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Teologia Bíblica da Cidade na perspectiva de Apocalipse 211

Nova Jerusalém
UMA TEOLOGIA BÍBLICA DA CIDADE NA PERSPECTIVA
DE APOCALIPSE 21

Rev. Gildásio Reis

1. A Cidade Santa (21.9-14)


2. O Adorno da Cidade (21.15-21)
3. A Iluminação da Cidade (21.22-27)

A Nova Jerusalém é apresentada no livro do Apocalipse como a


culminação da história humana. Dr. Meredith Kline defende que na
Nova Jerusalém todas as promessas de Deus às sete Igrejas da Ásia são
cumpridas numa demonstração final da fidelidade divina a Aliança da
Graça1. A visão da Nova Jerusalém aparece no final, depois de
completado o plano de Deus para o mundo. Depois que o julgamento
final acabar, a Nova Jerusalém desce do céu indicando que esta cidade
era o objetivo final de Deus.

A nova Jerusalém está “descendo do céu, da parte de Deus”. O


escritor de Hebreus fala de uma Jerusalém celestial, Monte Sião e
cidade do Deus vivo (12.22; ver também 11.10, 16; Gl 4.26). Esta cidade
projeta permanência, segurança, beleza e plenitude. Ela tem sua origem
no céu e se deriva de Deus, o qual se agrada de habitar com seu povo.
No Apocalipse, o nome Jerusalém ocorre somente aqui e em 3.12, e é
uma alusão não à capital de Israel, mas à cidade espiritual de Deus.
Esta nova Jerusalém que se encontra cheia do povo de Deus desce à
terra, razão pela qual o céu e a terra se fundem em um só. 2

O contexto da visão da Nova Jerusalém é a nova criação. O


começo do capítulo 21 do Apocalipse expressa o começo do novo mundo
físico. A Nova Jerusalém desce dos céus num ambiente completamente
novo3. E com ela Deus nos apresenta uma nova forma de relacionamento
com a cidade. Já que Deus vive naquela cidade, só o seu povo pode
entrar. Conseqüentemente não haverá mais pranto, dor ou morte (Ap
21:4), porque tudo isto é contrario à natureza divina.

João é levado ao topo da montanha de onde ele assiste a descida


da cidade: uma cidade incrivelmente bonita. Todas aquelas pedras
preciosas, jóias e o mais importante, a glória de Deus brilhando nela. As

1
KLINE, Meredith G. Images Of The Spirit. Baker Biblical Monograph Grand Rapids: Baker Book
House.1980, p. 26 ( CF. http://www.meredithkline.com/klines-works/articles-and-essays/)
2
Gerhard A. Krodel (Revelation, ACNT [Minneapolis: Augsburg, 1989], pp. 344-45) observa que Paulo
descreve sua visão dos cristãos sendo “arrebatados” nas nuvens (1Ts 4.17), João, porém, indica um
movimento oposto dos santos redivivos descendo do céu para a nova terra.
3
LADD, George. A Commentary on The Revelation Of John. Grand Rapids : Eerdmans. 1972, p. 276

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medidas da cidade são descritas com grande cuidado; a cidade tem o


mesmo formato do Santo dos Santos no Tabernáculo4.

É claro o por que João ter visto um Templo na cidade. A própria


cidade é um Templo.5 O próprio Deus está morando nela. Deus não está
mais no meio dos povos, ao contrario, os povos estão vindo encontrar-se
com Deus na Sua própria cidade. Consequentemente não há
necessidade de sol, lua ou nenhuma outra forma de luz. A glória de
Deus é a luz da cidade (Ap 21:23). Mas a visão de João não termina ai.
Ele continua como que descrevendo o propósito desta cidade.

Os próximos três versos se concentram em três aspectos muito


importantes desta cidade:

1) Os reis da Terra vão trazer sua glória para a cidade;


2) As portas da cidade jamais se fecharão, porque jamais haverá
noite nela;
3) E a glória e honra das nações vão ser trazidas para esta
cidade.

