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Cada família providencia suas necessidades, alimentos e abrigo. Todos sabem caçar,
pescar, cultivar a terra, criar animais domésticos, construir casas e confeccionar roupas.
Problemas comuns são resolvidos por todos.
Descobriram como usar e fazer fogo. Todos podem agora aquecer-se, cozinhar os
alimentos, que se conservam por mais tempo. A carne pode ser moqueada ou defumada.
Podem queimar utensílios de barro endurecendo-os. A luz espanta os fantasmas da
escuridão.
Da pedra lascam suas ferramentas. Descobrem como fazer anzóis, armadilhas para a
caça e pesca. Um deles inventa o tear, fica muito mais rápido confeccionar os tecidos e
fabricar vestimentas. Alguém inventa o arado, e preparar a terra requer menos trabalho.
Inventa-se o torno de oleiro, os artefatos de cerâmica podem ser produzidos em maior
quantidade e com mais perfeição. A seleção de sementes e animais melhora o
rendimento da agricultura e criação. A canoa, a vela e a roda facilitam o transportar as
coisas e pessoas.
A vida ficou mais fácil. Tudo isso resultou em bastante tempo ocioso, abundância de
alimentos e recursos. Tempo de sobra que podem usar para lazer ou para criar coisas
novas. Ou, nas adversidades, superar as dificuldades.
Mais e mais coisas são criadas e inventadas. Escrita, matemática, metalurgia, máquinas,
os plásticos e os computadores.
Especializaram-se, alguns sabendo fazer melhor algumas coisas, que passam a produzir
para os demais. Estes em troca os suprem com suas outras necessidades.
Todos trabalham, todos usufruem. Cada um faz aquilo que sabe fazer melhor e cada um
tem suas necessidades atendidas. Os incapazes, não são deixados à míngua, mesmo
sendo improdutivos. Pois que são humanos, os seres humanos.
Fazem isso, na sexta feira, meia hora antes do fechamento dos bancos.
Como não são conhecidas da joalheria, mil e uma referências são solicitadas. Listas de
mau pagadores, Seproc etc. Tudo é verificado e considerado "procedente". Tudo parece
estar em ordem.
O negócio é concretizado assim mesmo, pois nada indicava que não poderia ser feito.
A loja de penhores telefona para a joalheria, e eles ficam apavorados. Chamam a polícia,
e os compradores das jóias, sob protestos, são presos. Passam o fim de semana (três
noites), na cadeia.
Até que na segunda feira cedo, na abertura do banco, o saldo bancário deles é verificado
e, vejam só, existia fundos em suficiência! Os compradores tinham sido presos
injustamente.
Os donos da joalheria pedem mil desculpas. Mas não adianta. A joalheria é processada,
por danos morais e pecuniários.
O conhecido deles é chamado como testemunha e confirma. Diz que acabou fazendo o
vantajoso negócio, com outra pessoa. Todas as investigações que são feitas confirmam
esta história. Todas as informações que os compradores tinham prestado são
verdadeiras.
Assim, ganham o processo. Nem poderia ser diferente. E recebem uma gorda
indenização.
Aplicaram este golpe em vários países. Tudo era perfeitamente legal. O advogado que
contratavam era especialista no assunto. Assim nunca perderam uma causa.
Homem de negócios.
A época era de festas juninas, Santo Antônio São Pedro e São João. Balões e fogos de
artifício estavam em alta. E cafifas bolas de gude piões e figurinhas em recessão.
Apreciou com satisfação a sua obra. A estrutura do negócio estava montada. Faltava a
parte mais critica que era o capital necessário para aquisição do estoque inicial.
Quem, se não seus pais, poderiam ser os investidores? Falou primeiro com a mãe, mais
maleável em todos os assuntos. Que ajudou a convencer o pai, sempre mais sisudo,
assim que ele voltou do trabalho. Isto é, somente depois dele ter tomado banho, jantado
e estar sentado gostosamente na poltrona, a tomar cerveja. Já esquecido das agruras do
dia a dia no trabalho.
Seria bom, desde cedo, ele ir aprendendo como funcionam essas coisas, pensou o pai e
o empréstimo foi concedido. Um negócio de brinquedo, com dinheiro de verdade.
O caixote com os fogos de artifício à venda era colocado em cima de uma cadeira, na
calçada na frente de sua casa, a lanterninha indicando que o negócio estava de portas
abertas. Fazia isso normalmente ao escurecer, já que durante o dia mil e um afazeres
eram prioridade.
Os fregueses vinham e iam. E mais tarde à noite quando seu pai retornava do trabalho, o
pequeno Moritz encerrava seu expediente. Seu pai não permitia que ele ficasse até tarde
na rua. Carregava tudo para dentro, fazia um balanço do estoque e do dinheiro
arrecadado. No dia seguinte comprava mais fogos para repor o estoque.
Era comum, na época, as crianças fazerem esse tipo de negócio durante as festas
juninas. E à noite várias lanterninhas nas ruas do bairro indicavam essa atividade.
Só que o pequeno Moritz vendia tudo, exatamente ao mesmo preço que tinha comprado,
item por item. Seu pai explicou que não é assim que funciona. Teria que vender mais
caro, para que sobrasse dinheiro, e isto seria a recompensa pelo seu trabalho.
Não filho, negócios nunca é diversão. Os negócios são feitos para ganhar dinheiro e
esse ganhar dinheiro deve pagar as despesas, inclusive a sua mão de obra.
Meio a contragosto o pequeno Moritz reconheceu que o pai tinha razão. Iria cobrar mais
caro. E sobrando dinheiro, seria dele. O que naturalmente nada tinha de desagradável.
Mas não é só isso, disse o pai. Você tem que cobrar mais ainda, na finalidade de obter
lucro!
O pai titubeou. Sabe filho, não existe um valor predeterminado. Depende de muitas
coisas, oferta, procura, valor de mercado, promoções etc.
O pequeno Moritz achou isso muito estranho. Como podem os adultos viver dessa
maneira, na incerteza, sem saber direito o quanto devem cobrar por aquilo que vendem?
Como é possível sobrar dinheiro? Seria o mesmo que faltar ou sobrar mercadoria. E
depois de pensar um pouco, chegou à conclusão que esse tal de lucro era
desonestidade. Era uma maneira de tirar dinheiro dos outros, sem dar nada em troca!
Você tem toda razão filho. O lucro é tirar dinheiro dos outros sem dar nada em troca.
Mas é assim que o mundo funciona e ninguém considera isso ilegal ou imoral.
Moritz se espanta: Os adultos tiram dinheiro uns dos outros, como fazem os ladrões, e
não vão para a cadeia?
Pelo contrário filho, quem faz isso com muita habilidade é admirado pelos demais e sobe
na escala social. Torna-se importante, adquire muitos direitos e poderes. Que são
utilizados para lucrar ainda mais.
O pequeno Moritz não dormiu direito essa noite. Ora acossado por pesadelos em que se
via atirado em masmorras, ignóbil bandido, ora sonhando estar passeando com a
bicicleta que tinha comprado com o resultado do empreendimento.
Acrescentou aos preços dos fogos de artifício apenas uma pequena porcentagem.
Afinal, alguns dos fogos que vendia falhavam e então ele devolvia o dinheiro ao
comprador. Mas a loja onde ele os comprava não aceitava devoluções. Sobravam
pouquíssimos trocados.
Não teve coragem de cobrar muito. Tinha medo de ser chamado de ladrão.
Mas foi perdoado, o importante não era o dinheiro e sim a lição pedagógica.
Que ele acabou não aprendendo direito.
Existe uma faixa de idade que a sociedade ocidental considera ativa produtiva
conquistadora dominadora e recompensadora: Dos vinte aos sessenta anos, mais ou
menos. Este conceito está entranhado em nós, arraigado. Nas leis também.
Por isso é que os adolescentes anseiam por tornarem-se adultos. Querem usufruir tudo
aquilo que os adultos podem e eles não. Querem ser independentes, sem ninguém a
dizer o que podem e o que não podem fazer. Socialmente, adolescentes e crianças, são
"zeros à esquerda", só atrapalham e só dão despesas. Eles querem fugir disso.
Ninguém quer ser considerado obsoleto, por este motivo, a maioria teme envelhecer.
Não pelo fato em si, irremediável, mas pelo modo como será tratado pela sociedade,
pelas leis e pelos familiares. Ser velho é ser ultrapassado, sem voz ativa. E quem deseja
isso?
"Tenho sessenta anos, mas ainda trabalho tanto quanto um jovem de trinta".
As pessoas são induzidas a odiar a si mesmas, a detestar sua aparência. Devem gastar
tempo e dinheiro para modificar o que realmente são. Chamam isso "auto-estima". Uma
pessoa insatisfeita com o que é, extremamente preocupada com o que os outros
enxergam nela, é uma pessoa com "auto-estima". Que absurdo!
Mutilam seu corpo em cirurgia plástica ou em "body building" para que os outros vejam
nela o que não é, o que teve que ser criado artificialmente. Sofrem os irremediavelmente
gordos e irremediavelmente feios. Entram derrotados na refrega da aparência.
Ser excluído. Muitos não param de trabalhar por este motivo. Não querem sair da vida
em que se é "gente de verdade". Continuam a ganhar dinheiro, sem real necessidade,
por vezes acumulando o que nunca poderão gastar. Vivem como se a vida fosse eterna.
Muitos não conseguem mais viver sem trabalhar, não sabem fazer outra coisa.
Morreriam de tédio em dois anos, ou por alcoolismo. Já outros não podem deixar de
trabalhar, precisam da remuneração, essencial à vida. Estes, é claro, não têm escolha.
Porém, aqueles que trabalham sem necessidade, apenas para serem considerados
jovens, porque tem medo da velhice, deveriam repensar o assunto. Jogam fora,
inutilmente, uma boa parte de suas vidas. Uma parte boa dela. Serão arrancados da vida,
pela morte, em "plena juventude".
Fazer ou deixar de fazer o que for desejado. Dedicar-se àquilo que realmente gostam.
Ensinar aos outros, o que aprenderam. Viver a liberdade. Gozar a vida. Esta é a vida de
um velho. Ser velho é deixar de ser jovem. É viver vida de velho, com suas limitações e
suas vantagens, a sabedoria, os amigos, o conhecimento, a experiência.
Exercício mental e físico sim, com certeza, para manter a saúde, física e mental, mas não
para "ser jovem". Não é mais necessário provar nada para ninguém.
Assim, estaremos mais preparados para a morte pois vivemos todas as fases da vida.
Assim é que deveria ser.
Meu salário é depositado em banco. É uma conta "cativa", pois só tenho a conta
bancária, em função deste depósito mensal que é feito pelo empregador.
Poderia até, se quisesse, escolher outro banco. Mas, como são todos "farinha do mesmo
saco", não existe motivo para fazer isso.
Um dia aconteceu, o que a gente imagina, só acontecer com os outros: Sumiu dinheiro
de minha conta! Fiquei a zero. Por vários dias seguidos fizeram saques. E entrei "no
vermelho".
Só percebi, quando fui fazer uma retirada e vi que o limite tinha sido ultrapassado.
Estava de tal modo "no vermelho", esgotados todos os empréstimos e limites possíveis,
que nem um tostão mais poderia retirar.
Eu, que NUNCA utilizei crédito algum, nem que fosse para tirar o pai da forca, estava
atolado até o pescoço em dívidas, a juros astronômicos.
Controlando o melhor possível, a tremedeira nas mãos, e o enfarto no miocárdio, fui falar
com o gerente.
Mas, eu nunca disse a quem quer que seja a minha senha, nunca a escrevi em lugar
nenhum, tenho-a guardada na cabeça exclusivamente. Como alguém poderia fazer
saques, desconhecendo a senha?
O gerente: "É o que todos dizem!". Pensou isso, mas não falou. Disse isso sim, que o
sistema é seguro e que a "assinatura eletrônica", no caso a senha, vale como se fosse
de próprio punho. Responsabilidade exclusiva pois, do correntista.
É claro que a polícia não vai apurar nada. Não dá para contar com isso. Droga, que azar
dos diabos, o meu!
Fui para casa. Estava muito nervoso, para falar mais qualquer coisa. Tinha que me
acalmar primeiro.
Mas, a verdade é que, realmente, só eu sei a senha de minha conta bancária. Não está
anotado em lugar algum. Ninguém a conhece, além de mim.
Seu eu morrer ou me acontecer alguma coisa, minha mulher iria ficar em papos de
aranha, sem poder retirar um tostão. O que sempre me preocupou. Mesmo assim nunca
disse a ela qual era a senha, nem a ninguém.
Sei que quase ninguém faz isso. Mas eu fiz. Assim, como poderia alguém tirar dinheiro
da minha conta? Nunca usei o cartão para qualquer coisa que seja, a não ser para retirar
o meu salário e nunca retirei mais do que o saldo, genuinamente meu. Como era
possível isso ter acontecido?
É claro que o cartão em si, por mais que se cuide, como se fosse dinheiro vivo, é
impossível mantê-lo sob vigilância, o tempo todo. Certamente, vez ou outra alguém
poderia ter acesso a ele. Impossível impedir isso totalmente.
É verdade que, para tê-la bem memorizada, sempre mantive a mesma senha. Nunca
mudei. O que não é recomendado. Sempre dizem que deve ser alterada freqüentemente,
é mais seguro.
Mas, de algum modo, sentia que não era culpado pelo acontecido. O dinheiro não foi
tirado de mim, pois estava com o banco. É de lá que ele foi tirado. Como poderia eu ser
penalizado?
O empregador depositou. O banco creditou. Dizem isso a você e nada mais resta que
acreditar. Um pedaço de papel. Uma tira que sai de uma máquina. Sem assinatura sem
nada. É o máximo que mostram. Se você insistir muito.
O que não se faz com o melhor amigo, confiar cegamente, faz-se com os bancos. E você
nem sabe quem são os caras.
Tudo bem, assinei. Mas não tive escolha. Fui obrigado a assinar, pois se não, não
poderia retirar o salário que estava depositado. Foi o que me disseram na ocasião.
Também não poderia optar pela aceitação ou não, das cláusulas. Teria que assinar de
olhos fechados. E foi o que fiz.
Sou o responsável, vou ter que pagar. E tenho que fazer isso rapidamente pois a taxa de
juros é arbitrada pelo banco exclusivamente, quando e o quanto bem entendem.
Também concordei com isso, ao assinar.
Assim uma coisa que era uma simples, simplérrima forma de pagamento de salário,
virou um monstro, que ameaçava comer o meu fígado.
Fui roubado, mas não levaram só o que eu tinha. Levaram também o dinheiro que eu não
tinha. Melhor ser assaltado na rua, pois além da possível surra, só levam o que você tem.
Só eu sei a minha senha, tenho certeza disso. Mas o banco também sabe. Por que sou
eu que vazei a informação, e não o banco? Por que se admite, sem pestanejar, que o
banco é íntegro e eu desleixado?
Claro, a maioria, cedo ou tarde, facilita com o seu cartão e senha e assim, adquirem
"culpa no cartório". Ficam sem moral para reclamar. E pagam por isso. Mas não era o
meu caso.
Se eu não "entreguei o ouro para o bandido" só o banco, de alguma forma, poderia ter
feito isso.
"Os sistemas bancários são extremamente seguros, impossível penetrar neles".
Disseram no banco. Com um lacônico sorriso de superioridade. Tudo bem é verdade,
extremamente seguro, concordo plenamente. Mas pouco adianta, quando a raríssima
exceção acontece justamente comigo!
Não entendo nada de segurança de bancos, mas é claro que muitas maneiras existem,
de burlá-la.
Ao digitar a senha alguém pode estar observando. E não tem como se precaver disso
totalmente, pois os caixas, eletrônicos e os com gente de verdade, foram montados
desse modo. Uma pessoa pode ver o que você está fazendo e, com habilidade especial,
pode "ler" os números que estão sendo digitados.
Algum dispositivo eletrônico ou não, pode captar a senha que está sendo digitada, isso
já aconteceu, e nem você nem o banco, ficam sabendo.
Tentativas aleatórias para adivinhar a senha podem dar certo. Demora, mas com os seus
dados, número de conta e outros, tentativas são feitas a esmo, e acertam.
Funcionários do banco existem que tem acesso às senhas, claro. Seriam todos eles
íntegros, sempre? E sei lá mais, o que pode acontecer.
Nem tenho acesso ao sistema de segurança que os bancos utilizam. Não sei quanto é
seguro o ou o quanto eles gastam nisso. Não posso influenciar em nada, uma vírgula
que seja, se achar que alguma coisa está errada, ou deveria ser melhorada.
É descontado do meu saldo, pelo banco, de tempos em tempos, alguns Reais, que eles
chamam de tarifa. Pago pois, pela conta que tenho no banco, e é assim que eles cuidam
do meu dinheiro? Pago a eles, mas quando alguma coisa dá errada, a responsabilidade é
minha?
Disseram que eu deveria ter mudado a senha, e não manter sempre a mesma. Facilitei
assim ter sido surrupiado.
Pior ainda é que, parecia não estarem acreditando em mim. Como se eu estivesse
querendo aplicar um golpe. Por umas e outras palavras, davam a entender que as
retiradas indevidas, não tinham sido tão indevidas assim. Pois nada indicava que
tenham sido fraudulentas.
Aparentemente, se existir algum desonesto na história toda, só poderia ser eu. O banco
não precisa dessa mixaria, que é o meu dinheiro. Pois tem um nome a zelar. E eu,
aparentemente não. É assim que as coisas estavam se encaminhando.
Acredito, que na verdade, era apenas para me encurralar, é por isso que faziam isso.
Para que eu ficasse na defensiva. Intimidar-me.
Eu não conseguia fazê-los entender, que realmente tinha guardado sigilo quanto à minha
senha. E portanto o sistema deles, vulnerável, é que possibilitou os saques. Teriam
portanto que responsabilizar-se. Mas, simplesmente não acreditavam.
Eles podiam duvidar de mim, mas eu do banco, que absurdo! Eu já estava começando a
ficar bravo, de verdade.
Bancos são entidades integras e honestas. Única coisa que desejam é dinheiro. De quem
quer que seja, de otários inclusive, como eu. E os desgraçados estavam,
habilidosamente, tirando o corpo fora. O que fazer?
Processar o banco, por danos pecuniários, danos morais. Ir aos jornais, rádios e
televisões. Entidades de proteção ao consumidor, pequenas causas, Procon. Ir até o
Superior Tribunal de Justiça!
Ganhar a causa, em última instância. Transitado em julgado. Que possa ser usado como
jurisprudência. Derrubar o sistema bancário! Recusar qualquer tipo de acerto! Nem que
leve quinze anos, e gaste nisso, tudo que tenho. Virar a mesa!
Seria malhar em ferro frio. Dar murro em ponta de faca. É mais prudente, e muito mais
econômico, baixar a cabeça. Terei sorte se conseguir recuperar alguma coisa. E então,
provavelmente, ainda ficarei devendo favor ao banco.
Bom. Na verdade, nada disso aconteceu. Não sumiu dinheiro da minha conta. É ficção,
inventei toda essa história. Contando dessa forma, queria apenas torná-la mais atraente.
Olhei pela janela. Bem em frente ao meu apartamento, um fusca perdeu-se ao dobrar a
esquina e bateu num poste. A pancada foi tão violenta, que o poste caiu em cima do
veículo.
Sei que não deve mexer-se em feridos no trânsito, para não agravar as coisas. Mas
mesmo assim dei umas chacoalhadas nele, pois nada parecia estar errado fisicamente,
com ele.
Estava, isto sim, bêbado, totalmente bêbado. Pouco a pouco acordou e, cambaleando,
saiu do carro. Nem conseguia entender direito, o que tinha acontecido. Felizmente não
se tinha machucado nada. Nem machucado ninguém. Como se diz, só danos materiais.
