagonizado pelas comunidades locais, visando à
apropriação por parte dessas dos benefícios advindos da atividade turística
(MTur, 2008).

Os acadêmicos também colaboram com sua visão conceitual sobre o turismo


comunitário. Coriolano (2003a, p.41) elucida que:

O turismo comunitário é aquele desenvolvido pelos próprios moradores de


um lugar que passam a ser articuladores e construtores da cadeia produtiva,
onde a renda e o lucro ficam na comunidade e contribuem para melhorar a
qualidade de vida; levar todos a se sentirem capazes de contribuir, e organizar
as estratégias do desenvolvimento do turismo. [...] além de levar em conta a
cultura local, a valorização do patrimônio cultural, os desejos e necessidades
das pessoas da comunidade.

Para ela as comunidades receptoras devem adotar estratégias de


desenvolvimento do turismo de forma associativa, por meio do turismo participativo
aonde todos podem contribuir e se beneficiar com essa atividade, como também
investir na organização de empreendimentos cooperativos para prestação de serviços
turísticos. (CORIOLANO, 2003b). Agora, para Maldonado (2009, p. 31) o turismo
comunitário é entendido como sendo:

[ ] toda forma de oganização empresarial sustentada na propriedade e na


autogestão sustentável dos recursos patrimoniais comunitários, de acordo
com as práticas de cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos
benefícios gerados pela prestação dos serviços turísticos. A característica
distinta do turismo comunitário é sua dimensão humana e cultural, vale dizer
antropológica, com objetivo de incentivar o diálogo entre iguais e encontros
interculturais de qualidade com nossos visitantes, na perspectiva de conhecer
e aprender com seus respectivos modos de vida.

Essas definições e outras que direcionam o desenvolvimento dessa atividade


apresentam analogias e complementaridades quanto às questões de mobilização da
comunidade, valoração e conservação dos ativos culturais e naturais, forma de gestão
associativista e participativa dos bens e seviços turísticos, busca pela igualdade na
partilha dos benefícios gerados por essa atividade econômica.
O turismo de base comunitária implementado nos espaços rurais é
denominado Turismo Rural Comunitário (TRC). Na América Latina, essa atividade
vem acontecendo desde os anos de 1980. Como afirma Maldonado (2009), isso ocorre
devido às pressões do mercado turístico e do interesse em fomentar a economia
de pequenas comunidades. Esse segmento turístico corresponde a um nicho do
mercado especializado e direcionado a grupos pequenos de visitantes, que procuram
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por autênticas experiências, podendo enriquecer-se culturalmente. O Turismo Rural


Comunitário, ao contrário do turismo convencional ou de massa, que são caracterizados
como impessoais, obedecendo “a uma lógica econômica de um retorno imediato e
máximo dos investimentos”, tem maior expectativa no ciclo de vida da destinação
turística por ser gerido pela comunidade dentro dos princípios de sustentabilidade.
(MALDONADO, 2009, p.26).
Entretanto, estrutura-se e consolida-se o Turismo Rural Comunitário, segmento
embasado no desenvolvimento turístico de base local que procura valorizar os próprios
ativos naturais e socioculturais, através da singular vivência tradicional. Pode-se
afirmar que a economia criativa vem ao encontro dessa tipologia de turismo, uma
vez que atende às necessidades do reconhecimento das multifunções da paisagem
rural, por meio da capacidade criativa de atividades coletivas oriundas das próprias
comunidades.
Nesse sentido, objetivou-se implantar um projeto de desenvolvimento de
Turismo Rural Comunitário em Itaqueri da Serra, distrito de Itirapina, município da
região central do estado de São Paulo (SP). Este distrito é considerado como um
lugar de relevância histórico-cultural regional, possuindo significativas características
paisagísticas pertinentes ao patrimônio arquitetônico do século XIX, época do apogeu
da cafeicultura, representado pelo casario histórico, a Igreja Nossa Senhora da
Conceição de estilo português e o cemitério com representações de arte bizantina
que apresentam lendas e histórias curiosas. A gastronomia é outro recurso a ser
conhecido, explorado e experimentado como maneira de entender o modo de vida
dos moradores, como o famoso doce virado de banana, feito pelas antigas famílias
desse distrito, reminiscência da alimentação dos grupos de tropeiros na região.
Esse artigo objetiva apresentar algumas das ações de desenvolvimento
do turismo comunitário em Itaqueri da Serra (SP), por meio do associativismo
de empreendimentos coletivos direcionados à economia criativa e solidária. A
implantação de práticas de turismo de base comunitária e o estudo contínuo dessa
pesquisa justificam-se por; promover um turismo inclusivo de forma inovadora focado
na criatividade e capacidade intelectual dos envolvidos, por agregar valor intangível
aos produtos e serviços oferecidos aos visitantes, fundamentados na diversidade e
identidade cultural dessa comunidade.

2. TERRITÓRIO CRIATIVO: ITAQUERI DA SERRA (SP)

O distrito de Itaqueri da Serra pertencente à área rural do município de Itirapina


(SP) está localizado a 227 km da capital, São Paulo. Está no topo da Serra do Itaqueri
que é formada por cuestas basálticas de até 1000m de altitude e inserido na Área de
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Proteção Ambiental – APA Corumbataí. De acordo com Corvalán e Garcia (2011) a “APA
Corumbataí está localizada no centro-leste do Estado de São Paulo, compreendida
entre os paralelos 22º00’ e 22º40’ de latitude Sul e 47º30’ e 48º30’ de longitude Oeste,
ocupando 272.692 há”. Nessa unidade de conservação inclui terras dos municípios de
Itirapina, tendo Itaqueri da Serra como área de estudo, pertencente à Região Turística
Serra do Itaqueri, do Programa de Regionalização do Turismo, criado em 2004, pelo
Ministério do Turismo. (BRASIL, 2013).
A história de formação de Itaqueri da Serra está relacionada à época do Brasil
Império. Segundo Verlengia (1987), as primeiras moradias surgiram em 1777, quando
esse lugar servia de parada aos bandeirantes que percorriam o “Picadão de Cuiabá”,
sentido sertões do Mato Grosso e Goiás, em busca de ouro e diamantes. O início do
povoamento em Itaqueri da Serra ocorreu por volta de 1833, com a chegada de novos
moradores portugueses, e recebeu o nome de “Nossa Senhora da Conceição” em
homenagem a santa padroeira que fora trazida da Ilha da Madeira para Itaqueri da
Serra.
Itaqueri foi considerado um dos mais importantes núcleos urbanos da região.
Havia escola, posto médico, posto policial, cadeia, cartório, cinema, farmácia, armazém,
um privilégio para poucos povoados da época. Era animado por sua população local e
por habitantes que vinham de fazendas próximas para comprar secos e molhados. Pela
dificuldade de escoar a produção cafeeira muitos moradores de Itaqueri se mudaram
para o Itaqueri de Baixo, e formaram uma vila que permaneceu viva até a chegada da
linha férrea próximo ao Morro Pelado, atual Itirapina. (GUARIENTO, 2008).

FOTO 1 – FIGUEIRA: LANDMARK DE ITAQUERI DA SERRA

Atualmente, tem-se a impressão que Itaqueri da Serra “parou no tempo”, dada


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pelas ambiências bulcólicas, transmitindo paz, tranquilidade, entre outros atributos


conferidos, e históricas, onde se destacam como marca (landmark) de seus cenários
paisagísticos, fundamentalmente de nuances rurais, como a antiga e frondosa figueira
(FOTO 1). As características ambientais da paisagem rural de Itaqueri da Serra
apresentam expressiva potencialidade cultural, capazes de gerar bens com valores
simbólicos e valorativos.
Entretanto, esse distrito já atrai um pequeno fluxo de visitantes, interessados em
conhecer as peculiaridades do local, mesmo não possuindo nenhum tipo de estrutura
turística, serviços de hospedagem, alimentação e informação turística. Para dar apoio
ao desenvolvimento do turismo foi criado um sistema de hospitalidade comunitária
baseado na coletividade, criatividade e participação ativa do capital humano, por
meio do trabalho associativo de empreendimentos turísticos que elaboram roteiros
de conhecimento e eventos, possibilitando assim uma reconfiguração da paisagem
enquanto espaço vivido. (FREMONT, 1980; GUIMARÃES, 2006).
Nesta perspectiva, compreende-se também que a paisagem desse distrito é
marcada pela multifuncionalidade de seus territórios rurais, podendo relacionar-se
à economia criativa por envolver o setor turístico como aliado ao desenvolvimento
territorial sustentável. Uma região, cidade, distrito ou bairro pode ser considerado
território criativo capaz de apresentar sua potencialidade única para a promoção e
salvaguarda dos seus valores culturais e ambientais, gerando melhoria de vida aos
moradores. (BRASIL, 2010).
Itaqueri da Serra pode tornar-se exemplo de território criativo ao afirmar uma
conjuntura de ações culturais inovadoras para o lugar, imaginadas nos seus saberes
e transformadas pelos fazeres comunitário, no uso ilimitado da responsabilidade,
coletividade e solidariedade dos seus moradores e empreendedores. Sem dúvida,
há a necessidade de efetivação não somente de políticas públicas específicas, como
também das novas atividades realizadas, pelos diferentes segmentos envolvidos de
modo direto e indireto, a exemplo dos empreendimentos turísticos itirapinenses e
oferecidas, por intermédio do turismo de base comunitária.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

As atividades e pesquisas desenvolvidas neste trabalho são baseadas


na metodologia dialógica e participativa, com a utilização das técnicas: pesquisa
participante e pesquisa-ação aliadas ao método fenomenológico, nas quais incluem
e valorizam a voz da comunidade investigada, como protagonista no processo de
planejamento e gestão turística. As ações de turismo comunitário ocorridas em
Itaqueri da Serra, advém de iniciativas implementadas em Itirapina (SP), através
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de um sistema de práticas coletivas entre a Prefeitura Municipal de Itirapina, Rede


Social Itirapina e Serviço Nacional do Comércio (SENAC) Unidade São Carlos, com
a atuação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)
Regional São Carlos, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), Consulado
da Mulher Rio Claro, Economia Solidária São Carlos/Rio Claro e Conselho Municipal
de Turismo de Itirapina (COMTUR). Associam-se ainda as atividades de seminários
e workshops visando o desenvolvimento de fundamentos teórico-metodológicos,
do Grupo de Pesquisa CNPq sobre “Percepção, Interpretação e Valoração de
Paisagens”, desenvolvidas pelo Laboratório de Interpretação e Valoração Ambiental,
do Departamento de Geografia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de
Rio Claro.
Para esse trabalho utilizou-se da vivência técnica e científica dos cursos
e assessoria oferecidos pelas instituições envolvidas aos moradores de Itirapina e
Itaqueri da Serra, como pesquisa-ação dos pesquisadores e técnicos, premissa ao
desenvolvimento de ações empreendedoras. Essas ações foram iniciadas com o
advento da Rede Social Itirapina, em 2007, e assessoria do SENAC São Paulo e São
Carlos, que articularam por meio da governança local, diversos setores do município
de Itirapina que pudessem dialogar, planejar e executar projetos para contribuir ao
desenvolvimento social deste município.
O papel dessas entidades continua sendo pautado na formação de profissionais
qualificados por meio da oferta de cursos de capacitação específicas e essenciais
para a criação e consolidação de empreendimentos, como: “Via Artesanal”, “Pães da
Colônia” e “Itiratur”. O uso da metodologia participativa evidenciou o empreendedorismo
como viés empresarial desses pequenos empreendimentos, para a mudança social e
de suas funções individuais no contexto do turismo comunitário.
O programa de turismo de base comunitária em Itirapina – Itaqueri da Serra
busca transformar os espaços urbano e rural desse município, em espaços turísticos.
Para isso foram oferecidos pelo SENAC e SEBRAE São Carlos cursos de capacitação
em: Artesanato Saco V, Doceira, Salgadeira, Panificação, Empreendedor em
Pequenos Negócios, Agente de Desenvolvimento Local, Agente de Turismo Receptivo,
Aprender a Empreender com intuito de qualificar os participantes a iniciarem seus
empreendimentos de maneira qualificada, e assim gerarem renda.
Essas atividades ocorrem de modo integrativo em Itirapina, tendo as mulheres
como sujeitos importantes e representantes da mudança social, mostrando novos
caminhos para o desenvolvimento socioeconômico mediante ao seu papel dinâmico
exercido na comunidade e na sua família. Quanto aos cenários futuros relacionados
a essas atividades, existem positivas projeções para a inserção de mais mulheres
nesses e em novos empreendimentos, visando não somente a obtenção de renda,
mas a elevação da autoestima, sentimento de pertencimento, valorização dos saberes
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regionais, das tradições, e das práticas sustentáveis.

4. EMPREENDEDORISMO TURÍSTICO EM ITAQUERI DA SERRA (SP)

No Brasil, o empreendedorismo tem atingido ambos gêneros, pois a função


das mulheres no mercado de trabalho vem passando por modificações, mediante a
evolução temporal, permitindo alterações culturais e a modernização do pensamento e
ações dos setores sociais. Novos paradigmas têm surgido para a igualdade dos sexos
em todas as áreas, baseados na dignidade da diversidade, ética e outros valores.
(SEIXAS, 1998).
O papel do gênero feminino na organização familiar e profissional tem se
ampliado, mas ainda há resistência em relação à algumas funções e aos salários,
um pouco inferior aos dos homens. Elas estão mais engajadas intelectualmente e
atuando de forma profissional no mercado de trabalho, no entanto, entre os ofícios
mais aceitos para execução feminina, são aqueles voltados às atividades de origem
domésticas, tais como os trabalhos artesanais, gastronômicos e de hospedagem.
Neste contexto, Amaro (2007) destaca que mesmo com abertura do mercado
turístico para as mulheres, mais especificamente, no âmbito da hospitalidade, há
um estenso caminho a percorrer no cumprimento do Terceiro Objetivo do Milênio –
promoção da igualdade entre os sexos e da autonomia das mulheres e do tema da
Organização Mundial do Turismo – OMT, para o Dia Mundial do Turismo, ocorrido
em 2007 - O turismo abre portas para as mulheres. Ao qual requer maior incentivo
para a qualificação, melhores oportunidades de cargos de chefia e maiores salários.
Contudo, nota-se que muitas mulheres estão empreendendo na cadeia produtiva do
turismo, a partir do trabalho autônomo e cooperativo.
Com base na sustentação voltada para a participação ativa das mulheres no
mercado de trabalho do turismo, vale ressaltar que no ano de 2008, na cidade de
Itirapina, um grupo de artesãs articulou-se para retomar a produção do artesanato
“Saco V” criado na época do funcionamento da ferrovia na cidade. Dos cursos
de capacitação em artes e artesanato mencionados anteriormente, formou-se o
empreendimento denominado “Via Artesanal”, premiado em 2009, como 19º melhor
projeto do “Programa Empreender para Desenvolver”, realizado pelo SENAC-São
Paulo, o qual recebeu incentivo financeiro para a continuidade dos trabalhos artesanais.
As mulheres também predominam na gastronomia de Itirapina com a produção
e venda de doces, salgados e pães, a exemplo do empreendimento “Pães da Colônia”
ou “Pão da Rosa”, como é popularmente conhecido em referência ao nome de sua
principal empreendedora. Esse empreendimento iniciou-se com um grupo de quatros
mulheres que se uniram, depois de um curso de Panificação, para produzir e vender
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pães artesanais na cidade.


Em 2009, o “Pães da Colônia”, foi premiado em 13º lugar como o melhor
projeto do “Programa Empreender para Desenvolver”, realizado pela unidade do
SENAC São Paulo, e o Consulado da Mulher realizou a doação de equipamentos
como geladeira, freezer, masseira e fogão para esse empreendimento se desenvolver
com mais autonomia. Atualmente, o empreendimento “Pães da Colônia” ou “Pão da
Rosa” tornou-se importante na comercialização de sete tipos de pães artesanais. Esse
empreendimento participa de feiras de artesanato com espaço para a gastronomia,
como é o caso de Itaqueri da Serra, além de ter um ponto de venda na cidade de
Itirapina.
Os cursos de Doceira e Salgadeira oferecidos pela unidade do SENAC São
Carlos aos moradores de Itirapina, possibilitaram desenvolver habilidades e técnicas
para a implementação de novas oportunidades no setor de gastronomia. Esses
empreendedores uniram-se ao “Via Artesanal” para a elaboração e comercialização
dos produtos, representando uma maneira de inclusão socioeconômica com grande
poder transformador, que vai desde a elevação da autoestima, apropriação dos
recursos locais à melhoria da qualidade de vida, por reduzir níveis de desigualdade
social, pobreza familiar, proporcionando bases sustentáveis que contribuem com a
geração de maior renda.
Para fortalecer a formação dos grupos de trabalho foi oferecido o curso
Empreendedor em Pequenos Negócios (SENAC) e Aprender a Empreender (SEBRAE),
na qual participaram os membros do “Itiratur”, “Via Artesanal” e “Pães da Colônia”,
entre outros participantes. Os empreendedores desses grupos de trabalho participam
de práticas turísticas no distrito de Itaqueri da Serra, com objetivo de comercializar
seus produtos artesanais – doces, queijos, embutidos e pães, artesanatos em geral
–, conscientes de que estes apresentam potencial turístico, devendo ser explorados e
reconhecidos, devido a um conjunto de atrativos, que amálgama os aspectos naturais,
culturais, sociais.
Na gastronomia de Itaqueri da Serra o destaque é para o doce “Virado de
Banana”, tradicional em tempos passados onde era feito para ser apreciado pelas
famílias do distrito. Em 04 de outubro de 2012, ocorreu o I Concurso Gastronômico de
Itirapina denominado “Prato Símbolo de Itirapina”, uma parceria do Conselho Municipal
de Turismo de Itirapina e da Rede Social, que escolheu entre os 10 finalistas, esta
receita culinária por representar significados como afetividade familiar, hospitalidade,
relevância histórica e cultural ao utilizar ingredientes locais.
Em 2010, aconteceu o primeiro curso de Agente de Turismo Receptivo, pelo
SENAC São Carlos, aos moradores de Itirapina, e dentre os alunos formados criaram
o grupo “Itirapina Turismo Receptivo” (ITIRATUR). Hoje, de forma legalizada eles
atuam como agentes de turismo receptivo na condução de visitantes em roteiros
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turísticos. Em 2012, foi oferecido o segundo curso Agente de Turismo Receptivo


II, com a intenção de continuar o processo de capacitação e fomento do turismo
no município de Itirapina. Neste curso, realizou-se o Inventário da Oferta Turística
(INVTUR) do município de Itirapina, sob orientação e metodologia do Ministério do
Turismo (MTur), com objetivo de levantar, identificar, conhecer e registrar os atrativos,
serviços e equipamentos turísticos, além da infraestrutura física, de acesso e apoio
ao turismo. Os dados desse documento foram registrados no sistema de cadastro de
pessoas físicas e jurídicas que atuam na cadeia produtiva do turismo, denominado
CADASTUR–MTur, e servem como banco de informações para fins de planejamento,
gestão e promoção da atividade. (BRASIL, 2006).
Após a conclusão do INVTUR, os alunos do curso Agente de Turismo Receptivo
II continuaram suas ações de roteirização turística, por meio de encontros explicativos
com os moradores de Itaqueri da Serra. Para melhor conhecer a realidade do distrito de
Itaqueri da Serra, esses alunos organizaram o Encontro “Dedim de Prosa”, realizado no
dia 14 de março de 2012, na Igreja Nossa Senhora da Conceição. Este evento propôs
sensibilizar os habitantes do lugar, quanto à possibilidade de inovação econômica a
partir de ações criativas propiciadas por estas atividades, seus benefícios de inclusão
e participação, na criação de roteiros turísticos que agregam a cadeia produtiva do
turismo. Nota-se que os residentes estão dispostos a ajudar com seus conhecimentos
e com a produção caseira de bolos, doces, salgados, queijos, manteiga e artesanatos,
para comercializarem no antigo Armazém Feltrin (FOTO 2), com intuito de fortalecer a
identidade da cultura local fomentando a valorização humana.

FOTO 2 - ARMAZÉM FELTRIN EM ITAQUERI DA SERRA

Fonte: Nomadi Turismo, 2013.


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Com interesse em organizar os arranjos produtivos locais para a comercialização,


os alunos dos dois cursos de Agente de Turismo Receptivo criaram e desenvolveram
um roteiro turístico rural para Itaqueri da Serra. Este roteiro denominado como
“Gastronomia da Serra” (FOTO 3), foi formatado pelo Itiratur em parceria com a
agência de turismo regional “Nomadi Turismo”, com sede em São Carlos, que trabalha
com roteiros de conhecimento e experiência, ao priorizar os elementos ambientais,
culturais, gastronômicos e sensoriais em uma vivência mais autêntica da comunidade
receptora.
O turismo de base comunitária surge para incrementar a oferta turística de uma
comunidade, ao diferenciar-se dos produtos turísticos convencionais, propondo novas
experiências e conhecimentos na bagagem da viagem. Os turistas ávidos por outras
vivências e sensações, buscam maior convivência com os habitantes em lugares com
menor nível de alteração ambiental, aliando à valorização real – do tradicional – ao
natural. Observa-se que em Itaqueri da Serra, esse segmento turístico está surgindo ao
motivar o resgate do modo de vida simples, fomentando as relações sociais marcadas
pelas diversidades culturais.

FOTO 3 – CONDUÇÃO DE VISITANTES EM ITAQUERI DA SERRA

Fonte: Nomadi Turismo, 2013.

FOTO 4 – FEIRA DE ARTESANATO NO CENTRO DE ITAQUERI DA SERRA


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Fonte: Nomadi Turismo, 2013.

A implantação de práticas turísticas comunitárias no distrito de Itaqueri da


Serra, com foco no desenvolvimento territorial sustentável e solidário, por se tratar de
um trabalho cooperativo, acontece mediante a fruição da governança da Rede Social
Itirapina e do Conselho Municipal de Turismo (COMTUR). Essas, por sua vez, dialogam
sobre os rumos do turismo no município no contexto da regionalização, definindo as
diretrizes de gestão ambiental e turística. O diálogo entre os diferentes setores aborda
assuntos de interesse comum, advindos da própria demanda da comunidade que
deseja melhorar a qualidade de vida de todos.
No ano de 2010, a comunidade elaborou o Plano de Desenvolvimento Local
para o município de Itirapina, com objetivo de ordenar as propostas de ações e projetos
discutidos e acordados pela comunidade. Dentre esses projetos, destacam-se os de
ecoturismo, turismo cultural e rural visando principalmente a região de Itaqueri da
Serra, o empreendedorismo turístico ligados à economia solidária. Nesse sentido,
atualmente acontece a elaboração do Plano Municipal de Turismo, priorizando a
regionalização dessa atividade na Região Turística Serra do Itaqueri. Essas propostas
estão em andamento sempre aliadas à possibilidade de criar políticas públicas que
consolidem o desenvolvimento do turismo regional aliada à base comunitária.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os territórios criativos constroem-se por meio de inovadoras práticas


socioculturais, pautadas no associativismo e cooperativismo, as quais produzem
novos arranjos produtivos de base comunitária que reafirmam e valorizam a própria
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identidade cultural, a originalidade e a prevalência dos aspectos imateriais. Destacam-


se nesse processo colaborativo que visa atender um modelo de turismo fundamentado
na sustentabilidade, valores condizentes à ética e ao conhecimento, considerados
essenciais para a permanência das ideias e propostas estabelecidas de modo dialógico
pela comunidade.
Ao refletir sobre o desenvolvimento do Turismo Rural Comunitário em
Itaqueri da Serra, torna-se preciso analisar as várias faces que implicam na gestão
desse segmento, priorizando a participação coletiva e a atuação de parcerias. As
infraestruturas existentes nesse distrito ainda são precárias e incipientes, porém não
é intuito realizar obras que descaracterizem ou ‘decorem’ o lugar, sem quaisquer
critérios paisagísticos. Algumas casas desse distrito foram e estão sendo reformadas,
buscando atender a valoração cultural, social, ambiental e espacial para manter suas
características arquitetônicas, que favorecem a proteção do patrimônio histórico-
cultural e recuperam o benefício estético dos cenários paisagísticos locais.
Vale ressaltar que Itaqueri da Serra é um território que esconde o seu passado
áureo – para conhecê-lo basta adentrar em sua paisagem e seu espaço vivido –,
procurando conviver com outras realidades espaciotemporais, outro ritmo de vida
determinado pela autenticidade do patrimônio cultural itaquerense. Esse, por sua vez,
é conservado em sua representatividade social, apresentando-se como um conjunto
de elementos socioambientais responsáveis pela construção de suas territorialidades.
As tradições culturais desse distrito ao fluírem harmoniosamente com os avanços
capitalistas expressos pelo turismo revelam a significância endógena a serem
conhecidas, reconhecidas e protegidas por essa atividade socioeconômica.
A conservação do patrimônio cultural e o resgate de antigos costumes possibilitam
a criação de novas oportunidades de trabalho, principalmente para as donas de casa
e sitiantes de Itaqueri da Serra, que por intermédio dos empreendimentos turísticos
podem apresentar a história do seu espaço vivido entrelaçadas às suas próprias
histórias de vida, vender seus produtos orgânicos, de artes e artesanatos.
As capacitações técnica, gerencial e de autogestão de empreendimentos
sociais, bem como da atividade turística, fazem parte do processo de fomento ao
turismo comunitário de Itirapina e Itaqueri da Serra, com a intenção da população
local preparada para geri-la e regulá-la, a partir dos critérios de controle da oferta de
bens e serviços para uma demanda de baixo impacto. E assim, manter uma relação
dialógica entre os visitantes e os visitados desse distrito, na compreensão dos valores
pertinentes às relações de alteridades distintas.
No entanto, torna-se relevante aos envolvidos nas práticas de turismo
comunitário, adotarem a gestão turística participativa, com intuito de promover, de
maneira equitativa e solidária, a inclusão social a partir da formação de estruturas
mais sólidas da própria atividade, priorizando oferecer a qualificação contínua aos
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empreendedores para fortalecer a cadeia socioprodutiva e os canais de distribuição


local e regional.

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ANÁLISE DO ROTEIRO TURÍSTICO DE BASE COMUNITÁRIA DO PROJETO


BOAS PRÁTICAS NA SERRA DO BRIGADEIRO – MG - BRASIL1

Werter Valentim de Moraes1


Magnus Luiz Emmendoerfer2

RESUMO: Um dos grandes desafios das comunidades anfitriãs do turismo de base


comunitária - TBC é se prepararem para receber os turistas. A rotina de vida nas
comunidades turísticas é o grande diferencial de atratividade existente, neste sentido,
formatar uma programação turística mantendo a originalidade das atividades passa a
ser uma das dificuldades de gestão. No Projeto Boas Práticas no Território da Serra do
Brigadeiro, foi elaborado um roteiro envolvendo o núcleo de turismo de base comunitária
do Boné. Assim, o objetivo deste trabalho foi sistematizar as ações operacionalizadas
para a formatação de roteiros deste segmento turístico que o referido projeto utilizou.
Para tanto, utilizou o método da pesquisa-ação, fazendo uso de observações e
questionários. Este acompanhamento sistemático permitiu uma análise da estratégia
utilizada para que seja multiplicada em outros núcleos do turismo de base comunitária.
As estratégias foram baseadas no Programa Roteiros do Brasil e nos princípios do
Projeto Bagagem. Neste roteiro os turistas avaliaram a alimentação, o transporte,
a hospedagem e os guias. Para os turistas foi uma experiência enriquecedora com
interação na comunidade. No entanto, requisitos como distância do local e o período
curto para todas as vivências foram questionadas. Os anfitriões gestores do roteiro
avaliaram as vivências na pousada, no restaurante, na trilha, na cachoeira, no passeio
de trator e os turistas. Os gestores se sentiram a vontade para se relacionarem em
seus ambientes, demonstrando integrados ao ambiente a que pertencem. Pode-se
concluir que as atividades a serem programadas nas experiências deste segmento
turístico deve envolver a rotina diária dos anfitriões, para que a identidade do território
possa ser autêntica e original permitindo aos turistas se integrarem ao ambiente local.
PALAVRAS-CHAVES: Turismo. Atrativos. Economia de experiências. Gestão turística.
Territórios turísticos.

ABSTRACT: One of the great challenges of the communities that host community-
based tourism - CBT is to be ready to welcome tourists. The routine of life in tourist
communities is the great advantage of existing attractiveness, in this sense, format
a tourist program keeping the originality of activities becomes one of management
difficulties. In the Project “Good Practice in the Serra do Brigadeiro” was prepared an
itinerary that involved the Nucleo do Boné community-based tourism. In this sense the
objective of this study was to systematize the actions operationalized for formatting
itineraries this tourist segment that said project used. For this, the action research
method was used, with questionnaires and observations. This allowed a systematic
follow-up to be multiplied in other centers of community-based tourism. The strategies
were based on the Routes of Brazil Program and the principles of Bagagem Project. In
this itinerary tourists reviewed the food, transportation, lodging and guides. For tourists
was an enriching experience with interactions in the community. However, requirements
1 Doutor em Ciência Florestal. Universidade Federal de Viçosa. wvmoraes@hotmail.com
2 Doutor em Sociologia e Política. Universidade Federal de Viçosa. magnus@ufv.br
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such as distance from the site and the short period for all experiences were criticized.
Managers hosts of the itinerary evaluated the experiences at the inn, the restaurant,
the trail, the waterfall, the tractor ride and tourists. Managers felt the desire to relate to
their environments, demonstrating integrated environment to which they belong. Lastly
that the activities to be scheduled on the experiences of this tourist segment should
involve the daily routine of hosts for that the identity of the territory can be authentic
and original allowing tourists to integrate into the local environment.
KEYWORDS: Tourism. Attractive. Experience economy. Tourism management.
Touristic territories.

INTRODUÇÃO

O turismo trabalhado na agricultura familiar pode complementar a renda


através da comercialização de produtos e serviços diretamente ao visitante dentro da
propriedade rural. Diante desse cenário, o turismo possibilita a valorização da família
agricultura, uma vez que a sua cultura torna-se o próprio atrativo turístico, com efeitos
diretos no aumento da auto-estima da população.

Os benefícios sociais da atividade turística refletem na mobilização da ruralidade,


e na necessidade das famílias agricultoras manterem sua identidade e autenticidade.
É possibilitado um resgate de valores, como: orgulhar-se de seus antepassados,
relembrar histórias, reutilizar a culinária, mostrar utensílios antigos, seu modo de falar,
suas vestimentas, seu saber (BRASIL, 2004).

Segundo o plano de desenvolvimento territorial da Serra do Brigadeiro (CTA-


ZM, 2004), foi definido como um dos eixos estratégicos de ação nas comunidades
do entorno do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro o turismo rural, que pretende
explorar o seu potencial turístico de maneira a promover a qualidade de vida das
comunidades, sem, no entanto, descaracterizá-las e/ou desrespeitá-las.

Com relação às práticas turísticas em pequenas comunidades e o incremento


destas atividades apoiado por políticas públicas, estas não trouxeram os benefícios
potenciais prometidos para as populações locais. Essa constatação (BURSZTYN;
BARTHOLO; DELAMARO, 2009) leva questionar tais práticas e as políticas públicas
que as sustentam como: a quem interessam? Quem são seus efetivos beneficiários?
Não haveria um modelo alternativo? Estes questionamentos ocorrem principalmente
em regiões onde a atividade turística vem sendo desenvolvida sem as devidas ações
técnicas e reconhecidas pelo título de regiões com potencial turístico. Neste sentido,
inclusão social e geração de renda, são benefícios que podem ser maximizados com
o desenvolvimento do turismo de base local.

O PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO – ROTEIROS DO BRASIL

Segundo o Ministério do Turismo, a regionalização do turismo é um modelo


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de gestão de política pública descentralizada, coordenada e integrada, baseada


nos princípios da flexibilidade, articulação, mobilização, cooperação intersetorial e
interinstitucional e na sinergia de decisões (BRASIL, 2005). Conforme o Programa
Roteiros do Brasil, regionalizar é transformar a ação centrada na unidade municipal
em uma política pública mobilizadora, capaz de provocar mudanças, sistematizar o
planejamento e coordenar o processo de desenvolvimento local e regional, estadual
e nacional de forma articulada e compartilhada (BRASIL, 2005).

Com este Programa, o governo federal busca dotar as instâncias de governança


de uma visão mais abrangente da atividade por meio de ações inseridas em toda a
cadeia produtiva do turismo. Estas ações permitem reconhecer as regiões, enquanto
destinos turísticos capazes de comercializarem seus respectivos produtos turísticos,
para que, de fato, o termo potencial seja explorado.

O Programa de Regionalização do Turismo tem o intuito de organizar e integrar


a oferta turística, descrita em um documento para a elaboração de roteiros turísticos
(BRASIL, 2005) que apresenta definições, como:

• Região turística: espaço geográfico com características e potencialidades


complementares, capazes de serem articuladas e que definem um território;

• Produto turístico: conjunto de atrativos, equipamentos e serviços turísticos


acrescidos de facilidades, ofertado de forma organizada por um determinado preço;

• Roteiro turístico: itinerário c o m um ou mais elementos que lhe conferem


identidade, definido e estruturado para fins de planejamento, gestão, promoção e
comercialização turística;

• Destino turístico: local, cidade, região ou país para onde se movimentam os fluxos
turísticos.

Assim, a roteirização é definida como “o processo que estrutura a oferta de


uma região, em um produto rentável e comercialmente viável” (BRASIL, 2005).

Segundo Almeida (2006), a roteirização deve possuir caráter participativo,


estimular a integração e o compromisso dos envolvidos no processo para constituir-
se em instrumento de inclusão social, resgate e preservação dos valores culturais
e ambientais existentes.

Segundo Brasil (2005), os seguintes passos do processo de roteirização


são necessários: Envolvimento dos atores; Definição de competências e funções;
Avaliação e hierarquização dos atrativos turísticos; Análise de mercado e definição
de segmentos; Identificação dos possíveis impactos socioculturais, ambientais e
econômicos; Elaboração de roteiro específico; Levantamento das ações necessárias
para implementação do roteiro turístico; Precificação e teste do roteiro turístico;
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Qualificação dos serviços turísticos; promoção e comercialização; Monitoria e


avaliação.

Com base nesses preceitos, a roteirização se dá após o reconhecimento e


a caracterização da atividade turística a ser desenvolvida na respectiva região
(ALMEIDA, 2006). Por conseguinte, essa atividade turística reconhecida é a aptidão
social, econômica e ambiental para o desenvolvimento.

O TURISMO NO ESPAÇO RURAL

No século 20, a globalização com os avanços em tecnologia de comunicação


ajudaram a desenvolver o turismo no mundo. No entanto, embora o turismo trouxesse
benefícios econômicos, tem contribuído significativamente para a degradação do
meio ambiente, com os impactos sociais e culturais. Estes cenários são comumente
visualizados pelo crescimento desordenado do turismo em muitos destinos turísticos
(ASHLEY, 2011).

Estes indesejáveis efeitos levaram à preocupação crescente para a conservação


e preservação dos recursos naturais, bem-estar humano e da viabilidade econômica a
longo prazo das comunidades anfitriãs (SIMPSON, 2008).

Woolcock e Narayan (2000), argumentaram que o pequeno tamanho da maioria


das empresas turísticas e a dramática ascensão da questão da sustentabilidade
têm levantado graves questões sobre a implementação e monitoramento do turismo
sustentável a nível local.

A notoriedade dessas transformações tem chamado a atenção de várias áreas


e setores, especialmente da área acadêmica, a qual vem analisando essas novas
relações. Tais transformações apontam para a abertura de um processo produtivo
rural, o qual abre espaço para a consolidação de atividades, como o turismo, que,
embora recente no meio rural, vem insurgindo na agricultura familiar.

No que se refere à oferta de produtos transformados, de origem animal (queijo,


embutidos) e de origem vegetal (doces, conservas) oferecidos aos visitantes, a
atratividade reside também no processo de produção (Brasil, 2008). A identificação
desses produtos com a cultura local e com as características histórico-geográficas de
território é que justifica o envolvimento dos atores desta atividade turística estarem
inseridos na ruralidade da agricultura familiar.

A cultura local é elemento base do turismo no espaço rural, destacando-se as


manifestações folclóricas, causos, lendas, músicas, trabalhos manuais, artesanato,
arquitetura (casas, galpões, moinhos, armazéns, adegas, pontes), antiguidades,
inclusive maquinário e instrumentos agrícolas e do lar, entre outros (BRASIL, 2003).

Assim, a atividade turística tem-se pautado no discurso da geração de emprego e renda,


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no aumento de divisas para os países em desenvolvimento. A maior consequência é


uma explosão do setor em todos os níveis. Isso é tão verdadeiro que, segundo a OMT
(Organização Mundial do Turismo), o turismo é a primeira fonte de divisas em mais
de um terço dos países do mundo, estando entre as cinco primeiras categorias de
exportação em 83% dos países; gerando de 3% a 5% do PIB mundial, e contribuindo
diretamente para o emprego de 200 milhões de pessoas (PINCE, 2007). No Brasil, o
setor representou o quinto item da pauta de exportações, tendo um crescimento de
mais de 14% no total de divisas que ingressaram no país em 2007, comparados a 2006
(WTO, 2008). Atualmente, no Brasil, o setor turístico efetuou a receita cambial de 6,6
bilhões de dólares em 2012, revelando a magnitude e as importantes movimentações
realizadas pelo setor na economia nacional (DADOS E FATOS, 2014)

É importante salientar que o crescimento do setor turístico não determina


retorno econômico e social para os locais que o acolhem. Por exemplo, os países do
sul não recolhem mais do que ¼ do dinheiro gasto durante a vinda de turistas, sendo
os outros ¾ distribuídos entre as agências de viagens, companhias aéreas, hotéis e
outras empresas internacionais (PINCE, 2007). Isso é consequência de um modelo
de “mau desenvolvimento” (SACHS, 2009), no qual as desigualdades na distribuição
da riqueza reforçam as diferenças sociais e econômicas, dificultando as iniciativas
endógenas capazes de promover um outro modelo de desenvolvimento.

Uma alternativa para reverter este quadro e possibilitar o envolvimento das


populações anfitriãs a serem as reais beneficiárias, pode ser o TBC, que a Rede
Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário - TURISOL, apresenta como a atividade
turística que apresenta gestão coletiva, transparência no uso e destinação dos recursos
e na qual a principal atração turística é o modo de vida da população local. Nesse
tipo de turismo a comunidade é proprietária dos empreendimentos turísticos e há a
preocupação em minimizar o impacto ambiental e fortalecer ações de conservação da
natureza (PROJETO BAGAGEM, 2010).

O TBC é uma forma de turismo onde as necessidades do turista, da comunidade,


e da conservação do meio ambiente são mutuamente interdependentes (Internacional
Ecotourism Society, 2010). Sendo assim uma atividade valiosa para a redução da
pobreza, da biodiversidade, da conservação, e da oferta responsável de roteiros de
turismo sustentável.

Dentro deste contexto na África do Sul, um grande número de empreendimentos


de TBC surgiram como resultado da desconcentração da gestão dos recursos naturais
para a responsabilidade das comunidades, com isso, estas também recebem o direito
de utilizar estes recursos para o alívio da pobreza e a geração de renda entre elas
(SPENCELEY, 2008).
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Vários pesquisadores buscam diagnosticar o cenário de uma gestão eficiente


do TBC, assim, pode-se caracterizá-lo:

• O TBC deve apresentar princípios, estratégias de implementação, planos de ação


e um sistema de monitoramento do seu desenvolvimento de acordo com o espectro
econômico, social, cultural, natural, ambiental e político (STEIN et al, 2003).

• A fim de refletir as visões e valores de uma comunidade de destino, o processo


transparente de desenvolvimento do TBC deve permitir a participação plena da
comunidade. (JAMAL; GETZ,1999).

• O TBC deve se estruturar com base em indicadores de desenvolvimento local,


uma vez que o crescimento sustentável se dá a partir das tradições comunitárias
(MILLER, 2001).

O empreendedorismo comunitário significa a construção de relações locais que


aumentam a capacidade adaptativa de pessoas dentro de uma mesma localidade.
Assim, o empreendedorismo reflete a capacidade das pessoas de gerenciar e valorizar
os recursos disponíveis, a fim de tratar questões locais (BRENNAN et al, 2009).

A capacidade dos residentes para gerenciar os seus empreendimentos estão


voltados para a sustentabilidade econômica, social e ambiental a partir dos recursos
locais (AKAMA, 2006). Desta forma, Bridger et al. (2010), reitera que deve haver
uma ênfase no aumento da diversidade da economia local através de esforços de
pequenas empresas que trabalham a compra local, buscando a auto-suficiência,
e, o desenvolvimento de mercados locais, com a produção e o processamento de
mercadorias deve acontecer com uma maior cooperação entre as entidades locais.

Diante deste cenário, Sampaio (2005) cita que as populações tradicionais,


independente do grau de descaracterização, frente à hegemonia das sociedades
urbanas, são protagonistas de seus modos de vida, tornando-se uma alternativa
ao modo de vida materialista-consumista. Com esta percepção é apresentada uma
estratégia para que comunidades tradicionais, com desvantagens históricas, viabilizem
seus respectivos modos de vida e se envolvam com a proposta do TBC.

Silva, Ramiro e Teixeira (2009), sobre TBC, propõem que sejam utilizadas,
de forma sinérgica, as potencialidades do atrativo para a melhoria dos resultados
econômicos e da qualidade de vida local. Essa relação promove o acesso para esta
população a bens e a serviços públicos, bem como a integração com outros setores,
agregando valor a este turismo, por meio da economia de base local. Fazendo entender
que o TBC é um subsistema interconectado a outros subsistemas, como educação,
saúde e modo de vida, diferenciando-o de outros segmentos turísticos.

Nessas particularidades, se encontra o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro


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e seu entorno, constitui o Território da Serra do Brigadeiro. Neste território, a


comunidade expressa seu modo de vida, sua identidade cultural e suas relações com
a natureza. Como consequência dessas expressões, o turismo abre perspectivas para
a valorização do patrimônio comunitário.

PRINCÍPIOS DO PROJETO BAGAGEM – UMA ALTERNATIVA EM VIAGENS

O Projeto Bagagem nasceu do desejo em contribuir com iniciativas bem-


sucedidas de organizações não-governamentais do Brasil que tinham o desafio
de apoiar a geração de renda nas comunidades onde atuavam. Inicialmente o
projeto foi apresentado como uma iniciativa sem fins lucrativos que promove o
turismo comunitário em regiões do Brasil que apresentam um grau significativo de
organização comunitária” (PROJETO BAGAGEM, 2010, p.22).

Por meio de viagens, o projeto leva um grupo de pessoas interessadas em


conhecer melhor o país, para conviverem de maneira direta com a população local.
Mais do que visitar atrações turísticas, a ideia é dar aos visitantes a oportunidade de
experimentarem a vida nas comunidades como ela realmente é, em um processo
de aprendizagem e intercâmbio cultural, onde participantes e membros das
comunidades saem ganhando. Assim, a viagem é também uma oportunidade de
conhecer o trabalho da ONG parceira e fonte de renda para as comunidades.

As séries metodológicas da Rede TURISOL, publicado pelo Projeto Bagagem


(2010), estabelece alguns princípios para roteiros do TBC, como:

• Entender que a principal atração turística é o modo de vida da comunidade,


com sua forma de organização, os seus projetos sociais, suas formas de mobilização
comunitária, suas tradições culturais e, suas atividades econômicas.

• Propiciar a autogestão da atividade de maneira que as comunidades assumam


o protagonismo que lhes corresponde no planejamento, operação, supervisão e
desenvolvimento dos roteiros turísticos.

• Possibilitar a distribuição justa do dinheiro e transparência no uso dos recursos


com geração e distribuição de renda equitativa, praticando preços e relações de
trabalhos justos, satisfazendo comunidade e turistas.

• Propor atividades que valorizem a afirmação da identidade comunitária,


proporcionando intercâmbio cultural e aprendizagem com o visitante. Demonstrando
uma relação de parceria e troca entre o turista e a comunidade, onde o turista é visto
como um parceiro e não como um cliente.

• Trabalhar a programação das atividades respeitando as normas de conservação


da região, procurando gerar o menor impacto no meio ambiente, contribuindo na
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promoção de projetos de manejo sustentável de recursos naturais.

• Estabelecer cooperação e parceria entre os diversos segmentos relacionados


ao turismo de base local e deste com outras localidades com realidade semelhante e
com potencial para a formatação de novos produtos e serviços, estabelecendo assim
a cadeia produtiva do turismo de base comunitária.

• Entender que o turismo é instrumento para o fortalecimento associativo, ou


seja, o sucesso individual está condicionado à sustentabilidade do ambiente que o
cerca, onde a comunidade é proprietária, gestora e empreendedora.

Desta forma, as atividades turísticas são complementares a outras atividades


econômicas já praticadas como a agricultura, a pesca, o artesanato, a pequena
agroindústria, o transporte e outros serviços. Nessa ótica, é passível de se explorar
todas as iniciativas produtivas sustentáveis que contribuam com o desenvolvimento
econômico local e gerem empregos novos e de qualidade nas comunidades.

Assim, entende-se que os destinos ecoturísticos dependem essencialmente da


existência e criação de áreas de elevado valor ecológico e da forma como estas são
geridas e desenvolvidas, bem como da existência de infraestruturas de acolhimento e
de recursos humanos capacitados (MORAES, RIBEIRO; EMMENDOERFER, 2013).

Sob o enfoque econômico destes mercados, o consumidor tem como objetivo


primordial a obtenção da máxima satisfação de seus gastos, através da escolha da
melhor combinação possível dos produtos turísticos. Sob outra ótica, a demanda
também avalia a oferta desses produtos, no momento em que esses consumidores
não praticam, não atuam, não vivenciam o ambiente em que foram produzidos tais
produtos. Nessa intercessão negativa, não se está praticando o turismo de base
comunitária, pois não se está interagindo com a produção desses bens e serviços.

O envolvimento das comunidades nas etapas da operacionalização e organização


deste mercado, dentro da categoria do TBC permite encontrar particularidades nas
regiões. Esse envolvimento comunitário permite um empoderamento capaz de atrair
turistas com um grau de interesse motivado para vivenciar trocas de saberes de uma
cultura em que o pertencimento de suas tradições é um atrativo relevante para os
roteiros turísticos.

ÁREA DE ESTUDO

A área geográfica da pesquisa se encontra no município de Araponga, Minas


Gerais (MG), inserido no Território da Serra do Brigadeiro, estabelecido dentro dos
princípios da política pública do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), no qual
o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro está localizado.
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Nesta região existe o Projeto Boas Práticas de TBC desenvolvido pelo Centro
de Pesquisa e Promoção Cultural – CEPEC e Associação Amigos de Iracambi apoiado
por meio de edital a fundo perdido pelo Ministério do Turismo que trabalha com 30
famílias rurais distribuídas em 5 Núcleos de Turismo de Base Comunitária.

No Núcleo de Turismo de base Comunitária do Boné estão envolvidas 4 famílias


de agricultores que também são parentes entre si, totalizando 8 pessoas. Cultivam o
café, com uma estrutura com máquina de limpar café, armazém e trator. Na estrutura
turística apresentam um restaurante familiar, dois módulos de hospedagem com 3
quartos com 2 camas em cada quarto, oferecendo 12 leitos. Trabalham com camping
e fornecem sanitários e banheiros. No Núcleo se localiza a caminhada até o Pico
do Boné com 1635 metros de altitude, sendo a mais pitoresca do interior do Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro, além da trilha do carvão que também pode ser
percorrida por montain bike. Como atrativos existe várias cachoeiras, além de poder
ser vivenciados a casa de forno, onde se produz os quitutes e quitandas, um curral
com leite ao pé da vaca, uma pescaria tradicional noturna de cambeva com 3parão e
um passeio de trator pela comunidade e a apresentação da folia de reis do Boné. Este
núcleo credenciado também no programa de economia solidária fica no município de
Araponga, a 15 km da sede.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método que permitiu a realização deste estudo foi a pesquisa-ação


(THIOLLENT, 2011). Assim, o ponto de partida foi o projeto Projeto Boas Práticas
de TBC, no qual ocorreu a seleção dos atrativos turísticos para compor o roteiro
trabalhado. Este roteiro foi identificado com base na pesquisa de Moraes (2011a),
subsidiado pelo mapeamento elaborado por Sansolo e Bursztyn (2009) e, dos princípios
de formatação de roteiros do Projeto Bagagem (2010), priorizando: a) Proximidade de
áreas protegidas; b) Proximidade da água enquanto atrativo de balneabilidade; c)
Festas populares no calendário de eventos; d) Espaços de encontro e convivências
para compartilharem seu dia a dia; e) Sistema de hospedagem domiciliar administrado
pela família; f) Produtos comercializados de produção local;

A programação foi definida em vários encontros de trabalho com


empreendedores locais integrantes do núcleo de TBC do Boné subsidiada no roteiro
metodológico do “Programa de Regionalização do Turismo - Roteirização Turística -
Módulo Operacional” (Brasil, 2005). Foi definido com os 8 integrantes (3 casais, um
filho e um neto) do Núcleo de TBC do Boné a programação, conforme Tabela 1.

3 Parão = instrumento rudimentar de pescaria.


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TABELA 1 – RESULTADO DO QUESTIONÁRIO APLICADO AOS TURISTAS SOBRE


O ROTEIRO DE TBC NO NÚCLEO DE TBC DO BONÉ.
PRIMEIRO DIA:
10: 00 hs – Chegada com acomodação na Pousada Remanso
12:00 hs – Almoço de confraternização no Restaurante da Pousada Remanso
14:00 hs – Banho na cachoeira e nas piscinas naturais do Boné
17 hs – Retorno ao Restaurante para o Lanche
18:30 hs – Pescaria noturna de parão (instrumento rudimentar) na cachoeira.
20:00 hs – Jantar de Confraternização com apresentação do Grupo Folia de Reis do
Boné com Mostra de Artesanatos de Café.
SEGUNDO DIA:
8:00 hs – Passeio de trator para conhecer a produção artesanal de lingüiça
10:30 hs – Caminhada para a Trilha da Mina do Ouro – 8 km ida e volta.
13:00 hs – Almoço de despedida no Restaurante da Pousada Remanso

Fonte: Elaboração própria.

Com base nesta programação e acompanhada pelo pesquisador, uma


representante do Projeto Bagagem realizou uma visita técnica ao Projeto que fomentou
a iniciativa da elaboração do referido roteiro. Foram realizadas oficinas de condução
ambiental, técnicas de higiene e alimentação com carga horária de 16 horas cada.

Para a formatação do roteiro, a fim de validá-lo, foi elaborado uma cortesia (fam
tour) para um grupo de 8 caminhantes da cidade de Belo Horizonte, capital do estado
de Minas Gerais. Esta cortesia foi constituída do transporte de Viçosa (MG) até o
Núcleo, das diárias completas, e das atividades com guia para todo o grupo.

Assim, a pesquisa-ação possibilitou os pesquisadores fazerem uso de


observações e de diários de campo para registro das informações obtidas durante a
visita-técnica, e na realização das oficinas e do fam tour.

Somado a isso, após a programação foi avaliado o roteiro por meio de um


questionário aplicado ao grupo de turista, e outro questionário aos integrantes do
Núcleo. Esses questionários eram semiestruturados, possuindo questões fechadas
com cinco opções de respostas (escala Likert de 5 pontos: péssimo, regular, bom,
ótimo, excelente) sobre a qualidade do roteiro TBC no local estudado para o turista,
e para o integrante do Núcleo TBC, versaram perguntas sobre a convivência com o
turista nos atrativos turísticos programados. Os itens avaliados foram: programação;
hospedagem; alimentação; transporte; distancia percorrida; e perfil do receptivo (guias/
anfitriões). Esses dados foram cotejados com a literatura especializada apresentada
nos fundamentos teóricos deste trabalho, os quais foram referenciados no final deste
trabalho. Além disso, alguns dados permitiram organizar tabelas ilustrativas, fazendo
uso de estatística descritiva (distribuições de frequências).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Zechner et al (2010) relata a experiência do Consórcio Cooperativo Red


Ecoturística Nacional – COOPRENA na Costa Rica em que as famílias de agricultores
com trabalho em rede implantam o ecoturismo comunitário, destacando a organização
social, a inserção das mulheres e jovens nos projetos desenvolvidos com a preservação
dos recursos naturais e resgate cultural. Esta experiência se assemelha com a do
Núcleo de TBC do Boné quando na fala do senhor Dico, o patriarca, “esta atividade
vai ser custoso pois vai envolver muita gente, dando certo, vai ser o 4indês para
chamar outros turistas e outras pessoas prá ajudar” (senhor Dico, 72 anos agricultor e
empreendedor do Núcleo de TBC do Boné, 2011) (MORAES, 2011b).

O grupo de caminhantes foi constituído por 6 homens e 2 mulheres, sendo a


idade mínima de 26 e a máxima 48 anos. Chegaram no Núcleo por meio de uma Van,
dentro do horário proposto.

No resultado do questionário observou-se que grande parte do grupo de


caminhantes considerou como ótimo e excelente o roteiro vivenciado, sendo que a
programação obteve as considerações excelentes. Na Tabela 2 se encontra os dados
em números inteiros e percentuais de um total de 8 que responderam o questionário,
todos integrantes do Núcleo. Os tópicos que menos contribuíram para a aceitação do
roteiro foram a distância percorrida e o transporte utilizado. O perfil dos guias também
se destacou positivamente, com aceitação integral de todo o grupo de caminhantes.

TABELA 2 – RESULTADO DO QUESTIONÁRIO APLICADO AOS TURISTAS SOBRE


O ROTEIRO DE TBC NO NÚCLEO DE TBC DO BONÉ
CLASSIFICAÇÃO
TÓPICOS Péssimo Regular Bom Ótimo Excelente TOTAL
Programação 8- 100% 8
Hospedagem 2 -25% 8 - 100% 8
Alimentação 7 - 88% 1 - 12% 8
Transporte 6 - 75% 2 - 25% 8
Distancia percorrida 3 - 37% 5 - 63% 8
Perfil do 8 - 100% 8
*receptivo/**guias
Fonte: Elaboração própria. Legenda: *receptivo = integrantes do núcleo que participaram no
roteiro em contato com o turista na pousada e no restaurante.**guias = integrantes do núcleo
que participaram no roteiro em contato com o turista na trilha, na cachoeira e no passeio de
trator.

Com relação a programação foi sugerido que o roteiro seja elaborado em 3 dias

4 Indês = ovo deixado no ninho para atrair novas posturas no mesmo local.
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devido a riqueza cultural do Núcleo com a apresentação do grupo folclórico e a mostra


dos artesanatos que poderia ser melhor aproveitado. Marcelo, integrante do Grupo
de Caminhantes, referiu-se ao Grupo Folclórico do Boné, “realmente, foi muito legal a
maneira que eles nos envolveram na brincadeira mística de dançar na lua” (Marcelo,
27 anos, de Belo Horizonte – MG, 2011) (MORAES, 2011b).

A mesma sugestão do aumento dos dias da programação também se justifica


com a mudança da pescaria para outro dia. O lazer no rio encachoeirado também
poderia ser melhor aproveitado se tivesse mais tempo para este lazer.

As sugestões relacionadas à hospedagem foram no sentido de que a decoração


possa retratar mais o local e o artesanato de café, que apresenta grande identidade
com o Núcleo, facilitando assim a sua venda. Os requisitos de higiene foram todos
satisfeitos e a simplicidade foi um diferencial parabenizado.

A alimentação foi bastante elogiada com o tempero caseiro e as especiarias


para o frango, o qual foi motivo de trocas de receitas (Figura 1). O suco poderia ser
utilizado nos lanches como foi servido no almoço.

FIGURA 1: ALIMENTAÇÃO CASEIRA DO RESTAURANTE FAMILIAR NO NTBC


BONÉ

Fonte: Lukarol (2012).

O transporte feito de van, foi ótimo com paradas em locais estratégicos e a


direção segura foi elogiada. No entanto, a distância percorrida de Belo Horizonte até
o Núcleo foi em seus 310 km de asfalto com 25 km de terra um pouco cansativa para
se chegar no mesmo dia do início das programações. A sugestão deixada foi que a
viagem fosse feita a noite com início da programação no dia seguinte.

O perfil dos guias foi muito elogiado pela maneira de explicar o jeito de viver na
região e as maneiras de fazer o parão (instrumento de pescar a cambeva - peixe de
cachoeira).

A experiência do turismo de base comunitária no Baixo Rio Negro, Amazonas,


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do Instituto de Pesquisas Ecológicas, foi iniciada com o ordenamento das ações de


gestão da cultura, do social e do ambiental, permitindo uma troca de informações entre
os respectivos gestores com foco no turismo (SOUZA et al. 2010). Esta experiência
também é muito similar à do Núcleo de TBC Boné, enquanto mantêm a cultura local
com o apoio comunitário dos grupos religiosos e de familiares que se envolvem com
a temática do turismo na região. Segundo Moraes (2011b), Cláudio observou em sua
fala “deixar os turistas soltos, dá mais trabalho que tomar conta deles na pescaria de
parão, pois eles perto, fica mais atencioso com o lugar” (Cláudio, 19 anos, condutor
local e gestor do restaurante familiar, neto do senhor Dico).

Martins, et al. (2013) cita como características principais do TBC a forma de


planejamento, organização, controle participativo, colaborativo, cooperativo e solidário
das comunidades envolvidas com a atividade turística. Todas estas características
são vivenciadas no Núcleo do Boné, podendo ser maximizados os seus benefícios
não só para os empreendedores da atividade, mas também para toda a comunidade
onde se desenvolve a programação do roteiro.

O resultado do questionário aplicado aos integrantes do Núcleo de TBC do


Boné estão apresentados na Tabela 3.

TABELA 3 – RESULTADO DO QUESTIONÁRIO APLICADOS AOS INTEGRANTES


DO NÚCLEO DE TBC DO BONÉ SOBRE O ROTEIRO DE TURISMO DE BASE
COMUNITÁRIA
CLASSIFICAÇÃO
TÓPICOS Péssimo Regular Bom Ótimo Excelente TOTAL
Convivência com o 7- 50 % 7 - 50% 14
turista na Pousada
Convivência 8- 51% 6 - 49% 14
com o turista no
Restaurante
Convivência com o 1 - 1% 7 - 50% 6 - 49% 14
turista na trilha
Convivência com o 7 - 50% 1 - 1% 6 - 49% 14
turista na cachoeira

Convivência com o 5 - 27% 6- 49% 3 - 24 % 14


turista no passeio
de trator
Perfil dos turistas 6 - 49% 8 - 51% 14

Fonte: Elaboração própria.

Segundo o Projeto Bagagem (2010), entende-se como convivência as


possibilidades que o roteiro permite aos gestores comunitários de adotarem uma
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posição valorizada, que não é apenas passiva e emocional, pois inclui também
uma participação ativa nas relações com os turistas visitantes. Esta convivência foi
identificada no Núcleo do Boné, justificando atividades em que as relações vivenciadas
valorizam hóspedes e hospedeiros.

As avaliações entre ótimo e bom, podem ser entendidas como satisfatórias, por
ser a primeira vez que os integrantes do Núcleo se organizam para oferecer atividades
dentro de uma programação, demonstrando que os mesmos, se sentiram a vontade
para entender e atender as expectativas e necessidades dos visitantes.

Observou-se que os guias foram os integrantes do Núcleo que tiveram maior


facilidade na convivência com os turistas (na trilha, na cachoeira e no passeio do
trator). Neste sentido Maldonado (2009), afirma que a comunidade anfitriã se sente
segura, ao falar de suas características, quando nestas, encontram as suas identidades
culturais. Desta forma, se justifica a seleção destes ambientes (na trilha, na cachoeira
e passeio do trator).

Por fim, observou-se na avaliação do perfil dos integrantes do Núcleo (Tabela 2)


e no perfil dos turistas (Tabela 3), que existe por parte dos integrantes certa diferença
de opinião (as notas se encontram mais distribuídas), podendo ser entendida como
uma percepção maior destas pessoas em seu ambiente de convívio. Esta percepção
apurada que os integrantes do Núcleo têm sobre os visitantes, reafirma a boa relação
com o ambiente onde vivem. Esta situação também é retratada em várias viagens dos
roteiros do Projeto Bagagem (2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro do contexto estudado no Território da Serra do Brigadeiro, foram


apresentadas e discutidas com o grupo de empreendedores do Núcleo de TBC do Boné
e a coordenação do Projeto Boas Práticas do TBC na Serra do Brigadeiro, as seguintes
ações a serem difundidas também nos outros quatro núcleos de TBC: a) Viabilizar
rótulos e embalagens personalizadas para a comercialização dos produtos artesanais
da palha de café e da agroindústria de linguiça; b) Desenvolver estruturas no trator
que possa oferecer mais conforto aos turistas, como por exemplo assento almofadado;
c) Promover capacitações com atividades práticas (aulas de campo) específicas em
cada trilha a ser inserida na programação dos roteiros; d) Operacionalizar o seguro
de vida para todos os roteiros de todos os Núcleos de Turismo de Base Comunitária;
e) Criar roteiros integrando os outros Núcleos do Projeto Boas Práticas de Turismo
de Base Comunitária da Serra do Brigadeiro; f) Promover uma cortesia (press trip)
com a mídia impressa local, regional, estadual e nacional, como por exemplo revistas
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especializadas em turismo.

Essas ações de aperfeiçoamento do roteiro TBC não teriam sido possíveis se não
fosse a realização desta pesquisa-ação, cuja contribuição é de finalidade tecnológica
para a formação e a prática do turismólogo, ao demonstrar o processo de roteirização,
com seus procedimentos e dificuldades em um parque estadual no sudeste do Brasil.
Essa realidade deve ser presente em muitos outros lugares do Brasil e do mundo o
que torna este trabalho importante para subsidiar novas pesquisas em interface com
extensão, inclusive em perspectiva comparada, sobre roteiros de TBC. Além disso,
esta descrição de roteirização pode também contribuir para que gestores públicos
e privados do turismo possam desenvolver políticas públicas para a organização e
o desenvolvimento turístico, de forma integrada, em parceria com outras cidades,
visando a geração de riquezas, trabalho e renda em municípios de pequeno porte.

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dezembro de 2010.

(Endnotes)
1 Agradecimentos ao Ministério do Turismo que financiou o Projeto Boas Práticas de TBC entre
2010 e 2012. A FAPEMIG – Fundação de Amparo e Pesquisa de Minas Gerais o apoio concedido para
esta participação no Encontro Nacional de Turismo de Base Local de 2014.
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O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA COMO ALTERNATIVA DE


DESENVOLVIMENTO LOCAL: O CASO DE CURUÇÁ – PARÁ.

Liana Souza Freire1


Helena Catão Henriques Ferreira2

RESUMO: O turismo, quando voltado apenas aos fatores econômicos, tem se


apresentado como gerador de desequilíbrio ambiental, injustiça e exclusão social.
Seguindo as preocupações mundiais sobre desenvolvimento, outras formas de
turismo passam a ser pensadas. Assim, o Turismo de Base Comunitária (TBC) surge
como alternativa ao turismo de massa, enfocando a perspectiva do desenvolvimento
local, do planejamento voltado ao baixo impacto ambiental, à inclusão social e ao
fortalecimento da cultura e da identidade local. Este modelo vem sendo adotado em
diversos projetos na região amazônica como forma de contribuir com as comunidades
tradicionais que habitam áreas com alto potencial ecológico na conservação da natureza
e na melhoraria de suas condições de vida. O objeto deste estudo foi o município de
Curuçá, escolhido por ter um projeto de ecoturismo de base comunitária financiado
pelo Ministério do Turismo e por abrigar uma Reserva Extrativista de Mangue, palco
de diversos conflitos comuns a outras localidades da região amazônica. O trabalho
teve os objetivos de analisar se o TBC foi capaz de transformar as condições de
vida dos envolvidos com a atividade turística e discutir as principais dificuldades para
sua implementação. Baseou-se em metodologia qualitativa, em que se utilizou de
observação direta e entrevistas em profundidade com gestores municipais do turismo,
com funcionários do Instituto Peabiru e com membros das comunidades de Curuçá.
Ainda que tenham sido irrisórios os benefícios econômicos e muitas as divergências,
as dificuldades e os desafios para sua realização, o turismo de base comunitária do
município contribuiu para a conscientização ambiental, para criação de trabalhos de
“resgate” cultural, encontrando-se no momento em fase de transição.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo de base comunitária. Turismo. Desenvolvimento local.
Curuçá. Comunidade.

ABSTRACT: The tourism, when directed only to economic factors, has been presented
as a generator of environmental imbalance, injustice and social exclusion. Following
concerns about global development, other forms of tourism are being designed. Thus,
the Community-Based Tourism (TBC) is an alternative to mass tourism, focusing on
the perspective of local development, planning turned to low environmental impact,
social inclusion and strengthening of the local culture and identity. This model has
been adopted in several projects in the Amazon region as a form of contributing to
the traditional communities that lives in areas with high ecological potential, in nature
conservation and to the improvement of their living conditions. The object of this
study was the municipality of Curuçá, chosen for harboring an Extractive Reserve of
mangrove, stage of many other common conflicts to other towns in the Amazon region,
and for having a project of community-based ecotourism funded by the Ministry of
Tourism, in 2008. The study had the aims of analyzing if the TBC was able to transform
the living condition of those involved with the tourism activity and discuss the main
1 Graduada em Turismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF). E-mail: lianafreire@id.uff.br.
2 Doutora em Ciências Sociais, professora Adjunta da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade
Federal Fluminense. E-mail: lelecatao@gmail.com.
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difficulties in its implementation. It is based on qualitative methodology, which used


direct observation and interviews with municipal managers of tourism; with officials of the
Peabiru Institute; and community members of Curuçá. Although the economic benefits
have been derisory and many the divergences, the difficulties and the challenges for
its implementation and continuity, the community-based tourism of the municipality
contributed to environmental awareness, for the creation of cultural “rescue” works,
being at the moment in a transition phase.
KEYWORDS: Community-based Tourism. Tourism. Local development. Curuçá.
Community.

INTRODUÇÃO

O turismo contemporâneo apresenta-se como uma atividade socioeconômica


capaz de gerar divisas, oportunidades de trabalho e maior visibilidade para determinadas
regiões. Na prática, contudo, estas possibilidades nem sempre são alcançadas.
Por esta razão, começam a surgir esforços para buscar caminhos alternativos que
gerem menos impactos à natureza e às comunidades locais. O Turismo de Base
Comunitária (TBC) nasce como uma resposta que complementa e se contrapõe ao
modelo vigente: o denominado “turismo de massa”. Diferencia-se dele porque se
baseia no desenvolvimento local e na experiência entre turistas e anfitriões e faz das
comunidades visitadas as protagonistas da atividade.

Diversos territórios protegidos da Amazônia encontraram no turismo de base


comunitária uma oportunidade de crescimento, já que se trata de uma atividade
diferenciada de baixo impacto ambiental, e assim sendo, uma possível ferramenta de
geração de renda associada à proteção da natureza e da cultura local (SANSOLO,
2009). Atualmente já existem diversos programas deste tipo de turismo sendo
praticados na região com intuito principal de ajudar as comunidades “tradicionais”
que habitam áreas com alto potencial de ecoturismo a preservar seu meio ambiente e
melhorar suas condições de vida.

O Ministério do Turismo (Mtur) lançou em 2008 um edital para financiamento


de projetos de TBC e entre os cinquenta selecionados, cinco eram de localidades da
Região Norte. No Pará, três destinos foram contemplados: Vila do Pesqueiro na Ilha do
Marajó, Santarém e Curuçá. Em abril de 2012, a Rede Globo apresentou um vídeo no
programa “Ação” mostrando o ecoturismo de base comunitária que ocorria na cidade
de Curuçá. As belezas naturais locais e a maneira como estava aparentemente bem
organizado o projeto aumentaram o interesse no estudo do lugar. Somou-se a isso a
proximidade com a capital Belém e a facilidade de deslocamento em comparação com
outros destinos, além do fato de possuir uma reserva extrativista de mangue, palco
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dos diversos conflitos comuns a outras localidades da região amazônica.

Utilizar Curuçá como objeto de estudo serviu para compreender como funciona
o TBC empiricamente, em contraste com a realidade amazônica, já que o projeto
estava sendo desenvolvido desde 2007, organizado por membros da comunidade
local com auxílio técnico do Instituo Peabiru, uma ONG que objetiva incentivar o
ecoturismo e a educação ambiental na região amazônica. A pesquisa de campo foi
desenvolvida entre julho de 2012 e janeiro de 2013, com dois períodos de estadia que
totalizaram quinze dias. A hospedagem tornou-se um problema devido à escassez
e ao alto custo dos meios de hospedagem existentes. Para viabilizar o trabalho a
pesquisadora contou então com o apoio da ONG Peabiru e de moradores locais.

O trabalho teve uma abordagem qualitativa em que foram utilizadas ferramentas


da etnografia, como as entrevistas em profundidade e a observação direta. Neste
tipo de pesquisa a representatividade numérica não é relevante, o mais importante
é o aprofundamento da compreensão de um grupo social. O mergulho no universo
estudado permite um aprendizado intenso do conteúdo em questão (GOLDENBERG,
2003). Da Matta (1981) ressalta a importância de o estudioso ter contato direto com os
seus pesquisados, obrigando-o a entrar num processo profundamente relativizador de
todo o conjunto de modos de vida, crenças e valores do grupo social em foco.

Para a realização da pesquisa de campo, foram entrevistadas quinze pessoas,


das quais duas eram funcionários do Instituto Peabiru responsáveis por auxiliar a
comunidade na organização da atividade turística, dois funcionários da Secretaria
de Turismo do município, onze moradores locais, dos quais seis trabalhavam com o
turismo de base comunitária e cinco não tinham ligação direta com o TBC.

Como foram muitas as dificuldades observadas para organizar a atividade


turística em Curuçá, esta questão acabou se destacando. Assim, os objetivos da
pesquisa ficaram sendo: analisar se o TBC transformou as condições de vida dos
moradores locais envolvidos com a atividade, e em caso positivo, de que maneira;
e discutir sobre as dificuldades para se implementar este tipo de turismo com as
comunidades de Curuçá.

Além das entrevistas realizadas no município, foi utilizada bibliografia sobre


desenvolvimento e turismo de base comunitária para rever o debate teórico existente
de modo que este embasamento pudesse auxiliar na compreensão do universo
empírico do trabalho.

O artigo se estrutura em três partes: na primeira, apresenta-se uma


caracterização e contextualização da área de estudo; na segunda, faz-se um
levantamento teórico sobre desenvolvimento local e turismo de base comunitária; e,
por último, são explanadas as percepções alcançadas a respeito do TBC de Curuçá,
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conforme as observações em campo.

CURUÇÁ: TERRA DOS MANGUES E IGARAPÉS

Curuçá possui uma extensão territorial de 673,30km2 e pertence à mesorregião


do nordeste paraense e a microrregião do Salgado. Limita-se com o Oceano Atlântico
ao norte e possui 34.294 habitantes divididos em cinquenta e duas comunidades
de localidades rurais que se encontram em rios e várzeas e em zona de planalto
(ESTADO DO PARÁ, 2011; IBGE, 2010).

A região possui uma riqueza de atrativos naturais e culturais. Ao visitá-la é


possível conhecer diferentes ecossistemas que envolvem manguezais, campos
savanóides, floresta de terra firme, bacurizal e umirizal. O município também possui
igarapés, ilhas, furos e praias, onde se pode observar primatas, bichos preguiças e
pássaros variados. Ademais, conta com eventos e festas que marcam seu calendário,
muitos deles religiosos, quando é comum a realização de procissões, ladainhas,
arraial, leilões, derrubada de mastros de flores e apresentação de danças típicas da
região.

Segundo Souza (2010), Curuçá assemelha-se a diversas localidades ribeirinhas


da Amazônia, nas quais as relações são um produto de um cotidiano marcado
pela apropriação da natureza pelo homem. Neste sentido, a relação da população
curuçaense com o meio ambiente local adquire diversos significados que englobam
trabalho, sustento e lazer. Conforme o mesmo autor, a delimitação dos territórios
produtivos do local se deu pela ocupação secular de grupos comunitários nesses
espaços, fazendo com que o conhecimento empírico sobre o ambiente ribeirinho
tenha se cultivado por muitas gerações.

Entretanto, os curuçaenses enfrentam dificuldades relacionadas a altos índices


de pobreza e analfabetismo, baixo desenvolvimento humano, problemas como a falta
de saneamento básico, carência de escolas, hospitais e postos de saúde de qualidade,
além das poucas oportunidades de emprego.

Como se trata de um município predominantemente rural, metade da população


tem como ocupação principal atividades ligadas à pesca (IBGE, 2010). Porém, existe
um grande desinteresse das novas gerações em relação às atividades consideradas
tradicionais e uma possível consequência de perda de identidade destas comunidades,
levando a uma alteração da realidade social e cultural do município (SOUZA, 2010).
Segundo Martins (2010), a subjugação da pesca artesanal pela pesca industrial está
trazendo o desestímulo dos jovens a continuar com o modo de vida dos pais fazendo
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com que eles saiam em busca de novas oportunidades de trabalho ou estudo em


Belém ou Castanhal, acabando por morar na periferia destes municípios.

Outra questão preocupante diz respeito à especulação do uso do solo neste


território. Como já ocorrido em outras localidades amazônicas, existe também o temor
de que haja uma desapropriação progressiva de terrenos de moradores locais no
futuro, haja vista que alguns pescadores já venderam suas terras para servir de casa
de veraneio para turistas e para pessoas de estados vizinhos que se mudaram para
o município (SOUZA, 2010).

Este fator só tende a aumentar com a consolidação do projeto de


megaempreendimento portuário na Praia da Romana. Embora as promessas sejam
de progresso e modernidade, a história comprova que os riscos ambientais e sociais
acabam se sobrepondo aos benefícios prometidos nos discursos dos que defendem
este tipo de iniciativa. Todavia, ameaças ambientais também se relacionam a situações
cotidianas, a exemplo dos grandes currais de pesca instalados por pescadores
advindos de diversos estados nordestinos que vem provocando assoreamento dos rios
e colocando em risco de extinção uma diversidade de espécies marinhas (KOTSCHO,
2008)

Foi principalmente pela percepção da exaustão dos recursos naturais que foi
criada, em 2002, a Reserva Extrativista Marinha Mãe Grande de Curuçá (RESEX
MGC), responsável por proteger igarapés, manguezais e baías. Até hoje a reserva
tem como função principal proteger os recursos pesqueiros e os próprios manguezais,
que estão sujeitos a ameaças relacionados a técnicas não adequadas para a captura
de caranguejos, lixo doméstico colocado em lugares não apropriados, além de
desmatamentos para construção de residências, barracas de pescadores e criadouros
de camarão (CHAVES, 2010).

Do mesmo modo, a proposta da criação da RESEX objetivava não somente


encontrar soluções urgentes para o manejo racional dos seus recursos naturais, mas
também meios de desenvolvimento local capazes de trazer mais oportunidades para
sua população, protegendo seus modos de vida e a cultura dos extrativistas
locais (BRASIL, 2002). Entretanto, a RESEX enfrenta muitos problemas, sobretudo
relacionados à descrença dos próprios moradores em relação à efetiva viabilidade do
projeto, isso porque tradicionalmente a maioria dos curuçaenses não participa e não
tem voz nos processos políticos locais e por isso não acredita que seus representantes
irão defender seus interesses (BATISTA, 2010).

UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE DESENVOLVIMENTO

Durante um longo período da história, diversas correntes do pensamento


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econômico fundamentavam-se na teoria de que após a maturação do desenvolvimento


econômico seria possível espalhar seus benefícios por toda a sociedade, difundindo-
se em todas as camadas da população (FERREIRA, 2008). Assim, desde a década
de 1950, a ideia de desenvolvimento marcou a discussão sobre estratégias políticas,
carregando um significado positivo de superação da miséria pelos países menos
favorecidos (BURSZTYN; BARTHOLO; DELAMARO, 2009).

Nos anos 60, a Organização das Nações Unidas dedicou-se a modernizar


as sociedades consideradas tradicionais ou atrasadas e adotar um modelo de
desenvolvimento que ignora as diferenças culturais, baseando-se na concepção de
que prosperidade é o mesmo que crescimento econômico, industrialização e poder
de consumo. Entretanto, esta política concebeu o modelo norte americano e europeu
como um mecanismo evolutivo simplista a ser seguido, ignorando as diferentes formas
de se apropriar e interagir com o ambiente (LAYRAGUES, 1998).

Para Sachs (1995), o crescimento da economia é compatível com a noção


de “maldesenvolvimento”, pois mantêm disparidades sociais e justifica exorbitantes
custos ecológicos em nome do progresso (SACHS, 1995). Este pensamento se
comprova tendo em vista que países com altas taxas de crescimento econômico são
também recordistas em desigualdades sociais e impactos ambientais (FERREIRA,
2008).

Levando em consideração que desenvolvimento econômico é apenas uma das


facetas do desenvolvimento e que por isso, não garante qualidade de vida, surge
a necessidade de incluir condicionantes qualitativas e especificidades locais na sua
construção. A partir da década de 1940, novos paradigmas passam a ser pensados
(CRUZ, 2009). Aqui será discutido o desenvolvimento local, que também corresponde
às denominações de endógeno e situado (BARRO; SILVA; SPINOLA, 2006; ZAOUAL,
2009).

No desenvolvimento local o quadro cultural local anteriormente ignorado ganha


relevância, porém entende que “a identidade cultural de cada nação pode viver
sua própria modernidade e transformar-se sem perder sua configuração original”
(LAYRAGUES, 1998, p. 137). Na visão de Carestiano (2000 apud CRUZ, 2009), o
desenvolvimento local seria um modelo que permite que uma dada comunidade possa
autogerir-se, preservando o seu patrimônio ambiental e seu potencial socioeconômico,
numa busca contínua da qualidade de vida de seus indivíduos.

Portanto, este processo não se vincula necessariamente a um grande


crescimento econômico, porém visa que a população local tenha liberdade de
escolher o que é melhor para si. Isto implica em fazer com que as atenções se voltem,
primordialmente, para o incremento da capacidade das pessoas de levarem o tipo
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de vida que valorizam, enfatizando-lhe a condição de agentes políticos, exigindo a


formulação e execução de projetos participativos com base em uma estreita relação
entre suas crenças e práticas tradicionais (BURSZTY, BARTHOLO, DELAMARO,
2009).

O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA COMO DESENVOLVIMENTO LOCAL

Assim como as outras atividades econômicas, o turismo, para desenvolver-


se, é na maioria das vezes orientado pelo mercado e pelos interesses dos grandes
capitais nacionais e internacionais, apresentando as mesmas contradições deste
modelo (BARRETO, 2000 apud MENDONÇA, 2004; FERREIRA, 2008). Portanto, a
atividade turística também deve ser questionada à luz de todas as ponderações e
debates feitos sobre desenvolvimento no que diz respeito à inclusão e exclusão e
responsabilidade social (FERREIRA, 2008).

Em contrapartida ao turismo convencional globalizado, Zaoual (2009) analisa


que novas dinâmicas estão surgindo. O desenvolvimento local aliado a estas
dinâmicas seria uma alternativa de resistência à racionalidade hegemônica do capital
e um estilo contraposto às tendências e aos padrões dominantes (CRUZ, 2009). Por
isso, começam a ser discutidas novas possibilidades de turismo pautadas em uma
mudança de valores.

Na América Latina o TBC começou suas primeiras incursões a partir dos anos
80 por meio do Turismo Rural Comunitário (TRC) e atualmente encontra-se presente
em todos os ecossistemas do continente (MALDONADO, 2009). As pressões
mundiais do mercado seguindo as tendências do ecoturismo e do turismo cultural, a
tentativa de criar alternativas para mudar a realidade de comunidades em situação
de pobreza crônica, o papel desempenhado pelas pequenas e microempresas no
desenvolvimento econômico local e na diversificação da oferta turística nacional, bem
como as estratégias políticas do movimento indígena e rural para se incorporar no
processo de globalização preservando sua identidade e seus territórios ancestrais,
foram fatores relevantes que levaram à sua origem (MALDONADO, 2009). O TBC
surge, portanto, dentro de uma discussão que não interpreta a prática turística apenas
pela sua vertente de mercado, mas, principalmente, como fenômeno social complexo
da contemporaneidade (IRVING, 2009).

Segundo Irving (2009), são seis as premissas que permeiam o TBC: base
endógena da iniciativa e desenvolvimento local; participação e protagonismo
social no planejamento, implementação e avaliação de projetos turísticos; escala
limitada e impactos sociais e ambientais controlados; geração de benefícios diretos
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à comunidade; afirmação cultural; e o “encontro” como condição essencial entre


visitantes e visitados. O grande diferencial desta prática turística é que ela defende
a inclusão das comunidades receptoras, além de ser um instrumento de respeito à
diversidade e à identidade, e um meio para que estas apresentem suas demandas e
limitações (IRVING, 2009, SANSOLO; BURSZTYN, 2009).

Trata-se, portanto, de um turismo em que as relações econômicas são


substituídas por outras relações que ultrapassam a racionalidade do lucro imediato,
além de nem sempre ser a atividade mais importante enquanto renda principal, mas
que serve como movimento de resistência ativa contra as mais usuais formas de
desenvolvimento turístico e de apoio à autoestima das comunidades, tornando-se,
por isso, um suporte para suas lutas sociais (SANSOLO; BURSZTYN, 2009).

O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA DE CURUÇÁ

Ao se pensar nas oportunidades econômicas para Curuçá, primeiramente o que


se tem em vista é um caminho “tradicional” orientado pela lógica da RESEX que visa
preservar e proteger as atividades de pesca, extrativismo e agricultura das populações
ribeirinhas do município. A segunda opção seria por meio das propostas de emprego
que viriam em função da construção dos portos. Entretanto, os dois caminhos parecem
inadequados, visto que o primeiro oferece oportunidades limitadas que não levam à
melhoria das condições de vida da população e a segunda tem grandes chances de
trazer impactos negativos tanto no nível ambiental, como no social (NELEMAN, 2010).
A outra seria por meio do turismo, conforme será abordado nos itens seguintes.

BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO TURISMO NO MUNICÍPIO

Conforme Nascimento (2009 apud AMARAL, 2010), o polo turístico em que


o município de Curuçá está localizado possui um expressivo potencial turístico
e se destaca essencialmente pelo seu patrimônio natural. Entretanto, o turismo
predominantemente encontrado na região é o de praia e o de massa. Em razão da
dificuldade de acesso até as praias e por não possuir infraestrutura adequada para
receber turistas, este processo ainda não ocorreu em Curuçá.

Um dos maiores problemas em relação à infraestrutura de turismo de Curuçá


é a carência de hospedagem e restaurantes e a necessidade de profissionalismo
no atendimento dos mesmos. Outra problemática local são os resíduos de lixo tanto
na periferia, como nas áreas naturais, além da falta de saneamento básico nas
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áreas rurais. Ademais, a falta de demanda efetiva de turistas dificulta a atração de


investimentos que possam desenvolver a atividade turística na cidade.

O INÍCIO DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA DE CURUÇÁ

O turismo de base comunitária passou a ser pensando em Curuçá em 2006,


com a chegada do Instituto Peabiru, ONG que tem como missão valorizar a diversidade
cultural e ambiental e apoiar processos de transformação social na região amazônica.
A ONG se aproximou do grupo pastoral da juventude e posteriormente, reuniu com a
Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá (AUREMAG),
criando o projeto “Escola Casa da Virada” com objetivo de oferecer capacitação e
trocar conhecimentos com a população local.

O ecoturismo de base comunitária surgiu paralelamente ao curso de agentes


ambientais, responsável por formar filhos de pescadores, professores e agricultores.
No curso de agentes ambientais, foi ensinado sobre a conservação e manejo de
manguezais e recursos hídricos. Após a formação de membros locais como agentes
ambientais, foram realizadas oficinas de turismo de base comunitária com intuito de
apresentar o tema para a população.

Em seguida, 17 monitores aderiram ao projeto e receberam o seu primeiro grupo


em 2008. No mesmo ano, o Instituto Peabiru submeteu outro projeto ao Ministério do
Turismo com a finalidade de organizar cursos de capacitação empresarial e montar
uma cooperativa e uma agência comunitária com os recursos adquiridos. Neste meio
tempo, o grupo se organizou e formou o Instituto Tapiaim, legalmente reconhecido
apenas em 2010.

Assim, o projeto foi se desenvolvendo com intuito de incluir as comunidades


“tradicionais” e servir como uma nova fonte de renda para os moradores do município.
A ideia principal era a de criar empregos locais e capacitar os jovens na atividade do
ecoturismo.

Nota-se, portanto, que o início do projeto foi de acordo com algumas premissas
abordadas por Irving (2009), como a base endógena na iniciativa com espaço para
as comunidades expressarem seus desejos, a preocupação com a participação e
protagonismo social através do saber compartilhado, a importância desta prática estar
atrelada a compromissos de sustentabilidade que almejem a qualidade ambiental e
social do destino, bem como sua valorização cultural.

A operação de receber turistas funcionava em parceria com a agência Estação


Gabiraba, de Belém, e a Turismo Consciente, de São Paulo, onde normalmente a
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segunda fazia contato com a primeira, informando que um grupo queria fazer um
dos roteiros em Curuçá e, posteriormente, a Estação Gabiraba informava ao Instituto
Tapiaim que se organizava para receber os visitantes. O Instituto Tapiaim operava com
quatro comunidades nos seus roteiros: Pedras Grandes, Recreio, Praia da Romana e
Muriazinho.

A escolha dos povoados estava diretamente relacionada aos seus atrativos


naturais (trilhas e banhos em lagos e igarapés), à facilidade de acesso e à existência de
restaurante (QUEIROZ, 2011). O objetivo dos passeios era de apresentar aos turistas
as belezas naturais da região e situações vividas cotidianamente pelas comunidades
tradicionais: a pesca artesanal, a catação de caranguejos, a agricultura familiar e a
criação de abelhas.

AS PEDRAS NOS CAMINHOS E OS APRENDIZADOS

Em razão da pesquisa de campo ter ocorrido num período em que o Instituto


Tapiaim estava desativado, alguns dados e informações abordados a seguir serão
baseados no estudo feito por Neleman (2010), quando a instituição ainda estava ativa,
como uma complementação do trabalho.

No ano de 2010, o Instituto Tapiaim reunia dezessete membros, no entanto,


apenas catorze deles estavam ativos. Segundo o estudo de Neleman (2010), dez
destes membros habitavam as áreas urbanas do município, sendo oito da sede de
Curuçá e dois do Abade, com apenas dois integrantes das comunidades rurais, dos
quais apenas um habitava uma das comunidades que eram visitadas no roteiro de
ecoturismo. Ainda que apenas um membro residisse em uma das comunidades
visitadas incluídas no pacote, artesãos, pescadores e agricultores estavam ligados à
cadeia, por meio da produção de artesanato, alimentos e bebidas, ou falando de seus
ofícios para os turistas.

Autores como Burstyn, Bartholo e Delamaro (2009) ratificam a importância da


participação comunitária, ao afirmar que os cidadãos devem ser sujeitos e atores do
processo. Além disso, alguns conceitos também priorizam a questão da solidariedade
e da equidade na distribuição de benefícios, como o abordado pela FEPTCE (apud
SANSOLO, BURSTYN, 2009, p. 146): “o turismo comunitário é uma atividade
econômica solidária (...) baseada em um princípio de equidade na distribuição de
renda”. No caso de Curuçá, observa-se que havia um esforço comunitário para que
esses benefícios, que não eram muitos, fossem distribuídos igualmente. Entretanto,
algumas pessoas mais engajadas na atividade não se sentiam satisfeitas pelo fato de
que outras não tão envolvidas recebessem o mesmo benefício.
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De acordo com Maldonado (2009), um dos fatores que deram origem ao TBC
foi a tentativa de transformação da realidade social das comunidades na busca de
superação de uma situação de pobreza crônica. Entretanto, no caso de Curuçá, a
renda obtida era pouca e praticamente insignificante para atender este objetivo, não
sendo capaz de suprir as necessidades dos membros do Instituto, dos quais a maioria
encontrava-se desempregada, além de muitos terem filhos para sustentar. E mesmo
como renda complementar, era insuficiente para investir de forma coletiva.

Ao discutir obstáculos comuns ao turismo praticado em comunidades,


Maldonado (2009) confirma que muitas vezes ocorrem restrições que dificultam a
atividade no mercado devido a problemas como o déficit na educação, na formação
profissional, nos serviços básicos de saúde e carência de infraestrutura, além de alto
índice de pobreza e baixo índice de desenvolvimento humano. Também comenta a
incursão das comunidades em situações de improviso, a ausência de profissionalismo
e o desconhecimento do mercado e de instrumentos de gestão de negócios
(MALDONADO, 2009).

Em Curuçá, todas estas questões fazem parte da realidade do município


e influenciam negativamente o desenvolvimento da atividade turística de base
comunitária. O fato de se tratar de uma cidade com baixo índice de escolaridade e
formação profissional influenciava diretamente na baixa qualidade do atendimento dos
seus poucos hotéis e restaurantes. Ao mesmo tempo, foi relatado que os membros do
Tapiaim não estavam devidamente organizados e encontravam-se permanentemente
sujeitos a situações de improviso, além de existir uma relação de dependência em
relação ao Instituto Peabiru.

Outra dificuldade tratada por Mielke (2009) para o desenvolvimento do TBC diz
respeito a fatores exógenos, pois, segundo o autor, em muitos casos os destinos ainda
não possuem uma procura efetiva e, por isso, a obtenção de resultados demanda
tempo. No caso do TBC de Curuçá, apenas 12 grupos visitaram o município no
período de 2008 a 2010. Em julho de 2012 e em janeiro de 2013, período de campo da
pesquisadora e de alta temporada no Pará, houve apenas dois passeios no período
de julho e um passeio no período de janeiro.

Agregando-se a todos esses problemas, houve inúmeras divergências de


interesses que dividiram o Instituto. Sendo o motivo mais relevante a transferência
de desavenças pessoais para o Tapiaim de dois dos membros mais influentes, que
acabaram influenciando o resto do grupo. As desavenças que já existiam entre Tapiaim
e Peabiru se adicionaram aos membros da própria comunidade, o que acabou levando
à inatividade do Instituto Tapiaim.

No seu livro “Comunidade: a busca por segurança no mundo atual”, Bauman


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(2003) faz importantes considerações a respeito da visão romântica que a maioria das
pessoas “de fora” tem em relação ao sentido de comunidade. Atualmente, o que se nota
por parte de defensores deste tipo de turismo, é a crença de que a implantação do TBC
em localidades comunitárias pode ser uma espécie de “salvação” capaz de resolver
grande parte dos problemas ali vividos. Cria-se a expectativa de que a comunidade
seja coerente com todas as características que este tipo de projeto possui.

Segundo Bauman (2003), para pessoas exógenas, a ideia de comunidade


evoca um sentido de homogeneidade ao se pensar que é possível encontrar dentro
dela tudo aquilo que o ser humano sente falta no seu dia-a-dia: lealdade, acolhimento,
segurança, senso de coletividade. No entanto, integrantes de comunidades também
estão inseridos na sociedade e no sistema que vivemos e por isso mesmo, apresentam
todas as suas contradições e dificuldades. Pensar em comunidade sem conflito,
segundo Bauman (2003), seria criar uma realidade utópica.

Ainda que a maneira como estava sendo trabalhado o TBC em Curuçá tenha
sido considerada pouco participativa e com resultado financeiro irrisório, houve
outros tipos de benefícios que envolvem questões mais profundas, como consciência
ambiental, senso de responsabilidade com o lugar e com as pessoas. Ao perceber
que existe o interesse de pessoas “de fora” em conhecer seus modos de vida e o
meio ambiente da Reserva Extrativista MGC, os envolvidos com o TBC passaram
a preocupar-se mais em cuidar da Reserva e a enxergar um valor que vai além da
questão econômica, se envolvendo com aquele espaço.

A construção do restaurante “Lá no Mangue” com comidas típicas da região, os


trabalhos de conscientização ambiental e “resgate” cultural nas escolas do município, o
novo projeto de TBC somente com membros da comunidade do Candeua em parceria
com a Secretaria de Turismo, bem como a inserção de um dos ex-integrantes do
Instituto Tapiaim na faculdade de Gestão Ambiental, foram algumas das concretizações
que tiveram grande influência do projeto de TBC em Curuçá.

Para concluir este trabalho, o que se pode avaliar no caso Curuçá é que o
ecoturismo de base comunitária ali vivido está seguindo a linha que mais diferencia
este tipo de turismo dos convencionais: a base endógena de desenvolvimento.
Marcon (2007) entende que esta política deve estar associada a uma dinâmica “de
baixo para cima”, na qual os atores locais desempenham papel central na sua função.
Entretanto, isto não significa estar isento de dificuldades e desafios ou que a base
do desenvolvimento local irá trazer a milagrosa “equidade” tão tratada nas premissas
levantadas por estudiosos que abordam o TBC e pouco compatíveis com o sistema
em que vivemos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Uma das alternativas pensadas para solucionar os problemas da região


amazônica foi a criação de reservas extrativistas, com o objetivo de proteger a
natureza, permitindo o uso sustentável dos recursos e assegurando os meios de vida
das populações “tradicionais”. No caso de Curuçá, foi criada a RESEX Mãe Grande
com intuito de proteger seus manguezais ameaçados, principal fonte de sustento do
seu povo. Entretanto, o que se nota é que esta alternativa tem se mostrado ineficiente
para suprir os anseios daquela população que continua com poucas opções de
trabalho.

A chegada do Instituto Peabiru no município trouxe projetos sociais com


objetivo de promover melhorias para as condições de vida do povo de Curuçá. Um
deles foi o turismo de base comunitária. Por ser uma atividade que tem como cerne
o desenvolvimento local e que respeita a cultura, o meio ambiente e a sua dinâmica
social, o TBC foi considerado uma alternativa econômica apropriada para aquele
ambiente.

A imersão endógena no objeto de estudo trouxe a confirmação de que nem


sempre o que é divulgado ou está nos discursos de ONGs, ministérios e inclusive
na literatura acadêmica, retrata a realidade empírica deste tipo de projeto. Antes
da pesquisa de campo, as expectativas eram de encontrar um ecoturismo de base
comunitária segundo o vídeo divulgado pela Rede Globo: impecavelmente organizado,
em sincronia com as necessidades da região, onde as pessoas envolvidas estariam
em perfeita harmonia com as decisões tomadas a respeito do seu desenvolvimento.

Entretanto, o encontrado foi o oposto do idealizado: uma instituição desativada,


pessoas se acusando pelo insucesso da atividade e uma infinidade de problemas
sociais que afetavam diretamente o desenvolvimento do TBC. A expectativa de que
o turismo estaria ajudando economicamente a vida da comunidade, portanto, foi
eliminada.

A ideia do desenvolvimento local é mais justa por conceder às comunidades


liberdade para escolher o caminho que querem seguir, porém não torna este processo
menos complexo. Trabalhar com comunidades significa lidar com valores, interesses,
necessidades e sonhos diferentes e, por isso mesmo, ter de arcar com conflitos que
nem sempre são fáceis de resolver.

Por isso, é importante mudar esta expectativa de que a comunidade seja coesa
com todas as características que este tipo de projeto possui e abandonar a ideia de
que lá é possível encontrar homogeneidade e um senso de coletividade que não se
encontram mais em outros lugares. Deve-se refletir que a tal comunidade idealizada
também está inserida na sociedade e no sistema que vivemos e, por isso mesmo,
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apresenta todas as suas contradições.

Atualmente, Curuçá está passando por profundas mudanças, onde antes


a maior parte da sua população que trabalhava com atividades ligadas à natureza,
hoje vive uma realidade de um intenso êxodo de jovens à procura de oportunidades
de trabalho na capital e região metropolitana. Os que decidem permanecer no local
muitas vezes têm de encarar o desemprego e uma infinidade de problemas sociais e
ambientais que assolam a cidade.

A vinda do Instituto Peabiru com o projeto de turismo de base comunitária


acabou significando para os que se envolveram com o TBC um sonho de mudança
de suas condições de vida. Entretanto, a não correspondência desses sonhos levou
muitos à desistência ou à falta de compromisso com a atividade.

É importante refletir também sobre o papel do Instituto Peabiru em relação ao


TBC de Curuçá, já que sua função seria dar assistência técnica para a comunidade.
Seria correto esperar somente que os integrantes caminhasse com pernas próprias?
Ou tentar de alguma forma intervir para que o processo tivesse continuidade? Qual
seria, afinal, o papel deste agente quando o plano não funciona de acordo com o
esperado?

Pensar no desenvolvimento do turismo de base comunitária para Curuçá


demanda longo prazo, pois ainda que seja considerado alternativo, exige infraestrutura
e organização. Existe uma necessidade urgente de investimentos que sirvam não
somente para possibilitar o desenvolvimento de uma oferta minimamente capaz de
receber turistas, mas acima de tudo, de atender as necessidades da comunidade.
Só será possível encontrar pessoas que se engajem na sua organização e fomento,
quando suas necessidades mais urgentes forem sanadas.

Ao longo da pesquisa de campo, algumas sugestões foram pensadas para


fomentar a atividade. A criação de encontros que objetivassem intercâmbio de
experiências e aprendizados entre membros de comunidades envolvidos no projeto
de TBC do Pará poderia trazer mudanças de caminhos e novas ações que levariam
ao fomento da atividade. A implantação de hospedagem domiciliar e construção de
campings também seria uma iniciativa adequada para a cidade, já que não demanda
grandes investimentos e os próprios curuçaenses poderiam oferecer estes serviços,
contribuindo, assim, para suprir a carência de hospedagem no município, para renda
complementar, assim como para estimular a vinda de turistas para Curuçá.

Ainda que esteja em fase de transição e que sejam muitos desafios a superar, o
que deve ser destacado aqui é que os curuçaenses estão tendo liberdade de escolher
os caminhos para desenvolver o turismo, o que seria, afinal, a principal diferença em
relação ao praticado na maior parte do país, onde a população local normalmente é
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excluída e prejudicada pelo seu processo de desenvolvimento.

Entretanto, este trabalho deixou algumas questões a serem respondidas: Como


desenvolver o TBC em comunidades onde não há uma demanda efetiva? Será o turismo
de base comunitária adequado para comunidades que possuem necessidades mais
urgentes a suprir? Será o TBC capaz de se estruturar em localidades sem estrutura?
Qual o papel e relevância do Instituto Peabiru para o TBC de Curuçá? Tais indagações
podem servir de base para pesquisas futuras na busca de possíveis caminhos.

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TURISMO DE EXPERIENCIA EM MARECHAL DEODORO-AL: o filé como


produto turístico

Patrícia Lins de Arroxelas Galvão1


Roberta Cajaseiras de Carvalho2

RESUMO: O turismo é considerado como uma das alternativas capazes de tornar


dinâmicas muitas localidades, considerando seu potencial de geração de emprego,
renda e desenvolvimento local. Dessa forma, o crescimento da atividade turística
tem provocado o surgimento de segmentos adequados às exigências especificas do
mercado. O turismo cultural se encontra entre eles, diferente do turismo tradicional,
tem seu foco direcionado a visitações de sítios arquitetônicos de valor histórico, como
também à apreciação de manifestações culturais, como o artesanato produzido no
núcleo turístico. Percebe-se que, atualmente, o turista não busca lugares somente
pela questão da cultura, muito menos para fugir do cotidiano, os visitantes buscam,
essencialmente, experiências e vivências autênticas do núcleo receptor, que possam
ficar marcadas em suas vidas. Este estudo tem caráter diagnóstico, de abordagem
exploratória e foi, principalmente, de cunho qualitativo. O Estado de Alagoas tem sido
foco de vários projetos e ações públicas no âmbito do turismo. Marechal Deodoro é
um município que oferece um forte potencial para a prática do turismo e apresenta
considerável patrimônio cultural aliado ao natural. No que diz respeito aos aspectos
ambientais, pode-se destacar as áreas de manguezais, rios, lagoas, praias, inclusive
a famosa praia do Francês. Quanto aos aspectos culturais, pode-se destacar a
diversidade do patrimônio cultural e social, representado pela arquitetura religiosa
e civil, além do artesanato em filé, tradição bem representativa na região. Contudo,
percebeu-se pouco interesse pela cultura e história da localidade; pouco ou nenhum
conhecimento sobre patrimônio cultural de Marechal Deodoro-AL.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo de Experiência. Filé. Marechal Deodoro.

ABSTRACT: Tourism is regarded as one of the alternatives that make dynamic many
localities, considering their potential to generate employment, income and local
development. Thus, the growth in tourism has led to the emergence of suitable to the
specific requirements of the market segments. Cultural tourism is among them, different
from traditional tourism has its laser focus on visitations of architectural historical
sites, as well as the appreciation of cultural events such as the crafts produced in
the tourist core value. It is noticed that, currently, the tourist seeks not only places the
issue of culture, much less to escape the everyday, visitors essentially seek authentic
experiences and experiences of the receiving core, which may be outlined in their
lives. This paper is diagnostic character, and exploratory approach was primarily a
qualitative study. The state of Alagoas has been the focus of several projects and
public initiatives in the field of tourism. Marechal Deodoro is a city that offers a strong
1 Mestre em Geografia (UFPE). Bacharel em Turismo (UFPE). Professora. Instituto Federal de
Alagoas. parroxelas@yahoo.com
2 Mestre em Turismo (UCS). Bacharel em Turismo (UFPE). Professora. Instituto Federal de
Santa Catarina. robertacajaseiras@gmail.com
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potential for the practice of tourism and has considerable cultural heritage allied natural
heritage. With regard to environmental aspects, can highlight areas of mangroves,
rivers, lagoons, beaches, including the famous praia do Francês. As regards cultural
aspects, the diversity of cultural and social heritage, represented by religious and civil
architecture, craftsmanship beyond filé and representative tradition in the region.

KEYWORDS: Experience Tourism. Filé. Marechal Deodoro.

1. INTRODUÇÃO

A dinâmica do Turismo se expressa nos espaços sociais e nos territórios,


estimulando pesquisadores e estudiosos de diversos campos do saber. O deslocamento
de grupos humanos entre diferentes lugares e culturas provoca a (re)construção de
espaços, induzindo a mudanças no uso desse espaço. Portanto, estudar o Turismo
exige analisar o espaço geográfico, que abrange toda a sociedade e suas inter-
relações.
Atualmente, o turismo tem se mostrado como uma das atividades econômicas
que mais tem crescido e, por isto, também tem sido estudado por diversas áreas
do conhecimento. Tais fatos devem-se a seu dinamismo e capacidade de utilizar os
mais diversos recursos naturais e culturais, transformando-os em produtos turísticos
comercialmente viáveis.
O Turismo é visto ainda como um complexo de atividades e serviços, ou
melhor, uma ampla gama de indivíduos, empresas, organizações e lugares, que
quando em conjunto proporcionam uma experiência de viagem. Nesse sentido, a
atividade é entendida como multidimensional e multifacetada (SANCHO, 1998, p. 41),
relacionada a serviços como deslocamento, transportes, alojamentos, alimentação,
lazer, atividades culturais, entre outros.
Como assevera Barreto (1995, p. 63) “o Turismo pode ser considerado uma
necessidade social, quando a pessoa entende que deve viajar para obter determinado
status e assim ser estimada pelo grupo”. Desta forma, se a pessoa busca no Turismo
a autorealização como uma atividade que lhe satisfaça e que lhe traga prazer ou
autodesenvolvimento por intermédio do conhecimento de novas culturas, o Turismo
virá por último na escala de necessidades do homem.
Para a compreensão do complexo fenômeno turístico, é necessário analisar
as particularidades dos vários campos de conhecimento que o envolve, não de
maneira compartimentada, mas através de uma interação entre esse conjunto de
conhecimentos. Para tanto, Rodrigues (1997, p. 22) afirma que:
o fenômeno do turismo (...) é um importante tema que deve ser tratado no
âmbito de um quadro interativo de disciplinas de domínio conexo, em que
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o enfoque geográfico é de fundamental importância, uma vez que, por sua


tradição, lida com a dualidade sociedade x natureza.

Lozato-Giotard apud Yázigi (1996, p. 135) reforçam a importância da análise da


Geografia no entendimento do turismo, apontando que o espaço é considerado
como matéria-prima do turismo e, sem subestimar os outros fatores,
as condições geográficas desempenham um papel de primeiro plano,
frequentemente essencial, na atração de um lugar turístico. As condições
naturais, patrimônio cultural e histórico, o potencial técnico e o ambiente
econômico são igualmente critérios geográficos que intervêm, seja sozinho,
seja em combinação, nos diferentes tipos de turismo.

A atividade vem se adaptando às necessidades e novas realidades. O que


antes se baseava em atividades focadas no modelo sol e praia, diversificaram-se. De
acordo com motivações especificas, o turismo foi se segmentando baseado no perfil
diferenciado dos turistas. Dentre estes segmentos está o turismo cultural, no qual é
possível promover a conservação dos bens históricos através da renda gerada pela
visitação, fomentando a economia local, contribuindo para a educação da comunidade
receptora. A atividade tem seu foco direcionado a visitações de sítios arquitetônicos
de valor histórico, como também à apreciação de manifestações culturais, como o
artesanato produzido no núcleo turístico.
Nesse sentido, é notório perceber que, atualmente, o turista não busca
lugares somente pela questão da cultura, muito menos para fugir do cotidiano, os
visitantes buscam, essencialmente, experiências e vivências autênticas do núcleo
receptor, que possam ficar marcadas em suas vidas.

Marechal Deodoro está localizado na região sudeste do Estado de Alagoas,


limitando-se a norte com os municípios de Pilar, Cajueiro, Santa Luzia do Norte e
Satuba, a sul com Barra de São Miguel, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste
com São Miguel dos Campos e Pilar. A área municipal ocupa 361,85 km2, inserida na
mesorregião do Leste Alagoano e na microrregião de Maceió. O estado de Alagoas
está localizado no Nordeste do país, e sua economia é fundamentada na agricultura,
principalmente o setor sucroalcooleiro; na indústria (setor químico) e serviços, onde
se pode destacar a atividade turística (IBGE, 2013).

Conforme dados da SEPLANDE (2013) - Secretaria de Planejamento do Estado


de Alagoas, o turismo teve um crescimento de 5,34% em relação ao mesmo período
em 2011, devido ao aumento da divulgação nos estado emissores e novos voos
diários para a capital. A maior parte dos turistas que visitam o estado é de brasileiros,
uma vez que não existem voos internacionais regulares para o aeroporto Zumbi dos
Palmares. No mesmo período também houve um incremento da ocupação hoteleira e
o aumento do fluxo de passageiros aéreos e marítimos.

Nessa perspectiva, o turismo no estado de Alagoas é caracterizado pelo foco


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no segmento de lazer, praticado principalmente em ambientes litorâneos. A cidade


de Marechal Deodoro é detentora de uma das praias mais famosas do estado: a
praia do Francês. No entanto, o município também oferece forte potencial para a
prática do turismo cultural e apresenta importante patrimônio cultural aliado ao natural,
importantes elementos para o fomento ao turismo de experiência.

Conforme dados do IBGE (2013), Marechal Deodoro surgiu no ano de 1611


como Vila da Madalena. Serviu de sede do governo da então província de 1823 a
1838. O município possui grande valor histórico, principalmente por ter sido a primeira
capital do Estado e berço do proclamador da República, que deu nome à localidade.
Tombada pelo Patrimônio Histórico, tem valor arquitetônico incontestável, onde
se destaca o complexo franciscano de Santa Maria Madalena, a igreja de Nossa
Senhora da Conceição, de 1654, conhecida como igreja da matriz, e a casa de
Marechal Deodoro, onde o primeiro proclamador da República nasceu e morou até
a adolescência (HELENO, 2012). O município é banhado pelas lagoas Mundaú e
Manguaba e tem como atrativos naturais a Ilha de Santa Rita (maior ilha lacustre do
país e área de preservação ambiental), a prainha, praia do saco e a turística praia do
Francês.

O município de Marechal Deodoro, além dos recursos naturais tão bem


representados pela lagoa manguaba, o passeio das nove ilhas e a tão visitada praia do
Francês, também pode ofertar, como produto diferenciado ao já tradicional turismo de
sol e praia, a vivência em aprender a confeccionar o artesanato local, o filé. O turismo
de experiência surge como possibilidade de oferta novo produto turístico, contribuindo
para o desenvolvimento social e econômico local.

O presente estudo tem como objetivo analisar os atrativos turísticos de Marechal


Deodoro, com foco no patrimônio cultural, para identificar a importância do artesanato
em filé como produto turístico. Entendendo que, a partir da experiência do visitante
em aprender os pontos do filé, esta prática pode contribuir para o desenvolvimento
socioeconômico da região, por meio da divulgação, venda e valorização dos produtos
locais.

Ressalta-se que, quando o turista chega a uma localidade, ele já possui


informações sobre os atrativos da cidade, dessa forma, o visitante está em busca não
mais de uma simples contemplação de paisagem, mas realmente de passar por algo
que supere suas expectativas, que possa oferecer uma vivenciam única e original,
por meio da oferta de atividades lúdicas ou simplesmente a participação em processo
de fabricação de algum produto, enfim, algo que proporcione lembranças fantásticas
da viagem. Portanto, surge então, a partir desses novos anseios, uma nova forma de
praticar o turismo - turismo de experiência.
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2. JUSTIFICATIVA

Justifica-se essa proposta por se verificar que, comercialmente, o município é


explorado, unicamente, por meio dos atrativos naturais, a exemplo da ampla divulgação
da Praia do Francês. Assim, é preciso ampliar essa realidade, a partir de estudos e
pesquisas para identificar novas alternativas da prática do turismo.

Observando os acervos históricos e culturais de Marechal Deodoro, nota-se


a dificuldade em manter os seus atrativos abertos para visitação, impossibilitando
sua plena utilização, tanto pela comunidade local quanto por visitantes e atuantes
na área do turismo histórico-cultural. Como o município não possui ascendência com
profissionais especializados na área, porém sendo oferecido o curso Técnico de
Guia de Turismo pelo Instituto Federal de Alagoas, sente-se a necessidade de inserir
esses alunos atuando como disseminadores desse conhecimento, contribuindo para
o seu crescimento profissional e oferecendo oportunidade de inserção na prática da
atividade turística, ao tempo em que proporcionará para visitantes e moradores, mais
informações sobre arquitetura e história do município.

Percebe-se também que há certa escassez de estudos, pesquisa e atividades


de extensão integradas, indissociadas e de caráter interdisciplinar, envolvendo o
Patrimônio Cultural e o campo de estudo dos cursos de Turismo na região, o que
conserva o desejo de tentar contribuir com o objeto de estudo do turismo e na formação
técnica, tecnológica, profissional e acadêmica dos discentes.

A atividade turística é capaz de promover a consciência para a preocupação


com os elementos culturais e naturais. Dessa forma, a relação com o ambiente (natural
e construído) passa a ser um instrumento que proporciona um novo pensar e uma
nova compreensão sobre a relação entre os homens e a natureza. Nesse sentido, é
de fundamental importância o envolvimento da sociedade nos direcionamentos e nas
decisões, as quais devem contribuir para um repensar da problemática sociocultural e
ambiental que evidencia cada localidade.

Nesse sentido, importante ressaltar que as atividades turísticas podem contribuir


para a educação da comunidade receptora e, sobretudo, a valorização do patrimônio
local pela visitação pode significar o fortalecimento da autoestima da população
anfitriã.

Para clarear essas justificativas expostas, é importante também ressaltar


que a construção de um projeto turístico que envolve todos os agentes da atividade
(moradores, governantes, empresários, turistas) deve ser baseado num modelo de
turismo socialmente responsável e participativo, com a finalidade de beneficiar a
comunidade local. Além disso, deve-se respeitar as heranças culturais e as tradições
regionais.
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Dessa forma, a atividade turística deve considerar o encontro entre esses


agentes, identificando o intercâmbio entre os sujeitos que recebem e os que são
recebidos (IRVING, 2008, p. 114). Confirmando esta interação vital, os órgãos públicos
que regulamentam a atividade voltam suas ações para fortalecer o combate à pobreza
a partir da inclusão social dos moradores nas práticas econômicas.

3. OBJETIVOS

Objetivo Geral

Diagnosticar o patrimônio histórico-cultural para perceber a importância do


turismo de experiência, por meio da vivência do artesanato em filé, representativo da
cidade de Marechal Deodoro – AL no contexto turístico regional.

Objetivos Específicos: 

I. Realizar levantamento dos atrativos natural e cultural de Marechal Deodoro;

II. Caracterizar os costumes, tradição sociocultural, econômicos e ambientais


do município de Marechal Deodoro;

III. Estudar a origem, uso e costumes do artesanato em filé para a região;

IV. Analisar a possibilidade de comercializar o filé como produto turístico.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

De acordo com Sposito (2004) o método deve ser abordado como instrumento
intelectual e racional capaz de possibilitar a compreensão da realidade objetiva pelo
investigador na perspectiva de estabelecer verdades científicas para as devidas
interpretações. Nesse sentido, torna-se importante a identificação de aspectos e
elementos relacionados a valores e significações.

Esta pesquisa tem como principal aspecto o caráter diagnóstico, utilizando-


se de abordagem exploratório. Com o intuito de apresentar um estudo preliminar
sobre o turismo no Município de Marechal Deodoro – AL, a partir da perspectiva do
artesanato em filé, foi elaborada uma metodologia baseada em três etapas, sendo:
Caracterização histórica e cultural da área de estudo; Levantamento dos atrativos
turísticos (natural e cultural); Análise dos aspectos históricos, culturais, econômicos e
ambientais do desenvolvimento do Turismo, descritas a seguir:
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I. Caracterização histórica e cultural do Município de Marechal Deodoro.


Esta etapa objetivou resgatar a história da cidade desde seus primeiros
colonizadores, seu desenvolvimento até os dias atuais. A caracterização
foi elaborada através de pesquisa bibliográfica, com visitas às bibliotecas,
aos espaços culturais e visitas aos órgãos oficiais.

II. Levantamento dos atrativos turísticos. Foi realizado um levantamento dos


atrativos naturais e culturais, através do preenchimento dos formulários
de inventariação turística, elaborados pelo Ministério do Turismo. Esta
etapa foi efetivada por meio de atualização do inventário já existente e
visita de campo, para verificar a manutenção dos atrativos e catalogar
novos produtos.

III. Análise dos aspectos históricos, culturais, econômicos e ambientais do


desenvolvimento do Turismo. Estudo com o intuito de avaliar o interesse da
população, dos turistas, poder público e privado sobre o desenvolvimento
da atividade turística, especificamente voltada para a valorização dos
aspectos culturais e do artesanato.

A pesquisa foi, principalmente, de cunho qualitativo, que se buscou identificar


as características principais para analisar o turismo voltado para incentivo à cultura.
Esta análise foi direcionada aos turistas e visitantes, a partir de observação e
pequenos questionamentos, com o objetivo de verificar o interesse e a valorização
pelos atrativos turísticos, principalmente o artesanato, e o grau de conhecimento do
patrimônio histórico na localidade. A amostra foi totalmente intencional e ocorreu no
período de dezembro de 2013 a março de 2014.

Este estudo iniciou-se no mês de setembro de 2013, com pesquisa bibliográfica


e identificação dos principais atrativos naturais e culturais de Marechal Deodoro. Após
esta identificação, pode-se mapear as principais áreas para realizar a observação in
loco dos moradores e alguns turistas. Foram identificados o sítio histórico e a praia
dos francês como pontos de apoio para realização das observações, tanto para os
moradores, quanto para os turistas. As conversas foram iniciadas em dezembro de
2013. Pretende-se ainda realizar mais entrevistas com os turistas, em época de baixa
estação, nos meses de maio a julho de 2014.

Por fim, pretende-se ainda, a partir desse estudo, propor roteiro bem elaborado
e testado, sensibilizar as empresas de turismo receptivo a oferecerem o roteiro
proposto pelo projeto aos seus clientes, como forma de divulgação da cidade através
da vinculação do artesanato de Marechal Deodoro como um produto turístico, aliado
às belezas naturais e à riqueza do patrimônio cultural, material e imaterial.
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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A caracterização histórica foi realizada através de pesquisa bibliográfica, com


visitas às bibliotecas, aos espaços culturais do município e em Maceió-AL e, ainda,
visitas aos órgãos oficiais (Prefeitura, Secretaria de Cultura e Secretaria de Turismo).
Com o proposto de resgatar a história da cidade e seus principais pontos de interesse
turístico, esse estudo bibliográfico resultou em importante material histórico e cultural
para ser trabalhado em diversas atividades desenvolvidas pelos alunos da rede pública
de ensino e futuros pesquisadores do turismo e da cultura deodorense.

Foi identificada a necessidade de realizar uma atualização do inventário já


existente e visita de campo, para verificar a manutenção dos atrativos e catalogar
novos produtos; os formulários de inventariação turística foram baseados nos modelos
trabalhados pelo Ministério do Turismo. Já a entrevista com os moradores ocorreu
de maneira informal, nos meses de dezembro/2013 a janeiro/2014, sempre nos dias
de semana, de forma aleatória, foram entrevistados 45 moradores, com a intenção
de se buscar o entendimento destes sobre a atividade turística, mais precisamente
sobre o turismo cultural e a percepção eu estes possuem sobre o legado cultural do
filé como possível atrativo turístico. Notadamente, percebeu-se que a população de
áreas próximas a empreendimentos turísticos já possui uma adequada noção sobre
os benefícios da atividade, identificando quais os principais atrativos turísticos mais
visitados, conforme gráfico 1.

GRÁFICO 1 – ATRATIVOS MAIS VISITADOS NA OPINIÃO DOS


MORADORES, 2013
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A conversa com os moradores buscou identificar, também, qual a visão que


estes possuem sobre o legado cultural que artesanato em filé e o ponto da singeleza
possuem e como podem contribuir para a valorização cultural e atração turística.
Quando perguntados sobre qual é o principal legado cultural, de acordo com a figura
2, percebe-se que 46% dos entrevistados entendem ser o artesanato uma tradição na
cidade, inclusive, alegam que a arte é passada de geração em geração. Interessante
perceber que homens e mulheres detêm o conhecimento e executam a elaboração de
diversas peças em filé. No entanto, foi identificado que não há discernimento sobre a
relação do filé com o turismo praticado em Marechal Deodoro. Talvez porque o tipo de
atividade que mais se vislumbra seja o tão conhecido turismo de sol e mar.

GRÁFICO 2 – LEGADO CULTURAL DO ARTESANATO

Conforme gráfico 3, mais da metade dos entrevistados (67%) não vislumbram


o filé como ponto de atração para o desenvolvimento do turismo, pois segundo alguns
moradores, o consumo pelo artesanato é maior no pontal da barra (Maceió) e os
artesãos apenas revendem aos comerciantes do pontal.

GRÁFICO 3 – FILÉ COMO PRODUTO TURÍSTICO, NA VISÃO DOS MORADORES


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Com o intuito também de obter maiores informações sobre a prática do


turismo na parte histórica da cidade e confrontar o entendimento dos moradores,
foram entrevistados, durante os meses de janeiro e março de 2014, 11 turistas
durante sua estadia na praia do Francês, Marechal Deodoro-AL. O número reduzido
de entrevistados, deveu-se à certa dificuldade em realizar a pesquisa, visto que os
turistas não dispõem de muito tempo para a entrevista.

Constatou-se que, em sua grande maioria, o interesse irrestrito dos turistas


é por praia, conforme gráfico 4. Sabe-se que a pesquisa foi realizada no período de
alta estação, de certa forma, há uma grande demanda por sol e praia neste período
do ano. Além disso, há pouca informação sobre outros atrativos, inclusive culturais,
localizados na região.

GRÁFICO 4 – INTERESSE POR ATRATIVO TURÍSTICO NA REGIÃO, 2014


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Assim como questionado aos moradores sobre a visão do artesanato em


filé como atrativo turístico, também foi perguntado aos turistas sobre interesse pelo
artesanato local e a vinculação à atividade turística. Contudo, todos os entrevistados
percebem a total relação do artesanato ao turismo, condicionando as viagens à
identificação da cultura local, artesanato e souvenirs. No entanto, na visão destes, o
que falta é maior divulgação do que seria artesanato próprio da região.

Diante de algumas dificuldades encontradas, o que mais impactou diretamente


no andamento da pesquisa foi a não disponibilidade dos turistas, uma vez que eles
estavam em seu momento de lazer e descanso e não gostariam de se importunados.
É sabido que eles prezam pelo tempo livre e gostam de desfrutar, tranquilamente,
do destino turístico. Justifica-se, portanto, o pouco número de turistas dispostos a
contribuir.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Turismo tem recebido destaque no âmbito científico, devido a sua


proximidade com o objeto de estudo da Geografia, especialmente ao interferir na
estruturação espacial. Conforme observado em pesquisa, a relação Turismo e espaço
provoca mudanças nas organizações espaciais visto que cria certas distorções na
configuração dos espaços. A atividade turística se torna agente reorganizador dessas
configurações ao criar núcleos de inclusão em atividades socioeconômicas, resultando
na dinamização socioespacial.

Nesse contexto, é importante ressaltar que as análises realizadas nesse


presente estudo contribuíram, de alguma forma, para a compreensão do processo
de utilização do Turismo no espaço histórico-cultural de Marechal Deodoro, uma vez
que tal atividade vem dinamizando a economia, reconfigurando o arranjo espacial
local e atribuindo, dessa maneira, novas funcionalidades e novas formas de uso e
apropriação para fins turísticos.

Diante dos resultados obtidos na área em estudo, pode-se destacar,


timidamente, a viabilidade da prática turística na localidade. Entretanto, faz-se
necessário estabelecer planejamento e gestão adequados para a realidade local,
com objetivo de obter infraestrutura apropriada à atividade turística, mão-de-obra
qualificada, habilidades em marketing para divulgar os produtos culturias, artesanais,
naturais e, consequentemente, turísticos de toda a região.

Esta pesquisa preliminar vem a contribuir para embasar futuros estudos na


área do Turismo Cultural na região, uma vez que os resultados obtidos poderão
ser investigados sob diversos prismas ou mesmo auxiliar na formatação de novas
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propostas de estudo para o turismo em Marechal Deodoro-AL. Como também, podemos


apontar a contribuição para melhor entendimento sobre alternativas ao turismo de sol
e praia, resultando em uma série de benefícios tanto econômicos quanto sociais para
a localidade.

No caso do turismo cultural, sua correta administração, pode torná-lo instrumento


de valorização do patrimônio histórico da localidade, promovendo o desenvolvimento
local, contribuindo para a manutenção dos bens históricos, o aumento da autoestima
da população assim como o prevalecimento de sua identidade cultural.

É a partir da ideia de desenvolvimento local que se torna possível contribuir


para o turismo na região, pois ao se pensar o turismo, é preciso considerar os espaços
e práticas de lazer, que deveriam ser direcionados à população local. Assim, pensar
em um turismo de base local pressupõe a busca de uma atividade que contribua para
o desenvolvimento de toda a comunidade local, através de melhor distribuição dos
benefícios econômicos, da valorização e respeito às culturas locais e regionais e da
conservação dos recursos naturais.

Por fim, a proposta deste artigo é utilizar a pesquisa para embasar futuros
estudos e pesquisas e ser utilizada em sala de aula, em propostas de elaboração
de roteiros diferenciados e incentivar o trade turístico a incluir o patrimônio histórico
e cultural de Marechal Deodoro no circuito mercadológico das agências de turismo
receptivo. Contudo, a partir da análise aplicada à atividade turística, ampliam-se as
formulações teóricas sobre o assunto, já que o crescimento dessa nova atividade
assimila e modifica o espaço. Diante disso, fez-se necessário elaborar um trabalho
de pesquisa para refletir a respeito dos efeitos do turismo de experiência sobre as
realidades locais e regionais, buscando entender a geografia de um lugar, seus
agentes sociais e as normas locais.

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CAPITAL SOCIAL E PERCEPÇÃO ECOTURÍSTICA NA COMUNIDADE DE BASE


DE JOÃO FERNANDES (ARMAÇÃO DOS BÚZIOS – RJ)

Milena Manhães Rodrigues1



RESUMO

O Capital Social é um dos fatores essenciais para a prosperidade econômica e


sustentabilidade de qualquer projeto, inclusive de empreendimentos baseados no
ecoturismo. É a coesão social expressa em forma de redes de cooperação com
atuação em prol de objetivos coletivos. Está pautada, basicamente, em três fatores:
laços de confiança, reciprocidade e sistemas de participação cívica. Entre os princípios
do Ecoturismo está a participação da comunidade envolvida desde o planejamento da
atividade até a execução. Por conseguinte, para o desenvolvimento do Ecoturismo
numa determinada região, é necessário ter ou fortalecer um alto estoque de Capital
Social. Somente o protagonismo local, as condições físico-territoriais ou a vocação não
garantem o desenvolvimento desta ou de qualquer outra atividade, pois a comunidade
pode valorizar diferentemente seus recursos a partir de seus sonhos, interesses,
habilidades, competências, etc. Neste contexto, o estudo da percepção ecoturística
permite relacionar a compatibilidade entre os hábitos, comportamentos, preferências
ambientais e expectativas de uma população com o ecoturismo. Assim, o presente
trabalho teve como objetivo estudar o capital social e a percepção ecoturística da
comunidade envolvida com o projeto EcoTurisMar. Para tal, foram aplicados a população
de João Fernandes (Armação dos Búzios - RJ): o Questionário Integrado para Medir
o Capital Social do Banco Mundial – questões centrais – e o Formulário de Percepção
Ecoturística adaptado. O estudo revelou que João Fernandes apresenta baixo estoque
de capital social, principalmente de capital social de ponte e ainda de conexão; apesar
de apresentar bom estoque quando se trata de confiança e solidariedade (capital
social cognitivo). Quanto a Percepção Ecoturística, os moradores apresentaram alto
número de acertos, ou seja, relação positiva benéfica ao Ecoturismo, embora tenham
informações equivocadas acerca da definição de erosão e da relação de minimização
de impactos intrínseca na realização do Ecoturismo, porém comumente dispensada
no Turismo de Massa – típico em Armação dos Búzios.

PALAVRAS-CHAVE: Capital Social. Percepção Ecoturística. Ecoturismo de Base


Comunitária. Armação dos Búzios.

ABSTRACT

Social Capital is of paramount importance for the economic prosperity and sustainability
of any project, including enterprises based on Ecotourism. It is social cohesion
expressed as cooperation networks acting in favor of collective goals. It is basically
built upon three factors: bonds of trust, reciprocity and civic engagement. One of the
Ecotourism principles is the host community involvement since activity planning until
its implementation. Therefore, so as to develop Ecotourism in a particular area, it is
paramount to have or strengthen a high stock of Social Capital. Only local leadership,
physical-territorial conditions or vocation do not guarantee the development of this
1 Especialista em Análise Ambiental e Gestão do Território. Tutora Presencial do CEFET.
E-mail: milenaarj@gmail.com
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or any other activity, once communities can value differently their resources from
the standpoint or their dreams, interests, abilities, skills, etc. In this context, studying
Ecotourism perception allows us to analyze the compatibility between the environmental
preferences, behaviors, habits and expectations of a population in face of Ecotourism.
Thus, this work aimed at studying Social Capital and Ecotourism perception of the
community involved in the project EcoTurisMar. In order to accomplish that, the World
Bank Integrated Questionnaire for the Measurement of Social Capital and an adapted
version of the Ecotourism Perception Formulary (FPE) were applied to the population
of João Fernandes (Armação dos Búzios -RJ). The study found that João Fernandes
has low stock of Social Capital, particularly Bonding and Bridging Social Capital;
conversely, the community presents good stock when it comes to trust and solidarity
(Cognitive Social Capital). Regarding Ecotourism perception, residents showed a high
number of correct actions (positive relationship beneficial to ecotourism), although they
have misguided information when it comes to the definition of erosion and about the
relationship of harm minimization intrinsic to Ecotourism, but commonly disregarded in
Mass Tourism – typical in Armação dos Búzios.

KEYWORDS: Social Capital. Ecotourism Perception. Community-Based Ecotourism.


Armação dos Búzios.

1 – INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
“O “capital” gerado pela livre organização das pessoas da comunidade em
torno de valores compartilhados e objetivos comuns constitui o recurso
fundamental para o desenvolvimento. Esse “capital” é chamado de Capital
Social. Se uma comunidade gera e acumula uma dose suficiente de Capital
Social, então ela está pronta para se desenvolver”. (AED – AGENCIA DE
EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO, 2004).

Sob a perspectiva do capital social, a atividade turística, em especial do turismo


de base comunitária, implica no planejamento participativo como ferramenta de
desenvolvimento endógeno.

O Ecoturismo, como Turismo de Base Comunitária, pode beneficiar a integração


e a cooperação social porque as atividades desenvolvidas ultrapassam os limites
da propriedade, necessitando o envolvimento e a organização da comunidade nas
questões que envolvem suas atividades.
“O Ecoturismo como ferramenta do desenvolvimento regional somente
terá êxito se houver participação ativa da comunidade local, inclusive no
planejamento e definição de estratégias, de forma que todos possam, direta
e indiretamente, melhorar sua qualidade de vida”.
(WESCHENFELDER, 2008, p.07).

Não só o alto estoque de capital social, mas também a valorização e


reconhecimento da vocação de uma dada localidade pela comunidade anfitriã
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contribuem para a sustentabilidade2 de projetos relacionados a “esta vocação”.


“Mas, em nenhuma hipótese, condições objetivas determinam vocações.
Por exemplo, duas localidades que apresentam condições ambientais e
físico-territoriais semelhantes podem sempre tomar caminhos diferentes de
desenvolvimento. Porque seus habitantes podem sempre fazer escolhas
diferentes, porque podem sempre valorizar diferentemente os seus recursos.
Além disso, tal escolha nunca é apenas racional. Depende, entre tantas outras
coisas, dos sonhos das pessoas, dos interesses dos agentes políticos e
econômicos, das capacidades, habilidades e competências da sua população
e da configuração e da dinâmica da sua rede social” (AED – AGENCIA DE
EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO, op. cit.).

Assim, para contribuir com o desenvolvimento do ecoturismo em Armação dos


Búzios, neste caso com o projeto EcoTurisMar3, demanda o estudo da percepção
ecoturística a fim de avaliar o conhecimento e comportamento dos moradores
em relação ao turismo e ao meio ambiente, bem como a percepção dos recursos
ecoturísticos.

Mediante estas considerações, neste trabalho foram aplicados o questionário


QI-MCS (Questionário Integrado par Medir o Capital Social) proposto pelo Banco
Mundial e o FPE (Formulário de Percepção Ecoturística) adaptado. E o recorte
espacial da pesquisa foi o bairro de João Fernandes, considerando a área de atuação
do projeto EcoTurisMar, em Armação de Búzios (RJ).

Deste modo, este trabalho teve como objetivo geral estudar o capital social
e a percepção ecoturística da comunidade de base de João Fernandes (Armação
dos Búzios, RJ); e como objetivos específicos: Levantar o Capital Social de João
Fernandes; verificar o nível de percepção ecoturística da comunidade envolvida com
o projeto EcoTurisMar; e analisar a relação entre capital social, percepção ecoturística
e ecoturismo.

2 – REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 – CAPITAL SOCIAL

O termo Capital Social foi empregado pela primeira vez em 1916 por Lyda
Judson Hanifan, relacionando estudos sobre pobreza, baixa relação de confiança e
sociabilidade em centros comunitários rurais. A retomada deste conceito fundamentou

2 Sustentabilidade: significa que o valor de um sistema ou de uma de suas “saídas” ou “produtos”


é não decrescente no tempo, o que implica uma avaliação de longo prazo (Gallopin, 2005). Não é
sinônimo de ambiental, pois é um conceito multidimensional, de modo que podemos falar não somente
em sustentabilidade ambiental, mas também em sustentabilidade social, sustentabilidade econômica e
outras.

3 Projeto de Educação Ambiental pelo Ecoturismo Marinho e Costeiro de Base Comunitária em


João Fernandes (Armação dos Búzios - RJ
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pesquisas entre as décadas de 50 e 80 sob diversos enfoques (econômico, social,


etc); de autores como Johns Seeley, Glen Loury, Ivan Light, Pierre Bourdie e James
Coleman (D’ARAUJO, 2003).

Entretanto, a genealogia do conceito de capital social respalda-se principalmente


nas abordagens de Bourdieu, Coleman, Putnam e Fukuyama (AGUIAR & FRANÇA,
2010).

Na sua origem, o conceito de capital social surge no âmbito da sociologia a


partir dos estudos de Bourdieu, que se referiu às vantagens de pertencer a certas
comunidades. E define Capital Social como agregado de recurso ligado à posse de uma
forte rede social de relações “institucionalizadas de compromisso e reconhecimento
mútuo, onde os benefícios se revertem pela participação de um determinado grupo
através da solidariedade” (COSTA et al, 2008).

Coleman baseou seu conceito de Capital Social agregando as abordagens da


Sociologia e da Economia e, inicialmente passou a identificá-lo na relação educação e
desigualdade social. O autor ressalta no âmbito individual, a capacidade de relacionar-
se, a rede de contatos sociais fundamentada em expectativas de reciprocidade e
comportamentos confiáveis que, em conjunto, melhoram a eficiência individual. Já no
âmbito coletivo, enfatiza a propriedade do capital social em subsidiar a manutenção da
coesão social4 por meio da subordinação às normas e leis, e de comportamentos como
negociação em situação de conflito, sobrepujando a cooperação sobre a competição.
(COSTA op cit).

A difusão dos estudos sobre Capital Social e a popularização do conceito


deu-se a partir da obra de Robert Putnam e seus estudos sobre a Itália e Estados
Unidos, associando este tema como fator crucial para o desenvolvimento econômico.
Ele “define Capital Social como traços de vida social – redes, normas e confiança –
que facilitam a cooperação na busca de objetivos comuns” (PUTNAM, 1993 apud
NASCIMENTO, 2009, p. 16), estes traços tendem a ser cumulativos e reforçam-se
reciprocamente.

Tanto Putnam quanto Fukuyama “enfatizam o papel da confiança para a


prosperidade de uma nação, e, para ambos, confiança é a base para o capital social”
(D’ARAUJO, 2003).

Também enfatizando a importância das normas, Fukuyama, define capital


social como:

4 Coesão social: habilidade da sociedade para garantir o bem-estar de todos, incluindo


oportunidades iguais, o reconhecimento da dignidade humana, o respeito a diversidade e a promoção
da autonomia, minimizando as disparidades e evitando a polarização (European Committee for Social
Cohesion, 2004 apud CEPAL, 2007).
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“Normas informais que promovem a cooperação entre dois ou mais indivíduos.


As normas que constituem o capital social podem alcançar desde normas de
reciprocidade entre dois amigos, até as formas doutrinais mais elaboradas e
complexas como o Cristianismo ou o Confucionismo”. (COSTA op. cit., p.05).

A especificidade do estudo sobre Capital Social de Fukuyama está na observação


de diferenças culturais entre os países e seus reflexos sobre a economia consoante o
argumento de que a cultura influencia diretamente a organização industrial de um país
e seu desenvolvimento (D’ARAUJO, 2003).

O capital social tem a finalidade de transformar bens intangíveis (confiança


recíproca) em bens tangíveis (políticas públicas) por meio de culturas predispostas a
cooperação recíproca e voltada para a cidadania (COSTA et al,2008). É considerado
como um fator endógeno às comunidades e grupos sociais, que pode ser fortalecido e
desenvolvido e de caráter fundamental em processos de desenvolvimento sustentável
em regiões com desigualdades (AGUIAR & FRANÇA, 2010).

Há autores que consideram exageradas tais afirmações e existem também


na literatura controvérsias quanto às possibilidades de gerar ou desenvolver capital
social onde ele inexista (MUELLER, RIEDL & RAMOS, 2006, p. 11), o que, em teoria,
acarretaria em sérios empecilhos ao desenvolvimento.

Apesar das criticas quanto ao determinismo cultural vinculado ao estoque de


Capital Social e a consequente impossibilidade de mudanças em hábitos sociais em
curto prazo em comunidades sem tradição de “virtudes cívicas”, Putnam não rejeita
a possibilidade do capital social sofrer alterações ao longo do tempo, afirmando que
este “à diferença de outras formas de capital, geralmente tem que ser gerado como
subproduto de outras atividades sociais”. Legitimando tal possibilidade, Kliksberg
discorre sobre experiências internacionais nas quais teria havido alterações no capital
social a partir de “movimentos sociais”; fato endossado por Durston que afirma que foi
possível criar, deliberadamente, capital social em comunidades rurais na Guatemala
em poucos anos onde prevaleciam normas “acívicas”. (MUELLER, RIEDL & RAMOS,
op.cit.).

Segundo Neumann & Neumann (2004, p. 32), inexistem fórmulas para fortalecer
capital social, mas é importante encorajar parcerias entre instituições e indivíduos,
que pode ocorrer em diversos estágios: Colaboração, Cooperação, Consultas e Troca
de Informações.

Neste contexto, o Banco Mundial elaborou o QI- MCS (Questionário Integrado


para Medir Capital Social), a fim de prover um conjunto de ferramentas, sob a forma
de questões essenciais para medir as várias dimensões do capital social, com foco
em aplicações nos países em desenvolvimento; na expectativa de fomentar o “diálogo
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entre pesquisadores, formuladores de políticas públicas, gerenciadores de tarefas, e


a própria população empobrecida”.

Vale ressaltar que, segundo Grootaert et. al (2003), a análise das dimensões
do capital social deve estar ancorada nas distinções entre o capital social estrutural
(participação em associações e redes) e cognitivo (confiança e adesão às normas),
entre o capital social comunitário ou de ligação (laço entre pessoas similares, ou seja,
que compartilham características demográficas; expresso em forma de participação
em organizações locais, grupos cívicos e redes informais), extracomunitário ou de
ponte (laços entre pessoas com diferenças demográficas; expresso em forma da
capacidade de interlocução entre grupos) e institucional ou de conexão (laços com
pessoas que detém posição de autoridade; expresso em forma de engajamento e
interferência dos grupos sociais sobre organizações formais como o governo, sistema
jurídico ou empresas).

Segundo Krishna (2000, apud NASCIMENTO, 2009), a equidade entre os


aspectos cognitivos e estrutural do estoque de capital social, possibilita entradas de
benefícios coletivos, ou atitudes cooperativas reciprocamente benéficas.

Por fim, acrescentar o QI-MCS a cada levantamento possibilitaria avaliar o


impacto do projeto sobre o capital social ou, opostamente, averiguar se áreas com
alto estoque de capital social apresentam a execução de projetos mais bem sucedida.

2.2 – TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA (TBC) E ECOTURISMO

“O TBC é uma interação anfitrião-visitante, cuja participação é significativa para


ambos e gera benefícios econômicos e de conservação para as comunidades e o
meio ambiente local.” (Mountain Institute, apud Instituto Ecobrasil, 2003).

Para Moraes (apud FROESE, 2009), Turismo de Base Comunitária é: [...]


aquele desenvolvido pela própria comunidade, onde seus membros passam a ser
ao mesmo tempo articuladores e construtores da cadeia produtiva, onde a renda
e o lucro permanecem na comunidade contribuindo para melhoria de qualidade de
vida, levando todos a se sentirem capazes de cooperar e organizar as estratégias do
desenvolvimento do turismo. Além de requerer a participação de toda a comunidade,
considera os direitos e deveres individuais e coletivos, elaborando um processo de
planejamento participativo.

Existem diversos tipos de turismo, entre eles, alguns são particularmente


apropriados ao TBC como o ecoturismo, por ser propício à propriedade e ao controle
pela comunidade.
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Segundo a EMBRATUR (1994 apud Ministério do Turismo, 2010, p.17), o


Ecoturismo é “um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o
patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma
consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem
estar das populações envolvidas”.

“O Ecoturismo, em sua concepção, apresenta três objetivos principais:


sustentabilidade, conservação e fortalecimento da comunidade receptora
(WEARING e NEIL, 2001; VIEIRA e NASCIMENTO, 2003). Estes objetivos,
colocados em prática podem fortalecer a organização social da comunidade...”.
(WESCHENFELDER, 2009, p.51).

Para tal, o desenvolvimento socioeconômico sustentável de uma região deve


ser o objetivo maior do Ecoturismo e deve ser alcançado quando há envolvimento
das comunidades anfitriãs e a preocupação premente em gerar benefícios locais
(MITRAUD, 2003).

Apesar da participação da comunidade ser uma premissa do Ecoturismo por


definição, SALVATI (2003, p.55) utiliza a terminologia Ecoturismo de Base Comunitária
e o define como: “turismo realizado em áreas naturais, determinado e controlado pelas
comunidades locais, que gera benefícios predominantemente para estas e para as
áreas relevantes para a conservação da biodiversidade”.

Neste contexto, o EcoTurisMar trata-se de um projeto de Educação Ambiental


pelo Ecoturismo Marinho e Costeiro de Base Comunitária.

2.3 – PERCEPÇÃO ECOTURÍSTICA

A partir da percepção ambiental, o homem pode avaliar os indícios da qualidade


ambiental, conhecer as relações entre o homem com seu entorno e torná-las harmônicas
com seus conhecimentos locais, como ferramentas de educação e transformação.
Assim, a percepção ambiental foi definida como sendo uma tomada de consciência
do ambiente pelo “homem” (TRIGUEIRO, 2003) e recomendação da UNESCO como
método de investigação no processo de integração e envolvimento da população em
projetos relativos ao meio ambiente; até porque integram o meio ambiente e, por isso,
devem ser consultados mediante interferências externas (SCHIMITT, 2005).

Schmitt (2005) aponta como principais tendências de estudo em percepção


ambiental: percepção dos riscos ambientais, percepção da qualidade ambiental,
percepção e valoração da paisagem, percepção para a conservação e gestão
ambiental, percepção da estética ambiental, percepção e educação ambiental,
percepção e ecologia humana, percepção e planejamento ambiental.
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Weschenfelder (2009) concebeu e definiu o termo Percepção Ecoturística e


formulou as pesquisas desta temática com base em estudos de Percepção Ambiental.
Em consonância com a recomendação da UNESCO:

“A percepção ecoturística busca, através de conhecimentos básicos, um


entendimento de como os moradores de uma região se relacionam com o
meio ambiente e com os demais membros da comunidade e se seus hábitos
e comportamentos são compatíveis com as atividades desenvolvidas no
Ecoturismo. Sendo assim, a percepção ecoturística compreende, também,
uma forma simples, direta e ágil de prever o que uma comunidade espera e
quer para o seu futuro, bem como quais seriam suas preferências ambientais”.
(WESCHENFELDER, 2009, p.43)

Segundo o mesmo autor, a Percepção Ecoturística contribuiria como mais uma


ferramenta que, integrada a outras, possibilitaria um planejamento mais embasado,
desenvolvimento e sustentabilidade de projetos de Ecoturismo no âmbito do recorte
de aplicação da pesquisa (local e /ou regional).

2.4 – CAPITAL SOCIAL E ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA

Madureira (2009) relaciona o Turismo de Base Comunitária com Capital Social


e afirma que este tipo de turismo ocorre, quase sempre, através do associativismo, ou
seja, com formação de redes e estas aumentam o grau de organização social e garante
continuidade aos projetos coletivos. E acrescenta que, quando as iniciativas tem como
alicerce o poder público, findo os mandatos políticos, se desintegram; assim sugere
que “uma forma eficiente de criar permanência é empoderar a população para gestão
autônoma de sua atividade”. E o autor ressalta também as redes como mecanismos
eficazes de centralização e divulgação de informações. Ainda sobre Turismo de Base
Comunitária, complementa “[O modelo de gestão mais comum é o solidário (termo
oriundo da economia solidária) que contribui para o fortalecimento do capital social e
para a construção de bases éticas para o desenvolvimento]...[Para Sampaio (op cit) a
sustentabilidade no turismo depende de quatro postulados: priorização das finalidades
sociais, valorização da autonomia (self-reliance), busca de uma relação simbiótica com
o ambiente e efetividade econômica. Esses fins podem ser encontrados no turismo de
base comunitária quando realizado idealmente, ou seja, através de um planejamento
participativo e uma gestão solidária]”.

“O Turismo na comunidade pode ser facilitado se houver capital social


suficiente, assim a mobilização social aconteceria com mais fluidez e
em consequência a participação dos comunitários também, pois cada um
adquire um sentimento de pertencimento ao que é realizado, tornando-se
responsáveis uns pelos outros com a mentalidade de que estão fazendo algo
para o bem comum” (AGUIAR & FRANÇA, 2012, p. 01).
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O Desenvolvimento endógeno, a partir da perspectiva de capital social,


possibilita entender as áreas de destino ecoturístico de forma integrada com seus
habitantes, contribuindo para potencializar os recursos presentes na comunidade e
buscando, sobretudo, o desenvolvimento com a participação ativa de seus agentes
locais.
“O ecoturismo, a partir da perspectiva do desenvolvimento endógeno,
valoriza as particularidades da cultura local e os saberes tradicionais,
constituindo-se em uma estratégia de desenvolvimento que conta com as
riquezas paisagísticas disponíveis e com o capital social, sendo considerado
também, uma excelente complementação de renda, desde que as atividades
planejadas respeitem o ritmo e a capacidade de resiliência da natureza e das
comunidades envolvidas” (DEGRANDI & FIGUEIRÓ, 2009, p.01).

Assim, o enfoque do capital social alia a atividade turística - como uma atividade
capaz de ser planejada e praticada através de uma integração de seus diversos
aspectos em rede (fatores históricos, culturais, sociais, ambientais, etc., em rede) - à
existência de uma atividade sustentável aos seus visitantes, mas principalmente, a
comunidade. (WELLEN, 2009, p. 3).

3 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Armação dos Búzios é um município do estado do Rio de Janeiro desde 1995.


Localizado na Região dos Lagos, a 165 km do município do Rio de Janeiro, é uma
península com 70. 278 km² de área, 8 km de extensão e 23 praias com diferentes
temperaturas; segundo a passagem de correntes marítimas quentes e frias do Equador
ou Pólo Sul.

A exploração turística e a ocupação imobiliária do local tiveram início após a


fama internacional em 1964, com a visita de Brigitte Bardot. Atualmente, o município
apresenta 27.560 habitantes (Censo 2010) e é o 5° destino turístico nacional mais
visitado pela demanda internacional”. 

Além da vocação para o turismo de sol e lazer, Búzios apresenta um grande


potencial ecoturístico, devido a rica biodiversidade marinha - abriga corais endêmicos
- e terrestre aliado ao recurso cultural e paisagístico.

O turismo de massa, comum a produtos turísticos de sol e lazer, as atividades


na natureza sem limites de uso e a especulação imobiliária expõe a altos riscos a
sustentabilidade dos ecossistemas marinho e terrestre, além da exclusão das
populações locais. Diante da fragilidade do ecossistema, as regulares atividades
impactantes e reconhecendo que uma das principais estratégias de conservação de
ambientes coralíneos é a criação de Áreas Protegidas, no dia 06 de novembro de
2009 foram criados através do Decreto 135 o Parque Natural dos Corais e a Área de
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Proteção Ambiental Marinha de Búzios (APAMAB). Neste mesmo Decreto o incentivo


a atividade turística, em especial a ecológica, é mencionado como um dos objetivos
de ambas Unidades de Conservação.

A proposta do Projeto EcoTurisMar, desde a elaboração, considerou como


critério de escolha do local de implantação, além de biodiversidade marinha, estar
inserido em uma área de proteção ambiental legalmente reconhecida, assim, a área
selecionada para a realização do projeto contempla tanto trecho da APA Marinha de
Búzios, como o Parque Natural dos Corais (parte do Núcleo João Fernandes).

O Projeto EcoTurisMar: Ecoturismo Marinho de Base Comunitária na APA


Marinha de Armação de Búzios propõe a conservação socioambiental aliada ao
empoderamento de comunidades tradicionais/locais, através do desenvolvimento
de produtos ecoturísticos. Foi idealizado em 2009 pelo Professor Doutor Alexandre
de Gusmão Predrinni (UERJ) inicialmente com público alvo de deficientes visuais,
inspirado nas experiências que teve na Ilha de Anchieta de adaptação dos atrativos
ao turista portador de necessidade especial.

A proposta do EcoTurisMar inclui a construção de uma rede de parceiros


(cientistas, pescadores e governo municipal e trade turístico); a caracterização
taxonômica da geobiodiversidade (biologia marinha); a construção de produto
ecoturístico de base comunitária; pela educação ambiental possibilitar a “transformação”
de eventuais usuários “impactadores negativos” da APAMAB, em seus guardiões/
condutores/gestores (minimizar conflitos sociais); e a sustentabilidade financeira
na fase pós projeto, pois a rede atua na formulação, no planejamento, execução e
avaliação processuais permanentes.

Considerando a localização da área de implantação do projeto EcoTurisMar


(praias de João Fernandes e João Fernandinho), o recorte da pesquisa e área de
aplicação dos Questionários selecionada foi o bairro de João Fernandes

4 – METODOLOGIA

Como metodologia, além do levantamento de dados do município de Armação


dos Búzios (históricos, climáticos, geográficos e turísticos), do projeto EcoTurisMar
e do Bairro de João Fernandes (bem como a leitura de mapas e visualização de
imagens aéreas e de satélite do bairro); foi feita a revisão bibliográfica para seleção
da base teórica, dos questionários e de suas respectivas análises; além do trabalho
de campo por meio da aplicação dos questionários em entrevistas, introduzidas por
algumas explicações sobre o que se pretendia e realizadas por 02 pesquisadores no
período compreendido entre 22 e 25 de Setembro de 2012.
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Assim, para fundamentar o conceito e mensurar o capital social de João


Fernandes foi utilizado o arcabouço metodológico do Banco Mundial e aplicado o
questionário sugerido com as questões centrais5 do QI-MCS (Questionário Integrado
para Medir Capital Social).

Para mensurar a percepção ecoturística foi utilizado como base o FPE


(Formulário de Percepção Ecoturística) de Weschenfelder adaptado e aplicado a
partir das cinco dimensões: Ecoturismo (busca dados sobre percepção do entorno
ambiental, conhecimento e aceitação do ecoturismo e expectativa de participação
do entrevistado em implantação de projetos de ecoturismo), impactos ambientais
(busca dados sobre conhecimentos acerca de impactos ambientais e da relação
do entrevistado com a natureza), meio biótico (busca dados sobre as relações
do entrevistado com a natureza, se “são sustentáveis e promovem a melhoria da
qualidade de vida ou se são agressivas”), meio abiótico (busca dados da relação entre
o meio abiótico e o entrevistado) e viabilidade turística (busca dados sobre percepção
do entrevistado sobre prioridades para desenvolvimento de projetos em ecoturismo,
incluindo a importância da participação da população).

O recorte do estudo e aplicação dos questionários selecionados foi todo o


Bairro de João Fernandes (um entrevistado, residente, maior de 18 anos/domicílio),
logo, não se aplica critérios de amostra e cálculos vinculados (estimadores, etc).

Embora o bairro compreenda 16 ruas, por ser turístico, apresentou apenas


20 casas habitadas (02 não responderam), 03 residências em construção e 02 sem
morador presente e informação (se eram de veraneio ou moradia). Assim, a coleta de
dados deu-se de forma voluntária, com 18 entrevistados.

A partir dos dados coletados e a utilização do software EXCEL (Microsoft Office


Excel) para gerar os gráficos e realizar as tabulações referentes à valoração do QI-
MCS e o FPE, foi feita a elaboração dos resultados e análise dos dados, a luz do
marco teórico e pelas experiências vivenciadas em campo.

5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Com a aplicação dos questionários observou-se que a média de idade dos


entrevistados foi de 46,7 anos, sendo que o maior número deles apresentou entre 38
e 48 anos. A idade máxima encontrada foi de 72 anos e a mínima de 18 anos. Quanto
ao gênero, a maioria dos entrevistados é do sexo masculino (67%).
5 “Para um conjunto mais limitado de itens do questionário a serem incluídos em um survey mais
curto, as 27 questões que se seguem, retiradas da lista anterior, são as que consideramos as mais
essenciais”. (GROOTAERT et. al, 2003, p.66).
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Não existe um padrão de profissão dos entrevistados: 22% são comerciantes,


17% pescadores e profissionais liberais. Como opção ‘outros’, foram incluídas as
seguintes profissões: recepcionista de hotel, dona de casa, caseiro, zelador e motoboy.
A maioria dos entrevistados declarou ter o ensino fundamental incompleto (33%),
seguido de ensino médio completo (28%).

Destaca-se que estes dados não fornecem uma informação precisa referente a
uma média dos moradores, afinal a entrevista era realizada por quem se encontrava
no momento na residência.

5.2 PERCEPÇÃO ECOTURÍSTICA

A percepção Ecoturística da Comunidade de base de João Fernandes (Armação


de Búzios - RJ) apresentou o seguinte resultado:

QUADRO 1 – RESULTADOS: PERCEPÇÃO ECOTURÍSTICA

Fonte: Elaborado pela autora.


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O resultado da pesquisa sobre a percepção ecoturistica da comunidade de base


de João Fernandes revelou que o morador percebe a vocação para Ecoturismo da
localidade, não apresenta ressalvas a atividade e valoriza a participação da comunidade
na atividade, porém, com limites de mudança em seus hábitos e comportamentos.

Possivelmente pela veiculação na mídia, os moradores apresentaram


conhecimento sobre impactos ambientais; exceto na relação ação antrópica e erosão
acelerada (desconhecimento quanto a definição de erosão); e em sua responsabilidade
quanto aos problemas relacionados aos serviços públicos, atribuindo a falta de água
exclusivamente aos visitantes. Embora vinculem biodiversidade e ecoturismo e
percebam a possibilidade de desenvolvimento e preservação, apresentam também
lacunas quanto à legislação ambiental local e informações sobre a limitação de uso e
o ecoturismo, necessárias até para a manutenção do atrativo.

A percepção ecoturística está inter-relacionada ao capital social na questão


sobre a possibilidade dos moradores promoverem o Ecoturismo sem a ajuda do poder
público (empoderamento e cooperação). Em João Fernandes, 61% dos entrevistados
estão em consonância com tal possibilidade.

Embora a comunidade de João Fernandes apresente relação positiva benéfica


com o turismo (média geral de 73% de ‘acertos’), ou seja, comportamentos e hábitos
compatíveis com os princípios necessários ao desenvolvimento do ecoturismo; não
exclui a inserção de capacitação em educação ambiental anteriormente e concomitante
a implantação de projetos de ecoturismo.

Esta percepção aponta que o Ecoturismo poderia ser uma alternativa para o
desenvolvimento local e para a construção de novas cadeias produtivas endógenas,
fundamentada na melhoria de utilização dos recursos disponíveis (PAIVA, 2004).

5.3 CAPITAL SOCIAL

Em relação ao capital social de João Fernandes, a comunidade apresenta


existência de estoque de capital social estrutural; pois, embora participem de
poucos grupos e de maioria religiosa, os componentes são bem heterogêneos;
além de apresentarem ligação com redes informais (vários amigos) que confiam e
tem expectativa de reciprocidade (definição de confiança). Quanto ao capital social
cognitivo, João Fernandes apresenta alto estoque, pois os moradores depositam alta
confiança no outro (embora seja baixa no poder público) e solidarizam-se quanto a
benefícios para o coletivo em detrimento do individual, com expectativa, inclusive de
contribuírem com dinheiro. Como medidas de resultado, embora a comunidade tenha
baixa participação em atividades comunitárias, há a expectativa de mobilização diante
de problemas no bairro (confiança, ou seja, capital social cognitivo).
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O Capital Social da Comunidade de base de João Fernandes (Armação de


Búzios - RJ), mediante a aplicação do QI –MCS, apresentou o seguinte resultado nas
dimensões ‘Grupos e redes’; ‘Confiança e solidariedade’; ‘Ação coletiva e cooperação’;
‘Informação e Comunicação’:

QUADRO 2 – RESULTADOS: CAPITAL SOCIAL – REDES E CONFIANÇA

Fonte: Elaborado pela autora.

QUADRO 3 – RESULTADOS: CAPITAL SOCIAL – AÇÃO COLETIVA E


INFORMAÇÃO
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Fonte: Elaborado pela autora.

O denso fluxo de informações exposto pelo número de ligações feitas e


recebidas, além da disponibilidade de diversos meio de comunicação, em especial
os jornais locais, favorecem o desenvolvimento das redes e parte de suas funções:
democratizar a informação.

QUADRO 4 – RESULTADOS: CAPITAL SOCIAL – AÇÃO COLETIVA E


INFORMAÇÃO

Fonte: Elaborado pela autora.

Com alta sociabilidade, semelhanças entre moradores e o desconhecimento de


episódios de violência motivada por diferenças (tolerância), aliado a heterogeneidade
do grupo de amigos (favorece o capital social de ligação) e a percepção de segurança
quanto ao local de moradia favorecem ao desenvolvimento de redes, ou seja, capital
estrutural.

Os resultados quanto ao empoderamento e ação política expõe moradores


felizes, com autonomia (capazes de tomar decisões), porém sem engajamento político
(relacionado a ações e ao baixo estoque de capital social de conexão), talvez pela
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descrença no poder público, porém com intento de agir para a mudança denotada
pela participação em massa nas últimas eleições.

6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A apresentação de trabalhos e cases de sucesso em congressos e demais


eventos acadêmicos com a temática Ecoturismo convergem quanto a associação
do sucesso na implantação de um projeto atrelado a apropriação pela comunidade
autóctone. Numa outra vertente, uma população com alto estoque de capital social,
por vezes, não identifica vocação para o turismo em sua localidade, tem outras
preferências ou ainda, mesmo que tenha interesse em desenvolver o ecoturismo,
tem hábitos que impactam e comprometem a atividade – demanda uma pesquisa de
percepção ecoturística.

No contexto de estudos interdisciplinares e multidisciplinares do capital social


como ferramenta de desenvolvimento é instigante a ausência de pesquisas que
entrelaçam esta temática às preferências de uma comunidade (até pela questão do
empoderamento) e o intento de desenvolver o ecoturismo em uma dada região.

Assim, com base neste estudo, foi possível sugerir a percepção ecoturística
e o capital social da comunidade de João Fernandes; atender a demanda do projeto
EcoTurisMar; contribuir com o desenvolvimento do ecoturismo em Armação dos
Búzios (já que fornece subsídios a implantação e estruturação da atividade); e
também avaliar a eficácia das ferramentas (FPE e QI-MCS), possibilitando discussões
e ajustes em outras pesquisas, bem como o fomento de estudos mais densos com
análise multivariada. Entretanto, tanto capital social, quanto o estudo da percepção
ecoturística, por mais que os resultados de entrevistas sejam positivos, não garantem
sucesso ou sustentabilidade de projetos em ecoturismo, não são panaceias. São
ferramentas em desenvolvimento que possibilitam uma avaliação de percepções e
expectativas de ações que num cenário real podem ocorrer de forma diferente; deste
modo a contribuição deste estudo é aproximar de uma identificação (de capital social
e percepção ecoturística da comunidade de base de João Fernandes) da realidade a
fim de tonar o desenvolvimento do projeto EcoTurisMar mais democrático e coerente
com a proposta de ecoturismo de base comunitária.

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TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA EM FAVELAS CARIOCAS

Camila Maria dos Santos Moraes1

Resumo: Este artigo analisa o Turismo de Base Comunitária em favelas cariocas na


Zona Sul. Para este artigo selecionamos as favelas: Pavão, Pavãozinho e Cantagalo;
Babilônia e Chapéu Mangueira; e Vidigal. Trata-se de um grupo de favelas pacificadas
e com iniciativas locais voltadas para o turismo, lazer, cultura e meio ambiente. Esta
pesquisa foi realizada com base em trabalho de campo nestas favelas de 2009 a
2014. Como resultado desta pesquisa identificamos que as iniciativas de turismo de
base comunitária nas favelas ainda são poucas e enfrentam muitos desafios.

Palavras-chaves: Turismo de Base Comunitária. Favela. Desafios.

Abstract: This article analyzes the Community Based Tourism in Rio de Janeiro favelas
in the South Zone part of the city. For this article we selected: Pavão, Pavãozinho
e Cantagalo; Babilônia e Chapéu Mangueira; e Vidigal. This is a group of pacified
favelas were we identified local initiatives for leisure, tourism, culture and environment.
This research was based on fieldwork in these slums from 2009 to 2014. As a result
of this research we identified that the initiatives of community-based tourism in these
favelas are still few and face many challenges.

Keywords: Community Based Tourism. Favelas. Challenges

INTRODUÇÃO

Hoje, no Brasil, o turismo é percebido pelo governo e por segmentos da sociedade


como um importante gerador de divisas e capaz de diminuir as desigualdades históricas
do país e promover a inclusão de grupos socais; por isso, o Plano Nacional de Turismo
(2007-2010) foi denominado de “Uma viagem de inclusão” e se propõe como “uma
ferramenta de planejamento e ação estratégica do governo federal, para estruturação
e ordenamento da atividade turística, com respeito aos princípios da sustentabilidade
econômica, ambiental, sociocultural e político-institucional.” (BARRETO, 2007 apud
BARTHOLO, 2009)
Nesta perspectiva, o programa de regionalização do Turismo Roteiros do
Brasil, nos indica os caminhos nos quais localizamos regiões e ou roteiros
em que comunidades receptoras assumem o papel de atores principais na
oferta dos produtos e serviços turísticos. Estes produtos e serviços ofertados
por comunidades locais denominado de “turismo de base comunitária” é
ainda um segmento pouco conhecido, todavia tem sido visível como campo
de estudo e como demandante de uma ação mais efetiva por parte do poder
público. (BARRETO, 2007 apud BARTHOLO, 2009)

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais (CPDOC


– FGV / RJ) Professora do Departamento de Turismo e Patrimônio (UNIRIO) E-mail: camilaunirio@
gmail.com
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Percebe-se assim, que o governo federal, através do Ministério do Turismo,


encontrou uma possibilidade de o turismo ser uma solução para problemas de
desigualdade no Brasil, e a solução encontrada foi dar uma centralidade às
comunidades receptoras e empoderá-las no processo turístico. Neste sentido é
importante entendermos este que também abrange o que é chamado de turismo de
base comunitária e como se configura esta centralidade da comunidade.

No livro Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências


brasileiras, (BARTHOLO, SANSOLO, BURSZTYN, 2009) publicado pela UFRJ com o
apoio do Ministério do Turismo, podemos perceber como turismo e comunidade estão
sendo percebidos sob esta ótica do governo federal.

É difícil apresentar um conceito de turismo de base comunitária, e considero


que é antes de tudo um modo de gerir a atividade turística em uma localidade, um
modo de gerir no qual a comunidade local está à frente da gestão.

Segundo Irving (2009:113), “turismo de base comunitária se vincula, em


última análise, a uma proposta de desenvolvimento local, capaz de contribuir para a
consolidação ética destas dimensões e da própria expressão da dimensão simbólica
da vida em sociedade”.

Para Sansolo e Bursztyn (2009:142) “Ao proporcionar a ampliação das práticas


cotidianas em suas terras, o turismo de base comunitária se insere, segundo alguns
autores, em um conjunto de atividades que representam uma nova multifuncionalidade
dos espaços rurais”. Comprando as possibilidades percebidas pelos pesquisadores
no turismo de base comunitária em meio rural às favelas no meio urbano, podemos
pensar no caso do turismo nas favelas em “bases comunitárias”, como proporcionador
de uma “nova multifuncionalidade” nas favelas, e uma opção para o desenvolvimento
local.

Neste sentido este trabalho tem como objetivo analisar o turismo de base local
em três grupos de favelas cariocas da Zona Sul do Rio de Janeiro, destacando as
potencialidades e os desafios na gestão do turismo pela comunidade.

Para a realização desta pesquisa foi feito um trabalho de campo etnográfico


entre 2009 e 2014 nas favelas selecionadas distribuído da seguinte forma: Pavão,
Pavãozinho e Cantagalo de 2009 a 2014; Babilônia e Chapéu Mangueira de 2011 a
2014 e Vidigal de 2013 a 2014.

O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA EM FAVELA

É importante compreendermos que a elaboração destes projetos de turismo de


base comunitária nas favelas surgem no mesmo contexto do turismo de favela ou da
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pobreza turística apresentada por Bianca Freire-Medeiros (2009, 2012).

Os agentes envolvidos no turismo nas favelas do Rio de Janeiro concordam


que o início dessa prática foi na Eco 92, quando líderes de vários movimentos sociais
e Greenpeace organizou uma visita a Rocinha, que se tornou o paradigma do turismo
favela carioca. (FREIRE-MEDEIROS, 2009; FRENZEL, 2012).

Nos anos 2000, a Rocinha é reconhecida como uma das principais atrações
turísticas do Rio de Janeiro e do turismo favela começa a aparecer em outras favelas
por iniciativas internas e externas.

Este tipo de turismo começa a se espalhar para outras favelas cariocas e no


Morro da Providência, a prefeitura propõe a criação de um Museu a Céu Aberto, no
âmbito do Programa Favela-Bairro e revitalização da Região Portuária (MENEZES,
2012). No Santa Marta, a instalação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora
(UPP), atrai agências de turismo para este local e estimula iniciativas locais voltadas
para o turismo. No Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) apresenta como trabalho social da fundação do Museu de
Favela para a comercialização dessas favelas como um museu de território. Mais
recentemente entra para o hall das favelas turísticas o Complexo do Alemão, cuja
principal atração é o Teleférico. E Vidigal, Babilônia e Chapéu Mangueira também
integram o que poderíamos chamar de um circuito turístico de favelas cariocas.

Pesquisas indicam que nas favelas turísticas há uma relação assimétrica entre
moradores, agentes de turismo e turistas, como apontado por Freire-Medeiros em
seus estudos na Rocinha.
(...)o fato é que os passeios não oferecem à Rocinha a chance de usufruir
em pé de igualdade os benefícios econômicos gerados com o turismo.
Os turistas gastam pouco durante a visita e, como não há nenhum tipo de
distribuição de lucros, os capitais suscitados pelo turismo são reinvestidos
apenas minoritariamente na favela e sempre pela via da caridade. (FREIRE-
MEDEIROS, 2009: 77)

São estas assimetrias que motivam diversos grupos de moradores em favelas


cariocas a buscarem a organização de projetos de turismo de base local.

Para Freire-Medeiros (2009), o contato entre turistas e moradores na Rocinha


é mediado apenas pelas câmeras, há pouca interação e certos estereótipos acabam
por ser reforçados, como, por exemplo, através do fato de que a maioria das fotos é
de negros. Em geral, os projetos de turismo de base local nas favelas, objetivam uma
maior interação entre moradores e turistas.

Em se tratando do turismo em favelas, os pontos de contato entre turistas e


comunidade local são reduzidos por uma série de fatores, dentre eles a barreira da
língua, pois os turistas estrangeiros são maioria absoluta dos visitantes das favelas
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cariocas e dentre os moradores das favelas, são poucos aqueles que falam línguas
estrangeiras.

Em conversas sobre este tema com Bianca Freire-Medeiros, socióloga e


pesquisadora do tema turismo em áreas de pobreza, comentou como observou esta
diferença entre a África do Sul e as favelas cariocas. Como na África do Sul, muitos
moradores das townships2 falam inglês, sendo maiores as possibilidades de pontos de
contato entre os moradores das townships e os turistas do que nas favelas cariocas.

Diante da barreira da língua o turismo em favelas cariocas precisa de


intermediários, que em geral são as agências que hoje estão se especializando nesse
tipo de turismo e os guias profissionais que falam outros idiomas. Há alguns moradores
que falam outros idiomas e conseguem guiar sem ajuda de intermediários, mas estes
ainda são muito poucos e acabam se associando as agências de turismo que atuam
nas favelas de modo a expandir seu campo de atuação.

É importante notar que nas favelas analisadas o turismo de base local surge
como um vetor de desenvolvimento local e possibilidade de ganhos financeiros para
a comunidade da favela além de uma ferramenta de resistência da comunidade às
atividades turísticas que os excluem dentro da favela.

Cruz (2009), no artigo intitulado “Turismo, produção do espaço e desenvolvimento


desigual”, apresenta dois casos em que encara o turismo de base comunitária como
solução para os problemas das comunidades em questão. O primeiro caso relatado é
o da Pousada Aldeia dos Lagos, gerida em Silves (AM) pela comunidade local, cujos
recursos gerados são revertidos para os associados da ASPAC (Associação de Silves
para a Preservação Ambiental e Cultural). Cruz então afirma que:
A atividade do turismo é utilizada pela população de Silves como alternativa
à pesca comercial e predatória. Ao ocupar o pessoal ribeirinho em atividades
diretamente relacionadas ao hotel e aos passeios oferecidos aos visitantes,
o turismo gera renda no lugar, além de possibilitar a preservação de um
de seus mais importantes recursos naturais, que provê o peixe, que está
na base da alimentação dessa população. É por isso que Silves pode ser
considerado um exemplo concreto de como a atividade do turismo pode ser
um instrumento do desenvolvimento local. (CRUZ, 2009: 107)

Outra experiência citada por Cruz é a da Prainha do Canto Verde, caso


reconhecido de turismo de base comunitária também estudado por Mendonça (2004).
Comunidade de pescadores artesanais, localizada no município de Beberibe, no
Ceará, que não tinha o título de propriedade de suas terras, começou a sofrer com
os agentes imobiliários na região, e enfrentava dificuldades de sobrevivência apenas
2 “As townships foram criadas na época do apartheid, com o propósito de manter a população
negra afastada dos brancos. A maioria dos seus moradores sofreu devido às más condições de habita-
ção e do sistema de água e com a superpovoação dos locais. Mesmo com o fim do apartheid em 1994,
antes da eleição de Nelson Mandela, as townships ainda continuaram existindo devido aos problemas
econômicos da África do Sul (...). As visitas às townships foram introduzidas ao turismo local no final da
década de 1980” (http://www.africadosul.org.br/?pg=townships)
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com a pesca artesanal. Em 1992, um executivo suíço, René Schärer, envolve-se com
a comunidade e decide prepará-la “para o desenvolvimento de um turismo com base
comunitária. A partir do uso de técnicas de planejamento participativo, a comunidade
é estimulada a pensar criticamente o uso de seu território e o desenvolvimento do
turismo”. (CRUZ, 2009: 107)

A autora indica que, deste modo, a comunidade teve a possibilidade de se


articular e tem conseguido impedir a entrada de especuladores imobiliários, e a pesca
continua sendo a principal atividade econômica da comunidade; no entanto o turismo
é uma atividade complementar que gera renda para dinamizar a economia local e
fortalecer os laços sociais entre os membros da comunidade. (CRUZ, 2009:108)

É neste sentido, que o turismo de base comunitária surge como uma ferramenta
para resistência da população da favela e sua manutenção em seu território.

