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HISTÓRIAS E RECLAMOS

Por Gerhard Grube

Publicado no Centro de Mídia Independente: http://www.midiaindependente.org/

ERA UMA VEZ... - GG publicado 10/04/2010

Uma pequena sociedade, alguns milhares de pessoas, vivendo em uma área


suficientemente grande.

Cada família providencia suas necessidades, alimentos e abrigo. Todos sabem caçar,
pescar, cultivar a terra, criar animais domésticos, construir casas e confeccionar roupas.
Problemas comuns são resolvidos por todos.

Descobriram como usar e fazer fogo. Todos podem agora aquecer-se, cozinhar os
alimentos, que se conservam por mais tempo. A carne pode ser moqueada ou defumada.
Podem queimar utensílios de barro endurecendo-os. A luz espanta os fantasmas da
escuridão.

Da pedra lascam suas ferramentas. Descobrem como fazer anzóis, armadilhas para a
caça e pesca. Um deles inventa o tear, fica muito mais rápido confeccionar os tecidos e
fabricar vestimentas. Alguém inventa o arado, e preparar a terra requer menos trabalho.
Inventa-se o torno de oleiro, os artefatos de cerâmica podem ser produzidos em maior
quantidade e com mais perfeição. A seleção de sementes e animais melhora o
rendimento da agricultura e criação. A canoa, a vela e a roda facilitam o transportar as
coisas e pessoas.

A vida ficou mais fácil. Tudo isso resultou em bastante tempo ocioso, abundância de
alimentos e recursos. Tempo de sobra que podem usar para lazer ou para criar coisas
novas. Ou, nas adversidades, superar as dificuldades.

Mais e mais coisas são criadas e inventadas. Escrita, matemática, metalurgia, máquinas,
os plásticos e os computadores.

Especializaram-se, alguns sabendo fazer melhor algumas coisas, que passam a produzir
para os demais. Estes em troca os suprem com suas outras necessidades.

Todos trabalham, todos usufruem. Cada um faz aquilo que sabe fazer melhor e cada um
tem suas necessidades atendidas. Os incapazes, não são deixados à míngua, mesmo
sendo improdutivos. Pois que são humanos, os seres humanos.

Todos trabalham muito pouco, dada as melhorias conquistadas pela criatividade de


alguns, disponibilizada para todos. Produz-se o suficiente, não muito mais que o
necessário. Vida fácil, paraíso na Terra.
E por mais complexa que se torne a sociedade isso poderia continuar sendo assim, por
muitos milhares de anos. Mesmo para muitos bilhões de pessoas!

No entanto, no meio do caminho, um preguiçoso resolveu tirar proveito do trabalho e


criatividade dos demais, para enriquecer imensamente sem fazer nada: Inventou o
capitalismo.

CONTO DO VIGÁRIO – GG publicado 28/05/2005

Às vezes acontece. Gente considerada por todos como pessoas esclarecidas e


inteligentes, serem enganadas. Vigaristas, estelionatários, montam um esquema
complexo psicologicamente perfeito, uma obra prima. E os incautos caem nele, como
patinhos.

Faz tempo, quando os bancos ainda não trabalhavam com computadores,


telecomunicações etc., um casal muito bem apessoado e elegantemente vestido, entra
em uma joalheria. Não uma joalheria qualquer, mas uma das mais finas e caras, das que
existem na cidade.

Fazem isso, na sexta feira, meia hora antes do fechamento dos bancos.

Com extremo bom gosto e conhecimento escolhem demoradamente jóias caríssimas.


Diademas, gargantilhas, solitários etc. E fazem uma compra vultosa. Pagam com cheque.

Como não são conhecidas da joalheria, mil e uma referências são solicitadas. Listas de
mau pagadores, Seproc etc. Tudo é verificado e considerado "procedente". Tudo parece
estar em ordem.

Verificam tudo, menos o saldo bancário (que os compradores tinham autorizado


verificar). Pois a essa altura o banco já estava fechado.

O negócio é concretizado assim mesmo, pois nada indicava que não poderia ser feito.

Os compradores saem da joalheria e vão a uma loja de penhores. Empenham todas as


jóias que tinham acabado de adquirir. A loja de penhores, dada o numerário envolvido,
pede que comprovem a procedência das jóias, e eles mostram a Nota Fiscal.

A loja de penhores telefona para a joalheria, e eles ficam apavorados. Chamam a polícia,
e os compradores das jóias, sob protestos, são presos. Passam o fim de semana (três
noites), na cadeia.

Até que na segunda feira cedo, na abertura do banco, o saldo bancário deles é verificado
e, vejam só, existia fundos em suficiência! Os compradores tinham sido presos
injustamente.
Os donos da joalheria pedem mil desculpas. Mas não adianta. A joalheria é processada,
por danos morais e pecuniários.

No decorrer do processo, afirmam os compradores das jóias que inesperadamente, logo


após a compra, receberam uma oferta de negócio irrecusável de um conhecido e
necessitavam de dinheiro imediatamente. Por este motivo tentaram empenhar as jóias
adquiridas.

O conhecido deles é chamado como testemunha e confirma. Diz que acabou fazendo o
vantajoso negócio, com outra pessoa. Todas as investigações que são feitas confirmam
esta história. Todas as informações que os compradores tinham prestado são
verdadeiras.

Assim, ganham o processo. Nem poderia ser diferente. E recebem uma gorda
indenização.

Aplicaram este golpe em vários países. Tudo era perfeitamente legal. O advogado que
contratavam era especialista no assunto. Assim nunca perderam uma causa.

Só foram descobertos porque repetiram o golpe muitas vezes. Só por isso.

O PEQUENO MORITZ - GG publicado 27/11/2007

Homem de negócios.

O pequeno Moritz resolveu entrar para o mundo dos negócios.

A época era de festas juninas, Santo Antônio São Pedro e São João. Balões e fogos de
artifício estavam em alta. E cafifas bolas de gude piões e figurinhas em recessão.

Num caixote velho instalou trabalhosamente prateleiras, divisórias e duas tabuinhas à


guisa de telhado. Cobriu tudo com papel de seda colorido. Numa vareta fixada ao
telhado pendurou uma lanterninha de papel de seda com um toco de vela em seu
interior.

Apreciou com satisfação a sua obra. A estrutura do negócio estava montada. Faltava a
parte mais critica que era o capital necessário para aquisição do estoque inicial.

Quem, se não seus pais, poderiam ser os investidores? Falou primeiro com a mãe, mais
maleável em todos os assuntos. Que ajudou a convencer o pai, sempre mais sisudo,
assim que ele voltou do trabalho. Isto é, somente depois dele ter tomado banho, jantado
e estar sentado gostosamente na poltrona, a tomar cerveja. Já esquecido das agruras do
dia a dia no trabalho.
Seria bom, desde cedo, ele ir aprendendo como funcionam essas coisas, pensou o pai e
o empréstimo foi concedido. Um negócio de brinquedo, com dinheiro de verdade.

Para o pequeno Moritz uma vultosa quantia, uma responsabilidade enorme.

Comprou bombinhas de vários tamanhos, traques, buscapés, rodinhas, estalos,


estrelinhas, fósforos de cor etc. Tudo que tivesse preço reduzido e portanto pudesse ser
adquirido pela criançada das redondezas, sempre de parcos recursos.

O caixote com os fogos de artifício à venda era colocado em cima de uma cadeira, na
calçada na frente de sua casa, a lanterninha indicando que o negócio estava de portas
abertas. Fazia isso normalmente ao escurecer, já que durante o dia mil e um afazeres
eram prioridade.

Os fregueses vinham e iam. E mais tarde à noite quando seu pai retornava do trabalho, o
pequeno Moritz encerrava seu expediente. Seu pai não permitia que ele ficasse até tarde
na rua. Carregava tudo para dentro, fazia um balanço do estoque e do dinheiro
arrecadado. No dia seguinte comprava mais fogos para repor o estoque.

Era comum, na época, as crianças fazerem esse tipo de negócio durante as festas
juninas. E à noite várias lanterninhas nas ruas do bairro indicavam essa atividade.

Só que o pequeno Moritz vendia tudo, exatamente ao mesmo preço que tinha comprado,
item por item. Seu pai explicou que não é assim que funciona. Teria que vender mais
caro, para que sobrasse dinheiro, e isto seria a recompensa pelo seu trabalho.

Mas pai, disse ele, eu não estou trabalhando, estou me divertindo!

Não filho, negócios nunca é diversão. Os negócios são feitos para ganhar dinheiro e
esse ganhar dinheiro deve pagar as despesas, inclusive a sua mão de obra.

Meio a contragosto o pequeno Moritz reconheceu que o pai tinha razão. Iria cobrar mais
caro. E sobrando dinheiro, seria dele. O que naturalmente nada tinha de desagradável.

Mas não é só isso, disse o pai. Você tem que cobrar mais ainda, na finalidade de obter
lucro!

Lucro? O que é isso pai?

É dinheiro que sobra mesmo depois de deduzidas todas as despesas. É dinheiro


decorrente das negociações.

É o que possibilita a expansão dos negócios. Seja adquirindo e vendendo mais


produtos, seja pela criação de filiais. No seu caso seria a confecção de mais
barraquinhas, que seriam administradas por seus amiguinhos de confiança.
O pequeno Moritz pensou consigo mesmo, que se os seus amigos quisessem se divertir,
eles mesmos deveriam construir as suas barraquinhas, ora bolas.

Pai, quanto mais caro eu devo vender os fogos de artifício?

O pai titubeou. Sabe filho, não existe um valor predeterminado. Depende de muitas
coisas, oferta, procura, valor de mercado, promoções etc.

O pequeno Moritz achou isso muito estranho. Como podem os adultos viver dessa
maneira, na incerteza, sem saber direito o quanto devem cobrar por aquilo que vendem?

Como é possível sobrar dinheiro? Seria o mesmo que faltar ou sobrar mercadoria. E
depois de pensar um pouco, chegou à conclusão que esse tal de lucro era
desonestidade. Era uma maneira de tirar dinheiro dos outros, sem dar nada em troca!

E disse isso ao pai.

Você tem toda razão filho. O lucro é tirar dinheiro dos outros sem dar nada em troca.
Mas é assim que o mundo funciona e ninguém considera isso ilegal ou imoral.

Moritz se espanta: Os adultos tiram dinheiro uns dos outros, como fazem os ladrões, e
não vão para a cadeia?

Pelo contrário filho, quem faz isso com muita habilidade é admirado pelos demais e sobe
na escala social. Torna-se importante, adquire muitos direitos e poderes. Que são
utilizados para lucrar ainda mais.

O pequeno Moritz não dormiu direito essa noite. Ora acossado por pesadelos em que se
via atirado em masmorras, ignóbil bandido, ora sonhando estar passeando com a
bicicleta que tinha comprado com o resultado do empreendimento.

Acrescentou aos preços dos fogos de artifício apenas uma pequena porcentagem.
Afinal, alguns dos fogos que vendia falhavam e então ele devolvia o dinheiro ao
comprador. Mas a loja onde ele os comprava não aceitava devoluções. Sobravam
pouquíssimos trocados.

Não teve coragem de cobrar muito. Tinha medo de ser chamado de ladrão.

Ao encerrar o negócio ficou sobrando um pequeno estoque, encalhado. Ele mesmo


então soltou estes fogos. E apresentou as contas para o pai. Tinha tido prejuízo, apesar
de toda a honestidade com que tinha gerido os negócios. Devolveu um pouco menos do
que emprestara.

Mas foi perdoado, o importante não era o dinheiro e sim a lição pedagógica.
Que ele acabou não aprendendo direito.

VELHOS – GG publicado 15/19/2004

Existe uma faixa de idade que a sociedade ocidental considera ativa produtiva
conquistadora dominadora e recompensadora: Dos vinte aos sessenta anos, mais ou
menos. Este conceito está entranhado em nós, arraigado. Nas leis também.

Por isso é que os adolescentes anseiam por tornarem-se adultos. Querem usufruir tudo
aquilo que os adultos podem e eles não. Querem ser independentes, sem ninguém a
dizer o que podem e o que não podem fazer. Socialmente, adolescentes e crianças, são
"zeros à esquerda", só atrapalham e só dão despesas. Eles querem fugir disso.

Igualmente os velhos. Já passaram da idade áurea. Devem ser sucatados. Só atrapalham


e só dão despesas.

Ninguém quer ser considerado obsoleto, por este motivo, a maioria teme envelhecer.
Não pelo fato em si, irremediável, mas pelo modo como será tratado pela sociedade,
pelas leis e pelos familiares. Ser velho é ser ultrapassado, sem voz ativa. E quem deseja
isso?

Assim a maioria tenta permanecer jovem.

"Tenho setenta anos, mas um espírito jovem".

"Tenho sessenta anos, mas ainda trabalho tanto quanto um jovem de trinta".

"Faço esporte mais que um jovem de vinte".

"Ela tem cinqüenta anos, mas parece trinta".

E dá-lhe malhação, plástica, trabalho intenso, maquiagem, tinta de cabelo e "vida


jovem".

Particularmente, o culto à aparência é extremamente cruel, principalmente para as


mulheres. Com um simples olhar são submetidas ao crivo da estética e julgadas. Sem
apelação. Danem-se os valores interiores.

As pessoas são induzidas a odiar a si mesmas, a detestar sua aparência. Devem gastar
tempo e dinheiro para modificar o que realmente são. Chamam isso "auto-estima". Uma
pessoa insatisfeita com o que é, extremamente preocupada com o que os outros
enxergam nela, é uma pessoa com "auto-estima". Que absurdo!
Mutilam seu corpo em cirurgia plástica ou em "body building" para que os outros vejam
nela o que não é, o que teve que ser criado artificialmente. Sofrem os irremediavelmente
gordos e irremediavelmente feios. Entram derrotados na refrega da aparência.

Ser excluído. Muitos não param de trabalhar por este motivo. Não querem sair da vida
em que se é "gente de verdade". Continuam a ganhar dinheiro, sem real necessidade,
por vezes acumulando o que nunca poderão gastar. Vivem como se a vida fosse eterna.

Ora, na maioria das vezes o trabalho é desgastante, estressante, extenuante. Exige


cumprimento de metas e prazos. Horário a seguir, faça chuva ou faça sol. O enfarte
ronda perto. A vida fica mais curta.

Muitos não conseguem mais viver sem trabalhar, não sabem fazer outra coisa.
Morreriam de tédio em dois anos, ou por alcoolismo. Já outros não podem deixar de
trabalhar, precisam da remuneração, essencial à vida. Estes, é claro, não têm escolha.

Existem ainda os que se sentem bem trabalhando, os que dominam um assunto


qualquer e são mestres na sua especialidade. Estes não trabalham, divertem-se. Nem
ligam para a remuneração pecuniária do seu trabalho.

Porém, aqueles que trabalham sem necessidade, apenas para serem considerados
jovens, porque tem medo da velhice, deveriam repensar o assunto. Jogam fora,
inutilmente, uma boa parte de suas vidas. Uma parte boa dela. Serão arrancados da vida,
pela morte, em "plena juventude".

Fazer ou deixar de fazer o que for desejado. Dedicar-se àquilo que realmente gostam.
Ensinar aos outros, o que aprenderam. Viver a liberdade. Gozar a vida. Esta é a vida de
um velho. Ser velho é deixar de ser jovem. É viver vida de velho, com suas limitações e
suas vantagens, a sabedoria, os amigos, o conhecimento, a experiência.

Exercício mental e físico sim, com certeza, para manter a saúde, física e mental, mas não
para "ser jovem". Não é mais necessário provar nada para ninguém.

Assim, estaremos mais preparados para a morte pois vivemos todas as fases da vida.
Assim é que deveria ser.

A sociedade, a cultura e as leis deveriam atuar neste sentido. Deveriam considerar a


infância e a velhice como equivalentes à vida de um "adulto pleno", gente como os
demais e não como sendo atrapalho.
MEU DINHEIRO SUMIU – GG publicado 29/10/2005

Meu salário é depositado em banco. É uma conta "cativa", pois só tenho a conta
bancária, em função deste depósito mensal que é feito pelo empregador.

Poderia até, se quisesse, escolher outro banco. Mas, como são todos "farinha do mesmo
saco", não existe motivo para fazer isso.

Um dia aconteceu, o que a gente imagina, só acontecer com os outros: Sumiu dinheiro
de minha conta! Fiquei a zero. Por vários dias seguidos fizeram saques. E entrei "no
vermelho".

Só percebi, quando fui fazer uma retirada e vi que o limite tinha sido ultrapassado.
Estava de tal modo "no vermelho", esgotados todos os empréstimos e limites possíveis,
que nem um tostão mais poderia retirar.

Eu, que NUNCA utilizei crédito algum, nem que fosse para tirar o pai da forca, estava
atolado até o pescoço em dívidas, a juros astronômicos.

Controlando o melhor possível, a tremedeira nas mãos, e o enfarto no miocárdio, fui falar
com o gerente.

Imediatamente, quaisquer possíveis saques adicionais foram sustados. O que não


adiantou muito, pois tudo já tinha sido retirado. Deveria refazer o cartão e trocar a senha.
E mantê-la em segredo, de verdade. Ser extremamente cuidadoso com o cartão e a
senha para que isso não se repetisse. Boa tarde.

Mas, perguntei, quem iria repor esse dinheiro?

O gerente disse que eu deveria ir à polícia, fazer um BO (Boletim de Ocorrência),


certamente eles investigariam o que tinha acontecido e possivelmente identificariam
quem fez os saques. Mas o importante mesmo era tomar cuidado, muito cuidado, para
que coisas assim não voltassem a acontecer. Cuidar inclusive de documentos, tais como
RG, CPF etc. Boa tarde.

Mas, eu nunca disse a quem quer que seja a minha senha, nunca a escrevi em lugar
nenhum, tenho-a guardada na cabeça exclusivamente. Como alguém poderia fazer
saques, desconhecendo a senha?

O gerente: "É o que todos dizem!". Pensou isso, mas não falou. Disse isso sim, que o
sistema é seguro e que a "assinatura eletrônica", no caso a senha, vale como se fosse
de próprio punho. Responsabilidade exclusiva pois, do correntista.

E nem mais "boa tarde" desejou, tinha coisas a fazer.


Bom, venderei o carro, imediatamente. E andarei a pé, por uns bons tempos. Pois, o
mais importante, é evitar que essa dívida vire uma bola de neve insuperável, e eu acabe
perdendo tudo que tenho. Vender o carro vai ser suficiente espero, e apertar o cinto.

É claro que a polícia não vai apurar nada. Não dá para contar com isso. Droga, que azar
dos diabos, o meu!

Fui para casa. Estava muito nervoso, para falar mais qualquer coisa. Tinha que me
acalmar primeiro.

Mas, a verdade é que, realmente, só eu sei a senha de minha conta bancária. Não está
anotado em lugar algum. Ninguém a conhece, além de mim.

Seu eu morrer ou me acontecer alguma coisa, minha mulher iria ficar em papos de
aranha, sem poder retirar um tostão. O que sempre me preocupou. Mesmo assim nunca
disse a ela qual era a senha, nem a ninguém.

Sei que quase ninguém faz isso. Mas eu fiz. Assim, como poderia alguém tirar dinheiro
da minha conta? Nunca usei o cartão para qualquer coisa que seja, a não ser para retirar
o meu salário e nunca retirei mais do que o saldo, genuinamente meu. Como era
possível isso ter acontecido?

É claro que o cartão em si, por mais que se cuide, como se fosse dinheiro vivo, é
impossível mantê-lo sob vigilância, o tempo todo. Certamente, vez ou outra alguém
poderia ter acesso a ele. Impossível impedir isso totalmente.

Mas a senha, a indispensável senha, como chegaram a ela?

É verdade que, para tê-la bem memorizada, sempre mantive a mesma senha. Nunca
mudei. O que não é recomendado. Sempre dizem que deve ser alterada freqüentemente,
é mais seguro.

Entretanto, mudando freqüentemente, fica-se obrigado a anotá-la em qualquer lugar. O


que também é perigoso. E a anotação deve estar disponível, pois de nada adianta
esquecer qual é a senha, e a anotação está escondida em algum lugar, "lá em casa", ou
"lá no escritório".

Mas, de algum modo, sentia que não era culpado pelo acontecido. O dinheiro não foi
tirado de mim, pois estava com o banco. É de lá que ele foi tirado. Como poderia eu ser
penalizado?

Se o salário me fosse pago diretamente, e eu assinasse o recebimento, a partir deste


momento, o problema seria meu. É claro. Mas eu não tinha recebido o dinheiro ainda.
Como então, ele foi tirado de mim?
Se o dinheiro estivesse comigo, cuidaria dele, e responderia por isso. Mas, estando com
o banco, não teria ele que prestar contas pelo que aconteceu?

É interessante esse negócio de conta bancária. Confia-se que o empregador tenha


depositado o seu o salário, e confia-se que o banco realmente esteja com o teu dinheiro.
Você nem sabe direito os trâmites de tudo isso. É uma caixa preta. Onde única coisa que
você pode fazer é confiar.

O empregador depositou. O banco creditou. Dizem isso a você e nada mais resta que
acreditar. Um pedaço de papel. Uma tira que sai de uma máquina. Sem assinatura sem
nada. É o máximo que mostram. Se você insistir muito.

O que não se faz com o melhor amigo, confiar cegamente, faz-se com os bancos. E você
nem sabe quem são os caras.

Eu assinei contrato com o banco, concordando com as cláusulas contratuais, que


certamente em algum lugar estabelece que eu sou o responsável, quando coisas assim
acontecem.

Tudo bem, assinei. Mas não tive escolha. Fui obrigado a assinar, pois se não, não
poderia retirar o salário que estava depositado. Foi o que me disseram na ocasião.

Também não poderia optar pela aceitação ou não, das cláusulas. Teria que assinar de
olhos fechados. E foi o que fiz.

Sou o responsável, vou ter que pagar. E tenho que fazer isso rapidamente pois a taxa de
juros é arbitrada pelo banco exclusivamente, quando e o quanto bem entendem.
Também concordei com isso, ao assinar.

Assim uma coisa que era uma simples, simplérrima forma de pagamento de salário,
virou um monstro, que ameaçava comer o meu fígado.

Fui roubado, mas não levaram só o que eu tinha. Levaram também o dinheiro que eu não
tinha. Melhor ser assaltado na rua, pois além da possível surra, só levam o que você tem.

Só eu sei a minha senha, tenho certeza disso. Mas o banco também sabe. Por que sou
eu que vazei a informação, e não o banco? Por que se admite, sem pestanejar, que o
banco é íntegro e eu desleixado?

Claro, a maioria, cedo ou tarde, facilita com o seu cartão e senha e assim, adquirem
"culpa no cartório". Ficam sem moral para reclamar. E pagam por isso. Mas não era o
meu caso.

Se eu não "entreguei o ouro para o bandido" só o banco, de alguma forma, poderia ter
feito isso.
"Os sistemas bancários são extremamente seguros, impossível penetrar neles".
Disseram no banco. Com um lacônico sorriso de superioridade. Tudo bem é verdade,
extremamente seguro, concordo plenamente. Mas pouco adianta, quando a raríssima
exceção acontece justamente comigo!

Não entendo nada de segurança de bancos, mas é claro que muitas maneiras existem,
de burlá-la.

Ao digitar a senha alguém pode estar observando. E não tem como se precaver disso
totalmente, pois os caixas, eletrônicos e os com gente de verdade, foram montados
desse modo. Uma pessoa pode ver o que você está fazendo e, com habilidade especial,
pode "ler" os números que estão sendo digitados.

Algum dispositivo eletrônico ou não, pode captar a senha que está sendo digitada, isso
já aconteceu, e nem você nem o banco, ficam sabendo.

Em bancos pela Internet ou em Cybercafés, existem várias maneiras, nada difíceis de


obter a senha, os quais, por este motivo, nunca utilizei. Existem programas, que captam
tudo o que é digitado. Assim, ao acessar o banco, é possível alguém estar "vendo" o que
está sendo teclado.

Tentativas aleatórias para adivinhar a senha podem dar certo. Demora, mas com os seus
dados, número de conta e outros, tentativas são feitas a esmo, e acertam.

Funcionários do banco existem que tem acesso às senhas, claro. Seriam todos eles
íntegros, sempre? E sei lá mais, o que pode acontecer.

E eu sou o responsável por tudo isso?

Nem tenho acesso ao sistema de segurança que os bancos utilizam. Não sei quanto é
seguro o ou o quanto eles gastam nisso. Não posso influenciar em nada, uma vírgula
que seja, se achar que alguma coisa está errada, ou deveria ser melhorada.

Como então, sou eu que tenho que pagar?

E se eles resolvessem economizar, e deixassem o sistema mais vulnerável ainda. Bem


mais vulnerável, de modo que coisas assim acontecessem, não uma, mas diversas
vezes. Que poderia eu fazer? Nada. Pois assinei o contrato. Tenho que pagar.

É descontado do meu saldo, pelo banco, de tempos em tempos, alguns Reais, que eles
chamam de tarifa. Pago pois, pela conta que tenho no banco, e é assim que eles cuidam
do meu dinheiro? Pago a eles, mas quando alguma coisa dá errada, a responsabilidade é
minha?

Disseram que eu deveria ter mudado a senha, e não manter sempre a mesma. Facilitei
assim ter sido surrupiado.
Pior ainda é que, parecia não estarem acreditando em mim. Como se eu estivesse
querendo aplicar um golpe. Por umas e outras palavras, davam a entender que as
retiradas indevidas, não tinham sido tão indevidas assim. Pois nada indicava que
tenham sido fraudulentas.

Além de tudo, ainda teria que explicar a minha honestidade!

Aparentemente, se existir algum desonesto na história toda, só poderia ser eu. O banco
não precisa dessa mixaria, que é o meu dinheiro. Pois tem um nome a zelar. E eu,
aparentemente não. É assim que as coisas estavam se encaminhando.

Acredito, que na verdade, era apenas para me encurralar, é por isso que faziam isso.
Para que eu ficasse na defensiva. Intimidar-me.

Eu não conseguia fazê-los entender, que realmente tinha guardado sigilo quanto à minha
senha. E portanto o sistema deles, vulnerável, é que possibilitou os saques. Teriam
portanto que responsabilizar-se. Mas, simplesmente não acreditavam.

Eles podiam duvidar de mim, mas eu do banco, que absurdo! Eu já estava começando a
ficar bravo, de verdade.

Bancos são entidades integras e honestas. Única coisa que desejam é dinheiro. De quem
quer que seja, de otários inclusive, como eu. E os desgraçados estavam,
habilidosamente, tirando o corpo fora. O que fazer?

Processar o banco, por danos pecuniários, danos morais. Ir aos jornais, rádios e
televisões. Entidades de proteção ao consumidor, pequenas causas, Procon. Ir até o
Superior Tribunal de Justiça!

Ganhar a causa, em última instância. Transitado em julgado. Que possa ser usado como
jurisprudência. Derrubar o sistema bancário! Recusar qualquer tipo de acerto! Nem que
leve quinze anos, e gaste nisso, tudo que tenho. Virar a mesa!

Mas sei que não vou fazer isso.

Seria malhar em ferro frio. Dar murro em ponta de faca. É mais prudente, e muito mais
econômico, baixar a cabeça. Terei sorte se conseguir recuperar alguma coisa. E então,
provavelmente, ainda ficarei devendo favor ao banco.

Bom. Na verdade, nada disso aconteceu. Não sumiu dinheiro da minha conta. É ficção,
inventei toda essa história. Contando dessa forma, queria apenas torná-la mais atraente.

Mas, se acontecesse, provavelmente seria assim, o desenrolar das coisas.


O MINHOCA – GG publicado 27/08/2005

Certa noite, já tarde, o barulho de uma freada violenta e um estrondo.

Tinha acontecido um acidente!

Olhei pela janela. Bem em frente ao meu apartamento, um fusca perdeu-se ao dobrar a
esquina e bateu num poste. A pancada foi tão violenta, que o poste caiu em cima do
veículo.

Desci imediatamente. Olhei para dentro do carro e lá estava o motorista, desacordado.

Sei que não deve mexer-se em feridos no trânsito, para não agravar as coisas. Mas
mesmo assim dei umas chacoalhadas nele, pois nada parecia estar errado fisicamente,
com ele.

Estava, isto sim, bêbado, totalmente bêbado. Pouco a pouco acordou e, cambaleando,
saiu do carro. Nem conseguia entender direito, o que tinha acontecido. Felizmente não
se tinha machucado nada. Nem machucado ninguém. Como se diz, só danos materiais.