Para podermos entender o contraste destes três aspectos da Nova


Jerusalém, é preciso apreciar as características das cidades descritas
na Bíblia. Em geral estas cidades eram do tipo cidade-estado. Elas
tinham muros para proteção contra inimigos; portões para facilitar a
entrada e a saída; casas para acomodação do povo; ruas que levavam
ao mercado central e também ao palácio onde o rei vivia. Muitos dos
aspectos da Nova Jerusalém são parecidos com estes. A Nova
Jerusalém tem muros, mas não para proteção contra inimigos, e sim
para permitir que a glória do Rei brilhe. Ela também tem portões, mas
estes são somente para entrada. Ninguém sai porque todos vieram ver o
Rei. A Nova Jerusalém tem ruas que levam ao Trono do Rei, aonde o
povo vai louvá-lo e cultuá-lo para sempre. É obvio que embora a Nova
Jerusalém não seja uma imagem completamente nova do que uma
cidade é, ao contrario, a Nova Jerusalém é aquilo que a cidade deveria
ter sido desde o começo.

A Primeira Cidade Mencionada na Bíblia

A primeira cidade mencionada na Bíblia é a cidade fundada por


Caim (Gn 4:17). O contexto em que esta cidade é apresentada é muito
importante. Caim estava discutindo com Deus sobre o que ele havia
feito para com seu irmão e qual seria o julgamento de Deus sobre ele.
Caim reclama de que ele não suportaria aquele castigo e Deus, cheio de
compaixão em sua graça, permite que Caim não fique em completo
desespero, sem nenhuma proteção. Caim ficou contente com a solução

4
MORRIS, Leon. The Revelation Of The John . Thindale New Testament Commentaries. Grand Rapids:
Eerdmans. 1976, p. 250
5
KLINE, Op Cit., p. 26

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divina porque ele não ficou solto num mundo em anarquia total. 6 A ele
foi permitido se encontrar com outras pessoas e, inclusive, construir
uma cidade. Conseqüentemente a cidade em si não era uma coisa
ruim; ela surgiu diretamente da graça de Deus. Kline até argumenta
que a construção de cidades era o propósito do “Mandado Cultural”7

Se o conceito da cidade não está errado em si próprio, qual é o


problema então? O problema é o uso que foi feito dela pelo homem caído
que estragaram o propósito da cidade. Quando Caim inaugura a cidade
ele a nomeia em homenagem a seu filho chamado Enoque. Desde o
recomeço Caim comete o mesmo erro que o levou a matar a seu irmão.
Ele estava mais preocupado em edificar seu próprio nome ao invés de
dar glórias a Deus por aquilo que Deus havia feito por ele. A narrativa
mostra uma situação até pior com o progresso da genealogia. Lameque,
um descendente direto de Caim, usa sua autoridade de líder da cidade
para quebrar os mandamentos de Deus em relação à família: ele toma
para si duas esposas. Como se isto não bastasse, ele também abusa da
sua autoridade e estabelece leis opressivas para lidar com aqueles que
não concorda com ele. As palavras de Lameque às suas esposas,
claramente demonstram sua rebelião contra Deus: “Sete vezes se
tornará vingança de Caim, de Lameque, porém, 70 vezes sete” (Gn 4:24).
Isto é uma perversão do propósito divino para o estado.8

Como Kline diz, também a cidade se torna o Templo do homem. 9


Lameque, em suas próprias palavras está tentando ser como Deus.

A narrativa é interrompida neste ponto e a genealogia de Sete é


apresentada, mas logo depois desta o autor volta ao tema da cidade
dominada pelo homem. Em Gênesis 6, nós temos a razão porque Deus
mandou dilúvio. O abuso de autoridade agora é ainda maior. O número
de pessoas aumentou e o número de casamento também, e no versículo
5 nós vemos que a maldade continuava e o desígnio do coração era
continuamente mau.

