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DIÁLOGOS SOBRE O NADA.

Diálogo sobre o Teatro.

[espaço vazio delimitado por banquetas brancas *cada ator


tem a sua banqueta branca – os atores estão se aquecendo e
alongamento a partir de seus repertórios. Público
entrando. Público entrou. Diante do público.]

Nada1 – Então, vocês vieram! Há muito tempo que vocês não


aparecem aqui. Nesse meio tempo nós trabalhamos e
progredimos muito. Podemos finalmente iniciar e imaginamos
que vocês queiram saber o que vamos apresentar hoje. Essa
noite iríamos apresentar a peça “UMA TRAGÉDIA AMERICANA”,
mas como vocês vieram apresentaremos uma... Como chama
mesmo? É...

Enfim.

[diante de si]

Nada2: É bom saber que é indiferente o que vamos


apresentar.

Nada3: Alguém me explica o que está acontecendo aqui? Eu


não tô acostumado com isso.

Nada4: Eu nem sei fazer isso. Isso aqui. Eu não sei fazer.

Nada3: Atores como nós existem muitos.

NadaTodos[plateia]: Nem tantos.

Nada4: Ainda assim, existem alguns, mas público existe aos


montes.

[burburinho]

NadaTodos: Nem sempre.

NadaTodos: As vezes. Mas raramente minha *mãe / irmão / a


fulana / o beltrano vem até aqui.

[burburinho cresce]
Nada5 [chama a atenção para si]: Oh!

NadaTodos [criar expectativa de que algo irá acontecer].

Nada5: Eu vou pensar.

NadaTodos [cresce expectativa de que algo irá acontecer].

Nada5: Eu vou pensar alto, SE isso não atrapalhar meu


próprio pensamento. [pensando]

[todos se movem para algo que irá acontecer]

[Longa pausa]

[NADA ACONTECE]

Nada4: Então... O que iremos apresentar?

NadaTodos (o Nada4): NADA!

Nada6:[Pensando e movendo o espaço]: Vamos apresentar a


vida dos homens.

Nada7:[Pensando e movendo o espaço]: A vida dos homens


entre os homens.

Nada8:[Pensando e movendo o espaço]: O que vocês acham que


poderá ser provado com isso?

Nada9:[Pensando e movendo o espaço]: Nada.

Nada10:[Pensando e movendo o espaço]: Nós precisamos


provar alguma coisa?

Nada11:[Pensando e movendo o espaço]: Eu penso que o


teatro pode ser um lugar pra pensar.

Nada12: Talvez o teatro deva levar uma mensagem. Olha só


[tom de mensagem]: “COMO O HOMEM NÃO É NADA, ELE PODERÁ
VIR A SER TUDO].

NadaTodos [riem na incompreensão do sentido da frase].

Nada4: [na incompreensão da frase]: “COMO O HOMEM NÃO É


NADA, ELE PODERÁ VIR A SER TUDO].

Nada4: [tentando se convencer]: “COMO O HOMEM NÃO É NADA,


ELE PODERÁ VIR A SER TUDO].
Nada4: [tentando mais ainda se convencer]: “COMO O HOMEM
NÃO É NADA, ELE PODERÁ VIR A SER TUDO].

Nada4: [quase convencido]: “COMO O HOMEM NÃO É NADA, ELE


PODERÁ VIR A SER TUDO].

Nada4: [convencido]: “COMO O HOMEM NÃO É NADA, ELE PODERÁ


VIR A SER TUDO].

Nada4: [consciente]: Como o homem não é nada, ele poderá


vir a ser tudo.

[SILÊNCIO – ESVAZIAMENTO].

Nada1: Do nada, nada virá. Nós precisamos de uma música


para começar.

FIM.

Diálogo sobre o começo.

[Formação com as banquetas brancas – semicírculo diante da


plateia]

[sentados, os atores se preparam para começar. Os dois


atores resolvem começar. Dois atores ocupam o espaço de
jogo e começam. As cadeiras dialogam com o que está
acontecendo no espaço de jogo]

NadaCantor1 [cantando]: Nada do que foi será, de novo do


jeito que já foi um dia...

NadaCoerógrafo1: [mímica da letra da música cantada]

*Jogam sempre a partir de músicas com a palavra “nada” –


alternando-se de dois em dois, até o coletivo chegar em
uma música única. Todos cantam.

