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Aspectos morfológicos, morfométricos e topográficos


do aparelho digestório de Chinchilla lanigera

Tiane Ferreira de CASTRO1 1- Acadêmico de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Pelotas,


Rodrigo Jeske DUMMER1 Pelotas-RS
Eduardo Madruga RICKES2 2- Médico Veterinário
Malcon Andrei Martinez 3- Programa de Pós-graduação Neurociências, Laboratório Neurobiologia
PEREIRA3 Comparada, Departamento Fisiologia, Instituto Ciências Básicas da Saúde,
Universidade Federal Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS
Correspondência para:
Malcon Andrei Martinez Pereira,
Laboratório Neurobiologia Comparada,
Departamento Fisiologia, ICBS –
Resumo Palavras-chave:
Anatomia.
UFRGS, Rua Sarmento Leite, 500, Porto
Aparelho digestório.
Alegre, RS, Brazil, CEP: 90046-900, O objetivo deste estudo foi o de descrever os aspectos morfológicos Topografia.
(51) 33083305
malconantato@yahoo.com.br
e topográficos do Aparelho Digestório (AD) de chinchilas, mediante Morfometria.
a dissecação de dez animais. Os segmentos do AD foram coletados e Chinchilla.
Recebido para publicação: 22/11/2005 demarcados, seguido de análise volumétrica dos órgãos cavitários, por
Aprovado para publicação: 23/04/2007 meio de injeção de solução salina a 60°C, além da mensuração dos
comprimentos dos órgãos tubulares. Nos órgãos parenquimatosos
realizou-se a sua pesagem. Durante a análise da disposição dos
órgãos, evisceração e medição, observou-se que a cavidade oral é
característica de roedores, as glândulas salivares são semelhantes às
de lagomorfos e órgãos como esôfago, estômago, duodeno, cólon
transverso, fígado, pâncreas e baço apresentam-se dispostos de
forma semelhante ao descrito nas outras espécies. Já o jejuno e o
cólon descendente foram evidenciados muito extensos e dispostos
de forma ondulatória, suspensos no teto da cavidade abdominal. O
íleo assemelhou-se ao descrito para as outras espécies, porém sua
disposição topográfica é da direita para esquerda, direcionando-
se ao ceco, o qual se constitui de duas porções distintas e bem
desenvolvidas. Ambas as partes encontram-se localizadas à esquerda
do plano mediano. O cólon ascendente dispõe-se de forma bastante
particular, ocorrendo a presença de uma alça dupla que realiza um
looping junto ao fígado. Uma característica relevante foi evidenciada
ao comparar-se o reto de machos e fêmeas, o qual apresenta maior
comprimento nos machos. De posse dos resultados concluímos
que, apesar da chinchila ser um roedor, há características próprias
da espécie e também outras que se assemelham aos lagomorfos,
constituindo uma relação entre essas ordens.

Introdução Médicos Veterinários ao prestarem serviços


que objetivam a cura de enfermidades
A espécie Chinchilla lanigera é e melhoria na qualidade de vida destes
um animal bastante visado no comércio animais e, consequentemente, nos produtos
de peles, estando sua criação em pleno vinculados a eles. Atualmente, a maioria dos
desenvolvimento. Apesar de sua importância procedimentos clínicos e cirúrgicos aplicados
comercial, e sua recente inclusão no comércio é realizada de forma empírica, apenas
de animais de estimação, observa-se a considerando sua anatomia semelhante
existência de poucos estudos relacionados à à de outras espécies, sem relevar suas
sua anatomia. Tal fato dificulta o trabalho de características particulares.

