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Trabalho de Seminário de Engenharia Geográfica Mateus Benchimol Ferreira de Almeida

Tema: a evolução da Geodesia Nº 48454


Luanda, aos 20-11-09

INTRODUÇÃO

O homem é considerado o único ser racional, no entanto procurou


sempre viver de forma diferente em relação aos restantes seres vivos.
Aparentemente, o homem e os restantes seres vivos parecem não terem
nada em comum, mas acontece que estes partilham a mesma casa “a
Terra”. Inicialmente, o homem preocupava-se em compreender apenas
aquilo que os seus olhos viam, questionava-se da existência do dia e da
noite e de muitos outros fenómenos que hoje a ciência explica de olhos
fechados.

Porém, o homem sentiu a necessidade de conhecer melhor a Terra e


começou então a compreender certos fenómenos que a partir do génio de
muitos, foram permitindo outros serem deduzidos.

Surgiu então a matemática, que inicialmente tinha como objectivo a


contagem das ovelhas através de pedras que eram colocadas numa cesta, e
devido ao desenvolvimento desta, foi possível relacioná-la com diversos
fenómenos naturais.

Todo este processo continuou até que o homem utilizando


pensamentos lógicos, conseguiu determinar utilizando métodos indirectos,
a forma e dimensões da terra, naturalmente, com o auxílio de certos
instrumentos que foram evoluindo de mãos dadas com a ciência, sendo esta
a preocupação fundamental do presente trabalho.

No presente trabalho, falarei mais sobre a Geodesia geral e um pouco


sobre a evolução dos instrumentos, sendo que a Geodesia de Angola será
abordada de forma superficial.

Desejaria muito que o presente trabalho contribuísse de certa forma


para o conhecimento mais amplo da Geodesia como ciência, e espero que o
leitor possa interessar-se pelo seu conteúdo de forma a despertar o gosto
pela cadeira daquelas pessoas que de certa forma estão envolvidas com ela.

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A EVOLUÇÃO DA GEODESIA

I – GEODESIA GERAL

A Geodesia até se tornar ciência, passou por um processo longo e


lento até adquirir a “forma” que hoje apresenta.

Inicialmente, o homem de acordo ao que os seus olhos se


apercebiam, tomou a terra como um corpo rugoso, recortado de
elevações e depressões.

Mais tarde, devido a evolução da civilização, começou-se a tomar


conhecimento de algumas figuras geométricas, sendo que naquela época
tomou-se como forma da terra uma superfície plana que se apoiava no
lombo de quatro elefantes que se encontravam no dorso de uma tartaruga
gigantesca que flutuava sob um imenso oceano. Esta ideia da forma da
Terra tivera sido enunciada por Homero a 900 A.C..

A Terra passou a ser considera esférica a partir de séc. IV. Este


conceito de esfericidade teve origem filosófica e religiosa e
superficialmente científica, visto que outrora a igreja católica tinha grande
poder e autoridade social. Sendo que muitas das vezes os descobrimentos
científicos não iam de acordo ao ponto de vista católico, dando assim
origem a dois caminhos, ou o protagonista de tais descobertas era exilado
em plena praça, ou a igreja seguindo a lógica dos factos, tomava-as por
aceite.

A teoria da esfericidade da Terra perdurou por mais de dois mil anos,


sendo que Isacc Newton nos finais do séc. XVII definiu como forma da
Terra, um esferóide achatado nos pólos e abaulado no equador.

Posteriormente, nos meados do séc. XVII, houve uma evolução


conceitual significativa, que postulava que a Terra teria a forma de um
elipsóide de revolução. Aproveito este espaço, para dizer que em inúmeros
trabalhos de Geodesia, toma-se como forma da Terra o elipsóide de
revolução de definição matemática, pelo facto de se aproximar bastante da
verdadeira forma da Terra e haver sensibilidade no cálculo dos seus
parâmetros e de qualquer ponto da sua superfície.

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Foi no séc. XX que o homem criou a superfície que até hoje persiste,
o geoide, sendo que esta representa a realidade física da Terra, e no
entanto, calculou-se alguns geoides de aplicação mais ou menos extensa, a
partir de elementos astro-geodésicos e gravimétricos. Esta última superfície
representou uma meta não a evolução da Geodesia, mas sim a
determinação da forma da Terra. Mas um aspecto importante que é bom
realçar, é que há sempre a necessidade de se realizarem medições para se
determinarem possíveis mudanças na forma da Terra, na variação da sua
rotação, entre outros aspectos, porque permitem muitas vezes
compreenderem-se certos fenómenos da actualidade.

Depois de o homem determinar a verdadeira forma da Terra, não se


sentiu satisfeito, este decidiu determinar também as suas dimensões. Foi
Eratóstenes de Cirene (276 – 195 A.C.), quem no séc. III A.C. decidiu
realizar este trabalho laborioso e bem estruturado, estava em Alexandria a
pedido de Ptolomeu Evergueta, com o objectivo de assumir a direcção da
Biblioteca daquela região, quando decidiu determinar as dimensões da
Terra medindo um arco de meridiano de Alexandria a Assuão. Para tal era
necessário que ambas localidades estivessem sobre o mesmo meridiano
(mesma longitude).

Naquela época a forma da Terra era considerada esférica, sendo que


os dados que Eratóstenes precisava eram a distância entre ambas
localidades e o ângulo central da Terra entre Alexandria e Assuão. Sendo
assim, Eratóstenes determinou a distância entre ambas localidades a partir
das deslocações médias diárias das caravanas de camelos que correspondia
a 5000 estádios (cerca de 500 milhas); e o ângulo central determinou-o
num dia de solstício de Verão, estando Eratóstenes sob um poço profundo
situado em Assuão, via os raios solares reflectindo sobre as águas que nele
existiam, chegando a conclusão que o Sol naquele momento se encontrava
no Zénite do lugar. Eratóstenes, também sabia que quando uma fonte emite
raios luminosos, se entre o observador e a fonte existir uma grande
distância, o observador vê os raios luminosos paralelos. Um astro, como o
Sol, estando no zénite, a linha que o une com o observador passa pelo
centro da Terra.

