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Entendida num sentido amplo, a justiça administrativa pode ser descrita como um
sistema de mecanismos e de formas ou processos destinados à resolução das
controvérsias nascidas de relações jurídicas administrativas.
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Do contencioso administrativo à justiça administrativa: os
principais modelos históricos de justiça administrativa
Referir-nos-emos apenas aos modelos que têm sido adoptados no espaço euro-
continental ou latino-germânico: pressupõe-se um sistema de administração executiva
ou de acto administrativo, em que a lei regula primariamente em termos substanciais
toda a actividade administrativa e, em determinada medida, atribui à administração
autoridade para, dispondo em regra de um espaço próprio de avaliação, tomar decisões
unilaterais obrigatórias para os particulares, conformadoras da respectiva esfera jurídica,
dotadas de força executiva e susceptíveis de, salvo nulidade, adquirirem a estabilidade
de caso resolvido se não forem impugnadas dentro de certo prazo – isto é, um sistema
diferente do modelo inglês de administração judiciária.
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A evolução do sistema de justiça administrativa em
Portugal
A evolução do modelo processual de justiça administrativa
A primeira época vai desde 1832 até 1982/85 – todo este período corresponde à adopção
do modelo francês, em que o contencioso-regra se consubstancia no recurso de anulação
de actos administrativos, de base claramente objectivista. A jurisdição administrativa é
concebida como uma jurisdição limitada, quer numa dimensão substancial (restrição dos
meios de acesso), quer no plano processual (tutela reduzida dos particulares), quer numa
perspectiva funcional (poderes de controlo judicial diminuídos).
Quanto aos meios de acesso, valia o princípio da enumeração: o contencioso-regra era o
do recurso contra actos e havia ainda um contencioso “por atribuição”, que incluía
acções em matéria de responsabilidade civil e de contratos administrativos, quer era de
“plena jurisdição”. Se estivessem em causa direitos subjectivos dos cidadãos que não
pudessem ser tutelados pelos meios previstos, restaria a possibilidade, não havendo acto
administrativo, de recurso aos tribunais judiciais, que eram os tribunais comuns, com
competência residual.
Relativamente ao processo, os particulares defrontavam diversos obstáculos: por um
lado a desprotecção do particular resultava da posição dominante da autoridade
administrativa e por outro lado, o particular tinha de defrontar um formalismo excessivo
e desrazoável do recurso.
Do ponto de vista funcional, concebia-se a jurisdição administrativa com poderes
limitados, quer pela necessidade de decisão administrativa prévia, quer pela exclusão do
controlo judicial do uso de poderes discricionários.
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Os tribunais administrativos passaram a ter, conforme a natureza dos processos, todos
os poderes normais de condenação e de injunção, devendo respeitar apenas a divisão de
poderes inerente à essência do sistema de administração executiva.
Verifica-se ainda a determinação expressa da possibilidade de o juiz condenar a
administração na prática de actos administrativos, se estes forem devidos, isto é,
vinculados, pelo menos, quanto ao na. A garantia foi ainda reforçada pelas alterações ao
art. 20º em cujos nº. 4 e 5 se consagram o direito a uma decisão num prazo razoável e o
direito a procedimentos céleres para defesa de direitos, liberdades e garantias pessoais.
Estas alterações constitucionais permitem-nos, pois, concluir que o sistema da J. A.
evoluiu no sentido do aperfeiçoamento das garantias das posições jurídicas substantivas
dos cidadãos e que o motor dessa evolução foi a norma constitucional.
O quadro constitucional da JÁ
Apesar de a CRP pôr o acento tónico na garantia dos direitos e interesses legalmente
protegidos dos administrados tal não deve ser interpretado como imposição
constitucional de um modelo estritamente subjectivista de justiça administrativa. A CRP
quis estabelecer as garantias dos administrados mas não pretendeu impor um modelo
processual determinado. A concretização desse modelo compete ao legislador, que, no
uso da sua liberdade constitutiva, pode optar entre diversas fórmulas de instituição
constitutiva, desde que respeite o quadro constitucionalmente estabelecido.
Acresce que é a própria CRP que, ao consagrar o direito de acção popular para a defesa
de interesses colectivos, difusos ou comunitários, incluindo a defesa dos bens públicos,
impõe uma relativa objectivização do modelo.
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sua condenação por litigância de má fé (art. 6º), além de se eliminarem as
restrições gerais à prova testemunhal.
Alarga-se substancialmente a protecção cautelar dos administrados (art. 112º e
ss. CPTA).
Regula-se o processo executivo no sentido do aperfeiçoamento das garantias dos
particulares e da legalidade reforçando a garantia da efectividade das decisões
judiciais (art. 157º CPTA).
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O domínio substancial da justiça administrativa
O critério substancial de delimitação
São relações jurídicas públicas aquelas em que um dos sujeitos, pelo menos, seja uma
entidade pública ou uma entidade particular no exercício de um poder público, actuando
com vista à realização de um interesse público legalmente definido.
Excluem-se, assim, em princípio, do âmbito substancial da JÁ as questões
administrativas de puro direito privado, isto é, as decorrentes da actividade de direito
privado da administração – quer seja a que corresponde ao mero exercício da sua
capacidade privada, quer se trate de actividades funcionalmente administrativas, quando
ou na medida em que se desenvolvam exclusivamente através de instrumentos jurídicos
privatísticos.
Poderá considerar-se substancialmente incluído na JÁ o conhecimento de certos
aspectos de direito público de uma actuação administrativa desenvolvida ao abrigo do
direito privado (por exemplo, no contencioso relativo à formação de contratos de direito
privado celebrados pela administração, quando ela siga um procedimento pré-contratual
de direito público.
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Deve entender-se, a partir do art. 212º/3 da CRP, que as questões relativas a qualquer
actividade em matéria administrativa, mesmo que proveniente de entidades não
administrativas, integram substancialmente a JA, sem prejuízo de a lei as poder atribuir
a outra ordem judicial.
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A dimensão funcional da justiça administrativa
A JÁ não abrange todo e qualquer tipo de resolução de controvérsias emergentes das
relações jurídicas administrativas, referindo-se apenas àqueles processos que, visando
exclusivamente a solução de uma questão de direito, implicam o exercício da função
jurisdicional, isto é, aos litígios que se apresentem como questões jurídicas a solucionar,
através de um processo jurisdicional, por um tribunal.
Parte-se de uma caracterização substancial da função jurisdicional, exigindo-se a
intenção directa de resolução de uma questão de direito e a decisão por órgãos
independentes, indiferentes e inoficiosos, segundo um processo justo e através de actos
com autoridade de caso julgado.
Os limites funcionais da JÁ
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O âmbito orgânico da JÁ: a jurisdição administrativa
Segundo um critério orgânico, a JÁ compreende exclusivamente a resolução das
questões de direito administrativo que sejam atribuídas à ordem judicial dos tribunais
administrativos.
A primeira questão que se coloca é, pois a da interpretação do actual art. 212º/3 da CRP
para saber se aí se consagra uma reserva material absoluta de jurisdição atribuída aos
tribunais administrativos, no duplo sentido de que, por um lado, os tribunais
administrativos só poderão julgar questões de direito administrativos e de que, por outro
lado, só eles poderão julgar tais questões.
Quanto ao primeiro aspecto da questão, a jurisprudência do TC, formulada a propósito
dos tribunais militares, parecia apontar para uma reserva negativa ou de exclusão
aplicável aos tribunais não judiciais – estes tribunais seriam tribunais especiais, os
sentido de que apenas poderiam julgar as questões que lhe fossem constitucionalmente
atribuídas.
As tendências doutrinárias desenvolveram-se, no entanto, em sentido inverso,
admitindo-se generalizadamente a atribuição legal aos tribunais administrativos da
resolução de litígios referentes à actividade da administração, ainda que respeitassem a
relações ou incluíssem aspectos de direito privado.
Quanto ao segundo aspecto da questão, as opiniões da doutrina dividiram-se mais
claramente. Para alguns, resulta da CRP uma reserva, perante a qual o legislador não
pode atribuir a outros tribunais, designadamente aos tribunais judiciais, o julgamento de
litígios materialmente administrativos, só sendo legítimas, nesta matéria, as devoluções
de competências em matéria administrativa para outros tribunais que forem previstas ao
nível constitucional ou, excepcionalmente, em caso de estado de necessidade.
Outros autores propõem uma posição mitigada admitindo a remissão do legislador para
a jurisdição comum de questões emergentes de relações jurídicas administrativas,
designadamente quanto estejam em causa direitos fundamentais dos cidadãos.
A posição mais razoável, entretanto sufragada pelo STA pelo TConflitos e pelo TC,
parece ser, no entanto, a que não lê o referido preceito constitucional como um
imperativo estrito, contendo uma proibição absoluta, mas como uma regra definidora de
um modelo típico, susceptível de adaptações ou de desvios em casos especiais, desde
que não fique prejudicado o núcleo caracterizador do modelo.
