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Diferentes tipos de uso e fruição dos bens culturais, dá exemplo da velhinha que reza na
catedral como ato cotidiano e turistas que fruem por mediação de um guia.
A fruição dos turistas é uma mera contemplação do lugar de culto, transformado em lugar de
representação de lugar de culto. A apreensão é dada por meio da visão e também da audição,
explicada pelo guia. A experiência cultural depende da atuação de especialistas. Os turistas
tem a cultura como domínio à parte na vida, não faz parte do seu cotidiano. Esse uso cultural
privilegia as representações em detrimento da prática, o simbólico substitui as condições
concretas de produção e reprodução da vida.
O autor não nega o acesso aos turistas, aquilo deve ser compartilhado, também porque traz
benefícios econômicos. Porém isso não pode esvaziar outros legítimos sentidos e práticas
originais locais, que não correspondem mais a nova ordem de interesses. Ou seja: transformar
algo em bem cultural é importante, turismo é importante, mas também não se pode esvaziar
aquilo da prática e do usufruto cotidiano da população local. Como pode o patrimônio mundial
não ter antes valor municipal?
Para os turistas, aquele bem cultural tem significados intrínsecos, fixos, definidos, estáveis,
fruídos a partir da informação especializada do guia. Para a velhinha, a catedral é um vetor de
significações múltiplas, geradas dentro e fora dela, numa teia de interações.
O patrimônio cultural, mesmo o imaterial, tem como suporte sempre vetores materiais. Todo
patrimônio material tem uma dimensão imaterial de significado e valor, e todo patrimônio
imaterial tem dimensão material que o permite realizar-se. Exemplo: saber-fazer, modos de
expressão, modos de fazer e de viver como patrimônio imaterial tem o corpo como dimensão
material! Não são um conhecimento abstrato, conceitual, imaterial, filosófico ou científico, mas
um conhecimento corporificado.
Não vem ao caso alterar a nomenclatura de separação entre patrimônio material e imaterial,
mas é preciso tirar essa polaridade entre ambos.
Patrimônio cultural são coisas ou práticas cujas propriedades, derivadas de sua natureza
material, são seletivamente mobilizadas pelas sociedades, grupos sociais, comunidades, para
socializar, operar e fazer agir suas ideias, crenças, significados, expectativas, enfim, valores. A
matriz desses valores não está nas coisas em si, mas nas práticas sociais.
Constituição de 88, artigo 216: os valores culturais não são criados pelo poder público, mas
pela sociedade.
É claro que o estado e governo podem participar da criação desses valores, privilegiando uns e
marginalizando outros, mas sempre no jogo das práticas sociais! (relacionar com dissertação, o
governo privilegia e marginaliza certos aspectos da cultura indígena) O poder público tem
papel sobretudo de proteção. Mas mesmo sem ele, existe o patrimônio cultural nacional.
Entretanto, as novas diretrizes estabelecidas pela constituição parecem valer somente para o
patrimônio imaterial. Em relação ao material, continuam em vigor as ações e diretrizes antigas.
Valores afetivos: vinculações subjetivas que se estabelecem com certos bens, sentimento de
pertença, identidade, ligados à memória, etc.
Valores pragmáticos: valores de uso percebidos como qualidade (e não simplesmente valores
de uso).
Valores éticos: associados às interações sociais em que os bens são apropriados e postos a
funcionar, tendo como referência o lugar do outro.