Reprovável e muito, dirigir neste estado, sem dúvida nenhuma. É perigoso, para ele, e
não só para ele, uma irresponsabilidade! Mas, felizmente, apenas danos materiais tinham
acontecido.
Comecei a defendê-lo, dizendo que não podiam fazer isso. Deviam prendê-lo é claro, mas
sem bater!
Tanto falei que também fui preso. Disseram que deveria ir junto para a delegacia, como
testemunha. Enfiei-me em uma enrascada, de graça.
In vino veritas, é o que dizem. Mas muita bobagem acontece por causa da bebida. Falar
coisas erradas, na hora errada, por exemplo.
O meu amigo, incerto ainda das pernas, e com um bafo de onça quilométrico, aponta o
dedo na cara do delegado, e pergunta: "O senhor conhece minhoca?"
Ai, ai, ai, pensei. Pelo amor de Deus, o que esse cara está aprontando! Estamos fritos!
Quem levará para mim os cigarros na cadeia?
Eis que, para minha surpresa, a feição do delegado desanuvia-se, e ele responde:
"Conheço sim!"
O meu amigo retruca: "Pois é, minhoca é meu pai. Meu avô o minhocão e eu sou o
minhoquinha."
Outro dia, sentado no jardim de minha casa, com amigos, eis que surge um pequeno
passarinho que nenhum de nós jamais tinha visto antes. O corpo e a cabeça de um
colorido intenso, alaranjado, cor de fogo, o rabo e as asas pretas. Brilhava realmente,
uma gema, jóia da natureza. Sobre os olhos, uma lista preta horizontal, fazia parecer que
portava uma máscara. No chão e de arbusto em arbusto, saltitava, mordiscando aqui e
ali, insetos quem sabe. Até que, após um vôo rasante sobre nossas cabeças, ganhou
altura, e foi embora.
Na conversa que se seguiu comentávamos, que ultimamente, eram vistos, cada vez mais
bichos, tipicamente de lugares selvagens nos centros urbanos, nas cidades, o reduto
dos humanos.
Jacarés nos parques da cidade, capivaras nos terrenos baldios mais amplos, macacos,
araras, tucanos e até cobras nas piscinas de bolinhas do McDonalds. Até isso
aconteceu. E pior, uma criança foi picada e morreu.
Seria uma invasão dos bichos, um ataque preste a acontecer, como no filme "Os
pássaros" de Alfred Hitchcock, e tantos outros filmes correlatos? Ou seria porque a
expansão urbana e o agrobusiness estão destruindo o habitat deles e assim os forçando
a procurarem alternativas?
Sabiás, joão-de-barro, sanhaços, relativamente raros, difíceis de encontrar quando eu
era menor (e de serem caçados por nós crianças), agora é uma constante. Por que seria?
As crianças ficam horas e horas diante da tela do computador, nas suas aventuras
virtuais. Deixaram a cetra, o estilingue de lado. Não caçam mais passarinhos. E isto os
fez reviver.
E assim várias opiniões, mas a mais criativa foi a do meu amigo Gastão:
- Sim, a "democracia". Pois, assim como é entendida e executada atualmente, tem por
princípio, a liberdade de atuação e a competição entre as pessoas. Isso naturalmente
promove a desigualdade social. Uns enriquecem e outros não têm quase nada. Assim,
aqueles que têm pouco, olham com inveja para a propriedade dos ricos. Que então,
sentem-se compelidos a proteger o que possuem. Muros cercas elétricas, e também
cachorros são utilizados nessa finalidade. Os fila, pitbull, dobermann e rotweiler da vida.
Que têm que ser alimentados. E passarinhos adoram comer ração de cachorro!
Proliferaram muito com isso. Este é o motivo.
Lembrei então, de uma explicação que me foi dada, do porque dos fechamentos dos
bingos no Brasil. Teria sido um "lobbying" das indústrias farmacêuticas!
Não muito tempo atrás, fui acampar. Em uma ilha do litoral, uma APA (Área de
Preservação Ambiental). Lugar maravilhoso.
Fomos informados que existia na pequena localidade de lá, uma padaria. Vejam só, uma
padaria. Fomos comprar pão.
"Cadê a sacola?".
"Sacola?".
Não tínhamos nenhuma. Esperamos algum tempo, até que fosse desentocado algo
apropriado. Pagamos e fomos embora.
Eles não tinham sacos plásticos ou de papel para colocar os pães que fossem
comprados. Cada um que quisesse comprar alguma coisa tinha que levar sua própria
sacola. Se não, não teria como transportar a mercadoria.
Mau atendimento. Que atraso de vida etc. Estes foram os comentários ao voltarmos para
nossas barracas.
Lembrei então, que tempos atrás, as coisas eram assim, em todos os lugares. Quase
tudo que fosse comprado era transportado nas sacolas que cada um tinha em casa,
especificamente para esta finalidade. Reforçadas para suportar o peso e para que
durassem bastante. Quem esquecesse a sacola tinha que voltar para buscá-la.
Também garrafas de cerveja, refrigerante, leite, querosene, álcool, quase tudo em que o
"casco" era de vidro (embalagens de plástico eram raridade), tinha o seu valor
estipulado. Com "casco" era um preço e sem "casco" outro.
O "casco" tinha que se devolvido para que se pagasse menos. A reutilização ficava
assim garantida. Quem não o fizesse perdia dinheiro.
Claro tudo isto dava certo trabalho. Tínhamos que carregar "cascos" e sacolas. Não
podíamos esquecê-los em casa.
Certo dia, esta utilíssima ferramenta do dia a dia das donas de casa, pifou.
Quando uma coisa dessas acontece, só então, é que nos conscientizamos que estamos
rodeados por um mundaréu de utilitários que um dia simplesmente poderão deixar de
funcionar.
Sem motivo aparente. Assim de repente, sem mais nem menos, sem aviso prévio.
Acontece com torneiras, televisão, automóvel, descarga do banheiro, fechaduras etc. A
nos infligir danos. Físicos, morais e pecuniários.
Com isso resolve-se qualquer coisa. Menos como conquistar uma namorada (sendo
solteiro) ou convencer a esposa que deve gastar menos (sendo casado).
Ainda mais um engenheiro com habilidades manuais como eu, que gosta de mexer nas
coisas e que se interessa em saber como funcionam então, nem se fala. Moleza.
Liguei a máquina. O motor girava. Porém, a cuba aonde vai a roupa a ser lavada, não se
mexia.
Desligada, puxada do lugar e olhando em seu interior, identificar a causa do problema foi
facílimo. A correia que, a partir do motor movimenta suas entranhas, estava rompida.
Tinha que ser substituída.
Como possuía chaves de boca, chaves estrela, alicates etc., não seria por isso que a
troca deixaria de ser efetivada. Era só comprar a correia.
Existia uma assistência técnica, mais ou menos perto de casa, e assim disse ao meu
filho: "Vá até lá e compre uma correia igualzinha a esta. Não esqueça de levar este
pedaço como amostra".
"Comprou a correia?"
"Não pai. O homem lá disse que não é fácil trocar a correia e que seria melhor que viesse
um técnico fazer isso".
Todos só pensam em arrancar dinheiro dos outros. Umas simples troca de correia e os
caras já querem aproveitar-se disso, cobrando por um serviço que qualquer um poderia
fazer.
Sem cabimento! Quem não saberia colocar uma correia ao redor de algumas polias e
depois apertar o esticador?
Engoli a raiva e disse: "Filho, vá até lá e compre essa correia! Não volte sem ela!"
Não estava conseguindo enxergar direito. Acocorado como estava ficava difícil e minhas
costas já estavam doendo. Coloquei um tapete no chão e deitei a máquina sobre ele,
com a abertura traseira voltada para cima. Com um fio elétrico e uma lâmpada, iluminei
amplamente o assunto.
Bem mais fácil agora estudar o problema. Mas olha que olha, estuda que estuda e nada.
Caramba!
Como é que fazem uma máquina assim tão complicada. Uma simples máquina de lavar
roupa! Teria que desmontá-la completamente para colocar a correia!
Nenhum equipamento é projetado assim. Tem que haver um meio simples de executar
essa tarefa. Mas olha que olha, estuda que estuda e nada.
Não adianta. Sem desmontar a máquina por completo, seria impossível instalar a correia.
Inconcebível, que em plena era espacial, aparelhos sejam construídos dessa maneira.
Mas, não tinha jeito. Por isso é que disseram que um técnico deveria executar o serviço.
Desmontá-la por completo não ousava fazer. Certamente faria algo de errado na
desmontagem ou na montagem. Além disso, a trabalheira seria demais.
Hesitei bastante, mas não tinha alternativa: "Filho, vá lá na loja e chame o técnico". O
técnico veio e, em quinze minutos, colocou a correia.
Existe um método de se fazer isso com facilidade. Mas não fiquei sabendo qual é.
Não me atrevia a chegar perto enquanto o técnico estava trabalhando. Não arrisquei
ouvir dele alguma gracinha qualquer, ou mesmo ver um simples sorriso de
superioridade.
DEFUMAÇÃO – GG
Todo mundo tem sua idéia de "jerico". E, muitas vezes não apenas uma.
Costelinha defumada é muito gostosa, um crime contra a saúde, é verdade, mas uma
delícia. E cara também. Por outro lado a costelinha de porco nos açougues, crua, não
custa quase nada.
Com essa premissa, nada mais lógico que fazer um defumador. Após leitura das teorias
existentes projetei um defumador que deveria funcionar a contento. Usei um tambor
metálico de 200 litros e aproveitei um fogão a lenha que existe na lavanderia na casa de
meus pais e não era mais utilizado.
Pela teoria a fumaça teria que ser a mais fria possível e a defumação durar um dia
inteiro, ou mais. O combustível poderia se qualquer madeira que não fosse resinosa.
Fui a uma fábrica de pianos perto de casa e eles cederam serragem, quanto eu quisesse.
Peguei um saco de aniagem inteiro.
Bom agora era só começar. A idéia não era comercializar, vender ou qualquer coisa
deste tipo. Seria apenas "para o gasto". Entretanto defumar apenas alguns poucos
quilos, em um defumador que comportava oitenta ou mais, gastando um dia inteiro
nesse processo, não fazia muito sentido.
Tinha que arranjar mais interessados. Mais pessoas que estivessem dispostas a defumar
seus quilos de carnes, costelinhas, lingüiças, frangos, peixes etc. para que tudo isso
fosse "rentável". Quem sabe até, se a aceitação fosse boa, algum tipo de negócio
poderia sair de tudo isso?
Aí surgiu a idéia: Já que eu ia gastar o domingo defumando, eles iriam todos lá em casa
e juntos faríamos este serviço. Então depois de pronto, já levariam os defumados.
Tudo bem. Agora eu tinha que comprar ainda a cerveja, e outros bebes. E assim foi.
Pendurada as carnes. Iniciei o processo. Tudo "dentro dos conformes".
Aí começaram os problemas.
A serragem que, ardendo aos poucos, deveria fornecer fumaça (fria) não queria pegar
fogo direito. Apagava sem parar. Acredito que estivesse úmida.
Constantemente papel, gravetos, galhos de pinheiros tinham que ser queimados para
fazer a droga da serragem arder. Mas nada.
Queimava um pouco e depois apagava. Assim foi o dia inteiro. Uma dificuldade do cão.
Meus amigos não ajudaram em nada. Ficavam só sentados, dando palpites. E bebendo.
Em resumo, ficou tudo uma droga. Fazer o que. Cada um pegou a sua parte das carnes e
acertamos as contas. E foram embora.
Nos dias seguintes fiquei sabendo o que aconteceu com os defumados. Eu fui o único
que comeu alguma coisa. Os outros, nenhum deles, sequer experimentou! O aspecto era
por demais, desagradável.
Outro me devolveu as carnes. Não as queria. Nem o dinheiro de volta não queria.
Outro disse que deixou na geladeira e depois jogou fora.
Outro também ofereceu para o cachorro dele, que mordiscou um pouco. E depois
vomitou!
E assim por diante. Este foi o resultado. Nunca mais se falou em defumar coisíssima
nenhuma.
Um deles, lá da minha casa, foi embora de ônibus, levando consigo a sacola com as
carnes defumadas. Apesar do ônibus lotado, ele tinha bastante espaço e lugares vagos
ao seu redor. Ninguém conseguia ficar perto dele. Por causa do forte cheiro de fumaça.
Quando era mais jovem, pensei em comprar um relógio de pulso, com o meu parco
salário, acumulado a custo de muito sacrifício.
No rádio uma propaganda oferecia um relógio que eu considerava bom. E o preço? Uma
pechincha! Fui lá comprar.
"Ah, sim, este relógio, estava em promoção. Mas a procura foi tão grande, que acabou
rapidamente. Temos porém outros modelos, muito bons também, melhores até, só que
mais caros."
Nenhum deles me interessou. Principalmente porque eram muito mais caros. E fui
embora. Alguns dias mais tarde, novamente a mesma propaganda, nova ida à relojoaria.
E a mesma conversa.
Não prestei mais atenção a este tipo de propaganda. Relojoaria mequetrefe! Empresa de
quinta categoria, pensei. Mas, as de primeira, também fazem isso. Lojas enormes de ar
condicionado, transnacionais de primeiro mundo fazem exatamente o mesmo!
Um microondas anunciado como oferta. Uma pechincha! Menos da metade do preço dos
demais. Fui lá. Ao ser atendido, fui informado que a oferta era para apenas uma unidade.
E lá estava o microondas, bonito e reluzente.
Só que era um, que tinha sido usado para demonstração. A embalagem já tinha sido
aberta, o manual tinha sido perdido e, além disso, estava sem o prato giratório, que tinha
quebrado.
Na verdade fui burro, deveria ter comprado o microondas, e exigido o manual e o prato,
pois que, na oferta não mencionaram estas deficiências.
Fui lá, no primeiro dia da oferta, cedo. E, vejam só, já estava esgotado.
Fui embora sem comprar nada. Burro que fui! Devia ter exigido que me mostrassem as
cem notas fiscais de venda. Pois era impossível, terem vendido tudo em tão curto prazo.
Devem ter se enganado ao fazer a oferta, e então assim tiraram o corpo fora.
Agora a última, e é por isso, que estou escrevendo. Recebi pelo correio, uma oferta
imbatível e irrecusável:
"Para cliente XXXXXXCard. VOCÊ GANHOU!!! Dois dias e uma noite de hospedagem,
TOTALMENTE GRATUITO, com café da manhã e direito a um acompanhante. Escolha o
local: Guaratuba, Florianópolis, Caiobá. Ligue gratuitamente agora".
Quem perderia a oportunidade de pegar uma "gata" ou a esposa que seja, passar dois
dias e uma ótima noite, sem pagar nada?
Se nunca concorri a nada, por que teria eu ganho alguma coisa? Isto não está me
cheirando bem. Normalmente, jogo fora imediatamente, este tipo de "junk mail", mas, no
caso, resolvi ver qual era a pegadinha, por curiosidade.
Pois, é claro, que alguma coisa neste sentido, teria que existir.
Florianópolis Guaratuba e Caiobá, cidades litorâneas, estão perto valeria a pena dirigir
os cento e tantos quilômetros por uma "gata" (pela esposa nem tanto).
Mas, de graça, sem pagar nada? Isso não existe! Pensa que pensa e nada. Mas acabei
descobrindo o que é (pelo menos o que achei que deveria ser):
Devem estar mandando este folheto apenas para pessoas que não tenham XXXXXXCard!
Para que eles então façam o cartão. E possam usufruir desta oferta.
É por isso também, que uma das cláusulas afirma que a oferta é pessoal e intransferível!
Não posso dar a um amigo, que tenha um desses cartões. Puxa vida, estou de parabéns,
descobri afinal, a pegadinha.
Vou escrever sobre isso pensei. Mas, por segurança, é melhor mesmo, telefonar para
eles, antes de fazer isso. E então, a grande surpresa!
Não é obrigatório ter ou fazer nenhum cartão! E não se paga nada, realmente. É apenas
uma promoção, de verdade. De uma rede de hotéis!
Inconfiável ser humano! Não dá nem para confiar que ele seja inconfiável.
PANQUECAS – GG
A vida de solteiro não é fácil. Talvez alguns homens se adaptem e até se dêem bem
enfrentando serviços caseiros, sem a ajuda de uma mulher ou apenas com a ajuda de
uma diarista.
Normalmente não é assim. Quase sempre o caos prevalece. Todos os dias. Exceto
quando a casa é arrumada pela diarista. E algumas horas depois.
Homem nenhum gosta de cozinhar. A não ser assar churrasco. Entretanto, não é
possível viver-se de churrasco, dia após dia, sem parar. O fígado não suporta tantas
cervejas e caipirinhas. Salvação são os italianos, que inventaram a pizza. Mas até esta,
com o tempo, sai pelas orelhas. O que fazer então?
Meus dois filhos e eu, solteiros na ocasião, estávamos na era das panquecas. Panqueca
simplificada, sem recheio, só a massa. Simples de fazer. Farinha, ovos, água e sal. E
azeite para fritar.
Mas, volta e meia, surgia um problema. Chegando em casa, por vezes faltava um, ou
mais de um, dos ingredientes. E não dava para fazer a panqueca.
Às vezes faltava farinha, às vezes ovos às vezes azeite. Ou qualquer combinação deles.
São no total, sete impedimentos para que as panquecas pudessem ser confeccionadas.
Podia ainda faltar sal (o que não impedia muito), gás (importante, mas não muito
freqüente) e fósforo ou isqueiro (difícil faltar, na casa de fumantes).
Um dia encheu. Assim não dá. Vou fazer um estoque, suficiente para alguns meses. Fiz
as contas e comprei. Doze dúzias de ovos, cinco pacotes de cinco quilos de farinha e
seis latas de azeite.
Isto deve resolver o problema. Orgulhoso, apreciei a minha obra, tudo resolvido.
É interessante como são os seres humanos. O que se passa dentro das pessoas é uma
incógnita. Não sei o que aconteceu. Difícil explicar.
Talvez porque no íntimo cobicemos apenas aquilo que não temos, e tudo aquilo que
existe em excesso é desvalorizado. Não sei.
O fato é que, nós três, olhando aquela enorme quantidade de suprimentos, perdemos
completamente o interesse em fazer panquecas. Talvez nosso inconsciente pensasse:
"Tenho que comer tudo isso?", e então se negasse a fazê-lo.
Azeite e farinha não estragam facilmente. Mas os ovos já iam ficando imprestáveis. Ao
quebrar um deles às vezes a gema e clara misturavam-se.
Não tinha o que fazer. Começamos a distribuí-los aos conhecidos que os quisessem.
Depois foi a vez da farinha. Solteiros não têm utilidade nenhuma para farinha, a não ser
como nós, em panquecas. Pão, bolo e sei mais o que pode ser feito com farinha, isso é
coisa de mulher. Assim também a farinha foi dada de presente.
Agora, decorridos muitos anos, uma vez ou outra fazemos panquecas. Muito raramente
porém. Nunca mais voltamos aos bons tempos.
O POSTE – GG
No entanto, um pedaço do muro divisório do terreno que abrigava o poste (de ferro) e a
caixa do contador de luz, permaneceu para fora do terreno, no meio da atual calçada e
assim foi por vários anos.
Eu nada sabia disto até receber pelo correio um comunicado da companhia de energia
elétrica informando que eu deveria mudar a instalação para os "padrões" da companhia,
impreterivelmente.
Como sou brasileiro não dei bola, mesmo após vários comunicados semelhantes.
Até que veio um, dizendo que eu tinha prazo de um mês para fazer a mudança senão
eles iriam cortar a luz.
Bom, agora eu vou me mexer pensei (naquele tempo ainda não existia ainda o Código de
Defesa do Consumidor, e este tipo de ameaça era bastante efetivo). Ficar sem energia
elétrica seria como voltar à idade da pedra.