O turismo de base comunitária na favela se configura ainda como uma


apropriação da atividade turística pelos moradores, o que gera um novo fluxo de
turistas e visitantes nestas favelas. Mimi Sheller e John Urry (2004) em Tourism
Mobilities: places to play places in play, discutem como os lugares, especialmente
destinos turísticos, são construídos e reconstruídos, ou elaborados e re-elaborados
por turistas, residentes, empreendedores, imagens e heranças disponíveis e em
circulação na sociedade.

TURISMO NO MUSEU DE FAVELA: PAVÃO, PAVÃOZINHO E CANTAGALO

As favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo ocupam o Maciço do Cantagalo


ou Pedra do Cantagalo, entre os bairros de Ipanema, Copacabana e Lagoa, na ci-
dade do Rio de Janeiro; segundo informações fornecidas pela primeira diretoria do
MUF, possuem cerca de 5300 imóveis e quase 20 mil habitantes. A ocupação, se-
gundo os moradores e os registros do Museu de Favela (MUF), é centenária e seu
início data de 1907.

O turismo no Pavão, Pavãozinho e Cantagalo aparece então com esta


perspectiva de desenvolvimento local, vinculado a projetos sociais e com o MUF instala-
se a proposta do turismo de base comunitária a partir da proposta de Regionalização
do Ministério do Turismo.

O Museu de Favela (MUF) é uma organização não-governamental criada nas


favelas do Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro.
Sua fundação ocorreu durante as obras do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) em 2008, como parte da obra social e legado do PAC para essas comunidades.
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Logo após sua fundação o MUF inicia a elaboração de seu projeto turístico e
busca apoio do curso de Turismo da UNIRIO para implementá-lo. Quando a UNIRIO
inicia seu projeto de extensão denominado à época Turismo no Museu de Favela leva
os materiais e os programas do Ministério do Turismo para o MUF.

A proposta de Turismo de Base Local surge desta diretoria, que desejava para
o Pavão, Pavãozinho e Cantagalo um turismo diferente do que havia na Rocinha, à
época maior referência de favela turística. Para eles o turismo realizado na Rocinha
era explorador, com pouca ou nenhuma participação da comunidade, havendo ainda
a rejeição ao jipe, que se tornou famoso e muito questionado quando utilizado nas
visitas às favelas.

O MUF pretende fortalecer no Pavão, Pavãozinho e Cantagalo o discurso que


legitima aqueles que são “do local”. Algo que não ocorre apenas lá, Prado (2003) se
refere à mesma configuração na Ilha Grande, que a autora vê como uma “polaridade
entre ‘nativos’ e ‘não nativos’”, e que é exacerbada mediante a intensificação do
turismo.

O grupo de diretores do Museu de Favela acredita em uma transformação


social pelo turismo e acredita que na Rocinha o turismo não transforma, porque o
envolvimento da comunidade local é muito reduzido. O MUF não pretende inibir ou
proibir a entrada de agências de fora no complexo de favelas do Pavão, Pavãozinho
e Cantagalo, mas quer estruturar o seu turismo de base local com a participação e o
trabalho dos moradores, que manterá as agências apenas como intermediárias nas
visitas ao MUF.

A ideia fundamental do projeto de turismo que é veiculada no Museu de Favela


é a estruturação de um Arranjo Produtivo Local de Turismo3, através de realização de
cursos de capacitação para os moradores oferecido pelas Universidades conveniadas
ao MUF. Hoje, além da UNIRIO, o MUF mantém convênios com a UFF, UFRJ e PUC-
Rio.

O MUF junto com as universidades pretende capacitar os moradores, para que


estes, apoiados e cadastrados no Museu de Favela, estruturem-se em redes, em
cooperativas de hospedagem, artesanato e guiamento local. Todos estes negócios
unidos ao Museu de Favela constituiriam então um Arranjo Produtivo Local do Museu
de Favela, unindo e fortalecendo os negócios turísticos da comunidade.

3 Arranjos Produtivos Locais são aglomerações de empresas com a mesma especia-


lização produtiva e que se localizam em um mesmo espaço geográfico. As empresas dos APLs man-
têm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si, contando também com
apoio de instituições locais como Governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino
e pesquisa. Disponível em: http://www.mundosebrae.com.br/2009/09/o-que-e-um-apl/ Acessado em;
15/04/2011
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Por ser um museu, o MUF propõe Turismo de Base Local articulado a ideia de
Turismo Cultural; segundo definição do Ministério do Turismo:
Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivên-
cia do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural
e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e ima-
teriais da cultura. (Marcos Conceituais – Mtur)

Para Canclini (1995), o Turismo Cultural transforma o patrimônio em bem


desejável pela experiência do turista (PEREIRO, 2003). Esta categoria de turismo, vem
se destacando ainda nos últimos anos diante da busca pelo “autêntico” no chamado
“consumo cultural”, “uma estratégia cultural de auto-sobrevivência e autodefinição que
desenha a janela do imaginado como ‘autêntico’” (FRIEDMAN, 1994 apud PEREIRO,
2003:14)

A direção do Museu de Favela a pensar em um turismo diferente do da Rocinha;


mesmo não conhecendo a fundo a atividade turística dessa outra favela, a impressão
que eles têm é muito negativa e preocupante. Os integrantes do MUF são contra os
jipes por verem neles uma analogia a safári, mas também não querem vans, pois
entendem que elas isolam o turista dentro de um carro completamente fechado que
atravessa a favela sem contato algum com os moradores. O turismo para os diretores
do MUF tem que ser a pé, os turistas têm que andar na favela, segundo eles, como
os moradores andam, e com os moradores, conhecendo assim a realidade da favela.

No entanto o projeto de turismo de base comunitária do MUF enfrenta alguns


problemas, dentre eles a necessidade de pessoas que falem outras línguas e possam
mediar os roteiros do MUF na favela.

O gráfico a seguir indica que, no ano de 2013, o MUF recebeu cerca de 200
visitantes.
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Figura 1 Visitantes do Museu de Favela (ANO 2013)

A análise do gráfico demonstra que, no Museu de Favela, predominam os


visitantes nacionais, pois os estrangeiros, muitas vezes não podem ser recebidos pelo
MUF por falta de pessoas que falem outros idiomas e possam acompanhar as visitas.

Este dado preocupa quando comparamos com pesquisa realizada por Bianca
Freire-Medeiros, Marcio Vilarouca e Palloma Menezes em uma parceria da Fundação
Getúlio Vargas com o Ministério do Turismo e publicada no artigo “International tourists
in a ‘pacified’ favela: profiles and attitudes. The case of Santa Marta, Rio de Janeiro”
em 2013. Neste estudo foi aplicado um questionário com 400 turistas entre 23 e 14
de maio de 2011 que visitaram a favela através de agências de viagens. Um dos
resultados da pesquisa realizada é perfil deste turista, que no caso do Santa Marta se
configura como 100% estrangeiro, sendo: 48,1 da Europa, 15,3 da Oceania, 14,2 da
América Latina, 11,5 da América do Norte, 7,1 do Oriente Médio, 3,1 da Ásia, e 0,8 da
África.

Pode-se notar que em ano de visita no Museu de Favela temos a metade dos
turistas que frequentam o Santa Marta através de agências de turismo. Considerando
que no Santa Marta 100% destes turistas é estrangeiro e no Museu de Favela menos
de 50% são estrangeiros. Estes resultados confirmam o que a direção do Museu de
Favela alega sobre a dificuldade de envolver pessoas locais que falem outras línguas
no projeto de Turismo de Base Comunitária do Museu de Favela.
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TURISMO NO CHAPÉU MANGUEIRA E BABILÔNIA

O Morro Babilônia localiza-se entre os bairros de Botafogo, Urca e Leme, na


Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro - Brasil. A partir do bairro do Leme é possível
chegar às duas favelas, Chapéu Mangueira e Babilônia, subindo a Ladeira Ary Barroso.
Hoje estas favelas são conhecidas como uma das portas de entrada para o recém-
criado Parque Natural Municipal da Paisagem Carioca criado pela prefeitura em 2013,
que se estende da Ilha de Cotunduba, localizada entre a Praia Vermelha e a Praia do
Leme, até o Parque da Chacrinha em Copacabana.

O processo que culmina com a criação do Parque começa nos anos 80, segundo
os moradores, as favelas se expandiram no morro e no final da década de 80, os
incêndios provocados pela extensa cobertura de capim colonião no alto do morro
tornaram-se um risco. Os incêndios, além de serem perigosos para os moradores das
favelas, prejudicavam ainda o shopping Rio Sul e os moradores das ruas Lauro Muller
e Ramon Castilha, representados pela Associação de Moradores da Lauro Muller e
Adjacências (Alma), em Botafogo.

No ano de 1994 é criada a Área de Proteção Ambiental dos Morros Babilônia


e São João e em 1995, uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro com apoio
do Rio Sul e da Alma, deu origem à criação da CoopBabilônia, uma cooperativa de
reflorestamento que até hoje emprega os moradores da favela no reflorestamento.

Em 2005, é apresentado relatório de reflorestamento que indica que de


1995 a 2000 Babilônia e Chapéu Mangueira foram selecionadas pela SMAC para
receberem o Projeto Mutirão de Reflorestamento e o Programa Educativo em Áreas
Protegidas. Neste período foram plantadas 73.125 mudas. A partir de 2001 o projeto
de recuperação ambiental passa a ser realizado pela CoopBabilônia, tendo como
mão-de-obra a própria comunidade. Desde 2001 os projetos de Reflorestamento e
Educação Ambiental são financiados pelo Rio Sul com apoio da Alma e da Prefeitura
do Rio de Janeiro.

Segundo “Projeto de Consolidação do uso sustentado das trilhas históricas


existentes nas APA dos Morros Babilônia e São João pela população do Rio de Janei-
ro e turistas” redigido e apresentado em meados dos anos 2000, cedido pela ALMA
(sem data), é destaca a importância da melhoria das condições de turismo e la-
zer, bem como o resgate de parte da história do Brasil. Tendo em vista de na APA
são encontrados elementos do patrimônio natural e cultural, como a vegetação de
Mata Atlântica, construções ruínas de antigas fortificações do exército do período da
II Guerra Mundial que integram o chamado conjunto paisagístico do Pão de Açúcar.

O projeto busca ainda atender os jovens das favelas, que encontram-se em si-
tuação de risco social, tendo como meta ser auto-sustentável a partir de determinado
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período de operação e servindo de projeto piloto para ser replicado em outras áreas
da cidade.

Estudos realizados pela pesquisadora Bianca Freire-Medeiros no local


apresentam que, com a criação da APA, passaram a ser realizados tours pela
localidade organizados por agentes internos como uma forma de desenvolvimento
sustentável para a comunidade, sem permitir a interferência de agentes externos
(FREIRE-MEDEIROS, 2006).

Em 2007, as trilhas começam a ser sinalizadas, para implementação e


desenvolvimento do que se propõe como ecoturismo na região e como a sustentabilidade
da comunidade, e para apresentar aos visitantes o trabalho realizado no local.

O desenvolvimento do projeto de ecoturismo na APA do Morro Babilônia tem


início oficialmente em 2008, em parceria com a Secretaria Especial de Turismo do
estado do Rio de Janeiro e com o Ministério do Turismo. O projeto capacitou moradores
das comunidades do Chapéu Mangueira e Babilônia para guiarem nas trilhas que
estão sendo demarcadas, com definição do tempo de caminhada, grau de dificuldade,
assim como estão sendo realizados os levantamentos dos atrativos ecológicos (fauna
e flora), os atrativos históricos, sítios arqueológicos, mirantes, confecção de mapas,
sinalização das trilhas, capacitação de condutores, recuperação ambiental e produção
de material de divulgação.

A CoopBabilônia apresenta em seu site4 a sua proposta de roteiro de ecoturis-


mo intitulada: “Ecoturismo, Reflorestamento, história e cidadania misturados em um
belo tour no Turismo do Morro da Babilônia”:

Venha nos visitar e colocar este belo tour no seu menu de opções para
roteiros na cidade do Rio de Janeiro. Visita aos nossos projetos na área de
meio ambiente e educação. Tours ecológicos na APA da Babilônia. Visita a
comunidade. Ruinas históricas tudo isso no coração do turismo da cidade do
Rio, entre a Praia de Copacabana e o Pão de Açúcar. (CoopBabilônia)

Como podemos notar na Babilônia e Chapéu Mangueira a proposta de Turismo


de Base Local é articulada e proposta de um Ecoturismo que segundo Costa, Oliveira
y Gomes (2010), nos anos 80, no Brasil começaram as atividades turísticas no
meio natural, como uma alternativa de promoção de atividades que promovessem
o desenvolvimento local, com geração de empregos para a população do entorno.
Estas atividades são denominadas como ecoturismo, um segmento relativamente
novo de turismo de natureza, caracterizado especialmente, por incluir na experiência
do turista no local, práticas como a valorização das culturas locais, a promoção da
conservação da natureza e o desenvolvimento sustentável.

Para o Ministério do Turismo, “ecoturismo é o segmento da atividade turística


4 http://coopbabilonia.blogspot.com.br/2009/04/reflorestamento.html
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que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua con-
servação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da inter-
pretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações”. (Marcos Concei-
tuais – MTur5)

Silveira y Barreto (2010) definem ecoturismo como uma atividade que propõe
o respeito a relação homem-natureza e para alcançar estes objetivos pressupõe
uma ação integrada de trocas e práticas socais, que requerem a participação comu-
nitária.

Em 2013, esta APA é incorporada às áreas de preservação ambiental vizinhas,


criando o Parque Natural Municipal da Paisagem Carioca (RIO DE JANEIRO, 2013),
parque este que será um dos extremos da Trilha Transcarioca, que atravessará a
cidade passando por cinco parques, até o parque da Pedra Branca na Zona Oeste.

Na Babilônia e Chapéu Mangueira há uma centralidade do Parque Municipal


Natural da Paisagem Carioca como uma grande atração destas favelas, em um final
de semana de sol na favela, podemos notar a subida de várias pessoas, brasileiros e
estrangeiros para a trilha, no entanto, hoje não há um projeto em funcionamento na
CoopBabilônia de Turismo de Base Comunitária, os frequentadores da trilha muitas
vezes estão desacompanhados de guias ou agências e fazem as trilhas apenas
seguindo as placas e as marcas no chão, tendo em vista que é uma trilha curta e fácil.

É importante destacar ainda, que há hoje na Babilônia, uma presença


considerável de estrangeiros na favela que abriram pousadas, albergues, bares
e restaurantes. Hoje na Babilônia e Chapéu Mangueira são quase 20 albergues e
pousadas destes, apenas 4 são de moradores da favela.

Em visita aos albergues pudemos identificar que nos de moradores não há


funcionários que falem outros idiomas, no entanto, estes ainda conseguem lidar
com os turistas de alguma forma. No entanto, nos demais albergues, há inclusive
funcionários estrangeiros que estão morando na favela, mas os chamados moradores
“nascidos e criados” na favela ocupam apenas as funções de limpeza e manutenção.

Os proprietários destes albergues afirmam que não conseguem contratar


pessoas da comunidade, pois estas não falam outros idiomas. Outra questão apontada
pelos proprietários de fora da favela, é que além de não falarem outro idioma, os
moradores precisariam de outras capacitações para poderem atuar os albergues e
pousadas.

5 http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/regionalizacao_turismo/estruturacao_segmentos/
ecoturismo.html
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TURISMO NO VIDIGAL

A Favela do Vidigal, está localizada no Morro Dois Irmãos, na zona sul do Rio
de Janeiro, o acesso à esta favela se dá pela Avenida Niemayer, uma via a beira mar
que liga os bairros Leblon e São Conrado. Esta favela é conhecida pelo seu projeto
artístico-cultural Nós do Morro, bares, festas e como porta de entrada para a Trilha
do Morro Dois Irmãos, uma trilha ecológica que é acessada pela favela e de onde é
possível de um lado enxergar os bairros do Leblon e Ipanema e do outro Rocinha e
São Conrado.

As iniciativas comunitárias que existem hoje no Vidigal estão relacionadas a


projetos de reflorestamento. O primeiro deles, iniciado nos anos 80 pelo Governo do
Estado no Morro Dois Irmãos, conhecido por sua trilha, e que continua ainda hoje pela
atuação da associação de moradores e nos anos 2000, surge no Vidigal uma nova
iniciativa de reflorestamento, liderada por moradores que fundam o Parque Ecológico
Sitiê em uma área do Vidigal.

Segundo relatos de um dos trabalhadores do Parque, houve nos anos 90 uma


remoção em uma área do Morro do Vidigal, o local acabou por se tornar um grande
lixão da comunidade, provocando problemas como deslizamentos no local. Diante
disso, em 2002, um grupo de moradores do Vidigal que morava no entorno do lixão,
começa a retirar o lixo deste local e reflorestar a área.

Segundo informações dos trabalhadores do parque, foram retiradas 10 toneladas


de lixo e o grupo que atua no parque, relata que seu trabalho é fazer a “lipoaspiração
da terra”, ou seja, extrair da terra o lixo. Parte do lixo, como pneus de carro, aros e
pneus de bicicleta, vasos sanitários, sapatos, entre outros objetos, passaram a ser
utilizados para contenção da encosta, como vasos de plantas e delimitação das hortas.

Hoje, o parque funciona como um tipo de horta comunitária, onde são plantadas,
frutas, verduras, legumes, hortaliças etc. As sementes são compradas na Rocinha e
em uma loja no centro do Rio pelo grupo que atua no reflorestamento do local. E a
única química que há alí segundo os reflorestadores é “a química de deus: a água”,
isto porque as hortas são orgânicas, não recebem nenhum tipo de aditivo químico e
tudo que é plantado é distribuído para os moradores que “deixaram de jogar lixo ali”.

Assim, o Sitiê vem se tornado um lugar conhecido, em função de diversas


matérias realizadas no local, que enfocam as hortas orgânicas, a ornamentação com
artes plásticas e práticas de educação ambiental e reciclagem.

Este parque, fora dos padrões de uma favela vem atraindo a atenção de turistas
que frequentam o Vidigal. Relatos de turistas que visitam o Parque Ecológico no Vidigal,
destacam a surpresa ao encontrar no meio da favela relações face a face, similares
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as do campo ou da roça, já que trata-se uma grande horta e de distribuição de frutas,


verduras e hortaliças para moradores do entorno e visitantes. Um dos trabalhadores
do Parque diz “não pode vir no Sitiê e não levar nada verde”.

Além disso, os turistas destacam o silêncio no Sitiê, que não é comum em uma
favela, dizem lá só ouvem o canto dos pássaros, da água regando as plantas e dos
homens trabalhando na terra.

Após a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) o Vidigal que já era


frequentado por cariocas, passa a ter esta frequência mais intensificada por cariocas
e estrangeiros. Segundo a associação de moradores nos últimos anos foram abertos
cerca de 20 albergues e pousadas, dentre eles um albergue de luxo. Para vários
moradores, e isso vem acarretado mudanças na favela.

Realizamos visitas aos albergues do Vidigal e neste não constatamos a


presença de albergues ou pousadas de moradores, apenas de pessoas de fora da
favela. Quando perguntados sobre funcionários da comunidade, assim como ocorre
na Babilônia e no Chapéu Mangueira, percebemos que muitos estrangeiros moram no
Vidigal e trabalham nestes albergues, mas moradores mais antigos da comunidade,
em geral são encontrados prestando serviços de limpeza e manutenção.

Em 2013, diante desta oferta de hospedagens no Vidigal e da elevada procura de


turistas por hospedagens na favela, uma moradora fundou o Albergue da Comunidade,
que em formato de cooperativa, cadastra os moradores para receberem turistas em
suas casas, com a mediação desta moradora de inclusive já morou fora do país.
Aparentemente a barreira da língua não vem se apresentado como uma questão tão
latente neste projeto, no entanto, o albergue da comunidade enfrenta a concorrência
de todos os outros meios de hospedagem do Vidigal.

A este quadro de meios de hospedagem, no Vidigal, somam-se as festas, muito


badaladas no morro há algum tempo, em especial os bailes e as rodas de samba que
costumavam a ser organizadas de moradores para moradores. Recentemente, muitas
das festas locais foram proibidas pela Unidade de Polícia Pacificadora, por questões
de segurança dos locais das festas, autorizações de funcionamento, entre outros. E
em seu lugar surgiram novas festas organizadas nestes novos albergues, pousadas,
bares e restaurantes, por pessoas de fora da favela e para pessoas de fora da favela,
são festas caras, que atraem uma classe média alta da zona sul carioca.

Diante do quadro apresentado, no primeiro semestre de 2014 a associação de


moradores organizou a série de debates Fala Vidigal que tratava do tema gentrificação.

A gentrificação, a renovação urbana e o mais amplo e complexo processo de


reestruturação urbana são todos parte da diferenciação do espaço geográfico
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na escala urbana; e, embora estes processos tenham sua origem em um


período anterior à atual crise econômica mundial, sua função hoje é reservar
uma pequena parte do substrato geográfico para um futuro período de
expansão (Smith, 1982).

Os debates focaram no que é a gentrificação e como se manifesta do Vidigal,


nos debates eram ouvidos os moradores, os empreendedores locais e externos, e por
último o poder público.

Nestes debates ficou muito clara a resistência dos moradores às iniciativas


como os albergues e hotéis que não são de moradores tão pouco empregam
moradores, segundo relatos nos debates. As festas também foram outro ponto de
debate. Percebe-se que na comunidade há uma sensação de exclusão do processo
turístico local, além de uma lenta e gradual expulsão dos moradores da favela.

Por fim, notamos que dentre as poucas iniciativas de interesse turístico no


Vidigal, onde a comunidade ainda é protagonista são na trilha do Morro dos Irmãos e
no Parque Ecológico Sitiê, no entanto, como ocorre na Babilônia e Chapéu Mangueira,
a trilha é frequentada por turistas e cariocas, que não costumam estar acompanhados
por guias. Nos albergues e pousadas, a maior parte dos recepcionistas conhece a
trilha e leva os turistas sem o acompanhamento de qualquer morador ou reflorestador.
Já no Sitiê, a presença de turistas ainda é reduzida, mas em geral todos são recebidos
por algum morador envolvido no projeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo vimos que o turismo de base comunitária é aquele em que a gestão
do turismo em uma dada localidade está nas mãos da comunidade. Vimos ainda que
nas favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo; Babilônia e Chapéu Mangueira; e Vidigal,
analisadas neste artigo, vem atraindo, seja pelo turismo ou pelo lazer, pessoas de fora
das localidades que investem nestes locais, criam roteiros turísticos, festas, eventos e
mais recentemente hospedagens.

No entanto, pesquisas realizadas sobre turismo na Rocinha demonstram as


assimetrias entre agentes de turismo, turistas e comunidades locais. O que tornou a
Rocinha uma referência para outras favelas do que não se quer e mobilizou outras
favelas para a organização de um turismo de base comunitária, como uma opção da
comunidade local e uma estratégia de resistência.

É importante mencionar ainda que no caso do turismo em favelas há uma tensão


que envolve, no grupo dos “de fora”, fundamentalmente, as agências de viagens, seus
guias de fora e empresários; e, no lado dos “de dentro”, as associações de moradores,
empreendedores locais, cooperativas, apesar de que nem todas as iniciativas locais
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são 100% locais, muitos são os projetos locais que contam com apoio de entidades e
pessoas externas.

As lideranças locais, os moradores e os empreendedores externos concordam


que a barreira da língua estrangeira aparece nas favelas, em especial nestes projetos
de base comunitária, tendo em vista que o turista da favela é majoritariamente
estrangeiro, e quando grupos de moradores começam a atuar no turismo, não
conseguem atender a maior parte dos turistas que não falam português, e, portanto,
precisam se associar a pessoas de fora da favela que falem outros idiomas.

Em pesquisa realizada no Santa Marta viu-se que o perfil deste público que
frequenta a favela, em roteiros turísticos é composto em 100% de estrangeiros. E que
em um mês de visita através de agentes de viagens tem-se o dobro de turistas do que
no Museu de favela, organização com projeto de Turismo de Base Comunitária no
Pavão, Pavãozinho e Cantagalo.

Nos casos da Babilônia, Chapéu Mangueira e Vidigal, vimos que há um público


de visitantes nas trilhas, mantidas pelos moradores, cujos acesos se dão pela favela,
bem como no Parque Ecológico do Sitiê no Vidigal, no entanto não se cobra para
visitar estes locais. Nestas favelas, aparecem ainda novos meios de hospedagem e
entretenimento, cujos proprietários são em sua maioria absoluta de fora da favela,
que contratam muitos estrangeiros, alegando que os moradores da favela não falam
outros idiomas, deixando a população local destinada a ser mão de obra apenas para
limpeza e manutenção.

Nestes cinco anos de trabalho de campo, notamos ainda que as iniciativas locais
têm dificuldades financeiras e dificuldades em atrair turistas pelos mesmos preços
que são cobrados pelas agências na Rocinha e no Santa Marta, por exemplo. Os
projetos comunitários analisados são vinculados às áreas de cultura e meio ambiente,
onde o padrão de cobrança é baixo, quando não é gratuito, levando a problemas de
sustentabilidade financeira dos projetos que se mantém com financiamentos públicos
de governos ou por iniciativas privadas do tipo projeto de responsabilidade social.

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p.142

Smith, N. 1982. Gentrification and uneven development. Economic Geography 58 (2)


(April), 139-155.
Grupo de Trabalho 07
Planejamento e Gestão do Turismo

Coordenadores: Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira (UFPR); Vanice Santiago


Fragoso Selva (UFPE);Milton Augusto Pasquotto Mariani (UFMS); Nadja Maria Castilho
da Costa (UERJ); Vivian Castilho da Costa (UERJ).

Este eixo temático propõe uma reflexão a respeito do planejamento


e da gestão do turismo a partir das políticas públicas e dos planos de
desenvolvimento turístico, assim como suas repercussões nas localidades que
vivenciam o processo de turistificação. Busca a dinâmica das inter-relações entre os
atores, as metodologias de planejamento participativo, os paradigmas empresariais no
turismo, os instrumentos de avaliação, os indicadores, os mercados e a comunidade
no turismo com base local.
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SOCIEDADE CIVIL: ANÁLISE DA REPRESENTATIVIDADE NOS CONSELHOS


MUNICIPAIS DE TURISMO

Adriana Gomes de Moraes1

RESUMO: O artigo aborda a participação da sociedade civil nos Conselhos


Municipais de Turismo, na perspectiva de conhecer como vem se constituindo a sua
representação nos conselhos de turismo para desenvolver o turismo local. Dessa
forma, objetivou-se nessa pesquisa analisar se existe representatividade da sociedade
civil no Conselho Municipal de Turismo da cidade de Barretos/SP de que forma os
membros se articulam para desenvolver o turismo local. Utilizou-se a metodologia
de análise documental, onde foram analisadas as atas do Conselho no ano de 2013
e 2014 bem como o levantamento dos membros do Conselho. A pesquisa realizada
caracteriza-se como qualitativa, que utilizou como instrumento de coleta de dados a
análise de conteúdo. Ao final da pesquisa concluiu-se que os membros da sociedade
civil representados no Conselho municipal estão preocupados com o desenvolvimento
do turismo para beneficiar economicamente suas empresas, em nenhuma reunião
fala-se na comunidade, nos cidadãos e seus impactos. Evidencia-se com os relatos
que a falta de capacitação dos conselheiros, de conhecimento sobre suas atribuições
compromete a capacidade de representação desses.

PALAVRAS-CHAVE: Sociedade Civil. Representação. Conselhos Municipais de


Turismo.

ABSTRACT / RESUMEN:
The article discusses the participation of civil society in the Municipal Tourism Councils
the prospect of meeting comes as constituting a representation on the boards of
tourism to develop local tourism. Thus , this study aimed to examine whether there
representativeness of civil society in the Municipal Tourism Council of Barretos / SP
how members are organized to develop local tourism. We used the methodology of
documentary analysis , where we analyzed the minutes of the Board in 2013 and
2014 as well as a survey of members of the Board . The research is characterized
as qualitative, which used as a tool for data collection content analysis . At the end of
the study it was concluded that members of civil society represented in the municipal
council are concerned with the development of tourism to economically benefit their
businesses, no meeting is spoken in the community, and its impact on citizens. It is
evidenced by reports that the lack of training of counselors, knowledge about their
tasks compromises the ability of representation of these.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES:Civil Society. Representation. Municipal Tourism


Councils.

1 Bacharel em Turismo (UNIOESTE-PR), Mestre em Turismo e Hotelaria (UNIVALI-SC), Douto-


randa em Ciências Sociais (PUC-SP). Professora Efetiva Instituto Federal de São Paulo-IFSP. E-mai-
l:adrianagmoraes@hotmail.com.
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INTRODUÇÃO

Entende-se que a intervenção do Estado nas questões sociais, por meio das
políticas sociais, regulam e muitas vezes propiciam condições de manutenção e
reprodução de uma parcela da população. Ou seja, a intervenção estatal via políticas
sociais, é considerada uma função intrínseca ao Estado moderno, configurando
padrões de direitos sociais próprios de cada nação.

Segundo Sonia Fleury autora do livro, o Estado sem Cidadãos (1994, p.12)
“o debate contemporâneo demonstra que a compreensão teórica da natureza
do Estado moderno emerge da possibilidade de análise da emergência da
esfera social, como expressão das contradições que requerem mediações
a partir da comunidade, nas formas fenomênicas diferenciadas em Estado e
sociedade”.

Diante disso, torna-se bastante relevante a participação da sociedade civil, nos


processos de discussão e de tomada de decisão relacionados com as questões e
políticas públicas.
O marco formal desse processo é a Constituição de 1988, que consagrou o
princípio de participação da sociedade civil. As principais forças envolvidas nesse
processo compartilham um projeto democratizante e participativo, construído
desde os anos oitenta ao redor da expansão da cidadania e do aprofundamento da
democracia. Esse projeto emerge da luta contra o regime militar empreendida por
setores da sociedade civil, entre os quais os movimentos sociais desempenharam um
papel fundamental.
Para a pesquisadora Evelina Dagnino (2004), a participação da sociedade civil
teve dois marcos importantes: o primeiro no reestabelecimento da democracia formal,
com eleições livres e a reorganização partidária, abriu a possibilidade de que este
projeto, configurado no interior da sociedade e que orientou a prática de vários dos
seus setores, pudesse ser levado para o âmbito do poder do Estado. No nível dos
executivos municipais e estaduais e dos parlamentos e, no executivo federal, com a
eleição de Luís Inácio Lula da Silva como Presidente da República. Assim, os anos
noventa foram cenários de numerosos exemplos desse trânsito da sociedade civil
para o Estado.
O segundo marco importante dessa nova situação foi que surgiu a oportunidade
da ação conjunta para o aprofundamento democrático. Essa aposta deve ser entendida
num contexto onde o princípio de participação da sociedade se tornou central como
característica distintiva desse projeto, subjacente ao próprio esforço de criação de
espaços públicos onde o poder do Estado pudesse ser compartilhado com a sociedade.
A participação da sociedade civil no Brasil após o período de ditadura fundou-
se na ampliação da cidadania. Dessa forma ela foi sendo, gestada no interior de
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uma sociedade civil bastante consolidada, que encontrou suporte significativo em


vários dos seus setores, tendo sido capaz, de inspirar a criação de novas instituições
que abrigassem seus princípios, tais como os Conselhos gestores, os Orçamentos
Participativos, etc.
A necessidade dessa interlocução se acentua no interior dos espaços públicos
de participação do Estado e da sociedade civil, quando se defrontam face a face
esses dois projetos. Segundo Dagnino (2004), é possível entender melhor o cenário
e a natureza dessa interlocução, se lembrarmos que os anos noventa no Brasil são
caracterizados por uma inflexão nas relações entre o Estado e os setores da sociedade
civil comprometidos com o projeto participativo democratizante, onde estes últimos
substituem o confronto aberto da década anterior por uma aposta na possibilidade de
uma atuação conjunta com o Estado.
Assim, grande parte da interlocução entre o projeto neoliberal, que ocupa
majoritariamente o aparato do Estado, com o projeto participativo se dá justamente
através daqueles setores da sociedade civil que, se engajam nessa aposta e passam
a atuar nas novas instâncias de participação junto ao Estado.
Os conselhos municipais, como as conferências e os fóruns, representam
um espaço privilegiado para a participação popular na elaboração, implementação
e fiscalização das ações governamentais, além de permitirem o fortalecimento da
relação Estado e Sociedade. Esses conselhos têm como base a participação social,
a democracia, a universalização dos direitos e a ampliação da cidadania. Entretanto,
para que esse mecanismo funcione efetivamente como órgão de controle social é
preciso que a sociedade civil seja atuante, conhecedora de suas atribuições e que
se imponha diante das situações que exijam sua intervenção. Os representantes da
sociedade civil devem trazer legitimidade às decisões tomadas nesses espaços, e
dessa forma, construir uma representação que contribua para o atendimento das
necessidades e interesses dos diversos segmentos sociais.
A fim de conhecer se existe interlocução nas ações governamentais destinadas
ao desenvolvimento turístico nos municípios e sociedade civil é que se propôs a
realizar a referida pesquisa. Cujo objetivo foi conhecer se existe representatividade da
sociedade civil no Conselho Municipal de Turismo da cidade de Barretos. A questão
norteadora para essa pesquisa foi quem são os representantes da sociedade civil nos
conselhos de turismo? Que tipo de interlocução existe entre dos representantes e
Estado?
Ressalta-se que a cidade de Barretos foi escolhida, porque participo como
convidada do Conselho municipal de Turismo da localidade especificada acima.
Represento o Instituto Federal- Barretos, instituição onde atuo como professora do
Curso de Tecnologia e Gestão do Turismo.
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A SOCIEDADE CIVIL

A expressão Societas civilis surgiu originalmente como a tradução para o


latim do conceito komonia politique utilizado por Aristóteles. No caso, sociedade civil
correspondia a uma comunidade pública ético-política de iguais, e, cujos parâmetros
de convivência se fundavam na existência de um ethos compartilhado por todos os
membros da comunidade social. Cohen; Arato (1992).
Conforme escreve Sergio Costa em seu livro, As Cores de Ercília (2002), a
definição clássica, na qual sociedade civil e Estado aparecem fundidos, perdurou até
o século 18. Foi quando surgiu o autor Paine que fez algumas reconsiderações desse
aspecto. O autor evidencia o fato de que o Estado não é uma extensão imediata da
sociedade civil, defende a limitação do poder estatal em nome da preservação da
sociedade civil.
Para Bobbio (1983) os jus naturalistas, desde Hobbes até Kant, sociedade civil
representa a oposição ao estado de natureza, onde vigoram apenas as leis naturais,
a sociedade é regulada por algum tipo de autoridade reconhecida capaz de assegurar
a liberdade, a segurança e a convivência pacífica entre as pessoas.
Para Hegel o conceito de sociedade civil assume um estatuto teórico efetivo.
A sociedade civil hegeliana incorpora tanto o sistema de necessidades ou dos
carecimentos, como o aparato jurídico e a administração pública e a corporação.
Segundo a concepção de Marx a sociedade civil não aparece associada a
qualquer possibilidade de aglutinação de uma nova eticidade. Na ordem capitalista,
a sociedade civil constitui a um só tempo a fonte e a expressão do domínio da
burguesia. As instituições intermediárias, que para Hegel atuariam como contraponto-
no sentido da promoção do espirito público- ao particularismo alimentado pelo
mercado, representam para Marx outra forma de manifestação do subjugo da classe
trabalhadora determinado a partir das relações de produção.
O debate contemporâneo sobre o conceito de sociedade civil na américa
Latina, iniciou com a resistência aos regimes autoritários; a sociedade civil torna-se
referência imprescindível aos atores que buscavam afirmar sua independência em
relação ao estado militar.
Em seu texto, Existe Sociedade Civil contra hegemônica? Luiz Eduardo
Wanderley (2009, p10.) conceitua a sociedade civil a partir de uma gama especifica
de pressupostos, que estão abaixo citados:
• A Sociedade Civil mantem vínculos orgânicos com o Estado e o mercado.
• Apesar da Sociedade Civil estar situada na superestrutura, juntamente com
a sociedade política, na abordagem gramsciana ela se liga estruturalmente
com a infraestrutura.
• Sociedade Civil é o espaço de busca do consenso, que inclui necessaria-
mente negociação, dialogo e de conflito (vale lembrar que, na vigência da
democracia representativa, o conflito é algo essencial).
• A Sociedade Civil é constituída por classes, frações de classes, segmentos
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sociais, grupos, movimentos, associações, igrejas, etc. Na qual uma classe


social e alguns desses protagonistas detêm a direção política (o projeto de
sociedade a ser seguido) e a hegemonia intelectual e moral (do pensamento,
dos valores, das ideias, das teorias e metodologias que conduzem o conjunto
de uma dada sociedade).
• Para assegurar essa condição, a classe dominante enfrenta permanente-
mente as outras classes e setores sociais dominadas, que contestam a dire-
ção e a hegemonia vigentes e montam processos e estratégias para miná-la
e transformá-la.
• O Estado, no sentido amplo (ainda na perspectiva analítica gramsciana) com-
preende a Sociedade Política (marcada pela coerção e dominação) e a So-
ciedade Civil (marcada pelo consenso e hegemonia).

Nas discussões atuais e com o reformismo, foi incorporado segundo (Nogueira,


2004) quatro ideias inerentes ao discurso democrático, em geral e ao radicalismo
democrático em particular: descentralização, participação, cidadania e sociedade civil.
Ou seja, as demandas apontam menos Estado, mais democracia, menos
burocracia e mais iniciativa que exigi uma abertura para a sociedade. A abertura do
processo decisional, tanto no âmbito do Estado quanto no do mundo privado, leva
a reformas institucionais, inclusão de novos atores e reformulações organizacionais
tornam-se decisivas nas agendas com que se pretende governar as sociedades.
Em seu livro Um Estado para a Sociedade Civil, Marco Aurélio Nogueira
salienta que a abertura do Estado para a sociedade precisa ser despolitizada.

Não se poderia ter uma participação qualquer ou uma autentica cidadania em


um quadro determinado pela centralidade do mercado. A livre concorrência
necessitava de uma sociedade igualmente competitiva, ao passo que a
modalidade participativa de gestão requeria uma atitude mais cooperativa ou
menos antagônica dos movimentos sociais. (2004,p.59)

Desse modo, vislumbra-se a constituição de uma, era baseada em um


relacionamento mais coordenado e cooperativo entre as esferas de governo e, por
extensão entre as diferentes escalas da comunidade nacional, com seus respectivos
cidadãos. A descentralização, em vez de representar o desmonte ou de promover o
recuo do Estado nacional, funcionaria como um fator de seu fortalecimento, graças à
dinâmica solidaria e não predatória.
A ideia da descentralização trouxe consigo a recuperação de participação,
cidadania e sociedade civil. O discurso da descentralização irá, na prática, aproximá-
las da imagem de associações e indivíduos mais cooperativos, ou seja, que colaborem,
empreendem e realizam.
A sociedade civil passa a ser o ambiente pacifico para uma participação
convertida em movimento de maximização de interesses e ou de colaboração
governamental. Para Nogueira (2004) a participação da Sociedade Civil não será
mais vista como expressão e veiculo de predisposição coletiva para organizar novas
formas de Estado e de comunidade política, de hegemonia e de distribuição do poder,
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mas sim como a tradução concreta da consciência benemérita dos cidadãos, dos
grupos organizados, das empresas e das associações.

A REPRESENTATIVIDADE DA SOCIEDADE CIVIL NOS CONSELHOS MUNICIPAIS

Baseada nos princípios de descentralização e de democracia, a Constituição de


1988 propiciou a criação de mecanismos de participação popular na gestão municipal.
Um desses mecanismos, são os conselhos gestores de políticas públicas, órgãos que
permitem que a sociedade civil participe da formulação, implementação e controle das
políticas públicas. Segundo Gerschman (2004), esses conselhos foram incorporados
à Constituição, com o propósito de se tornarem canais efetivos de participação da
sociedade civil e como forma inovadora de gestão pública, a fim de possibilitar o
exercício de uma cidadania ativa.
Os conselhos gestores de políticas públicas apresentam-se como espaços
públicos de composição plural e paritária entre Estado e sociedade civil, de natureza
deliberativa e consultiva. A primeira é que os concebe como espaços públicos
independentes, que promovem a participação popular e a democratização do Estado,
enfatizando o seu caráter político e a sua função deliberativa. E, portanto, de
mediação nas relações de poder e de formulação das políticas públicas. Nesses
espaços, tanto os representantes a sociedade civil quanto os do governo, debatem
e deliberam sobre as questões de interesse público. Essa concepção vincula-se aos
ideais republicanos e ao paradigma da democracia participativa, porque tem como
pressuposto a extensão do direito, a ampliação do ativismo político e dos espaços
destinados ao exercício da cidadania.
A outra concepção de conselhos é a consultiva, que entende-se como
formalidade institucional, ou seja, como instituição cartorializada, que pertence
à burocracia estatal. Nesse modelo ressaltam-se os aspectos burocráticos,
técnicos, de controle e de normatização dos serviços públicos. Mesmo contando
com representantes da sociedade civil, estes passam a desempenhar funções
administrativas e de legitimação dos atos do governo. Essa concepção associa-se ao
projeto de democracia representativa elitista uma vez que enfatiza o racionalismo e a
formalidade legal em detrimento dos aspectos políticos e pedagógicos da participação.
Embora se enfatize os aspectos técnicos, a eficiência e o controle burocrático neste
paradigma, é enganosa a defesa de sua neutralidade política, porque se trata de
uma concepção comprometida com o conservadorismo e com o elitismo social e
econômico. Em relação à participação popular no conselho consultivo, quando julga
a população como incapacitada e despreparada para atuar junto às instituições e aos
espaços públicos destinados à formulação dos interesses coletivos, ela é de pequena
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representatividade.
Entende-se que nos conselhos, a população assume o papel de co-gestor da
administração pública, à medida que pode opinar, discutir e deliberar sobre as ações
da gestão municipal. A participação contínua da sociedade civil na gestão pública
é um direito garantido constitucionalmente, possibilitando ao cidadão não apenas
sua participação na formulação das políticas públicas, mas a fiscalização rigorosa da
aplicação dos recursos públicos.

Para Raichelis (2008, p.83) “Os conselhos são canais importantes de


participação coletiva e de criação de novas relações políticas entre governo
e cidadãos, e, principalmente, de construção de um processo continuado de
interlocução pública”.

Como expressa Bravo (2007), os Conselhos Municipais devem ser visualizados


como locus do fazer político, como espaço contraditório, como uma nova modalidade
de participação, ou seja, a construção de uma cultura alicerçada nos pilares da
democracia participativa e na possibilidade de construção da democracia de massas.
Concorda-se que, os conselhos municipais precisam se assumir como espaço
de contradições que busca interagir com o governo de forma construtiva. Pois, os
conselhos apesar de apresentarem potencialidades como arenas de negociação
de propostas e ações, enfrentam dificuldades de realização dos mecanismos de
participação e para atuarem de forma efetiva.
Entende-se que, a atuação efetiva dos conselhos está diretamente relacionada
à capacidade de representação dos conselheiros frente aos interesses da coletividade
e a interlocução com os segmentos representados e com o poder público. Cabe
destacar que, os conselheiros que atuam nesses espaços devem desenvolver sua
prática e discurso voltado para o compromisso com a cidadania, dando assim, mérito
ao seu poder de intervenção frente os representantes da sociedade civil que têm
papel de destaque nos conselhos.
Dessa forma, para concretização dessa potencialidade que é a representação
da sociedade civil nos conselhos, esses representantes devem ser eleitos de forma
democrática, em fórum ou assembleia especialmente instituídos para esse fim, suas
atribuições não devem ser impostas pelas instituições as quais representam, esses
precisam desenvolver suas ações com autonomia, tendo clareza sobre a importância
social de sua função para não banalizá-la.
Como explicita Arruda; Kocourek (2008) há uma extrema necessidade de
formação continuada para esses conselheiros, orientando a estes em suas ações e
nos princípios democráticos e éticos, despertando-os para um posicionamento político
e consciente já que esses ocupam o lugar de representantes à esfera pública.
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OS CONSELHOS MUNICIPAIS DE TURISMO

Os conselhos municipais de turismo foram estimulados a partir da criação do


Ministério do Turismo no ano de 2003, que desde então, aplica o modelo de gestão
descentralizada. Cuja missão é descentralizar a execução das ações definidas
na Política e no Plano Nacional de Turismo, em alinhamento com os Planos
Macrorregionais, Estaduais, Regionais e Municipais do Turismo. Segundo o Ministério
do Turismo essa ação permite com que cada município estabeleça suas prioridades
para o desenvolvimento do turismo em suas localidades.
Segundo dados retirados do Ministério do Turismo, referencias para estrutura,
organização e funcionamento de conselhos de turismo (2007) A constituição de
um conselho de turismo tem origem a partir da iniciativa de um grupo de lideranças
identificado com o turismo que constituirá o colegiado, observando os seguintes
aspectos:
• Existência de Liderança dos setores que compõem o turismo, seja privado ou
público;
• Identificação das diversas instituições públicas e entidades privadas envolvidas
com as atividades do setor turístico;
Quanto a Composição há o consenso de que os colegiados podem refletir a
composição do Conselho Nacional de Turismo, garantindo a participação das
instituições públicas, e, com maior representatividade as entidades privadas. O
tamanho não deve ser tão grande, a ponto de inviabilizar o funcionamento, nem
tão reduzido, que não seja representativo dos segmentos que compõem a cadeia
produtiva do turismo estadual.
É fundamental garantir a participação de representantes das regiões turísticas,
Programa de Regionalização, que podem ser públicos, privados ou do 3º setor, a
depender da cultura institucional, empresarial de cada território, região e estado.
Quanto a definição da composição do colegiado, preferencialmente o setor
privado, deve ser majoritário e, na impossibilidade, a composição deve ser paritária
observando que as instituições públicas representem os principais setores indiretos
ao turismo como transporte, infraestrutura, meio ambiente, cultura. É importante a
Inclusão das várias entidades representativas das categorias de atividades existentes.
Os membros do colegiado, são os legítimos representantes das entidades
pelas quais foram designados. No setor privado, a representatividade dos membros
contempla as diferentes categorias de atividades como: agências e operadoras,
alimentação, segmentos turísticos, eventos, meios de hospedagem, transportes,
organizações patronais, organizações de trabalhadores, dentre outras. A representação
do setor público está relacionada às instituições com interface no turismo, tais como
infraestrutura, cultura, transportes, meio ambiente, agricultura, dentre outros.
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Quanto ao perfil dos membros do colegiado é importante que tenham


conhecimento técnico sobre as temáticas discutidas de interesse turístico; poder de
articulação e comunicação; poder de liderança; efetiva representatividade da sua
entidade; compromisso; disponibilidade para participar das reuniões; poder de decisão.
O conselho Municipal de Turismo de Barretos –COMTUR, foi criado pela Lei
n.3.076, de 21 de junho de 2000 e alterada pela Lei n.3.420 de 03 de agosto de 2004
e modificado pela Lei n. 3.755 de setembro de 2009.
É formado por representantes da iniciativa privada, do setor público e pela
sociedade civil que de certa forma atual e se relacionam com o turismo. O objetivo do
Comtur é orientar, sugerir, recomendar e opinar sobre o desenvolvimento do turismo.
É um órgão consultivo, deliberativo, nominativo e fiscalizador, no que diz respeito às
questões turísticas no âmbito de sua competência legal.

PERCURSO METODOLOGICO

A pesquisa caracteriza-se como qualitativa, com base no objetivo geral,


caracteriza-se como exploratória, que segundo Gil (2002), tem como objetivo principal
o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições.
Quanto aos procedimentos técnicos utilizados por meio da fonte de papel
caracteriza-se como pesquisa bibliográfica, foi utilizada a literatura específica sobre
sociedade civil e conselhos municipais. Na pesquisa documental analisou-se a efetiva
participação da Sociedade Civil nos conselhos municipais de turismo. A análise
documental segundo Cellard (2008) trata-se de um método de coleta de dados que
elimina, ao menos em parte, a eventualidade de qualquer influência a ser exercida pela
presença ou intervenção do pesquisador- do conjunto de interações, acontecimentos
ou comportamentos pesquisados, anulando a possibilidade de reação do sujeito
a operação de medida. O documento aqui é entendido como todo texto escrito,
manuscrito ou impresso, registrado em papel.
Para analisar as atas do conselho de turismo foram usadas as cinco dimensões
propostas por Cellard (2008, p.299). A primeira refere-se ao exame do contexto social
global no qual foi produzido, o documento e no qual mergulhava seu autor e aqueles a
quem foi destinado. Pela análise do contexto, o pesquisador se coloca em condições
para compreender as particularidades da forma, da organização e sobretudo para
evitar interpretar o conteúdo do documento em função de valores.
A segunda dimensão, compreende a análise do autor ou autores de escreverem
o texto, pois, não se pode pensar em interpretar um texto, sem ter previamente uma
boa ideia da identidade da pessoa que se expressa, de seus interesses e dos motivos
que a levaram a escrever. Esse indivíduo fala em nome próprio ou em nome de um
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grupo social, de uma instituição? A terceira dimensão analisada foi a autenticidade


e a confiabilidade do texto, não basta, entretanto, informar-se sobre a origem social,
ideologia ou os interesses particulares do autor de um documento, mas é também
importante assegurar-se da qualidade da informação transmitida.
A quarta dimensão, diz respeito a natureza do texto, cabe especificar que não
é possível exprimir-se com a mesma liberdade em um relatório destinado aos seus
superiores, em um diário íntimo. Os documentos são estruturados de forma diferente
e só adquirem um sentido para o leitor em função de seu grau de iniciação no contexto
particular de sua produção. A quinta e última dimensão refere-se a análise dos conceitos
chaves e a lógica interna do texto. Deve-se prestar a atenção aos conceitos-chave
presentes em um texto e avaliar sua importância e seu sentido, segundo o contexto
preciso em que eles são empregados.
Nessa pesquisa foram analisadas as atas do Conselho municipal de turismo
da cidade de Barretos, que foram disponibilizadas pela atual presidente. Cabe
ressaltar que o Conselho da cidade de Barretos apesar de ser criado a alguns anos
atrás, somente em dezembro de 2013, o Conselho foi oficialmente organizado para
iniciar as ações de desenvolvimento do turismo municipal, estabelecendo reuniões
mensais. Portanto, as atas analisadas referem-se ao mês de dezembro de 2013,
janeiro, fevereiro, março, abril de 2014. A análise das atas foi realizada a fim de
conhecer que temas são tratados nas reuniões do conselho municipal de turismo
da cidade de Barretos, bem como conhecer de que forma o membros da sociedade
civil representados discutem o turismo no município. Após esse encadeamento de
ligações entre a problemática e as diversas observações extraídas da documentação,
pode-se formular explicações plausíveis, produzir uma interpretação coerente sobre a
participação da sociedade civil no conselho municipal de turismo.

ANALISE DOS RESULTADOS

Segundo a Lei N.º 4.837, de 20 de junho de 2013 que trata da reestruturação


do Conselho municipal de turismo de Barretos. O COMTUR será composto por
um titular e suplente, indicado pelo: Poder Legislativo municipal; Gabinete do
Prefeito; Órgão do Poder Executivo Municipal de Turismo; Órgão do Poder Executivo
Municipal de Cultura; Órgão do Poder Executivo Municipal de Indústria, Comércio e
Serviços; Polícia Civil; Polícia Militar. Delegacia do Sindicato Estadual dos Guias de
Turismo do Estado de São Paulo; Associação Barretense de Turismo; Associação
Comercial e Industrial de Barretos; SENAC-SP - Unidade de Barretos; Sindicato do
Comércio Varejista de Barretos; Sindicato Rural do Vale do Rio Grande; Sindicato dos
Trabalhadores em Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares; Clube “Os Independentes”;
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Conselho Municipal de Cultura; e Conselho Municipal do Meio Ambiente.


O número de membros do COMTUR será sempre ímpar, sendo 2/3 (dois terços)
de seu total de membros, no mínimo, formado por representantes da comunidade,
não vinculados diretamente ao Poder Público Municipal.
Segundo dados obtidos no conselho pesquisado, os membros que representam
ao poder público municipal perfazem um total de 11, os representantes da sociedade
civil um total de 5 pessoas.
Quanto a análise das atas, observou-se que os poucos representantes da
sociedade civil são bastante proativos, quando se trata em planejamento da cidade
para desenvolver seus próprios negócios. Organizam eventos, elaboram projetos e
apresentam nas reuniões do conselho, onde todos apoiam. Para exemplificar, em
uma determinada ata a presidente do Conselho, que representa uma associação,
salienta que antes de desenvolver Barretos como um destino turístico é preciso que
todos os conselheiros passassem por um nivelamento, a fim de entenderem o que é
turismo e sua importância todos participam, mas querendo saber que estratégia para
ter lucratividade.
Quanto a interlocução da sociedade civil com o poder público, principalmente
com a secretaria de turismo, fica evidente que a interlocução é bastante difícil. Nesse
caso, trata-se de uma secretaria em que as ações do desenvolvimento do turismo
feita por tal órgão são centralizadas. Em todas as atas analisadas os membros da
sociedade civil perguntam sobre o plano diretor da cidade, que ainda não existe e o
secretario somente responde que está em licitação, deixando-os preocupados porque
todos os projetos para captação de recursos para desenvolver o turismo solicitam
o plano diretor da cidade. Nesse caso, fica evidente que por parte da secretaria
de turismo existe a preocupação de somente divulgar a cidade, não se fala em
planejamento, desenvolvimento sustentável do turismo.
O conselho analisado apresenta forças partilhada por representantes
empresariais, profissionais liberais, e de interesses específicos de segmentos da
sociedade, além dos indicados pela burocracia pública. Se constitui como um mosaico
de interesses segmentados. Não existe por parte da sociedade civil, Controle e
fiscalização da gestão pública que parecem ser as funções atribuíveis aos Conselhos
e, de certa forma, incorporada pelos seus integrantes e defensores. O que existe são
pessoas interessadas em novas alternativas para ganhar dinheiro.
Quanto aos temas tratados nas reuniões e com base nas atas analisadas do
conselho chegou-se às seguintes inferências:
• A sociedade civil não está representada em grande número. Somente estão
representados os empresários donos de restaurantes, hotéis que tem interesse
financeiro no turismo;
• Não existe representação de associação de bairro etc.
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• A breve análise desses textos permite nos dizer que as ações desse Conse-
lho bem como os projetos apresentados buscando chancela do Conselho de
Turismo em muitos momentos são bastante focadas na demanda potencial do
turismo, ou seja, criar mecanismos para que as pessoas “consumam” cada vez
mais a cidade de Barretos o ano todo não só no período da grande Festa do
Peão, sejam turistas ou moradores locais;
• Por ser um Conselho relativamente novo, estão em fase de estruturação, talvez
mude a atual conjuntura encontrada e os membros sintam a necessidade de
ouvir os cidadãos livres de qualquer interesse.

Considerando os relatos e análises anteriores, consideramos que a


participação praticada e que foi objeto de debate nesta pesquisa, apresenta alguns
limites que comprometem a expansão da democratização do Estado e restringe a função
política que os conselhos poderiam desenvolver. A leitura que faço da concepção de
participação praticada no município é a de que ela vincula-se, predominantemente, ao
paradigma de democracia representativa, uma vez que os conselhos não conseguem
vocalizar nem dar publicidade às ações e aos encaminhamentos das políticas públicas
para o turismo.
A implantação dos conselhos e as práticas políticas que acontecem nesses
órgãos permanecem, majoritariamente, como ações do procedimento democrático, ou
seja, se destacam pela formalidade institucional e pelo distanciamento nas relações
entre governantes e sociedade civil. Portanto, não permitem formular uma gramática
participativa, nem se constituem em espaços de deliberação societária assentadas
num discurso racional capaz de formar o interesse público. Foi constatado no
município estudado, que o Conselho e mesmo o governo municipal se propôs a fazer,
uma abertura à participação de outras entidades ou às associações da sociedade civil
para o diálogo e para formulação do interesse público em torno do desenvolvimento
turístico da cidade de Barretos. Porém, o que se observou que o conselho estudado é
formado por representantes que tem interesse individuais.
Este cenário, leva a sugerir que a maior dificuldade para a participação como
exercício do poder por parte dos representantes da sociedade civil está, sobretudo,
na sua pequena representatividade, ou seja, no distanciamento que ainda existe dos
conselheiros em relação a suas bases.

CONCLUSÕES

Com a repercussão iniciada ao longo dos anos 1990, para a busca de espaços
alternativos nos quais fosse possível modificar os termos de regulação estatal e
promover o encontro entre a sociedade civil e Estado muda-se os discursos, onde
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são abertos novos canais conceituais. Em face disso, hoje é quase consenso de que
só pode haver reforma de Estado de existir uma sociedade civil igualmente forte e
participativa.
O discurso reformista privilegiou a importância da sociedade civil no contexto
e na dinâmica da reforma do Estado. Valorizou sua contribuição para a gestão e
a implementação de políticas. Para Nogueira (2004) se assim fosse concebida a
sociedade civil seria um espaço diferente do Estado, não necessariamente hostil a ele,
mas seguramente estranho a ele, um ambiente imune às regulações ou a parâmetros
institucionais públicos. Talvez fosse um lugar que iria depender bem mais de iniciativa,
empreendedorismo, disposição cívica e ética do que de perspectiva política e vínculos
estatais.
Enfim, avaliar o impacto da sociedade civil sobre o desempenho dos governos
é uma tarefa que não pode se apoiar num entendimento abstrato dessas categorias
como compartimentos separados mas precisa contemplar aquilo que as articula e as
separa, inclusive aquilo que une ou opõe as diferentes forças que as integram, os
conjuntos de interesses expressos em escolhas políticas, aquilo que está sendo aqui
designado como projetos políticos.
Com isto, cabe enfatizar que a participação popular nos conselhos é muito
importante, pois, são espaços de democratização e, mesmo com os problemas
apontados são conquistas da sociedade civil.
Em relação à pesquisa realizada, cujo objetivo foi conhecer se existe
representatividade da sociedade civil no Conselho Municipal de Turismo da cidade
de Barretos. Percebeu-se que a representatividade existe, porem a participação é
pouco relevante, parece que os membros representantes da sociedade civil ainda
não reconhecem o Conselho como um espaço de democratização, de diálogo como o
Estado. Quanto as questões norteadoras da pesquisa, quem são os representantes
da sociedade civil nos conselhos de turismo? Que tipo de interlocução existe entre
dos representantes e Estado?
Os representantes da sociedade civil, no Conselho estudado é formado pelo
trade turístico da cidade, que quando participam da reunião discutem formas para
aumentar o fluxo turístico em seus empreendimentos. Apesar do Conselho ter caráter
deliberativo, a interlocução com o Estado é bastante limitada. Ou seja, nenhuma ata
analisada os representantes das associações conseguiram deliberar uma pauta. O
grupo, na maioria das vezes é voto vencido pelos representantes do Estado, que
estão em número maior.
É importante ressaltar que não se pode considerar somente os conselhos
como único espaço de participação da sociedade civil ou como uma forma modular
de representação. A sociedade civil precisa recuperar os, sinais autônomos de
participação até para se submeter os conselhos ao controle social, porque os conselhos
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também precisam ser submetidos ao controle social. Pela experiência que estamos
vivendo se os conselhos continuarem atuando como instancia fechada, com fraca
capilaridade social e sem sintonia com os fóruns sociais mais amplos, a tendência é
se burocratizarem, caírem na rotina institucional.
Diante disso considera-se importante submeter os conselhos a instancias de
controle social e fazer com que esses fóruns mais amplos ativem a representação,
cobrem tarefas dos conselheiros e que estes tenham de prestar contas não só aos
gestores mas a sociedade civil.

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ANALÍSE DE CONTEÚDO DAS POLÍTICAS DE USO PÚBLICO EM ÁREAS


PROTEGIDAS NO ESTADO DE SÃO PAULO

Fabricio Scarpeta Matheus1


Sidnei Raimundo2

RESUMO: As políticas públicas que abordam o Uso Público em Áreas Protegidas


já se configuram, no Brasil, como um denso arcabouço de normatização de manejo
dessas áreas, representando também esforços dos três níveis de governo (federal,
estaduais e municipais). Contudo, e devido a essa complexidade de níveis de governo
e da pulverização em diversos diplomas legais, as ações acabam ficando dispersas.
Considerando os princípios do ecoturismo, apoiados na conservação da natureza,
da consciência ambientalista dos visitantes e do envolvimento e participação dos
moradores nas ações de Uso Público em Unidades de Conservação, este trabalho
procurou sistematizar as informações das políticas públicas no Estado de São Paulo,
relacionando-as com os três princípios do ecoturismo. Para atingir esses propósito,
foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, em que procedimentos objetivos e
indicadores quantitativos são utilizados para a análise dos textos. O corpus da análise
de conteúdo foi composto pelos atos normativos relacionados ao uso público em
Unidades de Conservação do Estado de São Paulo e sua exploração foi realizada por
meio de análise categorial, com a codificação dos textos em unidades de registro e
nós, bem como por meio da análise de similaridade dos documentos. Como principais
resultados, verificou-se que o foco das políticas públicas está mais voltado para a
conservação das áreas protegidas do que para os outros dois princípios avaliados:
envolvimento das comunidades e conscientização ambiental dos visitantes. Além disso,
a técnica evidenciou também a importância que as terceirizações vêm assumindo nas
Unidades de Conservação paulistas, especialmente após a instituição do Sistema
Estadual de Florestas em 2006.

PALAVRAS-CHAVE: Política pública. Unidade de Conservação. Uso público.


Comunidade local.

ABSTRACT: Public policies that address public use in Protected Areas already
constitute a dense framework of regulations for managing these areas in Brazil,
representing efforts of the three government levels (federal, state and local). However,
due to this complexity of government levels and the dispersion into numerous legal
acts, the actions end up getting scattered. Considering the principles of ecotourism,
1 Bacharel em Turismo e Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo. Pesquisador
da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. E-mail: fabriciomatheus@usp.br
2 Bacharel e licenciado em Geografia e Mestre em Geografia pela Universidade de São Paulo,
Doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas e Pós-Doutor pela Universidade de
Girona. Professor da Universidade de São Paulo. E-mail: sraimundo@usp.br
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supported on the environmental conservation, the environmental awareness of visitors


and the involvement and participation of local communities in the actions of public
use in protected areas, this study sought to systematize the information of public
policies in the State of São Paulo, relating the to the three principles of ecotourism. To
achieve these purposes, the content analysis technique was used, in which objective
procedures and quantitative indicators are used for the analysis of texts. The content
analysis’ corpus was composed by the normative acts related to public use inside
the Sao Paulo State protected areas and its examination was performed through
a categorical analysis, with text coding in registration units and knots, as well as a
similarity analysis of the documents. As main results, it was verified that the public
policies are more focused on the conservation of the protected areas than on the other
two evaluated elements: the involvement of local communities and the environmental
awareness of visitors. Furthermore, the technique also showed the importance that
outsourcing are assuming in the state protected areas, especially after the institution
of the State System of Forests in 2006.

KEYWORDS: Policy. Protected Area. Public use. Local community.

INTRODUÇÃO

As relações entre populações locais e áreas protegidas no Brasil, de modo


geral, são marcadas por conflitos ambientais. Para Carvalho e Scotto (1995), conflitos
socioambientais são expressos pela luta de interesses opostos, que disputam o
controle dos recursos naturais e o uso do meio ambiente comum. Em sua definição,
essas autoras incluem a noção de antagonismo para o entendimento dos conflitos
e a existência de práticas que colocam em oposição as intenções, interesses ou
sentimentos quanto a um objeto (ou conjunto de objetos) determinados. Nesse
sentido, afirmam que conflito ambiental “é resultado de uma relação de forças entre
grupos que se manifestam no espaço público e às diferentes categorias de percepção
sociais e políticas dos atores.” (Carvalho; Scotto, 1995, p. 14). Para Vianna (1996), os
conflitos podem ser analisados sob o ângulo de cada uma das partes envolvidas, que,
genericamente, considera a outra parte como causadora do problema.

Diegues (1994, p.11) destaca que a “imposição de espaços públicos sobre


espaços dos ‘comunitários’ (...) tem gerado graves conflitos”. A falta de participação das
populações na criação das Unidades de Conservação (UC), os problemas de gestão,
ou até mesmo, a percepção dos moradores de limitação das opções econômicas
contribuem ainda mais para o agravamento dessa situação.
A resolução de conflitos entre os gestores de áreas protegidas, os moradores
de seu interior e entorno e demais interessados no uso dos recursos inseridos
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numa Unidade de Conservação configura-se como um grande desafio atual, ou


seja, consensuar os interesses de conservação da natureza com as aspirações e
necessidades de usos de recursos pela sociedade. Trata-se, presentemente, de
propor soluções para problemas estabelecidos entre moradores (tradicionais ou não)
que permanecem no interior de unidades de proteção integral, e que são cerceados de
suas atividades culturais e agropecuárias tradicionais. Mas também entre os grupos
interessados na ampliação do uso e ocupação de áreas no interior de Unidades de
Conservação, ligados à especulação imobiliária e turismo de massa. Todos eles em
desacordo com os objetivos de proteção da natureza de uma área protegida.
Assim, na tentativa de reduzir esses conflitos, os governos, em suas diversas
esferas, tentam desenvolver políticas públicas para adereçar tais questões. Conforme
explica Muller (2002), quando um determinado setor da sociedade percebe que
sua situação atual não condiz com o desejado, ele irá pressionar o governo, que
responderá por meio de políticas públicas. Assim, para Muller (2002, p.48) política
pública é o “processo de mediação social, na medida em que o objeto de cada política
pública é tratar dos desajustes que podem ocorrer entre um setor e outros setores, ou
entre um setor e a sociedade” (tradução nossa).
Dentro desse contexto, as políticas públicas brasileiras identificadas que versam
sobre o tema do uso público em áreas protegidas apresentam dois focos: envolver
as populações locais na gestão das unidades; e inseri-las na cadeia produtiva do
ecoturismo, como uma estratégia de geração de emprego e renda. Com relação ao
ecoturismo, esse envolvimento pode se dar de forma direta como, por exemplo, nos
serviços turísticos (monitores ambientais, equipamentos de alimentação e meios de
hospedagem), ou indireta, ou seja, nos serviços de apoio a atividade (agricultura,
artesanato, entre outros).
Além disso, as Unidades de Conservação acabam desempenhando um
importante papel como espaços de lazer dessas comunidades, uma vez que, de modo
geral, existem poucas opções na região onde elas se inserem. Contudo, existem
poucas ações do governo para incentivar o uso das UCs pelas populações locais
como estratégia de aumento da qualidade de vida.
O presente artigo pretende investigar, especificamente, como as políticas de
uso público e ecoturismo em Unidades de Conservação tratam o envolvimento das
comunidades locais.

ECOTURISMO

De modo geral, os visitantes que buscam as áreas protegidas fazem parte de


um segmento específico do turismo, chamado de ecoturismo, que é definido pela
The International Ecotourism Society – TIES (1990) como “uma viagem responsável
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a áreas naturais, visando preservar o meio ambiente e promover o bem-estar da


população local”. Diversos autores discutem os conceitos e definições do ecoturismo,
alguns focam na conservação do meio ambiente, enquanto outros acrescentam
também elementos socioculturais e econômicos. Para a Organização Mundial de
Turismo (OMT)

Ecoturismo vai além do turismo de natureza, e ocorre em áreas


naturais relativamente inalteradas, com o objetivo principal de admirá-las e
aprender mais sobre elas. Ecoturismo implica que os operadores turísticos
e os visitantes terão alguma responsabilidade com a destinação, reduzindo
ou evitando impactos sobre as áreas visitadas. Ecoturismo deve contribuir
para a conservação de áreas naturais e beneficiar a economia local, bem
como gerar uma consciência de conservação entre os moradores e visitantes
(OMT, 2002, p. 18, tradução nossa).

No Brasil, a definição oficial desse segmento, a qual grande parte das políticas
públicas faz referência e que, desta forma, será utilizada no presente artigo, é aquela
apresentada no documento “Diretrizes para uma política nacional de ecoturismo”
como:

(...) um segmento da atividade turística que utiliza, de forma


sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e
busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação
do ambiente, promovendo o bem-estar das populações (BRASIL, 1994, p.19).

Tanto a definição nacional, quanto as internacionais, podem ser analisadas em


três componentes básicos: conservação do meio ambiente; conscientização ambiental
dos visitantes; e envolvimento das comunidades locais (SÃO PAULO, 2010). Esses
três componentes servirão de base para a avaliação das políticas públicas no presente
artigo, com um enfoque maior no envolvimento da comunidade local.

POLÍTICAS DE USO PÚBLICO E ECOTURISMO EM UCS

Conforme apresentado anteriormente, políticas públicas, em resumo, podem


ser entendidas como as ações do poder público com um objetivo específico. Essas
ações, como aponta Massardier (2003), podem ser mais ou menos coordenadas,
sendo que as mesmas vêm, cada vez mais, tendo uma influência e participação dos
demais envolvidos em sua formulação, implantação e monitoramento.
Isto posto, neste item serão apresentadas as políticas públicas para
o desenvolvimento do uso público em unidades de conservação no Brasil e,
especificamente, no Estado de São Paulo. Destaca-se que o estudo de todas as
políticas públicas discutidas nesse item será realizado por meio da técnica de análise
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de conteúdo.
Desde antes da criação, no Brasil, do primeiro Parque Nacional (1937) até
os dias de hoje, os legisladores do país desenvolveram um arcabouço normativo
relativo à proteção do meio ambiente e às áreas protegidas no Brasil (URBAN, 1998;
GUATURA, 2000). Diversas leis foram criadas para estabelecer normas e regulamentos
para diferentes categorias de áreas protegidas. Assim, no ano 2000, foi sancionada a
lei federal nº 9.985, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza (SNUC), cujo objetivo foi consolidar todos os atos normativos referentes às
áreas protegidas no Brasil, bem como modernizar a gestão e o manejo das unidades
de conservação do país (SÃO PAULO, 2009b). A coordenação do SNUC é realizada
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio dos seus órgãos executores, o
Instituto Chico Mendes de Biodiversidade – ICMBio e o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.
No Estado de São Paulo, em 29 de dezembro de 2006, por meio do Decreto
Estadual nº 51.453, alterado pelo Decreto Estadual nº 54.079/2009, foi instituído o
Sistema Estadual de Florestas – SIEFLOR (SÃO PAULO, 2006). Da mesma forma
como o SNUC, a criação do SIEFLOR teve como objetivos aperfeiçoar a gestão e
otimizar as ações públicas de conservação (SÃO PAULO, 2009b)
O SIEFLOR, de acordo com o estabelecido pelo Decreto n.º 51.453/2006, em seu
artigo 2º

é composto pelas unidades de conservação de proteção integral,


pelas florestas estaduais, estações experimentais, hortos e viveiros florestais,
e outras áreas naturais protegidas, que tenham sido ou venham a ser criadas
pelo Estado de São Paulo e estejam sob a administração do Instituto Florestal,
da Secretaria do Meio Ambiente, e da Fundação para a Conservação e a
Produção Florestal do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2006).

O Sistema Estadual engloba, atualmente, aproximadamente 140 unidades


de conservação, desde as primeiras áreas protegidas concebidas no Estado, como
o Parque Estadual Alberto Loefgren, antigo Horto Florestal, criado em 1896, até a
UC mais recente, o Parque Estadual Nascentes do Paranapanema, cujo decreto de
criação, n.º 58.148, foi sancionado pelo governador em 21 de junho de 2012 (SÃO
PAULO, 2012).
Por meio do SIEFLOR a gestão de grande parte das UCs do Estado passou a
ser realizada pela Fundação Florestal, sendo que o Instituto Florestal, antigo órgão
administrador dessas áreas, permaneceu responsável pelas chamadas unidades de
produção, as Estações Experimentais e a maioria das Florestas Estaduais, bem como
pela pesquisa em todas as UCs.
Os objetivos desse novo sistema eram aperfeiçoar a gestão e otimizar as ações
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públicas de conservação, por meio de uma maior agilidade e desburocratização dos


processos de gestão das áreas protegidas. Isso porque a Fundação Florestal é um
órgão da administração indireta do governo, diferente do Instituto Florestal que integra
a administração direta.
Com relação às políticas públicas, pode-se entender que o SIEFLOR faz parte
de uma alteração marcante na gestão das unidades de conservação. Essa alteração
também teve uma repercussão nas políticas voltadas ao uso público, como pode ser
percebido nos atos normativos apresentados a seguir.
Foram identificados diversos atos normativos federais e estaduais que
regulamentam o uso público e o ecoturismo em UCs, desde o SNUC até portarias
específicas editadas pela Fundação Florestal para tratar da atividade de rafting. A
lista de todos os atos analisados no presente artigo, bem como o seu objeto, estão
apresentadas no Quadro 1, a seguir.

Quadro 1. ATOS NORMATIVOS QUE REGULAMENTAM O USO PÚBLICO EM


UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO
Ato Normativo Objeto
Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
Lei Federal nº da Natureza – SNUC - estabelece critérios e normas
9.985/2000 para a criação, implantação e gestão das unidades de
conservação.
Regulamenta os arts. 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30, 33,
Decreto federal n.º 36, 41, 42, 47, 48 e 55 da Lei nº 9.985, de 18 de julho
4.340/2002 de 2000, bem como os arts. 15, 17, 18 e 20, no que
concerne aos conselhos das unidades de conservação.
Decreto estadual Estabelece as normas que definem e caracterizam os
n.º 25.341/1986 Parques Estaduais.
Regulamenta a visitação pública e credenciamento de
guias, agências, operadoras e monitores ambientais,
Resolução SMA
para o ecoturismo e educação ambiental nas unidades de
n.º 32/1998
conservação do Estado.
Regulamenta os procedimentos administrativos de
Resolução SMA gestão e fiscalização do uso público nas Unidades de
n.º 59/2008 Conservação de Proteção Integral do Sistema Estadual
de Florestas do Estado de São Paulo – SIEFLOR.
Cria o Conselho Consultivo de Ecoturismo da Secretaria
Resolução SMA do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, como
n.º 61/2008 instrumento para auxiliar a implantação das ações para o
desenvolvimento do ecoturismo no Estado.
Estabelece roteiro para elaboração do Plano Emergencial
Portaria Normativa de Uso Público para as Unidades de Conservação com
F.F. n.º 73/2009 atividades consolidadas de visitação pública.
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Ato Normativo Objeto


Dispõe sobre infrações e sanções administrativas
ambientais e procedimentos administrativos para
Resolução SMA imposição de penalidades, no âmbito do Sistema
n.º 32/2010 Estadual de Administração da Qualidade Ambiental,
Proteção, Controle e Desenvolvimento do Meio Ambiente
e Uso Adequado dos Recursos Naturais – SEAQUA.
Institui o Programa de Parcerias para as Unidades de
Conservação instituídas pelo Estado de São Paulo e que
Decreto estadual se encontrem sob a administração da Fundação para a
n.º 57.401/2011 Conservação e a Produção Florestal do Estado de São
Paulo e dá providências correlatas.
Estabelece roteiro para elaboração do Plano de Gestão
de Riscos e de Contingências para as Unidades de
Portaria Normativa
Conservação de proteção integral do Sistema Estadual
F.F. n.º 152/2011
de Florestas do Estado de São Paulo.
Estabelece a regulamentação da atividade de rafting para
Portaria Normativa as empresas operadoras deste serviço, os praticantes
F.F. n.º 153/2011 autônomos e os usuários, de acordo com as normas
ABNT NBR 15:370 e 15:285.

Portaria Normativa Dispõe sobre o horário de visitação pública nas unidades


F.F. n.º 182/2013 de conservação sob gestão da Fundação Florestal.
Estabelece os critérios para utilização de bicicletas no
Portaria Normativa interior das unidades de conservação sob gestão da
F.F. n.º 183/2013 Fundação Florestal.
Estabelecer procedimentos para cobrança e valores
para ingressos, serviços e utilização das dependências
Portaria Normativa e equipamentos instalados nas Unidades administradas
F.F. n.º 191/2013 pela Fundação Florestal, sem o escopo de lucro, para
fins de contribuir na manutenção e conservação das
Unidades.
Além dessas, existem ainda mais duas portarias editadas pela Fundação
Florestal que tratam sobre o uso público em unidades de conservação específicas e,
desta forma, não serão analisadas em profundidade no presente estudo. São elas:
Portaria Normativa FF n.º 75/2009, que dispõe sobre a atividade de escalada em
rocha no Parque Estadual do Jaraguá; e Portaria Normativa FF n.º 178/2013, que
dispõe sobre a atividade de mergulho autônomo nas Unidades de Conservação de
Proteção Integral administradas pela Fundação Florestal, aplicável apenas ao Parque
Estadual Marinho da Laje de Santos.
METODOLOGIA.
A análise dos documentos levantados foi realizada por meio da técnica de
análise de conteúdo, com a utilização de procedimentos objetivos e de indicadores
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quantitativos para a análise dos textos. A análise de conteúdo se mostra como uma
ferramenta importante para o estudo das políticas públicas por “compreender melhor
um discurso, de aprofundar suas características (gramaticais, fonológicas, cognitivas,
ideológicas, etc.) e extrair os momentos mais importantes” (RICHARDSON, 1999,
p.224).
O corpus da análise de conteúdo é composto pelos documentos já apresentados
no item anterior. A constituição desse corpus foi definida de acordo com a regra da
exaustividade, ou seja, foram incluídos todos os documentos identificados como
formadores da política pública para o desenvolvimento do uso público em áreas
protegidas como, por exemplo, os atos normativos e os programas e projetos
desenvolvidos pelas instituições responsáveis pela gestão dessas áreas. Esses
parâmetros estão de acordo também com as regras da homogeneidade e pertinência
da análise de conteúdo (BARDIN, 2012).
A exploração do corpus foi realizada por meio de análise categorial, com a
codificação dos materiais identificados por meio de unidades de registro, apresentadas
no quadro 2. Tais unidades foram trabalhadas de acordo com as seguintes regras de
enumeração:
 Frequência: a quantidade de vezes que a unidade aparece. De acordo com Bardin
(2012), a importância de uma unidade de registro aumenta com a frequência de
aparição;
 Intensidade: foi avaliada de acordo os termos que acompanham a unidade de
registro, por exemplo, a semântica e o tempo do verbo, bem como os advérbios
e adjetivos;
 Direção: ela pode ser favorável, desfavorável ou neutra; e
 Ordem: a disposição das unidades de registro no texto, a ordem de aparição e
encadeamento das unidades.

Quadro 2. UNIDADES DE REGISTRO


Recreação, lazer, turismo e ecoturismo
Comunidade, populações, indígena, caiçara e quilombola
Educação, interpretação e conscientização
Conservação e preservação
Essas unidades de registro foram estabelecidas por meio de uma etapa de
pré-análise do corpus, a partir de uma leitura flutuante dos documentos, onde foram
identificados os termos mais pertinentes aos objetivos da pesquisa.
A partir dessas unidades de registro foi realizada uma codificação de todo o
corpus. Assim, as políticas foram codificadas em três nós diferentes:
 Conscientização ambiental dos visitantes;
 Conservação do meio ambiente; e
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 Envolvimento das comunidades locais.


Por fim foi realizada a etapa de interpretação dos resultados obtidos, de modo
a permitir uma compreensão mais aprofundada sobre as políticas públicas para o
desenvolvimento de uso público em unidades de conservação paulistas.

Figura 1. MODELO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO

Fonte: BARDIN, 2012.

A técnica de análise de conteúdo empregada seguiu o modelo de desenvolvimento


proposto por Bardin (2012), de acordo com a figura 1, a seguir. Cumpre esclarecer
que a etapa de inferência não foi aplicada neste estudo, uma vez que não se pretendia
induzir resultados futuros a partir dos dados analisados, mas sim verificar os resultados
existentes.
Todas as etapas tratadas nesse tópico foram desenvolvidas com o auxílio do
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software NVivo, versão 10. Esse programa foi escolhido para facilitar a organização
das informações do corpus, principalmente no que diz respeito à codificação, regras
de enumeração e categorização.

RESULTADO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS



A partir dos resultados obtidos pela análise de conteúdo das políticas públicas foi
possível perceber características marcantes nas ações desenvolvidas no Estado de São
Paulo. Em uma primeira analise, o que se pode perceber é um foco maior das políticas
que incidem sobre as UC estaduais na conservação do meio ambiente. As atividades
de uso público e recreação, quando mencionadas, estão dentro de um contexto de
interpretação ambiental. Além disso, há uma gama de normas, especialmente as
portarias normativas da Fundação Florestal, que objetivam regulamentar as atividades
de uso público no interior das unidades como, por exemplo, o rafting e o passeio de
bicicleta. As unidades também estabelecem os seus próprios instrumentos normativos
para atividades de uso público, tais como os planos emergenciais para visitação nas
cavernas do PETAR.
A análise da frequência de palavras das políticas públicas em vigor no Estado
de São Paulo traz valorosas contribuições para a compreensão do foco das mesmas.
Os termos mais recorrentes são aqueles que nomeiam as áreas protegidas, ou seja,
unidade e conservação. Além desses, o termo ambiente completa a lista dos três
mais utilizados nos textos analisados. Outras expressões frequentes, conforme
apresentado na Figura 2 são: áreas, atividades, uso, plano e público.

Figura 2. POLÍTICAS DE USO PÚBLICO EM SÃO PAULO -


FREQUÊNCIA DE PALAVRAS
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Interessante notar que, entre as políticas de uso público avaliadas, a única palavra
relacionada à atividade a aparecer entre as 50 mais recorrentes é visitação, em 29º
lugar, com exceção dos termos uso e público. Outro ponto que vale ser ressaltado
é que em uma busca específica pela unidade de registro recreação, que engloba
também termos semelhantes como lazer e turismo, as políticas aplicáveis no Estado
de São Paulo utilizam mais a expressão ecoturismo. Essa constatação reflete um
entendimento das áreas protegidas no Estado e no país, como um espaço de turismo,
voltado à educação formal, e não de recreação, ou seja, voltado para pessoas que não
tem a UC em seu entorno habitual, em oposição a um local voltado para a recreação
da comunidade local.
Tão importante quanto observar as palavras mais citadas nos textos das políticas,
é analisar aquelas que não aparecem nessa lista. As políticas não têm, dentro do seu
conjunto de termos mais usuais, nenhuma expressão relacionada à conscientização
do visitante e ao envolvimento da comunidade local. Uma busca específica por essas
unidades de registro confirma o foco dos textos na conservação, com as ocorrências
relativas à recreação, envolvimento da comunidade local e conscientização dos
visitantes figurando bem abaixo em quantidade, conforme apresentado na figura 3.

Figura 3. POLÍTICAS DE USO PÚBLICO EM SÃO PAULO –


UNIDADES DE REGISTRO (% DE COBERTURA DO TEXTO)
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0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0%

0,1%
Dec. Estadual nº 25.341/1986 - Reg. de Parques 0,2%
0,2%
0,0%

Dec. Estadual nº 57.401/2011 - Parceria para UC 1,7%


0,3%
0,2%

0,3%
Lei nº 9.985/2000 e Decreto nº 4.340/2002 - SNUC 1,4%
0,0%
0,0%

Portaria Normativa FF nº 073/2009 - Plano Emerg. 1,8%


Uso Público

Portaria Normativa FF nº 152/2011 - Plano 1,7%


Contingências 0,3%

Portaria Normativa FF nº 153/2011 - Rafting em UC 1,4%


0,0%
0,1%

Portaria Normativa FF nº 182/2013 - Horario de 1,3%


Visitação

Portaria Normativa FF nº 183/2013 - Bicicletas nas 6,2%


UC

0,1%
Portaria Normativa FF nº 191/2013 - Ingressos 0,7%
0,1%

0,1%
Resolução SMA nº 32/1998 1,7%
0,2%
0,4%

0,0%
Resolucao SMA nº 32/2010 0,3%

0,1%
Resolução SMA nº 59/2008 2,0%
0,0%

0,1%
Resolução SMA nº 61/2008 0,8%
0,2%
1,5%

Comunidade Conservação Educação Ambiental Recreação

Após uma primeira análise das políticas, seguindo a metodologia proposta,


procedeu-se a codificação do conteúdo das mesmas. A figura 4, a seguir revela o
número de nós, resultantes da codificação, identificados em cada um dos temas
baseados nas unidades de análise, reafirmando o foco das políticas na conservação.
Porém, os instrumentos voltados especificamente para o uso público, como é o caso
da Resolução SMA nº 59/2008, os outros dois temas prevalecem na percentagem de
cobertura do documento.

Figura 4. CODIFICAÇÃO DAS POLÍTICAS – SÃO PAULO (% DE


COBERTURA)
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Além da frequência e da codificação, o software Nvivo também possibilita a


análise de similaridade dos documentos identificados, de acordo com a semelhança
dos termos presentes em seu conteúdo.
A figura 5, a seguir, exibe as relações entre as políticas públicas referentes às
unidades de conservação estaduais de São Paulo. É possível perceber uma grande
integração entre todos os atos normativos avaliados. Aqueles que possuem um maior
número de conexões são: o SNUC (Lei 9.985/2000); a Resolução SMA n.º 59/2008; e
a Resolução SMA n.º 32/1998. Esses foram os instrumentos normativos identificados
como de maior importância para a gestão das áreas protegidas paulistas.
É importante destacar também o papel que as terceirizações vêm assumindo
nas áreas protegidas do Estado de São Paulo. O Decreto Estadual 57.401/11, que
estabelece o Programa de Parcerias para as Unidades de Conservação, demonstra o
caminho que as políticas públicas apontam, ou seja, aumentar a participação privada
no interior das áreas protegidas, justificada como uma alternativa a desoneração dos
cofres públicos para que os recursos possam ser direcionados para a conservação do
patrimônio. Embora esse decreto não traga nenhuma novidade em termos legais, uma
vez que todos os procedimentos ali elencados já estavam previstos na lei federal n.º
8.666/93, que estabelece os procedimentos para licitação e contratos da administração
pública, ele é um importante passo do poder público rumo às terceirizações.

Figura 5. ANÁLISE DE SIMILARIDADE DAS POLÍTICAS


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PÚBLICAS DE SÃO PAULO

Relação de similaridade

Nota-se uma grande relação de similaridade entre todas as políticas públicas


avaliadas. O maior número de conexões parte do SNUC (Lei 9.985/2000) e da
Resolução SMA n.º 59/2008.

O Projeto de Lei n.º 249/2013 (SÃO PAULO, 2013a), proposto pela Secretaria
do Meio Ambiente, em tramitação em caráter de urgência na Assembleia Legislativa,
vai ao encontro desse direcionamento de terceirização, ao propor a concessão de
uso remunerado, por até 30 anos, de cinco unidades de conservação estaduais, três
parques, uma floresta e uma estação experimental. Essa proposta expande o prazo de
concessão atual, de no máximo cinco anos, com o objetivo de atrair parceiros privados
para a construção e manutenção de atividades de uso público, no caso específico dos
parques estaduais, e a exploração de produtos florestais nas outras duas unidades.
Essas normativas, assim como o próprio SNUC e outros instrumentos jurídicos,
estabelecem como um de seus objetivos assegurarem a participação das populações
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locais nas oportunidades econômicas geradas pelas UC. Entretanto, não existem
formas legais que garantam essa participação, que em muitos casos ficam restritas as
grandes corporações, uma vez que a lei federal n.º 8.666/93 estabelece a igualdade
de condições entre todas as empresas brasileiras para firmar contratos com o poder
público. Dessa forma, nota-se que as políticas brasileiras buscam um caminho já
percorrido por outros países como os Estados Unidos e o Canadá. Porém, estudos
mostram que os modelos de gestão de áreas protegidas com a participação de
iniciativa privada, estão entre os que apresentam as piores avaliações com relação à
governança (EAGLES, 2009).
Outro ponto que merece ser destacado em relação às políticas brasileiras
para uso público em unidades de conservação, diz respeito à atualidade dos seus
marcos legais. Diversas leis, decretos, resoluções e portarias foram editadas após a
aprovação do SNUC em 2000. Tal fato ilustra a afirmação feita anteriormente sobre
a mudança de visão dos órgãos públicos acerca da importância do ecoturismo como
uma estratégia de conservação, especialmente após a instituição do SIEFLOR.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A técnica de análise de conteúdo permitiu uma avaliação quantitativa e objetiva


do corpus identificado para a pesquisa, de acordo com o exposto no presente artigo.
Ela contribui de maneira direta para o entendimento das políticas públicas sobre
uso público e ecoturismo em Unidades de Conservação e, principalmente, como os
diferentes temas são abordados nos textos. Entretanto, essa análise quantitativa
isolada revela apenas o que o governo diz fazer, e não o que, de fato, faz e muito
menos os interesses por trás de suas ações. Para tanto é preciso também avaliar o
processo de construção e implantação dessas políticas, como elas são colocadas
em prática pelos órgãos competentes e, mais importante, verificar como os atores
envolvidos são afetados por seus resultados. A análise de conteúdo configurou-se,
assim, numa ferramenta adequada para o entendimento das políticas públicas sobre
uso público em áreas protegidas, permitindo uma avaliação das diretrizes e princípios
dessas políticas.
Entre os principais resultados gerados a partir da análise de conteúdo, fica clara
a mudança de foco das políticas públicas no Estado de São Paulo. Principalmente a
partir da instituição do SIEFLOR em 2006, partindo de uma visão preservacionista
e voltando-se para as terceirizações, em uma tentativa de alcançar o equilíbrio
financeiro das Unidades de Conservação por meio, principalmente, da exploração do
uso público. Entretanto, esse modelo, conforme mostra experiências internacionais,
pode trazer consequências negativas para os três elementos do ecoturismo
analisados: conservação do meio ambiente, conscientização ambiental dos visitantes
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A REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE GUIA DE TURISMO NO BRASIL:


UMA AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS PRESTADOS EM PORTO SEGURO-BA

Gustavo Aveiro de Araujo1

RESUMO:
Este artigo teve como objetivo discutir a regulamentação da profissão de guia de
turismo no Brasil, a partir de uma avaliação dos serviços prestados e da análise
da legislação que regula esta atividade. A pesquisa de campo buscou identificar e
analisar a opinião dos atores sociais do turismo sobre alguns aspectos qualitativos dos
serviços prestados nos atrativos turísticos de Porto Seguro-BA. Os dados coletados
permitem afirmar que os visitantes aprovam os serviços prestados, enquanto que a
comunidade e os gestores do turismo veem com restrições a qualidade da oferta
desses serviços. Sugere-se uma mudança na regulamentação desta profissão, com
intuito de resguardar o direito dos guias de turismo à exclusividade na prestação
de seus serviços e favorecer melhoras na qualidade dos serviços prestados e nos
produtos turísticos.

PALAVRAS-CHAVE: Guia de turismo. Legislação turística. Porto Seguro-BA. Serviços


turísticos.

THE TOUR GUIDE PROFESSION REGULATION IN BRAZIL: A REVIEW OF THE


SERVICES PROVIDED IN PORTO SEGURO, BAHIA

ABSTRACT:
This article aims to discuss the regulation of the profession of tour guide in Brazil,
from an evaluation of the services rendered and the consideration of legislation that
regulates this activity. The field research was to identify and analyze the views of
stakeholders of tourism on some qualitative aspects of service in tourist attractions
in Porto Seguro, Bahia. The collected data allow us to state that visitors approve the
services, while community and managers of tourism with restrictions see the quality
of such services. We suggest a change in the regulation of the profession, in order to
safeguard the right of the tour guides to the exclusivity provision of its services and
promote improvements in the quality of services and tourist products.

1
Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Especialista em
Planejamento, Gestão e Marketing do Turismo pela Universidade Católica de Brasília – UCB. Mestre
em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Professor Assistente do
Departamento de Turismo da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM.
E-mail: gudearaujo@gmail.com
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KEYWORDS: Tour guide. Tourist legislation. Porto Seguro, Bahia. Tourist services.

INTRODUÇÃO
O trabalho realizado pelos guias de turismo é de fundamental importância
para a consolidação de um produto turístico. São os guias de turismo os principais
transmissores de informações essenciais aos visitantes de sítios de relevância natural,
histórica ou cultural.
No Brasil, a profissão de guia de turismo é regulamentada por lei, que
estabelece a exigência de formação específica, dada a importância deste serviço
para a qualidade do produto turístico. No entanto, apesar da existência de legislação
específica para regulamentar a profissão de guia de turismo, existem incoerências
em tal regulamentação, que contrariam a referida Lei, e que constituem uma lacuna
existente em tal regulamentação profissional ao permitir a prestação dos mesmos
serviços prestados pelos guias credenciados, por outros profissionais, sem a
necessidade da mesma formação específica que os guias recebem. Esta lacuna tem
contribuído negativamente na qualidade deste importante serviço turístico.
O problema apresentado tem relação com a avaliação dos serviços dos guias de
turismo realizada na região turística de Porto Seguro, extremo sul do estado da Bahia,
no nordeste brasileiro. A região compreendida por este estudo tem sua relevância
histórica, cultural e ambiental reconhecida pelo Instituto do patrimônio histórico e
artístico Nacional (IPHAN) e pela Organização das Nações Unidas para a educação, a
ciência e a cultura (UNESCO) e reúnem valioso patrimônio cultural e natural, inseridos
em um dos mais importantes polos turísticos brasileiros.
O objeto deste estudo é a regulamentação da profissão de guia de turismo
no Brasil. Para ilustrar e subsidiar as discussões em torno do tema, analisou-se as
avaliações dos serviços prestados pelos guias de turismo e similares atuantes na
região histórica do descobrimento do Brasil. Com intuito de identificar as opiniões dos
atores sociais do turismo sobre a qualidade do trabalho prestado por guias e similares
na região em questão, foram coletadas opiniões das comunidades dos entornos dos
principais atrativos, e de seus visitantes, bem como dos gestores do turismo, a fim de
gerar subsídios para uma avaliação deste serviço prestado na região em questão.
A regulamentação da profissão de guia de turismo no Brasil é apresentada e
discutida. Foi identificada uma lacuna existente, a qual afirmamos estar relacionada
com os resultados da análise dos dados coletados sobre a qualidade dos serviços dos
profissionais que prestam este tipo de serviço na região turística de Porto Seguro.
Os guias de turismo no Brasil, apesar de serem amparados por uma lei
específica, a qual lhes deveria garantir o direito à exclusividade da prestação deste
importante serviço turístico, estão vulneráveis, na medida em que outros profissionais
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são permitidos atuarem na prestação do mesmo serviço, embora sem a necessidade


de formação compatível com aquela exigida por lei para o serviço de guia de turismo.

METODOLOGIA
Este estudo sobre os guias de turismo teve caráter exploratório. A área abrangida
pelo mesmo incluiu localidades dos municípios baianos de Porto Seguro e Santa Cruz
Cabrália, nos quais realizou-se as coletas informações que contém avaliações por
parte das comunidades dos entornos dos principais atrativos turísticos, dos visitantes
destes atrativos, bem como dos gestores do turismo, ou seja, dos atores sociais do
turismo relacionados aos seguintes atrativos histórico-culturais: 1
O tipo de amostragem para coleta de dados sobre as comunidades locais foi
do tipo probabilística simples. A amostra de 228 indivíduos, aos quais se aplicou o
formulário de pesquisa, foi calculada considerando-se como universo a somatória das
populações em Idade Ativa (PIA) dos dois municípios em questão, o qual totaliza 90.272
indivíduos (SEI, 2007). O nível de confiança foi estabelecido em 90% (equivalendo a
um t = 1,645) para uma distribuição normal (curva assimétrica em relação à média - µ),
com margem de erro para os parâmetros de 5% (p ± e). As proporções de p e q foram
definidas em 50% (0,5), onde q = 1 – p.
A amostra de visitantes e gestores foi do tipo não probabilística intencional
por exaustão, tendo sido aplicados 293 formulários aos visitantes e 17 formulários
aos gestores do turismo. O universo dos gestores foi constituído pelos 21 membros
representantes das principais entidades relacionadas ao turismo regional, componentes
do Conselho de Turismo do Polo do descobrimento. Como técnica adicional de coleta
de dados sobre a opinião dos gestores foi utilizada a entrevista semidirigida contendo
questões sobre a qualidade da informação transmitida, e sobre a qualidade dos
serviços prestados pelos guias de turismo.
Os formulários continham questões fechadas que versavam sobre a qualidade
dos serviços prestados, a qualidade das informações transmitidas e sobre os
procedimentos utilizados pelos guias de turismo e condutores de visitantes atuantes
na região turística em questão. As questões contiveram opções de resposta em escala
Likert2, que variaram de 0 (péssimo) até 5 (excelente).
Os dados coletados através dos formulários e entrevistas foram codificados
e lançados num banco de dados que serviu de fonte para geração dos relatórios
com as frequências estatísticas. Esses dados estatísticos recolhidos dos três grupos
de informantes serviram de fonte para geração dos resultados com frequências
estatísticas sobre a opinião dos atores acerca da qualidade do trabalho dos guias e
sobre a qualidade das informações transmitidas por eles.
2 A Escala Likert é um tipo de escala que permite resposta psicométrica, utilizada comumente
em formulários de pesquisa, com objetivo de identificar opiniões. Ao respponderem as questões formuladas, os
informantes especificam seu nível de concordância com relação a uma afirmação posta.
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IMPORTÂNCIA DO GUIA DE TURISMO PARA A QUALIDADE DA


EXPERIÊNCIA TURÍSTICA
A experiência de um visitante em um local de elevado interesse histórico e
cultural poderia ser ampliada em função do nível e da qualidade das informações
recebidas e, sobretudo a partir de revelações e significados adquiridos por meio da
“visita”. Neste contexto, o trabalho desempenhado por guias de turismo é essencial
para a qualidade da experiência de visitantes de atrativos turísticos histórico-culturais
e naturais, na medida em que a este profissional se atribui as funções de informar e
orientar àqueles que chegam em busca de uma aproximação aos bens patrimoniais
de uma localidade.
Sobre a busca por qualidade na experiência por parte dos visitantes, Wearing e
Nail (2001) afirmam que o foco sobre as dimensões da experiência do visitante revela
que em tempos atuais, ele não está preocupado apenas com a pura observação de um
cenário ou objeto, mas sobretudo com a sensação e a percepção de algo relacionado
ao seu valor e, se sujeita a assimilar valores que não são seus propriamente, ou,
pelo menos, seriam incomuns ao seu cotidiano. Nesta perspectiva a visitação a sítios
naturais e de interesse cultural na atualidade, tornaram-se difusoras de atividades
recreativas, educativas sustentáveis e, neste sentido, o trabalho do guia de turismo é
aqui considerado estratégico para se atingir os objetivos conservacionistas através da
comunicação.
As relações entre cultura, turismo e meio ambiente vem sendo largamente
discutidas no âmbito acadêmico. No turismo moderno, as relações recreativas
e educativas próprias do homem com seu meio evoluíram. Trigo (2001, p. 26)
esclarece que “as atividades de recreação e lazer adquiriram muitas dimensões na
pós-modernidade, e passaram a incentivar reflexões sobre o entendimento do homem
sobre sua relação com o ambiente”, o que inclui bens patrimoniais tanto naturais como
culturais. Um exemplo disso pode ser verificado no turismo, aqui entendido como uma
forma de lazer típica da atualidade, capaz de favorecer a sustentabilidade, conforme
demonstrou Swarbrooke (2000), ao conceituar Turismo Sustentável.
O indivíduo pós-moderno, principalmente aquele que habita os grandes centros
urbanos, passou a ter necessidades de sair do seu entorno habitual para interagir com
as diversidades cultural e natural, para além de apreciá-las, entender sua participação
na gestão dos ambientes e tentar compreender as problemáticas que envolvem a
atual crise ambiental em que vivemos, e a partir desta compreensão contribuir para
a sustentabilidade. Neste contexto, o papel dos guias de turismo tem importância
fundamental, no sentido de favorecer tal compreensão, pois é ele, um dos principais
responsáveis pela transmissão e disseminação de informações sobre o lugar.
1074
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A REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE GUIA DE TURISMO NO BRASIL: UMA


LACUNA EXISTENTE
De acordo com a descrição sumária das atividades profissionais do guia de
turismo no Brasil, estabelecida pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO),
este tipo de profissão está destinada à execução de roteiro turístico, transmissão de
informações, atenção aos passageiros, organização das atividades diárias, realização
de tarefas burocráticas e desenvolvimento de itinerários e roteiros de visitas (BRASIL,
2014).
A profissão de guia de turismo é regulamentada no Brasil pela Lei n.º 8.623, de
28 de janeiro de 1993, e pelo Decreto Presidencial nº 946, de 1º de outubro de 1993,
que a regulamenta. A referida Lei e o referido Decreto estabelecem que o Guia de
Turismo deve estar devidamente cadastrado no Ministério do Turismo para exercer
atividades de acompanhamento, orientação e transmissão de informações a indivíduos
ou grupos, em visitas, excursões urbanas, municipais, estaduais, interestaduais,
internacionais ou especializadas (BRASIL, 1993a; BRASIL, 1993b).
A Lei citada estabelece também que, conforme a especialidade da formação
profissional e das atividades desempenhadas, comprovadas perante o Ministério do
Turismo, os guias de turismo serão cadastrados em uma ou mais das seguintes classes:
1) guia regional, quando suas atividades compreenderem a recepção, o traslado, o
acompanhamento, a prestação de informações e assistência a turistas, em itinerários
ou roteiros locais ou intermunicipais de uma determinada unidade da federação, para
visita a seus atrativos turísticos; 2) guia de excursão nacional, quando suas atividades
compreenderem o acompanhamento e a assistência a grupos de turistas, durante todo
o percurso da excursão de âmbito nacional ou realizada na América do Sul, adotando,
em nome da agência de turismo responsável pelo roteiro, todas as atribuições de
natureza técnica e administrativa necessárias à fiel execução do programa; 3) guia de
excursão internacional, quando realizarem as atividades referidas no inciso II, deste
artigo, para os demais países; 4) guia especializado em atrativo turístico, quando
suas atividades compreenderem a prestação de informações técnicas especializadas,
sobre determinado tipo de atrativo natural ou cultural de interesse turístico, na unidade
da federação para o qual o mesmo se submeteu a formação profissional específica
(BRASIL, 1993a).
A fiscalização sobre a atuação profissional dos guias de turismo deve ser exercida
pelos Órgãos Estaduais de Turismo que, “normalmente, tem equipes reduzidas nas
chamadas atividades descentralizadas e acabam se omitindo ou esquecendo essa
importante atribuição (BOITEUX, 2005, p. 86)”. Na região de Porto Seguro, isso se
comprova na prática, pois muito raramente se observa a atuação das autoridades
competentes, na fiscalização das atividades dos guias de turismo.
Além do problema da falta de fiscalização, ocorre que em 1994, o Órgão Oficial
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de Turismo no Brasil daquela época, a EMBRATUR, efetivou a Deliberação Normativa


nº 326, de 13 de janeiro de 1994 que, considerando sua competência institucional em
promover o cadastramento e organização dos diversos serviços turísticos prestados,
considerou que seria apropriado aos Órgãos oficiais de turismo das Unidades da
Federação, estabelecerem normas próprias para cadastro, classificação, controle e
fiscalização de prestadores de serviços, entre eles, os guias de turismo.
Tal Deliberação Normativa resolveu que algumas pessoas físicas prestadoras
de serviços - cuja atuação profissional é destinada a atender peculiaridades específicas
do patrimônio e da infraestrutura turística locais e, tendo significativa implicação na
qualidade dos produtos turísticos estaduais oferecidos, cuja prática decorre do tempo
de vivência e experiência em determinado atrativo ou empreendimento turístico,
próprio de certa região, lhes permitindo conduzir o turista, com segurança, em seus
passeios e visitas, ao local, prestando-lhes orientação e informação específica e
tornando mais atrativa sua programação – desde que, sob controle total do órgão
Oficial do Turismo estadual, podem conduzir e orientar turistas em passeios e visitas
realizados no interior de determinado atrativo ou empreendimento turístico localizado:
a) na selva amazônica, pantanal, parques nacionais, ou a outros locais em equilíbrio
ambiental; b) em dunas, cavernas ou outros atrativos ecológicos específicos; c) em
locais de atrativos náuticos; d) em empreendimento considerado de valor histórico e
artístico, pelas autoridades governamentais competentes (BOITEUX, 2005; SILVA,
2005).
Contudo, verifica-se uma lacuna existente entre os diplomas legais que
regulamentam a profissão de guia de turismo no país. A citada Deliberação Normativa
contraria a Lei no 8.623/93, ao permitir a outros profissionais, a execução de serviços
até então considerados exclusivos da profissão de guia, pretendendo que estes
serviços são de fundamental importância para o bom desenvolvimento do turismo nas
Unidades da federação, e como tais, seu controle passaria para o rol de atribuições
de cada um dos Órgãos oficiais de turismo estaduais.
Se por um lado os guias de turismo do Brasil tem a garantia da exclusividade
da prestação de seus serviços, estabelecida pela Lei nº 8.623/93, por outro lado
perdem tal direito à exclusividade, na medida em que a Deliberação Normativa nº
326/94 permite às Unidades da Federação a designação de condutores de visitantes
em sítios de relevância natural, histórica ou cultural, ou seja, nos atrativos turísticos,
principal locus de atuação dos guias de turismo, sem que haja a necessidade de
formação compatível com aquela exigida pela Lei que regulamenta a profissão de
guia de turismo no Brasil.
Afirma-se neste estudo que este impasse contraditório, contribuiu para uma
avaliação de qualidade considerada apenas regular, por parte da comunidade e dos
gestores do turismo acerca dos serviços de condução e informação de visitantes
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prestados por esses profissionais na região de Porto Seguro, conforme demonstraram


os resultados da pesquisa realizada, apresentados a seguir.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Indagados sobre a qualidade dos serviços prestados pelos guias de turismo e
condutores de visitantes, enquanto que a média aritmética das opiniões dos visitantes
se situou entre ótimo e excelente (4,69), por parte da comunidade essa média situou-
se bem próxima de regular (2.09) e entre os gestores situou-se entre regular e
bom (2.53), conforme demonstrado no gráfico 1. Esse resultado, em princípio, indica
haver a necessidade de melhor monitoramento e avaliação dos serviços prestados
pelos guias de turismo e condutores de visitantes de maneira geral, uma vez que as
comunidades dos entornos dos atrativos, bem como gestores do turismo regional não
considera bom os serviços prestados por tais profissionais.
Ocorre que em muitos atrativos naturais, históricos e culturais da região de
Porto Seguro, em vez de guias de turismo, atuam em sua maioria indivíduos que na
realidade não são guias de turismo credenciados pelo Ministério do Turismo, mas
sim apenas condutores de visitantes designados pelo Órgão Estadual de Turismo,
conforme permitido pela legislação vigente, e já discutido na seção anterior.

Nas avaliações acerca da qualidade das informações que são transmitidas


pelos guias de turismo e condutores de visitantes da região de Porto Seguro, a
média aritmética da opinião dos visitantes foi de 4.66, que corresponde a um valor
situado entre ótimo e excelente. Por parte da comunidade, essa média foi de 2.14,
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que corresponde a um valor situado bem próximo de regular. Por parte dos gestores
do turismo, a média foi de 2.07, que corresponde a um valor igualmente situado bem
próximo ao estado de regular, conforme exposto no Gráfico 2.
Essa divergência de opiniões existente entre visitantes e a população local,
representada pela comunidade em geral e os gestores do turismo local, pode ser
explicada devido ao fato de que os visitantes, geralmente não têm conhecimento pré-
vio aprofundado sobre as informações que são comunicadas pelos guias de turismo
e condutores de visitantes, e se contentaram com as informações que lhes foram
transmitidas, demonstrando estarem satisfeitos com os serviços prestados por esses
profissionais. Ao contrário, as comunidades dos entornos dos atrativos turísticos e
os gestores do turismo, estes estão mais conscientes das informações, pois, na sua
maioria têm amplo conhecimento sobre as principais informações que julgam ser im-
portantes durante as apresentações dos guias e monitores e, portanto, se demostra-
ram insatisfação. Esse resultado indica haver a necessidade de melhor monitoramen-
to e avaliação das informações que são veiculadas por estes profissionais, com intuito
de verificar se as falhas existentes apontadas pelos informantes provém dos guias de
turismo credenciados pelo Ministério do Turismo, ou se provém dos condutores de
visitantes credenciados pelo Órgão Oficial de Turismo do Estado da Bahia e, a partir
disso, identificar os ajustes necessários a serem realizados nos processos de forma-
ção, fiscalização e transmissão de informações por parte destes importantes serviços
turísticos.
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A partir da análise do Gráfico 3, observa-se que os procedimentos utilizados


pelos guias de turismo e condutores de visitantes para transmitir informações sobre os
atrativos turísticos aos visitantes, igualmente não foram considerados bons, por parte
das comunidades (2,36) e dos gestores (2,55), sendo considerados apenas regular.
Por outro lado, este aspecto foi o que obteve a pior avaliação por parte dos visitantes
(3,52), em relação aos aspectos avaliados anteriormente.

Novamente os resultados obtidos apontam para a necessidade de serem iden-


tificados os ajustes necessários a serem realizados nos procedimentos que são utili-
zados pelos guias de turismo e condutores de visitantes, para transmitirem informa-
ções aos visitantes sobre os atrativos turísticos da região de Porto Seguro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho do guia de turismo é fundamental para o sucesso de um produto
turístico, na medida em que este profissional é responsável pela condução, orientação
e informação dos visitantes de um atrativo turístico histórico-cultural.
A atuação de condutores não credenciados pelo Ministério do Turismo junto aos
atrativos turísticos pesquisados na região de Porto Seguro é um fator crítico do produto
turístico local. E esta atuação paralela somente é possível devido à regulamentação
ineficiente desta profissão no Brasil, regulamenta esta que possui lacunas que
comprometem a qualidade dos serviços prestados por esses profissionais, na medida
em que possibilita a atuação de outros profissionais, não credenciados.
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A legislação que regulamenta a profissão de guia de turismo no Brasil precisa ser


revista, no sentido de garantir a exclusividade da prestação dos serviços de guiamento
aos guias, e impedir que outros profissionais, não credenciados prestem os mesmos
serviços, os quais deveriam ser exclusivamente prestados por guias credenciados
pelo Ministério do Turismo. Tal mudança contribuiria para melhorar a qualidade dos
serviços prestados por estes profissionais e consequentemente possibilitaria maior
qualidade aos produtos turísticos.


REFERÊNCIAS
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ao turismo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

BRASIL, Lei nº 8.623, 28 de janeiro de 1993. Dispõe sobre a profissão de Guia de


Turismo e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, p. 1229, 29 jan.,
1993a. Seção 1.

BRASIL, Decreto-Lei nº 946, 1º de outubro de 1993. Regulamenta a Lei nº 8.623, de


28 de janeiro de 1993, que dispõe sobre a profissão de Guia de Turismo e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, p. 14782, 04 de outubro de 1993b.
Seção 1.

BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Classificação Brasileira de


Ocupações. Disponível em:
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SILVA, Eduardo Fernandez. Estudo sobre a legislação vigente que regulamenta


o turismo no Brasil. Brasília: Consultoria legislativa da Câmara dos deputados,
2005. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/documentos-e- pesquisa/
publicacoes/estnottec/tema10/2005_3025.pdf. Acesso em: 10 de
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Ed. Campinas: Papirus, 2001.

WEARING, S.; NEIL, J. Ecoturismo: impactos, potencialidades e possibilidades.


São Paulo: Manole, 2001.
1081
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ANÁLISE DA SATISFAÇÃO DOS TURISTAS COMO ESTRATÉGIA DE


GERENCIAMENTO TURÍSTICO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DOS
RECIFES DE CORAIS, NORDESTE DO BRASIL

RESUMO: O turismo é uma atividade que vem se desenvolvendo em unidades de


conservação (UC). Porém, muitas práticas apresentam-se inadequadas as mesmas.
Os visitantes são peças-chaves para que as UCs atinjam seus objetivos. Para
analisar as relações entre as características e condutas dos turistas que visitam a
Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais (APARC), Nordeste brasileiro, foi
realizado estudo amostral, utilizado um erro de estimativa de 5% e grau de confiança
de 95%. Os dados foram analisados através de análise fatorial e conglomerados.
Foi observado que o turismo desenvolvido na APARC assemelha-se ao turismo de
massa. Os canais de informações não são eficientes. Identificou-se cinco dimensões
de satisfação: qualidade dos serviços, beleza cênica, conduta inadequada, cultural e
tranqüilidade. E, cinco segmentos de mercado: turismo de descanso, de observação,
de autenticidade e predatório. Esse quadro mostra a necessidade de investimentos no
desenvolvimento do ecoturismo, melhorias nos canais da comunicação, realização de
programa de educação ambiental e captação de turistas especializados em ambientes
recifais.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Unidades de Conservação. Turistas. Satisfação.


Planejamento Turístico.

ABSTRACT: Tourism is an activity that has been developing in protected areas (PAs).
However, many practices have become inadequate the same. Visitors are key pieces
for PAs achieve their goals. To analyze the relationships between the characteristics
and tourists visiting the Environmental Protection Area of Recifes de Corais (APARC),
Northeast Brazil conducts sampling study was conducted, using a estimation error
of 5% and confidence level of 95%. The data were analyzed through factor analysis
and cluster. It was observed that tourism developed in APARC resembling mass
tourism. The information channels are not efficient. We identified five dimensions of
satisfaction: service quality, scenic beauty, inadequate, cultural and quiet demeanor.
And five market segments: tourism rest, observation, authenticity and predatory. This
scenario shows the need for investments in ecotourism development, improvements in
communication channels, conducting environmental education program and attracting
tourists specialized in reef environments.

KEYWORDS: Tourism. Protected Areas. Tourists. Satisfaction. Tourism Planning.


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INTRODUÇÃO

Além de suas principais metas - conservação da diversidade biológica e


fornecimento de serviços de ecossistemas - as Unidades de Conservação (UCs) têm
objetivos econômicos embutidos em sua criação, desde seu auto-financiamento, até
perspectivas de trabalho e renda para a população do entorno (BOO, 1990; BUTLER,
1996; HASSLER, 2005; REINIUS, FREDMAN, 2007; VALLEJO, 2003). Apesar dos
danos que o turismo pode causar à natureza, ele tem sido uma estratégia utilizada nos
últimos anos para subsidiar a manutenção das UCs, estando a proteção de muitas
delas diretamente ligada à renda gerada pelo turismo (BOO, 1990; LINDBERG, 2001;
MCNEELY, MILLER, 1984; WWF, 1992). Ademais, a busca desses lugares para a
prática do turismo pode estar relacionada à conscientização dos turistas em relação
às questões ambientais de uma forma geral (OMT, 2003, 2004).

A forma como está sendo praticada o turismo em UCs, entretanto, é inadequada.


O que ocasionou o problema para elas que não têm preparo para receber uma
quantidade cada vez maior de visitantes (BOO, 2002; CEBALLOS-LASCURÁIN,
1996; WALLACE, 2002). As principais dificuldades são: falta de pessoal qualificado e
recursos financeiros e de políticas ambientais inadequadas, fazendo com que algumas
UCs sejam rotuladas de unidades de papel (DHARMARATNE, SANG, WALLING,
2000; FARIA, 2006; SALM, CLARK, SIIRILA, 2000; VALLEJO, 2003).

Os efeitos nocivos do turismo serão minimizados pelo planejamento a longo


prazo e as UCs (EAGLES et al, 2003). E as UCs só atingirão seus objetivos se seus
usuários tiverem participação na sua conservação (SALM, CLARK, SIIRILA, 2000).
Neste sentido, compreender as características básicas, percepções, expectativas
e o comportamento dos visitantes contribuem para adequações das práticas de
manejo, identificação de causas plausíveis e soluções para mitigação dos impactos
provenientes da visitação, assim como para medidas que proporcionem uma
experiência satisfatória aos visitantes (2000; DUTRA et al, 2008; EAGLES et al, 2003;
HAMMIT, COLE, 1998; LADEIRA et al, 2007; Rec.5.29 CMP/IUCN citado por SCHERL
et al, 2006; ROGGENBUCK, LUCAS, 1987, TAKAHASHI, 1987; TONGE, MOORE,
2007).

Apesar da importância da zona costeira e do mar para o homem, as unidades de


conservação marinhas (UCMs) correspondem menos de 0,5% das áreas protegidas
do planeta (CHAPE et al, 2003). Mesmo em UCMs, como aquelas do Caribe, onde há
planos de manejo, apenas 32% das 51 UCMs são totalmente gerenciadas (OEA/NPS,
1988 apud DHARMARATNE, SANG, WALLING, 2000). Um dos ecossistemas alvo
de proteção das UCMs é o de ambientes recifais. Estes atraem milhares de turistas
todos os anos, gerando benefícios econômicos estimados em US$ 9.6 bilhões anuais
(CESAR, BURKE, PET-SOEDE, 2003).
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Pesquisas vêm sendo feitas para identificar impactos decorrentes do turismo


em UCMs que tenham ambientes recifais, a percepção dos visitantes sobre a UCM e
como sua satisfação influencia no manejo do local, como: Ahmed et al (2007), Barker
& Roberts (2004), Davis e Banks (1997), Herring (2006); Leujak, e Ormond (2007),
Lim (1998), Medio, Ormond e Pearson (1996), Pedrini et al (2008), Petrosillo et. al.
(2006) e Tonge e Moore (2007).

Das nove UCMs, os recifes de corais estão presentes em praticamente todas,


bem como a prática do turismo. Os recifes de corais brasileiros são os únicos do
Atlântico Sul, eles ocupam uma área de 3.000 km (Moraes, 1999). Como observado
na literatura, a participação dos visitantes é indispensável para o bom funcionamento
desses espaços. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é identificar os fatores
que proporcionam uma visita satisfatória e saber se elas são condizentes com a
conservação da Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais.

ÁREA DE ESTUDO

A APARC foi criada em 2001, ela está localizada no estado do Rio Grande do
Norte, Nordeste do Brasil, na linha média das marés, tendo como coordenas a latitude
05º 09’ 18” S e a longitude 35º 30’ 00” W Gr; com uma área de aproximadamente
32.500ha. A mesma tem três parrachos (ou recifes de corais): Maracajaú, Rio do Fogo e
Cioba (Figura 1). A APARC tem um Conselho Gestor (CG) que é um órgão que funciona
como instância consultiva para o planejamento e gestão da mesma, que tem como
presidente o órgão responsável pelas UCs estaduais, o Instituto de Desenvolvimento
Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA). A sede da APARC
está localizada em Maracajaú. O CG vem trabalhando no ordenamento do local, as
seguintes medidas já foram adotadas: fixação do número de visitantes por dia - 109
turistas na alta estação e 81 na baixa; o local para a instalação dos flutuantes; rotas
de navegação; tipo adequado dos motores das embarcações e plano de pesca, dentre
outras ações.

FIGURA 1 – ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DOS RECIFES


DE CORAIS
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As principais atividades econômicas desenvolvidas na APARC são a pesca


artesanal e o turismo. Esta se concentra quase que exclusivamente no parracho de
Maracajaú, que tem aproximadamente 9km de comprimento e 3km de largura, mais
especificamente, na Área de Uso Turístico Intensivo (AUTI), que é um retângulo com
comprimento E-W de 900m e N-S de 600m, o que corresponde a uma área de 540
000km2, e localiza-se a 7km da praia de Maracajaú e recebe entre 60 000 a 70 000
visitantes anualmente (IDEMA, 2006).

A recepção dos turistas é feita em restaurantes ou em um parque aquático,


onde, assim como, nos flutuantes, é feita a prelação, onde os turistas são informados
sobre algumas normas sobre o local e o mergulho. O passeio ocorre apenas durante
a maré baixa, porque é neste intervalo de tempo que os corais são visualizados
com maior facilidade pelas pessoas. A duração de passeio é em média de 2h30min,
incluindo a ida e a volta ao parracho, em lancha ou catamarã. As atividades oferecidas
aos turistas são: o snorkel e o scuba.

METODOLOGIA DO ESTUDO

Nesta pesquisa a população foi composta pelos turistas que fizeram o passeio
ao parracho de Maracajaú. Na determinação do tamanho utilizou-se a amostragem
aleatória estratificada sem reposição, com alocação de Neyman.

A escolha dos turistas foi feita de forma aleatória. A partir dessa divisão foi
utilizado um erro de estimativa de 5% e proporções com o grau de confiança de 95%.
A proporção amostral de 0.3, determinada com base no pré-teste feito em setembro de
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2007, para avaliar o instrumento de coleta de dados e fazer as adequações necessárias.


A amostra foi calculada com base no mês de maior fluxo turístico, janeiro, com os
dados referentes ao janeiro de 2007, que foi de 12 190 turistas pagantes (acima de 7
anos de idade) (IDEMA, 2007). Foi estipulado que os respondentes deveriam ter mais
de 16 anos de idade.

A coleta de dados foi realizada em dois pontos de embarque através de um


questionário. As 24 questões do mesmo estavam agrupadas da seguinte forma:
conhecimento prévio sobre o destino; conhecimento sócio-ambiental sobre o Parracho;
satisfação dos turistas e caracterização da amostra. O questionário foi traduzido para
idioma Italiano Espanhol e foram feitos com base nos estudos de Lim (1998) e Herring
(2006).

A aplicação dos questionários foi realizada entre ao dias 05 e 11 de mês de


janeiro de 2008, por ser alta estação e ser o mês que tem o maior fluxo de turistas,
sendo o período recomendado pela OMT (2003) para este tipo de levantamento
de dados. A mesma foi realizada nos restaurantes das empresas de mergulho, em
Maracajaú, quando os turistas retornavam do parracho, o que representou a aplicação
em dois dos quatro pontos de embarque/desembarque de turistas. Foram utilizados
nesta pesquisa 236 questionários válidos. Apesar de alguns respondentes deixaram
alguns itens em branco, isso não foi considerado algo que fosse comprometer o
resultado total da pesquisa. Os dados foram analisados através de análise descritiva
usando técnicas de aritmética e de porcentagem, análise fatorial e de conglomerados.

Na análise fatorial a quantidade de fatores extraídos foi determinada com


base no Autovalor e na porcentagem da variância total, levando-se em consideração
o nível satisfatório de no mínimo 60% (MALHOTRA, 2001). Aplicou-se a Rotação
Varimax. As cargas fatoriais consideradas foram as acima de 0.40. Foram feitos os
testes de esfericidade de Bartlett e a medida de adequacidade da amostra de Kaiser-
Meyer-Olkin (KMO). Na análise de conglomerados a quantidade dos conglomerados
foi determinada os tamanhos relativos deles fossem significativos. Os dados foram
tabulados e analisados com o software estatístico SPSS® 12.0.

PERFIL DOS TURISTAS

Pouco mais da maioria dos turistas são do sexo feminino (51.7%). Com relação
ao estado civil, pode-se observar que 52.2% dos turistas são casados, 43.5% são
solteiros, já os separados/desquitados e viúvos correspondem respectivamente a 3%
e 1,3% do total. A renda familiar mensal dos turistas varia entre as seguintes faixas:
foi acima de R$ 10 000 (26.7%); R$ 4 001 e R$ 6 000 (18.8%); entre R$ 2 001 e 4
000 (16.8%); entre R$ 6 001 e 8 000 (15.3%) e entre R$ 8 001 e 10 000 (11.9%) e a
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que obteve a menor porcentagem a que é referente a turistas que têm renda familiar
mensal de até R$ 2 000 (10.4%).

A maior parte dos turistas entrevistados é profissional liberal, com 33.9% das
respostas, seguida de estudante com 21%, funcionário público (18.3%), autônomo
(8.9%) e aposentado/pensionista (1.3%). Mais da metade dos turistas (60.4%) tem
ensino superior completo. A segunda maior porcentagem é de turistas com ensino
superior incompleto (19.4%), seguidas de 4% com ensino médio completo, 10.1%
com ensino médio incompleto. A porcentagem para ensino fundamental completo e
incompleto foi de 4% e 2.2%, respectivamente. Os turistas têm em média 30 anos. O
desvio padrão para ente parâmetro foi de 10.8.

As capitais dos estados brasileiros e suas zonas metropolitanas são as principais


zonas emissoras de turistas (70.9%), o restante dos turistas é oriundo de cidades
interioranas (29.1%). Estas cidades estão localizadas, principalmente, na região
Sudeste (59.8%), seguida da região Centro-Oeste (15.3%); as regiões Nordeste e
Sul obtiveram a mesma média (12.3%) e por último, a Norte com 0.5%. A origem
da demanda é fundamentalmente brasileira (90.7%), apenas 9.3% corresponde à
demanda internacional.

INFORMAÇÕES SOBRE NORMAS DA APARC E CONHECIMENTO SOBRE


AMBIENTES RECIFAIS

A grande maioria dos turistas que visitam a APARC (83.8%) tem acesso às
normas do local, ao passo que 16.2% de turistas não têm.

Quando perguntado a respeito de seu nível de conhecimento sobre ambientes


recifais, 14.9% dos respondentes têm nenhum conhecimento, 53.8% têm baixo
conhecimento, 25.8% têm médio conhecimento e 5.4% têm alto conhecimento sobre
o assunto.

SATISFAÇÃO DOS TURISTAS

Doze das variáveis foram consideradas como contribuintes para satisfação dos
turistas, uma vez que obtiveram médias entre importante e muito importante. Outras
cinco variáveis foram consideradas pouco ou não importantes (Tabela 1). Na mesma
tabela também pode ser observada a porcentagem de cada nota para cada variável,
bem como seus desvios-padrões.
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TABELA 1 - IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA A ITENS QUE PROPORCIONAM UMA


VISITA SATISFATÓRIA
1 2 3 4 5
Variáveis s
(%) (%) (%) (%) (%)
Condições dos equipamentos fornecidos
pela empresa de mergulho
0.9 2.6 21.4 74.4 0.9 3.7 0.568
Diversidade de corais - formas, cores,
tamanho, etc
0.4 1.3 37.8 60.1 0.4 3.6 0.551
Informações sobre a APARC
0.0 2.6 37.0 59.9 0.4 3.6 0.553
Conhecimento sobre o local por parte
dos profissionais que lhe acompanharam
durante a visita
1.7 4.3 31.6 62.0 0.4 3.5 0.667
Abundância de peixes/ animais marinhos
0.4 0.9 40.9 57.4 0.4 3.5 0.545
Ver várias espécies de animais marinhos
0.0 2.6 40.5 56.4 0.4 3.5 0.557
Beleza paisagística da praia
0.0 4.7 37.2 51.1 0.0 3.5 0.586
Maneira de supervisão e orientação de
sua visita aos corais
0.9 3.1 45.6 49.6 0.9 3.4 0.618
Informações sobre recifes de corais e sua
importância para o meio ambiente
1.3 4.3 42.0 51.9 0.4 3.4 0.650
Baixa densidade de pessoas nos corais
9.3 14.2 34.5 39.8 2.2 3.1 0.995
Informações sobre Maracajaú
3.5 10.8 60.2 24.7 0.9 3.1 0.723
Contato com a população do distrito de
Maracajaú
6.1 25.2 47.4 20.0 1.3 2.9 0.853
Dar comer a peixes/animais marinhos
36.8 29.4 18.9 13.6 1.3 2.1 1.098
Alta densidade de pessoas nos corais
36.2 31.4 20.1 10.9 1.3 2.0 1.055
Tocar/pegar nos corais
57.7 20.3 14.1 6.6 1.3 1.7 1.017
Sentar ou pegar no coral para tirar foto
60.9 21.3 9.8 6.7 1.3 1.6 0.991
Levar um “pedaçinho” do coral de
recordação
79.6 10.2 3.1 5.3 1.8 1.3 0.915
1= Não importante; 2 = Pouco Importante; 3 = Importante, 4 = Muito Importante e 5 =
Indeciso.
% porcentagem = média da amostra s = desvio padrão da mostra

Visto que muitas variáveis se complementam, analisar cada uma em separado


seria redundante, sendo mais recomendado a redução das variáveis em dimensões
básicas. Para isso foi utilizada a análise fatorial, considerada uma técnica adequada
para analisar os dados através do teste de esfericidade de Bartlett e da estatística
KMO.
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Com base na diferenciação entre as variáveis abordadas, foram identificadas


cinco dimensões básicas de satisfação, sendo adotadas as seguintes nomenclaturas:
Qualidade dos Serviços, composta por cinco variáveis (dimensão 1), Conduta
Inadequada, também formada por cinco variáveis (dimensão 2), Beleza Cênica, com
quatro variáveis (dimensão 3); Cultural que foi composta por duas variáveis (dimensão
4) e a última dimensão, Tranquilidade, que foi formada por uma variável. A Tabela 2
mostra as cargas, de cada variável de maior valor para a dimensão, bem como, a
variância explicada de cada dimensão e a total.

TABELA 2 - DIMENSÕES DE SATISFAÇÃO


Dimensões de
Variáveis Carga
Satisfação
Informações sobre recifes de corais e sua importância
0.760
para o meio ambiente
Conhecimento sobre o local por parte dos profissionais
0.747 Qualidade dos
que lhe acompanharam durante a visita
Serviços
Informações sobre a APARC 0.709 23.7%*
Maneira de supervisão e orientação de sua visita aos
0.697
corais
Condições dos equipamentos fornecidos pela empresa 0.672
Tocar/pegar nos corais 0.879
Sentar ou pegar no coral para tirar foto 0.844
Conduta
Levar um “pedaçinho” do coral de lembrança 0.828 Inadequada
Dar comer peixes/animais marinhos 0.648 18.0%*

Alta densidade de pessoas nos corais 0.565


Abundância de peixes/animais marinhos 0.862
Diversidade de corais (formas, cores, tamanho, entre
0.835
outros) Beleza Cênica
10.7%*
Ver várias espécies de peixes/animais marinhos 0.704
Beleza paisagística da praia 0.674
Contato com a população do distrito de Maracajaú 0.749 Cultural
Informações sobre Maracajaú 0.633 6.2%*
Tranquilidade
Baixa densidade de pessoas nos corais 0.901
5.9%*
Variância Total Explicada 64.5%
* Porcentagem da variância explicada da dimensão
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Os turistas atribuíram uma nota, entre 0 (extremamente insatisfeito) e 10


(extremamente satisfeito) para a visita a APARC. Menos de 4% dos turistas atribuíram
nota negativa a sua experiência na APARC (Tabela 3).

TABELA 3 - NÍVEL DE SATISFAÇÃO


f %
Extremamente satisfeito 47 21.5
Totalmente satisfeito 63 28.8
Muito satisfeito 57 26.0
Mais que satisfeito 31 14.2
Satisfeito
14 6.4
Conformado 5 2.3
Insatisfeito 1 0.5
Mais que satisfeito 0 0
Muito insatisfeito
0 0
Totalmente insatisfeito
1 0.5
Extremamente insatisfeito
0 0
Total
219 100.0
Média 8.4

3.4 SEGMENTOS DE MERCADO

Com base nas cinco dimensões de satisfação foram identificados quatro


segmentos de mercado, ou seja, grupos de turistas conforme sua preferência para
as dimensões de satisfação, Tabela 3. Levando-se em consideração os valores dos
centróides dos conglomerados que representam os valores médios das dimensões de
satisfação, os segmentos de turistas foram nomeados da seguinte forma: Turismo de
Descanso, Turismo de Observação, Turismo de Autenticidade e Turismo Predatório
(Tabela 4).

TABELA 4 - SEGMENTOS DE MERCADO


Segmentos
Dimensões de Turismo de Turismo de Turismo de Turismo
Atração Descanso Observação Autenticidade Predatório
(36*) (65*) (42*) (29*)
Qualidade dos
Serviços 0,43618 0,16634 0,51353 -1,65802
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Conduta
Inadequada -0,22852 0,02480 0,03008 0,18454
Beleza Cênica -1,33317 0,67133 0,39182 -0,41721
Cultural -0,19971 -,58215 0,92018 0,22006
Tranquilidade
0,36715 0,16703 -0,54653 -0,03863

*Quantidade de casos por segmento.

PERFIL DOS VISITANTES

O perfil dos turistas que visitam a APARC é desejável para turistas que visitam
unidades de conservação, Principalmente no tocante ao nível de escolaridade. Com
base nesta característica, pode-se pressupor que estes turistas são pessoas que tem
um senso crítico sobre as questões sociais e ambientais, sendo assim, são pessoas
que estão dispostas a contribuir com a conservação do local visitado.

O nível de renda relativamente alto dos turistas aponta para possibilidades de


se desenvolver novos produtos turísticos que venham a contribuir financeiramente
para a APARC, para a comunidade e para a região como um todo. O perfil dos
visitantes da APARC é, de modo geral, igual ao perfil dos turistas que visitam outras
UCs, como visto nos estudos de Ladeira et al (2007), Lim (1998), Petrosillo et al
(2006). As características apresentadas acima pelos turistas fazem referência ao perfil
do ecoturista. Entretanto, deve-se lavar em consideração outros fatores como a forma
como o turismo é desenvolvido na APARC (venda de passeios através de pacotes via
agências de viagem, falta de contato com a comunidade, mergulho praticado por um
grande número de pessoas), faz com que o ele esteja mais próximo ao turismo de
massa do que ao ecoturismo, como explica Ruschmann (1997).

De acordo com Cole (2002), Takahashi (1997), Hammit e Cole (1998), Stankey
et al (1985) o impacto ambiental que visitantes podem causar ao local está relacionado
à quantidade de pessoas, ao seu comportamento e ao manejo dado ao local. Visto
que na APARC a quantidade de visitantes é relativamente alta (60 000 a 70 000 mil
por ano) e que o plano de manejo está em fase de elaboração e o comportamento dos
visitantes é um assunto pouco conhecido, a atividade turística torna-se potencialmente
prejudicial ao parracho. Isso reforça a recomendação da Organização Mundial do
Turismo (2003), que diz que o planejamento em UCMs deve ser mais rigoroso,
devendo ser aplicadas medidas conservacionistas quanto à utilização do ambiente
submarinho, assim como, existir instalações integradas para atender as necessidades
dos visitantes e da UCMs.
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CONHECIMENTO SOBRE AS NORMAS DA APARC E AMBIENTES RECIFAIS

Os turistas que visitam a APARC, em sua grande maioria, não têm nenhum ou
têm baixo conhecimento sobre recifes de corais. O que foi observado como sendo
comum às outras UCMs nos trabalhos de Herring (2006), Lim (1998) e Leujak e
Ormond (2007). Sendo este mais um motivo para afastá-los do perfil dos ecoturistas,
que tem conhecimento sobre o ambiente a ser visitado. Isso mostra que os turistas
não compreendem a não compreendem a fragilidade do ecossistema acabem por
praticarem ações inapropriadas para o local durante o mergulho.

O trabalho de Silva, (2009), mostrou que os turistas que vão para a APARC
ficam sabendo que estão em uma UCM poucos momentos antes da efetivação do
passeio/mergulho 77.7% e, ainda há turistas que não ficam sabendo disso, 18.4%.
Esse mesmo problema ocorre em outras UCMs (DAVIS, BANKS, 1997; Lim, 1998;
PETROSILLO et. al., 2006). Este é outro fator que pode influenciar o comportamento
do turista durante o mergulho ou qualquer outra atividade. Pois nestes espaços
ações que podem ser prazerosas para o visitante são prejudiciais ao local. Ao saber
previamente que se está indo visitar um UC, os turistas já estão cientes de que haverá
algumas limitações durante a visita em prol da conservação do ecossistema.

As informações que os turistas recebem antes de chegar a APARC e as da


preleção mostraram-se deficientes. Uma preleção feita adequadamente mostrou-se
eficaz na diminuição de impactos aos corais (AHMED et al, 2007; MÉDIO, ORMOND,
PEARSON, 1996; PEDRINI et al, 2008), juntamente com o monitoramento in loco do
turista (BARKER, ROBERTS, 2004).

A falta de informações é responsável por muitos dos impactos causados


pelos turistas em UCs (BLANGY, WOOD, 2002). Lim (1998) mostrou que os turistas
consideraram que houve falta de informações sobre a UCM, em Pulau Payar Marine
Park, e que a maioria dos turistas não visita o centro de informações daquele parque.
Para Wallace (2002), a visitação deve ser realizada de forma a promover informações
educativas no intuito de modificar comportamentos inapropriados. Entretanto, Herring
(2006) observou que embora os turistas tivessem informado que queriam que fossem
inclusas mensagens ambientais nos programas de visitação em Akumal, a análise
de importância mostrou que eles estavam mais interessados no mergulho e nos
equipamentos e deram pouca atenção aos itens sobre educação.

SATISFAÇÃO DOS TURISTAS

Os turistas atribuíram importância ou muita importância a quase todos os itens,


com exceção dos itens que remetiam a práticas inapropriadas durante o mergulho,
porém, houve poucos turistas que atribuíram notas altas a estes itens.
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A dimensão Qualidade dos Serviços foi responsável pela maior variação


explicada, mostrou altos coeficientes para as variáveis sobre a qualidade dos
serviços prestados e informações sobre o local (Informações sobre recifes de corais
e sua importância para o meio ambiente, Conhecimento sobre o local por parte dos
profissionais que lhe acompanharam durante a visita, Informações sobre a APARC,
Maneira de supervisão e orientação de sua visita aos corais e Condições dos
equipamentos fornecidos pela empresa). Esta dimensão mostra a necessidade de
se investir na melhoria da infraestrutura do local (píer, monitoramento permanente
no mar, funcionários para receber os turistas, centro de visitantes, etc). Incluindo um
sistema eficiente de informações.

Com a segunda maior variação explicada, a dimensão Conduta Inadequada


relaciona - se fortemente com variáveis que se reportam às práticas inadequadas
durante o mergulho (Tocar/pegar nos corais, Sentar ou pegar no coral para tirar foto,
Levar um “pedacinho” do coral de lembrança, Dar comer peixes/animais marinhos e
Alta densidade de pessoas nos corais). Essa dimensão indica a necessidade urgente
do desenvolvimento de programa de educação ambiental para os visitantes.

As variáveis Abundância de peixes/animais marinhos, Diversidade de corais


(formas, cores, tamanho, etc), Ver várias espécies de peixes/animais marinhos e
Beleza paisagística da praia mostraram-se altamente correlacionados, dando origem a
terceira dimensão, correspondendo a terceira maior variação explicada, Beleza Cênica.
Esta relaciona à satisfação à beleza da paisagem. Corroborando a necessidade de
medidas mais enérgicas para a proteção dos recifes de corais, visto que o próprio
turismo pode destruí-los, esta dimensão aponta a necessidade de proteção também
da praia, espaço este que não faz parte da APARC, mas é importante tanto para o
turismo como para o bom funcionamento do ecossistema dos recifes de corais.

Ratificando o que foi dito acima, Davis e Banks (1997) e Lim (1998) mostraram
que os turistas sentem-se satisfeitos em estar perto da natureza, ver animais grandes
e diversidade de vida marinha, aprender sobre o local, etc. Contudo, Leujak e Ormond
(2007) constataram que a aceitabilidade de uma maior quantidade de turistas na água
está aumentando entre os turistas que visitam os corais de South Sinai, aumentando
a capacidade de carga social, o que parece estar acima da capacidade de carga
ecológica. O que faz com que se observe que a noção de densidade de pessoas em
um local deve ser determinado, levando-se em consideração a percepção do visitante,
desde que esta estiver abaixo da capacidade ecológica do local.

A quarta dimensão, Cultural, engloba as seguintes variáveis: Contato com a


população do distrito de Maracajaú e Informações sobre Maracajaú. Representando
a quarta maior variância explicada. Esta mostra o interesse do turista pela cultura da
comunidade de Maracajaú.
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A última dimensão, que também corresponde a menor variância explicada,


Tranquilidade, é formada por uma única variável: Baixa densidade de pessoas nos
corais. O que pode ser entendido a expressão de um local sem muita movimentação,
sem muitas pessoas para que os turistas possam relaxar, bem como porque com um
número reduzido de pessoas nos recifes de corais, de modo geral, entende-se que
se impacta menos. A satisfação dos turistas é afetada pela quantidade excessiva de
turistas na UC, sendo esta constatação feita por também por Davis e Banks (1997) e
Lim (1998).

Leujak e Ormond (2007) identificaram que os turistas têm baixo conhecimento


sobre vida marinha, mas eles mostraram-se satisfeitos com o estado dos corais,
apesar deles não se apresentarem tão bem. Na APARC, mesmo com as dificuldades
apresentadas, os turistas mostraram-se satisfeitos com o passeio.

SEGMENTOS DE MERCADO

O segmento de mercado Turismo de Descanso reúne os turistas que apresentam


com principais características o gosto por serviços de qualidade e um local tranquilo.
Eles demonstraram pouco interesse pela beleza cênica e cultural local. Pode-se
dizer que esses turistas têm como principal objetivo a busca por um local que lhe
proporcione descanso. Apresenta-se como um segmento de interesse para a APARC,
uma vez que é o que menos tende a impactar o local.

Os turistas que compõem segmento de mercado Turismo de Observação


apresentam-se como consumidores exigentes com relação aos serviços a eles
prestados. São os que menos têm interesse por conhecer a cultura local, apresentando
tendência a cometerem condutas inapropriadas durante a visitação. Este segmento é
composto por turistas que querem tranquilidade, pois não gostam de aglomeração de
pessoas. São os turistas deste segmento que mais valorizam a beleza cênica do local
visitado. As características deste segmento fazem com que ele seja interpretado como
um segmento de pessoas que dão muita importância a paisagem, sem querem ter um
entendimento mais profundo sobre o local visitado.

O segmento, Turismo de Autenticidade, apesar de indicar que os turistas têm


tendência a cometerem ações inadequadas durante a visitação e não se incomodam
em estarem em locais com grande concentração de pessoas. Apreciam, também, um
local com interessante beleza cênica. Esses turistas são mais exigentes com relação
aos serviços prestados e os mais interessados em conhecer o legado cultural local, o
que abre possibilidades de desenvolvimento do turismo para a comunidade, de forma
mais direta.

Turismo Predatório é o segmento de menor interesse para a APARC, pois


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é composto pelos turistas que têm o maior potencial de impactar o local durante a
visitação e não se importam com a aglomeração de pessoas. São eles os menos
valorizam a beleza cênica e a qualidade dos serviços prestados. A única característica
apresentada como positiva, por este segmento foi o de os turistas mostrarem interesse
pelo cultural local, porém, em comparação as suas outras características, ele mostra-
se inapropriado para uma UC.

Como observado por Eagles et al, (2003), e constatado neste trabalho, a


caracterização dos visitantes é importante, porém, deve-se ter em mente que não há
um único segmento de turistas que visita as UCs. Isso pode ser positivo no sentido em
que vários atributos biofísicos e culturais do local podem ser utilizados para o turismo,
diminuindo os impactos no local e aumentando o nível de satisfação dos turistas. E
este aumento é uma importante estratégia para o gerenciamento das UCs (RYAN E
CESSFORD, 2003; TONGE, MOORE, 2007).

Segundo Floyd et al (1997), resultados de pesquisa feitas nos parques dos


EUA mostraram que a opinião sobre os impactos é divergente entre visitantes e
administradores. Para Christensen e Davis (1985), a diferença sobre a percepção
de impacto dá-se devido à experiência diferenciadas de administradores e visitantes.
Devido a estes fatores e as características da APARC e dos turistas, os segmentos
Turismo de Observação e Turismo de Autenticidade com Qualidade, podem ser
considerados como de interesse da APARC, pois a tendência que eles apresentam
para cometer condutas inadequadas pode ser solucionada com a resolução dos
problemas enfrentados pela APARC.

CONCLUSÕES

Os gestores da APARC devem assumir a efetiva administração do turismo no


local, pois da forma como o turismo está sendo desenvolvido poderá trazer sérios danos
ao parracho. O planejamento da atividade turística deve ser pautado nos princípios do
ecoturismo. O turismo de massa deve ser evitado, pois é um tipo de turismo que pode
causar mais impactos negativos à APARC que o ecoturismo, não que este não cause
nenhum tipo de impacto, mas sabe-se que são em proporções menores. Até porque
toda atividade econômica causa algum tipo de impacto ao meio ambiente.

A infraestrutura da APARC, que é quase inexistente deve ser objeto de atenção


de seus administradores para proporcionar mais segurança aos turistas e ao meio
ambiente.

Uma vez que a falta de informações ou informações insuficientes contribuem


para acentuar os possíveis impactos da visitação no parracho de Maracajaú, a
administração da APARC deve rever a forma como os turistas estão recebendo estas
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informações; sob pena de a própria APARC contribuir para as condutas inadequadas


dos turistas, caindo em contradição, pois ela deve ser a primeira a zelar pelo bem
estar do local.

A adoção de um programa de educação ambiental também é necessária, pois


não se trata de apenas passar informações aos visitantes, mas sim fazer com que
eles entendam os motivos pelos quais aquele ecossistema deve ser preservado,
despertando um pensamento crítico nos turistas.

Apesar de já está definido uma quantidade de turistas por dia que podem ir para
o parracho de Maracajaú, é aconselhável fazer estudos que levem em consideração a
percepção dos turistas, uma vez que a satisfação deles está relacionada à qualidade nos
serviços oferecidos, a beleza cênica do local, a tranquillidade que o local proporciona
e a ações que são consideradas inadequadas na APARC. Os três primeiros itens
devem ser trabalhados de modo a serem meios de fazer com que o turistas contribua
com a preservação da APARC, já o último deve ser objeto de trabalho da educação
ambiental.

Outra perspectiva que deve receber atenção é a expansão do turismo para a


comunidade de Maracajaú, que se desenvolvido de forma planejada associado às
mudanças no turismo praticado na APARC aqui sugeridas, podem realmente dar início
ao desenvolvimento do ecoturismo.

Apesar dos turistas terem dito que estavam satisfeitos com o passeio, foi
observado que da forma como a atividade vem sendo desenvolvida corre o risco de
auto-destruir-se, pois os danos que o turismo pode causar ao parracho podem ser
maiores que os benefícios que a atividade traz para a mesma e para a população de
seu entorno, mesmo sendo praticada em uma UCM.

Os segmentos de mercado mostraram-se adequados para a APARC, com


exceção de um segmento, o qual se mostrou indesejável por ser potencialmente
danoso à APARC. As estratégias de captação de turistas deve priorizar o segmento
Turismo de Descanso, de Observação e Autenticidade. E expandir para a busca de
um turista mais especializado, como turistas com conhecimento sobre ambientes
recifais e mergulho.

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DIAGNÓSTOCO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DOS RECIFES DE


CORAIS (APARC) – RN, COM BASE NA ANÁLISE DE SWOT

Wagner Araújo Oliveira1


Clébia Bezerra da Silva 2

RESUMO: As Unidades de Conservação são áreas protegidas que tem como objetivo
principal a proteção e manutenção da biodiversidade, conservação dos recursos
naturais e a valoração dos aspectos histórico-culturais. Nesse sentido, as Ucs são
áreas que contribuem para o desenvolvimento socioeconômico em harmonia com o
meio natural e o sistema antrópico. Para isso, é necessário que as UCs sejam geridas
de forma eficiente e com padrões de qualidade. Partindo desse contexto, a pesquisa
objetiva fazer diagnóstico da Aparc. Para isso foi utilizada a metodologia da Análise
de Swot, que consiste em verificar as condições em que se encontra objeto de estudo
no plano interno e externo, analisando, respectivamente, seus pontos fortes e fracos,
suas ameaças e oportunidades. Os resultados mostraram que a falta de funcionários
na Aparc constitui-se uma fraqueza e a falta de conhecimento do que é uma UC como
uma ameaça. Já como oportunidade e força faram identificados, respectivamente, o
ecoturismo e plano de manejo. Logo, pode-se concluir que Aparc também enfrenta os
mesmo problemas de manejo da maioria das unidades de conservação.
PALAVRAS-CHAVE: Gestão. Análise de Swot. Apa dos Recifes de Corrais/RN.

ABSTRACT: The protected areas (PAs) are protected areas that has as main objective
the protection and maintenance of biodiversity, conservation of natural resources
and valuation of historical and cultural aspects. In this sense, the PAs are areas that
contribute to socioeconomic development in harmony with the natural environment
and man-made system. For this it is necessary that the PAs are managed efficiently
and with quality standards. From this context, the research aims to diagnose Aparc.
For the methodology of this analysis Swot, which is to verify the conditions under
which it is studied at home and internationally, analyzing, respectively, their strengths
and weaknesses, its opportunities and threats was used. The results showed that the
lack of staff at APARC constitutes a weakness and lack of knowledge of what is a
UC as a threat. Have an opportunity and strength were identified, respectively, and
ecotourism management plan. Therefore it can be concluded that Aparc also faces the
same problems of management of most protected areas.
KEYWORDS: Management. Swot Analysis. Apa of Recifes de Corais/RN.

1 Estudante do curso de Turismo. Bolsista de Iniciação Científica. – Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. e-mail: wagnercnrn@hotmail.com.
2 Turismóloga, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Professora – Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. e-mail: clebia@ufrnet.br.
1100
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INTRODUÇÃO

A zona costeira que tem sofrido constantes perdas de biodiversidade em


decorrência do crescimento das populações humanas e do uso e apropriação
desordenada de seus recursos renováveis ou não renováveis, resultando na perda de
habitat como: restingas, manguezais, recifes de coral, dentre outros. Como também
há a diminuição da qualidade da água costeira e lençóis freáticos, declínio da pesca,
poluição de praias, aumento dos processos de erosão e enchentes. Impactando
todos que nessa área vivem, podendo a vir comprometer a qualidade de vida de seus
moradores.

Uma das formas de planejar e resguardar os ambientes costeiros é por meio


das áreas naturais protegidas, ou unidades de conservação (UCs) como denominada
no Brasil, que faz parte de uma política instituída pelo governo, com a intenção de
proteção e conservação as áreas de interesse ecológico e ecossistemas frágeis, os
quais podem ser terrestres e marinhos. Contudo, nem estes e aqueles são efetivamente
preservados mesmo quando integrantes de uma UCs.

No tocante às Unidades de Conservação Marinha (UCMs) elas correspondem a


menos de 1% dos oceanos a nível mundial e, menos de 10% têm atingido suas metas
(Kelleher et al., 1995 apud IUCN, 2006, p. vii ). Já no Brasil existem 16 UCM’s, que
corresponde 1,5 % da área marinha protegida e, no estado do Rio Grande do Norte
encontram-se três, a saber: Reserva Biológica Marinha Atol das Rocas (federal), a
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão e a Área de Proteção
Ambiental Recifes de Corais – Aparc, ambas estaduais.
Para que uma UC consiga atingir seus objetivos o manejo que é todo e qualquer
procedimento que objetive garantir a conservação da diversidade biológica e dos
ecossistemas. Assim, dada a importância das UCMs, este estudo tem por objetivo
fazer diagnóstico da Aparc, uma UCMs localizado no estado do Rio Grande do Norte
que tem como principal ecossistema a ser protegido os recifes de corais.

UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

A preocupação com as questões ambientais surge por conta da crise ocasionada


pela escassez dos recursos naturais, decorrente do uso descontrolado, incessante e
irracional destes, que, por sua vez, é motivado pelo ritmo desenfreado e frenético
do crescimento global. Dessa forma, a necessidade da preservação e conservação
dos recursos naturais nas últimas décadas foi tomando destaque por meio das
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mobilizações ambientais, como por exemplo, os grandes eventos que subsidiaram a


discussão sobre o meio ambiente (POLES; RABINOVICI, 2010).

Nesse sentido, pode-se destacar alguns marcos históricos do ambientalismo que


culminaram com a tomada da consciência ambiental como, por exemplo, a Conferência
das Nações Unidas (ONU) sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo, em 1972
que contou com representantes de 113 países, 150 organizações não governamentais
e vários organização da ONU. (SEIFFERT, 2009)

Na década de 1980 o mundo foi marcado por uma estagnação econômica,


em contrapartida, esta época no Brasil foi marcada pelo crescimento da consciência
ambiental. Nessa mesma década, surge a pessoa Chico Mendes com movimentos
ambientalistas, já que ele foi responsável por denunciar a exploração dos recursos
naturais na Amazônia (GONÇALVES 2001 apud POLES; RABINOVICI, 2010).

Em outubro de 1990, em Genebra, ocorre a Conferência Mundial sobre o Clima,


promovida pela Organização Mundial de Meteorologia, que discutiu a questão dos
desequilíbrios climáticos Globais. Nessa mesma data, foi elaborado a II Estratégia
Mundial para a Conservação, “Cuidando da Terra”. Dela surgiu o documento conjunto
do IUCN, PNUMA e WWF (SEIFFERT, 2009).

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento


(CNUMAD), oficialmente denominada Cúpula da Terra, Eco 92 ou Rio 92, teve como
objetivo discutir temas ambientais globais e sugerir soluções potenciais.

Sendo assim, umas das medidas tomadas para proteger os recursos naturais
e o conjunto de ecossistemas do país, evitar a destruição ambiental e garantir o uso
racional foi o estabelecimento de um sistema de Áreas Naturais Protegidas que visa
garantir a conservação da diversidade biológica, que no Brasil, essas áreas foram
denominadas de Unidades de Conservação (DIAS, 2008).

No Brasil foi instituído em 2000 o Sistema Nacional de Unidades de Conservação


(SNUC) visando ordenar e adequar a gestão das áreas naturais protegidas, com a
adoção desse sistema foram passos fundamentais para que as áreas tivessem proteção
real embasada em Lei. (COSTA, 2002). O SNUC por sua vez definiu oficialmente no
seu artigo 2º unidades de conservação como:

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas


jurisdicionais, com caraterísticas naturais relevantes, legalmente instituído
pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob
regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas
de proteção.

Segundo o SNUC as UCs se dividem em dois grupos, a saber: unidade de


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conservação de proteção integral e de uso sustentável. E dentro desses grupos


existem categorias com caraterísticas específicas (Tabela 1).
TABELA 1 – GRUPOS DE UNIDADES DE COMSERVAÇÃO
PROTEÇÃO INTEGRAL USO SUSTENTÁVEL
Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental
Reserva Biológica Área de Relevante Interesse ecológico
Parque Nacional Floresta Nacional
Monumento natural Reserva Extrativista
Reserva de Vida Silvestre Reserva de Fauna
Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Reserva Particular do Patrimônio Natural

Dessa forma, percebe a importância das unidades de conservação no Brasil,


tendo em vista ser um país rico em sua geobiodiversidade, merecendo assim um
cuidado especial nessas áreas de grande relevância ecológica.

GESTÃO E PLANEJAMENTO AMBIENTAL EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

As unidades de conservação vêm sendo uma alternativa política que busca


a conservação dos ecossistemas de grande interesse ecológico, no entanto,
percebe-se que a gestão dessas áreas muitas vezes encontra em estado ineficiente
comprometendo a conservação da biodiversidade.

Essas áreas têm sido muito procuradas por pessoas que gostam da proximidade
da natureza e usufruir dos benefícios que esse contato pode proporcionar. E para
garantir tanto a conservação desses recursos como a boa qualidade da experiência dos
visitantes, é que se tornou necessário o planejamento dessas áreas (GIRALDELLA;
NEIMAN, 2010).

Atualmente, as áreas naturais em nível mundial vêm recebendo um fluxo cada


vez maior de turistas, e a tendência é o aumento dessa procura, nesse sentido, é
preocupante a velocidade em que essas áreas estão sendo exploradas para fins
econômicos ligados ao desenvolvimento do turismo (DIAS, 2008). Essas atividades
bem como outras, se não geridas corretamente podem trazer impactos para as UCs.
Ainda de acordo com Dias (2008) de fato, a preocupação procede, pois há dificuldades
de implementação de planos de gestão, em função da falta de pessoal qualificado e,
com o aumento da demanda, há mais ainda a necessidade que a gestão ocorra de
forma eficiente.
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No tocante ao desenvolvimento do turismo em unidades de conservação


marinha o turismo em unidades de conservação vem sendo uma prática constante,
pois o cenário futuro da atividade turística em ambientes costeiros e marinhos tenderá
a aumentar o número de usuários, em face dos recursos tecnológicos que estão por
vim (submarinos turísticos e equipamentos recreativos). Tais recursos irão tornar os
ambientes costeiros e marinhos ainda mais acessíveis aos turistas (HALL, 2001). Em
paralelo a isso, surge a preocupação da sustentabilidade nesses ambientes.
Diante disso, convém afirmar que a falta de planejamento nesses ambientes
de alta vulnerabilidade ambiental pode ocasionar impactos degradantes ao ambiente
comprometendo a vida marinha como também o desenvolvimento do turismo, tendo
em vista que os recifes de corais assumem grande importância para as espécies
marinhas e para regiões costeiras a comunidade utiliza como meio sobrevivência por
meio da prática pesca e do turismo.
No consenso geral entre cientistas e pesquisadores que o turismo mal
planejado pode causar sérios danos aos ambientes naturais. Porém, o entendimento
geral acerca dos impactos do turismo em áreas costeiras ainda é pouco conhecido
(HALL, 2001).

ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DOS RECIFES DE CORAIS (APARC)

A APARC foi criada através do Decreto estadual n° 1 5.476, de 6 de junho de


2001, sua área é de 32500ha. Ela engloba três parrachos (o mesmo que recifes de
corais): Cioba, Maracajaú e Rio do Fogo. A qual está localizada na plataforma rasa
adjacente aos municípios de Rio do Fogo, Touros e Maxaranguape (Figura 1).

Os objetivos de criação da Aparc foram: proteger a biodiversidade e a vida


marinha presentes na área com ocorrência de recifes de corais e suas adjacências;
controlar e normatizar as práticas de ecoturismo comercial, do mergulho e da pesca
local; desenvolver na comunidade, nos empreendedores e visitantes uma consciência
ecológica e conservacionista sobre o patrimônio natural e os recursos ambientais
marinhos; incentivar a utilização de equipamentos de pesca artesanal ecologicamente
corretos e incentivar a realização de pesquisas para a identificação e o comportamento
dos organismos marinhos visando propiciar um maior conhecimento do ecossistema
(SILVA, 2009).
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FIGURA 1 – ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DOS RECIFES


DE CORAIS

O Conselho Gestor da APARC é formado por representantes das seguintes


instituições: prefeituras e câmaras municipais de Rio do Fogo, Touros e Maxaranguape;
colônias de pescadores de Touros, Rio do Fogo e Maracajaú; Secretaria Estadual
de Turismo (SETUR); Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU); Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA);
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); representante de Organização
Governamental Ambientalista que atua na área da Aparc, representante dos
Empresários de Turismo; representante da Associação de Moradores das praias do
município de Maxaranguape e representante da Secretaria Especial de Agricultura e
Pesca (SEAP), dentre outras e tem como presidente o Instituto de Desenvolvimento
Econômico Sustentável do Rio Grande do Norte (Idema) (SILVA, 2009).

Aparc dispõe de sete monitores ambientais para fazer o monitoramento da


atividade turística apenas no parracho de Maracajaú. Estes são moradores do local
que foram qualificados para exercer esta função e trabalham exclusivamente na Aparc,
mas que são terceirizados. A Aparc dispõe de uma gestora, que conta com o suporte
demais funcionários que trabalham no Idema, no setor de Unidades de Conservação
juntamente com o CG. Há também uma equipe de funcionários que cuidam da sede
da unidade, em Maracajaú. Essa tem em uma área de 400 m2 e é dividida em três
módulos: administração, casa do pesquisado e base da polícia ambiental.

As principais atividades desenvolvidas na Aparc são o turismo e pesca. O


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turismo é desenvolvido principalmente em Maracajaú e já está sendo organizada a


realização de passeios saindo dos Municípios de Touros e Rio do Fogo, tanto para os
pescadores como para empresas, para estas o processo será por licitação, já aqueles
será por meio de cadastro para o pescador que apresentar a embarcação adequada
à realização de passeios turísticos, conforme normas do Idema.

ABORDAGEM METODOLÓGICA

O presente estudo se caracteriza como pesquisa exploratória, pois de acordo


com Severino (2007, p. 123) “a pesquisa exploratória busca levantar informações
sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando
as condições de manifestação desse objeto”. Como também se caraterística como
descritiva, pois é uma análise bem estruturada e planejada.

O procedimento metodológico adotado neste estudo foi feito por meio de uma
análise ambiental interna e externa da Aparc por meio da análise de Swot, que consiste
em verificar as condições em que se encontra objeto de estudo no plano interno e
externo, analisando, respectivamente, seus pontos fortes e fracos, suas ameaças e
oportunidades (ROSSI; LUCE 2002).

O ambiente externo está fora do controle da organização, no caso, a Aparc,


age de maneira homogênea sobre todas organizações que atuam na mesma área
e possibilita oportunidades ou ameaças iguais para todas, cuja probabilidade de
impacto deve ser tratada. Já o ambiente interno é aquele que pode ser controlado pela
Aparc, ele é diretamente sensível às estratégias formuladas pela ela. Contudo, esta
metodologia apresentar algumas limitações, devido à subjetividade de julgamento e
também dificuldade em discernir quais os fatores internos e externos, por isso este
trabalho ainda está em fase de execução onde outras metodologias serão analisadas
e utilizadas para aprimoramento da análise da Aparc.

A fim de se possibilitar a Análise Swot, coletaram-se dados de fontes primárias


e secundárias – respectivamente relativas à análise interna e externa. As fontes
secundárias foram coletadas por meio de revisão da literatura que possibilitou no
plano teórico a fundamentação das análises acerca da realidade empírica observada.
Para a coleta das fontes primárias, realizou-se análise das atas do CG, de 2013-2014,
bem como observações das reuniões do CG e visitas à Aparc, desde 2011.

Os fatores internos da matriz são os: a) (internos) Fraquezas – fatores ou


condições inerentes à Aparc, que se opõem ao alcance de seus objetivos; b) Forças
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– fatores ou condições relativas à Aparc que contribuem para a sua efetividade;


(externos) c) Ameaças – fatores ou condições externas ao Aparc que comprometem
o alcance de seus objetivos e d) Oportunidades – fatos e condições externas que
contribuem para sua efetividade.

A análise e interpretação dos dados foram realizadas de acordo com os objetivos


propostos na pesquisa, sendo esta, portanto, de cunho qualitativo.

RESULTADOS

A avaliação perceptiva da Aparc está descrita na Figura 1. Desta forma pode-


se observar que uma das principais fraquezas enfrentadas pela Aparc é a falta de
pessoas para trabalharem no local, pois é fundamental ter funcionários envolvidos
efetivamente com a gestão do local, para que o manejo seja efetiva e totalmente
implementado. A infraestrutura também é precária, pois não é compatível com a
demanda da UC, é pequena e só há uma e a Aparc está ligada diretamente a três
municípios. A comunicação com todos os stakeholders é deficiente, esta é uma das
ações do plano de manejo que ainda não foi implementada. Apesar de haver projetos
de pesquisa em andamento na Aparc, eles são isolados e, em sua maioria voltadas
para o ambiente marinho, havendo deficiência em pesquisas sobre o meio social e
sua relação com A UC.

Figura 2 – MATRIZ DA ANÁLISE DE SWOT da APARC


Análise Externa
Oportunidades Ameaças

1. Pesquisa sobre a biodiversidade da área; 1. Pesca e turismo predatórios;


2. Potencial para desenvolvimento do 2. Desconhecimento (visitantes e
ecoturismo; comunidades) do que é uma Apa e de suas
3. Experiência na inserção dos pescadores no normas;
turismo; 3. Falta de ecoposto nos demais municípios
4. Variedades de instituições compondo o que compõem a Aparc;
Conselho Gestor. 4. Fiscalização deficitária (Idema e polícia).

X
Forças Fraquezas

1. Plano de manejo laborado e parcialmente 1. Insuficiência de pessoas para trabalhar


em execução; exclusivamente para a Aparc;
2. Designação de uma gestora para a UC; 2. Falta de infraestrutura adequada;
3. Envolvimento de pescadores no turismo; 3. Deficiência na divulgação/comunicação.
4. Ordenamento do turismo. 4. Ausência de projetos de pesquisa
integrados.
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Por outro lado, quanto as Forças da Aparc pode-se destacar que ela já dispõe
de plano de manejo que serve de orientação para as ações que são desenvolvidas no
local. As principais ações estão voltadas para o ordenamento da atividade turística. A
designação de uma gestora para a UC também contribuiu para o melhor desenvolvimento
das ações de gestão do local. A Aparc está cadastrando e qualificando os pescadores
que atende as condições de desenvolver o turismo (passeio aos parrachos).

No tocante as Ameaças a falta de fiscalização é a principal ameaça a ser


enfrentada, pois os monitores ambientais apenas contam os turistas em Maracajaú e não
têm poder de fiscal. O Idema, por sua vez, tem oito fiscais para fiscalizar todo o estado
do Rio Grande do Norte (e este órgão não é responsável apenas pelas unidades de
conservação, mas por diversas outras atribuições) somado ao policiamento ambiental
que tem um destacamento também com militares em quantidade insuficiente para
atender as demandas ambientais de todo o Estado. Isso somado a pesca e turismo
predatórios que impactam os parrachos, causando danos ambientas de difícil reparo,
visto que os parrachos se formam em um processo que se dá em milhares de anos.

A falta de conhecimento do que é uma UC e suas implicações também dificulta


a conservação do local, associado à falta de infraestrutura que contribui para a
dificuldade de manejar o local.

As Oportunidades se dão pelas pesquisas que são desenvolvidas sobre


os peixes, algas, dentre outras. O ecoturismo apresenta-se como uma atividade
promissora que pode inserir as comunidades da Aparc em atividades econômicas e
que contribuem para a conservação e preservação do local.

A experiência o processo de inserir os pescadores no turismo em Maracajaú


está sendo repensada e adaptada para as outras comunidades. Também se caracteriza
como oportunidade para a Aparc a diversidade de instituições que compõem seu
Conselho Gestor e contribui para a gestão do local.

CONSIDERAÇÃO FINAIS

Conforme observado na literatura, as unidades de conservação enfrentam


dificuldades para sua efetivação, e não diferente as unidades de conservação
marinhas. Os resultados mostraram que a Área de Proteção Ambiental dos Recifes de
Corais no Rio Grande do Norte, também enfrenta dificuldades de efetivação e gestão.

A Análise Interna mostrou que as fraquezas são maiores, pois as forças são
resultados de ações pontuais e em andamento, e que o plano de manejo não está
implementado, é necessário que as ações estabelecidas pelo plano de manejo seja
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efetivado, como programas de educação ambiental, monitoramento ambiental, estudos


de impactos ambientais e dentro outros, para tornar um gestão eficiente capaz de
atingir os objetivos de uma unidade de conservação.

O que está sendo feito é só no tocante ao turismo, não invalidando a importância


disso, mas outras ações devem ser executa agregando valores a gestão para pode
garantir a manutenção e conservação do meio ambiente, sobretudo do ecossistema
recifal.

Já a análise externa mostra que há o beneficiamento da Aparc pelo seu ambiente


externo, pois mundialmente aponta-se um ambiente promissor para o ecoturismo.
Pesquisadores de interessam em pesquisar o ambiente marinho, desta forma dando
subsídios para o melhor conhecimento do local. A experiência da equipe gestora do
local no enfrentamento da gestão do turismo também contribui significativamente para
evitar ou minimizar conflitos. Mas, as ameaças são entendidas como suplantadoras
das oportunidades, pois sem que os stakeholders saibam o que é uma Apa e sem
fiscalização todas as ações de manejo podem não tem seu objetivo atingido.

Assim, a análise de Swot mostrou que a Aparc também enfrenta os mesmo


problemas de manejo da maioria das unidades de conservação.

REFERÊNCIAS

DIAS, R. Turismo sustentável e meio ambiente. 4. Reimpr. São Paulo: Atlas, 2008.

COSTA, P. C. Unidades de conservação: matéria-prima do ecoturismo. São Paulo:


Aleph, 2002.

GIRALDELLA, H.; NEIMAN, Z. Planejamento e gestão em áreas naturais protegidas.


In_______. Turismo e meio ambiente no Brasil. NEIMAN; Z.; RABINONOVICI;
A.(orgs.). Barueri, SP: Manole, 2010.

HALL, C.M. Trends in ocean and coastal tourism: the end of the last frontier? Ocean
& Coastal Management 44, 2001, p. 601- 618.

NEIMAN, Z.; MENDONÇA, R. (Orgs.) Ecoturismo no Brasil. Barueri: Manole, 2005,


p. 177-40.

POLES G.; RABINOVICI, A. O ambientalismo, o turismo e os dilemas do desenvolvimento


sustentável. In: NEIMAN, Z.; RABINOVICI, A. (orgs.) Turismo e meio ambiente no
Brasil. Barueri, SP: Manole, 2010. pp. 1 – 24.

ROSSI, C. A. V.; LUCE, F. B. Construção e proposição de um modelo de planejamento


estratégico baseado em 10 anos de experiência. In: XXIII ENCONTRO ANUAL DA
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ANPAD (2002, Salvador). Anais... Salvador: ANPAD, CD ROM, 2002.


SEIFFERT, Maria Elizabete Bernardine. Gestão ambiental. São Paulo, Atlas, 2009.

SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 23º Ed, Ed: Cortez. São


Paulo, 2007.

SILVA, C. B. Análise da atividade turística desenvolvida na área de proteção


ambiental dos Recifes de Corais – RN / Dissertação (Mestrado) - Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Pro - Reitoria de Pós-Graduação. Programa Regional
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente/PRODEMA. Natal, RN,
2009.