O preceito constitucional, introduzido na revisão de 1989, explica-se historicamente na
sequência da intenção de consagrar a ordem judicial administrativa como uma
jurisdição própria, ordinária, e não como uma jurisdição especial ou excepcional em
face dos tribunais judicias que deixou de considerar os tribunais administrativos como
tribunais facultativos.
Em resumo, a interpretação mais razoável do preceito constitucional parece ser a de que
visa apenas consagrar os tribunais administrativos como os tribunais comuns em
matéria administrativa. Diga-se no entanto que ainda que se optasse pela existência de
uma reserva material absoluta da jurisdição administrativa, o critério orgânico de
delimitação da JÁ não perderia sentido, na medida em que a própria CRP atribui a
outros tribunais o julgamento de questões emergentes de relações jurídicas
administrativas:
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Desde logo são atribuídas pela CRP à jurisdição constitucional determinadas
competências relativa a matéria administrativa, seja no que respeita a questões
eleitorais, seja sobretudo no que concerne à fiscalização abstracta da
constitucionalidade das normas administrativas.
Também não cabe na JÁ a resolução de questões da legalidade financeira da
actuação administrativa, tal como decorrer das contas dos entes públicos.
Por fim poderá também considerar-se constitucionalmente atribuído, ainda de
que forma global e indirecta, pelo art. 8º/3 o conjunto de questões de direito
administrativo que pertencem à jurisdição de tribunais internacionais.
No plano legal a par de normas que visam concretizar o conteúdo da cláusula geral
estabelecida pela CRP, são de destacar, por um lado, os preceitos que implicam a
diminuição, por subtracção, do âmbito da jurisdição administrativa e em contrapartida,
outros que produzem a sua ampliação, por atribuição aos tribunais administrativos do
julgamento de questões que, em princípio não lhes caberia substancialmente conhecer.
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A organização da jurisdição administrativa
Os tribunais administrativos e fiscais constituem, desde 1989, por decisão
constitucional, uma categoria própria de tribunais, separada dos ditos tribunais judiciais
(art. 209º) formando uma hierarquia cujo órgão superior é o STA (art. 212º).
O ETAF de 2002 mantém, no entanto, a opção anterior de constituir, ao nível da
primeira instância, duas categorias distintas de tribunais – os tribunais administrativos
de círculo e os tribunais tributários -, sujeitas a diferentes secções dos tribunais centrais
administrativos (TCA) e do STA de modo que essas sub-ordens de tribunais são
relativamente autónomas, tendo apenas, no topo da hierarquia, como órgão comum, o
Plenário do STA.
Os tribunais administrativos
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A repartição das competências entre os tribunais administrativos
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A garantia da tutela jurisdicional efectiva
O direito de acesso aos tribunais administrativos e o princípio da tutela
jurisdicional efectiva
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embora apenas em sede de intimação para protecção de direitos, liberdades e
garantias e de execução de sentenças.
O CPTA optou por estabelecer uma forma de processo comum e prever alguns
processos especiais, em referência aos quais agrupou as várias espécies de pedidos
susceptíveis de serem apresentados perante a jurisdição administrativa.
Processo comum
É o da acção administrativa comum, visto ser aplicável a todos os litígios cuja
apreciação se inscreva no Âmbito da jurisdição administrativa que, nem no CPTA nem
em legislação avulsa, sejam objecto de regulação especial.
São reguladas pelo processo de declaração previsto no CPC.
Processos especiais
A acção administrativa especial, que engloba 3 tipos fundamentais de pedidos – a
impugnação de actos, a condenação à prática de acto legalmente devido, a impugnação
e a declaração de ilegalidade da omissão de normas pela CPTA (art. 46º e ss) e só
subsidiariamente pelo CPC.
Os processos urgentes abrangem dois tipos de impugnação urgentes – no âmbito do
contenciosos eleitoral e do pré-contratual – e outros dois de intimações – para prestação
de informações, consulta de processos ou passagem de certidões e para protecção de
direitos, liberdades e garantias – que o CPTA identifica e para os quais estabelece regras
próprias (art. 97º).
As acções administrativas avulsas são aquelas que não sejam reguladas no CPTA, mas
constituam ou venham a constituir objecto de regulação especial, em legislação avulsa.
Um exemplo será o das acções para declaração de perda de mandato local.
Outros exemplos são as intimações urbanísticas: a intimação judicial para a
prática de acto legalmente devido e a intimação judicial para emissão de alvará.
As acções populares
As chamadas acções populares não parecem ser concebidas pelo CPTA como tipos
especiais de acções, mas como espécies qualificadas relativas aos vários tipos de acções
– Lei 83/95.
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A acção popular local é uma espécie qualificada das impugnações de actos
administrativos, admissível apenas relativamente a esse pedido.
A acção popular social já pode tomar qualquer das formas e integrar qualquer dos
pedidos principais previstos no CPTA. Assim, poderão propor-se acções administrativas
especiais populares, acções administrativas comuns populares, com os diversos pedidos
designadamente, impugnações de actos ou documentos pré-contratuais e intimações
para prestação de informações. A acção popular social tanto pode ser proposta por
quaisquer cidadãos como por associações ou fundações defensoras de interesses, pelas
autarquias locais ou pelo MP.
A admissibilidade da acção não depende apenas da legitimidade, mas também do
interesse em agir próprio de cada figura.
A cumulação de pedidos
A cumulação de pedidos, que é admitida com a maior das aberturas representa uma real
transformação no sistema da justiça administrativa, visto que, superado os obstáculos da
diferença de competência ou de trâmite, permite ultrapassar, na maior parte dos casos,
as limitações e as consequência nefastas que podiam apontar-se à rigidez dos meios
processuais.
É a possibilidade de cumular pedidos, mesmo quando aos pedidos cumulados
correspondam diferentes formas de processo ou tribunais de hierarquia distinta (art. 5º)
que permite obter, por exemplo, juntamente com a anulação de um acto, não só a
condenação à prática do acto devido, mas também a reconstituição da situação
hipotética, a anulação de um contrato celebrado. Anteriormente era necessário utilizar
vários meios, em tempos sucessivos, com condições processuais diversas, pró vezes em
diferentes tribunais.
Acresce que a ideia da cumulação de pedidos não se manifesta apenas no momento
inicial da proposição da acção, também se prolonga ao longo da vida do processo,
admitindo-se a vários propósitos, a cumulação sucessiva, apesar de implicar a
modificação objectiva da instância.
A toda a causa nos tribunais administrativos tem agora de ser atribuído um valor que
representa a utilidade económica imediata do pedido.
O valor dos processos releva para determinar a forma, mais ou menos solene, na
tramitação da acção administrativa comum, através da qual se formulam os pedidos
relativos a situações em que não há o exercício de poderes de autoridade.
Também é importante na acção administrativa especial, designadamente nos processos
relativos a actos administrativos, na medida em que, embora a forma seja única, serve
para determinar a formação de julgamento em primeira instância.
O valor do processo vai ser tomado em conta, em todos os casos, para efeitos da
admissibilidade de recurso da sentença final e para determinação do tipo de recurso (art.
31º CPTA).
Os processos que a lei considera de valor indeterminável não deixam de ser integrados
no sistema, sendo o seu valor tido como superior ao da alçada dos TCA (art. 34º)
Quando sejam cumulados na mesma acção vários pedidos, a determinação do valor da
causa é a quantia correspondente á soma dos valores de todos (art. 32º/7).
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A acção administrativa comum
Nos termos do art. 37º a forma de acção administrativa comum é, na pureza dos
conceitos, aplicável a todos os litígios sujeitos à jurisdição administrativa relativamente
aos quais não esteja expressamente estabelecida uma regulação especial, pelo CPTA ou
por legislação avulsa, designadamente uma acção administrativa especial ou um
processo urgente.
Objectos e tipos
Objecto
A delimitação terá de ser feita pela negativa: em geral constituirá, em regra, o meio
adequado de acesso à justiça administrativa, se não estiver em causa um litígio relativo
à prática ou à omissão de actos administrativos impugnáveis ou de normas (art. 38º).
Poderá ser utilizada em quaisquer outros processos administrativos – designadamente
processos relativos a relações jurídico-administrativas tendencialmente paritárias, seja
por a competência da administração não envolver poderes de autoridade, seja por esta
estar obrigada a um comportamento ou prestação, por força da lei ou de contrato, seja
por ser a administração a autora, seja por se tratar de litígios entre autoridades públicas
ou até entre particulares.
As acções de reconhecimento
São acções de simples apreciação. A verificação, para além da legitimidade, do interesse
processual (ou interesse em agir) é especialmente relevante nestas acções de simples
apreciação, pois que nelas predomina, em vez de uma necessidade de reacção, uma
necessidade de prevenção. Nos termos da lei (art. 39º) tal interesse implica a invocação
de uma utilidade ou vantagem imediata na declaração judicial pretendida, explicitando-
se algumas situações: a existência de uma situação de incerteza, de ilegítima afirmação
pela administração da existência de uma determinada situação jurídica ou do fundado
receio de uma conduta lesiva da AP, fundada numa avaliação incorrecta da situação
existente.