Eu tinha uma pequena oficina, como Hobby apenas, no fundo do quintal e pensei ser
interessante então, já aproveitar para instalar linha trifásica. Bom também para ter 220V
no chuveiro resolvendo assim as constantes quedas do disjuntor e respectivos banhos
incompletos.
"Ah", disseram, "O senhor tem oficina? E quer instalar trifásico? É necessário um
projeto, feito por engenheiro eletricista credenciado, planta do terreno com os imóveis
etc. etc.".
Com salário microscópico, era claro que isto estava fora de questão, ainda mais porque
o material elétrico trifásico era também, significativamente mais caro.
Disseram que seria suficiente fazer um croqui do terreno com a casa e levar lá. Com
trena lápis e prancheta fiz o croqui e levei até a companhia.
O funcionário que me atendeu, viu que, além da casa, existiam dois quartos, banheiro e
junto minha pequena oficina (que eu tinha denominado, por precaução, de depósito de
lenha), separados da casa principal.
Afinal eu não estava disposto a pagar duas taxas mínimas, duas taxas de iluminação
pública etc., sem lutar pelo menos. Mas nada adiantou.
Dito e feito. Conversei com o Alaor, e fomos até a minha casa para ver in loco a cena do
crime. Ele explicou que a primeira coisa a fazer era o buraco para o poste pois, quando o
mesmo fosse entregue, eles o desceriam do caminhão diretamente no buraco.
O melhor de tudo era que, segundo ele, seria suficiente apenas um contador. Como ele
iria resolver isso com a companhia eu não tinha a menor idéia.
Durante a conversa com o Alaor eu entendi o que o meu colega queria dizer com "meio
enrolado". Por mais que eu indagasse, não ficava claro onde ele iria cavar o buraco, se
do lado esquerdo do portão (o que a companhia de energia elétrica não permitiria) ou do
lado direito (onde o relógio de água iria atrapalhar).
Por fim eu disse: "O senhor é o entendido no assunto, e o que o senhor resolver está
bom". Deixei ele lá, e voltei para o trabalho.
À noite vi o buraco cavado ao lado esquerdo do portão, (onde a companhia não permite).
Bom, pensei comigo mesmo, ele deve saber o que está fazendo.
Do Alaor havia um recado dizendo que eu deveria comprar o poste, caixa de luz e
acessórios e então avisá-lo.
Por economia é claro eu iria fazer cotação em muitos lugares. Mas qual, poste e caixa
trifásicos estavam em falta. Depois de muito procurar e pressionado pelo apagão, desisti
do trifásico e fui no bifásico.
No lugar mais barato da cidade, comprei o material e perguntei quando seria entregue o
poste, dizendo que era extremamente urgente.
"Amanhã cedinho", foi a resposta. Que ótimo. Pelo menos uma boa notícia.
Cedo, no dia seguinte, telefonei para o trabalho dizendo que iria mais tarde e fiquei
aguardando. 9:00 horas nada, 10:00 horas nada, 10:30 nada. Telefonei para a loja
perguntando. "O senhor pode aguardar, que eles estão entregando". 11:00 nada, 11:30
nada. Telefonei novamente. "Com certeza vão entregar à tarde, o senhor pode aguardar".
15:00 horas nada, 16:00 horas nada, 17:00 horas nada. Liguei novamente. "Não deu para
entregar hoje, mas amanhã cedo eles entregam".
Então eu disse que não poderia ficar faltando ao trabalho por causa da entrega e
combinei que eles me telefonassem quando fossem entregar o poste.
No dia seguinte, no trabalho, recebo o telefonema: "O senhor pode vir que estamos
aguardando". Saí que nem foguete, queimando pneus e em 10 minutos estava em casa.
Mas graças a Deus não foi assim. Após várias manobras, com 2 cm de cada lado o
caminhão logrou entrar no portão. Até a metade!
Uma laranjeira na beira do caminho não permitia que o mesmo se deslocasse mais, a
não ser arranhando a lataria. Sem como derrubar a laranjeira, assim de improviso, não
sabia o que fazer. O poste tem que ser descarregado no buraco e para isso o caminhão
tinha que entrar no terreno.
Os entregadores disseram: "O senhor não se preocupe, nós voltaremos amanhã com
uma camioneta e aí vamos descarregar o poste para o senhor".
No dia seguinte não recebi nenhum telefonema deles e à noite fui para casa.
Quando entrei vi o poste, dentro do terreno, não em pé dentro do buraco, mas sim
deitado ao lado. Pronto! Agora a encrenca estava feita. O que será que aconteceu?
Meu sobrinho que, coincidentemente, estava na casa quando da entrega, explicou: "Eles
vieram aqui, eu abri o portão e eles entraram com a camioneta e o poste mas na hora de
descê-lo dentro do buraco, não o fizeram porque o mesmo iria bater nos fios de luz que
passam por cima e então eles o descarregaram aí mesmo, no chão".
E agora? Como iria eu colocar o poste em pé, para então chamar o eletricista Alaor para
concluir o serviço? Passam-se vários dias, não sabia o que fazer.
O prazo do apagão já tinha vencido há muito e a qualquer hora esperava que a luz fosse
cortada. Então o filho da minha namorada, disse: "Pode deixar que eu e alguns amigos
resolvemos isso. Nós colocamos o poste no lugar e o senhor paga um jantar."
Perguntei: "Quantos amigos vocês são?" Ele respondeu: "Quatro, mas três são
suficientes pois já levantamos um poste em três pessoas."
Vieram em quatro. Na primeira tentativa o poste subiu a uma inclinação de uns 30 graus
do solo. Aparentemente o poste bifásico era mais pesado do que aquele que eles tinham
levantado. Na segunda, com mais empenho, a uns 20 graus apenas e na terceira uns 10
graus e voltou ao solo. Realmente era muito pesado.
Não paguei o jantar, mas fomos a uma lanchonete, comemos pizza e tomamos cerveja.
Para piorar as coisas, certo dia, meu sobrinho disse: "Passou um cara aqui, da
companhia de energia elétrica, e disse que se o poste fosse colocado neste lugar do
buraco, eles não fariam a ligação".
O poste deitado e o apagão pendente. Toda vez que entrava ou saia de casa via o poste e
ficava preocupado. Qualquer hora eu ficaria sem luz em casa. O que fazer?
Já que o meu colega do trabalho tinha me metido nesta enrascada (eu já estava
"apelando") era ele que me devia tirar desta. Tanto falei que ele, na ocasião Chefe de
Divisão, encheu-se e tirou em pleno expediente, dez funcionários (gente acostumada a
fazer força) do serviço e, com cordas e duas tábuas, lotamos dois carros e fomos até a
minha casa.
A cada etapa recuperávamos o fôlego. Realmente sem tábuas e cordas, mesmo em dez
pessoas não teríamos conseguido o intento.
Meu medo era que, após tantos contratempos, alguém ainda saísse machucado e a
situação complicasse de vez. Mas felizmente tudo correu bem e nada aconteceu. Enfim o
poste estava em pé. Ufa!
Agora vinha a fase final que era conclusão da instalação. E o mais preocupante,
conseguir que a companhia de energia elétrica fizesse a ligação.
O preço foi bastante salgado, mas se a ligação fosse feita, valeria a pena.
Instalada a caixa, ferragens e puxado os fios o novo eletricista pediu um pequeno
adiantamento do valor contratado. Eu dei. Ele pegou a cédula, colocou-a dentro da caixa
do contador e disse: "O senhor pode telefonar para a companhia e pedir a ligação".
Pelo menos não preciso mais temer o apagão, e, durante um bom tempo foi uma
satisfação imensa, voltar do trabalho, acender as luzes e deixar a casa bem iluminada.
Tempos depois um carro bateu no muro da casa e quase derrubou o poste, mas ele
agüentou. Um pouco torto e cheio de rachaduras ele continua exercendo sua função,
satisfatoriamente. Essa é a historia.
Desde este episódio, minha admiração por Queops (aquele das pirâmides no Egito)
aumentou muito, pela coragem, determinação e principalmente por ter conseguido
realizar um empreendimento de tal envergadura. Se bem que, naquela época, as coisas
deviam ser mais fáceis. Não existia ainda a tal da eletricidade.
Não sei se ainda é assim. Parece que foi considerado ilegal fazer isso.
Meu salário (que não é lá essas coisas) é depositado, e alguns dias depois eu ia ao
banco e retirava praticamente tudo. Sem avisar com antecedência. Nunca avisei que ia
retirar a mixaria do meu salário.
Esperava na fila e chegada a minha vez, a pergunta: O senhor avisou que ia retirar essa
quantia?
Eu: Não, não avisei.
Caixa: É que o dinheiro está no cofre e demora a abrir, e os caixas não têm essa quantia.
Eu: Eu espero.
Caixa: O problema é que não temos tanto dinheiro nos caixas e não podemos pagar o
seu cheque.
Eu: O banco não tem dinheiro? Mas eu não estou pedindo dinheiro emprestado, quero
apenas retirar o que foi depositado em meu nome. E isso foi feito há poucos dias, como
é que o banco não tem mais esse dinheiro? Ora, se esse dinheiro não existe mais, o
banco só pode estar falido! (a essa altura eu já estava falando bem alto e todas as
pessoas olhando).
Caixa: (Vai falar com o gerente e volta) O senhor precisa aguardar um pouco.
Caixa: Poderia ficar ao lado para que eu possa atender os outros clientes?
Eu: De jeito nenhum. Esperei na fila e é a minha vez, só saio daqui com o dinheiro (e fico
na frente do guichê até que o cheque seja pago).
Caixa: O senhor deve avisar antes, que vai retirar essa quantia.
Eu: Então, faz favor tome nota, todo o começo de mês eu irei retirar valores
semelhantes. Está bom assim?
Não estava, porque no mês seguinte era a mesma lenga lenga. Mas, nunca avisei com
antecedência.
Acabei entregando os pontos, para não ter mais que brigar. Passei a usar o caixa
eletrônico. Que não permite também, retirar muito dinheiro de uma só vez.
Casar, sempre é uma decisão difícil de ser tomada. Você é jovem, e está namorando,
com uma bela "gatinha". Já há algum tempo. Vocês se gostam. Não existe pois como
reclamar das coisas, assim como elas estão.
Entretanto, você pressente com razão, que tudo lentamente está encaminhando-se para
um, como se diz, "compromisso mais sério". Que em nada lhe agrada. Não é o que você
deseja, por enquanto. Muitos cartuchos ainda, para detonar na vida. Antes de enfrentar
coisas definitivas como um casamento.
Você já foi apresentado aos pais dela, já jantou na casa dela muitas vezes. Eles, é claro,
querem ver a filha, com quem tanto se preocupam, bem cuidada. E que tudo aconteça
"dentro dos conformes".
O cerco está se fechando e você nada pode fazer. Suas evasivas e desconversas,
quando o assunto é ventilado, já são solenemente ignoradas. A pressão aumenta e cedo
ou tarde, você será encostado na parede.
O que fazer? Não existe como sair-se dessa, honrosamente, sem ferir sentimentos. Sem
ser considerado por todo mundo, como sendo um vil e ignóbil crápula.
Finalmente chega o dia. Com muitos dengues, em conversa que não lhe deixa
escapatória, ela exige que você se comprometa com o futuro casamento.
Você responde: "Claro querida, casaremos sim. É justamente o que eu mais quero na
vida".
Ela, estupefata: "Mas amorzinho querido, assim tão rápido? E a festa, convidados e tudo
mais?"
Você: "Nada de festa, é bobagem. Vamos casar apenas no cartório. O que mais quero é
estar junto de você, só nós dois. E formar uma família, o mais rapidamente possível".
Ela: "Mas amor, você ainda não terminou os estudos, não tem emprego, como é que
vamos viver?"
Você: "Ora, esse negócio de estudar é bobagem. Muita gente se fez muito bem na vida,
sem estudo. Na verdade é só perda de tempo".
Ela: "Mas, com um emprego desses, nunca poderíamos sequer alugar uma casa
decente!"
Você: "Engano seu, querida. Vi outro dia, junto à favela da Rocinha, uma casinha muito
legal, aluguel bem baratinho. E isso que dizem por aí que aquela região é perigosa, que
lá só existem bandidos e estupradores, é pura conversa".
Ela: (Silêncio).
Você: "E, se fosse o caso, você poderia colaborar também. Quem sabe lavando roupa
para fora".
Ela: (Silêncio)
Você continua: "O que mais quero querida, é uma família, o mais rapidamente possível.
Você sabe, eu adoro crianças. Não vejo a hora de brincar com os filhos. Muitos deles.
Um time de futebol até. Serei o treinador, mal posso esperar que isso aconteça!"
Ela, após uma longa pausa: "Sabe, neste tempo todo em que estamos juntos, nunca
percebi o quanto você é realmente imaturo e irresponsável!"
Você: "Mas querida, do que é que você está falando. Eu te amo. Quero casar com você.
Para ficarmos juntos, para todo o sempre!"
Ela: "Não me venha com essa conversa idiota, seu crianção. Está tudo acabado. Vá para
o inferno!"
Torcedor de futebol
- Que pergunta é essa, filho? Qualquer um pode ser torcedor, é só escolher um clube e
torcer!
- Ô filho! Deixa de ser bobo. Assista aos jogos, veja como são os jogadores, se jogam
bonito, se têm esportividade. Enfim, veja o time que mais lhe agrade e então torça por
esse clube.
- Mas pai, os jogadores estão sempre mudando, sendo vendidos e comprados, não seria
melhor torcer pelos jogadores e não pelo clube?
- Não filho, você tem que torcer pelo clube. E tem mais, você tem que ser fiel a ele.
Mesmo que ele se transforme no pior clube do planeta. Você tem que ficar firme, não
pode ser vira-casaca e mudar de clube.
- Mesmo assim filho. E quanto pior, mais você tem que torcer!
- Que nem o casamento não é pai. Por toda vida, aconteça o que acontecer.
- Pior, filho, pior. Casamento ainda dá para separar. Mas do time escolhido, nunca mais!
O pequeno Moritz fica pensativo e então diz: E se eu não escolher nenhum clube para
torcer?
- Também pode filho. Mas não convém fazer isso, nós brasileiros gostamos de futebol, e
se você não torcer por um time qualquer vai ser excluído. Será considerado um pária.
Simplesmente não vai ter o que falar em muitas ocasiões. Sabe o futebol, assim como a
previsão do tempo e o cafezinho são quebra-gelos. Quando não se têm nada para dizer,
fala-se de futebol. E assim as pessoas se entendem.
- É isso aí filho. Escolha bem o seu clube, qualquer que seja ele. A escolha é totalmente
sua. E fique por dentro, acompanhe os jogos os lances e a política dentro e fora do seu
clube, seja um perito no assunto! E quando não tiver o que fazer, em vez de ficar
pensando bobagens, assista futebol. Você se diverte se emociona se empolga e esquece
as coisas ruins da vida, tais como corrupção, criminalidade, guerras, recessão, inflação.
Que só deixa a gente deprimido.
- Entendi pai. O futebol é o tal circo de que tanto falavam os romanos, não é?
O pai admirou-se do filho falar isso e concordou: É verdade, de certo modo você está
certo.
- Não filho, isso você não pode fazer, de jeito nenhum. Seria arriscar um olho roxo, ou
pior que isso. O futebol é perigoso, você tem que torcer por um clube brasileiro. E nos
jogos internacionais deve torcer para que vença aquele que mais favorece o seu clube
ou a seleção brasileira, independentemente de como jogam os jogadores.
O pequeno Moritz pensou bastante e disse finalmente: Vou ser torcedor do Corinthians!
- Não filho, não é a atitude correta. O Corinthians é de gente simples. Você tem que
escolher um clube que seja mais perto da sua classe social. Lembre-se que quando for
assistir a um jogo no estádio, você irá ficar bem perto dos torcedores. Existe uma
divisão de classes, os afins ficam juntos. Pense melhor, filho.
- Puxa pai. Eu não sabia que ser torcedor era tão complicado assim.
E já sem muitas alternativas o pequeno Moritz afirma categoricamente: Já sei, vou torcer
pelo Palmeiras!
O pai olha ameaçadoramente para o filho: Ô filho, qual é a tua. Você sabe muito bem que
eu sou São Paulino, vidrado. Tá querendo arrumar encrenca comigo?
Pescar foi o que mais fiz na vida, além de trabalhar. Desde que me conheço por gente
gostei de pescarias. Sempre tentei ser um pescador bem sucedido. Foi o meu único
hobby em toda a minha vida.
Lugares perto, fui em todos e os distantes em muitos deles. Isca viva, fígado, coração de
boi, sardinha, ração para coelho, ovo de formiga, isca artificial, já experimentei de tudo.
Décadas de tentativas, mas nunca, nunca mesmo, fiz uma boa pescaria. Nem mesmo
uma razoável sequer. Nunca!
Agora superei tudo isso. Desisti, entreguei os pontos definitivamente. Acho que
finalmente consegui livrar-me desse terrível vício, pior que a bebida ou cocaína.
Pescar, um vício, sem dúvida. O pescador vidrado apresenta os mesmos sintomas dos
viciados no jogo. Gasta o que tem e o que não tem para poder pescar, prejudica o seu
trabalho e destrói sua vida familiar. De dia pensa em pescaria e de noite sonha com
peixes.
Eu me livrei de tudo isso.
Atualmente quando amigos dizem que descobriram um lugar fabuloso, "assim de peixe",
"beliscando feito doidos" e me convidam, eu, debaixo dos meus cabelos brancos
simplesmente sorrio, e digo não!
É verdade, não consigo evitar o sentimento, a dúvida de estar perdendo mais uma
oportunidade, que finalmente poderia dar resultado. Mas fico firme.
E lá se vão eles para a pescaria. E como sempre, voltam sem o peixe, com várias
explicações porque desta vez a pescaria não deu certo. Mas, quem sabe, da próxima
vez?...
Sintomas típicos do vício, assim como as jogatinas! Eu então, como um sábio chinês de
profundo conhecimento transcendental, limito-me a sorrir.
Perdi muitas namoradas por causa das pescarias. Eu gostava delas claro, mas elas não
gostavam de pescar. Nos fins de semana e feriados prolongados o impasse de sempre:
Pescar ou namorar?
Tentava coadunar os dois, mas acabava não dando certo. A namorada não queria saber:
Era ela ou o peixe. Muitas vezes o inexistente e almejado peixe era vencedor e o namoro
ruía por terra.
Elas não se interessavam pelas minhas teorias pescatórias que iriam finalmente resultar
no saburá cheio de peixe. Elas queriam saber de outros papos, mas eu só sabia falar de
pescarias.
Às vezes conseguia que a namorada fosse junta numa pescaria. Aí chovia, fazia frio, ela
caia n'água ou escorregava e sujava o traseiro, era estraçalhada pelos mosquitos e
borrachudos. E não falava mais comigo.
Comprei tudo que existe de equipamento para pesca, caro e barato, grande e pequeno.
Barco, bote de borracha, motor de popa, arma para caça submarina, pés de pato,
carretilhas, molinetes, fisgas, caixas de pesca, barraca, mochila, lampião, fogareiro,
lanterna, faca, saco de dormir. Tudo para poder fazer uma boa pescaria.
O meu primeiro carro foi comprado exclusivamente tendo em vista facilitar as pescarias.
E assim todos os demais. Tinham que ser bons em estradas intransitáveis, o resto era
secundário.
Cuidava de todo o equipamento com muito zelo e carinho, para que na hora H não
falhassem de jeito nenhum. Comprava revistas e livros sobre peixes, sabia de cor os
seus nomes vulgares e científicos. Estudava cientificamente seus modos de vida e
habitat.