UNEP-WCMC.In the front line: shoreline protection and other ecosystem services
from mangroves and coral reefs. UNEP-WCMC, Cambridge, UK 33 p., 2006.
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O CONSELHO DE TURISMO DE BROTAS: CONSTRUINDO NOVAS PRÁTICAS


DE CIDADANIA

RESUMO: No Brasil, ao longo das últimas três décadas, assistiu-se a emergência de


uma variedade de instrumentos de participação cidadã, os quais vêm contribuindo
para influenciar o processo de políticas públicas, ao mesmo tempo em que
simultaneamente, concorrem para destacar os grandes desafios com que se deparam
o Estado e a sociedade civil. Os mecanismos participativos acima mencionados foram
institucionalizados no âmbito da Constituição Federal de 1988, materializando-se em
uma diversidade de fóruns, que operam em várias localidades do Brasil, possibilitando
a inserção do cidadão nas arenas decisórias. Esse artigo tem a intenção de abordar
um fórum peculiar, no contexto do turismo, denominado Conselho de Turismo da
cidade de Brotas, a qual é estância turística e está localizada no interior do Estado de
São Paulo. De fato, é intenção deste trabalho promover uma avaliação da natureza
democrática do aludido conselho, com a finalidade de responder a seguinte questão:
Em que medida esse organismo alcança influenciar o processo de políticas pública,
contribuindo para democratizar a agenda governamental da cidade de Brotas?
Para tanto, utilizou-se uma abordagem qualitativa, iniciando-se por uma análise das
normas legais, atas de reuniões e outros documentos, relativos a esse conselho.
Na sequência, emergiram questionamentos, e assim, decidiu-se pela realização
de entrevistas semiestruturadas com alguns atores e pela participação da autora
em algumas reuniões do referido fórum. Para a leitura sistematizada dos materiais
reunidos, utilizamos a técnica de análise de conteúdo (Bardin, 2011). Conclui-se que
esse conselho reúne alguns méritos e características diferenciadas, valendo destacar
a diversidade de sua composição, a sua autonomia no que concerne ao processo
decisório, tanto quanto seu poder de incorporar um amplo arco de interesses
conectados com os vários atores (públicos e privados) inseridos no setor turístico de
Brotas.

PALAVRAS-CHAVE: Políticas Públicas. Democracia. Conselhos de Políticas Públicas.

ABSTRACT: In Brazil, along the last three decades, several innovative forms of
citizen participation in the public policy process have emerged revealing the major
changes that state structure and civil society had gone through. The above mentioned
mechanisms for politic participation were institutionalized since the enactment of the
Federal Constitution of 1998 and materialized in a diversity of organisms, operating
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in various localities of the country, allowing citizen representation. This paper aims
to approach a very peculiar organism within the tourism field, named “The Tourism
Council of Brotas”, located in the interior region of the state of São Paulo. Actually
we wish to evaluate the democratizing nature of this arena and intend to anwer the
following question: to what extend do this body manages to influence the public policy
process and contributes to integrate a diversity of touristic interests in the government
agenda of the touristic city of Brotas? We relied on a qualitative approach (case study),
used content analysis techniques and concluded that this council stand outs due to
diversity of its members (civil society and public ones), their autonomy concerning
the decision making process, as well as their power of incorporating a broad range of
interests in the debate.

KEYWORDS: Public Policies. Democracy. Public Policies Council.

INTRODUÇÃO

Nos últimos decênios, as instituições participativas transformaram-se em


realidades palpáveis no universo político brasileiro, concretizando-se em instituições
extremamente capilares. (PIRES e VAZ, 2010). Assim, ao mesmo tempo em que se
assistiu, no Brasil, ao longo das últimas três décadas, a emergência de uma variedade
de instrumentos de participação societal, que buscaram facultar a participação do
cidadão no processo de políticas públicas, também se revelaram, em contrapartida,
os enormes desafios - tanto no âmbito da estrutura estatal quanto no contexto da
sociedade civil -, com vistas à consolidação da democracia.
Segundo Souza (2001b), no Brasil, a redemocratização e a descentralização
geraram grandes esperanças, sobretudo no que se refere às expectativas de
empowerment que ambas desencadearam, não só na esfera governamental, como
também no seio das sociedades locais. Todavia, em alguns casos, tais expectativas
não têm alcançado se materializar em sua plenitude, e, portanto, não tem conseguido
promover a democratização das agendas decisórias a contento, gerando, assim, vários
tipos de significados, sendo relevante destacar dois tipos: a participação que se traduz
em verdadeiro empowerment e a participação como voz. Além disso, cabe salientar
que a redemocratização concorreu para a criação de vários centros de poder, ainda
que com pesos distintos, os quais passaram a ter acesso aos processos decisórios
e influência na implementação de políticas públicas, especialmente naquelas de
natureza social (Souza, 2001a).
Com efeito, as transformações acima mencionadas tem fortes conecções com
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o processo de redemocratização brasileiro, iniciado em 1985, o qual desencadeou, por


conseguinte, debates sobre novos padrões e modelos de cidadania e de governança.
Adicionalmente, é notório o ingresso, nas novas arenas decisórias, de um conjunto de
atores, os quais, historicamente, estiveram à margem do processo decisório. De fato,
após a promulgação da Constituição Federal Brasileira de 1988, os referidos atores
começaram paulatinamente, a frequentar os novos loci de poder e assim, também
passaram a ter poderes de deliberação.
Ademais, tal qual mencionado, essas arenas foram institucionalizadas desde
1988, tornando-se espaços elegíveis ao debate do processo de políticas públicas,
agregando um amplo arco de atores públicos e privados, capazes de influenciar o
rumo das referidas políticas. Consequentemente, em razão da relevância da discussão
a respeito da participação da sociedade civil nos processos decisórios de políticas
públicas, tanto quanto do fato de que a gestão do turismo, como atividade autônoma,
no Brasil, guarda ainda um caratér de novidade (uma vez que a própria criação do
Ministério do Turismo é recente, visto que data de 2003), nossa intenção, nesse
trabalho, é ponderar sobre a extensão da influência desses fóruns no processo de
políticas públicas, no turismo, tendo como objeto de estudo, o Conselho de Turismo
da cidade de Brotas. Nessa perspectiva, desejamos refletir igualmente, sobre os
desdobramentos e o impacto desse fórum para democratizar a agenda do governo da
cidade de Brotas, especialmente no que concerne ao setor turístico. Por conta disso,
e visando dar continuidade a nossos estudos sobre a evolução da democratização do
processo de políticas públicas no Turismo, selecionamos, como dito, essa importante
arena – i.e., O Conselho de Turismo da cidade de Brotas -, cabendo mencionar que a
referida cidade é uma estância turística, localizada no interior do Estado de São Paulo
e que o aludido conselho reúne características bastante peculiares, as quais serão
abordadas ao longo desse artigo. Reiteramos ainda, que é notório a ausência de uma
profusão de pesquisas, no âmbito do turismo brasileiro, voltadas para o tópico da
participação da sociedade civil no curso das políticas públicas, sendo esse, portanto,
um dos aspectos que reforça, a nosso ver, o caráter exploratório e inovador desse
estudo, o qual também pode contribuir para encorajar reflexões e pesquisas sobre
essa temática.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
No Brasil, observou-se, no decorrer dos últimos decênios, a vigorosa
disseminação de instituições participativas (PIRES e VAZ, 2010), constatação
essa que incentivou a proliferação de estudos sobre uma variedade de organismos
participativos, dentre eles, os conselhos de políticas públicas. Com efeito, para Avritzer
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(2008), o Brasil evoluiu, ao longo do século XX, de um país de baixa propensão


associativa e com poucas formas de participação de baixa renda, para se tornar, a
partir do início do século XXI, um país com o maior número de práticas associativas.
Considere-se ainda, segundo o referido autor, outra característica deste contexto, que
consiste no fato de que a variedade de instituições participativas existentes refletem
uma infraestrutura de participação bastante diversificada e desenhos institucionais
diferenciados.
Vera & Lavalle (2012) também apontam a emergência de novas práticas
participativas, que além de colaborarem para a constituição de um vasto repertório
de inovação institucional, no campo do controle social democrático, vêm contribuindo
para questionar, contestar e redefinir simultaneamente as formas de interação entre o
Estado e a sociedade. Ademais, outros autores chamam atenção para o fato de que as
mencionadas práticas participativas se materializaram em um conjunto de organismos,
presentes em várias localidades do território nacional, que funcionam como instâncias
específicas de participação e representação cidadã, tais como: os Conselhos
de Políticas Públicas, as Conferências Nacionais, os Orçamentos Participativos,
podendo-se observar também, ainda que em menor escala, experiências de Planos
Diretores, Planos Plurianuais, Comitês Participativos, Comissões, Ouvidorias dentre
outros (CUNHA, 2010, LAVALLE, 2011, AVRITZER, 2009).
Em relação aos conselhos de políticas públicas, foco específico de nosso
trabalho, os mesmos expressam, de acordo com Bava (2005), a aspiração de
“democratizar a democracia” e fazem parte de uma estratégia de descentralização
de poder. Por conta disso, podem ser definidos como espaços de afirmação de novos
direitos, lócus de disputa e de partilha de poder, cujo escopo é contribuir na deliberação
sobre questões que vão orientar a ação do Estado, envolvendo debates sobre
recursos públicos, formato/conteúdo de políticas públicas, etc, promovendo assim,
a pluralização da representação política. Portanto, estes organismos equiparam-se
a fóruns institucionais, com potencial de se constituir em espaços de interação entre
sociedade e governo, tornando-se verdadeiras arenas de representação mista (visto
que integram atores privados e agentes públicos) e de caráter extraparlamentar,
com o condão de interferir na formulação de políticas públicas, canalizando assim,
interesses coletivos, expondo conflitos, tanto quanto buscando construir consensos
(GOHN, 2000; TATAGIBA, 2002, BAVA, 2000; RAICHELIS, 2000, LAVALLE, 2011,
WAMPLER, 2011).
Considere-se ainda, que as progressivas complexidade e diversidade da
sociedade atual concorreram igualmente, para destacar as limitações das instituições
tradicionais, vinculadas, sobretudo, ao regime representativo. Nesse contexto,
evidencia-se um dos grandes méritos das estruturas conselhistas, a saber, sua
capacidade de incluir uma pluralidade de atores, inclusive alguns, os quais foram,
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por muito tempo e tradicionalmente, mantidos afastados das arenas decisórias e


cujas demandas tampouco se encontravam inseridas nas agendas governamentais
oficiais. Assim, na opinião de Bava (2005) tanto quanto nas de Vera e Lavalle (2012),
estes novos espaços de participação possibilitaram a ampliação do controle social
sobre o processo de políticas públicas e deixaram claro que os canais tradicionais
da democracia representativa frequentemente, não tem sido capazes de capturar a
diversidade da sociedade civil, ou seja, encontram dificuldades para incorporar os
novos atores coletivos, suas aspirações e expectativas.
Em suma, os mencionados estudiosos entendem que as ideias de sistema
político e separação de poderes são atualmente, insuficientes para responder a
complexidade das demandas por controles democráticos, que se multiplicaram
no seio da sociedade civil, nas últimas décadas. Neste particular, vale mencionar,
segundo Bava (2005), que existia no Brasil, em 2005, cerca de 27 mil conselhos
de gestão paritários e deliberativos, o que significa dizer que em todos os níveis de
governo havia canais cuja missão era auxiliar na ampliação da participação cívica da
sociedade, refletindo, deste modo, uma conquista da sociedade civil. Estes espaços,
no dizer de Santos Jr. (2005), representam novas formas de interação entre o poder
público e a sociedade e vem ajudando a reconfigurar os mecanismos e processos de
tomada de decisão, incentivando a organização de um novo regime de ação pública,
descentralizado.
Assim, nesse cenário pós-participativo, é de se notar que essas arenas
participativas (especialmente os conselhos de políticas públicas) se concretizaram
em instituições extremamente capilares, visíveis em vários municípios brasileiros.
Observe-se, a título de exemplo, que mesmo nas áreas nas quais não há obrigação
constitucional de instituir conselhos participativos, ou seja, nas áreas em que a criação
destas instâncias é voluntária (dependendo apenas da vontade dos diferentes níveis
da administração pública e da pressão da sociedade civil) e em que sua existência
não está condicionada à transferência de recursos ou submetida a sanções - cabíveis
em casos de não instauração do processo participativo, -, eles, conselhos, se fazem
presentes e, às vezes, em número significativo. Adicionalmente, sabe-se que essas
arenas podem ser identificadas em aproximadamente um terço dos municípios,
valendo mencionar que em certos setores, como o do turismo, sua presença chega a
um quinto das municipalidades. (FARIA, RIBEIRO, 2010)
Registre-se igualmente, em linha com essas considerações, que o grau de
integração de alguns conselhos de políticas públicas à estrutura do Estado varia muito,
existindo casos em que a conexão destes fóruns com as políticas e a gestão pública
do setor ao qual estão vinculados se dá de forma clara e direta, enquanto que, por
outro lado, dependendo da área em que essas arenas atuam, elas funcionam apenas
como meras instâncias paralelas (cujos efeitos são indiretos, reduzindo-se, em alguns
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casos, a simples recomendações). Ademais, a maioria dos trabalhos que abordam


a temática de conselhos tem focalizado os estudos de caso, pouco avançando na
tentativa de identificar de forma mais sistemática, os possíveis desdobramentos
desses organismos nas políticas locais (MENICUCCI, 2010).
Por conta disso, ao se examinar o universo conselhista como um todo, e mesmo
considerando determinadas searas como a da saúde, nas quais esses conselhos têm
uma larga tradição de atuação e elevada inserção no processo produtivo de políticas
públicas, é consenso, entre alguns autores, que ainda se desconhece a envergadura
da institucionalidade participativa brasileira e que pouco se sabe sobre aquilo que
está sendo produzindo, por meio destas instituições (LAVALLE, 2012, AVRITZER,
2010).
No dizer de Lavalle (2012) e de Lüchmann (2008), apesar da rápida
disseminação dessas instituições participativas, tem-se ainda uma compreensão
bastante fragmentada sobre o real significado dessa expansão. Com efeito,
transcorridas várias décadas desde o início da implementação e da institucionalização
desses espaços participativos, percebe-se, a partir de aproximações empíricas e de
consultas a pesquisas produzidas nesse ínterim, um elenco de desafios e limites
relacionados a sua capacidade de promover mudanças significativas em direção ao
aprofundamento da democracia.
Na opinião de Lavalle (2011, 2012), ao longo da última década, os desafios da
participação da sociedade civil, no Brasil, têm evoluído para além da mera dualidade
exclusão-inclusão, ou seja, têm migrado para além do registro original da participação
como demanda de inclusão e de autodeterminação efetiva em face de partidos e
intermediários políticos, passando também a focalizar a participação como incidência
em políticas (controle social das mesmas), incluindo-se igualmente, uma série de
outras preocupações relativas ao funcionamento, eficácia e nível de institucionalização
de processos. Deste modo, para esse estudioso, no cenário pósparticipativo, ou seja,
após o período de institucionalização em larga escala dos arranjos institucionais, as
questões cruciais não remetem unicamente, ao mérito da participação social em si.
Paralelamente, pode-se perceber que esse cenário da pós-participação, no
Brasil, vem estimulando o desenvolvimento de uma nova frente de investigação, ainda
incipiente, que aponta para emergência de questões sobre: o efetivo papel das atuais
instituições participativas na operacionalidade e na qualidade da democracia, os
desdobramentos e impactos da existência desses arranjos sobre as políticas públicas,
suas funções de controle democrático em relação às referidas políticas públicas,
dentre outras indagações. Por conseguinte, acredita-se que a eventual obtenção de
respostas a estas perguntas poderia ajudar possivelmente, a lançar alguma luz no
“problema de efetividade”, o qual tem despertado a atenção e a curiosidade de vários
estudiosos da área de participação (AVRITZER, 2011, CORTES, 2011, LAVALLE,
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2011).
Em resumo, até o momento, pode-se afirmar que ocorreu uma vertiginosa
pluralização de instâncias participativas e que é necessário conferir a essa rede de
instituições, um natureza mais ordenada e articulada, que permita que elas avancem
de forma consistente. Assim, é preciso investir em estudos que focalizem os efeitos
democratizantes dessas instâncias e os resultados das atividades desenvolvidas no
seu interior. (WAMPLER, 2011, AVRITZER, 2010, LAVALLE, 2011, 2012). Todavia,
vale atentar para a advertência de Lavalle (2011), que alerta que a elucidação destas
questões implica em enfrentamento dos obstáculos metodológicos para aferir os reais
impactos destes organismos na seara das políticas públicas.
Outros estudos, tais como os de Wampler, 2007, 2011; Avritzer, Navarro,
2003 também mencionam as extremas dificuldades de estabelecer uma ligação
clara entre a tomada da decisão no âmbito destas instâncias e as mudanças nas
políticas públicas. Eles admitem igualmente, que os impactos dos conselhos são
difusos e que sua influência no processo decisório, muitas vezes, é indireta, havendo
consequentemente, pouca evidência que demonstre sistematicamente e de forma
clara de que maneira os conselhos afetam os resultados das políticas públicas.
Acrescentam ainda que, apesar de existirem dados empíricos de estudos de casos
de conselhos, os pesquisadores têm falhado no que concerne a mostrar a relação
entre a atuação destas arenas e os impactos nas políticas.
Há ainda outra reflexão que emerge, a reboque das indagações sobre a
efetividade destas instâncias, a saber: se as instituições participativas não alcançam
ser percebidas como propiciadoras de processos de mudança, ou seja, se elas
estiverem realmente produzindo impactos limitados, então, em que medida isso pode
tornar a participação dos atores menos atrativa, incentivando-os a desistir de investir
nestas arenas? (WAMPLER, 2011)
Apesar dos entraves acima mencionados e das escassas metodologias
existentes para pensar os efeitos democratizantes das várias formas de participação,
Avritzer (2010) acena com algumas alternativas, como a opção de analisar e comparar
as legislações, os decretos, os regimentos, etc, dos conselhos, identificar/qualificar a
presença dos atores participantes, examinar as atas das reuniões e sua periodicidade,
etc., buscando averiguar, ao final, quais os temas que ingressam nas agendas, se há
pluralidade de atores representando a diversidade dos interesses da sociedade, se
existe realmente debate no processo de deliberação, quais são atores mais ativos,
dentre outras opções, valendo mencionar que algumas das alternativas propostas
serão contempladas nesse estudo.
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METODOLOGIA

Para realização desse estudo, utilizou-se uma abordagem qualitativa e


conduziu-se um estudo de caso relacionado ao campo da gestão pública do turismo
no Estado de São Paulo. Por conta disso, selecionou-se um objeto de estudo, a
saber, o Conselho de Turismo da cidade de Brotas, o qual foi criado em 1994. A
escolha recaiu sobre esse fórum devido ao mesmo ser uma estância turística (ou
seja, um local onde a atividade turística, em regra, é mais amadurecida), bem como
em razão da autonomia decisória de seus membros em face do processo decisório
de políticas públicas, no campo do turismo, além de sua influência na formação da
agenda governamental.
Os procedimentos metodológicos adotados incluíram, além de pesquisa
bibliográfica, a reunião de uma série de dados primários – tais como normas legais,
atas de reuniões e outros documentos, relativos a esse conselho. Com relação
às atas das reuniões, apesar de essa arena ter sido criada em 1994, alcançou-se
reunir apenas trinta e cinco atas de reunião, as quais ocorreram nos anos de 2008,
2010, 2011, 2012 e 2013. Esse fato evidencia que registros de reuniões ocorridas
no passado, ou seja, em anos anteriores ao de 2008, não foram encontrados. Com
relação às leis que dispõem sobre esse organismo, identificaram-se quatro leis que
tratam de discipliná-lo, promulgadas em 1994, 1999, 2005 e 2012.
Na medida em que se procedeu ao exame dos documentos e dados acima
elencados, emergiram dúvidas e questionamentos relacionados à trajetória e ao
funcionamento desse lócus, e, assim, decidiu-se pela realização de entrevistas
semiestruturadas. Dessa forma, selecionaram-se dois membros da sociedade civil
(representante das agências de turismo e representante dos restaurantes) e dois
agentes governamentais (Secretária de Turismo e o atual Prefeito de Brotas)
Adicionalmente, com a finalidade de enriquecer a análise dos conteúdos
reunidos, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo (Bardin, 2011). Com efeito,
por meio desse recurso, tinha-se o objetivo de alcançar uma melhor compreensão a
respeito da natureza democrática desse fórum tanto quanto dos desafios e obstáculos
que ele enfrenta, especialmente no que concerne a sua contribuição para o processo
decisório de políticas públicas. Também se pretendia identificar as questões mais
importantes debatidas nessa arena e associá-las, se possível, a seus patrocinadores,
com o fito de conhecer quem são os grupos que detém maior influencia no processo
decisório.
Sumarizando, este artigo busca responder a seguinte questão: Em que
medida esse lócus influencia o processo de políticas públicas e contribui para inserir
a diversidade de interesses turísticos locais, na agenda governamental de Brotas?
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ANÁLISE DOS RESULTADOS

Primeiramente, é importante mencionar alguns detalhes a respeito da cidade


de Brotas. Com efeito, Brotas é uma estância turísticai, localizada no interior do Estado
de São Paulo, em uma região estratégica, sobretudo do ponto de vista econômico, a
qual recebe cerca de 300.000 turistas por ano, sendo relevante mencionar igualmente,
que metade do contingente de turistas que afluem para Brotas é oriundo da Cidade
de São Paulo. No âmbito do Turismo, Brotas se destaca em razão de suas belezas
naturais, tais quais: cordilheiras de montanhas, vários rios, cachoeiras, barragens,
além de uma variedade de paisagens encantadoras.
Nos últimos 10 anos, Brotas emergiu como um dos mais relevantes destinos
turísticos voltados ao Ecoturismo, no Brasil, tornando-se, em decorrência disso, ponto
de referência para praticantes e apaixonados pela natureza, tanto quanto para aqueles
que apreciam esportes de aventura, como por exemplo: rafting, rapel, canoagem,
bóia-cross, dentre outros. Por conta disso, a cidade de Brotas atrai turistas de todo
o Brasil bem como empreendedores nacionais e internacionais, os quais buscam
investir em localidades turísticas, com elevado potencial.
Com relação à infra-estrutura, a referida cidade conta com uma rede qualificada
e diversificada de suporte aos turistas, a qual inclui 46 meios de hospedagem (hotéis,
pousadas, acampamentos, hostels), 27 restaurantes, 15 agências de viagem, dentre
outros serviços.
No que concerne ao “Conselho de Turismo da cidade de Brotas”, é essencial
destacar sua base legal, visto que o mesmo foi criado em 1994, por lei municipal. Na
época de sua criação, o aludido fórum contava com apenas seis membros (sendo três
membros oriundos da sociedade civil e três agentes públicos), além do presidente do
organismo, que deveria ser escolhido pelo prefeito. Após essa primeira lei, outras foram
promulgadas nos anos de 1999, 2005 e 2012, todas dispondo sobre o mencionado
lócus. Na verdade, cada uma dessas normas compartilhava, dentre outros objetivos,
o de aumentar o número de membros vinculados a esse fórum (atores públicos e
privados), visando desta forma, incorporar uma maior variedade de interesses sociais
e, assim, consequentemente, auxiliar na consolidação da legitimidade dessa arena,
vis-à-vis a sociedade local.
De fato, nos anos que se seguiram, identificamos, com base na leitura das atas
das reuniões do “Conselho de Turismo da cidade de Brotas”, tanto quanto analisando
os conteúdos das entrevistas conduzidas junto a conselheiros que o integravam,
um incremento na diversidade de membros integrantes desse conselho, tais como
membros de ONGs, representantes de sindicatos locais, além de agentes públicos
(i.e., funcionários das secretarias de agricultura, saúde, comércio e indústria, etc),
valendo acrescentar também, a presença de alguns funcionários oriundos do Poder
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Legislativo. Esse novo desenho institucional refletia a crescente complexidade do


contexto local de turismo e, por conseguinte, a necessidade de: a) investir em diálogos
frequentes com os diversos atores (direta e indiretamente relacionados com a atividade
turística); b) aprimorar a habilidade desse organismo de lidar com a pluralidade social,
com a finalidade de apoiar o crescimento do turismo, em Brotas.
Ademais, cabe salientar que a última lei que tratava do “Conselho de Turismo
da cidade de Brotas”, datada de 17 de setembro de 2012, anunciava que este conselho
deveria ser constituído por vinte e um atores, valendo mencionar que a maioria tinha
que ser originária da sociedade civil (ou seja, previsão de treze membros), enquanto
que os membros restantes (oito membros) deveriam ser agentes públicos ligados
aos Poderes Executivo e Legistativo. Com efeito, tal lei representava um marco no
âmbito da referida arena decisória, visto que determinava, pela primeira vez, que o
número de membros da sociedade civil seria superior ao número de agentes públicos.
Adicionalmente, essa lei estabelecia que o presidente do “Conselho de Turismo da
cidade de Brotas” deveria ser membro da sociedade civil e ser eleito pelo restante do
grupo de conselheiros, sugerindo dessa maneira, que esse lócus se direcionava para
assumir um formato, que buscava conceder uma maior autonomia à sociedade civil,
ao mesmo tempo em que reduzia o poder de intervenção dos membros estatais.
Registre-se igualmente, que o conjunto de leis acima mencionado enfatizava a
necessidade de regras e ações que estimulassem as práticas de turismo sustentável,
com o fito de proteger os recursos naturais locais, os quais eram – segundo os atores
entrevistados e de acordo com as atas de reunião - uma das maiores motivações dos
turistas quando estes se decidiam por viajar até Brotas. Realmente, de acordo com os
aludidos registros, desde o início da década de 2000, Brotas vem se destacando por
atrair um número crescente de turistas, o que indica que a localidade tem aumentando
a sua atratividade, especialmente ao longo dos últimos dez anos.
Com relação às questões ambientais, e considerando os registros anteriormente
mencionados, é possível concluir que os membros do “Conselho Turístico de Brotas”
são bastante comprometidos e engajados no processo de políticas públicas, sobretudo
com relação às orientações que visam apoiar o desenvolvimento da atividade turística
local, a qual é responsável por aproximadamente 15% do Produto Interno Bruto de
Brotas. Não obstante, há uma notória preocupação em dar suporte e proteger tanto
quanto possível, aspectos culturais, sociais e naturais da cidade. Em suma: promover
o turismo sustentável e não comprometer o patrimônio natural, social e cultura de
Brotas parece ser uma prioridade, no âmbito do “Conselho de Turismo da cidade de
Brotas”.
Vale dizer ainda - tendo como suporte os conteúdos pesquisados nas atas de
reuniões da aludida arena decisória bem como as entrevistas realizadas junto aos
conselheiros -, que a abordagem das autoridades governamentais tanto quanto o
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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olhar dos atores privados também têm evoluído na direção de se pensar a atividade
turística local de forma mais estratégica, visando prover serviços de melhor qualidade,
disponibilizados por recursos humanos melhor qualificados, sem contar a necessidade
de dispor de suportes legais mais sofisticados e de fornecer um apoio maior na
seara da segurança, em especial, no que concerne à prática de algumas atividades
(i.e.,esportes de aventura).
Convém mencionar ainda que, apenas a partir da promulgação da última lei que
dispõe sobre esse organismo (que data de 17 de setembro de 2012), observouse que
o total de conselheiros oriundos da sociedade civil passou a superar o total de agentes
públicos, no contexto do “Conselho Turístico de Brotas”. Entretanto, em contrapartida,
a liderança da sociedade civil, nesse organismo, é perceptível e notória, desde a
sua criação. De fato, esse traço peculiar de proatividade associado aos atores da
sociedade civil inseridos nessa arena é reflexo de uma peculiar combinação, a saber:
um conjunto de atores da sociedade civil, ativos e engajados, além da existência de
dois prefeitos com perfil visionário. Nesse particular, vale registrar que tais prefeitos
alcançaram vislumbrar, no início da década de 1990, o potencial do Turismo de Brotas,
reiterando ainda que essa atividade poderia alavancar sobremaneira a economia da
cidade - suscitando interesse de empreendedores em investir na área do turismo,
criando novos negócios e, portanto, novos empregos, os quais poderiam concorrer
para atrair e reter recursos humanos mais qualificados, dentre outros -, sendo provável
que essa nova configuração da economia local tivesse impacto inclusive e também,
em outros setores da economia local.
Consequentemente, os dois mencionados prefeitos investiram e criaram um
ambiente propício para a atividade turística, patrocinando uma série de seminários e
cursos direcionados para o Turismo, os quais tinham a intenção de promover debates
e reflexões sobre a atividade turística (i.e., destacar seus benefícios e seu potencial
para incrementar a economia das localidades). Assim, por meio dessas atividades,
almejava-se disseminar informações e conhecimentos sobre o setor turístico, criando-
se um contexto favorável à troca de idéias entre atores com mais experiência em
assuntos/negócios turísticos e aqueles interessados em conhecer melhor o universo
de oportunidades, nessa área.
Os referidos prefeitos também se empenharam em atrair fundos e apoios de
autoridades governamentais e de uma série de atores do legislativo estadual, tendo
sido bem sucedidos em conseguir suporte para alguns projetos. Como dito, por
intermédio de uma série de atividades, esses prefeitos buscavam ampliar a consciência
da sociedade local e de vários agentes públicos, com relação às vantagens que a
atividade turística poderia trazer para Brotas.
Ademais, além das considerações acima, é relevante chamar atenção, ainda
nesse tópico, para a importância crescente do turismo, no Estado de São Paulo,
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valendo salientar que, segundo dados recentes divulgados pelo Ministério do Turismo,
São Paulo é, dentre os estados-membros brasileiros, aquele que mais recebe turistas
(nacionais e internacionais).
Para finalizar essa parte de nossa pesquisa, não se pode deixar de apontar
certa negligência por parte da administração pública de Brotas, principalmente em
razão do desaparecimento da algumas atas, resoluções etc, referentes “Conselho de
Turismo da cidade de Brotas”, no decorrer do período de 1994-2007. Por conta
disso, como mencionado, nossas análises tomaram como base apenas os conteúdos
das atas relativas aos anos de 2008, 2010, 2011, 2012 e 2013, as quais estavam
disponíveis. Todavia, buscamos compensar essa limitação, através da realização de
entrevistas, com a finalidade de resgatar fatos e ações empreendidas antes desse
periodo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O “Conselho de Turismo da cidade de Brotas”, como sugerido, é uma


referência para outros fóruns no setor de turismo, no Estado de São Paulo, devido
a grande autonomia de seus membros oriundos da sociedade civil, no âmbito do
processo de políticas públicas e, em razão de sua habilidade em influenciar a agenda
governamental local.
De fato, com base nas leis que dispõem sobre essa arena, nas atas de reuniões
consultadas e nas entrevistas conduzidas junto a alguns de seus conselheiros (públicos
e privados), é possível inferir que, desde sua concepção, foram empreendidos
consideráveis esforços para aumentar o número de seus membros (especialmente
os conselheiros da sociedade civil). Visava-se, por meio dessas articulações, ampliar
o diálogo com a diversidade de atores locais (direta e indiretamente vinculados ao
Turismo), com o objetivo de criar um modelo de arena em cujo interior a sociedade
civil gozasse de relevante autonomia e em que a intervenção governamental pudesse
ser minimizada.
Com efeito, o cenário analisado leva a crer que, desde o início do funcionamento
do no “Conselho de Turismo da cidade de Brotas”, as lideranças reunidas nessa
arena, tinham consciência da complexidade do ambiente no qual estavam inseridas e,
assim, empenharam-se em incorporar um amplo leque de atores (tanto quanto seus
interesses e demandas), com a intenção de ampliar a legitimidade desse organismo e,
por conseguinte, consolidar seu poder de influenciar o processo de políticas públicas.
Adicionalmente, deve-se enfatizar que a trajetória desse fórum foi bastante impactada
pela atuação de dois prefeitos da cidade de Brotas, os quais se destacaram por seu
perfil visionário e empreendedor, e tiveram a capacidade de vislumbrar o potencial
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turístico da localidade, investindo na organização de cursos e seminários sobre


turismo, com a finalidade de disseminar informações sobre os aspectos favoráveis da
atividade turística e seus efeitos no desenvolvimento das localidades. Dessa forma,
criaram um contexto favorável à troca de idéias entre atores com mais experiência em
assuntos/negócios turísticos e aqueles interessados em entender melhor o universo
de alternativas, nessa área.
De fato, essas ações deram oportunidade aos membros da sociedade local
de ampliar seus conhecimentos sobre o Turismo, além de promover o intercâmbio de
experiências entre os atores envolvidos. Assim, como mencionado, grupos com maior
exposição ao setor turístico puderam dar seus depoimentos e relatar suas vivências
com relação ao Turismo – vantagens, oportunidades, obstáculos, dificuldades - para
um conjunto de atores interessados em conhecer mais sobre o tema do Turismo.
Por fim, é importante destacar a preocupação expressa pelo Conselho de Turismo
da cidade de Brotas, especialmente no que tange a dar suporte e proteger tanto
quanto possível, aspectos culturais, sociais e naturais da cidade. Em suma: promover
o turismo sustentável e não comprometer o patrimônio natural, social e cultura de
Brotas parece ser uma das prioridades do “Conselho de Turismo da cidade de Brotas”.
Consequentemente, é visível também, a preocupação em apoiar políticas públicas
que estimulem o desenvolvimento de atividades turísticas, procurando-se ponderar e
minimizar os desdobramentos desfavoráveis no ambiente local.

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Departamento de Turismo

i
Estância Turística é um título concedido a municípios que preenchem determinados requisitos,
considerando-se algumas dimensões, tais como: recursos naturais, lazer, recreação, recursos
culturais específicos, dentre outros. Ademais, os municípios com esse status devem dispor de
infra-estrutura e serviços dimensionados à atividade turística e podem vir a receber aportes
financeiros voltados para o estímulo ao turismo.
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(RE)CONHECENDO O MERCADO TURÍSTICO: O PERFIL DOS GUIAS DE


TURISMO ATUANTES NO ESTADO DE ALAGOAS

RESUMO:Este trabalho apresenta os principais resultados de pesquisa que traçou


o perfil dos guias de turismo atuantes em Alagoas, apresentando dados sobre
sua atuação profissional, qualificação, necessidades e expectativas. Para isso foi
realizada uma pesquisa baseada em levantamentos bibliográfico e documental e na
aplicação de questionários voltados aos guias de turismo em atuação no mercado
turístico alagoano. Entre as informações obtidas podem ser destacadas aquelas que
confirmam a força do turismo receptivo no estado, a preocupação com a atuação de
profissionais ilegais e a necessidade de fluência em outros idiomas. As informações
levantadas pela pesquisa promoveram a geração de dados que podem subsidiar
ações de qualificação profissional e de planejamento turístico mais condizentes com
as características básicas do turismo alagoano.

PALAVRAS-CHAVE: Guia de turismo. Turismo receptivo. Planejamento turístico.


Turismo. Alagoas.

ABSTRACT: This paper presentsthe main resultsof research thattraced theprofile


oftheAlagoas’stourist guidesin activity, presentingdata ontheir professional
practice,qualifying, needs andexpectations.For this was done a research based in
bibliografy and documents investigation and questionnaires aimed to tourist guides
of Alagoas’s tourism market. Among theinformation obtainedcan be highlightedthose
thatconfirmthe strength ofinbound tourismin the state, concern about the activities
ofillegalprofessionalsand the need forfluency inother languages​​. The information
gatheredby the surveypromoted thegeneration ofdata that cansubsidizeprofessional
trainingandtourism planningmost appropriate to the basic features ofAlagoastourism.

KEYWORDS: Tourist guide.Inbound tourism.Tourismplanning.Tourism. Alagoas.

1.INTRODUÇÃO

O guia de turismo é um profissional ligado aos serviços turísticos (agenciamento


de viagens), e é um elemento da oferta turística essencial à distribuição dos serviços aos
clientes. Para Chimenti e Tavares (2007) esse profissional é quem melhor representa
o caráter coletivo do turismo e atua em uma das profissões mais importantes da
atividade, por conta do alto grau de contato entre o prestador de serviço e os visitantes.
O guia de turismo atua vinculado às agências de turismo, que são empresas
que “transformam” destinos turísticos e equipamentos em produtos, atuando na
produção, distribuição e oferta aos possíveis consumidores. Tais organizações podem
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atuar como produtoras (operadoras turísticas) ou como distribuidoras (agências de


viagens) (BRAGA, 2008).
A regulamentação desta categoria no país ocorreu em 1993 através da
promulgação da Lei n° 8.623 que dispõe sobre a profissão. A regulamentação dessa
lei se deu através do Decreto n° 946/93, documento que detalha as atribuições
do guia de turismo, os requisitos para o cadastramento no órgão competente, a
classificação, as infrações disciplinares, as condutas incompatíveis, as penalidades, o
recadastramento, entre outros fatores.
Segundo a classificação oficial brasileira, guia de turismo é a única profissão
reconhecida e regulamentada pelo Instituto Brasileiro de Turismo [EMBRATUR],
segundo o qual:

é considerado guia de turismo o profissional que, devidamente cadastrado


na Embratur [...] exerça as atividades de acompanhamento, orientação e
transmissão de informações a pessoas ou grupos, em visitas, excursões
urbanas, municipais, estaduais, interestaduais, internacionais ou
especializadas (BRASIL, 1993).

Os guias de turismo são classificados pela EMBRATUR como especializados


em guias de atrativos naturais ou culturais, guias regionais, guias de excursão nacional
e guias de excursão internacional. Segundo Braga (2008), os guias de turismo
são profissionais qualificados para acompanhar e assistir aos turistas, e transmitir
informações durante os passeios. Normalmente são os colaboradores da agência de
turismo que mais tem contato com o visitante, e podem ser funcionários efetivos da
empresa ou freelancers.
O guia de turismo local ou regional recebe os passageiros em determinadas
etapas da viagem, sendo responsável por cumprir o roteiro estabelecido pela agência,
fornecer informações aos turistas e lidar com qualquer eventualidade, garantindo o
conforto e a segurança dos passageiros.
Algumas características são essenciais para um adequado desempenho do
guia de turismo, a saber (CHIMENTI; TAVARES, 2007) :
1) Perfil pessoal: capacidade de se relacionar bem com pessoas; agilidade,
dinâmica, pensamento rápido e habilidade para solucionar problemas;
diplomacia e autoridade; saber trabalhar em equipe; pontualidade e
organização.
2) Qualificação profissional e qualidade dos serviços prestados: conhecimento
técnico, noções sobre habilidades nas relações interpessoais, conhecimentos
gerais; vasto conhecimento geral e fundamentação teórica, histórica e
ambiental.
3) Ética profissional: trabalho norteado por princípios éticos, com base no
respeito às diferenças e escolhas individuais; cuidado com a preservação
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do patrimônio histórico-cultural e ambiental; comportamento adequado, de


acordo com o perfil do grupo (capacidade de adaptação).

Apesar da importância desses profissionais, sua atuação é pouco investigada


no Brasil pela Academia e os cursos técnicos autorizados têm poucos recursos
bibliográficos. Tal fato gera uma falta de uniformidade na qualificação profissional
do setor, formando turmas de guias de turismo com perfil muito distinto, de acordo
com a escola na qual se formou. Até o momento, não foram divulgadas investigações
científicas que discutam os reais efeitos dessa formação tão diversa. Para Chimenti
e Tavares (2007) a profissão é pouco estudada no campo teórico, e quase não existe
bibliografia específica disponível sobre a mesma.
As regras para a formação do profissional no Brasil são norteadas pelo Catálogo
Nacional dos Cursos Técnicos publicado pelo Ministério da Educação [MEC] (2013).
Segundo o documento, o curso de guia de turismo deve estar vinculado ao eixo
tecnológico ‘Turismo, Hospitalidade e Lazer’ e deve ter o mínimo de 800 horas. Para
o MEC, o profissional:

Orienta, assiste e conduz pessoas ou grupos durante traslados, passeios,


visitas, viagens, com ética profissional e respeito ao ambiente, à cultura e
à legislação. Informa sobre aspectos socioculturais, históricos, ambientais,
geográficos e outros de interesse do turista. Apresenta ao visitante opções
de roteiros e itinerários turísticos disponíveis e, quando for o caso, concebe-
os considerando as expectativas ou necessidades do visitante. Utiliza
instrumentos de comunicação, localização, técnicas de condução, de
interpretação ambiental e cultural (MEC, 2013).

Entre os requisitos mínimos para o funcionamento adequado do curso, o


catálogo recomenda a disponibilização de: biblioteca com acervo específico e
atualizado, laboratório de informática com programas específicos, equipamentos de
localização e comunicação, laboratório didático: agências de viagens e operadoras
de turismo, mapoteca e meio de transporte para a prática profissional. Após a análise
dos requisitos mínimos previstos pelo MEC, não se percebe nessas condições
a preocupação em formar um profissional mais crítico. As atividades práticas e os
laboratórios são recursos essenciais, mas a limitação da carga horária mínima (800
horas) limita as instituições de ensino a ampliarem o desenvolvimento de habilidades
dos estudantes (para além dos conhecimentos técnicos e práticos).
O estado de Alagoas está localizado no Nordeste do país, e sua economia
é fundamentada na agricultura (notadamente o setor sucroalcooleiro), indústria
(destacando o setor químico) e serviços (incluindo o turismo). Segundo a Secretaria
de Planejamento do Estado de Alagoas - SEPLANDE (SEPLANDE, 2013a), no
acumulado do primeiro semestre de 2012 o turismo teve um crescimento de 5,34%
em relação ao mesmo período em 2011, devido ao incremento na divulgação nos
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estado emissores e novos voos diários para a capital do estado, Maceió. A maior parte
dos turistas que visitam o estado é formada por brasileiros, já que não existem voos
internacionais regulares para o aeroporto local (Zumbi dos Palmares). No mesmo
período também houve um incremento da ocupação hoteleira e o aumento do fluxo de
passageiros aéreos e marítimos.
O turismo no estado de Alagoas é caracterizado pelo foco no segmento de
lazer, praticado principalmente em ambientes litorâneos. Apesar de não haver estudos
representativos de demanda turística em Alagoas, as publicações especializadas em
turismo confirmam que as praias são os atrativos mais comercializados do estado
(EDITORA ABRIL, 2009; EDITORA ABRIL 2013A; EDITORA ABRIL, 2013B).
Para estimular a geração de ocupação e renda em Alagoas, o Governo do Estado
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Alagoas [SEBRAE/
AL] (como também outros parceiros) organizaram as estratégias de atuação em arranjos
produtivos locais (APL’s), “tendo como base a atuação prioritária em ações coletivas
e integradoras direcionadas ao desenvolvimento dos micro e pequenos negócios”
(SEPLANDE, 2013b). O programa contempla 60% dos municípios alagoanos e três
APL’sque consideram o turismo uma atividade prioritária: APL Turismo Caminhos do
São Francisco, APL Turismo Costa dos Corais e APL Turismo Lagoas e Mares do Sul.
Atualmente é possível realizar o curso técnico em guia de turismo em duas
instituições de ensino alagoanas: a primeira e mais conhecida opção é o curso
promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial [SENAC] em Alagoas,
sediado em Maceió. Porém a oferta atual é restrita a turmas na modalidade a distância/
semipresencial, ofertado em diversos municípios e estimulado pelas demandas locais.
A segunda opção é o curso promovido pelo Instituto Federal de Alagoas
(IFAL) no campus de Marechal Deodoro, distante cerca de 30 quilômetros da capital.
Nessa última instituição, o curso une o Ensino Médio à formação técnica (classificado
como curso médio integrado), é ofertado anualmente e tem duração de quatro anos.
O público que frequenta o curso é formado, principalmente, por jovens entre 15 e
20 anos que moram em municípios do Litoral Sul do estado. Com a união dos dois
currículos – regular e técnico – é possível se trabalhar conjuntamente os conteúdos
das disciplinas de ambas as formações, fazendo com que o turismo na região seja
assunto comum nos trabalhos de Economia, Geografia, Filosofia, Sociologia, Prática
Profissional, Elaboração de Roteiros, Língua Estrangeira, etc. A atuação coordenada
dos docentes também é praticada durante as visitas técnicas, eventos e projetos de
pesquisa e extensão. Nesse sentido, o curso médio integrado permite uma formação
mais crítica do guia de turismo, por conta da abordagem multidisciplinar e do maior
tempo disponível para aprofundamento dos conteúdos trabalhados, entre outros
fatores.
Alagoas também conta com um sindicato da categoria – o Sindicato dos
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Guias de Turismo do Estado de Alagoas [SINGTUR Alagoas], que atua desde 1995
e tem como missão “defender os interesses profissionais dos Guias de Turismo de
Alagoas, a fim de assegurar a defesa e a representação da respectiva profissão, com
vistas a melhorar suas condições de vida e trabalho” (SINGTUR ALAGOAS, 2013).
O sindicato atua em parceria com o trade turístico, e sua participação em eventos
turísticos e ações de fiscalização é veiculada regularmente na mídia local.
O cadastro dos guias de turismo de Alagoas é realizado pela Secretaria de
Turismo do Estado através da coordenação estadual do CADASTUR, sistema de
cadastro federal de pessoas físicas e jurídicas que atuam no setor do turismo.
Com base nas discussões aqui apresentadas e na análise preliminar do
mercado turístico alagoano, percebe-se que o guia de turismo é um profissional muito
importante para o mercado produtivo regional, pois é ele quem estabelece o primeiro
contato com boa parte dos turistas que visitam o estado, e é o profissional habilitado
por conduzir os visitantes durante sua estada. Apesar de sua importância e do IFAL
possuir um curso técnico que qualifica para essa profissão, pouco se conhece sobre
os guias de turismo que atuam em Alagoas.
Atenta às necessidades de mais informações sobre esse segmento profissional,
a pesquisa aqui descrita foi proposta com o objetivo geral de traçar o perfil dos guias de
turismo atuantes em Alagoas. Como objetivos específicos estão: levantar informações
sobre a atuação e qualificação profissional dos guias de turismo em Alagoas; levantar
informações sobre as necessidades e expectativas profissionais dos guias de turismo
em Alagoas; identificar principais regiões de atuação dos guias de turismo de Alagoas;
fornecer subsídios para o planejamento de eventos e cursos voltados à qualificação e
ao aperfeiçoamento desses profissionais.
Conhecer a fundo o mercado turístico regional e a real atuação do guia de
turismo nesse contexto (incluindo suas principais carências e expectativas) é essencial
para que o IFAL possa continuar adequando sua proposta curricular às características
do mercado produtivo e os anseios de atualização dessa categoria. Por isso, os dados
levantados por essa pesquisa serão essenciais para o planejamento de novas ações
voltadas à formação e atualização profissional do segmento em questão.

2. METODOLOGIA

A realização desta pesquisa teve como principal referência bibliográfica o


trabalho intitulado “Estudo do Perfil dos Guias de Turismo de Santa Catarina” do
Instituto Federal de Santa Catarina (LEITE, FERNANDES & DOMINGUES, 2011). Na
ocasião, os pesquisadores tiveram como objetivo traçar o perfil do guia de turismo
do estado de Santa Catarina, estabelecer um marco conceitual sobre a profissão, e
subsidiar a organização de um curso técnico em guia de turismo.
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No caso de Alagoas, foram atendidas as seguintes etapas de pesquisa:


a) Pesquisa bibliográfica e documental: foram visitadas as bibliotecas da
Universidade Federal de Alagoas (Maceió), do Instituto Federal de Alagoas
(campus Maceió e Marechal Deodoro), do SENAC e SESC Alagoas, além de
bases de dados on-line, a fim de sistematizar as principais informações sobre
o profissional e a profissão.
b) Elaboração do questionário: com base nas referências bibliográficas consultadas
e conversas com representantes do trade turístico alagoano, foi elaborado um
questionário com 35 questões abertas e fechadas. A intenção inicial era enviar
o questionário exclusivamente através dos e-mails de todos os guias de turismo
inscritos no CADASTUR durante o período da pesquisa.
c) Visita ao SINGTUR Alagoas: foi realizada no dia 22 de janeiro de 2014, a fim de
requisitar o apoio do sindicato para redefinição da estratégia de abordagem dos
entrevistados. Durante a reunião, o sindicato se comprometeu a divulgar o link
da pesquisa em seu perfil oficial na rede social Facebook, a fim de sensibilizar
os profissionais a participarem. A assinatura de um termo de compromisso
oficializou o trabalho cooperado entre o IFAL e o SINGTUR.
d) Aplicação dos questionários: O universo da pesquisa correspondeu ao total de
guias de turismo alagoanos inscritos no CADASTUR até o dia 31 de dezembro
de 2013 (um total de 274 profissionais). A pesquisa entrevistou 139 profissionais
cadastrados, o que corresponde a uma amostra de cerca de 50,73% do
universo de pesquisa. Segundo Santos (2014) a amostra selecionada é válida,
considerando um erro amostral de 6%, um nível de confiança de 95% e um
percentual mínimo de 50% (para essas condições, o mínimo de entrevistados
necessário é de 136 indivíduos entrevistados).
Inicialmente, a pesquisa enviou o questionário para todos os guias de
turismo alagoanos inscritos no CADASTUR. O formulário podia ser acessado
na íntegra através do clique em um link digital, que encaminhou os entrevistados
para o ambiente interativo Google Docs. Porém, após três tentativas de envios
de e-mails e divulgação do link no Facebook do SINGTUR, apenas 67 guias de
turismo responderam ao questionário digital.
Após a constatação de que a primeira ação não atenderia uma amostra
representativa, optou-se por aplicar duas novas estratégias de abordagem
aos entrevistados: contato telefônico e aplicação direta do formulário através
de encontros presenciais. A amostragem não-probabilísitica foi a opção mais
adequada, pois funciona para casos de “inacessibilidade a toda população:
quando o pesquisador não tem acesso a toda população de estudo, somente
uma parte dela está disponível” (CUZZUOL, 2014). Devido à complexidade do
trabalho de campo, optou-se pela amostragem por conveniência, com amostras
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selecionadas pela conveniência dos pesquisadores, constituída por pessoas


disponíveis e ao alcance para responder os questionários (GUILHOTO, 2002).
Os contatos telefônicos foram realizados em três tentativas entre 29 de
janeiro e 19 de fevereiro de 2014, atendendo ao quantitativo de 51 entrevistados.
Os telefonemas foram realizados nas dependências do IFAL Reitoriae seguiram
fielmente as questões do formulário enviado pelo e-mail. Os guias de turismo
que receberam ligações telefônicas foram aqueles que não responderam ao
questionário enviado pela internet.
A aplicação direta dos questionários através de entrevista foi realizada no
período de 31 de janeiro a 16 de fevereiro de 2014. Os guias de turismo foram
abordados pelos pesquisadores em alguns dos principais pontos turísticos do
estado, a saber: Piaçabuçu (Foz do Rio São Francisco), Feirinha de Artesanato
da Pajuçara e Praia do Francês. Nessa estratégia foram atendidos 21
profissionais que não haviam respondido aos e-mails e ao contato telefônico.
Em todas as estratégias de aplicação de questionário praticadas os
pesquisadores utilizaram o mesmo formulário. Duas alunas do curso médio
integrado em Guia de Turismo conduziram a aplicação do questionário,
auxiliadas em algumas ocasiões por outros alunos do curso.
e) Análise de dados: após a aplicação dos questionários, os dados foram
transformados em gráficos a fim de facilitar a compreensão das informações.
Para tanto, os dados foram inseridos em planilhas do programa Microsoft
Windows Excel 97-2003.

Após a coleta de dados e a análise dos resultados, os mesmos foram organizados
e divulgados entre o trade turístico em formato de relatório.

3. PRINCIPAIS RESULTADOS E DISCUSSÃO

A) PRINCIPAIS RESULTADOS
Após a análise dos dados obtidos, as informações que seguem traçam o perfil
dos guias de turismo atuantes no estado de Alagoas.
Mais da metade dos guias de turismo entrevistados (63%) é do sexo masculino,
enquanto a minoria (37%) é composta por mulheres. Em relação à faixa etária, parte
expressiva dos entrevistados está incluída no segmento “de 26 a 35 anos” (35%), ou
seja, são considerados economicamente ativos. Outra parte expressiva possui entre
36 a 45 anos (28%). Apenas 23% dos entrevistados possuem mais de 46 anos.
Quanto à nacionalidade, 98% dos entrevistados informaram ser brasileiros.
Quanto à naturalidade, 46% informaram ser naturais de Maceió, enquanto que 54%
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informaram ter nascido em outras cidades.


Quando perguntados sobre a escolaridade, quase metade dos entrevistados
(46%) respondeu ter cursado até o Ensino Médio (formação mínima exigida para
iniciar o curso técnico). Possuir o curso superior foi a opção de 27% dos entrevistados,
enquanto que 17% informaram ter o curso superior incompleto. Apenas 9% dos
entrevistados informaram ter formação em nível de pós-graduação.

FIGURA 1: GRÁFICO SOBRE ATUAÇÃO DOS ENTREVISTADOS

A maioria dos guias de turismo entrevistados (82%) informou estar atuando na


profissão. Apenas 18% dos guias de turismo não estão praticando a profissão (Figura
1).

FIGURA 2: GRÁFICO SOBRE FORMAÇÃO TÉCNICA DOS ENTREVISTADOS

Quando perguntados sobre a categoria de formação profissional, o guia regional


foi a opção escolhida por 74% dos entrevistados. Uma menor parte dos profissionais
possui formação nacional (25%), seguidos da formação como guia internacional (1%)
(Figura 2).
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A grande maioria dos entrevistados (95%) atua como guia regional. Apenas
4% dos guias atuantes em Alagoas trabalham com turismo emissivo (guia nacional),
nenhum guia atua viajando para o exterior, e apenas 1% dos profissionais atua como
guia especializado em atrativos naturais ou culturais.
Segundo a pesquisa, a maior parte (94%) dos guias de turismo atuantes em
Alagoas concluiu o curso técnico no SENAC Alagoas. Apenas 3% dos entrevistados
obtiveram formação técnica no IFAL, seguidos de 3% que realizaram a formação em
outras escolas.
A pesquisa comprovou que a maior parte dos profissionais atua como guia de
turismo a dez anos ou menos: 48% exercem a profissão a menos de 5 anos, e 20%
atuam entre 6 e 10 anos. Os entrevistados que responderam atuar a mais de dez anos
como guia de turismo corresponderam a 32% da amostra.
Em relação ao tempo de cadastro profissional na EMBRATUR, os dados obtidos
foram bem diversos: 30% dos entrevistados afirmaram possuir o cadastro a cinco
anos ou menos. Uma parte expressiva (22%) informou estar cadastrada a menos de
um ano. Dezenove por cento dos entrevistados está cadastrada a entre 6 e 10 anos.
Aqueles que estão cadastrados a mais de 11 anos correspondem a 29% da amostra.

FIGURA 3: GRÁFICO SOBRE FORMA DE ATUAÇÃO DOS ENTREVISTADOS

Mais da metade (62%) dos guias de turismo atuantes em Alagoas afirmam que
atuam como autônomos oufreelancers. Apenas 26% da amostra correspondem aos
guias de turismo efetivamente contratados pelas agências de turismo locais (trabalham
com carteira assinada). Os proprietários ou sócios de agências correspondem a 11%
dos entrevistados. Apenas 1% do grupo afirmou ser funcionário de uma agência ou
operadora nacional (Figura 3).

FIGURA 4: GRÁFICO SOBRE SEGMENTO DE ATUAÇÃO DOS ENTREVISTADOS


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Quando perguntados sobre o segmento de atuação no turismo local, a maioria


(92%) dos entrevistados informou atuar no turismo receptivo. Apenas 8% dos guias de
turismo de Alagoas atuam no segmento do turismo emissivo.
Parte expressiva dos passeios mais trabalhados pelos guias de turismo se
concentram no Litoral sul do estado: 22% informaram atuar com mais frequência no
passeio à Praia do Gunga e 18% optou por citar a Praia do Francês. O passeio a
Maragogi foi citado por 17% dos entrevistados, seguido da Foz do Rio São Francisco
(com 8% das citações). Empatados (com 7% das citações) estão os passeios a
Piranhas, Paripueira e Maceió. As Dunas de Marapé foram citadas por 5%. São Miguel
dos Milagres representou 4% das respostas. Outros passeios corresponderam a 3%
das citações, enquanto que Penedo correspondeu a 2% das respostas.

FIGURA 5: GRÁFICO SOBRE FLUÊNCIA EM OUTRO IDIOMA

Pouco mais da metade (53%) dos guias de turismo alagoanos informaram não
possuir fluência em outros idiomas além do português. Os que informaram possuir
essa habilidade correspondem a 47% dos guias de turismo (Figura 5).
Aqueles guias de turismo que afirmaram possuir fluência em outros idiomas
indicaram ter domínio de Espanhol (80%), Inglês (12%), Francês (5%) e Italiano (3%).
Os guias de turismo foram perguntados sobre os parceiros que mais contribuem
para a realização de um bom trabalho pela categoria, e as respostas foram as seguintes:
O SINGTUR foi o parceiro mais citado, com 26% das respostas. Em seguida estão os
receptivos turísticos, com 25% das citações. Os restaurantes e bares foram a opção
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de 22% dos guias de turismo. Os meios de hospedagem foram lembrados por 14%
dos profissionais, seguidos das instituições de ensino (6% das respostas). O Maceió
ConventionandVisitors Bureau e “outros” empataram com 3% das respostas. O Poder
Público foi citado por apenas 1% dos guias de turismo.
Quando perguntados sobre os atores do turismo que menos contribuem para
a atuação do guia de turismo em Alagoas, 47% dos entrevistados citaram o Poder
Público. Os meios de hospedagem foram a opção de 12% dos entrevistados, seguidos
dos restaurantes e bares (opção de 10%). As instituições de ensino foram a opção
de 9% dos entrevistados, seguidos dos que não souberam ou quiseram responder.
Outras opções de respostas corresponderam a minoria das citações.
Os principais entraves ou empecilhos para o desenvolvimento do turismo em
Alagoas na opinião dos guias de turismo atuantes no estado são: as más condições
das estradas (19%) e a pouca vontade política (19%). A ausência de espaços para
estacionamentos foi citada por 13% dos entrevistados. A insegurança/violência e a falta
de sinalização turística empataram com 11% das respostas. O trânsito congestionado
foi a opção de 9%. A falta de acessibilidade e a falta de verbas empataram com 6%
das indicações. Outras opções corresponderam a 4% das respostas, enquanto que a
pouca oferta de voos foi a resposta de 2% dos entrevistados.

FIGURA 6: GRÁFICO SOBRE PRINCIPAIS DIFICULDADES ENFRENTADAS

Quando perguntados sobre as principais dificuldades enfrentadas pelos guias


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de turismo durante o exercício de sua profissão, as respostas foram as seguintes:


28% dos entrevistados citaram a atuação de profissionais não credenciados como
o principal empecilho. A falta de reconhecimento à profissão pelo trade turístico foi
citada por 19% dos guias de turismo. A falta de fiscalização foi a opção de 17% dos
guias. A baixa remuneração e a falta de estabilidade financeira receberam, ambas, 9%
das respostas. O excesso de trabalho e a falta de atualização profissional foram as
opções de 6% dos entrevistados. A falta de oportunidades foi a opção de 4%, seguida
da opção “outros” (com 2% das respostas) (Figura 6).
Mais da metade dos guias de turismo (61%) afirmou possuir vínculo com algum
sindicato ou associação de classe. Os outros 39% dos entrevistados afirmaram não
serem vinculados a sindicatos ou similares.
Entre os guias de turismo que citaram ser vinculados a órgãos representativos
de classe, a grande maioria (92%) afirmou ser associada ao SINGTUR. Entre os órgãos
ou entidades citadas pela minoria restante estão a ASTURP, o MCVB, o SINDGETUR,
a FENACTUR e o SINTUR.

FIGURA 7: GRÁFICO SOBRE SUPORTE DOS GOVERNOS

Segundo os guias de turismo, os governos deveriam oferecer mais infraestrutura


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(18%), fiscalização da atividade turística (14%), capacitação e reciclagem para todo o


trade turístico (12%) e divulgação do estado (10%). A segurança (9%) e a acessibilidade
(6%) também foram destacadas como necessidades nas quais os governos deveriam
atuar. As demais respostas corresponderam a menos de 5% das opções, e estão
detalhadas na Figura 7.
A história e a cultura popular foram apontadas por 40% dos entrevistados
como os conhecimentos adquiridos no curso técnico que são mais utilizados durante
sua atuação profissional. As relações interpessoais foram citadas por 22% dos
entrevistados. As técnicas de guiamento foram a opção de 18% dos guias de turismo,
e a Geografia correspondeu a 17% das respostas. Outros conteúdos foram apontados
por 3% dos entrevistados.

FIGURA 8: GRÁFICO SOBRE PRINCIPAL FONTE DE RENDA

A maior parte dos guias de turismo (69%) respondeu que a atuação profissional
em questão é a sua principal fonte de renda. A profissão não é a principal fonte de renda
de 26% dos entrevistados. Não souberam ou não quiseram responder corresponderam
a 5% das respostas (Figura 8).
Quase a metade (45%) dos guias de turismo entrevistados tem rendimento
mensal de um a três salários mínimos. Os que recebem mensalmente entre quatro e sete
salários mínimos correspondem a 27% da amostra. Não sabe ou não quis responder
foi a opção de 19% dos guias, e apenas 9% informaram receber mensalmente mais
de sete salários mínimos.

B) DISCUSSÃO

Os processos de construção, aplicação e conclusão desta pesquisa geraram


algumas informações importantes para a formação dos estudantes envolvidos e para
estimular debates sobre o turismo em Alagoas. A seguir estão listados alguns tópicos
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que merecem destaque:

• As mudanças nas estratégias de aplicação do questionário foram necessárias


porque a maior parte dos e-mails dos profissionais inscritos no CADASTUR
está desatualizada: muitas mensagens retornaram com aviso de erro no
endereço ou não foram respondidas. Com isso, percebe-se que a comunicação
via internet com os guias de turismo alagoanos ainda precisa ser otimizada,
o que facilitaria bastante a relação entre a categoria, órgãos públicos, trade
turístico e entidades de classe.
• A pesquisa identificou que 25% dos entrevistados tem formação de guia de
turismo nacional (Figura 2), porém muitos deles atuam no mercado alagoano
apenas como guias regionais. Essa informação é corroborada pela Figura 4, que
indica que 92% dos profissionais entrevistados atuam no mercado receptivo.
Constata-se que a formação nacional dos guias de turismo não está sendo
totalmente aproveitada, o que deve basear debates sobre a oferta de novos
cursos dessa categoria ou o fortalecimento do mercado emissivo, por exemplo.
• Mais da metade (71%) dos entrevistados informou atuar com mais frequência no
município de Maceió. Isso pode ser explicado pela concentração das agências
receptivas na cidade, sendo elas que direcionam os turistas para passeios de
um dia nos demais municípios alagoanos. Essa informação não quer dizer que
ações de capacitação e atualização de guias de turismo devem ser ofertadas
prioritária ou exclusivamente em Maceió, pois as cidades de Piranhas e
Maragogi (entre outras) não receberam a visita destes pesquisadores (o que
não permitiu a obtenção de informações detalhadas sobre a situação dos guias
de turismo nesses municípios).
• A Figura 3 aponta que 62% dos guias de turismo atuam como autônomos (ou
freelancers). Apesar dessa questão no formulário de pesquisa não ter sido
aberta a comentários, diversos entrevistados informaram aos pesquisadores
que, apesar da autonomia, a cobrança das empresas em relação ao seu
desempenho e fidelidade seria a mesma de um funcionário com carteira
assinada. Esse fato destaca a necessidade de que novos levantamentos sejam
realizados, a fim de investigar mais profundamente as condições de trabalho
dos guias de turismo em Alagoas, assim como a atuação e opinião das agências
de turismo em relação ao tema.
• As informações obtidas sobre a fluência em outros idiomas geram preocupação:
53% dos profissionais entrevistados afirmaram não se comunicar fluentemente
em outra língua (Figura 5). Entre aqueles que afirmam ser fluentes em outras
línguas, 80% garantiram dominar o Espanhol. Porém faz-se necessário uma
investigação mais acurada, a fim de constatar o real nível de fluência em Língua
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Espanhola por parte desses profissionais. Também seria importante um maior


estímulo à oferta de curso de Língua Inglesa destinada aos guias de turismo,
pois apenas 12% deles se dizem fluentes no idioma.
• Quando perguntados sobre os principais empecilhos e entraves ao trabalho dos
guias de turismo, as más condições das estradas e a falta de vontade política
foram os campeões em citações (ambos 19%). As duas respostas apontadas
são diretamente ligadas à ação de Poder Público, que tem demonstrado ser
insatisfatória para um adequado desenvolvimento do turismo alagoano.
• A atuação de profissionais não legalizados também é uma preocupação dos
entrevistados (Figura 6). Apesar dos esforços crescentes do SINGTUR Alagoas
e do Governo do Estado em promover ações de orientação sobre o assunto,
os profissionais acham necessário que se tomem medidas mais efetivas para
coibir a atuação ilegal de pessoas despreparadas para cumprir a função de
guia de turismo.
• A Figura 7 apresenta a principal contribuição dessa pesquisa aos governos:
os guias de turismo apontam vários aspectos nos quais o Poder Público
poderia atuar para melhorar a dinâmica de trabalho desses profissionais.
Como destaques estão a questão da infraestrutura e a fiscalização, pontos
também citados em questões anteriores. As respostas obtidas poderão
subsidiar debates nas Secretarias de Turismo acerca das prioridades a serem
trabalhadas no planejamento do turismo alagoano. Vale destacar que a opinião
de outros profissionais do turismo também deve ser levantada, e a junção de
todas as informações deverá fornecer um panorama aprofundado das reais
necessidades de ações e investimentos em Alagoas.
• A alta incidência de guias de turismo que têm na atividade sua principal fonte
de renda inspira reflexões que vão além do planejamento turístico: boa parte
desses profissionais (45%) recebe menos de três salários mínimos por mês,
além de possuir renda oscilante. A queda na renda familiar durante a baixa
estação em alguns municípios alagoanos deve ser uma questão debatida em
outras frentes (além da acadêmica), estimulando os governos a inserirem esse
público em projetos de incremento da renda e ações correlatas.

Convém destacar que essa pesquisa preliminar possui diversas limitações,


entre as quais estão a dificuldade em executar o trabalho de campo, a dificuldade
em contatar os guias de turismo, a ausência de mais referenciais bibliográficos e
documentais, entre outros aspectos. Apesar disso, considera-se que as informações
geradas são de extrema importância para o planejamento turístico de Alagoas,
por fornecer informações básicas sobre um segmento muito importante para essa
atividade produtiva regional.
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Pela importância do tema, sugere-se que esse segmento profissional continue


sendo objeto de pesquisas pela Academia alagoana, pois seu comportamento influi
diretamente na economia, na vida social e na geração de impactos positivos e negativos
do turismo. O Instituto Federal de Alagoas acredita que conhecer as realidades locais
para tentar intervir sobre as mesmas em prol da justiça social e do desenvolvimento
é o caminho para garantir uma sociedade mais responsável e comprometida com
conquistas de longo prazo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Braga (Org). Agências de viagens e turismo: práticas de mercado. Rio de Janeiro:
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Acesso realizado em 10 de outubro de 2013.

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www.seplande.al.gov.br/desenvolvimento-economico/desenvolvimento-regional-e-
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OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELO SETOR DE HOSPEDAGEM NO


DESTINO PERIFÉRICO URUBICI/SC
CHALLENGES FACED BY ACCOMMODATION SECTOR IN THE
PERIPHERAL DESTINATION URUBICI / SC

Kleber de Oliveira da Silva1

Resumo
As regiões periféricas enfrentam grandes desafios no desenvolvimento do turismo,
que podem estar relacionados às questões infraestruturais, socioeconômicas,
ou inerentes à atividade turística. O presente estudo propõe caracterizar a cidade
de Urubici como destino periférico no estado de Santa Catarina, e identificar as
dificuldades associadas à perifericidade enfrentadas pelo setor de hospedagem na
localidade. Para atingir esse objetivo, discute-se o conceito de destino periférico no
turismo, referenciando os principais estudos sobre o tema. A partir da revisão de
literatura, define-se um conjunto de indicadores, que serviram de bases para a coleta
de dados secundários em fontes oficiais, que permitiram constatar que a cidade de
Urubici apresenta condições de região periférica. Para identificar as influencias de
perifericidade que afetam os empreendimentos e o destino, optou-se pela técnica de
entrevistas pessoais com pergunta aberta. Os resultados permitem compreender as
desigualdades regionais existentes na cidade de Urubici, destacando as principais
dificuldades existentes na cidade que impactam no desenvolvimento da localidade
como destino turístico competitivo.
Palavras-chave: turismo. destino periférico. meios de hospedagem. Urubici-SC.

Abstract
Peripheral regions face great challenges with tourism development, which can be
related to infrastructural, socioeconomically or tourism particularities issues. This
research aims to characterize the city of Urubici as peripheral destination in the state
of Santa Catarina, and identify the difficulties associated with peripherality faced by
accommodation sector in the region. To achieve this purpose, it discussed the concept
of peripheral tourism destination, referencing the major studies on the topic. From
the literature review, is defined a set of indicators, which served as the basis for the
collection of secondary data from official sources, which allowed to consider that
Urubici has peripheral conditions. To identify the peripherality influences that affect
the business and the destination, is selected the technique of personal interviews with
open-ended question. The results provide insights into the regional disparities in the
city of Urubici, and identified the main difficulties that impact the development of the
locality as a competitive tourist destination.
Keywords: tourism. peripheral destination. accommodation. Urubici-SC.

1 Mestre em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Bacharel em Turismo
pela Escolha de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Email: kleber.silva1@hotmail.com
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Introdução

Ao longo da última década, tem sido crescente o interesse da academia científica


em desenvolver estudos, que analisem a potencialidade do turismo em contribuir para
o desenvolvimento de regiões periféricas (NASH; MARTIN, 2003). Esse termo não é
tão familiar na literatura brasileira de turismo, diferente de sua maior abordagem por
pesquisadores no exterior, que descrevem em linhas gerais, que regiões turísticas
periféricas geralmente estão localizadas em áreas rurais com forte sazonalidade,
infraestrutura deficiente e baixos indicadores socioeconômicos, que representam
grandes desafios para a sobrevivência das empresas nessas localidades.

As condições desafiadoras de caráter socioeconômico, infraestrutural e turístico


devem ser levadas em consideração pelos gestores do turismo, principalmente no que
se refere à proposição de políticas públicas efetivas, que assistam as necessidades
dessas áreas (WANHILL, 1997). A perifericidade do destino representa ao mesmo
tempo oportunidades e desvantagens para os diferentes setores. Neste sentido
cabe aos gestores do destino à formulação de estratégias visando acentuar as
consequências positivas, em detrimento de neutralizar as negativas em suas regiões
(MORRISON, 1998). As características inerentes à localidade como o isolamento e a
tranquilidade, aliado ao clima e existência de notáveis recursos naturais e culturais,
representam uma oportunidade para que empresas ofereçam serviços e produtos
personalizados aos turistas. No entanto, a distância de áreas mais desenvolvidas faz
com que exista pouca disponibilidade de mão de obra qualificada, além de precário
acesso a cursos de capacitação e recursos tecnológicos (BAUM et al., 2007). Para as
empresas nessas regiões se tornarem mais competitivas, elas devem aumentar seus
níveis de inovação, tanto tecnológica, quanto organizacional (IRVINE; ANDERSON,
2008).

Com base nesse contexto, esse trabalho que é parte de uma investigação
de mestrado, tem como objetivo a caracterização da cidade de Urubici como região
periférica no Estado de Santa Catarina, identificando as dificuldades associadas
à perifericidade enfrentadas por proprietários de micro e pequenos meios de
hospedagem na localidade. A cidade de Urubici se destaca como importante destino
de inverno no país, pois está localizada na região serrana de Santa Catarina,
conhecida nacionalmente por apresentar as temperaturas mais baixas do país, que
ocasionalmente provoca o fenômeno da neve. A escolha de Urubici deve-se por este
município concentrar o maior número de atrativos turísticos e estabelecimentos de
hospedagem na região.

O presente estudo está estruturado em cinco partes: uma síntese teórica


sobre as principais discussões sobre destinos periféricos no turismo; detalhamento
da metodologia utilizada para levantamento de dados primários e secundários;
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apresentação dos principais dados geográficos, socioeconômicos e turísticos


que permitem caracterizar Urubici como destino periférico; a percepção dos
empreendedores de meios de hospedagem quanto aos principais desafios enfrentados
na cidade; considerações finais e referências consultadas.

Desenvolvimento do turismo em regiões periféricas

O conceito de centro e periferia no turismo teve suas primeiras discussões


na década de 60 e 70 (KAUPPILA, 2011). Esses trabalhos pioneiros ressaltam o
relacionamento entre economias mais fortes e industrializadas, geradora de demanda,
e regiões mais fragilizadas, com economia fortemente ligada a setores primários,
geralmente destinos destes turistas (BROWN; HALL, 2000). No entanto, esses
modelos têm despertado críticas, pois eles geralmente analisam apenas as relações
entre os destinos emissores e receptores dentro da estrutura do turismo, ao contrário
de uma maneira mais minuciosa sobre o desenvolvimento regional do ponto de vista
local (KAUPPILA, 2011). A necessidade de um maior detalhamento sobre a realidade
local possibilita aos gestores do turismo um valioso e fundamental quadro geográfico
que contextualize as desigualdades espaciais em poder e níveis de desenvolvimento
(WEAVER, 1998).

No entanto, as diferenças entre áreas centrais e periféricas possuem


implicações que extrapolam os aspectos geográficos e econômicos, fazendo com que
questões sociais e de infraestrutura, por exemplo, também tenham grande influência
na caracterização destes locais. Por conta disso, existe a necessidade de analisar
outras variáveis que possibilitem compreender melhor as distinções entre centros e
periferias. Nessa perspectiva, o quadro 1 apresenta o trabalho de Botterill et al, (2000),
que faz um resumo das principais diferenças entre essas duas áreas:
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Quadro 1: Centro e periferia - Principais diferenças

Centro Periferia
Altos níveis de vitalidade econômica e Baixos níveis de vitalidade
diversidade de setores econômicos. econômica e dependência
de setores tradicionais.
Caráter metropolitano: aumento da Mais rural e remoto:
população através da migração, e uma geralmente com importantes
estrutura etária relativamente jovem. valores paisagísticos.
Decréscimo populacional
devido emigração, estrutura
etária em envelhecimento.
Inovador, pioneiro e desfruta de bom Dependente de tecnologias e
fluxo de informações. ideias importadas, e sofre de
fraco fluxo de informações.
Foco de grandes decisões políticas, Distante de locais de tomada
econômicas e sociais. de decisão, conduzindo a
uma sensação de alienação
e falta de poder.
Boa infraestrutura e facilidades. Infraestrutura deficiente e
poucas facilidades.
Fonte: (BOTTERILL et al., 2000, p. 17) [tradução do autor]

A literatura científica apresenta um conjunto de vantagens e desvantagens


associadas às regiões periféricas, que podem representar diferentes locais tais
como países, continentes ou regiões especificas. Normalmente a distância entre
os mercados é a variável mais apontada pelos estudos para caracterizar uma área
central e periférica (STUART; PEARCE; WEAVER, 2005). Entretanto, a definição de
uma região periférica apenas por sua distância de grandes centros urbanos é algo
restrito. No caso do turismo, a perifericidade é associada às distâncias dos portões de
entrada do destino, uma vez que o acesso é considerado como principal fator crítico
na realização de viagens às regiões periféricas (CHOUDHARY; AGGARWAL, 2011;
PRIDEAUX, 2002; WANHILL, 1997).

As áreas periféricas por estarem localizadas remotamente, geralmente também


contam com poucas perspectivas de emprego e baixas remunerações, que influenciam
na dificuldade de reter população e atrair profissionais qualificados que preferem locais
mais desenvolvidos com melhores oportunidades de emprego (LOVELOCK; BOYD,
2006).

A perda desses profissionais aliado ao fraco fluxo de informações, também afeta


a estrutura empresarial, que é formada predominantemente por micro e pequenas
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empresas. Elas enfrentam dificuldades em questões como empreendedorismo e


inovação, pois as últimas novidades tecnológicas e as práticas mais modernas de
gestão, normalmente demoram a chegar a locais periféricos. O isolamento e a distância
de centros urbanos também representam obstáculos para que empresários participem
de cursos de qualificação. Todos esses fatores influenciam em um baixo nível de
dinamismo, fazendo com que estas empresas tornem-se menos competitivas em
comparação com outras semelhantes localizadas em regiões centrais e desenvolvidas
(BOTTERILL et al., 2000; IOANNIDES; PETERSEN, 2003; WANHILL, 1997).

Apesar de regiões periféricas apresentarem aspectos econômicos e sociais


restritos, elas geralmente possuem importantes recursos naturais e culturais, que
são refletidos em qualidades como natureza intacta, beleza, paisagem e estilo de
vida tradicional. Essas particularidades têm sido constantemente enfatizadas como
seus principais atributos, pois estão atraindo cada vez mais turistas provenientes
das áreas mais desenvolvidas (BROWN; HALL, 2000). Esses turistas buscam fugir
do convencional e dos destinos de massa, procurando uma área tranquila e pouco
explorada para conhecer. Eles estão em busca de novos ícones e experiências que
não estão disponíveis em seus locais de origem (PRIDEAUX, 2002).

No entanto, Papadimitriou e Gibson (2008) ressaltam que o trabalho da imagem


do destino deve ser pensado com muito cuidado, pois um destino periférico é mais
“frágil” a grandes mudanças. Os autores afirmam que um posicionamento errado do
destino, pode atrair muitos turistas, o que resultará na degradação do local. Por conta
disso é destacada a importância de se fazer um plano estratégico em longo prazo
para o desenvolvimento sustentável da localidade.

Os destinos periféricos enfrentam maiores dificuldades, em comparação a


regiões mais centrais, as quais tem mais facilidade de acesso a outros mercados
durante a baixa temporada, como é o caso dos segmentos de eventos e negócios
(WANHILL, 1997). A fim de amenizar as desigualdades de demanda, segundo Wanhill
(1997) o poder público e a iniciativa privada têm o grande desafio de unir esforços
para tornar esses locais “destinos de todas as estações”. Isso pode concretizar-se por
meio do oferecimento de uma variedade de atividades para “ver e fazer” ao longo dos
diversos períodos do ano.

Para tanto existe a necessidade de maior participação das diversas esferas


governamentais e entidades do setor no sentido de trabalharem em conjunto no
estabelecimento de programas de desenvolvimento da infraestrutura e serviços
turísticos, além de fornecerem um auxílio no desenvolvimento de um efetivo marketing
em mercados consumidores (FONSECA; RAMOS, 2011; LAWS; SCOTT, 2003). Em
visão complementar, Ateljevic (2009)de predominante rural para novas possibilidades
com o Turismo. “, “page” : “282-308”, “title” : “Tourism entrepreneurship and regional
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development: example from New Zealand”, “type” : “article-journal”, “volume” : “15” },


“suppress-author” : 1, “uris” : [ “http://www.mendeley.com/documents/?uuid=84e610e2-
fdbc-4e7b-ac63-c665009962a4” ] } ], “mendeley” : { “previouslyFormattedCitation” :
“(2009 acredita no desenvolvimento “de cima para baixo”, que em outras palavras
trata-se de maior atuação dos governos e entidades nacionais na promoção do
empreendedorismo regional e no aumento do incentivo a participação de governos
locais por meio da construção de parcerias público-privadas.

Alguns autores apontam que regiões periféricas possuem uma dificuldade maior
em atingir o desenvolvimento sustentável baseado unicamente em seus recursos e
entidades (ATELJEVIC, 2009; NASH; MARTIN, 2003)de predominante rural para novas
possibilidades com o Turismo. “, “page” : “282-308”, “title” : “Tourism entrepreneurship
and regional development: example from New Zealand”, “type” : “article-journal”,
“volume” : “15” }, “uris” : [ “http://www.mendeley.com/documents/?uuid=84e610e2-
fdbc-4e7b-ac63-c665009962a4” ] } ], “mendeley” : { “previouslyFormattedCitation” :
“(ATELJEVIC, 2009; NASH; MARTIN, 2003. Por conta disso é de vital importância
o suporte externo (financeiro, técnico e institucional) para superar essas fraquezas
(FONSECA; RAMOS, 2011).

A partir da análise da literatura existente pode-se compreender que para


distinguir uma área central e periférica há necessidade da descrição minuciosa das
realidades locais, acompanhada de um quadro que contextualize as desigualdades
socioeconômicas e espaciais (WANHILL, 1997), refletindo assim, nos níveis de
desenvolvimento e consequentemente no principal motivo de existir a classificação de
“periferia” para nomear áreas menos desenvolvidas que outras.

Metodologia

Este estudo caracteriza-se por ser exploratório e descritivo, com abordagem de


métodos mistos, que incorpora a combinação de dados qualitativos e quantitativos.
Para atingir o objetivo proposto na introdução, procedeu-se inicialmente o levantamento
de dados secundários em fontes oficiais, que possibilitaram traçar um panorama
geográfico, socioeconômico e turístico da cidade de Urubici, e assim, enquadra-la
como destino periférico no estado de Santa Catarina. Em seguida ocorreu a coleta
de dados primários, com auxilio da técnica de entrevistas pessoais visando identificar
as dificuldades associadas à perifericidade enfrentadas por proprietários de micro e
pequenos meios de hospedagem na localidade.

População, amostra e instrumento da pesquisa


O levantamento da população de meios de hospedagem da cidade de Urubici
ocorreu por meio de contato direto com a Secretaria Municipal de Indústria, Comércio
e Turismo da cidade, que forneceu uma lista contendo 50 meios de hospedagens
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regularizados na prefeitura. No entanto, foi ressaltado que além desse número, ainda
existem aproximadamente 95 estabelecimentos, que são chamados de “Pousadas
Alternativas”, que são casas de moradores locais, que não são regularizados na
prefeitura, mas que funcionam como meio de hospedagem “alternativo” para momentos
em que a cidade de Urubici está com grande quantidade de turistas, principalmente
nos períodos de alta temporada no inverno.

Neste cenário, a presente pesquisa optou por considerar a população de meios


de hospedagem da cidade apenas os que estão regularizados na prefeitura, conforme
lista fornecida ao pesquisador. A lista fornecida possibilita uma visão da população de
meios de hospedagem da cidade, que é formada em 40% por estabelecimentos com
até 5 unidades habitacionais e 28% com 6 a 10 UH’s.

Para a seleção dos empreendimentos participantes da pesquisa houve


três tentativas de contato. Inicialmente foi enviado para a população de meios de
hospedagem um email contendo a apresentação do projeto e um breve descritivo da
pesquisa de modo a encorajar a participação do potencial entrevistado. No entanto
apenas dois empreendimentos responderam esse primeiro contato expressando
interesse em participar da pesquisa. Devido ao baixo número de retorno, o pesquisador
efetuou ligações telefônicas para cada um dos meios de hospedagem que não haviam
respondido o e-mail inicial. Deste segundo procedimento, obteve-se o agendamento
de entrevistas com 12 empreendimentos.

Como última estratégia, optou-se por abordagem em visitas pessoais aos


empreendimentos para a coleta de dados, que ocorreu entre 9 a 19 de setembro
de 2013. Nas visitas pessoais verificou-se que muitos empreendimentos estavam
fechados, ou não contavam com a presença do proprietário ou gestor. Da população
total de 50 meios de hospedagem, 19 empreendimentos aceitaram participar da
pesquisa, representando assim, 38% de taxa de retorno.

A revisão sistemática da literatura permitiu a definição de indicadores para


caracterizar a cidade de Urubici como destino periférico no estado de Santa Catarina.
Neste sentido foram coletados um conjunto de dados e informações secundárias
concretas e mensuráveis disponíveis ou que são passíveis de elaboração por meio de
acesso a fontes oficiais de informação2. As variáveis analisadas foram divididas em
três blocos:

• Características geográficas e infraestrutura: meio ambiente; infraestrutura


básica;
2 Foram consultados os seguintes órgãos: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), SEBRAE,
Santa Catarina S/A (SANTUR), Secretaria de Estado e Planejamento de Santa Catarina, Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ministério da Educação, Ministério do Turismo, Federação dos Comer-
ciários de Santa Catarina (Fecomércio), Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), Empresa de Pesquisa
e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), e o Convention & Visitors Bureau da Serra Catarinense.
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• Estrutura socioeconômica: população; índice de desenvolvimento humano


(IDH); índice FIRJAN de desenvolvimento municipal; educação; economia lo-
cal; produto interno bruto; emprego.

• Estrutura turística: sazonalidade; características da demanda; infraestrutura


turística; atrativos.

No que se refere a coleta de dados primários de interesse deste estudo,


foram definidas as variáveis de perfil das empresas componentes da amostra, e foi
acrescentado uma pergunta aberta: “Quais as principais dificuldades que a empresa
enfrenta na localidade”, de modo a identificar obstáculos relacionados a perifericidade
enfrentados pelos empreendedores. Para melhor compreender o destino turístico,
procedeu-se a uma entrevista com um representante da Secretaria Municipal de
Indústria, Comércio e Turismo da cidade de Urubici, realizada no dia 11/09/2013.

Coleta e tratamento dos dados

A técnica de coleta de dados primários escolhida para este trabalho foi a


entrevista com roteiro semiestruturado contendo questões abertas e fechadas.
Inicialmente ocorreu o pré-teste do instrumento com dois meios de hospedagens de
Urubici, que evidenciou a necessidade de uma pequena revisão e readequação de
linguagem de algumas questões.

As entrevistas foram realizadas pessoalmente com proprietários ou gestores


dos meios de hospedagem, em visitas às propriedades pelo pesquisador. O tempo
médio das entrevistas foi de 38 minutos. Todos os participantes assinaram um “termo
de consentimento livre esclarecido”.

Os dados das perguntas fechadas foram tabulados no software Microsoft Excel


2013. No caso desta pesquisa, os dados foram analisados por meio de estatística
descritiva, que consiste no resumo de informações em um conjunto de dados. As
perguntas abertas tiveram suas informações transcritas com o auxilio do programa de
pesquisa qualitativa Nvivo 10. Para a organização e análise dos dados qualitativos,
utilizaram-se as técnicas de análise de conteúdo, conforme Bardin (1977) e Gibbs
(2009). Para tanto ocorreu o processo de codificação com a transformação dos dados
brutos por meio de recorte, agregação e enumeração, permitindo assim, atingir uma
representação do conteúdo.

Resultados: Urubici como destino periférico


A cidade de Urubici encontra-se na região Serrana do estado de Santa Catarina,
distante 170 km da capital, Florianópolis. Ambientalmente, a cidade situa-se em
uma área formada por um relevo acidentado com as maiores altitudes do estado. A
vegetação compreende as floras tropical e temperada, com destaque para a floresta
de araucárias, principalmente nas áreas mais preservadas, como nas proximidades do
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Parque Nacional de São Joaquim. O clima é subtropical com variação de temperatura


média anual entre 10ºC a 16ºC. Durante o inverno, ocorrem quedas bruscas de
temperaturas, as quais podem chegar a 0ºC ou até graus negativos. As geadas são
frequentes e esporadicamente neva nas áreas mais elevadas (SEPLAN, 1991).
O acesso a cidade ocorre por meio de rodovias federais e estaduais, sendo que
o aeroporto mais próximo está localizado a 128km em Forquilhinha/SC. A cidade não
conta com rodoviária própria, existe apenas um guichê da empresa de ônibus Reuni-
das, que faz o percurso São Joaquim/ Florianópolis com poucos horários de paradas
em Urubici.

Em relação aos aspectos socioeconômicos, a cidade de Urubici esta situada


em uma das regiões mais pobres do estado de Santa Catarina, o que é demonstrado
principalmente por seus baixos indicadores de saúde, educação e emprego & renda
condensados no índice FIRJAN de desenvolvimento municipal (IFDM) e índice de de-
senvolvimento humano (IDH) (FIRJAN, 2013; PNUD, 2013). Essa situação também se
repete quando analisado a situação econômica expressa no PIB per capita médio da
região, que no ano de 2009 era de R$11.596,70, o menor de Santa Catarina e muito
abaixo da média estadual de R$21.214,53 (SPG, 2013a).

A economia de Urubici é caracterizada pelo setor agropecuário, com destaque


para a produção de hortaliças, ameixas, maçã e caqui (EPAGRI, 2012). A atividade
industrial na cidade é pouco expressiva, e o setor de serviços e comércio é voltado
majoritariamente aos moradores locais (SPG, 2013b). Em uma análise mais especifica
sobre a composição do setor empresarial da cidade verifica-se que ele é composto
majoritariamente por micro e pequenas empresas, que empregam em torno de 72,3%
da mão de obra formalmente registrada na cidade. Quando analisado os salários médios
praticados por atividade econômica, percebe-se que a maioria deles esta abaixo da
média estadual e nacional (SEBRAE, 2013). Esses resultados demonstram que a
situação de emprego e renda na cidade é algo preocupante que leva a compreensão
da necessidade de maior dinamismo econômico.
O município de Urubici possui uma área total de 1.019,20 km2. Sua população
de acordo com o censo de 2010 contava com 10.699 habilitantes, o que representa
uma baixa densidade populacional de 10,5 habilitantes/km2. Quando analisada a evo-
lução populacional, percebe-se que de 1991 para 2000 houve decréscimo, enquanto
na década seguinte (2000 para 2010) apresentou um crescimento pequeno de 447
habitantes. Em relação a participação relativa da população por localização do domi-
cílio, verifica-se que Urubici no ano de 2010 apresentava 34% de sua população loca-
lizada em área rural, valor acima da média estadual de 16% (IBGE, 2013; SEBRAE,
2013; SPG, 2013c).

O turismo em Urubici, assim como na maioria dos destinos periféricos, é com-


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posto majoritariamente por recursos naturais. Além das belas paisagens e do estilo
interiorano e rural, também se destaca o turismo climático, visto que a cidade se loca-
liza na região mais fria do país. Assim, a estação de inverno é o período que Urubici
recebe o maior número de turistas. Muito disso é influenciado pela grande visibilidade
na mídia nacional com notícias sobre as baixas temperaturas na região, atraindo a
atenção de um maior número de pessoas, que visitam a cidade em busca da possibi-
lidade de ver neve.

O levantamento de pesquisas de demanda sobre o turismo em Urubici revela


que a cidade recebeu entre 3 mil a pouco mais de 7 mil turistas mensais, sendo que o
período de menor movimento é dezembro de 2008, e o de maior é maio de 2009. Os
relatórios apresentam que a ocupação dos meios de hospedagem em igual período
permaneceu em entorno de 49,74%, sendo que no mês de julho, a ocupação cresce
para 80,72%, período de inverno e férias escolares, sendo que a permanência média
é de 2 dias. A procedência dos turistas é predominantemente brasileira e do estado de
Santa Catarina, com uma pequena participação dos estados do Paraná, Rio Grande
do Sul e São Paulo. A realidade na cidade de Urubici apresenta uma pequena parcela
do movimento turístico, quando comparado a todo o Estado, que durante o mesmo
período recebeu em média 1,5 milhões de turistas nacionais mensalmente (SANTUR,
2008, 2009).
Para melhor compreender a gestão da atividade turística da cidade, procedeu-
se entrevista com representante da Secretaria Municipal da Indústria, Comércio e
Turismo de Urubici, que revelou que a secretaria é composta por dois funcionários
administrativos, um secretário e um assessor de comunicação, e três funcionários
responsáveis pelas informações turísticas e orientação de visitantes na cidade.
Verifica-se que cabe ao secretário a parte de planejamento e gestão do turismo
da cidade, assim como a elaboração de projetos e busca de recursos e investimentos.
Ao assessor de comunicação é atribuída à função de divulgar a cidade e o contato com
a assessoria de imprensa. A principal meta da administração atual é captar eventos
que amenizem os impactos negativos da sazonalidade.
Outra preocupação apontada na entrevista é quanto a manutenção da
estrutura da cidade funcionando na baixa temporada, principalmente no que se refere
aos restaurantes, que costumam abrir somente aos finais de semana nos meses de
menor fluxo turístico. A secretaria não possui orçamento próprio, o desenvolvimento
de projetos é baseado em captação de recursos externos.

Percepções dos empreendedores


A maioria dos meios de hospedagem entrevistados (68,4%) está localizada na
área urbana da cidade de Urubici, enquanto 31,6% na área rural. Em relação ao tempo
de operação no mercado, verifica-se que 42,1% da amostra classificam-se entre 6 a
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10 anos. Sendo que as demais faixas de operação (1 a 5 anos; 11 a 15 anos; acima de


15 anos) possuem respectivamente 15,8%. Enquanto 10,5% restantes representam
os empreendimentos com menos de 1 ano de funcionamento. Em relação ao porte
das empresas, constata0se que a maioria enquadra-se como microempresa (84,2%).
No que diz respeito a quantidade de unidades habitacionais, há maior concen-
tração de empreendimentos nas faixas que vão de 5 a 15 UHs, totalizando 52,6% das
empresas, e em menor número estão as empresas que possuem acima de 20 UHs,
representando 10,5%. Todos esses dados, podem ser mais bem visualizados na ta-
bela 1:

Tabela 1: Características dos meios de hospedagem investigados (n=19)

Características do Negócio Frequência Porcentagem


Localização da hospedagem
área urbana 13 68,4
área rural 6 31,6

Período de operação (anos)


menos de 1 ano 2 10,5
1a5 3 15,8
6 a 10 8 42,1
11 a 15 3 15,8
acima de 15 3 15,8

Porte da empresa
Micro (até 9 funcionários) 16 84,2
Pequena (10 a 48 funcionários) 3 15,8

Nº de unidades habitacionais
menos de 5 4 21,1
5 a 10 5 26,3
11 a 15 5 26,3
16 a 20 3 15,8
acima de 20 2 10,5
Fonte: Elaboração do autor (2013).


A categorização das respostas qualitativas das entrevistas permitiu identificar
as principais dificuldades associadas à perifericidade enfrentadas pela amostra de 19
meios de hospedagem na cidade de Urubici, gráfico 1:
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Gráfico 1: Principais dificuldades que os meios de hospedagem da amostra en-


frentam em Urubici

Fonte: Elaboração do autor (2013)

Os entrevistados não citaram apenas dificuldades que afetam diretamente os


meios de hospedagem, mas destacaram de modo geral que a infraestrutura urbana
e dos pontos turísticos, assim como a pouca quantidade de estabelecimentos de ali-
mentação são os principais problemas da cidade de Urubici. Em relação aos fatores
que afetam diretamente os meios de hospedagem, destacam-se a mão de obra e a
“pousada alternativa”, assim como questões envolvendo a falta de transporte público,
problemas nas telecomunicações e abastecimento.

A seguir serão apresentados com maiores detalhes os apontamentos feitos


pelos entrevistados para cada um dos itens.

Infraestrutura urbana

A maioria dos empreendimentos, cerca de 12, afirma que a infraestrutura ur-


bana da cidade de Urubici é a principal dificuldade enfrentada pelas empresas, assim
como pelos moradores e turistas que circulam pela cidade. Muitos proprietários evi-
denciam receber reclamações constantes dos hóspedes quanto a infraestrutura da
cidade.
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Os empreendimentos apontam problemas referentes à existência de muitas


ruas em Urubici sem pavimentação, necessitando de manutenção, assim como estra-
das de acesso aos bairros e aos pontos turísticos na área rural da cidade sem terra-
planagem e com muitos buracos. Outro ponto avaliado de forma negativa é a limpeza
urbana, o recolhimento e a destinação adequada para o lixo produzido na cidade.

Os entrevistados também reclamam que a infraestrutura de água e telecomu-


nicações não suporta a alta demanda de turistas durante os períodos de maior movi-
mento na cidade, sendo também comum a falta de energia. Outro comentário relacio-
na-se a necessidade de reforma das paradas de ônibus na cidade.


Infraestrutura dos pontos turísticos

As reclamações sobre a infraestrutura dos pontos turísticos recaem tan-


to no poder público, quanto nos proprietários de áreas particulares onde estão lo-
calizados alguns dos pontos turísticos da cidade. Também é comentada a neces-
sidade de melhorias nos atrativos, como a implantação de banheiros públicos e
opções de estabelecimentos de alimentação, assim como áreas demarcadas para
estacionamento. Nesse sentido os entrevistados destacam que o acesso a muitos
pontos turísticos deveria ser melhorado, assim como eliminação de buracos e desní-
veis nas estradas de terra. Alguns entrevistados comentam da necessidade de melho-
rias na sinalização, limpeza e preservação dos locais, assim como o estabelecimento
de um controle de acesso. Também é evidenciada a primordialidade na implantação
de infraestrutura de segurança contra acidentes.

Além de melhorias na infraestrutura, um dos entrevistados afirma que os pon-


tos turísticos poderiam ser mais bem aproveitados, de modo a proporcionar aos turis-
tas experiências mais enriquecedoras.

Mão de obra

Quanto aos impactos diretos nos empreendimentos, a dificuldade em encontrar


mão de obra é a que recebe maior número de menções. Os gestores apontam que o
principal empecilho na contratação de funcionários relaciona-se aos dias de trabalho.
É revelado que geralmente a população da cidade não quer trabalhar durante os finais
de semana e feriados, sendo que este é o período de maior demanda de profissionais
pelos meios de hospedagem.

Uma justificativa apontada por um empreendedor para a dificuldade de con-


tratação de mão de obra é pela mudança do mercado de trabalho na cidade, na qual
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ainda não esta estabelecida uma cultura de atendimento do setor do turismo. O mes-
mo entrevistado aponta a falta de interesse da população em trabalhar nos meios de
hospedagem em relação com as expectativas pessoais dos profissionais e as oportu-
nidades de trabalho disponíveis.

A realidade do mercado de trabalho no turismo em Urubici demonstra maior


necessidade de profissionais com atuação na área operacional, como limpeza e ser-
viços gerais. O que entra em conflito com as expectativas de muitos funcionários, que
esperam conseguir um cargo administrativo com salário elevado.

Pousada Alternativa

Também é mencionada a falta de regularização da “pousada alternativa”, que


são casas de família sem registro de funcionamento, que hospedam turistas e não
recolhem impostos. São quatro os entrevistados que expressam descontentamento
com a existência de empreendimentos não oficiais em Urubici. Eles alegam que é
uma concorrência desleal, que todos os empreendimentos existentes na cidade deve-
riam ser regularizados.

Estabelecimentos de alimentação

A quantidade de opções de alimentação, assim como os horários de funciona-


mento limitado ao longo da semana, é apontada como sério problema no atendimento
aos turistas que visitam Urubici. No entanto, é admitido o forte impacto da sazona-
lidade, que faz com que as opções de restaurantes acabem por não ter seu funcio-
namento sustentável ao longo da semana, devido ao baixo fluxo de visitantes. Outro
problema mencionado por um empreendedor é quanto aos preços cobrados nos es-
tabelecimentos, que acabam sendo muito elevados, afastando assim os moradores
locais de frequentarem esses estabelecimentos.

Transporte público

A cidade não possui transporte público coletivo, com linha de ônibus diária que
possa trazer e levar as pessoas. Os funcionários precisam utilizar o ônibus regional da
empresa Reunidas, que faz a o trajeto São Joaquim/ Florianópolis, e faz parada em
Urubici, no entanto é ressaltado que os horários desses ônibus são pouco flexíveis.
Neste caso, os proprietários dos meios de hospedagem têm que se organizar parti-
cularmente para buscarem os funcionários, principalmente nos domingos e feriados,
quando não há operação do ônibus regional.
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Telecomunicações

A falta de redes de telecomunicações na área rural é apontada como dificuldade


enfrentada pelos meios de hospedagem nesses locais. É destacado o alto custo para
esses proprietários na instalação de modo particular de uma antena de conexão via
a rádio. Outra questão bastante levantada é a precariedade das conexões de celular
tanto na área urbana, quanto na área rural. E, também a baixa velocidade da internet
nas áreas urbanas, que geralmente são inferiores aos serviços contratados. Um dos
entrevistados que possui um empreendimento localizado na área rural destaca que
o principal culpado pela falta deste serviço são as companhias de telecomunicações,
que não se interessam em investir em melhorias dos serviços nas áreas rurais da ci-
dade devido a pequena quantidade de assinantes.

Abastecimento

Um empreendedor ressalta que enfrenta problemas no abastecimento de pro-


dutos, pois a visita de representantes comerciais de grandes atacadistas com preços
mais competitivos é esporádica, de 15 em 15 dias, o que implica na necessidade do
empreendimento dispor de uma grande área de estoque. Principalmente para produ-
tos de consumo diário, como queijos, presunto, laticínios e congelados. É destacada a
inviabilidade de compra dos mesmos produtos no comércio local devido ao alto custo
para o empreendimento. Isso implica em maiores esforços em questões como previ-
são do consumo e armazenamento.

Suporte técnico de manutenção

Um empreendimento ressaltou que na cidade de Urubici é escassa mão de


obra especializada em manutenção de equipamentos, como por exemplo, calefação.
Nestes casos há necessidade de buscar por profissionais e empresas especializadas
em outras.

Marketing

Enquanto um empreendedor ressaltou a falta de marketing e mídia de Urubici


para atrair mais turistas. Outro empreendedor destaca que para a estrutura atual da
cidade o marketing está adequado, ele destaca uma situação comum em períodos de
alta temporada:
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Aqueles últimos 15 dias de julho que foi o forte da temporada, todo


mundo estava muito irritado, porque a televisão não falava de Urubici.
Graças a Deus! Porque 25% de quem já estava na cidade, não foi
atendido, nem com comida, nem com hospedagem, se eles fazem
mídia, ia ter mais 25%, iria ser 50% de quem veio pra cá falando mal,
então... eu acho que tá num limite para a nossa estrutura. Ainda pre-
cisamos melhorar muito para poder realmente fazer mídia. (Entrevista
5)

Discussão dos dados e conclusões

A revisão de literatura evidencia a existências de criticas ao modelo de


dependência centro-periferia. Elas ressaltam a necessidade de uma análise mais
detalhada sobre as características de perifericidade da localidade, de modo a
identificar e contextualizar as desigualdades existentes. De posse dessas informações
é mais assertivo a proposição de estratégias visando potencializar as consequências
positivas, em detrimento de neutralizar as negativas.
No caso deste estudo, buscou-se caracterizar a cidade de Urubici como destino
periférico no estado de Santa Catarina, identificando as dificuldades associadas à
perifericidade enfrentadas pelo setor de hospedagem na localidade. Os resultados
revelam que Urubici apresenta muitos atributos de perifericidade, tais como: forte
sazonalidade, estrutura empresarial formada predominantemente por micro e
pequenas empresas, infraestrutura deficiente, estrutura econômica fortemente ligada
a setores primários, baixa arrecadação e dependência de recursos externos para
investimento, baixos índices de desenvolvimento socioeconômico e dificuldades de
acesso a importantes centros consumidores. Essa situação sugere maiores desafios
para o desenvolvimento de Urubici como destino turístico competitivo.
A cidade de Urubici possui uma economia predominantemente rural, com baixos
níveis de vitalidade. Neste sentido o turismo representa uma grande oportunidade
para atrair recursos externos e rejuvenescer a economia local. No entanto, as
entrevistas evidenciam que o aumento da importância da atividade turística para a
economia da cidade de Urubici, não foi acompanhada por uma conscientização de
cultura de atendimento e qualificação específica da população para este setor. Os
empreendedores ressaltam dificuldades na contratação de mão de obra local. Outro
empecilho percebido é quanto a atração de profissionais de outras cidades, o que
representa um dificuldade, dado os baixos salários ofertados na cidade.
A sazonalidade desempenha grande impacto no destino, uma vez que o período
de inverno é a estação mais visitada. Diferentemente dos demais meses do ano,
caracterizado por uma baixa ocupação. Neste sentido a literatura aponta a necessidade
de mudar a imagem do destino, de modo a torná-lo atrativo para segmentos específicos,
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que estejam dispostos a visitar a cidade em diferentes períodos do ano.


Um dos entrevistados revelou que muitos empresários na cidade esperam
maiores investimentos em marketing, de modo a atrair mais visitantes para a cidade.
No entanto, este mesmo entrevistado ressaltou que a estrutura local não comportaria
um aumento de demanda. Essa mesma preocupação é expressa no estudo de
Papadimitriou e Gibson (2008), que comenta que regiões periféricas são mais
“frágeis” e o posicionamento errado do destino, pode atrair muitos turistas, causando
a degradação do local.
Os aspectos de infraestrutura básica também afetam a atividade turística na
cidade, principalmente em relação às condições das estradas e acessos aos pontos
turísticos. Também existem comentários sobre a infraestrutura de telecomunicações,
que influencia principalmente os empreendimentos localizados na área rural. Alguns
entrevistados comentam que a culpa é das empresas de telefonia que não têm
interesse em investir em regiões com pequeno número de assinantes. Essa questão
comum em regiões periféricas é justificada pelas empresas de telefonia, segundo
Anckar e Walden (2001), devido aos altos custos necessários para efetuar melhorias
e a baixa demanda de serviços nessas regiões.
A entrevista com o representante da Secretaria Municipal de Indústria, Comércio
e Turismo revelou que a secretaria não possui orçamento próprio, além de contar com
um pequeno número de funcionários, o que evidencia as dificuldades de investimento
e gestão da atividade turística na cidade de Urubici. Essa é uma realidade comum às
regiões periféricas que possuem uma maior dificuldade em atingir o desenvolvimento
sustentável baseado unicamente em seus recursos e entidades. Neste sentido, é de
vital importância o suporte externo (financeiro, técnico e institucional) para superar
essas fraquezas.
Os resultados deste estudo exemplifica o caso de um destino de inverno no
estado de Santa Catarina. Ressalta-se que a facilidade que o pesquisador teve na
obtenção de dados socioeconômicos oficiais sobre a cidade de Urubici, fato este que
pode não se repetir em levantamentos de dados e informações em outras regiões do
país. Sugere-se que sejam desenvolvidas pesquisas em outros destinos turísticos
que apresentem características de perifericidade, de modo a analisar semelhanças e
diferenças, e traçar assim, um quadro que melhor contextualize os desafios a serem
enfrentados no desenvolvimento do turismo nessas regiões.
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DESASTRES NATURAIS EM DESTINO TURÍSTICOS: O CASO DO MUNICÍPIO


DE NOVA FRIBURGO

RESUMO: Este estudo busca identificar como foi realizado o gerenciamento da crise
instalada em Nova Friburgo, município da região serrana do Estado do Rio de Janeiro,
após o desastre de janeiro de 2011, e compará-lo ao modelo de gestão de crises
proposto por Dwyer em seu artigo Tsunamis, hurricanes, terrorism, and ???: Lessons
for the global tourism industry. . O estudo foi feito através de uma pesquisa qualitativa,
com aplicação de entrevistas estruturadas com atores escolhidos estrategicamente,
além de uma análise documental das Atas das Assembleias da Câmara dos Vereadores
do município, relativas ao período de janeiro a dezembro de 2011. A partir desse
estudo conclui-se que houve ineficiência na adoção de medidas estratégicas para
gerir a crise instalada no município de Nova Friburgo. Nenhum dos pilares do modelo
foi completamente seguido, sendo apenas três deles contemplados com algumas
medidas emergenciais adotadas. Aqueles que estão diretamente ligados ao turismo
não foram priorizados na tomada de decisões para reestruturação e não foram objetos
de ação direta do governo municipal.

PALAVRAS-CHAVES: Turismo. Desastres naturais. Gestão de crises. Nova Friburgo.

ABSTRACT:This study aims to identify how was performed the management of the
crisis installed in Nova Friburgo, county in the mountainous region of the estate of Rio
de Janeiro, after the January 2011 disaster, and compare it to the crisis management
model done by Dwyer in his article Tsunamis, hurricanes, terrorism, and ???: Lessons
for the global tourism industry. To conduct this study was made a qualitative research,
which is the application of structured interviews with actors strategically chosen ant
also a documentary analysis of the minutes of the meetings of the city council of Nova
Friburgo, related to the period from January 2011 to December 2011. It was possible
to conclude that, according to the Dwyer model, Nova Friburgo municipal government
showed inefficiency in the adoption of strategic measures to manage the crisis in the
county. None of the model pillars was completely followed, only three of them were
awarded with some emergency measures adopted. Those pillars that are directly linked
to tourism did not presented actions, showing that tourism was not a priority sector in
decision- making by the municipal government to restructuring Nova Friburgo.

KEYWORDS: Tourism. Natural disasters. Crisis management. Nova Friburgo.

INTRODUÇÃO

Desastres são, cada vez mais, uma constante realidade nos mais diversos
pontos do planeta, afetando de forma considerável vários aspectos da sociedade,
tanto o lado social quanto o econômico. Inserido nesse contexto, o turismo é afetado
diretamente com a ocorrência de desastres.
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Exemplos de gestão de crises bem sucedidas demonstram que o eficaz


planejamento e gerenciamento de ações estratégicas, não só diminuem o impacto
dos seus efeitos, mas contribuem de forma efetiva para recuperação do setor turístico
e da economia como um todo.

Dentro desse contexto, o presente trabalho tem como objetivo principal analisar
a gestão da crise levada a termo pelo Governo Municipal de Nova Friburgo, para
gerenciamento do evento ocorrido em 2011, verificando se suas ações se encaixam
no modelo de gestão de crises proposto por Dwyer em sua obra Tsunamis, hurricanes,
terrorism, and ???: Lessons for the global tourism industry, já utilizado como modelo
por outros trabalhos acadêmicos e estruturado dentro do modelo de gestão reativa,
perfeitamente aplicável ao caso. Responder quais dos pilares do modelo de gestão
de crises proposto por Dwyer foram contemplados por essas ações tomadas pelo
governo municipal. A escolha do acontecido em Nova Friburgo se justifica não só
por representar um dos maiores desastres naturais da história brasileira, mas por ter
ocorrido na cidade natal da autora do presente estudo.

Para alcance do objetivo proposto, foi realizada uma pesquisa baseada em


metodologia qualitativa, pela coleta de dados através da aplicação de entrevistas
estruturadas com atores escolhidos de modo estratégico,considerando sua
representatividade e envolvimento com a gestão do município e com a atividade
turística. A pesquisa incluiu, também, uma revisão bibliográfica sobre o tema e uma
análise documental das Atas das Assembleias da Câmara dos Vereadores do Município
de Nova Friburgo, relativas ao período de janeiro de 2011 a dezembro de 2011.

DESASTRES NATURAIS: CONCEITOS E NÚMEROS

O mundo sempre passou por eventos considerados catastróficos,causadores de


significativo volume de danos materiais, inúmeras vítimas fatais e um forte sentimento
de medo e impotência nas populações atingidas. Sua frequência e intensidade
crescem a cada ano, com aumento dos prejuízos gerados e, consequentemente, com
um aumento da preocupação de quem administra os locais atingidos e os que são
considerados vulneráveis.
Dependendo da intensidade em que ocorrem, esses eventos catastróficos são
considerados como desastres.A UN-ISDR1 considera desastre como:

Uma grave perturbação do funcionamento de uma comunidade ou de uma


sociedade envolvendo perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientais
de grande extensão, cujos impactos excedem a capacidade da comunidade
ou da sociedade afetada de arcar com seus próprios recursos. (UN-ISDR,
1 Sigla para The united Nations Office for Disasters Risk Reduction. Criada em Dezembro de
1999 como parte do secretariado das Nações Unidas com o objetivo de assegurar a implementação
da Estratégia Internacional para Redução de Desastres.
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2009 apud SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DE SÃO PAULO, 2009, p.


13).

A conceituação doutrinária dos desastres é muito próxima entre os diversos


autores. A maioria aborda os grandes prejuízos causados para a comunidade afetada,
tornando difícil a recuperação econômica e social e estabelecendo uma verdadeira
crise.

Quanto à classificação, as distinções mais utilizadas são quanto à origem,


intensidade e evolução. Dentro da classificação pela origem estão os desastres
naturais, juntamente com os desastres humanos e os mistos. (ALCÂNTARA-AYALA,
2002; MARCELINO, 2008). Segundo Marcelino (2008) desastres naturais são o
resultado do impacto de um fenômeno natural extremo ou intenso sobre um sistema
social, que não tenham relação com a ação humana, causando prejuízos e danos que
excedem a capacidade dos afetados em conviver com esse impacto.

Os desastres naturais são os mais antigos registrados na história do mundo.


Os fenômenos naturais que os desencadeiam, tempestades, terremotos e vulcões,
fazem parte da dinâmica natural do planeta. Contudo, têm aumentado sua frequência
e intensidade.

O Brasil, em 2008, foi o 13° país mais atingido por desastres naturais, com
2 milhões de pessoas afetadas principalmente pelas chuvas. Já em 2011, o Brasil
mudou de posição no ranking e ficou em 9º lugar. No mesmo ano, na classificação
dos dez piores desastres por número de mortes, o Brasil atingiu a 3ª posição, devido
ao desastre ocorrido em janeiro na região serrana do estado do Rio de Janeiro. A
catástrofe contabilizou 900 óbitos, ficando atrás apenas da tempestade tropical
Sendong nas Filipinas e da Tsunami no Japão. (EM-DAT, 2012).

DESASTRES NATURAIS E TURISMO

O turismo é um setor da economia mundial que vem crescendo significativamente.


Segundo dados do Ministério do Turismo (2013) as receitas do turismo internacional
mais que duplicaram na última década, passando de US$483 bilhões, em 2002,
para US$1030 bilhões em 2011. O turismo apresenta aproximadamente 35% das
exportações mundiais de serviços e mais de 70% em países menos desenvolvidos.
Em todo o planeta, 938 milhões de turistas se deslocaram em 2010. Já em 2011,
houve um aumento de aproximadamente 5%, totalizando cerca de 982 milhões de
turistas. (Ministério do Turismo, 2013; OMT, 2008 apud PHILIPPI JR.; RUSCHMANN
2010).

O turismo é um dos setores da economia que sofre com os efeitos dos desastres.
Mesmo com a maturidade do mercado turístico é inevitável que o crescimento do setor
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diminua. Já é comprovado que em muitos destinos turísticos o crescimento do turismo


é interrompido ou até mesmo diminuído quando ocorre algum fenômeno trágico no
local ou em suas proximidades. (COOPER, 2005).

Marinus Groenendal, diretor no Brasil do grupo hoteleiro espanhol Serhs,


afirmou em entrevista ao Jornal O Norte Online (2005 apud COUTINHO, 2007), que
catástrofes naturais são entraves ao desenvolvimento da atividade turística. O diretor
também deu exemplos de perdas estimadas de mais de quatrocentos milhões de
reais a cifras na casa das dezenas de bilhões de reais em cidades brasileiras que
foram alvos de desastres.

As catástrofes naturais são causadoras de crises nos destinos turísticos que


atingem, destruindo, principalmente, a imagem de um destino.Para Dwyer (2005,
tradução nossa), uma crise é qualquer evento inesperado que afeta a confiança dos
viajantes em um determinado destino e interfere na operação normal do mesmo.
Acrescenta ainda que eventos de crise sempre tiveram relevância para o turismo.
Desde o início do turismo de massa na década 1960, crises como as guerras, desastres
naturais, atentados terroristas, epidemias e colapsos econômicos tem impactado na
escolha do destino e até mesmo na decisão de viajar.

Inundações, furacões, tornados e terremotos, dependendo de sua intensidade,


acabam por destruir a infraestrutura das regiões atingidas, elemento fundamental
para que o turismo aconteça, afetando também o trade turístico local. Muitos atrativos
e hospedagens são extintos ou perdem parte de sua construção, assim como as
agências e o setor de serviços em geral, que acabam perdendo mão de obra.

Portanto, para que a oferta turística dos destinos afetados pelos desastres
naturais seja reconstruída e a confiança dos turistas restabelecida, é necessária a
elaboração de estratégias para uma gestão da crise por parte do governo local.

GESTÃO DE CRISES EM DESTINOS TURÍSTICOS

A literatura sobre gestão de crises é relativamente nova e seus estudos


começaram as ser mais frequentes e aprofundados a partir do atentado terrorista do
11 de setembro aos Estados Unidos, tendo se concentrado na ameaça do terrorismo.
Apenas a partir de 2004, com as crises posteriores do tsunami na costa da Ásia e
da África, e de 2005, com a passagem do furacão Katrina sobre a região de Nova
Orleans que os estudos na área de gestão de crises a partir de catástrofes naturais
começaram a surgir. (BLAKE; SINCLAIR 2003; RITCHIE, 2008).

Apesar dos crescentes estudos, existem poucos conceitos de gestão de crises,


pois é difícil defini-la por sua complexidade. Um deles foi elaborado por Santana (2003,
1166
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tradução nossa) que profere que gerenciamento de crise pode ser definido como um
esforço contínuo e integrado que os governos implantam numa tentativa de entender
e evitar crises e, efetivamente, gerenciar aquelas que ocorrem.

Na literatura é habitual a divisão da gestão da crise entre duas vertentes: a


proativa e a reativa. A gestão reativa, é a reação após o evento, se concentra em
ações a serem tomadas quando a crise está acontecendo, quando o desastre já
atingiu o local. (TOUBES; BREA, 2012). Essa vertente é a que mais vem sendo
utilizada, porém sua reconstrução é mais complicada, pois os estragos causados pelo
desastre são maiores, muitas das vezes até irreversíveis, e o dinheiro necessário a
essa reconstrução será muito maior.

Com o aumento na frequência e da intensidade dos desastres,a ONU decretou


a década de 1990 como a década de prevenção a desastres naturais. E houve uma
mudança no paradigma, de uma cultura de reação para uma cultura de prevenção. A
partir daí, foi criada a outra vertente da divisão da gestão de crises, a gestão proativa.
Ao contrário da anterior, se concentra na antecipação a um acontecimento negativo
em termos de prevenção. Nessa gestão o governo local deve prever a crise e elaborar
estratégias para minimizar seus impactos quando ela de fato chegar ou até mesmo
fazer com que ela não aconteça. (ALVES, 2011).

Dentre os estudiosos da crise, o autor Dwyer (2005) se destaca ao apresentar,


em seu artigo “Tsunamis, hurricanes, terrorism, and ???: Lessons for the global tourism
industry”, medidas estratégicas a serem adotadas baseadas em lições aprendidas
a partir da ocorrência de dois grandes desastres: o tsunami que atingiu a Ásia em
dezembro de 2004 e o furacão Katrina que devastou Nova Orleans em agosto de
2005.

A partir das lições de Dwyer, e da ausência de outros modelos eficazes que


deixasse bem claro as estratégias a serem implantadas em uma gestão de desastres,
foi formulado, para o desenvolvimento do estudo, um modelo de gestão de crises que
contém seis pilares estratégicos a serem seguidos. (Figura 1).

FIGURA 1: MODELO DE RESPOSTA À CRISE


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Modelo de resposta à crise

Restaurar a infraestrura pública

Restaurar o governo e a administração civil


Seis pilares Estimular a economia local - prover assistência
estratégicos econômica e financeira à indústria do turismo
do modelo Criar novas oportunidades turísticas

Promover intensiva campanha de marketing

Prevenção a futuros desastres


Fonte: Elaboração própria a partir das ideias de Dwyer (2005).

O DESASTRE DE JANEIRO DE 2011

A região serrana do Estado do Rio de Janeiro já registrava chuva de baixa


intensidade desde o inicio de 2011.Com dez dias de chuvas o solo ficou encharcado.
O professor Paulo Canedo, coordenador do Laboratório de Hidrologia da Coppe/
UFRJ, explicou a conjunção de eventos que causou a tragédia:

Foi quando no dia 10 de janeiro uma frente fria vinda do Sul passou por
São Paulo, que ficou debaixo d’água, e chegou ao Rio e à Região Serrana,
em forma de chuva forte que pegou toda a serra fluminense. A essa chuva
juntaram-se chuvas típicas de verão, que normalmente são como pancadas,
fortes mas de curta duração. Essas chuvas verticais, que chamamos de
chuvas de verão, têm curta duração porque se alimentam de umidade
lateral. Quando a umidade é baixa, elas morrem de inanição. Mas, naquele
dia, na Região Serrana, um evento aconteceu: uma ligação atmosférica
entre a Região Amazônica e o Centro do Brasil levou umidade de Manaus
até a Região Serrana, alimentando as chuvas que lá caíam. Isso foi um fato
singular: chuva de frente fria conjugada com chuvas de verão[...] A chuva
forte em vez de demorar 15 minutos, demorou 4 horas e meia. (CANEDO,
2012 apud QUAINO, 2012, [s.p.]).

A conjunção a que o autor se refere, propiciou um condensamento localizado


em cima da Serra dos Órgãos, formando nuvens superiores a 10 km de altura, no
seu epicentro. A consequência foi a ocorrência de um desastre natural de grande
intensidade na região, devastando municípios. Os mais atingidos e que registraram
algum tipo de ocorrência foram Nova Friburgo, Petrópolis, Teresópolis, São José do
Vale do Rio Preto, Bom Jardim, Areal e Sumidouro. Dentre estes, Nova Friburgo foi
o mais afetado, contabilizando um maior número de perdas materiais e humanas.
(COORDENADORIA REGIONAL DE DEFESA CIVIL, 2011).

Após a forte chuva, quando amanheceu, já no dia 12 de janeiro, o município


estava devastado. Com o solo encharcado, houve muitos deslizamentos de terra.
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Segundo a Coordenadoria Regional de Defesa Civil (2011), foram contabilizados 431


deslizamentos, que foram responsáveis pela maior parte das vítimas (Figura 2).

A inundação e os deslizamentos destruíram 513 imóveis, deixando 4.070


parcialmente destruídos, que terão de ser demolidos. Com os imóveis destruídos, 3.796
pessoas ficaram desabrigadas (949 famílias) e outras 4.528 ficaram desalojadas, sem
poder voltar para suas casas por se localizaram em áreas de riscos. (COORDENADORIA
REGIONAL DE DEFESA CIVIL, 2011; SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
DE NOVA FRIBURGO, 2011).

De acordo com o relatório de operações de buscas a vítimas fatais do corpo


de bombeiros, foram encontrados até o dia 24 de fevereiro de 2011, quando as
buscas foram consideradas concluídas, um total de 427 corpos. Alguns ainda ficaram
desaparecidos. (COORDENADORIA REGIONAL DE DEFESA CIVIL, 2011).

FIGURA 2: IMAGEM AÉREA DOS DESLIZAMENTOS DE TERRA DE NOVA


FRIBURGO PROVOCADOS PELA CHUVA DE JANEIRO DE 2011.

Fonte: CBMERJ, 2011.

A ONU inseriu a tragédia do dia 12 de janeiro ocorrida em Nova Friburgo no


ranking dos dez piores deslizamentos do mundo. O primeiro aconteceu em 1949 na
União Soviética, que registrou 12 mil mortos. Também é o pior deslizamento de toda
a história do Brasil e a segunda pior catástrofe natural do país, a primeira é uma
epidemia de meningite de 1974 em São Paulo ainda contabilizada pela ONU como o
maior desastre natural do País. (ONU [...], 2011).
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CRISE NO TURISMO

A tragédia ocorrida em janeiro de 2011 que atingiu Nova Friburgo deixou


cicatrizes fortes na economia local, fazendo o município entrar em crise. A economia
baseada em atividades como turismo, indústrias de moda íntima, têxteis e metalúrgicas,
flores de corte, olericultura e caprino cultura, foi abalada por essa crise instalada no
município. (PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA FRIBURGO, 2013).
A indústria de moda íntima, poloresponsável por 22% de toda produção
nacional e um dos principais atrativos turísticos do município, sofreu indiretamente
com o ocorrido. As empresas sofreram com a falta de matéria prima, por conta de
fornecedores friburguenses que foram atingidos, e também com a falta de mão de
obra. Algumas perderam seus funcionários por falecimento e pelo êxodo de muitas
famílias para outros locais em busca de segurança. (SAYURI, 2013; A tragédia [...],
20112; Após tragédia [...], 20113).
O turismo, grande potencial de Nova Friburgo, foi fortemente afetado pelo
desastre. Muitos atrativos turísticos e hotéis foram atingidos pelos deslizamentos de
terra, prejudicando a oferta turística do município. Além do teleférico, um dos principais
atrativos friburguenses, que não tem previsão para voltar a funcionar, o Teatro Municipal
teve seu anfiteatro destruído, a Praça das Colônias4 ainda está fechada, o Jardim do
Nêgo (espaço com grandes esculturas em formas de animais e pessoas, feitas nos
morros) teve algumas estruturas atingidas e a cachoeira conhecida como Véu das
Noivas não existe mais, além de outros que foram atingidos, mas que continuaram
operando. (BONIN, 2011; SAYURI, 2013).

Com as notícias do desastre sendo veiculadas por todos os meios de


comunicação, turistas deixaram de pensar em Nova Friburgo como um destino.
Segundo o Nova Friburgo Convention & Visitours Bureau - NFRC&VB (2010), o setor
de turismo no município vinha apresentando números favoráveis ao seu crescimento
e consolidação até 2010. No ano de 2010, de acordo com o levantamento realizado
pela Secretaria de Turismo de Nova Friburgo e pelo NFRC&VB, os meses de maio,
junho, e julho apresentaram uma média na taxa de ocupação de 98%, 14% acima do
registrado no mesmo período de 2009, como mostra a figura 3. (NOVA FRIBURGO
CONVENTION & VISITORS BUREAU, 2010).

No entanto, em 2011, os meses de maio, junho e julho registraram uma taxa


de ocupação nos hotéis e pousadas de Nova Friburgo de 59%, 75% e 63%,
respectivamente, chegando a uma média de 65,6%. (NOVA FRIBURGO CONVENTION
2 A tragédia [...],2011. Disponível em: <http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/a-tragedia-empresa-
rial-em-nova-friburgo/> Acesso em: 23 Maio 2013.
3 Após tragédia [...], 2011. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/874877-apos-
tragedia-no-rio-friburgo-enfrenta-exodo-de-mao-de-obra.shtml> Acesso em: 23 Maio 2013.
4 Conjunto com dez salas destinadas às colônias que ajudaram a construir a história de Nova
Friburgo, localizada ao lado do Teatro Municipal, na Praça do Suspiro, Centro.
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& VISITORS BUREAU, 2013).

Esses números, apesar de serem muito baixos para a época, já demonstraram


uma leve recuperação do setor, pois no Carnaval de 2011, que ocorreu na primeira
semana de Março, dois meses após a tragédia de janeiro, a taxa de ocupação do
município foi de 47%. Em 2010 essa taxa foi de 90%.

FIGURA 3: TAXA DE OCUPAÇÃO DE NOVA FRIBURGO DE 2008 A 2011.

Período/ Ano 2008 2009 2010 2011


Carnaval 90% 95% 90% 47%
média dos meses
de maio, junho e 69% 84% 98% 65,60%
julho
Fonte: Elaboração própria a partir de dados fornecidos pelo Nova Friburgo Convention &
Visitours Bureau, 2013.

Esse cenário é difícil de ser revertido considerando a teoria de Dwyer (2005),


debatida na segunda seção desse trabalho, de que a segurança é o principal
determinante na escolha do destino por um turista. Se o destino apresenta algum tipo
de perigo, ou, a mídia diz que apresenta e enfatiza essa ideia, o consumidor adia ou
cancela a viagem. Por isso a importância da gestão da crise.

GESTÃO DA CRISE EM NOVA FRIBURGO


Essa seção apresenta um diagnóstico das ações tomadas pela Prefeitura de
Nova Friburgo para a gestão da crise provocada pelo desastre ocorrido no município
em janeiro de 2011. Para tal, foram realizadas duas entrevistas estruturadas: uma com
o Vereador Professor Pierre, que foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito -
CPI da tragédia, e outra com o proprietário do Hotel Sanjaya, José Leonardo Mattos da
Silva. Também foi feita uma análise documental das Atas das Assembleias da Câmara
dos Vereadores do Município de Nova Friburgo, relativas ao período de janeiro de
2011 a dezembro de 2011.

Os conteúdos obtidos nas entrevistas foram examinados à luz do preconizado


no diagnóstico das ações com base no modelo de gestão reativa da crise proposto por
Dwyer (2005), que possui seis pilares de ações estratégicas para a reconstrução do
turismo local. Cada uma das subseções a seguir enfoca um pilar do modelo de Dwyer
(2005).
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RESTAURAR A INFRAESTRUTURA PÚBLICA

As primeiras ações do governo municipal foram de recuperação da infraestrutura


pública, para retomadadas atividades dos diversos setores de Nova Friburgo.
Começando pela limpeza das ruas, já a partir do dia 12 de janeiro, a Companhia
Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro – Comlurb retirava mais de 800
toneladas de lama, lixo e entulho, por dia, das ruas. No dia 18 de janeiro, já era
possível a abertura de boa parte do comércio local devido à limpeza realizada. (Nova
Friburgo [...], 20115).

Passada a fase emergencial, terrenos para a construção de moradias para


as famílias desabrigadas começaram a ser analisados, e no dia 12 de janeiro de
2012, a empresa Odebrecht Infraestrutura, através do governo do estado, iniciou as
obras. Em 28 de maio de 2013 foram entregues as primeiras 50 casas. (SECRETARIA
DE ESTADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E DIREITOS HUMANOS, 2013; RANGEL,
2013).

Obras de acessibilidade também foram previstas. A RJ-116, de entrada à Nova


Friburgo, sofreu ocorrências de deslizamentos que acabaram interditando a estrada.
A partir do dia 13 de janeiro de 2011 ela já estava liberada no sistema de pare e sigae
as obras de recuperação da rodovia foram iniciadas.

De acordo com o Vereador Professor Pierre, as ações para restaurar a


infraestrutura pública foram muito pontuais e insuficientes para o município voltar a
ser o que era. Muitas ruas, principalmente as mais afastadas do centro, não foram
recuperadas até 2014 e não há previsão para que isso ocorra. Obras mais significativas
para a restauração da infraestrutura pública não aconteceram porque Nova Friburgo
padece de um planejamento. Não havia recursos financeiros para obras maiores, pois
o que tinha não foi gerido da maneira correta e o que o Governo Federal dispunha para
cidades atingidas por desastres naturais não foi alcançado pelo governo municipal por
falta de um projeto de obras.

Apesar dos muitos trabalhos não terminados e falta de projetos de obras para
a recuperação total da infraestrutura de Nova Friburgo, pode-se considerar que esse
primeiro pilar do modelo de Dwyer foi contemplado com algumas medidas tomadas
pelo governo municipal, sobretudo no que diz respeito à limpeza.

RESTAURAR O GOVERNO E A ADMINISTRAÇÃO CIVIL – COOPERAÇÃO E


COMUNICAÇÃO

5 Nova Friburgo [...], 2011. Disponível em: <http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/nova-


friburgo-retira-800-toneladas-de-lixo-por-dia-das-ruas-20110121.html> Acesso em: 28 Maio 2013.
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Com relação à comunicação entre os setores do governo municipal de Nova


Friburgo, foi percebido durante a entrevista com o Vereador Professor Pierre que há
falhas e desencontros de informações. Segundo o vereador, não estão bem definidos
os papéis de cada um desses setores na gestão do município, principalmente em
situações de crises.

Com a falta de comunicação, faltaram também informações e ações


importantes para que fosse criada uma estratégia de ação para a reconstrução do
município. Segundo o Vereador Professor Pierre, a prefeitura sequer conhecia a lei
do governo federal que regula o sistema nacional de tragédias, e perdeu dinheiro
para a reconstrução. Os recursos repassados através dessa lei pelo governo federal
são para limpeza e para emergências. Não sabendo disso, o prefeito em exercício na
época foi afastado do governo em novembro de 2011 por contratar empresas para a
realização de obrascom esses recursos.

Em relação à comunicação do governo com a população, houve um pequeno


avanço. Constam na ata da assembleia da Câmara dos vereadores de Nova Friburgo,
do dia 1 de março de 2011, indicações de reuniões itinerantes em bairros atingidos
pela tragédia para a discussão de necessidades e melhorias dos mesmos. Segundo
o Vereador Professor Pierre, esse processo foi muito embrionário. Essas reuniões só
começaram a acontecer de fato em 2012 e não rendeu o esperado. Para o vereador
esse processo de ouvir a população é muito complexo, pois quando ouviam uma
comunidade não eram necessidades coletivas, os moradores pediam para que
necessidades pessoais fossem atendidas.

O município avançou na questão da aliança entre o setor público e o privado.


Por uma proposta legislativa foi criado o Conselho de Desenvolvimento de Nova
Friburgo – CODENF, que tem como finalidade propor ao governo municipal políticas de
desenvolvimento socioeconômico. O conselho possui caráter deliberativo e consultivo
e suas atribuições são exercidas em parceria com entidades da sociedade civil e
poder público. O CODENF é formado por membros voluntários distribuídos em 13
câmaras técnicas. São elas: agronegócios, responsabilidade social e esportes; jovens
empreendedores; educação e cultura; saúde; marketing; indústria; infraestrutura;
captação de recursos e atração de investimentos; turismo; micro e pequenas empresas;
segurança, justiça e cidadania; e construção imobiliário civil. (CODENF, 2013).

Mesmo que incompleto, pode-se considerar que o segundo pilar do modelo de


Dwyer também foi contemplado,por medidas tomadas pelo governo de Nova Friburgo,
principalmente pela criação de câmaras itinerantese a criação de uma aliança entre os
setores público e privado, o CODENF.
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ESTIMULAR A ECONOMIA LOCAL – PROVER ASSISTÊNCIA ECONÔMICA E


FINANCEIRA À INDÚSTRIA DO TURISMO

Nova Friburgo adotou medidas para aumentar a liquidez das empresas.


Segundo o Vereador Professor Pierre, houve uma anistia de impostos, como o IPTU
e o ISS, e também um perdão de juros de quem estava com o pagamento desses
impostos atrasado.

Já o proprietário do Hotel Sanjaya, José Leonardo Mattos da Silva, discorreu


em entrevista que não houve nenhuma política de incentivo ao turismo. Segundo ele,
o que foi oferecido foram apenas empréstimos a juros menores pelo BNDES. Para o
empresário essa medida não resolveu o problema das empresas, apenas postergou o
fôlego das mesmas, pois como a demanda turística do município ainda não voltou ao
normal, muitos empresários não estão tendo como pagar estes empréstimos.

Na ata da assembleia do dia 20 de janeiro de 2011 da câmara dos vereadores,


consta um projeto do executivo autorizando a criação do fundo de combate a
situação de emergência e/ou calamidade pública. Esse fundo contaria com recursos
financeiros reservados para a reconstrução econômica do município frente a uma
crise, provendo assistência à indústria do turismo. Quando perguntado, em entrevista,
sobre esse fundo, o Vereador Professor Pierre proferiu que ele foi criado e que consta
no orçamento da cidade, mas não foi implementado porque não está em consonância
com o plano nacional. Para o vereador, faltou um estudo maior sobre o assunto e
sobre como fazer um projeto desses.

Diferentemente dos dois primeiros pilares, esse terceiro não pode ser
considerado como contemplado pelo governo do município. A anistia de impostos
e oferecimento de empréstimos a juros menores apenas postergaram o problema.
Além disso, não houve uma proximidade do governo com o trade turístico, medida
estratégica presente nesse terceiro pilar de Dwyer.

CRIAR NOVAS OPORTUNIDADES TURÍSTICAS

O proprietário do Hotel Sanjaya, José Leonardo Mattos da Silva, afirmou em


entrevista que Nova Friburgo poderia criar oportunidades de várias maneiras a partir
do desastre ocorrido em janeiro de 2011. Segundo ele, a primeira oportunidade veio
logo nos primeiros dias após a catástrofe, mas o município não soube aproveitá-la. A
taxa de ocupação obtida pelos hotéis nos primeiros dias após o desastre veio através
de jornalistas que foram cobrir a tragédia e funcionários de empresas que fariam algum
tipo de serviço na reconstrução de Nova Friburgo. Para o empresário “foi o ápice do
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turismo de negócios. Esta foi a primeira oportunidade”.

A imagem de Nova Friburgo ficou abalada pela constante aparição na mídia da


destruição ocorrida no local. Segundo o Vereador Professor Pierre:

Infelizmente a mídia colabora com uma imagem negativa da cidade, e não


foi só na tragédia [...] Toda vez que tem tragédia no estado do Rio de Janeiro
Nova Friburgo é vinculada, mesmo que não tenha caído um pingo d’água
aqui. [...] Caiu numa visão no país, e está até hoje com essa marca. Há um
dano à imagem da cidade imenso.

Para José Leonardo, dessa imagem negativa poderia surgir outra oportunidade
para o turismo. Segundo ele “tínhamos nosso nome na mídia, podíamos ter feito desse
limão uma limonada”. A recuperação e superação do município poderia ter sido toda
noticiada, mostrando às pessoas de fora o que estava sendo feito no local ao invés
de não deixar sair da memória dos turistas em potencial a imagem de destruição e
insegurança.
O Vereador Professor Pierre acrescenta ainda que a tragédia poderia ter sido
um impulso para a criação de uma identidade para Nova Friburgo. Segundo ele as
cidades que passam por situações de crises criam identidades:

Friburgo não tem rosto! Ninguém define o rosto de Friburgo! [...] As cidades que
saíram de situações difíceis criaram identidades para elas. Nós perdemos a
identidade e até hoje procuramos. Hoje a identidade de Friburgo é o desastre.

Esse quarto pilar pode ser considerado um dos mais importantes, por apresentar
as medidas estratégicas para a volta do crescimento turístico, porém, igualmente ao
terceiro pilar, esse também não pode ser considerado contemplado por ações tomadas
pela Prefeitura de Nova Friburgo.

PROMOVER INTENSIVA CAMPANHA DE MARKETING

Nova Friburgo não apresentou medidas estratégicas em relação ao marketing.


Nas atas das assembleias da câmara dos vereadores não foram encontrados nenhum
projeto do executivo nem indicações da câmara para campanhas de marketing.

Em entrevista, José Leonardo Mattos da Silva, quando perguntado sobre esse


assunto afirmou que ainda não houve nenhuma medida com relação ao marketing do
município.
O marketing que houve foi negativo, vindo das mídias que noticiavam a todo
instante imagens do município destruído.

Além de não ter havido intensiva campanha de marketing para que os números
do turismo voltassem a crescer, não houve nenhuma iniciativa para apagar a imagem
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negativa que passou a fazer parte de Nova Friburgo após o desastre de janeiro de
2011. Portanto, o quinto pilar do modelo de Dwyer foi mais um entre os seis que não
pode ser considerado contemplado pelo governo de Nova Friburgo, já que nenhuma
ação voltada para o marketing do município foi tomada.

PREVENÇÃO A FUTUROS DESASTRES

Consta na ata da assembleia do dia 03 de fevereiro de 2011 da câmara dos


vereadores de Nova Friburgo uma indicação de projeto de lei para a criação do
Programa de Prevenção a Catástrofes do município. Quando perguntando sobre esse
programa, o Vereador Professor Pierre afirmou que só foi proposta e que nem chegou
ao legislativo. Segundo o vereador “na verdade houve ações desarticuladas, isoladas
e pontuais, que foram chamadas de plano de gestão riscos. Mas não tem esse plano
organizado”.
Uma das ações pontuais citadas, mas que foi realizada pelo governo do estado
em parceria com o INEA, foi o mapeamento de áreas de risco. O município foi mapeado
por geólogos e houve restrições totais e parciais de ocupação. (INEA, 2013). A defesa
civil do município também fez vistoria em imóveis de localidade consideradas de risco
e condenou alguns para serem demolidos. No final de janeiro de 2011 esses imóveis
começaram a ser demolidos. (Friburgo [...], 20116).
Outra ação realizada no município foi a implantação de sirenes de alerta
nos bairros considerados de risco. Com recurso do governo do estado, 38 sirenes
começaram a ser instaladas no final do ano de 2011. Em caso de acionamento das
mesmas a população é orientada a sair de casa e ir para um ponto de apoio pré-
determinado. (FREITAS, 2011).
Para que esse processo de deslocamento da população em caso de emergência
funcione a Defesa Civil de Nova Friburgo educa e conscientiza a população de
áreas de riscos. Para isso, são realizados simulados de evacuação dessas áreas.
Uma série de palestras sobre prevenção também fazem parte das ações da defesa
civil do município para que as pessoas se conscientizem de que há o risco e que
elas necessitam saber como agir para que nada de ruim aconteça. As palestras são
realizadas nos próprios bairros, geralmente em escolas municipais. (PREFEITURA
MUNICIPAL DE NOVA FRIBURGO, 2013 b).
A defesa civil também criou um quadro de interpretação dos estágios de alerta
de chuvas para que a população saiba como agir em cada um dos alertas, que quando
são decretados são divulgados através de programas de rádio, de televisão e por
mensagens enviadas via celular.
Segundo o Vereador Professor Pierre a defesa civil foi o setor do governo
municipal que mais desenvolveu essa questão da prevenção em Nova Friburgo, pelo
6 Friburgo [...]. 2011. Disponível em: <http://odia.ig.com.br/portal/rio/friburgo-come%C3%A7a-a-
demolir-casas-em-%C3%A1reas-de-risco-1.284475> Acesso em: 11 Jun 2013.
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fato de terem sido tomadas medidas de educação e conscientização da população.


Porém, acrescenta que o município precisa desenvolver muito esse assunto, e que
infelizmente não existe um planejamento para a gestão de desastres porque a política
de gestão do município é reativa.
Acrescenta ainda que “as tragédias são muitas vezes utilizadas como
mecanismos para se conseguir dinheiro fácil a partir de contratos emergenciais”. Investir
em prevenção não possibilita a isenção de licitação para contratos, diferentemente de
situações de emergência.
Nova Friburgo, assim como toda a região serrana do estado do Rio de Janeiro
e muitas cidades do país, possui vulnerabilidade a desastres naturais, dessa forma,
esse sexto e último pilar do modelo de Dwyer, apesar de ter sido considerado
contemplado pelas ações do governo municipal, deveria ser mais levado a sério, para
que próximos eventos adversos não signifiquem tantas perdas estruturais, econômicas
e, principalmente humanas, como em janeiro de 2011.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maior frequência e intensidade dos desastres, está fazendo com que a gestão
de crises se modifique, passando, aos poucos, de uma política de reação para uma
política de prevenção. Contudo, ainda há muito a ser discutido e desenvolvido nessa
área para que as consequências dos eventos adversos deixem de ser tão danosas
para a sociedade.

Buscou-se, neste estudo, identificar a política de gestão adotada pelo governo


municipal de Nova Friburgo frente ao desastre natural ocorrido em janeirode 2011 e
verificar se essa se encaixa ao modelo de gestão de crise proposto por Dwyer.

Tal identificação constituiu um desafio, na medida em que a burocracia impediu


o acesso a informações importantes e postergou ao máximo o contato com as atas
das assembleias da câmara dos vereadores. Também houve muita dificuldade na
obtenção de dados estatísticos a respeito da atividade turística, uma vez que órgãos
municipais de Nova Friburgo, ligados ao turismo, não possuem esses dados.

Após a análise das atas das assembleias da Câmara dos Vereadores de


Nova Friburgo, relativas ao período de janeiro de 2011 a dezembro de 2011, foi
possível observar que não houve nenhuma discussão para colocar em prática um
gerenciamento de crise. O que consta nas atas são indicações ao executivo de ações
isoladas, a maioria de recuperação de ruas.

Com as entrevistas realizadas com o Vereador Professor Pierre e com José


Leonardo Mattos da Silva, proprietário do Hotel Sanjaya, observou-se que houve
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ações pontuais para a recuperação do município. Ações essas que não abrangeram
estratégias diretas para a recuperação e desenvolvimento do turismo local.
Pode-se concluir, através da análise das entrevistas e das atas das assembleias
da câmara dos vereadores, que o governo municipal de Nova Friburgo apresentou
ineficiência na adoção de medidas estratégicas para gerir a crise instalada no município
de acordo com o modelo de gestão proposto por Dwyer. As ações foram emergenciais
e insuficientes, deixando todos os pilares do modelo em questão incompletos. Sendo
assim, aqueles que contaram com alguma medida tomada pelo governo municipal
foram considerados contemplados.
Portanto, foi possível observar que não houve uma preocupação, por parte
do governo, com a recuperação do turismo. A atratividade de um destino turístico
depende muito do que é oferecido por ele e pela imagem que se tem do mesmo. Nova
Friburgo não considerou esse fato e não adotou uma política de reestruturação de
sua oferta e imagem, deixando a imagem de local perigoso e destruído presente na
memória de todos. Pode-se concluir através dessa observação que o setor de turismo
não é uma prioridade do governo municipal de Nova Friburgo.
Com base neste trabalho foi possível diagnosticar a emergencial necessidade
de estudos de gestão reativa de crises por parte do poder público do município que
permitam uma eficiente recuperação do município frente a situações de desastres.
Além disso, é justificável sugerir que seja realizada a mudança de política a ser
adotada nessas situações, de gestão reativa de crise para a gestão proativa.

Desastres frequentes quebram muito o crescimento e desenvolvimento de


setores, principalmente o turismo. Assim, a política preventiva pode ser posta em
prática com vistas a permitir o melhor aproveitamento do potencial turístico de Nova
Friburgo.

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state=pop_up&p_p_mode=view&_exibeconteudo_INSTANCE_2wXQ_struts_
action=%2Fext%2Fexibeconteudo%2Fview&_exibeconteudo_INSTANCE_2wXQ_
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Departamento de Turismo

A RELAÇÃO ENTRE OS ATORES DA REDE TURÍSTICA DE JUIZ DE FORA-MG:


MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE DA REALIDADE DO TURISMO NO MUNICÍPIO

Tatiana Martins Montenegro1

RESUMO: A atividade turística é formada por uma cadeia produtiva de elementos


variados que interagem continuamente. O grande número de elementos dificulta o
planejamento e gestão do turismo, no entanto, ao visualizar a cadeia como uma rede
e os elementos como atores, identificando seus respectivos papéis, o controle da
atividade tende a ser mais bem efetuado. O presente estudo apresenta uma análise
do setor turístico do município Juiz de Fora- MG, compreendendo o papel de cada um
dos atores da rede e suas respectivas relações. Para tal, foram realizadas entrevistas
com turistas, residentes, cooperativa local, iniciativa pública e privada, apurando as
múltiplas visões. Os principais ruídos identificados na rede turística juiz-forana é a
falta de ações de divulgação por parte do Departamento de Incentivo ao Turismo e a
ausência de reconhecimento do município como polo turístico por parte dos turistas e
residentes.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Redes. Atores. Juiz de Fora.

ABSTRACT: The tourism industry is made ​​up of a production chain of varied elements that interact
continuously. The large number of elements makes the planning and management of tourism, however,
to view the chain as a network and the elements as actors, identifying their respective roles, control
the activity tends to be better made. This study presents an analysis of the tourism sector of the
municipality of Juiz de Fora- MG​​, understanding the role of each actor in the network and their
relationships. To this end, interviews with tourists, residents, local cooperative, public and private
initiative were performed, calculating the multiple views. The main noise identified in the tourism
network juiz-forana is the lack of dissemination activities by the Department for Encouragement of
Tourism and the lack of recognition of the city as a tourist hub of tourists and residents.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Tourism. Networks. Actors. Juiz de Fora.

INTRODUÇÃO

O turismo é um fenômeno multidisciplinar que envolve elementos diversos


em sua composição. Abrange áreas do setor privado como hotéis, restaurantes, casas
de shows e viações de transporte; do setor público como o Ministério do Turismo,
Secretarias e Conselhos municipais; Organizações Não Governamentais; turistas e a
comunidade local, nas suas mais variadas formas.
Para gerir todos esses elementos de modo que as atividades turísticas ocorram

1 Graduada em Turismo e Comunicação Social. Mestre em Letras. Professora Substituta do


Curso de Turismo da Universidade Federal de Juiz de Fora. tatiana.marmon@yahoo.com.br
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em harmonia não é uma tarefa simples, contudo, existem instrumentos facilitadores


que contribuem para que o indivíduo usufrua de todos os serviços enquanto turista e
vivencie a experiência do modo mais satisfatório possível.
Ferramentas de análise organizam a cadeia turística durante o planejamento
e gestão da atividade e uma das alternativas de visualizar com mais clareza o
funcionamento da atividade turística seria considerar o turismo como uma grande
rede.
O presente estudo apresenta o conceito de redes e o sobrepõe ao setor
turístico. No momento seguinte, serão analisados os atores que compõe a rede turística,
suas características e de que forma podem contribuir para o melhor funcionamento da
atividade.
Posteriormente, esses conceitos serão aplicados à realidade turística de Juiz
de Fora. O principal município da Zona da Mata mineira ainda é pouco vislumbrado
como um relevante polo de turismo. O objetivo, portanto, é identificar as razões pelas
quais o setor é pouco reconhecido, de acordo com a opinião dos envolvidos, e de que
maneira a interação dos atores pode contribuir para a transformação desta realidade.
Para alcançar as propostas traçadas, serão realizados estudos bibliográficos
e pesquisas qualitativas com cada um dos atores submergidos na cadeia turística de
Juiz de Fora. Deste modo, serão apresentadas entrevistas com moradores; turistas;
profissional de hotelaria; produtor de uma cooperativa local e a chefe do Departamento
de Incentivo ao Turismo da Prefeitura de Juiz de Fora.
Compreendendo diferentes pontos de vista, torna-se mais simplificado e seguro
identificar os possíveis ruídos presentes na rede turística do município e propor
soluções para o desenvolvimento do setor turístico local.

1. REDES: UMA TRADUÇÃO ESTRUTURAL DA HIPERMODERNIDADE

A sociedade do século XXI vive tempos que, de acordo com LIPOVETSKY e


CHARLES (2004) podem ser considerados hipermodernos. As transformações mais
relevantes da sociedade hipermoderna estão atreladas à evolução tecnológica.
Essas novas tecnologias se fazem presentes no cotidiano dos indivíduos
por meio de conexões que formam as redes de computadores, redes sociais e
profissionais, redes de telefonia, dentre outras que permeiam o universo dos indivíduos
contemporâneos.
RUIZ (et al., 2005) define redes como elementos invisíveis, democráticos e
informais, nas quais a existência só é percebida no momento em que é ativada por
seus agentes. A ligação entre os membros ocorre por um propósito, isto é, a rede
existe por um motivo comum que leva um grupo de objetos e indivíduos a participar
das mesmas conexões. E é o perfil desses seres, inanimados ou não, que formam a
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identidade da rede.
CASTELLS (2000, p.498) as define como “estruturas abertas capazes de
expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-
se dentro da rede”. Observa-se, portanto, o dinamismo das relações recorrentes nas
redes. Constantemente, novas conexões são desenvolvidas e transformadas. CAPRA
(2001) salienta ainda que o sistema aberto das redes faz com que elas realizem
interações contínuas com o ambiente.
Uma importante característica apontada por MARTINHO (2003) é que, pelo
fato de possuir uma estrutura semelhante a uma teia, não há hierarquia entre os
componentes da rede, ou seja, os papéis desempenhados por todos os membros
possuem a mesma relevância.
A estratégia de construção de alianças entre instituições que pertençam a uma
mesma rede é vista de modo benéfico por diversos autores como GUERRINI (2005)
e ZAGO (et al., 2007). Desenvolvendo parcerias, os membros complementam-se uns
aos outros, agregam valor à atividade, reduzem custos e tornam-se mais eficientes
e competitivos, o que resulta na melhor qualidade do serviço prestado. A troca de
informações entre indivíduos e organizações de uma mesma rede possibilita ainda
compreender melhor quais são as necessidades de cada me membro. É um processo
de ajuda mútua.
Neste momento, compreende-se porque as redes são adequadas ferramentas
para a análise do estudo do turismo: um sistema aberto, dinâmico e que deve manter
seus elementos em posições semelhantes. O assunto será aprofundado no capítulo
a seguir.

2. REDES E TURISMO: UM REFLEXO DA CADEIA PRODUTIVA

O turismo é considerado uma indústria por muitos teóricos, como BENI (1997).
A indústria faz parte do setor econômico e como todo elemento ligado à economia é
composto de oferta, demanda e produto. A oferta turística, de acordo com a Organização
Mundial de Turismo (OMT, 2001, p.43) pode ser denominada como “produtos turísticos
e serviços postos à disposição do usuário turístico num determinado destino, para seu
desfrute e consumo”. A demanda é composta pelos os indivíduos que consomem a
oferta turística, ou seja, os visitantes de um destino. O destino faz parte do produto
turístico. De acordo com BATISTA (1990 apud LIVRAMENTO, 2012, p.17):

O produto turístico é uma mistura de tudo quanto uma pessoa pode consumir,
utilizar, experimentar, observar e apreciar durante uma viagem ou uma estada,
o que inclui […] serviços de agência de viagem, alojamento, restaurantes,
transporte, diversões, aquisições de produtos de recordação, contatos
sociais com outros turistas e com população locais […].
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De acordo com a OMT, a atividade turística chega a impactar 52 setores da


economia simultaneamente. Ao reunir todos estes elementos e atores, obteremos um
esquema de cadeia turística.

CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO

Fonte: CEFET apud Setur – Paraná.

Ao examinar a figura acima, percebe-se que a cadeira produtiva do turismo


possui uma estrutura em rede, composta de múltiplas conexões. É importante
considerar que, quanto maior a rede, mais difícil é o controle dos componentes, no
entanto, reforçar a interação de todos os agentes é fundamental. Com ruídos ou
ausência de comunicação entre os elementos, as falhas tendem a se tornar maiores
e perceptíveis pelos turistas. Se a atividade turística não ocorre de forma satisfatória
para o consumidor, o tempo de permanência é reduzido e a rentabilidade tende a
diminuir.
Desta forma, analisar o turismo como uma rede torna-se uma alternativa
pertinente para a compreensão das relações entre os atores envolvidos na atividade,
sintonizando-os da melhor maneira para que todos permaneçam em estado de
satisfação.
O Poder público é um ator fundamental à rede turística. De acordo com
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IGNARRA (2003 p. 186) “não é possível se produzir turismo sem que haja, direta ou
indiretamente, uma participação do Poder Público”. Como entes participantes deste
grupo, é possível mencionar o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro de Turismo
(Embratur) e as Secretarias Estaduais e Municipais de Turismo. Estas instituições
utilizam a atividade turística como ferramenta de desenvolvimento local, regional e
nacional. É de responsabilidade do Poder Público atentar-se à segurança, limpeza,
transporte; planejar o território; arrecadar impostos e fornecer informações turísticas.
O Brasil, ao contrário da maior parte dos países que desenvolvem a
atividade turística conjuntamente entre os setores público e privado, passou décadas
desenvolvendo uma política de turismo fechada, segmentada e pouco participativa
(IGNARRA, 2003). Com a criação do Ministério do Turismo, em 2003, esta realidade
entrou em transformação e a gestão turística tornou-se descentralizada, isto é,
os municípios tem autonomia para desenvolver as atividades que considerarem
pertinentes ao local, de modo sustentável e participativo.
A descentralização permitiu ainda a criação da política de Regionalização do
Turismo. O programa propõe que cidades pertencentes a uma mesma região trabalhem
de forma conjunta, de acordo com suas características, potencializando e propiciando
a consolidação de produtos turísticos de relevância.
A iniciativa privada, por sua vez, refere-se às empresas como agências
de viagens, viações, meios de hospedagens, restaurantes e todos os outros setores
que estão diretamente envolvidos com o turismo. Estes atores são responsáveis
por organizar as viagens; abrigar e alimentar turistas; permitir seus deslocamentos;
fornecer e distribuir bens atrelados aos produtos turísticos. A importância desses
agentes encontra-se no fato de que são estes que estabelecem o contato direto com
o turista.

As ONG’s, Organizações Não Governamentais, participam da rede turística,


sobretudo ao desenvolver ações direcionadas ao desenvolvimento sustentável,
tendência mundial que, segundo BARBOSA (2008, p.01) “é aquele que atende as
necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras
atenderem suas próprias necessidades”.
Por estar de passagem em uma localidade, o turista deve manter ciência de
suas ações, atuando de modo sustentável, pois após sua partida, outros indivíduos
usufruirão dos equipamentos e serviços do destino. Para isso, o visitante deve prezar
pela conservação do local.
O turista é o ator que vislumbra o destino como um objeto de consumo,
disposto a vivenciar experiências positivas. De acordo com a OMT, são várias as
razões que levam um turista a se deslocar para determinado destino. Dentre elas,
férias e lazer; visitas a familiares e amigos; negócios e motivos profissionais; religiosos;
tratamento médico, dentre outros.
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A comunidade local isto é, os residentes e nativos do destino, são os atores que


mais sofrem com os impactos causados pela atividade turística, sejam estes positivos
ou negativos. Por deste fator, deveriam ser consultados a respeito de toda e qualquer
atividade, o que não ocorre com frequência (LOHMANN e PANOSSO NETTO, 2008).
Os residentes também são atores importantes por usufruírem dos equipamentos
e serviços turísticos do mesmo modo que o turista, sendo aqueles responsáveis por
herdar o legado proveniente das práticas turísticas e dos investimentos efetuados
pelos órgãos públicos no destino.
A relação entre o anfitrião e o visitante torna-se deveras importante,
pois quando o turista é bem atendido e sente-se acolhido, sua experiência tende a
ser satisfatória e o retorno ao destino torna-se mais provável. A população local não
necessita ver o turista estritamente como um hóspede, como poder enxergar nele um
cliente em potencial. Assim fazem as cooperativas, atores que exploram qualidades
locais em potencial e desenvolvem produtos como alimentos e artesanatos e vendem
aos visitantes.
Para isso, as cooperativas necessitam de auxilio do poder público para financiar
e promover seus produtos junto à comunidade local e aos turistas. A temática será
mais abordada com mais detalhes posteriormente, com o exemplo das relações da
rede turística de Juiz de Fora-MG

3. O SETOR TURÍSTICO DE JUIZ DE FORA-MG

O município de Juiz de Fora está situado na Zona da Mata do Estado de Minas


Gerais, com uma área de 1.429,875 km², população de aproximadamente quinhentos
mil habitantes e, segundo o site da Prefeitura2, possui uma das mais altas expectativas
de vida no Brasil com excelente qualidade de vida. O Produto Interno Bruto da cidade
é de R$6,2 mil. Possui ainda localização privilegiada já que encontra-se próxima da
capital do Estado, Belo Horizonte (270 km) e do Rio de Janeiro (180 km).
Juiz de Fora beneficia-se não somente pela localização, mas também por possuir
infraestrutura capaz de atrair grandes empreendimentos, eventos mercadológicos e
acadêmicos, como feiras e congressos. Por esta razão o segmento de Negócios e
Eventos é destaque no turismo local. Além disso, a cidade abriga importantes centros
históricos, como o Museu Mariano Procópio - segundo maior Museu Imperial do Brasil
– e o Museu de Arte Murilo Mendes.
A cidade também oferece cultura e música. Possui a Orquestra Filarmônica
Pró-Música e sedia o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música
Antiga de Juiz de Fora. O Cine Theatro Central é considerado patrimônio cultural e já
foi palco de grandes espetáculos.

2 Disponível em: www.pjf.mg.gov.br/cidade


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Conhecida como Manchester Mineira devido a sua importância para o Estado de


Minas Gerais, Juiz de Fora atrai estudantes de várias partes do país devido ao grande
número de Instituições de Ensino Superior, incluindo a Universidade Federal de Juiz
de Fora. Isto contribui para que grande parte da população local seja de jovens, fator
que estimula os negócios gastronômicos do município. O grande número de bares e
restaurantes favoreceu a chegada de um dos maiores festivais gastronômicos do país,
o Comida di Buteco. Além deste evento, a cidade realiza o JF Sabor, movimentando
ainda mais o segmento de alimentos e bebidas3.
O grande número de estudantes faz com que as festas de formatura aqueçam
o mercado de eventos Shows, teatro e cinema são atividades oferecidas como
entretenimento aos que encontram-se na cidade de Juiz de Fora, que possui um
shopping de grande porte e muitas casas noturnas.
O Departamento de Incentivo ao Turismo da Prefeitura desenvolve atualmente
atividades relacionadas ao setor, dentre elas, um Calendário de Eventos com uma
agenda anual e sempre atualizada; o INVITUR, ferramenta de planejamento e
mapeamento da oferta turística; o Programa de Apoio a Projetos Turísticos; participa da
“Rede de Negócios de Turismo e Eventos de Juiz de Fora” organizado pelo SEBRAE4;
desenvolve o Fórum Mais Ação e Agilidade na Organização de Eventos5; possui o
recurso ICMS Turístico; revitaliza atrativos turísticos como o Morro do Cristo que foi
recentemente reformado e criou o novo portal do turismo com mais informações sobre
a cidade.
Além de todos esses serviços, Juiz de Fora participa do Programa de
Regionalização do Turismo em Minas Gerais. Associações de Circuitos Turísticos
Mineiros representam a descentralização da política pública de turismo em diversos
municípios.
As Associações reúnem um conjunto de municípios de uma mesma região,
com afinidades culturais, sociais e econômicas, unidos para organizar e desenvolver a
atividade turística regional. De acordo com a Secretaria de Estado de Turismo de Minas
Gerais (SETES-MG), os Circuitos Turísticos  são definidos como uma determinada
área geográfica, caracterizada pela predominância de certos elementos da cultura,
da história e da natureza. Juiz de Fora é cidade polo do Circuito Turístico Caminho
Novo, composto também pelos municípios de Santos Dumont, Matias Barbosa, Simão
Pereira e Santana do Deserto.
3 Comida di Buteco e JF Sabor são concursos gastronômicos que acontecem de uma a duas
vezes por ano. A oferta pode incluir petiscos, entradas, pratos principais, sobremesas e bebidas. As
melhores receitas são escolhidas por jurados especializados em gastronomia e pelos frequentadores
dos estabelecimentos. Além do sabor, é avaliado a higiene e o atendimento.
4 O trabalho consiste em facilitar a atuação dos parceiros, oferecendo suporte e facilitando o
acesso aos prestadores de serviços de outras cidades, do planejamento à realização do evento no
município.
5 O fórum busca criar um ambiente favorável à realização de eventos com a agilização dos
processos e consequente redução da burocracia em Juiz de Fora
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Departamento de Turismo

Diante de tantas informações positivas provenientes do Portal do Turismo6,


entende-se que a atividade turística é diversificada em Juiz de Fora e funciona de modo
satisfatório para todos os envolvidos, no entanto, para certificar se esta afirmação é
verdadeira e se este fato é condizente com a realidade, serão investigadas as opiniões
de cada um dos envolvidos na rede turística de Juiz de Fora.

4. RELACIONAMENTO ENTRE OS ATORES DA REDE TURÍSTICA DE JUIZ


DE FORA-MG: UM ESTUDO QUALITATIVO

No mês de junho de 2014 foram realizadas entrevistas com cinco atores que
compõe a rede turística de Juiz de Fora. Representantes do setor público, privado,
cooperativa local, residentes e turistas relataram seus diferentes olhares em torno da
atividade turística municipal. Foram abordadas questões referentes à responsabilidade
dos órgãos públicos; ao relacionamento entre os atores, às impressões dos produtos
turísticos locais e a divulgação dos mesmos. Os resultados serão apresentados a
seguir.

4.1 OLHAR DO ÓRGÃO PÚBLICO MUNICIPAL: MELHORIAS E


OPORTUNIDADES

A representante do setor público entrevistada foi a chefe do Departamento


de Incentivo ao Turismo da Prefeitura de Juiz de Fora, Tatyana Hauck Herdy Hill. O
local funciona no mesmo ambiente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico,
Trabalho e Geração de Emprego e Renda, ambos localizados nas instalações oficiais
da Prefeitura de Juiz de Fora.
Até o ano de 2013, o espaço responsável pela atividade turística em Juiz de Fora
era denominado Núcleo de Turismo.  A mudança, que ocorreu junto à troca de gestão
municipal tem sido benéfica, segundo Tatyana: “o turismo não tinha estrutura formal,
com cargos, definições e atribuições. Com a criação do departamento garantimos que
independente da administração que entre a estrutura seja mantida”.
A chefe do departamento acrescentou que houve um aumento no número de
colaboradores, o que oportunizou o preenchimento de vagas para profissionais do
turismo.
No que diz respeito à situação atual do turismo em Juiz de Fora, Tatyana
afirma que o trade - composto pela Prefeitura, pelo Conselho Municipal de Turismo
(COMTUR) e pela rede de Negócios de Turismo do SEBRAE - encontra-se bem
integrado, trabalhando de forma conjunta, organizada e com o mesmo foco, evitando

6 Disponível em: www.portaldoturismo.pjf.mg.gov.br.


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ações que possam se sobrepor e fortalecendo os projetos de incremento do setor.


Foi levantada uma questão referente ao Turismo de Negócios e Eventos,
principal segmento da cidade. De acordo com a turismóloga, a prioridade continua
sendo esse ramo, entretanto, o turismo gastronômico, cultural, ecológico e de lazer
não são colocados à parte. Eles são responsáveis por incentivar a estadia do próprio
turista de negócios que vem a cidade para participar de um evento ou trabalho
empresarial e prolongar sua estada, agregando valor e gerando mais divisas para a
cidade. O turismo gastronômico em Juiz de Fora, segundo Tatyana, está em ascensão
e merece destaque.
No que tange a descentralização da atividade turística foi levantado o nível de
autonomia do poder público municipal. A entrevistada afirma que Prefeitura trabalha
de acordo com as políticas públicas propostas pelo Governo Federal e Estadual, tendo
plena independência para propor e executar projetos que visem o fortalecimento do
segmento, como a Regionalização do Turismo. Na visão da profissional, a Estrada
Real não tem o aproveitamento devido em relação a todo o seu potencial. Quanto
ao Circuito Turístico Caminho Novo, é atuante e desenvolve projetos com as cidades
pertencentes, objetivando o incremento da atividade turística na região.
Com relação ao turismo participativo em Juiz de Fora, Tatyana assegura que os
residentes têm papel preponderante no setor. Disserta ainda que:

A participação da população de Juiz de Fora mostra-se presente através da


intensa participação de órgãos, entidades e empresas do setor em discussões
de temas e proposição de projetos a serem implementados na cidade pela
administração municipal através do Conselho Municipal de Turismo.

Seria imprescindível apontar questões referentes ao relacionamento entre


o poder público e as cooperativas do município. A profissional alega que parcerias
com associações estão sendo efetuadas por meio de projetos de inserção produtiva
desenvolvidos pelo Circuito Turístico Caminho Novo. O projeto, segundo Tatyana, é
recente e está em fase de concepção e estruturação.
Já a relação do Departamento de Incentivo ao Turismo com a iniciativa privada
(hotéis, restaurantes, etc), a chefe afirma ser de proximidade, pois todos os setores
estão representados no COMTUR e participam das discussões sobre as temáticas
referentes ao turismo em Juiz de Fora.
Foi questionada qual seria a grande carência do setor turístico municipal.
Tatyana declara que o grande desafio atual é a captação de recursos para execução
de projetos. Para isso, seria necessário um auxilio de verbas maior, proveniente do
Ministério do Turismo.
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4.2 O OLHAR DA INICIATIVA PRIVADA: PARCERIAS LIMITADAS

As empresas turísticas de Juiz de Fora foram representadas neste estudo pelo


Victory Suites7, meio de hospedagem existente há cinco anos, destinado aos turistas
de negócios, um dos principais tipos de consumidores dos produtos turísticos do
município. A entrevista foi realizada com a turismóloga e recepcionista Clara Almeida.
De acordo com a profissional, o segmento de Negócios e Eventos é, de fato,
bastante aquecido, entretanto, enfrenta períodos de declínio nos meses de junho e
julho. “Por conta das férias, a taxa de ocupação é muito baixa”.
Ao ser questionada a respeito da existência de alguma sociedade entre o hotel
e o Departamento de Incentivo ao Turismo de Juiz de Fora, Clara afirma desconhecer
qualquer tipo de aliança. Também são inexistentes parcerias com cooperativas.
Com relação a parcerias entre outras empresas da iniciativa privada, a turismóloga
confirma a ocorrência: “o hotel faz parcerias com agências, bares, restaurantes e
casas noturnas”. A divulgação do hotel é realizada nas redes sociais e por meio de
patrocínios de eventos e casas noturnas.

4.3 O OLHAR DA COOPERATIVA: UM DESEJO POR RECONHECIMENTO

A fim de complementar o estudo e compreender melhor como funciona a


relação entre os atores, foi vista como fundamental a investigação em torno das
cooperativas juiz-foranas, que realizam trabalhos independentes como produção e
vendas de produtos artesanais e agropecuários, dentre eles, de alimentos e bebidas. A
Associação de Produtores Rurais da Agroindústria Familiar de Juiz de Fora (Agrojuf) é
uma das cooperativas de referência no município foi o objeto escolhido para a análise.
A entrevista ocorreu em um dos espaços de negócios do grupo, um stand no
Mercado Municipal Bernardo Mascarenhas8. O entrevistado foi o produtor Geraldo
Tadeu de Almeida, responsável pela comercialização dos produtos da Agrojuf e
tesoureiro da Associação, fundada em 2003 com o apoio da Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER – MG). Para se
associar a Agrojuf, o empresário da agroindústria necessita desenvolver produtos
qualificados e passar por uma avaliação da EMATER.
Os objetivos da Agrojuf, segundo Geraldo, seria a integração dos produtores
da agroindústria familiar de Juiz de Fora em prol de um crescimento econômico,
divulgação dos produtos mineiros e preservação do patrimônio gastronômico local.
Dentre os produtos desenvolvidos e comercializados pela Associação encontra-se a
cachaça, o queijo minas, geleias, mel, pães, biscoitos e compotas de doces (doce de
7 A rede Victory ainda possui mais um meio de hospedagem na cidade, denominado Victory
Business.
8 O mercado localiza-se na parte central de Juiz de Fora.
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leite, cocadas, etc).


A Associação possui, atualmente, dois pontos de venda na cidade de Juiz
de Fora: um espaço no Mercado Municipal Bernardo Mascarenhas e uma loja no
Terminal Rodoviário Miguel Mansur. No que diz respeito aos frequentadores de ambos
os locais, Geraldo afirma que, no Mercado Municipal, os frequentadores são tanto
turistas, quanto visitantes. No momento em que ocorria a entrevista, uma turista de
Curitiba-PR comprava doces no stand da Agrojuf.
Os consumidores locais, segundo o produtor estão em sua maioria fidelizados ao
negócio e realizam as compras no ponto de venda central: “Muitos clientes aparecem
com frequência aqui no Mercado Municipal nos procurando”. Já os clientes do terminal
rodoviário são mais variados: “Normalmente são turistas que estão deixando a cidade
e resolvem levar uma lembrança de última hora. Muitos deles nunca experimentaram
nossos produtos”.
Foi levantado se existe algum tipo de parceria com empresas privadas e
Geraldo respondeu que sim. Os produtores fornecem os alimentos para mercearias,
mercados típicos e lanchonetes de Juiz de Fora. A Agrojuf também fornece produtos
para a merenda escolar.
No que tange às alianças com o órgão público municipal, o produtor afirma ser
praticamente inexistentes: “não há parcerias com a Prefeitura, ela cede os pontos de
venda de forma gratuita e nos convidam para participar de alguns eventos. Não existe
qualquer outro tipo de parceria”.
Geraldo se diz insatisfeito com a situação e afirma que alianças com a Prefeitura
seriam essenciais para o crescimento da Associação. Segundo ele, o negócio ainda é
pouco reconhecido e divulgado. “Também precisaríamos de um auxílio de transporte.
A falta de veículos prejudica o fornecimento dos produtos”.