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Sendo assim, foi possível determinar-se a circunferência da Terra,


cujo seu cálculo, consistiu na determinação do arco de meridiano de
comprimento conhecido (5000 milhas) entre Alexandria e Assuão.

Eratóstenes, neste momento só necessitava do ângulo central da


Terra entre Alexandria e Assuão, sendo que o determinou no instante em
que o Sol passava pelo zénite de Assuão, estando ele em Alexandria fixou
uma vara em terra, e verificou que se formava um ângulo entre os raios
solares e a vara. Eratóstenes mediu este ângulo de valor 7º 12´ a partir de
um instrumento chamado gnómon. Com todos estes dados, nada impedia
Eratóstenes de determinar as dimensões da Terra, e não aconteceu de forma
diferente.

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Contudo, Eratóstenes encontrou resultados surpreendentes, vejamos


que para o comprimento da circunferência da Terra obteve resultados de
cerca de 25000 milhas o que se aproxima bastante do que veio a ser calculo
no equador, isto é, 24899 milhas.

É importante também realçar que o método utilizado por Eratóstenes,


está correcto matematicamente e recebe o nome de “método dos arcos”.
Este método foi adoptado pela Geodesia e serviu para a determinação dos
parâmetros da elipse meridiana. É bom também dizer que no trecho acima
citado Eratóstenes realizou duas observações simultâneas, introduzindo
assim um novo método em Geodesia.

Depois de Eratóstenes, surge um novo sábio, este era Possidónio


(130 – 50 A.C.) que também dedicou-se ao mesmo problema proposto por
seu antecessor, de modo a poder encontrar resultados melhores. Este em
vez de Assuão, como fizera Eratóstenes, tomou Rodes, e igualmente ao
pupilo (primeiro), tomou Alexandria. A distância entre ambos foi
determinada através do movimento de barcos de uma localidade a outra.

O método de Possidónio, consistia em observar a estrela Canopus e


arrastar para o centro da Terra a altura (distância angular) acima do

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horizonte em Alexandria, que correspondia a 7º30´, quando em Rodes a


estrela passava pelo horizonte (fig. 4).

Para o comprimento do centro da Terra, Possidónio determinou cerca


de 24000 milhas, sendo este superado por Eratóstenes.

Os cientistas daquela época, ao verem a divergência dos resultados


obtidos por Eratóstenes e Possidónio, decidiram aperfeiçoar os métodos e
as técnicas até então utilizadas, visto que o problema da precisão não
poderia estar no “método dos arcos”.

Miraculosamente, no início do séc. XVII, surgiu algo mesmo grande,


algo que viria marcar uma nova era na história da Geodesia, isto é, o
método das triangulações proposto por um geodesta espanhol chamado
Snellius (1591 – 1626), este método é um dos mais brilhantes dentro desta
ciência.

Foi Gemma Frisius, também holandês quem estabeleceu os


princípios básicos da triangulação, cerca de 1530, na Cosmografia de
Pedro Apiano (1495 – 1554). A aplicação prática das triangulações só foi
executada um século depois, quando Snellius, em 1615, utilizando este
método decidiu também medir um arco de meridiano, com o objectivo de
determinar as dimensões da Terra. Devido a falta de conhecimento no que
diz respeito a precisão, mesmo com a excelência do método, Snellius
obteve resultados afectados de grandes erros de pontaria, sendo estes
cometidos durante as observações, estes erros devem-se ao facto de que

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para tais observações, foram utilizados instrumentos grosseiros munidos de


alidades de pínulas.

Modena e Ferrara foram duas localidades escolhidas pelo


astrónomo italiano Riccioli (1598 – 1671), o qual realizando o mesmo
processo que havia feito Snellius, encontrou para o comprimento de um
grau de um arco de meridiano com valores superiores em cerca de 12% em
relação aos de seu antecessor.

O astrónomo e primeiro director do Observatório de Paris, Picard


(1620 – 1682), em 1669 realizou a medição de um arco de meridiano de 32
léguas, entre Paris e Amiens, utilizando uma cadeia de 13 triângulos,
tendo este último obtido valores compreendidos entre os de Snellius e
Riccioli. Este facto, embora não analisado profundamente na época
constitui uma evidência de que a Terra não é esférica.

Foi Picard, quem pela primeira vez mediu uma base com réguas de
madeira de 2 toesas recorreu nos seus cálculos ao auxílio de logaritmos
neperianos, relativo a John Neper (1550 -1617), além do mais, determinou
realizando observações astronómicas, o azimute e as latitudes dos pontos
da extremidade da triangulação. Picard deu algumas inovações aos seus
instrumentos, aplicando micrómetros que Auzout havia aperfeiçoado em
1667, e substituindo as alidades de pínulas pelas lunetas inventadas pelo
célebre Galileu Galilei em 1609, todas estas mudanças reflectiram
positivamente no que diz respeito a precisão nas leituras, pontarias e como
consequência na definição das figuras observadas. Actualmente, verificou-
se que Picard ao medir um grau de meridiano, cometeu um erro não
superior a 0,03%.

As medições de Picard deram a Newton a possibilidade de confirmar


a sua célebre teoria, a lei da atracção universal, que deduziu por
interpretação das leis de Kepler, e cuja primeira verificação, feita 16 anos
antes, obteve maus resultados devido a não exactidão do valor do grau de
meridiano terrestre, que era válido naquela época.