Provavelmente a pior fase desta narrativa é a atitude dos lideres


(Gn 6:2). Eles se chamavam a si mesmos Filhos de Deus. 10 Eles falam
como se Deus não estivesse no controle e também agem como Deus e
tomam as responsabilidades de Deus, como se fossem seus filhos. Deus
não poderia mais agüentar esta situação e então Ele os destrói com o
dilúvio.

Com o remanescente desta destruição, Noé e sua família, Deus


começa aquilo que poderia ser chamado de a “re-criação”. Os paralelos
entre a criação original e esta não é somente simbolismo, mas um
paralelo nas próprias palavras de Deus. O mesmo caos em água
6
Kline, Op Cit., p. 72
7
Kline, Op Cit., p. 23
8
Kline, Op Cit., p. 71
9
Kline, Op Cit., p. 46
10
Kline, Op Cit., p. 83

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aparece nos dois episódios. Mas o mais imprescindível é que o


“Mandado Cultural” é repetido em Gn 9:1. Isto é um sinal claro de um
novo começo. Infelizmente é a história do homem tentando tomar outra
vez lugar de Deus. O propósito é claro: eles querem uma cidade que
engrandeça o nome deles, ao invés de irem, através da Terra, como Deus
ordenara (Gn 11:4).

Este estado de apostasia se tornou mais uma vez insuportável


para Deus. Entretanto, Ele se mantém fiel a sua Aliança com Noé e não
destrói o povo. Deus apenas promove uma confusão na língua deles, de
maneira que eles abandonam aquele projeto e fazem aquilo que eles
deveriam ter feito desde o começo (Gn 11:6-7).

O contraste entre estas duas cidades e a Nova Jerusalém é claro.


Enquanto estes tiranos opressores usam as cidades para a sua própria
glória e propósito, na Nova Jerusalém os reis da Terra vêm para
apresentar a glóriade Deus. (Ap 21:24). O propósito de Deus jamais
falha. Na Nova Jerusalém Deus claramente demonstra o seu propósito
escatológico para a cidade.11 A cidade era para ser um lugar onde os
reis viriam para exaltar o Rei dos Reis e não para elevar a si próprios.
Duas vezes no começo da historia humana Deus atuou para corrigir
esta perversão.

Contraste Entre a Cidade dos Homens e A Cidade de Deus

Na Nova Jerusalém “as nações andarão mediante a sua luz” (Ap


21:24). Jamais haverá noite naquela cidade (Ap 21:25). Que contraste
em relação as cidades construídas pelos homens. Mesmo durante o
dia era perigoso andar pelas ruas por causa do despotismo daqueles que
tomaram o lugar de Deus naquela cidade. Não havia segurança para
aqueles que estavam oprimidos. É inclusive possível dizer que até
durante o dia na cidade dos homens, é sempre noite. As ameaças da
noite estão sempre presentes. Na Nova Jerusalém, entretanto, as
nações podem caminhar livremente, porque as luzes da cidade vêm
daquele que a construiu: Deus. Não há ameaça nas ruas da Nova
Jerusalém, por isto seus portões estão sempre abertos. Não há mal na
cidade, somente aqueles que podem viver diante da glória de Deus a
esta cidade pertence. Conseqüentemente, a Nova Jerusalém é somente
para aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida. 12

Deus em seu plano soberano não construiu a Nova Jerusalém


imediatamente, porque Ele não poderia deixar o homem sem um ponto
de referência sobre o que ele deveria fazer. Então, de um dos povos que
saiu do caos de Babel, Deus escolhe um homem e torna-o especial.
Porque ele era especial? Não só porque ele havia sido criado por Deus
mesmo, mas também por causa do que ele representava para a

11
Rissi, Mathias. The Future Of The World. Naperville: R. Allenson Inc. 1966, p. 53
12
MOUNCE, Robert H. The Book Of Revelation . The New International Commentary Of The New
Testament. Grand Rapids: Eerdmans.1977, p. 385

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humanidade, de acordo com o plano divino. Em Gênesis 12, quando


Deus escolhe Abrão, mais uma vez ele declara o seu plano universal:
alcançar todas as nações. Como poderia Deus conseguir isto? A Lei
que ele deu ao seu povo demonstra como. Agora, pela primeira vez da
história do homem, os desafortunados teriam um lugar determinado. As
leis sob as quais Israel deveria viver refletiam o propósito de Deus para
qualquer ajuntamento de seres humanos em sociedade.