4.4 O OLHAR DOS TURISTAS QUE VISITAM JUIZ DE FORA- MG: POUCA
INFORMAÇÃO

Para realizar as entrevistas, foram acionadas redes de contato da pesquisadora


e entrevistados três turistas que visitaram a cidade de Juiz de Fora recentemente.
O empresário Breno Magrani Rastelli é morador da cidade de Três Rios-RJ,
situada a 60 km de Juiz de Fora- MG. O entrevistado visita a cidade mineira cerca de
três vezes ao ano para visitar amigos e familiares, contudo, acredita que o segmento
de destaque seja de fato o turismo de Negócios e Eventos: “vejo a cidade como um
centro de negócios”.
A turismóloga Júlia Fonseca de Castro reside em Belo Horizonte, capital mineira
que localiza-se a 270 km de Juiz de Fora- MG e visita raramente o município da Zona
da Mata, apenas por motivos profissionais, todavia, para Julia, o turismo de Negócios
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e Eventos é considerado intenso na cidade. “A parada gay é bem famosa”, afirma a


turismóloga.
O administrador de empresas Rafael Marassi Reis é residente na cidade de
Barra Mansa-RJ, situada a 176 km de Juiz de Fora– MG e visita o município com
frequência a lazer. Rafael considera a atividade turística gastronômica como a mais
intensa e diz que os bares despertam a atenção dos visitantes.
Todos os entrevistados, embora possuam motivos e tempos de permanência
distintos em Juiz de Fora, afirmam não vislumbrar o município como um polo turístico.
Breno responsabiliza a falta de divulgação turística da cidade e de seus atrativos.
Rafael também desconhece os pontos turísticos: “o forte são as baladas e não sei o
que fazer de manhã”. Julia é categórica:

Acho que faltam espaços públicos de lazer na cidade. Não conheço também
nenhum evento, a não ser a parada gay (que tem público muito específico),
que aconteça na cidade e que seja componente da identidade de Juiz de
Fora. Acho que faltam atrativos culturais. Em relação às outras modalidades
de turismo, sei que é possível encontrar produtos de turismo de aventura e
ecoturismo, mas não conheço.

Foi questionado se algum dos turistas conhecia a Associação de Produtores


Rurais da Agroindústria Familiar de Juiz de Fora (Agrojuf) e todos os entrevistados
desconhecem a cooperativa. Quanto ao Circuito Turístico Caminho Novo, apenas
Julia ouviu falar, entretanto, nunca o visitou.
Os turistas também foram unânimes ao afirmar que o turismo de Juiz de
Fora carece de promoção de determinados atrativos. Para Breno, “falta uma maior
divulgação do cenário histórico/cultural, os únicos eventos divulgados são festas em
boates”.

4.5 O OLHAR DOS RESIDENTES DE JUIZ DE FORA: CARÊNCIA DE DIVULGAÇÃO

Bem como a pesquisa com os turistas, as redes de contato da pesquisadora


foram ativadas para a realização das entrevistas com os residentes de Juiz de Fora.
Foram entrevistados doze indivíduos da comunidade local e suas impressões a
respeito da atividade turística serão relatadas nesse momento.
Um fato peculiar de ser salientado é que, dos doze entrevistados, metade
considera Juiz de Fora um polo turístico relevante e a outra metade não vislumbra
a cidade por um viés turístico. A estudante Ana Beatriz Faria e a dentista Rossana
Lovisi responsabilizam a falta de investimentos no setor como principal fator de
não reconhecimento da atividade turística local. Para o publicitário Thadeu Augusto
Carvalho, a cidade deve ser reconhecida por ser marcada por importantes fatos
históricos
1193
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A grande maioria dos residentes destaca o segmento de Negócios e Eventos


como o mais relevante de todos. Na visão do estudante Cristian Garcia, “por ser uma
cidade universitária, ocorrem vários eventos como congressos/simpósios /cursos
que atraem à comunidade acadêmica de todo o país”. A jornalista Carolina Fellet
complementa:

Devido à grande quantidade de comércio e potencialidade imobiliária, Juiz


de Fora se torna um bom lugar para o Turismo de Negócios, possuindo bons
espaços para realização de eventos e convenções, diversos empreendedores
têm a possibilidade de aqui buscar uma forma de implantar suas ideias
através de ações práticas.

Alguns entrevistados chegaram a mencionar o Turismo Hospitalar e de Lazer,


como importantes segmentos para a cidade. O segmento histórico-cultural, para a
grande maioria, é o que mais carece de atenção. A jornalista Luciana Carvalho ressalta:

O que mais se via, na tv e jornais era o Museu Mariano Procópio fechado por
muito tempo por causa de uma obra que não se concluía durante os anos. O
Parque da Lajinha também ficou fechado por muito tempo e não tem qualquer
atração para visitação, o espaço parece inacabado da reforma.

A educadora física Ingrid Mello aponta que faltam meios de transporte para
levar os turistas e moradores aos atrativos: “só é possível o acesso ao Morro do Cristo
por automóvel”. A dentista Aline Maria Couto complementa: “o Morro do Cristo foi
revitalizado, mas o acesso ao local é bastante perigoso”.
Bem como os turistas, os residentes também questionam a deficiência de
atrativos culturais. O empresário Daniel Defilippo afirma que o Centro Cultural Bernardo
Mascarenhas está abandonado. Para a desig Iara Lage, “são pouco reconhecidos e
patrocinados eventos como o Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga,
apesar de recebermos turistas de vários lugares, até mesmo internacionais”.
Houve um aspecto negativo referente à atividade turística juiz-forana que todos
os residentes concordaram: a falta de divulgação dos eventos e atrativos por parte
dos órgãos públicos. Ingrid afirma que as Juiz de Fora, bem como cidades adjacentes
percebem a promoção de eventos somente por parte da esfera privada, como shows
e festas em boates. De acordo com o corretor de imóveis Massai Valle Primeiro:

Juiz de Fora carece de maior publicidade do Turismo Histórico, por toda


importância que a cidade possui no cenário nacional e também no Turismo de
Lazer, que atrai inúmeras pessoas de cidades vizinhas, decididas a consumir
os produtos e serviços que a cidade oferece.

Como solução para os problemas, outra unanimidade: Investimentos que


divulguem o turismo na cidade, exploração correta dos pontos turísticos e projetos
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para aguçar interesses dos moradores e turistas da cidade.


No que diz respeito à hospitalidade, todos enxergam como benéfica a presença
de turistas na cidade e afirmam ser cidadãos hospitaleiros.
Para finalizar, outra declaração peculiar: dos doze entrevistados, apenas três
disseram conhecer a Associação de Produtores Rurais da Agroindústria Familiar de
Juiz de Fora e o Circuito Turístico Caminho Novo, outro possível reflexo da ausência
de divulgação do produto turístico local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos aspectos levantados até o momento, é plausível considerar que


as redes são importantes ferramentas para a compreensão da cadeia produtiva de
turismo e que estudar os atores, compreender suas respectivas funções e promover a
interatividade entre os membros pode ser uma possível solução para o desenvolvimento
da atividade turística.
Juiz de Fora é um município com elevado potencial turístico, oferece atrativos
dos mais variados segmentos e possui bens materiais relevantes, no entanto, foi claro
perceber que todas estas qualidades não estão sendo reconhecidas pelos moradores
e turistas. Tudo leva a crer que a grande deficiência do setor encontra-se na falta
de divulgação do produto turístico local, sobretudo das ações advindas dos órgãos
públicos.
A sociedade, bem como os turistas e os empreendedores locais, reconhecem
o investimento em promoção da esfera privada, sobretudo no que diz respeito ao
segmento de Negócios e Eventos, contudo, a sensação desses atores é que os outros
segmentos e atividades de responsabilidade da Prefeitura estão sendo recebendo
pouca atenção.
Se a chefe de Departamento de Incentivo ao Turismo afirma que ações estão
sendo realizadas nesses âmbitos, considera-se que, de fato, o grande ruído da rede
turística de Juiz de Fora é a ausência de divulgação, tanto dentro, quanto fora do
município.
Uma possível proposta para minimizar a questão seria o aumento da divulgação
das ações por parte dos órgãos públicos, como por exemplo, por meio da utilização
das redes sociais que é capaz de abranger um grande número de pessoas.
Aos locais, é sugerida a ocorrência de reuniões públicas entre o Departamento de
Incentivo ao Turismo, a SETES-MG e o COMTUR, com a participação da comunidade
local para que estes possam estar cientes do que está sendo realizado no âmbito
turístico do município.
Cooperativas como a Agrojuf também merecem mais atenção e destaque por
parte da Prefeitura. Os produtos deveriam ser divulgados em um maior número de
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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eventos e veículos deveriam ser cedidos para facilitar o transporte realizado pelos
produtores. A iniciativa privada também deveria aumentar sua rede de alianças e
firmar parcerias com cooperativas.
Todas as ações sugeridas são simples e executáveis, no entanto, considera-
se importante a população local compreender que Juiz de Fora possui, de fato, uma
identidade e contribuir para que esta seja também divulgada. A promoção de um destino
é realizada por todos os atores e para que a atividade turística do município evolua,
todos, sem exceção, devem estar dispostos a contribuir e manter-se em constante
interação.

REFERÊNCIAS

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supermercadista. Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v.4, n.1, p.57-70,
2007.
1197
XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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Departamento de Turismo

ANEXO I
QUESTIONÁRIOS UTILIZADOS NAS ENTREVISTAS COM OS ATORES

Órgão Público
1- Como foi a transformação do Núcleo de Turismo para Departamento de
Incentivo ao Turismo? O que isso significou para vocês?
2- Como você percebe o desenvolvimento do turismo em Juiz de Fora
atualmente?
3- Com a criação do Ministério do Turismo, os municípios passaram a ter mais
autonomia por conta da descentralização. Como funciona a descentralização
aqui em Juiz de Fora, que autonomia vocês possuem?
4- Você acha que Juiz de Fora tem um turismo participativo? Qual o papel da
população local no turismo da cidade?
5- Vocês desenvolvem ações em parceria com cooperativas como a Agrojuf?
Como é a relação da prefeitura com essas cooperativas?
6- Como é a relação da prefeitura com as empresas privadas (hotéis,
restaurantes, empresas de transportes, terminais, etc)?
7- Que contribuição do Ministério do Turismo seria útil para Juiz de Fora?
8- Qual a importância da Estrada Real, que veio com o programa de
Regionalização do Turismo pra vocês? Como está o circuito do caminho novo
neste momento?

Iniciativa Privada
1. O hotel existe há quantos anos?
2. Qual o perfil dos clientes do hotel?
3. Você consideraria aquecido ou fraco mercado turístico juiz-forano no
momento e por que?
4. Quais os períodos de maior movimento?
5. Vocês realizam alguma parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora?
6. E com outras empresas da iniciativa privada?
7. Conhecem a Agrojuf (Associação de Produtores Rurais da Agroindústria
Familiar de Juiz de Fora)?
8. Vocês costumam divulgar o hotel? De que forma?
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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Cooperativa Local
1. Quem pode se associar a Agrojuf?
2. Quais atividades e produtos estão associados a Agrojuf?
3. Quais são os pontos de venda? Os espaços são pagos ou gratuitos?
4. Quem consome mais os produtos? A população local ou os visitantes?
5. Vocês tem algum tipo de parcerias com empresas privadas (ex: restaurantes)?
6. Como funciona a parceria de vocês com a prefeitura? De que maneira eles contribuem para a
economia solidária em Juiz de Fora?
7. Como vocês divulgam os produtos de vocês?
8. Vocês acham que faltam incentivos? O que falta pra vocês crescerem ainda mais?

Turistas

1. Com que frequência você visita Juiz de Fora?


2. Você considera Juiz de Fora uma cidade turística?
3. Qual segmento você considera a mais praticada pelos turistas em Juiz de
Fora?
4. Você percebe a divulgação de atividades de Juiz de Fora na sua cidade? Se
sim, como?
5. Você ouviu falar da Agrojuf (Associação de Produtores Rurais da
Agroindústria Familiar de Juiz de Fora)?
6. Você conhece o Circuito Turístico Caminho Novo?

7. O que você acha que o turismo de Juiz de Fora carece?


8. Qual a sugestão para transformar esse cenário?

Residentes
1. Você considera Juiz de Fora uma cidade turística?
2. Você vê como benéfica a presença de turistas em Juiz de Fora?
3. Considera-se um cidadão hospitaleiro?
4. Qual segmento você considera mais praticado pelos turistas em Juiz de
Fora?
4. Você percebe a divulgação de atividades turísticas desenvolvidas pela
Prefeitura de Juiz de Fora?
5. Você ouviu falar da Agrojuf (Associação de Produtores Rurais da
Agroindústria Familiar de Juiz de Fora)?
6. Você conhece o Circuito Turístico Caminho Novo?
7. O que você acha que o turismo de Juiz de Fora carece?
8. Qual a sugestão para transformar esse cenário?
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Departamento de Turismo

ESTUDO PARA IMPLANTAÇÃO DE COOPERATIVA DE TURISMO NA VILA DE


BARRA DO UNA

Paulo Tácio Aires Ferreira1


Ana Paula Vieira Freire2

RESUMO: O turismo de base comunitária está presente em diversas comunidades


inseridas em unidades de conservação no Brasil. Este trabalho pretende indicar
estratégias para implantação de uma cooperativa de turismo de base comunitária
na Vila de Barra do Una. O associativismo está presente em algumas comunidades
do litoral que foram alijadas dos processos de desenvolvimento, funcionando como
forma de representação e luta por direitos, como são os casos da Vila de Barra do
Una, em Peruíbe - SP, e dos dois casos comparados: Marujá, em Cananéia – SP,
e Praia do Aventureiro, em Angra dos Reis - RJ. O turismo de base comunitária é
fonte de renda e sobrevivência de comunidades e forma de permanência em sua
região tradicional. O cooperativismo surge como ferramenta jurídica e administrativa,
aliado ao associativismo já presente nas comunidades. A pesquisa foi realizada
com comparação de bibliografia e sobre duas regiões que já possuem o turismo
de base comunitária, a saber, Marujá e Praia do Aventureiro; Foi utilizada também
a interpretação dialética da bibliografia e observação participante. Como resultado
foram levantados cinco pontos de ações para potencializar o turismo de base
comunitária na Vila de Barra do Una, tendo em vista o cooperativismo, e conceitos de
marketing e administração.

PALAVRAS-CHAVE: Cooperativismo, áreas protegidas, turismo de


base comunitária.

ABSTRACT: The community-based tourism is present in several communities


placed into conservation units in Brazil. This paper meant to indicate strategies to
implement a cooperative of community-based tourism in the village of Barra do Una.
The associativism is present in some coastal communities that have been excluded
from development processes, working as a form of representation and fight for rights,
as in the case of the village of Barra do Una, in Peruíbe - SP, and compared the
two cases compared: Marujá in Cananéia - SP, and Praia do Aventureiro in Angra
dos Reis - RJ. The community-based tourism is a source of income and survival of
communities and a way to stay in their traditional area. The cooperative emerges as
legal and administrative tool, coupled with associativism that is already present in
the community. The research was conducted with comparisson bibliography of two
regions that already have community-based tourism, namely Marujá and Praia do
Aventureiro; Dialectical interpretation of literature and participant observation was also
used. As a result five action points have been raised to enhance the communitybased
1 Tecnologia em Turismo e Hospitalidade pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
São Paulo. Mestrando em Mudança Social e Participação Política pela Universidade de São Paulo. Pesquisador,
bolsista pela Capes. E-mail: paulotacio@usp.br
2 Bacharelado e Licenciatura em História pela Universidade de São Paulo-FFLCH. Pós-Graduação e m
Gestão Empresarial pela Universidade Nove de Julho. E-mail: ana.freire84@usp.br
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tourism in the village of Barra do Una, in view of the cooperatives, and marketing
concepts and administration.
KEYWORDS: Cooperatives, protected areas, community-based tourism.

INTRODUÇÃO

As cooperativas são sociedades civis com objetivo econômico, porém sem


fins lucrativos, diferenciando-se das sociedades com intentos comerciais. Como não
apresentam lucro ficam isentas de tributações para fins de imposto de renda. Suas
principais características são a participação, cooperação e democracia. Cada membro
tem direito a um voto, e as decisões são sempre tomadas em assembleias. O objetivo
principal é o benefício de cada um dos seus integrantes (NETO, 2000, pág. 22-23).
As empresas cooperativas têm seu marco de fundação no ano de 1843,
quando um grupo de tecelões na cidade de Rochdale, Inglaterra, formaram uma
cooperativa operária de produção e consumo, com o intuito de melhorar suas
condições econômicas, devido aos baixos salários e pobreza (CARDONE, 2007,
p.14). Estes operários criaram os sete princípios básicos que norteiam e caracterizam
as cooperativas até os dias de hoje. São eles: 1- Adesão Livre; 2Administração
Democrática; 3- Retorno na proporção das compras; 4- Juro limitado ao capital; 5-
Neutralidade política e religiosa; 6- Pagamento em dinheiro a vista; 7Fomento de
educação cooperativa (POLONIO, 2001, pág. 24). O objetivo inicial era conseguir
gêneros de primeira necessidade para os cooperados (consumo). Em seguida a
cooperativa de consumo se transformou em uma cooperativa de produção.
Atualmente a Organização Internacional do trabalho define cooperativa como:
Uma associação de pessoas que se agrupam voluntariamente para alcançar
um objetivo comum mediante a formação de uma empresa controlada
democraticamente; que contribuem com uma quota equitativa do capital
que se requer, assume uma justa parte nos riscos e benefícios; e em cujo
funcionamento os sócios participam ativamente (OIT, 2001, pág.164).
Deste modo, a cooperativa é uma empresa com alguns diferenciais. Sua forma
de administração e objetivos estimulam a união, a cooperação em prol do bem comum,
e a democracia na administração. O objetivo de uma empresa qualquer é o lucro; de
modo oposto, na cooperativa, o lucro não é o objetivo, e sim, a cooperação de seus
membros para atingir seu objetivo comum (POLONIO, 2001, pág. 23-26). Em qualquer
empresa a administração é feita por um grupo específico de sócios que possuem
poder de voto proporcional às suas cotas. Na cooperativa, cada membro possui direito
a um voto, independente do valor e da quantidade de cotas que possua. A distribuição
dos rendimentos também não está relacionada com as cotas, e sim, a quantidade de
trabalho de cada cooperado. A cooperativa racionaliza gastos comuns, reforça o poder
de barganha no mercado, unindo a força de cada cooperado. Igualmente, elimina
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intermediários reduzindo, assim, custos. No que tange aos segmentos, podem ser
cooperativas de trabalho, de consumo, de crédito ou mistas. (POLONIO, 2001, pág.
34-67). Desta forma a cooperativa se apresenta como uma alternativa de rendimentos
para grupos que se encontram em fragilidade socioeconômica e também estimulo ao
empreendedorismo, à cidadania, e à democracia.
Apesar de serem isentas de imposto de renda, as cooperativas não são
isentas de outros impostos (federais, estaduais e municipais). São regulamentadas
pela Lei nº 5.764/71, e segundo este dispositivo legal, podem ser constituídas por
um número mínimo de 20 pessoas físicas, sendo admitida em casos excepcionais
pessoas jurídicas que tenham o mesmo objetivo e atividades das pessoas físicas.
As cooperativas de trabalho (excluindo-se as áreas de assistência à saúde, setor de
transporte, profissionais liberais e médicos) possuem legislação específica recente:
A Lei 12.690 de 2012. Esta lei regulamenta sobre as condições de trabalho dos
cooperados, como horário máximo de trabalho diário, folgas remuneradas, institui o
Programa Nacional de Fomento à Cooperativa de Trabalho - PRONACOOP e diminui
o número mínimo de cooperados para formação de cooperativas de trabalho: de vinte
para sete cooperados.
Mesmo com estes estímulos, as cooperativas enfrentam na prática dificuldades
de administração e sustentação. Pesquisas realizadas e organizadas por ZART
(2009) mostram que muitas cooperativas se encerram ou se tornam inativas devido a
dificuldades, como falta de conhecimento do funcionamento da cooperativa, falta de
participação, dificuldade nas vendas, etc. Uma Associação Feminina que ministrava
cursos de artesanato para as mulheres da comunidade de Tangará da Serra – MT,
pesquisada por ZART, se encerrou devido à dificuldade de vendas, nas palavras da
ex-presidente da associação: “a gente produzia doce, guardanapo, tudo, mas não
tinha como vender...isso desestimula a gente” (ZART, 2009, pág. 76).
A queda nas vendas é um problema que pode ocorrer em qualquer empresa.
Em geral, as empresas reagem às dificuldades com técnica e planejamento,
mudando estratégias, investindo em marketing, se aliando a outras empresas, etc.
As associações e cooperativas precisam também de orientações técnicas sobre
administração, empreendedorismo e competitividade, de forma a superar problemas
e desafios comuns a qualquer empresa com técnica e conhecimento.
Umas das iniciativas interessantes para o desenvolvimento local das
comunidades que vivem, por exemplo, em áreas naturais protegidas é a adoção de
práticas sustentáveis como a economia solidária ou um turismo de base comunitária.
Nestas formas de turismo estão presente traços de organizações associativas ou
cooperativas, ainda que não formalmente (SANSOLO, 2009, pág. 122-141). Como
exemplos de comunidades que se utilizam de tais mecanismos a fim de promover seus
sustentos, podemos citar os casos da comunidade do Marujá, na Ilha do Cardoso,
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em Cananéia, São Paulo, através da pesquisa de BORIN (2004) e a comunidade da


vila do Aventureiro na Ilha Grande, Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro pelo
trabalho de MENDONÇA e MORAES (2011).
Neste sentido, a presente pesquisa tem o intuito de colaborar com ideias,
informações e estratégias de formação e organização de uma cooperativa de turismo
na Vila de Barra do Una - Peruíbe. A comunidade já possui uma Associação de
Moradores, os moradores já se organizaram voluntariamente reuniões para sorteio
a fim de dividir entre as famílias a hospedagem de grandes grupos de turistas.
Elaboraram, também, em conjunto com a União de Moradores da Juréia - UMJ, um
relatório de pré-plano de manejo e capacitação em 2008. Tratam-se de indicativos de
uma motivação da comunidade para trabalharem de forma colaborativa e associativa
pelos seus interesses comuns. Alguns moradores estão formando também uma
cooperativa de pesca, conforme constatado, recentemente, em pesquisa de campo.
Deste modo, a cooperativa surge como uma forma de organizar o turismo,
de base comunitária, distribuir a renda e a demanda de turistas entre os moradores.
Trata-se de uma alternativa à empresa capitalista tradicional, que apenas objetiva o
lucro imediato, e que não contribui para uma distribuição de renda de forma justa à
comunidade local, trazendo geralmente grande impacto ambiental. Na cooperativa
de turismo de base comunitária, os próprios moradores e pescadores estarão na
administração e podem utilizar suas casas, pousadas, barcos, restaurantes e sua
mão de obra como base da estrutura do negócio, diminuindo os impactos sociais e
ambientais.

METODOLOGIA

Para investigar a hipótese da implantação de uma cooperativa de turismo na


vila de Barra do Una, dentro das limitações das leis de proteção ao meio-ambiente
e da estrutura de Mosaico, foi feita pesquisa bibliográfica com base no método
comparativo (LAKATOS, 2009 p.107), examinando-se a dois trabalhos sobre locais
onde situações similares ocorreram e ainda persistem, e como se dá a administração
destas empresas no turismo de base comunitária.
Será utilizada também a metodologia dialética para interpretação da bibliografia
(LAKATOS, 2009, p.100), uma vez que a situação atual e as perspectivas para o
futuro de implantação de uma cooperativa de turismo ou qualquer outra ação, são
moldadas e limitadas pelas leis de preservação ambiental. Ou seja, a possibilidade de
administrar e melhorar o turismo e as atividades econômicas na região, não depende
somente dos moradores. Por estes motivos, as teorias de administração devem
ser aplicadas observando estas limitações, e não como seriam para uma empresa
localizada em área urbana comum, ou com o único objetivo de lucro.
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Também como proposta para este estudo foi utilizada a observação participante
que segundo Minayo (2007) diz respeito à:

A técnica da observação participante se realiza através do contato direto


do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações
sobre a realidade dos atores sociais em seu próprio contexto. O
observador enquanto parte do contexto de observação, estabelece
uma relação face a face com os observados. Nesse processo, ele,
ao mesmo tempo, pode modificar e ser modificado pelo contexto. A
importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma
variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por
meio de perguntas, uma vez que observados diretamente na própria
realidade, transmitem o que há de mais ponderável e evasivo na vida
real.” (MINAYO, 2007, p.59-60)

As atividades conduzidas por tal técnica ocorreram entre os meses de julho


de 2013 a fevereiro de 2014, por meio de visitas ao local de estudo, instalando-se
em meios de hospedagens como pousadas e campings, o que possibilitou conversas
com proprietários de equipamentos turísticos e turistas; participação em reuniões
com gestores, líderes comunitários em assuntos que tratam de discussões sobre
o turismo na localidade; participação em demais festas e eventos tradicionais na
região; passeios, como caminhadas ecológicas, visitas a atrativos, entre outras ações
que traziam contato com os informantes.
Deste modo, apresentaremos as vantagens e desvantagens, estrutura técnica,
jurídica e administrativas de cooperativas, com base na bibliografia de POLONIO
(2001), CARDONE (2007) E ZART (2009). Apresentaremos ainda, informações sobre
a legislação de Unidades de Conservação e sua relação com o turismo de base
comunitária e associativismo, com o trabalho de CORIOLANO (2009).
Em seguida, iremos analisar experiências similares que envolvem turismo de base
comunitária, unidades de conservação e associativismo que ocorreram em outras
comunidades, com características análogas à Barra do Una. Comunidades inseridas
em unidades de conservação que conseguiram de alguma forma, o direito de
explorarem o turismo sustentável de forma coletiva e permanecer na região. Este
estudo será feito com base na pesquisa de MENDONÇA e MORAES (2011), no
que se refere à comunidade da Praia do Aventureiro, no Rio de Janeiro. Sobre a
comunidade do Marujá, na Ilha do Cardoso, em São Paulo, será utilizada a pesquisa
de BORIN (2004), e o próprio site dos moradores.
Por fim, será feita uma síntese dos aspectos levantados, com a bibliografia
analisada, juntamente com as experiências de observação participante para indicar
possíveis ações iniciais para a organização de uma cooperativa de turismo na
comunidade de Barra do Una com o trabalho de KOTLER e LEE (2011), junto com o
trabalho de NUNES (2003).
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EXPERIÊNCIAS DE COOPERATIVISMO EM COMUNIDADES INSERIDAS EM


UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
O turismo massificado, em grande escala causa grandes impactos ambientais
e sociais, além de não distribuir adequadamente a renda para a comunidade local,
visto que os donos destes empreendimentos são geralmente investidores de outras
regiões, restando para a comunidade apenas a mera prestação de serviços em geral
em empregos mal remunerados. Entre os aspectos negativos estão especulação
imobiliária, expulsão e marginalização da comunidade local, degradação de culturas
tradicionais, poluição e destruição do meio natural, imperialismo econômico de
corporações transnacionais, entre outros. (PIRES, 2002 In: BORIN, 2004 pág. 67-
68).
O turismo é uma atividade ligada aos preceitos do capital, como diz Coriolano
(2009, p.58), sendo assim ele “reproduz as contradições da inclusão/exclusão, por
seguir a lógica oligopolista por meio de megaoperadoras de turismo internacional”.
Pequenas empresas e comunidades estão quase sempre ameaçadas diante da
força aglutinadora do sistema econômico, sobrevivendo e resistindo às pressões do
mercado global (CORIOLANO, 2009).
Em contraponto, como forma de evitar estes impactos sociais e econômicos
negativos, tem-se a proposta do turismo de base comunitária. Coriolano (2009) define
este tipo de turismo e também aponta como deve se dar sua efetivação diante do
conflito de “propriedade da terra”. Assim, turismo de base comunitária é:

Aquele em que as comunidades de forma associativa organizam


arranjos produtivos locais, possuindo o controle efetivo das terras
e das atividades econômicas associadas à exploração do turismo.
Uma das primeiras ações que as comunidades realizam é um pacto
interno com os próprios residentes em defesa de suas propriedades.
Procuram que a maioria se comprometa à preservação de suas
terras, delas não se desfazendo e orientam aqueles que precisam de
fato vendê-la, submetendo o negocio à apreciação da comunidade
para analisar o comprador, verificar se este pode vir a ser parceiro e
como pode ser a parceria (CORIOLANO, 2009, p.66).

A autora ainda segue dizendo que esta parceria pode ser interessante para o
ingressante na comunidade, caso se comprometa realmente. Torna-se interessante
utilizar, por exemplo, seus conhecimentos em prol do desenvolvimento da comunidade
(CORIOLANO 2009).
O Associativismo e o turismo de base comunitária estão presentes nos dois
casos estudados neste artigo, a saber, Ilha do Cardoso e Praia do Aventureiro, que
estão sendo utilizados em comparação com o turismo na Barra do Una. Além do
turismo de base comunitária, o que estes lugares possuem em comum são as leis
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ambientais de conservação que ameaçaram expulsar ou retirar todos os moradores.


Os locais foram transformados em Unidades de Conservação da Natureza,
que segundo a lei 9.985 são:

espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas


jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente
instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção. (BRASIL, 2000)

Estas Unidades de Conservação da Natureza dividem-se em dois grupos:


Unidades de Uso Sustentável e Unidades de Proteção Integral dos Recursos Naturais.
No primeiro grupo permite-se o aproveitamento econômico direto dos recursos,
compatibilizando com a conservação da natureza. Para as Unidades de Proteção
Integral, não é consentida a exploração nem o aproveitamento dos seus recursos
de forma direta. Além disso, nestas áreas protegidas não é nem mesmo permitida a
existência de moradores conforme a lei supracitada.
Fato importante a ser mencionado é que parte das unidades de conservação
(UC) surgiu à revelia da existência de moradores em suas áreas implantadas o que
gerou uma série de conflitos. Os povos chamados de “comunidades tradicionais”3 são
objeto de estudo de vários pesquisadores (DIEGUES, 2001; VIANNA; 2008). Nas UC
também há outros ou ocupantes, considerados não-tradicionais, como: fazendeiros,
proprietários de residências secundárias, veranistas, entre outros. Todos estes
sujeitos, uma vez inseridos em uma UC, estão conectados a uma mesma rede social,
reivindicam seus direitos, bem como se somam aos conflitos existentes.
A instituição de unidades de conservação de proteção integral, que exclui
moradores de seus limites, tem se tornado um problema comum a estes povos
não apenas por causa de serem desocupados de seus territórios, mas, além disso,
as proibições às atividades de subsistência foram de certo modo muito rígidas, e
provocaram grande número de deslocamento e saída de pessoas das suas regiões
originais. Não podendo assim realizar suas atividades tradicionais, o turismo tem
se tornado o principal elemento econômico em muitas comunidades. Destarte, é
interessante notar seus efeitos impactantes.

A COMUNIDADE DO MARUJÁ, NA ILHA DO CARDOSO


Vários fatores incentivam o turismo de base comunitária e o cooperativismo na
3 Segundo o Decreto Nº 6.040/2007, em 7 de fevereiro de 2007, povos e comunidades Tradicionais:
são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de
organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução
cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e
transmitidos pela tradição. (BRASIL, 2007)
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Ilha do Cardoso. A transformação da região em Parque Estadual ocorreu em 1962,


pelo Decreto 40.319 (BORIN, 2004, 160). Mas foi a partir da regulamentação dos
Parques Estaduais pelo decreto 25.341/86 (BORIN, 2004, 163), que os moradores
tradicionais passaram a lutar por sua permanência na Ilha. Em 1998 foi criada a
Associação dos Moradores do Marujá - AMOMAR. A partir do Plano de Manejo,
foi estabelecido que as famílias tradicionais e a tribo indígena etnia guaranimbya
permaneceriam no seu território tradicional, e, também, quais as áreas e atividades
turísticas seriam permitidas e quais áreas deveriam permanecer sem ocupação.
Esta luta por permanência criou na comunidade uma consciência de coletivismo
e de sustentabilidade. O turismo é organizado coletivamente, e de forma que todos
consigam ganhar e se sustentar. As famílias e moradores se alternam em atividades
como guias de trilhas, passeios e transporte em barcos, hospedagem e alimentação. A
comunidade fez cursos profissionalizantes de turismo e administração. O lixo produzido
na ilha é enviado para reciclagem por organização dos moradores, uma preocupação
com os impactos do turismo e com a conservação do local (BORIN,2004, pág.176). A
associação de moradores não é formalmente uma cooperativa, mas acaba funcionando
como uma, na medida em que incentivou e organizou os cursos para os moradores,
estimula a preservação do meio ambiente, e organiza e entusiasma a distribuição do
turismo para todos. O cooperativismo foi intensificado por uma necessidade comum
dos moradores: a luta pelo direito de permanecer no seu território tradicional. Em
seguida, veio a luta pela sobrevivência por meio do turismo e pela preservação do
local, necessidades também comuns a todos. (BORIN, 2004, pág.168-181). O Sr.
Ezequiel, líder da comunidade, explica que o curso profissionalizante ajudou muito no
trabalho em grupo, e na organização dos negócios (BORIN, 2004, pág. 181).

A COMUNIDADE DO AVENTUREIRO, NA ILHA GRANDE

A Vila da Praia do Aventureiro, em Ilha Grande tem também um contexto similar


à Barra do Una e à Ilha do Cardoso. A região da praia do aventureiro, localizada na
Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul (Rebio-Sul) é de difícil acesso. Ou se vai
por uma trilha de cerca de três horas de caminhada, ou se chega de barco. Porém,
o mar na região muitas vezes impossibilita o trajeto por períodos, principalmente,
quando a ilha é atingida pelo vento sudoeste, o que causa o isolamento temporário
do local pela via marítima. Devido a esta dificuldade de acesso, naquele lado da
ilha havia um presídio, o Instituto Penal Candido Mendes, localizado na Praia de
Dois Rios. O presídio foi desativado em 1994. Com isto, iniciou-se o turismo na vila.
Diante da ameaça de expulsão, e depois de dos movimentos civis dos moradores,
foi criada a associação em 2000: Associação de Moradores e Amigos da Praia
do Aventureiro – AMAV (MENDONÇA E MORAES, 2011, pág. 12). Em 2006, os
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moradores conseguiram do Ministério Público um Termo de Compromisso que prevê


a permanecia das famílias no local e exploração do turismo de base comunitária.
Foi tratado também junto à prefeitura um número máximo de visitantes no local. O
número estabelecido é de 560 visitantes. Portanto, para chegar lá o turista deve pegar
uma autorização em Angra dos Reis.
O turismo surgiu como um alívio para a comunidade que vivia da agricultura e
da pesca. A agricultura estava proibida pelas leis ambientais, e a pesca vinha decaindo
devido à competição com barcos maiores e diminuição dos cardumes. Nas palavras
do morador Luiz, o turismo é agora a principal fonte de renda, de uma comunidade
com cerca de 150 anos de tradição no local (MENDONÇA E MORAES, 2011, pág.
15).
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro fez um projeto de oficinas
e cursos com os moradores. Neste curso, além de valorizar a cultura caiçara, os
moradores receberam treinamento sobre turismo, administração, empreendedorismo,
línguas e cooperativismo. Com estes treinamentos os moradores puderam organizar
melhor seu turismo e manter a união entre eles, o que proporcionou a preservação da
natureza e de sua cultura tradicional e a criação de um turismo de base comunitária:
“É importante destacar que empreendimentos como o do Aventureiro se tornam
uma oportunidade, em nível nacional, para pessoas com baixo recurso econômico
se inserirem em uma atividade econômica tão elitizada”. (MENDONÇA E MORAES,
2011, pág.101-102).
Estas duas regiões são exemplos de que o cooperativismo e a união dos
moradores conseguiram preservar seu território e sua tradição e ainda manter um
turismo de base comunitária de foram sustentável. Ambas as comunidades fizeram
cursos de aperfeiçoamento. Agora os caiçaras tradicionais são, além de pescadores,
também empresários de turismo e conseguem conciliar seus modos de vida tradicionais
com uma nova fonte de renda. Além disso, o turismo de base comunitária acaba
funcionando com uma espécie de conscientização do turista sobre a conservação da
natureza, e sobre a cultura tradicional.

ÁREA DE ESTUDO: VILA DE BARRA DO UNA, PERUÍBE (SP)

A Vila de Barra do Una, Peruíbe, Estado de São Paulo, localiza-se


especificamente, em uma área protegida, a Estação Ecológica Juréia-Itatins (EEJI).
Uma unidade de conservação de aproximadamente 80.000 hectares criada pelo
decreto nº 24.646 de 1986, que, como já mencionado acima, não admite moradia,
tampouco o desenvolvimento econômico da atividade turística, exceto quando há
objetivo educacional ou de pesquisa.
Entretanto, a despeito da área protegida, os moradores da região permaneceram
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e até hoje vivem neste local. Muitas lutas foram travadas entre comunidade e Estado,
por conta de desalojamentos ou mesmo limitações de atividades sociais, culturais e
econômicas. Importante mencionar que a comunidade é composta por um grupo social
heterogêneo, incluindo moradores que detêm estatuto de comunidades tradicionais,
entre outros tipos de ocupantes.
Diante destes embates, as comunidades incluídas na EEJI, em algumas
circunstâncias, obtiveram algumas vitórias. Em 2006 a EEJI foi transformada no
Mosaico de Unidades de Conservação Juréia-Itatins contendo seis categorias:
Estação Ecológica de Juréia-Itatins (EEJI), Parque Estadual do Itinguçu (PEIT),
Parque Estadual do Prelado (PEP), Refúgio de Vida Silvestre (RVS) nas ilhas do
Abrigo e Guararitama, Reservas de Desenvolvimento Sustentável da Barra do Una
(RDSBU) e do Despraiado (RDSD), que abrangiam cerca de 110 mil ha. Um dos
principais motivos da criação deste mosaico era para atender as reivindicações
das comunidades locais, resolvendo, assim, problemas fundiários. Em 2009 uma
ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) suspendeu as atividades do mosaico
e retornou a condição desta Unidade de Conservação à Estação Ecológica com a
mesma extensão de área anterior. (FUNDAÇAO FLORESTAL, 2010)
Recentemente, precisamente no dia 06/03/2013, após várias discussões, a
Assembléia Legislativa aprovou novamente alterações nos limites da EEJI tornandoa
novamente como Mosaico de Unidades de Conservação. Esta lei foi sancionada pelo
governador de São Paulo no dia 08/04/2013. A vila de Barra de Una e parte de sua
região, como o rio Una, irá compor mais uma vez a Reserva de Desenvolvimento
Sustentável da Barra do Una.
Em desacordo com a constituição do Mosaico, o Procurador Geral da Justiça
do Estado de São Paulo, Cauduro Padin, expediu no dia 05 de dezembro de 2013 uma
“liminar para suspender a eficácia da lei impugnada”. Ou seja, novamente uma ação
direta de inconstitucionalidade, de n° 0199748-62.2013.8.26.0000, alegando que a
nova lei do Mosaico “é inconstitucional e viola o princípio da proibição de retrocesso
ambiental”, e que não é possível a “transformação de uma unidade de conservação
de proteção integral” em uma de “uso sustentável”, entre outros diversos argumentos.
(DIARIO OFICIAL, 2014). No entanto, a liminar foi entendida como improcedente no
dia 04/06/20144.
A população que habita a vila passou por grande processo de cerceamento,
até mesmo certo isolamento desenvolvendo diminutamente suas atividades sociais,
culturais e econômicas de forma plena. É perceptível que a “não presença” do
Estado, neste caso, em não atender as necessidades mais básicas como saúde,
saneamento, transporte, comunicação, geram uma grande insatisfação por parte da
4 http://esaj.tjsp.jus.br/cpo/sg/show.do?processo.foro=990&processo.codigo=RI0021DR40000. Acesso
em 23/06/2014.
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comunidade. Assim o cotidiano, ainda que não seja uma realidade das mais difíceis,
é bastante adverso. Em depoimentos informais, moradores apontam que na verdade
“não passam necessidades”; mas sim: “dificuldades”.
Embora diante de um histórico de lutas, mas um futuro ainda incerto, a Vila da
Barra do Una permanece com o desafio de desenvolver um turismo sustentável, uma
vez que esta é a atividade principal dos moradores, para que possam, assim, distribuir
a renda de forma equânime, buscando preservar a cultura e o meio ambiente da
região.

O TURISMO NO BAIRRO

A Barra do Una possui como principal atrativo a Praia do Una. Outras praias
são acessadas por meio de trilhas, como as Praias do Caramborê, onde há camping
e moradores, e também a Desertinha que, como fica claro em seu nome, é um
local onde não há meios de hospedagem, tampouco moradores. De tal modo não é
permitido acampar. Todas fazem parte da vila e RDS. A travessia é interessante e é
feita por meio de um costão rochoso, outro atrativo natural, onde há mirantes para as
praias do Una e Caramborê.
Certamente, o turismo de sol e praia é o mais praticado no bairro. E a procura
é bem expressiva na temporada de verão. Boa parte dos moradores afirma que tal
temporada começa especificamente após o feriado de natal, dia 26 de dezembro,
seguindo até o feriado de carnaval. Outros dizem que esta se estende até o feriado
da Páscoa. Após o verão, o local é visitado por turistas esporádicos em finais de
semanas e o movimento cai bastante.
A pesca é notadamente também muito procurada pelos turistas, entre elas
a artesanal e a esportiva. Alguns pescadores, entre eles os antigos, trabalham a
pesca artesanal; outros mais jovens praticam a pesca esportiva – principalmente os
que se localizam em uma região da vila que se chama Tocaia –, na qual se fisga o
peixe, mas em seguida o solta. É no Rio Una que a pesca é feita regularmente, onde
se encontram também os manguezais e restingas, e a ilha do Ameixal, possível de
visitar por meio de passeios de barcos. Os pescadores também se tornaram guias
informais da região, contam a história do local, demonstram também conhecimento
dos aspectos biogeográficos. Assim o turismo associado à pesca artesanal é uma
atividade que remonta há mais de vinte anos.
Outros tipos de turismos também praticados na região são a educação
ambiental e estudo do meio. Diversas instituições (particulares ou públicas) de ensino
básico, médio e ensino superior procuram a localidade, como a USP, UNICAMP e
UNESP.
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A vila tem forte potencial para desenvolver variados tipos de turismo, como o
ecoturismo tanto nas praias, ou no rio, trilhas, entre outros lugares. Há diversas trilhas
e caminhos, recentemente algumas destas foram mapeadas, trabalho realizado entre
monitores da EEJI junto a jovens moradores. O caiaquismo é um esporte procurado
e praticado tanto por moradores como turistas no rio, que é bem simples de navegar,
como conta um jovem morador, já que o rio é “morto”, quer dizer “parado”. Muitos
destes turistas trazem seus equipamentos. Alguns moradores que habitam casas ao
lado do rio alugam caiaques para turistas.

POSSÍVEIS AÇÕES EMPREENDEDORAS E COOPERATIVISTAS PARA A VILA


DE BARRA DO UNA

Com a mudança para uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável, abremse


caminhos para organizar o turismo e distribuir renda na Vila de Barra do Una. O
turismo irá continuar tendo limitações conforme plano de manejo a ser elaborado.
Porém, por se tratar agora de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável, haverá
mais flexibilidade para os moradores que participaram desta elaboração através de
um conselho. A comunidade discutirá em reuniões conjuntamente com a Fundação
Florestal novos acordos e regras para esta fase. Estas reuniões podem servir também
para o debate sobre ações cooperativas que possam incluir todos os moradores
tradicionais em alguma atividade turística para distribuição de renda. Sugerimos a
seguir os principais pontos a serem possivelmente planejados e pensados pelos
moradores, junto com ideias e sugestões, a partir de conhecimentos de administração
e cooperativismo:
1-Benefícios da Cooperativa: A ideia indicada neste estudo da cooperativa
de turismo funcionaria, de forma geral, como uma cooperativa de trabalho, visto que
o turismo é baseado em serviços. Nesta cooperativa, a ideia seria distribuir o fluxo
turístico para todos os moradores. Haveria uma espécie de “central de agendamento”,
utilizando um telefone que precisaria ser instalado na vila. Nesta
“central telefônica” ou algum tipo de “centro de informações turísticas”, far-se-ia o
agendamento de hospedagem, passeios, pacotes, etc, distribuindo os grupos de
turistas de forma uniforme para todos os empreendedores, ou todos os cooperados.
Em troca, as famílias empreendedoras vão receber os valores proporcionais ao seu
trabalho.
Com a cooperativa, os moradores irão possuir um CNPJ, portanto, as famílias
estariam trabalhando de forma legal e regular, com vantagens como a emissão de
nota fiscal, a possibilidade de parcelamento dos serviços para o turista. Além disso,
a presença da cooperativa possibilitará obter produtos, crédito e equipamentos para
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investimento, comprando em maior quantidade, obtendo descontos nos preços dos


produtos (POLONIO, 2001). É uma forma de regularizar negócios familiares, e abrir
com isso, mais oportunidades de sobrevivência e permanência da empresa.
As associações de moradores existentes são eficientes nos aspectos
sociais e políticos, porém são limitadas nos aspectos econômicos, devido a sua
regulamentação. As cooperativas são mais eficientes para viabilizar a resolução de
problemas econômicos.
2- Público-alvo e Marketing: Com a cooperativa o turismo também seria
planejado de forma unificada, conforme as escolhas dos moradores. Isto facilitaria a
divulgação e marketing do local. Segundo conceitos de marketing social (KOTLER,
2011, pág.7), até mesmo setores que não visam lucro utilizam marketing nos dias
de hoje. Neste sentido, o marketing social, por exemplo, é utilizado em ações de
saúde pública e conservação do meio ambiente. Trata-se de um marketing que não
está diretamente ligado ao consumo, ao lucro, mas é eficientemente necessário: “O
marketing social é um processo que aplica principios e té ́cnicas de marketing para
criar, comunicar e fornecer valor a fim de influenciar comportamentos do público-alvo
que beneficiem a sociedade” (KOTLER, 2011, pág.38).
Com o método SWOT, que pretende identificar as forças e fraquezas,
oportunidades e ameaças, com o modelo de 10 passos recomendado por Kotler para
o planejamento de marketing social (KOTLER, 2011, pág.60), entre outros conceitos
e técnicas, os moradores podem, então, planejar este marketing. Estas definições
iniciais irão determinar que tipo turista e público pretendem atrair para o lugar, assim
como quais as atividades devem ser oferecidas (trilhas com guias locais, passeios
de barco, hospedagem, festas, etc). É a partir de um planejamento estratégico que
será organizada as futuras ações da empresa, assim como as ações de marketing
(COBRA, 2009, pág. 40-41).
O lugar possui potencial para atrair o publico que aprecia o ecoturismo. O
marketing deve ser feito lembrando o turista da preservação ambiental e cultural e
dos benefícios que esta preservação trouxe para a comunidade local. A visita à Vila
de Barra do Una tem agregado uma função social: a prática do turismo sustentável
contribui para que a comunidade continue no local e para que a natureza continue
sendo conservada e apreciada. Segundo KOTLER, “os profissionais do marketing
social estão centrados na venda de um comportamento , por outro lado os profissionais
do marketing comercial estão mais centrados na venda de pro dutos e serviços”
(KOTLER, 2011, pág.60). A lógica do marketing na Vila de Barra do Una seria então,
estimular no turista um comportamento voltado à consciência ambiental, apreciando
o turismo de base comunitária, e afastando os comportamentos e estereótipos de um
turismo tradicional.
Possíveis públicos são: grupos de escolas, faculdades e estudantes e
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pesquisadores de diversas áreas de estudo. Turistas interessados em Birdwatching,


sendo um tipo de turismo onde se busca observar pássaros, entre outros tipos de
ecoturismo (DIAS, 2011, pág.112 E 120). Comunidades católicas e evangélicas
podem visitar a região para retiros espirituais. Tratam-se de sugestões de público –
algumas mencionadas até pelos próprios moradores - compatíveis com as condições
do local que devem ser pensadas e discutidas pela comunidade.
3-Planejamento e controle de qualidade: Os moradores precisaram também
aprender a planejar as suas ações e investimentos. Pensar e planejar em estoques,
maneiras de atender os clientes na alta temporada ou em dias de maior movimento
sem perder a qualidade. Há pouca concorrência entre eles, pois a exploração do
turismo é vedada para investidores que não sejam da região. Mas a qualidade
do serviço sempre irá atrair mais turistas. Cursos sobre hotelaria, gastronomia,
hospitalidade são indicados para melhorar a qualidade do serviço. É preciso também
fazer a contabilidade e dividir o faturamento entre os cooperados. A organização e
transparência são fundamentais para que a cooperativa prossiga, evitando atritos,
ou afastamento dos cooperados. Conceitos de governança corporativa podem ser
também transmitidos em treinamentos.
A comunidade pode também investir na redução do impacto ambiental,
organizando uma coleta seletiva, reciclando o lixo, tratamento do esgoto, seguindo
o exemplo da comunidade da Ilha do Cardoso. Tratam de ações que irão ajudar a
preservar o local e que, além de reafirmarem o marketing social conforme sugerido,
e devem estar dentro do planejamento de ações.
4-Sazonalidade: Deve-se pensar também em estratégias para diminuir o
impacto da sazonalidade do turismo na região. O movimento é grande somente
durante o verão. Uma estratégia seria criar festas ou divulgar de forma mais eficiente
as festas já existentes, com pratos tradicionais, como a festa da tainha em julho, e
outras a serem sugeridas e pensadas pelos moradores. As festas devem ocorrer
periodicamente e anualmente, nos meses após o verão, de forma a diminuir a queda
de visitantes e o faturamento da cooperativa. Afinal, mesmo no inverno, existe ainda
muita beleza cênica, natureza, fauna e flora no local para apreciação. É preciso
apenas uma maneira de divulgar estes atrativos de forma eficiente.
5-Participação democrática e treinamento: Todos estes assuntos e
possibilidades podem ser pensados e discutidos a partir de oficinas, como ocorreu
na Vila do Aventureiro (MENDONÇA E MORAES, 2011, pág.120-135). Lá foram
realizadas oficinas diversificadas pela Universidade Rural Federal do Rio de
Janeiro, que trataram de economia solidária, línguas, negócios e administração, leis
ambientais, entre outros. A comunidade da Ilha do Cardoso, por sua vez, fez um
treinamento com uma instituição particular na comunidade, porém o debate já estava
presente na comunidade via associação de moradores. É possível então, que a Vila
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de Barra do Una busque parcerias com universidades para sua capacitação. Em


paralelo, a comunidade poderá discutir entre eles, como organizar o turismo a partir
das informações técnicas e sugestões e ideas recebidas. É interessante também que a
comunidade obtenha informações sobre o cooperativismo, organização, participação
democrática, de forma a estimular a participação e união de todos, e afastar o espírito
de competitividade.

CONCLUSÃO

O trabalho buscou mostrar que a administração e o empreendedorismo são de


extrema importância para melhor inclusão econômica destas comunidades litorâneas.
Os seus pequenos negócios turísticos são principal fonte de renda atual, devido às
limitações ambientais que proíbem a agricultura. Trata-se também de uma das formas
de conservar a tradição destas famílias em seus próprios territórios. É preciso incluir
todos neste negócio, de forma organizada, eficiente e com responsabilidade social
e ambiental. Segundo a pesquisa de NUNES (pág.138), a região do Vale do Ribeira,
onde fica a Vila de Barra do Una é uma das mais carentes do estado de São Paulo,
e que por contradição é um dos mais ricos do país. O empreendedorismo e o turismo
de base comunitária podem ajudar a reverter este quadro de desigualdade. Os
pesquisadores defendem que a preocupação social do estado e demais instituições
não deve ficar apenas em conservar a biodiversidade destas regiões, mas também a
sociodiversidade, possibilitando o direito de permanência e sobrevivência de muitas
comunidades que habitam áreas naturais protegidas.
Nas comunidades citadas neste trabalho, fica claro que o treinamento, educação
e união dos moradores foram fundamentais para permanência em suas regiões e,
por consequência, o fortalecimento do turismo de base comunitária, transformando
agricultores e pescadores em pequenos empreendedores. Esta união foi aproveitada
para organizar a economia da comunidade. Os conhecimentos que estes empresários
tinham sobre administração e turismo, utilizados para iniciar seus negócios, foram
trazidos num aprendizado prático, sem orientações formais sobre planejamento,
administração e marketing. É possível então potencializar o empreendedorismo, com
o cooperativismo já existente nas associações de moradores.
A Vila de Barra do Una possui características semelhantes às duas comunidades
estudadas, porém, diferente das outras duas, sua luta para permanecer no local está
se resolvendo recentemente com a implantação da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável. Por isso, a ideia é que, baseando-se em experiências similares
apresentadas, seja possível afastar os “pontos fracos” para que seja lançada enérgica
investida nos “pontos fortes”: concentrando-se no treinamento e no cooperativismo
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em seu favor.
Buscamos também demonstrar com este trabalho que a administração e o
empreendedorismo possuem uma função social de extrema importância e podem ser
aplicados em empreendimentos que tenham objetivo de promover o bem estar social,
e não somente em iniciativas que busquem exclusivamente o lucro. O turismo de base
comunitária somado ao cooperativismo pode ajudar às comunidades tradicionais a
manter sua tradição e existência, desde que seja organizado de forma participativa e
sustentável.

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O TURISMO DE NEGÓCIOS COMO INDUTOR DO PROCESSO DE ASCENSÃO


SOCIOCULTURAL E ECONÔMICA DE COMUNIDADES RECEPTORAS POR
MEIO DO INCREMENTO DE FLUXOS.

Alan Aparecido Guizi1


Airton José Cavenaghi2
Aristides Faria Lopes dos Santos3

Resumo: Como o meio de hospedagem, por meio de articulação com seus diversos
stakeholders, pode colaborar com o destino no sentido de induzir o processo
de ascensão sociocultural e econômica da comunidade na qual a empresa está
inserida? A fim de colaborar na consecução de respostas, a presente pesquisa busca
promover discussão sobre as múltiplas relações estabelecidas – voluntariamente ou
não – entre meios de hospedagem e as comunidades nas quais os mesmos estão
inseridos (incluídas nesse processo, também, o poder público, demais empresas e
organizações do terceiros setor). Esse estudo propõe que o protagonismo exercido
pela rede de serviços inerentes ao turismo de negócios se dá por meio do incremento
dos fluxos turísticos ao longo do ano, o que gera divisas e postos de trabalho nas
comunidades receptoras. O trabalho possui foco especial no setor de hospedagem,
no qual figuram empresas de diversos portes e modelos de administração, sobretudo,
no caso brasileiro. Compreender tais relações é essencial para que gestores –
atuantes na iniciativa privada ou no poder publico – tenham a possibilidade de orientar
esforços e iniciativas no sentido de desenvolver o turismo a partir de uma perspectiva
de “base local” com efetivas contribuições para a comunidade receptora. A pesquisa
caracteriza-se como uma revisão de literatura de caráter exploratório, cuja abordagem
dos dados é qualitativa. Realizou-se pesquisa bibliográfica e documental e para tanto
foram escolhidas cinco variáveis de pesquisa, a saber: Hospitalidade; Serviços;
Stakeholders; Fluxo turístico; e Mobilidade corporativa. O artigo foi estruturado em
dois tópicos, sendo o primeiro sobre “Hospitalidade e serviços hoteleiros” no qual foi
considerada a questão da hospitalidade na gestão de serviços. Entre os principais
autores consultados, é possível citar Lashley e Morrison (2004), Camargo (2004) e
Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005). Na segunda parte elaborou-se referencial sobre
identificação, qualificação e administração de “Stakeholders” e sobre “mobilidade
corporativa”. Para tanto, foram consultados autores como Freeman (1984), Ferreira e
Wada (2011) e Wada (2009).

Palavras-chave: Hospitalidade. Serviços hoteleiros. Stakeholders. Fluxo turístico.


Mobilidade Corporativa.

1 Mestrando em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi. alanguizi@gmail.com;


2 Professor e pesquisados do Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi.
cavenaghi@anhembimorumbi.edu.br
3 Mestrando em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi. aristidesfaria@yahoo.com.
br;
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BUSINESS TOURISM AS AN INDUCER OF THE SOCIAL, CULTURAL AND


ECONOMIC RISING PROCESS OF HOST COMMUNITIES

Abstract: How would hotels, by coordination with its stakeholders, collaborate with the
tourism destination in order to induce the social, cultural and economic rising process
in the communities these companies operates? In order to collaborate in pursuit of
answers, this research promotes discussion on the multiple relationships established
– voluntarily or not – between lodging facilities and the communities in which they are
inserted (including government, other companies and the third sector organizations).
This study proposes that the role played by the services network inherent to business
tourism occur through the increasing of tourist flows throughout the year, generating
foreign exchange and employment in host communities. This work has a particular
focus in the hotel industry, which includes various sizes and management models
hotels, especially in the Brazilian case. Understanding these relationships is essential
for managers – either in the private or public sectors – because then they would guide
efforts and initiatives to develop tourism from a “local based” perspective with effective
contributions to the host community. This research is characterized as a literature
review, an exploratory study, whose approach is qualitative. It was conducted literature
and documental research. Five variables were chosen to guide this review, namely:
Hospitality; Services; Stakeholders; Tourist flow; and Corporate mobility. The article
was structured in two topics, the first on “Hospitality and hotel services” in which it was
considered the issue of hospitality management in services. Among the major authors
consulted it is possible to point Lashley and Morrison (2004), Camargo (2004) and
Fitzsimmons and Fitzsimmons (2005). In the second part was elaborated an referential
on identification, qualification and stakeholders management and on “corporate
mobility”. For this, authors such as Freeman (1984), Ferreira and Wada (2011) and
Wada (2009) were consulted.

Keywords: Hospitality; Hotel services; Stakeholders; Tourist flow; Corporate Mobility.


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INTRODUÇÃO

Como o meio de hospedagem, por meio de articulação com seus diversos


stakeholders, pode colaborar com o destino turístico no sentido induzir o processo
de ascensão sociocultural e econômica da comunidade na qual a empresa está
inserida? A fim de colaborar na consecução de respostas, a presente pesquisa busca
promover discussão sobre as múltiplas relações estabelecidas – voluntariamente ou
não – entre meios de hospedagem e as comunidades nas quais os mesmos estão
inseridos (incluídas nesse processo, também, o poder público, demais empresas e
organizações do terceiros setor).

Esse estudo propõe que o protagonismo exercido pela rede de serviços


inerentes ao turismo de negócios se dá por meio do incremento dos fluxos turísticos ao
longo do ano, o que gera divisas e postos de trabalho nas comunidades receptoras. O
trabalho possui foco especial no setor de hospedagem, no qual figuram empresas de
diversos portes e modelos de administração, sobretudo, no caso brasileiro. Pretende-
se considerar, como tendem a se comportar os meios de hospedagem nos ambientes
interno e externo, além de analisar as respectivas relações e os possíveis impactos
da tomada de decisão organizacional sobre os diversos stakeholders das empresas.

Compreender tais relações é essencial para que gestores – atuantes na


iniciativa privada ou no poder público – tenham a possibilidade de orientar esforços e
iniciativas no sentido de desenvolver o turismo a partir de uma perspectiva de “base
local”.

A pesquisa caracteriza-se como uma revisão de literatura de caráter exploratório,


cuja abordagem dos dados é qualitativa. Em primeiro momento realizou-se pesquisa
bibliográfica e documental, por meio de livros, artigos na internet e dados retirados
de pesquisas anteriores realizadas pelo órgão associativo de agentes de viagens
corporativos (ABRACORP). Em seguida, buscou-se observar a atividade do turismo
de negócios e sua organização na cidade de São Paulo e região. Para tanto, foram
escolhidas cinco variáveis de pesquisa, a saber: Hospitalidade; Serviços; Stakeholders;
Fluxo turístico; e Mobilidade corporativa.

O artigo foi estruturado em dois tópicos, sendo o primeiro sobre “Hospitalidade


e serviços hoteleiros” no qual foi considerada a questão da hospitalidade na gestão
de serviços. Entre os principais autores consultados, é possível citar Lashley e
Morrison (2004), Camargo (2004) e Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005). Na segunda
parte elaborou-se referencial sobre identificação, qualificação e administração de
“Stakeholders” e sobre “mobilidade corporativa”. Para tanto, foram consultados
autores como Freeman (1984), Ferreira e Wada (2011) e Wada (2009).
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HOSPITALIDADE E SERVIÇOS HOTELEIROS

Como “turismo de negócios” compreende-se o conjunto de atividades, realizadas


em localidades diferentes de sua origem, cujo objetivo e motivação é a realização de
negócios e participação em eventos empresariais e gerar contatos condizentes ao
futuro da empresa (CUNHA apud. BRAGA, 2006).

O presente estudo, a partir dessa perspectiva, adota como objetivo promover


discussão sobre as múltiplas relações estabelecidas entre meios de hospedagem e
as comunidades nas quais os mesmos estão inseridos. E para elucidar questões em
torno das referidas “relações”, que são ao mesmo tempo pessoais e organizacionais,
é essencial lançar mão de referencial acerca de “Hospitalidade”, pois nesse campo
das Ciências Sociais Aplicadas encontram-se autores dedicados a objetivo idêntico:
compreender as relações humanas tanto no contexto pessoal quanto profissional.

A respeito da existência de serviços – cobrados ou não –, Camargo (2004, p.19)


afirma que a hospitalidade é “o ato humano (...) de recepcionar, hospedar, alimentar e
entreter pessoas temporariamente deslocadas de seu habitat”. Dessa forma, o autor
sugere a hospitalidade como um ato de estreitamento das relações entre pessoas.
Na visão do autor, essas “ações” ocupam-se em atender quatro vertentes de “ser
hospitaleiro”, ou seja, receber, acolher, alimentar e entreter ao visitante, garantindo
uma melhor experiência de hospitalidade.

No sentido de promover uma melhor compreensão da hospitalidade no contexto


das relações humanas, Lashley e Morrison (2004) sugerem que tais relações de
hospitalidade ocorrem em três domínios distintos e complementares: Social, Doméstico
e Comercial, conforme detalhado a seguir.

• Hospitalidade social: são as relações experimentadas no meio urbano, no es-


paço convival, por meio da ética e cidadania, da recepção de imigrantes, es-
trangeiros e fluxos turísticos, por exemplo.

• Hospitalidade doméstica: emerge a figura do anfitrião, que recebe um determi-


nado visitante em sua residência, sendo o responsável pelos atos, gestos de
acolhimento de seu visitante. Esse anfitrião determina os limites e limitações
que são oferecidos ao visitante – tenha sido convidado ou não;

• Hospitalidade comercial: trata-se das relações originadas, mantidas e media-


das por meio de contratos formais. Nesse domínio incluem-se as relações de
troca financeira e as relações comerciais em geral.

Esses autores afirmam, ainda, que a sobreposição dessas três dimensões


ou domínios cria um campo híbrido o qual origina por sua vez a figura do gestor
profissional. Isso significa que nesse campo atua o profissional da hospitalidade,
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dedicado a gerir as experiências sociais, particulares e, sobretudo, comerciais.

Wada (2007, p. 12) sugere que esses domínios (ou dimensões) podem
ser observados nas operações hoteleiras. Conforme a autora, mesmo que essa
atividade esteja inserida no campo comercial da hospitalidade – de acordo com os
autores apresentados anteriormente – é possível, por exemplo, observar também o
domínio privado (através dos serviços operacionais de back of the house, como as
camareiras, funcionários da manutenção, cozinha e segurança). Do mesmo modo, é
possível identificar elementos naturais do domínio social (front of the house como os
recepcionistas porteiros, mensageiros, maitres, garçons, coordenadores de eventos
e monitores de recreação, por exemplo). Verifica-se, naturalmente, elementos
clássicos das relações de hospitalidade no contexto comercial como as atividades de
controladoria, compras, auditoria, áreas de apoio a operação como recursos humanos
e marketing.

A gestão da hospitalidade, dessa maneira, pode ser compreendida como


estratégia para diferenciação dos serviços oferecidos – seja na hotelaria ou mesmo
em outros segmentos. E essa “hospitalidade” não remete apenas ao bom atendimento
direto ao cliente, mas, primeiro, a todas relações empresariais estabelecidas e
mantidas pela e com a organização e, depois, aos elementos físicos que competem a
empresa, seja no “front” ou no “back”, como descrito anteriormente.

Em concordância, Quadros (2011) aponta que é um erro acreditar que somente


o conjunto de instalações sejam o suficiente para que o hóspede sinta-se inclinado a
relacionar-se com o prestador de serviços. Para o autor, torna-se necessário o “desejo”
por parte dos prestadores de serviços em concretizar esse relacionamento, ou seja,
faz-se necessário que a hospitalidade faça parte das políticas de gestão da qualidade
da empresa. De outro modo, a dita “hospitalidade” será uma mera marca, um adereço,
que pretensamente remeterá a um suposto bom atendimento.

Especialmente no caso dos serviços hoteleiros, compreende-se que a


percepção de valor obtida pelos hóspedes e clientes fundamenta-se na qualidade das
relações humanas estabelecidas, dos serviços prestados, do conforto das instalações
e a solução arquitetônicas e estéticas do meio de hospedagem. A esse respeito,
Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005), somam a questão do sacrifício monetário para
que o valor seja percebido como diferencial. Cabe, dessa maneira, ao gestor buscar
o equilíbrio entre a incitação ao aumento do nível de expectativa e a competência do
prestador em fazer frente a essa demanda.

Aos elementos que compõem a formação da expectativa do cliente convenciona-


se chamar de “atributos”, isto é, os elementos que, de acordo com cada cliente e
cada momento, dão pistas ao consumidor sobre a relação custo benefício. Baseado
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nesses elementos, que são dinâmicos e pessoais, o consumidor cria em sua mente
a impressão, a percepção de ter pago um preço justo pelo produto ou serviço que
obteve.

No caso dos serviços hoteleiros essa questão é ainda mais marcante, pois nesse
segmento a participação do cliente na formação do produto final da venda é muito
significativa. A fim de ilustrar, é possível vislumbrar uma situação na qual a unidade
habitacional hoteleira é equipada com equipamentos eletrônicos e dispositivos digitais
para controle das luzes e da temperatura ambiente, mas o principal público-alvo da
empresa são grupos de idosos, oriundos de uma parceria institucional de longo prazo
com uma entidade de classe, por exemplo. Muito provavelmente a falta de informação
e educação ao hóspede incorrerá em reclamações a respeito do funcionamento dos
equipamentos e eventualmente a quebras motivadas pelo mal uso. Esse quadro é
característico de empresas desarticuladas, das quais gestores tomam decisões
fragmentadas, que desconsideram a organização e mesmo os consumidores nesse
processo.

Daí justifica-se a importância de se buscar identificar, qualificar e administrar os


stakeholders da organização. Realiza-se no tópico a seguir um breve levantamento
referencial sobre a conceituação e a estratégia de gerenciar os grupos e indivíduos
que têm interesse sobre as ações da organização e que podem impactar ou serem
impactados por suas atividades.

GERENCIAMENTO DE STAKEHOLDERS & MOBILIDADE CORPORATIVA

Em geral, os meios de hospedagem possuem diversos “públicos de interesse,


grupos ou indivíduos que afetam e são significativamente afetados pelas atividades
da organização”. Essencialmente, é possível citar os seguintes grupos: clientes,
colaboradores, acionistas, fornecedores, distribuidores, imprensa, governo e a
comunidade na qual a empresa está inserida – direta e indiretamente (ROCHA;
GOLDSHMIDT, 2004).

Conforme Zago (2012, p. 31) “a teoria dos stakeholders posiciona e prepara


as empresas para mudanças em tempos de “turbulência” e momentos críticos,
minimizando efeitos negativos e abordando questões atuais como comunicação,
acessibilidade, ética e sustentabilidade”. Durante a década de 1980, então, profundas
transformações globais impuseram ao empresariado, sobretudo na América do Norte,
uma nova dinâmica social. Assim, Freeman (1984) apresenta o “novo” ambiente
socioeconômico no qual as empresas passariam a atuar:

Proprietários ou acionistas: não estavam apenas preocupados com questões


diretamente ligadas ao lucro, mas com o modelo de gestão das organizações nas
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quais estavam investindo;

⋅ Clientes: conforme aumentou a gama de fornecedores, os clientes passaram a


poder optar pela qualidade e inovação dos produtos disponíveis no mercado;

⋅ Empregados: os empregados – e os sindicatos – passaram a compor o rol de


stakeholders das empresas;

⋅ Fornecedores: o sólido processo de industrialização e as novas invenções


tecnológicas a partir da segunda guerra mundial transformaram a matriz energética,
potencializando o mercado internacional de petróleo e derivados. Assim, a Organização
dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) tornou-se o símbolo da mudança das
relações entre fornecedores e clientes.

As mudanças no macroambiente fizeram surgir novos grupos, interesses e


temas que não puderam ser facilmente compreendidos no âmbito de um modelo ou
teoria à ocasião. Tais mudanças geraram incertezas acerca do futuro e da realidade
presente naquele período (FREEMAN, 1984, p. 11, tradução dos autores).

Conforme surgiram novos grupos e interesses, tornou-se essencial a


identificação, qualificação e consequente categorização desses grupos. Clarkson
(1995) divide os stakeholders entre “primários”, que podem ser definidos como um
grupo de atores principais e sem cuja manutenção a sobrevivência da empresa torna-
se impossível, pois esta mantém relacionamento contratual e estes são afetados
diretamente por ela no desempenho de suas atividades-fim e tomadas de decisões.
O outro grupo são os stakeholders “secundários”, que são aqueles que afetam ou são
afetados pelas atividades da organização, contudo não estão envolvidos em suas
transações e tornam-se não essenciais para sua sobrevivência.

Como visto, torna-se possível inferir que a importância do permanente


gerenciamento dos stakeholders da organização uma vez que o estabelecimento e
a manutenção de tais relacionamentos resultam na sustentabilidade da empresa a
longo prazo. Como é apresentado a seguir, realizou-se um levantamento referencial
sobre a questão dos fluxos turísticos com meios para induzir o processo de ascensão
sociocultural e econômica da comunidade na qual a empresa está inserida.

Os serviços rotulados por “mobilidade corporativa” referem-se, então, a


assessoria prestada a profissionais em viagem por ocasião de negócios – participação
em eventos, por exemplo. Conforme Harper e Runzheimer (apud Ferreira e Wada, 2011,
p. 21, Tradução do autor), a “mobilidade corporativa refere-se a gestão estratégica de
remover a geografia como uma barreira para o crescimento e para o sucesso” dos
negócios.

É interessante notar que o turismo de negócios em termos genéricos possui


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características latentes como a individualidade (viagens individuais com afazeres


previamente agendados), a heterogeneidade e complexidade (podendo ser tanto
visitas a diversos destinos quanto a destino único) e, por fim, a praticidade (por
exemplo, em face da participação em encontros profissionais com agendamento
prévio e local definido para reuniões, workshops, exibições e treinamentos). Cbae
citar as viagens de incentivo, que são atividades estabelecidas em local diferente da
origem, promovida por determinada empresa contemplando fornecedores, clientes ou
outros participantes, cujo principal objetivo seja a aproximação dos participantes com
a empresa promotora (WADA, 2009).

Como apresentado anteriormente, o contingente de hóspedes cuja viagem é


motivada pela realização de negócios, é facilmente observado em cidades de médio
e grande portes, equipadas com infraestrutura urbana e de serviços capaz de prover
o acolhimento esperado. Por exemplo, a cidade de São Paulo possui um sistema de
turismo consolidado, formado por empresas de vários portes e atuantes nos mais
diversos segmentos da atividade turística, associações e sindicatos profissionais,
centros de formação profissional e organismos públicos voltados especificamente
para a o turismo.

O resultado esperado da atuação articulada desses agentes do mercado


turístico é, entre outros, a captação de negócios, a promoção institucional do destino
e o apoio a geração de fluxos turísticos ao longo do ano. Já que, conforme Beni,
o turista de negócios também está propício a utilizar-se das estruturas de turismo
da cidade, participando assim, do fluxo de turistas na cidade. O autor afirma que o
deslocamento de “homens de negócios”,

que afluem aos grandes centros empresariais e cosmopolitas, a fim de efetuar


transações e atividades profissionais, comerciais e industriais, empregando
seu tempo livre no consumo de recreação e entretenimento típicos desses
grandes centros, incluindo-se também a frequência a restaurantes com
gastronomia típica e internacional (BENI apud. BRAGA, 2006, p. 88).

Conforme apresentado anteriormente, o turismo de negócios possui


características importantes para os gestores que buscam captar esses fluxos. Cabe
citar, por exemplo, que os turistas denominados “MICE4”, conforme Walker (apud
GONÇALVES, 2014, p. 38), costumeiramente gastam duas vezes mais que turistas
de lazer.

Outro importante fator é que os eventos do segmento MICE acontecem na baixa


temporada, movimentando a destinação turística também durante estes períodos,
4 Meetings, incentives, conferencing e exhibitions ou, em português, reuniões, viagens de
incentivo, conferências e feiras, exibições (tradução dos autores);
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com isso, possuem certa periodicidade, garantindo o controle dos acontecimentos na


cidade movimentando ações de marketing e promoção para atração de novos eventos
em novas datas e temas para atração de turistas (BRITTO; FONTES, 2002).

Os turistas de negócios – consumidor dos referidos serviços de mobilidade


corporativa – são turistas de lazer em potencial, cujo tempo livre poderá ser utilizado
para fins semelhantes àqueles que se deslocaram motivados pelo lazer.

CONCLUSÃO

Desta forma, retomando a questão original e central desse trabalho, verifica-se


que os meios de hospedagem, sobretudo, aqueles voltados ao atendimento do público
de negócios, podem induzir o processo de ascensão sociocultural e econômica da
comunidade, essencialmente, de três maneiras.

1. Planejamento da promoção institucional da empresa em alinhamento com as


políticas de comunicação organizacional estabelecidas para a difusão da ima-
gem da cidade ou região, levando em conta o contexto social, cultural, econô-
mico e ambiental

2. Qualificação dos recursos humanos para o atendimento direto ao público. É


essencial, também, que as empresas tomem parte da responsabilidade em
qualificar os profissionais para o trabalho.
3. Manutenção de um trabalho permanente de prospecção de novos clientes
corporativos paralelo a criação e promoção de ofertas que visem a atração
dos turistas MICE durante outras épocas do ano.

Conforme considerado ao longo do trabalho, acredita-se que a articulação dos


meios de hospedagem com seus stakeholders locais, tende a fortalecer o arranjo
organizacional local em torno do turismo. Além disso, há de se considerar que fatores
como mobilidade urbana e hospitalidade tanto no empreendimento hoteleiro quanto da
comunidade local são fatores que se interligam e podem ajudar a tonar a experiência
de viagem algo memorável.

A atividade turística induz a geração, além de divisas para a localidade, desta


forma, a “articulação” acentua a relevância de estudos sobre a teoria dos stakeholders,
uma vez que a boa experiência de consumo pode contribuir para a permanência deste
turista na localidade por mais tempo e, sobretudo, a difusão de boas recomendações
a respeito do destino turístico e os fornecedores locais por meio de websites como
TripAdvisor, que permitem a avaliação de turistas que já conheceram os destinos e
alguns de seus fornecedores.
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Essa pesquisa de modo esgota o tema e a correlação entre as variáveis de


pesquisa eleitas (Hospitalidade; Serviços; Stakeholders; Fluxo turístico; e Mobilidade
corporativa), mas busca fomentar a reflexão e a discussão sobre o relacionamento
corporativo de meios de hospedagem com as comunidades nas quais estão inseridos.

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O ENVOLVIMENTO DAS AGÊNCIAS DE TURISMO NO PLANEJAMENTO DO


USO PÚBLICO DO PARQUE NACIONAL DO PAU BRASIL, PORTO SEGURO-BA

RESUMO

O envolvimento e participação de agências de turismo na elaboração do planejamento


do uso público de Unidades de Conservação (UC) é um processo sistemático que requer
conformidade com os princípios da sustentabilidade das atividades turísticas em meio
natural, e deve ocorrer por meio da gestão coletiva. A disseminação e implementação
de tecnologias sociais no desenvolvimento do ecoturismo tornou-se fundamental
para o seu planejamento e sua gestão. A implantação do uso público em UC é uma
expectativa recorrente às comunidades rurais localizadas nos seus entornos e aos
empresários do turismo, em especial ás agências de turismo locais. Este artigo teve
como objetivo descrever e refletir sobre ações do processo de planejamento do uso
turístico do Parque Nacional do Pau Brasil (PNPB), UC de proteção integral localizada
em Porto Seguro, Bahia. O foco desta observação foram as ações de participação,
envolvimento e capacitação de profissionais das agências de viagem e operadoras de
turismo locais, promovidas pelo PNPB/ICMBio, Projeto Corredores Ecológicos (PCE/
BA) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Por meio do
uso de técnicas de observação participante e entrevistas, foram reunidas informações
qualitativas e quantitativas sobre a exploração do ecoturismo pelas agências de
viagem e operadoras de turismo locais. O perfil das agências de turismo locais foi
identificado e discutido. A assimilação de conhecimentos e experiências sobre o
turismo de baixo impacto pelas agências e operadoras de turismo da região de
Porto Seguro é uma prática incipiente. Existe um reduzido número de empresas que
atuam no segmento ecológico do turismo na área deste estudo. A sustentabilidade
de roteiros ecoturísticos relacionados ao uso público do PNPB estará condicionada
à continuidade da implementação de ferramentas de desenvolvimento do ecoturismo
em UC, integradas aos esforços políticos e á organização e planejamento do turismo
como um todo. Relata-se e discute-se também a experiência adquirida no envolvimento
e capacitação para a criação de roteiros ecoturísticos em Unidades de Conservação.

Palavras-chave: Agência de Turismo. Planejamento e gestão do ecoturismo. Uso


público. Unidade de Conservação.

THE INVOLVEMENT AND PARTICIPATION OF TRAVEL AGENCIES AND TOUR


OPERATORS ON THE PUBLIC USE PLANNING OF THE PAU BRASIL NATIONAL
PARK, PORTO SEGURO, BAHIA.

ABSTRACT

The involvement and participation of Travel and Tour operators in the preparation of
the public use planning of natural protected areas is a systematic process that requires
compliance with the principles of sustainability of tourism activities in the natural
environment, and should occur through collective management. The dissemination
and implementation of social technologies in the development of ecotourism has
become critical to its management and planning. The implementation of public use
in the natural protected areas is an applicant expectation to the rural communities
located in their surroundings and its tourism entrepreneurs, especially fo the local
travel end tour related operators. This article aims to describe and reflect on the
actions of the tourism planning process of the Pau Brazil National Park ( NPPB ),
full protection natural protected area, located in Porto Seguro, Bahia. The focus of
this observation were the actions of participation, involvement and empowerment of
çocal travel agency and tour operator staff promoted by NPPB / ICMBio , Ecological
Corridors Project (PCE / BA) and United Nations Development Programme (UNDP).
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Through the use of techniques of participant observation and interviews, qualitative


and quantitative information about the operation of ecotourism by local travel agencies
and tour operators were pooled. The profile of the local travel and tour enterprises
were identified and discussed. The assimilation of knowledge and experiences on low-
impact tourism by the local companies in the Porto Seguro area is a nascent practice.
There are a small number of companies engaged in ecotourism segment in the area
of this research. The sustainability of ecotourism programs related to the public use
of the NPPB are conditional on the continued implementation of the natural protected
areas ecotourism development tools, integrated into the political efforts and into the
tourism organization and planning as a whole. Also, It is reported and discusseed the
experience gained from involvement and empowerment for the creation of ecotourism
programs in protected areas.

Keywords: Tour operator. Ecotourism management and planning. Public use. Natural
protected areas.

INTRODUÇÃO

A região do litoral do extremo sul do Estado da Bahia, desde a chegada dos


europeus em 1500, sempre se destacou por sua exuberância do patrimônio natural, e
foi considerada sítio do patrimônio mundial natural “wolrd heritage” pela Organização
das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO) em 1999. A
Costa do Descobrimento abriga alguns dos mais importantes remanescentes de
fitofisionomia do tipo Ombrófila densa, bioma Mata Atlântica, florestas em altíssimos
graus de biodiversidade, espécies endêmicas, inclusive na lista de ameaçadas de
extinção.
Sobreposto à região do patrimônio natural mundial mencionada está o Parque
Nacional do Pau Brasil (PNPB), também criado em 1999, em uma área inicialmente
de 11 mil hectares, no município de Porto Seguro, Bahia, posteriormente ampliada e,
atualmente mede 19.027,22 hectares, onde são encontradas algumas espécies de
mamíferos e aves ameaçadas de extinção, tais como a Onça-pintada, Panthera onca,
a Onça-parda, Puma concolor greeni, o Sabiá Pimenta, Carppornis Melanocephala, e
o Pica-pau-de-coleira-do-sudeste, Crax Blumenbrachii (BRASIL/ICMBio, 2014).
Um espaço físico biológicamente e ecologicamente importante, favorecido bela
beleza cênica de sua paisagem, relevo, entrecortados por riachos, quedas d´água e
trilhas, portanto propício para o desenvolvimento do ecoturismo1
Os Parques Nacionais no Brasil são áreas destinadas à proteção integral e
devem ter seus usos públicos orientados por meio de planos de manejo próprios.
Alguns destes parques, apesar de terem sido criados, muitas vezes em décadas
anteriores, ainda não dispõem da elaboração e implementação de tais planos. Estes
planos de manejo são elaborados especificamente e determinarão seu zoneamento,
1 Segmento turístico realizado em patrimônios naturais e culturais, que incentiva sua
conservação e a formação de uma consciência ambientalista, promove o bem-estar das populações
envolvidas (BRASIL, 1994).
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normas de uso e manejo, bem como estabelece - através da implantação do


programa de uso público, parte integrante do Plano de manejo - as atividades que
serão desenvolvidas, geralmente com foco na pesquisa e ou visitação com objetivos
ecológicos, conforme dispostos na Lei nº 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional
de Unidades de conservação (SNUC).
A implantação do uso público do PNPB é uma expectativa recorrente às
comunidades rurais localizadas no seu entorno e aos empresários do turismo de Porto
Seguro, em especial ás agências de turismo locais. Estes atores sociais vislumbram
com isso, possibilidades de geração de emprego e renda, favorecidos a partir da
exploração de atividades de visitação ecoturística na área.
O processo de planejamento e gestão do uso público de Unidades de
conservação tem como foco a sustentabilidade, e deve ocorrer por meio da gestão
coletiva. De acordo com Lima (2001) a gestão coletiva é um processo que deve
envolver a participação dos diversos atores sociais interessados na área, desde as
primeiras discussões, passando pelo planejamento do uso público, implantação do
plano de manejo, gerenciamento de ações, monitoramento e avaliação da mesmas.
O Projeto Corredores Ecológicos (PCE)2 em parceria com o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), por solicitação do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e com anuência do Comitê
Estadual da Reserva da Biosfera da Bahia3, realizaram dois trabalhos de consultoria
direcionados á capacitação de guias de turismo, condutores de visitantes e profissionais
das agências de turismo localizados no entorno do PNPB, na região de Porto Seguro-
BA. Estas consultorias tiveram como objetivo principal a elaboração e a formatação
de roteiros ecoturísticos e, com isso, iniciar o planejamento do uso público do Parque.
Este trabalho tem como objetivo apresentar a metodologia, os resultados e
discussões sobre o processo de elaboração participativa do planejamento do uso
público do PNPB, com foco nas ações de capacitação de agentes de viagem e
operadores turísticos localizados no entorno desta UC, para a elaboração de roteiros
de ecoturismo.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA CAPACITAÇÃO DE AGENTES DE


VIAGENS E OPERADORES TURÍSTICOS DO ENTORNO DO PNPB

As agências de viagens e operadoras de turismo que atuam no mercado


receptivo de ecoturismo constituem o elo principal da cadeia de fornecimento do produto
ecoturístico. A sustentabilidade desse produto, portanto perpassa pela necessidade

2 Projeto do Ministério do Meio Ambiente, em conjunto com órgãos ambientais dos


estados participantes, o qual tem como objetivo reduzir a fragmentação dos remanescentes florestais,
por meio do desenvolvimento da conectividade dos mesmos (PCE, 2006).
3 Instância de deliberações de ações planejadas pelo PCE/BA (PCE, 2006).
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de qualificação de profissionais e empresas que pretendem atuar nesse segmento


específico do mercado turístico. Nesse sentido, a organização e capacitação de
pessoas e empresas relacionadas ao mercado receptivo da região de Porto Seguro,
torna-se necessária ao desenvovlimento do uso turístico do Parque Nacional do Pau
Brasil.
Preliminarmente foram realizadas reuniões com os gestores do PNPB, em
seguida apresentou-se aos membros do conselho gestor da UC a proposta do plano
de trabalho para a capacitação dos agentes de viagem e operadores turísticos, a
qual foi apreciada e discutida com inutito de ajustar todos os detalhes necessários ao
desenvolvimento da ação.
Foi realizado um diagnóstico do perfil profissional e tipologia das agências de
turismo da região de Porto Seguro. Esta análise prévia permitiu reunir informações
necessárias para realização da seleção dos participantes da oficina e para a elaboração
do material didático utilizado.
Um formulário foi utilizado para obter informações sobre a estrutura
organizacional, tipologia e histórico profissional das agências locais. Com base nessas
informaçãoes, identificou-se o perfil e a atuação mercadológica de 16 agências de
turismo locais, por meio de entrevista com seus gestores. Foram realizadas 24 visitas
às agências de turismo das localidades de Poro Seguro, Arraial D´Ajuda e Trancoso.
Esta aproximação permitiu conhecer melhor a realizadade do mercado e da oferta
local de ecoturismo, bem como os diferentes graus de especialização em ecoturismo
das agências de turismo locais.
Os critérios para análise do perfil profissional e tipologia das agências foram
estabelecidos com base na tipologia de agências de Turismo adaptada ao mercado
brasileiro (TOMELIN, 2000), pelo qual classificam-se as agências de turismo em: a)
Agências de Viagens Detalhistas; b) Agências de Viagens Maioristas; c) Agências de
Viagens Tour Operators (Operadora de Turismo); d) Agências de Viagens Receptivas.
Complementarmente, foi realizado um levantamento da oferta dos diversos
produtos turísticos relacionados á região de Porto Seguro, com especial atenção
aos pacotes comercialziados via internet pelas agências de turismo que atuam nesta
modalidade de distribuição eletrônica de produtos turísticos.
A partir das reuniões com os gestores e com o conselho gestor do PNPB, definiu-
se a forma como seria a oficina e os conteúdos do seu material didático específico. Em
seguida, realizou-se a oficina de agentes de viagem e operadores turísticos, em duas
semanas e teve duração de 30 horas, sendo 16 horas teóricas e 14 horas práticas.
Foram abordados os seguintes temas no conteúdo do material didático: a)
Meio Ambiente; b) Mata Atlântica; c) Unidades de Conservação; d) Ecoturismo e
turismo de base local; e) Desenvolvimento de produtos turísticos; f) Elaboração e
desenvolvimento de roteiros turísticos; g) A cadeia produtiva do turismo.
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A estratégia metodológica adotada nas oficinas enfatizou a utilização de métodos


dialógicos e participativos, através da interação dos participantes nas discussões em
grupos, incentivando-os a construir seu próprio conhecimento a partir das trocas de
vivências e experiências individuais e a socialização dos resultados.
Nas oficinas de capacitação, elaboração e formatação de roteiros de
ecoturismo, utilizou-se de técnicas participativas para a transmissão e obtenção de
informações, provocação de reflexões sobre a contextualização do PNPB e seu
entorno, e envolvimento da co-responsabilidade e participação do planejamento da
visitação do PNPB. Estas técnicas tem como objetivo o favorecimento de mudanças
de pensamentos e atitudes individuais e coletivas acerca das temáticas abordadas, e
estão fundamentadas na descrição de Drumond (2002), adaptadas para a o contexto
local, com destaque para a exposição dialogada; apresentação de slides sobre
temas chave; tempestade de idéias; dinâmicas de sensibilização ambiental; travessia
(desenho de roteiros); matriz de opções.
Com objetivo de reunir informações que favorecessem a compreensão e
interpretação das experiências realizadas com os atores sociais envolvidos, foi utilizada
a técnica da observação participante (JONES, 1993), classificada como participante
observador (GOLD, 1958).
A parte prática da oficina foi realizada por meio de duas atividades em campo
e um exercício de elaboração do produto ecoturístico. Esta ação de capacitação,
incorporando os conceitos e objetivos conservacionistas dos Parques Nacionais e os
princípios do turismo de baixo impacto e da sustentabilidade, teve como produto final
a elaboração, por parte dos participantes, propostas de roteiros e passeios na área de
influência do Parque Nacional do Pau Brasil. Teve também, como princípio orientador,
a idéia de que o sucesso da exploração turística do PNPB dependerá da qualidade
que se imprimir: a) Nas atividades de recreação aliadas à educação ambiental e na
sua apresentação para os visitantes; b) Na preservação e sensibilização ambiental
(além de praia e mar, trilhas e passeios ambientais como oportunidade de reaprender
a conviver com a mata nativa como fonte de vida e de sustento) e; c) Na valorização
das populações locais como sujeito e objeto do desenvolvimento turístico, preparando-
as para exercer o papel de revelar ao visitante os segredos de seu território e de seus
fazeres.
Também como estratégia metodológica, durante a oficina, houve a realização
de uma atividade prática de elaboração de roteiros, onde participaram os agentes de
viagem e operadores turísticos, em conjunto com guias de turismo e condutores de
visitantes. Esta atividade consistiu na realização de uma atividade prática de elaboração
de um tour de ecoturismo para a região, que incluiu atrativos localizados no entorno
do Parque Nacional do Pau Brasil. Foi informado aos participantes que o tour deveria
conter: a) Público alvo; b) Combinação de atrativos; c) Meios de transporte utilizados;
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d) Combinação de atividades ecoturísticas; e) Tempo determinado para cada atividade;


f) Capacidade máxima de atendimento por grupo; g) Grau de dificuldades; h) Recursos
humanos necessários; i) Temas interpretativos a serem abordados; j) Técnicas de
interpretação ambiental utilizadas; k) Infra-estrutura de apoio e equipamentos; l)
Preocupação socioambiental; m) Prevenção e segurança; n) Condições gerais e
específicas do programa; o) Planilha de custo operacional e preço de venda.
Esta atividade de elaboração conjunta da possíveis programações ecoturística
culminou com as apresentações e discussões dos programas elaborados pelos
grupos.

RESULTADOS OBTIDOS E DISCUSSÕES SOBRE AS OFICINAS DE CAPACITAÇÃO


DE AGENTES DE VIAGEM E OPERADORES TURÍSTICOS DO ENTORNO DO
PNPB

A) DIAGNÓSTICO SOBRE AS AGÊNCIAS DE TURISMO QUE ATUAM NA


REGIÃO DE PORTO SEGURO

Os produtos turísticos de Porto Seguro, fundamentalmente são compostos


pelo segmento de Turismo de Lazer, caracterizados pela exploração dos atrativos
naturais, principalmente as praias e as barracas de praia que oferecem apresentações
musicais e danças de axé. Tais afirmações se comprovam ao se verificar os principais
programas de viagens organizadas, popularmente conhecidos como pacotes turísticos
oferecidos pelas operadoras de turismo inter-estaduais que atuam na região.
O turismo de massa, caracterizado por grandes grupos de turistas que se
utilizam de um pequeno espaço geográfico ao mesmo tempo, através de programas
turísticos explorados principalmente por operadoras localizadas nos pólo emissores,
é a principal característica do turismo que se pratica na região.
Uma parcela de 70 % do volume total de roteiros turísticos comercializados
no município de Porto Seguro tem suas operações concentradas por apenas 04
operadoras turísticas de grande porte que, apesar de terem sedes localizadas em
outro estado, atuam com estrutura própria na região de Porto Seguro-BA.
Verificou-se no diagnóstico realizado que, os produtos do segmento ecoturístico
são explorados ainda de forma incipiente por apenas 03 agências, todas elas de
pequeno porte. O fato de apenas um número reduzido de agências terem apresentado
real interesse no segmento ecoturístico demonstra o quanto os números desse
segmento ainda se apresentam insignificantes, diante do volume total de negócios
que realizam as demais agências de turismo que atuam na região, e movimentam
milhares de pessoas.
Localizadas na região de Porto Seguro, foram identificadas 16 empresas, em
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sua maioria micro empresas que atuam no mercado receptivo turístico, o que inclui
passeios, traslados e demais serviços turísticos receptivos. Destas, 50% tem no total
até 03 funcionários somente, e apenas uma empresa deste grupo tem mais de 20
funcionários.
O resultado do diagnóstico realizado confirma que a região de Porto Seguro,
apesar do potencial existente, ainda não dispõe de um produto de ecoturismo
devidamente consolidado e competitivo. Todavia faltam esforços de planejamento e
estruturação desse produto, a fim de favorecer o desenvolvimento do turismo de baixo
impacto como uma prática constante e não apenas em esforços isolados.
O processo de planejamento da visitação no PNPB deverá levar em conta
primeiramente os objetivos sociais da UC, ou seja, sistematizar num primeiro momento, a
visitação das comunidades, utilizando-se da mão-de-obra das comunidades do entorno
através de cooperativas, por exemplo. Num segundo momento, após estruturado o
programa de visitação com foco nas comunidades locais, as agências de turismo
poderiam integrar-se às atividades de visitação nesta UC, a partir do desenvolvimento
de programas próprios, mas que necessariamente incluiriam a mão-de-obra já em
atividade no parque, ou seja, das comunidades locais. Pois, o turista “consciente”,
prefere ser servido por indivíduos que estejam mais envolvidos com a cultura e com
o ambiente locais, ao invés de, simplesmente um funcionário de agência ou guia de
turismo.

B) OFICINA DE CAPACITAÇÃO DE AGENTES DE VIAGEM E OPERADORES


TURÍSTICOS, EM ECOTURISMO

A oficina teve como base as discussões realizadas que envolveram os seguintes


temas: a) Ecologia; b) Meio ambiente e Unidades de Conservação: Histórico, conceitos
relacionados e legislação; c) Conceito de corredor ecológico: a importância das UC´s
para conectividade dos fragmentos e manutenção dos ecossistemas; d) PNPB e a Mata
Atlântica; e) Ecoturismo: conceito, atividades, diretrizes de planejamento e perfil do
ecoturista; f) Ecoturismo em UC´s brasileiras: situação atual, oportunidades e desafios
relacionados; g) Diminuindo impactos do turismo: aplicação dos conceitos de turismo
sustentável, ecoturismo e turismo de base comunitária; H) Ecoturismo e Interpretação
ambiental; i) O papel das agências de turismo no planejamento e desenvolvimento de
roteiros turísticos na região.
Partindo de Arraial D´Ajuda, uma excursão técnica foi realizada com objetivo de
adquirir uma visão abrangente do PNPB e seu entorno, a partir da avaliação in loco,
de suas potencialidades, seus recursos, situação atual em que se encontra o parque
e suas limitações.
A partir das reflexões sobre a contextualização do produto turístico local e
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as possibilidades e desafios relacionados ao uso público e turístico do Parque, os


profissionais das agências e operadoras puderam desenvolver uma forma de pensar
um possível produto ecoturístico para a localidade em questão.

C) OFICINA DE ELABORAÇÃO DE PRODUTO ECOTURÍSTICO:


PROFISSIONAIS DAS AGÊNCIAS DE TURISMO LOCAIS, EM CONJUNTO COM
GUIAS DE TURISMO REGIONAIS E MEMBROS DAS COMUNIDADES RURAIS DO
ENTORNO DO PNPB

No município de Porto Seguro-BA existem cinco localidades rurais - Vale


Verde, Projeto Vale Verde, Coqueiro Alto, Vera Cruz e Boa Esperança - que possuem
comunidades onde os indivíduos mantém fortes relações socioculturais e econômicas
com o meio rural. Estes individuos, muitas vezes tem suas propriedades ou desenvolvem
trabalhos em areas lindeiras ao PNPB (OLIVEIRA, 2010).
Com intuito de favorecer o envolvimento das comunidades mais interessadas
e atingidas pelo uso público e consequente desenvolvimento turístico do PNPB e de
promover o desenvolvimento humano, foi programado e realizado um encontro que
envolveu os membros das comunidades rurais e os agentes de viagem e operadores
de turismo, com objetivo de, em conjunto, realizar um exercício prático sobre a
elaboração de um tour de ecoturismo para a região, que incluiu basicamente atrativos
naturais e culturais localizados no entorno do Parque Nacional do Pau Brasil.
Este exercício favoreceu a percepção geral de que os diversos aspectos
relacionados à formatação de um produto ecoturístico para dar suporte ao PNPB,
quando pensados de forma integrada, podem gerar soluções comuns tanto para as
agências de turismo como para os guias de turismo regionais e os condutores de
visitantes. A integração entre estes diversos atores sociais, despertou a atenção para a
necessidade de planejamento turístico participativo, própria do contexto das Unidades
de Conservação inseridas no turismo.
Os grupos puderam perceber os aspectos da gestão mercadológica do turismo
de natureza e, como resultado da atividade de integração entre agentes de viagem,
operadores de turismo, guias de turismo, condutores de visitação e membros das
comunidades rurais, cinco grupos de trabalho apresentaram as possibilidades de
exploração turística dos atrativos do entorno do PNPB, com base na orientação
recebida, conhecimentos adquiridos e temas discutidos durante as oficinas.
As atividades sugeridas, basicamente incluem: a) caminhadas em trilhas
interpretativas; b) banhos de rio, represa e cachoeira; c) degustação de frutas tropicais
e culinária regional; d) canoagem; e) cavalgadas; f) observação de fauna e flora; g)
observação de cultivo de açaí; h) visitas ao alambique de cana-de-açúcar; i) visitas a
antigas fazendas de cacau.
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Observou-se que as atividades de Interpretação do patrimônio ainda são


consideradas uma novidade para a maioria dos participantes. No entanto, tal conceito
demonstrou ter despertado grande interesse, tanto por parte dos funcionários de
agências e operadoras quanto dos guias e monitores reunidos.
A preocupação com a segurança, apesar de estar evidente nas propostas, ainda
não se encontra sistematizada, conforme os princípios que orientam o desenvolvimento
do turismo me geral.
Vale lembrar que as atividades sugeridas, de acordo com o mercado, terão
seu grau de competitividade relacionado à qualidade, não só dos serviços prestados,
mas principalmente da qualidade da experiência que proporcionar aos visitantes, o
que inclui a educação e interpretação ambiental. O diferencial estará no apelo cultural
e ambiental que se imprimir a estas atividades. Resta saber aproveitar deste rico
patrimônio natural e cultural da humanidade, gerando o mínimo impacto negativo
possível e, com isso oferecendo um novo produto turístico, com características
distintas do atual modelo de exploração turística desta região, voltado para outro
público alvo específico, segmentado com desejos e necessidades distintos do atual
grupo predominante de consumidores do produto Porto Seguro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A capacitação dos profissionais de agências de turismo da região de Porto Seguro


para as atividades turísticas de baixo impacto ambiental é um fator importante para o
processo de estruturação dos programas de visitação que serão operacionalizados
no PNPB. No entanto, ficou evidente a necessidade de se desenvolver previamente,
uma estrutura para dar suporte à gestão da visitação, por parte das comunidades
locais, a exemplo da cooperativa de condutores sugerida anteriormente, para após
isto, iniciar os serviços prestados pelas agências de turismo dentro do Parque.
A disseminação de conhecimentos e experiências sobre o turismo de baixo
impacto, pelas agências e operadoras de turismo da região de Porto Seguro é uma
prática muito recente. Os reflexos disso, podem ser verificados no reduzido ou quase
inexistente contingente de empreendimentos locais voltados para segmentos turísticos
relacionados ao tema da sustentabilidade, tais como o ecoturismo, o turismo rural, o
turismo de aventura e outros segmentos afins.
O fato de existir uma tradição em explorar o turismo de lazer voltado para o
segmento sol e praia, principalmente por grandes operadoras, tem caracterizado o perfil
da maioria das agências e operadoras que atuam na área, o que conseqüentemente
contribui para a formação do perfil do corpo de guias de turismo e condutores de
visitantes.
Não obstante, o desenvolvimento dos segmentos turísticos de baixo impacto
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tem despertado interesse de algumas empresas de agenciamento e operações, em


especial as de pequeno porte, as quais se propuseram a realizar a capacitação
realizada em Porto Seguro. Estas empresas, na sua maioria já têm desenvolvido seus
programas turísticos, incluindo os atrativos naturais e culturais da região e demonstram
deter alguns conhecimentos relacionados ao turismo de baixo impacto, com foco nas
necessidades e desejos desse público alvo específico voltado à sustentabilidade.
A realização da oficina direcionada aos profissionais das agências e operadoras,
em conjunto com os guias de turismo e condutores de visitantes, possibilitou uma
experiência inusitada entre os participantes de ambas oficinas. O fato de terem sido
selecionados guias de turismo e condutores de visitantes das comunidades rurais do
entorno do PNPB despertou nos funcionários das agências e operadoras a necessidade
da construção coletiva e participativa. Os condutores de visitantes, sendo provenientes
das comunidades rurais da área do entorno do Parque, possibilitam a formação da
“base turística comunitária”, o que converge com os princípios da sustentabilidade e
do baixo impacto das atividades turísticas.
Apesar de considerarmos atingidos os objetivos propostos inicialmente no
âmbito do projeto, este trabalho realizado corresponde a apenas a etapa inicial do
processo de formatação e consolidação de roteiros e produtos ecoturísticos na região.
Em geral, tal processo envolveria inicialmente um levantamento do potencial existente
na região, seguido de um diagnóstico sobre o turismo na região e das diretrizes que
comporiam o planejamento e a formatação dos roteiros que incluísse o PNPB e
entorno.
O processo de planejamento e estruturação de uma Unidade de Conservação
para a visitação deve envolver todas as partes interessadas. A exemplo da atividade de
encerramento realizada nas oficinas, outras reuniões haveriam de ser programadas,
com intuito de aproximar, sensibilizar e mobilizar estas partes interessadas para a
importância do trabalho de forma participativa.
Os participantes da oficina de capacitação de profissionais de agências de
turismo demonstraram ter assimilado os princípios da sustentabilidade do turismo
ensinados durante a capacitação. Igualmente, demonstraram bastante interesse em
dar continuidade às atividades realizadas junto com os condutores de visitantes. Isso
é um indício de que entenderam a necessidade implícita de esforços mútuos pelas
partes interessadas.
No entanto, a sustentabilidade de roteiros ecoturísticos relacionados ao uso
público do PNPB estará condicionada à continuidade da disseminação das tecnologias
sociais de desenvolvimento do ecoturismo em UC e, aos esforços políticos e á
organização e planejamento do turismo.
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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO LOCAL DO TURISMO: UM ESTUDO


SOBRE FERROVIA , TURISMO E MEIO AMBIENTE NO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO

RESUMO: A relação entre ferrovia e meio ambiente na perspectiva do desenvolvimento


do turismo de base local exige uma visão planejada, contudo desconhece-se a
identificação e análise desta relação no Estado do Rio de Janeiro. Portanto, o objetivo
geral deste trabalho é identificar a relação entre ferrovia de passageiro (notadamente
turística) e o meio ambiente, (notadamente Unidades de Conservação - UCs) no
Estado do Rio de Janeiro, com a finalidade de subsidiar processos de planejamento
e gestão de destinos turísticos levando a estruturação do turismo ferroviário, e do
próprio turismo em UCs que venha a se estabelecer associado a algum elemento
ferroviário. A pesquisa é exploratória, descritiva e de natureza qualitativa. Os
resultados demonstram como é heterogênea a relação entre turismo, ferrovia e meio
ambiente no Estado do Rio de Janeiro, exigindo-se cada vez mais uma atuação de
maneira integrada em termos de planejamento e gestão entre a ferrovia e os destinos
turísticos envolvidos.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Ferrovia. Meio Ambiente. Desenvolvimento Local.
Planejamento e Gestão.
ABSTRACT: The relationship between railroads and environment from the perspective
of the development of locally based tourism requires planning view on. However, it is
unknown whether there is a survey and analysis of this relationship in the state of Rio de
Janeiro. Therefore, the aim of this study is to identify the relationship between railroads
for passengers (especially for tourism) and environment (notably protected areas) in
the state of Rio de Janeiro, in order to support the planning and management of tourist
destinations, leading to structuring railroad tourism, and tourism in protected areas
which occurs associated with a rail element. The research is exploratory, descriptive
and qualitative. The results demonstrate how heterogeneous the relationship between
tourism, railways and environment in the State of Rio de Janeiro can be, demanding an
increasingly role in an integrated way in terms of planning and management between
the railroad and touristic destinations involved.
KEYWORDS: Tourism. Railway. Environment. Local Development. Planning and
Management.

INTRODUÇÃO

A relação entre ferrovia e turismo pode ocorrer além da distribuição geográfica


da demanda turística através do uso dos transportes ferroviários, em alguns casos
a experiência ferroviária é a própria experiência turística, por exemplo os passeios
ferroviários através dos trens exclusivos para fins turísticos (ver FRAGA, 2004 e 2011;
FRAGA e CASTRO, 2012; FRAGA, 2013; FRAGA, SANTOS e RIBEIRO, 2014).
O turismo ferroviário no Brasil tem se estruturado ao longo dos últimos anos
como um forte segmento do mercado turístico (ver FRAGA, 2011; FRAGA, SANTOS
e RIBEIRO, 2014). Contudo, como os trens turísticos estão inseridos em dinâmicas
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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sócio espaciais e culturais bastante heterogêneas, em muitos casos esses passeios


ferroviários podem servir de suporte a outros segmentos, notadamente o turismo
cultural e ao turismo na natureza (ver FRAGA, 2011).
Geograficamente, as ligações ferroviários podem estar inseridas parcialmente
ou totalmente em ambientes naturais (protegidos ou não) e representativos
de identidades e culturas locais. Contudo, se desconhece a existência de um
mapeamento da relação entre ferrovias, turismo e as Unidades de Conservação (UCs)
no Brasil na perspectiva do planejamento e do desenvolvimento local. Portanto, as
perguntas norteadoras deste trabalho se relacionam com o diálogo que pode existir
entre a ferrovia e as UCs seja pela interseção dos trechos ferroviários (totalmente ou
parcialmente) nas UCs, seja pela proximidade entre as ferroviais e as Unidades de
Conservação.
O objetivo geral deste trabalho é identificar a relação entre ferrovia de
passageiro (notadamente turística) e o meio ambiente (notadamente Unidades de
Conservação - UCs) no Estado do Rio de Janeiro, com a finalidade de subsidiar
processos de planejamento e gestão de destinos turísticos considerando de um lado
a estruturação do turismo ferroviário; e de outro a estruturação do próprio turismo em
UCs, especialmente àquele que venha a se estabelecer associado a algum elemento
ferroviário. Os objetivos específicos são: analisar a interface turismo, meio ambiente e
os transportes ferroviários; compreender as possibilidades de desenvolvimento local
através da relação entre ferrovias e UCs na perspectiva do planejamento do turismo
em interface com os transportes;
A pesquisa é exploratória e descritiva, de natureza qualitativa. Os procedimentos
utilizados foram levantamento bibliográfico e documental com consulta a dados
secundários. Além da introdução e das considerações finais o trabalho apresenta três
seções, a saber: primeira sobre a relação entre meio ambiente, ferrovia e turismo; a
segunda, na qual se apresenta num primeiro momento a noção sobre desenvolvimento
local, e posteriormente se aborda o planejamento e as políticas públicas como
instrumentos fundamentais; a terceira, na qual se apresenta o levantamento da
relação entre ferrovia e UCs no Estado do Rio de Janeiro e as discussões sobre o
papel da ferrovia para a UCs e da UCs para a ferrovia no Estado do Rio de Janeiro.
Essa discussão é realizada a partir de noções sobre políticas públicas, notadamente
o processo de regionalização do turismo.

1. FERROVIA E TURISMO NA PERSPECTIVA DO MEIO AMBIENTE NO


BRASIL

O meio ambiente é o espaço no qual o turismo ocorre, sendo assim tornase


relevante norteá-lo conceitualmente. Quintas (1992) afirma que o meio ambiente é
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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a relação dos seres humanos entre si e com o meio físico-natural. Já a cultura é


explicada por esse autor como resultado das relações entre o homem-natureza e
homens-homens. Assim, bens materiais, valores, modos de fazer, de pensar e de
perceber o mundo, de interagir com a própria natureza e com os outros seres humanos
fazem parte da cultura.
Em todo o mundo, são criadas áreas especialmente protegidas por lei, a fim
de salvaguardar o meio físico-natural e aspectos socioculturais ligados a elas. No
Brasil, a criação de áreas a serem protegidas é garantida por lei, através do Sistema
Nacional de Unidade de Conservação (Lei 9.985/2000), que afirma o compromisso
com a proteção da natureza associado ao desenvolvimento social e econômico do
território. Existem doze categorias que se diferenciam quanto à forma de proteção e
usos permitidos, sendo pertencentes a dois grupos (a) Unidades de Proteção Integral,
que tem objetivo básico de “preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso
indireto dos seus recursos naturais”1; (b) Unidades de Uso Sustentável, que buscam
a compatibilização da conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos
seus recursos naturais2 (BRASIL, 2000).
O turismo já foi visto como uma grande ameaça às áreas a serem protegidas
da humanidade, na atualidade esse é entendido como uma atividade que, ao mesmo
tempo em que é capaz de proporcionar o contato com a natureza (e, portanto reflexão
sobre a importância de protegê-la); é também uma atividade que pode gerar receitas
financeiras para a Unidade de Conservação (UC) (colaborando, assim, com a sua
gestão). Nesse sentido, a ferrovia voltada ao transporte de passageiros é um serviço,
que quando associado a paisagem da UC pode aumentar as possiblidades do turismo
e do desenvolvimento local.
Assim, é fundamental compreender a relação entre transportes e destinos
turísticos. A partir do padrão de itinerário turístico (ver Palhares, 2005) envolvendo
origem, destinos turísticos, rotas etc.; e de acordo com Duval (2007) a relação entre
transportes e turismo pode ser caracterizada tanto pelos pontos (ou nós), quanto
por rotas (ou vetores). Nesse sentido, as rotas interligam os “nós”, daí nota-se que
o fluxo turístico para ocorrer geralmente necessita de infraestrutura e de serviços
de transportes, e portanto de uma rede de transportes. Ao se considerar as áreas
protegidas (em especial UCs) como destinos turísticos (ou parte significativa destes)3
a serem visitados, nota-se que esses poderiam ser ou fazer parte dos “nós”, e
que a ferrovia poderia ser uma das rotas (ou vetores) para acesso e/ou circulação

1 As categorias de Unidade de Conservação que compõem este grupo são: Estação Ecológica;
Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre.
2 As categorias de Unidade de Conservação que compõem este grupo são: Área de Relevante
Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável;
Reserva Extrativista; Área de Proteção Ambiental; e Reserva Particular do Patrimônio Natural.
3 Para Lohmann e Castro (2013), os destinos turísticos podem ser desde um vilarejo até uma
nação.
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envolvendo as UCs.
Os itinerários ferroviários em relação as UCs e seus entornos também podem
ser variados, por exemplo: permitindo interligar a UCs não só com a origem dos
deslocamentos, mas com outros destinos turísticos de interesse (sejam esses
primários ou secundários), e em alguns casos até promovendo a circulação dentro da
região de destino turístico.
Os modos de transportes a serem utilizados no turismo podem ser de variados
tipos (aéreo, ferroviário, aquaviário e rodoviário), de acordo com a tecnologia empregada
relacionada a via e ao veículo transportador (PALHARES, 2005). Especificamente
sobre o modo ferroviário, este é composto por elementos (via, veículo, força motriz e
terminal) com características peculiares (ver PALHARES, 2002). Por exemplo, a via
ferroviária é segregada através de guias segregadas, exemplos trilhos e, portanto,
dificilmente ocorre o engarrafamento nos deslocamentos ferroviários; os veículos4
geralmente apresentam a possibilidade de aumento ou diminuição da capacidade
de transportes de passageiros e carga, e por isso podem auxiliar no processo de
adequação relativo a sazonalidade (alta e baixa temporadas) no turismo, se tornando
uma vantagem para o planejamento e gestão de destinos turísticos (PALHARES,
2002; LOHMANN, CASTRO, 2013).
Como observado, em muitos casos são necessárias ligações intermodais
(interligação entre dois ou mais meios de transportes) para melhor atender ao
deslocamento turístico num dado espaço geográfico, já que o serviço ferroviário
raramente é porta a porta (ver PALHARES, 2002; LOHMANN, CASTRO, 2013). Na
intermodalidade, o modo rodoviário assume um papel importante, pois este promove
o serviço denominado “porta a porta” devido a sua flexibilidade e alcance. Ainda sobre
intermodalidade, existem duas tendências para estas interligações relacionada ao
modo ferroviário, uma que é a mais tradicional relacionando o modo ferroviário ao
aquaviário, e outra, que é mais contemporânea relacionando o modo ferroviário ao
aéreo (ver PALHARES, 2002; LOHMANN, CASTRO, 2013).
A primeira ferrovia no Brasil data de 160 anos atrás, foi construída por Irineu
Evangelista, mais conhecido como Barão de Mauá em 1854, interligando os fundos
da Baía de Guanabara a Fragoso, em Raiz da Serra de Petrópolis, ambos localizados
no Estado do Rio de Janeiro. Para uma leitura aprofundada sobre os avanços e
retrocessos ferroviários por fases específicas no Brasil, ver Rodriguez (2012). Fraga
(2013) e Fraga, Santos e Ribeiro (2014) fizeram discussões interessantes sobre a
ferrovia no Brasil com base na evolução por períodos. Um destaque relevante para
o presente estudo é do período nomeado por Rodriguez (2012) como “Privatização”

4 Os veículos ferroviários também derivam de projetos ferroviários variados de acordo com


finalidades específicas. Essas finalidades podem inclusive nomear esses veículos, tais como Trens
Turísticos, Bondes Urbanos, Trem de Alta Velocidade etc. A relação de cada veículo deste com o
turismo pode se dar de maneira diferente (FRAGA, CASTRO, 2012; FRAGA, 2013).
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e a “Situação Atual”, pois nesta fase se tornaram escassas as opções ferroviárias de


passageiro no Brasil em função da nítida opção das concessionárias ferroviárias pelo
transporte de carga.
Atualmente, sobre os transportes ferroviários no Brasil, é importante
compreender o papel da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT),
esse é “o órgão responsável pela gestão dos serviços de transporte ferroviário em
malha ferroviária concedida, entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que
transponham os limites de Estado ou Território” (ANTT)5. Ainda de acordo com a ANTT,
tem-se que o transporte ferroviário de passageiros pode ser regular (trem regular ou
regional) ou não regular (trem turístico, cultural e comemorativo).
A partir desta variedade de iniciativas ferroviárias de passageiros (trem regional,
turístico, cultural e comemorativo) no Brasil, é mister destacar que, de acordo com
Fraga e Castro (2012) e com Fraga (2013), cada projeto ferroviário apresenta um
papel diferenciado para o desenvolvimento do turismo. Logo, a relação entre ferrovia,
turismo e meio ambiente pode ocorrer de maneira bastante particular em cada
espaço natural, justificando-se a investigação de como isto ocorre no Brasil para que
o planejamento integrado entre transportes e destinos turísticos ocorra da melhor
forma.
Ao se analisar a relação entre ferrovia e turismo na perspectiva do meio
ambiente, notadamente das Unidades de Conservação, percebe-se que temas
relacionados ao desenvolvimento local são essenciais para que se debater o potencial
de desenvolvimento integrado entre transporte ferroviário e UCs enquanto destinos
turísticos ou parte significativa de destinos turísticos.

2. TURISMO NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL

Para compreender as possibilidades de desenvolvimento local na interface


entre ferrovias e Unidades de Conservação é preciso, então, discorrer sobre a noção
de desenvolvimento.
Carvalho (2002) aponta que não há uma única concepção de desenvolvimento
e há quem critique aqueles existentes como ambíguas e imprecisas. Como entender
o desenvolvimento e como qualificá-lo? De que forma ele se caracteriza? E o que
se pretende com ele em termos de resultados em relação ao turismo, pensando a
interface entre unidades de conservação e ferrovias? A necessidade de compreender
o desenvolvimento surge da urgência de a humanidade refletir e tomar decisões
a respeito do seu futuro, em um contexto de esgotamento dos recursos naturais,
acirramento das desigualdades sociais e crescentes crises econômicas, demonstrando
claramente a falência dos modelos anteriores. Por muito tempo, desenvolvimento
significou crescimento econômico.
5 ANTT. Ferroviário. Disponível em <http://www.antt.gov.br/> Acessado em 20/jun/2014.
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Embora esta visão tenha caído em “desuso”, não se trata de negar a dimensão
econômica, mas de considerar que há outras dimensões igualmente importantes
(CARVALHO, 2002). Porém, é possível afirmar que muitas das teorias sobre
desenvolvimento pouco diferenciam entre si, na medida em que fica clara a ideia
de que toda a sociedade possui e pretende adquirir os mesmos valores dos países
do Norte, como fator suficiente para o alcance do desenvolvimento social, moral e
cultural (MORIN, 1995).
Esta crítica é bastante relevante ao se pensar em destinos turísticos: como
qualificar o desenvolvimento de forma padronizada, considerando toda a diversidade
social, cultural, natural das localidades onde o turismo se estabelece? É importante
salientar que a compreensão do desenvolvimento passa, necessariamente, por uma
noção de um processo histórico e dinâmico e que, portanto, deve ser entendido a
partir dos sujeitos envolvidos. Sendo assim, o conceito de desenvolvimento deve
ser socialmente construído, ou seja, deve ser o “olhar do lugar” (IRVING, 2003).
Refletir sobre turismo exige, assim, pensar sobre o desenvolvimento local tendo o
planejamento como instrumento.
Para Buarque (2002, p. 25), o desenvolvimento local é “um processo endógeno
de mudança, que leva ao dinamismo econômico e à melhoria da qualidade de vida
da população em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos”. Irving
(2003) complementa esta ideia, ao afirmar que o desenvolvimento local refere-se a um
“novo” desenvolvimento, fundamentado no aproveitamento dos recursos endógenos
(humanos, naturais, e infraestruturais) para estimular a economia, melhorar a
qualidade de vida e bem estar social da comunidade local, a partir da autogestão,
associado à proteção do patrimônio natural e cultural. É oportunidade para inovação,
pois ao mobilizar as potencialidades locais, contribui para elevar a economia local de
forma criativa e, também, para a conservação do patrimônio natural e histórico-cultural
(base das potencialidades e da qualidade de vida). A demanda pela mobilização e
organização da sociedade local, faz criar raízes efetivas na matriz socioeconômica e
cultural da localidade (BUARQUE, 2002).
Sendo assim, para que o turismo possa servir de instrumento para o
desenvolvimento, os projetos precisam ter enfoque local e considerar como meio
metodológico a participação social. Por meio do planejamento, é possível identificar
as necessidades e problemas a serem resolvidos, organizar as ações e traçar
estratégias para superá-los. O planejamento justifica-se por minimizar possíveis
impactos negativos do turismo e integrar as ações entre as instituições (públicas,
privadas) envolvidas, em seus diferentes níveis organizacionais (nacional, estadual,
local), orientando as ações para o futuro desejado (DIAS, 2003). Assim, o planejamento
integrado é instrumento essencial para a aproximação entre ferrovias e unidades de
conservação.
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É neste sentido que Fraga et al. (2013), ao realizarem um importante


levantamento bibliográfico com o objetivo de analisar o papel do transporte nos sistemas
e modelos sobre turismo, afirmam que uma visão integrada sobre o planejamento do
turismo e dos transportes pode auxiliar na gestão pública e privada dessas atividades,
contribuindo para o desenvolvimento local por meio de políticas públicas específicas.
Sendo assim, o desenvolvimento local pressupõe criatividade e inovação social na
identificação das necessidades e busca por soluções, por meio da participação social
dos sujeitos envolvidos, associando qualidade de vida, sustentabilidade econômica
das iniciativas de turismo locais e proteção do patrimônio natural e histórico-cultural.
Da mesma forma, é uma sinergia possível e necessária desenvolver o turismo
associando unidades de conservação e ferrovias, entendidas como patrimônios
essenciais e complementares entre si. Na próxima seção se abordará questões
relacionadas às políticas públicas e ao planejamento com foco no desenvolvimento do
turismo no Estado do Rio de Janeiro, notadamente a relação entre ferrovia e unidades
de conservação será analisada.

3. BREVE PANORAMA DA TEMÁTICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Essa parte inicial da seção três apresenta uma breve explanação sobre
o planejamento do turismo no Estado do Rio de Janeiro, e seu afinamento com o
planejamento do turismo em âmbito federal. Logo após, compreende-se a oferta
ferroviária e sua relação com o turismo, e então se faz a apresentação e análise
dos dados através da identificação da relação entre ferrovia e UC (item 3.1) e das
discussões (item 3.2).
A partir da década de 1990, houve a intensificação do processo de
descentralização do turismo no Brasil, isto se deve em parte pela Constituição de
1988, que delegava no artigo 180 atribuições sobre o turismo igualmente a União,
Estados, Municípios e Distrito Federal6. Nesse sentido, deve-se dar um destaque
ao Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), no qual um grande
desafio foi a identificação do potencial para o desenvolvimento do turismo em nível
municipal.
Com a criação do Ministério do Turismo em 2003, tem-se na política
nacional de turismo, mais especificamente no Plano Nacional de Turismo, o início
da regionalização do turismo. Dez anos depois (em 2013), e após ter passado pelo
Plano Nacional de Turismo 2003/2007, o Plano Nacional de Turismo 2007/2010, e
o Documento Referencial do Turismo no Brasil entre 2011 a 20147, tem-se o Plano
Nacional de Turismo 2013/2016, a partir do qual há uma revisão de todo o processo
6 “Art. 180. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão e incentivarão
o turismo como fator de desenvolvimento social e econômico” (BRASIL, 1988).
7 BRASIL. Ministério do Turismo. Documento Referencial do Turismo no Brasil 2011 a 2014.
Disponível em <http://www.turismo.gov.br> Acessado em 21 de junho de 2014.
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de regionalização do turismo. Na Região Sudeste, da qual o Estado do Rio de Janeiro


faz parte, tem-se 102 regiões e 1.289 municípios envolvidos8.
No âmbito do Estado do Rio de Janeiro, a regionalização do turismo também
é uma realidade com destaque para as orientações contidas no Plano Diretor de
Turismo (2001). Recentemente, com o Programa de Desenvolvimento do Turismo do
Rio de Janeiro (PRODETUR-RJ) tem-se uma atualização na agenda de investimentos
para o desenvolvimento do turismo.
De acordo com a Secretaria de Estado do Rio de Janeiro são 23 municípios
estratégicos num raio de 250 km da capital do Estado, no qual os turistas podem
chegar em 3 horas em média, envolvendo o Polo Serra (Serra Verde Imperial, Vale do
Café e Agulhas Negras) e o Polo Litoral (Costa Verde, Costa do Sol, Metropolitana)9.
A seguir, serão levantadas as ferrovias e as UCs no Estado do Rio de Janeiro, e o
turismo será discutido a partir deste processo de regionalização e investimentos.

3.1. APRESENTAÇÃO DAS INICIATIVAS IDENTIFICADAS

No Estado do Rio de Janeiro, a ANTT indica apenas dois trens turísticos


autorizados no período compreendido entre 2004 e 2010, que são o Trem da Estrada
Real (Paraíba do Sul, RJ) e o Trem Turístico do Corcovado (Rio de Janeiro, RJ). A
ABOTTC é a Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais
e cumpre um importante papel para o setor, que vem se expandindo ao longo dos
últimos anos (ver FRAGA, 2011). De acordo com o Ministério do Turismo foram
investidos desde 2004 cerca de 20 milhões em reforma de estações e compra de
locomotivas (BRASIL, 2014)10.
A oferta ferroviária turística brasileira, de acordo com o Ministério do Turismo
com base no levantamento realizado pela Associação Brasileira de Preservação
Ferroviária (ABPF), é composta de 33 passeios ferroviários turísticos, dos quais
quarto (3 trens e 1 bonde10) estão localizados no Estado do Rio de Janeiro (BRASIL,
2014)12. Além dos trens turísticos indicados no site da ANTT, tem-se a Maria Fumaça
do SESC Mineiro Grussaí11 e, ao se incluir os bondes turísticos, tem-se os bondes
localizados no bairro de Santa Teresa na cidade do Rio de Janeiro (sendo que estes
estão temporariamente desativado, com previsão para os novos bondes circularem
8 [11] BRASIL. Ministério do Turismo. Novo Mapa do Turismo no Brasil. Disponível em <http://
www.turismo.gov.br > Acessado em 21 de junho de 2014.
9 GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Prodetur. Espacialização/Municípios.
Disponível em <http://www.prodetur.rj.gov.br>Acessado em 26 de junho de 2014. 10 BRASIL.
Ministério do Turismo. Turismo apoia segmento de Trens Turísticos. Disponível em < http://www.
turismo.gov.br> Acessado em 21/jun/2014.
10 Além dos bondes para deslocamento urbano, existia aos sábados dois passeios guiados,
o Bonde Histórico e o Bonde Ecológico, ambos voltados ao turismo e ao lazer (KHORRY, s.d.). 12
BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo apoia segmento de Trens Turísticos. Disponível em < http://
www.turismo.gov.br> Acessado em 21/jun/2014.
11 [15] SESC Mineiro Grussaí. Centro de Turismo. Disponível em < http://www.sescmg.com.
br>Acessado em 21/jun/2014.
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depois da Copa do Mundo de Futebol da FIFA, em julho de 2014)12. De acordo com os


dados do Ministério do Turismo, o Trem Estrada Real, cujo o trecho envolve a cidade
de Paraíba do Sul também está temporariamente desativado.
Fraga, Santos e Ribeiro (2014) destacam que o mercado ferroviário turístico
no Brasil é bastante heterogêneo, isto fica constatado pela análise dos dados da
ANTT e do Ministério do Turismo (BRASIL, 2014), logo é válido analisar essas quatro
iniciativas ferroviárias turísticas localizadas no Estado do Rio de Janeiro em seus
contextos específicos. Assim, tem-se a apresentação e a análise dos dados no item
3.2. Essa análise pode servir de subsídio ao planejamento integrado entre transportes
e destinos turísticos (notadamente, ferrovia e unidades de conservação) no Estado do
Rio de Janeiro.

3.2. ANÁLISES E DISCUSSÕES

No âmbito do Projeto de Pesquisa Ferrovia, Meio Ambiente e Desenvolvimento


de Destinos Turísticos registrado no Grupo de Pesquisa Transportes Turísticos (GPTT),
na Linha de Pesquisa: Transporte ferroviário e o Turismo, tem-se a definição de um
conjunto de critérios para a análise das questões ambientais relacionadas a interface
ferrovia e unidade de conservação. Com relação aos critérios relativos às políticas
públicas de turismo, foram analisados: regionalização (Pólos) Estado; Regionalização
(Regiões) Nacional; Regiões Turísticas do Estado – RJ (Extensão/Número de
Habitantes); Existência de Plano de Manejo; Ano de fundação; Operador; Inserção
(parcial ou total dentro da UC) ou proximidade com a UC; Tração e Sistema; Extensão
ferroviária (Km); Tarifa média cobrada; Funcionamento. Já com relação aos aspectos
relativos ao meio ambiente, notadamente as UCs, foram analisados: categoria de
UC de acordo com SNUC e esferas de atuação; existência de plano de manejo. E,
por fim, os critérios relativos à ferrovia, notadamente trens e bondes turísticos, foram
analisados: as cidades envolvidas; ano de fundação; operador; inserção (parcial ou
total dentro da UC), ou proximidade com a UC; tração e sistema; extensão ferroviária
em quilômetros; tarifa média cobrada; funcionamento. A partir destas variáveis e da
política nacional e estadual voltadas à regionalização do turismo apresentada no
início da seção três, tem-se o seguinte quadro para análise e discussão (ver Quadro
1):

Disponível em http://oglobo.globo.com/rio/novo-bonde-de-santa-teresa-faz-primeiro-teste-nointerior-
do-estado-12617676 Acessado em 21/jun/2014.

12 O GLOBO. PONTES, F. Novo Bonde de Santa Teresa faz primeiro teste no interior do
estado. Data da matéria: 27/mai/2014 às 12h46min, atualizada às 22h38min do mesmo dia.
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QUADRO 1. APRESENTAÇÃO DOS DADOS

Critérios Trem do Bonde de Santa Trem Estrada Sesc Mineiro


para análise Corcovado Teresa Real Grussaí

Regionaliza Litoral Litoral Não faz parte Não faz parte


ção dos 23 dos 23
(Polos) – municípios municípios
Estado estratégicos estratégicos
relacionados aos relacionados aos
Polos. Polos.
Regionaliza Metropolitana Metropolitana Caminhos Costa Doce
Política ção coloniais
Pública de (Região) -
Turismo Nacional
Metropolitana Metropolitana Vale do Café Costa Doce
Regiões (1396,0 (1396,0 (5.828,0 km²/ (5.617,3 km² e
turísticas do Km2/6.317.35 Km2/6.317.35 804.473 525.200
Estado RJ 5 habitantes) 5 habitantes) habitantes). habitantes).
(Extensão/ No.
habitantes)

Categoria de Parque Área de Não Parque


UC de Nacional da Proteção encontrado*** Estadual
acordo com Tijuca Ambiental de Lagoa do Açu
SNUC (Federal) Santa Teresa
(Esfera de (Municipal) e
Meio atuação)* próximo ao
Ambiente Parque
(notadamente, Nacional da
UC) Tijuca
(Federal)
Sim Não encontrado Não encontrado Não encontrado
Existência de
Plano de
Manejo
Cidades Rio de Janeiro Rio de Janeiro Paraíba do Sul São João da
envolvidas Barra
Ferrovia
(notadamente
trens e Ano de 1884 1896 1867 Não
fundação localizado
bondes
turísticos) Operador Operação Rio-Trilhos Prefeitura SESC de
privada pela Municipal de Minas Gerais
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ESFECO LTDA Paraíba do Sul na colônia de


compartilhada férias de
com a Ferrovia Grussaí.
Centro
Atlântica (FCA)
Inserção Parcialmente Parcialmente Não encontrado Próximo
(parcial/total)
ou
proximidade
c/ UC
Tração e Tração Tração a Vapor Tração a Vapor
Tração
Sistema Elétrica
Eletrifica/
Sistema de
Cremalheira
3.8 Km 10.5 Km** 14km Não encontrado
Extensão
ferroviária
(Km)
Tarifa média R$50,00 Temporariame Temporariame R$6,00
cobrada nte desativado nte desativado

Funcioname Diário (de 30 em Temporariame Temporariame Não encontrado


nto 30 minutos) nte desativado nte desativado

* Ver “Inserção ou proximidade com a UC”.


** Considerando o processo de reestruturação dos bondes15.
*** Foi pesquisado tanto no Instituto Estadual do Ambiente (INEA) quanto no Cadastro Nacional
de Unidades de Conservação, sendo assim provavelmente a existência de alguma Unidade de
Conservação estará na esfera de atuação Municipal.
Fonte: Fonte: Extraído do Banco de dados do Projeto de Pesquisa Ferrovia, Meio Ambiente e
Desenvolvimento de Destinos Turísticos (2013). Elaboração própria com consulta aos sites Ministério
do Turismo16, Ministério do Meio Ambiente, Trem do Corcovado17, TurisRio18, Prodetur (Programa
Nacional de Desenvolvimento do Turismo - Rio de Janeiro19.

Sobre as políticas públicas de turismo, nota-se que na parte de investimentos


tanto o Trem do Corcovado, quanto o Bonde de Santa Teresa (temporariamente
desativado) estão em polos mais propensos a serem influenciados pelos investimentos
oriundos do Prodetur (RJ). Contudo, o Trem Estrada Real (temporariamente desativado)
e o Sesc Mineiro Grussaí estão na proximidade dos 23 municípios estratégicos dos
polos Serra e Litoral, respectivamente.

15 GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. FICHTNER, R. (Apresentação). Reestruturação


do Sistema de Bondes de Santa Teresa. Disponível em
<http://download.rj.gov.br/documentos/10112/157720/DLFE-47228.pdf/
ApresentacaoReestruturacaodoSistemadeBondesdeSantaTeresa.pdf> Acessado em 26/jun/2014.
16 BRASIL. Ministério do Turismo. Novo Mapa do Turismo Brasileiro 2013. Disponível em <http://

www.turismo.gov.br>Acessado em 26/jun/2014.
17 Trem do Corcovado.Informações Gerais. Disponível em
<http://www.corcovado.com.br/> Acessado em 26/jun/2014.
18 GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Turisrio. Projetos. Disponível em

<http://www.turisrio.rj.gov.br/> Acessado em 26/jun/2014.


19 GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Prodetur. Espacialização/Municípios. Disponível
em <http://www.prodetur.rj.gov.br>Acessado em 26/jun/2014.
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As características ferroviárias tais como (extensão da ferrovia, tarifa média


cobrada, funcionamento, inserção dentro de UCs ou proximidade com a UC) podem
influenciar na distribuição geográfica da demanda turística em áreas protegidas e
em seus entornos (ver Seção 1). Portanto, é preciso compreender a relação de cada
ferrovia com o tipo de UCs e também se existe Plano de Manejo. Esse é um documento
técnico para a gestão da UCs envolvendo zoneamento, normas e implantação de
estruturas físicas da unidade. Logo, o Plano de Manejo é um documento fundamental
no planejamento e gestão de maneira integrada entre ferrovia e destinos turísticos
que são Unidades de Conservação ou as têm dentro de seu território.
Na parte de análise sobre as ferrovias e as unidades de conservação percebe-
se que existe grande potencial de integração de ações coordenadas no planejamento
e gestão envolvendo o Trem do Corcovado e o Bonde de Santa Teresa com o Parque
Nacional da Tijuca, localizados na cidade do Rio de Janeiro. Isso se deve a diversas
razões. Primeiramente porque estes passeios ferroviários e, também, o Parque
Nacional da Tijuca, já são atrativos turísticos consolidados, com demanda nacional e
internacional. Além disso, as vias férreas de ambos podem se conectar na estação
Silvestre, localizada dentro do Parque Nacional da Tijuca. O Trem do Corcovado tem
essa parada, notadamente para o uso de moradores do entorno, contudo existe um
potencial de desenvolvimento turístico para esse espaço com a revitalização do Bonde
de Santa Teresa. Assim, é válido destacar que existe a previsão de integração entre
o Trem do Corcovado e o Bonde de Santa Teresa no Silvestre, a partir da qual será
possível a aquisição de bilhetes para o Trem do Corcovado na Estação Carioca, que é
um dos pontos de partidas do Bonde de Santa Teresa (COLBERT, 2012). Ainda sobre
a integração entre Trem e Bonde através da Estação Silvestre, também é importante
destacar que, de acordo com o Plano de Manejo do Parque Nacional da Tijuca, está
prevista a implantação de um centro de educação ambiental e cultura na Estação
(ICMBio, 2008).
Outro ponto de interface entre ferrovias e unidade de conservação, neste caso,
é o modelo de gestão compartilhada que existe entre o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Prefeitura Municipal e o Governo de
Estado do Rio de Janeiro, que o apoiam na administração da Unidade. Isto indica
que as ações estão integradas no conjunto do planejamento do turismo e no que se
refere aos atrativos do Parque Nacional da Tijuca, sendo o Trem do Corcovado um
importante elemento neste contexto (ver Fraga, 2004).
No caso dos trens e bondes turísticos relacionados ao Parque Nacional da Tijuca,
é importante ressaltar também que a participação social no processo de planejamento
das atividades é fundamental para o desenvolvimento local. Sobretudo porque os
moradores dos bairros do Cosme Velho e de Santa Teresa, bem como os habitantes
das favelas do entorno, convivem diariamente com intenso fluxo de visitantes, e
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tem suas vidas afetadas de diversas maneiras, podendo ser positivamente (como a
possibilidade de geração de empregos e renda), como negativamente (especulação
imobiliária e engarrafamentos, dentre outros).
Ainda com relação ao caso citado, entende-se que, ao mesmo tempo em que o
Parque Nacional da Tijuca potencializa o deslocamento ferroviário para fins turísticos,
devido à natureza protegida que mantém belas paisagens, a presença de transporte
sobre trilhos colabora para a atratividade da unidade de conservação, contribuindo
também para a geração de receitas significativas que apoiam a execução das políticas
ambientais. Isso exige dos atores sociais um casamento de ações de planejamento
para o desenvolvimento local.
Este caso pode inspirar ações a serem realizadas pelas demais iniciativas
identificadas neste trabalho, como a Maria Fumaça no âmbito do Sesc Mineiro
Grussaí e o Trem da Estrada Real. Apesar da Maria Fumaça do Sesc Mineiro Grussaí
estar localizado no mesmo município que o Parque Estadual da Lagoa de Açu (São
João da Barra), eles não estão integrados espacialmente, o que demandaria um
esforço maior nas ações de planejamento para potencializar o desenvolvimento
local através do turismo. Uma estratégia possível é a combinação dos atrativos por
meio da roteirização turística local, já que São João da Barra faz parte da política de
regionalização do turismo tanto em nível estadual, quanto nacional.
No caso do Trem da Estrada Real, no município Paraíba do Sul, o cenário
exige ainda mais esforços dos atores envolvidos nas ações de planejamento e das
políticas públicas para o turismo local. Isso se deve ao fato de o trem turístico estar
temporariamente desativado, o que demanda investimentos econômicos e políticos
no sentido de elaborar projeto seguindo as etapas do planejamento, integrado às
demais ações relativas ao desenvolvimento local. Além disso, não foram identificadas
unidades de conversação no município, o que não significa que elas não existam.
A presença de Unidades de Conservação é importante no diálogo entre
ferrovia, meio ambiente e turismo, pois garante a qualidade da paisagem natural,
que quando protegida, constitui patrimônio potencial para uso indireto da atividade
turística, como os passeios ferroviários; mas que quando modificadas, sem atenção
ao equilíbrio ambiental, afetam diretamente o potencial turístico, a qualidade de vida
dos moradores e o desenvolvimento local. Sendo assim, recomenda-se fortemente
que os atores sociais locais se mobilizem por meio de ações de planejamento turístico
que integrem a revitalização e ativação do Trem da Estrada Real e a criação e gestão
de unidades de conservação, ou dar visibilidade aquelas que eventualmente existam.
Várias outras questões poderiam ser exploradas nesta análise, contudo, objetivando
reflexões, enquanto subsídios iniciais para o planejamento e gestão integrados entre
ferrovia, turismo e meio ambiente na perspectiva do desenvolvimento local fluminense,
optou-se por um recorte para estimular novas pesquisas sobre a temática. Embora, a
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relação entre ferrovia, turismo e meio ambiente seja extremamente relevante, existem
ainda poucos estudos nacionais e internacionais desenvolvidos nesta área.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O planejamento integrado entre os transportes e os destinos turísticos é um


grande desafio, ainda mais se for consideradas as particularidades relacionadas ao
meio ambiente e a ferrovia (ver Seção 1). Esse trabalho é um exercício de diálogo do
planejamento e da gestão (ver Seção 3) com o desenvolvimento local do turismo (ver
seção 2), tendo em vista as estratégias de regionalização do turismo propostas em
âmbitos federal e estadual.
No contexto do desenvolvimento ferroviário, a partir da fase denominada
“Privatização” da malha ferroviária brasileira nos anos 1990 (ver Rodriguez, 2012)
existe uma escassez de ofertas ferroviárias de passageiros. Contudo, de acordo com
o Ministério do Turismo (ver Cartilha, 201013 e BRASIL, 201221) existem cerca de
cinquenta projetos ferroviários para fins turísticos em análise. Nesse sentido, é válido
destacar que desde 2010, o Ministério do Turismo coordena um Grupo de Trabalho
de Turismo Ferroviário, cuja a missão é desenvolver políticas de fomento do turismo
ferroviário no Brasil (ver BRASIL, 2012).
Sendo, a relação entre a ferrovia e o meio ambiente, notadamente as UCs um
espaço fértil para o desenvolvimento local do turismo, buscou-se neste trabalho criar
subsídios para a reflexão sobre a estruturação tanto do turismo ferroviário, quanto
do turismo em UCs. As etapas metodológicas envolveram levantamentos em sites,
livros, documentos, e foi possível identificar que ainda existe uma grande dificuldade
em encontrar informações sobre os trens e bondes turísticos de um lado e, de outro,
sobre as Unidades de Conservação e
Plano de Manejos, no Estado do Rio de Janeiro. Assim, novos trabalhos devem
considerar a coleta de dados primários, com entrevistas a gestores tanto de trens e
bondes, quanto de UCs. Neste trabalho não foram considerados os Mosaicos e estes
devem ser considerados num próximo trabalho.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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A GESTÃO TURÍSTICAS NAS ÁREAS DE DESASTRES

1. RESUMO
O presente estudo tem por propósito de apresentar as implicações dos desastres
sobre à atividade turística, em especial, abordando a destinação turística Costa Verde
e Mar. Tal destinação, é conhecida por suas belezas naturais, que consequentemente
atrai milhares de turista anualmente para desfrutar dos atrativos naturais e culturais
existentes em suas onze cidade. A destinação Costa Verde e Mar se encontra dentro
da Bacia Hidrográfica do Vale do Itajaí, uma região suscetível a desastres e que
possui um histórico desse fenômeno em função das características físicas existentes.
Dessa forma, os desastres se constituem em um fenômeno, quando efetivado em
determinado território, associado com fatores antrópicos podem trazer sérios impactos
negativos para o setor do turismo, desestruturando toda sua dinâmica, e prejudicando
localidades que detêm o turismo como fonte primária em sua economia. A pesquisa
tem como metodologia a realização de estudo de caso sobre a destinação turística.
Pôde-se concluir que a alguns municípios da Destinação Costa Verde e Mar se
encontram suscetível a desastres em virtude desses munícipios estarem localizados
dentro da Bacia Hidrográfica Vale do Itajaí em virtude da suscetibilidade a efetivação
dos desastres e pelo histórico existente nessa região.

Palavras-Chave: Gestão, Suscetibilidade, Destinação Turística, Desastres, Turismo.

Abstract 
The purpose of this study is to present the implications of disasters on the tourism
industry , in particular by addressing the Costa Verde tourist destination and Mar. This
allocation is known for its natural beauty, which consequently attracts thousands of
tourists every year to enjoy the attractions existing natural and cultural in its eleven city.
The Costa Verde & Mar destination is within the watershed of the Itajaí Valley, a region
prone to disasters and has a history of this phenomenon on the basis of existing physical
features. Thus , disasters constitute a phenomenon , when effected in a given territory ,
associated with anthropogenic factors can have serious negative effects on the tourism
sector impacts , disrupting all its dynamics , and hurting places that hold tourism as
a primary source in its economy. The research methodology has as conducting case
study on tourism destination. It was concluded that some municipalities in Destination
Green Coast and Seaside are susceptible to disasters because these municipalities
are located within the Vale do Itajaí basin because of the susceptibility to disasters and
the enforcement of existing history in this region.
Keywords: Vulnerability, Susceptibility, Tourist Destination, Disaster Tourism
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2. INTRODUÇÃO

O setor turístico tem assumindo uma importância determinante no


desenvolvimento econômico de determinada localidades. Assim, esse setor vem
sendo tratado como segmento estratégico em função do seu poder de gerador
de divisas, principalmente, para espaços que apresentam condições reais para
a exploração de seus recursos, seja, naturais e/ou culturais. No entanto, muitas
vezes este desenvolvimento é comprometido pela vulnerabilidade a desastres. Tal
elemento quando associado há fatores negativos, seja de ordem física, climática e/
ou socioambiental tendem a proporcionar a eminência e dependendo do grau de
vulnerabilidade da localidade poderá acarretar na efetivação dos desastres.

Dentro disso, sobre o desenvolvimento turístico, territórios que apresentam


características negativas, como vulnerabilidade socioambiental, poderá ser turistificados
em função da existência de atrativos naturais e/ou culturais. Muitas localidades, ou
destinações turísticas vêm apresentando características de vulnerabilidade e, além
disso, associam-se com práticas ambientais insustentáveis, proporcionando um
aumento iminente de desastres.

O segmento turístico é muito suscetível a intervenções externas, como guerras,


epidemias, crises econômicas, aspectos climáticos, entre outros, podendo gerar
impactos negativos para a dinâmica do setor. Territórios transformados em destinações
turísticas em função dos elementos existentes, quando associados com características
iminentes de desastres podem se tornar um fator preocupante para o desenvolvimento
do setor. Existe no Brasil e no mundo destinações que além de apresentar todos
os elementos necessários para o desenvolvimento do turismo, vem apresentando
elementos, como por exemplo, questões como vulnerabilidade socioambiental que
pode a vir causar um desastre e, assim, trazer prejuízos para o setor.

Dentro dessa questão, Santa Catarina possui uma destinação turística


denominada de Costa Verde e Mar, sendo uma das localidades mais visitadas dentro
do estado em função das belezas naturais existentes. No entanto, uma parcela dos
municípios integrantes da destinação Costa Verde e Mar encontra-se dentro de região
da Bacia Hidrográfica do Vale do Itajaí-Açu que possui suscetibilidade a desastres
devido às condições geológicas existentes. A pesquisa tem como pressuposto
metodológico a realização de um estudo caso da Destinação Turística Costa Verde
e Mar, evidenciando através de referências bibliográficas e dados qualitativos e
quantitativos sobre esses fenômenos. Dessa forma, pretende realizar uma análise e
apresentar elementos sobre a relação dessa destinação turística com a iminência dos
desastres sobre essa região turística Costa Verde e Mar.
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3. TURISMO E DESASTRES: UMA ANALISE DO PROCESSO DE INTERFERÊNCIA


SOBRE A ATIVIDADE TURÍSTICA

O avanço do fenômeno turístico vem permitindo que diversas regiões com


potenciais turísticos possam ter sua economia fortalecida através do trade. Dessa
forma, os economistas vislumbrarem, no segmento turístico, um importante setor
gerador de crescimento econômico e elevação das taxas de desenvolvimento de
diferentes regiões. Dentro desse cenário, muitas localidades têm sua economia
alicerçada no segmento do turismo, assim, regiões tem na atividade turística uma
fonte de entrada de recursos provenientes da demanda turística. “Entre 2004 e 2020,
as previsões da Organização Mundial do Turismo (OMT) que viagens internacionais
vão aumentar de 760 milhões de viagens por ano para 1,5 bilhão de viagens. Se as
viagens domésticas forem incluídas, o total de 2020 será de 15 bilhões de viagens por
ano” (MADITINOS, VASSILIADIS, 2008, p. 68).

Sendo assim, “o turismo ocupa hoje papel relevante na economia mundial,


situando-se entre os três maiores produtores geradores de riquezas. Portanto, o
turismo tornou-se fundamental na economia dos Estados e municípios”, (RODRIGUES,
1996, p. 56), assim se constituiu um segmento importantíssimo de desenvolvimento
territorial. Devido às condições econômicas que o setor proporciona, território que
possuem condições para a turistificação desse espaço passou direcionar esses
atrativos para consumo turístico. Dentro dessas condições, espaço que não possuem
condições para proporcionar um desenvolvimento pleno do setor turístico em funções
de variáveis negativas passou a ser destinado ao consumo em virtude do enorme
apelo comercial e econômico que o setor alcançou.

Contudo, destinações turísticas que apresentem algum aspecto de


vulnerabilidade passam a correr perigo sobre a iminência de um desastre. Esse
fenômeno quando atinge determinado destino turístico possui totais condições de
desestruturar toda a dinâmica existente no setor e, assim a capacidade de resiliência
em curto espaço de tempo pode ficar comprometida. Na última década, uma série
de desastres naturais afetou severamente destinos turísticos. Os exemplos mais
proeminentes incluem o tsunami do Oceano Índico 2004, o furacão Katrina (EUA)
(2005) o tsunami de Samoa (2009), as inundações da Austrália (2010/2011) e
Christchurch (Nova Zelândia) terremotos em (2010-2011) (BECHEN; HUGHEY, 2013).
Os impactos dos desastres sobre a atividade turística pode abranger infraestrutura
física (meios de hospedagem, meios de transporte) marketing turístico (propagando
rádio e TV), perda do fluxo de turistas, diminuição da arrecadação, entre outros, enfim,
gerando impactos econômicos sem precedentes para tais territórios. De acordo com
Maditinos; Vassiliadi (2008) o turismo é muitas vezes descrito como uma indústria
frágil em que a demanda por viagens é altamente suscetíveis a inúmeros choques,
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tais como guerras, epidemias de doenças mortais, doenças contagiosas, incidentes


de terrorismo, as flutuações econômicas, instabilidade da moeda, crises de energia,
e assim por diante.

Em consequência do avanço do processo tecnológico e crescimento vertiginoso


do mercado, esses locais que foram turistificados passaram a serem vendidos e,
consequentemente atraindo visitante. Como enfatiza Cruz (2002) os territórios que
passaram a serem usados pelo turismo são, também, paradoxalmente negligenciados,
pois o que é usado é o seu potencial passível de exploração pelo turismo e negligenciada,
simultaneamente, a sua condição primeira de lugar da reprodução da vida. A partir
do momento em que determinada características do território que passaram a ser
turistificados é negligenciada, localidades turísticas podem apresentar elementos
que venham propiciar a iminência de um desastre, assim, tais localidades ficam mais
suscetíveis a abrigar esse fenômeno.

O turismo é dependente de um ecossistema intacto e em estruturas institucionais


que possam responder às necessidades da população local e visitantes. Portanto, a
prevenção de catástrofes e gestão (por desastres naturais e provocados pelo homem)
deve ser uma parte essencial do plano de gestão integrada para qualquer destino
(MADITINO; VASSILIADIS, 2008). Dentro disso, “no turismo, as preocupações de
estabelecer políticas para o setor só aparecem quando este adquire importância
econômica ou quando começa a causar transtornos [....]” (SOLHA, 2006, p. 90).
As questões que envolvem a gestão dos desastres sobre a atividade turística nas
políticas públicas pode se tornar fator determinante entre o sucesso e o fracasso
de determinada localidade turística que apresenta elementos de vulnerabilidade. “O
turismo é altamente sensível a crises e elas se agravam quando associadas a desastres
e, um sistema de proteção aos turistas e de recuperação das áreas turísticas deve
ser implementado pelas autoridades competentes” (ZUCCO; MAGALHÃES, 2010, p.
603).

Desta forma, os impactos podem atingir diretamente aos turistas, e para minimizar
os impactos é necessário que ações emergenciais sejam implementadas. Como
enfatizam Maditinos; Vassiliadis;
[....] os desastres aumentam as preocupações de turistas com segurança
e proteção colocando pressão crescente sobre planejadores e gestores
envolvidos com o turismo, impelindo-os a analisar o impacto das catástrofes
sobre essa indústria e a desenvolver estratégias para lidar com as crises.
A redução da eminência do perigo de um desastre depende, sobretudo,
de ações pautadas e estabelecidas na concepção de uma nova cultura,
enfatizada no campo ambiental e social, visando uma melhor integração
entre os seres humano e ambiente (2008, p. 68)

No entanto, fatores como a intervenção através de planejamento e gestão por


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parte das esferas governamentais trazem benefícios para diminuição dos desastres e
consequentemente, aumento da capacidade de resiliência em diversas áreas, como
por exemplo, o setor do turismo. Segundo Sansolo (2009) a gestão compartilhada da
proteção da natureza e do desenvolvimento do turismo já instituído pelo poder público
por meio das políticas, planos e programas, não anula as contradições inerentes
ao processo e, portanto não podem ser idealizados. No segmento do turismo, é
necessário realizar uma abordagem relevante e sistemática do ponto de vista de que
o poder público em âmbito de todas as esferas tem que passar a adotar medidas que
visem o melhoramento do trade.

Dentro dessa vertente, adotar quesitos como a gestão dos desastres na


atividade turística em determinada localidades como medida preventiva contra
possíveis impactos, pode ser tornar uma ferramenta indispensável para muitas
localidades turísticas que apresentam alguma característica de vulnerabilidade. Desta
forma, essa questão é enfatizada por Kobiyama (2006) que em seus estudos destaca
que;
Dentro dessas linhas de raciocínio o desastre está muito vinculado à questão
da prevenção e do planejamento por parte dos responsáveis a fim de diminuir
os riscos de um evento calamitoso. Quando um evento desse porte ocorre
em uma destinação turística, os efeitos são sentidos a curto, médio e longo
prazo, trazendo problemas e principalmente prejuízos para a localidade
turística (p. 31).

Assim, localidades turísticas que são afetadas por esses eventos que tendem a
terem seus fluxos turísticos prejudicados em função da interferência desse fenômeno
sobre determinada destinação turística. Dentro dessa abordagem, outra condicionante
que se pode a vir a tornar elemento prejudicial para a gestão e prevenção na relação
dos desastres na atividade turística são os interesses tanto privados (empresários),
quanto estatais (esferas municipais, estaduais e federal).

Tais interesses, podem se sobressair sobre as necessidades de se implantarem


ações de cunho preventivo contra esses fenômenos. A atividade turística é alicerçada
em um segmento econômico sazonal e, desta forma, pode-se pensar que em função
desse aspecto os planejadores acreditem que não existe espaço para um planejamento
de médio e/ou longo prazo. As ações podem trazer reflexos imediatos na dinâmica do
setor, principalmente nas questões que envolvem a entrada de divisas. Desta forma,
questões de extrema importância como o planejamento do trade, como a gestão de
possíveis impactos em relação a um desastre não entra dentre as ações por parte do
poder público.

Segundo Ouriques (2003) em sua análise sobre o turismo na periferia do


capitalismo esclarece que o setor turístico “pode ser [...] encarado como o último
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milagre do capitalismo mundial em sua jornada auto-expansivo. É inegável que a


introdução do turismo na periferia acabou por gerar “ilhas de prosperidade”, criando
um circuito privilegiado de consumo e padrão” (p. 136). A partir do momento em
que o setor turístico é afetado por alguns desastres como uma catástrofe natural,
acidente industrial, ataque terrorista, epidemia, entre outros, o cenário turístico até
então perfeito e estruturado passará a demonstrar instabilidade em decorrência
dos impactos gerados por esse fenômeno e consequentemente trazendo enormes
prejuízos, principalmente os financeiros.

Assim, pôde se perceber que as relações que envolvem o segmento


turístico e as questões sobre os desastres são extremamente complexa e muito
abrangente. Economias de muitos territórios são sustentadas basicamente pela
exploração no turismo e, no entanto, muitas localidades vêm apresentando algum
tipo de vulnerabilidade, que quando associadas com fatores externos como questões
climatológicas, físicas, entre outros, podem gerar os desastres afetando diretamente o
trade turístico. Sendo assim, o turismo se torna uma atividade vulnerável a mudanças
repentinas, e se torna dependente de uma gestão eficiente e eficaz com o propósito
de gerir e minimizar possíveis impactos negativos que possa atingir o setor turístico.

4. A PROBLEMÁTICA DOS DESASTRES EM DESTINAÇÕES TURÍSTICAS.

A necessidade da sociedade em ter uma atividade de lazer em função das


relações de trabalhos acaba sendo fator preponderante ao desenvolvimento turístico.
A partir desse contexto, a atividade está baseada principalmente, na exploração dos
recursos naturais e culturais inseridos dentro do espaço geográfico, que ao longo
do tempo foi sendo produzido pelo homem através das inter-relações pessoais
e estas com o meio abiótico e biótico circundante. Analisado sob este prisma, o
conhecimento sobre os espaços turistificados constitui-se em elemento essencial
para o desenvolvimento do trade. Esse segmento procura comercializar os potenciais
turísticos de determinado território, e desta forma, busca vender esses espaços para
indivíduos dispostos a consumi-los, criando assim relações com o meio (espaço e
autóctones) e com influência externa (turistas), atraindo fluxo de divisas para essas
localidades.

Dentro da turistificação de espaços, entre eles os naturais, surgem destinações


turísticas, localidades que detêm de toda condição necessária para a realização
da atividade turística. Tais destinações exercem um importante papel na economia
na região em que ela está inserida, contribuindo para o desenvolvimento regional.
Muitas destinações turísticas, além de contar com todo atrativo necessário para o
desenvolvimento do segmento do turismo, conta também com a iminência e muitas
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vezes com a consolidação de fenômenos como os desastres. Fatores como localização


geográfica, características físicas como geológicas, geomorfológicas, hidrológica e
questão de vulnerabilidade, podem a vir se tornar fatores que venham a condicionar
tais fenômenos, consequentemente atingindo as destinações turísticas.

Observa um número crescente de catástrofes e crises que afetam a indústria


do turismo, que vão desde incidentes naturais influenciados pela ação humana. Nos
últimos anos, a indústria global do turismo tem experimentado muitas crises e
catástrofes, incluindo ataques terroristas, a instabilidade política, recessão econômica,
as ameaças de biossegurança e desastres naturais (FAULKNER, 2001). Muitas
destinações, nacionais e internacionais vêm apresentando a iminência dos desastres
como fator preocupante sobre o turismo, consequentemente correndo o risco de afetar
a economia dessas localidades e consequentemente desestruturar toda a dinâmica
do trade. Dentro desse contexto, podem-se citar exemplos de destinações turísticas
que vem convivendo com a iminência e a até mesmo com a efetivação dos desastres.
Em suma, algumas destinações na Ásia e na América do norte vêm tentando lidar
com esse fator para tentar diminuir a iminência dos impactos dos desastres sobre a
indústria do turismo.

Alguns pesquisadores internacionais, como Chung-Hun Tsai, Cheng-Wu Chen,


Perry W. Hystad, Peter C. Keller, Malditinos, Vassiliadis vem realizando investigações
científicas sobre a relação entre os desastres sobre a ótica da indústria do turismo
e seus impactos. Alguns autores como Chung-Hung Tsai, Cheng-Wu Chen vem
concentrando suas pesquisas na Ásia, focando sua área de estudo sobre destinações
turísticas e seus impactos associados com desastres na ilha de Tawian. Em sua
pesquisa mais recente, os autores vêm evidenciando uma problemática existente na
ilha em que o turismo vem sendo fomentado pelo mercado turístico em localidades
geograficamente inadequadas para o desenvolvimento do trade, passando a
colocar em perigo o setor turístico e os turistas devido o grau de suscetibilidade em
consequência da vulnerabilidade existente nesse território.

Segundo Tsai, Chen (2010) para explorar plenamente os nossos recursos


naturais, a maioria dos operadores de turismo, naturalmente, querem construir
instalações turísticas em ou perto desses locais com as mais belas paisagens, muitas
vezes ao lado da montanha ou à beira-mar. O autor saliente que “problema é que é
nessas regiões que são, de fato, caracterizadas por alto risco de desastres e falta
de recursos para o trabalho de socorro ao público” (p. 471).  Em suma, o mercado
turístico se preocupa basicamente com o retorno financeiro que a atividade poderá lhe
proporcionar, e dessa forma, questões como a segurança, gestão e prevenção não
são colocados em pauta nas discussões.

Esses fatores acima elencados são apresentados pelo autor, de forma


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extremamente fundamentada, tendo em vista que “Taiwan está localizado na Zona


Sísmica Circum-Pacífico, e, portanto, sujeitos a terremotos frequentes.  Nos últimos
anos, tem sido em média, mais do que 200 abalos sísmicos por ano” (TSAI; CHEN,
2010, p. 472). Devido à suscetibilidade física sobre a efetivação de um desastre
provocado por abalos sísmicos, a ilha de Taiwan apresenta reais elementos de que o
desenvolvimento do turismo precisa ser gerenciado levando em consideração essas
condicionantes. Dentro das conclusões chegadas pelos autores, os mesmo expõem
que;
A única maneira de diminuir a quantidade de danos e diminuir o impacto sobre
as pessoas, empresas e governo, é contar com o preparo de redução de
desastres ou medidas de dispersão de risco. É necessário identificar, avaliar,
controlar e transferir o risco de desastre para a indústria do turismo através
de uma abordagem adequada do risco e gestão de desastres. Também é
importante para a construção deu modelo de avaliação de risco de desastres
e gestão de estratégias superior para diminuir o impacto sobre os aspectos
operacionais da indústria do turismo (TSAI; CHEN, 2010, p 479).

Dessa forma, os autores puderam constatar que “existem muitos equipamentos


turísticos localizados em regiões que também estão sujeitas a taxas de alta frequência
de desastres naturais” (TSAI; CHEN, 2010, p. 478) como terremotos. A destinação
turística existente em Taiwan demonstra que o turismo tem na sua concepção a forma
da voracidade turística. Esse fator não leva em consideração as atenuantes existentes,
esquecendo-se das possíveis consequências ao setor e principalmente, para aqueles
que consomem essa mercadoria, ou seja, os clientes.

Dentro dessa premissa, pode-se citar outra destinação turística que foi afetada
por esse fenômeno. O fato aconteceu no Canadá durante o verão de 2003, perto de
Kelowna, British Columbia, Canadá. Durante o verão de 2003, Kelowna experimentou
um gravíssimo incêndio florestal. O que se tornou conhecido como Incêndio Florestal
Okanagan Mountain Park (OMPF). O fato foi iniciado em 16 de agosto, com duração
de quase um mês, o fogo forçou a evacuação de 26 mil moradores e destruiu 238
casas particulares e uma parte substancial da infraestrutura do turismo regional. A
destinação turística é uma crescente na indústria do turismo que se concentra lagos
e montanhas, oferecendo turismo rural, atrativos como vinhos, músicas, artes, golfe a
atividade de recreação (HYSTAD; KELLER, 2008).

Segundo levantamento realizado sobre as hipóteses e capacidade de gestão


e prevenção contra o desastre dessa destinação ficou evidenciado que não houve
preparação por parte dos setores responsáveis em propor medidas de gestão ao setor
para que viessem integrar ações contra esse fenômeno. Dentro dos resultados obtidos
no estudo de caso, selecionamos alguns itens que vem trazendo um panorama sobre a
falta de gestão que pode ser percebido na pesquisa sobre o desastre que proporcionou
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diversos impactos para o trade turístico. Dentro disso, segundo os autores Hystad &
Keller (2008, p. 155) destacaram alguns elementos como;

I- A indústria do turismo foi mal preparada para um grande desastre de incêndios


florestais, apesar da probabilidade de sua possível ocorrência;

II- A maiorias das empresas relataram uma preparação passiva e reativa, bem como
uma resposta “esperar para ver”;

III- Empresas de pequeno porte e do setor de alojamento pareciam ser os mais


suscetíveis a resultados negativos do desastre;

IV- A autoridade de marketing turístico local, Turismo Kelowna, foi inicialmente


despreparados, mas assumiu o controle efetivo das responsabilidades de comunicação
e empenha em transformar a cobertura da mídia inicial negativa em algo mais positivo
e informativo;

V- Um número de empresas continuou a ser afetada pelo desastre e estavam


preocupados com os impactos de longo prazo.

Dentro dos resultados da pesquisa, ficou evidente a ausência de um trabalho


de gestão contra desastres em função da iminência de um incêndio, levando em
consideração tais características. Segundo Toubes & Fraiz Brea (2012) as estratégias
de gestão de crise desenvolvida em um destino turístico devem ser suficientemente
amplas e abrangentes quando aplicados em diferentes situações, não se limitando
a casos específicos também. Eles devem ter em conta os elementos de prevenção,
antes da crise, sendo uma parte essencial do planejamento da gestão estratégica da
crise e que a preparação para uma crise em potencial é a chave para uma recuperação
rápida e eficaz.

Os exemplos que foram apresentados das destinações turísticas na Ásia


(Taiwan) e na América do Norte (Kelowna/ Canadá) demonstram que os desastres
faziam parte do cotidiano da atividade turística nessas localidades. Nesses exemplos,
pôde-se perceber que a iminência dos desastres eram fatores claros em virtude das
características existentes de Taiwan e no Canadá. Dessa forma, em ambos os casos, a
gestão e prevenção dos desastres se fazia necessária perante as condições existentes,
no entanto, ficou evidente que esses aspectos não estiveram presente associado
com o desenvolvimento do turismo. Esse fator coloca em perigo a continuidade do
desenvolvimento do turismo nessas destinações, já que esse fenômeno prejudica a
capacidade de resiliência das destinações e, sem salientar a falta de segurança com
turísticas em virtude da ausência de um sistema de gestão que pudesse gerir essa
problemática.
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5. ESTUDO DE CASO DA DESTINAÇÃO TURÍSTICA COSTA VERDE E MAR.

Atualmente Santa Catarina tornou-se um dos destinos mais procurados no


Brasil em função da diversidade como as diversas paisagens naturais existentes.
Para destacar as potencialidades e propor um desenvolvimento do trade, o estado
através da institucionalização, criou regiões turísticas como medida de desenvolver
o turismo no estado de forma regional. O mapa abaixo vem apresentando o território
da destinação turística, a Costa Verde e Mar, que se constitui dentro de um território
constituído pelos seguintes municípios: Luís Alves, Balneário Piçarras, Penha, Ilhota,
Itajaí, Camboriú, Balneário Camboriú, Itapema, Porto Belo e Bombinhas.

FIGURA 1. LOCALIZAÇÃO DOS MUNÍCIPIOS QUE


INTEGRAM A DESTINAÇÃO DA COSTA VERDE E MAR.

FONTE: http://www.costaverdeemar.com.br/pt/costa-verde-mar/localizacao/

A destinação turística Costa Verde e Mar se constituiu a partir das enormes


belezas existentes no munícipios integrantes e também em função do município indutor
(Balneário Camboriú) que atrai milhares de pessoas para a cidade, consequentemente
fomentando essa destinação e o desenvolvimento econômico, se tornando importante
para o desenvolvimento regional. A Costa Verde e Mar além de ter Balneário Camboriú
como município indutor possuem também outros municípios importantes para a
dinâmica do setor que atrai centenas de turistas a fim de conhecer seus potenciais
turísticos.

Em função dessa enorme segmentação de mercado existente na destinação,


ela se tornou ponto de referência em questão de diversidade sobre a prática do turismo.
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Contudo, apesar da região ser caracterizada por possuir diversos atrativos voltados
para a prática do turismo, alguns municípios da destinação turística se encontra em
uma área física muito vulnerável a desastres. Santa Catarina além de apresentar
elementos que afirma seu potencial natural voltado ao turismo, o estado também vem
se encontrando entre os estados da federação que mais possuiu índice de desastres
no Brasil.

Dentro dessa premissa, o estado registrou 12,2% de todos os desastres [...]


ocorridos no Brasil entre 1991 e 2010, apesar de representar apenas 1,2% do território
nacional. O estado está no terceiro lugar do ranking (atrás do RS e MG) onde mais
ocorrem estes fenômenos [....] (REQUEBI, 2012). O gráfico 1 vem apresentando
dados sobre esse fenômeno, como por exemplo, os desastres ocorridos no estado
entre os períodos de 1991 a 2010, abordando quais são os tipos de desastres mais
recorrentes no período analisado.

GRÁFICO 1. DESASTRES MAIS RECORRENTES EM SANTA CATARINA (1991 A


2010)

Gráfico 1. Fonte (ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES 1991-2010, 2013, p.24).

Na análise do gráfico, percebe-se que ao longo desse período foram registrados


vários fenômenos associados a condições climáticas no estado que proporcionaram
os desastres. Entre eles estão fenômenos tais como, inundação gradual, estiagem
e seca, vendavais e/ou ciclone e granizo. Os fenômenos citados como inundação
brusca, estiagem e seca foram os fenômenos mais recorrentes no estado, totalizante
um percentual de 32% na questão da ocorrência desse fenômeno ao longo do período
analisado. No gráfico 2 sobre inundação brusca e alagamento por região brasileira
vem apresentando a ocorrência ao longo do período analisado.
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GRÁFICO 2. INUNDAÇAO BRUSCA E ALAGAMENTO POR REGIÃO.

Gráfico 2. Fonte (ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES 1991-2010, 2013, p. 27).

A análise do gráfico de ocorrências de desastres por região demonstra que a


região Sul é a região mais afetada por esse tipo de desastre, estando o estado de
Santa Catarina como sendo o mais afetado por esse fenômeno. No caso das inunda-
ções bruscas e alagamentos, elas são registradas a partir do aumento da precipita-
ção, onde a vazão é ultrapassada e o escoamento da água fica comprometido, assim,
quando a quantidade de chuva é elevada, o nível dos rios aumenta, transpondo seus
leitos. Desta forma, o gráfico 3 vem apresentando dados sobre a frequência mensal
de inundação brusca no Estado de Santa Catarina, no período de 1991 a 2010.

GRÁFICO 3. FREQUÊNCIA MENSAL DE INUNDAÇÃO BRUCA (1991 A 2010)

Gráfico 3. Fonte: (ATLAS SOBRE DESASTRES NATURAIS 1991 a 2010, 2011, p. 36)

Os dados acima mostram que o Estado possui um grande problema sobre a


questão das inundações bruscas, sendo que entre os meses de setembro a fevereiro
acontece a maior incidência de chuva no Estado. Segundo Monteiro (2001 apud Atlas
de Santa Catarina, 2011, p. 37), no verão em Santa Catarina, a intensidade do calor,
associado aos altos índices de umidade, favorece a formação de convenção tropical,
resultando em pancadas de chuvas, principalmente no período da tarde e noite,
contribuindo com volumes significativos de chuvas entre novembro e março.