Newton, sentiu-se obrigado a abandonar a comprovação da sua teoria


durante algum tempo, sendo que com as medições precisas de Picard, o
grande cientista pôde retomar os seus cálculos e dar mais fama a sua

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própria personalidade, formulando uma das teorias mais conhecidas no


mundo científico.

Dominique Cassine (1625 – 1712) e seu filho Jacques Cassine


(1677 – 1756) continuaram com a cadeia de Picard e cobriram um arco de
meridiano que atravessava a França desde Dunquerque, no norte, a
Collioure, no sul. Os resultados destas medições permitiram calcular-se os
comprimentos do grau de meridiano para norte e para sul, sendo
respectivamente, 56960 e 57097 toesas. Estes resultados levavam a crer
que a Terra possuía uma forma ovóide, opondo-se as teorias de Newton, o
que levantou uma grande contradição entre cientista franceses e ingleses.
Esta contradição não veio prejudicar a Geodesia, muito pelo contrário
contribuiu para o seu rápido desenvolvimento, quando no séc. XVII, a
França sendo a detentora do comando da investigação no campo geodésico
decidiu que se realizassem novas medições de arcos de meridianos em
regiões de diferentes latitudes. Segundo FARINHA DA CONCEICÃO
(1970: 20), “ assim, para decidir a disputa que se levantara, a Academia das
Ciências de Paris organizou em 1935 duas expedições científicas com o fim
de medirem arcos de meridiano na Lapónia e no Perú, a primeira sob a
orientação de Clairaut e de Maupertuis e a segunda sob a orientação de
Bouguer e de La Condamine”.

Comparando estas medições e as que foram efectuadas no meridiano


de França por Méchain e Delambre (56750 toesas para grau de meridiano
no Perú, 57050 em França e 57440 na Lapónia) os geodestas chegaram a
conclusão que o comprimento do grau de meridiano cresce do equador ao
Pólo, e que no entanto, a teoria de Newton estava correcta (a Terra sendo
um esferóide achatado nos pólos).

Foi Cassini de Thury, filho de Jacques Cassini, quem verificou as


medições feitas por seu pai e avô no meridiano de Dunqueque – Collioure,
recebendo o nome de “meridiano verificado”.

Segundo FARINHA DA CONCEIÇÃO (1970: 20), “a Comissão


Geral de Pesos e Medidas, criada por decreto da Assembleia Constituinte
Francesa de 1791, estudou e fixou o actual sistema métrico e acordou então
em que seria conveniente relacionar o comprimento do metro com as
dimensões da Terra. Em seguimento desta ideia decidiu estabelecer para

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comprimento do metro o valor da décima milionésima parte do quarto do


meridiano terrestre, o que impôs a necessidade de determinar as dimensões
deste com grande precisão. Com tal objectivo procedeu-se as medições do
arco de meridiano entre Dunquerque e o forte de Montjuich, e delas foram
encarregados os geodestas Méchain (1746 – 1804) e Delambre (1749 –
1822). Este trabalho, que se prolongou por sete anos, reveste-se de grande
interesse no estudo da evolução da Geodesia, não só pela utilização de
instrumentos e de métodos de observação muito aperfeiçoados em relação
aos anteriores, como por empregar métodos de cálculo em que, pela
primeira vez:

a) Se estabeleceu o princípio do acordo de bases;


b) Se reduziram os comprimentos das bases ao geoide;
c) Se considerou o excesso esférico no fecho dos triângulos, em
conformidade com o teorema de Legendre;
d) Se reduzirem os ângulos medidos ao horizonte”.

Para a execução deste trabalho, foram necessários 4 círculos repetidores e


réguas de platina, sendo ambos projectados por Borda e construídos por
Lenoir. Provavelmente tais círculos estavam equipados com os nónios que
Pedro Nunes (1502 – 1577), matemático português, inventou e que seu
discípulo, Padre Cristóvão Cláudio simplificou, e que o capitão Pierre
Vernier adoptou em 1631 ao astrolábio, fixando-os à alidade móvel.

CÁLCULO DO ELIPSOIDE DE REFERÊNCIA.

Os geodetas depois de efectuarem diversas medições sobre a


superfície terrestre, sentiram a necessidade de referenciarem tais medições
relativamente a uma superfície, sendo então que a superfície adoptada foi o
elipsóide, justamente pela sua forma se aproximar a da Terra e ser
matematicamente definido.

Dois parâmetros foram necessários para a definição do elipsóide,


estes são:

a) 𝑎 : semi-eixo equatorial;
𝑎−𝑏
b) 𝛼 = : achatamento polar.
𝑎

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A Geodesia do século passado quase que só se preocupou com a


determinação do melhor elipsóide, sendo que foram calculados muitos e
poucos chegaram a satisfazer as necessidades dos geodetas, muitas vezes
até poderiam ser obtidos com bons resultados (parâmetros) mas só servia
para o local das medições não podendo ser generalizado para outras
regiões.

Os geodetas chegaram a conclusão de que se queriam ganhar precisão,


tinham que ampliar o comprimento dos arcos, visto que até então eram
utilizados comprimentos muito curtos.

Em 1885, o sueco Jaderin substituiu as réguas por fios metálicos, dando


um aumento significativo à precisão na técnica de medição de bases. Mais
tarde, surgiu o fio de invar, cujo termo provém de invariável, criado pelos
franceses Benoit e Guillaume em 1895. Este fio teve grande sucesso por ter
uma dilatação quase nula, o que permitia obter medições bastante precisas.

No séc. XIX, realizaram-se diversas actividades geodésicas nas regiões


da Europa, África do Sul, na Ásia e na América, sendo que Alemanha
salientou-se dentre as quais, quando em 1824, Gauss compensa duas redes
geodésicas pelo método dos mínimos quadrados atingindo assim um alce
nos seus momentos de glória e dando a Geodesia o seu contributo.