Até uma rápida leitura pelo Pentateuco deixa isto claro. Por
exemplo, os fazendeiros deveriam deixar as arvores na borda de sua
propriedade sem colher o que caísse no chão, para que os pobres
colhessem e tivessem o que comer (Lv 19:9-10). Outro exemplo claro do
propósito divino é o princípio do Jubileu. A cada 50 anos toda
propriedade voltaria para a família original e todos os débitos seriam
cancelados (Lv 25). Infelizmente, Israel jamais seguiu estas normas de
Deus e, conseqüentemente, sofreu de acordo com o julgamento provido
por Deus na sua Aliança.

É interessante notar que os profetas que perceberam a situação


receberam a mensagem de Deus e proclamaram-na.

Ambos, Isaías e Ezequiel, referiam-se a uma cidade onde toda


injustiça e quebra da Aliança não aconteceria. Isaías 60 e Ezequiel 48
são exemplos claros desta expectativa. Isaías fez muitas referências
explícitas a esta cidade. As descrições e expectativas são claras
paralelas à Nova Jerusalém. Esta cidade tem uma posição tão
importante que Is 60:14 a chama de “a cidade do Senhor, a Sião do
Santo de Israel”. Esta cidade, a Nova Jerusalém, será o centro do
mundo.13

A Cidade descrita de Isaías 60

A semelhança desta cidade descrita por Isaías, como a Nova


Jerusalém, explica porque ela ocupa uma posição tão central. Como na
Nova Jerusalém as nações virão para a luz desta cidade. Os reis virão
para a claridade (Is 60:3), Isaías não identifica claramente como João de
onde a luz vem; entretanto, há pouquíssima dúvida sobre a sua origem.
Há somente uma luz que atrairia os reis das nações desta maneira. Tem
que ser uma luz mais forte do que a glória deles mesmos. Para Isaías é
a glória de Deus que se eleva sobre os povos; para João é a glória do
Senhor que está na cidade.

Ezequiel declara a razão porque esta luz é tão impressionante


quando ele descreve os portões da cidade. Ele declara que o nome da
cidade é “O Senhor está ali” (Ez 48:35). A presença de Deus é a fonte
desta luz. Por isso é que João pode dizer que jamais haverá noite na
Nova Jerusalém (Ap 21:25). A glória do Senhor proverá luz. É preciso
lembrar de que só pelo fato desses reis virem para a cidade, eles estão
13
RISSI, Op Cit., p. 42

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reconhecendo que Deus é o verdadeiro Rei. E o reconhecimento de que


eles estão sob o governo de Deus.

Esta ideia de submissão é mais enfática ainda em Is 60:5. Todas


as riquezas das nações vão ser trazidas para a cidade (Lv 21:26). Este
era um costume comum entre os participantes de uma Aliança. O
participante inferior precisa trazer atributos para manter um bom
relacionamento com o superior. A diferença na Nova Jerusalém é que
eles estão fazendo isto não porque eles estão presos ao contrario da
Aliança, mas porque eles reconhecem quem é Rei da cidade. Aquela
glória brilhante não poderia deixar dúvidas.