Naturalmente, nas pescarias, andar subidas e descidas até alcançar o pesqueiro, dormir
mal em barracas, empurrar o carro encalhado e ficar horas a fio tenso, prestando
atenção na imóvel linha dentro d'água, debaixo de sol e chuva, é muito cansativo.
Voltávamos sempre esgotados e sujos como porcos.
Nas férias, sem dúvida, pescaria de trinta dias. Longe da civilização que já não tem mais
peixes disponíveis. A mulher reclama, não quer ficar no mato ou acampada numa praia
distante, longe das novelas de televisão. Não é isso o que ela imagina de férias bem
vividas. Encrenca das grossas.
Mas finalmente, pela persistência, conseguimos nosso intento mas temos que levar o
filho mais velho, para que a mulher possa ficar mais sossegada em algum outro lugar,
mais aprazível no seu entender. O que custa uma nota preta. Ela meio que se vinga de
ter que ficar sozinha nas férias, escolhendo lugares especialmente caros para ficar.
Mas a vida de pescador é assim mesmo, desafios devem ser superados, o importante é
colocar a linha n'água com a isca certa. Sem o que, certamente não se pesca
absolutamente nada. No mar, a melhor isca sem dúvida é o camarão vivo. O preço é de
ouro.
Cansei de trocar um camarão desses, uma iguaria se frito na hora, por um miserável
bagre com gosto de lodo e iodo, apenas um pouco maior do que ele!
Certa vez fomos pescar no pantanal mato-grossense. Sabidamente lá tem peixe grande e
bastante. Não podia falhar.
Mas qual, naquela região de muito calor, fez um frio de rachar as canelas. Chegou a gear
em alguns lugares. Não tínhamos levado roupa suficiente e passamos um frio danado.
Contratávamos pirambeiros com suas voadeiras, barcos de alumínio com motor de popa
de 15HP, que voavam pelos rios e alagados, o vento gelando-nos até a alma. A isca mais
promissora era o minhocossu, uma minhoca gigantesca, que não é natural de lá,
importada de Minas Gerais. Cada uma custava dez Reais!
Beliscões nos levavam a preciosa isca e nada mais. Esse foi o resultado dessa viagem.
Mas sei lá por que cargas d'água não pesquei nada. Consolou-me um pouco saber que
os demais também não estavam fisgando nenhum peixe. Devia ser algum problema
especial que estava acontecendo naquele dia, mas não fiquei sabendo qual é.
Então eu parei de vez. Gastei uma vida, para descobrir que peixes definitivamente só
existem nas peixarias. E todo o resto provavelmente é montagem, uma enorme
conspiração para vender equipamentos de pesca e viagens. Só pode ser isso.
Os seres humanos, despojados por Darwin de seus atributos divinos, passaram a ser
simples bichos novamente. Brigam feito gato e cachorro (aliás, como sempre fizeram).
Mas antes se lhes opunha certo temor do castigo eterno. O que com Darwin deixou de
existir. Somos bichos. E como bichos temos que brigar pela sobrevivência. Quem pode
mais chora menos. É assim no trabalho, nos negócios e nos relacionamentos com as
pessoas, competir sempre. Vale a lei do mais forte, mais do que nunca.
Dentro do automóvel somos mais fortes do que gatos, cachorros, pedestres, ciclistas,
carrinheiros e motoqueiros. Sabemos disso, muito bem.
O automóvel é assim mesmo. Além de força significa também poder, poder do dinheiro,
pois o automóvel é para privilegiados. Estratificam-se as pessoas segundo o veículo que
dirigem. O automóvel é posição, status e superioridade. Num automóvel olhamos de
cima para os de baixo.
Com Darwin e o automóvel, nada mais impede que se faça pleno uso dessa tal da lei do
mais forte. Os mais fracos, gatos, cachorros, pedestres, ciclistas, carrinheiros e
motoqueiros que saiam da frente, e rápido. Pois eu estou com pressa e não será nenhum
deles que irá me fazer chegar atrasado em casa para tomar minha cerveja sossegado. Ou
para qualquer lugar que seja pois eu sou importante, meus compromissos são
importantes.
Que saltem pulem e corram pois não tenho nenhuma disposição em calcar o freio e
reduzir o mínimo de velocidade que seja.
É claro que isso tem que ser muito bem dosado. Afinal não quero me envolver em
nenhum acidente. Assim o negócio é chegar ao limite sempre, para que eles entendam
de vez, que as ruas pertencem aos automóveis. Mas sem que aconteça um acidente que
possa arranhar a lataria do meu amado veículo. Que ainda estou pagando.
Mas o que dá raiva mesmo nos engarrafamentos são esses motoboys e entregadores de
pizza. Deslizam entre os carros e lá vão eles se colocar na "pole position" aguardando o
sinaleiro abrir. Disparam então como coriscos, e eu com meu reluzente e potente
automóvel de algumas dezenas de milhares de Reais e uma centena de horse power
nada posso fazer, tenho que ficar rastejando. O sangue chega a ferver nas veias!
Ainda bem que nossas autoridades de trânsito e legisladores (que naturalmente também
possuem automóveis e portanto só pensam em termos desse veículo) estão sempre
tomando providências para restringir tudo aquilo que não seja automóvel. Em São Paulo
já houve até proposta para proibir motoqueiros de levar alguém na garupa, para evitar
assaltos por parte deles. Mas infelizmente não passou.
Colocam cada vez mais caroços, lombadas e tartarugas em todos os lugares nas ruas e
estradas. Para os motoqueiros e ciclistas é uma armadilha mortal, desequilibram-se
facilmente. E morrem como moscas.
Sinaleiros para pedestres atravessarem as ruas são mantidos ao mínimo indispensável,
e o tempo disponível é sempre curto demais. Os automóveis devem fluir não os
pedestres.
Carrinheiros são proibidos de andar pelas ruas, atravancam demais o tráfego. E, além
disso, enfeiam a cidade. Ciclistas quase não andam mais nas cidades, graças à nossa
atuação educadora. Quantas finas tirei deles! E no retrovisor podia vê-los então, quase
caindo, por causa do vento e do susto.
Gatos e cachorros pagam com a vida seus deslizes e falta de respeito pelos automóveis.
Mas nem tudo é um mar de rosas. Infelizmente ainda existem muitos ônibus e
caminhões. E tudo que fazemos com os mais fracos, não podemos fazer com eles.
Levaríamos a pior, apesar de nossa superioridade social e intelectual. Aí vale a prudente
covardia.
Poderia sair pela culatra xingar um motorista de ônibus ou caminhão. Sempre existe a
possibilidade dele se enfezar de verdade, e tocar em cima.
Mas nossos legisladores estão fazendo de tudo para que desapareçam também das ruas
e estradas. Ou pelo menos tenham bastante restrição em trafegar. Nos feriados as
estradas são interditadas para caminhões, para que possamos ir para o nosso lazer mais
tranqüilamente. Pagam muito mais pedágio que nós e nas cidades são proibidos. O
transporte coletivo, cada vez mais caro e pior. Ônibus lotados e caindo aos pedaços
enfatizam a superioridade dos automóveis.
Sem dúvida, o automóvel esse transformador de pessoas, é onipotente deus nas ruas!
Depende. Para quem ganha mil Reais por mês, trinta mil é muito, significa dois anos e
meio de trabalho. Já para quem compra um automóvel de seiscentos mil euros, trinta mil
Reais é trocadinho, gorjeta. O que para uns é muito, para outros não é quase nada.
O pequeno Moritz não sabia avaliar o significado desta enormidade de euros e calou-se.
Meus colegas na escola disseram que os Estados Unidos já fabricaram trinta mil bombas
atômicas. Eles são maus, muito mais do que o Irã, não é mesmo pai?
Não filho, os Estados Unidos amam a democracia e a liberdade, eles não são maus. O Irã
é um país terrorista e os terroristas são maus, essa é a diferença. E pare de ficar fazendo
tantas perguntas!
Mas pai, que mal pode fazer um país que não tem bomba atômica? O mundo inteiro está
preocupado com o Irã por causa dessa bomba que eles querem fazer, e não se preocupa
com os Estados Unidos que tem trinta mil? E até já jogaram duas no Japão. Não faz
sentido.
É que o Irã é perigoso para a humanidade, filho, eles são gente ruim. Além disso, você é
muito criança para entender essas coisas. E você já fez as lições da escola que tinha que
fazer hoje?
Mas ficou pensando, riscou uns números numa folha de papel e então não se agüentou e
disse: Pai, se o Irã tivesse a bomba atômica ele poderia jogar ela em um único lugar. E
pelas contas que eu fiz, os Estados Unidos poderiam jogar 150 bombas em cada um dos
países que existem no mundo! Isso não é muito mais perigoso para a humanidade?
O pai se levanta da poltrona, pega o filho pelo cangote e dá-lhe umas boas chineladas.
Eu já disse para você calar essa sua boca, seu desobediente! E agora vá já para a cama!
Cidadezinha pacata, do interior. Não era uma cidade de beira de estrada, quem ia até ela,
dela tinha que voltar pelo mesmo caminho. E por isso mesmo muito pouca coisa
acontecia. Nada de bom nem de ruim. Pessoas, as mesmas de sempre. A vidinha
também, a mesma de sempre.
João nasceu nessa cidadezinha, nela estudou e apesar de inteligente e trabalhador, a
sorte não quis que arrumasse um bom emprego. Tornou-se auxiliar de escritório, foi o
máximo que conseguiu. E continuaria sendo por muito tempo, pois naquele lugar as
coisas mudavam muito pouco.
Casou-se, mas não era feliz. Não tiveram filhos e a vida deles era só triste rotina.
João já estava nos seus quarenta anos de idade, era um sujeito pacífico, quieto, tímido,
que não sabia dizer não para ninguém. As pessoas aproveitavam-se disso faziam troça
dele.
Sua mulher o tratava muito mal, intimamente o culpava por essa vida sem filhos e sem
sentido. Mas ele não tinha culpa, e nem ela também.
No trabalho, o chefe fazia dele bode expiatório para tudo que acontecia de errado.
Diariamente ia de bicicleta de casa para o trabalho e depois retornava. Essa era a rotina.
Na volta do trabalho, muitas vezes cruzava com o seu primo Ferdinando. Este sim um
sujeito de sucesso. Proprietário da única concessionária de automóveis da cidade, e o
negócio ia de vento em popa. Eram bons amigos, ele e o Ferdinando, davam-se bem.
Mas, como todo mundo, o primo não resistia à tentação de fazer brincadeiras com o
João.
Toda vez que via o João de bicicleta, ele com o seu carrão último tipo, prateado e
conversível, tirava uma fina do João, fazendo-o desequilibrar-se e quase cair da
bicicleta.
João em seu caminho de volta, uma quadra antes de chegar em casa, de olhos
compridos, admirava uma bela formosa e gostosíssima vizinha, dona de um salão de
beleza, uma escultura de mulher. Que naturalmente conhecia o João, sabia quem ele era,
mas fingia não conhecê-lo. Ele tentou algumas vezes aproximar-se dela, puxar conversa,
mas ela não dava chance.
Chegando em casa, a mulher dele assistindo televisão. Ele senta e espera que ela faça o
jantar. Ela nada, continua assistindo televisão.
Então ela se levanta, arruma-se para sair e diz: "Eu vou sair, passear um pouco".
Ela abre o armário da cozinha olha lá dentro, pega um enlatado qualquer, um abridor de
latas e bate com eles em cima da mesa: "Taí o teu jantar!". E sai.
Era assim a vida do João.
João costumava comprar toda semana um bilhete de loteria. Bilhete que deixava
embaixo do peso para papéis na sua mesa do escritório. E toda quinta feira ligava para a
casa lotérica para saber o resultado.
Os colegas anotaram o número do bilhete. E quando o João ligou para a lotérica eles
chavearam o telefonema para o próprio escritório onde um dos colegas,
dissimuladamente, fingiu ser da lotérica, informando para o João o número do primeiro
prêmio. O número do bilhete dele!
O João ficou branco. Vinte milhões de Reais! Trêmulo, pergunta novamente o resultado,
que é confirmado!
Nisso o chefe manda chamar o João. Ele, sem saber direito ainda o que fazer, vai ter com
o patrão. Este, como sempre, passa uma bronca no João por um problema insignificante
e que o João não tinha culpa nenhuma.
Dessa vez o João não baixa a cabeça. Berra com o chefe, diz poucas e boas e até dá um
chute no traseiro dele! Bate a porta com força, quase quebrando a vidraça, e sai do
escritório. Os funcionários ficam a olhar, aterrorizados.
O João sai com o trator da loja. E passa com ele por cima do belo e caríssimo
conversível prateado do primo Ferdinando!
Perto de sua casa vê a gostosíssima vizinha lagarteando ao sol, pois o seu salão de
beleza no momento estava vazio. Ele a agarra pelo braço e a puxa para dentro da loja e
transa com ela atrás do balcão. Tomada de surpresa, ela não esboçou resistência, não
disse um "a"!
Chegando em casa, a mulher está assistindo televisão, como sempre. Ele vai para o
quintal pega o machado de cortar lenha e brandindo essa arma vai em direção da
mulher. Ela apavorada pensa que ele a quer matar. Mas não era essa a intenção dele. O
machado desce pesadamente sobre a televisão, espatifando-a em mil pedaços. A mulher
sai correndo de casa.
Finalmente ele se acalma um pouco. Vingou-se de todos, por todos esses anos de
humilhação! Sabia muito bem que, com vinte milhões de Reais, deixara definitivamente
de ser o João Ninguém que sempre foi, e nada lhe iria acontecer. Pois o dinheiro tudo
compra. Mesmo juízes e absolvição. Estava totalmente tranqüilo.
E então veio o telefonema. Era do escritório, os colegas explicando que tinha sido tudo
uma brincadeira. Que ele não tinha ganhado um centavo sequer!
Perdeu o emprego que era a sua sobrevivência. Ia ter que pagar o carro do primo, o que
nunca conseguiria, em toda a sua vida. Certamente iria enfrentar uma acusação de
estupro (mas que foi gostoso, isso foi). E destruiu o seu casamento, que não era lá
essas coisas.
Todos eles iriam acionar a polícia e a justiça. Se tiver sorte, uns vinte anos de cadeia!
Não havia o que fazer, a não ser esperar a chegada da polícia. Sentiu-se cansado, muito
cansado. Deitou-se na poltrona e adormeceu.
Viu que era de manhã, tinha dormido a noite toda. E foi abrir a porta.
Mas não era a polícia, era Ferdinando, o seu primo. Pediu licença para entrar, queria
conversar. Disse que ficou sabendo de toda a história (a cidade inteira sabia) e pediu
desculpas por ter humilhado tanto tempo o seu primo e amigo. E que foi bem merecido o
João ter destruído o seu carro.
Queria fazer uma proposta: Que o João trabalhasse com ele em sua concessionária.
Serviço tinha bastante e o salário e comissões iriam ser excelentes. Pois afinal o João ia
ter que repor o carro que destruiu. O trator não tinha sofrido um arranhão e já tinha sido
devolvido.
Mas não ia adiantar muito, pensa ele, já que iria ser preso por estupro do mesmo jeito.
Mais tarde, novamente batidas na porta. Agora deve ser a polícia, pensou!
Mas não. Era a gostosíssima vizinha, que com lânguidos olhares, declara que se
apaixonou totalmente e que esperava ansiosamente por ele. Quando ele quisesse, de dia
ou de noite! E sai, insinuante.
Mais tarde ainda, novamente batidas na porta. Desta vez, batidas leves e hesitantes.
Cheguei lá, alcancei o que quase ninguém consegue. Fiquei extremamente rico!
Minha vida está totalmente assegurada, por uns duzentos anos. Não estudei, só
trabalhei, nunca tive tempo para nada. Dei um duro dos diabos, não conheci outra coisa
na vida que não fosse juntar dinheiro e fazê-lo proliferar. Desde criança, doze horas por
dia, sem nenhum feriado nem nada. Uma vida de cão. Mas valeu a pena. Fiquei
imensamente rico.
Poderia continuar me esforçando para ser mais rico ainda, cada vez mais,
ilimitadamente. O que não tem muito sentido. Ou viver a vida intensamente,
aproveitando o mais possível essa minha riqueza, até o fim dos meus dias. Fazendo
apenas o que gosto.
Ainda sou jovem. Chega de acumular dinheiro, vou viver a vida, vou fazer o que eu
quero! Qualquer coisa que eu imaginar, pois o dinheiro compra quase tudo. O dinheiro
significa liberdade completa total e irrestrita. É isso o que eu vou fazer!
Se eu quiser dar a volta no mundo numa nave espacial eu posso. O dinheiro compra
isso. Se quiser olhar pessoalmente as mais profundas profundezas do oceano eu posso,
o dinheiro permite. Posso ir ao pólo Sul e Norte ou vagar pelo equador, nada me impede.
Não tenho ouvido para música, não consigo distinguir um dó de um lá, mas posso
contratar qualquer cantor, músico, grupo ou orquestra, sempre que for do meu gosto.
Pintura para mim então, uma incógnita. Eu que sei apenas rabiscar bonecos como uma
criança de quatro anos. Posso, no entanto comprar um Van Gog e um Rembrand
legítimos e pendurá-los na sala do palácio que pretendo comprar.
Como a maioria das pessoas, o meu paladar não é muito apurado, mas vou poder
degustar as mais incríveis delícias que o mundo gastronômico oferece. Tudo isso o
dinheiro compra.
E serei elogiado sempre pela minha sensibilidade conhecimento e fino bom gosto. Até
isso, sem dúvida, o dinheiro compra.
Não entendo nada de computação, mas posso comprar o mais recente moderno e
sofisticado equipamento que existe. De fazer babar os aficionados. Não entendo nada de
física quântica, mas se quiser eu posso comprar um edifício inteiro cheio de físicos
quânticos!
Terei muitos amigos, assim como todos os ricos. Darei muitas festas e convidarei muita
gente importante. Conhecerei e terei à minha volta dezenas de mulheres bonitas e
cativantes. Aparecerei em quase todos os jornais e nas edições da revista Caras, com
pelo menos uma fotografia, rodeado sempre de amigos sorridentes.
Vou viajar conhecer o mundo. Tudo em primeiríssima classe! Hotéis de seis estrelas ou
mais. Irei de jato particular ou no meu iate de 100 pés que vou adquirir. E fazer cruzeiros
em enormes navios com piscinas, bares boates e cassinos. Conhecer o primeiro mundo
e países exóticos. Só sei falar português, é verdade, mas levarei intérpretes.
Terei várias residências espalhadas por esse mundo afora. Vou poder escolher, à minha
vontade, entre diversas localidades, as mais elogiadas do mundo. Um mês aqui, outro ali
e acolá. E em cada lugar deste terei um bom automóvel, "top" de linha, ou mais de um.
Com chofer particular, que conhece bem o trânsito e as normas locais.
Para a entrega dos prêmios Nobel, serei convidado especial. E ficarei conhecendo a nata
intelectual do mundo. Mesmo que não entenda patavina do que eles fizeram para ganhar
esses prêmios.
Só queria saber o que é o tal do melanoma em metástase que o médico disse que eu era
portador. E ninguém parece querer explicar direito o que é.
Coitado do João! Foi um ano especialmente difícil! Tudo corria bem em sua vida, até o
início daquele ano fatídico.
Começou o ano com sua casa sendo assaltada por amigos do alheio. Ameaçaram-lhe a
vida na ponta de um revolver. Levaram tudo, roupas, eletrodomésticos, jóias,
economias, cartões de crédito e saldo bancário. E depredaram, por pura sacanagem
quebraram móveis portas janelas pias e tudo mais.
Fazer o que. Recuperar a casa estragada, levantar muros, contratar pedreiros, pintores e
empresa de segurança, instalar alarmes. Fazer seguro contra roubo, comprar uma boa
arma e fazer curso de tiro.