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Mesmo que estudos realizados costo-condrais. A incisão seguiu-se sobre a


descrevam a anatomia de ratos1,2, porcos- linha alba, terminando ao final da sínfise
da-Índia3, hamsters4 e coelhos5,6, ainda há pélvica, com a desarticulação do osso coxal,
lacunas quanto à comparação às chinchilas, e concomitantemente foram rebatidos os
no que diz respeito aos aspectos relacionados músculos adjacentes a estas regiões. Tendo as
ao AD. Para tanto, este estudo destina-se à vísceras totalmente expostas, confeccionou-
descrição dos órgãos constituintes do AD, se registro fotográfico e esquemático,
assim como de seus órgãos anexos, visto visando ilustrar a descrição. Também se
que distúrbios relacionados a este aparelho realizou este procedimento em cada víscera
influenciam muito a comercialização destes no momento de sua retirada do interior da
animais. cavidade. Terminando esta etapa, foram
Tendo em vista a necessidade de coletados e compilados os dados relativos
solucionar tais problemas e melhorar a à: esqueletopia, topografia, topologia e
produção, aliada ao fato de não haver sintopia, para logo após cada animal ser
estudos anteriores voltados a estes pontos, eviscerado por completo, iniciando-se a
torna-se essencial a realização de um estudo partir da língua até o ânus, onde se respeitou
que ressalte aspectos fundamentais na o limite das cavidades torácica, abdominal
descrição da constituição deste aparelho. e pélvica. Em cada uma destas cavidades
Este trabalho visa, ainda, a descrição da observaram-se os limites de cada órgão e
topologia e topografia deste aparelho para suas regiões de transição, bem como os
esta espécie, a fim de avaliar suas respectivas meios de fixação de cada um. Os órgãos
disposições, trajetos, comprimentos, cavitários de maior expressão (estômago
volumetria, assim como relações de sintopia. e ceco), após terem sido coletados foram
Com base na pesquisa realizada, torna-se injetados com solução salina à 60ºC, para
possível propor a construção de um modelo que se pudesse observar sua capacidade
anatômico padrão para chinchilas, a partir volumétrica. As estruturas tubulares tiveram
dos parâmetros morfológicos e topográficos mensurados seus comprimentos, enquanto
relatados. que as parenquimatosas foram pesadas em
balança de precisão.
Materiais e Métodos
Resultados e Discussão
Para este estudo foram utilizados
dez animais da espécie Chinchilla lanigera, O AD tem seu início na cavidade oral
provenientes de criatórios comerciais da (CO), que se encontra delimitada oralmente
cidade de Pelotas, RS. O grupo de animais pelo lábio maxilar fendido e pelo mandibular
analisados constitui-se de cinco machos único, ambos de bordos finos; lateralmente
e cinco fêmeas. Estes se encontravam no pelos músculos bucinador, bastante delgado
período de abate (8–11 meses), e a eutanásia e reduzido, e masseter, muito desenvolvido;
ocorreu no local de criação. Após a remoção seu limite caudal é representado por um
da pele, procedera-se imediatamente a palato mole extremamente desenvolvido,
dissecação, com a finalidade de evitar que que recobre a entrada da orofaringe. Dorso-
alterações post-mortem ocasionassem dados rostralmente na cavidade é possível visualizar
imprecisos sobre localização, posição, uma proeminente papila incisiva que se
volumetria e sintopia. De posse dos animais, destaca do palato duro. Durante a análise
iniciou-se a dissecação por meio de uma dos espécimes observou-se um sulco oral7. ao
longa incisão que partiu da região do redor dos dentes molariformes mandibulares.
mento até a entrada da cavidade torácica, A língua apresenta o ápice e a base com
onde se procedeu a desarticulação das formato de seta, com um tórus saliente e
costelas e esterno, na altura das articulações bem demarcado.