Isaías 60:11 se refere a outra característica da cidade. Os portões


jamais se fecharão. A razão é que os povos poderão trazer as suas
riquezas o tempo todo. Esta nova cidade é um lugar de liberdade. É
um lugar onde o novo pode vir e passear com toda esta riqueza, sem
medo. O contraste é claro em relação às cidades em que eles viviam.
Isaías 60:17 nos dá a razão deste contraste: paz e justiça governarão.
Nas cidades dos homens o despotismo e a injustiça são as
características. A cidade do Senhor é um lugar onde a sua justiça e a
paz são as normas de governo. Conseqüentemente, a Nova Jerusalém é,
não somente, a esperança de Israel, mas de todas as nações. A Nova
Jerusalém é a realização escatológica do propósito divino para
acidade. Como Deus é justo, a cidade deverá providenciar um lugar
para o homem cultuar a Deus em paz e fazer justiça a todos os homens.

A vinda de Cristo e o seu relacionamento com Jerusalém é


importantíssimo para se compreender o significado da cidade. É em
Jerusalém que Cristo passa pelas maiores dificuldades e, sem sombra
de dúvidas, é lá que ele mora. As próprias palavras de Cristo, em Mt
16:21 e 23:37-39, demonstram como ele mesmo se sentia com relação à
cidade.

No primeiro texto o Senhor vê Jerusalém como o lugar do seu


sofrimento. É em Jerusalém que a injustiça contra ele acontecerá. Os
lideres e o povo da cidade vão tirar a vida do Filho de Deus. Este é
provavelmente o ponto mais baixo que uma cidade poderia chegar. O
propósito da cidade, sob a graça comum de Deus era a proteção do
homem. O governo de uma cidade era o meio providenciado por Deus
para controlar a depravação. Conseqüentemente, quando o homem
abusou do poder que lhe fora dado e matou o Filho de Deus, eles
chegaram ao ponto mais baixo possível.

No segundo texto (Mt 23), Cristo se refere a cidade com pena.

Ele está sentido porque a cidade não alcançou o propósito para o


qual ela havia sido criada; entretanto, neste lamento o Senhor dá
esperança à cidade. Ele nunca disse que não voltaria mais lá. Como
aquele que havia vindo em nome do senhor, Ele haveria de voltar. Na

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Nova Jerusalém todos O reconheceriam em sua glória. Todos saberão


que é o Rei e Governador.

A relação entre Jerusalém e a Igreja também é importante. Em


Atos 1:8 achamos o mandamento de Cristo aos discípulos para ficarem
lá até que o Espírito Santo venha. Só depois disto eles deveriam partir
de lá, através dos portões, levando a mensagem do evangelho. Eles
deveriam ir por todo mundo com esta mensagem. Eles deveriam
alcançar todas as nações. A semelhança com a Nova Jerusalém é óbvia:
no fim será o oposto. De todas as nações povos virão trazendo as suas
riquezas para a Nova Jerusalém. Eles entrarão pelos seus portões que
estão sempre abertos. Da antiga Jerusalém a Igreja saiu com a luz em
direção às cidades em escuridão, de um mundo perdido. No final, na
Nova Jerusalém, os povos virão para a eterna luz da glória daquele que
originalmente enviou a Igreja.

Como toda cidade a Nova Jerusalém terá gente morando nela.


Estes povos são aqueles que foram alcançados pela mensagem da Igreja
que partiu da antiga Jerusalém. O Apóstolo Paulo, em Ef 2:19 e Fp
3:20, trata os cristãos como cidadãos dos céus. Este é o povo que
habitará a cidade que descerá dos céus. Este é o povo que trará as
glórias e riquezas das nações para a cidade. Em Gl 4:25-27, Paulo
compara as duas Jerusalém. A Jerusalém da Palestina é compara com
Agar, devido a sua triste situação do seu povo: ambos estão sob o
domínio de líderes injustos e ainda pior, estes líderes são estrangeiros,
não da linhagem de Davi.