E adquirir tudo outra vez, claro. Tinha que fazer o sacrifício, já que não existia
alternativa. Faria horas extras, e se possível muitos bicos. A mulher dele voltou a
trabalhar também, temporariamente.
Mal estavam se recuperando, novo baque. Dessa vez foi mais grave, pois ele machucou-
se bastante. Acidentou-se com o carro recém adquirido, e a culpa foi dele. Seu
automóvel virou sucata e ainda teve que indenizar o outro. De nada adiantou brigar na
justiça, pagar advogado e peritos. Só fez tudo custar muito mais caro ainda.
Endividou-se terrivelmente. Ele e sua mulher tiveram que trabalhar em dobro para
conseguir pagar o que deviam e ainda comprar novamente um automóvel.
Então veio o divórcio. A vida familiar tinha padecido muito com os acontecimentos e
eles não podiam mais ficar juntos sem brigar e discutir. A separação não foi nada
pacífica, luta homérica pelos bens e direitos, audiências, recursos e acabaram se
separando. Advogados comendo-lhes dinheiro, que já não existia mais.
A ex-mulher já não pode mais ficar sem trabalhar, passou a ser obrigação. Mais uma
residência, móveis e eletrodomésticos tiveram que ser adquiridos e mais um automóvel.
Desgostoso da vida João começa a beber. Beber muito, além da conta. Desconsiderou
completamente o aviso "Aprecie com moderação" das propagandas de bebidas na
televisão.
Ninguém quer passar por coisas assim. Mas, essa tragédia pessoal deles, sob a ótica da
economia do país, foi excelente!
Já faz um bom tempo, comprava jornais freqüentemente. Como todo mundo, queria
manter-me informado.
Certa vez, uma manchete atraiu muito a minha atenção: "EXISTE VIDA EM MARTE!".
Interessadíssimo, comprei o jornal. Só que o texto não falava que tinha sido encontrada
vida em Marte. Era só enrolação desconversa e blábláblá. Mentirosa e enganosa
manchete!
Outra ocasião, em letras garrafais: "CACHORRO FEZ MAL A MOÇA!". Comprei o jornal.
Não era o que eu tinha pensado. Uma moça tinha comprado um cachorro quente que
estava estragado, e passou mal.
Nunca mais comprei jornais! Isto é, para procurar emprego ou vender meu carro e essas
coisas, sim. Mas pelas "informações" que eles transmitem, nunca mais! Com isso fiz um
bem enorme para a natureza, para o meu bolso, e principalmente, para o meu cérebro!
Usei agora, a mesma desonestidade deles, para fazer com que leiam este texto que
escrevi. Usei o mesmo título espalhafatoso. E mentiroso.
ZANGÕES INÚTEIS - GG publicado 10/05/2008
Outro dia fui a uma festa de aniversário. Toda a família presente, parentes de todos os
cantos e lugares. Homérica balbúrdia.
Gente que normalmente pouco se fala estava reunida. Trocando gracejos, relembrando
acontecimentos, comentando as novidades e contando piadas.
Mas o astro da festa, indiscutivelmente o mais popular, não era a belíssima prima de
jovens anos de idade, nem o tio rico com o seu impressionante carrão, nem a
incorrigível faladeira de tudo e de todos, nem o cunhado que tinha bebido um pouco
demais. Não era nem mesmo o próprio aniversariante.
Todas elas sorrindo de orelha a orelha a brincar com ele, dizendo-lhe "sweet nothings".
O pequerrucho as recompensava com uma gargalhada. Que as fazia derreter-se de
felicidade.
Cada uma delas queria pegá-lo no colo, das pequeninas de poucos anos de idade até a
mais idosa vovozinha. Eu até brinquei dizendo, que em nome dos pais da criança, estava
cobrando "Cincão pela voltinha com o nenê".
E assim foi durante toda a festa. Entre as mulheres o principal assunto era gravidez, os
cuidados com o nenê, amamentação, assuntos familiares etc.
E então pensei comigo mesmo: Esse movimento feminista é uma causa perdida!
Desde crianças as mulheres decididamente sabem o que querem na vida: Ser mãe!
Elas sabem isso exatamente. O seu objetivo de vida está bem claro e as satisfaz
plenamente.
Estudo, emprego, carreira, sucesso, independência, tudo isso pode ser importante, mas
ser mãe é prioritário! E nenhum feminismo vai mudar isso.
Ao contrário os homens. São barcos a vagar sem destino no mar desta vida. Não sabem
por que estão aqui. E assim inventam mil e uma inutilidades para preencher este buraco.
Trabalham feitos condenados à procura de riqueza que imaginam ser o seu supremo
objetivo.
Jogam futebol e se quebram por inteiro na disputa, ou torcem por um time e se quebram
por inteiro nas brigas fora e dentro do estádio.
Praticam esportes radicais, pelo que arriscam a vida, só para provar que são bons em
alguma coisa.
Vão aos botecos e enchem a cara. Para esquecer o que já não lembram mais. Discutem
com veemência assuntos sobre os quais não têm nenhuma influência: política,
economia, futebol. E pegam-se no tapa.
Inventam falcatruas e ilegalidades. Mais pelo desafio, pela emoção e adrenalina do que
por dinheiro. E vão para a cadeia por isso.
Irritam-se no trânsito e com os vizinhos. Brigam com facilidade, por motivos fúteis, só
pelo gostinho de brigar. Matam e morrem por mixarias.
As mulheres não cometem crimes, elas são mães, cuidam dos filhos. Nenhum feminismo
vai mudar isso.
Os homens por sua vez, fazem até guerras. Mesmo sem necessidade. Querem deixar um
legado qualquer para a posteridade, nem que seja de destruição.
Simplesmente não sabem qual é a sua função neste planeta. Inúteis zangões.
Por exemplo, se vivêssemos num mundo de apenas duas dimensões seria muito difícil
compreender a existência de objetos tridimensionais.
Figuras planas, o polígono, círculo, triângulo etc. seriam entendidos, assim como as
suas leis matemáticas, trigonometria etc. Mas como explicar em duas dimensões, por
exemplo, o tetraedro ou uma esfera, que são tridimensionais?
O raciocínio em duas dimensões nos diria sem sombra de dúvida que a esfera e o
tetraedro, são absurdos. Impossível a sua existência real.
Mas quem pode afirmar, com absoluta certeza, que não existem outras dimensões além
das que estamos acostumados?
Bom, pelo menos era bastante usada algum tempo atrás, cujo significado é: Isto é um
assunto totalmente diferente.
Vai ao armazém, pede uma pinga e puxa conversa com os presentes. Pergunta qual seria
a pessoa mais confiável naquela cidade, com quem ele pudesse deixar guardada a
quantia de quinhentos mil réis. Na época, bastante dinheiro.
Ele agradece e sai. Vai então até a farmácia e faz a mesma pergunta, obtendo a mesma
resposta. Depois vai até a venda e pergunta outra vez. E assim, vários lugares.
Passado um ano ele volta para aquela cidadezinha. Vai até a casa paroquial e cobra do
sacristão que lhe devolva os quinhentos mil réis que tinha deixado com ele.
O sacristão surpreso retruca: "Mas o senhor nunca deixou dinheiro comigo!"
Estranho: "Deixei sim, faz um ano, e o senhor não está querendo devolver?"
O dono do armazém diz: "É verdade, eu lembro algo assim, esse estranho ter dito que ia
deixar dinheiro com o sacristão."
Um rico fazendeiro que observava tudo ficou penalizado com a situação do sacristão,
que sabia ser honesto, e disse para o estranho: "O senhor está enganado, não foi com o
sacristão que o senhor deixou os quinhentos mil réis. E sim comigo!"
O vivaldino, mais que depressa responde: "Esses são outros quinhentos! Primeiro vou
cobrar os quinhentos que deixei com o sacristão. E depois vou cobrar do senhor".
Num vilarejo, distante de tudo, era costume dos habitantes, vez ou outra, comer carne de
macaco.
Um especulador chegou a este pequeno vilarejo e ofereceu 10 Reais por cada macaco
que os aldeões conseguissem pegar na floresta.
Toda vez que um aldeão queria comer carne de macaco tinha que comprar do
especulador, a 100 Reais o macaco.
Talvez não seja exatamente assim que funcionam os mercados de ações. Existem mil
outras tramóias que são aplicadas. E os mercados de ações não negociam macacos.
Muitas pessoas arrecadam dinheiro enganando as pessoas. Os bancos fazem isso, tiram
dinheiro das pessoas iludindo-as, afirmando que é vantajoso pagar juros e taxas
bancárias. As empresas com sua propaganda, sempre enganosa, fazem com que as
pessoas paguem mais pelo produto, do que ele vale.
Por que um pedinte não pode fazer o mesmo? Por que é imperdoável quando um
mendigo finge extrema necessidade, com o objetivo de receber esmola, e isso não é
verdadeiro? Finge ser cego aleijado doente machucado, e não é. Está enganando as
pessoas.
Eu dou esmolas. E absolutamente não me preocupa se eles vão gastar esse dinheiro em
pinga ou não. Dei e está dado, o dinheiro é deles, e façam o que quiser com ele.
Tenho certeza que será muito mais bem administrado do que o dinheiro de ricos, que
compram porcarias de griffe, nas porcarias de shopping centers.
ADRENALINA - GG publicado 10/03/2008
O medo mais comum é o de ser pego no flagra com outra, pela esposa (e vice versa). E,
como nos esportes radicais, existem também neste caso técnicas refinadas para
enfrentar as adversidades.
Tudo vai bem, mas um dia a mulher descobre que o marido tem uma amante.
Encrenca das grossas. Inicialmente o sujeito nega, depois desconversa e mente de tudo
quanto é jeito. Se embanana cada vez mais, e acaba tendo que entregar os pontos. Perde
de cabo a rabo em todas as instâncias.
Vira um capacho pelo resto da vida. Ou separa e tem que arranjar outra mulher. Quando
então pode acontecer tudo de novo.
É totalmente errado fazer isso. Existem três maneiras de conciliar este problema:
2 - Inverter o espeto (normalmente usado pelas mulheres que foram flagradas pelo
marido). Levantar para doze a aposta.
Quando ela toca no assunto o sujeito diz: "É isso mesmo, eu não agüento mais o inferno
que é esta vida com você!"
Ele: "Eu me mato de trabalhar, faço tudo por você, e você sempre indiferente, me trata
sempre como se fosse descartável. Que só serve para trazer dinheiro para casa, e nunca
é suficiente. Nunca você é carinhosa comigo, sempre me criticando. Eu já não agüento
mais!"
Ela fica na defensiva e tenta se justificar: "Não querido, não é assim não, eu te amo
muito. E agora você está tendo um caso, você é que está estragando tudo."
Ele retruca: "Que caso nada mulher, isso é intriga. Mas não seria de admirar se
acontecesse. Você não cuida do marido que tem. É claro que as outras ficam de olho,
não perdem nunca uma oportunidade. Estão sempre à espreita para destruir um
casamento."
Ele: "É, talvez eu esteja louco, mas é você que está me fazendo pensar assim. É a única
conclusão a que posso chegar."
Ela: "Não, eu nunca faria isso. Deus me livre! Pode perguntar para qualquer um!"
Ele: "Você sabe que eu não sou ciumento, confio totalmente em você. Mas fatos são
fatos. Como ter certeza que isso não está acontecendo?"
Ela: "Não querido. Você está enganado. Eu nunca faria uma coisa dessas. Eu te amo
muito mesmo."
Essa alternativa é perigosa, pode sair pela culatra. Ela pode, já de cara, concordar com a
separação. E aí fica difícil voltar atrás.
3 - Negar tudo, de pés juntos. Com firmeza total, sem nunca ceder milímetro. Mesmo que
a mulher mostre uma fotografia, ele com a amante pelados em um quarto de motel. Ele
deve continuar negando: "É muito, muito parecido comigo, mas não sou eu, juro!!!"
E conclui, com cara do Bush falando sobre o terrorismo da AlQaeda: "Querida isso tudo
é tudo uma enorme conspiração. Estão querendo acabar com a felicidade do nosso
casamento!".
In dubio pro reo. Ela vai acabar acreditando, pois no fundo é isso o que ela quer. E ele
será perdoado. Nunca ficará realmente convencida se aconteceu ou não, mas fica o
benefício da dúvida. Dos males o menor.
Essa é a teoria. É o que ensinam as altas filosofias dos profundos saberes científicos.
Mas quem tentou qualquer dessas alternativas, sentiu na pele que na prática elas não
funcionam. De jeito nenhum. Até parece que as mulheres (homens) sabem de cor a
cartilha estudada pelos homens (mulheres).
A única coisa que dá certo de verdade é ser fiel, infelizmente. Só de soslaio olhar as
gatinhas. E lamber com a testa.
Saiu tudo elas por elas. Só que a estatal não é mais estatal, é agora uma empresa
particular.
Mas se não quiser, ele não paga. A justiça propinas e corrupção aparando quaisquer
arestas.
Mas se quer pagar e não pode (ou finge que quer pagar e finge que não pode)? Bom, aí
ele faz um empréstimo no BNDES para pagar o empréstimo do BNDES.
Ou pede para as ANquexistemporaí (Anatel, Anvisa, Aanel etc.) que autorizem aumento
dos preços. E a população, num enorme mutirão compulsório, salva a empresa
particular.
Sem dúvida uma pechincha, um negócio da China, o preço é irrisório. Só que não
cumprem.
Mas sem dúvida, bem melhor do que a promessa de políticos: mixarias de emprego
educação saneamento transporte saúde pública e habitação. Que custam sempre
muitíssimo mais do que o dízimo.
É o que já está acontecendo. Os motociclistas são empurrados para fora das ruas e das
estradas pelos motoristas. É natural que seja assim, pois a lei que vale é a do mais forte.
E quem está dentro de um automóvel é mais forte.
Mais fortes são também os legisladores e cientistas do trânsito, que não se importam
com pedestres, ciclistas nem motoqueiros, que só atrapalham o trânsito. O automóvel é
prioridade. Cidade organizada é aquela em que o tráfego de automóveis flui sem
impedimentos.
Mas e os pedestres, ciclistas e motoqueiros, o que é feito por eles? Nada! As ruas e
estradas pertencem aos automóveis! Os demais, logicamente devem sair do caminho.
Assim como caminhões ônibus e o transporte coletivo, também devem ceder o seu
espaço para os automóveis. Só atrapalham. Automóvel, é o deus das ruas e estradas!
A última moda neste país é discriminar os motoqueiros. Estão a exigir que usem faixas
refletivas com selo da Inmetro no capacete, colete refletivo, e a caixa para transportar
mercadorias deve obedecer a padrões estabelecidos. Aumentaram absurdamente o
seguro obrigatório para as motocicletas. Tudo é claro em nome da segurança do próprio
motoqueiro.
E no Rio de Janeiro foi até proibido andar em dois na moto (para reduzir os assaltos
cometidos por motociclistas).
Mas os automóveis não precisam de faixa refletiva. Podem continuar sendo pintados nas
cores da moda: Preto invisível, cinza nevoeiro, prata garoa, granizo metálico. Cores que
ninguém enxerga no lusco fusco e tempo chuvoso.
Para impedir que os automobilistas sejam assaltados, não só por motoqueiros, como
por pivetes nas esquinas e sinaleiros, por que não se os obriga que venham blindados,
já de fábrica, pesando três toneladas?
Porque os automóveis não são limitados de fábrica para não ultrapassar a velocidade
máxima permitida no país? Seria simplérrimo fazer isso.
Automóveis são feitos para cinco ocupantes, mas transportam apenas 1,3 pessoas. Por
que não obrigá-los a transportar cinco sempre? Ou obrigar-se as fábricas a produzir
automóveis menores, para não mais que duas pessoas. Só para aliviar o trânsito?
Os automóveis estão ficando cada vez mais seguros, protegem cada vez mais os seus
ocupantes. O que sem dúvida é bom. O dia chegará em que sejam totalmente seguros.
Ninguém mais irá morrer dentro do automóvel.
Cem por cento das mortes serão então de pedestres, ciclistas e motoqueiros. Fora os
gatos e cachorros.
A origem da vida. A origem do universo. Por que estamos aqui. O porquê da morte. O
que acontece depois dela. O objetivo de tudo que existe.
Já não é fácil ser proprietário de uma casa no lugar onde se ganha a vida. Ter, além
disso, uma casa na praia então, não é para qualquer um. Mas alguns acabam fazendo
isso.
E lá está a casa, normalmente bem longe da praia, por causa do alto preço dos terrenos
à beira mar. Mas não importa, caminhar um pouco é sempre um bom exercício.
Móveis, cadeiras, pratos, talheres, capachos, tudo que na cidade não tem mais utilidade
vai para a casa da praia. Fica parecido com um depósito de objetos usados. Nada
combina com nada.
Nos primeiros meses vai-se todo santo fim de semana, faça frio, chuva ou tempestade. E
no primeiro dia de sol pega-se aquela queimadura. Mas é tudo muito divertido.
Com o tempo as idas para a praia ficam mais espaçadas. A televisão não é como na
cidade, pega muito mal e os canais são fajutos. E também volta-se da praia bastante
cansado, para trabalhar logo no dia seguinte, na segunda feira.
As crianças naturalmente são sempre as que mais insistem em ir, areia e água para elas
é o nirvana. E afinal, é por causa delas que se fez tudo isso. Dá gosto de ver como elas
se divertem. E só consegue-se tirá-las à força da água.
Que sem dúvida é perigosa. Sempre tem que ficar alguém cuidando.
E á noite os pernilongos incomodam prá valer. E não dá para cobrir-se nem com um
lençol de tanto calor.
E mais espaçadas ficam as idas à praia. A mulher às vezes fica mais tempo com as
crianças. E o pai vai lá, apenas nos fins de semana. Durante a semana tem que se virar
sozinho na cidade. E naturalmente aproveita para dar as suas escapadelas com os
amigos (e amigas). Apesar do rígido controle exercido pela mulher, via celular.
Os parentes e amigos aproveitam bastante. Bem ou mal não existe como dizer não,
quando pedem a casa emprestada. Fazem até fila, aguardando a liberação da casa. O
problema é que sempre querem ir para lá quando todo mundo quer. E se é obrigado a
estabelecer prioridades. O que tem como conseqüência que muitos ficam
irremediavelmente ofendidos.
Além disso, não cuidam direito. Ao sair não limpam a casa como deviam. Quando
quebram alguma coisa não se preocupam em repor. Se muito, ao entregar as chaves
dizem: Olha o portão está emperrado. Tem um ninho de vespas no beiral, é até perigoso
para as crianças. A torneira do tanque está vazando. Tem uma goteira no quarto dos
fundos. Etc.
E tem o problema da segurança. Não dá para deixar nada lá que seja de valor e possa ser
roubado. Televisão, ventilador, som, liquidificador, cortador de grama, tudo tem que ir e
voltar sempre. E não tem como pedir para os vizinhos cuidarem. São todos veranistas,
suas casas também ficam vazias a maior parte do tempo.
O jardim vira uma floresta. Tem que se ir lá uma vez ou outra nem que seja só para cortar
a grama, para não dar a impressão de casa abandonada. E para pagar as contas
atrasadas de luz e água.
Luz e água que toda vez tem que ser religadas novamente. A droga do banco do lugar
não quer abrir uma conta corrente, porque só vai ser usada para débito automático de
luz e água. E isso não lhes interessa.
Muitas vezes já se passa as férias em outros lugares e não mais na praia. Afinal, têm que
se conhecer outras coisas também. A casa fica fechada quase sempre. Quem mais
aproveita são os amigos e parentes. Mas os reparos, consertos e despesas continuam
sendo por conta do dono.
Finalmente depois de muito tempo, vem a almejada aposentadoria. Quando então irá
poder-se finalmente curtir a vida na praia, longe das atribulações da cidade grande. O
que se quer agora é paz e tranqüilidade, nada mais. Banho de mar e areia, nem para
olhar de longe, perdeu a graça faz tempo. O que se quer é sossego.