As coisas foram se acalmando, e conversava com ele.

Reprovável e muito, dirigir neste estado, sem dúvida nenhuma. É perigoso, para ele, e
não só para ele, uma irresponsabilidade! Mas, felizmente, apenas danos materiais tinham
acontecido.

Surge então um carro de polícia. Pedem documentos, ele se atrapalha, demora a


encontrá-los. De imediato percebem que tinha bebido e começam a bater nele. Com
cassetetes e empunhando armas, maltratavam o coitado.

Comecei a defendê-lo, dizendo que não podiam fazer isso. Deviam prendê-lo é claro, mas
sem bater!

Tanto falei que também fui preso. Disseram que deveria ir junto para a delegacia, como
testemunha. Enfiei-me em uma enrascada, de graça.

E fomos de "camburão", explicar-se ao delegado. Eu estava mais ou menos tranqüilo,


pois nada tinha feito de errado, mas ele, certamente iria passar alguns dias vendo o sol
nascer quadrado.

Os dois diante do delegado, eu e o meu cambaleante novo amigo.

Autoritário, austero, de cara amarrada, cheio de importância, e de tédio também,


certamente por ver as horas noturnas passarem, sem que algo excepcional acontecesse,
perguntou o delegado, com voz de trovão, irritadíssimo: "O que é que há com vocês?!"
Comecei a ficar inseguro. Possivelmente iria sobrar para mim também. Tinha comprado
uma briga, que não era minha, e provavelmente iria me ferrar com isso.

In vino veritas, é o que dizem. Mas muita bobagem acontece por causa da bebida. Falar
coisas erradas, na hora errada, por exemplo.

O meu amigo, incerto ainda das pernas, e com um bafo de onça quilométrico, aponta o
dedo na cara do delegado, e pergunta: "O senhor conhece minhoca?"

Ai, ai, ai, pensei. Pelo amor de Deus, o que esse cara está aprontando! Estamos fritos!
Quem levará para mim os cigarros na cadeia?

Eis que, para minha surpresa, a feição do delegado desanuvia-se, e ele responde:
"Conheço sim!"

O meu amigo retruca: "Pois é, minhoca é meu pai. Meu avô o minhocão e eu sou o
minhoquinha."

Conheciam-se muito bem o delegado e o pai dele, de apelido "minhoca".

Perguntei então, se estava dispensado. E fui embora.

CAUSA E EFEITO – GG publicado 9/06/2005

Outro dia, sentado no jardim de minha casa, com amigos, eis que surge um pequeno
passarinho que nenhum de nós jamais tinha visto antes. O corpo e a cabeça de um
colorido intenso, alaranjado, cor de fogo, o rabo e as asas pretas. Brilhava realmente,
uma gema, jóia da natureza. Sobre os olhos, uma lista preta horizontal, fazia parecer que
portava uma máscara. No chão e de arbusto em arbusto, saltitava, mordiscando aqui e
ali, insetos quem sabe. Até que, após um vôo rasante sobre nossas cabeças, ganhou
altura, e foi embora.

Na conversa que se seguiu comentávamos, que ultimamente, eram vistos, cada vez mais
bichos, tipicamente de lugares selvagens nos centros urbanos, nas cidades, o reduto
dos humanos.

Jacarés nos parques da cidade, capivaras nos terrenos baldios mais amplos, macacos,
araras, tucanos e até cobras nas piscinas de bolinhas do McDonalds. Até isso
aconteceu. E pior, uma criança foi picada e morreu.

Seria uma invasão dos bichos, um ataque preste a acontecer, como no filme "Os
pássaros" de Alfred Hitchcock, e tantos outros filmes correlatos? Ou seria porque a
expansão urbana e o agrobusiness estão destruindo o habitat deles e assim os forçando
a procurarem alternativas?
Sabiás, joão-de-barro, sanhaços, relativamente raros, difíceis de encontrar quando eu
era menor (e de serem caçados por nós crianças), agora é uma constante. Por que seria?

Cada um arriscou um palpite, uma explicação.

- É por causa da proibição da caça!

As armas de chumbinho, de caça, calibres doze, dezesseis e vinte, desapareceram das


lojas. As que existem agora, de repetição, contrabandeadas, tipo Rambo e
Schwartzenegger, são mais apropriadas para assaltos e extermínios. O ser humano
descarrega assim agora, o seu instinto de caçador. Por isso a recuperação dos bichos. E
também o aumento da criminalidade.

- É por causa da tecnologia. Da informática. É dela a responsabilidade!

As crianças ficam horas e horas diante da tela do computador, nas suas aventuras
virtuais. Deixaram a cetra, o estilingue de lado. Não caçam mais passarinhos. E isto os
fez reviver.

E assim várias opiniões, mas a mais criativa foi a do meu amigo Gastão:

- É por causa da democracia, afirmou, é ela que causa tudo isto!

- Como assim? Essa eu quero ver, disse eu.

- Sim, a "democracia". Pois, assim como é entendida e executada atualmente, tem por
princípio, a liberdade de atuação e a competição entre as pessoas. Isso naturalmente
promove a desigualdade social. Uns enriquecem e outros não têm quase nada. Assim,
aqueles que têm pouco, olham com inveja para a propriedade dos ricos. Que então,
sentem-se compelidos a proteger o que possuem. Muros cercas elétricas, e também
cachorros são utilizados nessa finalidade. Os fila, pitbull, dobermann e rotweiler da vida.
Que têm que ser alimentados. E passarinhos adoram comer ração de cachorro!
Proliferaram muito com isso. Este é o motivo.

Lembrei então, de uma explicação que me foi dada, do porque dos fechamentos dos
bingos no Brasil. Teria sido um "lobbying" das indústrias farmacêuticas!

As velhinhas, indo aos bingos, se divertiam e gastavam lá o dinheiro destinado a


remédios. Divertiam-se e esqueciam assim suas doenças, reais ou inventadas. Não
ficavam mais em casa inventando males e dores, para as quais teriam que adquirir
medicamentos!

Causa e efeito, certamente, um assunto deveras complicado.


OS DESCARTÁVEIS – GG publicado 3/11/2004

Não muito tempo atrás, fui acampar. Em uma ilha do litoral, uma APA (Área de
Preservação Ambiental). Lugar maravilhoso.

Fomos informados que existia na pequena localidade de lá, uma padaria. Vejam só, uma
padaria. Fomos comprar pão.

"Por favor, uma dúzia de pãezinhos".

"Cadê a sacola?".

"Sacola?".

"Sim a sacola para levar o pão".

Não tínhamos nenhuma. Esperamos algum tempo, até que fosse desentocado algo
apropriado. Pagamos e fomos embora.

Eles não tinham sacos plásticos ou de papel para colocar os pães que fossem
comprados. Cada um que quisesse comprar alguma coisa tinha que levar sua própria
sacola. Se não, não teria como transportar a mercadoria.

Mau atendimento. Que atraso de vida etc. Estes foram os comentários ao voltarmos para
nossas barracas.

Lembrei então, que tempos atrás, as coisas eram assim, em todos os lugares. Quase
tudo que fosse comprado era transportado nas sacolas que cada um tinha em casa,
especificamente para esta finalidade. Reforçadas para suportar o peso e para que
durassem bastante. Quem esquecesse a sacola tinha que voltar para buscá-la.

Também garrafas de cerveja, refrigerante, leite, querosene, álcool, quase tudo em que o
"casco" era de vidro (embalagens de plástico eram raridade), tinha o seu valor
estipulado. Com "casco" era um preço e sem "casco" outro.

O "casco" tinha que se devolvido para que se pagasse menos. A reutilização ficava
assim garantida. Quem não o fizesse perdia dinheiro.

Claro tudo isto dava certo trabalho. Tínhamos que carregar "cascos" e sacolas. Não
podíamos esquecê-los em casa.

Evidentemente isso mudou muito. Mérito da tecnologia, da falta de memória e da


preguiça. A embalagem descartável tomou conta, o preço é único. Embalagem e sacolas
para transportar as mercadorias vão para o lixo.
Agora a reciclagem, quando existe, dá uma volta muito maior, inclui os lixões e os
catadores de lixo. Sendo que a maior parte fica lá mesmo, no lixo. E o lixo se acumula,
mundialmente.

Certamente, em um futuro próximo, algum gênio ecológico, doutor em meio ambiente,


após demorados e exaustivos estudos, vai sugerir que, se usássemos sacolas e
embalagens retornáveis, seria produzido menos lixo. E ganhará um prêmio Nobel por
isso.

A MÁQUINA DE LAVAR ROUPA – GG publicado 31/03/07

Certo dia, esta utilíssima ferramenta do dia a dia das donas de casa, pifou.

Quando uma coisa dessas acontece, só então, é que nos conscientizamos que estamos
rodeados por um mundaréu de utilitários que um dia simplesmente poderão deixar de
funcionar.

Sem motivo aparente. Assim de repente, sem mais nem menos, sem aviso prévio.
Acontece com torneiras, televisão, automóvel, descarga do banheiro, fechaduras etc. A
nos infligir danos. Físicos, morais e pecuniários.

Mas, não quando se é engenheiro. Aí não.

O engenheiro, dado o seu talento científico e tecnológico, nato e também o aprendido,


saberá num instante como solucionar qualquer problema. As ferramentas que usa são a
lógica, o raciocínio e o bom senso.

Com isso resolve-se qualquer coisa. Menos como conquistar uma namorada (sendo
solteiro) ou convencer a esposa que deve gastar menos (sendo casado).

Ainda mais um engenheiro com habilidades manuais como eu, que gosta de mexer nas
coisas e que se interessa em saber como funcionam então, nem se fala. Moleza.

Liguei a máquina. O motor girava. Porém, a cuba aonde vai a roupa a ser lavada, não se
mexia.

Desligada, puxada do lugar e olhando em seu interior, identificar a causa do problema foi
facílimo. A correia que, a partir do motor movimenta suas entranhas, estava rompida.
Tinha que ser substituída.

Como possuía chaves de boca, chaves estrela, alicates etc., não seria por isso que a
troca deixaria de ser efetivada. Era só comprar a correia.
Existia uma assistência técnica, mais ou menos perto de casa, e assim disse ao meu
filho: "Vá até lá e compre uma correia igualzinha a esta. Não esqueça de levar este
pedaço como amostra".

Depois de algum tempo ele volta.

"Comprou a correia?"

"Não pai. O homem lá disse que não é fácil trocar a correia e que seria melhor que viesse
um técnico fazer isso".

Droga! Vivemos num mundo mercenário!

Todos só pensam em arrancar dinheiro dos outros. Umas simples troca de correia e os
caras já querem aproveitar-se disso, cobrando por um serviço que qualquer um poderia
fazer.

Sem cabimento! Quem não saberia colocar uma correia ao redor de algumas polias e
depois apertar o esticador?

Engoli a raiva e disse: "Filho, vá até lá e compre essa correia! Não volte sem ela!"

Lá vai ele outra vez. E volta com a correia.

Bom, vamos ao trabalho, pensei. Peguei as ferramentas, puxei a máquina do lugar e


iniciei a instalação. Aparentemente não era tão fácil assim como tinha imaginado. Retirá-
la não foi problema. Era só puxar, pois estava partida. Mas colocá-la era mais
complicado, muito mais complicado. Vários componentes impediam o acesso às polias e
teriam que ser desmontados.

Olha que olha, estuda que estuda e nada.

Não estava conseguindo enxergar direito. Acocorado como estava ficava difícil e minhas
costas já estavam doendo. Coloquei um tapete no chão e deitei a máquina sobre ele,
com a abertura traseira voltada para cima. Com um fio elétrico e uma lâmpada, iluminei
amplamente o assunto.

Bem mais fácil agora estudar o problema. Mas olha que olha, estuda que estuda e nada.

Caramba!

Como é que fazem uma máquina assim tão complicada. Uma simples máquina de lavar
roupa! Teria que desmontá-la completamente para colocar a correia!

Nenhum equipamento é projetado assim. Tem que haver um meio simples de executar
essa tarefa. Mas olha que olha, estuda que estuda e nada.
Não adianta. Sem desmontar a máquina por completo, seria impossível instalar a correia.
Inconcebível, que em plena era espacial, aparelhos sejam construídos dessa maneira.
Mas, não tinha jeito. Por isso é que disseram que um técnico deveria executar o serviço.

Desmontá-la por completo não ousava fazer. Certamente faria algo de errado na
desmontagem ou na montagem. Além disso, a trabalheira seria demais.

Hesitei bastante, mas não tinha alternativa: "Filho, vá lá na loja e chame o técnico". O
técnico veio e, em quinze minutos, colocou a correia.

Existe um método de se fazer isso com facilidade. Mas não fiquei sabendo qual é.

Não me atrevia a chegar perto enquanto o técnico estava trabalhando. Não arrisquei
ouvir dele alguma gracinha qualquer, ou mesmo ver um simples sorriso de
superioridade.

DEFUMAÇÃO – GG

Todo mundo tem sua idéia de "jerico". E, muitas vezes não apenas uma.

Costelinha defumada é muito gostosa, um crime contra a saúde, é verdade, mas uma
delícia. E cara também. Por outro lado a costelinha de porco nos açougues, crua, não
custa quase nada.

Arenques defumados, uma especiaria. Importados da Noruega, custam uma fortuna.


Frango defumado, caríssimo. Isto quando conseguimos encontrá-los.

Com essa premissa, nada mais lógico que fazer um defumador. Após leitura das teorias
existentes projetei um defumador que deveria funcionar a contento. Usei um tambor
metálico de 200 litros e aproveitei um fogão a lenha que existe na lavanderia na casa de
meus pais e não era mais utilizado.

Pela teoria a fumaça teria que ser a mais fria possível e a defumação durar um dia
inteiro, ou mais. O combustível poderia se qualquer madeira que não fosse resinosa.

Fui a uma fábrica de pianos perto de casa e eles cederam serragem, quanto eu quisesse.
Peguei um saco de aniagem inteiro.

Bom agora era só começar. A idéia não era comercializar, vender ou qualquer coisa
deste tipo. Seria apenas "para o gasto". Entretanto defumar apenas alguns poucos
quilos, em um defumador que comportava oitenta ou mais, gastando um dia inteiro
nesse processo, não fazia muito sentido.
Tinha que arranjar mais interessados. Mais pessoas que estivessem dispostas a defumar
seus quilos de carnes, costelinhas, lingüiças, frangos, peixes etc. para que tudo isso
fosse "rentável". Quem sabe até, se a aceitação fosse boa, algum tipo de negócio
poderia sair de tudo isso?

No trabalho divulguei a idéia. Fiz propaganda. Muitos concordaram. Encarregaram-me de


comprar os produtos que seriam defumados. Anotei os pedidos. Iria comprar tudo e
depois acertaríamos.

Aí surgiu a idéia: Já que eu ia gastar o domingo defumando, eles iriam todos lá em casa
e juntos faríamos este serviço. Então depois de pronto, já levariam os defumados.

Tudo bem. Agora eu tinha que comprar ainda a cerveja, e outros bebes. E assim foi.
Pendurada as carnes. Iniciei o processo. Tudo "dentro dos conformes".

Aí começaram os problemas.

A serragem que, ardendo aos poucos, deveria fornecer fumaça (fria) não queria pegar
fogo direito. Apagava sem parar. Acredito que estivesse úmida.

Constantemente papel, gravetos, galhos de pinheiros tinham que ser queimados para
fazer a droga da serragem arder. Mas nada.

Queimava um pouco e depois apagava. Assim foi o dia inteiro. Uma dificuldade do cão.
Meus amigos não ajudaram em nada. Ficavam só sentados, dando palpites. E bebendo.

Com as labaredas dos gravetos e o constante remexer na serragem, o que chegava às


carnes dependuradas, era fogo e fuligem, pouca fumaça propriamente dita. Ficou tudo
preto. Pretíssimo. Horrível! Nem parecia mais carne.

As lingüiças, quando eu as comprei, eu não tinha notado, eram embutidas em plástico,


parecido com tripa, mas era plástico. Nelas a fumaça nem sequer penetrou.

Em resumo, ficou tudo uma droga. Fazer o que. Cada um pegou a sua parte das carnes e
acertamos as contas. E foram embora.

Nos dias seguintes fiquei sabendo o que aconteceu com os defumados. Eu fui o único
que comeu alguma coisa. Os outros, nenhum deles, sequer experimentou! O aspecto era
por demais, desagradável.

Um deles disse que deu para o cachorro e ele recusou.

Outro me devolveu as carnes. Não as queria. Nem o dinheiro de volta não queria.
Outro disse que deixou na geladeira e depois jogou fora.

Outro também ofereceu para o cachorro dele, que mordiscou um pouco. E depois
vomitou!

E assim por diante. Este foi o resultado. Nunca mais se falou em defumar coisíssima
nenhuma.

Um deles, lá da minha casa, foi embora de ônibus, levando consigo a sacola com as
carnes defumadas. Apesar do ônibus lotado, ele tinha bastante espaço e lugares vagos
ao seu redor. Ninguém conseguia ficar perto dele. Por causa do forte cheiro de fumaça.

Os passageiros estavam pensando que era ele que estava fedendo.

INCONFIÁVEL SER HUMANO – GG publicado 2/04/2005

Quando era mais jovem, pensei em comprar um relógio de pulso, com o meu parco
salário, acumulado a custo de muito sacrifício.

No rádio uma propaganda oferecia um relógio que eu considerava bom. E o preço? Uma
pechincha! Fui lá comprar.

"Ah, sim, este relógio, estava em promoção. Mas a procura foi tão grande, que acabou
rapidamente. Temos porém outros modelos, muito bons também, melhores até, só que
mais caros."

Nenhum deles me interessou. Principalmente porque eram muito mais caros. E fui
embora. Alguns dias mais tarde, novamente a mesma propaganda, nova ida à relojoaria.
E a mesma conversa.

Não prestei mais atenção a este tipo de propaganda. Relojoaria mequetrefe! Empresa de
quinta categoria, pensei. Mas, as de primeira, também fazem isso. Lojas enormes de ar
condicionado, transnacionais de primeiro mundo fazem exatamente o mesmo!

Um microondas anunciado como oferta. Uma pechincha! Menos da metade do preço dos
demais. Fui lá. Ao ser atendido, fui informado que a oferta era para apenas uma unidade.
E lá estava o microondas, bonito e reluzente.

Só que era um, que tinha sido usado para demonstração. A embalagem já tinha sido
aberta, o manual tinha sido perdido e, além disso, estava sem o prato giratório, que tinha
quebrado.

Titubeei. E então resolvi comprar outro. Pagando muito mais, é claro.


Esta oferta continuou por algum tempo. Aparentemente, ninguém se atrevia a comprar o
dito único microondas, com o prato quebrado e sem manual.

Na verdade fui burro, deveria ter comprado o microondas, e exigido o manual e o prato,
pois que, na oferta não mencionaram estas deficiências.

Era um artifício para atrair compradores de microondas e então convencê-los a comprar


outro.

Outra ocasião, um pequeno compressor portátil, de diafragma, DeVilbiss, ótima marca e


qualidade, quem é pintor de carros ou de letreiros, sabe muito bem disso. Oferta, um
terço do preço de outras lojas. Inacreditável! Cem unidades apenas.

Fui lá, no primeiro dia da oferta, cedo. E, vejam só, já estava esgotado.

Fui embora sem comprar nada. Burro que fui! Devia ter exigido que me mostrassem as
cem notas fiscais de venda. Pois era impossível, terem vendido tudo em tão curto prazo.

Devem ter se enganado ao fazer a oferta, e então assim tiraram o corpo fora.

Talvez todas as lojas e empresas, pequenas, grandes e gigantescas, utilizem esses


recursos. São todas "fierce competitors" umas com as outras. São quase que obrigadas
a este tipo de coisas. Para não perecerem, esmagadas pelas regras do "livre mercado".
Realmente, não dá para confiar no ser humano. Temos sempre, que ficar com um pé
atrás.

Agora a última, e é por isso, que estou escrevendo. Recebi pelo correio, uma oferta
imbatível e irrecusável:

"Para cliente XXXXXXCard. VOCÊ GANHOU!!! Dois dias e uma noite de hospedagem,
TOTALMENTE GRATUITO, com café da manhã e direito a um acompanhante. Escolha o
local: Guaratuba, Florianópolis, Caiobá. Ligue gratuitamente agora".

Quem perderia a oportunidade de pegar uma "gata" ou a esposa que seja, passar dois
dias e uma ótima noite, sem pagar nada?

Se nunca concorri a nada, por que teria eu ganho alguma coisa? Isto não está me
cheirando bem. Normalmente, jogo fora imediatamente, este tipo de "junk mail", mas, no
caso, resolvi ver qual era a pegadinha, por curiosidade.

Pois, é claro, que alguma coisa neste sentido, teria que existir.

Olhei o folheto. E olhei novamente. E novamente. E não descobri nada! Nenhum


compromisso, nada que a gente deva fazer em troca. Nenhum asterisco levando a letras
miúdas impressas em algum lugar escondido do folheto. Nada.
Como é possível? Quem sabe seja um hotel bem simples, apenas uma pousada, quem
sabe não seja possível escolher a noite que se deseja. Quem sabe tenha que se passar
mais noites além da primeira, pagando as demais (o folheto entretanto, nada falava
sobre isso). Alguma coisa tem que existir!

Florianópolis Guaratuba e Caiobá, cidades litorâneas, estão perto valeria a pena dirigir
os cento e tantos quilômetros por uma "gata" (pela esposa nem tanto).

Mas, de graça, sem pagar nada? Isso não existe! Pensa que pensa e nada. Mas acabei
descobrindo o que é (pelo menos o que achei que deveria ser):

No topo do folheto dizia: "Para cliente XXXXXXCard".

Acontece que eu não tenho nenhum destes cartões!

Devem estar mandando este folheto apenas para pessoas que não tenham XXXXXXCard!
Para que eles então façam o cartão. E possam usufruir desta oferta.

A acompanhante deve ir também, para receber a hospedagem (e provavelmente, irão


querer que ela faça um cartão também). Claro, é assim que, de um modo ou de outro,
eles tem o seu retorno. Acaba-se pagando o pernoite, ou pelo menos parte dele,
indiretamente.

É por isso também, que uma das cláusulas afirma que a oferta é pessoal e intransferível!
Não posso dar a um amigo, que tenha um desses cartões. Puxa vida, estou de parabéns,
descobri afinal, a pegadinha.

E parabéns a eles também! Deveriam receber o Prêmio Nobel de tramóia subliminar!

Vou escrever sobre isso pensei. Mas, por segurança, é melhor mesmo, telefonar para
eles, antes de fazer isso. E então, a grande surpresa!

Não é obrigatório ter ou fazer nenhum cartão! E não se paga nada, realmente. É apenas
uma promoção, de verdade. De uma rede de hotéis!

Inconfiável ser humano! Não dá nem para confiar que ele seja inconfiável.

PANQUECAS – GG

A vida de solteiro não é fácil. Talvez alguns homens se adaptem e até se dêem bem
enfrentando serviços caseiros, sem a ajuda de uma mulher ou apenas com a ajuda de
uma diarista.
Normalmente não é assim. Quase sempre o caos prevalece. Todos os dias. Exceto
quando a casa é arrumada pela diarista. E algumas horas depois.

Das plantas em vasos, nem os cactos sobrevivem. Morrem estorricadas, de sede. Os


bichos, coitados, gatos e cachorros, comem pão que o diabo amassou. E olhe lá.

Homem nenhum gosta de cozinhar. A não ser assar churrasco. Entretanto, não é
possível viver-se de churrasco, dia após dia, sem parar. O fígado não suporta tantas
cervejas e caipirinhas. Salvação são os italianos, que inventaram a pizza. Mas até esta,
com o tempo, sai pelas orelhas. O que fazer então?

Algo que seja fácil, rápido e gostoso?

Meus dois filhos e eu, solteiros na ocasião, estávamos na era das panquecas. Panqueca
simplificada, sem recheio, só a massa. Simples de fazer. Farinha, ovos, água e sal. E
azeite para fritar.

Pratos, talheres e frigideiras acumulavam-se até a diarista chegar. E assim íamos


vivendo. Trabalho e estudo de dia e panquecas à noite.

Mas, volta e meia, surgia um problema. Chegando em casa, por vezes faltava um, ou
mais de um, dos ingredientes. E não dava para fazer a panqueca.

Às vezes faltava farinha, às vezes ovos às vezes azeite. Ou qualquer combinação deles.
São no total, sete impedimentos para que as panquecas pudessem ser confeccionadas.

Podia ainda faltar sal (o que não impedia muito), gás (importante, mas não muito
freqüente) e fósforo ou isqueiro (difícil faltar, na casa de fumantes).

O mercado normalmente fechado. Aí o jeito era passar fome.

Um dia encheu. Assim não dá. Vou fazer um estoque, suficiente para alguns meses. Fiz
as contas e comprei. Doze dúzias de ovos, cinco pacotes de cinco quilos de farinha e
seis latas de azeite.

Isto deve resolver o problema. Orgulhoso, apreciei a minha obra, tudo resolvido.

É interessante como são os seres humanos. O que se passa dentro das pessoas é uma
incógnita. Não sei o que aconteceu. Difícil explicar.

Talvez porque no íntimo cobicemos apenas aquilo que não temos, e tudo aquilo que
existe em excesso é desvalorizado. Não sei.
O fato é que, nós três, olhando aquela enorme quantidade de suprimentos, perdemos
completamente o interesse em fazer panquecas. Talvez nosso inconsciente pensasse:
"Tenho que comer tudo isso?", e então se negasse a fazê-lo.

O tempo passava e nada de fritar panquecas. Comíamos outras coisas. Às vezes


fritávamos um ou dois ovos. Mas o estoque, como um todo permanecia inalterado. Não
adiantava, ninguém queria mais saber de panquecas. Mesmo depois de várias semanas.

Azeite e farinha não estragam facilmente. Mas os ovos já iam ficando imprestáveis. Ao
quebrar um deles às vezes a gema e clara misturavam-se.

Não tinha o que fazer. Começamos a distribuí-los aos conhecidos que os quisessem.

Depois foi a vez da farinha. Solteiros não têm utilidade nenhuma para farinha, a não ser
como nós, em panquecas. Pão, bolo e sei mais o que pode ser feito com farinha, isso é
coisa de mulher. Assim também a farinha foi dada de presente.

Sobrou o azeite. Este foi consumido ao longo do tempo.

Agora, decorridos muitos anos, uma vez ou outra fazemos panquecas. Muito raramente
porém. Nunca mais voltamos aos bons tempos.

O POSTE – GG

Às vezes as coisas dão certo, e às vezes não.

Eu morava na casa de meus pais, já falecidos. Há tempos, parte da frente do terreno


tinha sido desapropriada pela Prefeitura para dar espaço para uma avenida, então em
construção.

No entanto, um pedaço do muro divisório do terreno que abrigava o poste (de ferro) e a
caixa do contador de luz, permaneceu para fora do terreno, no meio da atual calçada e
assim foi por vários anos.

Ao lado foi construído um supermercado e a Prefeitura exigiu do mesmo que ele


derrubasse aquele pedaço de muro. O que não podiam fazer porque minha caixa do
contador estava grudada nele.

Eu nada sabia disto até receber pelo correio um comunicado da companhia de energia
elétrica informando que eu deveria mudar a instalação para os "padrões" da companhia,
impreterivelmente.
Como sou brasileiro não dei bola, mesmo após vários comunicados semelhantes.

Até que veio um, dizendo que eu tinha prazo de um mês para fazer a mudança senão
eles iriam cortar a luz.

Bom, agora eu vou me mexer pensei (naquele tempo ainda não existia ainda o Código de
Defesa do Consumidor, e este tipo de ameaça era bastante efetivo). Ficar sem energia
elétrica seria como voltar à idade da pedra.

Eu tinha uma pequena oficina, como Hobby apenas, no fundo do quintal e pensei ser
interessante então, já aproveitar para instalar linha trifásica. Bom também para ter 220V
no chuveiro resolvendo assim as constantes quedas do disjuntor e respectivos banhos
incompletos.

Liguei para a companhia de energia elétrica falando de meus intentos.

"Ah", disseram, "O senhor tem oficina? E quer instalar trifásico? É necessário um
projeto, feito por engenheiro eletricista credenciado, planta do terreno com os imóveis
etc. etc.".