Possivelmente os primeiros elipsóides calculados tenham sido o de


Bouguer, Maupertuis em 1738 e o de Delambre em 1800. Após estes
surgiram também outros importantes, como o de Walbeck em 1819, o de
Everest em 1830, o de Bessel em 1841 e os de Clarke em 1857, 1866 e
1880.

Depois de vários intentos da determinação de um elipsóide geral para


todo planeta, os geodetas chegaram a conclusão de que “ a Terra não tinha
na realidade uma forma tão regular que permitisse assemelhar a sua
superfície, em toda a extensão, à do elipsóide de referência, ou manter entre
pontos homólogos das duas superfícies diferenças sensivelmente iguais
(FARINHA DA CONCEIÇÃO, 1970: 23) ”.

No séc. XIX, os cientistas chegaram a conclusão de que cada meridiano


tinha o seu próprio comprimento, este facto tivera sido proposto por La
Condamine, e mais tarde Delambre e Laplace assinaram por baixo, quando

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observando as medições dos arcos de meridiano, pôde constatar que estes


apresentavam uma curvatura diferente da que estava estipulada na época.

Em 1803, Méchain encontrou uma diferença de 200m em posição entre


o valor da latitude geodésica, de um ponto transportado aproximadamente
3 km na região dos Pirenéus Orientais, e a latitude astronómica ali
observada, infelizmente faleceu sem entender o que havia sucedido.

A percepção do fenómeno supra citado, surgiu apenas quando se


introduziu na Geodesia as teorias do desvio relativo da vertical e da
isostasia.

Segundo FARINHA DA CONCEIÇÃO (1970: 24), “ o homem tem


considerado três (3) superfícies para definir a figura da Terra:

a) a superfície topográfica, aquela que se patenteia aos seus olhos e à


sua observação directa como entidade real;
b) o geóide, uma superfície física real, que o geodeta definiu como a
superfície do nível médio dos mares e seu prolongamento sob as
massas continentais, que em todos os seus pontos tem o mesmo
potencial da força da gravidade e é normal à direcção da vertical;
c) o elipsóide de referência, a superfície mais próxima do geóide
definida por uma expressão matemática (elipsóide de revolução)”.

Um grande obstáculo na resolução dos problemas fundamentais da


Geodesia, tem sido a relacionação deficiente entre o elipsóide e o geóide.
Os geodetas afirmam que o geóide não é uma figura regular devido a
desigual distribuição de massas na crusta terrestre, os relevos superficiais e
a diferença de densidade dos materiais que a constituem, enquanto que o
elipsóide de revolução tem a sua curvatura com regularidade. Assim,
conclui-se que as normais das superfícies supra citadas, por norma não
coincidem, sendo que as coordenadas geodésicas e astronómicas também
não o são. Podemos observar na (fig.5).

É importante realçar que em Geodesia as medições angulares são


relativas ao geóide, sendo que os cálculos correspondentes a estas
medições são efectuados sobre o elipsóide de referência adoptado, este
processo deve-se ao facto de que a superfície do geóide é irregular, e não

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há mecanismos para se transportar sobre esta última os elementos das


observações geodésicas.

Quanto à posição relativa entre as superfícies referidas


anteriormente, é possível que estas se relacionem. Segundo FARINHA DA
CONCEIÇÃO (1970: 25), “ esta relacionação é estabelecida através de dois
parâmetros:

a) a ondulação ou a altura do geóide, definida em cada ponto como


sendo a distância métrica vertical N entre o elipsóide e o geóide;
b) o desvio relativo da vertical, definido como o ângulo que formam
entre si as normais a estas duas superfícies e que é medido pelo valor
da componente norte-sul 𝜉𝜏 e pelo da componente este-oeste 𝜂𝜏 ”.

No início do séc. XX, Hayford, geodeta americano, baseando-se nestas


ferramentas (ondulação do geóide e desvio relativo da vertical) e
aplicando o princípio de isostasia, substituiu, o clássico “método dos
arcos” pelo “método das áreas” para poder então obter os parâmetros do
elipsóide que intentava calcular. Podemos verificar a figura abaixo:

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Hayford, adoptou um elipsóide de referência provisório de modo a


poder calcular pontos geodésicos sobre a sua superfície. Depois, tomou
algumas centenas de estações astronómicas e comparou as coordenadas
geodésicas sobre a superfície e as respectivas coordenadas astronómicas
determinando assim os desvios da vertical.

Hayford, em seguida entrou numa onda de cálculos laboriosos.


Determinou as correcções a aplicar aos parâmetros do elipsóide de
referência, para que tais desvios se tornassem mínimos, utilizando o
método dos mínimos quadrados.

Mais tarde, Hayford sentiu-se obrigado a utilizar o princípio da


isostasia, pelo facto de ter detectado discordância entre os dados das 765
estações astronómicas que o “Coast and Geodetic Survey” havia observado
em determinados vértices da rede americana.

O princípio da isostasia foi enunciado pela primeira vez por C. A.


Dutton, major geólogo, em 1889. “ Segundo esta teoria, as irregularidades
dos indivíduos da família das superfícies de nível de cota zero e vizinhos,
provenientes da irregularidade da superfície física da terra e da desigual
densidade dos seus materiais, vão diminuindo nos indivíduos de cotas
negativas, de tal forma que deve encontrar-se uma certa profundidade no
interior da Terra em que as superfícies de nível tenham forma elipsoidal,
por ali se não fazerem sentir os efeitos das massas correspondentes aos
acidentes da crusta terrestre (FARINHA DA CONCEIÇÃO 1970: 27) ”.

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Graças ao princípio da isostasia, Hayford chegou a conclusão que a


compensação das densidades das massas (compensação isostática) ocorria
a uma profundidade de cerca de 122 km.