Que não vem. Todo o fim de semana e principalmente nas férias escolares, a casa fica
lotada de filhos com seus amigos e amigas. E de netos com seus amigos e amigas.
Dormem em colchões espalhados nos quartos, sala, varanda e corredor e alguns até
acampados no quintal. Todos querendo aproveitar a praia, a areia e o banho de mar.
Diferentemente da língua shakesperiana, a portuguesa não possui o "it", que eles têm.
Nossos substantivos, adjetivos etc. não são assexuados (it em inglês) são machos ou
então fêmeas. Precisamos saber muito bem decorado que "cadeira" é feminino,
"assento" é masculino, "aeronave" é feminino, "avião" masculino e assim por diante.
Mesmo assim permanecem dúvidas. Ônibus sem assento nunca poderia ser
verdadeiramente um ônibus, e de muitas mulheres se diz serem um "avião".
A bíblia também, machista até em baixo d’água. Deus é homem, a humanidade é homem,
tudo na bíblia é homem. A mulher apenas uma costela.
As elefantas ficaram muito bravas com isso. Principalmente de uns tempos para cá,
quando surgiu o feminismo radical, irredutivelmente decidido a combater os porcos
chauvinistas de então, e os de agora. "Igualdade ou morte!", é o lema dessas elefantas,
digo, feministas.
Mas a escrita e a falação de nossa língua pátria não ajuda em nada. Tudo é machismo
gramatical. Se quisermos ser justos com homens e mulheres totalmente, fica difícil até
comunicar-se direito.
É assim que são escritos muitos textos atualmente, na finalidade de agradar gregos e
baianos. Subentende-se que a arroba (barra, xis, parêntesis etc.) significa macho e
fêmea simultaneamente.
Mas falar deste modo é impossível, arroba nem é um fonema. E se fosse pronunciado
como a letra "a", estaríamos nos dirigindo apenas ao público feminino presente.
http://www.plansol.com.br/vilhena/modulos.php?mod=News&arquivo=sys_news&showm
aster=sys_news&id=575&PHPSESSID=9716cd3f1195724fdd1740be80bc885d
Por favor, senhor juiz, dê uma olhada nesta fotografia. Olhe! Veja com os seus próprios
olhos, este brasileiro que perdeu a sua casa.
Não desvie o rosto droga! Olhe! Contenha a sua repulsa, disfarce o seu asco e olhe a
fotografia, droga! Não seja indiferente. Olhe!!!
A mulher dele é até um pouco vesga não é mesmo? São analfabetos também. E muito
doentes. E nenhum deles está sorrindo, estão apreensivos e preocupados. Por que
será?
A justiça, sabemos muito bem, é cega. Não enxerga as pessoas, deve ser justa
independentemente de quem está sendo julgado. Por isso dizem que ela é cega.
Mas o senhor tem olhos e certamente enxerga bem. Tanto é que assinou a ordem de
despejo desta família.
Mas assinou sem olhar muito. Uma vista rápida no processo, verificado quais são as
partes, as exposições e então a sua assinatura. E uma família, que o senhor nunca viu na
vida, perdeu a sua casa.
Naturalmente, a casa deles era o único patrimônio, o único lugar que eles tinham para
morar. E mesmo assim foram desalojados. A casa foi leiloada, o novo proprietário já
tomou posse. E tudo ficou irreversível.
Lei nenhuma, senhor juiz, no mais sórdido dos países, no pior dos infernos que se pode
imaginar, exige que um cidadão seja tratado dessa maneira.
E por quê? Este brasileiro desrespeitou a justiça, não compareceu à audiência. E por
isso foi castigado.
Qualquer criança com o quarto ano primário sabe muito bem que não se pode
desrespeitar um juiz. Ninguém pode fazer isso, advogados, políticos, empresários, ricos
e poderosos, todos eles sabem muito bem disso. Porque se o fizerem, serão
severamente castigados.
Mas este brasileiro, senhor juiz, é analfabeto. Não tem nem o primeiro grau de instrução.
E com certeza, nunca passou pela cabeça dele querer ofendê-lo.
Mas o senhor se sentiu ofendido. E aplicou arbitrariamente o rigor da lei, a lex dura lex.
Fez a este cidadão o que a lei não exige!
No Paraná, cidade de Guarapuava um outro juiz também se sentiu ofendido. Viu, com os
seus olhos de juiz, que uma das partes compareceu à audiência calçando chinelos de
dedo. E isto é ofensa. Também foi punido, não tão severamente, é verdade.
Quando em 16/02/2005, na cidade de Goiânia, doze mil brasileiros, por imposição judicial
foram despejadas de suas casas à força, as máquinas destruíram o patrimônio deles,
totalmente. Ficaram sem nada, e a maioria continua sem nada até hoje. Sonho Real era o
nome da ocupação. Sonho que se esvaiu em fumaça.
A ordem de despejo foi dada por um meritíssimo juiz, que poderia ter enxergado a lei de
modo diferente. Mas não o fez.
Senhor juiz, o senhor que enxerga bem, com estes seus olhos importantes, voltados
inteiramente para a dignidade do seu orgulhoso cargo, olhos que exigem respeito, olhos
que enxergam mais longe do que os de um pobre analfabeto, ou da mulher dele que é
vesga, O senhor consegue fechá-los tranquilamente à noite e dormir bem?
Albert Schweitzer (prêmio Nobel em 1952) explicou em um dos seus livros, como os
colonizadores na África fizeram para conseguir que os negros trabalhassem para eles.
Os brancos não suportariam trabalhar, uma semana sequer, naquele clima tão inóspito.
Simplesmente morreriam.
Só que a negada não tava nem aí, não se interessava pelo dinheiro dos brancos, nem
pelas bugigangas européias que podiam comprar a dinheiro. Preferiam trabalhar suas
lavouras e prover sua subsistência, ao seu modo. E eles mesmos produzir seus
utensílios e artefatos.
E muitos brasileiros concordam. Trabalham muito mais e recebem muito menos que os
"trabalhadores" do primeiro mundo. Mas concordam que os brasileiros são preguiçosos,
e que o primeiro mundo trabalha.
Quem sempre trabalhou as enormes riquezas foram os indígenas, gente da terra. Desde
a extração do pau brasil, prata de Potosi, ipecacuanha, até o carvão de carvoarias
atualmente. Gente que recebe quase nada, para enriquecer os aproveitadores.
Para resolver o problema da "preguiça" na África, o governo colonial impôs uma taxa
anual em dinheiro. A ser paga por todos os adultos. Não era muito, mas tinha que ser
paga. Para não entrar em conflito com a lei.
Como os negros não tinham dinheiro, tinham que trabalhar, para os brancos. Para
conseguir a cota anual exigida.
O controle e a vigilância das pessoas estão se intensificando e ficando cada vez mais
eficientes. Principalmente por causa das conquistas tecnológicas na área da informática.
Cliente: Ah, sim, é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas, uma de quatro queijos e
outra de calabresa...
Cliente: O quê?
Telefonista: Consta na sua ficha médica que o Senhor sofre de hipertensão e tem a taxa
de colesterol muito alta. O seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas
perigosas para a sua saúde.
Telefonista: Por que o Senhor não experimenta a nossa pizza Superlight, com tofu e
rabanetes? O Senhor vai adorar!
Telefonista: É a escolha certa para o Senhor, sua esposa e seus 4 filhos, pode ter
certeza.
Cliente: Quanto é?
Telefonista: Lamento, mas o Senhor vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu cartão
de crédito já foi ultrapassado.
Cliente: Tudo bem, eu posso ir ao Multibanco sacar dinheiro antes que chegue a pizza.
Telefonista: Duvido que consiga! O Senhor está com o saldo negativo no banco.
Cliente: Mas o que é isso?!!!! Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é
que entregam?
Cliente: Mas que história é essa, quem foi que disse que eu vou de moto?
Telefonista: Peço desculpas, mas consta aqui que o Senhor não pagou as últimas
prestações do carro e ele foi penhorado. Mas a sua moto está paga, e então pensei que
fosse utilizá-la...
Cliente: @#%/§@&?#>§/%#!!!!!!!!!!!!!
Telefonista: Gostaria de pedir ao Senhor para não me insultar... Não se esqueça de que
o Senhor já foi condenado em julho de 2006 por desacato em público a um Agente
Regional. O senhor não é mais réu primário...
Cliente: (Silêncio)
Cliente: Não, é só isso... Não, espere... Não se esqueça dos 2 litros de Coca-Cola que
consta na promoção.
Telefonista: Grande coisa! Aqui diz que o senhor mora num apartamento térreo!
Imagens: report_suspicious.jpg
Primeiro mundo é tudo certinho, dentro da lei, e todo mundo obedece. Nós do terceiro,
admiramos muito, gostaríamos de ser assim também.
Mas não é só flores. Por vezes me pergunto, por que eles são tão refratários a pessoas
estranhas?
Quem já foi lá, por exemplo, Estados Unidos, certamente percebeu isto. Não são
solícitos, não ajudam, não são amigáveis, não querem saber de conversa. São
indiferentes com pessoas desconhecidas. Principalmente nas cidades mais tipicamente
estadunidenses.
São extremamente corteses, sim, quando isso faz parte do seu trabalho. Os funcionários
de hotéis, agências de turismo etc. recebem treinamento neste sentido, para não
desagradar os fregueses. Quando se vai descer de um ônibus o motorista diz: "Watch
your step". Ficamos maravilhados, mas é parte de sua obrigação.
Não falo lá essas coisas de inglês, mas fui bem tratado, tenho nome germânico e
aspecto europeu. Mesmo assim senti essa enorme diferença de ser do estadunidense e
do brasileiro.
Fui a um Shopping Center, bem longe do hotel em que estava, de ônibus. Pegaria um
taxi para voltar. No shopping não tinha ponto de taxi. Já tinha escurecido e as ruas
desertas, um frio de rachar as canelas.
Só que, para pedir um taxi (pelo orelhão), tinha que dizer o nome de uma empresa de
táxi, das muitas disponíveis. E então mandariam um taxi dessa empresa.
Qualquer uma serve, eu disse. Não podia ser, tinha que dizer o nome de uma empresa.
Perguntei quais eram as empresas. Não podiam dizer. Eu disse que era de fora, e não
podia saber os nomes das empresas. Depois de muito insistir, citaram alguns nomes.
Disse um deles. Esperei e nada. O taxi não veio.
Assim várias vezes. Ainda por cima eu me atrapalhava, não conseguia decorar nem
pronunciar corretamente o nome dessas malditas empresas. E o taxi não vinha.
Morrendo de frio vi um posto de gasolina aberto. Fui até lá pedir auxílio. Mas o cara não
quis me ajudar. No entanto deixou que eu usasse o telefone. Tentei várias vezes e nada.
Pelo menos dentro do posto não era tão frio assim. Tentava, tentava, e o taxi não vinha.
Aí o cara do posto disse que estava indo embora, fechando o posto. Trancou tudo,
pegou o carro dele e se mandou. Fiquei na rua.
O que fazer? Não podia ficar parado ali, congelando. Iria a pé mesmo. Tinha que sair
andando, fazer alguma coisa. E não sabia nem que direção deveria tomar.
Havia residências por perto, com as luzes acesas. Mas não me atrevia a pedir ajuda,
certamente chamariam a polícia.
Quando então vi o taxi dobrando a esquina. Afinal, tinham mandado um! E voltei para o
hotel. Tinha estado por umas três horas tentando conseguir um táxi!
Por que o atendente não mandou um taxi qualquer, mesmo sem eu dizer o nome de uma
empresa? Por que o cara do posto não ajudou, pedindo um taxi para mim?
Primeiro mundo é assim mesmo, tudo certinho e dentro da legalidade. Ninguém faz nada
que não seja dentro das regras. Talvez para não se tornar culpado de alguma coisa
qualquer, ou sei lá por que.
Um amigo disse que em Washington, numa segunda feira pela manhã foi a uma
repartição, para obter um documento. E brasileiro, sabe como é, fala pelos cotovelos. A
moça que o atendeu acabou derretendo o gelo e disse sorrindo: "Você é a primeira
pessoa com quem eu converso, desde sexta-feira à tarde!"
Uma pessoa jovem e bonita. Tinha passado o fim de semana inteiro sem falar com
ninguém!
Certa vez entrei num boteco para pedir informações. Não sabia, era um boteco
freqüentado só por negros. Senti imediatamente a hostilidade, de todos que ali estavam.
Mas não dava mais prá recuar, fui em frente e perguntei o que queria, suando frio por
dentro. Até que disse que era brasileiro. Seus rostos clarearam, sorriram de orelha a
orelha, fizeram gracejos e brincadeiras.
Não sei se é verdade, mas me disseram que os homens temem entrar num elevador
sozinho com uma mulher desconhecida. Têm medo de ser acusados de assédio sexual.
Num aeroporto ou alfândega, nem pensar em fazer uma piadinha qualquer. Vai preso na
hora. A um conhecido meu, que estava entrando nos Estados Unidos como turista,
perguntaram alguma coisa que ele não entendeu direito. Ele mal e mal sabe falar inglês.
Deve ter dito alguma coisa errada. Foi algemado, e voltou praticamente no mesmo avião.
Nunca ficou sabendo por quê.
Por que eles são assim? Antagonismo racial, medo de ser assaltado, medo de atentados
terroristas? Para ser primeiro mundo, é assim que tem que ser?
No Brasil morrem mil vezes mais brasileiros de morte violenta. A miséria é mil vezes
maior. E mesmo assim o brasileiro trata bem os estranhos. Não os trata com tanta
desconfiança.
Não sei. Outros povos, outros costumes. Mas um dos motivos deve ser a intensa
campanha que é feita para que vigiem e denunciem qualquer atividade suspeita. Mesmo
vizinhos e colegas de trabalho. Parecem viver acossados pela desconfiança.
Pelo que sei, lá é permitido que policiais e agentes de inteligência preparem armadilhas
para as pessoas, qualquer pessoa. Induzindo-as a cometer contravenção ou crime. E se
essa pessoa entra na jogada, leva o flagra e vai para a cadeia.
Lá pode transar quanto quiser, mas prostituição é proibida. Policiais femininas bonitas
se vestem de prostituta e ficam pelas ruas. Oferecendo-se por dinheiro. Se um cara entra
nessa, vai preso. E assim é com drogas estelionato falcatruas corrupção etc. Talvez por
isso tanta desconfiança deles em relação a pessoas que não conhecem.
Certa vez fui pescar. Lugar ermo, bem pouco visitado. Perto, uma choupana, a parte da
frente fazendo às vezes de boteco.
Pedi uma cerveja. Já era hora do almoço, e como estava com bastante fome, perguntei o
que tinha para comer. "Não temos nada não senhor", foi a resposta. "Somos pobres, não
dá prá fazer estoque".
Ficamos conversando, conversa gostosa, pedi mais uma cerveja. Depois ele acabou
trazendo um prato com arroz peixe pirão e banana, uma delícia.
Fiquei sem entender, disse que não tinha nada para comer, e agora esse manjar dos
deuses?
Ele respondeu: "O que Deus permite que a gente tenha na mesa é pecado cobrar."
Tinha oferecido comida de sua própria casa. Desatei o nó na garganta, paguei, agradeci
e fui embora. Isso não foi nos Estados Unidos. Foi no Brasil.
Pagando à vista, não tem desconto! E não adianta insistir. Muitos compram então em
prestações, claro. Já que sai na mesma.
A gente fica meio confuso, sem saber o fundamento duma incoerência dessas. Como
pode, pagando à vista ser o mesmo preço que pagando em prestações? Outro dia me
disseram o porquê disso:
E quando vende à vista recebe o total de imediato, vantajoso para o lojista, o que
permitia até fazer um desconto. Que agora não existe mais.
Os bancos, cujo interesse é que todo mundo compre em prestações, já que assim
entram na jogada e ganham dinheiro, acertaram com os lojistas para não fazerem mais o
desconto no preço à vista.
Os lojistas precisam ter a possibilidade de vender em prestações. Por isso, bem ou mal,
precisam dos bancos e financeiras. São obrigados a aceitar essa proposta.
Agora, muito mais gente compra em prestações. Bom para os bancos, é o que eles
querem. E quando as pessoas compram à vista, é bom para os lojistas. Não precisam
mais dar o desconto. E nenhum deles pode ser acusado de usura. Quando o total das
prestações é igual ao preço à vista, os juros que estão sendo cobrados é ZERO!
Mas o comprador paga juros sempre. Quando compra em prestações. E quando paga à
vista. Juros que ninguém mais pode calcular quanto é.
PINGA NI MIM - GG publicado 7/09/2009
O "serumano" em sua evolução destacou-se muito das outras formas de vida. Pelo
poder que tem de compreender e alterar as coisas à sua vontade.
Mas não conseguimos produzir uma telha, que seja à prova de goteiras!
Umas cinco vezes já, contratei telhadistas para examinar limpar e recolocar todas as
telhas de minha casa. Quando o serviço era bem feito, agüentava mais ou menos um
ano. E então recomeçavam as goteiras.
Eu mesmo já subi no forro, milhões de vezes, durante as chuvas para flagrar as goteiras.
Marcava o lugar exato, e quando o tempo melhorava, procurava por uma má colocação,
defeito, trinca, pedaço quebrado, sujeira etc.
Quase nunca conseguia identificar o porquê tinha entrado água. Mas às vezes, o simples
mexer na telha fazia desaparecer a goteira.
Evidentemente, a ciência do telhado não é para qualquer um. Precisa muito mais do que
ser um simples hacker em computação, mestre em economia, doutor em medicina ou
Phd. de engenharia. Tudo isso pode ser aprendido, não requer talento especial.
Mas, para colocar telhas corretamente, sem que aconteçam goteiras, precisa ser um
gênio!
Toda vez que um especialista ia examinar o meu problema, ele imediatamente afirmava
que é por causa das árvores em volta da minha casa. Têm umas quinze, árvores bem
altas. A sujeira, sementes, folhas que caem e os liquens e musgos que se formam,
impedem o livre escorrer da água, causando goteiras.
Mas não vou derrubar árvores de quarenta anos ou mais, por causa disso. Além do que,
se derrubar os pinheiros no meu quintal, o Ibama me coloca na cadeia.
Já me conformei, vou ter que mudar o telhado, jogar fora as atuais telhas de barro
(francesas), e colocar outras melhores. Só que telhas mais eficientes, que não geram
goteiras quando há árvores por perto, não existem! Mais caras e mais bonitas há,
bastante, mas ninguém garante coisa alguma.
Pensei até nas famigeradas telhas assassinas, de fibrocimento (que dizem causar
câncer). Melhor morrer de carcinoma, que leva décadas para matar, do que morrer em
quinze dias de pneumonia ou de raiva, por causa das goteiras. Mas qual. Mesmo estas
telhas de aspecto tão impermeável estão cheias de problemas também. Às vezes deixam
passar água, trincam facilmente, quebram e também entopem com a sujeira de árvores.
Pode ser que eu gaste os tubos, refazendo o madeirame, colocando telhas novas de
outro tipo qualquer, e continue tudo na mesma. Quando então, para esquecer, só mesmo
tomando pinga!
Mas, pensando bem, não é só isso que a ciência e tecnologia não conseguem
solucionar.
Um dos anseios mais antigos dos seres vivos é alimentar-se. Já há bilhões de anos é o
que eles vêm tentando fazer.
Somos a civilização mais avançada que existe, a sociedade do dinheiro. Mas a única
certeza sobre o dinheiro é que faz muita falta, quando não se tem. No mais é total
desconhecido.
Dinheiro nunca é igual a dinheiro. O mesmo dinheiro hoje não compra as mesmas coisas
amanhã. Nem ontem.