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As chinchilas são heterodontes, maior que os demais dentes de mesmo tipo7,


possuindo dentes que atuam cortando e divergindo do observado em chinchilas.
coletando o alimento (incisivos em número de A orofaringe apresenta um formato
quatro, distribuídos aos pares nos ossos incisivos cubóide, comunica-se com o esôfago pela
e corpo da mandíbula) e que trituram ou moem primeira porção, cervical, que apresenta
(molariformes, com formato cubóide, de comprimento médio de 3,1 cm, acom-
superfície plana em um total de oito maxilares e panhando dorsalmente à traqueia, sob
oito mandibulares); totalizando dez maxilares e o plano mediano (PM). Ao nível do
dez mandibulares. A fórmula dentária varia em terço médio sofre um ligeiro desvio para
relação a outros roedores e o coelho, contudo a esquerda, mantendo esta posição até
distribuição em dentes incisivos e molariformes adentrar a cavidade torácica, onde passa a
é descrita no segundo, assim como em ser denominado de esôfago torácico, que
capivaras7. Em ratos1, foi observado a ausência apresentou comprimento médio de 5,6
de dentes pré-molares e um total de 16 dentes, cm. Ao nível da nona costela atravessa o
divididos entre incisivos e molares maxilares e músculo diafragma, penetrando na cavidade
mandibulares. Em coelhos5,8, evidenciaram a abdominal (CA), denominando-se esôfago
presença de quatro dentes incisivos maxilares abdominal, com comprimento médio de 1,2
e dois mandibulares, e cinco molariformes, cm. Este se encontra levemente deslocado à
divergindo dos dados observados em nossa esquerda do PM, cursando dorsalmente ao
pesquisa. Capivaras (Hydrochaeris hydrochaeris), fígado e comunicando-se ao estômago na
no entanto, apresentam a mesma constituição região do cárdia ao nível do nono espaço
dentária encontrada em chinchilas, porém há intercostal (EIC). Durante seu trajeto, o
uma divergência quanto à superfície dos dentes esôfago não apresenta angulações verticais
molariformes nesta espécie, que apresentam e totalizou 9,8 cm de comprimento. A
irregulares com leves projeções pontiagudas. morfologia evidenciada na orofaringe e
Ainda podemos ressaltar que em capivaras o esôfago foi semelhante à observada em
último dente molariforme apresenta tamanho outros roedores, como ratos1.

Figura 1– Fotografia evidenciando a disposição in situ dos órgãos da cavidade abdominal, mostrando: fígado
(f), estômago (e), jejuno (j), ceco primeira porção (c1) e segunda porção (c2), cólon ascendente (ca) e
cólon descendente (cd)

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O estômago apresenta-se mono- Esta porção do duodeno apresenta um


cavitário simples (Figura 1), semelhante ao divertículo duodenal, onde desembocam
evidenciado em estudos com ratos9. Localiza- os ductos cístico e pancreático. Este assume
se nos terços médio e ventral da CA. Quando um trajeto longitudinal chamado duodeno
vazio, está disposto entre a 10a e a 12a costela, descendente, que se localiza à direita do
e encontrando-se 2/3 à esquerda do PM. PM no terço dorsal da CA, dirigindo-se
Quando cheio está entre o nono EIC e a L2, em trajeto descendente desde a 12a costela
tocando o teto e o assoalho da CA. Encontra- até próximo da entrada da cavidade
se fixo pelos omentos maior (estendendo- pélvica (CP) e possui em média 6,1 cm.
se desde sua curvatura maior até o cólon Apresenta íntima relação com o pâncreas,
transverso e a parede) e menor (fígado) e estando dorso-lateralmente à direita deste,
omento gastro-esplênico (baço). O piloro ambos fixos por uma prega peritoneal, o
encontra-se à direita do PM, comunicando-se mesoduodeno. Quando próximo da entrada
com o duodeno. Sua capacidade volumétrica da CP, assume um trajeto transversal, que
média foi de 89,3 cm³. Deste modo, apesar lhe confere a denominação de duodeno
de não haver dados volumétricos deste órgão transverso. Esta porção foi constatada
para as espécies analisadas, impossibilitando com aproximadamente 2,6 cm, disposta
uma comparação concreta, podemos inferir, levemente oblíqua junto ao teto da CA
baseados na topologia descrita, que não no sentido caudo-cranial e dirigindo-se
foram observadas variações significantes da direita para esquerda, até ficar sob
quando comparado aos dados obtidos no o PM. A partir deste ponto, dispõe-se
estudo realizado por Wang et al.4. longitudinalmente no sentido caudo-
A primeira porção do intestino cranial, sendo denominado duodeno
delgado, o duodeno, apresentou 15,9 cm ascendente. Este se encontra sob o PM e no
e seu início ao nível do 11° EIC (Figuras 1 terço dorsal da CA, desde a entrada da CP
e 3). A porção cranial apresenta-se pequena até o nível de L2, apresentando comprimento
(média 2,2 cm) e disposta transversalmente médio de 5,1 cm. A disposição e trajeto
e à direita do PM, dirigindo-se ventro- assumidos pelo duodeno foram semelhantes
dorsalmente até atingir o teto da CA. ao evidenciado para ratos1 e carnívoros10,11.