[Silêncio – Esvaziamento]

Nada2: Precisamos melhorar a reputação desse palco. Eu


devo isso para minha *mãe / *amigo / *fulano / *beltrano,
eu pedi que ele (elas) se sentasse aqui.

Nada3: Então precisamos começar de novo.


Nada4: Eu nem sei fazer isso. Isso aqui. Eu não sei fazer.

Nada7:[Pensando e movendo o espaço]: Precisamos de um


começo bonito.

Nada8:[Pensando e movendo o espaço]: Um começo que faça


sentido.

Nada9:[Pensando e movendo o espaço]: Um começo que eu leve


a sério e não me empolgue querendo dizer tudo pela emoção.

Nada10:[Pensando e movendo o espaço]: Que eu possa me dar


o tempo “de começar”, de estar em contato com as minhas
memórias, de conectar as ideias daqui, com as ideias que
eu conheço.

Nada11:[Pensando e movendo o espaço]: E ao mesmo tempo “um


começo” que não se aproxime demais de mim. Prefiro um
começo estranho para que eu possa conhecê-lo melhor.

Nada12: Vamos começar. De novo.

Nada3: Eu posso começar. Eu tenho um começo bonito


[declama como mensagem]:

[NadaTodos: movem o espaço na expectativa de um começo


bonito]

“NADA É POR ACASO

NESSA VIDA, NADA É POR ACASO.

AS PESSOAS NÃO SE ENCONTRAM POR ACASO.

AS AMIZADES NÃO SURGEM POR ACASO.

EM SEGUNDOS TUDO PODE MUDAR.

MAS OS MOMENTOS FICAM GUARDADOS PARA SEMPRE”.

*Aqui a ação de esvaziar se dá na percepção que NadaTodos


constroem sobre o poema e declamação do Nada3.

[os atores se afastam a partir da construção de suas


percepções e sentam-se em suas banquetas brancas].

Nada3 [no jogo com o NadaTodos permanece no espaço,


sozinho, sorrindo].
Nada3: [Sorrindo] Estão convencidos que somos todos nada?

Nada4: Então porque você está sorrindo logo no começo?

Nada3: Significa que eu sou alegre, o nada não pode


sorrir?

Eu ainda assim queria ser alguma coisa, eu exijo tudo, ao


menos um pouco, quase nada. Eu fico aqui fazendo coisas em
excesso só pra te convencer que mesmo que eu virasse tudo
eu permaneceria nada. É até que vantajoso ser Nada.
Ninguém espera nada do que já não é muita coisa. Eu vou
ficar aqui sorrindo e pensando em coisa alguma, mas fiquem
à vontade para criar significado pra isso, caso queiram.

[Permanece]

FIM.

[os atores ainda sentados, cumprimentam uns aos outros;


cumprimentam a platéia, as paredes, o chão do teatro, as
cadeiras, os refletores... seguem caminhando pelo espaço;
o Corifeu 1 estimula os atores, através da sua caminhada,
a o acompanharem neste percurso e de um em um, o coro vai
se formando. Atores em coro de frente para a platéia].

Coro: Sejam todos bem-vindos! [os atores cumprimentam a


platéia formando um coro realejo]

Nos propomos a falar o que não devemos e calar o que é


fundamental.

Corifeu 1: Nossos figurinos carregam um colorido vivo que


nos transportam para um tempo que ao certo não se
identifica [o coro se veste com roupas coloridas que estão
na arara de figurinos, alguns adereços, etc).

Corifeu 2: Retomaremos a memória do antigo homem que


girando a manivela fazia funcionar a máquina, tocando uma
música característica [corifeu 3 pega a caixa; formação do
realejo; música: Realejo, do Edgard Poças].
Corifeu 3: Passarinho adestrado [Lucas sai do coro:
passarinho] trazia sorte para os convidados através dos
bilhetes [passarinho sorteia o bilhete com o bico].

Coro: Perseguiremos os absurdos que marcam a existência


humana. Os diálogos são imaginados.

Corifeu 4: A imaginação cria coisas que podem existir ou


acontecer e o único espaço de criação é a entrada para o
mundo da ficção [o passarinho anúncia o sorteio].

[A vida dos homens, entre os homens – de Nada, Nada virá]

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Nossa cena denomina-


se “Os Pastores contratam Bogderkhan como pastor”.

