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Apresentação
As cidades envolvem tanto temas complexos como a
complexidade da criação humana. Pensamentos, modos de vida,
tecnologias, relações sociais, domínio sobre o ambiente, normas e
regulamentos urbanos. A história da humanidade é em parte a
história das cidades. E boa parte da história africana também é
composta por histórias de cidades.
O urbanismo africano é um tema importante, histórico e atual
que tem pouca difusão na realidade brasileira. Tratamos o
urbanismo africano em quatro tempos históricos: 1) o urbanismo
na Antiguidade, 2) o urbanismo no período do mercantilismo
africano da Idade Média, 3) os urbanismos durante as inovações
turcas e europeias, denominado urbanismo da era das catástrofes,
e 4) o urbanismo contemporâneo.
Construir, produzir, habitar, conviver, democratizar as
relações sociais são temas presentes nas cidades e em suas
concepções de vida. Todas essas relações passam por tecnologias,
relações políticas, econômicas, culturais e administrativas. Rever
o urbanismo africano em parte é rever essas relações.
Nosso enfoque conceitual metodológico aqui é o do pan-
africanismo, movimento político que pensa o continente a partir
dos africanos (não só, mas principalmente), com autonomia em
relação ao eurocentrismo. Uma realização importante do
movimento pan-africanista foi a produção da História Geral da
África, publicada pela Unesco (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 1980. Trata-se de uma
coleção que reuniu mais de 350 especialistas em diversos assuntos
ligados à história africana, em um trabalho de mais de 30 anos. A
publicação revolucionou as propostas de produções históricas,
mas, infelizmente, sua importância ainda não foi compreendida
pelos intelectuais brasileiros. Embora seja uma obra de referência
sobre a história africana, os trabalhos não detalham os temas do
119 Os berberes são um grupo étnico nômade de origem camita que habita o
para qualquer saída das nações africanas. Tudo indica que muitas
nações sofrerão ajustes territoriais, povos proclamarão
independências regionais, e o mapa africano sofrerá acertos e
reacertos, pois a configuração atual é resultado em grande parte
das configurações impostas depois do tratado de Berlim, em 1890.
Recentemente houve a divisão do Sudão em dois Estados. As
populações tuaregues reclamam um Estado para si. O Marrocos
tem contestações internas. As relações entre islâmicos e não
islâmicos conturba o Quênia e desequilibra os partidos políticos
na Guiné-Bissau. As configurações territoriais obedecem às
riquezas do subsolo. Precisamos lembrar e considerar que, nesses
embates, países como a França ainda não retiraram suas tropas
dos territórios invadidos na África-continente.
Apesar de tudo isso, as economias africanas apresentam nova
vitalidade e processam grande fluxos de capitais. A urbanização
futura contém em seu âmago a promessa de uma revolução
econômica. Uma revolução que pode ser também social,
dependendo de como se façam os urbanismos. Atualmente existem
16 sistemas de metrô sendo construídos em países africanos, o
que permite entender em termos de investimento econômico a
importância do fenômeno urbano africano e das decisões já
tomadas pelos governos. Quanto aos aspetos econômicos, há uma
euforia de mercados. Para perceber isso, basta analisar
publicações recentes das Nações Unidas sobre as cidades
africanas (LALL; HENDERSON; VENABLES, 2017).
A realidade importante é que apenas 30% das populações
africanas vivem em cidades, e as estatísticas apresentam um forte
fluxo de mudanças das áreas rurais para as urbanas. Nesse
sentido, estão se configurando novas formas de cidade africana.
Permanecem os problemas da dominação europeia, mas também
vêm se apresentando tentativas várias de mudança: de cidades
competindo nos moldes do marketing internacional (com torres de
vidro e infraestruturas seguras para os fluxos de negócios
internacionais), passando por cidades fazendo reformas urbanas
construídas por chineses até cidades procurando reformas
urbanas baseadas em princípios mais cuidadosos (como os
pressupostos de evitar ao máximo a remoção de populações e de
compreender ao máximo os condicionantes da realidade).
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Referências
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AYELE, Bekerie. Ethiopic: History, principles and influences of an
African writing system. Doctoral dissertation. Filadélfia
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BANQUE MONDIALE. (2015). L’urbanisation, source de croissance
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http://www.banquemondiale.org/fr/news/feature/2015/04/22/
harnessing-urbanization-for-growth-and-shared-prosperity-in-
africa.
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