Mas a Nova Jerusalém, a que vem dos céus, é compara com Sara,
porque ela é livre e mãe de todos os que crêem. Paulo lembra-nos de
que Sara era estéril antes dela receber a promessa de um filho. Assim
mesmo, Deus fê-la a esperança de todas as nações. Da mesma forma a
Nova Jerusalém é a esperança de todos os povos. Todos podem olhar
para o futuro quando somente o justo Rei estará à frente e todos virão
vê-lo na sua própria cidade.

O livro de Apocalipse é extremamente para se entender o lugar da


Nova Jerusalém no plano divino. Uma analise retórica deste livro,
demonstra o lugar que esta cidade tem no livro. Ela aparece não
somente no final numa posição de proeminência, mas logo após o
julgamento final e da nova criação. Esta cidade se torna na residência
final e permanente de muitos. É um lugar de segurança, um lugar de
comunhão e beleza. Nesta cidade todos os efeitos do pecado não
existirão . É óbvio que a Nova Jerusalém não é apenas uma cidade
qualquer. É uma cidade muito especial como se percebe numa análise
retórica detalhada da estrutura do livro de Apocalipse.

A ideia de uma cidade como o ambiente para o qual Deus está


levando João é claro. Em cada divisão do livro há menções de pelo
menos um tipo de cidade. A visão de João começa com a

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responsabilidade que ele teria de escrever às sete cidades. Nas cartas a


estas cidades encontramos referências a certas particularidades sobre
estas cidades e uma promessa a cada uma delas. Na carta à Igreja de
Filadélfia a promessa é explicita com referencia à Nova Jerusalém (Ap
3:12).

Após a carta para às Sete Igrejas, vem os sete ciclos que


culminam com o evento final da História da Redenção: a revelação da
Cidade Santa. Em cada um destes ciclos encontra-se características
que ajudam um melhor entendimento, da Nova Jerusalém. Entre estas
ilustrações e analogias, a mais proeminente é Babilônia. A Babilônia
representa o anti-tipo da Nova Jerusalém. Babilônia, a cidade mundana
que lidera os reinos humanos (Ap 14:8). O contraste com a Nova
Jerusalém é óbvio. A Babilônia lidera estes reinos para adultério e
orgias, enquanto que na Nova Jerusalém as nações vêm com o melhor
de si para louvar o único Rei.

Mais surpreendente ainda é a relação entre Babilônia e a


Jerusalém terrena. Apocalipse 11 faz duas comparações assustadoras
de Jerusalém com pelo menos duas outras também deturpadas. No
verso 8 Jerusalém é chamada de grande cidade, mas ao mesmo tempo
são assim chamados Sodoma e Egito. Vale a pena lembrar que foi do
Egito que Deus libertou Israel e assim foi fiel a sua Aliança com Abrão.
Deus fez de Israel uma nação. Em outras palavras, Jerusalém se tornou
um lugar tão ruim quanto o Egito, de onde o povo de Deus fora
libertado. Novamente o contraste com a Nova Jerusalém é óbvio. Ela
não é comparada com nenhuma outra cidade. Aqueles que estão na
Nova Jerusalém são aqueles a quem Deus vem fazendo promessas por
todo o livro do Apocalipse: aqueles que são fieis e perseveram.

A nova Jerusalém é chamada santa ( Ap 21:10 ), o que significa


que a cidade foi consagrada por Deus como um lugar sem pecado; em
outros termos, ela é perfeita em todos os aspectos. O privilégio de viver
para sempre na presença de Deus nos constitui seu gracioso dom. Em
dado momento na história humana, as pessoas resolveram construir a
torre de Babel com o intuito de atingir o céu; Deus, porém, frustrou
seus esforços (Gn 11.1-9). À guisa de contraste, Deus toma a iniciativa,
trazendo a nova Jerusalém para a terra. Ela é a cidade de Deus que
desce para a terra, não dos seres humanos que decidem ligar sua
cidade ao céu. A antiga Jerusalém devastada pelo pecado não mais
pode ser chamada santa depois da morte de Jesus (ver comentário
sobre 11.2). A nova Jerusalém é isenta de pecado e seu nome se resume
em a cidade santa.14

Preparando-nos para a revelação da Nova Jerusalém, João


descreve a queda da Babilônia. Esta queda é importante porque
demonstra a finitude da Babilônia, em contraste com o caráter eterno
da Nova Jerusalém. Apocalipse 8 retrata o destino da Babilônia. No
14
Van de Kamp, Israël in Openbaring, pp. 269, 278.

