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leitos

Oficial
r. Cabe
<Jláticas e RESENHAS
'., Toledo
ité inter- Quem Conta um Conto.

COELHO, Betty. Contar hístórias - Uma arte sem ídade.


São Paulo, Ática. 1986, 78 p .

.iversi-
19uma Existem livros que nos invadem, que l'n- importa, alguma fábula, algum conto de fa-
chem a nossa cabeça de planos l, projetos, das, algum sonho a crianças ou a outros adul-
que excitam nossas emoções e nossa mente. tos. Mas todos n6s qlle ouvimos na nossa
Ua algumas Geralmente são livros de poesias, de histó- infância algul'm nos narrando uma história,
'tlll3lacuna rias fantásticas. de aventuras, de viagens, lJe, ou que lemos um livro motivados pelo entu-
rio e conse- ficção, enfim. siasmo de alguém, sabemos da emoção que
rlocutores O livro de Betty Coelho consegue tudo vai nos invadindo, do clima mágíco que se
isso, mesmo sendo simplesmente, à primeira vai criando, da viagem que fazemos envoltos
Dl disso o
vista, um livro técnico, didático, que passaria na fantasía. E a possibilidade de criar este
. terá êxito modelos, receitas, conselhos. mundo mágico, de propieiar estes JllOmentos
Quem fugiu da leitura por causa disso, às nossas crianças, vai excitando nossa imagi-
,o discur- perde uma boa oportunidade de se ver desa- nação e nos entusiasma a fazer planos e pro-
em áreas fiado a vivenciar algumas das possibilidades jetos.
que a autora descreve, a partir de sua vasta Que não são impossíveis e que podem
em que, experiência como contadora de histórias para se concretizar, se o leitor se dispnser a "cair
rá} impedir crianças e adultos, em situações e locais, os na real" e aí sim, seguir os conselhos de
mais variados: em bibliotecas, salas de aula, Betty: contar híst6rias é uma arte que exige
E" sores de hospitais, praças públicas, casas de detenção, estudo, preparação, dedicação, muita leitora
etc. e criatividade aliados, é óbvio, a um gostar
_S5 prática Quem se in teressar pelo livro exatamen te muito, tanto de literatura, quanto de gente.
porque tem "modelinhos" e "receitas", vai E então seguir os capítulos do livro, numa
se frustrar, pois não encontrará coisas pron- 2~ leitura, um a um, parando para pegar um
tas e acabadas, certezas e dogmas. A única dos livros de histórias citadas, experimen-
garantia que Betty oferece é o seu testemu- tando fazer o sugerido, mentalmente jáestu-
nho e o seu exemplo de que contar histórias dando ou se preparando para contar a história
é uma experiência fascinan te. para o, filhos ou os irmãos menores, pegos
Talvez a atração que "contar histórias" como "cobaias".
J na For- exerce, esteja nas constantes referências que Os capítulos do Contar histórias, simples
Iria Helena a autora faz a histórias e livros para crianças, e breves, em linguagem muito despreten-
num jogo de mostrar e esconder que mantém siosa, são 5, nesta seqüência: no primeiro,
ISe, 1987. o leitor em contínua expectativa, alternando "Escolha da história", temos que decidir qual
da Secre- momentos de euforia e de anticlímax: as his- será a narrativa; no segundo, "Estudo da his-
t6rias não estão completas, os livros referen- t6ria infantil", nos vemos decifrando e explo-
ciados não estão todos à mão, que vontade rando a história escolhida; no terceiro, sele-
de reler algumas hist6rias, este livro eu vou cionamos a "Forma de apresentação" entre
comprar! as sugeridas pela autora; no quarto, treina-
Talvez o fascínio esteja no desafio que mos "A narração da hist6ria", tomando al-
o convite implícito e explícito, de também guns dos cuidados indicados; no quinto, já
contar histórías, lança ao leitor. Muitos de estamos envolvidos em algumas das "Ativi-
n6s já contamos, mais ou menos bem, não dades a partir da história", dramatizando ou