As acções de prestação
A acção administrativa comum também pode ser utilizada para pedir a condenação da
AP no cumprimento de deveres de prestar que decorram directamente de normas
administrativas ou tenham sido constituídos por actos jurídicos, podendo ter por objecto
o pagamento de uma quantia, a entrega de uma coisa ou a prestação de um facto.
Este pedido também pressupõe a existência de situações em que não esteja previsto,
nem tenha de haver um verdadeiro acto administrativo, mas simples actuações públicas
no contexto de relações jurídico-administrativas em que a lei, regulamento ou acto
administrativo anterior confiram directamente direitos a prestações administrativas a
determinados particulares.
As acções de reposição
Não se devem confundir com os pedidos típicos das tradicionais acções de
responsabilidade, nem com os das acções de restabelecimento de direitos ou interesses
violados – por não estarem em causa actuações ilícitas ou ilegais.
E, apesar de pressuporem uma obrigação de prestação, têm como características própria,
comum, a circunstância de a prestação necessitar de uma concretização judicial do
respectivo conteúdo, visto que a obrigação resulta da aplicação de princípios normativos
relativamente a uma determinada situação de facto.
As acções inter-administrativas
As acções são aqui definidas em função das partes e podem reportar-se a quaisquer dos
pedidos referidos – de reconhecimento, de intimação ou inibição, de condenação no
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restabelecimento de situações ou em prestações, tal como podem ser acções sobre
contratos ou responsabilidade – só se incluem aqui, de acordo com a regra geral, as
acções que envolvam a prática ou a omissão de actos administrativos impugnáveis ou de
normas administrativas, para as quais se deve utilizar a acção administrativa especial.
As acções tradicionais
A legitimidade e o prazo
Segundo o art. 9º a legitimidade activa pertence, em regra, a quem alegue ser parte na
relação material controvertida.
Um regime especial é aplicado à acção popular quando esteja em causa a defesa de
determinados bens e valores constitucionalmente protegidos qualquer pessoa, as
autarquias locais, as associações ou fundações defensoras desses interesses e o MP,
enquanto autor popular, têm legitimidade para propor processos principais, incluindo
naturalmente as acções comuns.
A acção pode, em regra, ser proposta a todo o tempo (art. 41º).
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A acção administrativa especial
Seguem a forma de acção administrativa especial os processos relativos a pretensões
emergentes da prática ou da omissão de actos administrativos ou de disposições
normativas de direito administrativo (art. 46º/1). Admite vários pedidos cada um deles
com aspectos específicos quando ao regime processual
A cumulação de pedidos
Admite-se a conexão com qualquer dos pedidos principais de quaisquer outros que com
eles apresentem uma relação material de conexão, designadamente o de condenação na
reparação dos danos resultantes da actuação ou omissão ilegal (art. 47º/1 -» art. 4º).
A não formulação destes pedidos cumulativos não preclude, porém, a possibilidade de
essas mesmas pretensões serem accionadas no âmbito do processo de execução da
sentença de anulação justamente porque tal processo não é um mero processo executivo.
Objecto
A função da impugnação de actos administrativos é, nos termos mais amplos, a do
controlo da sua invalidade. A lei continua a prever a utilização deste meio para obter a
declaração de nulidade ou de inexistência de actos administrativos, embora seja
provável que o pedido continue a ser, em regra, dirigido a obter a anulação de tais actos.
As sentenças de provimento serão, conforme o caso, constitutivas (sentenças de
anulação) ou declarativas (declaração de nulidade ou da inexistência).
Conceito de acto administrativo impugnável -» este conceito começa por
pressupor um conceito material de acto administrativo que se refere, nos termos
do CPA (art. 120º), às decisões materialmente administrativas de autoridade que
visem a produção de efeitos numa situação individual e concreta. Fica de fora os
puros actos instrumentais, as operações materiais e comportamentos.
No entanto o conceito processual de acto administrativo impugnável não
coincide com o conceito de acto administrativo, sendo, por um lado, mais vasto
e, por outro, mais restrito. É mais vasto na medida em que não depende da
tradicional qualidade administrativa do seu autor (art. 51º/2). É mais restrito, na
medida em que só abrange expressamente as decisões administrativas com
eficácia externa.
Incluem-se os actos destacáveis do procedimento. Mas excluem-se os actos
internos.
O problema está em saber se são impugnáveis as decisões administrativas
preliminares (pareceres vinculantes) que determinem peremptoriamente a
decisão final. Nestes casos, embora em rigor, os actos não visem directamente
produzir o efeito que pode ser lesivo, poderá sustentar-se e aceitar-se a
impugnabilidade dessas decisões, com expressão de uma defesa antecipada ou
precoce dos interessados.
A impugnação de acto meramente confirmativo -» o conceito de acto
confirmativo, para além da sua coerência dogmática, foi elaborado sobretudo
com a finalidade prática de evitar que, através de requerimentos sucessivos, se
pudessem permanentemente reabrir litígios, defraudando a estabilidade inerente
ao prazo de impugnação dos actos administrativos (art. 53º).
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Impugnação de acto administrativo ineficaz -» a lei permite (art. 54º) a
impugnação de actos ainda não eficazes em duas hipóteses: quando tenha havido
início de execução; quando esteja seguro ou muito provável que o acto vá
produzir os seus efeitos, designadamente quando exista um termo inicial ou uma
condição suspensiva de provável verificação.
Impugnação de actos de indeferimento expresso -» os actos de indeferimento
expressão são verdadeiros actos administrativos e, como tal, susceptíveis de
impugnação na medida em que têm eficácia externa, mas o legislador, quando se
trate de actos de pura recusa, formal ou substancial, prefere que o particular
utilize o pedido de condenação da AP à prática do acto devido, no pressuposto
de que esse pedido confere uma tutela mais intensa ao particular e que resolverá
de uma vez a situação (art. 51º/4).
A causa de pedir -» a questão principal a resolver no processo é em qualquer
caso, nos termos da lei, a da ilegalidade do acto impugnado e não
necessariamente a da lesão de um direito substantivo do particular, que pode
nem seque existir no caso. Segundo o art. 95º/2 o juiz tem de conhecer de todos
os vícios invocados no processo e, além disso, deve averiguar oficiosamente a
existência de ilegalidade do acto impugnado, em clara derrogação do princípio a
limitação do juiz pela causa de pedir – este último é um aspecto claramente
objectivista do modelo legal, sobretudo na medida em que se soma à faculdade,
que o MP mantém, de invocar vícios não arguidos pelo autor na sua petição.
Legitimidade
Activa – art. 55º
Passiva – uma das grandes novidades do CPTA é justamente a de que, mesmo
relativamente aos meios impugnatórios a parte do processo passa a ser a pessoa
colectiva pública ou, no caso do estado, o MP, se o acto for da autoria de um
órgão integrado numa estrutura ministerial (art. 10º/2). Só assim não acontecerá,
naturalmente, no caso de impugnação do acto administrativo por outro órgão da
mesma pessoa colectiva. Importante é também a imposição legal do
litisconsórcio passivo necessário, sempre que existam contra-interessados (art.
57º).
Efeitos e prazo
A impugnação de um acto administrativo não suspende, em regra, automaticamente a
eficácia do acto, que, se não for nulo, continua a produzir os seus efeitos e a obrigar os
respectivos destinatários, sendo inclusivamente, se for caso disso, susceptível de
execução coactiva pela AP.
A suspensão da eficácia como efeito automático da impugnação judicial só se verifica
nos casos excepcionais previstos na lei e, em geral, por força do art. 50º/2 CPTA.
Ao contrário do que acontece com o pedido de declaração da nulidade, que pode ser
apresentado a todo o tempo, a impugnação do acto anulável continua sujeita a um prazo
relativamente curto de impugnação.
Mantém-se o prazo de um ano para a impugnação de actos anuláveis pelo MP, contado
globalmente a partir da prática do acto ou da publicação, se obrigatória.
Já o prazo do particular e demais impugnantes é alargado para 3 meses e passa a
sujeitar-se ao regime dos prazos processuais de modo que, embora permaneça contínuo,
deixa de correr nas férias judiciais.
O prazo para os destinatários só começa a contar a partir da notificação, mesmo que o
acto dependa de publicação obrigatória (art. 59º).
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O efeito da impugnação administrativa
A utilização de meios de impugnação administrativa suspende o prazo de impugnação
judicial do acto, mas não impede o interessado de proceder a impugnação na pendência
daquela (art. 59º).
A impugnação administrativa facultativa não suspende a eficácia do acto, pelo que o
particular terá todo o interesse em pedir a suspensão administrativa da execução ou em
solicitar ao tribunal uma providência cautelar.