Alguns trabalham muito, pelo mesmo dinheiro que outros conseguem sem esforço
algum.
Em lugares diferentes o mesmo dinheiro tem valores diferentes, não compra as mesmas
coisas.
Hoje o dólar tem um valor, amanhã certamente vai ser diferente. E assim todas as
moedas.
Para quem tem muito dinheiro, cem mil pode não ser muito. Já para que tem pouco é
uma fortuna!
Sempre existe inflação. E lenta ou rapidamente o dinheiro desaparece.
Afinal, se o dinheiro nunca tem valor certo e definido, por que raios dos infernos ainda é
utilizado?
(http://www.youtube.com/watch?v=ucvGBEJ4ETg&feature=player_embedded)
Sem parar, nas rádios principalmente, dia e noite a propaganda desta cachaça, sucesso
de vendas e de muitos pileques. A caninha em si nada tinha de excepcional, mas era a
mais vendida na época.
Induziu muita gente ao vício da bebida forte. Mas se não fosse esta cachaça, seria outra,
ou cerveja, ou uísque, ou conhaque etc.
Propaganda é a alma do negócio. Sem propaganda a Tatuzinho poderia ser 70% mais
barata. Mas não venderia.
São os cavacos do "livre mercado", se é obrigado a jogar dinheiro fora, sem alternativa.
Praticamente tudo que é produzido, tem que existir marketing e propaganda. O que
indiscutivelmente encarece o produto ou serviço.
Alguns ainda são estatais, como água tratada, energia elétrica, esgoto etc., e de um
modo geral não fazem propaganda. Médicos estão proibidos de fazer. Advogados,
eticamente devem abster-se de propaganda ostensiva.
No entanto, acredite
O que não dizem é que gastam o triplo disso com propaganda. O marketing sai mais
caro que a pesquisa e o medicamento. Como na cachaça Tatuzinho.
A primeira coisa que as privatizadas fizeram foi solicitar à Anatel um aumento de tarifa.
Pois que, devido à "livre concorrência" precisavam fazer propaganda. E o custo tinha
que ser repassado para o consumidor!
Em Cuba uma das coisas que mais chama a atenção é a total ausência de propaganda!
Nada de placas, luminosos, folhetos, folders, anúncios em jornais e revistas, outdoors,
rádio, televisão, nada. A não ser alguma propaganda visando os turistas estrangeiros.
Só quem viveu o suficiente pode notar. Está em andamento uma enorme e abrangente,
mas quase imperceptível conspiração.
Cuja finalidade é tornar a vida das pessoas cada vez mais difícil e desagradável,
insuportável até. Tão lenta e gradativa que os mais jovens sequer notam que está
acontecendo. Só o tempo é que traz reconhecimento. Só os mais velhos percebem isso.
Se fosse pouca coisa, tudo bem, mas não é. Estão mexendo em coisas fundamentais
como gravidade, tamanho das coisas, intensidade luminosa etc. É assustador!
Indiscutivelmente o peso dos objetos está aumentando! O que outrora podia ser erguido
com facilidade, hoje já não é mais possível sem ajuda. Estão mexendo na gravidade!
Dá para notar bem isso, ao levantar do sofá por exemplo. Antigamente, facílimo, e agora
só com esforço. As coisas estão ficando mais pesadas, inclusive nós mesmos!
Estão mexendo nas dimensões das coisas. Escadarias, lances que eram vencidos
facilmente, tornaram-se cansativos. Os degraus ficaram mais altos! Mais estreitos
também, tanto é que o corrimão tornou-se indispensável. Mas foram retirados, quase
todos.
Os jovens nada percebem, só viram estas coisas já modificadas. Mas com o tempo
certamente irão enxergar também as constantes mudanças, para pior. E só então
sentirão também esta terrível conspiração em andamento.
Estão mexendo na iluminação artificial e na própria luz do dia! Falta agora luminosidade
para enxergar as coisas de dia e principalmente à noite. As lâmpadas estão iluminando
menos. Será que estão querendo economizar energia, ou é apenas para infernizar
nossas vidas?
São forças poderosas, mexeram inclusive na intensidade da própria luz do sol! Mesmo
de dia, ler uma bula de remédio é enorme dificuldade.
Com a barulheira à nossa volta aumentando cada vez mais, as pessoas estão falando
cada vez mais baixo. É um complô! Constantemente tem que se pedir para que repitam o
que disseram. Que droga, por que sussurram, não sabem falar normalmente? Será que
imaginam que temos a capacidade de fazer leitura labial?
Estão a mexer no próprio tempo. Está passando mais depressa. Num instante vão se os
dias e os anos. Conhecidos nossos envelhecem rapidamente. Quando os vemos ficamos
espantados como envelheceram. Muito mais que nós, o que nos confirma diariamente o
espelho. Eles envelhecem tanto, que por vezes nem chegam a nos reconhecer direito!
Tendo em vista tudo isso, pensei em avisar todos os meus amigos e conhecidos sobre
essa terrível conspiração. Telefonar para eles, alertá-los sobre o que está acontecendo.
Alguma coisa precisa ser feita!
Mas qual, antecipando algo neste sentido, reduziram o tamanho das letras na lista
telefônica. Impossível ler qualquer coisa!
CENAS DE IMPACTO – GG publicado 1/02/2005 (foi escondido)
Filmes e mais filmes, sem falar nos seriados, é o que assistimos diariamente. Queiramos
ou não, somos influenciados por eles, e muito. Nos detalhes, que não prestamos
atenção, muitas vezes é transmitida a mensagem desejada.
Um trabalho de gigante. Como conseguir isso rapidamente? O filme deve ser vendável,
obrigatoriamente. Por isso ele deve impressionar as pessoas. Os espectadores devem
pagar ingresso e os que o assistem nas televisões não devem mudar de canal.
O filme tem que ser pois impactante. Deve ser composto por uma seqüência de cenas
impactantes, do princípio ao fim. Como "montar" um filme rapidamente, a custo
reduzido?
Descobri como eles fazem isso! Não estive lá, mas observando os filmes
hollywoodianos, chega-se à conclusão como são feitos.
Com a vasta experiência que eles têm, montaram prateleiras enormes, com centenas de
escaninhos, cada qual contendo uma cena de impacto, já de comprovada efetividade.
Humpfrey Bogart e Ingrid Bergman em uma cena romântica. A câmara focaliza em tela
inteira, o rosto da belíssima amada. Os olhos são mais iluminados que o resto do rosto.
Isso deixa a cena romanticíssima.
Se for o carro do mocinho, só explode depois que ele sai, correndo e gritando: "Vai
explodir!", o que realmente acontece, invariavelmente.
A cena de sexo é imprescindível. O mocinho conhece uma "gata", quinze minutos depois
eles estão na cama, transando. Ela em cima dele sentada (pelo jeito não se faz sexo de
outra forma em Hollywood). Às vezes, depois, a pergunta: "Qual é o teu nome?" (só
então se lembram de perguntar o nome um do outro).
Nos filmes as pessoas não se cumprimentam nunca. Nada de "bom dia" ou "boa tarde".
Vão sempre direto ao assunto.
Em novelas, a frase mais freqüente é: "Tenho um assunto muito importante a falar com
você!". Depois se constata que o assunto já tinha sido ventilado, ou que não é tão
importante assim.
Nesta oportunidade seria facílimo, tanto um como outro, eliminar o seu desafeto. Mas
não é a ocasião. Acontecerá depois, em circunstâncias bem mais difíceis.
E então, finalmente, acontece o tão esperado acerto de contas mocinho versus bandido.
Que é resolvido sempre a socos e tiros. Inicialmente o bandido leva vantagem sempre,
quase vence a parada. Apenas no último e desesperado instante, as coisas invertem e o
bandido morre.
Mas nunca, como seria lógico imaginar, o bandido mata o mocinho mata o refém e
termina o filme.
Cenas, um apontando a arma para o outro, e cada um falando frases repletas de ironia, já
estão meio fora de moda. Eram bastante usadas nos "bang bang".
Agora são pelo menos três a apontá-las, num triângulo potencialmente letal. Essas
cenas duram sempre uma "pá de tempo". Mas não excessivamente, pois não tem cristo
que agüente ficar com o braço esticado por muito tempo com uma arma na ponta.
Mesmo que seja de plástico, não muito pesada.
Estas cenas, normalmente resultam em nada. Nunca acontecem três tiros e três mortes.
Naturalmente também é inevitável a cena, em que o partner (filha amigo criança velhinho
namorada) é ferido grave injusta e cruelmente pelo facínora mor.
Esta cena é indicativa do porvir de multidão de mortes da parte inimiga, num justo
"revenge" cinematográfico. O mínimo sendo dez, para cada morte de partner (filha amigo
etc.) do herói.
A vítima entra então em um carro para fugir. Ou não acha a chave, e/ou o carro não pega.
Em filmes de ação, o herói, quase sempre, nas cenas mais decisivas, tem a cabeça
descoberta. Sem capacete (se militar), sem chapéu (no far-west), sem elmo (se cavaleiro
da távola redonda).
Os feridos à bala, facada, paulada etc., caem ao solo e ficam totalmente inertes. Mas logo
se recuperam, mancam um pouco, e algumas cenas depois já estão completamente
curados. Isso por vezes no curto período de uma luta.
Perseguindo, sendo perseguido ou em busca da arca perdida, por dias e semanas a fio
ninguém come, bebe, defeca nem urina. Não carregam suprimentos, muito menos papel
higiênico. Por vezes existe um único cantil, que é virado de cabeça prá baixo para
indicar que a água disponível acabou.
Ao sedento quase morto pelo calor do deserto, míseros um ou dois goles d'água são
suficientes para salvar sua vida.
Apesar de ser extremamente desagradável andar com sapatos encharcados, nunca tiram
meias e calçados antes de atravessar riachos ou de embarcar desembarcar de barcos e
navios. Mesmo em água geladíssimas.
Não sei por que ainda se usa armas de fogo para combater monstros, vampiros,
alienígenas, assombrações e cibernéticos. Titubeiam, caem, mas invariavelmente se
recompõe e retomam a perseguição. Nunca morrem definitivamente.
Um capítulo à parte é a música de fundo. Valeria a pena até, escrever um livro sobre
isso.
Às vezes até, ausência total de som por certo tempo, seguido por ruído muito forte,
estampido, que faz o espectador pular na poltrona.
Etc. etc.
Nos Estados unidos 10% da população é negra. Entretanto, 90% dos filmes atuais têm
negros. Sempre em papéis importantes. O capitão negro, mocinho negro, o bonzinho
negro.
Não sei se isso é também, cena de impacto, mas ainda vou descobrir o seu significado.
São todas cenas rigorosamente iguais, tiradas da prateleira. Por isso é que fazem filmes
tão rapidamente. Ganham dinheiro "na moleza" e, pior de tudo, "fazem a cabeça" do
mundo inteiro com isso!
O motivo era que ele fazia intrigas, falava mal das pessoas e instigava uns contra os
O rei então, pegou um travesseiro de penas, foi até a torre mais alta de seu castelo e
espalhou as penas ao vento.
Disse ao súdito, que se ele conseguisse catar todas as penas, ele seria perdoado.
Alguém que se sentisse injustiçado por uma empresa qualquer, podia recorrer ao
programa, para que o apresentador o ajudasse a obter seus direitos. Um serviço ao
público, por assim dizer.
O injustiçado, explicava seu caso ao apresentador que achando procedente, juntava seu
"cameraman" mais o injustiçado e iam até a empresa, loja ou o que fosse, tirar
satisfação. Iam filmando tudo, placa da empresa, endereço, citando qual foi a encrenca,
nome do proprietário, tudo.
Chegando lá, quando eram recebidos pelo proprietário, normalmente a discussão era
feia e o caldo engrossava. Muitas vezes saiam tapas e bofetões. O ibope ia a mil por
hora. Às vezes chegavam a um acordo e, freqüentemente, não.
Muitas vezes os proprietários, vendo que era o tal apresentador que estava chegando,
cerravam as portas, soltavam os cachorros e se escondiam debaixo da cama. Isso ele
considerava como confissão de culpa. A pichação era total. E iam embora.
Isto passava na televisão e meio mundo assistia. Depois disso, é claro, quantos iriam
solicitar os serviços daquela empresa ou adquirir alguma coisa dela? Muitas,
certamente, entravam em parafuso.
O apresentador não cutucava onças, das grandes. A vara poderia ser curta demais.
Vamos a uma loja, olhamos, indagamos e saímos sem comprar nada, dizendo ao
vendedor que passaremos depois para comprar o produto. Não fazemos isso. Nem é
isso, o que o vendedor espera que façamos.
Em qualquer lugar, "um minutinho" que nos é solicitado aguardar, nunca acaba sendo
apenas um minuto.
Vamos a uma loja e perguntamos sobre um produto qualquer. "Não temos no momento.
Mas semana que vem o Senhor pode passar aqui que tem". Na semana seguinte vamos
lá. "Não chegou ainda, mas chega depois de amanhã."
É um direito mentir.
Todos nós usamos esse recurso, costumeiramente. Não temos coragem de manter a
verdade, somos medrosos e por isso mentimos. Muitas vezes, por comodidade, por
safadeza e até por piedade. Mas sempre mentimos.
É um jogo. Mentir sem que o outro perceba. Às vezes até o outro percebe, mas aceita e
fica quieto. Mente então para si mesmo.
A vida tornou-se muito mais complexa e burocrática por causa da mentira. Muitas ações
do homem são exclusivamente voltadas para controlar as mentiras dos outros.
Na Índia um provérbio diz: "Uma mentira é pior que mil mortes". Estranho pensamento.
Entretanto, falassem todos a verdade, certamente muitas mortes, milhares até, seriam
evitadas.
Só mais tarde, quando já crescidas, entenderão que mentir é normal e até obrigatório em
muitas situações. Apanhavam não porque mentir é errado ou para a formação do caráter.
Apanhavam apenas porque os pais queriam se proteger das mentiras dos filhos. Nada
pessoal.
Digamos, que um fabuloso cientista, gênio intelectual, pesquisando por muitos anos,
finalmente atinja o seu grande objetivo: A CURA DO CÂNCER!
Mas, pensa ele, eu não quero isto, quero ser recompensado em dinheiro, bastante
dinheiro!
Então ele resolve vender o remédio, a cura do câncer, a digamos, cem mil dólares o
frasco. Uma cura eficaz e garantida por cem mil dólares.
Ora, se existem pessoas que pagam muito mais que isso, por automóveis, iates e
helicópteros, certamente acharão bagatela este preço, pois significa a salvação de suas
vidas. Mesmo muitos daqueles que não tem esse dinheiro, farão de tudo para consegui-
lo. Venderão tudo que tem, farão empréstimos, roubarão e até matarão, se for o caso.
Qualquer coisa, na finalidade de permanecer vivo.
Poderia ser pior, entretanto. Se ele nem desejasse enriquecer. Se fosse de seu interesse
apenas impedir que os outros se curassem: "É meu, só meu e não deixo que usem".
Cientista louco, de revista em quadrinhos. Onde já se viu, não gostar de dinheiro. Mas é
possível. É a "propriedade intelectual" assegurada!
MATEM OS RICOS! – GG publicado 18/11/2005
Naturalmente os ricos, vendo isso, devem ficar "com a pulga atrás da orelha". Ainda
mais, com os recentes acontecimentos, na França.
Insensatez total essa pichação? Eu não acho. É apenas uma idéia, que foi escrita.
Enquanto que a realidade cotidiana é matar os pobres. O que não é pichado nos muros,
mas sim, executado na prática, verdadeiramente.
Mas não teria que se pensar sobre isso? Vamos desconsiderar ricos com seus
argumentos e pobres com os seus. Vamos pensar, "suprapartidariamente", no planeta
azul, chamado Terra. O que seria melhor, um rico a menos sobre a face da Terra, ou um
pobre?
Um rico, bem rico, possui residência ampla de luxo, automóvel "top de linha", piscina,
iate, casa na praia e/ou no campo e até helicóptero. Faz viagens ao exterior e nas férias,
turismo em paises exóticos. A sua educação e saúde utilizam quantidades enormes de
recursos e equipamentos caríssimos. Consome produtos de primeira linha, alimentos de
primeiríssima qualidade, roupas de "griffe", compra todos e quaisquer modismos
eletrônicos. Têm seus clubes, chácaras e "spas" para o seu lazer. Enfim, é aquilo, o que
é desejado por todos, um "bem sucedido". Movimenta a economia, é a mola do
progresso.
Entretanto, prima pelo desperdício. Utiliza tudo isso, muito pouco. E descarta com muita
facilidade. Gerando grande quantidade de lixo, apenas parcialmente reciclável. O que lhe
pertence, outros não podem utilizar, mesmo que esteja ocioso. Um encargo enorme para
a natureza, com o seu consumo de materiais, produtos e energia.
Quase nada. Dorme num minúsculo barraco construído, em parte, com materiais
descartados, ou embaixo de um viaduto. Seus alimentos são, muitas vezes, o que os
outros jogaram fora e aproveitados ao máximo. A educação e saúde, nada custam, pois
são inexistentes. Energia apenas alguns pontos de luz e uma televisãozinha mequetrefe.
Roupas, sempre as mesmas. E só.
O estrago que ele faz à natureza é porque não está nem um pouco preocupado com ela.
Seu esgoto vai direto para a valeta mais próxima, e joga o seu parco lixo em qualquer
lugar. Pois é o que dá menos trabalho e despesas.
Certa ocasião, um funcionário público, servidor de uma entidade estatal, foi pescar. Para
recuperar-se da estafante e cansativa atividade que é, servir ao povo.
Tudo corria bem, mas levou azar. Não na pesca, pois esta, até que estava prolífica. Mas
pelo fato de terem sido filmados. Pela reportagem de algum canal de televisão qualquer.
Até aí nada de mais.
O problema é que o carro usado na pescaria, não era dele. Era um carro do povo, chapa
branca. Com logotipo da repartição e os dizeres: "USO EXCLUSIVO EM SERVIÇO". Tudo
devidamente filmado.
Como o canal de televisão era da oposição, tudo foi esmiuçado pichado e espezinhado,
intensivamente, por vários dias, semanas até. Polvorosa na repartição, cabeças rolaram.
Indignação geral. Até o governador teve que se explicar.
Consenso, que deveriam morrer de morte matada. Todos esses malditos barnabés! Pois
que, além de tratarem mal o povo que lhes paga o salário, utilizam mal o dinheiro
público. E vão pescar, vejam só, com a gasolina e o patrimônio popular. Bolas é dinheiro
que sai do bolso do povo. Não pode ser desperdiçado!
Até eles, em certos aspectos, devem preservar a imagem. Isso qualquer funcionário, de
um modo geral, sabe. Se não se comportar corretamente, vai acabar no olho da rua. A
empresa deve ser considerada sólida e sóbria. Se não venderá menos. A imagem é pois,
importante.
Mas nunca será criticada pela sociedade e povo em geral, se desperdiçar pequenas ou
grandes importâncias. Patrocínio de atividades esportivas, futebol, culturais,
filantrópicas. Tudo bem, nada a reclamar.
http://lists.indymedia.org/pipermail/cmi-
goiania/attachments/20050814/c6552bf3/attachment.doc
Três mil famílias. Três mil casebres. Quanto custa fazer um casebre? Mais um fogão,
uma cama, uma televisão? Acredito que, por menos de dois mil Reais, impossível.
Três mil famílias. Dez mil pessoas, pelo menos! O que farão elas? Morar em casa de
parentes abastados, que os receberão de braços abertos? Pagar um aluguel, equivalente
ou maior, do que a renda que possuem? Morar ao relento nas ruas e calçadas ou tendo
sorte, embaixo de alguma ponte? Tentar nova invasão em algum outro terreno que esteja
desocupado?
Um Prefeito, que poderia desapropriar o terreno em benefício dos sem teto, e não o fez.