[os atores anunciam e compõem seus personagens: Nesta cena


eu vou representar a/o “xxxxxx”]

O PASTOR MAIS VELHO - Nossos rebanhos estão cada vez


menores. Toda semana ladrões levam nossos melhores
animais.

O PASTOR MAIS JOVEM - Pergunto, amigo, por que os ladrões


não haveriam de roubar nossos rebanhos?

O MAIS VELHO - Porque nós guardamos esses animais,


procuramos pastos para eles e temos muito trabalho.

O MAIS JOVEM - Mas, quando os ladrões os levam, não passam


a guardá-los, procurar pastos para eles e ter muito mais
trabalho?

O MAIS VELHO - Esta é uma pergunta muito estranha.

O MAIS JOVEM - Então não tem resposta?

O MAIS VELHO - Não.

O MAIS JOVEM - A resposta é: eles também têm trabalho com


os animais.
O MAIS VELHO [pega a vara] - Então é essa a sua resposta?

O MAIS JOVEM - Eu pergunto novamente: quando alguém faz


uma mesa, essa mesa lhe pertence. Mas nós fizemos os
animais?

O MAIS VELHO - Não. Agora sou eu quem pergunto. Os bois


não nos pertencem, amigo?

O MAIS JOVEM - Pensando bem, devo dizer que não.

O MAIS VELHO [bate nele com a vara] - Pronto! Agora sim!


Os bois não nos pertencem?

O MAIS JOVEM - Não. Ora... por que não pensa sozinho?

O MAIS VELHO - Os bois nos pertencem?

O MAIS JOVEM - Sim. É permitido bater em alguém que está


dizendo a verdade?

O MAIS VELHO - Não.

O MAIS JOVEM - Você me bateu porque eu dizia a verdade.

O MAIS VELHO - Você não disse a verdade. Como pode ser


verdadeiro dizer que os bois não nos pertencem? Fico
raivoso quando um homem adulto não encontra, entre
centenas de verdades, aquela única que lhe será útil.

O MAIS JOVEM - Naquele momento não consegui encontrar uma


razão pela qual os ladrões não haveriam de roubar nossos
bois! Coloque essa vara de lado. É preciso inventar uma
razão pela qual deixariam de roubar nossos bois. Agora se
espanta?

O MAIS VELHO - Não estou espantado.


O MAIS JOVEM - Uma razão pela qual os ladrões não haveriam
de roubar nossos bois, por exemplo, seria a de colocarmos
um impedimento. É preciso colocar um guarda. Agora está
arrependido por ter me espancado?

O MAIS VELHO - Como? E que tipo de guarda poderíamos


colocar?

O MAIS JOVEM - Um que seja suficientemente forte.

O MAIS VELHO - E quem é suficientemente forte?

O MAIS JOVEM - Gogergok é o mais forte. Depois de mim.

O MAIS VELHO - É o maior glutão, depois de você. Vai comer


um boi por semana.

O MAIS JOVEM - Então o Jambek. Não é tão forte, mas come


menos.

O MAIS VELHO - Vai querer um boi a cada duas semanas.

O MAIS JOVEM - Com qual deles ficamos?

O MAIS VELHO - Precisamos de alguém que necessite do


cargo.

O MAIS JOVEM - Quem necessita do cargo?

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Eles pensam,


pensam... O tempo fecha, vento forte, o rebanho se
agita... Quem necessita do cargo?

[Coro: O mais miserável. O mais fraco. O mais pobre.


Alguém que seja NADA]

PASTOR VELHO: Este devemos contratar.

PASTOR NOVO: Mas não será forte.


PASTOR VELHO: Mas será mais barato.

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Vos apresento


Bogderkhan

Árvore: Bogderkhan é miserável.

Pedra: Bogderkhan é fraco.

Cabana: Bogderkhan é barato.

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Basta assoviar para


que venha. (som do rebanho).

PASTOR NOVO: Faça como se não o tivéssemos visto


(representam).

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Bogderkhan está a pé.


Esperamos que chova porque seria ótimo (som da quase
chuva).

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Veremos se sua fome é


grande o suficiente.

PASTOR NOVO: Ei, você aí, pode nos emprestar dinheiro?

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Bogderkhan sorri.

PASTOR NOVO: Pega ali aquela tigela com crostas de pão.