Figura 2– Fotografia evidenciando a morfologia do ceco, sendo a primeira porção espiral-sacular (es) e a segunda
tubular (tb)

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Figura 3– Fotografia mostrando a morfologia e disposição do duodeno (d), cólon ascendente (ca), cólon
transverso (ct) e parte do cólon descendente (cd)

O jejuno comunica-se com a extre- devido aos processos fermentativos realizados


midade terminal do duodeno ascendente por estes. Observou-se que este órgão
(Figura 1). Este apresenta semelhança constitui-se de duas porções bem distintas,
externa ao duodeno, sendo um tubo liso e divergindo do descrito para coelhos13 para
de cor rosado claro. Encontrando-se fixo ao os quais relataram três porções. O formato
teto da CA pelo mesentério, concentrando- observado muito se assemelha ao citado
se principalmente nos terços dorsal e por Snipes2 para o gerbil, onde a primeira
médio da CA. Encontra-se mais à direita porção apresenta saculações bem dilatadas
devido ao volume do ceco e pronunciado e um formato espiral e a segunda como
comprimento do cólon descendente. Possui uma estrutura tubular levemente pregueada
um comprimento aproximado de 114,6 (Figura 2). Encontra-se à esquerda do PM,
cm e dispõe-se de forma ondulatória. Seu ocupando o terço ventral e parte do médio. A
comprimento expressivo difere do descrito variação de sua posição condiz ao evidenciado
para carnívoros 10, que apresentam um para ratos1 e gambás12. A primeira porção
intestino delgado relativamente curto, o apresentou volumetria média de 113,1
que facilita a ingesta rápida e em grandes cm³. Observou-se a presença de uma prega
quantidades. Aproximadamente ao nível de peritoneal entre esta porção e o duodeno
L4-5 assume uma disposição retilínea e oblíqua transverso, a prega duodeno-cecal. A segunda
no sentido crânio-caudal, constituindo o porção do ceco possui menor calibre do que
íleo, que se dirige da direita para esquerda a primeira e apresenta um leve pregueamento
e apresenta semelhança externa ao jejuno. da parede (Figura 2). Dispõe-se de modo em
Entretanto em ratos1 e gambás12 foi relatado que apresenta uma flexura, voltando sobre ele
que este apresenta um trajeto caudo-cranial, mesmo. Mesmo disposto em ambos os lados
dirigido, também, da direita para esquerda. do PM, concentra-se mais à esquerda deste.
Este segmento apresenta em média 4,9 cm e Encontra-se ao nível de L5 e média de 25,9
desemboca na primeira porção do ceco. cm de comprimento (Figura 3).
O ceco, primeira parte do intestino O cólon ascendente, que se comunica
grosso, foi observado como um órgão com a segunda porção do ceco, apresenta-se
bastante volumoso (Figura 1), assim como o como um tubo levemente pregueado, cujo
evidenciado para ratos9 e Microtus brandti4, comprimento aproximado é de 60,6 cm

