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ESCRITURAS
Introdução
Nos livros da Bíblia, a prática profética está inserida como elemento importante dentro
da religião de Israel. Os profetas são aqueles que recebem a Palavra de Deus e a transmitem
ao povo, sua atividade não se confunde com a adivinhação do futuro, ou com agouros. Nas
Escrituras quando o profeta fala do futuro, é, sobretudo, para mostrar as consequências das
atitudes presentes, convidando à conversão, ele não influencia a divindade, mas sim obedece a
vontade do Senhor. Neste artigo serão abordados alguns aspectos da profecia bíblica.
1 O fenômeno profético
Como nas diversas culturas conhecidas desde épocas primordiais, também nas
sociedades antigas do Oriente Próximo é atestada a busca de contato com o
sobrenatural. Procura-se com isto o domínio sobre o desenrolar da vida e dos fatos,
através do conhecimento de acontecimentos futuros, de maneiras de liberar-se de
alguma situação negativa atual ou prevista e da obtenção de orientação sobre o
modo mais adequado de agir para se atingir determinados objetivos. 1
Considerando que a prática profética não ocorria somente nos limites da religião
hebraica, cabe demarcar algumas características desta profecia e evidenciar as ambiguidades
em que a profecia esteve envolvida no contexto da história de Israel.
2 A profecia na Bíblia
2
Ibidem, p. 13.
3
Por exemplo Moisés (cf. Dt 18,16)
4
Cf. Jr 2,1-3; 20,7-9; 28,12, Ez 3,1-4; 7,1. Exemplo especialmente ilustrativo é o do profeta Oséias, onde sua
vida e a profecia se confundem, tornando-se ele mesmo um sinal de Deus. Este aspecto é tematizado nos três
primeiros capítulos do livro de Oséias.
5
Cf. Ez 3,10.
profecia é revelada estão os sonhos e as visões6, podendo ou não ocorrer em meio a
fenômenos extáticos.
Na Bíblia, o fenômeno profético ocorria em pessoas de situações diversas. Existiam as
corporações ou escolas proféticas7, grupos que estavam dedicados diretamente à profecia, os
profetas da corte, que estavam ligados à corte8 e procuravam relacionar-se com a divindade
para obter vantagens e orientar o reinado, os profetas ligados ao culto9, que estavam ligados à
instituição religiosa e os profetas individuais, chamados diretamente por Deus10.
Em meio a essa diversidade de modos de se exercer a profecia e levando em conta que
ela muitas vezes ocorreu vinculada a interesses políticos ou financeiros, houve um descrédito
da profecia. Inclusive, na Bíblia, ocorre a denúncia dos chamados falsos profetas, que
afirmam falar em nome de Deus, mas que falam em seu próprio nome11. Lima12 destaca
algumas características que a partir dos textos bíblicos, podem indicar a autenticidade da
profecia:
Já foi feita anteriormente a caracterização dos tipos de figuras proféticas presentes nas
Sagradas Escrituras. Iremos identificar em quais desses tipos podem ser encontrados os
profetas bíblicos. Sobre os profetas que aparecem em obras narrativas, existem aqueles que
6
Cf. Os 12,11; Mq 3,6; Hab 1,1; Is 1,1; Am 7,1,4-7.
7
1 Sm 10,5-10; 19,20.
8
Cf 1Rs 22,1-28; 2Sm 7,1-14; 12,25.
9
Cf. Am 7,12-13.
10
Cf. Os 1,2; Is 6,1-8; Ez 1,1-3.
11
Cf. Ez 9,23; 13, 2-7;
12
LIMA, Op. cit, p. 18.
provavelmente participaram de corporações proféticas, como Elias, Eliseu e Samuel, alguns
dentre eles são profetas da corte como, por exemplo, Natã.
Já os profetas escritores, assim chamados por haverem livros em seu nome no conjunto
das Escrituras, são em geral profetas individuais, ou seja, não participavam de escolas
proféticas, e não tinham, portanto, a profecia como profissão. Após rigorosa análise, Lima
observa acerca dos profetas escritores, corroborando com a ideia de que estes eram profetas
individuais o fato de que eles são chamados só poucas vezes de videntes ou visionários, e só
em atualizações posteriores são chamados de profetas. Lima conclui que:
Conclusão
Diante do que foi desenvolvido, observa-se que o fenômeno profético ocorre em meio a
ambiguidades, o que se demonstra, por exemplo, pelo uso de diversos termos para se designar
as figuras proféticas. Os profetas bíblicos muitas vezes rejeitaram essas designações, pelo fato
de que a profecia confundia-se com uma série de práticas adivinhatórias ou foi realizada com
finalidades nem sempre condizentes com o projeto de Deus.
Não obstante, a profecia acabou por se constituir num elemento fundamental da religião
de Israel, por haver incentivado a obediência à aliança e nutrir a expectativa da justiça final de
Deus sobre as nações, o que teve um reflexo direto sobre o surgimento do próprio
Cristianismo.
Referências
LIMA, Maria de Lourdes Corrêa. Mensageiros de Deus: profetas e profecias no Antigo Israel. Rio de
Janeiro: Ed. PUC-Rio : São Paulo : Ed. Reflexão, 2012, p. 21.
13
Ibidem, p. 87.