Portanto, os trabalhos laboriosos que Hayford desenvolveu, foram


recompensados, quando em 1924 a Assembleia da União Geodésica e
Geofísica Internacional, em Madrid, achou convencional tomar-se o
elipsóide de Hayford como elipsóide internacional.

Como foi visto anteriormente, não foi possível encontrar-se um


elipsóide satisfatório que adapta-se ao geóide inteiramente, sendo que no
entanto os geodetas desenvolveram elipsóides locais que tiveram sido
medidos nas próprias regiões e eram postos em vigor. Sendo assim, cada
país obteve o elipsóide que mais se adapta ao seu geóide. No entanto, eram
escolhidos pontos situados no centro das redes geodésicas desenvolvidas ao
longo de todo o país, tais pontos correspondiam com o centro geométrico
do próprio país. Nestes pontos, também chamados pontos-origem
convencionou-se tomar como coincidentes os valores das coordenadas
astronómicas e geodésicas, o que em outras palavras diz que tomou-se a
normal ao elipsóide coincidente com a vertical ao geóide, em consequência
disso o desvio da vertical e a ondulação do geóide serão nulos. Estes
pontos-origem recebem o nome de Datum, que do latim significa Data.

Todo este processo foi muito bem elaborado, mas surge um


problema, este é, o da comparação dos elementos obtidos a partir de dois
datuns D1 e D2. Podemos observar este processo na figura 7 abaixo:

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Segundo FARINHA DA CONCEIÇÃO (1970: 29), “ é fácil de ver


que a de cada “datum” particular não transpunha os limites das fronteiras
dos respectivos países, e quando o desenvolvimento das vias de
comunicação chegou ao ponto de as internacionalizar – só para citar o
interesse prático da questão – verificou-se a necessidade de ligar
geodèsicamente entre si as várias origens em causa para se poder estudar e
realizar os projectos rodoviários do conjunto. Esta necessidade veio a
acentuar-se com o progresso alcançado nos domínios da navegação
marítima e aérea e do lançamento de engenhos teleguiados. O problema
impôs a necessidade de um mais profundo estudo do geóide para adequada
relacionação da superfície com o elipsóide de referência, e a Geodesia
neste século tem-se caracterizado por uma aturada investigação acertada
desta matéria”.

Um outro conceito importantíssimo em Geodesia é o geoide,


segundo é……………….. .

O geóide é uma superfície equipotencial da força da gravidade


terrestre, esta última resulta das forças de atracção gravitacional e da força
centrífuga produzida pelo movimento de rotação da Terra, também pode
ser chamada superfície de cota zero (geoide).

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II – GEODESIA DE ANGOLA

Aqui em Angola, grande parte do trabalho geodésico foi realizado


pela M.G.A. (Missão Geográfica de Angola), criada em 1921 (sendo esta
provisória), graças ao decreto nº 45, de 3 de Agosto, do Alto Comissário,
Norton de Matos, com o objectivo de estabelecer uma rede geodésica para
apoiar o levantamento do território. Afim de três campanhas, a Missão
apenas tinha levado a efeito o reconhecimento de dois troços de
triangulação, um de Benguela ao Huambo e outro ao longo do meridiano
14º00´ E.G. (este de Greenwich), desde esta a Lubango.

A missão hidrográfica do Zaire realizou determinadas actividades


geodésicas, como por exemplo, nas quatro campanhas de 1930 a 1933
estabeleceu uma cadeia geodésica ao longo do rio Zaire com vértices
comuns aos triângulos do Congo (Kinshasa), ao ser executada, mediu-se
uma base geodésica e foram realizadas observações astronómicas para a
obtenção da latitude em oito (8) estações, para a longitude cinco (5),
azimute duas (2).

Em 1936, o Decreto nº 26 180 substitui a Commissão de


Cartographia pela Junta das Missões Geográficas e de Investigações
Coloniais. Gago Coutinho chefiava à Commissão de Cartographia desde
1925, foi o seu primeiro presidente.

Ainda neste mesmo ano, sob a tutela da Junta, forma-se a missão


Hidrográfica de Angola com o propósito de elaborarem-se cartas
hidrográficas da costa e planos hidrográficos dos portos.

Em 1941, o Decreto-Lei nº 31 194, de 27 de Março, criou a actual


Missão Geográfica de Angola (M.G.A.), favorecendo assim a ocupação
sistemática e regular de Angola, com pontos geodésicos.

Quanto a actividade geodésica a M.G.A., recebeu instruções da


Junta de Investigação do Ultramar que consistiu no seguinte:

1 – efectuou-se a cobertura geodésica de Angola através de cadeias


de triangulação principal e de triangulação secundária, a primeira a
desenvolver ao longo dos paralelos e meridianos impares de 2º de intervalo,
e a segunda a preencher, com densidade adequada às operações

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cartográficas, os espaços compreendidos entre as cadeias de triangulação


principal;

2 – estabeleceu-se bases geodésicas distando entre si 400 km nas


cadeias principais, promovendo , porém a sua distribuição, por forma a
obter a precisão de uma triangulação de segunda ordem europeia – que foi
a precisão atribuída à triangulação principal;

3 – observar pontos de Laplace de 200 em 200 km;

4 – obter a seguinte precisão nas medidas geodésicas e astronómicas:

fecho dos triângulos principais . . 6´´

fecho dos triângulos secundários . . 10´´

latitude . . . . . . 0´´,2

longitude . . . . . . 0´´,5

azimute . . . . . . 0´´,5

O chefe da Missão Geográfica, insatisfeito com determinados


aspectos relativos a precisão, decidiu alargar a malha geodésica de Angola,
e segundo esta ideia, redigiu em 1946 instruções de serviço a partir das
quais determinou que a malha da triangulação principal passasse a
desenvolver-se ao longo dos meridianos e paralelos múltiplos de 3.