Gostaria muito, que todos eles, tivessem agido de má fé, sem exceção. Que tenham sido
corruptos, egoístas, gananciosos e interesseiros.
Que tenham agido fora da lei contrariando seus princípios, em oposição ao chamado
"espírito da lei". Que ela tenha sido interpretada apenas segundo seus interesses
escusos.
Que tenham pensado apenas em si e lucrado com isso, dinheiro imoral e antiético. E que
tenha sido muito dinheiro. Que tenham lucrado muito, mas muito mesmo. Vinte, trinta,
quarenta milhões de Reais. Que tenha sido significativamente mais do que os seis
milhões de Reais que destruíram.
Que tenha realmente valido a pena, efetuar o despejo, destruir a propriedade de três mil
famílias, deixá-los sem nada e sem saber o que fazer da vida. Gostaria muito que tivesse
sido assim.
Não para os despejados do Sonho Real, estes não. O que foi destruído não será
recuperado. E os despejados espalhar-se-ão, por esse Brasil afora. Não existe como
voltar atrás o acontecido, e a sociedade no todo, ficará pior.
Mas para os demais brasileiros. Para eles a esperança ainda é verdadeira! Porque então,
ainda pode-se dizer que existe justiça. Pode-se dizer que ela tenha sido apenas burlada,
apenas isso. Mas que não é a regra. Que não é assim que funciona nem é assim que
deveria funcionar.
Pode-se dizer que o que aconteceu foi apenas por causa do egoísmo, da indiferença, do
não se importar com os outros. Ainda existe esperança!
Digamos desentupir esgoto, pintar a casa, consertar o telhado, levantar uma parede, seja
lá o que for. E esta empresa no meio do serviço, interrompesse tudo. Os funcionários
entraram em greve.
Fazer o que. O jeito é esperar. A casa toda bagunçada. O banheiro não pode ser usado.
Escadas e latas de tinta atravancando o caminho. Chuva molhando as coisas. Cimento
estragando. O serviço, previsto para ser executado em alguns dias, está paralisado, sine
die.
Estão atrapalhando a minha vida. O que eu tenho a ver com a greve deles? Malditos
grevistas. Deveriam ser todos eles encarcerados! Podiam fazer greve, mas sem
prejudicar a população. É assim que pensa o brasileiro.
A culpa é dos grevistas, só deles. O governo e a polícia também acham isso. O judiciário
também. E principalmente a população, que é a grande prejudicada, acha isso.
Ninguém lembra que o serviço foi contratado com a empresa prestadora de serviços ou
os bancos. O contrato foi celebrado com as empresas e não com os seus funcionários,
bancários e pedreiros.
Quem não está cumprindo a sua parte é o banco ou a prestadora de serviços! Não é
como a televisão, nas entrelinhas, simplesmente nos faz acreditar que seja.
A filha de um amigo foi para Belfast, na Irlanda do Norte, trabalhar para sobreviver.
Já que este nosso imenso berço esplêndido, não tem como proporcionar isto, aos filhos
de sua mão gentil. Mas não foi ilegalmente, pois tem a cidadania européia. E está lá, já
há vários anos. É claro que, em termos brasileiros, "ganha os tubos".
Aconteceu porém, ficar doente. Nada grave, mas não sentia-se bem. Lá, não se trabalha
doente, de jeito nenhum. Não é como no Brasil, onde atestados e dispensas médicas são
emitidos apenas, quando já se iniciou a rigidez cadavérica. Aqui, os que ainda estão
empregados, para não serem considerados maus funcionários, deixam a ida ao médico,
para pouco antes do último suspiro. Mesmo porque não agrada nada, enfrentar filas
quilométricas, de madrugada, nos postos de saúde. E sair como entrou. Ou pior.
"Sim um pouco".
Um "ENTER" final, e a impressora solta duas folhas, uma, um atestado para uma semana
e a outra, uma receita médica.
O MTST Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, invadiu uma área. Milhares de tendas
de lona preta, foram erguidas a título de moradia.
(C:\1arquivosggrube\imagens\acampamentomtst.bmp)
Você brasileiro! Que de algum modo, bem ou mal, tem um lugar para dormir, uma casa,
alugada, simples que seja. E, principalmente, aquele que tem uma vida financeira
tranqüila que mora em casa ou apartamento de padrão aceitável, ou até mais que isso.
Olhe bem as fotos dessa invasão, com cuidado. Em detalhes. E gaste um pouco do seu
tempo nessa observação.
E escolha uma tenda, qualquer uma. Imagine-se sendo morador dela. Que a lona
escolhida é o seu teto.
Não, não desconverse. Não desvie os olhos e diga que isso não é assunto seu.
Não, não diga que, justamente agora, não tem tempo para isso.
Só pense estar morando lá, assim como eles. Você é um deles! Pense isto!
Pense, quantos metros quadrados, é a sua privacidade.
Pense, como deve ser, ir ao banheiro, em uma situação dessas. Fazer as necessidades.
Pense, como você irá fazer as suas refeições, se sentado no chão, se acocorado ou em
pé.
Pense, como será o anoitecer, sem luz elétrica, sem televisão, sem computador.
Pense ainda, que isso não é provisório. Não é apenas ficar alguns dias, como se fosse
um "camping" ou festival qualquer. E depois poderá voltar para casa, tomar um bom
banho, abrir a geladeira, comer alguma coisa e, sentar-se diante da televisão.
Pense, que este poderia ser o seu lar. Se tiver sorte e tudo correr bem. Mas que, se
acontecer o pior, será despejado. E nem isso mais terá.
PENSE!
TRISTE SOCIEDADE – GG
Diz o urubu, sempre de preto: "O que mais gosto nos velórios, é a comida".
(Gastão Blanc)
As coisas só são importantes para quem está vivo. Qualquer assunto, mesmo quando
totalmente impossível de ser resolvido, com a morte deixa de existir. Simplesmente
desaparece. É a solução universal para todos os problemas. Definitiva e irretratável.
As sociedades fazem uso disso. De diversas maneiras. Morte rápida, numa execução
legal ou ilegal, com ou sem julgamento. Morte lenta, numa tortura física ou psicológica
interminável. Morte sem responsáveis, por meio do descaso, da fome, frio, doença,
miséria e exclusão social. Morte raivosa nas guerras, brigas de trânsito e em brigas de
boteco. Morte voluntária num suicídio, que nunca é verdadeiramente espontânea. Morte
no sacrifício da vida por uma causa qualquer, denominada heroísmo/patriotismo ou
fanatismo/terrorismo.
Certamente pode-se afirmar que uma sociedade que faz uso da morte, não é uma
sociedade feliz.
Ninguém está disposto a morrer, a morte aterroriza todo e qualquer ser vivo, sem
exceção. E a sociedade que usa esse recurso para se impor, é uma sociedade terrorista.
Usa o terror da morte para atemorizar as pessoas!
Sociedade infeliz, mesmo quando mata apenas inimigos, reais ou inventados, sob
alegação de salvaguardar os seus cidadãos. Pois intimamente as pessoas sabem, que
por mais que se justifique a morte, boa coisa não é.
Triste a sociedade que faz uso da pena de morte, legaliza o aborto, pratica a eutanásia e
faz uso da guerra. Triste a sociedade que mata pessoas para resolver seus problemas,
reais ou inventados.
Quase em frente da minha casa mora uma senhora, muito pobre, que trabalha na
prefeitura como servente. Ganha muito pouco e, para melhorar a renda, cata recicláveis
na vizinhança.
Diziam que ele andava metido com drogas, furtos e outras ilegalidades. Um futuro de
crime e cadeia, ou pior. A mãe, apesar de tudo que se esforçava, não conseguia alterar o
andamento das coisas. Certo dia esse rapaz deu-se um tiro na cabeça, ou foi alvejado
por alguém, ninguém sabe ao certo o que aconteceu. Só que ele não morreu, andou um
bom tempo com a cabeça enfaixada, e não houve seqüelas. E continuou a sua vida em
direção ao banditismo. Às vezes falava em emigrar para os Estados Unidos, mas nunca
conseguiu juntar dinheiro, nem para fazer o passaporte.
Eu pensava com meus botões, que um dia poderia ter problemas com ele. Ele sempre
me olhava com hostilidade e mal cumprimentava. Um revoltado. Certamente porque a
minha vida é bem tranqüila e sem problemas financeiros. E ele nada tinha disso.
E então murou o terreno, que é de sua mãe. Juntou material de construção por um bom
tempo, tijolos, areia, telhas etc. E agora a casa deles está quase concluída. De material,
não é grande, mas muito bonita.
À noitinha e nos fins de semana vejo-o correndo pelas ruas do bairro, vestido a caráter,
tênis, calção e camiseta, fazendo "jogging", exercitando-se.
Sem dúvida estamos a séculos de desvendar os segredos da vida, apesar do tudo que já
sabemos. Criar vida de matéria inerte então, muito mais longe ainda.
Mas o ser humano já está mexendo no código da vida. Se não consegue ainda criar a
vida, ele já pode juntar pedaços de vida e produzir algo totalmente novo.
Mas ao fazer isso o interesse nunca, nunca mesmo, é salvar vidas. Este nunca foi o
objetivo. É uma farsa essa afirmação. Um engodo para que as pessoas aceitem que eles
mexam em coisas não éticas e até perigosas para a vida na Terra.
Se a preocupação fosse salvar vidas, existem meios muito mais fáceis de fazer isso. Por
exemplo, combater a fome. Simplesmente isso.
Exportar é a solução!
Entre 1996 e 2006, cinco grandes países exportadores realizaram 90% das vendas
mundiais de armas: Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, França e Israel. Em 2006 eles
cobriram 88% das exportações mundiais.
Os Estados Unidos ficaram com a parte do leão, com 55% das exportações mundiais,
seguidos pelo seu fiel aliado o Reino Unido (14%) e pela Rússia (9,6% e 8% no período
1995-2006), cujas vendas de armas progridem regularmente desde 2000.
Em quarto lugar a França (5,9%), seguida por Israel (5,3%). Este último muito presente no
domínio da eletrônica, dos aviões sem piloto (drones) e dos mísseis táticos. A indústria
israelense é um concorrente ativo, em particular na Ásia, nomeadamente em Singapura e
na Índia, onde é o segundo fornecedor das forças armadas locais, e na Europa do Leste.
http://resistir.info/varios/armamento.html
Choro de alegria dos pais da criança. Choro comovente dos entrevistadores. Choro de
felicidade dos telespectadores.
E choro de muitos pais brasileiros, cujos filhos portavam a mesma doença xyz. Choro de
tristeza, pois seus filhos iriam morrer.
Segundo as más línguas, baianos e cariocas não apreciam muito o trabalho. Mas isso
tem a sua razão de ser. Imagine-se um calorão danado já cedo de manhã, um sol de
rachar, socado dentro de um ônibus que margeia as decantadas praias soteropolitanas
ou da maravilhosa cidade.
O baiano e o carioca da gema moram a duas quadras da praia. Vão de calção e mais
nada a não ser chinelo de dedo. Para não queimar os pés na calçada quente e areia
fervente. Só vão com céu límpido, sem nuvem alguma. Com o mais leve chuvisco a praia
fica deserta. Pois ela está ali 365 dias por ano e 366 nos bissextos.
Já o bandeirante depois de cinco horas de engarrafamento, chega finalmente ao litoral.
Vai de isopor, pinga, gelo, limão, loiras geladas, sanduíches e farofa. E mesmo debaixo
de devastador ciclone extratropical e copiosa chuva entra na água do mar, titiritando de
frio.
Não teria cabimento gastar o seu parco fim de semana dentro de um boteco tomando
cerveja. O que poderia fazer muito bem sem se ausentar da paulicéia.
Norte Sul Leste Oeste, a verdade é que ninguém gosta de trabalhar, mesmo que diga que
goste. Se trabalhar fosse divertimento as pessoas trabalhariam de graça, pelo puro
prazer de trabalhar. Nenhum idiota fez isso até hoje.
O que realmente todos gostariam de fazer é: Fazer o que gostam. Viajar, compras,
passear, viver a vida. Todo mundo quer isso.
Para o que é necessário tempo e dinheiro. Só os dois juntos dão a liberdade desejada.
Mas isso, de mão beijada, só para os que nascem ricos. Os demais têm que usar o seu
precioso tempo para conseguir o almejado dinheiro. Gastam sua vida para obter
recursos, que só poderiam usar plenamente se tivessem tempo. E àqueles que têm
tempo sobrando, falta dinheiro. Tempo e dinheiro juntos, só nascendo rico!
A maioria trabalha que nem cachorro para um dia poder parar de trabalhar. Gastam a sua
vigorosa juventude para viver na maciota quando forem mais velhos. Quando a vontade
de fazer qualquer coisa já diminuiu bastante.
Muitos se acostumaram tanto a trabalhar que não sabem mais fazer outra coisa. Quando
encaram a possibilidade de parar, ficam apavorados. E então morrem rapidamente, de
tédio, na bebida ou de desgosto.
E muitos simplesmente não têm escolha. Para não morrer de fome, trabalham até morrer.
Apesar de já faz muito tempo existirem máquinas a fazer força por nós, robôs a fazer os
trabalhos repetitivos e os computadores a pensar por nós. E tudo isso com muito mais
eficiência.
Um deles perguntou: "Vossa Excelência poderia explicar o que poderia ser feito para
tornar o seu governo menos inaplegível?"
Foi interrompido por um dos políticos, num aparte, que solicitou àquele que fez a
pergunta, que explicasse o significado de "inaplegível".
Ele respondeu: "Eu não sei, inventei agora. Mas o prefeito deve saber, pois está
respondendo".
Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal,
para a padaria na esquina de sua rua, para o posto de gasolina, a farmácia, a feira, e
qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.
Funcionaria assim: todo mês os senhores, e todos os usuários, pagariam uma pequena
taxa para a manutenção destes serviços (padaria, feira, mecânico, costureira, farmácia
etc.).
Uma taxa que não daria nenhum direito extra para quem a paga. É apenas para
enriquecer os proprietários desses negócios, sob a alegação de que serviria para manter
um serviço de alta qualidade.
Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros de combustível
etc.) o usuário pagaria os preços de mercado, e um pouquinho mais. Que tal?
Pois, ontem saí de seu Banco com a certeza que os senhores concordariam com tais
taxas. Por uma simples questão de eqüidade e de honestidade:
Eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro me atende muito gentilmente.
Vende o pãozinho. Cobra o embrulhar do pão, assim como todo e qualquer serviço
relacionado ao seu negócio. Tudo embutido no preço.
Mas, além disso, me impõe taxas. Uma 'taxa de acesso ao pãozinho', outras 'taxas
diversas por guardar pão quentinho' e ainda uma 'taxa de abertura da padaria'. Tudo com
muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.
Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram ainda uma 'taxa
de abertura de crédito' - equivalente àquela hipotética 'taxa de acesso ao pãozinho', que
os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.
Não satisfeitos, para ter acesso ao financiamento fui obrigado a abrir uma conta corrente
em seu Banco. Para que isso fosse possível, os senhores me cobraram uma 'taxa de
abertura de conta'.
Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa
'taxa de abertura de conta' se assemelharia a uma 'taxa de abertura da padaria', pois, só
é possível fazer negócios com o padeiro depois de abrir a padaria.
- A surpresa não acabou: descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada trimestre - uma taxa
para manter um limite especial. Que não me dá nenhum direito, se eu utilizar o limite
especial vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo.
Sei disso; como sei também, que existem seguros e garantias legais que protegem seu
negócio de todo e qualquer risco, incluindo aqui um tal de "PROER", no qual o dinheiro
que nos é subtraído em forma de impostos e tributos, é usado para salvar o "sistema
bancário", leia-se Banqueiros.
Mas não seria justo também que uma padaria, posto de gasolina, feira e outros negócios
importantes do nosso dia-a-dia cobrassem taxas semelhantes, só para enriquecer, como
fazem os bancos? E que o governo garantisse seus negócios, com dinheiro do
contribuinte, nas dificuldades, assim como ajuda os bancos?
Diante de tudo isso os Senhores concordariam em pagar tais taxas para a padaria,
farmácia, posto de gasolina etc.?
Conhecidas são as tramóias envolvendo terras, vendidas para incautos. Que nunca mais
recuperam o seu dinheiro.
Todo mundo acha, que não cairia em tais contos do vigário. Assim também um
comerciante, dono de uma loja, que tinha juntado algum dinheiro.
O lojista fica firme, não cede milímetro. Pensa consigo mesmo: "Comprar uma fazenda
que eu nunca vi e nem sei se existe? Ainda mais numa região famigerada pelas
falcatruas e grilagem de terras? Nem morto!"
Vendo que ia ser difícil vender qualquer coisa, o vendedor ao se despedir deixa com o
lojista uma cópia da escritura da tal fazenda no Mato Grosso, e o telefone. Para que o
lojista pensasse no assunto.
Ou, já que o lojista conhecia muita gente, que oferecesse a alguém esta fazenda,
realmente uma verdadeira pechincha. Se saísse negócio, receberia uma boa comissão. O
lojista guarda a cópia da escritura numa gaveta. E esquece.
O lojista lembra então da cópia da escritura deixada pelo vendedor anterior, procura na
gaveta, e mostra aos dois negociantes de terras.
E, diante do lojista, preenche um cheque de 100 mil Reais que entrega ao seu auxiliar. O
lojista fica encarregado de contactar o vendedor da fazenda para juntos concretizarem o
negócio.
Não dá prá falar com o comprador para completar os 300 mil faltantes, pois ele está
viajando. E vai ficar fulo da vida com o auxiliar, se o negócio não for realizado. O
vendedor quer fechar o negócio. E o lojista quer a comissão.
Como resolver?
Aí o vendedor sugere que eles mesmos poderiam completar os 300 mil faltantes. Seria
só até o comprador voltar de viagem. E assim poderiam fechar negócio. Tudo por escrito
e bem documentado, claro.
AGUA DE CULO - GG
Mas hoje em dia, só se bebe água engarrafada. Está na moda. Algumas são até
importadas, é muito mais elegante. Sem gás, sem açúcar, sem sabor, água pura.
O preço é maior que refrigerante ou gasolina, por causa da embalagem pet descartável.
Nos Estados Unidos três em quatro pessoas bebem essa água. E uma em cada cinco
bebe exclusivamente água engarrafada. Pagam 1000 vezes o preço de água de torneira,
querem preservar a sua saúde bebendo água pura.
Pura?
O que não se pode afirmar das centenas de marcas de água engarrafada que se vende
por aí, em tudo quanto é tipo de embalagem. Milhares de distribuidores vendem água em
embalagens descartáveis, e também retornáveis de cinco litros ou mais. Quem garante a
qualidade dessa água? Qual é a procedência?
Fora as tradicionais águas minerais, a maioria das águas que se vende atualmente é
simplesmente água de torneira. Ou de poço semi-artesiano.
Para mostrar o absurdo que é, num restaurante chique, fizeram uma brincadeira. Aos
clientes era apresentada, além da carta de vinho, uma carta de água. Bonitos nomes e
palavreado exótico enalteciam as qualidades de cada uma das águas que podiam ser
bebidas durante as refeições, uma delas:
L'eau Du Robinet ... $4.75 per Bottle
Pure, brisk and unmistakably French, this running water is bottled directly from the
source, while its natural minerals and nutrients are still at their most potent. Its agressive
flavor and brash attitude make it a perfect complement to meats and poultry.
Apesar das bonitas etiquetas e bonitos nomes, a água servida era água de torneira, do
próprio restaurante. Na carta de água constava, entre outras:
E uma, com rótulo de uma velha igreja espanhola, de nome: "Agua de Culo".
Culo, é cu em português.
Ninguém reclamou.
FIM
Gerhard Grube
email: gerhardgrube@ig.com.br