Tenha-se em atenção, por outro lado, que a lei determina a suspensão e não a
interrupção do prazo judicial, que, num entendimento rigoroso da disposição legal,
retomará o seu curso depois de proferida a decisão ou de decorrido o respectivo prazo.
Sentença
As sentenças de provimento, para além dos seus efeitos directos – constitutivos, na
anulação, ou meramente declarativos, na declaração de nulidade ou de inexistência –
geram ainda, em regra, por força da retroactividade dos seus efeitos, a obrigação para a
AP de reconstruir a situação de facto de acordo com o julgado.
Objecto
O pedido serve para obter a condenação da entidade competente à prática, dentro de
determinado prazo, de um acto administrativo que tenha sido ilegalmente omitido ou
recusado (art. 66º).
Acto devido é, portanto, aquele acto administrativo que, na perspectiva do autor, deveria
ter sido emitido e não foi, quer tenha havido uma pura omissão ou uma recusa.
Não tem de ser um acto restritamente vinculado perante a lei podendo albergar
momentos discricionários
Além de a obrigação legal abranger também, obviamente, os casos em que a imposição
decorre de uma norma constitucional, internacional ou comunitária, ou de um princípio
jurídico aplicável, deve considerar-se que serão sempre legalmente, isto é, juridicamente
devidos os actos administrativos cuja imposição resulte da prática de actos anteriores.
As situações pressupostas
O art. 67º do CPTA parece exigir sempre um procedimento prévio, da iniciativa do
interessado, em regra, um requerimento dirigido ao órgão competente, com a pretensão
de obter a prática de um acto administrativo, seguido de uma destas situações:
Omissão da prática do acto requerido no prazo legalmente estabelecido para a
decisão.
Recusa da prática do acto devido, isto é, indeferimento expresso, total e directo,
da pretensão substantiva.
Recusa de apreciação do requerimento – situações em que a autoridade
administrativa se nega a sequer apreciar substancialmente o pedido.
O CPTA acaba por acolher o pedido de condenação em outros dois tipos de situações: as
de inactividade oficiosa comprovada da AP perante valores comunitários relevantes ou
direitos dos particulares, bem como, embora em cumulação com o pedido impugnatório,
as de indeferimento parcial ou indirecto da pretensão.
A legitimidade activa
Quem tenha a titularidade de direitos ou interesses legalmente protegidos dirigidos à
emissão desse acto, e, quando se trate de deveres não oficiosos, o tenha requerido.
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O MP enquanto titular da acção pública, quando se trate de um acto legalmente devido,
desde que esteja em causa a defesa de direitos fundamentais ou de um interesse público
especialmente relevante (art. 68º).
A legitimidade passiva
A lei determina que, além da entidade competente responsável pela omissão, são
obrigatoriamente demandados os contra-interessados, determinando, também aqui, um
litisconsórcio necessário (art. 68º/2).
O prazo
O prazo de propositura da acção depende de ter havido inércia do órgão ou um
indeferimento (art. 69º).
O prazo é de um ano, em caso de omissão, contado desde o termo do prazo legal
estabelecido para a emissão do acto.
Em caso de indeferimento, porém, o prazo da acção é de 3 meses.
Alteração da instância
Quando, na pendência do processo, haja ou seja notificado um acto de indeferimento
expresso ou seja praticado um acto que não satisfaça integralmente as pretensões do
interessado, este pode, respectivamente, ampliar a causa de pedir mantendo o pedido, ou
então cumular o pedido com o da anulação ou declaração de nulidade do acto
sobrevindo.
Sentença
A pronúncia do tribunal, em caso de procedência da acção será sempre condenatória
relativamente à pretensão material do interessado, mesmo nos casos em que tenha
havido omissão ou mera recusa de apreciação (art. 71º).
A sentença condenatória suscita novos e complexos problemas de separação dos
poderes na relação entre o juiz e a AP.
O CPTA fica-se pela formulação do limite ao determinar que, quando a emissão do acto
envolva a formulação de valorações próprias do exercício da função administrativa o
juiz terá de limitar-se a uma condenação genérica, com as indicações vinculativas que
puder retirar das normas jurídicas aplicáveis, sem pôr em causa a autonomia da decisão
do órgão administrativo.
A condenação à prática de acto devido há-de resolver a questão de fundo levada a juízo
pelo autor e deve estabelecer o prazo em que deve ter lugar a pronúncia administrativa,
identificando o órgão competente para a realizar.
Quando o tribunal o entender justificado, pode determinar logo na sentença
condenatória a aplicação de sanções pecuniárias compulsórias ao titular do órgão em
falta, para prevenir o incumprimento (art. 66º/3).
Em caso de incumprimento, haverá lugar a um processo de execução de sentenças (art.
167º/6).
A partir da revisão de 1997, passou a ter consagração expressa na CRP (art. 268º/5) o
direito de impugnação judicial directa de normas administrativas com eficácia externa,
27
quando sejam lesivas de direitos ou interesses legalmente protegidos dos particulares,
no âmbito da garantia da respectiva protecção judicial efectiva.
A impugnação de normas
Objecto -» pode pedir-se nestes processos, a título principal, a declaração de
ilegalidade das normas emanadas ao abrigo de disposições de direito
administrativo, com fundamento em vícios próprios ou decorrentes da
invalidade de actos praticados no âmbito do procedimento de aprovação. Resulta
dos art. 72º e 73º que se admitem dois tipos de pedidos, sujeitos a regimes
diferentes: o pedidos de declaração de ilegalidade com força obrigatória geral e
o pedido de declaração de ilegalidade.
A legitimidade e as condições de impugnação -» a legitimidade para a
impugnação de normas pertence a qualquer pessoa que alegue ser prejudicado
pela aplicação da norma ou que possa previsivelmente vir a sê-lo em momento
próximo bem como ao MP e também, em certos termos, aos autores populares,
no âmbito dos valores comunitários referidos no art. 9º.
A declaração com força obrigatória geral só pode ser pedida pelos particulares
interessados depois de anorma ter sido desaplicada em três casos concretos,
requisito que, no entanto, não é exigido se o pedido for feito pelo MP
oficiosamente ou a requerimento das entidades legitimadas para acção popular,
A declaração de ilegalidade da norma com efeitos restritos ao caso concreto
pode ser pedida pelo lesado ou pelos titulares da acção popular quando a norma
produza os seus efeitos imediatamente sem depender de um acto administrativo
ou judicial de aplicação não sendo necessária a prévia desaplicação em três
casos (art. 73º/2).
O prazo e a cumulação de pedidos -» nos termos do art. 74º a declaração de
ilegalidade pode ser pedida a todo o tempo (pelo menos enquanto a norma
estiver em vigor).
Algumas características das acções relativas a normas -» estas acções têm um
valor indeterminável, considerando-se, por isso, de valor superior ao da alçada
dos TCA. São, por isso, sempre julgadas em primeira instância por uma
formação de 3 juízes cujas sentenças são susceptíveis se for caso disso, de
recurso per saltum ou de recuso excepcional de revista para o STA. Há a
possibilidade actual de suspensão cautelar da eficácia das normas.
Os efeitos da declaração de ilegalidade -» (art. 76º) os efeitos da declaração de
ilegalidade com força obrigatória geral produzem-se, em regra, ex tunc,
determinando a repristinação das normas revogadas, sem prejuízo de o tribunal
poder determinar que os efeitos se produzam apenas para o futuro, quando tal se
justifique por razões de segurança jurídica, de equidade ou de interesse público
de excepcional relevo. Em todo o caso, ressalvam-se expressamente os casos
julgados e os casos decididos administrativos, salvo decisão em contrário do
tribunal em matéria sancionatória, quando tal seja mais favorável ao particular.
Quanto aos efeitos da declaração de ilegalidade no caso concreto, embora a lei
não se refira expressamente a eles, deve entender-se que operam ex tunc e
igualmente com alcance repristinatório, embora se produzam apenas naquele
caso.
28
Os pressupostos – prevê-se no art. 77º a verificação de uma omissão de normas,
cuja adopção, ao abrigo de disposições de direito administrativo, seja necessária
para dar exequibilidade a actos legislativos carentes de regulamentação.
A legitimidade – admite-se a acção popular e pública, relativamente aos
interesses comunitários referidos no art. 9º, bem como a legitimidade de quem
alegue um prejuízo directamente resultante da situação de omissão.
Os efeitos – o tribunal dá conhecimento à entidade competente, mas fixa um
prazo – que não pode ser inferior a seis meses – para a emanação da norma.
29
Processos urgentes
Os processos urgentes principais (art. 97º e ss.) distinguem-se, quer dos processos
principais não urgentes, quer dos processos urgentes, quer dos processos urgentes não
principais (os processos cautelares).
A ideia de processos principais urgentes, caracterizados pela sua celeridade ou
prioridade, radica na convicção de que determinadas questões ou tipo de questões, em
função de determinadas circunstâncias próprias, devem ou têm de obter, quanto ao
respectivo mérito, uma resolução definitiva pela via judicial num tempo curto.