No entanto, a região da Bacia Hidrográfica do Vale do Itajaí vem apresentando


um histórico de desastres. Ao longo do processo de colonização de Santa Catarina,
o estado foi atingindo por diversos desastres associados com fenômenos naturais e
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com aumento territorial do estado onde muitas regiões tiveram que se adaptar com
os impactos que esse fenômeno proporcionava. Na região do Vale do Itajaí devida
algumas condições físicas existentes, possui um alto grau de suscetibilidade da
iminência de um desastre, sendo que em um período curto de tempo aconteceram
dois fenômenos que atingiram integralmente o Vale do Itajaí, sendo em 2008 e 2011.
No entanto, o desastre ocorrido em 2008 ficou marcado como o segundo maior da
história do estado.

Nesse período, devido às chuvas intensas, provocaram uma série de devastação


em função do alto nível de precipitação nas cidades que são cortadas pelo Rio
Itajaí-Açu, assim “obrigando quatorze munícipios catarinense a decretar estado de
calamidade pública e sessenta e três a decretar situação de emergência” (PLANO
INTEGRADO DE PREVENÇÃO, 2009, p. 7). As regiões como o Médio e Baixo Vale do
Itajaí sofreram de forma intensa com a força da natureza, deflagrando as inundações,
alagamentos e os deslizamentos de encostas que trouxeram perdas de vidas humanas
em algumas cidades. Após o fenômeno, foi “registrado 135 mortos, 78.656 desalojados
e desabrigados, dos quais 27.404 desabrigados e 51.252 desalojados e 1,5 milhões
de afetados” (PLANO INTEGRADO DE PREVENÇÃO, 2009, p. 8).

Desta forma, algumas cidades que integram a destinação Costa Verde e Mar
e quem se encontram dentro da Bacia Hidrográfica Vale do Itajaí foram seriamente
afetadas em função dos impactos do desastre, colocando em perigo o desenvolvimento
o setor do turismo em consequência desse fenômeno. Sendo assim, os municípios
que possuem economias alicerçadas no desenvolvimento turístico podem sofrer com
efeitos negativos desses impactos. Portando, o conjunto de infraestrutura como meios
de transporte (aéreo e terrestre), meios de hospedagens, setor de serviços, lazer
e entretenimento, são segmentos turísticos que podem sofrer enormes perdas na
iminência e posteriormente com a efetivação desse fenômeno.

O modelo de tradicional de turismo, de curto prazo, muitas vezes supera o


planejamento de longo prazo. Sem um planejamento e uma gestão cuidadosa,
os pontos negativos superam os positivos. As questões transcendem apenas a
superlotação. Desenvolvimento imprudente prejudica o meio ambiente, degrada
cenário, interrompe a cultura local e as receitas de turismo (Tsai; Chen, 2010). Um
plano de gestão e prevenção de desastres sobre a atividade turística na Costa Verde
e Mar seria uma ferramenta de extrema importância, levando em consideração o
histórico de desastre na região do Vale do Itajaí.

A gestão dos desastres sobre essa vertente seria uma resposta imediata
às questões como vulnerabilidade que propiciam a iminência desses fenômenos
encontrada na destinação turística. A questão mais importante no momento atual para
a operação do turismo e desenvolvimento é a forma de diminuir a perda decorrente de
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desastres (TSAI; CHEN, 2011).

No entanto, as pesquisas que vem trazendo uma abordagem sobre os desastres


e o setor do turismo é relativamente nova e desta forma, metodologias que possam
subsidiar estudos mais aprofundados estão sendo evidenciadas. Essa preocupação
de levantar esse debate sobre a destinação turística Costa Verde e Mar se pauta
dentro da importância que essa destinação possui para o desenvolvimento regional
do Vale do Itajaí e de Santa Catarina. Segundo Faulkner (2001) existe uma falta de
investigação sobre crise ou fenômenos como desastre na indústria do turismo, sobre
os impactos dos tais eventos, tanto na indústria e organizações específicas, e a
respostas da indústria do turismo para tais incidentes.

No entanto, não é possível apresentar dados concretos sobre quais são os


impactos dos desastres que afetaram a destinação turística Costa Verde e Mar, como
por exemplo, dos desastres que ocorreram em 2008 e 2011. Essa falta de dados
concretos sobre os possíveis impactos dos desastres sobre o turismo na destinação
Costa Verde e Mar se pauta pela falta de pesquisas realizadas sistematizando
dados que não foram extraídos nos períodos citados. Essa pesquisa se fundamenta
na lacuna existente da falta de estudo existente no Brasil em função de “muitos
estudiosos terem notado um aumento do número de catástrofes e crises, que afetam a
indústria do turismo, que vão a incidentes naturais e influenciados pela ação humana”
(MALDITINOS & VASSILIADI, 2008, p. 68).

Desta forma, surge à preocupação de estudos que possam viabilizar pesquisas


sobre a implementação da gestão e dos possíveis impactos dos desastres sobre
a destinação turística Costa Verde e Mar. Essa abordagem se faz necessário em
detrimento da suscetibilidade a desastres que a região do Vale do Itajaí possui,
sendo que tal destinação se encontra dentro de uma região suscetível a desastres.
Contudo, tais características físicas existentes na região do Vale do Itajaí propiciam
a preocupação e evidencia a emergência de pesquisas alicerçadas na gestão e
prevenção.

Dentro desse contexto, objetiva-se que esse trabalho seja um ensaio de futuras
pesquisas que venha preencher essa lacuna existente no campo científico. Assim,
a destinação turística Costa Verde e Mar apresenta todas as características para o
desenvolvimento do turismo. No entanto, vários municípios que integram a destinação
Costa Verde e Mar que se encontram localizados na Bacia Hidrográfica do Vale do
Itajaí apresentam diversos elementos comprovados sobre sua suscetibilidade para
desastres e além de possuir um histórico que reafirma de que a destinação turística
Costa Verde e Mar se encontra dentro de uma área de intenso perigo.
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6. Considerações Finais

Os desastres são fenômenos que se constituem a partir de interferências


externas como, alterações climáticas, características físicas de determinado território
ou questões associadas com a vulnerabilidade socioambiental, entre outros fatores.
Dessa forma, quando os desastres são estabelecidos propiciados por alguns de
suas condicionantes, esse fenômeno passa a provocar e desestruturar todas as
relações existentes no território atingindo diretamente a comunidade local. Contudo,
procurou-se apresentar um aporte teórico sobre essa relação, a fim de evidenciar uma
problemática existente, trazendo através de um estudo de caso a relação que pode
existir entre a atividade turística e os desastres.

O presente estudo, a partir dessas concepções teóricas, pretendeu contribuir


com reflexões acerca da problemática que envolve os desastres, território e destinações
turísticas, evidenciando a destinação Costa Verde e Mar localizado no Estado de Santa
Catarina. A destinação turística Costa Verde e Mar apresenta diversas características
que lhe dão a confirmação de ser uma das destinações turísticas mais procuradas
por turista no estado, em função das enormes belezas naturais e atrativos existentes
nessa região. Porém, alguns municípios dessa destinação encontram-se localizada
dentro da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu, no qual essa região possui um histórico
de desastres afetando várias cidades que integram a destinação Costa Verde e Mar.
Essa região como é conhecida de “Vale do Itajaí”, possuindo características físicas,
como geológicas, geomorfológicas e hidrológicas associadas com fatores humanos,
como por exemplo, práticas ambientais inadequadas, que a partir de sua interação
contribuiu para a iminência e a consolidação dos desastres, como os acontecidos em
2008 e 2011.

Muitas cidades da destinação turística têm no turismo uma das principais


arrecadações provenientes desse segmento. Assim, as políticas públicas estabelecidas
na Costa Verde e Mar se fundamentam basicamente em apresentar as características
da destinação, tentando buscar e abranger novos mercados e consequentemente
atrair novos visitantes para os espaços turistificados com o propósito de consolidar
essa destinação entre as mais visitadas do Brasil. Dessa forma, questões como a
iminência dos desastres se tornam questões secundárias, não estando na pauta de
discussão pelos gestores do setor.

Sendo assim, tal ensaio se torna importante para que essa temática seja
evidenciada e apresentada a partir de reflexões para que possa se tornar alvo de
discussão. Assim, nota-se que as pesquisas em nível regional e/ou nacional sobre
a dinâmica do turismo e dos desastres ainda estão engavetadas em função de
não haver uma percepção sobre os perigos iminentes que envolvem os impactos
dos desastres na atividade turística. Portanto, a presente pesquisa pretende iniciar
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uma discussão pautada em dois elementos encontrados no Vale do Itajaí, sendo a


potencialidade desse território para o desenvolvimento do turismo e a suscetibilidade
para a efetivação dos desastres.

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CONTRIBUTO À GOVERNÂNCIA NO ORDENAMENTO DO TURISMO EM


AMBIENTES INSULARES

RESUMO
Os ambientes insulares construídos a partir de práticas socioculturais, determinadas
por sua condição de isolamento e as paisagens que os singularizam, vêm se tornando
destinos turísticos. Estes ambientes com a intensificação do uso dos recursos e dos
impactos sobre as práticas sociais locais o que demanda a emergência de uma boa
governância com articulação, participação e cooperação parao ordenamento do turismo
e para a sua sustentabilidade. É, pois no sentido da boa governância que se busca
neste artigo trazer à discussão algumas reflexões sobre a gestão e o ordenamento
do espaço turístico no contexto da governância na aplicação das políticas públicas
de turismo em ambientes insulares comparando dois destinos: a ilha de Fernando de
Noronha, Brasil e a ilha do Faial, Açores, Portugal. Para o atendimento do objetivo,
foi realizada pesquisa bibliográfica, entrevistas com atores chave da produção
do turismo local das ilhas pesquisadas para ter informações sobre as políticas de
turismo, a realidade socioeconômica e os problemas que afetam ou são afetados
pelo turismo. Para um conhecimento ampliado da realidade do turismo das ilhas, se
buscou sites, material de divulgação e jornais locais. Constatou-se que em ambas as
ilhas o sistema de governância não contribui para o ordenamento e gestão do turismo
assim como para a sua sustentabilidade tendo em vista que a participação dos atores
chaves, a articulação/cooperação entre o setor público e o privado não acontecem de
forma satisfatória pela ausência de espaços à participação e pela baixa capacidade
de organização da população residente e pequenos empresários do turismo.
Palavras Chave: Governância; turismo; turismo em ilhas; política de turismo.

ABSTRACT
The island environments constructed from sociocultural practices, determined by its
isolation condition and landscapes singularize, have become tourist destinations.
These environments with the intensification of resource use and impacts on local social
practices which demands the emergence of good governance with joint participation
and cooperation on spatial tourism and its sustainability.It is therefore towards good
governance that we seek in this article to bring to the discussion some thoughts on
the management and planning of tourism within the context of governance in the
implementation of tourism policies in island environments comparing two destinations:
the island of Fernando de Noronha, Brazil and the island of Faial, Azores, Portugal.
For meeting the goal, literature, interviews with key actors in the production of local
tourism islands surveyed for information on tourism policies, the economic reality and
the problems that affect or are affected was performed by tourism.For an expanded
knowledge of the reality of tourism in the islands, we sought sites, promotional material
and local newspapers. It was found that in both islands the system of governance does
not contribute to the planning and management of tourism as well as its sustainability
given that the participation of key stakeholders, coordination / cooperation between
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the public sector and the private not happen satisfactorily by the lack of spaces for
participation and low organizational capacity of resident and small tourism entrepreneurs
shape population.
Key words: Governance; tourism; Tourism islands; tourism policy.

1. INTRODUÇÃO
Os ambientes insulares têm estado na pauta das preocupações de autoridades
governamentais, do mercado e de entidades conservacionistas, por terem se
transformado em áreas de ocupações urbanas, agrícolas, comerciais e de serviços com
múltiplas formas de usos que vem colocando em situação de risco os ecossistemas
e as populações residentes. Com a expansão da função turística, os ambientes
insulares, nas mais diferentes latitudes tem se tornado áreas de grande interesse do
poder público e de investidores, pelas paisagens singulares que essas áreas possuem,
transformando-as em destinos turísticos nacionais e internacionais. As mesmas causas
impulsionadoras que orientam a formação destes destinos promovem espaços-tempos
diferenciados, em função das interações múltiplas relacionadas com elementos
espaciais naturais e sociais que são políticos, econômicos e institucionais. Apesar
de serem traçadas estratégias para a expansão da função turística em ambientes
insulares seguindo a lógica geral do mercado turístico, estas se espacializam nos
territórios de forma conflituosa desterritorializando configurações existentes sem um
processo de governância que viabilize a articulação, cooperação e decisão entre os
stakeholders e possibilite a sustentabilidade do turismo nesses ambientes.
Com base no exposto, busca-se neste artigo trazer à discussão algumas
reflexões sobre a gestão e o ordenamento do espaço turístico no contexto da
governância na aplicação das políticas públicas de turismo em ambientes insulares
comparando dois destinos: a ilha de Fernando de Noronha, Brasil e a ilha do Faial,
Açores, Portugal. As reflexões tiveram como ponto de partida que: a boa governância
representa a condição fundamental para o ordenamento, a gestão e a sustentabilidade
do turismo nos ambientes insulares na qual a participação potencializa a colaboração,
a articulação e a decisão. De outra forma, pretende-se contribuir para o debate na
busca de soluções inovadoras para os problemas e para a (re) produção do espaço
turístico com possibilidades para o ordenamento e da gestão do turismo com foco
na governância e para definição de políticas públicas eficazes que atendam as reais
necessidades da sociedade como um todo e em especial de populações que habitam
e/ou que trabalham em territórios insulares onde a atividade turística se expande.
Utiliza-se uma abordagem metodológica comparativa para trazer a discussão
algumas reflexões sobre a gestão do espaço turístico, considerando a complexidade
espacial, verificando-se as características e as dinâmicas sociais que constituíram os
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territórios turísticos de cada uma das ilhas pesquisadas. A abordagem comparativa


possibilita perceber as múltiplas perspectivas das sociedades, as dinâmicas locais, os
contextos vividos, as mudanças, os contrastes, os excessos, sem fronteira de tempo
e espaço, categorias geográficas que representam a materialidade social da produção
e usos dos territórios. Portanto, a análise proposta fundamenta-se num um método
que “procura reunir o que vulgarmente se separa ou distinguir o que vulgarmente se
confunde” (BOURDIEU; CHAMBORENDON; PASSERON, 1975, p.29).
Para a análise comparativa foi realizada uma pesquisa bibliográfica abrangendo
a governância, as políticas públicas de turismo e a formação dos espaços turísticos
de Fernando de Noronha e de Faial. A pesquisa bibliográfica foi complementada com
entrevistas junto a pesquisadores que estiveram envolvidos na elaboração das políticas
de turismo. Para se saber como se dava a participação e articulação foram realizadas
também entrevistas com gestores e com empreendedores da área do turismo - meios
de hospedagem, agencia/receptivo, mergulho e passeios/trilhas para se saber como
se dava a participação e articulação. Consulta a sites, guias de turismo e jornais locais
foram importantes para se conhecer os tipos de práticas turísticas realizadas nas
ilhas e os problemas e conflitos relacionados ao turismo. Como unidades comparáveis
utilizou-se as políticas de turismo, a participação e a colaboração/articulação.

2. AMBIENTES INSULARES TURÍSTICOS: A EMERGÊNCIA PARA A


SUSTENTABILIDADE
O cotidiano em um espaço geograficamente afastado do continente torna-se
dificultado pela condição de isolamento, pelas limitações ao uso dos recursos naturais
e pela dependência externa. A dificuldade do isolamento também é produto de ordem
política, econômica e cultural que pode estar representada pela escassez de recursos
naturais, pela precariedade de serviços básicos como saúde, educação e transporte,
pelo alto custo de vida, pela precariedade de oferta de emprego, por necessidade de
instalação de atividades econômicas.
Os ambientes insulares têm sido vistos como espaços sagrados, presentes
em várias mitologias. Destaca Henriques (2009), que as ideias sobre a condição dos
ambientes insulares são de isolamento e solidão, de separação e afastamento, de
fechamento e aprisionamento, o que aponta para um autocentramento destes lugares
sobre si. Olhando para pequenas ilhas, observa-se, que os problemas se apresentam
mais visíveis em função da singularidade e das particularidades que as envolvem
enquanto que são “mais diluídos” em ilhas maiores e mais populosas a exemplo da
Grã-Bretanha, Zelândia (Henriques, 2009, p. 14), desmistificando dessa forma as
ideias sobre a insularidade. Portanto, pode-se inferir que os problemas que enfrentam
as ilhas estão relacionados muito mais com as formas de usos e de gestão pública do
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que com a condição de insularidade.


As ilhas, desde os mais longínquos momentos históricos têm sido utilizadas
como áreas isoladas, afastadas e aprisionadas que direcionou o uso para presídios ou
para usos estratégicos no estabelecimento de rotas náuticas ou ainda para a construção
de bases aéreas durante guerras. No Século XIX, com a sensibilidade provocada pelo
Romantismo, os ambientes insulares passam a serem lugares de refúgio onde se
podia recolher para repouso, contemplação ou meditação: a possibilidade de “fugir”
do mundo.
Com o avanço dos meios de transporte e comunicação e guardada a ideia
de que a ilha é um lugar “distante” que “resiste ao tempo”, o advento do turismo
fez surgir a concepção de que as ilhas são lugares de vocação turística, que tem
paisagens singulares e de ser um lugar onde se pode refugiar e desfrutar de prazeres.
Nesse contexto, o turismo permitiu um novo olhar sobre os mais diferentes ambientes
valorizando-se o mar e a montanha, o clima e os animais no meio natural, a cultura,
outras experiências e idiossincrasias locais. Assim, nos espaços naturais e socialmente
produzidos dos ambientes insulares se espacializaram territórios turísticos (SELVA,
2012), os quais vêm assumindo diferentes funções. Os recursos naturais assim
como os traços culturais existentes, na fase atual da expansão da função turística
tornaram-se objeto de consumo que o olhar moderno o transformou em mercadoria.
A mercadoria necessitou de formas, estruturas e processos que se espacializam
nos territórios e na dinâmica do seu funcionamento podem subverter a ordem local
representando riscos que necessitam ser considerados na gestão e ordenamento da
atividade turística. Destaca Coriolano (2005, p. 299), que “o turismo é na atualidade
um dos eixos desencadeadores dessa espacialização, age desterritorializando e
produzindo outras configurações geográficas”.
Diegues (1996, p. 17) afirma que “o meio insular, enquanto um território
de contornos definidos reforça a noção de lugar”. É um lugar construído a partir
de representações, de signos, significados, desenvolvidos a partir das práticas
socioculturais dos ilhéus. Portanto, os ambientes insulares, nomeadamente aqueles
formados de pequenas ilhas onde o turismo se instalou, o seu ordenamento e gestão
deve ter como aporte uma governança participativa entendida na perspectiva de
permitir integrar os aspetos da participação, colaboração e decisão, assegurando
o envolvimento ativo e efetivo dos atores-chave (OCDE, 2002) de modo que haja
condições favoráveis para o desenvolvimento da atividade em conformidade com a
dinâmica social local e a conservação dos recursos naturais disponíveis.
A Governança se estabelece com circuitos e redes de participação e
colaboraçãoque conectam governo, empresários, sócios, cidadãos, trabalhadores,
organizações sociais, grupos de interesse, a mídia, para garantirdesempenho;
trata-se de um modelo de gestão onde atores locais e regionais promovem juntos
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determinada ação. Por sua vez, uma ação conjunta é uma ação de cooperação entre
os agentes, cooperação que pressupõe “entendimento”, fraternidade e convergência
de expectativas e propostas.
Para Vasconcelos etall (2009), a governança é pautada no sucesso do trabalho
no território numa atitude pragmática dos diferentes atores chave. Estes trabalham
em rede colaborando de forma concreta nas alterações territoriais onde a apropriação
e tomada de consciência do seu poder e da necessidade de exercer este poder fará
toda a diferença no destino do território e da qualidade de vida de todos os que ali
atuam e não só o habitam.
Nessa direção, a governança no ordenamento e gestão do turismo representa
um poderoso instrumento, para as discussões e soluções para os problemas e conflitos
(JEAN-PIERRE, 2002) e para a definição de caminhos para a sustentabilidade da
atividade turística, uma vez que as redes estabelecidas contribuem para melhorar
a cooperação entre organizações, poder politico, prestadoras de serviços turísticos,
empresas para o marketing, inovação, novos mercados, obtenção de recursos,
ampliação de conhecimentos, novas tecnologias, entre outros.
Fazendo alusão às recomendações da Organização Mundial do Turismo
(WTO, 2004), pode-se argumentar que: para o desenvolvimento do turismo e para
sua sustentabilidade no sentido da manutenção, da permanência, da continuidade
da atividade é exigida a participação informada de todos os stakeholders relevantes
como o governo nacional, regional e local; autarquias; instituições de investigação;
associações de empresários; operadores turísticos; agencias de viagens; serviços
para o turismo; organizações ambientalistas; e associação de residentes. É ainda
requerida liderança política forte para assegurar uma ampla participação e a criação
de consensos para minimizar impactos negativos e potencializar impactos positivos
da atividade turística contextualizados nas políticas públicas de turismo apontando
direções para o ordenamento e a gestão da atividade.
A contextualização do turismo enquanto política pública se faz necessário para
que se possa entender o processo de planejamento da atividade. Política publica de
turismo pode ser entendida como um conjunto de intenções, diretrizes e estratégias
e ações deliberadas, no âmbito do poder público, em virtude do objetivo geral de
alcançar ou dar continuidade ao pleno desenvolvimento da atividade turística num
dado território (CRUZ, 2000).
Moniz (2009, p. 344), chama a atenção para a continuidade da sustentabilidade
do turismo afirmando que é um processo constante que requer a monitorização de
impactos e a antecipada introdução de medidas necessárias em termos preventivos
e/ou corretivos. Continua a referida autora ao discutir a sustentabilidade do turismo
em pequenas ilhas que, a busca pela sustentabilidade deve ser uma questão de todos
os grupos interessados direta e indiretamente na atividade devendo partilhar desta
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responsabilidade comum de modo a atender as aspirações, as metas e as prioridades


que são diferentes. “O maior desafio à operacionalização da sustentabilidade do turismo
passa necessariamente pelo desenvolvimento de formas flexíveis de cooperação
entre o setor público o setor privado.” (MONIZ, 2009, p. 359).
Ritchie (1993) analisando o turismo em ilhas apresentou um inventário síntese
de uma série de questões que afetam o turismo nesses territórios destacando: a
preocupação com a competitividade dos destinos insulares e com o ambiente; a
aposta num modelo de desenvolvimento turístico integrado com outros sectores da
economia como a agricultura, a pesca, a indústria em geral e a necessidade de uma
política eficaz de recursos humanos.
É importante destacar que as questões que afetam o turismo nos territórios
insulares ressaltadas por Ritchie (1993) se agravam nas pequenas ilhas pela sua
reduzida área e notadamente naquelas de mais baixas Latitudes, onde há escassez
hídrica; este é um indicador importante a ser considerado no planejamento e na
operacionalização como chama a atenção Briguglio, Butler, Harrison, et. al., (1996,
p.53) para as pequenas ilhas: “não há dúvidas que o impacto da insularidade é, pois
com certeza, mais significativa nas ilhas de pequena dimensão”.
As pequenas ilhas tem ainda como agravante para os problemas que afetam o
turismo, a reduzida dimensão econômica e social. Essas ilhas de pequena dimensão
segundo Royle (2001) são limitadas em termos de tamanho, recursos económicos,
população e poder político.
Embora o turismo represente papel importante na economia de ambientes
insulares (BARROS, 2007), estes necessitam de politicas de turismo que possibilitem
a sua sustentabilidade, em que o planejamento seja efetivamente integrado as demais
atividades existentes e consideradas além das questões sociais e econômicas, a
disponibilidade de recursos, a dimensão da ilha e a sua distância com relação ao
continente, aspectos que implicam no abastecimento local, na qualificação profissional
e nos transportes. Mas, o turismo não pode ser isolado como único vetor responsável
pela sua sustentabilidade ou pela sustentabilidade de uma região. Como pontua Costa
(2013), a sustentabilidade de uma região deve ser vista em um contexto mais amplo,
o da sobreposição das múltiplas atividades que lá ocorrem e das interações entres
os usuários, o que conduz ao entendimento da imprescindibilidade de processos que
induzam mudanças de atitudes, posturas para a mudança de realidade.

3. FERNANDO DE NORONHA, BRASIL E FAIAL, AÇORES, PORTUGAL: UM


OLHAR SOBRE A GOVERNÂNCIA E A GESTÃO DO ESPAÇO TURÍSTICO

Fernando de Noronha e Faial são ilhas localizadas no Oceano Atlântico


(FIGURA 1) que compõem espaços formados por arquipélagos de origem vulcânica:
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Fernando de Noronha e Açores, respectivamente.

FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO DAS ILHAS FERNANDO DE NORONHA E


FAIAL NO OCEANO ATLÂNTICO

Apesar da semelhança existente entre os dois arquipélagos, quanto à formação


geológica de origem vulcânica, à diversidade de paisagem com elevado potencial
para a prática do turismo, às práticas turísticas desenvolvidas, ao desenvolvimento
de políticas de turismo definidas pelo poder público, à política de meio ambiente com
áreas protegidas e ao uso turístico, as duas ilhas se diferenciam quanto ao processo de
ocupação, à sua estrutura administrativa, à disponibilidade hídrica, ao uso de energia
e à gestão de resíduos sólidos. Tanto as semelhanças como as diferenças apontam
para a existência de problemas e conflitos que se estabelecem entre residentes locais,
poder público, tradeturístico gerado ora pela necessidade de conservação ambiental,
ora pelas práticas sociais surgidas em função das novas práticas se estabelecem no
lugar.

3.1 Arquipélago de Fernando de Noronha


Situado a 545 km da capital pernambucana, Recife, está o arquipélago de
Fernando de Noronha, formado por 21 ilhas e ilhotas, que ocupa uma área de 26 km²,
e constitui desde 1988 um Distrito Estadual de Pernambuco, que conforme ressalta
Santonieri (2006), uma ilha enquanto um distrito estadual, uma exceção constitucional
no Brasil, contribui para a confusão administrativa sobre o uso do solo e sua
legislação. O Arquipélago de Fernando de Noronha é um ambiente de clima Tropical
subúmido, com precipitação média de 1.000mm concentradas durante o ano, elevada
evapotranspiração condições climáticas e geológicas condições que não favorecem
o acúmulo de água o que representa um problema (KOROSSY; CORDEIRO; SELVA,
2008) para um dos mais importantes destinos turísticos do Brasil. Fernando de
Noronha também é o nome da maior de todas as ilhas do arquipélago, de 17km², a
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única habitada com uma população residente fixa de 2.630 habitantes IBGE (2010)
cuja principal fonte de renda é o turismo. O uso de território de Fernando de Noronha
é regulado pelas unidades de conservação Parque Nacional Marinho de Fernando de
Noronha e Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha. Em dezembro de
2001, a UNESCO considerou o arquipélago sítio do Patrimônio Mundial Natural.
Incluído nas rotas das grandes navegações, o processo de ocupação do
território se inicia no Século XVII e no Século XVIII o arquipélago transformava-se em
Distrito Federal e em presídio comum pela sua condição de isolamento. No Século
XIX passa a ser área de interesse científico com a visita do naturalista Charles Darwin.
Durante a II Guerra Mundial, é criado o Território Federal Militar na Ilha de Fernando de
Noronha, o Destacamento Misto de Guerra e a Aliança com a Marinha Americana que
instalou uma base de apoio. Para isto foi imprescindível à construção de residências
para atender a população que lá se instalou. Em 1988, Fernando de Noronha passou
a ser Distrito Estadual de Pernambuco e foram criadas duas áreas protegidas: Parque
Nacional Marinho de Fernando de Noronha e a Área de Proteção Ambiental de
Fernando de Noronha. Parte da área do território é administrada pela Base Aérea
Nacional. Em 1989, foi instituída a Taxa de Preservação Ambiental-TPA destinada a
assegurar a manutenção das condições ambientais e ecológicas do arquipélago.
As funções desenvolvidas na ilha de Fernando de Noronha- militar, presídio,
fez surgir à função agrícola de subsistência, mas, de pouca expressão sendo a ilha
até os dias atuais abastecida de gêneros alimentares vindos do continente: Natal, RN
e Recife, PE. A função turística é a principal da ilha, mas, ocupa uma mão de obra
predominantemente do continente.

3.2. Arquipélago dos Açores


Também localizado no Oceano Atlântico está o Arquipélago dos Açores de origem
vulcânica com uma área de 2.333 km², oficialmente designado por Região Autônoma
dos Açores desde1976, um território dotado de autonomia política e administrativa da
República Portuguesa. É um ambiente de clima Temperado oceânico com precipitação
média de 1.000mm anuais bem distribuídas durante todo o ano. Nos Açores, podem
ser observadas formas de relevo consolidadas com paisagens de rara beleza que
elucidam o vulcanismo e suas erupções efusivas, que originaram substrato basáltico
onde se desenvolveram solos que associados ao relevo. Há disponibilidade hídrica
nas ilhas com lagoas e fontes de água doce. A conjugação da boa luminosidade, a
umidade e o calor possibilitaram o desenvolvimento de uma diversificada vegetação,
flora e fauna.
A origem vulcânica das ilhas refletem-se na paisagem com evidências das
erupções vulcânicas pretéritas e atuais que são exploradas nas práticas turísticas
atuais como a observação das crateras de vulcões, lagoas que ocupam as áreas de
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crateras de vulcões e vulcões em erupção com fumaça e vapor d´água. A sismicidade


é um elemento comum nas ilhas dos Açores.
O arquipélago dos Açores é constituído por nove ilhas principais e pequenas
ilhotas, divididas em três grupos distintos: Grupo Oriental, com duas ilhas - São Miguel
e Santa Maria e os Ilhéus das Formigas (Ilhas mais próximas do Continente Europeu);
Grupo Central, com cinco ilhas - Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial e o Grupo
Ocidental com duas ilhas - Flores e Corvo.
Nas ilhas dos Açores, podem ser observadas formas de relevo consolidadas com
paisagens de rara beleza que bem elucidam o vulcanismo e suas erupções efusivas,
que originaram substrato basáltico onde se desenvolveram solos que associados ao
relevo, luz, umidade e calor possibilitaram o desenvolvimento de uma diversificada
vegetação, flora e fauna.
O processo de ocupação dos Açores data do Século XV com população vinda,
sobretudo, das províncias continentais do Minho, do Algarve e do Alentejo. Nos
séculos seguintes, colonizadores de outras regiões europeias de Flandres e do Norte
da França se instalam nas ilhas.
Desde os primórdios da colonização até os dias atuais, a agropecuária é a
principal atividade econômica nas nove ilhas. Destaca-se produção de leite e queijo,
conserva de pescado, hortaliças, cereais, chá e uva.
Com uma superfície de 173 km² a ilha Faial, conhecida como a “insule de
venture” nas antigas cartas e roteiros marítimos, é dada como descoberta na primeira
metade do século XV. Situa-se a 1.815 km do Continente. Faial forma um Triângulo
com as ilhas de São Jorge (26km) e Pico (8km), fato que facilita conexões, acordos
e parcerias para as práticas turísticas. A sua população é cerca de 15.000 habitantes
(SREA, 2011). É um ponto de parada para todos aqueles que atravessam o Atlântico
Norte de modo que a marinha é a mais visitada de todas as demais dos Açores.

3.3 Fernando de Noronha e Faial: semelhanças e diferenças


Considerando as pesquisas bibliográficas e as entrevistas realizadas em outubro
de 2012; julho de 2013; e abril, de 2014 em de Fernando de Noronha e em março de
2014 no Faial, observa-se que embora as duas ilhas se diferencie em termos de área,
população e formas de uso e ocupação são ilhas que apresentam problemas pela
sua condição de insularidade no que se refere à preços elevados quanto à questão
de abastecimento de alimentos, roupas e de transporte para o continente. Preços
elevados representam um aspecto negativo para o desenvolvimento e sustentabilidade
do turismo o que inevitavelmente vai incidir nos preços dos meios de hospedagem,
alimentação e serviços do turismo. No caso específico do Faial por ser uma ilha de
ocupação mais antiga com concentração populacional na cidade de Horta, sua capital,
os residentes recebem um benefício de insularidade tendo um desconto de 17% no
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Imposto de renda.
Observando as práticas turísticas, os meios de hospedagem e instrumentos
de ordenamento do turismo (QUADRO 1), verifica-se que os meios de hospedagem
das ilhas se diferenciam uma vez que em Fernando de Noronha não há a categoria
de hotel. Em Faial, esta categoria detém o maior número de Unidades Habitacionais-
UH’s. Quanto às demais categorias, existem no Faial empreendimentos menores e em
geral explorados por moradores locais como acontecem em Fernando de Noronha.

QUADRO 1 - PRÁTICAS TURÍSTICAS, MEIOS DE HOSPEDAGEM E


INSTRUMENTOS DE ORDENAMENTO DO TURISMO.
Especificação Fernando de Noronha Faial

Meios de • Hospedaria Domiciliar • Hotéis


hospedagem 1, 2 ou 3 golfinhos • Residenciais/hospedarias
• Casa de Hóspedes e alojamentos particulares
Práticas turísticas • Mergulho • Mergulho
  • Observação de Cetáceos • Observação de Cetáceos
• Passeios Naúticos e terrestres • Passeios Naúticos e terrestres
• Trilhas • Trilhas
• Pesca Desportiva
• Caça Submarina
• Turismo Rural
Instrumentos de • Plano Nacional de Turismo • Plano Estratégico Nacional para o Turismo
ordenamento • Prodetur/PE • Plano Estratégico para o Turismo dos Açores
• Plano de Manejo do Parque • Plano de Ordenamento Turístico da Região
Nacional Marinho deAmbiental Autónoma
Fernando de Noronha
• Plano Estratégico de Animação Turística para o
• Plano de Manejo da Área de
Proteção Ambiental Fernando de Grupo Central
Noronha • Plano Estratégico para o Turismo no Triângulo
• Plano de Desenvolvimento Turís- • Plano Diretor
tico de Fernando de Noronha
• Portaria n.º 94/2013 de 17 de Dezembro de 2013
• Matriz de Classificação das Hos- – Alojamento Local
pedarias Domiciliares de Fernan-
do de Noronha  
Fonte: SREA, 2014; Pesquisa de Campo, março e abril de 2104.

Há semelhanças entre as práticas turísticas tanto no arranjo espacial das formas


criadas, quanto a oferta de serviços, empresas de mergulho, meios de hospedagem,
receptivo.
No que se refere às práticas turísticas o mergulho, a observação de cetáceos e
os passeios náuticos e terrestres se destacam como as principais oferta de atividade
para os turistas. A Pesca Desportiva e a Caça Submarina são atividades ofertadas em
Faial contrapondo com Fernando de Noronha que possui área de preservação mari-
nha que não permite este tipo de atividade. Como a agropecuária é a principal ativi-
dade econômica de Faial o Turismo Rural destaca assim como um tipo de alojamento
específico para a área rural.
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Os instrumentos de ordenamento de turismo apontam para um quadro de


articulação entre as politicas nacionais, regionais e locais. Em Fernando de Noronha
existem instrumentos específicos para o Distrito – planos de manejo das áreas
protegidas e o Plano de Desenvolvimento Turístico de Fernando de Noronha o que
possibilita discussão articulação, cooperação e tomada de decisão local com o
aporte de instâncias colegiadas e espaços de participação através dos conselhos e
das associações, embora os entrevistados afirmaram que as decisões nem sempre
são partilhadas. Para Faial a situação se diferencia. Há articulação entre as políticas
nacionais, regionais e locais todas as formas de colaboração e decisão se dão a nível
regional em diferentes escalas: no grupo de ilhas centrais e nas ilhas que formam
o Triângulo (Faial, São Jorge e Pico). Todas as formas de organização no âmbito
do turismo é em nível nacional ou regional, aspectos que segundo os entrevistados
excluem as pequenas empresas das tomadas de decisão e discussão, pois, apenas
as grandes podem estar se deslocando para reuniões fora da ilha.
Nas entrevistas foram identificadas iniciativas de organização local na busca
de colaborações e parcerias para soluções de problemas enfrentados pelas pequenas
empresas.
Quanto às políticas de turismo e o sistema de governância no turismo nas
ilhas (Quadro 2), constatou-se que existem dificuldades de articulação, cooperação e
participação nas ilhas objeto de observação.

QUADRO 2 – POLÍTICAS DE TURISMO, ARTICULAÇÃO, COOPERAÇÃO E


PARTICIPAÇÃO EM FERNANDO DE NORONHA E FAIAL
Unidades Fernando de Noronha Faial

Politica de • Políticas articuladas em níveis: nacional e • Políticas articuladas em níveis: nacio-


turismo estadual nal e regional 
• Espacializaçãolocal (Ilha) • Espacialização regional (Açores)
Colaboração e • Relação com instrumento de ordenamento e • Relação com instrumentos de orde-
decisão instâncias colegiadas de deliberação local namento instâncias de deliberação
• Plano de manejo do PARNAMAR – Conse- regional em diferentes escalas
lho Gestor da área protegida e Conselho • Plano Estratégico de Animação Turís-
Distrital tica para o Grupo Central
• Plano Estratégico para o Turismo no
Triângulo
• Consulta para pareceres.
Espaço • Conselho de Turismo • ATA – Associação de Turismo dos
Participação • Representantes do trade Açores

• Organizações não governamentais • CENTER - Central Nacional do Turis-


mo no Espaço Rural
• Associação de moradores
• ART Associação Regional de Turismo
• Associação das Hospedarias Domiciliares Açores
de Fernando de Noronha
• CEPT – Conselho Estratégico de
Promoção Turística

Fonte: Pesquisa de Campo, março e abril de 2104.


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Considerando o sistema de governança do turismo em Fernando de Noronha e


Faial constata-se que a participação, a colaboração/articulação e a decisão apresentam
fragilidade para a gestão do turismo. As políticas estão articuladas a nível nacional,
regional e local, mas, não há evidências que os governos locais estabelecem formas
flexíveis de cooperação entre o setor público o setor privado (LUMBABO; COSTA, 2009)
de modo a possibilitar a formação de redes de colaboração/articulação e espaço para
a participação. Por outro lado, a cultura da não participação da população residente, a
baixa capacidade de organização de pequenas empresas representam aspectos que
dificultam a participação, colaboração/articulação e decisão.
Sem uma boa governância que permita integrar os aspetos da participação,
colaboração e decisão, assegurando o envolvimento ativo e efetivo dos atores-chave do
turismo como sugerido pela OCDE (2002) e WTO (2004) a gestão e a sustentabilidade
do turismo nas ilhas de Faial e Fernando de Noronha ficam comprometidas. As
questões econômicas vão estar sempre em evidência sem conexão direta com as
questões sociais e ecológicas.

4. PARA FINALIZAR

Os ambientes insulares tem se intensificado nos últimos trinta anos como lugares
de refúgio, ócio e lazer. Essa forma de uso destes ambientes resulta da expansão da
função turística que na sua versão moderna busca consumir paisagens e criar novos
destinos.
As ilhas de pequena dimensão têm sido cada vez mais buscadas ou
destinadas às práticas turísticas pelas suas singularidades do ponto de vistas das
paisagens naturais e culturais ou pelo seu isolamento. Estudos apontam que turismo
desempenha um papel significativo na economia das ilhas mas as práticas voltadas
ar ao planejamento, à gestão e à governância não têm sido suficientes ou adequadas
aos ambientes destas ilhas de modo que os benefícios econômicos gerados pelo
turismo estão sempre atrelados a problemas de ordem ecológica, com o uso intensivo
dos recursos naturais principalmente para obtenção de água e energia e sociais, com
a exclusão de população residente que nem sempre se beneficia do que o turismo
gera no lugares.
Fica evidente que as distorções que se espacializam nos territórios turísticos,
especialmente as pequenas ilhas, é resposta da ausência de uma governância
colaborativa, articulada onde os atores-chave não participam de forma efetiva para o
desenvolvimento do turismo pela falta de espaço ou pela fragilidade das organizações.
A sustentabilidade da atividade turística em pequenas ilhas pela reduzida
disponibilidade de recursos que possuem em relação às grandes ilhas, deve ser
encarada como no planejamento e gestão do turismo, fator para desenvolvimento
das pequenas economias insulares e como fator para uma boa governância, com
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um governo capaz de criar redes e articulações entre o poder público e as iniciativas


privadas.
Para uma boa governância do turismo é imprescindível a sincronia entre as
diferentes esferas de governo e entre políticas econômicas e sociais e uma visão de
futuro comum entre público, privado e a sociedade civil.

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Grupo de Trabalho 08
Gênero e Sexualidade no Merdaco Turístico

Coordenadores: Ricardo Lanzarini (USP LESTE).

O mercado turístico tem apresentado nos últimos anos uma enorme variação em
seu processo criativo de fomento do consumo dos espaços e da prestação de serviços
especializados, tanto para o atendimento de públicos específicos, como homossexuais,
bissexuais e grupos transexuais e transgêneros quanto para índices de empregabilidade
diferenciados entre homens e mulheres a partir de preconceitos históricos que diferenciam
os gêneros no mercado de trabalho. Com perfil consumidor diferenciado, os empresários
do setor têm apostado em equipamentos e eventos de modo a atender essa demanda
que está diretamente ligada às manifestações da sexualidade e às reproduções de seus
preconceitos, além das práticas sexuais buscadas por turistas em seus destinos, causando
enfrentamentos sociais entre turistas e residentes. As discussões sobre gênero também
permeiam as relações sociais com base no consumo do espaço turístico e sua produção,
inserindo homens e mulheres no mercado de trabalho seletivamente, além de interferir
na motivação do turista que busca destinos e/ou equipamentos de lazer segmentados
pela sexualidade e pelo mercado do sexo. Este grupo Agrega dois importantes eixos de
conhecimento interdisciplinar do fenômeno turístico: trabalhos referentes aos estudos de
gênero e voltados para o mercado turístico, seja na prestação de serviços convencionais,
seja nos sexuais; e trabalhos sobre sexualidade, destinos sexuais e práticas sexuais de
turistas. As análises de espaços, territórios, comportamentos e motivações que partem da
sexualidade de turistas e moradores de locais turísticos criam relações de sociabilidade
e parceria sexual que podem estar ou não inseridas no mercado do sexo, configurando
espaços de produção do turismo, movimentando a economia local e a troca de experiências
humanas na contramão das normas sociais dominantes no Ocidente moderno, mas que,
em diversos casos, reformula os espaços turísticos e ressignifica suas relações sociais e
econômicas.
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RELAÇÕES ENTRE GÊNERO E MERCADO DE TRABALHO DE


TURISMÓLOGOS EM MINAS GERAIS

RESUMO: O turismo é uma atividade humana com implicações marcantes na


economia, entre as quais o uso intensivo de mão-de-obra dos mais diversos níveis.
Tomando como ponto de partida o mercado de trabalho de graduados em turismo,
com base nas informações egressos da formação superior em Turismo, realizada
no estado de Minas Gerais, Brasil, o estudo buscou identificar as implicações das
questões relacionadas a gênero no âmbito laboral do turismo, a fim de conhecer se
há semelhança com outros setores econômicos. Para tanto, utilizou-se de dados
levantados por uma pesquisa mais ampla acerca do mercado de trabalho para
turismólogos no Brasil, estratificando os dados relativos aos graduados em turismo do
Estado, separando as informações entre homens e mulheres, sempre que necessário
ou possível. A amostra foi composta de 290 respondentes, sendo 188 mulheres e
102 homens. Os resultados apontam para o fato do mercado de trabalho em turismo,
apesar de predominantemente feminino, repetir tendências de outros setores com
melhores salários e posições mais elevadas ocupadas por homens.

Palavras-chave: Mercado de trabalho. Turismólogos. Gênero. Minas Gerais.

ABSTRACT: Tourism is a human activity with marked implications in economics, being


especially labour intensive in a variety of levels. Taking tourism graduate labour market
as starting point, the study aimed at identifying the implications of gender issues in
tourism labour market,based on information about higher degree graduated in the State
of Minas Gerais, in order to compare whether tourism industry behaves the same way
as other economic sectors.In order to do so, data collected in a broader research, which
focused on Brazilian tourism labour market as a whole, have been selected extracting
informationabout the State of Minas Gerais separating data using gender as criteria
every time it was either needed or possible. The sample counted 290 respondents,
being 188 women and 102 men. Even though employment in tourism is largely leaded
by women, the results point out that following other sectors pattern, tourism industry
tend to pay better wages and have higher positions for men, as compared to women.

KEYWORDS: Labour market. Tourism Graduates. Gender. Minas Gerais.

INTRODUÇÃO

O turismo como atividade humana que é, convive, reproduz e intensifica


a realidade que o cerca, tanto nas relações pessoais quanto nas profissionais. O
vínculo da atividade com o meio permite um elevado número de discussões acerca
do grau em que a atividade turística influencia e em que é influenciada pelo contexto
em que se desenvolve ou que se faz presente. Independentemente de ser causa ou
consequência, o que se pode assegurar é que o turismo não está alheio à realidade
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social, mesmo que não seja protagonista na criação de políticas setoriais.

As questões relativas a gênero na sociedade contemporânea são, da mesma


forma, influenciadas pela atividade turística, ao mesmo tempo em que a influenciam.
Richter (1999) comenta que há uma relação entre turismo e gênero no sentido de
serem até pouco tempo, temas negligenciados por estudos das ciências políticas,
mencionando que o reconhecimento das variações no comportamento político entre
homens e mulheres tornou-se objeto de pesquisa somente após a Segunda Guerra, e
que o turismo, ainda que venha atraindo mais atenção dos cientistas sociais, continua
defasado no que diz respeito aos estudos políticos.

As convergências entre os estudos de ambas as áreas dependem sempre


do foco que se dê a cada uma e à relação proposta. No turismo, por exemplo, a
realidade que cerca os turistas e suas necessidades traria possibilidades de
pesquisas possivelmente relacionadas a produtos para públicos específicos, entre
as diferentes faixas etárias e preferências, sendo as publicações mais frequentes as
que dizem respeito a características de destinos turísticos e produtos voltados ao
público GLBT. Por parte da comunidade receptora, a aderência com as questões de
gênero normalmente estão relacionadas aos impactos do turismo sexual, e sobre a
exploração em destinos em cuja prática seja frequente ou conhecida.

Há, entretanto, um enfoque que possui igualmente importância, ainda que seja
pouco explorado, que trata das relações profissionais em áreas vinculadas ao turismo
e a vulnerabilidade dessas às tradições sexistas.

Este último enfoque é o que será exposto neste estudo, como fruto da
interpretação de uma pesquisa sobre o mercado profissional de turismólogo. A
pesquisa original foi realizada em âmbito nacional, voltada aos graduados em turismo,
com um total de 1360 questionários válidos, respondidos por meio do preenchimento
online para o qual se utilizou a ferramenta Forms do Google® Drive. O levantamento
não possuía foco específico na questão do gênero sendo o artigo que segue, portanto,
resultado do recorte desses dados a respeito de Minas Gerais (MG), local de formação
de 290 respondentes, 188 mulheres e 102 homens. Como os dados nacionais da
pesquisa sobre o mercado para egressos em turismo ainda não foram publicados,
optou-se por iniciar os desdobramentos da pesquisa original no Estado onde atuam os
autores, ainda mais considerando o fato deste ter representado o maior contingente
de respondentes da pesquisa geral.

Tomou-se como base para o recorte, em primeiro lugar, a informação referente


à Instituição de Ensino Superior – IES, em que o respondente afirmou ter se formado,
utilizando-se como critério considerar os que tenham se graduado em IESs sediadas
no estado de Minas Gerais. A amostra foi obtida por exaustão, uma vez que a pesquisa
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foi mantida no ar entre os dias 26 de março e 30 de abril de 2012, sendo divulgada


pelos mailings de entidades ligadas à profissão de turismólogos, como a Associação
Brasileira de Bacharéis em Turismo – ABBTUR, o Instituto Brasileiro de Turismólogos
– IBT e a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Turismo – ANPTUR.
Além disso, houve divulgação por meio de redes sociais e e-mails pessoais entre
grupos de turismólogos. A amostra não segue, portanto, critérios estatísticos rígidos e
não há pretensão de que seja representativa. Contudo, considerando que não existe um
dado oficial acerca do número de turismólogos formados em Minas Gerais (tampouco
no Brasil), mas que por aproximação esse número não extrapola 100.000 egressos,
considerou-se tratar de uma População Pequena, seguindo os padrões propostos
por Rea e Parker (2002), o que, num nível de confiança de 99% teria um intervalo
de confiança menor do que 10% para mais ou para menos. A partir da ferramenta
proposta por Santos1 chegou-se a um erro amostral de 5,76%, dentro de um nível de
confiança de 95%, para uma população desconhecida.

Como a questão acerca do próprio mercado de trabalho para turismólogos é


pouco explorada, o trabalho que segue inicia tratando de temas mais amplos que
abordam algumas características dos profissionais da área, para, na sequência, traçar
comparações entre homens e mulheres graduados em turismo em Minas Gerais, a fim
de discutir a relação existente entre gênero e turismo nesse âmbito no Estado.

BREVE PANORAMA SOBRE O MERCADO PROFISSIONAL EM TURISMO

O turismo visto como fenômeno social e econômico de deslocamento de


pessoas por vontade própria a lugares distintos dos seus de residência por um tempo
determinado, é um fato para boa parte da população que sequer questiona seus
conceitos ou nuances. Sob o ponto de vista acadêmico o tema é bastante explorado
tendo gerado um sem-número de debates e teorias.

Em termos de atuação profissional, entretanto, há uma lacuna de estudos


sobre o mercado de profissionais da área de turismo de qualquer nível de formação.
A falta de informação acerca do mercado de trabalho talvez tenha origem na própria
característica dualizada da formação superior em turismo, caracterizada no Brasil pelos
cursos seguidores da tradição pesquisadora e o de tradição mercadológica. Segundo
Matias (2002) o primeiro curso superior de turismo no Brasil foi o da Universidade
Anhembi (na época Faculdade do Morumbi), sucedido por outras instituições privadas
que zelavam pela qualificação do profissional da área. Quando a Universidade de São
Paulo criou seu curso, pouco tempo depois, direcionou este para as questões mais
1 SANTOS, Glauber Eduardo de Oliveira. Cálculo amostral: calculadora on-line. Disponível em:
<http://www.calculoamostral.vai.la>. Acesso em: 05/05/2014.
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acadêmicas da área, e estabeleceu-se o divisor de águas entre os cursos voltados à


pesquisa e os voltados ao mercado, nos dois extremos, acompanhados posteriormente
por um elevado número de cursos que poderiam ser chamados de mesocêntricos
(para prestar homenagem ao teórico Plog) por se estabelecerem em algum lugar
entre o academicismo ‘uspiano’ e o foco mercadológico da Anhembi. É interessante
que a inserção profissional não tenha sido tema frequente de investigações pela falta
de interesse em pesquisa, de um lado, e de mercado, do outro.

O fato é que a área profissional de turismo possui uma infinidade de funções


e cargos, que não são, em sua maioria, funções notoriamente ligadas à formação
superior em Turismo, como mencionam Barrettoet al ao dizerem que “o turismo gera
empregos, porém devemos reconhecer que é quase impossível que todas essas
funções sejam exercidas por pessoas com uma mesma formação” (BARRETTO et
al, 2004, p. 36), comparando o turismo com áreas como a de habitação, por exemplo.

Há, não obstante, uma gama de funções tradicionalmente vinculadas aos


bacharéis em turismo e aos turismólogos – termo decorrente de campanhas de
profissionalização da formação levadas adiante por associações com funções de
entidades de classe em momentos alternados dos últimos 40 anos da história da
profissão no Brasil, culminando, recentemente, como a inclusão do termo turismólogo
à Classificação Brasileira de Ocupações – CBO do Ministério do Trabalho e Emprego
– MTE, tendo como sinônimos Analista de turismo, Consultor em turismo, Gestor em
turismo, Planejador de turismo, todos sob o código 1225-20 da CBO2.

Ainda que muitas atividades relacionadas ao turismo tenham origem em


formação técnica ou até mesmo em treinamentos e cursos de capacitação, o foco
deste artigo diz respeito aos ofícios decorrentes da formação superior em turismo,
hoje assistida por três modalidades – o tradicional bacharelado, o tecnólogo (que vem
se popularizando em virtude de ser mais breve) e a licenciatura. No caso desta última,
atualmente a oferta se dá somente em uma instituição – na verdade um consórcio,
de IESs, o CEDERJ no Estado do Rio de Janeiro, não tendo feito parte, portanto, da
pesquisa aqui apresentada.

Em todos os casos estudados e de acordo com Matias (2002; 2009), há um


consenso acerca da superioridade da proporção de mulheres que cursam turismo,
o que é perceptível no contexto dos cursos e comprovável por meio das pesquisas
realizadas. Há indícios, inclusive de maior participação das mulheres no mercado
turístico. Richter (1998) coloca que no mercado norte-americano a participação laboral
feminina na indústria do turismo perfaz 52% do total, o que é bastante representativo
quando comparado aos 44% dos empregos formais como um todo. Mesmo assim

2 Disponível em http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTitulo.jsf#,
acesso em 06/05/2014.
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a quantidade de empregos não assegura o controle do mercado demonstrando a


mesma tendência de desequilíbrio de gênero percebida em outros setores.

QUESTÕES DE GÊNERO E O TURISMO

Para fins de definição deste trabalho adota-se o conceito de Bandeira, para


quem “entende-se por gênero o conjunto de normas, valores, costumes e práticas
através das quais a diferença biológica entre homens e mulheres é culturalmente
significada.” (BANDEIRA, 2005, p. 7). Outra autora acrescenta que, para além das
questões culturais, enquanto prática social “ao se afirmar a construção social dos
gêneros, coloca-se que as identidades e papéis masculino e feminino não são um fato
biológico, vindo da natureza, mas algo construído historicamente e que, portanto, pode
ser modificado”. (MORAES, 2005, p. 19). As questões históricas sempre imputaram às
mulheres, na maioria das sociedades, a responsabilidade pelo que seja relacionado
ao lar e aos cuidados familiares.

Na história mais recente, com a industrialização e a urbanização, segundo Melo


(2005), a mulher e sua família são alijadas da esfera produtiva, criando-se a figura
moderna da dona-de-casa, retirando-a de funções economicamente exercidas pelas
famílias, até então. Simbolicamente, o trabalho doméstico passa a ser acessório, e
o “o paradigma, da naturalidade da divisão sexual do trabalho, impõe às mulheres
a responsabilidade pelo espaço doméstico, com um ônus alto pelo conjunto das
funções reprodutivas” (MELO, opcit, p.4). A autora ainda complementa que o próprio
aumento da participação feminina no mercado não aliviou esse ônus doméstico e
muito menos colocou em cheque a estrutura familiar patriarcal. A construção social dos
gêneros, segundo Moraes(2005), tem uma base material (e não apenas ideológica)
que se expressa na divisão sexual do trabalho. A mulher segue ausente das esferas
de representação política onde e, por conseguinte, das (tomadas de) decisões com
impactos sobre a coletividade (MELO, 2005). Moraes (opcit, p. 13) acrescenta que “a
valorização diferenciada do trabalho realizado por homens em detrimento do realizado
por mulheres é explicada por um conjunto de autoras, pela existência da hierarquização
entre os gêneros”. Essa hierarquia tem efeito explícito no mundo do trabalho. Segundo
as estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU) as mulheres realizam dois
terços do trabalho no mundo, recebem um décimo da receita e possuem um centésimo
das propriedades (RICHTER, 1998). Ainda segundo a autora não existem estatísticas
relacionadas à indústria do turismo, mas desigualdade parece ser a norma na maioria
dos setores.

O que se tem de informação geral é que no Brasil, as mulheres recebem em


1294
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média metade do salário dos homens (as mulheres negras metade do salário do que
ganham as brancas). A Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera que
“a situação das mulheres está melhorando e, se o ritmo se mantiver, em 475 anos
conseguiremos a igualdade salarial entre homens e mulheres” (LOURO, 1997 apud
MORAES 2005, p.14). A falta de dados é corroborada pela pesquisadora brasileira da
Universidade de Brasília – UnB, Helena Costa, que colabora com o grupo de pesquisa
português GESTOUR. Segundo ela

Pouco são os estudos que se dedicam a compreender outros aspectos tais


como a inserção da mulher no mercado de trabalho do setor de turismo,
as políticas públicas setoriais que façam a ligação transversal com a
temática do gênero, as políticas organizacionais de empresas do turismo
que apoiam as mulheres em sua carreira e vida pessoal, as barreiras para a
ascensão a cargos gerenciais por parte das mulheres. (Disponível em http://
helenacostaunb.blogspot.com.br/2012/10/turismo-e-genero.html, acesso em
06/05/2014)

O turismo como um fenômeno social e econômico, convive com as mais


diversas áreas, e não é refratário às questões relativas a gênero. Como área de estudo
possui ainda poucas redes de colaboração com as áreas acadêmicas que tratam a
questão do gênero. Em termos de mão-de-obra qualificada, há igualmente um número
reduzido de fontes que tratem a relação entre formação e mercado laboral no que diz
respeito a diferenças entre os sexos. Entretanto, no que diz respeito à relação entre
desigualdade salarial e nível de formação, no Brasil, constata-se que:

As desigualdades salariais entre homens e mulheres aumentam


proporcionalmente ao tempo de escolaridade, o que indica que o retorno dos
investimentos educacionais é diferenciado entre os sexos. Segundo dados
do IBGE, as mulheres com grau de escolarização igual ou inferior a 3 anos de
estudo ganham menos que os homens com o mesmo grau de escolaridade –
61,5% – enquanto as mulheres com maior grau de escolarização (11 ou mais
anos de estudo) ganham 57,1% do salário dos homens”.(BANDEIRA, 2005,
p. 18)

No que diz respeito ao tema, não há resultados publicados acerca da relação


entre formação e mercado de trabalho em Turismo no Brasil, mas a experiência
portuguesa mostra que:

No que concerne à situação profissional dos diplomados em Turismo em


Portugal verificou-se que são as mulheres que revelam maiores dificuldades
de inserção no mercado laboral. […] Em relação ao salário mensal líquido,
verificou-se que, em média, as mulheres ganham menos 16,8% do que os
homens e que, independentemente do ramo de atividade onde estejam
empregadas ou independentemente da região de naturalidade, de estudo ou
de residência, auferem salários mensais médios mais baixos do que os seus
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pares (Disponível em http://www.genderintourism.com/global.html acesso em


06/05/2014)

O setor de Turismo, em todo o mundo, é fortemente baseado em pequena


escala, o que, segundo comenta Richter (1998) até certo ponto, joga a favor das
mulheres na área. Segundo a autora, nos Estados Unidos as mulheres dominam
a propriedade de agências de viagem, mas, por outro lado, os homens controlam
os principais setores da economia no Turismo. Segundo Panosso Netto et al “éfato
que o conhecimento em turismo está governado e liderado pelos homens, mas não
porque as mulheres se excluíram da área, mas sim porque por muito tempo foram
excluídas. No desenvolvimento prático do próprio turismo também há preponderância
dos homens, o que traz um grande viés”. (PANOSSO NETTO et al, 2012, s.p.).

Ante à inexistência de dados secundários que descrevam a realidade brasileira


e, mais especificamente, mineira, faz-se uso do extrato dos graduados em turismo
em Instituições Mineira dos dados da pesquisa realizada com os turismólogos
graduados no Brasil, separando, sempre que necessário ou viável os dados por sexo
do respondente.

O MERCADO DE TRABALHO DO TURISMÓLOGO MINEIRO E AS QUESTÕES


RELACIONADAS A GÊNERO

Os dados levantados por meio de respostas online aproximam a realidade


mineira do que se tem de informação acerca da proporção de homens e mulheres
que cursam Turismo. Como é possível perceber no gráfico a seguir, a proporção de
respondentes do sexo feminino é muito superior.

GRÁFICO 1 – PROPORÇÃO DE HOMENS E MULHERES DA AMOSTRA

A proporção de 65% de mulheres para 35% de homens aproxima-se bastante


dos dados expostos por Matias em dois momentos distintos (MATIAS, 2002; 2005),
1296
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e vão ao encontro do senso comum, de que o turismo é uma área de formação


predominantemente feminina.

No que se refere à faixa etária da amostra, percebe-se abaixo a predominância


da faixa etária dos 22 a 33 anos.

GRÁFICO 2 - SEXO E IDADE

A predominância da faixa etária de adultos jovens na amostra obtida tem mais


de um viés. Em primeiro lugar pode-se inferir que tenha havido nos últimos anos um
elevado número de egressos de cursos superiores de turismo, o que condiz com a
realidade. Entretanto, há que se considerar que essa faixa de respondentes tem maior
intimidade com a tecnologia da informação e são mais ligados à informática, o que
favoreceu sua habilidade em responder a pesquisa na forma como ela foi apresentada.

GRÁFICO 3 – TÍTULOS DOS CURSOS REALIZADOS PELA AMOSTRA

Há na atualidade uma variedade significativa de opções de cursos superiores,


inclusive na área do turismo. Contudo, percebe-se que em termos de formação no
ensino superior, o bacharelado está, ainda, muito à frente do tecnólogo em número
de egressos (somente um dos respondentes entre os 290 cursou um tecnólogo) e o
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mais comum é o Bacharelado em Turismo, com 90% de participação na amostra. É


interessante ressaltar também, que no Estado de Minas Gerais todos os respondentes
graduaram-se em regime presencial, demonstrando que há ainda baixa inserção do
ensino à distância na área.

Minas possui (ou já possui) alguns dos mais antigos bacharelados em Turismo
do Brasil. O Gráfico 4, abaixo mostra, especialmente, a concentração da amostra
oriunda de cursos sediados em Belo Horizonte

GRÁFICO 4 – IES EM QUE ESTUDOU

.
Pode se perceber que em todas as IES mencionadas há número maior de
respondentes do sexo feminino. Entretanto, mais do que demonstrar a distribuição
por gênero entre as IES mais citadas pelos respondentes, o gráfico 4 aponta para
a concentração destes na Capital do Estado e, em especial, no Centro Universitário
Newton Paiva, que, por ter tido o curso mais antigo de Minas Gerais, deve ter
influenciado o pensamento turístico mineiro, a exemplo que aconteceu com as linhas
de pensamento no país, e que foi constatado em Curitiba com a UFPR (MEDAGLIA e
SILVEIRA, 2010).

O gráfico seguinte, relaciona a faixa de renda por tempo de formado, separando-


as por sexo do respondente. A proposta deste ainda não é a de comparação entre os
salários masculinos e femininos da área do turismo, já que a amostra de mulheres
supera em muito a de homens e os dados não são apresentados em percentuais.

GRÁFICO 5 - FAIXA DE RENDA POR TEMPO DE FORMADO


1298
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Há algumas observações acerca do gráfico 5, que saltam aos olhos, como o


fato de apenas mulheres formadas nos anos 1980 terem renda até R$ 500,003, além
de participarem de outras faixas inferiores aos homens, formados na mesma época.
Em contrapartida, há também exemplos de mulheres formadas a menos tempo que
se inserem em faixas de renda mais altas, o que não acontece com os homens da
amostra. De qualquer modo, o mais perceptível é que o tempo de formado, nos dois
casos, tende a ser um fator que incide positivamente no aumento da renda, em ambos
os sexos.

Outro fator que gera impacto positivo na renda é o nível de formação e de cursos
realizados após formado. O gráfico abaixo apresenta os dados gerais (independente
do sexo dos respondentes) acerca da amostra.

GRÁFICO 6 - FAIXAS DE RENDA POR TIPO DE CURSO APÓS FORMADO

3 A faixa de renda até R$ 500,00 se deve ao fato do salário mínimo estar em


R$ 478,00 à época da elaboração da pesquisa.
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Mais do que um detalhamento, a proposta deste gráfico é a informação visual


acerca do nível de renda de acordo com cada nível de formação. Nesse sentido,
as tonalidades das colunas vão escurecendo à medida em que os salários vão
aumentando. Destacam-se no gráfico três faixas principais de renda – a mínima
levantada, de R$ 500,00; a moda na amostra, que representa dos salários entre R$
901,00 e R$ 1.200,00 (esta contornada no gráfico para que possa ser visualizada) e
os salários mais altos, representados pelas colunas mais escuras.

O que se percebe é uma diminuição quantitativa no sentido das formações mais


aprofundadas, mas, em compensação, uma tendência a participação proporcional
das faixas de renda mais altas à medida em que cresce a formação, o que vai ao
encontro do que havia sido levantado em pesquisa semelhante com os egressos dos
cursos superiores em Curitiba (MEDAGLIA E SILVEIRA, 2010). Isto interessa ao tema
abordado neste artigo, uma vez que foi percebido que turismólogos do sexo masculino
têm, proporcionalmente, as maiores titulações na amostra utilizada, como pode ser
percebido no gráfico abaixo.

GRÁFICO 7 - CURSOS APÓS FORMADO POR SEXO


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Conforme mencionado, o gráfico acima não trata de números absolutos, mas


de proporções, e, dentro dessa lógica, a partir da especialização os homens passam
a superar proporcionalmente as mulheres. Outros estudos já mencionados, apontam
para uma redução da distância entre os salários de homens e mulheres de acordo
com o tempo de estudo. A amostra desta pesquisa, contudo, não permitiu uma análise
nesse sentido devido ao reduzido número de respondentes com pós-graduação stricto
sensu não possibilitar generalizações.

Buscou-se também identificar na pesquisa qual o setor que mais emprega


turismólogos. Não surpreende que a iniciativa privada encabece a lista com 41%,
uma vez que diversos autores (BENI, 2001; LICKORISH e JENKINS, 2000) comentam
sobre a capacidade empregadora do turismo na indústria. O setor público representou
31% dos respondentes, e os que são da iniciativa privada, mas prestam serviço ao
setor público somam 7%. Os que atuam em setor misto equiparam-se aos dos Terceiro
Setor, cada um com 8%.

Separando essa amostra entre homens e mulheres por faixa de renda,


considerando cada uma como 100% a fim de comparar a participação de cada sexo
na renda em questão, tem-se o gráfico que segue.

GRÁFICO 8 - SETOR EM QUE ATUA X RENDA POR SEXO


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É interessante notar que o setor público está presente em todas as faixas de


renda, sendo o único presente em algumas das mais elevadas. Nessas, percebe-se
o senso de equidade estatal, já que os maiores salários femininos estão justamente
em órgãos governamentais. Em termos de salários femininos, o teto no Terceiro Setor
foi a faixa de R$ 4.001,00 a R$ 4.500,00 e na iniciativa privada, de R$ 6.001,00 a
R$ 7.000,00, enquanto nesses o teto masculino foi um nível acima no terceiro setor
(R$ 4.501,00 a R$ 5.000,00) e na iniciativa privada acima de R$ 10.000,00, o que
extrapola em muito a média de 16,8% de gap levantado pelo GENTOUR4 em Portugal.

O quadro que segue apresenta as divisões por salários e por sexo, de acordo
com as atividades profissionais principais mencionadas pelos respondentes.

QUADRO 1 - COMPARAÇÃO ENTRE SALÁRIOS E ÁREAS DE ATUAÇÃO, POR SEXO

4 http://www.genderintourism.com/global.html, acesso em 07.mai.14.


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Faixa Salarial

De R$ 9.001 a R$ 10.000
De R$ 1.201 a R$ 1.500

De R$ 1.501 a R$ 2.000

De R$ 2.001 a R$ 2.500

De R$ 2.501 a R$ 3.000

De R$ 3.001 a R$ 3.500

De R$ 3.501 a R$ 4.000

De R$ 4.001 a R$ 4.500

De R$ 4.501 a R$ 5.000

De R$ 5.001 a R$ 6.000

De R$ 6.001 a R$ 7.000

De R$ 7.001 a R$ 8.000

De R$ 8.001 a R$ 9.000
De R$ 901 a R$ 1.200

Acima de R$ 10.000
De R$ 501 a R$ 900

Total Geral
Até R$ 500
Atuação Profissional
Agencias ou Operadoras   1 5 6 9 3 3 1 1                 29
Feminino   1 2 4 7 3 2                     19
Masculino     3 2 2   1 1 1                 10
Alimentos e Bebidas       1 1 1                       3
Feminino       1   1                       2
Masculino         1                         1
Consultoria empresarial           1   2   1 1           1 6
Feminino                   1 1             2
Masculino           1   2                 1 4
Consultoria para destinos   1       3   2         1         7
Feminino   1       2   2                   5
Masculino           1             1         2
Docência   1 1   2 2 3 2 2 5 1 6 1   1 1 1 29
Feminino     1   1 1 2 1 1 2   3 1   1     14
Masculino   1     1 1 1 1 1 3 1 3       1 1 15
Eventos   2 2 5 1 4   1   1   1           17
Feminino   1 1 4 1 3           1           11
Masculino   1 1 1   1   1 1                 6
Hospedagem 1 1 9 3 5 2 2 1 1     2         1 28
Feminino 1 1 7   2 1 2 1 1     1           17
Masculino     2 3 3 1           1         1 11
Lazer e Recreação   1   1                           2
Feminino   1   1                           2
Não estou trabalhando 14 5 1 2 1                         23
Feminino 12 4 1 2                           19
Masculino 2 1     1                         4
Órgãos oficiais (públicos) da área com criação e/ou
implementação de políticas   5 4 3 1 3 2   1     1           20
Feminino   2 2 1 1 2     1                 9
Masculino   3 2 2   1 2         1           11
Órgãos oficiais (públicos) da área em outros
setores   2 1 1 2   1   1                 8
Feminino   1 1 1 2   1                     6
Masculino   1             1                 2
Órgãos oficiais (públicos) de áreas afins     2 2   1   2   1     1 1       10
Feminino     1 2   1   1         1         6
Masculino     1         1   1       1       4
Outra área ligada a turismo   2 2 3 3 2     2 1 1   1         17
Feminino   2 2 3 3 2     1 1     1         15
Masculino                 1   1             2
Outra área sem ligação com o turismo 2 6 9 7 4 5 5 2 3 1 2 1           47
Feminino 2 6 6 4 4 3 2 1 1 1 2             32
Masculino     3 3   2 3 1 2     1           15
Pesquisa 1 2 2   1                         6
Feminino 1 1 1   1                         4
Masculino   1 1                             2
Planejamento Turístico 1   5 1   1 4 1     1 1 1       1 17
Feminino 1   3 1   1 2 1       1         1 11
Masculino     2       2       1   1         6
Transportes 1 1 3   3         1               9
Feminino   1 1   3                         5
Masculino 1   2             1               4
Total Geral 20 30 46 36 32 28 20 14 12 10 6 12 5 1 1 1 4 278

Ainda que a tabela fale muito por si, cabe ressaltar alguns pontos. Em primeiro
lugar a predominância das mulheres em praticamente todas as áreas que mais
empregam turismólogos. Essa predominância seria esperada em virtude do tamanho
da amostra de cada sexo.

Contudo, mesmo em termos de números absolutos pode-se acompanhar


a diferença salarial entre os sexos, como no caso das agências de viagens, área
com predominância feminina histórica, mas na qual se percebe as faixas salariais
superiores ocupadas por homens. As exceções são hotelaria e planejamento turístico.
Outro dado que chama atenção nessa amostra é a predominância de mulheres na
categoria ‘não estou trabalhando’ e o equilíbrio de gênero entre os professores e
gestores públicos.

No que diz respeito à hierarquia dentro das organizações e ao empreendedorismo,


houve necessidade de reduzir a amostra para os que tenham assinalado somente uma
opção. Nesse caso, entre 139 mulheres e 78 homens os valores foram transformados
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em percentuais a fim de possibilitarem comparações.

GRÁFICO 9 - POSTOS DE TRABALHO

Mesmo que a amostra reduzida não permita conclusões generalizáveis, é


interessante a presença massiva masculina em postos operacionais e a superioridade
feminina em cargos de chefia até o nível de gerência.

A partir dos cargos de diretoria, a presença masculina supera (levemente, deve-


se dizer) a feminina. Em termos de empreendedorismo, há praticamente um equilíbrio
entre homens e mulheres com uma leve tendência para o lado feminino. Já entre os
profissionais autônomos predominam os homens.

As questões mencionadas nos últimos gráficos, encontram respaldo no gráfico


relativo à comparação salarial entre homens em mulheres.

GRCOMPARAÇÃO SALARIAL - HOMENS E MULHERES


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Proporcionalmente, apesar do pico masculino nos salários na faixa de R$


901,00 a R$ 1200,00, a predominância feminina nos salários até R$ 2.500,00 dá lugar
aos homens na liderança dos números relativos aos salários acima de R$2.500,00,
com uma vantagem numérica muito pequena nas faixas mais elevadas, mas sempre
acima.

É certo que os salários não são garantia de qualidade de vida ou de status


social, mas tendem a representar em termos pecuniários a tendência de valorização
da sociedade em relação aos seus trabalhadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É no mínimo curioso constatar que uma área em que as mulheres dominam


numericamente a formação e a participação no mercado de trabalho, tenha
características tão parecidas com as outras áreas profissionais, onde predomina o jugo
masculino. Considerando que o estudo apresentado baseou-se no extrato do estado
de Minas Gerais de graduados em Turismo para apresentar a questão do gênero no
mercado profissional de turismólogos, foi possível perceber muitas semelhanças com
as poucas experiências internacionais em turismo usadas para comparação.

Entre as principais constatações possíveis pela interpretação dos dados


apresentados, foi a reprodução do modelo industrial sexista na área do turismo, na
qual se percebe o predomínio salarial e de capacitação masculina, em detrimento à
superioridade quantitativa feminina.

Entende-se que o tema gênero é pouquíssimo explorado em sua zona de


aderência com o turismo, e que novos estudos e pesquisas com públicos diversificados
poderiam gerar ainda mais dados acerca dessa relação.

Contudo, espera-se que esta pesquisa incentive novas iniciativas na área e


que o tema possa ser discutido até o ponto de perder o sentido, e que a discrepância
entre os gêneros ceda muito antes dos quatro séculos previstos pela Organização
Internacional do Trabalho para sua erradicação no mercado laboral brasileiro.

REFERÊNCIAS

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Mulheres: avançar na transversalidade da perspectiva de Gênero nas Políticas
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RUMO AO FESTIVAL DA DIVERSIDADE SEXUAL

RESUMO: Esse trabalho tem como objetivo identificar e apresentar quais são as
ferramentas do turismo que estão envolvidas com o Festival Mix Brasil de Cultura
da Diversidade, no que se refere aos indivíduos homoeróticos. A ligação com a
cadeia produtiva do turismo, atendando-se para as notícias, referente ao evento, no
Jornal Folha de S. Paulo desde 1993, ano de origem do festival no país, bem como
a Revista Junior, (as edições que antecedem o mês de novembro, mês da realização
do evento) e por fim o Portal Mix Brasil e os sites oficiais de cada ano do festival.
Para isso, Historicizaremos brevemente o festival da diversidade e identificaremos
os equipamentos turísticos mais envolvidos com o evento, para então, entender os
artefatos de cosumo entre os sujeitos homoeróticos em relação ao turismo.

Palavras-chave: Festival Mix Brasil. Consumo.; Turismo.

ABSTRACT: This article aims to identify and show the evolved tools of tourism on
Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade related to homoerotics individuals. The
connection with the tourism productive chain, marketing consume. It was focused on
the published event News on Folha de S.Paulo newspaper since 1993, year that the
event was established in Brazil. Junior Magazine (the editions, since 2007, prior to
November month that host the festival). The site Mix Brazil and the oficial websites
of each year of the festival. I was made a summarized historical line of the diversified
festival, idenfying the mist touristic equipments embodied with the event so it was
possible to undestand the connection between the consume artifacts and tourism.
Keywords: Festival Mix Brazil, Consume, Tourism.

Introdução

O Festival Mix brasil de Cultura da diversidade é o maior e mais importante


evento internacional voltado a diversidade sexual no Brasil. Percorrendo mais de 20
anos de existência e com um arquivo de filmes, atraindo pessoas de todos os lugares.
Para compreender o processo de consolidação, entendemos antes de mais nada que
ele constitui um espaço de sociabilização entre os sujeitos homoeróticos.
A primeira edição do festival no Brasil foi realizada no ano de 1993, como uma
extensão do festival de Nova York, que era conhecido como New York Lesbian and
Gay Experimental Film Festival (No ano de 2013 foi realizado sua 26° edição). De
acordo com o site oficial do evento1, o festival existe desde 1987 e aborda os mais
diferentes temas sobre a sexualidade, saúde e sociedade. Manteve o nome de New
York Lesbian and Gay Experimental Film Festival até o ano de 1993, quando ocorre uma
restruturação, e seu nome muda para MIX-NY, a partir de algumas transformações,
no mesmo ano, são tomadas iniciativas de se convidar vários curadores de outros
1 http://www.mixnyc.org/26/
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países para a participar do evento com a função de trazer as produções audiovisuais


de seus respectivos países, cujas vertentes das produções fossem direcionadas para
a sexualidade.
No Brasil, o evento, tem origem na cidade de São Paulo, mas com realizações
em outras cidades, como por exemplo, Porto Alegre, Campinas, Rio Branco, Brasília,
Guarulhos, Belo Horizonte, mas dentre estas cidades mantendo-se fixo nas cidades do
Rio de Janeiro e São Paulo. Dentre os convidados para a formulação desse espaço,
destinado a produções de outros países, no Brasil, André Fischer2 foi convidado a
montar um projeto para participar em Nova York (E.U.A), no ano de 1993. O jornalista
André Fischer, convidado por um dos diretores do Festival, Karim Aïnouz, acabou tendo
seu projeto aprovado. Começava uma jornada em busca de produções brasileiras
para a mostra intitulada Brazilian Sexualities3”.

A tarefa de seleção dos filmes ganhou destaque através da jornalista Érica


Palomino, da Folha de São Paulo, e um interesse “inesperado” trouxe um
grande número de produções de “clubbers, travestis, diretores comerciais e
videomakers independentes”. Foram selecionados 17 vídeos para compor a
mostra, sendo que, alguns deles, produzidos no final dos anos 80. Não se
restringindo apenas a filmes “gays” ou “lésbicos”, mas abrangendo várias e
possíveis “sexualidades brasileiras”, a mostra que teria lugar em Nova York
logo chamou a atenção do público brasileiro4.

Esse interesse “inesperado” que Silva comenta a respeito da seleção, se refletiu


na consolidação do festival no Brasil e no aumento considerável de produções que o
festival recebe a cada ano de sua realização. Essa abertura para a possibilidade de
exibição de filmes que

Ao redor do Festival
Compartilhamos o pensamento que a autora Giacaglia possui, que os eventos
“tem como característica principal proporcionar uma ocasião extraordinária ao encontro
de pessoas, com finalidade específica, a qual constitui o tema principal do evento e
justifica a sua realização”5. Esse espaço de sociabilização que a autora cita também
inclui, no caso desse texto, um envolvimento com toda a cadeia produtiva do mercado
turístico, pelo festival ter abrangência de vários dias e repercussão internacional.
Esse interesse em comum que está presente desde o primeiro festival em 1993
2 André Fischer - Jornalista e empresário. Proprietário do site Mix Brasil, criador e editor da Revista Júnior.
Idealizador e um dos diretores do Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade. Trabalhou no Folha de S. Paulo,
escrevendo a coluna GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) do jornal entre 1996 a 2006.
3 GARCIA, Eliana Maria. Gestão do Festival Mix Brasil: a cultura da diversidade em foco. 2013, p.9.
4 SILVA, Marco Aurélio da. Territórios do Desejo: Performance, Territorialidade e Cinema no Festival Mix
Brasil da Diversidade Sexual, p. 27.
5 GIACAGLIA, Maria Cecília. Organização de Eventos – Teoria e Prática. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2009, p. 9.
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pelo tema central da diversidade sexual, que ao longo do tempo foi se modificando,
mas sem perder sua essência, que são as mostras de curta-metragem a respeito da
diversidade sexual. Um evento que tem como tema central a diversidade sexual, que
em 1994, em sua segunda edição, teve 15 mil participantes6, movimenta, diretamente
e indiretamente, outros estabelecimentos e entre eles estão os equipamentos turísticos
e toda a rede turística.
Segundo Franzolim existe maneiras de entender um evento, que se caracteriza
como um festival, uma vez que reúne mais de 1.000 pessoas e sua duração entre um
a três dias ou mais7, no caso desse festival tem duração média de sete dias, alguns
deles possuindo duração de até dez dias, e já na segunda edição com participação de
15 mil pessoas. Um festival que logo no inicio já consegue atingir essa quantidade de
público não pode passar despercebido pela sociedade. “Os eventos são classificados,
ainda, segundo a natureza dos assuntos tratados, alcançando uma variação muito
extensa. Os mais comuns são políticos, sociais, religiosos, científicos, comerciais,
artísticos, culturais ou esportivos”8.

Segundo o Ministério do Turismo, o turismo cultural

compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto


de elementos significativo do patrimônio histórico e cultural e dos eventos
culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultural.
(Marcos Conceituais – Mtur)9.

A partir desta definição entende-se a configuração atual do Festival Mix Brasil


de Cultura da Diversidade como um evento artístico cultural, pois além de cinema
trata de outras artes como literatura, teatro e música, manifestando, através das artes,
referentes a cultura homoerótica, na maioria das obras que são veiculadas no festival.
Entende-se o evento como cultural pois remete a diversos aspectos vividos pelos
indivíduos homoeróticos, seus signos, símbolos, suas peculiaridades dentre os outros
grupos, que são retratados através das artes citadas. A comunicação intrínseca que
o festival proporciona com as pessoas é de extrema importância para a construção
do ser social em uma perspectiva menos preconceituosa e mais identitária com seus
participantes.
O turismo constitui-se como um fenêmemo sociocultural e econômico, tornando-
se extremamente complexo e dinâmico, que trabalha de múltiplas formas, e nas mais

6 Folha de S. Paulo, 15 de Novembro de 1998, revista folha, p. 66.

7 FRANZOLIM, Ivan. Organização de Eventos para o terceiro Setor. São Paulo Mythos Editora, 2008,
classifica eventos de entretenimento, espetáculo de 1 a 3 hs de duração com o público maior que 200 pessoas e
Festival com duração de 1 a 5 dias com o público maior que 1.000 pessoas, p. 12
8 FRANZOLIM, Ivan. Organização de Eventos para o terceiro Setor. São Paulo Mythos Editora, 2008, p. 9.
9 http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/regionalizacao_turismo/estruturacao_segmentos/
turismo_cultural.html, acesso em 20 de Novembro de 2013.
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diversas circunstâncias, pois cada local de realização do evento é diferente, com suas
peculiaridades, assim, o festival se reproduz de maneiras diferentes em cada lugar
de realização. Entende-se também que o turismo trabalha na perspectiva do visitante
conhecer o diferente, não remetendo somente a lugares ou paisagens diferentes, mas
também, a exposição, que não seja a heteronormativa, que percebemos ser veiculada
e propagada em todas as forma mais conhecidas de mídia. O festival Mix Brasil
tornando-se uma ferramenta importante para a visibilização de uma cultura diferente,
que não seja a tradicional, que estamos habituados a vivenciar.
Assim para ilustrar nosso pensamento a respeito do turismo e sua implicação
no conhecimento de outra cultura, Oliveira diz que “o termo visitante designa a pessoa
que visita um local diferente daquele de sua residência habitual, sem a intenção de
exercer ocupação remunerada no mesmo e cuja permanência não deve ultrapassar o
período de um ano”10. Ou seja, o evento, mesmo para as pessoas das cidades, torna-
se um território diferente para conhecer a cultura homoerótica.
O Mix Brasil versa sobre tema central da diversidade sexual, que ainda é um
tabu, e que não vemos ser tratado com relevância nas mídias mais conhecidas, tendo
um espaço alternativo do presente festival, que o acentua de maneira muito relevante
para a sociedade. Alternativo e diferente, o Mix Brasil cada vez mais vem conquistando
um público maior a cada ano, e que queiram interagir, não sendo apenas agentes
passivos das produções exibidas no festival, mas com uma participação ativa sem
preconceitos e predeterminações a respeito da diversidade sexual, por exemplo,
através das palestras que estão presentes em sua configuração atual.
Embora o festival trate de um tema que não é comum de ser mostrado com
tanta abrangência e abertamente, gerando muitas polêmicas, como por exemplo,
homossexualidade e religião. Este tema mais delicados de ser tratados socialmente
começaram a ganhar público e espaço para ser discutido.
O Festival existe com a proposta não somente de exibição de filmes, mas, como
espaço de sociabilização que o cinema propicia entre os espectadores e a discussão
sobre os temas propostos, pois em cada ano existe uma vertente diferente para tratar
a diversidade sexual. Em decorrência desse espaço de sociabilização, Silva, que
concentrou seu foco de estudo, sobre o Festival da Diversidade, em São Paulo, nas
edições de 2009 e 2010, comenta que:

ir a um festival de cinema, frequentar seus filmes, não é uma ida comum


ao cinema. Não se trata de ir atrás de um filme que entrou em cartaz nos
últimos dias ou do qual se ouviu falar muito. Os filmes do Mix Brasil são
exibidos no máximo duas vezes durante o festival, em cinemas diferentes,
e nem sempre são anunciados com destaque na mídia especializada, o que
já faz dessa ida ao cinema a escolha por um determinado filme [...]. Mas tais
possibilidades não excluem o Mix Brasil, sua proposta e as conexões que ele

10 OLIVEIRA, Antonio Pereira. Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização. 3 ed. rev e ampl. –
São Paulo: Atlas, 2001, p. 37.
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produz com a “cultura gay” contemporânea e urbana de São Paulo. Estar no


Mix, como em outros festivais de cinema, é estar em contato com filmes que
ainda não foram lançados oficialmente, ou que vêm de países distantes, ou
que provavelmente nem serão mais exibidos no país11.

A respeito dessa socialização em um dos espaços que é realizado o festival em


São Paulo, Silva ilustra, por exemplo, que “o Espaço Unibanco é também endereço de
uma livraria e de dois cafés, que costumam reunir clientes nos momentos anteriores
às sessões e não são restritos a quem está indo assistir um filme, pois estão abertos
a qualquer transeunte da Augusta.”12
O local proporciona um encontro dos frequentadores para conversa e interação:

da mesma forma, o Mix Brasil, que concentra boa parte de sua programação
em cinemas de rua como o espaço Unibanco, não atrai simples espectadores.
É também um “evento marcado” (BAUMAN, 2008), em que as pessoas falam,
conversam, trocam, veem e são vistas. O lugar que já tem a sua decoração
voltada à sétima arte, com cartazes de produções famosas, durante os dias
do festival ostenta cartazes gigantes do Mix, material que segue a mesma
proposta visual de folders e catálogos, com imagens e slogans.13

Além de proporcionar a interação das pessoas e a modificação na maneira de


enxergar o tema da diversidade sexual, André Fischer criou uma rede de artefatos
sobre a cultura homoerótica proporcionando a busca por uma identidade com os
sujeitos através de consumo de signos e significados de uma identidade.
Na perspectiva de Canclini:

o consumo é o conjunto de processos socioculturais em que se realizam a


apropriação e os usos dos produtos. Esta caracterização ajuda a enxergar os
atos pelo quais consumimos como algo mais do que simples exercícios de
gostos, caprichos e compras irrefletidas, segundo os julgamentos moralistas,
ou atitudes, tal como costumam ser explorados pelas pesquisas de mercado.14

Canclini entende o consumo de uma maneira diferente da relação de dominação


entre o emissor e o receptor. Não é pelo fato que a hegemonia cultural seja a emissora
de determinado produto que ela está alienando e dominando seu consumidor,
colocando-o apenas como passivo nessa relação. Não existe relação de vassalagem,
na perspectiva desse autor, pois “a comunicação não é eficaz se não inclui também
interações de colaboração e transação entre uns e outros”15. Partindo desta ideia o
turismo trata-se de uma atividade ligada à modernidade para a busca da criação de
outro cotidiano, relação com visitante e visitado e além de ser um fator relevante para
a economia.

11 SILVA, Marco Aurélio da. Territórios do Desejo: Performance, Territorialidade e Cinema no Festival Mix
Brasil da Diversidade Sexual, 2012, p. 69 e 70.
12 Idem, Ibidem, p. 68.
13 Idem, Ibidem p. 69
14 CANCLINI, Nestor García. Consumidores e cidadãos. 8 ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2010, p. 60.
15 Idem, Ibidem.
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No que se refere ao turismo, que se enquadra no terceiro setor, o mercado de


serviços pelo qual se consolida todo o seu trade. No que diz respeito ao consumo dos
sujeitos homoeróticos, Nunam apresenta que:

de fato, gays e lésbicas sempre têm sido consumidores, mas a idéia de


um mercado gay é relativamente nova, ao passo que, apesar do mercado
homossexual ter sofrido um boom na década de 90, o fenômeno da
publicidade voltada para gays tem sido notícia na imprensa norte-americana
desde 197516.

O primeiro fato que a autora citada ilustra é o acontecimento que o mercado


homossexual percorre na década de 1990 ocasionando um boom, ou seja o crescimento
amplo desse mercado. Na mesma década ocorre o boom do Turismo, através da
inúmeras universidades que abrem cursos de Turismo no país e os diversos locais
que surgem e se estruturam para a atividade. E o boom dos festivais de cinema gay,
que Bessa retrata em um de seus artigos.

Nos anos 1990, em meio à proliferação dos diversos tipos e especialidades de


festivais de cinema, incluindo os que contemplam as mudanças na tecnologia
e formatação dos filmes (curtas, VHS, Digital), destaca-se o boom de festivais
gays e lésbicos.17

Percebe-se então que, surgem artefatos de identificação e representação


voltado aos homossexuais, que antes eram quase que inexistentes. Mas na década
anterior a todos esses acontecimentos a imagem dos homossexuais estava conturbada
e marcada, pejorativamente, por causa do vírus da AIDS, que na época foi colocado
como doença restrita aos homossexuais.

Com o advento da AIDS nos anos 80, no entanto, as empresas deixaram de


anunciar para os homossexuais, só voltando a fazê-lo dez anos depois, quando
a epidemia deixou de ser diretamente associada à homossexualidade.18

O conhecimento público da AIDS e a vinculação do vírus ligado à comunidade


homossexual causou uma representação dos gays para a sociedade com caráter
extremamente preconceituoso e pejorativo, limitando o campo de atuação dos sujeitos
em todas as esferas sociais e as empresas fizeram um processo de invisbilidação de
produtos voltados a esse público. O homossexual tornou-se de novo um fator de risco
público social. Mas posteriormente com a desmistificação desta doença, passa por
um higienização social que só dez anos depois “começa a se tornar menos pejorativa”
para imagem dos homossexuais e que as empresas voltam a anunciar, para os sujeitos

16 NUNAN, Adriana. Homossexualidade: do preconceito aos padrões de consumo. Rio de Janeiro:


Caravansarai, 2003, p. 155.
17 BESSA, Karla. Os festivais GLBT de cinema e as mudanças estético-políticas na constituição da
subjetividade. Cadernos Pagu, Jun 2007, no.28, p. 259.
18 NUNAN, Adriana. Homossexualidade: do preconceito aos padrões de consumo. Rio de Janeiro:
Caravansarai, 2003, p. 155.
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homoeróticos, percebendo seu poder econômico.


No que se refere ao boom19 do mercado gay no Brasil na transpassando toda
a década de 1990, foi marcado com o surgimento do Festival Mix Brasil de Cultura
da Diversidade, do maior portal online gay do Brasil o Mix Brasil, que tem o mesmo
idealizador do festival, o início da Parada do Orgulho Gay 1997, na cidade de São
Paulo e as revistas G Magazine 1997 e Sui Generis 1994. Movimentando todo esse
mercado, e, abrindo inúmeras oportunidades aos anúncios direcionados ao público
homossexual e a roteiros destinados somente a este grupo.
Em 1990, no que diz respeito ao mercado, é como se fosse os anos dourados,
pois muitas oportunidades foram possíveis para o mercado gay no Brasil, ajudando
com eficácia a visibilização deste grupo. Que mesmo de forma negativa, na década
de 1980, ganhou visibilidade, mas essa visibilidade ainda é vinculada com tom forte
de preconceito. Só que o mercado percebeu o poder econômico que esses sujeitos
possuem.

A rede de consumo
O festival é um evento internacional que atrai pessoas de todos os lugares,
além de trazer filmes e produções de outros locais, também recebe diretores de outros
países. “Cerca de 40% do movimento turístico internacional acontecem em função da
realização de eventos”20.
O visitante que prestigia um evento, precisa utilizar serviços e equipamentos
que envolvem a atividade turística, entre eles estão: meios de hospedagem, meios de
transporte, setor de alimentos e bebidas, agências e operadoras e o setor de lazer e
entretenimento que se torna o mais responsável pelo elo com o evento.
As grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro possuem uma vasta
variedade de equipamentos turísticos, por serem cidades que já recebem um fluxo
de turista considerável. Os meios de hospedagem como hotéis, pousadas, pensões,
albergues e motéis estão espalhados por toda a cidade e a hospedagem fica livre
escolha do visitante que prestigia o festival, pois possuem seus mais diversos preços
e diferente serviços, juntamente com meios de transporte, o setor de alimentos e
bebidas, agenciamento e operações turísticas e lazer e entretenimento.
Daremos maior atenção na parte de lazer e entretenimento, que são os
equipamentos detentores da maior variedade de opções nessas cidades. Composto
por praças, museus, boates, saunas, jardins, teatros, casas de dança, cinema.
Proporcionando ao turista do festival a possibilidade de visitar esses locais conciliando

19 Termo que designa um crescimento significativo.


20 OLIVEIRA, Antonio Pereira. Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização. 3 ed. rev e ampl. –
São Paulo: Atlas, 2001, p.75.
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com os horários do evento, e que muitos desses espaços são utilização para a
realização do festival.
Na edição de 2013 em São Paulo, por exemplo, os horários de exibição dos
filmes no espaço do CCSP foram entre as 16hs e 21hs, no espaço Itaú entre as 16hs e
22hs e apenas no dia nove de novembro uma exibição que começou a meia noite, no
CINESESC entre 18hs e 22hs possibilitando o entretenimento na madrugada após a
mostra ou na manhã e após o almoço no começo da tarde. Também algumas mostras
são realizadas a céu aberto em praças públicas.
No caso das saunas de São Paulo que possuem anúncios no portal Mix Brasil,
existem inúmeras para ficar a gosto do cliente. A sauna que possui maior destaque de
propaganda no site, está localizada em todo espaço superior, é a 269 Chilli Peppers
Single Hotel, localizada no bairro Largo do Arouche em São Paulo e, como mostra no
site da oficial da sauna, possui parceria com o Mix Brasil. Este estabelecimento além
de funcionar como entretenimento também possui serviço de hospedagem. Existindo
uma variedade de horários de permanência como por exemplo 6hs, meia diária e a
diária. Tipos de hospedagem Single21, o Red Suite22 e a Master Suite23 a variação
do preço é de acordo com o dia da semana, final de semana, véspera de feriado ou
feriados os preços aumentam. Não podemos deixar de notar que também é a sauna
mais luxuosa de todas, com o presos variados dos mais altos valores.
Wild Thermas Club, Thermas for Friends, Upgrade Club, Labirinttu’s, Thermas
484, Man’s Club Thermas e Club 245 são exemplos de outras saunas. Estabelecimentos
como o Black Out Club e um sex club que possui o mesmo estilo de casas de swing
só que para o público gay, a Peep Lounge que possui espaço com um lounge com
vista parcial do subsolo, onde o cliente pode usufruir de cabines individuais, vídeos
eróticos, glory holes24, janelas face to face e cabines coletivas de dark room. Locais
para o público libertar sua erótica como bem entenderem, as opções de lazer não se
restringem apenas as saunas.
A respeito das baladas de são Paulo também as opções são variadas para o
público gay, entre elas, A Lôca, Blue Space, Bubu Lounge, Cantho Dance Club, Clube
Glória, Estúdio Emme, Flex Club, Hot Hot, Lions Night Club, Megga Club, Shelter
Club, The Week, Tunnel, Yacht Club, D-Edge, Tunnel, Bofetada Club, Sonique, The
Society e Ursound.
Bares gays de São Paulo, mas alguns deles não são estritamente ao público
gay: Bar da Lôca, bar do Netão, Athenas Café, Bar da Dida, Café Vermont, Caneca
de Prata, Directo’s Gourmet, Espeto de Bambu, Frey Café, O Gato, Queem, Foral de
Madalena e Clube Flamingo.
21 Uma cama de solteiro e Tv.
22 Equivale ao quadro duplo, uma cama de casal e Tv.
23 Com cama de casal, Tv e banheira.
24 Buracos em divisas, onde de um lado a pessoa expõe seu membro sexual no buraco e do outro lado a outra
pessoa faz o que lhe satisfaz.
1314
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Baladas gays mais conhecidas no Rio de janeiro são a The Week, Galeria
Café, La Cuerva, Papa G, Boate 1140, Cine Ideal, Fosfobox Bar, Le Boy, Le Girl e a
Zero Zero, Thermas Leblon, Rio G SPA, Sauna Carioca, Sauna Copacabana, Club 29,
Projeto SB, Termas MV 30, Buena Vista Big Field Saunas, Miami Bar, Termas Monte
Carlo, Termas Centaurus, Termas Solarium, Clube Cancun, Bonsucesso e Termas
Catete. Algumas delas possuem parceria com o evento, que nos dias de realização
fazem festas especiais para atrair o público que frequenta o festival.
Sobre o turismo homossexual Nunan afirma que:

no que se refere especificamente ao turismo homossexual, estas pesquisas


apontam para o fato de que os homossexuais viajam com bastante frequência
(tanto para dentro como fora do país) e tendem a escolher destino onde
existe maior liberdade sexual ou uma comunidade gay estabelecida. Existem
mais de 1200 empresas ligadas ao turismo homossexual, todas registradas
na IGLTA (International Gay & Lesbian Travel Association), criada em 1983.25

Essa associação internacional atende empresas voltadas ao mercado gay e “o


Brasil foi o país escolhido pela IGLTA como sede na América Latina. A IGLTA não tem
como associadas pessoas físicas, mas empresas que atendem ao mercado GLS, sem
discriminações”26. A respeito das empresas ligadas ao turismo homossexual Oliveira
afirma que “90% são operadoras, e os 10% restante são hotéis, companhias aéreas,
locadoras de veículos e outros prestadores de serviços”27.
O comportamento consumista da população LGBTT é diferenciado, e Nunan
relata que:

gays e lésbicas gastariam maiores quantias que heterossexuais em


viagens, carros, cartões de crédito, cigarros, serviçoes de telefone, livros,
música, bebidas, (alcoólicas ou não), restaurantes, cinema, teatro, roupas,
perfumes, produtos eletrônico, academias de ginástica, artigo esportivos e
objetos de luxo em geral. Estes consumidores também seriam mais jovens,
preocupados com moda, fiéis a determinadas marcas e bem informados
social e politicamente, se comparados com a população heterossexual.28

O festival propicia, desde sua primeira edição, a parceria com boates realizando
festas especificas nos dias da realização do evento e com sua programação que
proporciona ao turista desbravar a cidade, em todos os períodos, movimentando todo
o mercado turístico.
No portal online Mix Brasil que proporciona uma imensa rede da vida
gay de vários locais, entre elas, sauna, boates, bares, restaurantes tudo voltado

25 Idem, ibidem.
26 OLIVEIRA, Antonio Pereira. Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização. 3 ed. rev e ampl.
– São Paulo: Atlas, 2001, p. 87.
27 Idem, Ibidem.
28 NUNAN, Adriana. Homossexualidade: do preconceito aos padrões de consumo. Rio de Janeiro:
Caravansarai, 2003, p. 160 - 161.
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especificamente a atender o público gay ou de estabelecimentos que possuem um


nível de atendimento diferenciado e sem preconceitos, preparados para atender a
este público. No conteúdo do site possui espaço também para o Festival, revistas H
Magazine e Junior, agenda dos eventos, na parte da cultura envolve notícias gerais
sobre tudo que envolve diretamente ou indiretamente o público homossexual.
O nível de lazer para os turistas nas grandes cidades, como São Paulo e Rio
de Janeiro é imenso e possui uma variedade grande para escolha, no que diz respeito
a vida noturna gay, nessas cidades como bares, conveniências, shows, teatro, boates
e saunas. E para quem não se interessa por sair para a noite para as baladas, tem o
período matutino, o festival não possui atividades para este período, ou seja, existe
opções como museus, parques, saunas e exposições em centros culturais entre
outros.
O consumo na revista Junior existe através de anunciantes que realizam a
propaganda de seus produtos específicos para homossexuais, que por sua vez, em
questão de mídia impressa, não possui outro espaço para serem veiculadas, para
atingir certamente o público que deseja e a destino voltados aos homossexuais. A
revista é dividida em seções, por exemplo, seção denominada Cultura, que trata
sobre questões de cinema, diversão, shows, fotografia; Beleza (sobre estética, pele,
cabelo, dicas para manter o corpo, medicina; Fixa se encaixa as matérias, entrevistas,
horoscopo, social; Moda que trata a respeito de tendências e sobre matérias de marcas
ou empresas que apoiam ou se simpatizam com os homossexuais.
A seção de Turismo sempre está presente. As matérias que são colocas na
revista, em linhas gerais, são a respeito de destinos que aceitam, sem preconceitos,
o público homossexual, entrevistas negativas de turistas a lugares que foram visitar,
e também os destinos que são específicos para gays, como por exemplos, cidades,
eventos ou cruzeiros. Matérias sobre hotéis luxuosos e teste de atendimento para
casais gays nesses hotéis. Existe também alguns anúncios de agências e operadoras
turísticas que realizam esses pacotes. Abaixo, para ilustrar a relevância do turismo na
revista, o sumário de uma edição da revista Junior de 2012.
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Figura 1 -REVISTA JUNIOR EDIÇÃO DE NUMERO 44, ANO 6, 2012.

O festival proporciona uma grande gama de lazer para o público. O mesmo


público que vai ao festival, grande parte dele, compra a revista ou acessa o portal
Mix, pois são lugares que possuem informações que são interessante aos mesmos,
criando uma rede de informações dos mais diversos lugares para visitar, viajar ou
acessar.
Os nomes das seções podem mudar, mais os temas centrais de cada seção
continuam. Toda edição da Junior, que antecede e o mês de realização do festival,
existe a divulgação do evento. Com matérias especiais voltada a informação e
divulgação do Festival da Diversidade, em relação dos filmes em destaque, temas,
atores e diretores celebres ou homenageados e os que são convidados para participar
do festival.
Podemos perceber uma gama de oportunidades para informação e conhecimento
do público desses meios de comunicação, são fieis e bem informados tanto na esfera
política como na social, são um público mais exigentes e “por não terem filhos, os
homossexuais disporiam de mais tempo livre do que os heterossexuais, tempo este
dedicado ao lazer e, consequentemente, ao consumo.”29
Uma das especificações do lazer e do turismo é o tempo livre, consequentemente
os sujeitos homoeróticos possuem o tempo livre maior pela disponibilização que,
muitos deles, não possuem filhos e são solteiros acarretando o consumo de produtos
e dedicando o seu tempo livre para o lazer e viagens. Rotacionando, assim, o mercado
de turismo voltado ao público LGBT.

29 Idem, ibidem, p. 161.


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Considerações Finais
O Festival da diversidade sexual é um ótimo exemplo de uma atividade econômica
ligada diretamente a informação e o conhecimento. Utilizando das ferramentas do
cinema, música, teatro e literatura, ou seja, diretamente ligada a indústria criativa.
Não foi citado nesse artigo a indústria criativa, pois podemos percebê-la em todo o
contexto do festival, está intrínseca ao evento, por tratar diretamente com a cultura.
Inconcebível a ideia de separação de indústria criativa e o Festival Mix Brasil da
Cultura da Diversidade.
O Festival da diversidade é como um enorme difusor da cultura homoerótica
proporcionando a essa população uma visibilização através do consumo de produtos
oferecidos diretamente, pelas atrações do evento, como indiretamente, como, por
exemplo o turismo, movimentando toda a cadeia produtiva turística, através de seus
equipamentos. Fazendo com que mantenha o calendário de eventos da cidade
preenchido e fazendo com que, os fluxo de turista, nas cidades de realização, aumente.
Todos tendem a ganhar com esta aumento de fluxo em período de Novembro, que é
o mês consagrado de realização do festival.
A importância da ocorrência do eventos nos grandes centros urbanos, eixo Rio-
São Paulo, ao mesmo tempo, propicia uma grande visibilidade da cultura homoerótica
à comunidade heteronormativa e a invisibilidade do indivíduo. Pois estas duas cidades
proporcionam a invisibilização do indivíduo, pela sua imensa extensão, sentindo-se
assim, mais seguro para a libertação de sua erótica nos mais variados equipamentos
de entretenimento e lazer vinculados ao seu desejo.
Os sujeitos homoeróticos, como podemos perceber, são visibilizados através do
poder de consumo que possuem. Detém grande poder econômico, possuindo liberdade
de consumo mais abrangentes e específicos. Os produtos que são destinados a este
público geralmente são apresentados como lugares luxuoso, atendimentos impecáveis
e preços altos, só para o público que realmente possuí condições reais para a compra.
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Homossexualidade, Consumo e Imprensa Gay no Brasil: os roteiros turísticos


na revista Junior (2007-).

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo, analisar e apresentar relações


existentes entre o individuo homoerótico e algumas ofertas de consumo presentes
na mídia impressa gay do Brasil contemporâneo, atentando-se aqui para os produtos
turísticos presentes na revista Junior, uma das últimas revistas da imprensa gay a surgir
no Brasil no ano de 2007 e ainda em circulação. Para isso historicizaremos de forma
breve o surgimento da imprensa gay no país, bem como o processo de construção
da visibilidade homoerótica no Brasil. Para perceber que talvez o homossexual que
tem acesso aos produtos turísticos específicos aqui no caso, ou a outros tipos de
produtos voltados para eles, podem por algum momento estar alheio ao tratamento
preconceituoso, machista, etc., da sociedade heterossexual enquanto consomem.
Porém, para o seu convívio como sujeito integrado na sociedade heteronormativa,
esta relação pode não ser existente se não for por meio do consumo.
Palavras-chave: Representações, História Cultural, Sexualidade.

Abstract: This work aims to analyze and present the relationship between the individual
and some homoerotic consumption level present in gay print media of contemporary
Brazil, paying attention here for tourism products present in Junior magazine, one of
the last magazines gay press to emerge in Brazil in 2007 and still in circulation . For
this historicizaremos briefly the emergence of the gay press in the country, as well as
the process of building the homoerotic visibility in Brazil . To realize that perhaps the
homosexual who has access to specific tourism products here in the case, or other
types of products for them, may for some time be oblivious to the bigoted, sexist ,
etc., treatment , heterosexual society , while consuming , but for their friendship as an
integrated subject in society , relating with people other than homosexuals.
Keywords : Representations , Cultural History, Sexuality .

Os primórdios da Imprensa Gay no Brasil

Antes que façamos a apresentação da revista Junior surgida no ano de 2007


no Brasil, é necessário fazer um breve contexto histórico sobre a imprensa gay que
surgiu anterior a ela. Desta forma tentaremos de uma maneira resumida – mas sem
deixar de expor as suas características – apresentar o jornal Lampião da Esquina,
primeiro jornal feito por e para homossexuais a circular em todo o Brasil no período
de 1978 a 1981 e o jornal Snob que é anterior ao Lampião, porém circulando entre
um pequeno grupo de pessoas nos anos 1960 no Rio de Janeiro, sendo exemplo e
inspiração para a criação do periódico em 19781.

Assim sendo, o jornal Lampião da Esquina surgiu em um período marcado


1 Após o fim do Lampião em 1981, outras duas revistas voltadas para o público homossexual
surgiriam. Eram elas a revista Sui Generis (1994-2000) e G Magazine surgida em 1996 e ainda em
circulação.
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pelo declínio da ditadura militar e inicio da “abertura” política no Brasil. Apresentou-


se de maneira contrária ao regime político da época, abordando as diversas formas
da sexualidade e expressões de outros grupos cujo tratamento estava pautado pela
desigualdade. O tratamento dado para questões das orientações afetivo-sexuais e de
identidade de gênero2 pelo jornal pauta-se nas suas mais diversas expressões, como
destacado em suas páginas, usando termos como “travecos”, “sapatas”, “bichas”,
“entendidos”, “viados”, etc., no sentido de retirar o pejo que tais expressões carregam,
além de abordar a existência da variedade de formas de expressão e comportamento
na sociedade.

Ele é criado após Winston Leyland, dono da revista Gay Sushine de San
Francisco entrar em contato com a única pessoa a assinar sua revista na América
Latina, no caso o advogado e ativista João Antônio Mascarenhas, no intuito de
criar uma antologia de literatura homossexual na América Latina. A proposta não foi
para frente, porém surgiu após uma reunião entre algumas pessoas que formariam
essa antologia a criação de um jornal feito por e para homossexuais, mas também
abordando questões não só ligadas a homossexualidade, como a toda minoria3 que
sofria com as repressões da sociedade. O seu conselho editorial aparece na primeira
edição (número 0) assim: Adão Acosta, Aguinaldo Silva, Antônio Chrysóstomo,
Clovis Marques, Gasparino Damata e João Antônio Mascarenhas (jornalistas); Darcy
Penteado (artista plástico); Jean Claude Bernardet (crítico de cinema); Peter Fry
(antropólogo); Francisco Bittencourt (poeta e critico de arte) e João Silvério Trevisan
(cineasta e escritor). Aguinaldo Silva desempenhava a função de coordenador de
edição.

O jornal apareceu com sete seções: “Opinião” (o equivalente ao editorial),


“Ensaio”, “Esquina” (seção com artigos e notas variadas), “Reportagem”; Literatura,
“Tendência” (seção cultural que se divide em “Livro”, “Exposição” “Peça”, etc.), e
“Cartas na mesa”. A partir do número cinco é publicada uma nova seção, “Bixórdia”,
2 O conceito identidade de gênero e orientação afetivo-sexual pode ser entendido, segundo
Ronaldo Pamplona da Costa, sucessivamente como: “a capacidade de nos relacionarmos socialmente.
Essa sensação interna, para se formar adequadamente, precisa passar por muitas fases, onde entram
fatores biológicos e sociais.”. “Orientação afetivo sexual, nós podemos definir como a sensação interna
de que temos a capacidade para nos relacionarmos amorosa ou sexualmente com alguém. Ela é parte
da identidade sexual, algo que pertence ao nosso mundo interno. Ou ao psicológico.” Ver: COSTA,
Ronaldo Pamplona da. Os 11 sexos. São Paulo: Gente, 1994.
3 O conceito não trata de um grupo inferior numericamente, mas do sentido de desvantagens
sociais se comparados com a grande parte da população majoritária, sendo objeto de preconceito e
desigualdade de tal grupo dominante. Ou seja, não é em caráter numérico e sim a posição subordinada
do grupo dentro da sociedade. Ou como destaca Edward MacRae: O termo “minoria” é adotado
por ser essa a prática costumeira no Brasil e por apontar para o fato de que suas lutas se voltam
preferencialmente para a melhoria das condições de existência de segmentos específicos da sociedade,
mais do que às da população como um todo. Além disso, a “minoridade” desses grupos seria um reflexo
da discriminação sistemática que sofrem, o que lhes veda o acesso a um poder político-econômico
mais compatível com seus números. MACRAE, Edward. A construção da igualdade: identidade sexual
e política no Brasil da abertura. Campinas: Editora da UNICAMP, 1990, p. 25.
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de fofocas em geral. Outras seções apareciam esporadicamente como: “Ativismo”,


“Festim”, “Violência” e “Verão”. O periódico não abordava apenas temas relacionados
á homossexualidade, como foi dito anteriormente, mas propunha-se também a
abordagem sobre temas como à discriminação racial, artes, ecologia, machismo,
entre outros. O século XIX a partir de sua segunda metade traz a representação da
homossexualidade enquanto doença, modelo que perdurou, pelo menos no Brasil
durante grande parte do século XX. Que passava a ser contestado por um jornal no
Brasil, o Lampião da Esquina4.

Essa discussão encontra lastro na História Cultural, principalmente no que diz


respeito à possibilidade de, a partir das práticas e representações culturais, analisar
e construir novas abordagens historiográficas sobre determinados grupos sociais (a
comunidade LGBT [lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros],
no caso em tela). “A história cultural, tal como a entendemos tem por principal objeto o
modo como em diferentes momentos uma determinada realidade social é construída,
pensada, dada a ler”.5

O termo homossexual quando surgido no século XIX esteve ligado (e ainda é)


a “anti-norma”, ao oposto do que seria ser homem/mulher, outra construção histórica
e repensada recentemente pelas teorias queer6. Essas construções sócio-históricas
se deram por meio do discurso religioso, médico e legal (Estado), destacando-se a
imagem do ser que se relaciona com o outro do mesmo sexo, como o ser doentio:

A intensa produção discursiva sobre a sexualidade não era monolítica nem


livre de contradições. A “sexologia”, nova ciência do século XIX que se
debruçou sobre a tarefa positivista de classificar os “tipos” e comportamentos
sexuais, contribuiu para produzir a homossexualidade. Em grande parte, isto
significou produzi-la como condição patológica. No entanto, houve também
uma abordagem sexológica que tentava justifica-la, argumentando que se
tratava de uma natureza diferente que algumas pessoas possuíam, contra a
qual (sendo esta “natural” não haveria porque lutar). Foi, pois, nesse momento
que se instituiu o “personagem” do homossexual7.

É interessante observar que o seu “oposto” a heterossexualidade, surgiria


primeiro não como uma norma, mas como uma perversão, uma manifestação anormal
do apetite sexual, e que se manteria na cultura de classe média até a década de

4 Algo que já acontecia no movimento norte-americano e europeu nos anos 1960 e 1970.
5 CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Difel/
Bertrand Brasil, 1990, p.17.
6 Cf: PRECIADO, Beatriz. Multidões queer: notas para uma política dos “anormais”. Revista
Estudos Feministas, Florianópolis, n. 19, v. 1, 2011, p.11-20. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/
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7 ADELMAN, Míriam. Paradoxos da Identidade: A Política de Orientação Sexual no Século XX. Revista de
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1920.8 A imagem do ser doentio, perverso, construída historicamente não foi – e não
– é diferente no Brasil. E o discurso enquanto ferramenta do poder unido com suas
normas e suas regras de comportamento sobre o desejo e o corpo criou algumas ideias
sobre o significado da sexualidade/corpo no âmbito da sociedade. Essas noções são
trazidas, por exemplo, por Michel Foucault9:

O corpo também está diretamente mergulhado num campo político; as


relações de poder têm alcance imediato sobre ele; elas o investem, o marcam,
o dirigem, e supliciam, sujeitam-no a trabalhos, obrigam-no a cerimônias,
exigem-lhe sinais. Este investimento político do corpo está ligado, segundo
relações complexas e recíprocas, à sua utilização econômica; é, numa boa
proporção, como força de produção que o corpo é investido por relações de
poder e de dominação.10

Se observarmos o processo histórico em torno da sexualidade, perceberemos


que não só as pessoas que fugiam/fogem das suas normas impostas, mas todas as que
se comportam de maneira contrária as “morais e bons costumes” sofrem tratamento de
desigualdade, colocadas sempre como o “outro” que deve ser combatido, eliminado,
pois ameaça a norma social. Não é muito diferente a relações das sociedades antigas
com a nossa, em relação à sexualidade:

Crianças demasiado espertas, meninas precoces, colegiais ambíguos,


serviçais e educadores duvidosos, maridos cruéis ou maníacos, colecionadores
solitários, transeuntes com estranhos impulsos: eles povoam os conselhos
de disciplina, as casas de correção, as colônias penitenciárias, os tribunais e
asilos; levam aos médicos suas infâmias e aos juízes suas doenças. Incontável
família dos perversos que se avizinha dos delinquentes e se apresenta com
os loucos. No decorrer do século eles carregaram sucessivamente o estigma
da “loucura moral”, da “neurose genital”, da “aberração do sentido genésico”,
da “degenerescência” ou do “desequilíbrio psíquico”.11

E sobre esses pensamentos padrões que o Lampião da Esquina vai se atentar,


tentando trazer em suas páginas uma imagem totalmente contrária a essa noção. O
jornal se posicionou de forma positiva em relação, não só as diversidades sexuais,
como também a todas as outras formas de comportamentos de pessoas que fogem
do que é dito como regra na sociedade brasileiras do final dos anos 1970:

8 Cf: KATZ, Jonathan Ned. A Invenção da Heterossexualidade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 31.
9 Cf: FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A vontade de Saber. Rio de Janeiro, Graal, 1988.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade II: O uso dos Prazeres. Rio de Janeiro, Graal, 1984. FOUCAULT,
Michel. História da Sexualidade III: O cuidado de Si. Graal, 2007. FOUCAULT, Michel. A ordem do Discurso. São
Paulo, Loyola, 1996. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Petrópolis, Vozes, 1987.
10 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Nascimento da Prisão. Petrópolis, Vozes, 1987, p. 25.
11 FOUCAULT, Michel. FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A vontade de Saber. Rio de Janeiro,
Graal, 1988, p.47.
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Para acabar com essa imagem-padrão, Lampião não pretende soluçar a


opressão nossa de cada dia, nem pressionar válvulas de escape. Apenas
lembrará que uma parte estatisticamente definível da população brasileira,
por carregar nas costas o estigma da não reprodutividade numa sociedade
petrificada na mitologia hebraicocristã, deve ser caracterizada como uma
minoria oprimida. E uma minoria, é elementar nos dias de hoje, precisa de
voz. [...] Nós nos empenharemos em desmoralizar esse conceito que alguns
querem impor – que a nossa preferência sexual possa interferir negativamente
em nossa atuação dentro do mundo em que vivemos. Nós pretendemos,
também, ir mais longe, dando voz a todos os grupos injustamente discriminados
- dos negros, índios, mulheres, às minorias étnicas do Curdistão: abaixo os
guetos e o sistema (disfarçado) de párias.12.

Lampião da Esquina não deixou de apresentar o surgimento dos jornais


alternativos, tanto os de cunho homossexual, quanto dos outros grupos estigmatizados
do país, como jornais de negros e mulheres. Em maio de 1978, na sua segunda edição,
Lampião receberia a carta de Agildo Guimarães, fundador do jornal Snob em 1969,
quiçá o primeiro veículo voltado para homossexuais a circular pelo Rio de Janeiro,
mesmo que mimeografado e para um pequeno número de pessoas, o surgimento de
um periódico como o Snob é de fundamental importância não só para o período e para
a região do Rio, mas para os assuntos e olhares voltados para homossexualidade em
um período como o da ditadura militar no Brasil, além de ter sido de qualquer forma
influência para o Lampião da Esquina, como se observa nesse trecho da matéria
quando o conselho editorial diz: “Sabemos que se você não começasse com o SNOB,
nunca chegaríamos a LAMPIÃO”13. Essa fala veio após o agradecimento de Agildo por
ter conhecido o Lampião. Dizia:

Recebi, com grande satisfação, o número zero de LAMPIÃO Realmente


é motivo de alegria saber que existe um veículo de informação/cultura/
divertimento dos homossexuais no feitio e gabarito desse mensário. Sabem,
estou muito contente, satisfeito mesmo, em saber que vocês conseguiram
fazer do LAMPIÃO o meu sonho. Sempre pensei em fazer algo assim Desde o
tempo em que comecei, há muitos anos atrás, um jornalzinho despretensioso
chamado SNOB. Atualmente faço o GENTE GAY, que estou lutando para
melhorar e, melhor dizendo, continuar, o que é mais difícil. Mas mesmo que
tudo pare da minha parte, espero que vocês, todos, possam dar todo mês o
LAMPIÃO, para que, com orgulho e contentamento, possamos contar com
um porta-voz dos nossos sentimentos, ideais e mais ainda, essa porta aberta
para se sair do gueto, como diz o Editorial. Com um abraço fraternal, despeço-
me com a certeza de, no momento, ser uma das pessoas mais contentes da
vida, por saber da existência do LAMPIÃO. 14

O jornal Snob foi fundado em 1961 (alguns trabalhos dizem, 1963, outros, 1964)

12 LAMPIÃO. Editorial, Edição n° 0, abril de 1978, p. 2.


13 GUIMARÃES, Agildo. Um abraço do “Gente Gay”. Lampião da Esquina, n. 1, maio de 1978, p.
14.
14 Idem.
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por Agildo Guimarães e Anuar Farah no Rio de Janeiro, e que incentivou o surgimento
de outros pequenos jornais gays, numa grande e pioneira cadeia de informações e
intercâmbio15. Seus textos a maioria versavam sobre amenidades e badalações sociais,
também havia indicações culturais, reportagens, classificados, charges, concursos de
contos, poemas, roteiros gays, textos transcritos de jornais ou revistas da grande
imprensa, assinados por Darcy Penteado, Antônio Bivar, e outros. 16

Do seu tempo de duração, segundo Rogério Costa (1963 a 1969) O Snob


totalizou 100 edições, em que se incluem duas extras e uma especial. A distribuição, de
início entre amigos, com o passar dos anos ganhou repercussão. “A única informação
sobre sua circulação é encontrada no n.8 de 1964, que registra a distribuição de
30 exemplares”.17 “De produção doméstica, mimeografado em papel ofício, veiculava
fofocas, informações sobre locais de encontros sexuais, notícias de pessoas da rede
e parcerias amorosas. Cinema, teatro e poesia [...] bem como o que lhe deu origem:
relatos de festas e concursos” 18.

Diferente do que pensava o próprio Agildo Guimarães ao dizer que O Snob


foi um trabalho ingênuo, não se pode deixar de reconhecer o valor criativo destas
publicações, inclusive em seus recursos de impressos. Lógico que essas publicações
diferem muito dos jornais da época de Lampião, porém existem alguns pontos em
comum se pensamos, por exemplo, que essas pessoas fizeram o máximo dentro de
suas possibilidades, para lutar contra o tratamento diferenciado que sofriam. Eles
marcaram uma época, talvez ainda mais difícil do que a dos fins de 197019.

Dizia um leitor em uma carta enviada ao jornal após o seu segundo número que
Lampião da Esquina vinha na hora certa. Que os homossexuais estavam afundando
em matéria de jornalismo homossexual e isto seria uma insuficiência da capacidade
dos homossexuais de lutar por algo de bom em prol de sua afirmação. “Tínhamos o
Mundo Gay, que acabou se perdendo em sua própria fragilidade. O Entender também
se crucificou entre tantos “roteiros” e mau caratismo, O Boletim Eros animou um pouco
pela diferença sobre os demais” 20.

15 Vinte e sete publicações circularam na época. Destaques no Rio para: Snob, Le Femme,
Subúrbio à noite e o Boletim da Aliança de Ativistas Homossexuais, com trabalhos de pesquisa e
análises sobre comportamentos sexuais. MÍCCOLIS, Leila. “Snob”, “Le Femme”... Os bons tempo da
imprensa guei. Lampião da Esquina, n. 28, setembro de 1980, p. 6.
16 Idem, ibidem.
17 COSTA, Rogério da Silva Martins da Costa. Sociabilidade homoerótica masculina no Rio de
Janeiro na década de 1960: relatos do jornal O Snob. Dissertação (Mestrado Profissional em Bens
Culturais e Projetos Sociais), Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais do
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC, Fundação
Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2010, p. 41.
18 Idem, ibidem.
19 Idem.
20 FERREIRA, José Alcides. Pauladas na “bichórdia”. Lampião da Esquina, n. 2, junho de 1978,
p. 2.
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Entre as décadas de 1960 e começo de 1970, chegaram a circular 27 publicações


gays no Brasil, segundo Edward MacRae, que diz ainda alguns serem verdadeiras
obras de arte artesanais, como os jornaizinhos baianos de um único exemplar, feitos à
mão por Waldeiton Di Paula21. Surgiram também o Little Darling que mais tarde mudou
de nome para Ello (um saldo médio entre “ele” e “ela”). Em 1980 veio Baby, também
batido à maquina, e com uma tiragem de 50 cópias xerografadas22. O Gente Gay de
1976 trazia reduções e reproduções de fatos por processo xerox, e uma diagramação
moderna23. Anuar Farah teria deixado o Snob fundado por Agildo Guimarães para
editar o seu Le Femme. Estes grupos criaram a criação de uma Associação Brasileira
de Imprensa Gay, que existiu entre 1962 e 196424. Peter Fry um dos editores do
jornal Lampião da Esquina iria duas edições após a crítica de José Alcides Ferreira
sobre a imprensa gay no Brasil na edição número dois do Lampião25, defender a mídia
impressa gay feita de maneira tão artesanal e precária, dizendo que:

Corro a defender Little Darling e Tiraninho, que José Alcides Ferreira rejeitou
como produção de “uma camarilha machista, que só consegue se impor
através do ridículo, da vulgaridade e do beautiful people indigesto do Sr.
Anuar Farah e Cia . Não duvido, não, que maioria das coisas que se produz
numa sociedade basicamente machista carregam a mancha. Não duvido
tampouco que a antiga distinção entre bichas e homens diz muito a respeito da
dominação dos homens sobre as mulheres na cama e na vida cotidiana. Mas
acho cruel e preconceituoso simplesmente descartar o trabalho jornalístico
de um verdadeiro pioneiro como Waldeilton di Paula, o responsável pelos
jornais Foto e Fofocas, Baby, Zéfiro, Little 26.

Lampião apresentou também o tabloide Desacato, alternativo editado em


Aracaju, que foi dado pelo jornalista Anselmo Góes nascido na cidade para um dos
editores do jornal Lampião, Antônio Chysóstomos, dizendo: “Você pode pensar que não
é nada demais um jornalzinho como esse, [...] falando livremente de homossexualismo:
mas só quem é de lá, como eu, sabe a barra que esse pessoal, deve ter enfrentado
21 Di Paula começou a fazer um jornalzinho satírico sobre os membros do seu grupo (1962). Era
chamado Fotos e Fofocas, feito à mão (as “fotos” eram desenhos, e com a tiragem de um exemplar
único). Nestes desenhos os membros do grupo eram transformados em mulheres “finíssimas” que eram
vistas descendo de aviões intercontinentais, participando de coquetéis refinadíssimos ou simplesmente
posando para a “câmara” de Di Paula. [...] Fotos e Fofocas durou até 1967 quando então apareceu o
Zéfiro que já era datilografado. Em 1970 apareceu o Little Darling, assim chamado em homenagem a
um colega do Di Paula no curso de inglês. Este jornal era bastante diferente dos seus precursores, pois
além das fofocas de turma, incluía crítica de teatro e de cinema, informes sobre os acontecimentos do
“mundo gay” fora da Bahia e do Brasil e informes que Di Paula achava importantes, mesmo se não
diretamente relacionados à homossexualidade. MACRAE, Edward. A construção da igualdade: Op. cit.,
p. 68.
22 Idem, ibidem p. 68.
23 Idem, p. 65.
24 Idem, p. 67.
25 FERREIRA, José Alcides. Pauladas na “bichórdia”. Lampião da Esquina, n. 2, junho de 1978,
p. 14.
26 FRY, Peter. História da imprensa baiana. Lampião da Esquina, n. 4, agosto de 1978, p. 4.
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para publicar coisas como essas”27. O periódico O Inimigo do Rei, bimensário lançado
em Salvador, sob a proposta de entrar na faixa dos assuntos proibidos ou normalmente
não veiculados pela grande imprensa “nem, sequer, pelos nanicos pretensamente
libertários”28. Bem como jornais não homossexuais como Sinba, que tinha em seu
editorial, coisas estimulantes como “um jornal negro deve se dirigir à massa negra
informando, e não estar somente voltado para a sociedade branca, reivindicando” 29.
E jornais de outros países como e voltados para as mulheres como o Las Mujeres
que se tratava de uma publicação colombiana, cuja finalidade era “publicar artigos
que se refiram à mulher como sujeito participante da organização social por pessoas
ou grupos interessados nesta reflexão”, assim como o periódico El Outro, também
colombiano 30.

No Brasil a primeira publicação brasileira a se declarar feminista surgiria em


junho 1976 em São Paulo com o jornal Nós Mulheres, que já no seu primeiro editorial
se afirmava “somos oprimidas porque somos mulheres” e se denunciava a dupla
moral e a repressão sexual31. Em 1980 as mulheres jornalistas, por exemplo, iriam se
reunir para discutir seus problemas no Rio de Janeiro. Apesar de reconhecerem que
a opressão e a exploração são vividas por toda a categoria e pela classe trabalhadora
em geral e que “a luta não é contra o homens mas contra o sistema”, como disse
a companheira do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio, as jornalistas viram que têm
problemas especifica em trais sequência de sua condição de mulher32.

Essa imprensa alternativa agrupava pessoas com uma mesma ideologia,


surgindo, assim, jornais femininos, políticos ou voltados para temáticas culturais
ou de costumes. Assim surge o que se pode chamar de primórdios da imprensa
voltada ao público de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) no Brasil33. A
imprensa gay traria e significaria não apenas o oferecimento de um modo de vida e de
desejo ‘alternativo’, mas, sobretudo, que “é possível questionar estruturalmente essa
sociedade naquilo que ela constrói de exclusão e desigualdade baseado na forma

27 CRHYSÓSTOMOS, Antônio. De Sergipe para o mundo. Lampião da Esquina, n. 4, agosto de


1978, p. 4.
28 CRHYSÓSTOMOS, Antônio. O rei que se cuide. Lampião da Esquina, n. 5, outubro de 1978,
p. 4.
29 RODRIGUES, João Carlos. Um jornal: o Sinba.. Lampião da Esquina, n. 17, outubro de 1979,
p. 17.
30 MÍCCOLIS, Leila. Da Colômbia para o mundo. Lampião da Esquina, n. 12, maio de 1979, p.
12.
31 Edward. A construção da igualdade: Op. cit., p. 28.
32 Para a realização do 1 Encontro da Jornalista Carioca as mulheres do Rio passaram antes nas
redações e assessorias de imprensa um questionário para levantar o perfil da mulher jornalista. Das
180 pesquisadas, 51,7% afirmaram que têm colegas homens com a mesma função e carga horária
ganhando mais. In: BAPTISTA, Marta. A barra das jornalistas. Lampião da Esquina, n. 20, p. 2.
33 FONSECA, Leandro. O arco íris atrás das nuvens negras. Revista Babel, Editora: Especiais
Reportagens, 3 de abril de 2014. Disponível em: <http://www.revistababel.com.br/o-arco-iris-atras-das-
nuvens-negras/>. Acesso em: 10/04/2014.
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como as pessoas sentem, desejam, se fazem ver e notar” 34.

Compreender a trajetória e atuação dos grupos sociais que, de alguma maneira,


foram colocados em situação de desvantagem se mostra tarefa relevante, não apenas
sob a perspectiva acadêmica, mas compreendendo essa mesma como eivada por
uma atuação política na sociedade na qual estou inserido; para além, a análise da
construção de normas no seio da própria comunidade tornada abjeta, ainda está por
ser feita. Não se trata de “dar voz” aos oprimidos, mas compreender as falas dos
grupos sociais na polifonia própria das disputas sociais e de construção/manutenção
da memória hétero e homoerótica no Brasil recente.

Eis que surgi a Junior

Apresentaremos aqui uma das mais recentes revistas voltadas para o público
LGBT, a revista Junior, essencialmente a seção de turismo, que é um dos objetivos
deste texto. Assim apresentaremos as características gerais e de formação da revista,
dando ênfase á seção de turismo, no que se diz respeito aos produtos turísticos
ofertados, para que em seguida possamos refletir sobre uma possível formação do que
se entende por “mercado gay” no Brasil, refletindo sobre as representações 35sobre o
sujeito homoerótico e o consumo no âmbito da mídia impressa gay.

Para isso foi necessário uma análise detalhada da revista Junior, ela foi feita
por meio de fichas, em que foi possível observar a estrutura da revista, o que se oferta
de produtos e serviços, e principalmente, a seção de turismo, observando os produtos
turísticos ofertados. Desta forma serão apresentadas as características principais da
revista para que em seguida apresentemos a seção de turismo, destacando os países
e as cidades ofertadas pela revista.

A Junior apareceria pela primeira vez em outubro de 2007, com tiragem média
de 30 mil exemplares. A princípio, era publicada trimestralmente. Após algumas
reformulações, diminuiu a tiragem, mas aumentou a periodicidade. Hoje é mensal e
distribuída para 158 cidades brasileiras e 18 portuguesas.36 Em relação à escolha do
nome, segundo o seu editor André Fischer, “Junior é o teu filho, é o filho que o gay
não tem, então é um nome de todo homem, mas ele dá essa conotação de ser jovem
34 SOUSA NETO, Miguel Rodrigues. In: FONSECA, Leandro. O arco íris atrás das nuvens negras.
Op. cit.
35 Tomando de empréstimo de Roger Chartier a noção de representação, que permite articular
três registros de realidade: por um lado, as representações coletivas, que incorporam nos indivíduos as
divisões do mundo social e organizam os esquemas de percepção a partir dos quais eles classificam,
julgam e agem; por outro, as formas de exibição e de estilização da identidade que pretendem ver
reconhecida; enfim, a delegação representantes (indivíduos particulares, instituições e estancias
abstratas) da coerência e da estabilidade assim afirmada. CHARTIER, Roger. A história cultural entre
práticas e representações. Op. cit.
36 PÉRET, Flávia. Imprensa gay no Brasil. São Paulo: Publifolha, 2011, p. 91.
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também. O gay de 50 anos quer se sentir com 30”.37

Podemos imaginar então que a revista busca alcançar o homossexual masculino


que se sinta jovem, e que veremos após a exposição de suas ofertas de produtos e
serviços, que talvez tenha que ter poder aquisitivo para desfrutar de certos produtos
oferecidos pela revista. Em relação ao seu conteúdo a Junior busca desvincular a relação
com o erótico: “No contexto nascente da publicação, desvincular a sensualidade do
“erótico” sugere o desejo de se distinguir das revistas que investem no nu masculino,
ou em conteúdos sexuais explícitos38. Porém isso pode ser contestado, no decorrer
da leitura da revista, como, por exemplo, em algumas seções, anúncios, reportagens,
etc.

Algumas imagens, que a revista expõem pode-se observar essa relação das
imagens com o erótico, contradizendo a ideia da revista (porém esse não é o nosso foco,
e sim apresentar a revista, mas torna-se importante essa reflexão, para imaginarmos
o significado dessas imagens). A revista é dividida em várias seções, destacando-se
com mais páginas as seções de moda e ensaio (fotos com modelos masculinos).
A revista surge com mais de 100 páginas, e mantendo-se aproximadamente esse
número pelas 15 primeiras edições, diminuindo aos poucos e variando a partir da
edição 16, de 84 a 100 páginas.

Algumas questões – por mais que, numa quantidade menor – ligadas à política
também se encontra em suas páginas, além, é claro, dos anúncios, que preenchem
as páginas da revista, destacando, clubes; estética, festas, serviços, etc., a revista
apresenta uma seção de consumo, assim será apresentado a seguir alguns anúncios,
e posteriormente algumas imagens da seção de consumo, para que possamos
observar algumas características da revista e passar para seção de turismo.

Para onde Júnior vai? Produtos turísticos para o público LGBT

Após a contextualização das características da Junior exporemos, por meio


de dois gráficos, algumas características dessa seção, além do percebimento das
variedades de produtos turísticos ofertados na revista, passando por várias partes do
mundo. Assim apresentaremos alguns produtos turísticos, nacionais e internacionais,
e suas cidades de destaque, entendendo os produtos turísticos como “algo que pode
ser oferecido para satisfazer uma necessidade ou desejo” assim como, sendo esse
produto um complexo de “atributos palpáveis e impalpáveis, que inclui lugares, pessoas,

37 FEITOSA, Ricardo Augusto de Sabóia. “We’re Queer” (?): Representações de


Gênero nos Editorias da Revista Junior. 2010, p. 2. Disponível www.fazendogenero.ufsc.
br/9/resources/anais/1278019511_ARQUIVO_ArtigoRicardoFeitosa.pdf. Consultado em
28/05/2012.
38 Idem; ibidem.
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serviços, objetos físicos, organizações, etc”.39 Assim de 28 revistas analisadas pode-


se observar que:

Gráfico 1. Os produtos turísticos ofertados na revista Junior, divididos em Nacional e


Internacional.

Gráfico 2. Os produtos turísticos da revista Junior divididas por continentes.

Assim, podemos observar que os produtos turísticos ofertados estão por


varias regiões do mundo, destacando-se Europa e América Latina, com destaques

39 KOTLER, Philip; FOX, K. Marketing Estratégico para Instituições Educacionais. São Paulo:
Atlas, 1994.
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a cidades já conhecidas, até as menos visitadas. No caso do Brasil a mesma coisa,


oferecendo cidades badaladas, até as mais calmas, esse produto turístico que tem
integrantes como hotéis, transportes, passeios, restaurantes, etc; giram em torno de
algo bom, não deixando a desejar talvez por quem o consuma. Assim novamente se
torna possível imaginar (por mais que essa não é nossa intenção, mesmo por que
se torna algo difícil de saber, e o por isso do imaginar) que o público que consome
esse turismo, sejam pessoas que possuam certo poder aquisitivo para desfrutar de
tal atividade, porém, sua orientação sexual fator determinante para formação desse
segmento. Apresentaremos a seguir algumas imagens da seção de turismo.

No que se diz respeito à apresentação da seção de Turismo na revista, essa


ocupa poucas páginas da revista, variando de 2 a 6 páginas, contendo fotos na sua
grande maioria, e variando nos seus produtos turísticos. Uma relação interessante
foi observada na relação do público dessa revista com a seção de turismo. Nas
edições de Maio (p. 82) e Setembro (p. 75) de 2010, foram os leitores que mandaram
dicas de produtos turísticos, montando em um dos casos um roteiro, indicaram, por
exemplo, Nova York, Dallas, Fernando de Noronha e em que, foi possível perceber
em duas edições, em que os leitores mandaram algumas dicas de cidades, países,
e montando até alguns roteiros Observou-se no levantamento desses produtos
turísticos, que internacionais se destacam pouca coisa em relação aos nacionais,
entre os internacionais destacam-se países como Alemanha; Chile; França; Argentina;
Holanda; Dinamarca; México; China; E.U.A; Itália; entre outros, e suas cidades
respectivamente, Berlim, Santiago, Paris, Patagônia, Amsterdã, Copenhague, Puerto
Vallarta, Pequim e Changai, entre outras; e o produtos nacionais, destacam-se estados
do Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo, Pernambuco, entre outros, assim como
suas cidades respectivamente, Rio de Janeiro e Búzios; Florianópolis; São Paulo;
Recife, entre outras (isso será detalhado em forma de gráfico no próximo subcapítulo).

Podemos assim, perceber nesta apresentação da revista Junior, as suas


características, e os produtos turísticos que são ofertados por ela. Desta maneira, se
torna mais clara a discussão dada nas considerações finais, no que tange a forma
positiva do consumo que a revista oferece, com a reflexão que fazemos, de que os
homossexuais são tratados sem desigualdade a partir do momento que consomem,
sendo a sua orientação afetiva sexual ser predominante para o mercado, e ela mesma,
predominante para o tratamento desigual fora dos guetos de consumo homossexual.

Consumo LGBT em fins do século XX e início do século XXI

Buscaremos aqui observar um possível surgimento do mercado gay no Brasil


contemporâneo, assim como esse mercado na mídia impressa, desde o surgimento
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do Lampião da Esquina, até as páginas da Junior. Assim como a imprensa gay, o


mercado gay surge primeiramente na América do Norte e Europa.

André Fischer criador da sigla, conta que ela foi lançada em 1994, na primeira
edição do Festival Mix Brasil de Cinema e Diversidade Sexual. “Observamos
que o público não era formado apenas por gays e lésbicas, mas também
por pessoas interessadas em cultura. Resolvemos chamar esse grupo de
simpatizantes”. Ele explica que GLS é um conceito da área de marketing,
uma versão brasileira para aquilo que os norte americanos chama de gay
friendly.40

Esse mercado começa a ter uma visibilidade na década de 1980, onde se


fortaleceu e se ampliou, contando com vários serviços e produtos, como destaca41:

As agências de viagem norte-americanas se uniram e fundaram a IGLTA,


International Gay and Lesbian Travel Association, em 1984, promovendo
turismo especializado para gays e lésbicas. Abriu-se um novo nicho de
mercado especializado em gays e lésbicas viajantes. Hotéis, agências,
operadoras, receptivos e demais equipamentos turísticos perceberam que o
público gls existia, viajava com mais frequência do que o público tradicional
e estava mais disposto a se aventurar no exterior. Surgiu assim uma rede de
estabelecimento e empresas turísticas em todo o mundo que desenvolveram
muitos novos produtos42.

O período que seria o grande ápice desse mercado e talvez a sua consolidação
estariam nos anos de 1990, em que “viram empreendimentos gls pequenos se
transformarem em grandes empresas, e as grandes empresas do mercado tradicional
acordarem para o potencial do segmento gls e fazerem esforços para conquistá-lo.”43
Além disso, “companhia aéreas, bancos, seguradoras, fabricantes de automóveis, a
indústria da moda em geral, dos cosméticos e de informática criaram produtos para
homossexuais ou investiram pesadamente para que eles chegassem a esses produtos
direcionado a eles.” Nessa década começa-se também os grandes eventos voltados
aos homossexuais como por exemplo “o gay day da Disney, que passou a atrair mais
de 120 mil pessoas todos os anos”44, e Hopy Hari em São Paulo. Desta forma:

Aumentam muito as iniciativas de marketing de grandes empresas dirigidas ao

40 PÉRET, Flávia. Imprensa gay no Brasil. Op cit, p. 84.


41 REINAUDO, Franco & BACELLAR, Laura. O mercado GLS: como obter sucesso com o
segmento de maior potencial da atualidade. – São Paulo: Ideia & Ação, 2008, p. 45.
42 REINAUDO, Franco & BACELLAR, Laura. O mercado GLS: como obter sucesso com o
segmento de maior potencial da atualidade. – São Paulo: Ideia & Ação, 2008, p. 45.
43 Idem, ibidem, p. 47.
44 Idem, ibidem, p. 48.
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público homossexual, em anúncios com imagens positivas e sem preconceito


contra minorias. Alguns segmentos assistem a disputa acirradas e bastantes
públicas pelo novo consumidor gl, como o automotivo [...], de turismo [...],
computadores [...], cartões de crédito. [...] O Círculo de imagens positivas na
mídia e atitudes de respeito na sociedade ganha mais força ainda, por ser
sua dinâmica movida a euros e dólares.45

Assim, nos anos 1990 consolida-se a construção do que poderíamos chamar


de mercado gay (obviamente que as ofertas existiam antes disso, porem não de uma
forma variada e consolidada) com variados serviços/produtos, e variadas empresas
querendo investir num “mercado promissor”, criando, por exemplo, “as primeiras
empresas de turisp0mo especializadas em gays e lésbicas, como Inter-rainbow,
Tropicalis, Ruditour, Over e Álibi, só para citar algumas. Em São Paulo foi aberta a
primeira livraria especializada em minorias sexuais, a Futuro Infinito. Apareceram nas
bancas [...] a revista carioca Sui Generis [...] e a sexy G Magazine.” E os próprios locais
de entretenimento, “como bares e boates, sofreram uma transformação profunda,
agora exibindo bandeira do arco-iris, identificando-se como gls e divulgando-se com
estardalhaço”46. Surgiu aí:

O denominado pink money – outro termo criado pelos norte americanos


– representou uma mudança significativa a partir dos anos 1990. Com a
consolidação de um mercado de serviços específicos para o público gay,
ampla rede de conceitos, produtos e tendências passou a orientar e a fazer
parte do cotidiano dos gays de classe média que viviam nas grandes cidade.47

No que diz respeito ao início do século XXI, “a troca de ideias e conceitos, que
já existia entre viajantes por conta da busca de estratégias para vencer o preconceito,
é acelerada pelos meios de comunicação internacionalização”.48 Dando continuação
a um segmento de mercado GLS, que seria, “toda a atividade econômica focada nos
consumidores homossexuais que aceitam com naturalidade sua orientação sexual,
desejando consumir produtos e serviços direcionados ao seu estilo de vida”.49

Esse segmento, portanto, tem a particularidade de variar de tamanho,


conforme cada sociedade aceita a expressão da diversidade sexual e
conforme os indivíduos se identificam como homossexuais e se assumem
como tais. É por isso que as sociedades mais abertas exibem segmentos gls
consolidados e muito representativos economicamente.50

45 Idem, ibidem, p. 51.


46 Idem, ibidem, p. 63.
47 PÉRET, Flavia. Imprensa gay no Brasil. Op cit, p. 84.
48 REINAUDO, Franco & BACELLAR, Laura. O mercado GLS. Op cit, p. 51.
49 Idem, ibidem, p. 72.
50 Idem, ibidem.
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Agora em relação à mídia impressa, a instável trajetória das publicações voltadas


para o público gay mostra que, em termos financeiros, elas ainda sofrem com o
preconceito dos anunciantes. Podemos observar a presença desse mercado, ou da
ideia dele mídia impressa, na fala de André Fischer, criador e editor da Revista Junior.

Mesmo sem saber exatamente quantos somos e onde estamos, acabamos


evidenciando nossa existência pelo vigor de nosso mercado. Apesar da
enorme visibilidade conquistada na última década, o segmento conseguiu se
organizar mais efetivamente em torno de nichos específicos na internet, noite
e sexo. Outras áreas como turismo e moda já descobriram que não vivem
sem nós. Outros estão começando a entender isso agora51.

Ou seja, na medida em que o segmento de mercado de minorias sexuais passa


a ser visto como interessante e lucrativo, atrai a atenção das megacorporações, que
usam os mecanismos do capitalismo para se prevalecer52.

Por fim...

Após apresentarmos de forma breve a formação de uma imprensa gay no Brasil,


especificamente a impressa, por meio do Lampião da Esquina a apresentação da
revista Junior, essa que teve uma análise mais detalhada no que diz respeito aos
produtos turísticos em uma de suas seções; a formação de um mercado gay tanto na
mídia impressa, como de outras formas, expondo e refletindo os produtos turísticos
para o público LGBT presentes na revista Junior e no intuito de pensar a relação
dessas formas de consumo com o sujeito homoerótico, percebermos que a mídia
impressa gay de circulação nacional surge com o Lampião da Esquina, assim como
as primeiras ofertas de consumo, tanto para manter o jornal, como também forma
de divulgar produtos, lugares e serviços que os homossexuais poderiam utilizar sem
sofrerem nenhum tipo de injuria pela sua orientação sexual. Nota-se ai que nesse
período do jornal (1978-1981), não havia ainda um mercado gay consolidado, mas
já começavam a surgir produtos e serviços específicos para homossexuais, e um
período tão repressivo como a ditadura.

A mídia impressa pós Lampião, destacadas nesse trabalho, passa a possuir mais
páginas para o consumo, além de algumas reportagens girarem entorno da formação
de um consumo. O homossexual que já foi visto como pecaminoso, doente e perverso,
além de outras coisas, adquirindo esses produtos/serviços deixa de ser esse ser
“horrível” que a sociedade heteronormativa vê, e passa a ser visto sem desigualdade,
mas até que ponto?
51 Revista JUNIOR, n1, out./2007.
52 REINAUDO, Franco & BACELLAR, Laura. O mercado GLS. Op cit, p. 52.
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Pensemos então que exista um grupo de pessoas que sofrem repressão á anos
no decorrer da história, passando por seres “infectados” a “perversos” e outros nomes
que surgiram e surgem por ai, por sentirem afeto e desejo por pessoas do mesmo
sexo. Nesse decorrer surgem pessoas e empresas que oferecem produtos e serviços
a essas pessoas, em que, consumindo-os, por um instante ela não será vista e nem
tratada com desigualdade, podendo desfrutar tranquilamente do que consomem.
Essas ofertas de consumo para o público LGBT estão presentes por todas as partes,
como na internet, televisão, rádio, revistas, outdoors, etc.

Os homossexuais só passam a serem tratados sem desigualdade no momento


em que estão consumindo algo voltado para eles (possivelmente em outras situações
em que não está presente o preconceito sobre eles, como um ciclo de amizades).
Ou seja, essas pessoas e empresas oferecem seus produtos/serviços para o público
LGBT, para que eles tenham um tratamento sem desigualdade e possam fazer o
que a sociedade heteronormativa não permite, ou por simplesmente serem mais um
nicho de mercado, não podendo fazer parte de seu convívio social, assim como outras
minorias, como o negro, a mulher, o “pobre”, entre outros.

Documentação

JUNIOR. São Paulo: Mix Brasil. 2007–2012, (Números: 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12,
13, 14, 15, 16, 17, 19, 20, 21, 22, 25, 26, 27, 33, 34, 38 ).

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GÊNERO E TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: ANÁLISE SOBRE A


PROMOÇÃO DA RESILIÊNCIA NO MOVIMENTO DE MULHERES DAS ILHAS DE
BELÉM - MMIB

Neila Waldomira Cabral 11


Maria Lúcia da Silva Soares2
Geisa Costa Coelho3

RESUMO: Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa vinculada ao Programa


de Incentivo a pesquisa científica do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Pará – IFPA - Campus Belém, desenvolvida no âmbito do grupo de
pesquisa Turismo, Pesquisa e Mercado: novas abordagens teóricas, práticas e
metodológicas - RESILITUR. Os dados referem-se ao projeto “a resiliência do gênero
através do turismo: uma análise sobre a experiência do movimento de mulheres das
ilhas de Belém com o turismo de base comunitária”, que teve duração de um (01)
ano e contou com a participação de estudantes dos cursos técnicos em eventos, em
guia de turismo e graduação em turismo, envolvendo várias disciplinas em trabalhos
de revisão bibliográfica e campo, efetivando a tríade ensino, pesquisa e extensão. O
objetivo foi analisar sistematicamente a relação gênero e turismo a fim de conhecer os
fatores de resiliência que envolvem o universo feminino e suas ações empreendedoras.
Os resultados apontam para a promoção da resiliência atrelada a uma participação
intensa e comprometida MMIB.

PALAVRAS-CHAVE: Resiliência. Turismo. Relações de Gênero.

ABSTRACT: This article presents results of a research linked Incentive Program


scientific research at the Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Para
- IFPA/Campus Belém developed within the research group tourism, research and
market: new theoretical approaches, practices and methodological - RESILITUR. The
data refer to the project “the resilience of the genre through tourism: an analysis of the
experience of the women’s movement of the islands of Belém with the community-
based tourism,” which lasted one (01) year and included the participation of students in
technical courses events, tour guide and tourism degree, involving various disciplines
work in the field of literature and review, triad effective the teaching, research and
extension. The objective was to systematically review the relationship genre and
tourism in order to meet the resilience factors involving the feminine universe and
their entrepreneurial activities. The results point to the resilience promotion tied to an
intense and committed participation MMIB.

KEYWORDS: Resilience, Tourism. Gender Relations.

1 Doutora em Ciências Socioambientais. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência


e Tecnologia do Pará – IFPA/Campus Belém. E-mail: neilacabral@yahoo.com.br
2 Mestre em Educação. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Pará – IFPA/Campus Belém. E-mail:malu.ssores@gmail.com
3 Doutorando em Antropologia. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Pará – IFPA/Campus Belém. E-mail: geisaccoelho@gmail.com
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INTRODUÇÃO

A atividade turística gera um quadro complexo de postos de trabalho, possuindo


assim um caráter integrador e de inserção. Esta prática gera benefícios sociais,
políticos e econômicos, porém, essa relação atrela-se a demasiados impactos também
na mesma ordem.

Nisto, a inserção social da mulher que é desfavorecida culturalmente por uma


sociedade patriarcal, torna-se viável, com intenções de qualificação, valorização,
aprendizado e integração social. A partir desta perspectiva realizou-se um estudo sobre
o Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém – MMIB no que tange a sua relação com
o turismo de base comunitária e a manifestação ou promoção da resiliência.

Assim, o artigo apresenta os resultados obtidos no projeto de pesquisa “a


resiliência do gênero através do turismo: uma análise sobre a experiência do movimento
de mulheres das ilhas de Belém com o Turismo de Base Comunitária TBC”. O objetivo
foi analisar sistematicamente a relação gênero e turismo a fim de conhecer os fatores
de resiliência que envolvem o universo feminino, possibilitando a potencialização da
busca pela promoção da igualdade através de uma perspectiva empreendedora.

O Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém – MMIB, situado na Ilha de


Cotijuba, região insular de Belém do Pará, que nos seus quinze anos de atuação tem
se consolidado como uma organização capaz de autogerir-se, pois através de seus
projetos e parcerias mantém-se vivo, é o nosso foco de pesquisa. O movimento tem
conseguido despertar a atenção em função de sua iniciativa de utilizar atividades
produtivas, com bases nos postulados de sustentabilidade, por meio do Turismo de
Base Comunitária (TBC), entre outros, haja vista que o turismo de massa constitui-
se da principal modalidade praticada na área, e essa abordagem de turismo acarreta
demasiados impactos sociais e ambientais que acabam por desfavorecer, a médio e
longo prazo a comunidade autóctone.

Atualmente o MMIB conta com 45 associados fixos, sendo 20 homens e 25


mulheres. O movimento é referência em modelo de gestão associativa na ilha de
Cotijuba, e este sucesso é consequência do comprometimento e organização dos
associados e, principalmente, de suas lideranças.

Nesta perspectiva, essa análise propôs verificar como a experiência com o TBC
tem contribuído para o protagonismo e a resiliência social e individual por intermédio
das iniciativas do MMIB, utilizando métodos científicos com base na teoria de sistema
social com ênfase na resiliência. As atividades foram colocadas em prática no período
entre outubro de 2011 e dezembro de 2012.

Essa metodologia buscou subsídios técnicos em vários instrumentos e


procedimentos para os estudos de resiliência. O estudo de caso foi desenvolvido no
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município de Belém – ilha de Cotijuba, em uma área delimitada a partir da relevante


experiência acumulada ao longo dos quinze anos do MMIB, com uma amostragem de
30% do universo da pesquisa (Os associados do MMIB).

A abordagem metodológica se compõe do elenco de três passos considerados


relevantes para análise: diagnóstico do universo feminino que envolve o MMIB; análise
das relações e das estratégias empreendedoras do MMIB com breve descrição da
prática do Turismo de Base Comunitária – TBC do MMIB e o estudo sobre o Capital
Social do MMIB. Os resultados produzidos por este processo de coleta de dados nos
possibilitaram uma visão mais detalhada do MMIB e de sua resiliência.

TURISMO RESPONSÁVEL E GÊNERO: POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES PARA


A PROMOÇÃO DA RESILIÊNCIA

O Turismo de Base Comunitária - TBC demonstra-se como uma atividade que


possibilita o desenvolvimento local a partir de uma abordagem mais responsável e
protagonizada pelas comunidades. Estudos recentes mostram que nesse tipo de
abordagem de turismo existe a possibilidade de usufruí-lo de maneira mais humanizada
(KRIPPENDORF, 2001).

A atividade turística produz impactos bastante positivos no que diz respeito


à geração de capital, empregos e renda, além da valorização do lugar. Entretanto,
conforme inúmeros estudos, quando mal planejado e não regulamentado, seus efeitos
negativos são alçados, provocando a externalidade dos maiores males da localidade
receptora e apresentando um empecilho na economia local e nacional.

O turismo também está ligado às segregações sociais assim como qualquer


outra atividade econômica. Igualmente, quando bem planejado e pautado nos
modelos de sustentabilidade, é capaz de proporcionar uma maior interação dentro
da comunidade pelas suas características de cooperação e interatividade, podendo
despertar a resiliência dos envolvidos na experiência.

Especialmente o gênero feminino, está sujeito as oscilações que essas


segregações mercadológicas causam, por possuírem um histórico cultural de
desvantagens, onde acabam por exercer um papel, para si, que não escolheram
(COSTA; ALTAMIM, 2009). A desvalorização da sua força de trabalho acaba sendo
mais impactante do que as demais, caracterizando-se por uma educação marcada
pela naturalização da cultura patriarcal onde o único domínio permitido às mulheres
era o do privado: educação dos filhos, o trabalho doméstico e o cuidado com o marido.
E ainda, relacionando essa prática com sua baixa remuneração.

Muito se têm debatido sobre as assimetrias de gênero, e nesse sentido é


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interessante discutir a apropriação cultural da diferença sexual; considerando as


diversidades existentes nos sistemas de gênero e nas relações sociais, observando
que muitas vezes as percepções e os conflitos de poder entre homens e mulheres
são naturalizados a partir de uma vivência cultural. Assim, considera-se que o modo
como homens e mulheres se comportam em sociedade, corresponde ao aprendizado
sociocultural que ensina as pessoas a agir conforme as prescrições de cada gênero. E
cria-se uma expectativa social em relação à maneira como homens e mulheres devem
andar, falar, sentar, mostrar seu corpo, cuidar do outro, amar, dentre outras atividades
(COELHO, 2013).

O conceito de gênero, segundo Joan Scott, surgiu entre as feministas americanas


que pretendiam enfatizar o caráter social das distinções baseadas no sexo. O termo
indica uma rejeição ao determinismo biológico e sinaliza para o aspecto relacional das
normas sobre feminilidade (SCOTT, 1995). Assim, trabalhar com discussões relativas
à sexualidade provoca questionamentos sobre a observação da naturalização das
diferenças de sexo, sobre os reflexos de uma construção social e cultural, que muitas
vezes recaem sobre relações de poder.

Segundo Motta Maués (1993), apesar da existência de um referente natural


(ou biológico), o processo de diferenciação, desenvolvido a partir dele, é de caráter
eminentemente social. A autora se acha encaixada no modelo inconsciente, que
informa todo o quadro das relações sociais em que se defrontam homens e mulheres,
assim como também surge ao nível do modelo consciente, na forma como é percebida
a atuação e o modo de ser de ambos os sexos no seu desempenho social. Ainda na
concepção dessa autora, as sociedades encaram a posição da mulher e do homem,
estabelecendo modos diferentes de considerar o seu desempenho social, a partir das
diferenças percebidas como naturais entre eles. Quando se fala que “isso ou aquilo
não é pra mulher” se faz necessária a reflexão acerca dessa expressão, da afirmação
e do questionamento, o que serve para a mulher? E por que não serve? Isso nos
remete Haraway “As mulheres não aparecem onde deveriam”. Segundo Haraway
(2004) as ambigüidades da expressão são poderosas e tentadoras.

Mostra-se cada vez mais forte a presença das mulheres no ramo econômico,
entre diferentes setores e ocupações; mas os conflitos em relação ao gênero ainda
persistem e “inflamam” as divergências nessas relações sociais. Essa estratificação,
presente nas relações de gênero, permite observar que alguns setores são tidos mais
femininos que outros, e as atividades realizadas por mulheres, de forma geral, não
recebem o mesmo prestígio ou remuneração (COELHO, 2013). Na sociedade atual o
perfil das mulheres é muito distinto daquele do começo do século. Além de trabalhar
e ocupar funções de responsabilidade, assim como os homens, elas possuem
paralelamente, as tarefas tradicionais de ser mãe e dona de casa. Trabalhar fora
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de casa é uma conquista, relativamente, recente das mulheres. Auferir seu próprio
dinheiro, ser autônoma e ainda ter sua competência reconhecida é ensejo de orgulho
para todas. Apesar do progresso da mulher dentro de atividades antes exclusivamente
masculinas, e apesar de adquirir mais instrução, os salários não acompanharam este
crescimento.

E não apenas a remuneração, apesar de todos os avanços e da reestruturação


do mundo do trabalho que vem acontecendo, as mulheres continuam sendo as maiores
vítimas deste processo de melhorias tecnológicas e da globalização, que acarretam
em uma nova configuração que precariza as condições de produção.

No turismo dito convencional ou de massa essa precarização não é diferente,


tendo como perspectiva os processos de mercantilização, aculturação, alienação e
depreciação da imagem feminina, considerando que em diversas vezes elas ocupam
cargos diminutos diante do sexo oposto (GOMES, 2012). Ao observar os dados gerais
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) relativos ao mercado de
trabalho, as afirmativas sobre as condições de desigualdade de gênero e de raça se
ratificam. Desta forma, a pesquisa realizada integra informações referentes a diversos
aspectos de inserção das mulheres trabalhadoras, sob enfoques como a remuneração,
escolaridade, valorização e autonomia.

Entretanto, a igualdade de gênero apresenta um estado mais estreitamente


associado às mudanças na mentalidade da sociedade. O avanço das mulheres
na busca pela paridade e pela representação política, apresentam especificidades
derivadas das características econômicas, sociais e institucionais dos países e da sua
posição no cenário mundial em diferentes momentos da história (CEPAL, 2007). E se
consideramos o estudo de Gayle Rubin, tem-se que a relação entre os gêneros não
deriva da natureza, pois esta é histórica, já que decorre de um arranjo social, porém
é vista, de forma ideológica, como naturalizada e precisa ser repensada na busca
pela equidade e na aplicabilidade práticas das atividades do cotidiano; onde o turismo
surge como elemento dinamizador dessa realidade, por permitir o desenvolvimento
de relações entre percepções e comportamentos diversos, passíveis de orientação
e reflexão pela observância, como é o caso do desenvolvimento do turismo de base
comunitária nas ilhas de Belém.

Assim, temos visto em algumas atividades mercadológicas as possibilidades


de protagonismo feminino. O turismo de Base Comunitária – TBC constitui-se em um
potencial instrumento de superação e promoção da resiliência do gênero feminino. A
resiliência que se relaciona diretamente ao debate de sustentabilidade e ascensão
social e igualitária como um mecanismo de mensuração da capacidade de superar as
adversidades e tornar os sistemas sociais e ecológicos mais equilibrados.
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A investigação cientifica sobre resiliência social abrange como objetivo a


compreensão de inter-relações sociais e econômicas que determinem transformações
e, vem sendo estudada através dos anos por diversos especialistas que identificaram
diversos modelos de estudo. O modelo triádico de resiliência que consiste em
organizar os fatores de resilientes e de risco em três grupos, onde no primeiro grupo
são levados em conta os atributos individuais da pessoa, no segundo os aspectos
familiares e no terceiro o ambiente social em que o indivíduo está inserido; tratava-se
de uma importante abordagem na análise dos fatores resiliadores.

Outra abordagem interessante se apresenta na concepção de dinamização da


resiliência, sendo Edith Grotberg (1995) a pioneira desta noção dinâmica, uma vez que
em seu estudo “Projeto Internacional de Resiliência (PIR)”, define que esta necessita
da interação de fatores resilientes advindos, e que estejam localizados em três níveis
diferenciados: suporte social (eu tenho), habilidades (eu posso) e força interna (eu
consigo). Desta maneira, os dois modelos podem complementar-se, organizando
os fatores de resiliência em um modo triádico e incorporando-se como elemento
fundamental a dinâmica e a interação entre os fatores supracitados (INFANTE, 2005).

Outrossim, autores do final da década de 90, tais quais Luthar e Cushing


(1999), Masten (1999), Kaplan (1999) e Benard (1999), entendem resiliência como um
processo dinâmico, onde as influências do ambiente e do indivíduo interagem através
de uma inter-relação recíproca e mútua, permitindo que as pessoas se adaptem apesar
das adversidades impostas. Percebe-se que a maioria dos autores desta geração
simpatiza com o modelo ecológico-transacional da resiliência, que possui suas bases
no modelo de Bronfenbrenner (1981).

A partir desta perspectiva, observa-se que o norteamento do modelo ecológico-


transacional de resiliência consiste-se no indivíduo estar imerso em uma ecologia
determinada por níveis divergentes, que interagem entre si e que acabam exercendo
influência direta no desenvolvimento do ser humano e do seu coletivo; entendendo
esses níveis como: individual, familiar, comunitário e cultural. É importante ressaltar
que somente decifrando os processos dinâmicos de interação dos diferentes níveis
de interação é que se poderá entender melhor o processo de resiliação; senso esta a
nossa opção neste ensaio.

RESULTADOS E DISCUSSOES - ANALISANDO A RESILIÊNCIA DO MMIB

Diagnóstico do universo feminino do MMIB

A pesquisa identificou que a busca pela autonomia e reconhecimento do gênero


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são focos no modelo da fundação do MMIB, assim como, a busca pela construção
da cidadania e do desenvolvimento sustentável. Para diagnosticar a resiliência, a
inclusão, a valorização e a autonomia do gênero dentro do movimento, realizou-se
uma investigação por meio de observações diretas e aplicação de questionários às
mulheres, integrantes do movimento. Os dados permitiram a comparação entre as
respostas dadas pelos inquiridos e os objetivos da pesquisa, que são: analisar as
características das mulheres do movimento; levantar os fatores que levaram cada
uma a integrá-lo; identificar a aceitação do marido/família em relação a autonomia e
a igualdade do gênero; analisar por meio da perspectiva de resiliência a igualdade,
valorização do trabalho feminino e inclusão social; e de que forma elas evoluíram
socialmente e economicamente a partir do MMIB.

Inicialmente foi traçado o perfil dos entrevistados, levando em consideração a


faixa etária, a dependência econômica e o ano de ingresso no movimento. Tabela 1.

TABELA 1 - PERFIL DO PÚBICO-ALVO


Número de Dependência Ano de integração
Faixa etária
entrevistados econômica ao movimento
01 21 a 30 anos Sim Não identificado
08 31 a 40 anos 0,16% Sim 1998 a 2009
01 41 a 50 anos Não 1998
05 Mais de 50 anos 0,2% 1998 a 2010
01 Não identificada Não Não identificado
Fonte: Arquivo Pessoal. SOARES, G.; AIRES, J. (2012).

Por necessidade do método e melhor compreensão da proposta, organizamos a


apresentação dos resultados por faixa etária, obedecendo a ordem crescente. Assim,
verificou-se que as associadas entre 21 a 30 anos tiveram como motivo do ingresso, o
interesse nos cursos e capacitações oferecidas pelo MMIB, diante desta ocasião surgiu
a oportunidade, de realizar outros cursos e com isso, através do constante convívio
com a realidade do movimento, passou a fazer parte das atividades administrativas
do MMIB.

As associadas relataram que após o ingresso no movimento, houve a percepção


de que esse relacionamento exerceu forte influência, na forma de incentivo, no
desenvolvimento acadêmico, familiar e comunitário das mesmas, demonstrando
assim, a participação ativa nas atividades sociais oferecidas pelo MMIB. Outra
observação ocorreu em relação aos resultados sociais, considerados como fatores
consequentes positivos de caráter resiliador, e os princípios teóricos da resiliência;
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como um feedback que apresenta resultados psicossociais. Essas constatações


classificam-se como um processo de protagonizacão social, expressas pelo interesse
de adquirir novos conhecimentos, construir e manter novas relações sociais, além de
sentir-se incluso na contribuição de melhorias dentro da comunidade.

O pronunciamento dessa faixa etária, no que diz respeito às relações de gênero


ressaltou as disparidades das oportunidades de trabalho, porém, não ocorreram
problemas com o marido/família que, ao contrário, incentivam as atividades existentes
no MMIB.

Na faixa etária entre 31 a 40 anos pode-se afirmar que as constantes visitas


não planejadas ou, o empenho das atividades realizadas pelo movimento despertaram
o interesse nas mulheres. Para elas, após a integração ao movimento, começou
a existir a oportunidade de crescimento profissional e pessoal com a aquisição do
conhecimento, o que, de certa forma, mostrou-se um meio gerador de renda. É,
portanto, uma forma de atração de voluntários com a realização dos cursos que
despertam o interesse à participação, dia-a-dia, nas atividades dentro do MMIB. É
importante considerar também as motivações intrínsecas presentes no movimento
com grande número de associados e que pode fazer a diferença perante a sociedade,
principalmente no universo analisado - ilha de Cotijuba.

Outras afirmações encontradas referem-se ao ingresso duradouro dessas


mulheres ao MMIB. Nesta faixa etária identificou-se a preocupação com os fatos
sociais pelo amplo conhecimento adquirido, fato demonstrado pelas falas: “nos
sentimos úteis e capazes”. O interesse correlato ao conhecimento sobre o direito
das mulheres, servindo como uma ferramenta que resgata a qualidade de vida
das pessoas, capacitando-as para realizarem seus objetivos, além de usufruir dos
benefícios da associação de produção (onde o MMIB se originou).

Outro aspecto identificado foi o avanço alcançado em relação à responsabilidade


com as questões socioambientais, o amadurecimento pessoal e familiar e, a
organização e o desenvolvimento institucional/comunitário. A partir destas afirmações,
constataram-se melhorias individuais, como: melhor comunicação, desenvoltura,
extroversão e consentimento de capacidade em contribuir com a comunidade.

As características da resiliência apareceram nos resultados quando todas


responderam positivamente em relação à participação no MMIB funcionando como
uma terapia, em que as inovações criativas geraram resultados nos quesitos: busca
de sonhos pessoais; valorização pessoal; melhoria na qualidade das informações
transmitidas aos seus filhos; crescimento profissional; exposição de problemas,
conhecimentos sobre seus direitos; conclusão do ensino médio; meio de renda; mais
amizades; mais liberdade e responsabilidade.
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A inclusão social relacionada a essa faixa etária, se dá através de oficinas,


palestras, encontros e outras atividades que as mulheres são estimuladas a participar.
Estas proporcionam contato com o público e o desenvolvimento de atividades grupais
que geram inter-relações. Permitem também a adoção de uma postura de igualdade,
independente de cor, raça e religião, gerando reconhecimento social.

Em relação às desigualdades foram identificadas e ratificadas nesta faixa


etária, as disparidades no mercado de trabalho, contudo encontraram-se mulheres
com dificuldades em relação ao posicionamento do marido e da família quanto à
participação no movimento; envolvidas ainda em uma cultura patriarcal com conflitos
de opiniões e afirmando a limitação de seus direitos, mesmo com afirmações sobre o
apoio do marido, esta inclusão ainda existe; detectadas na pesquisa as disparidades
existem ocasionadas por uma cultura condicionada desde a infância.

Na faixa etária entre 41 a 50 anos observa-se a maturidade relacionada ao


comprometimento com tarefas administrativas (planejamento, organização, direção e
controle) para com o movimento, o que resume basicamente o objetivo do ingresso.
Esta integração faz referência na busca de objetivos comuns de inclusão, procurando
em um espaço físico o que não é oferecido fora. A “fuga” dos problemas caracteriza-
se pelo encontro de realidades pessoais; de situações parecidas que demonstram e
ensinam a ter “força para continuar”.