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Eles contam as


crostas de pão. (pausa)

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Bogderkhan desmaia ao


ver as crostas de pão.

PASTOR NOVO: Ele desmaiou. Sua fome é grande o suficiente.


(som da fome)
O MAIS VELHO – Conte-nos como vive.

BOGDERKHAN - Na primavera minha fome é muito grande.

O MAIS JOVEM - Sabíamos. Confessa! Você não comeu nada


hoje.

BOGDERKHAN - É verdade.

O MAIS JOVEM - Eu sabia! Você não comeu nada anteontem.

BOGDERKHAN - Comi sim.

O MAIS VELHO - O quê?

BOGDERKHAN - Uma raiz.

O MAIS JOVEM - Talvez já esteja fraco demais. Mostre seus


músculos. Ruizinho, muito ruinzinho.

BOGDERKHAN - Estou tremendo porque vejo que querem alguma


coisa comigo.

O MAIS VELHO - Quem te disse isso?

BOGDERKHAN - Estão precisando de um homem com músculos


fortes?

O MAIS VELHO - Não precisamos de ninguém.

BOGDERKHAN - Querem que eu levante uma pedra? Querem ver


como ainda tenho força suficiente?

O MAIS VELHO - Não é preciso. Mas se quiser, pode levantá-


la.

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Bogderkhan levanta a


pedra, mas não consegue sustentá-la.
Bogderkhan: Também, eu peguei a pedra mais pesada.

O MAIS JOVEM - Ouça, Bogderkhan, decidimos ajudar você.


Sentimos pena quando nos contou que só come raízes.
Precisamos de alguém para guardar nossos rebanhos.

BOGDERKHAN - Isso eu posso fazer.

O MAIS VELHO - Feito! Sabíamos que o faria. Há milhares de


pessoas que o fariam por algumas crostas de pão por dia.
Há centenas que o fariam se pagássemos cinco crostas. Você
o faria por uma crosta de pão?

BOGDERKHAN - Por uma crosta de pão eu faço qualquer coisa.

O MAIS JOVEM - Porque tem fome. Mas quando comer a crosta,


vai deitar de bruços e dormir.

BOGDERKHAN - Não vou dormir se ainda tiver de mim outras


crostas de pão.

O MAIS VELHO - Quantas crostas?

BOGDERKHAN - Digamos, quatro crostas.

O MAIS VELHO - Não podemos dar mais que duas.

BOGDERKHAN - Ficaria bem agradecido com duas crostas de


pão. Mas se puderem receber três, caminharia o dia inteiro
tomando conta de seus rebanhos e não precisaria mais
procurar raízes.

O MAIS JOVEM - Certo! Com três crostas de pão caminharia


muito. Dê a ele três crostas de pão. Assim caminhará o dia
inteiro para nós.
O MAIS VELHO - Será minha decadência, mas nós, homens
pobres, já somos decaídos. Bogderkhan, você será agora o
pastor e nós partimos.

BOGDERKHAN - Não esqueça das crostas de pão.

O MAIS JOVEM - Nesta tigela há o suficiente para sete


dias. Tome. Ali é sua moradia. Aqui, um cobertor para a
noite.

BOGDERKHAN - Obrigado pelas crostas de pão, pela moradia e


pelo cobertor. Vocês são pessoas maravilhosas.

O MAIS VELHO – Não seja você o trapaceiro.

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Os dois pastores


saem.
BOGDERKHAN assobia. Sua MULHER se aproxima.

MULHER - Encontrou alguma coisa?

BOGDERKHAN - Encontrei.

MULHER - O quê?

BOGDERKHAN - Uma boa moradia e um cobertor para a noite.

MULHER - Esta moradia é muito boa! Essas peles não deixam


a chuva atravessar as paredes.

BOGDERKHAN - Não devia falar para você, mas ainda ganhei


uma outra coisa. (ele mostra a tigela)

MULHER - Crostas de pão!

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Eles começam a comer.

BOGDERKHAN: Em troca, guardo os rebanhos.


(rebanho pasta pelo espaço).
NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Cena 2 – A cabana. No
chão há 5 peles de bois. Os soldados chegaram, mataram os
bois e os devoraram. Bogderkhan escondeu-se embaixo de uma
das peles. Sua mulher grita.