Com salário microscópico, era claro que isto estava fora de questão, ainda mais porque
o material elétrico trifásico era também, significativamente mais caro.

Desisti do trifásico e telefonei novamente para a companhia de energia elétrica para


saber o que seria necessário apenas para ter uma instalação "padrão".

Disseram que seria suficiente fazer um croqui do terreno com a casa e levar lá. Com
trena lápis e prancheta fiz o croqui e levei até a companhia.

O funcionário que me atendeu, viu que, além da casa, existiam dois quartos, banheiro e
junto minha pequena oficina (que eu tinha denominado, por precaução, de depósito de
lenha), separados da casa principal.

"O senhor precisa de dois contadores, um para cada imóvel".

O que eu não concordei. Argumentei que era um só terreno, uma só entrada, um só


proprietário, uma só instalação, e que durante 30 anos assim tinha funcionado.

Afinal eu não estava disposto a pagar duas taxas mínimas, duas taxas de iluminação
pública etc., sem lutar pelo menos. Mas nada adiantou.

No calor da conversa, o funcionário da companhia chegou a afirmar que a única maneira


de não ter dois contadores era demolindo um dos imóveis! Tínhamos chegado a um
terrível impasse.
Isso, com o fantasma do apagão compulsório pairando sobre o meu lar. Eu estava certo
que, depois da discussão que tivemos, este apagão seria fulminante. O que fazer?

No trabalho, comentando com um colega de serviço, ele disse: "Contrate o Alaor, um


excelente técnico eletricista que ele resolverá o seu problema, com perfeição, dentro das
exigências da companhia de energia elétrica, com trifásico e tudo. Ele é 'meio enrolado',
mas muito bom."

Dito e feito. Conversei com o Alaor, e fomos até a minha casa para ver in loco a cena do
crime. Ele explicou que a primeira coisa a fazer era o buraco para o poste pois, quando o
mesmo fosse entregue, eles o desceriam do caminhão diretamente no buraco.

O melhor de tudo era que, segundo ele, seria suficiente apenas um contador. Como ele
iria resolver isso com a companhia eu não tinha a menor idéia.

Durante a conversa com o Alaor eu entendi o que o meu colega queria dizer com "meio
enrolado". Por mais que eu indagasse, não ficava claro onde ele iria cavar o buraco, se
do lado esquerdo do portão (o que a companhia de energia elétrica não permitiria) ou do
lado direito (onde o relógio de água iria atrapalhar).

Por fim eu disse: "O senhor é o entendido no assunto, e o que o senhor resolver está
bom". Deixei ele lá, e voltei para o trabalho.

À noite vi o buraco cavado ao lado esquerdo do portão, (onde a companhia não permite).
Bom, pensei comigo mesmo, ele deve saber o que está fazendo.

Do Alaor havia um recado dizendo que eu deveria comprar o poste, caixa de luz e
acessórios e então avisá-lo.

Por economia é claro eu iria fazer cotação em muitos lugares. Mas qual, poste e caixa
trifásicos estavam em falta. Depois de muito procurar e pressionado pelo apagão, desisti
do trifásico e fui no bifásico.

No lugar mais barato da cidade, comprei o material e perguntei quando seria entregue o
poste, dizendo que era extremamente urgente.

"Amanhã cedinho", foi a resposta. Que ótimo. Pelo menos uma boa notícia.

Cedo, no dia seguinte, telefonei para o trabalho dizendo que iria mais tarde e fiquei
aguardando. 9:00 horas nada, 10:00 horas nada, 10:30 nada. Telefonei para a loja
perguntando. "O senhor pode aguardar, que eles estão entregando". 11:00 nada, 11:30
nada. Telefonei novamente. "Com certeza vão entregar à tarde, o senhor pode aguardar".
15:00 horas nada, 16:00 horas nada, 17:00 horas nada. Liguei novamente. "Não deu para
entregar hoje, mas amanhã cedo eles entregam".
Então eu disse que não poderia ficar faltando ao trabalho por causa da entrega e
combinei que eles me telefonassem quando fossem entregar o poste.

No dia seguinte, no trabalho, recebo o telefonema: "O senhor pode vir que estamos
aguardando". Saí que nem foguete, queimando pneus e em 10 minutos estava em casa.

O caminhão com o poste estava lá, e os entregadores deitados no gramado em frente ao


terreno, esperando. Aí, olhando o caminhão e olhando o portão comecei a suar frio.
Aparentemente o portão não tinha largura suficiente para deixar passar o caminhão.

Mas graças a Deus não foi assim. Após várias manobras, com 2 cm de cada lado o
caminhão logrou entrar no portão. Até a metade!

Uma laranjeira na beira do caminho não permitia que o mesmo se deslocasse mais, a
não ser arranhando a lataria. Sem como derrubar a laranjeira, assim de improviso, não
sabia o que fazer. O poste tem que ser descarregado no buraco e para isso o caminhão
tinha que entrar no terreno.

Os entregadores disseram: "O senhor não se preocupe, nós voltaremos amanhã com
uma camioneta e aí vamos descarregar o poste para o senhor".

No dia seguinte não recebi nenhum telefonema deles e à noite fui para casa.

Quando entrei vi o poste, dentro do terreno, não em pé dentro do buraco, mas sim
deitado ao lado. Pronto! Agora a encrenca estava feita. O que será que aconteceu?

Meu sobrinho que, coincidentemente, estava na casa quando da entrega, explicou: "Eles
vieram aqui, eu abri o portão e eles entraram com a camioneta e o poste mas na hora de
descê-lo dentro do buraco, não o fizeram porque o mesmo iria bater nos fios de luz que
passam por cima e então eles o descarregaram aí mesmo, no chão".

E agora? Como iria eu colocar o poste em pé, para então chamar o eletricista Alaor para
concluir o serviço? Passam-se vários dias, não sabia o que fazer.

Calculava o peso do poste (peso especifico do concreto, volume de tronco de pirâmide


menos os vazios etc.), folheava as Páginas Amarelas para ver se existia alguma firma de
fornecimento de mão de obra ou guincho, mas não encontrava nada. Simplesmente não
sabia como resolver o problema.

O prazo do apagão já tinha vencido há muito e a qualquer hora esperava que a luz fosse
cortada. Então o filho da minha namorada, disse: "Pode deixar que eu e alguns amigos
resolvemos isso. Nós colocamos o poste no lugar e o senhor paga um jantar."

Perguntei: "Quantos amigos vocês são?" Ele respondeu: "Quatro, mas três são
suficientes pois já levantamos um poste em três pessoas."
Vieram em quatro. Na primeira tentativa o poste subiu a uma inclinação de uns 30 graus
do solo. Aparentemente o poste bifásico era mais pesado do que aquele que eles tinham
levantado. Na segunda, com mais empenho, a uns 20 graus apenas e na terceira uns 10
graus e voltou ao solo. Realmente era muito pesado.

Não paguei o jantar, mas fomos a uma lanchonete, comemos pizza e tomamos cerveja.

O poste deitado e o apagão pendente.

Para piorar as coisas, certo dia, meu sobrinho disse: "Passou um cara aqui, da
companhia de energia elétrica, e disse que se o poste fosse colocado neste lugar do
buraco, eles não fariam a ligação".

O poste deitado e o apagão pendente. Toda vez que entrava ou saia de casa via o poste e
ficava preocupado. Qualquer hora eu ficaria sem luz em casa. O que fazer?

Já que o meu colega do trabalho tinha me metido nesta enrascada (eu já estava
"apelando") era ele que me devia tirar desta. Tanto falei que ele, na ocasião Chefe de
Divisão, encheu-se e tirou em pleno expediente, dez funcionários (gente acostumada a
fazer força) do serviço e, com cordas e duas tábuas, lotamos dois carros e fomos até a
minha casa.

Lá chegando, sob supervisão, do Chefe de Serviços Gerais da Divisão erguemos o


poste, em etapas, calçando o mesmo com as tábuas a cada etapa e mantendo-o estaiado
com cordas para que não caísse para os lados.

A cada etapa recuperávamos o fôlego. Realmente sem tábuas e cordas, mesmo em dez
pessoas não teríamos conseguido o intento.

Meu medo era que, após tantos contratempos, alguém ainda saísse machucado e a
situação complicasse de vez. Mas felizmente tudo correu bem e nada aconteceu. Enfim o
poste estava em pé. Ufa!

A cerveja para os heróis deste evento, estou devendo até hoje.

Agora vinha a fase final que era conclusão da instalação. E o mais preocupante,
conseguir que a companhia de energia elétrica fizesse a ligação.

Um conhecido disse saber de um eletricista que faria a instalação e, com absoluta


certeza, providenciaria a ligação. Contratei-o (o Alaor, tanto tempo tinha passado, que já
o tinha descartado do esquema, mesmo porque, sendo "meio enrolado", certamente não
iria conseguir que a companhia fizesse a ligação).

O preço foi bastante salgado, mas se a ligação fosse feita, valeria a pena.
Instalada a caixa, ferragens e puxado os fios o novo eletricista pediu um pequeno
adiantamento do valor contratado. Eu dei. Ele pegou a cédula, colocou-a dentro da caixa
do contador e disse: "O senhor pode telefonar para a companhia e pedir a ligação".

Realmente, após alguns dias a ligação foi completada.

O pedaço de muro foi demolido pelo supermercado e a calçada liberada para os


pedestres. O serviço do Alaor (orientação técnica e cavar o buraco) não paguei até hoje,
e ele também nunca me cobrou. Em toda a confusão o chuveiro acabou permanecendo
com 110V e o disjuntor continua caindo.

Posteriormente, devido a um mau contato, as luzes pareciam-se com tomates maduros.


Chamado o eletricista (que, evidentemente, não era tão bom quanto o Alaor), o problema
foi resolvido rapidamente.

Pelo menos não preciso mais temer o apagão, e, durante um bom tempo foi uma
satisfação imensa, voltar do trabalho, acender as luzes e deixar a casa bem iluminada.

Tempos depois um carro bateu no muro da casa e quase derrubou o poste, mas ele
agüentou. Um pouco torto e cheio de rachaduras ele continua exercendo sua função,
satisfatoriamente. Essa é a historia.

Desde este episódio, minha admiração por Queops (aquele das pirâmides no Egito)
aumentou muito, pela coragem, determinação e principalmente por ter conseguido
realizar um empreendimento de tal envergadura. Se bem que, naquela época, as coisas
deviam ser mais fáceis. Não existia ainda a tal da eletricidade.

MÃOS AO ALTO – GG publicado em 10/10/2006

Bancos são assaltados. Alegando questões de segurança os bancos passaram a exigir


dos correntistas que avisassem com antecedência a retirada de quantias maiores, em
dinheiro.

Não sei se ainda é assim. Parece que foi considerado ilegal fazer isso.

Meu salário (que não é lá essas coisas) é depositado, e alguns dias depois eu ia ao
banco e retirava praticamente tudo. Sem avisar com antecedência. Nunca avisei que ia
retirar a mixaria do meu salário.

Esperava na fila e chegada a minha vez, a pergunta: O senhor avisou que ia retirar essa
quantia?
Eu: Não, não avisei.

Caixa: Então não podemos pagar o seu cheque.

Eu: Por que não?

Caixa: É que o dinheiro está no cofre e demora a abrir, e os caixas não têm essa quantia.

Eu: Eu espero.

Caixa: O senhor precisa falar com o gerente para ele autorizar.

Eu: Eu não! Fale você.

Caixa: O problema é que não temos tanto dinheiro nos caixas e não podemos pagar o
seu cheque.

Eu: O banco não tem dinheiro? Mas eu não estou pedindo dinheiro emprestado, quero
apenas retirar o que foi depositado em meu nome. E isso foi feito há poucos dias, como
é que o banco não tem mais esse dinheiro? Ora, se esse dinheiro não existe mais, o
banco só pode estar falido! (a essa altura eu já estava falando bem alto e todas as
pessoas olhando).

Caixa: (Vai falar com o gerente e volta) O senhor precisa aguardar um pouco.

Eu: Tubo bem.

Caixa: Poderia ficar ao lado para que eu possa atender os outros clientes?

Eu: De jeito nenhum. Esperei na fila e é a minha vez, só saio daqui com o dinheiro (e fico
na frente do guichê até que o cheque seja pago).

Caixa: O senhor deve avisar antes, que vai retirar essa quantia.

Eu: Então, faz favor tome nota, todo o começo de mês eu irei retirar valores
semelhantes. Está bom assim?

Não estava, porque no mês seguinte era a mesma lenga lenga. Mas, nunca avisei com
antecedência.

Acabei entregando os pontos, para não ter mais que brigar. Passei a usar o caixa
eletrônico. Que não permite também, retirar muito dinheiro de uma só vez.

Mas com o caixa eletrônico, é impossível argumentar.

SAÍDA PELA TANGENTE – GG publicado 2/02/2006

Casar, sempre é uma decisão difícil de ser tomada. Você é jovem, e está namorando,
com uma bela "gatinha". Já há algum tempo. Vocês se gostam. Não existe pois como
reclamar das coisas, assim como elas estão.
Entretanto, você pressente com razão, que tudo lentamente está encaminhando-se para
um, como se diz, "compromisso mais sério". Que em nada lhe agrada. Não é o que você
deseja, por enquanto. Muitos cartuchos ainda, para detonar na vida. Antes de enfrentar
coisas definitivas como um casamento.

Você já foi apresentado aos pais dela, já jantou na casa dela muitas vezes. Eles, é claro,
querem ver a filha, com quem tanto se preocupam, bem cuidada. E que tudo aconteça
"dentro dos conformes".

O cerco está se fechando e você nada pode fazer. Suas evasivas e desconversas,
quando o assunto é ventilado, já são solenemente ignoradas. A pressão aumenta e cedo
ou tarde, você será encostado na parede.

O que fazer? Não existe como sair-se dessa, honrosamente, sem ferir sentimentos. Sem
ser considerado por todo mundo, como sendo um vil e ignóbil crápula.

E também a sua consciência não o deixaria dormir sossegado, se você simplesmente


declarar de repente sem nenhum motivo, que está tudo acabado. Seria magoar demais,
muita gente.

Finalmente chega o dia. Com muitos dengues, em conversa que não lhe deixa
escapatória, ela exige que você se comprometa com o futuro casamento.

Você responde: "Claro querida, casaremos sim. É justamente o que eu mais quero na
vida".

Ela: (Suspiro de alívio, alegria e felicidade.)

Você continua: "Sabe o que? Casaremos imediatamente, já na semana que vêm!"

Ela, estupefata: "Mas amorzinho querido, assim tão rápido? E a festa, convidados e tudo
mais?"

Você: "Nada de festa, é bobagem. Vamos casar apenas no cartório. O que mais quero é
estar junto de você, só nós dois. E formar uma família, o mais rapidamente possível".

Ela: "Mas amor, você ainda não terminou os estudos, não tem emprego, como é que
vamos viver?"

Você: "Ora, esse negócio de estudar é bobagem. Muita gente se fez muito bem na vida,
sem estudo. Na verdade é só perda de tempo".

Ela: "Mas meu bem, do que viveremos?"


Você: "Não se preocupe, arranjo qualquer coisa. Poderia trabalhar em uma lanchonete,
fazendo sanduíches, ou quem sabe, como lavador de carros, ou cuidando de carros na
rua. Dizem que dá muito dinheiro. Com o tempo poderíamos até, comprar uma moto à
prestação, e eu trabalharia então como motoboy, entregando pizzas. As possibilidades
são muitas".

Ela: "Mas, com um emprego desses, nunca poderíamos sequer alugar uma casa
decente!"

Você: "Engano seu, querida. Vi outro dia, junto à favela da Rocinha, uma casinha muito
legal, aluguel bem baratinho. E isso que dizem por aí que aquela região é perigosa, que
lá só existem bandidos e estupradores, é pura conversa".

Ela: (Silêncio).

Você: "E, se fosse o caso, você poderia colaborar também. Quem sabe lavando roupa
para fora".

Ela: (Silêncio)

Você continua: "O que mais quero querida, é uma família, o mais rapidamente possível.
Você sabe, eu adoro crianças. Não vejo a hora de brincar com os filhos. Muitos deles.
Um time de futebol até. Serei o treinador, mal posso esperar que isso aconteça!"

Ela, após uma longa pausa: "Sabe, neste tempo todo em que estamos juntos, nunca
percebi o quanto você é realmente imaturo e irresponsável!"

Você: "Mas querida, do que é que você está falando. Eu te amo. Quero casar com você.
Para ficarmos juntos, para todo o sempre!"

Ela: "Não me venha com essa conversa idiota, seu crianção. Está tudo acabado. Vá para
o inferno!"

O PEQUENO MORITZ - GG publicado 8/11/2009

Torcedor de futebol

- Pai, como se faz para ser torcedor de futebol?

- Que pergunta é essa, filho? Qualquer um pode ser torcedor, é só escolher um clube e
torcer!

- Não precisa entrar para o clube, pagar mensalidade, nem nada?


- Claro que não filho, torcer por um clube é voluntário, faz quem quer. E como quiser.

- E como a gente escolhe um clube para torcer?

- Ô filho! Deixa de ser bobo. Assista aos jogos, veja como são os jogadores, se jogam
bonito, se têm esportividade. Enfim, veja o time que mais lhe agrade e então torça por
esse clube.

- Mas pai, os jogadores estão sempre mudando, sendo vendidos e comprados, não seria
melhor torcer pelos jogadores e não pelo clube?

- Não filho, você tem que torcer pelo clube. E tem mais, você tem que ser fiel a ele.
Mesmo que ele se transforme no pior clube do planeta. Você tem que ficar firme, não
pode ser vira-casaca e mudar de clube.

- Mesmo quando os jogadores trapaceiam, usam violência e fazem um péssimo jogo,


mesmo assim tenho que continuar torcendo pelo clube escolhido?

- Mesmo assim filho. E quanto pior, mais você tem que torcer!

- Que nem o casamento não é pai. Por toda vida, aconteça o que acontecer.

- Pior, filho, pior. Casamento ainda dá para separar. Mas do time escolhido, nunca mais!

O pequeno Moritz fica pensativo e então diz: E se eu não escolher nenhum clube para
torcer?

- Também pode filho. Mas não convém fazer isso, nós brasileiros gostamos de futebol, e
se você não torcer por um time qualquer vai ser excluído. Será considerado um pária.
Simplesmente não vai ter o que falar em muitas ocasiões. Sabe o futebol, assim como a
previsão do tempo e o cafezinho são quebra-gelos. Quando não se têm nada para dizer,
fala-se de futebol. E assim as pessoas se entendem.

- Humm, pai. Então acho melhor escolher um clube.

- É isso aí filho. Escolha bem o seu clube, qualquer que seja ele. A escolha é totalmente
sua. E fique por dentro, acompanhe os jogos os lances e a política dentro e fora do seu
clube, seja um perito no assunto! E quando não tiver o que fazer, em vez de ficar
pensando bobagens, assista futebol. Você se diverte se emociona se empolga e esquece
as coisas ruins da vida, tais como corrupção, criminalidade, guerras, recessão, inflação.
Que só deixa a gente deprimido.

- Entendi pai. O futebol é o tal circo de que tanto falavam os romanos, não é?

O pai admirou-se do filho falar isso e concordou: É verdade, de certo modo você está
certo.

- Já sei pai. Vou torcer pelo River Plate, da Argentina!

- Não filho, isso você não pode fazer, de jeito nenhum. Seria arriscar um olho roxo, ou
pior que isso. O futebol é perigoso, você tem que torcer por um clube brasileiro. E nos
jogos internacionais deve torcer para que vença aquele que mais favorece o seu clube
ou a seleção brasileira, independentemente de como jogam os jogadores.

- Mas pai, fazer isso não é mais esporte.


- E quem disse que futebol é esporte, filho? Esporte é a pelada que você joga com os
seus amiguinhos, isso é esporte. Mas o que os clubes fazem é outra coisa, comerciam
jogadores, contratos milionários, fazem lavagem de dinheiro e falcatruas. E por aí afora.

- E mesmo assim tenho que torcer por um clube?

- Tem sim, filho.

O pequeno Moritz pensou bastante e disse finalmente: Vou ser torcedor do Corinthians!

- Não filho, não é a atitude correta. O Corinthians é de gente simples. Você tem que
escolher um clube que seja mais perto da sua classe social. Lembre-se que quando for
assistir a um jogo no estádio, você irá ficar bem perto dos torcedores. Existe uma
divisão de classes, os afins ficam juntos. Pense melhor, filho.

- Puxa pai. Eu não sabia que ser torcedor era tão complicado assim.

E já sem muitas alternativas o pequeno Moritz afirma categoricamente: Já sei, vou torcer
pelo Palmeiras!

O pai olha ameaçadoramente para o filho: Ô filho, qual é a tua. Você sabe muito bem que
eu sou São Paulino, vidrado. Tá querendo arrumar encrenca comigo?

O PESCADOR - GG publicado 14/12/2007

Pescar foi o que mais fiz na vida, além de trabalhar. Desde que me conheço por gente
gostei de pescarias. Sempre tentei ser um pescador bem sucedido. Foi o meu único
hobby em toda a minha vida.

Já pesquei no mar, em rios, lagoas, charcos, mangues, valetas, em águas quentes,


mornas e geladas, em águas calmas e agitadas. De todos os modos e maneiras
possíveis que se possa imaginar. Com anzol, espinhel, catueiro, rede, tarrafa, caça
submarina, armadilhas e mesmo com a mão, quando afirmaram ser possível pegar
cascudos em suas tocas.

Lugares perto, fui em todos e os distantes em muitos deles. Isca viva, fígado, coração de
boi, sardinha, ração para coelho, ovo de formiga, isca artificial, já experimentei de tudo.

Décadas de tentativas, mas nunca, nunca mesmo, fiz uma boa pescaria. Nem mesmo
uma razoável sequer. Nunca!

Agora superei tudo isso. Desisti, entreguei os pontos definitivamente. Acho que
finalmente consegui livrar-me desse terrível vício, pior que a bebida ou cocaína.

Pescar, um vício, sem dúvida. O pescador vidrado apresenta os mesmos sintomas dos
viciados no jogo. Gasta o que tem e o que não tem para poder pescar, prejudica o seu
trabalho e destrói sua vida familiar. De dia pensa em pescaria e de noite sonha com
peixes.
Eu me livrei de tudo isso.

Atualmente quando amigos dizem que descobriram um lugar fabuloso, "assim de peixe",
"beliscando feito doidos" e me convidam, eu, debaixo dos meus cabelos brancos
simplesmente sorrio, e digo não!

É verdade, não consigo evitar o sentimento, a dúvida de estar perdendo mais uma
oportunidade, que finalmente poderia dar resultado. Mas fico firme.

E lá se vão eles para a pescaria. E como sempre, voltam sem o peixe, com várias
explicações porque desta vez a pescaria não deu certo. Mas, quem sabe, da próxima
vez?...

Sintomas típicos do vício, assim como as jogatinas! Eu então, como um sábio chinês de
profundo conhecimento transcendental, limito-me a sorrir.

Perdi muitas namoradas por causa das pescarias. Eu gostava delas claro, mas elas não
gostavam de pescar. Nos fins de semana e feriados prolongados o impasse de sempre:
Pescar ou namorar?

Tentava coadunar os dois, mas acabava não dando certo. A namorada não queria saber:
Era ela ou o peixe. Muitas vezes o inexistente e almejado peixe era vencedor e o namoro
ruía por terra.

Elas não se interessavam pelas minhas teorias pescatórias que iriam finalmente resultar
no saburá cheio de peixe. Elas queriam saber de outros papos, mas eu só sabia falar de
pescarias.

Às vezes conseguia que a namorada fosse junta numa pescaria. Aí chovia, fazia frio, ela
caia n'água ou escorregava e sujava o traseiro, era estraçalhada pelos mosquitos e
borrachudos. E não falava mais comigo.

Comprei tudo que existe de equipamento para pesca, caro e barato, grande e pequeno.
Barco, bote de borracha, motor de popa, arma para caça submarina, pés de pato,
carretilhas, molinetes, fisgas, caixas de pesca, barraca, mochila, lampião, fogareiro,
lanterna, faca, saco de dormir. Tudo para poder fazer uma boa pescaria.

O meu primeiro carro foi comprado exclusivamente tendo em vista facilitar as pescarias.
E assim todos os demais. Tinham que ser bons em estradas intransitáveis, o resto era
secundário.

Cuidava de todo o equipamento com muito zelo e carinho, para que na hora H não
falhassem de jeito nenhum. Comprava revistas e livros sobre peixes, sabia de cor os
seus nomes vulgares e científicos. Estudava cientificamente seus modos de vida e
habitat.

Mas eles simplesmente não mordiam a isca!


Via nas revistas as muitas fotografias de peixes enormes sendo exibidos pelos
sorridentes e felizes pescadores e pensava comigo mesmo: A minha vez vai chegar!

Mas nunca aconteceu.

Naturalmente, nas pescarias, andar subidas e descidas até alcançar o pesqueiro, dormir
mal em barracas, empurrar o carro encalhado e ficar horas a fio tenso, prestando
atenção na imóvel linha dentro d'água, debaixo de sol e chuva, é muito cansativo.
Voltávamos sempre esgotados e sujos como porcos.

Descansávamos durante a semana, no trabalho é claro (o patrão que se lixe). Sempre de


olho nas previsões de tempo para o próximo fim de semana.

Nas férias, sem dúvida, pescaria de trinta dias. Longe da civilização que já não tem mais
peixes disponíveis. A mulher reclama, não quer ficar no mato ou acampada numa praia
distante, longe das novelas de televisão. Não é isso o que ela imagina de férias bem
vividas. Encrenca das grossas.

Mas finalmente, pela persistência, conseguimos nosso intento mas temos que levar o
filho mais velho, para que a mulher possa ficar mais sossegada em algum outro lugar,
mais aprazível no seu entender. O que custa uma nota preta. Ela meio que se vinga de
ter que ficar sozinha nas férias, escolhendo lugares especialmente caros para ficar.

E o filho, já nos primeiros dias de acampamento, pede para voltar. Desinteressa-se


rapidamente pela pescaria, já que os peixes não mordiam mesmo.

Mas a vida de pescador é assim mesmo, desafios devem ser superados, o importante é
colocar a linha n'água com a isca certa. Sem o que, certamente não se pesca
absolutamente nada. No mar, a melhor isca sem dúvida é o camarão vivo. O preço é de
ouro.

Cansei de trocar um camarão desses, uma iguaria se frito na hora, por um miserável
bagre com gosto de lodo e iodo, apenas um pouco maior do que ele!

Certa vez fomos pescar no pantanal mato-grossense. Sabidamente lá tem peixe grande e
bastante. Não podia falhar.

Mas qual, naquela região de muito calor, fez um frio de rachar as canelas. Chegou a gear
em alguns lugares. Não tínhamos levado roupa suficiente e passamos um frio danado.

Contratávamos pirambeiros com suas voadeiras, barcos de alumínio com motor de popa
de 15HP, que voavam pelos rios e alagados, o vento gelando-nos até a alma. A isca mais
promissora era o minhocossu, uma minhoca gigantesca, que não é natural de lá,
importada de Minas Gerais. Cada uma custava dez Reais!

Beliscões nos levavam a preciosa isca e nada mais. Esse foi o resultado dessa viagem.

Frio muito forte, disseram os pirambeiros.


E já fui também num pesque e pague. Acho uma sem gracice total os pesques e pagues.
Retângulos de água com uma placa indicativa de cada espécie de peixe, cadeiras,
guarda sol e garçons que servem bebidas e petiscos. Os peixes são então pesados e o
"pescador" paga e leva embora. Se quiser já eviscerados e descamados, pelo que paga
um pouco mais.

Mais fácil que isso só o peixe em peixarias.

Mas sei lá por que cargas d'água não pesquei nada. Consolou-me um pouco saber que
os demais também não estavam fisgando nenhum peixe. Devia ser algum problema
especial que estava acontecendo naquele dia, mas não fiquei sabendo qual é.

Então eu parei de vez. Gastei uma vida, para descobrir que peixes definitivamente só
existem nas peixarias. E todo o resto provavelmente é montagem, uma enorme
conspiração para vender equipamentos de pesca e viagens. Só pode ser isso.

Ou azar mesmo, sei lá.

DEUS AUTOMÓVEL - GG publicado 27/11/2007 e 18/12/2008

A lei do mais forte.