Passados poucos anos das últimas instruções de serviço surgiu a


necessidade realizar as triangulações com maior rigor, então, a partir de
1953 a precisão das cadeias principais foi ajustada às tolerâncias
estabelecidas para as triangulações de 1ª ordem segundo as tabelas
adoptadas pelos Serviços Geodésicos da América. Assim, aumentou-se o
número de origens de observação dos ângulos azimutais de 8 para 16,
tomou-se especial cuidado relativamente a configuração das figuras, de
modo poderem obter melhores resultados e passou-se a utilizar o método de
Schreiber ao invés do processo dos giros ao horizonte. Foram melhorados
alguns troços de cadeias antigas, embora ainda haja uma parte que

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necessita de uma reocupação dos seus vértices para evoluir a uma precisão
de 1ª ordem. Estão nestas condições seis troços de triangulação formados
por 269 triângulos.

Segundo FARINHA DA CONCEIÇÃO (1970: 68), “em astronomia,


os azimutes foram determinados pela observação da estrela circumpolar 𝝈
Octantis em elongação, a latitude pelo método de Talcott na maioria dos
casos e a longitude por observação de grupos de estrelas nas suas passagens
meridianas com inversão do aparelho a meio da observação de cada
estrela”.

A Missão Geográfica de Angola durante as operações de


triangulação utilizou fios de invar e aparelhos Carpentier (bases
geodésicas), com teodolitos Wild T2 e T3 e com telurómetros, torres de
observação Bilby e heliógrafos. No caso das observações astronómicas a
M.G.A. utilizou instrumentos de passagem Bamberg AP90 e Askania
AP70, cronómetro sideral Nardin e cronómetro Farverger. E não me
esquecendo de referenciar que o nivelamento de precisão, foi realizado
com um nível Wild N3 e miras de invar.

A M.G.A chegou a medir 17 bases geodésicas (Quimongo, Congo


Yala, Quitinda, Luanda, Lucala, Camacupa, Catumbela, Alto
Catumbela, Cimo, Serpa Pinto, Quipungo, Moçâmedes, Humbe, Baía
dos Tigres, Sare, Namatuco e Luiana) determinando 1722 pontos pela
observação de 3809 triângulos (dos quais 865 têm um ponto não ocupado),
realizou-se observações astronómicas para a determinação da latitude,
longitude e azimute em 15 estações e observou-se linhas de nivelamento
num total de 943 km.

Nivelamento de precisão

“O nivelamento geométrico de precisão foi iniciado em 1956 com o


reconhecimento e sinalização de 700 quilómetros. O troço Luanda-Malange
seguiu a linha do caminho-de-ferro (DA COMISSÃO DE
CARTOGRAFIA, 1883, AO INSTITTUTO DE INVESTIGAÇÃO
CIENTÍFICA TROPICAL, 1983: 222).

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Em diversas campanhas realizadas, sinalizou-se e reconheceu-se


6000 quilómetros, envolvendo 4000 marcas incrustadas em marcos de
betão, rochas e construções (aquedutos, pontes e edifícios públicos). Em
1974, encontravam-se nivelados e contra nivelados, com a precisão
recomendada pela União Geodésica Internacional, cerca de 4500
quilómetros.

A cota de origem está referida ao marégrafo de Luanda. Utilizou-se


para a realização das observações, níveis Wild N3, miras de ínvar aferidas
e estacas de aço para apoio destas.

Em 1968, utilizando um gravímetro geodésico Word-Master,


realizou-se os trabalhos de gravimetria atingindo-se uma precisão de 0.01
miligale.

Pretendia-se obter valores da intensidade da gravidade ao longo das


linhas de nivelamento de alta precisão com vista ao estabelecimento de
sistemas de cotas ortométricas e científicas, e, por adensamento da rede,
colher os dados necessários para a confecção de cartas isoanómalas.

Dois tipos de estação foram distinguidos nas linhas do nivelamento


de alta precisão, relativamente a gravimetria:

- As estações principais, separadas em média de 30 km, cujas


diferenças dos valores da gravidade foram obtidas a partir de
determinações correspondentes a quatro percursos, efectuados no intervalo
de tempo de duas a três horas.

- As estações secundárias, situadas entre as principais e afastadas


entre quatro e seis quilómetros.

Tomou-se como valores fundamentais os que foram atribuídos pela


Euro African Secundary Calibration Line, em 1965, a marcas implantadas
nos aeroportos de Nova Lisboa, Luanda, e Sá da Bandeira.

Realizaram-se no final, observações gravimétricas num total de 1100


estações, cobrindo aproximadamente 5450 km, 4650 dos quais sobre
marcas de nivelamento com cotas conhecidas e os restantes sobre marcas
ainda não niveladas.

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BASES GEODÉSICAS

Nome Comprimento Erro relativo


(milímetro)
Congo Yala (Noqui) 5 526 168,43 1: 6 500 000
Luanda 4 537 471,17 1: 2 200 000
Baía dos Tigres 4 372 772,89 1:20 000 000
Lucala 8 777 445,96 1: 7 100 000
Quitinda 6 102 188,26 1: 4 800 000
Alto Catumbela 7 700 258,01 1: 6 100 000
Camacupa 11 281 922,72 1: 9 900 000
Humbe 7 652 758,36 1: 4 000 000
Cimo 6 527 486,30 1: 8 700 000
Quipungo 5 183 976,61 1:11 300 000
Moçamedes 5 795 589,71 1: 4 900 000
Serpa Pinto 10 393 528,44 1:13 600 000
Quimongo 2 379 996,30 1: 3 009 000
Sare 9 748 664,16 1: 9 375 000
Luiana 9 354 539,61 1:15 875 000
Namatuco 12 064 841,84 1:16 530 000
Catumbela (a) (a)

a) Na época o cálculo aguardava a aferição dos fios de invar.