Na discussão relacionada a gênero concerne a insistência das mulheres em


criarem homens para serem superiores e não com direitos iguais. Para as entrevistadas
que passaram dos 50 anos, os objetivos apresentam-se múltiplos, tais quais: fazer
novas amizades; disseminar o conhecimento sobre relações de gênero; fortalecer o
universo feminino. A integração com o movimento tornou possível a convivência, a
capacitação, a valorização e melhoria da autoestima, a segurança pessoal, a melhoria
de expressão, o aprendizado nas questões femininas e no trabalho em grupo. Nas
características de resiliência elas consideram o MMIB um local propício para “esquecer
os problemas”, para “aperfeiçoar o conhecimento e melhorar a aprendizagem”. A
familiarização com outros integrantes, segundo elas, faz com que o trabalho se torne
prazeroso.

Neste grupo 100% das mulheres obtiveram aceitação do marido, porém


destacam as dessemelhanças cotidianas, entretanto afirmam que em suas casas, a
partir da inclusão no movimento, repassam valores igualitários aos seus filhos.

No final das análises observou-se que em todos os grupos (faixa etária) houve
resposta positiva a promoção da resiliência. As mulheres saíram de situações de
risco ou precarização para um protagonismo individual, familiar e finalmente social.
Creditam ao MMIB a responsabilidade por mudanças concretas e positivas em suas
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vidas pessoais que relacionam: autoestima, responsabilidade, coragem, conhecimento


e entretenimento.

Processos e relações empreendedoras do MMIB

Outro aspecto que buscamos analisar refere-se a capacidade de empreender


individual e coletivamente a partir da associação ao MMIB. Neste sentido, observamos
que o espaço que o MMIB está localizado, desde sua fundação, passou por um legítimo
desenvolvimento em sua estrutura física, pois em sua fundação o movimento possuía
uma pequena casa de madeira. Hoje, o lugar tem um amplo espaço destinado as
atividades oferecidas e que geram crescimento a comunidade a partir das perspectivas
de inovação dos integrantes, sendo elas: confecção de biojoias, biblioteca, aulas de
informática, variados cursos de capacitação e a plantação da priprioca.

Pode-se citar como exemplo de relação estratégica do movimento sua parceria


com a empresa Natura, que há quatro anos mantém o projeto de produção da priprioca,
buscando através desses extratos, fabricar essências para a produção de perfumes.
A empresa Natura recompensa R$ 3,00 (três reais) por kg. As famílias que trabalham
no projeto dividem a rentabilidade, deste modo, houve melhorias na qualidade de vida
das famílias envolvidas com o projeto, com complementação da renda familiar. Cada
família filiada ao projeto tem plantação de priprioca em suas residências. Atualmente,
sucedem-se diversas oficinas: confecção de agendas personalizadas, feita de papel
reciclado e revestida por papel panamá e fibras de frutas, como manga e banana;
confecção de biojoias por sementes que o MMIB beneficia e comercializa. Essas joias
são feitas de sementes como: açaí, pracaxi e ucuuba, entre outras.

Entre as mudanças na infraestrutura, no período de junho a setembro de 2011,


foi criado novo espaço para exposição de biojoias e está em andamento o projeto que
visa criar espaço de convivência para idosos, com perspectiva de inauguração em
2013.

Atualmente o MMIB apresenta possibilidades de integrar-se a projeto de


origem francesa “Acolhida na Colônia”, criado em Santa Catarina no ano de 1998 por
uma associação de agricultores com mesmo nome, que conta com cinco territórios
incluídos nos destinos turísticos: Encostas da Serra Geral, Regional de São Joaquim,
Regional Ibirama, Regional de Rio do Sul, Regional de Ituporanga. A Acolhida baseia-
se na ideia do agroturismo como fator de desenvolvimento local promovendo a
revalorização do espaço e do modo de vida rural. A ideia adotada é de adaptar o
modelo do projeto “Acolhida na Colônia” para a realidade das ilhas de Belém. Porém,
este projeto encontra-se em fase de negociação, onde se estuda os pontos positivos
e negativos da adesão. É importante ressaltar que estas possíveis parcerias são fruto
também desta pesquisa.
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Contudo, o MMIB já trabalha com o turismo sustentável. A implantação do


TBC do MMIB é uma tentativa empreendedora de modificar o conceito de turismo
encontrado na ilha de Cotijuba; observa-se que o turismo mais agressivo (de massa)
tem predominância, principalmente durante os finais de semana e feriados prolongados,
portanto a humanização desta atividade se daria através da implementação de uma
modalidade mais interligada aos moldes de sustentabilidade, atrelados a uma maior e
melhor participação da comunidade autóctone no que concerne a gestão desta prática
turística.

Portanto, a iniciativa de oferecer visitas à ilha de Cotijuba, envolvendo a


comunidade na apresentação de seus moradores e atrativos (culturais, históricos,
naturais e patrimoniais), como atrativo turístico, para a vinda do turista, não de maneira
sazonal e agressiva, como já ocorre, oferecendo uma prática mais relacionada ao contato
com a natureza e, principalmente, sua conservação; além de ser uma oportunidade
de oferecer suas mercadorias (produtos agrícolas ou artesanais), constituindo assim
um produto turístico bem conceituado. A partir deste prisma, observou-se a criação e
resgate por iniciativa do MMIB, de trilhas oferecidas durante a semana e não mais nos
tão concorridos sábados e domingos, uma vez que o público atingido seria reduzido
e mais segmentado, ou seja, só participariam das mesmas aqueles indivíduos com
interesse real em um passeio mais intimista e pouco movimentado, oportunizando o
melhor aproveitamento do que a trilha tem para oferecer.

O TBC contribui para uma melhor conservação e desenvolvimento, trazendo,


além dos benefícios econômicos, os benefícios sociais e culturais, sendo estes de
sumária importância para a consolidação das benfeitorias desta atividade para todos
os membros da comunidade.

Ao empreender, seja nas parcerias com grandes empresas com selo de


qualidade e sustentabilidade, seja na promoção de um turismo diferenciado e
sustentável para a ilha de Cotijuba, o MMIB promove a autoestima e a melhoria na
renda de seus associados. O resultado disso é o visível enfrentamento aos riscos e
ao anonimato para um estágio de promoção da resiliência e ascensão profissional,
econômica, ambiental e social.

Análise do Capital Social do MMIB

Tendo o capital social como um importante componente do protagonismo social


e do desenvolvimento local, buscamos compreender como ele se manifesta e se
desenvolve no MMIB, reforçando os fatores que promovem a resiliência.

O MMIB foi originalmente fundado por membros da comunidade através de


líderes locais. Com base nessa democracia, a eleição de um líder ocorre por decisão/
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voto de todos os membros. O grupo tem como forma de financiamento a contribuição


dos associados e percentuais de tudo o que for promovido e produzido pelo movimento.

GRÁFICO 1 – FORMAS DE INSERÇÃO NO GRUPO

Fonte: Pesquisa de campo (2012). Disciplina Desenvolvimento Territoriais e Turismo. IFPA/


Campus Belém

Assim, buscamos investigar alguns aspectos que compõe o capital social,


verificando inicialmente como ocorre a inserção ao grupo a partir de um elenco de
alternativas previamente fornecidas, dispostas no Gráfico1. As respostas demostram
a existência da democracia aplicada de duas formas dentro das tomadas de decisão
no movimento, sendo elas: quando o líder informa ao grupo e quando os membros
discutem e decidem entre si. Ficando claro que para o grupo quanto maior o número
de indivíduos com participação ativa nas atividades da comunidade, maior será a
construção de um círculo de relações interpessoais, mais concreto.

Quando questionados sobre confiança e solidariedade, informaram que,


apesar do aumento no percentual do grau de confiabilidade, ainda existem dúvidas
quanto às relações interpessoais no movimento e na localidade. Nestes quesitos
encontra-se um alto grau de comparação entre os membros, afirmando-se através
da pesquisa, que cerca da metade dos moradores contribuem relativamente para o
desenvolvimento comum da comunidade e, a cooperação está presente também no
entorno da localidade.

Sobre o fluxo de informação e comunicação observou-se que os meios de


comunicação utilizados, são: rádio, televisão e telefone. O meio que apresentou mais
dificuldades foi o telefone. Contudo, o acesso a informação melhorou significativamente
nos últimos cinco anos. Observa-se que a comunidade é beneficiada com recursos
tecnológicos e, que estes possibilitam a integração com informações locais, nacionais
e mundiais.

Investigou-se também a manifestação de conflito e violência na comunidade e


no grupo, em que foi detectado o aumento gradativo do nível de violência, contribuindo
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para que a localidade perdesse o titulo de lugar tranquilo. Entretanto, por tratar-se de
uma comunidade com relações interpessoais bem próximas (referem-se ao grupo),
ainda existe a sensação de segurança referindo-se aos vínculos sociais. (Gráfico 2).

GRÁFICO 2 - OS ÍNDICES DE VIOLÊNCIA

Fonte: Pesquisa de campo (2012).Disciplina Desenvolvimento Territoriais e Turismo.IFPA/


Campus Belém

A respeito da presença de políticas publicas (Gráfico 3), segundo as


entrevistadas, há falta de interesse por parte do governo e das lideranças locais em
dar atenção e solução às demandas manifestadas pela comunidade, mas demonstram
expectativas positivas quanto a futuras mudanças.

GRÁFICO 3 – SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS LOCAIS

Fonte: Pesquisa de campo (2012). Disciplina Desenvolvimento Territoriais e Turismo. IFPA/


Campus Belém

Na verificação do capital social do MMIB, foi possível compreender que os


elementos mais relevantes para a sua constituição são existentes. No entanto, observou-
se que a confiança ainda não é consensual, podendo isso afetar sumariamente o
desenvolvimento pessoal, grupal e das atividades em andamento e futuras.
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CONSIDERAÇOES

O debate sobre gênero tem sido extenso e intenso nas últimas décadas.
Compreender sua importância é desmistificar visões e descortinar preconceitos.
Assim, este ensaio que objetivou analisar a relação gênero, turismo e a resiliência que
envolve o universo feminino, contribui mesmo que timidamente, com a descoberta e a
afirmação da figura feminina por meio de suas lutas e conquistas.

A pesquisa revela que o MMIB constitui-se como um instrumento de inclusão


do gênero na sociedade, é um movimento insigne em seus objetivos, possibilitando
que mulheres adquiram conhecimentos em geral, e que essencialmente construam
uma vida mais digna e com oportunidade e qualidade. Em outras palavras, é possível
dizer que o MMIB é resiliente e que promove a resiliência em seus associados.

Observou-se que todas as ações do MMIB são fonte de energia e inovação


na vida de seus associados. Assim, o Turismo de Base Comunitária (TBC) ali
delineado, mesmo que ainda incipiente, possui um grande diferencial, a própria
história e constituição do movimento como atrativo principal. Portanto, a resiliência
é desencadeada em cada mulher, nas resistências encontradas por algumas em
ingressar no movimento e; o choque ocorre quando o trabalho no movimento age
como uma terapia na rotina da mãe e da dona de casa; o feedback que mais se
observa-se é um processo integração e dedicação as novas oportunidades. Portanto,
os fatores de resiliência mais diagnosticados aparecem como atributos capazes de
promover aspectos individuais, familiares/sociais e ambientais onde o indivíduo sente-
se recuperado das adversidades cotidianas.

Acreditamos, no entanto, que acima dos conflitos hierárquicos entre os


gêneros, a atividade turística possibilita ressignificar a convivência harmônica a
partir da identidade coletiva, que observa o desenvolvimento individual como fator de
grande importância para o bem estar comum, pelo coletivo, a partir das experiências
compartilhadas na realidade local.

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ANALISE DA PRÁTICA DE PROSTITUIÇÃO NOS ESPAÇOS TURISTICOS EM


ORLA DE ATALAIA – ARACAJU- SE

RESUMO: A busca em conhecer novos destinos turísticos está cada vez mais
evidente. A construção da imagem desses destinos é elemento fundamental para o
desenvolvimento turístico de uma região, sendo a imagem o recurso mais usado para
comercialização de um atrativo, em muitos casos determinantes no processo de compra
e decisão de escolha de um destino. Dentre um dos entraves que pode vir a ameaçar
essa construção desta imagem e sustentabilidade de um destino, está a prostituição.
A prostituição no turismo, como afirma alguns autores, faz parte das externalidades
negativas, que ameaçam a sustentabilidade turística de uma localidade por alimentar
o trafico de mulheres, exploração de menores e tráfico de entorpecentes, denegrindo
assim, a imagem turística do destino. Concomitante ao desenvolvimento do turismo
na região observou-se uma migração da atividade de prostituição do centro da cidade
para o Bairro de Atalaia. Desta forma, o trabalho propôs apresentar o resultado de
uma pesquisa que analisou o impacto que a atividade de prostituição provoca na Orla
de Atalaia, principal cartão postal de Aracaju – SE, localizada no Bairro de Atalaia. A
pesquisa buscou identificar ações de coibição; o cenário e a percepção de turistas,
profissionais do sexo, empresários e comunidade sobre relação prostituição versus
turismo. A metodologia utilizada foi através da análise de conteúdo de Bardin, sendo de
natureza qualiquantitativa, descritiva com aplicação de entrevistas semiestruturadas.
Os resultados apresentados comprovaram que a atividade de prostituição no bairro
não é motivada pelo turismo na região, contrariando o questionamento de que o
desenvolvimento da atividade turística poderia ser o principal fator de deslocamento e
de crescimento da prostituição no Bairro da Atalaia.
PALAVRAS-CHAVE: TURISMO. ESPAÇOS TURISTICOS. PROSTITUIÇÃO.

ABSTRACT: The quest to know new tourist destinations is increasingly evident. The
construction of the image of these destinations is essential element for the development
of tourism in a region, being the image the most used feature for the marketing of
an attraction, in many cases determinants in the purchasing process and decision to
choose a destination. Among the obstacles that could threaten the construction of this
image and sustainability of a destination, is prostitution. The prostitution in tourism,
as some authors say, is part of the negative externalities, which threaten the tourism
sustainability of a site by feeding the human trafficking, the exploitation of children and
the narcotics trade, denigrating the tourist image of the destination. Concomitant with
the development of tourism in the region there was a migration of activity of prostitution
from the center of the city to the District of Atalaia. In this way, the work proposed
present the result of a study that examined the impact that the activity of prostitution
causes on the Atalaia seashore, the main post card of Aracaju – Sergipe, located in
the neighborhood of Atalaia. The study searched to identify actions on halting; the
scenario and the perception of tourists, sex workers, entrepreneurs and community
about the relationship prostitution versus tourism. The methodology used was through
content analysis of Bardin, being of qualitative-descriptive nature, with the application
of semi-structured interviews. The presented results have proven that the activity of
prostitution in the neighborhood is not motivated by tourism in the region, contrary
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to the questioning that the development of tourist activity could be the main factor of
displacement and growth of prostitution in the neighborhood of Atalaia.
KEYWORDS: TOURISM. TURISTIC SITES. PROSTITUTION.

INTRODUÇÃO

A globalização no turismo permite uma diversificação de produtos e serviços


que convidam os turistas a usufruírem de multiplicidade de opções. O processo do
capitalismo mundial gera uma tendência global de serviços, causando alterações na
atividade turística, adequando-se aos novos padrões de competitividade do mundo
globalizado.

O grande “boom” para o turismo foi entre anos 70 e 80, que apontava como a
Indústria do Futuro, e começou a receber investimentos em todos os países do mundo,
sendo sempre citado como uma solução para crises financeiras e um segmento
econômico de grande perspectiva de crescimento. Um reforço à nacionalidade, fez
com que a EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo passasse a lançar várias
campanhas que enalteciam não só as belezas naturais, mas também a “sexualidade
da mulher brasileira”. Nos cartazes de divulgação, folders, filmes publicitários e na
presença em congressos mundiais sobre turismo, a participação da mulata e negra
brasileira era presença certa, formando assim a imagem turística brasileira (AFFONSO,
2006).

Tenório (2008) afirma que, dentre os impactos e externalidades que possam


vir a ameaçar a sustentabilidade turística, está a prostituição. O autor relata ainda
que, embora seja uma atividade antiga e cotidiana, esta prática vem interferindo
consideravelmente na atividade turística, fazendo crescer aqueles que procuram
produtos e serviços motivados pelo sexo, transformando sexo em mercadoria e
fazendo surgir um segmento não reconhecido pelo Ministério do Turismo (MTur), o
“Turismo Sexual” – uma atividade que comercializa e explora o sexo na indústria do
turismo. Uma vez reconhecida como externalidade negativa no turismo, a “prostituição”
praticada no âmbito social e que não esteja associada ao turismo não é crime, exceto
quando a comercialização do sexo facilita a utilização de práticas ilícitas consideradas
crime como: pornografia, estupro, corrupção e exploração de menores, atentado
violento ao pudor, associação a uso e trafico de entorpecentes e tráfico de mulheres.
Ações que podem ameaçar a sustentabilidade turística das comunidades receptoras
além de desgastar e denegrir a imagem local. E como turismo vive de imagens, torna-
se uma atividade vulnerável.

Aracaju, capital do Estado de Sergipe destaca-se como um novo destino


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turístico. Mesmo não consolidado enquanto produto turístico no Nordeste, o que se


tem observado recentemente é um desenvolvimento significativo, com aumento do
fluxo turístico no Estado, assim como um crescimento, nos últimos dois anos, de 26%
do parque hoteleiro (EMSETUR, 2010). Cerca de 90% dos equipamentos e serviços
(hotéis, parques, restaurantes, pousadas, locadoras, dentre outras), concentrados na
orla de Atalaia localizada no Bairro Atalaia da zona sul da capital, o bairro Atalaia. Por
apresentar elevado índice de desenvolvimento, o local escolhido para estudo deste
trabalho foi a Orla de Atalaia.

Concomitante à expansão do bairro e a evolução do turismo no Estado,


observou-se uma considerável migração da atividade de prostituição do centro da
cidade para o bairro de Atalaia, fato que originou o a intenção pela pesquisa, indagando
se o desenvolvimento da atividade turística seria o principal fator de deslocamento e
de crescimento da prostituição no Bairro da Atalaia.

A pesquisa teve como objetivo analisar o território de prostituição nos espaços


turísticos no bairro Atalaia – Aracaju – SE, a fim de completar a visão sobre a temática
estudada, procurou traçar principais características da atividade de prostituição no
Bairro Atalaia; Avaliar se a atividade da prostituição está associada ao fluxo turístico
na região; Mensurar as externalidades negativas em relação valorização dos imóveis
e espaços turísticos decorrente da prostituição local; Levantar a percepção de
turistas, moradores e empresários de estabelecimentos de equipamentos turísticos
da atividade de prostituição na imagem no destino turístico.

RELAÇÃO DO TURISMO E PROSTITUIÇÃO

No Brasil, seu histórico está intimamente ligado a fatos do seu descobrimento,


pois a exploração não era só de suas riquezas naturais, mas também através de
trocas de favores sexuais praticados pelas índias nativas e portugueses e viajantes. A
prostituição segundo Lagenest (1973) é quando a pessoa aluga seu corpo para jogos
sexuais, por dinheiro.

O corpo que antes era tido sagrado confunde-se com a lógica do capital que
transformou o prazer em um bem de consumo, movimentando milhares de pessoas
em busca deste produto. O ato de transformar o corpo como objeto de consumo pode
ser considerado um dos piores atos de degradação do ser humano.

A relação do turismo e a prostituição foram protagonistas no processo de


construção da imagem turística no Brasil, construiu-se, inicialmente, com base na
formação de uma identidade nacional reflexo da imagem que o país gerava no
exterior. A Empresa Brasileira de Turismo – EMBRATUR colaborou e muito para essa
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construção, contudo, mesmo antes de sua criação, na década de 30, a rádio criou
uma das personalidades que durante muito tempo foi símbolo do Brasil no exterior,
Carmem Miranda, onde suas canções foram levadas ao exterior, assim como seus
filmes e roupas, que viriam, mais tarde a colaborar para a imagem de um país sensual.
(BIGNAMI, 2002).

A exploração sexual no turismo teve seus estudos inicialmente lançados em


países como Sri-Lanka, Tailândia, Indonésia e Alemanha que apresentaram casos
alarmantes de tráfico de mulheres e adolescentes, decorrente do turismo na região
(BEM, 2005).

No Brasil, alguns destinos se consolidaram, nas últimas décadas como rotas de


sexo fácil e barato, estando dessa forma à prostituição ligada a esta procura, em que
a figura feminina é principal produto comercializado. Cidades como Brasília, Manaus,
Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo sinalizaram resultados negativos da prática de
prostituição ligada ao turismo em seus estados. Com a saturação desses destinos, e a
perspectivas de novos destinos, a iminência de problemas futuros passa a ser alvo de
estudos e pesquisas que procuram meios de manter a integridade e sustentabilidade
desses novos destinos.

O turismo nacional e internacional exerce influência na organização da


prostituição no momento atual não é possível ocultar o fenômeno da prostituição e
a associação ao turismo, assim como, sua dimensão espacial, sendo esta atividade
um elemento de produção de espaço, na construção da imagem concretizada pelos
clientes/prostitutas e outros agentes modeladores desse espaço (CORIOLANO,
1998, p. 146). Para Bem (2005), as políticas de turismo contribuem na reprodução
do turismo sexual quando vinculam essas imagens. A relação da sensualidade
versus sexualidade da mulher brasileira foi desenvolvida pela própria EMBRATUR,
denegrindo a imagem da mulher brasileira, motivando a prática de um turismo, até
então adormecido, o “sexual”. Determinando, assim, a atividade uma relação de
consumo, onde Oppermann (1999), afirma que as relações entre turistas e visitantes
são apenas uma troca monetária, isto é, serviço sexual por dinheiro.

A rede de tráfico de mulheres fica a cada dia mais sofisticada e a falta de ação
das autoridades corrobora para desenvolvimento. Os negociadores colocam anúncios
em jornais, montam empresas de representação ou agências de modelos, buscando
chamar a atenção de mulheres e adolescentes ambiciosas, propõem empregos no
exterior, com altos salários. Formam pacotes sedutores, em que a “única” coisa que
essas mulheres têm que dar em troca, é a sensualidade. Contudo muitas são enganadas
e vão parar em outros países onde serão obrigadas a se prostituir, vivendo sempre
sobre ameaça, tem seus passaportes confiscados, ficando a mercê da violência em
um país em que sequer conhecem a língua. Outras sabem e vão para poder conseguir
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dinheiro para melhorar suas vidas e de seus familiares.

Feijó (2002) afirma que com essa premissa o perfil que se tem hoje é que
prostituição virou business e acabou o romantismo. A prostituição hoje representa as
características que conhecemos como resultante de um desenvolvimento urbano e
social. A atividade de prostituição hoje está organizada, por isso está bem estruturada
e foge do monitoramento das ações preventivas no turismo.

Vale ressaltar que viajar para conhecer pessoas e até ter relações sexuais
nessas viagens não é crime. Só passa a ser crime quando este se transforma em um
mercado exploratório de seres humanos que ficam expostos para consumo sexual
por turistas. O Ministério do Turismo define essas viagens com motivações sexuais
para a prática de exploração sexual no turismo, uma deformidade do turismo, uma
demanda que não gera divisas nem desenvolvimento. Uma vez que, a finalidade do
turismo é gerar economia e divisas para o país, promovendo, assim, a melhoria da
qualidade de vida da comunidade local. Segundo Mendonça (apud Bartholo, 2009),
em várias cidades da região Nordeste, principalmente no litoral, o turismo surge como
alternativa para desenvolvimento local.

Embora não consolidado enquanto destino turístico, o turismo em Aracaju,


sua capital, cresce a cada ano e as ações desenvolvidas no campo de promoção e
divulgação tem feito Sergipe despertar os interesses de investidores. O aumento de
investimentos no parque hoteleiro, construção de pontes (ligando a capital ao litoral
e demais localidades), reforma de rodovias, ações de marketing, capacitação de
mão de obra, sensibilização e monitoramento da atividade, são algumas das ações
desenvolvidas na capital tende a transformá-la em um dos novos destinos com grande
potencial de desenvolvimento local. Com uma área de 181,8 km², está situada no
leste sergipano (Araújo, 2006). Segundo Vilar (2006), a capital é fruto de um projeto
político e planejado, que criou condições básicas para seu desenvolvimento urbano,
inicialmente consolidada no centro da cidade.

A capital passou por um considerável crescimento urbano nos últimos 15 anos.


Segundo Campos (apud Vilar 2006), a fase de maior crescimento populacional e de
grandes modificações na estrutura urbana ocorreu na segunda metade do século
XX, influenciado pela exploração do petróleo em 1964 e outros recursos minerais;
ampliando a demanda por moradia na cidade. Esse processo possibilitou uma
migração do centro para outros bairros na cidade e devido a esse crescimento, a
cidade começou a apresentar potencial para se tornar destino turístico.

Um dos bairros mais movimentados da cidade é o Bairro de Atalaia, que


concentra grande parte dos equipamentos turísticos da cidade (restaurantes e bares,
locadoras de veículos, hotéis e pousadas, quadras de esporte e lazer, agências de
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receptivo, dentre outros). A hotelaria, desde em 2010, teve um crescimento de 28,4%


do parque hoteleiro, considerando somente hotéis, excluindo as pousadas, totalizando
assim cerca de quase 70% do parque hoteleiro da cidade, com uma capacidade para
até seis mil quatrocentos e setenta e oito leitos, comparados a cinco mil cento e vinte
seis em 2008 (EMSETUR, 2010).

O Bairro de Atalaia foi a primeira zona de expansão da cidade de Aracaju, tido


como área de veraneio pela população, consolidando-se como um bairro de zona sul,
concentrando os melhores restaurantes, bares, hotéis e áreas de lazer da cidade. O
ápice da evolução no bairro foi a construção da Orla de Atalaia, no início da década
de 1990, começaram a surgir as primeiras intervenções urbanas no bairro associadas
à consolidação do litoral como lugar turístico e de lazer. O antigo calçadão da orla,
como demonstraram as figuras acima era caracterizado somente pelos quiosques
e barracas comerciais informais e já eram considerados os principais atrativos
de lazer da cidade. A construção da nova orla gerou uma outra imagem ao bairro
(CANSANSÃO et al, 2005). Para as autoras, a duplicação da avenida principal,
ampliação dos calçadões, ocupação de equipamentos na vasta faixa de areia, assim
como construção de hotéis, restaurantes, praça de eventos e quadras de esporte, e
um grande centro de Artesanato; Transformaram a orla no maior centro de atrativos
turísticos da capital. O turismo na Orla de Atalaia sofreu uma evolução evidente com
a construção do projeto orla, segundo Cansansão et al (2005) a orla representa um
novo momento de apropriação de espaço urbano de Aracaju. A retomada política
do turismo estabelecida nos anos 90 contribuiu para evolução da construção de
equipamentos turísticos em toda extensão da Orla de Atalaia. Na segunda implantação
da PRODETUR/NE, apontou uma (re) qualificação dos espaços turísticos existentes e
constituição de outros espaços potenciais em Sergipe.

Contudo várias foram às mudanças ambientais e espaciais sofridas com a


construção da orla de Atalaia, além de mudanças estruturais e funcionais, existem outras
demarcações que alteram sua paisagem, fruto da astúcia de sujeitos não previstos no
consumo dos espaços limpos deste projeto de construção, vendedores ambulantes,
barracas irregulares, flanelinhas, e as profissionais do sexo, que passaram a desenhar
a rota a partir dos núcleos que coincidem com as esquinas dos principais hotéis da orla
de Atalaia. Segundo Cansansão et al (2005) o projeto da orla de Atalaia foi idealizado
para promover um reordenamento na paisagem principalmente sugerindo um espaço
limpo, livre das insalubridades cotidianas da população.

ANALISE DA PRÁTICA DE PROSTITUIÇÃO NOS ESPAÇOS TURISTICOS NA


ORLA DE ATALAIA – ARACAJU - SE

A orla de Atalaia já enfrenta entraves pela crescente migração da atividade


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de prostituição para a região, causando conflitos territoriais entre comunidade e


as profissionais do sexo. Para Cansansão et al (2005), a prostituição no bairro
descaracteriza a imagem da orla de Atalaia, embora estas profissionais fiquem situadas
ao lado contrário do calçadão, resguardam suas identidades, além de constituir
localização estratégica para captar clientes hospedados nos hotéis próximos.

Dentre os problemas que o bairro enfrenta com o aumento da prostituição


estão: aumento do uso de drogas, atentado ao pudor, barulhos e a permanencia
de menores da orla. As proprias profissionais do sexo que são maiores de idade se
sentem prejudicadas com a presença de menores no local.

Buscando levantar as informações sobre diferentes percepções em relação


aos impactos negativos nos espaços turísticos, este trabalho estrutura-se na pesquisa
exploratória documental e nas referências bibliográficas, buscando a construção de
informações necessárias a analise neste estudo, seguido de um trabalho descritivo, de
caráter qualitativo e quantitativo. Qualitativamente, trabalhou-se com fontes diretas,
in loco nas pesquisas de campo, buscando traduzir e interpretar os fenômenos do
mundo social através do estudo de caso. E na abordagem quantitativa, apresentando
dados coletados através de entrevistas e questionários semiestruturados, com
amostra não probabilística através da abordagem superficial e uma análise estatística
da situação encontrada. O tratamento dos dados obtidos deu-se através do diário de
campo e entrevistas foi transcrito e submetido à análise de conteúdo, segundo Bardin
(1977). Este procedimento permitiu ao pesquisador o emprego de técnicas e normas
formais de análise, que atribuem confiabilidade e validez ao conteúdo de material
verbal, seja ele escrito ou oral, sendo possível identificar determinadas características
deste material como, por exemplo, opiniões, valorações, percepções, agrupados
em categorias adaptadas do modelo de imagem benéfica de Tapachai e Waryszak¹
(2000), o que permitiu categorizar os dados obtidos, tabulação e analise estatística
nos programas de Excel e SPSS e chegar aos resultados apresentados.

A pesquisa foi constituída a partir de quatro roteiros de entrevistas de


caráter semiestruturados, direcionados aos 30 empresários do ramo de turismo de
equipamentos turísticos (pousadas e hotéis, bares e restaurantes), 40 os turistas,
30 moradores da comunidade local (moradores), 20 profissionais do sexo. No caso
dos empresários que compõe o trade, foram importantes para análise por serem
responsáveis pela oferta de serviços turísticos; os moradores representantes do
bairro de atalaia, por serem os atores que vivenciam diretamente com a problemática
em questão, sendo determinantes na composição da imagem turística do local de
pesquisa, os turistas como atores principais, força propulsora da atividade turística
e as profissionais do sexo, representando uma das externalidades negativas da
atividade do turismo.
¹ Tapachai e Waryszak (2000): As cinco categorias de análise escolhidas foram adaptadas. São elas:
analise funcional e espacial dos atributos físicos, espaciais e funcionais, analise social, análise emocional,
análise epistêmica e análise condicional.
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O primeiro roteiro de entrevistas foi com empresários do setor turístico. Estes


poucos se posicionam quando o assunto é prostituição, ou não querem responder
visto que a problemática hoje ainda é vista como tabu para tais estabelecimentos e
gera divergentes opiniões acerca dos impactos, sejam negativos ou positivos a estes
empreendimentos gerados pela atividade de prostituição no bairro.

1. SOBRE A PROSTITUÇÃO NO BAIRRO

CATEGORIA EMOCIONAL RESPOSTAS FREQUÊNCIA


Vergonhoso/Tem que tirar do bairro/Assusta 12 40%
aos turistas/Terrível/ Aumentou/ Muitas
adolescentes a luz do dia/ Cresce dentro do
ramo turístico/ Atrapalha a imagem
Não vejo problemas/ Não atrapalha meu 07 23%
estabelecimento/ No meu trecho não tem/Não
tem crescido/ Não existe
Não respondeu/ Não quis responder 06 20%
Gera conflitos com moradores 03 10%
Falta de ações do poder público/ Ilegal 02 07%
Fonte: Dados coletados pela autora

Os gestores entrevistados foram questionados se participam de algum programa


de enfrentamento, ou programa que auxilia no combate da comercialização do sexo
no turismo, 61 % afirmaram que não participam por não conhecer os programas
existentes ou até por considerar desnecessário já que a prática não afeta seu
estabelecimento, 25% afirmaram que participam de vez em quando, através de uma
palestra, reunião de associação de bairro, ou quando convidados a algum evento que
esteja relacionado à temática e 14% participam de programas como: sentinela, rede
de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes, campanhas e cursos.

2. DE QUE FORMA A PROSTITUIÇÃO PODE ATRAPALHAR OU NÃO SEU


ESTABELECIMENTO?

CATEGORIA EPISTÊMICA RESPOSTAS FREQUÊNCIA


Desgasta a imagem do lugar 07 23%
Proximidade com estabelecimento/ abordagem 07 23%
a clientes na porta de hotéis
Afastar clientes/ Constrangimento entre os 06 20%
clientes/ Gerar roubos/ Não sabem se comportar
Não atrapalha/ É cliente como outro qualquer/ 05 17%
Não vejo relação com a atividade turística
Não respondeu/ Não quis responder 04 14%
Hospedes que tentam se hospedar com 1 03%
respeitar as normas do hotel
Fonte: Dados coletados pela autora
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O que se pode notar que embora grande parte dos entrevistados considerarem
desnecessária a participação em programas de enfrentamento, não pode negar que
problemas existem e podem ser tornar cada vez mais evidentes e alarmantes. A
existência da prostituição no bairro, pelos dados coletados, afeta mais aos moradores
do que turistas e donos de estabelecimentos. Quando abordados sobre ações que
poderiam conter ou coibir a prática no local, os entrevistados alegaram que poderiam
ser realizadas ações do tipo:

3. COMO COIBIR A PRÁTICA OU AUMENTO DA PROSTÍTUIÇÃO NO BAIRRO?

CATEGORIA CONDICIONAL RESPOSTAS FREQUÊNCIA


Com mais segurança/ fiscalização/ Proibir de 11 36%
ficar na orla/Policiamento/Transferir para outro
lugar
Gerando mais empregos/ Cobrar ações do 05 20%
governo/ ter mais programas sociais para o
combate
Exigir documentação no estabelecimento/ 06 20%
Não permitir menores no estabelecimento/
Não aceitar books com mulheres
Não respondeu/ Não quis responder 06 20%
Nada/ Não tem jeito/ Não adianta que o 02 07%
problema é antigo
Fonte: Dados coletados pela autora

Coriolano (2001) destaca que para ocorrer o desenvolvimento, tanto para a


comunidade local como para o turismo é necessários políticas e ações implementadas
em atividades planejadas, no sentido de valorização do lugar e das pessoas. A falta
de planejamento e ações de coibição das atividades de exploração sexual no turismo
em cidades com tendências à pratica da atividade faz crescer a demanda por serviços
exploratórios sexuais. Assim ocorre com os novos destinos turísticos.

A cidade é escolhida pela sua tranquilidade, com bons serviços e boa


acessibilidade. Contudo, conhecem pouco da região e lamenta que a cidade seja
pouco divulgada para o turismo, com poucas informações, inclusive por parte da
própria população que não conhece bem os atrativos turísticos da cidade, isso dificulta
a comunicação entre comunidade e visitantes.

Em um segundo roteiro, os turistas entrevistados afirmaram que a orla é muito


bem estruturada, embora a falta segurança ainda seja fator de risco, os entrevistados
relataram a ausência de policiais na extensão da orla, exceto no ponto que esta
localizada a delegacia de turismo, na terceira etapa da orla. Um dos entrevistados
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mencionou em sua fala “Aqui é mais tranquilo, mesmo sem um policiamento mais
frequente, podemos sair a qualquer hora e voltar para o hotel tranquilo, nunca vi roubo,
em recife tem muito roubo e prostitutas na orla, a visão é muito constrangedora.” Mesmo
com esta fala, a presença da prostituição já é notada pelos turistas, no resultado de
22% dos entrevistados, mas não é tão agressiva como em outras capitais.

Muitos dos entrevistados preferem viajar pelo Nordeste, devido ao clima e ao


povo alegre, buscando sempre a tranquilidade e boas opções de lazer e entretenimento.
Contudo, quando abordados sobre a palavra de prostituição o estigma da palavra
ainda entoa de forma repressiva, como se a palavra pudesse influenciar na escolha
de um possível destino.

4. A ATIVIDADE DE PROSTITUIÇÃO ATRAPALHARIA DE QUE FORMA NA SUA


OPÇÃO EM UM DESTINO TURÍSTICO?

CATEGORIA EPISTÊMICA RESPOSTAS FREQUÊNCIA


Na segurança/ deixa o clima tenso/ atrapalha 11 29%
só quando tem drogas envolvidas/
Não me sentiria a vontade/ Constrangimento/ 10 25%
Não gostaria de ser confundida com elas/ Torna
o ambiente vulgarizado
Se fosse com família atrapalharia/ por causa da 09 22%
família
Não voltaria ao lugar/ escolheria outro lugar 04 10%
para passear
Não me atrapalha em nada/ acho uma opção 03 07%
de lazer
Não voltaria ao lugar/ escolheria outro lugar 04 10%
para passear
Fonte: Dados coletados pela autora

O Bairro de Atalaia por estar localizado na zona sul da cidade, é o bairro mais
procurado para uma moradia tranquila, associada ao contato com a natureza e o
status de morar em uma área nobre. Após a reforma da orla de atalaia, a especulação
imobiliária passou a atuar no bairro de forma mais expressiva com surgimento
de grandes condomínios, e empreendimentos turísticos atraindo cada vez mais
interessados pelo desenvolvimento do bairro.

Os moradores, entrevistados em um terceiro roteiro, apontou os pontos


negativos da prostituição no bairro, estando associado a fatores que possam vir a
fatores que possam retirar a tranquilidade do bairro, característica marcante apontado
nas falas dos moradores. Os moradores quando abordados sobre o problema da
prostituição, reconhecem que a prática cresceu muito no bairro, sendo um dos fatores
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de preocupação, não pela atividade em si, mas, pelo que vêm agregados a ela, como
roubos, barulhos, atentado ao pudor, drogas e outros. Mesmo com o crescimento
desta pratica no bairro, a percepção dos pelos moradores é que ainda não é fator de
mudança de bairro. Os períodos mais problemáticos de convívio com a prostituição
foram mais frequentes nas falas da tabela a seguir:

5. MOMENTOS DE DIFÍCIL CONVÍVIO COM A PROSTITUIÇÃO NO BAIRRO

CATEGORIA EMOCIONAL RESPOSTAS FREQUÊNCIA


Não moro perto delas/ Não me incomoda hora 13 44%
alguma/ nenhum momento
Mais pela tarde/ À tarde na volta da escola 07 23%
da minha filha, que pergunta o que elas estão
fazendo ali/
À noite/ à noite quando entro em casa/ na hora 06 20%
de chegar em casa à noite/Quando volto da
faculdade à noite
Qualquer hora/ Me incomoda em todos os 03 10%
momentos do dia/ Quando saio a pé, à tarde
ou à noite, é impossível caminhar em algumas
ruas.
Pelo dia quando saio para o trabalho/ 01 03%
Não respondeu 00 00%
Fonte: Dados coletados pela autora

Dentre as ações de coibição à prostituição no bairro 30% dos entrevistados


acreditam que quem poderia realizar ações mais efetivas é o poder público, oferecendo
opções de trabalho e estudos. O assunto já foi alvo de discussões em reunião de
moradores com o poder público, mas que nada foi resolvido em relação a isso. Os
moradores convivem com a prostituição em alerta, tentando utilizar algumas ações
de coibição conversando com elas para que as mesmas não fiquem em suas portas.
Por se tratar de um bairro turístico na visão dos moradores, o aumento da atividade
no bairro é devido o aumento do fluxo turístico na região e entendem que o problema
não vai deixar de existir por ser uma atividade antiga e social, mas esperam soluções
do poder público para frear o crescimento.

O quarto e ultimo roteiro foi com as profissionais do sexo, onde buscou traçar
seu perfil, o que apresentou aspectos diferentes, hoje há mais garotas e travestis. As
mais antigas na profissão exercem a função por opção e prazer. Já as novatas são
representadas por um grupo que não teve opções de trabalho. Isso demonstrou a
existência de vários grupos. Não há uma união de classes. Hoje ninguém se envolve
com ninguém e não tem fixação de ponto. Cada um trabalha para si mesmo. “Prostituta
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tem o que quer, e hoje pode guardar mais dinheiro*”, o que significa dizer que hoje elas
conhecem mais seus direitos, e as que estão na orla estão para ganhar dinheiro, e
não porque são desfavorecidas. Quanto ao horário para o trabalho é melhor pela tarde
e noite, pois 65% trabalham pela tarde, e preferem este horário pela tranquilidade,
“porque a família não vê, nem os amigos”, e desta forma fazem o próprio horário. As
entrevistadas alegam que trabalhar à noite é perigoso, tem muitas noias², e há muita
bagunça, drogas e malandragem. Das 35% que trabalham pela noite, falam que o
horário é mais movimentado, porque é horário que há mais “turistas e empresários”,
na fala de uma delas.

A média de programas diários é relativa, como fazem o próprio horário, elas


que estipulam quantos programas vão fazer por dia, pode ser de 03 até 07 programas
ao dia, as que trabalham pela tarde gostam de ir mais cedo para casa para “assistir a
novela”, como na fala de uma delas, por isso limitam os programas até 04 por dia. As
profissionais mais antigas no bairro relatam que sempre conseguiram trabalhar sem
ter atritos com moradores, o que hoje não ocorre devido à presença das “nóias”, nome
dado as profissionais de um grupo mais marginalizado, juntamente com o tráfico de
drogas, assim como aumento de menores na região. Tal fator atrapalha seu trabalho
no bairro, pois com a presença deste outro grupo de prostituição que os moradores
acionam o poder público, exigindo que as profissionais do sexo sejam retiradas do
bairro, prejudicando assim seu emprego.

Na analise feita elas preferem o bairro por ser distante de casa, porque os
familiares e amigos não têm acesso e com isso facilita a privacidade que elas querem
para trabalhar. A tranquilidade do bairro também foi um dos pontos em destacados.
Quando abordadas porque não o centro da cidade, elas afirmaram que os clientes
do centro não pagam bem, e é bem mais perigoso, fora que lá elas têm que dar
porcentagem a terceiros (donos de pousadas, cafetões, traficantes, e outros). A tabela
abaixo relata as falas do motivo de escolha pelo bairro:

6. MOTIVOS PELA ESCOLHA DO BAIRRO

CATEGORIA FUNCIONAL RESPOSTAS FREQUÊNCIA


Distancia de casa/ A família não vê/ Privacidade 07 35%
Tem mais empresário/ Turistas/Pessoas com 05 25%
mais dinheiro/Mais movimento/ Tem baladas/
Mais dinheiro
Pela tranquilidade/ Não tem violência/ É limpo/ 03 15%
Porque aqui não precisa beber
Falta de opção/Mora perto 03 15%
Porque é litoral/ Tem praia/Junta lazer e trabalho 02 10%
Não respondeu/ Não quis responder 00 00%
Fonte: Dados coletados pela autora
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45% das profissionais do sexo do bairro iniciaram suas atividades na orla


de atalaia por indicação de outras profissionais, mas ainda há 55% que vieram de
outros pontos migrando para orla a procura de mais privacidade e lucratividade para
trabalhar. As que relataram trabalhar antes no centro da cidade, feiras ou interior são
as que afirmaram que trabalham na orla, e no bairro pela tranquilidade do local, por ser
afastado das pessoas conhecidas e porque na orla tem como ganhar mais dinheiro.

7. ESTRATÉGIAS DE ESCOLHA DO PONTO (LOCALIZAÇÃO) NO BAIRRO

CATEGORIA FUNCIONAL RESPOSTAS FREQUÊNCIA


Combina com outras prostitutas/ De acordo 08 40%
com os moradores/ Pelo ponto afastado das
nóias/Fez amizades
Aleatório/ Não tem ponto fixo/ O ponto é de 05 25%
quem chega mais cedo
Pela tranquilidade/ Discrição 03 15%
Perto de bares, pousadas e hotéis. 02 10%
Jogando charme/ pagando aluguel 02 10%
Não respondeu/ Não quis responder 00 00%
Fonte: Dados coletados pela autora

Há um medo de a comunidade retirar as profissionais do bairro, por esta razão


60% das profissionais do sexo tentam manter a harmonia com a comunidade. Já as
chamadas nóias, não se importam com o que os moradores pensam, “a rua é pública e
trabalho onde quero, ninguém me dá nada, eles que mudem de lugar”, esta fala retrata
um atrito em relação aos moradores e a permanência delas no bairro, o perfil dessas
profissionais já é mais agressivo e incomoda inclusive suas colegas de profissão. A
proximidade com pousadas e hotéis, é apenas logística, sem intenção propriamente
turística, embora utilizem os serviços dos meios de hospedagem quando necessário.
Os locais mais utilizados para programas são: Hotéis e pousadas, bares, casas e
boates e estacionamentos.

O que foi constatado em pesquisa é que a atividade turística não é a principal


fonte de renda, nem são os turistas seu público alvo, uma vez que elas dizem que
“eles, os turistas, aparecem de vez em quando, então não faz diferença.”, mas que
elas gostam quando os turistas a convidam para viajar, pois ganham mais. Uma das
falas chamou a atenção: “Mais só vou se eu tiver segurança, se tiver saído com o
cliente outras vezes, senão ele me vende para outro lugar, já aconteceu com uma
amiga minha ela nunca mais conseguiu voltar.”. Através desta fala, elas embora não
sobrevivam da atividade turística já conhecem bem as consequências do que um
“turismo sexual” poderia gerar em suas vidas, mesmo sem saber que existe esse tipo
de “turismo” em algumas regiões.
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8. O TURISMO ATRAPALHA OU FAVORECE SUA ATIVIDADE?

CATEGORIA CONDICIONAL RESPOSTAS FREQUÊNCIA


Não atrapalha/ nem favorece/Não depende dele 11 55%
É muito bom/ trás mais clientes/ pagam melhor/ 05 25%
Dá para viajar ganhando mais e divertindo
Atrapalha/ Não dá clientes/ Não trás programas/ 04 20%
Não paga bem/ só vem uma vez ou outra/ o
hotel não aceita
Não respondeu/ Não quis responder 00 00%
Fonte: Dados coletados pela autora

Para as profissionais do sexo seu publico alvo são moradores e empresários


locais. Para elas, se aparecer um turista, bom. Mas se não aparecer, não interfere na
renda mensal adquirida. Algumas das entrevistas ainda relataram que os turistas não
gostam de pagar pelo preço ofertado, dificultando a conversação.

9. PONTOS NEGATIVOS DA ATIVIDADE NO BAIRRO ATALAIA

CATEGORIA EPISTÊMICA RESPOSTAS FREQUÊNCIA


Violência/ Drogas/Doenças da profissão/ 09 45%
aprender a roubar
Bagunça/ As Nóias*/Reclamação dos 07 35%
moradores
Não tem pontos negativos 03 15%
Transporte público/Ser distante 01 05%
Não respondeu/ Não quis responder 00 00%
Fonte: Dados coletados pela autora

A prostituição no bairro atalaia é uma atividade em crescimento, mas que,


concomitante ao crescimento urbano espacial do bairro, as mudanças e consequências
são naturais da evolução do bairro. Embora os dados indiquem que o motivo de
migração do bairro não seja intencionalmente pela atividade turística, e sim pela
busca pela privacidade e lucratividade, há variáveis de que as profissionais do sexo
identifiquem que a atividade turística pode ser lucrativa para atividade de prostituição.
Isso não descarta que a atividade turística não influencie o aumento da prostituição
no bairro, mas dentro das questões que nortearam a pesquisa, podemos dizer que o
turismo não é o agente motivador para a atividade, talvez pelo fato de que a atividade
esteja em fase de consolidação no Estado.
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10. MOTIVOS DE PERMANENCIA NO BAIRRO.

CATEGORIA CONDICIONAL RESPOSTAS FREQUÊNCA


Negócios/ Dinheiro/Ótimo quando paga bem 07 35%
Lazer/Compras/ Fazer amigos 05 25%
Viajar/Viajar com clientes 05 25%
Não faz diferença/ Nada/ Não sei o que é 02 10%
Não respondeu/ Não quis responder 01 05%
Fonte: Dados coletados pela autora

As conclusões serviram para que se observasse como a atividade de prostituição


está inserida no cenário da imagem da orla de atalaia, assim como os atores envolvidos
se relacionam e convivem e que não há interferências de um grupo nas atividades ou
rotinas de outro grupo. Embora observado que o turismo de Sergipe não está na rota
da exploração sexual turística, mapas da rodoviária federal já apontam o estado como
ponto de passagem, o que significa dizer que não se pode desprezar a ocorrência de
problemas futuros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade turística vive em constante conquista por novos espaços incorporando


novas atrações à sua oferta habitual e maciça, para dar respostas às novas tendências
da demanda mundial proporcionando, vários benefícios na qualidade de vida e geração
de empregos e renda, além de valorizar os espaços naturais e construídos.

Maldonado (apud Bartholo et al. 2009) afirma que é preciso fortalecer a base
dos espaços apropriados pelo turismo. A busca por novos destinos vem se tornando
uma prática cada vez mais frequente.

Seguindo essa perspectiva, pode-se entender que o turismo mexe com


o imaginário, está relacionado com a maneira como os “outros” são imaginados
(PISCITELLI, 2002). Para Cruz (2003), a imagem adquirida ao projetar o destino pode
estar associada à busca do exótico, daquilo, que de alguma forma, se diferencia do
cotidiano do turista. De forma a estimular o uso do destino é que se faz a análise de
como cada um de nós vive em uma porção bastante restrita no espaço geográfico,
se comparado à totalidade do planeta. Pode-se concluir então que a maior parte
do planeta será sempre exótica para os indivíduos, ou no ponto de vista de suas
características naturais, ou socioeconômicas e culturais.

Novos destinos como Aracaju, mesmo não consolidado enquanto produto


turístico, já apresenta potencialidade turística. E como qualquer novo destino,
não está livre de impactos negativos que possam afetar seu desenvolvimento. As
“externalidades negativas” devem ser combatidas, conforme o código de ética mundial
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para o turismo, desenvolvido pela OMT, em que o turismo deve ser utilizado como
instrumento de desenvolvimento pessoal e coletivo de toda a sociedade, gerando
além de divisas, qualidade de vida. Dentre essas externalidades negativas, como já
abordados nesta pesquisa está a exploração sexual no turismo, vulgarizado como
“turismo sexual”.

Nas condições socioeconômicas, espaciais e ambientais, observou-se que de


forma geral a cidade não apresenta indicadores alarmantes, que podem favorecer a uma
possível pratica para o chamado “turismo sexual”. No entanto a não comprovação do
problema de pesquisa, não significa dizer que o problema não existe. Há necessidade
de um monitoramento e sequência desses estudos, já que a temática é tão vulnerável
e instável quanto à atividade turística. Ambas trabalham em função do crescimento
ambiental, espacial, social e econômica que suas atividades exigem e do constante
processo de (des)construção da imagem no bairro atalaia.

Vale ressaltar que outros fatores, como instabilidade financeira, problemas


de abuso sexual, violência contra a mulher, legalização da profissão, dentre outros
observados e detectados nesta pesquisa, não puderam ser aprofundados por não se
tratar do foco do trabalho, nem fazer parte dos nossos objetivos, contudo poderá ser
dada continuidade a trabalhos futuros para que se consiga inclusive avaliar e levantar
indicadores da sustentabilidade do destino turístico de Aracaju, SE. Mapeamento de
todos os pontos de prostituição, levantamento de adesão pelos empresários do código
de conduta ética no turismo, quantidades de prostitutas no bairro, são alguns dos
tópicos que possam fazer parte de futuras pesquisas que avaliem a sustentabilidade
dos atrativos naturais e artificiais do Bairro Atalaia.

Algumas capitais do Brasil, citadas neste trabalho, possuem seu destino


desgastado pela intensa prática de exploração do sexo no turismo na região. Já em
Sergipe a grande vantagem, é que todo o trabalho realizado é preventivo, de combate
à exploração da prostituição no turismo, constatados nesta pesquisa.

A pesquisa possibilitou uma percepção de que a atividade turística pode trazer


lucros ao ramo da prostituição, contudo dentro dos objetivos do trabalho que era
analisar se a prostituição ameaçava a sustentabilidade do turismo no Bairro, sendo a
responsável pela migração das profissionais do centro da cidade e outros pontos para
a Orla de Atalaia, não foi confirmada. Desta forma, as profissionais do sexo relataram
que o local escolhido é pela tranquilidade de trabalho, movimentação de empresários,
pela lucratividade e não pela a atividade turística em si, enquanto fenômeno que evoca
os aspectos mais peculiares de cada lugar, através do caráter mais autêntico de sua
gente e seu cotidiano mais original, sendo objeto social cujo conteúdo pode servir de
base para o planejamento de sua atividade.
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SÃO LUÍS E SEUS LUGARES MEMÓRIA PELO OLHAR DOS MORADORES DA


TERCEIRA IDADE DO CENTRO HISTÓRICO.

RESUMO: O presente trabalho visa discorrer sobre a importância dos lugares de


memória para o turismo cultural. São feitas considerações sobre lugar de memória
turismo cultural. Apresenta conceitos sobre lugares memória e noções de patrimônio
cultural para enfatizar a importância da valorização e conservação desses espaços
para a localidade. Este artigo objetiva a apresentação dos lugares memória do centro
histórico da capital São Luís através da análise do projeto Tour Pedagógico, pesquisa
de viés quantitativo e qualitativo realizada em três etapas (pesquisa bibliográfica,
entrevistas e revisão de material) com o objetivo de através de entrevistas realizadas
com moradores idosos, identificar quais seriam os seus lugares de memoria e assim
divulgá-los para fins de Turismo Cultural e fortalecimento de identidades locais. O que
acontecerá em etapa não concluída. Através dos resultados da pesquisa foi possível
identificar que os lugares considerados sacralizados pelo poder público eventualmente
coincidem pelos eleitos pelos pesquisados, mas que tantos outros estão fora desses
circuitos tradicionais, mas também devem ser divulgados como forma de fortalecimento
cultural.

Palavras-chave: Lugares memória. Centro histórico. Patrimônio cultural. Identidade.


Turismo.

ABSTRACT: This paper aims to discuss the importance of memory places for cultural
tourism . Considerations for cultural tourism site of memory are made . Presents
concepts about places memory and notions of cultural heritage to emphasize the
importance of valuing and preserving these spaces to the location . This article aims
at presenting the memory locations of the historic center of the capital São Luís by
analyzing the project Educational Tour , quantitative and qualitative research bias
performed in three steps ( literature research , interviews and review of material) with
the aim of through interviews conducted with elderly residents , which would identify
their places of memory and thus disclose it for the purposes of cultural tourism and
strengthening of local identities . What happens on stage not completed. Through the
survey results , we found that the places considered sacralized by the government
elected by the match eventually searched , but so many others are outside these
traditional circuits , but also must be disclosed as a form of cultural strengthening .

KEYWORDS: Places memory. Historical Center. Cultural Heritage. Identity. Tourism.

INTRODUÇÃO

A capital do Estado do Maranhão São Luís, ao longo do seu desenvolvimento


econômico passou por apogeus e declínios medidos por revoltas e guerras que
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proporcionaram sua modernização perante a época. Seu planejamento urbano


contribuiu para a expansão do espaço central a partir de eventos históricos que
influenciaram no seu desenvolvimento social-econômico. Assim como todo patrimônio
é formado a partir do valor simbólico que lhe é atribuído, e que todo lugar memória de
um patrimônio representa a singularidade deste sobre diversas perspectivas, aquele
espaço passou a adquirir também um reconhecimento cultural.

Tal Centro Histórico compreende uma área com 220 hectares, composto por
aproximadamente 3.000 imóveis e incontáveis bens imateriais que representam
a cultura da localidade e um forte atrativo turístico no estado. Tendo em vista esta
potencialidade, o Turismo Cultural trabalha na perspectiva de conservar e entrelaçar
conceitos sobre patrimônio e identidade, e o Turismo Pedagógico, como ferramenta
deste trabalho, proporciona instrumentos de pesquisa e extensão a fim de desenvolver
tais atividades

Segundo Moletta (1998, 9-10):


Turismo cultural é o acesso a esse patrimônio cultural, ou seja, à história,
cultura e ao modo de viver de uma comunidade. Sendo assim, o turismo
cultural não busca somente lazer, repouso e boa vida. Caracteriza-se,
também, pela motivação do turista em conhecer regiões onde o seu alicerce
está baseado na história de um determinado povo, nas suas tradições e nas
suas manifestações culturais, históricas e religiosas.

O Turismo Pedagógico encaixasse-se no segmento de Turismo Cultural. E


segundo Gomes, Mota e Perinotto (2012) pode ser visto como:
Um instrumento a mais no processo de ensino e aprendizagem, de forma
a torná-lo mais amplo e dinâmico, e também por sua contribuição para o
processo de sensibilização de uma população residente sobre a importância
da preservação do seu patrimônio local, e consequentemente para a
construção de uma postura consciente e ativa no desenvolvimento de sua
cidadania, visto a representatividade do patrimônio no fortalecimento de sua
cultura e de sua própria identidade.

É preciso destacar, que o espaço necessita de maior valorização e cuidado


e uma forma de despertar o interesse dos setores é gerando interação entre ambas
as partes. Nessa perspectiva o Projeto de Extensão Tour Pedagógico, visa atuar
colaborando para a ampliação dos conhecimentos sobre o patrimônio cultural de São
Luís através da vivência de roteiros temáticos e oficinas pedagógicas. O projeto é
realizado nas áreas de entorno do Centro Histórico e proporciona as atividades que
embasaram o desenvolvimento deste artigo.

O sentimento de pertencimento é o que move a conservação da memória


urbana. Este artigo, para tanto, trabalha com a perspectiva daqueles que contribuíram
direta ou indiretamente para a conservação do Centro Histórico da cidade: os
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moradores da terceira idade da região. A primeira seção apresenta o Tour Pedagógico


que proporciona o contato com essas pessoas e a segunda seção, os resultados
desse encontro, apresentando os lugares memória mais cogitados e as atividades
que podem ser formatadas a partir deles.

TOUR PEDAGÓGICO NOS LUGARES MEMÓRIA: O ENCONTRO.

O Tour Pedagógico nos Lugares Memória, projeto de extensão do Espaço


Integrado do Turismo, núcleo de pesquisa e extensão da Universidade Federal do
Maranhão, tem por finalidade identificar a importância dos lugares memória para o
desenvolvimento do Turismo Cultural de São Luís baseando-se no olhar da comunidade
de terceira idade da região. Para Raykil e Raykil (2005) essa modalidade de turismo
“tem sido apontado como uma prática inovadora, um instrumento frequente em várias
instituições de ensino”.

A inserção da sociedade no projeto em questão se dá na transmissão da


memória para os mais jovens através dos relatos dos fatos ocorridos, assim como, o
resgate de lembranças consideradas esquecidas juntos aos mais vividos de forma oral,
despertando desta maneira a memória do lugar. A memória e a identidade caminham
lado a lado, pois ambas fazem parte da existência de um ser social, e o mesmo
podemos afirmar sobre a memória e o patrimônio, seja ele material ou imaterial,
fazendo parte de uma história, Carvalho (2011) afirma que tanto patrimônio quanto a
memória “estão inter-relacionados, uma vez que ambos, quando acionados, aludem
às reminiscências que conferem aos grupos sociais o sentido de pertencimento a uma
determinada cultura e sociedade”.

Tendo conhecimento da importância desse patrimônio para a história de uma


cidade e de sua relação com a memória coletiva e tendo conhecimento também da
questão da preservação para manutenção da memória dos grupos sociais existentes,
procura-se aflorar o sentimento da comunidade em relação à sua cultura e história
através da conservação e valorização do mesmo. Segundo Nora (1993):
Os lugares de memória caracterizam-se por serem dialeticamente materiais,
simbólicos e funcionais, relacionando-se aos espaços institucionalizados,
tais como centros de documentação, bibliotecas, museus e arquivos, e às
celebrações coletivas – festas, comemorações – que permitem a reatualização
de fatos e acontecimentos, e através dos quais a história se legitima.

Com a finalidade de contar com a participação dos moradores mais antigos


dos bairros citados, foram realizadas 30 entrevistas para a obtenção das informações
que serviriam de base para a identificação dos lugares memória. Este processo
transcreveu com a colaboração de idosos dos bairros que passavam pela Avenida
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Kennedy, seguiam pelas Cajazeiras, por bairros como Coreia de Cima, Coreia de
Baixo, Belira, Codozinho, Goiabal, Macaúba, Madre Deus e São Pantaleão, nos
bairros Diamante, Camboa, Centro e na Deodoro, os principais que formam a área de
entorno do centro da capital, que responderam aos questionários aplicados e cederam
imagens pessoais para auxiliar no desenvolvimento das atividades.
Personalidades como o senhor Manoel Setúbal de 73 anos, natural de Cururupu
- MA e morador do bairro Coreia de Cima há 50 anos desde quando se mudou para a
capital. Manoel justifica seus lugares memória por sua trajetória na capital remetendo-
se à família e à sua juventude quando trabalhava para ajudar seus pais na antiga
Fábrica Cânhamo. Hoje frequenta a Praça da Bíblia, lugar que considera como sua
memória viva, cotidiana.
Assim como Manoel, o senhor Edilson Louzeiros também frequenta a Praça da
Bíblia, com 56 anos de idade e morador do bairro Codozinho ele atualmente é vendedor
de roupas esportivas e acessórios para carros na Avenida Kennedy. Simpático e jovial,
Edilson conta como aquele espaço era na sua infância:

São Luís se resumia ao Centro e áreas palafitas, a maré chegava até


o meu bairro, até aqui na Praça da Bíblia na verdade. É mágico saber o
que o desenvolvimento pode fazer, agora o que era lama é uma avenida
movimentada com uma bela praça.

A senhora Isabel de Hungria 76 anos, natural da capital e moradora do bairro


da Madre Deus, apresenta seus lugares memória através de sua infância, juventude
e família. Fala sobre a antiga Estrada de Ferro e o trajeto realizado pelo seu marido a
caminho do trabalho, sobre o parque Bom Menino, praças e igrejas locais, relembrando
seus relacionamentos e encontros familiares.
Outro encontro foi realizado com a senhora Maria Isabel, 73 anos, moradora
do bairro da Praia Grande, que cita o Teatro Arthur Azevedo como símbolo da elite
ludovicense, o antigo Cassino Maranhense e suas praças preferidas: a João Lisboa
e a Gonçalves Dias. Maria Isabel remete seus lugares memória à sua infância,
juventude e ao seu trabalho. Fala do antigo Cine Roxy, onde adorava assistir aos
filmes nacionais, do circuito carnavalesco da década de 60, e da sede do Lítero
(Grêmio Lítero Recreativo Português) na Praça João Lisboa.
Ela conta como adorava pegar o bonde, que circulava na linha Praia Grande
- Areal (atual região do bairro do João Paulo) e em como se tornou a precursora
do 1º “Salão de 1,99” da década de 90 na região. Nessa época, Maria Izabel tinha
um cabeleireiro que viajara por diversas cidades, trazendo fotografias destes locais e
fazendo comparações com São Luís:
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No meu salão tinha um cabeleireiro que trabalhava por temporada. Quando


ele estava em São Luís fazíamos muitos cortes, o salão ficava movimentado
demais! Ele tinha um álbum de fotografias de cidades como Rio de janeiro,
Curitiba, Belo Horizonte, Salvador. E até de outros países. Da Europa sabe,
a cidade Paris, a Londres. Mas sempre voltava pra São Luís. Ele dizia que
mesmo conhecendo muitas cidades nunca tinha visto uma praça tão linda
quanto a Praça Gonçalves Dias.

É necessário conhecer as potencialidades do espaço no qual a atividade turística


pode ser desenvolvida; este processo de entrevistas é fundamental para conhecer a
memória da comunidade, saber onde ela está depositada e a partir dai proporcionar a
sensibilização necessária para a valorização do patrimônio cultural da localidade tanto
por parte dos envolvidos na cadeia turística como os moradores locais, principalmente
os mais jovens.

SÃO LUÍS E SEUS LUGARES MEMÓRIA: REDESCOBRINDO ESPAÇOS.


Os lugares memória determinam aspectos do lugar real, enfatizando suas
relações com o contexto simbólico. A paisagem revelada por eles reflete ainda a
realidade do espaço em um determinado momento do processo histórico.
Cada significado atribuído a ele desperta no indivíduo o sentimento de
pertencimento que confere ao lugar seu reconhecimento, transformando-o em um
instrumento de integração social. Camargo (2002) afirma que:

O valor simbólico que atribuímos aos objetos ou artefatos é decorrente da


importância que lhes atribui a memória coletiva. E é esta memória que nos
impele a desvendar seu significado histórico social, refazendo o passado em
relação ao presente, e a inventar o patrimônio dentro de limites possíveis,
estabelecidos pelo conhecimento.

Assim a relação do indivíduo com o lugar memória se desenvolve de acordo


com a sua vivência. Esses conceitos aplicados ao retrato do Centro Histórico de
São Luís revelam seus lugares memória presentes em cada traçado da região. São
monumentos, igrejas, praças, largos, becos, ruas, casarões que resguardam valores
históricos e refletem a situação atual de sua conservação.
A pesquisa realizada permite a interação entre as gerações que desfrutam do
patrimônio local. Ela proporciona o encontro de memórias que representam além do
conhecimento empírico, o caráter social histórico cultural da região à época. A partir
das entrevistas foram indicados os lugares memória de cada colaborador. De acordo
com tais indicações foram elaborados gráficos que representam este percentual
destacando–se as principais categorias apontadas por eles.
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GRÁFICO 01: IGREJAS

5%



16% 32% Remédios

São João Batista
22%
São Pedro e São
25% Pantaleão

As igrejas tornaram-se bem localizadas nas principais ruas e praças do Centro


Histórico. Símbolos do auge do Catolicismo, elas datam a partir do século XVII. A
Catedral de Nossa Senhora da Vitória mais conhecida como Igreja da Sé, trata-se da
antiga igreja jesuíta, construída a partir de 1690 pela Companhia de Jesus, levantada
com mão de obra indígena e inaugurada em 1699.

FIGURA 01: IGREJA DA SÉ

Outra bastante lembrada pelos idosos foi a Igreja de Nossa Senhora dos
Remédios. Única em estilo gótico está situada na Rua Rio Branco, de frente para a
Praça Gonçalves Dias. Foi erguida em 1719, onde eram realizadas umas das mais
tradicionais festas maranhenses da santa padroeira. Sua atual construção é datada
de 1860.
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Pode-se observar que a ligação dessa faixa etária com as práticas religiosas
ainda é bastante relevante à época da sua juventude. Essa situação também pode ser
explicada pelas alternativas de lazer resumidas pelo tamanho da cidade. Esse lugar
memória pode ser considerado um misto de devoção e lazer.

GRAFICO 02: PRAÇAS

9%
Gonçalves Dias
9%
41% Deodoro
12% João Lisboa

Saudade e Nauro Machado


29%
Demais Praças

As praças do Centro Histórico de São Luís representam os pontos de encontro


familiar desde suas projeções que ao longo do tempo foram palco de revoltas e grandes
conquistas sociais. Ate meados do século XX eram considerados locais de passeios
públicos, locais aprazíveis aonde as pessoas iam para ver serem vistas.
Dentre as praças mais citadas temos a Gonçalves Dias no entorno da igreja
dos Remédios, local que leva o nome de um dos maiores poetas do estado. A Ponta
do Romeu, um sítio da Ordem de São Francisco, era localizada onde hoje se encontra
a Praça que também é conhecida por outros nomes como Largo dos Amores ou Largo
dos Remédios. Em homenagem ao poeta, um monumento com uma estátua sua foi
erguido no local.
Outra área lembrada foi o conjunto de praças que compõe o que hoje é conhecido
como Praça Deodoro que ficam localizadas no coração da cidade, antigamente
denominadas Largo do Quartel, em relação à existência do Quartel onde hoje é a
Biblioteca Pública Benedito Leite. É conhecida assim devido a uma homenagem da
municipalidade a Marechal Deodoro da Fonseca, homem que se destacou à frente do
movimento republicano. É local de grandes manifestações públicas.
Quando abordados sobre eventos culturais, nossos colaboradores citaram o
Teatro Arthur Azevedo e Parque Bom Menino que, curiosamente foram citados pela
diferença de significado que hoje eles têm para a vida dessas pessoas.
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GRÁFICO 03: CULTURA E EVENTOS

10% Teatro Arthur Azevedo


10%
40% Parque do Bom Menino

Teatro João do Vale


40% Ceprama


O primeiro, o Teatro Arthur Azevedo foi bastante lembrado pelos participantes
da pesquisa, e bem citado em suas histórias. É um dos grandes teatros nacionais do
ponto de vista histórico e cultural que guarda muito sobre a história da dramaturgia
nacional. É um prédio no estilo arquitetônico neoclássico, que foi construído no início
do séc. XIX. Está localizado entre as ruas do Sol e da Paz, um dos pontos mais
importantes do centro da capital maranhense. Seu primeiro nome foi Teatro União,
mais foi rebatizado com o nome atual em homenagem ao grande teatrólogo maranhense
Arthur Azevedo.

FIGURA 02: TEATRO ARTHUR AZEVEDO

O segundo, o Parque bom Menino foi construído com o objetivo de fazer maior
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inclusão social na área, para as crianças e jovens pobres que não podiam frequentar
as quadras esportivas dos clubes da cidade. Sua área total é de 9.557 m², ele possui
duas estações de alongamento, pista de Cooper, um centro cultural e o Ginásio
poliesportivo Tião.
O Arthur Azevedo é também símbolo do auge da elite ludovicense, sendo assim
a maioria dos idosos entrevistados nem sequer podiam entrar no espaço àquela época,
apenas ouviam as histórias contadas por conhecidos patrões que o frequentavam
ou pelo que avistavam da fachada. O parque, construção mais recente, é hoje para
nossos colaboradores um forte ponto de encontro onde eles realizam suas atividades
físicas e participam de jogos, competições e eventos sociais em geral.

GRÁFICO 04: SERVIÇOS E SOCIEDADE

15% Mercado da Praia Grande

40% Palácio dos Leões


15%
Hospital Geral do Maranhão

Hospital Universitário Pres.


30% Dutra


As atividades do cotidiano estão vivas em nossa memória, e foram bastante
destacadas pelos idosos. Lembrada quando se referiam às compras e passeios, a
Casa das Tulhas, ou popularmente conhecida como Feira da Praia Grande, é uma
edificação retangular no meio do Mercado do Centro Histórico. O edifício possui quatro
entradas, e a principal delas está localizada na Rua da Estrela.
O Mercado teve o seu apogeu econômico no século XVIII quando ainda
funcionava como depósito de mercadorias importadas para a cidade e também como
celeiro. Com o enfraquecimento deste tipo de negócio o prédio passou a alocar pontos
de comercialização de diversas mercadorias e alimentos, e também de pequenas
atividades culturais. Atualmente parte da área externa do mercado é dedicada às lojas
comerciais que vendem artesanato e vestuário. Por dentro do espaço diversos boxes
e barracas vendem produtos ligados à gastronomia típica de São Luís.
Além da Casa das Tulhas, o Palácio dos Leões foi frequentemente citado
pela sua beleza e imponência para a cidade, e por sua importância para o Estado
do Maranhão. Trata-se acima de tudo de uma obra de arte, que representa um
dos maiores símbolos da cultura local. O forte onde ele está localizado foi erguido
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em 1612 pelos franceses, na histórica tentativa de posse da Ilha do Maranhão. O


palácio em seu formato atual foi erguido no século seguinte, no auge da arquitetura
neoclássica no mundo, um dos primeiros prédios a ser construído na capital. Algumas
histórias são contadas em relação ao seu nome, a mais significativa delas é a que
este lhe foi atribuído devido à presença de duas imponentes estátuas de leões em
bronze dispostas em sua fachada, que representam o poder que este prédio sempre
representou para a política do Estado.
Era notório também à época de seu desenvolvimento, um intenso fluxo de
pessoas no entorno do Centro Histórico, seja pelo seu cotidiano natural ou a passeio.
Transitar por essas ruas, becos e escadarias sempre fez parte do dia a dia dos
moradores da cidade, que ganharam mais destaque em suas memórias ao longo do
tempo.

GRÁFICO 04: RUAS E PONTOS DE ENCONTRO

Sendo pela sua representação histórica ou pelo fato de ser um simples espaço
de comércio, moradia e lazer, as ruas do Centro foram muito bem lembradas por
todos os nossos entrevistados. Em suas histórias sempre havia um fato marcante
que lhe traziam lembranças ocorridas nos becos e ruas de pedra da Praia Grande,
sejam estas nas áreas por onde passava o bondinho, nas avenidas que vinham se
modernizando a cada ano com o comércio ou nos pequenos becos e escadarias de
acesso a bairros e casarões tradicionais.
As ruas da Praia Grande foram as mais citadas, tanto por essa representatividade
como por sua integralização com os projetos de revitalização do Centro Histórico,
que foram ao longo de períodos políticos, implantados com o intuito de melhorar sua
infraestrutura e transformá-lo em um conservado ponto turístico para a cidade.
Infelizmente, algumas dessas políticas foram tardias ou estão sendo
insuficientes, fato que nos leva aos dados do último gráfico de nossa pesquisa:
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GRÁFICO 05: LOCAIS DESCARACTERIZADOS OU NÃO MAIS PRESENTES

3% 2%
Fábrica Cânhamo (Ceprama) e
Fábrica São Luís (em ruínas)
Bonde (Antiga Companhia Ferro-
30% Carril)
30% Estrada de Ferro (Antiga REFESA)

Prédio da Antiga F.E.B.E.M (em


ruínas)
35% Antiga Escola Média (Atual U.E.B
Antônio Lopes)


Com o processo de falhas de políticas públicas e do processo natural de
desenvolvimento da cidade, muitas propostas evoluíram ou simplesmente foram
extintas por não corresponderem mais às necessidades atuais ou por não serem
realmente necessárias no ambiente urbano moderno. Como é o caso de alguns
lugares memória citados pelos idosos, como as fábricas que existiam no Centro que
fizeram parte diretamente da vida de muitos entrevistados que ainda trabalharam ou
viveram a época de ouro da indústria ludovicense.
As Fábricas Cânhamo e São Luís foram fábricas têxteis e de lanifícios que
iniciaram suas atividades na capital no sec. XIX e mantiveram-se ate o final dos anos
70. Foram ícones da economia a ser trazida pela indústria têxtil e produção de algodão
que se disseminava por todo o Brasil. Ambas funcionando por mais de 100 anos,
tiveram grande importância no processo de industrialização do Maranhão, onde parte
de sua produção era dedicada inclusive para exportação.
O transporte da época sem nenhuma dúvida foi um dos mais citados por todos.
Em 1871, a antiga companhia Ferro-Carril do Rio de Janeiro instalou-se em São Luís e
deu início a primeira linha de bondes que partiam do Largo do Palácio e passavam por
importantes ruas do centro, como a Rua da Estrela e a Rua dos Remédios, servindo
a população da área mais importante da cidade na época.
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FIGURA 03: BONDINHO

Fonte: Foster M. Palmer

Com o desenvolvimento urbano e populacional, o governo fez grandes


investimentos na empresa e proporcionou a ampliação das linhas férreas para áreas
que estavam crescendo no entorno e algumas mais distantes do centro da capital,
como os bairros São Pantaleão e Anil. Como um processo natural, os antigos vagões
animálicos dos bondes deram lugar aos bondes com vagões maiores e elétricos, que
mantiveram suas atividades na capital até o ano de 1966, quando foram totalmente
extintos e boa parte da sua infraestrutura retirada para dar lugar a novas avenidas e
bairros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conceito de patrimônio cultural é associado a todo o momento sobre os


lugares memória citados, que só existem porque a eles são atribuídos valores que
estão interligados com a simbologia dada ao patrimônio. Os colaboradores, ainda que
desconheçam o caráter científico desses conceitos, conseguem retratar em outras
palavras o sentimento de pertencimento que envolve as suas memórias.
Cabe à pesquisa ressaltar que tão importante quanto perceber e exaltar o
patrimônio é proporcionar métodos que salvaguardem o mesmo e trabalhe de maneira
sustentável com seus valores. Cada uma das entrevistas foi palco de uma experiência
única a ser compartilhada com os mais jovens sobre a vivência dos mais velhos,
de torná-los peças importantes de uma ação de valorização e conservação de uma
história que pertence a cada um de nós.
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As atividades do projeto propõem a formatação de roteiros pedagógicos através


dos lugares memória descritos pelos entrevistados, que considerados patrimônio
cultural já são incluídos nos roteiros para a atividade turística da cidade de modo
a proporcionar uma completa experiência cultural e patrimonial para a comunidade
participante. Este permite também que os moradores locais se sintam parte efetiva
do projeto, no momento em que os espaços com que eles possuem algum tipo de
identidade são valorizados.
Questões como a falta de infraestrutura e logística local necessária para tornar
o espaço um lugar rentável e conservado, transformam o pensamento dos moradores
locais quanto à existência e preservação do Centro Histórico de São Luís, que
criticam o manejo de seus lugares memória e até passam a descrer no potencial e
na importância daquela localidade. Tal pensamento é repassado às gerações mais
jovens que se acostumam a desvalorizar o que foi e sempre será a composição da
sua cultura. Em última instância, o abalo no sentimento de pertencimento gera o abalo
da economia turística de uma cidade que poderia se desenvolver plenamente.
Até hoje existem críticas quanto a decisões tomadas sobre, por exemplo, a
retirada da malha férrea da cidade, ao uso indevido dos espaços das antigas fábricas,
das fontes, dos parques, de áreas que tanto fizeram parte da vida dos maranhenses
e que compõe seu patrimônio pessoal e social. O projeto Tour Pedagógico propõe em
suas atividades experiências que ultrapassam os limites da Universidade, firmando-se
como um instrumento a fim de proporcionar a valorização desses espaços, trazendo
os lugares memórias citados, e tantos outros a serem trabalhados, como fontes de
pesquisa, ensino e extensão.

REFERÊNCIAS

• BATISTA, Cláudio Magalhães. Memória e Identidade: Aspectos relevantes


para o desenvolvimento do turismo cultural. Caderno Virtual de Turismo.
Vol. 5, N° 3 (2005). Disponível em: <http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/
index.>. Acesso em: 23.04.2014

• Breve Histórico da Cidade de São Luís. Disponível em: <http://www.saoluis.


ma.gov.br/frmPagina.aspx?id_pagina_web=120>. Acesso em: 25.04.2014;

• CAMARGO, Haroldo Leitão. Patrimônio Histórico e Cultural. São Paulo:


Aleph, 2002. – (Coleção ABC do Turismo);

• CORRÊA, Anderson. Shoppings Não, Centros Históricos Sim. Criado em:


29.09.2011. Disponível em: http://passeiourbano.com/2011/09/29/shopping-
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
10 a 13 de novembro de 2014 - Universidade Federal de Juiz de Fora
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• COSTA, Juliana, C. Igrejas do Centro de São Luís. Criado em: 29.03.2011.


Disponível em < http://manuscritosnaoidentificados.blogspot.com.br/2011/03>.
Acesso em: 23.04.2014;

• LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 17ª ed. Rio


de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

• MARTINI, Augusto. São Luís Patrimônio da Humanidade. Criado em:


21.11.2013. Disponível em: <http://asimplicidadedascoisas.wordpress.
com/2013/11/21/sao-luis-do-maranhao-patrimonio-da-humanidade-e-capital-
brasileira-da-cultura>. Acesso em: 25.04.2014;
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APÊNDICE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO

E S PA Ç O I N T E G R A D O D O T U R I S M O

PROJETO TOUR PEDAGÓGICO

E N T R E V I S TA

1 . N O M E :

2 . I D A D E : 3 . N AT U R A L D E :

4 . B A I R R O :

5 . L U G A R - M E M Ó R I A :



6 . J U S T I F I C AT I VA :
1390
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( ) Remete à infância

( ) Remete à juventude

( ) Remete à família

( ) Remete ao trabalho

( ) Remete à relacionamentos

( ) Remete à atividades cotidianas





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EMPREENDEDORISMO CULTURAL: PERSPECTIVAS PARA O


DESENVOLVIMENTO DO TURISMO CULTURAL NO BAIRRO DA MADRE DEUS
EM SÃO LUÍS-MA

RESUMO: O presente trabalho ancora-se em Reis (2008) no qual as indústrias criativas


abrangem arte, artesanato, indústrias culturais e ainda os setores econômicos que se
baseiam na criatividade e cultura para devolver funcionalidade, a exemplo de moda,
design, arquitetura, propaganda, software e mídias digitais. O Empreendedorismo
Cultural apresenta perspectivas para o desenvolvimento do turismo cultural em bairros
como o da Madre Deus em São Luís-MA. O presente trabalho tem como objetivo integrar
as manifestações artísticas, identificando as dificuldades e facilidades enfrentadas
pelos empreendedores culturais, apontando alternativas de articulações entre os
empreendedores e os agentes sociais no desenvolvimento de seus empreendimentos
e a participação da comunidade da Madre Deus no contexto da economia criativa. A
metodologia utilizada consistiu em duas etapas:1) revisão de literatura; 2) levantamento
dos espaços e manifestações culturais do bairro da Madre Deus mediante pesquisa
de campo, sistematização sobre dados dos artistas, mestres da cultura popular e
da dinâmica dos espaços culturais do bairro (horários de funcionamento, atividades
realizadas do tipo oficinas, cursos, minicursos, apresentações populares, atividades
sociais, dentre outras); e está em andamento a elaboração do Calendário Cultural
da Madre Deus que consistirá em um sistema de informações culturais a serem
disponibilizadas ao trade turístico como fonte de informação e pesquisa, no sentido
de conferir maior visibilidade da cultura local no mercado. Os resultados alcançados
foram os mapeamentos das principais manifestações culturais, as atividades que cada
um realiza e os principais entraves que enfrentam atualmente.

PALAVRAS-CHAVE: Empreendedorismo Cultural. Economia Criativa. Turismo.

ABSTRACT
This work is anchored in Reis (2008) in which the creative industries cover art, craft,
cultural industries and economic sectors that still rely on creativity and culture to
restore functionality, such as fashion, design, architecture, advertising, software and
digital media.The Cultural Entrepreneurship show perspectives for the development
of cultural tourism in neighborhood like the Madre Deus in São Luís-MA. The present
work has aims to integrate artistic manifestations, identifying the difficulties and facilities
faced by cultural entrepreneurs, pointing alternatives joints between entrepreneurs and
social agents in the development of its projects and the participation of the community
of the Madre Deus within the context of the creative economy. The methodology used
consisted of two steps: 1) literature review through consultation of books, monographs,
and articles for the understanding of the concepts of creative economy, cultural
entrepreneurship and cultural tourism, contributing in formatting creative products for
the quarter of the Madre Deus; 2) survey of spaces and cultural manifestations of
the Madre Deus through field research, systematization of data of artists, masters of
popular culture and the dynamics of cultural spaces in the neighborhood (hours of
operation, activities like workshops, courses, short courses, popular presentations,
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social activities, amongst others) and is in progress the drafting of the Cultural
Calendar of the Madre Deus that will consist of a system of cultural information to
be made available at tourist trade as a source of information and research, in order
to confer greater visibility of local cultural market. This calendar is given the name of
Madre Deus of Diversity. The results achieved were the mappings of the main cultural
events, activities that each performs and the main obstacles facing currently through
questionnaire applied the same.

KEYWORDS: Cultural Entrepreneurship. Creative Economy. Tourism.

INTRODUÇÃO

O desejo de conhecer os modos de vida de outros povos é uma das mais


importantes motivações das viagens turísticas de caráter cultural. Entretanto, este
movimento nem sempre vem acompanhado do devido respeito, da consciência, do
valor e do legítimo interesse por parte dos visitantes. Embora pareça paradoxal, o
dinamismo das sociedades atuais dificulta as ações de preservação do patrimônio
cultural. Por outro lado, a atividade turística se inscreve como uma das alternativas
possíveis de preservação, visto que o bem patrimonial está integrado ao quadro
econômico financeiro local, regional e nacional.

Reconhecer que todos os povos produzem cultura e que cada um tem uma
forma diferente de se expressar é aceitar a diversidade cultural. Este conceito nos
permite ter uma visão mais ampla do processo histórico, reconhecendo que não
existem culturas mais importantes do que outras. No que tange aos reflexos nas esferas
sociais e culturais, observa-se que a atividade turística promove um intercâmbio entre
os diversos povos, a partir do contato das comunidades locais com os visitantes ora
provocando benefícios, ora não, conforme a maneira que se dinamiza em determinada
localidade.

Embora a apropriação da cultura pelo turismo valorize os lugares e suas tradições


fazendo surgir novas relações sociais e espaciais, é necessário um planejamento para
se obter uma atividade mais duradoura e menos impactante para a população local.
O planejamento auxilia a minimização de impactos negativos oriundos do turismo,
buscando formatá-lo segundo preceitos de sustentabilidade harmonizando as esferas
ambientais e socioeconômicas.

Assim, por se tratar de um fenômeno global e complexo que incide diretamente


no cotidiano do núcleo receptor e nas formas de expressar a cultura e a identidade das
populações envolvidas, o turismo pressupõe o aproveitamento do legado cultural em
bases sustentáveis, garantindo a integridade ecológica e cultural, com a necessária
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valorização da memória e identidade locais e o respeito às comunidades receptoras.

Em busca de resultados que minimizem os impactos negativos oriundos do


turismo e buscando formatá-lo segundo preceitos de sustentabilidade, algumas cidades
têm reunido seus gestores, iniciativa privada e sociedade civil a fim de harmonizarem
as esferas que englobam a atividade turística, com destaque também para a economia
criativa. Também no espaço acadêmico pesquisas têm sido feitas no sentido de
apresentar ideias que resultem numa relação harmônica entre desenvolvimento
sustentável e economia criativa. Isso porque o talento criativo incorpora técnicas e
tecnologias e agrega valor ao capital intelectual cultural. Tais discussões envolvem um
conceito muito em voga, o de cidades criativas.

No Brasil algumas cidades têm se destacado por adotar atitudes que valorizam
a criatividade. Para citar apenas uma, destacamos a pequena cidade cearense de
Guaramiranga, que iniciou em 2000 um processo de transformação, tendo como
ícone o Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga. A fim de vencer alguns obstáculos,
o processo de desenvolvimento engendrado pelo Festival não foi implementado na
comunidade, mas com ela e por ela. Os espetáculos são complementados por oficinas,
atividades de ecoturismo, encontros entre novos talentos e nomes consagrados,
programação complementar entre cidades vizinhas, ensaios gratuitos, além de outras
atividades promotoras de um fluxo mais contínuo de turistas para a região, ao longo
do ano.

No Maranhão, há um grande potencial para o desenvolvimento do talento


criativo. A capital São Luís, particularmente, reúne vários elementos que envolvem
a música, as artes cênicas, as artes plásticas, a fotografia, o artesanato, para citar
apenas algumas manifestações da cultura local. Tais elementos tornam a capital um
grande potencial para se transformar em uma cidade criativa.

A capital maranhense é marcada por um forte perfil de expressões culturais e,


mais recentemente, tem explorado a sua potencialidade para o turismo. No entanto,
observa-se que os espaços e manifestações populares ainda não estão formatados
ou estruturados enquanto um produto no mercado turístico de forma criativa.

A economia criativa é considerada uma das principais estratégias de


desenvolvimento, inclusão social, uso de saberes e fazeres tradicionais, pois
ela transforma o saber popular em riqueza. Mas pouco tem sido feito em prol do
conhecimento popular. Isso se deve em parte ao desconhecimento – e até certo
preconceito – entre o mundo da cultura e o mundo dos negócios.

Destaca-se, também, que, mesmo sendo uma das áreas com maior potencial
de crescimento na geração de trabalho e renda, são poucos os que “vivem de cultura”.
Esse setor, apesar de sua importância, ainda tem pouca representatividade, talvez
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porque carece de uma constante de visibilidade.

Em São Luís, por exemplo, a cadeia produtiva da cultura encontra-se


desarticulada, apresentando processos entrópicos, tais como ausência de interação e
integração entre produtores, mestres e artistas populares, empreendedores culturais
e o trade turístico local.

O despertar dos agentes para a valorização do produto cultural da cidade


deve ser observado com atenção e preocupação, visto que a formatação do produto
deve ser feita de forma articulada e sustentada na realidade da comunidade local por
meio de um conjunto de estratégias que podem favorecer o empreendedorismo e o
desenvolvimento da cultura.

A partir dessa constatação, emerge a necessidade de iniciativas no sentido de


verificar a dinâmica das articulações locais e os termos de promoção dos aspectos
culturais de São Luís. É necessário gerar subsídios que sinalizem estratégias de
divulgação do produto São Luís, integradas com a sistematização e divulgação de
espaços e manifestações populares tradicionais e ou emergentes que abranjam o
campo do patrimônio cultural local: arte cênica, artes populares, eventos culturais,
apresentações artísticas, dentre outros. Assim, os elementos que compõem a cadeia
produtiva da cultura de São Luís ganharão maior visibilidade por meio da realização
de estudos e pesquisas científicas sobre a dinâmica dos espaços e das manifestações
culturais locais que apresentem propostas de um desenvolvimento de forma criativa.

Esse é o atual foco do Espaço Integrado do Turismo-ESINT, núcleo de extensão


e pesquisa vinculado ao curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão:
apresentação de uma proposta que desenvolva o potencial empreendedor da Madre
Deus, a partir de elementos da economia criativa.

A partir das transformações do patrimônio cultural como bem de consumo


turístico e da necessidade de investigações acerca da dinâmica sociocultural do bairro
da Madre Deus, tradicional bairro da cidade de São Luís-Maranhão, busca-se agregar
os aspectos históricos, culturais e turísticos desse bairro a fim de verificar suas
potencialidades, como também instrumentalizar a comunidade acadêmica no que
tange a novos paradigmas que envolvem o crescimento da atividade turística, a saber:
inovação e criatividade, estruturação de produtos e serviços com bases comunitárias e
sustentáveis, envolvimento e participação dos agentes locais, interpretação patrimonial
com foco na economia criativa para auxiliar a comunidade do bairro no aprimoramento
de seus recursos.

A metodologia utilizada na primeira fase da pesquisa consistiu em leitura


de material bibliográfico sobre empreendedorismo cultural e economia criativa. Na
pesquisa de campo foi utilizada uma Matriz de Mapeamento de Espaços Criativos,
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elaborada no I Encontro de Economia Criativa, realizado em São Luís, no ano de 2012


pelo curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. Essa Matriz consiste
no mapeamento dos atributos culturais, financeiros e dos espaços de lazer do bairro
Madre Deus. Ela aponta também alguns obstáculos a serem superados para que
se crie uma rede de empreendedorismo cultural nesse bairro. Como a pesquisa de
campo ainda está em sua fase inicial, este artigo apresenta um resultado preliminar
dos estudos realizados nessa primeira fase.

REVISÃO DA LITERATURA

O turismo, na sociedade contemporânea, transformou-se em uma atividade de


expressiva geração de riquezas às nações que o exploram, oportunizando, do mesmo
modo, melhorias socioculturais e ambientais as suas populações. A Organização
Mundial do Turismo (OMT)1 enfatiza que, em todo o planeta, a atividade turística
movimenta, anualmente, cerca de US$ 4 trilhões, ou seja, aproximadamente 10% do
PIB mundial, sem contar a criação de 280 milhões de empregos.

O Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) avalia que o setor turístico


promove uma receita aproximada de 45 bilhões, participando de 8% do PIB nacional,
gerando 4,4 milhões de empregos diretos e 11 milhões indiretos, resultando em um
emprego para cada 13 que existem no país2.

O Brasil, país de clima predominantemente tropical, de dimensões continentais


e com vasto potencial ecológico e cultural, possui uma vocação nata para o turismo.
A região nordeste brasileira, por exemplo, em função da diversidade de seus atrativos
de cunho cultural e paisagístico, tem buscado na atividade turística alternativas de
desenvolvimento socioeconômico por meio da ampliação de sua participação no
mercado turístico nacional, objetivando melhorias de vida da sua população, face às
condições de desigualdade social e dificuldades de sobrevivência.

O Maranhão, localizado na região nordeste do país, insere-se nessa lógica.


Suas potencialidades turísticas são capazes de gerar grande fluxo de visitantes,
de proporcionar o desenvolvimento social, e, consequentemente, o crescimento da
economia local. A atividade turística no Estado se encontra em plena ebulição, graças
a várias iniciativas do poder público, que começaram a se efetivar em 1993, com a
elaboração do Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste –
Maranhão (PRODETUR/MA). O PRODETUR/MA foi concebido a partir da conjunção de
diversas instituições de naturezas pública e privada ligadas ao turismo e desenvolvido
com o intuito de consolidar o Estado como importante destinação turística nacional e
internacional.

Em 1999 foi implantado, no Maranhão, o programa de desenvolvimento turístico


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denominado “Plano Maior”, que dentre suas ações, propôs a divisão do Estado em
cinco polos turísticos. A capital São Luís, que abriga o bairro Madre Deus, situa-se no
Polo Histórico-Cultural.

Em meio ao debate envolvendo novas formas de produção e consumo do


espaço turístico, sobressaem-se novas estratégias que aliam o desenvolvimento, a
criatividade, a renovação urbana, com foco nas indústrias da criatividade.

A articulação entre esses diferentes setores propiciam a configuração de


produtos turísticos experienciais, envolvendo os laços imateriais da produção cultural
– artes, moda, design, performances, festivais – com o retorno econômico decorrente
da visitação turística de forma equilibrada.

Segundo Reis (2011), o termo indústrias criativas surgiu em 1994, na Austrália,


disseminando-se ao longo do século XXI, evoluindo para o conceito contemporâneo
de cidades criativas. Entendido como o conjunto de setores que têm por centro a
criatividade humana, as indústrias criativas abrangem arte, artesanato, indústrias
culturais e ainda os setores econômicos que se ancoram na criatividade e cultura
para devolver funcionalidade, a exemplo de moda, design, arquitetura, propaganda,
software e mídias digitais. Trata-se, portanto, de um conceito polissêmico e ainda em
construção, variando seus níveis de abrangência.

Considerando as transformações sociais e econômicas, a globalização e o


advento das novas tecnologias da informação e comunicação, Hartley (2005, p. 05)
apresenta uma definição que abrange cultura e tecnologias:
a idéia de indústrias criativas busca descrever a convergência conceitual e
prática das artes criativas (talento individual) com indústrias culturais (escala
de massa), no contexto das novas tecnologias de mídia (TICs) em uma nova
economia do conhecimento, para o uso dos novos consumidores-cidadãos
interativos.

O relatório da Unctad IX (REIS, 2008) define que o termo indústrias culturais


é usado para representar um cluster de atividades que têm a criatividade como um
componente essencial; estão diretamente inseridas no processo industrial e sujeitas à
proteção de direitos autorais.

Assim, de um significado estritamente econômico, o conceito das indústrias


criativas pressupõe a interação, articulação e integração entre os diversos elementos
criativos nos processos de produção econômica, possibilitando agregação de valor, a
diferenciação dos bens e serviços, a inovação e, consequentemente, o revigoramento
do patrimônio cultural em suas múltiplas dimensões.

No âmbito das cidades e da renovação urbana as indústrias criativas ganham


projeção, na medida em que se tornam espaços comunitários de confluência de
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atores que compartilham diferentes referências culturais, propiciando a concentração,


a acumulação e a dispersão de um capital criativo, essencial para a atração de
investimentos, negócios e articulação comunitária em prol do desenvolvimento social
e econômico.

Na visão de Feria (2008, p. 145):


A atividade derivada da criatividade não somente gera emprego e riqueza,
como também incrementa o bem-estar da população em geral, já que
promove a expressão e participação dos cidadãos na vida política, favorece
um sentido de identidade e segurança social e expande a percepção das
pessoas.

Experiências em cidades como Barcelona e Bilbao, na Espanha, e Rio de


Janeiro, no Brasil, ilustram a proeminência que o setor cultural adquire no contexto de
busca por soluções de áreas urbanas degradadas por meio do estímulo e dinamização
dos elementos intangíveis e imateriais, do qualitativo humano e do patrimônio material.
Florida (2005) considera que a emergência de uma cidade criativa é resultante da
combinação de três fatores, que ele chama de três Ts: tecnologia, talento e tolerância.

Em relação à tolerância, o autor acredita que a existência de uma cultura inclusiva


e aberta a diferenças contribui para a criação de novas ideias e modos produtivos. Por
talento, entende os profissionais de alta qualificação, em áreas diversas, que irão
fazer uso das oportunidades tecnológicas e culturais de uma cidade a fim de gerar
inovação. Finalmente, em relação à tecnologia, Florida (2005) refere-se à existência
de um ambiente de inovação e concentração de firmas de tecnologia.

Inserindo-se nessa discussão, Reis (2008) aponta três características que


definiriam uma cidade criativa: a capacidade de produzir inovações, as conexões e a
cultura, tomada pela autora como elemento intangível, simbólico que interage com a
tessitura urbana.

Segundo Deheinzelin (2006, p. 1), o conceito de cultura abarca, além das artes
e das letras, os modos de vida, os sistemas de valores, as tradições e as crenças.

A exploração da cultura como um atrativo turístico fez com que o turismo


cultural se desenvolvesse. Quando bem planejada, a utilização da cultura como
atrativo promove o desenvolvimento local através do aumento da renda obtida com
as despesas feitas pelos visitantes no comércio local. O Ministério do Turismo, em
parceria com o Ministério da Cultura e o IPHAN, e com base na representatividade
da Câmara Temática de Segmentação do Conselho Nacional de Turismo, definiram o
Turismo Cultural como:
a área do turismo que compreende as atividades turísticas relacionadas à
vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e
cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais
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e imateriais da cultura. Ou seja, é quando uma pessoa se desloca para


determinado lugar especialmente para conhecer e vivenciar aspectos e
situações que podem ser considerados particularidades da cultura daquele
lugar, os monumentos, museus, ruínas, crenças, língua, dança, festas, etc.

O turismo cultural pode abarcar também as motivações religiosas, místicas


e étnicas, já que também são aspectos da cultura. Na publicação Turismo cultural:
orientações básicas, do Ministério do Turismo (2006), afirma-se que os deslocamentos
cuja motivação seja os interesses religiosos, esotéricos, cívicos, etc. são entendidos
como parte do Turismo Cultural, constituindo outros segmentos, como o Turismo
Religioso, Turismo Esotérico, Turismo Cívico e outros, desde que sejam preservados
os princípios da tipicidade e identidade.
A utilização turística de bens culturais pressupõe sua valorização, promoção
e manutenção de sua dinâmica e permanência no tempo como símbolo
de memória e de identidade. Valorizar e promover significa difundir o
conhecimento sobre esses bens, facilitar seu acesso e usufruto a moradores
e turistas. Significa, também, reconhecer a importância da cultura na relação
turística e na comunidade local, aportando os meios necessários para que
essa convivência ocorra em harmonia e em benefício de ambos. (MINISTÉRIO
DO TURISMO, 2009, p.75)

O Turismo Cultural refere-se à afluência de turistas a núcleos receptores, que


oferecem como produto essencial o legado histórico do homem em distintas épocas,
representado a partir do patrimônio e do acervo cultural. (BENI, 2001)

Já o empreendedorismo cultural tem o propósito de aproveitar as atividades


culturais, transformando-as em atividades que podem trazer lucro e renda para as
famílias.

Diante desses aspectos que envolvem o conceito de turismo cultural, a Madre


Deus apresenta-se como um espaço promissor para a realização dessa modalidade
de atividade turística. Se esta estiver associada ao empreendedorismo, nos moldes
do conceito de cidades criativas, se tornará ainda mais atrativa.

Madre Deus: espaço de multiplicidade

Um dos bairros mais antigos de São Luís, a Madre de Deus é o maior polo
centralizador de manifestações populares. Nesse sentido, o bairro se harmoniza com
as festas, tornando-se o ponto central de um complexo turístico-cultural de grande
relevância. Destaca-se a presença da comunidade em manifestações como o carnaval
de rua e os festejos juninos.

No mês de fevereiro, o carnaval apresenta-se numa grande variedade de


danças tradicionais como tambor de criou a, blocos afros, blocos tradicionais e
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de ritmo, desfiles de escolas de samba, tribos de índios, casinha da roça, fofões,


revelando particularidades da festa na capital São Luís. Em junho, as festas juninas
atraem a população com o Boi da Madre Deus, o Encontro dos Bois na Capela de São
Pedro – localizada no bairro – momento em que os bois de todos os sotaques da ilha
de São Luís se encontram para saudar o santo.

Nessas duas ocasiões, a comunidade da Madre Deus se reúne nos trabalhos


de confecção das fantasias e também das roupas dos brincantes do boi. Vale ressaltar,
ainda, que não apenas no período de carnaval, como também no período que o
antecede, o pré-carnaval, há um grande movimento da população local e de turistas
que consomem os serviços oferecidos pelos moradores, como churrasquinhos,
cachorro quente, comidas típicas, venda de bebidas alcoólicas, refrigerantes.

Mas a Madre Deus destaca-se também por reunir vários outros elementos como
a Casa das Minas, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-
IPHAN; a Casa de Nagô; a Companhia Barrica, que reúne o Boi Barrica (que se
apresenta nos festejos juninos), o Bicho Terra (que se apresenta durante os festejos
carnavalescos), a Natalina da Paixão (que se apresenta no período natalino); o bloco
carnavalesco Fuzileiros da Fuzarca, bloco mais tradicional de São Luís, fundado em
1936; e demais companhias carnavalescas como Máquina de Descascar Alho; Turma
do Quinto, Flor do Samba. Destaca-se também o Centro de Comercialização de
Produtos Artesanais do Maranhão-CEPRAMA, antiga fábrica têxtil da Companhia
de Fiação e Tecidos de Cânhamo, que expõe e vende o artesanato produzido em todo
o Estado.

Todos esses elementos representativos da cultura contam com o apoio e o


trabalho da comunidade local. Apesar de toda a riqueza cultural do bairro o maior fluxo
turístico concentra-se nos meses de fevereiro e junho, tendo pouco movimento nos
demais meses do ano.

A proposta do ESINT é a de um projeto que promova uma integração das


manifestações culturais da Madre Deus com a produção da economia local. Para
a efetivação de um projeto assim, faz-se necessário, inicialmente, compreender
quais as dificuldades enfrentadas pelos empreendedores culturais do bairro. Num
segundo momento é imperativo apontar alternativas no sentido de possibilitar
aos empreendedores uma articulação com outros agentes sociais no sentido de
desenvolver seus empreendimentos.

E para que a comunidade da Madre Deus se beneficie com o turismo cultural


é necessário um planejamento turístico participativo. Este artigo apresenta um
mapeamento realizado na primeira fase da pesquisa pelo ESINT, a fim identificar o
seu potencial atrativo.
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CONCLUSÃO

A fim de se obter os primeiros resultados sobre os atributos do bairro Madre


Deus aplicou-se a Matriz de Mapeamento de Espaços Criativos, que consiste em
mapear os atributos culturais, financeiros e os espaços de lazer de uma localidade. No
aspecto cultural da matriz os atributos estudados são: talentos/capacidades, imagem
e paisagem do lugar, patrimônio cultural material/imaterial, tradições, curiosidades,
experiências, saberes e fazeres tradicionais e história. No aspecto financeiro
destacam-se recursos existentes, linhas de financiamentos, iniciativa empreendedora
e vontade, estímulo à captação de negócios e investimentos, ambiente favorável ao
desenvolvimento de pesquisas e geração de negócios produtivos e, finalmente, no
aspecto espaços de lazer destacam-se espaços ociosos disponíveis, matérias primas
locais especiais, equipamentos culturais e de lazer.

Para a efetivação da Matriz, foram aplicados questionários com moradores do


bairro. Os questionários apontam a existência de alguns entraves, tais como: ausência
de apoio dos órgãos responsáveis pela cultura no bairro de acordo com a responsável
da manifestação Quadrilha Sertaneja Rosa Amarela:

“a Prefeitura desde o ano passado foi publicado um edital exigindo fotos da


manifestação desde a fundação, impossibilitando que a manifestação possa
está recebendo incentivo da Prefeitura, já que a mesma não possui essas
imagens e assim dificultando que a quadrilha possa participar dos eventos
produzidos pelo órgão. Outras brincadeiras reclamam do apoio dos órgãos
da cultura, que beneficia uma das brincadeiras mais famosa do bairro,
menosprezando as demais.”

Outro entrave para o estabelecimento de uma rede de empreendedorismo


cultural segundo um dos entrevistados seria a ausência de recursos financeiros,
tendo em vista “são poucas manifestações que possui recursos financeiros, isso
dificulta uma parceria com outros blocos, nós ficamos responsáveis pela maior parte
das despesas, não trazendo benefícios aos blocos com recursos financeiros mais
elevados”. (representante do Bloco Carnavalesco os Feras)
O representante do bloco Vagabundo do Jegue afirmou que os responsáveis das
manifestações do bairro são muito amigos, mas nunca se reuniram para discutir sobre
a cultura no bairro, como também a burocracia que existe para elaborar e implementar
projetos no bairro. Assim também como o responsável pela Maquina Descascar’ Alho
que a falta de conhecimento na área da cultura entre os moradores e as brincadeiras
dificulta o desenvolvimento do turismo cultural no bairro, já que o mesmo afirmou de
se tratar de um bairro carente, então a divulgação de cursos voltados nessa área é de
extrema importância.
Segundo um dos entrevistados responsável pelo grupo carnavalesco mais
tradicionais da Madre Deus, as dificuldades enfrentadas pelo grupo são a falta de
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projetos que incentivem a cultura local, a comunicação entre os grupos carnavalescos e


projetos educacionais voltados para a cultura popular e sociais, pois é um bairro carente
e necessita de tais iniciativas. E os demais entrevistados ressaltam a importância do
resgate cultural por meios de cursos, minicursos, oficinas de instrumentos musicais, e
uma maior participação do conselho cultural do bairro, e o mais importante o interesse
dos órgãos públicos e privados e a participação da sociedade civil.

Os primeiros resultados apontam para processos entrópicos, tais como:


ausência de interação, integração entre produtores, mestres e artistas populares,
empreendedores culturais e o trade turístico local. A ausência de recursos financeiros
impossibilitam uma maior articulação entre os empreendedores culturais da Madre
Deus.

Os debates em torno da economia criativa em São Luís promovem uma reflexão


sobre o potencial de desenvolvimento da criatividade no bairro da Madre Deus, bem
como a necessidade de contextualizar as oportunidades que as indústrias criativas
e a economia da criatividade adquirem para maximizar os níveis de competitividade
desse destino.

No âmbito do turismo, o campo da economia criativa torna-se estratégico,


exigindo dos planejadores, gestores, profissionais e acadêmicos uma melhor
compreensão dos processos de redefinição dos lugares nas sociedades complexas,
pós-industriais ou pós-modernas.

REFERÊNCIAIS

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PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA E POLÍTICAS PÚBLICAS DO TURISMO:


ESTUDO DE CASO CIDADE DE XAMBIOÁ - TO

Ana Claudia Macedo Sampaio 1


Leonardo Lima Lemos Salcides2
Aclésio dos Santos Moreira3

RESUMO: O presente trabalho intitulado de “participação comunitária e políticas


públicas de turismo: estudo de caso município de Xambioá – TO. Trata-se de uma
investigação de cunho qualitativo que busca analisar a relação entre os processos
de participação comunitária e as políticas públicas que fomentam a construção de
um saber-fazer do turismo. O estudo de caso foi realizado no município de Xambioá
no Estado do Tocantins, onde para à análise é caracterização do mesmo, utilizou-se
como ferramenta metodologica estudos baseados na Teoria da Policys Analisys que
busca construir uma análise direcionada a partir de alguns indicadores que possibilitam
balizar a efetividade de políticas públicas voltadas ao turismo e a participação
comunitaria. Em apoio ao método foi realizada pesquisa de campo com aplicação de
entrevista estruturada que possibilitou identificar as dificuldades e as potencialidades
de implantação do turismo com foco no desenvolvimento comunitário local, além
de seus resultados e aplicações. Constatou-se diante a potencialidade turística de
Xambioá é de sua relevância para o desenvolvimento local, que a maior dificuldade
provém da ausência de políticas públicas efetivas, no caso analisadas a partir de suas
dimensões institucional-administrativa, processual/sócio política e material, somando-
se a uma falta de conhecimento acerca da complexidade que envolve o planejamento
do fenômeno turístico. O que resulta no não desenvolvimento de programas é
ações, levando a falta de articulação, mobilização e de ações que contemplem a
comunidade e os diferentes atores envolvidos na prática turística, através de um
turismo participativo, formando uma comunidade organizada é consciente, capaz de
gerenciar o planejamento e execução do turismo, além de recuperar o espaço natural,
a memória é a identidade local.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Comunidade. Participação. Política Pública. Xambioá.

ABSTRACT / RESUMEN: This study titled “Community participation and tourism


policies: case study municipality Xambioá - TO. This is an investigation of qualitative
nature that seeks to analyze the relationship between the processes of community
participation and public policies that promote the construction of a know-how of tourism.
The case study was conducted in the municipality of Xambioá in the State of Tocantins,
where the analysis is to characterize the same, was used as a methodological tool in
studies based policys Analisys theory that seeks to build an analysis driven from some
indicators that enable gauge the effectiveness of focused tourism and community
1 Mestre em Turismo. Professora na Universidade Federal do Tocantins.:
2 Gestão em Turismo. Estudante na Universidade Federal do Tocantins. leonardo_salcides@
hotmail.com:
3 Gestão em Turismo. Estudante na Universidade Federal do Tocantins.
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participation policies. In support of the field research method with application of


structured interview that enabled us to identify the difficulties and deployment potential
of tourism with a focus on local community development was conducted, and its results
and applications. It was found on the tourism potential of Xambioá is its relevance to
local development, the major difficulty comes from the lack of effective public policies,
if analyzed from their institutional and administrative dimensions, procedural / political
and social material, adding If a lack of knowledge about the complexity involved in the
planning of the tourism phenomenon. This results in the development of programs is
no action, leading to lack of coordination, mobilization and actions that address the
community and the different actors involved in tourism practice, through a participatory
tourism, forming an organized community is conscious, able to manage the planning
and execution of tourism, and recover the natural space, memory is local identity.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Tourism. Communities. Participation. Public


policy. Xambioá.

INTRODUÇÃO

O turismo por ser um fenômeno complexo que envolve elementos


econômicos, sociais, culturais é político, necessita de planejamento e políticas
públicas específicas. Nesse sentido, acredita-se que entre as diversas possibilidades
de condução do turismo destaca-se as voltadas para a comunidade que induza a
uma prática de valorização da herança cultural, das tradições e manifestações locais,
através do diálogo e da participação e interação entre poder público, comunidade é
turistas.

De um modo geral, as destinações turísticas são estruturadas em modelos


excludentes, onde a promoção é baseada em pacotes de turismo no qual a experiência
ofertada tem pouca relação com a comunidade local. Tal modelo, leva a inúmeras
distorções, fazendo com que a distribuição da renda gerada pelo turismo seja
distribuída de forma desigual, concentrando-se apenas nas mãos de poucos e bem
sucedidos empresários do setor.

Este fenômeno complexo merece mais estudos e pesquisas no que se refere


à participação comunitária no turismo, pois a falta de conhecimento cria limitações
e incompreensões de sua complexidade. É com interesse em contribuir para uma
melhor compreensão do envolvimento da comunidade no desenvolver do fenômeno,
que este trabalho tem como um dos seus eixos a relação entre as comunidades é
turismo, bem como sua participação nos processos de decisões e planejamento do
turismo.

Nessa intenção, o objetivo dessa pesquisa é centrado em examinar a relação


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entre os processos de participação comunitária e as políticas públicas de turismo no


desenvolvimento local, especificamente os processos de articulação, mobilização e
organização, averiguando a participação e colaboração da comunidade nos processos
decisórios das políticas públicas de turismo.

Em consequência disto, discute-se também os desafios, as potencialidades.


E os resultados que ali se evidencião no desenvolvimento turístico comunitário e
participativo, onde o município de Xambioá - TO apresenta-se como estudo de caso,
pois este município se encontra em localidade previlegiada cercardo de potenciais
turísticos que vão desde belezas naturais até a sua participação histórica no cenário
político nacional4, além de inúmeros outros potenciais que dão força ao poder de
desenvolvimento do turismo com base na comunidade.

No município de Xambioá, como em várias outras localidades, na maioria das


vezes, a comunidade é excluída das tomadas de decisões, dos benefícios é da proteção
de seus interesses e de seus valores culturais, na condução da política municipal, e
no caso do turismo, junto a confusão acerca do papel das secretárias políticas existe
a manipulação social por meio de metodologias não participativas ou seja meios
de articulação e organização que influênciam e/ou inibem o efetivo envolvimento
comunitário, não contemplando os anceios e as necessidades da localidade e dos
individuos que ali residem.

Pensando nessa problemática, a justificativa se impõe pela necessidade de


melhor cooperação estratégica da comunidade na tomada das decisões a serem
aplicadas ao desenvolvimento do fenômeno turístico, buscando através de um turismo
participativo, formar uma comunidade organizada é consciente, capaz de gerenciar o
planejamento e execução do turismo, além de recuperar o espaço natural, a memória
é a identidade local, através do resgate é da preservação de seus recursos hídricos,
históricos é culturais, sendo de suma importancia a inserção desta temática no meio
acadêmico, para aprofundar nas diferentes interfaces e possibilidades da participação
comunitaria na gestão municipal, além de nortear furturas ações ao poder público
municipal, através dos resultados obtidos.

O presente artigo esta estrurado em secções para uma facíl compreensão,


onde analisa-se a participação comunitária no planejamento turístico do município de
Xambioá, as políticas pública do turismo tanto em ambito nacional, quanto apartir das
perspectivas da participação, e os resultados que através destes pode-se observar
a participação dos atores sociais no modelo de desenvolvimento turístico local,
somado a falta de interesse é de capacidade do poder público em criar programas e
ações que visem o desenvolvimento turístico como um todo sem simplificações, não
apenas investindo em conselhos especializados, mas criando novos mecanismos
4 Guerrilha do Araguaia.
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e ferramentas de participação adequados as sociedades quase sempre carentes


de formação, informação e qualidade de vida de um modo geral, considerando os
aspectos de cada comunidade no que envolve o social, cultural é o econômico desse
fenômeno complexo que é o turismo.

PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NO PLANEJAMENTO TURÍSTICO


PARTICIPATIVO

No âmbito que se fundamenta, a comunidade é gerida por um conjunto de


normas sociais, econômicas é políticas que determinam os processos da tomada de
decisão, nas destinação de recursos, execução de sua imparcialidade é contenção
de transgressão. O verdadeiro diferencial da participação comunitária se encontra na
postura que assegura à comunidade o papel de agente e não apenas de beneficiário
do processo de desenvolvimento turístico

Uma forma de inserção da comunidade nos processos decisórios se dá através


do planejamento participativo, onde os atores locais junto ao poder público e o
trade turístico poderá melhor desenvolver o turismo é sua comunidade, por meio da
procura de mecanismos é instrumentos, em que haja a inclusão da comunidade na
organização é planejamento do turismo, voltados para os interesses dos residentes é
para a manutenção da identidade e valorização local.

O planejamento participativo como é citado por alguns autores como Sampaio,


2004 é Beni, 2012; vem a ser o agente indutor do turismo comunitário, significa
ter metas é objetivos a serem atingidos, descentralizando ações e incorporando
preceitos que envolvam a gestão participativa é integrada de todos os envolvidos no
processo de planejamento do turismo. Onde o mesmo se torna uma ferramenta para o
desenvolvimento econômico é social da região, transformando-se em um mecanismo
para criar uma consciência de preservação ambiental é cultural, além do fortalecimento
da identidade local.

Dessa maneira, incluindo o cidadão/residente nos processos de planejamento,


já que o mesmo vivência cotidianamente as causas, bem como as consequências e
efeito do desenvolvimento do turismo em sua localidade.

Para que o turismo seja um fator de valorização, que auxilie na preservação


e manutenção do ambiente físico, social, natural é cultural, há de se pensar no
planejamento é gerenciamento da qualidade em cada atividade. Sendo este,
planejamento participativo, discutido junto à população dos destinos turísticos, seja
através da representatividade destes em órgãos consultivos, da estrutura oficial do
turismo ou por algum tipo de mecanismo de diálogo entre o poder público é população
local (associsções, conselhos, fóruns, ouvidorias, estudos junto à população
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receptora).Enfim, planejar a atividade turística através da participação da comunidade


significa ser é agir de forma responsável orientando ações que contemplem o bem-
estar coletivo.

POLÍTICAS PÚBLICAS

A política pública pode ser entendida como o campo do conhecimento que coloca
o governo em ação, que ao mesmo tempo analisa essa ação e quando necessário
propõem mudanças no rumo ou curso dessa ação, (SOUZA, 2006).

Cabe ao Estado estabelecer as políticas públicas para as inúmeras áreas de


atuação do governo, devido sua complexidade na determinação de seus objetivos é
pela dificuldade de estabelecer políticas que devam estar bem definidas e adequadas
às particularidades de cada lugar que será desenvolvido; preceitos estes que
refletiram nos conceitos da sociedade, necessitando para isso de diversas atividades
estratégicas é selecionadas para aplicação das decisões tomadas.

A essência da política pública está na determinação de certas proporções


de criação é aplicação, de quem serão os atores de seu desenvolvimento é como
as comunidades estão inseridas nessas decisões das políticas públicas a serem
executadas, objetivando o interesse da sociedade/comunidade. Em um apontamento
geral e objetivo, por políticas públicas se compreende as ações do Estado guiadas
pelo interesse geral da sociedade.

BENI (2003) apresenta políticas públicas de turismo como “o conjunto de


fatores condicionantes é de diretrizes básicas que expressam os caminhos para atingir
os objetivos globais para o turismo do país [...] “.

No turismo as atribuições das políticas públicas deveriam ser a de possibilitar o


desenvolvimento regular e um planejamento racional desse fenômeno. Sendo papel
do Estado elaborar políticas públicas de saneamento, saúde, transporte é segurança.
Construir a infraestrutura básica urbana, que atende à população local é indiretamente
aos visitantes é a infraestrutura de acesso, além da fiscalização e regulação da
distribuição de renda, que é papel da estrutura jurídica- administrativa, (Secretarias,
COMTUR e similares).

Sendo assim, cabe à política de turismo o estabelecimento de metas é


diretrizes que orientem o desenvolvimento sócio espacial da atividade, tanto no que
tange à esfera pública quanto no que se refere à esfera privada, pois, na ausência da
orientação política, o turismo se desenvolveria ao sabor de iniciativas ou interesses
particulares.

O histórico das políticas públicas de turismo no Brasil pode ser considerado


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recente, já que só a partir da década de 1990 é que há uma real percepção por parte
dos governantes da função do turismo é de sua definição, dando assim uma agilidade
em seu desenvolvimento e passando a priorizar o fenômeno turístico em seus planos
de desenvolvimento. Foi criado no ano de 1991 o primeiro Plano de Desenvolvimento
do Turismo. No ano de 1992 foi implantado, o PLANTUR (Plano Nacional de Turismo),
como consequência da nova política nacional de turismo. Segundo Becker (2001,
p.5), o embasamento do plano é a diversificação e a distribuição geográfica da
infraestrutura, que estava altamente concentrada no Sul e no Nordeste. Sendo este
entendido como ferramenta para o desenvolvimento regional.

Sendo no ano de 1994, que se da viabilidade na implantação do então Programa


Nacional de Municipalização do Turismo, propondo uma integração é descentralização
do planejamento e da gestão do setor, sendo até então o mais bem estruturado e
planejado programa voltado ao turismo.

O PNMT tinha na sua abordagem a sustentabilidade como importante


argumento para o planejamento nas localidades, sendo uma das mais priorizadas a
criação de Conselhos Municipais de Turismo como tentativa de construir um consenso
de sugestões para o desenvolvimento local. Fazendo da descentralização um
apontamento para construção de políticas públicas que viabilizassem o turismo como
um fenômeno que necessita de planejamento e fomento tanto de âmbito nacional
como local.

METODOLOGIA

Este trabalho tem como lócus de pesquisa o município de Xambioá no estado


do Tocantins. É classificado metodologicamente, quanto à abordagem, à natureza, aos
objetivos é aos procedimentos, como uma pesquisa qualitativa é estruturada, básica,
exploratória com estudo de caso, respectivamente, tendo como estratégias de coleta
é análise dos dados técnicas de cunho qualitativo a luz da teoria da “Policy Analysis”.
Em uma primeira fase foram utilizados diversos autores, caracterizada como revisões
literárias, sendo os principais: Barreto (2003), Becker (2001), Beni (2003), Coriolano
(2003), Cruz (2002), Frey (2000), Gohn (2004) e Silva (2013), que permitiram conduzir
a análise do objeto aqui tratado – a participação comunitária nas políticas públicas de
turismo como alternativa para o desenvolvimento local.

Para a sistematização e/ou condução de uma análise condizente ao estudo


de caso foi adotada a integração de três abordagens, que segundo Frey (2000)
são comumente utilizadas em estudos da ciência política voltados para análise da
efetividade de políticas públicas em geral, para trabalhos focados na administração,
assim como, em estudos direcionados para a compreensão da hospitalidade.
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Conhecida como teoria ‘Policy’ – ‘Politics’ – ‘Polity’ adaptada teoria da “policyanalysis”


foi utilizada para a estruturação dessa pesquisa visando uma melhor sistematização é
amplitude da análise aqui realizada.

Entender como as instituições estão organizadas é capacitadas, suas redes


é ligações intra e inter departamentos, estruturadas por fluxos de recursos e de
autoridade, podendo os processos decisórios ser influenciados por interesses políticos
dos grupos inseridos dentro da estrutura administrativa ou sofrer influências externas,
sendo a relação estabelecida com a sociedade de suma importância para apontar a
situação em que se encontram as instituições, seja para identificar pontos positivos ou
negativos, seja para atingir os objetivos a que se propõem.

Também foram utilizados entrevistas e roteiro de observações aplicados em


campo permitindo sistematizar os resultados.

Na fase principal, do trabalho compreendido foram realizadas entrevistas


semiestruturadas através de um roteiro de coleta de dados com poder público
institucionalizado, associações/cooperativas, empresários e representantes da
comunidade.

A partir disso, o presente trabalho foi estruturado é analisado, tendo como


norte tal proposta teórica em três dimensões: a dimensão institucional-administrativo,
a dimensão processual ou sócio-política é a dimensão material financeiro-econômico,
objetivando abranger as diferentes perspectivas que envolvem a efetividade de uma
política pública a nível da comunidade. Deste modo pode-se encontrar respostas para
os problemas e questões da pesquisa exposta.

Assim, para a análise da dimensão institucional-administrativa pública do


município de Xambioá, foi realizado entrevista, com apoio de questionários qualitativos,
onde foi entrevistada a secretaria de cultura e turismo.

As variáveis – estrutura administrativa, recursos humanos, procedimentos,


relações departamentais, programas/projetos e envolvimento da comunidade -
analisadas na entrevista possibilitaram compreender como se encontra a organização
da estrutura administrativa da secretaria de cultura e turismo, o relacionamento
desta com as demais secretarias, os programas, ações e projetos e as iniciativas do
município na inclusão da comunidade na tomada de decisões das políticas, além de
identificar a relação do poder público é a comunidade.

Quanto às dimensões - processual ou sócio-política e material financeiro-


econômico - além do levantamento in loco de informações com observação
direcionada pela teoria adotada, também foram realizadas entrevistas com atores
sociais selecionados a partir de um levantamento preliminar acerca dos diferentes
grupos de interesses do município.
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Após o levantamento de dados é informações, tanto em campo quanto com


a realização das entrevistas, os mesmos foram dispostos nas três dimensões já
descritas, e as falas dos atores foram analisados a partir das variáveis: importância
do turismo, gestão política inclusiva, é participação comunitária. O uso desses temas
permitiu analisar profundamente como se dá o processo de gestão pública voltado
para o turismo comunitario no município de Xambioá.

CARACTERIZAÇÃO DE XAMBIOÁ

A cidade de Xambioá está localizada no estado do Tocantins, onde, segundo


dados do IBGE(2010) sua população é de 11.484 habitantes, possui extensão
territorial de 1.186,428 (km²) é densidade demográfica de 9,68 (hab./km²). Tem como
municípios vizinhos São Geraldo do Araguaia-PA e Araguanã-TO. Fica à 123 km de
Araguaína, a segunda maior cidade do estado do Tocantins é a 501 km de Palmas, a
capital do Estado.

Segundo pesquisas do professor Paulo Lucena5 em junho de 1952 deu-se


a descoberta do primeiro garimpo de cristal, na região da Chapada do Chiqueirão -
pertencente ao atual município de Xambioá - no decorrer dos anos de 1952 e 1953
foram surgindo diversos novos garimpos de cristal de rocha é de ametista, sendo que
alguns desses garimpos se tornaram hoje comunidades rurais, todas localizadas no
entorno de Xambioá.

No entendimento do Bispo Dominicano, missionário e poeta Dom Luiz Antônio


Teixeira Palha6, Xambioá quer dizer “uma outra aldeia”, na língua Karajá. Porém,
existe outra versão onde ‘XAM’ significa “terra” é ‘BIOÁ’ significa “agua”, tanto na
língua portuguesa como na língua indígena Karajá.

A região do município de Xambioá é envolta por riquíssimas histórias, dentre


tais momentos históricos pode-se destacar dois, sendo o primeiro a datar de muito
antes de seus primeiros habitantes que por ali estalaram suas moradias por volta de
1910, um contexto histórico que se faz importante relatar aqui neste trabalho, pois o
mesmo comtempla os saberes da comunidade e ilustra o passado e o imaginário de
quem mora e de quem visita o município.

História esta que pode ser observada nas misteriosas inscrições em grandes
lajeiros de pedra, localizado na ilha dos Martírios, à margem direita do Rio Araguaia,
subindo alguns quilômetros de Xambioá. Desde o século XVII são conhecidos estes
5 Paulo Cesar Lucena de Sousa, graduado pela Unitins – Fundação Universidade do Tocantins -
no curso de licenciatura em letras no ano 1997, especialista em literatura brasileira e literatura escolar
pela Cesgranrio – Fundação Cesgranrio. Forneceu seu material didático para estudos da caracteriza-
ção histórica do município de Xambioá-TO.
6 Bispo Dominicano Dom Luiz Antônio Teixeira Palha - http://www.cnbbn2.org.br/2012/index.php/
dioceses/diocese-de-conceicao-do-araguaia
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estranhos sinais que ali foram encontrados, os bandeirantes foram os primeiros


homens, ditos civilizados, que por ali estiveram naquela época e encontraram aquelas
estranhas marcas talhadas nas pedras. Não se trata de simples rabiscos na pedra,
sem um objetivo mais conciso, mas sim o de preservar algum conhecimento ou fato
de grande relevância, que é desconhecido até hoje.

Em 1971 o historiador Manoel Rodrigues Ferreira, afirmou que as inscrições ali


existentes teriam sido feitas por um povo que habitou a região antes do descobrimento
do Brasil e que esta gente está relacionada à pré-história brasileira.

As figuras inscritas estão dispostas em grupos e se acham espalhadas por


toda a ilha, existem identificados na ilha 760 painéis, nos quais estão registradas 3342
figuras7. Grande parte dos pesquisadores entendem as marcas como petrogravuras
deixadas por povos que ali viveram há milênios, não podendo determinar com presteza
quando teriam sido insculpidas é quem teriam sido seus autores.

Outro dado momento histórico importante e sem precedentes na história de


Xambioá, ou até mesmo um dos mais importantes no cenário social é político do
Brasil, foi a Guerrilha do Araguaia, que ocorreu sobre solo Xambioaense e em cidades
circunvizinhas.

A Guerrilha do Araguaia foi o movimento guerrilheiro que ocorreu na região


amazônica brasileira, onde foi palco das operações de combate entre os guerrilheiros é
o exército. Toda a movimentação se deu ao longo do Rio Araguaia, mais precisamente
na fronteira do Pará com o Tocantins, nas cidades de Xambioá ao norte do estado do
Tocantins, São Geraldo e Marabá ao sul do estado do Pará, entre fins da década de
60 e a primeira metade da década de 70.

Desconhecida do restante do país, na época em que ocorreu, é protegida


por uma cortina de silencio e censura que o movimento e as operações militares
contra ela foram submetidos, os detalhes sobre a guerrilha só começaram a aparecer
cerca de vinte anos após sua extinção pelas Forças Armadas, já no período de
redemocratização8.

A relevância desses fatos históricos, do ponto de vista cultural é turistico,


mostra-se para esta região de grande importancia, pois com base neles é possível
ser reconhecida a identidade da população, para preserva-lá, é contudo, através do
fomento da atividade turística na cidade de Xambioá.

A cultura é fundamental na promoção do desenvolvimento de um destino

7 Dados da Casa de Cultura de Marabá


8 Este assunto vem ganhando destaque na mídia nacional em função dos trabalhos realizados
pela Comissão Nacional da Verdade, instituída em 16 de maio de 2012, através da LEI 12528/2011.
Vide sites:(http://www.cnv.gov.br/index.php/2012-05-22-18-30-05/araguaia), (http://veja.abril.com.br/
blog/ricardo-setti/tag/guerrilha-do-araguaia/).
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turístico. Por ter uma condição dinâmica, ela constrói e modifica sistemas simbólicos,
sendo fundamental para o desenvolvimento humano. Na cidade de Xambioá são
exemplos de manifestações populares: o carnaval, realizado duas vezes ao ano sendo
o primeiro entre os meses de fevereiro é março e o segundo em julho (Micareta),
tendo blocos carnavalescos tradicionais que surgiram por volta da década de 60 e se
faz presente até os dias atuais; a semana santa; as festas de São João; a folia de reis,
as festas do divino, entre outras manifestações culturais e religiosas, fazem parte da
diversidade cultural do município.

Dessa maneira, entende-se que as manifestações culturais transformam,


movimentam, inovam, criam e promovem bases de desenvolvimento e de relações,
favorecendo novos cenários para a atuação das comunidades.

A POLÍTICA PÚBLICA DO TURISMO PELA PERSPECTIVA DA PARTICIPA-


ÇÃO

O Estado, apesar de toda sua força, não age sozinho ao trabalhar as


políticas para o turismo. Gerenciar estes espaços de contradições exige habilidades
multidisciplinares, trabalho conjunto é esforços constantes. Tem que haver uma
integração conjunta entre Prefeitura e Estado, entre secretarias e autarquias,
associações é representações comunitárias.

Neste contexto, a gestão do turismo no município de Xambioá implica na


existência de uma capacidade institucional que seja eficiente em administrar os
diversos aspectos inerentes ao funcionamento do turismo e sua funcionalidade. Sabe-
se, que a capacidade institucional está ligada tanto as questões relativas às pessoas
que atuam nos processos, como os instrumentos é recursos que elas possuem para
pôr em prática suas ações. Torna-se oportuno observar a importância do turismo
com a participação comunitária é a gestão política inclusiva, tomando como base as
dimensões políticas9 aqui adaptadas para a realidade da instituição pública é privada
do município e representações comunitárias.

Dimensão institucional-administrativa (Polity): Essa dimensão abrange a


organização e articulação dos órgãos que compõem o aparato estatal, bem como as
dificuldades de planejamento, direção, controle é a comunicação das ações.

A Secretaria de Cultura e Turismo de Xambioá possui sala própria dentro da


Prefeitura Municipal é dispõem de um terminal de computador para os funcionários.
9 ‘Polity’ - ‘Policy’ - ‘Politics’. Teoria da Policys Analisys que busca construir uma análise
direcionada a partir de alguns indicadores que possibilitam balizar a efetividade de políticas públicas
voltadas ao turismo e a participação comunitaria. Segundo FREY (2000) são comumente utilizadas
em estudos da ciência política voltados para análise da efetividade de políticas públicas em geral,
para trabalhos focados na administração, assim como, em estudos direcionados para a compreensão
da hospitalidade.
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Departamento de Turismo

Sua estrutura física não chega a ser aconchegante aos trabalhos diários. Possui rede
de internet é intranet ligada ao sistema da prefeitura municipal, e um link dentro do
site da prefeitura10. Não há banco de dados com informações sistematizadas sobre o
município.

A Secretaria de Cultura e Turismo órgão da administração pública de Xambioá


conta em seu quadro de funcionários com 5 (cinco) colaboradores sendo destes
apenas 1 (um) concursado e 4 (quatro) em cargos comissionados, destes 4 (quatro)
cargos comissionados 2 (dois) são cedidos de outras secretarias. Não há funcionários
com formação ou capacitação específica na área do turismo. Dentre as capacitações
oferecidas pelo poder público, nenhuma delas teve como foco a área do turismo,
segundo a secretária de cultura e turismo o motivo seria a dificuldade de encontrar
cursos específicos.

Por outro lado, a Secretaria de Cultura e Turismo procura otimizar suas ações
através de parcerias com outras secretarias (Secretaria de Obras, Secretarias
de Desenvolvimento, Secretaria de Esporte, demais secretarias), mas quanto a
relação e a comunicação entre a Secretaria de Cultura e Turismo do município e a
Agencia de Desenvolvimento Turístico do Estado do Tocantins (ADTUR/TO), orgão
descentralizador do turismo no estado, constatou-se que o vínculo entre as duas
instituições limita-se apenas em telefonemas para sanar dúvidas sem quaisquer
outras ações conjuntas.

Ainda no quesito gestão participativa, quanto as parcerias com diferentes


grupos representativos da comunidade ou relacionados a cadeia produtiva do turismo
a secretaria municipal, apesar de se declarar disposta a trabalhar em conjunto com
as associações, cooperativas e outros grupos de interesses, não foi identificada a
existência de nenhuma ação ou espaço que incentive a participação desses parceiros
representantes dos diferentes setores da comunidade. Onde a existência de Conselho
Municipal de Turismo (COMTUR), poderia garantir a participação dos atores sociais,
da comunidade é poder público, sendo que em muitos casos tal iniciativa cabe a
administração municipal para favorecer uma gestão política inclusiva e melhor
direcionar o turismo no município.

Dimensão processual ou sócio-política (Politics): Com o objetivo de


melhor desvelar o tema abordado optou-se por sistematizar as falas dos atores de
acordo com a compreensão dos mesmos, quanto à importância do turismo, a gestão
política inclusiva é a participação comunitária, para uma melhor análise dos limites é
possibilidades da participação comunitária no desenvolvimento das políticas públicas
do turismo em Xambioá11.
10 (Http://www.prefeituradexambioa/secretariadeturismo.com.br)
11 Nessa dimensão optou-se por entrevistar atores sociais chaves a cerca de como se dá ou não a partici-
pação destes no processo de planejamento municipal. Foram entrevistados 20 atores no período de Fevereiro à
Março de 2014. Sendo estes desde representantes de associações municipais ( pescadores, barqueiros, comercial),
empresarios do sistema turistico, o poder público municipal e moradores locais.
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Ressalta-se que no caso da dimensão processual ou sócio-política tal modelo


de sistematização e análise resultou da necessidadede é adaptação de um outro
instrumento para compreensão ao entendimento dos diferentes grupos de interesse
envolvidos no processo político municipal.

Entre os entrevistados, tem-se o atual presidente da Associação Fluvial dos


Barqueiros de Xambioá, para o qual foi perguntado sobre a importância do turismo
para o desenvolvimento local, afirmou que, “A comunidade não tem a visão de que
o turismo pode ser uma maneira de se desenvolver localmente”. O mesmo também
relata a ausência de comunicação entre a comunidade e o poder público ao afirmar
que “a gestão local não se mostra participativa, ela não procura a comunidade para
ouvir a opinião e nem para mostrar o que está sendo feito e/ou pretendem fazer”.

Para a empresária do ramo hoteleiro, Iolanda Aragão (Hotel rio Araguaia) no


município de Xambioá em sua opinião, quando perguntado se já ouve algum interesse
por parte da gestão municipal em desenvolver ações para o fomento ao turismo, sua
fala revela que “a gestão do município não demonstra interesse em desenvolver o
turismo no município, reuniões ou coisas do gênero se já houve alguma nunca fui
convidado à participar”.

Ao presidente da Associação dos Barqueiros de Xambioá, Cicero Gomes da


Silva, quando perguntado a ele quanto a sua percepção acerca das políticas públicas
em Xambioá afirmou que“[...], seria necessário que a cidade possuísse melhor
infraestrutura urbana, (saneamento básico, melhores hospitais e mais segurança) e
estrutura turística, mais hotéis, restaurantes, organização nos pontos turísticos para
melhor atender os residentes é visitantes”.

Outro ator social entrevistado, representante de um setor diretamente


relacionado com o Turismo, a empresaria Cleonice do hotel Tomazini, diz que há a
necessidade de melhorar a gestão pública no âmbito da inclusão social; “Não acho
que o poder público trabalha de forma à incluir a comunidade nos processos decisórios
do município”.

O presidente da Colônia de Pescadores do município o Senhor José Albino,


representante comunitário local que está indiretamente relacionado com o Turismo,
durante sua entrevista disse que; “O turismo se mostra muito relevante para o
desenvolvimento da cidade, pois utilizando os saberes é fazeres da comunidade é
possível ter uma atividade sustentável, não temos somente o interesse mais também
a necessidade de participar desses processos de decisões, atuando junto com a
prefeitura nas suas ações”.

Morador local e empresario do segmento hoteleiro Edson Saldanha Athayde,


representante da sociedade afetada pelo turismo, compreende a importância de se
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desenvolver regional é economicamente seu município quando perguntado sobre tal


afirmou que, “sempre propaguei essa ideia de que Xambioá tem condições de se
desenvolver tendo a questão turística como elemento de destaque na comunidade[...].
“o poder público tem uma grande responsabilidade em alavancar essas questões
turísticas, desde que haja pessoas que gostem e se envolvam de fato com a atividade”.

Dimensão material ou financeiro-econômico (Policy): Relaciona-se com


os problemas no âmbito das finanças públicas, questões gerais de captação é
aplicação de recursos financeiros, visando sempre a sua repercussão em relação ao
desempenho do poder público municipal.

Por seu papel na estrutura governamental, a Secretaria de Cultura e Turismo


possui receita própria provenientes da gestão pública administrativa municipal,
não podendo aqui relatar valores e destinações dos mesmos, pois não foram
disponibilizados pela Secretaria e nem no portal da transparência, não constam
informações referente aos repasses feitos para a Secretaria de Cultura e Turismo.
Constatou-se na realização da pesquisa de campo, no nível da dimensão material ou
financeiro-econômico, que o interesse do poder público municipal no desenvolvimento
do turismo, contempla apenas os eventos que a cidade comemora no decorrer do ano,
por exemplo, carnaval, aniversário da cidade é temporada de praia. Foi constatado
que no município de Xambioá possui diversos atrativos e potenciais turísticos – como
pedras com inscrições rupestres, cachoeiras é corredeiras ao longo do Rio Araguaia,
além dos aspectos históricos relacionados à Guerrilha do Araguaia.

O Ministério do Turismo em parceria com agentes financeiros federais -


Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Banco do Nordeste e Banco da
Amazônia - disponibilizam programas, linhas de crédito é ações de fomento voltadas
para o financiamento e apoio a cadeia produtiva do turismo, oferecendo recursos
para implantação da infraestrutura e de empreendimentos turísticos. O incentivo para
construção é modernização de equipamentos do turismo dar-se-á não só por meio da
oferta de novas linhas de créditos, mas também pela identificação e cadastramento de
projetos é atrativos nas regiões e nos destinos turísticos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se quanto à dimensão institucional-administrativo, evidenciou-se a


ausência de estrutura institucional com corpo técnico qualificado, concursos públicos
na área é a falta de capacitação, que poderia vir a ser de beneficio tanto a gestão
pública, quanto ao servidor público e comunidade, pois ao se investir em capacitação
é qualificação, o poder público esta agindo na adiministração estratégica o que prima
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pela ação sobre o pensamento dando uma compreensão adequada acerca das políticas
pública voltadas para o turismo, e como, onde e quanto investir é buscar parcerias que
visam resolver problemas pontuais na gestão pública da atividade turística.

Foi verificada também a inexistência do Conselho Municipal de Turismo


(COMTUR), sendo este é um órgão de caráter consultivo, deliberativo e fiscalizador,
tendo por objetivo orientar, promover e fomentar o turismo de forma participativa
por meio de projetos e ações integradas. Logo, cabe aqui buscar empoderar e
fomentar ações conjuntas, não apenas com os representantes da cadeia produtiva
do turismo, ampliando a concepção de participação comunitária ao envolver mais
efetivamente a comunidade civil, orientando-os acerca da importância do turismo e
suas consequências para o desenvolvimento local.

Apesar de tratar-se de medidas com efeitos a longo prazo, não cabe apenas a
participação via COMTUR por meio de representantes com interesses divergentes e
não reconhecidos pela maioria não envolvida, mas diretamente afetada pela exploração
irresponsável do turismo. O que fica é a compreensão acerca da importância de se
repensar novos modelos de gestão municipal que contemple a comunidade, não
apenas investindo em conselhos especializados, mas criando novos mecanismos e
ferramentas de participação adequados as sociedades quase sempre carentes de
formação, informação e qualidade de vida de um modo geral.

É notoria a utilização de metodologias participativas em diversas outras areas


como a agricultura que visam empoderar ou transferir ferramentas é conhecimento
voltados para a gestão e implementação de projetos é ações efetivas, conectadas
com a realidade local. Tais iniciativas podem ser aproveitadas para o turismo por
fomentarem a qualidade participativa de comunidades a margem do mercado de
oportunidades modernas. Além da possibilidade de se investir em novos mecanismos
e caminhos para a participação social como a inserção do tema turismo em projetos de
cunho pedagógico em escolas, associações é conselhos comunitários de localidades
turísticas abordando os impactos tanto positivos quanto negativos.

Nos resultados relativos à dimensão processual ou sócio-político observou-se


por meio das falas dos atores sociais entrevistados que a percepção dos mesmos
quanto a importância do turismo é associada a geração de emprego e renda e a
melhoria das relações comerciais e na infraestrutura do município. Porém, ressalta-se
que o turismo não é reconhecido por alguns como de fato importante, podendo se
perceber o mesmo no poder público local, apesar da cidade receber um considerável
fluxo turístico em âmbito regional. Visto à gestão política inclusiva, os mesmos de
forma geral entendem que o poder público municipal não desenvolve nenhuma ação
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que vise a inclusão da comunidade é dos demais interessados na atividade turística.

Entretanto, o desenvolvimento tal como promove o turismo local, enfoca a


ação governamental, mas não aquela centralizada é burocrática, mas sim aquela
descentralizada e participativa, destacando que para um melhor planejamento do
turismo tem que haver respostas aos interesses tanto do poder público como dos
demais atores envolvidos no processo. Sendo assim, o planejamento participativo
recupera ou introduz a participação social da sociedade, ao permitir que a comunidade
contribua na elaboração de estratégias, transformando-a numa terceira esfera de
poder, na medida que se toma consciência de si mesma.

Em relação a dimensão financeiro-econômico pode-se perceber a falta de


interesse é conhecimento do poder público municípal em elaborar projetos para
captação de recursos para o desenvolvimento turístico junto a órgãos financeiros
federais, visto que para isso seriá necessário um real levantamento de todos os dados
que envolvem o turismo no município e de habilidades específicas para elaboração de
projetos. Mas já como dito anteriormante a falta de capacitação dos recursos humanos
na gestão municipal, carrega consigo caracteristicas perceptiveis, quando o municipio
necessita de contratar empresas de consultoria e de elaboração de projetos, com
grandes custos contratuais, sendo que se fosse invetestido na especialização do
corpo tecnico interno, poderia se economizar em tempo é dinheiro, isso em médio e
longo prazo.

Especificamente ao analisar os processos de articulação, mobilização e


organização que estão sendo desenvolvidos na cidade de Xambioá pode-se verificar
que não há nenhuma ação que visa integrar o setor público é privado, bem como
a participação comunitária dos atores envolvidos para um pleno desenvolvimento
do turismo, podendo destacar a ausência do Conselho Municipal de Turismo como
um exemplo da falta de articulação e comunicação por parte do poder público com
a comunidade é demais interessados, mas não só este meio de organização, mais
outros tipos de associações tem o poder de servir como ponte entre todas as esferas
da sociedade – Estado, mercado e sociedade civil – destacando que as ferramentas
de articulação e organização, tem no seu alcance dos objetivos a crença de que um
aparato institucional mais organizado, profissional é especializado em turismo pode
levar a alcançar o processo de desenvolvimento local.

Portanto, à respeito da participação é da colaboração da comunidade nos


processos decisórios das políticas públicas específicas ao turismo, consta-se que
não há participação comunitária no momento de formulação de políticas do turismo,
pelo fato de não haver políticas públicas efetivas que envolvam o poder de decisão
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da comunidade na elaboração dos mesmos; os atores envolvidos no turismo não


participam nem na determinação de objetivos, nem de suas estratégias e planejamento.
No caso, a participação comunitária nos processos políticos de Xambioá não contempla
a sociedade em sua totalidade é talvez nem em pequenas frações. Sendo que ao
incentivar a articulação e o maior entrosamento entre governo, iniciativa privada é
comunidade, poderia trazer um melhor compreendimento do que vem a ser turismo,
é sua importancia tanto econômica, quanto social para as comunidades é regiões
turisticas.

Observadas as potencialidades e os desafios de se desenvolver o turismo


na cidade de Xambioá, em levantamento dos potenciais turísticos do Município, dos
resultados ali já obtidos, pode-se ser observado que este se mostram diversos quanto
as possibilidades de segmentação turística para o mercado. Contudo infelizmente
o órgão de turismo municipal não dá a atenção merecida, priorizando a elaboração
de eventos como principal atividade turística, fazendo com que o potencial turístico
histórico, cultural é natural da região caia em desuso é deixando claro a lacuna que
ali se constituíu, por ser um fator limitante no crescimento da atividade turística, sendo
decorrente não só da deficiência das políticas de turismo, mas tanto quanto das
políticas educacionais.

Assim, a partir dessas conclusões foi possível retomar o objetivo deste


trabalho de analisar a participação comunitária do município de Xambioá nas políticas
públicas do turismo é observar que a participação dos atores sociais no modelo de
desenvolvimento turístico local, ou seja, a comunidade de Xambioá, não tem uma
participação efetiva nas tomadas de decisões que envolvem a política pública do
turismo. Por fim, são inúmeros os desafios do município em desenvolver um turismo de
qualidade, ficando como recomendação a melhoria da infraestrutura do órgão municipal
de turismo, como também a qualificação é capacitação do corpo técnico lá existente.
Tendo a necessidade de esclarecer junto à comunidade a importância do turismo para
o município e da sua integração com o poder público para o desenvolvimento local.

Recomendamos a estudos futuros a inserção desta temática no meio acadêmico,


para aprofundar nas diferentes interfaces é possibilidades da participação comunitaria
na gestão municipal não limitando somente em estudos com a finalidade de formação
profissional e empoderamento dos representantes da cadeia do turismo, como o
COMTUR, mas sim de forma que possa ser efetiva a participação na elaboração
de estudos é projetos que visem à melhoria de vida de todos, impulsionando não
só a criação de novas oportunidades socioeconômicas, mas sugerindo também o
incremento da participação dos mais diversos atores sociais, impactados pelo turismo,
no processo decisório das políticas públicas.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Campinas, SP: Papirus, 2003.
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Turismo. Rio de Janeiro: Instituto Virtual de Turismo, v. 1, n. 1, 2001.
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BOBBIO, N. O Conceito de Sociedade Civil. Tradução de Carlos Nelson Coutinho.
Ed. CIP – Brasil, Rio de Janeiro, 1982
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Jun./2013. Dissertação (Mestrado) – UnB, 2013
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n.16, p. 20-45, Jul. dez. 2006.
TYLER, D. [Et. Al]. Gestão do Turismo Municipal. Ed. Futura. São Palulo, 2001
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O PATRIMÔNIO CULTURAL DO QUILOMBO MOCAMBO: APORTES PARA O


TURISMO ÉTNICO
Viviane Castro1
Graduanda do Curso de Turismo/UFS
violeira@ig.com.br

Rosana Eduardo da Silva Leal2


Doutora em Antropologia. Docente do Núcleo de Turismo/UFS
rosanaeduardo@yahoo.com.br

RESUMO
O presente artigo tem por finalidade refletir sobre a relação entre turismo, etnicidade e
populações quilombolas, tendo como campo empírico o Quilombo Mocambo, situado
no município de Porto da Folha em Sergipe. O estudo foi realizado por meio de pesquisa
teórica e empírica, servindo-se da pesquisa bibliográfica e de campo, com aplicação
de entrevista, registro fotográfico e observação não participante. A pesquisa revelou
que a comunidade conta como um conjunto de bens culturais materiais e imateriais
que podem se tornar atrativos turísticos, atendendo à demanda específica para o
desenvolvimento do Turismo Étnico. O trabalho identificou também que o principal
potencial turístico local é o patrimônio imaterial, baseado na memória e na história
centenária deste povo de origem africana, que ao longo do tempo se misturou aos
índios vizinhos, com quem mantém relações de parentesco, trabalho e cooperação.
Entretanto, é importante salientar que o processo de inserção do turismo no respectivo
território deve ser conduzido pela própria comunidade, garantindo a sustentabilidade
dos recursos existentes.

PALAVRA-CHAVE: Etnicidade, Patrimônio Cultural, Turismo Étnico, Quilombo


Mocambo/SE.

ABSTRACT
This article aims to reflect on the relationship between tourism populations, ethnicity
and brown, as an empirical field Quilombo Mocambo, located in the municipality of
Porto da Folha in Sergipe. The study was conducted by means of theoretical and
empirical research, using library research and field application of the interview,
photographic record and non-participant observation. The investigation revealed that
the community has a set of tangible and intangible cultural assets can become tourist
attractions, taking into account the specific development of ethnic tourism demand.
The study also identified that the main touristic potential is intangible heritage, based
on memory and the centennial history of people of African origin who eventually mixed
with the neighboring Indians, maintaining family relationships, work and cooperation.
However, it is noteworthy that the process of integration of tourism in its territory should
be community-driven, ensuring the sustainability of existing resources.

KEY-WORLDS: Ethnicity, Cultural Heritage, Ethnic Tourism, Quilombo Mocambo / SE

1 Bolsista de Iniciação Científica/CNPQ.


2 Orientadora da pesquisa
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INTRODUÇÃO

As reflexões apresentadas neste artigo fazem parte da pesquisa realizada no


Programa de Iniciação Científica - PIBIC da Universidade Federal de Sergipe, aprovado
no Edital POSGRAP-COPES/UFS nº 01/2013, com recursos do CNPQ. Trata-se de
um trabalho que faz parte do Grupo de Pesquisa em Antropologia e Turismo – ANTUR/
CNPQ/UFS3, pertencente ao Núcleo de Turismo/UFS.
O presente artigo tem por finalidade refletir sobre a relação entre turismo,
etnicidade e populações quilombolas, tendo como campo empírico o Quilombo
Mocambo, situado no município de Porto da Folha em Sergipe. Para a produção do texto
foram utilizadas a pesquisa bibliográfica e de campo. A pesquisa bibliográfica serviu
para refletir teoricamente sobre temas como etnicidade, populações remanescentes
de quilombos e turismo étnico, além de dados históricos sobre o Mocambo. Já a
pesquisa de campo foi utilizada para colher dados empíricos da comunidade, por meio
da observação não participante, aplicação de entrevistas e registro fotográfico.
O artigo está dividido em quatro sessões. A primeira envolverá um debate
teórico sobre etnicidade por meio de uma abordagem antropológica, com a finalidade
de refletir sobre a relação entre comunidades remanescentes de quilombo e turismo.
A segunda sessão analisará o papel do patrimônio cultural enquanto atrativo turístico,
considerando os territórios quilombolas neste âmbito. A terceira sessão abordará o
Turismo Étnico, identificando as especificidades desta forma de experiência turística.
Por fim, a quarta e última sessão envolverá a apresentação da comunidade do
Mocambo, por meio dos dados empíricos coletados durante a pesquisa de campo,
envolvendo o patrimônio material e imaterial da referida comunidade.

ETNICIDADE: CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O conceito de etnicidade está relacionado aos processos de identificação de


grupos étnicos4 que se consideram portadores de identidade etnicamente diferenciada
do sujeito no mundo atual. Tais grupos compartilham uma trajetória histórico-social,
experiências que são descritas oralmente ou através de mitos, modos de vida
particulares e saberes que são transmitidos de um indivíduo para o outro ao longo
do tempo. Esses elementos marcadamente culturais afirmam os grupos étnicos e se
transformam em mecanismo de identificação.

A identidade étnica é utilizada como forma de estabelecer os limites do grupo


3 Para maiores informações, acessar a página do grupo: http://www.anturufs.blogspot.com.br/
4 De acordo com Luvizotto (2009, p. 33) “torna-se possível definir grupo étnico como uma
forma de organização social, que expressa uma identidade diferencial nas relações com outros
grupos e com a sociedade mais ampla”.
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e de reforçar sua solidariedade. Nessa concepção, a continuidade dos grupos


étnicos não é explicada em termos de manutenção de sua cultura tradicional,
mas depende da manutenção dos limites do grupo, da contínua dicotomização
entre membros e não membros (nós/eles) (LUVIZOTTO, 2009, p.31).

A cultura é a base da identificação de tais grupos, sendo a identidade, as


tradições e o sentimento de pertencimento elementos de distinção e expressão de
etnicidade. Para Martins (2003, p. 43) “todo grupo necessita de uma cultura que o
sustente para poder existir, vivenciada no sentimento comum e repassada através da
comunicação, para manter o sentido de pertencer entre seus integrantes”.
A etnicidade está pautada na cultura que não é estática, pois ela está em constante
movimento, sendo flexível e dinâmica. De acordo com Luvizotto (2009, p. 29):
[...] a concepção de etnicidade está além da definição de culturas específicas
e, portanto, é composta de mecanismos de diferenciação e identificação que
são acionados conforme os interesses dos indivíduos em questão, assim
como o momento histórico no qual estão inseridos.

Em 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil5 tornou-se um


instrumento que propôs ações afirmativas relativas às identidades étnicas de grupos
minoritários, como é o caso dos povos descendentes da matriz africana remanescentes
de quilombos. Para Oliveira e Jesus (2010, p. 70)

A denominação do termo quilombo não é uma realidade recente. Situando-o


em um espaço temporal, os quilombos eram territórios em que os negros
se organizavam com a finalidade de fugir de um sistema escravagista e
consequentemente, propiciava o refazer de tradições ao assumirem-se como
um agente cultural que se encontrava em um processo de reterritorialização.
Hoje, os núcleos quilombolas são territórios de resistência, cuja trajetória –
passada, presente e até mesmo futura – percorre a busca por processos
que promovam a igualdade de oportunidades e direitos, cuja significância
sociocultural e econômica lhes venha garantir oportunidades mais justas e
equitativas.

O título VIII, capítulo VII, artigo nº 68, título X, afirma que “aos remanescentes
das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a
propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”. E assim
inúmeras comunidades de negros espalhadas por todo o Brasil puderam tornar
realidade sua demanda pelas terras ocupadas por eles há décadas, ao se afirmarem
como remanescentes de comunidades quilombolas e portadores de uma identidade
étnica diferenciada. Desta forma, muitas comunidades puderam receber a titulação de
suas terras. Os indivíduos a elas pertencentes se beneficiaram das ações afirmativas,
como reconhecimento ao direito de propriedade coletiva garantida pela Constituição
Brasileira aos grupos étnicos quilombolas. Desta forma podemos compreender o
sentido de etnicidade como:

5 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm.


Acessado em: 05/05/2014.
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[...] o sentimento de ser portador de atributos distintivos face aos integrantes


de outros grupos, atributos estes que são considerados os mais importantes
pelos indivíduos que pertencem a um dado grupo. Oscilando, portanto, no
largo espectro do estigma imputado por outros e da falta de consciência de
sua singularidade, de um lado, ao orgulho e à consciência de sua diferença,
de outro, a etnicidade, como marcador de diferença, é um fenômeno de
ordem essencialmente cultural (BRASIL, 2010, p. 235).

A etnicidade evoca sentimentos de pertencimento a um grupo, valorização de


sua memória na qual se constroem a identidade coletiva e a autoestima da comunidade,
como salientam Silva e Carvalho (2010, p. 207):
Essas comunidades desenvolvem formas particulares de manejo dos
recursos naturais que não visam diretamente ao lucro, mas à reprodução
cultural e social, bem como de percepções e representações em relação ao
mundo natural e cultural marcadas pela ideia harmônica de associação com
a natureza e seus ciclos. Entre as chamadas populações tradicionais estão
as comunidades rurais remanescentes de quilombos.
A herança cultural, que é transmitida de geração em geração, insere os
saberes e fazeres populares, as festas e celebrações, a gastronomia, o artesanato,
as edificações históricas e a religiosidade da comunidade, de modo a torná-la seu
patrimônio cultural.

O PATRIMÔNIO CULTURAL

De acordo com a Constituição Brasileira6 de 1988, em seu artigo 216, o


patrimônio cultural brasileiro é composto por bens de natureza material e imaterial.
O Manual de Orientações Básicas para o Turismo Cultural do Ministério do Turismo
(BRASIL, 2008, p. 27) identifica que:

[...] o patrimônio material é constituído de bens culturais móveis e imóveis. No


primeiro caso, encontram-se aqueles bens que podem ser transportados, tais
como os livros e as obras-de-arte e, no segundo, os bens estáticos, tais como
prédios, cidades, ruas etc. e possuem instrumento específico de proteção.

A mesma publicação do MTur (BRASIL, 2008, p. 29), considera como:

[...] patrimônio cultural imaterial os usos, representações, ex­ pressões,


conhecimentos e as técnicas, bem como os instrumentos, objetos, artefatos
e lugares que lhes são associados e que as comunidades, os grupos e, em
alguns casos, os indivíduos reconheçam como parte integrante de seu patri­
mônio cultural. São exemplos os ofícios, rituais, danças e pinturas corporais.

O patrimônio cultural implica na essência cultural de determinada comunidade


pautada na riqueza herdada de seus antepassados, que se traduz na valorização das
mais diversas manifestações culturais. É considerado como um recurso cultural de
6 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm.
Acessado em: 05/05/2014.
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atratividade turística que guarda os saberes e fazeres, as crenças, os usos e costumes


e os bens materiais.
Na atualidade o patrimônio cultural é responsável por grande movimentação de
pessoas na atividade turística, pois os turistas buscam o diferente do seu habitual para
consumirem como atrativo turístico durante as visitações, como analisa Grünewald
(2003, p. 143):

Dentro de toda essa complexidade do fenômeno, gostaria de destacar um


aparente paradoxo quanto à busca do objeto turístico pelos turistas. Hoje, no
princípio do milênio em que se inicia o turismo espacial, há uma procura cada
vez maior por sociedades em recônditos da Terra. Digo paradoxo aparente
porque isso que se constrói como foco da visitação turística está na procura
pelo diferente, pelo exótico, pelo outro que, na verdade, é buscado desde o
início das jornadas turísticas.

As comunidades remanescentes de quilombos também possuem uma forma
particular de ocupação de territórios, com distintas configurações de organização
social e de estilo de vida. Esse modo de viver e se de relacionar com a natureza,
próprio destas comunidades tradicionais, é um dos principais fatores de identificação,
tendo se tornado uma das fundamentais motivações das viagens na atualidade. As
novas experiências de vida criaram uma demanda específica no turismo, que se
materializou sob a forma de roteiros turísticos étnicos, onde o patrimônio cultural é o
atrativo turístico e o bem mais apreciado pelos turistas. Para Pinheiro (2014, p. 3) “o
turismo surge como fator central nas novas dinâmicas identitárias e patrimoniais”.

O TURISMO ÉTNICO

Nos últimos tempos conhecer outros modos de vida tem sido a motivação
para o deslocamento de diversos indivíduos. A necessidade de libertar-se de sua
rotina e sair do seu espaço de convivência estimula a busca por distintos espaços.
A experiência turística diferenciada possibilita a satisfação da necessidade de outros
conhecimentos. Para Krippendorf (2003, p. 47):
[...] o ser humano viaja, sobretudo em função de um desejo de fuga. Na
verdade, esta seria a principal razão de ser do turismo hoje. O universo
industrial é percebido como uma prisão que incita a evasão. E isto porque,
na realidade, o mundo do trabalho é feio, o ambiente é desagradável,
uniformizado e envenenado, o ser humano é tomado pela necessidade
obsessiva de se liberar, o que torna inevitável o desejo de fuga.

Do ponto de vista econômico, o Turismo Étnico é uma atividade que pode


gerar emprego e renda, estando baseada no consumo da cultura local e do legado
étnico. Como descreve Andrade, Oliveira e Maganhotto (2011, p. 36) “[...] podemos
acompanhar um grande crescimento do chamado turismo étnico cultural que ocorre,
entre outros, junto a populações ribeirinhas, de pescadores, de indígenas, de imigrantes
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e de comunidades negras”.
O atrativo é a etnicidade da comunidade anfitriã, pois os visitantes estão
interessados na apreciação e contato com os modos de vida diferenciados deste local.
Portanto, quanto mais preservados são estes ambientes, maior será a autenticidade
destas comunidades, pois há um fortalecimento de suas referências étnicas. Conforme
Silva e Carvalho (2010, p. 209):

[...] os turistas tidos como culturais possuem como principal motivação


o desejo de entrar em contato com diferentes culturas, visitando os
elementos representativos do patrimônio de uma determinada comunidade:
conjuntos arquitetônicos, sítios arqueológicos, danças típicas, religiosidade,
gastronomia, o artesanato, a musicalidade, performances artística. Assim, o
patrimônio cultural apresenta-se como atrativo significativo para os turistas,
especialmente para aqueles que buscam na apreciação do outro, um
diferencial em relação às suas vivências habituais.

O desenvolvimento desta atividade deverá ser feito através de um rigoroso


planejamento apoiado nos pilares da sustentabilidade e adaptado às características e
necessidades locais, em que a comunidade detenha o controle das decisões, dos seus
recursos disponíveis e de seu legado étnico, de acordo com os interesses coletivos.
O turismo como atividade, uma vez implementado e seguindo um planejamento
criterioso, tem auxiliado como afirma Chambers apud Cardoso (2006, p.145)

[...] minorias a construir suas representações culturais não compatíveis com


a ideologia nacionais: existem ocasiões em que as minorias étnicas tem
manejado o uso do turismo para afirmar sua identidade própria e diferenciar-
se da imagem nacional.

É o que pode vir a ocorrer com o Mocambo, comunidade remanescente de


quilombo situada em Sergipe, que possui um diversificado patrimônio comunitário
com potencial para desenvolver o turismo étnico. Diante da pesquisa realizada
identificou-se que o desenvolvimento desta atividade poderá trazer, além de benefícios
econômicos, a valorização e a preservação da cultura do referido grupo.
Assim sendo, o Turismo Étnico pode ser um importante aliado do Mocambo,
tanto como uma nova proposta de desenvolvimento local, quanto para a preservação
e valorização da cultura e do meio ambiente.

O PATRIMÔNIO CULTURAL DO MOCAMBO

O Mocambo foi a primeira comunidade a ser reconhecida como remanescente


de quilombo nas terras sergipanas. De acordo com Governo de Sergipe (2008, p.
04), “O Mocambo foi reconhecido pela Fundação Cultural Palmares - FCP, como
comunidade remanescente de quilombo, em 1997 e a titulação das terras (2.100
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hectares) ocorreu em 2000 através do INCRA”. Situa-se na região do Alto Sertão


Sergipano, no município de Porto da Folha e às margens do Rio São Francisco.
Possui um total de 156 famílias e população estimada em cerca de 600
pessoas. A economia do povoado se baseia nas atividades rurais de subsistência. A
renda familiar mensal, em geral, é baixa, pois cerca de 80% dos rendimentos é inferior
ou igual a um salário mínimo e, grande parte da população é assistida por políticas
públicas como “Bolsa Família”, “Bolsa Estiagem” e “Auxílio Defeso”. O IDH é de 0,556,
sendo o 4º pior do Estado (GOVERNO DE SERGIPE, 2008, p. 07).
O laudo antropológico, estudo feito para o reconhecimento da Fundação Cultural
Palmares - FCP, bem como as entrevistas realizadas durante a pesquisa de campo
demonstraram que as tradições do Mocambo estão relacionadas às celebrações de
caráter religioso e não religioso e às comemorações de práticas agrícolas. Destacam-
se ainda as edificações como bens tangíveis e o patrimônio imaterial que garantem a
manutenção dos saberes e troca de conhecimentos.

a) As festas religiosas
religião do povo do Mocambo esta baseada na fé católica, tendo como
padroeira a Gloriosa Santa Cruz. Os festejos são realizados no 1º domingo de maio,
sendo antecedidos por nove noites de novena e dois dias de festa, finalizando com a
procissão no domingo. O evento é realizado por uma coordenação, com organização
de leilão para manutenção da igreja e do evento religioso, atraindo cerca de 4.000
visitantes de diversas localidades neste período.
Em junho também é comemorado a festa junina de São João, São Pedro e Santo
Antônio, com forró e comidas típicas como pamonha e milho assado e apresentação
da quadrilha mirim da escola do Mocambo. O carnaval também é comemorado e
durante os festejos a brincadeira é jogar água uns nos outros.

b) O samba de coco
A dança do samba de coco é uma das manifestações mais importantes da
comunidade do Mocambo, pois está relacionada à colheita de arroz nas lagoas e ao
modo de plantar a roça, reforçando o laço de solidariedade entre eles. Conforme Arruti
(2006), apesar de cada família possuir e ser responsável pelo seu trecho de arrozal,
a colheita tinha de ser realizada em tempo muito preciso. Assim, antes que a lagoa
secasse, as famílias se reuniam para o trabalho em mutirão. Arruti (2006, p. 228)
ressalta ainda que:

Nesse momento o trabalho coletivo era realizado ao som dos sambas de


coco: sob um sol sempre forte, com a água pouco abaixo da cintura, homens
e mulheres colhiam o arroz e recolhiam os peixes encurralados, enquanto
cantavam e bebiam cachaça. As colheitas de arroz e as próprias lagoas
sempre representaram, por isso, um dos momentos mais importantes na
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confirmação dos laços de solidariedade entre aquelas famílias.


Hoje o samba de coco tornou-se uma manifestação cultural bastante relevante,
pois confere identidade à comunidade, sobretudo quando o grupo se apresenta em
outras cidades.

c) A vaquejada
A criação de gado é uma das principais atividades econômicas do Alto Sertão,
tendo com ela a figura do vaqueiro, que está na lida diária do rebanho. A vaquejada,
esta importante manifestação cultural, teve início no Nordeste por volta da década de
1940 e era organizada pelos coronéis como passatempo para suas famílias, tendo os
vaqueiros como participantes principais. Com o tempo as vaquejadas se popularizaram
e se tornaram uma atividade recreativa de caráter competitivo, no qual a dupla de
vaqueiros, vestida em suas roupas de couro e montada a cavalo, corre atrás de um
boi em circuito de mata fechada de caatinga, até conseguir capturá-lo, ao fim a melhor
dupla recebe um prêmio (SILVA, 2007, s/n).
No Mocambo (Foto 01 e 02), como não podia ser diferente, esta manifestação
cultural também está presente. A principal vaquejada da comunidade acontece no fim
do mês de julho. Durante o período da festa, o Parque da Vaquejada do Mocambo
chega a receber cerca de 4.000 visitantes, premiando os melhores competidores,
inclusive com dinheiro, bezerros e televisão. Mas outras vaquejadas de menor porte
também acontecem ao longo do ano, se tornando um dos principais entretenimentos
dos moradores da região.

FOTO 01 – DUPLA DE VAQUEIROS


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FOTO 02 – VAQUEIRO NA COMPETIÇÃO DA VAQUEJADA

d) As igrejas
Existem duas igrejas no território quilombola, que são a Igreja de Santa Cruz
(Foto 03) que fica no povoado do Mocambo e a Capela Sagrado Coração de Jesus
do Jaciobá (Foto 04 e 05), um pouco mais distante. Esta última foi tombada pelo
Governo Estadual de Sergipe, mas não foi restaurada. Seu estado de conservação
é precário e não tem sido utilizada pela população. Já a Igreja de Santa Cruz é a
mais utilizada para os rituais religiosos. Recebe sempre manutenção e está em bom
estado de conservação. Elas constituem parte do patrimônio edificado da comunidade
e destacam-se como espaço para associação entre religião e cultura.

FOTO 03 – IGREJA DE SANTA CRUZ


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FOTO 04 – CAPELA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS DO JACIOBÁ

FOTO 05 – ALTAR DA CAPELA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS DO JACIOBÁ

e) As casas de construções antigas


Atualmente as casas de moradia do povoado do Mocambo são de alvenaria (Foto 06,
07, 08 e 09). As residências mais próximas da Igreja da Gloriosa Santa Cruz são as
mais antigas e datam do início de 1900.
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FOTO 06 – POVOADO DO MOCAMBO

FOTO 07 – CASA DE MORADIA


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FOTO 08 – CASA DE MORADIA

FOTO 09 – CASA DE MORADIA

Arruti (2006, p. 260) descreve que:

As residências mais antigas, datadas de aproximadamente o início do século,


estão quase todas concentradas na “rua de baixo”, voltadas para o rio e
próximas à igreja, situada no ângulo inferior esquerdo da área reivindicada.
Algumas casas mais antigas já se situavam onde hoje existem as casas
da ‘rua de cima’, mas o conjunto de casas geminadas que se vê hoje, de
desenho e dimensões bastante regulares, é posterior a essas construções
que surgiram isoladas após 1950.

Outras duas casas, estas pertencentes às fazendas que foram desapropriadas,


são as antigas sedes que serviram de moradia ao dono da terra. Elas foram construídas
também na década de 1900 em locais de destaque, demonstrando a imponência da
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riqueza dos fazendeiros de gado daquela época. Atualmente apenas a casa da antiga
Fazenda Floresta (Foto 10 e 11) está em uso e encontra-se conservada. Já a outra
casa, pertencente à antiga Fazenda Rosa Cruz (Foto 12) não tem morador e necessita
de reforma no telhado.