Os seres humanos, despojados por Darwin de seus atributos divinos, passaram a ser
simples bichos novamente. Brigam feito gato e cachorro (aliás, como sempre fizeram).

Mas antes se lhes opunha certo temor do castigo eterno. O que com Darwin deixou de
existir. Somos bichos. E como bichos temos que brigar pela sobrevivência. Quem pode
mais chora menos. É assim no trabalho, nos negócios e nos relacionamentos com as
pessoas, competir sempre. Vale a lei do mais forte, mais do que nunca.

Isso fica bem evidenciado no trânsito!

O automóvel, essa máquina maravilhosa, nos transforma no instante em que entramos


nele e damos a partida. Envolto pela lataria protetora, como se fosse uma armadura,
ficamos destemidos e corajosos. Ao toque de nosso pé direito o motor responde
fielmente com sua potência, que pode ser usada como se queira, para o bem ou para o
mal.

Dentro do automóvel somos mais fortes do que gatos, cachorros, pedestres, ciclistas,
carrinheiros e motoqueiros. Sabemos disso, muito bem.

E os gatos, cachorros, pedestres, ciclistas, carrinheiros e motoqueiros também sabem.

Pacíficos cidadãos tornam-se dráculas e lobisomens sanguinários quando pisam no


acelerador. Pessoas que dificilmente iriam exaltar-se a não ser por um motivo muito
forte, quando estão dirigindo berram xingam e gritam, irritadíssimos. Em cada motorista
existe um instrutor de trânsito, que sabe exatamente o que os outros fizeram de errado e
o que deveriam ter feito. E dizem isso sempre em altos e claros palavrões.

Até as mulheres estão fazendo isso.

O automóvel é assim mesmo. Além de força significa também poder, poder do dinheiro,
pois o automóvel é para privilegiados. Estratificam-se as pessoas segundo o veículo que
dirigem. O automóvel é posição, status e superioridade. Num automóvel olhamos de
cima para os de baixo.

Infelizmente os de baixo não podem nos admirar embasbacados, como gostaríamos.


Pois, com tantos assaltos que acontecem nas esquinas e cruzamentos, somos
obrigados a manter os vidros levantados e escurecidos. E o ar condicionado ligado por
causa do calor, o que come uma potência danada.

Com Darwin e o automóvel, nada mais impede que se faça pleno uso dessa tal da lei do
mais forte. Os mais fracos, gatos, cachorros, pedestres, ciclistas, carrinheiros e
motoqueiros que saiam da frente, e rápido. Pois eu estou com pressa e não será nenhum
deles que irá me fazer chegar atrasado em casa para tomar minha cerveja sossegado. Ou
para qualquer lugar que seja pois eu sou importante, meus compromissos são
importantes.

Que saltem pulem e corram pois não tenho nenhuma disposição em calcar o freio e
reduzir o mínimo de velocidade que seja.

É claro que isso tem que ser muito bem dosado. Afinal não quero me envolver em
nenhum acidente. Assim o negócio é chegar ao limite sempre, para que eles entendam
de vez, que as ruas pertencem aos automóveis. Mas sem que aconteça um acidente que
possa arranhar a lataria do meu amado veículo. Que ainda estou pagando.

Mas o que dá raiva mesmo nos engarrafamentos são esses motoboys e entregadores de
pizza. Deslizam entre os carros e lá vão eles se colocar na "pole position" aguardando o
sinaleiro abrir. Disparam então como coriscos, e eu com meu reluzente e potente
automóvel de algumas dezenas de milhares de Reais e uma centena de horse power
nada posso fazer, tenho que ficar rastejando. O sangue chega a ferver nas veias!

Ainda bem que nossas autoridades de trânsito e legisladores (que naturalmente também
possuem automóveis e portanto só pensam em termos desse veículo) estão sempre
tomando providências para restringir tudo aquilo que não seja automóvel. Em São Paulo
já houve até proposta para proibir motoqueiros de levar alguém na garupa, para evitar
assaltos por parte deles. Mas infelizmente não passou.

Colocam cada vez mais caroços, lombadas e tartarugas em todos os lugares nas ruas e
estradas. Para os motoqueiros e ciclistas é uma armadilha mortal, desequilibram-se
facilmente. E morrem como moscas.
Sinaleiros para pedestres atravessarem as ruas são mantidos ao mínimo indispensável,
e o tempo disponível é sempre curto demais. Os automóveis devem fluir não os
pedestres.

Carrinheiros são proibidos de andar pelas ruas, atravancam demais o tráfego. E, além
disso, enfeiam a cidade. Ciclistas quase não andam mais nas cidades, graças à nossa
atuação educadora. Quantas finas tirei deles! E no retrovisor podia vê-los então, quase
caindo, por causa do vento e do susto.

Gatos e cachorros pagam com a vida seus deslizes e falta de respeito pelos automóveis.

Mas nem tudo é um mar de rosas. Infelizmente ainda existem muitos ônibus e
caminhões. E tudo que fazemos com os mais fracos, não podemos fazer com eles.
Levaríamos a pior, apesar de nossa superioridade social e intelectual. Aí vale a prudente
covardia.

Poderia sair pela culatra xingar um motorista de ônibus ou caminhão. Sempre existe a
possibilidade dele se enfezar de verdade, e tocar em cima.

Mas nossos legisladores estão fazendo de tudo para que desapareçam também das ruas
e estradas. Ou pelo menos tenham bastante restrição em trafegar. Nos feriados as
estradas são interditadas para caminhões, para que possamos ir para o nosso lazer mais
tranqüilamente. Pagam muito mais pedágio que nós e nas cidades são proibidos. O
transporte coletivo, cada vez mais caro e pior. Ônibus lotados e caindo aos pedaços
enfatizam a superioridade dos automóveis.

Sem dúvida, o automóvel esse transformador de pessoas, é onipotente deus nas ruas!

O PEQUENO MORITZ - GG publicado 14/11/2007

Pai, trinta mil é muito?

Depende da unidade filho, de que trinta mil você está falando?

Trinta mil Reais, pai.

Depende. Para quem ganha mil Reais por mês, trinta mil é muito, significa dois anos e
meio de trabalho. Já para quem compra um automóvel de seiscentos mil euros, trinta mil
Reais é trocadinho, gorjeta. O que para uns é muito, para outros não é quase nada.

O pequeno Moritz não sabia avaliar o significado desta enormidade de euros e calou-se.

Pai, o Irã é um país muito mau, não é pai?


É sim filho, eles estão querendo fabricar a bomba atômica e se o mundo deixar, eles vão
conseguir fazer uma dentro de uns dez anos.

Fabricar bombas atômicas é ruim, não é pai?

Sim filho, com toda certeza.

Meus colegas na escola disseram que os Estados Unidos já fabricaram trinta mil bombas
atômicas. Eles são maus, muito mais do que o Irã, não é mesmo pai?

Não filho, os Estados Unidos amam a democracia e a liberdade, eles não são maus. O Irã
é um país terrorista e os terroristas são maus, essa é a diferença. E pare de ficar fazendo
tantas perguntas!

Mas pai, que mal pode fazer um país que não tem bomba atômica? O mundo inteiro está
preocupado com o Irã por causa dessa bomba que eles querem fazer, e não se preocupa
com os Estados Unidos que tem trinta mil? E até já jogaram duas no Japão. Não faz
sentido.

É que o Irã é perigoso para a humanidade, filho, eles são gente ruim. Além disso, você é
muito criança para entender essas coisas. E você já fez as lições da escola que tinha que
fazer hoje?

Diante dessa contra-ofensiva o pequeno Moritz silencia.

Mas ficou pensando, riscou uns números numa folha de papel e então não se agüentou e
disse: Pai, se o Irã tivesse a bomba atômica ele poderia jogar ela em um único lugar. E
pelas contas que eu fiz, os Estados Unidos poderiam jogar 150 bombas em cada um dos
países que existem no mundo! Isso não é muito mais perigoso para a humanidade?

O pai se levanta da poltrona, pega o filho pelo cangote e dá-lhe umas boas chineladas.
Eu já disse para você calar essa sua boca, seu desobediente! E agora vá já para a cama!

Não vê que eu estou ocupado, assistindo o Jornal Nacional?

BILHETE PREMIADO - GG publicado 24/10/2007

O resultado de uma brincadeira

Cidadezinha pacata, do interior. Não era uma cidade de beira de estrada, quem ia até ela,
dela tinha que voltar pelo mesmo caminho. E por isso mesmo muito pouca coisa
acontecia. Nada de bom nem de ruim. Pessoas, as mesmas de sempre. A vidinha
também, a mesma de sempre.
João nasceu nessa cidadezinha, nela estudou e apesar de inteligente e trabalhador, a
sorte não quis que arrumasse um bom emprego. Tornou-se auxiliar de escritório, foi o
máximo que conseguiu. E continuaria sendo por muito tempo, pois naquele lugar as
coisas mudavam muito pouco.

Casou-se, mas não era feliz. Não tiveram filhos e a vida deles era só triste rotina.

João já estava nos seus quarenta anos de idade, era um sujeito pacífico, quieto, tímido,
que não sabia dizer não para ninguém. As pessoas aproveitavam-se disso faziam troça
dele.

Ele não ligava muito, estava acostumado.

Sua mulher o tratava muito mal, intimamente o culpava por essa vida sem filhos e sem
sentido. Mas ele não tinha culpa, e nem ela também.

No trabalho, o chefe fazia dele bode expiatório para tudo que acontecia de errado.

Diariamente ia de bicicleta de casa para o trabalho e depois retornava. Essa era a rotina.

Na volta do trabalho, muitas vezes cruzava com o seu primo Ferdinando. Este sim um
sujeito de sucesso. Proprietário da única concessionária de automóveis da cidade, e o
negócio ia de vento em popa. Eram bons amigos, ele e o Ferdinando, davam-se bem.

Mas, como todo mundo, o primo não resistia à tentação de fazer brincadeiras com o
João.

Toda vez que via o João de bicicleta, ele com o seu carrão último tipo, prateado e
conversível, tirava uma fina do João, fazendo-o desequilibrar-se e quase cair da
bicicleta.

Acenava então todo sorridente e acelerava.

João em seu caminho de volta, uma quadra antes de chegar em casa, de olhos
compridos, admirava uma bela formosa e gostosíssima vizinha, dona de um salão de
beleza, uma escultura de mulher. Que naturalmente conhecia o João, sabia quem ele era,
mas fingia não conhecê-lo. Ele tentou algumas vezes aproximar-se dela, puxar conversa,
mas ela não dava chance.

Chegando em casa, a mulher dele assistindo televisão. Ele senta e espera que ela faça o
jantar. Ela nada, continua assistindo televisão.

Então ela se levanta, arruma-se para sair e diz: "Eu vou sair, passear um pouco".

Ele pergunta: "E o meu jantar?"

Ela abre o armário da cozinha olha lá dentro, pega um enlatado qualquer, um abridor de
latas e bate com eles em cima da mesa: "Taí o teu jantar!". E sai.
Era assim a vida do João.

Um dia os colegas de trabalho resolveram fazem uma brincadeira com ele.

João costumava comprar toda semana um bilhete de loteria. Bilhete que deixava
embaixo do peso para papéis na sua mesa do escritório. E toda quinta feira ligava para a
casa lotérica para saber o resultado.

Os colegas anotaram o número do bilhete. E quando o João ligou para a lotérica eles
chavearam o telefonema para o próprio escritório onde um dos colegas,
dissimuladamente, fingiu ser da lotérica, informando para o João o número do primeiro
prêmio. O número do bilhete dele!

O João ficou branco. Vinte milhões de Reais! Trêmulo, pergunta novamente o resultado,
que é confirmado!

João tenta recompor-se, olha em volta. Os colegas trabalhando, nada perceberam.


Cuidadosamente coloca o valioso bilhete em sua carteira e a guarda em seu bolso.

Nisso o chefe manda chamar o João. Ele, sem saber direito ainda o que fazer, vai ter com
o patrão. Este, como sempre, passa uma bronca no João por um problema insignificante
e que o João não tinha culpa nenhuma.

Dessa vez o João não baixa a cabeça. Berra com o chefe, diz poucas e boas e até dá um
chute no traseiro dele! Bate a porta com força, quase quebrando a vidraça, e sai do
escritório. Os funcionários ficam a olhar, aterrorizados.

João pega a bicicleta e furioso vai para casa.

No caminho, vê o carro conversível do seu primo, estacionado perto de uma loja de


tratores agrícolas. João, sem titubear, entra na loja e diz para o dono, seu conhecido:
"Ganhei na loteria, vinte milhões! Quero comprar esse trator aqui!" e aponta para um
deles. O dono sem duvidar do João, mais que depressa lhe entrega o trator.

O João sai com o trator da loja. E passa com ele por cima do belo e caríssimo
conversível prateado do primo Ferdinando!

Larga o trator e continua de bicicleta.

Perto de sua casa vê a gostosíssima vizinha lagarteando ao sol, pois o seu salão de
beleza no momento estava vazio. Ele a agarra pelo braço e a puxa para dentro da loja e
transa com ela atrás do balcão. Tomada de surpresa, ela não esboçou resistência, não
disse um "a"!

Chegando em casa, a mulher está assistindo televisão, como sempre. Ele vai para o
quintal pega o machado de cortar lenha e brandindo essa arma vai em direção da
mulher. Ela apavorada pensa que ele a quer matar. Mas não era essa a intenção dele. O
machado desce pesadamente sobre a televisão, espatifando-a em mil pedaços. A mulher
sai correndo de casa.

Finalmente ele se acalma um pouco. Vingou-se de todos, por todos esses anos de
humilhação! Sabia muito bem que, com vinte milhões de Reais, deixara definitivamente
de ser o João Ninguém que sempre foi, e nada lhe iria acontecer. Pois o dinheiro tudo
compra. Mesmo juízes e absolvição. Estava totalmente tranqüilo.

E então veio o telefonema. Era do escritório, os colegas explicando que tinha sido tudo
uma brincadeira. Que ele não tinha ganhado um centavo sequer!

O pobre João ficou aturdido, não sabia o que fazer.

Perdeu o emprego que era a sua sobrevivência. Ia ter que pagar o carro do primo, o que
nunca conseguiria, em toda a sua vida. Certamente iria enfrentar uma acusação de
estupro (mas que foi gostoso, isso foi). E destruiu o seu casamento, que não era lá
essas coisas.

Todos eles iriam acionar a polícia e a justiça. Se tiver sorte, uns vinte anos de cadeia!

Suicidar foi o seu primeiro pensamento. Mas não tinha coragem.

Fugir. Mas também para isso não tinha fibra suficiente.

Não havia o que fazer, a não ser esperar a chegada da polícia. Sentiu-se cansado, muito
cansado. Deitou-se na poltrona e adormeceu.

Acordou com batidas na porta. Deve ser a polícia!

Viu que era de manhã, tinha dormido a noite toda. E foi abrir a porta.

Mas não era a polícia, era Ferdinando, o seu primo. Pediu licença para entrar, queria
conversar. Disse que ficou sabendo de toda a história (a cidade inteira sabia) e pediu
desculpas por ter humilhado tanto tempo o seu primo e amigo. E que foi bem merecido o
João ter destruído o seu carro.

Queria fazer uma proposta: Que o João trabalhasse com ele em sua concessionária.
Serviço tinha bastante e o salário e comissões iriam ser excelentes. Pois afinal o João ia
ter que repor o carro que destruiu. O trator não tinha sofrido um arranhão e já tinha sido
devolvido.

Naturalmente o João aceita imediatamente.

Mas não ia adiantar muito, pensa ele, já que iria ser preso por estupro do mesmo jeito.
Mais tarde, novamente batidas na porta. Agora deve ser a polícia, pensou!

Mas não. Era a gostosíssima vizinha, que com lânguidos olhares, declara que se
apaixonou totalmente e que esperava ansiosamente por ele. Quando ele quisesse, de dia
ou de noite! E sai, insinuante.

Vejam só! Por essa eu não esperava!

Mais tarde ainda, novamente batidas na porta. Desta vez, batidas leves e hesitantes.

Quem será agora?

Era a mulher dele que humildemente perguntava se podia preparar o jantar.

UMA ALERGIA QUALQUER - GG

Cheguei lá, alcancei o que quase ninguém consegue. Fiquei extremamente rico!

Minha vida está totalmente assegurada, por uns duzentos anos. Não estudei, só
trabalhei, nunca tive tempo para nada. Dei um duro dos diabos, não conheci outra coisa
na vida que não fosse juntar dinheiro e fazê-lo proliferar. Desde criança, doze horas por
dia, sem nenhum feriado nem nada. Uma vida de cão. Mas valeu a pena. Fiquei
imensamente rico.

Poderia continuar me esforçando para ser mais rico ainda, cada vez mais,
ilimitadamente. O que não tem muito sentido. Ou viver a vida intensamente,
aproveitando o mais possível essa minha riqueza, até o fim dos meus dias. Fazendo
apenas o que gosto.

Ainda sou jovem. Chega de acumular dinheiro, vou viver a vida, vou fazer o que eu
quero! Qualquer coisa que eu imaginar, pois o dinheiro compra quase tudo. O dinheiro
significa liberdade completa total e irrestrita. É isso o que eu vou fazer!

Se eu quiser dar a volta no mundo numa nave espacial eu posso. O dinheiro compra
isso. Se quiser olhar pessoalmente as mais profundas profundezas do oceano eu posso,
o dinheiro permite. Posso ir ao pólo Sul e Norte ou vagar pelo equador, nada me impede.

Não tenho ouvido para música, não consigo distinguir um dó de um lá, mas posso
contratar qualquer cantor, músico, grupo ou orquestra, sempre que for do meu gosto.

Pintura para mim então, uma incógnita. Eu que sei apenas rabiscar bonecos como uma
criança de quatro anos. Posso, no entanto comprar um Van Gog e um Rembrand
legítimos e pendurá-los na sala do palácio que pretendo comprar.
Como a maioria das pessoas, o meu paladar não é muito apurado, mas vou poder
degustar as mais incríveis delícias que o mundo gastronômico oferece. Tudo isso o
dinheiro compra.

E serei elogiado sempre pela minha sensibilidade conhecimento e fino bom gosto. Até
isso, sem dúvida, o dinheiro compra.

Não entendo nada de computação, mas posso comprar o mais recente moderno e
sofisticado equipamento que existe. De fazer babar os aficionados. Não entendo nada de
física quântica, mas se quiser eu posso comprar um edifício inteiro cheio de físicos
quânticos!

Terei muitos amigos, assim como todos os ricos. Darei muitas festas e convidarei muita
gente importante. Conhecerei e terei à minha volta dezenas de mulheres bonitas e
cativantes. Aparecerei em quase todos os jornais e nas edições da revista Caras, com
pelo menos uma fotografia, rodeado sempre de amigos sorridentes.

Vou viajar conhecer o mundo. Tudo em primeiríssima classe! Hotéis de seis estrelas ou
mais. Irei de jato particular ou no meu iate de 100 pés que vou adquirir. E fazer cruzeiros
em enormes navios com piscinas, bares boates e cassinos. Conhecer o primeiro mundo
e países exóticos. Só sei falar português, é verdade, mas levarei intérpretes.

Terei várias residências espalhadas por esse mundo afora. Vou poder escolher, à minha
vontade, entre diversas localidades, as mais elogiadas do mundo. Um mês aqui, outro ali
e acolá. E em cada lugar deste terei um bom automóvel, "top" de linha, ou mais de um.
Com chofer particular, que conhece bem o trânsito e as normas locais.

No carnaval estarei no Rio de Janeiro, em outubro em Munique no Oktoberfest e a cada


quatro anos assistirei aos jogos da copa do mundo, ao vivo. Na festa do Oscar estarei
sempre presente. Disneyland e Disneyworld serão meus velhos conhecidos, folguedo de
todos os anos para a criançada e adultos.

Para a entrega dos prêmios Nobel, serei convidado especial. E ficarei conhecendo a nata
intelectual do mundo. Mesmo que não entenda patavina do que eles fizeram para ganhar
esses prêmios.

Serei convidado a participar de todos os acontecimentos importantes. A minha presença


dará brilho a estes eventos. Mesmo que sejam, às vezes, um terrível pé no saco.
Principalmente aqueles ditos "caritativos", onde criancinhas choram em agradecimento
aos ricos por seu altruísmo.

Existe vida melhor? Existe?


Em primeiro lugar um bom exame médico, "check up" do melhor que o dinheiro pode
comprar. Colesterol, pressão e coisas assim, para poder iniciar a vida de rico, com total
tranqüilidade.

Só queria saber o que é o tal do melanoma em metástase que o médico disse que eu era
portador. E ninguém parece querer explicar direito o que é.

Deve ser uma alergia qualquer. Que o dinheiro cura.

APRECIE COM MODERAÇÃO - GG publicado 30/09/2007 e 8/06/2010

Coitado do João! Foi um ano especialmente difícil! Tudo corria bem em sua vida, até o
início daquele ano fatídico.

Começou o ano com sua casa sendo assaltada por amigos do alheio. Ameaçaram-lhe a
vida na ponta de um revolver. Levaram tudo, roupas, eletrodomésticos, jóias,
economias, cartões de crédito e saldo bancário. E depredaram, por pura sacanagem
quebraram móveis portas janelas pias e tudo mais.

Fazer o que. Recuperar a casa estragada, levantar muros, contratar pedreiros, pintores e
empresa de segurança, instalar alarmes. Fazer seguro contra roubo, comprar uma boa
arma e fazer curso de tiro.

E adquirir tudo outra vez, claro. Tinha que fazer o sacrifício, já que não existia
alternativa. Faria horas extras, e se possível muitos bicos. A mulher dele voltou a
trabalhar também, temporariamente.

Mal estavam se recuperando, novo baque. Dessa vez foi mais grave, pois ele machucou-
se bastante. Acidentou-se com o carro recém adquirido, e a culpa foi dele. Seu
automóvel virou sucata e ainda teve que indenizar o outro. De nada adiantou brigar na
justiça, pagar advogado e peritos. Só fez tudo custar muito mais caro ainda.

Ficou semanas no hospital. Procedimentos médicos caríssimos, infinitos exames de alto


custo, diárias de hospital, fisioterapia etc. Ficaram seqüelas, volta e meia precisa
recorrer a profissionais de saúde especializados.

Endividou-se terrivelmente. Ele e sua mulher tiveram que trabalhar em dobro para
conseguir pagar o que deviam e ainda comprar novamente um automóvel.

Então veio o divórcio. A vida familiar tinha padecido muito com os acontecimentos e
eles não podiam mais ficar juntos sem brigar e discutir. A separação não foi nada
pacífica, luta homérica pelos bens e direitos, audiências, recursos e acabaram se
separando. Advogados comendo-lhes dinheiro, que já não existia mais.

A ex-mulher já não pode mais ficar sem trabalhar, passou a ser obrigação. Mais uma
residência, móveis e eletrodomésticos tiveram que ser adquiridos e mais um automóvel.
Desgostoso da vida João começa a beber. Beber muito, além da conta. Desconsiderou
completamente o aviso "Aprecie com moderação" das propagandas de bebidas na
televisão.

E assim findou o ano para o coitado do João e a coitada de sua ex-mulher.

Ninguém quer passar por coisas assim. Mas, essa tragédia pessoal deles, sob a ótica da
economia do país, foi excelente!

Bens e serviços, os mais variados, tiveram que ser produzidos e utilizados em


decorrência da má sorte que eles tiveram. Graças ao João e sua mulher o PIB (Produto
Interno Bruto) do país naquele ano foi um pouquinho mais elevado. Contribuíram para o
bem estar econômico do Brasil. E do próprio planeta!

E se o João bebesse mais ainda, melhor seria.

CACHORRO FEZ MAL A MOÇA! - GG publicado 22/12/2008

Já faz um bom tempo, comprava jornais freqüentemente. Como todo mundo, queria
manter-me informado.

Certa vez, uma manchete atraiu muito a minha atenção: "EXISTE VIDA EM MARTE!".
Interessadíssimo, comprei o jornal. Só que o texto não falava que tinha sido encontrada
vida em Marte. Era só enrolação desconversa e blábláblá. Mentirosa e enganosa
manchete!

Era só para induzir as pessoas a comprarem o jornal.

Outra ocasião, em letras garrafais: "CACHORRO FEZ MAL A MOÇA!". Comprei o jornal.
Não era o que eu tinha pensado. Uma moça tinha comprado um cachorro quente que
estava estragado, e passou mal.

Nunca mais comprei jornais! Isto é, para procurar emprego ou vender meu carro e essas
coisas, sim. Mas pelas "informações" que eles transmitem, nunca mais! Com isso fiz um
bem enorme para a natureza, para o meu bolso, e principalmente, para o meu cérebro!

Usei agora, a mesma desonestidade deles, para fazer com que leiam este texto que
escrevi. Usei o mesmo título espalhafatoso. E mentiroso.
ZANGÕES INÚTEIS - GG publicado 10/05/2008

Feminismo, a causa perdida.

Outro dia fui a uma festa de aniversário. Toda a família presente, parentes de todos os
cantos e lugares. Homérica balbúrdia.

Gente que normalmente pouco se fala estava reunida. Trocando gracejos, relembrando
acontecimentos, comentando as novidades e contando piadas.

Mas o astro da festa, indiscutivelmente o mais popular, não era a belíssima prima de
jovens anos de idade, nem o tio rico com o seu impressionante carrão, nem a
incorrigível faladeira de tudo e de todos, nem o cunhado que tinha bebido um pouco
demais. Não era nem mesmo o próprio aniversariante.

O fulgurante astro irradiante do evento era pequeno e inocente. Apenas um nenê de


colo, o caçula de toda a família.

Risonho bonito e simpático. Rodeado por um enxame de mulheres de todas as idades,


como abelhas em torno de flores coloridas e perfumadas.

Todas elas sorrindo de orelha a orelha a brincar com ele, dizendo-lhe "sweet nothings".
O pequerrucho as recompensava com uma gargalhada. Que as fazia derreter-se de
felicidade.

Cada uma delas queria pegá-lo no colo, das pequeninas de poucos anos de idade até a
mais idosa vovozinha. Eu até brinquei dizendo, que em nome dos pais da criança, estava
cobrando "Cincão pela voltinha com o nenê".

E assim foi durante toda a festa. Entre as mulheres o principal assunto era gravidez, os
cuidados com o nenê, amamentação, assuntos familiares etc.

E então pensei comigo mesmo: Esse movimento feminista é uma causa perdida!

Desde crianças as mulheres decididamente sabem o que querem na vida: Ser mãe!

O legado das mulheres para a eternidade do mundo são os seus filhos!

Elas sabem isso exatamente. O seu objetivo de vida está bem claro e as satisfaz
plenamente.

Estudo, emprego, carreira, sucesso, independência, tudo isso pode ser importante, mas
ser mãe é prioritário! E nenhum feminismo vai mudar isso.

Ao contrário os homens. São barcos a vagar sem destino no mar desta vida. Não sabem
por que estão aqui. E assim inventam mil e uma inutilidades para preencher este buraco.
Trabalham feitos condenados à procura de riqueza que imaginam ser o seu supremo
objetivo.

Jogam futebol e se quebram por inteiro na disputa, ou torcem por um time e se quebram
por inteiro nas brigas fora e dentro do estádio.

Constroem pirâmides, palácios, viadutos e barragens fenomenais. Para ver se de algum


modo ficam na história.

Pesquisam e inventam tudo o que é imaginável ser inventado e pesquisado. Correm


atrás de conhecimentos e reconhecimento. Querem ser lembrados pelo que sabem.

Praticam esportes radicais, pelo que arriscam a vida, só para provar que são bons em
alguma coisa.

Vão aos botecos e enchem a cara. Para esquecer o que já não lembram mais. Discutem
com veemência assuntos sobre os quais não têm nenhuma influência: política,
economia, futebol. E pegam-se no tapa.

Inventam falcatruas e ilegalidades. Mais pelo desafio, pela emoção e adrenalina do que
por dinheiro. E vão para a cadeia por isso.

Irritam-se no trânsito e com os vizinhos. Brigam com facilidade, por motivos fúteis, só
pelo gostinho de brigar. Matam e morrem por mixarias.

E por essas coisas os presídios estão cheios de homens. Não de mulheres.

As mulheres não cometem crimes, elas são mães, cuidam dos filhos. Nenhum feminismo
vai mudar isso.

Os homens por sua vez, fazem até guerras. Mesmo sem necessidade. Querem deixar um
legado qualquer para a posteridade, nem que seja de destruição.