Estas questões não devem ou não podem demorar a decidir aquele tempo que possa ser
considerado normal para a generalidade dos processos, nem para elas se revela
suficiente ou adequada uma protecção cautelar que, através de medidas conservatórias
ou mesmo antecipatórias, regule provisoriamente a situação em termos de poder
assegurar a utilidade da sentença produzida em tempo normal.
Por isso, a lei configura, logo em abstracto, como processos urgentes determinados
processos principais, isto é, processos que visam a pronúncia de sentenças de mérito,
onde a cognição seja tendencialmente plena, mas com uma tramitação acelerada ou
simplificada, tendo em consideração a natureza dos direitos ou dos bens jurídicos
protegidos ou outras circunstâncias próprias das situações ou até das pessoas das
envolvidas.
O CPTA resolveu autonomizar quatro espécies de processos.
Nos termos do art. 36º a enumeração legal não implica o estabelecimento de um
numerus clausus que exclua a possibilidade de outros processos revestirem carácter
urgente.
Deve salientar-se que a possibilidade de antecipação da decisão de fundo através da
convolação do processo cautelar em processo principal, conferida pelos art. 121º, 132º/7
constitui uma abertura do sistema para a criação ad hoc de novos processos urgentes,
sempre que tal seja necessário e possível.
Impugnações urgentes
Objecto
As eleições a que se referem estas impugnações são aquelas através das quais se
designam os titulares de órgãos administrativos electivos de pessoas colectivas
públicas.
30
Os litígios a resolver por este meio não são apenas os relativos ao acto eleitoral
propriamente dito englobam ainda as questões do respectivo procedimento.
A lei, no entanto parece limitar a sindicabilidade dos actos pré-eleitorais,
admitindo apenas a impugnação autónoma daqueles que impliquem exclusão ou
omissão de eleitores nos cadernos eleitorais ou de elegíveis nas listas eleitorais
(art. 98º/3).
A ilegitimidade e o prazo
A iniciativa do processo cabe em exclusivo aos eleitores e elegíveis, incluindo,
nos casos de omissão nos cadernos ou nas listas, as pessoas cuja inscrição foi
omitida (art. 98º/1).
Na falta de disposição especial, o prazo é de sete dias, a contar da possibilidade
do conhecimento do acto ou omissão.
O contencioso pré-contratual
Entre as impugnações urgentes inclui-se a impugnação de actos administrativos
relativos à formação de quatro tipos de contratos: empreitada, concessão de obras
públicas, prestação de serviços e fornecimento de bens (art. 100º).
A previsão de um processo autónomo e urgente resulta da necessidade de assegurar
simultaneamente duas ordens de interesses, públicos e privados: por um lado, promover
neste domínio a transparência e a concorrência, através de uma protecção adequada e
em tempo útil aos interesses dos candidatos à celebração de contratos com as entidades
públicas; por outro lado, e sobretudo, garantir o início rápido da execução dos contratos
administrativos e a respectiva estabilidade depois de celebrados, dando protecção
adequada aos interesses públicos substanciais em causa e aos interesses dos
contratantes.
Objecto
Este meio deve ser utilizado, desde logo, quando estejam em causa quaisquer
decisões administrativas relativas à formação dos referidos contratos.
Caso seja entretanto celebrado o contrato, o objecto do processo pode ser
ampliado à impugnação do próprio contrato.
Sobra, no entanto, a dúvida sobre se poderá, ou não, obter-se, neste processo, a
condenação à prática dos actos pré-contratuais devidos.
Quanto a nós, porém, nada obsta em termos substanciais a que seja pedida e
concedida a condenação, que, pelo contrário, se insere bem no espírito do direito
reformado.
Tramitação e decisão
A tramitação segue a da acção administrativa especial, com algumas alterações,
entre as quais se destaca a possibilidade da concentração numa audiência pública
sobre a matéria de facto e de direito, com alegações orais e sentença imediata
(art. 102º e 103º).
Em caso de procedência, a sentença será, em regra anulatória, ou de declaração
da invalidade do acto ou documento contratual.
Intimações
Legitimidade
A intimação pode ser pedida pelos titulares dos direitos de informação ou, na
hipótese de utilização para efeitos de impugnação judicial, por todos os que
tenham legitimidade para usar os meios impugnatórios, incluindo os autores
populares, bem como o MP, para o exercício da acção pública (art. 104º/2).
A legitimidade passiva parece caber, nos termos gerais, à pessoa colectiva ou ao
ministério a que pertence o órgão em falta (art. 10º/2). No entanto, não se pode
ignorar a referência do art. 107º à autoridade requerida, o requerente deverá,
sempre que possível, identificar o órgão responsável, para que o tribunal possa
directamente citá-lo e dirigir-lhe a intimação, sem dependência da organização
interna da pessoa colectiva ou do ministério.
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Tramitação e decisão
A tramitação é simples, com a resposta da autoridade no prazo de dez dias e, em
regra, decisão imediata do juiz, dado que na maior parte dos casos não serão
necessárias outras diligências (art. 107º).
Em caso de provimento, a decisão é condenatória e o juiz deve fixar um prazo
até dez dias para o cumprimento da intimação, podendo determinar a aplicação
de sanções pecuniárias compulsórias, se não houver justificação aceitável para o
incumprimento, sem prejuízo da responsabilidade civil, disciplinar ou criminal
do órgão ou do titular (art. 108º).
Os pressupostos
Pode utilizar-se este meio quando a emissão célere de uma decisão de mérito do
processo que imponha à AP uma conduta positiva ou negativa seja indispensável
para assegurar o exercício em tempo útil de um direito, liberdade ou garantia
(art. 109º). Exige-se: a urgência da decisão para evitar a lesão; o pedido tem de
se referir à imposição de uma conduta positiva ou negativa à AP; que não seja
possível ou suficiente o decretamento provisório de uma providência cautelar.
A legitimidade e o pedido
A legitimidade para esta intimação pertence aos titulares dos direitos, liberdades
e garantias, enquanto posições jurídicas subjectivas, embora se possa admitir a
acção popular.
O conteúdo do pedido será a condenação na adopção de uma conduta positiva ou
negativa por parte da AP, que pode consistir mesmo na prática de um acto
administrativo (art. 109º/1 e 3).
O pedido de intimação pode ainda ser dirigido contra concessionários ou contra
quaisquer particulares, mesmo que não disponham de poderes públicos –
embora, obviamente, se deva estar perante uma relação jurídica administrativa.
Não haverá lugar nestes processos ao pagamento de custas.
A tramitação e a sentença
A lei prevê vários andamentos possíveis para o processo: um, para processos
simples e de urgência norma (art. 110º/1 e 2), outros para processos complexos
de urgência normal (art. 110º/3), um terceiro para as situações de especial
urgência (art. 111º), sendo que nestas situações, o juiz pode optar por uma
tramitação acelerada, com encurtamento pelo juiz do prazo de resposta do
requerido, ou então por uma tramitação simplificada, realizando uma audiência
oral de julgamento, para decisão no prazo de 48 horas.
A sentença, quando não esteja substitutiva, determina o comportamento
concreto, o prazo e, se for caso disso, o próprio órgão administrativo responsável
33
pelo cumprimento, designadamente quando implique a prático de um acto
administrativo.
Os recursos jurisdicionais
As decisões de improcedência de pedidos de intimação para protecção de
direitos, liberdades e garantias são sempre recorríveis, seja qual for o valor da
causa (art. 142º/3).
Por sua vez, o recurso das sentenças que tenham proferido a intimação, quando
seja admissível, tem sempre, por determinação da lei, efeito meramente
devolutivo, independentemente da ponderação dos danos que esses efeito possa
causar.
34
Elementos essenciais da causa e pressupostos processuais
Para que exista um processo ou, como outros preferem dizer, uma relação jurídica
processual, é necessária desde logo, como é óbvio, a existência das partes, às quais se
poderá acrescentar, tendo em consideração o carácter triangular da relação processual, a
existência do tribunal, independentemente da competência, não havendo processo se a
petição for dirigida a um órgão não judicial – a estes elementos se pode chamar
condições de existência da acção.
Além destas condições de existência, poderão ainda considerar-se elementos essenciais
da causa aqueles que constituem condições de validade da acção: referimo-nos ao
pedido, à causa de pedir e, de algum modo, também ao objecto (mediato), cuja
inexistência torna o processo nulo.
A falta de algum destes elementos, em regra manifestada na ineptidão da petição inicial,
justifica a recusa pela secretaria do tribunal do recebimento da petição.
Já não se admite, porém, a recusa da petição pela secretaria com fundamento na falta de
formulação do pedido ou da causa de pedir, pelo nestas situações, o processo inicia-se e
a questão só vem a ser posta ao juiz e resolvida no momento do despacho saneador (art.
87º/1, 88º e 89º), juntamente com o conhecimento da não verificação dos pressupostos.