FOTO 10 – SEDE DA FAZENDA ROSA CRUZ

FOTO 11 – SEDE DA FAZENDA FLORESTA


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FOTO 12 – SEDE DA FAZENDA FLORESTA

Estas duas casas, juntamente com as casas de moradia do povoado e as


igrejas, compõem um conjunto arquitetônico simples e belo, onde seus traços reforçam
o período a que pertenceram.

f) A gastronomia
A gastronomia local baseia-se na culinária sertaneja em que se usa basicamente
a mandioca cozida, o inhame cozido, a batata doce cozida, o peixe, o cuscuz com
ovos e leite, a carne de sol, o queijo coalho e o ribacão que é um prato semelhante ao
baião de dois.
Existem duas fabriquetas de queijo coalho e duas fabriquetas de doces, que
funcionam nos fundos das casas dos proprietários e são totalmente artesanais.
A produção é vendida na própria comunidade e o excedente é levado para ser
comercializado na feira da cidade alagoana de Pão de Açúcar.
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FOTO 13 – PRODUÇÃO DE DOCES

Os doces mais produzidos são a cocada, o doce de leite em quadradinhos


(Foto 13) e em pasta, o doce de goiaba e o de batata doce todos em quadradinhos.

CONCLUSÃO

A fonte de atração para o desenvolvimento do turismo étnico é a riqueza


do patrimônio comunitário. Nele estão presentes o meio natural e cultural, bem
como os modos de vida de uma população. As características da comunidade e os
aspectos históricos, econômicos, ambientais e culturais, bem como da infraestrutura
e dos serviços disponíveis, identificados durante toda a pesquisa, demonstram a
particularidade do patrimônio comunitário do Mocambo.
A pesquisa revelou um conjunto de bens culturais materiais e imateriais que
podem se tornar atrativos turísticos e que atendem à demanda específica para o
desenvolvimento do Turismo Étnico. Além disso, o desenvolvimento desta atividade
pode contribuir para dar visibilidade sociocultural, bem como estimular a preservação
do patrimônio, o trabalho e a renda.
O estudo identificou como a maior potencialidade turística o patrimônio imaterial
baseado na memória e na história centenária desse povo, que começou a ser formado
no século 19. Trata-se de um “modelo sergipano de quilombo”, como definiu Arruti
(2006) com características diferentes do modelo difundido no Brasil. A origem do povo
é africana, mas ao longo do tempo se misturou aos índios vizinhos, com quem mantém
relações de parentesco, trabalho e cooperação.
O modo de vida do Mocambo pode tornar-se um atrativo turístico capaz de
valorizar o território e as práticas tradicionais. Entretanto, é importante salientar que se
trata de uma comunidade tradicional e que, portanto, necessita de ações planejadas
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que busquem a sustentabilidade das atividades desenvolvidas. Desta forma,


consideramos necessário que haja um rigoroso planejamento turístico que atenda às
necessidades locais. Para tanto, é fundamental que o processo seja conduzido pela
própria comunidade, por meio de um protagonismo que garanta a preservação dos
recursos locais para as populações atuais e futuras.

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Departamento de Turismo

IMPACTOS E LEGADOS DE MEGAEVENTOS ESPORTIVOS: UMA ANÁLISE


JUNTO ÀS EMPRESAS ORGAZNIZADORAS DE EVENTOS DO RIO DE JANEIRO

Desireé Souza¹
Márcia Barbosa²

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo identificar os principais impactos


causados por megaeventos esportivos junto às empresas organizadoras de eventos do
Rio de Janeiro e explorar a temática com relação a capacitação da mão-de-obra local.
Sobre os métodos utilizados para a coleta de dados, foi desenvolvido um questionário
semiestruturado, com perguntas abertas e fechadas, pesquisa bibliográfica e
documental, além de observação in loco. Os resultados parciais apontaram que a
captação de megaeventos não está causando nenhum tipo de benefício ou mudança
significativa na rotina das empresas, o que chama atenção para a necessidade de
pesquisas mais aprofundadas que analisem o impacto desses eventos em outros
setores da economia e do turismo.
PALAVRAS-CHAVE: Megaeventos. Impactos. Legado. Rio de Janeiro.

ABSTRACT: This article aims to identify the main impacts of major sport events to
the event organizers of Rio de Janeiro and explore the thematic about the training
of local manpower. About the methods used for data collection, a semi-structured
questionnaire was developed, with open and closed questions, bibliographical and
documentary research, in addition to on-site observation. The partial results showed
that the capture of major events is not causing any kind of benefit or significant change
in the routine of the companies, which draws attention to the need for further research
to examine the impact of these events on other sectors of the economy and tourism.
KEYWORDS: Megaevents. Impacts. Bequest. Rio de Janeiro.

INTRODUÇÃO

A ideia de que “Eventos são uma forma inigualável de atração turística” (GETZ,
1989, p. 125) e de que um dos modos mais procurados e fáceis de se promover
turisticamente nos dias atuais é através dos eventos (REIS, 2008) vem sendo
comprovada através das disputas cada vez mais acirradas entre as nações pelo título
de cidade-sede de um dos megaeventos mundiais.

Apesar de toda a aura, espirito esportivo, expectativas e o nacionalismo que


exala dos megaeventos relacionados ao esporte, sediar eventos deste porte carrega
os interesses do Estado e de empresas privadas que visam converter os altos custos
para a realização destes eventos em lucros tanto políticos e econômicos, como sociais,
que por vezes passam despercebidos aos olhos da nação (IPEA, 2008)

Chalip (2002) acredita que as Olímpiadas podem ser um grande motivador


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do turismo, quando cita o caso dos Jogos Olímpicos realizados na Austrália, onde o
Conselho de Prognóstico Turístico do país (TourismForecastingCouncil), em 1998,
estimou que cerca de 1.6 milhão de turistas estrangeiros visitariam o país no período
que ia de 1997 a 2004. E frente a esta projeção, o Conselho também conjecturou que
os turistas estrangeiros que visitariam a Austrália, induzidos pelos Jogos Olímpicos,
gerariam em torno de 2.9 bilhões de dólares australianos, fazendo com que o turismo
fosse responsável por um impacto em torno de 44,6% na economia local.

Hall (1994) acredita que eventos de grande porte e internacionalmente


conhecidos, como Jogos Olímpicos e Copa do Mundo tem a enorme capacidade de
proporcionar impactos duradouros, relativos ao aumento das viagens internacionais
para a cidade-sede em questão. Pode-se observar tal fato em um relatório desenvolvido
em 1998, relativo aos Jogos Olímpicos de Sydney, onde menciona que 45% de
potenciais turistas norte-americanos se diziam mais interessados em viajar para a
Austrália nos próximos quatro anos devido à escolha de Sydney como cidade-sede
das Olímpiadas de 2000 (IPEA, 2008)

No caso da China, segundo os cálculos da Beijing Olympic Economic Research


Association cerca de 600 mil turistas são estrangeiros e aproximadamente 2,5 milhões
destes são das mais variadas regiões do país.

Além disso, os chineses tinham a expectativa de um crescimento de 8% a 9%


de turistas que visitariam Beijing no período de 2009 a 2018, tendo como principal
motivador os Jogos Olímpicos (IPEA, 2008)

Frente aos dados, é possível notar que sediar eventos de tamanha importância e
notoriedade é um fator que, além de atingir diversos setores, movimenta e desenvolve
significativamente a economia do turismo. A relação entre megaeventos e turismo
está em constante desenvolvimento e, consequentemente, faz com que boa parte
dos países direcione suas estratégias e melhorem suas táticas para candidatar-se
como país-sede destes, com o objetivo de conseguir a sua fatia de todas as possíveis
melhorias esperadas nos mais diversos setores da economia, gestão, infraestrutura e
desenvolvimento do país.

O discurso de gestores, instituições esportivas e empresas patrocinadoras com


relação aos mais variados tipos de legados relativos aos megaeventos é cada vez
mais forte. Os estudos e artigos relativos ao tema também estão em um crescimento
constante, devido a todas as esperadas melhorias que supostamente pode-se obter
a partir destes megaeventos. Em um seminário realizado em 2008, tendo como tema
principal o Legado dos Megaeventos Esportivos, o Dr. Holger Preuss afirmou que
os jogos são um catalisador significativo para uma melhoria na qualidade de vida.
Segundo Preuss (2008), tais eventos:
“podem ajudar a acelerar o processo de regeneração de uma cidade nas
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mais diversas áreas como habitação, transporte, segurança, convivência,


educação, sucesso econômico e outras, oportunizando legados tangíveis e
intangíveis.”

As melhorias anunciadas vão desde o crescimento do espírito esportivo


coletivo e melhoria na autoestima da população ao crescimento dos fluxos turísticos
e notoriedade das cidades-sede no cenário internacional. As vantagens relatadas são
tantas que praticamente todos os países querem se candidatar para conseguir tais
benefícios que, alguns acreditam começar a chegar de uma hora para outra. Todavia,
é importante salientar que não é bem assim que as etapas ocorrem.

O planejamento para a realização das Olimpíadas de Sydney, por exemplo,


começou três anos antes da cerimônia de abertura e os espaços permanentes para a
realização das competições, descritos na proposta de candidatura de Sydney foram
concluídos em 1999, nove meses antes do início dos Jogos em questão. Sydney
então entrou para a história dos Jogos Olímpicos, sendo a cidade que concluiu a
construção das estruturas com mais brevidade na história (IPEA, 2008).

Barcelona obteve algum sucesso na realização dos Jogos Olímpicos de 92,


pois conseguiu perceber que os Jogos não só dariam lucro para os organizadores,
“mas que podiam ser utilizados como um catalisador para o crescimento econômico
e para a modernização urbana, legitimando investimentos que podem beneficiar o
conjunto da população” (IPEA, 2008).

Gratton e Preuss (2008) acreditam que “as cidades-sede muitas vezes


investem em novas infraestruturas exageradas ou desnecessárias a longo prazo”. O
Ipea (2008), falando sobre o caso dos Jogos Olímpicos de Barcelona, afirma que uma
das principais preocupações e impactos da cidade foi “deixar como legado dos Jogos
Olímpicos o maior número de investimentos totalmente úteis”.

Com isso, é possível notar que um bom planejamento e uma gestão feita por
uma equipe de profissionais altamente qualificados, além do comprometimento em
fazer com que estes megaeventos sejam efetivamente promissores para as cidades a
curto, médio e longo prazo, são algumas das peças-chave e fazem-se absolutamente
necessários para que os resultados sejam positivos para a nação de um modo geral,
caso contrário, pode-se obter como resultado um legado negativo.

É indubitável que sediar eventos de tamanha dimensão é o sonho de grandes


nações, apesar dos custos significativos. As expectativas quanto aos megaeventos que
serão sediados no Brasil já são grandes, como pode-se observar no Plano Nacional
de Turismo 2013/2016, onde o Ministro de Estado do Turismo acredita que o Brasil
como sede destes megaeventos “será decisivo para transformar o país no terceiro
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maior Produto Interno Bruto turístico do mundo até 2022”, sendo que, atualmente é o
sexto colocado neste mesmo ranking.

Sobre eventos de grande porte no Brasil, Da Costa e Miragaya (2008) citam o


Carnaval do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Paulo como sendo “megaeventos
típicos com produção inclusive de legados”, onde segundo pesquisa realizada pelo
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae – em 2008,
constata que o Carnaval do Rio de Janeiro movimenta, anualmente, cerca de R$
1 bilhão em negócios, com a geração de mais de 300 mil empregos. Dentre os 2,5
milhões de turistas que a cidade recebe devido a este grande evento, em 2007, 700
mil chegaram apenas nos três dias de festividade.

Quanto às informações sobre eventos realizados recentemente, temos os dados


do site responsável pela cobertura da Jornada Mundial da Juventude de 2013 no Rio
de Janeiro, o público presente na Missa de Envio, ficou em torno de 3,7 milhões de
pessoas e o valor de R$ 1,8 bilhões foi desembolsado pelos turistas que aqui estavam,
segundo o Ministério do Turismo (JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE, 2013).

A Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos Rio 2016 são vistos pelo Plano
Nacional de Turismo como “grandes desafios e oportunidades excepcionais para o
desenvolvimento do turismo brasileiro”. Frente a isso, boa parte dos esforços que
estão sendo feitos para a melhoria e a adaptação do país para sediar tais eventos é
uma junção de forças dos governos federal, estaduais e municipais onde “preparar o
turismo brasileiro para os megaeventos” ocupa a primeira posição dentre os quatro
objetivos estratégicos listados no PNT.

Contudo, Rejane Penna Rodrigues e Leila Mirtes Santos de Magalhães Pinto


– Secretária Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer do Ministério do
Esporte e diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia do Esporte da SNDEL-
ME respectivamente, - acreditam que:
Buscar a eficiência geral de um megaevento é se preocupar em “linkar” todas
as partes que o constituem. É também buscar a sinergia, já que a estratégia
utilizada em um evento pode reduzir investimentos em outros. Sendo assim,
o legado precisa ser bem planejado desde a fase inicial do megaevento, que,
por si só, deixa também legado.

Tendo em vista as questões apresentadas, entende-se como necessário refletir


sobre a importância e a dimensão dos megaeventos esportivos no Brasil e na cidade
do Rio de Janeiro. É necessário, portanto, discutir as possibilidades de alcance efetivo
de legados positivos frente aos desafios e responsabilidades de sediar eventos de
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porte mundial. Pretende-se analisar como e quais são as atividades e as mudanças já


observadas com relação a questões sobre capacitação profissional e crescimento das
empresas de eventos no âmbito da cidade do Rio de Janeiro. E, se as expectativas e
os resultados já alcançados nesse período são positivos ou negativos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Como critério de seleção das empresas para a realização dessa pesquisa,


optou-se por trabalhar apenas com aquelas que estão alocadas na categoria de
organizadoras de eventos, que tenham sua localização na cidade do Rio de Janeiro e
que são afiliadas à Associação Brasileira de Empresa de Eventos (ABEOC BRASIL),
devido à importância e credibilidade desta organização no cenário do turismo nacional.

Para avaliação do panorama turístico atual com relação aos impactos dos
megaeventos na cidade e coleta de dados, foi aplicado um questionário composto por
doze perguntas semiestruturadas (abertas e fechadas), onde foram entrevistadas, no
total, oito empresas organizadoras de eventos do Rio de Janeiro. Além das entrevistas
realizadas, informações foram buscadas através de pesquisa bibliográfica, pesquisa
documental e métodos de observação in loco.

A amostragem obtida de empresas participantes da pesquisa é reduzida em


comparação ao extenso universo de empresas organizadoras de eventos afiliadas
à ABEOC. Por esse motivo, a pesquisa que segue deve ser considerada mais de
caráter qualitativo e exploratório que de caráter quantitaivo, baseado em estatísticas.

OBJETIVOS
• Identificar os principais impactos causados por megaeventos esportivos junto
às empresas organizadoras de eventos do Rio de Janeiro;
• Analisar os impactos dos megaeventos quanto à capacitação e absorção da
mão-de-obra;
• Discutir as possibilidades de legado no âmbito do aprendizado social e
empresarial.

REFERENCIAL TEÓRICO: UMA DISCUSSÃO SOBRE IMPACTOS E LEGADO DE


MEGAEVENTOS

A vasta bibliografia (LO BIANCO, 2010, TAVARES, 2011, OLIVER, 2012,


SANTOS E SOUZA, 2012, FIGUEIREDO, LIMA E ARAÚJO 2012, COSTA, 2013)
que compõe o corpo teórico no que tange os megaeventos esportivos mostra que
o discurso oficial utilizado para a candidatura de uma cidade-sede é o que afirma
que é possível que os impactos e legados provenientes desses megaeventos sejam
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positivos e duradouros para a cidade em diversos aspectos, sejam eles no âmbito


social, econômico, esportivo, de reestruturação urbana, etc., podendo esse legado
aparecer também com o aumento da visibilidade internacional através da repercussão
e exposição das localidades nos veículos de mídia, divulgando a imagem da cidade-
sede como destinação turística.

Segundo o Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2009), os


megaeventos possuem um papel fundamental no desenvolvimento das cidades-
sede, pois criam desafios, metas e legados, alavancam a economia e a geração de
empregos nas localidades em que acontecem. Espera-se que esses eventos deixem
um legado na cidade-sede após a sua ocorrência, inclusive no caso brasileiro, que é
o foco de estudo desse artigo. Além disso, há também a expectativa de que realizar
megaeventos será uma oportunidade de o Brasil se firmar como um grande centro
global, cosmopolita e integrado plenamente aos serviços de bens, serviços e pessoas.
Nesse contexto, os efeitos de grandes eventos em diversos eixos econômicos
passaram a ser estudados, como o incremento no valor da propriedade imobiliária, os
incentivos à indústria do turismo, os ganhos de valor imaterial da exposição de marcas
e sedes e, também, os investimentos em infraestrutura, provisão de bens públicos,
mobilidade urbana, etc. Ainda de acordo com o Ipea (2009), “a questão é aproveitar a
oportunidade para criar um novo perfil socioeconômico para as próximas gerações de
brasileiros.” Porém, com o crescente aumento da renda urbana em áreas de interesses
do mercado imobiliário, que é o que determina para onde as políticas públicas
direcionam investimentos e interferências na estrutura urbana, há a ocorrência de
intensos conflitos e desigualdades sociais, já que a valorização do espaço urbano os
deixa menos acessível a quem não possui alto poder aquisitivo, beneficiando apenas
interesses econômicos. O estudo feito pelo próprio Ipea (2009) acerca desse tema diz
que: “A decisão de direcionar grandes recursos para uma cidade pode significar, no
entanto, a privação de muitas outras e alimentar desigualdades regionais.”

Como certificam Figueiredo, Lima e Araújo (2013), o investimento público cria


“custo de oportunidades” ao priorizar certos investimentos em detrimento de outras
políticas sociais. Ainda segundo esses autores, em muitos casos a realização de
megaeventos pode ser considerada nefasta, principalmente se analisados os altos
investimentos públicos em infraestruturas esportivas que posteriormente, muitas
vezes, não são utilizadas em benefício da sociedade.

Em casos como o de Barcelona (1992), por exemplo, mesmo havendo a


comprovação de resultados positivos de transformação urbana provenientes dos
Jogos Olímpicos, os impactos sociais que desfavoreceram a população se deram pelo
aumento de 150% nos custos de moradia, onde a habitação se tornou tão inacessível
que pessoas com baixa renda foram obrigadas a deixar a cidade. Além disso, houve
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também a falta de transparência nos processos de tomada de decisões, mudanças na


regulação urbana para a construção de infraestruturas olímpicas, participação limitada
dos grupos mais atingidos nas tomadas de decisões. Aproximando-se de um caso
mais recente, como o de Pequim (2008), por exemplo, estima-se que mais de 1.25
milhões de pessoas foram desalojadas para o (re) desenvolvimento urbano relacionado
com a Olímpiada (9,60% do total da população), bem como a ocorrência da falta de
transparência nas tomadas de decisões, violenta repressão contra os habitantes e
também falta de planejamento para abrigar 20% dos habitantes despejados. (COSTA,
2013.)

Falando ainda sobre casos de cidades-sede, o histórico do Rio de Janeiro aponta


que a cidade começou a investir em grandes eventos esportivos no começo dos anos
de 1990, na tentativa de amenizar os declínios social e econômico, assim como a
tentativa de lutar contra a imagem ruim proveniente da violência urbana. Já em 2002, a
cidade venceu a competição para receber os Jogos Pan Americanos de 2007, abrindo
assim o caminho para que a cidade fizesse outras candidaturas, como a para sediar
as Olimpíadas de 2012, por exemplo. Esta se apresentou como uma oportunidade
de mudar de vez a imagem da cidade e marca-la positivamente, apresentando a sua
beleza paisagística e a sua riqueza cultural. Naturalmente, estes valores suportariam
novas oportunidades de negócios e de investimentos fundamentais nas políticas
públicas (COSTA, 2013). Como se pode notar, a cidade não ganhou a concorrência
para 2012, mas o Brasil venceu a concorrência da Copa do Mundo de 2014 e, ao final,
o Rio de Janeiro venceu para sediar os Jogos Olímpicos de 2016.
Para ser a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o Rio de Janeiro
apresentou seu dossiê de candidatura, que mostra diversas formas de legado. Com o
discurso de que a cidade já está se beneficiando do processo de candidatura, assim
como esse processo está fomentando melhorias e projetos de infraestrutura, o dossiê
afirma que ao sediar os Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro entrará em uma nova era,
colocando a cidade no perfil de uma cidade global, com melhor qualidade de vida e
que movimenta negociações e turismo.
Além do legado urbanístico, o dossiê de candidatura do Rio de Janeiro expõe
legados esportivos, mostrando que a cidade tem o interesse de manter o compromisso
de transformação através do esporte e do foco principal desse artigo, o legado social.
Para esse tipo de legado, o dossiê apresenta a inserção social, dizendo que os
Jogos Rio 2016 afetarão diretamente os habitantes da cidade, que se beneficiarão
da sua experiência e também das vantagens que acontecerão a longo prazo, já que,
segundo o Ipea (2009), “projeções do governo apontam que os impactos econômicos
produzidos pela concentração de quase R$ 30 bilhões em inversões no ápice do
calendário esportivo da próxima década terão se multiplicado por quatro vezes em
2027, gerando mais de R$ 100 bilhões em riquezas no País”, e que incluem:
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• Habitação: as quatro vilas que ficarão como legado irão disponibilizar novos
apartamentos (mais de 24.000 quartos) nas proximidades dos locais dos Jogos;
• Desenvolvimento de habilidades: 48.000 adultos e jovens seguirão um
extenso programa de treinamento, financiado pelo Comitê Organizador Rio 2016,
visando formar profissionais e voluntários em setores de importância estratégica para
os Jogos. Este programa, apoiado pelo Governo, por instituições de formação e pelas
universidades, ajudará os participantes a encontrar emprego após os Jogos;
• Emprego: 50.000 empregos temporários e 15.000 empregos permanentes
serão criados nas áreas de grandes eventos, gestão de esporte, turismo e operações
das instalações, além de um número considerável de empregos na construção civil,
resultado dos importantes investimentos em infraestrutura. Oportunidades de emprego
permanente no comércio e na área de vendas também serão criadas
• Aquisição de bens para os Jogos: na medida do possível, o Comitê
Organizador Rio 2016 se comprometerá a adquirir serviços e equipamentos para os
Jogos nas comunidades locais, e apoiará o licenciamento de produtos ambientalmente
e socialmente responsáveis, como foi feito, com sucesso, durante os Jogos Pan-
americanos e Parapan-americanos Rio 2007.
Apesar dessas expectativas positivas, evidências atuais e a experiência de
outras cidades-sede, demonstram que os grandes eventos esportivos também trazem
consigo um grande número de impactos negativos. Na cidade do Rio de Janeiro,
um grande número de organizações da sociedade civil está chamando atenção para
alguns desses problemas.
Costa (2013) aponta que, para a cidade do Rio de Janeiro, já são claros os
motivos das reivindicações que a sociedade civil e os movimentos sociais estão
expressando, pois:

“Se denuncia a falta de transparência nas tomadas de decisões no que dizem


respeito às transformações da cidade e ao fato que o governo municipal
tenha estabelecido os conteúdos do “Plano Olímpico” sem nenhuma forma de
consultação pública e que o tenha feito apenas com o apoio de empresas e
instituições privadas (...). É notório como os gastos relacionados aos eventos
estão aumentando muito rapidamente. Além disso, remoções e despejos
estão sendo realizados com pouco respeito pelos direitos fundamentais dos
moradores de muitas comunidades pobres do Rio de Janeiro que não são
informados sobre os processos urbanos em curso, não são adequadamente
ressarcidos (com dinheiro ou outra moradia), além de serem expostos a
abusos, perseguições (pelas empreiteiras) e irregularidades.

Pode-se perceber, através do que foi comprovado pelos autores citados


acima, que os impactos sociais negativos se fazem mais evidentes do que os
próprios benefícios, visto que o fato de sediar megaeventos acarreta em vantagens
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diretamente ligadas a uma pequena parcela da população, a mais elitizada, como os


dirigentes dos negócios que envolvem os megaeventos e também a classe política,
por exemplo. De acordo com Costa (2013), em termos gerais, os megaeventos
catalisam investimentos seletivos até mesmo quando estes são apresentados como
ações sociais e universalistas, visto que a literatura e a história recente mostram
como os megaeventos raramente beneficiam comunidades mais carentes. Além
disso, pesquisas recentes mostraram que não são significativos os impactos dos
megaeventos na renda, no emprego e nos impostos das cidades-sede em que ocorrem.
Ainda assim, em contrapartida, Tavares (2011) aponta que embora a realização de
megaeventos esportivos esteja diretamente relacionada às questões de cidadania
e de democracia, mesmo que esses sejam uma parte significativa de experiência
contemporânea e desenvolvimento, não podem ser nem vistos nem considerados
uma maneira de remediar todos os problemas econômicos e sociais de um país ou
localidade.

A respeito da definição de legado, pode-se afirmar que é caracterizado por


uma espécie de “herança”, algo que destina benefícios que sejam importantes e
duradouros, ou seja, benefícios gerados em contraposição aos custos necessários e
investidos. No caso dos megaeventos esportivos, o legado se dá, segundo Santos e
Souza (2012), através da infraestrutura, tecnologia e capital humano, considerados
fatores que geram reflexos positivos em diversos setores da economia e da sociedade.
Acrescentando, Silva, Rizzuti e Abreu, atestam que “o verdadeiro legado não é o
dinheiro gerado nos quatorze a dezessete dias de realização do megaevento olímpico
e sim o que vem depois dele, sua manifestação posterior com benefícios sociais e
culturais comprovados.”.

Ainda segundo Silva; Rizzuti e Abreu, os legados que determinam esses


benefícios provenientes da realização de megaeventos podem ser divididos em
cinco categorias, sendo elas: (1) infraestrutura, (2) saber e conhecimento e imagem,
(3) economia, (4) comunicações e (5) cultura. Sendo os benefícios a longo prazo
designados por essas categorias de legado, desigualdades no que diz respeito ao
alcance desses benefícios podem ocorrer. Isto é, as indústrias, o comércio, o turismo,
as convenções, congressos, etc., passam a girar em torno dos locais onde acontecem
esses megaeventos. Portanto, o legado não pode ser considerado apenas algo que
permanece como patrimônio ou uma herança, mas, sobretudo, como um fator atrativo
de geração de impactos econômicos e sociais positivos, pois uma candidatura a
cidade ou país-sede não se torna vitoriosa somente quando é escolhida, mas quando
faz-se apta a alcançar todas as metas propostas no pós-sede.

No âmbito brasileiro, Tavares (2011) comenta que Rodrigues e Magalhães


Pinto (2008), membros da administração federal, fazem a seguinte afirmação com
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referência à importância dos legados de megaeventos esportivos para a política de


esportes no Brasil:

[...] o maior legado dos megaeventos esportivos talvez não seja o


espectadorismo dos jogos. Há outros benefícios que os megaeventos
esportivos podem estender para toda população (...) esse desenvolvimento,
que pode ter diferentes efeitos e demandas requer, sobretudo, investimentos
educativos, cujos ganhos são reconhecidamente certos, mas os efeitos não
se fazem de imediato, de um dia para o outro.”

De acordo com Tavares (2011), megaeventos requerem um enorme investimento


de recursos humanos, físicos e financeiros da sociedade que se dispõe a organizá-
los, precisando identificar que há, no caso brasileiro, demonstrações públicas de
preocupação em realizar competições socialmente responsáveis, assim como de
alcançar os benefícios/legados provenientes desse esforço e investimento intensos.

Contextualizando o âmbito empresarial, conforme atesta Ribeiro (2012), a


Fundação Getúlio Vargas (FGV) levantou os dados de que a execução da Copa do
Mundo de 2014 vai gerar, no Distrito Federal, 539 oportunidades de negócios, com
expectativas de que sejam criadas em torno de 2.695 micro e pequenas empresas,
e, com isso, 8.805 empregos diretos. Isso quer dizer que, se só no Distrito Federal,
inúmeras oportunidades de desenvolvimento empresarial vão surgir, a mesma situação
ocorrerá em proporção semelhante nas outras localidades que também receberão
os jogos, podendo chegar a quase 930 oportunidades de negócios para as micro e
pequenas empresas localizadas nas cidades-sede, em todas as regiões do Brasil.
Nesse caso, os principais setores beneficiados e impactados são os de construção
civil, de tecnologia da informação, de madeira, de móveis, têxtil, de vestuário, de
turismo, da produção associada ao turismo, do comércio varejista, do agronegócio e
de serviços, onde as empresas existentes nesses setores têm sua rotina inteiramente
ou parcialmente modificada para se adaptar a esse panorama.

O legado, na posição empresarial, pode ser considerado o aprendizado, assim


como o aumento dos negócios que provém desse conhecimento e experiências
adquiridas ao longo da atuação em megaeventos esportivos.

Além do legado em contexto empresarial, há também o que tange a participação


social direta nos megaeventos. Esse legado se dá principalmente através da capacitação
e qualificação da mão-de-obra inserida nesse cenário, que é considerada primordial,
visto que necessita de um trabalho extenso e intenso para que seja garantida. Essa
qualificação profissional pode acontecer de diversas formas, seja por meio de cursos
como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC),
seja também pelo desenvolvimento de habilidades proposto pelo dossiê de candidatura
do Rio de Janeiro a cidade-sede dos Jogos 2016 citado anteriormente, que tem como
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principal objetivo fazer um extenso programa de treinamento com jovens e adultos


visando formar profissionais e voluntários em setores de importância estratégica para
os Jogos, bem como outras inúmeras maneiras de inserção da sociedade para que seja
efetuada a tão prometida e esperada geração dos milhares de empregos temporários
dentro do âmbito de megaeventos. Já os cursos do PRONATEC são oferecidos
gratuitamente pelo Governo Federal e são voltados exclusivamente para a Copa do
Mundo 2014, visando capacitar jovens e adultos em diversas áreas do setor turístico,
apontado como essencial para que a execução dos serviços e da hospitalidade sejam
realizados qualitativamente.

Espera-se que o investimento em capacitação profissional aumente a


competitividade dos destinos e contribua para o desenvolvimento do setor turístico.
Porém, é certo que o legado social que diz respeito à capacitação mão-de-obra local
só acontece de fato quando ocorre a absorção dessa mão-de obra por parte das
empresas que estarão atuando no campo dos megaeventos. Quanto a isso, o Governo
Federal ainda não sabe responder se os alunos dos cursos PRONATEC, uma das
maneiras de qualificação profissional que pode levar ao legado, e objetivados para
capacitar profissionais para o mundial de 2014, estão conseguindo ou não atingir
as principais metas do programa, que são a de conquistar um lugar no mercado de
trabalho e também a de abertura do próprio negócio, como forma de empreendedorismo
individual. Sendo desconhecido o número de alunos que conseguiram emprego, é
preciso analisar esses impactos quantitativamente para que haja a certificação de que
o investimento empreendido tenha retorno para a mão-de-obra localizada nas cidades
em que ocorrerão os megaeventos, visando, principalmente, o que virá depois.

Com isso, fica claro que os megaeventos, quando feitos de forma bem
organizada, quando são executados com excelência, geram benefícios em forma de
legados que sucedem em diversos setores funcionais nos locais em que acontecem,
sendo de suma importância que haja a perpetuação desse legado para que possam
ser usufruídos pela população local, concebendo a possibilidade de fomentação de
novas oportunidades de crescimentos significativos resultantes de todo o investimento
financeiro e humano utilizados para sua concretização.

RESULTADOS PARCIAIS

A seguir serão apresentados os principais dados referentes à aplicação dos


questionários junto a algumas empresas organizadoras de eventos do Rio de Janeiro
através de gráficos correspondentes às respostas dessas empresas.

Mediante a dificuldade encontrada para a realização do contato com a


maioria das empresas organizadoras de eventos afiliadas à Associação Brasileira de
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Empresa de Eventos (ABEOC BRASIL) com o objetivo de alcançar os resultados, a


amostragem obtida foi consideravelmente limitada se comparada ao amplo ambiente
dessas empresas. Sendo assim, os resultados obtidos ao longo da pesquisa refletem
apenas a realidade do reduzido número de empresas que participaram efetivamente
da pesquisa, respondendo ao questionário e fornecendo as informações necessárias
para que os resultados parciais fossem atingidos.
Sobre contratações atuais e futuras:

GRÁFICO 1: GRÁFICO 2:

Analisando os gráficos 1 e 2, pode-se perceber que mais de metade das


empresas entrevistadas informou que não houve aumento no número de funcionários
contratados desde 2010, ano do anúncio da cidade do Rio de Janeiro como sede das
Olimpíadas de 2016. Esse dado constata que a captação de eventos nem sempre
implica no aumento do número de postos de trabalho nas empresas de eventos. Além
disso, a abertura de postos de trabalho é um dos argumentos mais frequentes quando
se trata de impactos positivos de grandes eventos esportivos. Os dados encontrados
nesta pesquisa mostram que, somente uma pequena parcela das empresas
entrevistadas tem a expectativa de contratar novos funcionários, evidenciando que,
pelo menos no setor de eventos, as empresas não devem contratar mais funcionários
nos próximos anos.

Sobre as perspectivas para novos projetos e eventos:

GRÁFICO 3: GRÁFICO 4:
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A partir da leitura dos gráficos 3 e 4, observa-se que a percepção geral é de


que a captação de grandes eventos na cidade do Rio de Janeiro não está causando
impacto nos negócios das empresas, especialmente quando se considera o número
de eventos realizados. Porém, Algumas empresas (57%) ainda têm expectativa de
que surjam novos negócios e projetos nos próximos anos, inspirados pelo cenário da
Copa de 2014, o que demonstra ainda um cenário de otimismo no que diz respeito aos
negócios estimulados pelos eventos esportivos.

Sobre o grau de conhecimento das empresas sobre o PRONATEC e sua


importância:

GRÁFICO 5: GRÁFICO 6:

Em relação à capacitação e absorção da mão-de-obra, a maioria das empresas


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afirmou que não conhece os cursos oferecidos pelo Governo Federal, bem como há
uma parcela quase nula de funcionários que tenham realizado qualquer um dos cursos
oferecidos. Além disso, as empresas não consideram os cursos do PRONATEC um
diferencial no currículo do candidato à contratação, sendo a experiência de mercado
e o desempenho na entrevista de seleção os fatores mais determinantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir, preliminarmente, que junto às empresas organizadoras de


eventos do Rio de Janeiro, a captação de megaeventos não está causando nenhum
tipo de benefício ou mudança significativa em sua rotina. Isso pôde ser observado
a partir dos resultados dos questionários aplicados, onde foi possível perceber que
a maioria das empresas entrevistadas não obteve nenhum aumento no número de
eventos realizados desde a confirmação da candidatura do Rio de Janeiro como cidade-
sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Além disso, não houve nenhuma contratação
para quadro de funcionários, assim como não há nenhuma perspectiva para novas
contratações nos próximos anos. Apesar disso, foram identificados casos de empresas
ainda otimistas com as perspectivas futuras de desenvolvimento de novos projetos
inspirados pelo cenário da Copa do Mundo de 2014. Quanto a capacitação e absorção
da mão-de-obra, os questionários respondidos resultaram no fato de que a maioria
das empresas não subsidiam nem oferecem cursos para capacitação dos seus
funcionários, bem como desconhecem os cursos do PRONATEC. Isso mostra que o
Governo Federal está fazendo investimentos em um projeto cujo perfil das pessoas
que buscam os cursos oferecidos é parcialmente ignorado, que o mercado não
conhece e que, principalmente, não é considerado como um critério para contratação
de novos funcionários.

Conclui-se ainda que é preciso que sejam desenvolvidas pesquisas mais


aprofundadas, em um universo mais abrangente e em um caráter mais quantitativo sobre
os temas apresentados neste artigo, para que outras generalizações e conclusões a
respeito do mercado e eventos possam ser feitas e também para que sejam relatados
os impactos que a captação de megaeventos causa nos demais setores da economia,
como a hotelaria, o comércio, a gastronomia, etc., além de ser necessário que haja
uma análise sobre os reais motivos para que os serviços oferecidos pelo PRONATEC
não sejam divulgados de forma mais ampla ou conhecidos pelo mercado empregador.

É fundamental que frente aos números e gastos bilionários para a realização


desses megaeventos, investimentos para um legado positivo a longo prazo exista e se
dissemine em diversas áreas, como mobilidade, transporte, segurança, a geração de
empregos, desenvolvimento da economia local e, que ensine aos governantes a gerir
o país de modo mais coeso, com expectativas e projeções para que a nação aproveite
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o destaque que adquire por ser país-sede desses megaeventos, a ponto de crescer
cada vez mais como destino turístico e perpetuar essa notoriedade internacional.

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A PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO DE CURRAIS NOVOS/RN EM RELAÇÃO


AOS ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE TURÍSTICA NO
MUNICÍPIO.

Fernanda Raphaela Alves Dantas¹


Fernando Arthur Alves Dantas¹
Wellington Alysson de Araújo¹

RESUMO

Está pesquisa tem por objetivo pesquisar sobre a percepção da população de Currais Novos/RN
quanto os aspectos relacionados ao desenvolvimento da atividade turística do município. A partir disso,
realizaram-se estudos bibliográficos para a construção do referencial teórico, além da investigação
de caráter documental, tomando como base a elaboração do Plano Municipal de Desenvolvimento
Turístico do município de Currais Novos/RN (PMDT), documento este elaborado pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com apoio do governo municipal e setor privado. Assim, o
estudo torna-se importante, pois, aborda os aspectos sociais de uma localidade, pelo fato da atividade
turística não acontecer, de forma harmônica, sem que a população participe do planejamento e de
fato esteja inserida no turismo. Para isso, sentiu-se a necessidade de elaborar uma pesquisa o qual
identificasse a visão da população quanto o desenvolvimento do turismo local. Por meio dos resultados
do estudo, revelou-se a percepção dos moradores de Currais Novos/RN quanto a atividade turística
local, podendo verificar a opinião dos moradores em relação às seguintes questões pertinentes: a
participação do turismo no desenvolvimento da cidade, envolvimento profissional da população com
a atividade turística, identidade cultural do município, obstáculo para o desenvolvimento turístico do
município, capacitação profissional da comunidade na área do turismo e o conhecimento da população
quanto a existência do curso de turismo da UFRN/Campus Currais Novos.
Palavras-Chave: Desenvolvimento Turístico. Planejamento. Currais Novos/RN. População.

ABSTRACT
Is research aims search on the perception of the population of Currais Novos/RN as the aspects related
to the development of tourist activity in the city. As A result, studies were carried out for the construction
of the theoretical framework, in addition to the research of documentary character, taking as a basis the
development of Municipal Plan of Tourism Development in the municipality of Currais Novos/RN (PMDT),
This document prepared by the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN) with the support of
the municipal government and the private sector. Thus, the study becomes important, therefore, deals
with the social aspects of a locality, by the fact that the tourist activity does not happen, a harmonic,
without which the population participating in the planning and in fact is inserted in tourism. For this
reason, we felt the need to draw up a research which identify the vision of the population regarding the
development of local tourism. By means of the results of the study, it was revealed that the perception
of the inhabitants of Currais Novos/RN as a tourist activity site, and may check the opinion of residents
in relation to the following relevant issues: The contribution of tourism in the development of the city,
professional involvement of the population with the tourist activity, cultural identity of the municipality,
obstacle to the development of tourism in the municipality, professional training of the community in the
area of tourism And the knowledge of the population regarding the existence of the course of tourism of
UFRN/Campus Currais Novos/ RN.

Keywords: Population.Tourism Development. Planning. Currais Novos/RN.


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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho diz respeito a uma pesquisa realizada no município


de Currais Novos-RN, o qual o objetivo geral do estudo foi pesquisar sobre a
percepção da população de Currais Novos/RN, quanto aos aspectos relacionados ao
desenvolvimento da atividade turística do município.
Para o melhor desempenho da pesquisa, outros objetivos foram aferidos: a)
saber qual a percepção da população quanto aos benefícios da atividade turística
do município; b) identificar a principal fragilidade para o desenvolvimento do turismo
local; c) averiguar junto à população qual é a identidade cultural do município e; d)
levantar o nível de participação da população nas ações de capacitação profissional
do turismo no próprio município.
Um trabalho que abrange os aspectos sociais de uma localidade possui
importante relevância, pois a atividade turística não acontece sem que a população
participe do planejamento e de fato esteja inserida no turismo. Para isso, sentiu-se a
necessidade de elaborar um estudo o qual identificasse a visão da população quanto
o desenvolvimento do turismo local. Serão discutidas ao longo do trabalho, referências
bibliográficas acerca dos aspectos sociais do turismo tratando dos impactos gerados
pelo turismo para a sociedade, será tratado também o planejamento turístico e
sua abrangência, bem como a importância do envolvimento da população para o
desenvolvimento turístico local, assuntos esses que deram subsídios para elaboração
da pesquisa e apresentação dos resultados.
Para realização do estudo, foram utilizados alguns métodos, como a pesquisa
bibliográfica e documental, utilizando o Plano de Desenvolvimento do Turismo do
município de Currais Novos-RN como ponto de partida, no qual foram aplicados
formulários para identificar a percepção da comunidade local em relação à atividade
turística.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O objeto de estudo da pesquisa é a discussão sobre a percepção da população


de Currais Novos/RN em relação aos aspectos relacionados ao desenvolvimento da
atividade turística. Assim, o embasamento teórico se deu com base nas discussões de
estudiosos do campo do turismo e áreas afins, com utilização da pesquisa bibliográfica.
Segundo Santos (2010, p. 191), “a pesquisa bibliográfica é feita com base em
documentos já elaborados, tais como livros, dicionários, enciclopédias, periódicos,
como jornais e revistas, além de publicações, como comunicação e artigos científicos,
resenhas e ensaios críticos”. Esta forma de pesquisa inicial é importante para se
conseguir informações teóricas que possam contribuir para a construção do estudo.
Além disso, como foco principal da busca de dados secundários e de
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informações, foi utilizada a pesquisa documental que se vale “[...] de materiais que
não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados
de acordo com os objetivos da pesquisa” (GIL, 2008, p. 51). Nesse caso, O Plano
Municipal de Desenvolvimento Turístico do município de Currais Novos/RN (PMDT),
documento este elaborado pelo Curso de Turismo da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (campus Currais Novos) com apoio da gestão municipal e do trade
turístico local, que serviu como base para construção dos resultados deste estudo e,
assim, atingir os objetivos propostos.
Mediante a isso, para alcançar o objetivo central do trabalho, foram aplicados
600 (seiscentos) formulários junto à população residente, em 2013, na construção
do PMDT. Na etapa seguinte, montou-se uma equipe de tabulação constituída por
seis discentes bolsistas e voluntários, utilizando como ferramenta o Microsoft Excel
2010. Para nível de análise da tabulação, foram utilizados gráficos e quadros que
apresentaram valores de porcentagem constituindo os resultados da pesquisa.
De acordo com Menezes e Silva (2005, p. 34) o formulário “é uma coleção
de questões e anotadas por um entrevistador numa situação face a face com a
outra pessoa (o informante)”. Este tipo de instrumento de pesquisa é relevante para
identificar os elementos que fazem parte da realidade do objeto de estudo.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

Para dar embasamento a pesquisa, foram discutidas no presente trabalho


temáticas acerca dos aspectos sociais do turismo, tratando de seus impactos positivos
bem como os negativos. Além disso, falou-se do planejamento turístico, dos tipos
de planejamento, suas dimensões, a importância de se planejar, e por fim, tratou
da importância da população para o desenvolvimento turístico, pois de fato, sem o
envolvimento da comunidade não da para se pensar em turismo, pois essa muitas
vezes é a mais beneficiada ou prejudicada, dependendo da forma com a qual o turismo
se desenvolva.

3.1 ASPECTOS SOCIAIS DO TURISMO

O turismo é uma atividade que de acordo com a Organização Mundial do


Turismo (2003) iniciou-se primeiramente pela busca de alimentos, posteriormente
pelos transportes e busca de mercadorias e só durante a dinastia egípcia surge as
viagens a negócios e recreação, e após esse acontecimento a atividade turística
tende a desenvolve-se cada vez mais, os países receptores como o caso da Grécia,
começaram a criar condições de infraestrutura para realização da atividade, expandir
suas língua para outros países, dessa forma, impulsionando o turismo local.
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Então, para a OMT (2003, p. 18) turismo significa: “as atividades das pessoas
que viajam e permanecem em lugares fora de seu ambiente habitual por não mais
de um ano consecutivo para lazer, negócios ou outros objetivos”, dessa forma, não
se pode realizar turismo no seu lugar habitual, para ser turismo precisa realizar as
atividades por menos de um ano seja por qualquer motivação.
A atividade turística era vários impactos (positivos ou negativos), sendo
socioculturais, ambientais ou econômicos. Segundo Dias (2005, p. 122) os efeitos
sociais negativos trazidos pelo turismo são: ressentimento locais resultantes do
choque de culturas: motivados por valores e estilos de vida, etnias, grupos religiosos,
línguas, etc.; transformações na estrutura de trabalho: pode deslocar os trabalhadores
de outras atividades tradicionais para trabalhar com o turismo; problemas de saúde:
seja transportada por epidemias ou pelo esgotamento de infraestrutura; transformação
de valores e condutas morais: a presença dos turistas provoca mudanças de valores
sociais e nas atitudes cotidianas.
Além dos pontos negativos que foram citados acima, existem os aspectos
positivos gerados pela atividade turística, que ainda segundo Dias (2005, p. 124),
destacam-se: a conservação da herança cultura: justifica como necessário a cultura
para manter um atrativo turístico que gerará receitas para a comunidade; fortalecimento
da identidade cultural: por o turista e o anfitrião possuírem culturas diferentes, esse
contato pode gerar uma valorização da cultura local, sendo essa uma forma de
desenvolver a atividade turística. No caso do Brasil, um país de muitas culturas, o
turismo realizado no próprio país poderia ajudar nesse fortalecimento; Intercâmbio
intercultural: esse contato de turista e residente resulta em compreensão e respeito
mútuos, tolerância em relação aos valores, hábitos e costumes.
Nas falas de Dias (2005) percebe-se que o turismo pode gerar impactos
positivos e negativos, pode enriquecer a cultura local, bem como pode se perder com a
transformação de valores e condutas, para isso é necessário um planejamento prévio
de forma que a população possa assimilar a atividade turística como oportunidade de
manifestar seus valores e costumes sem perder as tradições.
Em outras palavras Castro (2002, p. 131) apresenta três situações as quais o
choque de cultura pode gerar: criarem-se grupos de contato primário para atividades
lúdicas ou apenas diálogos que versem inclusive sobre os respectivos grupos de
família ou trabalho; confirma-se o contato categórico, mantendo-se os residentes
apartados dos turistas; e ocorrer integração, quando os turistas deixam de ser visto
como tais, uma vez que participam da vida local e são considerados membros da
comunidade. Observa-se dessa forma, que a o ultimo ponto citado por Castro (2002)
é o ideal para o bom desenvolvimento da atividade turística em qualquer local, pois
trata-se de uma situação a qual o turista é bem recebido, é tido não só como fonte de
renda, porém também como membro da comunidade, com isso, o turismo passa a ser
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bem visto e melhor trabalhado pela localidade.


Diante dessa mesma linha de raciocínio do aspecto cultural a Organização
Mundial de Turismo (2003, p. 27) fala que o turismo também “pode exercer impactos
sociais e culturais benéficos, ajudando a identificar e promover culturas diferentes e
aumentar a consciência das tradições autóctones”. O turismo tem ajudado a reavivar
as artes e o artesanato de algumas comunidades [...]. Além dos pontos destacados
por os demais autores, a OMT (2003) complementa trazendo nesse conceito outros
impactos positivos os quais enfatiza principalmente as artes, e produções, sendo
essas fontes que geram demandas para a atividade turística.

3.2 PLANEJAMENTO TURÍSTICO

Uma ferramenta importante não só para o desenvolvimento da atividade


turística, mas bem como demais atividades, é o planejamento, esse possibilita que
a organização, instituição, empresa ou localidade tenha um esboço das possíveis
metas, objetivos, estratégias, ações e entre outros aspectos, visando os melhores
resultados possíveis. Segundo Petrocchi (2002, pág. 19), o planejar consiste em quatro
características: Predeterminar um curso de ação para o futuro; Conjunto de decisões
interdependentes; Processo contínuo que visa produzir um estado futuro desejado
que somente acontecerá de determinadas ações forem executadas; É atitude anterior
à tomada de decisão.
O planejamento relacionado aos tipos e níveis pode ser de natureza estratégica,
tática ou operacional, sendo necessário fazer a distinção entre esses, onde segundo
Petrocchi, (2002), o estratégico relaciona-se ao direcionamento da organização como
num todo e abrange ações de longo prazo; o tático envolve o departamento ou setor
em específico, possui exposição ao tempo de médio prazo; e o operacional relaciona-
se a tarefa ou operação, cuidando dos procedimentos e tarefas mais simples e a
exposição ao tempo é de curto prazo.
Ao se planejar a atividade turística um pressuposto deve ser levado em
consideração, segundo Braga (2007), é indispensável ter conhecimento sobre o
destino turístico, onde nesse são estudados a oferta turística, por exemplo, os atrativos,
equipamentos e infraestrutura de apoio, e também deve-se analisar e estudar a
comunidade local que interfere na atividade além de ser o principal elemento a ser
impactado. Com base em Petrocchi (2002), quando o planejamento está relacionado
ao turismo existem dois tipos que podem ser destacados e analisados, são eles
modelo mediterrâneo ou urbano, e o modelo fechado ou americano.
O modelo mediterrâneo ou urbano surgiu na Europa, no litoral do Mediterrâneo,
tem como principal característica permitir ao visitante a oportunidade de integrar-se
com a localidade visitada, sendo possível a convivência entre esses acarretando em
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um fator cultural relevante. Já o modelo fechado ou americano surgiu da tecnologia


americana, relaciona-se ao inverso do modelo anterior, nesse tipo de planejamento
do turismo o visitante é recebido com grande estrutura de hospedagem e lazer, o que
acaba isolando-o da convivência com os habitantes locais.
Braga (2007) apresenta três níveis distintos de planejamento turístico, que são
eles: preventivo; planejamento corretivo e; planejamento misto. O preventivo relaciona-
se a estruturação de uma localidade que tem o objetivo de desenvolver o turismo
de forma ordenada e controlada, levando em consideração a sustentabilidade. O
planejamento turístico corretivo tem função de melhorar a atual situação da atividade,
tentando aproveitar melhor as oportunidades e reverter, minimizar os insucessos. E por
fim, o planejamento misto, que procura unir ações preventivas com corretivas, acontece
quando mesmo em um trabalho preventivo existe necessidade de direcionamentos
corretivos.
Segundo Novo e Silva (2010) para que o planejamento do turismo ocorra
e a atividade seja desenvolvida de forma satisfatória e adequada, é necessária a
participação efetiva e integrada de quatro atores, são eles: Estado, Instituições
Privadas, Terceiro Setor e a comunidade. O Estado pode atuar nas esferas Federal,
Estadual e Municipal, podendo realizar parcerias interessantes com os órgãos
do Turismo e áreas de interesse, como secretarias que fazem parte e influenciam
para desenvolvimento da atividade, como secretarias de transportes, segurança e
infraestrutura. Fator importante que cabe ao poder público é traças as diretrizes e
políticas para o setor, além da criação das normas e regulamentos da preservação
ambiental, e dos equipamentos e serviços turísticos. (NOVO E SILVA, 2010).
Segundo Castro e Midlej (2011) o setor público possibilita facilidade e indução
para o planejamento da atividade turística, o que acarreta em contribuição significativa
já que se trata de uma atividade dinâmica que pode resultar em benefícios mas
também em prejuízos. Pode-se notar que a esfera pública pode e deve contribuir para
a realização e desenvolvimento do turismo no município, Estado ou País, passando
por diversas áreas, seja na legislação, em pesquisas, fiscalização, promoção ou
qualquer outra competência.
Já se tratando da participação da iniciativa privada que são as empresas
independentemente do porte que possuam, ligadas a atividade turística, como por
exemplo, pousadas, restaurantes, guias, empresas de passeios turísticos, agências
de viagem entre outros.
Segundo Ruschmann (2001, apud Novo e Silva, 2010, p.44), entre as
competências das empresas privadas estão: Atuar no desenvolvimento da
infraestrutura turística; Planejar o funcionamento de suas atividades e equipamentos
para atender com qualidade os turistas; Utilizar-se de mão de obra qualificada; Manter-
se atualizada quanto as tendências do turismo; Elaborar pesquisas com os clientes
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quanto a funcionalidade e qualidade do estabelecimento.


O papel da iniciativa privada é imprescritível para um desenvolvimento
satisfatório, e não se delimita a esses pontos, o profissional ou empresário da área
pode ampliar sua atuação e contribuição, como no planejamento do setor em que está
inserido no mercado. O terceiro setor também assume papel importante no turismo,
esse caracterizado por Organizações Não Governamentais que são representadas por
Associações, cooperativas, fundações e entre outras entidades. Essas que surgiram
para suprir a incapacidade do Estado, pode auxiliar nas questões de complementação
de preocupações e práticas sociais gerando bens e serviços públicos.
A comunidade é o último agente a ser abordado, um ator importante e decisório,
nada se adianta os demais agentes fazerem os seus papéis se a comunidade não
estiver sensível e satisfeita com a atividade. Segundo Novo e Silva (2010, p.46):

É a comunidade que mais ganhará nesse processo de desenvolvimento


do turismo como alternativa econômica e social, pois além de incrementar
a renda financeira das famílias que ali moram, ele melhorará a autoestima
das pessoas; portanto, a comunidade torna-se uma importante aliada no
processo de planejamento.

Dessa forma, é possível notar que a comunidade não pode deixar de ser ouvida
e envolvida no processo de desenvolvimento da atividade turística, comunidade essa
que deverá fazer sua parte e entender que o turismo necessita de sua participação
e contribuição, identificando a importância de manter a cidade limpa, de prestar
serviços e informações de qualidade, conhecer a história da localidade. Importante
também ouvir e gerenciar as opiniões e procurar evitar conflitos da atividade com a
comunidade. Segundo Novo e Silva (2010), é primordial que a comunidade conheça
cada particularidade de sua cidade, seus deveres e direitos, para assim não só garantir
a melhor qualidade de vida, mas também para concordar ou discordas de possíveis
transformações no seu espaço. A sociedade em que a atividade se desenvolve é peça
fundamental para se manter viva a identidade e cultura local.

3.3 A IMPORTÂNCIA DO ENVOLVIMENTO DA POPULAÇÃO PARA O


DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO LOCAL

Ao analisar a prática da atividade turística, torna-se importante verificar o seu


desenvolvimento não apenas em nível internacional, nacional e/ou regional, mas
também a nível local, pelo motivo de ser o espaço aonde de fato ocorre as relações
que se caracterizam como turismo.
É preciso considerar que para o funcionamento harmônico e sustentável da
prática turística, a comunidade deve está envolvida no contexto de forma ativa. Para
Coriolano (2006, p. 197), “a comunidade é um grupo social residente em um pequeno
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espaço geográfico cuja integração das pessoas entre si, e desses com o lugar, cria
uma identidade tão forte que tanto os habitantes como o lugar se identificam como
comunidade”. A autora apresenta uma indispensável relação entre população e
identidade, em que ambas se interligam de maneira constante.
No entanto, em muitos casos os moradores locais são esquecidos pelos
empreendedores que visam apenas o lucro. Ainda de acordo com Coriolano (2006,
p. 201) “como turismo globalizado voltado para os megaempreendimentos, chegou
aos países ditos em desenvolvimento, mas não incluí-las em seus projetos, muitas
comunidades, especialmente no Nordeste e Norte do País”. Desse modo, existe um
obstáculo que impede a geração de benefícios do turismo, que é a falta de integração
da população nas empresas que prestam serviços turísticos. Por isso, é importante
destacar que é de estrema importância a participação dos moradores na área, não
apenas pela questão financeira, mas também pela valorização da identidade local.
A partir do momento em que os empreendimentos são instalados nas localidades
e não dispõe de nenhum residente como colaborador, existem impactos, mas dessa
vez são negativos. Pelo fato do turismo circular capital econômico, os moradores
não podem fica isolados da dinamicidade turística, pois, até mesmo no momento
da implementação de políticas acabam não sendo tão priorizados, seja na forma de
iluminação pública ou de segurança, por exemplo, cujas principais ruas, bairros ou
avenidas de maior fluxo turístico tornam-se alvo de investimentos.
Além disso, os residentes podem participar na atividade turística pelo
desenvolvimento da prática do artesanato, por exemplo, cujas peças produzidas são
vendidas aos turistas, gerando assim, retorno econômico e fortalecimento da cultura
local. Desse modo, os moradores irão está envolvidos no desenvolvimento endógeno,
que é explanado pela identificação dos mecanismos de produtividade de uma região
ou município. Segundo Beni (2006, p.36): o desenvolvimento endógeno visa atender
ás necessidades e demandas da população local por meio da participação ativa da
comunidade envolvida.

4 APRESENTAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CURRAIS NOVOS/RN

O município de Currais Novos se situa a 180 km de Natal, capital do Rio Grande


do Norte e está localizado na mesorregião central potiguar. Terra de rios temporários
solo propício ao plantio e subsolo rico em minerais, clima quente que é amenizado na
época de inverno (SOUZA, 2008).
Currais Novos- RN conta com 42.652 habitantes (IBGE, 2010) sendo esse o
segundo munícipio mais populoso da Região Seridó a qual fica no interior do estado
do estado. No que diz respeito aos aspectos geográficos Currais Novos- RN possui
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um clima predominantemente semiárido, a caatinga como principal vegetação e seu


relevo possui entre 200 a 400 metros de altitude. (PMDT, 2013, p. 30)
Segundo o Plano Municipal de Desenvolvimento do Turismo de Currais Novos-
RN (PMDT, 2013, p. 32) a economia está baseada não mais na mineração, agricultura
e pecuária como em outrora, mas sim no comércio, serviços e turismo, sendo essa
uma nova realidade do município.
De forma mais específica, de acordo com inventário da oferta turística municipal
– produto do PMDT, 2013 – Currais Novos/RN dispõe de potencialidades capazes
de atrair visitantes/turistas tanto em aspectos naturais quanto histórico-culturais,
como por exemplo, a Mina Brejuí, o Cânion dos Apertados e o Sítio Totoró. Nessa
perspectiva, o município também promove atividades turísticas no segmento de
eventos (Cactos Moto Fest, Festa de Sant’Ana, Vaquejada e Carnaxelita) e negócios
(representações comerciais). Quanto à educação o município oferece na área urbana
10 escolas municipais, 08 creches, 01 centro de reabilitação, 06 escolas estaduais, 05
escolas particulares, além do IFRN e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). E mais 12 escolas e 02 creches na zona rural. (PMDT, 2013, p 36).
No que diz respeito à saúde do munícipio, apresenta-se um quadro positivo
somando um total de 39 equipamentos privados e um Hospital Regional com
natureza filantrópica (PMDT, 2013, p. 38). Sobre a cultura do município percebe-se
uma população de muita fé onde até mesmo os marcos históricos da cidade estão
relacionados a promessas em suas edificações. Em relação ao esporte o município
oferece 3 ginásios públicos e um campo de futebol e quanto ao lazer a cidade oferta
de 7 praças, os quais esses equipamentos fomentam o desenvolvimento de exercícios
e a prática de esportes. (PMDT, 2013, p. 51).

5 RESULTADOS DA PESQUISA

Os resultados do presente trabalho foram construídos com base na pesquisa


de campo realizada junto à comunidade local do município de Currais Novos tanto
do perímetro urbano como rural. O período de aplicação foi de Outubro e Novembro
do ano de 2013, pesquisa realizada por discentes do Curso de Turismo da UFRN
campus Currais Novos durante a elaboração do Plano de Desenvolvimento Turístico
do município, onde os autores do presente trabalho estiverem envolvidos na pesquisa
e coordenação da aplicação. Os resultados mais relevantes para o alcance dos
objetivos da pesquisa contam com seis questões fechadas (de natureza objetiva)
que tratam da percepção da comunidade quanto à atividade turística no município de
Currais Novos/RN.
A primeira questão a ser tratada é quanto a participação do turismo no
desenvolvimento do município, o resultado da percepção da comunidade é apresentado
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pelo Gráfico 1.

GRÁFICO 1 – PARTICIPAÇÃO DO TURISMO NO DESENVOLVIMENTO DA CIDADE

Fonte: PMDT, 2013.


Como mostra o Gráfico 1, dos moradores entrevistados, 65% da população
currais-novense acredita no turismo como um fator de desenvolvimento e apenas
35% não ver a atividade como colaboradora para o desenvolvimento local.
Resultado interessante pelo fato de que, a maioria dos moradores da cidade
consegue visualizar a atividade turística como promotora de desenvolvimento, o que
é uma possibilidade de aceitação da atividade turística na localidade, já que apesar
de alguns impactos que se aborda atualmente sobre a temática, o desenvolvimento é
um fator positivo.
Ao mesmo tempo em que o resultado é positivo, existem 35% que podem ser
vistos como um número considerável de moradores que não veem o turismo como
uma oportunidade de desenvolvimento municipal, e quanto os motivos que levaram
a essa não crença no turismo com promotor de desenvolvimento segue algumas
das principais justificativas abordadas são: Falta de investimentos na área; Falta de
política e planejamento; desconhecimento dos atrativos turísticos; o pequeno porte do
município; falta de marketing; falta de infraestrutura, entre outros.
As possíveis justificativas abordadas pela comunidade podem hipoteticamente
serem algumas das dificuldades encontradas para alcançar um melhor desenvolvimento
do turismo no município, sendo então, interessante, olhares e propostas voltadas
para esses aspectos, seja melhorando a infraestrutura dos atrativos da cidade,
fazendo divulgação e marketing dos produtos e serviços turístico do município, enfim,
planejamento baseado nas dificuldades encontradas. A segunda questão a ser tratada
na pesquisa é quanto o envolvimento profissional da comunidade local com o turismo,
para isso o gráfico 2, mostra dos entrevistados quantos já trabalharam na área.
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GRÁFICO 2 – ENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DA POPULAÇÃO COM A


ATIVIDADE TURÍSTICA

Fonte: PMDT, 2013.


O resultado do gráfico acima se torna preocupante, pelo fato de que, Segundo
Coriolano (2006), sem a inclusão da comunidade nas atividades turísticas no município,
pode-se gerar um obstáculo para o desenvolvimento de benefícios para todos os
atores importantes no turismo, sendo indispensável o envolvimento da comunidade,
por essa ser responsável na valorização da identidade local.
Apenas 14% da população curraisnovense entrevistada já teve a oportunidade
de trabalhar na área, e a grande maioria de 86% nunca tiveram ligação com essa
atividade. Essa falta de envolvimento da comunidade com a atividade de forma atuante,
hipoteticamente, pode derivar da falta de capacitação profissional, os empresários
podem buscar funcionários com qualificações, e com a falta de interesse por cursos
de diversas naturezas na área se torna ainda mais difícil a inserção da comunidade
nas empresas e organizações do turismo no município.
Uma solução para essa questão seria uma melhor oferta de cursos de
qualificação na área, e promover ações capazes de despertar o interesse na população
em participar dos cursos e eventos da área. Dentro da questão feita, se tem a opção
de saber quais foram as profissões que os 14% atuaram, e se dos 86% quantos tem
interesse em trabalhar com o turismo no município o aprofundamento da questão
segue no Quadro 1.

QUADRO 1 – ENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DA COMUNIDADE COM O


TURISMO
Já trabalharam como/em: Não trabalharam mas tem interesse em:
Taxista Meios de hospedagem
Em restaurantes Restaurantes
Meios de hospedagem Eventos Gerais
Guia de Turismo Planejamento
Moto Taxi Guia de Turismo
Eventos Fotografias turísticas
Comércio Eventos Culturais
Fonte: Pesquisa de campo, 2013
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O Quadro 1 mostra que as opções de trabalho que já surgiram para a


comunidade variam entre profissões mais independentes de rede pública e privada,
como comércio próprio, moto taxista, taxista, guia de turismo, mas também demonstra
dois grandes setores da atividade turística, os meios de hospedagem e restaurantes
que são ligados a infraestrutura privada. Quanto às áreas de interesse, pode-se aplicar
o mesmo dito anterior, porém, existe a presença do planejamento algo interessante se
destacar, pois se faz presente o interesse de algumas pessoas da população em fazer
parte de um planejamento da atividade no município.
O terceiro ponto a ser analisado da pesquisa é quanto a marca, identidade
do município, interessante tratar esse quesito na percepção da comunidade, que
conhece bem a cultura, história e economia de onde reside, a questão foi fechada
com algumas alternativas e uma última opção seria outra opinião, onde possibilitou a
população ter liberdade de escolher o que realmente retrataria melhor a identidade e
marca local, se seria os aspectos econômicos e históricos como a mineração, ou se
seria os eventos que atualmente trás um número considerado de turistas, ou qualquer
das outras alternativas, o resultado segue no gráfico 3.

GRÁFICO 3 – IDENTIDADE CULTURAL DO MUNICÍPIO

Fonte: PMDT, 2013.

Possível notar os resultados presentes no gráfico 3, onde a maioria da população


acredita que a identidade, marca do município está ligada a mineração com 52,2%,
fator marcante para a cidade tantos nos aspectos históricos, econômicos e turísticos,
pois essa se fez presente durante a construção da história do município, foi durante
um bom tempo uma atividade econômica muito importante e atualmente é um atrativo
conhecido e estruturado para visitação.
Segunda marca mais escolhida foi os eventos com 29,5 %, o que retrata a
forte presença de eventos que conseguem atrair pessoas em algumas épocas do
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ano, dessa forma movimenta toda a cidade, da população ao setor privado (como os
pequenos e grandes comerciantes locais). Os eventos aparecem com tal destaque,
talvez pelo fato de que, visualiza-se como sendo a principal atividade turística do
município.
As outras opções foram escolhidas e estão com resultados bem próximos,
como hospitalidade e atrativos naturais e atrativos culturais, gastronomia e artesanato
são os que aparecem com menores porcentagens, algo um pouco preocupante por
mostrar certa fragilidade nas questões culturais já que esses possuem estreita ligação
com cultura.

GRÁFICO 4 - OBSTÁCULO PARA O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DO


MUNICÍPIO

Fonte: PMDT, 2013.

Diante o resultado obtido ilustrado no gráfico 4, percebe-se que a população


elege ser o principal obstáculo para o desenvolvimento do turismo é a fragilidade
da gestão pública com 37,8 %, dessa forma, percebe-se que segundo a população
a gestão deveria ser mais presente, desenvolver ações de fomento ao turismo, por
exemplo. Em segundo lugar direcionam a infraestrutura insuficiente com 24,6 %, onde
a população entende que o município de Currais Novos- RN ainda precisa se estruturar
melhor para bem receber a atividade turística, entende que os recursos estruturais
que o município possui é insuficiente para atividades de fomento ao turismo.
E os demais itens também com índice elevado como os poucos profissionais
qualificados com 19,6, os preços abusivos com 17,2 que representa principalmente
os períodos considerados de alta estação que são os eventos, os preços elevam-se
de modo que chega a ser abusivo, e esse é um fato também com um índice alto. E
outros apenas com 0,8% o que demonstra realmente ser os itens listado acima que a
população considera ser um entrave para o desenvolvimento turístico do município.
Outro fator que merece análise quanto aos resultados é a capacitação profissional no
município quando se trata de turismo e comunidade, a pesquisa procurou saber se
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a população já buscou alguma vez cursos profissionalizantes ou até mesmo cursos


básicos na área, e o resultado segue no gráfico 5.

GRÁFICO 5 – CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL DA COMUNIDADE NA ÁREA DO


TURISMO

Fonte: PMDT, 2013

Assim como o resultado do Gráfico 2, o resultado acima demonstra o pouco


envolvimento da comunidade com o turismo no município, a maioria de 87% nunca
chegaram a participar de cursos de capacitação ou básicos na área. Os números
mostram algo bastante preocupante, pois existem formas de capacitação (o Pronatec,
a Universidade, por exemplo), mas que se observa um desencontro entre os habitantes
e as instituições de capacitação. Uma forma de mudar esse cenário seria a maior
divulgação dos programas de capacitação, tornando a população mais próxima da
realidade turística da cidade.
O resultado aponta uma questão cabível de análise, pois a maioria da população
de Currais Novos não tem participação na prestação de serviços turísticos nem
capacitação para atuar na área, e Novo e Silva (2010) alerta que a comunidade tem
papel decisório no planejamento e desenvolvimento do turismo, pois não adianta as
outras etapas do planejamento e os outros atores estarem envolvidos, se a comunidade
não estiver satisfeita, pois segundo os mesmos autores, essa comunidade é quem vai
receber benefícios e precisa entender o seu papel e seus deveres dentro da atividade
turística. Apenas 13% já de alguma forma já teve participação ativa nesses cursos.
Dos 13% foram perguntados em que setor foi a capacitação que estiveram envolvidos,
e o resultado segue no quadro 2.
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QUADRO 2 – ENVOLVIMENTO DA POPULAÇÃO COM CAPACITAÇÃO NA ÁREA


DO TURISMO
Área de Capacitação Instituição promotora da capacitação
Gerência/Atendimento Sebrae
Relações Central do Cidadão
Bar e Restaurante Sebrae
Recepcionista Sebrae
Garçonete Senac
Turismo UFRN
Gastronomia IFRN
Fonte: PMDT, 2013.

Como apresenta o quadro 2, existe variação nas áreas de capacitação nos


setores de alimentos e bebidas, meios de hospedagem, de gerência e atendimento e
relações, além desses, nota-se a presença dos cursos federais como o de Turismo e
de Gastronomia. Quando se aborda as instituições promotoras dos cursos, se observa
que o Sebrae é a que mais aparece entre as variações de cursos, com 3 ofertas entre
as 7 citadas pelos 13% dos entrevistados, e as instituições federais aparecem com o
curso técnico de gastronomia (não ofertado no município de Currais Novos) e Curso
de Turismo da UFRN.
A sexta questão a ser analisada, é a investigação do conhecimento da população
quanto a existência do curso de turismo da UFRN/Currais Novos. Como mostra o
Gráfico 06, a maioria dos moradores afirmou que sabiam da existência do Curso de
Turismo, representação de 64,4 %, enquanto 35,6% relatou não saber.

GRÁFICO 06 – O CONHECIMENTO DA POPULAÇÃO QUANTO A EXISTÊNCIA DO


CURSO DE TURISMO DA UFRN/CAMPUS CURRAIS NOVOS

Fonte: PMDT, 2013.

Diante dos dados expostos, pode-se perceber que mesmo com o grande número
de meios de comunicação em Currais Novos/RN, ainda existe uma considerável
parcela que não tem conhecimento do Curso de Turismo, algo preocupante e que
precisa ser analisado, pois esse fato não deveria ser tão expressivo atualmente. O
que deveria ser discutido tanto pelo governo municipal quanto pela Universidade. Em
relação às pessoas que sabiam da existência do Curso de Turismo em Currais Novos/
RN, foram relatadas as formas como se deu esse conhecimento, entre eles estão,
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por: amigos, familiares, alunos do Curso; bem como pela mídia local, já ter estudado
na UFRN e conhecer a oferta dos cursos, por estagiários, entre outros. Desse modo,
pode-se afirmar que existe diversos meios que possibilitam a divulgação do Curso,
algo positivo para se atingir a demanda de alunos e mostrar a importância para a
sociedade.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização desse trabalho, foi possível alcançar os objetivos inicialmente


propostos, identificando a percepção da população de Currais Novos- RN quanto o
desenvolvimento do turismo. Foi visto no presente estudo que 65% da população
acredita que o município tem potencialidade para o desenvolvimento do turismo, e
35% responderam não, o que é fato preocupante pelo fato de que representa grande
parte da população que não acredita no potencial turístico. O Gráfico 2 mostra que
apenas 14% da população teve envolvimento na área, e 86% nunca trabalhou, o que
é um número preocupante a grande maioria de fato não se envolve com o turismo.
No que diz respeito a identidade cultural do município 52,2 % responderam ser a
mineração que por muito tempo foi a principal atividade econômica da cidade e que
hoje é também ponto turístico.
Quanto ao obstáculo para o desenvolvimento turístico, a maior resposta foi
direcionada a gestão pública com 37,8%, percebe-se, dessa forma, que a população
acredita precisar mais de ações e incentivos por parte do poder público. Diante a
pesquisa percebeu-se que o dado mais preocupante é o do gráfico 5, que apresenta
87% da população nunca teve qualificação na área de, o que de fato precisa ser
mudado para que o turismo aconteça com qualidade.
E o sexto e ultimo gráfico, demonstra que 64,4 % sabem da existência do curso
de turismo no município e 35,6 não sabem da existência do curso, que ainda é um
número considerável tendo em vista que trata-se de uma cidade que possui televisão
local, e fontes de informações como rádio e jornais as quais divulgam o curso, mas
que ainda existe uma grande parcela que não tem conhecimento.
Após a realização do estudo, notou-se a importância da pesquisa para a
realização da atividade turística, pois, é uma forma de ouvir a população e saber
qual o seu pensamento quanto ao desenvolvimento do turismo, conhecer como a
comunidade esteve ou está inserida nesse mercado e escutar suas opiniões a cerca de
suas percepções. A pesquisa ainda deixa de contribuição fontes para outros estudos
os quais possam aprofundar no assunto, ou ainda como fonte de embasamento teórico
para possíveis pesquisas, tendo em vista que trata-se de um assunto importante para
o desenvolvimento da atividade turística.
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REFERÊNCIAS

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2006.
BENI, Mário Carlos. Política e planejamento de turismo no Brasil. São Paulo:
Aleph, 2006.
BRAGA, Debora Cordeiro. Planejamento turístico: Teoria e Prática. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2007. 2° reimpressão.

CASTRO, Celso Antônio Pinheiro de. Sociologia Aplicada ao Turismo. São Paulo:
Atlas, 2002.

CASTRO, F. M. M.; MIDLEJ, M. M. C. Planejamento turístico: análise da proposta no


município deValença (BA) no âmbito das recomendações das políticas públicas do
turismo no país. Caderno Virtual de Turismo. Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p.18-35,
abr. 2011.

CORIOLANO, Luzia Neide Menezes Teixeira. O turismo nos discursos, nas políticas
e no combate à pobreza. São Paulo: Annablume, 2006.
CURRAIS NOVOS. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=
&codmun=240310&search=rio-grande-do-norte|currais-novos>. Acesso 08 de maio de 2014.
DIAS, Reinaldo. Introdução ao Turismo. São Paulo: Atlas, 2005.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas da pesquisa social. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2008.
MENEZES, Estera Muszkat; SILVA, Edna Lúcia. Metodologia da pesquisa e
elaboração de dissertação. 4. ed. Florianópolis: UFSC, 2005.
NOVO, Cristiane Barroncas Maciel Costa; SILVA, Glaubécia Teixeira da.
Planejamento e organização do turismo. Manaus: Centro de Educação
Tecnológica do Amazonas, 2010.55 p.

Organização Mundial do Turismo. Turismo Internacional: uma perspectiva global.


2.ed. Porto Alegre: Bookmann, 2003.
PETROCCHI, Mário. Turismo: Planejamento e Gestão. São Paulo: Futura, 1998.

PLANO MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE CURRAIS NOVOS/


RN 2014- 2020. TAVEIRA, Marcelo da Silva; NASCIMENTO, Marcos Antônio Leite
do; NÓBREGA e; Wilker Ricardo de Mendonça (coords.). UFRN, Currais Novos, RN,
2014.

SANTOS, Izequias Estevam dos. Manual de métodos e técnicas de pesquisa


científica. 7. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2010.
SOUZA, Joabel Rodrigues de. Totoró, berço de Currais Novos – Natal, RN: EDUFRN
– Editora da UFRN, 2008.
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ANEXO - FORMULÁRIO 01: Percepção da comunidade residente em relação ao


Turismo no município

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN


CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES
COORDENAÇÃO DO CURSO DE TURISMO

PROJETO: Elaboração do Plano de Desenvolvimento do Turismo no município de


Currais Novos/RN

FORMULÁRIO 01 – Percepção da comunidade residente em relação ao Turismo no


município

1. Em sua opinião, o turismo no município de Currais Novos tem gerado


desenvolvimento para a cidade?
( ) Sim ( ) Não Por quê?__________________________________________

2. O (a) Senhor (a) já trabalhou ou trabalha com atividades voltadas para o


turismo? Se sim, em qual setor? Se não, tem interesse setor?
( ) Sim , qual setor? __________________________
( ) Não, tem interesse em qual setor? _______________________

3. Em sua opinião, o que seria a marca (identidade) do município de Currais


Novos?
( ) Eventos ( ) Mineração ( ) Atrativos naturais ( ) Atrativos culturais
( ) Hospitalidade ( ) Gastronomia ( ) Artesanato ( ) Outro:_________________

4. O que o (a) Senhor (a) acredita ser um obstáculo para o desenvolvimento


turístico do município:
( ) Poucos profissionais qualificados ( ) Fragilidade da Gestão Pública
( ) Infraestrutura insuficiente e inadequada ( ) Preços abusivos
( ) Outros: ________________________________________________

5. Já participou de alguma atividade de capacitação na área de Turismo?


Qual (is)? ___________________ Entidade: ____________________

6. Sabe da existência do Curso de Turismo da UFRN/Campus Currais Novos?


( ) Sim ( ) Não Se sim, como ficou sabendo? ________________________
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ROTEIRIZAÇÃO TURISTICA: A VALORIZAÇÃO HISTÓRICA E CULTURAL DA


CIDADE DO NATAL, COM ENFOQUE NA ZONA ADMINISTRATIVA LESTE.

RESUMO

Este artigo está baseado na vivencia do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Cientifica
– PIBIC 2013/2014 realizado pelo Curso de Turismo da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte. Objetiva elaborar novos roteiros turísticos para a capital do RN. O trabalho abordou a seguinte
temática: Roteirização Turística no segmento histórico-cultural. Tendo por primeiro campo de estudo
a zona administrativa leste da cidade do Natal-RN. O objetivo de revelar aos turistas o cotidiano da
população natalense e alavancar a renda do comércio local através da “turistificação” destes bairros e
valorização da cultura de seus moradores surge, com a sugestão de uma nova circulação turística. A
problemática encontrada no planejamento do roteiro histórico e cultural da cidade consiste no pouco
conhecimento e divulgação do receptivo local. Esta pesquisa justifica-se pelo fato de Natal ser um
importante destino turístico para seu Estado e suas potencialidades turísticas irem além do que só
o segmento de sol e mar. Com isso, esse artigo procurou valorizar, os demais bairros da zona leste
de Natal, além daqueles já consolidados turisticamente como históricos, como os de Cidade Alta, e
Ribeira, localizados nesta região. O(s) Roteiro(s) turísticos de cunho histórico e cultural que serão
propostos a partir deste trabalho tem o foco de abranger em um único passeio pela cidade todos os
bairros da zona leste de Natal, visto que foram os primeiros a surgir na capital do RN. Estes novos
roteiros trarão uma nova perspectiva para este segmento do turismo na cidade, propiciará ao turista
um maior contato com a população, trazendo novas experiências. Esta análise caracteriza-se como
uma pesquisa exploratória qualitativa de cunho descritivo, que foi realizada nos doze bairros da zona
leste da cidade do Natal. Onde foi notória a existência de um vasto potencial turístico que não está
sendo explorado pelo Trade turístico. Espera-se que este artigo possa servir de apoio, para estudantes
e pesquisadores da área em suas pesquisas, para que contribuam com a constante busca de melhoria
para a cidade, buscando valorizar e respeitar o patrimônio histórico cultural material e imaterial.

PALAVRAS-CHAVE: Turistificação. Roteirização. Histórico-cultural. Zona Leste de Natal.

ABSTRACT / RESUMEN

This article is based on the experiences of the Institutional Program for Scientific Initiation Scholarship
- PIBIC 2013/2014 conducted by Travel Tourism at the University of Rio Grande do Norte. Aims to
develop new tourist routes to the capital of the RN. The study addressed the following themes: Tourist
Routing in the historical-cultural segment. Has as its field of study administrative area east of Natal-
RN. The purpose of revealing to tourists everyday population of Natal and leverage income from local
businesses through the “touristification” these neighborhoods and valuing the culture of its inhabitants
emerges, with the suggestion of a new tourist movement. The problems encountered in the planning of
the historical and cultural tour of the city is the lack of knowledge and dissemination of local receptive.
This research is justified by the fact that Natal is a major tourist destination for its state and its tourism
potential to go beyond what the only segment of sun and sea. Thus, this article aims to value, in other
districts of the east side of Natal, beyond those already established turisticamente as historic as the
Cidade Alta, and Ribeira, located in this region. The (s) map (s) tour of historical and cultural projects
that will be proposed from this work have the focus to encompass in a single city tour all districts of
the east side of Natal, as they were the first to emerge in capital RN. These new routes will bring
a new perspective to this segment of tourism in the city, the tourist will provide greater contact with
the population, bringing new experiences. This analysis is characterized as a qualitative exploratory
research descriptive research, which was conducted in the twelve districts in the east of the city of Natal.
Where was evident the existence of a vast tourism potential that is not being exploited by the tourist
trade. It is hoped that this article may serve as support for students and researchers in their research, to
contribute to the constant search for improvements to the city, seeking to value and respect the historic
cultural material and immaterial heritage.
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KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Touristification. Routing. Cultural-historical. East Zone Natal.

INTRODUÇÃO

O artigo é balizado na observação e vivência do Programa Institucional de


Bolsa de Iniciação Cientifica – PIBIC 2013/2014, realizado pelo curso de Turismo do
Campus Natal, que tem como objetivo elaborar novos roteiros turísticos para a capital
do RN.

Apesar de tratar-se de uma cidade litorânea, possui muito mais atratividades


turísticas do que a explorada no segmento de “Sol e Mar” percebe-se, uma lacuna
quanto ao planejamento dos roteiros turísticos oferecidos em Natal, principalmente os
de cunho histórico e cultural, culminando na pouca permanência do turista. Com vista
sobre o planejamento do roteiro turístico “histórico-cultural” da cidade do Natal, este
deixa a desejar em sua forma de transmitir ao turista o conhecimento a respeito do
patrimônio histórico e cultural da cidade, fato que já foi relatado por turistas em mídias
jornalísticas locais, como o Jornal Tribuna do Norte, depoimento da Srª. Andrea Costa:
Não há informações nos prédios visitados, não há mapas ou roteiros
impressos, os guias não são qualificados para explicar. Falta preparo, disse
a arquiteta Andrea Costa, mestra em Conservação Urbana pela UFPE, [...] A
maior dificuldade é a falta de informação, há muitos dados conflitantes e não
há como verificar a veracidade de todas as histórias. (SILVA, 2012)

Com vistas a melhoria do turismo e aumento da identidade da população natalense,


é que faz-se necessária uma abordagem sobre o tema deste Artigo Científico. Tendo
como principal objetivo, o resgate dos aspectos históricos e culturais da cidade do
Natal através da roteirização turística e abordagens especificas para identificar os
aspectos históricos e culturais que podem ser exibidos turisticamente em cada um dos
bairros da zona administrativa leste de Natal e sugerir uma nova roteirização turística
que integre os bairros da zona leste e possibilite apresentar aos turistas, de forma
mais autentica, o cotidiano, histórico-cultural da população natalense.

Visto que isso será de grande importância para o turismo e receita da cidade do Natal,
uma vez que estará propondo novos roteiros, o que poderá proporcionar um tempo de
visita bem maior dos turistas, com isso contribuindo para uma melhor distribuição da
receita advinda do turismo nos bairros outrora renegados pelo Trade turístico.
Portanto é essencial que haja uma inquirição de como é feita à roteirização
turística e propor novas rotas que possibilitem a circulação turística e valorização
dos aspectos histórico-cultural dos demais bairros da cidade, em especial a zona
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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administrativa leste, que foi o campo de estudo deste artigo.


A Roteirização Turística Histórico-cultural - tendo por base a zona Leste da
cidade do Natal, alavanca a renda do comércio local através da turistificação1 destes
bairros.
Desta feita, ao longo desta pesquisa pretende-se expor os valores turísticos
pouco difundidos e preservados pela cidade dinamizando as informações referentes
ao cotidiano e cultura do povo natalense. Esta análise caracteriza-se como uma
pesquisa exploratória qualitativa de cunho descritivo.

REFERENCIAL TEÓRICO

TURISMO CULTURAL

Na bibliografia especializada neste tema o conceito de turismo histórico e


cultural como sendo uma atratividade turística é abordado em abundância em sua
forma primária. Por isso é de suma importância compreender um pouco mais sobre
esse tema a partir da visão de alguns autores como (Hughes, apud, Costa 2009,
40) que diz: “o conceito de turismo cultural tende a ser aplicado a viagens sempre
que recursos culturais são visitados, apesar das motivações iniciais”. Para Margarita
Barreto, em sua obra Manual para Iniciação ao Estudo de Turismo, o turismo cultural
apresenta-se como.

[...] seria aquele que não tem como atrativo principal um recurso natural.
As coisas feitas pelo homem constituem a oferta cultural, portanto turismo
cultural seria aquele que tem como objetivo conhecer os bens materiais e
imateriais produzidos pelo homem. (BARRETO, 2003, 21)

Segundo estes autores o ponto central para a captação do turista cultural é


a valorização dos recursos culturais existentes em determinada localidade. Estes
recursos são tanto os bens tangíveis, como obras arquitetônicas ou naturais, como
intangíveis, como a cultura popular, onde estarão inclusos os usos e costumes,
crendices, entre outros. Portanto, para os profissionais do turismo é fundamental que
busquem sempre uma harmonia entre o contato da população autóctone e alóctone,
para quebrar paradigmas negativos e valorizar a experiência deste encontro para
ambos.
1 A “turistificação” pode ser entendida como o processo de implantação,  implementação e/
ou suplementação da atividade turística em espaços turísticos ou com potencialidade de turismo. A
ferramenta para esse trabalho deve ser o planejamento estratégico e integrado da atividade turística.
(Meringue, 2005)
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Em relação ao tema Turismo Cultural, vale a pena observar o entendimento de


turismo cultural através do conceito de Diana Guerra Chirinos:

[...] como aquele segmento do mercado turístico que oferece ao visitante um


conhecimento mais profundo de outras culturas, costumes e tradições, outras
formas de viver e de entender o mundo. Oferece um contacto mais quotidiano
e próximo do comportamento cultural de outras populações. (CHIRINOS,
2003, apud, DIAS 2010).

Pois o interessante para o turista que busca esta atividade é justamente o


encontro e o convívio com o novo, trazendo muitas vezes novas perspectivas sobre o
local visitado. Segundo Costa (2009, 60) o senso comum do turismo cultural concorda
que o objetivo principal desta atividade é a própria visitação aos bens que compõem
o patrimônio cultural da sociedade receptora. No entanto, uma leitura mais atenta
a sua obra percebe-se que o turismo cultural tem como principal objetivo “propiciar
experiência que dêem origem a um processo educativo que auxilie no desenvolvimento
integral dos visitantes e, consequentemente, na conservação do recurso cultural
visitado”.

O PATRIMÔNIO E SUA INTERPRETAÇÃO

Faz-se necessário a utilização de algumas técnicas de interpretação do


patrimônio que será exposto ao visitante. Está filosofia de interpretar o patrimônio
cultural teve seu início nos seis princípios propostos por Tilden (1957), estes princípios
eram bastante semelhantes às ideias abordadas por Mills, quase quarenta anos antes
e foram fundamentais para Beck e Cable, (1998) quase quarenta anos depois, em
seus estudos.
Percebe-se desta forma uma evolução da filosofia interpretativa, que começou
por Mills, firmando-se com os estudos de Tilden e sendo atualizados por Beck e Cable,
estes princípios são fundamentais ainda no século XXI.
Princípios interpretativos propostos por Tilden:
1. Ideia de Aprendizado: “Qualquer interpretação que não relacione o que está
sendo mostrado ou descrito com a personalidade ou experiência do visitante será
infrutífera”.
2. Interpretar é uma arte: “a interpretação é uma arte que combina muitas
artes, quer os objetivos apresentados sejam científicos, históricos ou arquitetônicos.
Qualquer arte é passível de ser ensinada em algum nível”.
3. Provocar: “O principal objetivo da interpretação não é a instrução, mas a
provocação”.
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4. Interpretação para crianças: “a interpretação voltada para crianças (maiores


de 12 anos) não deve ser uma diluição da apresentação planejada para os adultos,
mas deve seguir uma abordagem fundamentalmente diferente. Para ser ótima, vai
exigir um programa em separado”.
Princípios interpretativos propostos por Beck e Cable:
5. A história do lugar: “todo lugar tem uma história. Os intérpretes podem dar
vida ao passado para tornar o presente mais agradável e o futuro mais significativo”.
6. Qualidade das informações: “os intérpretes devem preocupar-se com
a quantidade e a qualidade (seleção e precisão) da informação apresentada. A
interpretação focada e bem fundamentada tem mais força que um longo discurso”.
7. Formação do profissional: “o intérprete deve estar familiarizado com as técnicas
básicas de comunicação. Uma interpretação de qualidade depende do conhecimento
e da habilidade do intérprete, que devem ser desenvolvidos continuamente”.
8. Meios para a interpretação: “o programa interpretativo global deve ser capaz
de atrair suporte – financeiro, voluntário, político, administrativo -, qualquer que seja o
suporte necessário para que o programa prospere”.
9. A beleza do patrimônio: “a interpretação deve instigar nas pessoas a
capacidade e o desejo de sentir a beleza a sua volta – para proporcionar a elevação
do espírito e encorajar a preservação dos recursos”.
Estes são alguns dos princípios que auxiliarão na elaboração dos novos roteiros,
proposta do trabalho e também na percepção do turista. Para uma boa interpretação
por parte dos visitantes no que se refere aos atrativos históricos e culturais que
estiverem em seus roteiros turísticos durante suas viagens.
Conforme (GOELDNER, 2002, 194):

Podem-se desenvolver cursos para capacitar cidadãos locais para torná-los


intérpretes autênticos do patrimônio cultural, histórico e natural de sua região.
Este tipo de esforço educacional, quando tornado público, também cria uma
nova autoconsciência e um orgulho na comunidade, resultando em uma
melhoria na qualidade de vida.

De acordo com FARIAS (2013) “Também consta que todos os atrativos culturais
podem se transformar em produtos do Turismo Cultural, mesmo que nem todos atraiam
o público igualmente, o que exige um cuidadoso trabalho de marketing”.
Segundo o Ministério do Turismo - 2010:

[...] são considerados produtos do Turismo Cultural aqueles que têm a


capacidade de atrair os visitantes, que lhes possibilitem formas de interação
para vivenciar seus significados, garantam as condições adequadas para
a visita, disponibilizem os serviços necessários para sua permanência e
definem as circunstâncias para que a visita aconteça. (BRASIL, 2010, 4)
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ROTEIROS TURÍSTICOS

Segundo o Ministério do Turismo em seu Programa de Regionalização do


Turismo intitulado “Roteiros do Brasil”:

Podemos entender roteiro turístico como um itinerário caracterizado por


um ou mais elementos que lhe conferem identidade, definido e estruturado
para fins de planejamento, gestão, promoção e comercialização turística
das localidades que formam o roteiro. Módulo operacional 7 – roteirização
turística (BRASIL, 2007).

Este, apesar de ser um programa de regionalização do turismo ele não está


limitado apenas aos agrupamentos de municípios próximos. O objetivo dele é mais
amplo e cabe aos gestores melhorar sua visão de turismo, buscando mais harmonia
juntos as partes envolvidas (poder público, iniciativa privada, setores terciários e a
comunidade), neste segmento de mercado, na busca constante de integrar cada setor
para que o turismo em sua região possa se expandir de forma sustentável. Como
afirma a Ex-Ministra de Estado do Turismo do Brasil, Marta Suplicy:

Diante disso, o que se espera é que cada região turística planeje e decida
seu próprio futuro, de forma participativa e respeitando os princípios da
sustentabilidade econômica, ambiental, sociocultural e político-institucional.
O que se busca com o Programa de Regionalização do Turismo é subsidiar
a estruturação e qualificação dessas regiões para que elas possam assumir
a responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento, possibilitando a
consolidação de novos roteiros como produtos turísticos rentáveis e com
competitividade nos mercados nacional e internacional. (SUPLICY, apud,
BRASIL, 2007)

Como visto, é essencial para uma comunidade que seus investimentos em turismo
possam ser bem planejados, e isto, é o que se pretende com as investigações deste
trabalho, través da elaboração de um roteiro turístico em que o turista tenha a opção
de fazê-lo de forma simples e bem estruturada, onde ele possa identificar cada ponto
cultural da cidade e poder escolher a melhor forma de chegar a este local.
Os roteiros que serão propostos ao final deste artigo, poderão ser utilizados por
agências como um diferencial em seus pacotes de viagens, para atrair mais turista à
cidade do Natal, mas não terá somente o cunho comercial, uma vez que o que se espera
é que estes roteiros possam ser feitos por qualquer pessoa, pois estará disponível em
várias mídias, eletrônicas e impressas, fruto do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação Cientifica – PIBIC 2013/2014. Que serviu de apoio para elaboração desse
trabalho.
Com isso pretende-se mostrar a cidade por outros olhos, possibilitando ao turista, que
ele possa conhecer outras comunidades de Natal, sua gente, sua cultura e história.
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XIII Encontro Nacional Turismo de Base Local
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Este lado da cidade que muitas vezes não está inserida nas rotas turísticas, por se
tratar em alguns casos da periferia. No entanto cabe ao turismo histórico-cultural
proporcionar este estreitamento entre a população de Natal e o turista.
Pois no Brasil segundo Chiozzini (2007) “o turismo cultural aparece em terceiro lugar
nas preferências daqueles que viajam pelo Brasil, só perdendo para o ecoturismo e
para o turismo de aventura”. Esses dados só corroboram com o que já foi exposto nas
tabelas 1 e 2 (pag. 15) deste trabalho. Conforme afirma (Braga, 2008), o turismo em
uma região precisa ser diferenciado para poder ter êxito em suas atividades.

A estratégia de diferenciação consiste em mostrar que a empresa ou alguns


de seus produtos são considerados únicos pelos clientes... A diferenciação
pode ser considerada pela marca, pelo prestígio, pela qualidade dos serviços
etc. No caso de agências uma operadora pode optar por trabalhar com
roteiros diferenciados em determinada modalidade turística, destino exótico
ou exclusivo. (BRAGA, 2008, 97)

A consolidação das ideias apoiadas por este trabalho garantirá ao gestor público e
privado, uma grande oportunidade para que possam oferecer um turismo diferenciado
do que vem ocorrendo em Natal. Pois ao visitante lhe será exposto novas rotas e novas
perspectivas de atração e com isso a população dos demais bairros não “turistificados”
também serão beneficiadas onde terão a oportunidade de expor seus produtos de
cunho histórico-culturais tangíveis e intangíveis como: a literatura de cordel, danças
típicas, comidas regionais entre outros que são oferecidos ao turista de forma teatral
nos “palcos do turismo”.

ROTEIRO CULTURAL DE NATAL NA ATUALIDADE

Para quem não conhece a história da cidade do Natal, o passeio turístico


voltado para a história e cultura dessa terra, não trará muita informação a respeito
de sua gente e de seus costumes. Este segmento do turismo concentra-se na região
Leste da cidade, esta que foi o berço de sua povoação. Hoje esse turismo cultural
está ameaçado, pois Natal concorre com outras capitais como João Pessoa, e alguns
folders turísticos que são distribuídos na cidade apontam João Pessoa como roteiro
cultural para quem visita a cidade do Natal.
Movimentos em busca de uma melhor valorização do patrimônio histórico e
cultural do povo natalense, já foram feitos no centro da cidade, para provocar a Gestão
Pública, como retrata o jornalista Yuno Silva da Tribuna do Norte, jornal local:

Um grupo heterogêneo e aparentemente sem rumo circulou pelos bairros


da Cidade Alta e da Ribeira na manhã de ontem. Enxotados por carros e
buzinas, desviando de buracos e sujeitos a banhos involuntários com a lama
formada pela rápida chuva matutina que molhou o centro da cidade, cerca
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de 25 pessoas entre estudantes, donas de casa, professores, profissionais


liberais e demais interessados na histórica Natal, contrariaram a ‘tendência’
turística vigente e comprovaram na prática que a capital potiguar tem muito
mais a oferecer que sol, mar e dunas. Há  cultura, memória e muito o que
aprender no roteiro do Centro Histórico de Natal, mas por enquanto, do ponto
de vista turístico, essa descoberta se torna inviável para quem não conhece
um pouco a cidade.

Segundo o Estudo de Demanda Turística Internacional 2004 – 2010, que reúne


informação a respeito da preferência dos turistas internacionais que visitam o país
revelam que o turismo cultural no Brasil continua em terceiro lugar com 8,5% da
preferência.

TABELA 1 - PERFIL DA DEMANDA TURÍSTICA INTERNACIONAL 2004 –


2010, DADOS NACIONAIS

Fonte: Ministério do Turismo – Estudo da Demanda Turística 2004 – 2010

Já na cidade do Natal o turismo cultural atrai 5% dos visitantes. No entanto


essa porcentagem vem caindo ao longo dos anos, por isso é essencial que haja uma
investigação na busca de inovação dos roteiros turísticos de cunho cultural e histórico,
para que esta atratividade se torne cada vez mais dinâmica e prazerosa para o turista.

TABELA 2 – PERFIL DA DEMANDA TURÍSTICA


INTERNACIONAL – DESTINO MAIS VISITADOS: NATAL/RN 2004-2010
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Fonte: Ministério do Turismo – Estudo da Demanda Turística 2004 – 2010

A CIDADE DO NATAL

FIGURA 1 – DIVISÃO ADMINISTRATIVA DA CIDADE DO NATAL.

Fonte: SEMURB

Natal capital do Estado do Rio Grande do Norte é a principal cidade indutora


do turismo potiguar. Sua fundação ocorreu em 25 de dezembro de 1599 as margens
do Rio Potengi, este que é um dos principais rios do Estado o qual provem dele
a nomenclatura do Estado do Rio Grande do Norte. “Esse rio era conhecido como
Rio Grande, pelos portugueses, e como Potengi, pelos índios, que significa “Rio dos
Camarões” na língua Tupi-Guarani”. (apud, Prefeitura Municipal do Natal, 2009).
Por situar-se em um dos pontos mais orientais da costa brasileira, o clima da
cidade do Natal é quente e árido, com exceção do período de chuvas, quando fica
quente e úmido, esta localização e o seu clima, a torna famosa turisticamente por ser
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conhecida como a Cidade do Sol e por possuir o ar mais puro das Américas, indicada
por pesquisa da National Aeronautics and Space Administration - NASA (Agencia
Espacial Americana) essa informação é difundida pela Secretaria de Turismo do
Estado do RN, em seu marketing turístico.

A pesquisa que intercomparou a qualidade do ar em seis cidades do litoral


brasileiro (Fortaleza, Natal, Salvador, Niterói, Caraguatatuba e Florianópolis),
como dito acima, foi conduzida por uma pesquisadora do INPE, Dra. Lycia
Maria Moreira Nordemann, denominada Impactos Ambientais na Precipitação
da Costa Brasileira onde, analisando amostras de chuvas coletadas nas
seis cidades estudadas, Natal apresentou uma atmosfera classificada como
padrão positivo. E, em termos das demais localidades analisadas, realmente
Natal apresentou melhor qualidade de ar. (Apud, Motta, 2004, 9)

Esta cidade é conhecida também em todo o país e até no exterior, por suas
belezas naturais e por ser uma terra acolhedora para seus visitantes, fato este já
registrado nos livros históricos há muitos anos, quando não se falava em turismo
nesta região.
Este bom acolhimento foi reconhecido pelo ditador italiano Benito Mussolini,
quando em 1931 doou ao povo potiguar uma coluna do templo de Júpiter em Roma,
homenageando o Estado Potiguar pela acolhida que deram aos pilotos Carlo Del
Prete e Arturo Ferrarin, quando em 28 de julho de 1928, estes realizaram a primeira
travessia do atlântico feita de avião, em uma viagem de mais de 49 horas sem escalas,
e desembarcaram na costa potiguar sendo muito bem acolhidos pela população, figura
(2 e 3).
O avião Savoia-Marchetti S-64 pilotado pelos aviadores italianos Carlo Del
Prete e Arturo Ferrarin alcançou a cidade de touros, no Rio Grande do Norte,
procedendo de Roma na Itália, após um voo de 49 horas e 19 minutos, sem
escalas, vencendo uma distância de 7163 quilômetros. Em reconhecimento
à fidalguia, acolhimento e carinho com que o povo de Natal proporcionou
aos dois famosos aviadores, Benito Mussolini, “Il Duce”, como 1º Ministro da
Itália, resolveu doar à cidade uma “Coluna Romana”, mais conhecida como
“Coluna Capitolina”, porque é originária do Monte Capitólio, em Roma. Evoca
na forma e na estrutura o templo de Júpiter. A instalação da referida coluna
em Natal serviria ainda para eternizar a memória desse grande reide aéreo.
(Nataldeontem, 2009)

FIGURA 2 – POPULAÇÃO DE TOUROS- RN EMPURRA S.64 ATÉ A VILA


DE PESCADORES

Fonte: Revista Aero Magazine, Edição: 233


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FIGURA 3 – DEL PRETE E FERRARIN COM MUSSOLINI NO CENTRO

Fonte: Revista Aero Magazine, Edição: 233

Com o foco no segmento do turismo histórico-cultural serão visitadas todos os


bairros da Zona Leste da cidade: em busca de seus atributos que possam somar para
o turismo em Natal. Esta região foi criada a partir da Lei Ordinária nº 03878/1989.

ZONA LESTE (ZL):

FIGURA 4: REGIÃO ADMINISTRATIVA LESTE


Fonte: SEMURB

A região Leste é composta de doze bairros sendo eles: Santos Reis; Rocas;
Ribeira; Praia do Meio; Cidade Alta; Petrópolis; Areia Preta; Mãe Luiza; Alecrim; Barro
Vermelho, Tirol e Lagoa Seca. Sua população corresponde a 15,23% dos habitantes
de Natal (IBGE, 2007).
Nesta zona administrativa estão inseridos os bairros históricos da cidade, como os
bairros da Ribeira, Cidade Alta e Alecrim. Por isso o turismo que mais ocorre nesta
região é o histórico-cultural. No entanto, estes não são os únicos bairros desta zona,
que possuem atrativos com potencial turístico.
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Para isso valendo-se de uma investigação científica que possa identificar quais
são estes atrativos histórico-culturais e expô-los de forma consciente ao turista, esta
pesquisa buscou descobrir quais são e onde estão estes atrativos e inseri-los em uma
rota turística sempre procurando minimizar os impactos provocados pelo turismo em
áreas que antes não eram exploradas por este segmento.
Outra grande vantagem turística existente na ZL são os centros de artesanatos
localizados nas Praias do Meio e Praia dos Artistas, que no passado foram grandemente
divulgadas aos turistas que visitavam a cidade, mas que hoje tem perdido o interesse
do Trade turístico, pois são vistas como praias destinadas mais a população local é o
caso da Praia do Meio, praia dos Artistas e de Areia Preta.
Por isso é fundamental uma formulação nos roteiros turísticos da cidade
abordando o lado histórico-cultural valorizando os costumes do povo natalense e a
formação de sua infraestrutura urbana.

RESULTADOS
Durante as visitas de campo feitas aos bairros da ZL de Natal, os atrativos com
potencial turístico que foram encontrados, tiveram sua localização geográfica marcada
com ajuda de um dispositivo de Sistema de Posicionamento Global – GPS, para que
os dados gerados pudessem ser transformados em informações para elaboração dos
mapas da roteirização Turística desta zona da cidade.
Dentre os locais visitados podemos destacar as seguintes atratividades com
potencial turístico, mas que não estão inseridas no roteiro histórico e cultural da cidade:

TABELA 3- POTENCIAIS ATRATIVOS TURÍSTICOS


Nome do atrativo Altitude Latitude Longitude Bairro
Igreja de são José 38 m 256831 9357386 Tirol
Aero Clube 63 m 256230 9358190
Edifício com Fachada de José
38 m 256220 9360666
de Arimatéia Petrópolis
Baobá do Poeta 45 m 255305 9357870 Barro
Escultura da vida nordestina 43 m 255360 9357914 Vermelho
Redes Santa Luzia 36 m 255440 9357856
Atlantico Clube 30 m 254818 9358800
Base Naval 41 m 254328 9359214
Praça Amigos da Marinha 40 m 254332 9359206
Ancora da Marinha 39 m 254303 9359210 Alecrim
Mirante do Alecrim 34 m 254058 9359296
Hotel de Trânsito da Marinha 40 m 254365 9359238
Cemitério do Alecrim 38 m 254851 9359212
Mercado Público do Alecrim 41 m 254299 9358140

Uma dos objetivos deste trabalho será propor um mapa turístico da cidade,
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que possa ser lido e compreendido facilmente por qualquer pessoa, pois sua rotas
estarão dispostas por cores distintas e com informações sobre os principais meios de
transportes intermodais que facilitarão a locomoção pela cidade do Natal, conforme
figura 5.

FIGURA 5 – MAPA TURÍSTICO DA CIDADE DE LONDRES

Fonte – Blog do Embaixador, 2014

CONCLUSÃO E COMENTÁRIOS

Sob a ótica do turismo, faz-se necessário que tudo que está exposto neste artigo
científico venha a somar para uma melhor apresentação do segmento turístico
histórico-cultural da cidade do Natal RN, pois é exatamente o que atrai o turista cultural
desta cidade, na busca de conhecer um pouco mais do cotidiano de sua população.
Através dos dados coletados, analisa-se de forma positiva o potencial turístico dos
demais bairros da zona leste de Natal, visto que na tabela 3 deste artigo muitas
localidades poderiam estar dispostas no roteiro histórico-cultural da cidade, valorizando
ainda mais estas áreas e a história de seus moradores.
As tabelas e imagens acima revelam que apesar de todas as informações
negativas da forma como está sendo feito o turismo de cunho histórico-cultural de
Natal, este, ainda é um importante segmento turístico, pois seus atrativos retratam
verdadeiras relíquias da formação e história da cidade do Natal e seu povo.
Por isso deseja-se que as ideias e propostas para uma melhor roteirização e
turistificação da cidade do Natal, sejam analisadas de forma cautelosa, dinamizando o
turismo histórico-cultural que já ocorre na cidade e prolongando o tempo de visitação
dos turistas além de conscientizar a população natalense do seu acervo histórico-
cultural espalhado pela cidade, perpetuando essa ideia, para apreciação e estudo por
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parte das gerações futuras.


Isto é o que pretendeu-se com a elaboração desta obra. Além de poder inspirar
outros pesquisadores para que tomem este artigo como base para novos estudos que
corroborem com a atividade turística no Estado do Rio Grande do Norte, ou em sua
região de origem.

REFERÊNCIAS

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Turismo, 17ª. Ed. Campinas SP: Papirus Editora, 2003.

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ELEMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DO MAPA TURÍSTICO DO CENTRO


HISTÓRICO DE PORTO NACIONAL-TO

Thalyta de Cássia da Silva Feitosa1


Rosane Balsan2

RESUMO: O centro histórico de Porto Nacional no estado de Tocantins, foi tombado


pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN no dia 27 de
novembro de 2008, é um dos atrativos turísticos culturais que a cidade possui. Porém
não há um mapa turístico para que possa auxiliar visitantes e/ou turistas que estão
visitando a cidade. O objetivo principal desta pesquisa foi elaborar um mapa turístico
para o centro histórico de Porto Nacional-TO. A metodologia utilizada neste trabalho
baseou-se em quatro etapas: a primeira foi conhecer a área da pesquisa, a segunda
foi a escolha dos atrativos turísticos, a terceira e quarta etapa foi a elaboração e
avaliação do mapa turístico. O principal resultado obtido nesta pesquisa foi o mapa
turístico do centro histórico de Porto Nacional – TO. Para sua construção foram
utilizados elementos cartográficos considerados importantes para a localização de
quem irá utiliza-lo: a escala, as coordenadas e a legenda, para que possa facilitar
o deslocamento das pessoas que estão visitando a cidade. Assim espera-se que o
mapa turístico elaborado para o centro histórico de Porto Nacional – TO sirva como
subsídio para turistas e/ou visitantes que estão conhecendo a cidade, sendo útil para
a interpretação patrimonial.
PALAVRAS-CHAVE: Mapas turísticos. centro histórico. Porto Nacional – TO

ABSTRACT: The historic center of Porto Nacional in the state of Tocantins, was listed
by Institute of National Historical and Artistic Heritage on November 27, 2008, is one
of the cultural tourist attractions that the city has. But there is a tourist map so you
can assist visitors and / or tourists who are visiting the city. The main objective of this
research was to develop a tourist map for the History Center of Porto Nacional-TO.
The methodology used in this work was based on four steps: the first was to identify the
area of ​​research, the second was the choice of tourist attractions, the third and fourth
step was the preparation and evaluation of the tourist map. The main result obtained
in this study was the tourist map of the historic center of Porto Nacional – TO. For its
construction cartographic elements considered important for locating who have used
will use it: scale, the coordinates and the legend, so you can facilitate the movement of
people who are visiting the city. Thus it is expected that the tourist map prepared for the
historic center of Porto Nacional – TO serve as a resource for tourists and / or visitors
who are discovering the city, being useful for the interpretation sheet.
KEYWORDS: Tourist map. Historic center. Porto Nacional - TO

1 Acadêmica do Curso de Geografia Bacharelado da Universidade Federal do Tocantins.


E-mail: thalyta.feitosa@hotmail.com
2 Doutora em Geografia. Professora Assistente do Curso de Geografia da Universidade
Federal do Tocantins. E-mail: rosanebalsan@uft.edu.br
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INTRODUÇÃO

Os mapas turísticos assumem um papel importante quando se trata do desenvolvimento


da atividade turística de um determinado local. Algumas cidades históricas, como: Mariana
– Minas Gerais, Ouro Preto – Minas Gerais, Porto Alegre – Rio Grande do Sul, Olinda -
Pernambuco, São Luís - Maranhão e etc. disponibilizam estes materiais de divulgação que
se diferenciam nos tipos e formas, tendo como principal objetivo facilitar a locomoção dos
visitantes e muitas vezes dos próprios moradores que também desfrutam deste recurso.
Entre as informações de divulgação e veiculação da oferta turística estão: os mapas urbanos,
serviços, pôsteres, folhetos, catálogos – guias e etc.
O centro histórico de Porto Nacional no estado de Tocantins, foi tombado pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN no dia 27 de novembro
de 2008, é um dos atrativos turísticos culturais que a cidade possui, porém não há
sinalização turística e consequentemente por esse e outros motivos não se tem um
mapa turístico para que possa auxiliar as pessoas que estão ali visitando. O objetivo
principal desta pesquisa foi elaborar um mapa turístico para o centro histórico de Porto
Nacional-TO, para que sirva como subsídio para os turistas e/ou visitantes que estão
conhecendo a cidade.
Para o desenvolvimento desta pesquisa foi feita revisões bibliográficas sobre
temas relacionados à pesquisa: Tombamento do Centro Histórico de Porto Nacional
- TO, Patrimônio Histórico, Turismo e Cartografia. Foram consultadas referências
bibliográficas como: Teles (2009), Duque e Mendes (2006), Fernandes e Graça
(2014), Dossiê de Porto Nacional-Iphan (2007), sites específicos (Instituto do
Patrimônio Histórico Artístico Nacional - Iphan e Organização das Nações Unidas para
a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO), Jornais e Artigos científicos publicados
com temas relacionados.
Este trabalho foi realizado em quatro etapas: Primeiro foi planejado e executado um
percurso para conhecer in locus o lugar que foi desenvolvido à pesquisa: o centro histórico
de Porto Nacional-TO. A segunda etapa consistiu na escolha dos atrativos turísticos culturais
que foi incorporado ao mapa turístico, assim treze edificações foram selecionadas. Na terceira
etapa foi elaborado o mapa onde foram utilizados os seguintes materiais: O poligonal de
tombamento do centro histórico3 (2011), fotografias dos atrativos turísticos culturais e o guia
de sinalização turística nacional. Os softwares utilizados foram: google earth e o corel draw
x6. A quarta e última etapa da pesquisa foi caracterizada pela realização de um percurso
turístico com o auxílio do mapa turístico do centro histórico de Porto Nacional com a turma
de acadêmicos da disciplina de Geografia do Turismo do curso de Geografia da Universidade
Federal do Tocantins do primeiro semestre do corrente ano. No total doze acadêmicos
participaram do percurso e no final um questionário de avaliação foi aplicado contendo quatro

3 Área que demarca o centro histórico de Porto Nacional - TO.


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perguntas semiabertas e duas abertas para que eles avaliassem o mapa.

A CARTOGRAFIA E O TURISMO

A cartografia do turismo nasce de forma similar aos primeiros mapas temáticos, aqueles
que iam se constituindo através do acréscimo de elementos do turismo, principalmente com
manifestação pontual, ao mapa topográfico (Martinelli e Ribeiro 1997). Portanto é considerada
um setor específico da cartografia temática responsável pela sistematização dos mapas
turísticos (TELES, 2009).

Segundo Martinelli (1991, p. 43 apud Duque e Mendes, 2006, p. 83):


A elaboração de um mapa temático tem início na delimitação da parte
da realidade a ser problematizada pelo interessado na realização da
representação, com vistas a estabelecer diretrizes que orientem a busca de
respostas às questões colocadas.

A representação gráfica do turismo está associada à configuração da superfície


terrestre e como ela vem sendo representada pelo homem, bem como à necessidade de
enfatizar paisagens e lugares a serem explorados pelas atividades turísticas (DUQUE E
MENDES, 2006). A complexidade da atividade turística requer o uso da cartografia em ações
que vão desde o planejamento da atividade até a elaboração de folheteria que será entregue
ao turista (TELES, 2009).
A confecção de mapas turísticos é de grande complexidade, pois o espaço turístico
responde a uma gama de informações, imagens e mensagens diversas (DUQUE E MENDES,
2006). De acordo com Rezende e Rodrigues (2012 p. 68):

Na construção de um mapa turístico com a finalidade de comunicação, é


importante levar em consideração a sua expressividade, isto é, a capacidade
de atrair atenção ao leitor aos aspectos nele abordados, valorizando os pontos
importantes que estejam relacionados ao tema abordado e destacando as
relações hierárquicas do local estudado.

Assim, a cartografia para o turista tem como objetivo a orientação que o auxilie
no aproveitamento racional do espaço turístico, atendendo, da melhor forma possível, as
expectativas do usuário (DUQUE E MENDES, 2006).

A ELABORAÇÃO DE MAPAS TURÍSTICOS

Os produtos cartográficos devem ser confeccionados com a finalidade de atender ao


turista e ao mercado pertinente, o que significa elaborar mapas que permitam aos usuários
uma fácil interpretação dos temas, localizações de lugares, meios de mobilidade e acesso
(RECH et al., 2005). Dessa forma, de acordo com Rezende (2011), deve-se buscar uma maior
interação entre o mapa e o usuário, ressaltando elementos que vão distinguir o mapa de um
outro desenho qualquer, como a escala, coordenadas, legenda ou convenções cartográficas,
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e do título, nessa ordem de importância.

Segundo Duque e Mendes (2006, p. 84):


Na construção de um mapa turístico com a finalidade de comunicação, é
importante levar em consideração a sua expressividade, isto é a capacidade
de atrair a atenção do leitor aos aspectos abordados pelo mapa, valorizando
os pontos importantes que estejam relacionados ao tema abordado.

Considerando o mapa como um importante meio para a locomoção de turistas,


no mesmo deve conter as devidas ligações que favoreçam a interação entre nós (pontos
turísticos) e as linhas (itinerário percorrido) (REZENDE, 2011). É importante destacar que
o mapa turístico tem a função de representar com clareza e objetividade a dinâmica dos
elementos que compõem a atividade turística na localidade representada (TELES, 2009).
Assim, conforme Martinelli e Ribeiro (1997) é desejável que o mapa do turismo reúna três
formas de comunicação: o mapa, o texto e a foto.

OS MAPAS TURÍSTICOS EM CIDADES HISTÓRICAS

Os mapas turísticos assumem um papel importante quando se trata do


desenvolvimento da atividade turística de um determinado local e vêm ocupando
cada vez mais espaço no cenário turístico nacional, por causa principalmente do
desenvolvimento desta atividade no Brasil (FERNANDES e GRAÇA, 2014). Algumas
cidades históricas, como: Mariana – MG, Ouro Preto – MG, Porto Alegre – RS,
Olinda - PE, São Luis - MA e etc. disponibilizam estes materiais de divulgação que
se diferenciam nos tipos e formas, tendo como principal objetivo facilitar a locomoção
dos visitantes e muitas vezes dos próprios moradores que também desfrutam deste
recurso. Entre as informações de divulgação e veiculação da oferta turística estão: os
mapas urbanos, serviços, pôsteres, folhetos, catálogos – guias e etc.
O turista e até mesmo o visitante normalmente apresentam dificuldades para se
locomover quando chegam pela primeira vez ao local visitado, muitas vezes é preciso
utilizar esses mapas como auxílio, porém há dificuldades quanto ao entendimento de
muitos destes. Muitos desses mapas não são bem elaborados e/ou confeccionados,
faltam elementos básicos da cartografia (coordenadas geográficas, escala, legenda)
para que um visitante e/ou turista consiga se localizar ao chegar a seu destino.
Sobre a elaboração dos mapas turísticos no Brasil, Rech et al. (2005) discorre
que:

A maioria dos “mapas turísticos” encontrados no nosso país são apenas figuras
ilustrativas dos pontos turísticos das cidades. Esses produtos geralmente, não
apenas apresentam escala, coordenadas geográficas, projeção cartográfica
e outras informações necessárias para considera-los mapas. Essas figuras,
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sem proporção em relação à realidade, podem provocar algumas situações


indesejáveis aos turistas. Um símbolo pictórico de um hotel, com tamanho
grande, localizado na praia, por exemplo, pode aparentar ser mais próximo
da orla marítima do que realmente está.

Neste sentido, foram analisados alguns mapas de cidades históricas buscando


entender as principais dificuldades e facilidades que os turistas podem apresentar
quanto ao uso e entendimento dos mapas turísticos. Assim neste trabalho foram
selecionados e analisados dois mapas pictóricos de cidades históricas: Mariana - MG
e Porto Alegre - RS.
Mapa 1: Este mapa turístico é da cidade de Mariana do estado de Minas Gerais
(Figura 1). É composto por uma representação pictórica, os monumentos estão
numerados no círculo amarelo de 1 a 29 na parte superior direita do mapa. Uma das
facilidades encontradas neste mapa temático são os telefones úteis para os turistas,
os nomes das ruas, as setas indicando a saída distância das cidades vizinhas. Porém
o mapa não apresenta as coordenadas geográficas, nem a escala, elementos que
orientam o usuário com noções de direção e distância, e na ausência destes, podem
dificultar o planejamento do turista em relação às visitas.
Duque e Mendes (2006) destacam que o mapa deve direcionar seu usuário,
permitindo que o mesmo possa calcular a distância de um ponto ao outro, e dessa
forma fazê-lo sentir inserido no espaço turístico. Outra carência encontrada neste
mapa foi à falta de título o que inibe na identificação do espaço que está sendo
representado no mapa.

FIGURA 1 – MAPA TURÍSTICO DA CIDADE DE MARIANA - MG

Fonte: MARIANA, MG, [s.d.].


Nota: Imagem disponível em: <http://www.mariana.org.br/
imagem/MapaMarianaImpress.jpg>. Acesso em: 23 nov. 2013.
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Mapa 2: É uma reprodução parcial de um mapa turístico da cidade de Porto


Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, especificamente destacando o Centro
Histórico (Figura 2). É um mapa que também é composto por uma representação
pictórica. É possível notar que a legenda não está de acordo, três ícones (hospital,
aeromóvel e aeroporto) presentes na legenda não estão aparecendo no mapa.
De acordo com Teles (2009), a legenda é um elemento que contempla todos
os aspectos representados no mapa. Os números nos losangos indicam os pontos
de interesse: os que estão na cor verde representam o ponto turístico, na cor azul
marinho são os bares, na cor vermelha os restaurantes, a cor azul mais claro as
lojas, a cor laranja cafeteria e o roxo local de festas. Chamam atenção os símbolos
pictóricos, pois cada monumento representado parece estar ocupando uma quadra
inteira. Nota-se que não possui coordenadas geográficas, que dificulta diferenciar o
mapa com qualquer outro desenho.
O ponto positivo encontrado nesta sistematização cartográfica turística de
Porto Alegre foi o título que é importante, pois indica o que está sendo representado
no material em questão e a escala que está ao lado esquerdo do mapa onde indica
que a cada 100 metros percorridos a pessoa gastará 2 minutos.

FIGURA 2 – MAPA TURÍSTICO DO CENTRO HISTÓRICO DE PORTO ALEGRE -


RS

Fonte: PORTO ALEGRE, 2013.


Nota: Imagem disponível em: <http://www.portoalegreguide.com/map_
portuguese.html>. Acesso em: 23 nov. 2013.
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ATRATIVOS TURÍSTICOS CULTURAIS DO CENTRO HISTÓRICO DE


PORTO NACIONAL – TO

Segundo o Ministério do Turismo (2007), os atrativos turísticos culturais podem


ser classificados como elementos da cultura que, ao serem utilizados para fins
turísticos, passam a atrair fluxo turísticos. São bens e valores culturais de natureza
material e imaterial produzidos pelo homem e apropriados pelo turismo.
Para elaborar o mapa turístico do centro histórico de Porto Nacional, foram
selecionados treze atrativos turísticos culturais. A seleção destes ocorreu baseada no
Dossiê do centro histórico (2007) e no poligonal de tombamento (Quadro 1).

QUADRO 1 – ATRATIVOS TURÍSTICOS CULTURAIS SELECIONADOS PARA O


MAPA TURÍSTICO DO CENTRO HISTÓRICO DE PORTO NACIONAL - TO
Atrativos Turísticos Culturais
Espaços Casarões Ruas Praças
Catedral Nossa Senhora Casarão dos Rua Mizael Praça Nossa
das Mercês Pedreiras Pereira Senhora das
Mercês
Museu Histórico e Casarão Milton
Rua Padre -
Cultural Ayres Antônio
Seminário São José Casarão dosRua Dr. -
MaiasFrancisco Ayres
da Silva
Comsaúde (Caetanato) Casarão Né Aires Rua Coronel -
Pinheiro (Rua
do Cabaçaco)
Fonte: Dados coletados pela autora, 2014.

Cada um dos atrativos aqui definidos possui um valor histórico, em particular


a sua história e arquitetura, que transmite uma lembrança, um acontecimento, são
monumentos considerados importantes na história da cidade de Porto Nacional – TO.
Assim foi realizada uma descrição sucinta da história de cada atrativo turístico cultural
(Quadro 2).

QUADRO 2 – DESCRIÇÃO DA HISTÓRIA DOS ATRATIVOS CULTURAIS DO


CENTRO HISTÓRICO DE PORTO NACIONAL - TO
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Atrativo Turístico História


Cultural
A construção da Catedral ocorreu entre os anos de
1894 a 1903, e teve como inspiração uma réplica
em miniatura procedente de uma igreja de Toulouse,
França. As colunas e os arcos em pedra canga e tijolo
Catedral Nossa
demonstram o estilo românico. É uma das realizações
Senhora das Mercês
dos dominicanos e foi construída sobre as orientações
técnicas do Marselhês Frei Gil Villa Nova e Frei
Bartolomeu Meirinho (Fr. Berto). Está localizada em
frente à Praça Nossa Senhora das Mercês.
O Museu Histórico e Cultural de Porto Nacional foi
fundado na década de 1980 e atualmente conta com
aproximadamente 175 peças em seu acervo. O edifício
que abriga o Museu teve sua construção iniciada em
Museu Histórico e 1921 e finalizada em 1923. Foi um dos primeiros prédios
Cultural de dois pavimentos na cidade de Porto Nacional. Até
o fim da década de 1960 funcionaram neste edifício a
Câmara Municipal, a Sala das Audiências Judiciárias e
a Administração Municipal da cidade. Está localizado
à rua Padre Antônio, s/nº.
O Seminário São José é uma edificação religiosa
construída pelos Frades Dominicanos. As obras
começaram em janeiro de 1921 e concluídas no final
de 1922. No discurso de inauguração, o Bispo de
Seminário São José Porto Nacional e Superior dos Frades Dominicanos,
Dom Domingos Carrerot, reafirmou seus ideais
cristãos, além do compromisso para com os destinos
da comunidade portuense e da região. Está localizado
à Rua Padre Antônio nº 1856.
O Caetanato foi construído em 1904 para ser a primeira
sede do Colégio Sagrado Coração de Jesus das irmãs
Dominicana. Todavia o espaço foi dividido entre uma
padaria e um pensionato para os estudantes que vinham
COMSAÚDE estudar em Porto Nacional, isso até 1968. Em 1969, foi
(Caetanato) instalada a sede da Organização Não governamental,
Comunidade de saúde, desenvolvimento e educação
– Comsaúde, que conta com mais de quatro décadas
de história. Está localizado à Rua Coronel Pinheiro, nº
1975.
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Construído por volta de 1854 por Frederico José


Pedreira (natural de Portugal). As paredes são de
adobe e alguns materiais, como a madeira e as tábuas
do assoalho utilizados na construção, foram trazidos
da cidade de Belém-PA, e Paraná (antigo norte de
Casarão dos Pedreiras Goiás, atual Sul do Tocantins). O casarão possui
dezesseis cômodos. Todo o mobiliário veio de Belém-
PA, transportados por botes (antiga embarcação). O
casarão ainda encontra-se em posse da família que
o construiu, estando na 5ª geração. Está localizado à
Rua Getúlio Vargas, s/nº.
Antiga residência do Dr. Francisco Ayres da Silva,
construída no final do século XIX. Ele além de
médico, foi Deputado Federal do Estado de Goiás
e também vice-presidente da província do Estado
de Goiás. O casarão serviu ainda como consultório
Casarão Milton Ayres
médico, farmácia e laboratório de manipulação.
Devido a importância social, política e econômica da
família do Dr. Francisco Ayres da Silva, este casarão
adquiriu visibilidade, sobretudo na dimensão política
e administrativa da cidade. Está localizado à Rua Dr.
Francisco Ayres da Silva nº 1987.
A construção deste casarão ocorreu entre os anos de
1940 a 1944. O teto é de madeira roliça, as paredes
de adobe e cal, o piso de tijolo de barro, as janelas
Casarão dos Maias são todas originais com alteração apenas na porta
principal e as grades de proteção. O casarão pertence
à família até hoje. Está localizado à Rua João Ayres
Joca.
O primeiro proprietário desta edificação foi Matias
Ferreira Lemos, o segundo foi seu filho, Frederico
Casarão Né Aires Lemos, e o terceiro e atual é o Manoel Gomes Aires e
família, sobrinho de Frederico Lemos. Está localizado
em frente à Praça Nossa Senhora das Mercês.
A Rua Mizael Pereira, antiga Rua São José, é conhecida
também como Rua das Flores. Ornamentada com
Rua Mizael Pereira vasos de flores que foram plantadas pela moradora Ana
Rodrigues dos Reis (in memoriam). Ainda encontra-se
na Rua o Teatro São José, Salão Paroquial Dom Alano
e a sede do Jornal Paralelo 13.
A conhecida Rua da Cadeia leva hoje o nome de Rua
Rua Padre Antônio Padre Antônio, em homenagem ao Padre Antônio Luiz
Pereira, vigário de Porto Nacional em 1840.
A atual Rua Dr. Francisco Ayres da Silva importante
via que se desenvolve no sentido leste-oeste, durante
Rua Dr. Francisco muito tempo foi conhecida por três nomes: Rua
Ayres da Silva Grande, Rua Larga e Direita. Rua Direita porque do
porto, saia-se da cidade em direção à Vila do Carmo e
outras vilas mais. Era à saída da cidade por terra.
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A Rua do Cabaçaco, cujo nome atual é Rua Coronel


Pinheiro já teve os nomes de Imperatriz, de curta
duração, em homenagem da Imperatriz Leopoldina.
Não se sabe ao certo sua origem; dizem que ela
nasceu com o nome de cabaçal, devido à quantidade
de plantações de cabaça encontradas em plantações
Rua Coronel Pinheiro
nas proximidades daquela rua e que também deriva
(Rua do Cabaçaco)
da ‘rede de saco de malhas’ usada pelos portugueses
oriundos das regiões dos rios Minho e Tejo, e para
aqui emigrados ao tempo das descobertas de ouro.
As palavras cabaça e saco ao se juntarem deram
nome ao logradouro. Esta rua até os dias de hoje é
conhecida como Rua do Cabaçaco.
Construída em 1949 a Praça Nossa Senhora das
Mercês foi o primeiro ato do poder público local, cujo
Coreto foi demolido. Nessa praça se localiza a estátua
do bispo francês Dom Alano Maria Du Noday, segundo
Praça Nossa Senhora bispo de Porto Nacional. A praça teve importância
das Mercês no século XX não só pelas práticas recorrentes de
atividades artísticas e culturais, mas também por ser
ponto de encontro da comunidade portuense. Esta
localizada em frente a Catedral Nossa Senhora das
Mercês.
Fonte: Dados coletados pela autora e acadêmicos bolsistas do Núcleo de
Estudos Urbanos e das Cidades – NEUCIDADES (UFT), 2014.

O MAPA TURÍSTICO DO CENTRO HISTÓRICO DE PORTO NACIONAL –


TO

Após a seleção dos atrativos turísticos culturais do centro histórico de Porto


Nacional – TO partiu-se para a base cartográfica do mapa turístico. Assim primeiramente
preocupou-se com os elementos necessários na produção cartográfica: a escala,
as coordenadas, a legenda e principalmente o título. A escala e as coordenadas
geográficas são elementos cartográficos que orientam o usuário com noções de
direção e distância, e na ausência destes, podem dificultar o planejamento do turista
em relação às visitas. De acordo com Teles (2009), a legenda é um elemento que
contempla todos os aspectos representados no mapa. O título identifica o que está
sendo representado no mapa. Os símbolos no mapa representam cada atrativo turístico,
foram utilizados os disponibilizados no guia de sinalização turística do Ministério do
Turismo por serem reconhecidos nacionalmente pode facilitar na locomoção do turista
e/ou visitante no momento em que chegar à cidade. Deste modo é apresentado o
mapa do centro histórico de Porto Nacional – TO (Figura 3).
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FIGURA 3 – MAPA TURÍSTICO DO CENTRO HISTÓRICO DE PORTO NACIONAL


– TO

Fonte: Mapa elaborado durante a pesquisa pela autora, 2014.

AVALIAÇÃO DO MAPA TURÍSTICO DO CENTRO HISTÓRICO DE PORTO


NACIONAL – TO

Para avaliar o mapa turístico foi realizado no dia 24 de julho de 2014 um


percurso turístico4 no centro histórico de Porto Nacional onde o mapa foi utilizado
como subsídio para localização dos atrativos turísticos. O percurso contou com a
participação da turma de acadêmicos da disciplina de Geografia do Turismo do 1º
semestre de 2014 do curso de Geografia da Universidade Federal do Tocantins. No
total doze acadêmicos participaram da atividade que iniciou às 08 h 30min da manhã
em frente ao Casarão dos Maias e terminou às 10 h 30min da manhã no último ponto
do percurso na Rua Dr. Francisco Ayres da Silva, totalizando duas horas (Figura 4).
Houve a presença e colaboração dos bolsistas do Núcleo de Estudos e das Cidades
– NEUCIDADES, vinculados ao projeto de extensão “Roteiro Geo-turístico no Centro
Histórico de Porto Nacional” que durante o trajeto narraram à história de cada atrativo
turístico cultural selecionado e apresentado no mapa para os acadêmicos, que ao
4 O percurso foi realizado de acordo com o sugerido no mapa turístico.
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“ler”, deveriam entender a imagem e as codificações inclusas, de modo a decodificar


e gravar a mensagem do que encontrará no mundo real e ter assim, uma resposta
visual instantânea para satisfazer sua localização.

FIGURA 4 – PERCURSO TURÍSTICO COM OS ACADÊMICOS DA DISCIPLINA


DE GEOGRAFIA DO TURISMO DO 1º SEMESTRE DE 2014 DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO TOCANTINS

Fonte: Rosane Balsan, 2014.

No final do percurso foi aplicado um questionário de avaliação contendo seis


perguntas sendo quatro semiabertas e duas abertas, para avaliar o mapa e o percurso
(Figura 5) sendo as duas últimas sobre sugestões e criticas.

FIGURA 5 – ACADÊMICOS AVALIANDO O MAPA E O PERCURSO TURÍSTICO

Fonte: Rosane Balsan, 2014.


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No geral o mapa foi bem avaliado, os doze acadêmicos consideraram que é


interessante ter um mapa turístico para o centro histórico de Porto Nacional, percebe-
se que todos os alunos que participaram entenderam, pois facilita a localização de
cada edificação e ajuda o turista e até mesmo as pessoas da comunidade a conhecer
mais a história do local, além de valorizar o Centro Histórico5*.
Sobre a opinião do mapa turístico apresentado no percurso turístico do centro
histórico de Porto Nacional, seis acadêmicos responderam que é muito bom e seis
disseram que é bom, porque identifica os locais com precisão e servirá como auxílio
para os visitantes e/ou turistas*·.
Em relação à avaliação do percurso turístico sugerido no mapa, seis alunos
disseram que é muito bom e seis bom, pois da para conhecer bem cada edificação e
permite que o turista e o morador local tenham um bom compreendimento histórico
da cidade*.
Os pontos selecionados para o percurso turístico indicam os locais de interesse
para visitação. Assim, seis acadêmicos responderam que está muito bom e seis
apropriado, porque evidencia os principais pontos de importância históricos culturais
e administrativos da cidade e esses pontos retratam muito bem a história de Porto
Nacional*.
No questionário de avaliação, as duas últimas questões eram para que os
acadêmicos opinassem dando sugestões e apresentando as críticas sobre o mapa e
o percurso turístico do centro histórico de Porto Nacional-TO (Quadro 3).

QUADRO 3 – SUGESTÕES E CRÍTICAS SOBRE O MAPA E O PERCURSO


TURÍSTICO DO CENTRO HISTÓRICO DE PORTO NACIONAL - TO

5 *
Algumas justificativas dos acadêmicos nas respostas do questionário
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Sugestões Críticas
- Aprofundar mais e pesquisar a - É que os próprios responsáveis
realidade da verdadeira história das pelo tombamento, dê na
famílias que fizeram parte da história realidade mais atenção aos
dos casarões. casarões históricos que estão se
deteriorando.
 - Sobre o roteiro turístico acho - Seria muito legal se todos os
interessante começar a partir pontos estivessem abertos.
da Catedral Nossa Senhora das - Fornecer além das informações
Mercês, porque além de ter uma de cada prédio historicamente
praça, fica um ponto de referência falando, mostrar a importância
muito interessante para iniciar o atual na cidade, fornecer mais
roteiro turístico, olhando a praça informações no que tange o
como centro do roteiro é um ponto social.
de partida interessante. - Está junto com as sugestões.

- Quanto à elaboração do mapa e sua


viabilidade não há ponderações, quanto
à futura viabilização do projeto, a de
se pensar na segurança dos “turistas”,
uma vez que todo o percurso se da na
rua, no que se refere ao transito de
veículos e pedestres.

- Que o percurso comece pela Praça


Nossa Senhora das Mercês.

- Acho que o percurso deveria começar


pela praça, mas ta ótimo.

- Deveria colocar mais edificações,


mas fora isso, o percurso está ótimo. O
percurso deveria ter início pela praça,
mas o ponto sugerido foi ideal.
- O centro histórico de Porto Nacional
teria que ter uma sinalização das
casas, das ruas, falando da sua
história.
Fonte: Dados coletados pela autora.

CONCLUSÃO

O mapa turístico é considerado um instrumento fundamental para que possa


auxiliar os visitantes e/ou turistas que visitam a cidade. Com base nos resultados, o
mapa elaborado para o centro histórico de Porto Nacional – TO apresenta, a escala,
as coordenadas, a legenda e o título elementos necessários para compor um mapa
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turístico, a fim de facilitar o deslocamento das pessoas que estão visitando a cidade.
O mapa turístico do centro histórico de Porto Nacional apresenta as três formas de
comunicação: o mapa, o texto e a foto. Assim, espera-se que sirva como subsídio
para turistas e/ou visitantes que estão visitando e também para o planejamento e
desenvolvimento turístico da cidade. Contudo, o mapa já serviu como apoio para as aulas
da professora Rosane Balsan de Geografia do Turismo e para o desenvolvimento do
projeto “Roteiro Geo-turístico no centro histórico de Porto Nacional” que é desenvolvido
por professores e estudantes do Núcleo de Estudos e das Cidades. (Ver mais em:
<http://ww1.uft.edu.br/index.php/noticias/12963-neucidades-leva-estudantes-para-
conhecer-pontos-do-centro-histórico-de-porto-nacional>). Após a conclusão desta
pesquisa, foi possível criar a sistematização cartográfica acima citada, que poderá ser
atualizada constantemente, além de verificar que os atrativos culturais selecionados
são também uma das identidades de Porto Nacional, dada a sua condição de cidade
do patrimônio cultural brasileiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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gráfica? in RODRIGUES, A. B. (Org.) Turismo e desenvolvimento local. São Paulo:
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PERFIL DO TURISTA E SUA RELAÇÃO COM OS ELEMENTOS ASTROLÓGICOS

Santin, Bárbara Helenni Gebara (1)

Mielke, Eduardo Jorge Costa (2)

RESUMO
O presente artigo trata da personalidade do turista e apresenta quatro tipos básicos de
percepção. Os elementos astrológicos são inseridos ao tema do turismo para ajudar
a entender de forma melhor os interesses do consumidor da atividade turística. As
tipologias acadêmicas criadas a partir da segmentação psicográfica, elaboradas para
determinar variados perfis de turista, foram utilizadas como ponta pé inicial para o
assunto. O objetivo deste trabalho é criar uma forma de analisar, ou melhor, sintetizar
o perfil do turista de modo que seja possível valorizar todas as possibilidades de ser do
turista. A criação da tipologia baseada nos elementos astrológicos mostra uma parte
básica da personalidade, é o início da jornada para o entendimento do consumidor
turista.

PALAVRAS-CHAVE: Personalidade, perfil do turista, elementos astrológicos,


consumidor turista, percepção do turista.

ABSTRACT
This article talks about the personality of the tourist and presents four basic types of
perception. The astrological elements are inserted at the theme of tourism to help
understand the best way the interests of the consumer in tourism. Academic typologies
created from psychographic segmentation, designed to determine tourist profiles, were
used as starting point for the present subject. The objective of this work is to create a
way to analyze, or rather, synthesize tourist profile so that you can appreciate all the
possibilities of being of the tourist. The creation of the typology based on astrological
elements shows a basic part of the personality, it is the beginning of the journey to
understanding the tourist consumer.

KEY-WORDS: Personality, tourist profile, astrological elements, tourist consumer,


tourist perception.

INTRODUÇÃO
A atividade turística se trata de pessoas e, do lado mercadológico, se trata de
saber receber, guiar, satisfazer desejos e até mesmo necessidades. Necessidades
e desejos de pessoas. Pessoas que possuem gostos, vontades, interpretações,
maneiras de observar e perceber diferentes. De qualquer modo estamos tratando
sempre de pessoas. Turismo, para essas pessoas, pode representar uma forma
de lazer, relaxamento, conhecimento, aprendizagem e até mesmo libertação. Uma
viagem pode mudar a vida de um indivíduo, pode mudar e abrir olhares, mentes e
hábitos. Com esta visão, diferentes intenções e percepções de um indivíduo relativas
à realização de uma viagem podem ser interpretadas através da astrologia.
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A astrologia inclusive já é utilizada no mundo dos negócios, como salienta


Mitchell (1995, p. 49):
A astrologia entrou o mundo dos negócios também. Já em 1973, Herzberg
registrou que os astrólogos foram consultados sobre problemas como locais
de plantas, recrutamento e mudanças no mercado. Ele relatou entrevistas
com dois consultores astrológicos. A primeira, Katina Theodossiou, disse que
ela tem 52 clientes corporativos na Europa e nos EUA. O segundo, Hans
Genuit, afirmou que ele aconselhou mais de 80 empresas em 28 países.
Hertzberg sugeriu que uma das razões para esse interesse em astrologia
era que ‘todos nós temos a sensação subjetiva que existem coisas não
probabilísticas acontecendo. A astrologia ajuda psicologicamente as pessoas
a impor um padrão nisso’ [6, p. 37].

Também é possível que a astrologia se encaixe nas tendências que surgem


nos dias atuais sobre a prática do turismo relacionada à completa satisfação do turista
e sobre como o mercado pode satisfazê-los e atender a desejos específicos e ainda,
saber conduzir e direcionar esses desejos para que haja satisfação. E em se tratando
de como seria possível fazer isto, Gulmez, Kitapci e Dortyol (2011, p. 97) se prontificam:

Os comerciantes devem saber quem o consumidor é e quais são os fatores


internos e externos que criam os consumidores. Isso porque o consumidor
toma a decisão de compra em relação à pressão desses fatores. A psicologia
e a sociologia têm sido utilizadas para determinar os fatores internos e
externos. Em geral, os fatores psicológicos ou internos são personalidade,
percepção, atitude e motivação.

E Cohen (1972, apud URRY, 1996, p. 24) finaliza:

Não existe o turista enquanto tal, mas uma variedade de tipos de turistas ou
modos da experiência turística. [...] Aquilo que ele denomina o ‘experiencial’,
o ‘experimental’ e o ‘existencial’ não se apoia na bolha ambiental dos serviços
turísticos convencionais.

De forma inovadora desde a perspectiva dos estudos realizados envolvendo


turismo, consumo e astrologia, o objetivo do presente trabalho é justamente de analisar
o processo de oferta e compra de serviços turísticos de uma maneira a criar opções
de viagem que estejam intimamente ligadas com a personalidade do turista para que,
assim, a sua satisfação em relação à viagem possa ser otimizada.
A astrologia é um instrumento de autoconhecimento e, neste caso, pode fornecer
informações sobre a personalidade, os desejos, os impulsos, os gostos e, inclusive,
os medos ou aversões do turista. Portanto, esta proposta almeja colocar as pessoas
novamente em contato com a sua vocação, pois isto pode mostrar a elas o seu mundo
interior – através do meio externo (as viagens) o mundo interior pode ser alcançado.
As viagens terão a função de proporcionar uma conexão de cada um consigo mesmo.
A metodologia de pesquisa utilizada para a elaboração do presente trabalho foi
a descritiva comparada, onde o objetivo central foi comparar a personalidade do turista
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e as tipologias acadêmicas de perfil do turista com as características dos elementos


astrológicos.
Além desta introdução e conclusão, nas seções seguintes serão abordados
temas relacionados ao objeto de estudo deste artigo: O perfil do turista relacionado aos
elementos astrológicos. A primeira seção traz uma breve discussão sobre o turismo
e o comportamento do turista frente as suas motivações de escolha em relação à
atividade turística, sobretudo na segmentação psicográfica, que consiste numa
metodologia acerca também da personalidade e do estilo de vida do turista como
base para pesquisa comportamental. A segunda seção fala da astrologia e explica o
que é um mapa natal, fala sobre os elementos astrológicos e suas características e os
relaciona com as tipologias de perfil do turista.

1. TURISMO E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR TURISTA

O consumo é ditado por gostos e preferências. Trata-se da manifestação de


vontades do consumo de um determinado produto ou serviço. Segundo Finotti (2002,
apud LOHMANN e NETTO, 2008) psicografia ou análise psicográfica é a técnica ou
a ferramenta que permite a mensuração quantitativa dos estilos de vida, englobando
personalidades, valores, atividades, interesses e características demográficas. Este
tipo de segmentação é imprescindível quando o fenômeno estudado é o turismo, pois
o mesmo é constituído de pessoas e suas preferências e, são essas pessoas que
ditam o rumo da atividade turística.
São pessoas que constroem o turismo que se apresenta hoje e são suas
personalidades que conduzem suas escolhas em relação ao vários tipos de atividades
turísticas. Por isso a segmentação psicográfica é importante, pois “essa técnica parte
da ideia de que o estilo de vida, as atitudes, opiniões e a personalidade das pessoas
determinam o seu comportamento enquanto consumidores” (SWARBROOKE;
HORNER, 2002, p. 139).
Em relação à escolha e à decisão de se realizar uma viagem, Schmöll (1977,
p. 253) propôs um modelo de escolha do consumidor de turismo no qual a parte
pessoal inclui as motivações, os desejos e necessidades e as expectativas do turista,
as quais podem ser provenientes do status socioeconômico, das características de
personalidade, das influências e aspirações sociais e de atitudes e valores.
Ter conhecimento sobre os gostos e anseios do turista e ainda sobre sua
personalidade nos dias atuais é essencial. Isto porque as pessoas tem rápido acesso à
informação e cada vez querem saber mais, conhecer mais. Sua sede de conhecimento
e vontade de viver experiências diferentes de suas habituais passou a aumentar e viajar
sem retornar ao seu local de origem sem trazer nada de novo, nenhuma informação
interessante ou vivência que acrescente algo ao seu intelecto, às suas sensações ou
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ao seu espírito acaba se tornando inviável, assim como assinala Krippendorf (2009, p.
44) “a partir do início dos anos 1970, constata-se uma tendência para as férias ativas.
O desejo de dormir, de descansar, de não fazer nada está em forte regressão”.
De acordo com Swarbrooke e Horner (2002, p. 86), existem vários fatores
motivacionais para se realizar uma viagem e dentre os principais deles estão os
fatores culturais, status, físicos, emocionais, pessoais e desenvolvimento pessoal.
Todos estes itens que pesam no momento da escolha de uma viagem fazem parte da
personalidade do indivíduo, existem motivações que importam mais para um turista
que para outro, como por exemplo, existem turistas que tendem a escolher viagens
onde haja possibilidade de nostalgia, para outros, aventura ou cultura não podem
faltar na escolha do destino e das atividades.
O tipo de experiência e conhecimento que o turista irá buscar depende de seu
fator motivacional pessoal. De acordo com Snepenger (2006, p. 247) a busca por
viagens de caráter motivacional pessoal possui três objetivos genéricos: compartilhar
com outras pessoas a experiência pessoal sentir-se bem e passar por novas
experiências. Estes três objetivos relacionados à motivação pessoal do turista se
encaixam perfeitamente na sociedade atual que começa a aspirar por conhecimentos
mais profundos e que façam sentido à sua vida.
Esta busca de sentido é comumente almejada por meio de viagens. Viajar pode
representar a redenção para um indivíduo que se perdeu na vida cotidiana e não
conseguiu mais se encontrar. A viagem pode ser um recomeço, o início de um novo
olhar perante a vida e a si mesmo. Segundo Krippendorf (2009, p. 34):

A possibilidade de sair, de viajar, reveste-se de uma grande importância.


Afinal, o cotidiano só será suportável se pudermos escapar dele, sem o que,
perderemos o equilíbrio e adoeceremos. O lazer e, sobretudo, as viagens
pintam manchas coloridas na tela cinzenta da nossa existência. Eles devem
reconstituir, recriar o homem, curar e sustentar o corpo e a alma, proporcionar
uma fonte de forças vitais e trazer um sentido à vida.

Este sentido precisa estar de acordo com a verdade de cada indivíduo. A


verdade de cada um está ligada à maneira individual de perceber, de pensar e de
sentir a vida. É este caráter humanista que o presente artigo propõe para a atividade
turística. A necessidade de olhar para dentro antes de se concentrar no exterior já
passou da fase de urgência. Sem o autoconhecimento e a mente consciente será
impossível construir um turismo consciente e sustentável, assim como um mundo da
mesma maneira. Krippendorf (2009, 48) novamente complementa:

É bem conhecido o fato de que é precisamente num ambiente incomum e


estranho que retomamos a consciência da nossa própria realidade. Segundo
essa tese, a viagem proporciona-nos a possibilidade de descobrirmos o
caminho que nos conduz a nós mesmos. Temos tempo para ocupar-nos com
o nosso próprio eu, para explorar a própria alma, para redescobrir a harmonia
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interior, para compararmo-nos ao outro e descobrir nossas aptidões.



Estas descobertas e encontros consigo mesmo, quando relacionadas
diretamente com o desejo do indivíduo, estão atreladas à sua personalidade. E
para analisar a personalidade de cada indivíduo a astrologia é um instrumento de
autoconhecimento que pode ser utilizado. Antes de conhecermos os gostos do turista,
ou seja, que tipo de atrativo turístico, de atividade turística e de destino ele prefere, é
extremamente importante estar ciente de sua personalidade e aqui, personalidade se
refere ao que se encontra consciente no indivíduo e ao que está inconsciente. Como
cita Hamaker-Zondag (1989, p. 13):

A consciência permite que o homem vivencie, entenda e compreenda seu


mundo, e – na nossa cultura ocidental – adapte-se à realidade externa, à qual
este lado da psique está ligado. Por outro lado é através do inconsciente que
o homem se adapta à sua realidade interna.

É aí que a astrologia também entra, pois existem características inconscientes dentro


do ser humano que ela pode apontar. A seção seguinte aborda as questões relativas
objetivando estreitar as relações entre consumo e perfil do consumidor pautado em
sua essência.

2. ASTROLOGIA E SUAS APLICAÇÕES.

A astrologia se baseia nos movimentos dos astros em relação à Terra e às


energias que são captadas pelos seres que vivem neste planeta. Os astros são
representados pelos luminares e planetas: Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter,
Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Estes corpos se movem sistematicamente por
uma órbita eclíptica e três relações de movimentos entre eles são determinados pela
astrologia. São eles, de acordo com Banzhaf e Haebler (1994, p. 289):

1. A rotação cotidiana de todos os astros do céu ao redor da Terra, da qual


resulta, entre outras coisas, o Ascendente. [...]
2. O movimento dos planetas e luminares nos céus [...], que determina o
signo da pessoa, entre outras coisas. [...]
3. O lentíssimo movimento do céu das estrelas fixas, que determina o
começo de uma nova era a cada 2.160 anos. Esse movimento não pode
ser percebido no decorrer de uma vida humana, exceto com o auxílio de
aparelhos. No entanto, os babilônios já o conheciam há mais de 5.000
anos.

O zodíaco é a estrutura por onde os planetas e luminares se expressam. O


zodíaco é dividido em doze partes, as quais cada uma representa uma constelação de
estrelas fixas (que correspondem às constelações dos doze signos do zodíaco). Estas
partes se encontram atrás da órbita do Sol.
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Todos nós, seres humanos, estamos conscientes apenas de uma parte de


nossa personalidade e de todas as possibilidades de sermos quem somos. Muito do
que somos está inconsciente, ou muitas vezes, em forma de dúvida, de incerteza. Por
isso, em relação à escolha de atividades e destinos turísticos, existem gostos que se
apresentarão com mais facilidade se questionados. Porém, existem outros gostos e
desejos – e até mesmo certos tipos de bloqueios – que não são tão aparentes e que
nem o próprio indivíduo pode estar ciente deles no momento. A astrologia identifica
ambos e existe também para fazer com que os desejos e medos inconscientes
comecem a se tornar conscientes pelo indivíduo. De acordo com Arroyo (1989, p. 15):

A maior força da astrologia está na descrição que se faz da pessoa interior:


as motivações e necessidades primordiais, a situação interior em qualquer
época, e até a qualidade da consciência do indivíduo – em resumo, a dinâmica
interna de todo o campo de energia física e psicológica do indivíduo.

2.1. Mapa Natal ou Mapa Astrológico

Mapa natal ou mapa astrológico é o conjunto de possibilidades de ser de uma


pessoa. Nele estão presentes todas as características e informações referentes à
personalidade, à percepção, à maneira de ver o mundo, às motivações, aos medos,
aos desejos, aos obstáculos etc. (ARROYO, 1989; FREEMAN, 1981; HAMAKER-
ZONDAG, 1989; LUNDSTED, 1989; RUDHYAR, 1972).
Um mapa natal possui a seguinte estrutura: a relação planetas nos signos,
planetas nas casas e aspectos entre os planetas (Figura 1). É essa combinação de
relações que determina a personalidade de um indivíduo. E ainda segundo Banzhaf e
Haebler (1994, p. 291):

O zodíaco determinado pela órbita solar serve como um mapa que nos
permite dizer onde estão os diversos planetas nas diversas épocas. O mapa
astrológico nada mais é do que a descrição dessas posições dos planetas,
vistos num determinado momento a partir de um ponto específico da superfície
terrestre.

Figura 1: Mapa Natal ou Mapa Astrológico.


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Fonte: www.sadhana.com.br

O mapa astrológico é o instrumento utilizado, na astrologia, para determinar a


personalidade de uma pessoa. São necessários a data de nascimento, o horário exato
de nascimento e o local de nascimento para se obter o mapa natal. Segundo Rudhyar
(1972, p. 27):

Estamos vivendo numa era de extremo individualismo, e o enfoque ‘humanista’


da astrologia (...) busca levar as pessoas a adquirir uma compreensão mais
consciente do significado mais profundo de suas experiências, de modo que
possam ser capazes tanto de cumprir sua individualidade essencial como seu
destino, ou seja, seu lugar e sua função no universo. (...) O mapa astrológico
é encarado como a fórmula estruturalmente definidora da ‘natureza
fundamental’ de uma pessoa. É um complexo símbolo cósmico – uma palavra
ou logos revelador do que a pessoa potencialmente é. É o ‘nome celeste’
de uma pessoa e também um conjunto de instruções sobre como ela pode
realizar melhor aquilo que por ocasião de seu nascimento era potencial puro
– ‘potencialidade germinal’. O mapa astrológico é uma mandala, um meio
para alcançar uma integração todo-abrangente da personalidade.

Não há uma regra concreta, na astrologia, que indique qual a melhor maneira
de identificar apenas em uma rápida análise do mapa natal de uma pessoa quais são
os componentes do mapa que ditam sua personalidade mais aparente. Mas existem
alguns planetas e luminares e método de análise baseado nos elementos astrológicos
que podem definir a personalidade mais visível do indivíduo. O método de análise
baseado nos elementos astrológicos indica principalmente a maneira como o indivíduo
percebe as coisas ao seu redor e é um método básico e crucial para a identificação
das motivações do turista.

2.2. Elementos Astrológicos

De acordo com Banzhaf e Haebler (1994, p. 10) “No mapa astrológico expressa-
se a interação entre três níveis de efeitos. São eles os planetas nos signos, os
planetas nas casas e os aspectos entre os planetas”. Existe também a influência dos
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elementos, pois cada um possui uma característica. Os elementos se destacam com


mais intensidade nas características dos signos do zodíaco. Os elementos são Fogo,
Terra, Ar e Água. Os signos Áries, Leão e Sagitário são pertencentes ao elemento
Fogo; Touro, Virgem e Capricórnio, ao elemento Terra; Gêmeos, Libra e Aquário, ao
elemento Ar e; Câncer, Escorpião e Peixes, ao elemento Água. Os elementos, no
zodíaco, ditam os padrões de comportamento ligados à energia e consciência do
indivíduo. Como diz Arroyo (1989, p. 39), “cada um dos quatro elementos – Fogo,
Terra, Ar e Água – representa um tipo básico de energia e de consciência que opera
dentro de todas as pessoas. Cada pessoa, conscientemente, tem mais sintonia com
alguns tipos de energia do que com outras”.
A autora Karen Hamaker-Zondag (1989) em seu livro Os quatro elementos e
os caminhos da energia fala detalhadamente sobre os elementos e sua importância
na influência da personalidade do indivíduo. Ela defende a ideia de que os elementos
são a base da construção da personalidade e representam a percepção do indivíduo
perante o mundo e os acontecimentos ao seu redor.
Segundo a autora existe uma maneira de calcular qual ou quais são os
elementos mais presentes no comportamento consciente de um indivíduo. Este
calculo é feito a partir dos planetas, luminares, ascendente e meio do céu, são suas
respectivas localizações nos signos do zodíaco e nas casas astrológicas do mapa
natal que indicam a maior ou menor absorção da energia dos elementos. Verificam-
se primeiramente os planetas presentes nos signos e seus respectivos elementos,
depois identificam-se os planetas presentes nas casas astrológicas e também seus
respectivos elementos.
Todos os seres humanos acolhem os quatro elementos em seu ser, porém
existem um ou dois elementos que sobressaem conscientemente, que são dominantes
em sua maneira de perceber os objetos e suas relações. A seguir serão apresentadas
as características dos quatro elementos astrológicos de acordo com Hamaker-Zondag
(1989, p. 18).
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Fogo ou o tipo intuitivo Terra ou o tipo sensação


“Conceitos como futuro, possibilidades, “Realidade e ação são conceitos que lhe
descoberta e dinamismo desempenham pertencem. O que não pode ser captado
um amplo papel no mundo do tipo fogo. pelos sentidos não existe para o tipo
A vida e todas as suas manifestações terra [...]. A consciência do tipo terra está
materiais e imateriais são vistas pelo ligada à experiência material, razão pela
tipo fogo de dentro para fora, já que qual atribui tanto valor à beleza externa:
ele intuitivamente percebe como tudo a beleza é algo que pode ser analisado
é ou deveria ser. Para ele o mundo é e julgado objetivamente. [...] O perigo
uma história cheia de oportunidades para o tipo terra é que ele perca tudo o
fantásticas na qual ele desempenha que construiu em termos de segurança
um importante papel [...]. É receptivo material devido a algum motivo sobre o
à experiência, buscando as razões e qual não pode ou não quer especular.
alternativas existentes. Sua consciência Devido a sua necessidade de segurança,
pode ter percepções profundas do que o tipo terra procura construir um futuro
está oculto. Os fatos concretos e materiais que ofereça um lastro sólido e prático
não têm grande significação para ele. Na e impõe isto como meta, com energia e
vida cotidiana pode mostrar-se quase perseverança”.
indefeso nos assuntos práticos porque
está sempre vendo o que está por trás
das coisas e não as próprias coisas”.
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Ar ou o tipo pensamento Água ou o tipo sentimental


“Neste elemento a ênfase reside no “Estes signos tem como traço
pensamento abstrato, em teorias e ideias. predominante perceber e avaliar o
A consciência aqui está direcionada para mundo de uma forma emocional. (...)
uma abordagem e assimilação mais Para o tipo água o importante é o
lógica e objetiva dos acontecimentos sentimento despertado por uma pessoa,
observados ou vivenciados. Os signos objeto ou situação. Tudo é julgado por
do ar discutem de bom grado suas esse enfoque”. [...] Um envolvimento
descobertas com os outros, sendo profundo, sensível e emocional em suas
conhecidos pela capacidade de se vivências é característico dos signos de
comunicarem. Através do processo lógico água, mesmo que não o demonstrem.
de pensamento e de troca, o tipo ar muitas A sensibilidade pode torná-los tão
vezes é flexível no discurso e na ação [..]. vulneráveis que tendem a se esconder
O tipo ar examina o comportamento dos por trás de uma máscara sem emoções,
que o cercam, tanto quanto o próprio, uma das razões pelas quais o tipo água
em termos do que é lógico, e assim se nem sempre aparece como caloroso,
arrisca a ser muito racional e parecer frio sensível e empático. O processo de
e insensível. [..] A consciência do tipo ar sentir pode dominar este tipo de tal forma
busca a combinação de fatos e ideias de que o mundo apenas lhe serve como
um modo tão lógico quanto possível; esta impulso, movimentando ou mantendo
combinação é o sistema de referências esse processo de modo que uma
pelo qual entende como a vida deveria reação calorosa não precise acontecer.
ser. No todo, não avalia em que grau suas O elemento água pode, então ser ‘frio’
teorias e pensamentos são corretos; estes também ao toque. [...] Através do contato
constituem a sua realidade [...]. Por este emocional com o mundo externo, sente
motivo, o tipo ar não sente necessidade coisas que não podem ser explicadas.
de ser prático”. [...] Por esta razão é difícil que consigam
expressar suas conclusões em palavras”.

3. ELEMENTOS ASTROLÓGICOS X TIPOLOGIAS DO PERFIL DO TURISTA.


Nas tipologias do comportamento do turista é possível identificar a semelhança
das características de cada componente motivacional com os elementos da astrologia
(fogo, terra, ar e água), os quais definem a percepção do indivíduo perante o mundo.
Dentre as tipologias criadas pelos sociólogos Beach e Ragheb (1983), Cohen (1972)
e Plog (1977) e através de um estudo de marketing na Holanda, o Westvlaams
Ekonomisch Studiebureau (1986), algumas foram selecionadas para mostrar essa
semelhança.
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Tipologias do comportamento do turista semelhantes ao elemento Fogo:

 “O componente domínio-competência, que determina até que ponto os indivíduos


se envolvem em atividades de lazer para alcançar, dominar, desafiar e competir”
Beach e Ragheb (1983, p. 87).
 “O explorador, que compõe sua própria viagem de férias, empreendendo-a de forma
a deliberadamente evitar contatos com outros turistas. Se por um lado pretende
encontrar pessoas locais, por outro espera certo nível de conforto e segurança”
Cohen (1972, p. 127).
 “O turista existencial, que pretende imergir totalmente na cultura e nos estilos de
vida de sua destinação de férias” Cohen (1972, p. 129).
 “Quase-alocêntricos: procuram desafios, e muitos optam pelo ecoturismo” Plog
(1977, p. 258).
 “Os exploradores, que gostam de férias culturais e alguma aventura, mas também
desejam conhecer outras pessoas” Westvlaams Ekonomisch Studiebureau (1986,
p. 129).
Estas tipologias estão ligadas ao espírito dinâmico, explorador e expressivo do
elemento Fogo. Elas traduzem de forma clara o comportamento geral de um indivíduo
de elemento Fogo dominante, pois nelas encontramos também a característica do
pioneiro, do descobridor e do ativo. Aqui as características ligadas à espiritualidade,
autenticidade, captação do essencial do elemento Fogo são destacadas.

Tipologias do comportamento do turista semelhantes ao elemento Terra:

 “O turista de massa organizado, que compra suas férias num pacote para uma
destinação popular e prefere excursionar com um grupo numeroso de outros
turistas, seguindo um itinerário predeterminado e inflexível. Em geral, esse tipo de
turista não costuma se aventurar para muito longe da praia ou de seu hotel” Cohen
(1972, p. 127).
 “Psicocêntricos: turistas de massa que procuram segurança, viajando acompanhados
de guias turísticos. A denominação deriva de psycheou autocentrado, sendo
este tipo de turista caracterizado por uma personalidade mais inibida e avessa a
aventuras. Os psicocêntricos preferem um ambiente familiar (‘ocidentalizado’), em
que podem manter seus hábitos de vida, mesmo quando estão em viagem. São os
turistas que procuram resorts já popularizados” Plog (1977, p. 258).
Estas tipologias podem ou não caber para indivíduos de elemento Terra
dominante, pois a descrição do turista de massa organizado é demasiado rígida. Estas
tipologias, apesar de tudo, não deixam de possuir alguma semelhança com algumas
características do elemento Terra – como segurança e inflexibilidade –, porém existem
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outras características do elemento Terra que podem fugir desta descrição.

Tipologias do comportamento do turista semelhantes ao elemento Ar:

 “O componente intelectual, que determina até que ponto os indivíduos são


incentivados a práticas de lazer envolvendo atividades mentais, como aprender,
explorar, descobrir, pensar ou imaginar” Beach e Ragheb (1983, p. 87).
 “Alocêntricos: são aqueles que querem descobrir novos destinos, explorando
culturas estrangeiras e com espírito de aventura” Plog (1977, p. 258).
 “Alternativos: este tipo de turista busca o ineditismo a todo custo, e até mesmo
o desconforto e o perigo. Eles tentam evitar qualquer contato com os ‘turistas’.
A novidade é seu objetivo total” Cohen (1972, p. 62).
 “O turista experimental, cujo desejo primordial é o de estar em contato com a
população local” Cohen (1972, p. 129).
Como o elemento Ar é intimamente ligado aos pensamentos e ao intelecto, estas
tipologias descrevem a essência deste elemento. O elemento Ar rege a curiosidade
mental e a necessidade de entendimento dos fenômenos. Assim como o elemento
Fogo, o Ar também é um explorador. Mas o elemento Ar atribui ao verbo “explorar” um
significado mais intelectual. As limitações do elemento Ar em relação a explorações e
descobertas são menores em relação ao elemento Fogo, pois o pensamento não tem
limites e o mesmo é confundido com a matéria no elemento Ar. O elemento Ar precisa
de exclusividade e a descoberta do novo é muito prazerosa. Um ponto importante para
o elemento Ar são as relações interpessoais, a importância de trocar experiências
com os outros e de aprender com o outro.

Tipologias do comportamento do turista semelhantes ao elemento Água:

 “O turista individual de massa, que compra um pacote mais flexível que lhe
proporcione mais liberdade, por exemplo, férias incluindo a passagem aérea
e o uso do carro. É mais provável que o turista individual de massa busque,
ocasionalmente, uma experiência nova” Cohen (1972, p. 127).
 “Os que visam ao contato com as pessoas, para fazer novos amigos nas
férias e serem bem recebidos pelas pessoas locais” Westvlaams Ekonomisch
Studiebureau (1986, p. 129).
O elemento água é um pouco mais flexível que o elemento Terra, ele vai buscar
emoções e acontecimentos e paisagens que o toquem sentimentalmente. Estas
tipologias estão ligadas ao caráter social do elemento água e também à necessidade
de se sentir em casa e acolhido em um local.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo trata de um tema que está em processo de pesquisa e análise.


Algumas pessoas participaram desta pesquisa respondendo a um questionário de
caráter exploratório, o qual visa obter respostas relacionadas ao posicionamento dos
planetas e dos principais elementos do mapa natal de cada um.
A metodologia do trabalho foi estabelecida com o intuito de cumprir com os
objetivos propostos minimizando as possíveis e variadas interpretações em relação
ao perfil do consumidor turista, como o perfil socioeconômico, demográfico e a faixa
etária. Por isso foram selecionados consumidores oriundos somente da cidade de
Teresópolis, consumidores dos serviços de uma mesma agência emissiva, escolhida
aleatoriamente dentro de um grupo de nove agências existentes na cidade, e que
viajaram para diferentes destinos no período de junho de 2012 a julho de 2013.
Isto porque o presente trabalho consiste em analisar unicamente as motivações –
relacionadas ao mapa astrológico – das escolhas para a realização de uma viagem.
Posteriormente, foi feita a identificação dos entrevistados onde os dados
relevantes para a pesquisa foram a data, o horário e o local de nascimento, para
que fosse possível a confecção do mapa astrológico de cada um. A confecção dos
mapas astrológicos foi realizada através do site www.sadhana.com.br de programas
profissionais de astrologia.
Em seguida um questionário foi elaborado com sete perguntas – cada uma
relacionada a um planeta – contendo, cada uma das sete perguntas, doze opções
de resposta – cada resposta relacionada a um signo do zodíaco. Como foi explicado
anteriormente, a justificativa para o questionário ter sido elaborado desta maneira é
a de que, no mapa astrológico, cada planeta está localizado em um signo do zodíaco
e, consequentemente, “absorve” as características do signo em questão e de seu
respectivo elemento.
A metodologia da pesquisa se apresenta da seguinte maneira: Determinação
do perfil do consumidor turista entrevistado e análise das possíveis correspondências
astrológicas; Elaboração do questionário; Aplicação do questionário; Identificação
dos entrevistados e confecção do mapa astrológico de cada um e; Comparação das
respostas dos questionários com os mapas natais. Nenhum dos entrevistados possui
conhecimento de astrologia para evitar que as respostas sejam tendenciosas.
Até o presente momento alguns questionários e mapas natais foram brevemente
analisados e foi possível perceber que há certamente uma forte influência do signo
solar e/ou do signo ascendente nas respostas, assim como uma influência sempre
presente dos elementos astrológicos dominantes de cada pessoa. Os obstáculos que
estão sendo encontrados durante a pesquisa se referem à falta de autoconhecimento
de alguns indivíduos, porém, ao menos até agora, não tem afetado no principal
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objetivo do presente trabalho: mostrar que os elementos astrológicos influenciam na


percepção e no perfil do turista.
É perceptível e inegável que a sociedade em que vivemos necessita de um novo
olhar perante o fenômeno do turismo. Realizar uma viagem com consciência, com
atenção e vontade de se conectar com o mundo ao redor e consigo é algo essencial
para o autoconhecimento.
O importante disso tudo é ter conhecimento sobre o que toca cada pessoa e
de que maneira isto acontece. Conhecer o turista, o consumidor dos transportes, dos
meios de hospedagem, dos atrativos, das paisagens, conhecer o consumidor de seu
próprio planeta é imprescindível para conhecer o funcionamento do planeta e de todo
o sistema, tanto turístico quanto natural.
A astrologia pode ser de grande ajuda para se alcançar um turismo mais
humano, que faça mais sentido e que faça com que as pessoas realmente retornem
transformadas para suas cidades de origem.
Este é um trabalho lento – e, inclusive, há muito o que desenvolver neste tema
– porém é um trabalho que precisa ser iniciado e visado para que aos poucos o
turismo também possa fazer a sua parte na educação das pessoas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Pensamento, 1989.
BANZHAF, H; HAEBLER, A. Palavras-chave da Astrologia. Ed. 2. São Paulo:
Pensamento, 1994.
BEARD, J; RAGHEB, M. Measuring leisure motivation. Journal of leisure research,
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n. 1: 164-182, 1972.
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FREEMAN, M. Como interpretar seu mapa astral. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1981.
HAMAKER-ZONDAG, K. Os Quatro Elementos e os Caminhos da Energia. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
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e das viagens. Ed. 3. São Paulo: Aleph, 2009.
LOHMANN, G; NETTO, A. Teoria do Turismo: Conceitos, modelos e sistemas. São
Paulo: Aleph, 2008.
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LUNDSTED, B. Compreensão astrológica da personalidade. São Paulo: Ágora,


1989.
MITCHELL, W. Using Astrology in Market Segmentation. Management Decision,
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PLOG, S. Why destination areas rise and fall in popularity. In KELLY, E. Domestic
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RUDHYAR, D. As Casas Astrológicas: O espectro da experiência individual. São
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SADHANA INFORMÁTICA. Programas profissionais de astrologia. Disponível
em: < http://www.sadhana.com.br>. Acesso em 27 jun. 2014.
SCHMÖLL, G. A. Tourism promotion. London: Tourism International Press, 1977.
SWARBROOKE, J; HORNER, S. O Comportamento do Consumidor no Turismo.
São Paulo: Aleph, 2002.
URRY, J. O Olhar do Turista: Lazer e viagens nas sociedades contemporâneas.São
Paulo: Sesc, 1996.
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VOLUNTARIADO E HOSPITALIDADE COMO PROMOTORES DA CIDADANIA

Manoela Carrillo Valduga1


Lydia Villela Mattos2

RESUMO: O presente artigo versa sobre a possibilidade do voluntariado no turismo


ser uma prática de cidadania e solidariedade, valores intrínsecos à hospitalidade. Para
desvelar tal hipótese, investigou-se, como objeto empírico de análise, a formação dos
voluntários do programa Brasil Voluntário para a Copa do Mundo 2014, entendida
aqui como parte do segmento de turismo de eventos esportivos, na cidade do Rio de
Janeiro. Pôde-se inferir que, para o voluntário, a formação recebida contribuiu para a
tomada de consciência dos valores da hospitalidade, com isto, eles podem se tornar
cidadãos solidários, preocupados com o bem-estar do outro, sobretudo do turista.