Simplesmente não sabem qual é a sua função neste planeta. Inúteis zangões.

MUNDO DE DUAS DIMENSÕES - GG publicado 12/04/2008

Os ateus apóiam-se nos conhecimentos mundanos e afirmam categoricamente que deus


não existe. Fazem isso sem dificuldade alguma, tantas são as contradições e absurdos
facilmente demonstráveis, quando se admite a existência de deus. Portanto deus não
existe. Facílimo concluir isso.

Mas, se os critérios de julgamento fossem diferentes daqueles a que estamos


acostumados?

Por exemplo, se vivêssemos num mundo de apenas duas dimensões seria muito difícil
compreender a existência de objetos tridimensionais.
Figuras planas, o polígono, círculo, triângulo etc. seriam entendidos, assim como as
suas leis matemáticas, trigonometria etc. Mas como explicar em duas dimensões, por
exemplo, o tetraedro ou uma esfera, que são tridimensionais?

A esfera só poderia ser representada por um círculo. A intercessão de uma esfera no


mundo bidimensional resulta em um círculo. Que misteriosamente pode variar de
tamanho, de um ponto até o círculo de diâmetro máximo. Ou, estando fora desse plano,
não representar nenhuma imagem em nosso mundo de duas dimensões.

No mundo bidimensional o tetraedro seria ora um triângulo, um quadrilátero, um


segmento de reta, um ponto ou mesmo nada.

O raciocínio em duas dimensões nos diria sem sombra de dúvida que a esfera e o
tetraedro, são absurdos. Impossível a sua existência real.

Só podemos entender as figuras tridimensionais estando num mundo tridimensional!

Deus é impossível ser compreendido no mundo LMT (comprimento, massa, tempo) e


tridimensional em que vivemos. Deus, um absurdo facilmente demonstrável.

Mas quem pode afirmar, com absoluta certeza, que não existem outras dimensões além
das que estamos acostumados?

OUTROS QUINHENTOS - GG publicado 22/03/2008

Quem não conhece a expressão: "Outros quinhentos"?

Bom, pelo menos era bastante usada algum tempo atrás, cujo significado é: Isto é um
assunto totalmente diferente.

Mas a origem dessa expressão, poucos sabem:

Chega um estranho numa cidadezinha do interior.

Vai ao armazém, pede uma pinga e puxa conversa com os presentes. Pergunta qual seria
a pessoa mais confiável naquela cidade, com quem ele pudesse deixar guardada a
quantia de quinhentos mil réis. Na época, bastante dinheiro.

Os presentes, sem vacilar, dizem que o sacristão seria essa pessoa.

Ele agradece e sai. Vai então até a farmácia e faz a mesma pergunta, obtendo a mesma
resposta. Depois vai até a venda e pergunta outra vez. E assim, vários lugares.

Passado um ano ele volta para aquela cidadezinha. Vai até a casa paroquial e cobra do
sacristão que lhe devolva os quinhentos mil réis que tinha deixado com ele.
O sacristão surpreso retruca: "Mas o senhor nunca deixou dinheiro comigo!"

Estranho: "Deixei sim, faz um ano, e o senhor não está querendo devolver?"

Sacristão: "Não deixou não senhor!"

Estranho: "Deixei sim, o senhor está querendo me roubar!"

A confusão aumenta e começa a juntar gente. O estranho, exaltado, afirma que o


sacristão estava se negando a devolver os quinhentos mil réis que lhe pertenciam.

O dono do armazém diz: "É verdade, eu lembro algo assim, esse estranho ter dito que ia
deixar dinheiro com o sacristão."

O farmacêutico também: "É sim, faz um ano mais ou menos."

E assim várias pessoas.

O honestíssimo sacristão estava sendo encurralado, ficando em maus lençóis. Não


conseguia convencer os outros. Estava num terrível apuro.

Um rico fazendeiro que observava tudo ficou penalizado com a situação do sacristão,
que sabia ser honesto, e disse para o estranho: "O senhor está enganado, não foi com o
sacristão que o senhor deixou os quinhentos mil réis. E sim comigo!"

O vivaldino, mais que depressa responde: "Esses são outros quinhentos! Primeiro vou
cobrar os quinhentos que deixei com o sacristão. E depois vou cobrar do senhor".

A PARÁBOLA DA BOLSA DE VALORES - GG

Para entender como funciona o mercado de ações.

Num vilarejo, distante de tudo, era costume dos habitantes, vez ou outra, comer carne de
macaco.

Um especulador chegou a este pequeno vilarejo e ofereceu 10 Reais por cada macaco
que os aldeões conseguissem pegar na floresta.

Os aldeões trouxeram dezenas e mais dezenas de macacos recebendo do especulador


10 Reais por cada um deles. Então os macacos ficaram escassos, mais difíceis de pegar
e já não valia a pena o esforço.

O especulador então ofereceu 20 Reais por cada macaco. E novamente os aldeões


trouxeram macacos. Mas logo rarearam e era muito difícil pegá-los, mesmo a 20 Reais o
macaco.
Quando então o especulador ofereceu 100 Reais por cada macaco. Mas já não existiam
mais macacos na floresta.

Toda vez que um aldeão queria comer carne de macaco tinha que comprar do
especulador, a 100 Reais o macaco.

O especulador então ofereceu aos aldeões os macacos, ao incrível preço de 50 Reais


cada, com a condição que eles comprassem todos os macacos.

Aproveitando a excepcional oferta, os aldeões compraram os macacos de volta. E os


soltaram na floresta.

Talvez não seja exatamente assim que funcionam os mercados de ações. Existem mil
outras tramóias que são aplicadas. E os mercados de ações não negociam macacos.

Mas já negociaram tulipas.

ESMOLAS - GG publicado em 14/03/2008

Por que um mendigo tem que ser necessariamente um miserável?

Muitas pessoas arrecadam dinheiro enganando as pessoas. Os bancos fazem isso, tiram
dinheiro das pessoas iludindo-as, afirmando que é vantajoso pagar juros e taxas
bancárias. As empresas com sua propaganda, sempre enganosa, fazem com que as
pessoas paguem mais pelo produto, do que ele vale.

Recebem dinheiro de graça. Enganam as pessoas.

Por que um pedinte não pode fazer o mesmo? Por que é imperdoável quando um
mendigo finge extrema necessidade, com o objetivo de receber esmola, e isso não é
verdadeiro? Finge ser cego aleijado doente machucado, e não é. Está enganando as
pessoas.

Exatamente como fazem os bancos e as empresas.

Eu dou esmolas. E absolutamente não me preocupa se eles vão gastar esse dinheiro em
pinga ou não. Dei e está dado, o dinheiro é deles, e façam o que quiser com ele.

Tenho certeza que será muito mais bem administrado do que o dinheiro de ricos, que
compram porcarias de griffe, nas porcarias de shopping centers.
ADRENALINA - GG publicado 10/03/2008

Vivemos no mundo das emoções. A idéia é sentir medo, viver perigosamente.

O medo mais comum é o de ser pego no flagra com outra, pela esposa (e vice versa). E,
como nos esportes radicais, existem também neste caso técnicas refinadas para
enfrentar as adversidades.

Tudo vai bem, mas um dia a mulher descobre que o marido tem uma amante.

Encrenca das grossas. Inicialmente o sujeito nega, depois desconversa e mente de tudo
quanto é jeito. Se embanana cada vez mais, e acaba tendo que entregar os pontos. Perde
de cabo a rabo em todas as instâncias.

Vira um capacho pelo resto da vida. Ou separa e tem que arranjar outra mulher. Quando
então pode acontecer tudo de novo.

É totalmente errado fazer isso. Existem três maneiras de conciliar este problema:

1 - Confessar imediatamente. Como se fosse um alívio que ela finalmente tenha


descoberto o segredo. E contar a história de sua maneira, bem diferente das fofoqueiras
amigas dela. E ela vai acreditar. Ele é perdoado e volta a ser o maridão de sempre.

É claro que isso só funciona se aplicado apenas pouquíssimas vezes.

2 - Inverter o espeto (normalmente usado pelas mulheres que foram flagradas pelo
marido). Levantar para doze a aposta.

Quando ela toca no assunto o sujeito diz: "É isso mesmo, eu não agüento mais o inferno
que é esta vida com você!"

Ela, pega totalmente de surpresa diz: "Mas o que é que eu fiz?"

Ele: "Eu me mato de trabalhar, faço tudo por você, e você sempre indiferente, me trata
sempre como se fosse descartável. Que só serve para trazer dinheiro para casa, e nunca
é suficiente. Nunca você é carinhosa comigo, sempre me criticando. Eu já não agüento
mais!"

Ela fica na defensiva e tenta se justificar: "Não querido, não é assim não, eu te amo
muito. E agora você está tendo um caso, você é que está estragando tudo."

Ele retruca: "Que caso nada mulher, isso é intriga. Mas não seria de admirar se
acontecesse. Você não cuida do marido que tem. É claro que as outras ficam de olho,
não perdem nunca uma oportunidade. Estão sempre à espreita para destruir um
casamento."

Ela: "Não querido, eu te amo, de verdade!"


Ele: "Do jeito que você me trata, eu é que devia ficar desconfiado, que você está tendo
um caso. Impossível, uma mulher que ama o marido de verdade o trate com tanta
indiferença."

Ela: "Eu, um caso, você está louco?"

Ele: "É, talvez eu esteja louco, mas é você que está me fazendo pensar assim. É a única
conclusão a que posso chegar."

Ela: "Não, eu nunca faria isso. Deus me livre! Pode perguntar para qualquer um!"

Ele: "Você sabe que eu não sou ciumento, confio totalmente em você. Mas fatos são
fatos. Como ter certeza que isso não está acontecendo?"

Ela: "Não querido. Você está enganado. Eu nunca faria uma coisa dessas. Eu te amo
muito mesmo."

Ele insiste ainda por algum tempo e então, generosamente a perdoa.

Essa alternativa é perigosa, pode sair pela culatra. Ela pode, já de cara, concordar com a
separação. E aí fica difícil voltar atrás.

3 - Negar tudo, de pés juntos. Com firmeza total, sem nunca ceder milímetro. Mesmo que
a mulher mostre uma fotografia, ele com a amante pelados em um quarto de motel. Ele
deve continuar negando: "É muito, muito parecido comigo, mas não sou eu, juro!!!"

E conclui, com cara do Bush falando sobre o terrorismo da AlQaeda: "Querida isso tudo
é tudo uma enorme conspiração. Estão querendo acabar com a felicidade do nosso
casamento!".

In dubio pro reo. Ela vai acabar acreditando, pois no fundo é isso o que ela quer. E ele
será perdoado. Nunca ficará realmente convencida se aconteceu ou não, mas fica o
benefício da dúvida. Dos males o menor.

Esta artimanha também, só pode ser utilizada algumas poucas vezes.

Essa é a teoria. É o que ensinam as altas filosofias dos profundos saberes científicos.

Mas quem tentou qualquer dessas alternativas, sentiu na pele que na prática elas não
funcionam. De jeito nenhum. Até parece que as mulheres (homens) sabem de cor a
cartilha estudada pelos homens (mulheres).

A única coisa que dá certo de verdade é ser fiel, infelizmente. Só de soslaio olhar as
gatinhas. E lamber com a testa.

O que não dá muita adrenalina. Mas é bem mais seguro.


NEOLIBERALISMO - GG publicado 21/02/2008

Como funcionam as privatizações?

As privatizações são tão simples como contar até cinco:

1 - O governo deposita dinheiro recolhido em impostos em um banco (BNDES por


exemplo).

2 - A estatal é demonizada pela mídia e boicotada pelo próprio governo.

3 - Um particular toma dinheiro emprestado desse banco (BNDES).

4 - Compra a estatal e paga com esse dinheiro.

5 - O governo deposita esse pagamento no mesmo banco (BNDES).

Saiu tudo elas por elas. Só que a estatal não é mais estatal, é agora uma empresa
particular.

E a dívida do comprador? Bom, se quiser ele paga.

Mas se não quiser, ele não paga. A justiça propinas e corrupção aparando quaisquer
arestas.

Mas se quer pagar e não pode (ou finge que quer pagar e finge que não pode)? Bom, aí
ele faz um empréstimo no BNDES para pagar o empréstimo do BNDES.

Ou pede para as ANquexistemporaí (Anatel, Anvisa, Aanel etc.) que autorizem aumento
dos preços. E a população, num enorme mutirão compulsório, salva a empresa
particular.

SOLUÇÃO PARA TODOS OS PROBLEMAS - GG publicado 12/05/2008

É o Estado laico ou a religião que salva as pessoas?

Vejam o que o dízimo religioso, coletado pelas igrejas, promete:

Cura de todas as doenças, até as incuráveis.

Salvação eterna, para todo o sempre.

Sucesso nos negócios e erradicação de todas as dívidas.

Piscinas, automóveis e palacetes.


Felicidade familiar, no casamento, namoro e noivado. Com amantes não!

Erradicação de todos os vícios, jogo, drogas etc.

Exorcização de todos os demônios, capetas e possessões.

Sucesso material já aqui na Terra, em vida. Nada de receber a recompensa só depois de


morrer.

Sem dúvida uma pechincha, um negócio da China, o preço é irrisório. Só que não
cumprem.

Mas sem dúvida, bem melhor do que a promessa de políticos: mixarias de emprego
educação saneamento transporte saúde pública e habitação. Que custam sempre
muitíssimo mais do que o dízimo.

E, já estamos fartos de saber, também não cumprem.

AUTOMÓVEIS E MOTOCICLETAS - GG publicado 25/08/2008 e 14/04/2010

Assim como as coisas estão se encaminhando, qual é o futuro das motocicletas?

A sarjeta sem dúvida.

É o que já está acontecendo. Os motociclistas são empurrados para fora das ruas e das
estradas pelos motoristas. É natural que seja assim, pois a lei que vale é a do mais forte.
E quem está dentro de um automóvel é mais forte.

Mais fortes são também os legisladores e cientistas do trânsito, que não se importam
com pedestres, ciclistas nem motoqueiros, que só atrapalham o trânsito. O automóvel é
prioridade. Cidade organizada é aquela em que o tráfego de automóveis flui sem
impedimentos.

Mas e os pedestres, ciclistas e motoqueiros, o que é feito por eles? Nada! As ruas e
estradas pertencem aos automóveis! Os demais, logicamente devem sair do caminho.
Assim como caminhões ônibus e o transporte coletivo, também devem ceder o seu
espaço para os automóveis. Só atrapalham. Automóvel, é o deus das ruas e estradas!

A última moda neste país é discriminar os motoqueiros. Estão a exigir que usem faixas
refletivas com selo da Inmetro no capacete, colete refletivo, e a caixa para transportar
mercadorias deve obedecer a padrões estabelecidos. Aumentaram absurdamente o
seguro obrigatório para as motocicletas. Tudo é claro em nome da segurança do próprio
motoqueiro.

E no Rio de Janeiro foi até proibido andar em dois na moto (para reduzir os assaltos
cometidos por motociclistas).
Mas os automóveis não precisam de faixa refletiva. Podem continuar sendo pintados nas
cores da moda: Preto invisível, cinza nevoeiro, prata garoa, granizo metálico. Cores que
ninguém enxerga no lusco fusco e tempo chuvoso.

Quando automóveis são usados em assaltos seqüestros e tráfico de drogas, ninguém


fala em restringi-los por causa disso. A culpa só pode estar em outro lugar, nunca no
automóvel!

Para impedir que os automobilistas sejam assaltados, não só por motoqueiros, como
por pivetes nas esquinas e sinaleiros, por que não se os obriga que venham blindados,
já de fábrica, pesando três toneladas?

Porque os automóveis não são limitados de fábrica para não ultrapassar a velocidade
máxima permitida no país? Seria simplérrimo fazer isso.

Automóveis são feitos para cinco ocupantes, mas transportam apenas 1,3 pessoas. Por
que não obrigá-los a transportar cinco sempre? Ou obrigar-se as fábricas a produzir
automóveis menores, para não mais que duas pessoas. Só para aliviar o trânsito?

Os automóveis estão ficando cada vez mais seguros, protegem cada vez mais os seus
ocupantes. O que sem dúvida é bom. O dia chegará em que sejam totalmente seguros.
Ninguém mais irá morrer dentro do automóvel.

Cem por cento das mortes serão então de pedestres, ciclistas e motoqueiros. Fora os
gatos e cachorros.

A ciência automobilística não é uma maravilha?

O FIM DAS RELIGIÕES É FACÍLIMO - GG publicado 17/12/2008

É só os cientistas, racionais e ateus explicarem satisfatoriamente algumas coisas:

A origem da vida. A origem do universo. Por que estamos aqui. O porquê da morte. O
que acontece depois dela. O objetivo de tudo que existe.

E, além disso, fazer com que os humanos:

Respeitem a natureza e as demais formas de vida. Vivam em harmonia, sem matar,


roubar, mentir, nem explorar o próximo. Que sejam justos. Que, frente adversidades
doenças dor e sofrimento, se sintam amparados e consolados.

Quando conseguirem tudo isso, as religiões automaticamente perderão a sua finalidade


e deixarão de existir. Simplesmente extinguirão, por si só.

Que façam isso pois, os cientistas, racionais e ateus. Facílimo.


CASA NA PRAIA - GG publicado 3/02/2008

Verão, calor e diversão.

Já não é fácil ser proprietário de uma casa no lugar onde se ganha a vida. Ter, além
disso, uma casa na praia então, não é para qualquer um. Mas alguns acabam fazendo
isso.

O argumento é desfrutar as merecidas férias. Ter nos fins de semana prolongados um


lugar para ir. E também, quando se aposentarem, ir morar lá, junto ao mar, longe da
turbulência das grandes cidades. Todos dizem isso. E, às vezes com muito sacrifício,
realizam este sonho.

E lá está a casa, normalmente bem longe da praia, por causa do alto preço dos terrenos
à beira mar. Mas não importa, caminhar um pouco é sempre um bom exercício.

Móveis, cadeiras, pratos, talheres, capachos, tudo que na cidade não tem mais utilidade
vai para a casa da praia. Fica parecido com um depósito de objetos usados. Nada
combina com nada.

Nos primeiros meses vai-se todo santo fim de semana, faça frio, chuva ou tempestade. E
no primeiro dia de sol pega-se aquela queimadura. Mas é tudo muito divertido.

Com o tempo as idas para a praia ficam mais espaçadas. A televisão não é como na
cidade, pega muito mal e os canais são fajutos. E também volta-se da praia bastante
cansado, para trabalhar logo no dia seguinte, na segunda feira.

As crianças naturalmente são sempre as que mais insistem em ir, areia e água para elas
é o nirvana. E afinal, é por causa delas que se fez tudo isso. Dá gosto de ver como elas
se divertem. E só consegue-se tirá-las à força da água.

Que sem dúvida é perigosa. Sempre tem que ficar alguém cuidando.

Nas férias escolares, destino certo, a casa na praia!

O trânsito é um caos. Horas de engarrafamento na ida e também na volta. De desanimar!

Um mundaréu de gente. Calor insuportável. Os preços lá em cima. A cerveja caríssima.


Não se encontra em lugar nenhum o limão para a caipirinha. Peixe e camarão, nem
pensar de tão caros. E o pior de tudo, falta água quase todos os dias. Não dá para tomar
um chuveiro depois do banho de mar, pois a água só vem de noite.
E as baratas então, esses bichos nojentos, com a casa vazia procriam e fazem a festa,
deitam e rolam. Ao chegar, tem que se fazer primeiro uma boa faxina, para tornar a casa
habitável. Coitada da mulher trabalha mais nas férias do que em casa.

E á noite os pernilongos incomodam prá valer. E não dá para cobrir-se nem com um
lençol de tanto calor.

E mais espaçadas ficam as idas à praia. A mulher às vezes fica mais tempo com as
crianças. E o pai vai lá, apenas nos fins de semana. Durante a semana tem que se virar
sozinho na cidade. E naturalmente aproveita para dar as suas escapadelas com os
amigos (e amigas). Apesar do rígido controle exercido pela mulher, via celular.

Os parentes e amigos aproveitam bastante. Bem ou mal não existe como dizer não,
quando pedem a casa emprestada. Fazem até fila, aguardando a liberação da casa. O
problema é que sempre querem ir para lá quando todo mundo quer. E se é obrigado a
estabelecer prioridades. O que tem como conseqüência que muitos ficam
irremediavelmente ofendidos.

Além disso, não cuidam direito. Ao sair não limpam a casa como deviam. Quando
quebram alguma coisa não se preocupam em repor. Se muito, ao entregar as chaves
dizem: Olha o portão está emperrado. Tem um ninho de vespas no beiral, é até perigoso
para as crianças. A torneira do tanque está vazando. Tem uma goteira no quarto dos
fundos. Etc.

Mas eles mesmos não consertam.

E tem o problema da segurança. Não dá para deixar nada lá que seja de valor e possa ser
roubado. Televisão, ventilador, som, liquidificador, cortador de grama, tudo tem que ir e
voltar sempre. E não tem como pedir para os vizinhos cuidarem. São todos veranistas,
suas casas também ficam vazias a maior parte do tempo.

O jardim vira uma floresta. Tem que se ir lá uma vez ou outra nem que seja só para cortar
a grama, para não dar a impressão de casa abandonada. E para pagar as contas
atrasadas de luz e água.

Luz e água que toda vez tem que ser religadas novamente. A droga do banco do lugar
não quer abrir uma conta corrente, porque só vai ser usada para débito automático de
luz e água. E isso não lhes interessa.

Muitas vezes já se passa as férias em outros lugares e não mais na praia. Afinal, têm que
se conhecer outras coisas também. A casa fica fechada quase sempre. Quem mais
aproveita são os amigos e parentes. Mas os reparos, consertos e despesas continuam
sendo por conta do dono.
Finalmente depois de muito tempo, vem a almejada aposentadoria. Quando então irá
poder-se finalmente curtir a vida na praia, longe das atribulações da cidade grande. O
que se quer agora é paz e tranqüilidade, nada mais. Banho de mar e areia, nem para
olhar de longe, perdeu a graça faz tempo. O que se quer é sossego.

Que não vem. Todo o fim de semana e principalmente nas férias escolares, a casa fica
lotada de filhos com seus amigos e amigas. E de netos com seus amigos e amigas.
Dormem em colchões espalhados nos quartos, sala, varanda e corredor e alguns até
acampados no quintal. Todos querendo aproveitar a praia, a areia e o banho de mar.

Da qual sempre voltam esfomeados. E devoram em segundos os quitutes elaborados


demoradamente pela incansável vovó. E o avô paga as despesas.

ARROBA FEMINISTA - GG publicado 27/08/2007

Diferentemente da língua shakesperiana, a portuguesa não possui o "it", que eles têm.

Nossos substantivos, adjetivos etc. não são assexuados (it em inglês) são machos ou
então fêmeas. Precisamos saber muito bem decorado que "cadeira" é feminino,
"assento" é masculino, "aeronave" é feminino, "avião" masculino e assim por diante.

Mesmo assim permanecem dúvidas. Ônibus sem assento nunca poderia ser
verdadeiramente um ônibus, e de muitas mulheres se diz serem um "avião".

Já elefante é um substantivo masculino, designa a espécie e não temos como saber se é


um macho ou uma fêmea do que está sendo falado. As elefantas sendo nada mais que
um subconjunto dos elefantes machistas.

A bíblia também, machista até em baixo d’água. Deus é homem, a humanidade é homem,
tudo na bíblia é homem. A mulher apenas uma costela.

Do mesmo modo as profissões, a maioria delas é masculina sem nenhum


correspondente feminino. O Brasil sem dúvida é machista, de cabo a rabo.

As elefantas ficaram muito bravas com isso. Principalmente de uns tempos para cá,
quando surgiu o feminismo radical, irredutivelmente decidido a combater os porcos
chauvinistas de então, e os de agora. "Igualdade ou morte!", é o lema dessas elefantas,
digo, feministas.
Mas a escrita e a falação de nossa língua pátria não ajuda em nada. Tudo é machismo
gramatical. Se quisermos ser justos com homens e mulheres totalmente, fica difícil até
comunicar-se direito.

"Minhas Senhoras e meus Senhores, amigas e amigos, trabalhadoras e trabalhadores


aqui presentes, neste momento solene...", falar assim gasta muita saliva e na escrita,
muito papel.

Para não desagradar às feministas começou-se a usar alguns artifícios. Parêntesis,


barra, xis e a arroba são os mais utilizados:

"Minhas(eus) Senhoras/es, amigXs, trabalhador@s aqui presentes, neste momento


solene...".

É assim que são escritos muitos textos atualmente, na finalidade de agradar gregos e
baianos. Subentende-se que a arroba (barra, xis, parêntesis etc.) significa macho e
fêmea simultaneamente.

Mas falar deste modo é impossível, arroba nem é um fonema. E se fosse pronunciado
como a letra "a", estaríamos nos dirigindo apenas ao público feminino presente.

Um atentado ao vernáculo. Os brasileiros, contrariamente aos portugueses, são liberais


com a língua materna, absorvem qualquer novidade, atualmente os anglicismos. Adoram
macaquear. Mas essa do arroba, não vai pegar mesmo, não tem como!

Quer as feministas gostem ou não, nossa tradição lingüística é assim mesmo.


Trabalhador significa macho e fêmea, mesmo sendo substantivo masculino. Não adianta
querer mexer nisso.

Portanto, vamos escrever e falar o mais corretamente possível, obedecendo as regras


tradicionais existentes. E as feministas, que se lixem!

OS OLHOS DE UM JUIZ - GG publicado como comentário em 31/07/2007

Empresa de água toma casa de família por causa de dívida de R$ 600.

http://www.plansol.com.br/vilhena/modulos.php?mod=News&arquivo=sys_news&showm
aster=sys_news&id=575&PHPSESSID=9716cd3f1195724fdd1740be80bc885d

(Casa leiloada 389236.jpg imagens, 1 arquivos ggrube)


O senhor está dormindo bem, meritíssimo senhor juiz, que deu a ordem para que a casa
desse pobre senhor fosse leiloada, para quitar uma dívida de seiscentos Reais?

Por favor, senhor juiz, dê uma olhada nesta fotografia. Olhe! Veja com os seus próprios
olhos, este brasileiro que perdeu a sua casa.

Não desvie o rosto droga! Olhe! Contenha a sua repulsa, disfarce o seu asco e olhe a
fotografia, droga! Não seja indiferente. Olhe!!!

Gente simples, não é verdade?

A mulher dele é até um pouco vesga não é mesmo? São analfabetos também. E muito
doentes. E nenhum deles está sorrindo, estão apreensivos e preocupados. Por que
será?

A justiça, sabemos muito bem, é cega. Não enxerga as pessoas, deve ser justa
independentemente de quem está sendo julgado. Por isso dizem que ela é cega.

Mas o senhor tem olhos e certamente enxerga bem. Tanto é que assinou a ordem de
despejo desta família.

Mas assinou sem olhar muito. Uma vista rápida no processo, verificado quais são as
partes, as exposições e então a sua assinatura. E uma família, que o senhor nunca viu na
vida, perdeu a sua casa.

Naturalmente, a casa deles era o único patrimônio, o único lugar que eles tinham para
morar. E mesmo assim foram desalojados. A casa foi leiloada, o novo proprietário já
tomou posse. E tudo ficou irreversível.

Lei nenhuma, senhor juiz, no mais sórdido dos países, no pior dos infernos que se pode
imaginar, exige que um cidadão seja tratado dessa maneira.

Mas o senhor fez isso!!!

E por quê? Este brasileiro desrespeitou a justiça, não compareceu à audiência. E por
isso foi castigado.

Qualquer criança com o quarto ano primário sabe muito bem que não se pode
desrespeitar um juiz. Ninguém pode fazer isso, advogados, políticos, empresários, ricos
e poderosos, todos eles sabem muito bem disso. Porque se o fizerem, serão
severamente castigados.
Mas este brasileiro, senhor juiz, é analfabeto. Não tem nem o primeiro grau de instrução.
E com certeza, nunca passou pela cabeça dele querer ofendê-lo.

Mas o senhor se sentiu ofendido. E aplicou arbitrariamente o rigor da lei, a lex dura lex.
Fez a este cidadão o que a lei não exige!

No Paraná, cidade de Guarapuava um outro juiz também se sentiu ofendido. Viu, com os
seus olhos de juiz, que uma das partes compareceu à audiência calçando chinelos de
dedo. E isto é ofensa. Também foi punido, não tão severamente, é verdade.