35
A lei processual administrativa parece admitir hoje em termos genéricos, a intervenção
de terceiros, nos termos do processo civil, designadamente no âmbito da acção
administrativa comum.
O pedido
A causa do pedir
Pressupostos processuais
36
89º) e tal como a lei processual civil, designa estes obstáculos ao conhecimento do
mérito da causa por excepções dilatórias (art. 88º CPTA, 493º, 494º CPC).
A sua falta implicaria, em rigor, uma decisão de rejeição da acção, abstendo-se o juiz
em qualquer momento, de conhecer do pedido.
A decisão de forma baseada na falta de um pressuposto processual é actualmente
tomada apenas no despacho saneador e determina a absolvição (do réu) da instância ou
a remessa do processo para outro tribunal.
Os pressupostos processuais devem distinguir-se de outras figuras próximas: das
condições de procedência – que se referem aos requisitos substanciais que sustentam o
pedido formulado na petição inicial; das questões prejudiciais – que são questões de
direito substantivo, normalmente da competência de outro tribunal, cuja resolução é
pressuposta na decisão da causa, mas que não impedem uma sentença de mérito.
Tipos
Personalidade judiciária
A personalidade judiciária é tradicionalmente definida como a susceptibilidade de ser
parte no processo e corresponde, em regra, à personalide jurídica.
Assim, actualmente, mesmo no âmbito das acções impugnatórias, são, em regra, sujeitos
processuais as pessoas colectivas públicas a que pertencem os órgãos autores dos actos
ou normas impugnados.
No entanto, há ainda a considerar a posição especial já referida do MP, enquanto parte
principal no âmbito da acção pública, bem como a circunstância específica no processo
administrativo de ser atribuída personalidade judiciária aos ministérios (art. 10º/2).
Capacidade judiciária
É a susceptibilidade de uma pessoa estar por si em juízo, um pressuposto cuja
autonomia relativamente à personalidade judiciária decorre, em regra, para os
particulares, da existência de restrições à capacidade de exercício de direitos.
No que respeita às entidades públicas, a capacidade judiciária é determinada pela
competência do órgão para representar a pessoa colectiva, designadamente no que
respeita ao poder de iniciativa processual.
Quanto ao estado-pessoa colectiva, a lei continua a prever a sua representação pelo MP
nas acções relativas a contratos e a responsabilidade.
O patrocínio judiciário
O princípio geral que vale no processo administrativo é o da obrigatoriedade de
constituição de advogado para o uso de poderes processuais (art. 11º).
É óbvio que a obrigatoriedade de patrocínio não se aplica à intervenção do MP, seja
quando represente o estado, seja em geral, no âmbito da acção publica ou da acção
popular.
A aceitação do acto
Trata-se de um pressuposto negativo e especial, nos termos do qual a aceitação de um
acto administrativo pelo particular interessado exclui a possibilidade de ele o impugnar
judicialmente.
A aceitação pode ser expressa ou tácita, resultando esta da prática, espontânea e sem
reserva, de facto incompatível com a vontade de recorrer.
Estamos perante uma aceitação voluntária do resultado.
Nessa medida, a aceitação do acto deve ser vista como um pressuposto processual
autónomo, distinto da ilegitimidade e da falta de interesse em agir.
A aceitação não se pode confundir com a perda dos requisitos de legitimidade e de
interesse em agir, pois que, se implicasse sempre uma ilegitimidade superveniente.
A tempestividade
É um pressuposto típico dos processos que envolvam directa ou implicitamente a
impugnação de actos administrativos com fundamento na sua anulabilidade, mas vale
também noutras acções ou processos, sempre que a lei fixar um prazo para a respectiva
proposição.
A lei admite a impugnação para além do prazo de 3 meses, quando se demonstre que a
apresentação tempestiva da petição não era exigível a um cidadão normalmente
diligente em três situações (art. 58º/3).
O prazo de impugnação do particular constitui, pois, um prazo de caducidade especial,
susceptível de suspensão e de interrupção.
Pode acontecer que a acção seja intempestiva por ter sido proposta antes do início do
prazo legal de impugnação. Nesse caso, também poderá haver lugar a absolvição da
instância, mas, de acordo com o princípio do favorecimento do processo, só se
entretanto não se tiver iniciado esse prazo.
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A interpelação administrativa prévia
A lei, por vezes, a fim de evitar intervenções desnecessárias dos tribunais, condiciona o
acesso aos tribunais a uma pronúncia administrativa prévia específica ou à oportunidade
de uma tal pronúncia.
A hipótese mais comentada diz respeito à tradicional imposição de uma impugnação
administrativa necessária relativamente a certos actos antes da proposição da respectiva
acção judicial, impugnatória ou condenatória.
Há de resto, no CPTA diversos outros casos em que aparece um pressuposto deste tipo:
art. 67º/1, art. 37º/3, art. 109º/2, art. 104º e 60º/2 e art. 162º e 164º.
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A tramitação dos processos administrativos
A tramitação da acção administrativa comum
41
formulação do pedido e da causa de pedir – e, bem assim, outros dados, como o
valor da causa, a forma do processo e a indicação dos factos probatórios.
Na petição pode requerer-se a dispensa da produção de prova e de alegações (art.
78º/4).
4. Intervenção do MP
O MP, tendo recebido cópia da petição, intervém se e quando entender, no prazo
limite de dez dias depois da junção aos autos do processo administrativo ou
(quando esta não tenha lugar) da apresentação das contestações (art. 85º).
Os seus poderes de intervenção, processuais e sobre o mérito, permitem-lhe
intervir apenas em defesa de determinados valores – dos direitos fundamentais,
de interesses públicos especialmente relevantes ou de valores comunitários que
lhe caiba defender como autor popular – cabendo-lhe:
Em geral, pronunciar-se sobre o mérito da causa e solicitar a realização
de diligências instrutórias.
Nos pedidos impugnatórios, apresentar novas causas de invalidade.
Note-se ainda que, nos processos impugnatórios, o MP pode suscitar quaisquer questões
que determinem a nulidade do acto ou da norma, independentemente dos valores ou
bens em causa.
Aqui termina a participação do MP no processo, que não é mais chamado a intervir –
uma limitação que nos parece excessiva, sobretudo tendo em conta os poderes de
substituição sucessiva que o MP detém nos processos de impugnação de actos.
5. Articulados supervenientes
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Na acção administrativa especial não há lugar a réplica ou tréplica, mas tal não
prejudica a possibilidade de, até à fase das alegações, haver dedução articulada,
por qualquer das partes, de factos supervenientes ou de conhecimento
superveniente comprovado (art. 86º).
2. A instrução do processo
Vale aqui plenamente o princípio do inquisitório, podendo o juiz ou o relator
ordenar as diligências de prova que considere necessárias para o apuramento da
verdade, bem como indeferir as diligências requeridas que considere claramente
desnecessárias (art. 90º/1).
Fase do julgamento
1. O julgamento
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Nos casos típicos há, por fim, lugar ao julgamento, proferindo-se uma sentença
fundamentada de facto e de direito, a qual, se houver lugar a uma decisão por um
colectivo de juízes (acórdão), pressupõe a vista aos juízes adjuntos, salvo
dispensa por simplicidade evidente da causa (art. 92º).
A lei prevê situações especiais para o julgamento em 1ª instância nos TACs, em
que podem ou devem intervir no julgamento todos os juízes do tribunal (art. 93º
CPTA e 41º do ETAF e 48º/4 CPTA).
Também aqui se admite que o juiz, me vez de proferir a sentença requerida,
convide as partes a acordarem numa indemnização, nos termos do art. 45º, ou,
caso de condenação da AP, fixe um prazo, com a imposição imediata de sanções
pecuniárias compulsórias, segundo o art. 44º.
2. A publicidade
A sentença ou o acórdão são notificados às partes, sendo os acórdãos finais do
STA e dos TCA publicados em apêndice ao DR, salvo os repetitivos de outros
anteriores (art. 30º/4).
Serão sempre objecto de publicação oficial, por extracto, as sentenças que
declarem a ilegalidade de normas com força obrigatória geral ou concedam
provimento à impugnação de actos que tenham sido publicados (art. 30º/7 e 8º).
A previsão legal (art. 48º) das situações de processos em massa, isto é, quando sejam
intentados mais de 20 processos relativos à mesma relação jurídica material ou
susceptíveis de serem decididos com base na aplicação das mesmas normas a idênticas
situações de facto.
Nesta situação, o presidente pode determinar, ouvidas as partes, que se escolha um
processo-modelo, suspendendo-se a tramitação dos restantes.
A escolha do processo-modelo deve garantir que nele se debatam todos os aspectos de
facto e de direito da questão e que não se limite o âmbito da instrução.
A tramitação é a dos processos urgentes e a formação de julgamento é constituída por
todos os juízes do tribunal, com o objectivo de conseguir uma decisão rápida e bem
fundamentada daquele tipo de questões.