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(Figuras 1 e 3). Este se dirige cranialmente, de reto. Este não apresenta saculações, tendo
sendo representado por uma alça simples. a aparência de um tubo liso com um ligeiro
Ao nível do fígado, ele se volta caudalmente pregueamento, exceto por uma pequena
até a entrada da CP. Porém, ao nível da 12a região localizada mais caudalmente onde
costela, realiza um looping. Neste aspecto é observamos uma leve dilatação, a ampola
possível relatar uma divergência ao descrito retal. Observou-se o reto com, em média,
por Möller, Pérez e Martin13, no seu estudo 3,8 cm, entretanto em machos com cerca de
em coelhos, onde expõe que o cólon 4,1 cm, devido ao fato destes apresentarem
ascendente possui três loopings (proximal, a CP mais alongada que as fêmeas, pois os
intermédio e distal), fato não observado testículos ficam no interior da CA, quando
em chinchilas. Estas apresentam um único fora de período reprodutivo. As fêmeas
looping, orientado caudalmente. Na entrada apresentaram em média um comprimento de
da CP volta-se cranialmente acompanhando 3,5 cm, e sua CP foi observada apresentando
a primeira porção, de trajeto descendente, um diâmetro transverso maior. Não foram
até o nível de L1 onde origina a porção encontrados dados comparativos relacionados
denominada cólon transverso, localizada no à morfometria do reto entre machos e fêmeas.
terço médio da CA, dirigindo-se da direita Durante a análise dos espécimes
para esquerda e comprimento médio de observou-se que a gordura subperitoneal
5,9 cm. A morfologia evidenciada para esta encontrava-se em pouca quantidade,
porção foi semelhante a outras espécies como principalmente nos animais mais jovens.
ratos1 e carnívoros10. Este fato implicou na evidenciação das
O cólon descendente tem seu início ao pregas peritoniais sendo finas e, em alguns
nível de L2, à esquerda do PM, ocupa o terço casos muito delgadas e de difícil visualização.
dorsal e parte do terço médio da CA, onde Comparado aos gambás12, inferimos que
se encontra fixado no teto da CA por uma há uma divergência, pois estes apresentam
prega peritoneal, o mesocólon descendente gordura subperitoneal ao longo da parede
(Figuras 1 e 3). Concentra-se basicamente abdominal, não condizente aos resultados
à esquerda do PM, dorsalmente às duas obtidos em nosso estudo.
porções do ceco. Porém, seu comprimento Anexo ao AD temos a presença
médio de 109 cm supera muito o espaço de glândulas que auxiliam na digestão
que lhe é conferido, por isso, dispõe-se de e m e t a b o l i z a ç ã o. D e n t r e e s t a s s e
forma irregular e ondulatória, semelhante à encontram as glândulas salivares parótida,
disposição evidenciada em equinos10,11. Na mandibular e bucais ventral e lateral, as
sua extremidade aboral, passa a assumir uma quais não apresentaram variações nos
disposição retilínea, longitudinal dirigida aspectos relacionados à localização quando
caudalmente e sob o PM. Neste ponto comparadas ao descrito para coelhos15. A
observou-se sua relação com estruturas do glândula salivar parótida foi observada bem
aparelho urogenital, onde se evidenciou que o desenvolvida, com aproximadamente 1,3 cm,
ureter e o corno uterino direitos posicionam- com formato elipsóide irregular e posicionada
se ventralmente ao cólon descendente, lateralmente ao músculo masseter, desde
enquanto os mesmos esquerdos, dispõem- a porção ventral da orelha externa até a
se dorsalmente. Nos machos, averiguou-se região mandibular. Seu ducto salivar cursa
que fazem o mesmo tipo de relação com lateralmente o músculo masseter e adentra a
os ureteres, porém também se observou os CO próximo ao diastema. Na região ventral
ductos paramesonéfricos14 fazendo relação ao corpo da mandíbula evidenciou-se a
semelhante às dos cornos uterinos. presença da glândula salivar mandibular,
Quando o cólon descendente adentra cujo formato é ovóide e com tamanho
a CP mantém uma disposição retilínea em aproximado de 0,8 cm. Dorsalmente a esta
relação ao PM, porém passa a ser chamado última evidenciou-se a glândula salivar bucal