Quando em 16/02/2005, na cidade de Goiânia, doze mil brasileiros, por imposição judicial
foram despejadas de suas casas à força, as máquinas destruíram o patrimônio deles,
totalmente. Ficaram sem nada, e a maioria continua sem nada até hoje. Sonho Real era o
nome da ocupação. Sonho que se esvaiu em fumaça.

A ordem de despejo foi dada por um meritíssimo juiz, que poderia ter enxergado a lei de
modo diferente. Mas não o fez.

Senhor juiz, o senhor que enxerga bem, com estes seus olhos importantes, voltados
inteiramente para a dignidade do seu orgulhoso cargo, olhos que exigem respeito, olhos
que enxergam mais longe do que os de um pobre analfabeto, ou da mulher dele que é
vesga, O senhor consegue fechá-los tranquilamente à noite e dormir bem?

ESPERTEZA COLONIALISTA - GG publicado em 29/10/2009

Albert Schweitzer (prêmio Nobel em 1952) explicou em um dos seus livros, como os
colonizadores na África fizeram para conseguir que os negros trabalhassem para eles.

Os brancos não suportariam trabalhar, uma semana sequer, naquele clima tão inóspito.
Simplesmente morreriam.

Só que a negada não tava nem aí, não se interessava pelo dinheiro dos brancos, nem
pelas bugigangas européias que podiam comprar a dinheiro. Preferiam trabalhar suas
lavouras e prover sua subsistência, ao seu modo. E eles mesmos produzir seus
utensílios e artefatos.

Eram chamados de vagabundos e preguiçosos por causa disso. Simplesmente não


queriam trabalhar para os brancos. Extrair as riquezas do país (madeiras nobres, ébano,
mahogany etc.) a serem exportadas. Serviço muito pesado para os europeus
executarem.
É o que se dizia e se diz até hoje, dos brasileiros: "São uns preguiçosos".

E muitos brasileiros concordam. Trabalham muito mais e recebem muito menos que os
"trabalhadores" do primeiro mundo. Mas concordam que os brasileiros são preguiçosos,
e que o primeiro mundo trabalha.

Indiscutivelmente os desbravadores eram feitos de puro aço. Raposo Tavares, Pizarro,


Cabeça de Vaca, James Cook, Vasco da Gama, Magalhães, incríveis as suas proezas.
Mas quem lhes proporcionava os alimentos em suas epopéias era a gente da terra. Sem
o que teriam morrido de fome. Tiravam deles, pela esperteza e a ameaça das armas.

Quem sempre trabalhou as enormes riquezas foram os indígenas, gente da terra. Desde
a extração do pau brasil, prata de Potosi, ipecacuanha, até o carvão de carvoarias
atualmente. Gente que recebe quase nada, para enriquecer os aproveitadores.

Para resolver o problema da "preguiça" na África, o governo colonial impôs uma taxa
anual em dinheiro. A ser paga por todos os adultos. Não era muito, mas tinha que ser
paga. Para não entrar em conflito com a lei.

Como os negros não tinham dinheiro, tinham que trabalhar, para os brancos. Para
conseguir a cota anual exigida.

E não só isso. Introduziram a aguardente (que vinha principalmente dos Estados


Unidos). Os negros habituaram-se ao vício. E para poder comprar cachaça precisavam
de dinheiro, tinham que trabalhar. Para os brancos, é claro!

(Albert Schweitzer, teólogo luterano, médico, músico, construiu um hospital em


Lambarene, Gabão, na África. Para ajudar aquele povo totalmente carente de assistência
médica. E por isso recebeu o prêmio Nobel da Paz. Recusou o prêmio, mas aceitou o
dinheiro. Que aplicou no hospital.)

COMO PEDIR UMA PIZZA EM 2015 - GG publicado 6/11/2009

O controle e a vigilância das pessoas estão se intensificando e ficando cada vez mais
eficientes. Principalmente por causa das conquistas tecnológicas na área da informática.

O colóquio a seguir, já é quase uma realidade.

Telefonista: Pizza Hot, boa noite!

Cliente: Boa noite! Quero encomendar pizzas...

Telefonista: Pode me dar o seu NIDN?

Cliente: Sim, o meu Número de IDentificação Nacional é 6102-1993-8456-54632107.


Telefonista: Obrigada, Sr.Lacerda. Seu endereço é Avenida Paes de Barros, 1988 ap. 5B,
e o número de seu telefone é 5494-2366, certo? O telefone do seu escritório na Lincoln
Seguros é o 5745-2302 e o seu celular é 9266-2566.

Cliente: Como você conseguiu essas informações todas?

Telefonista: Nós estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.

Cliente: Ah, sim, é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas, uma de quatro queijos e
outra de calabresa...

Telefonista: Talvez não seja uma boa idéia...

Cliente: O quê?

Telefonista: Consta na sua ficha médica que o Senhor sofre de hipertensão e tem a taxa
de colesterol muito alta. O seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas
perigosas para a sua saúde.

Cliente: É você tem razão! O que você sugere?

Telefonista: Por que o Senhor não experimenta a nossa pizza Superlight, com tofu e
rabanetes? O Senhor vai adorar!

Cliente: Como é que você sabe que vou adorar?

Telefonista: O Senhor consultou o site 'Recettes Gourmandes au Soja' da Biblioteca


Municipal, dia 15 de janeiro, às 4h27min, onde permaneceu conectado à rede durante 23
minutos. Daí a minha sugestão...

Cliente: OK está bem! Mande-me duas pizzas tamanho família!

Telefonista: É a escolha certa para o Senhor, sua esposa e seus 4 filhos, pode ter
certeza.

Cliente: Quanto é?

Telefonista: São R$ 49,99.

Cliente: Você quer o número do meu cartão de crédito?

Telefonista: Lamento, mas o Senhor vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu cartão
de crédito já foi ultrapassado.

Cliente: Tudo bem, eu posso ir ao Multibanco sacar dinheiro antes que chegue a pizza.

Telefonista: Duvido que consiga! O Senhor está com o saldo negativo no banco.

Cliente: Mas o que é isso?!!!! Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é
que entregam?

Telefonista: Estamos com um pouco de atraso, serão entregues em 45 minutos. Se o


Senhor estiver com muita pressa pode vir buscá-las. Se bem que transportar duas pizzas
na moto não é aconselhável, além de ser perigoso...

Cliente: Mas que história é essa, quem foi que disse que eu vou de moto?
Telefonista: Peço desculpas, mas consta aqui que o Senhor não pagou as últimas
prestações do carro e ele foi penhorado. Mas a sua moto está paga, e então pensei que
fosse utilizá-la...

Cliente: @#%/§@&?#>§/%#!!!!!!!!!!!!!

Telefonista: Gostaria de pedir ao Senhor para não me insultar... Não se esqueça de que
o Senhor já foi condenado em julho de 2006 por desacato em público a um Agente
Regional. O senhor não é mais réu primário...

Cliente: (Silêncio)

Telefonista: Mais alguma coisa Senhor?

Cliente: Não, é só isso... Não, espere... Não se esqueça dos 2 litros de Coca-Cola que
consta na promoção.

Telefonista: Senhor, o regulamento da nossa promoção, conforme citado no artigo


3095423/12, nos proíbe fornecer bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...

Cliente: Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!! Vou me atirar pela janela!!!!!

Telefonista: Grande coisa! Aqui diz que o senhor mora num apartamento térreo!

PRIMEIRO MUNDO - GG publicado 14/10/2009

Imagens: report_suspicious.jpg

Primeiro mundo é tudo certinho, dentro da lei, e todo mundo obedece. Nós do terceiro,
admiramos muito, gostaríamos de ser assim também.

Mas não é só flores. Por vezes me pergunto, por que eles são tão refratários a pessoas
estranhas?
Quem já foi lá, por exemplo, Estados Unidos, certamente percebeu isto. Não são
solícitos, não ajudam, não são amigáveis, não querem saber de conversa. São
indiferentes com pessoas desconhecidas. Principalmente nas cidades mais tipicamente
estadunidenses.

Lá tudo é sempre bem indicado organizado e sinalizado, praticamente não é necessário


perguntar nada para ninguém. Mas quando se faz isso, sente-se uma invisível parede de
má vontade.

São extremamente corteses, sim, quando isso faz parte do seu trabalho. Os funcionários
de hotéis, agências de turismo etc. recebem treinamento neste sentido, para não
desagradar os fregueses. Quando se vai descer de um ônibus o motorista diz: "Watch
your step". Ficamos maravilhados, mas é parte de sua obrigação.

Particularmente eles não são assim.

Não falo lá essas coisas de inglês, mas fui bem tratado, tenho nome germânico e
aspecto europeu. Mesmo assim senti essa enorme diferença de ser do estadunidense e
do brasileiro.

Fui a um Shopping Center, bem longe do hotel em que estava, de ônibus. Pegaria um
taxi para voltar. No shopping não tinha ponto de taxi. Já tinha escurecido e as ruas
desertas, um frio de rachar as canelas.

Só que, para pedir um taxi (pelo orelhão), tinha que dizer o nome de uma empresa de
táxi, das muitas disponíveis. E então mandariam um taxi dessa empresa.

Qualquer uma serve, eu disse. Não podia ser, tinha que dizer o nome de uma empresa.

Perguntei quais eram as empresas. Não podiam dizer. Eu disse que era de fora, e não
podia saber os nomes das empresas. Depois de muito insistir, citaram alguns nomes.
Disse um deles. Esperei e nada. O taxi não veio.

Assim várias vezes. Ainda por cima eu me atrapalhava, não conseguia decorar nem
pronunciar corretamente o nome dessas malditas empresas. E o taxi não vinha.

Morrendo de frio vi um posto de gasolina aberto. Fui até lá pedir auxílio. Mas o cara não
quis me ajudar. No entanto deixou que eu usasse o telefone. Tentei várias vezes e nada.

Pelo menos dentro do posto não era tão frio assim. Tentava, tentava, e o taxi não vinha.

Aí o cara do posto disse que estava indo embora, fechando o posto. Trancou tudo,
pegou o carro dele e se mandou. Fiquei na rua.

O que fazer? Não podia ficar parado ali, congelando. Iria a pé mesmo. Tinha que sair
andando, fazer alguma coisa. E não sabia nem que direção deveria tomar.
Havia residências por perto, com as luzes acesas. Mas não me atrevia a pedir ajuda,
certamente chamariam a polícia.

Quando então vi o taxi dobrando a esquina. Afinal, tinham mandado um! E voltei para o
hotel. Tinha estado por umas três horas tentando conseguir um táxi!

Por que o atendente não mandou um taxi qualquer, mesmo sem eu dizer o nome de uma
empresa? Por que o cara do posto não ajudou, pedindo um taxi para mim?

Primeiro mundo é assim mesmo, tudo certinho e dentro da legalidade. Ninguém faz nada
que não seja dentro das regras. Talvez para não se tornar culpado de alguma coisa
qualquer, ou sei lá por que.

Outras coisas confirmam este modo de ser dos estadunidenses.

Um amigo disse que em Washington, numa segunda feira pela manhã foi a uma
repartição, para obter um documento. E brasileiro, sabe como é, fala pelos cotovelos. A
moça que o atendeu acabou derretendo o gelo e disse sorrindo: "Você é a primeira
pessoa com quem eu converso, desde sexta-feira à tarde!"

Uma pessoa jovem e bonita. Tinha passado o fim de semana inteiro sem falar com
ninguém!

Certa vez entrei num boteco para pedir informações. Não sabia, era um boteco
freqüentado só por negros. Senti imediatamente a hostilidade, de todos que ali estavam.

Mas não dava mais prá recuar, fui em frente e perguntei o que queria, suando frio por
dentro. Até que disse que era brasileiro. Seus rostos clarearam, sorriram de orelha a
orelha, fizeram gracejos e brincadeiras.

Um colega de trabalho, de aparência bem brasileira (mais ou menos tipo bandido


mexicano), foi para lá profissionalmente. Voltou soltando fogo pelas ventas: "Nunca
mais piso na terra daqueles filhos da puta". Foi discriminado em todos os lugares!

A normalidade do primeiro mundo é a indiferença, a aversão a estranhos.

Não sei se é verdade, mas me disseram que os homens temem entrar num elevador
sozinho com uma mulher desconhecida. Têm medo de ser acusados de assédio sexual.

Num aeroporto ou alfândega, nem pensar em fazer uma piadinha qualquer. Vai preso na
hora. A um conhecido meu, que estava entrando nos Estados Unidos como turista,
perguntaram alguma coisa que ele não entendeu direito. Ele mal e mal sabe falar inglês.
Deve ter dito alguma coisa errada. Foi algemado, e voltou praticamente no mesmo avião.
Nunca ficou sabendo por quê.
Por que eles são assim? Antagonismo racial, medo de ser assaltado, medo de atentados
terroristas? Para ser primeiro mundo, é assim que tem que ser?

No Brasil morrem mil vezes mais brasileiros de morte violenta. A miséria é mil vezes
maior. E mesmo assim o brasileiro trata bem os estranhos. Não os trata com tanta
desconfiança.

Não sei. Outros povos, outros costumes. Mas um dos motivos deve ser a intensa
campanha que é feita para que vigiem e denunciem qualquer atividade suspeita. Mesmo
vizinhos e colegas de trabalho. Parecem viver acossados pela desconfiança.

A própria legislação deles contribui para isso.

Pelo que sei, lá é permitido que policiais e agentes de inteligência preparem armadilhas
para as pessoas, qualquer pessoa. Induzindo-as a cometer contravenção ou crime. E se
essa pessoa entra na jogada, leva o flagra e vai para a cadeia.

Lá pode transar quanto quiser, mas prostituição é proibida. Policiais femininas bonitas
se vestem de prostituta e ficam pelas ruas. Oferecendo-se por dinheiro. Se um cara entra
nessa, vai preso. E assim é com drogas estelionato falcatruas corrupção etc. Talvez por
isso tanta desconfiança deles em relação a pessoas que não conhecem.

Mas aconteceram coisas boas também.

Certa vez fui pescar. Lugar ermo, bem pouco visitado. Perto, uma choupana, a parte da
frente fazendo às vezes de boteco.

Pedi uma cerveja. Já era hora do almoço, e como estava com bastante fome, perguntei o
que tinha para comer. "Não temos nada não senhor", foi a resposta. "Somos pobres, não
dá prá fazer estoque".

Ficamos conversando, conversa gostosa, pedi mais uma cerveja. Depois ele acabou
trazendo um prato com arroz peixe pirão e banana, uma delícia.

Fiquei sem entender, disse que não tinha nada para comer, e agora esse manjar dos
deuses?

Na hora de pagar: Uma ninharia.

Só isso? perguntei. Mas isso só paga a cerveja. E o almoço?

Ele respondeu: "O que Deus permite que a gente tenha na mesa é pecado cobrar."

Tinha oferecido comida de sua própria casa. Desatei o nó na garganta, paguei, agradeci
e fui embora. Isso não foi nos Estados Unidos. Foi no Brasil.

(este causo brasileiro, não vivi eu mesmo, foi um amigo meu).


UMA MÃO LAVA A OUTRA - GG publicado 2/10/2009 e 27/03/2010

Quando se vai a uma loja, praticamente qualquer uma, e pergunta-se o preço de um


produto, recebe-se a resposta: "É tanto, em tantas prestações."

"E se eu pagar à vista?" A resposta: "É o mesmo preço."

Pagando à vista, não tem desconto! E não adianta insistir. Muitos compram então em
prestações, claro. Já que sai na mesma.

A gente fica meio confuso, sem saber o fundamento duma incoerência dessas. Como
pode, pagando à vista ser o mesmo preço que pagando em prestações? Outro dia me
disseram o porquê disso:

O lojista necessita o dinheiro da venda, imediatamente. Por isso, quando vende em


prestações, ele desconta os documentos (carnê, cheques pré-datados, notas
promissórias etc.) nos bancos, recebendo de imediato o valor, menor em certa quantia (o
lucro do banco).

E quando vende à vista recebe o total de imediato, vantajoso para o lojista, o que
permitia até fazer um desconto. Que agora não existe mais.

Os bancos, cujo interesse é que todo mundo compre em prestações, já que assim
entram na jogada e ganham dinheiro, acertaram com os lojistas para não fazerem mais o
desconto no preço à vista.

Os lojistas precisam ter a possibilidade de vender em prestações. Por isso, bem ou mal,
precisam dos bancos e financeiras. São obrigados a aceitar essa proposta.

Agora, muito mais gente compra em prestações. Bom para os bancos, é o que eles
querem. E quando as pessoas compram à vista, é bom para os lojistas. Não precisam
mais dar o desconto. E nenhum deles pode ser acusado de usura. Quando o total das
prestações é igual ao preço à vista, os juros que estão sendo cobrados é ZERO!

Mas o comprador paga juros sempre. Quando compra em prestações. E quando paga à
vista. Juros que ninguém mais pode calcular quanto é.
PINGA NI MIM - GG publicado 7/09/2009

O "serumano" em sua evolução destacou-se muito das outras formas de vida. Pelo
poder que tem de compreender e alterar as coisas à sua vontade.

Fomos às profundezas do mar. Subimos ao espaço, alcançamos a Lua, Marte e Saturno.


Começamos a entender os quasares e buracos negros. Destrinchamos os átomos, suas
partículas e saltos quânticos. Se quisermos, podemos explodir o planeta mil pedaços.
Modificamos a própria vida, através da engenharia genética. Filosofias mil, Sócrates,
Descartes, Kant, Shakespeare. Máquinas, robôs e computadores.

Mas não conseguimos produzir uma telha, que seja à prova de goteiras!

Minha casa tem goteira. E pinga ni mim.

Umas cinco vezes já, contratei telhadistas para examinar limpar e recolocar todas as
telhas de minha casa. Quando o serviço era bem feito, agüentava mais ou menos um
ano. E então recomeçavam as goteiras.

Eu mesmo já subi no forro, milhões de vezes, durante as chuvas para flagrar as goteiras.
Marcava o lugar exato, e quando o tempo melhorava, procurava por uma má colocação,
defeito, trinca, pedaço quebrado, sujeira etc.

Quase nunca conseguia identificar o porquê tinha entrado água. Mas às vezes, o simples
mexer na telha fazia desaparecer a goteira.

Evidentemente, a ciência do telhado não é para qualquer um. Precisa muito mais do que
ser um simples hacker em computação, mestre em economia, doutor em medicina ou
Phd. de engenharia. Tudo isso pode ser aprendido, não requer talento especial.

Mas, para colocar telhas corretamente, sem que aconteçam goteiras, precisa ser um
gênio!

Toda vez que um especialista ia examinar o meu problema, ele imediatamente afirmava
que é por causa das árvores em volta da minha casa. Têm umas quinze, árvores bem
altas. A sujeira, sementes, folhas que caem e os liquens e musgos que se formam,
impedem o livre escorrer da água, causando goteiras.

Não há como discordar deste convincente argumento.

Mas não vou derrubar árvores de quarenta anos ou mais, por causa disso. Além do que,
se derrubar os pinheiros no meu quintal, o Ibama me coloca na cadeia.

Já me conformei, vou ter que mudar o telhado, jogar fora as atuais telhas de barro
(francesas), e colocar outras melhores. Só que telhas mais eficientes, que não geram
goteiras quando há árvores por perto, não existem! Mais caras e mais bonitas há,
bastante, mas ninguém garante coisa alguma.
Pensei até nas famigeradas telhas assassinas, de fibrocimento (que dizem causar
câncer). Melhor morrer de carcinoma, que leva décadas para matar, do que morrer em
quinze dias de pneumonia ou de raiva, por causa das goteiras. Mas qual. Mesmo estas
telhas de aspecto tão impermeável estão cheias de problemas também. Às vezes deixam
passar água, trincam facilmente, quebram e também entopem com a sujeira de árvores.

Pode ser que eu gaste os tubos, refazendo o madeirame, colocando telhas novas de
outro tipo qualquer, e continue tudo na mesma. Quando então, para esquecer, só mesmo
tomando pinga!

A ciência, resultado de milhares de anos de evolução tecnológica, simplesmente não


conseguiu inventar ainda uma telha imune a goteiras. E milhões de pessoas são
obrigadas a conviver com isso.

Mas, pensando bem, não é só isso que a ciência e tecnologia não conseguem
solucionar.

Um dos anseios mais antigos dos seres vivos é alimentar-se. Já há bilhões de anos é o
que eles vêm tentando fazer.

Nós, superiores "serumanos", conseguimos ir para outros planetas. E aqui na Terra, um


bilhão de pessoas, não consegue se alimentar direito.

SOCIEDADE DO DINHEIRO - GG publicado 9/05/2010

Somos a civilização mais avançada que existe, a sociedade do dinheiro. Mas a única
certeza sobre o dinheiro é que faz muita falta, quando não se tem. No mais é total
desconhecido.

Dinheiro nunca é igual a dinheiro. O mesmo dinheiro hoje não compra as mesmas coisas
amanhã. Nem ontem.

Alguns trabalham muito, pelo mesmo dinheiro que outros conseguem sem esforço
algum.

Em lugares diferentes o mesmo dinheiro tem valores diferentes, não compra as mesmas
coisas.

Hoje o dólar tem um valor, amanhã certamente vai ser diferente. E assim todas as
moedas.

Um cheque (representante do dinheiro) pode ter valor integral. Ou nada, se for um


cheque sem fundo.

Para quem tem muito dinheiro, cem mil pode não ser muito. Já para que tem pouco é
uma fortuna!
Sempre existe inflação. E lenta ou rapidamente o dinheiro desaparece.

Afinal, se o dinheiro nunca tem valor certo e definido, por que raios dos infernos ainda é
utilizado?

PROPAGANDA, A ALMA DO NEGÓCIO - GG publicado 7/05/2010

Imagens: cachaça tatuzinho

Os pinguços mais antigos certamente lembram a musiquinha:

"Ai tatu - Tatuzinho - me abre a garrafa - e me dá um pouquinho..."

(http://www.youtube.com/watch?v=ucvGBEJ4ETg&feature=player_embedded)

Sem parar, nas rádios principalmente, dia e noite a propaganda desta cachaça, sucesso
de vendas e de muitos pileques. A caninha em si nada tinha de excepcional, mas era a
mais vendida na época.

Pudera, do preço de venda, 70% era propaganda!

Induziu muita gente ao vício da bebida forte. Mas se não fosse esta cachaça, seria outra,
ou cerveja, ou uísque, ou conhaque etc.

Propaganda é a alma do negócio. Sem propaganda a Tatuzinho poderia ser 70% mais
barata. Mas não venderia.
São os cavacos do "livre mercado", se é obrigado a jogar dinheiro fora, sem alternativa.
Praticamente tudo que é produzido, tem que existir marketing e propaganda. O que
indiscutivelmente encarece o produto ou serviço.

Alguns ainda são estatais, como água tratada, energia elétrica, esgoto etc., e de um
modo geral não fazem propaganda. Médicos estão proibidos de fazer. Advogados,
eticamente devem abster-se de propaganda ostensiva.

Sem propaganda muitos corruptos e nulidades políticas nunca chegariam ao poder.

Medicamentos receitados por médicos não podem ser propagandeados. Já para


produtos e medicamentos de venda livre, é permitida.

Como a engraçada propaganda, afixada no interior dos bondes de antigamente:

"Veja ilustre passageiro

O belo tipo faceiro

Que o senhor tem ao seu lado.

No entanto, acredite

Quase morreu de bronquite,

Salvou-o RHUM CREOSOTADO"

Os laboratórios e fabricantes de medicamentos insistem muito, que sejam respeitados


os direitos autorais, alegando que a pesquisa e desenvolvimento de medicamentos lhes
custam milhões de dólares. Viram bicho quando se fala em quebra de patentes!

O que não dizem é que gastam o triplo disso com propaganda. O marketing sai mais
caro que a pesquisa e o medicamento. Como na cachaça Tatuzinho.

FHC, quando teve a brilhante idéia de privatizar a telecomunicação brasileira,


argumentou que a concorrência iria beneficiar os consumidores com serviços mais
baratos.

A primeira coisa que as privatizadas fizeram foi solicitar à Anatel um aumento de tarifa.
Pois que, devido à "livre concorrência" precisavam fazer propaganda. E o custo tinha
que ser repassado para o consumidor!

Sacanagem mesmo, é a propaganda que induz crianças e adolescentes a encherem o


saco dos pais, para que lhes comprem as muitas porcarias que vêem na televisão. É
golpe baixo do merchandising, pois são facilmente influenciáveis.

Os progenitores ficam entre a cruz e a espada. Negar implica em griteiro da criançada e


sentimento de rejeição nos adolescentes.
Pela bendita tranqüilidade familiar, os pais acabam comprando. Mais caro que os
similares, por causa da custosa propaganda na televisão.

É assim a concorrência, o livre mercado. Os produtos são invariavelmente mais caros


por causa da propaganda. Freqüentemente muito mais caros. Dinheiro jogado fora.

Não precisaria ser assim, mas não tem jeito.

Em Cuba uma das coisas que mais chama a atenção é a total ausência de propaganda!
Nada de placas, luminosos, folhetos, folders, anúncios em jornais e revistas, outdoors,
rádio, televisão, nada. A não ser alguma propaganda visando os turistas estrangeiros.

Não jogam fora, 70% do seu dinheiro.

CONSPIRAÇÃO - GG publicado 20/03/2010

Só quem viveu o suficiente pode notar. Está em andamento uma enorme e abrangente,
mas quase imperceptível conspiração.

Cuja finalidade é tornar a vida das pessoas cada vez mais difícil e desagradável,
insuportável até. Tão lenta e gradativa que os mais jovens sequer notam que está
acontecendo. Só o tempo é que traz reconhecimento. Só os mais velhos percebem isso.

Se fosse pouca coisa, tudo bem, mas não é. Estão mexendo em coisas fundamentais
como gravidade, tamanho das coisas, intensidade luminosa etc. É assustador!

Indiscutivelmente o peso dos objetos está aumentando! O que outrora podia ser erguido
com facilidade, hoje já não é mais possível sem ajuda. Estão mexendo na gravidade!

Dá para notar bem isso, ao levantar do sofá por exemplo. Antigamente, facílimo, e agora
só com esforço. As coisas estão ficando mais pesadas, inclusive nós mesmos!

Estão mexendo nas dimensões das coisas. Escadarias, lances que eram vencidos
facilmente, tornaram-se cansativos. Os degraus ficaram mais altos! Mais estreitos
também, tanto é que o corrimão tornou-se indispensável. Mas foram retirados, quase
todos.

As distâncias aumentaram. Mesmo aquelas que estamos acostumados desde pequenos.


A mesma padaria e o mesmo mercadinho de sempre, agora estão muito mais distantes,
leva-se mais tempo para ir e voltar. Como é que conseguiram fazer isso?

Indiscutivelmente as subidas ficaram mais íngremes. Gastam todo o fôlego disponível.


Antigamente não era assim!
Modificaram até as etiquetas indicativas do tamanho das roupas. Pequeno e médio
passou para grande e super grande. Como se não fôssemos notar essas coisas. Pensam
que somos idiotas?

Os jovens nada percebem, só viram estas coisas já modificadas. Mas com o tempo
certamente irão enxergar também as constantes mudanças, para pior. E só então
sentirão também esta terrível conspiração em andamento.

Estão mexendo na iluminação artificial e na própria luz do dia! Falta agora luminosidade
para enxergar as coisas de dia e principalmente à noite. As lâmpadas estão iluminando
menos. Será que estão querendo economizar energia, ou é apenas para infernizar
nossas vidas?

São forças poderosas, mexeram inclusive na intensidade da própria luz do sol! Mesmo
de dia, ler uma bula de remédio é enorme dificuldade.

Conseguiram alterar as velocidades, deixaram tudo mais rápido! Quando dirigimos


normalmente como sempre fizemos, logo se acumula atrás de nós enorme fila de
irritados gesticulantes e buzinantes motoristas. Querendo impor as supersônicas
velocidades de hoje.

Com a barulheira à nossa volta aumentando cada vez mais, as pessoas estão falando
cada vez mais baixo. É um complô! Constantemente tem que se pedir para que repitam o
que disseram. Que droga, por que sussurram, não sabem falar normalmente? Será que
imaginam que temos a capacidade de fazer leitura labial?