JUN. 1988 Perspectiva; r. CED, Florian6polis, 5 (10), 103-105. JAN.lJUN. 1988 103
brincando de mímica, desenhando ou crian- com as outras", da Sílvia Orthof, que daria :\0 texto: "O \tl'
do outro texto. para contar para. Willian Vezentini au-
Pausa para ler o apêndice, duas "1-1istó- Não sei se aumentei um ponto, mas quem lentes livros did,lhco
rias adaptadas para dramatização", e biblio- gostou ... que conte outra l a polêmica Ceografta T
grafia, que ninguém é de ferro ... mas lá fia Crítica. Alerta pam
tem aquela historinha ótima, a "Maria vai Tânia Maria Piacentini mo" de se assodar a
ao positivismo, e qu
ções históricas (esp'eC1--=::Ie;~
do-nação e o sistema
pelo surgimento da G
século XIX. Para Ye-
TERRA LIVRE n~ 2 (O ensino da Geografia em questão e outros temas), Geografia estaria, da
Marco Zero/AGB, São Paulo, julho de 1987. não apenas às "polêmi
metodológicos, Ol~
mudanças sociais e ao
do discurso e das prá
A Geografia vive desde 1978, ano do III balho e de discutir os obstáculos que defron-
A Geografia Cri .
Encontro Nacional de Geógrafos, um perío- tamos. O autor, muito oportunamente, lem-
Vezentini, tem sell
do de intensa efervescência. Entre os profis- bra que "a prática do cotidiano, na sua simpli-
dade e "é em função da
sionais que atuam nesta área do conhecimen- cidade acaba por escamotear questões com-
se deve explicar a n~n"....-"'" "00
to, cresce a consciência da necessidade de plexas" e a reflexão sobre a prática precisa
caminho inverso". O ..
uma mobilização ampla no sentido de proce- ser reconhecida como parte integrante desta,
zendo com clareza ai
der a uma avaliação crítica da Geografia, defi- pa,a que não se opere com uma nova dicoto-
marcado o ensino da
nindo seus rumos na direção do compromisso mia: durante o a'no fazemos; nos encontros
mente dividida en
social e da competência profissional. refletimos. "Prossegue analisando o momen-
e da sociedade.
Muito embora já se possa detectar uma to de constituição da Geografia e o perigo
O texto seguinte, ~
visível e substantiva transformação em al- de se estabelecer fronteiras com as demais
go - professor da l'
guns campos da teoria e da prática geográ- ciências provocando a fragmen tação do co-
título" A unidade (divl
fica, é necessário que não se !lque esperando nhecimento": "o geográfico é uma dimensão U
o sentido da práti a p •
por uma solução "milagrosa" saída da univer- e não a dimensão da realidade". Ao relem-
denominada Geografu.. ~
sidade ou dos "grandes centros" do País. brar os fundadores da ciência geográfica,
mínimo , embaraçoso :
É neste sentido que a publicação Terra Carlos Walter destaca ainda o engajamento
falar das pessoas". O
Livre apresentada pela AG B (Associação dos destes diante das questões de sua época, sua
ciênda geográfica que
Geógrafos Brasileiros), a partir deste número participação nos debates filosóficos do seu
multaneamente a SOCI
em co-edição com Marco Zero, representa tempo e provoca: "Estamos nós acompa-
ameaçada pela dificu
uma importante contribuição ao encaminha- nhando O debate filosófico do nosso tempo?"
mesmo método para ah
mento de uma Geografia mais viva e atuante. Sua proposta para superar o geografismo
Este número 2, de julho de 1987, é dedicado das. Este é o tema ce
é considerar o próprio objeto de estudo da
son Rego, discutindo
ao ensino da Geografia, reunindo sete artigos· Geografia (o esforço como um fenômeno his-
aflorado ultimamente
dos quais apenas dois não versam diretamen- tórico e parafraseando Marx acrescen ta: "só
nas discussões geo!;J>.....~'"
te sobre a temática. Foram escritos por pro- existe uma ciência, e esta ciência é a histó-
(quem sabe?!) à cisão
fissionais com larga experiência em Educa- ria", mas "a História a que me refiro não
No 5~ artigo" AnáU'St:l' ál:5 I
ção, dispostos a romper com o enciclope- é u ma disciplina tal qual é ensinada nas esco-
no de Geografia", Md
dismo e a fragmentação que caracteriza a las: É uma concepção filosófica a respeito
professora de Prática
Geografia nos diferentes níveis de ensino. da matéria".
grafia da FE-USP, ap
O texto inicial Reflexões sobre a Geo- No segundo artigo, Vânia Rúbia Vlach,
de uma análise de plan .
grafw e a Educação: notas de um debate, professora de Geografia da UF - Uberlân- sores da Rede Estadual
originou-se de palestra realizada em 1984 dia, procura apontar o grau de comprome-
Magistério. Através da aná
na Coordenadoria de Estudos e Normas Pe- timento da Geografia Tradicional com a ideo- Geografia, a autora d par.
dagógicas (SP) por Carlos Walter Porto Gon- logia do nacionalismo-patriótico tão cara para
com a constante indefini -
çalves (professor do Departamento de Geo- a constituição do Estado-nação. Considera
fessor de P a 4~ séries que o
grafia da PUC-RJ) durante um treinamento que "a ausência de uma reflexão epistemo- tério desejam formar.
para professores de Geografia. Neste artigo, lógica em seu interior explica a presença ain- Quanto ao ensino de
tão rico para o momento em que se deseja da forte da geografia tradicional no ensino revelam que os profes
imprimir um novo rumo à Geografia, Carlos de 1~ e 2~ graus", onde o livro didático cons- trabalham um conteúdo
Walter propõe uma profunda reflexão sobre titui O "principal instrumento de reprodução
a nossa prática enquanto professores de Geo- deste conhecimento compartimentado, inú-
grafia, capaz de analisar nossa rotina de tra- til e mnemônico".