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ventral, a qual apresenta formato globoso e e o duodeno ascendente, dorsalmente


aproximadamente 0,3 cm. A glândula salivar ao cólon transverso. Porém, dirige-se ao
bucal lateral foi observada rostralmente estômago, percorrendo sua curvatura maior.
e posicionada lateralmente ao músculo Apresenta-se pouco desenvolvido o que torna
bucinador, apresentando formato, também, difícil sua visualização macroscópica. Seu
globoso e alongado, tendo tamanho médio peso em média foi de 1,5 g. Encontra-se,
de 1,0 cm. Não constatamos a presença da sobre o mesoduodeno, disposto nos terços
glândula salivar zigomática, que se encontra dorsal e médio da CA. Seu ducto desemboca
presente em coelhos15. Apesar dos dados no divertículo duodenal.
morfológicos e topográficos analisados, não se O baço apesar de não fazer parte do
pode proceder à comparação morfométrica, AD é didaticamente descrito junto a este por
devido ao fato de não terem sido encontrados apresentar íntima relação com o estômago, ao
relatos sobre este aspecto para estas glândulas qual se situa dorso-lateralmente à esquerda,
dentre as espécies analisadas. junto ao gradil costal, entre o 10° e 11º EIC.
O fígado apresenta-se bem Apresenta formato irregular semelhante
desenvolvido e divido em seis lobos, muito aos carnívoros, pesando aproximadamente
semelhante ao descrito para os carnívoros10. 2,23 g. Fixa-se ao estômago pelo omento
Sendo estes os lobos hepáticos mediais gastro-esplênico. Sua posição, dorso-caudal
direito e esquerdo, lobos hepáticos laterais ao estômago, assemelha-se ao citado para
direito e esquerdo, lobos hepáticos quadrado gambás 12 . Porém não foi observada a
e caudado. O lobo caudado apresenta o orientação ventral em direção à cartilagem
processo papilar, cranialmente e o processo xifóide relatada pelos mesmos autores.
caudato, caudalmente. Seu peso aproximado
foi de 17,5 g. Dispõe-se em grande parte à Conclusão
direita do plano mediano, ocupando desde
o teto da CA até o assoalho desta, entre a De posse dos resultados concluímos
nona e a 12a costela. Sua face parietal está em que apesar da chinchila ser um roedor,
contato com o diafragma. Encontra-se fixo apresenta características próprias
pelos ligamentos falciforme (à porção esternal da espécie e também outras que se
do músculo diafragma e assoalho da CA), assemelham aos lagomorfos, constituindo
redondo (à cicatriz umbilical), coronário (à uma relação entre essas ordens. Deste
Veia Cava Caudal), triangulares esquerdo e modo, constatamos que a CO apresenta
direito (fixando, respectivamente, os lobos a papila incisiva proeminente e os dentes
laterais esquerdo e direito ao músculo são constituídos por quatro incisivos, em
diafragma), hepato-renal (ao rim direito) forma de pinça, distribuídos aos pares
e omento menor (ao estômago e duodeno no osso incisivo e corpo da mandíbula,
cranial). Quanto à fixação deste órgão foi oito molariformes maxilares e oito
evidenciado de forma similar ao coelho6. mandibulares, totalizando dez dentes
Contudo, o ligamento hepato-renal foi maxilares e dez mandibulares. O esôfago
observado dirigido propriamente ao rim apresenta trajeto e disposição semelhantes
direito e não à parede abdominal como ao descrito para outras espécies domésticas.
relatam os mesmos autores. A vesícula biliar Já o estômago foi observado como sendo
encontra-se entre os lobos hepáticos medial monocavitário simples e disposto desde o
direito e quadrado, assim como o evidenciado teto até o assoalho da CA, 2/3 à esquerda
em gambás12. O ducto cístico desemboca no do PM.
divertículo duodenal. No intestino delgado averiguou-
O pâncreas apresenta formato se que o duodeno cranial apresenta o
alongado e situa-se em maior concentração à divertículo duodenal aproximadamente 1,0
direita do PM, entre o duodeno descendente cm após o piloro. O duodeno não apresentou