Estão a mexer no próprio tempo. Está passando mais depressa. Num instante vão se os
dias e os anos. Conhecidos nossos envelhecem rapidamente. Quando os vemos ficamos
espantados como envelheceram. Muito mais que nós, o que nos confirma diariamente o
espelho. Eles envelhecem tanto, que por vezes nem chegam a nos reconhecer direito!

Tendo em vista tudo isso, pensei em avisar todos os meus amigos e conhecidos sobre
essa terrível conspiração. Telefonar para eles, alertá-los sobre o que está acontecendo.
Alguma coisa precisa ser feita!

Mas qual, antecipando algo neste sentido, reduziram o tamanho das letras na lista
telefônica. Impossível ler qualquer coisa!
CENAS DE IMPACTO – GG publicado 1/02/2005 (foi escondido)

Filmes e mais filmes, sem falar nos seriados, é o que assistimos diariamente. Queiramos
ou não, somos influenciados por eles, e muito. Nos detalhes, que não prestamos
atenção, muitas vezes é transmitida a mensagem desejada.

Mas, como é possível que Hollywood produza dezenas de filmes, semanalmente?

Ora, fazer um filme é extremamente complicado, custoso e principalmente, demorado.


Uma idéia deve ser criada, ou escolhida das já existentes em livros, romances, fatos
históricos etc. Um roteiro deve ser escrito, as falas devem criadas, as cenas escolhidas,
os cenários naturais pesquisados, os artificiais montados, os protagonistas
selecionados, vestimentas, efeitos especiais e assim por diante.

Tudo isso dentro de um orçamento. Tudo isso dentro da perspectiva de um retorno


substancial, pois que a finalidade primeira é "fazer dinheiro". A segunda é formar
opiniões, transmitir uma mensagem. Pode ser o contrário também.

Um trabalho de gigante. Como conseguir isso rapidamente? O filme deve ser vendável,
obrigatoriamente. Por isso ele deve impressionar as pessoas. Os espectadores devem
pagar ingresso e os que o assistem nas televisões não devem mudar de canal.

O filme tem que ser pois impactante. Deve ser composto por uma seqüência de cenas
impactantes, do princípio ao fim. Como "montar" um filme rapidamente, a custo
reduzido?

Descobri como eles fazem isso! Não estive lá, mas observando os filmes
hollywoodianos, chega-se à conclusão como são feitos.

Com a vasta experiência que eles têm, montaram prateleiras enormes, com centenas de
escaninhos, cada qual contendo uma cena de impacto, já de comprovada efetividade.

Então, o produtor, mediante um roteiro, também escolhido entre os muitos roteiros


impactantes, de comprovada eficiência, retira as cenas correspondentes dos
escaninhos. Cola uma nas outras. E está feito o filme.

Que é distribuído. E o mundo inteiro compra!

Mas não é de hoje que os filmes são feitos dessa maneira.

Quem não lembra a roda esquerda traseira da diligência em fuga de índios/malfeitores,


soltando e caindo, fazendo a diligência capotar espetacularmente? É uma cena de
impacto retirada desta prateleira.
Quando tudo parecia perdido na caravana em círculo, atacada pelos comanches
pawnees ou apaches, surge ao longe salvadora cavalaria. É outra cena de impacto do
estoque.

Todas elas evoluíram "darwinianamente". As ruins desapareceram e ficaram as de


impacto efetivo.

Assim em um tiroteio mocinho/bandidos, dentro do "saloon", a pólvora utilizada é sem


fumaça. Ao contrário dos confrontos ao ar livre. Nestes os festins são com pólvora
preta, bastante fumacenta.

Em recintos fechados a fumaça atrapalharia a filmagem, já na rua ou em cavalgadas a


fumaça é indicativa de quem fez o disparo.

Humpfrey Bogart e Ingrid Bergman em uma cena romântica. A câmara focaliza em tela
inteira, o rosto da belíssima amada. Os olhos são mais iluminados que o resto do rosto.
Isso deixa a cena romanticíssima.

Nos filmes mais modernos, mais cenas de impacto:

Um automóvel dá a partida, na escuridão da noite e segue pelo asfalto. Um segundo


carro acende os faróis e o segue. No espelho retrovisor o primeiro percebe que está
sendo seguido e pisa no acelerador.

A perseguição sempre resulta em acidente. Ou do mocinho, que no caso não morre, ou


do bandido que morre sempre. Normalmente o carro explode espetacularmente, como se
o tanque contivesse mil e quinhentos litros de gasolina, levantando um cogumelo
semelhante a Hiroshima.

Se for o carro do mocinho, só explode depois que ele sai, correndo e gritando: "Vai
explodir!", o que realmente acontece, invariavelmente.

O bandido morre queimado.

A cena de sexo é imprescindível. O mocinho conhece uma "gata", quinze minutos depois
eles estão na cama, transando. Ela em cima dele sentada (pelo jeito não se faz sexo de
outra forma em Hollywood). Às vezes, depois, a pergunta: "Qual é o teu nome?" (só
então se lembram de perguntar o nome um do outro).

Nos filmes as pessoas não se cumprimentam nunca. Nada de "bom dia" ou "boa tarde".
Vão sempre direto ao assunto.

Em um escritório, após a conversa bandido/mocinho, um deles sai. Ao chegar à porta,


volta-se e fala alguma coisa. E só então sai. (As novelas também usam muito esse
recurso).
Às vezes a cena focaliza ainda aquele que ficou no escritório. Se este levanta o telefone,
é o bandido.

Em novelas, a frase mais freqüente é: "Tenho um assunto muito importante a falar com
você!". Depois se constata que o assunto já tinha sido ventilado, ou que não é tão
importante assim.

A campainha da porta, ou o telefone tocando, são os meios mais utilizados, para


interromper um assunto e iniciar outro, ou para agravar bastante a dramática situação
atual.

Os artistas, para demonstrar espanto ou o fato de estarem embasbacados, abrem a


boca, e ficam assim por algum tempo, até se recuperarem. O que mostra que na
Califórnia não existem moscas.

O mafioso recebe o detetive particular em sua casa ou iate luxuosíssimo. Na piscina


sempre uma ou mais beldades nadando. Oferece uma bebida ao detetive, que a recusará
sempre.

Nesta oportunidade seria facílimo, tanto um como outro, eliminar o seu desafeto. Mas
não é a ocasião. Acontecerá depois, em circunstâncias bem mais difíceis.

Chegada a ocasião os capangas do mafioso, metralham tudo. Espelhos, vidros, copos,


garrafas cadeira, móveis etc. Menos o detetive. Este fica incólume. E, com uma simples
pistola, com tiros certeiros, mata-os, um a um.

E então, finalmente, acontece o tão esperado acerto de contas mocinho versus bandido.
Que é resolvido sempre a socos e tiros. Inicialmente o bandido leva vantagem sempre,
quase vence a parada. Apenas no último e desesperado instante, as coisas invertem e o
bandido morre.

Cena certíssima que aconteça, é aquela em que o seqüestrador (traficante vietcong


nazista mafioso bolchevique terrorista) agarra o partner (filha amigo criança velhinho
namorada) do protagonista principal pelos grugumilo, e ameaça cortar o seu pescoço ou
atirar em sua cabeça. Fará isto o facínora, se o herói não largar a arma imediatamente. O
que ele nunca deixa de fazer, e solta a sua arma no chão.

Mas nunca, como seria lógico imaginar, o bandido mata o mocinho mata o refém e
termina o filme.

Cenas, um apontando a arma para o outro, e cada um falando frases repletas de ironia, já
estão meio fora de moda. Eram bastante usadas nos "bang bang".

Agora são pelo menos três a apontá-las, num triângulo potencialmente letal. Essas
cenas duram sempre uma "pá de tempo". Mas não excessivamente, pois não tem cristo
que agüente ficar com o braço esticado por muito tempo com uma arma na ponta.
Mesmo que seja de plástico, não muito pesada.

Estas cenas, normalmente resultam em nada. Nunca acontecem três tiros e três mortes.

Naturalmente também é inevitável a cena, em que o partner (filha amigo criança velhinho
namorada) é ferido grave injusta e cruelmente pelo facínora mor.

E então, nos braços do herói, dá o último suspiro e morre. Normalmente emitindo


palavras emocionantes e significativas.

Esta cena é indicativa do porvir de multidão de mortes da parte inimiga, num justo
"revenge" cinematográfico. O mínimo sendo dez, para cada morte de partner (filha amigo
etc.) do herói.

Em filmes de suspense, ao entrar em uma casa (a porta estava entreaberta) ou sair do


quarto para verificar um ruído qualquer, nunca se acende as luzes. O que seria lógico
fazer, para enxergar melhor. Mas não. Fica tudo na penumbra, sempre.

Em filmes de monstros, estes perseguem o herói/heroína, que sai em desabalada


carreira. Mas não o monstro. Este se locomove devagar, pausadamente, com gravidade.
Mesmo assim, logra sempre alcançar a vítima.

A vítima entra então em um carro para fugir. Ou não acha a chave, e/ou o carro não pega.

Em filmes de ação, o herói, quase sempre, nas cenas mais decisivas, tem a cabeça
descoberta. Sem capacete (se militar), sem chapéu (no far-west), sem elmo (se cavaleiro
da távola redonda).

Os feridos à bala, facada, paulada etc., caem ao solo e ficam totalmente inertes. Mas logo
se recuperam, mancam um pouco, e algumas cenas depois já estão completamente
curados. Isso por vezes no curto período de uma luta.

Um hematoma ou curativo cada vez menor, ou tipóia, lembram o acontecimento.

Se retirássemos dos filmes as explosões espetaculares, os automóveis e as armas de


fogo, 95% dos filmes hollywodianos ficariam sem conteúdo e nem existiriam.

Perseguindo, sendo perseguido ou em busca da arca perdida, por dias e semanas a fio
ninguém come, bebe, defeca nem urina. Não carregam suprimentos, muito menos papel
higiênico. Por vezes existe um único cantil, que é virado de cabeça prá baixo para
indicar que a água disponível acabou.
Ao sedento quase morto pelo calor do deserto, míseros um ou dois goles d'água são
suficientes para salvar sua vida.

Quando é encontrado um charco ou poça d'água lamacenta, não usam caneca ou as


mãos em concha para beber. Deitam-se no solo e sorvem a água diretamente com a
boca.

E no reflexo da superfície d'água vislumbram então apaches ou vietcongs olhando


ironicamente para eles, do outro lado do córrego.

Apesar de ser extremamente desagradável andar com sapatos encharcados, nunca tiram
meias e calçados antes de atravessar riachos ou de embarcar desembarcar de barcos e
navios. Mesmo em água geladíssimas.

Não sei por que ainda se usa armas de fogo para combater monstros, vampiros,
alienígenas, assombrações e cibernéticos. Titubeiam, caem, mas invariavelmente se
recompõe e retomam a perseguição. Nunca morrem definitivamente.

Um capítulo à parte é a música de fundo. Valeria a pena até, escrever um livro sobre
isso.

Som contínuo, de baixa freqüência, nas cenas de suspense (como se houvesse um


poste, com um transformador zumbindo, por perto).

Um plim,plim,plim de piano, de emoção etérea, nas cenas de sublime amor maternal ou


de felicidade paradisíaca.

Um violino ao fundo, para comprimir, de leve, as glândulas lacrimais do espectador.

E também, naturalmente, os épicos temas musicais, mulher rendeira, dólar de prata,


ghost, etc. Hoje em dia pouco utilizado, por não ser nada fácil criar melodias de agrado
geral, assim sem mais nem menos.

Às vezes até, ausência total de som por certo tempo, seguido por ruído muito forte,
estampido, que faz o espectador pular na poltrona.

Etc. etc.

Nos Estados unidos 10% da população é negra. Entretanto, 90% dos filmes atuais têm
negros. Sempre em papéis importantes. O capitão negro, mocinho negro, o bonzinho
negro.

Não sei se isso é também, cena de impacto, mas ainda vou descobrir o seu significado.
São todas cenas rigorosamente iguais, tiradas da prateleira. Por isso é que fazem filmes
tão rapidamente. Ganham dinheiro "na moleza" e, pior de tudo, "fazem a cabeça" do
mundo inteiro com isso!

EM UM REINO DISTANTE – GG publicado 5/10/2004

Uma vez, em um reino distante, um súdito, foi condenado à morte.

O motivo era que ele fazia intrigas, falava mal das pessoas e instigava uns contra os

outros, um tremendo fofoqueiro. Implorou ao rei o seu perdão.

O rei então, pegou um travesseiro de penas, foi até a torre mais alta de seu castelo e
espalhou as penas ao vento.

Disse ao súdito, que se ele conseguisse catar todas as penas, ele seria perdoado.

Um programa de televisão, já faz algum tempo, funcionava como segue:

Alguém que se sentisse injustiçado por uma empresa qualquer, podia recorrer ao
programa, para que o apresentador o ajudasse a obter seus direitos. Um serviço ao
público, por assim dizer.

O injustiçado, explicava seu caso ao apresentador que achando procedente, juntava seu
"cameraman" mais o injustiçado e iam até a empresa, loja ou o que fosse, tirar
satisfação. Iam filmando tudo, placa da empresa, endereço, citando qual foi a encrenca,
nome do proprietário, tudo.

Chegando lá, quando eram recebidos pelo proprietário, normalmente a discussão era
feia e o caldo engrossava. Muitas vezes saiam tapas e bofetões. O ibope ia a mil por
hora. Às vezes chegavam a um acordo e, freqüentemente, não.

Muitas vezes os proprietários, vendo que era o tal apresentador que estava chegando,
cerravam as portas, soltavam os cachorros e se escondiam debaixo da cama. Isso ele
considerava como confissão de culpa. A pichação era total. E iam embora.

Isto passava na televisão e meio mundo assistia. Depois disso, é claro, quantos iriam
solicitar os serviços daquela empresa ou adquirir alguma coisa dela? Muitas,
certamente, entravam em parafuso.

O apresentador do programa, infalível como o Papa, era repórter, escrivão, delegado,


oficial de justiça, promotor, júri, juiz, executor da sentença e Deus, tudo junto.

Mas, e se ele estivesse enganado? Quem iria catar as penas?


Interessante é que, nunca as empresas visitadas eram de grande porte ou de grande
nome. Sempre de fundo de quintal, ou quase isso. Aparentemente grandes empresas e
empresários não cometem falcatruas.

O apresentador não cutucava onças, das grandes. A vara poderia ser curta demais.

MENTIRAS – GG publicado 18/9/2004

Encontramos um conhecido na rua. Papo superficial. Na despedida a frase: "Apareça lá


em casa". Não é para ir, de jeito nenhum, é só uma maneira de falar.

Vamos a uma loja, olhamos, indagamos e saímos sem comprar nada, dizendo ao
vendedor que passaremos depois para comprar o produto. Não fazemos isso. Nem é
isso, o que o vendedor espera que façamos.

Em qualquer lugar, "um minutinho" que nos é solicitado aguardar, nunca acaba sendo
apenas um minuto.

Vamos a uma loja e perguntamos sobre um produto qualquer. "Não temos no momento.
Mas semana que vem o Senhor pode passar aqui que tem". Na semana seguinte vamos
lá. "Não chegou ainda, mas chega depois de amanhã."

É um direito mentir.

Todos nós usamos esse recurso, costumeiramente. Não temos coragem de manter a
verdade, somos medrosos e por isso mentimos. Muitas vezes, por comodidade, por
safadeza e até por piedade. Mas sempre mentimos.

É um jogo. Mentir sem que o outro perceba. Às vezes até o outro percebe, mas aceita e
fica quieto. Mente então para si mesmo.

A vida tornou-se muito mais complexa e burocrática por causa da mentira. Muitas ações
do homem são exclusivamente voltadas para controlar as mentiras dos outros.

Na Índia um provérbio diz: "Uma mentira é pior que mil mortes". Estranho pensamento.

Entretanto, falassem todos a verdade, certamente muitas mortes, milhares até, seriam
evitadas.

Mentir é um direito. Menos para as crianças.

Estas se forem flagradas mentindo, principalmente para os pais, serão repreendidas


severamente. "Mentir, que coisa feia, como é que pode!", e dá-lhe castigo.

Só mais tarde, quando já crescidas, entenderão que mentir é normal e até obrigatório em
muitas situações. Apanhavam não porque mentir é errado ou para a formação do caráter.
Apanhavam apenas porque os pais queriam se proteger das mentiras dos filhos. Nada
pessoal.

Todos mentem. Políticos mentem, jornais mentem, televisões mentem.

E assim vamos vivendo.

PROPRIEDADE INTELECTUAL – GG publicado 20/10/2004

Digamos, que um fabuloso cientista, gênio intelectual, pesquisando por muitos anos,
finalmente atinja o seu grande objetivo: A CURA DO CÂNCER!

Cura certa e garantida, mesmo nos estágios mais avançados.

E consiga patentear a idéia, o processo, o produto etc., tornando sua a propriedade


intelectual. Recebe todos os prêmios e elogios da comunidade médica e científica
mundiais. Louros e glórias.

Mas, pensa ele, eu não quero isto, quero ser recompensado em dinheiro, bastante
dinheiro!

Então ele resolve vender o remédio, a cura do câncer, a digamos, cem mil dólares o
frasco. Uma cura eficaz e garantida por cem mil dólares.

Ora, se existem pessoas que pagam muito mais que isso, por automóveis, iates e
helicópteros, certamente acharão bagatela este preço, pois significa a salvação de suas
vidas. Mesmo muitos daqueles que não tem esse dinheiro, farão de tudo para consegui-
lo. Venderão tudo que tem, farão empréstimos, roubarão e até matarão, se for o caso.
Qualquer coisa, na finalidade de permanecer vivo.

Assim o gênio científico, rapidamente, torna-se trilionário e o homem mais rico do


planeta! Viva a ciência! Viva o Einstein da medicina! O resto do mundo, a maioria, os
miseráveis, os pobres continuarão morrendo. Para eles a cura do câncer não existe!

Poderia ser pior, entretanto. Se ele nem desejasse enriquecer. Se fosse de seu interesse
apenas impedir que os outros se curassem: "É meu, só meu e não deixo que usem".

Cientista louco, de revista em quadrinhos. Onde já se viu, não gostar de dinheiro. Mas é
possível. É a "propriedade intelectual" assegurada!
MATEM OS RICOS! – GG publicado 18/11/2005

Observei outro dia, essa pichação num dos muros da cidade.

Naturalmente os ricos, vendo isso, devem ficar "com a pulga atrás da orelha". Ainda
mais, com os recentes acontecimentos, na França.

Insensatez total essa pichação? Eu não acho. É apenas uma idéia, que foi escrita.
Enquanto que a realidade cotidiana é matar os pobres. O que não é pichado nos muros,
mas sim, executado na prática, verdadeiramente.

Mas não teria que se pensar sobre isso? Vamos desconsiderar ricos com seus
argumentos e pobres com os seus. Vamos pensar, "suprapartidariamente", no planeta
azul, chamado Terra. O que seria melhor, um rico a menos sobre a face da Terra, ou um
pobre?

Um rico, bem rico, possui residência ampla de luxo, automóvel "top de linha", piscina,
iate, casa na praia e/ou no campo e até helicóptero. Faz viagens ao exterior e nas férias,
turismo em paises exóticos. A sua educação e saúde utilizam quantidades enormes de
recursos e equipamentos caríssimos. Consome produtos de primeira linha, alimentos de
primeiríssima qualidade, roupas de "griffe", compra todos e quaisquer modismos
eletrônicos. Têm seus clubes, chácaras e "spas" para o seu lazer. Enfim, é aquilo, o que
é desejado por todos, um "bem sucedido". Movimenta a economia, é a mola do
progresso.

Entretanto, prima pelo desperdício. Utiliza tudo isso, muito pouco. E descarta com muita
facilidade. Gerando grande quantidade de lixo, apenas parcialmente reciclável. O que lhe
pertence, outros não podem utilizar, mesmo que esteja ocioso. Um encargo enorme para
a natureza, com o seu consumo de materiais, produtos e energia.

E um pobre, verdadeiramente pobre, o que gasta ele?

Quase nada. Dorme num minúsculo barraco construído, em parte, com materiais
descartados, ou embaixo de um viaduto. Seus alimentos são, muitas vezes, o que os
outros jogaram fora e aproveitados ao máximo. A educação e saúde, nada custam, pois
são inexistentes. Energia apenas alguns pontos de luz e uma televisãozinha mequetrefe.
Roupas, sempre as mesmas. E só.

O estrago que ele faz à natureza é porque não está nem um pouco preocupado com ela.
Seu esgoto vai direto para a valeta mais próxima, e joga o seu parco lixo em qualquer
lugar. Pois é o que dá menos trabalho e despesas.

Evidentemente, causa muitíssimo menos estragos ao planeta, do que um rico.

Certíssima pois a pichação. Um rico a menos, é muito mais proveitoso.


UM FUNCIONÁRIO FOI PESCAR – GG publicado 2/03/2005

Certa ocasião, um funcionário público, servidor de uma entidade estatal, foi pescar. Para
recuperar-se da estafante e cansativa atividade que é, servir ao povo.

Domingo. Juntou a tralharada, grelha de churrasco e amigos colocou tudo no carro e


partiu. Na barranca do rio, é iniciada a incessante batalha aos lambaris, tilápias, carás,
lingüiças, costela, pinga, caipirinhas e cervejas.

Tudo corria bem, mas levou azar. Não na pesca, pois esta, até que estava prolífica. Mas
pelo fato de terem sido filmados. Pela reportagem de algum canal de televisão qualquer.
Até aí nada de mais.

O problema é que o carro usado na pescaria, não era dele. Era um carro do povo, chapa
branca. Com logotipo da repartição e os dizeres: "USO EXCLUSIVO EM SERVIÇO". Tudo
devidamente filmado.

Como o canal de televisão era da oposição, tudo foi esmiuçado pichado e espezinhado,
intensivamente, por vários dias, semanas até. Polvorosa na repartição, cabeças rolaram.
Indignação geral. Até o governador teve que se explicar.

Consenso, que deveriam morrer de morte matada. Todos esses malditos barnabés! Pois
que, além de tratarem mal o povo que lhes paga o salário, utilizam mal o dinheiro
público. E vão pescar, vejam só, com a gasolina e o patrimônio popular. Bolas é dinheiro
que sai do bolso do povo. Não pode ser desperdiçado!

E como funciona uma empresa particular?

Até eles, em certos aspectos, devem preservar a imagem. Isso qualquer funcionário, de
um modo geral, sabe. Se não se comportar corretamente, vai acabar no olho da rua. A
empresa deve ser considerada sólida e sóbria. Se não venderá menos. A imagem é pois,
importante.

Mas nunca será criticada pela sociedade e povo em geral, se desperdiçar pequenas ou
grandes importâncias. Patrocínio de atividades esportivas, futebol, culturais,
filantrópicas. Tudo bem, nada a reclamar.

Passeios em iates luxuosos, elegantes coquetéis, turismo de luxo, divulgados


amplamente nas colunas sociais, tudo bem. É dinheiro da empresa, ela gasta como
quiser. Se resolver fazer pescarias em grande estilo, no Amazonas Pantanal ou em alto
mar, tudo bem.

E até pequenas pescarias, de lambaris, tilápias e carás, se fizerem utilizando um carro da


empresa, com logotipo e tudo, não será criticado pela mídia, nem pelo povo, nem por
ninguém. Pois o dinheiro não é do povo. Pode ser desperdiçado, se assim o desejarem.
Mesmo que seja uma empresa terceirizada do governo ou uma estatal que foi
privatizada. E apesar de ser exatamente o mesmo povo quem pague tudo isso, tostão
por tostão!

SONHO REAL – GG publicado 26/02/2005

Em 16/02/2005, em Goiânia (Goiás) acontece a "Operação Triunfo", despejo de umas três


mil famílias que invadiram um terreno abandonado. Em algumas horas são destruídas
todas as casas e os pertences. E dois dos invasores morreram.

http://lists.indymedia.org/pipermail/cmi-
goiania/attachments/20050814/c6552bf3/attachment.doc

Três mil famílias. Três mil casebres. Quanto custa fazer um casebre? Mais um fogão,
uma cama, uma televisão? Acredito que, por menos de dois mil Reais, impossível.

Assim, na desocupação, foram destruídos, seis milhões de Reais em patrimônio! Pelo


menos. Patrimônio de gente que tinha muito pouco. E agora não tem mais nada.

Três mil famílias. Dez mil pessoas, pelo menos! O que farão elas? Morar em casa de
parentes abastados, que os receberão de braços abertos? Pagar um aluguel, equivalente
ou maior, do que a renda que possuem? Morar ao relento nas ruas e calçadas ou tendo
sorte, embaixo de alguma ponte? Tentar nova invasão em algum outro terreno que esteja
desocupado?

Um proprietário, que entrou com uma ação de reintegração de posse.

Um juiz, que decretou a sua efetivação.

Um governador, que ordenou à Polícia Militar que executasse a desocupação.

Um Prefeito, que poderia desapropriar o terreno em benefício dos sem teto, e não o fez.

Um comandante, que coordenou a "Operação Triunfo", o despejo.

Uma mídia, que mal e mal noticiou os acontecimentos.

Uma cidade que não se comoveu.

Gostaria muito, que todos eles, tivessem agido de má fé, sem exceção. Que tenham sido
corruptos, egoístas, gananciosos e interesseiros.

Que tenham agido fora da lei contrariando seus princípios, em oposição ao chamado
"espírito da lei". Que ela tenha sido interpretada apenas segundo seus interesses
escusos.
Que tenham pensado apenas em si e lucrado com isso, dinheiro imoral e antiético. E que
tenha sido muito dinheiro. Que tenham lucrado muito, mas muito mesmo. Vinte, trinta,
quarenta milhões de Reais. Que tenha sido significativamente mais do que os seis
milhões de Reais que destruíram.

Que tenha realmente valido a pena, efetuar o despejo, destruir a propriedade de três mil
famílias, deixá-los sem nada e sem saber o que fazer da vida. Gostaria muito que tivesse
sido assim.

Porque, então, ainda existe ESPERANÇA!

Não para os despejados do Sonho Real, estes não. O que foi destruído não será
recuperado. E os despejados espalhar-se-ão, por esse Brasil afora. Não existe como
voltar atrás o acontecido, e a sociedade no todo, ficará pior.

Mas para os demais brasileiros. Para eles a esperança ainda é verdadeira! Porque então,
ainda pode-se dizer que existe justiça. Pode-se dizer que ela tenha sido apenas burlada,
apenas isso. Mas que não é a regra. Que não é assim que funciona nem é assim que
deveria funcionar.

Pode-se dizer que o que aconteceu foi apenas por causa do egoísmo, da indiferença, do
não se importar com os outros. Ainda existe esperança!

Entretanto, se tudo aconteceu dentro da lei e da ordem. Que as famílias, ordeiramente


tinham que ser despejadas. Que não tinha como ser diferente. Que tinha que ser assim,
obrigatoriamente. Então, melhor seria que não existisse mais nada. Leis, judiciário,
polícia e governo. Nada.

Pois que, a ESPERANÇA, esta... Já não existe mais.

MALDITOS GREVISTAS – GG publicado 12/10/2004

Somos influenciados terrivelmente pelos meios de comunicações, principalmente a


televisão. E, muitas vezes, nem sequer percebemos isso.

Se eu contratasse uma empresa para executar um serviço qualquer em minha casa.

Digamos desentupir esgoto, pintar a casa, consertar o telhado, levantar uma parede, seja
lá o que for. E esta empresa no meio do serviço, interrompesse tudo. Os funcionários
entraram em greve.

Fazer o que. O jeito é esperar. A casa toda bagunçada. O banheiro não pode ser usado.
Escadas e latas de tinta atravancando o caminho. Chuva molhando as coisas. Cimento
estragando. O serviço, previsto para ser executado em alguns dias, está paralisado, sine
die.

A empresa coitada, nada pode fazer. Os funcionários estão em greve.

E assim por semanas a fio. Malditos grevistas!

Estão atrapalhando a minha vida. O que eu tenho a ver com a greve deles? Malditos
grevistas. Deveriam ser todos eles encarcerados! Podiam fazer greve, mas sem
prejudicar a população. É assim que pensa o brasileiro.

E esta é a mensagem transmitida pelos meios de comunicação, principalmente a


televisão. Quando de uma greve qualquer, sem exceção: "Malditos grevistas!"

Não existe notícia que não seja assim.