104 Perspectiva; r. CE D
Perspectiva; r. CED, Florianópolis, 5 (la), 103-105. JA .fJUN. 1988
ue daria No texto: "O Método e a Práxis" José damente naturalista e fragmentado e, por
Willian Vezentini (autor também de exce- ser naturalista, a Geografia desconsidera a
3Squem lentes livros didáticoó de Geografia) retoma História, minimizando a SOCiedade e o seu
a polêmica Geografia Tradicional X Geogra- tempo. Ao privilegiar a Geografia Físiea, os
fia Crítica. Alerta para "o ridículo ~ o simplis- professores passam aos alunos a imagem da
~iacentini mo" de se associar a Geografia Tradicional Geografia como estudo da natureza, descon-
ao positivismo, esquecendo as determina- siderando o fato de que o espaço natural é
ções históricas (especialmente duas: O Esta- "extremamente modificado p la ação dos ho-
do-nação e o sisterna escolar) responsáveis mens que vivem divididos em classes so-
pelo surgimento dB. Geografia Moderna no ciais" Observa também que a grande maio-
século XIX. Para Vezentini, a atual crise da ria dos livros didáticos para uso dos alunos
t mas), Geografia estaria, da mesma forma, ligada citados pelos professores, trabalham o con-
não apenas às "polêmicas e questionamentos teúdo da disciplina de forma bastante tradi-
metodológicos, mas fundamentalmcnte a cional, positivista, O que dificulta a reflexão
mudanças sociais e ao enraizamento hi,tórico sobre a realidade espacial.
do discurso e das práticas geográficas". Tais constatações são importantíssimas
A Geografia Crítica, conforme destaca para o le\anlClmento da realidad escolar na
Vezentini, tem seu ponto de partida na socie- área da Geografia e evidenciam 'luanto os
dade e "é em função da dinâmica social que debates acadêmicos em torno de uma Geo-
se deve explicar a natureza hoje, e não pelo grafia Crítica estão distantes das escolas de
precisa
te desta,
caminho inverso". O autor prossegue desfa- 1~ e 2? graus.