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variações na sua disposição. Quanto ao o reto com maior comprimento quando


jejuno observou-se que se encontra fixo ao comparados às fêmeas.
teto da CA, ligeiramente deslocado à direita Em anexo ao AD observamos que
do PM. Evidenciou-se no íleo variações em a gordura subperitoneal encontrava-se em
sua disposição, com o seu trajeto da direita pouca quantidade nos espécimes estudados.
para esquerda. As glândulas salivares parótida, mandibular
O ceco apresenta-se bem desenvolvido, e bucais ventral e lateral foram evidenciadas
posicionado à esquerda do PM e divido semelhantes ao descrito aos lagomorfos. O
em duas porções distintas, uma espiral- fígado foi observado bem desenvolvido e
sacular e outra como uma dupla alça apresentando seis lobos, sendo dois destes os
paralela, apresentando pequenas saculações lobos hepáticos medial direito e quadrado,
subsequentes. O cólon ascendente dispõe- entre os quais se encontra a vesícula biliar.
se em forma de uma dupla espiral, desde a Em relação ao pâncreas, constatamos que
entrada da CP até o nível da 12a costela. No este apresenta formato alongado e bastante
cólon transverso não foram evidenciadas delgado, estando disposto entre o duodeno
alterações posicionais. O cólon descendente descendente e duodeno ascendente, dirigido
apresenta-se bastante extenso, dispondo-se de à curvatura maior do estômago, sobre o
forma ondulatória-irregular fixo ao teto da mesoduodeno. Já o baço, evidenciou-se
CA, e concentrado à esquerda do PM, dorsal com um formato irregular e com disposição
ao ceco. Os machos, em média, apresentaram semelhante ao descrito para outras espécies.

Morphological, morphometric and topographical description of the digestive


tract in Chinchilla lanigera

Abstract Keywords:
Anatomy.
The aim of this study was to describe the morphological and Digestive apparatus.
topographic aspects of the chinchilla’s digestive apparatus (DA) Topography.
through dissection of ten animals. We collected the DA segments Morphometry.
and made the volumetric analysis of cavitary organs through Chinchilla.
injection of saline solution at 60°C, and measuring of the tubular
organs. The parenchymal organs were weighed. During analysis of
the position of organs, evisceration and measuring, it was observed
that the oral cavity is typical of rodents, the salivary glands are
similar to lagomorphs and organs as esophagus, stomach, duodenum,
transversal colon, liver, pancreas and spleen were disposed in similar
way to described to other species. On the other hand, jejunum and
descending colon were found to be very long and disposed on a wavy
way, hanging from the roof of the abdominal cavity. The ileum was
found to be similar to other species, but its topographic disposition
is from the right to the left, heading to cecum, which is made of
two well developed distinct portions. Both portions are located to
the left of the median plane. Ascending colon is disposed in a very
particular way, in which we observe a double loop which makes a
circle at the liver. A relevant characteristic was in evidence comparing
the rectum of males and females: males’ is longer. Based on these data
we conclude that despite the fact that chinchillas are rodents, they
have particular characteristics of their own, and other characteristics
similar to lagomorphs, being then a connection between these orders.

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