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Os processos cautelares
Características da tutela cautelar
O processo cautelar é um processo que tem uma finalidade própria: visa assegurar a
utilidade da lide, isto é, de um processo que normalmente é mais ou menos longo,
porque implica uma cognição plena.
Pode dizer-se que os processos cautelares visam especificadamente garantir o tempo
necessário para fazer justiça. E é precisamente para esses casos, para aqueles processos
em que o tempo tem de cumprir-se para que se possa julgar bem, que é necessário
assegurar a utilidade da sentença que, a final, venha a ser proferida.
Em virtude dessa função própria de prevenção contra a demora, as providências
cautelares têm características típicas: a instrumentalidade – isto é, a dependência, na
função e não apenas na estrutura, de uma acção principal, cuja utilidade visa assegurar;
a provisoriedade – pois que não está em causa a resolução definitiva de um litígio; e a
sumaridade – que se manifesta numa cognição sumária da situação de facto e de direito,
própria de um processo provisório e urgente.
Os processos cautelares distinguem-se, por isso dos processos urgentes autónomas, que
são processos principais e visam a produção de decisões de mérito.
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Este preceito integra as disposições particulares, mas constitui um aspecto suplementar
do regime cautelar, valendo para qualquer providência em situações de especial
urgência.
O art. 131º/3 deverá entender-se com base no princípio da tutela judicial efectiva, que o
juiz, pelo menos quando esteja em causa a lesão iminente e irreversível de direitos,
liberdades e garantias, deve poder decretar provisoriamente a providência requerida ou
outra julgue mais adequada, mesmo que o decretamento provisório não tenha sido
pedido.
Nestas situações o periculum in mora reporta-se ao retardamento do próprio processo
cautelar: visa-se evitar a lesão iminente e irreversível do direito fundamental ou outra
situação de especial urgência e a decisão pode ser tomada no prazo de 48 horas.
Isto não excluirá, porém, a possibilidade de o juiz tomar, se tiver condições para isso,
uma decisão cautelar definitiva, que, no entanto, a ser proferida, terá de obedecer aos
critérios normais de decisão do art. 120º (art. 103º e 111º).
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Os efeitos e a força jurídica das sentenças
As sentenças no processo administrativo
Nos termos do art. 156º/2 CPC, cabe a designação de sentença ao acto pelo qual o juiz
decide a causa principal ou algum incidente que apresente a estrutura de causa.
A distinção mais relevante é a que as distingue quanto ao conteúdo, isto é, aos efeitos
que produzem.
Assim classificadas, as sentenças correspondem, em face do princípio do pedido, às
espécies de acções quanto ao fim: teremos, portanto, entre as sentenças declarativas, as
sentenças de simples apreciação (ou declarativas em sentido estrito), as sentenças de
condenação e as sentenças constitutivas.
As sentenças de simples apreciação contêm uma declaração de existência ou
inexistência de um direito ou de um facto (art. 4º/2 a) CPC), caracterizando-se por não
implicarem, por si, a alteração de relações jurídicas substantivas.
As sentenças condenatórias estabelecem o dever de prestação de um facto, positivo ou
negativo, de uma coisa ou de uma quantia, pressupondo o respectivo direito do
demandante. As sentenças podem ser de condenação genérica, quando não seja possível,
no momento da decisão, a concretização da prestação ilíquida em falta.
As sentenças constitutivas produzem ou autorizem uma alteração na ordem jurídica
existente, criando, modificando ou extinguindo uma relação ou situação jurídica ou um
status.
Para além disso, independentemente agora da espécie de acção, todas as sentenças
negativas ou de improcedência do pedido podem ser consideradas como sentenças
meramente declarativas, visto que não alteram as relações ou situações jurídicas
existentes.
Diga-se, por fim, que não se pode falar propriamente de sentenças executivas, dado que,
nestas acções, a pronuncia final do juiz se limita a declarar encerrado o procedimento
material de execução, em que se tomam as providências destinadas à reparação efectiva
do direito ou do preceito violado.
As sentenças administrativas podem hoje ser reconduzidas a estes tipos gerais, mas
apresentam várias particularidades.
O processo administrativo continua a oferecer a especialidade tradicional das acções
constitutivas, em que a sentença pode determinar a invalidação retroactiva de actos de
autoridade, concretos ou normativos, que, como veremos, geram obrigações,
designadamente a de restabelecimento da legalidade.
No que respeita às sentenças simplesmente declarativas, deve lembrar-se que, na acção
administrativa especial, enquanto haja pedidos impugnatórios, o juiz, em caso de
provimento, declara a invalidade de uma decisão da AP, sentença que também pode
implicar obrigações específicas para a AP.
Quanto às sentenças condenatórias, há a considerar as hipóteses peculiares de a
condenação implicar a intimação de uma autoridade pública para a adopção ou a
abstenção de comportamentos e, sobretudo, a de poder haver a condenação à omissão
ou mesmo à prática de um acto administrativo.
Há a considerar ainda situações singulares, como, por exemplo a de as sentenças
administrativas poderem ter efeitos substitutivos de uma actuação administrativa, bem
como o caso especial das sentenças de declaração da ilegalidade por omissão de normas
regulamentares, que, sendo na aparência simplesmente declarativas, fixam um praxo
para o suprimento da omissão declarada.
48
Têm de ser consideradas, como categoria autónoma, as sentenças de execução, que,
embora proferidas no decurso de processos executivos, têm efeitos declarativos; podem
ser condenatórias, quando especificam os actos ou operações que devem ter lugar para
execução de uma sentença ou determinam a entrega de uma coisa ou o pagamento de
uma quantia; declarativas, designadamente quando determinam a nulidade de actos
administrativos contrários à sentença ou declaram a existência de uma causa legítima de
inexecução; constitutivas, quando anulam actos cuja manutenção seja ilegal; ou
substitutivas, quando produzam os efeitos de um acto administrativo devido e
vinculado.
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Mas, actualmente, o CPA ao elencar entre os actos nulos os actos consequentes de actos
anteriormente anulados ressalva a hipótese de haver contra-interessados com interesse
legítimo na manutenção do acto consequente (art. 132º/2 i)).
Serão nulos apenas os actos consequentes cuja manutenção seja incompatível com a
reconstituição da situação hipotética exigida pela anulação (art. 173º/2 CPTA).
Mesmo quando se trate de actos nulos por essa razão, os seus efeitos (putativos)
poderão manter-se em face da existência de interesses legítimos de contra-interessados.
Segundo o art. 161º/1 CPTA, a extensão pode ser pedida relativamente aos efeitos de
sentenças que tenham anulado um acto administrativo desfavorável ou reconhecido uma
situação jurídica favorável.
A extensão pode beneficiar outras pessoas, que se encontrem na mesma situação
jurídica, quer tenham recorrido ou não à via judicial, a não ser que haja contra-
interessados (nº5).
A extensão só é permitida quando haja vários casos perfeitamente idênticos,
nomeadamente no domínio do funcionalismo público e no âmbito de concursos, e só
quando tenham sido proferidas cinco sentenças transitadas em julgado, ou três
sentenças, se proferidas em processos formalmente seleccionados nas situações de
processos em massa, nos termos do art. 48º.
50
Processos executivos
A obrigatoriedade das sentenças: a execução espontânea e as causa legítimas de
inexecução
A lei processual reafirma, no art. 158º a obrigatoriedade das decisões dos tribunais
administrativos, retirando daí a consequência lógica do dever de cumprimento
espontâneo das sentenças pela AP, dentro de um prazo, salvo ocorrência de causa
legítima de inexecução.
O interessado não tem o ónus de requerer à AP a execução da sentença, para a colocar
em mora: findo o prazo estabelecido – 30 duas, para pagamento de quantia certa; 3
meses, nos restantes casos – o particular tem o direito (e o ónus) de iniciar o processo de
execução.
As autoridades administrativas apenas podem deixar de cumprir integralmente a
sentença se ocorrer uma causa legítima de inexecução, que, nos termos da lei, serão só a
impossibilidade absoluta e o grave prejuízo para o interesse público na execução da
sentença – sendo certo que uma tal causa não pode ser invocada quando se trate de
pagamento de uma quantia certa.
Em princípio, o órgão competente para a execução deverá fundamentar e notificar o
interessado dentro do prazo de cumprimento espontâneo e o exequente, caso não
concorde deve, na petição de execução dizer as razões da sua discordância.
A causa legítima de inexecução específica da sentença pode ser invocada na fase pré-
executiva de cumprimento espontâneo (art. 163º), bem como durante o processo
executivo, em oposição (art. 165º), ou, na execução de sentenças anulatórias, na
respectiva contestação (art. 177º).
A causa legítima de inexecução terá, nos termos legais, de reportar-se a circunstâncias
supervenientes ou que a AP não estivesse em condições de invocar no momento
oportuno no processo declarativo (art. 163º), salvo quando esteja em causa a execução
de sentenças anulatórias, onde tal limitação, em princípio não existe (art. 175º/2).