MULHER - Saia, Bogderkhan, os soldados foram embora. Eles


mataram os bois e os devoraram e você, que tinha por
obrigação guardá-los, se escondeu. O que dirão os
pastores, ao encontrarem as peles? Nós perderemos nossas
crostas de pão. Saia, Bogderkhan, ponha ao menos a cabeça
para fora. Está com medo, Bogderkhan?

BOGDERKHAN – (embaixo da pele) - Estou com medo.

MULHER - Você não tem juízo, Bogderkhan?

BOGDERKHAN - Não.

MULHER - Agora vamos perder as crostas de pão.

BOGDERKHAN - Não pude fazer nada. Minha vida foi ameaçada.


Põe a cabeça para fora - Está vendo, se não tivesse medo,
não estaria mais aqui, agora.

MULHER - Se não for corajoso, estará perdido.

BOGDERKHAN - Estou perdido, de qualquer forma. Como posso


ter coragem, por apenas cinco crostas de pão? Por cinco
crostas de pão, eu não tenho coragem.

MULHER - Ali vem os pastores. Agora sim vai ficar com


medo.

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Bogderkhan se


esconde, os pastores entram gritando.

OS PASTORES - Onde estão nossos bois? Onde foram parar


nossos bois?
MULHER - Foram os soldados! Os soldados passaram por aqui
e mataram os bois!

OS PASTORES - Onde está o nosso guarda?

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): A MULHER soluça alto.

OS PASTORES: Onde está o guarda? Queremos demiti-lo.

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): A MULHER soluça mais


alto ainda.

MULHER: O guarda foi assassinado em serviço.

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Pausa (todos


descansam rapidamente). Os dois pastores tiram os bonés do
sindicado dos pastores.

O MAIS VELHO - Que homem correto! Morreu por nós!

O MAIS JOVEM - Se fugisse, seria um assassino!

OS PASTORES - Contratamos o homem errado!

O MAIS VELHO - Era apenas o mais barato...

CORO: Ele era Nada.

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Os dois devoram as


crostas de pão.

MULHER - O que estão comendo?

PASTOR VELHO - Estamos comendo as crostas de pão que


trouxemos para vocês.

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Bogderkhan sussurra


embaixo da pele.
BOGDERKHAN - Meu Deus!

MULHER - Bogderkhan não está morto. Está afugentando os


soldados.

OS PASTORES - Não voltará. Os soldados o matarão. É muito


mal alimentado.

MULHER muito alto, para que Bogderkhan, embaixo da pele,


possa ouvi-la - Se aqui estivesse, seria um terrível
assassino.

Bogderkhan ergue-se, todo ensanguentado.

MULHER - Aí está Bogderkhan!

OS PASTORES [demonstrando medo] - Onde esteve?

BOGDERKHAN - Eu estava afugentando os soldados. Quero as


crostas de pão. Tenho uma fome imensa.

OS PASTORES - Quantos você matou?

NARRADOR (iluminador ou sonoplasta): Olha para uma das


mãos, com a outra está comendo. Ele conta nos dedos – como
se tivesse matado cinco.

CORO: Se os soldados voltam e o encontram aqui conosco,


vão matar todos nós - descompondo seus personagens

(Relação com Bogderkhan e plateia – um a um).

Precisamos nos livrar dele.


(a cena esvazia-se, fica BOGDERKHAN apenas no centro,
comendo o frango como se fosse sua última refeição).

Bogderkhan: Estão convencidos de que somos todos Nada?


NadaRealejo: Yago, porque você está comendo assim na nossa
representação?
Yago: Significa que eu tenho fome, o Nada não pode sentir
fome?
(NadaRealejo entrega para Yago um guardanapo branco, muito
limpo e elegante. Ele limpa as mãos e o rosto com precisão
e etiqueta).
Yago: Eu chamo de meu inimigo aquele que tem fome me rouba
o último pedaço de pão, mas não salto ao pescoço do meu
ladrão que nunca teve fome. Esses geralmente usam terno,
gravata e estão calçados. Percebem?
Eu não sinto nada. Tudo isso aqui é uma tentativa de criar
sentido.
(Música Realejo)
NadaRealejo (dirigindo-se a plateia para o próximo
sorteio): Nós não somos muito diferentes.
NadaCoro: Nós somos completamente diferentes.
(Sorteio – NadaRealejo anuncia o próximo Diálogo escolhido
por alguém da plateia): ???!!!

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