PALAVRAS-CHAVE: Hospitalidade. Voluntariado. Brasil Voluntário. Copa do Mundo.


Rio de Janeiro.

ABSTRACT: The present article discusses the possibility of volunteering in tourism


being a practice of citizenship and solidarity, intrinsic values to hospitality. To unveil this
hypothesis, it was sought to investigate , as empirical object of analysis, the shaping
of volunteers to 2014 World Cup, of the program Brasil Voluntário, understood here as
part of the segment of sporting events tourism, in the city of Rio de Janeiro. It could be
inferred that, for the volunteer, the training received contributed to the awareness of
the values of hospitality; with this, they can become solidarity citizens, concerned with
the welfare of others, especially the tourist.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES: Hospitality. Volunteering. Brasil Voluntário.


World Cup. Rio de Janeiro.

INTRODUÇÃO


No Brasil e no mundo, a prática do voluntariado tem crescido e se
institucionalizado. Originado como apoio à comunidade e causas sociais por parte de
pessoas ou grupo de pessoas que dispunham de seu tempo em prol do outro, hoje
em dia, por um lado, o voluntariado oportuniza que cidadãos exerçam sua cidadania
com solidariedade e, por outro lado, sana parte da mão de obra necessária para a
realização de diversas atividades, dentre elas na realização de eventos, sejam direta
ou indiretamente ligados ao turismo.

No turismo, o voluntariado, em muitos casos, proporciona que a população


local sinta-se partícipe de um evento no papel de protagonista, tornando-se também
1 Bacharel em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Licenciada em
Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Turismo pela Universidade de
Caxias do Sul. Docente da Universidade Federal Fluminense. E-mail: manoelavalduga@id.uff.br
2 Graduanda em Turismo pela Universidade Federal Fluminense. E-mail: lydiamattos@id.uff.br
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um agente multiplicador do mesmo.

A Copa do Mundo no Brasil, em 2014, tem gerado bastante controvérsia. Parte


da população mostra-se favorável ao país sediar o evento, parte é contra. Destarte, a
Copa do Mundo é um evento da Federação Internacional de Futebol (FIFA) e cabe ao
país sede seguir uma série de normas e exigências impostas pela entidade para que
o mesmo seja realizado.

Frente a esta rápida apresentação, pretende-se, no presente artigo, verificar o


papel do voluntariado para a Copa 2014 na multiplicação dos valores da hospitalidade,
caros tanto à sociedade como um todo, como também ao fenômeno turístico. Para
tanto, foram aplicados, no dia 24 de maio de 2014, 144 formulários de pesquisa aos
voluntários da Brasil Voluntário, em seu último dia de treinamento para a atuação
no evento. O Brasil Voluntário é um programa do Governo Federal de voluntariado,
criado para atender a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo.

O presente artigo trará, como referencial teórico, os temas do voluntariado e


da hospitalidade, além de uma breve identificação do objeto empírico de estudos,
qual seja a caracterização do programa Brasil Voluntário e a formação ocorrida na
cidade do Rio de Janeiro. Ao final do estudo, pretende-se comprovar a relevância do
voluntariado como virtude presente na hospitalidade e, consequentemente, benéfica
ao desenvolvimento do turismo nas diversas localidades.

VOLUNTARIADO

A prática do voluntariado é entendida como o vínculo desenvolvido na relação


solidária entre o voluntário e a sociedade; é o exercício da cidadania para com o
próximo. O voluntário, para a Organização das Nações Unidas (ONUBR, Em: <http://
www.onu.org.br/faca-parte-da-onu/voluntariado/>. Acesso em: 15 jun. 2014.), é o
indivíduo – jovem, adulto ou idoso – que, no seu papel como cidadão e por interesse
pessoal, doa parte de seu tempo para desempenhar variadas atividades, sejam elas
organizadas ou não, de bem estar social ou outros âmbitos, sem ser remunerado para
tal.

No Brasil, a prática do serviço voluntário está regulamentada na Lei nº 9.608,


de 18 de fevereiro de 1998, que diz que:

Art. 1º Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não
remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer
natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos
cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência
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social, inclusive mutualidade.


Parágrafo único. O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem
obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim.

O voluntário, independente da raça ou classe social, e a partir das motivações


pessoais, escolhe um programa para atuar e beneficiar a sociedade em questão,
contribuindo para o desenvolvimento humano, na criação de valores de respeito,
solidariedade e confiança com o próximo, além do processo de crescimento e
amadurecimento que este passa ao ajudar o outro.

A partir do conceito de cidadania como a prática dos direitos e deveres civis,


políticos e sociais, entende-se que o indivíduo que se voluntaria a participar de projetos
e eventos está contribuindo com a sua sociedade, exercendo seu papel no dever de
cidadão. Segundo Manzini-Covre (1996), citada por Gastal e Moesch (2007, p.32), a
cidadania está entre os:

Proporcionadores com capacidade de trazer para fora a subjetividade no


sentido de expressá-la no mundo. É a identidade do indivíduo que vem para
fora e, ao mesmo tempo, é o pensamento e ação para lidar com o mundo,
para organizá-lo melhor na direção do que parece ser o sonho recôndito dos
homens – a busca de formas possíveis de justiça e igualdade, liberdade e, ao
mesmo tempo, de individualidade, embora impliquem uma relação complexa,
difícil de resolver.

Logo, o indivíduo, no papel de voluntário, se insere na sociedade em questão


ao se abrir para ajudar o outro, expressando sua identidade e absorvendo a identidade
do outro, do estranho, exercendo sua cidadania.

HOSPITALIDADE

Partindo do princípio de que o exercício hospitalidade contribui para o encaixe do


sujeito na vida comunitária, há de se considerar a prática do voluntariado como sendo
um desses exercícios da hospitalidade, pois auxilia no fortalecimento das condutas
éticas na relação para com seus semelhantes. Com isso, a relação compartilhada
entre esses atores enobrece a identidade dos sujeitos em questão, da comunidade
como um todo e os laços de cidadania. Baptista (2005, p. 17), apoiando-se na ideia
de Ricoeur (1990), considera que “mais do que resposta à complexidade do mundo,
a hospitalidade designa uma competência de cidadania reclamada pelas exigências
do viver em comum, pela necessidade de viver com e para os outros em instituições
justas”.
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A hospitalidade é o ato de bem acolher o indivíduo que vem de fora. É permitir


a entrada do outro no próprio espaço (GRINOVER, 2006), e, para que esta ocorra
de forma satisfatória, depende de ambos os lados: daquele que recebe e daquele
que é recebido (GOTMAN, 1997 apud GRINOVER, 2006, p. 26). No entendimento
de Baptista (2002, p.157), é o processo de abertura para a entrada e acolhimento
do outro, que “surge justificada como um dos traços fundamentais da subjetividade
humana na medida em que representa a disponibilidade da consciência para acolher
a realidade do fora de si”.

A hospitalidade tem como base de estudos duas escolas: americana e francesa.


A escola americana, desconsiderada no presente artigo, foca na questão monetária,
no pagamento de um serviço, e considera a hospitalidade no âmbito comercial. A
escola francesa de estudos da hospitalidade, a qual serviu de apoio na construção
do presente artigo, focaliza no ato de receber bem as pessoas por prazer, pelo gosto
genuíno em acolhê-las. Considera os espaços públicos e domésticos da hospitalidade
e tem como base a matriz maussiana do dar-receber-retribuir.

A partir dessa tríade que engloba o sistema de prestações totais, o autor


Camargo (2004) elabora um conjunto de seis leis não-escritas para explicá-la, sendo
a primeira delas o fato de que o ciclo da hospitalidade começa quando você dá uma
dádiva à alguém; a segunda diz que, quando se dá uma dádiva, deve-se sacrificar
algo em prol do outro; a terceira lei diz que toda dádiva traz implícito algum interesse
- entendendo este como nobre; a quarta lei aborda a questão de que, para que o ciclo
não se rompa e ocasione o oposto da hospitalidade – a hostilidade -, o dom deve ser
recebido, aceito; a quinta lei não escrita da hospitalidade diz que receber uma dádiva
implica aceitar uma posição de inferioridade diante do doador, ou seja, o donatário
está em débito para com seu doador; na sexta e última lei, para que o ciclo seja
reinstaurado, quem recebe deve retribuir.

O indivíduo que decide atuar como voluntário está colocando em prática essas
seis leis não escritas, seja pelo interesse nobre de cumprir seu papel como cidadão,
de praticar solidariedade para com o próximo ou, até mesmo, pelo desejo de criar e
estabelecer laços com pessoas, e a retribuição que ele receberá já é gratificante por
si só.

A partir do momento em que o sujeito se candidata para ser voluntário, este


está abrindo seu domínio privado (LEVINAS, 1992 apud BAPTISTA, 2006, p. 13) para
a chegada de outro, na ajuda ao próximo, possibilitando uma troca entre o anfitrião (o
voluntário) e o hóspede (o visitante). Essa troca, mesmo que por pouco tempo, causará
um impacto na identidade de ambos, acrescentando conhecimento e estabelecendo
laços que possibilitem que estes sujeitos se conheçam melhor como indivíduos em
sociedade. Dessa forma, a partir do momento em que o indivíduo se conhece melhor,
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ele estará apto a abrir caminho para receber o outro, o desconhecido.

Além disso, para que o visitante se sinta acolhido no espaço desconhecido, este
se utilizará não só do contato humano com o voluntário, mas, também, da percepção
da cidade em que estará. Deste modo, o conjunto de imagens, sons e a distribuição do
espaço na cidade dão a visão inicial da hospitalidade ao visitante na cidade. O autor
Lúcio Grinover (2006) utiliza três categorias de análise para avaliar a hospitalidade no
meio urbano: acessibilidade, legibilidade e identidade.

A acessibilidade envolve os fatores relacionados ao direito do cidadão de ter


acesso aos diferentes aspectos do que envolve a cidade, ou seja, vai desde o acesso
à infraestrutura (acessibilidade física/tangível) ao acesso à cidadania, educação, lazer
e outros (intangível/virtual). No caso da formação dos voluntários, deve-se levar em
conta a facilidade de acesso deste ao seu local de treinamento, levando em conta
o transporte, as vias de acesso e placas de sinalização interna e externa etc., no
caso da acessibilidade tangível; e a facilidade de acesso ao material, às informações
sobre os treinamentos, o acesso à segurança, entre outros, no caso da acessibilidade
intangível.

A legibilidade envolve a qualidade visual da cidade (GRINOVER, 2006), como


este espaço se representa, a maneira como o estrangeiro a vê. Nela, “as imagens são
o resultado de um processo de troca entre o observador e seu ambiente”. (GRINOVER,
2002, p.35). A partir do conjunto dos aspectos verbais e não verbais do espaço, o
estrangeiro passa por um processo mental de assimilação do local, através da semiótica
do espaço urbano, que envolve a percepção, leitura e interpretação do mesmo. Sendo
assim, no auxílio aos visitantes, a formação deve preparar os voluntários de forma que
estes tenham uma boa imagem mental da cidade, para ajudar o visitante a se localizar
no espaço e chegar no destino desejado.

A identidade é como a cidade ou um lugar é identificado, seja pela história,


cultura, memória coletiva, geografia etc. É composta por um conjunto de imagens:
topológica (paisagem física), arquitetônica (edifício) e ação (uso dado a estes edifícios
e espaços), que se unificam e formam a imagem simbólica, caracterizando, por sua
vez, a cidade hospitaleira. A identidade, por estar sempre propensa a mudanças de
acordo com o tempo e espaço, pode ser considerada incompleta (GRINOVER, 2002).

Sendo assim, considerando que a cidade hospitaleira para o morador será


também para o visitante, o voluntário selecionado para trabalhar na Copa do Mundo
de 2014 deve conhecer bem a cidade-sede em que atuará, para melhor poder ajudar
o visitante.
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BRASIL VOLUNTÁRIO

O Brasil Voluntário é um programa de voluntariado criado pelo Governo Federal,


coordenado pela Universidade de Brasília (UnB) e com apoio de 17 instituições
públicas de ensino, com o objetivo de atender os dois mega eventos da Federação
Internacional de Futebol (FIFA) no Brasil, a Copa das Confederações, em 2013,
e a Copa do Mundo, em 2014. Para a participação no programa, os interessados
se inscreveram no site para a chance de serem selecionados e participar de dois
treinamentos: online e presencial, atendendo aos requisitos básicos: ter, no mínimo,
18 anos de idade; ser residente no Brasil; estar disponível para atuar durante sete
dias, intercalados ou seguidos, com um turno de duração de quatro horas diárias; e
ter comprometimento com o voluntariado.


Os voluntários selecionados atuaram nas doze cidades-sede dos jogos
das Copas: Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, Salvador,
Cuiabá, Curitiba, Manaus, Natal, Porto Alegre e São Paulo, sendo que, na Copa
das Confederações, foram cidades-sede apenas as seis primeiras mencionadas;
nas seguintes áreas: mobilidade (estações de ônibus ou metrô), proximidades dos
estádios, áreas de fluxo, aeroportos, eventos de exibição pública e centro aberto de
mídia (CAM).

Segundo os dados adquiridos com a instituição de ensino superior organizadora


do programa, na Copa das Confederações, o prazo de inscrição ocorreu de 22 de
janeiro a 16 de fevereiro de 2013. Com 45 mil inscritos, a capacitação virtual ocorreu
entre 11 de março e 11 de abril, abrangendo módulos temáticos divididos em: história
do futebol e megaeventos, hospitalidade e turismo, meio ambiente e sustentabilidade
e segurança e primeiros socorros; e de idiomas (inglês, espanhol, francês e italiano),
sendo este apenas oferecido aos que indicaram, na inscrição, proficiência em alguma
das línguas abordadas.

A partir da avaliação e desempenho dos candidatos, sete mil destes foram


selecionados para o treinamento presencial, que ocorreu entre 27 de abril e 19 de
maio, dividido em quatro módulos, estudados em cada um dos três finais de semana:
segurança e primeiros socorros, educação física e artes cênicas, hospitalidade e
turismo e mobilidade. Após o término da capacitação presencial, foram selecionados,
em torno, sete mil voluntários para atuar nas seis cidades-sede.

FORMAÇÃO PARA A COPA DO MUNDO 2014 NO RIO DE JANEIRO


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Para o programa na Copa do Mundo, 18 mil candidatos se inscreveram no


período de 14 de Janeiro a 16 de Março de 2014. O treinamento virtual aconteceu
desde 12 de março até 18 de abril, abrangendo os mesmos módulos do ano anterior,
com 20 horas de carga horária cada. Foram convocados 1500 candidatos para o
treinamento presencial em cada uma das doze cidades-sede, durante o período de 26
de abril a 24 de maio.

Na cidade do Rio de Janeiro, aproximadamente 415 participantes compareceram


no treinamento presencial, que ocorreu, nos dois primeiros finais de semana, na
Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em três
turnos: sábado, das 8 às 13 horas ou das 14 às 19 horas, ou domingo, das 8 às 13
horas, com as turmas divididas em 25 alunos, aproximadamente, para cada sala; e,
nos dois últimos finais de semana de treinamento, na Universidade Estadual do Rio
de Janeiro (UERJ), com turnos apenas no sábado, nos mesmos horários dos finais de
semana anteriores, e com palestras que aconteceram, para todos, em auditório.

No primeiro fim de semana, o módulo abordado foi o de Segurança e Primeiros


Socorros, ministrado por bombeiros do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio
de Janeiro, no qual teve uma parte teórica, com explicações sobre como prestar os
primeiros socorros, como agir em casos de emergência etc., e uma parte prática,
em que ensinaram a utilizar extintores, como fazer reanimação cardiopulmonar, entre
outros. No segundo fim de semana, o módulo de Educação Física e Artes Cênicas
foi ministrado pelos monitores, que aplicaram dinâmicas em grupo e atividades. No
terceiro e quarto fim de semana de treinamento, foi feita uma palestra sobre o módulo
de Hospitalidade e o módulo de Turismo e Mobilidade, respectivamente organizadas
pela Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (SECOPA) em conjunto com a Rio
Eventos.

Sendo assim, com o objetivo de avaliar a formação realizada pelo programa


Brasil Voluntário dos participantes que atuaram como voluntários na Copa do Mundo
de 2014, que aconteceu entre 12 de Junho e 13 de Julho de 2014, tanto na capacitação
online quanto na presencial, foi elaborado um questionário composto por nove
questões fechadas e uma aberta – além de um espaço deixado para considerações
que os voluntários desejassem fazer. O questionário foi aplicado para 144 desses
participantes, no dia 24 de maio de 2014, ao término do turno da manhã, das 8 às 13
horas.

De início, tiveram duas perguntas demográficas para saber quantos participantes


eram do sexo feminino e quantos eram do sexo masculino e a faixa etária desses.
Sendo 54% do público feminino e 45% masculino, houve participantes de todas as
faixas etárias, com grande parte entre 18 e 25 anos de idade (37%); em segundo, a
faixa de 35 a 50 anos com 23%; 22% sendo participantes entre 51 e 65 anos; a faixa de
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26 a 34 anos com 16%; e, por último, 1% estava na faixa de acima de 65 anos. Posto
isto, 47% dos respondentes já atuou como voluntário em algum projeto ou evento,
variando desde a atuação em outros megaeventos, como a Copa das Confederações
e a Jornada Mundial da Juventude, ambos em 2013, e o Pan Americano, em 2007, até
a atuação em programas humanitários, como a Cruz Vermelha, serviço missionário,
entre outros.

A maioria dos participantes, 71%, ficou sabendo do programa através do meio


de comunicação virtual, tais como: redes sociais, e-mail, sites na internet, televisão,
rádio. O restante, 29%, instruiu-se pelo meio de comunicação impresso (jornal) e por
meio de comunicação com amigos e familiares, de academia de dança, entre outros.

Numa comparação entre o programa Brasil Voluntário deste ano e do ano


anterior, grande parte dos 16% que participaram da formação nos dois anos avaliou,
em 35%, a formação dos dois anos como tendo sido boa. Em seguida, 26% avaliaram
as duas como indiferentes, 22% avaliaram que a do ano anterior foi melhor, e apenas
13% avaliaram a formação do ano anterior como pior.

Para a avaliação da capacitação online (formação EAD), foram levados em


conta os seguintes itens: facilidade de navegação no site do Brasil Voluntário, facilidade
de acesso ao material, relevância do conteúdo abordado e facilidade de compreensão
do conteúdo; classificados numa escala de excelente a péssimo. Todos os itens foram
avaliados, em grande maioria, como muito bons, obtendo uma média geral de 52%
nesta classificação, de 24% na classificação de excelente, de 18% como regular, 3%
como ruim e 2% sendo péssimo.

Em relação à formação presencial dos voluntários, foram considerados os


aspectos referentes à facilidade de localização e meios de acesso para a chegada do
participante ao local de treinamento, a segurança, a limpeza do local e ao treinamento
em si; distribuídos em itens, num quadro, que deveriam ser avaliados de um a cinco
(sendo um péssimo, e cinco ótimo) ou não se aplica (assinalado quando a pessoa não
compareceu no dia ou quando não teve como avaliar o item), a respeito de cada fim
de semana de treinamento.

Na capacitação que aconteceu na Cidade Universitária da UFRJ, nos dois


primeiros finais de semana, os entrevistados avaliaram negativamente o local de
treinamento, o transporte para se chegar ao lugar e a sinalização interna, com uma
variação entre as notas um (péssimo) e três (regular), totalizando 51% no primeiro
item, 54% no segundo e 63% no terceiro item, salvo a média de 16% daqueles que
não compareceram e nenhum dos dois primeiros treinamentos.

No módulo de Segurança e Primeiros Socorros, dado no fim de semana


inaugural da capacitação presencial, a maioria dos entrevistados avaliou como ótimo
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os itens referentes ao treinamento, com exceção dos 12% que não compareceram
no dia e, consequentemente, não puderam contribuir para tal avaliação: treinadores
(58%), coerência dos temas abordados (54%), facilidade de compreensão dos temas
abordados (60%) e a relevância das dinâmicas aplicadas (55%).

No módulo do segundo fim de semana, de Educação Física e Artes Cênicas,


a avaliação também foi positiva, somando maioria na escala de quatro a cinco,
sendo 63% referentes ao primeiro item, 58% referentes ao segundo, 67% referentes
ao terceiro e 54% referentes ao último item, sendo que 19% dos entrevistados não
compareceram nesse dia de treinamento.

Nas palestras de capacitação que ocorreram no auditório da UERJ, nos dois


últimos fins de semana, os itens referentes ao local foram avaliados positivamente,
fora os 8% dos entrevistados que faltaram no terceiro dia, totalizando, na variação
entre quatro (bom) e cinco (ótimo), 79% na localização do treinamento, 71% no
transporte utilizado para se chegar ao local, 78% na qualidade das instalações, 69%
na segurança do local e 65% na limpeza dos banheiros; na variação positiva (bom e
ótimo) para regular, 67% nos itens referentes à sinalização interna e na limpeza do
auditório.

No terceiro módulo, Hospitalidade e Turismo, os entrevistados classificaram de


maneira favorável, considerando o somatório entre as notas quatro e cinco, os treinadores
(58%), a coerência dos temas abordados (60%) e a facilidade de compreensão dos
temas abordados (71%). Neste módulo e no último, foi desconsiderado o item sobre
a relevância das dinâmicas aplicadas, uma vez que ocorreu somente a palestra, sem
aplicação do conteúdo na prática.

No quarto e último módulo, Mobilidade, os itens também foram avaliados


de forma positiva, com 76% na classificação do primeiro e segundo item e 81% na
classificação do terceiro e último item.

Na avaliação dos itens sobre os horários e dias de treinamento, o tempo de


duração das aulas (cinco horas cada módulo) e o lanche distribuído, referentes aos
quatro módulos, a avaliação foi favorável nos dois primeiros itens, com 69% no primeiro,
e 63% no segundo, levando em conta o somatório entre as notas quatro (bom) e cinco
(ótimo). No item lanche, a classificação foi bem diversificada, com predominância da
nota três (regular), porém variando com 14% para a nota um (péssima), 13% para a
nota dois (ruim), 17% para as notas quatro e cinco (bom e ótimo, respectivamente),
desconsiderando a média total de faltosos, que foi de 12%.

Numa comparação geral entre a capacitação nos quatro finais de semana, com
as notas atribuídas em cada um dos módulos – na variação de um e cinco, sendo
um péssimo e cinco ótimo -, conforme mostra o gráfico 1 abaixo, entende-se que os
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treinamentos foram favoráveis para a formação do voluntário.

GRÁFICO 1 – AVALIAÇÃO GERAL DOS QUATRO MÓDULOS

Na questão sobre o que mais motivou os participantes a se candidatarem para


atuar como voluntário na Copa do Mundo de 2014, estes deveriam classificar os
seguintes itens, em grau de importância, de um a três (sendo o primeiro o principal):
ajudar os turistas, uma forma de participar da Copa do Mundo, ocupar o tempo livre,
exercer a cidadania, colaborar com o próximo, e outro; como mostra o gráfico 2 a
seguir:

GRÁFICO 2 – MOTIVAÇÃO PARA SE CANDIDATAR A VOLUNTÁRIO DA COPA


DE 2014

Dessa forma, os itens principais classificados como sendo os mais motivadores


para os entrevistados terem se candidatado para o programa Brasil Voluntário foram:
uma forma de participar da Copa do Mundo (24%), colaborar com o próximo (24%)
e exercer a cidadania (21%); os classificados como secundários foram: exercer a
cidadania (31%), colaborar com o próximo (23%) e ajudar os turistas (19%); e, por
último, os classificados como terciários, fora: ocupar o tempo livre (26%), ajudar os
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turistas (20%) e uma forma de participar da Copa do Mundo (17%).

Por fim, na última questão, os entrevistados deveriam resumir, em apenas uma


palavra, o que o voluntariado significava para ele. O quadro 1 abaixo apresenta, em
ordem decrescente, as principais palavras ditas pelos participantes entrevistados,
sendo a solidariedade a principal delas, com 16%, seguida pelo apoio, com 13%, e
contribuir, com 13%.

QUADRO 1 – RESUMO DO VOLUNTARIADO EM UMA PALAVRA


Solidariedade 16%
Apoio 14%
Contribuir 13%
Cidadania 8%
Experiência 8%
Altruísmo 4%
Integração/inclusão 3%

Ao término do questionário, foi deixado um espaço em branco para que os


entrevistados que quisessem, fizessem alguma crítica ou observação em relação
ao programa Brasil Voluntário. Dos poucos que registraram os comentários, alguns
utilizaram o espaço para levantar questões que deveriam ser aprimoradas, como a
organização do programa, a duração dos temas abordados, a qualidade dos lanches
distribuídos, etc.; outros o utilizaram para elogiar o programa e a iniciativa do Governo
ao criá-lo, e a prática do voluntariado no país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do presente artigo, foram apresentados, como parte do referencial


teórico, aspectos sobre o voluntariado como exercício de cidadania e inclusão social,
e sobre a hospitalidade e a percepção desta por parte dos visitantes no Rio de Janeiro
durante a realização da Copa do Mundo de 2014.

Pretendeu-se avaliar a formação dos voluntários pelo programa Brasil Voluntário,


que atuaram para bem receber os turistas, proporcionando momentos de intercâmbio
cultural e criação de novos laços de amizade.

Na avaliação final do programa, foram consideradas, principalmente, as


categorias propostas por Grinover (2006), sendo a acessibilidade, legibilidade e
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identidade.

Na acessibilidade, entram os aspectos referentes à facilidade de acesso dos


participantes às informações sobre o programa, bem como à capacitação virtual e
presencial. A capacitação online, tida como uma forma de acessibilidade intangível, foi
avaliada positivamente, com 52% classificações em muito bom e 24% em excelente.
Na formação presencial, foram levados em conta como aspectos tangíveis a facilidade
de acesso aos locais de treinamento, as placas de sinalização interna e os transportes
que davam acesso aos locais, obtendo uma média geral, entre os quatro módulos, de
66% na variação entre cinco (ótimo) e três (regular). E, como aspectos intangíveis, o
acesso à cidadania dado através da formação como um todo; à segurança – tanto a
segurança por meio do policiamento, quanto a segurança por meio da qualidade das
instalações; a variação de dias e horários ofertados para o treinamento; limpeza das
salas e banheiros, como sendo o acesso à saúde e higiene; o acesso à alimentação; e
a facilidade com que os temas foram abordados, bem como a utilização de dinâmicas
como apoio à assimilação dos conteúdos, que, na média geral, obteve 61% de
avaliação positiva, na variação entre quatro (bom) e cinco (ótimo) .

Na questão da legibilidade, considerou-se a qualidade visual dos locais de


treinamento, como o auxílio da sinalização interna e de informações na formação
de mapas mentais dos lugares, com avaliação geral também positiva, de 62% na
variação entre quatro (bom) e cinco (ótimo).

Por último, na categoria da identidade, considera-se o conjunto de fatores


que constrói a identidade do voluntário como um e como um todo. Os fatores que
motivaram os entrevistados a se interessarem no programa, que teve ‘colaborar com
o próximo’ (24%), ‘uma forma de participar da Copa do Mundo’ (24%) e ‘exercer a
cidadania’ (21%) entre os principais; o quadro de resumo do significado de voluntariado,
que teve ‘solidariedade’ (16%), ‘apoio’ (14%) e ‘contribuir’ (13%) com as palavras
mais ditas; e os 47% dos entrevistados que já atuaram como voluntários em outros
projetos representam bem essa ideia. Os participantes chegam à formação com um
pensamento, uma mentalidade, que é desconstruído e reformulado, passando por
um processo lento de amadurecido, por causa de seu contado com instrutores que
serviram de base para a capacitação, com colegas de outros bairros e localidades,
outras culturas e pensamentos, e com os visitantes, que são a principal causa do
programa e os que mais influenciam e sofrem influência neste processo.

No conjunto dessas três categorias, entende-se que a formação dos voluntários


pelo programa Brasil Voluntário foi hospitaleira. Aspectos como a organização do
programa, a qualidade dos lanches distribuídos e o tempo de treinamento, criticados
por alguns entrevistados no campo das observações, devem ser levados em conta no
desenvolvimento futuro de outros programas do mesmo tipo.
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Conforme advoga Camargo (2004) a respeito da tríade do dar-receber-retribuir,


esta ocorre por um processo de dons e contra-dons, o que faz com que este ciclo seja
infindável. Dessa forma, compreende-se que os voluntários retribuirão a hospitalidade
recebida no programa com os visitantes e turistas que necessitarem de auxílio,
fazendo com que estes se sintam bem acolhidos, completando o ciclo do dar-receber-
retribuir Infere-se, com isso, que a formação dos voluntários dada pelo programa
Brasil Voluntário e a atuação destes não é somente para a Copa do Mundo; ela
estende seus limites, contribuindo para a composição da identidade do voluntário, dos
visitantes, da cidade, da organização, do evento e do país, que, além de levarem estes
conhecimentos adquiridos para a vida e para a aplicabilidade em outros momentos,
fará com que fiquem registrados na memória desses atores envolvidos no processo
de troca, a hospitalidade dada e recebida.

Além disso, a capacitação dos voluntários para atuação na Copa do Mundo


colabora para a percepção e aprendizado dos valores da hospitalidade que, quando
praticados no dia-a-dia, fazem destes voluntários cidadãos que atuam na estruturação
da sociedade como única, de todos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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e dá outras providências, Brasília, DF, 1998. Art. 1º.

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Turismo em favela: uma análise da relação visitantes e visitados


no Museu de Favela

Giovanna Machado1
Juliana Nunes2
Yuri Carvalho3

RESUMO

Diante de um contexto de questionamento acerca do papel do visitante e do visitado no


turismo em favela no estado do Rio de Janeiro, esse trabalho apresenta como objetivo
traçar o pensamento que se desenvolveu ao redor da observação e estudo do turismo
em favela, promovendo ainda um diálogo sobre como se expressa o turismo através
da ONG Museu de Favela –MUF; sob o aspecto de uma pesquisa qualitativa, de
caráter construtivista, com observação participante e constituída de um levantamento
bibliográfico de autores e trabalhos publicados em anais e revistas a respeito desse
assunto; bem como da análise documental, principalmente, dos textos da autora
Bianca Freire Medeiros, referência no estudo de turismo em favela, publicados entre
os anos de 2007 e 2012.

Palavras-chave: Turismo em favela, visitantes e visitados, museologia social, MUF,


estereótipos

ABSTRACT

Facing a context of questioning what’s the role of the visitor and the visited in favela
tourism in the estate of Rio de Janeiro, this essay has the objective of tracing the
thought that was developed in observation of favela tourism, having the NGO Museu
de favela as a model of social museology that is developed through the tourism.

Key-words: Favela tourism, visitor and visited, social museology, MUF, stereotypes.

Introdução

Diante de um contexto de questionamento acerca do papel do visitante e do


visitado no turismo em favela, esse trabalho tem como objetivo apresentar, através
do museu de favela, a relação entre os visitantes e visitados da favela carioca e
as diferentes visões e o significado do que é ser visitantes e o que é ser visitado,

1 Graduanda no curso de Bacharelado em Turismo e Patrimônio na Universidade Federal


do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, bolsista pelo programa de educação tutorial – PET.
giovannamachado.s@gmail.com
2 Graduanda no curso de Bacharelado em Turismo e Patrimônio na Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, bolsista pelo programa de educação tutorial – PET.ju_farias.
nunes@hotmail.com
3 Graduanda no curso de Bacharelado em Turismo e Patrimônio na Universidade Federal do
Estado do Rio de
Janeiro, UNIRIO, bolsista pelo programa de educação tutorial – PET.yuricarv77@yahoo.com.br
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tendo como base nossa experiência no MUF. Buscamos traçar o pensamento que
se desenvolveu ao redor da observação e estudo do turismo em favela, bem como
apresentar as suas facetas diante da visão dos visitantes e visitados.
Para tanto, e para ilustrar tal estudo analisaremos as categorias nativas com
que nos deparamos na ONG Museu de Favela e traçaremos um diálogo com o museu
no sentido de entender como se expressa o turismo através dele nas comunidades de
Pavão, Pavãozinho e Cantagalo.
Essa pesquisa4 tem, portanto, caráter construtivista, uma vez que ao lidar
com um Museu de Favela que resgata a memória social dos seus moradores, não
pode ser considerada como algo exato ou que tenha resposta certas ou erradas.
Faremos então, analise documental, principalmente, dos textos da autora Bianca
Freire Medeiros, referência no estudo de turismo em favela, publicados entre os anos
de 2007 e 2012; bem como levantamento bibliográfico de outros autores e trabalhos
publicados em anais e revistas a respeito desse assunto.
A sua importância se dá a medida que nos propomos a fomentar um discurso
sobre o turismo em favela e, sem pretensão de dar o trabalho como finalizado,
convidamos o leitor a fazer uma análise crítica do que seria, através de uma perspectiva
antropológica, essa pratica. Sendo assim, entendemos que a pesquisa é de caráter
qualitativa e utiliza ainda de observação participante, que consiste na real participação
do pesquisador no seu campo de pesquisa. Nossa observação participantes ocorreu
através de atividades semanais realizadas no Museu de Favela durante o ano de 2013.
Nesse período acompanhamos visitas de turistas ao Museu, grupos universitários e
escolares, além da organização e acompanhamento dos participantes do Movimento
Internacional de Nova Museologia (MINOM) em agosto de 2013 e visita do grupo
Coleções e Atividade de Museus de Cidade (CAMOC – ICOM) também em agosto
de 2014, ambos durante a Conferência Internacional de Museus do Rio de Janeiro
(ICOM 2014).
O trabalho está dividido em cinco seções, além da introdução e considerações
finais, sendo estas: (1) da favela, (2) pensando o turismo em favela, (3) dos visitantes,
(4) dos visitados e, (5) turismo de base comunitária: MUF.

Da favela

Não é de hoje – 2014 – que o assunto favela está em questão. Favelas sempre
renderam bastantes especulações e trabalhos na área acadêmica. O que se presencia
agora, no entanto, é uma modificação da imagem da favela. As favelas, no Rio de
Janeiro, nasceram da necessidade de sobrevivência de pessoas deixadas à margem
da sociedade. A citar, por exemplo, no final do século XIX, a destruição de barracos e
4 Orientada pela Professora Camila Moraes do Departamento de Turismo e Patrimônio
da UNIRIO.
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cortiços habitados no centro da cidade por pessoas de baixo poder aquisitivo, durante
o governo Pereira Passos, em nome do crescimento e embelezamento da cidade.
Diante de tal fato, a geografia do estado foi significativamente alterada. Seus morros
passaram a ser tomados como moradia daqueles que não mais se encaixavam na
nova configuração que o centro da cidade adquiriu.
Desde então, as favelas do estado do Rio de Janeiro foram negligenciadas
pelo governo o que propiciou a entrada do poder paralelo e ascensão do tráfico5,
permitindo a ligação da imagem da favela a um território sem lei, sem segurança, de
violência e de privação dos direitos básicos de cidadania. Isso, fez com o imaginário de
favela fosse necessariamente e automaticamente ligado aos seus aspectos negativos,
privando o seu território do asfalto.6 As mídias – filmes, novelas e jornais- repassaram
essas imagens, quando retratavam apenas o lado perverso dessa realidade. Não se
pode ignorar, no entanto, que todas essas imagens veiculadas a violência e a favela
afetam o imaginário do visitante, fazendo com que por mais que exista a curiosidade,
a coerção social seja ainda maior.
No Brasil, no ano de 2002, o primeiro grande filme a receber destaque por
exportar a imagem do cotidiano da favela foi intitulado ironicamente de Cidade de
Deus. O mesmo chegou até a receber destaque em grandes premiações, como o
festival de Cannes; o que nos passa a dimensão internacional que viria a influenciar
e reforçar o estereótipo criado pelas mídias de massa dentro do país. A partir desse
surgiram, então, muitos outros que viriam a retratar o mesmo enredo, porém dentro de
um novo contexto social. A favela a partir desse momento, encontra brechas sociais
para se desmitificar através da fomentação de debates e de pesquisas holísticas
acerca da “real realidade” que os seus moradores enfrentam.
A sua imagem, nesse momento, passa a ser incluída como um atrativo turístico
nos guias da cidade, promovidos pelo órgão da prefeitura e RioTur, o que a oficializou
como atrativo e, por conseguinte, ajudou na elaboração da venda da favela como
destino turístico, proporcionando a facilidade do marketing direto para atrair uma
maior demanda de turistas.
Inicialmente considerado inicialmente como dark tourism, o turismo em favela, como
é apelidado atualmente, proporciona ao turista o status da prática de um turismo
alternativo com viés social, o que lhe confere uma maior noção de autenticidade e
interação entre ele, o visitante, e os favelados, os visitados.

Pensando o turismo na favela

5 UPP: UMA POLITICA DE “ADESTRAMENTO” QUE DEIXA DE LADO A INTEGRACAO. Disponível


em:
http://jornalggn.com.br/noticia/upp-a-solucao-que-virou-problema Acessado dia 20/06/2014
6 A IMAGEM DO BRASIL NO EXTERIOR. Disponível
em:http://www.revistaturismo.com.br/artigos/imagem.html Acessado dia 20/06/2014
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O primeiro debate que iremos recorrer sobre o turismo na favela, será (a)
sobre o turismo como problema, visto e / ou vivido como prejudicial às comunidades
receptoras sobre o turismo visto e (b) sobre o turismo solução, visto e/ou vivido como
aquele que envolve a comunidade local e que se articula com o patrimônio, sendo
colocado como a via capaz de solucionar os problemas de uma dada localidade.
(MORAES, 2011).
O segundo debate, se refere aos diferentes discursos acerca do turismo em
favelas apresentados pela pesquisadora Bianca Freire-Medeiros no livro Gringo na
Laje (2009). De acordo com a autora, para alguns, este tipo de turismo reflete práticas
que envolvem a consciência social dos turistas e gera benefícios para as comunidades
visitadas, enquanto que para outros, representa um tipo de voyerismo da pobreza.
Steil (2004) em seu artigo “Antropologia do turismo: comunidade e
desterritorialização” coloca que nos anos 1970, os primeiros estudos antropológicos
sobre turismo possuíam uma narrativa implícita em que as comunidades locais
eram idealizadas como devendo ser preservadas da ação de agentes externos,
especialmente o turismo, que se apresentava frequentemente como “fator de
desequilíbrio e desarmonia de uma economia local de trocas de bens simbólicos e
materiais, que deveria permanecer isolada de processos mundiais de modernização”
(STEIL, 2004: 01 apud MORAES, 2011).
Já nos anos 1990, esses estudos passam a veicular uma nova narrativa sobre
comunidades locais e o turismo, visto como parte da “reinvenção da tradição” das
comunidades, cujo passado não é mais idealizado e “o futuro está em aberto, de forma
que vai depender fundamentalmente de como os nativos e os turistas vão lidar com os
ganhos e perdas que esse encontro proporciona” (STEIL, 2004: 02 apud MORAES,
2011).
O autor nos explica então como o encontro entre turista e população local pode
ser visto enquanto constitutivo de identidade da comunidade local “que só se percebe
como totalidade diante do outro” e do turista “na medida em que esse encontro o
remete para sua própria comunidade de origem num jogo de espelhos invertidos”
(STEIL, 2004:03 apud MORAES, 2011).
Dessa perspectiva se pode ver como, no caso das comunidades do Pavão,
Pavãozinho e Cantagalo, estas construíram sua identidade para o turismo em oposição
à favela da Rocinha.
Ao fazer este deslocamento somos levados a repensar a cultura local não mais
desde uma perspectiva orgânica, naturalizante, como um todo enraizado que cresce,
vive e morre, mas como um processo histórico de disputas internas e externas, de
interferência e interação, que acontece fundamentalmente nesse local de fronteira
física e cultural. Nessa nova estrutura narrativa, as questões já não são qual o
impacto do turismo sobre a comunidade local e de que forma esta pode resistir às
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transformações que vêm de fora, mas como os grupos locais e os turistas negociam
suas identidades para dentro e para fora, nesse jogo de signos e símbolos que são
eleitos e definidos como seus sinais diacríticos. (STEIL, 2004: 03 apud
MORAES, 2011)
Conforme a primeira narrativa, expressada segundo Steil, na coletânea Hosts and
Guests (SMITH,1989), produto de um simpósio organizado em 1974 pela Associação
Americana de Antropologia, que se tornou um clássico da antropologia do turismo, a
perspectiva predominante nos artigos se refere às consequências negativas que o
turismo provoca sobre as comunidades locais. Os trabalhos contidos no livro, segundo
Steil, apresentam o conceito de comunidade conforme uma lógica funcionalista, ou
seja, consideram a comunidade “uma totalidade substancializada que se sustenta
sobre um sistema social de relações que a mantêm em equilíbrio” (STEIL, 2004: 06
apud MORAES, 2011)
Na segunda narrativa, encontrada na coletânea Tourism and Culture
(CHAMBERS, 1997), a concepção de comunidade se diferencia significativamente
daquela apresentada em Hosts and Guests (SMITH, 1974), na medida em que alarga
a visão de como as comunidades são constituídas, considerando “de que maneira
as identidades grupais e as tradições são inventadas e autenticadas, em parte como
resultado de tentativas deliberadas de atrair interesse dos turistas ou ainda apelar
para imaginação dos outsiders” (CHAMBERS 1997: 05 apud STEIL, 2004: 06).

Dos visitantes

Impulsionada pelas facilidades criadas através da formalização do turismo em


favela, a Jeep Tour, fundada em 1992 - e atual referência do segmento no mercado, no
qual leva-se o turista dentro de um carro para passear pelas vielas das comunidades.
Mas, ao contrário do discurso feito pelas agências e operadoras de turismo que
realizam este passeio, a grande maioria das experiências não envolve um contato e
um intercâmbio cultural profundo entre os receptores e os turistas, visto que os pré-
conceitos sobre a favela trazidos com os visitantes nem sempre se dissolvem, podendo
permanecer com eles à medida que “ apesar de ter a chance de confrontar as ideias
previas que possui do lugar com o que vê pessoalmente, muito da representação
antiga continua”7.
Vale ressaltar que, ao mesmo tempo que existem favelas que recebem turistas
trazidos por agencias externas, outras, como por exemplo nos morros da Babilônia
e Santa Marta8, a iniciativa da fomentação do turismo partiu de agentes internos

7 TURISMO DE FAVELA: VIOLENCIA ATRAI VISITANTES. Disponivel em:


http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/turismo-favela-violencia-atrai-visitantes Acessado em 20/06/14 8FREIRE-
MEDEIROS, BIANCA. A favela que se vê e a que se vende: reflexões e polemicas em torno de um destino
turístico. Revista Brasileira de CiênciasSociai, São Paulo, v. 22 nº. 65, p.65-67, 2007
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das favelas, impulsionados pelo objetivo de passar ao turista uma imagem, julgada
pelos próprios, mais realista por ser apresentada por aqueles que convivem com as
diferentes realidades existentes nas comunidades.
Assim como nos morros citados a cima, nas favelas do Pavão, Pavãozinho
e Cantagalo, Zona sul do Rio de Janeiro, existe a ONG Museu de Favela, na qual
pudemos observar durante uma visitação, guiada pelo mediador cultural S. 40 anos,
que o visitante causa uma serie de impactos no cotidiano da favela em que visita.
Abordando estes impactos pelo aspecto negativo, observamos que devido as vielas
que compõe a favela, o grande transito de turistas acaba por dificultar o transito
dos locais e, dessa forma, impactar diretamente o seu modo de vida. Outro aspecto
negativo, são as fotos, muitas vezes feitas pelos turistas com intuito de registrar
imagens estereotipadas dos moradores das favelas, como cita Bianca- Freire (2010):
Incomoda, porém, o fato de ser o contato intermediado pela câmera uma das poucas
formas de interação durante os passeios e que certos estereótipos estejam sendo
reforçados. Pensemos, por exemplo, no fato de a maioria das pessoas fotografadas
serem negras quando, na verdade, o leque de tipos físicos é extremamente variado
na Rocinha. Esse dado leva Menezes (2007) a sugerir que os turistas talvez prefiram
fotografar pessoas que se enquadrem no estereótipo “favelado é preto e pobre.” “Uma
vez, quando meu filho era mais novo, [alguns turistas] quiseram tirar foto dele, mas
quando eu cheguei com ele [que é branco], eles não quiseram, porque eles queriam
um neguinho.”
Diante disso e sabendo que o turista está à procura de um turismo voltado para
o viés social, ao não encontrar a pobreza e violência pressupostos, a visita torna-se
menos impactante e um pouco desapontadora na sua visão. Ainda durante a nossa
visita a ONG MUF, pudemos perceber que este sentimento é inflacionado pelo contexto
socioeconômico cultural que o turista se encaixa. Em sua maioria são estrangeiros, de
classe média alta, impulsionados desde a curiosidade até pesquisas acadêmicas8.
Ao contrário do que se pensa, o visitante, em sua maioria, acaba por ajudar
os moradores da favela monetariamente, seja através de doações, seja ao comprar
artesanatos, comidas ou água. No entanto, essa ajuda, quando analisada amplamente,
não passa de uma ação pontual, isto é, é difícil dizer que a receita gerada por esses
passeios, possam de fato causar uma transformação na realidade econômica daquelas
pessoas. Tal fato se torna ainda mais problemático quando as agencias externas que
ali trabalham acabam por não sequer informar aos locais que as mesmas são pagas9,
de modo que apesar de estar presenciando uma cultura de fato marginalizada, o
visitante não se sente na obrigação de interferir ou contribuir para a melhoria da
8 ANNUNCIACAO, APARECIDA; FARIA, MARIANA. Turismo de experiência nas favelas
cariocas: uma análise desta atividade e seu impacto nas comunidades. In: FÓRUM INTERNACIONAL
DE TURISMO DO IGUASSU,5, 2011, Foz do Igassu. Foz do Igassu: 2011, p.8-10.
9 TURISMO DE FAVELA:VIOLENCIA ATRAI VISITANTES. Disponível em:
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/turismo-favela-violencia-atrai-visitantes Acessado dia 20/06/2014
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situação.
Em conclusão e sob esta lógica funcionalista de comunidade, o turista aparece
como um agente externo que ao adentrar o território da comunidade local causa
desajustes ao sistema comunitário e “passa a ser visto como uma ameaça à sua
estabilidade e à manutenção de seus padrões culturais”. (STEIL, 2004: 06). Steil
nos indica ainda que trabalhos recentes no campo da antropologia do turismo “têm
apontado para uma crescente dissociação entre turistas e os residentes locais, através
de uma série de mediadores e instâncias que se interpõem entre esses dois polos.”
(STEIL, 2004: 07 apud MORAES, 2011).

Dos visitados

Seguindo a lógica antropológica do turismo, pode-se abordar quais seriam os


aspectos positivos que os, então, visitados gostariam de mostrar durante o roteiro.
Através da nossa experiência durante guiamentos feitos pelo MUF, nos morros
do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, pudemos presenciar discursos dos próprios
mediadores culturais acerca da não vontade de levar o grupo de turistas às partes mais
carentes da favela. Assim, nós, como tradutores voluntários, deveríamos incentivá-
los a se voltarem para os artesanatos, beleza naturais, cultura e particularidades do
morro.
É fácil notar, com isso, que para os visitados o principal benefício que esses
tours podem proporcionar à favela seria a desmistificação do estereotipo introduzido
pelas mídias de massa, no sentido de que, os favelados dariam aos visitantes a
oportunidade de desvincular a sua imagem de um lugar violento e marginalizado.
A esse respeito Freire-Medeiros (2010), em seu texto “Entre tapas e beijos: a favela
turística na perspectiva dos seus moradores” explicita o seguinte trecho da sua
pesquisa de campo:
“Não causa surpresa que a maioria dos entrevistados (82%) afirme que as
áreas mais pobres não devem ser mostradas aos turistas - afinal, são as imagens da
pobreza e da violência, em seu sentido mais amplo, aquelas que circulam vinculadas
à favela. Quando pedimos a eles que se colocassem na posição de guias turísticos,
a maioria se mostrou bastante entusiasmada em divulgar o que considerava os
aspectos mais positivos da favela: a vista, o comércio, os projetos sociais, a mata e o
artesanato. Muitos não querem que os aspectos negativos - barracos precários, lixo,
desorganização do espaço, violência - sejam os predicados associados à Rocinha
turística.”
Assim, compreendemos que o trabalho de resgate da memória social da favela e a
busca pelo desenvolvimento do orgulho da cultura do morro preenche o que chamamos
de autoafirmação, o que acabaria por impor ao asfalto um certo distanciamento entre
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culturas. Desse modo, criam-se fronteiras, que serão aqui entendidas como “o lugar do
encontro e da interação” (SILVA, 2011 apud FRIEDMAN, 2002, p.1), que no entanto,
deixam de existir a partir do momento que a fronteira passa a ser uma barreira, no
sentido de que, a potencial interação não acontece e o turista continua seno um mero
observador passivo do morador.
Para tanto, é com a finalidade de impedir que essa pratica perpetue que se
insiste no que denomina-se turismo de base comunitária, o que seria uma forma
de praticar o turismo e ao mesmo tempo envolver a comunidade na execução da
atividade, de forma que os mesmos se desenvolveriam e então, teriam o interesse em
atrair os turistas e abraçá-los para que os estes turistas sintam-se ativos no projeto da
comunidade.
Por consequência, a experiência turística se daria mais naturalmente e de forma
mais fiel aos anseios da comunidade e às expectativas do turista em relação ao que
encontrar na favela, promovendo a “real realidade” do ponto de vista do morador e
não de agencias externas, possibilitando um profundo intercâmbio cultural que seria
genuíno especialmente para os o que o pensam.

Turismo de Base Comunitária: MUF

O Museu de Favela (MUF) é um museu comunitário do tipo territorial, criado


nas favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, por lideranças comunitárias em 2008,
no contexto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das favelas em tela.
Localizado entre os bairros de Ipanema e Copacabana, o MUF pensa estas favelas
como um “território museal”, onde todo o território da favela é elaborado como um
museu a céu aberto, no qual os becos são galerias e a vida da favela ilustra o museu.
Essa designação está ligada ao novo ramo da museologia, a museologia social, que
surge para reafirmar a memória social existente em áreas acostumadas à segregação
cultural e/ou esquecidas pelo governo.
O MUF foi criado com objeto de tornar o morro um Monumento Turístico Carioca,
e gerar renda, a partir do turismo, para os moradores da favela e para o próprio Museu,
no entanto, hoje o MUF ainda é mantido através de recursos adquiridos com editais,
pois ainda não atingiu uma quantidade de visitantes por mês que gerasse recursos
suficientes.
No ano de 2013 registramos aproximadamente 200 visitantes no MUF
distribuídos conforme gráfico a seguir:
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No decorrer das atividades realizadas em 2013 no Museu de Favela, notamos


que no turismo que se quer implementar no território das favelas Pavão, Pavãozinho
e Cantagalo aparecem categorias distintas daquelas que usualmente utilizamos nos
estudos do turismo.
Para nós da universidade, a atividade que o MUF queria desenvolver era o turismo
e, portanto, eles queriam atrair turistas para o território. No entanto, o termo turismo
é carregado de significados e muito questionado, em especial quando tratamos do
turismo em favelas.
No caso do Museu de Favela, seus diretores preferem denominar a atividade
que será desenvolvida no local como visitação, e a pessoa que visitará o território
de visitante. Assim, aqueles que recebem os visitantes e mediam a relação entre
visitantes e visitados serão chamados de mediadores culturais, pois a experiência
que o Museu de Favela busca é a troca cultural. Neste sentido o termo mediador é
interessante de ser acionado para denominar um ator local.

Considerações Finais

Buscou-se avaliar o turismo em favela, mediado pela relação entre os visitantes


e a população local de determinado território, no caso desse estudo as favelas do
pavão pavãozinho e cantagalo, localizadas ambas na zona sul do Rio de Janeiro,
entre os bairros de Copacabana e Ipanema. Pensando toda a extensão do território
como um museu a céu aberto, perspectiva elaborada pelo Museu de Favela num
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pensamento de quebra com a museologia tradicional. Como gestores do museu e


morados do local, é vital a importância da voz dessa ONG no que tange os debates
sobre os efeitos do fenômeno turístico em áreas de base comunitárias, como nesse
caso, as favelas.
Sobre a relação entre visitantes e visitados num contexto contemporâneo de
turismo realizado nas favelas do Rio de Janeiro. A análise do nosso estudo de caso
mostrou que independente do estímulo que levam centenas de turistas às favelas, a
sensação de ter vivido uma experiência transformadora é nítida. Entretanto, é preciso
refletir não apenas sobre os limites éticos da iniciativa turística nas favelas, bem como
sobre o olhar do visitante e o impacto causado por essas visitas para aqueles que ali
habitam ou possuem vivência cotidiana.
Deste modo, podemos notar que a opção feita pelo Museu de Favela, de utilizar
termos como visita e visitante, e não turismo e turista vai de encontro aos debates
correntes sobre os efeitos positivos e negativos do turismo em comunidades sejam
estas comunidades do tipo favelas ou não, valendo ressaltar que a iniciativa local
acerca do turismo no Pavão, Pavãozinho e Cantagalo é proposta por um museu, e na
área da museologia o termo usual é visitante e não turista. Ou seja, a escolha pelos
termos visita e não turismo, imprime e demarca a identidade de território museal às
favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, demarcando assim, uma clara distinção da
proposta de visitação à favela e a proposta de turismo na favela.
Tal distinção é fundamental se pensarmos que agentes externos levam turistas
para as mesmas favelas, mas numa lógica de turismo em favela, e não de visita à
favela que é museu. Isto porque a experiência da favela como museu só pode ser
percebida através do MUF e dos seus mediadores culturais.

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“ESSE RIO É MINHA RUA”1: PERCEPÇÕES ACERCA DOS IMPACTOS


GERADOS PELAS CHUVAS NA ATIVIDADE TURÍSTICA DO CENTRO
HISTÓRICO DE BELÉM (PA).

Jéssica da Silva Soares 2


Flavio Henrique Souza Lobato 3
Ana Paula Melo de Morais 4

RESUMO
Por ser uma cidade tropical-úmida e rodeada por rios, em Belém existe grande incidência
de chuvas durante todo o ano. Porém, a cidade não se encontra adequadamente
estruturada para receber esse fenômeno natural, visto que as chuvas, sobretudo
no Centro Histórico, aliadas a deficiente coleta de lixo, ocasionam constantes
alagamentos nas vias de acesso, o que corrobora para a inviabilização do tráfego
de pessoas e veículos em diferentes atividades. Diante deste panorama, o presente
trabalho objetiva analisar se o Centro Histórico encontra-se estruturado para o bom
desempenho da atividade turística. Para isto, a metodologia utilizada se pautou em
pesquisas documentais, bibliográficas e experiências em campo, mediante coleta de
dados através de entrevistas com turistas e moradores locais, com a captação de
fotografias no lócus de pesquisa, demonstrando desta forma como o centro histórico
está estruturado e como este se caracteriza em períodos chuvosos.

PALAVRAS-CHAVE: Infraestrutura. Turismo. Chuvas. Alagamento.

“MY STREET LIKE A RIVER”: PERCEPTIONS ABOUT IMPACTS CAUSED BY


RAINS TO PERFORMANCE OF THE TOURISM IN HISTORICAL CENTER OF
BELÉM (PA).

ABSTRACT
Being a tropical humid city and surrounded by rivers, in Belém there´s a high incidence
of rainfall throughout of the year. However, this city isn´t well structured to receive this
natural phenomenon, because rains especially in the historical center, allied an bad
garbage collect , have been cause frequently flooding in roads, turning impracticability
that traffic of people and vehicles of different activities. Against this landscape, this
1 O verso que compõe o título deste trabalho faz parte da música “Esse rio é minha rua”, dos
compositores Ruy Barata e Paulo André, que retrata o cotidiano das famílias que vivem às margens dos
“braços” do Rio Amazonas. Os rios, igarapés e baías configuram-se como espaços muito importantes
na vida dos ribeirinhos, pois são locais de locomoção, de brincadeiras, de trabalho, de sustento, etc,.
igualmente como ocorrem nas ruas das grandes cidades. Por isso, os compositores fazem a analogia
do rio e da rua, mostrando que a rua dos ribeirinhos é o rio. E como este trabalho fala de alagamentos no
Centro Histórico da cidade de Belém, os autores resolveram faz uma alusão à música para metaforizar
que as ruas da cidade estão se tornando os rios dos interiores.

2 Graduanda em Bacharelado em Turismo (UFPA). Bolsista Administrativo na UFPA E-mail:


jessicasoares0201@gmail.com
3 Técnico em Eventos (IFPA), Graduando em Bacharelado em Turismo (UFPA) e Bolsista de
Iniciação Cientifica do CNPq. E-mail: flaviolobato@hotmail.com.
4 Técnica em Eventos (IFPA), Graduanda em Bacharelado em Turismo (UFPA) e Monitora de
visitação no Teatro da Paz. E-mail: paula-.-morais@hotmail.com
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research aims to examine if the historical center is structured to performance of the


tourism. For this, the methodology used was based in documentary bibliographical and
field experiments by collecting through questionnaire with tourists and local residents,
taking pictures on the locus of research that demonstrated how the historical center is
structured and how it’s characterized in rainy periods.

KEYWORDS: Infrastructure. Tourism. Rains. Flood.

INTRODUÇÃO

A atividade turística é uma das que mais cresce em todo o mundo. Alguns fatores
foram de suma importância para tal crescimento, entre eles têm-se a redução da carga
horária de trabalho, a globalização, as inovações nas tecnologias e comunicações.
Esses fatores geraram grande necessidade de deslocamento de um ponto a outro
na busca por lazer, entretenimento, estudos, negócios, eventos, entre outros (BENI,
1997).

Dessa forma, o turismo e as atividades que o compõem necessitam de um


meio preparado para serem implementados (não é o turismo e as atividades que
devem ser implementadas?). Isso se dá por meio das estruturas criadas em vários
parâmetros que ele envolve, como por exemplo (redundante. Usa um ou outro): o
transporte que levará o turista ao destino desejado; o hotel o qual irá se hospedar; a
empresa contratada para realizar seus passeios; entre outros elementos que juntos
formam uma rede de bens e serviços que precisam estar bem integrados.

Nesse sentindo, Beni (1997) sinaliza que a má execução de um elemento


dessa rede pode prejudicar o bom desempenho de outro e, possivelmente, o sistema
todo, por isso esses elementos precisam estar integrados e bem articulados. Assim,
Zaccarelli (2000) afirma que se faz necessário compreender como cada elemento de
uma rede está articulado, interligado e potencializado para que seja possível criar uma
rede bem integrada e organizada.

Para além desses fatores, faz-se necessário que os atrativos turísticos e a sua
redondeza possuam uma infraestrutura adequada com sua realidade, apresentando:
ruas de acesso aos pontos apropriados, boa sinalização para a chegada ao
destino, segurança no local, saneamento, coleta eficaz do lixo, entre outros. Uma
infraestrutura completa, evitando o surgimento de possíveis problemáticas, que além
de descaracterizarem a beleza dos atrativos turísticos, inviabilizam a chegada e o
trânsito nestes.

Neste contexto, mesmo que a cidade de Belém do Pará apresente um


Centro Histórico-Cultural de importância histórica inestimável, composto por muitos
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monumentos históricos, salvaguardados pelo Instituto do Patrimônio Histórico


Artístico Nacional – IPHAN que recontam e resgatam a história da cidade, esse
sofre constantes e agressivos alagamentos, ocasionados pela incidência de chuvas
frequentes características da região, que inviabilizam o tráfego de pessoas e veículos.

Diante desta problemática, este trabalho objetiva analisar se o Centro Histórico


encontra-se estruturado para o bom desempenho da atividade turística em períodos
chuvosos. Para isto, a metodologia utilizada empregou uma abordagem qualitativa,
realizando pesquisas documentais, bibliográficas e experiências em campo para a
coleta de dados, mediante a aplicação de questionários e captação de fotografias no
lócus da pesquisa.

TURISMO E INFRAESTRUTURA: UMA RELAÇÃO NECESSÁRIA

A atividade turística utiliza em sua efetivação uma série de equipamentos/


estruturas, serviços e produtos para que o turista sinta-se satisfeito com o produto
turístico adquirido. Assim, é imprescindível a convergência e interação de uma gama
de setores produtores desses serviços/produtos, que compõem a cadeia do turismo
(BENI, 1997).

Tais componentes, como muitos pensam, não se constituem apenas em hotéis,


postos de informações, atrações turísticas, guias de turismo, aeroportos, portos,
rodoviárias, entre outros. É necessário que a infraestrutura básica da cidade; rede
elétrica, esgotos sanitários, abastecimento de água, drenagem, pavimentação, coleta
de lixo, telefonia, segurança, saúde e sinalização, estejam em pleno e eficiente
funcionamento (SILVA; SANTOS, 2011), afinal, o turista, assim como a população
local, também se utiliza desta.

Nessa linha, Boullón (2002, p. 58) assinala que

[..] entende-se por infraestrutura a disposição de bens e serviços com que


conta um país para sustentar suas estruturas sociais e produtivas, [sendo
esta] [..] um dos fatores que permite apreciar com mais clareza a distância
entre um país desenvolvido e outro subdesenvolvido.

Dessa forma, a infraestrutura para Boullón (2002) é vista como condição essencial
para o desenvolvimento do turismo, afinal, é difícil promover turismo em um local,
mesmo que este possua uma riqueza muito diversa de atrativos, sem que exista
uma infraestrutura adequada. A infraestrutura turística, portanto, deve estar sempre
articulada e conectada a infraestrutura básica da cidade, para que a atividade turística
possa possuir meios para se estabelecer e, assim, desenvolver a cidade como um
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destino turístico consolidado no mercado.

Nessa perspectiva, é importante salientar que o crescimento do turismo


brasileiro é uma realidade, no qual constatam números surpreendentes de viagens
turísticas pelo mundo que injetam na economia de muitas cidades turísticas milhões
ao ano. Contudo, o que se evidencia em muitas dessas destinações são os estados
de precariedade nas infraestruturas básica e turística. Não sendo incomum presenciar
aeroportos superlotados, portos e rodoviárias sem acessibilidade, rodovias, avenidas
e ruas esburacadas ou alagadas, transportes em decadência, poucas opções de
hospedagem, péssima sinalização, segurança, qualificação de recursos humanos,
informações restritas e não confiáveis sobre as destinações (SILVA, 2008).

Nesse sentido, os Estudos de competitividade do turismo brasileiro


(Infraestrutura), do Ministério do turismo, apontam que os entraves da expansão,
desenvolvimento e consolidação do turismo derivados da ausência ou precariedade
da infraestrutura apresentam dois eixos: um se “refere à disponibilidade dos serviços,
sem os quais as atrações turísticas não podem sequer entrar em contato com o
mercado consumidor” e o outro deriva “da incapacidade de expandir as distintas infra-
estruturas de maneira eficiente e em compasso com o aumento da demanda turística,
garantindo equilíbrio sócio-ambiental e econômico de maneira simultânea” (BRASIL,
2006, p. 5).

Nessa direção, pesquisas divulgadas no Relatório de Competitividade do


Turismo 2013, durante a realização do Fórum Econômico Mundial, na cidade de
Davos, Suíça, reiteram a importância da infraestrutura ao apontarem que no quadro
de competividade dos países no turismo, o Brasil, em 2011 ocupava a 52º colocação,
e no ano de 2012 subiu apenas uma colocação no ranking (51º). Sendo que dentre os
14 critérios estratégicos definidos pela pesquisa mencionada anteriormente, o Brasil
ficou em 1º lugar apenas no critério “Recursos Naturais” (ATHAYDE, 2013).

Para Tuna (2008), tal resultado decorre, principalmente, da ausência ou da


deficiente infraestrutura do país. E demostra que para os turistas, as atrações não
são suficientes para de fato consolidar o turismo brasileiro no mercado. Dessa forma,
observa-se que a existência da infraestrutura pode não apenas estimular o turismo
regional, mas promover fortemente o turismo internacional.

Deste modo, todo o capital que vem sendo gerado pela atividade precisa
ser dinamizado de uma melhor forma, sobretudo em investimentos no âmbito da
infraestrutura, visto que a presença desta, de acordo com Silva e Santos (2011) é
condição primordial para edificar uma paisagem turística positiva, que tenha grandes
chances de comercialização no mercado turístico, que por sinal é em demasia
competitivo e instável.
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Observa-se, dessa maneira, que a atividade turística necessita continuamente


de melhoramentos e reorganizações/reconfigurações para atender sempre de forma
satisfatória o turista, uma vez que encontram-se a disposição destes uma variedade
muito grande de produtos turísticos (BENI, 1997). Além do mais, o turista se encontra
melhor informado e mais questionador acerca de seus direitos, devido às revoluções
informacionais e melhorias nos produtos e serviços derivadas da competitividade do
setor (PADILHA, 1992).

Dessa maneira, de conformidade com Silva (2008), durante o processo de


planejamento e efetivação da infraestrutura, é importante que o planejamento da
atividade turística seja levado em consideração (e vice-versa), de modo que estes
possam estar mutualmente interligados, uma vez que um tem influência direta e
indireta no outro. Noutros termos, o planejamento da infraestrutura básica precisa
satisfazer as necessidades que a infraestrutura turística demanda.

Portanto, para que o setor turístico continue a se desenvolver de forma


consolidada, é imprescindível que a infraestrutura das destinações acompanhe o
ritmo da atividade, isto é, a oferta precisa criar formas para o atendimento eficaz da
demanda. Tal interação somente desencadeará benefícios tanto para os turistas que
terão à sua disposição serviços/produtos eficientes, quanto para população que terá
uma melhoria significativa na qualidade de vida. Visto que a atividade turística pode vir
a se concretizar como uma fonte de renda de muitas famílias da localidade.

CENTRO HISTÓRICO DE BELÉM (PA)

Desde o século XIII viajantes faziam suas buscar por terras desconhecidas com
o intuito de conseguir riquezas para suas nações. Em meio a essas viagens, o Brasil
foi “descoberto”, no ano de 1500, pelos Portugueses. A cidade de Belém do Pará foi
uma das primeiras terras em que os portugueses estabeleceram vinculo, onde em
12 de Janeiro de 1616 foi erguido o Forte do Presépio (atual Forte do Castelo) como
ponto estratégico para proteção dessas áreas conquistadas (ROCQUE, 2001). Assim,
a cidade cresceu e se desenvolveu de frente para a foz do rio Guamá.

Com o passar dos anos, a cidade perpassou por inúmeros acontecimentos


históricos, como: a chegada dos Jesuítas e outras instituições religiosas que tinham
como objetivam catequizar os índios; o Período Áureo da Borracha que acabou
impulsionando o desenvolvimento socioeconômico da região, onde foram realizadas
na cidade, benfeitorias pautadas no modelo parisiense (Belle Époque), o qual consistiu
a criação de ruas largas, praças públicas, casarões, quiosques e o Theatro da Paz
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como forma de embelezamento da cidade e outros processos históricos, políticos,


econômicos e sociais (DAOU, 2000; CRUZ, 1973).

Em decorrência desses vários períodos históricos, foi marcada por processos


de produções culturais muito intensos, que foram essenciais para a construção de
edificações arquitetônicas por toda a cidade, mas especificamente na região que hoje
constitui Centro Histórico de Belém.

Conforme Costa (et al, 2013, p. 11),

O Teatro da Paz e o Complexo Feliz Lusitânia composto pelo Forte do


Castelo e Museu de Arte Contemporânea, Museu de Arte Sacra, Igreja da
Sé, o Museu de Arte Belém entre outros, são as principais heranças daquele
e de outros tempos da história de Belém.

Esses patrimônios ajudam a contar até os dias de hoje a história desta cidade e foram
cruciais para o estabelecimento da memória e da(s) identidade(s) do belenense, a
partir de seus inúmeros patrimônios. Portanto, seu patrimônio cultural tem um valor
histórico precioso, tendo nele atrelado representações da identidade e memória local
(LOBATO; et al, 2013).

Contudo, o Centro Histórico de Belém infelizmente sofreu algumas perdas que


até hoje impactam a realidade observada, toda essa importância patrimonial, ao longo
dos anos foi sendo negligenciada através de vandalismo, intervenções realizadas
sem nenhum planejamento e intervenção técnica adequada e problemas atrelados à
qualidade dos serviços urbanos que marcaram, por vezes, alagamentos, abandonos e
destruições patrimoniais que alcançaram (e ainda alcançam) impactos inadmissíveis
à memória, história e identidade da cidade.

Por este motivo, foi necessária a salvaguarda do conjunto arquitetônico,


urbanístico e paisagístico do Centro Histórico de Belém, pelo Instituto do Patrimônio
Histórico Artístico Nacional – IPHAN, no ano de 2011. Sendo, hoje, o Centro Histórico
delimitado entre os bairros da Campina e Cidade Velha (Figura 1),

FIGURA 1: SISTEMA VIÁRIO E LIMITES DO CENTRO HISTÓRICO DE BELÉM


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FONTE: GUIMARÃES, L. H. R. (2013)

Por seu caráter diverso, original e autentico o Centro Histórico de Belém é parada
obrigatória de inúmeros visitantes da cidade. Nele admiradores da arte e arquitetura,
sobretudo, barroca se fascinam com tamanha diversidade e preciosidade estética.
Além disso, alguns objetos existentes nos Museus do CHB ajudam a (re) contar um
pouco da história da colonização portuguesa e o período de grande luxuosidade da
cidade na Era da Borracha.

Nesta perspectiva Funari e Pelegrini (2006) assinalam que a partir de um


monumento, edifício, assim como objetos de valor material e simbólico é possível se
conhecer um pouco mais da história de uma cidade, Estado ou País. Choay (2004)
reforça isto ao ressaltar que o Patrimônio histórico ao rememorar através de seus
monumentos o passado, contribui para a preservação da identidade cultural, religiosa
e étnica da comunidade.

Os autores Funari e Pelegrini (2006), ressaltam ainda que o turismo cultural é


um dos principais meios para garantir a salvaguarda e valorização de bens patrimoniais
de um Centro Histórico, haja vista que,

A reabilitação dos centros históricos, além de potencializar a identidade coletiva


dos povos e promover a preservação de seus bens culturais – materiais
e imateriais – pode contribuir para o desenvolvimento econômico e social
e, ainda, otimizar os custos financeiros e ambientais de desenvolvimento
urbano, através do aproveitamento da infraestrutura de áreas centrais e do
incremento da indústria turística. (FUNARI; PELEGRINI, 2006, P. 29)
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Assim, observa-se que o turismo cultural configura-se como uma atividade importante
na luta pela proteção e preservação do patrimônio, tendo em mente que turistas de
diversas regiões se deslocam com o intuito de enriquecimento histórico e cultural,
ajudando disseminar e valorizar a história local. E fazendo com que a comunidade
local passe a olhar os seus patrimônios por outros ângulos, o que, de certa forma,
contribui para a valorização e preservação por parte da população residente.

No entanto, para que o turismo se desenvolva de forma plena e consolidada no


Centro Histórico de Belém, se faz necessário que, principalmente, as infraestruturas
básica e turística estejam em bom funcionamento e interligadas para garantir o transito
de pessoas e veículos pelas suas ruas e alamedas.

A TRADICIONAL CHUVA X INFRAESTRUTURA DE BELÉM (PA)

Belém, por estar situada no universo amazônico, possui um clima quente e


úmido, com temperatura média anual de 26ºC, tendo índice pluviométrico que varia
entre 2.300 mm. e 3.000 mm./ano. Devido a este tipo de clima, a cidade possui grande
incidência de chuvas, principalmente nos primeiros meses do ano. Segundo Nechet
(1997), a forte convecção a instabilidade e a alta umidade do ar favorecem a formação
de nuvens convectivas, dando origem a grande incidência de precipitação na forma
de pancadas, principalmente à tarde, situação característica de regime de chuva do
tipo continental.

Para Molion (1987) os fatores que provocam as chuvas na região amazônica


são divididos em três partes: a primeira está caracterizada no aquecimento do solo
durante o dia, com condições de larga-escala favoráveis; a segunda está baseada
em linhas instáveis que surgem na costa N-NE do litoral atlântico; e a terceira está
baseada na penetração dos sistemas frontais na região S/SE do Brasil, relacionando-
se com a região amazônica, com aglomerados convectivos de larga escala.

Em Belém, no decorrer dos anos, a grande incidência de chuvas se tornaram


um significativo elemento de atração para as pessoas que a visitam. A mistura de sol
e chuva desperta a admiração de muitos turistas, fazendo desta uma característica
singular da cidade. Isso fez com que surgissem diversas expressões com o passar
do tempo, como “lá vem a chuvinha da tarde...” ou “a chuva em Belém tem cheiro
próprio”, fato este, que demonstra o quanto este fenômeno natural se tornou um dos
maiores objetos da composição do imaginário e cultura do município.

Nessa direção, Piffer (1997) afirma que o Turismo vem crescendo de


forma acelerada, com geração de emprego e renda. Isso faz com que ocorra uma
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dinamização em diversos setores, sendo o recurso natural um valioso elemento em


determinadas localidades que abrangem até mesmo certas peculiaridades, gerando,
assim, caracterização da cultura de um determinado espaço, no caso de Belém, a
chuva.

No entanto, mesmo apresentando atrativos de grande competitividade no


mercado turístico, Belém ainda carece de elementos básicos que forneçam uma
boa funcionalidade em diversos setores, dentre eles, o bom desempenho da prática
turística em meio aos fenômenos naturais, como as constantes chuvas.

No cenário da capital paraense, constata-se que a cidade, em termos de


infraestrutura, não foi planejada para a sua realidade, visto que com a incidência de
chuvas e o fato da cidade encontrar-se envolvida e “rasgada” por igarapés, a água
necessita de meios para escoar.

Assim, com o cair das tradicionais chuvas, principalmente, no Centro-Histórico


de Belém que se encontra às proximidades Baia do Guajará, aliadas ao deficiente
escoamento, drenagem e coleta de lixo, as vias de acesso sofrem constantes
alagamentos, dificultando a circulação de pessoas e prejudicando suas atividades,
como demostram as figuras5 (2, 3, 4 e 5) abaixo:

FIGURA 2: RUAS ALAGADAS FIGURA 3: COMPLEXO DO VER-O-PESO

Fonte: Blog Amazon (2014) Fonte: DIAS, Wagner (2011)

5 Fotos retiradas de sites de noticias sobre a cidade de Belém (PA) durante e após as chuvas.
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FIGURA 4: ESTAÇÃO DAS DOCAS FIGURA 5 – FELIZ LUSITÂNIA

Fonte: ABRAHAM, Bianca (2013) Fonte: ANDRADE, Jhivago (2013)

A existência do lixo nos alagamentos é um dos fatores mais preocupantes,


visto que a população e os turistas que por ali transitam ficam expostos a inúmeras
doenças. Tucci (2005) afirma que um dos principais problemas das grandes cidades é
a produção de lixo, pois este obstrui a drenagem e prejudica ainda mais o ambiente.

Ademais, com as chuvas e alagamentos, as ruas acabam ficando soturnas,


fazendo com que ocorra um aumento da periculosidade, diminuindo a atratividade
dos pontos turísticos. Percebe-se que as chuvas ocasionam a desestruturação
dos atrativos turísticos, pois além da chuva conter certo teor de acidez, o que pode
comprometer a estrutura de alguns monumentos, por causa da corrosão, ela pode
gerar a queda de árvores, postes, prédios, entre outros, causando muitas vezes, a
inviabilização de visitas ao local. Isto é o que tem acontecido em Belém, notadamente,
em seu Centro-Histórico.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com a pesquisa de campo realizada pelo turno da manhã e da tarde, entre os


dias 12 e 18 de março de 2014, foram feitas observações sistemáticas in lócus, com
registros fotográficos e aplicação de n, com perguntas abertas e fechadas, em diferentes
espaços do Centro Histórico – Complexo Feliz Lusitânia e nas proximidades do Teatro
da Paz – onde foram coletados dados que expuseram a opinião da população sobre
a questão da infraestrutura no Centro Histórico, principalmente durante os períodos
das chuvas.

A escolha dos sujeitos utilizados na pesquisa foi feita de maneira aleatória, à


medida que as pessoas foram sendo abordadas e aceitaram fazer parte da pesquisa,
os questionários foram sendo aplicados. Desse modo, foram questionados residentes
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da cidade de Belém, bem como turistas pertencentes a outros municípios do Pará e a


outros Estados do país.

Os questionários seguiram critérios de perguntas objetivas e subjetivas, dando


a oportunidade do sujeito expressar sua opinião mais aprofundada acerca do assunto
proposto, não ficando restrito apenas a respostas como “sim” ou “não”. Optou-se
ainda, para a construção deste trabalho, que os nomes dos sujeitos mencionados
fossem fictícios, no intuito de preservar suas identidades.

Os dados pessoais coletados para cada sujeito que respondeu o questionário


se baseou em: sexo; idade; nível de escolaridade; profissão/ocupação; cidade que
reside. Logo após, deu-se início às perguntas, entre elas indagou-se: Qual a sua
percepção a respeito da infraestrutura básica e turística do Centro-Histórico de Belém?;
Em sua opinião, o Centro-Histórico encontra-se preparado para a ação de fenômenos
naturais, como as tradicionais chuvas da capital paraense?; Para você, as chuvas no
Centro Histórico de Belém influenciam o desempenho da atividade turística?; Quais
são os problemas que precisam ser solucionados de forma emergencial no Centro-
Histórico para desenvolver melhor a atividade turística?

Ao todo foram aplicados 40 (quarenta) questionários. Após a sistematização e o


tratamento dos dados, observou-se que participaram da pesquisa 13 pessoas do sexo
feminino e 27 do masculino, com idades que variaram entre 18 e 45 anos. Entres os
sujeitos da pesquisa 2 (dois) tinham ensino fundamental completo 5 (cinco) possuíam
ensino médio incompleto, 13 (treze) possuíam ensino médio completo, 14 (quatorze)
eram formados ou estavam na graduação, 2 (dois) especialistas e 4 (quatro) eram
mestres (as).

Sobre os locais de residência, 23 (vinte e três) eram moradores de Belém, 9


(nove) moravam em outros municípios e 8 (oito) eram pertencentes a outros Estados
brasileiros, não sendo encontrado nenhum turista estrangeiro. Pode-se considerar que,
normalmente, as visões sobre a realidade observada/vivenciada dos entrevistados
que são de fora da cidade são diferenciadas das percepções dos moradores. Analisou-
se as respostas daqueles que moram em Belém separadamente das opiniões dos
visitantes que moram em outros municípios do Estado do Pará e daqueles residentes
de outros estados.

Deste modo, com a sistematização e análises das respostas, pode-se evidenciar


que ao perguntar se o Centro-Histórico de Belém encontra-se preparado para o
recebimento da atividade turística em períodos chuvosos, entre os entrevistados que
residem na cidade, 95% responderam que não, enquanto que 87,5% dos turistas de
fora da cidade, também, responderam que não.
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No que se referem à limpeza, os sujeitos participantes da pesquisa foram


questionados se esta é eficiente no local. Segundo 82,5% dos residentes de Belém,
a cidade não possui coleta de lixo adequada, gerando acúmulo de sujeira em grande
escala. Entre os turistas, 92,5% responderam que não há uma eficiente limpeza,
pois não existe um número adequado de lixeiras, não há profissionais de limpezas em
alguns pontos, e, principalmente, não há uma sensibilização das pessoas que jogam
lixo pelas ruas do Centro, como demonstram as figura 6 e 7 abaixo:

FIGURA 6: LIXO E ANIMAIS

FIGURA 7: ALAGAMENTO E DISPOSIÇÃO DO LIXO


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Quando questionados sobre a infraestrutura do Centro-Histórico durante as


chuvas, os entrevistados residentes da cidade de Belém disseram que não há onde se
abrigar, pois são quase inexistentes locais com cobertas. Entre os turistas, as opiniões
não divergiram muito, pois alegaram sentir dificuldade em realizar seus passeios em
quaisquer horas do dia devido aos alagamentos. Neste sentido, pelo menos 72,5%
dos entrevistados já presenciou ou teve notícia de várias ruas do Centro-Histórico
alagadas. Porém, Mariana em seu depoimento, sinaliza que:

“é necessário que se entenda que as chuvas não são os grandes problemas


dos alagamentos no Centro Histórico. A chuva é um fenômeno natural, a
cidade é que precisa se adequar a ela, precisa-se de uma melhor drenagem,
mas também, precisa-se de uma maior disponibilização de lixeiras, uma maior
conscientização da população, afinal, o que adianta uma boa drenagem se
ainda há a existência de resíduos sólidos para entupir bueiros? Além disso, o
lixo aliado ao esgoto pode trazer doenças tanto à população local como aos
turistas”.

Observa-se nesse trecho da entrevista, uma análise crítica entorno do problema dos
alagamentos e lixo em Belém. O grande “x” da questão está, segundo ela, na falta de
sensibilização da população para com a sua cidade.
Sobre isso, Tucci (2005) discorre que deve se ter cuidado ao transitar por locais
onde o lixo se mistura à água, uma vez que o lixo e seu destino inadequado é um
dos elementos fundamentais para a geração de problemas no saneamento, pois seu
acúmulo nas vias favorece o entupimento de bueiros, o que prejudica o percurso
natural das águas das chuvas regulares da cidade, ocasionando alagamentos.

No que concerne ao contato da água e o lixo ao qual Mariana se refere, Tucci


(2005) explica que esse contato causa a contaminação da água e a proliferação de
doenças. Portanto, espaços como estes não apresentam condições saudáveis para
a população local e para as práticas turistas, como se pode observar nas figuras 8 e
9 a seguir:

FIGURA 8: ALAGAMENTOS FIGURA 9: ALAGAMENTOS


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Nesta direção, quando os participantes foram questionados se os alagamentos


na capital paraense influenciam o desempenho da atividade turística, 77,5% dos
moradores responderam que sim. Entre os visitantes de fora de Belém, 72,5%, a
resposta foi afirmativa. Para além da questão do lixo e alagamentos, 80% dos
moradores locais disseram não se sentirem seguros em muitos locais pelo Centro
Histórico, ficando apreensivos com tentativas de assaltos e que a elevada incidência
de chuvas diminui o fluxo de pessoas e policiamento. Já 60% dos turistas de fora da
cidade disseram não se sentir seguros e que a segurança nos espaços precisa ser
aumentada.
Quando foi realizada a pergunta “Quais são os problemas emergenciais a serem
solucionados no Centro Histórico de Belém?”, as respostas foram bem parecidas, como
se constata com o trecho da resposta de Maria, 45 anos, nutricionista, e moradora da
cidade de Belém-PA, “a limpeza e segurança pública, pois deveríamos ter a certeza
de que estamos num lugar limpo e seguro”. E, Danilo, 43 anos, advogado e morador
da cidade de Belém-PA, respondeu que a:

“segurança, limpeza de uma forma geral e que todas as pessoas que


trabalham com comida deveriam ter a disposição cursos de higiene, para
o melhor destino dos resíduos sólidos gerados todos os dias, esses cursos
deveriam ser viabilizados pelo governo municipal”.

Quando foi realizada a pergunta a Roberto, 38 anos, professor, morador da


cidade de Araguaiana (TO), este respondeu: “a segurança é fator fundamental, pois
principalmente quando está chovendo as ruas ficam bem mais perigosas porque
pouca gente transita no espaço”. Quando feita a mesma pergunta para Rosa, 41
anos, médica, moradora da cidade, esta respondeu: “a limpeza, maior número de
profissionais de limpeza nas ruas”. Segundo Beni (1997), os responsáveis pelo serviço
público de limpeza devem mediar o conforto necessário para a população, garantindo
eficácia de drenagem, eliminação de acúmulos de sujeiras, focos causadores de
doenças, entre outros.

Quando realizada a pergunta a Carlos, 25 anos, universitário, morador da cidade


de Belém, se ele considera que o Centro-Histórico está estruturalmente adequado
para a prática turística, este responde: “não, pois precisa de mais investimentos nos
transportes, nos pontos turísticos, limpeza, etc”. João, 37 anos, técnico, morador de
Santarém-PA, respondeu: “não totalmente, porque embora exista um potencial, ele
precisa ser melhorado, muitas partes ainda precisam de reformas”.
Dessa forma, constata-se que as respostas tiveram abordagens semelhantes,
tendo os fatores limpeza e segurança como fundamentais para a criação de uma
infraestrutura adequada para o centro histórico, assim como para a prática turística
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no mesmo.

Percebeu-se após as análises dos dados que os visitantes, embora apreciem


todo o acervo histórico e suas potencialidades, sinalizam que este ainda carece de
investimentos básicos em sua estrutura e que o mal preparo para o recebimento das
chuvas agrava ainda mais este problema e dificulta o bom desempenho no setor
turístico.
De acordo com eles, o local pesquisado necessita de melhoramentos e
construção de diversos elementos fundamentais para o estabelecimento do direito do
ir e vir, para a consolidação da atividade turística, dentre eles: um sistema sanitário,
com meios de drenagem adequados, a boa efetivação da coleta de resíduos sólidos e
disposição de lixeiras, assim como a disponibilização de banheiros públicos adequados,
além de uma segurança mais efetiva para as pessoas que por ali transitam diariamente
e para aqueles com o objetivo único de visitar o Centro Histórico.
Contudo, de acordo Tucci (2005, p. 71), não basta um sistema de drenagem
adequado se ainda existir a inadequação do lixo, pois este é responsável por obstruir
a drenagem e gera condições ambientais não favoráveis, assim, a minimização deste
problema se dá a partir de uma coleta regular dos resíduos e conscientização das
pessoas para não poluírem ainda mais o local.
Todavia, deve-se ter cautela, pois está se falando de um Centro Histórico
salvaguardado pelo IPHAN que, portanto, necessita de preservação. E, dependendo,
das ações ali implementadas pode provocar a sua descaraterização e gerar problemas
sociais, políticos e, sobretudo, culturais.
Dessa maneira, antes de se fazer qualquer intervenção, é necessário um
estudo e um planejamento aprofundado da realidade, a fim de se diagnosticar as
problemática, prognosticar e desenhar como e de que forma as ações devem ser
tomadas.
Sobre a questão do lixo, além da coleta regularmente, a sensibilização dos
moradores é o principal caminho para minimizar o acúmulo de lixo pelas ruas do CHB
e o entupimento dos bueiros. Essa sensibilização, pode começar a partir de ações
que mostrem à população a importância que os patrimônios existentes no CHB tem, e
a própria atividade turística é um elemento de grande ajuda nesse sentido, visto que
segundo Lobato (et al, 2013, p. 13):

Geralmente é através da atividade turística que a população compreende a


riqueza que detém e a essa riqueza se chama Patrimônio. O (re) conhecimento
da riqueza de onde se vive ou do lugar onde se deseja visitar, é em suma
importante, uma vez que colabora para a gênese da valorização e orgulho
dessa riqueza, cooperando para o desenvolvimento de um residente e um
turista sensibilizado e preocupado com os espaços, não permitindo, que as
expressões, tradições, saberes e fazeres culturais locais tenham fim
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Os autores veem a atividade turística como um elemento de efetivação e manutenção


da infraestrutura, um meio para a sensibilização da população local, além disso, o
turismo pode se consolidar como uma fonte alternativa de renda para essas pessoas.
Apesar de todas as problemáticas levantadas, pelos entrevistados, 85%,
quando questionados se ainda gostariam de voltar ao Centro Histórico, disseram que
sim, as justificativas de forma geral, enalteceram a beleza e peculiaridade do local,
dizendo que o Centro Histórico é uma outra cidade dentro de Belém, as construções
recontam a história dos tempos áureos da Paris N’América.
A pesquisa mostrou que o Centro histórico é um grande trunfo do turismo
belenense, mas para que este possa ser mais visitado e conhecido no mundo,
precisa-se da maior valorização e sensibilização da comunidade autóctone sobre a
sua importância, das ações do poder público em termos de infraestrutura que possam
sanar as necessidades dos turistas, sem comprometer é claro as essências do CHB.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por encontrar-se dentro da Amazônia brasileira, Belém do Pará é uma
verdadeira menina dos olhos quando o assunto é turismo, seus recursos naturais são
tão diversificados e ao mesmo tempo exóticos que fascinam visitantes e admiradores.
Como uma típica cidade amazônica, Belém é rodeada e entrelaçada por rios e
muitas áreas verdes que conferem à cidade características singulares e criam todo
um imaginário. As chuvas das tardes de Belém, por exemplo, é um dos fenômenos
mais esperados pelos turistas que visitam a cidade, pois é considerada uma chuva de
bênçãos, que tem gosto e cheiro próprios (COSTA, et al. 2013).
No entanto, a capital do Estado do Pará não tem apenas como trunfo as
suas belezas naturais, as riquezas culturais são marca registradas da cidade, visto
que ajudam a recontar a história da formação do povo e nação brasileira, uma vez
que, em Belém ocorreram importantes fatos históricos decorrentes da colonização
europeia, sendo um período marcado por um processo de produção cultural muito
intenso e muito importante para a riqueza arquitetônica, histórica e cultural da cidade.
As principais heranças daquele e de outros tempos da história de Belém formam,
junto a tantos outros elementos, o que hoje é o Centro Histórico da Cidade de Belém
(LOBATO, 2013).
Desde modo, observa-se que Belém apresenta atrativos com notório potencial
no mercado turístico. No entanto, com a incidência de chuvas característica da região
atrelada a outras questões socioculturais, há pelas ruas do Centro Histórico da cidade
constantes alagamentos, que inviabilizam o trânsito de pessoas e veículos.
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Foi diante deste cenário que o presente trabalho teve sua gênese. A partir do
caminho metodológico construído para investigar se o Centro Histórico encontra-se
estruturado para o bom desempenho da atividade turística em períodos chuvosos,
evidenciou-se que este espaço não apresenta infraestrutura adequada para fins
anteriormente mencionados, sobretudo em períodos os quais a incidência de chuvas
é frequente, devido à precariedade de elementos estruturais essenciais.
Segundo os participantes da pesquisa, limpeza pública; ausência de coberturas
adequadas para abrigar as pessoas durante as chuvas; ocorrência de constantes
alagamentos nas vias e insegurança se mostraram como os principais gargalos da
atividade turística do Centro Histórico.

O que se observou no centro histórico foi que a ausência de um serviço


urbano (elemento) desencadeia o surgimento de uma série de problemas, é um efeito
cascata. Nesta perspectiva, Beni (1997) pontua que no âmbito do sistema turístico
o mau funcionamento de um componente do sistema pode provocar a eficiência de
outro e desestabilizar o sistema todo. Sobre isso, pode-se constatar que a grande
incidência de chuvas características da cidade de Belém aliadas à precária coleta de
lixo em alguns pontos fazem com que os resíduos sólidos obstruam os bueiros, o que
causa os alagamentos constantes no Centro Histórico.

No entanto, não se deve apenas se preocupar com as chuvas, quando se fala


em infraestrutura há um universo bem mais denso envolvido. Sob este prisma, Beni
(1997) e Boullón (2002) esclarecem em seus trabalhos que a infraestrutura contempla
um conjunto de atividades-fins do poder público que são essenciais para a qualidade
de vida e o bem-estar social da comunidade e dos visitantes, e que, portanto, estão
inclusos a iluminação pública, comunicações, transporte, abastecimento, conservação
e, principalmente, a manutenção dos serviços urbanos.
Assim, observa-se que além das problemáticas apontadas neste estudo, o
mundo da infraestrutura é bem mais complexo e para que os serviços e equipamentos
necessários à boa qualidade de vida da população e ao bom funcionamento da
atividade turística sejam implementados, faz-sete necessário que os planejamentos
das diferentes atividades envolvidas possam estar articulados, a fim de se sanar as
necessidades da sociedade, gerar e dinamizar os benefícios à comunidade local e
aos turistas (BRASIL, 2006).

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TURISMO E INFRAESTRUTURA: UMA ANÁLISE DOS TRANSPORTES NA ILHA


DO COMBÚ – BELÉM (PA).

Flavio Henrique Souza Lobato 1


Jamyle Cristine Abreu Aires 2
Renata Carneiro Lopes da Silva 3

RESUMO
Este estudo tem como objetivo identificar e analisar como se apresenta a infraestrutura
dos/nos terminais e meios de transportes utilizados para o deslocamento até Ilha do
Combú, sendo a principal problemática a ser debatida, a percepção e avaliação do
visitante sobre o acesso (estrutura e segurança dos meios transportes e terminais de
acesso) a Ilha e quais as implicações no turismo de base local? Para tanto, utilizou-
se de uma abordagem quali-quantitativa, com pesquisas documentais, bibliográficas,
bem como pesquisas em campo. Como técnicas de pesquisas e coletas de dados
foram empregadas, observações sistemáticas in lócus, registros fotográficos e
aplicação de questionários fechados e abertos, sendo os dados tratados com base
em suas interpretações e apontamentos da Escala Likert. Os dados revelaram que as
pequenas embarcações e os terminais que materializam o transporte à Ilha do Combú,
apresentam precárias condições estruturais, não oferecendo segurança comodidade
e acessibilidade, sobretudo, para idosos ou deficientes físicos. Isso gera implicações
negativas à atividade turística na Ilha, visto que o visitante sente insatisfeito e temeroso
com a insegurança ao qual é exposto.
PALAVRAS-CHAVE: Transportes. Turismo. Infraestrutura. Ilha do Combú

TOURISM AND INFRASTRUCTURE: AN ANALYSIS OF TRANSPORTES ON THE


COMBU ISLAND - BELEM (PA).
ABSTRACT
This study aims to identify and analyze how is the infrastructure of / in terminals
and mode of transport used to travel to the Combú Island, being the main issue to
be debated, the perception and evaluation of visitor access (structure and safety of
transport modes and access terminals) to the island and what the implications on
the local tourism base? For this, was used a qualitative and quantitative approach,
also using documentary and bibliographic searches and field surveys. As research
techniques and data collection was employed systematic observations in locus,
photographic records and application of open and closed questionnaires, where the
data collected were analyzed based on their interpretations and notes through the
Likert Scale. The data had disclosed that the small vessels and terminals that compose
1 Técnico em Eventos (IFPA), Graduando em Bacharelado em Turismo (UFPA) e Bolsista de
Iniciação Cientifica (CNPq). E-mail: flaviolobato@hotmail.com.
2 Técnica em Eventos (IFPA) e Graduanda em Bacharelado em Turismo (UFPA) e Bolsista de
Iniciação Cientifica (CNPq). E-mail: jamyle.aires@gmail.com.
3 Graduanda em Bacharelado em Turismo (UFPA). Agente de Endemias na Prefeitura Municipal
de Ananindeua (PA) E-mail; rcls2011@hotmail.com.
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the transportation to the Combu Island have poor structural conditions, not offering
security, comfort and accessibility, especially for the elderly or disabled people. This
yields negative implications to tourism on the island, since the visitor feels unsatisfied
and fearful of insecurity to which it is exposed.
KEYWORDS: Transportation; Tourism; infrastructure; Island Combú

INTRODUÇÃO
Com a eclosão das viagens turísticas de lazer pelo mundo, fomentadas,
principalmente pelas revoluções e transformações informacionais da sociedade
(PADILHA, 1992), surgiu à necessidade de revolucionar os sistemas de organização
dos serviços, dentre eles os transportes, que configuram-se como um dos elementos
essenciais para a implementação e desenvolvimento da atividade turística.
Entrementes, na atual conjuntura a sociedade é detentora de maior conhecimento
sobre seus direitos e mais exigentes com os produtos e serviços adquiridos, assim,
não basta apenas se ter meios de transporte para realização de deslocamentos,
é indispensável à existência de uma infraestrutura básica, com vias de acesso em
bom estado, mobilidade urbana dentro dos padrões aceitáveis, terminais (pontos de
embarque e desembarque) seguros e confortáveis, tendo inclusive os próprios meios
de transportes, que oferecer boa infraestrutura, segurança e comodidade durante
toda a viagem.
No que se refere ao contexto da cidade de Belém (PA), a cidade é cercada por
Ilhas e entrelaçada por rios e igarapés, apresentando assim um forte potencial para
o modal de transporte hidroviário, porém este não é bem aproveitado, uma vez que
é utilizado geralmente por pequenas embarcações em estado precário, que fazem
o transporte de passageiros ou mercadorias até as ilhas próximas, como é o caso
da Ilha do Combú. Para além das péssimas condições dos meios de transportes,
os terminais não apresentam infraestrutura adequada, não oferecendo segurança e
acessibilidade.
Diante deste cenário, o presente trabalho tem como objetivo identificar e
analisar como encontra-se a infraestrutura dos/nos terminais e transportes (veículos)
utilizados para o deslocamento de passageiros até Ilha do Combú, sendo a principal
problemática a ser debatida, aquela que discorre sobre qual a percepção e avaliação
do visitante sobre a infraestrutura de acesso (meios transportes e terminais) a Ilha e
quais as implicações no turismo de base local?
Para a realização desta pesquisa, os autores, partiram de uma abordagem
quali-quantitativa, com a utilização de pesquisas documentais e bibliográficas, bem
como pesquisas em campo, realizadas entre os dias 15 e 18 de dezembro no principal
porto de acesso a ilha, localizado na Praça Princesa Izabel, e em um dos principais
pontos de desembarque na Ilha, o Restaurante Saldosa Maloca.
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Como técnicas de pesquisas e coletas de dados foram empregadas, observações


sistemáticas in locus, registros fotográficos e aplicação de questionários fechados e
abertos, sendo os dados tratados com base em nas interpretações e apontamentos
da Escala Likert.

Dentre os resultados alcançados pôde-se observar que ao abordar-se o


potencial atrativo da Ilha do Combú, uma das constatações mais marcantes se deu
na quase unanime aceitação dos entrevistados, o que ratifica a situação da ilha do
Combú em si, ser capaz de motivar o deslocamento de diversos turistas ou visitantes
em virtude da sua proximidade com a natureza e também com a área urbana, o que
facilita o seu acesso. Contudo, o termo “facilita” acaba ganhando conotações dico-
tômicas pelo fato dos veículos e dos terminais utilizados para o deslocamento não
acompanharem o potencial de atração que é “natural” da ilha, em todos os sentidos.

TURISMO E TRANSPORTES

Com a evolução e o desenvolvimento das viagens através, principalmente,


da disposição do tempo livre, melhoria dos transportes e comunicações, a atividade
turística foi se constituindo reconfigurando-se e estabelecendo-se diante das diversas
interações entre sociedades (BENI, 1997).

Assim, o turismo passou a se constituir a partir de um movimento de pessoas


que saem de suas casas temporariamente, em busca de atividades que oportunizem
o conhecer o inusitado, adquirir conhecimentos, ter momentos de lazer, estabelecer
relações socias, promover trocas culturais, etc (COSTA, et al 2013). Podendo também
ser entendido como atividade de transportar e acomodar visitantes e colocar a sua
disposição produtos e/ou serviços que oportunizem lazer e recreação no sentido mais
amplo, sempre com o objetivo principal de satisfazer suas necessidades e exigências
(BARRETO, 1995).

Dessa forma, como se pode observar, estão envoltos à efetivação da atividade


turística diversos setores que se intercruzam e se desdobram de maneira intrínseca
e extrínseca, afetando direta e indiretamente diferentes segmentos – economia,
política, cultura, meio ambiente, etc – que se expressam desde a preparação para a
viagem de um turista, perpassando pelo acesso e utilização da infraestrutura básica
e turística, que criam as condições necessárias para a consolidação dos melhores
tipos de serviços de acesso, acomodação, entretenimento, alimentação e, sobretudo,
os transportes, visto que estes são condição sine qua non para a realização de
deslocamentos (PELIZZER, 1978).
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Silva (2008) destaca que as evoluções do turismo e dos transportes estão


estreitamente atreladas, visto que o desenvolvimento dos transportes enquanto fator
facilitador de acesso, criador de novas rotas e promotor de mobilidade, oportunizou
a eclosão do turismo pelo mundo (MILL; MORRISON, 1985). Por este motivo, os
transportes podem ser conferidos como elementos de composição, iniciação, fluidez e
integração dos diferentes agentes componentes do produto e, sobretudo, do sistema
turístico, uma vez que este permite a ligação entre destinos e o acesso da demanda
turística aos produtos ou serviços de uma destinação (oferta).

Nesta direção, a OMT (1991 apud SILVA, 2008, p. 18), assinala que aos
transportes estão envoltos a pelo menos 7 (sete) componentes da oferta turística, são
eles: “Alojamento; Agências de Viagens e Turismo, Operadores e Guias de Turismo;
Alimentos (Restauração) e Bebidas; Transportes; Rent-a-cars; Serviços Culturais; e
Serviços de Lazer e Recreação”. Portanto, o setor de transportes, dentro do universo
turístico assume caráter essencial, tendo em vista que para além de promover
a acessibilidade, diminuir distâncias e tempo, este estabelece um maior acesso e
integração entre (destinações turísticas) cidades, regiões, países e continentes, o que
corrobora para uma maior e mais eficaz circulação de pessoas e mercadorias seja
na atividade turística ou em outros setores da economia. Poon (1993), nesta direção,
atribui a massificação da atividade em diversos lugares ao avanço tecnológico dos
transportes.

Nada obstante, a integração supracitada somente torna-se possível por existirem


diferentes meios de transportes. Cooper (et al, 2002), estabelece a existência de
quatro meios de transportes básicos, o rodoviário, aquático (hidroviário e marítimo),
aéreo e ferroviário, cada um assume seu papel de acordo com as particularidades
existente em cada viagem, como: aspectos do meio físico, a distância da localidade,
o tempo gasto na viagem, estrutura do meio de transporte que inclui comodidade e
segurança, além do preço e serviço ofertado, dentre outros (SILVA, 2008).

Cooper (et al, 2002), ao tratar de transportes, sinalizam a existência e a


importância da ciência e diferenciação dos elementos básicos que fazem compõe
o mundo dos transportes, são eles; a Via que consiste no meio físico – podendo ser
de natureza artificial (ferrovias e rodovias) ou natural (ar e água) – utilizado por um
determinado meio de transporte para a realização da viagem; A Unidade de Transporte
ou Modal: configura-se como o meio de transporte, o veículo propriamente utilizado; A
Força Motriz: é o componente utilizado para gerar movimento ao veículo, podendo ser
gerada naturalmente, por intermédio da força gerada pelo ser humano, pelos ventos,
etc.; ou artificialmente, com os motores de barcos, carros a vapor, entre outros; e o
Terminal: que é o espaço onde encontra-se o veículo que será utilizado na viagem,
sendo também uma conexão entre as diferentes vias e unidades de transportes ou
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modal.

No tocante do turismo, Silva (2008) pontua que estes componentes básicos


dos transportes, destacados por Cooper (et al, 2002), por si só não apresentam a
concepção clara do que de fato seriam os transportes turísticos. Deste modo, Palhares
(2003, p. 27) esclarece que o transporte turístico pode ser visualizado;

[...] como a atividade/meio que interliga a origem de uma viagem turística a


um determinado destino (e vice-versa), que interliga vários destinos turísticos
entre si (primários e secundários) ou o que faz com que os visitantes se
desloquem dentro de um mesmo destino primário ou secundário.

Tal discussão, somente reitera a essencialidade que os transportes têm durante a


implementação e desenvolvimento da atividade turística. Todavia, em hipótese alguma
se deve deixar de levar em consideração, durante o processo de planejamento do
turismo, o planejamento e o ordenamento dos transportes (e vice-versa), tendo em
vista que este tem influência marcante nos demais serviços urbanos de uma cidade,
que compõem também o produto turístico.
Nesta direção, Palhares (2003) assinala que é imprescindível que se tenha
o conhecimento claro e sistemático da importância dos transportes no turismo e do
turismo nos transportes, pois durante a fase de planejamento dos transportes, muitas
vezes se estabelece uma grande limitação, tendo em vista que os planejadores dessa
área geralmente levam em consideração única e exclusivamente suas necessidades.
Ademais, não se observa integração entre os diferentes segmentos, há pouca conexão
de informações, ações são parceladas e contraditórias, não verifica-se com frequência
um intercruzamento de contribuições, o que resulta em esforços fragmentados,
dispersos e frustrados em conjunto.
Acerca do que foi exposto, o planejamento dos transportes se trata de um
conjunto de ações que abordam a “estrutura de circulação (rodovias e ferrovias),
inclusive pontos de acesso e conexões, normalmente em horizontes médios e longos,
o que requer o uso de técnicas de previsão”, como caracterizado por Vasconcellos
(2000, p. 54). Logo, o planejamento fragmentado, em vez de contribuir com o turismo,
acaba estagnando e dificultando cada vez mais a plenitude da atividade.
Silva (2008, p. 18), neste sentido, elenca algumas de deficiências típicas do
planejamento dos transportes e do turismo no Brasil, em especial na Amazônia,
discorrendo que grande parte dos pontos de acesso somente se moderniza e
desenvolve-se quando o aumento dos fluxos turísticos, a demanda, já se constitui
enquanto uma realidade. Noutros termos, o autor explica que os intervenientes dos
terminais (gestores e operadores turísticos), não investem na realização de estudos
de monitoramento a fim de prognosticar e diagnosticar tendências, que servem como
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base para as discussões, planejamentos e ações emergências de prevenção ou


soluções. Silva (2008, p. 18) conclui sua análise dizendo que, “a política é reativa e
não pró-ativa” e que essas deficiências podem desencadear o decréscimo dos fluxos
turísticos e comprometer a experiência do turista.
Portanto, ao trabalhar o turismo, é necessário que o planejamento sempre esteja
articulado com os demais setores ou segmentos, devendo haver um intercruzamento,
uma transversalidade de informações/contribuições e participações no planejamento
das mais variadas áreas do conhecimento, bem como os inúmeros agentes que estão
e estarão envolvidos na execução das ações, uso e comercialização dos serviços de
forma direta ou indireta.

TRANSPORTES: BELÉM (PA) E SUAS ILHAS


Belém, popularmente conhecida como cidade das Mangueiras (pela abundância
de mangueiras em suas ruas) é a capital do estado do Pará. Também é denominada
de Cidade Morena, característica herdada da miscigenação do povo português com
os índios Tupinambás, nativos habitantes da região à época da sua formação.
Fundada em 16 de janeiro de 1616 pelo então Francisco Caldeira Branco,
possui uma população estimada em 1.425.922, segundo o último censo (INSTITUTO,
2010), e se constitui de um mesclado de cores e sabores, sendo também, considerada
como o Portal da Amazônia brasileira, devido à sua privilegiada posição geográfica.
Historicamente constituiu-se na principal via de entrada na região norte do Brasil.
A capital paraense tem sua história econômica marcada pelo tempo áureo
da borracha, no início do século XX, quando o município recebeu inúmeras famílias
europeias,  o que influenciou fortemente na arquitetura de suas edificações, ficando
conhecida como Paris N’América,  possuindo arquitetura barroca e neoclássica que
se contrasta com o estilo de vida cabocla.
Em Belém encontra-se a feira do Ver-o-Peso, com suas erveiras e produtos
típicos da fauna e flora amazônica, com frutas excêntricas e pescados que todos os
dias chegam com os ribeirinhos. Há também parques ambientais que despontam um
pouco da Amazônia, como é o caso do Museu Emilio Goeldi e o Bosque Rodrigues
Alves dentre outros.
Embora grande parte do município de Belém seja formada por ilhas, percebe-
se que a predominância no local é de transportes terrestres como: ônibus, carros
e motos, cuja frota vem aumentando significativamente ao longo dos anos, com
pouca importância dada aos meios de transportes fluviais, deixando as comunidades
ribeirinhas a mercê de um transporte digno, além disso, essa própria malha rodoviária
da Região Metropolitana de Belém, não vem acompanhando esse crescimento de
veículos, o que vem causando enormes transtornos para a sociedade envolvida.
Por encontrar-se no espaço amazônico, a cidade de Belém, é cercada
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e entrelaçada por rios, igarapés e muitas Ilhas (Figura 1). Segundo pesquisas,
anteriores, realizadas por Ferreira e Vaga (2008), a Lei do Município de Belém de
número 7.682/94, a cidade de Belém compreende 39 ilhas, encontram-se localizadas,
sobretudo, no Rio Guamá e Baía do Guajará.

FIGURA 1: MAPA DO MUNICÍPIO DE BELÉM

FONTE: ARQUIVO, PREFEITURA DE BELÉM, adaptado pelos autores (2014).

Estas ilhas são locais onde residem as populações tradicionais, que apesar da
separação pelo rio, possuem uma relação estreita e direta com a população do centro
de Belém, tendo em vista que grande parte dos gêneros alimentícios são retirados
do interior dessas ilhas e transportados pelos ribeirinhos em pequenas embarcações
para a urbe, além destes utilizarem muitos dos serviços presentes exclusivamente no
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centro da cidade.

Por este motivo, os principais modais de transportes característicos da cidade,


são: o rodoviário, que nos últimos anos, devido o crescimento descomunal da Região
Metropolitana de Belém, tem sido fator do alto estresse e caos urbano; e o transporte
hidroviário, que vem sendo deixado de lado, não apresentando estrutura, segurança
e fiscalização adequadas, nem mesmo grandes investimentos, pois o este modal,
basicamente, só é explorado pela pequena população ribeirinha.

Diante deste prisma, autores como a Ferreira e Vaga (2008, p.3) assinalam
que:
Demos a costa para o rio e com isso esquecemos de uma população que faz
parte de Belém e que está excluída da vida urbana e de todo o serviço oferecido
na cidade (saúde, educação, informação). Esta é uma realidade presente
principalmente nas ilhas Sul (cerca de 2000 hab) que fazem parte da RMB
(Combú, Murutucum, Maracujá, Ilhinha, Juçara, Papagaio e Ilha Grande).
São lugares em que pulsam modos de vida que diferem significativamente
do padrão caracterizado como urbano. Lugares espacialmente próximos da
metrópole e ao mesmo tempo tão longe de seu estilo de vida.

No entanto, por esses locais serem singulares e representarem o universo amazônico,


tendo um diferencial paisagístico natural e cultural que a cidade de Belém vem perdendo
com a inserção de novas tecnologias no espaço, têm sido alvo de visitas frequentes
de turistas e até mesmo da população local, que sente saudades dos tempos e status
caboclo-ribeirinho que a cidade possuía.
Com o caos que o trânsito da cidade tem passado, pesquisadores e sociedade
civil têm visto o rio com um enorme potencial de transporte de passageiros e
mercadorias, sendo apontado como a solução do caótico trânsito do centro de Belém.

ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) – ILHA DO COMBÚ


O Combú é uma Ilha que faz parte do Município de Belém do Pará, ficando
localizada à 1,5 quilômetro ao sul da cidade. Apresenta uma área de aproximadamente
15 (quinze) quilômetros quadrados. Estando situada entre as coordenadas
cartográficas: 01°29’20″ (extremo norte), 01°31’11″ (extremo sul), 48°29’34″ (extremo
oeste), e 48°25’54″ (extremo leste) (PARÁ, 1997).

A Ilha do Combú, por meio da lei estadual de nº 6083, em 13 de novembro de


1997, ganhou o status de Unidade de Conservação – UC, sendo classificada como Área
de Proteção Ambiental (APA), por apresentar uma diversa e peculiar biodiversidade
da flora e fauna amazônica. Atualmente é administrada e fiscalizada pela Secretaria
de Estado de Meio Ambiente/SEMA do Pará.

De acordo com o artigo 15, da lei nº 9.985/2000, APA consiste em:


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[...] uma área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana,
dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente
importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas,
e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o
processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos
naturais.

Neste sentido, com base neste artigo 15 e na lei de criação da APA da Ilha
do Combú, são vedadas ou restringidas quaisquer criações ou funcionamento de
empresas que possam causar a poluição, contaminação ou perda da flora e fauna.
Porém, a APA pode ser utilizada por instrumentos que visem conservar e promover
a importância do uso racional de seus recursos naturais, evitando a degradação
ambiental e o comprometimento da qualidade de vida da população local (PARÁ,
1997).
Sua população residente constitui a denominada comunidade ribeirinha,
por morar às margens do rio Guamá, tendo na pesca, cultivo, coleta e extração de
gêneros alimentícios a base de sua subsistência, bem como fonte de renda. A beleza
e a biodiversidade amazônica, somadas ao bucolismo e peculiaridade da Ilha, têm
atraído visitantes de diversos locais do Estado, do Brasil, e, sobretudo, da própria
Região Metropolitana de Belém. Afinal, ir ao Combú para tomar aquele banho de rio,
principalmente, em períodos que registram altas temperaturas, é um dos programas
prediletos de alguns paraenses.
No entanto, não são somente o banho de rio e a beleza natural, os grandes
diferenciais da Ilha do Combú, esta possui diferentes restaurantes, entre eles o
“Saldosa Maloca”, que apresenta cardápios variados, geralmente formados por
gêneros alimentos típicos da região amazônica, como: o açaí, a farinha, os peixes:
pescada e filhote, entre outros, sempre acompanhados dos tradicionais: feijão, arroz,
vinagrete e farofa.

FIGURA 2: LOCALIZAÇÃO - PORTO E RESTAURANTE SALDOSA MALOCA NA


ILHA DO COMBÚ
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Fonte: ARQUIVO, Restaurante Saldosa Maloca, 2014.

Além disso, alguns restaurantes possuem áreas de lazer, trilhas ecológicas


lojas com produtos artesanais confeccionados pelos moradores da própria Ilha e
serviços de internet, que com o uso de aplicativos para celulares, acabam facilitando
ainda mais o pedido de pratos. Em períodos de alta temporada, em média, segundo
a administradora do Restaurante Saldosa Maloca, o restaurante chega a atender 700
pessoas, por final de semana (G1 PARÁ, 2013).

Para chegar a Ilha, existem alguns portos de embarque, porém o mais utilizado
situa-se na Praça Princesa Isabel, que fica na Avenida Bernardo Sayão com a Avenida
Alcindo Cacela, no bairro da Condor. A travessia de Belém para o Combú, custa R$ 4,00,
com duração de cerca de 15 (quinze) minutos, e, é feita por embarcações, conhecidas
como “pô-pô-pô”, este nome, faz referência ao barulho propagado pelos seus motores
durante a viagem.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Utilizando como base para a construção dos conhecimentos contidos neste


trabalho, através de análises críticas, associações, correlações entre teoria e prática,
acontecimentos que estão envoltos a problemática pesquisada e na aplicação dos
questionários, tratados em sua maior parte, pelo uso da Escala Likert, este estudo
serviu para descortinar vários questionamentos que foram postos de acordo com a
problemática e com as justificativas desta pesquisa.
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Diante deste prisma, durante a análise de 50 (cinquenta) questionários


aplicados com perguntas abertas e fechadas, nos dias 16 (dezesseis) e 18 (dezoito)
de dezembro de 2013, foi realizada em um primeiro momento, a qualificação dos
sujeitos que fizeram parte da amostra coletada, revelando coeficientes de sexo, idade,
escolaridade e etc.

Em um segundo momento, foram levantados dados referentes às condições


estruturais dos meios de transportes e dos principais pontos de embarque, nesse
caso, o porto localizado na Praça Princesa Isabel no bairro da Condor em Belém
do Pará e desembarque na Ilha do Combú, o Restaurante Saldosa Maloca, um dos
principais e mais conhecido restaurante da Ilha.

O tratamento dos dados, como outrora mencionado, foi realizado com base na
Escala Likert, que segundo Malhotra (2001), consiste uma escala psicométrica, muito
utilizada na abordagem quantitativa, por permitir identificar o nível de concordância
ou discordância a partir de uma afirmação dada, por meio de uma escala que varia
de 1 a 5 pontos. Através do cálculo das médias das respostas dos entrevistados, que
foram trabalhadas da seguinte maneira: 1 = Discordo totalmente, 2 = Discordo, 3 =
Não soube responder, 4 = Concordo e 5 = Concordo totalmente, se pôde evidenciar
a opinião do participante da pesquisa, acerca do que foi questionado. Os valores
das médias mais baixas, informaram maior discordância com o que foi perguntado e
os valores das médias mais altas apontaram maior concordância com a afirmação.
Assim, foi possível descortinar algumas características dos transportes para/na Ilha
do Combú – Belém Pará, além de sua correlação com o bom andamento da oferta de
serviços turísticos na ilha, que serão apresentadas ao longo do trabalho.

Dentre os 50 (cinquenta) entrevistados na pesquisa, 29 eram do sexo masculino


e 21 do sexo feminino, onde 12 possuíam até 20 anos, 11 até 25 anos, 10 até 30 anos,
5 até 35 anos, 2 até 40 anos, 8 até 45 anos, 2 a partir de 46 anos. Destes 60% moram
em Belém, 26% residem em outros municípios do Estado do Pará e apenas 14%
derivam de outros Estados do País.

No que se refere à análise estrutura dos Terminais de integração e dos meios


de transportes, após o tratamento dos dados, por meio da técnica da Escala Likert se
pôde obter os seguintes resultados, como mostra o gráfico 1, abaixo.

GRÁFICO 1: RESULTADOS DE ACORDO COM A ESCALA LIKERT


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As médias dos dados revelam que, os participantes da pesquisa não consideram


adequada a infraestrutura do Porto da Praça Princesa Isabel, em virtude da falta
de segurança, acessibilidade, posto de informações acerca da Ilha e dos horários
para saída dos barcos, de não existência um ponto de espera adequado e devido
à edificação apresentar alguns problemas de estrutura expressivamente sérios, que
podem por em risco a vida de passageiros, como podem ser observados nos registros
fotográficos (3) a seguir.

FIGURA 3: PORTO DE EMBARQUE E DESEMBARQUE


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No que concerne aos meios de transporte utilizados para o trajeto até a Ilha,
as médias das respostas obtidas nos questionários, concordam que a quantidade
de embarcações disponíveis é suficiente para atender a demanda de passageiros.
Apesar das médias apontarem a concordância de que o número de passageiros dentro
das embarcações utilizadas está de acordo com o que é permito. Os entrevistados
discordam ainda que estes possuam segurança para evitar acidentes no decorrer da
viagem.

Ao abordar-se a infraestrutura de desembarque na Ilha, no caso especifico do


Restaurante utilizado como área de estudo, as médias das respostas dos entrevistados,
revelam que estes discordam desta ser adequada. Lembrando que, existem vários
pontos para o embarque/desembarque na ilha, – cada restaurante oferece um local
para embarque e desembarque de clientes – mesmo assim, observou-se que além do
locus pesquisado, os demais não transparecem uma boa estrutura, visto que itens,
como acessibilidade e segurança aos seus visitantes são precários ainda.

Sobre os responsáveis pelo transporte utilizado transmitem confiança e serem


devidamente qualificados para a função de pilotar a embarcação, observou-se que,
apesar de terem um vasto conhecimento sobre a embarcação e o movimento dos
rios, estes não passam confiança e não são qualificados para atender os passageiros.
Dessa forma, a expressiva maioria dos participantes da pesquisa, concorda que é
necessária a oferta constante de treinamentos e capacitação dos responsáveis pelos
transportes utilizados na travessia.

Ainda sobre os responsáveis pelo transporte, acerca dos serviços de informa-


ções eficientes como: itinerários, horários de saída e chegada, os entrevistados cor-
roboraram que não estão satisfeitos, por não existir um serviço de informações locais
eficiente, onde a maioria concorda que estes prestadores de serviço devem ser me-
lhor capacitados e treinados. Durante a travessia, um dos passageiros (participantes
da pesquisa), chamou atenção para o modo como o senhor pilotava o barco: “Olhem
só. Ele está pilotando o barco com os pés, isso não passa confiança alguma para o
turista, meninos”. Como mostra a figura 4 abaixo:

FIGURA 4: RESPONSÁVEL PELO TRANSPORTE MANOBRANDO COM O PÉ


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Nas perguntas abertas, ficou mais evidente que a infraestrutura básica tanto
dos portos quanto das embarcações deixam a desejar, os aspectos mais precários
são: segurança, acessibilidade e comodidade. A condição estrutural dos portos
e barcos foi considerada precária, a (falta de) segurança e acessibilidade dos/nos
portos e nas embarcações são apontadas como um dos principais pontos negativos
do deslocamento realizado.

O porto localizado na Praça Princesa Izabel é completamente desamparado


pelas autoridades governamentais, servindo de abrigo e/ou refúgio para pedintes,
usuários de drogas e infratores e não possuindo também, um ponto de informações
sobre os horários de saídas e chegadas. Por este motivo, expressiva maioria dos
entrevistados dá preferência à utilização de carros de passeios próprios ou taxis para
chegar ao porto da Praça Princesa Isabel, preferindo ficar dentro dos automóveis
até o momento de saído do barco, uma vez que o porto não oferece segurança. As
embarcações, por sua vez, são pequenas e, em grande parte não possuem utensílios
de segurança para todos os passageiros, como é o caso dos coletes salva-vidas. Nesta
direção, Boullón (2002, p. 58) salienta que a infraestrutura é de grande importância
para desenvolvimento da atividade turística, afinal, é complicado tornar o turismo
realidade em uma cidade, com infraestrutura deficiente.

Todas essas frustrações, evidentemente, são negativas para o atrativo,


isso porque o visitante vai compartilhar com outras pessoas sobre o ocorrido, sua
experiência que era um sonho e virou um pesadelo. Sem mencionar o uso das mídias
sociais para falar sobre isso, pois sabe-se que essas tomam dimensões gigantescas,
como se pôde evidenciar durante as pesquisas na internet para construção deste
trabalho ao encontrar-se um depoimento muito interessante sobre a visita de um
turista à Ilha do Combú. Em seu blog, Ohana (2011) discorre que,

[...] De manhã cedo fui ao cais do bairro Condor, local de partida da viagem.
Ao chegar, me surpreendi com o abandono do local: estacionamentos
irregulares, calçadas defasadas e ausência de seguranças. Procurei alguma
orientação turística, mas só encontrei um “flanelhinha” dando dicas sobre
a embarcação. Mesmo assim, a vista pitoresca do rio Guamá me fez ter
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esperança de um passeio inesquecível. Após esperar aproximadamente dez


minutos, embarquei no rústico navio “pô-pô-pô”. Garanti logo meu salva-vidas
por prevenção e aproveitei a viagem.[...] O turismo é essencial para nossa
região, porém, essas situações o distanciam de ser devidamente explorado.
Não adianta ter belezas naturais sem infraestrutura adequada para usufruí-
las.

Em consequência, muitas pessoas, sobretudo os turistas que não estão acostuma-


dos com tal realidade e a veem sendo manchada a partir das frustrações de outras
pessoas, deixam de visitar a ilha do Combú. No caso dos participantes da pesquisa –
maior parte (60%) mora em Belém – Mesmo não se sentindo seguros e acostumados
com este quadro, e continuam a consumir este serviço porque não terem outra opção
e, também, eles veem a à visita à ilha como um diferencial. Os serviços, a infraestru-
tura e a receptividade dos restaurantes são expressivamente satisfatórios, fazendo
com que, de certa forma, os problemas enfrentados no deslocamento até eles sejam
esquecidos, pelo menos até a volta.

Quando questionados sobre o que mais lhe atraem na Ilha, mesmo com todas
as dificuldades de acesso, os sujeitos da pesquisa apontaram: a gastronomia; a pos-
sibilidade de interação social; a hospitalidade dos prestadores de serviços dos restau-
rantes; a vegetação local; a paisagem para contemplação; os passeios de lancha; o
contato próximo com a natureza; a possibilidade de se coletar algumas frutas locais;
a comodidade; as trilhas e o percurso de barco, como os principais atrativos, motivos
de seus deslocamentos até aquele espaço.

Adentrando as discussões acerca do turismo enquanto prática econômico-so-


cial, percebe-se que na ilha do Combú em si, enquanto atrativo, é capaz de motivar
o deslocamento de diversos turistas ou clientes destes restaurantes em virtude do
que foi supracitado. Contudo, para os entrevistados, devido à falta de planejamento e
incentivos governamentais adequados, os meios de se chegar à ilha acabam se cons-
tituindo como um dos principais problemas para um melhor aproveitamento do público
interessado em conhecer/visitar e fomentar o turismo de base local no Combú, visto
que por os transportes e os portos utilizados não apresentam condições estruturais
deficientes, limitam certo números de pessoas de conhecer a Ilha, sobretudo pessoas
idosas e deficientes físicos.

Dentro das sugestões comentadas pelos entrevistados para o melhor


desenvolvimento da atividade turística na Ilha, destaca-se: a disposição de placas de
informação no porto; infraestrutura dos portos (área de embarque e desembarque) e
das embarcações; segurança; divulgação do local e dos restaurantes; estabelecimento
de horários nas saídas e chegadas das embarcações; melhora nos locais de banho
dentro da área dos restaurantes; coleta seletiva de lixo; cursos profissionalizantes
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para a população local; tratamento da água e melhor organização dos moradores


locais.

A partir destas sugestões e de acordo com os dados acerca da escolaridade


dos entrevistados, pode-se discorrer sobre aquilo que concerne ao grau de instrução
e conhecimento sobre a Ilha conseguir motivar o deslocamento de diversos turistas
em virtude da sua proximidade com a natureza e também com a área urbana, o que
facilita o seu acesso, e sabe-se que os principais consumidores desta modalidade
do turismo mais voltada para a contemplação e manutenção de uma naturalidade no
local visitado se tratam de turistas bem informados e sensibilizados com as questões
de sustentabilidade.

Observou-se durante a análise de sugestões que muitos dos entrevistados es-


tão cientes de algo já citado por Kliksberg (2003, p. 11):

As pessoas, as famílias, os grupos, são capital social e cultura por essên-


cia. São portadores de atitudes de cooperação, valores tradições, visões
da realidade, que são sua própria identidade. Se isso for ignorado, saltado,
deteriorado, importantes capacidades aplicáveis ao desenvolvimento estão
inutilizadas, e serão desatadas poderosas resistências. Se pelo contrário,
se reconhecer, explorar, valorizar e potencializar sua contribuição, pode ser
muito relevante e propiciar círculos virtuosos com as outras dimensões do
desenvolvimento.

Isto implica dizer que não basta ter um ótimo local para visitação se a pró-
pria comunidade local não é valorizada, uma vez que estes também se utilizam dos
transportes e são parte inerente da construção e consolidação da atividade turística
no local, além do fato desta parcela de indivíduos que mora na Ilha e trabalha com o
turismo não possuir apoio, no que tange a sua capacitação e profissionalização, capa-
zes de otimizar cada vez mais sua plenitude dentro da atividade turística no Combú.
A partir disto, o termo “facilita o acesso” utilizado para pontuar a proximidade da Ilha
com o ambiente urbano da metrópole que é Belém, acaba ganhando conotações dico-
tômicas pelo fato dos transportes utilizados para o deslocamento não acompanharem
o potencial de atração que é “natural” da ilha, em todos os sentidos.

A prefeitura de Belém, a fim de reverter algumas das problemáticas existentes


na cidade, tem criado inúmeras medidas, entre elas o Projeto BRT Centenário e o
Projeto dos Portos, este último visa construir 10 portos em Belém e algumas de suas
Ilhas. Estes projetos nascem com o intuito de concretizar a interligação rodofluvial
entre a capital e a sua área metropolitana, desafogando o transito rodoviário e dando
maiores e melhores condições de acesso as ilhas e outras regiões da cidade, já
atrelando estas iniciativas ao que discorre BRASIL (2006, p. 6):
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A relação direta entre presença de infraestrutura e sustentabilidade da


atividade turística pode ser identificada na capacidade de, simultaneamente,
“levar” um número crescente de visitantes a determinado local, “acomodá-
los” com qualidade, sem deixar de lado o equilíbrio intertemporal da atividade
turística, inclusive em seus aspectos socioambientais. Outra vez, a utilização
de um planejamento adequado e de um padrão de exploração turística
equilibrado em termos infraestruturas, além de auxiliar o crescimento da
economia local, pode prevenir o desgaste/esgotamento do próprio objeto do
turismo.

Agora resta esperar e saber se realmente esse projeto se concretizará, tendo


em vista que esta proposta de tornar a mobilidade de Belém rodofluvial é antiga, e o
projeto mencionado anteriormente é fruto da restruturação de um antigo projeto, que
sequer saiu do papel.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os transportes em Belém do Pará se tratam de uma questão emblemática,
primeiramente porque a mobilidade urbana da cidade encontra-se em um estado
calamitante e, segundo porque os rios, quando funcionam como vias de tráfego, não
possuem fiscalização, o que tem corroborado com inúmeros acidentes na região.

Dessa forma, a partir dos procedimentos metodológicos aplicados para tentar


responder a problemática proposta neste trabalho, que foi de saber qual a percepção
e avaliação do visitante sobre a infraestrutura dos meios transportes e dos terminais
de acesso a Ilha e quais as implicações no turismo de base local? Se evidenciou que a
avaliação do visitante é negativa, sentindo-se insatisfeito com a precária infraestrutura
que o principal terminal e as embarcações utilizadas no acesso a Ilha do Combú,
apresentam. Configurando-se como um forte empecilho no desenvolvimento e
melhoria da atividade turística de base local na Ilha.

No que se refere à Ilha do Combú, para os entrevistados a infraestrutura do


local de desembarque não é adequada, pois não apresenta itens como segurança e
acessibilidade aos passageiros, sobretudo a idosos e deficientes físicos. Porém a Ilha
se configura como um local perfeito para admirar mais de perto da natureza, onde se
é possível interagir e se divertir com os amigos e a família de forma sossegada, sem
preocupação com o trabalho ou estresse urbano (BENI, 1997).

Assim, fica clara que a condição dos meios de transportes, bem como dos
locais de embarque e desembarque não apresentam, segundo a população, uma boa
infraestrutura, pontos de informação, acessibilidade, segurança e comodidade, sendo
o porto de acesso a Ilha, locus foco deste estudo, considerado perigoso por parte
considerável dos entrevistados, pois em alguns períodos do dia serve de abrigo para
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pessoas com problemas com drogas e para meliantes.

Destarte, para a minimização desta problemática estudada, se faz necessário


um maior planejamento por parte do poder público, sendo indispensável a participação
da comunidade local, para que se possa oferecer ao visitante ambientes bem
equipados, seguros, que promovam e sanem suas exigências e necessidades.
Deixando margem para que um número maior de pessoas possa está visitando a Ilha
e, consequentemente, gerando renda para a comunidade local. No entanto, deve ser
tudo muito bem pensado e planejado para não comprometer a capacidade de carga
da ilha e impactar seus recursos naturais.

REFERÊNCIAS

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Coleção turismo. Campinas, São Paulo: Papirus, 1995.

BENI, M. C. Analise estrutural do turismo. São Paulo: Editora Senac, 1997.

BOULLÓN, R. C. Planejamento do espaço turístico. Tradução: Josely Vianna


Baptista. Bauru/SP: Edusc, 2002.

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Conservação. institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
e dá outras providências. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, DF. 2006

______, Ministério do turismo. Estudos de competitividade do turismo brasileiro.


Infra-estrutura. Brasilia, 2006.

COSTA, A. C. J. et al. A importância do (re) conhecimento dos atrativos turísticos


no sucesso da atividade turística em Belém do Pará. In: 8º Congresso Brasileiro
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FERREIRA, R. C. B.; VAGA, L. E. A. O Espaço Dividido: O Caso do Transporte


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Internacional - Amazônia e Fronteiras do Conhecimento NAEA - Núcleo de Altos
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G1 PARÁ. Paraenses aproveitam a natureza e a tranquilidade na Ilha do Combú,


2013. Disponível em: < http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/06/paraenses-
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2014.
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Acolhida da Serra: Responsabilidade turística e social na mesa do consumidor brasileiro

Juliana Aparecida dos Santos


Eduardo Mielke

RESUMO:

Iniciado em Abril de 2012, o Projeto Acolhida da Serra surge como uma saída aos atuais
problemas encontrados no cenário do turismo rural brasileiro, como êxodo rural e a crescente
substituição de atividades tradicionais do campo pela atividade turística. Busca-se impulsionar
o desenvolvimento da agricultura orgânica a partir da certeza de venda desses produtos à rede
de hospedagem e restauração, o que colabora diretamente com a prosperidade do morador rural
e faz com que a continuidade de suas atividades no campo tornem-se a principal engrenagem à
sua inserção na atividade turística local, processo que ocorre de forma mais branda e responsável.

A metodologia utilizada baseou-se em diagnósticos realizados primeiramente no


município de Teresópolis, onde pôde-se observar a crescente procura de produtos orgânicos por
estabelecimentos como restaurantes, hotéis e pousadas do município, e posteriormente a análise
da quantidade suficiente de produtores para atender a essa demanda, o que não ocorria até então
pela falta de organização entre eles, impactando diretamente no preço e quantidade de produtos
ofertados. Através de uma seleção de produtores devidamente certificados e comprometidos
com a produção orgânica iniciou-se a entrega porta a porta dos produtos.

Como resultados obtidos podemos destacar a crescente organização de produtores


rurais certificados produzindo e entregando semanalmente seus produtos em hotéis, pousadas,
albergues e restaurantes de Teresópolis, cerca de 20 estabelecimentos inseridos no projeto,
o incentivo e ampliação da divulgação à importância da alimentação orgânica, a inserção
responsável de produtores rurais à atividade turística através da introdução de seus produtos
nos equipamentos turísticos do município e posteriormente com o colha e pague nas suas
propriedades rurais, com possibilidade de hospedagem e a ampliação do Projeto Acolhida para
o Rio de Janeiro em 2014.
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Acredita-se que com o planejamento específico e cautela, estamos elaborando um


projeto que engloba as características fundamentais para suscitar um modelo inovador que sirva
como exemplo nacional, mas que, principalmente leve uma alternativa de renda aos moradores
rurais e colabore diretamente com sua melhoria de vida. Indispensável também evidenciar
a importância do incentivo à alimentação orgânica, conseguindo levar esses produtos até a
mesa do consumidor, contribuindo com uma nova ideologia baseada no consumo de alimentos
saudáveis que colaboram diretamente com a saúde de quem os consome, tal como com quem
os produz, sendo um plantio menos nocivo ao meio ambiente e aos trabalhadores responsáveis
pelo seu manejo.

PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade turística. Turismo rural. Alimentação orgânica

ABSTRACT / RESUMEN:

Started in April 2012, the Acolhida da Serra Project appears as an output to the current
problems encountered in the scenario of the Brazilian rural tourism as rural exodus and the
increasing replacement of traditional activities by tourism. Seeks to promote the development of
organic agriculture from the sale of these products make sure the hosting and network restoration,
which contributes directly to the prosperity of rural residents and makes the continuity of its
activities in the field to become the main gear for their insertion in the local tourism industry, a
process that occurs in a milder and responsibly.

The methodology used was based on diagnoses made ​​primarily in the city of Teresopolis,
where we could observe the growing demand for organic products by establishments such as
restaurants, hotels and inns in the city, and then the analysis of enough producers to meet
this demand, which has not happened so far by the lack of organization among them, directly
impacting on the price and quantity of products offered. Through a selection of producers duly
certified and committed to organic production began to door to door delivery of products.

As results we highlight the growing organization of certified farmers producing and


delivering your products weekly in hotels, guesthouses, hostels and restaurants of Teresopolis,
about 20 stores inserted in the project, encouraging and expanding the dissemination of the
importance of organic food, insertion of responsible farmers to tourism by introducing their
products in the tourist facilities of the municipality and later with the harvest and pay on their
farms, with the possibility of hosting and the expansion of the Safe Haven Project for Rio de
Janeiro in 2014.

It is believed that with the specific planning and caution, we are developing a project that
encompasses the fundamental characteristics to elicit an innovative model that serves as a national
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example, but that mainly take an alternative income to rural residents and collaborate directly
with their improvement lifetime. Indispensable also stresses the importance of encouraging
organic food, getting to take these products to the consumer’s table, we will be contributing to a
new ideology based on the consumption of healthy foods that contribute directly to the health of
those who consume them, as with those who produce and is less damaging to the environment
and planting workers responsible for their management.

KEYWORDS / PALABRAS-CLAVES:

Tourist responsibility. Rural tourism. Organic food


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TURISMO PRA QUEM? CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TURISMO


DESENVOLVIDO NA COMUNIDADE BARRA GRANDE, MUNICÍPIO DE
CAJUEIRO DA PRAIA - PI

José Maria Alves da Cunha1


Inês de Carvalho Mélo2
Heidi Gracielle Kanitz3

RESUMO: Os aspectos do turismo globalizado e a exclusão social são os temas


que regem a produção desse trabalho, que tem como objetivo principal analisar o
desenvolvimento do turismo na comunidade Barra Grande. Além disso, entender
como este modelo de turismo impacta a população autóctone, visando identificá-lo
como positivo e/ou negativo. Por fim, sugerir formas mais brandas de desenvolver
a atividade turística na localidade. A metodologia empregada consiste no contato
direto através da pesquisa de campo quantitativa-descritiva e bibliográfica, soma-se
a isso a observação simples. A pesquisa revelou múltiplos problemas perpassados
pelos nativos em virtude do modelo de turismo global praticado no local, afetando a
qualidade de vida dos moradores, provocado em parte pela exclusão social. Assim, a
comunidade necessita de melhores condições que poderiam ser proporcionadas com
o desenvolvimento do turismo comunitário, que na sua essência tem os residentes
como gestores da atividade turística realizada no local.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Efeitos do Turismo. Inclusão Social. Turismo


Comunitário.

ABSTRACT: The features of a globalized tourism and social exclusion are the
themes that led the production of the present paper, whose objective is to analyze the
development of tourism in Barra Grande, besides understanding how this model of
tourism brings impact to the inhabitants who can consider it positive and/or negative.
In the end, we suggest milder ways to develop the touristic activity in the area. The
methodology applied encompasses the direct contact through quantitative, descriptive
and bibliographical field research. The research revealed multiple problems experienced
by the native people due to the model of global tourism practiced in the area, which
affects the life quality of inhabitants and is mostly done by social exclusion. Thus, the
community needs better conditions that could be achieved with the development of
community-based tourism that in its essence has the inhabitants as managers of the
touristic activity performed in the area.

KEY WORDS: Tourism. Effects of Tourism. Social Inclusion. Community-based


Tourism.
1 Graduando em Turismo pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Vice-Presidente da
Associação de Turismólogos da Rota das Emoções (ATRE). E-mail: jmacunha1@hotmail.com
2 Graduanda em Turismo pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: ines.ufpi@hotmail.
com
3 Graduada em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) [2005].
Mestra em Administração pela mesma instituição (2010). Docente efetiva do curso de Turismo
da Universidade Federal do Piauí (UFPI) desde 2011. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas
Interdisciplinar em Turismo (EITUR). E-mail: heidikanitz@ufpi.edu.br
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INTRODUÇÃO

O turismo é uma atividade do campo das ciências sociais e econômicas que


nos últimos anos vem ganhando destaque devido ao seu elevado poder de geração
de emprego e renda e também de proporcionar o desenvolvimento de muitas regiões
no mundo. Em face disso, Moesch (2000) aponta que essa característica é motivo de
diversas pesquisas, estudos e análises sob os mais variados aspectos.

A partir dos anos 1960 o mundo passa por um processo de globalização,


incorporando uma série de bens e serviços à população mundial, um deles é o turismo
(TRIGO, 2000). Atualmente, esse tipo de turismo gera dúvidas e incertezas quanto à
sua realização, pois em regiões de costumes e modos ainda tradicionais introduz e
impõe a sua cultura em detrimento da existente, iniciando um processo de aculturação
do espaço.

Neste sentido, surge a proposta desse trabalho que é analisar os efeitos


provocados pela atividade turística desenvolvida na comunidade Barra Grande,
município de Cajueiro da Praia, Piauí. O trabalho faz parte dos estudos e pesquisas
relacionados ao Programa de Educação Tutorial (PET) – Turismo, da Universidade
Federal do Piauí (UFPI) - Campus Ministro Reis Velloso -, Parnaíba. O PET Turismo
desenvolve o projeto “Ecoturismo de Base Comunitária na APA Delta do Parnaíba”,
concentrando suas ações nos 10 municípios que compõem a Área de Proteção
Ambiental (APA) Delta do Parnaíba, Unidade de Conservação (UC) localizada entre
os estados do Maranhão e Piauí, com influência também no estado do Ceará.

Para a produção do trabalho, foi realizada a pesquisa de campo quantitativa e,


também, a observação simples, embora em toda a extensão do trabalho a pesquisa
bibliográfica deu base à produção dos resultados e discussão dos temas, sendo
complementado com a verificação em sites da Internet especializados em turismo e,
por meio de revistas da área, fornecendo material suficiente à execução do trabalho.
A princípio, estes métodos são utilizados como pré-teste, onde posteriormente será
realizada nova pesquisa a fim de dar mais sustentação aos dados obtidos, colocando
ênfase à parte de extensão empreendida pelo grupo de pesquisadores do PET –
Turismo.

A essa pesquisa foi estabelecido o contato direto, que é uma forma básica de
conceber dados a fim de estabelecer um diagnóstico sobre uma determinada situação
investigada, esse contato pode ser feito a partir da aplicação de questionários (GIL,
2008). O método quantitativo-descritivo sobre os estudos de descrição de população
tem como “[...] função primordial, a exata descrição de certas características
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quantitativas de populações como um todo, organizações ou outras coletividades


específicas” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 187). Na sua execução, “Geralmente
contêm um grande número de variáveis e utilizam técnicas de amostragem para que
apresentem caráter interpretativo” (ibid, 2003, p. 187). Ainda segundo Gil (2008, p.
101), a utilização da observação simples é vista como uma importante fonte de coleta
de dados, pois segue “[...] um processo de análise e interpretação, o que lhe confere
a sistematização e o controle requeridos dos procedimentos científicos”.

Dessa forma, foi empreendida a pesquisa de campo na comunidade Barra


Grande, abrangendo indivíduos do gênero masculino e feminino, com idade a partir
dos 16 anos. Com isso, foi elaborado um questionário com 17 perguntas fechadas, os
quais foram aplicados na manhã do dia 26 de janeiro de 2014 – domingo -, visando
encontrar o maior número de moradores em suas casas. Ao todo foram aplicados 50
questionários, onde os dados coletados foram consolidados e organizados através do
software SPSS (Statistical Package for the Social Scienses) versão 20.

A observação simples se deu pelo enfoque e olhar dos estudantes/pesquisadores


de Turismo, colocando em pauta as implicações causadas pela atividade sobre o
local observado. Nesta empreitada, a comunidade Barra Grande foi analisada sobre
diversos pontos de vista, os quais foram identificadas as relações sociais dos visitantes
e visitados e como esse relacionamento interfere no modo de vida e funcionamento
da comunidade supracitada, perfazendo parte do que fora necessário para a técnica
de observação proposta pelo trabalho. Esta se deu simultaneamente à pesquisa de
campo junto com a aplicação dos questionários, onde eram anotadas as ponderações
necessárias à aplicabilidade junto à execução do trabalho.

Na revisão da bibliografia, foram utilizados obras de autores renomados no


turismo, como: Beni (2003), Coriolano (1998; 2007; 2009), Ruschmann (2001), dentre
outros, os quais dão consistência e fluidez à produção do trabalho.

CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DA ÁREA DE ESTUDO

O litoral do estado do Piauí detém a menor faixa litorânea do Brasil, são apenas
66 quilômetros de extensão divididos entre quatro municípios, a saber: Ilha Grande,
Parnaíba, Luís Correia e Cajueiro da Praia. Neles são encontradas diversidades
da fauna e flora local, evidenciado pelo Delta do Parnaíba e por praias dos mais
diferentes aspectos, como a Pedra do Sal em Parnaíba e Barra Grande, em Cajueiro
da Praia. Esta última possui características intrínsecas, ao todo são em média 300
dias de exposição solar ao ano, acompanhados por ventos fortes e constantes, que ao
combinar com a temperatura morna da água favorece a prática de esportes radicais e
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o turismo de sol e praia (LAGO, 2014).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Piauí possui


número populacional equivalente a 3.118.360 habitantes (2010) e sua economia
é voltada, principalmente, à produção agrícola, pecuária, comércio e ao setor de
serviços, embora tenha atraído indústrias nos últimos anos, estas não aparecem como
de relevância e destaque à economia piauiense (IBGE, 2014a).

Ao norte do estado, como já mencionado, está localizado o município de Cajueiro


da Praia, pertencente a “[...] microrregião do Litoral Piauiense, compreendendo uma
área de 281,75 km², tendo como limites ao norte o oceano Atlântico, ao sul o município
de Luís Correia, a leste o estado do Ceará, e a oeste Luís Correia” (AGUIAR; GOMES,
2004, p. 2).

A supracitada urbe surgiu a partir do “[...] desmembramento de 281,75 km²


do território do município de Luís Correia, por meio do Decreto nº. 4.810 de 27 de
dezembro de 2005” (MACEDO, 2011, p. 82). O IBGE (2014b) estimou em 7.375 o
número populacional do município para o ano de 2013.

O setor de serviços abrange 70,9% da economia cajueirense, seguido pela


agricultura com 15,25% e, em terceiro lugar, indústria representando 13,85% do
faturamento do Produto Interno Bruto (PIB) do município no ano de 2013. (IBGE,
2014c). O terceiro setor da economia é aguçado, substancialmente, pelo turismo, o
qual está em sua maior parte concentrado na comunidade Barra Grande, conhecido
destino internacional que recebe turistas de todo o mundo o ano inteiro (LAGO, 2014),
atraídos pela singularidade e simplicidade do povo local, tais aspectos favorecem
o desenvolvimento de segmentos turísticos pouco degradantes, como o turismo
comunitário, como sugere o trabalho de Coriolano et al (2009).

Segundo dados retirados do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil


(ADHB), o município de Cajueiro da Praia ocupa a 5.253º posição entre os 5.565
municípios do Brasil. Neste mesmo cenário, o Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM) é 0,546. Esta avaliação coloca o município na incômoda faixa de
“Desenvolvimento Humano Baixo” (classificação que vai de 0,5 a 0,599), assim sendo,
somente 312 cidades em todo o país possuem índices piores que os encontrados em
Cajueiro da Praia. Porém, ao comparar os dados atuais com os obtidos nos anos
1991 e 2000, verifica-se um aumento considerável, pois à época eram 0,167 e 0,365,
respectivamente. De acordo com os mesmos dados do ADHB (2014), o motivo desse
aumento está relacionado em função da geração de emprego e renda - em parte pelo
turismo – e melhoria no setor da saúde e educação.
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No ano de 2009, o Ministério do Turismo (MTUR), através do Projeto Roteiros


do Brasil, criou no Piauí sete regiões turísticas zoneadas, chamadas de Polos de
Desenvolvimento Turístico, os quais possuem diferentes motivações e níveis de
desenvolvimento da atividade, além da oferta de bens e serviços diferenciados, são
eles: Polo Costa do Delta, Polo das Águas, Polo Teresina, Polo Histórico-cultural,
Polo Aventura e Mistério, Polo das Origens e, Polo das Nascentes. Cada um com sua
característica e com objetivos em comum: mostrar e desenvolver o potencial turístico
piauiense (SEBRAE/PI, 2012).

A cidade de Cajueiro da Praia pertence ao Polo Costa do Delta, o qual no ano


de 2005 foi integrado à Rota das Emoções - roteiro turístico executado pelos estados
do Ceará, Piauí e Maranhão -, com o objetivo de desenvolver produtos e roteiros nos
destinos: Jericoacoara (CE), Delta do Parnaíba (PI) e Lençóis Maranhenses (MA).
Também em 2009, a Rota das Emoções conquistou o “Troféu Roteiros do Brasil” do
Ministério do Turismo, concorrendo com mais de 90 outros destinos nacionais na
categoria “Roteiro Turístico”. Para Carvalho (2010), isso acontece e é resultado dos
investimentos públicos e privados alocados aos municípios que compõem a Rota das
Emoções nos últimos anos.

Geograficamente, parte do município de Cajueiro da Praia encontra-se


localizado dentro da APA Delta do Parnaíba. Assim, são identificadas três grandes
potencialidades para o fomento e desenvolvimento do turismo na região: Polo Costa
do Delta, Rota das Emoções, APA Delta do Parnaíba. Os efeitos dessa magnitude
turística são percebidos pela população nativa, pois em contato direto, muitos relatam
que a visibilidade do município devido à Rota das Emoções possibilitou a vinda de
muitos turistas, fazendo movimentar a economia local. Todavia, alguns aspectos
negativos surgiram, os quais serão discutidos no decorrer do trabalho (PESQUISA
DIRETA, 2014).

Barra Grande é uma comunidade tradicional de costumes e práticas sociais


relativamente simples. Os nativos vivem da pesca, da agricultura familiar, do comércio
informal e, mais recentemente, do turismo (PESQUISA DIRETA, 2014). A pesquisa
de Ferreira (2012b) mostra a demasiada oferta de pousadas, bares e restaurantes,
sendo fácil perceber o intenso fluxo de turistas - muitos deles estrangeiros -, embora
a infraestrutura para recebê-los seja deficiente. Coriolano et al (2009) e Krippendorf
(2001) chamam atenção o fato da padronização dos espaços e dos equipamentos
turísticos, compactuando com o turismo globalizado, modelo comumente utilizado em
vários destinos turísticos consolidados, criticados pelos impactos negativos gerados
ao meio ambiente e à sociedade nativa.
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Segundo relatório do Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB), órgão


vinculado à Secretaria Municipal de Saúde de Cajueiro da Praia, na Barra Grande
é contabilizada uma população de 2.736 indivíduos (2013), algo em torno de 37%
da população total do município. Não há dados para efeito de comparação, mas os
moradores relatam que nos últimos anos aumentou consideravelmente o número de
“forasteiros” em virtude do crescimento do turismo na localidade, motivados, quase
sempre, pelas perspectivas de acesso a emprego e renda, principal benefício do
turismo identificado na região (PESQUISA DIRETA, 2014).

Neste viés, o estudo antropológico de Ferreira (2012a) destaca o “descobrimento”


de Barra Grande sendo, até mesmo, “inventada” para o turismo, numa construção
impensada dos suscetíveis impactos que a comunidade sofreria com o ápice do
turismo. Esse discurso é recorrente e faz crer o inusitado: a comunidade não está
inserida nos planos do turismo globalizado, logo, a identidade do lugar tende a
desaparecer, perdendo um enorme potencial de atração turística no segmento do
turismo comunitário e/ou cultural.

É neste sentido que a própria Ferreira (2012a, p. 16), ao analisar o pensamento


do turismo como atividade econômica (evidenciando o aspecto capitalista) considera
que “o principal [pressuposto] era de que o turismo era o vilão e a vítima, por
consequência, a ‘comunidade local’”. “Ao governo, cabe dar subsídios à iniciativa
privada e, à comunidade, sofrer os efeitos dessa cruel associação” (ibid, 2012a, p. 16).
Dessa forma, a iniciativa privada manipula e domina o poder público e a comunidade,
sendo ela a única beneficiada pelo turismo em Barra Grande.

TURISMO: CONTEXTUALIZAÇÃO

Atualmente o turismo está se tornando cada vez mais rápido uma atividade
econômica capaz de impulsionar a geração de empregos, renda e o acréscimo de
receita para muitos países em desenvolvimento (OIT, 2011). Os números do setor são
surpreendentes, provando o quão oportuno é investir no turismo, visando não somente
o acúmulo de capital, mas a inclusão da sociedade no processo de desenvolvimento
da atividade turística. Segundo os dados da Organização Internacional do Trabalho
[OIT] (2011), estima-se que em 2010, o setor de turismo foi responsável por 9,3% do
PIB global, com investimentos estimados em 9,2%.

Neste cenário, ao se referir à cadeia produtiva do turismo, a geração de 01


emprego direto no setor faz gerar indiretamente 1,5 empregos relacionados à área.
Em 2010, o número de empregos contabilizados no setor chegou a 235 milhões,
o equivalente a 8% da totalidade global (diretos e indiretos), ou seja, a cada 12,3
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empregos gerados, um é na área de turismo (OIT, 2011). Estes números são resultados
do efeito multiplicador do turismo, tal qual é concebido através da multiplicidade da
função econômica no ambiente turístico receptivo e emissivo (CORIOLANO et al.,
2009; IGNARRA, 2001; KRIPPENDORF, 2001).

Para Cacho e Azevedo (2010), o turismo ganhou força como atividade


socioeconômica a partir da Revolução Industrial, esta marcada pelo aparecimento
de novas tecnologias e mudanças no processo de produção. Trigo (2000) argumenta
que a intensificação da atividade ocorreu com a sociedade pós-industrial a partir da
década de 1960, período em que ocorreram mudanças significativas no setor, como a
expansão do transporte aéreo, potencializando o turismo massivo mundial.

Vários são os autores que definem “turismo”, os quais utilizam abordagens


diferentes e de acordo com seus campos de pesquisa. Das muitas, Jafar Jafari (apud
IGNARRA, 2001, p. 24) apresenta uma com apreço holístico, para ele turismo “é o
estudo do homem longe de seu local de residência, da indústria que satisfaz suas
necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram sobre os ambientes
físico, econômico e sócio-cultural da área receptora”.

Utilizando-se de abordagem qualitativa, Robert McIntosh (1977 apud BENI,


2003, p. 34) diz que o “turismo pode ser definido com a ciência, a arte e a atividade de
atrair e transportar visitantes, alojá-los e cortesmente satisfazer suas necessidades e
desejos”.

Para Cabo (2007, p. 241), “El turismo es um fenómeno contemporâneo y de


naturaliza compleja, por ello constituye uma de las vertientes más usuales en la
actualidad por lo que representa desde el punto de vista económico, socyal y político”.

No viés econômico, Santos e Kadota (2012, p. 14) dizem que o “[...] turismo
pode ser entendido como elemento ativo da economia, gerando impactos sobre a
renda, o emprego e o bem-estar social de um país, região ou localidade”.

O pesquisador Fernando Meloni de Oliveira (2008) lembra que apesar da


diversidade de conceitos e definições, as várias áreas têm objetivos em comum:
analisar, entender, planejar e projetar o setor de turismo, visando estabelecer formas
mais brandas de desenvolvimento da atividade, embora na prática isso não ocorra
totalmente, haja vista o conglomerado de planos, programas e ações das mais diversas
naturezas existentes, mas que são afetados pela lógica capitalista-economicista, que
ao invés de incluir a sociedade no processo de turistificação, causa a sua exclusão,
além de outros efeitos negativos provenientes de execuções turísticas destinadas ao
turismo globalizado.
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Departamento de Turismo

Ao considerar que as destinações turísticas sofrem impactos advindos do


intenso fluxo de turistas, são necessárias medidas eficazes visando controlar o acesso
dos visitantes. Ruschmann (2001, p. 17) chama atenção para esse fato:

A questão fundamental que se coloca nesse caso é a premente necessidade


de controlar o crescimento quantitativo dos fluxos turísticos em todo o
mundo, uma vez que os ecossistemas sensíveis ficam irremediavelmente
comprometidos quando se ultrapassam os limites de sua capacidade de
carga.

Quando relacionamos ao objeto de estudo, maiores considerações devem


ser feitas. Barra Grande é conhecida não só pelo aspecto do turismo de sol e praia,
a comunidade é, também, conhecida por possuir um dos maiores ecossistemas
do litoral piauiense. Nos limites do seu espaço geográfico, além da praia que lhe
empresta o nome, existem muitos igarapés e mangues, utilizados à prática do turismo
pedagógico. Neste ambiente se pratica a Trilha do Cavalo Marinho, gerenciado pela
Associação de Condutores Nativos ECOTUR, grupo de condutores de visitantes
vinculados ao Instituto Tartarugas do Delta (ITD) e ao Projeto Biodiversidade Marinha
do Delta (BIOMADE), onde são empreendidas ações de conversação e preservação
em atividades ligadas à sustentabilidade, porém, com a intensificação do turismo e
do número de turistas, esse ambiente ecológico frágil pode vir a sofrer com a ação
antrópica, haja vista a sensibilidade dos cavalos marinhos e outras espécies, como o
caranguejo-uçá (BIOMADE, 2014).

Os impactos relacionados ao turismo estão, quase sempre, ligados à falta ou


ausência total de planejamento e de ações, implicando diretamente na qualidade da
destinação turística, como é observado em Barra Grande, onde o turismo se instalou
de cima para baixo, alterando a estrutura social, provocando questionamentos sobre
o futuro da atividade. Ruschmann (2001, p. 87) complementa:

Planejar e desenvolver os espaços e as atividades que atendam aos anseios


das populações locais e dos turistas constitui a meta dos poderes públicos que,
para implantá-los, vêem-se diante de dois objetivos conflitantes: o primeiro,
que é o de prover oportunidades e acesso às experiências recreacionais ao
maior número de pessoas possível, contrapõe-se ao segundo, de proteger
e evitar a descaracterização dos locais privilegiados pela natureza e do
patrimônio cultural das comunidades.

A professora Coriolano (1998) afirma que essa configuração global do turismo


transforma comunidades tradicionais em não-lugares, marcados pela ação humana
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em descaracterizar o ambiente natural e transformar espaços antes distintos, em


iguais aos olhos de quem os vê, como são percebidas as construções, os modelos
arquitetônico das edificações, as lojas de conveniência, dentre outros, que pouco a
pouco começa a tomar conta de Barra Grande, caracterizando-a como um produto do
turismo globalizado.

Neste arcabouço de informações relacionadas ao turismo, pensando


localmente, o trabalho do professor José Rui Oliveira (2005), pondera importantes
assertivas que lidam sobre o público turístico, sua interação, seus aspectos ambientais
e econômicos, numa visão excêntrica do turismo, base para sua sustentabilidade,
utópico para muitos. No trabalho, Oliveira (2005, p. 415) faz alguns questionamentos
pertinentes sobre o turismo elitizado/globalizado, sendo para ele um estilo de turismo
com relação: “cliente-funcionário”.

Então, que tipo de desenvolvimento social essa interação turista estrangeiro-


cidadão brasileiro proporciona? Não deveria fazer parte dos objetivos da
atividade turística o desenvolvimento sociocultural tanto daquele que visita
quanto do visitado? Não seriam essas trocas culturais também responsáveis
por estimular o progresso e o bom convívio entre os povos? Ou apenas os
aspectos financeiros são importantes para o país?

Enfim, são questionamentos válidos e que demonstram a necessidade de


mudança dos executores do turismo brasileiro enquanto agentes multiplicadores do
turismo, corroborando para o melhoramento da atividade.

Em tempos modernos, quem dita as regras é o poder do capitalismo. O turismo


também é afetado por esse modelo de produção excludente, visando lucros e,
consequentemente, iminentes perigos à sociedade. Sobre isso, Coriolano et al (2009,
p. 76) confirma: “O turismo é claramente uma mercadoria capitalista, movimenta os
fluxos humanos ou turísticos, transformando o real por meio de representações”.
Continua dizendo: “A cidade dos turistas não é a mesma dos residentes, revelando
as contradições da sociedade de consumo” (ibid, 2009, p. 76). Estas afirmações
reforçam o surgimento de facetas contraditórias do desenvolvimento do turismo em
comunidades tradicionais, trazendo impactos negativos diretos à sociedade e ao meio
ambiente, como: aumento dos preços, especulação imobiliária, elevação do custo de
vida, acúmulo de lixo, contaminação dos rios e mares, etc.

Assim, o referencial teórico apresenta aspectos relevantes ao estudo do turismo,


apontando os dados relacionados a produção da atividade no mundo, movimentando
algo em torno de 10% da economia e dos empregos globais. Faz menção às muitas
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definições de turismo, de acordo com a área e o viés do pesquisador/autor. Ao se


aproximar do objeto de estudo, a relação está na fundamentação teórica sobre
planejamento, desenvolvimento, impactos e outras vertentes do turismo, enfatizando
os efeitos do turismo globalizado sobre comunidades tradicionais, como o caso de
Barra Grande.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A pesquisa elencou aspectos relacionados à percepção dos moradores quanto


aos efeitos do turismo na localidade; fatores sociais relativos à moradia, renda,
ocupação, escolaridade e questionamentos holísticos sobre a atividade turística e
como a comunidade está sendo inserida, ou não.

Dessa forma, os indivíduos pesquisados do gênero masculino representam


44% da amostra, mostrando que a maioria ficou por conta do gênero feminino com
56%. A faixa etária de 25 a 39 anos concentra 49% dos pesquisados, de 16 a 24 anos
somam 8%, de idades entre 40 e 50 anos 21% e acima de 51 anos representando
22%, totalizando os 100% da pesquisa.

Os que possuem ensino fundamental somam 50%, com nível médio 22%,
superior 10% e os 18% restantes declararam ser analfabetos. Quando questionados
sobre a ocupação funcional, percebe-se que os moradores não estão sendo
aproveitados no desenvolvimento turístico da localidade, haja vista que 51% afirmaram
ser “donas de casa”, seguido por “pescador” com 17%, e, em terceiro, “comerciante”,
com 15% (Gráfico 1). Tais resultados apontam à exclusão social a qual estão expostos
os moradores em razão do turismo globalizado praticado na comunidade, impactando
de forma negativa a função ocupacional dos moradores, complementando os estudos
de Coriolano et al (2009).
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GRÁFICO 1: OCUPAÇÃO FUNCIONAL DA POPULAÇÃO RESIDENTE NA


COMUNIDADE BARRA GRANDE.

Quanto à renda, 68% dos pesquisados possuem renda familiar de até 01 salário
mínimo, para até 02 salários o número chega a 22%, enquanto os que têm renda
superior a 02 salários o número é de apenas 5% (Gráfico 2). É importante ressaltar que
boa parte dos moradores declarou que utilizam a renda invisível como complemento à
renda final, advinda da criação de animais, da agricultura de subsistência e da pesca
- forte atividade desenvolvida na região (LIMA et al, 2014). Mais uma vez os dados
confirmam a exclusão social dos nativos na execução da atividade turística, esta agora
relacionada à renda, haja vista que muitas das atividades indicadas pelos autóctones
não estão ligadas diretamente ao setor de turismo, salve o caso dos pescadores que
vendem quase a totalidade do que pescam aos barraqueiros, porém a preços ínfimos
(PESQUISA DIRETA, 2014).

GRÁFICO 2: RENDA MENSAL FAMILIAR NA COMUNIDADE BARRA


GRANDE.

A percepção dos moradores quanto ao desenvolvimento do turismo na comunidade


traz concepções intrigantes. Mesmo não sendo beneficiados diretamente, 84%
dos pesquisados indicaram ser “alta” a incidência econômica sobre a comunidade,
enquanto 6% afirmou ser “baixa” e os outros 10% disseram que é “indiferente”
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(Gráfico 3). Partindo do pressuposto que o aumento do turismo em uma destinação faz
movimentar a economia local e, consequentemente, possibilita que seja intensificada
a oferta e os investimentos na localidade, o efeito multiplicador do turismo faz sua
atuação (IGNARRA, 2001), sendo percebido como um fator positivo pelos nativos,
conforme revelou a pesquisa de campo.

GRÁFICO 3: PERCEPÇÃO DOS MORADORES QUANTO À ECONOMIA DO


TURISMO EM BARRA GRANDE.

Em relação aos aspectos positivos decorrentes do turismo executado em


Barra Grande, ganha relevância os de natureza econômica. Assim, para 62% dos
pesquisados a “geração de emprego e renda” foi o principal fator correspondido,
seguido pelo “aumento no consumo dos produtos locais” com 26%, “melhoria da
infraestrutura” representado por 10% e “melhoria da qualidade de vida”, com somente
2% (Gráfico 4). Nota-se a premente necessidade da população em obter renda com o
turismo, haja vista os baixos ganhos obtidos nas atividades tradicionais desenvolvidas.
Coriolano e Vasconcelos (2007) lembram que, uma função essencial do turismo é a
inclusão social, este apoiado sobre a ótica do fortalecimento às populações tradicionais,
que realizam atividades diversas e que são atrativas ao turismo, principalmente o
comunitário, possibilitando ganhos maiores a um número maior de indivíduos, tal qual
é percebido com as Rendeiras da Prainha ao longo do litoral cearense.

GRÁFICO 4: PERCEPÇÃO DOS MORADORES SOBRE OS EFEITOS


POSITIVOS DO TURISMO EM BARRA GRANDE.
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Quanto aos impactos negativos advindos da atividade do turismo, o que


apresenta maior incidência, como 40%, é o “acúmulo de lixo”, seguido por “consumo
de drogas” (30%), inflação (10%), prostituição e especulação imobiliária (4%), poluição
da praia (2%) e “outros” (10%) (Gráfico 5).

GRÁFICO 5: PERCEPÇÃO DOS MORADORES SOBRE OS EFEITOS


NEGATIVOS DO TURISMO EM BARRA GRANDE.

Uma curiosidade observada durante o contato direto foi a de alguns pesquisados


sentirem dificuldade em falar sobre prostituição (talvez por medo de comentar sobre o
assunto ou até mesmo por tabu), porém alguns conversavam baixinho e revelaram que
crianças e adolescentes foram submetidas à exploração sexual em troca de dinheiro
e comida por turistas e empresários que se instalaram na comunidade. Estes efeitos
negativos não são unanimidades ao local, muitas outras destinações turísticas sofrem
desse problema provocado pelo aumento do fluxo de turistas, tido como impactos
sociais do turismo. O trabalho dissertativo de Elton Silva Oliveira (2008) apresenta
alguns efeitos negativos acometidos pelo turismo: prostituição adulta e infantil;
aparecimento de doenças sexualmente transmissíveis; aumento de outras doenças
devido à ausência de saneamento básico adequado; aumento e proliferação do
consumo e venda de drogas; desemprego devido a falta de mão-de-obra qualificada,
dentre outros.
Perguntados se gostariam de trabalhar diretamente com o turismo, 58%
responderam “não” e 42%, “sim” (Gráfico 6). Resultado intrigante, haja vista a
incidente oferta de empregos gerados pelo turismo na localidade, porém estes postos
de trabalho requerem mão-de-obra qualificada e níveis de escolaridade que os nativos
ainda não possuem. Desse modo, entende-se que enquanto há inclusão social dos
que vêm de fora para ocupar as vagas que deveriam ser dos autóctones, inicia-se
o processo da exclusão social da população residente. Eusébio e Figueiredo (2014,
p. 55) afirmam que uma das premissas básicas do desenvolvimento do turismo em
comunidades tradicionais é a de “estimular o emprego dos residentes locais nas
atividades económicas que integram a indústria turística”, o que efetivamente não
está ocorrendo em Barra Grande.
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GRÁFICO 6: QUESTIONA SE O MORADOR GOSTARIA DE TRABALHAR


COM TURISMO EM BARRA GRANDE.

Mesmo com os problemas resultantes do turismo, a maior parte da população


pesquisada afirma que sua vida “melhorou” (64%), enquanto 36% disseram que “não
interferiu” após a intensificação da atividade (Gráfico 7).

GRÁFICO 7: QUESTIONA O MODO DE VIVER APÓS A INTENSIFICAÇÃO


DO TURISMO EM BARRA GRANDE.

Para uma população que têm baixos índices de escolaridade, é acostumada a


trabalhar em atividades tradicionais que geram pouca renda e não têm conhecimento
das várias oportunidades advindas do turismo, incoerente será também a forma
de avaliação da atividade desenvolvida na sua própria localidade. Desse modo, a
verificação positiva da atividade por parte dos moradores é imprescindível à manutenção
do turismo, pois “[...] à medida que a comunidade vai se sentindo envolvida, torna-
se mais motivada em relação a sua participação no processo de desenvolvimento
do turismo [...]” (MAGALHÃES, 2002 apud CARVALHO, 2010, p. 483). Com isso,
segundo as considerações de Carvalho (2010), os residentes passam a ter poder de
decisão, discutindo quais os rumos devem ser tomados em favor da comunidade e do
processo de desenvolvimento da atividade turística.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Barra Grande é concebida hoje com o principal destino do turismo internacional


no Piauí, concomitante a isso, começa a receber investimentos estrangeiros visando
melhorar a oferta de bens e serviços direcionados a atividade.
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A pesquisa de campo, através do contato direto, com observação e aplicação de


questionários possibilitou mensurar os efeitos acometidos pelo turismo à localidade,
a fim de identificar as possíveis falhas e acertos advindos do turismo praticado na
comunidade. Desse modo, a pesquisa revelou as várias facetas do turismo globalizado
desenvolvido em Barra Grande e como ele promove a exclusão social dos moradores
locais, os quais passam a sofrer os efeitos negativos da intensificação da atividade,
como: aumento do lixo; elevação nos preços dos produtos; especulação imobiliária;
inflação, dentre outros, interferindo diretamente na baixa qualidade de vida da
população residente.

Frente a isso, a fundamentação teórica faz uso e aborda o tema do turismo


comunitário como fator de inclusão social no turismo em comunidades tradicionais,
modelo já desenvolvido ao longo do estado do Ceará e os resultados consistem
na melhoria da qualidade de vida dos autóctones, com o incremento da renda, a
preservação do ambiente natural e dos aspectos culturais.

Portanto, o presente trabalho evidenciou o desenvolvimento do turismo em


Barra Grande mostrando de forma direta os efeitos que são causados à comunidade
e, também, apresenta aspectos relacionados ao turismo comunitário, modelo mais
brando de turismo baseado nos princípios da sustentabilidade, tendo a população
residente como principal ator social na realização, execução e gerenciamento da
atividade.

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