A lei prevê, no art. 45º, a hipótese de um conhecimento antecipado, pelo juiz, ainda no
processo declarativo, de causas legítimas de inexecução, permitindo que ele julgue
condenatória. Mas só o faz no caso de o cumprimento do dever pela AP ser
absolutamente impossível ou ocasionar um excepcional prejuízo para o interesse
público.
Se o exequente concordar com a invocação pela AP da causa legítima de inexecução,
pode requerer ao tribunal a fixação da indemnização devida (art. 164º/6).
A indemnização respeita aos danos que decorrem do não cumprimento da sentença e
visa compensar o sacrifício do direito do particular reconhecido pelo tribunal, não se
confundido com a indemnização por responsabilidade civil em caso de inexecução
ilegítima.
A lei não obriga à cumulação dos pedidos de anulação de actos positivos com os de
condenação À prática do acto devido ou ao restabelecimento da situação hipotética, a
não cumulação preclude a faculdade de as pretensões serem accionados no âmbito do
processo de execução da sentença de anulação (art. 47º/2 e 3).
A execução espontânea pela AP da sentença anulatória rege-se tal como a sentença que
eventualmente se venha a produzir no processo de execução, pelos preceitos de direito
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substantivo que determinam o conteúdo do dever de executar, em função do regime da
anulação de actos administrativos.
Num processo em que a sentença é fundamentalmente constitutiva, a execução forçosa
pode consistir nas mais variadas pronúncias e providências judiciais.
Assim, o tribunal poderá, quando julgue procedente a pretensão do autor, num primeiro
momento:
A especificar o conteúdo dos actos e operações necessários à execução da
sentença, identificando o órgão responsável e fixando o prazo para a respectiva
prática, cominando, se for caso disso, uma sanção pecuniária compulsória para o
caso de incumprimento;
Fixar o prazo de 30 dias para pagamento de quantias devidas;
Declarar a nulidade de actos desconformes a situação ilegal.
Em caso de incumprimento dentro do prazo estabelecido, o juiz poderá:
Quanto a quantias devidas, decretar a compensação ou promover o pagamento
pró conta da doação orçamental;
Quanto a actos administrativos de conteúdo vinculado que tenha especificado
como devidos, emitir uma sentença substitutiva.
Quando a factos infungíveis, fixar a requerimento do autor, a indemnização
devida por inexecução ilícita da sentença.
Poderá o juiz ordenar a entrega de coisa certa ou a execução subrogatória de operações
materiais que constituam factos fungíveis.
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Os princípios gerais do processo administrativo
O sistema dos princípios processuais
São duas as ideias estruturantes dos processos. Por uma lado, vale a ideia de que o
processo serve fundamentalmente os interesses das partes litigantes, de modo que às
entidades públicas e, especificadamente, ao juiz cabe primacialmente uma função de
árbitro, que só actua mediante pedido e se limita a verificar o cumprimento das regras
do jogo para assegurar um processo justo – esta ideia exprime-se, normalmente pelos
princípios do dispositivo ou da autoresponsabilidade das partes.
Por outro lado, o processo judicial, tendo em conta a proibição de autodefesa, é visto
como uma forma de realização de interesses públicos, que são exteriores e transcendem
os interesses dos litigantes e que, por isso, implicam um envolvimento e impõem uma
intervenção autónoma das autoridades judiciárias, em especial do juiz – a ideia exprime-
se, em regra, pelos princípios do inquisitório, da oficiosidade ou oficialidade.
Teremos em conta apenas os princípios processuais num sentido estrito, embora não se
esqueça que, além deles e através deles, relevam na justiça administrativa como padrões
de conduta e critérios de decisão, os princípios da juridicidade substancial, que estão
explicitados na lei e na CRP.
54
petição inicial, mantendo-se a partir do despacho liminar de aceitação até à decisão
final.
Este princípio tal como não é um princípio absoluto no processo civil, também não vale
inteiramente no processo administrativo, sofrendo limitações importantes:
É a própria lei a determinar, que quando tenha sido pedida a estrita anulação de
um indeferimento, o juiz convide o autor a substituir a petição inicial para
formular o pedido de condenação do acto devido (art. 51º/4).
Permite-se com grande largueza a ampliação ou substituição do pedido
inicialmente formulado nos processos de impugnação de actos (art. 63º, 64º).
Nos casos de condenação à prática de acto devido, também se pode alterar a
causa de pedir, quando haja um indeferimento expresso na pendência do
processo (art. 70º).
Para além destes casos, na acção administrativa especial, admite-se, em geral, a
alteração da causa de pedir (art. 86º e 91º/5).
Na impugnação de normas ou de actos, prevê-se a arguição, pelo MP, de
quaisquer vícios que determinam a nulidade ou inexistência do acto impugnado
(art. 85º/2, 3 e 4).
Art. 45º e 49º.
Trata-se de saber em que medida o juiz pode considerar, na sentença relativa a um
determinado processo, os factos jurídicos supervenientes que sejam susceptíveis de
influírem na decisão do litígio.
A resposta a esta questão vai depender do tipo de acção e de sentença pretendida, e, no
caso de impugnações de actos, do tipo de acto impugnado, bem como do tipo de
modificação operada.
O problema põe-se com particular acuidade no domínio das sentenças constitutivas, em
especial quando esteja em causa a anulação de actos administrativos.
Esta regra da não atendibilidade das novas circunstâncias de facto e de direito parece ser
incontestável quanto a actos administrativos de eficácia instantânea ou que já tinham
produzido, no momento da proposição da acção, todos os seus efeitos.
Porém, tal inatendibilidade não será uma imposição necessária quanto aos actos de
eficácia duradoura ou aos actos ainda não executados. Nesses casos, poderá ser
processualmente conveniente a atendibilidade das novas circunstâncias.
Deverá porventura distinguir-se entre as situações em que a mudança levaria a
considerar válido um acto originariamente inválido e aquelas em que as novas
circunstâncias importam a invalidade de acto originariamente válido. No primeiro grupo
de situações ainda se pode defender a não atendibilidade das novas circunstâncias. No
segundo grau de situações, de invalidade supervenientes do acto, é, regra geral mais
defensável a atendibilidade das modificações de facto ou de direito, pois que o princípio
da economia processual e, em regra, também o da protecção efectiva dos interessados
desaconselham a que se obrigue o particular a esperar ou a requerer à AP a revogação
do acto ou a propor nova acção com esse objectivo.
Isto deve ser assim quando se possa afirmar com segurança que é ilegal a manutenção
dos efeitos do acto em face das novas circunstâncias, isto é, que a AP tem o dever de
revogar.
Já quando essa certeza não exista o juiz não deve anular o acto, remetendo o interessado
para o requerimento e eventualmente para nova acção.
Os princípios relativos à prossecução processual (decurso, condução e extinção do
processo)
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Princípios da tipicidade, da compatibilidade processual e da adequação formal da
tramitação
O princípio da tipicidade dos trâmites processuais impondo que os trâmites e a
respectiva sequência sejam fixados por lei, diferentemente do que é característico do
procedimento administrativo, em regra mais flexível.
A lei de processo administrativo, ao pretender facilitar a cumulação de pedidos,
determina a compatibilidade entre as diversas formas de processo, que não obstam a tal
cumulação (art. 5º/1).
Deve considerar-se aplicável ao processo administrativo, nos termos do art. 1º do
CPTA, o princípio da adequação formal contido no CPC, nos termos do qual quando a
tramitação prevista na lei não se adequar às especificidades da causa, deve o juiz
oficiosamente, ouvidas as partes, determinar a prática dos actos que melhor se ajustem
ao fim do processo, bem como as necessárias adaptações.
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Deve ser a AP a suportar a desvantagem de não ter sido feita a prova da verificação dos
pressupostos legais que permitem à AP agir com autoridade; deve ser o particular a
suportar a desvantagem de não ter sido feita a prova de que, no uso dos poderes
discricionários, a AP actuou contra princípios jurídicos fundamentais.
No que toca aos aspectos discricionários das decisões, a AP ainda deveria, em rigor,
suportar a desvantagem da falta de aparecia de razoabilidade, de imparcialidade, de
igualdade, de justiça e de proporcionalidade dessas decisões, incumbindo ao particular
provar o mau uso dos poderes discricionários se a decisão aparentemente não for
desrazoável.
Na aplicação destes princípios gerais, há que tomar em consideração o meio processual
em causa, bem como o caso ou o tipo de caso em litígio, avaliando os dados normativos
que regulam a situação e procurando extrair deles argumentos para o necessário juízo
sobre o quadro de normalidade.
Deve concluir-se que a repartição do ónus da prova, para além dos casos em que o
legislador opte por regras estritas, constituirá, também ela, um problema normativo, a
decidir em última análise pelo juiz, a partir da aplicação das regras processuais básicas,
de maneira que pode até representar, afinal, um aspecto diferenciado e susceptível de ser
motivado no processo de formação da convicção íntima do juiz.
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