Antes de 1953

Fecho máximo dos triângulos . . . 5´´,40

Fecho médio dos triângulos . . . 1´´,66

Depois de 1953

Fecho máximo dos triângulos . . . 2´´,94

Fecho médio dos triângulos . . . 0´´,50

Erro provável de uma direcção observada . 0´´,40

Erro relativo dos lados . . . . 1: 53 000

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A EXPEDIÇÃO A LAPÓNIA

A expedição à Lapónia partiu de Paris para Estocolmo em 20 de Abril de


1736 e voltou a Paris em 20 de Agosto de 1737.

Quatro académicos faziam a sua constituição, são eles: Maupertuis,


Camus, Clairaut (o grande matemático) e Lemonnier, a estes juntaram-se
Abad Outpier (correspondente da Academia de Ciências de Paris) e Celsius
professor de Astronomia em Upsala e que tinha contribuído para a
preparação da expedição.

De 21 à 28 de Dezembro de 1736, mediu-se uma base sobre o rio


Tórnea, gelado, entre Ava-saxa e Niemes-by, com a utilização de oito varas
de 8 toesas (9,745m) cada uma. Duas equipas, indo no mesmo sentido,
encontram para o seu comprimento 7406 Toesas, 5 pés e 4 polegadas, e
7406, 5 pés e 0 Polegadas. A diferença de 4 polegadas (0,108m) entre as
duas medidas corresponde a uma precisão de 1/ 133 000, certamente
notável, considerando o processo empregado e o frio terrível que se fazia
sentir.

O reconhecimento, a construção de sinais e as observações de


ângulos foram efectuadas em dois meses, de 6 de Julho a 6 de Setembro de
1736. O instrumento empregado, foi um quarto do círculo de Langlois de 2
pés de raio. Os ângulos de todos os triângulos foram medidos, nenhum foi
concluído, quer dizer deduzido dos outros dois ângulos do triângulo
medido.

À amplitude do arco, entre as estações extremas, Kittis, ao norte, e


Tórnea ao Sul, foi determinada uma vez em Outubro-Novembro de 1736,
pela estrela δ do Dragão, obtendo-se 57´30´´,42.

No decurso do inverno (Janeiro – Março de 1737), foram calculados


todas as observações feitas donde resultou que para um arco de 1º, o
comprimento na Lapónia era sensivelmente maior que o obtido por Picard
em França.

Com a finalidade de que não ficassem dúvidas em relação aos


valores obtidos, a amplitude do arco foi novamente medida com a estrela α
do Dragão, obtendo-se 57´26´´,93. Foi adoptada a média de 57´28´´,67. O
instrumento empregado nas observações da latitude foi o sector de

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GRAHAM de 9 pés de raio. Um azimute foi determinado em cada uma das


estações extremas.

Foi também medida a intensidade da gravidade em Pelbo com um pêndulo


“Invariável” de GRAHAM.

A EXPEDIÇÃO AO PERÚ (1735 – 1744)

Esta expedição foi muito mais demorada em comparação a da


Lapónia.

A escolha de Perú (actualmente a maior parte encontra-se na


República do Equador), deveu-se aos dois aspectos seguintes: a região estar
minimamente controlada por um governo (Colónia de Espanha) e a
existência de duas cordilheiras quase paralelas, seguindo sensivelmente um
meridiano.

Na prática durante a expedição deram-se revoltas e movimentos de


carácter politico-militar e as condições climatéricas (nevoeiro quase
permanentes e/ou chuva) fizeram com que os trabalhos se arrastassem por
anos.

A expedição era constituída pelos académicos Godin, Bouguer e La


Condamine. A parte espanhola agregou os oficiais Jorge Juan e António
Ulloa. A parete francesa incluía ainda o botânico Jussieu, La Condamine
que era um cientista multifacético além da geodesia fez trabalhos em
geologia, geografia física e biologia, fazendo a primeira descrição científica
da árvore da borracha e também da quinina. O seu regresso foi feito
descendo o rio Amazonas de que fez a primeira descrição no domínio da
geografia.

Na verdade nesta expedição não só foi medido um arco de


meridiano, mas sim dois, são eles:

1º) o arco de Bouguer e La Condomine, entre Cochesqui ao Norte e Tarqui


ao Sul com uma amplitude de 3º7´.

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2º) o arco de Godin e os oficiais espanhóis, entre Mira ao Norte e Cuneca


ao Sul, amplitude de 3º27´.

Só o primeiro arco foi realmente utilizado e um grau do meridiano


mediu 110600 metros (transformação de toesas em metros), o valor no
elipsóide internacional (Hayford) é de 110576 metros. Dadas as condições
de trabalho e os instrumentos utilizados, o resultado é bom.

Com a obtenção destes resultados e as medições da Lapónia e França


ficou demonstrada a teoria de Newton – que postulava que a terra é
achatada nos pólos.

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INSTRUMENTOS TOPOGEODÉSICOS

No nosso país, durante a realização dos trabalhos de nivelamento


geométrico, foram utilizados níveis N3.

NÍVEL DE PRECISÃO MÉDIA Nº 2.135

Fabricado pela firma CARL ZEISS JENA, em Jena, Alemanha na


década de 1910.
Precisão Nominal: aproximadamente 2 mm / km.

Nível de Precisão Média

O nível foi desenvolvido por Heinrich Wild (1877 – 1951), então


chefe do Departamento de Instrumentos de Geodesia / Topografia
da Carl Zeiss Jena, provavelmente entre 1908 e 1912.

Nesta construção foram introduzidas várias inovações de Heinrich


Wild:

- Luneta:
Luneta basculante para fins de eliminar erros entre os eixos de
luneta e bolha.