\3 dicoto-
zendo com clareza alguns equívocos que t(~m O texto "Para a construção do espaço geo-
encontros marcado o ensino da Geografia, particular- gráfico" que leva O mesmo título da disser-
momen- mente dividida entre o estudo da natureza tação de Mestrado, defendida na Fundação
e da sociedade. Getúlio argasflESAE por Tomoko Lyda Pa-
o perigo
Ü texto seguinte, escrito por Nelson Re- ganelli, trata do processo de COILstru -o dos
demais
-o do co- go - professor da UFRGS - tem como conceitos de espaço e de tempo ao nível da
. {\imensão título "A unidade (divisão) da Geografia e ciência e do desenvolvimento da criança. A
.-\orelem- o sentido da prática". Para ele, O avanço da autora, a partir de pontos de aproximação
denominada Geografia Crítica tornou, no entre as teorias de Marx e Piaget, le antados
~eográfica,
mínimo , embaraçoso falar de espaço sem no Livro Justíça Social e Cidades do 'eôgrafo
~ajamento
falar das pessoas". Ocorre que a unidade da inglês David Harvey, ehega a uma concepção
t'poca, sua
ciência geográfica que pretende analisar si- de "espaço quadrimensional" indissodável
s do seu
multaneamente a sociedade e a natureza é do tempo e destaca o aspecto construtivo
acompa-
lO tempo?"
ameaçada pela dificuldade de se utilizar o do conhecimento flue dá ao aluno condições
I!()grafismo mesmo método para abranger as duas instân- de atuar como sujeito deste proce so.
cias. Este é o tema central do ensaio de . 'el- Finalizando, menciono ainda o tema "Po-
estudo da
son Rego, discutindo uma questão que tem luição das águas internas do Paraná por agro-
_meno his-
aflorado ultimamente com muita freqüência tóxicos", apresentado por um gTllpc> d técni-
>renta: "só
, . a histó- nas discussões geográficas e que pode levar cos ligados à S REHMA, no Pa.raná. Em-
(quem sabe?!) à cisão da Geografia. bora não se refira diretamente à problemá-
refiro não
No 5~ artigo "Análises dos Planos de Ensi- tica educacional, o assunto se revest", de' im-
3 nas esco-
no de Geografia", ! ídia Nacib Pontuschka, portância vital por apres",ntar os níveis de
l respeito
professora de Prática de Ensino em Geo- contaminação por agrot6xicos que compro-
grafia da FE-\JSP, apresentou o resultado metem a qualidade das' guas e conseqüen-
hia Vlach,
de uma análise de planejamentos de profes- temente a saúde da população.
- Uberlân-
sores da Rede Estadual (SP), na habilitação Por tudo que foi apontado, parece evi-
vmprome-
Magistério. Através da análise dos planos de dente a co ibuição que esta excelente re-
m aideo-
Geografia, a autora depara, primeiramente, vista pue! trazer àqneles que, militando no
o cara para
com a constante indefinição do pcrfil do pro- ensino da Geografia, SE' preocupam com o
Considera
fessor de 1: a 4~ séries que os cursos de Magis- papel social da escola e buscam a renovação
epistemo-
tério desejam formar. de suas li"ões.
~ ença ain-
Quanto ao ensino de Geografia, os planos
no ensino
revelam que os professores no Magistério
:l.tico cons- Raquel M~ Fontes do A. Pereira
trabalham um conteúdo de caráter acentua-
"produção
(tado, inú-

Jl" 1988
Perspectiva; r. CED, Florianópolis, 5 (10), 103-105. JANJJUN. 1988 105

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