Entrevistam dezenas de pessoas, velhinhos, aposentados, pessoas que querem pagar


seus compromissos, pessoas que querem tirar dinheiro. Não podem. Os bancários estão
em greve (malditos grevistas). Entrevistam "figurões" que citam números, indicando o
quanto prejuízo está sendo causado pela greve (malditos grevistas).

A culpa é dos grevistas, só deles. O governo e a polícia também acham isso. O judiciário
também. E principalmente a população, que é a grande prejudicada, acha isso.

Ninguém lembra que o serviço foi contratado com a empresa prestadora de serviços ou
os bancos. O contrato foi celebrado com as empresas e não com os seus funcionários,
bancários e pedreiros.

Quem não está cumprindo a sua parte é o banco ou a prestadora de serviços! Não é
como a televisão, nas entrelinhas, simplesmente nos faz acreditar que seja.

A responsabilidade é dos bancos, das prestadoras de serviço, e só deles. Que resolvam


seus problemas internos com os funcionários, para que não aconteçam as paralisações.
Que cumpram os compromissos assumidos com o consumidor!

Malditos bancos e malditas prestadoras de serviço!

MEDICINA DE PRIMEIRO MUNDO – GG publicado 17/09/2005

A filha de um amigo foi para Belfast, na Irlanda do Norte, trabalhar para sobreviver.

Já que este nosso imenso berço esplêndido, não tem como proporcionar isto, aos filhos
de sua mão gentil. Mas não foi ilegalmente, pois tem a cidadania européia. E está lá, já
há vários anos. É claro que, em termos brasileiros, "ganha os tubos".
Aconteceu porém, ficar doente. Nada grave, mas não sentia-se bem. Lá, não se trabalha
doente, de jeito nenhum. Não é como no Brasil, onde atestados e dispensas médicas são
emitidos apenas, quando já se iniciou a rigidez cadavérica. Aqui, os que ainda estão
empregados, para não serem considerados maus funcionários, deixam a ida ao médico,
para pouco antes do último suspiro. Mesmo porque não agrada nada, enfrentar filas
quilométricas, de madrugada, nos postos de saúde. E sair como entrou. Ou pior.

Lá é diferente, por qualquer coisinha, vai-se ao médico. E qual é o atendimento? De


primeiro mundo, é claro. Ela foi ao similar irlandês, do SUS brasileiro. Atendimento
rápido, não esperou nada, em fila alguma.

Sentou-se numa cadeira e o médico, que estava diante do monitor de um computador,


perguntou:

"O que você sente?"

"Ah, doutor, não sei, estou com febre, mal estar".

O médico teclou algo, no teclado à sua frente, e perguntou: "Tem tosse?"

"Sim um pouco".

Mais um pouco de digitação. "O que mais?"

"Um pouco de dor no peito"

Mais perguntas e mais ruídos do teclado.

"Mais alguma coisa?"

"Não doutor, é só isso".

Um "ENTER" final, e a impressora solta duas folhas, uma, um atestado para uma semana
e a outra, uma receita médica.

O médico, nem olhou na cara dela!!!

PENSE – GG publicado 8/10/2005

O MTST Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, invadiu uma área. Milhares de tendas
de lona preta, foram erguidas a título de moradia.
(C:\1arquivosggrube\imagens\acampamentomtst.bmp)

Você brasileiro! Que de algum modo, bem ou mal, tem um lugar para dormir, uma casa,
alugada, simples que seja. E, principalmente, aquele que tem uma vida financeira
tranqüila que mora em casa ou apartamento de padrão aceitável, ou até mais que isso.

Olhe bem as fotos dessa invasão, com cuidado. Em detalhes. E gaste um pouco do seu
tempo nessa observação.

E escolha uma tenda, qualquer uma. Imagine-se sendo morador dela. Que a lona
escolhida é o seu teto.

Não, não desconverse. Não desvie os olhos e diga que isso não é assunto seu.

Não, não diga que, justamente agora, não tem tempo para isso.

Só por brincadeira, imagine estar em um destes barracos.

Na mesma situação que os demais moradores, deste aglomerado de tendas. E, como


eles, sem dinheiro. Que é a solução de tudo, que tudo compra. Não pense na motivação
que os levaram a fazer isso, se é legal ilegal desonesto ou imoral. Não queira saber o
porquê.

Só pense estar morando lá, assim como eles. Você é um deles! Pense isto!
Pense, quantos metros quadrados, é a sua privacidade.

Pense, como deve ser, ir ao banheiro, em uma situação dessas. Fazer as necessidades.

Pense, como você irá fazer as suas refeições, se sentado no chão, se acocorado ou em
pé.

Pense, como será o anoitecer, sem luz elétrica, sem televisão, sem computador.

Pense, se começar a chover, o lamaçal que este lugar iria se transformar.

Pense, como será mal dormida uma noite neste lugar.

Pense ainda, que isso não é provisório. Não é apenas ficar alguns dias, como se fosse
um "camping" ou festival qualquer. E depois poderá voltar para casa, tomar um bom
banho, abrir a geladeira, comer alguma coisa e, sentar-se diante da televisão.

Pense, que este poderia ser o seu lar. Se tiver sorte e tudo correr bem. Mas que, se
acontecer o pior, será despejado. E nem isso mais terá.

PENSE!

E então, em sua casa ou apartamento, enfie-se gostosamente embaixo das cobertas,


ajeite o travesseiro, escute o barulho da chuva lá fora. E durma tranqüilo, o sono dos
justos.

Principalmente se você for juiz, governador, prefeito ou comandante de Polícia Militar.

TRISTE SOCIEDADE – GG

Diz o urubu, sempre de preto: "O que mais gosto nos velórios, é a comida".

(Gastão Blanc)

Morte, a solução para todos os problemas.

As coisas só são importantes para quem está vivo. Qualquer assunto, mesmo quando
totalmente impossível de ser resolvido, com a morte deixa de existir. Simplesmente
desaparece. É a solução universal para todos os problemas. Definitiva e irretratável.

As sociedades fazem uso disso. De diversas maneiras. Morte rápida, numa execução
legal ou ilegal, com ou sem julgamento. Morte lenta, numa tortura física ou psicológica
interminável. Morte sem responsáveis, por meio do descaso, da fome, frio, doença,
miséria e exclusão social. Morte raivosa nas guerras, brigas de trânsito e em brigas de
boteco. Morte voluntária num suicídio, que nunca é verdadeiramente espontânea. Morte
no sacrifício da vida por uma causa qualquer, denominada heroísmo/patriotismo ou
fanatismo/terrorismo.

Mortes para todos os gostos.

Morte importante é chorada copiosamente nos meios de comunicações, em lágrimas


sem fim, numa hecatombe social.

Em contraste dezenas, centenas, milhares de mortes secundárias insignificantes,


simples dados estatísticos. Mortes sem nome, sem idade, profissão, história, passado,
futuro, família, sem anseios, desejos, esperanças e realizações, são mortes corriqueiras,
ridículas até. Representadas mais que suficientemente por frios e insensíveis números.
Quando muito.

Certamente pode-se afirmar que uma sociedade que faz uso da morte, não é uma
sociedade feliz.

Ninguém está disposto a morrer, a morte aterroriza todo e qualquer ser vivo, sem
exceção. E a sociedade que usa esse recurso para se impor, é uma sociedade terrorista.
Usa o terror da morte para atemorizar as pessoas!

Sociedade infeliz, mesmo quando mata apenas inimigos, reais ou inventados, sob
alegação de salvaguardar os seus cidadãos. Pois intimamente as pessoas sabem, que
por mais que se justifique a morte, boa coisa não é.

As pessoas transformam-se em monstros surdos, cegos e mudos, insensíveis ao


sofrimento alheio. Só escutam o que lhes apraz, só enxergam o que desejam, em suas
falas torcem e distorcem a verdade. Criam uma raiva insana e poderosa. E matam sem
piedade.

Triste a sociedade que faz uso da pena de morte, legaliza o aborto, pratica a eutanásia e
faz uso da guerra. Triste a sociedade que mata pessoas para resolver seus problemas,
reais ou inventados.

Triste a sociedade que usa a morte, para melhorar a vida.

VIOLÊNCIA - GG publicado 7/05/07

Qual é a origem da violência no Brasil?

Quase em frente da minha casa mora uma senhora, muito pobre, que trabalha na
prefeitura como servente. Ganha muito pouco e, para melhorar a renda, cata recicláveis
na vizinhança.

Meia água de madeira, de dois cômodos e o banheiro é a "casinha" no quintal.


Sozinha, com um filho. Este, desde adolescente, com tudo para virar bandido. Não
estudava nem trabalhava, e não ajudava a mãe em nada. Não conseguia emprego nem
passar de ano na escola. Desistiu de ambos. Só ficava a fazer nada pelas esquinas, em
companhia de amigos. Engravidou uma menina e a mãe obrigou-o a casar com ela.
Todos então morando nessa meia água.

Diziam que ele andava metido com drogas, furtos e outras ilegalidades. Um futuro de
crime e cadeia, ou pior. A mãe, apesar de tudo que se esforçava, não conseguia alterar o
andamento das coisas. Certo dia esse rapaz deu-se um tiro na cabeça, ou foi alvejado
por alguém, ninguém sabe ao certo o que aconteceu. Só que ele não morreu, andou um
bom tempo com a cabeça enfaixada, e não houve seqüelas. E continuou a sua vida em
direção ao banditismo. Às vezes falava em emigrar para os Estados Unidos, mas nunca
conseguiu juntar dinheiro, nem para fazer o passaporte.

Eu pensava com meus botões, que um dia poderia ter problemas com ele. Ele sempre
me olhava com hostilidade e mal cumprimentava. Um revoltado. Certamente porque a
minha vida é bem tranqüila e sem problemas financeiros. E ele nada tinha disso.

Mas um dia as coisas mudaram. Candidatou-se a um emprego numa indústria da região


e deu sorte, foi escolhido para ocupar a vaga. O salário deve ser satisfatório. Pois logo
comprou uma moto para deslocar-se para o trabalho.

E então murou o terreno, que é de sua mãe. Juntou material de construção por um bom
tempo, tijolos, areia, telhas etc. E agora a casa deles está quase concluída. De material,
não é grande, mas muito bonita.

À noitinha e nos fins de semana vejo-o correndo pelas ruas do bairro, vestido a caráter,
tênis, calção e camiseta, fazendo "jogging", exercitando-se.

E quando ele me vê, acena com a mão, todo sorridente!

Essa história não é história, é verdade.

CÉLULAS TRONCO SALVAM VIDAS - GG publicado

É alardeado nos meios de comunicações. Mas será que é essa a intenção?

Sem dúvida estamos a séculos de desvendar os segredos da vida, apesar do tudo que já
sabemos. Criar vida de matéria inerte então, muito mais longe ainda.

Mas o ser humano já está mexendo no código da vida. Se não consegue ainda criar a
vida, ele já pode juntar pedaços de vida e produzir algo totalmente novo.
Mas ao fazer isso o interesse nunca, nunca mesmo, é salvar vidas. Este nunca foi o
objetivo. É uma farsa essa afirmação. Um engodo para que as pessoas aceitem que eles
mexam em coisas não éticas e até perigosas para a vida na Terra.

O objetivo dessas pesquisas é dominar. Apoderar-se de conhecimentos que os outros


não possuem e por meio deles dominar. Seja pelas patentes e o lucro, seja pela criação
de armas melhores que as dos outros. Tais como bactérias, vírus, e até alterar seres
superiores, como o próprio homem.

Se a preocupação fosse salvar vidas, existem meios muito mais fáceis de fazer isso. Por
exemplo, combater a fome. Simplesmente isso.

Por que não fazem?

EXPORTAÇÃO - GG publicado 7/03/2008

Exportar é a solução!

Atualmente, apenas um pequeno círculo de países partilha entre si o mercado do


armamento para exportação.

Entre 1996 e 2006, cinco grandes países exportadores realizaram 90% das vendas
mundiais de armas: Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, França e Israel. Em 2006 eles
cobriram 88% das exportações mundiais.

Os Estados Unidos ficaram com a parte do leão, com 55% das exportações mundiais,
seguidos pelo seu fiel aliado o Reino Unido (14%) e pela Rússia (9,6% e 8% no período
1995-2006), cujas vendas de armas progridem regularmente desde 2000.

Em quarto lugar a França (5,9%), seguida por Israel (5,3%). Este último muito presente no
domínio da eletrônica, dos aviões sem piloto (drones) e dos mísseis táticos. A indústria
israelense é um concorrente ativo, em particular na Ásia, nomeadamente em Singapura e
na Índia, onde é o segundo fornecedor das forças armadas locais, e na Europa do Leste.

http://resistir.info/varios/armamento.html

Cuba exporta médicos.

FANTÁSTICO DA VIDA - GG publicado 5/05/2008

Lembro, na época da ditadura militar. O "Fantástico" da Rede Globo apresentava um


doente grave (normalmente uma criancinha), portadora da doença xyz, cujo tratamento
só poderia ser feito nos Estados Unidos, se não era morte certa. Os pais, sem recursos,
choravam. Choravam os entrevistadores e choravam os telespectadores.

E na semana seguinte o "Fantástico" anunciava orgulhosamente: O ministro fulano de


tal (da saúde) autorizou a ida para os Estados Unidos da criancinha portadora de xyz,
mais um acompanhante, com o tratamento e todas as despesas pagas pelo SUS
brasileiro!

Choro de alegria dos pais da criança. Choro comovente dos entrevistadores. Choro de
felicidade dos telespectadores.

E choro de muitos pais brasileiros, cujos filhos portavam a mesma doença xyz. Choro de
tristeza, pois seus filhos iriam morrer.

Não tiveram a felicidade de um "Fantástico" em suas vidas.

POR QUE TRABALHAR? - GG publicado 4/06/2008

Quem se mata de trabalhar, merece mesmo morrer. (Millôr Fernandes)

Segundo as más línguas, baianos e cariocas não apreciam muito o trabalho. Mas isso
tem a sua razão de ser. Imagine-se um calorão danado já cedo de manhã, um sol de
rachar, socado dentro de um ônibus que margeia as decantadas praias soteropolitanas
ou da maravilhosa cidade.

Entre sovacos fedidos solavancos e cotoveladas pode-se vislumbrar idílicas garotas de


Ipanema ou Itapoã bronzeando ao sol da liberdade. E marmanjões ensaiando a sua
pelada na areia.

Malditos aqueles que inventaram a palavra trabalho!

Já bem diferente o paulistano, na cidade da garoa e da inversão térmica. Cujo único


divertimento é trabalhar. E finge que gosta. Mesmo levando duas horas para ir e duas
para voltar, espremido em ônibus trens e metrôs entupidos. Ou de automóvel nos
quilométricos congestionamentos.

O baiano e o carioca da gema moram a duas quadras da praia. Vão de calção e mais
nada a não ser chinelo de dedo. Para não queimar os pés na calçada quente e areia
fervente. Só vão com céu límpido, sem nuvem alguma. Com o mais leve chuvisco a praia
fica deserta. Pois ela está ali 365 dias por ano e 366 nos bissextos.
Já o bandeirante depois de cinco horas de engarrafamento, chega finalmente ao litoral.
Vai de isopor, pinga, gelo, limão, loiras geladas, sanduíches e farofa. E mesmo debaixo
de devastador ciclone extratropical e copiosa chuva entra na água do mar, titiritando de
frio.

Não teria cabimento gastar o seu parco fim de semana dentro de um boteco tomando
cerveja. O que poderia fazer muito bem sem se ausentar da paulicéia.

Norte Sul Leste Oeste, a verdade é que ninguém gosta de trabalhar, mesmo que diga que
goste. Se trabalhar fosse divertimento as pessoas trabalhariam de graça, pelo puro
prazer de trabalhar. Nenhum idiota fez isso até hoje.

O que realmente todos gostariam de fazer é: Fazer o que gostam. Viajar, compras,
passear, viver a vida. Todo mundo quer isso.

Para o que é necessário tempo e dinheiro. Só os dois juntos dão a liberdade desejada.

Mas isso, de mão beijada, só para os que nascem ricos. Os demais têm que usar o seu
precioso tempo para conseguir o almejado dinheiro. Gastam sua vida para obter
recursos, que só poderiam usar plenamente se tivessem tempo. E àqueles que têm
tempo sobrando, falta dinheiro. Tempo e dinheiro juntos, só nascendo rico!

Ou arriscando dinheiro em fezinha de loterias, megasenas e até jogo do bicho. Que


nunca dão bom resultado, a não ser para os banqueiros.

A maioria trabalha que nem cachorro para um dia poder parar de trabalhar. Gastam a sua
vigorosa juventude para viver na maciota quando forem mais velhos. Quando a vontade
de fazer qualquer coisa já diminuiu bastante.

Muitos se acostumaram tanto a trabalhar que não sabem mais fazer outra coisa. Quando
encaram a possibilidade de parar, ficam apavorados. E então morrem rapidamente, de
tédio, na bebida ou de desgosto.

E muitos simplesmente não têm escolha. Para não morrer de fome, trabalham até morrer.

Apesar de já faz muito tempo existirem máquinas a fazer força por nós, robôs a fazer os
trabalhos repetitivos e os computadores a pensar por nós. E tudo isso com muito mais
eficiência.

Trabalhamos que nem cavalos sem necessidade, de burros que somos.


O INAPLEGÍVEL - GG publicado 1/12/2009

Político nenhum se atreve a confessar que desconhece um assunto qualquer. Todos


eles, sem hesitar respondem sempre às perguntas que lhes são formuladas, em extenso
palavreado.

Mas gente que é assim, vez ou outra, cai do cavalo.

Certa ocasião um prefeito estava sendo sabatinado por vários políticos.

Um deles perguntou: "Vossa Excelência poderia explicar o que poderia ser feito para
tornar o seu governo menos inaplegível?"

O inquirido, com muitas palavras e fluidez, iniciou a sua longa resposta.

Foi interrompido por um dos políticos, num aparte, que solicitou àquele que fez a
pergunta, que explicasse o significado de "inaplegível".

Ele respondeu: "Eu não sei, inventei agora. Mas o prefeito deve saber, pois está
respondendo".

CARTA ABERTA AOS BANCOS - GG

Senhores Diretores de Bancos,

Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal,
para a padaria na esquina de sua rua, para o posto de gasolina, a farmácia, a feira, e
qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.

Funcionaria assim: todo mês os senhores, e todos os usuários, pagariam uma pequena
taxa para a manutenção destes serviços (padaria, feira, mecânico, costureira, farmácia
etc.).

Uma taxa que não daria nenhum direito extra para quem a paga. É apenas para
enriquecer os proprietários desses negócios, sob a alegação de que serviria para manter
um serviço de alta qualidade.

Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros de combustível
etc.) o usuário pagaria os preços de mercado, e um pouquinho mais. Que tal?

Pois, ontem saí de seu Banco com a certeza que os senhores concordariam com tais
taxas. Por uma simples questão de eqüidade e de honestidade:
Eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro me atende muito gentilmente.
Vende o pãozinho. Cobra o embrulhar do pão, assim como todo e qualquer serviço
relacionado ao seu negócio. Tudo embutido no preço.

Mas, além disso, me impõe taxas. Uma 'taxa de acesso ao pãozinho', outras 'taxas
diversas por guardar pão quentinho' e ainda uma 'taxa de abertura da padaria'. Tudo com
muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.

Fazendo uma comparação, foi o que ocorreu comigo em seu Banco.

Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto do seu negócio bancário. Os senhores


me cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de mercado
pelo pãozinho.

Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem me cobrando


apenas pelo produto que adquiri.

Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram ainda uma 'taxa
de abertura de crédito' - equivalente àquela hipotética 'taxa de acesso ao pãozinho', que
os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.

Não satisfeitos, para ter acesso ao financiamento fui obrigado a abrir uma conta corrente
em seu Banco. Para que isso fosse possível, os senhores me cobraram uma 'taxa de
abertura de conta'.

Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa
'taxa de abertura de conta' se assemelharia a uma 'taxa de abertura da padaria', pois, só
é possível fazer negócios com o padeiro depois de abrir a padaria.

Mas não é só isso.

- Tirei um extrato de minha conta - um único extrato no mês - os senhores me cobraram


uma taxa de R$ 5,00.

- Olhando o extrato, descobri outra taxa de R$ 7,90 'para a manutenção da conta',


semelhante àquela 'taxa pela existência da padaria na esquina da rua'.

- A surpresa não acabou: descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada trimestre - uma taxa
para manter um limite especial. Que não me dá nenhum direito, se eu utilizar o limite
especial vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo.

Semelhantes àquelas 'taxas diversas por guardar o pão quentinho'.

Mas, os senhores são insaciáveis. A gentil funcionária que me atendeu me entregou um


caderninho onde sou informado que me cobrarão taxas por toda e qualquer
movimentação que eu fizer.
Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores se
esqueceram de me cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações do seu
Banco.

Talvez os senhores me respondam, muito cordial e profissionalmente, que um serviço


bancário é muito diferente de uma padaria. Que sua responsabilidade é muito maior, que
existem inúmeras exigências governamentais, que os riscos do negócio são muito
elevados etc. e tal. E, ademais, tudo o que estão cobrando está devidamente coberto por
lei, regulamentado e autorizado pelo Banco Central.

Sei disso; como sei também, que existem seguros e garantias legais que protegem seu
negócio de todo e qualquer risco, incluindo aqui um tal de "PROER", no qual o dinheiro
que nos é subtraído em forma de impostos e tributos, é usado para salvar o "sistema
bancário", leia-se Banqueiros.

Mas não seria justo também que uma padaria, posto de gasolina, feira e outros negócios
importantes do nosso dia-a-dia cobrassem taxas semelhantes, só para enriquecer, como
fazem os bancos? E que o governo garantisse seus negócios, com dinheiro do
contribuinte, nas dificuldades, assim como ajuda os bancos?

Afinal de contas farmácias, botequins, boutiques e padarias arriscam o próprio dinheiro.


E os bancos trabalham com dinheiro dos correntistas, ou seja, dinheiro dos outros.

Diante de tudo isso os Senhores concordariam em pagar tais taxas para a padaria,
farmácia, posto de gasolina etc.?

FAZENDA NO MATO GROSSO - GG publicado 22/06/2010

Conhecidas são as tramóias envolvendo terras, vendidas para incautos. Que nunca mais
recuperam o seu dinheiro.

Todo mundo acha, que não cairia em tais contos do vigário. Assim também um
comerciante, dono de uma loja, que tinha juntado algum dinheiro.

Bandidos ficaram sabendo e resolveram aliviá-lo de parte do que possuía.

Um dia, entra na loja um vendedor de imóveis, especializado em áreas rurais, enormes


fazendas no Mato Grosso. Com muita conversa tenta vender para o lojista uma delas.
Verdadeira pechincha.

O lojista fica firme, não cede milímetro. Pensa consigo mesmo: "Comprar uma fazenda
que eu nunca vi e nem sei se existe? Ainda mais numa região famigerada pelas
falcatruas e grilagem de terras? Nem morto!"
Vendo que ia ser difícil vender qualquer coisa, o vendedor ao se despedir deixa com o
lojista uma cópia da escritura da tal fazenda no Mato Grosso, e o telefone. Para que o
lojista pensasse no assunto.

Ou, já que o lojista conhecia muita gente, que oferecesse a alguém esta fazenda,
realmente uma verdadeira pechincha. Se saísse negócio, receberia uma boa comissão. O
lojista guarda a cópia da escritura numa gaveta. E esquece.

Tempos depois aparecem na loja, outros dois vendedores de terras, coincidentemente


também de enormes fazendas. E novamente tentam vender uma fazenda ao lojista.

Mas novamente ele resiste. Finalmente os vendedores desistem, e na conversa que se


segue, dizem que a compra e venda de grandes fazendas é muito lucrativo. Eles não só
vendem como também compram. São intermediários, por assim dizer.

O lojista lembra então da cópia da escritura deixada pelo vendedor anterior, procura na
gaveta, e mostra aos dois negociantes de terras.

Estes examinam cuidadosamente o documento. Visivelmente interessado, o vendedor


(que parecia ser o chefe) diz ao outro vendedor: "Um negócio imperdível! Estarei
viajando amanhã, mas vou deixar com você um cheque, sinal de compra desta fazenda,
e você feche este negócio para mim, sem falta!"

E, diante do lojista, preenche um cheque de 100 mil Reais que entrega ao seu auxiliar. O
lojista fica encarregado de contactar o vendedor da fazenda para juntos concretizarem o
negócio.

O lojista esfrega as mãos de contentamento, já imaginando a comissão que iria receber.

Reúnem-se o lojista, o vendedor da fazenda e o auxiliar do comprador. Mas eis que


surge um problema. O vendedor diz que 100 mil como sinal não é suficiente. O
proprietário da fazenda quer pelo menos 400 mil de sinal. Um impasse!

Não dá prá falar com o comprador para completar os 300 mil faltantes, pois ele está
viajando. E vai ficar fulo da vida com o auxiliar, se o negócio não for realizado. O
vendedor quer fechar o negócio. E o lojista quer a comissão.

Como resolver?

Aí o vendedor sugere que eles mesmos poderiam completar os 300 mil faltantes. Seria
só até o comprador voltar de viagem. E assim poderiam fechar negócio. Tudo por escrito
e bem documentado, claro.

O vendedor faria um cheque de 100 mil, o auxiliar do comprador idem, e também o


lojista. Trezentos mil, mais o cheque deixado pelo comprador, 400 mil. A fazenda poderia
ser negociada.
Dito e feito. Promissórias e cheques são preenchidos, o documento de compra e venda é
assinado, cada um recebe uma via, constando inclusive a comissão do lojista, bem
maior que os 100 mil que deixou depositado. Nada tinha a perder.

Só que escritura, procurações, identidades, assinaturas, cheques, tudo era falso.

Menos o cheque do lojista, que foi descontado logo a seguir.

AGUA DE CULO - GG

Nada de errado existe em beber água de torneira, absolutamente nada. Filtragem,


decantação, floculação, adição de cloro etc., tornam a água potável. E isso vem sendo
feito desde a antiguidade. Só excepcionalmente surgem problemas.

Mas hoje em dia, só se bebe água engarrafada. Está na moda. Algumas são até
importadas, é muito mais elegante. Sem gás, sem açúcar, sem sabor, água pura.

O preço é maior que refrigerante ou gasolina, por causa da embalagem pet descartável.
Nos Estados Unidos três em quatro pessoas bebem essa água. E uma em cada cinco
bebe exclusivamente água engarrafada. Pagam 1000 vezes o preço de água de torneira,
querem preservar a sua saúde bebendo água pura.

Pura?

A água engarrafada é muito menos controlada do que a água de torneira. Garantia de


água pura e saudável é a de torneira. Aí as pessoas dizem que tem gosto ruim. E por
vezes é verdade, gosto de cloro. Mas é água saudável.

O que não se pode afirmar das centenas de marcas de água engarrafada que se vende
por aí, em tudo quanto é tipo de embalagem. Milhares de distribuidores vendem água em
embalagens descartáveis, e também retornáveis de cinco litros ou mais. Quem garante a
qualidade dessa água? Qual é a procedência?

Fora as tradicionais águas minerais, a maioria das águas que se vende atualmente é
simplesmente água de torneira. Ou de poço semi-artesiano.

A propaganda encarrega-se de promover o delicioso e insuperável buquê. Puro efeito


psicológico.

Para mostrar o absurdo que é, num restaurante chique, fizeram uma brincadeira. Aos
clientes era apresentada, além da carta de vinho, uma carta de água. Bonitos nomes e
palavreado exótico enalteciam as qualidades de cada uma das águas que podiam ser
bebidas durante as refeições, uma delas:
L'eau Du Robinet ... $4.75 per Bottle

Pure, brisk and unmistakably French, this running water is bottled directly from the
source, while its natural minerals and nutrients are still at their most potent. Its agressive
flavor and brash attitude make it a perfect complement to meats and poultry.

Depois perguntavam o que os comensais acharam da água que beberam. Todos


elogiaram, sem exceção.

Apesar das bonitas etiquetas e bonitos nomes, a água servida era água de torneira, do
próprio restaurante. Na carta de água constava, entre outras:

"L'eau Du Robinet", que traduzido do francês significa: "Água de Torneira"!

"Pisse De Chite" (piss, shit, sem comentários).

E uma, com rótulo de uma velha igreja espanhola, de nome: "Agua de Culo".

Culo, é cu em português.

Ninguém reclamou.

FIM

Gerhard Grube

email: gerhardgrube@ig.com.br

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