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verso 10 a destruição do seu poder é anunciado; no verso 16 a ruína de


sua riqueza é proclamada e, no verso 19 o seu povo poderoso é também
destruído. Como se existisse alguma dúvida ainda, João deixa claro,
nos versos 21-24, onde a destruição final da Babilônia é relatada. O
palco está pronto para a revelação da cidade eterna. A cidade onde o
líder e a autoridade não levarão ninguém para caminhos perversos. Na
Nova Jerusalém nunca jamais penetrará cousa alguma contaminada,
nem o que pratica abominação e mentira (Ap 21:27).

A Nova Jerusalém representa o ultimo estado no campo espiritual


de comunhão com Deus. A Nova Jerusalém é a realização da comunhão
da comunidade redimida, vivendo na presença de Deus. 15 Na Nova
Jerusalém a luz da glória do Cordeiro vai iluminar o caminho para os
reis virem com seu esplendor para a cidade. Agora eles não são mais os
opressores, mas vem se submeter a Deus. A cidade, lugar que os reis
usaram para oprimir o povo se torna o lugar da reconciliação deles com
a autoridade máxima, DEUS. A centralidade do Cordeiro que permeia
toda a história é totalmente expressa. Os portões da cidade estarão
abertos para sempre, de modo que as nações possam vir e cumprir o
seu propósito. Eles vem trazer a sua glória e honra para aquele a quem
eles se recusaram a reconhecer. Como Kline diz, a cidade não é o reino
de Satanás (Kline, 1983, p. 28), e isto porque o Rei da cidade é Cristo a
quem Deus exaltou acima de todos. Como se não bastasse, Paulo diz
aos Filipenses: “para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos
céus, na terra e debaixo da terra e toda língua confesse que Jesus Cristo
é Senhor, para glória de Deus Pai”. (Fp 2:10-11)

A Nova Jerusalém é onde esta proclamação de Paulo será


totalmente cumprida.

Sugestões Bibliográficas

ELLUL, Jacques. The meaning of the city. Grand Rapids: Eerdmans


Publishing Company, 1993.

GREENWAY, Roger; MONSMA, Timothy. Cities: mission’s new frontier.


Grand Rapids: Baker, 2000.

KAISER, Walter. A biblical theology of the city. In: Urban missions 7, n°


01, setembro de 2001.

KELLER, Tim. A biblical theology of the city. Disponível em


http://www.e-n.org. uk/p-1869-A-biblical-theology-of-the-city.htm.
Acesso em 4/10/10.

KLINE, Meredith. Kingdom prologue. Overland Park, KS: Two Age Press,
2000. 17.233 Revista Batista Pioneira v. 1, n. 2, dezembro/2012
15
De Young, James C. Jerusalém In The New Testament. N.V. Kamper: J. H. Kok. 1960, p. 163.

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HENRY Barclay, Swete, Commentary on Revelation (1911; reimp. em


Grand Rapids: Kregel, 1977

HENDRIKSEN, William. Mais Que Vencedores. São Paulo, SP: CEP.


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G. B. Caird (A Commentary on the Revelation of St. John the Divine


[Londres: Black, 1966],

BEASLEY-Murray, G. R. – The Book of Revelation – New Century Bible


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KLINE, Meredith G. – Images of the Spirit – Baker Biblical Monograph


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MORRIS, Leon – The revelation of St. John – Tyndale New Testament


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MOUNCE, Robert H. – The Book of Revelation – The New International


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RISSI, Mathias – The Future of the World – Naperville: lec R. Allenson


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