- Nível de bolha:
Leitura de nível de bolha bipartida com maior precisão de leitura.

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NÍVEL N2

Nível modelo N2 da WILD HEERBRUGG

Nos anos posteriores o nível da década de 1910 foi gradativamente


desenvolvido para os seguintes instrumentos de altíssima precisão.

Nivel Zeiss A da Carl Zeiss Jena.

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Nível Wild N3 da Wild Heerbrugg, com micrómetro de placa


plano-paralela e mira de ínvar GPL3

Nível Wild N3 da Wild Heerbrugg, modelo em fabricação desde


1928 até 1980.

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Características técnicas:

Precisão nominal: 0,2 mm / km

Aumento da luneta: 42 x

Altura do instrumento: 175 mm

Distância mínima: 2,2 mm

Peso: 3,5 kg

Nível Wild N3 em fabricação a partir de 1980.

Com novas características técnicas para fins de montagem


industrial:

Luneta panfocal com aumento entre 11 x e 47 x

Distância mínima : 0,45 mm

Peso: 5,1 kg

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Nível digital LEICA DNA3, 2002 com mira ínvar de código de


barras

Características técnicas:

Cálculos dos desníveis e de distâncias por microprocessador;

Leitura do desnível e de distância

Precisão: 0,4 mm / km

Nível Digital modelo DINI 11 nº 103 275 de fabricação CARL


ZEISS

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TEODOLITO WILD T2

Um dos primeiros modelos { Nº 2238 } fabricados pela firma


HEINRICH WILD em Heerbrugg na Suíça.
A fabricação da 1ª série deste modelo começou em 1928.

Precisão nominal: 1´´

TEODOLITO WILD T2

O protótipo deste teodolito foi construído, antes do fim da primeira


guerra mundial, na fábrica CARL ZEISS JENA pelo então chefe
do Departamento de Instrumentos Geodésicos/Topográficos
Heinrich Wild (1877-1951), Engenheiro Agrimensor de
nacionalidade Suíça.

Este protótipo apresentava as seguintes inovações técnicas,


reduzindo o tamanho e o peso do instrumento, e por tanto,
facilitando a sua operação:

- Luneta: Focalização interna através de uma lente negativa ao


invés de focalização por um ocular de tamanho variável.

- Limbos: Limbos de vidro iluminados por luz natural (espelho) ou


luz artificial (lâmpada), ao invés de limbos metálicos.

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- Leituras: Leitura selectiva, em lugares diametralmente opostos


nos dois limbos, apresentando leitura média num microscópio ao
lado da luneta. Os teodolitos antigos usavam microscópios de
nónio ou de escala, também em dois lugares opostos dos limbos.

- Micrómetro: Média de 2 leituras nos limbos, mediante de uma


placa plano-paralela combinada com um micrómetro.

- Eixo: Eixo cilíndrico com rolamentos de maior precisão de


centragem, ao invés do eixo cónico com centragem por próprio
peso.

- Nível do Limbo Vertical: Nível de leitura de bolha bipartida


com maior precisão de leitura

A partir desta época, todos modelos de teodolitos construídos no


mundo, seguiram o padrão deste protótipo compacto, com
excepção dos Estados Unidos, que continuam na fabricação de um
chamado "Trânsit ".

TEODOLITO UNIVESAL WILD T2


Modelos introduzidos: 1936, 1956, 1971 e 1974

Modelo a partir de 1956 até a década 1970

Para medições de triangulação, Astronomia, poligonação, controle


de obras, etc.

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Nota-se a semelhança da construção inalterada durante muitos anos

Ultimo modelo a partir de 1974

Características Técnicas

Aumento da luneta: 30 x

Precisão nominal conforme


Norma DIN 18723 : 0,8”

Com índice do limbo vertical Leitura semi-numérica


automático · 94º 12'44.2"
Precisão de 0,3”
Peso: 6,0 kg

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CONCLUSÃO

A geodesia evoluiu como ciência graças ao génio de muitos que se


propuseram a enfrentar o trabalho laborioso referenciado neste trabalho,
além do mais, conhecer a forma da Terra sempre foi uma das ambições do
homem, desvendá-la constituiu um marco histórico em que valeria a pena
viver-se de novo.

A Geodesia evoluiu como ciência, arrastando consigo a


complexidade de diversos instrumentos de trabalho, sendo que esta se
espalhou pelos quatro cantos do mundo, estando incluída em praticamente
quase todas as nossas práticas diárias.

Graças a diversas medições (expedições) de meridianos que se


realizaram, foi possível determinar-se a forma da Terra, embora surgiram
inúmeras dificuldades que o presente trabalho faz questão de enunciar.

Finalmente, no fim de tudo o homem consegue determinar a forma


da Terra o que contribuiu grandemente para chegarmos a era que hoje nos
encontramos.

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BIBLIOGRAFIA

1. CONCEICÃO, JOSÉ FARINHA DA, 1970. – A evolução da


Geodesia e a ocupação do ultramar português em África, Lisboa,
127p.
2. INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA TROPICAL,
1983. – Da missão de cartografia (1883) ao instituto de investigação
científica tropical (1983) – 100 anos de história, pp.209-223,
Lisboa.
3. PERRIER, GEORGES, 1939. – Petite histoire de la Geodesié,
Alcan, Paris, 187p.

Internet:

1. Escola Politécnica da USP, acervo de nível, página consultada aos 19


de Novembro de 2009
<hptt://www.poli.usp.br/organizacao/ltg/nivel03.asp>
2. Escola politécnica da USP, acervo de teodolito, página consultada
aos 19 de Novembro de 2009
<hptt://www.poli.usp.br/organizacao/ltg/teodolito04.asp>

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